Biblio VT
“O destino embaralha as cartas, e nós jogamos.”
Sai do banheiro enxugando meu cabelo molhado. A vista do hotel era extraodinária, mostrava São Paulo e todo seu esplendor a noite.
Voltei para cama, encontrando um vestido preto com detalhes em rendas 3D azul, sobre ele um bilhete acompanhado de uma caixa grande de veludo vermelho. Abri primeiro a caixa, matando minha curiosidade, literalmente babando quando encontrei um par de brincos de diamante, como se fossem duas cascatas de puro brilho. O colar que acompanhava, apenas duas finas correntes entrelaçadas também de diamante. Deixando essa caixa com o valor nas alturas, impressionante!
Olhei para o cartão branco com meu nome na frente:
“Querida Maya como esta será nossa última noite, quero presenteá—la com um momento incrível. Use isso para nossa noite, temos reversa para ás 19h30min, aguardo você no saguão do hotel. Espero que tenha gostado do presente.
Wesley Duarte.”
Wesley era um cliente excelente, delicado e não abusava de sua posição. Além de ser um homem importante do ramo empresarial, cuidando junto com seus sócios de uma empresa muito promissora. Nosso contrato exigia apenas acompanhá—lo em jantares, socializar com as mulheres dos seus sócios. O que nem a cara azeda de mal humor delas me atrapalhou, levou apenas uns dois dias para eu conquistá—las falando as coisas certas.
Meu telefone soou na sala, corri para atender ainda enrolada na toalha.
— Marli. – minha “chefa”, com certeza queria saber como estariam as coisas com o cliente.
— Boa noite, diamante! Como estamos?
Revirei os olhos, bufando internamente. Odiava quando me chamava de “Diamante”.
— Perfeito, ele não deixa nada a desejar, estou indo para nossa última noite juntos.
— Que ótimo querida, conseguiu o bônus extra?
— Sim e que bônus! – Exclamei sorrindo.
Mesmo não tendo interesse de ir em busca do bônus extra, foi uma verdadeira surpresa ver o ruivo de um metro e oitenta me tomando em seus braços. Tinha sido uma noite daquelas...
— Tenho que ir, nos falamos depois. – Disse já me dispedindo.
— Claro diamante, tire o final de semana de folga, nos vemos na segunda.
— Ta bom.
Olhei o visor do celular, ainda teria tempo suficiente para me produzir, e, no fundo de minha mente minha deusa rebolava se levantando ansiosa pelos diamantes.
Não precisava olhar no espelho iluminado do quarto para saber que estava divina, o vestido tinha caído como uma luva em meu corpo. O detalhe em azul realçava todas as minhas curvas, ainda mais deslumbrante de quando estava na cama.
Peguei meus últimos acessórios saindo para encontrar Wesley. O Hotel Fasano em São Paulo era o próprio significado de luxo, tanto o corredor dos quartos quanto o elevador eram revestidos em madeira escura.
Passei pelo lobby do hotel, com alguns homens me lançando olhares da cabeça aos pés, meus saltos produzindo barulho a cada passo que dava. Wesley estavame esperando perto dá porta giratória, atravessei o saguão revestido da parede ao chão de vários tons de madeira, o tornando rústico e muito elegante, os componentes como cadeiras, o grande balcão onde as atendentes trabalhavam, vasos com plantas de flores em tons alaranjados deixando tudo ainda mais suave e de extremo bom gosto.
— Você ficou ainda mais linda.
Wesley me deu um beijo demorado na bochecha, sua respiração em meu pescoço causando um arrepio leve no local.
—Obrigada pelos presentes, você sabe mesmo como encantar uma mulher. – Sussurrei em seu ouvido.
Ele se afastou com um amplo sorriso no rosto. – Tão encantada a ponto de estender mais uma semana ao meu lado?
Minha risada baixa foi a única coisa que me permiti fazer no momento. Wesley era o tipo de cara forte, seus cabelos ruivos naturais, pareciam mais uma labareda indomável em sua cabeça. Os olhos castanhos e as pequenas sardas nas bochechas, dando um ar de inocência contrastando com um corpo extremamente sedutor.
E na cama comprovei que esse homem era realmente uma labareda. O que começamos no elevador, estendemos para o corredor do hotel e acabamos em sua suíte, ambos com roupas danificadas, corpo suado e a satisfação garantida.
— Podemos ir?
— Com certeza.
Ele indicou a porta giratória, sua mão espalmada em minha lombar, o movimento constante de carros por São Paulo eram como o próprio sangue nas veias, eu via São Paulo como um corpo e nós os organismos desse corpo.
O manobrista abriu a porta do Lexus LS preto.
– Que nossa incrível noite comece. —Wesley lançou um sorriso quente para mim.
Capítulo 2
— Oh, Otávio
Pum, pum.
— Porra, baby. – Segurei com força a cabeceira da cama que batia na parede com minhas estocadas.
— Ai, meu Deus!
A ruivinha peituda se contorcia embaixo de mim, aumentei o ritmo para que ela gozasse logo, que inferno. Isso que dava ser gentil, uma eternidade até poder gozar.
Pum, pum.
— Aiii querido, aí mesmo... Meu Deus, que delícia.
Queria revirar os olhos, mas me contive.
Pressionei seu clitóris acelerando o processo, quando os primeiros tremores do orgasmo se denunciaram eu praticamente fazia sua cabeça bater contra a cabeceira. Justin Timberlake repetia seu refrão de “Sexy Back”.
Quase o acompanhei cantando “ Cause you're burnin' up I gotta get it fast!” enquanto gozava forte dentro da ruivinha peituda que trouxe da balada.
Meu nome é Otávio Roberto Amell, sim Otávio Amell.
Ridículo, sim, é extremamente ridículo. Acredito que meus pais não estavam pensando, ou em suas plenas faculdades mentais, quando me registraram. Mas, com 30 anos havia aprendido a ignorar e fazer com que todos me chamassem apenas por Otávio. Ou, como a maioria das pessoas me conhecia. Sr. Amell. Não que isso fizesse meu sobrenome ser melhor, que nada, ele continuava sendo péssimo.
O sobrenome Amell veio de meu pai, herança dos meus avós britânicos. Meus pais haviam se conhecidos e se envolvido durante um intercâmbio da minha mãe pela Europa, aí vinha à longa história que eu cresci ouvindo. Que o grande sonho de todos, no fundo era ter uma família e formar um casamento feliz, sendo homem ou mulher. Minhas irmãs deslumbradas do jeito que eram com certeza acreditavam nisso, porém isso nunca foi para mim. Eu queria mesmo, e estava praticamente salivando pelo cargo de Diretor Executivo da Companhia Wiless.
A ruivinha que estava se contorcendo debaixo de mim alguns segundos atrás, era apenas uma linda distração para minhas noites. Eu dividia minhas noites em duas categorias: — ficando em casa, vendo jogo de futebol ou bebendo uma cerveja, sentado confortavelmente em meu sofá, e nas outras, bem nas outras, eu me dividia pegando o maior número de mulheres que conseguisse. Às vezes uma vinha de brinde com a outra como foi o caso das gêmeas na quinta-feira passada.
Meu deus , meu pau já voltava a dar sinal. Alisei-o um pouco debaixo do chuveiro. Acalmando meus hormônios. Voltando para outros pensamentos...
Levava uma vida até que muito tranquila, morava em São Paulo, capital. A famosa terra dos trânsitos malucos e empresários gananciosos. A famosa terra da garoa, que de garoa não tinha nada e sim um dilúvio quando decidia chover. Hugo Torres, meu parceiro de trabalho e grande amigo era o excelente exemplo de amante latino. Seu sotaque ainda frequente em sua fala facilitava ao levar uma mulher para cama. Podíamos dizer que tínhamos excelentes noitadas juntos. Eu havia me mudado há quatro anos para um apartamento de alto padrão, Lessence Jardins. Ficava no Jardim América, anos de trabalho duro me proporcionava uma vida de mordomias, e, eu amava. Tinha transformado meu apartamento de quase mil metros quadrados em um lugar para ter tudo que tinha vontade, contratei os serviços de Sara, designer, amiga de minha irmã, para deixar tudo exatamente como queria, ainda sentia as parcelas altas no cartão de crédito por conta disso, mas afinal, gosto é gosto.
E era ainda melhor, pois ficava a exatos trinta minutos de carro do meu trabalho. Quando não se tinha trânsito, lógico, o que era impossível em São Paulo, ou como preferia, quarenta e cinco minutos indo de bicicleta. E grande o suficiente para Buddy, meu pequeno Bernese Mountain , ou mais conhecido como São Bernardo.
Sentei no sofá de toalha mesmo, com uma cerveja na mão e o controle remoto na outra, domingo era dia de esporte. Sempre fui muito ligado a vida saudável, esportes, pelo menos um final de semana reservava para corridas, trilhas, alpinismo, o que tivesse de radical para ser feito.
Buddy me olhava do outro lado da sala, sua grande cabeça peluda sempre entortava um pouco quando eu me remexia.
– Já vamos garotão. Espere até o jogo acabar. – disse olhando para ele sobre minhas pernas esticadas na mesinha de centro. Ele voltou a deitar de lado fungando pelo nariz. Quem dizia que animal não respondia, ou, não entendia o que falávamos com eles, tinham que conhecer Buddy e seu temperamento de velho, mesmo tendo apenas cinco anos de idade.
Voltei minha atenção para a televisão.
— Querido estou indo. – A ruivinha sentou-se em meu colo totalmente vestida atrapalhando-me de ver o lance que o zagueiro fazia.
— Uhum – murmurei bebendo mais um gole de minha cerveja. – Quer carona?
— Ah gatinho, não. Fique vendo seu jogo. – Ela beijou meu pescoço, lambendo meu queixo.
Apertei seu quadril, empurrando meu pau para sua bunda, até que poderia perder um jogo para mais uma sessão com a ruivinha.
— Você me liga mais tarde?
Erro número 1 das mulheres. Criar expectativas porque o cara transou com ela, mulheres da minha vida, transem, beijem na boca, mas não esperem nada de um homem. Se ele realmente ligar é porque foi realmente bom, senão ligar? Foi ótimo mesmo assim, vamos para o próximo.
Suspirei concordando com a cabeça, meio que um negar com um sim. Algo que a deixasse entender como queria. Puxei-a pelos cabelos trazendo sua boca para um último beijo antes de colocá-la de pé.
E depois o baque da porta se fechando e, então. Paz e sossego.
Assim que o jogo acabou desci para dar uma volta com Buddy, que já estava impaciente andando pelo apartamento. Cumprimentei o medroso do Antônio, — porteiro do prédio – ele tinha medo de cachorro, ainda mais um cachorro do tamanho do meu, que estava mais para um pônei do que cachorro. Mal sabia ele que Buddy não conseguia morder nem a própria perna, quanto mais ter disposição para correr atrás das canelas roliças do Antônio.
Andei pelo bairro no início da noite até deixar Buddy satisfeito e voltamos para o apartamento. Tranquei tudo e deixei o apartamento na penumbra, ouvi Buddy andando em círculos pela sala se ajeitando para dormir e eu mesmo segui seus passos, deitei debaixo das cobertas com o ar ligado deixando o quarto gelado e adormeci.
Capítulo 3
Despertei na manhã seguinte com o telefone tocando, me espreguicei um pouco antes de sair da cama, Buddy continuava largado perto da porta do banheiro nem um pouco preocupado. – Alô. – Respondo atendendo antes que a pessoa desligasse.
— Buenos dias, maricón! – Reconheci a voz do Hugo e seu espanhol ainda arraigado, mesmo morando anos em São Paulo.
— Bom dia Hugo, o que devo a ligação?
— Esqueceu que tem uma reunión? – Perguntou misturando um pouco do espanhol.
— Puta que pariu, — Hugo gargalhou do outro lado da linha. – Em vinte minutos estarei no escritório.
Joguei-me debaixo do chuveiro, tomando um banho rápido, peguei a primeira camisa social que vi no armário e uma calça jeans preta, calcei os sapatos sociais. Parei alguns instantes na frente do espelho de corpo inteiro, não poderia me chamar de vaidoso, mas aparência era uma coisa que importava e muito para mim. Sempre comecei meu julgamento em uma mulher pela aparência, sua roupa, sua maquiagem, seus cabelos.
Dobrei as mangas da camisa social azul que vesti até os cotovelos, deixando o botão da gola aberto e um pedaço de minha tatuagem aparecendo no braço. Parei na sala pegando a chave do carro, minha carteira sobre a mesa de jantar. Buddy me olhava com desprezo nem aí se estava atrasado, provavelmente ele continuaria dormindo até o meio da tarde, depois passaria pela abertura da porta e ficaria na sacada pelo restante do dia, até eu retornar. Realmente eu queria ser um cachorro, o bicho sortudo.
— Tchau, garotão. – Me despeço vendo que ele virou a cara, deitando de barriga para cima com o mesmo desprezo.
Fechei a porta do apartamento ao mesmo tempo em que ouvi a vizinha fechar a sua, esse condomínio eram apenas dois apartamentos por andar e um hall luxuoso em cada.
Olhei por cima do ombro vendo que não era a vizinha boazuda que já tinha criado problemas por causa de Buddy, e sim uma mulher negra extremamente linda, seus cabelos cacheados, muito bem cuidados por sinal estavam soltos em torno do rosto, os olhos eram cor de mel chamativo. O corpo de uma beldade tão bonito como da outra moradora. Talvez elas dividissem o apartamento.
Ela estava com um gato caramelo em seus braços, gordo, só o fato de ele levantar os olhos me encarando já me fez afastar um pouco. Não tinha experiências muito boas com gatos.
Mantive a porta do elevador aberta vendo-a entrar e puxei assunto.
– Ele parece mal-humorado – comentei olhando o gato de nariz achatado.
Ela soltou um riso simpático.
— Mal-humorada, é fêmea. – Ela acariciou o pelo da gata, que lançou um olhar superior. – Igualzinha à dona.
Apenas esse olhar já foi capaz de arrepiar todos os pelos do meu corpo, malditos sejam os gatos!
—Vocês se mudaram a pouco tempo? Você e a loira mal-educada – comentei olhando o visor do elevador.
— Peço desculpas pelos barulhos excessivos, minha colega de apartamento não está acostumada com discrição e educação. Mudamos agora, não queríamos incomodar. – Ela deu um sorriso sincero, pelo menos era educada e mais bonita do que sua colega com esse sorriso simpático.
— Garanto que estava curioso, não estava acostumado com barulhos.
Estávamos compartilhando uma risada quando chegamos ao térreo. Despedimo-nos, seguindo em direção opostas, vi quando ela seguiu para fora entrando num carro prata, mas não consegui ver o modelo.
Óbvio que pegaria um enorme engarrafamento por São Paulo. Fiquei uns bons minutos com o carro em ponto morto, vendo os veículos andarem como tartarugas. Sempre que podia acelerava por diversão. Afinal um Land Rover Evoque merecia, aumentei o som curtindo as batidas da música Mercy – Shawn Mendes.
Peguei o celular, ignorando as quatro mensagens da ruivinha peituda. Sim, não me lembro do nome dela e o fato dela não ter esperado nem um dia completo para me mandar mensagem, significava que era ótima na cama, fora dela um chiclete pronto para grudar em seu pé.
Voltei ao meu objetivo enviando uma mensagem para Hugo dizendo que estava perto e segui para a Alameda Lorena, Jardins onde ficava Companhia Wiless de Publicidade. Estacionei o carro na vaga reservada, depois de mais de vinte minutos de trânsito.
Flávia, —a recepcionista— me recebeu como sempre, com um sorriso cativante, ela era uma mulher bonita, facilmente convidaria para algo mais informal, porém eu não era como Hugo, não misturava os ambientes, trabalho era trabalho. Não queria nenhuma mulher no meu pé ou me chantageando por causa de um sexo ocasional. Pior ainda, torrando meu saco.
Hugo estava soltando, como sempre, seu espanhol fajuto em cima de Joana, que tomava seu café tranquilamente com sua assistente. – Bom dia a todos. – Cumprimento as moças num sorriso profissional seguindo para minha sala.
— Até que enfim apareceu maricón !
Revirei os olhos, já tinha acostumado com seu jeito “carinhoso” de me chamar de “bicha”.
Senti Hugo em meu encalço, depositei minhas coisas na mesa, liguei o computador e puxei alguns projetos em andamento da primeira pasta.
– Você não cansa Hugo? – perguntei em brincadeira.
— Do que meu caro amigo?
Hugo também estava vestido de forma informal. Não tínhamos uma regra rígida quanto a isso, quando tínhamos necessidades colocávamos os nossos ternos, mas em geral, ficávamos com o estilo mais informal e essa regra servia para todos os funcionários, mesmo a senhora Ianelli sendo uma megera, ela não era muito rígida com isso, desde que estivéssemos vestidos descentemente, não teríamos problemas.
— De correr atrás das associadas de nossa empresa e sempre tomar um fora. – Ri com meu comentário e da careta de desaprovação que ele fez. – Afinal, você sabe que a maioria já está vacinada, ninguém mais cai nesse seu sotaque ridículo.
Eu gostava do sotaque, Hugo sabia disso, crescemos juntos, estudamos juntos. Sua mãe é uma grande amiga de minha família e seu irmão Ruan está noivo de uma de minhas irmãs. Bianca sempre foi romântica e encontrou em Ruan tudo que procurava nos seus contos de amor. Ao contrário de Luce que era uma maluca, minha mãe dizia que as três tinham saído cada uma com um pedaço dela. Bianca com o romantismo, Luce com a impulsividade e Gabriela com a determinação.
Luce tinha se formado em moda e também vivia viajando com seu namorado, atrás de modelos e de sua equipe. Gabriela era uma excelente advogada, trabalhava numa firma no Rio de Janeiro, essa era como eu, nem queria saber de casamento, dizia que já estava muito bem casada com sua profissão. E eu, bom, meu pai dizia que eu puxei o lado mulherengo dele quando era mais novo. Minha mãe dizia que eu era o homem que ela havia sonhado que tudo não passava de uma fase. Coitada dela se esperava netos vindos de mim.
— Ah, meu amigo, você sabe que não resisto, essas chicas são muy guapas . – Hugo me tirou do caminho de pensamentos que estava seguindo, fez uma concha com as mãos como se tivesse com algo precioso nelas, soltando uma piscada para mim. Que me fez soltar uma gargalhada alta.
— Licença meninos. – Daniela bateu na porta aberta.
Daniela apesar dos seus sessenta anos era uma das diretoras mais influentes na Wiless. Sua aparência, mesmo com as rugas da idade pelo rosto não denunciavam sua verdadeira idade, muito pelo contrário. Ela era uma mulher enxuta.
Trabalhava conosco no escritório do Rio de janeiro, ficando pelo menos uma semana no mês em São Paulo, organizando nossas agendas com os compromissos do Rio de Janeiro. Tínhamos recentemente feito um trabalho publicitário de uma boate na Barra da Tijuca e isso nos rendeu vários clientes em potencial, aumentando ainda mais minha visibilidade diante da diretoria.
– Entre Daniela, não sabia que estaria essa semana aqui. – comentei levantando para dar um beijo em seu rosto.
— E nem deveria estar meus queridos. – Ela cumprimentou a mim e ao Hugo. Já puxando uma cadeira em frente à minha mesa, Hugo se sentou na outra cadeira e eu ocupei meu lugar.
—Pela sua cara o assunto é sério. – comentei.
— Ianelli está mudando de ideia.
Ela nem precisava falar o tema do assunto eu já sabia. Trabalhava na Wiless há alguns anos, Ianelli era uma cobra, uma verdadeira megera no quesito chefes.
Quando Daniela anunciou o ano passado que estaria deixando seu cargo, isso fez um pequeno e constante murmurinho sobre mim e a cobra criada de Ianelli, Patrícia.
Patrícia era a puxa-saco da empresa, trabalhava no mesmo setor que eu, porém no Rio de Janeiro. Onde seu foco não eram contratos em potencial e nem as empresas, mas ficar o dia todo adulando a presidente da companhia. E quando Ianelli anunciou em umas de nossas “festinhas” mensais que eu ou Patrícia poderíamos ocupar o cargo de Daniela na diretoria isso me irritou ainda mais, eu e todos que trabalhavam comigo na empresa sabiam que eu merecia essa promoção.
Eu cobiçava esta vaga há algum tempo. Tinha trabalhado duro em todos os projetos, tinha trazido bons clientes. Nada mais justo que eu assumir esse cargo. Diretor Executivo da Wiless, nada mais justo!
– Como assim ela está mudando de ideia, ela sabe que ninguém é mais competente que eu para assumir a Diretoria Executiva. – Meu sangue começou a ferver.
Aquela puta velha.
— Você é sem dúvida alguma, meu querido, melhor executivo que temos para assumir. Mas..., mas eu tenho que ser sincera, ela não vai te oferecer o cargo.
Vi o resto de paciência que eu tinha, ir para os ares, como aquela idiota faria isso. Tinha vontade de voar até o Rio e arrancar a cabeça dela, aquela promoção era minha por direito. Como ela ousava me dispensar agora?
— Eu falei com Ianelli, argumentei de todas as formas, falei com Ricardo, falei sobre você, falei com alguns associados do Rio que conhecem você e seu trabalho aqui em São Paulo. Mas tudo que eu escutei foi que Ianelli não daria um cargo de comando das duas empresas para um solteirão boêmio.
— Ianelli é uma cadela desalmada, acredita que o mundo ainda funciona como no século XX. – Resmungou Hugo.
— Isso é ridículo. Nunca minha vida pessoal atrapalhou meu lado profissional. – Retruquei.
— Se ainda fosse eu, até que valia esse discurso. – Disse Hugo tentando deixar o ambiente menos tenso.
— Ela quer alguém que mostre que não transformará sua empresa em um bar ou lugar de mulheres vadias, você terá sua chance de mostrar para o conselho na festa que ela está errada, ou, colocará a Patrícia. – Daniela ficou com as bochechas coradas, ela sabia que eu não iria aceitar tão fácil assim essa história. – Ela está quase montando um espetáculo de competição entre vocês. E você sabe como Patrícia é.
— Vaca dos infernos! – Rosnei.
— Então, se o nosso querido Otávio aqui, mostrasse que saiu da vida boêmia, que está em um relacionamento sério. – Hugo divagava ficando de pé. – Ianelli daria o cargo de Diretor Executivo das empresas para ele.
Daniela riu sem graça, encarando meu rosto colérico de raiva.
– Eu nem diria que tem outra opção, Otávio é perfeito para o cargo, ela não tem ninguém mais competente que você. E, eu tenho certeza que ela não colocaria o Bruno para cuidar disso. Mas, sugiro que você compre uma aliança qualquer e coloque no dedo nas próximas reuniões querido, e, depois tenha alguém para apresentar no evento da firma.
Encarei a janela ao meu lado, os prédios altos já tomados pelo sol do lado de fora, São Paulo em seu estado de agitação total.
— Não diga mais nada. – Hugo chamou minha atenção quebrando o silêncio. – O maricón aqui aparecerá com uma linda pretendente na festa. – E piscou para mim com um plano em mente.
Capítulo 4
Estava quase na hora de ir para a boate, trabalhava na Scandallo. Era mais um modo dos futuros clientes nos verem pessoalmente, Marli, a nossa “chefa”, fazia questão de termos esse contato visual com os possíveis clientes.
Escolho um espartilho preto, acompanhado de cinta-liga e meias 7/8, deixo meus cabelos naturalmente cacheados soltos pelas costas. Visto o casaco vermelho que havia separado, saltos e termino com uma maquiagem marcante.
Olho no espelho e não sou mais Mia Azevedo, uma mulher de vinte e sete anos, que mora numa casa comum no bairro Jabaquara. Sou a Senhorita Banks, uma mulher que realiza as fantasias dos homens desiludidos.
Entrei no escritório de Marli, ela estava usando o telefone. Fez sinal para que sentasse em uma das poltronas de couro em frente à sua mesa, deixei minha bolsa em uma e me joguei na outra, pegando o final da conversa.
— Claro Hugo, vou separar o catálogo e mando por e-mail se assim desejar. – Marli escutou, trocando risinhos para o telefone. – Sim, entendo. Descrição é nosso nome querido, espero você mais tarde.
Ela recolocou o telefone na base e virou-se para mim.
— Está pronta para hoje, Maya? – Pergunta.
— Sim, estou.
— Hoje teremos alguns clientes em potencial. Quero principalmente que você fique de olho nas novatas. Hoje iniciaremos o projeto musical, quero você no palco junto com as outras garotas que já separei. Roger já tem a lista.
— Pode deixar Marli. – Minha curiosidade vence. – Estava conversando com um novo cliente?
Como meu último contrato tinha encerrado mais cedo, algum extra não faria mal.
— Sim, sim. – Ela abre um sorriso enorme, daqueles que só vejo quando tem peixe grande no anzol. – Hugo precisa de uma mulher disponível para seu amigo. Mas, ainda não sei direito sobre o que seria.
— Entendi.
Marli era dona de uma das maiores agências de acompanhantes em São Paulo, a Royalt Luxor. Onde tinha mulheres de todos os tipos e formas disponíveis para serem “ contratadas ”, para noites de gala com figurões da alta sociedade, para fingir relacionamento, para viagens de negócios, ou, jantares chatos. Marli tinha um esquema complexo de contratos por mês ou semana, o que nos dava um bom dinheiro dependendo do que nosso cliente precisava.
Os contratos em si não envolviam qualquer tipo de envolvimento físico, ou seja, sexo, porém, se ocorresse nos ganhávamos vinte por cento a mais no final do contrato, tudo dependia da forma que ocorresse. Sim, era como as garotas de programa, mas com um benefício muito maior. Eu nunca pensei que a menininha sonhadora que um dia fui viraria acompanhante de luxo, nem que mais tarde largaria minha faculdade de medicina por isso, deixaria minha família no Sul e seguiria para São Paulo atrás dessa vida.
— Vamos, já está na hora. – Marli me chama me tirando dos meus devaneios.
Entro na boate, estilo Burlesco dos anos vinte, a decoração como sempre em tons vibrantes de vermelho, preto e muito couro. Há todo tipo de homem, casados, separados, solteiros, alguns ricos, pobres, velhos, jovens. Todos separados por classes sociais e desejos. Há também uma área reservada para os casais em busca de desejos perversos e homens a procura de aventuras sexuais.
As meninas que trabalham na Royalt Luxor, não são as mesmas que se envolvem sexualmente com os clientes da boate, algumas da Luxor apenas fazem parte do show sensual da noite, ou andam pela boate, o que é meu caso. Às vezes faço parte do show de dança, outras no bar, outras rodando pelo salão sendo os olhos de Marli. Que só aparece na boate quando tem clientes importantes, senão deixa nas costas de Roger.
Alguns clientes da Luxor veem para ver de perto o “catálogo” de meninas que Marli disponibiliza. Mostrando que somos como bonecas em exposição numa loja de brinquedos, por isso aparência é essencial se você deseja esse tipo de coisas, lembro quando fui iniciar na Luxor o discurso que Marli aplicou para mim.
“Clientes querem mulheres deslumbrantes e os mais afortunados querem a melhor, você quer ser a melhor? – Perguntou-me olhando meus olhos até um pouco assustados com as possibilidades. —Brilhe como um diamante Maya Banks, e foi aí que a Mia, aquela mesma garota sonhando ser uma médica de respeito morreu para sempre, se tornando Maya o diamante da Royalt Luxor.”
O palco já está pronto para as meninas, as cadeiras que farão parte do show, espalhadas pelo palco. Gaspar já começava a separar a seleção de música, via pelo canto da cortina a casa cada vez mais cheia, homens e mulheres – mesmo que em sua minoria —, ocupando as mesas e os bancos do bar ao lado. Provavelmente procurando uma boa isca para noite, por mais que a Scandallo oferecesse sexo, nada era explícito, por isso era permitido e aceito público feminino.
Olhei para o mezanino vendo já ocupado com os homens de carteira recheada. Algumas mesas reservadas ainda estavam vazias, coisa que logo não teríamos esse problema, casa lotada significava gorjetas e algumas altas gorjetas.
Jaque, ou melhor, Sol. Já ocupa o banquinho junto com os músicos, Jaque, ou Jaqueline para quem era realmente amigo dela era uma negra de lançar assobios e uma voz de cantora profissional, mas se contentava com a vida de contadora de manhã e de cantora sensual à noite. Logo quando mudei do Sul e ingressei nessa vida, foi Jaque que me mostrou São Paulo assim como me apresentou Marli, morei uns bons meses com ela, me mudei pelo fato de não conseguir aturar mais Vivian e sua mania de se achar a “mulher maravilha”. Além do fato de em apenas três meses nessa vida conseguir comprar minha casa.
Dei uma piscadela quando ela me viu perto das cortinas, olhei para os bastidores procurando Roger, encontrando-o ao lado de uma das dançarinas novatas.
— Roger!
Ele se virou olhando quem havia chamado. – Olá minha gata selvagem.
Cumprimentei-o com um beijo estalado na bochecha. Roger era o braço, mente e companheiro fiel de Marli, além de ser mais gay que meu lado mais masculino. Seus figurinos para as noites na boate eram incríveis, sempre com muito brilho e agarrado, não deixando de salientar nada que eu pudesse deixar de fora. – Como estamos hoje?
— Novatas. Tô repleto de sangue novo. – disse apontando umas quatro garotas se arrumando nos camarins. – Você sabe que fará parte do show, né?
— Sim, já passei no escritório de Marli antes de vir aqui.
— Ótimo, então tire esse casaco, assanhe sua bunda e vamos preparar esse show.
Ri indo até meu camarim, que não passava de uma mesa com todas as minhas coisas. Deixei meu casaco sobre a cadeira, dei uma bagunçada no cabelo armando os cachos, retoquei o batom enquanto Roger explicava algumas coisas para as novatas que já sabia de cor.
— Vamos rebolar até nossa bunda cair? – Claire se debruçou sobre meus ombros sorrindo, seu cabelo loiro curto dava um jeito todo jovial para ela e encantava os velhos que faziam fila para levá-la para cama.
— Espero depois um combinado japonês para compensar todo esse rebolado. – Pisquei com um sorriso.
— Meninas, meninas vamos pilantras do meu coração. – Roger chamava nossa atenção. – O titio aqui já está com o horário apertado.
Seguimos para a saleta onde já tínhamos uma visão para a casa que já estava apinhada de pessoas.
O palco ficou todo escuro assim como a boate, apenas o mezanino continha a iluminação dos abajures nas mesas, alguns homens gritaram e aplaudiram. Segui para minha cadeira no centro do palco, respirei fundo entrando mais no personagem de todas as noites, olho de relance para o mezanino vendo Marli conversando com dois homens, devia ser o tal cliente misterioso que falava no telefone mais cedo.
As luzes se focam em cada cadeira, em cada deslumbrante mulher sentada sobre ela de pernas abertas, dando para as homens visões privilegiadas das lingeries. A música começa a tocar as batidas de “Partition – Beyoncé” , olho de relance para Jaque, ela começa a sussurrar no microfone as primeiras estrofes da canção.
Começo a dançar a coreografia, dançando sentada na cadeira de madeira, jogando a perna sobre o encosto, passando as mãos de forma sensual pelo meu corpo. Assim como as outras meninas estão fazendo, cada uma seguindo sua parte na música. Reparo que Marli aponta para mim, mas não ligo, continuo concentrada em minha atuação.
Invocando minha própria Beyoncé.
Fico em pé rebolando cada vez mais quando as batidas aumentam, dando a volta pela cadeira. Eu e mais três garotas ficamos de quatro apoiadas sobre o acento rebolando enquanto as outras se lançam sobre o chão alternando a coreografia. As luzes piscam, trocam de cores se lançando sobre toda a boate, andamos pelo palco jogando as cadeiras para os auxiliares já preparados para tirá-las de lá. Enquanto algumas meninas engatinham no chão como gatas, eu me junto ao grupo que rebola ocupando o palco.
“Motorista suba á divisória rápido
Lá eu juro que vi as câmeras dando flashes
Digitais e pegadas no meu vidro
Digitais e bons apertos na minha bunda
Um show particular com uma música explosiva”
Escuto Jaque e a banda entrando nos últimos refrãos da música, as luzes apagam e acendem dando um ar fantasmagórico para o palco. Fazendo nossos corpos parecerem e sumirem como fumaça, a cada rebolada, deixando os homens ensandecidos nas mesas. Encerramos a dança uma apoiada na bunda da outra, esperando as luzes se apagarem por completo e os homens e mulheres presentes se levantarem aplaudindo, antes de ir junto com as meninas para o camarim, me permiti uma olhada para o mezanino iluminado onde os dois homens que estavam com Marli me encaravam.
Agora apenas um me olhava com interesse. Seus cabelos eram totalmente rebeldes, mesmo de longe deu para notar sua barba por fazer, tornando o rosto quadrado e másculo dele ainda mais interessante. Sacudi a cabeça espantando esse tipo de pensamento. Não estava nessa vida para me envolver com um riquinho fresco, aliás, não estava nesse tipo de trabalho para me envolver com homem nenhum.
Capítulo 5
Depois de um dia de trabalho frustrado, só queria ir para casa e abrir uma cerveja. Mas não cheguei a fazer nada do que tinha planejado, Hugo queria por que queria me levar a uma boate, alegando que estava resolvendo meu problema de promoção. Como eu já tinha visto todos os meus planos e projetos para essa promoção irem por água abaixo não estava animado.
— Hugo acorda cara, nada pode mudar isso. – Alegava pela milésima vez no telefone.
— Oh Dios! Como você é culo meu amigo. – Ele reclamava.
— Burro é seu... Não me irrite, pois não estou no melhor dia como reparou.
— Meu amigo. Estou propondo que venha comigo a uma boate que conheço, nada demais, lá explicarei meu plano. Eu já tinha planejado ir mesmo, se não gostar de minha ideia podemos pelo menos nos divertir...
Respirei fundo, olhando para a garrafa de cerveja que gotejava na mesa de centro, esperando para que o líquido fosse ingerido. Não tinha escapatória, Hugo não me deixaria em paz, a não ser que aceitasse o tal convite, mesmo não vendo nenhuma saída para meu problema em uma boate qualquer de São Paulo. Afinal, o que aquela puta velha queria era me ver capado ou sendo capacho de alguma mulher para ter o comando da diretoria das empresas, mas nem um cargo que batalhei tanto para ter, merecia uma coleira em meu pescoço. Não que fosse péssimo ter uma mulher ao lado, porém estava bastante satisfeito com meu pequeno harém.
De falta de sexo e um bom boquete eu não vivia sem.
Hugo ainda reclamava em espanhol comigo no telefone. – Cala a boca Hugo, meia hora estarei pronto. Não demore, senão desisto dessa ideia absurda de ir a essa boate.
— Ok, até mais. – Disse desligando.
Hugo chegou quando estava alimentando Buddy, senti meu celular vibrar com sua mensagem, tirei do bolso olhando de relance para o visor. – Hora de ir campeão.
Buddy olhou para mim, balançou o pelo e voltou a comer, peguei meu casaco de couro sobre o sofá e sai, acabei cruzando com a vizinha boazuda, mais conhecida como a barulhenta.
Cumprimentei com um aceno, permitindo uma analisada quando entramos no elevador, ela era muito mais baixa que eu, usava um vestido extremamente justo e curto, saltos, meia-arrastão. Engulo meus pensamentos sobre o que ela faria uma hora dessas, vestida assim.
Já no térreo dei boa noite para o porteiro desse turno e observei quando minha vizinha entrou em um carro parado um pouco distante da entrada.
— Não me olha assim, vamos logo. Tô afim de uma bebida. – Disse entrando no banco do carona.
— Garanto que você não irá se arrepender. – Hugo exibia seu sorriso mais cafajeste.
— Fala logo.
— Apressado como sempre. Bom, você precisa de alguém que assuma um relacionamento, — disse prestando atenção no trânsito do centro e olhando de vez em quando para mim.
— Tá . Sabemos disso. – Retruquei nem olhando para ele. – Você anda conversando com minhas irmãs? Acha que vai cair uma mulher com tudo que procuro no meu colo e viveremos felizes para sempre? – Ironizei.
— Me escute, antes de soltar essas merdas.
Bufei virando meu rosto para a janela, nem mesmo Hugo iria melhorar meu humor hoje.
—Conheço uma pessoa, onde você pode realizar um contrato tendo uma bela mulher ao seu lado. Apresente-a nas reuniões da empresa, depois a dispense, apareça deprimido, cabisbaixo pelos corredores da Wiless. Para dar aquela fofoca entre baias e pronto o cargo é seu e por consequência, eu fico como executivo chefe, assumindo seu escritório é lógico. – Acrescentou rindo.
— Espera! – Exclamei olhando para ele. – Você quer que eu contrate uma puta e finja que ela é minha mulher, namorada, isso mesmo?
Hugo deu de ombros, — Maricón , é o jeito mais fácil, a menos que você queira realmente sair do mercado, deixando todos os filés para seu amigo aqui. Sei que na sua agenda tem várias esperando a ligação do dia seguinte. – Ele ria, fazendo piada de minha situação. — Vamos ver o catálogo que a Marli nos oferece essa noite e aí você conta o que pensa sobre isso.
— Você está ouvindo a merda que diz?
— Você que deveria limpar os ouvidos cara. – Retrucou, entrando em um estacionamento subterrâneo.
Dei uma olhada para a tal boate que ele estava me trazendo, era a primeira vez que vinha aqui, mal sabia da existência dela. A fachada toda de granito negro como se fosse um prédio comum, em cima tinha letras em dourado escrito Scandallo . Havia uma fila de homens, algumas mulheres esperando que os seguranças armados permitissem sua entrada. Hugo cumprimentou dois dos seguranças que permitiram que passássemos na frente dos outros.
— Desde quando você frequenta isso? – Perguntei absorvendo o ambiente sexy e sofisticado.
— Ah, meu amigo!
Hugo me indicou uma escada para um mezanino, passamos por mais um segurança, uma mesa já estava reservada para nós de frente para o palco. Dando uma visão privilegiada do andar de baixo, das garotas que andavam apenas de lingeries enfeitadas por toda boate, havia algumas no mezanino. Gatas, muito gostosas, realmente a casa tinha o que era de melhor.
— E aí? Algum comentário negativo? – Hugo zombou enquanto eu analisava as mulheres que passavam por nós.
— Bom, em quesito de mulher gostosa, você me conquistou. Mas ainda assim não vejo como contratar uma puta para fingir ser algo minha. Eu nem sabia que você frequentava um puteiro como esse.
Hugo ia responder quando olhou para longe, ergueu a mão fazendo sinal e em poucos minutos uma mulher mais velha veio até nossa mesa, puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado.
— Marli, mi calor , como está? – Ela sorriu, estendendo a mão para que ele desse um beijo.
— Estou ótima, viu como a casa está cheia, a fila na porta. – Ela se virou para mim. – Então esse seria o seu amigo?
Ergui a sobrancelha para eles.
— Sim Marli, este é o Otávio. – Hugo nos apresentou.
— Como seria esse tipo de serviço? – perguntei.
Marli olhou para os lados, sorrindo para o nada. – Ah meu garoto, aqui não é lugar, depois, em meu escritório. O show já vai começar. – disse indicando a banda e uma mulher subindo no palco menor.
Olhei melhor pelo espaço notando que a negra lindíssima que tinha se mudado para meu andar era a cantora da boate, esperei que ela virasse o rosto para confirmar. Sim, era ela mesma. Que puta mundo pequeno .
— Marli, certo?
— Sim, pode me chamar de Marli. – Acrescentou um sorriso.
A velha era realmente uma mulher atraente, seus peitos siliconados estavam fazendo volume no vestido preto que vestia, sua cintura era fina, suas unhas perfeitamente pintadas de vermelho, como garras. – Você pode me dizer o nome dessa mulher? – perguntei apontando para a cantora.
Hugo procurou para quem apontava, abrindo um enorme sorriso. Ele era tarado por negras, tarado mesmo. Dizia que a melhor transa dele foi com uma mulher mulata, que depois dela nunca encontrou uma bunda tão gostosa.
— Aquela é a Sol, porém ela não faz parte do catálogo meu garoto.
— Ela é minha vizinha. – Olho para Hugo. – Lembra? A vizinha barulhenta que se mudou há pouco tempo para meu andar, é ela, cruzei com ela no elevador hoje pela manhã.
— Cabrón isso você não me informa?
Dei de ombro em resposta, observando as luzes da boate se apagando e a plateia começar a aplaudir, me sentei ereto na cadeira olhando para o palco, a tal Sol ocupou seu lugar no microfone, fazendo sinal de positivo para a banda.
As luzes se focaram em cada cadeira que em minutos antes estavam vazias, agora sendo ocupadas por mulheres lindas, todas sentadas de pernas abertas instigando a rapaziada. A música começa a tocar, as batidas sensuais preenchendo o ambiente. Marli batia palmas sorrindo como se tivesse na apresentação de suas filhas pequenas na escola, era bizarro.
Voltei minha atenção para o palco, observando cada mulher, elas começaram a dançar sentadas nas cadeiras de madeira, jogando a perna sobre o encosto. Olho para uma em particular, com uma lingerie com cara de fina, mesmo que de longe, ela dançava mais sensual que as outras, suas coxas grossas eram suculentas, me dava água na boca de olhá-las. Marli percebeu que me fixei nela, chegou mais perto de mim e de Hugo apontando para a garota, que percebeu, mas não deu atenção.
— Aquela é meu diamante, ela se chama Maya.
Maya, Maya. Repito o nome em minha mente, o nome é tão excitante quanto vê-la dançar. Ela fica de pé rebolando cada vez mais, mesmo fazendo a mesma coreografia que as outras, não sei o que me deixou tão vidrado nela. Sinto meu pau comprimindo a cueca boxer e o jeans.
As luzes piscam se lançando sobre toda a boate, e eu continuo vidrado nela, em Maya, e em seu rebolado. Sua bunda apertada na lingerie, suas pernas ficando ainda mais atraentes com os saltos vermelhos, nossos olhares se cruzam mais de uma vez, tomo um generoso gole do meu uísque. Percebo Hugo me olhando com interesse, ele sabe quando fico realmente afim de uma mulher, já saiamos há muito tempo juntos para caçar mulheres para transarmos.
E rápido demais as luzes se apagam e acendem fazendo as dançarinas do palco sumirem e retornarem, e então elas encerram o show, meu olhar cruza mais uma vez com o de Maya antes de ela deixar o palco.
E então a expressão se encaixa perfeitamente. Que puta mulher deliciosa.
Capítulo 6
— Meus garotos, infelizmente tenho que dar atenção para outros clientes, — Marli faz um sinal para um garçom que se aproxima, ele está apenas de calça social e uma gravata borboleta no pescoço. Deixando todo o abdômen a mostra, coisa que deveria ter sido pensada para agradar as mulheres que frequentavam a boate.
– Fred, hoje a conta desses senhores é por conta da casa.
— Sim, senhora. – Diz com um sorriso.
Olho Marli se curvar sobre alguns homens a umas três mesas que estávamos sentados, rindo e fumando seus charutos. Ela chama duas mulheres de calcinha e sutiã de renda para os cavalheiros, uma sem cerimônia se senta sobre o colo do mais velho ganhando uma mordida no ombro.
— E aí? Continua recusando minha ideia, mesmo depois de ter secado a tal Maya a dança toda? – Hugo chama minha atenção.
— Confesso que ela era gostosa pra caralho Hugo, mas me convença apenas de uma coisa. – Digo sinalizando para que o garçom traga mais uma dose de uísque para nós. – Como vou conciliar um namoro de mentira com uma puta e a minha família? Você sabe o quanto minha família me pressiona sobre as mulheres que ocasionalmente levo para lá, sabe muito bem como minha mãe quer que eu me amarre.
— Otávio, você já foi mais esperto. Será como um namoro comum, nada diferente das mulheres que você levava para casa dos seus pais no litoral, para ter um final de semana de sexo na praia. Porém, agora no seu caso terá que contar com um teatro na frente dos outros, o que não seria nada difícil né meu amigo, apenas fachada.
— Você continuará com sua vida de boêmio e comedor, enquanto na empresa ganha a puta velha da Ianelli, e sua família dá um tempo com as cobranças sobre um casamento vindo de você. Ainda mais agora com o casamento de sua irmã com meu irmão. – Ele levantou seu copo como se brindasse comigo.
Suspiro pensando no que ele diz, se olhar por essa perspectiva, conseguiria matar dois coelhos numa paulada só, e, continuaria com minha vida noturna em paz. – E como isso funcionária?
— Marli me enviou o catálogo por e-mail e uma cópia do documento. Lá você terá que colocar o que pretende com a acompanhante de luxo, mas, já aviso. Prepare o bolso, elas não são umas putas qualquer como você disse mais cedo.
— Encaminhe para mim e eu olho depois. – Olhei em direção ao bar, o espaço das mesas lá embaixo a procura da tal de Maya, porém não encontrei, algumas moças ocupavam o palco se preparando para a segunda apresentação.
— Você irá adorar essa boate tanto quanto eu. – Hugo fez sinal para a tal de Sol, minha vizinha e depois apontou para mim. – E vê se me apresenta essa morena cabrón , senão perde um amigo.
Soltei uma gargalhada, as mulheres começaram a dançar sobre o palco e então lá estava ela de novo. Subiu no bar com agilidade, com um quepe de policial, e um dos barmen que estavam lá começou a jogar copos para ela.
Em uma mão segurava uma garrafa com um líquido azul que sacolejava a cada rebolada que ela dava. Ela enchia os copos, descia rebolando e distribuía para os homens que estavam perto olhando, tentando tocá-la. Mas, ela toda vez se esquivava, deixando-os ainda mais atiçados.
Entre uma rebolada e outra ela olhou bem para mim no mezanino, deu um belo sorriso de piranha, bateu um dos dedos no quepe de policial e virou o líquido azul na boca, deixando que caísse um pouco pelos seus lábios, molhando seu pescoço, escorrendo para os seios grandes apertados no corpete. O que me fez salivar, com vontade de pular nesse bar, agarrar sua cintura e lamber todo o caminho que a bebida fazia, apertei a mão sobre a calça, tentando controlar meu pau ereto.
Estava difícil trabalhar sem que os olhos penetrantes de Maya invadissem meus pensamentos nessa manhã. Ontem quando sai da boate com Hugo me rendi a uma punheta debaixo do chuveiro, e mesmo assim demorei horas para conseguir pegar no sono. Quando acordei na manhã seguinte já tinha em mente retornar essa noite para a boate e tentar encontrar de novo a mulher que mexeu tanto comigo, mesmo tendo dado apenas algumas reboladas.
Hugo tinha me passado por e-mail o catálogo com as mulheres que Marli agenciava. Incluindo seu site, aproveitei uma folga após o almoço, ficando na frente do notebook e olhar o site que ele havia me encaminhado.
O site assim como a boate era sofisticado, bem desenvolvido, Royalt Luxor, eu já tinha ouvido falar sobre isso, mas não me recordava bem sobre o que tinha sido.
Entrei na página de descrições, onde surgiu a foto de diversas mulheres, com uma pequena biografia ao lado. Procurei sinais de valores declarados, mas Marli era uma velha astuta, no final de cada biografia dizia que maiores informações seria por e-mail de forma sigilosa ou pessoalmente. Fui até o espaço de busca, não me lembrava do sobrenome que Marli havia falado, mais digitei Maya. Esperei um mísero minuto para que o navegador se atualizasse a página e surgisse a foto e a biografia sobre a mulher que havia me tirado do eixo na noite passada.
Na foto seus cabelos negros caiam revoltos pelo rosto, dando um ar selvagem, seus olhos de um verde profundo e intenso que não consegui observar ontem, sua pele era dourada, como se tivesse acabado de sair de um bronzeamento. E a boca, ah aquela boca pedia, implorava para ser mordida, só de pensar o que sua boca faria já sentia meu pau se mexer na cueca.
Deixei a foto de lado antes de ter uma ereção e li sua biografia.
“Maya Banks, vinte e sete anos, natural do Sul. Está há cinco anos na Luxor, uma verdadeira preciosidade. Além de muito educada, Maya fala dois idiomas, estudou medicina. Uma mulher selvagem que realiza as melhores e mais deliciosas fantasias que você desejar.
Maya tem um metro e setenta de altura, belas coxas, olhos verdes, pesando em torno de 60 kg.
Para maiores informações entre em contato conosco, tenho certeza que Maya poderá tornar seus sonhos em realidade.”
Passei o restante da tarde imaginando se seria uma boa ideia, lógico que seria prazeroso ter uma mulher dessas do meu lado, mas ainda se poderia ter a chance de finalmente ter o cargo que tanto desejava e acalmar minha mãe e irmãs que se tornaram insuportáveis com a ideia de arrumar um encontro às cegas para mim.
Tudo que eu não queria no momento era uma coleira. Ou me ver sentado em um barzinho conversando com alguma amiga maluca ou mulher desconhecida que minha família poderia arranjar.
Ouvi uma batida na porta, ergui o olhar vendo Hugo com cara de cansado. Ontem quando ele me deixou em casa disse que voltaria para buscar uma nova amante e pela sua cara de sono a noite tinha sido excelente.
— Aposto que a noite foi boa. – Disse sorrindo, me encostando na cadeira.
— Por favor, me diga que se convenceu com o que eu disse ontem? – Hugo abriu um memorando da empresa, mostrando que a puta velha tinha anunciado eu ou a Patrícia como os possíveis Diretores das empresas Wiless.
— Não acredito! – joguei o memorando longe.
— Pode acreditar meu amigo, é bom você decidir.
Passei as mãos pelos meus cabelos, que droga estava vendo metade dos meus planos desabarem. Mas eu não permitiria, ligaria para essa Marli, foda-se, iria ver o quanto essa mentira poderia durar. Lógico se Maya pudesse ser a mulher que mentiria comigo, seria ainda mais interessante, e, por que não?
— Me passe o endereço do escritório da Luxor, vou falar com Marli. – Comuniquei Hugo.
Ele se endireitou na cadeira já pegando um papel e uma caneta para anotar. Assim que anotou tudo empurrou o papel em minha direção. – É o melhor a se fazer cabrón . Você logo estará na Diretoria e pode até ter uma aventura muito boa com a mulher que escolher.
— Claro. Depois você vai me explicar direito como soube disso. – Desliguei meu computador, arrumei as coisas na pasta encerrando meu dia.
Hugo deu uma risada alta, levantando as mãos em rendição. Grande puto ele era, isso sim. Despedi-me e fui para o último lugar que pensei na vida que fosse procurar uma possível namorada, num puteiro. Era cômico, quem diria que um dia contrataria uma puta para apresentar aos meus colegas de trabalho e minha família, ou, para simplesmente apertar a mão de meu pai num encontro casual, afinal essa porra toda tinha que ser convincente.
Atravessei a cidade, seguindo o GPS, Hugo deu algumas instruções sobre o local, apesar do trânsito cheguei razoavelmente rápido no escritório da Luxor, deixei o carro em uma travessa, pois como ficava na avenida, não tinha vaga.
Conferi as horas no celular e ignorei algumas ligações perdidas que apitavam no visor. Olhei pelo espelho retrovisor, joguei o cabelo que caia em meu rosto para trás e parei de protelar o momento.
Esperei em uma sala realmente palaciana, toda revestida de mármore e móveis elegantes. Prostituição dava dinheiro afinal, pelo visto aqui não trataria com nenhuma puta rampeira daquelas que costumava ver perto dos sinais ou esquinas na madrugada de São Paulo. Um homem de terno saiu de uma sala, encostou a porta, andou poucos passos e olhou para mim. – A Sra. Tavares espera pelo senhor.
Levantei-me já entrando na porta que ele manteve encostada para mim, se a sala de espera era magnífica, o escritório então, meu amigo era coisa de figurões mafiosos. O mesmo designer do site se apresentava lá, poltronas de couro vermelho, uma mesa de mogno toda trabalhada, alguns quadros com mulheres pousando de costas, mostrando sua bunda, coxas e outras partes enfeitavam as paredes.
— Meu garoto, o que devo sua visita? Decidiu aceitar a proposta que seu amigo lhe apresentou? – Marli depositou dois beijos em cada bochecha, mal tocando em meu rosto. – Sente-se, por favor.
Pigarreei e me sentei na cadeira indicada, ela estava realmente falando comigo como se fosse comprar um pedaço de terra. Maluca!
— Aceita beber algo? Posso pedir para trazerem alguma coisa, café? Água? Talvez um Bourbon?
— Um Bourbon está ótimo.
Ela foi até o telefone, apertou um botão e disparou a ordem para seu secretário, com um sorriso se virou novamente para mim. – O que traz o senhor aqui?
— Andei olhando o site da Luxor.
— Ah, pois não. Interessou-se por alguma de nossas meninas? O que o senhor precisa realmente? Posso te indicar a melhor garota de nossa agência. – Perguntou com um sorriso amarelo.
— Quero saber primeiramente como funciona, tenho certeza que o Sr. Torres já deve ter comunicado do por que preciso de seus serviços. – Cruzei as mãos sobre as coxas.
O tal secretário? Uma verdadeira menina. Claude rebolava mais que uma das mulheres que vi ontem pela boate. Ele deposita meu uísque na mesa e sai.
— Bom, — Marli fez sinal para o copo. – Nós trabalhamos de modo variável, tudo depende do que o cliente deseja e quanto esteja disposto a nós oferecer. Podemos ter mulheres por dias, semanas, meses. Já tivemos caso de clientes quererem por um contrato estendido de um ano.
Depositei novamente meu copo no descanso. O que levava um homem contratar uma acompanhante por um ano? Medo de ficar sem sexo? E sem nenhum cérebro dentro da cabeça, porque pelo pouco que observei e Hugo disse, isso não sairia barato.
– Eu preciso de uma mulher que saiba se portar na sociedade, trabalho em uma empresa importante de publicidade, vou a muitos eventos. E para conseguir minha promoção, preciso de alguém que se passe por minha suposta namorada.
— Entendo perfeitamente. Alguém que possa ser avaliada e possa passar essa imagem de mulher de família para seus chefes. – Marli abriu uma gaveta retirando um grosso livro.
—Tenho algumas mulheres que seriam perfeitas para isso. – Ela começou a folhear o livro, onde vi algumas fotos e detalhes pessoais das garotas.
— Não preciso escolher. – Comuniquei. – Já sei quem eu quero.
Ela fechou o livro colocando-o de lado. Um sorriso ambicioso cruzou seu rosto. – E quem seria Sr. Amell?
— Maya Banks.
Sim, os olhos de Marli faiscavam com a possibilidade de grana fácil, eu queria Maya, e ela sabia que iria pagar o preço que ela impusesse.
— Infelizmente, Maya está com a semana ocupada. Tenho outras garotas como estava falando para o Senhor – Sua cara apesar de aparentar desapontamento, eu sabia muito bem que tudo não passava de um falso sentimento, ela estava jogando comigo.
— Como disse não quero. Diga o preço e eu pagarei, quero Maya até conseguir minha promoção e todos os problemas devido à falta de uma namorada desaparecer de minha vida.
— Bom. – Marli puxou outra gaveta, guardou o livro e pegou uma pasta de contrato. – Neste caso, Maya será a garota perfeita, além de muito educada, tenho certeza que o senhor irá se divertir entre quatro paredes com ela.
Ergui minha sobrancelha.
— Lógico que meu contrato é apenas para uma Acompanhante de Luxo, se acaso rolar qualquer atividade física, o senhor fica ciente que deverá arcar com vinte por cento do contrato, dado em dinheiro para própria garota. Aqui não realizamos prostituição senhor Amell, apenas diversão e resolver os problemas de cada cliente VIP.
Essa mulher não era só dissimulada como maluca, ganhava dinheiro pondo mulheres lindas que poderiam estar em outro futuro para ser acompanhante de luxo, como ela dizia. E ainda alegava que isso não era prostituição.
— Tudo bem, prepare o contrato eu assino.
O sorriso dela poderia rasgar sua cara pelo tamanho, ela começou a preencher os papéis, pediu alguns documentos meus assim como a parte de documentos da Maya já havia sido preenchida, percebi que isso deveria ser automático, coisa para evitar perda de tempo.
— Ah, Otávio, no contrato há uma cláusula que fica a sua escolha se dará roupas ou acessórios para a dama enquanto precisar dela, seja para eventos formais ou para um jantar informal. Se tiver qualquer dúvida pode me questionar.
— Não tenho nenhuma dúvida.
Aproximei o contrato e assinei, seja o que Deus quiser.
Capítulo 7
“E toda mulher é poderosa... quando tem as armas certas nas mãos e quando sabem usar dessas armas a seu favor...”
Sai de lá indo direto para boate Scandallo, entrei já estava cheia de gente, hoje tinha algumas mulheres a mais que ontem, um público cativo assistindo ao show. Sentei-me no banco do bar, olhando para o palco tentando encontrá-la, mais nada.
Não conseguia ver Maya no meio das dançarinas.
— Você vai tomar alguma coisa, ou vai ficar babando pelas garotas e tirar minha oportunidade de uma boa gorjeta? – Gritou mais alto que a música.
Virei dando de cara com Maya, seus cabelos como cascatas negras molduravam seu rosto, seus olhos verdes me analisando com interesse. Dei um sorriso de lado para ela.
Sua reação foi à melhor, ela mordeu um pouco o lábio, o que aumentou meu sorriso.
— Eu quero tomar algo sim. – Disse apoiando os cotovelos no balcão, ficando a centímetros de sua orelha. – Um uísque estaria de bom tamanho.
Ela se afastou, ergueu apenas uma das sobrancelhas em completo desafio. Pegou uma garrafa próxima, encheu um copo e colocou na minha frente.
Uma mulher se sentou dois bancos de mim e chamou a atenção de Maya, levando-a para longe, todo o caminho observei o pecado que era seu corpo, hoje numa lingerie azul clara, se me curvasse um pouco pelo balcão conseguiria ver as meias arrastão e seus saltos. Sua cintura estava delineada pelo corpete indecente, mostrando a curva deliciosa que ela tinha no peito, montando duas perfeitas montanhas que eram seus seios.
Seu olhar cruzou com o meu, seu rosto ainda demonstrava desafio e o meu completo fascínio.
Pelo canto do olho reparei quando uma mulher de vestido prata se sentou ao meu lado, virei um pouco o rosto percebendo que era minha vizinha. Ela se espreguiçou e olhou para mim, seu sorriso congelou.
— Olá vizinha! – Disse todo simpático.
Lógico que ela deveria estar envergonhada, o que uma pessoa estaria fazendo em uma boate na zona Sul de São Paulo. Mas como eu já tinha visto ela ontem sabia que era apenas cantora. Aparentemente.
— Oi. – Ela cumprimentou.
— Jaq... Sol, o que você quer? – Maya perguntou parando em nossa frente.
— Então seu nome é Sol? – perguntei para minha vizinha, completei dando meu melhor sorriso, sorriso número 35.
O sorriso do vizinho comedor.
— Jaqueline, mas artístico é Sol. – Ela se virou para Maya que nos olhava interessada. – Não sabia que você frequentava o Scandallo.
— Primeiras vezes. – Confessei olhando para Maya.
— Meu nome é Otávio, não nos apresentamos no elevador aquele dia. – disse estendendo a mão para ela. Maya ainda acompanhava nossa conversa, olhando de Jaqueline para mim. – Você é? – perguntei me virando para Maya.
— Você quer saber por quê? – Respondeu com outra pergunta, toda arisca.
Soltei um risinho, daqueles bem cafajestes. – Talvez passaremos algum tempo juntos. – disse com um dar de ombros.
Maya sentou-se no balcão, trazendo todo seu corpo perto do meu, podia sentir sua respiração em meu rosto. — Só nos seus sonhos baby .
Depois disso ficou de pé, andando pelo balcão. Eu fiquei sem fala, ainda mexido pelo seu perfume doce dançando em minha cara. Uma música de batida forte começou a tocar, duas garotas também subiram no palco dançando, rebolando no ritmo. Maya veio pisando duro pelo balcão, rebolando e o tempo todo me olhando, me provocando com seu corpo. Por um segundo ela teria pisado em minha mão se eu não tivesse retirado junto com meu copo do balcão.
— Tome cuidado, Maya não é para brincadeira. – Jaqueline sussurrou em meu ouvido. – Eu disse, tão mal-humorada quanto a gata dela. – Depois disso se levantou, saiu em direção oposta e eu fiquei lá como um babaca, vendo a mulher mais petulante do mundo rebolando na minha cara, me lançando ao desafio.
Tudo bem, querida, você seria minha pelos próximos dias, ou até meses, que nosso tempo comece. Que comecem os jogos.
— Não acredito que você me ligou. Pensei que tinha sido muito saidinha aquele dia na D-Edge. — Sofia dizia enquanto beijava e mordia seu pescoço.
— Gosto de mulher que sabe o que quer.
— Então, o que você quer, Sr. Moreno irresistível? – Ela baixou uma de suas mãos segurando meu pênis debaixo d’água.
Encostei meu corpo do lado oposto da banheira, enquanto ela fazia seu trabalho.
— Preciso de uma distração.
— Precisando é só me chamar gostosão – Sussurrou com um belo sorriso safado, subindo em mim.
— Pare de falar, seja minha distração.
Empurrei sua cabeça, levando sua boca para longe da minha, fazendo que ela descesse por todo meu corpo...
Capítulo 8
Eu estava atrasada, Marli ficou uma boa hora explicando sobre meu novo cliente, algum playboy que precisava de uma namoradinha de mentira. Pelo que ela me explicou as pressas no escritório da Royalt, que meu futuro cliente era maravilhoso e já havia pesquisado sobre ele, até sua família.
Marli sempre tinha esse cuidado conosco, certificava-se que cada cliente não seria uma furada para nós e nem um caso de polícia para ela.
Deixei-a no escritório e segui para a boate, está noite cuidaria do bar com o Lucio, eu era uma espécie de volante. Trabalhava no bar, na casa, ou dançando no palco. Foi assim que comecei, como dançarina muito antes de entrar para Luxor.
Foi depois de ver como as garotas da Luxor ganhavam bem, e olha que muitas não trocavam mais do que beijos e carícias na frente da sociedade. Depois fiquei por dentro do esquema, eu nunca fui contra sexo, tinha plena consciência do meu corpo, e, principalmente dos meus desejos.
No começo teve apenas dois clientes que fui realmente entregue na sedução e tive um dos sexos mais divertidos da minha vida, um levou ao relacionamento sério. Mas como qualquer homem ele achou que por ser acompanhante de luxo, uma hora ou outra poderia me comprar. Coitado, tomou um pé na bunda, mas deixou alguns buracos em meu coração como todo bom homem canalha.
Desde menina minha mãe alimentava a fantasia de príncipes em cavalos brancos e homens gentis, talvez seja pelo fato dela ser de uma época mais conservadora, ou por ter encontrado meu pai. Que em quesito de cavalheirismo com ela era nota dez, sempre fazendo suas vontades e ajudando em casa, mesmo com nossa falta de grana. Já eu, nunca acreditei realmente que existiria um homem assim para mim, sempre olhava para os homens com desconfiança. Como se eles fossem uma cobra prestes a dar o bote, no fundo os homens eram assim e a melhor coisa era não criar muitas expectativas.
Sem expectativas, sem desapontamentos.
Os outros como disse, eu adorava realizar as fantasias, desejos mais profundos dos homens, uma vez passei um mês em Búzios na casa de um cliente, ele tinha a fantasia de ser judiado. Bem coisa BDSM.
— Mexa esse traseiro, gatinha. – Lucio me arrancou dos meus pensamentos.
— Boa noite para você também, querido — Como vai à noite? – Perguntei de modo sarcástico.
Ele sorriu e bateu na aba do seu chapéu bem anos 60, com aba curta, seu colete de couro colado nos músculos, mostrando um pouco do abdômen tanquinho que ele tinha.
A Scandallo estava fervendo hoje, o público feminino sempre aumentava as terças e quintas, onde Marli lançava o famoso: “mulher paga meia” a noite toda e ainda tinha uns garçons desfilando com sorrisos fáceis pelo lugar. Marli estava pensando em abrir o ramo para clientes mulheres, tanto eu como Roger gostamos da ideia, seria algo diferente para a Luxor.
Podia ver do balcão os clientes clichês, aqueles que batiam fielmente seu cartão de presença pelo menos umas três vezes por semana. As novatas dançavam no palco ao som de “Do I Wanna Know?” uma música sensual com muito som de guitarra. Eu sabia todas as coreografias de olhos fechados, sempre gostei de dançar e aprendia rápido.
Notei Kelly encostar-se ao balcão com um figurão velho, sussurrando em seu ouvido, ela gargalhava como se ele fosse o príncipe encantado. Arrastei-me para onde eles estavam.
– Aceitam algo?
— Por favor, lindinha, uma dose de vodca pura para mim e para meu docinho um Martini.
— Claro.
Preparei as bebidas parando para pegar a gorjeta e seguir para o lado, a boate escureceu e quando as luzes rodaram por todo espaço eu dei de cara com ele, o mesmo homem que tinha me encarado ontem pelo mezanino.
Hoje podia observar todos os detalhes que tinham ficado de fora, como seus olhos azuis penetrantes, sua cabeleira preta rebelde, caindo no rosto. Ele encarava o palco, como se tivesse procurando alguém.
— Você vai tomar alguma coisa, ou vai ficar babando pelas garotas e tirar minha oportunidade de uma boa gorjeta? – Falei acima da música alta.
Ele sorriu para mim como se tivesse encontrado o que procurava, coitado, realmente coitado. Ele seria daqueles que ficam babando pelas mulheres que trabalham aqui, acabam convidando para jantares até ver onde estão se metendo. Ou ele sabia muito bem o que realmente fazíamos na boate.
— Eu quero tomar algo sim. – Ele apoiou o corpo nos cotovelos, ficando a centímetros de meu rosto. – Um uísque estaria de bom tamanho.
Ergui apenas uma sobrancelha em completo desafio. Puxei uma garrafa próxima, enchendo um copo e depositando-o na frente dele.
Peguei sua comanda ao lado do copo, preenchi colocando as duas doses cavalar de Bourbon.
Olhei mais adiante, vendo Jaque vindo em nossa direção, se um dia eu visse Jaqueline na rua iria jurar que seria uma modelo, negra, alta, seus cabelos também pretos caindo em cachos perfeitos no delicado penteado e um par de coxas que só Deus mesmo poderia ter criado.
Jaque tinha se mudado para um apartamento chique nos jardins, como não suportava a sua colega de apartamento recusei o convite de morar com ela, e outra, eu amava minha casinha, era meu refúgio. Ela se sentou dois bancos depois do moreno bonitão. É ele era um moreno bonitão . Fui até lá, peguei pelo caminho uma garrafa de chá gelado com o nome dela, despejei o conteúdo meio verde em um copo. Coloquei na sua frente e dei um sorriso meio careta para o conteúdo que dançava pelo cristal.
— Olá vizinha! – Escutei por cima do ombro.
— Oi. – Jaque cumprimentou, sem jeito.
—Sol, você quer mais alguma coisa? – Perguntei.
— Então seu nome é Sol?
— Jaqueline, mas artístico é Sol. – Acompanhei interessada a conversa, queria saber de onde eles se conheciam. Fingi que limpava o balcão para escutar um pouco mais da conversa.
– Não sabia que você frequentava a Scandallo.
— Primeiras vezes. – Respondeu o moreno bonitão. — Meu nome é Otávio, não nos apresentamos no elevador naquele dia.
Otávio, então esse era o nome dele, bonito, apesar de não combinar em nada, quando eu olhava para ele imaginava um nome mais sexy, ou até mesmo um nome estrangeiro. As mães adoravam fazer isso.
— Você é? – Otávio se virou para mim.
— Você quer saber por quê? – Perguntei arisca.
Um risinho brincou em seus lábios finos, cafajeste. – Talvez passaremos algum tempo juntos. – disse completando com um dar de ombros.
Pelo canto do olho notei Gaspar junto com as duas dançarinas do bar se preparando para subir, toda noite tinha as famosas Coiotes, garotas que subiam no bar, dançavam e distribuíam bebidas para os homens mais próximos, eu faria questão de pisar nos dedos de Otávio se ainda estivesse ali. Sentei no balcão, levando todo meu corpo para perto do dele, como ele mesmo havia feito mais cedo. Minhas pernas abertas em volta de seu corpo, inclinei minha cabeça vendo-o babar por minhas coxas. Podia sentir o seu perfume invadindo minhas narinas. – Só nos seus sonhos baby .
Fico de pé, não espero por qualquer resposta dele, ando pelo balcão, a música e os holofotes se lançaram sobre mim, puxo as duas meninas pela mão içando-as para o balcão do bar.
Rebolei de verdade, quase enfiando minha bunda na cara de um homem gordo sentado na ponta, seus olhos arregalaram com malícia. Afasto-me antes que ele tocasse em meu corpo, andando a passos firmes pelo espaço, rebolando, agachando e me insinuando.
Pelo ombro vejo que o moreno petulante ainda está sentado com Jaque, parto rumo a eles e quando ia descer o salto de meu sapato bem nos dedos dele, ele é mais rápido retirando a mão com susto, olhando para mim medindo cada centímetro de meu corpo.
Capítulo 9
Olhei para o visor do celular, três e quarenta, logo poderia cair sobre minha cama, a semana mal começando e eu já estava esgotada. Diversas vezes pensei em largar tudo, voltar para minha faculdade, mas ainda não tinha todo o dinheiro que precisava para estudar e me dedicar apenas a isso, os livros eram caros, a mensalidade também. Pelos meus planos mais um ano e eu conseguiria sair dessa vida e recomeçar com meus sonhos.
— Garota! – Julia, uma ruiva em miniatura me chama acenando com a mão, ela chega ao mesmo tempo em que Marli surgiu no corredor. – Tenho um cliente para você, você não fez nenhum programa hoje.
Respiro fundo. A novata achava que eu era uma puta como ela. Eu nunca parei realmente para analisar a vida de uma prostituta, haviam as que foram obrigadas a estarem naquela vida, as que entravam em uma furada acreditando num mundo que não existia e as que entravam porque queriam. Este era o meu caso. Quem achava que mesmo trabalhando com nossos corpos tínhamos algum tipo de moleza estavam enganados, eu agradecia por não ser uma puta de esquina, nem de um bordel qualquer. Por mais que Marli fosse interesseira, ela tinha uma firma que qualquer puta mataria para ter uma vaga, e mesmo assim, para ser uma Luxor, você tinha que responder a um questionário enorme, e ainda fazer vários exames médicos.
E em troca, dependendo do cliente você ganhava viagens, joias, roupas. Teve menina que já ganhou casa, carro, outras conseguiram um homem que se apaixonou, largou a família e foi viver com sua acompanhante de luxo.
— Julia, você está cansada de saber que a Maya faz parte da Luxor, ela não precisa de clientes da boate.
Julia revirou os olhos. – Não custa fazer uma grana extra.
Ela continuou mascando seu chiclete como uma cabra, o que era não só feio, mas tornava ela ainda mais vulgar. Marli a dispensou com a mão, passou um braço por minha cintura, acompanhei seu caminhar até o escritório.
— Poderia encerrar mais cedo? Estou tão cansada. – Confesso.
— Preciso apenas trocar umas palavrinhas com você. – Disse ignorando meu pedido de ir embora.
Joguei-me sobre o pequeno sofá de canto, sentindo meu corpo pedindo descanso. Meus pés reclamavam dos saltos, o ferro do corpete começava a furar e incomodar meu corpo.
— Amanhã quero ver você cedo em meu escritório na Royalt, tenho que mostrar os detalhes de seu próximo cliente, também precisamos agendar o salão de cabeleireiro e os serviços de pele.
— Quanto tempo será desse cliente?
— Tempo indeterminado, — ela viu que arregalei os olhos, todos os meus contratos tinham data para começar e terminar. – Fique calma, ele precisa de você pelo tempo que conseguir resolver seus problemas.
— Para que mesmo eu estou sendo contratada? É algum gordo tarado de novo?
Marli gargalhou. – Não meu diamante, ele é um homem delicioso, seria uma pena se você não conseguisse o bônus. – Disse piscando. – Ele precisa de uma namorada.
— Sério isso? Se ele é tão bonito como você diz, porque não arruma uma de verdade? Ele tem pinto pequeno? Virgem?
Marli gargalhava tanto de minhas perguntas que suas bochechas ficaram vermelhas.
— Olha, pelo arquivo que levantei dele, é mulherengo, boêmio de tudo, vive a noite, um verdadeiro morcego. A questão do pinto, como você levantou, o pouco que observei quando estive com ele. – Ela fez um gesto de grande, depois se abanou. Rimos da infantilidade de seus gestos. – Ele tem trinta anos, amanhã passarei a ficha para você.
— Tudo bem.
Levantei me espreguiçando. Pronta para perguntar se estava dispensada quando ela me interrompeu.
— Meu diamante.
— Para com essa história de diamante. – Reclamei.
Ela tirou os olhos dos papéis a sua frente. – Querida se você visse a quantidade de clientes querendo você, o quanto você já contribuiu para minha fortuna, mas agora vá. Não se atrase amanhã.
Dei um sorriso de lado para ela. Crente que estava dispensada para ir para casa, estava recolocando minha bolsa no ombro quando ela me pergunta:
— Você fecha a boate com Lucio, hoje?
Amaldiçoei-me por dentro, tudo que eu queria era minha cama quentinha e ainda teria que esperar mais uma hora e fechar toda a boate. Respirei fundo. – Claro Marli, eu finalizo tudo.
A boate já estava completamente vazia. Marli deixou na minha responsabilidade de finalizar tudo com Lucio, que arrumava todas as garrafas e copos enquanto eu ajeitava os camarins e fantasias.
— Morena? Que tal uma música para nos animar? — Lucio perguntava causando eco por estarmos em completo silêncio.
— Pode ser. A Jaque deve ter deixado algum pen-drive no palco, já estou indo. — Gritei para ele.
Peguei minha mochila apagando as luzes dos fundos, Lucio tinha tirado o colete de couro e o chapéu que estava usando mais cedo, deixando o belo abdômen definido amostra, as luzes do palco ainda estavam acessas se lançando pela boate. Como previ Jaqueline tinha deixado seu pen-drive perto da caixa de som, conectei vendo as caixas explodirem com Charlie Daniels cantando sua música country. "The Devil Went Down To Georgia". No primeiro refrão Lucio soltou uma gargalhada pulando para cima do balcão, interpretando a música.
Dançando por todo o bar com o pano de prato apoiado nos ombros, ampliando seus gestos sorrindo e me chamando para acompanhá-lo. Ocupei o palco dançando de forma sensual e atrapalhada copiando seus passos. Lucio ria e interpretava muito bem seu papel de dançarino, ele fez uns passos complicados ficando de joelho e escorregando por todo balcão o que arrancou uma grande gargalhada minha.
Fazendo-me esquecer do cansaço que se apossava de meu corpo.
— Gostou né, morena? — Ele brincava com o pano açoitando o ar como se fosse um chicote. A música trocou na caixa de som, e, nem isso o fez parar.
— Você tem requebrado Lucio, com um corpete ficaria um arraso. — Zombei.
A gargalhada dele preencheu o ar, continuamos dançando pela boate. Ele no balcão e eu no palco, quando uma música latina lançou suas batidas sensuais por todo espaço não me contive. Lucio se sentou no palco com uma lata cerveja batendo palmas acompanhando minhas reboladas e requebradas no ritmo de "Despacito — Daddy Yankee", sempre tive um fraco para músicas latinas, a batida me envolvia de um jeito anormal. Por isso não escutamos quando a porta da boate foi aberta, nem escutamos os passos na escada.
— Qual é a sua babaca?
Virei assustada vendo Lucio gritar para alguém, meu sangue congelou nas veias quando percebi que era Otávio. O que ele queria aqui, ainda mais essa hora?
— Fala babaca? O que você quer aqui? — Gritava Lucio.
Pelo canto do olho vi quando ele buscou um bastão de beisebol que ele guardava debaixo do bar, prestes a estourá-lo na cabeça de Otávio. Que em nenhum momento fraquejou, continuou me encarando nem ligando para Lucio, ou, para o que poderia acontecer com ele. Tirei com força o pen-drive da caixa de som, interrompendo a música.
Pulei do palco, nem ligando para meus saltos que rangeram com o impacto. — O que você quer?
Cheguei perto de Otávio, olhando bem para seu rosto, os olhos sérios e os lábios comprimidos.
— Oh babaca, estou falando com você! — Lucio continua gritando, tentando chamar atenção de Otávio, e esse continuou com os olhos pregados em mim.
— Lucio ele é cliente da Scandallo, — Digo rápido para intervir no que pode ser um banho de agressão e polícia. — Verifique se tranquei as portas dos fundos e eu encaminho o Sr. Intruso até a porta.
— Tem certeza morena? Ainda estou disposto a quebrar a cara dele.
Desvio minimamente meus olhos do rosto de Otávio, para confirmar o que disse para Lucio.
Espero alguns segundos até que ele tenha se afastado para recuar um passo e encarar melhor o rosto petrificado de Otávio. — Agora que te livrei de ter todos os dentes arrancados, o que você está fazendo aqui?
— Eu estava passando. — Ele falava de maneira mansa, baixo fazendo os pelos de minha nuca se arrepiarem com a rouquidão de sua voz.
— Péssima decisão, Lucio não tem muita paciência e espero que você esteja longe quando ele retornar. — Cruzei os braços contra o peito, mostrando minha impaciência.
— Não tenho medo de um brutamonte como ele. — Seus lábios se curvaram em um sorriso ameaçador. E puta que pariu, muito sexy!
— Eu devo mostrar onde fica a saída para você?
— Por que você não me acompanha até ela?
Mordi internamente minha bochecha contendo um suspiro. Olhei em direção ao corredor que Lucio tinha ido.
— Estou indo embora Lucio, até amanhã. — Gritei.
Corri até o banco pegando minha mochila, agarrei a manga da blusa de Otávio arrastando para fora comigo, em direção à rua. Notei um carro importado imponente parado logo atrás do meu e a Harley—Davidson de Lucio parada de forma errada na guia da calçada.
Parei em frente ao meu carro me virando para ele. — Pronto agora que estamos aqui fora pode ir embora.
Acionei o alarme do carro destravando as portas.
— Ele é seu namorado?
Virei-me para encarar seu rosto. — Lucio? —Contive uma risada. — Não, eu não namoro Sr. Espertalhão.
Ele sorriu de forma cafajeste. — Isso é bom saber.
— Olha sinto muito se você acha que eu sou como as mulheres que anda acostumado. — O coitado mal sabe, pensei comigo mesma. — Procure alguém da sua laia.
Contornei o carro abrindo a porta do motorista, antes de entrar me voltei para Otávio que estava encostado sobre o capô de seu carro caro olhando interessado para mim. — Se eu fosse você não estaria aí quando Lucio saísse. — Avisei entrando em meu carro e dando partida.
Enquanto me afastava da Scandallo os olhos penetrantes e atraentes de Otávio ainda me observavam pelo espelho retrovisor.
Capítulo 10
Algo realmente barulhento chamava minha atenção, sentia o sonho se desprendendo de minha mente, sonhos que envolviam olhos azuis, bocas se tocando e muitas mãos, mãos essas que deixavam meu corpo quente.
Abri os olhos, estava com a cara enfiada no travesseiro, um fio de baba escorria pela minha boca. Merda de olhos azuis! Passei o antebraço tirando a baba que restava grudada em meus lábios. Olhei para o relógio digital na cômoda do outro lado do quarto, merda de novo, estava atrasada para ir à reunião com a Marli.
Joguei o edredom para o lado assustando Nica – minha gata —que dormia tranquila esparramada em um dos travesseiros, corri para o closet separando um vestido leve vermelho, mesmo por trás da cortina podia ver o sol, com certeza estaria quente pelo resto do dia. Como não daria mais tempo para tomar um banho, troquei meu pijama, um salto médio nos pés e joguei na cama um casaco caramelo.
Deixei meus cabelos caindo em ondas pelos ombros, passei um batom matte e um lápis de olho preto. Meu telefone tocou pela terceira vez, corri para pegá-lo na cama.
— Eu sei, eu sei, estou atrasada.
— Bom dia para você também Mia. – Jaqueline disse rindo.
— Achei que fosse a Marli, como vai amiga? E quantas vezes vou dizer que sou Maya agora e não Mia?
— Tá, tá, tá e eu estou melhor que você aposto. Pego a Nica hoje?
— Não precisa. Obrigada. – Respondo correndo pelo quarto, recolhendo todas as minhas coisas.
— Você está correndo? Dormiu demais? – Ouvi o barulho de gavetas se fechando, Jaque já devia estar em seu trabalho de contadora.
— Sim, preciso ir. Ligo para você mais tarde Jaque. – Falei com a respiração ofegante de tanto correr de um lado para o outro.
— Ok garota, beijos.
Corri pela escada pegando minha carteira, as chaves do carro indo para a garagem. Liguei o motor do carro e sai acelerando para a avenida, demoraria no mínimo uns quarenta minutos até o escritório da Royalt. Merda de novo, Marli odiava atrasos, eu escutaria sobre isso o resto da semana.
Ela também não poderia me culpar, ontem tinha ficado além do meu limite de cansaço para fechar a boate, ainda por cima evitei um pequeno banho de sangue entre seu cliente da Scandallo e Lucio.
Mal podia esperar pelo final de semana, iniciaria com o tal cliente engomadinho e estaria longe da correria da boate, Marli não tinha me contado se ele era de São Paulo, rezava para que tivesse a sorte de Sula, arrumar um empresário que necessitasse viajar. Seria realmente bom, arrumar as malas e entrar no personagem que ele precisava.
Ouvi meu telefone tocando novamente, olhei para o visor aproveitando que o trânsito havia parado. Marli, fodeu !
— Marli.
— Atrasada. – Sua voz estava calma, se ela nervosa já era de deixar os cabelos do braço arrepiados e não de um jeito positivo, imagina ela com voz calma.
— Desculpe mesmo, estou correndo, já estou chegando.
— Mudei um pouco as coisas, estou com seu cliente chegando aqui. Assim apresento vocês de uma vez.
— Estou chegando.
Dirigi atravessando a cidade até o escritório, passei meu cartão no estacionamento subterrâneo do prédio, estacionando meu Mini Cooper numa vaga perto do elevador.
Eu amava meu carro, lembro que fiquei babando quando olhei para ele pela primeira vez na Augusta, uma rua luxuosa cheia de lojas de carros importados. Naquele dia eu tive a certeza que o carro era como uma sereia, jogando seu canto e alguns meses depois eu estava dirigindo-o com a capota aberta pela cidade. Aventurando-me pelos bairros de São Paulo.
— Bom dia, Srta. Banks. — Natalia me cumprimentou.
— Estou em maus lençóis, né?
Ela soltou um risinho baixo, sabia muito bem do que eu estava falando. Natalia e Claude eram os assistentes de Marli na Luxor, Roger também, mas ele aparecia raramente aqui, preferia ficar mais na boate gerenciando tudo. Coitados aguentavam cada coisa.
— Hoje está tranquila.
Levantei as mãos ao céu agradecendo, ao mesmo tempo em que a porta abria revelando Claude. Ele lançou um olhar meio furioso para mim, depois caiu na gargalhada, escutei quando Marli falou de dentro do escritório mandando que eu entrasse. Nem precisando me anunciar, os seguranças devem ter avisado que estava subindo.
Passei por Claude, mandando um beijo. Deixei minha bolsa no sofá ao lado da porta, um homem de terno estava sentado de costas para mim conversando com a Marli, ela sorria abertamente para ele, se o homem engomado não fosse meu cliente ele seria um cobrador. Isso explicava o controle de fúria que ela estava tendo.
— Até que enfim Maya, nosso cliente já estava impaciente, o Sr. Amell é um homem ocupado. – Marli lançou o primeiro olhar mortal para mim.
— Mil desculpas Marli, perdão Sr. Amell, peguei um trânsito horrível perto do Jabaquara.
Minha boca praticamente caiu enquanto eu caminhava para as poltronas, a fim de olhar o rosto do meu possível cliente.
Ele se virou revelando sua identidade.
— Olá Maya, que prazer em vê-la. – O moreno bonitão se levantou, me olhando de cima a baixo com um sorrisinho cínico no rosto.
Capítulo 11
Tinha saído do escritório dizendo que visitaria um cliente, tirando Hugo que sabia para onde iria realmente. De novo fiquei dando voltas no quarteirão tentando encontrar uma vaga para o carro, acabei deixando na frente de um restaurante prometendo uma boa gorjeta para o cara, que só assim parou de reclamar.
Marli como sempre me recebeu com um sorriso de orelha a orelha, muito satisfeita, pelo simples fato do cheque bem gordo em meu bolso.
— Ela já deve estar chegando, Maya não costuma atrasar. – Marli lançou mais um sorrisinho simpático para mim.
Consultei as horas em meu Rolex. – Tudo bem, se quiser podemos dar adiantamento nas coisas, enquanto ela não chega.
— Claro.
Esperei enquanto ela remexia nas gavetas, puxando uma pasta preta, tirou alguns documentos já assinados por ela. Passou-me por cima da mesa sem falar nada, corri os olhos examinando todas as cláusulas, basicamente eu alugava Maya Banks por um período de tempo, no contrato dizia um mês. – Aqui temos um equívoco, — apontei para o local do período. – Como disse não sei ao certo quanto tempo preciso dos serviços de Maya, pode ser por um período de um mês ou mais. – Entrelacei as mãos sobre minhas pernas. – Tudo depende da forma como minha chefe e os representantes da empresa olharem para ela.
— Sim, porém como não temos tempo certo, prefiro que façamos um contrato mensal, se por acaso você quiser deixar ou renovar o contrato no próximo mês voltamos a conversar. – Ela pegou uma caneta e deixou perto de minhas mãos. – Enquanto isso Maya não estará mais no mercado, lógico que como falei precisará de pelo menos um pequeno agrado, afinal Maya é meu diamante como disse para Hugo.
— Sim, já preparei um cheque para você.
Analisei as regras impostas no contrato, no caso de joias ou roupas elas ficavam ao meu critério e da acompanhante de ficar ou não com as peças, isso parecia justo. Terminei de ler outras partes, peguei o cheque em meu bolso, um cheque gordo e pomposo de quarenta mil reais, tendo o tal bônus de dez mil reais para Marli. Assinei e passei para ela.
Seus olhos ficaram grandes, ambiciosos quando viu o bônus incluído no valor.
Eu não tinha certeza que esse valor iria para as mãos de Maya, mas também nem poderia saber, é minha primeira vez com uma prostituta, pelo menos uma que eu pagasse tão caro para ter. Hugo havia me garantido e mostrado que elas não eram prostitutas, e sim o termo que Marli usava, acompanhantes de Luxo, e que Luxo.
Porque gastar trinta mil com uma mulher não é brincadeira, ainda mais para sustentar uma mentira, esperava realmente que os talentos de Maya passassem de alguns rebolados e olhares sensuais, porra se minha "chefa" fosse pelo menos um homem. Se nada desse certo, com um rebolado eu resolveria meus problemas. Ri para mim mesmo do rumo dos meus pensamentos.
O que tornava tudo ainda mais irônico é que eu poderia telefonar para todas em minha agenda, com certeza uma gostaria de me acompanhar em alguns eventos, mas era como Hugo me disse. Se quisesse continuar sem mulher e cobranças futuras, tinha que agir com uma profissional.
Claude, o secretário de Marli pediu licença deixando a bandeja com café sobre a mesa auxiliar e saiu.
— Até que enfim Maya, nosso cliente já estava impaciente, o Sr. Amell é um homem ocupado.
Mantive meu olhar no rosto de Marli, era hora do show.
— Mil desculpas Marli, perdão Sr. Amell, peguei um trânsito horrível perto do Jabaquara.
Virei-me na cadeira dando meu melhor sorriso, um bem cínico na verdade, olhei seu visual de cima a baixo, seu vestido esvoaçante, as coxas expostas, o cabelo menos rebelde das noites na boate, penteados e controlados caindo pelos ombros, roçando seus seios fartos. Aqueles seios em minha boca seriam uma perdição. Meu pênis se mexeu concordando com meus pensamentos.
— Olá Maya, que prazer em vê-la. – Me levantei, arrumando o blazer.
— O que você está fazendo aqui? – Maya disparou para mim.
— Isso é jeito de falar com seu cliente garota, — Marli fechou a cara. – Peço desculpas Sr. Amell, Maya não deve ter acordado de bom humor.
— Imagino. Todos nós temos dias ruins.
Não comentei do nosso breve encontro na noite passada e pelo visto Maya ainda não havia comentado com sua chefe que entrei na boate sem permissão, muito menos que seu garçom tinha ameaçado estourar um taco de beisebol em minha cabeça.
— Maya esse é Otávio Amell, seu cliente. – Reparei no olhar mordaz que Marli lançou para Maya.
— Você só pode estar brincando? – Maya perguntou enfurecida.
— Maya!
— Eu disse que passaríamos algum tempo juntos Maya. – Respondi ainda mais cínico, e seus olhos verdes estavam mais para duas labaredas, praticamente me queimando vivo.
— Isso é sério Marli?
— Maya porque você não se senta? Vocês já se conheciam?
Marli troca olhares entre mim e Maya.
— Ele frequentou a Scandallo. – Maya veio caminhando em direção a poltrona.
— Ah, claro. Querida como estava conversando com o Sr. Amell, ele precisa de uma acompanhante que se passe por namorada dele. Vocês terão oportunidade para conversar depois, com mais calma.
— Isso. Preciso de alguém que se passe por minha namorada, até que resolva problemas relacionados a trabalho e alguns familiares, isso incluirá jantares de negócios, jantares e eventos em família, possivelmente uma viagem para o Rio de Janeiro onde fica a sede da empresa. Coisas desse tipo.
Maya mantinha seu olhar sério para mim, mesmo que sua aparência tinha entrado em modo profissional, podia ver o fogo ainda ardendo em seus olhos.
— Meu lema já diz, adoro satisfazer as fantasias dos meus clientes.
— Tenho uma dúvida. Você se apresentará como Maya, ou me dará seu nome verdadeiro? – Perguntei.
— Otávio querido, entenda que esse é o pseudônimo dela, se for dá vontade de ambos podem criar um totalmente novo, assim como fica da escolha de Maya dizer ou não seu nome verdadeiro.
— Claro, apenas fico pensando se cruzarei com um de seus clientes, não posso me dar ao luxo de contratar algo desse valor e ainda prejudicar meus negócios.
— Entendo completamente Sr. Amell. – Marli afastou uma mecha que se soltou de seu coque elegante, colocando-a novamente atrás da orelha.
– Fique tranquilo quanto a isso, todos os contratos têm uma cláusula sobre sigilo, assim como o senhor tem seus negócios. Os outros clientes tão pouco querem esse tipo de foco neles.
— Perfeito. – Concordei, no mais belo tom de negociador.
— Meu nome é Maya Banks e será Maya Banks, ou você prefere Laura? – Maya, voltou com o assunto anterior, desafiando-me com seu olhar, eu queria saber seu nome verdadeiro. Seria mesmo Maya Banks ou outro totalmente diferente.
— Esse é seu nome real? Como consta em seus documentos?
— Se você quiser ver minha identidade verá Maya, ou Laura, ou Mia, ou Joana. – Ela mostrou um sorriso calculado.
— Continue com Maya então. – Me levantei, abotoei o blazer, conferi mais uma vez as horas, ela me tirava do sério.
– Marli, foi um prazer fazer negócio com você. Espero que não tenhamos nenhum problema.
— Lógico que não, mesmo Maya sendo um pouco rude hoje, garanto ao senhor que está com a melhor acompanhante que tenho na Luxor. – Apertamos as mãos fixando nosso acordo.
Peguei o contrato de aluguel de Maya, pelo próximo mês ela seria minha. Verifiquei a última folha notando que tinha o número de telefone dela, o que facilitava nosso contato, assim como anotei no contrato que ficou com Marli meus dados pessoais.
— Maya, nós veremos em breve, fique preparada para uma reunião de negócios.
— Claro Sr. Amell, serei toda sua. – Ela chegou bem perto para dizer isso, fazendo todo meu corpo sentir ondas de choque se espalhando em minha pele.
Pigarreei, tentando limpar minha mente do seu perfume doce que invadia meu sistema, inundando meu cérebro de imagens do que poderia ser essa aventura.
Capítulo 12
Retornei à Wiless pela hora do almoço, o andar estava calmo, a maioria dos funcionários estava almoçando. Passei pela sala de Hugo, ele também não estava, segui para minha e me enfiei de cara no trabalho.
Era a melhor coisa para me distrair, tirar aqueles olhos verdes em chamas de meu pensamento. Fiquei em completo silêncio por vários minutos analisando contratos que tinha sobre minha mesa, minutas que precisavam ainda hoje que fossem lidas e assinadas pelo departamento de marketing, coisas que precisavam estar prontas antes de minha viagem para o Rio e o casamento de minha irmã no litoral.
Ainda havia mais essa, Bianca se casaria no próximo final de semana, tanto eu como Hugo conseguimos vender uma semana de nossas férias e ficar de folga para o casamento e preparativos. Karla, minha mãe havia dobrado meu pai para que Bianca e Ruan tivessem uma semana inteira de comemorações. Era o sonho da princesinha caçula da casa.
Estava tão concentrado nos papéis em minha frente, como em meus pensamentos, que não vi Hugo entrando em minha sala, levantei os olhos quando ele assobiou anunciando sua presença. Assinei a última folha dando aval para a publicidade da cerveja Nebraska, fechando e depositando a pasta na pilha de problemas resolvidos.
— Então? Tudo resolvido? – Óbvio que ele estaria interessado.
— Sim, espero realmente não ter entrado em uma furada, pois isso abriu um pequeno furo em minha conta hoje pela manhã.
Hugo segurou a risada. – Calma Tavinho , valerá à pena, conheço o esquema da Marli há muito tempo.
— Ótimo que tenha tocado nesse assunto, — Apoio os cotovelos na mesa de vidro. – como você conhece o tal esquema e eu que moro aqui desde que me lembro não conhecia? – Questiono.
Dessa vez Hugo não segura sua risada, soltando uma gargalhada alta e gutural, respirando fundo para se recompor, Hugo passa a mão pelos cabelos loiros.
– Marli tinha apenas a boate, e por curiosidade um dia decidi entrar, me encantei com as mulheres dançando, como era muito novo e inexperiente Marli pediu para que uma deusa negra fizesse um show de cortesia para mim.
— Então é daí que vem a história da sua melhor transa?
— Sim, depois disso sempre batia cartão na boate, Marli acabou virando uma amiga e eu soube do seu esquema. – Hugo deu de ombros. — No fim essa informação serviu de algo, mas você não vai escapar. Pode me contar quem você contratou?
Passei a mão jogando as mechas de cabelo que teimavam em cair em meu rosto, mesmo sabendo que precisava cortar o cabelo eu gostava dele assim, raspando em meus ombros. Com ar de selvagem
— Maya Banks. – Revelei por fim.
Hugo engasgou tossindo. — A dançarina?
— Sim.
— Meu amigo, realmente você tem bom gosto. Eu já sabia, porém agora foi comprovado.
— Nem vem com esse papo e não vai ficar secando a acompanhante enquanto finge ser algo minha.
Trocamos uma risada amigável, às vezes quando saiamos acontecia isso, de trocarmos os pares. Hugo não se sentia nem um pouco incomodado, como eu também não. Eram anos de amizade leal.
— Agora entendi quando você disse que tinha feito um furo em sua conta, você também tinha que escolher a mais requisitada?
— Apenas o melhor, como sempre. – Disse dando de ombros.
Virei-me para a janela, observando os arranha-céus de São Paulo, várias janelas, onde diversas, senão milhares de pessoas trabalhavam todos os dias.
— Que venha então a reunião no final de semana. – Hugo se levantou pegando seu blazer pronto para sair da sala.
— Vamos ao jogo parceiro. – Falei vendo-o sair rumo ao seu escritório, que ficava quase em frente ao meu.
Pelo resto da semana organizei reuniões com possíveis clientes, assim como ajeitei tudo para minha semana de folga. O escritório estava pegando fogo, todos estavam empolgados para a reunião no final de semana.
Ianelli mandou um memorando para cada setor, comunicando a reuniãozinha informal no salão do Copacabana Palace, uma tarde de descontração entre os funcionários. Como ela mesma chamava, mas claro com todos vestidos à rigor.
Esse seria o primeiro evento ao qual eu levaria Maya, teria sido um almoço com os chefes aqui de São Paulo, porém Jair, presidente dessa filial achou melhor para quando voltarmos de nossa viagem para o Rio. Por isso precisava combinar algumas coisas com ela antes da grande encenação.
Deixei de lado meu café, busquei meu celular no bolso do paletó. Depois que assinei o contrato, não havia aparecido na Scandallo e nem me comunicado com Maya, mas essa hora havia chegado.
Procurei na agenda o número. Fiquei um instante pensando se seria melhor ligar ou mandar uma mensagem, o prazer de ouvir sua voz irritada me contagiou. Decidi ligar.
Estava no terceiro toque quando ela atendeu.
— Oi. – Sua voz estava rouca, olhei para o relógio, devia estar dormindo.
— Bom dia, Senhorita Banks.
Ela demorou alguns instantes para responder, devia estar tentando reconhecer a voz.
— É o Otávio. – disse quebrando o silêncio.
— O que você deseja? – essa sim era a garota petulante que conheci. – E porque diacho está me ligando às nove da manhã?
— Gostaria de comunicar que espero você hoje em um jantar para combinarmos sua primeira encenação.
— Um jantar? Tudo bem, me diz onde você deseja e nos encontramos lá.
— Varanda Grill, sabe como chegar? – Perguntei.
— Sim, qual horário? – Ela soltou um suspiro audível.
— Às vinte horas está perfeito.
— Combinado, nos encontramos lá. Até mais. – E desligou na minha cara.
Se a nota dela dependesse da educação diria que seria zero. Oh mulher difícil! Parecia que lidaria com um cavalo pronto para dar o coice se você não tomasse cuidado.
Levantei o olhar ao ouvir as batidas na minha porta. – Entre.
— Olá querido, como você está? – Daniela estava vestida como sempre, em um dos seus terninhos de alta costura, o sorriso amplo no rosto e o mesmo olhar bondoso de sempre.
— Tudo ótimo Dani, a que devo sua visita? Achei que já estaria no Rio.
Voltei a encostar-me na cadeira, deixando que Daniela se sentasse a minha frente, colocou umas pastas ao lado, relaxando um pouco os ombros.
— Vim apenas conferir se está tudo certo, me informaram que você e Hugo terão folga na próxima semana.
— Sim, minha irmã se casa no final de semana, como é no litoral, eles estenderam a festa. – Comuniquei com um sorriso.
— Você estará presente na reunião de domingo no Rio? – Ela parecia preocupada, olhou para minha mão. Com certeza vendo se tinha alguma aliança em meu dedo.
Soltei uma risada, se ela soubesse.
— Fica tranquila Dani, estarei sim no evento e muito bem acompanhado.
Daniela ergueu as sobrancelhas em sinal de confusão, cruzou os braços sobre o peito. – Acompanhado? Por favor, não me diz que você aparecerá com um casinho de uma noite? – Ela se mexeu incomodada na cadeira. – Não termine de destruir suas chances da diretoria, só Deus sabe o que eu estou movendo no Rio para tirar aquela sonsa da Patrícia.
Coloquei a mão sobre a boca, contendo minha risada. – Não aparecerei com um casinho de uma noite, fique tranquila já disse.
— Ianelli também espera sua presença num almoço para o Conselho.
— Almoço com o Conselho?
— Sim, ela mandou chamar hoje o pessoal, depois da festa, em um restaurante do Rio, o convite está em seu e-mail. Por favor, não faça besteira Otávio.
— Fique tranquila Dani, apenas não abri meu e-mail agora, estava despachando alguns contratos e tenho uma reunião com cliente agora.
Olhei para meu Rolex conferindo a hora, se não quisesse atrasar todos meus compromissos teria que sair agora. Assim conseguiria atender com tranquilidade meu cliente, analisar as propostas e nem atrasar os planos para a noite.
— Sinto muito Dani, mas tenho uma reunião como disse. Não quero deixar o cliente e sua equipe de Marketing esperando.
Ela concordou com a cabeça, pegando suas coisas na poltrona ao lado. Levantamos juntos, seguindo até o elevador, trocando algumas informações sobre uns contratos que havia dispensado para o setor de finanças, enquanto ele ainda não chegava.
Capítulo 13
Após ser acordada por Otávio perdi completamente o sono, até tentei voltar a dormir, mas não conseguia. Lancei as cobertas para o lado e decidi começar meu dia, desde que havia assinado o contrato com ele não tinha mais necessidade de ir à boate, Marli fizera questão que passasse por todos os tratamentos de pele existentes para o futuro encontro com o Sr. Amell, assim como meus cabelos que caiam sedosos pelas minhas costas, com um brilho todo especial.
Abri as cortinas e a porta da varanda permitindo que o sol entrasse no quarto. Assim que as portas se abriram, Nica pulou para o jardim que havia feito, decorando a espaçosa varanda mais como um espaço de relaxamento. Lógico que não era eu que cuidava, não tinha a menor habilidade com plantas, quem cuidava era o Gabriel meu vizinho paisagista.
Como não tinha empregadas e morava sozinha, eu mesma cuidava de minha casa e minhas coisas. Afinal passava mais tempo fora do que aqui, então acabava ficando tudo ajeitado.
Depois de uma boa hora limpando a casa, lavando roupa voltei para o quarto, conferindo a hora, ainda estava cedo, era uma e quarenta. Peguei meu celular, havia uma ligação perdida do escritório da Luxor.
— Royalt Luxor, seu prazer é aqui.
Deitei-me esparramando na cama. – Bom dia, Naty.
— Bom dia Maya, em que posso ajudar?
— Marli me ligou?
— Não sei dizer, entrei agora no escritório. Marli não está . – Ouvi um farfalhar de papéis, alguns objetos caindo. – E ela não deixou nada anotado para mim Maya.
— Sem problemas Naty, diga para Marli que começo hoje os serviços com o Sr. Amell.
— Eu aviso, seria apenas isso?
— Só isso, tchau. – disse desligando, joguei o celular na cama e me lancei para o closet, afinal o restaurante que Otávio havia escolhido era ótimo e muito bem frequentado.
Separei um vestido de cetim na altura do joelho, ele era verde, de um tom verde-mar. Novo, usei apenas uma vez em um evento da Luxor. Colado nas partes certas, solto abaixo da cintura até o joelho, dando um requinte especial.
Separo também um conjunto verde de lingerie, uma cinta liga e meias cor da pele 7/8 e um sapato marfim. Enquanto ando do quarto para o closet. Nica acompanhava meus movimentos, sentada no puff em frente à poltrona.
— Que foi fofinha? – Questiono seu olhar mal-humorado.
Ela continua me olhando, solta alguns miados baixos e sai para o corredor, vejo seu rabo desaparecer pela escada.
Meus olhos percorrem os porta-retratos, com fotos minha mais nova, foto com meu irmão e meus pais. Contive a dor que sempre aparecia em meu peito quando olhava para elas, mas por nenhum motivo tirava-as da cômoda.
Mesmo com meus pais ajudando, não conseguia manter a faculdade de Medicina. Minha mãe como professora e meu pai como segurança noturno. Tirando tudo que eu gastava na faculdade, entre livros e provas, mais os trabalhos. Dificultava as outras contas dentro de casa, o que aos poucos me fez ir largando a profissão dos meus sonhos para contribuir melhor, principalmente para André, meu irmão de dezesseis anos.
Quando entrei pela primeira vez no site da Luxor, via mulheres lindíssimas, possibilidades acima de possibilidades para um futuro melhor.
Onde poderia deixar meus pais tranquilos com o futuro de meu irmão e com a própria velhice. Lembro-me como fosse hoje, quando há cinco anos contei que iria para São Paulo para trabalhar como acompanhante. Minha mãe se sentou na cadeira da cozinha com cara de espanto e meu pai. Bom, fez o que qualquer pai faria, me deu um tapa no rosto e me mandou embora de casa, pensando tudo que não devia sobre mim, incluindo que já estava me prostituindo.
Lembro também que me tranquei no meu antigo quarto e sai pela madrugada, dando um beijo em meu irmão e antes do meu pai retornar do trabalho. E nunca mais voltei, tentei algumas vezes falar com meus pais, porém quando me identificava, meu pai desligava dizendo que não tinha mais filha chamada Mia.
E foi aí que abandonei de vez o nome Mia Azevedo, quando comecei na boate e Marli viu meu potencial através da Jaque, com seus contatos fez documentos, carteira de motorista, tudo que uma pessoa precisa, assumindo a personagem de Maya Banks para minha vida. E logo fui ganhando visibilidade no meio, isso implicava várias coisas, a visibilidade entre os homens que procuravam por esses serviços era ótima, por outro lado tinha todo um preconceito.
Eu não era uma daquelas meninas que saiam exibindo sua profissão, os poucos que me conheciam sabiam apenas que eu trabalhava na Scandallo, e só. Acredito que foi por isso que eu logo peguei antipatia com a colega de apartamento da Jaque, ela fazia questão de deixar claro com o que trabalhava.
E no fundo. Não importa seu nome verdadeiro ou se seu olhar continua o mesmo, você sempre pode ser outra mulher. Uma vez um cliente me disse que uma mulher abrigava mais cinco mulheres diferentes dentro de si e hoje, vendo pela minha vida mesmo, eu acreditava mais que tudo, nisso.
Sequei a lágrima que tinha escorrido por meu rosto, balancei a cabeça recompondo meus pensamentos, não havia mais tempo para lamentações, tinha um encontro e um cliente esperando.
Capítulo 14
Cheguei ao Varanda pelo menos uns trinta minutos adiantado, o gerente que era meu amigo de longa data me indicou a mesa que havia reservado. Estava tão ansioso que fiz tudo para ocorrer perfeitamente.
O restaurante já enchia com casais e grupos de amigos, o cheiro de temperos e carnes passando pelas mesas abriam meu apetite, conferi mais uma vez as horas no visor do celular. A mesa que Lucas havia me indicado tinha visão para o jardim de inverno ao meu lado, como também para a porta, onde uma loira risonha recebia os clientes.
Senti meu celular vibrar na mesa, dei uma olhada rápida, ignorava ou atendia? Estava demorando até que a ruivinha me perturbasse. Seria breve.
— Sim?
— Otávio? Que saudade estou de você, sumido. – Ela deu um risinho do outro lado da linha.
— Baby, infelizmente não poderei escutar sua linda voz, estou com um cliente. – Disse com falso pesar.
Uma musa de vestido verde chamou minha atenção novamente para a porta, um vestido justo, deixando à mostra um corpo espetacular, nada vulgar, mas sexy para caralho. Levei o olhar até o rosto, descobrindo que era ninguém menos que Maya, assim como eu alguns homens olhavam abobalhados enquanto ela andava em minha direção.
A ruiva ainda disparava seu charme pelo telefone, afastei um pouco ele da orelha contemplando o belo corpo de Maya ao caminhar.
— Baby, sinto muito tenho que desligar. – Deixei o telefone de lado.
Levantei esperando que Maya chegasse à mesa, os olhos verdes como o vestido estavam atraentes, brilhantes, seus cabelos negros soltos correndo pelo corpo, roçando de leve os seios marcados no cetim.
— Maya. – Disse me adiantando e cumprimentando-a com um beijo no rosto.
— Otávio.
Indiquei a cadeira, sendo cavaleiro ao puxar e empurrar de volta quando ela já estava acomodada, Maya pegou o guardanapo de pano colocando suavemente em seu colo. Contornei a mesa voltando para meu lugar, realmente não esperava ela tão bela como estava, se com poucas roupas eu achava impossível tirar os olhos de cima dela, completamente vestida, ela era uma espécie de presente embrulhada no dia de Natal, atiçando a mente de cada homem sentado nesse lado do restaurante.
Fiz sinal para que um garçom se aproximasse, — Você deseja algo em especifico para beber ou posso pedir? – Perguntei olhando no fundo daqueles olhos penetrantes.
— Menos refrigerante. – Jogou os cabelos pelo ombro.
O garçom parou ao lado da mesa com um Tablet pronto para anotar os pedidos.
— Por favor, duas taças de água por enquanto e depois eu quero ver a carta de vinhos disponível.
— Sim, Sr. Amell.
Esperei que o garçom se afastasse para continuar com a conversa. Todo o momento Maya me olhava séria compenetrada em pensamentos.
— Está com muita fome?
— Não.
Dei um sorriso de lado. – Você manterá esse nível de aspereza por todo o contrato, ou até você perceber que não sou nenhum babaca?
Foi à vez de ela mostrar um sorriso de desafio para mim, chegou mais perto de mim, o quanto à mesa permitia, abaixou o tom de voz, mas para um sussurro do que para outra coisa. – Se você está esperando alguém que fique lambendo você, acredito que contratou a pessoa errada, levo meu trabalho com seriedade. O que você quiser de mim terá, mas se espera alguém que fique puxando seu saco, sugiro que retorne para a Luxor e aproveite que ainda não descontei seu cheque.
— Gosto do fato de você ser direta. – Chego mais perto da mesa, imitando seus movimentos. – Já que estamos sendo sinceros um com o outro, — Maya ergueu a sobrancelha, porém não se afastou, vejo seu olhar percorrendo meu rosto, minha boca. – Nunca precisei contratar uma... Garota de programa. Nem mesmo para me satisfazer, então espero que não tenhamos problemas.
Vejo que em seu rosto cruza um olhar melancólico, sinto que toquei em um ponto sensível para ela. E imediatamente quero me desculpar, mas logo que abro a boca para fazer, vejo seu olhar tornar a ficar sério e com o fulgor de raiva de sempre.
Deixo de lado. — Continuando, preciso que você finja ser minha namorada, chamei você aqui para combinar nossa viagem para o Rio de Janeiro. Onde tenho dois eventos da empresa, você terá que se fazer de apaixonada com sorrisos felizes, pelo menos enquanto estou com você. Ninguém pode sonhar que você de fato não é minha namorada, minha carreira está em jogo.
— Farei meu trabalho, vou mostrar a todos o quanto eu estou apaixonada por você. Mas saiba que não sou nenhuma idiota e puta. Não me deito com meus clientes por que eles estão me contratando, se for para me deitar com você, será porque eu quero. Caso contrário estaria na boate dando para todos na sala reservada.
— Não quis ofendê-la. Perdão.
O garçom se aproximou da mesa interrompendo nossa conversa e a muralha de gelo entre nós, esperando que façamos nossos pedidos. No fim escolhemos um combinado de carne e batatas sauté e salada com muçarela de búfala.
Maya se manteve calada por todo o jantar, mesmo nossos olhares se cruzando ela não comentou mais nada sobre o assunto. Atravessei a mesa tocando em sua mão, um tremor, uma espécie de choque percorreu meu corpo. Como se uma onda de calor invadisse meu corpo, vi Maya de olhos arregalados tirando a mão debaixo da minha. Tenho certeza que ela também sentiu o tremor, o choque que nossas energias combinadas lançaram para nossos corpos.
Pigarreei antes de retomar o fluxo de pensamentos. – Peço desculpas sobre o que falei, não quero de maneira nenhuma ofender você. Isso é bem novo para mim.
— Tudo bem, não será o primeiro e nem o último que fará tal comparação. – Ela limpou o canto dos lábios com o guardanapo.
— Não Maya, realmente me desculpe. – Insisti. – Não tinha motivo nenhum para dizer tal grosseria.
Seus olhos me penetravam de tal forma, me deixando até um pouco desconcertado.
— Fique tranquilo, me passe todas as informações por mensagem como, em que horário nós encontrarmos e alguns detalhes sobre você. Por exemplo, temos que combinar como nós conhecemos quais questões não pode passar em branco, nome de seus familiares. – Ela deu de ombros. – Se tenho que representar sua namorada, não basta sorrisos e beijinhos no cangote, tenho que saber sobre sua vida.
Sorri mais tranquilo com o nosso mal-entendido ficando para trás, olhei novamente no relógio, logo o restaurante fecharia.
— Maya, que tal irmos para minha casa, assim conversamos com mais privacidade todos esses tópicos, posso mostrar algumas fotos para você, além de você conhecer a pessoa mais próxima de mim.
— Ah... Otávio, não sei se é boa ideia, já está tarde. – Ela própria abriu a bolsa olhando a tela do celular.
— Tenho um quarto de hóspedes em meu apartamento, qualquer coisa você pode dormir por lá. – Insisti mais um pouco.
Maya se mostrou um pouco relutante, mas concordou. – Ok.
— Ótimo!
Fiz sinal para o gerente para que deixasse a conta para depois, poderia passar amanhã e acertar com ele, ou ele mesmo poderia me mandar a fatura para o escritório.
— Quanto ficou a conta? – Maya remexia na bolsa buscando a carteira.
Levantei-me, ficando de frente para sua cadeira, estendi a mão.
– Maya, isso não é necessário. Você está sob meus cuidados agora.
Ela levantou ainda me encarando. Caminhei ao seu lado, tive a intenção de tocá-la nas costas, mas por curiosidade se aconteceria de novo à sensação que comprimia o espaço entre nós, mas detive meu movimento. Apenas seguindo do seu lado, atraindo os olhares de homens e mulheres presentes ainda no local.
Capítulo 15
E mesmo tendo achado uma péssima ideia concordar em ir para casa dele, eu seguia o carro de Otávio atravessando a cidade, minha respiração estava pesada, meu estômago revirado. Ainda sentia o calor de sua mão na minha, o choque elétrico que tomei quando ele me tocou. Um toque tão simples que quase me desmoronou, não esperava algo assim, apertei mais forte o volante.
E agora estava indo para sua casa. Meu Deus ! Precisava manter a calma e a cabeça no lugar. Devia estar apenas mexida por ter sentido saudade de minha família, devia ser isso, sensibilidade. Algo que passaria.
Parei atrás do carro de Otávio no farol, por todo caminho mantive meu mantra de concentração. Isso era um trabalho, devia estar mexida por ele ser tão arrogante na boate e me contratando, isso mesmo. Isso que estava provocando essa sensação estranha dentro de mim.
Otávio embicou o carro na garagem de um luxuoso prédio nos Jardins, que por sinal era muito conhecido por mim. Jaqueline morava ali. Ele continuava falando com o porteiro, alguns segundos depois, fez sinal pela janela para que eu o acompanhasse. Estacionei meu carro ao lado do seu na vaga que ele indicou, desliguei respirando fundo pela última vez, peguei minhas coisas e sai.
Andamos lado a lado por todo caminho sem trocar uma palavra, eu olhava para os lados, evitando encarar aqueles olhos azuis que me fizeram ter sonhos quentes.
Passamos por um jardim muito bem cuidado, Otávio apertou o botão do elevador, cumprimentando o porteiro.
— Olá Sr. Amell, Senhorita.
— Boa noite. – Retribui o sorriso que ele me lançou. Pelo que Marli me havia contato, Otávio era um mulherengo carimbado, os porteiros já deviam estar acostumados com o entre e sai de mulheres e Otávio tinha jeito de ser bastante exigente. Imagino as modelos que não saiam ou andavam pela sua casa usando suas camisas.
Dentro do elevador a atmosfera ficou ainda mais carregada, podia sentir os olhares que ele lançava para mim.
— Hum, esqueci de perguntar. – Olhei para ele, vendo que coçava a cabeça, o semblante preocupado. – Você tem medo de cachorro?
Ri de sua preocupação. – Não. Desde que ele não seja um assassino comedor de pernas, tranquilo. – Disse rindo de sua careta estranha.
— Não, Buddy está mais para um velho reclamão . – Disse saindo e mantendo a porta do elevador aberta para mim.
Dei uma rápida olhada para a porta onde minha amiga morava, como o destino gosta de zombar das pessoas. Pelo menos uma ou quem sabe duas vezes tinha subido por esse mesmo elevador, atravessado esse elegante hall e visitado minha amiga.
E nunca tinha cruzado com seu vizinho, e, não poderia dizer que não tinha notado. Otávio não era o tipo de homem que passa do seu lado e você não percebe, muito pelo contrário, você notava sua presença e como notava...
Deixei que passasse em minha frente abrindo a porta e sumindo pelo apartamento escuro, esperei vendo algumas luzes se acenderem e ele retornar até onde estava parada.
– Vai ficar aí fora?
Neguei com a cabeça entrando em um hall muito bem decorado, olhando o apartamento em um panorama, era de completo luxo e masculino. Não dava para negar que nenhuma mulher tinha se metido na decoração. Se olhasse a fundo acredito que ele tinha colocado sua opinião em cada detalhe. Dos móveis escuros até a ampla tela plana no meio da sala.
Otávio desceu o degrau indicando a sala, foi até uma poltrona, ligando a TV e vi quando se abaixou sobre uma montanha de pelo negro no chão. Tomei um susto quando ela se mexeu e entendi que aquilo que parecia um tapete enorme enrolado era o tal cachorro.
— Oi amigão, temos visitas. – Ele acariciou a cabeça do cachorro – Se comporte.
Dei um passo cauteloso para frente olhando melhor o cachorro, não tinha cara de assassino, mas de um cachorro muito preguiçoso.
— Maya esse é o Buddy, Buddy essa é a Maya. – Otávio fez as apresentações como se o cachorro fosse um humano e eu achando que era a única maluca por tratar a Nica como se fosse minha filha.
Coloquei minhas coisas numa mesinha pequena, me virando para o cachorro. – Olá Buddy, desculpe arruinar seu sono, sei como vocês detestam isso.
Buddy, o cavalo em forma de cachorro se levantou, sacudiu todo o pelo espalhando um pouco de baba pelo piso de madeira. Veio devagar, medindo os passos e se jogou aos meus pés, olhando para cima, obviamente pedindo carinho.
Abaixei-me fazendo carinho em seu pelo macio e cheiroso, óbvio que era um cachorro muito bem tratado. Otávio se levantou limpando as mãos na calça.
E juro que pude ouvir seu resmungo baixo.
— Quem diria seu traidor.
Soltei uma risada, Buddy nem ligou para seu dono, continuou batendo em minha mão pedindo carinho toda vez que parava.
Otávio sumiu da minha vista para logo surgir com duas taças de vinho, coloco-as na mesa de centro puxando-a para mais perto, sentou no sofá aguardando que me juntasse a ele.
— Vamos aos negócios. – Disse, ignorei os protestos de Buddy e me juntei a ele mantendo um pouco da distância de toda essa nuvem que pairava sobre nós.
Ele passava a mão pelo pescoço, pelos cabelos. Será que ele também havia notado essa nuvem pairando, fazendo uma esfera de eletricidade entre nós?
— Bom, minha família você não precisa se preocupar, conhecerá todos na semana que vem, passaremos alguns dias com eles.
Acendi, concordando. – Quantos irmãos você tem?
— Três irmãs, sou o único homem na família. – Ele torceu a boca quando falou, mas em nenhum momento mostrou real desagrado disso, ele parecia na verdade um menino criado no conforto, luxo e muito mimo por todos. Podia até imaginar um Otávio pequeno, a cabeleira negra e aqueles olhos azuis.
— Precisamos montar uma história adequada de como nos conhecemos, sem furos de datas. Algo simples, mas que não faça ninguém duvidar. – Peguei a taça de vinho tinto tomando um pequeno gole, o vinho desceu pela minha garganta, fazendo com que eu franzisse o nariz. Não era completamente fã de vinhos, principalmente os secos.
– Principalmente por sua fama de mulherengo assumido. Sem muitos detalhes, quanto mais detalhes ou mais acrescentarmos mais poderemos nos perder em algum momento. – Completei pigarreando um pouco por conta do gosto amargo do vinho que tomou minha língua.
Otávio se largou no sofá, cruzando as pernas, apoiando sua taça de vinho no joelho.
— Não nego minha fama, gosto da liberdade, não encontrei meu momento de sossegar.
— Isso já não é do meu interesse. – Disse com um dar de ombros, mesmo ele se mostrando gentil não conseguia controlar meu gênio impossível, mordi a língua como punição.
Ele ergueu a sobrancelha.
— Desculpe isso foi rude.
Viu senhor bonitão eu sei assumir quando erro!
Desviei o olhar, observando por todo o apartamento. Decidindo manter meus olhos longe dos seus.
— Já percebi que será inevitável com você.
O silêncio tornava as coisas um pouco desconfortável poderia levantar e ir embora, mas algo me segurava sentada.
Com um longo suspiro ele decide quebrar o silêncio:
— Faremos assim, diremos que nos conhecemos na D-Edge, pelo menos um dia no final de semana estou lá, principalmente nos sábados. – Ele suspirou, jogou os cabelos para trás, realmente ele ficava bonito com ele rebelde, meio ondulado no rosto.
– Hugo Torres, meu melhor amigo, além de trabalhar comigo na Wiless. Não precisamos entrar em detalhe sobre a empresa, afinal passaremos como um casal novo, se conhecendo.
Ele respirou fundo, fazendo seu peitoral se anunciar por baixo da camisa social. Passei a língua pelos meus lábios secos.
Tá de brincadeira né, Deus?
— Não possa dizer que estamos muito tempo juntos, pois cairíamos em total desgraça, e, duvido que alguém dedique muitas perguntas para você.
— Por mim tudo certo. – Depositei minha taça vazia na mesinha.
— Também tinha algo sobre roupas e joias no contrato. – Comentou.
— Sim, temos clientes que desejam que utilizemos apenas roupas que eles disponibilizam, mas fique tranquilo. Não passará vergonha com meu guarda-roupa.
— E quanto a você?
Foi minha vez de erguer a sobrancelha. – O que há exatamente comigo?
— Quantos anos você tem Maya? Sua família? Conte mais sobre você? – Ele deve ter reparado a cara de poucos amigos, pois logo acrescentou. – As pessoas vão querer saber, meus pais vão querer uma história.
— Acredito que você já tenha algumas informações minhas através da Marli, tenho vinte e sete anos, moro em São Paulo faz cinco anos. Para informação geral, tenho um irmão mais novo.
Meu corpo se enrijeceu com o fato de chegar tão perto de tocar em assuntos há muito tempo enterrados.
— Tem contato com eles?
— Não.
— O que fez você parar nessa vida? Sei que você cursou medicina, é uma carreira muito gratificante. Minha mãe é ginecologista.
— Isso é um assunto particular e morto para mim.
— Tudo bem. – Otávio olhou para o relógio. – Está tarde, como disse mais cedo, tenho um quarto disponível, fica no final do corredor.
— Eu vou para casa. – Me levantei, mas me senti um pouco tonta, como não bebia, quase nunca. Devia ser o excesso de vinho tomamos três taças no restaurante somando com essas, minhas bochechas estavam quentes.
— Você realmente não deveria dirigir. – Otávio cruzou os braços sobre o peito. – Não tocarei em você, a menos que peça Maya.
Endureci o olhar, mostrando uma carranca digna do inferno para ele. – Falou o cara que contratou uma acompanhante para fingir ser sua namorada.
— Sim, contratei seus serviços não para ter questionamentos ou para abusar de você. E sim, porque a urgência da minha carreira profissional exigiu. Como disse, tenho um histórico muito bom de mulheres.
Otávio se virou, pegou as taças e saiu, me virei vendo que ele estava na cozinha.
Buddy se levantou dos meus pés, seguindo Otávio até o começo do corredor, continuei acompanhando seus passos, esse cara me deixava confusa, nem um pouco em meu conforto habitual, mesmo com alguns clientes eu me sentia à vontade, estava tão acostumada que nem me importava, mas ele não. Era confuso.
– Você irá ficar ou não? – Questionou.
Algo realmente me dizia para ir embora, ir para casa, onde Nica provavelmente me esperava deitada como sempre no parapeito da janela de vidro da sala, mas algo no fundo do meu íntimo me impedia de dizer “Vou”, engoli o nó formado em minha garganta.
— Se não for incômodo, poderia passar essa noite aqui? Acredito que tenha bebido demais, eu... Eu não costumo consumir álcool. – Gaguejei e me amaldiçoei por parecer tão babaca. Tudo bem que na parte do álcool eu não era tão fraca assim, mas me sentia compelida a ficar perto dele.
Otávio me lançou um sorriso cínico, indicou pela mão o corredor. Desviei de um conjunto de poltronas de couro quadradas, ele deixou que seguisse na frente. Por todo caminho podia sentir seu corpo perto do meu, ouvia seus passos calmos atrás de mim. Um calor percorreu minha espinha quando ele tocou meu braço indicando que o quarto de hóspedes ficava quase em frente ao dele, separados apenas pela porta do banheiro social.
— Eu fico por aqui, qualquer coisa que precisar pode me chamar.
Virei-me olhando para aquele homem, seu corpo parecia um pecado que muitas matariam para ter sobre seus corpos, podia ver o porquê ele tinha se tornado um solteiro convicto, sua beleza e olhares penetrantes desconcertavam as mulheres, e, eu estaria mentindo se falasse que naquele momento seu olhar meio estreito, medindo cada centímetro entre nós, não estava fazendo isso.
—Obrigada mais uma vez. – Antes que algo a mais acontecesse entrei no quarto indicado, fechando a porta logo atrás de mim. – Puta que pariu , o que você está fazendo Maya?
Capítulo 16
Depois que Maya se trancou correndo no quarto de hóspedes, fui para o meu, deixando a porta encostada. Buddy havia me traído consideravelmente, nunca vi ser tão receptivo com qualquer mulher que trazia aqui, acredito que ele sucumbiu aos encantos de Maya.
Tirei a calça e a blusa social, largando na poltrona, liguei o ar condicionado e me joguei na cama. Que loucura, em menos de um dia entraria de vez nessa de namorada de mentirinha, com uma mulher que eu nunca tinha visto na vida, nem sabia se o que tinha dito sobre sua família era real ou apenas uma ilusão criada para mim. Relembrei como ela ficou incomodada quando toquei no assunto de sua profissão, o que será que havia acontecido para ela se tornar uma garota de programa?
Virei de costas tentando me ajeitar melhor na cama e dormir, fechei os olhos e fui tomado por pensamentos e imagens de um olhar verde penetrante, Maya entrando no restaurante... Maya despindo sua roupa sorrindo como uma gata selvagem, seu cabelo negro espalhado na cama, enquanto eu me deliciava no meio de suas pernas, ou ela chupando...
Sentei-me na cama, não conseguiria dormir. Será que ela havia ficado mexida tanto quanto eu a noite toda pela tensão que nos circulava?
Precisava de um copo de água, é isso me acalmaria.
Sai para o corredor sem acender as luzes, também não queria atrapalhar o sono de ninguém porque eu era um tarado e estava tendo pensamentos sobre Maya nua. Por cima do ombro vi a porta do quarto onde ela estava dormindo entreaberta, e tudo escuro.
Aquela vontade súbita de seguir até sua porta e espiá-la dormindo crescia forte em meu peito, ver como seus cabelos se espalhava pela cama, ver suas coxas modeladas pelo lençol fino.
— Otávio, Otávio... Não siga por esse caminho. – Me repreendi.
Ela já devia estar em sono profundo.
Fiz o mínimo de barulho que consegui na cozinha, tomei um copo completo de água e decidi levar outro para o quarto, assim não ficaria zanzando como um zumbi pela casa. Buddy que havia saído do quarto impaciente com minha agitação tinha passado pela porta da sacada e encontrava-se esparramado por lá.
Voltei a passos quietos para o corredor, não sei o que foi que me fez tropeçar, mas me choquei com um corpo quente. O copo de água esquecido caindo, se espatifando no chão, a cintura quente e nua de Maya tomada por meu braço. Com a outra mão tateava a parede em busca do interruptor de luz.
A claridade fez com que eu piscasse algumas vezes até que meus olhos acostumassem, Maya fez menção de se mexer, mas segurei seu corpo mais firme contra o meu, ignorando o calor, ignorando suas mãos em meu peito e principalmente ignorando meu pau que estava bem desperto. Fazendo um volume considerável na cueca. E acima de tudo ignorando o fato de estarmos com o mínimo de roupa possível, nossos corpos colados...
— Desculpe, não vi você. – Comecei.
— Eu não queria acender a luz, precisava ir ao banheiro.
— Seu quarto tem um banheiro, Maya. – Segurei o sorriso com a desculpa que lançou para mim, ou nem foi uma desculpa mesmo. Mas que outra maneira ela teria para estar no corredor todo escuro.
Ela passou a língua pelos lábios o que atraiu minha atenção para sua boca, seu olhar passou por nos unidos no meio de um tapete embolado, poça de água e cacos de vidro. – Olha a bagunça que eu fiz, me mostre onde tem uma vassoura eu recolho isso.
— Isso não foi nada. – Ainda estávamos agarrados um no outro, olhei dando um sorriso para ela. – Agora que não vamos cair posso te soltar?
— Ah, nossa, pode. – Suas bochechas ficaram vermelhas, trazendo um novo brilho para seu olhar.
Minhas mãos abandonaram seu corpo rápido demais, o que antes estava quente, foi perdendo a temperatura, permiti uma olhada rápida para seu corpo, ela havia retirado o vestido, dormindo apenas com um conjunto de lingerie verde, os cabelos estavam presos em um coque mal feito.
Ela percebeu meu olhar, como eu também percebi que lançou olhares para mim apenas de cueca e pau duro. Acho que as noites na boate andando de um lado para outro apenas com uma lingerie provocante tinha tirado a timidez e censura dela.
— Eu vou recolher isso, pode voltar para o quarto.
— Não quer mesmo ajuda? – Ela tinha um sorriso no rosto, queria tanto saber o que pensava.
— Não, pode ir. Tome só cuidado com os cacos espalhados.
Apontei dois pedaços grandes de vidro um pouco mais à frente no corredor.
— Ok.
