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Series & Trilogias Literarias
Meu telefone tocou.
B: Saio do trabalho em vinte minutos.
Coloquei o celular no silencioso, ignorei a mensagem de Blake e voltei meu foco para Alli. Ela colocou uma mecha dos seus longos cabelos castanhos atrás da orelha e continuou atualizando a equipe quanto às estatísticas semanais da nossa startup virtual, o Clozpin. Ouvi atentamente, feliz por tê-la de volta no time.
Alli havia voltado a Boston há poucas semanas, mas estava finalmente dividindo uma cidade e um apartamento com Heath de novo. Heath estava feliz, ela estava feliz, e eu estava animadíssima por tê-la retomando o cargo de diretora de marketing depois do fiasco com Risa. Convidei Alli para voltar antes mesmo de demitir Risa pelo vazamento das informações confidenciais sobre a empresa.
Eu me encolhi só de pensar naquilo. Alli era uma fonte de otimismo, mas a traição de Risa ainda me machucava. Eu não tive notícias dela desde nosso último encontro e, de alguma forma, o silêncio entre nós me enchia mais de medo do que de qualquer outra coisa. Eu queria duvidar da capacidade dela de começar um site concorrente com Max, nosso quase-investidor e inimigo declarado de Blake, mas o desconhecido me preocupava. E se eles conseguissem roubar nossos anunciantes? E se eles conseguissem construir algo que fosse realmente melhor e satisfizesse uma necessidade que o Clozpin não satisfazia?
Com o dinheiro que Max estava injetando, aliado às informações internas que Risa coletara diretamente de tudo que eu aprendi em minha breve aventura como CEO da empresa, tudo era possível. E a maneira como ela havia nos deixado, com tanta raiva e ressentimento, ratificava todas as inseguranças que eu tinha em relação a administrar um negócio. Eu ainda estava dando meus primeiros passos, sem sombra de dúvidas. Queria acreditar que conseguiria me virar sozinha, e em muitos sentidos eu conseguia, mas ainda tinha muito a aprender.
Outra mensagem chegou no meu celular, me distraindo tanto quanto a outra, ao vibrar sobre o tampo de vidro da mesa de reuniões.
B: Erica?
Revirei os olhos e digitei uma resposta rapidamente. Eu sabia que ele iria me encher o saco até que eu lhe desse atenção.
E: Estou em uma reunião. Ligo mais tarde.
B: Quero você nua na minha cama quando chegar em casa. Melhor você ir embora logo.
E: Preciso de mais tempo.
B: Vou estar dentro de você em uma hora. Seu escritório, nossa cama, a escolha é sua. Resolva aí.
O ar da sala ficou, repentinamente, frio demais contra minha pele quente. Tremi e meus mamilos enrijeceram, raspando desconfortavelmente na blusa. Como ele fazia
isso? Algumas palavras bem colocadas, mesmo que enviadas por mensagem de texto, me fizeram ficar de olho no relógio.
— Erica, tem mais alguma coisa que você queira repassar?
Meus olhos se fixaram nos de Alli. Ela arqueou a sobrancelha como desconfiasse que eu não estivesse prestando atenção. Tudo em que eu conseguia pensar eram as consequências
de deixar Blake esperando, e a resposta física a essa expectativa já estava se tornando difícil de ignorar. Afastei meus pensamentos das promessas de Blake e voltei
ao presente.
— Não, acho que por hoje é só. Obrigada a todos.
Peguei minhas coisas rapidamente, ansiosa para entrar em movimento. Gesticulei para dispersar o restante da equipe, e eles voltaram às suas estações de trabalho.
Alli me seguiu até passarmos pelas divisórias de meu escritório.
— O que está rolando com Perry? Não quis tocar no assunto durante a reunião, já que a situação é um tanto esquisita.
— Nada demais. Ele me mandou outro e-mail, mas eu ainda não respondi.
Eu não teria tempo de entrar nos pormenores daquela situação agora se quisesse cumprir o prazo de Blake.
— Você está pensando em aceitá-lo como anunciante?
— Ainda não sei.
Eu ainda estava em conflito quanto a isso.
Os grandes olhos castanhos de Alli se arregalaram.
— Blake sabe que ele entrou em contato com você?
— Não.
Encarei Alli com severidade, deixando claro, sem palavras, que eu não queria que ele soubesse. Na última vez em que eu vi Isaac Perry, Blake o prensara contra a
parede pelo pescoço, ameaçando castrá-lo se ele ousasse tocar em mim algum dia de novo. Eu não queria arranjar desculpas para o péssimo comportamento de Isaac aquela
noite e não queria perdoá-lo, assim como Blake não queria. Mas negócios eram negócios.
— Ele não vai ficar feliz se você acabar trabalhando com ele.
Enfiei o laptop na bolsa.
— Você acha que eu não sei disso?
As associações mentais de Blake atrapalhavam mais decisões corporativas estratégicas do que eu queria admitir.
Alli se apoiou na mesa.
— Então o que você vai fazer? Perry pode oferecer algo impressionante se você ainda não o dispensou de vez.
— O Grupo Perry Media representa uma dúzia de publicações multimídia por todo o globo. Não estou dizendo que confio nele, mas ao menos posso ouvir o que ele tem
a dizer.
Ela deu de ombros.
— O que você achar melhor para a empresa, seja lá o que for, eu vou apoiar. Também não me importo em lidar diretamente com ele, se você se sentir mais confortável
assim.
— Obrigada, Alli. Mas prefiro chegar à raiz disso eu mesma. Podemos conversar mais sobre isso depois? Preciso ir. Blake está me esperando.
— Ah, vocês vão sair?
Ela ficou animada imediatamente, e sua persona corporativa desapareceu, substituída pela melhor amiga energética que tornava todos os dias um pouco mais alegres.
— Hum, temos planos. Vejo você mais tarde — respondi, sem querer parecer enigmática, antes de sair do escritório e dar uns “tchaus”.
Um minuto depois, saí no calor do início de agosto. O tráfego da hora do rush se arrastava e meu telefone começou a tocar antes que eu pudesse dar os primeiros passos
para casa. Resmunguei e peguei o celular na bolsa. Blake podia ser enlouquecedoramente persistente. Quando olhei, um número de Chicago apareceu na tela.
— Alô? — atendi, hesitante.
— Erica?
— Sim, quem é?
— Sou eu, Elliot.
Coloquei a mão na boca, abafando a surpresa que tive ao ouvir a voz de meu padrasto.
— Elliot?
— Você tem um minuto? É uma hora ruim?
— Não, está tudo bem. — Empurrei a porta do Mocha, o café no térreo, para sair do calor. — Como você está? Não falo com você há uma eternidade.
Ele deu uma risada.
— Tenho estado ocupado.
Sorri comigo mesma. Fazia muito tempo que eu não ouvia aquele som.
— É claro. Como estão as crianças?
— Estão muito bem. Crescendo rápido demais.
— Aposto que sim. Como está Beth?
— Está bem. Ela voltou a trabalhar, agora que as crianças estão na escola, então está bastante ocupada. Nós dois estamos. — Ele pigarreou e deu um respiro audível.
— Escute, sei que não tenho sido muito bom em manter contato. Sinceramente, me sinto péssimo quanto a isso. Eu realmente queria ter ido à formatura. As coisas estavam
simplesmente frenéticas por aqui...
— Não tem problema, Elliot. Eu entendo. Tem muitas coisas acontecendo por aí.
— Obrigado. — Ele suspirou silenciosamente. — Você sempre foi muito sensata. Mesmo quando era mais nova. Às vezes, eu acho que você tinha mais controle do que eu.
Sei que sua mãe teria orgulho da mulher que você se tornou.
— Obrigada. Espero que sim.
Fechei os olhos, permitindo que uma lembrança de minha mãe tomasse conta da minha mente. Apesar da fachada de força que eu sustentava, meu coração doía com a memória
— tempos em que nós três éramos felizes. Aquele tempo tinha sido interrompido repentinamente quando minha mãe foi diagnosticada com câncer, uma doença que se alastrou
com uma velocidade alarmante e a tirou de nós cedo demais.
Apesar de nossas vidas terem seguido rumos diferentes depois da morte dela, eu torcia para que Elliot tivesse encontrado a felicidade com a nova esposa e seus filhos.
Mesmo que isso tenha custado qualquer chance de uma infância normal para mim. O colégio interno e, depois, a faculdade, haviam me criado. Mesmo assim, eu não conseguia
imaginar outra coisa. Essa era minha vida, e a jornada me levara até Blake, até uma vida que estava finalmente começando a ganhar forma, agora que eu concluíra os
estudos.
— Tenho pensado muito na Patricia esses dias. Não consigo acreditar que já faz quase dez anos. A vida escapa da gente, às vezes. Isso me fez perceber há quanto tempo
não nos falávamos.
— É verdade. Esses últimos anos passaram voando. Especialmente nos últimos tempos. Eu era louca em achar que estava ocupada antes.
Entre a empresa e meu relacionamento com Blake, minha vida havia virado de cabeça para baixo algumas vezes. Bem quando as coisas começavam a se acalmar, ela parecia
arremessar algo novo.
— Bom, vou ver se conseguimos ir até Boston em breve. Não consigo suportar a ideia de deixar dez anos se passarem sem... você sabe, algum tipo de consideração. Nós
devemos ao menos isso a ela.
Minha boca se curvou em um sorriso triste.
— Seria legal. Eu adoraria.
— Ótimo. Vou ver o que posso fazer.
— Me avise quando escolher a data, que eu me organizo aqui.
— Perfeito. Vou conversar com Beth em breve e aviso o que decidirmos.
— Vou aguardar ansiosa. Eu adoraria ver você de novo e, é claro, conhecer sua família.
Sua família. As palavras soaram estranhas quando saíram de mim.
— Cuide-se, Erica. Eu entro em contato.
Me despedi, mas no segundo em que desliguei, outra ligação apareceu. Meu coração acelerou quando vi o número de Blake.
Merda.
***
Entrei no apartamento e larguei minhas bolsas no balcão da cozinha. As luzes estavam desligadas, mas o sol da tarde espiava por entre as janelas acortinadas. Quando
entrei na sala de estar, ouvi a voz de Blake.
— Você está atrasada.
Me virei e o vi no bar do outro lado da sala. Ele estava sem camisa, descalço, e segurava um copo meio vazio. O rosto dele estava isento de emoções, mas, mesmo assim,
de alguma forma, cheio de uma intensidade que me deixou louca imediatamente. Seus olhos verdes pareciam brilhar sob a luz fraca da sala. Seu maxilar estava apertado,
relaxando apenas brevemente para tomar um gole.
— Desculpe, recebi uma ligação...
— Venha aqui.
Deixei que minhas próximas palavras evaporassem sem serem ditas. Não íamos discutir a ligação inesperada de Elliot, pelo menos não agora. Havia algo de errado na
maneira como ele me olhava, com o tom impiedoso em sua voz ao pronunciar aquelas duas palavrinhas.
Caminhei lentamente na direção dele até que estivéssemos a centímetros de distância e o calor irradiasse entre nós. Blake era inegavelmente maravilhoso, beleza masculina
aperfeiçoada. Alto e magro, seu corpo fazia meu cérebro entrar regularmente em curto-circuito. Desta vez não foi diferente. Toquei no peito dele, incapaz de resistir
à nossa proximidade. Seus músculos se contraíram em resposta.
— Tire a blusa — ordenou ele.
Analisei seus olhos por um instante, mas não encontrei humor algum. Ele estava parado à minha frente como uma estátua, uma peça de arte lindamente esculpida, fria
e imóvel. Deslizei os dedos levemente sobre o abdômen dele, escorregando-os até o cós da calça jeans, na altura de seus quadris.
— Você está bem? — murmurei.
Eu já o tinha visto daquele jeito antes. Ele não precisava me contar, porque eu já sabia que algo ou alguém o tinha tirado do sério hoje.
Ele se encolheu de maneira quase imperceptível.
— Vou ficar melhor em um minuto.
Sabendo o que o faria chegar lá, tirei a blusa e a larguei no chão.
— Melhor?
Inclinei a cabeça, esperando despertar o amante brincalhão dentro dele.
Seus olhos não mudaram, férreos como nunca.
— Não me faça esperar de novo, Erica.
A voz de Blake era perigosamente grave. Prendi a respiração, tentando, em vão, controlar as reações do meu corpo a ele. Aquela mistura potente de desejo e expectativa
cresceu dentro de mim. Os detalhes do dia ficaram difusos ao fundo, secundários perante o presente e o homem dominador que estava a instantes de matar sua vontade
de sexo e usaria o meu corpo muito bem para isso.
Desci a mão até o contorno duro da ereção dele e o toquei por cima do tecido desgastado de sua calça.
— Estou aqui agora. Me deixe compensar.
Ele segurou meu pulso.
— Você vai, pode ter certeza.
Olhei para Blake por entre os cílios. Ele me soltou e colocou a mão no meu peito. Contornou a borda de renda do sutiã e a pele por debaixo dela. O mero contato me
esquentou. Abaixou o bojo do sutiã bruscamente, segurou meu seio livre com a mão e passou o polegar pelo mamilo. Me curvei na direção dos movimentos circulares lentos
à medida que uma centelha de desejo se instalava na minha barriga.
Gemi e ele beliscou com força. Puxei o ar por entre os dentes, mas não o afastei. O lábio dele se curvou para cima e um lampejo de terrível travessura passou por
seus olhos.
— Tire a roupa e se debruce na mesa.
O brincalhão chegou e estava acompanhado.
Franzi o cenho na direção da sala de jantar e da grande mesa de madeira de demolição no meio dela. Antes que eu pudesse discutir, ele bateu na minha bunda e me deu
um empurrão delicado naquela direção. Me movi rapidamente e tirei a saia, o sutiã e a calcinha. Fiquei olhando para a mesa, apoiando as mãos na madeira texturizada
quente. No meio da mesa, havia cordas enroladas em uma pilha.
— Abaixe — disse ele em um tom severo.
Ele colocou a mão entre as minhas clavículas e me empurrou mais para baixo. Deslizei as mãos à minha frente, expirando bruscamente quando meu corpo tocou na mesa
fria, a parte de cima das minhas coxas pressionadas com firmeza na beirada. A expectativa me mantinha refém, me roubava toda capacidade de enxergar sentido em qualquer
coisa além da certeza de que Blake estava assumindo o controle agora.
E eu dei isso a ele.
Assim que eu saí da minha rotina profissional e entrei no apartamento que agora dividíamos, eu entrei em guerra com quase todos os meus instintos. Entreguei todo
o controle ao homem que eu amava, confiando que ele cuidaria de nós dois. Ele sempre cuidava, mas às vezes eu não conseguia resistir à vontade de revidar só um pouquinho,
para que ele soubesse que eu ainda estava ali, lutando.
Ele passou uma mão fria na minha bunda. Fiquei tensa em resposta ao simples toque. Mordi o lábio, me preparando para o que sempre vinha depois.
— Você se atrasou vinte minutos. Sabe o que isso significa?
Antes que eu pudesse falar, a mão dele acertou minha bunda com tudo. Choraminguei com a dor aguda. Então, a ardência se dissolveu, liberando um calor feroz pelo
meu corpo. Me curvei, empurrando-o de volta.
— Você vai me castigar? — perguntei baixinho.
— É isso que você quer?
— Sim.
A docilidade das minhas respostas ainda me surpreendia, considerando quão longe tínhamos ido e como eu adorava estes aspectos sombrios que encontrávamos um no outro.
Admitir o quanto eu gostava disso ainda exigia certa dose de coragem.
— Que sorte a sua. Você vai ganhar vinte palmadas. Quero que você conte. Não se esqueça, ou vou pegar o cinto.
Sem demoras, ele bateu na minha bunda de novo, com força suficiente para ecoar pela sala. No segundo em que prendi a respiração, me apressei em falar.
— Um.
— Isso mesmo.
Ele deu mais uma.
— Dois.
Com cada palmada punitiva, eu ficava mais apertada e mais molhada, uma circunstância que eu ainda não conseguia compreender bem. Mas apanhar me deixava louca pra
caralho. Quando chegamos aos números de dois dígitos, eu estava agarrada à mesa com as unhas, mais do que pronta para o prazer que vinha depois da dor deliciosa.
Vinte.
Suspirei e relaxei sobre a mesa. O alívio foi curto, já que Blake agarrou meu rabo de cavalo e me forçou a levantar.
— Levante.
Me endireitei e ele me virou. Abriu a boca, como se quisesse falar, mas, em vez disso, aproximou nossos corpos. A pele dele queimava sob a minha, e eu, de repente,
o queria ainda mais. Ele colou os lábios nos meus em um beijo bruto. O aroma de uísque se misturou ao cheiro de almíscar dele. Abri os lábios, convidando-o, querendo
o sabor dele na minha língua. Ele puxou meu rabo de cavalo delicadamente, interrompendo o contato.
— Você é gananciosa demais.
Fiz bico.
— Você é mimada e não me ouve.
— Eu ouço — insisti.
— Talvez até ouça, mas não obedece em porcaria nenhuma. A brincadeira acabou. Você precisa aprender e, esta noite, eu vou ensiná-la.
Lutei contra o medo que espiralou no meu estômago. Medo do desconhecido.
— Me desculpe.
— É um bom começo. Suba na mesa.
Hesitei por um segundo e, então, rapidamente subi na beirada. Ele meneou a cabeça e me empurrou para trás.
— Para o meio. Rápido.
Ergui as sobrancelhas, mas ao invés de questioná-lo, me movi hesitantemente para o meio. Enquanto eu o fazia, ele deu a volta na mesa e tirou a corda do meu caminho.
— Deite.
Obedeci, e ele segurou meu pulso, estendendo meu braço até o canto da mesa. Com velocidade e destreza chocantes, ele amarrou meus braços aos pés da mesa. Enquanto
ele se dirigia aos meus tornozelos, puxei a corda, testando sua amarração. Sem chance.
Ele amarrou uma perna e depois a outra, até que eu estivesse completamente aberta na mesa.
— Assim é melhor.
Ele deu um apertão de leve na minha panturrilha.
Minha pele esquentou até as bochechas à medida que a percepção da minha vulnerabilidade se instalou. Eu queria dizer a ele que aquilo era demais. As palavras estavam
na ponta da língua, mas eu já estava molhada e desejosa por ele, por qualquer coisa que ele estivesse tramando naquela mente safada. Para aumentar ainda mais minha
inquietação crescente, Blake se afastou até ficar fora do meu campo de visão.
— Aonde você vai?
Tentei esconder a ansiedade na minha voz.
— Não se preocupe. Não vou embora. Não quando você está aberta assim pra mim, como em um banquete.
Ouvi gelo batendo no interior de um copo e, então, o ruído baixinho de líquido o enchendo. Ele voltou e ficou parado à minha frente, levando o copo à boca, escondendo
o espectro de um sorriso em seu lindo rosto. Algo na sua expressão prometia que eu sofreria uma tortura lenta em breve. O desejo que pulsava em mim duplicou. Eu
estava completamente à mercê dele.
Segundos que pareceram minutos se passaram. Meus seios se moviam no ritmo da minha respiração, que acelerou enquanto eu esperava. Pelo quê? Eu não fazia ideia, mas
as possibilidades me entusiasmavam.
Ele ergueu o copo mais uma vez, virou o conteúdo, e o largou ruidosamente na mesa entre minhas pernas. Ele colocou a mão dentro dele e o barulhinho do gelo foi seguido
pelo choque silencioso do frio na minha pele. Ele traçou um caminho lento e molhado pela parte de dentro da minha perna, pela pele sensível da parte interna da coxa.
Tremi, me contraindo, enquanto ele subia dos meus quadris para a minha barriga. O cubo foi derretendo lentamente no meu umbigo enquanto ele pegava outro.
Ele deu a volta na mesa, vindo para o meu lado. Com o cubo seguinte, ele circundou meus mamilos, demorando-se em cada um deles. No limite da dor, suprimi meu protesto.
Eu não podia arriscar mais castigos se isso fosse retardar sua jornada para dentro de mim. Ele usou os lábios, substituindo o frio amortecedor do gelo pelo calor
molhado de sua boca. Seus dentes morderam as pontas enrijecidas enquanto uma mão fria encontrava seu lugar entre minhas coxas.
