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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


INSTINTO DE MÃE E DE MULHER / Carlos Cunha
INSTINTO DE MÃE E DE MULHER / Carlos Cunha

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

INSTINTO DE MÃE E DE MULHER

 

 

- Que delícia de mulher! – o rapaz pensou e sem querer falou em voz alta.

Ela olhou pra ele, lhe deu um sorriso encantador e perguntou cheia de ironia:

- Você acha! Como é que sabe?

- To te olhando, ora. Você é pra lá de gostosa.

- E você o maior cara de pau que eu conheci. Tchau garotão.

Virou-se e saiu caminhando pela areia, provocante e sensual. Admirando o andar garboso dela, e sem conseguir tirar os olhos das nádegas que saltavam do fio dental branco que ela usava, ele pensou:

“Menina, de qualquer maneira eu vou comer essa sua b... deliciosa. A se vou”.

A acompanhou com o olhar até que ela chegou em um pedaço da praia que estava quase vazia, tirou o sutiã do biquíni e fechando os olhos deitou-se para tomar sol. Caminhou então até lá, sentou na areia ao lado dela e a ficou olhando sem dizer nada.
Sem abrir os olhos ela falou:

- Qual é cara? Vai dar uma volta e me deixa tomar sol.

Ele nada respondeu e continuou ali a olhá-la. Não conseguia despregar os olhos daquele corpo escultural e quase nu. De boca aberta olhava o fio branco que separava as pernas longas dela, enfiado entre o que pareciam dois deliciosos bolachões.

- Se toca. Tem um monte de mina ai na praia e você vem pegar logo no meu pé!

O silêncio do rapaz e o peso do olhar dele, que a devorava, foi deixando ela nervosa.

- Ta, eu vou ter de ir embora! Olha aqui, se você vier atrás de mim eu vou chamar um segurança da praia. Ta louco, ela falou e se levantou com raiva. Colocou o sutiã e se afastou.

Ele continuou ali sentado até que ela sumiu entre as pessoas que estavam na parte movimentada da praia.

- Roseli, vem cá.

- Que é mãe?

- Chegou pra você. O rapaz da floricultura acabou de entregar.

- Pra mim! - ela olhou sobre o balcão da sorveteria de seus pais e viu um lindo arranjo feito com duas dúzias de rosas brancas.

- Quem mandou?

- Sei lá. Tem um cartão, dá uma olhada.

“O branco nas rosas é um símbolo de pureza maior, e quando adorna o corpo de uma bela mulher a transforma em um anjo”.

Não tinha nele um nome ou algo que indicasse quem havia mandado aquelas flores.

- Tem certeza que é pra mim mãe? O rapaz que trouxe falou quem mandou?

- Não. Disse que um moço as comprou e mandou entregar pra filha da dona da sorveteria. Só pode ser pra você.

Duas semanas passaram-se e todas as tardes um arranjo de flores brancas era entregue na sorveteria. Sempre tinha nele um cartão com um lindo poema, mas nunca era por alguém assinado.

A aula já tinha começado quando ela entrou na classe e foi direto para o seu lugar. Abriu a mochila, tirou dela os cadernos e quando foi colocá-los no nicho, sob a carteira, não conseguiu porque ali tinha algo que impedia. Olhou curiosa e viu que era uma caixa de bombons com uma rosa branca sobre ela e uma folha de papel ao lado, que tinha nela um poema escrito com a mesma caligrafia dos cartões que havia nas flores que recebia já há vários dias. Nessa hora percebeu que a professora falava com ela:

-... como você chegou atrasada não estava na classe quando eu apresentei pro pessoal um aluno que veio transferido de outra escola e que a partir de hoje começa a estudar conosco. Ele é o Daniel, espero que vocês se deem bem.

Quando olhou para a direção em que a professora apontava, ela teve a segunda surpresa do dia. Quem estava lá sentado era o mesmo rapaz que tanto a tinha incomodado há algumas semanas na praia.

“MERDA”, ela pensou.

Quando chegou a sorveteria naquele dia, depois da aula, a mãe lhe disse:

- Coloquei as flores que te mandaram num vaso e o cartão ta lá no caixa. Já descobriu quem as tem mandado?

- Não tenho nem ideia deve ser algum chato que não tem o que fazer.

- Seja quem for com certeza está louco por você. Um homem só age assim quando está amando.

- Que nada! Deve ser um daqueles rapazes bobos lá da escola ou talvez até uma das meninas querendo caçoar comigo.

- Acho que não querida. Meus instintos de mãe e de mulher dizem que minha filhinha logo-logo vai namorar e viver um grande amor.

- Para com isso mãe, que essa história de príncipe encantado já era! Hoje a gente conhece um cara, fica com ele o tempo que nos interessa e parte pra outra. Grandes amores é coisa de novela.