Ela seguiu pelo corredor dando uma bela visão de sua bunda na calcinha pequena, respirei bem fundo enquanto assistia ela indo até o quarto em um rebolado e eu hipnotizado pelo movimento que sua bunda fazia. Maya entrou, encostou na porta, me lançando um sorriso de quem sabia exatamente o que estava fazendo. Deu boa noite e fechou-se no quarto.
A própria encarnação feminina do Diabo.
Fui até a área de serviço arrumando toda a bagunça deixada pelo nosso encontro, antes de fazer mais alguma besteira eu mesmo segui meu conselho e fui dormir. Deixando a porta do quarto entreaberta, dando uma visão do corredor e do começo da sala.
O cheiro de pão fresco e café invadiram minhas narinas pela manhã, demorei alguns segundos para realmente acordar, sentindo minha ereção aprisionada entre a cueca e o colchão, passei a mão procurando alívio. O apartamento estava silencioso, Buddy não estava no quarto o que indicava a porta aberta. Fui até o banheiro fazendo meu ritual pela manhã, depois de estar com uma cara mais apresentável e sem o bafo matinal, peguei uma bermuda de sarja preta e uma camiseta velha do Beatles, e sai procurando por Maya.
A porta do outro quarto também estava aberta, segui para a sala, encontrando-a vazia, na mesa de jantar perto da cozinha um verdadeiro banquete, pães doce e francês em uma bandeja, uma xícara bem colocada na mesa, uma jarra de suco e um prato com frios esperavam por mim. Na cozinha o café se mantinha aquecido na cafeteira, não entendi o porquê de toda essa produção.
— Maya. – Chamei por ela umas três vezes sem obter respostas. Olhei para meu celular que começou a tocar na bancada, fui até ele notando um bilhete debaixo. No visor aparecia o número de Hugo, ignorei dando prioridade para o bilhete.
“Primeiramente, queria dizer que o prédio poderia pegar fogo sem que você acordasse.
Segundo, obrigada por me deixar dormir em sua casa, vinho e eu não fazemos uma boa dupla. Em agradecimento, preparei um café da manhã. Não sei como você consegue viver nesse bairro onde tudo é longe. Por fim, aguardo a confirmação sobre nosso showzinho amanhã.
— M. B.”
Capítulo 17
— Ainda não acredito que seu cliente é meu vizinho. – Jaque disse, empoleirada na poltrona do meu quarto. Voltei minha atenção para a mala que estava fazendo.
Depois de ter saído do apartamento de Otávio, deixando uma mesa de café como forma de agradecimento, certo, eu não tinha o porquê agradecer, mas achei quer seria de bom tom ao invés de sair sem avisar como uma verdadeira puta. Tudo bem... isso foi irônico.
— Pois é! Ele é meu novo cliente. – Respondi em meio as mudas de roupas que separava.
Meu sábado tinha sido tranquilo, eu e a Jaque almoçamos em um restaurante japonês perto de casa depois viemos para cá. Otávio já tinha me mandando mensagem passando o número do voo e o horário que partiríamos para o Rio no domingo.
— Pode deixar vou cuidar da Nica até você voltar.
—Obrigada mesmo, ela não suportaria ficar sozinha e não sei quando retorno.
— Ele é bom de cama pelo menos? – Jaqueline analisava as unhas quando perguntou.
Olhei por cima do ombro, fazendo uma careta. – Jaque nós não transamos, ele precisa de uma namorada de mentirinha, algo para o trabalho e familiares.
— Ah garota! Mas você deveria experimentar afinal se rolou toda essa eletricidade entre vocês como me disse, eu já teria pulado na cama dele, nua.
Rimos de seu comentário. – Não pretendo me envolver, quero deixar tudo o mais profissional possível, mas confesso que ele é um tesão e adorei provocá-lo na noite passada.
Ainda guardava o olhar arregalado dele, quando voltei para meu quarto dando uma bela visão de meu corpo apenas de lingerie.
— Não se esqueça de levar lingeries sexy garota.
Mostrei a língua para Jaque jogando algumas peças de roupa sobre ela. Depois de arrumar pelo menos uma mala contendo tudo que precisaria para a tal reunião informal, separei também alguns conjuntos e vestidos para possíveis jantares ou encontros onde Otávio fosse. Afinal, se estaria vestindo o papel de namorada, ele não poderia me deixar trancada dentro do quarto do Hotel. Ou curtindo a praia como no fundo eu queria.
Jaque foi embora por volta das sete da noite. Decidi me deitar cedo para estar bem disposta no dia seguinte, desci minha mala deixando tudo organizado para que não esquecesse ou atrapalhasse o voo. Otávio me enviou uma mensagem às nove horas da noite avisando que viria de táxi me buscar, que estivesse arrumada e pronta antes das nove horas da manhã.
Eu odiava acordar cedo, acho que era por isso que até gostava da correria na boate, não havia necessidade de bater cartão em uma empresa logo pela manhã. Confirmei o horário no despertador, vendo que teria tempo para um banho rápido.
Já maquiada e pronta, me sentei no sofá aguardando o táxi, mesmo estando calor lá fora, escolhi uma calça jeans e uma blusa de manga solta, meu cabelo dessa vez estava preso em um rabo de cavalo, o que dava até certo alívio para o calor que eu sentia por conta da calça, Otávio me mandou uma mensagem avisando que tinha chegado ao mesmo momento que vi pela janela um táxi parar em minha porta.
Tranquei tudo, ele me aguardava com a porta aberta.
— Bom dia. – Cumprimentei me acomodando no banco.
— Aeroporto de Congonhas, por favor. – Disse ao motorista. – Bom dia Maya, como vai?
Seu sorriso cafajeste nos lábios.
— Ótima!
Pelo resto do caminho ficamos em silêncio, ele respondendo algumas mensagens no telefone. Ouvi, mesmo fazendo cara de quem não prestava atenção, quando ele confirmou que iria para casa de seus pais após a reunião da empresa. Eu própria peguei meu telefone tratando de verificar as mensagens, como tinha saído cedo não havia respondido o e-mail de Marli, teria que fazer isso assim que chegasse ao Rio.
Respirei fundo, assim que entrasse no avião, pois, eu seria a perfeita namorada. Começava o grande jogo.
Capítulo 18
Faltava alguns minutos para pousarmos no Rio, em todo o voo Maya manteve uma conversa descontraída comigo, às vezes jogando charme, outras sorrindo mais do que o necessário, eu estava meio receoso com sua mudança brusca de comportamento, só faltava essa mulher ter algum distúrbio de personalidade e acabar me envergonhando na frente dos meus colegas e chefes, juro que eu tacava ela para fora do voo na volta.
— Como é a empresa, onde trabalho, que nos reserva o quarto no hotel, não tive como contestar sobre um quarto para nós dois, porém se você se sentir desconfortável, podemos tentar dar um jeito. – Sussurrei perto de seu ouvido.
Maya se virou olhando para meus olhos, perto demais para sentir seu hálito de menta batendo em meu rosto. – Se você quer que as pessoas acreditem que somos um casal, tem que agir como um cara fisgado, apaixonado, o termo que você queira usar.
Fiquei surpreso por ela falar sobre isso. Ainda mais com seu dedo indicador passando pela minha barba rala até o queixo.
— Coisas do tipo, me elogiar, não ficar encarando as pernas das comissárias de bordo, me tocar frequentemente. – Um sorriso de diversão corria pelo seu rosto. – Eu posso convencer todos que somos o casal mais feliz da Terra, porém você tem que ajudar, ok?
Balancei a cabeça concordando, então era por isso que ela estava cheia de sorrisos comigo, estava representando, não porque estava satisfeita com minha companhia. Imbecil! Lógico que ela estava representando o que eu estava pensando, o idiota era eu querendo me envolver com uma mulher que na sua essência já sabia seduzir um homem com apenas um olhar. Presta atenção Otávio, ela é uma acompanhante, paga para fazer isso . – Repreendi a mim mesmo pela burrice.
Desembarcamos no aeroporto Santos Dumont, como já havia acertado os detalhes com a empresa na sexta-feira eles mandaram um carro para nos buscar, avistei o motorista com uma plaquinha Sr. Amell e Srta. Banks esperando no meio da multidão de passageiros e pessoas que aguardavam entes queridos, ou corriam para realizar seus check-in.
Puxei a mão de Maya para a minha, sentindo o mesmo choque que senti da primeira vez, a eletricidade tomava conta do meu braço inteiro, querendo espalhar um calor gostoso pelo meu corpo. Maya me encarou meio confusa, fiz sinal para o motorista o que bastou para um sorriso deslumbrante pintar em seus lábios.
Refiz a lista mental:
Quesito educação: 5, tinha melhorado bastante desde do primeiro “encontro”
Atuação 10, o que era perfeito. Estaria até o momento valendo os 30 mil reais.
Minha meta para não enlouquecer por conta dela... Talvez uns 4,5
Minha vontade de tê-la... Deus, 10, talvez mil...
— Sr. Amell. – O motorista me cumprimentou, já havia utilizado os serviços dele algumas vezes que estive no Rio a trabalho. – Prazer em revê-lo.
— Tudo certo, Matheus?
— Sim, senhor – Ele trocou um olhar para Maya e para mim.
— Essa é minha namorada Maya Banks, estou trazendo-a pela primeira vez ao Rio. – Acrescentei um sorriso para completar o teatro.
— Muito prazer em conhecê-la senhorita.
— O prazer é todo meu. – Disse se empoleirando em meus ombros, sua mão roçava meus cabelos na nuca, causando um arrepio.
Acalme-se seu otário, isso é apenas uma representação, não meta os pés pelas mãos.
Ajudei Matheus com as malas e seguimos para o fluxo complexo de carros do Rio. O dia estava ensolarado o que fazia o suor escorrer pelo rosto no mínimo tempo que passávamos longe do ar condicionado. Maya sentou ao meu lado no banco de trás, sorrindo, uma das mãos apoiadas em minha coxa. Seu sorriso parecia verdadeiro, ela olhava pela janela com interesse apreciando qualquer paisagem por onde passávamos.
— Você já esteve no Rio, baby ? – Usando o apelido “carinhoso” que usava para as mulheres que passavam as noites comigo.
— Sim, apenas uma vez, fui para Búzios. – Disse voltando seus olhos para a janela.
Matheus trocou um olhar pelo retrovisor, empolgado foi pelo caminho mais longo, mostrando a Lagoa Rodrigo de Freitas, que mesmo nesse sol forte estava apinhada de pessoas andando e correndo nos pedalinhos. Passamos pelo Aterro do Flamengo um dos mais bonitos parques arborizados do Rio de Janeiro, e logo após o túnel, nos deparamos com o lindo mar azul da praia do Leme, na qual se segue a direita pelo calçadão em pedras portuguesas até o imponente Copacabana Palace, um prédio branco à beira-mar, digno de ser o Palácio da princesinha do mar.
— O Sr. gostaria de estender o passeio? – Matheus perguntou olhando-me pelo retrovisor.
— Não Matheus, depois teremos tempo para o passeio. – Digo dando um sorriso. Desço dando uma olhada para a entrada magnífica do hotel, um funcionário se adianta pegando as malas no carro.
Maya se empoleira em meu ombro novamente, nenhum de seus movimentos soa falso, muito pelo contrário soa verdadeiro e apaixonado, bem coisa de casal que está em lua de mel.
A atendente nos recebeu com um enorme sorriso, olhei para a plaquinha dourada fixada em seu vestido preto. – Boa tarde.
— Boa tarde, o senhor tem reserva? – Lucia, como indicava seu nome, pergunta educada.
— Sim, está em nome de Otávio Amell, sob os cuidados da empresa Wiless.
— Claro, para finalizar a entrada dos senhores, poderiam me passar os documentos de identificação, por favor?
— Um instante. – Pego meu RG na carteira e espero Maya retirar o dela da bolsa, antes de entregar dou uma olhada rápida no de Maya, realmente é Maya Banks que consta no documento e na assinatura.
Lucia passa alguns instantes digitando no computador, nos devolve os documentos, vai até o lado oposto do balcão de atendimento, pega o cartão de acesso. – O quarto dos senhores, 606.
—Obrigada, Lucia. – Pego o cartão de acesso e dou uma mão para Maya que entrelaça nossos dedos, a tensão entre nossos corpos está tamanha que me sinto tonto. Preciso de uma bebida forte.
Sinto meu telefone vibrando em meu bolso. Paro fazendo sinal para que ela aguardasse. Olho o visor, me lembrando que não havia mais falado com Hugo.
— Hugo, por onde você anda?
— Por onde eu ando cabrón, eu que devia fazer essa pergunta.
Escuto barulho de água, algumas mulheres falando ao fundo.
— Onde você está?
— Estou no Rio, não me diga que você não vai aparecer na festinha da empresa?
Soltou uma gargalhada, Maya acompanha minha conversa.
– Já estou no Rio, acabei de fazer o check-in no Hotel.
— Venha para a piscina. Estou aqui.
— Cinco minutos, estou aí.
Fiz sinal, tomando a mão de Maya nas minhas novamente, fomos até a área da piscina que estava lotada com os turistas, avistei ao longe Hugo entre duas mulheres loiras, sentado em uma das espreguiçadeiras.
— Vou apresentar você para meu amigo, depois nos livramos dessas roupas quentes.
— Sem problemas. – Maya parou, me fazendo parar junto com ela. – Como preferi que eu te chame? Já vi que escolheu baby para mim. – Ela completou com uma levantada de sobrancelha.
— Você não gosta? – Perguntei me divertindo.
— Você poderia tentar ser mais original, que tal? – Ela questionou cruzando os braços.
Realmente eu estava me divertindo. – Que tal jujuba?
Ela caiu na gargalhada, ria tanto que colocou as mãos sobre a barriga, me fazendo rir junto com ela.
— Jujuba? Sério isso?
— Por que não? Você pediu algo original. – Falei dando de ombros.
— Tudo bem, moreno bonitão.
Segurei-a, trazendo para mim, desviando de um garçom apressado. Maya continuava olhando para mim, seus olhos penetrantes. – Como assim moreno bonitão?
Ela realmente riu da minha cara, — Eu te chamei assim quando vi você na boate.
Abri a boca para provocar, pelo canto do olho vi uma sombra caminhando em minha direção. Soltei Maya me virando para quem estava vindo.
—Huguito. – Gritei seu apelido de infância, entrando na onda de Maya.
— Cabrón !
Algumas pessoas olharam em nossa direção, curiosas. Hugo parou a nossa frente analisando Maya, olhando para mim, como não queria que ele desse nenhum fora, tratei de apresentar logo os dois.
— Hugo essa é a Maya, Maya esse é meu amigo idiota, sabe? Aquele que eu disse para você se manter longe?
Maya e Hugo trocaram um beijo na bochecha se cumprimentando, coloquei uma de minhas mãos em sua cintura, mas por costume, e mesmo não querendo revelar, não queria ninguém também de olho nela.
— Você já cruzou com a puta velha da Ianelli? – Hugo perguntou.
— Não, acabamos de chegar ao hotel.
— Sorte sua, já cruzei com ela cheia de sorrisinhos com a Patrícia.
O sangue subiu em meu corpo rápido demais, dando uma raiva instantânea. – Deixe-a achando que está tomando meu lugar na Diretoria com aquele inútil e gordo de seu marido.
Maya observava a conversa, não falando uma palavra.
— Isso mesmo garoto corra atrás de seu osso.
— Não disse que ele só fala idiotice? – Comentei com Maya, ela lançou um sorriso de lado, nem tão sincero como os outros. – Bom, vamos para o quarto nos ajeitar para o evento, nos vemos depois cara.
Hugo se despediu com um gesto voltando para as mulheres que esperavam por ele na espreguiçadeira.
Caminhamos em silêncio pelo saguão do hotel, no elevador, pelo canto do olho via Maya com o olhar longe, como se tivesse perdida em pensamentos.
Estávamos no corredor do quarto quando parei, puxando sua mão para que parasse ao meu lado, ela se virou para mim.
– Aconteceu algo que não percebi?
— Como assim?
— Você estava cheia de sorrisos e ficou séria. – Expliquei.
— Não aconteceu nada, como já disse estou apenas representando meu papel, Otávio.
Mesmo vendo que ela tinha ficado brava com algo não quis ficar implorando para que falasse, além do mais, realmente ela estava aqui porque estava pagando uma fortuna para uma cafetina resolver meu problema da promoção.
Mesmo com todo o encanto que Maya me envolveu eu tinha que ser sincero e realista, ela mesma disse que tudo não passava de algo profissional.
Capítulo 19
Minha mãe sempre dizia quando eu era mais nova que tinha um instinto em mim. Que eu sabia com que tipo de pessoas eu estava lidando.
Quando vim para São Paulo, eu comprovei ser verdade esse instinto. Sabia o que as pessoas queriam, somente em analisar suas expressões e quando nos encontramos com Hugo, amigo de Otávio na piscina do hotel, seu olhar por cima do ombro enquanto dava um abraço em Otávio me deu o perfil inteiro dele.
O reconheci sendo o homem que acompanhava Otávio na boate, na primeira vez que nos vimos e também por Marli ter apresentado um pequeno perfil dos dois.
Nada disso no fundo era o problema, nem mesmo o fato de que alguém pudesse estragar tudo contando de fato o verdadeiro motivo que eu estava ali. O que me incomodou realmente foi o olhar sujo que ele lançou para mim como se eu fosse um pedaço de carne, que assim que seu amigo me chutasse ele poderia se aproveitar de mim.
Eu poderia estar enganada, mas trabalhando no ramo que trabalho, vivendo perto de homens de todos os tipos e status diferentes. Eu tinha um faro para ver quando uma pessoa não era tão amiga assim, ou leal como Otávio afirmava, mas, quem era eu? Uma mulher contratada por uma cafetina para passar cada mês com um homem diferente, de olho na bolada que eles me pagavam.
O hotel era incrível, Otávio e eu estávamos em uma suíte de luxo, com uma sala espaçosa, com uns frigobares todo equipados. O quarto era o dobro do meu, a cama grande coberta por lençóis com as iniciais do hotel, alguns quadros decoravam a cabeceira da cama. Uma cortina creme tapava a visão da janela que ia do chão ao teto.
— Maya.
Virei procurando por Otávio, segui para uma porta francesa que estava aberta, ele estava parado com os cotovelos sobre a mureta da varanda.
A vista era maravilhosa, tínhamos visão para a área da piscina e uma ampla visão para a praia de Copacabana, o sol começava a se esconder, dando lugar para um entardecer maravilhoso. Otávio se virou ficando de costas para a visão que tínhamos, olhando diretamente para meus olhos. Ter essa vista toda e a beleza dele parado olhando para mim mexia algo dentro de mim, seus olhos astutos de um azul maravilhoso, o cabelo comprido balançando sobre o pouco vento, os lábios finos sempre com um meio sorriso. O corpo apesar de mediano mostrava que mesmo completamente vestido dava altas possibilidades para a imaginação correr solta.
— A vista é linda. – No fundo não sabia se soltei isso me referindo a praia, ao Rio, ou ao fato disso somado com Otávio parado olhando daquele jeito para mim.
— Realmente a vista é espetacular. – Seus olhos percorreram todo meu corpo, de cima a baixo.
Senti minhas bochechas corando, poucas vezes eu corava, estava tão acostumada com assédio de clientes da boate, ou até mesmo dos clientes que tinha na Luxor, mas Otávio era diferente, ele mexia algo, girava o planeta de forma contrária.
— Acredito que tenhamos que nos arrumar. – Disse quebrando o silêncio constrangedor.
— Sim, — Concordou sorrindo. – Temos dois banheiros aqui no quarto, então vamos conseguir nos arrumar sem um atrapalhar o outro. Pode ficar com o quarto eu me troco no outro banheiro. – Completou adentrando no quarto.
Ele pegou sua mala, colocando em cima da cama, retirou um terno de alta costura preto, abriu um compartimento revelando um pequeno mostruário de gravatas. – Você sabe qual vestido irá usar?
Concordei com a cabeça pegando minha própria mala.
— Maya? – ele tinha se virado para mim, — me diga que você não esqueceu um vestido à rigor?
Não me contive soltei uma risada, abrindo minha própria mala, revelando uma pequena pilha de vestidos sociais, eu sempre estava preparada para qualquer eventualidade, a profissão e alguns deslizes com cliente haviam me ensinado isso da pior maneira. – Fique calmo, eu estou preparada.
Curvei-me sobre seu ombro de forma inocente, nossos olhares se encontraram, nos prendendo. Aquela sensação de tensão entre nós. – Hã... Eu acho que você deve escolher essa daqui. – disse puxando uma gravata azul como seus olhos, combinaria perfeitamente com o vestido que eu tinha em mente.
— Ok, usarei essa — ele pegou suas coisas, uma bolsa de mão pequena de couro. – Vou deixar você se arrumar. Até mais.
Ele ia saindo quando parou de repente. – A festa começa às 18horas.
Olhei para o relógio em meu pulso, daria tempo, tinha uma hora e meia para toda a produção. Quando estava finalmente sozinha no quarto coloquei meu vestido azul celeste sobre a cama.
Ele ficava na altura do joelho tirando o busto que era justo ele caia sobre o corpo de forma solta, leve. Todo detalhe ficava no peito, sendo todo com aplicações de brilhos prateados.
Como ele era tomara que caia, dispensei o sutiã e coloquei junto na cama uma calcinha da mesma cor que o vestido, evitando que marcasse ou aparecesse sobre o tom do vestido, peguei uma sandália prateada simples, um par de brincos também prateados. Seguindo o esquema de cores e joias que tinha em mente.
O banheiro era tão impressionante quanto ao quarto, um espelho grande cobria uma parte da parede, pias duplas. Além de um box com uma ducha enorme também tinha uma banheira, com sais, óleos, mas infelizmente teria que ficar para outro momento, prendi o cabelo com cuidado para não marcar demais. Abri a ducha deixando em uma temperatura agradável, depois de tirar todo o suor que grudou na minha pele como uma camada de pó do caminho do aeroporto até o hotel, deixando o cheiro do sabonete de hortelã em seu lugar. Desliguei o chuveiro me enrolando na toalha.
O penteado era um coque bagunçado, mas com um toque de elegância, completei com uma maquiagem suave, um gloss apenas para dar um brilho na boca. Corri para o quarto olhando à hora no celular, teria que me apressar.
Já podia escutar barulhos na sala, Otávio já devia estar pronto. Vesti o vestido, as sandálias, estava colocando meu celular em uma bolsa carteira, quando ele bateu na porta.
— Estou saindo! – Anunciei.
Deu uma última olhada no espelho, sim estava perfeita.
Capítulo 20
Eu estava impaciente, não costumava ter que esperar alguém se arrumar e há muito tempo não esperava uma mulher fazer tal coisa, andando um pouco impaciente pela sala. Decidi saber em que pé Maya estava no quarto, bati duas vezes na porta sendo recebido com um grito.
— Estou saindo.
Ótimo, voltei para minha posição no meio da sala, olhei para o relógio novamente, cinco e quarenta. Suspirei encarando a decoração, o aparador perto da porta contendo alguns copos de cristais, olhei para o espelho vendo meu reflexo e um pouco afastado, vi Maya. Tive que me virar e quando fiz perdi o fôlego.
Maya estava magnífica, o vestido azul combinando não só com a minha gravata, que ela mesma tinha escolhido como também até um pouco com o tom de azul dos meus olhos. Admirei da cabeça aos pés, ela vendo que tinha parado para isso sorriu, deu uma voltinha fazendo seu vestido balançar um pouco em volta de seu quadril.
— Como estou? – Perguntou.
— Linda.
Realmente, não tinha outra palavra para descrever a mulher em minha frente. E do nada uma sensação ruim tomou meu peito, eu não deveria querer essa mulher, de maneira nenhuma, tinha que deixar nosso convívio o mais profissional e amigável possível. Ajeitei o nó da gravata já perfeita, expulsando qualquer pensamento do tipo.
— Podemos ir?
— Podemos. – Ela veio em minha direção, passou por mim, lançando seu perfume doce em meu rosto, como se fosse um soco, contrariando meus pensamentos, realmente eu estava fodido.
Sorri para mim mesmo, peguei o cartão de acesso e segui para o evento.
Entrando no salão reservado para a festa todos os homens que trabalhavam comigo olharam para ela, Maya tinha soltado do braço e descido sua mão por toda a extensão até entrelaçar os dedos nos meus. O que causou uma onda de desejo por todo meu corpo, incluindo meu pau, que estava sofrendo por ter uma mulher desse porte do meu lado e nem poder brincar.
Logo mais à frente avistei minha chefe com Patrícia e o gordo do seu marido, dei um sorriso para Hugo que estava numa mesa próximo da porta francesa do salão junto com Daniela que me olhava interessada. – É hora do show. – Disse me aproximando da orelha de Maya, aproveitando para roçar de leve meus lábios em sua pele.
A única resposta que ela me deu foi um sorriso deslumbrante e um leve aperto em minha mão direita. Segui para onde Ianelli estava com o Sr. Dalton, minha concorrente e o marido dela.
O Sr. Dalton era um homem astuto, trabalhava no ramo de construções no Rio de Janeiro.
— Boa noite, senhoras. – Cumprimentei. – Sr. Dalton, Ricardo.
— Olá Otávio, pensei que não viria. – Ianelli, a puta velha gostava de me irritar, não era possível. Seus olhos foram de mim para Maya e nossas mãos unidas.
— Que indelicadeza a minha, está é Maya, minha namorada. – Disse sorrindo de forma apaixonada para ela.
Maya já preparada sorriu abertamente, não soltando em momento algum minha mão enquanto trocava cumprimentos com as mulheres e trocava banalidades com os cavalheiros.
— Sua acompanhante é linda. – Comentou Dalton.
— Sim, porém sou suspeito né, Jujuba. – Acrescentei o apelido banal e infantil que dei para Maya em nossa brincadeira de hoje mais cedo. Ela riu baixinho, mostrando as covinhas que até então não tinha notado.
— Para com isso, Moreno. – Deu um beijo em minha bochecha ascendendo meu corpo.
Os casais ficaram meio sem jeito com nossa demonstração de afeto o que me fez querer rir, estava dando certo. Nem mesmo a víbora da Patrícia tinha como rebater tal demonstração.
— Você comparecerá ao almoço com o conselho, Otávio? Sabemos que não é ligado a compromissos. – Patrícia deferiu sua primeira alfinetada.
— Acredito que isso tenha ficado no passado querida Patrícia, mas respondendo sua pergunta, comparecerei. Se vocês nos dão licença. – Sorri para Ianelli que se divertia com a competição que soltou em cima de nós.
Puxei Maya pela mão passando por algumas mesas, cumprimentando parceiros, pessoas que conhecia há alguns anos, sempre apresentando Maya como minha namorada, colando seu corpo na lateral do meu. Às vezes minha mão ia para sua cintura, outras para sua nuca, dando um carinho em círculos pelos cabelos que caiam por ali.
Notei alguns olhares dela para mim, assim como por vezes sentia que estava jogando a prudência no lixo, e, fazendo pequenos furos na linha tênue do profissional verso amigável.
— Vamos procurar um lugar para sentar.
Ela concordou, olhei pelo salão vendo que tinha um lugar na mesa de Hugo e Daniela. Antes de seguir para lá, puxei-a um pouco para fora da linha de convidados que passava por nós. – Maya, se alguém perguntar você trabalha como médica.
Ela endureceu o olhar.
— Que foi? – Perguntei confuso, eu tinha lido no relatório dela que havia cursado medicina, seria perfeito, ela falar algo que dominasse.
— Nada. É que eu cursei medicina antes de... Você sabe. – Disse dando de ombros.
E naquele pequeno segundo antes de voltarmos para realidade, percebi a verdadeira Maya, se é que este era seu nome real, uma mulher cujo olhar mostrou que sofreu muito, cujo olhar denunciou isso em segundos antes de voltarem para nossa pequena encenação mostrou que ela tinha sonhos e não era nenhuma mulher oferecida e sim sofrida.
Passei minha mão pelo seu rosto, aproveitando para tirar uma casquinha e tratei de voltar para a realidade.
Capítulo 21
A festa até que transcorria normalmente, alguns amigos de Otávio sentaram perto de nós puxando conversa, Daniela conversava comigo sobre Otávio, a empresa, sobre seu afastamento. Lógico que fui questionada por coisas, pessoas que contei como se fosse verdades absolutas, como com o que trabalhava, como eu e Otávio nos conhecemos. A pessoa mais interessada foi sua chefe, ela me questionava coisas íntimas sobre Otávio e eu.
Ele o tempo todo que estávamos sentados mantinha uma das mãos em minha coxa, no espaço descoberto pelo vestido. Seria loucura minha ou o olhar dele tinha se tornado afetuoso? O tom de azul claro brilhava com algo a mais, mesmo que eu tentava manter as coisas o mais profissional possível, tinha que confessar que o fato dele me tocar com certo carinho no pescoço e na perna me deixava tentando recuperar o ar.
Dei a desculpa de retocar a maquiagem para fugir um pouco de seu toque e das frases decoradas que eu contava para quem se aproximasse de nós querendo ver esse lado “namorado” de Otávio Amell, assim como sorrir para as possíveis amantes decepcionadas que paravam na mesa cumprimentando Otávio.
Estava a caminho do banheiro quando ouvi alguém me chamando, mas tinha um porém, era pelo meu verdadeiro nome.
— Mia, Mia! — Eu paralisei, o sangue corria rápido pelo meu corpo, ao mesmo tempo em que não queria ninguém ouvindo, não queria ser um problema e estragar as coisas com Otávio.
Virei-me olhando quem estava me chamando, um homem gordo acenava com a mão caminhando até mim, perto da pista de dança. Olhei para a mesa onde estávamos sentados, Otávio me olhava, seu rosto fechado, sério.
— Mia, caramba quanto tempo. – O gordinho me tomou nos braços dando um abraço apertado, mesmo eu não retribuindo.
— Desculpe, não estou me lembrando de você, acredito que tenha me confundido com alguém.
Olhei novamente para a mesa, vendo que Otávio tinha sumido.
— Não, não, nunca esqueceria esses olhos verdes. – Disse voltando minha atenção para ele, que sorria debilmente. – Não se lembra do filho do Nelsinho? O carteiro?
Oh inferno! Mesmo fugindo do passado ele dava um jeito de te encontrar.
Sorri. Era melhor amortecer os danos do que continuar fingindo que não conhecia o Artur, filho do carteiro Nelson de minha cidade. – Desculpe não te reconheci.
— Imaginei, eu engordei mesmo. – Dizia ele.
— Atrapalho algo?
Olhei para o rosto sério de Otávio, soltei a respiração que não sabia que prendia.
— Desculpe, Sr. Amell. – Artur logo tratou de falar.
— Você é? – Otávio estava com um tom frio.
— Eu trabalho no setor financeiro aqui do Rio e reconheci Mia. Morávamos na mesma cidade, Blumenau.
Senti meu rosto pegando fogo. Tentei pegar a mão de Otávio, mas ele puxou enfiando dentro do bolso.
— Você não estava indo ao banheiro? – Otávio se dirigiu para mim bravo, seus olhos me queimavam da cabeça aos pés.
Nem concordei ou falei algo, me afastei dos dois depressa até o banheiro entrando como um foguete e me trancando em uma baia. A raiva e o medo me dominavam, fazendo um zumbido soar em meus ouvidos, me sentia tonta. De tantos lugares para alguém me encontrar, tinha que ser justo aqui? Eu não me escondia de ninguém, andava de cabeça erguida na rua, mas justo quando estava trabalhando o filho do Nelsinho tinha que aparecer?
Ouvi o barulho de música invadindo o toalete quando a porta abriu, continuei respirando fundo, tentando expulsar todos os demônios que tinham tomado conta de meu peito.
— Maya saia daí, estou vendo seus pés!
Eu dei um pulo, não esperava Otávio invadir o banheiro feminino. Passei a mão pelo cabelo e pelo vestido ajeitando-o, destravei a porta dando de cara com um olhar colérico, o tom de azul de seus olhos endurecido.
— O que foi aquilo? — Ele praticamente cuspiu as palavras em cima de mim. — Eu disse que não queria furo no evento de hoje. Você tem noção do quanto é importante para mim essa promoção?
Otávio andava de um lado para o outro como um leão enjaulado. – Você não percebe que um erro, um passo em falso pode acabar com tudo?
—Ei! Calminha ai! – Gritei de volta. – Abaixa sua bola e fala direito.
Seus olhos se arregalaram um pouco com minha explosão.
—Desculpa, tá ! Nunca iria imaginar que encontraria alguém aqui.
Otávio bufou recolocando as mãos no bolso da calça social.
— Sei quem são os meus clientes e nenhum se arriscaria a me atrapalhar, não sou uma vigarista que sai na calada da noite, todos os meus clientes tem prazer em me cumprimentar na rua.
Ele soltou uma risada sinistra. – Vamos para o quarto, não posso deixar que ninguém escute isso. – Otávio firmou um aperto em meu braço, juntando meu corpo com o dele, observou bem o salão antes de sair de fininho me carregando. Parou em nossa mesa recolhendo nossos pertences, abaixou falando algo no ouvido de Daniela, que sorriu e concordou se despedindo dele.
— Você quer me soltar? – perguntei olhando fixamente seus olhos.
Ele bufou, revirou os olhos e soltou meu braço quando já estava dentro do elevador, como não estávamos sozinhos não trocou uma palavra comigo, mantinha seu olhar no painel.
— Pronto, agora trate de me explicar a palhaçada que aconteceu na festa. – Otávio explodiu quando fechei a porta da suíte, jogou a gravata e o paletó na poltrona, foi até o frigobar pegou uma cerveja e voltou a me encarar.
— Não tenho o que explicar, estou cumprindo meu papel. Não tenho culpa de ter encontrado alguém de Blumenau aqui.
— Porque ele chamou você de Mia? – Seus olhos eram duros, frios. Nem um pouco carinhosos como estavam na festa.
Enrolei um pouco para responder, soltei meus cabelos que caíram em grandes cachos pelo meu corpo. Enquanto protelava via o olhar de Otávio se misturar de desejo e raiva, eu mesma queria dar na cara dele. – Porque é o meu nome. – Falei revelando meu segredo, não tinha para onde correr, e estava cansada de correr.
— Seu nome é Mia?
— Sim, Mia Azevedo.
Ele tomou um grande gole de sua cerveja, colocou-a no descanso de copos. – Por que você se tornou acompanhante?
— Isso é pessoal.
— Sério? Sinto informar, mas sua vida pessoal veio atrás de você e eu gostaria de não ser surpreendido outra vez.
Busquei o apoio do sofá, — Eu tinha vinte e dois anos quando larguei tudo para vir para São Paulo, morava com meus pais e meu irmão. – Otávio me escutava com atenção. – Cursava medicina, sempre fui estudiosa e mesmo com a ajuda dos meus pais não conseguia me manter. Livros e a mensalidade muito caros, além de quase não dormir para estudar. Eu queria uma vida melhor, principalmente para meu irmão.
Fiz uma pausa, em todo o momento ele não tirou os olhos de mim.
— Um dia buscando algo que me desse mais dinheiro, achei o site da Luxor, seria um mundo de possibilidades. – Respirei fundo. – Foi um erro, quando meu pai descobriu, me deu uma surra. Foi aí que decidi fugir, e trabalhar na Luxor.
Dei de ombros, olhando para as minhas mãos como se fossem realmente interessantes. — Todo dinheiro extra que ganho mando para eles, meus pais acreditam que seja um fundo do governo. Se soubessem que o dinheiro é meu passariam fome, mas não o aceitariam.
— Maya...
— Não precisa dizer nada, estou nessa vida por que escolhi, comecei como dançarina na boate até chegar onde estou. Não quero sua pena e também a de ninguém. – Disse endurecendo o olhar.
— Sou capaz de muitas coisas, — ameacei. – Não será isso que me derrubará, já passei do inferno ao céu, conheci pessoas desprezíveis como pessoas que realmente amei. Já fui traída, já pude aprender muito em pouco tempo como acompanhante.
Otávio levantou o rosto mais suave e o olhar o mesmo brilho que antes. Peguei minhas coisas no sofá e segui para o quarto, não queria falar, na verdade preferia dormir a escutar mais alguma coisa sobre minha vida ou minhas escolhas. Sempre fui sozinha, sem me importar com qualquer opinião. Não seria agora, chegando aonde cheguei que começaria.
Capítulo 22
Permiti que Maya se trancasse no quarto, ainda processava tudo que ela disse. De todas as coisas que pensei sobre ela, nunca imaginaria que tinha entrado nessa vida por vontade própria, ainda mais sem ser exatamente para ela.
Eu precisava procurar mais sobre ela, saber sobre seus pais e sobre o irmão que ela falava com lágrimas nos olhos. Senti meu celular tocar no bolso da calça.
— Oi, maninha.
— Tavinho, não sabia se conseguiria falar com você a esta hora.
— Estava em uma festa da empresa, mas pode falar.
Ouvi minhas outras irmãs gritando ao fundo e portas se fechando.
— Você vai aparecer aqui, né? – Bianca perguntou como a menininha mimada que sempre foi.
— Sim, estarei aí na terça. – Anunciei.
— Terça? Jura? – Perguntou toda empolgada, já podia ver, ela correndo pela grande casa que tínhamos em Maresias, litoral de São Paulo.
— Sim, prepare um quarto para mim e para minha namorada.
— Como assim? Pêra aí, vou ligar a chamada de vídeo.
— Sério, Bianca? – Questionei, tirei o telefone do ouvido vendo o convite para a chamada de vídeo dela.
Aceitei. Bianca corria pela casa, como havia imaginado. Logo depois meus pais, Luce e Gabriela apareceram na tela.
— Olá, gente.
— Filho, como é bom te ver!
— Também estou com saudades mãe.
— Mãe você não vai acreditar, Tavinho está namorando e vai trazer para o casamento! – Bianca gritava no ouvido de meus pais.
Minhas irmãs assim como minha mãe começaram a jorrar perguntas para mim, fazendo um completo caos no telefone. Meu pai ria fazendo seu bigode levantar. – Se acalmem por Deus. – Disse, eu mesmo rindo das idiotices que Luce e Bianca perguntavam.
— Meu filho quando você virá para casa? – Meu pai perguntou sua voz grave calando por fim minhas irmãs.
— Terça, pai. Estou no Rio a trabalho.
— Ota, você vai mesmo trazer a sortuda? – Luce e sua sutileza, desde pequena me chamava de Ota, quando era pequena era bonitinho, hoje já era estranho.
— Sim, vocês irão conhecê-la, agora preciso ir.
Mandei um beijo para todos pela tela e desliguei. Rindo da empolgação das minhas irmãs para a novidade.
Olhei para o quarto vendo que era melhor ir deitar, mas antes um banho. Entrei de fininho no escuro, as portas da sacada estavam abertas deixando a luz da lua e o cheiro de maresia entrar pela cortina que esvoaçava. Peguei um short de pijama e uma cueca, indo para o banheiro.
O vestido e as joias de Maya, ou Mia estavam no canto da pia, assim como seus saltos encostados na parede. Cortei meus pensamentos para o que ela estaria usando, seria demais imaginar seu corpo em uma sensual lingerie e ainda deitar na mesma cama.
Liguei a ducha gelada, deixando que abaixasse meus hormônios, o cheiro de hortelã do sabonete dominou o ar em minha volta, enquanto lavava meu corpo, meu pênis deu o ar da graça, passei o dia todo sendo rodeado pelo cheiro e toque de Maya, deixando meus nervos em estado de alerta. Passei a mão pela extensão de meu pau, sentindo prazer, imaginando Maya no dia que nos conhecemos, ela dançando eroticamente no palco, rebolando. Mas dessa vez em um show particular apenas para mim.
Aumentei os movimentos, às vezes circulando a cabeça outras subindo e descendo, as veias grossas inchavam ainda mais em minha mão. Senti minhas bolas endurecerem, permiti que eu gozasse ainda com a imagem forte da fantasia que criei em minha cabeça, banhando os pelos da minha barriga com meu gozo quente. E nem mesmo assim, depois de gozar no chuveiro não me sentia satisfeito. Deixei que a água caísse por meu rosto, meu cabelo, limpando o que sobrou de minha masturbação.
Sai do banheiro olhando para Maya deitada na cama, seus cabelos negros caiam como cascata sobre o travesseiro, ela dormia tranquila. Estava passando pelo pé da cama quando pensei ter visto ela abrir os olhos, mas quando olhei de novo continuava com os olhos fechados.
Fui até a sala apagando as luzes e trazendo comigo mais uma garrafa de cerveja, cacei também no bolso do paletó meu cigarro. Eu não fumava com frequência, era mais um vício para quando estava estressado. E hoje era uma noite dessas, sentei na cadeira branca da sacada, abrindo a garrafa, tomando um longo gole. Sentindo o líquido gelado descer por minha garganta, entorpecendo meus sentidos. Acendi um cigarro olhando para a praia, algumas pessoas passeavam animadas pelo calçadão, admirando o final da noite.
A cortina balançava com o vento que vinha do mar, dançando pelo quarto como um fantasma, às vezes mostrando Maya dormindo na cama, outras encobrindo minha visão.
Em uma das olhadas para ela, peguei seus olhos abertos. Ela me encarava, seus olhos desejosos tanto quanto os meus. Maya fechou os olhos, continuei olhando para seu rosto, a luz da lua entrava no quarto dando um brilho especial sobre ela e a cama. Deixei de lado meu cigarro e minha garrafa, para ficar somente contemplando Maya, quando ela abriu os olhos de novo e me encarou, não precisei de palavras, seus olhos me convidavam. Aquela pequena mordida no seu lábio inferior denunciava seu desejo, como o meu próprio corpo não conseguia mais esconder. E entre levantar-me da cadeira abandonando minha cerveja e meu cigarro intocado, percebi que Maya era a própria deusa Afrodite encarnada tanto em sua beleza corporal como em sua influência sobre mim.
Passei pela cortina me deitando ao seu lado.
Ficamos nos olhando, sua respiração estava forte, o cheiro de seu perfume me perfurava causando uma onda de excitação pelo meu corpo. – Desculpe por mais cedo. – Sussurrei para ela.
Maya voltou seu corpo, fixando olhar para o teto. – Não tem o porquê se desculpar, você não fez nada. Isso não tem nada a ver com você.
Virei-me ficando de lado, encarando seu rosto. Olhando sua respiração, seu peito subir e descer lentamente sobre o fino lençol que nos dividia.
O silêncio começou a dominar o quarto novamente, o barulho da cortina se mexendo com o vento foi a única coisa que ousava a quebrar o silêncio. Desviei os olhos de Maya, até que ouvi sua voz suave finalmente vir até mim.
— Você não pareceu ser mulherengo e safado como alega ser. — Ela se virou olhando para mim. – Porque deixa que as pessoas o vejam assim? Todos que cruzaram comigo fizeram a mesma pergunta. Como conseguia ficar com você.
— As pessoas veem aquilo que acham certo e somos julgados por isso. O fato de não parar com mulher, não quer dizer que as faço sofrer de amores por mim, sou muito sincero com cada mulher que levo para cama. Ao contrário do que os homens acreditam ser mais fácil a se fazer, iludir uma mulher, eu não faço. Não dou expectativas, porque não quero viver com expectativas de ninguém sobre mim.
Ela absorvia tudo que falava, seus olhos grudados nos meus.
— Eu não passo a fama de mulherengo, ela vem até mim. Como também não saio por aí caçando alguém para me casar. Isso é uma coisa que depende do tempo e da vida. Enquanto isso sou um Bon-vivant – Dei de ombros.
Estávamos a centímetros um do outro, se esticasse um pouco mais meu pescoço poderia roçar meu nariz no dela. Estiquei meu braço sentindo a mão de Maya ao lado da minha, tracei o caminho entrelaçando nossos dedos. A mesma onda de calor percorreu meu corpo e quando ela me olhou com os olhos arregalados eu vi que também sentia isso, quando eu a tocava nossos corpos se acendiam, gravitavam um para o outro.
Maya puxou sua mão da minha, sua respiração ficando audível, ofegante, seus olhos quase negros na escuridão do quarto.
– Não. – Disse se virando de costas para mim.
— Por que, não? — Mia. – Chamei pelo seu verdadeiro nome.
Ela paralisou, ainda encarando a parede oposta. Já havia desistido, respirando profundamente para controlar o fluxo dos meus pensamentos, quando ela se virou com tudo, colando meu corpo com o dela, seus lábios invadindo os meus, sua boca quente, minha língua invadiu a sua, tomando-a para mim. Exigindo que ela fosse minha, sentindo seu gosto, fazendo que meu gosto se misturasse com o dela, me inebriando mais do que qualquer bebida ou gosto tinha feito. Passei a mão pelo seu corpo levantando um pouco sua blusa. Sentindo o calor de sua pele, enquanto ela puxava meu cabelo.
Separamo-nos um pouco recuperando o fôlego. Voltei a devorar sua boca, sentindo um prazer absoluto correr pelas minhas veias, viro pairando em cima dela. Maya prende suas pernas em volta de minha cintura, fazendo com que minha ereção pressionasse o tecido do seu short. Passo a mão pelo seu corpo venerando cada curva, seu rosto, desço a boca para seu pescoço, sugando, lambendo. Nossos corpos exalando pura luxúria se entregando um ao outro.
— Tira a roupa. – Ela manda em um tom autoritário.
Fico de joelhos sobre a cama arrancando meu short e minha cueca de uma vez, enquanto ela própria arranca sua blusa revelando os seios grandes e perfeitos, joga seu short longe, fazendo um amontoado de roupas pelo chão do quarto, voltando a se deitar.
— Quero que você sinta prazer como nunca sentiu na vida. – Digo me posicionando entre suas pernas, beijo o alto da coxa, sua atenção está voltada para mim, sua mão passeia pelo meu braço. Ela traça o caminho de minha tatuagem, do bíceps até o peito.
— Não sabia que você fazia o estilo adepto a tatuagem.
Dou um sorriso percorrendo sua perna com a língua, vendo-a se contorcer quando chego a sua intimidade, uma mão aperta o bico de seu seio, provocando-a tanto em cima como em baixo. Passo toda minha língua por seus lábios vaginais, sentindo o gosto de sua excitação, mordo de leve seu clitóris, Maya reage a isso levantando o quadril, arranhando minhas costas com sua unha.
Enfio um dedo em sua vagina, girando em sua parede, buscando o ponto G, adiciono outro dedo quando encontro o exato ponto de prazer, Maya se contorce em meus braços. Sinto meu pau latejando, chamando minha atenção para ele, retiro meus dedos colocando-o no lugar, entrando de uma vez.
— Otávio – sussurra meu nome em meio um gemido.
Estremeço sentindo seu calor e sua vagina pulsando em torno de mim, pego seus seios nas mãos dando atenção a eles, lambendo, mordendo o bico enquanto Maya se encarrega de rebolar aumentando a fricção entre nossos corpos.
Largo um pouco seus seios que já estão vermelhos e começo a me movimentar lento, fazendo um círculo completo dentro dela antes de dar uma estocada forte, repito uma, duas, três vezes, vendo Maya esticar os braços acima da cabeça, gemer como uma gata manhosa. Meu próprio corpo reclama da tortura, meus músculos do braço tremem segurando o tesão que toma conta do meu corpo. Aumento o ritmo, batendo no fundo dela, passo a mão por todo seu corpo.
Observando-o entregar os primeiros tremores.
Seus olhos verdes pegam fogo, seu rosto assumiu uma fisionomia de safada, algo primitivo desperta dentro dela. Maya se solta dos lençóis agarra meu pescoço. Fechando as coxas grossas entorno de minha cintura, dominando os movimentos, o bico dos seus seios raspando pelo meu peito. Rapidamente ela assume meu lugar, seguro seu cabelo em um rabo de cavalo firme, vendo que ela exibe um sorriso enquanto cavalga forte em cima de mim, por mais que queria não conseguia mais segurar. Preciso gozar.
— Maya se continuar assim não deixarei você gozar.
— Goza comigo. – Ela pediu e é o que basta. Deixo a excitação tomar conta de mim, me lançando para fora do meu corpo enquanto me derramo dentro dela. Mesmo com a visão turva vejo Maya jogar a cabeça para trás e gozar sobre meu pau, quando seus tremores ainda percorrem seu corpo ela rebola sobre mim querendo mais contato.
Nossas respirações vão aos poucos se acalmando, entrando no eixo. Puxo-a para meu peito e as últimas coisas que me lembro é que beijei sua testa, Maya passa um dedo sobre meu peito reescrevendo os tribais de minha tatuagem. E assim eu adormeço.
Capítulo 23
Acordo pela manhã curtindo o sol que entra pela sacada, as cortinas balançam com a brisa suave, me espreguiço vendo que estou sozinha no quarto. Viro de bruços relembrando a noite passada, tinha escutado um barulho no quarto, o que me despertou. Olhar Otávio desfilando apenas com uma bermuda e observar toda sua masculinidade e corpo esguio sentado na varanda, despertou coisas dentro de mim.
Quando nossos olhares se encontraram mostrando o desejo passando por uma conversa silenciosa entre eles, mesmo eu querendo disfarçar ele percebeu, não só notou como veio para cama.
Mesmo com nossa conversa, o clima que tinha ficado sobre nós, nada disso conseguiu esconder que toda vez que estávamos perto demais um do outro, algo consumia nossos corpos. O meu pelo menos foi inteiro consumido por Otávio.
Rolei de novo na cama conferindo as horas. Nove e meia, droga, tenho que levantar.
Sentei no meio da cama, me enrolando um pouco nos lençóis, escondendo minha nudez. Procurei por sinais de Otávio pelo quarto ou banheiro, mas ele não estava. Levantei, recoloquei a calcinha e o shorts que tinham ficado esquecido ontem depois de nossa transa e em vez de pegar minha regata busquei mais ao longe no quarto a blusa social que ele deixou pendurada na cadeira junto com suas outras roupas da festa.
Passei no banheiro apenas para escovar os dentes e tirar aquele bafinho matinal, pois eu queria mesmo um grande copo de café com leite, afinal ainda teríamos um almoço com o pessoal do trabalho de Otávio, antes de voltarmos para São Paulo.
Estava saindo do quarto quando peguei a conversa de Hugo com Otávio.
—... E aí todos ficaram bêbados e foram causar pelo Rio, sentimos sua falta. – Hugo dizia.
— Eu estava cansado, ainda tenho um compromisso antes voltar para São Paulo e arrumar as coisas para o casamento.
— Nem me fale, queria ficar mais uns dias pelo Rio, você me conhece, estou no meio das mulatas. – Hugo explodiu em uma gargalhada.
Fechei mais a porta deixando apenas uma pequena fresta para enxergar o meio corpo de Otávio e Hugo, e, conseguir ouvir a conversa.
— Bianca deve estar surtando todo mundo.
Na hora que ele falou sobre essa possível mulher senti um incomodo no estômago, uma coisa que não poderia sentir.
Onde e em que lugar eu poderia acreditar que por termos tido uma transa sensacional na noite passada ele ficaria com uma acompanhante de luxo. Eu mesma estava me esquecendo de ser séria e o mínimo profissional que a situação pedia.
— E quanto sua garota de programa? – Hugo perguntou entre um gole e outro do líquido que deduzi ser café.
— Hugo. – Otávio repreendeu olhando em direção ao quarto, me esgueirei para atrás da porta torcendo para que Otávio não tivesse notado que estava escutando sua conversa.
— Ah, que foi cara? Você mesmo a chamou assim!
— Sim, isso foi antes. – Otávio dizia, fazendo suas palavras me cortarem como uma faca afiada em meu peito.
— Tá , tá ... Me diga já conseguiu fazer valer apena seus trinta mil? – Hugo dizia tudo com malícia.
— Fique fora disso, idiota.
— Uhul! Alguém andou aproveitando melhor do que eu a noite anterior!
Escutei a risada trocada por eles.
Sua imbecil! Achando que só por que teria um rostinho bonito, ele sendo fofo em certos momentos estaria interessado em você. Eu era muito idiota mesmo. Ainda vinha com aquele papinho que não iludia as mulheres, que não era como os outros, um monte de blábláblá .
Não sei se foi pela raiva que pintou o rumo de minhas ações seguintes ou se eu queria realmente arruinar qualquer lembrança da noite passada. Corri até a cama arrancando meu short ficando apenas de calcinha e a camiseta aberta nos três primeiros botões.
Sai fazendo barulho o que calou os dois homens na sala, passei por eles, ambos me olhando. Permiti uma boa olhada do meu corpo, me curvei sobre a mesa pegando uma xícara de café.
Otávio tinha o semblante fechado, me olhando com as sobrancelhas erguidas, mas sem dizer uma palavra. E não precisava, eu via a explosão que acontecia dentro dele. Como também tinha olhado a cobiça nos olhos do seu amiguinho.
Porém, tratei de não me importar, afinal eu não era nada além de uma acompanhante que ele tinha alugado por um mês, não passava de um aluguel de luxo para ele comentar com seu amigo idiota e representar na frente de seus chefes.
Ouvi meu telefone tocando no quarto, peguei meu café e voltei a me trancar. Uma bola amarga travava minha garganta quando atendia a ligação.
— Oi, Marli.
— Bom dia meu diamante, como andam as coisas com o Sr. Amell?
— Boas, por falar nisso estou no Rio. – Ela adoraria alguns detalhes.
— Rio de Janeiro? Ai que delícia! – Marli exclamou do outro lado da linha.
— Sim, precisamente no Copacabana Palace. – Deixei meu café de lado indo até a sacada, os turistas e hóspedes do hotel já tomavam conta da piscina, se refrescando ou tomando sol. A manhã de segunda estava quente e ensolarada, mesmo com a brisa suave o suor começava a escorrer pelo canto do rosto.
— Invejinha de você . – Marli riu. – Quanto tempo vocês vão ficar por aí?
— Acredito que voltamos hoje mesmo para São Paulo.
Escutei a porta do quarto abrir e passos pesados em minha direção. Ignorei até Otávio estar parado ao meu lado me olhando com uma carranca no lugar do rosto.
— Desligue!
Virei para ele, estreitando o olhar. Marli comentou algo sobre ter um cliente interessado em mim e uma possível viagem para fora do país.
— Pode deixar em minha lista, acredito que o Sr. Amell não precisará tanto assim de mim pelo próximo mês, será um prazer atender esse cliente ainda mais com a possibilidade de sair do país. – Disse mais para provocar Otávio do que para própria Marli.
— Desliga esse telefone. – Otávio rosnou ainda encarando meus olhos. – Ou vou jogá-lo pela janela!
Cortei o que Marli dizia, me despedi e coloquei o telefone na cadeira que ontem tive a visão de Otávio sentando de maneira sexy.
— Que foi? – Perguntei em tom inocente.
— Que merda foi aquela na sala? Você não viu que estava com Hugo? – ele passou a mão pelos cabelos afastando as mechas que iam para seu rosto pelo vento. – Tinha que sair assim? – completou fazendo sinal para minha roupa.
— Desculpe mais não devo satisfações de nada. – Fiz menção de entrar no quarto, mas ele me segurou pelo braço, colando meu corpo no dele.
— Como é que é? O que foi agora? – Ele continuou me encarando. – Você acha que não percebi que estava espiando minha conversa o tempo todo?
— Otávio, ao contrário do que você e seu amiguinho latino pensam não sou uma prostituta, uma puta qualquer. – Explodi. – Não seja tão burro, honre o dinheiro que você me pagou. Uma acompanhante de luxo não tem que ser apenas boa na cama, ela tem que saber ser aquilo que o cliente deseja e realizar os desejos com perfeição.
Ele fez menção de me interromper, mas eu apontei um dedo pedindo com os olhos que se calasse. – é preciso ser educada, ter um papo agradável e, principalmente saber se portar em qualquer lugar seja numa festinha ridícula da empresa ou um boteco da esquina com os amigos.
Fiz uma pausa, respirei fundo. E nem assim ele me interrompeu.
– É preciso que não tenha apenas uma bunda gostosa, mas que saiba usar o cérebro. Tenho curso universitário, sei falar fluentemente inglês e francês. Então não me venha você e seu companheiro de noitadas dizer que sou uma puta qualquer, ou se vangloriar por me levar para cama, querido. Porque posso ter vários nomes, várias camadas, mas vocês não sabem quem eu sou.
Balancei meus cabelos para longe do ombro esbarrando em seu ombro para entrar no quarto. Otávio bufou jogando as mãos para o alto indo atrás de mim.
Ele começou a organizar sua mala, tirando uma peça de roupa para que servisse para o almoço e para a volta, guardando o restante dos seus pertences na mala.
Copiei seus passos, arrumando minhas coisas. Depois disso estaria pelo menos livre dele por alguns dias, mesmo que no fundo uma voz me chamasse de imbecil.
Otávio virou para mim, olhando meus atos, continuei ignorando, peguei meu vestido e joia no banheiro, coloquei tudo em seu devido lugar.
— Você poderia devolver a blusa quando terminasse suas coisas? — Perguntou ríspido.
— Claro. – Arranquei a blusa pela cabeça nem precisando desabotoar os botões e joguei em seu rosto, ficando apenas de calcinha.
Otávio me olhou como se tivesse atirado um bicho nele. Seus olhos corriam pelo meu corpo praticamente nu se não fosse a renda mínima de minha calcinha.
Segurando uma risada peguei minha roupa e nécessaire indo para o banho, onde só depois do chuveiro ligado me rendi à risada que tanto segurava.
— Nossa reserva está nos aguardando. Estou lá embaixo. – Otávio me comunicou batendo a porta.
Depois do nosso desentendimento pouco falamos, eu me trocando de um lado e ele do outro de costas para mim.
Depois de conferir minha aparência no grande espelho do banheiro. Ajeitando meus cabelos soltos, meu vestido tubinho preto justo ao corpo. Puxei minha mala para fora do quarto deixando junto com a dele.
Como falado, Otávio me aguardava com outro homem e sua companheira no saguão do Hotel.
— Desculpe o atraso.
Otávio olhou-me de cima a baixo, sorriu mantendo nossa farsa. – Está linda Maya, deixe-me apresentá-los.
Desviei minha mão quando ele tentou pegá-la.
— Sr. e Sra. Albuquerque, está é Maya Banks, minha namorada.
— Muito prazer Maya, realmente Ianelli não exagerou nos elogios a sua namorada Otávio. – O senhor careca sorria para mim.
— O prazer é todo meu Sr. e Sra. Albuquerque.
— Finalmente se rendeu ao amor meu caro, ou foi totalmente fisgado por Maya? — O senhor Albuquerque brincava conosco.
— Fui domado, mesmo correndo, ela me passou a perna.
Otávio dominava o ambiente, deixando todos confortáveis com seus sorrisos fáceis e superficiais.
— No fundo ele só estava esperando por mim, né querido? – Disse colocando minha mão em seu ombro. Trocando amabilidades com o casal a nossa frente.
Ignorando Otávio pelo resto da conversa, principalmente sua mão em minhas costas enquanto caminhava para fora do hotel, para o carro já esperando por nós.
Matheus que tinha nos trazido para Copacabana no domingo de manhã abriu a porta para nós.
— Matheus, para o restaurante CT Boucherie , depois aeroporto.
— Claro, senhor. – Matheus concordou batendo no quepe. – As malas já estão no carro.
Durante nosso almoço com sócios e a chefe de Otávio choveram mais perguntas sobre nós, dessa vez testaram o próprio Otávio, eu percebi que Ianelli – chefe dele – estava querendo realmente nós pegar em uma mentira. Por isso mesmo brigada com ele, deixei isso de lado para fazer com excelência meu trabalho.
E durante as despedidas na frente do restaurante pude observar que realmente todos acreditavam nos sorrisos e carinhos apaixonados que trocávamos.
À volta para São Paulo foi um completo silêncio, Otávio ficou o tempo todo no telefone, ou nas redes sociais, ou escutando música. E eu sendo orgulhosa como era e ainda magoada, depois da noite gostosa que tivemos, ele me tratasse como apenas uma puta. A acompanhante.
Uma coisa que nunca fui era hipócrita, sabia que era grande patamar de diferença entre nós dois, mas mesmo assim ninguém, ninguém mesmo iria me julgar pelas minhas escolhas. E se nesse instante se ele me tocasse novamente teria que pagar pelo meu trabalho, afinal essa era minha profissão.
Mesmo insistindo que pegaria um táxi, Otávio fez questão de ir comigo e pagar a corrida ao motorista. Retirei as chaves de casa da bolsa, pegando minha mala quando ele me segurou pelo cotovelo.
— Mesmo você sendo louca, ou, no mínimo bipolar como está agora...
Abri minha boca para mandá-lo se ferrar, mas ele me calou colocando a mão sobre meus lábios, dando aquela descarga de energia quente pelo meu corpo.
— Arrume suas coisas, você irá para Maresias comigo, tenho um casamento para ir. Pego você às cinco horas da manhã na terça-feira.
— Como assim? Porque tenho que ir?
— Porque já falei com minha irmã Bianca que levaria “minha namorada”, então preciso de você. Se prepare para conhecer os “Amells” – Ele jogou os cabelos para atrás, ficando ainda mais sexy, eu estava começando a perceber que isso era de propósito.
— Quando voltaremos?
— Depois do casamento.
Concordei com a cabeça, hipnotizada com seus olhos. Otávio me lançou um risinho sarcástico entrou no táxi e foi embora.
Deixando-me ali na calçada me sentindo sobre ruínas prestes a despencarem. Seria mais uma semana com sua presença e a presença constante do desejo que pairava sobre nós. Dando suas cartadas quando achava correto. Que a deusa das acompanhantes me protegesse desse homem provido de tanta beleza.
Capítulo 24
Maresias ficava em São Sebastião, a praia era conhecida principalmente pelos surfistas, lembro quando meu pai tomou a decisão de largar a vida na cidade grande e procurar uma cidade para curtir a folga que tanto merecia. No início a casa no litoral era dedicada a reunião com amigos, familiares nas épocas festivas ou para os feriados, mas meus pais se apaixonaram pela casa no condomínio fechado e se mudaram para lá. Na época eu cursava publicidade e propaganda na Faculdade Radial, Luce também já estava seguindo sua carreira na moda, assim como Gabriela encaminhada no Direito.
Bianca era a pessoa da família que mais aproveitava a casa com passagem particular para praia, por isso quando recebi o convite de seu casamento informando que seria em Maresias de nada me espantou, apesar de minha mãe querer o evento em um dos buffets tradicionais de São Paulo, Bianca e Ruan conseguiram dobrar meus pais.
Olhei mais uma vez para Maya que dormia tranquilamente no banco do passageiro, Buddy que também havia trazido conosco ressonava no banco detrás, depois de duas paradas para ele se aliviar segui viagem contemplando a serra cheia de curvas, subidas e descidas. Viajava ao som de “Come Back When You Can” , deixando sua melodia tomar o carro, tocando baixo para que não acordasse Maya.
Eu sabia que ela tinha ficado brava pela conversa que escutou, mas mesmo eu tentando reverter à história ela vinha com seu gênio nada fácil de lidar. Vi a explosão em seus olhos quando saiu do quarto trajando apenas minha blusa e uma calcinha mínima, ao mesmo tempo em que me deleitei com a visão, o ciúme tingiu de vermelho minha vista. Mesmo sabendo que ao final do mês provavelmente ela não seria mais minha, e, sim de outro homem sortudo.
Vai saber o que eles irão fazer nesse meio tempo.
Bufei com o rumo que meus pensamentos tinham tomado, era melhor não pensar nisso. Maya se mexeu no banco ficando com o rosto voltado para mim, percebi com um sorriso no rosto que ela tinha um pequeno fio de baba na boca, não me contive. Passei meus dedos de leve sobre seus lábios.
Seus olhos tremeram um pouco, se abrindo lentamente, revelando aquela íris verde profunda, se fixando em mim.
— Chegamos? – Ela perguntou se erguendo de um pulo no banco, o que me provocou um riso baixo. Seus cabelos rebeldes caindo dessa vez lisos pelos seus ombros.
— Ainda não.
– Desculpe acordá-la. – Voltei minha atenção para a estrada.
— Tudo bem, eu geralmente assusto quando acordo.
Ficamos alguns segundos em silêncio, pelo canto do olho podia sentir seu olhar sobre mim, precisava me desculpar pelo deslize de Hugo no hotel aquele dia. — Maya...
Ela se virou ficando de lado no banco, olhando para mim.
— Desculpe sobre o que você ouviu no Rio. — Mantive meus olhos nas curvas fechadas da estrada, mas podia sentir ela perto, ela me observando com atenção.
— Sabe, eu já ouvi muito disso durante esses cinco anos, inclusive dos meus pais. Minha vida como acompanhante não envolve sexo com os clientes ou ser fácil, e, sim fazer o meu papel. Já fingi ser amiga, prima, namorada, noiva, irmã. – Ela fez uma pausa se mexendo no banco de couro do carro. Olhei para seu rosto, dividindo minha atenção entre a estrada e ela. —Mas quando você disse aquelas palavras, eu me senti realmente um lixo, uma coisa fácil.
— Eu não deveria ter dito aquilo, isso foi antes mesmo de conhecê-la ou saber do por que você está nessa vida. Espero que não me odeie, não queria te magoar ou te machucar, Hugo é meio sem noção. Nunca teria continuado a conversa, mesmo sabendo que você estava ouvindo se ele tivesse levado adiante aquele assunto.
Suas mãos tocaram meu braço, esquentando-me no mesmo instante. Era impressionante que em um toque todo meu corpo fervesse por ela, por alguém que eu conhecia há poucos dias. Vi em seus olhos aquele traço de tristeza que tinha visto enquanto explicava sobre sua família.
— Você não entendeu ainda, né?
Diminui ainda mais a velocidade olhando para seu rosto, fixando por um instante seus olhos, minha atenção completamente dividida no trecho de pista reta da estrada como em Maya. Ela tomou a iniciativa, seus lábios sugaram os meus com delicadeza, mostrando-me o tamanho do seu desejo, permanecendo assim colados, saboreando o gosto de minha boca na sua. Para logo em seguida se afastar. Mesmo não querendo tive que desviar meus olhos para a estrada, Maya traçou de novo o caminho de minha tatuagem que aparecia pela manga curta da blusa.
— Eu não poderia te odiar Otávio, nem se quisesse. – Disse voltando seu corpo para o banco do passageiro agarrou suas pernas perto do peito e desviou seu olhar do meu, mantendo-o na janela.
O resto do caminho foi assim, às vezes nossos olhares se encontravam desejando algo, mas logo ela desviava sorrindo. Outras ela cantava trechos de músicas que tocava de minha playlist, o que me tirava risos de seu modo desafinado de cantar.
Buddy também resolver acordar quando já entravamos na cidade, colocando seu cabeção no vão dos bancos. Entre cabeçadas que ele me dava no braço e lambidas gigantescas no de Maya, deixando-a completamente babada chegamos ao condomínio de meus pais.
Parei ao lado da cabine do porteiro informando que iria para casa dos Amell, depois de registrar meu RG e os documentos de Maya seguimos pelas ruas já tomada pelo sol e cheiro de mar. Realmente fazia muito tempo que não ia lá, as casas que antes me lembrava sendo grandes e espaçadas uma da outra, dando privacidade para os habitantes estavam povoadas, algumas famílias andavam pela calçada com seus cães, outros se dirigiam para a quadra de esportes que eu sabia que tinha se você caminhasse alguns minutos para o lado leste do condomínio.
— Espero que você não se envergonhe. — comentei.
Maya tirou seus olhos das mansões voltando-os para mim com curiosidade.
— Minhas irmãs são terríveis. — Informei.
Ela soltou um sorriso sincero, tornando a olhar pela janela aberta. —Fique tranquilo, eu convivo com mulheres de diferentes personalidades na boate, sei como elas podem ser astutas e impossíveis.
Virando algumas ruas, subi a rampa da garagem estacionando ao lado dos carros de minha família, olhei procurando pelo de Hugo, e, no fundo dando graças a Deus que ele não estava ali, ajudei Maya a sair do carro, Buddy corria latindo em nossa volta feliz por estar solto.
—Bem-vinda à casa dos Amell. – Disse para ela, coloquei os óculos de sol no rosto, entrelacei meus dedos nos seus e contornei as costas da casa, passando pelo gramado, abri o portãozinho já escutando minhas irmãs rindo e conversando sobre o barulho de água e música.
Sentia a mão de Maya grudada na minha, lancei um sorriso por cima do ombro. Buddy a seguia como um fiel escudeiro.
Traidor!
— Ota é você? – Luce perguntou.
— Sim, chegamos. — Anunciei aparecendo na área da piscina.
Bianca saiu correndo da espreguiçadeira jogando-se sobre mim num abraço molhado, marcando minha camisa branca, depois se lançou sobre Maya dando um beijo em cada bochecha. Ri sacudindo a cabeça, mesmo depois de velha ela continuava com seu jeito moleca.
— Vai com calma Bia, assim vai assustar a moça.
Gabriela que também se levantou aguardando Bianca terminar com sua grande apresentação para nós cumprimentar. Dando-nos um curto abraço, pedindo desculpas pelas peripécias de Bianca.
– Como vai meu irmão?
— Muito bem, Gabi.
Gabriela era a filha mais velha, seguida por mim. Sua beleza era incrível seus cabelos loiros caiam em camadas até os ombros, seu rosto mesmo com algumas marcas de noites viradas sobre os processos de seu escritório, era bonito. Com olhos de um azul escuro.
Puxei Maya pela mão seguindo para o amplo terraço onde meus pais estavam sentados com meu cunhado observando a festa que minhas irmãs faziam.
—Pai.
— Como vai, Otávio? – Meu pai se levantou me dando um abraço de urso como sempre.
— Muito bem, me deixe fazer as apresentações, essa é Maya.
— Muito prazer, senhor Amell.
— Nada de senhor, apenas Barker. – Meu pai abriu um sorriso sincero, levantando seu grosso bigode.
— É tão bom ter vocês dois aqui em casa. — Minha mãe pousou uma mão em meu rosto e segurou a mão de Maya com a outra.
— Você poderia ter falado que tinha realmente desencalhado né, cunhado? — Ruan veio trazendo um copo de caipirinha para Bianca.
— Se eu tivesse contado vocês teriam colocado olho gordo.
Maya o tempo todo era enfiada em conversas com minhas irmãs que queriam saber de tudo, ela ia administrando as explosões de perguntas muito bem, tinha me afastado um pouco para dar água ao Buddy e pegar uma bebida para nós quando ouvi Luce perguntando para Maya como nos conhecemos.
— Foi em uma boate.
— Tinha que ser, agora entende porque todo o dinheiro da família está sumindo papai? — Luce disse me provocando.
— Seria melhor você contar sobre suas aventuras na Europa maninha. E por falar na aventura, cadê aquele bundão do seu namorado? — Perguntei vendo a cara de ódio que ela lançou para mim.
— Nem me lembre desse Je m’enfous !
Todos pararam tentando entender o que minha irmã tinha dito o que na verdade era uma ofensa em francês, quando a risada de Maya soou pelo silêncio momentâneo todos incluindo eu, olhamos para ela.
— Vous comprenez ce que je parle?
— Sim. Eu falo francês fluente, coitado de seu ex se ele ouvisse o que você está dizendo.
— Eu deveria saber que você fala francês. — Disse ainda olhando como um bobo para Maya, fazendo com que suas bochechas ficassem em um tom maravilhoso de rosa.
— Desculpe bonitão! Mas acredito que comentei com você.
— Meu Deus Ota, finalmente você nos apresentou alguém de quem eu realmente posso conversar. Ela tem cérebro! — Luce explodiu em uma gargalhada alta.
Toda minha família acompanhou Luce em sua risada, eu nem me importei ainda olhava Maya com certa malícia no olhar. Essa mulher tirava meu chão.
Capítulo 25
A família do Otávio era muito calorosa, as irmãs cada uma tinha uma personalidade, pelo pouco que pude observar Gabriela sendo a mais velha era a mais séria, Bianca ainda uma menina com seus vinte e três anos e Luce, bem, logo de cara me dei bem com ela, havia gostado das outras irmãs de Otávio. Mas Luce e seu jeito impulsivo de agir me mostrou algumas semelhanças com ela.
Mesmo Otávio pedindo licença para conversar com seus pais, me deixando na companhia de suas irmãs não me senti desconfortável e sim bem recebia, como a muito tempo não me sentia em uma família.
Karla mãe de Otávio chegou com uma bandeja repleta de pães e frutas para nós. Olhei pela propriedade tentando ver Otávio, porém não encontrei ele nem pelo enorme terraço como pela sala que tinha atrás das grandes portas de vidro.
— Querida se você quiser ir até o quarto é só subir a escada, o último quarto a direita.
— Muito obrigada, realmente preciso de um banho.
Segui pelo caminho que ela havia indicado, cruzando com Bianca esparramada no sofá com seu noivo, aos sussurros e beijos. Ao topo da escada fiquei confusa para que lado seguir, Karla havia dito últimaporta a direita, mas, não me informou se seria pelo corredor do meu lado esquerdo virando a direita, ou a direita realmente do outro corredor.
Dei sorte de entrar em um quarto e ver minhas malas apoiadas ao lado da cama, fechei a porta passando a chave. Tirei a camiseta grudada de suor, fazendo a mesma coisa com a bermuda.
Buddy levantou sua cabeça mostrando sua presença, voltando a deitar de barriga para cima aproveitando o ar frio do ar condicionado. Fui para o banheiro entrando com tudo, dando de cara com Otávio dentro do box completamente nu, seu quadril estreito mostrando a bunda rigída, a água fazendo o percurso que eu queria fazer com a língua.
Ele olhou por cima do ombro nem um pouco preocupado, quando me viu apenas de calcinha e sutiã seus olhos se estreitaram e sua boca se abriu um pouco.
— Desculpa, desculpa. Eu não sabia que estava no quarto.
— Não tem o porquê se desculpar. – Otávio não estava nem um pouco preocupado com nossa nudez, estava mais interessado do que qualquer coisa, seus olhos exibiam cobiça.
— Vou deixar você tomar banho. – Disse colocando minha toalha no puxador do lado da porta e sai de volta para o quarto.
Tinha me enrolado no roupão que encontrei no ármario, ouvi o chuveiro sendo desligado e a porta de vidro do box abrindo, em menos de cinco minutos Otávio estava parado a minha frente, seu corpo ainda coberto de água, seus cabelos pingavam no ombro, sua tatuagem que tinha me enfeitiçado no Rio fazia o mesmo nesse instante.
Passei a língua sobre os lábios secos, mordendo o inferior, meu corpo se arrepiava apenas com a visão de um Otávio saido do banho.
— Espero que minhas irmãs não tenham enlouquecido você.
Soltei o lábio que já estava com a marca do meu dente de tanto que eu mordia. – Não, elas são uns amores.
— Vamos ver até o final de nossa estadia por aqui se você continuará pensando assim. – Ele passou a mão nos cabelos jogando água pelo piso branco, o tempo todo meus olhos acompanhavam seus movimentos.
Não me segurei, sai de minha inércia na cama até chegar perto dele, apenas aquela toalha branca tapando seu maravilhoso membro, dando uma bela visão do caminho da felicidade.
Estiquei o braço, agarrando algumas mechas de cabelos entre meus dedos e o puxei para mim. Ele acompanhou o movimento, em nenhum momento questionou minhas ações, apenas sorriu antes de nossas bocas se tocarem, esfomeadas uma pela outra.
O beijo foi a combinação perfeita de suavidade e desejo, além de um toque de firmeza, suguei seus lábios com os meus, meu corpo pegava fogo e eu só queria me afogar ainda mais nesse desejo. Otávio gemeu quando minha língua invadiu a sua boca, sugando, enroscando com sua língua, segurando-a dentro de minha boca.
Suas mãos apalpavam meu corpo, senti uma vibração profunda quando sua toalha foi ao chão, fazendo sua ereção roçar em meu clitóris inchado mesmo por debaixo da calcinha rendada. Seu gemido grave, tornando tudo ainda mais excitante.
Otávio se afastou um pouco recuperando o fôlego, com as sobrancelhas erguidas.
— Como faremos se já é a segunda vez que você me ataca?
— Do mesmo jeito que estamos fazendo até agora.
Passei as mãos pelo seu peito, arranhando-o com as unhas, fazendo Otávio estremecer.
— Você irá surtar de novo?
— Isso importa? — Perguntei tomando sua mão e colocando na minha cintura, perto demais da calcinha.
Em vez de pronunciar em palavras ele levantou os ombros aceitando, seus dedos tocaram a barra de minha calcinha, fazendo todo o caminho de minhas coxas até minha bunda. Enquanto eu me deliciava beijando seu pescoço, seu pomo de Adão, puxando seu cabelo na base da nuca. Otávio foi traçando um caminho por dentro da calcinha, passou por toda a extensão de minha bunda, me fazendo tremer quando seus dedos passaram perto de minha entrada sedenta.
Eu estava perdida, deliciosamente perdida.
— Adoro sentir seu corpo todo se jogar em mim quando passo a mão pelo seu clitóris. – Ele sussurrou em meus ouvido, arrancou minhas mãos de seu cabelo me virando de costas para ele.
Sentir seu membro duro tentando abrir espaço pela minha lingerie já era suficiente para me enlouquecer, misturando isso com seus dedos dentro de mim, sua boca mordendo meu pescoço deixava tudo ainda mais delicioso, mal podia manter meu olhos abertos de tanto prazer que passava pelo meu corpo.
— Espero que você tome remédio pois já é a segunda vez que sou pego sem proteção. —Ele retirou os dedos de mim, puxando a calcinha para o lado.
Concordei com a cabeça impossibilitada de falar qualquer coisa, virei de frente para ele, sugando seus dedos. Sentindo meu gosto misturado com o seu. Otávio me pressionou contra a parede do quarto, beijando meu queixo, mordendo minha orelha.
— Me tome para você. — Disse masturbando seu pau, vendo ele inchar, sua cabeça rosada já coberto do seu líquido perolado. Passei a ponta na minha entrada e tremi por causa do contato, ele era tão quente.
— Droga. Preciso me enfiar em você.
Ele observou cada reação em meu rosto, entrando demoradamente, o fato de seu pênis entrar em mim fazendo a renda da calcinha também se esfregar em nos dois causava ainda mais tremores pelo meu corpo. Seus movimentos viraram estocadas duras, cruéis para meu corpo, suas mãos seguravam minhas coxas ao redor de sua cintura, sustentando meu corpo enquanto ele me penetrava.
Comecei a rebolar com urgência em seu membro, meu corpo pronto para se desfazer em mil pedaços. Otávio gemia no espaço de meu pescoço, arrepiando aquela área a cada gemido. Em todo o ato nada me vinha na cabeça, ignorei o fato de ser uma acompanhante, que estava sendo paga para ficar ali com ele, conhecer aquelas pessoas maravilhosas que eram sua família. Não me culpei por me sentir atraída por ele, ou por querer que ele me apertasse mais firme em seu corpo. Só queria a sensação de suas mãos em mim. Do vai e vem ritmado que mantínhamos, uma luta que travávamos um contra o outro buscando o prazer.
Minha cabeça foi para atrás encostando na parede, e eu podia sentir ele crescendo dentro de mim, pesado, uma sensação angustiante de prazer, senti um espasmo quente descer pela minha coluna paralisando um pouco minhas pernas, enquanto meu sexo explodia numorgasmo daqueles.
Os dedos dele se enterraram em minha carne, o que poderia causar uma marca e eu a queria, queria meu corpo marcado pelo seu cheiro, pelo seus beijos.
Vi seus olhos azuis escurecerem enquanto ele próprio explodia no seu prazer, Otávio encostou sua cabeça em mim ainda me mantendo colada em seu corpo, e seu pênis pulsando dentro de mim.
— Mia você vai acabar comigo.
Ao contrário das outras pessoas que me chamavam pelo meu nome verdadeiro, com Otávio não me sentia incomodada, eu gostava. Sua mão acariciou minha perna, antes dele colocá-las no chão e se afastar.
Ajeitei a calcinha vendo ele buscar a toalha e se limpar.
— Isso foi perfeito.
Concordei, dando um sorriso ainda recuperando minha respiração.
— Preciso descer, antes que alguém decida invadir nosso quarto.
— Claro.
Ele me encarou por um instante. — Posso ficar se quiser.
— Tudo bem, pode ir.
— Você está bem?
— Sim, vou tomar um banho.
Ele assentiu, parecendo meio confuso se realmente me deixava ou se estava fazendo a coisa errada e ficava no quarto. Foi até fofinho ver seus olhos azuis ansiosos e confusos.
— Então... Espero por você lá embaixo.
— Ok. – Disse indo para o banheiro e fechando a porta, olhei para o espelho vendo o sorriso mais bobo estampado em meu rosto.
Capítulo 26
Que mulher era aquela, Maya parecia regida pela lua, vezes fria como um vidro, não refletia nada, apenas ficava lá com sua beleza estonteante e olhar penetrante. Em outras, era uma deusa enlouquecida, queimava com apenas um toque e incendiava tudo que tivesse por seu caminho.
Desci meio desconcertado por toda explosão de antes, minha familia estava jogada pela sala de estar rindo e brincando um com o outro. Os convidados mais íntimos começariam a chegar amanhã a tarde e o restante apenas no dia do casamento. O grande dia de minha irmã aconteceria aqui mesmo, no gramado em frente ao mar.
— Cunhadinho que tal um passeio? – Ruan viu minha aproximação.
— Podiamos pegar um baladinha. – Bianca se empolgou.
Meus pais sorriam de orelha a orelha tendo toda família debaixo de suas asas, até Gabriela que era a mais durona estava sentada sobre os pés do nosso pai.
— Por mim, espere Maya descer e confirmo se ela quer sair ou apenas ficar por aqui.
— Tavinho se amarrou! – Luce gritou do outro lado da sala me provocando.
Lancei um olhar mortal para ela, abri a garrafa de bourbon que meu pai deixava no barzinho para as visitas, coloquei dois dedos da bebida. Tomei um gole saboreando o uísque descer queimando minha garganta.
— Deixem seu irmão em paz meninas.
— Pronto o principezinho da mamãe está sendo protegido. – Gabriela ria fazendo caretas para mim.
— Até você? — Reclamei.
— Oi. – Maya estava parada na ponta da escada, um shorts curto mostrando suas belas coxas, uma blusa estilo social branca com alguns botões abertos dando grande espaço para minha imaginação.
Fui até a ponta da escada, sendo um completo cavalheiro peguei sua mão entrelaçando nossos dedos o que fez minha mãe aumentar ainda mais seu sorriso.
— Eles estão querendo conhecer a noite por Maresias.
— Vocês conhecem a Sirena? — Maya perguntou se virando para minhas irmãs.
— Já ouvi dizer. —Gabriela respondeu largando seu livro.
— Sou amiga do dono, poderia nos colocar para dentro.
Estreitei os olhos para Maya, não queria mais nenhum episódio que tivemos no hotel, muito menos cruzar com algum cliente dela. Como se pudesse ler meus pensamentos ela encostou-se em mim com um sorriso. Desde que chegamos aqui estava difícil dizer se cada toque de Maya era encenação por conta de nosso contrato ou era real, verdadeiro. Sabia que pelo fato de ter três irmãs e minha mãe, não poderíamos fazer uma encenação qualquer, tínhamos que realmente parecer um casal apaixonado.
E isso que me deixava confuso, e, ao mesmo tempo me sentia apegado em seus constantes toques, sua mão sempre presente em meu braço ou em minha própria mão.
— Eu topo, vamos? —Luce se colocou de pé olhando para nossas irmãs.
— Eu preciso me arrumar. — Gabriela concordou ficando de pé.
— Noivinha? — Luce zombou.
Bianca trocou um olhar com Ruan que estava sorrindo, um aceno dele e as três correram para cima arrastando Maya junto delas.
— Mulheres. — Meu pai comentou acariciando os cabelos de minha mãe.
— Sogro você mal sabe o que passo com sua filha, Bianca é impossível, me leva fácil com essa carinha de fofinha.
— Bundão! — Soltei, rindo de seu comentário. Mesmo eu próprio sabendo do que minhas irmãs eram capazes, quantos problemas eu tive com elas e meus pais nem sonhavam.
Larguei meu copo na copa e voltei para o quarto encontrando-o vazio, voltei para o corredor ouvindo as risadas acaloradas de minhas irmãs no quarto de Gabriela. Preferi deixá-las em paz a mexer com três dragões prestes a cuspir fogo contra mim.
Troquei minha bermuda por uma calça preta, coloquei uma camisa de botão também preta. Como homem era prático!
Ruan também já estava pronto aguardando as meninas descerem. Estávamos discutindo sobre o carro que sairíamos quando Bianca pigarreou arrastando nossa atenção para elas.
Bianca usava um vestidinho preto, isso mesmo um vestido que se eu fosse seu futuro marido teria mandado trocar na hora, até me tocar que todas estavam assim. Bem maquiadas e com vestidos curtos, passei meus olhos por Luce em seu estilo gótico chique, um conjunto de saia e uma blusa pequena mostrando sua barriga colada em seu busto, ambos de couro.
Gabriela que sempre foi discreta para suas roupas, mostra que eu tinha ficado muito tempo longe de minhas irmãs. Seu microvestido azul colado, mostrando suas longas pernas a deixando mais alta.
Mas foi Maya que fez minha respiração travar na garganta, seu vestido prateado reluzia nas luzes da sala, seus cabelos caindo nos famosos cachos grossos, a boca num vermelho chamativo, atraindo minha atenção para o que eu já tinha provado ter um gosto delicioso.
Fui até ela trazendo seu corpo para o meu, depositei um beijo em sua bochecha para não borrar seu batom. Tracei um caminho de beijos até seu pescoço, vendo toda sua pele ficar arrepiada.
— Precisava de toda essa produção? —Questionei mordendo de leve o lóbulo de sua orelha. Ela soltou uma risada baixa, apenas para nós dois.
— Apenas o melhor para você, senhor Amell. – Retribuiu o sussurro.
A divisão ficou em dois carros, o meu e o de Gabriela. Ambos como o motorista da rodada, Bianca e Ruan foram com Gabi, enquanto Luce foi comigo e com Maya.
Luce já foi causando desde que saímos de casa, plugou sua playlist com funks , fazendo meu sistema de som explodir com as batidas altas e graves da música.
— Desde quanto você escuta esse tipo de música? — Perguntei gritando por cima das batidas, eu não tinha um tipo de música preferido, já fui a diversos bailes funks com meus amigos só para ver as meninas empolgadas com as batidas dançando até o chão.
— Não sou mais uma garotinha meu irmão. – Disse rindo.
Maya se balançava ao ritmo da música, sorrindo para mim. Sua mão sobre minha coxa subindo e descendo, passando rente à minha virilha e depois descendo, só para repetir todo o processo me provocando.
Em frente da balada era uma exibição de carros luxuosos, conseguimos duas vagas um pouco distante da entrada com uma fila quilométrica. Maya prestava atenção no telefone, desliguei o carro destravando as portas.
Ruan já estava contendo uma Bianca empolgada ao extremo, dei uma olhada para as mulheres na fila, algumas encarando a BMW de Gabi e a Land Rover, Maria gasolinas .
Olhar a balada em si, me lembrou de minha caixa postal lotada de mensagens da ruivinha peituda e algumas de Sofia, ou como estava gravada em minha agenda a Sofia Depravada. Isso era um costume, cada mulher sendo ela atirada ou não eu anotava seu nome seguido de um apelido, geralmente marcado por seu desempenho. Para as mulheres que eu não recordava o nome deixava apenas o apelido.
Maya grudou seu corpo no meu, andando no mesmo compasso. Levando-nos para os seguranças armários que olhavam as pulseiras das pessoas na fila e liberavam a entrada. Reparei quando um homem com o pescoço cheio de correntes de ouro saiu encarando Maya com um sorriso.
Ela se virou notando a presença do estranho que a puxou para um abraço caloroso, que meu deixou respirando fundo para não o empurrar para longe.
— Otávio, Luce, Gabi, Bianca e Ruan esse é o Brian. —Fez as apresentações.
Apertei firme a mão que o tal Brian estendia para mim, olhando para os olhos tranquilos e despreocupados de Maya, vendo até onde ela iria com isso.
— Brian esse é meu namorado. —Disse voltando para meu lado. Fazendo meu mau humor ser um pouco contido.
— Muito prazer, cara, meu irmão é vizinho de Maya. – Seu sorriso parecia sincero. – Adorei saber que vocês estavam vindo. Finalmente uma folga em Maya.
Maya deu seu grande sorriso, com um dar de ombros.
O tal de Brian retirou algumas pulseiras florescentes do bolso da calça entregando para nós, chamou um dos seguranças explicando que éramos clientes VIPs, permitindo nossa entrada na balada.
As luzes pulsavam, corpos dançavam ao ritmo da música alta, mulheres de todos os tipos rebolavam chamando atenção dos homens, Maya nos levou até o mezanino. Um espaço com sofá e pufes estava vazio, as meninas logo correram para o sofá entrando em uma conversa animada sobre a balada, o DJ...
Encostei-me à grade, Ruan ao meu lado dando uma olhada para a pista de dança abaixo de nós enquanto as meninas pediam suas bebidas, a música eletrônica impedindo qualquer tipo de conversa, quase estourando nossos tímpanos.
Ruan me cutucou mostrando algumas mulheres se insinuando no andar debaixo, com certeza querendo ser convidadas para o camarote. Voltei minha atenção para o sofá onde minhas irmãs conversavam animadas, sentei-me ao lado de Maya, pondo uma mão sobre sua cintura.
Observava ela conversar com minhas irmãs, contagiando sorrisos. Fiquei admirando com suas várias camadas, enquanto na Scandallo era rude e agressiva, aqui estava livre como um pássaro posto para fora da gaiola. Perdi-me um pouco imaginando como ela teria sido se não tivesse seguido a vida de acompanhante.
O garçom trouxe oito doses de tequila colocando na frente das meninas junto com duas garrafas de água e uma cerveja, Gabi me passou uma garrafa e entornou a outra, olhando para os lados assim como eu fiz quando cheguei, analisando o ambiente.
Gabriela por viver no meio de leis e ordens era muito observadora, quando mais nova, minhas irmãs viviam implicando por ela não ter os mesmos interesses. Enquanto Luce e Bianca suspiravam por garotos, Gabi mantinha o foco em diversos concursos públicos que queria prestar.
Luce era uma baladeira nata, agitava as meninas para beberem suas doses, insistindo para elas dançarem perto da grade do mezanino, Maya dançava sempre me encarando. Aumentando o rebolado, deixando meu pau latejando dentro da calça.
Passei uns bons minutos nessa tortura silenciosa, meu pau já ereto na calça protestava, ficando até um pouco desconfortável com as demonstrações de Maya, ela segurando com uma das mãos a barra descendo até o chão, ou jogando seus cabelos para atrás, revelando seu pescoço. Dançando no ritmo das batidas do DJ, me atiçando, fazendo minha vontade de ir até lá e dar um jeito nela, só por me provocar, aumentar a cada segundo um pouco mais.
Larguei minha garrafa de água indo até ela a passos decididos. Estava começando a me sentir como um predador querendo dominar sua presa.
Colei meu corpo no seu, acompanhando seus movimentos e mostrando exatamente como ela tinha me deixado com sua dança. Fazendo o que tive vontade de fazer quando a vi pela primeira vez na boate, rebolando ao som de músicas sensuais e ousadas.
Aproveitei para beijar a curva do seu pescoço, sendo castigado com esfregadas de sua bunda em mim. Apertava a cintura de Maya como forma de aviso, escutando mesmo pelas batidas altas da música que ela ria.
Quando se virou mostrando o desejo enlouquecido que ela tinha me apresentado nas últimas vezes que ficamos sozinhos, cheguei mais perto do seu ouvido, para que ela me escutasse.
— O que você está me oferecendo?
Aqueles olhos verdes iluminados mostrando interesse em qualquer coisa pecaminosa que eu pensasse. Ri beijando seu rosto.
— Você quer ou vai pular fora? – Ela perguntou em meus lábios.
— Não sou de pular fora. — Disse desafiando seus pensamentos pervertidos.
Ela pressionou a mão aberta em meu peito, seu rosto assumindo aquele semblante de loba, me consumindo por inteiro. Olhei de relance para minhas irmãs que estavam dançando, Bianca prestando atenção exclusivamente em seu noivo, Gabi e Luce tirando fotos.
Ninguém notando o que estávamos prestes a fazer.
Maya dançava em minha volta tocando cada parte de meu corpo, sentia suas mãos em minhas pernas, minhas costas, seu corpo roçando sensual no meu.
— Estou com um desejo maluco. – Ela sussurrou para mim mexendo na barra do seu vestido. – Você consegue controlar isso?
Tomei sua boca na minha beijando de forma rude, mordendo seu lábio inferior, minha língua invadindo sua boca nem um pouco preocupado com espectadores. O tesão me consumia conforme nosso beijo se intensificava. Maya agarrou meu cabelo puxando-os, enroscando seus braços em torno do meu pescoço.
Ela foi me empurrando para atrás até que minhas costas batessem contra o vão de uma parede, nos enfiando em uma espécie de recuo escuro. Ela abria apressada os botões de minha camisa, beijando e lambendo meu peito.
Puxei uma de suas pernas para mim, sentindo a cinta liga, o salto enroscou em minha cintura dando o espaço que eu precisava para tocá-la.
Olhei mais uma vez, vendo se ninguém notava o que estávamos prestes a fazer no pequeno espaço escuro do mezanino. Mas eu não me importava. Nem um pouco, e, talvez uma parte primitiva de mim quisesse que alguém visse o que eu produzia em Maya, a forma como tocava seu corpo, como ela respondia aos seus instintos se entregando no meio de uma balada lotada. Levantei mais seu vestido colado abrindo espaço para meu membro, ela me ajudou abrir a calça, libertando meu pênis para penetrá-la com força.
Maya soltou um gemido alto em meu peito, suas mãos dentro de minha calça apertando minha bunda enquanto eu mantinha um ritmo rápido, não tínhamos tempo para preliminares.
O tesão só aumentava por ver sua intimidade inchada de prazer roçando quente sobre mim a cada vez que entrava ou saia de seu corpo, minhas unhas cravadas em sua bunda, sustentando uma de suas pernas enroscadas em minha cintura e a outra apoiada no chão apenas com a ponta de seu pé. Três fatores aumentavam a excitação que corria pelos nossos corpos, primeiro por fazer sexo em público, segundo por termos a mente tão pervertida que estava nos garantindo um sexo e tanto, e três pela posição, meu pau entrando e saindo, roçando toda a parede de sua intimidade pelo pouco espaço que tínhamos.
— Deus, você vai me matar. – Disse em seu ouvido, a respiração ofegante. Meu pau pulsava descontrolado dentro de seu corpo.
As luzes da balada estavam jogando claramente a nosso favor, não deixando que ninguém que passasse pelo mezanino nos visse na sombra. Eu entrava duro e escorregadio de tanto prazer e gozo que Maya lançava sobre mim, vi seus olhos se fecharem de prazer quando aumentei ainda mais nosso balançar. Puxei sua outra perna para minha cintura, pressionei com força sua cintura para cima e baixo me enterrando com força cada vez que descia sobre meu corpo. Seus gemidos aumentaram, tornando-se mais graves, mais esfomeados. Ela mordia meus lábios com tanta força que comecei a sentir o gosto de sangue deles e nem isso me fez parar. Muito pelo contrário foi à combustão que faltava para que eu atacasse seu corpo com mais vontade, morder seu pescoço sentindo meu gosto junto com o dela, suas mãos enlouquecidas arranhando meu peito.
E então o profundo orgasmo nos atingiu fazendo ambos estremecerem, puxei seu corpo agarrando mais contra o meu voltando a me encostar à parede. Maya recolocou as pernas no chão recompondo sua aparência enquanto eu fechava minha calça e minha blusa.
Trocamos algumas carícias e beijos rindo de nossa pequena peripécia, saindo de mãos dadas de nosso esconderijo. Dando de cara com o sofá onde minhas irmãs estavam, vazio. Maya trocou olhares de culpa comigo, me fazendo rir ainda mais de nossa pegação. Mesmo procurando eles pela balada, olhando para pista debaixo, tentando ver onde eles estavam eu sabia a resposta.
Busquei meu celular no bolso detrás do jeans vendo que tinha não só ligações perdidas como algumas mensagens de Luce avisando que Bianca tinha tomado mais tequila do que aguentava e eles decidiram voltar para casa.
Puxei a mão de Maya levando-a para fora dali, levando-a para onde queria. Claro que se conseguíssemos chegar até minha cama, senão pularia para o banco detrás do carro e faria amor mais uma vez com ela.
Capítulo 27
Parei o carro.
A noite trazia um vento gelado do mar, o céu mesmo sem lua ou estrelas estava belo. Olhei mais uma vez para Maya, dormindo enroscada ao meu lado. Por um instante queria apenas admirá-la.
— Maya?
Suas pálpebras tremeram evitando acordar, com um suspiro seus belos olhos verdes começaram se focar em meu rosto.
— Chegamos.
— Você é um anjo mau, sabia? Estou me sentindo tonta.
— Deve ter sido pelas doses extras de tequila. — Disse com um sorriso.
Maya inclinou-se sobre o meu banco para me beijar. Agarrou meu cabelo, na nuca, me prendendo por um tempo.
Segurei o queixo dela com a mão e retribui o beijo, mas logo a afastei suavemente, sugando seu gosto. Deixei meu dedo indicador sobre nossas bocas, separando-as.
— Eu sou. Não está vendo minhas asas?
Senti a mão subindo pelo meu joelho, coxa também, pelo lugar depois da coxa... O caminho todo até as costas e senti indo para baixo da minha camiseta.
— Não achei suas asas. Mas não sei se procurei com muita vontade.
Arranhão.
Com a outra mão, pegou o meu pulso. Deixei que fizesse o que quisesse.
Levou minha mão até seu rosto, mordendo meu indicador de leve.
Eu sorri.
— Se eu fosse você, fugiria.
— Mas você não é...
— Dez segundos de vantagem.
— Isso é uma insinuação de que eu tenho alguma deficiência ou...?
— Eu poderia abusar de você.
— Então abuse. – Disse com tom de voz de "você não é capaz" .
— Acredito que já tenhamos abusado da cota de exposição por hoje.
— Obrigada pela análise, mas não dizem que adrenalina faz bem para o corpo, além de levar você a fazer o que não tinha coragem? Então. É meu caso. Hoje não vou fingir ser louca por você. Vou mostrar o quanto eu sou...
Voltou a me beijar, dessa vez com mais vontade. Mantive os olhos abertos.
— Você não acha — eu disse relutante entre o beijo, incomodado sobre o nosso fingimento, na altura do campeonato eu já estava acreditando que tínhamos parado com isso e realmente estando um com o outro e não fingindo. — Que talvez seja hora de entrar?
— Boa ideia... — ela sussurrou com a boca colada na minha.
Eu ri.
— Ou... A gente pode ficar aqui no carro e aproveitar o seu banco detrás. Adoro banco de couro.
Essa mulher estava me enlouquecendo.
— Ok — ela disse quando viu minha expressão, levantando as mãos como se rendesse. — Mas eu vou precisar de ajuda.
Desci do carro e corri até a porta dela, abrindo-a em seguida. Estendi a mão e ela a pegou. Andamos em direção a casa e ela entrelaçou os dedos nos meus, apertando nossas mãos. Aquela sensação tomando conta do meu corpo mais uma vez. Maya tropeçou algumas vezes, nos próprios pés e ria alto de si mesma, o som ecoando pela rua vazia. Soltei sua mão quando chegamos à entrada lateral do gramado e me virei de frente para ela.
—Consegue andar pelo gramado de salto?
— Se eu cair terei você para me agarrar. — Respondeu, com um sorrisinho.
E lá vamos nós...
Estendi a mão, segurando a sua novamente.
Tirei a chave do bolso lateral prestes a abrir a porta de vidro, Maya foi mais rápida roubando o molho de chaves de minha mão enfiando no próprio decote.
— Antes, vem pegar. — disse indicando o brilho prateado das chaves no meio de seus seios.
Tive a leve, levíssima impressão que ela não se referia apenas a chave.
Ok, sei jogar esse joguinho. Puxei-a pela cintura, chocando seu corpo ao meu e não desgrudei meus olhos dos dela. Desci minha mão, passando por seu rosto, seu pescoço até chegar ao decote volumoso e enfiei a mão nele, pegando as chaves em seguida.
Confesso que deixei a mão lá um pouco mais do que o necessário, alisando um pouco seus seios. Como ela estava sem sutiã tinha acesso livre sobre eles e aproveitei para apertar e acariciar de leve os bicos, arrancando um suspiro ofegante dela.
Sorri. Ela sorriu de volta como se dissesse "perdi a batalha, mas não a guerra". Andei até a porta e enquanto tentava abrir, um pouco atrapalhado com as chaves, senti uma mão subindo pelas minhas costas, por baixo da camiseta... Derramando arrepios gostosos por minha coluna.
— Você não cansa?
— De mexer com você? Eu não.
Ri de novo. – Você vai me enlouquecer. – Sussurrei de volta.
— Sério... — enquanto descia a mão para minha bunda. — Se eu fosse, sei lá, dona do mundo? Eu ia decretar uma lei onde homens gostosos como você não pudessem usar camiseta. Nunca, ainda mais com essa tatuagem.
Virei-me.
— Você deve dizer isso para todos seus clientes. Ou está pelo efeito da tequila.
Tentei falar no tom mais sério possível. Ela ficou na pontinha dos pés, pegou meu rosto entre as mãos e me deu um selinho, depois fez um bico. Derreti um pouco.
— Talvez sim ou talvez não — um sorriso maroto cruzou seus lábios. — Você quer descobrir?
— Maya... — repeti. — Vou te colocar na cama.
— Apenas me colocar?
Fiz uma falsa careta.
Entramos em casa, ela puxou meus braços por cima dos ombros. Abracei-a por trás, dei um beijinho na bochecha enquanto subia com ela para o quarto, tentando fazer o mínimo de barulho possível evitando acordar minha família que já tinha ido dormir.
Depois que tive certeza que ela não ia vomitar tudo que tinha bebido, coloquei-a na cama e deitei com ela.
— Otávio? — com a voz sonolenta.
— Maya — respondi.
— Obrigada.
— Por?
— Não ter se aproveitado.
Mais 10 minutos.
Virei ficando de frente para ela.
— Maya?
— Otávio... — sussurrou com a voz rouca, ainda de olhos fechados.
— Dorme bem.
Mais uns beijos.
Seu corpo se enroscou no meu, prendendo minhas pernas entre as suas, impossibilitando minha saída. Tirei uma mecha longa que caia pelo seu rosto, olhando os pequenos detalhes. A curva de sua sobrancelha, seus lábios vermelhos de tons naturais.
Suspiro e um sorriso.
Deixei meu corpo relaxar em sua companhia.
Capítulo 28
Os raios de sol se infiltravam através da janela me aquecendo e acordando mais cedo do que eu faria, música alta entrava acompanhando a claridade, pelo visto todos já estavam acordados e animados. Sem nem precisar olhar, sabia que estava sozinha. Apertei os olhos verificando as horas no telefone. Eram 10 horas.
Joguei-me de novo na cama aproveitando a leve preguiça se dissipando de meu corpo, decidindo se voltaria a dormir mais um pouco ou sairia para procurar meu cliente.
Cliente. Isso já não fazia mais sentido, nem mesmo em meus acessos de raiva eu tinha realmente encarado Otávio como um cliente, nossa situação estava mais para uma relação descontrolada, algo que ia do puro ao pecaminoso em questão de segundos.
Como se fosse uma corda bamba, por mais que tivesse a linha andar fora dela ou cair era mais atrativo.
Um riso bobo se infiltrou em meu rosto lembrando-me de nossa noite e como foi bom depois de nossa exibição deitar ao seu lado e adormecer enrolada em seu corpo, sentindo seu cheiro e as batidas do seu coração.
A porta do quarto abriu e Otávio apareceu carregando uma bandeja com o café da manhã nas mãos.
— Vejo que já acordou. — Disse ele, me sentei, o cheiro do café e os pães acordando não só a mim como meu estômago também. – Nesse momento estou mostrando para minha família que homem maravilhoso eu sou trazendo seu café na cama.
Otávio piscou colocando a bandeja no meio da cama.
— Realmente fazendo isso quase posso me convencer de tal coisa.
Apesar do café realmente estar me deixando ainda mais faminta, o que estava mesmo me dando água na boca era a visão de Otávio parado na ponta da cama, descalço e sem camisa. Aquele conjunto de tribais se insinuando para mim, deixando minha boca seca com vontade de percorrer com a língua cada traço.
— Se eu fizesse isso você acreditaria em minhas ações? – Ele desamarrou o cordão de sua bermuda, deixando-a cair no chão expondo seu pênis já ereto. Deslizou pelas cobertas emboladas, empurrando a bandeja para longe de nós. Suas mãos subindo pelas minhas pernas nuas. – Você infelizmente comerá seu café frio.
Murmurei agarrando seu pescoço colando nossos lábios.
— Acho que café frio está perfeito.
Já passava dá uma da tarde quando finalmente saímos do quarto, Otávio usando uma bermuda, sem camisa, exibindo seu peitoral e aquela bendita tatuagem. Prendi meus cabelos revoltos em um rabo de cavalo, uma opção rápida e muito agradável para o calor que nos consumia na tarde ensolarada. Um vestido creme solto com um conjunto novo de biquíni.
Encontramos todos sentados na beira da piscina, Luce tomava sol na beirada oposta do gramado. O resto estava sentado ou dentro da piscina, meus olhos foram para Hugo que me encarava junto de Gabriela, seu sorrisinho cínico no rosto.
— Olha quem decidiu se juntar!
— Fique quieta Luce. — Otávio repreendeu com um sorriso.
— Achamos que vocês ficariam no quarto durante o dia todo procriando como coelhos. – Bianca comentou.
Minhas bochechas ficaram quentes, Otávio fechou o semblante olhando para ela dando uma bronca silenciosa.
O pai de Otávio coçou o bigode grosso, um gesto tão natural que deu a impressão dele fazer com frequência.
— Parem de deixar Maya constrangida. — Sua voz soou como um trovão, calando as piadinhas de todos. Percebi que ele era quem tinha o comando daquela mulherada. — Maya fique à vontade, se alguma de minhas filhas incomodarem você pode falar comigo. – Seu tom charmoso e agradável, um leve sotaque revelando suas raízes britânicas. — Acredito que elas ainda se lembram do galpão.
Tanto Gabriela como Bianca saíram de perto dele correndo para o outro lado da piscina rindo como crianças, Otávio gargalhava junto com a mãe vendo suas irmãs fugirem apenas com as palavras de seu pai.
— O que seria o galpão? — sussurrei no ouvido de Otávio.
— Galpão é onde meu pai costuma guardar os equipamentos e seu velho jipe, as meninas ficaram presas um dia inteiro lá dentro quando eram mais novas, depois disso passou a ser a desculpa para meu pai domar as três.
— Não deve ter sido muito agradável. — Comento contendo o riso.
— Pode apostar que não. — Ele exibia seu humor, relaxado curtindo esse período com a família.
Otávio nos puxou para um sofá de dois lugares, enrolando minhas pernas em cima das suas. Suas mãos passando possessivas sobre a curva do meu joelho.
— Quem diria meu amigo finalmente apaixonado. – Hugo gritou chamando nossa atenção para ele.
As meninas riram, colocando nós dois novamente no fogo cruzado de piadas.
—Aahh maninho, é culpa sua. – Luce gritava no gramado. – Ninguém mandou só trazer mulher sem cérebro para cá. Maya é a primeira decente.
Hugo gargalhou, e, eu sabia muito bem o porquê.
— Chega disso, sabem muito bem que não gosto.
Percebi o olhar duro que Otávio lançou para seu amigo, uma conversa em silêncio foi trocada pelos dois. Fingi que não estava reparando, puxando a atenção dele para mim.
Inclinei um pouco mais meu corpo para o dele.
— Relaxe bonitão eles estão brincando. — Mesmo querendo mandar seu amigo a merda, entrei na brincadeira.
— Filho, não deixe suas irmãs irritarem você, estávamos vendo o quanto Maya é apaixonada por você. – Karla voltou trazendo uma rodada de canapés em uma bandeja decorada colocando na mesa de centro. – Só me pergunto, se já notou como você próprio está apaixonado.
Otávio não respondeu, ambos ficamos rígidos pelo comentário de sua mãe. Ele olhou para mim por alguns segundos, pude ver indecisão em seus olhos azuis como o céu daquele dia.
O que quer que tenha decidido puxou-me para mais perto colando minha cintura com a dele, roçando seu nariz em meu pescoço. Mesmo prometendo que nossas atitudes seriam como um casal pleno e feliz. Pelo benefício de nosso contrato, esse simples movimento parecia diferente. Como se quisesse acreditar na possibilidade do que sua mãe disse.
Um relacionamento de verdade.
Capítulo 29
Alguns amigos e parentes começaram a chegar deixando a casa um pouco tumultuada, Maya foi apresentada para tios e primos, Bianca fez questão de apresentar ela como sua cunhada para cada amiga.
Estava com meu livro aberto, meus óculos de leitura descansando baixo em meu nariz, que a muito já havia parado de prestar atenção. Meus olhos encontrando por vezes os de Maya, sentada a uma distância com Luce, um copo de suco apoiado em sua perna grossa. Iniciando nosso próprio jogo de preliminares secretas. Despindo um ao outro com os olhos.
Meus pais tinham entrado com meus tios, deixando a área externa apenas para nós, Gabriela havia sumido há algum tempo também, Bianca ria alto com suas amigas, bebendo suas bebidas e provocando Ruan que tinha se sentado na beirada da piscina com Hugo.
Passamos o final da tarde assim, jogados na área da piscina.
Maya retornou para meu lado se jogando no sofá e sem pedir licença apoiando sua cabeça em meu colo. E tendo os mesmos reflexos espontâneos que ela, meus dedos enrolando-se em seu cabelo soltando seu elástico deixando que a cascata negra de cabelos caísse sobre mim.
Aos poucos a piscina foi ficando vazia, Luce tinha saído buscando diversão com Hugo depois do jantar. Bianca e Ruan tinham deitado no outro sofá ficando de bobeira junto comigo e com Maya. Gabriela retornou para o quarto alegando estar ocupada com as papeladas de um processo, meus pais tinham dado uma passada pela sala, mas também decidiram se retirar para o quarto.
Até o Buddy que fugia do calor sempre preferindo suas longas sonecas no quarto, devido ao ar condicionado deu o ar da graça trazendo sua coleira na boca.
— Vamos dar uma caminhada?
Maya ergueu seus olhos. — Sim.
Enrolei meu braço em sua cintura trazendo Maya para mais perto, Buddy indo em nossa frente jogando areia por todos os lados, mais do que feliz por correr. Na volta veio rondando Maya assim como eu, riamos quando o cachorro disparava, novamente, em direção ao mar.
A areia branca ainda morna do dia ensolarado, as ondas quebravam um pouco mais à frente agitadas com a maré alta. E tudo que eu queria no momento era ver como os cabelos longos e negros de Maya refletiam a lua cheia no céu, ou como sua pele dourada ficava bonita arrepiada sob o vento que vinha do mar.
Nossos olhos se encontraram, puxei seu rosto pelo queixo trazendo para meus lábios, saboreando Maya com gosto de mar. Resisti à vontade de tirar seu vestido, dando uma boa olhada para ele colado no corpo violão dela.
— Vamos jogar?
Olhei para seu rosto retribuindo o sorriso que ela me dava.
— Que jogo seria esse? — Perguntei ainda com nossos corpos colados, suas mãos entrelaçadas em minha nuca e as minhas em seu quadril.
— Vamos nos conhecer de verdade.
— Acredito que te conheço bem. — Respondi de modo malicioso.
— Não, não.
Olhei para seu rosto novamente, tentando entender onde ela queria chegar com tudo isso.
— Faremos assim, uma vez para cada. Na sua vez, pode fazer qualquer pergunta ou falar algo sobre você mesmo. Apenas a verdade. — Ela me alertou.
— Tá certo, começo.
Maya fez um gesto se afastando de meu corpo para caminhar ao meu lado.
— Tenho pavor de gatos. — Confessei.
Maya me olhou com os olhos arregalados.
Balancei a cabeça afirmando o que tinha dito, acostumado por essa reação.
— Como assim você tem pavor de gatos?
Eu ri antes de confessar como começou esse pavor.
— Eu tinha uma namorada, isso foi na época de faculdade. Ela tinha um gato, um dia quis fazer uma surpresa, corri para seu quarto enquanto ela tomava banho. Bem você pode imaginar, o gato agarrou bem lá... — Maya me olhava rindo, uma das mãos na boca tentando esconder sua diversão. – Pode rir, depois disso evitei contato com ela e com seu gato doido.
— Tirando o fato de isso ser hilário, eu tenho uma gata.
Olhei para ela tentando ver se estava zombando de mim.
– Sério? Espera um pouco... Sua gata é caramelo, com cara emburrada? – Questionei me lembrando quando conheci Jaqueline no elevador do meu prédio.
— Sim, ela se chama Nica. – Ela parou virando-se para mim.
Que destino!
— Por que parece que você vê pouco suas irmãs?
— É sua vez?
— Acredito que sim.
— Acho que por termos vidas completamente diferentes, Bianca mora em Santos, onde cursa faculdade de veterinária. Gabriela mora no Rio, é sócia de um grande escritório de advocacia, sua vida se consome em protestos. — Olhei vendo Buddy voltar de sua corrida noturna, seu rabo balançando como um grande abanador. Sentei na areia fofa, Maya seguiu meus passos. — Já Luce sua paixão é moda, ela viaja o mundo todo com sua grife e as modelos neuróticas.
— E você almeja a Diretoria? — Maya questiona.
— Sim, trabalhei duro para estar aonde cheguei, mesmo tendo uma vida muito boa. Queria algo vindo do meu esforço.
Dou de ombros.
Ficamos um momento em silêncio. — Minha vez, você nunca mais procurou seus pais?
Seus olhos se contraíram, quase imperceptivelmente.
— Apenas uma vez, André que atendeu. – Ela evitou olhar em meu rosto enquanto dizia, preferindo mexer na areia com os pés. — Foi tão bom falar com ele, hoje deve estar um homem feito.
Seu corpo tremeu me senti culpado por tocar num assunto tão delicado . Imbecil!
Passei meus dedos por seu rosto virando para mim, seus olhos verdes com as pupilas grandes, aquela boca rosada.
— Desculpe, Jujuba.
Ela exibiu um pequeno sorriso.
Capítulo 30
A calmaria da noite estava sendo atrapalhada por nossas respirações fortes e agitadas. Nossos olhos fixos, mesmo meu peito ainda apertado com a menção de meu irmão. Fiz uma prece aos céus que ele estivesse bem, assim como meus pais.
Voltei minha atenção para Otávio, seu peito nu escurecido sobre o brilho da noite. Seus ângulos fortes e a forma como seu abdômen formavam pequenos gomos, sua bermuda branca caindo sobre a coxa dobrada revelando sua perna. Tudo isso era um conjunto perfeito, traços que mexiam com algo implantado dentro de mim, algo ligado ao fundo de meu âmago, fazendo com que eu queira sua aproximação.
Fixei meus olhos nos seus, vendo o desejo refletido neles. Nesse instante deixei de fora todas as dúvidas, preocupações, medos e principalmente o que seria de nós quando meu contrato com ele acabasse. Lógico que ele seria aprovado na promoção e não precisaria mais de mim. Quanto a sua família seria apenas mais uma que passou pela vida deles, logo eu que já me sentia apegada a cada um. Forcei tudo isso para fora da bolha que eu mesma coloquei sobre nós deixando apenas eu e Otávio, o mar quase alcançando nossos pés, Buddy deitado alguns metros da gente.
— Venha aqui minha Jujuba.
Um gemido baixo soou pela sua garganta, me atraindo de forma eficiente para ele. Parei para tirar meu vestido, jogando ao meu lado, mostrando meu biquíni vermelho. Minha pele toda arrepiada com o vento frio, o que pouco me importava.
Otávio traçou o caminho do meu umbigo até o meio de meus seios, passando a mão por meu pescoço, tirando as mechas de cabelos que voavam colando em meu rosto.
— Tão linda. — Murmurou, seus lábios dominaram os meus, dedicando e reivindicando cada pedaço do meu corpo, meu queixo, minha orelha, meu pescoço. Otávio me deu um beijo na testa antes de se afastar ficando de pé. Retirou a bermuda ajeitando esticada sobre a areia, fazendo a mesma coisa com meu vestido antes de se ajoelhar em minha frente.
Ele me deitou sobre nossas roupas, ficando sobre mim, apoiado nas palmas das mãos, sua boca desceu sobre meus seios, beijando e lambendo a curva sobre o biquíni, foi mais para baixo beijando minhas costelas, em torno do meu umbigo, por toda minha barriga. A sensação de sua boca em mim invadia meu corpo e meu coração, preenchendo de amor e sensações que só Otávio poderia fazer, isso eu tinha certeza.
Um gemido incoerente escapou de meus lábios, não me importando para suas mãos cheias de areia passando pelos meus braços. Otávio me beijava com volúpia, devorando cada pedaço de pele que ele traçava. Beijou perto do nó do biquíni desfazendo com os dentes, seus cabelos tapando minha visão de seu rosto. Suas mãos apertando meus seios, sua boca perto de minha virilha chupando.
Faziam meu corpo tremer enlouquecido.
Puxei seu corpo colando-o ao meu, rolando sobre ele me dedicando em seu corpo do mesmo jeito que ele fez, beijando cada traço que ele exibia na luz da lua. Afastei minha boca de sua barriga olhando para cima, Otávio me olhava com um sorriso satisfeito no rosto. Fiquei de quatro abaixando devagar sua sunga, dando um sorriso malicioso para seu membro ereto. Com ajuda dele subi sobre seu corpo me erguendo quando seu pênis raspava minha intimidade, afundando-me devagar deixando meu corpo se alargar com ele entrando aos poucos. Gemidos fugiam por nossas gargantas, Otávio sentou juntando ainda nossos corpos, fazendo nosso ritmo aumentar. Levando-me a sucumbir ao seu controle, não tínhamos o que negar. Queríamos um ao outro, mesmo não dizendo uma palavra, queríamos que isso não acabasse. Entreguei-me a ele de todas as formas que ele estivesse disposto a exigir. E a cada movimento Otávio me ensinava uma nova maneira de adorá-lo, de me sentir desejada. Como se nossos corpos fossem duas peças perdidas de um quebra-cabeça, se encaixando com perfeição.
E então na luz da lua, naquela praia deserta, apenas nós e toda aquela perfeição. Aos sons do mar batendo na areia em seu eterno vai e vem refletindo nossos desejos e movimentos, refletindo nossos dias de aproximação e afastamento devido nossas dúvidas e receios. Nós entregamos ao orgasmo mais verdadeiro que tínhamos sentido até o momento.
Capítulo 31
Deitados sobre nossas roupas, Maya sobre meu peito rindo, tentando tirar um pouco da areia que cobria a gente.
— Acho que terei que entrar no mar.
— Culpa é sua. Você fica brincando comigo desse jeito, usando meus sentimentos, mexendo com uma fera. — Brinquei.
Maya balançou a cabeça e retribuiu o meu sorriso da melhor maneira que poderia fazer. Mas percebi que ela acabou não levando em brincadeira o que tinha dito.
A verdade é que enquanto estávamos fazendo amor na praia, eu senti sua entrega, do mesmo jeito que me entreguei para ela. E agora, ambos tínhamos erguido suas muralhas.
— Não estou brincando com você. — Maya pronunciou de forma séria. Ela se sentou ajeitando seu biquíni escondendo sua nudez.
E aquele momento de sintonia e entrega tinha passado, assim como o vento ficou mais forte e gelado. Subi a sunga ficando de pé.
— Estou apenas fazendo meu trabalho, — continuou ela, seu olhar foi para o mar, ignorando meu rosto. – Estou recebendo para isso, lembra?
Um silêncio desconfortável nos atingiu, fiquei sem palavras por ela quebrar um momento tão bonito que tivemos com essa história de trabalho.
— Maya eu não me envolvi com você por que estou pagando. Sexo não estava em meus planos, mas aconteceu. Não podemos negar que estamos envolvidos.
Ela respirou fundo ficando de pé, bateu a mão pelo corpo retirando um pouco da areia de suas pernas.
— Temos que ser honestos Maya, estamos envolvidos um com o outro. – Disse olhando para sua silhueta de costas para mim, seu cabelo chicoteava o ar, seus olhos fixos no mar.
— Sabe, no fundo, por um motivo egoísta. Eu não queria que você fosse promovido. – Ela se virou com um sorriso para mim. – Eu não quero que isso acabe.
— Maya...
— Relaxa bonitão, isso vai acontecer uma hora ou outra e todos retornaremos à realidade. Ficaremos com isso, nossos momentos na memória. – Com os olhos fixos nos meus, Maya se aproximou, roubou um selinho suave. Seus olhos verdes queimando nos meus.
— Gosto de estar com você, isso chega a assustar.
— Eu também gosto. – Ela confessa.
— Espero que não esteja referindo-se a você mesma. — Disse sorrindo.
Ela ri, levando as coisas para um nível mais leve.
— Acho que quebramos a regra principal.
— Qual seria? – Questionei.
— Não se envolver com a acompanhante que você está pagando.
— Maya, pare de se referir a si própria assim!
Ela pescou o vestido, Buddy ficou de pé pronto para retornar vendo nossa movimentação.
— Tudo bem, bonitão. Vamos voltar.
Maya trocou o banho de mar pelo da ducha e a piscina, estávamos subindo a escadaria quando comecei a ouvir a voz de Hugo e Luce. Ambos rindo animados na beira da água.
— Fala maricón !
— Quanta animação.
— Digo o mesmo para vocês, — Luce apontou para mim e Maya apenas de biquíni. — Foram até o mar?
— Sim, fomos dar uma volta com Buddy. — Mostrei o caminho para a ducha, já puxando a mangueira para lavar Buddy. Que ficou mais do que feliz por se ver livre de toda aquela areia grudada em seu pelo.
Voltei até Maya grudando seu corpo no meu debaixo da água fria do chuveiro externo. – Vou para o quarto você quer mesmo ficar na piscina?
— Quero, não estou com um pingo de sono.
— Tudo bem, — puxei seu rosto para o meu, senti que ela precisava desse momento. —Obrigado pela noite maravilhosa, por estar aqui comigo.
Maya abriu um verdadeiro sorriso, exibindo aquelas covinhas tão desejáveis. —Obrigada você. Estou adorando estar aqui. – Pude ver a verdade por trás de suas palavras o que me deixou contente.
Despedi-me dela no alto da escada com um beijo profundo em seus lábios, estava ficando dependente de seu gosto. Decidi fazer uma surpresa para quando ela aparecesse no quarto, dei meia volta indo para a cozinha pegando tudo para nossa noite.
De banho tomado, o quarto coberto de velas aromáticas que roubei do banheiro de minha mãe, uma bandeja de morangos e o champanhe já aberto no gelo esperaram, escutando os passos de Maya no corredor. Como apenas nós dois estávamos nos quartos desse corredor não seria outra pessoa além dela que apareceria pela porta.
Maya parou olhando o quarto banhado pela luz bruxuleante das velas, seus olhos indo de mim para o quarto novamente. Levantei-me da cama puxando-a para meus braços, afastando seus cabelos dos ombros, admirando como um bobo sua pele, seu cheiro natural, algo misturado com mel e hortelã.
— Gostou de minha surpresa? – Perguntei sorrindo.
— Lindo. — Sua voz saiu num sussurro quase inaudível.
Gosto de como estamos, eu sentado no meio das velas, Maya nua no meio de minhas pernas, de costas para mim, mas ainda assim conseguia ver seu rosto, basta me inclinar um pouco para a direita. Seu corpo esquentando o meu com seus toques delicados sobre minha coxa, uma de minhas mãos está sobre seu seio, passando por sua barriga que se arrepia com o contato. Bebo um gole de meu champanhe, deixando os lábios gelados. Provocando aquele pedacinho de pele debaixo de sua orelha, fazendo-a sorrir, seu rosto calmo, tranquilo como eu tanto queria, que ela se libertasse das coisas que pensava ou que sentia. Estando apenas comigo, curtindo nosso momento.
Linda como sempre.
Como se pudesse ler minha mente, ela se vira e abre um sorriso. Adoro vê-la assim, tão descontraída... tão jovem. Quero fazê-la se sentir assim mais vezes. Na verdade, quero tanta coisa que nem sei reproduzir corretamente em pensamentos, que dirá em palavras, apenas quero-a aqui, comigo.
Fico pensado que poderia me aventurar para algo sério, um relacionamento... Quem sabe? Depois da loucura do casamento ou durante ele, posso acabar de vez com essa farsa de namorada e torná-la realmente minha, minha namorada.
Poderia ser apenas algo como uma fantasia, mas eu não via Maya negando, mesmo que tivéssemos sua profissão como empecilho. Claro que manter seu trabalho depois de colocar uma aliança de compromisso em seu dedo está fora de cogitação. Nem pensar, vou aceitar ela continuar trabalhando para Royalt Luxor sendo minha verdadeira namorada.
Maya deita sua cabeça sobre meu ombro, espalhando sua cascata negra de cabelo por meu peito fazendo cócegas. Porra como é perfeita. Desço a mão para a curva de seu quadril e ela se encosta mais em mim, se mexendo.
Ela se vira um pouco roçando mais de sua pele em mim, com as mãos vazias depois de ter colocado sua taça de champanhe no chão, ela me lança um sorriso safado.
Levanta uma das mãos e corre os dedos pequenos pelos meus cabelos, pousando a outra mão sobre a minha.
— Continua. — Imploro por seu toque.
— Tem certeza? — Ela puxa meus cabelos.
— Porra, tenho muita certeza. — Respiro fundo e levo uma das mãos a sua nuca, encostando a boca em sua orelha. – Seja minha, Mia. — Aperto seu quadril.
Ela faz exatamente isso. Seus olhos verdes chamando o desejo que existe dentro de mim, como se a deusa dela se comunicasse com o monstro sedento dentro de mim. Enfio a mão no meio de suas pernas sentindo sua intimidade molhada, quente e pulsante.
— Bonitão. — Ela geme quando coloco meus dedos dentro dela.
— Minha jujuba.
Ela responde aos meus toques se remexendo, soltando pequenos gemidos. Repousa a cabeça em meu ombro e puxa meus cabelos da raiz. Enfio e tiro o dedo de dentro dela, em respostas de suas reboladas. Quase no mesmo instante, suas pernas se enrijecem e eu sei que ela deseja e busca pelo orgasmo.
Maya murmura, mostrando que estou lhe proporcionando prazer. Suas unhas se cravam em minha barriga, fazendo meu corpo estremecer.
— Eu vou...— Geme contra meu pescoço.
— Eu sei, linda. Goza pra mim. Goze quantas vezes seu corpo puder. — Eu a incentivo.
Ela morde meu pescoço e eu sinto meu pau pulsar, pressionando suas costelas. Todo o peso dela cai em meus braços enquanto ela tem um orgasmo e eu nos mantenho assim, enquanto saboreio de seus espasmos. Ela está ofegante, corada, brilhando sob as luzes quando levanta a cabeça.
— Quero você.
— Você já me tem. — Digo sorvendo sua boca.
— Aqui mesmo ou no chuveiro? — Pergunta quando levo os dedos aos lábios, sentindo o gosto dela.
— Banheira. – Respondo, ela bebe o resto do seu champanhe e vamos para mais uma sessão de amor.
Capítulo 32
O dia começou agitado, na hora do almoço todos se prepararam para o ensaio que teríamos antes do grande momento. Bianca preferiu marcar seu ensaio com alguns amigos que seriam padrinhos, familiares e o padre.
Todos nós ficamos escutando uma boa hora o padre dando explicações para os padrinhos e madrinhas, assim como para Bianca e Ruan. Se eu tinha reclamado que a casa estava uma bagunça só, entre o final da tarde e à noite tinha virado um verdadeiro hotel, o entre e sai constante das amigas de Bianca, Ruan com seus padrinhos que chegaram pela manhã e depois de se livrarem das obrigações do casamento, decidindo encher a cara. Estavam tornando tudo um caos, se um dia eu casasse teria uma cláusula específica que só teria eu, ela e um padre para oficializar tudo.
Quando meu corpo tocou a cama naquela noite eu simplesmente agradeci, Maya tinha ficado na sala fazendo companhia para minha mãe, em uma animada conversa sobre a medicina, ramos e futuro na profissão. Resolvi deixá-la, me refugiando no silêncio de nosso quarto.
Devo ter adormecido, pois não me lembro de vê-la entrar, apenas que puxei seu corpo para o meu no meio da noite.
Então chegou o grande dia, e, como em um casamento todos estavam loucos, enquanto o Buffet e o pessoal da decoração corriam preparando o gramado para a cerimônia e a festa à noite. A equipe de manobristas que meus pais haviam contratado seguiam Ruan para a outra entrada da casa, vendo onde todos seriam recepcionados.
Flores passavam de um lado ao outro, luzes e fios dos DJs desciam para onde seria montada a enorme pista de dança. As madrinhas corriam pelo gramado com grandes bolsas, vestidos em seus sacos protetores...
No meio de toda essa loucura ainda tinha minha mãe preocupada com a hora, Bianca tendo crises nervosas, Luce debochando, Gabriela arrastando Maya para ajudar na escolha de acessórios e sapatos. O único que se manteve o tempo todo tranquilo sem proferir um grito com todas essas mulheres foi meu pai, que se divertia sentado no deck com uma garrafa de cerveja na mão vendo o corre e corre pela casa, a choradeira de Bianca com medo que algo desse errado.