Ele emitiu um ruído apreciativo, deslizando facilmente por minha entrada, provocando meu clitóris.
— Você gosta quando eu amarro você, gata?
Lambi meus lábios secos, assentindo rapidamente com a cabeça. Eu gostava? Não tinha certeza. Tudo que eu realmente sabia era que não queria que ele parasse. Eu não
queria dizer nada que o impedisse de me dar o prazer que só ele conseguia. Ele me mantinha a ponto de bala, um estado tão elevado e tão impotente que era quase insuportável.
Me mexi nas amarras, a corda machucando minha pele.
— Pare de lutar, Erica.
Ele se endireitou, me privando de seu toque e de sua proximidade.
— Achei que você estivesse com pressa — reclamei, tentando conter o desejo que ardia dentro de mim com mais ferocidade a cada minuto que passava. Maldito seja ele
e sua corda.
Ele sorriu.
— Eu estava, embora a ideia de punir você amenize o senso de urgência. Agora, eu só estou me divertindo.
Fechei os olhos. Meu peito se expandiu com um respiro fundo e eu me obriguei a relaxar. Enquanto o fazia, senti um choque gelado entre minhas pernas.
Gritei de surpresa e de uma sensação que eu ainda não estava convencida de que era desconforto. Meu clitóris estava latejando sob o gelo enquanto ele o manuseava
sobre meu sexo, entre meus lábios. Soltei o ar quando Blake o afastou das partes mais sensíveis e mergulhou a ponta delicadamente na minha entrada. Quando eu achava
que talvez ele me desse uma trégua, o toque suave deu lugar ao gelo. Por quanto tempo ele conseguiria fazer isso comigo e manter seus próprios desejos sob controle?
Por quanto tempo eu conseguiria fazer isso? Eu estava prestes a explodir e gritar.
— Blake, não posso... Não posso mais fazer isso. Você está me matando.
— Como você se sente ao esperar... ao querer?
Apertei o maxilar, tentando me distrair da dor terrível entre minhas coxas. Me contorci contra minha vontade, sabendo que isso não o deixaria mais perto de me foder.
— Estou odiando.
— Acha que devemos parar?
— Sim — respondi, o desespero claro em minha voz.
Ele se aproximou, roçando os lábios na pele sensível do meu pescoço. Ele contornou a curva da minha orelha com a língua, uma tortura lenta e única.
— Implore.
Minha pele se arrepiou toda. Curvei meu peito para cima, para o nada, visto que ele mal estava me tocando agora.
— Me diga o quanto você quer isso. Preciso das palavras.
— Blake... Por favor, só me foda.
— Isso parece uma ordem. Quero uma súplica.
Gemi, e ele se afastou sem tocar mais em nenhuma parte do meu corpo.
— Blake!
Eu estava furiosa e desesperada.
— Submeta-se.
Fiquei abalada com o tom severo na voz dele.
— Você precisará se submeter a mim, Erica, se quiser gozar. Chega de joguinhos. Chega de me testar.
Engoli em seco, lutando contra o instinto de me enervar com a ordem dele. Submeta-se. Minha garganta se fechou, como se aquela palavra tivesse se alojado ali e não
fosse descer até que eu a aceitasse. Aquela palavra significava tanto. Me submeter era mais fácil quando eu o estava persuadindo a conseguir o que ele precisava
de mim. Agora ele estava conseguindo o que queria. Ele não estava pedindo e não estávamos negociando.
Fechei os olhos, me esforçando para ouvir a voz na minha cabeça, que me dizia para relaxar, para me deixar levar.
— Você não está facilitando as coisas.
Eu queria que ele entendesse minha resistência, que fizesse vista grossa para ela, talvez. Mesmo quando ele dava uma de dominador comigo, às vezes me dava espaço
para revidar.
— Passei o dia todo apagando incêndios. Quero voltar pra casa, pra você, e não quero ter que castigá-la toda vez. Se precisar, eu vou fazer, mas não vou sempre pedir
com jeitinho e tornar as coisas fáceis. Então é melhor você se acostumar a se submeter. Você está pelada, amarrada à mesa e a um passo de gozar. Você quer gozar?
— Sim, muito.
— Então implore.
— Por favor...
A súplica saía fraca de meus lábios.
— Estou ouvindo, Erica. Por favor, o quê?
— Por favor, me faça gozar. Quero suas mãos em mim. Faço qualquer coisa... Eu juro.
— Você vai estar em casa, nua, quando eu pedir da próxima vez?
— Vou.
As pontas dos dedos dele roçaram em meu clitóris latejante. Inspirei bruscamente e ergui os quadris para ir de encontro ao toque dele, mas ele se afastou de mim
com a mesma rapidez com que tinha chegado.
— Promete?
— Prometo. Meu Deus, farei qualquer coisa.
— E eu não vou ter que lhe dar instruções sobre como se submeter de novo, vou?
— Não — prometi, sacudindo a cabeça enfaticamente.
O calor da mão de Blake irradiou onde eu tanto precisava dele. Resisti à vontade de aproximar meu corpo mais alguns centímetros. Que inferno, isso é tortura.
Cada célula do meu corpo se tensionou na direção do toque dele e, mesmo assim, eu não tinha controle algum.
Esta era a realidade que eu relutava em aceitar. De alguma forma, eu precisava confiar que ele que nos levaria lá. Com essa percepção, algo dentro de mim relaxou.
Enfraqueci sobre a mesa, não mais lutando contra as amarras. Meus músculos se renderam, mas minha mente girava tão sem controle quanto meu corpo; ambos o queriam
desesperadamente.
Então, ele me tocou. Cobrindo meu sexo com a mão, ele me segurou com firmeza.
— Isto é meu. Você não vai gozar a não ser que eu queira. Você entendeu?
Eu o encarei, desorientada com meu próprio desejo. Eu estava a segundos de gritar de tão crítica que era a minha situação, como se, de alguma forma, as frustrações
do dia dele tivessem passado diretamente para mim.
— Serei o que você precisar.
Os olhos dele ficaram um pouco mais amenos com a minha concessão. Então, ele me penetrou com dois dedos. Meu maxilar se abriu, soltando um ofego de alívio. Ele girou
dentro de mim, explorando minhas profundezas molhadas. Tremendo, me contraí em torno dele, querendo mais, porém grata por simplesmente ter alguma coisa. Ele movimentou
os dedos delicadamente e massageou meu clitóris com o polegar em círculos rápidos.
Soltei um gritinho com a potência daquele movimento, aliviada e envolvida novamente de imediato. Meus nervos retornaram à vida, e minha carne quente estava pronta
para ele novamente. Céus, o homem tinha o dom de me deixar dolorosamente ciente de quanto meu corpo ansiava pelo toque dele. Me segurei quando meus quadris se ergueram
um pouquinho, involuntariamente.
Implore. A exigência ecoava na minha cabeça, sensual e impiedosa. Meu peito palpitava. O sangue pulsava por minhas veias, cantarolando em meus ouvidos. Os princípios
de um orgasmo irrefreável engatinhavam dentro de mim e eu não ia deixá-lo escapar. Nem por orgulho, nem por nada no mundo.
— Não pare. Estou implorando, por favor, não pare.
— É isso que eu quero ouvir, gata. Você me quer inteiro aí?
— Céus, sim.
— Quer que eu deixe você gozar primeiro?
Cores em redemoinho passavam por trás dos meus olhos e todos os meus músculos se tensionaram de expectativa. Meus olhos se abriram de súbito quando percebi que ele
ainda não havia me dado permissão explícita para gozar. Fui de encontro ao olhar sombrio de Blake, suas pálpebras semicerradas, com o mesmo tipo de desejo que estava
me inundando naquele exato momento.
— Por favor, deixe. Blake, por favor.
Ele se abaixou e tomou minha boca em um beijo bruto. Nossos lábios se apressaram um sobre o outro, as línguas se batiam e chupavam. O tempo todo, os dedos dele continuaram
seus movimentos, me fodendo delicadamente, me levando ao ápice. O prazer ardente tomou conta de mim, como se o único sentido do mundo viesse dos locais em que nossos
corpos se encontravam, do prazer que ele estava me concedendo. E eu estava tão grata quanto desesperada para tê-lo. Um calor arrebatador me assolou. Comecei a tremer
com o esforço para não gozar.
— Ó Deus — choraminguei, perdendo a noção da realidade, de tudo. — Por favor, por favor, por favor.
— Goze, Erica. Agora — disse ele roucamente na minha boca, seu toque íntimo se aprofundando.
Ofeguei por ar, me curvando em cima da mesa. Presa pela corda, eu não podia acelerar nada, controlar nada. As palavras, a ordem, haviam me deixado nua. Eu era uma
propriedade. Dele. À mercê e ao comando de Blake, cheguei ao limite com um gemido. Fechei as mãos em punhos, presas com força e esticadas, enquanto o clímax me rasgava
por dentro.
O mundo ficou em silêncio naquele instante perfeito. Eu ainda estava tremendo quando ele saiu de mim. Os dedos dele se puseram a trabalhar, afrouxando a corda em
torno dos meus tornozelos. Em algum momento depois do orgasmo delirante, senti alívio com essa nova liberdade. Segundos depois, ele estava totalmente despido, cobrindo
meu corpo com o dele. Ele engatou minhas pernas em torno de sua cintura e, com a cabeça grossa de seu pau na minha entrada, me penetrou alguns centímetros.
— Estou tão duro que chega a doer. Vou foder você fundo, tão fundo que na próxima vez você não vai esquecer a quem você pertence, gata. Vou fazer você gozar de novo
e de novo, até que você confie em mim para dar a nós o que nós dois queremos.
Minha voz estava perdida em delírio. Eu estava zonza, mal estava preparada para o que ele iria me dar a seguir. Os músculos do seu tronco ficaram duros e tensionados
quando ele enrolou o braço na minha cintura. Seus olhos verdes estavam sombrios e dilatados e se fixaram nos meus. Foi então que eu o vi — o homem, e o animal que
habitava sob a superfície.
Ele precisava daquilo. Ele precisava de mim daquele jeito.
— Blake. — Lambi os lábios, agora secos pela minha respiração acelerada. — Me beije... Por favor.
A tensão no olhar dele e a determinação dominante deram lugar a algo diferente.
E eu o senti quando nossos lábios se encontraram, com mais cuidado agora do que antes, mas não com menos paixão. Amor. Eu reconhecia. Com todas as suas perversões
e seus problemas enlouquecedores de controle, eu amava aquele homem. Tanto quanto ele precisava daquilo, eu precisava ser aquilo para ele.
— Eu te amo.
As palavras saíram apressadamente de mim quando interrompi nosso beijo.
Aqueles olhos intensos queimaram nos meus mais uma vez. O desejo que vibrava pelo corpo dele pareceu emudecer por um instante. Então, ele se abaixou de novo. Seus
lábios roçavam carinhosamente nos meus.
— Não consigo respirar sem você, gata. Você me destrói e então me reconstitui de novo. Você aceita tudo e ainda me ama por isso.
O questionamento nos olhos dele e a dúvida naquelas últimas poucas palavras partiram meu coração um pouquinho.
— Blake... Sou sua. Eu quero isto. Quero cada parte de você.
Minha garganta se fechou, por razões totalmente diferentes agora. Desejo e um amor de esmagar a alma se espalharam por mim, irradiando entre nós.
Nossos lábios se encontraram novamente e ele investiu para dentro de mim, mergulhando a língua na minha boca ao fazê-lo. Meu sexo se contraiu em torno dele, dilatando-se
em volta de seu pau grosso. E então ele estava afundado em mim. Estávamos tão perto que nossas almas se uniam ao mesmo tempo em que nossos corpos. Ele retrocedeu
e investiu novamente, me atingindo mais fundo. Ofeguei. O corpo dele era rijo em cima do meu, tremendo com o esforço que ele fazia para se conter. Eu sentia aquilo
também, aquela necessidade de explodir, de ser tragada por esse desejo selvagem.
O calor queimava nos olhos dele enquanto ele colocava a mão na minha nuca, apoiando o peso do corpo no cotovelo. Travei os tornozelos em torno da cintura dele enquanto
seu bíceps se flexionava na minha cintura. Então ele penetrou com força, exatamente como eu queria que ele fizesse. A fricção da entrada dele me arremessou para
o limite do orgasmo. Meu queixo caiu com um grito silencioso, que encontrou sua voz enquanto ele metia em mim.
Forte. Rápido. Impiedoso e bruto. Uma das muitas maneiras como eu adorava tê-lo.
O ritmo implacável me fez gozar de novo rapidamente. Meu sexo se contraiu enquanto eu me agarrava aos quadris dele com as coxas. Um clímax se seguia ao outro, até
que ele começou a gozar comigo. Ele pressionou os quadris nos meus, nos prendendo à mesa em uma corrida fanática pelo êxtase... Meu nome estava em seus lábios.
CAPÍTULO 2
Montei nos quadris de Blake, massageando os músculos protuberantes de seus ombros com o polegar. Os músculos dele mal se moviam, e eu fiquei pensando se estava provocando
algum efeito nele. Então ele soltou um gemido suave. Sorri e me abaixei, de modo que meu peito encobriu as costas dele. Eu beijei sua pele, inspirando o perfume
misturado ao cheiro dele. Como uma mágica da natureza, meus próprios músculos cederam. O almíscar e o suor do amor que fizemos quase me dominavam. Eu podia me deitar
ali e ficar cheirando aquele homem o dia todo.
— O seu cheiro é fantástico.
Pressionei os lábios contra ele, beijando-o, inalando-o.
Ele deu um risinho.
Coloquei a língua para fora para saboreá-lo, como se o cheiro dele não fosse suficiente. Como se ser comida à exaustão em uma mesa de jantar, amarrada como a menininha
malvada e submissa que eu era não fosse suficiente. Blake Landon era minha droga, minha obsessão — um hábito que eu jamais teria intenção alguma de perder.
Eu o idolatrei com os lábios e os dentes. Massageei-o, e meus dedos deslizavam sobre ele com o mesmo tipo de obsessão.
Em um lampejo, ele me virou e eu estava deitada de barriga para cima, com o corpo nu maravilhoso dele entre minhas pernas.
— Você está tentando me provocar para foder você de novo? Porque, caso esteja, seu esforço está rendendo frutos.
Dei uma risada. Blake exibiu um sorriso largo, capturando meus pulsos dos dois lados da minha cabeça. Ele esfregou os pontos sensíveis onde a corda havia deixado
sua marca.
Reconhecendo um sussurro de preocupação familiar, me livrei dos braços dele. Segurei seu rosto, mantendo o foco dele em mim.
— Estou bem. Não comece com essa culpa, está bem?
— Eu não queria machucar você.
— Acredite em mim, eu não senti nada. No calor do momento, tudo que eu conseguia sentir eram suas mãos em mim, você dentro de mim. É avassalador. Algo que talvez
doesse normalmente apenas acrescenta algo a mais àquele prazer que você me dá. E você sabe muito bem que eu gosto, então não comece a agir como se eu fosse um gatinho
ferido.
— Mas agora dói. E se você ficar com hematomas?
— O que importa? Não vou me debater tanto da próxima vez. Você queria me ensinar uma lição, não queria?
Mexi os quadris debaixo dele, provocando-o enquanto sua ereção latejava quente na minha barriga. Curvei os lábios em um sorriso torto. Eu queria o Blake brincalhão
e não ia deixar que ele voltasse a se envergonhar de suas necessidades — necessidades que estavam rapidamente se tornando minhas também.
Depois do que eu tinha passado com o homem que tinha me estuprado quatro anos atrás, eu nunca pensei que seria capaz de dar a alguém o tipo de controle que eu tinha
dado a Blake. Mas ele me mostrou como posso aproveitar quando me deixo levar. Ele abriu meus olhos para a ânsia, para algo mais profundo e infinitamente mais intenso
que qualquer coisa que eu tenha vivenciado.
Eu lutava por controle só para que ele me despisse daquele jeito magistral que ele sempre fazia. Ele me despedaçava até que eu estivesse fora de mim de desejo, e
eu não queria que nada fosse diferente agora. Não conseguia nem imaginar.
Passei dois dedos pelo franzido que arqueava a sobrancelha dele.
— O que está incomodando você, afinal? Você parecia chateado.
Ele se virou e deitou de barriga para cima, o olhar fixo no teto. Antes que eu pudesse pressioná-lo, uma porta bateu e eu ouvi vozes abafadas. Me levantei rapidamente,
fechei a porta do quarto e a tranquei. Voltei para a cama com Blake, me aconchegando no recanto de seu braço. Joguei a perna preguiçosamente por cima de sua coxa
forte.
Uma batida alta no corredor do apartamento ecoou pelo quarto. O barulho foi seguido por uma risada de mulher e, depois, por um gemido. Dei um sorriso malicioso.
Alli e Heath estavam mandando ver de novo, mas quem era eu para falar?
Graças a Deus, eles não tinham aparecido na hora da gracinha de Blake na sala de jantar. Eu não conseguia me imaginar explicando nada daquilo para Alli. Ela ainda
estava misericordiosamente no vácuo quanto às perversões e safadezas de Blake na cama e, ao menos por enquanto, eu preferia que isso permanecesse assim.
— Devíamos fazer uma viagem — disse Blake de repente.
Suspirei.
— Tenho certeza de que eles vão encontrar um lugar logo.
— Não logo o suficiente. Além disso, não viajamos juntos desde... Bom, desde Las Vegas. Um final de semana prolongado nos faria bem. Quero passar um tempo com você.
Só nós. Sem distrações.
Uma série de acontecimentos inesperados, muitos deles orquestrados por Blake, tinham nos levado onde estávamos agora. Las Vegas havia sido um momento decisivo dentre
esses eventos, e a lembrança de nossa primeira vez juntos ainda me esquentava dos pés à cabeça. Havia apenas tesão entre nós naquela época, mas o tesão se transformara
em uma obsessão e, em algum momento naquela obscuridade louca, eu me apaixonei por ele.
— Não sei bem se eu deveria me afastar do trabalho agora.
As últimas horas haviam tirado Risa e Max e toda aquela loucura conspiradora deles da minha cabeça, mas a realidade lentamente voltava à tona.
— Acho que você merece. Me deixe levá-la para longe por alguns dias. Sempre existirão coisas que precisamos fazer e alguém que precisa de nós. Mas não há nada que
não possa esperar um ou dois dias.
Ergui as sobrancelhas, e a trabalhadora compulsiva dentro de mim não acreditava plenamente nele.
— Tem certeza?
— Claro. Na verdade, acabei de decidir que não vou lhe dar escolha. Saímos depois do expediente amanhã.
Sorri, com um pequeno entusiasmo se espalhando dentro de mim.
— O que eu devo pôr na mala?
— Eu arrumo a mala para você.
— Você não precisa fazer isso.
— Acho que você não vai usar muitas roupas de qualquer maneira, então não importa muito, importa? Biquíni, alguns fios-dentais. Isso deve dar.
Dei uma risada e um tapa brincalhão no rosto dele. Ele segurou minha mão e grunhiu, me puxando para cima dele.
— Até lá, acho que podemos fazer mais barulho, do nosso jeito.
Dei outra risada e meneei a cabeça.
— Você não quer perder, não é, Blake? Você é incorrigível.
— Acredite em mim, não tenho interesse algum em ouvir meu irmão mais novo transando. O único jeito de deixar isso claro é retribuindo o favor. Tudo que eu preciso
fazer é descobrir um jeito de fazer você gritar por mim.
Meu sorriso vacilou um pouco. Ele enrolou os braços em torno de mim, me abraçando forte e alimentando o fogo com cada toque suave de seus dedos na minha pele.
— Tenho a sensação de que você já sabe muito bem como fazer isso.
***
Uma batida alta na porta me acordou. Blake se mexeu atrás de mim, mas não acordou.
— Erica, você está acordada?
A voz abafada veio de trás da porta.
Coloquei a camiseta de Blake e dei uma olhada para trás para me certificar de que ele estava decentemente coberto. Abri a porta um pouquinho.
Alli estava de olhos arregalados e já vestida para o trabalho.
— O quê? — Franzi a testa. — Que horas são, afinal?
— São oito horas. Vista-se. Preciso lhe mostrar uma coisa.