- Olha menina, só um homem muito apaixonado age dessa maneira e eu tenho certeza que você está adorando. Não me engana com essa sua indiferença e esse seu jeito de quem não está nem ai com o que está acontecendo. Tenho certeza de que está louca pra saber quem é ele.

Enquanto a mãe falava, ela foi até o caixa e pegou o cartão que tinha vindo com as flores, o abriu e ao ler ás poucas palavras escritas nele, teve a terceira surpresa daquele dia. A mesma letra desenhada de sempre dizia que ele a estaria esperando na praia naquela tarde, só que dessa vez o cartão tinha uma assinatura.

Daniel

- Porra que merda, é muito azar! Tinha que ser logo ele quem estava me mandando as flores? – a Roseli disse alto sem ligar para a mãe que a olhava, sem entender porque a filha estava vermelha de raiva.

Apesar de ser uma tarde sem sol, o dia estava bastante quente e havia muitas pessoas na praia. A Roseli estava sentada na areia, olhando outros jovens de sua idade que jogavam vôlei e gritavam alegres. Tinha na mão um graveto e riscava a areia com ele enquanto pensava, bastante confusa com os sentimentos que a dominavam.

“Como sou boba! Até cheguei a sonhar que ia conhecer o amor nessa história toda. Ta certo que eu tinha quase certeza que era gozação de alguém, mas bem podia ter sido um carinha legal que estivesse mandando as flores. Tinha de ser logo esse cara? E eu queria o que? Que fosse um príncipe encantado e ele aparece para me levar em seu cavalo! Mas bem que podia ao menos ter sido outra pessoa. Será que ele é tão ruim assim? Não é feio, tenho de confessar. Ele tem os olhos azuis! A voz dele é delicada e macia!”

- OI, to vendo que pelo menos você perdeu a raiva de mim!

Ela se assustou, pois não o tinha visto chegar e ficou muito vermelha ao ver o que ele olhava. Na areia, entre os rabiscos que tinha feito com o graveto, ela tinha desenhado o nome dele.

Daniel

Ondas calmas invadiam a areia e quebravam nos corpos nus que estavam nela estendidos e poucas nuvens deslizavam mansamente em direção ao clarão mágico que explodia no horizonte. Ela não conseguia explicar a si mesma como tinha chegado até aquela deserta ponta de praia e o que a levou a se entregar a aquele rapaz daquela maneira, só sabia que estava feliz.

- Mãe, o rapaz da floricultura veio trazer as flores?

- Veio. Eu as coloquei em um vaso e levei pro seu quarto.

- E o cartão, onde está?

- Mas que mudança minha filha! Ainda ontem você nem ligava para essas flores e agora toda essa ansiedade! O que aconteceu?

- Nada não mãe, só to curiosa. Cadê o cartão?

- Ta aqui no meu bolso, toma ele.

Ela deu o cartão para a filha, viu ela abri-lo e entendeu a felicidade dela enquanto lia o que estava nele escrito.

“Se um dia não houver flores brancas na natureza eu as plantarei em meu coração para oferecê-las a você, a mulher que eu amo”.

Daniel

A amorosa mãe sorriu encantada e viveu junto á felicidade da filha, enquanto pensava:

“Eu sabia que um dia isso ia acontecer com essa minha doce criança. Todas aquelas flores acabaram por despertar nela a mulher que ela tinha escondida. Que maravilha, a minha menininha está amando finalmente!”.

 

 

Tempos depois...

 

Roseli se sentia deprimida. Olhava a chuva fina que caia, por trás do balcão, e via a praia totalmente vazia. Desde que chegara da escola estava ali sentada e não tinha entrado ninguém. Também com um tempo ruim daqueles e a praia deserta quem ia aparecer na sorveteria?

“Que merda de dia!”, ela pensava.

A aula tinha sido uma droga. Odiava a matéria que tinha tido naquela manhã e até sentiu vontade de ficar na cama quando viu que estava chovendo. Na verdade só foi á escola para ver o Daniel e ele não apareceu!

“Por que será que ele não foi na escola? Ele não costuma faltar! Se tivesse algo pra fazer teria me dito ontem. Será que está doente? Se fosse isso teria me ligado pra avisar”, ela pensava no namorado quando a porta da sorveteria se abriu e o garoto de entregas da floricultura entrou por ela todo molhado. Abraçava um enorme arranjo de rosas brancas que mal conseguia segurar, por ser um menino muito pequeno.

- Oi, dona Roseli, vim trazer as flores.

- Por que você não esperou passar a chuva? Podia ter trazido mais tarde.

- É que o moço disse pra eu trazer agora. Falou que tinha um recado importante pra senhora e que eu tinha de entregar logo. Até me deu uma gorjeta legal.

- A ta. Da o cartão e coloque as flores no balcão. Espera só um pouquinho que eu te faço um sorvete.