Maya e eu nós vimos muito pouco durante o dia, Hugo e Ruan preferiam ficar longe das mulheres, saindo para tomar uma cerveja e jogar vôlei na praia com alguns dos padrinhos. Mesmo Ruan sofrendo com as mensagens malucas de minha irmã falando sobre atrasos e que arrancaria nossos olhos se acontecesse algo porque decidimos sair.
Particularmente eu tinha gostado do fato de Ruan distrair e ocupar a boca de seu irmão com besteiras, assim ele tirava o foco de mim e de Maya. Além de deixar um pouco os comentários de duplo sentido que já estavam irritando Maya, percebi isso quando meu grande e imbecil amigo me soltou no almoço que tínhamos que realizar uma despedida de solteiro para seu irmão com direito a belíssimas acompanhantes, completando com uma piscadela para mim.
Pude sentir Maya ficando rígida ao meu lado, segurei firme sua mão encarando todos. Mas, ninguém notou a brincadeira sem graça de Hugo. Ficaram rindo da explosão que Bianca deu na mesa.
Refiz o trajeto da praia que tínhamos seguido mais cedo, agora estava decorado com flores e um caminho de luzes decorando o acesso, tudo já estava arrumado e pronto, meus pais já vestidos para o casamento recebendo os convidados que chegaram mais cedo, Gabriela fazia companhia para eles.
Se parássemos um ao lado do outro veríamos que era exatamente como minha mãe nos descrevia, éramos simplesmente partes dela e de meu pai. Gabi e eu altos como ele, Luce e Bianca baixas como minha mãe. Divisão perfeita.
Parei olhando por todo o gramado transformado em um salão completo de festa e mais à frente perto do mar o espaço para a cerimônia.
No quarto, Maya estava pronta calçando as sandálias prata com brilhos. Parei encostando a porta em um baque seco, admirando suas curvas em um vestido rosa claro. Crescer rodeado de mulheres tinha me formado num especialista em roupa, assim como vaidade, e, Maya estava com um vestido simples e muito elegante. Na altura do joelho, o colo do seu busto descoberto fazendo-o cair em mangas soltas até os cotovelos, a renda com detalhes de flores e pequenos pontos de brilho davam aos seus olhos e sua pele dourada ainda mais poder e beleza.
— Como estou? – Perguntou ficando de pé de dando uma pequena volta.
— Magnífica!
Ela riu balançando as mechas que estavam soltas caindo em perfeitos cachos pelo seu corpo. — Tomei liberdade e separei sua gravata.
Sorri relembrando de nossa noite no Rio.
— Não sei como sua parceira estará, mas assim você não fica deslocado com ela e nem comigo. — Indicando uma gravata prateada em cima de meu terno preto de alta costura.
— Está perfeito. – Caminhei para ela como um leão enjaulado. Respirei fundo seu perfume, colocando meu nariz na curva de seu pescoço.
— Bonitão, não temos tempo para isso.
— Sempre teremos tempo para uma escapadinha. – Ri mais ainda com a boca encaixada em sua clavícula.
— Quando você é padrinho e o casamento é da sua irmã, — Ela riu, — escapadinhas ficam para depois. – Ela me empurrou dando um tapinha em meu peito.
— Eu disse que você iria me enlouquecer, suma daqui senão eu vou atacar você e não saio de cima nem se meu pai arrombar a porta. – Parei na entrada do banheiro lançando um olhar ameaçador para ela, que correu para cama pegando sua bolsa prateada.
Mandou um beijo para mim e fugiu porta a fora.
—Eu lhe prometo ser fiel, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. — Ruan fazia seus votos, Bianca já tinha chorado borrando toda sua maquiagem.
Mesmo tendo uma mulher linda ao meu lado, uma das amigas de Bianca que sorria como idiota para mim, não conseguia tirar meus olhos de Maya, sentada na segunda fileira ao lado de um convidado que por sua vez, não tirava os olhos de suas pernas o que estava me deixando impaciente para essa porra de votos terminarem e eu poder tomá-la em meus braços.
Maya desviou os olhos dos noivos para mim.
— Quero falar com você. – Gesticulei com a boca.
Ela sorriu balançando a cabeça.
– Depois. – Li o que seus lábios falavam.
— Você me aceita? – Perguntei novamente.
Ela não deve ter entendido, pois vi sua expressão confusa, as sobrancelhas franzidas.
—... Eu prometo amá-lo incondicionalmente, apoiá-lo nos seus objetivos e sonhos, honrá-lo e respeitá-lo, rir e chorar com você, dividir com você minhas esperanças e sonhos e lhe dar conforto quando necessário. — Bianca completou seu voto.
Suspirei aliviado quando todos se levantaram aplaudindo o casal que trocava um beijo apaixonado.
Finalmente casados.
Capítulo 33
“A vida me ensinou a dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração.”
A festa já tinha começado a todo vapor, os convidados já ocupavam o bar montado ao lado da pista de dança, o DJ assim como banda já colocava todos para dançar, Otávio passava em volta das mesas ocupadas tentando encontrar uma para nós, tanto Barker como Karla e os pais de Ruan faziam as boas-vindas, conversando com todos, fazendo a recepção para a festa. Bianca praticamente saltitava por todo o gramado coberto com as grandes placas de madeira rústica que tinha visto os homens trazer pela manhã.
Otávio puxou uma cadeira para mim na mesa vazia que Hugo já estava sentado com Luce.
— Vamos fazer um brinde aos meus dois irmãozinhos – Hugo levantou sua taça de champanhe.
Otávio se acomodou ao meu lado, uma de suas mãos em minha coxa. — Por que dois? — sorriu, mas ergueu sua taça também.
— Daniela ligou cara, você foi promovido!
O sorriso sumiu por um momento do meu rosto, junto com um nó enjoativo em minha garganta, senti o gosto doce do champanhe se tornar amargo.
— Sério isso, cara? — Otávio perguntou animado.
Luce correu de seu lugar dando um grande abraço nele. Hugo olhou fundo em meus olhos, ergueu a taça com um sorriso cínico no rosto.
Eu queria socá-lo , estava farta de suas jogadas de duplo sentindo para cima de mim, seus comentários fora de hora principalmente, desse seu sorrisinho ridículo que ele me lançava. Durante o dia eu agradeci que as irmãs de Otávio tinham me puxado de um lado para o outro me deixando longe de Hugo e seu sarcasmo.
— É claro que Maya fez uma grande impressão para todos da empresa.
Sorri para ele, erguendo minha própria taça numa falsa comemoração.
Otávio se virou me puxando para um abraço. —Obrigado minha linda! – sussurrou feliz em meu ouvido.
— Foi bom trabalhar com você. Estou feliz por sua promoção.
As palavras deixando um gosto amargo em minha boca, descendo queimando por minha garganta.
A promoção de Otávio foi o grande motivo de ele me contratar, ter uma acompanhante de luxo ao seu lado e, depois de conquistá-la não tinha mais motivos para que continuássemos com esse “teatro”, não tinha mais motivos para ele continuar em minha vida.
Meu estômago se revirou com o olhar confuso de Otávio, ainda mais por saber que no fundo eu não queria dizer adeus, mesmo sendo necessário. Marli com certeza já tinha programado meu próximo mês, não tínhamos costume de manter contato quando estava com cliente, apenas uma ou duas ligações e dessa, mais do que as outras eu não queria falar com ela. Revelar que tinha me apaixonado.
— Só porque fui promovido não significa que acabamos. Minha família e amigos acreditam que estamos juntos e... Eu quero perguntar uma coisa para você.
Não consegui segurar o riso sarcástico que escapou. Talvez com isso ele percebesse como soava ridículo o que ele acabou de falar.
— Essa história já acabou Otávio, não temos motivos para enganar mais ninguém. Sua família vai superar, serei apenas mais uma.
Fomos interrompidos por um casal que puxou conversa com Otávio e Luce, sua mão pousada em meu ombro, esquentando-me no mesmo instante. Tornando tudo ainda mais difícil, era incrível como eu me sentia bem ao seu lado, me sentia livre e segura.
Olhei ao redor, vendo os rostos felizes, as risadas fartas que estavam refletindo o meu próprio humor, e agora, já não podia olhar esse momento com os mesmos olhos.
Bianca estava na pista com Ruan, em um lindo vestido branco, seus cabelos curtos e repicados soltos ao vento que vinha do mar, deixando todo o gramado, transformado em festa, fresco e com um leve cheiro de flores e maresia.
Otávio puxou meu rosto pelo queixo sugando meu lábio inferior. – Conversaremos sobre isso mais tarde a sós.
Concordei mesmo sabendo que não haveria mais tarde para nós. O que antes estava planejado para uma noite a dois, agora ocupava minha mente com sair o mais rápido daqui, sem olhar para atrás.
Engoli o ardume que se instalou em minha garganta e em meus olhos. Levando para longe as lágrimas.
A cantora no palco cantava músicas suaves, vários casais ocupavam a pequena pista de dança envolvidos no clima romântico da noite a luzes fracas. Karla havia realmente modificado seu gramado, ramalhetes de flores caiam por nossas cabeças como uma grande teia de primavera.
Otávio dançava lentamente tocando em cada pedaço de pele que meu vestido permitia. Quando a cantora começou a cantar os primeiros versos de “If I Ain’t Got You” encostei meu queixo em seu ombro cantando baixinho alguns refrãos, aproveitando meus últimos instantes com ele. Depois dessa noite eu seria como a Cinderela que perde seu sapatinho de cristal, voltando para seu, nem tão, feliz para sempre.
— Algumas pessoas vivem apenas para jogar o jogo, eu já me senti assim antes... — Otávio afastou seu corpo para poder me olhar nos olhos, continuei. — Algumas pessoas querem tudo, mas eu não quero absolutamente nada... Se não for você, querido.
Voltei para seu ombro, escondendo a lágrima que escorreu por meu rosto. Ele me apertou mais em seus braços, seus passos lentos nos giraram pela pista, num ritmo só nosso, num mundo onde só tinha nos dois.
— Algumas pessoas querem anéis de diamante... Algumas apenas querem tudo. Mas tudo não significa nada.
— Maya, por que sinto que você está se despedindo? – Otávio tentava me fazer olhar para seu rosto, mas recusei.
— Se eu não tiver você comigo, querido... Então nada nesse mundo inteiro não significa nada. – Sussurrei, os convidados aplaudiram a banda e a cantora. Tirei meus olhos de Otávio me juntando aos casais aplaudindo.
— Maya. – Otávio me chamou ainda segurando minha cintura.
Senti outro par de mãos em meus ombros. – Posso roubar um pouco minha nora?
Com olhos suplicantes para mim, ele me passou para seu pai com um beijo no rosto. – Claro pai. Dançarei uma valsa com minha irmã.
Barker me tomou em seus braços, sorrindo. Retribui abertamente seu sorriso, mesmo que por dentro meu coração sangrasse consideravelmente. A banda voltou a tocar uma música latina lenta sendo cantava pelo outro cantor.
— Está gostando da noite?
— Sim, está tudo maravilhoso. – Disse colocando um sorriso em meu rosto. De onde estava não conseguia ver Otávio, nem mesmo suas irmãs na pista de dança.
— Karla está em êxtase por Otávio finalmente ter encontrado alguém tão especial. — Comentava por cima da música.
— Eu que tenho, no fundo, que agradecer por conhecer Otávio e todos vocês, amei cada um, vou sentir falta.
— Por que, minha querida? Sempre será bem-vinda a nossa casa. Quem sabe você não faz Otávio vir nos visitar com mais frequência. – Barker mal sabia o que realmente ocorria, e, eu não o culpava. Tudo não tinha passado de um negócio que ambas as partes jogaram para o alto as regras e se envolveram demais.
Ficamos em silêncio dançando, acompanhando o ritmo dos outros casais...
— Sabe Maya, Otávio sempre foi o mais fechado... – Barker olhava para meu rosto esperando minha atenção. – Karla sempre achou que era por viver rodeado de mulheres, mas no fundo eu me via nele, sabia que ele não iria sossegar se não encontrasse a mulher certa.
Sorri de forma simpática, me mantendo forte.
— E posso dizer que finalmente eu posso deixar meus bigodes de molho e não me preocupar com ele.
Eu não tinha o que falar, me sentia mal mentindo para todos eles, ainda mais por terem me acolhido como uma filha, alguém realmente da família. Não era justo, nem comigo e nem com eles.
— Se o senhor me der licença, preciso ir ao toalete. – Disse como desculpa para me afastar.
Barker me deu um beijo na bochecha, permitindo que seguisse para o “toalete”. Quando estava longe o bastante da festa, apenas escutando o barulho de conversas e a música ao longe, deixei que as lágrimas reprimidas viessem à tona. Parei um instante olhando para a festa que acontecia lá embaixo, mandando um beijo silencioso para Otávio.
Corri escada à cima, me trancando no quarto, minha mala já estava preparada, pois de qualquer forma iríamos embora depois do casamento. Mas eu não poderia ter uma volta com ele. Busquei um pedaço de papel e uma caneta nas minhas coisas escrevendo um bilhete de despedida, não teria coragem de olhar em seus olhos depois dos dias maravilhosos que passamos juntos e dizer adeus. Ainda mais agora, com Hugo fazendo questão de rudemente dizer que eu tinha concluído meu trabalho e a promoção era de Otávio.
Comecei com um poema que caberia perfeitamente para o momento:
“Se quer me deixar, saibas que estou pronto. Porque agora, nessa tarde modorrenta, estou deixando você também.”
“Otávio... Tenho certeza que não conseguiria falar isso pessoalmente. Porém, nós dois erramos, erramos em nos envolver. Erramos quando ambos passamos por cada momento delicioso e perfeito um do lado do outro.
Errei quando coloquei meus olhos em você aquele dia na boate, e, errei mais ainda quando larguei tudo e me apaixonei por você. Por favor, seja feliz!
E saiba também que gosto de você e não, nunca brinquei com seus sentimentos, além do fato que eu mesma me joguei no precipício. Saiba que um pedaço de você sempre vai me acompanhar.”
Adeus, sua Mia
Deu um beijo suave em minha carta colocando no meio da cama junto com uma rosa que havia roubado pelo caminho. Puxei minhas malas escada abaixo, me levando e me chutando para fora da vida dele.
Entrei em um dos táxis que os Amells tinham disponibilizado para os convidados, para o pós-festa, onde todos sairiam felizes e cheios de champanhe. Cumprimentei o motorista deixando que ele colocasse minhas coisas no carro.
Dando uma última olhada para o casarão, encontrei os olhos surpresos de Luce que estava acompanhada de um rapaz alto. As lágrimas corriam por meu rosto, o carro deu partida, quando olhei pelo vidro detrás do carro Luce havia sumido do pequeno portão de madeira branca.
Capítulo 34
“O jeito mais fácil de estragar tudo é dizer a coisa certa, usando as palavras erradas”
Estava rodopiando Bianca em meus braços quando vi Luce vir apressada, ultrapassando os corpos que dançavam.
Olhei seu rosto branco como papel, os lábios franzidos o que era estranho se tratando de Luce. Parei minha dança com Bianca.
— Otávio você precisa vir comigo. — Falou em tom urgente.
— Como assim? O que aconteceu Lu?
— Otávio. Não estou brincando. – Seu rosto ficou furioso. – Você pode vir comigo?
Dei um beijo na testa de Bianca, ouvindo Luce bufar de minha demora. Passei por alguns casais, mas não se contentando Luce me puxava pela mão sorrindo para quem nos olhava, fazendo com que não parecesse um ato de irmãos, brincando um com o outro. Gabriela que estava na escada quando estávamos subindo, nos seguiu.
— O que houve?
— Faço a mesma pergunta para a Luce. Você pode me explicar que porra está acontecendo? – Tentei me virar para localizar Maya. – Preciso chamar a Maya.
— É sobre ela que quero falar seu esperto!
Travei nos últimos degraus, sentindo um calafrio percorrer meu corpo. – O que tem Maya?
— Luce, não é hora de brincadeira. —Gabriela puxou nossa irmã pelo cotovelo.
— Não estou brincando seus gênios, estou tentando falar que acabei de ver Maya entrando em um táxi com todas as suas malas. — Luce olhou para mim furiosa.
—Se o bocó aqui não fez nada para que ela saísse chorando no meio da festa sem se despedir de mim. Aconteceu algo realmente sério com ela.
— Espera! – Gritei com ela. —Você disse que Maya foi embora?
— Sim, esperto.
— Se acalme! Otávio cadê seu celular? — Gabi apalpou meus bolsos buscando o aparelho.
— Não está aqui. — Disse batendo na mão dela, me sentia tonto, não consegui acreditar no que Luce me falava. Larguei as duas paradas na escadaria, sai correndo entrando derrapando no piso da sala, subindo a escada.
Sentia meus olhos queimando.
Maya não poderia fazer isso comigo, não poderia.
O quarto ainda guardava o perfume doce dela, corri para o banheiro vendo se seria uma brincadeira de Luce, e, Maya por alguma razão estava brincando junto com ela. Mas todas as coisas dela tinham sumido da bancada de mármore.
Voltei para o quarto, cada peça, cada coisa que marcava sua presença tinha sumido, olhei para onde nós amamos na noite passada. Voltando meu olhar notei uma rosa e um pedaço de papel sobre a cama com meu nome. Passei a mão pelo cabelo tentando controlar minha respiração, cada palavra que lia daquele bilhete me fazia cair um pouco, me deixando de joelhos no chão.
Fazendo um buraco se abrir sobre meus pés, em pouco tempo Maya transformou uma atração sexual em... Não tinha palavras para explicar.
Peguei meu telefone na cômoda ligando para ela, tocou três vezes, depois caiu na caixa postal.
Liguei novamente, mesma coisa. Na terceira tentativa caiu direto na caixa postal, escutei a mensagem programada da operadora.
— Maya... – Minha garganta se fechou, — Mia, não faz isso. – Foi tudo que consegui falar antes de jogar o telefone longe, assim como tudo que estava em minha frente.
Transformando o quarto em uma zona de guerra, eu urrava de raiva, raiva dela ter ido embora, dela ter me enganado. De ter acreditado que ela tinha se envolvido como eu me envolvi. Raiva dos olhares amorosos que ela tinha lançado para mim, raiva acima de tudo de eu não falar o que sentia para ela.
— Acalme-se Otávio! — Disse para mim mesmo.
Respirei fundo sentindo um espaço negro em torno de mim. Quem achava que homens não sofriam, não tinham conhecido muitos “homens” de verdade. Minha raiva se misturava com uma coisa que não tinha experimentado ainda.
— Otávio?
Não me virei, nem expulsei Gabriela do quarto. Apenas passei a mão pelo meu rosto tirando a lágrima que ousou escorrer. — Tenho certeza que foi apenas um mal-entendido entre vocês.
Ela se agachou ao meu lado colocando um copo em minha frente.
Tomei um gole, deixando que a bebida queimasse minha garganta. Gabriela se levantou indo embora, me deixando na solidão.
Seus passos pararam, — Sabe irmão. — Ela parou na porta, olhei para seu rosto. – Não sei o que aconteceu entre vocês, mas precisa consertar isso.
Grande ironia.
Ela continuou. – Maya foi a melhor coisa que aconteceu para você.
— Acha que não sei disso? Não posso viver sem ela.
— Então você já sabe o que fazer.
A porta bateu, me deixando com o cheiro de Maya me torturando.
Busquei o telefone do outro lado do quarto no meio das coisas que joguei pelo chão, abri a caixa de texto...
Para: Maya Banks
“ Espero que todas as lágrimas que estou derramando, lavem de vez a minha alma das expectativas frustradas de ser feliz ao seu lado”
Enviar? Sim.
Capítulo 35
Por quatro longas semanas, a primeira coisa que fazia ao acordar, era checar a última mensagem no celular, um verso de uma música que não sai de minha cabeça e sempre que relia lembrava com dor sobre Maya.
"E se você disser algo que realmente é verdade.
É difícil até de compreender as partes que eu devo acreditar.
Pois você está me dando um milhão de razões.
Me dá um milhão de razões, um milhão para te deixar.
Mas eu só preciso de uma para ficar..."
E ainda na esperança que ela falasse algo comigo. Tinha ido até a boate. Noite após noite, me sentado no bar olhado as dançarinas ocuparem o lugar onde minha morena tinha estado. Fiquei plantado na porta de sua casa, muitas vezes sendo enxotado pelas caras feias dos vizinhos desconfiados.
Procurei por Jaqueline que também não tinha notícias de Maya, era como se ela nunca tivesse existido, tivesse sido como um meteoro que passou e assim mesmo foi embora.
Sim, era patético um homem como eu estar dizendo algo do tipo, patético e provavelmente gay!
Até Buddy estava amuado pela casa, mal querendo saber dos meus carinhos ou passeios noturnos. Minha família tentava entender o que havia acontecido, Luce tinha explicado que algo aconteceu, mesmo não sabendo a origem e que eu tinha ido atrás dela.
A imagem de quando dançamos ela recitando a música da Alicia Keys que não parava de tocar em meu som, prendendo-me naquele momento até que eu caísse em sonhos cheios de olhos verdes, me deixando cansado e esgotado.
Durante quatro semanas eu trabalhava superficialmente, Hugo que ainda se aventurava a questionar algo para mim era o que mais sofria com meu mau humor. Jessica – minha nova secretária. – Essa com certeza pedirá demissão até o fim do mês, duvidava se quase todas às vezes que ela ia ao banheiro não era para me xingar ou chorar escondida na baia do banheiro feminino.
Mesmo com todo reconhecimento e coisas boas acontecendo para meu lado profissional, não conseguia sentir prazer com isso. Estava tudo mecânico, acordava pela manhã, ia ao trabalho, voltava e me afundava no sofá com uma cerveja em mãos. Um verdadeiro trapo humano por dentro, reduzido a questionamentos e dúvidas sobre tudo.
Quando saia, não via as mulheres do mesmo jeito. Via como se fossem bonecas descartáveis, e, com grande frequência expulsava algumas do meu apartamento por ter visto um gesto ou o olhar que Maya lançaria para mim quando fazíamos amor, ou, apenas pela visão de Maya olhando para mim, de seu sorriso já me fazia sentir nojo de mim mesmo e não estar sendo justo com a pessoa se contorcendo embaixo de mim. E tudo piorava ainda mais quando alguma encostava na minha tatuagem, que passou a ser o luto vivo em minha pele sobre Maya.
Larguei o trabalho de lado naquela tarde e segui para o lugar que tinha certeza que teria informações de Maya, a Royalt Luxor.
Minha cabeça latejava por todo o caminho, meus olhos ressecados ardiam com as luzes dos carros passando por mim. Pela primeira vez, consegui um lugar para estacionar na frente do prédio. Estava impaciente só de aguardar o elevador, e quando entrei no saguão da Luxor piorou.
Natalia que havia me recebido da última vez, sorriu se levantando.
— Boa tarde, ou boa noite Sr. Amell — Disse simpática olhando o relógio.
— Preciso falar com Marli.
— Ela está ocupada com uma garota da Luxor.
— Não me interessa, avise que estou aqui, senão invado a sala dela. – Rosnei andando de um lado para o outro.
Natalia arregalou os olhos, pegando o telefone, digitou um código. — Sra. Tavares, o Sr. Amell está aqui. – Ela escutou algo. – Sim senhora, mandarei entrar nesse instante.
Não esperei que ela liberasse, eu mesmo já fui abrindo a porta da sala, estanquei quando vi a silhueta de uma morena sentada na cadeira. Meu coração acelerou, meus passos ficaram pesados.
— Conversaremos melhor amanhã Jeny. — Marli dispensou a mulher que ao se virar para ir embora, só tinha o negro dos cabelos parecidos com minha Maya.
– Senhor Amell, estava mesmo precisando falar com o senhor. Sente-se.
— Eu quero informações sobre Maya. – Disse de uma vez.
— E eu mesmo sem entender, preciso devolver isso para o senhor.
Marli abriu uma gaveta retirando meu cheque.
— O que é isso? – Questionei com as sobrancelhas erguidas, analisei o cheque em perfeito estado, do mesmo jeito quando assinei fechando meu contrato com Maya. Se ele tivesse voltado sem fundo o que por sinal, era impossível eu teria recebido uma ligação do banco.
— Não sei o que aconteceu entre você e Maya, mas ela não permitiu que descontasse o cheque, além disso, me pagou pessoalmente os custos e o adiantamento.
Podia sentir que estava com cara de idiota quando ela me falou isso. Maya não quis o dinheiro o que era por sinal um direito dela, afinal tinha trabalhado e feito muito bem seu papel durante as semanas que ficamos juntos.
— Ela não quis o dinheiro. – Confirmei para mim mesmo, não notando que dizia isso em voz alta.
— Não, Otávio.
Marli cruzou os braços diante do peito siliconado, com expressão curiosa no rosto. — Posso saber o que houve entre vocês? E o porquê mesmo antes do contrato terminar Maya me informou que estava disponível e quis o mais rápido possível embarcar para a Europa?
Levantei-me fazendo a cadeira cair com um baque alto no escritório. – Como assim embarcar? Para Europa?
— Maya está com outro cliente. – Ela continuava me olhando como se um bicho tivesse me picado.
— Com quem ela está? Que lugar da Europa ela está? — Gritei para ela, passando as mãos pelo cabelo.
— Não posso quebrar o sigilo entre uma Luxor e seus clientes Otávio.
— Eu não estou pedindo porra, me fale onde ela está. — Olhei para o cheque gordo em minhas mãos. – É dinheiro que fará você abrir a boca? Então fique com isso. AGORA FALA! – Gritei.
Ela suspirou, guardou o cheque em seu bolso do casaco, pegou uma pasta gorda com o nome de Maya na capa, vasculhou algumas folhas, vi um relatório constando meu nome e o mês de julho marcado, por fim, abriu outro relatório, prestei atenção no nome do possível cliente.
Alex Perroni.
— Maya, embarcou para Paris, está com um cliente em potencial. Agora o que ela foi fazer, é assunto somente de meu cliente. Já disse demais para o senhor.
—Obrigado.
Sai como um foguete de sua sala, não me importava com quem ela estava, como estava, pois, eu sabia que deveria estar em pedaços como eu próprio estava. Eu traria Mia de volta para mim. Pois para mim ela sempre foi Mia Azevedo.
Capítulo 36
“Sinto sua falta, cada dia, cada hora, cada minuto, cada segundo.”
As longas avenidas rodeadas de árvores, as pontes, os candeeiros de ferro, os cafés com esplanadas aquecidas, os prédios nunca demasiado altos, a Torre Eiffel iluminada, os museus e os monumentos mais conhecidos do mundo e os crepes de chocolate na rua. Isto é Paris.
Minha primeira vez na Cidade Luz estava sendo... Uma bosta! Deprimente, cada casal que eu via se abraçando, se beijando tinha vontade de me trancar no quarto por uma semana seguida. Estava começando a ter pena de Alex, um senhor de meia idade com tudo em cima, meu cliente depois de... Bem, não andava reproduzindo o nome de certo alguém nem por pensamentos. Só de imaginar ou pensar sequer sobre ele, meu peito sangrava, me sentia como se mil cacos de vidro se enfiassem em minha pele.
Alex tinha me contratado quando ainda estava com Otávio, precisava de uma mulher bonita, mas também inteligente, que pelo menos falasse inglês para fingir um affer com ele. Dono da metade da L’Oréal Luxe , queria me colocar em uma campanha internacional, além de conseguir o acesso de grandes magnatas Franceses.
— Bonjour ma fleur. – Disse entrando na grande sala de jantar onde tomava café com Biscuit .
— Bonjour Alex. — respondi com um sorriso.
— Como minha dama está essa manhã? – Ele se sentou na outra ponta da mesa, seu mordono logo foi colocando seu chá com leite na xícara, esperando qualquer ordem.
— Bem melhor. — Respirei fundo. — Desculpe mais uma vez, faço questão de comprir meu contrato com você. Não precisa pagar nada, eu mesma ligarei para Marli avisando.
— Laisser ma dame! — Exclamou, como um bom cavalheiro pedindo que esquecesse isso.
Lágrimas turvaram novamente minha visão. Havia manhãs que era difícil até respirar.
— Você já pensou em ligar para seu homem? Dizer como se sente?
Levantei os olhos, encarando Alex. – Somos de mundos e vidas diferentes, não se esqueça o que eu faço para viver, Talonneur.
Alex franziu o cenho negando com a cabeça. – Você não devia se referir assim a si própria, o que eu vejo na minha frente é uma belíssima mulher que trabalha como outra qualquer. Por sinal, mais respeitável que madames que desfilam em seus empregos de meio expediente.
Sorri de sua gentileza. Olhei pela grande janela de vidro, me alimentando do charme dos parisienses, a tranquilidade das ruas, esquinas que escondiam construções magníficas. Lembrando do meu primeiro dia em Paris, Alex fez questão de passear comigo por alguns pontos turísticos. Um passeio no final da tarde pelas margens do Sena, o vento frio passando devagar, fazendo o próprio tempo ir com calma.
— Mon seigneur, la voiture est déjà em attente pour vous. — O mordomo anunciou, chamando atenção de Alex e eu para nosso próximo passeio.
— Vamos minha beau , o carro está pronto. – Adorava o francês de Alex, principalmente quando me chamada de dama ou como agora Bela.
Capítulo 37
"Se quiser reconquistar alguém, não tente descobrir a razão que te levou a perder, e sim a razão que te levou a amar."
— Tavinho? Entre o que aconteceu? — Luce questionou me puxando para dentro do seu apartamento.
Desmoronei com um sorriso frio no rosto, Luce se sentou em minha frente. Meus olhos ardiam, eu nunca fui de expor meus sentimentos, nem mesmo pelos meus pais. Sei lá, algo meu, eles sabiam que gostava, mas não ficava falando isso a todo instante.
— Tudo começa com um homem burro o suficiente, vivendo numa bolha onde tudo relacionado a amor era algo saído de livros.
— Otávio... — Ela me interrompeu mais se calou com meu olhar frio e irritado.
— Eu fui um completo idiota queria aquela promoção mais que tudo, queria comandar as duas empresas, queria status em minha carreira e perdi algo que nem eu mesmo estava disposto a perceber bem na minha frente. – Suspirei. – Maya é uma acompanhante de luxo.
— O quê? Otávio como assim?
— Contratei-a para se passar por minha namorada, tinha que mostrar para a puta velha da minha chefe que existia algo seguro em minha vida. E no meio de todo esse fingimento, nos perdemos.
— Eu nunca suspeitei... Sabe, quando você contou que levaria alguém, desconfiamos que fosse mais alguma siliconada sem cérebro. – Luce tentou suavizar seus pensamentos —vocês pareciam um verdadeiro casal para todos. Uma acompanhante, Otávio?
— Algo que começou por uma mentira, mas com muita verdade por dentro.
— E você pode me dizer o que está fazendo aqui e não está com ela? — Luce cruzou os braços finos em frente ao corpo. — Claro, obrigada por confiar em mim para contar seu segredinho sujo, mas...
— Maya está em Paris. — Confessei.
— Perfeito, volto para França mais cedo e você vem comigo.
Ela se levantou ajeitando a saia, olhou para mim com interrogação no rosto. — Você não quer sua garota, idiota?
— Mais que tudo.
— Então se encarregue das passagens, Paris, aí vamos nós!
Não pensei duas vezes e sai às pressas com destino à França, precisava encontrá-la antes que sumisse da minha vida novamente. O voo tinha sido longo e angustiante, Luce que era a rainha do deboche não trocou uma palavra sequer.
A noite em Paris era algo para ser realmente apreciado, as ruas mesmo no frio deixavam tudo ainda mais bonito. A rua onde nosso hotel ficava era ladeado por prédios antigos, mostrando a arquitetura da cidade. Hotel Daniel , charmoso e aconchegante. Todas as janelas dos quartos eram acompanhadas por pequenas sacadas e toldos brancos.
Luce largou sua bolsa em cima de uma das camas de solteiro. Dando uma olhada para o quarto.
— Desculpe, mas de última hora não consegui nada melhor, além daqui ter um restaurante maravilhoso.
— Isso já ajuda muito. – Disse, deitando na cama com os olhos fechados e minha cabeça latejando.
Como sempre eu tinha mandando uma mensagem para o telefone de Maya. Após confirmar no desembarque que ela tinha visualizado encheu meu peito de esperanças.
— Pelo que eu pesquisei desse cara, ele mora numa verdadeira mansão perto do Boulevard Des Invalides . Podemos tentar falar com alguém, mas duvido que passaremos do portão.
—Amanhã mesmo, irei até lá.
— Você planeja falar com eles em inglês espertalhão? Eu vou com você, não vim mais cedo para Paris à toa.
— Tudo bem, amanhã logo cedo.
A madrugada passou e eu acompanhei todos os estágios dela contemplando a janela, Luce dormia pesadamente em sua cama e eu só conseguia contar as horas e os minutos no relógio, quando os primeiros raios de sol invadiram o quarto anunciando que finalmente eu poderia ver Maya. Muito antes de Luce sequer reclamar de ser acordada eu já estava pronto e já tinha chamado um táxi na recepção do Hotel.
Passamos por toda cidade indo para o endereço que Luce tinha instruído em francês para o motorista. Pagamos a corrida dando de cara com um enorme portão e ferro preto fundido, um jardim ladeava a entrada para um casarão ao fundo. Mesmo ao longe elegante e fino, as enormes janelas refletiam as primeiras horas da manhã.
Um segurança veio caminhando com um cachorro na coleira parando do outro lado do portão.
— S’il vous plaît j’avons besoin de parler à M. Perroni . — Luce despejou seu francês para o segurança.
— Que merda você disse? – Perguntei já irritado.
— Se você não tivesse largado seu curso para paquerar com as alunas nos corredores, teria entendido que eu pedi para falar com o tal de Alex Perroni. – Ela sussurrou de volta para mim.
— Quiêtes-vous ? — O segurança se aproximou mais na grade.
— Luce Amell e Otávio, nous avons besoin de parler de Maya Banks.
— Um temps.
Ela se virou com um sorriso apertando meu braço, mantive meus olhos fixos no segurança que falava em um aparelho parecendo aqueles walkie talkie que brincava com meus amigos quando criança.
Demorou um pouco até que o bendito segurança voltasse com um controle em mãos liberando nossa entrada, mesmo permitindo nossa entrada ele nos seguiu até a ampla porta de madeira rústica do casarão.
Um mordomo magro com aparência mal-humorada abriu assim que pisamos no último degrau. Deixei que Luce entrasse na minha frente, sentindo meu coração pesado, como se tivesse uma corrente esmagando-o, minha respiração estava fraca.
A entrada era coberta de mármore, com duas grandes e largas escadas, seguindo os mesmos tons de bronze e branco que a entrada tinha. Pequenas esculturas decoravam cada canto das paredes, realmente era um palacete.
—Merci Flaus.
Minha atenção foi para o homem de meia idade que descia a escadaria esquerda, em um pijama de seda preto coberto por um pesado robe. Ele sorriu quando terminou de descer parando em nossa frente.
— Pardon réveiller M. Perroni. – Luce estendeu uma mão, o velho deu um singelo beijo no dorso.
— Você quer ser convidada para o café? Pergunte de Maya de uma vez. – Falei em tom baixo.
O velho sorriu balançando a cabeça do que Luce havia falado. — Minha jovem, é um prazer ser acordado pela própria juventude.
Olhei para seu rosto, com certo embaraço do que eu falei, mas não sabia que ele nos entendia.
— Desculpe meu irmão, Sr. Perroni. — Luce desculpou-se pisando fundo com seus saltos no meu pé.
— Imagina, estava ansioso. Imaginando quando conheceria o famoso Otávio. — Ele disse erguendo uma de suas sobrancelhas. — Devo dizer que perdi a aposta.
— Como assim aposta? – Questionei.
— Apostei secretamente quando o homem de Ma Belle apareceria, e, vejo que o amor ainda contagia os jovens. Isso é bom!
— Maya está aqui?
— Lógico meu jovem. – Alex olhou em direção ao seu mordomo parado como uma estátua perto da parede oposta.
— Réveillez-vous Ma Belle Maya, nous avons visites.
— Maya está vindo.
E foi nesse momento que eu senti o ar abandonando meus pulmões na pura expectativa de ver seus olhos verdes, seu cabelo grosso em cachos negros se espalhando pelos ombros. E, acima de tudo por que eu ficaria frente a frente com a mulher que eu amava...
Capítulo 38
Troquei meu pijama por um vestido branco reto e simples, meus cabelos soltos em suas ondas naturais. Quem quer que esteja com Alex não falaria de minha aparência, aqui todos andam elegantes até para ir ao banheiro. Perroni assim que chegamos disponibilizou um armário completo para meu uso, porém eu evitava. Apenas se fosse essencial buscava algo no grande closet e a essa hora da manhã não era um momento desses.
Segui pelo corredor comprido, o barulho dos meus saltos reverberando entre o piso de mármore e os tapetes compridos, desci os primeiros degraus da grande escadaria tentando ver quem estava com Alex, parecia um casal, rezei para que não fosse os Courtney, eles eram um pé no saco de tão chatos. A mulher era um entojo, nojenta com suas caretas contrariadas.
No meio da escadaria, voltei meus olhos para cima e foi assim que nossos olhos se encontraram, eu não acreditava no que via. Otávio deu um passo para frente, chegando mais perto da escada.
— Achou mesmo que eu não iria te procurar Maya?
Olhei assustada para Alex que sorria como um verdadeiro espectador de um filme romântico.
O silêncio, apenas nossos olhos se encarando, seus olhos azuis reluzentes.
Era tanta saudade reprimida que minhas pernas vacilavam só de ouvir a voz dele, de ver seus olhos azuis como o céu num dia de sol forte. Desci mais um degrau examinando seu rosto, era difícil tê-lo aqui na minha frente.
— Porque você fugiu Maya? – Otávio implorava para uma explicação.
— O que você está fazendo aqui? Como me encontrou? – Olhei de novo para Alex. – Alex, me perdoa, eu só tenho causado problemas para você.
— Ma Belle , eu disse que você poderia até tentar fugir do amor, mas se fosse verdadeiro ele tornaria a tomá-la. — Com um sorriso singelo ele indicou para o corredor menor abaixo das escadas para Luce, ela se virou olhando para seu irmão e para mim, sorriu mesmo tendo uma nota de mágoa em seu rosto e sumiu com Alex pelo grande casarão.
Otávio subiu alguns degraus ficando cara a cara comigo e sem aviso tomou-me em seus braços, invadindo minha boca, em um beijo quente. Mostrando nossos sentimentos, dor, saudade, desejo e acima de tudo uma fome enlouquecida de me perder em seu corpo novamente.
Sua língua cruzava e invadia cada canto de minha boca, sugava meu lábio inferior tomando tudo para ele. Apoiei as duas mãos em seu peito, tentando me desvencilhar de sua boca antes que eu mesma rasgasse suas roupas aqui tomando o que foi meu um dia.
— O que você está fazendo aqui?
— Como você pôde me largar, sem ao menos olhar nos meus olhos? – Ele questiona. — Com um único bilhete de despedida? Não respondeu nenhuma de minhas mensagens. Eu fiquei igual louco atrás de você!
Senti as lágrimas brotando em meus olhos, o buraco que havia em meu peito aberto e sangrando novamente.
— Não devíamos ter nos envolvido Otávio. Eu contei que sentia por você, mas, não tinha que ser tá legal? Não podemos ficar juntos...
Ficamos em silêncio um instante.
— Eu sou egoísta Otávio, não sou o tipo de mulher para você e mesmo assim, mesmo sabendo disso não queria me afastar. — Suspirei. — Eu gosto de você e, por gostar de você não posso ser egoísta.
— Eu não lamento nada, não vou questionar se você é egoísta, mas também não vou permitir você ir embora.
— Me escute Maya! — Otávio nem deixou que começasse a falar. — Como você deixou em sua carta para mim, eu não lamento ter te conhecido, não lamento o fato de ter vivido momentos loucos com você e... Principalmente não lamento o fato de você ter me feito questionar tudo. Mas eu não vou me lamentar de dizer que eu estou apaixonado por você Maya Banks!
Otávio explodiu passando a mão pelo cabelo, denunciando seu nervosismo, encostou-se na grade da escada.
– Só preciso saber se você realmente sentiu, ou sente algo por mim? Um simples “sim” ou “não”.
Minha garganta estava fechada, um grande nó se formou com tudo que ele disse. Como iria negar? Como iria falar que não senti nada, sendo que eu fugi por isso. Por sentir demais, por me envolver com alguém que eu não poderia ter.
— Sim. – Gaguejei, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
— Era tudo que eu precisava saber. — Disse Otávio, antes de partir para cima de mim como um leão.
Ele me tomou em seus braços, tirando meus pés do chão. O beijo foi mais lento, profundo. Garantindo que nenhum dos dois fugiria no segundo seguinte.
Capítulo 39
“Retorno a paz rapidamente, volto a suspirar de amor...”
Aproveitei cada toque dela, por menor que fosse. Mas o beijo não era capaz de satisfazer todo o desejo que eu estava sentindo. O calor de sempre tomava conta de nós, meu corpo incendiava com o dela, me deixando completamente maluco.
Maya desgrudou seus lábios do meu, recuperando o ar, deu uma olhada para os lados, quando seu rosto voltou para o meu vi a deusa através dos seus olhos. Ela agarrou minha mão na sua, levando-me escada acima. Não fazendo nenhuma cerimônia ao entrar num quarto com tons de azul claro, uma grande cama no centro, rodeado por grandes janelas.
E, como em meus melhores sonhos, não demorou muito para estarmos nus, enroscados um no outro pulando qualquer preliminar. Joguei Maya no meio da cama, olhando para ela com um desejo incontrolável, meu pau latejava já ereto. Com meu corpo sobre o seu, meus olhos comendo os seus, me senti completo e nem ligando que estava na casa de um estranho, na cama dele. Isso me fez parar.
Maya me olhou confusa, com receio.
— Posso perguntar uma coisa?
— Sim. – Ela sussurrou, como um miado.
— Você e aquele velho... – Fiquei com um nó na garganta, não que não fosse perdoá-la por isso, mas eu precisava saber se alguém tinha tocado seu corpo como eu toquei por vários dias. – Você e ele... – não consegui terminar.
Maya soltou a risada que sentia tanta falta fazendo seu corpo roçar em meu membro o que me deixou com mais tesão.
— Bonitão, o último homem que tive foi você, Alex nunca tentou nada, muito pelo contrário, foi um grande amigo.
Isso bastou, não queria falar e ouvir mais nada que não fosse seus gemidos ou ela gritando de prazer meu nome. Desci minhas mãos tomando seus seios grandes, beliscando e apalpando um enquanto mordia e lambia o outro deixando o “delicado” para depois, eu estava impaciente. Queria ver Maya se derreter com meu toque, ela tocava meu peito, traçando as linhas de minha tatuagem fazendo meu corpo tremer com força, saindo do controle. Suguei ávido seu seio arrancando um gemido duro de Maya.
Tudo esquentou ainda mais quando sua mão foi para meu pau, apertando, espalhando o prazer sobre ele. Sua outra mão arranhando minha bunda, minhas costas. Tirei seu seio de minha boca, atacando seu pescoço. Arrancando seus dedos de meu membro, empurrei-o para sua intimidade, provocando espasmos por seu corpo raspando-o por seu clitóris. Maya jogava a cabeça para trás, suas mãos ao lado agarrando os lençóis, gemendo a cada investida que dava em seu corpo, ela arqueava os quadris para que entrasse por sua fenda, mas eu me afastava, quando voltava começava de novo a tortura, vendo seu corpo desfalecer colocando apenas a cabeça em sua vagina, mexendo os quadris em círculo.
— Otávio... – Ela gemeu.
— Fala meu amor, o que você quer? – Rosnei.
Ela me olhou brava, os olhos verdes queimando desejo, sua deusa interna furiosa pela tortura. Lancei um sorriso cafajeste para ela, feliz, completamente feliz. – Você não foi uma boa garota Srta. Banks, ou deveria chamá-la de Mia Azevedo?
— Do que você quiser, mas termine logo com isso. — Maya suplicou jogando a cabeça novamente na cama.
Segurei a cabeça de meu pau fazendo mais pressão em sua entrada, que gotejava de prazer. Mais um espasmo.
Meu próprio corpo brigava com minhas atitudes, deixei de lado o joguinho me enfiando de uma vez dentro dela. Maya gemeu puxando com força os lençóis que se desprendiam da cama, de uma maneira bruta comecei a me movimentar dentro dela. Certeiro, encontrando aquele pontinho delicioso de prazer, passei a perna de Maya por cima de meu corpo unindo com a outra deixando-a de lado, seu corpo ganhando uma nova posição enquanto eu aumentava as estocadas. Agarrei um punhado de seu cabelo enrolando as grandes mechas em minha mão, Maya mordeu o lábio inferior.
Podia sentir ela chegando naquele ponto, meu próprio corpo exigia isso, nossos corpos ficaram tensos com aproximação do orgasmo. Tirei-a da cama enlaçando suas pernas em minha cintura, sentei na ponta do colchão ditando um movimento mais lento, porém mais provocante. Sentindo Maya em todos os pontos do meu corpo.
— Não fuja mais de mim, —Arquejei sentindo o orgasmo chegar em espasmos. — Você é minha. — Gemi gozando.
— E você é meu. — Maya retribuiu curtindo seus espasmos.
Maya dormia relaxada quando sai do banho, o lençol cobria sua nudez, seus lábios entreabertos de forma delicada. Nem me importei que o resto de água pingasse pelo chão só queria admirar seu sono.
Ela se remexeu, como se sentisse que estava sendo observada, seus olhos piscando, ganhando foco. Maya rolou na cama de novo encontrando meus olhos com um sorriso no rosto.
— Tão linda mesmo quando acorda, assim fica difícil me manter longe.
— Tudo por sua causa. – Respondeu com voz rouca pelo sono.
Bocejou, esticando os braços sobre a cabeça, o lençol cedeu mostrando um de seus seios. — E você, torna verdadeiro o significado da palavra “suculento” saindo assim do banho. Sempre foi assim ou veio tudo num pacote com essa tatuagem?
Ri de seu comentário, fiz uma careta séria sentando ao seu lado. – Não... – me inclinei colocando o bico de seu seio a mostra na boca sugando-o com força. Ela gemeu quando voltei a me afastar. — Eu sempre fui lindamente suculento.
— Idiota! – Disse rindo e tacando um travesseiro em mim.
Capítulo 40
“Cheguei a uma incrível conclusão o destino não andava de mãos dadas com a minha felicidade”
— Ainda não acredito que fizemos isso aqui na casa do Alex.
Otávio terminava de colocar seu casaco, tinha ajeitado o quarto, meus cabelos. Dei uma última olhadinha para trás, vendo o sorriso cínico no rosto dele. Fechei o semblante, seu sorriso sumiu no mesmo instante.
— Foi melhor do que os sexos normais, pelo menos você tem que assumir isso. — Otávio deferiu um tapa em minha bunda passando pela porta.
— Mas eu estou trabalhando, ainda tenho duas semanas a cumprir com Alex.
Escutei seus passos sumir.
— Você irá voltar comigo Maya.
Virei olhando novamente seu rosto, analisando se estava brincando.
— Não. Como disse estou trabalhando. – Endureci a voz.
— Não vamos discutir. Você volta comigo.
— Otávio!
Ele passou novamente por mim descendo a escada com passos duros e decididos. Indiquei para o jardim de inverno, onde Alex provavelmente estaria. Era seu lugar preferido, e, eu tinha aprendido a apreciá-lo junto com ele.
—... Eu me mato para essas modelos fazerem isso realmente você tem um dom Alex. – Escutei Luce falando no fundo do corredor.
— As pessoas são fáceis de serem levadas. Basta saber o que as motiva.
Alex estava sentado em seu banco elegante de madeira branca, de costas para a porta. Luce reluzia prestando atenção no que ele dizia. Aprendi nesses dias que passei ao seu lado que Alex Perroni tinha um lado todo particular de ver as coisas, romântico nato tendo se casado três vezes. Dizia que cultivava amores, mesmo não permanecendo com a pessoa até o fim dos seus dias. Ele dizia que levava um pedaço de cada uma das mulheres em seu coração, como cada uma delas tinha um pedaço seu.
— Alex.
— Ma Belle , que bom que vocês se entenderam. — Disse juntando as mãos, mostrando seu sorriso quando viu Otávio entrando em sua grande “estufa”.
—Obrigado, por permitir isso.
— Imagina meu cavalheiro, Maya está ainda mais brilhante ao seu lado. Uma pena que perderei minha modelo. — Alex dizia com um biquinho engraçado torcendo a boca.
— De maneira nenhuma, eu estraguei demais os eventos que estive por meu humor, ficarei aqui até que nosso contrato vença.
— Comme vous le souhaitez ... Como quiser – Disse levantando as mãos em rendição.
Apesar de aguentar a presença de um muito mal-humorado Otávio, estava feliz por tê-lo ali. O passeio tradicional de final de tarde com Alex nunca tinha sido mais brilhante. Luce e ele se deram bem de cara, ambos comentavam suas experiências com modelos ou o ramo da moda, fazendo comentários engraçados para mim e Otávio.
— Alguém está cansado? – Alex perguntou olhando para nós.
— Não, muito pelo contrário! — Luce exclamou enlaçando seu braço do de Alex.
— Não. – Otávio e eu dissemos juntos.
— Magnifique ! Ma Belle já teve o prazer de me acompanhar, mas quero levá-los para o Bateau le Calife .
Perroni fez sinal para seu guarda-costas, falando com ele em um francês complicado, dizendo aonde iríamos.
— Jujuba. — Olhei para Otávio, — ele poderia parar de chamar você de “minha bela”? Ajudaria muito a gostar mais dele. – confessou baixo em meu ouvido. – E o que seria Bateau le Cafile?
— Um restaurante, fica perto do Museu do Louvre, além de termos a vista para Torre Eiffel.
Um restaurante montado em um navegante, que percorre o Sena. Deixando o ambiente propício para romance e momentos especiais. E com certeza aquele era um deles, estar com Otávio em Paris era melhor que muitas coisas que já tinha visto por aí. Meu bolso vibrou com o toque do celular, olhei vendo que era Marli, pela quarta vez seguida. Decidi ignorar, pelo menos por hoje.
Imagino que o motivo seja pela descoberta de Otávio, afinal onde ele poderia ter encontrado informações sobre onde estava? Na Luxor, e, esse era motivo suficiente para evitar a todo custo uma ligação de Marli, sua voz invadiu meus pensamentos enquanto nos deliciávamos com uma taça de vinho francês.
— Marli, preciso ser colocada com outro cliente. – Disse invadindo o escritório de Marli e pegando ela em um momento delicado com um dos garotos da boate.
— Oh minha querida... – Ela sorriu passando a mão no canto da boca ajeitando o batom borrado. Lucas o novato pescou suas roupas com rapidez se trancando na outra sala do escritório.
— Você disse que tinha um cliente para mim. – Continuei como se não tivesse visto nada.
— Sim, sim... – Ela abriu minha pasta de contratos. – Mas, cadê o senhor Amell? Posso mesmo antecipar seu trabalho com o Sr. Perroni?
— Não quero questionamentos, inicie meus trabalhos com o Perroni, me passe tudo que preciso saber.
Engoli o nó que tinha em minha garganta sempre que me lembrava de Otávio, meu peito doía como se uma faca me perfurasse toda vez que me lembrava dele, de Maresias, de sua família...
— Aqui está, meu diamante, você vai para Paris. – Anunciou toda animada.
Uau. Paris! Esse deveria ser meu comportamento, afinal quem ficava triste em Paris? Isso era fácil, eu.
— Marli?
— Sim? – Ela ainda me olhava com questionamentos no olhar, mesmo mordendo sua língua para não falar nada.
— Não desconte o cheque do senhor Amell, eu faço questão de pagar do meu bolso, passe para mim a conta e eu pago, mas não mexa nesse dinheiro. – Suspirei. – Se ele aparecer, pode devolver.
Acredito que no fundo eu esperava desesperadamente isso, mesmo tendo desligado meu celular eu tinha lido um por um de seus recados, e todos, todos mesmo me cortavam fundo.
Todos os dias eu tentava me convencer que tinha feito a coisa certa, ele não precisava de uma mulher com meu currículo, ele merecia a tal garota que seu pai tinha me falado no casamento. Alguém que não tivesse passado de homem em homem como eu...
Marli arregalou os olhos. – Maya... Aconteceu alguma coisa que você queira me contar, minha querida?
Respirei fundo, colocando meu melhor sorriso.
— Por enquanto não, apenas não desconte o cheque.
Lábios úmidos encontrando meu corpo apenas coberto por um fino lençol. A luz do sol invadindo as janelas de vidro que iam do chão ao teto, a vista de Paris ao longe e o cheiro do meu homem permeavam o ar ao meu redor. Conforto, amor e alegria foi o que me dominou naquela manhã.
Otávio beijava a região de minha cintura, seus cabelos raspando em minha barriga provocando cócegas. Ele subiu fazendo o caminho de volta vendo que tinha acordado.
— Bom dia, Jujuba. – O sorriso mais encantador nos lábios.
— Bom dia, bonitão.
Espreguicei-me, tardando à hora de levantar. Ontem depois do jantar Alex tinha se mostrando encantado pelo jeito de Luce, ainda mais encantado por seu jeito debochado. Então convidou Otávio e a irmã para ficarem em sua mansão, o que foi ótimo. Sorri relembrando a noite de prazer que tive. Indo pegar no sono com o céu dando seus primeiros sinais do amanhecer.
— Dormimos muito? – Perguntei ficando virada para seu peito.
— Não muito, Alex e Luce foram fazer algum passeio logo cedo.
Ri vendo que não tinha sido a única a notar como eles tinham se entendido bem por todo dia.
— Tem um banquete preparado lá embaixo.
— Hum... — murmurei colando minha boca na dele, — preciso saborear outra coisa agora. – Desci meus olhos ao mesmo tempo em que minha mão se encaixava em sua virilha.
— Você é uma mulher muito fogosa mesmo, vai acabar me causando um infarto.
Passei a língua por meus lábios rindo do falso susto que Otávio produzia. Meu celular começou a vibrar na mesa de centro perto das poltronas, onde ficou jogado na noite anterior.
— Acho melhor você atender. Ele tem tocado a um bom tempo.
Levantei-me a contragosto, andando pelo quarto nua, nem um pouco envergonhada quando ele assobiou cruzando os braços atrás da cabeça. Dei uma olhada no visor não reconhecendo o número. Atendi no terceiro toque.
— Alo?
— Mia Azevedo? — Uma voz de mulher rompeu minha felicidade matinal. Um espasmo gélido ocupou minha espinha.
— Quem é?
Não estava acostumada com ligações para esse número me chamando de Mia.
— Preciso falar com a senhorita Azevedo.
— É ela mesma.
— Aqui é Carmem, sou médica do Hospital Santa Isabel de Blumenau. – Eu me senti fraca, procurei o apoio da cadeira, como se tivessem jogado um balde de água gelada sobre mim.
Otávio se levantou de um pulo, ficando ao meu lado em pequenas passadas, me colocou sentada na cadeira. Olhando sério para meus olhos.
— Estamos ligando porque seu pai Valter Azevedo pediu.
— Qual é o problema do meu pai? – Um aperto em meu peito me impedia até de respirar.
— Mia, seu pai deu entrada no hospital com um quadro complicado, ele não está se recuperando como devia. Há dois dias ele pediu para que ligássemos para a senhorita, porém teve uma parada cardíaca essa noite, seu irmão pediu para que tentássemos localizar você novamente.
— Onde eles estão? Meu irmão e minha mãe?
— Seu irmão está com sua mãe, eles estão muito abalados, gostaria que chamasse pela senhorita. — Ela ficou com aquela voz de quem sabia mais do que queria falar. – Me d esculpe.
— Estou indo.
Foi tudo que disse antes do telefone cair de minhas mãos para meu colo.
Meu pai, ele está morrendo.
Meu pai está morrendo.
Meu pai...
Não importava o passado, ou o modo como fui escorraçada de minha própria casa e da vida de meus pais, não importavam quais foram às escolhas que eu e ele fizemos, ou o que tínhamos nos tornados.
Ele era meu pai, e, mesmo assim eu o amava. Pensei em meu irmão ainda um menino quando nos vimos pela última vez, minha mãe...
Não precisei falar nada, Otávio me tomou em seus braços, minhas lágrimas disseram tudo que estava preso na garganta. Entre soluços e afagos de Otávio eu percebia como a vida era realmente uma coisa instável.
Minutos estava sobre o braço do amor e da vida, imaginando meus dias acordando ao lado do homem que amo. E em segundos toda minha felicidade planejada foi interrompida com a notícia que uma vida que eu também amava, daquele que me segurou nos primeiros passos e tombos, estava se desfazendo.
Capítulo 41
O táxi parecia andar em câmera lenta, lento demais para a pressa que se apossava de mim. Agarrei o braço que Otávio mantinha em minha perna, ele olhou para mim, vi que havia preocupação em seus olhos, mesmo ele estando calmo.
— Calma meu amor, vamos primeiro ver como ele está.
— Eu não estava com eles, eu...
As lágrimas começaram a cair novamente e não pararam mais, não conseguia mais contê-las.
Paredes brancas, longos corredores de paredes brancas e as luzes piscavam com frequência. O peso do meu corpo era o dobro do meu, Otávio muitas vezes me sustentava. Primeiro pelo cansaço de sair correndo de Paris vindo direto para Blumenau, sem nem ao menos pararmos para respirar.
A médica que tinha me dado as notícias foi quem me recepcionou quando cheguei, devido ao fuso horário e o Jet Lag , ambos estávamos cansados e com roupas pesadas demais para o clima que estava fazendo em Blumenau. Otávio tinha tirado seu casaco ficando apenas com a camisa social branca com as mangas arregaçadas em seus cotovelos. Eu tinha largado meu casaco na cadeira desconfortável ao meu lado, ficando com o vestido tubinho azul claro, não por escolha, mas por ter sido o primeiro que vi pela frente antes de fechar minha mala.
Alex nos deu todo apoio e ajuda para voltarmos e fez questão que Luce permanecesse. Nesta altura pouco me importei realmente com a irmã de Otávio, as palavras da médica no telefone não saiam de minha cabeça.
— Mia?
Sai do aperto de Otávio para me virar, vendo quem me chamava. À primeira vista não o reconheci. Um homem alto, mas com músculos definidos. Foram seus olhos que o traíram, verdes como os meus, seu cabelo castanho claro curto.
— André?
Levantei da cadeira desconfortável, assim que ele confirmou com um aceno eu não me contive puxei ele para um abraço, lembrando do garoto gentil que ele era e como eu incentivava esse comportamento.
André retribuiu meu abraço, transmitindo questionamentos que eu não poderia responder no momento. – Senti sua falta Mimi. – Sussurrou em meu ouvido meu antigo apelido.
Segurei seus ombros dando uma boa olhada para seu rosto, os mesmos traços, porém muito mais bonitos agora com seus vinte poucos anos.
— Também senti sua falta tampinha .
Meus olhos foram para minha mãe, caminhando com cautela até onde estávamos. Sua aparência mesmo cansada continuava bonita.
— Mia.
— Oi mãe. – Busquei a mão de Otávio que entrelaçou os dedos nos meus, sentindo minha urgência.
— Vejo que trouxe alguém com você? – Ela perguntou analisando Otávio da cabeça aos pés, com um tom de desgosto em seu rosto. Mesmo depois de todos esses anos eles ainda me olhavam como uma decepção.
— Otávio Amell, namorado de Mia. – Ele estendeu a mão livre para minha mãe, depois para meu irmão. Meu coração deu alguns pulinhos no peito com essa pequena declaração. – Sinto muito pelo Sr. Azevedo, estávamos em uma viagem quando soubemos da situação.
— Não devia ter incomodado a sua irmã André. Ela é uma pessoa importante. – Minha mãe soltou farpas em minha direção.
— Não foi incomodo nenhum, mesmo longe vocês nunca saíram de minha cabeça. Vim aqui porque vocês aceitando ou não do que faço da minha vida, o cara lá dentro continua sendo meu pai.
— É bom ter você aqui. – André disse olhando para nossa mãe.
Passos no corredor, interromperam nosso momento “família”. A doutora Carmen, veio caminhando com um prontuário em mãos.
— Bom dia.
— Alguma notícia doutora? – Minha mãe perguntou.
— Sinto muito Beatriz, ele não reagiu ainda às novas medicações, continua em coma induzido.
Minha mãe desmoronou nos braços de André, chorando copiosamente, soluçando e chamando aos sussurros por meu pai. Mesmo com todos os problemas que se seguiram, eu cresci em uma casa feliz. Meus pais tinham e demonstravam um amor até meloso em nossa frente, nossa família apesar de pequena sempre foi muito unida.
— Doutora, poderia ver meu pai?
— Claro Mia, venha comigo. – Ela sorriu indicando um corredor pequeno que dava para os quartos da UTI.
Olhei para Otávio, ele fez um sinal concordando. Deu-me um beijo casto nos lábios e voltou a se sentar nas cadeiras.
O quarto assim como todo o hospital era de um branco imaculado, tirando as cortinas que dividiam as baias dos pacientes que eram de um tom estranho de azul, tudo era branco, branco demais. E todo esse branco e limpeza não conseguiam esconder o leve cheiro de doença entranhada nas paredes do hospital. A médica me passou um conjunto de luvas e uma roupa esterilizada, além de máscara.
Acompanhei seus passos, passando por alguns pacientes, alguns em estado realmente grave. Alguns familiares chorando em silêncio, o que mais mexeu comigo foi uma menininha, devia ter uns doze anos no máximo. Sentada na ponta da cama de um senhor que sorria de jeito afetado para ela, prestando atenção em um grande livro que ela lia para ele.
Fiquei de pé na ponta da cama, vendo o homem que me ensinou tantas coisas, naquele estado, vários aparelhos estavam ligados ao seu corpo, soando bips.
— Mia ele não responderá, mais pode escutar o que você falar com ele. – Ela disse colocando as próprias luvas. – Não é mesmo Valter. Veja quem está aqui, você pediu e nós chamamos sua filha Mia.
— Desde quando ele está em coma?
— Tivemos que induzir há dois dias, tentamos contato com seu trabalho, Natalia, se me engano. Seu irmão que nos passou os números.
Então era isso o motivo de Marli ligar insistentemente para mim e eu achando que ela queria dizer sobre algo fútil não atendi.
— Vou deixar vocês a sós.
As palavras estavam travadas em minha garganta, peguei de leve a mão enrugada de meu pai, olhando para seu estado estável até o momento. Nada se encaixava para começar a falar como um:
— Oi pai.
Respirei fundo engolindo o bolo em minha garganta. – Não era assim que eu esperava vê-lo. Senti sua falta, foram longos anos...
As lágrimas vieram como uma cachoeira, caindo por meu rosto, molhando meu pescoço.
— Eu cresci muito desde que sai daqui papai, vivi coisas incríveis, conheci o homem da minha vida. – Sorri lembrando-me de Otávio. – Tenho um namorado. – Acrescentei rindo.
— Mas sabe pai, mesmo tendo trabalhado muito para conseguir juntar uma boa quantia de dinheiro para retomar meu sonho, pude estar com pessoas que me mostraram coisas incríveis, coisas que vou levar para sempre. E quando o senhor sair desse hospital contarei tudo.
Olhei para o rosto do meu pai, vendo uma pequena lágrima descendo pelos cantos dos seus olhos fechados. Minha mãe apareceu do outro lado da baia olhando para nós, um mínimo sorriso em seus lábios finos.
— Vou deixar vocês conversarem. – Dei um beijo na testa do meu pai, saindo como um verdadeiro zumbi, em pedaços por dentro querendo uma cama para me enroscar e só sair de lá quando tudo isso passasse.
No corredor não avistei ninguém, caminhei cruzando alguns médicos que me indicaram onde ficava a cafeteria. Arrastei-me até a máquina de café expresso, coloquei uma moeda de um real e um copo de plástico embaixo.
Encostei minha testa na máquina, respirando fundo. Minhas mãos tremiam um pouco.
— Mia? Você está bem? – Otávio correu ao meu encontro sustentando meu corpo.
— Não... – Chorei, fungando meu nariz.
Apoiei em seu peito, agarrando suas costas, deixando tudo cair como um deslizamento de terra. Encharcando sua camisa branca, mas ele não disse nada, só me abraçou com mais força. E mesmo nesse caos me senti segura, protegida.
– Obrigada por ter vindo comigo. – disse, entre soluços.
— Não estaria em nenhum outro lugar do mundo se não fosse ao seu lado minha Jujuba, apoiando você nesse momento.
E por um longo... Longo momento, ficamos assim.
Eu não tinha noção que horas eram, ou como estava o tempo lá fora. O ar condicionado do corredor fez com que eu me aninhasse em meu irmão me cobrindo com meu casaco.
Otávio tinha saído para resolver alguma coisa relacionada a trabalho, eu agradecia muito depois de tudo ele ainda permanecer firme e forte ao meu lado. Tinha deixado sua vida de lado para correr atrás de mim em Paris e agora aqui, me dando todo o apoio que eu precisava.
Esfreguei minha nuca tentando aliviar a dor que tinha se instalado ali, sentei olhando para o corredor agora mais vazio, os médicos que passavam por ali entrando na UTI não eram os mesmos e não entravam com tanta frequência. Meu irmão tinha adormecido, apoiando a cabeça contra a parede.
Olhei para o outro lado, vendo Otávio surgir no corredor, com passadas firmes. Sua camisa estava desalinhada e nem assim ele ficava feio.
— Oi. – Ele beijou minha testa, mantendo um braço envolva de minha cintura. – Como estão as coisas?
— Na mesma.
— Você não pode se culpar Maya, muitas vezes coisas acontecem para nos mostrar algo.
— Estou fazendo você sofrer comigo. – Sussurrei contra seu peito. – Você devia voltar, seu trabalho, suas coisas...
— Ei, ei. – Otávio puxou meu rosto para cima, olhando no fundo dos meus olhos. – Eu não vou a lugar algum, e nem tente me expulsar.
Capítulo 42
Dois dias, dois dias vagávamos pelos corredores, as notícias sempre eram as mesmas e o cansaço já batia forte sobre nós.
Observei Maya nesses dois dias com olhos inchados pelo choro, seu rosto pálido pelo medo da perda, nenhum dos três rostos continham um lampejo real de esperança.
Maya caminhou até seu irmão sentado com os braços apoiando a cabeça em frente à porta do quarto, seus passos vacilantes pelo cansaço e a quantidade abusiva de café.
Terminei minhas duas ligações, uma para o escritório explicando meu afastamento e outra para minha mãe. Devia isso a eles por ter saído como um louco do casamento sem nem me despedir, ainda não contei sobre o que Maya realmente era, nem sabia como comentar sobre isso, e não seria dentro de um hospital e ainda mais por telefone que iria conversar sobre uma coisa dessas.
—... Claro que entendemos filho, se precisarem de qualquer coisa ligue para nós. – Minha mãe terminava de falar.
— Pode deixar mãe, depois nos falamos melhor. – Meus olhos voltaram para Maya.
— Beijo filho.
Voltei meu celular ao bolso.
— Mia, você precisa dar um tempo no café. Precisa descansar. – Repreendi com um olhar duro.
— Eu estou bem, bonitão. Vou ficar bem.
— Ele está certo Mimi, vão para o hotel, descansem. Estou esperando mamãe sair do quarto para levá-la para casa. – André se juntou a mim.
Ela apoiou a cabeça na parede fechando os olhos.
Ainda meio relutante, mas concordando com um pouco de descanso deixamos o hospital, meu próprio corpo estava cansado, mesmo com o pequeno cochilo no voo. Passar o dia todo sentado em uma cadeira desconfortável de hospital estava piorando as coisas. Precisamos desse tempo.
A pedido de Maya, ficamos em um hotel próximo do hospital, uma cama com aparência de conforto me chamava aos poucos. – Vai tomar um banho, vou pedir algo para comermos. – Apontei para sua mala e pro banheiro, fui até a mesinha de cabeceira ligando para a recepção pedindo nosso jantar.
Liguei a pequena TV, assistindo um telejornal esperando Maya sair do banho para eu próprio tomar o meu, além de dar um tempo para ela.
Maya saiu do banho vestindo apenas uma camiseta larga e calcinha, mesmo não sendo de jeito nenhum o momento não poderia mentir para mim mesmo e dizer que não mexia nem um pouco comigo. Muito pelo contrário, depois do banho ela ficou com uma aparência melhor, mesmo as olheiras profundas ainda estarem presentes debaixo dos seus olhos.
— Já pedi nosso jantar, espero que goste de bife com batatas.
— Perfeito.
Caminhei até seu corpo abraçando-a por trás, sentindo seu cheiro misturado com o do sabonete. Seus cabelos molhados caindo pelas costas. – Pode ir jantando, vou tomar um banho, meu corpo já está implorando por isso.
Ela se virou em meus braços olhando para mim. – Obrigada mais uma vez, você não tinha nenhuma obrigação de ficar aqui e está.
— Maya não tem que agradecer. – Puxei seu rosto para cima, olhando dentro de seus olhos. – Estamos juntos.
Quando sai do banheiro secando meu corpo, Maya não só tinha devorado seu jantar como estava dobrada no sofá pequeno dormindo. Deixei minha toalha de lado, afastando as cobertas. Seu corpo pesado nos meus braços, dormindo em sono profundo, resmungou um pouco quando terminei de colocá-la na cama, mas permaneceu dormindo.
Capítulo 43
— Maya, Maya meu amor.
Puxei mais as cobertas para a cabeça, me escondendo de quem quer que me chamava.
— Maya precisamos ir. – Otávio insistia. – Jujuba.
Soltei um gemido me virando para encontrá-lo. Vestido da cabeça aos pés, os cabelos bagunçados indicando que tinha acabado de acordar.
Sentei na cama com um pulo . Puta merda, que horas eram?
— Jujuba, seu irmão ligou seu pai está pior.
Isso já me colocou em movimento corri para minha mala. Com uma calça jeans, uma camiseta com gola V e um par de tênis. Praticamente correndo pelo quarto fiquei pronta em cinco minutos, os cabelos presos em um rabo de cavalo.
Passei a mão pelo balcão pegando minha carteira e telefone vendo pelo canto do olho Otávio correr em meu encalço.
Corri pelos corredores do hospital nem ligando para os protestos que os médicos me lançavam. Depois de fazer todo o preparo para entrar na UTI, Otávio me seguiu até onde minha mãe e meu irmão estavam conversando com o médico.
— Desculpe a demora, o que está acontecendo?
— Por ora seu pai está consciente...
— Tem um, “mas”, fala de uma vez doutor.
— Entenda senhorita Mia, seu pai está nesse estado por cinco meses, melhor vocês aproveitarem o máximo de tempo possível com ele.
O medo me envolvia e me paralisava no lugar. Otávio mantinha seu braço em volta de minha cintura, sustentando meu corpo cada vez que meu passo vacilava.
Meu irmão fazia o mesmo com minha mãe, que mesmo tentando ser durona tinha desmoronado quando o médico deu a notícia, o leito de meu pai estava com poucos aparelhos, meus olhos voaram em sua direção olhando seu rosto marcado pelo tempo no hospital, seu corpo marcado por medicamentos e marcas dos aparelhos que agora estavam ausentes. André olhou para mim com os olhos marejados.
— Mi... Mia. – A voz grave e ao mesmo tempo fraca de meu pai soou em meus ouvidos.
— Pai.
Peguei em sua mão, sentindo-a gelada contra a minha.
— Filha, me... Me desculpe... Eu – Meu pai gaguejava.
—Shiuu, não precisa disso pai. Eu amo o senhor, nada mudaria isso.
Meus olhos se encheram de lágrimas. Otávio apoiava suas mãos em minhas costas fazendo pequenos carinhos, dando-me seu apoio.
Os bips ficaram mais fortes quando ele se remexeu incomodado na cama, olhei para meu irmão que escondia suas lágrimas. E então realmente eu entendi que aquele seria o único momento que teria com meu pai, anos desperdiçados por escolhas diferentes.
Balancei a cabeça negando isso, meu irmão cruzou seus olhos comigo. O mesmo choque e tristeza espelhada nele.
— Quero que você... Preciso...
— Pai. – Disse implorando aos céus que ele ficasse bem.
— Preciso que você me perdoe. – Ele tomou fôlego despejando as palavras em mim. – Quero que você seja feliz, amo você, minha menina.
— Pai, por favor, não fale assim. – Eu não conseguia conter meu choro, meus soluços.
Meu pai fez sinal para que meu irmão e minha mãe se aproximassem, juntando nossas mãos.
— Fiquem juntos.
— Pai, não...
— Valter não faça isso comigo. – Minha mãe chorava com a cabeça apoiada no ombro de André.
O brilho enfraquecido foi deixando o rosto de meu pai, assim como os aparelhos soavam enlouquecidos, um aparelho disparava uma luz vermelha. Engoli em seco, cambaleando para trás, sendo puxada por Otávio. Dando espaço para Carmen e alguns médicos entraram no leito pequeno pedindo que nos afastássemos, assim como minha mãe foi puxada pelo meu irmão.
Otávio se agarrava em minha cintura, enquanto eu me debatia, esmurrava suas mãos tentando me soltar, gritando, expulsando a dor que me consumia.
Os médicos tentaram reanimar, o corpo de meu pai dava pequenos baques saltando com a carga do aparelho por três vezes.
Desviei os olhos daquela cena colando meu rosto na camisa de Otávio, querendo não escutar o bipe longo e insistente que anunciava que meu pai se fora.
— Hora do óbito: 4h32min. – Disse o médico, quebrando o silêncio que se instalou entre nós.
4h32 min. A hora que meu pai nos deixou.
Capítulo 44
“Comece ironicamente seguindo o conselho de quem deixou. Cuide de você.”
Mesmo ajudando e querendo estar ao lado de Maya por todos os dias que se seguiram, tinha obrigações que deixei de lado, Hugo tinha sido transferido para a empresa do Rio a “pedido” de Ianelli e eu tinha que retomar meu trabalho.
Afinal era diretor de uma empresa, assim como da filial. Ainda não sabia dizer como não tinha sido demitido com meu afastamento brusco. Daniela devia estar fazendo horas extras e grandes manobras para ainda manter meu emprego. Ou poderia estar enganado e quando saísse do avião descobriria que era o mais novo desempregado de São Paulo.
Sabe quando você olha para o céu ironizando tal pensamento? Pois é, o que me fez ir atrás de uma acompanhante de luxo visando minha promoção poderia ser aquilo que também me tiraria meu emprego.
Peguei o primeiro voo depois do enterro, voltando para São Paulo, enquanto que Maya permaneceu com sua família. Com a correria do dia, nos falávamos pouco ou sempre corrido. O que me dava à sensação de estarmos nos afastando, entendia que ela enfrentava o luto, mas não queria que nos perdêssemos por isso.
Três semanas passaram.
Duas sem qualquer contato com ela. Pouco fiquei sabendo depois do funeral de seu pai. Em uma de minhas últimas ligações, André me contou que Maya tinha saído com sua mãe, que ele estava contente por ter mesmo nesse momento sua irmã por perto. Até mesmo Jaqueline não tinha muitas informações dela, continuava cuidando de sua gata esperando-a retornar.
Depois desse telefonema, resolvi tomar com afinco minha vida. Eu tinha um emprego, uma família e coisas que gostava e me distraia muito, antes de Maya. Mesmo alguns dias de enorme confusão sobre tudo que vivi com ela, decidi que tinha sido perfeito, porém teve seu prazo. Como ela mesma me disse na carta. Se estava disposta a me deixar, não seria eu que seguraria ela em meus braços.
Minha mãe costumava dizer para minhas irmãs em suas decepções amorosas que nem todo amor foi feito para durar a vida toda, que existiam amores que nos levavam para o “feliz para sempre”, ela geralmente chamava esses pequenos amores de “felizes por um momento”. Eu como sendo o único homem não acreditava muito nesse papo, não ironizava, é claro.
Mas tinha meus meios de fazer os caras pagaram por fazer uma de minhas irmãs chorarem, o que me dava longos dias de castigo, ou fazendo tarefas em casa com meu pai.
Não era desagradável ficar de castigo ou ajudar meu pai a cortar a grama, ou limpar todo o galpão dele, o que tomava meu final de semana todo.
Apenas me deixava ansioso para ver o tal sujeitinho com o olho roxo no outro dia pelos corredores da escola, minhas irmãs por esse lado aumentaram minha fama e andavam seguras e confiantes pelo corredor.
Era engraçado até.
E hoje, aqui estou eu. Acreditando nessa baboseira de amores por um momento.
Sem Maya nada era atraente, era como se ela fosse à luz, trazendo momentos loucos e insanos, ao mesmo tempo em que me mostrava que o cara que não queria criar expectativas com ninguém agora foi deixado com expectativas, quando fui buscar por ela em Paris achei que nada mais nos afastaria, estávamos plenos e juntos.
Mas, o mesmo destino que quis brincar cruzando nossas vidas, mostrando que o cara boêmio queria abandonar os bancos dos bares e seu copo de Bourbon por uma mulher, ser de uma mulher específica
Devo confessar que as lembranças se mantinham forte, entrelaçadas em meu cérebro. Não existiam mágoas, apenas uma infinidade de possibilidade que tínhamos deixado de lado. Mesmo não assumindo Maya Banks, uma acompanhante de luxo me deu as melhores semanas e os melhores sexos da minha vida. Clichê? Até pode ser, mas tudo não passava de pura verdade.
Soltei a coleira de Buddy para que corresse um pouco pelo parque Ibirapuera, não tinham muitas pessoas por lá no final da tarde, mas alguns casais, ou famílias passeavam ou se sentavam sobre as sombras. Todo mundo querendo aproveitar aquele domingo, o entardecer de mais um dia de calor absurdo.
Alguns ciclistas aproveitando que o sol estava mais fraco para atividades físicas. Encostei-me sobre um tronco grosso de uma árvore me escondendo nas suas sombras, fechando os olhos.
O vento somado à grande sombra que a árvore produzia dava uma sensação de relaxamento, apenas o barulho dos pássaros, mesmo o parque estando no meio de uma cidade barulhenta e agitada as árvores e o espaço mantinham sua calmaria.
— Com licença, o bonitão está sozinho?
Minha mente alertava como se uma luz vermelha piscasse para que não abrisse os olhos, para que aproveitasse o máximo daquela voz tão parecida com a de..., no entanto, ao abri-los acabei contemplando aqueles olhos verdes penetrantes. Ela estava um pouco mais magra, usando calça jeans preta e uma blusa branca caída em seus ombros.
— Maya — sussurrei incapaz de reagir a sua beleza. Meu corpo congelou observando essa criatura na minha frente. A mulher que a vida colocou no meu caminho e que levaria meu dinheiro, mas no fim saiu com um prêmio muito mais alto, meu coração.
Buddy voltou latindo, reconhecendo Maya, pulou sobre ela que gargalhou fazendo carinho em seu pelo.
— Olha garotão, também senti sua falta. – Ela ria.
Ela acalmou meu cachorro com batidinhas carinhosas em sua cabeça, voltando seu olhar para mim. – Otávio.
— Como vai? – Foi tudo que soltei ainda congelado em minha posição escondido sobre a sombra da árvore.
— Sei que devo desculpas.
— Você não me deve nada, Maya. – Sai de minha inércia, de pé pude encarar melhor seu rosto.
— Otávio – ela lamentou – eu precisava desse tempo, tanta coisa aconteceu em minha vida durante esses meses.
Só o simples gesto de ela afastar as mechas longas do seu rosto e morder seu lábio inferior, já me quebrava por dentro.
— Você não me deve nada como disse Maya. Foi ótimo tudo que passamos. – Coloquei as mãos nos bolsos da calça, evitando que eles sem a minha permissão corressem por seu rosto.
O arrependimento por minhas palavras veio no mesmo instante que minha boca se fechou.
— Eu larguei meu trabalho na Luxor. — Maya encarava o nada, além da paisagem a nossa frente. – Sabe, estou retomando meus sonhos.
— Isso é muito bom, espero... Que tenha o que procura – gaguejei.
Nossos olhos se encontraram, mostrando a tempestade que acontecia dentro deles, o amor, nossos incontáveis desencontros.
— Recomeço... – minha voz saiu baixa, impossível de sair clara com o nó que tinha se formado em minha garganta.
— Eu vim buscar vocês...
Maya tinha a mesma emoção velada na voz, mesmo seus olhos me encarando de maneira firme.
— Não achou que recomeçaria minha vida sem você do meu lado?
Ela me lançou um sorriso de lado. — Algo sempre me traz de volta a você e isso não demora muito. Não importa o que eu diga ou faça, ainda sinto você aqui, até o momento que vou embora. – Ela soltou um suspiro, sua mão passou pelo meu braço parando em meu peito. Causando aquelas ondas de conforto e desejo por mim.
Fechei por um segundo os olhos, respirando fundo.
Não tinha resposta melhor que essa, puxei Maya pelos braços grudando nossos corpos, tomando sua boca para mim, colocando nesse beijo tudo que passei nessas semanas, a saudade incontrolável, o desejo de seu corpo. A falta que seu riso e sua voz fizeram aos meus ouvidos.
E naquele momento, pouco me importei se nos conhecemos em uma boate, se contratei ela para uma mentira que se tornou a melhor verdade que já contei. Não me importava quanto tempo ou os caminhos difíceis que ainda iríamos passar. Porque eu a amava, amava a Maya Banks ou a simples Mia Azevedo, uma mulher com mil jeitos e mil rostos. E queria passar por tudo que esse destino louco tinha nos reservado.
— Eu te amo – seus lábios esbarrando nos meus.
Passei a mão pelo seu rosto, deixando que seu cheiro doce invadisse meu corpo e mente.
– Eu te amo Mia, Maya, Laura ou Joana. – Repeti suas palavras quando perguntei sobre seu nome verdadeiro em nosso primeiro encontro.
Ela riu baixinho, deitando seu rosto em minha mão.
Dois anos depois...
Deitada na grande espreguiçadeira eu podia ouvir o barulho das ondas se quebrando abaixo de mim. O cheiro de maresia que tanto amava, o vento suave que passava pela varanda tocando minha pele. Uma escadaria dava acesso à praia do Forno, um lugar de água cristalina e areia branca, tão paradisíaco, um verdadeiro Caribe bem no Rio de Janeiro.
Arraial do Cabo estava sendo nosso lar provisório, nesses últimos seis meses. Otávio estava muito bem em seu trabalho, quando foi nomeado Diretor Executivo, vieram grandes oportunidades, como essa, de gerenciar de perto todo o trabalho publicitário que estavam fazendo para um grande hotel no Rio. Mesmo eu protelando algumas coisas, estava adorando bancar a turista, ficando em férias prolongadas com Otávio.
A varanda de madeira branca toda entalhada que circulava o primeiro andar de nossa casa, nos dava uma vista privilegiada do nosso refúgio. Otávio surgiu pela escadaria com o corpo molhado pelo banho de mar, os cabelos bagunçados dando um ar de menino travesso, os olhos estreitos acompanhando seu sorriso safado e a tatuagem brilhando com as gotas d’água.
Ah, aquela tatuagem !
Ele subiu em cima de mim me prendendo contra a espreguiçadeira, me molhando. A água gelada escorria pelo meu decote ou pela minha coxa a mostra, no curto vestido branco, fazendo meu corpo esperar pelo toque dele.
Otávio beijou meu pescoço com desejo, mordiscando abaixo de meu ouvido, causando um curto circuito em meus nervos. Eu amava tudo naquele homem, cada pedacinho de pele eu amava, amava ainda mais saber que eu tinha feito um verdadeiro boêmio trocar suas gandaias e noitadas, por uma única mulher. E essa meu bem, era eu.
Meus dedos percorriam suas costas arranhando, apertando sua bunda, puxando seu cabelo. Ele se aventurava levantando a barra da minha saída de praia, roçando o dedo por cima do biquíni na minha intimidade, mostrando muito bem o que queria. Nossa boca se encontrou sedenta, desejosa, subindo o nível de carícias e deixando os beijos apaixonados para o lado, nos entregando aos desejos mais pecaminosos.
Apertos firmes, mãos passando pelo corpo um do outro, mordidas, arranhões...
Quando seus dedos me invadiram, testando minha excitação antes de se aprofundarem em mim eu me contorci na espreguiçadeira.
— Bonitão... — gemi em seu ouvido. – Quer mesmo mais um showzinho?
— Não ligo, quero só me enfiar em você.
Gemi sentindo meu corpo ser invadido de maneira deliciosa, Otávio fazia questão após cada estocada firme se retirar de dentro de mim esfregando sua ereção pelo meu sexo inchado de prazer, suas mãos firmes me seguravam pelo quadril impedindo que eu fizesse qualquer movimento.
— Ah! Jujuba, não me canso disso. Poderia dormir, acordar, tomar banho, viver aqui. – Ele falava entrecortado por causa de suas estocadas.
Ri de seu comentário bobo.
Assim como era ótimo os momentos de muito romances e grandes preliminares, também era ótimo quando nos saciávamos com um desejo brutal e primitivo. Senti meu corpo se fechar sobre seu membro, chegando perto do orgasmo que ele me proporcionava, sua boca em meu seio chupando e mordendo a aureola, enquanto seu movimento de vai e vem conectava nossos corpos nos levando ao limite.
Entreguei-me aos tremores deixando cair sobre mim o tão desejado e bem-vindo orgasmo. Otávio se entregou ao dele, do mesmo modo brutal que eu percorri meus desejos.
Se mantendo ainda dentro de mim, deitou ao meu lado, fazendo com que ficássemos frente a frente. Despejando as últimas gotas de seu desejo, suas mãos acariciando meu braço, enrolando as mechas de meu cabelo em seus dedos. Minha perna enrolada em sua cintura prolongando o contato íntimo entre nós.
— Amo você – Otávio sussurrou em meu ouvido.
— Muito, bonitão. – Completei acariciando seu cabelo com a mão livre.
Aqueles anos foram diferentes de tudo que eu poderia provar. Quem diria que um aluguel de luxo, me levaria por um caminho incrível. Libertando-me do passado, apagando aquela mancha negra.
Encontrando um homem que eu poderia dizer com todas as letras e prazer, que foi modificado por mim. Transformando ambos para estarmos onde estamos.
Misturando nossos mundos, nossos receios e vencendo juntos cada barreira. E principalmente, não nos afastando mais com cada problema que o destino colocava em nosso caminho, e, sim unindo nossas forças e nosso amor para passar por qualquer fase que fosse.
O que mais uma mulher poderia querer? Tudo que restava era continuar conquistando meu “Feliz para sempre” de todos os dias...
“O destino embaralha as cartas, e nós jogamos.”
Sai do banheiro enxugando meu cabelo molhado. A vista do hotel era extraodinária, mostrava São Paulo e todo seu esplendor a noite.
Voltei para cama, encontrando um vestido preto com detalhes em rendas 3D azul, sobre ele um bilhete acompanhado de uma caixa grande de veludo vermelho. Abri primeiro a caixa, matando minha curiosidade, literalmente babando quando encontrei um par de brincos de diamante, como se fossem duas cascatas de puro brilho. O colar que acompanhava, apenas duas finas correntes entrelaçadas também de diamante. Deixando essa caixa com o valor nas alturas, impressionante!
Olhei para o cartão branco com meu nome na frente:
“Querida Maya como esta será nossa última noite, quero presenteá—la com um momento incrível. Use isso para nossa noite, temos reversa para ás 19h30min, aguardo você no saguão do hotel. Espero que tenha gostado do presente.
Wesley Duarte.”
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/INSTIGA_ME.jpg
Wesley era um cliente excelente, delicado e não abusava de sua posição. Além de ser um homem importante do ramo empresarial, cuidando junto com seus sócios de uma empresa muito promissora. Nosso contrato exigia apenas acompanhá—lo em jantares, socializar com as mulheres dos seus sócios. O que nem a cara azeda de mal humor delas me atrapalhou, levou apenas uns dois dias para eu conquistá—las falando as coisas certas.
Meu telefone soou na sala, corri para atender ainda enrolada na toalha.
— Marli. – minha “chefa”, com certeza queria saber como estariam as coisas com o cliente.
— Boa noite, diamante! Como estamos?
Revirei os olhos, bufando internamente. Odiava quando me chamava de “Diamante”.
— Perfeito, ele não deixa nada a desejar, estou indo para nossa última noite juntos.
— Que ótimo querida, conseguiu o bônus extra?
— Sim e que bônus! – Exclamei sorrindo.
Mesmo não tendo interesse de ir em busca do bônus extra, foi uma verdadeira surpresa ver o ruivo de um metro e oitenta me tomando em seus braços. Tinha sido uma noite daquelas...
— Tenho que ir, nos falamos depois. – Disse já me dispedindo.
— Claro diamante, tire o final de semana de folga, nos vemos na segunda.
— Ta bom.
Olhei o visor do celular, ainda teria tempo suficiente para me produzir, e, no fundo de minha mente minha deusa rebolava se levantando ansiosa pelos diamantes.
Não precisava olhar no espelho iluminado do quarto para saber que estava divina, o vestido tinha caído como uma luva em meu corpo. O detalhe em azul realçava todas as minhas curvas, ainda mais deslumbrante de quando estava na cama.
Peguei meus últimos acessórios saindo para encontrar Wesley. O Hotel Fasano em São Paulo era o próprio significado de luxo, tanto o corredor dos quartos quanto o elevador eram revestidos em madeira escura.
Passei pelo lobby do hotel, com alguns homens me lançando olhares da cabeça aos pés, meus saltos produzindo barulho a cada passo que dava. Wesley estavame esperando perto dá porta giratória, atravessei o saguão revestido da parede ao chão de vários tons de madeira, o tornando rústico e muito elegante, os componentes como cadeiras, o grande balcão onde as atendentes trabalhavam, vasos com plantas de flores em tons alaranjados deixando tudo ainda mais suave e de extremo bom gosto.
— Você ficou ainda mais linda.
Wesley me deu um beijo demorado na bochecha, sua respiração em meu pescoço causando um arrepio leve no local.
—Obrigada pelos presentes, você sabe mesmo como encantar uma mulher. – Sussurrei em seu ouvido.
Ele se afastou com um amplo sorriso no rosto. – Tão encantada a ponto de estender mais uma semana ao meu lado?
Minha risada baixa foi a única coisa que me permiti fazer no momento. Wesley era o tipo de cara forte, seus cabelos ruivos naturais, pareciam mais uma labareda indomável em sua cabeça. Os olhos castanhos e as pequenas sardas nas bochechas, dando um ar de inocência contrastando com um corpo extremamente sedutor.
E na cama comprovei que esse homem era realmente uma labareda. O que começamos no elevador, estendemos para o corredor do hotel e acabamos em sua suíte, ambos com roupas danificadas, corpo suado e a satisfação garantida.
— Podemos ir?
— Com certeza.
Ele indicou a porta giratória, sua mão espalmada em minha lombar, o movimento constante de carros por São Paulo eram como o próprio sangue nas veias, eu via São Paulo como um corpo e nós os organismos desse corpo.
O manobrista abriu a porta do Lexus LS preto.
– Que nossa incrível noite comece. —Wesley lançou um sorriso quente para mim.
Capítulo 2
— Oh, Otávio
Pum, pum.
— Porra, baby. – Segurei com força a cabeceira da cama que batia na parede com minhas estocadas.
— Ai, meu Deus!
A ruivinha peituda se contorcia embaixo de mim, aumentei o ritmo para que ela gozasse logo, que inferno. Isso que dava ser gentil, uma eternidade até poder gozar.
Pum, pum.
— Aiii querido, aí mesmo... Meu Deus, que delícia.
Queria revirar os olhos, mas me contive.
Pressionei seu clitóris acelerando o processo, quando os primeiros tremores do orgasmo se denunciaram eu praticamente fazia sua cabeça bater contra a cabeceira. Justin Timberlake repetia seu refrão de “Sexy Back”.
Quase o acompanhei cantando “ Cause you're burnin' up I gotta get it fast!” enquanto gozava forte dentro da ruivinha peituda que trouxe da balada.
Meu nome é Otávio Roberto Amell, sim Otávio Amell.
Ridículo, sim, é extremamente ridículo. Acredito que meus pais não estavam pensando, ou em suas plenas faculdades mentais, quando me registraram. Mas, com 30 anos havia aprendido a ignorar e fazer com que todos me chamassem apenas por Otávio. Ou, como a maioria das pessoas me conhecia. Sr. Amell. Não que isso fizesse meu sobrenome ser melhor, que nada, ele continuava sendo péssimo.
O sobrenome Amell veio de meu pai, herança dos meus avós britânicos. Meus pais haviam se conhecidos e se envolvido durante um intercâmbio da minha mãe pela Europa, aí vinha à longa história que eu cresci ouvindo. Que o grande sonho de todos, no fundo era ter uma família e formar um casamento feliz, sendo homem ou mulher. Minhas irmãs deslumbradas do jeito que eram com certeza acreditavam nisso, porém isso nunca foi para mim. Eu queria mesmo, e estava praticamente salivando pelo cargo de Diretor Executivo da Companhia Wiless.
A ruivinha que estava se contorcendo debaixo de mim alguns segundos atrás, era apenas uma linda distração para minhas noites. Eu dividia minhas noites em duas categorias: — ficando em casa, vendo jogo de futebol ou bebendo uma cerveja, sentado confortavelmente em meu sofá, e nas outras, bem nas outras, eu me dividia pegando o maior número de mulheres que conseguisse. Às vezes uma vinha de brinde com a outra como foi o caso das gêmeas na quinta-feira passada.
Meu deus , meu pau já voltava a dar sinal. Alisei-o um pouco debaixo do chuveiro. Acalmando meus hormônios. Voltando para outros pensamentos...
Levava uma vida até que muito tranquila, morava em São Paulo, capital. A famosa terra dos trânsitos malucos e empresários gananciosos. A famosa terra da garoa, que de garoa não tinha nada e sim um dilúvio quando decidia chover. Hugo Torres, meu parceiro de trabalho e grande amigo era o excelente exemplo de amante latino. Seu sotaque ainda frequente em sua fala facilitava ao levar uma mulher para cama. Podíamos dizer que tínhamos excelentes noitadas juntos. Eu havia me mudado há quatro anos para um apartamento de alto padrão, Lessence Jardins. Ficava no Jardim América, anos de trabalho duro me proporcionava uma vida de mordomias, e, eu amava. Tinha transformado meu apartamento de quase mil metros quadrados em um lugar para ter tudo que tinha vontade, contratei os serviços de Sara, designer, amiga de minha irmã, para deixar tudo exatamente como queria, ainda sentia as parcelas altas no cartão de crédito por conta disso, mas afinal, gosto é gosto.
E era ainda melhor, pois ficava a exatos trinta minutos de carro do meu trabalho. Quando não se tinha trânsito, lógico, o que era impossível em São Paulo, ou como preferia, quarenta e cinco minutos indo de bicicleta. E grande o suficiente para Buddy, meu pequeno Bernese Mountain , ou mais conhecido como São Bernardo.
Sentei no sofá de toalha mesmo, com uma cerveja na mão e o controle remoto na outra, domingo era dia de esporte. Sempre fui muito ligado a vida saudável, esportes, pelo menos um final de semana reservava para corridas, trilhas, alpinismo, o que tivesse de radical para ser feito.
Buddy me olhava do outro lado da sala, sua grande cabeça peluda sempre entortava um pouco quando eu me remexia.
– Já vamos garotão. Espere até o jogo acabar. – disse olhando para ele sobre minhas pernas esticadas na mesinha de centro. Ele voltou a deitar de lado fungando pelo nariz. Quem dizia que animal não respondia, ou, não entendia o que falávamos com eles, tinham que conhecer Buddy e seu temperamento de velho, mesmo tendo apenas cinco anos de idade.
Voltei minha atenção para a televisão.
— Querido estou indo. – A ruivinha sentou-se em meu colo totalmente vestida atrapalhando-me de ver o lance que o zagueiro fazia.
— Uhum – murmurei bebendo mais um gole de minha cerveja. – Quer carona?
— Ah gatinho, não. Fique vendo seu jogo. – Ela beijou meu pescoço, lambendo meu queixo.
Apertei seu quadril, empurrando meu pau para sua bunda, até que poderia perder um jogo para mais uma sessão com a ruivinha.
— Você me liga mais tarde?
Erro número 1 das mulheres. Criar expectativas porque o cara transou com ela, mulheres da minha vida, transem, beijem na boca, mas não esperem nada de um homem. Se ele realmente ligar é porque foi realmente bom, senão ligar? Foi ótimo mesmo assim, vamos para o próximo.
Suspirei concordando com a cabeça, meio que um negar com um sim. Algo que a deixasse entender como queria. Puxei-a pelos cabelos trazendo sua boca para um último beijo antes de colocá-la de pé.
E depois o baque da porta se fechando e, então. Paz e sossego.
Assim que o jogo acabou desci para dar uma volta com Buddy, que já estava impaciente andando pelo apartamento. Cumprimentei o medroso do Antônio, — porteiro do prédio – ele tinha medo de cachorro, ainda mais um cachorro do tamanho do meu, que estava mais para um pônei do que cachorro. Mal sabia ele que Buddy não conseguia morder nem a própria perna, quanto mais ter disposição para correr atrás das canelas roliças do Antônio.
Andei pelo bairro no início da noite até deixar Buddy satisfeito e voltamos para o apartamento. Tranquei tudo e deixei o apartamento na penumbra, ouvi Buddy andando em círculos pela sala se ajeitando para dormir e eu mesmo segui seus passos, deitei debaixo das cobertas com o ar ligado deixando o quarto gelado e adormeci.
Capítulo 3
Despertei na manhã seguinte com o telefone tocando, me espreguicei um pouco antes de sair da cama, Buddy continuava largado perto da porta do banheiro nem um pouco preocupado. – Alô. – Respondo atendendo antes que a pessoa desligasse.
— Buenos dias, maricón! – Reconheci a voz do Hugo e seu espanhol ainda arraigado, mesmo morando anos em São Paulo.
— Bom dia Hugo, o que devo a ligação?
— Esqueceu que tem uma reunión? – Perguntou misturando um pouco do espanhol.
— Puta que pariu, — Hugo gargalhou do outro lado da linha. – Em vinte minutos estarei no escritório.
Joguei-me debaixo do chuveiro, tomando um banho rápido, peguei a primeira camisa social que vi no armário e uma calça jeans preta, calcei os sapatos sociais. Parei alguns instantes na frente do espelho de corpo inteiro, não poderia me chamar de vaidoso, mas aparência era uma coisa que importava e muito para mim. Sempre comecei meu julgamento em uma mulher pela aparência, sua roupa, sua maquiagem, seus cabelos.
Dobrei as mangas da camisa social azul que vesti até os cotovelos, deixando o botão da gola aberto e um pedaço de minha tatuagem aparecendo no braço. Parei na sala pegando a chave do carro, minha carteira sobre a mesa de jantar. Buddy me olhava com desprezo nem aí se estava atrasado, provavelmente ele continuaria dormindo até o meio da tarde, depois passaria pela abertura da porta e ficaria na sacada pelo restante do dia, até eu retornar. Realmente eu queria ser um cachorro, o bicho sortudo.
— Tchau, garotão. – Me despeço vendo que ele virou a cara, deitando de barriga para cima com o mesmo desprezo.
Fechei a porta do apartamento ao mesmo tempo em que ouvi a vizinha fechar a sua, esse condomínio eram apenas dois apartamentos por andar e um hall luxuoso em cada.
Olhei por cima do ombro vendo que não era a vizinha boazuda que já tinha criado problemas por causa de Buddy, e sim uma mulher negra extremamente linda, seus cabelos cacheados, muito bem cuidados por sinal estavam soltos em torno do rosto, os olhos eram cor de mel chamativo. O corpo de uma beldade tão bonito como da outra moradora. Talvez elas dividissem o apartamento.
Ela estava com um gato caramelo em seus braços, gordo, só o fato de ele levantar os olhos me encarando já me fez afastar um pouco. Não tinha experiências muito boas com gatos.
Mantive a porta do elevador aberta vendo-a entrar e puxei assunto.
– Ele parece mal-humorado – comentei olhando o gato de nariz achatado.
Ela soltou um riso simpático.
— Mal-humorada, é fêmea. – Ela acariciou o pelo da gata, que lançou um olhar superior. – Igualzinha à dona.
Apenas esse olhar já foi capaz de arrepiar todos os pelos do meu corpo, malditos sejam os gatos!
—Vocês se mudaram a pouco tempo? Você e a loira mal-educada – comentei olhando o visor do elevador.
— Peço desculpas pelos barulhos excessivos, minha colega de apartamento não está acostumada com discrição e educação. Mudamos agora, não queríamos incomodar. – Ela deu um sorriso sincero, pelo menos era educada e mais bonita do que sua colega com esse sorriso simpático.
— Garanto que estava curioso, não estava acostumado com barulhos.
Estávamos compartilhando uma risada quando chegamos ao térreo. Despedimo-nos, seguindo em direção opostas, vi quando ela seguiu para fora entrando num carro prata, mas não consegui ver o modelo.
Óbvio que pegaria um enorme engarrafamento por São Paulo. Fiquei uns bons minutos com o carro em ponto morto, vendo os veículos andarem como tartarugas. Sempre que podia acelerava por diversão. Afinal um Land Rover Evoque merecia, aumentei o som curtindo as batidas da música Mercy – Shawn Mendes.
Peguei o celular, ignorando as quatro mensagens da ruivinha peituda. Sim, não me lembro do nome dela e o fato dela não ter esperado nem um dia completo para me mandar mensagem, significava que era ótima na cama, fora dela um chiclete pronto para grudar em seu pé.
Voltei ao meu objetivo enviando uma mensagem para Hugo dizendo que estava perto e segui para a Alameda Lorena, Jardins onde ficava Companhia Wiless de Publicidade. Estacionei o carro na vaga reservada, depois de mais de vinte minutos de trânsito.
Flávia, —a recepcionista— me recebeu como sempre, com um sorriso cativante, ela era uma mulher bonita, facilmente convidaria para algo mais informal, porém eu não era como Hugo, não misturava os ambientes, trabalho era trabalho. Não queria nenhuma mulher no meu pé ou me chantageando por causa de um sexo ocasional. Pior ainda, torrando meu saco.
Hugo estava soltando, como sempre, seu espanhol fajuto em cima de Joana, que tomava seu café tranquilamente com sua assistente. – Bom dia a todos. – Cumprimento as moças num sorriso profissional seguindo para minha sala.
— Até que enfim apareceu maricón !
Revirei os olhos, já tinha acostumado com seu jeito “carinhoso” de me chamar de “bicha”.
Senti Hugo em meu encalço, depositei minhas coisas na mesa, liguei o computador e puxei alguns projetos em andamento da primeira pasta.
– Você não cansa Hugo? – perguntei em brincadeira.
— Do que meu caro amigo?
Hugo também estava vestido de forma informal. Não tínhamos uma regra rígida quanto a isso, quando tínhamos necessidades colocávamos os nossos ternos, mas em geral, ficávamos com o estilo mais informal e essa regra servia para todos os funcionários, mesmo a senhora Ianelli sendo uma megera, ela não era muito rígida com isso, desde que estivéssemos vestidos descentemente, não teríamos problemas.
— De correr atrás das associadas de nossa empresa e sempre tomar um fora. – Ri com meu comentário e da careta de desaprovação que ele fez. – Afinal, você sabe que a maioria já está vacinada, ninguém mais cai nesse seu sotaque ridículo.
Eu gostava do sotaque, Hugo sabia disso, crescemos juntos, estudamos juntos. Sua mãe é uma grande amiga de minha família e seu irmão Ruan está noivo de uma de minhas irmãs. Bianca sempre foi romântica e encontrou em Ruan tudo que procurava nos seus contos de amor. Ao contrário de Luce que era uma maluca, minha mãe dizia que as três tinham saído cada uma com um pedaço dela. Bianca com o romantismo, Luce com a impulsividade e Gabriela com a determinação.
Luce tinha se formado em moda e também vivia viajando com seu namorado, atrás de modelos e de sua equipe. Gabriela era uma excelente advogada, trabalhava numa firma no Rio de Janeiro, essa era como eu, nem queria saber de casamento, dizia que já estava muito bem casada com sua profissão. E eu, bom, meu pai dizia que eu puxei o lado mulherengo dele quando era mais novo. Minha mãe dizia que eu era o homem que ela havia sonhado que tudo não passava de uma fase. Coitada dela se esperava netos vindos de mim.
— Ah, meu amigo, você sabe que não resisto, essas chicas são muy guapas . – Hugo me tirou do caminho de pensamentos que estava seguindo, fez uma concha com as mãos como se tivesse com algo precioso nelas, soltando uma piscada para mim. Que me fez soltar uma gargalhada alta.
— Licença meninos. – Daniela bateu na porta aberta.
Daniela apesar dos seus sessenta anos era uma das diretoras mais influentes na Wiless. Sua aparência, mesmo com as rugas da idade pelo rosto não denunciavam sua verdadeira idade, muito pelo contrário. Ela era uma mulher enxuta.
Trabalhava conosco no escritório do Rio de janeiro, ficando pelo menos uma semana no mês em São Paulo, organizando nossas agendas com os compromissos do Rio de Janeiro. Tínhamos recentemente feito um trabalho publicitário de uma boate na Barra da Tijuca e isso nos rendeu vários clientes em potencial, aumentando ainda mais minha visibilidade diante da diretoria.
– Entre Daniela, não sabia que estaria essa semana aqui. – comentei levantando para dar um beijo em seu rosto.
— E nem deveria estar meus queridos. – Ela cumprimentou a mim e ao Hugo. Já puxando uma cadeira em frente à minha mesa, Hugo se sentou na outra cadeira e eu ocupei meu lugar.
—Pela sua cara o assunto é sério. – comentei.
— Ianelli está mudando de ideia.
Ela nem precisava falar o tema do assunto eu já sabia. Trabalhava na Wiless há alguns anos, Ianelli era uma cobra, uma verdadeira megera no quesito chefes.
Quando Daniela anunciou o ano passado que estaria deixando seu cargo, isso fez um pequeno e constante murmurinho sobre mim e a cobra criada de Ianelli, Patrícia.
Patrícia era a puxa-saco da empresa, trabalhava no mesmo setor que eu, porém no Rio de Janeiro. Onde seu foco não eram contratos em potencial e nem as empresas, mas ficar o dia todo adulando a presidente da companhia. E quando Ianelli anunciou em umas de nossas “festinhas” mensais que eu ou Patrícia poderíamos ocupar o cargo de Daniela na diretoria isso me irritou ainda mais, eu e todos que trabalhavam comigo na empresa sabiam que eu merecia essa promoção.
Eu cobiçava esta vaga há algum tempo. Tinha trabalhado duro em todos os projetos, tinha trazido bons clientes. Nada mais justo que eu assumir esse cargo. Diretor Executivo da Wiless, nada mais justo!
– Como assim ela está mudando de ideia, ela sabe que ninguém é mais competente que eu para assumir a Diretoria Executiva. – Meu sangue começou a ferver.
Aquela puta velha.
— Você é sem dúvida alguma, meu querido, melhor executivo que temos para assumir. Mas..., mas eu tenho que ser sincera, ela não vai te oferecer o cargo.
Vi o resto de paciência que eu tinha, ir para os ares, como aquela idiota faria isso. Tinha vontade de voar até o Rio e arrancar a cabeça dela, aquela promoção era minha por direito. Como ela ousava me dispensar agora?
— Eu falei com Ianelli, argumentei de todas as formas, falei com Ricardo, falei sobre você, falei com alguns associados do Rio que conhecem você e seu trabalho aqui em São Paulo. Mas tudo que eu escutei foi que Ianelli não daria um cargo de comando das duas empresas para um solteirão boêmio.
— Ianelli é uma cadela desalmada, acredita que o mundo ainda funciona como no século XX. – Resmungou Hugo.
— Isso é ridículo. Nunca minha vida pessoal atrapalhou meu lado profissional. – Retruquei.
— Se ainda fosse eu, até que valia esse discurso. – Disse Hugo tentando deixar o ambiente menos tenso.
— Ela quer alguém que mostre que não transformará sua empresa em um bar ou lugar de mulheres vadias, você terá sua chance de mostrar para o conselho na festa que ela está errada, ou, colocará a Patrícia. – Daniela ficou com as bochechas coradas, ela sabia que eu não iria aceitar tão fácil assim essa história. – Ela está quase montando um espetáculo de competição entre vocês. E você sabe como Patrícia é.
— Vaca dos infernos! – Rosnei.
— Então, se o nosso querido Otávio aqui, mostrasse que saiu da vida boêmia, que está em um relacionamento sério. – Hugo divagava ficando de pé. – Ianelli daria o cargo de Diretor Executivo das empresas para ele.
Daniela riu sem graça, encarando meu rosto colérico de raiva.
– Eu nem diria que tem outra opção, Otávio é perfeito para o cargo, ela não tem ninguém mais competente que você. E, eu tenho certeza que ela não colocaria o Bruno para cuidar disso. Mas, sugiro que você compre uma aliança qualquer e coloque no dedo nas próximas reuniões querido, e, depois tenha alguém para apresentar no evento da firma.
Encarei a janela ao meu lado, os prédios altos já tomados pelo sol do lado de fora, São Paulo em seu estado de agitação total.
— Não diga mais nada. – Hugo chamou minha atenção quebrando o silêncio. – O maricón aqui aparecerá com uma linda pretendente na festa. – E piscou para mim com um plano em mente.
Capítulo 4
Estava quase na hora de ir para a boate, trabalhava na Scandallo. Era mais um modo dos futuros clientes nos verem pessoalmente, Marli, a nossa “chefa”, fazia questão de termos esse contato visual com os possíveis clientes.
Escolho um espartilho preto, acompanhado de cinta-liga e meias 7/8, deixo meus cabelos naturalmente cacheados soltos pelas costas. Visto o casaco vermelho que havia separado, saltos e termino com uma maquiagem marcante.
Olho no espelho e não sou mais Mia Azevedo, uma mulher de vinte e sete anos, que mora numa casa comum no bairro Jabaquara. Sou a Senhorita Banks, uma mulher que realiza as fantasias dos homens desiludidos.
Entrei no escritório de Marli, ela estava usando o telefone. Fez sinal para que sentasse em uma das poltronas de couro em frente à sua mesa, deixei minha bolsa em uma e me joguei na outra, pegando o final da conversa.
— Claro Hugo, vou separar o catálogo e mando por e-mail se assim desejar. – Marli escutou, trocando risinhos para o telefone. – Sim, entendo. Descrição é nosso nome querido, espero você mais tarde.
Ela recolocou o telefone na base e virou-se para mim.
— Está pronta para hoje, Maya? – Pergunta.
— Sim, estou.
— Hoje teremos alguns clientes em potencial. Quero principalmente que você fique de olho nas novatas. Hoje iniciaremos o projeto musical, quero você no palco junto com as outras garotas que já separei. Roger já tem a lista.
— Pode deixar Marli. – Minha curiosidade vence. – Estava conversando com um novo cliente?
Como meu último contrato tinha encerrado mais cedo, algum extra não faria mal.
— Sim, sim. – Ela abre um sorriso enorme, daqueles que só vejo quando tem peixe grande no anzol. – Hugo precisa de uma mulher disponível para seu amigo. Mas, ainda não sei direito sobre o que seria.
— Entendi.
Marli era dona de uma das maiores agências de acompanhantes em São Paulo, a Royalt Luxor. Onde tinha mulheres de todos os tipos e formas disponíveis para serem “ contratadas ”, para noites de gala com figurões da alta sociedade, para fingir relacionamento, para viagens de negócios, ou, jantares chatos. Marli tinha um esquema complexo de contratos por mês ou semana, o que nos dava um bom dinheiro dependendo do que nosso cliente precisava.
Os contratos em si não envolviam qualquer tipo de envolvimento físico, ou seja, sexo, porém, se ocorresse nos ganhávamos vinte por cento a mais no final do contrato, tudo dependia da forma que ocorresse. Sim, era como as garotas de programa, mas com um benefício muito maior. Eu nunca pensei que a menininha sonhadora que um dia fui viraria acompanhante de luxo, nem que mais tarde largaria minha faculdade de medicina por isso, deixaria minha família no Sul e seguiria para São Paulo atrás dessa vida.
— Vamos, já está na hora. – Marli me chama me tirando dos meus devaneios.
Entro na boate, estilo Burlesco dos anos vinte, a decoração como sempre em tons vibrantes de vermelho, preto e muito couro. Há todo tipo de homem, casados, separados, solteiros, alguns ricos, pobres, velhos, jovens. Todos separados por classes sociais e desejos. Há também uma área reservada para os casais em busca de desejos perversos e homens a procura de aventuras sexuais.
As meninas que trabalham na Royalt Luxor, não são as mesmas que se envolvem sexualmente com os clientes da boate, algumas da Luxor apenas fazem parte do show sensual da noite, ou andam pela boate, o que é meu caso. Às vezes faço parte do show de dança, outras no bar, outras rodando pelo salão sendo os olhos de Marli. Que só aparece na boate quando tem clientes importantes, senão deixa nas costas de Roger.
Alguns clientes da Luxor veem para ver de perto o “catálogo” de meninas que Marli disponibiliza. Mostrando que somos como bonecas em exposição numa loja de brinquedos, por isso aparência é essencial se você deseja esse tipo de coisas, lembro quando fui iniciar na Luxor o discurso que Marli aplicou para mim.
“Clientes querem mulheres deslumbrantes e os mais afortunados querem a melhor, você quer ser a melhor? – Perguntou-me olhando meus olhos até um pouco assustados com as possibilidades. —Brilhe como um diamante Maya Banks, e foi aí que a Mia, aquela mesma garota sonhando ser uma médica de respeito morreu para sempre, se tornando Maya o diamante da Royalt Luxor.”
O palco já está pronto para as meninas, as cadeiras que farão parte do show, espalhadas pelo palco. Gaspar já começava a separar a seleção de música, via pelo canto da cortina a casa cada vez mais cheia, homens e mulheres – mesmo que em sua minoria —, ocupando as mesas e os bancos do bar ao lado. Provavelmente procurando uma boa isca para noite, por mais que a Scandallo oferecesse sexo, nada era explícito, por isso era permitido e aceito público feminino.
Olhei para o mezanino vendo já ocupado com os homens de carteira recheada. Algumas mesas reservadas ainda estavam vazias, coisa que logo não teríamos esse problema, casa lotada significava gorjetas e algumas altas gorjetas.
Jaque, ou melhor, Sol. Já ocupa o banquinho junto com os músicos, Jaque, ou Jaqueline para quem era realmente amigo dela era uma negra de lançar assobios e uma voz de cantora profissional, mas se contentava com a vida de contadora de manhã e de cantora sensual à noite. Logo quando mudei do Sul e ingressei nessa vida, foi Jaque que me mostrou São Paulo assim como me apresentou Marli, morei uns bons meses com ela, me mudei pelo fato de não conseguir aturar mais Vivian e sua mania de se achar a “mulher maravilha”. Além do fato de em apenas três meses nessa vida conseguir comprar minha casa.
Dei uma piscadela quando ela me viu perto das cortinas, olhei para os bastidores procurando Roger, encontrando-o ao lado de uma das dançarinas novatas.
— Roger!
Ele se virou olhando quem havia chamado. – Olá minha gata selvagem.
Cumprimentei-o com um beijo estalado na bochecha. Roger era o braço, mente e companheiro fiel de Marli, além de ser mais gay que meu lado mais masculino. Seus figurinos para as noites na boate eram incríveis, sempre com muito brilho e agarrado, não deixando de salientar nada que eu pudesse deixar de fora. – Como estamos hoje?
— Novatas. Tô repleto de sangue novo. – disse apontando umas quatro garotas se arrumando nos camarins. – Você sabe que fará parte do show, né?
— Sim, já passei no escritório de Marli antes de vir aqui.
— Ótimo, então tire esse casaco, assanhe sua bunda e vamos preparar esse show.
Ri indo até meu camarim, que não passava de uma mesa com todas as minhas coisas. Deixei meu casaco sobre a cadeira, dei uma bagunçada no cabelo armando os cachos, retoquei o batom enquanto Roger explicava algumas coisas para as novatas que já sabia de cor.
— Vamos rebolar até nossa bunda cair? – Claire se debruçou sobre meus ombros sorrindo, seu cabelo loiro curto dava um jeito todo jovial para ela e encantava os velhos que faziam fila para levá-la para cama.
— Espero depois um combinado japonês para compensar todo esse rebolado. – Pisquei com um sorriso.
— Meninas, meninas vamos pilantras do meu coração. – Roger chamava nossa atenção. – O titio aqui já está com o horário apertado.
Seguimos para a saleta onde já tínhamos uma visão para a casa que já estava apinhada de pessoas.
O palco ficou todo escuro assim como a boate, apenas o mezanino continha a iluminação dos abajures nas mesas, alguns homens gritaram e aplaudiram. Segui para minha cadeira no centro do palco, respirei fundo entrando mais no personagem de todas as noites, olho de relance para o mezanino vendo Marli conversando com dois homens, devia ser o tal cliente misterioso que falava no telefone mais cedo.
As luzes se focam em cada cadeira, em cada deslumbrante mulher sentada sobre ela de pernas abertas, dando para as homens visões privilegiadas das lingeries. A música começa a tocar as batidas de “Partition – Beyoncé” , olho de relance para Jaque, ela começa a sussurrar no microfone as primeiras estrofes da canção.
Começo a dançar a coreografia, dançando sentada na cadeira de madeira, jogando a perna sobre o encosto, passando as mãos de forma sensual pelo meu corpo. Assim como as outras meninas estão fazendo, cada uma seguindo sua parte na música. Reparo que Marli aponta para mim, mas não ligo, continuo concentrada em minha atuação.
Invocando minha própria Beyoncé.
Fico em pé rebolando cada vez mais quando as batidas aumentam, dando a volta pela cadeira. Eu e mais três garotas ficamos de quatro apoiadas sobre o acento rebolando enquanto as outras se lançam sobre o chão alternando a coreografia. As luzes piscam, trocam de cores se lançando sobre toda a boate, andamos pelo palco jogando as cadeiras para os auxiliares já preparados para tirá-las de lá. Enquanto algumas meninas engatinham no chão como gatas, eu me junto ao grupo que rebola ocupando o palco.
“Motorista suba á divisória rápido
Lá eu juro que vi as câmeras dando flashes
Digitais e pegadas no meu vidro
Digitais e bons apertos na minha bunda
Um show particular com uma música explosiva”
Escuto Jaque e a banda entrando nos últimos refrãos da música, as luzes apagam e acendem dando um ar fantasmagórico para o palco. Fazendo nossos corpos parecerem e sumirem como fumaça, a cada rebolada, deixando os homens ensandecidos nas mesas. Encerramos a dança uma apoiada na bunda da outra, esperando as luzes se apagarem por completo e os homens e mulheres presentes se levantarem aplaudindo, antes de ir junto com as meninas para o camarim, me permiti uma olhada para o mezanino iluminado onde os dois homens que estavam com Marli me encaravam.
Agora apenas um me olhava com interesse. Seus cabelos eram totalmente rebeldes, mesmo de longe deu para notar sua barba por fazer, tornando o rosto quadrado e másculo dele ainda mais interessante. Sacudi a cabeça espantando esse tipo de pensamento. Não estava nessa vida para me envolver com um riquinho fresco, aliás, não estava nesse tipo de trabalho para me envolver com homem nenhum.
Capítulo 5
Depois de um dia de trabalho frustrado, só queria ir para casa e abrir uma cerveja. Mas não cheguei a fazer nada do que tinha planejado, Hugo queria por que queria me levar a uma boate, alegando que estava resolvendo meu problema de promoção. Como eu já tinha visto todos os meus planos e projetos para essa promoção irem por água abaixo não estava animado.
— Hugo acorda cara, nada pode mudar isso. – Alegava pela milésima vez no telefone.
— Oh Dios! Como você é culo meu amigo. – Ele reclamava.
— Burro é seu... Não me irrite, pois não estou no melhor dia como reparou.
— Meu amigo. Estou propondo que venha comigo a uma boate que conheço, nada demais, lá explicarei meu plano. Eu já tinha planejado ir mesmo, se não gostar de minha ideia podemos pelo menos nos divertir...
Respirei fundo, olhando para a garrafa de cerveja que gotejava na mesa de centro, esperando para que o líquido fosse ingerido. Não tinha escapatória, Hugo não me deixaria em paz, a não ser que aceitasse o tal convite, mesmo não vendo nenhuma saída para meu problema em uma boate qualquer de São Paulo. Afinal, o que aquela puta velha queria era me ver capado ou sendo capacho de alguma mulher para ter o comando da diretoria das empresas, mas nem um cargo que batalhei tanto para ter, merecia uma coleira em meu pescoço. Não que fosse péssimo ter uma mulher ao lado, porém estava bastante satisfeito com meu pequeno harém.
De falta de sexo e um bom boquete eu não vivia sem.
Hugo ainda reclamava em espanhol comigo no telefone. – Cala a boca Hugo, meia hora estarei pronto. Não demore, senão desisto dessa ideia absurda de ir a essa boate.
— Ok, até mais. – Disse desligando.
Hugo chegou quando estava alimentando Buddy, senti meu celular vibrar com sua mensagem, tirei do bolso olhando de relance para o visor. – Hora de ir campeão.
Buddy olhou para mim, balançou o pelo e voltou a comer, peguei meu casaco de couro sobre o sofá e sai, acabei cruzando com a vizinha boazuda, mais conhecida como a barulhenta.
Cumprimentei com um aceno, permitindo uma analisada quando entramos no elevador, ela era muito mais baixa que eu, usava um vestido extremamente justo e curto, saltos, meia-arrastão. Engulo meus pensamentos sobre o que ela faria uma hora dessas, vestida assim.
Já no térreo dei boa noite para o porteiro desse turno e observei quando minha vizinha entrou em um carro parado um pouco distante da entrada.
— Não me olha assim, vamos logo. Tô afim de uma bebida. – Disse entrando no banco do carona.
— Garanto que você não irá se arrepender. – Hugo exibia seu sorriso mais cafajeste.
— Fala logo.
— Apressado como sempre. Bom, você precisa de alguém que assuma um relacionamento, — disse prestando atenção no trânsito do centro e olhando de vez em quando para mim.
— Tá . Sabemos disso. – Retruquei nem olhando para ele. – Você anda conversando com minhas irmãs? Acha que vai cair uma mulher com tudo que procuro no meu colo e viveremos felizes para sempre? – Ironizei.
— Me escute, antes de soltar essas merdas.
Bufei virando meu rosto para a janela, nem mesmo Hugo iria melhorar meu humor hoje.
—Conheço uma pessoa, onde você pode realizar um contrato tendo uma bela mulher ao seu lado. Apresente-a nas reuniões da empresa, depois a dispense, apareça deprimido, cabisbaixo pelos corredores da Wiless. Para dar aquela fofoca entre baias e pronto o cargo é seu e por consequência, eu fico como executivo chefe, assumindo seu escritório é lógico. – Acrescentou rindo.
— Espera! – Exclamei olhando para ele. – Você quer que eu contrate uma puta e finja que ela é minha mulher, namorada, isso mesmo?
Hugo deu de ombros, — Maricón , é o jeito mais fácil, a menos que você queira realmente sair do mercado, deixando todos os filés para seu amigo aqui. Sei que na sua agenda tem várias esperando a ligação do dia seguinte. – Ele ria, fazendo piada de minha situação. — Vamos ver o catálogo que a Marli nos oferece essa noite e aí você conta o que pensa sobre isso.
— Você está ouvindo a merda que diz?
— Você que deveria limpar os ouvidos cara. – Retrucou, entrando em um estacionamento subterrâneo.
Dei uma olhada para a tal boate que ele estava me trazendo, era a primeira vez que vinha aqui, mal sabia da existência dela. A fachada toda de granito negro como se fosse um prédio comum, em cima tinha letras em dourado escrito Scandallo . Havia uma fila de homens, algumas mulheres esperando que os seguranças armados permitissem sua entrada. Hugo cumprimentou dois dos seguranças que permitiram que passássemos na frente dos outros.
— Desde quando você frequenta isso? – Perguntei absorvendo o ambiente sexy e sofisticado.
— Ah, meu amigo!
Hugo me indicou uma escada para um mezanino, passamos por mais um segurança, uma mesa já estava reservada para nós de frente para o palco. Dando uma visão privilegiada do andar de baixo, das garotas que andavam apenas de lingeries enfeitadas por toda boate, havia algumas no mezanino. Gatas, muito gostosas, realmente a casa tinha o que era de melhor.
— E aí? Algum comentário negativo? – Hugo zombou enquanto eu analisava as mulheres que passavam por nós.
— Bom, em quesito de mulher gostosa, você me conquistou. Mas ainda assim não vejo como contratar uma puta para fingir ser algo minha. Eu nem sabia que você frequentava um puteiro como esse.
Hugo ia responder quando olhou para longe, ergueu a mão fazendo sinal e em poucos minutos uma mulher mais velha veio até nossa mesa, puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado.
— Marli, mi calor , como está? – Ela sorriu, estendendo a mão para que ele desse um beijo.
— Estou ótima, viu como a casa está cheia, a fila na porta. – Ela se virou para mim. – Então esse seria o seu amigo?
Ergui a sobrancelha para eles.
— Sim Marli, este é o Otávio. – Hugo nos apresentou.
— Como seria esse tipo de serviço? – perguntei.
Marli olhou para os lados, sorrindo para o nada. – Ah meu garoto, aqui não é lugar, depois, em meu escritório. O show já vai começar. – disse indicando a banda e uma mulher subindo no palco menor.
Olhei melhor pelo espaço notando que a negra lindíssima que tinha se mudado para meu andar era a cantora da boate, esperei que ela virasse o rosto para confirmar. Sim, era ela mesma. Que puta mundo pequeno .
— Marli, certo?
— Sim, pode me chamar de Marli. – Acrescentou um sorriso.
A velha era realmente uma mulher atraente, seus peitos siliconados estavam fazendo volume no vestido preto que vestia, sua cintura era fina, suas unhas perfeitamente pintadas de vermelho, como garras. – Você pode me dizer o nome dessa mulher? – perguntei apontando para a cantora.
Hugo procurou para quem apontava, abrindo um enorme sorriso. Ele era tarado por negras, tarado mesmo. Dizia que a melhor transa dele foi com uma mulher mulata, que depois dela nunca encontrou uma bunda tão gostosa.
— Aquela é a Sol, porém ela não faz parte do catálogo meu garoto.
— Ela é minha vizinha. – Olho para Hugo. – Lembra? A vizinha barulhenta que se mudou há pouco tempo para meu andar, é ela, cruzei com ela no elevador hoje pela manhã.
— Cabrón isso você não me informa?
Dei de ombro em resposta, observando as luzes da boate se apagando e a plateia começar a aplaudir, me sentei ereto na cadeira olhando para o palco, a tal Sol ocupou seu lugar no microfone, fazendo sinal de positivo para a banda.
As luzes se focaram em cada cadeira que em minutos antes estavam vazias, agora sendo ocupadas por mulheres lindas, todas sentadas de pernas abertas instigando a rapaziada. A música começa a tocar, as batidas sensuais preenchendo o ambiente. Marli batia palmas sorrindo como se tivesse na apresentação de suas filhas pequenas na escola, era bizarro.
Voltei minha atenção para o palco, observando cada mulher, elas começaram a dançar sentadas nas cadeiras de madeira, jogando a perna sobre o encosto. Olho para uma em particular, com uma lingerie com cara de fina, mesmo que de longe, ela dançava mais sensual que as outras, suas coxas grossas eram suculentas, me dava água na boca de olhá-las. Marli percebeu que me fixei nela, chegou mais perto de mim e de Hugo apontando para a garota, que percebeu, mas não deu atenção.
— Aquela é meu diamante, ela se chama Maya.
Maya, Maya. Repito o nome em minha mente, o nome é tão excitante quanto vê-la dançar. Ela fica de pé rebolando cada vez mais, mesmo fazendo a mesma coreografia que as outras, não sei o que me deixou tão vidrado nela. Sinto meu pau comprimindo a cueca boxer e o jeans.
As luzes piscam se lançando sobre toda a boate, e eu continuo vidrado nela, em Maya, e em seu rebolado. Sua bunda apertada na lingerie, suas pernas ficando ainda mais atraentes com os saltos vermelhos, nossos olhares se cruzam mais de uma vez, tomo um generoso gole do meu uísque. Percebo Hugo me olhando com interesse, ele sabe quando fico realmente afim de uma mulher, já saiamos há muito tempo juntos para caçar mulheres para transarmos.
E rápido demais as luzes se apagam e acendem fazendo as dançarinas do palco sumirem e retornarem, e então elas encerram o show, meu olhar cruza mais uma vez com o de Maya antes de ela deixar o palco.
E então a expressão se encaixa perfeitamente. Que puta mulher deliciosa.
Capítulo 6
— Meus garotos, infelizmente tenho que dar atenção para outros clientes, — Marli faz um sinal para um garçom que se aproxima, ele está apenas de calça social e uma gravata borboleta no pescoço. Deixando todo o abdômen a mostra, coisa que deveria ter sido pensada para agradar as mulheres que frequentavam a boate.
– Fred, hoje a conta desses senhores é por conta da casa.
— Sim, senhora. – Diz com um sorriso.
Olho Marli se curvar sobre alguns homens a umas três mesas que estávamos sentados, rindo e fumando seus charutos. Ela chama duas mulheres de calcinha e sutiã de renda para os cavalheiros, uma sem cerimônia se senta sobre o colo do mais velho ganhando uma mordida no ombro.
— E aí? Continua recusando minha ideia, mesmo depois de ter secado a tal Maya a dança toda? – Hugo chama minha atenção.