Eu a estudei com olhos cansados, não estava desperta o suficiente para pensar em qualquer coisa além de me enrolar na cama ao lado de Blake de novo.
— O que foi?
— Simplesmente mexa-se e me encontre no escritório.
— Por que...
Antes que eu pudesse terminar, ela tinha desaparecido pelo corredor, e a porta se fechou alguns segundos depois. Entrei de volta no quarto e fui até o banheiro.
Blake ainda estava dormindo quando terminei o banho. Me vesti rapidamente e fiquei parada observando-o por um instante, curtindo a paz rara no semblante dele, enquanto
ele dormia. Entre mim e ele, era ele quem tipicamente levantava cedo, mas a noite havia sido longa. Algumas noites. Nós não cansávamos um do outro, e a noite passada
tinha virado manhã antes que o sono finalmente nos pegasse. Dei um beijo suave na bochecha dele e saí para o trabalho.
Quando entrei no escritório, toda a equipe estava amontoada ao redor de James, seus olhos colados em alguma coisa na tela dele. Me juntei a eles, incerta, em um
primeiro momento, quanto ao que eu estava olhando.
— O que está acontecendo?
— Este site, PinDeelz, foi lançado ontem à noite — explicou Alli. — Todos os nossos usuários do Clozpin receberam uma mensagem sobre o lançamento, inclusive nós.
Bem discreto.
Me debrucei por cima do ombro de James enquanto ele navegava pelas páginas do site que, apesar da marca diferente, era visualmente muito parecido com o nosso. Meu
estômago revirou quando vi que todas as páginas continham propagandas da Bryant’s, um dos nossos maiores anunciantes, que ainda ia renovar o contrato conosco para
o mês que vem.
Filha da puta.
Me endireitei e desapareci dentro do meu escritório. Abri o laptop com brutalidade e analisei o site mais a fundo. A página de “sobre nós” listava Max como fundador
e Risa como diretora de operações. Não surpreendentemente, o papel de Trevor não era mencionado, mas eu sabia muito bem que o hacker que tinha passado meses, talvez
anos, tentando arruinar os empreendimentos de Blake tinha sido fundamental em tirar aquele site concorrente do papel. Mesmo que isso significasse dar uma pausa nos
ataques incansáveis aos meus negócios e aos de Blake.
A raiva explodiu dentro de mim. Eu mal conseguia processar que isso estava acontecendo. Sid e eu tínhamos passado meses aperfeiçoando o Clozpin, tornando-o o que
ele era hoje. Todo o nosso sucesso, todos os erros e aprendizados tinham sido rapidamente copiados e aprimorados.
Alli se juntou a mim e se sentou na cadeira à frente da minha mesa, e minha preocupação se refletia na expressão dela. Ela mordia o lábio, mas não dizia nada. Por
dentro, eu estava explodindo em uma fúria psicótica. Eu queria fazer o maior escândalo de todos os tempos. Queria xingar e, Deus me livre, se Max, Risa... e Trevor...
aparecessem na minha frente, sangue seria derramado.
— Não consigo acreditar que eles realmente fizeram isso.
— Pois é — respondeu ela baixinho.
— Não consigo acreditar que alguém possa nutrir tanto ódio por mim e Blake a ponto de fazer algo assim. Sabotagem total.
— Eles não vão durar, Erica.
Soltei uma risada curta.
— Por que não? O que os impede? Você conheceu a Risa. Sabe o quanto ela é determinada, e com o dinheiro de Max, não vejo motivo para eles não conseguirem nos aniquilar
agora. Esse mercado não é grande o suficiente para sustentar dois sites com ofertas tão similares.
— Não pense assim. Estamos longe de estar condenados. Tenho conversado com um monte de prospects desde que voltei. É um processo, mas estamos perto de fechar mais.
Estamos estabelecidos e temos uma trajetória. Estou chocada por eles terem conseguido que a Bryant’s assumisse o risco, visto que o site deles é tão novo.
Fiquei furiosa de novo ao imaginar o que Risa deve ter dito para seduzir nossos maiores anunciantes e levá-los embora.
— O que é que eu devo fazer agora?
— Continuamos em frente. Eles querem nos distrair e nos assustar. Não deixe que eles façam isso.
Meneei a cabeça. Nada do que ela dissesse melhoraria meu humor atual. Lá no fundo, eu também não acreditava nela. O céu estava desabando, e eu não podia ficar sentada
assistindo-os destruir tudo pelo que eu tinha trabalhado.
A manhã passou e eu não me senti nem um pouco menos exasperada pela situação. Eu havia passado horas obcecada com cada detalhe do novo site deles, comparando cada
pormenor aos nossos. Minhas inseguranças estavam no comando e estavam me levando continuamente para fora dos eixos. Quando chegou a hora do almoço, a maior parte
da minha onda de adrenalina se esvaíra e meu corpo me lembrou de que eu passei metade da noite em claro com Blake. Eu precisava de café.
Desci até o Mocha e peguei uma mesa pequena no canto. Fiquei remexendo o cardápio, apesar de sempre pedir a mesma coisa. Simone desfilou até mim, recebendo mais
que alguns olhares enquanto atravessava o café. Seus cabelos ruivos, suas curvas invejáveis e seu sorriso atrevido me cumprimentaram um instante depois.
— Como vai minha nerd preferida?
— Já tive dias melhores — respondi. — De qualquer forma, eu achava que James fosse seu nerd preferido.
Ela deu um sorriso malicioso e se debruçou na mesa.
— É, bom, ele está chegando lá. Não estou completamente convencida de que ele não está mais vidrado em você.
Resisti à vontade de revirar os olhos. Eu realmente esperava que James tivesse partido para outra, e Simone tinha minha bênção total. Do emaranhado de cabelos pretíssimos
à sua manga musculosa de tatuagens, James era o homem dos sonhos dela. O único problema era que ele tinha interpretado tudo errado quando Blake e eu nos separamos.
Ou talvez ele tivesse interpretado certo, sabendo que eu estava precisando desesperadamente de um amigo, de qualquer coisa ou qualquer pessoa para preencher o vazio
que estar longe de Blake tinha criado. Eu não sabia, até que fosse tarde demais, que nada preencheria aquele vazio, jamais, com exceção do homem que agora dividia
a cama comigo.
— Não acho que você precise se preocupar com isso, Simone.
Ela franziu a testa de leve.
— Vocês nunca ficaram, né?
— Não. — Meus olhos se arregalaram com a sugestão. — Céus, não.
Ela riu.
— Relaxe. Foi só uma pergunta.
Só que não era. Era um lembrete nada bem-vindo do que houve entre mim e James. O arrependimento tomava conta de mim toda vez que eu pensava naquele momento de fraqueza
fora do escritório. Naquela época, eu estava convencida de que Blake estava com segundas intenções para cima de Risa, sem mencionar sua ex-namorada, Sophia, que
fora implacável em sua perseguição a ele. Tudo estava misturado e confuso. Eu não sabia o que o futuro reservava até que me vi nos braços de James, arrebatada por
um beijo que rapidamente se esvaiu na realidade fria de que se houvesse algum homem no meu futuro, seria Blake.
— O que aconteceu, amiga? Você parece acabada.
Olhei para ela.
— E estou. Só coisas do trabalho. História longa.
— Quer desabafar hoje à noite? Você pode me explicar o que houve em termos de gente normal enquanto tomamos um drink. Você sabe que eu só entendo metade das merdas
que vocês falam.
Dei uma risada fraca.
— Vou viajar com Blake hoje à noite, mas talvez possamos beber algo rápido antes de irmos. Você se importa se ele vier junto?
— Claro que não. Agora, o que eu posso pegar para você?
Fiz o pedido e me demorei com minha refeição. Na maioria dos dias, eu almoçava correndo para voltar logo ao trabalho, mas hoje fiquei observando sem pressa enquanto
as pessoas passavam pelas janelas do café, seguindo com suas vidas. Uma história se escondia por trás de cada rosto, e eu não podia deixar de imaginar se eu um dia
conseguiria confiar em alguém que não fosse da nossa equipe de novo. Ingenuamente e contra os avisos de Blake, eu confiei em Max — o suficiente para considerar torná-lo
proprietário da minha empresa antes de Blake financiá-la para evitar isso. E Risa... Ela era sedenta, ávida por aprender e assumir toda a responsabilidade que eu
precisava desesperadamente delegar, apenas para usar tudo contra mim hoje.
Lutei contra as lágrimas que ameaçaram brotar. Se eu as libertasse, elas seriam repletas de raiva por eu ter me permitido aprender esta lição do jeito difícil.
CAPÍTULO 3
Dei uma olhada em volta do bar para ver se encontrava Simone. Sem achá-la, escolhi um lugar ao lado de um banco vazio. Chamei o bartender, um tanto ansiosa demais
por um drink gelado para lavar os problemas do dia.
Enquanto eu esperava pela bebida, o noticiário das cinco passava em silêncio nas telas acima do bar. Meu coração palpitou quando o rosto de Mark apareceu, seguido
por uma imagem de Daniel, presumivelmente seguindo com sua campanha. Na parte de baixo da tela, a legenda das imagens dizia: “Morte de MacLeod ainda sob investigação.”
Uma sensação doentia se retorceu no meu estômago. Eu queria que aquele capítulo se encerrasse agora, talvez na mesma intensidade que Daniel. E não conseguia imaginar
o que ainda estava obscuro depois do suicídio aparente de Mark. Eu também não tinha certeza se queria saber. Eu estava prestes a pedir para o bartender aumentar
o volume quando alguém apareceu do meu lado.
— Oi.
Dei um pulo e vi James ali me dando um sorriso hesitante. Ele estava usando uma de suas camisetas estampadas que pareciam cair perfeitamente nas formas daquele homem
tatuado.
— Ah — falei. — Oi.
Ele ergueu as sobrancelhas. Não tínhamos realmente estado sozinhos, nem mesmo cara a cara, por um bom tempo. O trabalho continuava como de costume, mas não tínhamos
esclarecido as coisas da maneira que devíamos ter feito. Tudo que não tinha sido dito pesava em mim algumas vezes. Eu estava exausta demais de todo drama da volta
com Blake para separar um tempo para esclarecer as coisas de fato com James. Ao invés disso, tudo ficou pairando constrangedoramente entre nós; no passado, mas nunca
longe dos meus pensamentos quando ele estava por perto.
— Eu não esperava ver você aqui, desculpe — disse, como desculpa para meu embaraço.
— A Simone não disse que eu vinha?
Meneei a cabeça, escondendo minha expressão de surpresa, tomando um gole lento da minha bebida. Fiquei pensando onde é que isso tudo iria dar com Simone.
Me mexi desconfortavelmente, como se pudesse sentir o olhar dele em mim, estudando minha reação. Ele queria que eu ficasse com ciúme? Queria me mostrar que partiu
para outra? Se sim, tudo que eu queria transmitir era o quanto eu estava feliz com o fato de que alguém incrível como Simone captara o interesse dele. Eu odiava
pensar que dei corda para ele em qualquer sentido, encorajando sentimentos que eu não tinha o direito de encorajar com meu estado de espírito de semanas atrás, completamente
fodido.
— Como estão as coisas entre vocês dois? Ficando sérias?
Evitei os olhos dele, como se isso pudesse esconder o fato de que eu estava claramente buscando uma confirmação.
Ele riu baixinho e passou a mão pelos cabelos ondulados pretos, tirando-os do rosto enquanto olhava fixamente para a cerveja que o bartender acabara de trazer.
— Desculpe se não estou muito a fim de conversar sobre garotas com você, Erica. É que parece um pouco... estranho, acho, por causa de tudo.
— Você tem razão, me desculpe.
Céus, será que isso podia ficar pior?
Ele sorriu, amenizando um pouquinho o momento.
— Está tudo bem. De qualquer forma, Simone é sua amiga, né? Tenho certeza de que ela vai lhe contar todos os detalhes sórdidos.
Sorri de volta para ele, um pouco aliviada.
— Não, eu não fico perguntando a ela sobre isso. Não é da minha conta.
— Ela sabe sobre... nós?
Ele fez um gesto indicando nós dois, um gesto pequeno, que significava semanas de tensão e de contornar uma atração inesperada que tinha surgido.
Meneei a cabeça.
— Digo, mais ou menos, mas ela sabe que estou com Blake.
— Certo.
Ele expirou.
O alívio dele me deu uma pequena esperança de que James estivesse mais que um pouco interessado em Simone. Talvez ele não quisesse que ela soubesse do que aconteceu
entre nós tanto quanto eu não queria que Blake soubesse. A possibilidade de Blake saber de tudo revirou meu estômago. Ele já tinha ciúme o suficiente de James.
— Como você anda ultimamente? Você parecia bastante chateada hoje.
James tinha um dom de perceber os meus ânimos, não importava o quanto eu tentasse escondê-los por trás da divisória frágil do meu escritório. Não adiantaria nada
tentar esconder como eu realmente me sentia ou fingir que estava bem.
— Estou chateada, não vou mentir — falei. — Para ser sincera, não seria nada ruim esmagar a cabeça de alguém agora. Não sei ao certo se estou mais chateada pela
Risa ter me apunhalado pelas costas ou pelos efeitos que isso vai causar na empresa.
— Posso imaginar. Você confiava nela. Cara, todos nós confiávamos.
Fiquei olhando para meu drink.
— Me sinto tão idiota. Eu deveria ter previsto isso.
— Não tinha como você saber.
Dei de ombros.
— Talvez. Talvez se eu não estivesse tão perdida nos meus próprios pensamentos nas últimas semanas...
— Tudo o que você fazia era trabalhar. Não sei como você poderia ter estado mais presente na empresa. É sério, você estava dormindo no escritório na maioria das
noites.
Sacudi a cabeça, e meus pensamentos retornavam àquela época. Uma onda de fadiga me atingiu com a lembrança. Eu não conseguia me lembrar de ter estado mais exausta,
mais determinada a dar tudo de mim do que naquelas semanas. E, de alguma forma, Risa estava conspirando com Max o tempo todo, mesmo enquanto eu trabalhava incansavelmente
para nos levar adiante. Toda a sequência de acontecimentos girou em minha cabeça repetidamente. Cada rotação fazia menos sentido, me dava menos fé ainda de que eu
conseguiria impedir os esforços deles. O que é que eu podia realmente fazer?
Sistematicamente, empurrei o suor do meu copo para baixo, saturando o pequeno guardanapo embaixo dele. James acariciou meu ombro delicadamente.
— Erica — murmurou ele.
Ergui os olhos, meu foco retornando ao presente enquanto eu transfixava os olhos azuis intensos de James.
— Você tem a nós, e tem a mim. Você sabe que somos firmes e vamos superar isso. Não dê a ela a satisfação de saber que conseguiu te abalar. Tire um tempo para descansar
este fim de semana e vamos resolver tudo isso na semana que vem. Eu sei como você fica, e se preocupar até ter um ataque de nervos não vai ajudar ninguém. Precisamos
de você, lembra?
Ergui os lábios em um sorriso pequeno.
— Obrigada, James.
— Erica.
A voz de um homem ressoou atrás de mim. Uma mão possessiva segurou meu braço. Blake parou bem atrás de mim, os olhos fixos em James. O amargor em seus olhos parecia
radiar e refletir de volta nele, já que James mal escondia a careta que fazia na direção dele. Eu queria me levantar e ficar entre os dois homens, para eliminar
qualquer potencial impasse que pudesse surgir.
— Blake.
Eu tinha dúvidas quanto a se tinha dito o nome dele em voz alta ou não até que Blake respondeu, com os olhos sempre fixos em James.
— Melhor irmos. Vamos nos atrasar.
O olhar de James desceu até a mão de Blake, que segurava meu braço possessivamente. O maxilar de James se contraiu e os músculos de seu pescoço ficaram tensos. Aquela
sensação doentia se espalhou por mim de novo. Ele ainda achava que Blake havia me batido. Eu queria poder refutar aquela suspeita, mas não conseguiria sem revelar
mais do que era preciso.
— Pensei que tivéssemos um tempo para um drink.
Cobri a mão de Blake com a minha. Os olhos dele se voltaram rapidamente para mim, como se aquele breve toque o tivesse despertado de um transe.
— Mudança de planos — respondeu ele rapidamente.
Assenti com a cabeça e peguei a bolsa, desesperada para dissipar a tensão. Me voltei para James, livrando-me de Blake.
— Vejo você na semana que vem.
James fez um aceno com a cabeça e se virou. Fiquei tensa, querendo poder dizer algo que fizesse tudo isso ir embora. Mas o ciúme de Blake e a necessidade de James
de me proteger contra uma ameaça imaginária eram profundos. Blake colocou a mão no bolso e jogou uma nota de vinte no bar, entrelaçou os dedos nos meus e me guiou
até a porta de entrada.
— Qual foi a mudança de planos?
Saímos na calçada, sob o sol de fim de tarde que desaparecia. Antes que ele pudesse responder, Simone correu até nós.
— Ei, aonde vocês vão?
— Desculpe, Simone. Vamos ter que sair mais cedo do que esperávamos — respondeu Blake.
— Mas James está esperando por você — acrescentei alegremente, apontando para o bar.
O olhar dela se dividiu entre mim e Blake.
— Certo. Bom, divirtam-se, pombinhos!
Sorri timidamente e deixei que Blake me guiasse até o Escalade estacionado rente ao meio-fio. Um segundo depois, entrei no veículo guiado por Clay, o guarda-costas
que Blake insistia em manter por perto ultimamente.
Sentei-me no banco de couro frio ao lado de Blake. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me colocou em seu colo e pressionou os lábios contra os meus. O
beijo era urgente, intenso como tinha sido na noite passada. Ele deslizou a língua pelos meus lábios, me incitando a abri-los para ele. Abri a boca para ele e me
deliciei na pressão aveludada da língua dele contra a minha. Com lambidas suaves, ele explorou minha boca. Arriando todos os pensamentos traiçoeiros que eu tinha,
voltei minha atenção para a paixão no toque dele, o desejo quase palatável entre nós.
O cheiro dele preencheu meus pulmões enquanto compartilhávamos o ar. Passei os dedos pelos cabelos dele, deixando-o em um ângulo mais intenso, puxando-o mais para
perto. A doçura da língua dele persistia enquanto provocávamos e mordiscávamos um ao outro. Sufoquei um gemido, vagamente ciente de que não estávamos totalmente
sozinhos.
Nos separamos o suficiente para recuperar o fôlego. Se fôssemos mais longe, estaríamos nos devorando.
— Oi — falei, percebendo que ainda não tínhamos dito nenhuma palavra desde que havíamos entrado no carro, o que tinha ocorrido há alguns minutos.
— E aí? — murmurou ele.
Seus olhos estavam sombrios e determinados. Ele deslizou a mão pela minha coxa até minha bunda e apertou por debaixo do vestido. Mordi o lábio, perfeitamente ciente
da ânsia entre minhas pernas e do desejo que ele conseguia despertar em mim em questão de minutos. Eu não conseguia pensar em mais nada além da maneira mais rápida
de tê-lo.
— Não faço ideia de para onde estamos indo, mas vai ser uma viagem longa nesse ritmo.
Ele olhou pare frente.
— Não vamos de carro. Clay está nos levando ao aeroporto. Tenho um avião esperando por nós lá.
— Aonde estamos indo?
— Pensei em ficarmos por perto, mas não queria passar metade da noite no trânsito. Vamos pegar um voo para o vinhedo e estaremos em casa dentro de uma hora. Eu não
queria perder nem mais um minuto deste fim de semana com você.
Sorri e levei os lábios aos dele para um beijo doce.
— Mal posso esperar.
***
Um carro previsivelmente esportivo e pequeno estava esperando por nós quando desembarcamos e nos levou ao nosso destino final com a mesma rapidez que o Tesla de
Blake teria levado. Estacionamos perto da casa imensa na ponta final da ilha. O pequeno intervalo de tempo e os quilômetros que nos separavam do dia a dia foram
sendo assimilados à medida que fomos subindo os degraus da casa. O ar quente do oceano era uma mudança bem-vinda ao calor abafado da cidade. O alívio era outro lembrete
do quanto eu realmente precisava de um descanso.