A Roseli pegou o cartão, que vinha com as flores, e leu o que estava escrito nele:

“Oi amor, desculpa não ter aparecido na aula. Tinha algo importante pra fazer e passo ás quatro pra te pegar e te conto. Beijos”: Daniel

Quando ele chegou, na hora em que tinha prometido, ela foi logo perguntando:


- Mas o que você tinha de tão importante assim que teve de faltar na aula Daniel? Por que todo esse suspense amor?

- Calma querida, eu te falei que era surpresa. Tenha um pouco mais de paciência que já vai saber. Pronto é aqui, o Daniel disse enquanto estacionava o carro em frente a um prédio.

- O que é aqui Daniel? Nós vamos visitar alguém? Aqui é a casa de quem?

- Já disse pra você ter paciência, vem comigo.

Eles entraram no prédio, subiram até o terceiro andar e ele a levou pelo corredor até que chegaram em frente a uma porta, que tinha nela uma placa que dizia ser o apartamento 315. Tirou do bolso uma chave que estendeu pra ela e falou:

- Abre a porta.

- Mas... Quem mora ai?

- Abre amor, é a surpresa que eu disse que tinha pra você.



Ao abrir a porta a Roseli entrou numa sala pequena, mobiliada com lindos móveis modernos e de bom gosto. O tapete claro era espesso e macio e nas paredes brancas tinha vários quadros, com motivos levemente eróticos, que combinavam com tudo que havia ali.

- Que apartamento lindo amor. Quem é que mora aqui? – a Roseli voltou a perguntar.

- Ninguém. Ou melhor, é nosso. Aluguei hoje de manhã pra termos um lugar para quando quisermos ficar sozinhos. Gostou?

- É claro, adorei. Mas eu não vou poder deixar a minha casa. Não da pra vir morar aqui com você.

- Nossa vida em casa vai ser a mesma! Você vai continuar vivendo com seus pais e eu com os meus. Aqui é só um lugar exclusivo para nós dois, o nosso cantinho de amor. Vem, vou te mostrar o resto.

O Daniel levou a Roseli até a cozinha, que não tinha o tamanho maior que a sala. Nela só tinha um aparelho de micro-ondas e uma geladeira. Ele disse pra ela:

- Não tem fogão porque não precisa, não vamos cozinhar aqui. Só o forno pra esquentar um lanche, quando nós ficarmos muitas horas trancadas aqui, e a geladeira pra cerveja que não pode faltar. Se você achar que precisa de mais alguma coisa me fala que eu providencio.

- Amor! Manter isso aqui vai ficar uma fortuna. É uma loucura só pra gente se ver de vez em quando!

- E quem disse que vai ser de vez em quando?! Vamos vir aqui todos os dias e passar o máximo de tempo juntos. Não traremos conosco pra cá nossas tristezas e os nossos problemas. Viremos sempre cheios de amor e aqui vai ser o altar da nossa felicidade.

- Você é tão doce Daniel! Tem certeza mesmo que me ama?

- E ainda tem alguma dúvida?! Eu te adoro Roseli. Amo, eu quero e vou te amar sempre.

E eles se beijaram apaixonados.

- Agora feche os olhos. Eu vou te pegar no colo, não tenha medo e não os abra.

Ele a carregou pelo apartamento e pouco depois lhe disse:

- Agora pode abrir.

Ela viu o quarto enorme, que estaria quase vazio se não fosse as dezenas de flores brancas colocadas em lindos vasos por todo ele, que só tinha uma grande cama redonda em seu centro e tanto as paredes como o teto dele eram espelhos.

- Daniel! Que loucura!

- Os loucos nunca deixam de amar com intensidade querida. Eles não dosam os prazeres que dão ou os que recebem. Vem, deixa este louco te amar. Mostrar a louca e desesperada paixão que sente por você.

Logo eles estavam nus e tinham seus corpos ansiosos refletidos por todos os lados. No teto a Roseli viu a sua imagem junto à de Daniel naquele momento dividido de posse e entrega total.



- Oi mãe, tem alguma coisa pra comer? Nós estamos morrendo de fome, a Roseli entrou em casa gritando.

- To aqui na cozinha. Vem pra cá que eu esquento de novo a janta. Vocês demoraram tanto que esfriou. Oi Daniel, tudo bem?

- Tudo ótimo mamãe – era com esse tratamento carinhoso que o Daniel tratava a mãe da Roseli desde o dia em que a conheceu – e a senhora, ta legal?

- Eu também estou muito bem. Vocês demoraram, em!

- Fomos assistir a um filme e quando terminou a Roseli quis ver ele de novo. Era uma fita linda mamãe, valeu a pena assistir duas vezes.

- Eu tenho certeza que era a velhinha respondeu com um sorriso maroto estampado em seu rosto bondoso e feliz. Aposto que era um filme de amor e que vocês assistiram as duas vezes agarradinhos, ela disse e deu uma gostosa gargalhada.

 

Carlos Cunha  Texto & Produção Visual