— Confesso que ela era gostosa pra caralho Hugo, mas me convença apenas de uma coisa. – Digo sinalizando para que o garçom traga mais uma dose de uísque para nós. – Como vou conciliar um namoro de mentira com uma puta e a minha família? Você sabe o quanto minha família me pressiona sobre as mulheres que ocasionalmente levo para lá, sabe muito bem como minha mãe quer que eu me amarre.
— Otávio, você já foi mais esperto. Será como um namoro comum, nada diferente das mulheres que você levava para casa dos seus pais no litoral, para ter um final de semana de sexo na praia. Porém, agora no seu caso terá que contar com um teatro na frente dos outros, o que não seria nada difícil né meu amigo, apenas fachada.
— Você continuará com sua vida de boêmio e comedor, enquanto na empresa ganha a puta velha da Ianelli, e sua família dá um tempo com as cobranças sobre um casamento vindo de você. Ainda mais agora com o casamento de sua irmã com meu irmão. – Ele levantou seu copo como se brindasse comigo.
Suspiro pensando no que ele diz, se olhar por essa perspectiva, conseguiria matar dois coelhos numa paulada só, e, continuaria com minha vida noturna em paz. – E como isso funcionária?
— Marli me enviou o catálogo por e-mail e uma cópia do documento. Lá você terá que colocar o que pretende com a acompanhante de luxo, mas, já aviso. Prepare o bolso, elas não são umas putas qualquer como você disse mais cedo.
— Encaminhe para mim e eu olho depois. – Olhei em direção ao bar, o espaço das mesas lá embaixo a procura da tal de Maya, porém não encontrei, algumas moças ocupavam o palco se preparando para a segunda apresentação.
— Você irá adorar essa boate tanto quanto eu. – Hugo fez sinal para a tal de Sol, minha vizinha e depois apontou para mim. – E vê se me apresenta essa morena cabrón , senão perde um amigo.
Soltei uma gargalhada, as mulheres começaram a dançar sobre o palco e então lá estava ela de novo. Subiu no bar com agilidade, com um quepe de policial, e um dos barmen que estavam lá começou a jogar copos para ela.
Em uma mão segurava uma garrafa com um líquido azul que sacolejava a cada rebolada que ela dava. Ela enchia os copos, descia rebolando e distribuía para os homens que estavam perto olhando, tentando tocá-la. Mas, ela toda vez se esquivava, deixando-os ainda mais atiçados.
Entre uma rebolada e outra ela olhou bem para mim no mezanino, deu um belo sorriso de piranha, bateu um dos dedos no quepe de policial e virou o líquido azul na boca, deixando que caísse um pouco pelos seus lábios, molhando seu pescoço, escorrendo para os seios grandes apertados no corpete. O que me fez salivar, com vontade de pular nesse bar, agarrar sua cintura e lamber todo o caminho que a bebida fazia, apertei a mão sobre a calça, tentando controlar meu pau ereto.
Estava difícil trabalhar sem que os olhos penetrantes de Maya invadissem meus pensamentos nessa manhã. Ontem quando sai da boate com Hugo me rendi a uma punheta debaixo do chuveiro, e mesmo assim demorei horas para conseguir pegar no sono. Quando acordei na manhã seguinte já tinha em mente retornar essa noite para a boate e tentar encontrar de novo a mulher que mexeu tanto comigo, mesmo tendo dado apenas algumas reboladas.
Hugo tinha me passado por e-mail o catálogo com as mulheres que Marli agenciava. Incluindo seu site, aproveitei uma folga após o almoço, ficando na frente do notebook e olhar o site que ele havia me encaminhado.
O site assim como a boate era sofisticado, bem desenvolvido, Royalt Luxor, eu já tinha ouvido falar sobre isso, mas não me recordava bem sobre o que tinha sido.
Entrei na página de descrições, onde surgiu a foto de diversas mulheres, com uma pequena biografia ao lado. Procurei sinais de valores declarados, mas Marli era uma velha astuta, no final de cada biografia dizia que maiores informações seria por e-mail de forma sigilosa ou pessoalmente. Fui até o espaço de busca, não me lembrava do sobrenome que Marli havia falado, mais digitei Maya. Esperei um mísero minuto para que o navegador se atualizasse a página e surgisse a foto e a biografia sobre a mulher que havia me tirado do eixo na noite passada.
Na foto seus cabelos negros caiam revoltos pelo rosto, dando um ar selvagem, seus olhos de um verde profundo e intenso que não consegui observar ontem, sua pele era dourada, como se tivesse acabado de sair de um bronzeamento. E a boca, ah aquela boca pedia, implorava para ser mordida, só de pensar o que sua boca faria já sentia meu pau se mexer na cueca.
Deixei a foto de lado antes de ter uma ereção e li sua biografia.
“Maya Banks, vinte e sete anos, natural do Sul. Está há cinco anos na Luxor, uma verdadeira preciosidade. Além de muito educada, Maya fala dois idiomas, estudou medicina. Uma mulher selvagem que realiza as melhores e mais deliciosas fantasias que você desejar.
Maya tem um metro e setenta de altura, belas coxas, olhos verdes, pesando em torno de 60 kg.
Para maiores informações entre em contato conosco, tenho certeza que Maya poderá tornar seus sonhos em realidade.”
Passei o restante da tarde imaginando se seria uma boa ideia, lógico que seria prazeroso ter uma mulher dessas do meu lado, mas ainda se poderia ter a chance de finalmente ter o cargo que tanto desejava e acalmar minha mãe e irmãs que se tornaram insuportáveis com a ideia de arrumar um encontro às cegas para mim.
Tudo que eu não queria no momento era uma coleira. Ou me ver sentado em um barzinho conversando com alguma amiga maluca ou mulher desconhecida que minha família poderia arranjar.
Ouvi uma batida na porta, ergui o olhar vendo Hugo com cara de cansado. Ontem quando ele me deixou em casa disse que voltaria para buscar uma nova amante e pela sua cara de sono a noite tinha sido excelente.
— Aposto que a noite foi boa. – Disse sorrindo, me encostando na cadeira.
— Por favor, me diga que se convenceu com o que eu disse ontem? – Hugo abriu um memorando da empresa, mostrando que a puta velha tinha anunciado eu ou a Patrícia como os possíveis Diretores das empresas Wiless.
— Não acredito! – joguei o memorando longe.
— Pode acreditar meu amigo, é bom você decidir.
Passei as mãos pelos meus cabelos, que droga estava vendo metade dos meus planos desabarem. Mas eu não permitiria, ligaria para essa Marli, foda-se, iria ver o quanto essa mentira poderia durar. Lógico se Maya pudesse ser a mulher que mentiria comigo, seria ainda mais interessante, e, por que não?
— Me passe o endereço do escritório da Luxor, vou falar com Marli. – Comuniquei Hugo.
Ele se endireitou na cadeira já pegando um papel e uma caneta para anotar. Assim que anotou tudo empurrou o papel em minha direção. – É o melhor a se fazer cabrón . Você logo estará na Diretoria e pode até ter uma aventura muito boa com a mulher que escolher.
— Claro. Depois você vai me explicar direito como soube disso. – Desliguei meu computador, arrumei as coisas na pasta encerrando meu dia.
Hugo deu uma risada alta, levantando as mãos em rendição. Grande puto ele era, isso sim. Despedi-me e fui para o último lugar que pensei na vida que fosse procurar uma possível namorada, num puteiro. Era cômico, quem diria que um dia contrataria uma puta para apresentar aos meus colegas de trabalho e minha família, ou, para simplesmente apertar a mão de meu pai num encontro casual, afinal essa porra toda tinha que ser convincente.
Atravessei a cidade, seguindo o GPS, Hugo deu algumas instruções sobre o local, apesar do trânsito cheguei razoavelmente rápido no escritório da Luxor, deixei o carro em uma travessa, pois como ficava na avenida, não tinha vaga.
Conferi as horas no celular e ignorei algumas ligações perdidas que apitavam no visor. Olhei pelo espelho retrovisor, joguei o cabelo que caia em meu rosto para trás e parei de protelar o momento.
Esperei em uma sala realmente palaciana, toda revestida de mármore e móveis elegantes. Prostituição dava dinheiro afinal, pelo visto aqui não trataria com nenhuma puta rampeira daquelas que costumava ver perto dos sinais ou esquinas na madrugada de São Paulo. Um homem de terno saiu de uma sala, encostou a porta, andou poucos passos e olhou para mim. – A Sra. Tavares espera pelo senhor.
Levantei-me já entrando na porta que ele manteve encostada para mim, se a sala de espera era magnífica, o escritório então, meu amigo era coisa de figurões mafiosos. O mesmo designer do site se apresentava lá, poltronas de couro vermelho, uma mesa de mogno toda trabalhada, alguns quadros com mulheres pousando de costas, mostrando sua bunda, coxas e outras partes enfeitavam as paredes.
— Meu garoto, o que devo sua visita? Decidiu aceitar a proposta que seu amigo lhe apresentou? – Marli depositou dois beijos em cada bochecha, mal tocando em meu rosto. – Sente-se, por favor.
Pigarreei e me sentei na cadeira indicada, ela estava realmente falando comigo como se fosse comprar um pedaço de terra. Maluca!
— Aceita beber algo? Posso pedir para trazerem alguma coisa, café? Água? Talvez um Bourbon?
— Um Bourbon está ótimo.
Ela foi até o telefone, apertou um botão e disparou a ordem para seu secretário, com um sorriso se virou novamente para mim. – O que traz o senhor aqui?
— Andei olhando o site da Luxor.
— Ah, pois não. Interessou-se por alguma de nossas meninas? O que o senhor precisa realmente? Posso te indicar a melhor garota de nossa agência. – Perguntou com um sorriso amarelo.
— Quero saber primeiramente como funciona, tenho certeza que o Sr. Torres já deve ter comunicado do por que preciso de seus serviços. – Cruzei as mãos sobre as coxas.
O tal secretário? Uma verdadeira menina. Claude rebolava mais que uma das mulheres que vi ontem pela boate. Ele deposita meu uísque na mesa e sai.
— Bom, — Marli fez sinal para o copo. – Nós trabalhamos de modo variável, tudo depende do que o cliente deseja e quanto esteja disposto a nós oferecer. Podemos ter mulheres por dias, semanas, meses. Já tivemos caso de clientes quererem por um contrato estendido de um ano.
Depositei novamente meu copo no descanso. O que levava um homem contratar uma acompanhante por um ano? Medo de ficar sem sexo? E sem nenhum cérebro dentro da cabeça, porque pelo pouco que observei e Hugo disse, isso não sairia barato.
– Eu preciso de uma mulher que saiba se portar na sociedade, trabalho em uma empresa importante de publicidade, vou a muitos eventos. E para conseguir minha promoção, preciso de alguém que se passe por minha suposta namorada.
— Entendo perfeitamente. Alguém que possa ser avaliada e possa passar essa imagem de mulher de família para seus chefes. – Marli abriu uma gaveta retirando um grosso livro.
—Tenho algumas mulheres que seriam perfeitas para isso. – Ela começou a folhear o livro, onde vi algumas fotos e detalhes pessoais das garotas.
— Não preciso escolher. – Comuniquei. – Já sei quem eu quero.
Ela fechou o livro colocando-o de lado. Um sorriso ambicioso cruzou seu rosto. – E quem seria Sr. Amell?
— Maya Banks.
Sim, os olhos de Marli faiscavam com a possibilidade de grana fácil, eu queria Maya, e ela sabia que iria pagar o preço que ela impusesse.
— Infelizmente, Maya está com a semana ocupada. Tenho outras garotas como estava falando para o Senhor – Sua cara apesar de aparentar desapontamento, eu sabia muito bem que tudo não passava de um falso sentimento, ela estava jogando comigo.
— Como disse não quero. Diga o preço e eu pagarei, quero Maya até conseguir minha promoção e todos os problemas devido à falta de uma namorada desaparecer de minha vida.
— Bom. – Marli puxou outra gaveta, guardou o livro e pegou uma pasta de contrato. – Neste caso, Maya será a garota perfeita, além de muito educada, tenho certeza que o senhor irá se divertir entre quatro paredes com ela.
Ergui minha sobrancelha.
— Lógico que meu contrato é apenas para uma Acompanhante de Luxo, se acaso rolar qualquer atividade física, o senhor fica ciente que deverá arcar com vinte por cento do contrato, dado em dinheiro para própria garota. Aqui não realizamos prostituição senhor Amell, apenas diversão e resolver os problemas de cada cliente VIP.
Essa mulher não era só dissimulada como maluca, ganhava dinheiro pondo mulheres lindas que poderiam estar em outro futuro para ser acompanhante de luxo, como ela dizia. E ainda alegava que isso não era prostituição.
— Tudo bem, prepare o contrato eu assino.
O sorriso dela poderia rasgar sua cara pelo tamanho, ela começou a preencher os papéis, pediu alguns documentos meus assim como a parte de documentos da Maya já havia sido preenchida, percebi que isso deveria ser automático, coisa para evitar perda de tempo.
— Ah, Otávio, no contrato há uma cláusula que fica a sua escolha se dará roupas ou acessórios para a dama enquanto precisar dela, seja para eventos formais ou para um jantar informal. Se tiver qualquer dúvida pode me questionar.
— Não tenho nenhuma dúvida.
Aproximei o contrato e assinei, seja o que Deus quiser.
Capítulo 7
“E toda mulher é poderosa... quando tem as armas certas nas mãos e quando sabem usar dessas armas a seu favor...”
Sai de lá indo direto para boate Scandallo, entrei já estava cheia de gente, hoje tinha algumas mulheres a mais que ontem, um público cativo assistindo ao show. Sentei-me no banco do bar, olhando para o palco tentando encontrá-la, mais nada.
Não conseguia ver Maya no meio das dançarinas.
— Você vai tomar alguma coisa, ou vai ficar babando pelas garotas e tirar minha oportunidade de uma boa gorjeta? – Gritou mais alto que a música.
Virei dando de cara com Maya, seus cabelos como cascatas negras molduravam seu rosto, seus olhos verdes me analisando com interesse. Dei um sorriso de lado para ela.
Sua reação foi à melhor, ela mordeu um pouco o lábio, o que aumentou meu sorriso.
— Eu quero tomar algo sim. – Disse apoiando os cotovelos no balcão, ficando a centímetros de sua orelha. – Um uísque estaria de bom tamanho.
Ela se afastou, ergueu apenas uma das sobrancelhas em completo desafio. Pegou uma garrafa próxima, encheu um copo e colocou na minha frente.
Uma mulher se sentou dois bancos de mim e chamou a atenção de Maya, levando-a para longe, todo o caminho observei o pecado que era seu corpo, hoje numa lingerie azul clara, se me curvasse um pouco pelo balcão conseguiria ver as meias arrastão e seus saltos. Sua cintura estava delineada pelo corpete indecente, mostrando a curva deliciosa que ela tinha no peito, montando duas perfeitas montanhas que eram seus seios.
Seu olhar cruzou com o meu, seu rosto ainda demonstrava desafio e o meu completo fascínio.
Pelo canto do olho reparei quando uma mulher de vestido prata se sentou ao meu lado, virei um pouco o rosto percebendo que era minha vizinha. Ela se espreguiçou e olhou para mim, seu sorriso congelou.
— Olá vizinha! – Disse todo simpático.
Lógico que ela deveria estar envergonhada, o que uma pessoa estaria fazendo em uma boate na zona Sul de São Paulo. Mas como eu já tinha visto ela ontem sabia que era apenas cantora. Aparentemente.
— Oi. – Ela cumprimentou.
— Jaq... Sol, o que você quer? – Maya perguntou parando em nossa frente.
— Então seu nome é Sol? – perguntei para minha vizinha, completei dando meu melhor sorriso, sorriso número 35.
O sorriso do vizinho comedor.
— Jaqueline, mas artístico é Sol. – Ela se virou para Maya que nos olhava interessada. – Não sabia que você frequentava o Scandallo.
— Primeiras vezes. – Confessei olhando para Maya.
— Meu nome é Otávio, não nos apresentamos no elevador aquele dia. – disse estendendo a mão para ela. Maya ainda acompanhava nossa conversa, olhando de Jaqueline para mim. – Você é? – perguntei me virando para Maya.
— Você quer saber por quê? – Respondeu com outra pergunta, toda arisca.
Soltei um risinho, daqueles bem cafajestes. – Talvez passaremos algum tempo juntos. – disse com um dar de ombros.
Maya sentou-se no balcão, trazendo todo seu corpo perto do meu, podia sentir sua respiração em meu rosto. — Só nos seus sonhos baby .
Depois disso ficou de pé, andando pelo balcão. Eu fiquei sem fala, ainda mexido pelo seu perfume doce dançando em minha cara. Uma música de batida forte começou a tocar, duas garotas também subiram no palco dançando, rebolando no ritmo. Maya veio pisando duro pelo balcão, rebolando e o tempo todo me olhando, me provocando com seu corpo. Por um segundo ela teria pisado em minha mão se eu não tivesse retirado junto com meu copo do balcão.
— Tome cuidado, Maya não é para brincadeira. – Jaqueline sussurrou em meu ouvido. – Eu disse, tão mal-humorada quanto a gata dela. – Depois disso se levantou, saiu em direção oposta e eu fiquei lá como um babaca, vendo a mulher mais petulante do mundo rebolando na minha cara, me lançando ao desafio.
Tudo bem, querida, você seria minha pelos próximos dias, ou até meses, que nosso tempo comece. Que comecem os jogos.
— Não acredito que você me ligou. Pensei que tinha sido muito saidinha aquele dia na D-Edge. — Sofia dizia enquanto beijava e mordia seu pescoço.
— Gosto de mulher que sabe o que quer.
— Então, o que você quer, Sr. Moreno irresistível? – Ela baixou uma de suas mãos segurando meu pênis debaixo d’água.
Encostei meu corpo do lado oposto da banheira, enquanto ela fazia seu trabalho.
— Preciso de uma distração.
— Precisando é só me chamar gostosão – Sussurrou com um belo sorriso safado, subindo em mim.
— Pare de falar, seja minha distração.
Empurrei sua cabeça, levando sua boca para longe da minha, fazendo que ela descesse por todo meu corpo...
Capítulo 8
Eu estava atrasada, Marli ficou uma boa hora explicando sobre meu novo cliente, algum playboy que precisava de uma namoradinha de mentira. Pelo que ela me explicou as pressas no escritório da Royalt, que meu futuro cliente era maravilhoso e já havia pesquisado sobre ele, até sua família.
Marli sempre tinha esse cuidado conosco, certificava-se que cada cliente não seria uma furada para nós e nem um caso de polícia para ela.
Deixei-a no escritório e segui para a boate, está noite cuidaria do bar com o Lucio, eu era uma espécie de volante. Trabalhava no bar, na casa, ou dançando no palco. Foi assim que comecei, como dançarina muito antes de entrar para Luxor.
Foi depois de ver como as garotas da Luxor ganhavam bem, e olha que muitas não trocavam mais do que beijos e carícias na frente da sociedade. Depois fiquei por dentro do esquema, eu nunca fui contra sexo, tinha plena consciência do meu corpo, e, principalmente dos meus desejos.
No começo teve apenas dois clientes que fui realmente entregue na sedução e tive um dos sexos mais divertidos da minha vida, um levou ao relacionamento sério. Mas como qualquer homem ele achou que por ser acompanhante de luxo, uma hora ou outra poderia me comprar. Coitado, tomou um pé na bunda, mas deixou alguns buracos em meu coração como todo bom homem canalha.
Desde menina minha mãe alimentava a fantasia de príncipes em cavalos brancos e homens gentis, talvez seja pelo fato dela ser de uma época mais conservadora, ou por ter encontrado meu pai. Que em quesito de cavalheirismo com ela era nota dez, sempre fazendo suas vontades e ajudando em casa, mesmo com nossa falta de grana. Já eu, nunca acreditei realmente que existiria um homem assim para mim, sempre olhava para os homens com desconfiança. Como se eles fossem uma cobra prestes a dar o bote, no fundo os homens eram assim e a melhor coisa era não criar muitas expectativas.
Sem expectativas, sem desapontamentos.
Os outros como disse, eu adorava realizar as fantasias, desejos mais profundos dos homens, uma vez passei um mês em Búzios na casa de um cliente, ele tinha a fantasia de ser judiado. Bem coisa BDSM.
— Mexa esse traseiro, gatinha. – Lucio me arrancou dos meus pensamentos.
— Boa noite para você também, querido — Como vai à noite? – Perguntei de modo sarcástico.
Ele sorriu e bateu na aba do seu chapéu bem anos 60, com aba curta, seu colete de couro colado nos músculos, mostrando um pouco do abdômen tanquinho que ele tinha.
A Scandallo estava fervendo hoje, o público feminino sempre aumentava as terças e quintas, onde Marli lançava o famoso: “mulher paga meia” a noite toda e ainda tinha uns garçons desfilando com sorrisos fáceis pelo lugar. Marli estava pensando em abrir o ramo para clientes mulheres, tanto eu como Roger gostamos da ideia, seria algo diferente para a Luxor.
Podia ver do balcão os clientes clichês, aqueles que batiam fielmente seu cartão de presença pelo menos umas três vezes por semana. As novatas dançavam no palco ao som de “Do I Wanna Know?” uma música sensual com muito som de guitarra. Eu sabia todas as coreografias de olhos fechados, sempre gostei de dançar e aprendia rápido.
Notei Kelly encostar-se ao balcão com um figurão velho, sussurrando em seu ouvido, ela gargalhava como se ele fosse o príncipe encantado. Arrastei-me para onde eles estavam.
– Aceitam algo?
— Por favor, lindinha, uma dose de vodca pura para mim e para meu docinho um Martini.
— Claro.
Preparei as bebidas parando para pegar a gorjeta e seguir para o lado, a boate escureceu e quando as luzes rodaram por todo espaço eu dei de cara com ele, o mesmo homem que tinha me encarado ontem pelo mezanino.
Hoje podia observar todos os detalhes que tinham ficado de fora, como seus olhos azuis penetrantes, sua cabeleira preta rebelde, caindo no rosto. Ele encarava o palco, como se tivesse procurando alguém.
— Você vai tomar alguma coisa, ou vai ficar babando pelas garotas e tirar minha oportunidade de uma boa gorjeta? – Falei acima da música alta.
Ele sorriu para mim como se tivesse encontrado o que procurava, coitado, realmente coitado. Ele seria daqueles que ficam babando pelas mulheres que trabalham aqui, acabam convidando para jantares até ver onde estão se metendo. Ou ele sabia muito bem o que realmente fazíamos na boate.
— Eu quero tomar algo sim. – Ele apoiou o corpo nos cotovelos, ficando a centímetros de meu rosto. – Um uísque estaria de bom tamanho.
Ergui apenas uma sobrancelha em completo desafio. Puxei uma garrafa próxima, enchendo um copo e depositando-o na frente dele.
Peguei sua comanda ao lado do copo, preenchi colocando as duas doses cavalar de Bourbon.
Olhei mais adiante, vendo Jaque vindo em nossa direção, se um dia eu visse Jaqueline na rua iria jurar que seria uma modelo, negra, alta, seus cabelos também pretos caindo em cachos perfeitos no delicado penteado e um par de coxas que só Deus mesmo poderia ter criado.
Jaque tinha se mudado para um apartamento chique nos jardins, como não suportava a sua colega de apartamento recusei o convite de morar com ela, e outra, eu amava minha casinha, era meu refúgio. Ela se sentou dois bancos depois do moreno bonitão. É ele era um moreno bonitão . Fui até lá, peguei pelo caminho uma garrafa de chá gelado com o nome dela, despejei o conteúdo meio verde em um copo. Coloquei na sua frente e dei um sorriso meio careta para o conteúdo que dançava pelo cristal.
— Olá vizinha! – Escutei por cima do ombro.
— Oi. – Jaque cumprimentou, sem jeito.
—Sol, você quer mais alguma coisa? – Perguntei.
— Então seu nome é Sol?
— Jaqueline, mas artístico é Sol. – Acompanhei interessada a conversa, queria saber de onde eles se conheciam. Fingi que limpava o balcão para escutar um pouco mais da conversa.
– Não sabia que você frequentava a Scandallo.
— Primeiras vezes. – Respondeu o moreno bonitão. — Meu nome é Otávio, não nos apresentamos no elevador naquele dia.
Otávio, então esse era o nome dele, bonito, apesar de não combinar em nada, quando eu olhava para ele imaginava um nome mais sexy, ou até mesmo um nome estrangeiro. As mães adoravam fazer isso.
— Você é? – Otávio se virou para mim.
— Você quer saber por quê? – Perguntei arisca.
Um risinho brincou em seus lábios finos, cafajeste. – Talvez passaremos algum tempo juntos. – disse completando com um dar de ombros.
Pelo canto do olho notei Gaspar junto com as duas dançarinas do bar se preparando para subir, toda noite tinha as famosas Coiotes, garotas que subiam no bar, dançavam e distribuíam bebidas para os homens mais próximos, eu faria questão de pisar nos dedos de Otávio se ainda estivesse ali. Sentei no balcão, levando todo meu corpo para perto do dele, como ele mesmo havia feito mais cedo. Minhas pernas abertas em volta de seu corpo, inclinei minha cabeça vendo-o babar por minhas coxas. Podia sentir o seu perfume invadindo minhas narinas. – Só nos seus sonhos baby .
Fico de pé, não espero por qualquer resposta dele, ando pelo balcão, a música e os holofotes se lançaram sobre mim, puxo as duas meninas pela mão içando-as para o balcão do bar.
Rebolei de verdade, quase enfiando minha bunda na cara de um homem gordo sentado na ponta, seus olhos arregalaram com malícia. Afasto-me antes que ele tocasse em meu corpo, andando a passos firmes pelo espaço, rebolando, agachando e me insinuando.
Pelo ombro vejo que o moreno petulante ainda está sentado com Jaque, parto rumo a eles e quando ia descer o salto de meu sapato bem nos dedos dele, ele é mais rápido retirando a mão com susto, olhando para mim medindo cada centímetro de meu corpo.
Capítulo 9
Olhei para o visor do celular, três e quarenta, logo poderia cair sobre minha cama, a semana mal começando e eu já estava esgotada. Diversas vezes pensei em largar tudo, voltar para minha faculdade, mas ainda não tinha todo o dinheiro que precisava para estudar e me dedicar apenas a isso, os livros eram caros, a mensalidade também. Pelos meus planos mais um ano e eu conseguiria sair dessa vida e recomeçar com meus sonhos.
— Garota! – Julia, uma ruiva em miniatura me chama acenando com a mão, ela chega ao mesmo tempo em que Marli surgiu no corredor. – Tenho um cliente para você, você não fez nenhum programa hoje.
Respiro fundo. A novata achava que eu era uma puta como ela. Eu nunca parei realmente para analisar a vida de uma prostituta, haviam as que foram obrigadas a estarem naquela vida, as que entravam em uma furada acreditando num mundo que não existia e as que entravam porque queriam. Este era o meu caso. Quem achava que mesmo trabalhando com nossos corpos tínhamos algum tipo de moleza estavam enganados, eu agradecia por não ser uma puta de esquina, nem de um bordel qualquer. Por mais que Marli fosse interesseira, ela tinha uma firma que qualquer puta mataria para ter uma vaga, e mesmo assim, para ser uma Luxor, você tinha que responder a um questionário enorme, e ainda fazer vários exames médicos.
E em troca, dependendo do cliente você ganhava viagens, joias, roupas. Teve menina que já ganhou casa, carro, outras conseguiram um homem que se apaixonou, largou a família e foi viver com sua acompanhante de luxo.
— Julia, você está cansada de saber que a Maya faz parte da Luxor, ela não precisa de clientes da boate.
Julia revirou os olhos. – Não custa fazer uma grana extra.
Ela continuou mascando seu chiclete como uma cabra, o que era não só feio, mas tornava ela ainda mais vulgar. Marli a dispensou com a mão, passou um braço por minha cintura, acompanhei seu caminhar até o escritório.
— Poderia encerrar mais cedo? Estou tão cansada. – Confesso.
— Preciso apenas trocar umas palavrinhas com você. – Disse ignorando meu pedido de ir embora.
Joguei-me sobre o pequeno sofá de canto, sentindo meu corpo pedindo descanso. Meus pés reclamavam dos saltos, o ferro do corpete começava a furar e incomodar meu corpo.
— Amanhã quero ver você cedo em meu escritório na Royalt, tenho que mostrar os detalhes de seu próximo cliente, também precisamos agendar o salão de cabeleireiro e os serviços de pele.
— Quanto tempo será desse cliente?
— Tempo indeterminado, — ela viu que arregalei os olhos, todos os meus contratos tinham data para começar e terminar. – Fique calma, ele precisa de você pelo tempo que conseguir resolver seus problemas.
— Para que mesmo eu estou sendo contratada? É algum gordo tarado de novo?
Marli gargalhou. – Não meu diamante, ele é um homem delicioso, seria uma pena se você não conseguisse o bônus. – Disse piscando. – Ele precisa de uma namorada.
— Sério isso? Se ele é tão bonito como você diz, porque não arruma uma de verdade? Ele tem pinto pequeno? Virgem?
Marli gargalhava tanto de minhas perguntas que suas bochechas ficaram vermelhas.
— Olha, pelo arquivo que levantei dele, é mulherengo, boêmio de tudo, vive a noite, um verdadeiro morcego. A questão do pinto, como você levantou, o pouco que observei quando estive com ele. – Ela fez um gesto de grande, depois se abanou. Rimos da infantilidade de seus gestos. – Ele tem trinta anos, amanhã passarei a ficha para você.
— Tudo bem.
Levantei me espreguiçando. Pronta para perguntar se estava dispensada quando ela me interrompeu.
— Meu diamante.
— Para com essa história de diamante. – Reclamei.
Ela tirou os olhos dos papéis a sua frente. – Querida se você visse a quantidade de clientes querendo você, o quanto você já contribuiu para minha fortuna, mas agora vá. Não se atrase amanhã.
Dei um sorriso de lado para ela. Crente que estava dispensada para ir para casa, estava recolocando minha bolsa no ombro quando ela me pergunta:
— Você fecha a boate com Lucio, hoje?
Amaldiçoei-me por dentro, tudo que eu queria era minha cama quentinha e ainda teria que esperar mais uma hora e fechar toda a boate. Respirei fundo. – Claro Marli, eu finalizo tudo.
A boate já estava completamente vazia. Marli deixou na minha responsabilidade de finalizar tudo com Lucio, que arrumava todas as garrafas e copos enquanto eu ajeitava os camarins e fantasias.
— Morena? Que tal uma música para nos animar? — Lucio perguntava causando eco por estarmos em completo silêncio.
— Pode ser. A Jaque deve ter deixado algum pen-drive no palco, já estou indo. — Gritei para ele.
Peguei minha mochila apagando as luzes dos fundos, Lucio tinha tirado o colete de couro e o chapéu que estava usando mais cedo, deixando o belo abdômen definido amostra, as luzes do palco ainda estavam acessas se lançando pela boate. Como previ Jaqueline tinha deixado seu pen-drive perto da caixa de som, conectei vendo as caixas explodirem com Charlie Daniels cantando sua música country. "The Devil Went Down To Georgia". No primeiro refrão Lucio soltou uma gargalhada pulando para cima do balcão, interpretando a música.
Dançando por todo o bar com o pano de prato apoiado nos ombros, ampliando seus gestos sorrindo e me chamando para acompanhá-lo. Ocupei o palco dançando de forma sensual e atrapalhada copiando seus passos. Lucio ria e interpretava muito bem seu papel de dançarino, ele fez uns passos complicados ficando de joelho e escorregando por todo balcão o que arrancou uma grande gargalhada minha.
Fazendo-me esquecer do cansaço que se apossava de meu corpo.
— Gostou né, morena? — Ele brincava com o pano açoitando o ar como se fosse um chicote. A música trocou na caixa de som, e, nem isso o fez parar.
— Você tem requebrado Lucio, com um corpete ficaria um arraso. — Zombei.
A gargalhada dele preencheu o ar, continuamos dançando pela boate. Ele no balcão e eu no palco, quando uma música latina lançou suas batidas sensuais por todo espaço não me contive. Lucio se sentou no palco com uma lata cerveja batendo palmas acompanhando minhas reboladas e requebradas no ritmo de "Despacito — Daddy Yankee", sempre tive um fraco para músicas latinas, a batida me envolvia de um jeito anormal. Por isso não escutamos quando a porta da boate foi aberta, nem escutamos os passos na escada.
— Qual é a sua babaca?
Virei assustada vendo Lucio gritar para alguém, meu sangue congelou nas veias quando percebi que era Otávio. O que ele queria aqui, ainda mais essa hora?
— Fala babaca? O que você quer aqui? — Gritava Lucio.
Pelo canto do olho vi quando ele buscou um bastão de beisebol que ele guardava debaixo do bar, prestes a estourá-lo na cabeça de Otávio. Que em nenhum momento fraquejou, continuou me encarando nem ligando para Lucio, ou, para o que poderia acontecer com ele. Tirei com força o pen-drive da caixa de som, interrompendo a música.
Pulei do palco, nem ligando para meus saltos que rangeram com o impacto. — O que você quer?
Cheguei perto de Otávio, olhando bem para seu rosto, os olhos sérios e os lábios comprimidos.
— Oh babaca, estou falando com você! — Lucio continua gritando, tentando chamar atenção de Otávio, e esse continuou com os olhos pregados em mim.
— Lucio ele é cliente da Scandallo, — Digo rápido para intervir no que pode ser um banho de agressão e polícia. — Verifique se tranquei as portas dos fundos e eu encaminho o Sr. Intruso até a porta.
— Tem certeza morena? Ainda estou disposto a quebrar a cara dele.
Desvio minimamente meus olhos do rosto de Otávio, para confirmar o que disse para Lucio.
Espero alguns segundos até que ele tenha se afastado para recuar um passo e encarar melhor o rosto petrificado de Otávio. — Agora que te livrei de ter todos os dentes arrancados, o que você está fazendo aqui?
— Eu estava passando. — Ele falava de maneira mansa, baixo fazendo os pelos de minha nuca se arrepiarem com a rouquidão de sua voz.
— Péssima decisão, Lucio não tem muita paciência e espero que você esteja longe quando ele retornar. — Cruzei os braços contra o peito, mostrando minha impaciência.
— Não tenho medo de um brutamonte como ele. — Seus lábios se curvaram em um sorriso ameaçador. E puta que pariu, muito sexy!
— Eu devo mostrar onde fica a saída para você?
— Por que você não me acompanha até ela?
Mordi internamente minha bochecha contendo um suspiro. Olhei em direção ao corredor que Lucio tinha ido.
— Estou indo embora Lucio, até amanhã. — Gritei.
Corri até o banco pegando minha mochila, agarrei a manga da blusa de Otávio arrastando para fora comigo, em direção à rua. Notei um carro importado imponente parado logo atrás do meu e a Harley—Davidson de Lucio parada de forma errada na guia da calçada.
Parei em frente ao meu carro me virando para ele. — Pronto agora que estamos aqui fora pode ir embora.
Acionei o alarme do carro destravando as portas.
— Ele é seu namorado?
Virei-me para encarar seu rosto. — Lucio? —Contive uma risada. — Não, eu não namoro Sr. Espertalhão.
Ele sorriu de forma cafajeste. — Isso é bom saber.
— Olha sinto muito se você acha que eu sou como as mulheres que anda acostumado. — O coitado mal sabe, pensei comigo mesma. — Procure alguém da sua laia.
Contornei o carro abrindo a porta do motorista, antes de entrar me voltei para Otávio que estava encostado sobre o capô de seu carro caro olhando interessado para mim. — Se eu fosse você não estaria aí quando Lucio saísse. — Avisei entrando em meu carro e dando partida.
Enquanto me afastava da Scandallo os olhos penetrantes e atraentes de Otávio ainda me observavam pelo espelho retrovisor.
Capítulo 10
Algo realmente barulhento chamava minha atenção, sentia o sonho se desprendendo de minha mente, sonhos que envolviam olhos azuis, bocas se tocando e muitas mãos, mãos essas que deixavam meu corpo quente.
Abri os olhos, estava com a cara enfiada no travesseiro, um fio de baba escorria pela minha boca. Merda de olhos azuis! Passei o antebraço tirando a baba que restava grudada em meus lábios. Olhei para o relógio digital na cômoda do outro lado do quarto, merda de novo, estava atrasada para ir à reunião com a Marli.
Joguei o edredom para o lado assustando Nica – minha gata —que dormia tranquila esparramada em um dos travesseiros, corri para o closet separando um vestido leve vermelho, mesmo por trás da cortina podia ver o sol, com certeza estaria quente pelo resto do dia. Como não daria mais tempo para tomar um banho, troquei meu pijama, um salto médio nos pés e joguei na cama um casaco caramelo.
Deixei meus cabelos caindo em ondas pelos ombros, passei um batom matte e um lápis de olho preto. Meu telefone tocou pela terceira vez, corri para pegá-lo na cama.
— Eu sei, eu sei, estou atrasada.
— Bom dia para você também Mia. – Jaqueline disse rindo.
— Achei que fosse a Marli, como vai amiga? E quantas vezes vou dizer que sou Maya agora e não Mia?
— Tá, tá, tá e eu estou melhor que você aposto. Pego a Nica hoje?
— Não precisa. Obrigada. – Respondo correndo pelo quarto, recolhendo todas as minhas coisas.
— Você está correndo? Dormiu demais? – Ouvi o barulho de gavetas se fechando, Jaque já devia estar em seu trabalho de contadora.
— Sim, preciso ir. Ligo para você mais tarde Jaque. – Falei com a respiração ofegante de tanto correr de um lado para o outro.
— Ok garota, beijos.
Corri pela escada pegando minha carteira, as chaves do carro indo para a garagem. Liguei o motor do carro e sai acelerando para a avenida, demoraria no mínimo uns quarenta minutos até o escritório da Royalt. Merda de novo, Marli odiava atrasos, eu escutaria sobre isso o resto da semana.
Ela também não poderia me culpar, ontem tinha ficado além do meu limite de cansaço para fechar a boate, ainda por cima evitei um pequeno banho de sangue entre seu cliente da Scandallo e Lucio.
Mal podia esperar pelo final de semana, iniciaria com o tal cliente engomadinho e estaria longe da correria da boate, Marli não tinha me contado se ele era de São Paulo, rezava para que tivesse a sorte de Sula, arrumar um empresário que necessitasse viajar. Seria realmente bom, arrumar as malas e entrar no personagem que ele precisava.
Ouvi meu telefone tocando novamente, olhei para o visor aproveitando que o trânsito havia parado. Marli, fodeu !
— Marli.
— Atrasada. – Sua voz estava calma, se ela nervosa já era de deixar os cabelos do braço arrepiados e não de um jeito positivo, imagina ela com voz calma.
— Desculpe mesmo, estou correndo, já estou chegando.
— Mudei um pouco as coisas, estou com seu cliente chegando aqui. Assim apresento vocês de uma vez.
— Estou chegando.
Dirigi atravessando a cidade até o escritório, passei meu cartão no estacionamento subterrâneo do prédio, estacionando meu Mini Cooper numa vaga perto do elevador.
Eu amava meu carro, lembro que fiquei babando quando olhei para ele pela primeira vez na Augusta, uma rua luxuosa cheia de lojas de carros importados. Naquele dia eu tive a certeza que o carro era como uma sereia, jogando seu canto e alguns meses depois eu estava dirigindo-o com a capota aberta pela cidade. Aventurando-me pelos bairros de São Paulo.
— Bom dia, Srta. Banks. — Natalia me cumprimentou.
— Estou em maus lençóis, né?
Ela soltou um risinho baixo, sabia muito bem do que eu estava falando. Natalia e Claude eram os assistentes de Marli na Luxor, Roger também, mas ele aparecia raramente aqui, preferia ficar mais na boate gerenciando tudo. Coitados aguentavam cada coisa.
— Hoje está tranquila.
Levantei as mãos ao céu agradecendo, ao mesmo tempo em que a porta abria revelando Claude. Ele lançou um olhar meio furioso para mim, depois caiu na gargalhada, escutei quando Marli falou de dentro do escritório mandando que eu entrasse. Nem precisando me anunciar, os seguranças devem ter avisado que estava subindo.
Passei por Claude, mandando um beijo. Deixei minha bolsa no sofá ao lado da porta, um homem de terno estava sentado de costas para mim conversando com a Marli, ela sorria abertamente para ele, se o homem engomado não fosse meu cliente ele seria um cobrador. Isso explicava o controle de fúria que ela estava tendo.
— Até que enfim Maya, nosso cliente já estava impaciente, o Sr. Amell é um homem ocupado. – Marli lançou o primeiro olhar mortal para mim.
— Mil desculpas Marli, perdão Sr. Amell, peguei um trânsito horrível perto do Jabaquara.
Minha boca praticamente caiu enquanto eu caminhava para as poltronas, a fim de olhar o rosto do meu possível cliente.
Ele se virou revelando sua identidade.
— Olá Maya, que prazer em vê-la. – O moreno bonitão se levantou, me olhando de cima a baixo com um sorrisinho cínico no rosto.
Capítulo 11
Tinha saído do escritório dizendo que visitaria um cliente, tirando Hugo que sabia para onde iria realmente. De novo fiquei dando voltas no quarteirão tentando encontrar uma vaga para o carro, acabei deixando na frente de um restaurante prometendo uma boa gorjeta para o cara, que só assim parou de reclamar.
Marli como sempre me recebeu com um sorriso de orelha a orelha, muito satisfeita, pelo simples fato do cheque bem gordo em meu bolso.
— Ela já deve estar chegando, Maya não costuma atrasar. – Marli lançou mais um sorrisinho simpático para mim.
Consultei as horas em meu Rolex. – Tudo bem, se quiser podemos dar adiantamento nas coisas, enquanto ela não chega.
— Claro.
Esperei enquanto ela remexia nas gavetas, puxando uma pasta preta, tirou alguns documentos já assinados por ela. Passou-me por cima da mesa sem falar nada, corri os olhos examinando todas as cláusulas, basicamente eu alugava Maya Banks por um período de tempo, no contrato dizia um mês. – Aqui temos um equívoco, — apontei para o local do período. – Como disse não sei ao certo quanto tempo preciso dos serviços de Maya, pode ser por um período de um mês ou mais. – Entrelacei as mãos sobre minhas pernas. – Tudo depende da forma como minha chefe e os representantes da empresa olharem para ela.
— Sim, porém como não temos tempo certo, prefiro que façamos um contrato mensal, se por acaso você quiser deixar ou renovar o contrato no próximo mês voltamos a conversar. – Ela pegou uma caneta e deixou perto de minhas mãos. – Enquanto isso Maya não estará mais no mercado, lógico que como falei precisará de pelo menos um pequeno agrado, afinal Maya é meu diamante como disse para Hugo.
— Sim, já preparei um cheque para você.
Analisei as regras impostas no contrato, no caso de joias ou roupas elas ficavam ao meu critério e da acompanhante de ficar ou não com as peças, isso parecia justo. Terminei de ler outras partes, peguei o cheque em meu bolso, um cheque gordo e pomposo de quarenta mil reais, tendo o tal bônus de dez mil reais para Marli. Assinei e passei para ela.
Seus olhos ficaram grandes, ambiciosos quando viu o bônus incluído no valor.
Eu não tinha certeza que esse valor iria para as mãos de Maya, mas também nem poderia saber, é minha primeira vez com uma prostituta, pelo menos uma que eu pagasse tão caro para ter. Hugo havia me garantido e mostrado que elas não eram prostitutas, e sim o termo que Marli usava, acompanhantes de Luxo, e que Luxo.
Porque gastar trinta mil com uma mulher não é brincadeira, ainda mais para sustentar uma mentira, esperava realmente que os talentos de Maya passassem de alguns rebolados e olhares sensuais, porra se minha "chefa" fosse pelo menos um homem. Se nada desse certo, com um rebolado eu resolveria meus problemas. Ri para mim mesmo do rumo dos meus pensamentos.
O que tornava tudo ainda mais irônico é que eu poderia telefonar para todas em minha agenda, com certeza uma gostaria de me acompanhar em alguns eventos, mas era como Hugo me disse. Se quisesse continuar sem mulher e cobranças futuras, tinha que agir com uma profissional.
Claude, o secretário de Marli pediu licença deixando a bandeja com café sobre a mesa auxiliar e saiu.
— Até que enfim Maya, nosso cliente já estava impaciente, o Sr. Amell é um homem ocupado.
Mantive meu olhar no rosto de Marli, era hora do show.
— Mil desculpas Marli, perdão Sr. Amell, peguei um trânsito horrível perto do Jabaquara.
Virei-me na cadeira dando meu melhor sorriso, um bem cínico na verdade, olhei seu visual de cima a baixo, seu vestido esvoaçante, as coxas expostas, o cabelo menos rebelde das noites na boate, penteados e controlados caindo pelos ombros, roçando seus seios fartos. Aqueles seios em minha boca seriam uma perdição. Meu pênis se mexeu concordando com meus pensamentos.
— Olá Maya, que prazer em vê-la. – Me levantei, arrumando o blazer.
— O que você está fazendo aqui? – Maya disparou para mim.
— Isso é jeito de falar com seu cliente garota, — Marli fechou a cara. – Peço desculpas Sr. Amell, Maya não deve ter acordado de bom humor.
— Imagino. Todos nós temos dias ruins.
Não comentei do nosso breve encontro na noite passada e pelo visto Maya ainda não havia comentado com sua chefe que entrei na boate sem permissão, muito menos que seu garçom tinha ameaçado estourar um taco de beisebol em minha cabeça.
— Maya esse é Otávio Amell, seu cliente. – Reparei no olhar mordaz que Marli lançou para Maya.
— Você só pode estar brincando? – Maya perguntou enfurecida.
— Maya!
— Eu disse que passaríamos algum tempo juntos Maya. – Respondi ainda mais cínico, e seus olhos verdes estavam mais para duas labaredas, praticamente me queimando vivo.
— Isso é sério Marli?
— Maya porque você não se senta? Vocês já se conheciam?
Marli troca olhares entre mim e Maya.
— Ele frequentou a Scandallo. – Maya veio caminhando em direção a poltrona.
— Ah, claro. Querida como estava conversando com o Sr. Amell, ele precisa de uma acompanhante que se passe por namorada dele. Vocês terão oportunidade para conversar depois, com mais calma.
— Isso. Preciso de alguém que se passe por minha namorada, até que resolva problemas relacionados a trabalho e alguns familiares, isso incluirá jantares de negócios, jantares e eventos em família, possivelmente uma viagem para o Rio de Janeiro onde fica a sede da empresa. Coisas desse tipo.
Maya mantinha seu olhar sério para mim, mesmo que sua aparência tinha entrado em modo profissional, podia ver o fogo ainda ardendo em seus olhos.
— Meu lema já diz, adoro satisfazer as fantasias dos meus clientes.
— Tenho uma dúvida. Você se apresentará como Maya, ou me dará seu nome verdadeiro? – Perguntei.
— Otávio querido, entenda que esse é o pseudônimo dela, se for dá vontade de ambos podem criar um totalmente novo, assim como fica da escolha de Maya dizer ou não seu nome verdadeiro.
— Claro, apenas fico pensando se cruzarei com um de seus clientes, não posso me dar ao luxo de contratar algo desse valor e ainda prejudicar meus negócios.
— Entendo completamente Sr. Amell. – Marli afastou uma mecha que se soltou de seu coque elegante, colocando-a novamente atrás da orelha.
– Fique tranquilo quanto a isso, todos os contratos têm uma cláusula sobre sigilo, assim como o senhor tem seus negócios. Os outros clientes tão pouco querem esse tipo de foco neles.
— Perfeito. – Concordei, no mais belo tom de negociador.
— Meu nome é Maya Banks e será Maya Banks, ou você prefere Laura? – Maya, voltou com o assunto anterior, desafiando-me com seu olhar, eu queria saber seu nome verdadeiro. Seria mesmo Maya Banks ou outro totalmente diferente.
— Esse é seu nome real? Como consta em seus documentos?
— Se você quiser ver minha identidade verá Maya, ou Laura, ou Mia, ou Joana. – Ela mostrou um sorriso calculado.
— Continue com Maya então. – Me levantei, abotoei o blazer, conferi mais uma vez as horas, ela me tirava do sério.
– Marli, foi um prazer fazer negócio com você. Espero que não tenhamos nenhum problema.
— Lógico que não, mesmo Maya sendo um pouco rude hoje, garanto ao senhor que está com a melhor acompanhante que tenho na Luxor. – Apertamos as mãos fixando nosso acordo.
Peguei o contrato de aluguel de Maya, pelo próximo mês ela seria minha. Verifiquei a última folha notando que tinha o número de telefone dela, o que facilitava nosso contato, assim como anotei no contrato que ficou com Marli meus dados pessoais.
— Maya, nós veremos em breve, fique preparada para uma reunião de negócios.
— Claro Sr. Amell, serei toda sua. – Ela chegou bem perto para dizer isso, fazendo todo meu corpo sentir ondas de choque se espalhando em minha pele.
Pigarreei, tentando limpar minha mente do seu perfume doce que invadia meu sistema, inundando meu cérebro de imagens do que poderia ser essa aventura.
Capítulo 12
Retornei à Wiless pela hora do almoço, o andar estava calmo, a maioria dos funcionários estava almoçando. Passei pela sala de Hugo, ele também não estava, segui para minha e me enfiei de cara no trabalho.
Era a melhor coisa para me distrair, tirar aqueles olhos verdes em chamas de meu pensamento. Fiquei em completo silêncio por vários minutos analisando contratos que tinha sobre minha mesa, minutas que precisavam ainda hoje que fossem lidas e assinadas pelo departamento de marketing, coisas que precisavam estar prontas antes de minha viagem para o Rio e o casamento de minha irmã no litoral.
Ainda havia mais essa, Bianca se casaria no próximo final de semana, tanto eu como Hugo conseguimos vender uma semana de nossas férias e ficar de folga para o casamento e preparativos. Karla, minha mãe havia dobrado meu pai para que Bianca e Ruan tivessem uma semana inteira de comemorações. Era o sonho da princesinha caçula da casa.
Estava tão concentrado nos papéis em minha frente, como em meus pensamentos, que não vi Hugo entrando em minha sala, levantei os olhos quando ele assobiou anunciando sua presença. Assinei a última folha dando aval para a publicidade da cerveja Nebraska, fechando e depositando a pasta na pilha de problemas resolvidos.
— Então? Tudo resolvido? – Óbvio que ele estaria interessado.
— Sim, espero realmente não ter entrado em uma furada, pois isso abriu um pequeno furo em minha conta hoje pela manhã.
Hugo segurou a risada. – Calma Tavinho , valerá à pena, conheço o esquema da Marli há muito tempo.
— Ótimo que tenha tocado nesse assunto, — Apoio os cotovelos na mesa de vidro. – como você conhece o tal esquema e eu que moro aqui desde que me lembro não conhecia? – Questiono.
Dessa vez Hugo não segura sua risada, soltando uma gargalhada alta e gutural, respirando fundo para se recompor, Hugo passa a mão pelos cabelos loiros.
– Marli tinha apenas a boate, e por curiosidade um dia decidi entrar, me encantei com as mulheres dançando, como era muito novo e inexperiente Marli pediu para que uma deusa negra fizesse um show de cortesia para mim.
— Então é daí que vem a história da sua melhor transa?
— Sim, depois disso sempre batia cartão na boate, Marli acabou virando uma amiga e eu soube do seu esquema. – Hugo deu de ombros. — No fim essa informação serviu de algo, mas você não vai escapar. Pode me contar quem você contratou?
Passei a mão jogando as mechas de cabelo que teimavam em cair em meu rosto, mesmo sabendo que precisava cortar o cabelo eu gostava dele assim, raspando em meus ombros. Com ar de selvagem
— Maya Banks. – Revelei por fim.
Hugo engasgou tossindo. — A dançarina?
— Sim.
— Meu amigo, realmente você tem bom gosto. Eu já sabia, porém agora foi comprovado.
— Nem vem com esse papo e não vai ficar secando a acompanhante enquanto finge ser algo minha.
Trocamos uma risada amigável, às vezes quando saiamos acontecia isso, de trocarmos os pares. Hugo não se sentia nem um pouco incomodado, como eu também não. Eram anos de amizade leal.
— Agora entendi quando você disse que tinha feito um furo em sua conta, você também tinha que escolher a mais requisitada?
— Apenas o melhor, como sempre. – Disse dando de ombros.
Virei-me para a janela, observando os arranha-céus de São Paulo, várias janelas, onde diversas, senão milhares de pessoas trabalhavam todos os dias.
— Que venha então a reunião no final de semana. – Hugo se levantou pegando seu blazer pronto para sair da sala.
— Vamos ao jogo parceiro. – Falei vendo-o sair rumo ao seu escritório, que ficava quase em frente ao meu.
Pelo resto da semana organizei reuniões com possíveis clientes, assim como ajeitei tudo para minha semana de folga. O escritório estava pegando fogo, todos estavam empolgados para a reunião no final de semana.
Ianelli mandou um memorando para cada setor, comunicando a reuniãozinha informal no salão do Copacabana Palace, uma tarde de descontração entre os funcionários. Como ela mesma chamava, mas claro com todos vestidos à rigor.
Esse seria o primeiro evento ao qual eu levaria Maya, teria sido um almoço com os chefes aqui de São Paulo, porém Jair, presidente dessa filial achou melhor para quando voltarmos de nossa viagem para o Rio. Por isso precisava combinar algumas coisas com ela antes da grande encenação.
Deixei de lado meu café, busquei meu celular no bolso do paletó. Depois que assinei o contrato, não havia aparecido na Scandallo e nem me comunicado com Maya, mas essa hora havia chegado.
Procurei na agenda o número. Fiquei um instante pensando se seria melhor ligar ou mandar uma mensagem, o prazer de ouvir sua voz irritada me contagiou. Decidi ligar.
Estava no terceiro toque quando ela atendeu.
— Oi. – Sua voz estava rouca, olhei para o relógio, devia estar dormindo.
— Bom dia, Senhorita Banks.
Ela demorou alguns instantes para responder, devia estar tentando reconhecer a voz.
— É o Otávio. – disse quebrando o silêncio.
— O que você deseja? – essa sim era a garota petulante que conheci. – E porque diacho está me ligando às nove da manhã?
— Gostaria de comunicar que espero você hoje em um jantar para combinarmos sua primeira encenação.
— Um jantar? Tudo bem, me diz onde você deseja e nos encontramos lá.
— Varanda Grill, sabe como chegar? – Perguntei.
— Sim, qual horário? – Ela soltou um suspiro audível.
— Às vinte horas está perfeito.
— Combinado, nos encontramos lá. Até mais. – E desligou na minha cara.
Se a nota dela dependesse da educação diria que seria zero. Oh mulher difícil! Parecia que lidaria com um cavalo pronto para dar o coice se você não tomasse cuidado.
Levantei o olhar ao ouvir as batidas na minha porta. – Entre.
— Olá querido, como você está? – Daniela estava vestida como sempre, em um dos seus terninhos de alta costura, o sorriso amplo no rosto e o mesmo olhar bondoso de sempre.
— Tudo ótimo Dani, a que devo sua visita? Achei que já estaria no Rio.
Voltei a encostar-me na cadeira, deixando que Daniela se sentasse a minha frente, colocou umas pastas ao lado, relaxando um pouco os ombros.
— Vim apenas conferir se está tudo certo, me informaram que você e Hugo terão folga na próxima semana.
— Sim, minha irmã se casa no final de semana, como é no litoral, eles estenderam a festa. – Comuniquei com um sorriso.
— Você estará presente na reunião de domingo no Rio? – Ela parecia preocupada, olhou para minha mão. Com certeza vendo se tinha alguma aliança em meu dedo.
Soltei uma risada, se ela soubesse.
— Fica tranquila Dani, estarei sim no evento e muito bem acompanhado.
Daniela ergueu as sobrancelhas em sinal de confusão, cruzou os braços sobre o peito. – Acompanhado? Por favor, não me diz que você aparecerá com um casinho de uma noite? – Ela se mexeu incomodada na cadeira. – Não termine de destruir suas chances da diretoria, só Deus sabe o que eu estou movendo no Rio para tirar aquela sonsa da Patrícia.
Coloquei a mão sobre a boca, contendo minha risada. – Não aparecerei com um casinho de uma noite, fique tranquila já disse.
— Ianelli também espera sua presença num almoço para o Conselho.
— Almoço com o Conselho?
— Sim, ela mandou chamar hoje o pessoal, depois da festa, em um restaurante do Rio, o convite está em seu e-mail. Por favor, não faça besteira Otávio.
— Fique tranquila Dani, apenas não abri meu e-mail agora, estava despachando alguns contratos e tenho uma reunião com cliente agora.
Olhei para meu Rolex conferindo a hora, se não quisesse atrasar todos meus compromissos teria que sair agora. Assim conseguiria atender com tranquilidade meu cliente, analisar as propostas e nem atrasar os planos para a noite.
— Sinto muito Dani, mas tenho uma reunião como disse. Não quero deixar o cliente e sua equipe de Marketing esperando.
Ela concordou com a cabeça, pegando suas coisas na poltrona ao lado. Levantamos juntos, seguindo até o elevador, trocando algumas informações sobre uns contratos que havia dispensado para o setor de finanças, enquanto ele ainda não chegava.
Capítulo 13
Após ser acordada por Otávio perdi completamente o sono, até tentei voltar a dormir, mas não conseguia. Lancei as cobertas para o lado e decidi começar meu dia, desde que havia assinado o contrato com ele não tinha mais necessidade de ir à boate, Marli fizera questão que passasse por todos os tratamentos de pele existentes para o futuro encontro com o Sr. Amell, assim como meus cabelos que caiam sedosos pelas minhas costas, com um brilho todo especial.
Abri as cortinas e a porta da varanda permitindo que o sol entrasse no quarto. Assim que as portas se abriram, Nica pulou para o jardim que havia feito, decorando a espaçosa varanda mais como um espaço de relaxamento. Lógico que não era eu que cuidava, não tinha a menor habilidade com plantas, quem cuidava era o Gabriel meu vizinho paisagista.
Como não tinha empregadas e morava sozinha, eu mesma cuidava de minha casa e minhas coisas. Afinal passava mais tempo fora do que aqui, então acabava ficando tudo ajeitado.
Depois de uma boa hora limpando a casa, lavando roupa voltei para o quarto, conferindo a hora, ainda estava cedo, era uma e quarenta. Peguei meu celular, havia uma ligação perdida do escritório da Luxor.
— Royalt Luxor, seu prazer é aqui.
Deitei-me esparramando na cama. – Bom dia, Naty.
— Bom dia Maya, em que posso ajudar?
— Marli me ligou?
— Não sei dizer, entrei agora no escritório. Marli não está . – Ouvi um farfalhar de papéis, alguns objetos caindo. – E ela não deixou nada anotado para mim Maya.
— Sem problemas Naty, diga para Marli que começo hoje os serviços com o Sr. Amell.
— Eu aviso, seria apenas isso?
— Só isso, tchau. – disse desligando, joguei o celular na cama e me lancei para o closet, afinal o restaurante que Otávio havia escolhido era ótimo e muito bem frequentado.
Separei um vestido de cetim na altura do joelho, ele era verde, de um tom verde-mar. Novo, usei apenas uma vez em um evento da Luxor. Colado nas partes certas, solto abaixo da cintura até o joelho, dando um requinte especial.
Separo também um conjunto verde de lingerie, uma cinta liga e meias cor da pele 7/8 e um sapato marfim. Enquanto ando do quarto para o closet. Nica acompanhava meus movimentos, sentada no puff em frente à poltrona.
— Que foi fofinha? – Questiono seu olhar mal-humorado.
Ela continua me olhando, solta alguns miados baixos e sai para o corredor, vejo seu rabo desaparecer pela escada.
Meus olhos percorrem os porta-retratos, com fotos minha mais nova, foto com meu irmão e meus pais. Contive a dor que sempre aparecia em meu peito quando olhava para elas, mas por nenhum motivo tirava-as da cômoda.
Mesmo com meus pais ajudando, não conseguia manter a faculdade de Medicina. Minha mãe como professora e meu pai como segurança noturno. Tirando tudo que eu gastava na faculdade, entre livros e provas, mais os trabalhos. Dificultava as outras contas dentro de casa, o que aos poucos me fez ir largando a profissão dos meus sonhos para contribuir melhor, principalmente para André, meu irmão de dezesseis anos.
Quando entrei pela primeira vez no site da Luxor, via mulheres lindíssimas, possibilidades acima de possibilidades para um futuro melhor.
Onde poderia deixar meus pais tranquilos com o futuro de meu irmão e com a própria velhice. Lembro-me como fosse hoje, quando há cinco anos contei que iria para São Paulo para trabalhar como acompanhante. Minha mãe se sentou na cadeira da cozinha com cara de espanto e meu pai. Bom, fez o que qualquer pai faria, me deu um tapa no rosto e me mandou embora de casa, pensando tudo que não devia sobre mim, incluindo que já estava me prostituindo.
Lembro também que me tranquei no meu antigo quarto e sai pela madrugada, dando um beijo em meu irmão e antes do meu pai retornar do trabalho. E nunca mais voltei, tentei algumas vezes falar com meus pais, porém quando me identificava, meu pai desligava dizendo que não tinha mais filha chamada Mia.
E foi aí que abandonei de vez o nome Mia Azevedo, quando comecei na boate e Marli viu meu potencial através da Jaque, com seus contatos fez documentos, carteira de motorista, tudo que uma pessoa precisa, assumindo a personagem de Maya Banks para minha vida. E logo fui ganhando visibilidade no meio, isso implicava várias coisas, a visibilidade entre os homens que procuravam por esses serviços era ótima, por outro lado tinha todo um preconceito.
Eu não era uma daquelas meninas que saiam exibindo sua profissão, os poucos que me conheciam sabiam apenas que eu trabalhava na Scandallo, e só. Acredito que foi por isso que eu logo peguei antipatia com a colega de apartamento da Jaque, ela fazia questão de deixar claro com o que trabalhava.
E no fundo. Não importa seu nome verdadeiro ou se seu olhar continua o mesmo, você sempre pode ser outra mulher. Uma vez um cliente me disse que uma mulher abrigava mais cinco mulheres diferentes dentro de si e hoje, vendo pela minha vida mesmo, eu acreditava mais que tudo, nisso.
Sequei a lágrima que tinha escorrido por meu rosto, balancei a cabeça recompondo meus pensamentos, não havia mais tempo para lamentações, tinha um encontro e um cliente esperando.
Capítulo 14
Cheguei ao Varanda pelo menos uns trinta minutos adiantado, o gerente que era meu amigo de longa data me indicou a mesa que havia reservado. Estava tão ansioso que fiz tudo para ocorrer perfeitamente.
O restaurante já enchia com casais e grupos de amigos, o cheiro de temperos e carnes passando pelas mesas abriam meu apetite, conferi mais uma vez as horas no visor do celular. A mesa que Lucas havia me indicado tinha visão para o jardim de inverno ao meu lado, como também para a porta, onde uma loira risonha recebia os clientes.
Senti meu celular vibrar na mesa, dei uma olhada rápida, ignorava ou atendia? Estava demorando até que a ruivinha me perturbasse. Seria breve.
— Sim?
— Otávio? Que saudade estou de você, sumido. – Ela deu um risinho do outro lado da linha.
— Baby, infelizmente não poderei escutar sua linda voz, estou com um cliente. – Disse com falso pesar.
Uma musa de vestido verde chamou minha atenção novamente para a porta, um vestido justo, deixando à mostra um corpo espetacular, nada vulgar, mas sexy para caralho. Levei o olhar até o rosto, descobrindo que era ninguém menos que Maya, assim como eu alguns homens olhavam abobalhados enquanto ela andava em minha direção.
A ruiva ainda disparava seu charme pelo telefone, afastei um pouco ele da orelha contemplando o belo corpo de Maya ao caminhar.
— Baby, sinto muito tenho que desligar. – Deixei o telefone de lado.
Levantei esperando que Maya chegasse à mesa, os olhos verdes como o vestido estavam atraentes, brilhantes, seus cabelos negros soltos correndo pelo corpo, roçando de leve os seios marcados no cetim.
— Maya. – Disse me adiantando e cumprimentando-a com um beijo no rosto.
— Otávio.
Indiquei a cadeira, sendo cavaleiro ao puxar e empurrar de volta quando ela já estava acomodada, Maya pegou o guardanapo de pano colocando suavemente em seu colo. Contornei a mesa voltando para meu lugar, realmente não esperava ela tão bela como estava, se com poucas roupas eu achava impossível tirar os olhos de cima dela, completamente vestida, ela era uma espécie de presente embrulhada no dia de Natal, atiçando a mente de cada homem sentado nesse lado do restaurante.
Fiz sinal para que um garçom se aproximasse, — Você deseja algo em especifico para beber ou posso pedir? – Perguntei olhando no fundo daqueles olhos penetrantes.
— Menos refrigerante. – Jogou os cabelos pelo ombro.
O garçom parou ao lado da mesa com um Tablet pronto para anotar os pedidos.
— Por favor, duas taças de água por enquanto e depois eu quero ver a carta de vinhos disponível.
— Sim, Sr. Amell.
Esperei que o garçom se afastasse para continuar com a conversa. Todo o momento Maya me olhava séria compenetrada em pensamentos.
— Está com muita fome?
— Não.
Dei um sorriso de lado. – Você manterá esse nível de aspereza por todo o contrato, ou até você perceber que não sou nenhum babaca?
Foi à vez de ela mostrar um sorriso de desafio para mim, chegou mais perto de mim, o quanto à mesa permitia, abaixou o tom de voz, mas para um sussurro do que para outra coisa. – Se você está esperando alguém que fique lambendo você, acredito que contratou a pessoa errada, levo meu trabalho com seriedade. O que você quiser de mim terá, mas se espera alguém que fique puxando seu saco, sugiro que retorne para a Luxor e aproveite que ainda não descontei seu cheque.
— Gosto do fato de você ser direta. – Chego mais perto da mesa, imitando seus movimentos. – Já que estamos sendo sinceros um com o outro, — Maya ergueu a sobrancelha, porém não se afastou, vejo seu olhar percorrendo meu rosto, minha boca. – Nunca precisei contratar uma... Garota de programa. Nem mesmo para me satisfazer, então espero que não tenhamos problemas.
Vejo que em seu rosto cruza um olhar melancólico, sinto que toquei em um ponto sensível para ela. E imediatamente quero me desculpar, mas logo que abro a boca para fazer, vejo seu olhar tornar a ficar sério e com o fulgor de raiva de sempre.
Deixo de lado. — Continuando, preciso que você finja ser minha namorada, chamei você aqui para combinar nossa viagem para o Rio de Janeiro. Onde tenho dois eventos da empresa, você terá que se fazer de apaixonada com sorrisos felizes, pelo menos enquanto estou com você. Ninguém pode sonhar que você de fato não é minha namorada, minha carreira está em jogo.
— Farei meu trabalho, vou mostrar a todos o quanto eu estou apaixonada por você. Mas saiba que não sou nenhuma idiota e puta. Não me deito com meus clientes por que eles estão me contratando, se for para me deitar com você, será porque eu quero. Caso contrário estaria na boate dando para todos na sala reservada.
— Não quis ofendê-la. Perdão.
O garçom se aproximou da mesa interrompendo nossa conversa e a muralha de gelo entre nós, esperando que façamos nossos pedidos. No fim escolhemos um combinado de carne e batatas sauté e salada com muçarela de búfala.
Maya se manteve calada por todo o jantar, mesmo nossos olhares se cruzando ela não comentou mais nada sobre o assunto. Atravessei a mesa tocando em sua mão, um tremor, uma espécie de choque percorreu meu corpo. Como se uma onda de calor invadisse meu corpo, vi Maya de olhos arregalados tirando a mão debaixo da minha. Tenho certeza que ela também sentiu o tremor, o choque que nossas energias combinadas lançaram para nossos corpos.
Pigarreei antes de retomar o fluxo de pensamentos. – Peço desculpas sobre o que falei, não quero de maneira nenhuma ofender você. Isso é bem novo para mim.
— Tudo bem, não será o primeiro e nem o último que fará tal comparação. – Ela limpou o canto dos lábios com o guardanapo.
— Não Maya, realmente me desculpe. – Insisti. – Não tinha motivo nenhum para dizer tal grosseria.
Seus olhos me penetravam de tal forma, me deixando até um pouco desconcertado.
— Fique tranquilo, me passe todas as informações por mensagem como, em que horário nós encontrarmos e alguns detalhes sobre você. Por exemplo, temos que combinar como nós conhecemos quais questões não pode passar em branco, nome de seus familiares. – Ela deu de ombros. – Se tenho que representar sua namorada, não basta sorrisos e beijinhos no cangote, tenho que saber sobre sua vida.
Sorri mais tranquilo com o nosso mal-entendido ficando para trás, olhei novamente no relógio, logo o restaurante fecharia.
— Maya, que tal irmos para minha casa, assim conversamos com mais privacidade todos esses tópicos, posso mostrar algumas fotos para você, além de você conhecer a pessoa mais próxima de mim.
— Ah... Otávio, não sei se é boa ideia, já está tarde. – Ela própria abriu a bolsa olhando a tela do celular.
— Tenho um quarto de hóspedes em meu apartamento, qualquer coisa você pode dormir por lá. – Insisti mais um pouco.
Maya se mostrou um pouco relutante, mas concordou. – Ok.
— Ótimo!
Fiz sinal para o gerente para que deixasse a conta para depois, poderia passar amanhã e acertar com ele, ou ele mesmo poderia me mandar a fatura para o escritório.
— Quanto ficou a conta? – Maya remexia na bolsa buscando a carteira.
Levantei-me, ficando de frente para sua cadeira, estendi a mão.
– Maya, isso não é necessário. Você está sob meus cuidados agora.
Ela levantou ainda me encarando. Caminhei ao seu lado, tive a intenção de tocá-la nas costas, mas por curiosidade se aconteceria de novo à sensação que comprimia o espaço entre nós, mas detive meu movimento. Apenas seguindo do seu lado, atraindo os olhares de homens e mulheres presentes ainda no local.
Capítulo 15
E mesmo tendo achado uma péssima ideia concordar em ir para casa dele, eu seguia o carro de Otávio atravessando a cidade, minha respiração estava pesada, meu estômago revirado. Ainda sentia o calor de sua mão na minha, o choque elétrico que tomei quando ele me tocou. Um toque tão simples que quase me desmoronou, não esperava algo assim, apertei mais forte o volante.
E agora estava indo para sua casa. Meu Deus ! Precisava manter a calma e a cabeça no lugar. Devia estar apenas mexida por ter sentido saudade de minha família, devia ser isso, sensibilidade. Algo que passaria.
Parei atrás do carro de Otávio no farol, por todo caminho mantive meu mantra de concentração. Isso era um trabalho, devia estar mexida por ele ser tão arrogante na boate e me contratando, isso mesmo. Isso que estava provocando essa sensação estranha dentro de mim.
Otávio embicou o carro na garagem de um luxuoso prédio nos Jardins, que por sinal era muito conhecido por mim. Jaqueline morava ali. Ele continuava falando com o porteiro, alguns segundos depois, fez sinal pela janela para que eu o acompanhasse. Estacionei meu carro ao lado do seu na vaga que ele indicou, desliguei respirando fundo pela última vez, peguei minhas coisas e sai.
Andamos lado a lado por todo caminho sem trocar uma palavra, eu olhava para os lados, evitando encarar aqueles olhos azuis que me fizeram ter sonhos quentes.
Passamos por um jardim muito bem cuidado, Otávio apertou o botão do elevador, cumprimentando o porteiro.
— Olá Sr. Amell, Senhorita.
— Boa noite. – Retribui o sorriso que ele me lançou. Pelo que Marli me havia contato, Otávio era um mulherengo carimbado, os porteiros já deviam estar acostumados com o entre e sai de mulheres e Otávio tinha jeito de ser bastante exigente. Imagino as modelos que não saiam ou andavam pela sua casa usando suas camisas.
Dentro do elevador a atmosfera ficou ainda mais carregada, podia sentir os olhares que ele lançava para mim.
— Hum, esqueci de perguntar. – Olhei para ele, vendo que coçava a cabeça, o semblante preocupado. – Você tem medo de cachorro?
Ri de sua preocupação. – Não. Desde que ele não seja um assassino comedor de pernas, tranquilo. – Disse rindo de sua careta estranha.
— Não, Buddy está mais para um velho reclamão . – Disse saindo e mantendo a porta do elevador aberta para mim.
Dei uma rápida olhada para a porta onde minha amiga morava, como o destino gosta de zombar das pessoas. Pelo menos uma ou quem sabe duas vezes tinha subido por esse mesmo elevador, atravessado esse elegante hall e visitado minha amiga.
E nunca tinha cruzado com seu vizinho, e, não poderia dizer que não tinha notado. Otávio não era o tipo de homem que passa do seu lado e você não percebe, muito pelo contrário, você notava sua presença e como notava...
Deixei que passasse em minha frente abrindo a porta e sumindo pelo apartamento escuro, esperei vendo algumas luzes se acenderem e ele retornar até onde estava parada.
– Vai ficar aí fora?
Neguei com a cabeça entrando em um hall muito bem decorado, olhando o apartamento em um panorama, era de completo luxo e masculino. Não dava para negar que nenhuma mulher tinha se metido na decoração. Se olhasse a fundo acredito que ele tinha colocado sua opinião em cada detalhe. Dos móveis escuros até a ampla tela plana no meio da sala.
Otávio desceu o degrau indicando a sala, foi até uma poltrona, ligando a TV e vi quando se abaixou sobre uma montanha de pelo negro no chão. Tomei um susto quando ela se mexeu e entendi que aquilo que parecia um tapete enorme enrolado era o tal cachorro.
— Oi amigão, temos visitas. – Ele acariciou a cabeça do cachorro – Se comporte.
Dei um passo cauteloso para frente olhando melhor o cachorro, não tinha cara de assassino, mas de um cachorro muito preguiçoso.
— Maya esse é o Buddy, Buddy essa é a Maya. – Otávio fez as apresentações como se o cachorro fosse um humano e eu achando que era a única maluca por tratar a Nica como se fosse minha filha.
Coloquei minhas coisas numa mesinha pequena, me virando para o cachorro. – Olá Buddy, desculpe arruinar seu sono, sei como vocês detestam isso.
Buddy, o cavalo em forma de cachorro se levantou, sacudiu todo o pelo espalhando um pouco de baba pelo piso de madeira. Veio devagar, medindo os passos e se jogou aos meus pés, olhando para cima, obviamente pedindo carinho.
Abaixei-me fazendo carinho em seu pelo macio e cheiroso, óbvio que era um cachorro muito bem tratado. Otávio se levantou limpando as mãos na calça.
E juro que pude ouvir seu resmungo baixo.
— Quem diria seu traidor.
Soltei uma risada, Buddy nem ligou para seu dono, continuou batendo em minha mão pedindo carinho toda vez que parava.
Otávio sumiu da minha vista para logo surgir com duas taças de vinho, coloco-as na mesa de centro puxando-a para mais perto, sentou no sofá aguardando que me juntasse a ele.
— Vamos aos negócios. – Disse, ignorei os protestos de Buddy e me juntei a ele mantendo um pouco da distância de toda essa nuvem que pairava sobre nós.
Ele passava a mão pelo pescoço, pelos cabelos. Será que ele também havia notado essa nuvem pairando, fazendo uma esfera de eletricidade entre nós?
— Bom, minha família você não precisa se preocupar, conhecerá todos na semana que vem, passaremos alguns dias com eles.
Acendi, concordando. – Quantos irmãos você tem?
— Três irmãs, sou o único homem na família. – Ele torceu a boca quando falou, mas em nenhum momento mostrou real desagrado disso, ele parecia na verdade um menino criado no conforto, luxo e muito mimo por todos. Podia até imaginar um Otávio pequeno, a cabeleira negra e aqueles olhos azuis.
— Precisamos montar uma história adequada de como nos conhecemos, sem furos de datas. Algo simples, mas que não faça ninguém duvidar. – Peguei a taça de vinho tinto tomando um pequeno gole, o vinho desceu pela minha garganta, fazendo com que eu franzisse o nariz. Não era completamente fã de vinhos, principalmente os secos.
– Principalmente por sua fama de mulherengo assumido. Sem muitos detalhes, quanto mais detalhes ou mais acrescentarmos mais poderemos nos perder em algum momento. – Completei pigarreando um pouco por conta do gosto amargo do vinho que tomou minha língua.
Otávio se largou no sofá, cruzando as pernas, apoiando sua taça de vinho no joelho.
— Não nego minha fama, gosto da liberdade, não encontrei meu momento de sossegar.
— Isso já não é do meu interesse. – Disse com um dar de ombros, mesmo ele se mostrando gentil não conseguia controlar meu gênio impossível, mordi a língua como punição.
Ele ergueu a sobrancelha.
— Desculpe isso foi rude.
Viu senhor bonitão eu sei assumir quando erro!
Desviei o olhar, observando por todo o apartamento. Decidindo manter meus olhos longe dos seus.
— Já percebi que será inevitável com você.
O silêncio tornava as coisas um pouco desconfortável poderia levantar e ir embora, mas algo me segurava sentada.
Com um longo suspiro ele decide quebrar o silêncio:
— Faremos assim, diremos que nos conhecemos na D-Edge, pelo menos um dia no final de semana estou lá, principalmente nos sábados. – Ele suspirou, jogou os cabelos para trás, realmente ele ficava bonito com ele rebelde, meio ondulado no rosto.
– Hugo Torres, meu melhor amigo, além de trabalhar comigo na Wiless. Não precisamos entrar em detalhe sobre a empresa, afinal passaremos como um casal novo, se conhecendo.
Ele respirou fundo, fazendo seu peitoral se anunciar por baixo da camisa social. Passei a língua pelos meus lábios secos.
Tá de brincadeira né, Deus?
— Não possa dizer que estamos muito tempo juntos, pois cairíamos em total desgraça, e, duvido que alguém dedique muitas perguntas para você.
— Por mim tudo certo. – Depositei minha taça vazia na mesinha.
— Também tinha algo sobre roupas e joias no contrato. – Comentou.
— Sim, temos clientes que desejam que utilizemos apenas roupas que eles disponibilizam, mas fique tranquilo. Não passará vergonha com meu guarda-roupa.
— E quanto a você?
Foi minha vez de erguer a sobrancelha. – O que há exatamente comigo?
— Quantos anos você tem Maya? Sua família? Conte mais sobre você? – Ele deve ter reparado a cara de poucos amigos, pois logo acrescentou. – As pessoas vão querer saber, meus pais vão querer uma história.
— Acredito que você já tenha algumas informações minhas através da Marli, tenho vinte e sete anos, moro em São Paulo faz cinco anos. Para informação geral, tenho um irmão mais novo.
Meu corpo se enrijeceu com o fato de chegar tão perto de tocar em assuntos há muito tempo enterrados.
— Tem contato com eles?
— Não.
— O que fez você parar nessa vida? Sei que você cursou medicina, é uma carreira muito gratificante. Minha mãe é ginecologista.
— Isso é um assunto particular e morto para mim.
— Tudo bem. – Otávio olhou para o relógio. – Está tarde, como disse mais cedo, tenho um quarto disponível, fica no final do corredor.
— Eu vou para casa. – Me levantei, mas me senti um pouco tonta, como não bebia, quase nunca. Devia ser o excesso de vinho tomamos três taças no restaurante somando com essas, minhas bochechas estavam quentes.
— Você realmente não deveria dirigir. – Otávio cruzou os braços sobre o peito. – Não tocarei em você, a menos que peça Maya.
Endureci o olhar, mostrando uma carranca digna do inferno para ele. – Falou o cara que contratou uma acompanhante para fingir ser sua namorada.
— Sim, contratei seus serviços não para ter questionamentos ou para abusar de você. E sim, porque a urgência da minha carreira profissional exigiu. Como disse, tenho um histórico muito bom de mulheres.
Otávio se virou, pegou as taças e saiu, me virei vendo que ele estava na cozinha.
Buddy se levantou dos meus pés, seguindo Otávio até o começo do corredor, continuei acompanhando seus passos, esse cara me deixava confusa, nem um pouco em meu conforto habitual, mesmo com alguns clientes eu me sentia à vontade, estava tão acostumada que nem me importava, mas ele não. Era confuso.
– Você irá ficar ou não? – Questionou.
Algo realmente me dizia para ir embora, ir para casa, onde Nica provavelmente me esperava deitada como sempre no parapeito da janela de vidro da sala, mas algo no fundo do meu íntimo me impedia de dizer “Vou”, engoli o nó formado em minha garganta.
— Se não for incômodo, poderia passar essa noite aqui? Acredito que tenha bebido demais, eu... Eu não costumo consumir álcool. – Gaguejei e me amaldiçoei por parecer tão babaca. Tudo bem que na parte do álcool eu não era tão fraca assim, mas me sentia compelida a ficar perto dele.
Otávio me lançou um sorriso cínico, indicou pela mão o corredor. Desviei de um conjunto de poltronas de couro quadradas, ele deixou que seguisse na frente. Por todo caminho podia sentir seu corpo perto do meu, ouvia seus passos calmos atrás de mim. Um calor percorreu minha espinha quando ele tocou meu braço indicando que o quarto de hóspedes ficava quase em frente ao dele, separados apenas pela porta do banheiro social.
— Eu fico por aqui, qualquer coisa que precisar pode me chamar.
Virei-me olhando para aquele homem, seu corpo parecia um pecado que muitas matariam para ter sobre seus corpos, podia ver o porquê ele tinha se tornado um solteiro convicto, sua beleza e olhares penetrantes desconcertavam as mulheres, e, eu estaria mentindo se falasse que naquele momento seu olhar meio estreito, medindo cada centímetro entre nós, não estava fazendo isso.
—Obrigada mais uma vez. – Antes que algo a mais acontecesse entrei no quarto indicado, fechando a porta logo atrás de mim. – Puta que pariu , o que você está fazendo Maya?
Capítulo 16
Depois que Maya se trancou correndo no quarto de hóspedes, fui para o meu, deixando a porta encostada. Buddy havia me traído consideravelmente, nunca vi ser tão receptivo com qualquer mulher que trazia aqui, acredito que ele sucumbiu aos encantos de Maya.
Tirei a calça e a blusa social, largando na poltrona, liguei o ar condicionado e me joguei na cama. Que loucura, em menos de um dia entraria de vez nessa de namorada de mentirinha, com uma mulher que eu nunca tinha visto na vida, nem sabia se o que tinha dito sobre sua família era real ou apenas uma ilusão criada para mim. Relembrei como ela ficou incomodada quando toquei no assunto de sua profissão, o que será que havia acontecido para ela se tornar uma garota de programa?
Virei de costas tentando me ajeitar melhor na cama e dormir, fechei os olhos e fui tomado por pensamentos e imagens de um olhar verde penetrante, Maya entrando no restaurante... Maya despindo sua roupa sorrindo como uma gata selvagem, seu cabelo negro espalhado na cama, enquanto eu me deliciava no meio de suas pernas, ou ela chupando...
Sentei-me na cama, não conseguiria dormir. Será que ela havia ficado mexida tanto quanto eu a noite toda pela tensão que nos circulava?
Precisava de um copo de água, é isso me acalmaria.
Sai para o corredor sem acender as luzes, também não queria atrapalhar o sono de ninguém porque eu era um tarado e estava tendo pensamentos sobre Maya nua. Por cima do ombro vi a porta do quarto onde ela estava dormindo entreaberta, e tudo escuro.
Aquela vontade súbita de seguir até sua porta e espiá-la dormindo crescia forte em meu peito, ver como seus cabelos se espalhava pela cama, ver suas coxas modeladas pelo lençol fino.
— Otávio, Otávio... Não siga por esse caminho. – Me repreendi.
Ela já devia estar em sono profundo.
Fiz o mínimo de barulho que consegui na cozinha, tomei um copo completo de água e decidi levar outro para o quarto, assim não ficaria zanzando como um zumbi pela casa. Buddy que havia saído do quarto impaciente com minha agitação tinha passado pela porta da sacada e encontrava-se esparramado por lá.
Voltei a passos quietos para o corredor, não sei o que foi que me fez tropeçar, mas me choquei com um corpo quente. O copo de água esquecido caindo, se espatifando no chão, a cintura quente e nua de Maya tomada por meu braço. Com a outra mão tateava a parede em busca do interruptor de luz.
A claridade fez com que eu piscasse algumas vezes até que meus olhos acostumassem, Maya fez menção de se mexer, mas segurei seu corpo mais firme contra o meu, ignorando o calor, ignorando suas mãos em meu peito e principalmente ignorando meu pau que estava bem desperto. Fazendo um volume considerável na cueca. E acima de tudo ignorando o fato de estarmos com o mínimo de roupa possível, nossos corpos colados...
— Desculpe, não vi você. – Comecei.
— Eu não queria acender a luz, precisava ir ao banheiro.
— Seu quarto tem um banheiro, Maya. – Segurei o sorriso com a desculpa que lançou para mim, ou nem foi uma desculpa mesmo. Mas que outra maneira ela teria para estar no corredor todo escuro.
Ela passou a língua pelos lábios o que atraiu minha atenção para sua boca, seu olhar passou por nos unidos no meio de um tapete embolado, poça de água e cacos de vidro. – Olha a bagunça que eu fiz, me mostre onde tem uma vassoura eu recolho isso.
— Isso não foi nada. – Ainda estávamos agarrados um no outro, olhei dando um sorriso para ela. – Agora que não vamos cair posso te soltar?
— Ah, nossa, pode. – Suas bochechas ficaram vermelhas, trazendo um novo brilho para seu olhar.
Minhas mãos abandonaram seu corpo rápido demais, o que antes estava quente, foi perdendo a temperatura, permiti uma olhada rápida para seu corpo, ela havia retirado o vestido, dormindo apenas com um conjunto de lingerie verde, os cabelos estavam presos em um coque mal feito.
Ela percebeu meu olhar, como eu também percebi que lançou olhares para mim apenas de cueca e pau duro. Acho que as noites na boate andando de um lado para outro apenas com uma lingerie provocante tinha tirado a timidez e censura dela.
— Eu vou recolher isso, pode voltar para o quarto.
— Não quer mesmo ajuda? – Ela tinha um sorriso no rosto, queria tanto saber o que pensava.
— Não, pode ir. Tome só cuidado com os cacos espalhados.
Apontei dois pedaços grandes de vidro um pouco mais à frente no corredor.
— Ok.
Ela seguiu pelo corredor dando uma bela visão de sua bunda na calcinha pequena, respirei bem fundo enquanto assistia ela indo até o quarto em um rebolado e eu hipnotizado pelo movimento que sua bunda fazia. Maya entrou, encostou na porta, me lançando um sorriso de quem sabia exatamente o que estava fazendo. Deu boa noite e fechou-se no quarto.
A própria encarnação feminina do Diabo.
Fui até a área de serviço arrumando toda a bagunça deixada pelo nosso encontro, antes de fazer mais alguma besteira eu mesmo segui meu conselho e fui dormir. Deixando a porta do quarto entreaberta, dando uma visão do corredor e do começo da sala.
O cheiro de pão fresco e café invadiram minhas narinas pela manhã, demorei alguns segundos para realmente acordar, sentindo minha ereção aprisionada entre a cueca e o colchão, passei a mão procurando alívio. O apartamento estava silencioso, Buddy não estava no quarto o que indicava a porta aberta. Fui até o banheiro fazendo meu ritual pela manhã, depois de estar com uma cara mais apresentável e sem o bafo matinal, peguei uma bermuda de sarja preta e uma camiseta velha do Beatles, e sai procurando por Maya.
A porta do outro quarto também estava aberta, segui para a sala, encontrando-a vazia, na mesa de jantar perto da cozinha um verdadeiro banquete, pães doce e francês em uma bandeja, uma xícara bem colocada na mesa, uma jarra de suco e um prato com frios esperavam por mim. Na cozinha o café se mantinha aquecido na cafeteira, não entendi o porquê de toda essa produção.
— Maya. – Chamei por ela umas três vezes sem obter respostas. Olhei para meu celular que começou a tocar na bancada, fui até ele notando um bilhete debaixo. No visor aparecia o número de Hugo, ignorei dando prioridade para o bilhete.
“Primeiramente, queria dizer que o prédio poderia pegar fogo sem que você acordasse.
Segundo, obrigada por me deixar dormir em sua casa, vinho e eu não fazemos uma boa dupla. Em agradecimento, preparei um café da manhã. Não sei como você consegue viver nesse bairro onde tudo é longe. Por fim, aguardo a confirmação sobre nosso showzinho amanhã.
— M. B.”
Capítulo 17
— Ainda não acredito que seu cliente é meu vizinho. – Jaque disse, empoleirada na poltrona do meu quarto. Voltei minha atenção para a mala que estava fazendo.
Depois de ter saído do apartamento de Otávio, deixando uma mesa de café como forma de agradecimento, certo, eu não tinha o porquê agradecer, mas achei quer seria de bom tom ao invés de sair sem avisar como uma verdadeira puta. Tudo bem... isso foi irônico.
— Pois é! Ele é meu novo cliente. – Respondi em meio as mudas de roupas que separava.
Meu sábado tinha sido tranquilo, eu e a Jaque almoçamos em um restaurante japonês perto de casa depois viemos para cá. Otávio já tinha me mandando mensagem passando o número do voo e o horário que partiríamos para o Rio no domingo.
— Pode deixar vou cuidar da Nica até você voltar.
—Obrigada mesmo, ela não suportaria ficar sozinha e não sei quando retorno.
— Ele é bom de cama pelo menos? – Jaqueline analisava as unhas quando perguntou.
Olhei por cima do ombro, fazendo uma careta. – Jaque nós não transamos, ele precisa de uma namorada de mentirinha, algo para o trabalho e familiares.
— Ah garota! Mas você deveria experimentar afinal se rolou toda essa eletricidade entre vocês como me disse, eu já teria pulado na cama dele, nua.
Rimos de seu comentário. – Não pretendo me envolver, quero deixar tudo o mais profissional possível, mas confesso que ele é um tesão e adorei provocá-lo na noite passada.
Ainda guardava o olhar arregalado dele, quando voltei para meu quarto dando uma bela visão de meu corpo apenas de lingerie.
— Não se esqueça de levar lingeries sexy garota.
Mostrei a língua para Jaque jogando algumas peças de roupa sobre ela. Depois de arrumar pelo menos uma mala contendo tudo que precisaria para a tal reunião informal, separei também alguns conjuntos e vestidos para possíveis jantares ou encontros onde Otávio fosse. Afinal, se estaria vestindo o papel de namorada, ele não poderia me deixar trancada dentro do quarto do Hotel. Ou curtindo a praia como no fundo eu queria.
Jaque foi embora por volta das sete da noite. Decidi me deitar cedo para estar bem disposta no dia seguinte, desci minha mala deixando tudo organizado para que não esquecesse ou atrapalhasse o voo. Otávio me enviou uma mensagem às nove horas da noite avisando que viria de táxi me buscar, que estivesse arrumada e pronta antes das nove horas da manhã.
Eu odiava acordar cedo, acho que era por isso que até gostava da correria na boate, não havia necessidade de bater cartão em uma empresa logo pela manhã. Confirmei o horário no despertador, vendo que teria tempo para um banho rápido.
Já maquiada e pronta, me sentei no sofá aguardando o táxi, mesmo estando calor lá fora, escolhi uma calça jeans e uma blusa de manga solta, meu cabelo dessa vez estava preso em um rabo de cavalo, o que dava até certo alívio para o calor que eu sentia por conta da calça, Otávio me mandou uma mensagem avisando que tinha chegado ao mesmo momento que vi pela janela um táxi parar em minha porta.
Tranquei tudo, ele me aguardava com a porta aberta.
— Bom dia. – Cumprimentei me acomodando no banco.
— Aeroporto de Congonhas, por favor. – Disse ao motorista. – Bom dia Maya, como vai?
Seu sorriso cafajeste nos lábios.
— Ótima!
Pelo resto do caminho ficamos em silêncio, ele respondendo algumas mensagens no telefone. Ouvi, mesmo fazendo cara de quem não prestava atenção, quando ele confirmou que iria para casa de seus pais após a reunião da empresa. Eu própria peguei meu telefone tratando de verificar as mensagens, como tinha saído cedo não havia respondido o e-mail de Marli, teria que fazer isso assim que chegasse ao Rio.
Respirei fundo, assim que entrasse no avião, pois, eu seria a perfeita namorada. Começava o grande jogo.
Capítulo 18
Faltava alguns minutos para pousarmos no Rio, em todo o voo Maya manteve uma conversa descontraída comigo, às vezes jogando charme, outras sorrindo mais do que o necessário, eu estava meio receoso com sua mudança brusca de comportamento, só faltava essa mulher ter algum distúrbio de personalidade e acabar me envergonhando na frente dos meus colegas e chefes, juro que eu tacava ela para fora do voo na volta.
— Como é a empresa, onde trabalho, que nos reserva o quarto no hotel, não tive como contestar sobre um quarto para nós dois, porém se você se sentir desconfortável, podemos tentar dar um jeito. – Sussurrei perto de seu ouvido.
Maya se virou olhando para meus olhos, perto demais para sentir seu hálito de menta batendo em meu rosto. – Se você quer que as pessoas acreditem que somos um casal, tem que agir como um cara fisgado, apaixonado, o termo que você queira usar.
Fiquei surpreso por ela falar sobre isso. Ainda mais com seu dedo indicador passando pela minha barba rala até o queixo.
— Coisas do tipo, me elogiar, não ficar encarando as pernas das comissárias de bordo, me tocar frequentemente. – Um sorriso de diversão corria pelo seu rosto. – Eu posso convencer todos que somos o casal mais feliz da Terra, porém você tem que ajudar, ok?
Balancei a cabeça concordando, então era por isso que ela estava cheia de sorrisos comigo, estava representando, não porque estava satisfeita com minha companhia. Imbecil! Lógico que ela estava representando o que eu estava pensando, o idiota era eu querendo me envolver com uma mulher que na sua essência já sabia seduzir um homem com apenas um olhar. Presta atenção Otávio, ela é uma acompanhante, paga para fazer isso . – Repreendi a mim mesmo pela burrice.
Desembarcamos no aeroporto Santos Dumont, como já havia acertado os detalhes com a empresa na sexta-feira eles mandaram um carro para nos buscar, avistei o motorista com uma plaquinha Sr. Amell e Srta. Banks esperando no meio da multidão de passageiros e pessoas que aguardavam entes queridos, ou corriam para realizar seus check-in.
Puxei a mão de Maya para a minha, sentindo o mesmo choque que senti da primeira vez, a eletricidade tomava conta do meu braço inteiro, querendo espalhar um calor gostoso pelo meu corpo. Maya me encarou meio confusa, fiz sinal para o motorista o que bastou para um sorriso deslumbrante pintar em seus lábios.
Refiz a lista mental:
Quesito educação: 5, tinha melhorado bastante desde do primeiro “encontro”
Atuação 10, o que era perfeito. Estaria até o momento valendo os 30 mil reais.
Minha meta para não enlouquecer por conta dela... Talvez uns 4,5
Minha vontade de tê-la... Deus, 10, talvez mil...
— Sr. Amell. – O motorista me cumprimentou, já havia utilizado os serviços dele algumas vezes que estive no Rio a trabalho. – Prazer em revê-lo.
— Tudo certo, Matheus?
— Sim, senhor – Ele trocou um olhar para Maya e para mim.
— Essa é minha namorada Maya Banks, estou trazendo-a pela primeira vez ao Rio. – Acrescentei um sorriso para completar o teatro.
— Muito prazer em conhecê-la senhorita.
— O prazer é todo meu. – Disse se empoleirando em meus ombros, sua mão roçava meus cabelos na nuca, causando um arrepio.
Acalme-se seu otário, isso é apenas uma representação, não meta os pés pelas mãos.
Ajudei Matheus com as malas e seguimos para o fluxo complexo de carros do Rio. O dia estava ensolarado o que fazia o suor escorrer pelo rosto no mínimo tempo que passávamos longe do ar condicionado. Maya sentou ao meu lado no banco de trás, sorrindo, uma das mãos apoiadas em minha coxa. Seu sorriso parecia verdadeiro, ela olhava pela janela com interesse apreciando qualquer paisagem por onde passávamos.
— Você já esteve no Rio, baby ? – Usando o apelido “carinhoso” que usava para as mulheres que passavam as noites comigo.
— Sim, apenas uma vez, fui para Búzios. – Disse voltando seus olhos para a janela.
Matheus trocou um olhar pelo retrovisor, empolgado foi pelo caminho mais longo, mostrando a Lagoa Rodrigo de Freitas, que mesmo nesse sol forte estava apinhada de pessoas andando e correndo nos pedalinhos. Passamos pelo Aterro do Flamengo um dos mais bonitos parques arborizados do Rio de Janeiro, e logo após o túnel, nos deparamos com o lindo mar azul da praia do Leme, na qual se segue a direita pelo calçadão em pedras portuguesas até o imponente Copacabana Palace, um prédio branco à beira-mar, digno de ser o Palácio da princesinha do mar.
— O Sr. gostaria de estender o passeio? – Matheus perguntou olhando-me pelo retrovisor.
— Não Matheus, depois teremos tempo para o passeio. – Digo dando um sorriso. Desço dando uma olhada para a entrada magnífica do hotel, um funcionário se adianta pegando as malas no carro.
Maya se empoleira em meu ombro novamente, nenhum de seus movimentos soa falso, muito pelo contrário soa verdadeiro e apaixonado, bem coisa de casal que está em lua de mel.
A atendente nos recebeu com um enorme sorriso, olhei para a plaquinha dourada fixada em seu vestido preto. – Boa tarde.
— Boa tarde, o senhor tem reserva? – Lucia, como indicava seu nome, pergunta educada.
— Sim, está em nome de Otávio Amell, sob os cuidados da empresa Wiless.
— Claro, para finalizar a entrada dos senhores, poderiam me passar os documentos de identificação, por favor?
— Um instante. – Pego meu RG na carteira e espero Maya retirar o dela da bolsa, antes de entregar dou uma olhada rápida no de Maya, realmente é Maya Banks que consta no documento e na assinatura.
Lucia passa alguns instantes digitando no computador, nos devolve os documentos, vai até o lado oposto do balcão de atendimento, pega o cartão de acesso. – O quarto dos senhores, 606.
—Obrigada, Lucia. – Pego o cartão de acesso e dou uma mão para Maya que entrelaça nossos dedos, a tensão entre nossos corpos está tamanha que me sinto tonto. Preciso de uma bebida forte.
Sinto meu telefone vibrando em meu bolso. Paro fazendo sinal para que ela aguardasse. Olho o visor, me lembrando que não havia mais falado com Hugo.
— Hugo, por onde você anda?
— Por onde eu ando cabrón, eu que devia fazer essa pergunta.
Escuto barulho de água, algumas mulheres falando ao fundo.
— Onde você está?
— Estou no Rio, não me diga que você não vai aparecer na festinha da empresa?
Soltou uma gargalhada, Maya acompanha minha conversa.
– Já estou no Rio, acabei de fazer o check-in no Hotel.
— Venha para a piscina. Estou aqui.
— Cinco minutos, estou aí.
Fiz sinal, tomando a mão de Maya nas minhas novamente, fomos até a área da piscina que estava lotada com os turistas, avistei ao longe Hugo entre duas mulheres loiras, sentado em uma das espreguiçadeiras.
— Vou apresentar você para meu amigo, depois nos livramos dessas roupas quentes.
— Sem problemas. – Maya parou, me fazendo parar junto com ela. – Como preferi que eu te chame? Já vi que escolheu baby para mim. – Ela completou com uma levantada de sobrancelha.
— Você não gosta? – Perguntei me divertindo.
— Você poderia tentar ser mais original, que tal? – Ela questionou cruzando os braços.
Realmente eu estava me divertindo. – Que tal jujuba?
Ela caiu na gargalhada, ria tanto que colocou as mãos sobre a barriga, me fazendo rir junto com ela.
— Jujuba? Sério isso?
— Por que não? Você pediu algo original. – Falei dando de ombros.
— Tudo bem, moreno bonitão.
Segurei-a, trazendo para mim, desviando de um garçom apressado. Maya continuava olhando para mim, seus olhos penetrantes. – Como assim moreno bonitão?
Ela realmente riu da minha cara, — Eu te chamei assim quando vi você na boate.
Abri a boca para provocar, pelo canto do olho vi uma sombra caminhando em minha direção. Soltei Maya me virando para quem estava vindo.
—Huguito. – Gritei seu apelido de infância, entrando na onda de Maya.
— Cabrón !
Algumas pessoas olharam em nossa direção, curiosas. Hugo parou a nossa frente analisando Maya, olhando para mim, como não queria que ele desse nenhum fora, tratei de apresentar logo os dois.
— Hugo essa é a Maya, Maya esse é meu amigo idiota, sabe? Aquele que eu disse para você se manter longe?
Maya e Hugo trocaram um beijo na bochecha se cumprimentando, coloquei uma de minhas mãos em sua cintura, mas por costume, e mesmo não querendo revelar, não queria ninguém também de olho nela.
— Você já cruzou com a puta velha da Ianelli? – Hugo perguntou.
— Não, acabamos de chegar ao hotel.
— Sorte sua, já cruzei com ela cheia de sorrisinhos com a Patrícia.
O sangue subiu em meu corpo rápido demais, dando uma raiva instantânea. – Deixe-a achando que está tomando meu lugar na Diretoria com aquele inútil e gordo de seu marido.
Maya observava a conversa, não falando uma palavra.
— Isso mesmo garoto corra atrás de seu osso.
— Não disse que ele só fala idiotice? – Comentei com Maya, ela lançou um sorriso de lado, nem tão sincero como os outros. – Bom, vamos para o quarto nos ajeitar para o evento, nos vemos depois cara.
Hugo se despediu com um gesto voltando para as mulheres que esperavam por ele na espreguiçadeira.
Caminhamos em silêncio pelo saguão do hotel, no elevador, pelo canto do olho via Maya com o olhar longe, como se tivesse perdida em pensamentos.
Estávamos no corredor do quarto quando parei, puxando sua mão para que parasse ao meu lado, ela se virou para mim.
– Aconteceu algo que não percebi?
— Como assim?
— Você estava cheia de sorrisos e ficou séria. – Expliquei.
— Não aconteceu nada, como já disse estou apenas representando meu papel, Otávio.
Mesmo vendo que ela tinha ficado brava com algo não quis ficar implorando para que falasse, além do mais, realmente ela estava aqui porque estava pagando uma fortuna para uma cafetina resolver meu problema da promoção.
Mesmo com todo o encanto que Maya me envolveu eu tinha que ser sincero e realista, ela mesma disse que tudo não passava de algo profissional.
Capítulo 19
Minha mãe sempre dizia quando eu era mais nova que tinha um instinto em mim. Que eu sabia com que tipo de pessoas eu estava lidando.
Quando vim para São Paulo, eu comprovei ser verdade esse instinto. Sabia o que as pessoas queriam, somente em analisar suas expressões e quando nos encontramos com Hugo, amigo de Otávio na piscina do hotel, seu olhar por cima do ombro enquanto dava um abraço em Otávio me deu o perfil inteiro dele.
O reconheci sendo o homem que acompanhava Otávio na boate, na primeira vez que nos vimos e também por Marli ter apresentado um pequeno perfil dos dois.
Nada disso no fundo era o problema, nem mesmo o fato de que alguém pudesse estragar tudo contando de fato o verdadeiro motivo que eu estava ali. O que me incomodou realmente foi o olhar sujo que ele lançou para mim como se eu fosse um pedaço de carne, que assim que seu amigo me chutasse ele poderia se aproveitar de mim.
Eu poderia estar enganada, mas trabalhando no ramo que trabalho, vivendo perto de homens de todos os tipos e status diferentes. Eu tinha um faro para ver quando uma pessoa não era tão amiga assim, ou leal como Otávio afirmava, mas, quem era eu? Uma mulher contratada por uma cafetina para passar cada mês com um homem diferente, de olho na bolada que eles me pagavam.
O hotel era incrível, Otávio e eu estávamos em uma suíte de luxo, com uma sala espaçosa, com uns frigobares todo equipados. O quarto era o dobro do meu, a cama grande coberta por lençóis com as iniciais do hotel, alguns quadros decoravam a cabeceira da cama. Uma cortina creme tapava a visão da janela que ia do chão ao teto.
— Maya.
Virei procurando por Otávio, segui para uma porta francesa que estava aberta, ele estava parado com os cotovelos sobre a mureta da varanda.
A vista era maravilhosa, tínhamos visão para a área da piscina e uma ampla visão para a praia de Copacabana, o sol começava a se esconder, dando lugar para um entardecer maravilhoso. Otávio se virou ficando de costas para a visão que tínhamos, olhando diretamente para meus olhos. Ter essa vista toda e a beleza dele parado olhando para mim mexia algo dentro de mim, seus olhos astutos de um azul maravilhoso, o cabelo comprido balançando sobre o pouco vento, os lábios finos sempre com um meio sorriso. O corpo apesar de mediano mostrava que mesmo completamente vestido dava altas possibilidades para a imaginação correr solta.
— A vista é linda. – No fundo não sabia se soltei isso me referindo a praia, ao Rio, ou ao fato disso somado com Otávio parado olhando daquele jeito para mim.
— Realmente a vista é espetacular. – Seus olhos percorreram todo meu corpo, de cima a baixo.
Senti minhas bochechas corando, poucas vezes eu corava, estava tão acostumada com assédio de clientes da boate, ou até mesmo dos clientes que tinha na Luxor, mas Otávio era diferente, ele mexia algo, girava o planeta de forma contrária.
— Acredito que tenhamos que nos arrumar. – Disse quebrando o silêncio constrangedor.
— Sim, — Concordou sorrindo. – Temos dois banheiros aqui no quarto, então vamos conseguir nos arrumar sem um atrapalhar o outro. Pode ficar com o quarto eu me troco no outro banheiro. – Completou adentrando no quarto.
Ele pegou sua mala, colocando em cima da cama, retirou um terno de alta costura preto, abriu um compartimento revelando um pequeno mostruário de gravatas. – Você sabe qual vestido irá usar?
Concordei com a cabeça pegando minha própria mala.
— Maya? – ele tinha se virado para mim, — me diga que você não esqueceu um vestido à rigor?
Não me contive soltei uma risada, abrindo minha própria mala, revelando uma pequena pilha de vestidos sociais, eu sempre estava preparada para qualquer eventualidade, a profissão e alguns deslizes com cliente haviam me ensinado isso da pior maneira. – Fique calmo, eu estou preparada.
Curvei-me sobre seu ombro de forma inocente, nossos olhares se encontraram, nos prendendo. Aquela sensação de tensão entre nós. – Hã... Eu acho que você deve escolher essa daqui. – disse puxando uma gravata azul como seus olhos, combinaria perfeitamente com o vestido que eu tinha em mente.
— Ok, usarei essa — ele pegou suas coisas, uma bolsa de mão pequena de couro. – Vou deixar você se arrumar. Até mais.
Ele ia saindo quando parou de repente. – A festa começa às 18horas.
Olhei para o relógio em meu pulso, daria tempo, tinha uma hora e meia para toda a produção. Quando estava finalmente sozinha no quarto coloquei meu vestido azul celeste sobre a cama.
Ele ficava na altura do joelho tirando o busto que era justo ele caia sobre o corpo de forma solta, leve. Todo detalhe ficava no peito, sendo todo com aplicações de brilhos prateados.
Como ele era tomara que caia, dispensei o sutiã e coloquei junto na cama uma calcinha da mesma cor que o vestido, evitando que marcasse ou aparecesse sobre o tom do vestido, peguei uma sandália prateada simples, um par de brincos também prateados. Seguindo o esquema de cores e joias que tinha em mente.
O banheiro era tão impressionante quanto ao quarto, um espelho grande cobria uma parte da parede, pias duplas. Além de um box com uma ducha enorme também tinha uma banheira, com sais, óleos, mas infelizmente teria que ficar para outro momento, prendi o cabelo com cuidado para não marcar demais. Abri a ducha deixando em uma temperatura agradável, depois de tirar todo o suor que grudou na minha pele como uma camada de pó do caminho do aeroporto até o hotel, deixando o cheiro do sabonete de hortelã em seu lugar. Desliguei o chuveiro me enrolando na toalha.
O penteado era um coque bagunçado, mas com um toque de elegância, completei com uma maquiagem suave, um gloss apenas para dar um brilho na boca. Corri para o quarto olhando à hora no celular, teria que me apressar.
Já podia escutar barulhos na sala, Otávio já devia estar pronto. Vesti o vestido, as sandálias, estava colocando meu celular em uma bolsa carteira, quando ele bateu na porta.
— Estou saindo! – Anunciei.
Deu uma última olhada no espelho, sim estava perfeita.
Capítulo 20
Eu estava impaciente, não costumava ter que esperar alguém se arrumar e há muito tempo não esperava uma mulher fazer tal coisa, andando um pouco impaciente pela sala. Decidi saber em que pé Maya estava no quarto, bati duas vezes na porta sendo recebido com um grito.
— Estou saindo.
Ótimo, voltei para minha posição no meio da sala, olhei para o relógio novamente, cinco e quarenta. Suspirei encarando a decoração, o aparador perto da porta contendo alguns copos de cristais, olhei para o espelho vendo meu reflexo e um pouco afastado, vi Maya. Tive que me virar e quando fiz perdi o fôlego.
Maya estava magnífica, o vestido azul combinando não só com a minha gravata, que ela mesma tinha escolhido como também até um pouco com o tom de azul dos meus olhos. Admirei da cabeça aos pés, ela vendo que tinha parado para isso sorriu, deu uma voltinha fazendo seu vestido balançar um pouco em volta de seu quadril.
— Como estou? – Perguntou.
— Linda.
Realmente, não tinha outra palavra para descrever a mulher em minha frente. E do nada uma sensação ruim tomou meu peito, eu não deveria querer essa mulher, de maneira nenhuma, tinha que deixar nosso convívio o mais profissional e amigável possível. Ajeitei o nó da gravata já perfeita, expulsando qualquer pensamento do tipo.
— Podemos ir?
— Podemos. – Ela veio em minha direção, passou por mim, lançando seu perfume doce em meu rosto, como se fosse um soco, contrariando meus pensamentos, realmente eu estava fodido.
Sorri para mim mesmo, peguei o cartão de acesso e segui para o evento.
Entrando no salão reservado para a festa todos os homens que trabalhavam comigo olharam para ela, Maya tinha soltado do braço e descido sua mão por toda a extensão até entrelaçar os dedos nos meus. O que causou uma onda de desejo por todo meu corpo, incluindo meu pau, que estava sofrendo por ter uma mulher desse porte do meu lado e nem poder brincar.
Logo mais à frente avistei minha chefe com Patrícia e o gordo do seu marido, dei um sorriso para Hugo que estava numa mesa próximo da porta francesa do salão junto com Daniela que me olhava interessada. – É hora do show. – Disse me aproximando da orelha de Maya, aproveitando para roçar de leve meus lábios em sua pele.
A única resposta que ela me deu foi um sorriso deslumbrante e um leve aperto em minha mão direita. Segui para onde Ianelli estava com o Sr. Dalton, minha concorrente e o marido dela.
O Sr. Dalton era um homem astuto, trabalhava no ramo de construções no Rio de Janeiro.
— Boa noite, senhoras. – Cumprimentei. – Sr. Dalton, Ricardo.
— Olá Otávio, pensei que não viria. – Ianelli, a puta velha gostava de me irritar, não era possível. Seus olhos foram de mim para Maya e nossas mãos unidas.
— Que indelicadeza a minha, está é Maya, minha namorada. – Disse sorrindo de forma apaixonada para ela.
Maya já preparada sorriu abertamente, não soltando em momento algum minha mão enquanto trocava cumprimentos com as mulheres e trocava banalidades com os cavalheiros.
— Sua acompanhante é linda. – Comentou Dalton.
— Sim, porém sou suspeito né, Jujuba. – Acrescentei o apelido banal e infantil que dei para Maya em nossa brincadeira de hoje mais cedo. Ela riu baixinho, mostrando as covinhas que até então não tinha notado.
— Para com isso, Moreno. – Deu um beijo em minha bochecha ascendendo meu corpo.
Os casais ficaram meio sem jeito com nossa demonstração de afeto o que me fez querer rir, estava dando certo. Nem mesmo a víbora da Patrícia tinha como rebater tal demonstração.
— Você comparecerá ao almoço com o conselho, Otávio? Sabemos que não é ligado a compromissos. – Patrícia deferiu sua primeira alfinetada.
— Acredito que isso tenha ficado no passado querida Patrícia, mas respondendo sua pergunta, comparecerei. Se vocês nos dão licença. – Sorri para Ianelli que se divertia com a competição que soltou em cima de nós.
Puxei Maya pela mão passando por algumas mesas, cumprimentando parceiros, pessoas que conhecia há alguns anos, sempre apresentando Maya como minha namorada, colando seu corpo na lateral do meu. Às vezes minha mão ia para sua cintura, outras para sua nuca, dando um carinho em círculos pelos cabelos que caiam por ali.
Notei alguns olhares dela para mim, assim como por vezes sentia que estava jogando a prudência no lixo, e, fazendo pequenos furos na linha tênue do profissional verso amigável.
— Vamos procurar um lugar para sentar.
Ela concordou, olhei pelo salão vendo que tinha um lugar na mesa de Hugo e Daniela. Antes de seguir para lá, puxei-a um pouco para fora da linha de convidados que passava por nós. – Maya, se alguém perguntar você trabalha como médica.
Ela endureceu o olhar.
— Que foi? – Perguntei confuso, eu tinha lido no relatório dela que havia cursado medicina, seria perfeito, ela falar algo que dominasse.
— Nada. É que eu cursei medicina antes de... Você sabe. – Disse dando de ombros.
E naquele pequeno segundo antes de voltarmos para realidade, percebi a verdadeira Maya, se é que este era seu nome real, uma mulher cujo olhar mostrou que sofreu muito, cujo olhar denunciou isso em segundos antes de voltarem para nossa pequena encenação mostrou que ela tinha sonhos e não era nenhuma mulher oferecida e sim sofrida.
Passei minha mão pelo seu rosto, aproveitando para tirar uma casquinha e tratei de voltar para a realidade.
Capítulo 21
A festa até que transcorria normalmente, alguns amigos de Otávio sentaram perto de nós puxando conversa, Daniela conversava comigo sobre Otávio, a empresa, sobre seu afastamento. Lógico que fui questionada por coisas, pessoas que contei como se fosse verdades absolutas, como com o que trabalhava, como eu e Otávio nos conhecemos. A pessoa mais interessada foi sua chefe, ela me questionava coisas íntimas sobre Otávio e eu.
Ele o tempo todo que estávamos sentados mantinha uma das mãos em minha coxa, no espaço descoberto pelo vestido. Seria loucura minha ou o olhar dele tinha se tornado afetuoso? O tom de azul claro brilhava com algo a mais, mesmo que eu tentava manter as coisas o mais profissional possível, tinha que confessar que o fato dele me tocar com certo carinho no pescoço e na perna me deixava tentando recuperar o ar.
Dei a desculpa de retocar a maquiagem para fugir um pouco de seu toque e das frases decoradas que eu contava para quem se aproximasse de nós querendo ver esse lado “namorado” de Otávio Amell, assim como sorrir para as possíveis amantes decepcionadas que paravam na mesa cumprimentando Otávio.
Estava a caminho do banheiro quando ouvi alguém me chamando, mas tinha um porém, era pelo meu verdadeiro nome.
— Mia, Mia! — Eu paralisei, o sangue corria rápido pelo meu corpo, ao mesmo tempo em que não queria ninguém ouvindo, não queria ser um problema e estragar as coisas com Otávio.
Virei-me olhando quem estava me chamando, um homem gordo acenava com a mão caminhando até mim, perto da pista de dança. Olhei para a mesa onde estávamos sentados, Otávio me olhava, seu rosto fechado, sério.
— Mia, caramba quanto tempo. – O gordinho me tomou nos braços dando um abraço apertado, mesmo eu não retribuindo.
— Desculpe, não estou me lembrando de você, acredito que tenha me confundido com alguém.
Olhei novamente para a mesa, vendo que Otávio tinha sumido.
— Não, não, nunca esqueceria esses olhos verdes. – Disse voltando minha atenção para ele, que sorria debilmente. – Não se lembra do filho do Nelsinho? O carteiro?
Oh inferno! Mesmo fugindo do passado ele dava um jeito de te encontrar.
Sorri. Era melhor amortecer os danos do que continuar fingindo que não conhecia o Artur, filho do carteiro Nelson de minha cidade. – Desculpe não te reconheci.
— Imaginei, eu engordei mesmo. – Dizia ele.
— Atrapalho algo?
Olhei para o rosto sério de Otávio, soltei a respiração que não sabia que prendia.
— Desculpe, Sr. Amell. – Artur logo tratou de falar.
— Você é? – Otávio estava com um tom frio.
— Eu trabalho no setor financeiro aqui do Rio e reconheci Mia. Morávamos na mesma cidade, Blumenau.
Senti meu rosto pegando fogo. Tentei pegar a mão de Otávio, mas ele puxou enfiando dentro do bolso.
— Você não estava indo ao banheiro? – Otávio se dirigiu para mim bravo, seus olhos me queimavam da cabeça aos pés.
Nem concordei ou falei algo, me afastei dos dois depressa até o banheiro entrando como um foguete e me trancando em uma baia. A raiva e o medo me dominavam, fazendo um zumbido soar em meus ouvidos, me sentia tonta. De tantos lugares para alguém me encontrar, tinha que ser justo aqui? Eu não me escondia de ninguém, andava de cabeça erguida na rua, mas justo quando estava trabalhando o filho do Nelsinho tinha que aparecer?
Ouvi o barulho de música invadindo o toalete quando a porta abriu, continuei respirando fundo, tentando expulsar todos os demônios que tinham tomado conta de meu peito.
— Maya saia daí, estou vendo seus pés!
Eu dei um pulo, não esperava Otávio invadir o banheiro feminino. Passei a mão pelo cabelo e pelo vestido ajeitando-o, destravei a porta dando de cara com um olhar colérico, o tom de azul de seus olhos endurecido.
— O que foi aquilo? — Ele praticamente cuspiu as palavras em cima de mim. — Eu disse que não queria furo no evento de hoje. Você tem noção do quanto é importante para mim essa promoção?
Otávio andava de um lado para o outro como um leão enjaulado. – Você não percebe que um erro, um passo em falso pode acabar com tudo?
—Ei! Calminha ai! – Gritei de volta. – Abaixa sua bola e fala direito.
Seus olhos se arregalaram um pouco com minha explosão.
—Desculpa, tá ! Nunca iria imaginar que encontraria alguém aqui.
Otávio bufou recolocando as mãos no bolso da calça social.
— Sei quem são os meus clientes e nenhum se arriscaria a me atrapalhar, não sou uma vigarista que sai na calada da noite, todos os meus clientes tem prazer em me cumprimentar na rua.
Ele soltou uma risada sinistra. – Vamos para o quarto, não posso deixar que ninguém escute isso. – Otávio firmou um aperto em meu braço, juntando meu corpo com o dele, observou bem o salão antes de sair de fininho me carregando. Parou em nossa mesa recolhendo nossos pertences, abaixou falando algo no ouvido de Daniela, que sorriu e concordou se despedindo dele.
— Você quer me soltar? – perguntei olhando fixamente seus olhos.
Ele bufou, revirou os olhos e soltou meu braço quando já estava dentro do elevador, como não estávamos sozinhos não trocou uma palavra comigo, mantinha seu olhar no painel.
— Pronto, agora trate de me explicar a palhaçada que aconteceu na festa. – Otávio explodiu quando fechei a porta da suíte, jogou a gravata e o paletó na poltrona, foi até o frigobar pegou uma cerveja e voltou a me encarar.
— Não tenho o que explicar, estou cumprindo meu papel. Não tenho culpa de ter encontrado alguém de Blumenau aqui.
— Porque ele chamou você de Mia? – Seus olhos eram duros, frios. Nem um pouco carinhosos como estavam na festa.
Enrolei um pouco para responder, soltei meus cabelos que caíram em grandes cachos pelo meu corpo. Enquanto protelava via o olhar de Otávio se misturar de desejo e raiva, eu mesma queria dar na cara dele. – Porque é o meu nome. – Falei revelando meu segredo, não tinha para onde correr, e estava cansada de correr.
— Seu nome é Mia?
— Sim, Mia Azevedo.
Ele tomou um grande gole de sua cerveja, colocou-a no descanso de copos. – Por que você se tornou acompanhante?
— Isso é pessoal.
— Sério? Sinto informar, mas sua vida pessoal veio atrás de você e eu gostaria de não ser surpreendido outra vez.
Busquei o apoio do sofá, — Eu tinha vinte e dois anos quando larguei tudo para vir para São Paulo, morava com meus pais e meu irmão. – Otávio me escutava com atenção. – Cursava medicina, sempre fui estudiosa e mesmo com a ajuda dos meus pais não conseguia me manter. Livros e a mensalidade muito caros, além de quase não dormir para estudar. Eu queria uma vida melhor, principalmente para meu irmão.
Fiz uma pausa, em todo o momento ele não tirou os olhos de mim.
— Um dia buscando algo que me desse mais dinheiro, achei o site da Luxor, seria um mundo de possibilidades. – Respirei fundo. – Foi um erro, quando meu pai descobriu, me deu uma surra. Foi aí que decidi fugir, e trabalhar na Luxor.
Dei de ombros, olhando para as minhas mãos como se fossem realmente interessantes. — Todo dinheiro extra que ganho mando para eles, meus pais acreditam que seja um fundo do governo. Se soubessem que o dinheiro é meu passariam fome, mas não o aceitariam.
— Maya...
— Não precisa dizer nada, estou nessa vida por que escolhi, comecei como dançarina na boate até chegar onde estou. Não quero sua pena e também a de ninguém. – Disse endurecendo o olhar.
— Sou capaz de muitas coisas, — ameacei. – Não será isso que me derrubará, já passei do inferno ao céu, conheci pessoas desprezíveis como pessoas que realmente amei. Já fui traída, já pude aprender muito em pouco tempo como acompanhante.
Otávio levantou o rosto mais suave e o olhar o mesmo brilho que antes. Peguei minhas coisas no sofá e segui para o quarto, não queria falar, na verdade preferia dormir a escutar mais alguma coisa sobre minha vida ou minhas escolhas. Sempre fui sozinha, sem me importar com qualquer opinião. Não seria agora, chegando aonde cheguei que começaria.
Capítulo 22
Permiti que Maya se trancasse no quarto, ainda processava tudo que ela disse. De todas as coisas que pensei sobre ela, nunca imaginaria que tinha entrado nessa vida por vontade própria, ainda mais sem ser exatamente para ela.
Eu precisava procurar mais sobre ela, saber sobre seus pais e sobre o irmão que ela falava com lágrimas nos olhos. Senti meu celular tocar no bolso da calça.
— Oi, maninha.
— Tavinho, não sabia se conseguiria falar com você a esta hora.
— Estava em uma festa da empresa, mas pode falar.
Ouvi minhas outras irmãs gritando ao fundo e portas se fechando.
— Você vai aparecer aqui, né? – Bianca perguntou como a menininha mimada que sempre foi.
— Sim, estarei aí na terça. – Anunciei.
— Terça? Jura? – Perguntou toda empolgada, já podia ver, ela correndo pela grande casa que tínhamos em Maresias, litoral de São Paulo.
— Sim, prepare um quarto para mim e para minha namorada.
— Como assim? Pêra aí, vou ligar a chamada de vídeo.
— Sério, Bianca? – Questionei, tirei o telefone do ouvido vendo o convite para a chamada de vídeo dela.
Aceitei. Bianca corria pela casa, como havia imaginado. Logo depois meus pais, Luce e Gabriela apareceram na tela.
— Olá, gente.
— Filho, como é bom te ver!
— Também estou com saudades mãe.
— Mãe você não vai acreditar, Tavinho está namorando e vai trazer para o casamento! – Bianca gritava no ouvido de meus pais.
Minhas irmãs assim como minha mãe começaram a jorrar perguntas para mim, fazendo um completo caos no telefone. Meu pai ria fazendo seu bigode levantar. – Se acalmem por Deus. – Disse, eu mesmo rindo das idiotices que Luce e Bianca perguntavam.
— Meu filho quando você virá para casa? – Meu pai perguntou sua voz grave calando por fim minhas irmãs.
— Terça, pai. Estou no Rio a trabalho.
— Ota, você vai mesmo trazer a sortuda? – Luce e sua sutileza, desde pequena me chamava de Ota, quando era pequena era bonitinho, hoje já era estranho.
— Sim, vocês irão conhecê-la, agora preciso ir.
Mandei um beijo para todos pela tela e desliguei. Rindo da empolgação das minhas irmãs para a novidade.
Olhei para o quarto vendo que era melhor ir deitar, mas antes um banho. Entrei de fininho no escuro, as portas da sacada estavam abertas deixando a luz da lua e o cheiro de maresia entrar pela cortina que esvoaçava. Peguei um short de pijama e uma cueca, indo para o banheiro.
O vestido e as joias de Maya, ou Mia estavam no canto da pia, assim como seus saltos encostados na parede. Cortei meus pensamentos para o que ela estaria usando, seria demais imaginar seu corpo em uma sensual lingerie e ainda deitar na mesma cama.
Liguei a ducha gelada, deixando que abaixasse meus hormônios, o cheiro de hortelã do sabonete dominou o ar em minha volta, enquanto lavava meu corpo, meu pênis deu o ar da graça, passei o dia todo sendo rodeado pelo cheiro e toque de Maya, deixando meus nervos em estado de alerta. Passei a mão pela extensão de meu pau, sentindo prazer, imaginando Maya no dia que nos conhecemos, ela dançando eroticamente no palco, rebolando. Mas dessa vez em um show particular apenas para mim.
Aumentei os movimentos, às vezes circulando a cabeça outras subindo e descendo, as veias grossas inchavam ainda mais em minha mão. Senti minhas bolas endurecerem, permiti que eu gozasse ainda com a imagem forte da fantasia que criei em minha cabeça, banhando os pelos da minha barriga com meu gozo quente. E nem mesmo assim, depois de gozar no chuveiro não me sentia satisfeito. Deixei que a água caísse por meu rosto, meu cabelo, limpando o que sobrou de minha masturbação.
Sai do banheiro olhando para Maya deitada na cama, seus cabelos negros caiam como cascata sobre o travesseiro, ela dormia tranquila. Estava passando pelo pé da cama quando pensei ter visto ela abrir os olhos, mas quando olhei de novo continuava com os olhos fechados.
Fui até a sala apagando as luzes e trazendo comigo mais uma garrafa de cerveja, cacei também no bolso do paletó meu cigarro. Eu não fumava com frequência, era mais um vício para quando estava estressado. E hoje era uma noite dessas, sentei na cadeira branca da sacada, abrindo a garrafa, tomando um longo gole. Sentindo o líquido gelado descer por minha garganta, entorpecendo meus sentidos. Acendi um cigarro olhando para a praia, algumas pessoas passeavam animadas pelo calçadão, admirando o final da noite.
A cortina balançava com o vento que vinha do mar, dançando pelo quarto como um fantasma, às vezes mostrando Maya dormindo na cama, outras encobrindo minha visão.
Em uma das olhadas para ela, peguei seus olhos abertos. Ela me encarava, seus olhos desejosos tanto quanto os meus. Maya fechou os olhos, continuei olhando para seu rosto, a luz da lua entrava no quarto dando um brilho especial sobre ela e a cama. Deixei de lado meu cigarro e minha garrafa, para ficar somente contemplando Maya, quando ela abriu os olhos de novo e me encarou, não precisei de palavras, seus olhos me convidavam. Aquela pequena mordida no seu lábio inferior denunciava seu desejo, como o meu próprio corpo não conseguia mais esconder. E entre levantar-me da cadeira abandonando minha cerveja e meu cigarro intocado, percebi que Maya era a própria deusa Afrodite encarnada tanto em sua beleza corporal como em sua influência sobre mim.
Passei pela cortina me deitando ao seu lado.
Ficamos nos olhando, sua respiração estava forte, o cheiro de seu perfume me perfurava causando uma onda de excitação pelo meu corpo. – Desculpe por mais cedo. – Sussurrei para ela.
Maya voltou seu corpo, fixando olhar para o teto. – Não tem o porquê se desculpar, você não fez nada. Isso não tem nada a ver com você.
Virei-me ficando de lado, encarando seu rosto. Olhando sua respiração, seu peito subir e descer lentamente sobre o fino lençol que nos dividia.
O silêncio começou a dominar o quarto novamente, o barulho da cortina se mexendo com o vento foi a única coisa que ousava a quebrar o silêncio. Desviei os olhos de Maya, até que ouvi sua voz suave finalmente vir até mim.
— Você não pareceu ser mulherengo e safado como alega ser. — Ela se virou olhando para mim. – Porque deixa que as pessoas o vejam assim? Todos que cruzaram comigo fizeram a mesma pergunta. Como conseguia ficar com você.
— As pessoas veem aquilo que acham certo e somos julgados por isso. O fato de não parar com mulher, não quer dizer que as faço sofrer de amores por mim, sou muito sincero com cada mulher que levo para cama. Ao contrário do que os homens acreditam ser mais fácil a se fazer, iludir uma mulher, eu não faço. Não dou expectativas, porque não quero viver com expectativas de ninguém sobre mim.
Ela absorvia tudo que falava, seus olhos grudados nos meus.
— Eu não passo a fama de mulherengo, ela vem até mim. Como também não saio por aí caçando alguém para me casar. Isso é uma coisa que depende do tempo e da vida. Enquanto isso sou um Bon-vivant – Dei de ombros.