Blake largou nossas malas do lado de dentro e se virou para mim. Ele pressionou o corpo contra o meu enquanto eu enrolava os braços no pescoço dele. Ele deslizou
as mãos pelo tecido do meu vestido até chegar na barra e o puxou para cima.
— Senti saudade de você pra caramba hoje — disse ele, apertando ainda mais meu quadril.
— Senti sua falta também. Sempre sinto.
— Mas já vou avisar, não estou me sentindo muito paciente. Quero você rápido e com força. Você aguenta, gata?
Arfei; o fogo se espalhava pela minha pele com a promessa. Contraindo e relaxando, ele me pressionou de costas na porta. Sem esperar por uma resposta, ele engatou
os polegares na minha calcinha e a abaixou.
— Quero estar dentro de você agora.
O ar saiu de mim em uma lufada, e o calor corou minha pele até as bochechas. Meu coração palpitava de expectativa. Me remexi para sair do vestido e ele se afastou
por tempo suficiente para deixá-lo cair. E então ele estava de volta, a boca no meu peito, chupando com força. Um seio, depois o outro. Gemi quando os dentes dele
roçaram a pele sensível. Não havia nenhuma célula no meu corpo que não quisesse que ele cumprisse suas promessas agora.
— Está bem.
Me atrapalhei com a camiseta dele, puxando-a por cima de sua cabeça. Ele abriu o zíper da calça, libertando sua ereção plena antes de soltá-la pesadamente nas mãos.
Mordi o lábio com força. Ele não esperaria nem mais um instante para me tomar.
Engatei a perna no quadril dele e o posicionei na minha entrada. Ele penetrou lentamente, permitindo que eu me acostumasse com ele gradativamente, recuando para
depois penetrar ainda mais fundo. Quando ele me preencheu por completo, eu já estava toda molhada em torno dele.
Minha cabeça caiu para trás, contra a porta, com um gritinho.
— Blake.
Meu cerne pulsava em torno da penetração grossa dele. Ficamos daquele jeito, ofegantes, conectados, o desejo disparando pelas minhas veias. Enterrei as unhas na
cintura dele, puxando-o para mais perto, mais fundo.
— Caralho, estar dentro de você é incrível. Pensei nisso o dia todo, em estar fundo dentro de você. Seu corpo apertado em volta de mim, gozando com força no meu
pau todo. O dia todinho eu não consegui pensar em mais nada.
Ele me pressionou com mais força, penetrando ainda mais fundo.
Arfei.
— Mais.
Com aquela pequena súplica, ele colocou as mãos por debaixo da minha bunda, erguendo-me de modo que minhas pernas se enrolaram nele. Ele me apoiou contra a parede.
O peso do meu corpo combinado com a força do dele nos unia hermeticamente.
Segurei o rosto dele com as mãos, a barba por fazer do dia áspera nas minhas palmas. Ele olhou fundo nos meus olhos. Tesão, amor e aquela possessividade intensa
nadavam naquelas profundezas verdes, me deixando sem ar de novo.
— Você é minha, Erica.
Enquanto as palavras chegavam aos meus ouvidos, ele investiu para cima. Me agarrei nele com força instantaneamente, ofegando com a dor aguda do desconforto. Ele
estava fundo, impossivelmente fundo.
— Sou sua — suspirei.
— Se eu tiver que lembrar isso a cada homem que olha por tempo demais para você, que pensa, por um segundo, que poderia ter você, eu vou lembrar.
Ele investiu de novo. A fricção dos nossos corpos e a tensão dele tomaram conta dos meus sentidos. Por mais que ele tivesse urgência em querer me tomar, eu queria
ser tomada. Fechei os olhos, e a promessa do orgasmo se aproximava subitamente. Com os músculos tensos, me contraí em torno dele, impotentemente.
Minha voz vacilou, sufocada pela pressa das investidas vigorosas dele, uma seguida da outra em uma sucessão rápida agora. O nome dele preencheu o ar entre nós, de
novo e de novo enquanto eu implorava por mais. Me agarrei nele com força, me deliciando na fricção enquanto ele me desemaranhava, investida após investida.
— Ele vai saber. Porra. Ele vai saber que você pertence a mim.
— Ele sabe, Blake. Sou sua... Sempre fui sua. — Abri os olhos, o desejo embaçando minha visão. — Me faça sua, Blake.
Passei a mão pelos cabelos dele e os agarrei pelas raízes. Silenciado pelo nosso beijo, Blake grunhiu. Ele empurrou meus quadris contra a madeira dura da porta enquanto
me penetrava. Em segundos, eu estava embriagada com o gosto dele, perdida. Perdida nele, voando alto nessa sensação, rendendo-me completamente a ela. Ele me possuiu
ferozmente, o amor e o tesão estavam sendo transmitidos a cada toque. Caminhamos juntos, com pressa pelo alívio que nos aproximaria da única maneira que importava
agora.
— Blake... Ó Deus. Puta merda.
A força das minhas coxas em torno dele foi enfraquecendo à medida que o clímax se aproximava, tomando conta da minha mente. Eu não conseguia pensar em mais nada
a não ser em Blake, nesse amor. Ele era a resposta quando nada mais na minha vida parecia certo. Isso fazia sentido. Eu precisava disto, dele, de um jeito que não
fazia sentido algum e fazia todo sentido do mundo.
— Agora — ordenou ele.
Aquela simples palavra acionou o gatilho. Minha boca se abriu com um grito silencioso, enquanto o orgasmo tomava conta. Me agarrei a ele, meu foco apontado para
a palpitação de seu pau metendo dentro de mim, me levando além do limite, para aquele lugar perfeito. Mais algumas investidas vigorosas e eu gozei com um grito.
Ele se enterrou em mim me apertando com força, até que cada músculo ficou tenso e seu corpo se enterrava fundo dentro de mim.
— Erica!
A voz dele era rouca, parecendo tão exaurida quanto eu me sentia. Braços me abraçando apertado, como se eu fosse desaparecer se ele não me abraçasse. Ele recuperou
o fôlego, roçando os lábios no meu pescoço.
Toda minha força se esvaiu de mim com o orgasmo, um fato que se tornou evidente quando ele finalmente afrouxou o abraço. Quando meus pés tocaram o chão, minhas pernas
vacilaram. Ele me equilibrou, as mãos nos meus quadris, enquanto saía de mim. O calor escorreu pela minha coxa quando ele recuou. Fui me mexer, mas ele me manteve
imóvel para que eu permanecesse no lugar. O olhar dele se fixou naquele fio translúcido que escorria pela minha pele.
— Puta merda, gata. Ver isso só me faz querer meter em você de novo.
— Vou fazer uma bagunça no seu chão.
Ele riu.
— Talvez a gente tenha que fazer uma bagunça na casa toda, então, porque ainda estou duro. Estou destruído, mas neste momento só consigo pensar em gozar dentro de
você de novo. A noite inteira.
Um sorriso delirante se abriu em meu rosto.
— Você vai me manter acordada duas noites seguidas? Você vai esgotar nós dois nesse ritmo.
Ele sorriu e me puxou de volta para seus braços, dando um beijo suave na minha boca.
— Estamos de férias, lembra? Posso fazer amor com você a noite toda, e podemos dormir o dia todo. E ninguém poderá perturbar a gente.
— Não tem ninguém em casa? — sussurrei.
— Graças a Deus, não. Não vou dividir você com ninguém até terça de manhã.
Ele se afastou, fechando o zíper da calça. Então, me ergueu em seus braços, nos levando até o banheiro da suíte.
Tomamos banho, ensaboando um ao outro. Saímos do chuveiro, e Blake me enrolou em uma toalha felpuda branca e secou meu cabelo com outra. O calor do chuveiro possivelmente
tinha sugado o restante da nossa energia. Desabamos na cama, enfraquecidos pelo dia, pelo amor que fizemos.
Me aconcheguei nele, curtindo a proximidade, nossas peles limpas e macias uma contra a outra.
— Eu te amo, Blake.
Ele ergueu meu queixo para que meu olhar encontrasse o dele.
— Eu também te amo.
CAPÍTULO 4
Abri os olhos, e o mundo entrou em foco. Apoiado no cotovelo, Blake me analisava com um sorriso preguiçoso no rosto.
Me espreguicei, curiosa para saber quanto tínhamos dormido. O deslizar da mão dele pela minha cintura enviou um formigamento de sensibilidade pelo meu corpo. Emiti
um ruído apreciativo, encostando-me nele, totalmente ciente da minha nudez e do simples lençol que encobria a dele. Os olhos dele brilharam com puro apreço e o amor
que zunia entre nós. Amor. Florescia em momentos breves como este, tornando todos momentos bons muito melhores, fazendo valer a pena superar todos os momentos ruins.
O que eu sentia por esse homem me deixava sem ar.
— Você é tão linda pela manhã — murmurou ele.
Tentei esconder o sorriso, me virando para o travesseiro.
— Pare.
Ele tirou o cabelo da minha bochecha e deu um beijo ali, demorando-se na minha orelha.
— Nunca vou parar. Pelo tempo que eu viver, nunca vou parar.
Me curvei para beijá-lo, derretendo-me tão facilmente para ele. Eu assimilei tudo, deixando que penetrasse na minha pele até os ossos. Essa nova liberdade, estar
longe de tudo com o homem que eu amava tão desesperadamente.
Me acomodei de volta na cama, aconchegada no braço dele. Parte de mim ainda estava grogue, como se eu pudesse dormir por dias a fio. Senti que ele andava tendo problemas
ultimamente, mas ainda não fazia ideia do porquê. Por mais próximos que conseguíssemos ficar fisicamente, eu odiava a distância que se instalava entre nós algumas
vezes. Aquela barreira que ele mantinha em pé, geralmente para me manter em segurança.
Contornei o cume do lábio inferior dele com o dedo.
— Quero que você possa me contar tudo. Você sente que pode?
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Sim, por quê?
— Sinto que você anda... Não sei, tenso, ultimamente. Gostaria que você me contasse por quê.
Ele expirou, segurou minhas mãos e deu um beijo nas pontas dos meus dedos.
— Não é uma questão de me sentir confortável em compartilhar as coisas com você. Eu sei que posso. Tem mais a ver com a decisão de não te sobrecarregar com as coisas
que eu estiver lidando.
Esperei até os olhos dele se fixarem nos meus, querendo mostrar a ele o que eu estava querendo dizer com aquilo.
— Você não está me sobrecarregando. Não saber o que está incomodando você é um fardo bem pior. Nunca sei se sou eu ou se existe alguma coisa que eu poderia fazer
para ajudar.
A expressão dele mudou, mascarando quaisquer que fossem as emoções que fervilhavam sob a superfície.
— Você não pode ajudar com isso.
— Com o quê? Só me conte.
Ele suspirou e se acomodou no travesseiro de novo.
— Você realmente quer conversar sobre Max? Não é exatamente um assunto agradável.
Franzi o cenho. A curiosidade quanto ao que Max estava aprontando agora queimou dentro de mim.
— O que ele fez?
— Ele não fez nada em especial, mas isso não o impede de ser um grande pé no meu saco. Tenho tentado tirá-lo da diretoria da Angelcom desde que descobri que ele
estava financiando Trevor para atacar os meus — os nossos — sites.
— Isso não deveria ser fácil? Você é o diretor executivo.
— Sou, mas é mais como uma democracia do que uma ditadura, algo de que eu estou, de certa forma, me arrependendo agora. Não posso simplesmente dispensá-lo. Preciso
submeter essas decisões a um conselho. A maioria não vai concordar em votar pela saída dele.
— Por quê? Precisa fritar neurônios para decidir isso?
— Eles não querem deixar o Michael puto. Ele é pai do Max e tem mais dinheiro que o Tony Stark, e arriscar perder qualquer conexão potencial com ele não vale a pena
para penalizar a completa falta de ética de Max.
Fiquei olhando para ele, contemplando essas circunstâncias frustrantes. Não era de se admirar que Blake estivesse pronto para explodir nos últimos tempos. Ter que
tolerar o homem que tinha passado anos tentando enfraquecê-lo sem apoio algum dos colegas era algo difícil de imaginar. Ao menos as pessoas da minha equipe jogavam
no meu time, e nunca houve dúvidas com relação a quem era o inimigo. Bom, ao menos não agora, que Risa tinha saído. Eu ainda estava com dificuldades para reprimir
a paranoia insistente de que eu não podia confiar em ninguém depois de ter confiado tudo a ela, informações confidenciais que ela agora estava usando contra mim.
Ainda assim, o Clozpin estava bem longe dos investidores de colarinho branco e dos círculos corporativos nos quais muitos deles se envolviam.
— Você está tão surpreso assim?
— O que você quer dizer com isso?
— Digo, a premissa da Angelcom é fazer mais dinheiro para as pessoas que já têm montanhas dele. Parece que esse tipo de pessoa tem essa grana porque tem o hábito
de acumulá-la e protegê-la. Você esperaria que eles agissem de forma diferente da que estão agindo?
Ele meneou a cabeça.
— Acho que não. Mas é bastante irônico.
— Como assim?
— A empresa está infestada de filhos da puta gananciosos iguais aos que eu queria derrubar.
— O que você vai fazer agora? Se eles não votarem em favor da saída dele, que outro recurso você tem?
— Ainda não decidi meu próximo passo. Não sei ao certo como Michael reagiria se eu chegasse nele e contasse o que está acontecendo. Se eu pudesse fazê-lo entender,
eu poderia conseguir o apoio do conselho e garantir que Max não chegasse nem perto de uma diretoria minha pelo resto da vida.
— Achei que você e Michael fossem próximos.
— Nós somos. Ao menos fomos, em uma época. Não o vejo há algum tempo e, compreensivelmente, não quero que nosso próximo encontro seja para contar a ele que o filho
dele é uma fraude e um traidor.
Tracei um caminho pelo peito dele, que se movia a cada respiro. Meu homem lindo. Eu odiava o fato de termos que lidar com pessoas como Max, como Trevor. Jesus, a
lista era longa.
— Sinto muito, Blake. Isso é uma merda. Mas você vai encontrar um caminho. Você sempre encontra. E alguém como Max não pode continuar por aí pisoteando os sonhos
das pessoas e se safando para sempre. Ao menos eu espero que não.
Por mais furioso que Blake estivesse com Max, eu não tinha certeza se este era o melhor momento para contar a ele sobre o novo site dele e da Risa e como isso me
ameaçava agora.
Ele ergueu meu queixo. Nossos olhos se encontraram.
— O que está acontecendo?
Hesitei antes de começar.
— Max e Risa lançaram sua primeira empreitada. Um site competidor. Cópia total do Clozpin, e parece que eles levaram pelo menos um dos nossos maiores anunciantes
com eles. Vai saber quantos usuários.
As sobrancelhas dele se ergueram.
— Quando é que você ia me contar?
— Alli me contou ontem. Ela queria que eu lhe contasse. E, francamente, eu precisava de um tempo para assimilar tudo. Mas não sei se consegui. Na maior parte, sinto
como se eles fossem sistematicamente destruir meu negócio com a mesma determinação com que foram atrás de você. Só que eu não sou você. Não tenho os seus recursos
ou a sua experiência. Ainda estou tentando entender como administrar uma empresa. Eu não esperava entrar na defensiva desse jeito em meio à nossa fase de crescimento.
Primeiro, Trevor e, agora, isso. Estou tentando não perder as esperanças com relação a tudo isso, mas é meio difícil.
— Confie em mim, ele não vai destruir o seu negócio. Não vou deixar. E independentemente do ódio que mova aqueles dois, eles não são páreo para nós dois. —Blake
acariciou minha bochecha com as articulações dos dedos. — É um campo minado, mas são negócios. Você não pode perder a fé. É isso que eles querem. Se eu desistisse
cada vez que alguém me desse um soco na barriga profissionalmente, eu teria me acabado há muito tempo. Você é forte demais para isso.
— Eu simplesmente não consigo acreditar que alguém possa ser tão desonesto, tão odioso. Eu não conseguiria imaginar fazer isso com alguém, qualquer pessoa, não importa
o quanto eu a detestasse.
— Odeio dizer isso, mas se acostume. Assim que você começa a se dar bem na vida, alguém vai querer pegar esse brilho e tirá-lo das coisas que você faz, diminuí-lo
ou pegá-lo para si.
Meus olhos se arregalaram.
— Você não está fazendo eu me sentir muito esperançosa quanto a um futuro empreendedor.
— Você vai ficar mais durona. E você tem a mim.
— Mas o que podemos fazer? Não temos controle algum sobre o que eles estão fazendo. Parece sabotagem, mas estou completamente impotente com relação a isso.
Ele ficou em silêncio por um momento, como se estivesse pensando estrategicamente em uma saída para esse caso.
— Bom, hackear o site deles sempre pode ser uma alternativa.
O canto do lábio dele se ergueu.
Revirei os olhos.
— Ótimo. Um duelo de hackers. Acho que nós dois concordamos que isso não resolve nada. Além disso, é baixo demais para você.
Ele riu.
— Ah, é?
— Você disse que só usa os seus poderes para o bem, lembra? Mesmo se eles forem terríveis, não posso ver você destruindo o site deles.
Ele apertou os lábios.
— Talvez você tenha razão.
Ele me envolveu em um braço e me levou até ele, beijando-me com delicadeza.
— Chega de falar de Max. Este fim de semana é para nós. O que você quer fazer?
Dei uma olhada para o relógio; era quase hora do almoço. Nossos horários estavam completamente bagunçados. O tempo não importava quando estávamos só Blake e eu.
— O que você quer fazer?
Os olhos dele escureceram com um sorriso perspicaz.
— Se dependesse de mim, nunca mais sairíamos da cama.
Me ergui e montei nele.
— Não viemos até aqui para ficar na cama o dia todo.
Ele rosnou, observando minha nudez.
— Você não está apresentando um bom argumento para sairmos daqui.
Ele seguiu o caminho de seus olhos com as mãos, segurando meus seios e provocando meus mamilos até eles se tornarem pontos enrijecidos. O apreço carnal no olhar
dele me aqueceu instantaneamente. Eu ansiava pela boca dele, me contorcendo involuntariamente.
Como se pudesse ver que minha determinação estava derretendo, ele agarrou minha bunda e me apertou contra a ereção dura que se projetava em meio aos lençóis entre
nós. Mordi o lábio e me entreguei àquele movimento, seduzida pela verdade inevitável de que eu queria o que ele queria, na mesma intensidade que ele. Minha cabeça
desabou para trás quando o contato esfregou meu clitóris de maneira perfeita. O fogo lambeu minha pele, me aquecendo até o núcleo.
Ele me ergueu com seus quadris, arrancando o lençol que nos separava. O pau dele estava tão duro quanto eu imaginara, grosso e pronto para mim. Mais do que pronto.
Seus olhos estreitados me diziam que recusar seria uma causa perdida. Encontrando o calor escorregadio entre minhas pernas, ele me penetrou delicadamente com o dedo.
— Sempre pronta para mim — murmurou ele.
Respondendo às súplicas silenciosas de meu corpo, ele me abaixou na rigidez de seu pau. Arfei com a profundidade, com o limiar que sempre parecíamos caminhar juntos.
— É isso aí, gata. Me receba por inteiro.
Meus olhos se fecharam, enquanto eu me entregava. Todos os meus sentidos estavam em consonância com a maneira como nossos corpos se encaixavam, com todas as maneiras
deste homem possuir meu prazer.
***
Deixamos a privacidade da casa e perambulamos até a cidade. A ilha estava agitada. Passamos o resto da tarde dando uma olhada nas lojas, tentado evitar as agora
inevitáveis multidões de turistas. Conversamos, mas nunca sobre trabalho. Rimos, sempre nos tocando de alguma forma. Eu precisava daquilo, e talvez ele precisasse
também, porque eu não conseguia me lembrar de nenhum momento em que não estivéssemos conectados. Na maior parte do tempo, simplesmente ficamos juntos, sem palavras,
mas no conforto de estar um com o outro.
Estávamos vorazes um pelo outro ultimamente, uma espécie de fome avassaladora que só aumentava depois de saciada. Eu precisava dele. E aquela necessidade pulsava
em mim o tempo todo como pano de fundo dos meus dias, nas demandas das nossas noites e nos momentos silenciosos que compartilhávamos no meio tempo. Eu tinha perdido
todo o controle sobre isso e parei de tentar impedi-lo. Tínhamos passado tempo demais separados. Eu não podia negar quaisquer chances fugazes de estarmos juntos.
Desde o dia em que Blake atrapalhou minha apresentação, meses atrás, ele cativara algo em mim. Algo que tinha crescido entre nós e que eu não conseguia mais ficar
sem. Talvez ele se sentisse assim também, e aquela necessidade sempre presente — de tocar, de abraçar, de se perder um no outro nas noites longas — fosse uma manifestação
desta emoção sem nome entre nós.
Com nossa brincadeira vespertina, as atividades na cidade e o ar fresco da ilha, eu estava exausta quando voltamos à casa. Tremi quando entramos no ar frio. Eu preferia
muito mais a brisa de verão ao ar condicionado dos recintos fechados. Eu tinha passado meses demais com frio, ansiando pelo verão. O sol quente não era algo a se
desperdiçar.
Sempre atento, Blake esfregou meus braços, criando um pouco de calor no arrepio que tinha se espalhado por mim.
— Está com fome?
— Um pouquinho.
— Vá relaxar na varanda. Vou pegar algo para comermos.
Concordei e saí na varanda, que tinha uma vista desobstruída para o oceano. Me afundei em uma das espreguiçadeiras e coloquei os pés em um banquinho. Fechei os olhos
e deixei que a brisa quente dançasse sobre minha pele, enquanto o sol se punha. Talvez, se eu tivesse ficado sozinha por mais alguns minutos, o som das ondas do
oceano batendo na areia me ninaria até eu pegar no sono.
Então Blake se juntou a mim, colocando um prato de queijos, biscoitos e frios em uma mesa. Ele serviu vinho branco em duas taças e me entregou uma.
— Obrigada — falei.
Os olhos dele brilhavam calorosamente. Reparei no sorriso dele, tentando imaginar o que teria inspirado aquela expressão, já que eu o tinha visto minutos antes.
— Você está feliz.
Ele se recostou na cadeira, dando um sorriso torto antes de tomar um gole.
— Estou muito feliz. Você tem esse efeito em mim, sabia?
Meu coração ficou aos pulos. Virei a taça e, quando o líquido frutado atingiu minha língua, eu soube que essa tinha sido uma ótima ideia. Três dias de paz e silêncio
com Blake eram o perfeito paraíso. Relaxei na cadeira.
— Isto é incrível, Blake. Eu poderia ficar aqui para sempre. É tão tranquilo.
— Cuidado com o que você deseja. Nos mudo para cá até o final da semana.
Dei uma risada.
— É, eu sei. Não posso ter um desejo sem que você saia correndo para torná-lo realidade.
Os olhos dele se fixaram em mim, sérios em sua intensidade. O humor das minhas palavras se esvaiu quando pensei no presente que ele era para mim. Respirei fundo,
repentinamente impressionada por aquela verdade. O que é que eu tinha feito para merecer um homem tão incrível?
— Você sabe que não há maneira de agradecer por tudo que você faz por mim, né? Eu brinco, mas, falando sério, como é que eu um dia posso retribuir todas as coisas
maravilhosas que você fez?
— Tenho certeza de que você vai pensar em alguma coisa. — Ele indicou minha taça com a cabeça. — Beba.
Suspirei e tomei um longo gole. Quase cuspi o vinho quando algo duro bateu nos meus lábios. Engoli rápido e olhei dentro da taça.
Ó meu Deus.
Me endireitei, colocando os pés no chão, apesar de nada conseguir me manter presa ali com o que eu estava vendo. Fiquei olhando estupidamente para a taça, congelada
e vagamente ciente de que Blake tinha se levantado e ajoelhado aos meus pés. As mãos dele acariciaram as laterais das minhas coxas desnudas até o meu short.
— Respire, gata.
Inspirei com aquela ordem, meus olhos incapazes de se moverem daquele anel de brilhantes no fundo da minha taça vazia. Eu não conseguia pensar. Eu mal conseguia
respirar.
— Isso não tem sido uma via de mão única. Você me deu tanto quanto eu dei a você. Você me amou em momentos em que eu não facilitei as coisas para que você... Erica,
querida, olhe para mim.
Engoli o formigamento que apertava minha garganta. Lágrimas queimaram meus olhos quando me virei para encontrar seu olhar caloroso.
— Isso é loucura — sussurrei.
— Pode ser loucura, mas esta é a nossa vida, e eu quero passá-la com você, como seu marido. Quero voltar para casa e saber que você sempre estará lá. Quero fazer
amor com você todas as noites e acordar com você todas as manhãs pelo resto da minha vida.
Sacudi a cabeça, incrédula, lágrimas caindo. Procurei pelas palavras, mas nenhuma veio.
Ele secou minhas bochechas e pegou minha taça. Virando-a, ele tirou o anel dela e colocou a taça de lado. Ele segurou minha mão gentilmente e olhou para mim.
— Erica, quer casar comigo?
Fiquei olhando nos olhos dele, agora verdes e brilhantes sob a luz do sol poente. O tempo parou enquanto a pergunta ecoava na minha cabeça, enquanto a enormidade
do que ele estava me pedindo era assimilada. Será que isso era real? Será que ele estava realmente falando sério?
— Tem certeza?
Ele sorriu. De alguma forma, ele nunca tinha estado tão lindo.
— Sim, tenho certeza.
— Não estamos sendo precipitados? É isso que todo mundo vai dizer.
Os olhos dele se arregalaram de leve.
— Já passamos por coisas que poderiam preencher uma vida inteira. Não preciso de mais tempo para saber que é com você que eu quero ficar. E eu francamente não dou
a mínima para o que qualquer outra pessoa tem a dizer sobre isso. E você também não deveria dar.
Olhei para além dele, para o fluido e constante ir e vir do oceano. Nosso pequeno paraíso se tornara muito mais surreal. Ser esposa de Blake, unir nossas vidas irrevogavelmente.
Eu tinha pensado nisso, é claro. Tentei não pensar demais nas insinuações dele sobre um futuro para sempre. Bem no fundo, contudo, era isso que eu também queria.
Por mais que aquela perspectiva me apavorasse quando eu pensava na totalidade do significado daquilo, eu realmente queria ficar para sempre com Blake. Ele deslizou
o polegar na pele do meu dedo, enviando um choque ao meu coração. Eu amava aquele homem e não conseguia acreditar que algo pudesse mudar isso.
— Está bem — falei baixinho.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Está bem?
Sorri.
— Sim.
— Tem certeza?
Ri de leve.
— Sim, tenho certeza. Eu... Eu quero me casar com você. Eu te amo, Blake. Como poderia dizer qualquer outra coisa que não fosse “sim”?
O rosto dele se abriu em um sorriso. Ele colocou a aliança cintilante no meu dedo, dando um beijo em seguida. Ele se levantou, me levando junto com ele e me envolvendo
em seus braços. Estávamos nos abraçando tão forte que eu mal conseguia respirar.
— Eu te amo, Erica. Você nunca vai entender o quanto, mas vou me esforçar ao máximo para lhe mostrar.
Eu o abracei de volta, e a realidade da nossa promessa se instalou em mim, me aquecendo dos pés à cabeça. Nosso amor me preencheu, até eu achar que meu coração fosse
explodir.
Naquele momento, eu soube que nunca poderia amar outra pessoa como eu amava Blake.
CAPÍTULO 5
O restante do fim de semana voou. Blake nos levou para passear na água, indo de jet ski até ilhas afastadas, onde tomamos sol e ouvimos o barulho contínuo da água
do mar até que estivéssemos cansados demais ou com fome demais para ficar mais tempo. Exploramos cada canto da ilha. Comemos, e bebemos, e fizemos amor. Conversamos
e fizemos promessas. Cada minuto era como seu próprio pequeno paraíso.
Aquele comprometimento entre nós ainda tinha uma sensação de novo, como um sonho. Cada vez que meus olhos se acendiam com o brilho da aliança em meu dedo, meu coração
dava um pulo. Era um lembrete brilhante e impressionante do amor de Blake. Tanto entusiasmada quanto apreensiva com relação ao que isso significava para o nosso
futuro, eu não conseguia não fantasiar sobre o nosso “felizes para sempre”.
— Você gostou do anel?
Olhei para Blake, que me pegou admirando-o, enquanto nosso voo se aproximava do céu escuro de Boston.
— Adorei. É simples.
— Podemos escolher algo maior, se você quiser. Arrisquei com esse aí. Eu não tinha certeza do que você iria querer.
— Não, quero este. É perfeito.
— Ótimo. — Ele sorriu e apertou minha mão delicadamente. — Vamos colocar outro junto desse, e aí eu vou saber que você é minha de vez.
Imaginei o companheiro daquele anel, e o significado disso me atingiu.
— Como os braceletes.
Ele assentiu com a cabeça.
— Você vai me ter algemada e presa a você para sempre, Blake. Tem certeza de que é isso que você quer?
Ele se aproximou, tomando meus lábios em um beijo carinhoso.
— É essa a ideia.
Meu coração se contorceu. Uma pequena agitação atingiu minha barriga com o pensamento de ser de Blake para sempre. Sua esposa.
Enquanto nosso avião aterrissava no aeroporto Logan, lamentei estarmos voltando tão cedo. A folga tinha sido incrível, mas curta. Eu ainda estava animada por conta
dela, mas realidades menos agradáveis esperavam por nós dois. Qualquer que fosse o problema em nosso caminho, iríamos encará-lo juntos. Eu tinha prometido a Blake
que sempre faríamos isso. Chega de fugir e chega de tentar ser forte sozinha. Lutar contra minha própria natureza independente não era fácil, mas compartilhar minha
vida, a parte boa e a parte ruim, era mais importante agora do que nunca.
Quando entramos no apartamento, Alli me encontrou com um gritinho e um abraço apertado. Ri e a abracei de volta. A felicidade de ter minha melhor amiga tão perto,
acompanhada das novidades, me aqueceu.
A mão de Heath bateu na de Blake quando eles as apertaram.
— Parabéns, cara!
Um sorriso pequeno se abriu no rosto de Blake.
— Obrigado.
O foco de Heath se voltou para mim, e ele me puxou em um abraço apertado.
— Erica, futura cunhada. Você não faz ideia de onde está se metendo com esse aí, mas boa sorte para você.
Dei uma risada e o empurrei para trás, brincando. Os dois foram até a sala de estar e continuaram conversando enquanto Alli me arrastou até a cozinha para poder
inspecionar o anel. Ela o estudou por alguns segundos enquanto a luz dançava sobre os diamantes. Sorri, entusiasmada de novo por ele ter pedido, por eu ter aceitado.
Sem sequer ter tido a chance de fantasiar sobre como aquele momento entre nós poderia ser, eu soube imediatamente que era isso que eu queria.
Alli passou o polegar pela aliança, com uma sobrancelha erguida.
— Que diferente.
Dei de ombros, sem saber ao certo o que dizer. Eu não ia contar a ela que os braceletes que ele tinha me dado meses atrás se uniam como algemas e que este anel tinha
um simbolismo parecido.
— Diferente, mas é a nossa cara. Eu adorei. Além disso, como é que eu iria trabalhar no computador o dia todo com uma pedra gigante no dedo?
Ela se apoiou no balcão atrás dela, os olhos subindo do anel para os meus pela primeira vez em muitos minutos. Então, ela me estudou, quase tão intrigada quanto
quando analisou meus diamantes.
— Então, se eu conheço você, sua mente deve estar a mil por hora com tudo isso.
Eu ri.
— Um pouquinho. Estou só...
— O quê?
Suspirei.
— Não sei. Acho que ainda estou em choque por ele querer isso, você sabe, querer tornar as coisas permanentes.
— Blake é louco por você. Você sabe disso.
— Foi uma decisão fácil de tomar. Obviamente, sou louca por ele também. E não é como se ele fosse aceitar um “não” como resposta de qualquer forma.
Ri para mim mesma, tentando imaginar até onde ele iria para conseguir a resposta que queria.
Enquanto meus pensamentos fugiam para longe de mim, Alli deu um sorriso largo e uns pulinhos.
— Estou tão feliz por você, Erica! Fiquei pirando o fim de semana todo! Heath me contou depois que vocês saíram, e eu estava morrendo de vontade de ver você de novo.
— Eu não fazia ideia — falei, admirando o presente de Blake, sua promessa.
— Essa não pode ter sido a primeira vez que vocês conversaram sobre casamento.
Minhas sobrancelhas se ergueram de imediato.
— Por quê? Vocês já conversaram?
As bochechas dela ficaram vermelhas.
— Não estou falando de mim. Estou falando de você. As pessoas geralmente conversam sobre casamento antes de fazerem um pedido. Sondam o terreno e tudo mais.
— Ele tocou no assunto uma vez, meio que de brincadeira, eu acho, mas eu o chamei de louco. E eu estava falando sério. Ainda acho que isso tudo é meio louco. Estou
morrendo de medo, mas quero ficar com ele. Se isso é o que ele quer e precisa ser agora, então que seja.
Toda aquela perspectiva era esmagadora e inesperada. Eu amava Blake incondicionalmente, mas solidificar nosso relacionamento com um casamento era algo que eu não
estava considerando no espaço de alguns anos.
Casamento, para mim, implicava estabilidade, algo certo e confiável. “Felizes para sempre” e só coisas boas. Por outro lado, pouquíssimas coisas na minha vida eram
estáveis agora, com exceção do meu amor por Blake. Apesar das garantias dele, o futuro dos negócios me preocuparia muito até que eu soubesse que minha empresa, juntamente
com os empregos de todo mundo, estavam a salvo.
O Clozpin era muito mais que um trabalho, e vê-lo atingir o sucesso era mais que um objetivo de curto prazo. Eu precisava que ele desse certo por muitos motivos.
Se não desse, eu ficaria ainda mais dependente da riqueza e da segurança de Blake. Apesar de eu apreciar o fato de que ele poderia fazer isso por mim e nunca faria
eu me sentir inferior por conta disso, a ideia de ficar completamente dependente de outra pessoa era desconcertante.
— E aí, já pensou em uma data? Um local?
Dei uma risada com o entusiasmo de Alli, mas também lutei contra uma onda de ansiedade por definir todos aqueles detalhes. Quando é que eu teria tempo para aquilo?
Será que a família dele esperava algo grandioso? Eu tinha ficado tão perplexa com o pedido que não tinha sequer pensado em perguntar a Blake o que ele tinha em mente
com relação a isso. Eu ainda estava tentando me acostumar com todo o conceito básico de um casamento.
— Eu não faço a menor ideia de quando ou onde vai ser.
Os grandes olhos castanhos de Alli estavam arregalados e na expectativa.
— Mas é claro que eu gostaria que você ajudasse — acrescentei rapidamente.
Ela sorriu e saltitou de novo. Dei outra risada com seu entusiasmo ilimitado. Ela seria uma fonte inestimável sobre todas essas coisas de casamento. Se havia alguém
que tiraria isso de letra, seria Alli.
— É você quem deveria estar se casando. Provavelmente já tem tudo planejado.
Falei baixinho e olhei rapidamente para trás para ter certeza de que Heath não tinha me ouvido.
— Talvez eu tenha, mas vou me contentar em planejar o seu, por ora. Vai saber quando ou se um dia chegaremos nesse estágio.
— Mas parece que vocês dois já conversaram sobre o assunto, não?
Ela deu de ombros e apoiou o quadril no balcão.
— Um pouco, mas esse é um passo gigantesco. Sabemos que não estamos realmente preparados para isso. Mas eu tenho mais boas notícias para você.
— Ah, é?
Minhas sobrancelhas se ergueram de curiosidade.
— Heath e eu encontramos um lugar para morar. É bem perto daqui, mas tenho certeza de que Blake vai ficar animadíssimo em ter o apartamento dele de volta. Vamos
começar a levar as coisas pra lá esta semana, então o sr. Possessivo não vai mais precisar dividir você comigo.
Ela sorriu e cutucou meu ombro.
Sorri, feliz por ela e por nós.
— Você deve estar animada.
— Estou. É a primeira vez que vamos morar juntos em um lugar que é nosso. Já está vago, então devemos terminar toda a mudança em alguns dias.
— Isso é maravilhoso. Me avise se eu puder ajudar.
— Não se preocupe com isso. Foque no trabalho. Sei que você tem muitas coisas para pôr em dia no escritório, mas marque na agenda um jantar com a gente na semana
que vem. Heath quer convidar a família para conhecer a casa nova. Além do mais, todo mundo vai querer conversar sobre o casamento, então vai ser divertido.
— Está bem — concordei fracamente.
O nó no meu estômago cresceu com a menção da família de Blake. Eu adorava todos, mas eles eram meio efusivos demais, às vezes. Será que existia algo como “ser legal
demais”, “se preocupar demais”? Se os comparasse com a minha família, talvez. Pensar em convidar os Hathaway para fazer parte da minha vida, para celebrar essa ocasião
era, no mínimo, desconcertante. Eles basicamente rejeitaram minha mãe desde o dia em que ela contou que estava grávida de mim. Será que eles iriam me rejeitar também
ou fingiriam interesse e apareceriam como se tivessem se importado durante toda a minha vida? Qualquer um dos cenários parecia estressante, mas eu não queria privar
a família de Blake de uma ocasião que talvez significasse tudo para eles. Meu Deus, nossas famílias não podiam ser mais diferentes.
Para evitar mais perguntas, arrastei Alli de volta para a sala de estar e passamos o resto da noite conversando com nossos meninos. Relaxei ao lado de Blake, grata,
apaixonada e determinada a aproveitar ao máximo as últimas poucas horas de nossa fuga do mundo.
***
O escritório andava silencioso esta semana, com exceção do zumbido baixo dos computadores e do barulho das pessoas digitando nos teclados enquanto trabalhavam. Eu
estava fazendo uns cálculos rápidos quando meu celular tocou. O número de Daniel brilhou na tela. Pela primeira vez em semanas, considerei atender. Assim que eu
restabelecesse o contato com ele, a batalha por manter uma distância saudável entre nossas vidas e nossos negócios começaria. Eu não estava com cabeça para aquilo,
e depois de saber que outros dois anunciantes encerrariam suas contas conosco depois do lançamento do PinDeelz, eu não sabia por que teria agora. Talvez pelo mero
desespero de ocupar minha mente com algo além da espiral descendente na qual minha empresa se encontrava, atendi.
— Daniel, oi.
— Oi. Eu não tinha certeza se você iria atender.
Eu queria ser honesta na minha resposta, mas também não queria irritá-lo. Eu realmente esperava que esse próximo capítulo da nossa vida não se tornasse tão controverso.
Eu não tinha certeza se sobreviveria, caso isso acontecesse. Daniel Fitzgerald tinha se mostrado tanto violento quanto perigoso, mas eu me forcei a acreditar que
conseguiria persuadir o homem por trás da máquina política, por trás das camadas de pressão social, a ser tudo aquilo que ele tinha se tornado. Apesar de todas as
minhas apreensões, algo dentro de mim estava comprometido em salvar o que eu pudesse do nosso relacionamento deformado de pai e filha.
— Estive viajando — falei, dando a ele uma meia verdade. — Como você está?
— A campanha está indo bem, então não posso reclamar. E você?
— Hmm, bem.
O silêncio se estendeu pelos próximos segundos, e eu senti uma pressão estranha para preenchê-lo.
— Blake e eu estamos noivos.
Ele pausou.
— Acho que devo parabenizá-la.
— Obrigada.
Minha voz era pequena. Eu tinha dificuldades em acreditar que ele estava genuinamente feliz por mim, sendo que ele era o motivo pelo qual Blake e eu passamos as
semanas mais agonizantes de nossas vidas separados. A separação quase tinha nos arruinado.
— Suponho que você não tenha se esquecido do trabalho na campanha sobre o qual conversamos — disse ele.
Inspirei, me segurando para manter a calma.
— Eu precisava de um tempo, Daniel, depois de tudo. Mas não, não esqueci.
— Então, você já teve tempo suficiente? Podemos nos encontrar para conversar? O tempo está acabando, e a sua contribuição ainda é importante. Não vou ter certezas
precoces nessa disputa.
Fiquei batendo a caneta, com meus pensamentos girando em torno dos meus próprios problemas profissionais.
— Talvez. Quando você quer se encontrar comigo?