Estávamos a centímetros um do outro, se esticasse um pouco mais meu pescoço poderia roçar meu nariz no dela. Estiquei meu braço sentindo a mão de Maya ao lado da minha, tracei o caminho entrelaçando nossos dedos. A mesma onda de calor percorreu meu corpo e quando ela me olhou com os olhos arregalados eu vi que também sentia isso, quando eu a tocava nossos corpos se acendiam, gravitavam um para o outro.
Maya puxou sua mão da minha, sua respiração ficando audível, ofegante, seus olhos quase negros na escuridão do quarto.
– Não. – Disse se virando de costas para mim.
— Por que, não? — Mia. – Chamei pelo seu verdadeiro nome.
Ela paralisou, ainda encarando a parede oposta. Já havia desistido, respirando profundamente para controlar o fluxo dos meus pensamentos, quando ela se virou com tudo, colando meu corpo com o dela, seus lábios invadindo os meus, sua boca quente, minha língua invadiu a sua, tomando-a para mim. Exigindo que ela fosse minha, sentindo seu gosto, fazendo que meu gosto se misturasse com o dela, me inebriando mais do que qualquer bebida ou gosto tinha feito. Passei a mão pelo seu corpo levantando um pouco sua blusa. Sentindo o calor de sua pele, enquanto ela puxava meu cabelo.
Separamo-nos um pouco recuperando o fôlego. Voltei a devorar sua boca, sentindo um prazer absoluto correr pelas minhas veias, viro pairando em cima dela. Maya prende suas pernas em volta de minha cintura, fazendo com que minha ereção pressionasse o tecido do seu short. Passo a mão pelo seu corpo venerando cada curva, seu rosto, desço a boca para seu pescoço, sugando, lambendo. Nossos corpos exalando pura luxúria se entregando um ao outro.
— Tira a roupa. – Ela manda em um tom autoritário.
Fico de joelhos sobre a cama arrancando meu short e minha cueca de uma vez, enquanto ela própria arranca sua blusa revelando os seios grandes e perfeitos, joga seu short longe, fazendo um amontoado de roupas pelo chão do quarto, voltando a se deitar.
— Quero que você sinta prazer como nunca sentiu na vida. – Digo me posicionando entre suas pernas, beijo o alto da coxa, sua atenção está voltada para mim, sua mão passeia pelo meu braço. Ela traça o caminho de minha tatuagem, do bíceps até o peito.
— Não sabia que você fazia o estilo adepto a tatuagem.
Dou um sorriso percorrendo sua perna com a língua, vendo-a se contorcer quando chego a sua intimidade, uma mão aperta o bico de seu seio, provocando-a tanto em cima como em baixo. Passo toda minha língua por seus lábios vaginais, sentindo o gosto de sua excitação, mordo de leve seu clitóris, Maya reage a isso levantando o quadril, arranhando minhas costas com sua unha.
Enfio um dedo em sua vagina, girando em sua parede, buscando o ponto G, adiciono outro dedo quando encontro o exato ponto de prazer, Maya se contorce em meus braços. Sinto meu pau latejando, chamando minha atenção para ele, retiro meus dedos colocando-o no lugar, entrando de uma vez.
— Otávio – sussurra meu nome em meio um gemido.
Estremeço sentindo seu calor e sua vagina pulsando em torno de mim, pego seus seios nas mãos dando atenção a eles, lambendo, mordendo o bico enquanto Maya se encarrega de rebolar aumentando a fricção entre nossos corpos.
Largo um pouco seus seios que já estão vermelhos e começo a me movimentar lento, fazendo um círculo completo dentro dela antes de dar uma estocada forte, repito uma, duas, três vezes, vendo Maya esticar os braços acima da cabeça, gemer como uma gata manhosa. Meu próprio corpo reclama da tortura, meus músculos do braço tremem segurando o tesão que toma conta do meu corpo. Aumento o ritmo, batendo no fundo dela, passo a mão por todo seu corpo.
Observando-o entregar os primeiros tremores.
Seus olhos verdes pegam fogo, seu rosto assumiu uma fisionomia de safada, algo primitivo desperta dentro dela. Maya se solta dos lençóis agarra meu pescoço. Fechando as coxas grossas entorno de minha cintura, dominando os movimentos, o bico dos seus seios raspando pelo meu peito. Rapidamente ela assume meu lugar, seguro seu cabelo em um rabo de cavalo firme, vendo que ela exibe um sorriso enquanto cavalga forte em cima de mim, por mais que queria não conseguia mais segurar. Preciso gozar.
— Maya se continuar assim não deixarei você gozar.
— Goza comigo. – Ela pediu e é o que basta. Deixo a excitação tomar conta de mim, me lançando para fora do meu corpo enquanto me derramo dentro dela. Mesmo com a visão turva vejo Maya jogar a cabeça para trás e gozar sobre meu pau, quando seus tremores ainda percorrem seu corpo ela rebola sobre mim querendo mais contato.
Nossas respirações vão aos poucos se acalmando, entrando no eixo. Puxo-a para meu peito e as últimas coisas que me lembro é que beijei sua testa, Maya passa um dedo sobre meu peito reescrevendo os tribais de minha tatuagem. E assim eu adormeço.
Capítulo 23
Acordo pela manhã curtindo o sol que entra pela sacada, as cortinas balançam com a brisa suave, me espreguiço vendo que estou sozinha no quarto. Viro de bruços relembrando a noite passada, tinha escutado um barulho no quarto, o que me despertou. Olhar Otávio desfilando apenas com uma bermuda e observar toda sua masculinidade e corpo esguio sentado na varanda, despertou coisas dentro de mim.
Quando nossos olhares se encontraram mostrando o desejo passando por uma conversa silenciosa entre eles, mesmo eu querendo disfarçar ele percebeu, não só notou como veio para cama.
Mesmo com nossa conversa, o clima que tinha ficado sobre nós, nada disso conseguiu esconder que toda vez que estávamos perto demais um do outro, algo consumia nossos corpos. O meu pelo menos foi inteiro consumido por Otávio.
Rolei de novo na cama conferindo as horas. Nove e meia, droga, tenho que levantar.
Sentei no meio da cama, me enrolando um pouco nos lençóis, escondendo minha nudez. Procurei por sinais de Otávio pelo quarto ou banheiro, mas ele não estava. Levantei, recoloquei a calcinha e o shorts que tinham ficado esquecido ontem depois de nossa transa e em vez de pegar minha regata busquei mais ao longe no quarto a blusa social que ele deixou pendurada na cadeira junto com suas outras roupas da festa.
Passei no banheiro apenas para escovar os dentes e tirar aquele bafinho matinal, pois eu queria mesmo um grande copo de café com leite, afinal ainda teríamos um almoço com o pessoal do trabalho de Otávio, antes de voltarmos para São Paulo.
Estava saindo do quarto quando peguei a conversa de Hugo com Otávio.
—... E aí todos ficaram bêbados e foram causar pelo Rio, sentimos sua falta. – Hugo dizia.
— Eu estava cansado, ainda tenho um compromisso antes voltar para São Paulo e arrumar as coisas para o casamento.
— Nem me fale, queria ficar mais uns dias pelo Rio, você me conhece, estou no meio das mulatas. – Hugo explodiu em uma gargalhada.
Fechei mais a porta deixando apenas uma pequena fresta para enxergar o meio corpo de Otávio e Hugo, e, conseguir ouvir a conversa.
— Bianca deve estar surtando todo mundo.
Na hora que ele falou sobre essa possível mulher senti um incomodo no estômago, uma coisa que não poderia sentir.
Onde e em que lugar eu poderia acreditar que por termos tido uma transa sensacional na noite passada ele ficaria com uma acompanhante de luxo. Eu mesma estava me esquecendo de ser séria e o mínimo profissional que a situação pedia.
— E quanto sua garota de programa? – Hugo perguntou entre um gole e outro do líquido que deduzi ser café.
— Hugo. – Otávio repreendeu olhando em direção ao quarto, me esgueirei para atrás da porta torcendo para que Otávio não tivesse notado que estava escutando sua conversa.
— Ah, que foi cara? Você mesmo a chamou assim!
— Sim, isso foi antes. – Otávio dizia, fazendo suas palavras me cortarem como uma faca afiada em meu peito.
— Tá , tá ... Me diga já conseguiu fazer valer apena seus trinta mil? – Hugo dizia tudo com malícia.
— Fique fora disso, idiota.
— Uhul! Alguém andou aproveitando melhor do que eu a noite anterior!
Escutei a risada trocada por eles.
Sua imbecil! Achando que só por que teria um rostinho bonito, ele sendo fofo em certos momentos estaria interessado em você. Eu era muito idiota mesmo. Ainda vinha com aquele papinho que não iludia as mulheres, que não era como os outros, um monte de blábláblá .
Não sei se foi pela raiva que pintou o rumo de minhas ações seguintes ou se eu queria realmente arruinar qualquer lembrança da noite passada. Corri até a cama arrancando meu short ficando apenas de calcinha e a camiseta aberta nos três primeiros botões.
Sai fazendo barulho o que calou os dois homens na sala, passei por eles, ambos me olhando. Permiti uma boa olhada do meu corpo, me curvei sobre a mesa pegando uma xícara de café.
Otávio tinha o semblante fechado, me olhando com as sobrancelhas erguidas, mas sem dizer uma palavra. E não precisava, eu via a explosão que acontecia dentro dele. Como também tinha olhado a cobiça nos olhos do seu amiguinho.
Porém, tratei de não me importar, afinal eu não era nada além de uma acompanhante que ele tinha alugado por um mês, não passava de um aluguel de luxo para ele comentar com seu amigo idiota e representar na frente de seus chefes.
Ouvi meu telefone tocando no quarto, peguei meu café e voltei a me trancar. Uma bola amarga travava minha garganta quando atendia a ligação.
— Oi, Marli.
— Bom dia meu diamante, como andam as coisas com o Sr. Amell?
— Boas, por falar nisso estou no Rio. – Ela adoraria alguns detalhes.
— Rio de Janeiro? Ai que delícia! – Marli exclamou do outro lado da linha.
— Sim, precisamente no Copacabana Palace. – Deixei meu café de lado indo até a sacada, os turistas e hóspedes do hotel já tomavam conta da piscina, se refrescando ou tomando sol. A manhã de segunda estava quente e ensolarada, mesmo com a brisa suave o suor começava a escorrer pelo canto do rosto.
— Invejinha de você . – Marli riu. – Quanto tempo vocês vão ficar por aí?
— Acredito que voltamos hoje mesmo para São Paulo.
Escutei a porta do quarto abrir e passos pesados em minha direção. Ignorei até Otávio estar parado ao meu lado me olhando com uma carranca no lugar do rosto.
— Desligue!
Virei para ele, estreitando o olhar. Marli comentou algo sobre ter um cliente interessado em mim e uma possível viagem para fora do país.
— Pode deixar em minha lista, acredito que o Sr. Amell não precisará tanto assim de mim pelo próximo mês, será um prazer atender esse cliente ainda mais com a possibilidade de sair do país. – Disse mais para provocar Otávio do que para própria Marli.
— Desliga esse telefone. – Otávio rosnou ainda encarando meus olhos. – Ou vou jogá-lo pela janela!
Cortei o que Marli dizia, me despedi e coloquei o telefone na cadeira que ontem tive a visão de Otávio sentando de maneira sexy.
— Que foi? – Perguntei em tom inocente.
— Que merda foi aquela na sala? Você não viu que estava com Hugo? – ele passou a mão pelos cabelos afastando as mechas que iam para seu rosto pelo vento. – Tinha que sair assim? – completou fazendo sinal para minha roupa.
— Desculpe mais não devo satisfações de nada. – Fiz menção de entrar no quarto, mas ele me segurou pelo braço, colando meu corpo no dele.
— Como é que é? O que foi agora? – Ele continuou me encarando. – Você acha que não percebi que estava espiando minha conversa o tempo todo?
— Otávio, ao contrário do que você e seu amiguinho latino pensam não sou uma prostituta, uma puta qualquer. – Explodi. – Não seja tão burro, honre o dinheiro que você me pagou. Uma acompanhante de luxo não tem que ser apenas boa na cama, ela tem que saber ser aquilo que o cliente deseja e realizar os desejos com perfeição.
Ele fez menção de me interromper, mas eu apontei um dedo pedindo com os olhos que se calasse. – é preciso ser educada, ter um papo agradável e, principalmente saber se portar em qualquer lugar seja numa festinha ridícula da empresa ou um boteco da esquina com os amigos.
Fiz uma pausa, respirei fundo. E nem assim ele me interrompeu.
– É preciso que não tenha apenas uma bunda gostosa, mas que saiba usar o cérebro. Tenho curso universitário, sei falar fluentemente inglês e francês. Então não me venha você e seu companheiro de noitadas dizer que sou uma puta qualquer, ou se vangloriar por me levar para cama, querido. Porque posso ter vários nomes, várias camadas, mas vocês não sabem quem eu sou.
Balancei meus cabelos para longe do ombro esbarrando em seu ombro para entrar no quarto. Otávio bufou jogando as mãos para o alto indo atrás de mim.
Ele começou a organizar sua mala, tirando uma peça de roupa para que servisse para o almoço e para a volta, guardando o restante dos seus pertences na mala.
Copiei seus passos, arrumando minhas coisas. Depois disso estaria pelo menos livre dele por alguns dias, mesmo que no fundo uma voz me chamasse de imbecil.
Otávio virou para mim, olhando meus atos, continuei ignorando, peguei meu vestido e joia no banheiro, coloquei tudo em seu devido lugar.
— Você poderia devolver a blusa quando terminasse suas coisas? — Perguntou ríspido.
— Claro. – Arranquei a blusa pela cabeça nem precisando desabotoar os botões e joguei em seu rosto, ficando apenas de calcinha.
Otávio me olhou como se tivesse atirado um bicho nele. Seus olhos corriam pelo meu corpo praticamente nu se não fosse a renda mínima de minha calcinha.
Segurando uma risada peguei minha roupa e nécessaire indo para o banho, onde só depois do chuveiro ligado me rendi à risada que tanto segurava.
— Nossa reserva está nos aguardando. Estou lá embaixo. – Otávio me comunicou batendo a porta.
Depois do nosso desentendimento pouco falamos, eu me trocando de um lado e ele do outro de costas para mim.
Depois de conferir minha aparência no grande espelho do banheiro. Ajeitando meus cabelos soltos, meu vestido tubinho preto justo ao corpo. Puxei minha mala para fora do quarto deixando junto com a dele.
Como falado, Otávio me aguardava com outro homem e sua companheira no saguão do Hotel.
— Desculpe o atraso.
Otávio olhou-me de cima a baixo, sorriu mantendo nossa farsa. – Está linda Maya, deixe-me apresentá-los.
Desviei minha mão quando ele tentou pegá-la.
— Sr. e Sra. Albuquerque, está é Maya Banks, minha namorada.
— Muito prazer Maya, realmente Ianelli não exagerou nos elogios a sua namorada Otávio. – O senhor careca sorria para mim.
— O prazer é todo meu Sr. e Sra. Albuquerque.
— Finalmente se rendeu ao amor meu caro, ou foi totalmente fisgado por Maya? — O senhor Albuquerque brincava conosco.
— Fui domado, mesmo correndo, ela me passou a perna.
Otávio dominava o ambiente, deixando todos confortáveis com seus sorrisos fáceis e superficiais.
— No fundo ele só estava esperando por mim, né querido? – Disse colocando minha mão em seu ombro. Trocando amabilidades com o casal a nossa frente.
Ignorando Otávio pelo resto da conversa, principalmente sua mão em minhas costas enquanto caminhava para fora do hotel, para o carro já esperando por nós.
Matheus que tinha nos trazido para Copacabana no domingo de manhã abriu a porta para nós.
— Matheus, para o restaurante CT Boucherie , depois aeroporto.
— Claro, senhor. – Matheus concordou batendo no quepe. – As malas já estão no carro.
Durante nosso almoço com sócios e a chefe de Otávio choveram mais perguntas sobre nós, dessa vez testaram o próprio Otávio, eu percebi que Ianelli – chefe dele – estava querendo realmente nós pegar em uma mentira. Por isso mesmo brigada com ele, deixei isso de lado para fazer com excelência meu trabalho.
E durante as despedidas na frente do restaurante pude observar que realmente todos acreditavam nos sorrisos e carinhos apaixonados que trocávamos.
À volta para São Paulo foi um completo silêncio, Otávio ficou o tempo todo no telefone, ou nas redes sociais, ou escutando música. E eu sendo orgulhosa como era e ainda magoada, depois da noite gostosa que tivemos, ele me tratasse como apenas uma puta. A acompanhante.
Uma coisa que nunca fui era hipócrita, sabia que era grande patamar de diferença entre nós dois, mas mesmo assim ninguém, ninguém mesmo iria me julgar pelas minhas escolhas. E se nesse instante se ele me tocasse novamente teria que pagar pelo meu trabalho, afinal essa era minha profissão.
Mesmo insistindo que pegaria um táxi, Otávio fez questão de ir comigo e pagar a corrida ao motorista. Retirei as chaves de casa da bolsa, pegando minha mala quando ele me segurou pelo cotovelo.
— Mesmo você sendo louca, ou, no mínimo bipolar como está agora...
Abri minha boca para mandá-lo se ferrar, mas ele me calou colocando a mão sobre meus lábios, dando aquela descarga de energia quente pelo meu corpo.
— Arrume suas coisas, você irá para Maresias comigo, tenho um casamento para ir. Pego você às cinco horas da manhã na terça-feira.
— Como assim? Porque tenho que ir?
— Porque já falei com minha irmã Bianca que levaria “minha namorada”, então preciso de você. Se prepare para conhecer os “Amells” – Ele jogou os cabelos para atrás, ficando ainda mais sexy, eu estava começando a perceber que isso era de propósito.
— Quando voltaremos?
— Depois do casamento.
Concordei com a cabeça, hipnotizada com seus olhos. Otávio me lançou um risinho sarcástico entrou no táxi e foi embora.
Deixando-me ali na calçada me sentindo sobre ruínas prestes a despencarem. Seria mais uma semana com sua presença e a presença constante do desejo que pairava sobre nós. Dando suas cartadas quando achava correto. Que a deusa das acompanhantes me protegesse desse homem provido de tanta beleza.
Capítulo 24
Maresias ficava em São Sebastião, a praia era conhecida principalmente pelos surfistas, lembro quando meu pai tomou a decisão de largar a vida na cidade grande e procurar uma cidade para curtir a folga que tanto merecia. No início a casa no litoral era dedicada a reunião com amigos, familiares nas épocas festivas ou para os feriados, mas meus pais se apaixonaram pela casa no condomínio fechado e se mudaram para lá. Na época eu cursava publicidade e propaganda na Faculdade Radial, Luce também já estava seguindo sua carreira na moda, assim como Gabriela encaminhada no Direito.
Bianca era a pessoa da família que mais aproveitava a casa com passagem particular para praia, por isso quando recebi o convite de seu casamento informando que seria em Maresias de nada me espantou, apesar de minha mãe querer o evento em um dos buffets tradicionais de São Paulo, Bianca e Ruan conseguiram dobrar meus pais.
Olhei mais uma vez para Maya que dormia tranquilamente no banco do passageiro, Buddy que também havia trazido conosco ressonava no banco detrás, depois de duas paradas para ele se aliviar segui viagem contemplando a serra cheia de curvas, subidas e descidas. Viajava ao som de “Come Back When You Can” , deixando sua melodia tomar o carro, tocando baixo para que não acordasse Maya.
Eu sabia que ela tinha ficado brava pela conversa que escutou, mas mesmo eu tentando reverter à história ela vinha com seu gênio nada fácil de lidar. Vi a explosão em seus olhos quando saiu do quarto trajando apenas minha blusa e uma calcinha mínima, ao mesmo tempo em que me deleitei com a visão, o ciúme tingiu de vermelho minha vista. Mesmo sabendo que ao final do mês provavelmente ela não seria mais minha, e, sim de outro homem sortudo.
Vai saber o que eles irão fazer nesse meio tempo.
Bufei com o rumo que meus pensamentos tinham tomado, era melhor não pensar nisso. Maya se mexeu no banco ficando com o rosto voltado para mim, percebi com um sorriso no rosto que ela tinha um pequeno fio de baba na boca, não me contive. Passei meus dedos de leve sobre seus lábios.
Seus olhos tremeram um pouco, se abrindo lentamente, revelando aquela íris verde profunda, se fixando em mim.
— Chegamos? – Ela perguntou se erguendo de um pulo no banco, o que me provocou um riso baixo. Seus cabelos rebeldes caindo dessa vez lisos pelos seus ombros.
— Ainda não.
– Desculpe acordá-la. – Voltei minha atenção para a estrada.
— Tudo bem, eu geralmente assusto quando acordo.
Ficamos alguns segundos em silêncio, pelo canto do olho podia sentir seu olhar sobre mim, precisava me desculpar pelo deslize de Hugo no hotel aquele dia. — Maya...
Ela se virou ficando de lado no banco, olhando para mim.
— Desculpe sobre o que você ouviu no Rio. — Mantive meus olhos nas curvas fechadas da estrada, mas podia sentir ela perto, ela me observando com atenção.
— Sabe, eu já ouvi muito disso durante esses cinco anos, inclusive dos meus pais. Minha vida como acompanhante não envolve sexo com os clientes ou ser fácil, e, sim fazer o meu papel. Já fingi ser amiga, prima, namorada, noiva, irmã. – Ela fez uma pausa se mexendo no banco de couro do carro. Olhei para seu rosto, dividindo minha atenção entre a estrada e ela. —Mas quando você disse aquelas palavras, eu me senti realmente um lixo, uma coisa fácil.
— Eu não deveria ter dito aquilo, isso foi antes mesmo de conhecê-la ou saber do por que você está nessa vida. Espero que não me odeie, não queria te magoar ou te machucar, Hugo é meio sem noção. Nunca teria continuado a conversa, mesmo sabendo que você estava ouvindo se ele tivesse levado adiante aquele assunto.
Suas mãos tocaram meu braço, esquentando-me no mesmo instante. Era impressionante que em um toque todo meu corpo fervesse por ela, por alguém que eu conhecia há poucos dias. Vi em seus olhos aquele traço de tristeza que tinha visto enquanto explicava sobre sua família.
— Você não entendeu ainda, né?
Diminui ainda mais a velocidade olhando para seu rosto, fixando por um instante seus olhos, minha atenção completamente dividida no trecho de pista reta da estrada como em Maya. Ela tomou a iniciativa, seus lábios sugaram os meus com delicadeza, mostrando-me o tamanho do seu desejo, permanecendo assim colados, saboreando o gosto de minha boca na sua. Para logo em seguida se afastar. Mesmo não querendo tive que desviar meus olhos para a estrada, Maya traçou de novo o caminho de minha tatuagem que aparecia pela manga curta da blusa.
— Eu não poderia te odiar Otávio, nem se quisesse. – Disse voltando seu corpo para o banco do passageiro agarrou suas pernas perto do peito e desviou seu olhar do meu, mantendo-o na janela.
O resto do caminho foi assim, às vezes nossos olhares se encontravam desejando algo, mas logo ela desviava sorrindo. Outras ela cantava trechos de músicas que tocava de minha playlist, o que me tirava risos de seu modo desafinado de cantar.
Buddy também resolver acordar quando já entravamos na cidade, colocando seu cabeção no vão dos bancos. Entre cabeçadas que ele me dava no braço e lambidas gigantescas no de Maya, deixando-a completamente babada chegamos ao condomínio de meus pais.
Parei ao lado da cabine do porteiro informando que iria para casa dos Amell, depois de registrar meu RG e os documentos de Maya seguimos pelas ruas já tomada pelo sol e cheiro de mar. Realmente fazia muito tempo que não ia lá, as casas que antes me lembrava sendo grandes e espaçadas uma da outra, dando privacidade para os habitantes estavam povoadas, algumas famílias andavam pela calçada com seus cães, outros se dirigiam para a quadra de esportes que eu sabia que tinha se você caminhasse alguns minutos para o lado leste do condomínio.
— Espero que você não se envergonhe. — comentei.
Maya tirou seus olhos das mansões voltando-os para mim com curiosidade.
— Minhas irmãs são terríveis. — Informei.
Ela soltou um sorriso sincero, tornando a olhar pela janela aberta. —Fique tranquilo, eu convivo com mulheres de diferentes personalidades na boate, sei como elas podem ser astutas e impossíveis.
Virando algumas ruas, subi a rampa da garagem estacionando ao lado dos carros de minha família, olhei procurando pelo de Hugo, e, no fundo dando graças a Deus que ele não estava ali, ajudei Maya a sair do carro, Buddy corria latindo em nossa volta feliz por estar solto.
—Bem-vinda à casa dos Amell. – Disse para ela, coloquei os óculos de sol no rosto, entrelacei meus dedos nos seus e contornei as costas da casa, passando pelo gramado, abri o portãozinho já escutando minhas irmãs rindo e conversando sobre o barulho de água e música.
Sentia a mão de Maya grudada na minha, lancei um sorriso por cima do ombro. Buddy a seguia como um fiel escudeiro.
Traidor!
— Ota é você? – Luce perguntou.
— Sim, chegamos. — Anunciei aparecendo na área da piscina.
Bianca saiu correndo da espreguiçadeira jogando-se sobre mim num abraço molhado, marcando minha camisa branca, depois se lançou sobre Maya dando um beijo em cada bochecha. Ri sacudindo a cabeça, mesmo depois de velha ela continuava com seu jeito moleca.
— Vai com calma Bia, assim vai assustar a moça.
Gabriela que também se levantou aguardando Bianca terminar com sua grande apresentação para nós cumprimentar. Dando-nos um curto abraço, pedindo desculpas pelas peripécias de Bianca.
– Como vai meu irmão?
— Muito bem, Gabi.
Gabriela era a filha mais velha, seguida por mim. Sua beleza era incrível seus cabelos loiros caiam em camadas até os ombros, seu rosto mesmo com algumas marcas de noites viradas sobre os processos de seu escritório, era bonito. Com olhos de um azul escuro.
Puxei Maya pela mão seguindo para o amplo terraço onde meus pais estavam sentados com meu cunhado observando a festa que minhas irmãs faziam.
—Pai.
— Como vai, Otávio? – Meu pai se levantou me dando um abraço de urso como sempre.
— Muito bem, me deixe fazer as apresentações, essa é Maya.
— Muito prazer, senhor Amell.
— Nada de senhor, apenas Barker. – Meu pai abriu um sorriso sincero, levantando seu grosso bigode.
— É tão bom ter vocês dois aqui em casa. — Minha mãe pousou uma mão em meu rosto e segurou a mão de Maya com a outra.
— Você poderia ter falado que tinha realmente desencalhado né, cunhado? — Ruan veio trazendo um copo de caipirinha para Bianca.
— Se eu tivesse contado vocês teriam colocado olho gordo.
Maya o tempo todo era enfiada em conversas com minhas irmãs que queriam saber de tudo, ela ia administrando as explosões de perguntas muito bem, tinha me afastado um pouco para dar água ao Buddy e pegar uma bebida para nós quando ouvi Luce perguntando para Maya como nos conhecemos.
— Foi em uma boate.
— Tinha que ser, agora entende porque todo o dinheiro da família está sumindo papai? — Luce disse me provocando.
— Seria melhor você contar sobre suas aventuras na Europa maninha. E por falar na aventura, cadê aquele bundão do seu namorado? — Perguntei vendo a cara de ódio que ela lançou para mim.
— Nem me lembre desse Je m’enfous !
Todos pararam tentando entender o que minha irmã tinha dito o que na verdade era uma ofensa em francês, quando a risada de Maya soou pelo silêncio momentâneo todos incluindo eu, olhamos para ela.
— Vous comprenez ce que je parle?
— Sim. Eu falo francês fluente, coitado de seu ex se ele ouvisse o que você está dizendo.
— Eu deveria saber que você fala francês. — Disse ainda olhando como um bobo para Maya, fazendo com que suas bochechas ficassem em um tom maravilhoso de rosa.
— Desculpe bonitão! Mas acredito que comentei com você.
— Meu Deus Ota, finalmente você nos apresentou alguém de quem eu realmente posso conversar. Ela tem cérebro! — Luce explodiu em uma gargalhada alta.
Toda minha família acompanhou Luce em sua risada, eu nem me importei ainda olhava Maya com certa malícia no olhar. Essa mulher tirava meu chão.
Capítulo 25
A família do Otávio era muito calorosa, as irmãs cada uma tinha uma personalidade, pelo pouco que pude observar Gabriela sendo a mais velha era a mais séria, Bianca ainda uma menina com seus vinte e três anos e Luce, bem, logo de cara me dei bem com ela, havia gostado das outras irmãs de Otávio. Mas Luce e seu jeito impulsivo de agir me mostrou algumas semelhanças com ela.
Mesmo Otávio pedindo licença para conversar com seus pais, me deixando na companhia de suas irmãs não me senti desconfortável e sim bem recebia, como a muito tempo não me sentia em uma família.
Karla mãe de Otávio chegou com uma bandeja repleta de pães e frutas para nós. Olhei pela propriedade tentando ver Otávio, porém não encontrei ele nem pelo enorme terraço como pela sala que tinha atrás das grandes portas de vidro.
— Querida se você quiser ir até o quarto é só subir a escada, o último quarto a direita.
— Muito obrigada, realmente preciso de um banho.
Segui pelo caminho que ela havia indicado, cruzando com Bianca esparramada no sofá com seu noivo, aos sussurros e beijos. Ao topo da escada fiquei confusa para que lado seguir, Karla havia dito últimaporta a direita, mas, não me informou se seria pelo corredor do meu lado esquerdo virando a direita, ou a direita realmente do outro corredor.
Dei sorte de entrar em um quarto e ver minhas malas apoiadas ao lado da cama, fechei a porta passando a chave. Tirei a camiseta grudada de suor, fazendo a mesma coisa com a bermuda.
Buddy levantou sua cabeça mostrando sua presença, voltando a deitar de barriga para cima aproveitando o ar frio do ar condicionado. Fui para o banheiro entrando com tudo, dando de cara com Otávio dentro do box completamente nu, seu quadril estreito mostrando a bunda rigída, a água fazendo o percurso que eu queria fazer com a língua.
Ele olhou por cima do ombro nem um pouco preocupado, quando me viu apenas de calcinha e sutiã seus olhos se estreitaram e sua boca se abriu um pouco.
— Desculpa, desculpa. Eu não sabia que estava no quarto.
— Não tem o porquê se desculpar. – Otávio não estava nem um pouco preocupado com nossa nudez, estava mais interessado do que qualquer coisa, seus olhos exibiam cobiça.
— Vou deixar você tomar banho. – Disse colocando minha toalha no puxador do lado da porta e sai de volta para o quarto.
Tinha me enrolado no roupão que encontrei no ármario, ouvi o chuveiro sendo desligado e a porta de vidro do box abrindo, em menos de cinco minutos Otávio estava parado a minha frente, seu corpo ainda coberto de água, seus cabelos pingavam no ombro, sua tatuagem que tinha me enfeitiçado no Rio fazia o mesmo nesse instante.
Passei a língua sobre os lábios secos, mordendo o inferior, meu corpo se arrepiava apenas com a visão de um Otávio saido do banho.
— Espero que minhas irmãs não tenham enlouquecido você.
Soltei o lábio que já estava com a marca do meu dente de tanto que eu mordia. – Não, elas são uns amores.
— Vamos ver até o final de nossa estadia por aqui se você continuará pensando assim. – Ele passou a mão nos cabelos jogando água pelo piso branco, o tempo todo meus olhos acompanhavam seus movimentos.
Não me segurei, sai de minha inércia na cama até chegar perto dele, apenas aquela toalha branca tapando seu maravilhoso membro, dando uma bela visão do caminho da felicidade.
Estiquei o braço, agarrando algumas mechas de cabelos entre meus dedos e o puxei para mim. Ele acompanhou o movimento, em nenhum momento questionou minhas ações, apenas sorriu antes de nossas bocas se tocarem, esfomeadas uma pela outra.
O beijo foi a combinação perfeita de suavidade e desejo, além de um toque de firmeza, suguei seus lábios com os meus, meu corpo pegava fogo e eu só queria me afogar ainda mais nesse desejo. Otávio gemeu quando minha língua invadiu a sua boca, sugando, enroscando com sua língua, segurando-a dentro de minha boca.
Suas mãos apalpavam meu corpo, senti uma vibração profunda quando sua toalha foi ao chão, fazendo sua ereção roçar em meu clitóris inchado mesmo por debaixo da calcinha rendada. Seu gemido grave, tornando tudo ainda mais excitante.
Otávio se afastou um pouco recuperando o fôlego, com as sobrancelhas erguidas.
— Como faremos se já é a segunda vez que você me ataca?
— Do mesmo jeito que estamos fazendo até agora.
Passei as mãos pelo seu peito, arranhando-o com as unhas, fazendo Otávio estremecer.
— Você irá surtar de novo?
— Isso importa? — Perguntei tomando sua mão e colocando na minha cintura, perto demais da calcinha.
Em vez de pronunciar em palavras ele levantou os ombros aceitando, seus dedos tocaram a barra de minha calcinha, fazendo todo o caminho de minhas coxas até minha bunda. Enquanto eu me deliciava beijando seu pescoço, seu pomo de Adão, puxando seu cabelo na base da nuca. Otávio foi traçando um caminho por dentro da calcinha, passou por toda a extensão de minha bunda, me fazendo tremer quando seus dedos passaram perto de minha entrada sedenta.
Eu estava perdida, deliciosamente perdida.
— Adoro sentir seu corpo todo se jogar em mim quando passo a mão pelo seu clitóris. – Ele sussurrou em meus ouvido, arrancou minhas mãos de seu cabelo me virando de costas para ele.
Sentir seu membro duro tentando abrir espaço pela minha lingerie já era suficiente para me enlouquecer, misturando isso com seus dedos dentro de mim, sua boca mordendo meu pescoço deixava tudo ainda mais delicioso, mal podia manter meu olhos abertos de tanto prazer que passava pelo meu corpo.
— Espero que você tome remédio pois já é a segunda vez que sou pego sem proteção. —Ele retirou os dedos de mim, puxando a calcinha para o lado.
Concordei com a cabeça impossibilitada de falar qualquer coisa, virei de frente para ele, sugando seus dedos. Sentindo meu gosto misturado com o seu. Otávio me pressionou contra a parede do quarto, beijando meu queixo, mordendo minha orelha.
— Me tome para você. — Disse masturbando seu pau, vendo ele inchar, sua cabeça rosada já coberto do seu líquido perolado. Passei a ponta na minha entrada e tremi por causa do contato, ele era tão quente.
— Droga. Preciso me enfiar em você.
Ele observou cada reação em meu rosto, entrando demoradamente, o fato de seu pênis entrar em mim fazendo a renda da calcinha também se esfregar em nos dois causava ainda mais tremores pelo meu corpo. Seus movimentos viraram estocadas duras, cruéis para meu corpo, suas mãos seguravam minhas coxas ao redor de sua cintura, sustentando meu corpo enquanto ele me penetrava.
Comecei a rebolar com urgência em seu membro, meu corpo pronto para se desfazer em mil pedaços. Otávio gemia no espaço de meu pescoço, arrepiando aquela área a cada gemido. Em todo o ato nada me vinha na cabeça, ignorei o fato de ser uma acompanhante, que estava sendo paga para ficar ali com ele, conhecer aquelas pessoas maravilhosas que eram sua família. Não me culpei por me sentir atraída por ele, ou por querer que ele me apertasse mais firme em seu corpo. Só queria a sensação de suas mãos em mim. Do vai e vem ritmado que mantínhamos, uma luta que travávamos um contra o outro buscando o prazer.
Minha cabeça foi para atrás encostando na parede, e eu podia sentir ele crescendo dentro de mim, pesado, uma sensação angustiante de prazer, senti um espasmo quente descer pela minha coluna paralisando um pouco minhas pernas, enquanto meu sexo explodia numorgasmo daqueles.
Os dedos dele se enterraram em minha carne, o que poderia causar uma marca e eu a queria, queria meu corpo marcado pelo seu cheiro, pelo seus beijos.
Vi seus olhos azuis escurecerem enquanto ele próprio explodia no seu prazer, Otávio encostou sua cabeça em mim ainda me mantendo colada em seu corpo, e seu pênis pulsando dentro de mim.
— Mia você vai acabar comigo.
Ao contrário das outras pessoas que me chamavam pelo meu nome verdadeiro, com Otávio não me sentia incomodada, eu gostava. Sua mão acariciou minha perna, antes dele colocá-las no chão e se afastar.
Ajeitei a calcinha vendo ele buscar a toalha e se limpar.
— Isso foi perfeito.
Concordei, dando um sorriso ainda recuperando minha respiração.
— Preciso descer, antes que alguém decida invadir nosso quarto.
— Claro.
Ele me encarou por um instante. — Posso ficar se quiser.
— Tudo bem, pode ir.
— Você está bem?
— Sim, vou tomar um banho.
Ele assentiu, parecendo meio confuso se realmente me deixava ou se estava fazendo a coisa errada e ficava no quarto. Foi até fofinho ver seus olhos azuis ansiosos e confusos.
— Então... Espero por você lá embaixo.
— Ok. – Disse indo para o banheiro e fechando a porta, olhei para o espelho vendo o sorriso mais bobo estampado em meu rosto.
Capítulo 26
Que mulher era aquela, Maya parecia regida pela lua, vezes fria como um vidro, não refletia nada, apenas ficava lá com sua beleza estonteante e olhar penetrante. Em outras, era uma deusa enlouquecida, queimava com apenas um toque e incendiava tudo que tivesse por seu caminho.
Desci meio desconcertado por toda explosão de antes, minha familia estava jogada pela sala de estar rindo e brincando um com o outro. Os convidados mais íntimos começariam a chegar amanhã a tarde e o restante apenas no dia do casamento. O grande dia de minha irmã aconteceria aqui mesmo, no gramado em frente ao mar.
— Cunhadinho que tal um passeio? – Ruan viu minha aproximação.
— Podiamos pegar um baladinha. – Bianca se empolgou.
Meus pais sorriam de orelha a orelha tendo toda família debaixo de suas asas, até Gabriela que era a mais durona estava sentada sobre os pés do nosso pai.
— Por mim, espere Maya descer e confirmo se ela quer sair ou apenas ficar por aqui.
— Tavinho se amarrou! – Luce gritou do outro lado da sala me provocando.
Lancei um olhar mortal para ela, abri a garrafa de bourbon que meu pai deixava no barzinho para as visitas, coloquei dois dedos da bebida. Tomei um gole saboreando o uísque descer queimando minha garganta.
— Deixem seu irmão em paz meninas.
— Pronto o principezinho da mamãe está sendo protegido. – Gabriela ria fazendo caretas para mim.
— Até você? — Reclamei.
— Oi. – Maya estava parada na ponta da escada, um shorts curto mostrando suas belas coxas, uma blusa estilo social branca com alguns botões abertos dando grande espaço para minha imaginação.
Fui até a ponta da escada, sendo um completo cavalheiro peguei sua mão entrelaçando nossos dedos o que fez minha mãe aumentar ainda mais seu sorriso.
— Eles estão querendo conhecer a noite por Maresias.
— Vocês conhecem a Sirena? — Maya perguntou se virando para minhas irmãs.
— Já ouvi dizer. —Gabriela respondeu largando seu livro.
— Sou amiga do dono, poderia nos colocar para dentro.
Estreitei os olhos para Maya, não queria mais nenhum episódio que tivemos no hotel, muito menos cruzar com algum cliente dela. Como se pudesse ler meus pensamentos ela encostou-se em mim com um sorriso. Desde que chegamos aqui estava difícil dizer se cada toque de Maya era encenação por conta de nosso contrato ou era real, verdadeiro. Sabia que pelo fato de ter três irmãs e minha mãe, não poderíamos fazer uma encenação qualquer, tínhamos que realmente parecer um casal apaixonado.
E isso que me deixava confuso, e, ao mesmo tempo me sentia apegado em seus constantes toques, sua mão sempre presente em meu braço ou em minha própria mão.
— Eu topo, vamos? —Luce se colocou de pé olhando para nossas irmãs.
— Eu preciso me arrumar. — Gabriela concordou ficando de pé.
— Noivinha? — Luce zombou.
Bianca trocou um olhar com Ruan que estava sorrindo, um aceno dele e as três correram para cima arrastando Maya junto delas.
— Mulheres. — Meu pai comentou acariciando os cabelos de minha mãe.
— Sogro você mal sabe o que passo com sua filha, Bianca é impossível, me leva fácil com essa carinha de fofinha.
— Bundão! — Soltei, rindo de seu comentário. Mesmo eu próprio sabendo do que minhas irmãs eram capazes, quantos problemas eu tive com elas e meus pais nem sonhavam.
Larguei meu copo na copa e voltei para o quarto encontrando-o vazio, voltei para o corredor ouvindo as risadas acaloradas de minhas irmãs no quarto de Gabriela. Preferi deixá-las em paz a mexer com três dragões prestes a cuspir fogo contra mim.
Troquei minha bermuda por uma calça preta, coloquei uma camisa de botão também preta. Como homem era prático!
Ruan também já estava pronto aguardando as meninas descerem. Estávamos discutindo sobre o carro que sairíamos quando Bianca pigarreou arrastando nossa atenção para elas.
Bianca usava um vestidinho preto, isso mesmo um vestido que se eu fosse seu futuro marido teria mandado trocar na hora, até me tocar que todas estavam assim. Bem maquiadas e com vestidos curtos, passei meus olhos por Luce em seu estilo gótico chique, um conjunto de saia e uma blusa pequena mostrando sua barriga colada em seu busto, ambos de couro.
Gabriela que sempre foi discreta para suas roupas, mostra que eu tinha ficado muito tempo longe de minhas irmãs. Seu microvestido azul colado, mostrando suas longas pernas a deixando mais alta.
Mas foi Maya que fez minha respiração travar na garganta, seu vestido prateado reluzia nas luzes da sala, seus cabelos caindo nos famosos cachos grossos, a boca num vermelho chamativo, atraindo minha atenção para o que eu já tinha provado ter um gosto delicioso.
Fui até ela trazendo seu corpo para o meu, depositei um beijo em sua bochecha para não borrar seu batom. Tracei um caminho de beijos até seu pescoço, vendo toda sua pele ficar arrepiada.
— Precisava de toda essa produção? —Questionei mordendo de leve o lóbulo de sua orelha. Ela soltou uma risada baixa, apenas para nós dois.
— Apenas o melhor para você, senhor Amell. – Retribuiu o sussurro.
A divisão ficou em dois carros, o meu e o de Gabriela. Ambos como o motorista da rodada, Bianca e Ruan foram com Gabi, enquanto Luce foi comigo e com Maya.
Luce já foi causando desde que saímos de casa, plugou sua playlist com funks , fazendo meu sistema de som explodir com as batidas altas e graves da música.
— Desde quanto você escuta esse tipo de música? — Perguntei gritando por cima das batidas, eu não tinha um tipo de música preferido, já fui a diversos bailes funks com meus amigos só para ver as meninas empolgadas com as batidas dançando até o chão.
— Não sou mais uma garotinha meu irmão. – Disse rindo.
Maya se balançava ao ritmo da música, sorrindo para mim. Sua mão sobre minha coxa subindo e descendo, passando rente à minha virilha e depois descendo, só para repetir todo o processo me provocando.
Em frente da balada era uma exibição de carros luxuosos, conseguimos duas vagas um pouco distante da entrada com uma fila quilométrica. Maya prestava atenção no telefone, desliguei o carro destravando as portas.
Ruan já estava contendo uma Bianca empolgada ao extremo, dei uma olhada para as mulheres na fila, algumas encarando a BMW de Gabi e a Land Rover, Maria gasolinas .
Olhar a balada em si, me lembrou de minha caixa postal lotada de mensagens da ruivinha peituda e algumas de Sofia, ou como estava gravada em minha agenda a Sofia Depravada. Isso era um costume, cada mulher sendo ela atirada ou não eu anotava seu nome seguido de um apelido, geralmente marcado por seu desempenho. Para as mulheres que eu não recordava o nome deixava apenas o apelido.
Maya grudou seu corpo no meu, andando no mesmo compasso. Levando-nos para os seguranças armários que olhavam as pulseiras das pessoas na fila e liberavam a entrada. Reparei quando um homem com o pescoço cheio de correntes de ouro saiu encarando Maya com um sorriso.
Ela se virou notando a presença do estranho que a puxou para um abraço caloroso, que meu deixou respirando fundo para não o empurrar para longe.
— Otávio, Luce, Gabi, Bianca e Ruan esse é o Brian. —Fez as apresentações.
Apertei firme a mão que o tal Brian estendia para mim, olhando para os olhos tranquilos e despreocupados de Maya, vendo até onde ela iria com isso.
— Brian esse é meu namorado. —Disse voltando para meu lado. Fazendo meu mau humor ser um pouco contido.
— Muito prazer, cara, meu irmão é vizinho de Maya. – Seu sorriso parecia sincero. – Adorei saber que vocês estavam vindo. Finalmente uma folga em Maya.
Maya deu seu grande sorriso, com um dar de ombros.
O tal de Brian retirou algumas pulseiras florescentes do bolso da calça entregando para nós, chamou um dos seguranças explicando que éramos clientes VIPs, permitindo nossa entrada na balada.
As luzes pulsavam, corpos dançavam ao ritmo da música alta, mulheres de todos os tipos rebolavam chamando atenção dos homens, Maya nos levou até o mezanino. Um espaço com sofá e pufes estava vazio, as meninas logo correram para o sofá entrando em uma conversa animada sobre a balada, o DJ...
Encostei-me à grade, Ruan ao meu lado dando uma olhada para a pista de dança abaixo de nós enquanto as meninas pediam suas bebidas, a música eletrônica impedindo qualquer tipo de conversa, quase estourando nossos tímpanos.
Ruan me cutucou mostrando algumas mulheres se insinuando no andar debaixo, com certeza querendo ser convidadas para o camarote. Voltei minha atenção para o sofá onde minhas irmãs conversavam animadas, sentei-me ao lado de Maya, pondo uma mão sobre sua cintura.
Observava ela conversar com minhas irmãs, contagiando sorrisos. Fiquei admirando com suas várias camadas, enquanto na Scandallo era rude e agressiva, aqui estava livre como um pássaro posto para fora da gaiola. Perdi-me um pouco imaginando como ela teria sido se não tivesse seguido a vida de acompanhante.
O garçom trouxe oito doses de tequila colocando na frente das meninas junto com duas garrafas de água e uma cerveja, Gabi me passou uma garrafa e entornou a outra, olhando para os lados assim como eu fiz quando cheguei, analisando o ambiente.
Gabriela por viver no meio de leis e ordens era muito observadora, quando mais nova, minhas irmãs viviam implicando por ela não ter os mesmos interesses. Enquanto Luce e Bianca suspiravam por garotos, Gabi mantinha o foco em diversos concursos públicos que queria prestar.
Luce era uma baladeira nata, agitava as meninas para beberem suas doses, insistindo para elas dançarem perto da grade do mezanino, Maya dançava sempre me encarando. Aumentando o rebolado, deixando meu pau latejando dentro da calça.
Passei uns bons minutos nessa tortura silenciosa, meu pau já ereto na calça protestava, ficando até um pouco desconfortável com as demonstrações de Maya, ela segurando com uma das mãos a barra descendo até o chão, ou jogando seus cabelos para atrás, revelando seu pescoço. Dançando no ritmo das batidas do DJ, me atiçando, fazendo minha vontade de ir até lá e dar um jeito nela, só por me provocar, aumentar a cada segundo um pouco mais.
Larguei minha garrafa de água indo até ela a passos decididos. Estava começando a me sentir como um predador querendo dominar sua presa.
Colei meu corpo no seu, acompanhando seus movimentos e mostrando exatamente como ela tinha me deixado com sua dança. Fazendo o que tive vontade de fazer quando a vi pela primeira vez na boate, rebolando ao som de músicas sensuais e ousadas.
Aproveitei para beijar a curva do seu pescoço, sendo castigado com esfregadas de sua bunda em mim. Apertava a cintura de Maya como forma de aviso, escutando mesmo pelas batidas altas da música que ela ria.
Quando se virou mostrando o desejo enlouquecido que ela tinha me apresentado nas últimas vezes que ficamos sozinhos, cheguei mais perto do seu ouvido, para que ela me escutasse.
— O que você está me oferecendo?
Aqueles olhos verdes iluminados mostrando interesse em qualquer coisa pecaminosa que eu pensasse. Ri beijando seu rosto.
— Você quer ou vai pular fora? – Ela perguntou em meus lábios.
— Não sou de pular fora. — Disse desafiando seus pensamentos pervertidos.
Ela pressionou a mão aberta em meu peito, seu rosto assumindo aquele semblante de loba, me consumindo por inteiro. Olhei de relance para minhas irmãs que estavam dançando, Bianca prestando atenção exclusivamente em seu noivo, Gabi e Luce tirando fotos.
Ninguém notando o que estávamos prestes a fazer.
Maya dançava em minha volta tocando cada parte de meu corpo, sentia suas mãos em minhas pernas, minhas costas, seu corpo roçando sensual no meu.
— Estou com um desejo maluco. – Ela sussurrou para mim mexendo na barra do seu vestido. – Você consegue controlar isso?
Tomei sua boca na minha beijando de forma rude, mordendo seu lábio inferior, minha língua invadindo sua boca nem um pouco preocupado com espectadores. O tesão me consumia conforme nosso beijo se intensificava. Maya agarrou meu cabelo puxando-os, enroscando seus braços em torno do meu pescoço.
Ela foi me empurrando para atrás até que minhas costas batessem contra o vão de uma parede, nos enfiando em uma espécie de recuo escuro. Ela abria apressada os botões de minha camisa, beijando e lambendo meu peito.
Puxei uma de suas pernas para mim, sentindo a cinta liga, o salto enroscou em minha cintura dando o espaço que eu precisava para tocá-la.
Olhei mais uma vez, vendo se ninguém notava o que estávamos prestes a fazer no pequeno espaço escuro do mezanino. Mas eu não me importava. Nem um pouco, e, talvez uma parte primitiva de mim quisesse que alguém visse o que eu produzia em Maya, a forma como tocava seu corpo, como ela respondia aos seus instintos se entregando no meio de uma balada lotada. Levantei mais seu vestido colado abrindo espaço para meu membro, ela me ajudou abrir a calça, libertando meu pênis para penetrá-la com força.
Maya soltou um gemido alto em meu peito, suas mãos dentro de minha calça apertando minha bunda enquanto eu mantinha um ritmo rápido, não tínhamos tempo para preliminares.
O tesão só aumentava por ver sua intimidade inchada de prazer roçando quente sobre mim a cada vez que entrava ou saia de seu corpo, minhas unhas cravadas em sua bunda, sustentando uma de suas pernas enroscadas em minha cintura e a outra apoiada no chão apenas com a ponta de seu pé. Três fatores aumentavam a excitação que corria pelos nossos corpos, primeiro por fazer sexo em público, segundo por termos a mente tão pervertida que estava nos garantindo um sexo e tanto, e três pela posição, meu pau entrando e saindo, roçando toda a parede de sua intimidade pelo pouco espaço que tínhamos.
— Deus, você vai me matar. – Disse em seu ouvido, a respiração ofegante. Meu pau pulsava descontrolado dentro de seu corpo.
As luzes da balada estavam jogando claramente a nosso favor, não deixando que ninguém que passasse pelo mezanino nos visse na sombra. Eu entrava duro e escorregadio de tanto prazer e gozo que Maya lançava sobre mim, vi seus olhos se fecharem de prazer quando aumentei ainda mais nosso balançar. Puxei sua outra perna para minha cintura, pressionei com força sua cintura para cima e baixo me enterrando com força cada vez que descia sobre meu corpo. Seus gemidos aumentaram, tornando-se mais graves, mais esfomeados. Ela mordia meus lábios com tanta força que comecei a sentir o gosto de sangue deles e nem isso me fez parar. Muito pelo contrário foi à combustão que faltava para que eu atacasse seu corpo com mais vontade, morder seu pescoço sentindo meu gosto junto com o dela, suas mãos enlouquecidas arranhando meu peito.
E então o profundo orgasmo nos atingiu fazendo ambos estremecerem, puxei seu corpo agarrando mais contra o meu voltando a me encostar à parede. Maya recolocou as pernas no chão recompondo sua aparência enquanto eu fechava minha calça e minha blusa.
Trocamos algumas carícias e beijos rindo de nossa pequena peripécia, saindo de mãos dadas de nosso esconderijo. Dando de cara com o sofá onde minhas irmãs estavam, vazio. Maya trocou olhares de culpa comigo, me fazendo rir ainda mais de nossa pegação. Mesmo procurando eles pela balada, olhando para pista debaixo, tentando ver onde eles estavam eu sabia a resposta.
Busquei meu celular no bolso detrás do jeans vendo que tinha não só ligações perdidas como algumas mensagens de Luce avisando que Bianca tinha tomado mais tequila do que aguentava e eles decidiram voltar para casa.
Puxei a mão de Maya levando-a para fora dali, levando-a para onde queria. Claro que se conseguíssemos chegar até minha cama, senão pularia para o banco detrás do carro e faria amor mais uma vez com ela.
Capítulo 27
Parei o carro.
A noite trazia um vento gelado do mar, o céu mesmo sem lua ou estrelas estava belo. Olhei mais uma vez para Maya, dormindo enroscada ao meu lado. Por um instante queria apenas admirá-la.
— Maya?
Suas pálpebras tremeram evitando acordar, com um suspiro seus belos olhos verdes começaram se focar em meu rosto.
— Chegamos.
— Você é um anjo mau, sabia? Estou me sentindo tonta.
— Deve ter sido pelas doses extras de tequila. — Disse com um sorriso.
Maya inclinou-se sobre o meu banco para me beijar. Agarrou meu cabelo, na nuca, me prendendo por um tempo.
Segurei o queixo dela com a mão e retribui o beijo, mas logo a afastei suavemente, sugando seu gosto. Deixei meu dedo indicador sobre nossas bocas, separando-as.
— Eu sou. Não está vendo minhas asas?
Senti a mão subindo pelo meu joelho, coxa também, pelo lugar depois da coxa... O caminho todo até as costas e senti indo para baixo da minha camiseta.
— Não achei suas asas. Mas não sei se procurei com muita vontade.
Arranhão.
Com a outra mão, pegou o meu pulso. Deixei que fizesse o que quisesse.
Levou minha mão até seu rosto, mordendo meu indicador de leve.
Eu sorri.
— Se eu fosse você, fugiria.
— Mas você não é...
— Dez segundos de vantagem.
— Isso é uma insinuação de que eu tenho alguma deficiência ou...?
— Eu poderia abusar de você.
— Então abuse. – Disse com tom de voz de "você não é capaz" .
— Acredito que já tenhamos abusado da cota de exposição por hoje.
— Obrigada pela análise, mas não dizem que adrenalina faz bem para o corpo, além de levar você a fazer o que não tinha coragem? Então. É meu caso. Hoje não vou fingir ser louca por você. Vou mostrar o quanto eu sou...
Voltou a me beijar, dessa vez com mais vontade. Mantive os olhos abertos.
— Você não acha — eu disse relutante entre o beijo, incomodado sobre o nosso fingimento, na altura do campeonato eu já estava acreditando que tínhamos parado com isso e realmente estando um com o outro e não fingindo. — Que talvez seja hora de entrar?
— Boa ideia... — ela sussurrou com a boca colada na minha.
Eu ri.
— Ou... A gente pode ficar aqui no carro e aproveitar o seu banco detrás. Adoro banco de couro.
Essa mulher estava me enlouquecendo.
— Ok — ela disse quando viu minha expressão, levantando as mãos como se rendesse. — Mas eu vou precisar de ajuda.
Desci do carro e corri até a porta dela, abrindo-a em seguida. Estendi a mão e ela a pegou. Andamos em direção a casa e ela entrelaçou os dedos nos meus, apertando nossas mãos. Aquela sensação tomando conta do meu corpo mais uma vez. Maya tropeçou algumas vezes, nos próprios pés e ria alto de si mesma, o som ecoando pela rua vazia. Soltei sua mão quando chegamos à entrada lateral do gramado e me virei de frente para ela.
—Consegue andar pelo gramado de salto?
— Se eu cair terei você para me agarrar. — Respondeu, com um sorrisinho.
E lá vamos nós...
Estendi a mão, segurando a sua novamente.
Tirei a chave do bolso lateral prestes a abrir a porta de vidro, Maya foi mais rápida roubando o molho de chaves de minha mão enfiando no próprio decote.
— Antes, vem pegar. — disse indicando o brilho prateado das chaves no meio de seus seios.
Tive a leve, levíssima impressão que ela não se referia apenas a chave.
Ok, sei jogar esse joguinho. Puxei-a pela cintura, chocando seu corpo ao meu e não desgrudei meus olhos dos dela. Desci minha mão, passando por seu rosto, seu pescoço até chegar ao decote volumoso e enfiei a mão nele, pegando as chaves em seguida.
Confesso que deixei a mão lá um pouco mais do que o necessário, alisando um pouco seus seios. Como ela estava sem sutiã tinha acesso livre sobre eles e aproveitei para apertar e acariciar de leve os bicos, arrancando um suspiro ofegante dela.
Sorri. Ela sorriu de volta como se dissesse "perdi a batalha, mas não a guerra". Andei até a porta e enquanto tentava abrir, um pouco atrapalhado com as chaves, senti uma mão subindo pelas minhas costas, por baixo da camiseta... Derramando arrepios gostosos por minha coluna.
— Você não cansa?
— De mexer com você? Eu não.
Ri de novo. – Você vai me enlouquecer. – Sussurrei de volta.
— Sério... — enquanto descia a mão para minha bunda. — Se eu fosse, sei lá, dona do mundo? Eu ia decretar uma lei onde homens gostosos como você não pudessem usar camiseta. Nunca, ainda mais com essa tatuagem.
Virei-me.
— Você deve dizer isso para todos seus clientes. Ou está pelo efeito da tequila.
Tentei falar no tom mais sério possível. Ela ficou na pontinha dos pés, pegou meu rosto entre as mãos e me deu um selinho, depois fez um bico. Derreti um pouco.
— Talvez sim ou talvez não — um sorriso maroto cruzou seus lábios. — Você quer descobrir?
— Maya... — repeti. — Vou te colocar na cama.
— Apenas me colocar?
Fiz uma falsa careta.
Entramos em casa, ela puxou meus braços por cima dos ombros. Abracei-a por trás, dei um beijinho na bochecha enquanto subia com ela para o quarto, tentando fazer o mínimo de barulho possível evitando acordar minha família que já tinha ido dormir.
Depois que tive certeza que ela não ia vomitar tudo que tinha bebido, coloquei-a na cama e deitei com ela.
— Otávio? — com a voz sonolenta.
— Maya — respondi.
— Obrigada.
— Por?
— Não ter se aproveitado.
Mais 10 minutos.
Virei ficando de frente para ela.
— Maya?
— Otávio... — sussurrou com a voz rouca, ainda de olhos fechados.
— Dorme bem.
Mais uns beijos.
Seu corpo se enroscou no meu, prendendo minhas pernas entre as suas, impossibilitando minha saída. Tirei uma mecha longa que caia pelo seu rosto, olhando os pequenos detalhes. A curva de sua sobrancelha, seus lábios vermelhos de tons naturais.
Suspiro e um sorriso.
Deixei meu corpo relaxar em sua companhia.
Capítulo 28
Os raios de sol se infiltravam através da janela me aquecendo e acordando mais cedo do que eu faria, música alta entrava acompanhando a claridade, pelo visto todos já estavam acordados e animados. Sem nem precisar olhar, sabia que estava sozinha. Apertei os olhos verificando as horas no telefone. Eram 10 horas.
Joguei-me de novo na cama aproveitando a leve preguiça se dissipando de meu corpo, decidindo se voltaria a dormir mais um pouco ou sairia para procurar meu cliente.
Cliente. Isso já não fazia mais sentido, nem mesmo em meus acessos de raiva eu tinha realmente encarado Otávio como um cliente, nossa situação estava mais para uma relação descontrolada, algo que ia do puro ao pecaminoso em questão de segundos.
Como se fosse uma corda bamba, por mais que tivesse a linha andar fora dela ou cair era mais atrativo.
Um riso bobo se infiltrou em meu rosto lembrando-me de nossa noite e como foi bom depois de nossa exibição deitar ao seu lado e adormecer enrolada em seu corpo, sentindo seu cheiro e as batidas do seu coração.
A porta do quarto abriu e Otávio apareceu carregando uma bandeja com o café da manhã nas mãos.
— Vejo que já acordou. — Disse ele, me sentei, o cheiro do café e os pães acordando não só a mim como meu estômago também. – Nesse momento estou mostrando para minha família que homem maravilhoso eu sou trazendo seu café na cama.
Otávio piscou colocando a bandeja no meio da cama.
— Realmente fazendo isso quase posso me convencer de tal coisa.
Apesar do café realmente estar me deixando ainda mais faminta, o que estava mesmo me dando água na boca era a visão de Otávio parado na ponta da cama, descalço e sem camisa. Aquele conjunto de tribais se insinuando para mim, deixando minha boca seca com vontade de percorrer com a língua cada traço.
— Se eu fizesse isso você acreditaria em minhas ações? – Ele desamarrou o cordão de sua bermuda, deixando-a cair no chão expondo seu pênis já ereto. Deslizou pelas cobertas emboladas, empurrando a bandeja para longe de nós. Suas mãos subindo pelas minhas pernas nuas. – Você infelizmente comerá seu café frio.
Murmurei agarrando seu pescoço colando nossos lábios.
— Acho que café frio está perfeito.
Já passava dá uma da tarde quando finalmente saímos do quarto, Otávio usando uma bermuda, sem camisa, exibindo seu peitoral e aquela bendita tatuagem. Prendi meus cabelos revoltos em um rabo de cavalo, uma opção rápida e muito agradável para o calor que nos consumia na tarde ensolarada. Um vestido creme solto com um conjunto novo de biquíni.
Encontramos todos sentados na beira da piscina, Luce tomava sol na beirada oposta do gramado. O resto estava sentado ou dentro da piscina, meus olhos foram para Hugo que me encarava junto de Gabriela, seu sorrisinho cínico no rosto.
— Olha quem decidiu se juntar!
— Fique quieta Luce. — Otávio repreendeu com um sorriso.
— Achamos que vocês ficariam no quarto durante o dia todo procriando como coelhos. – Bianca comentou.
Minhas bochechas ficaram quentes, Otávio fechou o semblante olhando para ela dando uma bronca silenciosa.
O pai de Otávio coçou o bigode grosso, um gesto tão natural que deu a impressão dele fazer com frequência.
— Parem de deixar Maya constrangida. — Sua voz soou como um trovão, calando as piadinhas de todos. Percebi que ele era quem tinha o comando daquela mulherada. — Maya fique à vontade, se alguma de minhas filhas incomodarem você pode falar comigo. – Seu tom charmoso e agradável, um leve sotaque revelando suas raízes britânicas. — Acredito que elas ainda se lembram do galpão.
Tanto Gabriela como Bianca saíram de perto dele correndo para o outro lado da piscina rindo como crianças, Otávio gargalhava junto com a mãe vendo suas irmãs fugirem apenas com as palavras de seu pai.
— O que seria o galpão? — sussurrei no ouvido de Otávio.
— Galpão é onde meu pai costuma guardar os equipamentos e seu velho jipe, as meninas ficaram presas um dia inteiro lá dentro quando eram mais novas, depois disso passou a ser a desculpa para meu pai domar as três.
— Não deve ter sido muito agradável. — Comento contendo o riso.
— Pode apostar que não. — Ele exibia seu humor, relaxado curtindo esse período com a família.
Otávio nos puxou para um sofá de dois lugares, enrolando minhas pernas em cima das suas. Suas mãos passando possessivas sobre a curva do meu joelho.
— Quem diria meu amigo finalmente apaixonado. – Hugo gritou chamando nossa atenção para ele.
As meninas riram, colocando nós dois novamente no fogo cruzado de piadas.
—Aahh maninho, é culpa sua. – Luce gritava no gramado. – Ninguém mandou só trazer mulher sem cérebro para cá. Maya é a primeira decente.
Hugo gargalhou, e, eu sabia muito bem o porquê.
— Chega disso, sabem muito bem que não gosto.
Percebi o olhar duro que Otávio lançou para seu amigo, uma conversa em silêncio foi trocada pelos dois. Fingi que não estava reparando, puxando a atenção dele para mim.
Inclinei um pouco mais meu corpo para o dele.
— Relaxe bonitão eles estão brincando. — Mesmo querendo mandar seu amigo a merda, entrei na brincadeira.
— Filho, não deixe suas irmãs irritarem você, estávamos vendo o quanto Maya é apaixonada por você. – Karla voltou trazendo uma rodada de canapés em uma bandeja decorada colocando na mesa de centro. – Só me pergunto, se já notou como você próprio está apaixonado.
Otávio não respondeu, ambos ficamos rígidos pelo comentário de sua mãe. Ele olhou para mim por alguns segundos, pude ver indecisão em seus olhos azuis como o céu daquele dia.
O que quer que tenha decidido puxou-me para mais perto colando minha cintura com a dele, roçando seu nariz em meu pescoço. Mesmo prometendo que nossas atitudes seriam como um casal pleno e feliz. Pelo benefício de nosso contrato, esse simples movimento parecia diferente. Como se quisesse acreditar na possibilidade do que sua mãe disse.
Um relacionamento de verdade.
Capítulo 29
Alguns amigos e parentes começaram a chegar deixando a casa um pouco tumultuada, Maya foi apresentada para tios e primos, Bianca fez questão de apresentar ela como sua cunhada para cada amiga.
Estava com meu livro aberto, meus óculos de leitura descansando baixo em meu nariz, que a muito já havia parado de prestar atenção. Meus olhos encontrando por vezes os de Maya, sentada a uma distância com Luce, um copo de suco apoiado em sua perna grossa. Iniciando nosso próprio jogo de preliminares secretas. Despindo um ao outro com os olhos.
Meus pais tinham entrado com meus tios, deixando a área externa apenas para nós, Gabriela havia sumido há algum tempo também, Bianca ria alto com suas amigas, bebendo suas bebidas e provocando Ruan que tinha se sentado na beirada da piscina com Hugo.
Passamos o final da tarde assim, jogados na área da piscina.
Maya retornou para meu lado se jogando no sofá e sem pedir licença apoiando sua cabeça em meu colo. E tendo os mesmos reflexos espontâneos que ela, meus dedos enrolando-se em seu cabelo soltando seu elástico deixando que a cascata negra de cabelos caísse sobre mim.
Aos poucos a piscina foi ficando vazia, Luce tinha saído buscando diversão com Hugo depois do jantar. Bianca e Ruan tinham deitado no outro sofá ficando de bobeira junto comigo e com Maya. Gabriela retornou para o quarto alegando estar ocupada com as papeladas de um processo, meus pais tinham dado uma passada pela sala, mas também decidiram se retirar para o quarto.
Até o Buddy que fugia do calor sempre preferindo suas longas sonecas no quarto, devido ao ar condicionado deu o ar da graça trazendo sua coleira na boca.
— Vamos dar uma caminhada?
Maya ergueu seus olhos. — Sim.
Enrolei meu braço em sua cintura trazendo Maya para mais perto, Buddy indo em nossa frente jogando areia por todos os lados, mais do que feliz por correr. Na volta veio rondando Maya assim como eu, riamos quando o cachorro disparava, novamente, em direção ao mar.
A areia branca ainda morna do dia ensolarado, as ondas quebravam um pouco mais à frente agitadas com a maré alta. E tudo que eu queria no momento era ver como os cabelos longos e negros de Maya refletiam a lua cheia no céu, ou como sua pele dourada ficava bonita arrepiada sob o vento que vinha do mar.
Nossos olhos se encontraram, puxei seu rosto pelo queixo trazendo para meus lábios, saboreando Maya com gosto de mar. Resisti à vontade de tirar seu vestido, dando uma boa olhada para ele colado no corpo violão dela.
— Vamos jogar?
Olhei para seu rosto retribuindo o sorriso que ela me dava.
— Que jogo seria esse? — Perguntei ainda com nossos corpos colados, suas mãos entrelaçadas em minha nuca e as minhas em seu quadril.
— Vamos nos conhecer de verdade.
— Acredito que te conheço bem. — Respondi de modo malicioso.
— Não, não.
Olhei para seu rosto novamente, tentando entender onde ela queria chegar com tudo isso.
— Faremos assim, uma vez para cada. Na sua vez, pode fazer qualquer pergunta ou falar algo sobre você mesmo. Apenas a verdade. — Ela me alertou.
— Tá certo, começo.
Maya fez um gesto se afastando de meu corpo para caminhar ao meu lado.
— Tenho pavor de gatos. — Confessei.
Maya me olhou com os olhos arregalados.
Balancei a cabeça afirmando o que tinha dito, acostumado por essa reação.
— Como assim você tem pavor de gatos?
Eu ri antes de confessar como começou esse pavor.
— Eu tinha uma namorada, isso foi na época de faculdade. Ela tinha um gato, um dia quis fazer uma surpresa, corri para seu quarto enquanto ela tomava banho. Bem você pode imaginar, o gato agarrou bem lá... — Maya me olhava rindo, uma das mãos na boca tentando esconder sua diversão. – Pode rir, depois disso evitei contato com ela e com seu gato doido.
— Tirando o fato de isso ser hilário, eu tenho uma gata.
Olhei para ela tentando ver se estava zombando de mim.
– Sério? Espera um pouco... Sua gata é caramelo, com cara emburrada? – Questionei me lembrando quando conheci Jaqueline no elevador do meu prédio.
— Sim, ela se chama Nica. – Ela parou virando-se para mim.
Que destino!
— Por que parece que você vê pouco suas irmãs?
— É sua vez?
— Acredito que sim.
— Acho que por termos vidas completamente diferentes, Bianca mora em Santos, onde cursa faculdade de veterinária. Gabriela mora no Rio, é sócia de um grande escritório de advocacia, sua vida se consome em protestos. — Olhei vendo Buddy voltar de sua corrida noturna, seu rabo balançando como um grande abanador. Sentei na areia fofa, Maya seguiu meus passos. — Já Luce sua paixão é moda, ela viaja o mundo todo com sua grife e as modelos neuróticas.
— E você almeja a Diretoria? — Maya questiona.
— Sim, trabalhei duro para estar aonde cheguei, mesmo tendo uma vida muito boa. Queria algo vindo do meu esforço.
Dou de ombros.
Ficamos um momento em silêncio. — Minha vez, você nunca mais procurou seus pais?
Seus olhos se contraíram, quase imperceptivelmente.
— Apenas uma vez, André que atendeu. – Ela evitou olhar em meu rosto enquanto dizia, preferindo mexer na areia com os pés. — Foi tão bom falar com ele, hoje deve estar um homem feito.
Seu corpo tremeu me senti culpado por tocar num assunto tão delicado . Imbecil!
Passei meus dedos por seu rosto virando para mim, seus olhos verdes com as pupilas grandes, aquela boca rosada.
— Desculpe, Jujuba.
Ela exibiu um pequeno sorriso.
Capítulo 30
A calmaria da noite estava sendo atrapalhada por nossas respirações fortes e agitadas. Nossos olhos fixos, mesmo meu peito ainda apertado com a menção de meu irmão. Fiz uma prece aos céus que ele estivesse bem, assim como meus pais.
Voltei minha atenção para Otávio, seu peito nu escurecido sobre o brilho da noite. Seus ângulos fortes e a forma como seu abdômen formavam pequenos gomos, sua bermuda branca caindo sobre a coxa dobrada revelando sua perna. Tudo isso era um conjunto perfeito, traços que mexiam com algo implantado dentro de mim, algo ligado ao fundo de meu âmago, fazendo com que eu queira sua aproximação.
Fixei meus olhos nos seus, vendo o desejo refletido neles. Nesse instante deixei de fora todas as dúvidas, preocupações, medos e principalmente o que seria de nós quando meu contrato com ele acabasse. Lógico que ele seria aprovado na promoção e não precisaria mais de mim. Quanto a sua família seria apenas mais uma que passou pela vida deles, logo eu que já me sentia apegada a cada um. Forcei tudo isso para fora da bolha que eu mesma coloquei sobre nós deixando apenas eu e Otávio, o mar quase alcançando nossos pés, Buddy deitado alguns metros da gente.
— Venha aqui minha Jujuba.
Um gemido baixo soou pela sua garganta, me atraindo de forma eficiente para ele. Parei para tirar meu vestido, jogando ao meu lado, mostrando meu biquíni vermelho. Minha pele toda arrepiada com o vento frio, o que pouco me importava.
Otávio traçou o caminho do meu umbigo até o meio de meus seios, passando a mão por meu pescoço, tirando as mechas de cabelos que voavam colando em meu rosto.
— Tão linda. — Murmurou, seus lábios dominaram os meus, dedicando e reivindicando cada pedaço do meu corpo, meu queixo, minha orelha, meu pescoço. Otávio me deu um beijo na testa antes de se afastar ficando de pé. Retirou a bermuda ajeitando esticada sobre a areia, fazendo a mesma coisa com meu vestido antes de se ajoelhar em minha frente.
Ele me deitou sobre nossas roupas, ficando sobre mim, apoiado nas palmas das mãos, sua boca desceu sobre meus seios, beijando e lambendo a curva sobre o biquíni, foi mais para baixo beijando minhas costelas, em torno do meu umbigo, por toda minha barriga. A sensação de sua boca em mim invadia meu corpo e meu coração, preenchendo de amor e sensações que só Otávio poderia fazer, isso eu tinha certeza.
Um gemido incoerente escapou de meus lábios, não me importando para suas mãos cheias de areia passando pelos meus braços. Otávio me beijava com volúpia, devorando cada pedaço de pele que ele traçava. Beijou perto do nó do biquíni desfazendo com os dentes, seus cabelos tapando minha visão de seu rosto. Suas mãos apertando meus seios, sua boca perto de minha virilha chupando.
Faziam meu corpo tremer enlouquecido.
Puxei seu corpo colando-o ao meu, rolando sobre ele me dedicando em seu corpo do mesmo jeito que ele fez, beijando cada traço que ele exibia na luz da lua. Afastei minha boca de sua barriga olhando para cima, Otávio me olhava com um sorriso satisfeito no rosto. Fiquei de quatro abaixando devagar sua sunga, dando um sorriso malicioso para seu membro ereto. Com ajuda dele subi sobre seu corpo me erguendo quando seu pênis raspava minha intimidade, afundando-me devagar deixando meu corpo se alargar com ele entrando aos poucos. Gemidos fugiam por nossas gargantas, Otávio sentou juntando ainda nossos corpos, fazendo nosso ritmo aumentar. Levando-me a sucumbir ao seu controle, não tínhamos o que negar. Queríamos um ao outro, mesmo não dizendo uma palavra, queríamos que isso não acabasse. Entreguei-me a ele de todas as formas que ele estivesse disposto a exigir. E a cada movimento Otávio me ensinava uma nova maneira de adorá-lo, de me sentir desejada. Como se nossos corpos fossem duas peças perdidas de um quebra-cabeça, se encaixando com perfeição.
E então na luz da lua, naquela praia deserta, apenas nós e toda aquela perfeição. Aos sons do mar batendo na areia em seu eterno vai e vem refletindo nossos desejos e movimentos, refletindo nossos dias de aproximação e afastamento devido nossas dúvidas e receios. Nós entregamos ao orgasmo mais verdadeiro que tínhamos sentido até o momento.
Capítulo 31
Deitados sobre nossas roupas, Maya sobre meu peito rindo, tentando tirar um pouco da areia que cobria a gente.
— Acho que terei que entrar no mar.
— Culpa é sua. Você fica brincando comigo desse jeito, usando meus sentimentos, mexendo com uma fera. — Brinquei.
Maya balançou a cabeça e retribuiu o meu sorriso da melhor maneira que poderia fazer. Mas percebi que ela acabou não levando em brincadeira o que tinha dito.
A verdade é que enquanto estávamos fazendo amor na praia, eu senti sua entrega, do mesmo jeito que me entreguei para ela. E agora, ambos tínhamos erguido suas muralhas.
— Não estou brincando com você. — Maya pronunciou de forma séria. Ela se sentou ajeitando seu biquíni escondendo sua nudez.
E aquele momento de sintonia e entrega tinha passado, assim como o vento ficou mais forte e gelado. Subi a sunga ficando de pé.
— Estou apenas fazendo meu trabalho, — continuou ela, seu olhar foi para o mar, ignorando meu rosto. – Estou recebendo para isso, lembra?
Um silêncio desconfortável nos atingiu, fiquei sem palavras por ela quebrar um momento tão bonito que tivemos com essa história de trabalho.
— Maya eu não me envolvi com você por que estou pagando. Sexo não estava em meus planos, mas aconteceu. Não podemos negar que estamos envolvidos.
Ela respirou fundo ficando de pé, bateu a mão pelo corpo retirando um pouco da areia de suas pernas.
— Temos que ser honestos Maya, estamos envolvidos um com o outro. – Disse olhando para sua silhueta de costas para mim, seu cabelo chicoteava o ar, seus olhos fixos no mar.
— Sabe, no fundo, por um motivo egoísta. Eu não queria que você fosse promovido. – Ela se virou com um sorriso para mim. – Eu não quero que isso acabe.
— Maya...
— Relaxa bonitão, isso vai acontecer uma hora ou outra e todos retornaremos à realidade. Ficaremos com isso, nossos momentos na memória. – Com os olhos fixos nos meus, Maya se aproximou, roubou um selinho suave. Seus olhos verdes queimando nos meus.
— Gosto de estar com você, isso chega a assustar.
— Eu também gosto. – Ela confessa.
— Espero que não esteja referindo-se a você mesma. — Disse sorrindo.
Ela ri, levando as coisas para um nível mais leve.
— Acho que quebramos a regra principal.
— Qual seria? – Questionei.
— Não se envolver com a acompanhante que você está pagando.
— Maya, pare de se referir a si própria assim!
Ela pescou o vestido, Buddy ficou de pé pronto para retornar vendo nossa movimentação.
— Tudo bem, bonitão. Vamos voltar.
Maya trocou o banho de mar pelo da ducha e a piscina, estávamos subindo a escadaria quando comecei a ouvir a voz de Hugo e Luce. Ambos rindo animados na beira da água.
— Fala maricón !
— Quanta animação.
— Digo o mesmo para vocês, — Luce apontou para mim e Maya apenas de biquíni. — Foram até o mar?
— Sim, fomos dar uma volta com Buddy. — Mostrei o caminho para a ducha, já puxando a mangueira para lavar Buddy. Que ficou mais do que feliz por se ver livre de toda aquela areia grudada em seu pelo.
Voltei até Maya grudando seu corpo no meu debaixo da água fria do chuveiro externo. – Vou para o quarto você quer mesmo ficar na piscina?
— Quero, não estou com um pingo de sono.
— Tudo bem, — puxei seu rosto para o meu, senti que ela precisava desse momento. —Obrigado pela noite maravilhosa, por estar aqui comigo.
Maya abriu um verdadeiro sorriso, exibindo aquelas covinhas tão desejáveis. —Obrigada você. Estou adorando estar aqui. – Pude ver a verdade por trás de suas palavras o que me deixou contente.
Despedi-me dela no alto da escada com um beijo profundo em seus lábios, estava ficando dependente de seu gosto. Decidi fazer uma surpresa para quando ela aparecesse no quarto, dei meia volta indo para a cozinha pegando tudo para nossa noite.
De banho tomado, o quarto coberto de velas aromáticas que roubei do banheiro de minha mãe, uma bandeja de morangos e o champanhe já aberto no gelo esperaram, escutando os passos de Maya no corredor. Como apenas nós dois estávamos nos quartos desse corredor não seria outra pessoa além dela que apareceria pela porta.
Maya parou olhando o quarto banhado pela luz bruxuleante das velas, seus olhos indo de mim para o quarto novamente. Levantei-me da cama puxando-a para meus braços, afastando seus cabelos dos ombros, admirando como um bobo sua pele, seu cheiro natural, algo misturado com mel e hortelã.
— Gostou de minha surpresa? – Perguntei sorrindo.
— Lindo. — Sua voz saiu num sussurro quase inaudível.
Gosto de como estamos, eu sentado no meio das velas, Maya nua no meio de minhas pernas, de costas para mim, mas ainda assim conseguia ver seu rosto, basta me inclinar um pouco para a direita. Seu corpo esquentando o meu com seus toques delicados sobre minha coxa, uma de minhas mãos está sobre seu seio, passando por sua barriga que se arrepia com o contato. Bebo um gole de meu champanhe, deixando os lábios gelados. Provocando aquele pedacinho de pele debaixo de sua orelha, fazendo-a sorrir, seu rosto calmo, tranquilo como eu tanto queria, que ela se libertasse das coisas que pensava ou que sentia. Estando apenas comigo, curtindo nosso momento.
Linda como sempre.
Como se pudesse ler minha mente, ela se vira e abre um sorriso. Adoro vê-la assim, tão descontraída... tão jovem. Quero fazê-la se sentir assim mais vezes. Na verdade, quero tanta coisa que nem sei reproduzir corretamente em pensamentos, que dirá em palavras, apenas quero-a aqui, comigo.
Fico pensado que poderia me aventurar para algo sério, um relacionamento... Quem sabe? Depois da loucura do casamento ou durante ele, posso acabar de vez com essa farsa de namorada e torná-la realmente minha, minha namorada.
Poderia ser apenas algo como uma fantasia, mas eu não via Maya negando, mesmo que tivéssemos sua profissão como empecilho. Claro que manter seu trabalho depois de colocar uma aliança de compromisso em seu dedo está fora de cogitação. Nem pensar, vou aceitar ela continuar trabalhando para Royalt Luxor sendo minha verdadeira namorada.
Maya deita sua cabeça sobre meu ombro, espalhando sua cascata negra de cabelo por meu peito fazendo cócegas. Porra como é perfeita. Desço a mão para a curva de seu quadril e ela se encosta mais em mim, se mexendo.
Ela se vira um pouco roçando mais de sua pele em mim, com as mãos vazias depois de ter colocado sua taça de champanhe no chão, ela me lança um sorriso safado.
Levanta uma das mãos e corre os dedos pequenos pelos meus cabelos, pousando a outra mão sobre a minha.
— Continua. — Imploro por seu toque.
— Tem certeza? — Ela puxa meus cabelos.
— Porra, tenho muita certeza. — Respiro fundo e levo uma das mãos a sua nuca, encostando a boca em sua orelha. – Seja minha, Mia. — Aperto seu quadril.
Ela faz exatamente isso. Seus olhos verdes chamando o desejo que existe dentro de mim, como se a deusa dela se comunicasse com o monstro sedento dentro de mim. Enfio a mão no meio de suas pernas sentindo sua intimidade molhada, quente e pulsante.
— Bonitão. — Ela geme quando coloco meus dedos dentro dela.
— Minha jujuba.
Ela responde aos meus toques se remexendo, soltando pequenos gemidos. Repousa a cabeça em meu ombro e puxa meus cabelos da raiz. Enfio e tiro o dedo de dentro dela, em respostas de suas reboladas. Quase no mesmo instante, suas pernas se enrijecem e eu sei que ela deseja e busca pelo orgasmo.
Maya murmura, mostrando que estou lhe proporcionando prazer. Suas unhas se cravam em minha barriga, fazendo meu corpo estremecer.
— Eu vou...— Geme contra meu pescoço.
— Eu sei, linda. Goza pra mim. Goze quantas vezes seu corpo puder. — Eu a incentivo.
Ela morde meu pescoço e eu sinto meu pau pulsar, pressionando suas costelas. Todo o peso dela cai em meus braços enquanto ela tem um orgasmo e eu nos mantenho assim, enquanto saboreio de seus espasmos. Ela está ofegante, corada, brilhando sob as luzes quando levanta a cabeça.
— Quero você.
— Você já me tem. — Digo sorvendo sua boca.
— Aqui mesmo ou no chuveiro? — Pergunta quando levo os dedos aos lábios, sentindo o gosto dela.
— Banheira. – Respondo, ela bebe o resto do seu champanhe e vamos para mais uma sessão de amor.
Capítulo 32
O dia começou agitado, na hora do almoço todos se prepararam para o ensaio que teríamos antes do grande momento. Bianca preferiu marcar seu ensaio com alguns amigos que seriam padrinhos, familiares e o padre.
Todos nós ficamos escutando uma boa hora o padre dando explicações para os padrinhos e madrinhas, assim como para Bianca e Ruan. Se eu tinha reclamado que a casa estava uma bagunça só, entre o final da tarde e à noite tinha virado um verdadeiro hotel, o entre e sai constante das amigas de Bianca, Ruan com seus padrinhos que chegaram pela manhã e depois de se livrarem das obrigações do casamento, decidindo encher a cara. Estavam tornando tudo um caos, se um dia eu casasse teria uma cláusula específica que só teria eu, ela e um padre para oficializar tudo.
Quando meu corpo tocou a cama naquela noite eu simplesmente agradeci, Maya tinha ficado na sala fazendo companhia para minha mãe, em uma animada conversa sobre a medicina, ramos e futuro na profissão. Resolvi deixá-la, me refugiando no silêncio de nosso quarto.
Devo ter adormecido, pois não me lembro de vê-la entrar, apenas que puxei seu corpo para o meu no meio da noite.
Então chegou o grande dia, e, como em um casamento todos estavam loucos, enquanto o Buffet e o pessoal da decoração corriam preparando o gramado para a cerimônia e a festa à noite. A equipe de manobristas que meus pais haviam contratado seguiam Ruan para a outra entrada da casa, vendo onde todos seriam recepcionados.
Flores passavam de um lado ao outro, luzes e fios dos DJs desciam para onde seria montada a enorme pista de dança. As madrinhas corriam pelo gramado com grandes bolsas, vestidos em seus sacos protetores...
No meio de toda essa loucura ainda tinha minha mãe preocupada com a hora, Bianca tendo crises nervosas, Luce debochando, Gabriela arrastando Maya para ajudar na escolha de acessórios e sapatos. O único que se manteve o tempo todo tranquilo sem proferir um grito com todas essas mulheres foi meu pai, que se divertia sentado no deck com uma garrafa de cerveja na mão vendo o corre e corre pela casa, a choradeira de Bianca com medo que algo desse errado.
Maya e eu nós vimos muito pouco durante o dia, Hugo e Ruan preferiam ficar longe das mulheres, saindo para tomar uma cerveja e jogar vôlei na praia com alguns dos padrinhos. Mesmo Ruan sofrendo com as mensagens malucas de minha irmã falando sobre atrasos e que arrancaria nossos olhos se acontecesse algo porque decidimos sair.
Particularmente eu tinha gostado do fato de Ruan distrair e ocupar a boca de seu irmão com besteiras, assim ele tirava o foco de mim e de Maya. Além de deixar um pouco os comentários de duplo sentido que já estavam irritando Maya, percebi isso quando meu grande e imbecil amigo me soltou no almoço que tínhamos que realizar uma despedida de solteiro para seu irmão com direito a belíssimas acompanhantes, completando com uma piscadela para mim.
Pude sentir Maya ficando rígida ao meu lado, segurei firme sua mão encarando todos. Mas, ninguém notou a brincadeira sem graça de Hugo. Ficaram rindo da explosão que Bianca deu na mesa.
Refiz o trajeto da praia que tínhamos seguido mais cedo, agora estava decorado com flores e um caminho de luzes decorando o acesso, tudo já estava arrumado e pronto, meus pais já vestidos para o casamento recebendo os convidados que chegaram mais cedo, Gabriela fazia companhia para eles.
Se parássemos um ao lado do outro veríamos que era exatamente como minha mãe nos descrevia, éramos simplesmente partes dela e de meu pai. Gabi e eu altos como ele, Luce e Bianca baixas como minha mãe. Divisão perfeita.
Parei olhando por todo o gramado transformado em um salão completo de festa e mais à frente perto do mar o espaço para a cerimônia.
No quarto, Maya estava pronta calçando as sandálias prata com brilhos. Parei encostando a porta em um baque seco, admirando suas curvas em um vestido rosa claro. Crescer rodeado de mulheres tinha me formado num especialista em roupa, assim como vaidade, e, Maya estava com um vestido simples e muito elegante. Na altura do joelho, o colo do seu busto descoberto fazendo-o cair em mangas soltas até os cotovelos, a renda com detalhes de flores e pequenos pontos de brilho davam aos seus olhos e sua pele dourada ainda mais poder e beleza.
— Como estou? – Perguntou ficando de pé de dando uma pequena volta.
— Magnífica!
Ela riu balançando as mechas que estavam soltas caindo em perfeitos cachos pelo seu corpo. — Tomei liberdade e separei sua gravata.
Sorri relembrando de nossa noite no Rio.
— Não sei como sua parceira estará, mas assim você não fica deslocado com ela e nem comigo. — Indicando uma gravata prateada em cima de meu terno preto de alta costura.
— Está perfeito. – Caminhei para ela como um leão enjaulado. Respirei fundo seu perfume, colocando meu nariz na curva de seu pescoço.
— Bonitão, não temos tempo para isso.
— Sempre teremos tempo para uma escapadinha. – Ri mais ainda com a boca encaixada em sua clavícula.
— Quando você é padrinho e o casamento é da sua irmã, — Ela riu, — escapadinhas ficam para depois. – Ela me empurrou dando um tapinha em meu peito.
— Eu disse que você iria me enlouquecer, suma daqui senão eu vou atacar você e não saio de cima nem se meu pai arrombar a porta. – Parei na entrada do banheiro lançando um olhar ameaçador para ela, que correu para cama pegando sua bolsa prateada.
Mandou um beijo para mim e fugiu porta a fora.
—Eu lhe prometo ser fiel, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. — Ruan fazia seus votos, Bianca já tinha chorado borrando toda sua maquiagem.
Mesmo tendo uma mulher linda ao meu lado, uma das amigas de Bianca que sorria como idiota para mim, não conseguia tirar meus olhos de Maya, sentada na segunda fileira ao lado de um convidado que por sua vez, não tirava os olhos de suas pernas o que estava me deixando impaciente para essa porra de votos terminarem e eu poder tomá-la em meus braços.
Maya desviou os olhos dos noivos para mim.
— Quero falar com você. – Gesticulei com a boca.
Ela sorriu balançando a cabeça.
– Depois. – Li o que seus lábios falavam.
— Você me aceita? – Perguntei novamente.
Ela não deve ter entendido, pois vi sua expressão confusa, as sobrancelhas franzidas.
—... Eu prometo amá-lo incondicionalmente, apoiá-lo nos seus objetivos e sonhos, honrá-lo e respeitá-lo, rir e chorar com você, dividir com você minhas esperanças e sonhos e lhe dar conforto quando necessário. — Bianca completou seu voto.
Suspirei aliviado quando todos se levantaram aplaudindo o casal que trocava um beijo apaixonado.
Finalmente casados.
Capítulo 33
“A vida me ensinou a dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração.”
A festa já tinha começado a todo vapor, os convidados já ocupavam o bar montado ao lado da pista de dança, o DJ assim como banda já colocava todos para dançar, Otávio passava em volta das mesas ocupadas tentando encontrar uma para nós, tanto Barker como Karla e os pais de Ruan faziam as boas-vindas, conversando com todos, fazendo a recepção para a festa. Bianca praticamente saltitava por todo o gramado coberto com as grandes placas de madeira rústica que tinha visto os homens trazer pela manhã.
Otávio puxou uma cadeira para mim na mesa vazia que Hugo já estava sentado com Luce.
— Vamos fazer um brinde aos meus dois irmãozinhos – Hugo levantou sua taça de champanhe.
Otávio se acomodou ao meu lado, uma de suas mãos em minha coxa. — Por que dois? — sorriu, mas ergueu sua taça também.
— Daniela ligou cara, você foi promovido!
O sorriso sumiu por um momento do meu rosto, junto com um nó enjoativo em minha garganta, senti o gosto doce do champanhe se tornar amargo.
— Sério isso, cara? — Otávio perguntou animado.
Luce correu de seu lugar dando um grande abraço nele. Hugo olhou fundo em meus olhos, ergueu a taça com um sorriso cínico no rosto.
Eu queria socá-lo , estava farta de suas jogadas de duplo sentindo para cima de mim, seus comentários fora de hora principalmente, desse seu sorrisinho ridículo que ele me lançava. Durante o dia eu agradeci que as irmãs de Otávio tinham me puxado de um lado para o outro me deixando longe de Hugo e seu sarcasmo.
— É claro que Maya fez uma grande impressão para todos da empresa.
Sorri para ele, erguendo minha própria taça numa falsa comemoração.
Otávio se virou me puxando para um abraço. —Obrigado minha linda! – sussurrou feliz em meu ouvido.
— Foi bom trabalhar com você. Estou feliz por sua promoção.
As palavras deixando um gosto amargo em minha boca, descendo queimando por minha garganta.
A promoção de Otávio foi o grande motivo de ele me contratar, ter uma acompanhante de luxo ao seu lado e, depois de conquistá-la não tinha mais motivos para que continuássemos com esse “teatro”, não tinha mais motivos para ele continuar em minha vida.
Meu estômago se revirou com o olhar confuso de Otávio, ainda mais por saber que no fundo eu não queria dizer adeus, mesmo sendo necessário. Marli com certeza já tinha programado meu próximo mês, não tínhamos costume de manter contato quando estava com cliente, apenas uma ou duas ligações e dessa, mais do que as outras eu não queria falar com ela. Revelar que tinha me apaixonado.
— Só porque fui promovido não significa que acabamos. Minha família e amigos acreditam que estamos juntos e... Eu quero perguntar uma coisa para você.
Não consegui segurar o riso sarcástico que escapou. Talvez com isso ele percebesse como soava ridículo o que ele acabou de falar.
— Essa história já acabou Otávio, não temos motivos para enganar mais ninguém. Sua família vai superar, serei apenas mais uma.
Fomos interrompidos por um casal que puxou conversa com Otávio e Luce, sua mão pousada em meu ombro, esquentando-me no mesmo instante. Tornando tudo ainda mais difícil, era incrível como eu me sentia bem ao seu lado, me sentia livre e segura.
Olhei ao redor, vendo os rostos felizes, as risadas fartas que estavam refletindo o meu próprio humor, e agora, já não podia olhar esse momento com os mesmos olhos.
Bianca estava na pista com Ruan, em um lindo vestido branco, seus cabelos curtos e repicados soltos ao vento que vinha do mar, deixando todo o gramado, transformado em festa, fresco e com um leve cheiro de flores e maresia.
Otávio puxou meu rosto pelo queixo sugando meu lábio inferior. – Conversaremos sobre isso mais tarde a sós.
Concordei mesmo sabendo que não haveria mais tarde para nós. O que antes estava planejado para uma noite a dois, agora ocupava minha mente com sair o mais rápido daqui, sem olhar para atrás.
Engoli o ardume que se instalou em minha garganta e em meus olhos. Levando para longe as lágrimas.
A cantora no palco cantava músicas suaves, vários casais ocupavam a pequena pista de dança envolvidos no clima romântico da noite a luzes fracas. Karla havia realmente modificado seu gramado, ramalhetes de flores caiam por nossas cabeças como uma grande teia de primavera.
Otávio dançava lentamente tocando em cada pedaço de pele que meu vestido permitia. Quando a cantora começou a cantar os primeiros versos de “If I Ain’t Got You” encostei meu queixo em seu ombro cantando baixinho alguns refrãos, aproveitando meus últimos instantes com ele. Depois dessa noite eu seria como a Cinderela que perde seu sapatinho de cristal, voltando para seu, nem tão, feliz para sempre.
— Algumas pessoas vivem apenas para jogar o jogo, eu já me senti assim antes... — Otávio afastou seu corpo para poder me olhar nos olhos, continuei. — Algumas pessoas querem tudo, mas eu não quero absolutamente nada... Se não for você, querido.
Voltei para seu ombro, escondendo a lágrima que escorreu por meu rosto. Ele me apertou mais em seus braços, seus passos lentos nos giraram pela pista, num ritmo só nosso, num mundo onde só tinha nos dois.
— Algumas pessoas querem anéis de diamante... Algumas apenas querem tudo. Mas tudo não significa nada.
— Maya, por que sinto que você está se despedindo? – Otávio tentava me fazer olhar para seu rosto, mas recusei.
— Se eu não tiver você comigo, querido... Então nada nesse mundo inteiro não significa nada. – Sussurrei, os convidados aplaudiram a banda e a cantora. Tirei meus olhos de Otávio me juntando aos casais aplaudindo.
— Maya. – Otávio me chamou ainda segurando minha cintura.
Senti outro par de mãos em meus ombros. – Posso roubar um pouco minha nora?
Com olhos suplicantes para mim, ele me passou para seu pai com um beijo no rosto. – Claro pai. Dançarei uma valsa com minha irmã.
Barker me tomou em seus braços, sorrindo. Retribui abertamente seu sorriso, mesmo que por dentro meu coração sangrasse consideravelmente. A banda voltou a tocar uma música latina lenta sendo cantava pelo outro cantor.
— Está gostando da noite?
— Sim, está tudo maravilhoso. – Disse colocando um sorriso em meu rosto. De onde estava não conseguia ver Otávio, nem mesmo suas irmãs na pista de dança.
— Karla está em êxtase por Otávio finalmente ter encontrado alguém tão especial. — Comentava por cima da música.
— Eu que tenho, no fundo, que agradecer por conhecer Otávio e todos vocês, amei cada um, vou sentir falta.
— Por que, minha querida? Sempre será bem-vinda a nossa casa. Quem sabe você não faz Otávio vir nos visitar com mais frequência. – Barker mal sabia o que realmente ocorria, e, eu não o culpava. Tudo não tinha passado de um negócio que ambas as partes jogaram para o alto as regras e se envolveram demais.
Ficamos em silêncio dançando, acompanhando o ritmo dos outros casais...
— Sabe Maya, Otávio sempre foi o mais fechado... – Barker olhava para meu rosto esperando minha atenção. – Karla sempre achou que era por viver rodeado de mulheres, mas no fundo eu me via nele, sabia que ele não iria sossegar se não encontrasse a mulher certa.
Sorri de forma simpática, me mantendo forte.
— E posso dizer que finalmente eu posso deixar meus bigodes de molho e não me preocupar com ele.
Eu não tinha o que falar, me sentia mal mentindo para todos eles, ainda mais por terem me acolhido como uma filha, alguém realmente da família. Não era justo, nem comigo e nem com eles.
— Se o senhor me der licença, preciso ir ao toalete. – Disse como desculpa para me afastar.
Barker me deu um beijo na bochecha, permitindo que seguisse para o “toalete”. Quando estava longe o bastante da festa, apenas escutando o barulho de conversas e a música ao longe, deixei que as lágrimas reprimidas viessem à tona. Parei um instante olhando para a festa que acontecia lá embaixo, mandando um beijo silencioso para Otávio.
Corri escada à cima, me trancando no quarto, minha mala já estava preparada, pois de qualquer forma iríamos embora depois do casamento. Mas eu não poderia ter uma volta com ele. Busquei um pedaço de papel e uma caneta nas minhas coisas escrevendo um bilhete de despedida, não teria coragem de olhar em seus olhos depois dos dias maravilhosos que passamos juntos e dizer adeus. Ainda mais agora, com Hugo fazendo questão de rudemente dizer que eu tinha concluído meu trabalho e a promoção era de Otávio.
Comecei com um poema que caberia perfeitamente para o momento:
“Se quer me deixar, saibas que estou pronto. Porque agora, nessa tarde modorrenta, estou deixando você também.”
“Otávio... Tenho certeza que não conseguiria falar isso pessoalmente. Porém, nós dois erramos, erramos em nos envolver. Erramos quando ambos passamos por cada momento delicioso e perfeito um do lado do outro.
Errei quando coloquei meus olhos em você aquele dia na boate, e, errei mais ainda quando larguei tudo e me apaixonei por você. Por favor, seja feliz!
E saiba também que gosto de você e não, nunca brinquei com seus sentimentos, além do fato que eu mesma me joguei no precipício. Saiba que um pedaço de você sempre vai me acompanhar.”
Adeus, sua Mia
Deu um beijo suave em minha carta colocando no meio da cama junto com uma rosa que havia roubado pelo caminho. Puxei minhas malas escada abaixo, me levando e me chutando para fora da vida dele.
Entrei em um dos táxis que os Amells tinham disponibilizado para os convidados, para o pós-festa, onde todos sairiam felizes e cheios de champanhe. Cumprimentei o motorista deixando que ele colocasse minhas coisas no carro.
Dando uma última olhada para o casarão, encontrei os olhos surpresos de Luce que estava acompanhada de um rapaz alto. As lágrimas corriam por meu rosto, o carro deu partida, quando olhei pelo vidro detrás do carro Luce havia sumido do pequeno portão de madeira branca.
Capítulo 34
“O jeito mais fácil de estragar tudo é dizer a coisa certa, usando as palavras erradas”
Estava rodopiando Bianca em meus braços quando vi Luce vir apressada, ultrapassando os corpos que dançavam.
Olhei seu rosto branco como papel, os lábios franzidos o que era estranho se tratando de Luce. Parei minha dança com Bianca.
— Otávio você precisa vir comigo. — Falou em tom urgente.
— Como assim? O que aconteceu Lu?
— Otávio. Não estou brincando. – Seu rosto ficou furioso. – Você pode vir comigo?
Dei um beijo na testa de Bianca, ouvindo Luce bufar de minha demora. Passei por alguns casais, mas não se contentando Luce me puxava pela mão sorrindo para quem nos olhava, fazendo com que não parecesse um ato de irmãos, brincando um com o outro. Gabriela que estava na escada quando estávamos subindo, nos seguiu.
— O que houve?
— Faço a mesma pergunta para a Luce. Você pode me explicar que porra está acontecendo? – Tentei me virar para localizar Maya. – Preciso chamar a Maya.
— É sobre ela que quero falar seu esperto!
Travei nos últimos degraus, sentindo um calafrio percorrer meu corpo. – O que tem Maya?
— Luce, não é hora de brincadeira. —Gabriela puxou nossa irmã pelo cotovelo.
— Não estou brincando seus gênios, estou tentando falar que acabei de ver Maya entrando em um táxi com todas as suas malas. — Luce olhou para mim furiosa.
—Se o bocó aqui não fez nada para que ela saísse chorando no meio da festa sem se despedir de mim. Aconteceu algo realmente sério com ela.
— Espera! – Gritei com ela. —Você disse que Maya foi embora?
— Sim, esperto.
— Se acalme! Otávio cadê seu celular? — Gabi apalpou meus bolsos buscando o aparelho.
— Não está aqui. — Disse batendo na mão dela, me sentia tonto, não consegui acreditar no que Luce me falava. Larguei as duas paradas na escadaria, sai correndo entrando derrapando no piso da sala, subindo a escada.
Sentia meus olhos queimando.
Maya não poderia fazer isso comigo, não poderia.
O quarto ainda guardava o perfume doce dela, corri para o banheiro vendo se seria uma brincadeira de Luce, e, Maya por alguma razão estava brincando junto com ela. Mas todas as coisas dela tinham sumido da bancada de mármore.
Voltei para o quarto, cada peça, cada coisa que marcava sua presença tinha sumido, olhei para onde nós amamos na noite passada. Voltando meu olhar notei uma rosa e um pedaço de papel sobre a cama com meu nome. Passei a mão pelo cabelo tentando controlar minha respiração, cada palavra que lia daquele bilhete me fazia cair um pouco, me deixando de joelhos no chão.
Fazendo um buraco se abrir sobre meus pés, em pouco tempo Maya transformou uma atração sexual em... Não tinha palavras para explicar.
Peguei meu telefone na cômoda ligando para ela, tocou três vezes, depois caiu na caixa postal.
Liguei novamente, mesma coisa. Na terceira tentativa caiu direto na caixa postal, escutei a mensagem programada da operadora.
— Maya... – Minha garganta se fechou, — Mia, não faz isso. – Foi tudo que consegui falar antes de jogar o telefone longe, assim como tudo que estava em minha frente.
Transformando o quarto em uma zona de guerra, eu urrava de raiva, raiva dela ter ido embora, dela ter me enganado. De ter acreditado que ela tinha se envolvido como eu me envolvi. Raiva dos olhares amorosos que ela tinha lançado para mim, raiva acima de tudo de eu não falar o que sentia para ela.
— Acalme-se Otávio! — Disse para mim mesmo.
Respirei fundo sentindo um espaço negro em torno de mim. Quem achava que homens não sofriam, não tinham conhecido muitos “homens” de verdade. Minha raiva se misturava com uma coisa que não tinha experimentado ainda.
— Otávio?
Não me virei, nem expulsei Gabriela do quarto. Apenas passei a mão pelo meu rosto tirando a lágrima que ousou escorrer. — Tenho certeza que foi apenas um mal-entendido entre vocês.
Ela se agachou ao meu lado colocando um copo em minha frente.
Tomei um gole, deixando que a bebida queimasse minha garganta. Gabriela se levantou indo embora, me deixando na solidão.
Seus passos pararam, — Sabe irmão. — Ela parou na porta, olhei para seu rosto. – Não sei o que aconteceu entre vocês, mas precisa consertar isso.
Grande ironia.
Ela continuou. – Maya foi a melhor coisa que aconteceu para você.
— Acha que não sei disso? Não posso viver sem ela.
— Então você já sabe o que fazer.
A porta bateu, me deixando com o cheiro de Maya me torturando.
Busquei o telefone do outro lado do quarto no meio das coisas que joguei pelo chão, abri a caixa de texto...
Para: Maya Banks
“ Espero que todas as lágrimas que estou derramando, lavem de vez a minha alma das expectativas frustradas de ser feliz ao seu lado”
Enviar? Sim.
Capítulo 35
Por quatro longas semanas, a primeira coisa que fazia ao acordar, era checar a última mensagem no celular, um verso de uma música que não sai de minha cabeça e sempre que relia lembrava com dor sobre Maya.
"E se você disser algo que realmente é verdade.
É difícil até de compreender as partes que eu devo acreditar.
Pois você está me dando um milhão de razões.
Me dá um milhão de razões, um milhão para te deixar.
Mas eu só preciso de uma para ficar..."
E ainda na esperança que ela falasse algo comigo. Tinha ido até a boate. Noite após noite, me sentado no bar olhado as dançarinas ocuparem o lugar onde minha morena tinha estado. Fiquei plantado na porta de sua casa, muitas vezes sendo enxotado pelas caras feias dos vizinhos desconfiados.
Procurei por Jaqueline que também não tinha notícias de Maya, era como se ela nunca tivesse existido, tivesse sido como um meteoro que passou e assim mesmo foi embora.
Sim, era patético um homem como eu estar dizendo algo do tipo, patético e provavelmente gay!
Até Buddy estava amuado pela casa, mal querendo saber dos meus carinhos ou passeios noturnos. Minha família tentava entender o que havia acontecido, Luce tinha explicado que algo aconteceu, mesmo não sabendo a origem e que eu tinha ido atrás dela.
A imagem de quando dançamos ela recitando a música da Alicia Keys que não parava de tocar em meu som, prendendo-me naquele momento até que eu caísse em sonhos cheios de olhos verdes, me deixando cansado e esgotado.
Durante quatro semanas eu trabalhava superficialmente, Hugo que ainda se aventurava a questionar algo para mim era o que mais sofria com meu mau humor. Jessica – minha nova secretária. – Essa com certeza pedirá demissão até o fim do mês, duvidava se quase todas às vezes que ela ia ao banheiro não era para me xingar ou chorar escondida na baia do banheiro feminino.
Mesmo com todo reconhecimento e coisas boas acontecendo para meu lado profissional, não conseguia sentir prazer com isso. Estava tudo mecânico, acordava pela manhã, ia ao trabalho, voltava e me afundava no sofá com uma cerveja em mãos. Um verdadeiro trapo humano por dentro, reduzido a questionamentos e dúvidas sobre tudo.
Quando saia, não via as mulheres do mesmo jeito. Via como se fossem bonecas descartáveis, e, com grande frequência expulsava algumas do meu apartamento por ter visto um gesto ou o olhar que Maya lançaria para mim quando fazíamos amor, ou, apenas pela visão de Maya olhando para mim, de seu sorriso já me fazia sentir nojo de mim mesmo e não estar sendo justo com a pessoa se contorcendo embaixo de mim. E tudo piorava ainda mais quando alguma encostava na minha tatuagem, que passou a ser o luto vivo em minha pele sobre Maya.
Larguei o trabalho de lado naquela tarde e segui para o lugar que tinha certeza que teria informações de Maya, a Royalt Luxor.
Minha cabeça latejava por todo o caminho, meus olhos ressecados ardiam com as luzes dos carros passando por mim. Pela primeira vez, consegui um lugar para estacionar na frente do prédio. Estava impaciente só de aguardar o elevador, e quando entrei no saguão da Luxor piorou.
Natalia que havia me recebido da última vez, sorriu se levantando.
— Boa tarde, ou boa noite Sr. Amell — Disse simpática olhando o relógio.
— Preciso falar com Marli.
— Ela está ocupada com uma garota da Luxor.
— Não me interessa, avise que estou aqui, senão invado a sala dela. – Rosnei andando de um lado para o outro.
Natalia arregalou os olhos, pegando o telefone, digitou um código. — Sra. Tavares, o Sr. Amell está aqui. – Ela escutou algo. – Sim senhora, mandarei entrar nesse instante.
Não esperei que ela liberasse, eu mesmo já fui abrindo a porta da sala, estanquei quando vi a silhueta de uma morena sentada na cadeira. Meu coração acelerou, meus passos ficaram pesados.
— Conversaremos melhor amanhã Jeny. — Marli dispensou a mulher que ao se virar para ir embora, só tinha o negro dos cabelos parecidos com minha Maya.
– Senhor Amell, estava mesmo precisando falar com o senhor. Sente-se.
— Eu quero informações sobre Maya. – Disse de uma vez.
— E eu mesmo sem entender, preciso devolver isso para o senhor.
Marli abriu uma gaveta retirando meu cheque.
— O que é isso? – Questionei com as sobrancelhas erguidas, analisei o cheque em perfeito estado, do mesmo jeito quando assinei fechando meu contrato com Maya. Se ele tivesse voltado sem fundo o que por sinal, era impossível eu teria recebido uma ligação do banco.
— Não sei o que aconteceu entre você e Maya, mas ela não permitiu que descontasse o cheque, além disso, me pagou pessoalmente os custos e o adiantamento.
Podia sentir que estava com cara de idiota quando ela me falou isso. Maya não quis o dinheiro o que era por sinal um direito dela, afinal tinha trabalhado e feito muito bem seu papel durante as semanas que ficamos juntos.
— Ela não quis o dinheiro. – Confirmei para mim mesmo, não notando que dizia isso em voz alta.
— Não, Otávio.
Marli cruzou os braços diante do peito siliconado, com expressão curiosa no rosto. — Posso saber o que houve entre vocês? E o porquê mesmo antes do contrato terminar Maya me informou que estava disponível e quis o mais rápido possível embarcar para a Europa?
Levantei-me fazendo a cadeira cair com um baque alto no escritório. – Como assim embarcar? Para Europa?
— Maya está com outro cliente. – Ela continuava me olhando como se um bicho tivesse me picado.
— Com quem ela está? Que lugar da Europa ela está? — Gritei para ela, passando as mãos pelo cabelo.
— Não posso quebrar o sigilo entre uma Luxor e seus clientes Otávio.
— Eu não estou pedindo porra, me fale onde ela está. — Olhei para o cheque gordo em minhas mãos. – É dinheiro que fará você abrir a boca? Então fique com isso. AGORA FALA! – Gritei.
Ela suspirou, guardou o cheque em seu bolso do casaco, pegou uma pasta gorda com o nome de Maya na capa, vasculhou algumas folhas, vi um relatório constando meu nome e o mês de julho marcado, por fim, abriu outro relatório, prestei atenção no nome do possível cliente.
Alex Perroni.
— Maya, embarcou para Paris, está com um cliente em potencial. Agora o que ela foi fazer, é assunto somente de meu cliente. Já disse demais para o senhor.
—Obrigado.
Sai como um foguete de sua sala, não me importava com quem ela estava, como estava, pois, eu sabia que deveria estar em pedaços como eu próprio estava. Eu traria Mia de volta para mim. Pois para mim ela sempre foi Mia Azevedo.
Capítulo 36
“Sinto sua falta, cada dia, cada hora, cada minuto, cada segundo.”
As longas avenidas rodeadas de árvores, as pontes, os candeeiros de ferro, os cafés com esplanadas aquecidas, os prédios nunca demasiado altos, a Torre Eiffel iluminada, os museus e os monumentos mais conhecidos do mundo e os crepes de chocolate na rua. Isto é Paris.
Minha primeira vez na Cidade Luz estava sendo... Uma bosta! Deprimente, cada casal que eu via se abraçando, se beijando tinha vontade de me trancar no quarto por uma semana seguida. Estava começando a ter pena de Alex, um senhor de meia idade com tudo em cima, meu cliente depois de... Bem, não andava reproduzindo o nome de certo alguém nem por pensamentos. Só de imaginar ou pensar sequer sobre ele, meu peito sangrava, me sentia como se mil cacos de vidro se enfiassem em minha pele.
Alex tinha me contratado quando ainda estava com Otávio, precisava de uma mulher bonita, mas também inteligente, que pelo menos falasse inglês para fingir um affer com ele. Dono da metade da L’Oréal Luxe , queria me colocar em uma campanha internacional, além de conseguir o acesso de grandes magnatas Franceses.
— Bonjour ma fleur. – Disse entrando na grande sala de jantar onde tomava café com Biscuit .
— Bonjour Alex. — respondi com um sorriso.
— Como minha dama está essa manhã? – Ele se sentou na outra ponta da mesa, seu mordono logo foi colocando seu chá com leite na xícara, esperando qualquer ordem.
— Bem melhor. — Respirei fundo. — Desculpe mais uma vez, faço questão de comprir meu contrato com você. Não precisa pagar nada, eu mesma ligarei para Marli avisando.
— Laisser ma dame! — Exclamou, como um bom cavalheiro pedindo que esquecesse isso.
Lágrimas turvaram novamente minha visão. Havia manhãs que era difícil até respirar.
— Você já pensou em ligar para seu homem? Dizer como se sente?
Levantei os olhos, encarando Alex. – Somos de mundos e vidas diferentes, não se esqueça o que eu faço para viver, Talonneur.
Alex franziu o cenho negando com a cabeça. – Você não devia se referir assim a si própria, o que eu vejo na minha frente é uma belíssima mulher que trabalha como outra qualquer. Por sinal, mais respeitável que madames que desfilam em seus empregos de meio expediente.
Sorri de sua gentileza. Olhei pela grande janela de vidro, me alimentando do charme dos parisienses, a tranquilidade das ruas, esquinas que escondiam construções magníficas. Lembrando do meu primeiro dia em Paris, Alex fez questão de passear comigo por alguns pontos turísticos. Um passeio no final da tarde pelas margens do Sena, o vento frio passando devagar, fazendo o próprio tempo ir com calma.
— Mon seigneur, la voiture est déjà em attente pour vous. — O mordomo anunciou, chamando atenção de Alex e eu para nosso próximo passeio.
— Vamos minha beau , o carro está pronto. – Adorava o francês de Alex, principalmente quando me chamada de dama ou como agora Bela.
Capítulo 37
"Se quiser reconquistar alguém, não tente descobrir a razão que te levou a perder, e sim a razão que te levou a amar."
— Tavinho? Entre o que aconteceu? — Luce questionou me puxando para dentro do seu apartamento.
Desmoronei com um sorriso frio no rosto, Luce se sentou em minha frente. Meus olhos ardiam, eu nunca fui de expor meus sentimentos, nem mesmo pelos meus pais. Sei lá, algo meu, eles sabiam que gostava, mas não ficava falando isso a todo instante.
— Tudo começa com um homem burro o suficiente, vivendo numa bolha onde tudo relacionado a amor era algo saído de livros.
— Otávio... — Ela me interrompeu mais se calou com meu olhar frio e irritado.
— Eu fui um completo idiota queria aquela promoção mais que tudo, queria comandar as duas empresas, queria status em minha carreira e perdi algo que nem eu mesmo estava disposto a perceber bem na minha frente. – Suspirei. – Maya é uma acompanhante de luxo.
— O quê? Otávio como assim?
— Contratei-a para se passar por minha namorada, tinha que mostrar para a puta velha da minha chefe que existia algo seguro em minha vida. E no meio de todo esse fingimento, nos perdemos.
— Eu nunca suspeitei... Sabe, quando você contou que levaria alguém, desconfiamos que fosse mais alguma siliconada sem cérebro. – Luce tentou suavizar seus pensamentos —vocês pareciam um verdadeiro casal para todos. Uma acompanhante, Otávio?
— Algo que começou por uma mentira, mas com muita verdade por dentro.
— E você pode me dizer o que está fazendo aqui e não está com ela? — Luce cruzou os braços finos em frente ao corpo. — Claro, obrigada por confiar em mim para contar seu segredinho sujo, mas...
— Maya está em Paris. — Confessei.
— Perfeito, volto para França mais cedo e você vem comigo.
Ela se levantou ajeitando a saia, olhou para mim com interrogação no rosto. — Você não quer sua garota, idiota?
— Mais que tudo.
— Então se encarregue das passagens, Paris, aí vamos nós!
Não pensei duas vezes e sai às pressas com destino à França, precisava encontrá-la antes que sumisse da minha vida novamente. O voo tinha sido longo e angustiante, Luce que era a rainha do deboche não trocou uma palavra sequer.
A noite em Paris era algo para ser realmente apreciado, as ruas mesmo no frio deixavam tudo ainda mais bonito. A rua onde nosso hotel ficava era ladeado por prédios antigos, mostrando a arquitetura da cidade. Hotel Daniel , charmoso e aconchegante. Todas as janelas dos quartos eram acompanhadas por pequenas sacadas e toldos brancos.
Luce largou sua bolsa em cima de uma das camas de solteiro. Dando uma olhada para o quarto.
— Desculpe, mas de última hora não consegui nada melhor, além daqui ter um restaurante maravilhoso.
— Isso já ajuda muito. – Disse, deitando na cama com os olhos fechados e minha cabeça latejando.
Como sempre eu tinha mandando uma mensagem para o telefone de Maya. Após confirmar no desembarque que ela tinha visualizado encheu meu peito de esperanças.
— Pelo que eu pesquisei desse cara, ele mora numa verdadeira mansão perto do Boulevard Des Invalides . Podemos tentar falar com alguém, mas duvido que passaremos do portão.
—Amanhã mesmo, irei até lá.
— Você planeja falar com eles em inglês espertalhão? Eu vou com você, não vim mais cedo para Paris à toa.
— Tudo bem, amanhã logo cedo.
A madrugada passou e eu acompanhei todos os estágios dela contemplando a janela, Luce dormia pesadamente em sua cama e eu só conseguia contar as horas e os minutos no relógio, quando os primeiros raios de sol invadiram o quarto anunciando que finalmente eu poderia ver Maya. Muito antes de Luce sequer reclamar de ser acordada eu já estava pronto e já tinha chamado um táxi na recepção do Hotel.
Passamos por toda cidade indo para o endereço que Luce tinha instruído em francês para o motorista. Pagamos a corrida dando de cara com um enorme portão e ferro preto fundido, um jardim ladeava a entrada para um casarão ao fundo. Mesmo ao longe elegante e fino, as enormes janelas refletiam as primeiras horas da manhã.
Um segurança veio caminhando com um cachorro na coleira parando do outro lado do portão.
— S’il vous plaît j’avons besoin de parler à M. Perroni . — Luce despejou seu francês para o segurança.
— Que merda você disse? – Perguntei já irritado.
— Se você não tivesse largado seu curso para paquerar com as alunas nos corredores, teria entendido que eu pedi para falar com o tal de Alex Perroni. – Ela sussurrou de volta para mim.
— Quiêtes-vous ? — O segurança se aproximou mais na grade.
— Luce Amell e Otávio, nous avons besoin de parler de Maya Banks.
— Um temps.
Ela se virou com um sorriso apertando meu braço, mantive meus olhos fixos no segurança que falava em um aparelho parecendo aqueles walkie talkie que brincava com meus amigos quando criança.
Demorou um pouco até que o bendito segurança voltasse com um controle em mãos liberando nossa entrada, mesmo permitindo nossa entrada ele nos seguiu até a ampla porta de madeira rústica do casarão.
Um mordomo magro com aparência mal-humorada abriu assim que pisamos no último degrau. Deixei que Luce entrasse na minha frente, sentindo meu coração pesado, como se tivesse uma corrente esmagando-o, minha respiração estava fraca.
A entrada era coberta de mármore, com duas grandes e largas escadas, seguindo os mesmos tons de bronze e branco que a entrada tinha. Pequenas esculturas decoravam cada canto das paredes, realmente era um palacete.
—Merci Flaus.
Minha atenção foi para o homem de meia idade que descia a escadaria esquerda, em um pijama de seda preto coberto por um pesado robe. Ele sorriu quando terminou de descer parando em nossa frente.
— Pardon réveiller M. Perroni. – Luce estendeu uma mão, o velho deu um singelo beijo no dorso.
— Você quer ser convidada para o café? Pergunte de Maya de uma vez. – Falei em tom baixo.
O velho sorriu balançando a cabeça do que Luce havia falado. — Minha jovem, é um prazer ser acordado pela própria juventude.
Olhei para seu rosto, com certo embaraço do que eu falei, mas não sabia que ele nos entendia.
— Desculpe meu irmão, Sr. Perroni. — Luce desculpou-se pisando fundo com seus saltos no meu pé.
— Imagina, estava ansioso. Imaginando quando conheceria o famoso Otávio. — Ele disse erguendo uma de suas sobrancelhas. — Devo dizer que perdi a aposta.
— Como assim aposta? – Questionei.
— Apostei secretamente quando o homem de Ma Belle apareceria, e, vejo que o amor ainda contagia os jovens. Isso é bom!
— Maya está aqui?
— Lógico meu jovem. – Alex olhou em direção ao seu mordomo parado como uma estátua perto da parede oposta.
— Réveillez-vous Ma Belle Maya, nous avons visites.
— Maya está vindo.
E foi nesse momento que eu senti o ar abandonando meus pulmões na pura expectativa de ver seus olhos verdes, seu cabelo grosso em cachos negros se espalhando pelos ombros. E, acima de tudo por que eu ficaria frente a frente com a mulher que eu amava...
Capítulo 38
Troquei meu pijama por um vestido branco reto e simples, meus cabelos soltos em suas ondas naturais. Quem quer que esteja com Alex não falaria de minha aparência, aqui todos andam elegantes até para ir ao banheiro. Perroni assim que chegamos disponibilizou um armário completo para meu uso, porém eu evitava. Apenas se fosse essencial buscava algo no grande closet e a essa hora da manhã não era um momento desses.
Segui pelo corredor comprido, o barulho dos meus saltos reverberando entre o piso de mármore e os tapetes compridos, desci os primeiros degraus da grande escadaria tentando ver quem estava com Alex, parecia um casal, rezei para que não fosse os Courtney, eles eram um pé no saco de tão chatos. A mulher era um entojo, nojenta com suas caretas contrariadas.
No meio da escadaria, voltei meus olhos para cima e foi assim que nossos olhos se encontraram, eu não acreditava no que via. Otávio deu um passo para frente, chegando mais perto da escada.
— Achou mesmo que eu não iria te procurar Maya?
Olhei assustada para Alex que sorria como um verdadeiro espectador de um filme romântico.
O silêncio, apenas nossos olhos se encarando, seus olhos azuis reluzentes.
Era tanta saudade reprimida que minhas pernas vacilavam só de ouvir a voz dele, de ver seus olhos azuis como o céu num dia de sol forte. Desci mais um degrau examinando seu rosto, era difícil tê-lo aqui na minha frente.
— Porque você fugiu Maya? – Otávio implorava para uma explicação.
— O que você está fazendo aqui? Como me encontrou? – Olhei de novo para Alex. – Alex, me perdoa, eu só tenho causado problemas para você.
— Ma Belle , eu disse que você poderia até tentar fugir do amor, mas se fosse verdadeiro ele tornaria a tomá-la. — Com um sorriso singelo ele indicou para o corredor menor abaixo das escadas para Luce, ela se virou olhando para seu irmão e para mim, sorriu mesmo tendo uma nota de mágoa em seu rosto e sumiu com Alex pelo grande casarão.
Otávio subiu alguns degraus ficando cara a cara comigo e sem aviso tomou-me em seus braços, invadindo minha boca, em um beijo quente. Mostrando nossos sentimentos, dor, saudade, desejo e acima de tudo uma fome enlouquecida de me perder em seu corpo novamente.
Sua língua cruzava e invadia cada canto de minha boca, sugava meu lábio inferior tomando tudo para ele. Apoiei as duas mãos em seu peito, tentando me desvencilhar de sua boca antes que eu mesma rasgasse suas roupas aqui tomando o que foi meu um dia.
— O que você está fazendo aqui?
— Como você pôde me largar, sem ao menos olhar nos meus olhos? – Ele questiona. — Com um único bilhete de despedida? Não respondeu nenhuma de minhas mensagens. Eu fiquei igual louco atrás de você!
Senti as lágrimas brotando em meus olhos, o buraco que havia em meu peito aberto e sangrando novamente.
— Não devíamos ter nos envolvido Otávio. Eu contei que sentia por você, mas, não tinha que ser tá legal? Não podemos ficar juntos...
Ficamos em silêncio um instante.
— Eu sou egoísta Otávio, não sou o tipo de mulher para você e mesmo assim, mesmo sabendo disso não queria me afastar. — Suspirei. — Eu gosto de você e, por gostar de você não posso ser egoísta.
— Eu não lamento nada, não vou questionar se você é egoísta, mas também não vou permitir você ir embora.
— Me escute Maya! — Otávio nem deixou que começasse a falar. — Como você deixou em sua carta para mim, eu não lamento ter te conhecido, não lamento o fato de ter vivido momentos loucos com você e... Principalmente não lamento o fato de você ter me feito questionar tudo. Mas eu não vou me lamentar de dizer que eu estou apaixonado por você Maya Banks!
Otávio explodiu passando a mão pelo cabelo, denunciando seu nervosismo, encostou-se na grade da escada.
– Só preciso saber se você realmente sentiu, ou sente algo por mim? Um simples “sim” ou “não”.
Minha garganta estava fechada, um grande nó se formou com tudo que ele disse. Como iria negar? Como iria falar que não senti nada, sendo que eu fugi por isso. Por sentir demais, por me envolver com alguém que eu não poderia ter.
— Sim. – Gaguejei, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
— Era tudo que eu precisava saber. — Disse Otávio, antes de partir para cima de mim como um leão.
Ele me tomou em seus braços, tirando meus pés do chão. O beijo foi mais lento, profundo. Garantindo que nenhum dos dois fugiria no segundo seguinte.
Capítulo 39
“Retorno a paz rapidamente, volto a suspirar de amor...”
Aproveitei cada toque dela, por menor que fosse. Mas o beijo não era capaz de satisfazer todo o desejo que eu estava sentindo. O calor de sempre tomava conta de nós, meu corpo incendiava com o dela, me deixando completamente maluco.
Maya desgrudou seus lábios do meu, recuperando o ar, deu uma olhada para os lados, quando seu rosto voltou para o meu vi a deusa através dos seus olhos. Ela agarrou minha mão na sua, levando-me escada acima. Não fazendo nenhuma cerimônia ao entrar num quarto com tons de azul claro, uma grande cama no centro, rodeado por grandes janelas.
E, como em meus melhores sonhos, não demorou muito para estarmos nus, enroscados um no outro pulando qualquer preliminar. Joguei Maya no meio da cama, olhando para ela com um desejo incontrolável, meu pau latejava já ereto. Com meu corpo sobre o seu, meus olhos comendo os seus, me senti completo e nem ligando que estava na casa de um estranho, na cama dele. Isso me fez parar.
Maya me olhou confusa, com receio.
— Posso perguntar uma coisa?
— Sim. – Ela sussurrou, como um miado.
— Você e aquele velho... – Fiquei com um nó na garganta, não que não fosse perdoá-la por isso, mas eu precisava saber se alguém tinha tocado seu corpo como eu toquei por vários dias. – Você e ele... – não consegui terminar.
Maya soltou a risada que sentia tanta falta fazendo seu corpo roçar em meu membro o que me deixou com mais tesão.
— Bonitão, o último homem que tive foi você, Alex nunca tentou nada, muito pelo contrário, foi um grande amigo.
Isso bastou, não queria falar e ouvir mais nada que não fosse seus gemidos ou ela gritando de prazer meu nome. Desci minhas mãos tomando seus seios grandes, beliscando e apalpando um enquanto mordia e lambia o outro deixando o “delicado” para depois, eu estava impaciente. Queria ver Maya se derreter com meu toque, ela tocava meu peito, traçando as linhas de minha tatuagem fazendo meu corpo tremer com força, saindo do controle. Suguei ávido seu seio arrancando um gemido duro de Maya.
Tudo esquentou ainda mais quando sua mão foi para meu pau, apertando, espalhando o prazer sobre ele. Sua outra mão arranhando minha bunda, minhas costas. Tirei seu seio de minha boca, atacando seu pescoço. Arrancando seus dedos de meu membro, empurrei-o para sua intimidade, provocando espasmos por seu corpo raspando-o por seu clitóris. Maya jogava a cabeça para trás, suas mãos ao lado agarrando os lençóis, gemendo a cada investida que dava em seu corpo, ela arqueava os quadris para que entrasse por sua fenda, mas eu me afastava, quando voltava começava de novo a tortura, vendo seu corpo desfalecer colocando apenas a cabeça em sua vagina, mexendo os quadris em círculo.