A última coisa que eu queria admitir era a situação da empresa. Isso poderia abrir a porta para que ele me forçasse a trabalhar para ele permanentemente. Eu não
conseguia imaginar nenhum castigo pior por ter falido um empreendimento do que ser forçada a trabalhar naquele acordo.
— Quem sabe semana que vem possamos almoçar e ir para o Q.G. depois. Will tem algumas atualizações para passar a você.
— Tudo bem.
— Até mais, então. E parabéns de novo, Erica. Estou feliz por você.
Franzi a testa, as palavras presas na minha garganta.
— Obrigada — consegui, finalmente, falar.
Desliguei e fiquei olhando para o telefone. Talvez eu nunca fosse conseguir compreender Daniel. Ou talvez este fosse o começo de um ganho recíproco de confiança.
O resto do dia se resumiu a uma enxurrada de tarefas, grandes e pequenas, até que minha energia estivesse completamente esgotada. Dei uma olhada no relógio e considerei
juntar minhas coisas para poder ter alguns minutos extras para me preparar para o jantar com Marie, melhor amiga da minha mãe, e seu namorado, Richard, mais tarde.
Sid entrou no meu escritório e interrompeu esse pensamento.
— E aí?
Levantei a cabeça para olhar para ele.
Ele sentou sua figura magra na cadeira à minha frente.
— Eu estava pensando se você teria alguns minutos para conversar.
Fiquei tensa, imaginando o pior. O site tinha sido arrasado ou ele tinha encontrado outro emprego e desistido do Clozpin.
— Está tudo bem?
Ele deu de ombros.
— Fora o fato de que estamos perdendo anunciantes e o cadastro de usuários está diminuindo? Vamos ficar sentados assistindo isso acontecer?
Relaxei um pouco, mas o tom da pergunta dele me colocou na defensiva.
— O que você quer que eu faça, Sid? Não tenho controle algum sobre o site da Risa ou até onde eles irão para nos destruir.
— Exatamente.
Ele ficou me olhando em silêncio com seus grandes olhos castanhos.
— E?
— Bom, por que você não foca nas coisas que pode controlar ao invés de ficar obcecada com o que eles estão fazendo? Eles não vão sumir tão cedo, e se nossa estratégia
é ficar sentados de boa esperando que eles sumam, não vamos durar muito tempo. Sites como os nossos vêm e vão todos os dias.
— Estamos nos mantendo, Sid. Nem toda esperança está perdida.
Me esforcei para acreditar naquelas palavras.
— Não me alistei para ficar “mantendo” nada. Não há motivo para não crescermos. Diversificarmos.
Franzi a testa.
— Do que você está falando?
— Estou falando que deveríamos subir a aposta. Eles duplicaram o nosso conceito, e se isso é tudo que eles sabem fazer, eles é que vão vacilar. Acho que precisamos
começar a pensar fora da caixa. O que podemos fazer para deixar o site melhor?
Joguei as mãos para o alto.
— Tenho pensando praticamente só nisso ultimamente, acredite em mim. Digo, tenho algumas ideias, mas nada revolucionário.
— Talvez você esteja pensando pequeno demais. Você tem todos esses contatos agora, certo? Que tal uma parceria? Talvez a gente precise dar mais uma olhada nesse
tipo de oportunidade.
— Não precisamos de dinheiro. Blake investiu.
— Não é disso que estou falando. Estou falando de ampliar nosso público-alvo. Tirar nosso foco do serviço comum que estamos prestando e considerar o que faríamos
em uma escala maior.
Assenti com a cabeça, abaixando a crista com a sugestão.
— Você poderia fazer alguma coisa. Tem alguma ideia?
Ele deu de ombros.
— Não sou exatamente uma fêmea de vinte e poucos anos. Só acho que estamos olhando para o problema pelo ângulo errado. Foi você quem criou esse conceito, e acho
que, se você conseguir superar o pânico e esquecer o que o PinDeelz está fazendo, pode nos levar a outro nível. Faça-os comer poeira.
— Obrigada, Sid. Vou pensar nisso, está bem?
— Claro. Me avise se eu puder ajudar.
— Com certeza. — Me recostei em minha cadeira. — Como está a Cady?
— Bem. Estamos bem.
As bochechas dele coraram.
Me esforcei para não sorrir.
— Fico feliz em saber.
Ele se levantou rapidamente.
— Estou indo. Vejo você amanhã.
Acenei um “tchau” para ele e me perdi nos pensamentos. Fiquei rabiscando em meu bloco de notas até que a perda de rendimento que eu tinha calculado alguns minutos
atrás estivesse contornada por um desenho ornamentado. Talvez Sid estivesse certo. Por que as respostas não podiam ser fáceis de encontrar? Todas as decisões importantes
que eu tomei nos últimos tempos pareciam ser reacionárias. O que tinha acontecido com o tempo em que éramos guiados por ideias, não pela sobrevivência? Tínhamos
garantido as finanças com Blake para crescer e prosperar, mas se eu não encontrasse uma saída para isso, o investimento dele iria definhar rapidamente. Me encolhi
com a ideia de falhar com ele. Ele tinha aberto tantas portas para mim, e para quê?
Eu estava prestes a desistir quando um pensamento me ocorreu. Remexi a gaveta da mesa até encontrar um cartão. Respirei fundo para acalmar os nervos e liguei para
o número impresso ali.
***
Entramos no ar frio do Abe & Louie’s, e a porta pesada barrou a luz que tentou entrar junto conosco. Meu braço estava enganchado no de Blake. O maître da churrascaria
desapareceu para preparar nossa mesa, e Blake se voltou para mim, me prendendo contra o peito dele. Minha respiração oscilou com o contato repentino, nossa proximidade
plenamente visível para qualquer um que estivesse perto.
— Lembra-se de alguma coisa?
Sorri quando a lembrança do nosso primeiro encontro voltou à minha mente. Mesmo naquela época, ele já me deixava sem ar.
— Alguma coisa. Eu estava pronta para arrastar você para a chapelaria e sumir com aquele sorrisinho do seu rosto com um beijo.
Ele murmurou em apreciação, contornando meu lábio inferior. A fome nos olhos dele fez meu coração palpitar no peito.
— Não é tarde demais para isso.
— Verdade. Mas não quero ser expulsa daqui antes de Marie chegar.
— Você acha que eles nos expulsariam por isso?
Prendi a respiração. Ele colocou uma mão na minha nuca e me deu um beijo rápido na boca. A outra deslizou pela minha cintura para me abraçar, enquanto ele me curvava
para trás. Sorri sob a pressão macia do beijo dele, enrolando os braços em seu pescoço.
— Você anda bem romântico esses dias, hein?
Ele sorriu e me endireitou, sem me largar.
— Ainda comemorando, suponho?
Meu olhar afetuoso se voltou para a porta, a voz vinda de lá me lembrando de que estávamos longe de estar sozinhos. Marie se aproximou com um homem de cabelos escuros
atrás dela. Curiosidade, orgulho e amor brilhavam nos olhos dela, e isso atingiu meu coração. Blake afrouxou o abraço para que eu pudesse ir até ela. Ela me puxou
em um abraço caloroso.
— Parabéns, minha menina — sussurrou ela no meu ouvido.
— Obrigada.
Ela se afastou e olhou para o homem que agora estava ao seu lado. Ele era alto, com quase um metro e oitenta, cabelos pretos curtos e pele morena. Seus olhos escuros
me cativaram por um instante.
— Erica, sou Richard Craven. É um prazer finalmente conhecê-la.
Ele pegou minha mão quando eu a ofereci.
— Digo o mesmo. Ouvi falar muito de você.
Alto, de pele morena e não quer um relacionamento sério. Dividi o olhar entre ele e Marie. Marie, a mulher que podia ser minha mãe, mas sempre me passou uma imagem
jovial e vibrante demais para sua idade, parecia, de alguma forma, ainda mais nova ao lado dele, sua expressão tranquila e quase infantil na presença dele.
Blake apareceu ao meu lado.
— Richard, sou Blake Landon.
Richard sorriu e apertou a mão dele.
— Finalmente nos conhecemos.
Os olhos de Blake se estreitaram.
— Já fomos a alguns eventos em comum pela cidade. Sou jornalista, então vou para cobrir as notícias locais e tal.
— Entendo. Bom, é um prazer conhecê-lo formalmente, Richard. Vamos jantar?
Marie bateu palmas e sorriu.
— Vamos!
Blake segurou minha mão e acenou com a cabeça para o maître, que se aproximava.
Nos acomodamos à mesa e Marie me encheu de perguntas enquanto esperávamos por nossos pratos. Onde e quando seria o casamento? Quem íamos convidar? Quando eu ia comprar
o vestido? Respondi tantas quanto consegui. Blake e eu precisaríamos definir alguns detalhes básicos do casamento antes que qualquer outra pessoa tivesse a chance
de me bombardear de perguntas. Não ter respostas estava me deixando louca e aumentando ainda mais a montanha de ansiedade com a qual eu já estava lidando.
Voltei minha atenção para a conversa de Blake com Richard, desesperada por um escape.
— Você escreve para algum veículo em específico? — perguntou Blake.
— Faço parte da equipe do The Globe, mas de vez em quando escrevo para outros.
— Richard tem que viajar bastante — intrometeu-se Marie.
— Que tipo de artigos você escreve? — perguntei.
O olhar dele se voltou para mim. Algo passou por trás dos olhos dele. Curiosidade, um vago interesse, talvez, mas eu não tinha certeza.
— Faço reportagens sobre todos os assuntos possíveis, mas tenho um interesse especial em coberturas políticas.
— Você gosta?
Eu esperava que a falta de interesse não estivesse evidente na minha voz quando perguntei.
Um sorriso charmoso ergueu os lábios dele.
— O que não é divertido na política?
Eu poderia pensar em uma ou duas coisas. Dei uma leve risada, não estava disposta ou talvez fosse incapaz de dar a ele uma resposta honesta que abriria a Caixa de
Pandora e mudaria o tom polido desta conversa de jantar.
— E você, Erica? Você tem algum interesse em política?
— Nada em especial, não.— Coloquei o guardanapo na mesa. — Se me derem licença, preciso ir ao toalete.
— Vou com você, querida — disse Marie.
Quando estávamos no toalete, ela perguntou:
— E então, o que achou?
Ela retocou a maquiagem no espelho, passando gloss no lábio inferior.
— Do Richard? Ele parece ótimo. Definitivamente muito charmoso.
Ela me deu um sorriso safado.
— O charme dele é mesmo bem grande.
Revirei os olhos e dei uma risada.
— Eu não precisava saber disso, Marie. Enfim, achei que as coisas estavam meio abaladas entre vocês. O que mudou?
— Ele ficou viajando por um tempo, e não nos víamos muito. Sinceramente, eu achava que as coisas tinham murchado entre nós. Mas as duas últimas semanas foram diferentes.
Sei lá. É difícil explicar, mas talvez a gente tenha simplesmente passado de um certo nível um com o outro.
— Acho que isso é bom, certo?
— É bom, por ora. Estou me divertindo demais para forçar a barra. Mas e Blake? Você deve estar nas nuvens.
Sorri, ficando quente só de pensar nele. Estávamos separados há apenas quatro minutos e eu já sentia sua falta. Eu estava mesmo perdida.
— Estou, sim. Ele me pegou totalmente de surpresa, então acho que ainda estou me acostumando com toda essa ideia de casamento e tudo mais.
Ela meneou a cabeça e fez um carinho na minha bochecha.
— Minha menininha. Não consigo acreditar. Você vai ganhar de mim e subir no altar antes. Se eu não te amasse tanto, talvez te odiasse um pouquinho.
Dei uma risada.
— É Blake que está com pressa, caso contrário, eu ficaria feliz por deixar você largar na frente.
Ela inclinou a cabeça ligeiramente.
— Você tem certeza disso? Blake parece maravilhoso, mas você sabe que não precisa fazer isso se não estiver pronta. Não quero que você seja uma solteirona que nem
eu, mas você tem tempo de sobra.
Olhei para baixo, para meus dedos girando em torno do lindo anel. Eu não conseguia imaginar nada, nenhuma dúvida ou reserva, que ameaçasse se meter entre mim e aquele
anel no meu dedo.
— Não sei ao certo se o casamento é algo para o qual qualquer pessoa está pronta, certo? Além disso, eu já disse que sim, então já estou um pouquinho comprometida.
Dei uma risada nervosa.
Ela ergueu a mão, passando-a carinhosamente pelo meu rosto.
— Ouça o seu coração, Erica. Não há nada além de ruído neste mundo, e essa precisa ser a voz constante na vida de vocês. Se seu coração disser “sim”, então nada
mais importa.
Me aproximei dela, abraçando-a por um longo tempo. Pensei em todas as vezes que ela me confortou, me deu conselhos e me consolou.
— Obrigada, Marie, por tudo. Ah, e você não é uma solteirona.
Ela deu uma ligeira risada e me soltou, piscando para afastar as lágrimas dos olhos.
— Muito bem, chega disso. Vou destruir minha maquiagem. Vamos voltar para os nossos homens.
O restante da noite foi tranquilo. Conversamos, e Marie contou histórias de nossos verões juntas, quando eu ainda estava estudando. Qualquer vergonha que surgia
por conta da sinceridade dela era rapidamente substituída pela minha gratidão por tê-la como a única pessoa que poderia representar minha família ausente. Blake
apertava minha mão debaixo da mesa, ocasionalmente me dando uma olhada perspicaz, como se ele também apreciasse aquelas pequenas descobertas sobre meu passado. Era
a coisa mais próxima de fotos constrangedoras de bebê que ele veria no meu mundo.
Terminamos uma sobremesa deliciosa, e Richard pegou a conta na mesma hora em que meu celular tocou. Pesquei-o dentro da bolsa e reconheci o número.
— Com licença, preciso atender.
A sobrancelha de Blake se enrugou, mas eu escapuli da mesa antes que ele pudesse me questionar.
— Alô?
— Erica, aqui é Alex Hannon.
— Alex, oi. Obrigada por retornar minha ligação. Hmm, não tenho certeza se você se lembra de mim.
— Claro que lembro. Landon nos apresentou naquele evento em Las Vegas. Levei um minuto para me recordar, mas é você quem tem o site de moda, certo?
— Isso. O Clozpin.
— Então, como ele tem ido?
— No geral, muito bem. Na verdade, estou analisando opções para expandir o site, quem sabe incorporar um e-commerce. Me lembrei de você, é claro, e foi por isso
que liguei. Não sei ao certo se você oferece alguma oportunidade de parceria, mas se não houver mais nada, eu adoraria ouvir seus conselhos. Sei que você deve estar
ocupado.
— Não se preocupe. Mas acho que seria mais fácil conversar pessoalmente. Você, por acaso, não estaria vindo para o Tech Awards este fim de semana, estaria?
— Hmm, não — respondi, sem querer admitir que o evento tinha passado totalmente batido por mim.
— Posso conseguir uns ingressos se você quiser vir até aqui. Podemos conversar sobre algumas oportunidades de trabalharmos juntos enquanto você estiver no evento.
E você pode colocar tudo na conta da empresa, é claro.
Dei uma risada.
— Acho que consigo dar um jeito. Me deixe dar uma olhada na minha agenda e eu lhe mando um e-mail para confirmar, mas eu adoraria ir.
— Ótimo, me avise. Se você não conseguir vir por algum motivo, planejo ir aí para as suas bandas em umas duas semanas para visitar uns parentes, então também podemos
nos encontrar quando eu for.
— Parece ótimo. Obrigada mais uma vez, Alex.
Desligamos, e eu não consegui conter o sorriso quando Blake se aproximou de mim na porta de entrada.
— Quem fez você sorrir assim?
— Era Alex Hannon.
— Por que você anda conversando com ele?
O vinco na sobrancelha dele ficou ainda mais fundo e rapidamente se desfez quando Marie e Richard se juntaram a nós. Nos abraçamos e nos despedimos, e Marie me fez
prometer que ligaria para ela quando fosse comprar o vestido.
Minha mente girava, enquanto Blake me levava para fora. O manobrista estacionou rente ao meio-fio, e Blake abriu a porta para eu entrar. Acomodado atrás do volante,
Blake entrou no fluxo contínuo do tráfego noturno. Depois de alguns minutos de silêncio, ele finalmente falou.
— Então, o que está rolando com Alex?
— Eu estava conversando com Sid sobre talvez dar um outro direcionamento ao Clozpin, tentando pensar fora da caixa um pouco, e me ocorreu que Alex tinha se colocado
à disposição quando nos conhecemos. Não sei ao certo se ele vai ter interesse em alguma parceria...
— Que tipo de parceria?
Minha animação com a ligação minguou rapidamente com o ceticismo na voz dele.
— Não sei se isso é algo que ele consideraria. O site dele é enorme, e ele obviamente está indo muito bem por conta própria. Mas Max e Risa estão competindo profissionalmente
com a gente agora. Perdi um monte de anunciantes, e minha receita vai sofrer um baque. Eu só pensei...
— Eu entendo, mas você está considerando uma parceria com Alex Hannon e não conversou sobre isso comigo?
Me mexi no banco.
— Não achei que precisaria. Tem algo sobre Alex que eu precise saber? Se for qualquer coisa como o que você escondeu de mim sobre Max, eu gostaria de saber antes
de ir até São Francisco para encontrá-lo.
Ele expirou audivelmente, revelando, sem querer, sua frustração crescente. Ele parou o carro violentamente na rua do apartamento e ficou olhando para o nada por
um instante.
— Ele não é nem um pouco parecido com Max. Mas estou um pouco chocado por você não ter falado sobre nada disso comigo. Sou o investidor da sua empresa.
— Sou grata pelo que você fez, Blake. Tenho toda intenção de pagar a você de volta, mas para ter uma chance de conseguir fazer isso, preciso nos colocar de volta
nos eixos. Caso contrário, isso vai ser um fracasso épico, e o seu investimento estará perdido.
— Não dou a mínima para o dinheiro, Erica. Valeria a pena perder quatro milhões de dólares se isso colocasse você na minha vida. Valeria perder cada centavo que
tenho.
Meu coração se contorceu com aquela declaração.
— Obrigada, Blake. Mas isso tem a ver com eu fazer esse negócio funcionar. Entrei em contato com Alex por um impulso e, sinceramente, não achei que ele fosse me
dar um retorno tão rápido. Eu definitivamente não esperava que ele seria receptivo quanto a conversar mais sobre isso, mas parece que devo correr atrás dessa oportunidade.
Estou contando a você agora, literalmente minutos depois de ter acontecido. Sinto muito se você se sentiu como se eu estivesse escondendo qualquer coisa de você,
porque essa não era minha intenção.
Ele pegou minha mão e acariciou o dorso carinhosamente.
— As coisas estão bem no trabalho? — Eu não queria discutir, mas tinha percebido que algo o incomodava, torcendo para que não fosse só eu. — Você já conseguiu falar
com o Michael?
— Liguei para ele, mas ele ainda não me retornou. Talvez eu faça uma viagem para Dallas. Algumas coisas devem ser discutidas pessoalmente.
— Talvez você possa ir enquanto eu estiver na Califórnia.
Ele meneou a cabeça, seus lábios apertados em uma linha fina.
— Não, eu vou com você. Alex é um amigo. Trabalhamos juntos antes, e eu obviamente não quero que você viaje sozinha.
— Seria bom se você viesse. Tem uma premiação de tecnologia acontecendo neste fim de semana, e ele disse que pode conseguir ingressos se eu puder ir até lá.
Ele apertou minha mão um pouquinho mais.
— Claro. Vou pedir para a Cady organizar tudo. Podemos pegar um avião na sexta à noite.
Me aproximei dele e deslizei minha mão livre por sua camisa de botões. Os olhos dele escureceram. Ficamos daquele jeito, imóveis no escuro, os olhos brilhando como
lamparinas. Senti que ele tinha mais para dizer, mas eu não queria pressioná-lo esta noite. Me aproximei, eliminando a pequena distância entre nós.
Unindo nossos lábios, busquei pela profundeza doce da boca dele. O beijo se intensificou. Nossas línguas se entrelaçaram. Ele soltou minha mão para segurar meu rosto,
inclinando minha cabeça de acordo com seu próprio gosto. Me endireitei, querendo que nossos corpos ficassem mais próximos naquele breve instante, por menos funcional
que isso talvez fosse.
— Eu te amo — sussurrei, ofegando quando nos afastamos.
Abaixei a mão, satisfeita como sempre por encontrá-lo duro, sua ereção se projetando. Beijei-o com mais intensidade, provocando-o com movimentos da minha língua,
que eu queria passar em outro lugar.
Ele se afastou, recuperando o fôlego.
— Vamos entrar.
Antes que ele pudesse se mexer, eu abri a braguilha dele, e meus dedos circundavam sua ereção. Beijei o pescoço dele, mordiscando a pele, enquanto o masturbava por
inteiro.
— Caralho, Erica, vamos entrar. Alguém vai passar por aqui.
Sorri contra a pele dele.
— E fazer o quê? Nos dedurar? Talvez eles queiram me ver chupar você. —Peguei o lóbulo da orelha dele com a boca. — Meu amor teve um dia ruim. Me deixe torná-lo
melhor.
Ele expirou rapidamente, seu pau pulsando na minha mão.
— Vou castigar você por isso mais tarde.
Dei uma risada baixinha.
— Você vai me castigar por querer o seu pau na minha boca? Acho que posso lidar com isso.
— Se um policial parar antes de eu gozar, vamos ter um castigo diferente. Talvez você não goste. Seja rápida.
Ele se ergueu um pouquinho, e sua ereção se mexia na minha mão. Minha boca se encheu d’água com a promessa de saboreá-lo. Entendi o recado, me abaixei e envolvi
a carne quente dele com a boca. Passei a língua pela cabeça e fui descendo, lubrificando meu caminho até que minha boca estivesse preenchida com a pulsação do pau
dele.
— Puta que pariu. Eu adoro a sua boca.
Gemi, o sabor e o cheiro almiscarado dele assolaram meus sentidos. Deslizei-o para dentro e para fora em um ritmo estável. Com a mão dele segurando meus cabelos,
diminuí a velocidade, deixando que ele assumisse o controle dos meus movimentos. Ele segurou com mais força, me guiando sobre seu pau, forçando-se mais fundo e mais
rápido em mim. Ouvi a mão dele bater no volante. Os quadris dele se ergueram, mantendo-o fundo na minha garganta e, então, me soltando. Soltei um expiro brusco pelo
nariz um segundo antes de ele repetir o movimento, desafiando o que eu conseguia aguentar.
Mais uma vez, com um grito estrangulado, os músculos dele saltaram. Palavrões se espalharam pelo ar à nossa volta. Um jato quente inundou minha boca. Eu o finalizei,
engolindo a evidência de seu êxtase até ele ficar limpo. Ele saiu repentinamente de mim, a cabeça jogada para trás no banco do carro.
— Você está me matando.
— Sei como é — sussurrei, me retorcendo de desejo.
Ele virou a cabeça, olhando para meu corpo.
— Você está toda molhada, não está?
Me mexi ligeiramente, esfregar uma coxa na outra não estava ajudando muito a diminuir a ânsia ali.
— Sim, e estou disposta a implorar que você faça algo com relação a isso.
Ele passou o dedo pelo decote da minha blusa, tocando na ponta do meu seio. Mordi o lábio com força, e a tensão aumentava dentro de mim. Ele ergueu a mão para libertá-lo
com o polegar e pressionou os lábios nos meus. Um beijo intenso e possessivo, com o gosto dele se demorando em meus lábios inchados.
— Me toque — gemi.
— Eu quero, acredite. Mas assim que eu afundar os dedos na sua boceta, não vou nunca mais conseguir sair deste carro sem foder você. Talvez você queira que o mundo
saiba que estou fodendo você até enlouquecê-la, mas se eu for para a cadeia, eu gostaria que fosse por algo um pouco mais notório.
— Onde está seu senso de aventura? — provoquei. Beijei-o com força, tensa demais, o que não era nada bom. — Não consigo esperar.
— Confie em mim, você consegue e vai esperar. E vai esperar ainda mais se não entrar em casa imediatamente — rosnou ele. — Este carro não é grande o suficiente para
todas as coisas que eu vou fazer com você.
CAPÍTULO 6
O sol se punha na curva do horizonte, enquanto o avião seguia seu trajeto para o leste. Me encostei em Blake, cansada do dia que tive. Eu estava grata pelo fim de
semana, mesmo que isso significasse viajar e trabalhar mais. Eu teria preferido curtir outra folga no vinhedo, mas aceitaria o que viesse.
— Melhor conversarmos sobre todas essas coisas de casamento. Se eu tiver que passar por mais uma sabatina da Alli, vou ficar louca.
Ele sorriu.
— Ela provavelmente está causando um ataque cardíaco no Heath.
Fiquei quieta, sem querer sugerir que, talvez, planos de casamento não estivessem tão distantes assim para o casal. Heath ainda tinha um longo caminho até colocar
a vida nos eixos depois de sua temporada na reabilitação. Estar de volta a Boston com a família e, agora, com Alli, parecia ser o caminho certo, mas todos nos preocupávamos
demais com ele para tomar essa boa fase como duradoura. Talvez tenha sido por isso que Blake não o pressionara para se mudar logo, mesmo que isso prejudicasse nossa
privacidade, agora que morávamos juntos.
— Você já pensou no que quer fazer?
Suspirei.
— Não muito. Acho que estou sobrecarregada demais para sequer considerar os detalhes. Quando, onde e quem... Não consigo imaginar como vou organizar tudo isso.
Ele entrelaçou a mão na minha e a apertou de leve.
— Podemos fazer o que você quiser. No fim das contas, tudo que me importa é estar casado com você. Se for um evento suntuoso que vai ficar marcado na história da
família Landon ou se formos passar um fim de semana em Las Vegas e nos casarmos lá sozinhos, não me importa muito, desde que você seja a sra. Erica Landon no final.
Só não me faça esperar muito, está bem?
Relaxei um pouco com a expressão amena nos olhos dele quando ele disse meu nome, o nome que seria meu.
— Sinto a mesma coisa, mas não quero decepcionar a sua família. Se nós fugíssemos, eles provavelmente me odiariam por roubar o momento deles.
Ele riu de leve.
— O momento deles? Gata, esse é o nosso momento. Podemos fazer o que quisermos. Heath vai chegar lá também, eventualmente, e Alli pode quebrar a cabeça planejando
a festa deles. É só você dizer que eu reservo a capela Elvis.
Repousei a cabeça no ombro dele, fechando os olhos.
— Não sei. Acho que preciso pensar no assunto.
— Você está preocupada com a sua família?
O temor no meu estômago respondeu à pergunta dele antes que eu pudesse dizer alguma coisa.
— Um pouco, talvez. Uma pena minha família não ser como a sua. Eu sequer tenho certeza se quero convidá-los para uma cerimônia.
— Você contou a Elliot?
Meneei a cabeça.
— Daniel?
— Sim, contei a ele. Ele, na verdade, disse que estava feliz por nós. Me surpreendeu completamente.
— Bom, com toda certeza ele não vai entrar na igreja com você.
— Não acho que a gente precise se preocupar com isso. Se alguém fosse entrar comigo, seria Elliot. Esses dias ele me ligou do nada, aliás. Não nos falávamos há meses.
— Você nem me contou.
— Eu teria falado, mas você tinha uma necessidade urgente de me amarrar à mesa de jantar. Foi ele que me atrasou, por sinal.
Ele apertou minha mão, talvez como um pedido de desculpas silencioso. Eu estava confortável demais daquele jeito para me mexer e observar a reação dele.
— Então, o que ele disse?
Dei de ombros, querendo de repente não ter tocado naquele assunto. Eu entendia os motivos de Elliot para querer entrar em contato comigo, mas odiava sentir que ele
o tinha feito por obrigação ou culpa.
Blake segurou meu queixo, virando na direção dele.
— Ele disse alguma coisa que chateou você?
Meu olhar foi de encontro ao dele, e eu me endireitei na poltrona.
— Não. É que conversar com ele trouxe de volta um monte de lembranças. Muitas delas tristes, eu acho. Ele quer vir me visitar e prestar uma homenagem à morte da
minha mãe. Já faz dez anos.
Fiquei olhando fixamente para o céu, que escurecia através da pequena janela ao meu lado. Uma visão da minha mãe nas minhas memórias passou pela minha cabeça, da
mesma maneira que acontecia todos os dias e em momentos como este. Ela sempre estava comigo, de alguma forma.
— É engraçado como anos podem se passar e uma conversa pode me levar de volta para aquela época tão rápido. De repente, eu tinha 12 anos de novo. Digo, sou adulta
agora. Posso ser sensata e me virar quando coisas difíceis acontecem, mas não tenho certeza se um dia conseguirei pensar nela ou na morte dela sem os sentimentos
devastadores que senti quando era criança.
— Faz sentido.
— Faz? Digo, eu deveria ser capaz de seguir em frente a essa altura, mas aquela conversa me fez perceber o quanto tudo aquilo ainda está aqui, não resolvido, dentro
de mim.
— O que você sente que não está resolvido? Digo, não parece que ela tinha opções.
— Não é isso. Eu entendo que não havia nada que pudesse ser feito para salvá-la. Falo de como tudo desmoronou depois que ela morreu.
— Com Elliot?
Assenti com a cabeça.
— Não sinto que eu possa ficar brava com ele. No fim das contas, ele não é meu pai verdadeiro. O compromisso dele era com minha mãe, e ele não tinha como saber que
ela ficaria doente.
— Mas o compromisso dele era com você também.
Fiquei remoendo aquela ideia por mais tempo do que eu realmente gostaria.
— Não importa mais. Eu nem sei por que estou falando disso.
— Por que ainda machuca você.
— Sou crescidinha. Posso lidar com isso.
— Eu sei. — Ele ergueu minha mão e a beijou delicadamente. — Você não precisa ser sempre tão forte assim, sabia?
Dei uma risada silenciosa.
— Não sei como ser diferente.
— Acho que somos farinha do mesmo saco. Só que eu ficaria bem mais feliz se você me deixasse carregar mais um pouco do seu fardo.
Dei uma olhada questionadora para ele.
— Essa reunião com Alex, por exemplo. Eu poderia muito bem ter arranjado isso para você, sondado as possibilidades com ele e negociado algo a seu favor. Mas você
é tão teimosa que insiste em fazer tudo sozinha.
— Por que eu não faria?
Ele deu uma ligeira risada.
— Por que você iria querer fazer isso se eu posso resolver tudo e você pode focar em outras coisas?
Me libertei das mãos dele.
— Como o quê? Planejar o casamento?
— Não, cuidar de outros aspectos do negócio. Não é disso que você gosta?
— Construir essas relações faz parte do meu trabalho. Se tem alguém que deveria estar fazendo isso, sou eu.
— Como você quiser, Erica. Você quer fazer as coisas do jeito difícil, eu vou deixar, mas não vou a lugar algum, então talvez valha a pena pensar mais um pouco.
Estamos na mesma equipe, lembra?
Ele pegou minha mão do meu colo, entrelaçou os dedos nos meus e traçou um caminho com os lábios pelo meu braço. Tremi com a respiração dele na minha pele. Meus mamilos
enrijeceram instantaneamente. Olhei pela janela, tentando ao máximo ficar com raiva, mas o toque inocente era uma promessa perigosa da facilidade com que ele podia
assumir o controle quando quisesse. Blake tinha persistência o suficiente para destruir as defesas de qualquer um.
Eu podia lutar, mas ele sempre venceria.
***
O salão do evento estava lotado de pessoas. De todos os tipos. De homens de terno a nerds hi-tech, e todo mundo entre esses extremos. Pelo que Blake me contou, esse
era o evento “quem é quem” do mundo tecnológico, e eu poderia esperar conhecer uma variedade impressionante de pessoas da área. Blake estava usando um terno cinza
escuro, e eu tinha escolhido um traje simples: um vestido vermelho transpassado e saltos altos pretos.
Blake manteve o braço em torno da minha cintura enquanto serpenteávamos pela multidão. O gesto me aqueceu em mais de um sentido. Eu sempre ficava nervosa em eventos
assim e, por mais que quisesse me virar sozinha, tê-lo ali comigo era reconfortante.
— Landon.
Meses tinham se passado desde que tínhamos nos conhecido, mas após um segundo, reconheci Alex, enquanto ele caminhava na nossa direção. O olhar dele desviou de Blake
para mim e, então, para o braço de Blake na minha cintura. Considerei me afastar, mas fazer isso seria apenas constrangedor. Se Alex ainda não sabia do nosso relacionamento,
agora ele saberia. E se ele achasse que meu sucesso recente vinha da riqueza de Blake... Bom, talvez ele estivesse certo. Eu só torcia para que ele não desacreditasse
a apresentação que eu tinha preparado para oportunidades de parcerias por causa disso.
Reprimi a mim mesma em silêncio por admitir coisas demais. No fim das contas, Blake e eu estávamos noivos agora. Noivos. O pensamento me surpreendia toda vez que
eu o repetia a mim mesma.
— Alex, que ótimo ver você. Muito obrigado por ter nos convidado.
Me aproximei para apertar a mão dele, dando a ele meu aperto mais profissional.
Ele me cumprimentou com um sorriso largo.
— Imagine. Estou feliz que vocês dois tenham podido vir. Este evento é sempre divertido. Todos os figurões estão aqui, então vocês vão se encaixar perfeitamente.
— Ah, obrigada — respondi timidamente.
— Então, me fale sobre o Clozpin. O que vocês têm feito?
Limpei a garganta, torcendo para não aparentar tão constrangida quanto eu me sentia. Olhei para Blake.
— Hmm, eu adoraria algo para beber.
Um sorriso torto curvou seus lábios.
— É claro. Alex?
Alex ergueu o copo.
— Estou bem.
Blake se dirigiu com elegância até o bar. Meu corpo esfriou do lado onde ele estava me abraçando. Inspirei rapidamente. Eu precisava de espaço para dizer o que tinha
vindo aqui para dizer a Alex. Olhei-o nos olhos com um pequeno sorriso.
— Vou ser sincera, Alex. A empresa tem ido muito bem. Pegamos alguns anunciantes de peso, e houve um pico de crescimento impressionante no pouco tempo desde que
começamos. A trajetória é sólida. Contudo, um site competidor foi lançado recentemente. Eles basicamente nos clonaram e agora estão querendo roubar nossos anunciantes.
Ele franziu a testa.
— Isso deve ser frustrante.
— Muito, mas também nos ajudou a abrir os olhos. Nossa equipe está mais forte do que nunca, nossa fundação é bem sólida, e acho que podemos passar para o próximo
nível com bastante facilidade e deixar os imitadores para trás.
Ele tomou um gole de sua bebida.
— Como você planeja fazer isso?
— É aí que você entra. Estou aberta a sugestões, mas este me parece ser o momento perfeito para fechar uma parceria com alguém que possa usar nosso tráfego para
aumentar as próprias vendas e nos ajudar a crescer em troca. Dei uma olhada no seu site depois da conferência e, apesar de o e-commerce sempre ter estado nos meus
planos, eu admito que estive ocupada demais fazendo crescer o nosso modelo atual de negócios. Eu não estava pronta para uma mudança grandiosa até então.
Ele assentiu lentamente com a cabeça. Um quê de sorriso curvou seus lábios.
— Posso entender por que Landon investiu em você.
Dei uma risada nervosa, sem saber ao certo como responder. Meus pensamentos se voltaram para Blake à medida que as palavras de Alex ecoavam na minha mente. Inclinei
a cabeça e o estudei por um instante.
— Não me lembro de ter mencionado que Blake era um investidor, mas talvez isso seja óbvio.
— Eu podia ter concluído isso, mas não, conversamos brevemente no telefone esta manhã. Ele queria dar um “alô”, e o assunto veio à tona. Não se preocupe, ele estava
determinado a deixar que você fizesse sua apresentação para mim. Mas ele não mencionou os plagiadores, o que me deixa ainda mais impressionado por você ter sido
honesta comigo com relação a isso.
Meu maxilar se contraiu. Eu não sabia se ficava irritada com Blake ou orgulhosa por ter impressionado Alex. Mas por que ele estava sempre se intrometendo? Quando
é que ele iria perceber que eu podia me virar sozinha? Meu cérebro me relembrou de que ele queria ajudar compulsivamente, mas outra parte de mim ficou pensando se
ele realmente acreditava que eu conseguiria me virar sozinha.
A voz de Alex me trouxe de volta aos meus pensamentos.
— Mas me parece um começo promissor. Vamos nos encontrar amanhã para falar dos detalhes. Não quero atrapalhar a sua festa. Tenho certeza de que Blake está ansioso
para mostrar tudo a você. Há muitas pessoas para conhecer aqui.
Ele acenou para além de mim. Segui o olhar dele repentinamente, mais determinada a encontrar o rosto de Blake na multidão do que a bajular meu possível futuro parceiro
de negócios. Quando finalmente o encontrei, meu coração caiu dentro do meu estômago. O contorno bem definido do perfil dele estava de frente para Risa. Ela estava
enrolando uma mecha de seu cabelo escuríssimo no dedo enquanto falava, pronunciando palavras que eu não conseguia decifrar. Ela estava tão elegante quanto sempre,
em seu terninho todo preto de grife. Mas a expressão dela era hesitante, seus olhos estavam arregalados, e seu corpo levemente inclinado na direção oposta do corpo
imóvel de Blake.
— Erica?
Voltei minha atenção novamente para Alex.
— Tudo bem se almoçarmos amanhã?
Meus pensamentos dispersaram de repente.
— Sim, tudo bem.
— Ótimo. Vamos nos encontrar no restaurante do hotel por volta do meio-dia.
— Me parece ótimo. Aguardarei ansiosa.
Então, Blake estava ao meu lado, segurando meu braço com a mão. Ele apertava com força suficiente para enviar sinais de alerta para meu cérebro. Quando eu passei
a ter essa sintonia com o humor dele? E quando meu corpo começou a reagir com tanta precisão a isso?
— Alex, você pode nos dar licença?
A voz dele não era mais relaxada e casual. Ao invés disso, as palavras saíram bruscas, como se Alex não fosse mais um velho amigo, mas apenas mais um parceiro de
negócios.
— É claro. Tenham uma ótima noite, vocês dois.
Alex acenou para nós e não disse mais nenhuma palavra. Blake me guiou até a saída pela qual tínhamos acabado de entrar, apertando meu braço um pouco mais. Resisti
à vontade de me livrar dele e gritar com ele por ter falado com Alex sobre minha apresentação antes que eu tivesse a chance. Eu queria ficar brava com ele por se
meter desnecessariamente na minha vida profissional de novo, mas algo estava definitivamente errado por trás daquilo tudo.
— O que Risa está fazendo aqui?
— Ela está aqui pelo mesmo motivo pelo qual todos estão. Para ver e ser vista.
Aquelas palavras saíram por entre dentes cerrados.
Meu estômago deu um nó de preocupação. Diminuímos o passo na frente dos elevadores e ele apertou o botão com força.
— O que foi que ela disse?
O sino tocou e entramos no elevador misericordiosamente vazio. As portas se fecharam lentamente, e ele me prensou de costas na parede de espelhos, me prendendo ali
com a proximidade de seu corpo. Ele segurou meu maxilar, me forçando a olhá-lo nos olhos. Eu não podia evitar aqueles olhos intensos que queimavam nos meus.
— Vou perguntar a você uma última vez. E você vai me dizer a porcaria da verdade. Se não disser, estamos terminados. Acabou.
O nó no meu estômago dobrou ao ouvir a ameaça dele.
— Você já mentiu para mim uma vez, porque achava que estava me protegendo, mas se mentir para mim agora, vai ser sua última chance. — Ele respirou brevemente. —
Me diga a verdade e vamos resolver isso.
Pensei que meu coração fosse pular do peito com a velocidade dos batimentos. Eu estava perplexa demais para responder por alguns segundos.
— Blake... Você está me assustando.
O maxilar dele se contraiu, como se estivesse lutando contra as palavras que ele segurava por trás da linha firme de seus lindos lábios.
— Você. Deu. Para. O. James?
Meu coração parou. Olhei nos olhos dele, desesperadamente procurando por uma razão para essa pergunta inesperada.