— Otávio... – Ela gemeu.
— Fala meu amor, o que você quer? – Rosnei.
Ela me olhou brava, os olhos verdes queimando desejo, sua deusa interna furiosa pela tortura. Lancei um sorriso cafajeste para ela, feliz, completamente feliz. – Você não foi uma boa garota Srta. Banks, ou deveria chamá-la de Mia Azevedo?
— Do que você quiser, mas termine logo com isso. — Maya suplicou jogando a cabeça novamente na cama.
Segurei a cabeça de meu pau fazendo mais pressão em sua entrada, que gotejava de prazer. Mais um espasmo.
Meu próprio corpo brigava com minhas atitudes, deixei de lado o joguinho me enfiando de uma vez dentro dela. Maya gemeu puxando com força os lençóis que se desprendiam da cama, de uma maneira bruta comecei a me movimentar dentro dela. Certeiro, encontrando aquele pontinho delicioso de prazer, passei a perna de Maya por cima de meu corpo unindo com a outra deixando-a de lado, seu corpo ganhando uma nova posição enquanto eu aumentava as estocadas. Agarrei um punhado de seu cabelo enrolando as grandes mechas em minha mão, Maya mordeu o lábio inferior.
Podia sentir ela chegando naquele ponto, meu próprio corpo exigia isso, nossos corpos ficaram tensos com aproximação do orgasmo. Tirei-a da cama enlaçando suas pernas em minha cintura, sentei na ponta do colchão ditando um movimento mais lento, porém mais provocante. Sentindo Maya em todos os pontos do meu corpo.
— Não fuja mais de mim, —Arquejei sentindo o orgasmo chegar em espasmos. — Você é minha. — Gemi gozando.
— E você é meu. — Maya retribuiu curtindo seus espasmos.
Maya dormia relaxada quando sai do banho, o lençol cobria sua nudez, seus lábios entreabertos de forma delicada. Nem me importei que o resto de água pingasse pelo chão só queria admirar seu sono.
Ela se remexeu, como se sentisse que estava sendo observada, seus olhos piscando, ganhando foco. Maya rolou na cama de novo encontrando meus olhos com um sorriso no rosto.
— Tão linda mesmo quando acorda, assim fica difícil me manter longe.
— Tudo por sua causa. – Respondeu com voz rouca pelo sono.
Bocejou, esticando os braços sobre a cabeça, o lençol cedeu mostrando um de seus seios. — E você, torna verdadeiro o significado da palavra “suculento” saindo assim do banho. Sempre foi assim ou veio tudo num pacote com essa tatuagem?
Ri de seu comentário, fiz uma careta séria sentando ao seu lado. – Não... – me inclinei colocando o bico de seu seio a mostra na boca sugando-o com força. Ela gemeu quando voltei a me afastar. — Eu sempre fui lindamente suculento.
— Idiota! – Disse rindo e tacando um travesseiro em mim.
Capítulo 40
“Cheguei a uma incrível conclusão o destino não andava de mãos dadas com a minha felicidade”
— Ainda não acredito que fizemos isso aqui na casa do Alex.
Otávio terminava de colocar seu casaco, tinha ajeitado o quarto, meus cabelos. Dei uma última olhadinha para trás, vendo o sorriso cínico no rosto dele. Fechei o semblante, seu sorriso sumiu no mesmo instante.
— Foi melhor do que os sexos normais, pelo menos você tem que assumir isso. — Otávio deferiu um tapa em minha bunda passando pela porta.
— Mas eu estou trabalhando, ainda tenho duas semanas a cumprir com Alex.
Escutei seus passos sumir.
— Você irá voltar comigo Maya.
Virei olhando novamente seu rosto, analisando se estava brincando.
— Não. Como disse estou trabalhando. – Endureci a voz.
— Não vamos discutir. Você volta comigo.
— Otávio!
Ele passou novamente por mim descendo a escada com passos duros e decididos. Indiquei para o jardim de inverno, onde Alex provavelmente estaria. Era seu lugar preferido, e, eu tinha aprendido a apreciá-lo junto com ele.
—... Eu me mato para essas modelos fazerem isso realmente você tem um dom Alex. – Escutei Luce falando no fundo do corredor.
— As pessoas são fáceis de serem levadas. Basta saber o que as motiva.
Alex estava sentado em seu banco elegante de madeira branca, de costas para a porta. Luce reluzia prestando atenção no que ele dizia. Aprendi nesses dias que passei ao seu lado que Alex Perroni tinha um lado todo particular de ver as coisas, romântico nato tendo se casado três vezes. Dizia que cultivava amores, mesmo não permanecendo com a pessoa até o fim dos seus dias. Ele dizia que levava um pedaço de cada uma das mulheres em seu coração, como cada uma delas tinha um pedaço seu.
— Alex.
— Ma Belle , que bom que vocês se entenderam. — Disse juntando as mãos, mostrando seu sorriso quando viu Otávio entrando em sua grande “estufa”.
—Obrigado, por permitir isso.
— Imagina meu cavalheiro, Maya está ainda mais brilhante ao seu lado. Uma pena que perderei minha modelo. — Alex dizia com um biquinho engraçado torcendo a boca.
— De maneira nenhuma, eu estraguei demais os eventos que estive por meu humor, ficarei aqui até que nosso contrato vença.
— Comme vous le souhaitez ... Como quiser – Disse levantando as mãos em rendição.
Apesar de aguentar a presença de um muito mal-humorado Otávio, estava feliz por tê-lo ali. O passeio tradicional de final de tarde com Alex nunca tinha sido mais brilhante. Luce e ele se deram bem de cara, ambos comentavam suas experiências com modelos ou o ramo da moda, fazendo comentários engraçados para mim e Otávio.
— Alguém está cansado? – Alex perguntou olhando para nós.
— Não, muito pelo contrário! — Luce exclamou enlaçando seu braço do de Alex.
— Não. – Otávio e eu dissemos juntos.
— Magnifique ! Ma Belle já teve o prazer de me acompanhar, mas quero levá-los para o Bateau le Calife .
Perroni fez sinal para seu guarda-costas, falando com ele em um francês complicado, dizendo aonde iríamos.
— Jujuba. — Olhei para Otávio, — ele poderia parar de chamar você de “minha bela”? Ajudaria muito a gostar mais dele. – confessou baixo em meu ouvido. – E o que seria Bateau le Cafile?
— Um restaurante, fica perto do Museu do Louvre, além de termos a vista para Torre Eiffel.
Um restaurante montado em um navegante, que percorre o Sena. Deixando o ambiente propício para romance e momentos especiais. E com certeza aquele era um deles, estar com Otávio em Paris era melhor que muitas coisas que já tinha visto por aí. Meu bolso vibrou com o toque do celular, olhei vendo que era Marli, pela quarta vez seguida. Decidi ignorar, pelo menos por hoje.
Imagino que o motivo seja pela descoberta de Otávio, afinal onde ele poderia ter encontrado informações sobre onde estava? Na Luxor, e, esse era motivo suficiente para evitar a todo custo uma ligação de Marli, sua voz invadiu meus pensamentos enquanto nos deliciávamos com uma taça de vinho francês.
— Marli, preciso ser colocada com outro cliente. – Disse invadindo o escritório de Marli e pegando ela em um momento delicado com um dos garotos da boate.
— Oh minha querida... – Ela sorriu passando a mão no canto da boca ajeitando o batom borrado. Lucas o novato pescou suas roupas com rapidez se trancando na outra sala do escritório.
— Você disse que tinha um cliente para mim. – Continuei como se não tivesse visto nada.
— Sim, sim... – Ela abriu minha pasta de contratos. – Mas, cadê o senhor Amell? Posso mesmo antecipar seu trabalho com o Sr. Perroni?
— Não quero questionamentos, inicie meus trabalhos com o Perroni, me passe tudo que preciso saber.
Engoli o nó que tinha em minha garganta sempre que me lembrava de Otávio, meu peito doía como se uma faca me perfurasse toda vez que me lembrava dele, de Maresias, de sua família...
— Aqui está, meu diamante, você vai para Paris. – Anunciou toda animada.
Uau. Paris! Esse deveria ser meu comportamento, afinal quem ficava triste em Paris? Isso era fácil, eu.
— Marli?
— Sim? – Ela ainda me olhava com questionamentos no olhar, mesmo mordendo sua língua para não falar nada.
— Não desconte o cheque do senhor Amell, eu faço questão de pagar do meu bolso, passe para mim a conta e eu pago, mas não mexa nesse dinheiro. – Suspirei. – Se ele aparecer, pode devolver.
Acredito que no fundo eu esperava desesperadamente isso, mesmo tendo desligado meu celular eu tinha lido um por um de seus recados, e todos, todos mesmo me cortavam fundo.
Todos os dias eu tentava me convencer que tinha feito a coisa certa, ele não precisava de uma mulher com meu currículo, ele merecia a tal garota que seu pai tinha me falado no casamento. Alguém que não tivesse passado de homem em homem como eu...
Marli arregalou os olhos. – Maya... Aconteceu alguma coisa que você queira me contar, minha querida?
Respirei fundo, colocando meu melhor sorriso.
— Por enquanto não, apenas não desconte o cheque.
Lábios úmidos encontrando meu corpo apenas coberto por um fino lençol. A luz do sol invadindo as janelas de vidro que iam do chão ao teto, a vista de Paris ao longe e o cheiro do meu homem permeavam o ar ao meu redor. Conforto, amor e alegria foi o que me dominou naquela manhã.
Otávio beijava a região de minha cintura, seus cabelos raspando em minha barriga provocando cócegas. Ele subiu fazendo o caminho de volta vendo que tinha acordado.
— Bom dia, Jujuba. – O sorriso mais encantador nos lábios.
— Bom dia, bonitão.
Espreguicei-me, tardando à hora de levantar. Ontem depois do jantar Alex tinha se mostrando encantado pelo jeito de Luce, ainda mais encantado por seu jeito debochado. Então convidou Otávio e a irmã para ficarem em sua mansão, o que foi ótimo. Sorri relembrando a noite de prazer que tive. Indo pegar no sono com o céu dando seus primeiros sinais do amanhecer.
— Dormimos muito? – Perguntei ficando virada para seu peito.
— Não muito, Alex e Luce foram fazer algum passeio logo cedo.
Ri vendo que não tinha sido a única a notar como eles tinham se entendido bem por todo dia.
— Tem um banquete preparado lá embaixo.
— Hum... — murmurei colando minha boca na dele, — preciso saborear outra coisa agora. – Desci meus olhos ao mesmo tempo em que minha mão se encaixava em sua virilha.
— Você é uma mulher muito fogosa mesmo, vai acabar me causando um infarto.
Passei a língua por meus lábios rindo do falso susto que Otávio produzia. Meu celular começou a vibrar na mesa de centro perto das poltronas, onde ficou jogado na noite anterior.
— Acho melhor você atender. Ele tem tocado a um bom tempo.
Levantei-me a contragosto, andando pelo quarto nua, nem um pouco envergonhada quando ele assobiou cruzando os braços atrás da cabeça. Dei uma olhada no visor não reconhecendo o número. Atendi no terceiro toque.
— Alo?
— Mia Azevedo? — Uma voz de mulher rompeu minha felicidade matinal. Um espasmo gélido ocupou minha espinha.
— Quem é?
Não estava acostumada com ligações para esse número me chamando de Mia.
— Preciso falar com a senhorita Azevedo.
— É ela mesma.
— Aqui é Carmem, sou médica do Hospital Santa Isabel de Blumenau. – Eu me senti fraca, procurei o apoio da cadeira, como se tivessem jogado um balde de água gelada sobre mim.
Otávio se levantou de um pulo, ficando ao meu lado em pequenas passadas, me colocou sentada na cadeira. Olhando sério para meus olhos.
— Estamos ligando porque seu pai Valter Azevedo pediu.
— Qual é o problema do meu pai? – Um aperto em meu peito me impedia até de respirar.
— Mia, seu pai deu entrada no hospital com um quadro complicado, ele não está se recuperando como devia. Há dois dias ele pediu para que ligássemos para a senhorita, porém teve uma parada cardíaca essa noite, seu irmão pediu para que tentássemos localizar você novamente.
— Onde eles estão? Meu irmão e minha mãe?
— Seu irmão está com sua mãe, eles estão muito abalados, gostaria que chamasse pela senhorita. — Ela ficou com aquela voz de quem sabia mais do que queria falar. – Me d esculpe.
— Estou indo.
Foi tudo que disse antes do telefone cair de minhas mãos para meu colo.
Meu pai, ele está morrendo.
Meu pai está morrendo.
Meu pai...
Não importava o passado, ou o modo como fui escorraçada de minha própria casa e da vida de meus pais, não importavam quais foram às escolhas que eu e ele fizemos, ou o que tínhamos nos tornados.
Ele era meu pai, e, mesmo assim eu o amava. Pensei em meu irmão ainda um menino quando nos vimos pela última vez, minha mãe...
Não precisei falar nada, Otávio me tomou em seus braços, minhas lágrimas disseram tudo que estava preso na garganta. Entre soluços e afagos de Otávio eu percebia como a vida era realmente uma coisa instável.
Minutos estava sobre o braço do amor e da vida, imaginando meus dias acordando ao lado do homem que amo. E em segundos toda minha felicidade planejada foi interrompida com a notícia que uma vida que eu também amava, daquele que me segurou nos primeiros passos e tombos, estava se desfazendo.
Capítulo 41
O táxi parecia andar em câmera lenta, lento demais para a pressa que se apossava de mim. Agarrei o braço que Otávio mantinha em minha perna, ele olhou para mim, vi que havia preocupação em seus olhos, mesmo ele estando calmo.
— Calma meu amor, vamos primeiro ver como ele está.
— Eu não estava com eles, eu...
As lágrimas começaram a cair novamente e não pararam mais, não conseguia mais contê-las.
Paredes brancas, longos corredores de paredes brancas e as luzes piscavam com frequência. O peso do meu corpo era o dobro do meu, Otávio muitas vezes me sustentava. Primeiro pelo cansaço de sair correndo de Paris vindo direto para Blumenau, sem nem ao menos pararmos para respirar.
A médica que tinha me dado as notícias foi quem me recepcionou quando cheguei, devido ao fuso horário e o Jet Lag , ambos estávamos cansados e com roupas pesadas demais para o clima que estava fazendo em Blumenau. Otávio tinha tirado seu casaco ficando apenas com a camisa social branca com as mangas arregaçadas em seus cotovelos. Eu tinha largado meu casaco na cadeira desconfortável ao meu lado, ficando com o vestido tubinho azul claro, não por escolha, mas por ter sido o primeiro que vi pela frente antes de fechar minha mala.
Alex nos deu todo apoio e ajuda para voltarmos e fez questão que Luce permanecesse. Nesta altura pouco me importei realmente com a irmã de Otávio, as palavras da médica no telefone não saiam de minha cabeça.
— Mia?
Sai do aperto de Otávio para me virar, vendo quem me chamava. À primeira vista não o reconheci. Um homem alto, mas com músculos definidos. Foram seus olhos que o traíram, verdes como os meus, seu cabelo castanho claro curto.
— André?
Levantei da cadeira desconfortável, assim que ele confirmou com um aceno eu não me contive puxei ele para um abraço, lembrando do garoto gentil que ele era e como eu incentivava esse comportamento.
André retribuiu meu abraço, transmitindo questionamentos que eu não poderia responder no momento. – Senti sua falta Mimi. – Sussurrou em meu ouvido meu antigo apelido.
Segurei seus ombros dando uma boa olhada para seu rosto, os mesmos traços, porém muito mais bonitos agora com seus vinte poucos anos.
— Também senti sua falta tampinha .
Meus olhos foram para minha mãe, caminhando com cautela até onde estávamos. Sua aparência mesmo cansada continuava bonita.
— Mia.
— Oi mãe. – Busquei a mão de Otávio que entrelaçou os dedos nos meus, sentindo minha urgência.
— Vejo que trouxe alguém com você? – Ela perguntou analisando Otávio da cabeça aos pés, com um tom de desgosto em seu rosto. Mesmo depois de todos esses anos eles ainda me olhavam como uma decepção.
— Otávio Amell, namorado de Mia. – Ele estendeu a mão livre para minha mãe, depois para meu irmão. Meu coração deu alguns pulinhos no peito com essa pequena declaração. – Sinto muito pelo Sr. Azevedo, estávamos em uma viagem quando soubemos da situação.
— Não devia ter incomodado a sua irmã André. Ela é uma pessoa importante. – Minha mãe soltou farpas em minha direção.
— Não foi incomodo nenhum, mesmo longe vocês nunca saíram de minha cabeça. Vim aqui porque vocês aceitando ou não do que faço da minha vida, o cara lá dentro continua sendo meu pai.
— É bom ter você aqui. – André disse olhando para nossa mãe.
Passos no corredor, interromperam nosso momento “família”. A doutora Carmen, veio caminhando com um prontuário em mãos.
— Bom dia.
— Alguma notícia doutora? – Minha mãe perguntou.
— Sinto muito Beatriz, ele não reagiu ainda às novas medicações, continua em coma induzido.
Minha mãe desmoronou nos braços de André, chorando copiosamente, soluçando e chamando aos sussurros por meu pai. Mesmo com todos os problemas que se seguiram, eu cresci em uma casa feliz. Meus pais tinham e demonstravam um amor até meloso em nossa frente, nossa família apesar de pequena sempre foi muito unida.
— Doutora, poderia ver meu pai?
— Claro Mia, venha comigo. – Ela sorriu indicando um corredor pequeno que dava para os quartos da UTI.
Olhei para Otávio, ele fez um sinal concordando. Deu-me um beijo casto nos lábios e voltou a se sentar nas cadeiras.
O quarto assim como todo o hospital era de um branco imaculado, tirando as cortinas que dividiam as baias dos pacientes que eram de um tom estranho de azul, tudo era branco, branco demais. E todo esse branco e limpeza não conseguiam esconder o leve cheiro de doença entranhada nas paredes do hospital. A médica me passou um conjunto de luvas e uma roupa esterilizada, além de máscara.
Acompanhei seus passos, passando por alguns pacientes, alguns em estado realmente grave. Alguns familiares chorando em silêncio, o que mais mexeu comigo foi uma menininha, devia ter uns doze anos no máximo. Sentada na ponta da cama de um senhor que sorria de jeito afetado para ela, prestando atenção em um grande livro que ela lia para ele.
Fiquei de pé na ponta da cama, vendo o homem que me ensinou tantas coisas, naquele estado, vários aparelhos estavam ligados ao seu corpo, soando bips.
— Mia ele não responderá, mais pode escutar o que você falar com ele. – Ela disse colocando as próprias luvas. – Não é mesmo Valter. Veja quem está aqui, você pediu e nós chamamos sua filha Mia.
— Desde quando ele está em coma?
— Tivemos que induzir há dois dias, tentamos contato com seu trabalho, Natalia, se me engano. Seu irmão que nos passou os números.
Então era isso o motivo de Marli ligar insistentemente para mim e eu achando que ela queria dizer sobre algo fútil não atendi.
— Vou deixar vocês a sós.
As palavras estavam travadas em minha garganta, peguei de leve a mão enrugada de meu pai, olhando para seu estado estável até o momento. Nada se encaixava para começar a falar como um:
— Oi pai.
Respirei fundo engolindo o bolo em minha garganta. – Não era assim que eu esperava vê-lo. Senti sua falta, foram longos anos...
As lágrimas vieram como uma cachoeira, caindo por meu rosto, molhando meu pescoço.
— Eu cresci muito desde que sai daqui papai, vivi coisas incríveis, conheci o homem da minha vida. – Sorri lembrando-me de Otávio. – Tenho um namorado. – Acrescentei rindo.
— Mas sabe pai, mesmo tendo trabalhado muito para conseguir juntar uma boa quantia de dinheiro para retomar meu sonho, pude estar com pessoas que me mostraram coisas incríveis, coisas que vou levar para sempre. E quando o senhor sair desse hospital contarei tudo.
Olhei para o rosto do meu pai, vendo uma pequena lágrima descendo pelos cantos dos seus olhos fechados. Minha mãe apareceu do outro lado da baia olhando para nós, um mínimo sorriso em seus lábios finos.
— Vou deixar vocês conversarem. – Dei um beijo na testa do meu pai, saindo como um verdadeiro zumbi, em pedaços por dentro querendo uma cama para me enroscar e só sair de lá quando tudo isso passasse.
No corredor não avistei ninguém, caminhei cruzando alguns médicos que me indicaram onde ficava a cafeteria. Arrastei-me até a máquina de café expresso, coloquei uma moeda de um real e um copo de plástico embaixo.
Encostei minha testa na máquina, respirando fundo. Minhas mãos tremiam um pouco.
— Mia? Você está bem? – Otávio correu ao meu encontro sustentando meu corpo.
— Não... – Chorei, fungando meu nariz.
Apoiei em seu peito, agarrando suas costas, deixando tudo cair como um deslizamento de terra. Encharcando sua camisa branca, mas ele não disse nada, só me abraçou com mais força. E mesmo nesse caos me senti segura, protegida.
– Obrigada por ter vindo comigo. – disse, entre soluços.
— Não estaria em nenhum outro lugar do mundo se não fosse ao seu lado minha Jujuba, apoiando você nesse momento.
E por um longo... Longo momento, ficamos assim.
Eu não tinha noção que horas eram, ou como estava o tempo lá fora. O ar condicionado do corredor fez com que eu me aninhasse em meu irmão me cobrindo com meu casaco.
Otávio tinha saído para resolver alguma coisa relacionada a trabalho, eu agradecia muito depois de tudo ele ainda permanecer firme e forte ao meu lado. Tinha deixado sua vida de lado para correr atrás de mim em Paris e agora aqui, me dando todo o apoio que eu precisava.
Esfreguei minha nuca tentando aliviar a dor que tinha se instalado ali, sentei olhando para o corredor agora mais vazio, os médicos que passavam por ali entrando na UTI não eram os mesmos e não entravam com tanta frequência. Meu irmão tinha adormecido, apoiando a cabeça contra a parede.
Olhei para o outro lado, vendo Otávio surgir no corredor, com passadas firmes. Sua camisa estava desalinhada e nem assim ele ficava feio.
— Oi. – Ele beijou minha testa, mantendo um braço envolva de minha cintura. – Como estão as coisas?
— Na mesma.
— Você não pode se culpar Maya, muitas vezes coisas acontecem para nos mostrar algo.
— Estou fazendo você sofrer comigo. – Sussurrei contra seu peito. – Você devia voltar, seu trabalho, suas coisas...
— Ei, ei. – Otávio puxou meu rosto para cima, olhando no fundo dos meus olhos. – Eu não vou a lugar algum, e nem tente me expulsar.
Capítulo 42
Dois dias, dois dias vagávamos pelos corredores, as notícias sempre eram as mesmas e o cansaço já batia forte sobre nós.
Observei Maya nesses dois dias com olhos inchados pelo choro, seu rosto pálido pelo medo da perda, nenhum dos três rostos continham um lampejo real de esperança.
Maya caminhou até seu irmão sentado com os braços apoiando a cabeça em frente à porta do quarto, seus passos vacilantes pelo cansaço e a quantidade abusiva de café.
Terminei minhas duas ligações, uma para o escritório explicando meu afastamento e outra para minha mãe. Devia isso a eles por ter saído como um louco do casamento sem nem me despedir, ainda não contei sobre o que Maya realmente era, nem sabia como comentar sobre isso, e não seria dentro de um hospital e ainda mais por telefone que iria conversar sobre uma coisa dessas.
—... Claro que entendemos filho, se precisarem de qualquer coisa ligue para nós. – Minha mãe terminava de falar.
— Pode deixar mãe, depois nos falamos melhor. – Meus olhos voltaram para Maya.
— Beijo filho.
Voltei meu celular ao bolso.
— Mia, você precisa dar um tempo no café. Precisa descansar. – Repreendi com um olhar duro.
— Eu estou bem, bonitão. Vou ficar bem.
— Ele está certo Mimi, vão para o hotel, descansem. Estou esperando mamãe sair do quarto para levá-la para casa. – André se juntou a mim.
Ela apoiou a cabeça na parede fechando os olhos.
Ainda meio relutante, mas concordando com um pouco de descanso deixamos o hospital, meu próprio corpo estava cansado, mesmo com o pequeno cochilo no voo. Passar o dia todo sentado em uma cadeira desconfortável de hospital estava piorando as coisas. Precisamos desse tempo.
A pedido de Maya, ficamos em um hotel próximo do hospital, uma cama com aparência de conforto me chamava aos poucos. – Vai tomar um banho, vou pedir algo para comermos. – Apontei para sua mala e pro banheiro, fui até a mesinha de cabeceira ligando para a recepção pedindo nosso jantar.
Liguei a pequena TV, assistindo um telejornal esperando Maya sair do banho para eu próprio tomar o meu, além de dar um tempo para ela.
Maya saiu do banho vestindo apenas uma camiseta larga e calcinha, mesmo não sendo de jeito nenhum o momento não poderia mentir para mim mesmo e dizer que não mexia nem um pouco comigo. Muito pelo contrário, depois do banho ela ficou com uma aparência melhor, mesmo as olheiras profundas ainda estarem presentes debaixo dos seus olhos.
— Já pedi nosso jantar, espero que goste de bife com batatas.
— Perfeito.
Caminhei até seu corpo abraçando-a por trás, sentindo seu cheiro misturado com o do sabonete. Seus cabelos molhados caindo pelas costas. – Pode ir jantando, vou tomar um banho, meu corpo já está implorando por isso.
Ela se virou em meus braços olhando para mim. – Obrigada mais uma vez, você não tinha nenhuma obrigação de ficar aqui e está.
— Maya não tem que agradecer. – Puxei seu rosto para cima, olhando dentro de seus olhos. – Estamos juntos.
Quando sai do banheiro secando meu corpo, Maya não só tinha devorado seu jantar como estava dobrada no sofá pequeno dormindo. Deixei minha toalha de lado, afastando as cobertas. Seu corpo pesado nos meus braços, dormindo em sono profundo, resmungou um pouco quando terminei de colocá-la na cama, mas permaneceu dormindo.
Capítulo 43
— Maya, Maya meu amor.
Puxei mais as cobertas para a cabeça, me escondendo de quem quer que me chamava.
— Maya precisamos ir. – Otávio insistia. – Jujuba.
Soltei um gemido me virando para encontrá-lo. Vestido da cabeça aos pés, os cabelos bagunçados indicando que tinha acabado de acordar.
Sentei na cama com um pulo . Puta merda, que horas eram?
— Jujuba, seu irmão ligou seu pai está pior.
Isso já me colocou em movimento corri para minha mala. Com uma calça jeans, uma camiseta com gola V e um par de tênis. Praticamente correndo pelo quarto fiquei pronta em cinco minutos, os cabelos presos em um rabo de cavalo.
Passei a mão pelo balcão pegando minha carteira e telefone vendo pelo canto do olho Otávio correr em meu encalço.
Corri pelos corredores do hospital nem ligando para os protestos que os médicos me lançavam. Depois de fazer todo o preparo para entrar na UTI, Otávio me seguiu até onde minha mãe e meu irmão estavam conversando com o médico.
— Desculpe a demora, o que está acontecendo?
— Por ora seu pai está consciente...
— Tem um, “mas”, fala de uma vez doutor.
— Entenda senhorita Mia, seu pai está nesse estado por cinco meses, melhor vocês aproveitarem o máximo de tempo possível com ele.
O medo me envolvia e me paralisava no lugar. Otávio mantinha seu braço em volta de minha cintura, sustentando meu corpo cada vez que meu passo vacilava.
Meu irmão fazia o mesmo com minha mãe, que mesmo tentando ser durona tinha desmoronado quando o médico deu a notícia, o leito de meu pai estava com poucos aparelhos, meus olhos voaram em sua direção olhando seu rosto marcado pelo tempo no hospital, seu corpo marcado por medicamentos e marcas dos aparelhos que agora estavam ausentes. André olhou para mim com os olhos marejados.
— Mi... Mia. – A voz grave e ao mesmo tempo fraca de meu pai soou em meus ouvidos.
— Pai.
Peguei em sua mão, sentindo-a gelada contra a minha.
— Filha, me... Me desculpe... Eu – Meu pai gaguejava.
—Shiuu, não precisa disso pai. Eu amo o senhor, nada mudaria isso.
Meus olhos se encheram de lágrimas. Otávio apoiava suas mãos em minhas costas fazendo pequenos carinhos, dando-me seu apoio.
Os bips ficaram mais fortes quando ele se remexeu incomodado na cama, olhei para meu irmão que escondia suas lágrimas. E então realmente eu entendi que aquele seria o único momento que teria com meu pai, anos desperdiçados por escolhas diferentes.
Balancei a cabeça negando isso, meu irmão cruzou seus olhos comigo. O mesmo choque e tristeza espelhada nele.
— Quero que você... Preciso...
— Pai. – Disse implorando aos céus que ele ficasse bem.
— Preciso que você me perdoe. – Ele tomou fôlego despejando as palavras em mim. – Quero que você seja feliz, amo você, minha menina.
— Pai, por favor, não fale assim. – Eu não conseguia conter meu choro, meus soluços.
Meu pai fez sinal para que meu irmão e minha mãe se aproximassem, juntando nossas mãos.
— Fiquem juntos.
— Pai, não...
— Valter não faça isso comigo. – Minha mãe chorava com a cabeça apoiada no ombro de André.
O brilho enfraquecido foi deixando o rosto de meu pai, assim como os aparelhos soavam enlouquecidos, um aparelho disparava uma luz vermelha. Engoli em seco, cambaleando para trás, sendo puxada por Otávio. Dando espaço para Carmen e alguns médicos entraram no leito pequeno pedindo que nos afastássemos, assim como minha mãe foi puxada pelo meu irmão.
Otávio se agarrava em minha cintura, enquanto eu me debatia, esmurrava suas mãos tentando me soltar, gritando, expulsando a dor que me consumia.
Os médicos tentaram reanimar, o corpo de meu pai dava pequenos baques saltando com a carga do aparelho por três vezes.
Desviei os olhos daquela cena colando meu rosto na camisa de Otávio, querendo não escutar o bipe longo e insistente que anunciava que meu pai se fora.
— Hora do óbito: 4h32min. – Disse o médico, quebrando o silêncio que se instalou entre nós.
4h32 min. A hora que meu pai nos deixou.
Capítulo 44
“Comece ironicamente seguindo o conselho de quem deixou. Cuide de você.”
Mesmo ajudando e querendo estar ao lado de Maya por todos os dias que se seguiram, tinha obrigações que deixei de lado, Hugo tinha sido transferido para a empresa do Rio a “pedido” de Ianelli e eu tinha que retomar meu trabalho.
Afinal era diretor de uma empresa, assim como da filial. Ainda não sabia dizer como não tinha sido demitido com meu afastamento brusco. Daniela devia estar fazendo horas extras e grandes manobras para ainda manter meu emprego. Ou poderia estar enganado e quando saísse do avião descobriria que era o mais novo desempregado de São Paulo.
Sabe quando você olha para o céu ironizando tal pensamento? Pois é, o que me fez ir atrás de uma acompanhante de luxo visando minha promoção poderia ser aquilo que também me tiraria meu emprego.
Peguei o primeiro voo depois do enterro, voltando para São Paulo, enquanto que Maya permaneceu com sua família. Com a correria do dia, nos falávamos pouco ou sempre corrido. O que me dava à sensação de estarmos nos afastando, entendia que ela enfrentava o luto, mas não queria que nos perdêssemos por isso.
Três semanas passaram.
Duas sem qualquer contato com ela. Pouco fiquei sabendo depois do funeral de seu pai. Em uma de minhas últimas ligações, André me contou que Maya tinha saído com sua mãe, que ele estava contente por ter mesmo nesse momento sua irmã por perto. Até mesmo Jaqueline não tinha muitas informações dela, continuava cuidando de sua gata esperando-a retornar.
Depois desse telefonema, resolvi tomar com afinco minha vida. Eu tinha um emprego, uma família e coisas que gostava e me distraia muito, antes de Maya. Mesmo alguns dias de enorme confusão sobre tudo que vivi com ela, decidi que tinha sido perfeito, porém teve seu prazo. Como ela mesma me disse na carta. Se estava disposta a me deixar, não seria eu que seguraria ela em meus braços.
Minha mãe costumava dizer para minhas irmãs em suas decepções amorosas que nem todo amor foi feito para durar a vida toda, que existiam amores que nos levavam para o “feliz para sempre”, ela geralmente chamava esses pequenos amores de “felizes por um momento”. Eu como sendo o único homem não acreditava muito nesse papo, não ironizava, é claro.
Mas tinha meus meios de fazer os caras pagaram por fazer uma de minhas irmãs chorarem, o que me dava longos dias de castigo, ou fazendo tarefas em casa com meu pai.
Não era desagradável ficar de castigo ou ajudar meu pai a cortar a grama, ou limpar todo o galpão dele, o que tomava meu final de semana todo.
Apenas me deixava ansioso para ver o tal sujeitinho com o olho roxo no outro dia pelos corredores da escola, minhas irmãs por esse lado aumentaram minha fama e andavam seguras e confiantes pelo corredor.
Era engraçado até.
E hoje, aqui estou eu. Acreditando nessa baboseira de amores por um momento.
Sem Maya nada era atraente, era como se ela fosse à luz, trazendo momentos loucos e insanos, ao mesmo tempo em que me mostrava que o cara que não queria criar expectativas com ninguém agora foi deixado com expectativas, quando fui buscar por ela em Paris achei que nada mais nos afastaria, estávamos plenos e juntos.
Mas, o mesmo destino que quis brincar cruzando nossas vidas, mostrando que o cara boêmio queria abandonar os bancos dos bares e seu copo de Bourbon por uma mulher, ser de uma mulher específica
Devo confessar que as lembranças se mantinham forte, entrelaçadas em meu cérebro. Não existiam mágoas, apenas uma infinidade de possibilidade que tínhamos deixado de lado. Mesmo não assumindo Maya Banks, uma acompanhante de luxo me deu as melhores semanas e os melhores sexos da minha vida. Clichê? Até pode ser, mas tudo não passava de pura verdade.
Soltei a coleira de Buddy para que corresse um pouco pelo parque Ibirapuera, não tinham muitas pessoas por lá no final da tarde, mas alguns casais, ou famílias passeavam ou se sentavam sobre as sombras. Todo mundo querendo aproveitar aquele domingo, o entardecer de mais um dia de calor absurdo.
Alguns ciclistas aproveitando que o sol estava mais fraco para atividades físicas. Encostei-me sobre um tronco grosso de uma árvore me escondendo nas suas sombras, fechando os olhos.
O vento somado à grande sombra que a árvore produzia dava uma sensação de relaxamento, apenas o barulho dos pássaros, mesmo o parque estando no meio de uma cidade barulhenta e agitada as árvores e o espaço mantinham sua calmaria.
— Com licença, o bonitão está sozinho?
Minha mente alertava como se uma luz vermelha piscasse para que não abrisse os olhos, para que aproveitasse o máximo daquela voz tão parecida com a de..., no entanto, ao abri-los acabei contemplando aqueles olhos verdes penetrantes. Ela estava um pouco mais magra, usando calça jeans preta e uma blusa branca caída em seus ombros.
— Maya — sussurrei incapaz de reagir a sua beleza. Meu corpo congelou observando essa criatura na minha frente. A mulher que a vida colocou no meu caminho e que levaria meu dinheiro, mas no fim saiu com um prêmio muito mais alto, meu coração.
Buddy voltou latindo, reconhecendo Maya, pulou sobre ela que gargalhou fazendo carinho em seu pelo.
— Olha garotão, também senti sua falta. – Ela ria.
Ela acalmou meu cachorro com batidinhas carinhosas em sua cabeça, voltando seu olhar para mim. – Otávio.
— Como vai? – Foi tudo que soltei ainda congelado em minha posição escondido sobre a sombra da árvore.
— Sei que devo desculpas.
— Você não me deve nada, Maya. – Sai de minha inércia, de pé pude encarar melhor seu rosto.
— Otávio – ela lamentou – eu precisava desse tempo, tanta coisa aconteceu em minha vida durante esses meses.
Só o simples gesto de ela afastar as mechas longas do seu rosto e morder seu lábio inferior, já me quebrava por dentro.
— Você não me deve nada como disse Maya. Foi ótimo tudo que passamos. – Coloquei as mãos nos bolsos da calça, evitando que eles sem a minha permissão corressem por seu rosto.
O arrependimento por minhas palavras veio no mesmo instante que minha boca se fechou.
— Eu larguei meu trabalho na Luxor. — Maya encarava o nada, além da paisagem a nossa frente. – Sabe, estou retomando meus sonhos.
— Isso é muito bom, espero... Que tenha o que procura – gaguejei.
Nossos olhos se encontraram, mostrando a tempestade que acontecia dentro deles, o amor, nossos incontáveis desencontros.
— Recomeço... – minha voz saiu baixa, impossível de sair clara com o nó que tinha se formado em minha garganta.
— Eu vim buscar vocês...
Maya tinha a mesma emoção velada na voz, mesmo seus olhos me encarando de maneira firme.
— Não achou que recomeçaria minha vida sem você do meu lado?
Ela me lançou um sorriso de lado. — Algo sempre me traz de volta a você e isso não demora muito. Não importa o que eu diga ou faça, ainda sinto você aqui, até o momento que vou embora. – Ela soltou um suspiro, sua mão passou pelo meu braço parando em meu peito. Causando aquelas ondas de conforto e desejo por mim.
Fechei por um segundo os olhos, respirando fundo.
Não tinha resposta melhor que essa, puxei Maya pelos braços grudando nossos corpos, tomando sua boca para mim, colocando nesse beijo tudo que passei nessas semanas, a saudade incontrolável, o desejo de seu corpo. A falta que seu riso e sua voz fizeram aos meus ouvidos.
E naquele momento, pouco me importei se nos conhecemos em uma boate, se contratei ela para uma mentira que se tornou a melhor verdade que já contei. Não me importava quanto tempo ou os caminhos difíceis que ainda iríamos passar. Porque eu a amava, amava a Maya Banks ou a simples Mia Azevedo, uma mulher com mil jeitos e mil rostos. E queria passar por tudo que esse destino louco tinha nos reservado.
— Eu te amo – seus lábios esbarrando nos meus.
Passei a mão pelo seu rosto, deixando que seu cheiro doce invadisse meu corpo e mente.
– Eu te amo Mia, Maya, Laura ou Joana. – Repeti suas palavras quando perguntei sobre seu nome verdadeiro em nosso primeiro encontro.
Ela riu baixinho, deitando seu rosto em minha mão.
Dois anos depois...
Deitada na grande espreguiçadeira eu podia ouvir o barulho das ondas se quebrando abaixo de mim. O cheiro de maresia que tanto amava, o vento suave que passava pela varanda tocando minha pele. Uma escadaria dava acesso à praia do Forno, um lugar de água cristalina e areia branca, tão paradisíaco, um verdadeiro Caribe bem no Rio de Janeiro.
Arraial do Cabo estava sendo nosso lar provisório, nesses últimos seis meses. Otávio estava muito bem em seu trabalho, quando foi nomeado Diretor Executivo, vieram grandes oportunidades, como essa, de gerenciar de perto todo o trabalho publicitário que estavam fazendo para um grande hotel no Rio. Mesmo eu protelando algumas coisas, estava adorando bancar a turista, ficando em férias prolongadas com Otávio.
A varanda de madeira branca toda entalhada que circulava o primeiro andar de nossa casa, nos dava uma vista privilegiada do nosso refúgio. Otávio surgiu pela escadaria com o corpo molhado pelo banho de mar, os cabelos bagunçados dando um ar de menino travesso, os olhos estreitos acompanhando seu sorriso safado e a tatuagem brilhando com as gotas d’água.
Ah, aquela tatuagem !
Ele subiu em cima de mim me prendendo contra a espreguiçadeira, me molhando. A água gelada escorria pelo meu decote ou pela minha coxa a mostra, no curto vestido branco, fazendo meu corpo esperar pelo toque dele.
Otávio beijou meu pescoço com desejo, mordiscando abaixo de meu ouvido, causando um curto circuito em meus nervos. Eu amava tudo naquele homem, cada pedacinho de pele eu amava, amava ainda mais saber que eu tinha feito um verdadeiro boêmio trocar suas gandaias e noitadas, por uma única mulher. E essa meu bem, era eu.
Meus dedos percorriam suas costas arranhando, apertando sua bunda, puxando seu cabelo. Ele se aventurava levantando a barra da minha saída de praia, roçando o dedo por cima do biquíni na minha intimidade, mostrando muito bem o que queria. Nossa boca se encontrou sedenta, desejosa, subindo o nível de carícias e deixando os beijos apaixonados para o lado, nos entregando aos desejos mais pecaminosos.
Apertos firmes, mãos passando pelo corpo um do outro, mordidas, arranhões...
Quando seus dedos me invadiram, testando minha excitação antes de se aprofundarem em mim eu me contorci na espreguiçadeira.
— Bonitão... — gemi em seu ouvido. – Quer mesmo mais um showzinho?
— Não ligo, quero só me enfiar em você.
Gemi sentindo meu corpo ser invadido de maneira deliciosa, Otávio fazia questão após cada estocada firme se retirar de dentro de mim esfregando sua ereção pelo meu sexo inchado de prazer, suas mãos firmes me seguravam pelo quadril impedindo que eu fizesse qualquer movimento.
— Ah! Jujuba, não me canso disso. Poderia dormir, acordar, tomar banho, viver aqui. – Ele falava entrecortado por causa de suas estocadas.
Ri de seu comentário bobo.
Assim como era ótimo os momentos de muito romances e grandes preliminares, também era ótimo quando nos saciávamos com um desejo brutal e primitivo. Senti meu corpo se fechar sobre seu membro, chegando perto do orgasmo que ele me proporcionava, sua boca em meu seio chupando e mordendo a aureola, enquanto seu movimento de vai e vem conectava nossos corpos nos levando ao limite.
Entreguei-me aos tremores deixando cair sobre mim o tão desejado e bem-vindo orgasmo. Otávio se entregou ao dele, do mesmo modo brutal que eu percorri meus desejos.
Se mantendo ainda dentro de mim, deitou ao meu lado, fazendo com que ficássemos frente a frente. Despejando as últimas gotas de seu desejo, suas mãos acariciando meu braço, enrolando as mechas de meu cabelo em seus dedos. Minha perna enrolada em sua cintura prolongando o contato íntimo entre nós.
— Amo você – Otávio sussurrou em meu ouvido.
— Muito, bonitão. – Completei acariciando seu cabelo com a mão livre.
Aqueles anos foram diferentes de tudo que eu poderia provar. Quem diria que um aluguel de luxo, me levaria por um caminho incrível. Libertando-me do passado, apagando aquela mancha negra.
Encontrando um homem que eu poderia dizer com todas as letras e prazer, que foi modificado por mim. Transformando ambos para estarmos onde estamos.
Misturando nossos mundos, nossos receios e vencendo juntos cada barreira. E principalmente, não nos afastando mais com cada problema que o destino colocava em nosso caminho, e, sim unindo nossas forças e nosso amor para passar por qualquer fase que fosse.
O que mais uma mulher poderia querer? Tudo que restava era continuar conquistando meu “Feliz para sempre” de todos os dias...
“O destino embaralha as cartas, e nós jogamos.”
Sai do banheiro enxugando meu cabelo molhado. A vista do hotel era extraodinária, mostrava São Paulo e todo seu esplendor a noite.
Voltei para cama, encontrando um vestido preto com detalhes em rendas 3D azul, sobre ele um bilhete acompanhado de uma caixa grande de veludo vermelho. Abri primeiro a caixa, matando minha curiosidade, literalmente babando quando encontrei um par de brincos de diamante, como se fossem duas cascatas de puro brilho. O colar que acompanhava, apenas duas finas correntes entrelaçadas também de diamante. Deixando essa caixa com o valor nas alturas, impressionante!
Olhei para o cartão branco com meu nome na frente:
“Querida Maya como esta será nossa última noite, quero presenteá—la com um momento incrível. Use isso para nossa noite, temos reversa para ás 19h30min, aguardo você no saguão do hotel. Espero que tenha gostado do presente.
Wesley Duarte.”
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Wesley era um cliente excelente, delicado e não abusava de sua posição. Além de ser um homem importante do ramo empresarial, cuidando junto com seus sócios de uma empresa muito promissora. Nosso contrato exigia apenas acompanhá—lo em jantares, socializar com as mulheres dos seus sócios. O que nem a cara azeda de mal humor delas me atrapalhou, levou apenas uns dois dias para eu conquistá—las falando as coisas certas.
Meu telefone soou na sala, corri para atender ainda enrolada na toalha.
— Marli. – minha “chefa”, com certeza queria saber como estariam as coisas com o cliente.
— Boa noite, diamante! Como estamos?
Revirei os olhos, bufando internamente. Odiava quando me chamava de “Diamante”.
— Perfeito, ele não deixa nada a desejar, estou indo para nossa última noite juntos.
— Que ótimo querida, conseguiu o bônus extra?
— Sim e que bônus! – Exclamei sorrindo.
Mesmo não tendo interesse de ir em busca do bônus extra, foi uma verdadeira surpresa ver o ruivo de um metro e oitenta me tomando em seus braços. Tinha sido uma noite daquelas...
— Tenho que ir, nos falamos depois. – Disse já me dispedindo.
— Claro diamante, tire o final de semana de folga, nos vemos na segunda.
— Ta bom.
Olhei o visor do celular, ainda teria tempo suficiente para me produzir, e, no fundo de minha mente minha deusa rebolava se levantando ansiosa pelos diamantes.
Não precisava olhar no espelho iluminado do quarto para saber que estava divina, o vestido tinha caído como uma luva em meu corpo. O detalhe em azul realçava todas as minhas curvas, ainda mais deslumbrante de quando estava na cama.
Peguei meus últimos acessórios saindo para encontrar Wesley. O Hotel Fasano em São Paulo era o próprio significado de luxo, tanto o corredor dos quartos quanto o elevador eram revestidos em madeira escura.
Passei pelo lobby do hotel, com alguns homens me lançando olhares da cabeça aos pés, meus saltos produzindo barulho a cada passo que dava. Wesley estavame esperando perto dá porta giratória, atravessei o saguão revestido da parede ao chão de vários tons de madeira, o tornando rústico e muito elegante, os componentes como cadeiras, o grande balcão onde as atendentes trabalhavam, vasos com plantas de flores em tons alaranjados deixando tudo ainda mais suave e de extremo bom gosto.
— Você ficou ainda mais linda.
Wesley me deu um beijo demorado na bochecha, sua respiração em meu pescoço causando um arrepio leve no local.
—Obrigada pelos presentes, você sabe mesmo como encantar uma mulher. – Sussurrei em seu ouvido.
Ele se afastou com um amplo sorriso no rosto. – Tão encantada a ponto de estender mais uma semana ao meu lado?
Minha risada baixa foi a única coisa que me permiti fazer no momento. Wesley era o tipo de cara forte, seus cabelos ruivos naturais, pareciam mais uma labareda indomável em sua cabeça. Os olhos castanhos e as pequenas sardas nas bochechas, dando um ar de inocência contrastando com um corpo extremamente sedutor.
E na cama comprovei que esse homem era realmente uma labareda. O que começamos no elevador, estendemos para o corredor do hotel e acabamos em sua suíte, ambos com roupas danificadas, corpo suado e a satisfação garantida.
— Podemos ir?
— Com certeza.
Ele indicou a porta giratória, sua mão espalmada em minha lombar, o movimento constante de carros por São Paulo eram como o próprio sangue nas veias, eu via São Paulo como um corpo e nós os organismos desse corpo.
O manobrista abriu a porta do Lexus LS preto.
– Que nossa incrível noite comece. —Wesley lançou um sorriso quente para mim.
Capítulo 2
— Oh, Otávio
Pum, pum.
— Porra, baby. – Segurei com força a cabeceira da cama que batia na parede com minhas estocadas.
— Ai, meu Deus!
A ruivinha peituda se contorcia embaixo de mim, aumentei o ritmo para que ela gozasse logo, que inferno. Isso que dava ser gentil, uma eternidade até poder gozar.
Pum, pum.
— Aiii querido, aí mesmo... Meu Deus, que delícia.
Queria revirar os olhos, mas me contive.
Pressionei seu clitóris acelerando o processo, quando os primeiros tremores do orgasmo se denunciaram eu praticamente fazia sua cabeça bater contra a cabeceira. Justin Timberlake repetia seu refrão de “Sexy Back”.
Quase o acompanhei cantando “ Cause you're burnin' up I gotta get it fast!” enquanto gozava forte dentro da ruivinha peituda que trouxe da balada.
Meu nome é Otávio Roberto Amell, sim Otávio Amell.
Ridículo, sim, é extremamente ridículo. Acredito que meus pais não estavam pensando, ou em suas plenas faculdades mentais, quando me registraram. Mas, com 30 anos havia aprendido a ignorar e fazer com que todos me chamassem apenas por Otávio. Ou, como a maioria das pessoas me conhecia. Sr. Amell. Não que isso fizesse meu sobrenome ser melhor, que nada, ele continuava sendo péssimo.
O sobrenome Amell veio de meu pai, herança dos meus avós britânicos. Meus pais haviam se conhecidos e se envolvido durante um intercâmbio da minha mãe pela Europa, aí vinha à longa história que eu cresci ouvindo. Que o grande sonho de todos, no fundo era ter uma família e formar um casamento feliz, sendo homem ou mulher. Minhas irmãs deslumbradas do jeito que eram com certeza acreditavam nisso, porém isso nunca foi para mim. Eu queria mesmo, e estava praticamente salivando pelo cargo de Diretor Executivo da Companhia Wiless.
A ruivinha que estava se contorcendo debaixo de mim alguns segundos atrás, era apenas uma linda distração para minhas noites. Eu dividia minhas noites em duas categorias: — ficando em casa, vendo jogo de futebol ou bebendo uma cerveja, sentado confortavelmente em meu sofá, e nas outras, bem nas outras, eu me dividia pegando o maior número de mulheres que conseguisse. Às vezes uma vinha de brinde com a outra como foi o caso das gêmeas na quinta-feira passada.
Meu deus , meu pau já voltava a dar sinal. Alisei-o um pouco debaixo do chuveiro. Acalmando meus hormônios. Voltando para outros pensamentos...
Levava uma vida até que muito tranquila, morava em São Paulo, capital. A famosa terra dos trânsitos malucos e empresários gananciosos. A famosa terra da garoa, que de garoa não tinha nada e sim um dilúvio quando decidia chover. Hugo Torres, meu parceiro de trabalho e grande amigo era o excelente exemplo de amante latino. Seu sotaque ainda frequente em sua fala facilitava ao levar uma mulher para cama. Podíamos dizer que tínhamos excelentes noitadas juntos. Eu havia me mudado há quatro anos para um apartamento de alto padrão, Lessence Jardins. Ficava no Jardim América, anos de trabalho duro me proporcionava uma vida de mordomias, e, eu amava. Tinha transformado meu apartamento de quase mil metros quadrados em um lugar para ter tudo que tinha vontade, contratei os serviços de Sara, designer, amiga de minha irmã, para deixar tudo exatamente como queria, ainda sentia as parcelas altas no cartão de crédito por conta disso, mas afinal, gosto é gosto.
E era ainda melhor, pois ficava a exatos trinta minutos de carro do meu trabalho. Quando não se tinha trânsito, lógico, o que era impossível em São Paulo, ou como preferia, quarenta e cinco minutos indo de bicicleta. E grande o suficiente para Buddy, meu pequeno Bernese Mountain , ou mais conhecido como São Bernardo.
Sentei no sofá de toalha mesmo, com uma cerveja na mão e o controle remoto na outra, domingo era dia de esporte. Sempre fui muito ligado a vida saudável, esportes, pelo menos um final de semana reservava para corridas, trilhas, alpinismo, o que tivesse de radical para ser feito.
Buddy me olhava do outro lado da sala, sua grande cabeça peluda sempre entortava um pouco quando eu me remexia.
– Já vamos garotão. Espere até o jogo acabar. – disse olhando para ele sobre minhas pernas esticadas na mesinha de centro. Ele voltou a deitar de lado fungando pelo nariz. Quem dizia que animal não respondia, ou, não entendia o que falávamos com eles, tinham que conhecer Buddy e seu temperamento de velho, mesmo tendo apenas cinco anos de idade.
Voltei minha atenção para a televisão.
— Querido estou indo. – A ruivinha sentou-se em meu colo totalmente vestida atrapalhando-me de ver o lance que o zagueiro fazia.
— Uhum – murmurei bebendo mais um gole de minha cerveja. – Quer carona?
— Ah gatinho, não. Fique vendo seu jogo. – Ela beijou meu pescoço, lambendo meu queixo.
Apertei seu quadril, empurrando meu pau para sua bunda, até que poderia perder um jogo para mais uma sessão com a ruivinha.
— Você me liga mais tarde?
Erro número 1 das mulheres. Criar expectativas porque o cara transou com ela, mulheres da minha vida, transem, beijem na boca, mas não esperem nada de um homem. Se ele realmente ligar é porque foi realmente bom, senão ligar? Foi ótimo mesmo assim, vamos para o próximo.
Suspirei concordando com a cabeça, meio que um negar com um sim. Algo que a deixasse entender como queria. Puxei-a pelos cabelos trazendo sua boca para um último beijo antes de colocá-la de pé.
E depois o baque da porta se fechando e, então. Paz e sossego.
Assim que o jogo acabou desci para dar uma volta com Buddy, que já estava impaciente andando pelo apartamento. Cumprimentei o medroso do Antônio, — porteiro do prédio – ele tinha medo de cachorro, ainda mais um cachorro do tamanho do meu, que estava mais para um pônei do que cachorro. Mal sabia ele que Buddy não conseguia morder nem a própria perna, quanto mais ter disposição para correr atrás das canelas roliças do Antônio.
Andei pelo bairro no início da noite até deixar Buddy satisfeito e voltamos para o apartamento. Tranquei tudo e deixei o apartamento na penumbra, ouvi Buddy andando em círculos pela sala se ajeitando para dormir e eu mesmo segui seus passos, deitei debaixo das cobertas com o ar ligado deixando o quarto gelado e adormeci.
Capítulo 3
Despertei na manhã seguinte com o telefone tocando, me espreguicei um pouco antes de sair da cama, Buddy continuava largado perto da porta do banheiro nem um pouco preocupado. – Alô. – Respondo atendendo antes que a pessoa desligasse.
— Buenos dias, maricón! – Reconheci a voz do Hugo e seu espanhol ainda arraigado, mesmo morando anos em São Paulo.
— Bom dia Hugo, o que devo a ligação?
— Esqueceu que tem uma reunión? – Perguntou misturando um pouco do espanhol.
— Puta que pariu, — Hugo gargalhou do outro lado da linha. – Em vinte minutos estarei no escritório.
Joguei-me debaixo do chuveiro, tomando um banho rápido, peguei a primeira camisa social que vi no armário e uma calça jeans preta, calcei os sapatos sociais. Parei alguns instantes na frente do espelho de corpo inteiro, não poderia me chamar de vaidoso, mas aparência era uma coisa que importava e muito para mim. Sempre comecei meu julgamento em uma mulher pela aparência, sua roupa, sua maquiagem, seus cabelos.
Dobrei as mangas da camisa social azul que vesti até os cotovelos, deixando o botão da gola aberto e um pedaço de minha tatuagem aparecendo no braço. Parei na sala pegando a chave do carro, minha carteira sobre a mesa de jantar. Buddy me olhava com desprezo nem aí se estava atrasado, provavelmente ele continuaria dormindo até o meio da tarde, depois passaria pela abertura da porta e ficaria na sacada pelo restante do dia, até eu retornar. Realmente eu queria ser um cachorro, o bicho sortudo.
— Tchau, garotão. – Me despeço vendo que ele virou a cara, deitando de barriga para cima com o mesmo desprezo.
Fechei a porta do apartamento ao mesmo tempo em que ouvi a vizinha fechar a sua, esse condomínio eram apenas dois apartamentos por andar e um hall luxuoso em cada.
Olhei por cima do ombro vendo que não era a vizinha boazuda que já tinha criado problemas por causa de Buddy, e sim uma mulher negra extremamente linda, seus cabelos cacheados, muito bem cuidados por sinal estavam soltos em torno do rosto, os olhos eram cor de mel chamativo. O corpo de uma beldade tão bonito como da outra moradora. Talvez elas dividissem o apartamento.
Ela estava com um gato caramelo em seus braços, gordo, só o fato de ele levantar os olhos me encarando já me fez afastar um pouco. Não tinha experiências muito boas com gatos.
Mantive a porta do elevador aberta vendo-a entrar e puxei assunto.
– Ele parece mal-humorado – comentei olhando o gato de nariz achatado.
Ela soltou um riso simpático.
— Mal-humorada, é fêmea. – Ela acariciou o pelo da gata, que lançou um olhar superior. – Igualzinha à dona.
Apenas esse olhar já foi capaz de arrepiar todos os pelos do meu corpo, malditos sejam os gatos!
—Vocês se mudaram a pouco tempo? Você e a loira mal-educada – comentei olhando o visor do elevador.
— Peço desculpas pelos barulhos excessivos, minha colega de apartamento não está acostumada com discrição e educação. Mudamos agora, não queríamos incomodar. – Ela deu um sorriso sincero, pelo menos era educada e mais bonita do que sua colega com esse sorriso simpático.
— Garanto que estava curioso, não estava acostumado com barulhos.
Estávamos compartilhando uma risada quando chegamos ao térreo. Despedimo-nos, seguindo em direção opostas, vi quando ela seguiu para fora entrando num carro prata, mas não consegui ver o modelo.
Óbvio que pegaria um enorme engarrafamento por São Paulo. Fiquei uns bons minutos com o carro em ponto morto, vendo os veículos andarem como tartarugas. Sempre que podia acelerava por diversão. Afinal um Land Rover Evoque merecia, aumentei o som curtindo as batidas da música Mercy – Shawn Mendes.
Peguei o celular, ignorando as quatro mensagens da ruivinha peituda. Sim, não me lembro do nome dela e o fato dela não ter esperado nem um dia completo para me mandar mensagem, significava que era ótima na cama, fora dela um chiclete pronto para grudar em seu pé.
Voltei ao meu objetivo enviando uma mensagem para Hugo dizendo que estava perto e segui para a Alameda Lorena, Jardins onde ficava Companhia Wiless de Publicidade. Estacionei o carro na vaga reservada, depois de mais de vinte minutos de trânsito.
Flávia, —a recepcionista— me recebeu como sempre, com um sorriso cativante, ela era uma mulher bonita, facilmente convidaria para algo mais informal, porém eu não era como Hugo, não misturava os ambientes, trabalho era trabalho. Não queria nenhuma mulher no meu pé ou me chantageando por causa de um sexo ocasional. Pior ainda, torrando meu saco.
Hugo estava soltando, como sempre, seu espanhol fajuto em cima de Joana, que tomava seu café tranquilamente com sua assistente. – Bom dia a todos. – Cumprimento as moças num sorriso profissional seguindo para minha sala.
— Até que enfim apareceu maricón !
Revirei os olhos, já tinha acostumado com seu jeito “carinhoso” de me chamar de “bicha”.
Senti Hugo em meu encalço, depositei minhas coisas na mesa, liguei o computador e puxei alguns projetos em andamento da primeira pasta.
– Você não cansa Hugo? – perguntei em brincadeira.
— Do que meu caro amigo?
Hugo também estava vestido de forma informal. Não tínhamos uma regra rígida quanto a isso, quando tínhamos necessidades colocávamos os nossos ternos, mas em geral, ficávamos com o estilo mais informal e essa regra servia para todos os funcionários, mesmo a senhora Ianelli sendo uma megera, ela não era muito rígida com isso, desde que estivéssemos vestidos descentemente, não teríamos problemas.
— De correr atrás das associadas de nossa empresa e sempre tomar um fora. – Ri com meu comentário e da careta de desaprovação que ele fez. – Afinal, você sabe que a maioria já está vacinada, ninguém mais cai nesse seu sotaque ridículo.
Eu gostava do sotaque, Hugo sabia disso, crescemos juntos, estudamos juntos. Sua mãe é uma grande amiga de minha família e seu irmão Ruan está noivo de uma de minhas irmãs. Bianca sempre foi romântica e encontrou em Ruan tudo que procurava nos seus contos de amor. Ao contrário de Luce que era uma maluca, minha mãe dizia que as três tinham saído cada uma com um pedaço dela. Bianca com o romantismo, Luce com a impulsividade e Gabriela com a determinação.
Luce tinha se formado em moda e também vivia viajando com seu namorado, atrás de modelos e de sua equipe. Gabriela era uma excelente advogada, trabalhava numa firma no Rio de Janeiro, essa era como eu, nem queria saber de casamento, dizia que já estava muito bem casada com sua profissão. E eu, bom, meu pai dizia que eu puxei o lado mulherengo dele quando era mais novo. Minha mãe dizia que eu era o homem que ela havia sonhado que tudo não passava de uma fase. Coitada dela se esperava netos vindos de mim.
— Ah, meu amigo, você sabe que não resisto, essas chicas são muy guapas . – Hugo me tirou do caminho de pensamentos que estava seguindo, fez uma concha com as mãos como se tivesse com algo precioso nelas, soltando uma piscada para mim. Que me fez soltar uma gargalhada alta.
— Licença meninos. – Daniela bateu na porta aberta.
Daniela apesar dos seus sessenta anos era uma das diretoras mais influentes na Wiless. Sua aparência, mesmo com as rugas da idade pelo rosto não denunciavam sua verdadeira idade, muito pelo contrário. Ela era uma mulher enxuta.
Trabalhava conosco no escritório do Rio de janeiro, ficando pelo menos uma semana no mês em São Paulo, organizando nossas agendas com os compromissos do Rio de Janeiro. Tínhamos recentemente feito um trabalho publicitário de uma boate na Barra da Tijuca e isso nos rendeu vários clientes em potencial, aumentando ainda mais minha visibilidade diante da diretoria.
– Entre Daniela, não sabia que estaria essa semana aqui. – comentei levantando para dar um beijo em seu rosto.
— E nem deveria estar meus queridos. – Ela cumprimentou a mim e ao Hugo. Já puxando uma cadeira em frente à minha mesa, Hugo se sentou na outra cadeira e eu ocupei meu lugar.
—Pela sua cara o assunto é sério. – comentei.
— Ianelli está mudando de ideia.
Ela nem precisava falar o tema do assunto eu já sabia. Trabalhava na Wiless há alguns anos, Ianelli era uma cobra, uma verdadeira megera no quesito chefes.
Quando Daniela anunciou o ano passado que estaria deixando seu cargo, isso fez um pequeno e constante murmurinho sobre mim e a cobra criada de Ianelli, Patrícia.
Patrícia era a puxa-saco da empresa, trabalhava no mesmo setor que eu, porém no Rio de Janeiro. Onde seu foco não eram contratos em potencial e nem as empresas, mas ficar o dia todo adulando a presidente da companhia. E quando Ianelli anunciou em umas de nossas “festinhas” mensais que eu ou Patrícia poderíamos ocupar o cargo de Daniela na diretoria isso me irritou ainda mais, eu e todos que trabalhavam comigo na empresa sabiam que eu merecia essa promoção.
Eu cobiçava esta vaga há algum tempo. Tinha trabalhado duro em todos os projetos, tinha trazido bons clientes. Nada mais justo que eu assumir esse cargo. Diretor Executivo da Wiless, nada mais justo!
– Como assim ela está mudando de ideia, ela sabe que ninguém é mais competente que eu para assumir a Diretoria Executiva. – Meu sangue começou a ferver.
Aquela puta velha.
— Você é sem dúvida alguma, meu querido, melhor executivo que temos para assumir. Mas..., mas eu tenho que ser sincera, ela não vai te oferecer o cargo.
Vi o resto de paciência que eu tinha, ir para os ares, como aquela idiota faria isso. Tinha vontade de voar até o Rio e arrancar a cabeça dela, aquela promoção era minha por direito. Como ela ousava me dispensar agora?
— Eu falei com Ianelli, argumentei de todas as formas, falei com Ricardo, falei sobre você, falei com alguns associados do Rio que conhecem você e seu trabalho aqui em São Paulo. Mas tudo que eu escutei foi que Ianelli não daria um cargo de comando das duas empresas para um solteirão boêmio.
— Ianelli é uma cadela desalmada, acredita que o mundo ainda funciona como no século XX. – Resmungou Hugo.
— Isso é ridículo. Nunca minha vida pessoal atrapalhou meu lado profissional. – Retruquei.
— Se ainda fosse eu, até que valia esse discurso. – Disse Hugo tentando deixar o ambiente menos tenso.
— Ela quer alguém que mostre que não transformará sua empresa em um bar ou lugar de mulheres vadias, você terá sua chance de mostrar para o conselho na festa que ela está errada, ou, colocará a Patrícia. – Daniela ficou com as bochechas coradas, ela sabia que eu não iria aceitar tão fácil assim essa história. – Ela está quase montando um espetáculo de competição entre vocês. E você sabe como Patrícia é.
— Vaca dos infernos! – Rosnei.
— Então, se o nosso querido Otávio aqui, mostrasse que saiu da vida boêmia, que está em um relacionamento sério. – Hugo divagava ficando de pé. – Ianelli daria o cargo de Diretor Executivo das empresas para ele.
Daniela riu sem graça, encarando meu rosto colérico de raiva.
– Eu nem diria que tem outra opção, Otávio é perfeito para o cargo, ela não tem ninguém mais competente que você. E, eu tenho certeza que ela não colocaria o Bruno para cuidar disso. Mas, sugiro que você compre uma aliança qualquer e coloque no dedo nas próximas reuniões querido, e, depois tenha alguém para apresentar no evento da firma.
Encarei a janela ao meu lado, os prédios altos já tomados pelo sol do lado de fora, São Paulo em seu estado de agitação total.
— Não diga mais nada. – Hugo chamou minha atenção quebrando o silêncio. – O maricón aqui aparecerá com uma linda pretendente na festa. – E piscou para mim com um plano em mente.
Capítulo 4
Estava quase na hora de ir para a boate, trabalhava na Scandallo. Era mais um modo dos futuros clientes nos verem pessoalmente, Marli, a nossa “chefa”, fazia questão de termos esse contato visual com os possíveis clientes.
Escolho um espartilho preto, acompanhado de cinta-liga e meias 7/8, deixo meus cabelos naturalmente cacheados soltos pelas costas. Visto o casaco vermelho que havia separado, saltos e termino com uma maquiagem marcante.
Olho no espelho e não sou mais Mia Azevedo, uma mulher de vinte e sete anos, que mora numa casa comum no bairro Jabaquara. Sou a Senhorita Banks, uma mulher que realiza as fantasias dos homens desiludidos.
Entrei no escritório de Marli, ela estava usando o telefone. Fez sinal para que sentasse em uma das poltronas de couro em frente à sua mesa, deixei minha bolsa em uma e me joguei na outra, pegando o final da conversa.
— Claro Hugo, vou separar o catálogo e mando por e-mail se assim desejar. – Marli escutou, trocando risinhos para o telefone. – Sim, entendo. Descrição é nosso nome querido, espero você mais tarde.
Ela recolocou o telefone na base e virou-se para mim.
— Está pronta para hoje, Maya? – Pergunta.
— Sim, estou.
— Hoje teremos alguns clientes em potencial. Quero principalmente que você fique de olho nas novatas. Hoje iniciaremos o projeto musical, quero você no palco junto com as outras garotas que já separei. Roger já tem a lista.
— Pode deixar Marli. – Minha curiosidade vence. – Estava conversando com um novo cliente?
Como meu último contrato tinha encerrado mais cedo, algum extra não faria mal.
— Sim, sim. – Ela abre um sorriso enorme, daqueles que só vejo quando tem peixe grande no anzol. – Hugo precisa de uma mulher disponível para seu amigo. Mas, ainda não sei direito sobre o que seria.
— Entendi.
Marli era dona de uma das maiores agências de acompanhantes em São Paulo, a Royalt Luxor. Onde tinha mulheres de todos os tipos e formas disponíveis para serem “ contratadas ”, para noites de gala com figurões da alta sociedade, para fingir relacionamento, para viagens de negócios, ou, jantares chatos. Marli tinha um esquema complexo de contratos por mês ou semana, o que nos dava um bom dinheiro dependendo do que nosso cliente precisava.
Os contratos em si não envolviam qualquer tipo de envolvimento físico, ou seja, sexo, porém, se ocorresse nos ganhávamos vinte por cento a mais no final do contrato, tudo dependia da forma que ocorresse. Sim, era como as garotas de programa, mas com um benefício muito maior. Eu nunca pensei que a menininha sonhadora que um dia fui viraria acompanhante de luxo, nem que mais tarde largaria minha faculdade de medicina por isso, deixaria minha família no Sul e seguiria para São Paulo atrás dessa vida.
— Vamos, já está na hora. – Marli me chama me tirando dos meus devaneios.
Entro na boate, estilo Burlesco dos anos vinte, a decoração como sempre em tons vibrantes de vermelho, preto e muito couro. Há todo tipo de homem, casados, separados, solteiros, alguns ricos, pobres, velhos, jovens. Todos separados por classes sociais e desejos. Há também uma área reservada para os casais em busca de desejos perversos e homens a procura de aventuras sexuais.
As meninas que trabalham na Royalt Luxor, não são as mesmas que se envolvem sexualmente com os clientes da boate, algumas da Luxor apenas fazem parte do show sensual da noite, ou andam pela boate, o que é meu caso. Às vezes faço parte do show de dança, outras no bar, outras rodando pelo salão sendo os olhos de Marli. Que só aparece na boate quando tem clientes importantes, senão deixa nas costas de Roger.
Alguns clientes da Luxor veem para ver de perto o “catálogo” de meninas que Marli disponibiliza. Mostrando que somos como bonecas em exposição numa loja de brinquedos, por isso aparência é essencial se você deseja esse tipo de coisas, lembro quando fui iniciar na Luxor o discurso que Marli aplicou para mim.
“Clientes querem mulheres deslumbrantes e os mais afortunados querem a melhor, você quer ser a melhor? – Perguntou-me olhando meus olhos até um pouco assustados com as possibilidades. —Brilhe como um diamante Maya Banks, e foi aí que a Mia, aquela mesma garota sonhando ser uma médica de respeito morreu para sempre, se tornando Maya o diamante da Royalt Luxor.”
O palco já está pronto para as meninas, as cadeiras que farão parte do show, espalhadas pelo palco. Gaspar já começava a separar a seleção de música, via pelo canto da cortina a casa cada vez mais cheia, homens e mulheres – mesmo que em sua minoria —, ocupando as mesas e os bancos do bar ao lado. Provavelmente procurando uma boa isca para noite, por mais que a Scandallo oferecesse sexo, nada era explícito, por isso era permitido e aceito público feminino.
Olhei para o mezanino vendo já ocupado com os homens de carteira recheada. Algumas mesas reservadas ainda estavam vazias, coisa que logo não teríamos esse problema, casa lotada significava gorjetas e algumas altas gorjetas.
Jaque, ou melhor, Sol. Já ocupa o banquinho junto com os músicos, Jaque, ou Jaqueline para quem era realmente amigo dela era uma negra de lançar assobios e uma voz de cantora profissional, mas se contentava com a vida de contadora de manhã e de cantora sensual à noite. Logo quando mudei do Sul e ingressei nessa vida, foi Jaque que me mostrou São Paulo assim como me apresentou Marli, morei uns bons meses com ela, me mudei pelo fato de não conseguir aturar mais Vivian e sua mania de se achar a “mulher maravilha”. Além do fato de em apenas três meses nessa vida conseguir comprar minha casa.
Dei uma piscadela quando ela me viu perto das cortinas, olhei para os bastidores procurando Roger, encontrando-o ao lado de uma das dançarinas novatas.
— Roger!
Ele se virou olhando quem havia chamado. – Olá minha gata selvagem.
Cumprimentei-o com um beijo estalado na bochecha. Roger era o braço, mente e companheiro fiel de Marli, além de ser mais gay que meu lado mais masculino. Seus figurinos para as noites na boate eram incríveis, sempre com muito brilho e agarrado, não deixando de salientar nada que eu pudesse deixar de fora. – Como estamos hoje?
— Novatas. Tô repleto de sangue novo. – disse apontando umas quatro garotas se arrumando nos camarins. – Você sabe que fará parte do show, né?
— Sim, já passei no escritório de Marli antes de vir aqui.
— Ótimo, então tire esse casaco, assanhe sua bunda e vamos preparar esse show.
Ri indo até meu camarim, que não passava de uma mesa com todas as minhas coisas. Deixei meu casaco sobre a cadeira, dei uma bagunçada no cabelo armando os cachos, retoquei o batom enquanto Roger explicava algumas coisas para as novatas que já sabia de cor.
— Vamos rebolar até nossa bunda cair? – Claire se debruçou sobre meus ombros sorrindo, seu cabelo loiro curto dava um jeito todo jovial para ela e encantava os velhos que faziam fila para levá-la para cama.
— Espero depois um combinado japonês para compensar todo esse rebolado. – Pisquei com um sorriso.
— Meninas, meninas vamos pilantras do meu coração. – Roger chamava nossa atenção. – O titio aqui já está com o horário apertado.
Seguimos para a saleta onde já tínhamos uma visão para a casa que já estava apinhada de pessoas.
O palco ficou todo escuro assim como a boate, apenas o mezanino continha a iluminação dos abajures nas mesas, alguns homens gritaram e aplaudiram. Segui para minha cadeira no centro do palco, respirei fundo entrando mais no personagem de todas as noites, olho de relance para o mezanino vendo Marli conversando com dois homens, devia ser o tal cliente misterioso que falava no telefone mais cedo.
As luzes se focam em cada cadeira, em cada deslumbrante mulher sentada sobre ela de pernas abertas, dando para as homens visões privilegiadas das lingeries. A música começa a tocar as batidas de “Partition – Beyoncé” , olho de relance para Jaque, ela começa a sussurrar no microfone as primeiras estrofes da canção.
Começo a dançar a coreografia, dançando sentada na cadeira de madeira, jogando a perna sobre o encosto, passando as mãos de forma sensual pelo meu corpo. Assim como as outras meninas estão fazendo, cada uma seguindo sua parte na música. Reparo que Marli aponta para mim, mas não ligo, continuo concentrada em minha atuação.
Invocando minha própria Beyoncé.
Fico em pé rebolando cada vez mais quando as batidas aumentam, dando a volta pela cadeira. Eu e mais três garotas ficamos de quatro apoiadas sobre o acento rebolando enquanto as outras se lançam sobre o chão alternando a coreografia. As luzes piscam, trocam de cores se lançando sobre toda a boate, andamos pelo palco jogando as cadeiras para os auxiliares já preparados para tirá-las de lá. Enquanto algumas meninas engatinham no chão como gatas, eu me junto ao grupo que rebola ocupando o palco.
“Motorista suba á divisória rápido
Lá eu juro que vi as câmeras dando flashes
Digitais e pegadas no meu vidro
Digitais e bons apertos na minha bunda
Um show particular com uma música explosiva”
Escuto Jaque e a banda entrando nos últimos refrãos da música, as luzes apagam e acendem dando um ar fantasmagórico para o palco. Fazendo nossos corpos parecerem e sumirem como fumaça, a cada rebolada, deixando os homens ensandecidos nas mesas. Encerramos a dança uma apoiada na bunda da outra, esperando as luzes se apagarem por completo e os homens e mulheres presentes se levantarem aplaudindo, antes de ir junto com as meninas para o camarim, me permiti uma olhada para o mezanino iluminado onde os dois homens que estavam com Marli me encaravam.
Agora apenas um me olhava com interesse. Seus cabelos eram totalmente rebeldes, mesmo de longe deu para notar sua barba por fazer, tornando o rosto quadrado e másculo dele ainda mais interessante. Sacudi a cabeça espantando esse tipo de pensamento. Não estava nessa vida para me envolver com um riquinho fresco, aliás, não estava nesse tipo de trabalho para me envolver com homem nenhum.
Capítulo 5
Depois de um dia de trabalho frustrado, só queria ir para casa e abrir uma cerveja. Mas não cheguei a fazer nada do que tinha planejado, Hugo queria por que queria me levar a uma boate, alegando que estava resolvendo meu problema de promoção. Como eu já tinha visto todos os meus planos e projetos para essa promoção irem por água abaixo não estava animado.
— Hugo acorda cara, nada pode mudar isso. – Alegava pela milésima vez no telefone.
— Oh Dios! Como você é culo meu amigo. – Ele reclamava.
— Burro é seu... Não me irrite, pois não estou no melhor dia como reparou.
— Meu amigo. Estou propondo que venha comigo a uma boate que conheço, nada demais, lá explicarei meu plano. Eu já tinha planejado ir mesmo, se não gostar de minha ideia podemos pelo menos nos divertir...
Respirei fundo, olhando para a garrafa de cerveja que gotejava na mesa de centro, esperando para que o líquido fosse ingerido. Não tinha escapatória, Hugo não me deixaria em paz, a não ser que aceitasse o tal convite, mesmo não vendo nenhuma saída para meu problema em uma boate qualquer de São Paulo. Afinal, o que aquela puta velha queria era me ver capado ou sendo capacho de alguma mulher para ter o comando da diretoria das empresas, mas nem um cargo que batalhei tanto para ter, merecia uma coleira em meu pescoço. Não que fosse péssimo ter uma mulher ao lado, porém estava bastante satisfeito com meu pequeno harém.
De falta de sexo e um bom boquete eu não vivia sem.
Hugo ainda reclamava em espanhol comigo no telefone. – Cala a boca Hugo, meia hora estarei pronto. Não demore, senão desisto dessa ideia absurda de ir a essa boate.
— Ok, até mais. – Disse desligando.
Hugo chegou quando estava alimentando Buddy, senti meu celular vibrar com sua mensagem, tirei do bolso olhando de relance para o visor. – Hora de ir campeão.
Buddy olhou para mim, balançou o pelo e voltou a comer, peguei meu casaco de couro sobre o sofá e sai, acabei cruzando com a vizinha boazuda, mais conhecida como a barulhenta.
Cumprimentei com um aceno, permitindo uma analisada quando entramos no elevador, ela era muito mais baixa que eu, usava um vestido extremamente justo e curto, saltos, meia-arrastão. Engulo meus pensamentos sobre o que ela faria uma hora dessas, vestida assim.
Já no térreo dei boa noite para o porteiro desse turno e observei quando minha vizinha entrou em um carro parado um pouco distante da entrada.
— Não me olha assim, vamos logo. Tô afim de uma bebida. – Disse entrando no banco do carona.
— Garanto que você não irá se arrepender. – Hugo exibia seu sorriso mais cafajeste.
— Fala logo.
— Apressado como sempre. Bom, você precisa de alguém que assuma um relacionamento, — disse prestando atenção no trânsito do centro e olhando de vez em quando para mim.
— Tá . Sabemos disso. – Retruquei nem olhando para ele. – Você anda conversando com minhas irmãs? Acha que vai cair uma mulher com tudo que procuro no meu colo e viveremos felizes para sempre? – Ironizei.
— Me escute, antes de soltar essas merdas.
Bufei virando meu rosto para a janela, nem mesmo Hugo iria melhorar meu humor hoje.
—Conheço uma pessoa, onde você pode realizar um contrato tendo uma bela mulher ao seu lado. Apresente-a nas reuniões da empresa, depois a dispense, apareça deprimido, cabisbaixo pelos corredores da Wiless. Para dar aquela fofoca entre baias e pronto o cargo é seu e por consequência, eu fico como executivo chefe, assumindo seu escritório é lógico. – Acrescentou rindo.
— Espera! – Exclamei olhando para ele. – Você quer que eu contrate uma puta e finja que ela é minha mulher, namorada, isso mesmo?
Hugo deu de ombros, — Maricón , é o jeito mais fácil, a menos que você queira realmente sair do mercado, deixando todos os filés para seu amigo aqui. Sei que na sua agenda tem várias esperando a ligação do dia seguinte. – Ele ria, fazendo piada de minha situação. — Vamos ver o catálogo que a Marli nos oferece essa noite e aí você conta o que pensa sobre isso.
— Você está ouvindo a merda que diz?
— Você que deveria limpar os ouvidos cara. – Retrucou, entrando em um estacionamento subterrâneo.
Dei uma olhada para a tal boate que ele estava me trazendo, era a primeira vez que vinha aqui, mal sabia da existência dela. A fachada toda de granito negro como se fosse um prédio comum, em cima tinha letras em dourado escrito Scandallo . Havia uma fila de homens, algumas mulheres esperando que os seguranças armados permitissem sua entrada. Hugo cumprimentou dois dos seguranças que permitiram que passássemos na frente dos outros.
— Desde quando você frequenta isso? – Perguntei absorvendo o ambiente sexy e sofisticado.
— Ah, meu amigo!
Hugo me indicou uma escada para um mezanino, passamos por mais um segurança, uma mesa já estava reservada para nós de frente para o palco. Dando uma visão privilegiada do andar de baixo, das garotas que andavam apenas de lingeries enfeitadas por toda boate, havia algumas no mezanino. Gatas, muito gostosas, realmente a casa tinha o que era de melhor.
— E aí? Algum comentário negativo? – Hugo zombou enquanto eu analisava as mulheres que passavam por nós.
— Bom, em quesito de mulher gostosa, você me conquistou. Mas ainda assim não vejo como contratar uma puta para fingir ser algo minha. Eu nem sabia que você frequentava um puteiro como esse.
Hugo ia responder quando olhou para longe, ergueu a mão fazendo sinal e em poucos minutos uma mulher mais velha veio até nossa mesa, puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado.
— Marli, mi calor , como está? – Ela sorriu, estendendo a mão para que ele desse um beijo.
— Estou ótima, viu como a casa está cheia, a fila na porta. – Ela se virou para mim. – Então esse seria o seu amigo?
Ergui a sobrancelha para eles.
— Sim Marli, este é o Otávio. – Hugo nos apresentou.
— Como seria esse tipo de serviço? – perguntei.
Marli olhou para os lados, sorrindo para o nada. – Ah meu garoto, aqui não é lugar, depois, em meu escritório. O show já vai começar. – disse indicando a banda e uma mulher subindo no palco menor.
Olhei melhor pelo espaço notando que a negra lindíssima que tinha se mudado para meu andar era a cantora da boate, esperei que ela virasse o rosto para confirmar. Sim, era ela mesma. Que puta mundo pequeno .
— Marli, certo?
— Sim, pode me chamar de Marli. – Acrescentou um sorriso.
A velha era realmente uma mulher atraente, seus peitos siliconados estavam fazendo volume no vestido preto que vestia, sua cintura era fina, suas unhas perfeitamente pintadas de vermelho, como garras. – Você pode me dizer o nome dessa mulher? – perguntei apontando para a cantora.
Hugo procurou para quem apontava, abrindo um enorme sorriso. Ele era tarado por negras, tarado mesmo. Dizia que a melhor transa dele foi com uma mulher mulata, que depois dela nunca encontrou uma bunda tão gostosa.
— Aquela é a Sol, porém ela não faz parte do catálogo meu garoto.
— Ela é minha vizinha. – Olho para Hugo. – Lembra? A vizinha barulhenta que se mudou há pouco tempo para meu andar, é ela, cruzei com ela no elevador hoje pela manhã.
— Cabrón isso você não me informa?
Dei de ombro em resposta, observando as luzes da boate se apagando e a plateia começar a aplaudir, me sentei ereto na cadeira olhando para o palco, a tal Sol ocupou seu lugar no microfone, fazendo sinal de positivo para a banda.
As luzes se focaram em cada cadeira que em minutos antes estavam vazias, agora sendo ocupadas por mulheres lindas, todas sentadas de pernas abertas instigando a rapaziada. A música começa a tocar, as batidas sensuais preenchendo o ambiente. Marli batia palmas sorrindo como se tivesse na apresentação de suas filhas pequenas na escola, era bizarro.
Voltei minha atenção para o palco, observando cada mulher, elas começaram a dançar sentadas nas cadeiras de madeira, jogando a perna sobre o encosto. Olho para uma em particular, com uma lingerie com cara de fina, mesmo que de longe, ela dançava mais sensual que as outras, suas coxas grossas eram suculentas, me dava água na boca de olhá-las. Marli percebeu que me fixei nela, chegou mais perto de mim e de Hugo apontando para a garota, que percebeu, mas não deu atenção.
— Aquela é meu diamante, ela se chama Maya.
Maya, Maya. Repito o nome em minha mente, o nome é tão excitante quanto vê-la dançar. Ela fica de pé rebolando cada vez mais, mesmo fazendo a mesma coreografia que as outras, não sei o que me deixou tão vidrado nela. Sinto meu pau comprimindo a cueca boxer e o jeans.
As luzes piscam se lançando sobre toda a boate, e eu continuo vidrado nela, em Maya, e em seu rebolado. Sua bunda apertada na lingerie, suas pernas ficando ainda mais atraentes com os saltos vermelhos, nossos olhares se cruzam mais de uma vez, tomo um generoso gole do meu uísque. Percebo Hugo me olhando com interesse, ele sabe quando fico realmente afim de uma mulher, já saiamos há muito tempo juntos para caçar mulheres para transarmos.
E rápido demais as luzes se apagam e acendem fazendo as dançarinas do palco sumirem e retornarem, e então elas encerram o show, meu olhar cruza mais uma vez com o de Maya antes de ela deixar o palco.
E então a expressão se encaixa perfeitamente. Que puta mulher deliciosa.
Capítulo 6
— Meus garotos, infelizmente tenho que dar atenção para outros clientes, — Marli faz um sinal para um garçom que se aproxima, ele está apenas de calça social e uma gravata borboleta no pescoço. Deixando todo o abdômen a mostra, coisa que deveria ter sido pensada para agradar as mulheres que frequentavam a boate.
– Fred, hoje a conta desses senhores é por conta da casa.
— Sim, senhora. – Diz com um sorriso.
Olho Marli se curvar sobre alguns homens a umas três mesas que estávamos sentados, rindo e fumando seus charutos. Ela chama duas mulheres de calcinha e sutiã de renda para os cavalheiros, uma sem cerimônia se senta sobre o colo do mais velho ganhando uma mordida no ombro.
— E aí? Continua recusando minha ideia, mesmo depois de ter secado a tal Maya a dança toda? – Hugo chama minha atenção.
— Confesso que ela era gostosa pra caralho Hugo, mas me convença apenas de uma coisa. – Digo sinalizando para que o garçom traga mais uma dose de uísque para nós. – Como vou conciliar um namoro de mentira com uma puta e a minha família? Você sabe o quanto minha família me pressiona sobre as mulheres que ocasionalmente levo para lá, sabe muito bem como minha mãe quer que eu me amarre.
— Otávio, você já foi mais esperto. Será como um namoro comum, nada diferente das mulheres que você levava para casa dos seus pais no litoral, para ter um final de semana de sexo na praia. Porém, agora no seu caso terá que contar com um teatro na frente dos outros, o que não seria nada difícil né meu amigo, apenas fachada.
— Você continuará com sua vida de boêmio e comedor, enquanto na empresa ganha a puta velha da Ianelli, e sua família dá um tempo com as cobranças sobre um casamento vindo de você. Ainda mais agora com o casamento de sua irmã com meu irmão. – Ele levantou seu copo como se brindasse comigo.
Suspiro pensando no que ele diz, se olhar por essa perspectiva, conseguiria matar dois coelhos numa paulada só, e, continuaria com minha vida noturna em paz. – E como isso funcionária?
— Marli me enviou o catálogo por e-mail e uma cópia do documento. Lá você terá que colocar o que pretende com a acompanhante de luxo, mas, já aviso. Prepare o bolso, elas não são umas putas qualquer como você disse mais cedo.
— Encaminhe para mim e eu olho depois. – Olhei em direção ao bar, o espaço das mesas lá embaixo a procura da tal de Maya, porém não encontrei, algumas moças ocupavam o palco se preparando para a segunda apresentação.
— Você irá adorar essa boate tanto quanto eu. – Hugo fez sinal para a tal de Sol, minha vizinha e depois apontou para mim. – E vê se me apresenta essa morena cabrón , senão perde um amigo.
Soltei uma gargalhada, as mulheres começaram a dançar sobre o palco e então lá estava ela de novo. Subiu no bar com agilidade, com um quepe de policial, e um dos barmen que estavam lá começou a jogar copos para ela.
Em uma mão segurava uma garrafa com um líquido azul que sacolejava a cada rebolada que ela dava. Ela enchia os copos, descia rebolando e distribuía para os homens que estavam perto olhando, tentando tocá-la. Mas, ela toda vez se esquivava, deixando-os ainda mais atiçados.
Entre uma rebolada e outra ela olhou bem para mim no mezanino, deu um belo sorriso de piranha, bateu um dos dedos no quepe de policial e virou o líquido azul na boca, deixando que caísse um pouco pelos seus lábios, molhando seu pescoço, escorrendo para os seios grandes apertados no corpete. O que me fez salivar, com vontade de pular nesse bar, agarrar sua cintura e lamber todo o caminho que a bebida fazia, apertei a mão sobre a calça, tentando controlar meu pau ereto.
Estava difícil trabalhar sem que os olhos penetrantes de Maya invadissem meus pensamentos nessa manhã. Ontem quando sai da boate com Hugo me rendi a uma punheta debaixo do chuveiro, e mesmo assim demorei horas para conseguir pegar no sono. Quando acordei na manhã seguinte já tinha em mente retornar essa noite para a boate e tentar encontrar de novo a mulher que mexeu tanto comigo, mesmo tendo dado apenas algumas reboladas.
Hugo tinha me passado por e-mail o catálogo com as mulheres que Marli agenciava. Incluindo seu site, aproveitei uma folga após o almoço, ficando na frente do notebook e olhar o site que ele havia me encaminhado.
O site assim como a boate era sofisticado, bem desenvolvido, Royalt Luxor, eu já tinha ouvido falar sobre isso, mas não me recordava bem sobre o que tinha sido.
Entrei na página de descrições, onde surgiu a foto de diversas mulheres, com uma pequena biografia ao lado. Procurei sinais de valores declarados, mas Marli era uma velha astuta, no final de cada biografia dizia que maiores informações seria por e-mail de forma sigilosa ou pessoalmente. Fui até o espaço de busca, não me lembrava do sobrenome que Marli havia falado, mais digitei Maya. Esperei um mísero minuto para que o navegador se atualizasse a página e surgisse a foto e a biografia sobre a mulher que havia me tirado do eixo na noite passada.
Na foto seus cabelos negros caiam revoltos pelo rosto, dando um ar selvagem, seus olhos de um verde profundo e intenso que não consegui observar ontem, sua pele era dourada, como se tivesse acabado de sair de um bronzeamento. E a boca, ah aquela boca pedia, implorava para ser mordida, só de pensar o que sua boca faria já sentia meu pau se mexer na cueca.
Deixei a foto de lado antes de ter uma ereção e li sua biografia.
“Maya Banks, vinte e sete anos, natural do Sul. Está há cinco anos na Luxor, uma verdadeira preciosidade. Além de muito educada, Maya fala dois idiomas, estudou medicina. Uma mulher selvagem que realiza as melhores e mais deliciosas fantasias que você desejar.
Maya tem um metro e setenta de altura, belas coxas, olhos verdes, pesando em torno de 60 kg.
Para maiores informações entre em contato conosco, tenho certeza que Maya poderá tornar seus sonhos em realidade.”
Passei o restante da tarde imaginando se seria uma boa ideia, lógico que seria prazeroso ter uma mulher dessas do meu lado, mas ainda se poderia ter a chance de finalmente ter o cargo que tanto desejava e acalmar minha mãe e irmãs que se tornaram insuportáveis com a ideia de arrumar um encontro às cegas para mim.
Tudo que eu não queria no momento era uma coleira. Ou me ver sentado em um barzinho conversando com alguma amiga maluca ou mulher desconhecida que minha família poderia arranjar.
Ouvi uma batida na porta, ergui o olhar vendo Hugo com cara de cansado. Ontem quando ele me deixou em casa disse que voltaria para buscar uma nova amante e pela sua cara de sono a noite tinha sido excelente.
— Aposto que a noite foi boa. – Disse sorrindo, me encostando na cadeira.
— Por favor, me diga que se convenceu com o que eu disse ontem? – Hugo abriu um memorando da empresa, mostrando que a puta velha tinha anunciado eu ou a Patrícia como os possíveis Diretores das empresas Wiless.
— Não acredito! – joguei o memorando longe.
— Pode acreditar meu amigo, é bom você decidir.
Passei as mãos pelos meus cabelos, que droga estava vendo metade dos meus planos desabarem. Mas eu não permitiria, ligaria para essa Marli, foda-se, iria ver o quanto essa mentira poderia durar. Lógico se Maya pudesse ser a mulher que mentiria comigo, seria ainda mais interessante, e, por que não?
— Me passe o endereço do escritório da Luxor, vou falar com Marli. – Comuniquei Hugo.
Ele se endireitou na cadeira já pegando um papel e uma caneta para anotar. Assim que anotou tudo empurrou o papel em minha direção. – É o melhor a se fazer cabrón . Você logo estará na Diretoria e pode até ter uma aventura muito boa com a mulher que escolher.
— Claro. Depois você vai me explicar direito como soube disso. – Desliguei meu computador, arrumei as coisas na pasta encerrando meu dia.
Hugo deu uma risada alta, levantando as mãos em rendição. Grande puto ele era, isso sim. Despedi-me e fui para o último lugar que pensei na vida que fosse procurar uma possível namorada, num puteiro. Era cômico, quem diria que um dia contrataria uma puta para apresentar aos meus colegas de trabalho e minha família, ou, para simplesmente apertar a mão de meu pai num encontro casual, afinal essa porra toda tinha que ser convincente.
Atravessei a cidade, seguindo o GPS, Hugo deu algumas instruções sobre o local, apesar do trânsito cheguei razoavelmente rápido no escritório da Luxor, deixei o carro em uma travessa, pois como ficava na avenida, não tinha vaga.
Conferi as horas no celular e ignorei algumas ligações perdidas que apitavam no visor. Olhei pelo espelho retrovisor, joguei o cabelo que caia em meu rosto para trás e parei de protelar o momento.
Esperei em uma sala realmente palaciana, toda revestida de mármore e móveis elegantes. Prostituição dava dinheiro afinal, pelo visto aqui não trataria com nenhuma puta rampeira daquelas que costumava ver perto dos sinais ou esquinas na madrugada de São Paulo. Um homem de terno saiu de uma sala, encostou a porta, andou poucos passos e olhou para mim. – A Sra. Tavares espera pelo senhor.
Levantei-me já entrando na porta que ele manteve encostada para mim, se a sala de espera era magnífica, o escritório então, meu amigo era coisa de figurões mafiosos. O mesmo designer do site se apresentava lá, poltronas de couro vermelho, uma mesa de mogno toda trabalhada, alguns quadros com mulheres pousando de costas, mostrando sua bunda, coxas e outras partes enfeitavam as paredes.
— Meu garoto, o que devo sua visita? Decidiu aceitar a proposta que seu amigo lhe apresentou? – Marli depositou dois beijos em cada bochecha, mal tocando em meu rosto. – Sente-se, por favor.
Pigarreei e me sentei na cadeira indicada, ela estava realmente falando comigo como se fosse comprar um pedaço de terra. Maluca!
— Aceita beber algo? Posso pedir para trazerem alguma coisa, café? Água? Talvez um Bourbon?
— Um Bourbon está ótimo.
Ela foi até o telefone, apertou um botão e disparou a ordem para seu secretário, com um sorriso se virou novamente para mim. – O que traz o senhor aqui?
— Andei olhando o site da Luxor.
— Ah, pois não. Interessou-se por alguma de nossas meninas? O que o senhor precisa realmente? Posso te indicar a melhor garota de nossa agência. – Perguntou com um sorriso amarelo.
— Quero saber primeiramente como funciona, tenho certeza que o Sr. Torres já deve ter comunicado do por que preciso de seus serviços. – Cruzei as mãos sobre as coxas.
O tal secretário? Uma verdadeira menina. Claude rebolava mais que uma das mulheres que vi ontem pela boate. Ele deposita meu uísque na mesa e sai.
— Bom, — Marli fez sinal para o copo. – Nós trabalhamos de modo variável, tudo depende do que o cliente deseja e quanto esteja disposto a nós oferecer. Podemos ter mulheres por dias, semanas, meses. Já tivemos caso de clientes quererem por um contrato estendido de um ano.
Depositei novamente meu copo no descanso. O que levava um homem contratar uma acompanhante por um ano? Medo de ficar sem sexo? E sem nenhum cérebro dentro da cabeça, porque pelo pouco que observei e Hugo disse, isso não sairia barato.
– Eu preciso de uma mulher que saiba se portar na sociedade, trabalho em uma empresa importante de publicidade, vou a muitos eventos. E para conseguir minha promoção, preciso de alguém que se passe por minha suposta namorada.
— Entendo perfeitamente. Alguém que possa ser avaliada e possa passar essa imagem de mulher de família para seus chefes. – Marli abriu uma gaveta retirando um grosso livro.
—Tenho algumas mulheres que seriam perfeitas para isso. – Ela começou a folhear o livro, onde vi algumas fotos e detalhes pessoais das garotas.
— Não preciso escolher. – Comuniquei. – Já sei quem eu quero.
Ela fechou o livro colocando-o de lado. Um sorriso ambicioso cruzou seu rosto. – E quem seria Sr. Amell?
— Maya Banks.
Sim, os olhos de Marli faiscavam com a possibilidade de grana fácil, eu queria Maya, e ela sabia que iria pagar o preço que ela impusesse.
— Infelizmente, Maya está com a semana ocupada. Tenho outras garotas como estava falando para o Senhor – Sua cara apesar de aparentar desapontamento, eu sabia muito bem que tudo não passava de um falso sentimento, ela estava jogando comigo.
— Como disse não quero. Diga o preço e eu pagarei, quero Maya até conseguir minha promoção e todos os problemas devido à falta de uma namorada desaparecer de minha vida.
— Bom. – Marli puxou outra gaveta, guardou o livro e pegou uma pasta de contrato. – Neste caso, Maya será a garota perfeita, além de muito educada, tenho certeza que o senhor irá se divertir entre quatro paredes com ela.
Ergui minha sobrancelha.
— Lógico que meu contrato é apenas para uma Acompanhante de Luxo, se acaso rolar qualquer atividade física, o senhor fica ciente que deverá arcar com vinte por cento do contrato, dado em dinheiro para própria garota. Aqui não realizamos prostituição senhor Amell, apenas diversão e resolver os problemas de cada cliente VIP.
Essa mulher não era só dissimulada como maluca, ganhava dinheiro pondo mulheres lindas que poderiam estar em outro futuro para ser acompanhante de luxo, como ela dizia. E ainda alegava que isso não era prostituição.
— Tudo bem, prepare o contrato eu assino.
O sorriso dela poderia rasgar sua cara pelo tamanho, ela começou a preencher os papéis, pediu alguns documentos meus assim como a parte de documentos da Maya já havia sido preenchida, percebi que isso deveria ser automático, coisa para evitar perda de tempo.
— Ah, Otávio, no contrato há uma cláusula que fica a sua escolha se dará roupas ou acessórios para a dama enquanto precisar dela, seja para eventos formais ou para um jantar informal. Se tiver qualquer dúvida pode me questionar.
— Não tenho nenhuma dúvida.
Aproximei o contrato e assinei, seja o que Deus quiser.
Capítulo 7
“E toda mulher é poderosa... quando tem as armas certas nas mãos e quando sabem usar dessas armas a seu favor...”
Sai de lá indo direto para boate Scandallo, entrei já estava cheia de gente, hoje tinha algumas mulheres a mais que ontem, um público cativo assistindo ao show. Sentei-me no banco do bar, olhando para o palco tentando encontrá-la, mais nada.
Não conseguia ver Maya no meio das dançarinas.
— Você vai tomar alguma coisa, ou vai ficar babando pelas garotas e tirar minha oportunidade de uma boa gorjeta? – Gritou mais alto que a música.
Virei dando de cara com Maya, seus cabelos como cascatas negras molduravam seu rosto, seus olhos verdes me analisando com interesse. Dei um sorriso de lado para ela.
Sua reação foi à melhor, ela mordeu um pouco o lábio, o que aumentou meu sorriso.
— Eu quero tomar algo sim. – Disse apoiando os cotovelos no balcão, ficando a centímetros de sua orelha. – Um uísque estaria de bom tamanho.
Ela se afastou, ergueu apenas uma das sobrancelhas em completo desafio. Pegou uma garrafa próxima, encheu um copo e colocou na minha frente.
Uma mulher se sentou dois bancos de mim e chamou a atenção de Maya, levando-a para longe, todo o caminho observei o pecado que era seu corpo, hoje numa lingerie azul clara, se me curvasse um pouco pelo balcão conseguiria ver as meias arrastão e seus saltos. Sua cintura estava delineada pelo corpete indecente, mostrando a curva deliciosa que ela tinha no peito, montando duas perfeitas montanhas que eram seus seios.
Seu olhar cruzou com o meu, seu rosto ainda demonstrava desafio e o meu completo fascínio.
Pelo canto do olho reparei quando uma mulher de vestido prata se sentou ao meu lado, virei um pouco o rosto percebendo que era minha vizinha. Ela se espreguiçou e olhou para mim, seu sorriso congelou.
— Olá vizinha! – Disse todo simpático.
Lógico que ela deveria estar envergonhada, o que uma pessoa estaria fazendo em uma boate na zona Sul de São Paulo. Mas como eu já tinha visto ela ontem sabia que era apenas cantora. Aparentemente.
— Oi. – Ela cumprimentou.
— Jaq... Sol, o que você quer? – Maya perguntou parando em nossa frente.
— Então seu nome é Sol? – perguntei para minha vizinha, completei dando meu melhor sorriso, sorriso número 35.
O sorriso do vizinho comedor.
— Jaqueline, mas artístico é Sol. – Ela se virou para Maya que nos olhava interessada. – Não sabia que você frequentava o Scandallo.
— Primeiras vezes. – Confessei olhando para Maya.
— Meu nome é Otávio, não nos apresentamos no elevador aquele dia. – disse estendendo a mão para ela. Maya ainda acompanhava nossa conversa, olhando de Jaqueline para mim. – Você é? – perguntei me virando para Maya.
— Você quer saber por quê? – Respondeu com outra pergunta, toda arisca.
Soltei um risinho, daqueles bem cafajestes. – Talvez passaremos algum tempo juntos. – disse com um dar de ombros.
Maya sentou-se no balcão, trazendo todo seu corpo perto do meu, podia sentir sua respiração em meu rosto. — Só nos seus sonhos baby .
Depois disso ficou de pé, andando pelo balcão. Eu fiquei sem fala, ainda mexido pelo seu perfume doce dançando em minha cara. Uma música de batida forte começou a tocar, duas garotas também subiram no palco dançando, rebolando no ritmo. Maya veio pisando duro pelo balcão, rebolando e o tempo todo me olhando, me provocando com seu corpo. Por um segundo ela teria pisado em minha mão se eu não tivesse retirado junto com meu copo do balcão.
— Tome cuidado, Maya não é para brincadeira. – Jaqueline sussurrou em meu ouvido. – Eu disse, tão mal-humorada quanto a gata dela. – Depois disso se levantou, saiu em direção oposta e eu fiquei lá como um babaca, vendo a mulher mais petulante do mundo rebolando na minha cara, me lançando ao desafio.
Tudo bem, querida, você seria minha pelos próximos dias, ou até meses, que nosso tempo comece. Que comecem os jogos.
— Não acredito que você me ligou. Pensei que tinha sido muito saidinha aquele dia na D-Edge. — Sofia dizia enquanto beijava e mordia seu pescoço.
— Gosto de mulher que sabe o que quer.
— Então, o que você quer, Sr. Moreno irresistível? – Ela baixou uma de suas mãos segurando meu pênis debaixo d’água.
Encostei meu corpo do lado oposto da banheira, enquanto ela fazia seu trabalho.
— Preciso de uma distração.
— Precisando é só me chamar gostosão – Sussurrou com um belo sorriso safado, subindo em mim.
— Pare de falar, seja minha distração.
Empurrei sua cabeça, levando sua boca para longe da minha, fazendo que ela descesse por todo meu corpo...
Capítulo 8
Eu estava atrasada, Marli ficou uma boa hora explicando sobre meu novo cliente, algum playboy que precisava de uma namoradinha de mentira. Pelo que ela me explicou as pressas no escritório da Royalt, que meu futuro cliente era maravilhoso e já havia pesquisado sobre ele, até sua família.
Marli sempre tinha esse cuidado conosco, certificava-se que cada cliente não seria uma furada para nós e nem um caso de polícia para ela.
Deixei-a no escritório e segui para a boate, está noite cuidaria do bar com o Lucio, eu era uma espécie de volante. Trabalhava no bar, na casa, ou dançando no palco. Foi assim que comecei, como dançarina muito antes de entrar para Luxor.
Foi depois de ver como as garotas da Luxor ganhavam bem, e olha que muitas não trocavam mais do que beijos e carícias na frente da sociedade. Depois fiquei por dentro do esquema, eu nunca fui contra sexo, tinha plena consciência do meu corpo, e, principalmente dos meus desejos.
No começo teve apenas dois clientes que fui realmente entregue na sedução e tive um dos sexos mais divertidos da minha vida, um levou ao relacionamento sério. Mas como qualquer homem ele achou que por ser acompanhante de luxo, uma hora ou outra poderia me comprar. Coitado, tomou um pé na bunda, mas deixou alguns buracos em meu coração como todo bom homem canalha.
Desde menina minha mãe alimentava a fantasia de príncipes em cavalos brancos e homens gentis, talvez seja pelo fato dela ser de uma época mais conservadora, ou por ter encontrado meu pai. Que em quesito de cavalheirismo com ela era nota dez, sempre fazendo suas vontades e ajudando em casa, mesmo com nossa falta de grana. Já eu, nunca acreditei realmente que existiria um homem assim para mim, sempre olhava para os homens com desconfiança. Como se eles fossem uma cobra prestes a dar o bote, no fundo os homens eram assim e a melhor coisa era não criar muitas expectativas.
Sem expectativas, sem desapontamentos.
Os outros como disse, eu adorava realizar as fantasias, desejos mais profundos dos homens, uma vez passei um mês em Búzios na casa de um cliente, ele tinha a fantasia de ser judiado. Bem coisa BDSM.
— Mexa esse traseiro, gatinha. – Lucio me arrancou dos meus pensamentos.
— Boa noite para você também, querido — Como vai à noite? – Perguntei de modo sarcástico.
Ele sorriu e bateu na aba do seu chapéu bem anos 60, com aba curta, seu colete de couro colado nos músculos, mostrando um pouco do abdômen tanquinho que ele tinha.
A Scandallo estava fervendo hoje, o público feminino sempre aumentava as terças e quintas, onde Marli lançava o famoso: “mulher paga meia” a noite toda e ainda tinha uns garçons desfilando com sorrisos fáceis pelo lugar. Marli estava pensando em abrir o ramo para clientes mulheres, tanto eu como Roger gostamos da ideia, seria algo diferente para a Luxor.
Podia ver do balcão os clientes clichês, aqueles que batiam fielmente seu cartão de presença pelo menos umas três vezes por semana. As novatas dançavam no palco ao som de “Do I Wanna Know?” uma música sensual com muito som de guitarra. Eu sabia todas as coreografias de olhos fechados, sempre gostei de dançar e aprendia rápido.
Notei Kelly encostar-se ao balcão com um figurão velho, sussurrando em seu ouvido, ela gargalhava como se ele fosse o príncipe encantado. Arrastei-me para onde eles estavam.
– Aceitam algo?
— Por favor, lindinha, uma dose de vodca pura para mim e para meu docinho um Martini.
— Claro.
Preparei as bebidas parando para pegar a gorjeta e seguir para o lado, a boate escureceu e quando as luzes rodaram por todo espaço eu dei de cara com ele, o mesmo homem que tinha me encarado ontem pelo mezanino.
Hoje podia observar todos os detalhes que tinham ficado de fora, como seus olhos azuis penetrantes, sua cabeleira preta rebelde, caindo no rosto. Ele encarava o palco, como se tivesse procurando alguém.
— Você vai tomar alguma coisa, ou vai ficar babando pelas garotas e tirar minha oportunidade de uma boa gorjeta? – Falei acima da música alta.
Ele sorriu para mim como se tivesse encontrado o que procurava, coitado, realmente coitado. Ele seria daqueles que ficam babando pelas mulheres que trabalham aqui, acabam convidando para jantares até ver onde estão se metendo. Ou ele sabia muito bem o que realmente fazíamos na boate.
— Eu quero tomar algo sim. – Ele apoiou o corpo nos cotovelos, ficando a centímetros de meu rosto. – Um uísque estaria de bom tamanho.
Ergui apenas uma sobrancelha em completo desafio. Puxei uma garrafa próxima, enchendo um copo e depositando-o na frente dele.
Peguei sua comanda ao lado do copo, preenchi colocando as duas doses cavalar de Bourbon.
Olhei mais adiante, vendo Jaque vindo em nossa direção, se um dia eu visse Jaqueline na rua iria jurar que seria uma modelo, negra, alta, seus cabelos também pretos caindo em cachos perfeitos no delicado penteado e um par de coxas que só Deus mesmo poderia ter criado.
Jaque tinha se mudado para um apartamento chique nos jardins, como não suportava a sua colega de apartamento recusei o convite de morar com ela, e outra, eu amava minha casinha, era meu refúgio. Ela se sentou dois bancos depois do moreno bonitão. É ele era um moreno bonitão . Fui até lá, peguei pelo caminho uma garrafa de chá gelado com o nome dela, despejei o conteúdo meio verde em um copo. Coloquei na sua frente e dei um sorriso meio careta para o conteúdo que dançava pelo cristal.
— Olá vizinha! – Escutei por cima do ombro.
— Oi. – Jaque cumprimentou, sem jeito.
—Sol, você quer mais alguma coisa? – Perguntei.
— Então seu nome é Sol?
— Jaqueline, mas artístico é Sol. – Acompanhei interessada a conversa, queria saber de onde eles se conheciam. Fingi que limpava o balcão para escutar um pouco mais da conversa.
– Não sabia que você frequentava a Scandallo.
— Primeiras vezes. – Respondeu o moreno bonitão. — Meu nome é Otávio, não nos apresentamos no elevador naquele dia.
Otávio, então esse era o nome dele, bonito, apesar de não combinar em nada, quando eu olhava para ele imaginava um nome mais sexy, ou até mesmo um nome estrangeiro. As mães adoravam fazer isso.
— Você é? – Otávio se virou para mim.
— Você quer saber por quê? – Perguntei arisca.
Um risinho brincou em seus lábios finos, cafajeste. – Talvez passaremos algum tempo juntos. – disse completando com um dar de ombros.
Pelo canto do olho notei Gaspar junto com as duas dançarinas do bar se preparando para subir, toda noite tinha as famosas Coiotes, garotas que subiam no bar, dançavam e distribuíam bebidas para os homens mais próximos, eu faria questão de pisar nos dedos de Otávio se ainda estivesse ali. Sentei no balcão, levando todo meu corpo para perto do dele, como ele mesmo havia feito mais cedo. Minhas pernas abertas em volta de seu corpo, inclinei minha cabeça vendo-o babar por minhas coxas. Podia sentir o seu perfume invadindo minhas narinas. – Só nos seus sonhos baby .
Fico de pé, não espero por qualquer resposta dele, ando pelo balcão, a música e os holofotes se lançaram sobre mim, puxo as duas meninas pela mão içando-as para o balcão do bar.
Rebolei de verdade, quase enfiando minha bunda na cara de um homem gordo sentado na ponta, seus olhos arregalaram com malícia. Afasto-me antes que ele tocasse em meu corpo, andando a passos firmes pelo espaço, rebolando, agachando e me insinuando.
Pelo ombro vejo que o moreno petulante ainda está sentado com Jaque, parto rumo a eles e quando ia descer o salto de meu sapato bem nos dedos dele, ele é mais rápido retirando a mão com susto, olhando para mim medindo cada centímetro de meu corpo.
Capítulo 9
Olhei para o visor do celular, três e quarenta, logo poderia cair sobre minha cama, a semana mal começando e eu já estava esgotada. Diversas vezes pensei em largar tudo, voltar para minha faculdade, mas ainda não tinha todo o dinheiro que precisava para estudar e me dedicar apenas a isso, os livros eram caros, a mensalidade também. Pelos meus planos mais um ano e eu conseguiria sair dessa vida e recomeçar com meus sonhos.
— Garota! – Julia, uma ruiva em miniatura me chama acenando com a mão, ela chega ao mesmo tempo em que Marli surgiu no corredor. – Tenho um cliente para você, você não fez nenhum programa hoje.
Respiro fundo. A novata achava que eu era uma puta como ela. Eu nunca parei realmente para analisar a vida de uma prostituta, haviam as que foram obrigadas a estarem naquela vida, as que entravam em uma furada acreditando num mundo que não existia e as que entravam porque queriam. Este era o meu caso. Quem achava que mesmo trabalhando com nossos corpos tínhamos algum tipo de moleza estavam enganados, eu agradecia por não ser uma puta de esquina, nem de um bordel qualquer. Por mais que Marli fosse interesseira, ela tinha uma firma que qualquer puta mataria para ter uma vaga, e mesmo assim, para ser uma Luxor, você tinha que responder a um questionário enorme, e ainda fazer vários exames médicos.
E em troca, dependendo do cliente você ganhava viagens, joias, roupas. Teve menina que já ganhou casa, carro, outras conseguiram um homem que se apaixonou, largou a família e foi viver com sua acompanhante de luxo.
— Julia, você está cansada de saber que a Maya faz parte da Luxor, ela não precisa de clientes da boate.
Julia revirou os olhos. – Não custa fazer uma grana extra.
Ela continuou mascando seu chiclete como uma cabra, o que era não só feio, mas tornava ela ainda mais vulgar. Marli a dispensou com a mão, passou um braço por minha cintura, acompanhei seu caminhar até o escritório.
— Poderia encerrar mais cedo? Estou tão cansada. – Confesso.
— Preciso apenas trocar umas palavrinhas com você. – Disse ignorando meu pedido de ir embora.
Joguei-me sobre o pequeno sofá de canto, sentindo meu corpo pedindo descanso. Meus pés reclamavam dos saltos, o ferro do corpete começava a furar e incomodar meu corpo.
— Amanhã quero ver você cedo em meu escritório na Royalt, tenho que mostrar os detalhes de seu próximo cliente, também precisamos agendar o salão de cabeleireiro e os serviços de pele.
— Quanto tempo será desse cliente?
— Tempo indeterminado, — ela viu que arregalei os olhos, todos os meus contratos tinham data para começar e terminar. – Fique calma, ele precisa de você pelo tempo que conseguir resolver seus problemas.
— Para que mesmo eu estou sendo contratada? É algum gordo tarado de novo?
Marli gargalhou. – Não meu diamante, ele é um homem delicioso, seria uma pena se você não conseguisse o bônus. – Disse piscando. – Ele precisa de uma namorada.
— Sério isso? Se ele é tão bonito como você diz, porque não arruma uma de verdade? Ele tem pinto pequeno? Virgem?
Marli gargalhava tanto de minhas perguntas que suas bochechas ficaram vermelhas.
— Olha, pelo arquivo que levantei dele, é mulherengo, boêmio de tudo, vive a noite, um verdadeiro morcego. A questão do pinto, como você levantou, o pouco que observei quando estive com ele. – Ela fez um gesto de grande, depois se abanou. Rimos da infantilidade de seus gestos. – Ele tem trinta anos, amanhã passarei a ficha para você.
— Tudo bem.
Levantei me espreguiçando. Pronta para perguntar se estava dispensada quando ela me interrompeu.
— Meu diamante.
— Para com essa história de diamante. – Reclamei.
Ela tirou os olhos dos papéis a sua frente. – Querida se você visse a quantidade de clientes querendo você, o quanto você já contribuiu para minha fortuna, mas agora vá. Não se atrase amanhã.
Dei um sorriso de lado para ela. Crente que estava dispensada para ir para casa, estava recolocando minha bolsa no ombro quando ela me pergunta:
— Você fecha a boate com Lucio, hoje?
Amaldiçoei-me por dentro, tudo que eu queria era minha cama quentinha e ainda teria que esperar mais uma hora e fechar toda a boate. Respirei fundo. – Claro Marli, eu finalizo tudo.
A boate já estava completamente vazia. Marli deixou na minha responsabilidade de finalizar tudo com Lucio, que arrumava todas as garrafas e copos enquanto eu ajeitava os camarins e fantasias.
— Morena? Que tal uma música para nos animar? — Lucio perguntava causando eco por estarmos em completo silêncio.
— Pode ser. A Jaque deve ter deixado algum pen-drive no palco, já estou indo. — Gritei para ele.
Peguei minha mochila apagando as luzes dos fundos, Lucio tinha tirado o colete de couro e o chapéu que estava usando mais cedo, deixando o belo abdômen definido amostra, as luzes do palco ainda estavam acessas se lançando pela boate. Como previ Jaqueline tinha deixado seu pen-drive perto da caixa de som, conectei vendo as caixas explodirem com Charlie Daniels cantando sua música country. "The Devil Went Down To Georgia". No primeiro refrão Lucio soltou uma gargalhada pulando para cima do balcão, interpretando a música.
Dançando por todo o bar com o pano de prato apoiado nos ombros, ampliando seus gestos sorrindo e me chamando para acompanhá-lo. Ocupei o palco dançando de forma sensual e atrapalhada copiando seus passos. Lucio ria e interpretava muito bem seu papel de dançarino, ele fez uns passos complicados ficando de joelho e escorregando por todo balcão o que arrancou uma grande gargalhada minha.
Fazendo-me esquecer do cansaço que se apossava de meu corpo.
— Gostou né, morena? — Ele brincava com o pano açoitando o ar como se fosse um chicote. A música trocou na caixa de som, e, nem isso o fez parar.
— Você tem requebrado Lucio, com um corpete ficaria um arraso. — Zombei.
A gargalhada dele preencheu o ar, continuamos dançando pela boate. Ele no balcão e eu no palco, quando uma música latina lançou suas batidas sensuais por todo espaço não me contive. Lucio se sentou no palco com uma lata cerveja batendo palmas acompanhando minhas reboladas e requebradas no ritmo de "Despacito — Daddy Yankee", sempre tive um fraco para músicas latinas, a batida me envolvia de um jeito anormal. Por isso não escutamos quando a porta da boate foi aberta, nem escutamos os passos na escada.
— Qual é a sua babaca?
Virei assustada vendo Lucio gritar para alguém, meu sangue congelou nas veias quando percebi que era Otávio. O que ele queria aqui, ainda mais essa hora?
— Fala babaca? O que você quer aqui? — Gritava Lucio.
Pelo canto do olho vi quando ele buscou um bastão de beisebol que ele guardava debaixo do bar, prestes a estourá-lo na cabeça de Otávio. Que em nenhum momento fraquejou, continuou me encarando nem ligando para Lucio, ou, para o que poderia acontecer com ele. Tirei com força o pen-drive da caixa de som, interrompendo a música.
Pulei do palco, nem ligando para meus saltos que rangeram com o impacto. — O que você quer?
Cheguei perto de Otávio, olhando bem para seu rosto, os olhos sérios e os lábios comprimidos.
— Oh babaca, estou falando com você! — Lucio continua gritando, tentando chamar atenção de Otávio, e esse continuou com os olhos pregados em mim.
— Lucio ele é cliente da Scandallo, — Digo rápido para intervir no que pode ser um banho de agressão e polícia. — Verifique se tranquei as portas dos fundos e eu encaminho o Sr. Intruso até a porta.
— Tem certeza morena? Ainda estou disposto a quebrar a cara dele.
Desvio minimamente meus olhos do rosto de Otávio, para confirmar o que disse para Lucio.
Espero alguns segundos até que ele tenha se afastado para recuar um passo e encarar melhor o rosto petrificado de Otávio. — Agora que te livrei de ter todos os dentes arrancados, o que você está fazendo aqui?
— Eu estava passando. — Ele falava de maneira mansa, baixo fazendo os pelos de minha nuca se arrepiarem com a rouquidão de sua voz.
— Péssima decisão, Lucio não tem muita paciência e espero que você esteja longe quando ele retornar. — Cruzei os braços contra o peito, mostrando minha impaciência.
— Não tenho medo de um brutamonte como ele. — Seus lábios se curvaram em um sorriso ameaçador. E puta que pariu, muito sexy!
— Eu devo mostrar onde fica a saída para você?
— Por que você não me acompanha até ela?
Mordi internamente minha bochecha contendo um suspiro. Olhei em direção ao corredor que Lucio tinha ido.
— Estou indo embora Lucio, até amanhã. — Gritei.
Corri até o banco pegando minha mochila, agarrei a manga da blusa de Otávio arrastando para fora comigo, em direção à rua. Notei um carro importado imponente parado logo atrás do meu e a Harley—Davidson de Lucio parada de forma errada na guia da calçada.
Parei em frente ao meu carro me virando para ele. — Pronto agora que estamos aqui fora pode ir embora.
Acionei o alarme do carro destravando as portas.
— Ele é seu namorado?
Virei-me para encarar seu rosto. — Lucio? —Contive uma risada. — Não, eu não namoro Sr. Espertalhão.
Ele sorriu de forma cafajeste. — Isso é bom saber.
— Olha sinto muito se você acha que eu sou como as mulheres que anda acostumado. — O coitado mal sabe, pensei comigo mesma. — Procure alguém da sua laia.
Contornei o carro abrindo a porta do motorista, antes de entrar me voltei para Otávio que estava encostado sobre o capô de seu carro caro olhando interessado para mim. — Se eu fosse você não estaria aí quando Lucio saísse. — Avisei entrando em meu carro e dando partida.
Enquanto me afastava da Scandallo os olhos penetrantes e atraentes de Otávio ainda me observavam pelo espelho retrovisor.
Capítulo 10
Algo realmente barulhento chamava minha atenção, sentia o sonho se desprendendo de minha mente, sonhos que envolviam olhos azuis, bocas se tocando e muitas mãos, mãos essas que deixavam meu corpo quente.
Abri os olhos, estava com a cara enfiada no travesseiro, um fio de baba escorria pela minha boca. Merda de olhos azuis! Passei o antebraço tirando a baba que restava grudada em meus lábios. Olhei para o relógio digital na cômoda do outro lado do quarto, merda de novo, estava atrasada para ir à reunião com a Marli.
Joguei o edredom para o lado assustando Nica – minha gata —que dormia tranquila esparramada em um dos travesseiros, corri para o closet separando um vestido leve vermelho, mesmo por trás da cortina podia ver o sol, com certeza estaria quente pelo resto do dia. Como não daria mais tempo para tomar um banho, troquei meu pijama, um salto médio nos pés e joguei na cama um casaco caramelo.
Deixei meus cabelos caindo em ondas pelos ombros, passei um batom matte e um lápis de olho preto. Meu telefone tocou pela terceira vez, corri para pegá-lo na cama.
— Eu sei, eu sei, estou atrasada.
— Bom dia para você também Mia. – Jaqueline disse rindo.
— Achei que fosse a Marli, como vai amiga? E quantas vezes vou dizer que sou Maya agora e não Mia?
— Tá, tá, tá e eu estou melhor que você aposto. Pego a Nica hoje?
— Não precisa. Obrigada. – Respondo correndo pelo quarto, recolhendo todas as minhas coisas.
— Você está correndo? Dormiu demais? – Ouvi o barulho de gavetas se fechando, Jaque já devia estar em seu trabalho de contadora.
— Sim, preciso ir. Ligo para você mais tarde Jaque. – Falei com a respiração ofegante de tanto correr de um lado para o outro.
— Ok garota, beijos.
Corri pela escada pegando minha carteira, as chaves do carro indo para a garagem. Liguei o motor do carro e sai acelerando para a avenida, demoraria no mínimo uns quarenta minutos até o escritório da Royalt. Merda de novo, Marli odiava atrasos, eu escutaria sobre isso o resto da semana.
Ela também não poderia me culpar, ontem tinha ficado além do meu limite de cansaço para fechar a boate, ainda por cima evitei um pequeno banho de sangue entre seu cliente da Scandallo e Lucio.
Mal podia esperar pelo final de semana, iniciaria com o tal cliente engomadinho e estaria longe da correria da boate, Marli não tinha me contado se ele era de São Paulo, rezava para que tivesse a sorte de Sula, arrumar um empresário que necessitasse viajar. Seria realmente bom, arrumar as malas e entrar no personagem que ele precisava.
Ouvi meu telefone tocando novamente, olhei para o visor aproveitando que o trânsito havia parado. Marli, fodeu !
— Marli.
— Atrasada. – Sua voz estava calma, se ela nervosa já era de deixar os cabelos do braço arrepiados e não de um jeito positivo, imagina ela com voz calma.
— Desculpe mesmo, estou correndo, já estou chegando.
— Mudei um pouco as coisas, estou com seu cliente chegando aqui. Assim apresento vocês de uma vez.
— Estou chegando.
Dirigi atravessando a cidade até o escritório, passei meu cartão no estacionamento subterrâneo do prédio, estacionando meu Mini Cooper numa vaga perto do elevador.
Eu amava meu carro, lembro que fiquei babando quando olhei para ele pela primeira vez na Augusta, uma rua luxuosa cheia de lojas de carros importados. Naquele dia eu tive a certeza que o carro era como uma sereia, jogando seu canto e alguns meses depois eu estava dirigindo-o com a capota aberta pela cidade. Aventurando-me pelos bairros de São Paulo.
— Bom dia, Srta. Banks. — Natalia me cumprimentou.
— Estou em maus lençóis, né?
Ela soltou um risinho baixo, sabia muito bem do que eu estava falando. Natalia e Claude eram os assistentes de Marli na Luxor, Roger também, mas ele aparecia raramente aqui, preferia ficar mais na boate gerenciando tudo. Coitados aguentavam cada coisa.
— Hoje está tranquila.
Levantei as mãos ao céu agradecendo, ao mesmo tempo em que a porta abria revelando Claude. Ele lançou um olhar meio furioso para mim, depois caiu na gargalhada, escutei quando Marli falou de dentro do escritório mandando que eu entrasse. Nem precisando me anunciar, os seguranças devem ter avisado que estava subindo.
Passei por Claude, mandando um beijo. Deixei minha bolsa no sofá ao lado da porta, um homem de terno estava sentado de costas para mim conversando com a Marli, ela sorria abertamente para ele, se o homem engomado não fosse meu cliente ele seria um cobrador. Isso explicava o controle de fúria que ela estava tendo.
— Até que enfim Maya, nosso cliente já estava impaciente, o Sr. Amell é um homem ocupado. – Marli lançou o primeiro olhar mortal para mim.
— Mil desculpas Marli, perdão Sr. Amell, peguei um trânsito horrível perto do Jabaquara.
Minha boca praticamente caiu enquanto eu caminhava para as poltronas, a fim de olhar o rosto do meu possível cliente.
Ele se virou revelando sua identidade.
— Olá Maya, que prazer em vê-la. – O moreno bonitão se levantou, me olhando de cima a baixo com um sorrisinho cínico no rosto.
Capítulo 11
Tinha saído do escritório dizendo que visitaria um cliente, tirando Hugo que sabia para onde iria realmente. De novo fiquei dando voltas no quarteirão tentando encontrar uma vaga para o carro, acabei deixando na frente de um restaurante prometendo uma boa gorjeta para o cara, que só assim parou de reclamar.
Marli como sempre me recebeu com um sorriso de orelha a orelha, muito satisfeita, pelo simples fato do cheque bem gordo em meu bolso.
— Ela já deve estar chegando, Maya não costuma atrasar. – Marli lançou mais um sorrisinho simpático para mim.
Consultei as horas em meu Rolex. – Tudo bem, se quiser podemos dar adiantamento nas coisas, enquanto ela não chega.
— Claro.
Esperei enquanto ela remexia nas gavetas, puxando uma pasta preta, tirou alguns documentos já assinados por ela. Passou-me por cima da mesa sem falar nada, corri os olhos examinando todas as cláusulas, basicamente eu alugava Maya Banks por um período de tempo, no contrato dizia um mês. – Aqui temos um equívoco, — apontei para o local do período. – Como disse não sei ao certo quanto tempo preciso dos serviços de Maya, pode ser por um período de um mês ou mais. – Entrelacei as mãos sobre minhas pernas. – Tudo depende da forma como minha chefe e os representantes da empresa olharem para ela.
— Sim, porém como não temos tempo certo, prefiro que façamos um contrato mensal, se por acaso você quiser deixar ou renovar o contrato no próximo mês voltamos a conversar. – Ela pegou uma caneta e deixou perto de minhas mãos. – Enquanto isso Maya não estará mais no mercado, lógico que como falei precisará de pelo menos um pequeno agrado, afinal Maya é meu diamante como disse para Hugo.
— Sim, já preparei um cheque para você.
Analisei as regras impostas no contrato, no caso de joias ou roupas elas ficavam ao meu critério e da acompanhante de ficar ou não com as peças, isso parecia justo. Terminei de ler outras partes, peguei o cheque em meu bolso, um cheque gordo e pomposo de quarenta mil reais, tendo o tal bônus de dez mil reais para Marli. Assinei e passei para ela.
Seus olhos ficaram grandes, ambiciosos quando viu o bônus incluído no valor.
Eu não tinha certeza que esse valor iria para as mãos de Maya, mas também nem poderia saber, é minha primeira vez com uma prostituta, pelo menos uma que eu pagasse tão caro para ter. Hugo havia me garantido e mostrado que elas não eram prostitutas, e sim o termo que Marli usava, acompanhantes de Luxo, e que Luxo.
Porque gastar trinta mil com uma mulher não é brincadeira, ainda mais para sustentar uma mentira, esperava realmente que os talentos de Maya passassem de alguns rebolados e olhares sensuais, porra se minha "chefa" fosse pelo menos um homem. Se nada desse certo, com um rebolado eu resolveria meus problemas. Ri para mim mesmo do rumo dos meus pensamentos.
O que tornava tudo ainda mais irônico é que eu poderia telefonar para todas em minha agenda, com certeza uma gostaria de me acompanhar em alguns eventos, mas era como Hugo me disse. Se quisesse continuar sem mulher e cobranças futuras, tinha que agir com uma profissional.
Claude, o secretário de Marli pediu licença deixando a bandeja com café sobre a mesa auxiliar e saiu.
— Até que enfim Maya, nosso cliente já estava impaciente, o Sr. Amell é um homem ocupado.
Mantive meu olhar no rosto de Marli, era hora do show.
— Mil desculpas Marli, perdão Sr. Amell, peguei um trânsito horrível perto do Jabaquara.
Virei-me na cadeira dando meu melhor sorriso, um bem cínico na verdade, olhei seu visual de cima a baixo, seu vestido esvoaçante, as coxas expostas, o cabelo menos rebelde das noites na boate, penteados e controlados caindo pelos ombros, roçando seus seios fartos. Aqueles seios em minha boca seriam uma perdição. Meu pênis se mexeu concordando com meus pensamentos.
— Olá Maya, que prazer em vê-la. – Me levantei, arrumando o blazer.
— O que você está fazendo aqui? – Maya disparou para mim.
— Isso é jeito de falar com seu cliente garota, — Marli fechou a cara. – Peço desculpas Sr. Amell, Maya não deve ter acordado de bom humor.
— Imagino. Todos nós temos dias ruins.
Não comentei do nosso breve encontro na noite passada e pelo visto Maya ainda não havia comentado com sua chefe que entrei na boate sem permissão, muito menos que seu garçom tinha ameaçado estourar um taco de beisebol em minha cabeça.
— Maya esse é Otávio Amell, seu cliente. – Reparei no olhar mordaz que Marli lançou para Maya.
— Você só pode estar brincando? – Maya perguntou enfurecida.
— Maya!
— Eu disse que passaríamos algum tempo juntos Maya. – Respondi ainda mais cínico, e seus olhos verdes estavam mais para duas labaredas, praticamente me queimando vivo.
— Isso é sério Marli?
— Maya porque você não se senta? Vocês já se conheciam?
Marli troca olhares entre mim e Maya.
— Ele frequentou a Scandallo. – Maya veio caminhando em direção a poltrona.
— Ah, claro. Querida como estava conversando com o Sr. Amell, ele precisa de uma acompanhante que se passe por namorada dele. Vocês terão oportunidade para conversar depois, com mais calma.
— Isso. Preciso de alguém que se passe por minha namorada, até que resolva problemas relacionados a trabalho e alguns familiares, isso incluirá jantares de negócios, jantares e eventos em família, possivelmente uma viagem para o Rio de Janeiro onde fica a sede da empresa. Coisas desse tipo.
Maya mantinha seu olhar sério para mim, mesmo que sua aparência tinha entrado em modo profissional, podia ver o fogo ainda ardendo em seus olhos.
— Meu lema já diz, adoro satisfazer as fantasias dos meus clientes.
— Tenho uma dúvida. Você se apresentará como Maya, ou me dará seu nome verdadeiro? – Perguntei.
— Otávio querido, entenda que esse é o pseudônimo dela, se for dá vontade de ambos podem criar um totalmente novo, assim como fica da escolha de Maya dizer ou não seu nome verdadeiro.
— Claro, apenas fico pensando se cruzarei com um de seus clientes, não posso me dar ao luxo de contratar algo desse valor e ainda prejudicar meus negócios.
— Entendo completamente Sr. Amell. – Marli afastou uma mecha que se soltou de seu coque elegante, colocando-a novamente atrás da orelha.
– Fique tranquilo quanto a isso, todos os contratos têm uma cláusula sobre sigilo, assim como o senhor tem seus negócios. Os outros clientes tão pouco querem esse tipo de foco neles.
— Perfeito. – Concordei, no mais belo tom de negociador.
— Meu nome é Maya Banks e será Maya Banks, ou você prefere Laura? – Maya, voltou com o assunto anterior, desafiando-me com seu olhar, eu queria saber seu nome verdadeiro. Seria mesmo Maya Banks ou outro totalmente diferente.
— Esse é seu nome real? Como consta em seus documentos?
— Se você quiser ver minha identidade verá Maya, ou Laura, ou Mia, ou Joana. – Ela mostrou um sorriso calculado.
— Continue com Maya então. – Me levantei, abotoei o blazer, conferi mais uma vez as horas, ela me tirava do sério.
– Marli, foi um prazer fazer negócio com você. Espero que não tenhamos nenhum problema.
— Lógico que não, mesmo Maya sendo um pouco rude hoje, garanto ao senhor que está com a melhor acompanhante que tenho na Luxor. – Apertamos as mãos fixando nosso acordo.
Peguei o contrato de aluguel de Maya, pelo próximo mês ela seria minha. Verifiquei a última folha notando que tinha o número de telefone dela, o que facilitava nosso contato, assim como anotei no contrato que ficou com Marli meus dados pessoais.
— Maya, nós veremos em breve, fique preparada para uma reunião de negócios.
— Claro Sr. Amell, serei toda sua. – Ela chegou bem perto para dizer isso, fazendo todo meu corpo sentir ondas de choque se espalhando em minha pele.
Pigarreei, tentando limpar minha mente do seu perfume doce que invadia meu sistema, inundando meu cérebro de imagens do que poderia ser essa aventura.
Capítulo 12
Retornei à Wiless pela hora do almoço, o andar estava calmo, a maioria dos funcionários estava almoçando. Passei pela sala de Hugo, ele também não estava, segui para minha e me enfiei de cara no trabalho.
Era a melhor coisa para me distrair, tirar aqueles olhos verdes em chamas de meu pensamento. Fiquei em completo silêncio por vários minutos analisando contratos que tinha sobre minha mesa, minutas que precisavam ainda hoje que fossem lidas e assinadas pelo departamento de marketing, coisas que precisavam estar prontas antes de minha viagem para o Rio e o casamento de minha irmã no litoral.
Ainda havia mais essa, Bianca se casaria no próximo final de semana, tanto eu como Hugo conseguimos vender uma semana de nossas férias e ficar de folga para o casamento e preparativos. Karla, minha mãe havia dobrado meu pai para que Bianca e Ruan tivessem uma semana inteira de comemorações. Era o sonho da princesinha caçula da casa.
Estava tão concentrado nos papéis em minha frente, como em meus pensamentos, que não vi Hugo entrando em minha sala, levantei os olhos quando ele assobiou anunciando sua presença. Assinei a última folha dando aval para a publicidade da cerveja Nebraska, fechando e depositando a pasta na pilha de problemas resolvidos.
— Então? Tudo resolvido? – Óbvio que ele estaria interessado.
— Sim, espero realmente não ter entrado em uma furada, pois isso abriu um pequeno furo em minha conta hoje pela manhã.
Hugo segurou a risada. – Calma Tavinho , valerá à pena, conheço o esquema da Marli há muito tempo.
— Ótimo que tenha tocado nesse assunto, — Apoio os cotovelos na mesa de vidro. – como você conhece o tal esquema e eu que moro aqui desde que me lembro não conhecia? – Questiono.
Dessa vez Hugo não segura sua risada, soltando uma gargalhada alta e gutural, respirando fundo para se recompor, Hugo passa a mão pelos cabelos loiros.
– Marli tinha apenas a boate, e por curiosidade um dia decidi entrar, me encantei com as mulheres dançando, como era muito novo e inexperiente Marli pediu para que uma deusa negra fizesse um show de cortesia para mim.
— Então é daí que vem a história da sua melhor transa?
— Sim, depois disso sempre batia cartão na boate, Marli acabou virando uma amiga e eu soube do seu esquema. – Hugo deu de ombros. — No fim essa informação serviu de algo, mas você não vai escapar. Pode me contar quem você contratou?
Passei a mão jogando as mechas de cabelo que teimavam em cair em meu rosto, mesmo sabendo que precisava cortar o cabelo eu gostava dele assim, raspando em meus ombros. Com ar de selvagem
— Maya Banks. – Revelei por fim.
Hugo engasgou tossindo. — A dançarina?
— Sim.
— Meu amigo, realmente você tem bom gosto. Eu já sabia, porém agora foi comprovado.
— Nem vem com esse papo e não vai ficar secando a acompanhante enquanto finge ser algo minha.
Trocamos uma risada amigável, às vezes quando saiamos acontecia isso, de trocarmos os pares. Hugo não se sentia nem um pouco incomodado, como eu também não. Eram anos de amizade leal.
— Agora entendi quando você disse que tinha feito um furo em sua conta, você também tinha que escolher a mais requisitada?
— Apenas o melhor, como sempre. – Disse dando de ombros.
Virei-me para a janela, observando os arranha-céus de São Paulo, várias janelas, onde diversas, senão milhares de pessoas trabalhavam todos os dias.
— Que venha então a reunião no final de semana. – Hugo se levantou pegando seu blazer pronto para sair da sala.
— Vamos ao jogo parceiro. – Falei vendo-o sair rumo ao seu escritório, que ficava quase em frente ao meu.
Pelo resto da semana organizei reuniões com possíveis clientes, assim como ajeitei tudo para minha semana de folga. O escritório estava pegando fogo, todos estavam empolgados para a reunião no final de semana.
Ianelli mandou um memorando para cada setor, comunicando a reuniãozinha informal no salão do Copacabana Palace, uma tarde de descontração entre os funcionários. Como ela mesma chamava, mas claro com todos vestidos à rigor.
Esse seria o primeiro evento ao qual eu levaria Maya, teria sido um almoço com os chefes aqui de São Paulo, porém Jair, presidente dessa filial achou melhor para quando voltarmos de nossa viagem para o Rio. Por isso precisava combinar algumas coisas com ela antes da grande encenação.
Deixei de lado meu café, busquei meu celular no bolso do paletó. Depois que assinei o contrato, não havia aparecido na Scandallo e nem me comunicado com Maya, mas essa hora havia chegado.
Procurei na agenda o número. Fiquei um instante pensando se seria melhor ligar ou mandar uma mensagem, o prazer de ouvir sua voz irritada me contagiou. Decidi ligar.
Estava no terceiro toque quando ela atendeu.
— Oi. – Sua voz estava rouca, olhei para o relógio, devia estar dormindo.
— Bom dia, Senhorita Banks.
Ela demorou alguns instantes para responder, devia estar tentando reconhecer a voz.
— É o Otávio. – disse quebrando o silêncio.
— O que você deseja? – essa sim era a garota petulante que conheci. – E porque diacho está me ligando às nove da manhã?
— Gostaria de comunicar que espero você hoje em um jantar para combinarmos sua primeira encenação.
— Um jantar? Tudo bem, me diz onde você deseja e nos encontramos lá.
— Varanda Grill, sabe como chegar? – Perguntei.
— Sim, qual horário? – Ela soltou um suspiro audível.
— Às vinte horas está perfeito.
— Combinado, nos encontramos lá. Até mais. – E desligou na minha cara.
Se a nota dela dependesse da educação diria que seria zero. Oh mulher difícil! Parecia que lidaria com um cavalo pronto para dar o coice se você não tomasse cuidado.
Levantei o olhar ao ouvir as batidas na minha porta. – Entre.
— Olá querido, como você está? – Daniela estava vestida como sempre, em um dos seus terninhos de alta costura, o sorriso amplo no rosto e o mesmo olhar bondoso de sempre.
— Tudo ótimo Dani, a que devo sua visita? Achei que já estaria no Rio.
Voltei a encostar-me na cadeira, deixando que Daniela se sentasse a minha frente, colocou umas pastas ao lado, relaxando um pouco os ombros.
— Vim apenas conferir se está tudo certo, me informaram que você e Hugo terão folga na próxima semana.
— Sim, minha irmã se casa no final de semana, como é no litoral, eles estenderam a festa. – Comuniquei com um sorriso.
— Você estará presente na reunião de domingo no Rio? – Ela parecia preocupada, olhou para minha mão. Com certeza vendo se tinha alguma aliança em meu dedo.
Soltei uma risada, se ela soubesse.
— Fica tranquila Dani, estarei sim no evento e muito bem acompanhado.
Daniela ergueu as sobrancelhas em sinal de confusão, cruzou os braços sobre o peito. – Acompanhado? Por favor, não me diz que você aparecerá com um casinho de uma noite? – Ela se mexeu incomodada na cadeira. – Não termine de destruir suas chances da diretoria, só Deus sabe o que eu estou movendo no Rio para tirar aquela sonsa da Patrícia.
Coloquei a mão sobre a boca, contendo minha risada. – Não aparecerei com um casinho de uma noite, fique tranquila já disse.
— Ianelli também espera sua presença num almoço para o Conselho.
— Almoço com o Conselho?
— Sim, ela mandou chamar hoje o pessoal, depois da festa, em um restaurante do Rio, o convite está em seu e-mail. Por favor, não faça besteira Otávio.
— Fique tranquila Dani, apenas não abri meu e-mail agora, estava despachando alguns contratos e tenho uma reunião com cliente agora.
Olhei para meu Rolex conferindo a hora, se não quisesse atrasar todos meus compromissos teria que sair agora. Assim conseguiria atender com tranquilidade meu cliente, analisar as propostas e nem atrasar os planos para a noite.
— Sinto muito Dani, mas tenho uma reunião como disse. Não quero deixar o cliente e sua equipe de Marketing esperando.
Ela concordou com a cabeça, pegando suas coisas na poltrona ao lado. Levantamos juntos, seguindo até o elevador, trocando algumas informações sobre uns contratos que havia dispensado para o setor de finanças, enquanto ele ainda não chegava.
Capítulo 13
Após ser acordada por Otávio perdi completamente o sono, até tentei voltar a dormir, mas não conseguia. Lancei as cobertas para o lado e decidi começar meu dia, desde que havia assinado o contrato com ele não tinha mais necessidade de ir à boate, Marli fizera questão que passasse por todos os tratamentos de pele existentes para o futuro encontro com o Sr. Amell, assim como meus cabelos que caiam sedosos pelas minhas costas, com um brilho todo especial.
Abri as cortinas e a porta da varanda permitindo que o sol entrasse no quarto. Assim que as portas se abriram, Nica pulou para o jardim que havia feito, decorando a espaçosa varanda mais como um espaço de relaxamento. Lógico que não era eu que cuidava, não tinha a menor habilidade com plantas, quem cuidava era o Gabriel meu vizinho paisagista.
Como não tinha empregadas e morava sozinha, eu mesma cuidava de minha casa e minhas coisas. Afinal passava mais tempo fora do que aqui, então acabava ficando tudo ajeitado.
Depois de uma boa hora limpando a casa, lavando roupa voltei para o quarto, conferindo a hora, ainda estava cedo, era uma e quarenta. Peguei meu celular, havia uma ligação perdida do escritório da Luxor.
— Royalt Luxor, seu prazer é aqui.
Deitei-me esparramando na cama. – Bom dia, Naty.
— Bom dia Maya, em que posso ajudar?
— Marli me ligou?
— Não sei dizer, entrei agora no escritório. Marli não está . – Ouvi um farfalhar de papéis, alguns objetos caindo. – E ela não deixou nada anotado para mim Maya.
— Sem problemas Naty, diga para Marli que começo hoje os serviços com o Sr. Amell.
— Eu aviso, seria apenas isso?
— Só isso, tchau. – disse desligando, joguei o celular na cama e me lancei para o closet, afinal o restaurante que Otávio havia escolhido era ótimo e muito bem frequentado.
Separei um vestido de cetim na altura do joelho, ele era verde, de um tom verde-mar. Novo, usei apenas uma vez em um evento da Luxor. Colado nas partes certas, solto abaixo da cintura até o joelho, dando um requinte especial.
Separo também um conjunto verde de lingerie, uma cinta liga e meias cor da pele 7/8 e um sapato marfim. Enquanto ando do quarto para o closet. Nica acompanhava meus movimentos, sentada no puff em frente à poltrona.
— Que foi fofinha? – Questiono seu olhar mal-humorado.
Ela continua me olhando, solta alguns miados baixos e sai para o corredor, vejo seu rabo desaparecer pela escada.
Meus olhos percorrem os porta-retratos, com fotos minha mais nova, foto com meu irmão e meus pais. Contive a dor que sempre aparecia em meu peito quando olhava para elas, mas por nenhum motivo tirava-as da cômoda.
Mesmo com meus pais ajudando, não conseguia manter a faculdade de Medicina. Minha mãe como professora e meu pai como segurança noturno. Tirando tudo que eu gastava na faculdade, entre livros e provas, mais os trabalhos. Dificultava as outras contas dentro de casa, o que aos poucos me fez ir largando a profissão dos meus sonhos para contribuir melhor, principalmente para André, meu irmão de dezesseis anos.
Quando entrei pela primeira vez no site da Luxor, via mulheres lindíssimas, possibilidades acima de possibilidades para um futuro melhor.
Onde poderia deixar meus pais tranquilos com o futuro de meu irmão e com a própria velhice. Lembro-me como fosse hoje, quando há cinco anos contei que iria para São Paulo para trabalhar como acompanhante. Minha mãe se sentou na cadeira da cozinha com cara de espanto e meu pai. Bom, fez o que qualquer pai faria, me deu um tapa no rosto e me mandou embora de casa, pensando tudo que não devia sobre mim, incluindo que já estava me prostituindo.
Lembro também que me tranquei no meu antigo quarto e sai pela madrugada, dando um beijo em meu irmão e antes do meu pai retornar do trabalho. E nunca mais voltei, tentei algumas vezes falar com meus pais, porém quando me identificava, meu pai desligava dizendo que não tinha mais filha chamada Mia.
E foi aí que abandonei de vez o nome Mia Azevedo, quando comecei na boate e Marli viu meu potencial através da Jaque, com seus contatos fez documentos, carteira de motorista, tudo que uma pessoa precisa, assumindo a personagem de Maya Banks para minha vida. E logo fui ganhando visibilidade no meio, isso implicava várias coisas, a visibilidade entre os homens que procuravam por esses serviços era ótima, por outro lado tinha todo um preconceito.
Eu não era uma daquelas meninas que saiam exibindo sua profissão, os poucos que me conheciam sabiam apenas que eu trabalhava na Scandallo, e só. Acredito que foi por isso que eu logo peguei antipatia com a colega de apartamento da Jaque, ela fazia questão de deixar claro com o que trabalhava.
E no fundo. Não importa seu nome verdadeiro ou se seu olhar continua o mesmo, você sempre pode ser outra mulher. Uma vez um cliente me disse que uma mulher abrigava mais cinco mulheres diferentes dentro de si e hoje, vendo pela minha vida mesmo, eu acreditava mais que tudo, nisso.
Sequei a lágrima que tinha escorrido por meu rosto, balancei a cabeça recompondo meus pensamentos, não havia mais tempo para lamentações, tinha um encontro e um cliente esperando.
Capítulo 14
Cheguei ao Varanda pelo menos uns trinta minutos adiantado, o gerente que era meu amigo de longa data me indicou a mesa que havia reservado. Estava tão ansioso que fiz tudo para ocorrer perfeitamente.
O restaurante já enchia com casais e grupos de amigos, o cheiro de temperos e carnes passando pelas mesas abriam meu apetite, conferi mais uma vez as horas no visor do celular. A mesa que Lucas havia me indicado tinha visão para o jardim de inverno ao meu lado, como também para a porta, onde uma loira risonha recebia os clientes.
Senti meu celular vibrar na mesa, dei uma olhada rápida, ignorava ou atendia? Estava demorando até que a ruivinha me perturbasse. Seria breve.
— Sim?
— Otávio? Que saudade estou de você, sumido. – Ela deu um risinho do outro lado da linha.
— Baby, infelizmente não poderei escutar sua linda voz, estou com um cliente. – Disse com falso pesar.
Uma musa de vestido verde chamou minha atenção novamente para a porta, um vestido justo, deixando à mostra um corpo espetacular, nada vulgar, mas sexy para caralho. Levei o olhar até o rosto, descobrindo que era ninguém menos que Maya, assim como eu alguns homens olhavam abobalhados enquanto ela andava em minha direção.
A ruiva ainda disparava seu charme pelo telefone, afastei um pouco ele da orelha contemplando o belo corpo de Maya ao caminhar.
— Baby, sinto muito tenho que desligar. – Deixei o telefone de lado.
Levantei esperando que Maya chegasse à mesa, os olhos verdes como o vestido estavam atraentes, brilhantes, seus cabelos negros soltos correndo pelo corpo, roçando de leve os seios marcados no cetim.
— Maya. – Disse me adiantando e cumprimentando-a com um beijo no rosto.
— Otávio.
Indiquei a cadeira, sendo cavaleiro ao puxar e empurrar de volta quando ela já estava acomodada, Maya pegou o guardanapo de pano colocando suavemente em seu colo. Contornei a mesa voltando para meu lugar, realmente não esperava ela tão bela como estava, se com poucas roupas eu achava impossível tirar os olhos de cima dela, completamente vestida, ela era uma espécie de presente embrulhada no dia de Natal, atiçando a mente de cada homem sentado nesse lado do restaurante.
Fiz sinal para que um garçom se aproximasse, — Você deseja algo em especifico para beber ou posso pedir? – Perguntei olhando no fundo daqueles olhos penetrantes.
— Menos refrigerante. – Jogou os cabelos pelo ombro.
O garçom parou ao lado da mesa com um Tablet pronto para anotar os pedidos.
— Por favor, duas taças de água por enquanto e depois eu quero ver a carta de vinhos disponível.
— Sim, Sr. Amell.
Esperei que o garçom se afastasse para continuar com a conversa. Todo o momento Maya me olhava séria compenetrada em pensamentos.
— Está com muita fome?
— Não.
Dei um sorriso de lado. – Você manterá esse nível de aspereza por todo o contrato, ou até você perceber que não sou nenhum babaca?
Foi à vez de ela mostrar um sorriso de desafio para mim, chegou mais perto de mim, o quanto à mesa permitia, abaixou o tom de voz, mas para um sussurro do que para outra coisa. – Se você está esperando alguém que fique lambendo você, acredito que contratou a pessoa errada, levo meu trabalho com seriedade. O que você quiser de mim terá, mas se espera alguém que fique puxando seu saco, sugiro que retorne para a Luxor e aproveite que ainda não descontei seu cheque.
— Gosto do fato de você ser direta. – Chego mais perto da mesa, imitando seus movimentos. – Já que estamos sendo sinceros um com o outro, — Maya ergueu a sobrancelha, porém não se afastou, vejo seu olhar percorrendo meu rosto, minha boca. – Nunca precisei contratar uma... Garota de programa. Nem mesmo para me satisfazer, então espero que não tenhamos problemas.
Vejo que em seu rosto cruza um olhar melancólico, sinto que toquei em um ponto sensível para ela. E imediatamente quero me desculpar, mas logo que abro a boca para fazer, vejo seu olhar tornar a ficar sério e com o fulgor de raiva de sempre.
Deixo de lado. — Continuando, preciso que você finja ser minha namorada, chamei você aqui para combinar nossa viagem para o Rio de Janeiro. Onde tenho dois eventos da empresa, você terá que se fazer de apaixonada com sorrisos felizes, pelo menos enquanto estou com você. Ninguém pode sonhar que você de fato não é minha namorada, minha carreira está em jogo.
— Farei meu trabalho, vou mostrar a todos o quanto eu estou apaixonada por você. Mas saiba que não sou nenhuma idiota e puta. Não me deito com meus clientes por que eles estão me contratando, se for para me deitar com você, será porque eu quero. Caso contrário estaria na boate dando para todos na sala reservada.
— Não quis ofendê-la. Perdão.
O garçom se aproximou da mesa interrompendo nossa conversa e a muralha de gelo entre nós, esperando que façamos nossos pedidos. No fim escolhemos um combinado de carne e batatas sauté e salada com muçarela de búfala.
Maya se manteve calada por todo o jantar, mesmo nossos olhares se cruzando ela não comentou mais nada sobre o assunto. Atravessei a mesa tocando em sua mão, um tremor, uma espécie de choque percorreu meu corpo. Como se uma onda de calor invadisse meu corpo, vi Maya de olhos arregalados tirando a mão debaixo da minha. Tenho certeza que ela também sentiu o tremor, o choque que nossas energias combinadas lançaram para nossos corpos.
Pigarreei antes de retomar o fluxo de pensamentos. – Peço desculpas sobre o que falei, não quero de maneira nenhuma ofender você. Isso é bem novo para mim.
— Tudo bem, não será o primeiro e nem o último que fará tal comparação. – Ela limpou o canto dos lábios com o guardanapo.
— Não Maya, realmente me desculpe. – Insisti. – Não tinha motivo nenhum para dizer tal grosseria.
Seus olhos me penetravam de tal forma, me deixando até um pouco desconcertado.
— Fique tranquilo, me passe todas as informações por mensagem como, em que horário nós encontrarmos e alguns detalhes sobre você. Por exemplo, temos que combinar como nós conhecemos quais questões não pode passar em branco, nome de seus familiares. – Ela deu de ombros. – Se tenho que representar sua namorada, não basta sorrisos e beijinhos no cangote, tenho que saber sobre sua vida.
Sorri mais tranquilo com o nosso mal-entendido ficando para trás, olhei novamente no relógio, logo o restaurante fecharia.
— Maya, que tal irmos para minha casa, assim conversamos com mais privacidade todos esses tópicos, posso mostrar algumas fotos para você, além de você conhecer a pessoa mais próxima de mim.
— Ah... Otávio, não sei se é boa ideia, já está tarde. – Ela própria abriu a bolsa olhando a tela do celular.
— Tenho um quarto de hóspedes em meu apartamento, qualquer coisa você pode dormir por lá. – Insisti mais um pouco.
Maya se mostrou um pouco relutante, mas concordou. – Ok.
— Ótimo!
Fiz sinal para o gerente para que deixasse a conta para depois, poderia passar amanhã e acertar com ele, ou ele mesmo poderia me mandar a fatura para o escritório.
— Quanto ficou a conta? – Maya remexia na bolsa buscando a carteira.
Levantei-me, ficando de frente para sua cadeira, estendi a mão.
– Maya, isso não é necessário. Você está sob meus cuidados agora.
Ela levantou ainda me encarando. Caminhei ao seu lado, tive a intenção de tocá-la nas costas, mas por curiosidade se aconteceria de novo à sensação que comprimia o espaço entre nós, mas detive meu movimento. Apenas seguindo do seu lado, atraindo os olhares de homens e mulheres presentes ainda no local.
Capítulo 15
E mesmo tendo achado uma péssima ideia concordar em ir para casa dele, eu seguia o carro de Otávio atravessando a cidade, minha respiração estava pesada, meu estômago revirado. Ainda sentia o calor de sua mão na minha, o choque elétrico que tomei quando ele me tocou. Um toque tão simples que quase me desmoronou, não esperava algo assim, apertei mais forte o volante.
E agora estava indo para sua casa. Meu Deus ! Precisava manter a calma e a cabeça no lugar. Devia estar apenas mexida por ter sentido saudade de minha família, devia ser isso, sensibilidade. Algo que passaria.
Parei atrás do carro de Otávio no farol, por todo caminho mantive meu mantra de concentração. Isso era um trabalho, devia estar mexida por ele ser tão arrogante na boate e me contratando, isso mesmo. Isso que estava provocando essa sensação estranha dentro de mim.
Otávio embicou o carro na garagem de um luxuoso prédio nos Jardins, que por sinal era muito conhecido por mim. Jaqueline morava ali. Ele continuava falando com o porteiro, alguns segundos depois, fez sinal pela janela para que eu o acompanhasse. Estacionei meu carro ao lado do seu na vaga que ele indicou, desliguei respirando fundo pela última vez, peguei minhas coisas e sai.
Andamos lado a lado por todo caminho sem trocar uma palavra, eu olhava para os lados, evitando encarar aqueles olhos azuis que me fizeram ter sonhos quentes.
Passamos por um jardim muito bem cuidado, Otávio apertou o botão do elevador, cumprimentando o porteiro.
— Olá Sr. Amell, Senhorita.
— Boa noite. – Retribui o sorriso que ele me lançou. Pelo que Marli me havia contato, Otávio era um mulherengo carimbado, os porteiros já deviam estar acostumados com o entre e sai de mulheres e Otávio tinha jeito de ser bastante exigente. Imagino as modelos que não saiam ou andavam pela sua casa usando suas camisas.
Dentro do elevador a atmosfera ficou ainda mais carregada, podia sentir os olhares que ele lançava para mim.
— Hum, esqueci de perguntar. – Olhei para ele, vendo que coçava a cabeça, o semblante preocupado. – Você tem medo de cachorro?
Ri de sua preocupação. – Não. Desde que ele não seja um assassino comedor de pernas, tranquilo. – Disse rindo de sua careta estranha.
— Não, Buddy está mais para um velho reclamão . – Disse saindo e mantendo a porta do elevador aberta para mim.
Dei uma rápida olhada para a porta onde minha amiga morava, como o destino gosta de zombar das pessoas. Pelo menos uma ou quem sabe duas vezes tinha subido por esse mesmo elevador, atravessado esse elegante hall e visitado minha amiga.
E nunca tinha cruzado com seu vizinho, e, não poderia dizer que não tinha notado. Otávio não era o tipo de homem que passa do seu lado e você não percebe, muito pelo contrário, você notava sua presença e como notava...
Deixei que passasse em minha frente abrindo a porta e sumindo pelo apartamento escuro, esperei vendo algumas luzes se acenderem e ele retornar até onde estava parada.
– Vai ficar aí fora?
Neguei com a cabeça entrando em um hall muito bem decorado, olhando o apartamento em um panorama, era de completo luxo e masculino. Não dava para negar que nenhuma mulher tinha se metido na decoração. Se olhasse a fundo acredito que ele tinha colocado sua opinião em cada detalhe. Dos móveis escuros até a ampla tela plana no meio da sala.
Otávio desceu o degrau indicando a sala, foi até uma poltrona, ligando a TV e vi quando se abaixou sobre uma montanha de pelo negro no chão. Tomei um susto quando ela se mexeu e entendi que aquilo que parecia um tapete enorme enrolado era o tal cachorro.
— Oi amigão, temos visitas. – Ele acariciou a cabeça do cachorro – Se comporte.
Dei um passo cauteloso para frente olhando melhor o cachorro, não tinha cara de assassino, mas de um cachorro muito preguiçoso.
— Maya esse é o Buddy, Buddy essa é a Maya. – Otávio fez as apresentações como se o cachorro fosse um humano e eu achando que era a única maluca por tratar a Nica como se fosse minha filha.
Coloquei minhas coisas numa mesinha pequena, me virando para o cachorro. – Olá Buddy, desculpe arruinar seu sono, sei como vocês detestam isso.
Buddy, o cavalo em forma de cachorro se levantou, sacudiu todo o pelo espalhando um pouco de baba pelo piso de madeira. Veio devagar, medindo os passos e se jogou aos meus pés, olhando para cima, obviamente pedindo carinho.
Abaixei-me fazendo carinho em seu pelo macio e cheiroso, óbvio que era um cachorro muito bem tratado. Otávio se levantou limpando as mãos na calça.
E juro que pude ouvir seu resmungo baixo.
— Quem diria seu traidor.
Soltei uma risada, Buddy nem ligou para seu dono, continuou batendo em minha mão pedindo carinho toda vez que parava.
Otávio sumiu da minha vista para logo surgir com duas taças de vinho, coloco-as na mesa de centro puxando-a para mais perto, sentou no sofá aguardando que me juntasse a ele.
— Vamos aos negócios. – Disse, ignorei os protestos de Buddy e me juntei a ele mantendo um pouco da distância de toda essa nuvem que pairava sobre nós.
Ele passava a mão pelo pescoço, pelos cabelos. Será que ele também havia notado essa nuvem pairando, fazendo uma esfera de eletricidade entre nós?
— Bom, minha família você não precisa se preocupar, conhecerá todos na semana que vem, passaremos alguns dias com eles.
Acendi, concordando. – Quantos irmãos você tem?
— Três irmãs, sou o único homem na família. – Ele torceu a boca quando falou, mas em nenhum momento mostrou real desagrado disso, ele parecia na verdade um menino criado no conforto, luxo e muito mimo por todos. Podia até imaginar um Otávio pequeno, a cabeleira negra e aqueles olhos azuis.
— Precisamos montar uma história adequada de como nos conhecemos, sem furos de datas. Algo simples, mas que não faça ninguém duvidar. – Peguei a taça de vinho tinto tomando um pequeno gole, o vinho desceu pela minha garganta, fazendo com que eu franzisse o nariz. Não era completamente fã de vinhos, principalmente os secos.
– Principalmente por sua fama de mulherengo assumido. Sem muitos detalhes, quanto mais detalhes ou mais acrescentarmos mais poderemos nos perder em algum momento. – Completei pigarreando um pouco por conta do gosto amargo do vinho que tomou minha língua.
Otávio se largou no sofá, cruzando as pernas, apoiando sua taça de vinho no joelho.
— Não nego minha fama, gosto da liberdade, não encontrei meu momento de sossegar.
— Isso já não é do meu interesse. – Disse com um dar de ombros, mesmo ele se mostrando gentil não conseguia controlar meu gênio impossível, mordi a língua como punição.
Ele ergueu a sobrancelha.
— Desculpe isso foi rude.
Viu senhor bonitão eu sei assumir quando erro!
Desviei o olhar, observando por todo o apartamento. Decidindo manter meus olhos longe dos seus.
— Já percebi que será inevitável com você.
O silêncio tornava as coisas um pouco desconfortável poderia levantar e ir embora, mas algo me segurava sentada.
Com um longo suspiro ele decide quebrar o silêncio:
— Faremos assim, diremos que nos conhecemos na D-Edge, pelo menos um dia no final de semana estou lá, principalmente nos sábados. – Ele suspirou, jogou os cabelos para trás, realmente ele ficava bonito com ele rebelde, meio ondulado no rosto.
– Hugo Torres, meu melhor amigo, além de trabalhar comigo na Wiless. Não precisamos entrar em detalhe sobre a empresa, afinal passaremos como um casal novo, se conhecendo.
Ele respirou fundo, fazendo seu peitoral se anunciar por baixo da camisa social. Passei a língua pelos meus lábios secos.
Tá de brincadeira né, Deus?
— Não possa dizer que estamos muito tempo juntos, pois cairíamos em total desgraça, e, duvido que alguém dedique muitas perguntas para você.
— Por mim tudo certo. – Depositei minha taça vazia na mesinha.
— Também tinha algo sobre roupas e joias no contrato. – Comentou.
— Sim, temos clientes que desejam que utilizemos apenas roupas que eles disponibilizam, mas fique tranquilo. Não passará vergonha com meu guarda-roupa.
— E quanto a você?
Foi minha vez de erguer a sobrancelha. – O que há exatamente comigo?
— Quantos anos você tem Maya? Sua família? Conte mais sobre você? – Ele deve ter reparado a cara de poucos amigos, pois logo acrescentou. – As pessoas vão querer saber, meus pais vão querer uma história.
— Acredito que você já tenha algumas informações minhas através da Marli, tenho vinte e sete anos, moro em São Paulo faz cinco anos. Para informação geral, tenho um irmão mais novo.
Meu corpo se enrijeceu com o fato de chegar tão perto de tocar em assuntos há muito tempo enterrados.
— Tem contato com eles?
— Não.
— O que fez você parar nessa vida? Sei que você cursou medicina, é uma carreira muito gratificante. Minha mãe é ginecologista.
— Isso é um assunto particular e morto para mim.
— Tudo bem. – Otávio olhou para o relógio. – Está tarde, como disse mais cedo, tenho um quarto disponível, fica no final do corredor.
— Eu vou para casa. – Me levantei, mas me senti um pouco tonta, como não bebia, quase nunca. Devia ser o excesso de vinho tomamos três taças no restaurante somando com essas, minhas bochechas estavam quentes.
— Você realmente não deveria dirigir. – Otávio cruzou os braços sobre o peito. – Não tocarei em você, a menos que peça Maya.
Endureci o olhar, mostrando uma carranca digna do inferno para ele. – Falou o cara que contratou uma acompanhante para fingir ser sua namorada.
— Sim, contratei seus serviços não para ter questionamentos ou para abusar de você. E sim, porque a urgência da minha carreira profissional exigiu. Como disse, tenho um histórico muito bom de mulheres.
Otávio se virou, pegou as taças e saiu, me virei vendo que ele estava na cozinha.
Buddy se levantou dos meus pés, seguindo Otávio até o começo do corredor, continuei acompanhando seus passos, esse cara me deixava confusa, nem um pouco em meu conforto habitual, mesmo com alguns clientes eu me sentia à vontade, estava tão acostumada que nem me importava, mas ele não. Era confuso.
– Você irá ficar ou não? – Questionou.
Algo realmente me dizia para ir embora, ir para casa, onde Nica provavelmente me esperava deitada como sempre no parapeito da janela de vidro da sala, mas algo no fundo do meu íntimo me impedia de dizer “Vou”, engoli o nó formado em minha garganta.
— Se não for incômodo, poderia passar essa noite aqui? Acredito que tenha bebido demais, eu... Eu não costumo consumir álcool. – Gaguejei e me amaldiçoei por parecer tão babaca. Tudo bem que na parte do álcool eu não era tão fraca assim, mas me sentia compelida a ficar perto dele.
Otávio me lançou um sorriso cínico, indicou pela mão o corredor. Desviei de um conjunto de poltronas de couro quadradas, ele deixou que seguisse na frente. Por todo caminho podia sentir seu corpo perto do meu, ouvia seus passos calmos atrás de mim. Um calor percorreu minha espinha quando ele tocou meu braço indicando que o quarto de hóspedes ficava quase em frente ao dele, separados apenas pela porta do banheiro social.
— Eu fico por aqui, qualquer coisa que precisar pode me chamar.
Virei-me olhando para aquele homem, seu corpo parecia um pecado que muitas matariam para ter sobre seus corpos, podia ver o porquê ele tinha se tornado um solteiro convicto, sua beleza e olhares penetrantes desconcertavam as mulheres, e, eu estaria mentindo se falasse que naquele momento seu olhar meio estreito, medindo cada centímetro entre nós, não estava fazendo isso.
—Obrigada mais uma vez. – Antes que algo a mais acontecesse entrei no quarto indicado, fechando a porta logo atrás de mim. – Puta que pariu , o que você está fazendo Maya?
Capítulo 16
Depois que Maya se trancou correndo no quarto de hóspedes, fui para o meu, deixando a porta encostada. Buddy havia me traído consideravelmente, nunca vi ser tão receptivo com qualquer mulher que trazia aqui, acredito que ele sucumbiu aos encantos de Maya.
Tirei a calça e a blusa social, largando na poltrona, liguei o ar condicionado e me joguei na cama. Que loucura, em menos de um dia entraria de vez nessa de namorada de mentirinha, com uma mulher que eu nunca tinha visto na vida, nem sabia se o que tinha dito sobre sua família era real ou apenas uma ilusão criada para mim. Relembrei como ela ficou incomodada quando toquei no assunto de sua profissão, o que será que havia acontecido para ela se tornar uma garota de programa?
Virei de costas tentando me ajeitar melhor na cama e dormir, fechei os olhos e fui tomado por pensamentos e imagens de um olhar verde penetrante, Maya entrando no restaurante... Maya despindo sua roupa sorrindo como uma gata selvagem, seu cabelo negro espalhado na cama, enquanto eu me deliciava no meio de suas pernas, ou ela chupando...
Sentei-me na cama, não conseguiria dormir. Será que ela havia ficado mexida tanto quanto eu a noite toda pela tensão que nos circulava?
Precisava de um copo de água, é isso me acalmaria.
Sai para o corredor sem acender as luzes, também não queria atrapalhar o sono de ninguém porque eu era um tarado e estava tendo pensamentos sobre Maya nua. Por cima do ombro vi a porta do quarto onde ela estava dormindo entreaberta, e tudo escuro.
Aquela vontade súbita de seguir até sua porta e espiá-la dormindo crescia forte em meu peito, ver como seus cabelos se espalhava pela cama, ver suas coxas modeladas pelo lençol fino.
— Otávio, Otávio... Não siga por esse caminho. – Me repreendi.
Ela já devia estar em sono profundo.
Fiz o mínimo de barulho que consegui na cozinha, tomei um copo completo de água e decidi levar outro para o quarto, assim não ficaria zanzando como um zumbi pela casa. Buddy que havia saído do quarto impaciente com minha agitação tinha passado pela porta da sacada e encontrava-se esparramado por lá.
Voltei a passos quietos para o corredor, não sei o que foi que me fez tropeçar, mas me choquei com um corpo quente. O copo de água esquecido caindo, se espatifando no chão, a cintura quente e nua de Maya tomada por meu braço. Com a outra mão tateava a parede em busca do interruptor de luz.
A claridade fez com que eu piscasse algumas vezes até que meus olhos acostumassem, Maya fez menção de se mexer, mas segurei seu corpo mais firme contra o meu, ignorando o calor, ignorando suas mãos em meu peito e principalmente ignorando meu pau que estava bem desperto. Fazendo um volume considerável na cueca. E acima de tudo ignorando o fato de estarmos com o mínimo de roupa possível, nossos corpos colados...
— Desculpe, não vi você. – Comecei.
— Eu não queria acender a luz, precisava ir ao banheiro.
— Seu quarto tem um banheiro, Maya. – Segurei o sorriso com a desculpa que lançou para mim, ou nem foi uma desculpa mesmo. Mas que outra maneira ela teria para estar no corredor todo escuro.
Ela passou a língua pelos lábios o que atraiu minha atenção para sua boca, seu olhar passou por nos unidos no meio de um tapete embolado, poça de água e cacos de vidro. – Olha a bagunça que eu fiz, me mostre onde tem uma vassoura eu recolho isso.
— Isso não foi nada. – Ainda estávamos agarrados um no outro, olhei dando um sorriso para ela. – Agora que não vamos cair posso te soltar?
— Ah, nossa, pode. – Suas bochechas ficaram vermelhas, trazendo um novo brilho para seu olhar.
Minhas mãos abandonaram seu corpo rápido demais, o que antes estava quente, foi perdendo a temperatura, permiti uma olhada rápida para seu corpo, ela havia retirado o vestido, dormindo apenas com um conjunto de lingerie verde, os cabelos estavam presos em um coque mal feito.
Ela percebeu meu olhar, como eu também percebi que lançou olhares para mim apenas de cueca e pau duro. Acho que as noites na boate andando de um lado para outro apenas com uma lingerie provocante tinha tirado a timidez e censura dela.
— Eu vou recolher isso, pode voltar para o quarto.
— Não quer mesmo ajuda? – Ela tinha um sorriso no rosto, queria tanto saber o que pensava.
— Não, pode ir. Tome só cuidado com os cacos espalhados.
Apontei dois pedaços grandes de vidro um pouco mais à frente no corredor.
— Ok.
Ela seguiu pelo corredor dando uma bela visão de sua bunda na calcinha pequena, respirei bem fundo enquanto assistia ela indo até o quarto em um rebolado e eu hipnotizado pelo movimento que sua bunda fazia. Maya entrou, encostou na porta, me lançando um sorriso de quem sabia exatamente o que estava fazendo. Deu boa noite e fechou-se no quarto.
A própria encarnação feminina do Diabo.
Fui até a área de serviço arrumando toda a bagunça deixada pelo nosso encontro, antes de fazer mais alguma besteira eu mesmo segui meu conselho e fui dormir. Deixando a porta do quarto entreaberta, dando uma visão do corredor e do começo da sala.
O cheiro de pão fresco e café invadiram minhas narinas pela manhã, demorei alguns segundos para realmente acordar, sentindo minha ereção aprisionada entre a cueca e o colchão, passei a mão procurando alívio. O apartamento estava silencioso, Buddy não estava no quarto o que indicava a porta aberta. Fui até o banheiro fazendo meu ritual pela manhã, depois de estar com uma cara mais apresentável e sem o bafo matinal, peguei uma bermuda de sarja preta e uma camiseta velha do Beatles, e sai procurando por Maya.
A porta do outro quarto também estava aberta, segui para a sala, encontrando-a vazia, na mesa de jantar perto da cozinha um verdadeiro banquete, pães doce e francês em uma bandeja, uma xícara bem colocada na mesa, uma jarra de suco e um prato com frios esperavam por mim. Na cozinha o café se mantinha aquecido na cafeteira, não entendi o porquê de toda essa produção.
— Maya. – Chamei por ela umas três vezes sem obter respostas. Olhei para meu celular que começou a tocar na bancada, fui até ele notando um bilhete debaixo. No visor aparecia o número de Hugo, ignorei dando prioridade para o bilhete.
“Primeiramente, queria dizer que o prédio poderia pegar fogo sem que você acordasse.
Segundo, obrigada por me deixar dormir em sua casa, vinho e eu não fazemos uma boa dupla. Em agradecimento, preparei um café da manhã. Não sei como você consegue viver nesse bairro onde tudo é longe. Por fim, aguardo a confirmação sobre nosso showzinho amanhã.
— M. B.”
Capítulo 17
— Ainda não acredito que seu cliente é meu vizinho. – Jaque disse, empoleirada na poltrona do meu quarto. Voltei minha atenção para a mala que estava fazendo.
Depois de ter saído do apartamento de Otávio, deixando uma mesa de café como forma de agradecimento, certo, eu não tinha o porquê agradecer, mas achei quer seria de bom tom ao invés de sair sem avisar como uma verdadeira puta. Tudo bem... isso foi irônico.
— Pois é! Ele é meu novo cliente. – Respondi em meio as mudas de roupas que separava.
Meu sábado tinha sido tranquilo, eu e a Jaque almoçamos em um restaurante japonês perto de casa depois viemos para cá. Otávio já tinha me mandando mensagem passando o número do voo e o horário que partiríamos para o Rio no domingo.
— Pode deixar vou cuidar da Nica até você voltar.
—Obrigada mesmo, ela não suportaria ficar sozinha e não sei quando retorno.
— Ele é bom de cama pelo menos? – Jaqueline analisava as unhas quando perguntou.
Olhei por cima do ombro, fazendo uma careta. – Jaque nós não transamos, ele precisa de uma namorada de mentirinha, algo para o trabalho e familiares.
— Ah garota! Mas você deveria experimentar afinal se rolou toda essa eletricidade entre vocês como me disse, eu já teria pulado na cama dele, nua.
Rimos de seu comentário. – Não pretendo me envolver, quero deixar tudo o mais profissional possível, mas confesso que ele é um tesão e adorei provocá-lo na noite passada.
Ainda guardava o olhar arregalado dele, quando voltei para meu quarto dando uma bela visão de meu corpo apenas de lingerie.
— Não se esqueça de levar lingeries sexy garota.
Mostrei a língua para Jaque jogando algumas peças de roupa sobre ela. Depois de arrumar pelo menos uma mala contendo tudo que precisaria para a tal reunião informal, separei também alguns conjuntos e vestidos para possíveis jantares ou encontros onde Otávio fosse. Afinal, se estaria vestindo o papel de namorada, ele não poderia me deixar trancada dentro do quarto do Hotel. Ou curtindo a praia como no fundo eu queria.
Jaque foi embora por volta das sete da noite. Decidi me deitar cedo para estar bem disposta no dia seguinte, desci minha mala deixando tudo organizado para que não esquecesse ou atrapalhasse o voo. Otávio me enviou uma mensagem às nove horas da noite avisando que viria de táxi me buscar, que estivesse arrumada e pronta antes das nove horas da manhã.
Eu odiava acordar cedo, acho que era por isso que até gostava da correria na boate, não havia necessidade de bater cartão em uma empresa logo pela manhã. Confirmei o horário no despertador, vendo que teria tempo para um banho rápido.
Já maquiada e pronta, me sentei no sofá aguardando o táxi, mesmo estando calor lá fora, escolhi uma calça jeans e uma blusa de manga solta, meu cabelo dessa vez estava preso em um rabo de cavalo, o que dava até certo alívio para o calor que eu sentia por conta da calça, Otávio me mandou uma mensagem avisando que tinha chegado ao mesmo momento que vi pela janela um táxi parar em minha porta.
Tranquei tudo, ele me aguardava com a porta aberta.
— Bom dia. – Cumprimentei me acomodando no banco.
— Aeroporto de Congonhas, por favor. – Disse ao motorista. – Bom dia Maya, como vai?
Seu sorriso cafajeste nos lábios.
— Ótima!
Pelo resto do caminho ficamos em silêncio, ele respondendo algumas mensagens no telefone. Ouvi, mesmo fazendo cara de quem não prestava atenção, quando ele confirmou que iria para casa de seus pais após a reunião da empresa. Eu própria peguei meu telefone tratando de verificar as mensagens, como tinha saído cedo não havia respondido o e-mail de Marli, teria que fazer isso assim que chegasse ao Rio.
Respirei fundo, assim que entrasse no avião, pois, eu seria a perfeita namorada. Começava o grande jogo.
Capítulo 18
Faltava alguns minutos para pousarmos no Rio, em todo o voo Maya manteve uma conversa descontraída comigo, às vezes jogando charme, outras sorrindo mais do que o necessário, eu estava meio receoso com sua mudança brusca de comportamento, só faltava essa mulher ter algum distúrbio de personalidade e acabar me envergonhando na frente dos meus colegas e chefes, juro que eu tacava ela para fora do voo na volta.
— Como é a empresa, onde trabalho, que nos reserva o quarto no hotel, não tive como contestar sobre um quarto para nós dois, porém se você se sentir desconfortável, podemos tentar dar um jeito. – Sussurrei perto de seu ouvido.
Maya se virou olhando para meus olhos, perto demais para sentir seu hálito de menta batendo em meu rosto. – Se você quer que as pessoas acreditem que somos um casal, tem que agir como um cara fisgado, apaixonado, o termo que você queira usar.
Fiquei surpreso por ela falar sobre isso. Ainda mais com seu dedo indicador passando pela minha barba rala até o queixo.
— Coisas do tipo, me elogiar, não ficar encarando as pernas das comissárias de bordo, me tocar frequentemente. – Um sorriso de diversão corria pelo seu rosto. – Eu posso convencer todos que somos o casal mais feliz da Terra, porém você tem que ajudar, ok?
Balancei a cabeça concordando, então era por isso que ela estava cheia de sorrisos comigo, estava representando, não porque estava satisfeita com minha companhia. Imbecil! Lógico que ela estava representando o que eu estava pensando, o idiota era eu querendo me envolver com uma mulher que na sua essência já sabia seduzir um homem com apenas um olhar. Presta atenção Otávio, ela é uma acompanhante, paga para fazer isso . – Repreendi a mim mesmo pela burrice.
Desembarcamos no aeroporto Santos Dumont, como já havia acertado os detalhes com a empresa na sexta-feira eles mandaram um carro para nos buscar, avistei o motorista com uma plaquinha Sr. Amell e Srta. Banks esperando no meio da multidão de passageiros e pessoas que aguardavam entes queridos, ou corriam para realizar seus check-in.
Puxei a mão de Maya para a minha, sentindo o mesmo choque que senti da primeira vez, a eletricidade tomava conta do meu braço inteiro, querendo espalhar um calor gostoso pelo meu corpo. Maya me encarou meio confusa, fiz sinal para o motorista o que bastou para um sorriso deslumbrante pintar em seus lábios.
Refiz a lista mental:
Quesito educação: 5, tinha melhorado bastante desde do primeiro “encontro”
Atuação 10, o que era perfeito. Estaria até o momento valendo os 30 mil reais.
Minha meta para não enlouquecer por conta dela... Talvez uns 4,5
Minha vontade de tê-la... Deus, 10, talvez mil...
— Sr. Amell. – O motorista me cumprimentou, já havia utilizado os serviços dele algumas vezes que estive no Rio a trabalho. – Prazer em revê-lo.
— Tudo certo, Matheus?
— Sim, senhor – Ele trocou um olhar para Maya e para mim.
— Essa é minha namorada Maya Banks, estou trazendo-a pela primeira vez ao Rio. – Acrescentei um sorriso para completar o teatro.
— Muito prazer em conhecê-la senhorita.
— O prazer é todo meu. – Disse se empoleirando em meus ombros, sua mão roçava meus cabelos na nuca, causando um arrepio.
Acalme-se seu otário, isso é apenas uma representação, não meta os pés pelas mãos.
Ajudei Matheus com as malas e seguimos para o fluxo complexo de carros do Rio. O dia estava ensolarado o que fazia o suor escorrer pelo rosto no mínimo tempo que passávamos longe do ar condicionado. Maya sentou ao meu lado no banco de trás, sorrindo, uma das mãos apoiadas em minha coxa. Seu sorriso parecia verdadeiro, ela olhava pela janela com interesse apreciando qualquer paisagem por onde passávamos.
— Você já esteve no Rio, baby ? – Usando o apelido “carinhoso” que usava para as mulheres que passavam as noites comigo.
— Sim, apenas uma vez, fui para Búzios. – Disse voltando seus olhos para a janela.
Matheus trocou um olhar pelo retrovisor, empolgado foi pelo caminho mais longo, mostrando a Lagoa Rodrigo de Freitas, que mesmo nesse sol forte estava apinhada de pessoas andando e correndo nos pedalinhos. Passamos pelo Aterro do Flamengo um dos mais bonitos parques arborizados do Rio de Janeiro, e logo após o túnel, nos deparamos com o lindo mar azul da praia do Leme, na qual se segue a direita pelo calçadão em pedras portuguesas até o imponente Copacabana Palace, um prédio branco à beira-mar, digno de ser o Palácio da princesinha do mar.
— O Sr. gostaria de estender o passeio? – Matheus perguntou olhando-me pelo retrovisor.
— Não Matheus, depois teremos tempo para o passeio. – Digo dando um sorriso. Desço dando uma olhada para a entrada magnífica do hotel, um funcionário se adianta pegando as malas no carro.
Maya se empoleira em meu ombro novamente, nenhum de seus movimentos soa falso, muito pelo contrário soa verdadeiro e apaixonado, bem coisa de casal que está em lua de mel.
A atendente nos recebeu com um enorme sorriso, olhei para a plaquinha dourada fixada em seu vestido preto. – Boa tarde.
— Boa tarde, o senhor tem reserva? – Lucia, como indicava seu nome, pergunta educada.
— Sim, está em nome de Otávio Amell, sob os cuidados da empresa Wiless.
— Claro, para finalizar a entrada dos senhores, poderiam me passar os documentos de identificação, por favor?
— Um instante. – Pego meu RG na carteira e espero Maya retirar o dela da bolsa, antes de entregar dou uma olhada rápida no de Maya, realmente é Maya Banks que consta no documento e na assinatura.
Lucia passa alguns instantes digitando no computador, nos devolve os documentos, vai até o lado oposto do balcão de atendimento, pega o cartão de acesso. – O quarto dos senhores, 606.
—Obrigada, Lucia. – Pego o cartão de acesso e dou uma mão para Maya que entrelaça nossos dedos, a tensão entre nossos corpos está tamanha que me sinto tonto. Preciso de uma bebida forte.
Sinto meu telefone vibrando em meu bolso. Paro fazendo sinal para que ela aguardasse. Olho o visor, me lembrando que não havia mais falado com Hugo.
— Hugo, por onde você anda?
— Por onde eu ando cabrón, eu que devia fazer essa pergunta.
Escuto barulho de água, algumas mulheres falando ao fundo.
— Onde você está?
— Estou no Rio, não me diga que você não vai aparecer na festinha da empresa?
Soltou uma gargalhada, Maya acompanha minha conversa.
– Já estou no Rio, acabei de fazer o check-in no Hotel.
— Venha para a piscina. Estou aqui.
— Cinco minutos, estou aí.
Fiz sinal, tomando a mão de Maya nas minhas novamente, fomos até a área da piscina que estava lotada com os turistas, avistei ao longe Hugo entre duas mulheres loiras, sentado em uma das espreguiçadeiras.
— Vou apresentar você para meu amigo, depois nos livramos dessas roupas quentes.
— Sem problemas. – Maya parou, me fazendo parar junto com ela. – Como preferi que eu te chame? Já vi que escolheu baby para mim. – Ela completou com uma levantada de sobrancelha.
— Você não gosta? – Perguntei me divertindo.
— Você poderia tentar ser mais original, que tal? – Ela questionou cruzando os braços.
Realmente eu estava me divertindo. – Que tal jujuba?
Ela caiu na gargalhada, ria tanto que colocou as mãos sobre a barriga, me fazendo rir junto com ela.
— Jujuba? Sério isso?
— Por que não? Você pediu algo original. – Falei dando de ombros.
— Tudo bem, moreno bonitão.
Segurei-a, trazendo para mim, desviando de um garçom apressado. Maya continuava olhando para mim, seus olhos penetrantes. – Como assim moreno bonitão?
Ela realmente riu da minha cara, — Eu te chamei assim quando vi você na boate.
Abri a boca para provocar, pelo canto do olho vi uma sombra caminhando em minha direção. Soltei Maya me virando para quem estava vindo.
—Huguito. – Gritei seu apelido de infância, entrando na onda de Maya.
— Cabrón !
Algumas pessoas olharam em nossa direção, curiosas. Hugo parou a nossa frente analisando Maya, olhando para mim, como não queria que ele desse nenhum fora, tratei de apresentar logo os dois.
— Hugo essa é a Maya, Maya esse é meu amigo idiota, sabe? Aquele que eu disse para você se manter longe?
Maya e Hugo trocaram um beijo na bochecha se cumprimentando, coloquei uma de minhas mãos em sua cintura, mas por costume, e mesmo não querendo revelar, não queria ninguém também de olho nela.
— Você já cruzou com a puta velha da Ianelli? – Hugo perguntou.
— Não, acabamos de chegar ao hotel.
— Sorte sua, já cruzei com ela cheia de sorrisinhos com a Patrícia.
O sangue subiu em meu corpo rápido demais, dando uma raiva instantânea. – Deixe-a achando que está tomando meu lugar na Diretoria com aquele inútil e gordo de seu marido.
Maya observava a conversa, não falando uma palavra.
— Isso mesmo garoto corra atrás de seu osso.
— Não disse que ele só fala idiotice? – Comentei com Maya, ela lançou um sorriso de lado, nem tão sincero como os outros. – Bom, vamos para o quarto nos ajeitar para o evento, nos vemos depois cara.
Hugo se despediu com um gesto voltando para as mulheres que esperavam por ele na espreguiçadeira.
Caminhamos em silêncio pelo saguão do hotel, no elevador, pelo canto do olho via Maya com o olhar longe, como se tivesse perdida em pensamentos.
Estávamos no corredor do quarto quando parei, puxando sua mão para que parasse ao meu lado, ela se virou para mim.
– Aconteceu algo que não percebi?
— Como assim?
— Você estava cheia de sorrisos e ficou séria. – Expliquei.
— Não aconteceu nada, como já disse estou apenas representando meu papel, Otávio.
Mesmo vendo que ela tinha ficado brava com algo não quis ficar implorando para que falasse, além do mais, realmente ela estava aqui porque estava pagando uma fortuna para uma cafetina resolver meu problema da promoção.
Mesmo com todo o encanto que Maya me envolveu eu tinha que ser sincero e realista, ela mesma disse que tudo não passava de algo profissional.
Capítulo 19
Minha mãe sempre dizia quando eu era mais nova que tinha um instinto em mim. Que eu sabia com que tipo de pessoas eu estava lidando.
Quando vim para São Paulo, eu comprovei ser verdade esse instinto. Sabia o que as pessoas queriam, somente em analisar suas expressões e quando nos encontramos com Hugo, amigo de Otávio na piscina do hotel, seu olhar por cima do ombro enquanto dava um abraço em Otávio me deu o perfil inteiro dele.
O reconheci sendo o homem que acompanhava Otávio na boate, na primeira vez que nos vimos e também por Marli ter apresentado um pequeno perfil dos dois.
Nada disso no fundo era o problema, nem mesmo o fato de que alguém pudesse estragar tudo contando de fato o verdadeiro motivo que eu estava ali. O que me incomodou realmente foi o olhar sujo que ele lançou para mim como se eu fosse um pedaço de carne, que assim que seu amigo me chutasse ele poderia se aproveitar de mim.
Eu poderia estar enganada, mas trabalhando no ramo que trabalho, vivendo perto de homens de todos os tipos e status diferentes. Eu tinha um faro para ver quando uma pessoa não era tão amiga assim, ou leal como Otávio afirmava, mas, quem era eu? Uma mulher contratada por uma cafetina para passar cada mês com um homem diferente, de olho na bolada que eles me pagavam.
O hotel era incrível, Otávio e eu estávamos em uma suíte de luxo, com uma sala espaçosa, com uns frigobares todo equipados. O quarto era o dobro do meu, a cama grande coberta por lençóis com as iniciais do hotel, alguns quadros decoravam a cabeceira da cama. Uma cortina creme tapava a visão da janela que ia do chão ao teto.
— Maya.
Virei procurando por Otávio, segui para uma porta francesa que estava aberta, ele estava parado com os cotovelos sobre a mureta da varanda.
A vista era maravilhosa, tínhamos visão para a área da piscina e uma ampla visão para a praia de Copacabana, o sol começava a se esconder, dando lugar para um entardecer maravilhoso. Otávio se virou ficando de costas para a visão que tínhamos, olhando diretamente para meus olhos. Ter essa vista toda e a beleza dele parado olhando para mim mexia algo dentro de mim, seus olhos astutos de um azul maravilhoso, o cabelo comprido balançando sobre o pouco vento, os lábios finos sempre com um meio sorriso. O corpo apesar de mediano mostrava que mesmo completamente vestido dava altas possibilidades para a imaginação correr solta.
— A vista é linda. – No fundo não sabia se soltei isso me referindo a praia, ao Rio, ou ao fato disso somado com Otávio parado olhando daquele jeito para mim.
— Realmente a vista é espetacular. – Seus olhos percorreram todo meu corpo, de cima a baixo.
Senti minhas bochechas corando, poucas vezes eu corava, estava tão acostumada com assédio de clientes da boate, ou até mesmo dos clientes que tinha na Luxor, mas Otávio era diferente, ele mexia algo, girava o planeta de forma contrária.
— Acredito que tenhamos que nos arrumar. – Disse quebrando o silêncio constrangedor.
— Sim, — Concordou sorrindo. – Temos dois banheiros aqui no quarto, então vamos conseguir nos arrumar sem um atrapalhar o outro. Pode ficar com o quarto eu me troco no outro banheiro. – Completou adentrando no quarto.
Ele pegou sua mala, colocando em cima da cama, retirou um terno de alta costura preto, abriu um compartimento revelando um pequeno mostruário de gravatas. – Você sabe qual vestido irá usar?
Concordei com a cabeça pegando minha própria mala.
— Maya? – ele tinha se virado para mim, — me diga que você não esqueceu um vestido à rigor?
Não me contive soltei uma risada, abrindo minha própria mala, revelando uma pequena pilha de vestidos sociais, eu sempre estava preparada para qualquer eventualidade, a profissão e alguns deslizes com cliente haviam me ensinado isso da pior maneira. – Fique calmo, eu estou preparada.
Curvei-me sobre seu ombro de forma inocente, nossos olhares se encontraram, nos prendendo. Aquela sensação de tensão entre nós. – Hã... Eu acho que você deve escolher essa daqui. – disse puxando uma gravata azul como seus olhos, combinaria perfeitamente com o vestido que eu tinha em mente.
— Ok, usarei essa — ele pegou suas coisas, uma bolsa de mão pequena de couro. – Vou deixar você se arrumar. Até mais.
Ele ia saindo quando parou de repente. – A festa começa às 18horas.
Olhei para o relógio em meu pulso, daria tempo, tinha uma hora e meia para toda a produção. Quando estava finalmente sozinha no quarto coloquei meu vestido azul celeste sobre a cama.
Ele ficava na altura do joelho tirando o busto que era justo ele caia sobre o corpo de forma solta, leve. Todo detalhe ficava no peito, sendo todo com aplicações de brilhos prateados.
Como ele era tomara que caia, dispensei o sutiã e coloquei junto na cama uma calcinha da mesma cor que o vestido, evitando que marcasse ou aparecesse sobre o tom do vestido, peguei uma sandália prateada simples, um par de brincos também prateados. Seguindo o esquema de cores e joias que tinha em mente.
O banheiro era tão impressionante quanto ao quarto, um espelho grande cobria uma parte da parede, pias duplas. Além de um box com uma ducha enorme também tinha uma banheira, com sais, óleos, mas infelizmente teria que ficar para outro momento, prendi o cabelo com cuidado para não marcar demais. Abri a ducha deixando em uma temperatura agradável, depois de tirar todo o suor que grudou na minha pele como uma camada de pó do caminho do aeroporto até o hotel, deixando o cheiro do sabonete de hortelã em seu lugar. Desliguei o chuveiro me enrolando na toalha.
O penteado era um coque bagunçado, mas com um toque de elegância, completei com uma maquiagem suave, um gloss apenas para dar um brilho na boca. Corri para o quarto olhando à hora no celular, teria que me apressar.
Já podia escutar barulhos na sala, Otávio já devia estar pronto. Vesti o vestido, as sandálias, estava colocando meu celular em uma bolsa carteira, quando ele bateu na porta.
— Estou saindo! – Anunciei.
Deu uma última olhada no espelho, sim estava perfeita.
Capítulo 20
Eu estava impaciente, não costumava ter que esperar alguém se arrumar e há muito tempo não esperava uma mulher fazer tal coisa, andando um pouco impaciente pela sala. Decidi saber em que pé Maya estava no quarto, bati duas vezes na porta sendo recebido com um grito.
— Estou saindo.
Ótimo, voltei para minha posição no meio da sala, olhei para o relógio novamente, cinco e quarenta. Suspirei encarando a decoração, o aparador perto da porta contendo alguns copos de cristais, olhei para o espelho vendo meu reflexo e um pouco afastado, vi Maya. Tive que me virar e quando fiz perdi o fôlego.
Maya estava magnífica, o vestido azul combinando não só com a minha gravata, que ela mesma tinha escolhido como também até um pouco com o tom de azul dos meus olhos. Admirei da cabeça aos pés, ela vendo que tinha parado para isso sorriu, deu uma voltinha fazendo seu vestido balançar um pouco em volta de seu quadril.
— Como estou? – Perguntou.
— Linda.
Realmente, não tinha outra palavra para descrever a mulher em minha frente. E do nada uma sensação ruim tomou meu peito, eu não deveria querer essa mulher, de maneira nenhuma, tinha que deixar nosso convívio o mais profissional e amigável possível. Ajeitei o nó da gravata já perfeita, expulsando qualquer pensamento do tipo.
— Podemos ir?
— Podemos. – Ela veio em minha direção, passou por mim, lançando seu perfume doce em meu rosto, como se fosse um soco, contrariando meus pensamentos, realmente eu estava fodido.
Sorri para mim mesmo, peguei o cartão de acesso e segui para o evento.
Entrando no salão reservado para a festa todos os homens que trabalhavam comigo olharam para ela, Maya tinha soltado do braço e descido sua mão por toda a extensão até entrelaçar os dedos nos meus. O que causou uma onda de desejo por todo meu corpo, incluindo meu pau, que estava sofrendo por ter uma mulher desse porte do meu lado e nem poder brincar.
Logo mais à frente avistei minha chefe com Patrícia e o gordo do seu marido, dei um sorriso para Hugo que estava numa mesa próximo da porta francesa do salão junto com Daniela que me olhava interessada. – É hora do show. – Disse me aproximando da orelha de Maya, aproveitando para roçar de leve meus lábios em sua pele.
A única resposta que ela me deu foi um sorriso deslumbrante e um leve aperto em minha mão direita. Segui para onde Ianelli estava com o Sr. Dalton, minha concorrente e o marido dela.
O Sr. Dalton era um homem astuto, trabalhava no ramo de construções no Rio de Janeiro.
— Boa noite, senhoras. – Cumprimentei. – Sr. Dalton, Ricardo.
— Olá Otávio, pensei que não viria. – Ianelli, a puta velha gostava de me irritar, não era possível. Seus olhos foram de mim para Maya e nossas mãos unidas.
— Que indelicadeza a minha, está é Maya, minha namorada. – Disse sorrindo de forma apaixonada para ela.
Maya já preparada sorriu abertamente, não soltando em momento algum minha mão enquanto trocava cumprimentos com as mulheres e trocava banalidades com os cavalheiros.
— Sua acompanhante é linda. – Comentou Dalton.
— Sim, porém sou suspeito né, Jujuba. – Acrescentei o apelido banal e infantil que dei para Maya em nossa brincadeira de hoje mais cedo. Ela riu baixinho, mostrando as covinhas que até então não tinha notado.
— Para com isso, Moreno. – Deu um beijo em minha bochecha ascendendo meu corpo.
Os casais ficaram meio sem jeito com nossa demonstração de afeto o que me fez querer rir, estava dando certo. Nem mesmo a víbora da Patrícia tinha como rebater tal demonstração.
— Você comparecerá ao almoço com o conselho, Otávio? Sabemos que não é ligado a compromissos. – Patrícia deferiu sua primeira alfinetada.
— Acredito que isso tenha ficado no passado querida Patrícia, mas respondendo sua pergunta, comparecerei. Se vocês nos dão licença. – Sorri para Ianelli que se divertia com a competição que soltou em cima de nós.
Puxei Maya pela mão passando por algumas mesas, cumprimentando parceiros, pessoas que conhecia há alguns anos, sempre apresentando Maya como minha namorada, colando seu corpo na lateral do meu. Às vezes minha mão ia para sua cintura, outras para sua nuca, dando um carinho em círculos pelos cabelos que caiam por ali.
Notei alguns olhares dela para mim, assim como por vezes sentia que estava jogando a prudência no lixo, e, fazendo pequenos furos na linha tênue do profissional verso amigável.
— Vamos procurar um lugar para sentar.
Ela concordou, olhei pelo salão vendo que tinha um lugar na mesa de Hugo e Daniela. Antes de seguir para lá, puxei-a um pouco para fora da linha de convidados que passava por nós. – Maya, se alguém perguntar você trabalha como médica.
Ela endureceu o olhar.
— Que foi? – Perguntei confuso, eu tinha lido no relatório dela que havia cursado medicina, seria perfeito, ela falar algo que dominasse.
— Nada. É que eu cursei medicina antes de... Você sabe. – Disse dando de ombros.
E naquele pequeno segundo antes de voltarmos para realidade, percebi a verdadeira Maya, se é que este era seu nome real, uma mulher cujo olhar mostrou que sofreu muito, cujo olhar denunciou isso em segundos antes de voltarem para nossa pequena encenação mostrou que ela tinha sonhos e não era nenhuma mulher oferecida e sim sofrida.
Passei minha mão pelo seu rosto, aproveitando para tirar uma casquinha e tratei de voltar para a realidade.
Capítulo 21
A festa até que transcorria normalmente, alguns amigos de Otávio sentaram perto de nós puxando conversa, Daniela conversava comigo sobre Otávio, a empresa, sobre seu afastamento. Lógico que fui questionada por coisas, pessoas que contei como se fosse verdades absolutas, como com o que trabalhava, como eu e Otávio nos conhecemos. A pessoa mais interessada foi sua chefe, ela me questionava coisas íntimas sobre Otávio e eu.
Ele o tempo todo que estávamos sentados mantinha uma das mãos em minha coxa, no espaço descoberto pelo vestido. Seria loucura minha ou o olhar dele tinha se tornado afetuoso? O tom de azul claro brilhava com algo a mais, mesmo que eu tentava manter as coisas o mais profissional possível, tinha que confessar que o fato dele me tocar com certo carinho no pescoço e na perna me deixava tentando recuperar o ar.
Dei a desculpa de retocar a maquiagem para fugir um pouco de seu toque e das frases decoradas que eu contava para quem se aproximasse de nós querendo ver esse lado “namorado” de Otávio Amell, assim como sorrir para as possíveis amantes decepcionadas que paravam na mesa cumprimentando Otávio.
Estava a caminho do banheiro quando ouvi alguém me chamando, mas tinha um porém, era pelo meu verdadeiro nome.
— Mia, Mia! — Eu paralisei, o sangue corria rápido pelo meu corpo, ao mesmo tempo em que não queria ninguém ouvindo, não queria ser um problema e estragar as coisas com Otávio.
Virei-me olhando quem estava me chamando, um homem gordo acenava com a mão caminhando até mim, perto da pista de dança. Olhei para a mesa onde estávamos sentados, Otávio me olhava, seu rosto fechado, sério.
— Mia, caramba quanto tempo. – O gordinho me tomou nos braços dando um abraço apertado, mesmo eu não retribuindo.
— Desculpe, não estou me lembrando de você, acredito que tenha me confundido com alguém.
Olhei novamente para a mesa, vendo que Otávio tinha sumido.
— Não, não, nunca esqueceria esses olhos verdes. – Disse voltando minha atenção para ele, que sorria debilmente. – Não se lembra do filho do Nelsinho? O carteiro?
Oh inferno! Mesmo fugindo do passado ele dava um jeito de te encontrar.
Sorri. Era melhor amortecer os danos do que continuar fingindo que não conhecia o Artur, filho do carteiro Nelson de minha cidade. – Desculpe não te reconheci.
— Imaginei, eu engordei mesmo. – Dizia ele.
— Atrapalho algo?
Olhei para o rosto sério de Otávio, soltei a respiração que não sabia que prendia.
— Desculpe, Sr. Amell. – Artur logo tratou de falar.
— Você é? – Otávio estava com um tom frio.
— Eu trabalho no setor financeiro aqui do Rio e reconheci Mia. Morávamos na mesma cidade, Blumenau.
Senti meu rosto pegando fogo. Tentei pegar a mão de Otávio, mas ele puxou enfiando dentro do bolso.
— Você não estava indo ao banheiro? – Otávio se dirigiu para mim bravo, seus olhos me queimavam da cabeça aos pés.
Nem concordei ou falei algo, me afastei dos dois depressa até o banheiro entrando como um foguete e me trancando em uma baia. A raiva e o medo me dominavam, fazendo um zumbido soar em meus ouvidos, me sentia tonta. De tantos lugares para alguém me encontrar, tinha que ser justo aqui? Eu não me escondia de ninguém, andava de cabeça erguida na rua, mas justo quando estava trabalhando o filho do Nelsinho tinha que aparecer?
Ouvi o barulho de música invadindo o toalete quando a porta abriu, continuei respirando fundo, tentando expulsar todos os demônios que tinham tomado conta de meu peito.
— Maya saia daí, estou vendo seus pés!
Eu dei um pulo, não esperava Otávio invadir o banheiro feminino. Passei a mão pelo cabelo e pelo vestido ajeitando-o, destravei a porta dando de cara com um olhar colérico, o tom de azul de seus olhos endurecido.
— O que foi aquilo? — Ele praticamente cuspiu as palavras em cima de mim. — Eu disse que não queria furo no evento de hoje. Você tem noção do quanto é importante para mim essa promoção?
Otávio andava de um lado para o outro como um leão enjaulado. – Você não percebe que um erro, um passo em falso pode acabar com tudo?
—Ei! Calminha ai! – Gritei de volta. – Abaixa sua bola e fala direito.
Seus olhos se arregalaram um pouco com minha explosão.
—Desculpa, tá ! Nunca iria imaginar que encontraria alguém aqui.
Otávio bufou recolocando as mãos no bolso da calça social.
— Sei quem são os meus clientes e nenhum se arriscaria a me atrapalhar, não sou uma vigarista que sai na calada da noite, todos os meus clientes tem prazer em me cumprimentar na rua.
Ele soltou uma risada sinistra. – Vamos para o quarto, não posso deixar que ninguém escute isso. – Otávio firmou um aperto em meu braço, juntando meu corpo com o dele, observou bem o salão antes de sair de fininho me carregando. Parou em nossa mesa recolhendo nossos pertences, abaixou falando algo no ouvido de Daniela, que sorriu e concordou se despedindo dele.
— Você quer me soltar? – perguntei olhando fixamente seus olhos.
Ele bufou, revirou os olhos e soltou meu braço quando já estava dentro do elevador, como não estávamos sozinhos não trocou uma palavra comigo, mantinha seu olhar no painel.
— Pronto, agora trate de me explicar a palhaçada que aconteceu na festa. – Otávio explodiu quando fechei a porta da suíte, jogou a gravata e o paletó na poltrona, foi até o frigobar pegou uma cerveja e voltou a me encarar.
— Não tenho o que explicar, estou cumprindo meu papel. Não tenho culpa de ter encontrado alguém de Blumenau aqui.
— Porque ele chamou você de Mia? – Seus olhos eram duros, frios. Nem um pouco carinhosos como estavam na festa.
Enrolei um pouco para responder, soltei meus cabelos que caíram em grandes cachos pelo meu corpo. Enquanto protelava via o olhar de Otávio se misturar de desejo e raiva, eu mesma queria dar na cara dele. – Porque é o meu nome. – Falei revelando meu segredo, não tinha para onde correr, e estava cansada de correr.
— Seu nome é Mia?
— Sim, Mia Azevedo.
Ele tomou um grande gole de sua cerveja, colocou-a no descanso de copos. – Por que você se tornou acompanhante?
— Isso é pessoal.
— Sério? Sinto informar, mas sua vida pessoal veio atrás de você e eu gostaria de não ser surpreendido outra vez.
Busquei o apoio do sofá, — Eu tinha vinte e dois anos quando larguei tudo para vir para São Paulo, morava com meus pais e meu irmão. – Otávio me escutava com atenção. – Cursava medicina, sempre fui estudiosa e mesmo com a ajuda dos meus pais não conseguia me manter. Livros e a mensalidade muito caros, além de quase não dormir para estudar. Eu queria uma vida melhor, principalmente para meu irmão.
Fiz uma pausa, em todo o momento ele não tirou os olhos de mim.
— Um dia buscando algo que me desse mais dinheiro, achei o site da Luxor, seria um mundo de possibilidades. – Respirei fundo. – Foi um erro, quando meu pai descobriu, me deu uma surra. Foi aí que decidi fugir, e trabalhar na Luxor.
Dei de ombros, olhando para as minhas mãos como se fossem realmente interessantes. — Todo dinheiro extra que ganho mando para eles, meus pais acreditam que seja um fundo do governo. Se soubessem que o dinheiro é meu passariam fome, mas não o aceitariam.
— Maya...
— Não precisa dizer nada, estou nessa vida por que escolhi, comecei como dançarina na boate até chegar onde estou. Não quero sua pena e também a de ninguém. – Disse endurecendo o olhar.
— Sou capaz de muitas coisas, — ameacei. – Não será isso que me derrubará, já passei do inferno ao céu, conheci pessoas desprezíveis como pessoas que realmente amei. Já fui traída, já pude aprender muito em pouco tempo como acompanhante.
Otávio levantou o rosto mais suave e o olhar o mesmo brilho que antes. Peguei minhas coisas no sofá e segui para o quarto, não queria falar, na verdade preferia dormir a escutar mais alguma coisa sobre minha vida ou minhas escolhas. Sempre fui sozinha, sem me importar com qualquer opinião. Não seria agora, chegando aonde cheguei que começaria.
Capítulo 22
Permiti que Maya se trancasse no quarto, ainda processava tudo que ela disse. De todas as coisas que pensei sobre ela, nunca imaginaria que tinha entrado nessa vida por vontade própria, ainda mais sem ser exatamente para ela.
Eu precisava procurar mais sobre ela, saber sobre seus pais e sobre o irmão que ela falava com lágrimas nos olhos. Senti meu celular tocar no bolso da calça.
— Oi, maninha.
— Tavinho, não sabia se conseguiria falar com você a esta hora.
— Estava em uma festa da empresa, mas pode falar.
Ouvi minhas outras irmãs gritando ao fundo e portas se fechando.
— Você vai aparecer aqui, né? – Bianca perguntou como a menininha mimada que sempre foi.
— Sim, estarei aí na terça. – Anunciei.
— Terça? Jura? – Perguntou toda empolgada, já podia ver, ela correndo pela grande casa que tínhamos em Maresias, litoral de São Paulo.
— Sim, prepare um quarto para mim e para minha namorada.
— Como assim? Pêra aí, vou ligar a chamada de vídeo.
— Sério, Bianca? – Questionei, tirei o telefone do ouvido vendo o convite para a chamada de vídeo dela.
Aceitei. Bianca corria pela casa, como havia imaginado. Logo depois meus pais, Luce e Gabriela apareceram na tela.
— Olá, gente.
— Filho, como é bom te ver!
— Também estou com saudades mãe.
— Mãe você não vai acreditar, Tavinho está namorando e vai trazer para o casamento! – Bianca gritava no ouvido de meus pais.
Minhas irmãs assim como minha mãe começaram a jorrar perguntas para mim, fazendo um completo caos no telefone. Meu pai ria fazendo seu bigode levantar. – Se acalmem por Deus. – Disse, eu mesmo rindo das idiotices que Luce e Bianca perguntavam.
— Meu filho quando você virá para casa? – Meu pai perguntou sua voz grave calando por fim minhas irmãs.
— Terça, pai. Estou no Rio a trabalho.
— Ota, você vai mesmo trazer a sortuda? – Luce e sua sutileza, desde pequena me chamava de Ota, quando era pequena era bonitinho, hoje já era estranho.
— Sim, vocês irão conhecê-la, agora preciso ir.
Mandei um beijo para todos pela tela e desliguei. Rindo da empolgação das minhas irmãs para a novidade.
Olhei para o quarto vendo que era melhor ir deitar, mas antes um banho. Entrei de fininho no escuro, as portas da sacada estavam abertas deixando a luz da lua e o cheiro de maresia entrar pela cortina que esvoaçava. Peguei um short de pijama e uma cueca, indo para o banheiro.
O vestido e as joias de Maya, ou Mia estavam no canto da pia, assim como seus saltos encostados na parede. Cortei meus pensamentos para o que ela estaria usando, seria demais imaginar seu corpo em uma sensual lingerie e ainda deitar na mesma cama.
Liguei a ducha gelada, deixando que abaixasse meus hormônios, o cheiro de hortelã do sabonete dominou o ar em minha volta, enquanto lavava meu corpo, meu pênis deu o ar da graça, passei o dia todo sendo rodeado pelo cheiro e toque de Maya, deixando meus nervos em estado de alerta. Passei a mão pela extensão de meu pau, sentindo prazer, imaginando Maya no dia que nos conhecemos, ela dançando eroticamente no palco, rebolando. Mas dessa vez em um show particular apenas para mim.
Aumentei os movimentos, às vezes circulando a cabeça outras subindo e descendo, as veias grossas inchavam ainda mais em minha mão. Senti minhas bolas endurecerem, permiti que eu gozasse ainda com a imagem forte da fantasia que criei em minha cabeça, banhando os pelos da minha barriga com meu gozo quente. E nem mesmo assim, depois de gozar no chuveiro não me sentia satisfeito. Deixei que a água caísse por meu rosto, meu cabelo, limpando o que sobrou de minha masturbação.
Sai do banheiro olhando para Maya deitada na cama, seus cabelos negros caiam como cascata sobre o travesseiro, ela dormia tranquila. Estava passando pelo pé da cama quando pensei ter visto ela abrir os olhos, mas quando olhei de novo continuava com os olhos fechados.
Fui até a sala apagando as luzes e trazendo comigo mais uma garrafa de cerveja, cacei também no bolso do paletó meu cigarro. Eu não fumava com frequência, era mais um vício para quando estava estressado. E hoje era uma noite dessas, sentei na cadeira branca da sacada, abrindo a garrafa, tomando um longo gole. Sentindo o líquido gelado descer por minha garganta, entorpecendo meus sentidos. Acendi um cigarro olhando para a praia, algumas pessoas passeavam animadas pelo calçadão, admirando o final da noite.
A cortina balançava com o vento que vinha do mar, dançando pelo quarto como um fantasma, às vezes mostrando Maya dormindo na cama, outras encobrindo minha visão.
Em uma das olhadas para ela, peguei seus olhos abertos. Ela me encarava, seus olhos desejosos tanto quanto os meus. Maya fechou os olhos, continuei olhando para seu rosto, a luz da lua entrava no quarto dando um brilho especial sobre ela e a cama. Deixei de lado meu cigarro e minha garrafa, para ficar somente contemplando Maya, quando ela abriu os olhos de novo e me encarou, não precisei de palavras, seus olhos me convidavam. Aquela pequena mordida no seu lábio inferior denunciava seu desejo, como o meu próprio corpo não conseguia mais esconder. E entre levantar-me da cadeira abandonando minha cerveja e meu cigarro intocado, percebi que Maya era a própria deusa Afrodite encarnada tanto em sua beleza corporal como em sua influência sobre mim.
Passei pela cortina me deitando ao seu lado.
Ficamos nos olhando, sua respiração estava forte, o cheiro de seu perfume me perfurava causando uma onda de excitação pelo meu corpo. – Desculpe por mais cedo. – Sussurrei para ela.
Maya voltou seu corpo, fixando olhar para o teto. – Não tem o porquê se desculpar, você não fez nada. Isso não tem nada a ver com você.
Virei-me ficando de lado, encarando seu rosto. Olhando sua respiração, seu peito subir e descer lentamente sobre o fino lençol que nos dividia.
O silêncio começou a dominar o quarto novamente, o barulho da cortina se mexendo com o vento foi a única coisa que ousava a quebrar o silêncio. Desviei os olhos de Maya, até que ouvi sua voz suave finalmente vir até mim.
— Você não pareceu ser mulherengo e safado como alega ser. — Ela se virou olhando para mim. – Porque deixa que as pessoas o vejam assim? Todos que cruzaram comigo fizeram a mesma pergunta. Como conseguia ficar com você.
— As pessoas veem aquilo que acham certo e somos julgados por isso. O fato de não parar com mulher, não quer dizer que as faço sofrer de amores por mim, sou muito sincero com cada mulher que levo para cama. Ao contrário do que os homens acreditam ser mais fácil a se fazer, iludir uma mulher, eu não faço. Não dou expectativas, porque não quero viver com expectativas de ninguém sobre mim.
Ela absorvia tudo que falava, seus olhos grudados nos meus.
— Eu não passo a fama de mulherengo, ela vem até mim. Como também não saio por aí caçando alguém para me casar. Isso é uma coisa que depende do tempo e da vida. Enquanto isso sou um Bon-vivant – Dei de ombros.
Estávamos a centímetros um do outro, se esticasse um pouco mais meu pescoço poderia roçar meu nariz no dela. Estiquei meu braço sentindo a mão de Maya ao lado da minha, tracei o caminho entrelaçando nossos dedos. A mesma onda de calor percorreu meu corpo e quando ela me olhou com os olhos arregalados eu vi que também sentia isso, quando eu a tocava nossos corpos se acendiam, gravitavam um para o outro.
Maya puxou sua mão da minha, sua respiração ficando audível, ofegante, seus olhos quase negros na escuridão do quarto.
– Não. – Disse se virando de costas para mim.
— Por que, não? — Mia. – Chamei pelo seu verdadeiro nome.
Ela paralisou, ainda encarando a parede oposta. Já havia desistido, respirando profundamente para controlar o fluxo dos meus pensamentos, quando ela se virou com tudo, colando meu corpo com o dela, seus lábios invadindo os meus, sua boca quente, minha língua invadiu a sua, tomando-a para mim. Exigindo que ela fosse minha, sentindo seu gosto, fazendo que meu gosto se misturasse com o dela, me inebriando mais do que qualquer bebida ou gosto tinha feito. Passei a mão pelo seu corpo levantando um pouco sua blusa. Sentindo o calor de sua pele, enquanto ela puxava meu cabelo.
Separamo-nos um pouco recuperando o fôlego. Voltei a devorar sua boca, sentindo um prazer absoluto correr pelas minhas veias, viro pairando em cima dela. Maya prende suas pernas em volta de minha cintura, fazendo com que minha ereção pressionasse o tecido do seu short. Passo a mão pelo seu corpo venerando cada curva, seu rosto, desço a boca para seu pescoço, sugando, lambendo. Nossos corpos exalando pura luxúria se entregando um ao outro.
— Tira a roupa. – Ela manda em um tom autoritário.
Fico de joelhos sobre a cama arrancando meu short e minha cueca de uma vez, enquanto ela própria arranca sua blusa revelando os seios grandes e perfeitos, joga seu short longe, fazendo um amontoado de roupas pelo chão do quarto, voltando a se deitar.
— Quero que você sinta prazer como nunca sentiu na vida. – Digo me posicionando entre suas pernas, beijo o alto da coxa, sua atenção está voltada para mim, sua mão passeia pelo meu braço. Ela traça o caminho de minha tatuagem, do bíceps até o peito.
— Não sabia que você fazia o estilo adepto a tatuagem.
Dou um sorriso percorrendo sua perna com a língua, vendo-a se contorcer quando chego a sua intimidade, uma mão aperta o bico de seu seio, provocando-a tanto em cima como em baixo. Passo toda minha língua por seus lábios vaginais, sentindo o gosto de sua excitação, mordo de leve seu clitóris, Maya reage a isso levantando o quadril, arranhando minhas costas com sua unha.
Enfio um dedo em sua vagina, girando em sua parede, buscando o ponto G, adiciono outro dedo quando encontro o exato ponto de prazer, Maya se contorce em meus braços. Sinto meu pau latejando, chamando minha atenção para ele, retiro meus dedos colocando-o no lugar, entrando de uma vez.
— Otávio – sussurra meu nome em meio um gemido.
Estremeço sentindo seu calor e sua vagina pulsando em torno de mim, pego seus seios nas mãos dando atenção a eles, lambendo, mordendo o bico enquanto Maya se encarrega de rebolar aumentando a fricção entre nossos corpos.
Largo um pouco seus seios que já estão vermelhos e começo a me movimentar lento, fazendo um círculo completo dentro dela antes de dar uma estocada forte, repito uma, duas, três vezes, vendo Maya esticar os braços acima da cabeça, gemer como uma gata manhosa. Meu próprio corpo reclama da tortura, meus músculos do braço tremem segurando o tesão que toma conta do meu corpo. Aumento o ritmo, batendo no fundo dela, passo a mão por todo seu corpo.
Observando-o entregar os primeiros tremores.
Seus olhos verdes pegam fogo, seu rosto assumiu uma fisionomia de safada, algo primitivo desperta dentro dela. Maya se solta dos lençóis agarra meu pescoço. Fechando as coxas grossas entorno de minha cintura, dominando os movimentos, o bico dos seus seios raspando pelo meu peito. Rapidamente ela assume meu lugar, seguro seu cabelo em um rabo de cavalo firme, vendo que ela exibe um sorriso enquanto cavalga forte em cima de mim, por mais que queria não conseguia mais segurar. Preciso gozar.
— Maya se continuar assim não deixarei você gozar.
— Goza comigo. – Ela pediu e é o que basta. Deixo a excitação tomar conta de mim, me lançando para fora do meu corpo enquanto me derramo dentro dela. Mesmo com a visão turva vejo Maya jogar a cabeça para trás e gozar sobre meu pau, quando seus tremores ainda percorrem seu corpo ela rebola sobre mim querendo mais contato.
Nossas respirações vão aos poucos se acalmando, entrando no eixo. Puxo-a para meu peito e as últimas coisas que me lembro é que beijei sua testa, Maya passa um dedo sobre meu peito reescrevendo os tribais de minha tatuagem. E assim eu adormeço.
Capítulo 23
Acordo pela manhã curtindo o sol que entra pela sacada, as cortinas balançam com a brisa suave, me espreguiço vendo que estou sozinha no quarto. Viro de bruços relembrando a noite passada, tinha escutado um barulho no quarto, o que me despertou. Olhar Otávio desfilando apenas com uma bermuda e observar toda sua masculinidade e corpo esguio sentado na varanda, despertou coisas dentro de mim.
Quando nossos olhares se encontraram mostrando o desejo passando por uma conversa silenciosa entre eles, mesmo eu querendo disfarçar ele percebeu, não só notou como veio para cama.
Mesmo com nossa conversa, o clima que tinha ficado sobre nós, nada disso conseguiu esconder que toda vez que estávamos perto demais um do outro, algo consumia nossos corpos. O meu pelo menos foi inteiro consumido por Otávio.
Rolei de novo na cama conferindo as horas. Nove e meia, droga, tenho que levantar.
Sentei no meio da cama, me enrolando um pouco nos lençóis, escondendo minha nudez. Procurei por sinais de Otávio pelo quarto ou banheiro, mas ele não estava. Levantei, recoloquei a calcinha e o shorts que tinham ficado esquecido ontem depois de nossa transa e em vez de pegar minha regata busquei mais ao longe no quarto a blusa social que ele deixou pendurada na cadeira junto com suas outras roupas da festa.
Passei no banheiro apenas para escovar os dentes e tirar aquele bafinho matinal, pois eu queria mesmo um grande copo de café com leite, afinal ainda teríamos um almoço com o pessoal do trabalho de Otávio, antes de voltarmos para São Paulo.
Estava saindo do quarto quando peguei a conversa de Hugo com Otávio.
—... E aí todos ficaram bêbados e foram causar pelo Rio, sentimos sua falta. – Hugo dizia.
— Eu estava cansado, ainda tenho um compromisso antes voltar para São Paulo e arrumar as coisas para o casamento.
— Nem me fale, queria ficar mais uns dias pelo Rio, você me conhece, estou no meio das mulatas. – Hugo explodiu em uma gargalhada.
Fechei mais a porta deixando apenas uma pequena fresta para enxergar o meio corpo de Otávio e Hugo, e, conseguir ouvir a conversa.
— Bianca deve estar surtando todo mundo.
Na hora que ele falou sobre essa possível mulher senti um incomodo no estômago, uma coisa que não poderia sentir.
Onde e em que lugar eu poderia acreditar que por termos tido uma transa sensacional na noite passada ele ficaria com uma acompanhante de luxo. Eu mesma estava me esquecendo de ser séria e o mínimo profissional que a situação pedia.
— E quanto sua garota de programa? – Hugo perguntou entre um gole e outro do líquido que deduzi ser café.
— Hugo. – Otávio repreendeu olhando em direção ao quarto, me esgueirei para atrás da porta torcendo para que Otávio não tivesse notado que estava escutando sua conversa.
— Ah, que foi cara? Você mesmo a chamou assim!
— Sim, isso foi antes. – Otávio dizia, fazendo suas palavras me cortarem como uma faca afiada em meu peito.
— Tá , tá ... Me diga já conseguiu fazer valer apena seus trinta mil? – Hugo dizia tudo com malícia.
— Fique fora disso, idiota.
— Uhul! Alguém andou aproveitando melhor do que eu a noite anterior!
Escutei a risada trocada por eles.
Sua imbecil! Achando que só por que teria um rostinho bonito, ele sendo fofo em certos momentos estaria interessado em você. Eu era muito idiota mesmo. Ainda vinha com aquele papinho que não iludia as mulheres, que não era como os outros, um monte de blábláblá .
Não sei se foi pela raiva que pintou o rumo de minhas ações seguintes ou se eu queria realmente arruinar qualquer lembrança da noite passada. Corri até a cama arrancando meu short ficando apenas de calcinha e a camiseta aberta nos três primeiros botões.
Sai fazendo barulho o que calou os dois homens na sala, passei por eles, ambos me olhando. Permiti uma boa olhada do meu corpo, me curvei sobre a mesa pegando uma xícara de café.
Otávio tinha o semblante fechado, me olhando com as sobrancelhas erguidas, mas sem dizer uma palavra. E não precisava, eu via a explosão que acontecia dentro dele. Como também tinha olhado a cobiça nos olhos do seu amiguinho.
Porém, tratei de não me importar, afinal eu não era nada além de uma acompanhante que ele tinha alugado por um mês, não passava de um aluguel de luxo para ele comentar com seu amigo idiota e representar na frente de seus chefes.
Ouvi meu telefone tocando no quarto, peguei meu café e voltei a me trancar. Uma bola amarga travava minha garganta quando atendia a ligação.
— Oi, Marli.
— Bom dia meu diamante, como andam as coisas com o Sr. Amell?
— Boas, por falar nisso estou no Rio. – Ela adoraria alguns detalhes.
— Rio de Janeiro? Ai que delícia! – Marli exclamou do outro lado da linha.
— Sim, precisamente no Copacabana Palace. – Deixei meu café de lado indo até a sacada, os turistas e hóspedes do hotel já tomavam conta da piscina, se refrescando ou tomando sol. A manhã de segunda estava quente e ensolarada, mesmo com a brisa suave o suor começava a escorrer pelo canto do rosto.
— Invejinha de você . – Marli riu. – Quanto tempo vocês vão ficar por aí?
— Acredito que voltamos hoje mesmo para São Paulo.
Escutei a porta do quarto abrir e passos pesados em minha direção. Ignorei até Otávio estar parado ao meu lado me olhando com uma carranca no lugar do rosto.
— Desligue!
Virei para ele, estreitando o olhar. Marli comentou algo sobre ter um cliente interessado em mim e uma possível viagem para fora do país.
— Pode deixar em minha lista, acredito que o Sr. Amell não precisará tanto assim de mim pelo próximo mês, será um prazer atender esse cliente ainda mais com a possibilidade de sair do país. – Disse mais para provocar Otávio do que para própria Marli.
— Desliga esse telefone. – Otávio rosnou ainda encarando meus olhos. – Ou vou jogá-lo pela janela!
Cortei o que Marli dizia, me despedi e coloquei o telefone na cadeira que ontem tive a visão de Otávio sentando de maneira sexy.
— Que foi? – Perguntei em tom inocente.
— Que merda foi aquela na sala? Você não viu que estava com Hugo? – ele passou a mão pelos cabelos afastando as mechas que iam para seu rosto pelo vento. – Tinha que sair assim? – completou fazendo sinal para minha roupa.
— Desculpe mais não devo satisfações de nada. – Fiz menção de entrar no quarto, mas ele me segurou pelo braço, colando meu corpo no dele.
— Como é que é? O que foi agora? – Ele continuou me encarando. – Você acha que não percebi que estava espiando minha conversa o tempo todo?
— Otávio, ao contrário do que você e seu amiguinho latino pensam não sou uma prostituta, uma puta qualquer. – Explodi. – Não seja tão burro, honre o dinheiro que você me pagou. Uma acompanhante de luxo não tem que ser apenas boa na cama, ela tem que saber ser aquilo que o cliente deseja e realizar os desejos com perfeição.
Ele fez menção de me interromper, mas eu apontei um dedo pedindo com os olhos que se calasse. – é preciso ser educada, ter um papo agradável e, principalmente saber se portar em qualquer lugar seja numa festinha ridícula da empresa ou um boteco da esquina com os amigos.
Fiz uma pausa, respirei fundo. E nem assim ele me interrompeu.
– É preciso que não tenha apenas uma bunda gostosa, mas que saiba usar o cérebro. Tenho curso universitário, sei falar fluentemente inglês e francês. Então não me venha você e seu companheiro de noitadas dizer que sou uma puta qualquer, ou se vangloriar por me levar para cama, querido. Porque posso ter vários nomes, várias camadas, mas vocês não sabem quem eu sou.
Balancei meus cabelos para longe do ombro esbarrando em seu ombro para entrar no quarto. Otávio bufou jogando as mãos para o alto indo atrás de mim.
Ele começou a organizar sua mala, tirando uma peça de roupa para que servisse para o almoço e para a volta, guardando o restante dos seus pertences na mala.
Copiei seus passos, arrumando minhas coisas. Depois disso estaria pelo menos livre dele por alguns dias, mesmo que no fundo uma voz me chamasse de imbecil.
Otávio virou para mim, olhando meus atos, continuei ignorando, peguei meu vestido e joia no banheiro, coloquei tudo em seu devido lugar.
— Você poderia devolver a blusa quando terminasse suas coisas? — Perguntou ríspido.
— Claro. – Arranquei a blusa pela cabeça nem precisando desabotoar os botões e joguei em seu rosto, ficando apenas de calcinha.
Otávio me olhou como se tivesse atirado um bicho nele. Seus olhos corriam pelo meu corpo praticamente nu se não fosse a renda mínima de minha calcinha.
Segurando uma risada peguei minha roupa e nécessaire indo para o banho, onde só depois do chuveiro ligado me rendi à risada que tanto segurava.
— Nossa reserva está nos aguardando. Estou lá embaixo. – Otávio me comunicou batendo a porta.
Depois do nosso desentendimento pouco falamos, eu me trocando de um lado e ele do outro de costas para mim.
Depois de conferir minha aparência no grande espelho do banheiro. Ajeitando meus cabelos soltos, meu vestido tubinho preto justo ao corpo. Puxei minha mala para fora do quarto deixando junto com a dele.
Como falado, Otávio me aguardava com outro homem e sua companheira no saguão do Hotel.
— Desculpe o atraso.
Otávio olhou-me de cima a baixo, sorriu mantendo nossa farsa. – Está linda Maya, deixe-me apresentá-los.
Desviei minha mão quando ele tentou pegá-la.
— Sr. e Sra. Albuquerque, está é Maya Banks, minha namorada.
— Muito prazer Maya, realmente Ianelli não exagerou nos elogios a sua namorada Otávio. – O senhor careca sorria para mim.
— O prazer é todo meu Sr. e Sra. Albuquerque.
— Finalmente se rendeu ao amor meu caro, ou foi totalmente fisgado por Maya? — O senhor Albuquerque brincava conosco.
— Fui domado, mesmo correndo, ela me passou a perna.
Otávio dominava o ambiente, deixando todos confortáveis com seus sorrisos fáceis e superficiais.
— No fundo ele só estava esperando por mim, né querido? – Disse colocando minha mão em seu ombro. Trocando amabilidades com o casal a nossa frente.
Ignorando Otávio pelo resto da conversa, principalmente sua mão em minhas costas enquanto caminhava para fora do hotel, para o carro já esperando por nós.
Matheus que tinha nos trazido para Copacabana no domingo de manhã abriu a porta para nós.
— Matheus, para o restaurante CT Boucherie , depois aeroporto.
— Claro, senhor. – Matheus concordou batendo no quepe. – As malas já estão no carro.
Durante nosso almoço com sócios e a chefe de Otávio choveram mais perguntas sobre nós, dessa vez testaram o próprio Otávio, eu percebi que Ianelli – chefe dele – estava querendo realmente nós pegar em uma mentira. Por isso mesmo brigada com ele, deixei isso de lado para fazer com excelência meu trabalho.
E durante as despedidas na frente do restaurante pude observar que realmente todos acreditavam nos sorrisos e carinhos apaixonados que trocávamos.
À volta para São Paulo foi um completo silêncio, Otávio ficou o tempo todo no telefone, ou nas redes sociais, ou escutando música. E eu sendo orgulhosa como era e ainda magoada, depois da noite gostosa que tivemos, ele me tratasse como apenas uma puta. A acompanhante.
Uma coisa que nunca fui era hipócrita, sabia que era grande patamar de diferença entre nós dois, mas mesmo assim ninguém, ninguém mesmo iria me julgar pelas minhas escolhas. E se nesse instante se ele me tocasse novamente teria que pagar pelo meu trabalho, afinal essa era minha profissão.
Mesmo insistindo que pegaria um táxi, Otávio fez questão de ir comigo e pagar a corrida ao motorista. Retirei as chaves de casa da bolsa, pegando minha mala quando ele me segurou pelo cotovelo.
— Mesmo você sendo louca, ou, no mínimo bipolar como está agora...
Abri minha boca para mandá-lo se ferrar, mas ele me calou colocando a mão sobre meus lábios, dando aquela descarga de energia quente pelo meu corpo.
— Arrume suas coisas, você irá para Maresias comigo, tenho um casamento para ir. Pego você às cinco horas da manhã na terça-feira.
— Como assim? Porque tenho que ir?
— Porque já falei com minha irmã Bianca que levaria “minha namorada”, então preciso de você. Se prepare para conhecer os “Amells” – Ele jogou os cabelos para atrás, ficando ainda mais sexy, eu estava começando a perceber que isso era de propósito.
— Quando voltaremos?
— Depois do casamento.
Concordei com a cabeça, hipnotizada com seus olhos. Otávio me lançou um risinho sarcástico entrou no táxi e foi embora.
Deixando-me ali na calçada me sentindo sobre ruínas prestes a despencarem. Seria mais uma semana com sua presença e a presença constante do desejo que pairava sobre nós. Dando suas cartadas quando achava correto. Que a deusa das acompanhantes me protegesse desse homem provido de tanta beleza.
Capítulo 24
Maresias ficava em São Sebastião, a praia era conhecida principalmente pelos surfistas, lembro quando meu pai tomou a decisão de largar a vida na cidade grande e procurar uma cidade para curtir a folga que tanto merecia. No início a casa no litoral era dedicada a reunião com amigos, familiares nas épocas festivas ou para os feriados, mas meus pais se apaixonaram pela casa no condomínio fechado e se mudaram para lá. Na época eu cursava publicidade e propaganda na Faculdade Radial, Luce também já estava seguindo sua carreira na moda, assim como Gabriela encaminhada no Direito.
Bianca era a pessoa da família que mais aproveitava a casa com passagem particular para praia, por isso quando recebi o convite de seu casamento informando que seria em Maresias de nada me espantou, apesar de minha mãe querer o evento em um dos buffets tradicionais de São Paulo, Bianca e Ruan conseguiram dobrar meus pais.
Olhei mais uma vez para Maya que dormia tranquilamente no banco do passageiro, Buddy que também havia trazido conosco ressonava no banco detrás, depois de duas paradas para ele se aliviar segui viagem contemplando a serra cheia de curvas, subidas e descidas. Viajava ao som de “Come Back When You Can” , deixando sua melodia tomar o carro, tocando baixo para que não acordasse Maya.
Eu sabia que ela tinha ficado brava pela conversa que escutou, mas mesmo eu tentando reverter à história ela vinha com seu gênio nada fácil de lidar. Vi a explosão em seus olhos quando saiu do quarto trajando apenas minha blusa e uma calcinha mínima, ao mesmo tempo em que me deleitei com a visão, o ciúme tingiu de vermelho minha vista. Mesmo sabendo que ao final do mês provavelmente ela não seria mais minha, e, sim de outro homem sortudo.
Vai saber o que eles irão fazer nesse meio tempo.
Bufei com o rumo que meus pensamentos tinham tomado, era melhor não pensar nisso. Maya se mexeu no banco ficando com o rosto voltado para mim, percebi com um sorriso no rosto que ela tinha um pequeno fio de baba na boca, não me contive. Passei meus dedos de leve sobre seus lábios.
Seus olhos tremeram um pouco, se abrindo lentamente, revelando aquela íris verde profunda, se fixando em mim.
— Chegamos? – Ela perguntou se erguendo de um pulo no banco, o que me provocou um riso baixo. Seus cabelos rebeldes caindo dessa vez lisos pelos seus ombros.
— Ainda não.
– Desculpe acordá-la. – Voltei minha atenção para a estrada.
— Tudo bem, eu geralmente assusto quando acordo.
Ficamos alguns segundos em silêncio, pelo canto do olho podia sentir seu olhar sobre mim, precisava me desculpar pelo deslize de Hugo no hotel aquele dia. — Maya...
Ela se virou ficando de lado no banco, olhando para mim.
— Desculpe sobre o que você ouviu no Rio. — Mantive meus olhos nas curvas fechadas da estrada, mas podia sentir ela perto, ela me observando com atenção.
— Sabe, eu já ouvi muito disso durante esses cinco anos, inclusive dos meus pais. Minha vida como acompanhante não envolve sexo com os clientes ou ser fácil, e, sim fazer o meu papel. Já fingi ser amiga, prima, namorada, noiva, irmã. – Ela fez uma pausa se mexendo no banco de couro do carro. Olhei para seu rosto, dividindo minha atenção entre a estrada e ela. —Mas quando você disse aquelas palavras, eu me senti realmente um lixo, uma coisa fácil.
— Eu não deveria ter dito aquilo, isso foi antes mesmo de conhecê-la ou saber do por que você está nessa vida. Espero que não me odeie, não queria te magoar ou te machucar, Hugo é meio sem noção. Nunca teria continuado a conversa, mesmo sabendo que você estava ouvindo se ele tivesse levado adiante aquele assunto.
Suas mãos tocaram meu braço, esquentando-me no mesmo instante. Era impressionante que em um toque todo meu corpo fervesse por ela, por alguém que eu conhecia há poucos dias. Vi em seus olhos aquele traço de tristeza que tinha visto enquanto explicava sobre sua família.
— Você não entendeu ainda, né?
Diminui ainda mais a velocidade olhando para seu rosto, fixando por um instante seus olhos, minha atenção completamente dividida no trecho de pista reta da estrada como em Maya. Ela tomou a iniciativa, seus lábios sugaram os meus com delicadeza, mostrando-me o tamanho do seu desejo, permanecendo assim colados, saboreando o gosto de minha boca na sua. Para logo em seguida se afastar. Mesmo não querendo tive que desviar meus olhos para a estrada, Maya traçou de novo o caminho de minha tatuagem que aparecia pela manga curta da blusa.
— Eu não poderia te odiar Otávio, nem se quisesse. – Disse voltando seu corpo para o banco do passageiro agarrou suas pernas perto do peito e desviou seu olhar do meu, mantendo-o na janela.
O resto do caminho foi assim, às vezes nossos olhares se encontravam desejando algo, mas logo ela desviava sorrindo. Outras ela cantava trechos de músicas que tocava de minha playlist, o que me tirava risos de seu modo desafinado de cantar.
Buddy também resolver acordar quando já entravamos na cidade, colocando seu cabeção no vão dos bancos. Entre cabeçadas que ele me dava no braço e lambidas gigantescas no de Maya, deixando-a completamente babada chegamos ao condomínio de meus pais.
Parei ao lado da cabine do porteiro informando que iria para casa dos Amell, depois de registrar meu RG e os documentos de Maya seguimos pelas ruas já tomada pelo sol e cheiro de mar. Realmente fazia muito tempo que não ia lá, as casas que antes me lembrava sendo grandes e espaçadas uma da outra, dando privacidade para os habitantes estavam povoadas, algumas famílias andavam pela calçada com seus cães, outros se dirigiam para a quadra de esportes que eu sabia que tinha se você caminhasse alguns minutos para o lado leste do condomínio.
— Espero que você não se envergonhe. — comentei.
Maya tirou seus olhos das mansões voltando-os para mim com curiosidade.
— Minhas irmãs são terríveis. — Informei.
Ela soltou um sorriso sincero, tornando a olhar pela janela aberta. —Fique tranquilo, eu convivo com mulheres de diferentes personalidades na boate, sei como elas podem ser astutas e impossíveis.
Virando algumas ruas, subi a rampa da garagem estacionando ao lado dos carros de minha família, olhei procurando pelo de Hugo, e, no fundo dando graças a Deus que ele não estava ali, ajudei Maya a sair do carro, Buddy corria latindo em nossa volta feliz por estar solto.
—Bem-vinda à casa dos Amell. – Disse para ela, coloquei os óculos de sol no rosto, entrelacei meus dedos nos seus e contornei as costas da casa, passando pelo gramado, abri o portãozinho já escutando minhas irmãs rindo e conversando sobre o barulho de água e música.
Sentia a mão de Maya grudada na minha, lancei um sorriso por cima do ombro. Buddy a seguia como um fiel escudeiro.
Traidor!
— Ota é você? – Luce perguntou.
— Sim, chegamos. — Anunciei aparecendo na área da piscina.
Bianca saiu correndo da espreguiçadeira jogando-se sobre mim num abraço molhado, marcando minha camisa branca, depois se lançou sobre Maya dando um beijo em cada bochecha. Ri sacudindo a cabeça, mesmo depois de velha ela continuava com seu jeito moleca.
— Vai com calma Bia, assim vai assustar a moça.
Gabriela que também se levantou aguardando Bianca terminar com sua grande apresentação para nós cumprimentar. Dando-nos um curto abraço, pedindo desculpas pelas peripécias de Bianca.
– Como vai meu irmão?
— Muito bem, Gabi.
Gabriela era a filha mais velha, seguida por mim. Sua beleza era incrível seus cabelos loiros caiam em camadas até os ombros, seu rosto mesmo com algumas marcas de noites viradas sobre os processos de seu escritório, era bonito. Com olhos de um azul escuro.
Puxei Maya pela mão seguindo para o amplo terraço onde meus pais estavam sentados com meu cunhado observando a festa que minhas irmãs faziam.
—Pai.
— Como vai, Otávio? – Meu pai se levantou me dando um abraço de urso como sempre.
— Muito bem, me deixe fazer as apresentações, essa é Maya.
— Muito prazer, senhor Amell.
— Nada de senhor, apenas Barker. – Meu pai abriu um sorriso sincero, levantando seu grosso bigode.
— É tão bom ter vocês dois aqui em casa. — Minha mãe pousou uma mão em meu rosto e segurou a mão de Maya com a outra.
— Você poderia ter falado que tinha realmente desencalhado né, cunhado? — Ruan veio trazendo um copo de caipirinha para Bianca.
— Se eu tivesse contado vocês teriam colocado olho gordo.
Maya o tempo todo era enfiada em conversas com minhas irmãs que queriam saber de tudo, ela ia administrando as explosões de perguntas muito bem, tinha me afastado um pouco para dar água ao Buddy e pegar uma bebida para nós quando ouvi Luce perguntando para Maya como nos conhecemos.
— Foi em uma boate.
— Tinha que ser, agora entende porque todo o dinheiro da família está sumindo papai? — Luce disse me provocando.
— Seria melhor você contar sobre suas aventuras na Europa maninha. E por falar na aventura, cadê aquele bundão do seu namorado? — Perguntei vendo a cara de ódio que ela lançou para mim.
— Nem me lembre desse Je m’enfous !
Todos pararam tentando entender o que minha irmã tinha dito o que na verdade era uma ofensa em francês, quando a risada de Maya soou pelo silêncio momentâneo todos incluindo eu, olhamos para ela.
— Vous comprenez ce que je parle?
— Sim. Eu falo francês fluente, coitado de seu ex se ele ouvisse o que você está dizendo.
— Eu deveria saber que você fala francês. — Disse ainda olhando como um bobo para Maya, fazendo com que suas bochechas ficassem em um tom maravilhoso de rosa.
— Desculpe bonitão! Mas acredito que comentei com você.
— Meu Deus Ota, finalmente você nos apresentou alguém de quem eu realmente posso conversar. Ela tem cérebro! — Luce explodiu em uma gargalhada alta.
Toda minha família acompanhou Luce em sua risada, eu nem me importei ainda olhava Maya com certa malícia no olhar. Essa mulher tirava meu chão.
Capítulo 25
A família do Otávio era muito calorosa, as irmãs cada uma tinha uma personalidade, pelo pouco que pude observar Gabriela sendo a mais velha era a mais séria, Bianca ainda uma menina com seus vinte e três anos e Luce, bem, logo de cara me dei bem com ela, havia gostado das outras irmãs de Otávio. Mas Luce e seu jeito impulsivo de agir me mostrou algumas semelhanças com ela.
Mesmo Otávio pedindo licença para conversar com seus pais, me deixando na companhia de suas irmãs não me senti desconfortável e sim bem recebia, como a muito tempo não me sentia em uma família.
Karla mãe de Otávio chegou com uma bandeja repleta de pães e frutas para nós. Olhei pela propriedade tentando ver Otávio, porém não encontrei ele nem pelo enorme terraço como pela sala que tinha atrás das grandes portas de vidro.
— Querida se você quiser ir até o quarto é só subir a escada, o último quarto a direita.
— Muito obrigada, realmente preciso de um banho.
Segui pelo caminho que ela havia indicado, cruzando com Bianca esparramada no sofá com seu noivo, aos sussurros e beijos. Ao topo da escada fiquei confusa para que lado seguir, Karla havia dito últimaporta a direita, mas, não me informou se seria pelo corredor do meu lado esquerdo virando a direita, ou a direita realmente do outro corredor.
Dei sorte de entrar em um quarto e ver minhas malas apoiadas ao lado da cama, fechei a porta passando a chave. Tirei a camiseta grudada de suor, fazendo a mesma coisa com a bermuda.
Buddy levantou sua cabeça mostrando sua presença, voltando a deitar de barriga para cima aproveitando o ar frio do ar condicionado. Fui para o banheiro entrando com tudo, dando de cara com Otávio dentro do box completamente nu, seu quadril estreito mostrando a bunda rigída, a água fazendo o percurso que eu queria fazer com a língua.
Ele olhou por cima do ombro nem um pouco preocupado, quando me viu apenas de calcinha e sutiã seus olhos se estreitaram e sua boca se abriu um pouco.
— Desculpa, desculpa. Eu não sabia que estava no quarto.
— Não tem o porquê se desculpar. – Otávio não estava nem um pouco preocupado com nossa nudez, estava mais interessado do que qualquer coisa, seus olhos exibiam cobiça.
— Vou deixar você tomar banho. – Disse colocando minha toalha no puxador do lado da porta e sai de volta para o quarto.
Tinha me enrolado no roupão que encontrei no ármario, ouvi o chuveiro sendo desligado e a porta de vidro do box abrindo, em menos de cinco minutos Otávio estava parado a minha frente, seu corpo ainda coberto de água, seus cabelos pingavam no ombro, sua tatuagem que tinha me enfeitiçado no Rio fazia o mesmo nesse instante.
Passei a língua sobre os lábios secos, mordendo o inferior, meu corpo se arrepiava apenas com a visão de um Otávio saido do banho.
— Espero que minhas irmãs não tenham enlouquecido você.
Soltei o lábio que já estava com a marca do meu dente de tanto que eu mordia. – Não, elas são uns amores.
— Vamos ver até o final de nossa estadia por aqui se você continuará pensando assim. – Ele passou a mão nos cabelos jogando água pelo piso branco, o tempo todo meus olhos acompanhavam seus movimentos.
Não me segurei, sai de minha inércia na cama até chegar perto dele, apenas aquela toalha branca tapando seu maravilhoso membro, dando uma bela visão do caminho da felicidade.
Estiquei o braço, agarrando algumas mechas de cabelos entre meus dedos e o puxei para mim. Ele acompanhou o movimento, em nenhum momento questionou minhas ações, apenas sorriu antes de nossas bocas se tocarem, esfomeadas uma pela outra.
O beijo foi a combinação perfeita de suavidade e desejo, além de um toque de firmeza, suguei seus lábios com os meus, meu corpo pegava fogo e eu só queria me afogar ainda mais nesse desejo. Otávio gemeu quando minha língua invadiu a sua boca, sugando, enroscando com sua língua, segurando-a dentro de minha boca.
Suas mãos apalpavam meu corpo, senti uma vibração profunda quando sua toalha foi ao chão, fazendo sua ereção roçar em meu clitóris inchado mesmo por debaixo da calcinha rendada. Seu gemido grave, tornando tudo ainda mais excitante.
Otávio se afastou um pouco recuperando o fôlego, com as sobrancelhas erguidas.
— Como faremos se já é a segunda vez que você me ataca?
— Do mesmo jeito que estamos fazendo até agora.
Passei as mãos pelo seu peito, arranhando-o com as unhas, fazendo Otávio estremecer.
— Você irá surtar de novo?
— Isso importa? — Perguntei tomando sua mão e colocando na minha cintura, perto demais da calcinha.
Em vez de pronunciar em palavras ele levantou os ombros aceitando, seus dedos tocaram a barra de minha calcinha, fazendo todo o caminho de minhas coxas até minha bunda. Enquanto eu me deliciava beijando seu pescoço, seu pomo de Adão, puxando seu cabelo na base da nuca. Otávio foi traçando um caminho por dentro da calcinha, passou por toda a extensão de minha bunda, me fazendo tremer quando seus dedos passaram perto de minha entrada sedenta.
Eu estava perdida, deliciosamente perdida.
— Adoro sentir seu corpo todo se jogar em mim quando passo a mão pelo seu clitóris. – Ele sussurrou em meus ouvido, arrancou minhas mãos de seu cabelo me virando de costas para ele.
Sentir seu membro duro tentando abrir espaço pela minha lingerie já era suficiente para me enlouquecer, misturando isso com seus dedos dentro de mim, sua boca mordendo meu pescoço deixava tudo ainda mais delicioso, mal podia manter meu olhos abertos de tanto prazer que passava pelo meu corpo.
— Espero que você tome remédio pois já é a segunda vez que sou pego sem proteção. —Ele retirou os dedos de mim, puxando a calcinha para o lado.
Concordei com a cabeça impossibilitada de falar qualquer coisa, virei de frente para ele, sugando seus dedos. Sentindo meu gosto misturado com o seu. Otávio me pressionou contra a parede do quarto, beijando meu queixo, mordendo minha orelha.
— Me tome para você. — Disse masturbando seu pau, vendo ele inchar, sua cabeça rosada já coberto do seu líquido perolado. Passei a ponta na minha entrada e tremi por causa do contato, ele era tão quente.
— Droga. Preciso me enfiar em você.
Ele observou cada reação em meu rosto, entrando demoradamente, o fato de seu pênis entrar em mim fazendo a renda da calcinha também se esfregar em nos dois causava ainda mais tremores pelo meu corpo. Seus movimentos viraram estocadas duras, cruéis para meu corpo, suas mãos seguravam minhas coxas ao redor de sua cintura, sustentando meu corpo enquanto ele me penetrava.
Comecei a rebolar com urgência em seu membro, meu corpo pronto para se desfazer em mil pedaços. Otávio gemia no espaço de meu pescoço, arrepiando aquela área a cada gemido. Em todo o ato nada me vinha na cabeça, ignorei o fato de ser uma acompanhante, que estava sendo paga para ficar ali com ele, conhecer aquelas pessoas maravilhosas que eram sua família. Não me culpei por me sentir atraída por ele, ou por querer que ele me apertasse mais firme em seu corpo. Só queria a sensação de suas mãos em mim. Do vai e vem ritmado que mantínhamos, uma luta que travávamos um contra o outro buscando o prazer.
Minha cabeça foi para atrás encostando na parede, e eu podia sentir ele crescendo dentro de mim, pesado, uma sensação angustiante de prazer, senti um espasmo quente descer pela minha coluna paralisando um pouco minhas pernas, enquanto meu sexo explodia numorgasmo daqueles.
Os dedos dele se enterraram em minha carne, o que poderia causar uma marca e eu a queria, queria meu corpo marcado pelo seu cheiro, pelo seus beijos.
Vi seus olhos azuis escurecerem enquanto ele próprio explodia no seu prazer, Otávio encostou sua cabeça em mim ainda me mantendo colada em seu corpo, e seu pênis pulsando dentro de mim.
— Mia você vai acabar comigo.
Ao contrário das outras pessoas que me chamavam pelo meu nome verdadeiro, com Otávio não me sentia incomodada, eu gostava. Sua mão acariciou minha perna, antes dele colocá-las no chão e se afastar.
Ajeitei a calcinha vendo ele buscar a toalha e se limpar.
— Isso foi perfeito.
Concordei, dando um sorriso ainda recuperando minha respiração.
— Preciso descer, antes que alguém decida invadir nosso quarto.
— Claro.
Ele me encarou por um instante. — Posso ficar se quiser.
— Tudo bem, pode ir.
— Você está bem?
— Sim, vou tomar um banho.
Ele assentiu, parecendo meio confuso se realmente me deixava ou se estava fazendo a coisa errada e ficava no quarto. Foi até fofinho ver seus olhos azuis ansiosos e confusos.
— Então... Espero por você lá embaixo.
— Ok. – Disse indo para o banheiro e fechando a porta, olhei para o espelho vendo o sorriso mais bobo estampado em meu rosto.
Capítulo 26
Que mulher era aquela, Maya parecia regida pela lua, vezes fria como um vidro, não refletia nada, apenas ficava lá com sua beleza estonteante e olhar penetrante. Em outras, era uma deusa enlouquecida, queimava com apenas um toque e incendiava tudo que tivesse por seu caminho.
Desci meio desconcertado por toda explosão de antes, minha familia estava jogada pela sala de estar rindo e brincando um com o outro. Os convidados mais íntimos começariam a chegar amanhã a tarde e o restante apenas no dia do casamento. O grande dia de minha irmã aconteceria aqui mesmo, no gramado em frente ao mar.
— Cunhadinho que tal um passeio? – Ruan viu minha aproximação.
— Podiamos pegar um baladinha. – Bianca se empolgou.
Meus pais sorriam de orelha a orelha tendo toda família debaixo de suas asas, até Gabriela que era a mais durona estava sentada sobre os pés do nosso pai.
— Por mim, espere Maya descer e confirmo se ela quer sair ou apenas ficar por aqui.
— Tavinho se amarrou! – Luce gritou do outro lado da sala me provocando.
Lancei um olhar mortal para ela, abri a garrafa de bourbon que meu pai deixava no barzinho para as visitas, coloquei dois dedos da bebida. Tomei um gole saboreando o uísque descer queimando minha garganta.
— Deixem seu irmão em paz meninas.
— Pronto o principezinho da mamãe está sendo protegido. – Gabriela ria fazendo caretas para mim.
— Até você? — Reclamei.
— Oi. – Maya estava parada na ponta da escada, um shorts curto mostrando suas belas coxas, uma blusa estilo social branca com alguns botões abertos dando grande espaço para minha imaginação.
Fui até a ponta da escada, sendo um completo cavalheiro peguei sua mão entrelaçando nossos dedos o que fez minha mãe aumentar ainda mais seu sorriso.
— Eles estão querendo conhecer a noite por Maresias.
— Vocês conhecem a Sirena? — Maya perguntou se virando para minhas irmãs.
— Já ouvi dizer. —Gabriela respondeu largando seu livro.
— Sou amiga do dono, poderia nos colocar para dentro.
Estreitei os olhos para Maya, não queria mais nenhum episódio que tivemos no hotel, muito menos cruzar com algum cliente dela. Como se pudesse ler meus pensamentos ela encostou-se em mim com um sorriso. Desde que chegamos aqui estava difícil dizer se cada toque de Maya era encenação por conta de nosso contrato ou era real, verdadeiro. Sabia que pelo fato de ter três irmãs e minha mãe, não poderíamos fazer uma encenação qualquer, tínhamos que realmente parecer um casal apaixonado.
E isso que me deixava confuso, e, ao mesmo tempo me sentia apegado em seus constantes toques, sua mão sempre presente em meu braço ou em minha própria mão.
— Eu topo, vamos? —Luce se colocou de pé olhando para nossas irmãs.
— Eu preciso me arrumar. — Gabriela concordou ficando de pé.
— Noivinha? — Luce zombou.
Bianca trocou um olhar com Ruan que estava sorrindo, um aceno dele e as três correram para cima arrastando Maya junto delas.
— Mulheres. — Meu pai comentou acariciando os cabelos de minha mãe.
— Sogro você mal sabe o que passo com sua filha, Bianca é impossível, me leva fácil com essa carinha de fofinha.
— Bundão! — Soltei, rindo de seu comentário. Mesmo eu próprio sabendo do que minhas irmãs eram capazes, quantos problemas eu tive com elas e meus pais nem sonhavam.
Larguei meu copo na copa e voltei para o quarto encontrando-o vazio, voltei para o corredor ouvindo as risadas acaloradas de minhas irmãs no quarto de Gabriela. Preferi deixá-las em paz a mexer com três dragões prestes a cuspir fogo contra mim.
Troquei minha bermuda por uma calça preta, coloquei uma camisa de botão também preta. Como homem era prático!
Ruan também já estava pronto aguardando as meninas descerem. Estávamos discutindo sobre o carro que sairíamos quando Bianca pigarreou arrastando nossa atenção para elas.
Bianca usava um vestidinho preto, isso mesmo um vestido que se eu fosse seu futuro marido teria mandado trocar na hora, até me tocar que todas estavam assim. Bem maquiadas e com vestidos curtos, passei meus olhos por Luce em seu estilo gótico chique, um conjunto de saia e uma blusa pequena mostrando sua barriga colada em seu busto, ambos de couro.
Gabriela que sempre foi discreta para suas roupas, mostra que eu tinha ficado muito tempo longe de minhas irmãs. Seu microvestido azul colado, mostrando suas longas pernas a deixando mais alta.
Mas foi Maya que fez minha respiração travar na garganta, seu vestido prateado reluzia nas luzes da sala, seus cabelos caindo nos famosos cachos grossos, a boca num vermelho chamativo, atraindo minha atenção para o que eu já tinha provado ter um gosto delicioso.
Fui até ela trazendo seu corpo para o meu, depositei um beijo em sua bochecha para não borrar seu batom. Tracei um caminho de beijos até seu pescoço, vendo toda sua pele ficar arrepiada.
— Precisava de toda essa produção? —Questionei mordendo de leve o lóbulo de sua orelha. Ela soltou uma risada baixa, apenas para nós dois.
— Apenas o melhor para você, senhor Amell. – Retribuiu o sussurro.
A divisão ficou em dois carros, o meu e o de Gabriela. Ambos como o motorista da rodada, Bianca e Ruan foram com Gabi, enquanto Luce foi comigo e com Maya.
Luce já foi causando desde que saímos de casa, plugou sua playlist com funks , fazendo meu sistema de som explodir com as batidas altas e graves da música.
— Desde quanto você escuta esse tipo de música? — Perguntei gritando por cima das batidas, eu não tinha um tipo de música preferido, já fui a diversos bailes funks com meus amigos só para ver as meninas empolgadas com as batidas dançando até o chão.
— Não sou mais uma garotinha meu irmão. – Disse rindo.
Maya se balançava ao ritmo da música, sorrindo para mim. Sua mão sobre minha coxa subindo e descendo, passando rente à minha virilha e depois descendo, só para repetir todo o processo me provocando.
Em frente da balada era uma exibição de carros luxuosos, conseguimos duas vagas um pouco distante da entrada com uma fila quilométrica. Maya prestava atenção no telefone, desliguei o carro destravando as portas.
Ruan já estava contendo uma Bianca empolgada ao extremo, dei uma olhada para as mulheres na fila, algumas encarando a BMW de Gabi e a Land Rover, Maria gasolinas .
Olhar a balada em si, me lembrou de minha caixa postal lotada de mensagens da ruivinha peituda e algumas de Sofia, ou como estava gravada em minha agenda a Sofia Depravada. Isso era um costume, cada mulher sendo ela atirada ou não eu anotava seu nome seguido de um apelido, geralmente marcado por seu desempenho. Para as mulheres que eu não recordava o nome deixava apenas o apelido.
Maya grudou seu corpo no meu, andando no mesmo compasso. Levando-nos para os seguranças armários que olhavam as pulseiras das pessoas na fila e liberavam a entrada. Reparei quando um homem com o pescoço cheio de correntes de ouro saiu encarando Maya com um sorriso.
Ela se virou notando a presença do estranho que a puxou para um abraço caloroso, que meu deixou respirando fundo para não o empurrar para longe.
— Otávio, Luce, Gabi, Bianca e Ruan esse é o Brian. —Fez as apresentações.
Apertei firme a mão que o tal Brian estendia para mim, olhando para os olhos tranquilos e despreocupados de Maya, vendo até onde ela iria com isso.
— Brian esse é meu namorado. —Disse voltando para meu lado. Fazendo meu mau humor ser um pouco contido.
— Muito prazer, cara, meu irmão é vizinho de Maya. – Seu sorriso parecia sincero. – Adorei saber que vocês estavam vindo. Finalmente uma folga em Maya.
Maya deu seu grande sorriso, com um dar de ombros.
O tal de Brian retirou algumas pulseiras florescentes do bolso da calça entregando para nós, chamou um dos seguranças explicando que éramos clientes VIPs, permitindo nossa entrada na balada.
As luzes pulsavam, corpos dançavam ao ritmo da música alta, mulheres de todos os tipos rebolavam chamando atenção dos homens, Maya nos levou até o mezanino. Um espaço com sofá e pufes estava vazio, as meninas logo correram para o sofá entrando em uma conversa animada sobre a balada, o DJ...
Encostei-me à grade, Ruan ao meu lado dando uma olhada para a pista de dança abaixo de nós enquanto as meninas pediam suas bebidas, a música eletrônica impedindo qualquer tipo de conversa, quase estourando nossos tímpanos.
Ruan me cutucou mostrando algumas mulheres se insinuando no andar debaixo, com certeza querendo ser convidadas para o camarote. Voltei minha atenção para o sofá onde minhas irmãs conversavam animadas, sentei-me ao lado de Maya, pondo uma mão sobre sua cintura.
Observava ela conversar com minhas irmãs, contagiando sorrisos. Fiquei admirando com suas várias camadas, enquanto na Scandallo era rude e agressiva, aqui estava livre como um pássaro posto para fora da gaiola. Perdi-me um pouco imaginando como ela teria sido se não tivesse seguido a vida de acompanhante.
O garçom trouxe oito doses de tequila colocando na frente das meninas junto com duas garrafas de água e uma cerveja, Gabi me passou uma garrafa e entornou a outra, olhando para os lados assim como eu fiz quando cheguei, analisando o ambiente.
Gabriela por viver no meio de leis e ordens era muito observadora, quando mais nova, minhas irmãs viviam implicando por ela não ter os mesmos interesses. Enquanto Luce e Bianca suspiravam por garotos, Gabi mantinha o foco em diversos concursos públicos que queria prestar.
Luce era uma baladeira nata, agitava as meninas para beberem suas doses, insistindo para elas dançarem perto da grade do mezanino, Maya dançava sempre me encarando. Aumentando o rebolado, deixando meu pau latejando dentro da calça.
Passei uns bons minutos nessa tortura silenciosa, meu pau já ereto na calça protestava, ficando até um pouco desconfortável com as demonstrações de Maya, ela segurando com uma das mãos a barra descendo até o chão, ou jogando seus cabelos para atrás, revelando seu pescoço. Dançando no ritmo das batidas do DJ, me atiçando, fazendo minha vontade de ir até lá e dar um jeito nela, só por me provocar, aumentar a cada segundo um pouco mais.
Larguei minha garrafa de água indo até ela a passos decididos. Estava começando a me sentir como um predador querendo dominar sua presa.
Colei meu corpo no seu, acompanhando seus movimentos e mostrando exatamente como ela tinha me deixado com sua dança. Fazendo o que tive vontade de fazer quando a vi pela primeira vez na boate, rebolando ao som de músicas sensuais e ousadas.
Aproveitei para beijar a curva do seu pescoço, sendo castigado com esfregadas de sua bunda em mim. Apertava a cintura de Maya como forma de aviso, escutando mesmo pelas batidas altas da música que ela ria.
Quando se virou mostrando o desejo enlouquecido que ela tinha me apresentado nas últimas vezes que ficamos sozinhos, cheguei mais perto do seu ouvido, para que ela me escutasse.
— O que você está me oferecendo?
Aqueles olhos verdes iluminados mostrando interesse em qualquer coisa pecaminosa que eu pensasse. Ri beijando seu rosto.
— Você quer ou vai pular fora? – Ela perguntou em meus lábios.
— Não sou de pular fora. — Disse desafiando seus pensamentos pervertidos.
Ela pressionou a mão aberta em meu peito, seu rosto assumindo aquele semblante de loba, me consumindo por inteiro. Olhei de relance para minhas irmãs que estavam dançando, Bianca prestando atenção exclusivamente em seu noivo, Gabi e Luce tirando fotos.
Ninguém notando o que estávamos prestes a fazer.
Maya dançava em minha volta tocando cada parte de meu corpo, sentia suas mãos em minhas pernas, minhas costas, seu corpo roçando sensual no meu.
— Estou com um desejo maluco. – Ela sussurrou para mim mexendo na barra do seu vestido. – Você consegue controlar isso?
Tomei sua boca na minha beijando de forma rude, mordendo seu lábio inferior, minha língua invadindo sua boca nem um pouco preocupado com espectadores. O tesão me consumia conforme nosso beijo se intensificava. Maya agarrou meu cabelo puxando-os, enroscando seus braços em torno do meu pescoço.
Ela foi me empurrando para atrás até que minhas costas batessem contra o vão de uma parede, nos enfiando em uma espécie de recuo escuro. Ela abria apressada os botões de minha camisa, beijando e lambendo meu peito.
Puxei uma de suas pernas para mim, sentindo a cinta liga, o salto enroscou em minha cintura dando o espaço que eu precisava para tocá-la.
Olhei mais uma vez, vendo se ninguém notava o que estávamos prestes a fazer no pequeno espaço escuro do mezanino. Mas eu não me importava. Nem um pouco, e, talvez uma parte primitiva de mim quisesse que alguém visse o que eu produzia em Maya, a forma como tocava seu corpo, como ela respondia aos seus instintos se entregando no meio de uma balada lotada. Levantei mais seu vestido colado abrindo espaço para meu membro, ela me ajudou abrir a calça, libertando meu pênis para penetrá-la com força.
Maya soltou um gemido alto em meu peito, suas mãos dentro de minha calça apertando minha bunda enquanto eu mantinha um ritmo rápido, não tínhamos tempo para preliminares.
O tesão só aumentava por ver sua intimidade inchada de prazer roçando quente sobre mim a cada vez que entrava ou saia de seu corpo, minhas unhas cravadas em sua bunda, sustentando uma de suas pernas enroscadas em minha cintura e a outra apoiada no chão apenas com a ponta de seu pé. Três fatores aumentavam a excitação que corria pelos nossos corpos, primeiro por fazer sexo em público, segundo por termos a mente tão pervertida que estava nos garantindo um sexo e tanto, e três pela posição, meu pau entrando e saindo, roçando toda a parede de sua intimidade pelo pouco espaço que tínhamos.
— Deus, você vai me matar. – Disse em seu ouvido, a respiração ofegante. Meu pau pulsava descontrolado dentro de seu corpo.
As luzes da balada estavam jogando claramente a nosso favor, não deixando que ninguém que passasse pelo mezanino nos visse na sombra. Eu entrava duro e escorregadio de tanto prazer e gozo que Maya lançava sobre mim, vi seus olhos se fecharem de prazer quando aumentei ainda mais nosso balançar. Puxei sua outra perna para minha cintura, pressionei com força sua cintura para cima e baixo me enterrando com força cada vez que descia sobre meu corpo. Seus gemidos aumentaram, tornando-se mais graves, mais esfomeados. Ela mordia meus lábios com tanta força que comecei a sentir o gosto de sangue deles e nem isso me fez parar. Muito pelo contrário foi à combustão que faltava para que eu atacasse seu corpo com mais vontade, morder seu pescoço sentindo meu gosto junto com o dela, suas mãos enlouquecidas arranhando meu peito.
E então o profundo orgasmo nos atingiu fazendo ambos estremecerem, puxei seu corpo agarrando mais contra o meu voltando a me encostar à parede. Maya recolocou as pernas no chão recompondo sua aparência enquanto eu fechava minha calça e minha blusa.
Trocamos algumas carícias e beijos rindo de nossa pequena peripécia, saindo de mãos dadas de nosso esconderijo. Dando de cara com o sofá onde minhas irmãs estavam, vazio. Maya trocou olhares de culpa comigo, me fazendo rir ainda mais de nossa pegação. Mesmo procurando eles pela balada, olhando para pista debaixo, tentando ver onde eles estavam eu sabia a resposta.
Busquei meu celular no bolso detrás do jeans vendo que tinha não só ligações perdidas como algumas mensagens de Luce avisando que Bianca tinha tomado mais tequila do que aguentava e eles decidiram voltar para casa.
Puxei a mão de Maya levando-a para fora dali, levando-a para onde queria. Claro que se conseguíssemos chegar até minha cama, senão pularia para o banco detrás do carro e faria amor mais uma vez com ela.
Capítulo 27
Parei o carro.
A noite trazia um vento gelado do mar, o céu mesmo sem lua ou estrelas estava belo. Olhei mais uma vez para Maya, dormindo enroscada ao meu lado. Por um instante queria apenas admirá-la.
— Maya?
Suas pálpebras tremeram evitando acordar, com um suspiro seus belos olhos verdes começaram se focar em meu rosto.
— Chegamos.
— Você é um anjo mau, sabia? Estou me sentindo tonta.
— Deve ter sido pelas doses extras de tequila. — Disse com um sorriso.
Maya inclinou-se sobre o meu banco para me beijar. Agarrou meu cabelo, na nuca, me prendendo por um tempo.
Segurei o queixo dela com a mão e retribui o beijo, mas logo a afastei suavemente, sugando seu gosto. Deixei meu dedo indicador sobre nossas bocas, separando-as.
— Eu sou. Não está vendo minhas asas?
Senti a mão subindo pelo meu joelho, coxa também, pelo lugar depois da coxa... O caminho todo até as costas e senti indo para baixo da minha camiseta.
— Não achei suas asas. Mas não sei se procurei com muita vontade.
Arranhão.
Com a outra mão, pegou o meu pulso. Deixei que fizesse o que quisesse.
Levou minha mão até seu rosto, mordendo meu indicador de leve.
Eu sorri.
— Se eu fosse você, fugiria.
— Mas você não é...
— Dez segundos de vantagem.
— Isso é uma insinuação de que eu tenho alguma deficiência ou...?
— Eu poderia abusar de você.
— Então abuse. – Disse com tom de voz de "você não é capaz" .
— Acredito que já tenhamos abusado da cota de exposição por hoje.
— Obrigada pela análise, mas não dizem que adrenalina faz bem para o corpo, além de levar você a fazer o que não tinha coragem? Então. É meu caso. Hoje não vou fingir ser louca por você. Vou mostrar o quanto eu sou...
Voltou a me beijar, dessa vez com mais vontade. Mantive os olhos abertos.
— Você não acha — eu disse relutante entre o beijo, incomodado sobre o nosso fingimento, na altura do campeonato eu já estava acreditando que tínhamos parado com isso e realmente estando um com o outro e não fingindo. — Que talvez seja hora de entrar?
— Boa ideia... — ela sussurrou com a boca colada na minha.
Eu ri.
— Ou... A gente pode ficar aqui no carro e aproveitar o seu banco detrás. Adoro banco de couro.
Essa mulher estava me enlouquecendo.
— Ok — ela disse quando viu minha expressão, levantando as mãos como se rendesse. — Mas eu vou precisar de ajuda.
Desci do carro e corri até a porta dela, abrindo-a em seguida. Estendi a mão e ela a pegou. Andamos em direção a casa e ela entrelaçou os dedos nos meus, apertando nossas mãos. Aquela sensação tomando conta do meu corpo mais uma vez. Maya tropeçou algumas vezes, nos próprios pés e ria alto de si mesma, o som ecoando pela rua vazia. Soltei sua mão quando chegamos à entrada lateral do gramado e me virei de frente para ela.
—Consegue andar pelo gramado de salto?
— Se eu cair terei você para me agarrar. — Respondeu, com um sorrisinho.
E lá vamos nós...
Estendi a mão, segurando a sua novamente.
Tirei a chave do bolso lateral prestes a abrir a porta de vidro, Maya foi mais rápida roubando o molho de chaves de minha mão enfiando no próprio decote.
— Antes, vem pegar. — disse indicando o brilho prateado das chaves no meio de seus seios.
Tive a leve, levíssima impressão que ela não se referia apenas a chave.
Ok, sei jogar esse joguinho. Puxei-a pela cintura, chocando seu corpo ao meu e não desgrudei meus olhos dos dela. Desci minha mão, passando por seu rosto, seu pescoço até chegar ao decote volumoso e enfiei a mão nele, pegando as chaves em seguida.
Confesso que deixei a mão lá um pouco mais do que o necessário, alisando um pouco seus seios. Como ela estava sem sutiã tinha acesso livre sobre eles e aproveitei para apertar e acariciar de leve os bicos, arrancando um suspiro ofegante dela.
Sorri. Ela sorriu de volta como se dissesse "perdi a batalha, mas não a guerra". Andei até a porta e enquanto tentava abrir, um pouco atrapalhado com as chaves, senti uma mão subindo pelas minhas costas, por baixo da camiseta... Derramando arrepios gostosos por minha coluna.
— Você não cansa?
— De mexer com você? Eu não.
Ri de novo. – Você vai me enlouquecer. – Sussurrei de volta.
— Sério... — enquanto descia a mão para minha bunda. — Se eu fosse, sei lá, dona do mundo? Eu ia decretar uma lei onde homens gostosos como você não pudessem usar camiseta. Nunca, ainda mais com essa tatuagem.
Virei-me.
— Você deve dizer isso para todos seus clientes. Ou está pelo efeito da tequila.
Tentei falar no tom mais sério possível. Ela ficou na pontinha dos pés, pegou meu rosto entre as mãos e me deu um selinho, depois fez um bico. Derreti um pouco.
— Talvez sim ou talvez não — um sorriso maroto cruzou seus lábios. — Você quer descobrir?
— Maya... — repeti. — Vou te colocar na cama.
— Apenas me colocar?
Fiz uma falsa careta.
Entramos em casa, ela puxou meus braços por cima dos ombros. Abracei-a por trás, dei um beijinho na bochecha enquanto subia com ela para o quarto, tentando fazer o mínimo de barulho possível evitando acordar minha família que já tinha ido dormir.
Depois que tive certeza que ela não ia vomitar tudo que tinha bebido, coloquei-a na cama e deitei com ela.
— Otávio? — com a voz sonolenta.
— Maya — respondi.
— Obrigada.
— Por?
— Não ter se aproveitado.
Mais 10 minutos.
Virei ficando de frente para ela.
— Maya?
— Otávio... — sussurrou com a voz rouca, ainda de olhos fechados.
— Dorme bem.
Mais uns beijos.
Seu corpo se enroscou no meu, prendendo minhas pernas entre as suas, impossibilitando minha saída. Tirei uma mecha longa que caia pelo seu rosto, olhando os pequenos detalhes. A curva de sua sobrancelha, seus lábios vermelhos de tons naturais.
Suspiro e um sorriso.
Deixei meu corpo relaxar em sua companhia.
Capítulo 28
Os raios de sol se infiltravam através da janela me aquecendo e acordando mais cedo do que eu faria, música alta entrava acompanhando a claridade, pelo visto todos já estavam acordados e animados. Sem nem precisar olhar, sabia que estava sozinha. Apertei os olhos verificando as horas no telefone. Eram 10 horas.
Joguei-me de novo na cama aproveitando a leve preguiça se dissipando de meu corpo, decidindo se voltaria a dormir mais um pouco ou sairia para procurar meu cliente.
Cliente. Isso já não fazia mais sentido, nem mesmo em meus acessos de raiva eu tinha realmente encarado Otávio como um cliente, nossa situação estava mais para uma relação descontrolada, algo que ia do puro ao pecaminoso em questão de segundos.
Como se fosse uma corda bamba, por mais que tivesse a linha andar fora dela ou cair era mais atrativo.
Um riso bobo se infiltrou em meu rosto lembrando-me de nossa noite e como foi bom depois de nossa exibição deitar ao seu lado e adormecer enrolada em seu corpo, sentindo seu cheiro e as batidas do seu coração.
A porta do quarto abriu e Otávio apareceu carregando uma bandeja com o café da manhã nas mãos.
— Vejo que já acordou. — Disse ele, me sentei, o cheiro do café e os pães acordando não só a mim como meu estômago também. – Nesse momento estou mostrando para minha família que homem maravilhoso eu sou trazendo seu café na cama.
Otávio piscou colocando a bandeja no meio da cama.
— Realmente fazendo isso quase posso me convencer de tal coisa.
Apesar do café realmente estar me deixando ainda mais faminta, o que estava mesmo me dando água na boca era a visão de Otávio parado na ponta da cama, descalço e sem camisa. Aquele conjunto de tribais se insinuando para mim, deixando minha boca seca com vontade de percorrer com a língua cada traço.
— Se eu fizesse isso você acreditaria em minhas ações? – Ele desamarrou o cordão de sua bermuda, deixando-a cair no chão expondo seu pênis já ereto. Deslizou pelas cobertas emboladas, empurrando a bandeja para longe de nós. Suas mãos subindo pelas minhas pernas nuas. – Você infelizmente comerá seu café frio.
Murmurei agarrando seu pescoço colando nossos lábios.
— Acho que café frio está perfeito.
Já passava dá uma da tarde quando finalmente saímos do quarto, Otávio usando uma bermuda, sem camisa, exibindo seu peitoral e aquela bendita tatuagem. Prendi meus cabelos revoltos em um rabo de cavalo, uma opção rápida e muito agradável para o calor que nos consumia na tarde ensolarada. Um vestido creme solto com um conjunto novo de biquíni.
Encontramos todos sentados na beira da piscina, Luce tomava sol na beirada oposta do gramado. O resto estava sentado ou dentro da piscina, meus olhos foram para Hugo que me encarava junto de Gabriela, seu sorrisinho cínico no rosto.
— Olha quem decidiu se juntar!
— Fique quieta Luce. — Otávio repreendeu com um sorriso.
— Achamos que vocês ficariam no quarto durante o dia todo procriando como coelhos. – Bianca comentou.
Minhas bochechas ficaram quentes, Otávio fechou o semblante olhando para ela dando uma bronca silenciosa.
O pai de Otávio coçou o bigode grosso, um gesto tão natural que deu a impressão dele fazer com frequência.
— Parem de deixar Maya constrangida. — Sua voz soou como um trovão, calando as piadinhas de todos. Percebi que ele era quem tinha o comando daquela mulherada. — Maya fique à vontade, se alguma de minhas filhas incomodarem você pode falar comigo. – Seu tom charmoso e agradável, um leve sotaque revelando suas raízes britânicas. — Acredito que elas ainda se lembram do galpão.
Tanto Gabriela como Bianca saíram de perto dele correndo para o outro lado da piscina rindo como crianças, Otávio gargalhava junto com a mãe vendo suas irmãs fugirem apenas com as palavras de seu pai.
— O que seria o galpão? — sussurrei no ouvido de Otávio.
— Galpão é onde meu pai costuma guardar os equipamentos e seu velho jipe, as meninas ficaram presas um dia inteiro lá dentro quando eram mais novas, depois disso passou a ser a desculpa para meu pai domar as três.
— Não deve ter sido muito agradável. — Comento contendo o riso.
— Pode apostar que não. — Ele exibia seu humor, relaxado curtindo esse período com a família.
Otávio nos puxou para um sofá de dois lugares, enrolando minhas pernas em cima das suas. Suas mãos passando possessivas sobre a curva do meu joelho.
— Quem diria meu amigo finalmente apaixonado. – Hugo gritou chamando nossa atenção para ele.
As meninas riram, colocando nós dois novamente no fogo cruzado de piadas.
—Aahh maninho, é culpa sua. – Luce gritava no gramado. – Ninguém mandou só trazer mulher sem cérebro para cá. Maya é a primeira decente.
Hugo gargalhou, e, eu sabia muito bem o porquê.
— Chega disso, sabem muito bem que não gosto.
Percebi o olhar duro que Otávio lançou para seu amigo, uma conversa em silêncio foi trocada pelos dois. Fingi que não estava reparando, puxando a atenção dele para mim.
Inclinei um pouco mais meu corpo para o dele.
— Relaxe bonitão eles estão brincando. — Mesmo querendo mandar seu amigo a merda, entrei na brincadeira.
— Filho, não deixe suas irmãs irritarem você, estávamos vendo o quanto Maya é apaixonada por você. – Karla voltou trazendo uma rodada de canapés em uma bandeja decorada colocando na mesa de centro. – Só me pergunto, se já notou como você próprio está apaixonado.
Otávio não respondeu, ambos ficamos rígidos pelo comentário de sua mãe. Ele olhou para mim por alguns segundos, pude ver indecisão em seus olhos azuis como o céu daquele dia.
O que quer que tenha decidido puxou-me para mais perto colando minha cintura com a dele, roçando seu nariz em meu pescoço. Mesmo prometendo que nossas atitudes seriam como um casal pleno e feliz. Pelo benefício de nosso contrato, esse simples movimento parecia diferente. Como se quisesse acreditar na possibilidade do que sua mãe disse.
Um relacionamento de verdade.
Capítulo 29
Alguns amigos e parentes começaram a chegar deixando a casa um pouco tumultuada, Maya foi apresentada para tios e primos, Bianca fez questão de apresentar ela como sua cunhada para cada amiga.
Estava com meu livro aberto, meus óculos de leitura descansando baixo em meu nariz, que a muito já havia parado de prestar atenção. Meus olhos encontrando por vezes os de Maya, sentada a uma distância com Luce, um copo de suco apoiado em sua perna grossa. Iniciando nosso próprio jogo de preliminares secretas. Despindo um ao outro com os olhos.
Meus pais tinham entrado com meus tios, deixando a área externa apenas para nós, Gabriela havia sumido há algum tempo também, Bianca ria alto com suas amigas, bebendo suas bebidas e provocando Ruan que tinha se sentado na beirada da piscina com Hugo.
Passamos o final da tarde assim, jogados na área da piscina.
Maya retornou para meu lado se jogando no sofá e sem pedir licença apoiando sua cabeça em meu colo. E tendo os mesmos reflexos espontâneos que ela, meus dedos enrolando-se em seu cabelo soltando seu elástico deixando que a cascata negra de cabelos caísse sobre mim.
Aos poucos a piscina foi ficando vazia, Luce tinha saído buscando diversão com Hugo depois do jantar. Bianca e Ruan tinham deitado no outro sofá ficando de bobeira junto comigo e com Maya. Gabriela retornou para o quarto alegando estar ocupada com as papeladas de um processo, meus pais tinham dado uma passada pela sala, mas também decidiram se retirar para o quarto.
Até o Buddy que fugia do calor sempre preferindo suas longas sonecas no quarto, devido ao ar condicionado deu o ar da graça trazendo sua coleira na boca.
— Vamos dar uma caminhada?
Maya ergueu seus olhos. — Sim.
Enrolei meu braço em sua cintura trazendo Maya para mais perto, Buddy indo em nossa frente jogando areia por todos os lados, mais do que feliz por correr. Na volta veio rondando Maya assim como eu, riamos quando o cachorro disparava, novamente, em direção ao mar.
A areia branca ainda morna do dia ensolarado, as ondas quebravam um pouco mais à frente agitadas com a maré alta. E tudo que eu queria no momento era ver como os cabelos longos e negros de Maya refletiam a lua cheia no céu, ou como sua pele dourada ficava bonita arrepiada sob o vento que vinha do mar.
Nossos olhos se encontraram, puxei seu rosto pelo queixo trazendo para meus lábios, saboreando Maya com gosto de mar. Resisti à vontade de tirar seu vestido, dando uma boa olhada para ele colado no corpo violão dela.
— Vamos jogar?
Olhei para seu rosto retribuindo o sorriso que ela me dava.
— Que jogo seria esse? — Perguntei ainda com nossos corpos colados, suas mãos entrelaçadas em minha nuca e as minhas em seu quadril.
— Vamos nos conhecer de verdade.
— Acredito que te conheço bem. — Respondi de modo malicioso.
— Não, não.
Olhei para seu rosto novamente, tentando entender onde ela queria chegar com tudo isso.
— Faremos assim, uma vez para cada. Na sua vez, pode fazer qualquer pergunta ou falar algo sobre você mesmo. Apenas a verdade. — Ela me alertou.
— Tá certo, começo.
Maya fez um gesto se afastando de meu corpo para caminhar ao meu lado.
— Tenho pavor de gatos. — Confessei.
Maya me olhou com os olhos arregalados.
Balancei a cabeça afirmando o que tinha dito, acostumado por essa reação.
— Como assim você tem pavor de gatos?
Eu ri antes de confessar como começou esse pavor.
— Eu tinha uma namorada, isso foi na época de faculdade. Ela tinha um gato, um dia quis fazer uma surpresa, corri para seu quarto enquanto ela tomava banho. Bem você pode imaginar, o gato agarrou bem lá... — Maya me olhava rindo, uma das mãos na boca tentando esconder sua diversão. – Pode rir, depois disso evitei contato com ela e com seu gato doido.
— Tirando o fato de isso ser hilário, eu tenho uma gata.
Olhei para ela tentando ver se estava zombando de mim.
– Sério? Espera um pouco... Sua gata é caramelo, com cara emburrada? – Questionei me lembrando quando conheci Jaqueline no elevador do meu prédio.
— Sim, ela se chama Nica. – Ela parou virando-se para mim.
Que destino!
— Por que parece que você vê pouco suas irmãs?
— É sua vez?
— Acredito que sim.
— Acho que por termos vidas completamente diferentes, Bianca mora em Santos, onde cursa faculdade de veterinária. Gabriela mora no Rio, é sócia de um grande escritório de advocacia, sua vida se consome em protestos. — Olhei vendo Buddy voltar de sua corrida noturna, seu rabo balançando como um grande abanador. Sentei na areia fofa, Maya seguiu meus passos. — Já Luce sua paixão é moda, ela viaja o mundo todo com sua grife e as modelos neuróticas.
— E você almeja a Diretoria? — Maya questiona.
— Sim, trabalhei duro para estar aonde cheguei, mesmo tendo uma vida muito boa. Queria algo vindo do meu esforço.
Dou de ombros.
Ficamos um momento em silêncio. — Minha vez, você nunca mais procurou seus pais?
Seus olhos se contraíram, quase imperceptivelmente.
— Apenas uma vez, André que atendeu. – Ela evitou olhar em meu rosto enquanto dizia, preferindo mexer na areia com os pés. — Foi tão bom falar com ele, hoje deve estar um homem feito.
Seu corpo tremeu me senti culpado por tocar num assunto tão delicado . Imbecil!
Passei meus dedos por seu rosto virando para mim, seus olhos verdes com as pupilas grandes, aquela boca rosada.
— Desculpe, Jujuba.
Ela exibiu um pequeno sorriso.
Capítulo 30
A calmaria da noite estava sendo atrapalhada por nossas respirações fortes e agitadas. Nossos olhos fixos, mesmo meu peito ainda apertado com a menção de meu irmão. Fiz uma prece aos céus que ele estivesse bem, assim como meus pais.
Voltei minha atenção para Otávio, seu peito nu escurecido sobre o brilho da noite. Seus ângulos fortes e a forma como seu abdômen formavam pequenos gomos, sua bermuda branca caindo sobre a coxa dobrada revelando sua perna. Tudo isso era um conjunto perfeito, traços que mexiam com algo implantado dentro de mim, algo ligado ao fundo de meu âmago, fazendo com que eu queira sua aproximação.
Fixei meus olhos nos seus, vendo o desejo refletido neles. Nesse instante deixei de fora todas as dúvidas, preocupações, medos e principalmente o que seria de nós quando meu contrato com ele acabasse. Lógico que ele seria aprovado na promoção e não precisaria mais de mim. Quanto a sua família seria apenas mais uma que passou pela vida deles, logo eu que já me sentia apegada a cada um. Forcei tudo isso para fora da bolha que eu mesma coloquei sobre nós deixando apenas eu e Otávio, o mar quase alcançando nossos pés, Buddy deitado alguns metros da gente.
— Venha aqui minha Jujuba.
Um gemido baixo soou pela sua garganta, me atraindo de forma eficiente para ele. Parei para tirar meu vestido, jogando ao meu lado, mostrando meu biquíni vermelho. Minha pele toda arrepiada com o vento frio, o que pouco me importava.
Otávio traçou o caminho do meu umbigo até o meio de meus seios, passando a mão por meu pescoço, tirando as mechas de cabelos que voavam colando em meu rosto.
— Tão linda. — Murmurou, seus lábios dominaram os meus, dedicando e reivindicando cada pedaço do meu corpo, meu queixo, minha orelha, meu pescoço. Otávio me deu um beijo na testa antes de se afastar ficando de pé. Retirou a bermuda ajeitando esticada sobre a areia, fazendo a mesma coisa com meu vestido antes de se ajoelhar em minha frente.
Ele me deitou sobre nossas roupas, ficando sobre mim, apoiado nas palmas das mãos, sua boca desceu sobre meus seios, beijando e lambendo a curva sobre o biquíni, foi mais para baixo beijando minhas costelas, em torno do meu umbigo, por toda minha barriga. A sensação de sua boca em mim invadia meu corpo e meu coração, preenchendo de amor e sensações que só Otávio poderia fazer, isso eu tinha certeza.
Um gemido incoerente escapou de meus lábios, não me importando para suas mãos cheias de areia passando pelos meus braços. Otávio me beijava com volúpia, devorando cada pedaço de pele que ele traçava. Beijou perto do nó do biquíni desfazendo com os dentes, seus cabelos tapando minha visão de seu rosto. Suas mãos apertando meus seios, sua boca perto de minha virilha chupando.
Faziam meu corpo tremer enlouquecido.
Puxei seu corpo colando-o ao meu, rolando sobre ele me dedicando em seu corpo do mesmo jeito que ele fez, beijando cada traço que ele exibia na luz da lua. Afastei minha boca de sua barriga olhando para cima, Otávio me olhava com um sorriso satisfeito no rosto. Fiquei de quatro abaixando devagar sua sunga, dando um sorriso malicioso para seu membro ereto. Com ajuda dele subi sobre seu corpo me erguendo quando seu pênis raspava minha intimidade, afundando-me devagar deixando meu corpo se alargar com ele entrando aos poucos. Gemidos fugiam por nossas gargantas, Otávio sentou juntando ainda nossos corpos, fazendo nosso ritmo aumentar. Levando-me a sucumbir ao seu controle, não tínhamos o que negar. Queríamos um ao outro, mesmo não dizendo uma palavra, queríamos que isso não acabasse. Entreguei-me a ele de todas as formas que ele estivesse disposto a exigir. E a cada movimento Otávio me ensinava uma nova maneira de adorá-lo, de me sentir desejada. Como se nossos corpos fossem duas peças perdidas de um quebra-cabeça, se encaixando com perfeição.
E então na luz da lua, naquela praia deserta, apenas nós e toda aquela perfeição. Aos sons do mar batendo na areia em seu eterno vai e vem refletindo nossos desejos e movimentos, refletindo nossos dias de aproximação e afastamento devido nossas dúvidas e receios. Nós entregamos ao orgasmo mais verdadeiro que tínhamos sentido até o momento.
Capítulo 31
Deitados sobre nossas roupas, Maya sobre meu peito rindo, tentando tirar um pouco da areia que cobria a gente.
— Acho que terei que entrar no mar.
— Culpa é sua. Você fica brincando comigo desse jeito, usando meus sentimentos, mexendo com uma fera. — Brinquei.
Maya balançou a cabeça e retribuiu o meu sorriso da melhor maneira que poderia fazer. Mas percebi que ela acabou não levando em brincadeira o que tinha dito.
A verdade é que enquanto estávamos fazendo amor na praia, eu senti sua entrega, do mesmo jeito que me entreguei para ela. E agora, ambos tínhamos erguido suas muralhas.
— Não estou brincando com você. — Maya pronunciou de forma séria. Ela se sentou ajeitando seu biquíni escondendo sua nudez.
E aquele momento de sintonia e entrega tinha passado, assim como o vento ficou mais forte e gelado. Subi a sunga ficando de pé.
— Estou apenas fazendo meu trabalho, — continuou ela, seu olhar foi para o mar, ignorando meu rosto. – Estou recebendo para isso, lembra?
Um silêncio desconfortável nos atingiu, fiquei sem palavras por ela quebrar um momento tão bonito que tivemos com essa história de trabalho.
— Maya eu não me envolvi com você por que estou pagando. Sexo não estava em meus planos, mas aconteceu. Não podemos negar que estamos envolvidos.
Ela respirou fundo ficando de pé, bateu a mão pelo corpo retirando um pouco da areia de suas pernas.
— Temos que ser honestos Maya, estamos envolvidos um com o outro. – Disse olhando para sua silhueta de costas para mim, seu cabelo chicoteava o ar, seus olhos fixos no mar.
— Sabe, no fundo, por um motivo egoísta. Eu não queria que você fosse promovido. – Ela se virou com um sorriso para mim. – Eu não quero que isso acabe.
— Maya...
— Relaxa bonitão, isso vai acontecer uma hora ou outra e todos retornaremos à realidade. Ficaremos com isso, nossos momentos na memória. – Com os olhos fixos nos meus, Maya se aproximou, roubou um selinho suave. Seus olhos verdes queimando nos meus.
— Gosto de estar com você, isso chega a assustar.
— Eu também gosto. – Ela confessa.
— Espero que não esteja referindo-se a você mesma. — Disse sorrindo.
Ela ri, levando as coisas para um nível mais leve.
— Acho que quebramos a regra principal.
— Qual seria? – Questionei.
— Não se envolver com a acompanhante que você está pagando.
— Maya, pare de se referir a si própria assim!
Ela pescou o vestido, Buddy ficou de pé pronto para retornar vendo nossa movimentação.
— Tudo bem, bonitão. Vamos voltar.
Maya trocou o banho de mar pelo da ducha e a piscina, estávamos subindo a escadaria quando comecei a ouvir a voz de Hugo e Luce. Ambos rindo animados na beira da água.
— Fala maricón !
— Quanta animação.
— Digo o mesmo para vocês, — Luce apontou para mim e Maya apenas de biquíni. — Foram até o mar?
— Sim, fomos dar uma volta com Buddy. — Mostrei o caminho para a ducha, já puxando a mangueira para lavar Buddy. Que ficou mais do que feliz por se ver livre de toda aquela areia grudada em seu pelo.
Voltei até Maya grudando seu corpo no meu debaixo da água fria do chuveiro externo. – Vou para o quarto você quer mesmo ficar na piscina?
— Quero, não estou com um pingo de sono.
— Tudo bem, — puxei seu rosto para o meu, senti que ela precisava desse momento. —Obrigado pela noite maravilhosa, por estar aqui comigo.
Maya abriu um verdadeiro sorriso, exibindo aquelas covinhas tão desejáveis. —Obrigada você. Estou adorando estar aqui. – Pude ver a verdade por trás de suas palavras o que me deixou contente.
Despedi-me dela no alto da escada com um beijo profundo em seus lábios, estava ficando dependente de seu gosto. Decidi fazer uma surpresa para quando ela aparecesse no quarto, dei meia volta indo para a cozinha pegando tudo para nossa noite.
De banho tomado, o quarto coberto de velas aromáticas que roubei do banheiro de minha mãe, uma bandeja de morangos e o champanhe já aberto no gelo esperaram, escutando os passos de Maya no corredor. Como apenas nós dois estávamos nos quartos desse corredor não seria outra pessoa além dela que apareceria pela porta.
Maya parou olhando o quarto banhado pela luz bruxuleante das velas, seus olhos indo de mim para o quarto novamente. Levantei-me da cama puxando-a para meus braços, afastando seus cabelos dos ombros, admirando como um bobo sua pele, seu cheiro natural, algo misturado com mel e hortelã.
— Gostou de minha surpresa? – Perguntei sorrindo.
— Lindo. — Sua voz saiu num sussurro quase inaudível.
Gosto de como estamos, eu sentado no meio das velas, Maya nua no meio de minhas pernas, de costas para mim, mas ainda assim conseguia ver seu rosto, basta me inclinar um pouco para a direita. Seu corpo esquentando o meu com seus toques delicados sobre minha coxa, uma de minhas mãos está sobre seu seio, passando por sua barriga que se arrepia com o contato. Bebo um gole de meu champanhe, deixando os lábios gelados. Provocando aquele pedacinho de pele debaixo de sua orelha, fazendo-a sorrir, seu rosto calmo, tranquilo como eu tanto queria, que ela se libertasse das coisas que pensava ou que sentia. Estando apenas comigo, curtindo nosso momento.
Linda como sempre.
Como se pudesse ler minha mente, ela se vira e abre um sorriso. Adoro vê-la assim, tão descontraída... tão jovem. Quero fazê-la se sentir assim mais vezes. Na verdade, quero tanta coisa que nem sei reproduzir corretamente em pensamentos, que dirá em palavras, apenas quero-a aqui, comigo.
Fico pensado que poderia me aventurar para algo sério, um relacionamento... Quem sabe? Depois da loucura do casamento ou durante ele, posso acabar de vez com essa farsa de namorada e torná-la realmente minha, minha namorada.
Poderia ser apenas algo como uma fantasia, mas eu não via Maya negando, mesmo que tivéssemos sua profissão como empecilho. Claro que manter seu trabalho depois de colocar uma aliança de compromisso em seu dedo está fora de cogitação. Nem pensar, vou aceitar ela continuar trabalhando para Royalt Luxor sendo minha verdadeira namorada.
Maya deita sua cabeça sobre meu ombro, espalhando sua cascata negra de cabelo por meu peito fazendo cócegas. Porra como é perfeita. Desço a mão para a curva de seu quadril e ela se encosta mais em mim, se mexendo.
Ela se vira um pouco roçando mais de sua pele em mim, com as mãos vazias depois de ter colocado sua taça de champanhe no chão, ela me lança um sorriso safado.
Levanta uma das mãos e corre os dedos pequenos pelos meus cabelos, pousando a outra mão sobre a minha.
— Continua. — Imploro por seu toque.
— Tem certeza? — Ela puxa meus cabelos.
— Porra, tenho muita certeza. — Respiro fundo e levo uma das mãos a sua nuca, encostando a boca em sua orelha. – Seja minha, Mia. — Aperto seu quadril.
Ela faz exatamente isso. Seus olhos verdes chamando o desejo que existe dentro de mim, como se a deusa dela se comunicasse com o monstro sedento dentro de mim. Enfio a mão no meio de suas pernas sentindo sua intimidade molhada, quente e pulsante.
— Bonitão. — Ela geme quando coloco meus dedos dentro dela.
— Minha jujuba.
Ela responde aos meus toques se remexendo, soltando pequenos gemidos. Repousa a cabeça em meu ombro e puxa meus cabelos da raiz. Enfio e tiro o dedo de dentro dela, em respostas de suas reboladas. Quase no mesmo instante, suas pernas se enrijecem e eu sei que ela deseja e busca pelo orgasmo.
Maya murmura, mostrando que estou lhe proporcionando prazer. Suas unhas se cravam em minha barriga, fazendo meu corpo estremecer.
— Eu vou...— Geme contra meu pescoço.
— Eu sei, linda. Goza pra mim. Goze quantas vezes seu corpo puder. — Eu a incentivo.
Ela morde meu pescoço e eu sinto meu pau pulsar, pressionando suas costelas. Todo o peso dela cai em meus braços enquanto ela tem um orgasmo e eu nos mantenho assim, enquanto saboreio de seus espasmos. Ela está ofegante, corada, brilhando sob as luzes quando levanta a cabeça.
— Quero você.
— Você já me tem. — Digo sorvendo sua boca.
— Aqui mesmo ou no chuveiro? — Pergunta quando levo os dedos aos lábios, sentindo o gosto dela.
— Banheira. – Respondo, ela bebe o resto do seu champanhe e vamos para mais uma sessão de amor.
Capítulo 32
O dia começou agitado, na hora do almoço todos se prepararam para o ensaio que teríamos antes do grande momento. Bianca preferiu marcar seu ensaio com alguns amigos que seriam padrinhos, familiares e o padre.
Todos nós ficamos escutando uma boa hora o padre dando explicações para os padrinhos e madrinhas, assim como para Bianca e Ruan. Se eu tinha reclamado que a casa estava uma bagunça só, entre o final da tarde e à noite tinha virado um verdadeiro hotel, o entre e sai constante das amigas de Bianca, Ruan com seus padrinhos que chegaram pela manhã e depois de se livrarem das obrigações do casamento, decidindo encher a cara. Estavam tornando tudo um caos, se um dia eu casasse teria uma cláusula específica que só teria eu, ela e um padre para oficializar tudo.
Quando meu corpo tocou a cama naquela noite eu simplesmente agradeci, Maya tinha ficado na sala fazendo companhia para minha mãe, em uma animada conversa sobre a medicina, ramos e futuro na profissão. Resolvi deixá-la, me refugiando no silêncio de nosso quarto.
Devo ter adormecido, pois não me lembro de vê-la entrar, apenas que puxei seu corpo para o meu no meio da noite.
Então chegou o grande dia, e, como em um casamento todos estavam loucos, enquanto o Buffet e o pessoal da decoração corriam preparando o gramado para a cerimônia e a festa à noite. A equipe de manobristas que meus pais haviam contratado seguiam Ruan para a outra entrada da casa, vendo onde todos seriam recepcionados.
Flores passavam de um lado ao outro, luzes e fios dos DJs desciam para onde seria montada a enorme pista de dança. As madrinhas corriam pelo gramado com grandes bolsas, vestidos em seus sacos protetores...
No meio de toda essa loucura ainda tinha minha mãe preocupada com a hora, Bianca tendo crises nervosas, Luce debochando, Gabriela arrastando Maya para ajudar na escolha de acessórios e sapatos. O único que se manteve o tempo todo tranquilo sem proferir um grito com todas essas mulheres foi meu pai, que se divertia sentado no deck com uma garrafa de cerveja na mão vendo o corre e corre pela casa, a choradeira de Bianca com medo que algo desse errado.
Maya e eu nós vimos muito pouco durante o dia, Hugo e Ruan preferiam ficar longe das mulheres, saindo para tomar uma cerveja e jogar vôlei na praia com alguns dos padrinhos. Mesmo Ruan sofrendo com as mensagens malucas de minha irmã falando sobre atrasos e que arrancaria nossos olhos se acontecesse algo porque decidimos sair.
Particularmente eu tinha gostado do fato de Ruan distrair e ocupar a boca de seu irmão com besteiras, assim ele tirava o foco de mim e de Maya. Além de deixar um pouco os comentários de duplo sentido que já estavam irritando Maya, percebi isso quando meu grande e imbecil amigo me soltou no almoço que tínhamos que realizar uma despedida de solteiro para seu irmão com direito a belíssimas acompanhantes, completando com uma piscadela para mim.
Pude sentir Maya ficando rígida ao meu lado, segurei firme sua mão encarando todos. Mas, ninguém notou a brincadeira sem graça de Hugo. Ficaram rindo da explosão que Bianca deu na mesa.
Refiz o trajeto da praia que tínhamos seguido mais cedo, agora estava decorado com flores e um caminho de luzes decorando o acesso, tudo já estava arrumado e pronto, meus pais já vestidos para o casamento recebendo os convidados que chegaram mais cedo, Gabriela fazia companhia para eles.
Se parássemos um ao lado do outro veríamos que era exatamente como minha mãe nos descrevia, éramos simplesmente partes dela e de meu pai. Gabi e eu altos como ele, Luce e Bianca baixas como minha mãe. Divisão perfeita.
Parei olhando por todo o gramado transformado em um salão completo de festa e mais à frente perto do mar o espaço para a cerimônia.
No quarto, Maya estava pronta calçando as sandálias prata com brilhos. Parei encostando a porta em um baque seco, admirando suas curvas em um vestido rosa claro. Crescer rodeado de mulheres tinha me formado num especialista em roupa, assim como vaidade, e, Maya estava com um vestido simples e muito elegante. Na altura do joelho, o colo do seu busto descoberto fazendo-o cair em mangas soltas até os cotovelos, a renda com detalhes de flores e pequenos pontos de brilho davam aos seus olhos e sua pele dourada ainda mais poder e beleza.
— Como estou? – Perguntou ficando de pé de dando uma pequena volta.
— Magnífica!
Ela riu balançando as mechas que estavam soltas caindo em perfeitos cachos pelo seu corpo. — Tomei liberdade e separei sua gravata.
Sorri relembrando de nossa noite no Rio.
— Não sei como sua parceira estará, mas assim você não fica deslocado com ela e nem comigo. — Indicando uma gravata prateada em cima de meu terno preto de alta costura.
— Está perfeito. – Caminhei para ela como um leão enjaulado. Respirei fundo seu perfume, colocando meu nariz na curva de seu pescoço.
— Bonitão, não temos tempo para isso.
— Sempre teremos tempo para uma escapadinha. – Ri mais ainda com a boca encaixada em sua clavícula.
— Quando você é padrinho e o casamento é da sua irmã, — Ela riu, — escapadinhas ficam para depois. – Ela me empurrou dando um tapinha em meu peito.
— Eu disse que você iria me enlouquecer, suma daqui senão eu vou atacar você e não saio de cima nem se meu pai arrombar a porta. – Parei na entrada do banheiro lançando um olhar ameaçador para ela, que correu para cama pegando sua bolsa prateada.
Mandou um beijo para mim e fugiu porta a fora.
—Eu lhe prometo ser fiel, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. — Ruan fazia seus votos, Bianca já tinha chorado borrando toda sua maquiagem.
Mesmo tendo uma mulher linda ao meu lado, uma das amigas de Bianca que sorria como idiota para mim, não conseguia tirar meus olhos de Maya, sentada na segunda fileira ao lado de um convidado que por sua vez, não tirava os olhos de suas pernas o que estava me deixando impaciente para essa porra de votos terminarem e eu poder tomá-la em meus braços.
Maya desviou os olhos dos noivos para mim.
— Quero falar com você. – Gesticulei com a boca.
Ela sorriu balançando a cabeça.
– Depois. – Li o que seus lábios falavam.
— Você me aceita? – Perguntei novamente.
Ela não deve ter entendido, pois vi sua expressão confusa, as sobrancelhas franzidas.
—... Eu prometo amá-lo incondicionalmente, apoiá-lo nos seus objetivos e sonhos, honrá-lo e respeitá-lo, rir e chorar com você, dividir com você minhas esperanças e sonhos e lhe dar conforto quando necessário. — Bianca completou seu voto.
Suspirei aliviado quando todos se levantaram aplaudindo o casal que trocava um beijo apaixonado.
Finalmente casados.
Capítulo 33
“A vida me ensinou a dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração.”
A festa já tinha começado a todo vapor, os convidados já ocupavam o bar montado ao lado da pista de dança, o DJ assim como banda já colocava todos para dançar, Otávio passava em volta das mesas ocupadas tentando encontrar uma para nós, tanto Barker como Karla e os pais de Ruan faziam as boas-vindas, conversando com todos, fazendo a recepção para a festa. Bianca praticamente saltitava por todo o gramado coberto com as grandes placas de madeira rústica que tinha visto os homens trazer pela manhã.
Otávio puxou uma cadeira para mim na mesa vazia que Hugo já estava sentado com Luce.
— Vamos fazer um brinde aos meus dois irmãozinhos – Hugo levantou sua taça de champanhe.
Otávio se acomodou ao meu lado, uma de suas mãos em minha coxa. — Por que dois? — sorriu, mas ergueu sua taça também.
— Daniela ligou cara, você foi promovido!
O sorriso sumiu por um momento do meu rosto, junto com um nó enjoativo em minha garganta, senti o gosto doce do champanhe se tornar amargo.
— Sério isso, cara? — Otávio perguntou animado.
Luce correu de seu lugar dando um grande abraço nele. Hugo olhou fundo em meus olhos, ergueu a taça com um sorriso cínico no rosto.
Eu queria socá-lo , estava farta de suas jogadas de duplo sentindo para cima de mim, seus comentários fora de hora principalmente, desse seu sorrisinho ridículo que ele me lançava. Durante o dia eu agradeci que as irmãs de Otávio tinham me puxado de um lado para o outro me deixando longe de Hugo e seu sarcasmo.
— É claro que Maya fez uma grande impressão para todos da empresa.
Sorri para ele, erguendo minha própria taça numa falsa comemoração.
Otávio se virou me puxando para um abraço. —Obrigado minha linda! – sussurrou feliz em meu ouvido.
— Foi bom trabalhar com você. Estou feliz por sua promoção.
As palavras deixando um gosto amargo em minha boca, descendo queimando por minha garganta.
A promoção de Otávio foi o grande motivo de ele me contratar, ter uma acompanhante de luxo ao seu lado e, depois de conquistá-la não tinha mais motivos para que continuássemos com esse “teatro”, não tinha mais motivos para ele continuar em minha vida.
Meu estômago se revirou com o olhar confuso de Otávio, ainda mais por saber que no fundo eu não queria dizer adeus, mesmo sendo necessário. Marli com certeza já tinha programado meu próximo mês, não tínhamos costume de manter contato quando estava com cliente, apenas uma ou duas ligações e dessa, mais do que as outras eu não queria falar com ela. Revelar que tinha me apaixonado.
— Só porque fui promovido não significa que acabamos. Minha família e amigos acreditam que estamos juntos e... Eu quero perguntar uma coisa para você.
Não consegui segurar o riso sarcástico que escapou. Talvez com isso ele percebesse como soava ridículo o que ele acabou de falar.
— Essa história já acabou Otávio, não temos motivos para enganar mais ninguém. Sua família vai superar, serei apenas mais uma.
Fomos interrompidos por um casal que puxou conversa com Otávio e Luce, sua mão pousada em meu ombro, esquentando-me no mesmo instante. Tornando tudo ainda mais difícil, era incrível como eu me sentia bem ao seu lado, me sentia livre e segura.
Olhei ao redor, vendo os rostos felizes, as risadas fartas que estavam refletindo o meu próprio humor, e agora, já não podia olhar esse momento com os mesmos olhos.
Bianca estava na pista com Ruan, em um lindo vestido branco, seus cabelos curtos e repicados soltos ao vento que vinha do mar, deixando todo o gramado, transformado em festa, fresco e com um leve cheiro de flores e maresia.
Otávio puxou meu rosto pelo queixo sugando meu lábio inferior. – Conversaremos sobre isso mais tarde a sós.
Concordei mesmo sabendo que não haveria mais tarde para nós. O que antes estava planejado para uma noite a dois, agora ocupava minha mente com sair o mais rápido daqui, sem olhar para atrás.
Engoli o ardume que se instalou em minha garganta e em meus olhos. Levando para longe as lágrimas.
A cantora no palco cantava músicas suaves, vários casais ocupavam a pequena pista de dança envolvidos no clima romântico da noite a luzes fracas. Karla havia realmente modificado seu gramado, ramalhetes de flores caiam por nossas cabeças como uma grande teia de primavera.
Otávio dançava lentamente tocando em cada pedaço de pele que meu vestido permitia. Quando a cantora começou a cantar os primeiros versos de “If I Ain’t Got You” encostei meu queixo em seu ombro cantando baixinho alguns refrãos, aproveitando meus últimos instantes com ele. Depois dessa noite eu seria como a Cinderela que perde seu sapatinho de cristal, voltando para seu, nem tão, feliz para sempre.
— Algumas pessoas vivem apenas para jogar o jogo, eu já me senti assim antes... — Otávio afastou seu corpo para poder me olhar nos olhos, continuei. — Algumas pessoas querem tudo, mas eu não quero absolutamente nada... Se não for você, querido.
Voltei para seu ombro, escondendo a lágrima que escorreu por meu rosto. Ele me apertou mais em seus braços, seus passos lentos nos giraram pela pista, num ritmo só nosso, num mundo onde só tinha nos dois.
— Algumas pessoas querem anéis de diamante... Algumas apenas querem tudo. Mas tudo não significa nada.
— Maya, por que sinto que você está se despedindo? – Otávio tentava me fazer olhar para seu rosto, mas recusei.
— Se eu não tiver você comigo, querido... Então nada nesse mundo inteiro não significa nada. – Sussurrei, os convidados aplaudiram a banda e a cantora. Tirei meus olhos de Otávio me juntando aos casais aplaudindo.
— Maya. – Otávio me chamou ainda segurando minha cintura.
Senti outro par de mãos em meus ombros. – Posso roubar um pouco minha nora?
Com olhos suplicantes para mim, ele me passou para seu pai com um beijo no rosto. – Claro pai. Dançarei uma valsa com minha irmã.
Barker me tomou em seus braços, sorrindo. Retribui abertamente seu sorriso, mesmo que por dentro meu coração sangrasse consideravelmente. A banda voltou a tocar uma música latina lenta sendo cantava pelo outro cantor.
— Está gostando da noite?
— Sim, está tudo maravilhoso. – Disse colocando um sorriso em meu rosto. De onde estava não conseguia ver Otávio, nem mesmo suas irmãs na pista de dança.
— Karla está em êxtase por Otávio finalmente ter encontrado alguém tão especial. — Comentava por cima da música.
— Eu que tenho, no fundo, que agradecer por conhecer Otávio e todos vocês, amei cada um, vou sentir falta.
— Por que, minha querida? Sempre será bem-vinda a nossa casa. Quem sabe você não faz Otávio vir nos visitar com mais frequência. – Barker mal sabia o que realmente ocorria, e, eu não o culpava. Tudo não tinha passado de um negócio que ambas as partes jogaram para o alto as regras e se envolveram demais.
Ficamos em silêncio dançando, acompanhando o ritmo dos outros casais...
— Sabe Maya, Otávio sempre foi o mais fechado... – Barker olhava para meu rosto esperando minha atenção. – Karla sempre achou que era por viver rodeado de mulheres, mas no fundo eu me via nele, sabia que ele não iria sossegar se não encontrasse a mulher certa.
Sorri de forma simpática, me mantendo forte.
— E posso dizer que finalmente eu posso deixar meus bigodes de molho e não me preocupar com ele.
Eu não tinha o que falar, me sentia mal mentindo para todos eles, ainda mais por terem me acolhido como uma filha, alguém realmente da família. Não era justo, nem comigo e nem com eles.
— Se o senhor me der licença, preciso ir ao toalete. – Disse como desculpa para me afastar.
Barker me deu um beijo na bochecha, permitindo que seguisse para o “toalete”. Quando estava longe o bastante da festa, apenas escutando o barulho de conversas e a música ao longe, deixei que as lágrimas reprimidas viessem à tona. Parei um instante olhando para a festa que acontecia lá embaixo, mandando um beijo silencioso para Otávio.
Corri escada à cima, me trancando no quarto, minha mala já estava preparada, pois de qualquer forma iríamos embora depois do casamento. Mas eu não poderia ter uma volta com ele. Busquei um pedaço de papel e uma caneta nas minhas coisas escrevendo um bilhete de despedida, não teria coragem de olhar em seus olhos depois dos dias maravilhosos que passamos juntos e dizer adeus. Ainda mais agora, com Hugo fazendo questão de rudemente dizer que eu tinha concluído meu trabalho e a promoção era de Otávio.
Comecei com um poema que caberia perfeitamente para o momento:
“Se quer me deixar, saibas que estou pronto. Porque agora, nessa tarde modorrenta, estou deixando você também.”
“Otávio... Tenho certeza que não conseguiria falar isso pessoalmente. Porém, nós dois erramos, erramos em nos envolver. Erramos quando ambos passamos por cada momento delicioso e perfeito um do lado do outro.
Errei quando coloquei meus olhos em você aquele dia na boate, e, errei mais ainda quando larguei tudo e me apaixonei por você. Por favor, seja feliz!
E saiba também que gosto de você e não, nunca brinquei com seus sentimentos, além do fato que eu mesma me joguei no precipício. Saiba que um pedaço de você sempre vai me acompanhar.”
Adeus, sua Mia
Deu um beijo suave em minha carta colocando no meio da cama junto com uma rosa que havia roubado pelo caminho. Puxei minhas malas escada abaixo, me levando e me chutando para fora da vida dele.
Entrei em um dos táxis que os Amells tinham disponibilizado para os convidados, para o pós-festa, onde todos sairiam felizes e cheios de champanhe. Cumprimentei o motorista deixando que ele colocasse minhas coisas no carro.
Dando uma última olhada para o casarão, encontrei os olhos surpresos de Luce que estava acompanhada de um rapaz alto. As lágrimas corriam por meu rosto, o carro deu partida, quando olhei pelo vidro detrás do carro Luce havia sumido do pequeno portão de madeira branca.
Capítulo 34
“O jeito mais fácil de estragar tudo é dizer a coisa certa, usando as palavras erradas”
Estava rodopiando Bianca em meus braços quando vi Luce vir apressada, ultrapassando os corpos que dançavam.
Olhei seu rosto branco como papel, os lábios franzidos o que era estranho se tratando de Luce. Parei minha dança com Bianca.
— Otávio você precisa vir comigo. — Falou em tom urgente.
— Como assim? O que aconteceu Lu?
— Otávio. Não estou brincando. – Seu rosto ficou furioso. – Você pode vir comigo?
Dei um beijo na testa de Bianca, ouvindo Luce bufar de minha demora. Passei por alguns casais, mas não se contentando Luce me puxava pela mão sorrindo para quem nos olhava, fazendo com que não parecesse um ato de irmãos, brincando um com o outro. Gabriela que estava na escada quando estávamos subindo, nos seguiu.
— O que houve?
— Faço a mesma pergunta para a Luce. Você pode me explicar que porra está acontecendo? – Tentei me virar para localizar Maya. – Preciso chamar a Maya.
— É sobre ela que quero falar seu esperto!
Travei nos últimos degraus, sentindo um calafrio percorrer meu corpo. – O que tem Maya?
— Luce, não é hora de brincadeira. —Gabriela puxou nossa irmã pelo cotovelo.
— Não estou brincando seus gênios, estou tentando falar que acabei de ver Maya entrando em um táxi com todas as suas malas. — Luce olhou para mim furiosa.
—Se o bocó aqui não fez nada para que ela saísse chorando no meio da festa sem se despedir de mim. Aconteceu algo realmente sério com ela.
— Espera! – Gritei com ela. —Você disse que Maya foi embora?
— Sim, esperto.
— Se acalme! Otávio cadê seu celular? — Gabi apalpou meus bolsos buscando o aparelho.
— Não está aqui. — Disse batendo na mão dela, me sentia tonto, não consegui acreditar no que Luce me falava. Larguei as duas paradas na escadaria, sai correndo entrando derrapando no piso da sala, subindo a escada.
Sentia meus olhos queimando.
Maya não poderia fazer isso comigo, não poderia.
O quarto ainda guardava o perfume doce dela, corri para o banheiro vendo se seria uma brincadeira de Luce, e, Maya por alguma razão estava brincando junto com ela. Mas todas as coisas dela tinham sumido da bancada de mármore.
Voltei para o quarto, cada peça, cada coisa que marcava sua presença tinha sumido, olhei para onde nós amamos na noite passada. Voltando meu olhar notei uma rosa e um pedaço de papel sobre a cama com meu nome. Passei a mão pelo cabelo tentando controlar minha respiração, cada palavra que lia daquele bilhete me fazia cair um pouco, me deixando de joelhos no chão.
Fazendo um buraco se abrir sobre meus pés, em pouco tempo Maya transformou uma atração sexual em... Não tinha palavras para explicar.
Peguei meu telefone na cômoda ligando para ela, tocou três vezes, depois caiu na caixa postal.
Liguei novamente, mesma coisa. Na terceira tentativa caiu direto na caixa postal, escutei a mensagem programada da operadora.
— Maya... – Minha garganta se fechou, — Mia, não faz isso. – Foi tudo que consegui falar antes de jogar o telefone longe, assim como tudo que estava em minha frente.
Transformando o quarto em uma zona de guerra, eu urrava de raiva, raiva dela ter ido embora, dela ter me enganado. De ter acreditado que ela tinha se envolvido como eu me envolvi. Raiva dos olhares amorosos que ela tinha lançado para mim, raiva acima de tudo de eu não falar o que sentia para ela.
— Acalme-se Otávio! — Disse para mim mesmo.
Respirei fundo sentindo um espaço negro em torno de mim. Quem achava que homens não sofriam, não tinham conhecido muitos “homens” de verdade. Minha raiva se misturava com uma coisa que não tinha experimentado ainda.
— Otávio?
Não me virei, nem expulsei Gabriela do quarto. Apenas passei a mão pelo meu rosto tirando a lágrima que ousou escorrer. — Tenho certeza que foi apenas um mal-entendido entre vocês.
Ela se agachou ao meu lado colocando um copo em minha frente.
Tomei um gole, deixando que a bebida queimasse minha garganta. Gabriela se levantou indo embora, me deixando na solidão.
Seus passos pararam, — Sabe irmão. — Ela parou na porta, olhei para seu rosto. – Não sei o que aconteceu entre vocês, mas precisa consertar isso.
Grande ironia.
Ela continuou. – Maya foi a melhor coisa que aconteceu para você.
— Acha que não sei disso? Não posso viver sem ela.
— Então você já sabe o que fazer.
A porta bateu, me deixando com o cheiro de Maya me torturando.
Busquei o telefone do outro lado do quarto no meio das coisas que joguei pelo chão, abri a caixa de texto...
Para: Maya Banks
“ Espero que todas as lágrimas que estou derramando, lavem de vez a minha alma das expectativas frustradas de ser feliz ao seu lado”
Enviar? Sim.
Capítulo 35
Por quatro longas semanas, a primeira coisa que fazia ao acordar, era checar a última mensagem no celular, um verso de uma música que não sai de minha cabeça e sempre que relia lembrava com dor sobre Maya.
"E se você disser algo que realmente é verdade.
É difícil até de compreender as partes que eu devo acreditar.
Pois você está me dando um milhão de razões.
Me dá um milhão de razões, um milhão para te deixar.
Mas eu só preciso de uma para ficar..."
E ainda na esperança que ela falasse algo comigo. Tinha ido até a boate. Noite após noite, me sentado no bar olhado as dançarinas ocuparem o lugar onde minha morena tinha estado. Fiquei plantado na porta de sua casa, muitas vezes sendo enxotado pelas caras feias dos vizinhos desconfiados.
Procurei por Jaqueline que também não tinha notícias de Maya, era como se ela nunca tivesse existido, tivesse sido como um meteoro que passou e assim mesmo foi embora.
Sim, era patético um homem como eu estar dizendo algo do tipo, patético e provavelmente gay!
Até Buddy estava amuado pela casa, mal querendo saber dos meus carinhos ou passeios noturnos. Minha família tentava entender o que havia acontecido, Luce tinha explicado que algo aconteceu, mesmo não sabendo a origem e que eu tinha ido atrás dela.
A imagem de quando dançamos ela recitando a música da Alicia Keys que não parava de tocar em meu som, prendendo-me naquele momento até que eu caísse em sonhos cheios de olhos verdes, me deixando cansado e esgotado.
Durante quatro semanas eu trabalhava superficialmente, Hugo que ainda se aventurava a questionar algo para mim era o que mais sofria com meu mau humor. Jessica – minha nova secretária. – Essa com certeza pedirá demissão até o fim do mês, duvidava se quase todas às vezes que ela ia ao banheiro não era para me xingar ou chorar escondida na baia do banheiro feminino.
Mesmo com todo reconhecimento e coisas boas acontecendo para meu lado profissional, não conseguia sentir prazer com isso. Estava tudo mecânico, acordava pela manhã, ia ao trabalho, voltava e me afundava no sofá com uma cerveja em mãos. Um verdadeiro trapo humano por dentro, reduzido a questionamentos e dúvidas sobre tudo.
Quando saia, não via as mulheres do mesmo jeito. Via como se fossem bonecas descartáveis, e, com grande frequência expulsava algumas do meu apartamento por ter visto um gesto ou o olhar que Maya lançaria para mim quando fazíamos amor, ou, apenas pela visão de Maya olhando para mim, de seu sorriso já me fazia sentir nojo de mim mesmo e não estar sendo justo com a pessoa se contorcendo embaixo de mim. E tudo piorava ainda mais quando alguma encostava na minha tatuagem, que passou a ser o luto vivo em minha pele sobre Maya.
Larguei o trabalho de lado naquela tarde e segui para o lugar que tinha certeza que teria informações de Maya, a Royalt Luxor.
Minha cabeça latejava por todo o caminho, meus olhos ressecados ardiam com as luzes dos carros passando por mim. Pela primeira vez, consegui um lugar para estacionar na frente do prédio. Estava impaciente só de aguardar o elevador, e quando entrei no saguão da Luxor piorou.
Natalia que havia me recebido da última vez, sorriu se levantando.
— Boa tarde, ou boa noite Sr. Amell — Disse simpática olhando o relógio.
— Preciso falar com Marli.
— Ela está ocupada com uma garota da Luxor.
— Não me interessa, avise que estou aqui, senão invado a sala dela. – Rosnei andando de um lado para o outro.
Natalia arregalou os olhos, pegando o telefone, digitou um código. — Sra. Tavares, o Sr. Amell está aqui. – Ela escutou algo. – Sim senhora, mandarei entrar nesse instante.
Não esperei que ela liberasse, eu mesmo já fui abrindo a porta da sala, estanquei quando vi a silhueta de uma morena sentada na cadeira. Meu coração acelerou, meus passos ficaram pesados.
— Conversaremos melhor amanhã Jeny. — Marli dispensou a mulher que ao se virar para ir embora, só tinha o negro dos cabelos parecidos com minha Maya.
– Senhor Amell, estava mesmo precisando falar com o senhor. Sente-se.
— Eu quero informações sobre Maya. – Disse de uma vez.
— E eu mesmo sem entender, preciso devolver isso para o senhor.
Marli abriu uma gaveta retirando meu cheque.
— O que é isso? – Questionei com as sobrancelhas erguidas, analisei o cheque em perfeito estado, do mesmo jeito quando assinei fechando meu contrato com Maya. Se ele tivesse voltado sem fundo o que por sinal, era impossível eu teria recebido uma ligação do banco.
— Não sei o que aconteceu entre você e Maya, mas ela não permitiu que descontasse o cheque, além disso, me pagou pessoalmente os custos e o adiantamento.
Podia sentir que estava com cara de idiota quando ela me falou isso. Maya não quis o dinheiro o que era por sinal um direito dela, afinal tinha trabalhado e feito muito bem seu papel durante as semanas que ficamos juntos.
— Ela não quis o dinheiro. – Confirmei para mim mesmo, não notando que dizia isso em voz alta.
— Não, Otávio.
Marli cruzou os braços diante do peito siliconado, com expressão curiosa no rosto. — Posso saber o que houve entre vocês? E o porquê mesmo antes do contrato terminar Maya me informou que estava disponível e quis o mais rápido possível embarcar para a Europa?
Levantei-me fazendo a cadeira cair com um baque alto no escritório. – Como assim embarcar? Para Europa?
— Maya está com outro cliente. – Ela continuava me olhando como se um bicho tivesse me picado.
— Com quem ela está? Que lugar da Europa ela está? — Gritei para ela, passando as mãos pelo cabelo.
— Não posso quebrar o sigilo entre uma Luxor e seus clientes Otávio.
— Eu não estou pedindo porra, me fale onde ela está. — Olhei para o cheque gordo em minhas mãos. – É dinheiro que fará você abrir a boca? Então fique com isso. AGORA FALA! – Gritei.
Ela suspirou, guardou o cheque em seu bolso do casaco, pegou uma pasta gorda com o nome de Maya na capa, vasculhou algumas folhas, vi um relatório constando meu nome e o mês de julho marcado, por fim, abriu outro relatório, prestei atenção no nome do possível cliente.
Alex Perroni.
— Maya, embarcou para Paris, está com um cliente em potencial. Agora o que ela foi fazer, é assunto somente de meu cliente. Já disse demais para o senhor.
—Obrigado.
Sai como um foguete de sua sala, não me importava com quem ela estava, como estava, pois, eu sabia que deveria estar em pedaços como eu próprio estava. Eu traria Mia de volta para mim. Pois para mim ela sempre foi Mia Azevedo.
Capítulo 36
“Sinto sua falta, cada dia, cada hora, cada minuto, cada segundo.”
As longas avenidas rodeadas de árvores, as pontes, os candeeiros de ferro, os cafés com esplanadas aquecidas, os prédios nunca demasiado altos, a Torre Eiffel iluminada, os museus e os monumentos mais conhecidos do mundo e os crepes de chocolate na rua. Isto é Paris.
Minha primeira vez na Cidade Luz estava sendo... Uma bosta! Deprimente, cada casal que eu via se abraçando, se beijando tinha vontade de me trancar no quarto por uma semana seguida. Estava começando a ter pena de Alex, um senhor de meia idade com tudo em cima, meu cliente depois de... Bem, não andava reproduzindo o nome de certo alguém nem por pensamentos. Só de imaginar ou pensar sequer sobre ele, meu peito sangrava, me sentia como se mil cacos de vidro se enfiassem em minha pele.
Alex tinha me contratado quando ainda estava com Otávio, precisava de uma mulher bonita, mas também inteligente, que pelo menos falasse inglês para fingir um affer com ele. Dono da metade da L’Oréal Luxe , queria me colocar em uma campanha internacional, além de conseguir o acesso de grandes magnatas Franceses.
— Bonjour ma fleur. – Disse entrando na grande sala de jantar onde tomava café com Biscuit .
— Bonjour Alex. — respondi com um sorriso.
— Como minha dama está essa manhã? – Ele se sentou na outra ponta da mesa, seu mordono logo foi colocando seu chá com leite na xícara, esperando qualquer ordem.
— Bem melhor. — Respirei fundo. — Desculpe mais uma vez, faço questão de comprir meu contrato com você. Não precisa pagar nada, eu mesma ligarei para Marli avisando.
— Laisser ma dame! — Exclamou, como um bom cavalheiro pedindo que esquecesse isso.
Lágrimas turvaram novamente minha visão. Havia manhãs que era difícil até respirar.
— Você já pensou em ligar para seu homem? Dizer como se sente?
Levantei os olhos, encarando Alex. – Somos de mundos e vidas diferentes, não se esqueça o que eu faço para viver, Talonneur.
Alex franziu o cenho negando com a cabeça. – Você não devia se referir assim a si própria, o que eu vejo na minha frente é uma belíssima mulher que trabalha como outra qualquer. Por sinal, mais respeitável que madames que desfilam em seus empregos de meio expediente.
Sorri de sua gentileza. Olhei pela grande janela de vidro, me alimentando do charme dos parisienses, a tranquilidade das ruas, esquinas que escondiam construções magníficas. Lembrando do meu primeiro dia em Paris, Alex fez questão de passear comigo por alguns pontos turísticos. Um passeio no final da tarde pelas margens do Sena, o vento frio passando devagar, fazendo o próprio tempo ir com calma.
— Mon seigneur, la voiture est déjà em attente pour vous. — O mordomo anunciou, chamando atenção de Alex e eu para nosso próximo passeio.
— Vamos minha beau , o carro está pronto. – Adorava o francês de Alex, principalmente quando me chamada de dama ou como agora Bela.
Capítulo 37
"Se quiser reconquistar alguém, não tente descobrir a razão que te levou a perder, e sim a razão que te levou a amar."
— Tavinho? Entre o que aconteceu? — Luce questionou me puxando para dentro do seu apartamento.
Desmoronei com um sorriso frio no rosto, Luce se sentou em minha frente. Meus olhos ardiam, eu nunca fui de expor meus sentimentos, nem mesmo pelos meus pais. Sei lá, algo meu, eles sabiam que gostava, mas não ficava falando isso a todo instante.
— Tudo começa com um homem burro o suficiente, vivendo numa bolha onde tudo relacionado a amor era algo saído de livros.
— Otávio... — Ela me interrompeu mais se calou com meu olhar frio e irritado.
— Eu fui um completo idiota queria aquela promoção mais que tudo, queria comandar as duas empresas, queria status em minha carreira e perdi algo que nem eu mesmo estava disposto a perceber bem na minha frente. – Suspirei. – Maya é uma acompanhante de luxo.
— O quê? Otávio como assim?
— Contratei-a para se passar por minha namorada, tinha que mostrar para a puta velha da minha chefe que existia algo seguro em minha vida. E no meio de todo esse fingimento, nos perdemos.
— Eu nunca suspeitei... Sabe, quando você contou que levaria alguém, desconfiamos que fosse mais alguma siliconada sem cérebro. – Luce tentou suavizar seus pensamentos —vocês pareciam um verdadeiro casal para todos. Uma acompanhante, Otávio?
— Algo que começou por uma mentira, mas com muita verdade por dentro.
— E você pode me dizer o que está fazendo aqui e não está com ela? — Luce cruzou os braços finos em frente ao corpo. — Claro, obrigada por confiar em mim para contar seu segredinho sujo, mas...
— Maya está em Paris. — Confessei.
— Perfeito, volto para França mais cedo e você vem comigo.
Ela se levantou ajeitando a saia, olhou para mim com interrogação no rosto. — Você não quer sua garota, idiota?
— Mais que tudo.
— Então se encarregue das passagens, Paris, aí vamos nós!
Não pensei duas vezes e sai às pressas com destino à França, precisava encontrá-la antes que sumisse da minha vida novamente. O voo tinha sido longo e angustiante, Luce que era a rainha do deboche não trocou uma palavra sequer.
A noite em Paris era algo para ser realmente apreciado, as ruas mesmo no frio deixavam tudo ainda mais bonito. A rua onde nosso hotel ficava era ladeado por prédios antigos, mostrando a arquitetura da cidade. Hotel Daniel , charmoso e aconchegante. Todas as janelas dos quartos eram acompanhadas por pequenas sacadas e toldos brancos.
Luce largou sua bolsa em cima de uma das camas de solteiro. Dando uma olhada para o quarto.
— Desculpe, mas de última hora não consegui nada melhor, além daqui ter um restaurante maravilhoso.
— Isso já ajuda muito. – Disse, deitando na cama com os olhos fechados e minha cabeça latejando.
Como sempre eu tinha mandando uma mensagem para o telefone de Maya. Após confirmar no desembarque que ela tinha visualizado encheu meu peito de esperanças.
— Pelo que eu pesquisei desse cara, ele mora numa verdadeira mansão perto do Boulevard Des Invalides . Podemos tentar falar com alguém, mas duvido que passaremos do portão.
—Amanhã mesmo, irei até lá.
— Você planeja falar com eles em inglês espertalhão? Eu vou com você, não vim mais cedo para Paris à toa.
— Tudo bem, amanhã logo cedo.
A madrugada passou e eu acompanhei todos os estágios dela contemplando a janela, Luce dormia pesadamente em sua cama e eu só conseguia contar as horas e os minutos no relógio, quando os primeiros raios de sol invadiram o quarto anunciando que finalmente eu poderia ver Maya. Muito antes de Luce sequer reclamar de ser acordada eu já estava pronto e já tinha chamado um táxi na recepção do Hotel.
Passamos por toda cidade indo para o endereço que Luce tinha instruído em francês para o motorista. Pagamos a corrida dando de cara com um enorme portão e ferro preto fundido, um jardim ladeava a entrada para um casarão ao fundo. Mesmo ao longe elegante e fino, as enormes janelas refletiam as primeiras horas da manhã.
Um segurança veio caminhando com um cachorro na coleira parando do outro lado do portão.
— S’il vous plaît j’avons besoin de parler à M. Perroni . — Luce despejou seu francês para o segurança.
— Que merda você disse? – Perguntei já irritado.
— Se você não tivesse largado seu curso para paquerar com as alunas nos corredores, teria entendido que eu pedi para falar com o tal de Alex Perroni. – Ela sussurrou de volta para mim.
— Quiêtes-vous ? — O segurança se aproximou mais na grade.
— Luce Amell e Otávio, nous avons besoin de parler de Maya Banks.
— Um temps.
Ela se virou com um sorriso apertando meu braço, mantive meus olhos fixos no segurança que falava em um aparelho parecendo aqueles walkie talkie que brincava com meus amigos quando criança.
Demorou um pouco até que o bendito segurança voltasse com um controle em mãos liberando nossa entrada, mesmo permitindo nossa entrada ele nos seguiu até a ampla porta de madeira rústica do casarão.
Um mordomo magro com aparência mal-humorada abriu assim que pisamos no último degrau. Deixei que Luce entrasse na minha frente, sentindo meu coração pesado, como se tivesse uma corrente esmagando-o, minha respiração estava fraca.
A entrada era coberta de mármore, com duas grandes e largas escadas, seguindo os mesmos tons de bronze e branco que a entrada tinha. Pequenas esculturas decoravam cada canto das paredes, realmente era um palacete.
—Merci Flaus.
Minha atenção foi para o homem de meia idade que descia a escadaria esquerda, em um pijama de seda preto coberto por um pesado robe. Ele sorriu quando terminou de descer parando em nossa frente.
— Pardon réveiller M. Perroni. – Luce estendeu uma mão, o velho deu um singelo beijo no dorso.
— Você quer ser convidada para o café? Pergunte de Maya de uma vez. – Falei em tom baixo.
O velho sorriu balançando a cabeça do que Luce havia falado. — Minha jovem, é um prazer ser acordado pela própria juventude.
Olhei para seu rosto, com certo embaraço do que eu falei, mas não sabia que ele nos entendia.
— Desculpe meu irmão, Sr. Perroni. — Luce desculpou-se pisando fundo com seus saltos no meu pé.
— Imagina, estava ansioso. Imaginando quando conheceria o famoso Otávio. — Ele disse erguendo uma de suas sobrancelhas. — Devo dizer que perdi a aposta.
— Como assim aposta? – Questionei.
— Apostei secretamente quando o homem de Ma Belle apareceria, e, vejo que o amor ainda contagia os jovens. Isso é bom!
— Maya está aqui?
— Lógico meu jovem. – Alex olhou em direção ao seu mordomo parado como uma estátua perto da parede oposta.
— Réveillez-vous Ma Belle Maya, nous avons visites.
— Maya está vindo.
E foi nesse momento que eu senti o ar abandonando meus pulmões na pura expectativa de ver seus olhos verdes, seu cabelo grosso em cachos negros se espalhando pelos ombros. E, acima de tudo por que eu ficaria frente a frente com a mulher que eu amava...
Capítulo 38
Troquei meu pijama por um vestido branco reto e simples, meus cabelos soltos em suas ondas naturais. Quem quer que esteja com Alex não falaria de minha aparência, aqui todos andam elegantes até para ir ao banheiro. Perroni assim que chegamos disponibilizou um armário completo para meu uso, porém eu evitava. Apenas se fosse essencial buscava algo no grande closet e a essa hora da manhã não era um momento desses.
Segui pelo corredor comprido, o barulho dos meus saltos reverberando entre o piso de mármore e os tapetes compridos, desci os primeiros degraus da grande escadaria tentando ver quem estava com Alex, parecia um casal, rezei para que não fosse os Courtney, eles eram um pé no saco de tão chatos. A mulher era um entojo, nojenta com suas caretas contrariadas.
No meio da escadaria, voltei meus olhos para cima e foi assim que nossos olhos se encontraram, eu não acreditava no que via. Otávio deu um passo para frente, chegando mais perto da escada.
— Achou mesmo que eu não iria te procurar Maya?
Olhei assustada para Alex que sorria como um verdadeiro espectador de um filme romântico.
O silêncio, apenas nossos olhos se encarando, seus olhos azuis reluzentes.
Era tanta saudade reprimida que minhas pernas vacilavam só de ouvir a voz dele, de ver seus olhos azuis como o céu num dia de sol forte. Desci mais um degrau examinando seu rosto, era difícil tê-lo aqui na minha frente.
— Porque você fugiu Maya? – Otávio implorava para uma explicação.
— O que você está fazendo aqui? Como me encontrou? – Olhei de novo para Alex. – Alex, me perdoa, eu só tenho causado problemas para você.
— Ma Belle , eu disse que você poderia até tentar fugir do amor, mas se fosse verdadeiro ele tornaria a tomá-la. — Com um sorriso singelo ele indicou para o corredor menor abaixo das escadas para Luce, ela se virou olhando para seu irmão e para mim, sorriu mesmo tendo uma nota de mágoa em seu rosto e sumiu com Alex pelo grande casarão.
Otávio subiu alguns degraus ficando cara a cara comigo e sem aviso tomou-me em seus braços, invadindo minha boca, em um beijo quente. Mostrando nossos sentimentos, dor, saudade, desejo e acima de tudo uma fome enlouquecida de me perder em seu corpo novamente.
Sua língua cruzava e invadia cada canto de minha boca, sugava meu lábio inferior tomando tudo para ele. Apoiei as duas mãos em seu peito, tentando me desvencilhar de sua boca antes que eu mesma rasgasse suas roupas aqui tomando o que foi meu um dia.
— O que você está fazendo aqui?
— Como você pôde me largar, sem ao menos olhar nos meus olhos? – Ele questiona. — Com um único bilhete de despedida? Não respondeu nenhuma de minhas mensagens. Eu fiquei igual louco atrás de você!
Senti as lágrimas brotando em meus olhos, o buraco que havia em meu peito aberto e sangrando novamente.
— Não devíamos ter nos envolvido Otávio. Eu contei que sentia por você, mas, não tinha que ser tá legal? Não podemos ficar juntos...
Ficamos em silêncio um instante.
— Eu sou egoísta Otávio, não sou o tipo de mulher para você e mesmo assim, mesmo sabendo disso não queria me afastar. — Suspirei. — Eu gosto de você e, por gostar de você não posso ser egoísta.
— Eu não lamento nada, não vou questionar se você é egoísta, mas também não vou permitir você ir embora.
— Me escute Maya! — Otávio nem deixou que começasse a falar. — Como você deixou em sua carta para mim, eu não lamento ter te conhecido, não lamento o fato de ter vivido momentos loucos com você e... Principalmente não lamento o fato de você ter me feito questionar tudo. Mas eu não vou me lamentar de dizer que eu estou apaixonado por você Maya Banks!
Otávio explodiu passando a mão pelo cabelo, denunciando seu nervosismo, encostou-se na grade da escada.
– Só preciso saber se você realmente sentiu, ou sente algo por mim? Um simples “sim” ou “não”.
Minha garganta estava fechada, um grande nó se formou com tudo que ele disse. Como iria negar? Como iria falar que não senti nada, sendo que eu fugi por isso. Por sentir demais, por me envolver com alguém que eu não poderia ter.
— Sim. – Gaguejei, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
— Era tudo que eu precisava saber. — Disse Otávio, antes de partir para cima de mim como um leão.
Ele me tomou em seus braços, tirando meus pés do chão. O beijo foi mais lento, profundo. Garantindo que nenhum dos dois fugiria no segundo seguinte.
Capítulo 39
“Retorno a paz rapidamente, volto a suspirar de amor...”
Aproveitei cada toque dela, por menor que fosse. Mas o beijo não era capaz de satisfazer todo o desejo que eu estava sentindo. O calor de sempre tomava conta de nós, meu corpo incendiava com o dela, me deixando completamente maluco.
Maya desgrudou seus lábios do meu, recuperando o ar, deu uma olhada para os lados, quando seu rosto voltou para o meu vi a deusa através dos seus olhos. Ela agarrou minha mão na sua, levando-me escada acima. Não fazendo nenhuma cerimônia ao entrar num quarto com tons de azul claro, uma grande cama no centro, rodeado por grandes janelas.
E, como em meus melhores sonhos, não demorou muito para estarmos nus, enroscados um no outro pulando qualquer preliminar. Joguei Maya no meio da cama, olhando para ela com um desejo incontrolável, meu pau latejava já ereto. Com meu corpo sobre o seu, meus olhos comendo os seus, me senti completo e nem ligando que estava na casa de um estranho, na cama dele. Isso me fez parar.
Maya me olhou confusa, com receio.
— Posso perguntar uma coisa?
— Sim. – Ela sussurrou, como um miado.
— Você e aquele velho... – Fiquei com um nó na garganta, não que não fosse perdoá-la por isso, mas eu precisava saber se alguém tinha tocado seu corpo como eu toquei por vários dias. – Você e ele... – não consegui terminar.
Maya soltou a risada que sentia tanta falta fazendo seu corpo roçar em meu membro o que me deixou com mais tesão.
— Bonitão, o último homem que tive foi você, Alex nunca tentou nada, muito pelo contrário, foi um grande amigo.
Isso bastou, não queria falar e ouvir mais nada que não fosse seus gemidos ou ela gritando de prazer meu nome. Desci minhas mãos tomando seus seios grandes, beliscando e apalpando um enquanto mordia e lambia o outro deixando o “delicado” para depois, eu estava impaciente. Queria ver Maya se derreter com meu toque, ela tocava meu peito, traçando as linhas de minha tatuagem fazendo meu corpo tremer com força, saindo do controle. Suguei ávido seu seio arrancando um gemido duro de Maya.
Tudo esquentou ainda mais quando sua mão foi para meu pau, apertando, espalhando o prazer sobre ele. Sua outra mão arranhando minha bunda, minhas costas. Tirei seu seio de minha boca, atacando seu pescoço. Arrancando seus dedos de meu membro, empurrei-o para sua intimidade, provocando espasmos por seu corpo raspando-o por seu clitóris. Maya jogava a cabeça para trás, suas mãos ao lado agarrando os lençóis, gemendo a cada investida que dava em seu corpo, ela arqueava os quadris para que entrasse por sua fenda, mas eu me afastava, quando voltava começava de novo a tortura, vendo seu corpo desfalecer colocando apenas a cabeça em sua vagina, mexendo os quadris em círculo.
— Otávio... – Ela gemeu.
— Fala meu amor, o que você quer? – Rosnei.
Ela me olhou brava, os olhos verdes queimando desejo, sua deusa interna furiosa pela tortura. Lancei um sorriso cafajeste para ela, feliz, completamente feliz. – Você não foi uma boa garota Srta. Banks, ou deveria chamá-la de Mia Azevedo?
— Do que você quiser, mas termine logo com isso. — Maya suplicou jogando a cabeça novamente na cama.
Segurei a cabeça de meu pau fazendo mais pressão em sua entrada, que gotejava de prazer. Mais um espasmo.
Meu próprio corpo brigava com minhas atitudes, deixei de lado o joguinho me enfiando de uma vez dentro dela. Maya gemeu puxando com força os lençóis que se desprendiam da cama, de uma maneira bruta comecei a me movimentar dentro dela. Certeiro, encontrando aquele pontinho delicioso de prazer, passei a perna de Maya por cima de meu corpo unindo com a outra deixando-a de lado, seu corpo ganhando uma nova posição enquanto eu aumentava as estocadas. Agarrei um punhado de seu cabelo enrolando as grandes mechas em minha mão, Maya mordeu o lábio inferior.
Podia sentir ela chegando naquele ponto, meu próprio corpo exigia isso, nossos corpos ficaram tensos com aproximação do orgasmo. Tirei-a da cama enlaçando suas pernas em minha cintura, sentei na ponta do colchão ditando um movimento mais lento, porém mais provocante. Sentindo Maya em todos os pontos do meu corpo.
— Não fuja mais de mim, —Arquejei sentindo o orgasmo chegar em espasmos. — Você é minha. — Gemi gozando.
— E você é meu. — Maya retribuiu curtindo seus espasmos.
Maya dormia relaxada quando sai do banho, o lençol cobria sua nudez, seus lábios entreabertos de forma delicada. Nem me importei que o resto de água pingasse pelo chão só queria admirar seu sono.
Ela se remexeu, como se sentisse que estava sendo observada, seus olhos piscando, ganhando foco. Maya rolou na cama de novo encontrando meus olhos com um sorriso no rosto.
— Tão linda mesmo quando acorda, assim fica difícil me manter longe.
— Tudo por sua causa. – Respondeu com voz rouca pelo sono.
Bocejou, esticando os braços sobre a cabeça, o lençol cedeu mostrando um de seus seios. — E você, torna verdadeiro o significado da palavra “suculento” saindo assim do banho. Sempre foi assim ou veio tudo num pacote com essa tatuagem?
Ri de seu comentário, fiz uma careta séria sentando ao seu lado. – Não... – me inclinei colocando o bico de seu seio a mostra na boca sugando-o com força. Ela gemeu quando voltei a me afastar. — Eu sempre fui lindamente suculento.
— Idiota! – Disse rindo e tacando um travesseiro em mim.
Capítulo 40
“Cheguei a uma incrível conclusão o destino não andava de mãos dadas com a minha felicidade”
— Ainda não acredito que fizemos isso aqui na casa do Alex.
Otávio terminava de colocar seu casaco, tinha ajeitado o quarto, meus cabelos. Dei uma última olhadinha para trás, vendo o sorriso cínico no rosto dele. Fechei o semblante, seu sorriso sumiu no mesmo instante.
— Foi melhor do que os sexos normais, pelo menos você tem que assumir isso. — Otávio deferiu um tapa em minha bunda passando pela porta.
— Mas eu estou trabalhando, ainda tenho duas semanas a cumprir com Alex.
Escutei seus passos sumir.
— Você irá voltar comigo Maya.
Virei olhando novamente seu rosto, analisando se estava brincando.
— Não. Como disse estou trabalhando. – Endureci a voz.
— Não vamos discutir. Você volta comigo.
— Otávio!
Ele passou novamente por mim descendo a escada com passos duros e decididos. Indiquei para o jardim de inverno, onde Alex provavelmente estaria. Era seu lugar preferido, e, eu tinha aprendido a apreciá-lo junto com ele.
—... Eu me mato para essas modelos fazerem isso realmente você tem um dom Alex. – Escutei Luce falando no fundo do corredor.
— As pessoas são fáceis de serem levadas. Basta saber o que as motiva.
Alex estava sentado em seu banco elegante de madeira branca, de costas para a porta. Luce reluzia prestando atenção no que ele dizia. Aprendi nesses dias que passei ao seu lado que Alex Perroni tinha um lado todo particular de ver as coisas, romântico nato tendo se casado três vezes. Dizia que cultivava amores, mesmo não permanecendo com a pessoa até o fim dos seus dias. Ele dizia que levava um pedaço de cada uma das mulheres em seu coração, como cada uma delas tinha um pedaço seu.
— Alex.
— Ma Belle , que bom que vocês se entenderam. — Disse juntando as mãos, mostrando seu sorriso quando viu Otávio entrando em sua grande “estufa”.
—Obrigado, por permitir isso.
— Imagina meu cavalheiro, Maya está ainda mais brilhante ao seu lado. Uma pena que perderei minha modelo. — Alex dizia com um biquinho engraçado torcendo a boca.
— De maneira nenhuma, eu estraguei demais os eventos que estive por meu humor, ficarei aqui até que nosso contrato vença.
— Comme vous le souhaitez ... Como quiser – Disse levantando as mãos em rendição.
Apesar de aguentar a presença de um muito mal-humorado Otávio, estava feliz por tê-lo ali. O passeio tradicional de final de tarde com Alex nunca tinha sido mais brilhante. Luce e ele se deram bem de cara, ambos comentavam suas experiências com modelos ou o ramo da moda, fazendo comentários engraçados para mim e Otávio.
— Alguém está cansado? – Alex perguntou olhando para nós.
— Não, muito pelo contrário! — Luce exclamou enlaçando seu braço do de Alex.
— Não. – Otávio e eu dissemos juntos.
— Magnifique ! Ma Belle já teve o prazer de me acompanhar, mas quero levá-los para o Bateau le Calife .
Perroni fez sinal para seu guarda-costas, falando com ele em um francês complicado, dizendo aonde iríamos.
— Jujuba. — Olhei para Otávio, — ele poderia parar de chamar você de “minha bela”? Ajudaria muito a gostar mais dele. – confessou baixo em meu ouvido. – E o que seria Bateau le Cafile?
— Um restaurante, fica perto do Museu do Louvre, além de termos a vista para Torre Eiffel.
Um restaurante montado em um navegante, que percorre o Sena. Deixando o ambiente propício para romance e momentos especiais. E com certeza aquele era um deles, estar com Otávio em Paris era melhor que muitas coisas que já tinha visto por aí. Meu bolso vibrou com o toque do celular, olhei vendo que era Marli, pela quarta vez seguida. Decidi ignorar, pelo menos por hoje.
Imagino que o motivo seja pela descoberta de Otávio, afinal onde ele poderia ter encontrado informações sobre onde estava? Na Luxor, e, esse era motivo suficiente para evitar a todo custo uma ligação de Marli, sua voz invadiu meus pensamentos enquanto nos deliciávamos com uma taça de vinho francês.
— Marli, preciso ser colocada com outro cliente. – Disse invadindo o escritório de Marli e pegando ela em um momento delicado com um dos garotos da boate.
— Oh minha querida... – Ela sorriu passando a mão no canto da boca ajeitando o batom borrado. Lucas o novato pescou suas roupas com rapidez se trancando na outra sala do escritório.
— Você disse que tinha um cliente para mim. – Continuei como se não tivesse visto nada.
— Sim, sim... – Ela abriu minha pasta de contratos. – Mas, cadê o senhor Amell? Posso mesmo antecipar seu trabalho com o Sr. Perroni?
— Não quero questionamentos, inicie meus trabalhos com o Perroni, me passe tudo que preciso saber.
Engoli o nó que tinha em minha garganta sempre que me lembrava de Otávio, meu peito doía como se uma faca me perfurasse toda vez que me lembrava dele, de Maresias, de sua família...
— Aqui está, meu diamante, você vai para Paris. – Anunciou toda animada.
Uau. Paris! Esse deveria ser meu comportamento, afinal quem ficava triste em Paris? Isso era fácil, eu.
— Marli?
— Sim? – Ela ainda me olhava com questionamentos no olhar, mesmo mordendo sua língua para não falar nada.
— Não desconte o cheque do senhor Amell, eu faço questão de pagar do meu bolso, passe para mim a conta e eu pago, mas não mexa nesse dinheiro. – Suspirei. – Se ele aparecer, pode devolver.
Acredito que no fundo eu esperava desesperadamente isso, mesmo tendo desligado meu celular eu tinha lido um por um de seus recados, e todos, todos mesmo me cortavam fundo.
Todos os dias eu tentava me convencer que tinha feito a coisa certa, ele não precisava de uma mulher com meu currículo, ele merecia a tal garota que seu pai tinha me falado no casamento. Alguém que não tivesse passado de homem em homem como eu...
Marli arregalou os olhos. – Maya... Aconteceu alguma coisa que você queira me contar, minha querida?
Respirei fundo, colocando meu melhor sorriso.
— Por enquanto não, apenas não desconte o cheque.
Lábios úmidos encontrando meu corpo apenas coberto por um fino lençol. A luz do sol invadindo as janelas de vidro que iam do chão ao teto, a vista de Paris ao longe e o cheiro do meu homem permeavam o ar ao meu redor. Conforto, amor e alegria foi o que me dominou naquela manhã.
Otávio beijava a região de minha cintura, seus cabelos raspando em minha barriga provocando cócegas. Ele subiu fazendo o caminho de volta vendo que tinha acordado.
— Bom dia, Jujuba. – O sorriso mais encantador nos lábios.
— Bom dia, bonitão.
Espreguicei-me, tardando à hora de levantar. Ontem depois do jantar Alex tinha se mostrando encantado pelo jeito de Luce, ainda mais encantado por seu jeito debochado. Então convidou Otávio e a irmã para ficarem em sua mansão, o que foi ótimo. Sorri relembrando a noite de prazer que tive. Indo pegar no sono com o céu dando seus primeiros sinais do amanhecer.
— Dormimos muito? – Perguntei ficando virada para seu peito.
— Não muito, Alex e Luce foram fazer algum passeio logo cedo.
Ri vendo que não tinha sido a única a notar como eles tinham se entendido bem por todo dia.
— Tem um banquete preparado lá embaixo.
— Hum... — murmurei colando minha boca na dele, — preciso saborear outra coisa agora. – Desci meus olhos ao mesmo tempo em que minha mão se encaixava em sua virilha.
— Você é uma mulher muito fogosa mesmo, vai acabar me causando um infarto.
Passei a língua por meus lábios rindo do falso susto que Otávio produzia. Meu celular começou a vibrar na mesa de centro perto das poltronas, onde ficou jogado na noite anterior.
— Acho melhor você atender. Ele tem tocado a um bom tempo.
Levantei-me a contragosto, andando pelo quarto nua, nem um pouco envergonhada quando ele assobiou cruzando os braços atrás da cabeça. Dei uma olhada no visor não reconhecendo o número. Atendi no terceiro toque.
— Alo?
— Mia Azevedo? — Uma voz de mulher rompeu minha felicidade matinal. Um espasmo gélido ocupou minha espinha.
— Quem é?
Não estava acostumada com ligações para esse número me chamando de Mia.
— Preciso falar com a senhorita Azevedo.
— É ela mesma.
— Aqui é Carmem, sou médica do Hospital Santa Isabel de Blumenau. – Eu me senti fraca, procurei o apoio da cadeira, como se tivessem jogado um balde de água gelada sobre mim.
Otávio se levantou de um pulo, ficando ao meu lado em pequenas passadas, me colocou sentada na cadeira. Olhando sério para meus olhos.
— Estamos ligando porque seu pai Valter Azevedo pediu.
— Qual é o problema do meu pai? – Um aperto em meu peito me impedia até de respirar.
— Mia, seu pai deu entrada no hospital com um quadro complicado, ele não está se recuperando como devia. Há dois dias ele pediu para que ligássemos para a senhorita, porém teve uma parada cardíaca essa noite, seu irmão pediu para que tentássemos localizar você novamente.
— Onde eles estão? Meu irmão e minha mãe?
— Seu irmão está com sua mãe, eles estão muito abalados, gostaria que chamasse pela senhorita. — Ela ficou com aquela voz de quem sabia mais do que queria falar. – Me d esculpe.
— Estou indo.
Foi tudo que disse antes do telefone cair de minhas mãos para meu colo.
Meu pai, ele está morrendo.
Meu pai está morrendo.
Meu pai...
Não importava o passado, ou o modo como fui escorraçada de minha própria casa e da vida de meus pais, não importavam quais foram às escolhas que eu e ele fizemos, ou o que tínhamos nos tornados.
Ele era meu pai, e, mesmo assim eu o amava. Pensei em meu irmão ainda um menino quando nos vimos pela última vez, minha mãe...
Não precisei falar nada, Otávio me tomou em seus braços, minhas lágrimas disseram tudo que estava preso na garganta. Entre soluços e afagos de Otávio eu percebia como a vida era realmente uma coisa instável.
Minutos estava sobre o braço do amor e da vida, imaginando meus dias acordando ao lado do homem que amo. E em segundos toda minha felicidade planejada foi interrompida com a notícia que uma vida que eu também amava, daquele que me segurou nos primeiros passos e tombos, estava se desfazendo.
Capítulo 41
O táxi parecia andar em câmera lenta, lento demais para a pressa que se apossava de mim. Agarrei o braço que Otávio mantinha em minha perna, ele olhou para mim, vi que havia preocupação em seus olhos, mesmo ele estando calmo.
— Calma meu amor, vamos primeiro ver como ele está.
— Eu não estava com eles, eu...
As lágrimas começaram a cair novamente e não pararam mais, não conseguia mais contê-las.
Paredes brancas, longos corredores de paredes brancas e as luzes piscavam com frequência. O peso do meu corpo era o dobro do meu, Otávio muitas vezes me sustentava. Primeiro pelo cansaço de sair correndo de Paris vindo direto para Blumenau, sem nem ao menos pararmos para respirar.
A médica que tinha me dado as notícias foi quem me recepcionou quando cheguei, devido ao fuso horário e o Jet Lag , ambos estávamos cansados e com roupas pesadas demais para o clima que estava fazendo em Blumenau. Otávio tinha tirado seu casaco ficando apenas com a camisa social branca com as mangas arregaçadas em seus cotovelos. Eu tinha largado meu casaco na cadeira desconfortável ao meu lado, ficando com o vestido tubinho azul claro, não por escolha, mas por ter sido o primeiro que vi pela frente antes de fechar minha mala.
Alex nos deu todo apoio e ajuda para voltarmos e fez questão que Luce permanecesse. Nesta altura pouco me importei realmente com a irmã de Otávio, as palavras da médica no telefone não saiam de minha cabeça.
— Mia?
Sai do aperto de Otávio para me virar, vendo quem me chamava. À primeira vista não o reconheci. Um homem alto, mas com músculos definidos. Foram seus olhos que o traíram, verdes como os meus, seu cabelo castanho claro curto.
— André?
Levantei da cadeira desconfortável, assim que ele confirmou com um aceno eu não me contive puxei ele para um abraço, lembrando do garoto gentil que ele era e como eu incentivava esse comportamento.
André retribuiu meu abraço, transmitindo questionamentos que eu não poderia responder no momento. – Senti sua falta Mimi. – Sussurrou em meu ouvido meu antigo apelido.
Segurei seus ombros dando uma boa olhada para seu rosto, os mesmos traços, porém muito mais bonitos agora com seus vinte poucos anos.
— Também senti sua falta tampinha .
Meus olhos foram para minha mãe, caminhando com cautela até onde estávamos. Sua aparência mesmo cansada continuava bonita.
— Mia.
— Oi mãe. – Busquei a mão de Otávio que entrelaçou os dedos nos meus, sentindo minha urgência.
— Vejo que trouxe alguém com você? – Ela perguntou analisando Otávio da cabeça aos pés, com um tom de desgosto em seu rosto. Mesmo depois de todos esses anos eles ainda me olhavam como uma decepção.
— Otávio Amell, namorado de Mia. – Ele estendeu a mão livre para minha mãe, depois para meu irmão. Meu coração deu alguns pulinhos no peito com essa pequena declaração. – Sinto muito pelo Sr. Azevedo, estávamos em uma viagem quando soubemos da situação.
— Não devia ter incomodado a sua irmã André. Ela é uma pessoa importante. – Minha mãe soltou farpas em minha direção.
— Não foi incomodo nenhum, mesmo longe vocês nunca saíram de minha cabeça. Vim aqui porque vocês aceitando ou não do que faço da minha vida, o cara lá dentro continua sendo meu pai.
— É bom ter você aqui. – André disse olhando para nossa mãe.
Passos no corredor, interromperam nosso momento “família”. A doutora Carmen, veio caminhando com um prontuário em mãos.
— Bom dia.
— Alguma notícia doutora? – Minha mãe perguntou.
— Sinto muito Beatriz, ele não reagiu ainda às novas medicações, continua em coma induzido.
Minha mãe desmoronou nos braços de André, chorando copiosamente, soluçando e chamando aos sussurros por meu pai. Mesmo com todos os problemas que se seguiram, eu cresci em uma casa feliz. Meus pais tinham e demonstravam um amor até meloso em nossa frente, nossa família apesar de pequena sempre foi muito unida.
— Doutora, poderia ver meu pai?
— Claro Mia, venha comigo. – Ela sorriu indicando um corredor pequeno que dava para os quartos da UTI.
Olhei para Otávio, ele fez um sinal concordando. Deu-me um beijo casto nos lábios e voltou a se sentar nas cadeiras.
O quarto assim como todo o hospital era de um branco imaculado, tirando as cortinas que dividiam as baias dos pacientes que eram de um tom estranho de azul, tudo era branco, branco demais. E todo esse branco e limpeza não conseguiam esconder o leve cheiro de doença entranhada nas paredes do hospital. A médica me passou um conjunto de luvas e uma roupa esterilizada, além de máscara.
Acompanhei seus passos, passando por alguns pacientes, alguns em estado realmente grave. Alguns familiares chorando em silêncio, o que mais mexeu comigo foi uma menininha, devia ter uns doze anos no máximo. Sentada na ponta da cama de um senhor que sorria de jeito afetado para ela, prestando atenção em um grande livro que ela lia para ele.
Fiquei de pé na ponta da cama, vendo o homem que me ensinou tantas coisas, naquele estado, vários aparelhos estavam ligados ao seu corpo, soando bips.
— Mia ele não responderá, mais pode escutar o que você falar com ele. – Ela disse colocando as próprias luvas. – Não é mesmo Valter. Veja quem está aqui, você pediu e nós chamamos sua filha Mia.
— Desde quando ele está em coma?
— Tivemos que induzir há dois dias, tentamos contato com seu trabalho, Natalia, se me engano. Seu irmão que nos passou os números.
Então era isso o motivo de Marli ligar insistentemente para mim e eu achando que ela queria dizer sobre algo fútil não atendi.
— Vou deixar vocês a sós.
As palavras estavam travadas em minha garganta, peguei de leve a mão enrugada de meu pai, olhando para seu estado estável até o momento. Nada se encaixava para começar a falar como um:
— Oi pai.
Respirei fundo engolindo o bolo em minha garganta. – Não era assim que eu esperava vê-lo. Senti sua falta, foram longos anos...
As lágrimas vieram como uma cachoeira, caindo por meu rosto, molhando meu pescoço.
— Eu cresci muito desde que sai daqui papai, vivi coisas incríveis, conheci o homem da minha vida. – Sorri lembrando-me de Otávio. – Tenho um namorado. – Acrescentei rindo.
— Mas sabe pai, mesmo tendo trabalhado muito para conseguir juntar uma boa quantia de dinheiro para retomar meu sonho, pude estar com pessoas que me mostraram coisas incríveis, coisas que vou levar para sempre. E quando o senhor sair desse hospital contarei tudo.
Olhei para o rosto do meu pai, vendo uma pequena lágrima descendo pelos cantos dos seus olhos fechados. Minha mãe apareceu do outro lado da baia olhando para nós, um mínimo sorriso em seus lábios finos.
— Vou deixar vocês conversarem. – Dei um beijo na testa do meu pai, saindo como um verdadeiro zumbi, em pedaços por dentro querendo uma cama para me enroscar e só sair de lá quando tudo isso passasse.
No corredor não avistei ninguém, caminhei cruzando alguns médicos que me indicaram onde ficava a cafeteria. Arrastei-me até a máquina de café expresso, coloquei uma moeda de um real e um copo de plástico embaixo.
Encostei minha testa na máquina, respirando fundo. Minhas mãos tremiam um pouco.
— Mia? Você está bem? – Otávio correu ao meu encontro sustentando meu corpo.
— Não... – Chorei, fungando meu nariz.
Apoiei em seu peito, agarrando suas costas, deixando tudo cair como um deslizamento de terra. Encharcando sua camisa branca, mas ele não disse nada, só me abraçou com mais força. E mesmo nesse caos me senti segura, protegida.
– Obrigada por ter vindo comigo. – disse, entre soluços.
— Não estaria em nenhum outro lugar do mundo se não fosse ao seu lado minha Jujuba, apoiando você nesse momento.
E por um longo... Longo momento, ficamos assim.
Eu não tinha noção que horas eram, ou como estava o tempo lá fora. O ar condicionado do corredor fez com que eu me aninhasse em meu irmão me cobrindo com meu casaco.
Otávio tinha saído para resolver alguma coisa relacionada a trabalho, eu agradecia muito depois de tudo ele ainda permanecer firme e forte ao meu lado. Tinha deixado sua vida de lado para correr atrás de mim em Paris e agora aqui, me dando todo o apoio que eu precisava.
Esfreguei minha nuca tentando aliviar a dor que tinha se instalado ali, sentei olhando para o corredor agora mais vazio, os médicos que passavam por ali entrando na UTI não eram os mesmos e não entravam com tanta frequência. Meu irmão tinha adormecido, apoiando a cabeça contra a parede.
Olhei para o outro lado, vendo Otávio surgir no corredor, com passadas firmes. Sua camisa estava desalinhada e nem assim ele ficava feio.
— Oi. – Ele beijou minha testa, mantendo um braço envolva de minha cintura. – Como estão as coisas?
— Na mesma.
— Você não pode se culpar Maya, muitas vezes coisas acontecem para nos mostrar algo.
— Estou fazendo você sofrer comigo. – Sussurrei contra seu peito. – Você devia voltar, seu trabalho, suas coisas...
— Ei, ei. – Otávio puxou meu rosto para cima, olhando no fundo dos meus olhos. – Eu não vou a lugar algum, e nem tente me expulsar.
Capítulo 42
Dois dias, dois dias vagávamos pelos corredores, as notícias sempre eram as mesmas e o cansaço já batia forte sobre nós.
Observei Maya nesses dois dias com olhos inchados pelo choro, seu rosto pálido pelo medo da perda, nenhum dos três rostos continham um lampejo real de esperança.
Maya caminhou até seu irmão sentado com os braços apoiando a cabeça em frente à porta do quarto, seus passos vacilantes pelo cansaço e a quantidade abusiva de café.
Terminei minhas duas ligações, uma para o escritório explicando meu afastamento e outra para minha mãe. Devia isso a eles por ter saído como um louco do casamento sem nem me despedir, ainda não contei sobre o que Maya realmente era, nem sabia como comentar sobre isso, e não seria dentro de um hospital e ainda mais por telefone que iria conversar sobre uma coisa dessas.
—... Claro que entendemos filho, se precisarem de qualquer coisa ligue para nós. – Minha mãe terminava de falar.
— Pode deixar mãe, depois nos falamos melhor. – Meus olhos voltaram para Maya.
— Beijo filho.
Voltei meu celular ao bolso.
— Mia, você precisa dar um tempo no café. Precisa descansar. – Repreendi com um olhar duro.
— Eu estou bem, bonitão. Vou ficar bem.
— Ele está certo Mimi, vão para o hotel, descansem. Estou esperando mamãe sair do quarto para levá-la para casa. – André se juntou a mim.
Ela apoiou a cabeça na parede fechando os olhos.
Ainda meio relutante, mas concordando com um pouco de descanso deixamos o hospital, meu próprio corpo estava cansado, mesmo com o pequeno cochilo no voo. Passar o dia todo sentado em uma cadeira desconfortável de hospital estava piorando as coisas. Precisamos desse tempo.
A pedido de Maya, ficamos em um hotel próximo do hospital, uma cama com aparência de conforto me chamava aos poucos. – Vai tomar um banho, vou pedir algo para comermos. – Apontei para sua mala e pro banheiro, fui até a mesinha de cabeceira ligando para a recepção pedindo nosso jantar.
Liguei a pequena TV, assistindo um telejornal esperando Maya sair do banho para eu próprio tomar o meu, além de dar um tempo para ela.
Maya saiu do banho vestindo apenas uma camiseta larga e calcinha, mesmo não sendo de jeito nenhum o momento não poderia mentir para mim mesmo e dizer que não mexia nem um pouco comigo. Muito pelo contrário, depois do banho ela ficou com uma aparência melhor, mesmo as olheiras profundas ainda estarem presentes debaixo dos seus olhos.
— Já pedi nosso jantar, espero que goste de bife com batatas.
— Perfeito.
Caminhei até seu corpo abraçando-a por trás, sentindo seu cheiro misturado com o do sabonete. Seus cabelos molhados caindo pelas costas. – Pode ir jantando, vou tomar um banho, meu corpo já está implorando por isso.
Ela se virou em meus braços olhando para mim. – Obrigada mais uma vez, você não tinha nenhuma obrigação de ficar aqui e está.
— Maya não tem que agradecer. – Puxei seu rosto para cima, olhando dentro de seus olhos. – Estamos juntos.
Quando sai do banheiro secando meu corpo, Maya não só tinha devorado seu jantar como estava dobrada no sofá pequeno dormindo. Deixei minha toalha de lado, afastando as cobertas. Seu corpo pesado nos meus braços, dormindo em sono profundo, resmungou um pouco quando terminei de colocá-la na cama, mas permaneceu dormindo.
Capítulo 43
— Maya, Maya meu amor.
Puxei mais as cobertas para a cabeça, me escondendo de quem quer que me chamava.
— Maya precisamos ir. – Otávio insistia. – Jujuba.
Soltei um gemido me virando para encontrá-lo. Vestido da cabeça aos pés, os cabelos bagunçados indicando que tinha acabado de acordar.
Sentei na cama com um pulo . Puta merda, que horas eram?
— Jujuba, seu irmão ligou seu pai está pior.
Isso já me colocou em movimento corri para minha mala. Com uma calça jeans, uma camiseta com gola V e um par de tênis. Praticamente correndo pelo quarto fiquei pronta em cinco minutos, os cabelos presos em um rabo de cavalo.
Passei a mão pelo balcão pegando minha carteira e telefone vendo pelo canto do olho Otávio correr em meu encalço.
Corri pelos corredores do hospital nem ligando para os protestos que os médicos me lançavam. Depois de fazer todo o preparo para entrar na UTI, Otávio me seguiu até onde minha mãe e meu irmão estavam conversando com o médico.
— Desculpe a demora, o que está acontecendo?
— Por ora seu pai está consciente...
— Tem um, “mas”, fala de uma vez doutor.
— Entenda senhorita Mia, seu pai está nesse estado por cinco meses, melhor vocês aproveitarem o máximo de tempo possível com ele.
O medo me envolvia e me paralisava no lugar. Otávio mantinha seu braço em volta de minha cintura, sustentando meu corpo cada vez que meu passo vacilava.
Meu irmão fazia o mesmo com minha mãe, que mesmo tentando ser durona tinha desmoronado quando o médico deu a notícia, o leito de meu pai estava com poucos aparelhos, meus olhos voaram em sua direção olhando seu rosto marcado pelo tempo no hospital, seu corpo marcado por medicamentos e marcas dos aparelhos que agora estavam ausentes. André olhou para mim com os olhos marejados.
— Mi... Mia. – A voz grave e ao mesmo tempo fraca de meu pai soou em meus ouvidos.
— Pai.
Peguei em sua mão, sentindo-a gelada contra a minha.
— Filha, me... Me desculpe... Eu – Meu pai gaguejava.
—Shiuu, não precisa disso pai. Eu amo o senhor, nada mudaria isso.
Meus olhos se encheram de lágrimas. Otávio apoiava suas mãos em minhas costas fazendo pequenos carinhos, dando-me seu apoio.
Os bips ficaram mais fortes quando ele se remexeu incomodado na cama, olhei para meu irmão que escondia suas lágrimas. E então realmente eu entendi que aquele seria o único momento que teria com meu pai, anos desperdiçados por escolhas diferentes.
Balancei a cabeça negando isso, meu irmão cruzou seus olhos comigo. O mesmo choque e tristeza espelhada nele.
— Quero que você... Preciso...
— Pai. – Disse implorando aos céus que ele ficasse bem.
— Preciso que você me perdoe. – Ele tomou fôlego despejando as palavras em mim. – Quero que você seja feliz, amo você, minha menina.
— Pai, por favor, não fale assim. – Eu não conseguia conter meu choro, meus soluços.
Meu pai fez sinal para que meu irmão e minha mãe se aproximassem, juntando nossas mãos.
— Fiquem juntos.
— Pai, não...
— Valter não faça isso comigo. – Minha mãe chorava com a cabeça apoiada no ombro de André.
O brilho enfraquecido foi deixando o rosto de meu pai, assim como os aparelhos soavam enlouquecidos, um aparelho disparava uma luz vermelha. Engoli em seco, cambaleando para trás, sendo puxada por Otávio. Dando espaço para Carmen e alguns médicos entraram no leito pequeno pedindo que nos afastássemos, assim como minha mãe foi puxada pelo meu irmão.
Otávio se agarrava em minha cintura, enquanto eu me debatia, esmurrava suas mãos tentando me soltar, gritando, expulsando a dor que me consumia.
Os médicos tentaram reanimar, o corpo de meu pai dava pequenos baques saltando com a carga do aparelho por três vezes.
Desviei os olhos daquela cena colando meu rosto na camisa de Otávio, querendo não escutar o bipe longo e insistente que anunciava que meu pai se fora.
— Hora do óbito: 4h32min. – Disse o médico, quebrando o silêncio que se instalou entre nós.
4h32 min. A hora que meu pai nos deixou.
Capítulo 44
“Comece ironicamente seguindo o conselho de quem deixou. Cuide de você.”
Mesmo ajudando e querendo estar ao lado de Maya por todos os dias que se seguiram, tinha obrigações que deixei de lado, Hugo tinha sido transferido para a empresa do Rio a “pedido” de Ianelli e eu tinha que retomar meu trabalho.
Afinal era diretor de uma empresa, assim como da filial. Ainda não sabia dizer como não tinha sido demitido com meu afastamento brusco. Daniela devia estar fazendo horas extras e grandes manobras para ainda manter meu emprego. Ou poderia estar enganado e quando saísse do avião descobriria que era o mais novo desempregado de São Paulo.
Sabe quando você olha para o céu ironizando tal pensamento? Pois é, o que me fez ir atrás de uma acompanhante de luxo visando minha promoção poderia ser aquilo que também me tiraria meu emprego.
Peguei o primeiro voo depois do enterro, voltando para São Paulo, enquanto que Maya permaneceu com sua família. Com a correria do dia, nos falávamos pouco ou sempre corrido. O que me dava à sensação de estarmos nos afastando, entendia que ela enfrentava o luto, mas não queria que nos perdêssemos por isso.
Três semanas passaram.
Duas sem qualquer contato com ela. Pouco fiquei sabendo depois do funeral de seu pai. Em uma de minhas últimas ligações, André me contou que Maya tinha saído com sua mãe, que ele estava contente por ter mesmo nesse momento sua irmã por perto. Até mesmo Jaqueline não tinha muitas informações dela, continuava cuidando de sua gata esperando-a retornar.
Depois desse telefonema, resolvi tomar com afinco minha vida. Eu tinha um emprego, uma família e coisas que gostava e me distraia muito, antes de Maya. Mesmo alguns dias de enorme confusão sobre tudo que vivi com ela, decidi que tinha sido perfeito, porém teve seu prazo. Como ela mesma me disse na carta. Se estava disposta a me deixar, não seria eu que seguraria ela em meus braços.
Minha mãe costumava dizer para minhas irmãs em suas decepções amorosas que nem todo amor foi feito para durar a vida toda, que existiam amores que nos levavam para o “feliz para sempre”, ela geralmente chamava esses pequenos amores de “felizes por um momento”. Eu como sendo o único homem não acreditava muito nesse papo, não ironizava, é claro.
Mas tinha meus meios de fazer os caras pagaram por fazer uma de minhas irmãs chorarem, o que me dava longos dias de castigo, ou fazendo tarefas em casa com meu pai.
Não era desagradável ficar de castigo ou ajudar meu pai a cortar a grama, ou limpar todo o galpão dele, o que tomava meu final de semana todo.
Apenas me deixava ansioso para ver o tal sujeitinho com o olho roxo no outro dia pelos corredores da escola, minhas irmãs por esse lado aumentaram minha fama e andavam seguras e confiantes pelo corredor.
Era engraçado até.
E hoje, aqui estou eu. Acreditando nessa baboseira de amores por um momento.
Sem Maya nada era atraente, era como se ela fosse à luz, trazendo momentos loucos e insanos, ao mesmo tempo em que me mostrava que o cara que não queria criar expectativas com ninguém agora foi deixado com expectativas, quando fui buscar por ela em Paris achei que nada mais nos afastaria, estávamos plenos e juntos.
Mas, o mesmo destino que quis brincar cruzando nossas vidas, mostrando que o cara boêmio queria abandonar os bancos dos bares e seu copo de Bourbon por uma mulher, ser de uma mulher específica
Devo confessar que as lembranças se mantinham forte, entrelaçadas em meu cérebro. Não existiam mágoas, apenas uma infinidade de possibilidade que tínhamos deixado de lado. Mesmo não assumindo Maya Banks, uma acompanhante de luxo me deu as melhores semanas e os melhores sexos da minha vida. Clichê? Até pode ser, mas tudo não passava de pura verdade.
Soltei a coleira de Buddy para que corresse um pouco pelo parque Ibirapuera, não tinham muitas pessoas por lá no final da tarde, mas alguns casais, ou famílias passeavam ou se sentavam sobre as sombras. Todo mundo querendo aproveitar aquele domingo, o entardecer de mais um dia de calor absurdo.
Alguns ciclistas aproveitando que o sol estava mais fraco para atividades físicas. Encostei-me sobre um tronco grosso de uma árvore me escondendo nas suas sombras, fechando os olhos.
O vento somado à grande sombra que a árvore produzia dava uma sensação de relaxamento, apenas o barulho dos pássaros, mesmo o parque estando no meio de uma cidade barulhenta e agitada as árvores e o espaço mantinham sua calmaria.
— Com licença, o bonitão está sozinho?
Minha mente alertava como se uma luz vermelha piscasse para que não abrisse os olhos, para que aproveitasse o máximo daquela voz tão parecida com a de..., no entanto, ao abri-los acabei contemplando aqueles olhos verdes penetrantes. Ela estava um pouco mais magra, usando calça jeans preta e uma blusa branca caída em seus ombros.
— Maya — sussurrei incapaz de reagir a sua beleza. Meu corpo congelou observando essa criatura na minha frente. A mulher que a vida colocou no meu caminho e que levaria meu dinheiro, mas no fim saiu com um prêmio muito mais alto, meu coração.
Buddy voltou latindo, reconhecendo Maya, pulou sobre ela que gargalhou fazendo carinho em seu pelo.
— Olha garotão, também senti sua falta. – Ela ria.
Ela acalmou meu cachorro com batidinhas carinhosas em sua cabeça, voltando seu olhar para mim. – Otávio.
— Como vai? – Foi tudo que soltei ainda congelado em minha posição escondido sobre a sombra da árvore.
— Sei que devo desculpas.
— Você não me deve nada, Maya. – Sai de minha inércia, de pé pude encarar melhor seu rosto.
— Otávio – ela lamentou – eu precisava desse tempo, tanta coisa aconteceu em minha vida durante esses meses.
Só o simples gesto de ela afastar as mechas longas do seu rosto e morder seu lábio inferior, já me quebrava por dentro.
— Você não me deve nada como disse Maya. Foi ótimo tudo que passamos. – Coloquei as mãos nos bolsos da calça, evitando que eles sem a minha permissão corressem por seu rosto.
O arrependimento por minhas palavras veio no mesmo instante que minha boca se fechou.
— Eu larguei meu trabalho na Luxor. — Maya encarava o nada, além da paisagem a nossa frente. – Sabe, estou retomando meus sonhos.
— Isso é muito bom, espero... Que tenha o que procura – gaguejei.
Nossos olhos se encontraram, mostrando a tempestade que acontecia dentro deles, o amor, nossos incontáveis desencontros.
— Recomeço... – minha voz saiu baixa, impossível de sair clara com o nó que tinha se formado em minha garganta.
— Eu vim buscar vocês...
Maya tinha a mesma emoção velada na voz, mesmo seus olhos me encarando de maneira firme.
— Não achou que recomeçaria minha vida sem você do meu lado?
Ela me lançou um sorriso de lado. — Algo sempre me traz de volta a você e isso não demora muito. Não importa o que eu diga ou faça, ainda sinto você aqui, até o momento que vou embora. – Ela soltou um suspiro, sua mão passou pelo meu braço parando em meu peito. Causando aquelas ondas de conforto e desejo por mim.
Fechei por um segundo os olhos, respirando fundo.
Não tinha resposta melhor que essa, puxei Maya pelos braços grudando nossos corpos, tomando sua boca para mim, colocando nesse beijo tudo que passei nessas semanas, a saudade incontrolável, o desejo de seu corpo. A falta que seu riso e sua voz fizeram aos meus ouvidos.
E naquele momento, pouco me importei se nos conhecemos em uma boate, se contratei ela para uma mentira que se tornou a melhor verdade que já contei. Não me importava quanto tempo ou os caminhos difíceis que ainda iríamos passar. Porque eu a amava, amava a Maya Banks ou a simples Mia Azevedo, uma mulher com mil jeitos e mil rostos. E queria passar por tudo que esse destino louco tinha nos reservado.
— Eu te amo – seus lábios esbarrando nos meus.
Passei a mão pelo seu rosto, deixando que seu cheiro doce invadisse meu corpo e mente.
– Eu te amo Mia, Maya, Laura ou Joana. – Repeti suas palavras quando perguntei sobre seu nome verdadeiro em nosso primeiro encontro.
Ela riu baixinho, deitando seu rosto em minha mão.
Dois anos depois...
Deitada na grande espreguiçadeira eu podia ouvir o barulho das ondas se quebrando abaixo de mim. O cheiro de maresia que tanto amava, o vento suave que passava pela varanda tocando minha pele. Uma escadaria dava acesso à praia do Forno, um lugar de água cristalina e areia branca, tão paradisíaco, um verdadeiro Caribe bem no Rio de Janeiro.
Arraial do Cabo estava sendo nosso lar provisório, nesses últimos seis meses. Otávio estava muito bem em seu trabalho, quando foi nomeado Diretor Executivo, vieram grandes oportunidades, como essa, de gerenciar de perto todo o trabalho publicitário que estavam fazendo para um grande hotel no Rio. Mesmo eu protelando algumas coisas, estava adorando bancar a turista, ficando em férias prolongadas com Otávio.
A varanda de madeira branca toda entalhada que circulava o primeiro andar de nossa casa, nos dava uma vista privilegiada do nosso refúgio. Otávio surgiu pela escadaria com o corpo molhado pelo banho de mar, os cabelos bagunçados dando um ar de menino travesso, os olhos estreitos acompanhando seu sorriso safado e a tatuagem brilhando com as gotas d’água.
Ah, aquela tatuagem !
Ele subiu em cima de mim me prendendo contra a espreguiçadeira, me molhando. A água gelada escorria pelo meu decote ou pela minha coxa a mostra, no curto vestido branco, fazendo meu corpo esperar pelo toque dele.
Otávio beijou meu pescoço com desejo, mordiscando abaixo de meu ouvido, causando um curto circuito em meus nervos. Eu amava tudo naquele homem, cada pedacinho de pele eu amava, amava ainda mais saber que eu tinha feito um verdadeiro boêmio trocar suas gandaias e noitadas, por uma única mulher. E essa meu bem, era eu.
Meus dedos percorriam suas costas arranhando, apertando sua bunda, puxando seu cabelo. Ele se aventurava levantando a barra da minha saída de praia, roçando o dedo por cima do biquíni na minha intimidade, mostrando muito bem o que queria. Nossa boca se encontrou sedenta, desejosa, subindo o nível de carícias e deixando os beijos apaixonados para o lado, nos entregando aos desejos mais pecaminosos.
Apertos firmes, mãos passando pelo corpo um do outro, mordidas, arranhões...
Quando seus dedos me invadiram, testando minha excitação antes de se aprofundarem em mim eu me contorci na espreguiçadeira.
— Bonitão... — gemi em seu ouvido. – Quer mesmo mais um showzinho?
— Não ligo, quero só me enfiar em você.
Gemi sentindo meu corpo ser invadido de maneira deliciosa, Otávio fazia questão após cada estocada firme se retirar de dentro de mim esfregando sua ereção pelo meu sexo inchado de prazer, suas mãos firmes me seguravam pelo quadril impedindo que eu fizesse qualquer movimento.
— Ah! Jujuba, não me canso disso. Poderia dormir, acordar, tomar banho, viver aqui. – Ele falava entrecortado por causa de suas estocadas.
Ri de seu comentário bobo.
Assim como era ótimo os momentos de muito romances e grandes preliminares, também era ótimo quando nos saciávamos com um desejo brutal e primitivo. Senti meu corpo se fechar sobre seu membro, chegando perto do orgasmo que ele me proporcionava, sua boca em meu seio chupando e mordendo a aureola, enquanto seu movimento de vai e vem conectava nossos corpos nos levando ao limite.
Entreguei-me aos tremores deixando cair sobre mim o tão desejado e bem-vindo orgasmo. Otávio se entregou ao dele, do mesmo modo brutal que eu percorri meus desejos.
Se mantendo ainda dentro de mim, deitou ao meu lado, fazendo com que ficássemos frente a frente. Despejando as últimas gotas de seu desejo, suas mãos acariciando meu braço, enrolando as mechas de meu cabelo em seus dedos. Minha perna enrolada em sua cintura prolongando o contato íntimo entre nós.
— Amo você – Otávio sussurrou em meu ouvido.
— Muito, bonitão. – Completei acariciando seu cabelo com a mão livre.
Aqueles anos foram diferentes de tudo que eu poderia provar. Quem diria que um aluguel de luxo, me levaria por um caminho incrível. Libertando-me do passado, apagando aquela mancha negra.
Encontrando um homem que eu poderia dizer com todas as letras e prazer, que foi modificado por mim. Transformando ambos para estarmos onde estamos.
Misturando nossos mundos, nossos receios e vencendo juntos cada barreira. E principalmente, não nos afastando mais com cada problema que o destino colocava em nosso caminho, e, sim unindo nossas forças e nosso amor para passar por qualquer fase que fosse.
O que mais uma mulher poderia querer? Tudo que restava era continuar conquistando meu “Feliz para sempre” de todos os dias...
A. K. Raimundi
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