— Não — sussurrei.
O elevador parou e ele me deixou ali, andando rapidamente pelo corredor. Saí correndo, seguindo-o até nosso quarto. Me demorei na porta, minha mente ainda a mil
por hora. O que Risa disse? O que tinha provocado essa intensidade nele, aparentemente vinda do nada?
Blake tirou o paletó, que caiu em uma cadeira, e foi até a janela. Passando as mãos pelos cabelos, ele ficou olhando para a vista ampla da cidade.
Eu simplesmente fiquei olhando fixamente para ele. Com surpresa, medo, amor. Eu não sabia o que estava acontecendo conosco esta noite, mas odiava o quanto ele já
parecia distante. Dei um passo na direção dele e congelei quando ele se virou para me encarar. O ar saiu de dentro de mim quando nossos olhos se encontraram novamente.
Frios como gelo. Tão sombrios e insensíveis quanto eu jamais os tinha visto. O homem à minha frente não era mais meu amante doce e romântico, era o bilionário cruel
que não seria desafiado.
— Tire a roupa.
A ordem pairou no silêncio entre nós. A palavra me gelou fisicamente, e um arrepio subiu pela minha espinha.
— Blake, eu não entendo...
Ele abriu os botões da camisa, tirando-a de dentro da calça desapressadamente.
— Quero que você tire a roupa. Nua, aqui no meio do quarto.
— Por que... Por que você está tão chateado comigo?
A aparência calma da expressão controlada dele se foi. Uma careta frustrada deixou seus dentes à mostra.
— Mas que droga, Erica. Vou pegar outro quarto e o primeiro voo para ir embora daqui pela manhã. Você pode dormir sozinha e ir sozinha para casa. Se é isso que você
quer, você deveria me testar agora. Veja quanto espaço eu vou dar a você.
A pele dele ficou vermelha. Ele já tinha ficado tão zangado assim comigo antes? Mas por quê? O maxilar dele pulsava, o músculo saltando enquanto ele esperava que
eu reagisse. Abri a boca para falar, mas não consegui. Eu não fazia ideia de contra quê eu estava me defendendo. O que tinha nos levado de uma noite agradável para
esse tornado de fúria inesperada?
Como que em resposta à minha pergunta não dita, ele falou baixo e em tons calculados.
— Risa me contou sobre James. Lembra, aquele seu pequeno rendez-vous do lado de fora do escritório depois que eu a deixei lá? Parece que as coisas ficaram bem animadas
entre vocês dois. — Ele inclinou a cabeça de leve. — Supondo que essa história seja verdade.
Não. Não, isso não estava acontecendo.
Meus olhos ficaram embaçados com a ardência das lágrimas que contive. Eu estava paralisada. Sem pestanejar, eu teria feito qualquer coisa para bloquear o rumo que
isso estava tomando.
Ele jogou a camisa para o lado e veio até mim.
— Foi tão vaporoso quanto a praia? Acho que me lembro de você estar bem animadinha depois daquilo.
— Blake — supliquei.
Ele estava distorcendo tudo. Maldita Risa por estar fazendo isso comigo, com a gente.
Ele ficou parado na minha frente, olhando bem nos meus olhos. Ele parecia mais alto, mais intimidador do que eu já o tinha visto antes. Arqueei os ombros, a postura
dele parecia exigir que eu fizesse isso.
— Não é verdade. Me diga que não é verdade.
Apertei o maxilar. Qualquer coisa que eu dissesse agora seria fútil. Ele não estava interessado nas minhas desculpas.
Ele passou os dedos pelos meus cabelos, segurando-os pela raiz para me puxar alguns centímetros mais perto. Choraminguei com a pequena dor. Minhas mãos foram de
encontro ao peito dele, ajudando a me manter em pé, enquanto meus joelhos enfraqueciam de leve. O calor da pele dele quase queimava a minha. Ele se aproximou, e
eu pude sentir sua respiração nos meus cabelos, no meu pescoço. Eu podia sentir o cheiro dele — o homem que eu amava e que talvez me odiasse agora.
— Tire a roupa. — O veneno na voz dele agora tinha sido substituído por uma determinação perigosa, que formigou por debaixo da minha pele. — E ajoelhe-se.
Meus olhos se fecharam. Expirei bruscamente, já me sentindo despida pelas palavras dele. Eu queria chorar, mas me lembrei da ameaça dele. Ele me deixaria. Talvez
só por uma noite, mas só pensar nele me deixando no meio de tudo isso me apavorava. Eu não conseguia acreditar que ele já não estava considerando me deixar de vez.
Ele me soltou. Eu quase tropecei quando ele se afastou. Olhei para meus próprios pés, minhas mãos deslizavam agitadamente pelo vestido. Sem pensar, porque eu não
conseguia ver sentido em nada agora, tirei os saltos, um após o outro. Meus dedos foram até o nó que prendia o vestido no meu corpo. Me atrapalhei com ele, minhas
mãos tremiam muito. Soltei-o e deixei o vestido cair no chão aos meus pés. Sentindo os segundos tiquetaqueando, ciente de que Blake os estava contando, esperando,
eu rapidamente tirei o sutiã e abaixei a calcinha.
Fiquei parada ali, totalmente nua. O silêncio se prolongou entre nós. Ergui a cabeça para olhar para ele. Olhos que eram uma tempestade de emoções pareciam latir
a ordem no silêncio do quarto.
Com o comando não pronunciado, me abaixei, apoiando as mãos trêmulas nos joelhos. Uma voz na minha cabeça gritava que eu não deveria precisar fazer isso, não desse
jeito, respondida por outra que me dizia que eu merecia cada minuto do que estava acontecendo. De qualquer forma, eu não podia deixar que ele me largasse, e se tivesse
que me ajoelhar para fazê-lo ficar, eu o faria.
CAPÍTULO 7
Fiquei olhando para o carpete à minha frente. Era isso que ele queria de mim. Quando eu quis perguntar por quê, quando quis lutar contra, as palavras de Blake ecoaram
na minha cabeça.
Submissão total. Controle total sobre o seu prazer e a sua dor.
Ele queria isso... minha submissão. Ele não queria se explicar. Eu podia me desculpar. Podíamos conversar sobre isso, discutir, mas era isso que ele queria agora.
Talvez fosse o que eu precisava também. Aquele tornado dos nossos corpos colidindo juntos, silenciando o resto do mundo. Só que ele estava furioso, e eu odiava ver
aquela expressão nos olhos dele sabendo que era eu que a tinha colocado ali.
Ele se agachou à minha frente, mas mantive meus olhos abaixados, focados nos sapatos dele, na maneira como sua calça se esticava em torno das coxas musculosas. Céus,
como aquele homem era lindo. Mesmo quando estava bravo pra caramba.
A mão dele acariciou meu rosto, provocando um arrepio que subiu pela minha espinha.
— Se eu não estivesse tão puto agora, talvez ficasse impressionado com você, Erica. Minha pequena submissa está finalmente aprendendo. Vamos ver quanto tempo você
consegue continuar assim, porque você vai receber os castigos de uma vida inteira esta noite. Você acha que consegue aguentar?
Ergui a cabeça, e meus olhos se estreitaram. A lutadora dentro de mim ameaçou pular em cima dele. Inspirei lentamente pelo nariz, buscando equilíbrio. Sobreviva
à tempestade.
— Ainda não quer uma palavra de segurança?
Meu peito lutou para se expandir com meu respiro seguinte. Inspirei de novo rapidamente e meneei a cabeça, abaixando os olhos novamente. Estupidamente, garanti a
mim mesma que aceitar uma palavra de segurança daria a ele licença para me fazer querer usá-la.
Ele passou as pontas dos dedos nos meus lábios, fazendo-os formigar.
— Ele beijou você. Você o beijou de volta?
Puxei o ar por entre meus lábios trêmulos.
— Caso você não tenha notado, não estou no clima para ficar me repetindo. Você o beijou de volta?
— Sim, eu... Eu o beijei de volta.
As palavras deixaram um gosto amargo na minha boca. Por quê? Por que eu tinha me permitido ir tão longe? Um toque de náusea atingiu meu estômago ao pensar que eu
poderia perder Blake por causa daquele momento estúpido.
— Ele esteve na sua boca?
Esperei um segundo e concordei novamente com a cabeça, e o enjoo rolava dentro de mim agora. O toque dele desceu delicadamente até meus seios, segurando o peso de
um deles.
— E as mãos dele? Ele conseguiu resistir a essas tetas perfeitas enquanto a língua dele estava na sua boca? Ele tocou você aqui?
Ele deu um puxão no meu mamilo, provocando um choramingo.
— Não sei. Não.
Descendo, a palma dele deslizou pela minha barriga até chegar ao meio das minhas pernas afastadas. Ele raspou a mão nos lábios, mal me tocando.
— Aqui?
—Não — insisti.
— Você queria que ele tocasse?
— Não.
Ele deu um tapa no meu sexo, um movimento brusco que enviou um choque de dor e um prazer inesperado pelo meu corpo.
— A verdade, Erica — ralhou ele.
— Eu queria que fosse você — me apressei em dizer. — Se alguma parte de mim queria essas coisas, esse era o motivo. Mas estou dizendo a verdade quando digo que não
senti nada.
— Você está querendo me dizer que ele te deu um beijo que durou tempo suficiente para que Risa visse, com a porcaria da língua dele na sua boca, e você não sentiu
nada?
Fechei os olhos, odiando tudo isso. Tudo estava confuso, tão bagunçado quanto eu tinha me sentido quando deixei que James se aproximasse demais aquele dia. Minha
garganta se fechou de emoção.
— Blake. Por favor, acredite em mim. Tudo aconteceu rápido demais. Ele me pegou de surpresa, e talvez, por uma fração de segundo, sim, eu pensei que o queria. Mas
aí eu não consegui suportar. Mesmo acreditando que você tinha ido embora, que eu nunca mais veria você de novo, eu não o quis. Eu queria você, mas ele não é você.
Ele nunca vai ser você. Mesmo que você me odeie e me castigue, isso nunca vai mudar.
Minha voz estava aguada quando falei aquelas últimas palavras, a verdade que iria me atormentar até o dia da minha morte se ele me deixasse. Que Deus não permitisse,
ele me arruinaria para sempre.
— Por que você não me contou? Por que é que eu tinha que descobrir desse jeito, porra?
Abaixei a cabeça.
— Eu não queria machucar você, Blake — respondi, mas era tarde demais para isso.
— Você faz ideia de como estou furioso agora?
A voz dele era grave, perigosamente grave.
Arrisquei olhar nos olhos dele. Eles estavam embaçados por conta da umidade dos meus. A falta de empatia me gelou ainda mais.
— Sinto muito. Sinto muito mesmo...
Minha voz vacilou, mas eu estava desesperada para que ele soubesse.
— Sente? E você vai me mostrar o quanto sente?
— Vou fazer o que você quiser.
Tentei tocá-lo, mas ele me imobilizou, segurando meus pulsos longe dele.
— O que faz você pensar que eu quero você depois do que você fez?
Ele podia ter enfiado uma adaga bem no meu coração pela maneira como as palavras me atingiram. Mas os olhos dele contavam outra história. Eu via a fúria ali, mas
mágoa também. Não o suficiente para amenizar as linhas de expressão em seu rosto, mas o suficiente para me dar a menor das esperanças.
— Você é o único que eu sempre vou querer. Por favor, não me odeie. Blake, eu fui idiota e estava assustada. Eu odeio que isso tenha acontecido, que eu tenha desistido
de nós antes que pudéssemos encontrar nosso caminho de volta um para o outro. Eu te amo. Por favor... Me deixe mostrar a você.
Ele pausou por um instante antes de soltar meus pulsos. Ele se levantou e atravessou a curta distância até o sofá. A rejeição imediata aumentou ainda mais a ânsia
pesada na minha barriga. O ar saiu de dentro de mim com o ruído do cinto dele sendo removido da calça. Ele o segurou por um momento, uma expressão perspicaz me analisando.
Meu peito ficou apertado, agitando-se com minha respiração, agora ansiosa. Inesperadamente, ele o largou no chão antes de se acomodar no sofá.
Ele abriu o zíper da calça e libertou sua ereção. Ele começou a se masturbar lentamente. Um tipo de tensão diferente emanava dele agora, uma tensão que eu podia
aliviar, se ele me deixasse. Alguns instantes se passaram enquanto ele se masturbava, e seus olhos estavam fixos em mim. Pressionei as unhas nas minhas coxas. Eu
queria tanto ir até ele, mas ele me castigaria se eu me mexesse sem permissão. Eu não ousava pedir.
— Venha aqui — chamou ele.
Aliviada, comecei a me levantar.
Mas ele me interrompeu.
— Engatinhe. Quero você de quatro até que eu diga para mudar.
Hesitei por um instante e, então, comecei a me mexer. O carpete pressionava minhas palmas e ardia em meus joelhos, enquanto eu atravessava a distância entre nós.
Minhas bochechas ficaram quentes de vergonha. Aquela posição oferecia toda a humilhação que ele poderia querer de mim.
Mas nada poderia diminuir meu desejo por ele. Me sentei sobre os calcanhares entre as pernas dele, tão disposta quanto eu estava momentos antes. A cabeça dilatada
de seu pau grande desaparecia na mão dele e ressurgia quando ela descia até a base. A ponta brilhava de umidade. Lambendo os lábios, eu quase conseguia sentir o
gosto dele. De repente, tudo que eu queria era ele na minha boca. Eu podia sumir com a frustração dele, amenizar a dor que queimava dentro de nós dois.
— Você quer isso?
As palavras foram enfraquecidas pelo esforço que ele fazia para se conter à medida que seu ritmo aumentou.
— Sim.
Me ergui, repousando as mãos nos joelhos dele.
— Você não merece isso. A satisfação que iria lhe dar.
A adaga que ele já havia enfiado em meu coração girou. Como um animal ferido, me abaixei.
— Por favor. Me deixe — supliquei delicadamente.
O ar sibilou para fora dele por entre seus dentes. Mordi o lábio, minha própria frustração aumentando com a proximidade do orgasmo dele. As palavras pareceram desaparecer.
Será que ele iria me ignorar até gozar? Subi as mãos pelas coxas dele e as desci de volta. Lambi os lábios, imaginando o gosto dele, a pressão do desejo dele na
minha boca.
— Me deixe satisfazer você, gato. Eu te amo. Eu quero.
Os olhos dele se fecharam, seus músculos se contraindo sob meu toque.
— Puta merda — grunhiu ele.
A cabeça dele caiu para trás com um respiro trêmulo.
Encorajada, coloquei a mão sobre a dele, interrompendo seus movimentos rápidos. Um segundo depois, ele estava fundo na umidade da minha boca. Circundei a cabeça
dele rapidamente com a língua. Minhas bochechas se esvaziaram quando chupei com força o tanto quanto eu conseguia. Me mexi e gemi, com minhas coxas se esfregando
uma na outra, enquanto eu me posicionava para poder chupá-lo o mais fundo que pudesse.
Rapidamente, ele estava a ponto de bala. Algumas investidas urgentes no fundo da minha garganta e ele tremeu com um grunhido dolorido. Ele me segurou pelos cabelos
e me manteve nele até se esvaziar completamente, seu pau se contraindo e pulsando com os abalos pós-orgasmo.
A dor de ter ficado ajoelhada e o desconforto da maneira como ele me mexia para seu próprio prazer desapareceram em segundo plano quando senti o gosto dele, inspirando
o cheiro dele. Da base até a ponta, eu o lambi até limpá-lo. Meu amante, meu amante lindo e torturador. Eu queria ser isso para ele. Queria idolatrá-lo, servi-lo.
Queria ser tudo para ele, mesmo nesses momentos sombrios em que nada fazia sentido além das demandas da nossa carne.
Ele deslizou para fora da minha boca, e os ruídos da nossa respiração preencheram o silêncio. Meus seios estavam duros e pesados. A umidade se acumulava entre minhas
pernas. Mas lutei contra a vontade de mostrar a ele, de pedir mais. Deixei minhas mãos repousarem novamente nos meus joelhos, respirando para conter o desejo que
crescia.
Ele ergueu a cabeça. Seu rosto tinha suavizado após o orgasmo, mas seu maxilar estava resoluto.
— Masturbe-se.
Sem pensar duas vezes, me toquei entre as pernas. Puxando a umidade da minha excitação por sobre meu clitóris, comecei a ditar um ritmo. Meus olhos se fecharam.
Um gemido suave escapou de meus lábios quando pensei nos dedos dele ali, me dando prazer.
— Queria que fosse eu tocando você?
— Sim.
— Quer que eu enterre meu pau nessa sua boceta molhada?
— Sim — arfei.
Minha barriga se tensionou e o calor salpicou minha pele. Meu sexo pulsava e se contraía, esperando para ser preenchido por ele. Todo ele, até que toda essa loucura
fosse embora e fôssemos só nós dois, juntos.
— Continue se masturbando.
Um lampejo de medo se espalhou por mim quando senti que ele se afastou. Se ele estava disposto a me rejeitar antes, o que o impediria de me provocar até o ápice
e me deixar ali só para me punir? Meus dedos trabalhavam fervorosamente sobre meu clitóris. O orgasmo se aproximou, e eu corri atrás dele. De olhos bem fechados,
bloqueei todo o resto. De repente, eu estava convencida de que ele me deixaria a ver navios se eu não chegasse lá por conta própria.
— Blake — gemi.
O nome dele saiu dos meus lábios como uma prece desesperada. Ele não estava dentro de mim, mas ainda estava comigo. Invadindo meus pensamentos, incorporado profundamente
em qualquer fantasia que fosse me levar ao clímax. Eu o mantive perto, enquanto me agarrava ao sofá agora vazio, e meus quadris se erguiam na direção da minha própria
busca.
— Estou bem aqui.
Meus olhos se abriram com o som da voz dele no meu pescoço. Antes que eu pudesse me focar, ele enganchou o braço nos meus cotovelos, puxando meus ombros para trás.
Meus seios se projetaram. Meu clitóris palpitou, pedindo atenção. Me mexi agitadamente, ávida demais para terminar ou para que terminassem por mim. A mão dele veio
parar na minha garganta, seu toque tanto delicado quanto possessivo. O polegar dele repousou sobre o ponto pulsante que batia com força enquanto ele circundava meu
pescoço.
— Quero mostrar ao seu corpo a quem ele pertence, mas quero ouvir você dizer — sussurrou ele, puxando o lóbulo da minha orelha com a boca.
Ele chupou e mordeu com força.
Me mexi tanto quanto a mão firme dele permitia. Eu estava extremamente tensa.
Ele aliviou a dor com a língua. Beijos quentes no meu pescoço me deixaram sem ar e fizeram eu me contorcer. Empurrei os quadris na direção da ereção dele, implorando
silenciosamente que ele me fodesse. Ele me inclinou para frente, de modo que meu peito estivesse debruçado no sofá. Ele soltou minha garganta e envolveu minha barriga
com o braço. Deslizou para dentro do meu calor molhado, seus dedos provocando o nó enrijecido no meu clitóris. Fiquei tensa com o contato, o ritmo desapressado do
toque dele me levando à beira da loucura.
— Você me pertence, Erica. Seu coração, o sangue que pulsa por ele quando eu seguro você desse jeito. Seu corpo, a maneira como ele se mexe para mim, goza para mim.
Tudo isso é meu. Diga. Diga que você me pertence, gata.
Me movi na direção do toque dele, ignorando sua ordem.
— Diga.
Me encolhi, a luta dentro de mim florescendo renovada.
— Não pertenço a ninguém.
— O quê?
A ameaça permeava a pergunta dele. De alguma forma, o fogo do meu desejo alimentou minha raiva também. Eu precisava gozar, me libertar dessa tensão, de toda ela.
— Não pertenço a ninguém — ralhei, impotente e frustrada novamente.
Os dedos dele deixaram meu clitóris. Segurando meus quadris apertado, ele me puxou com força contra ele, seu pau duro pressionado contra minha bunda. Arfei, com
minha raiva chiando no tornado da minha necessidade de ser fodida.
— Você está errada. No segundo em que eu coloquei aquela aliança no seu dedo, você passou a pertencer a mim. Não banque a idiota, fingindo que você não sabe disso.
Você me prometeu que ninguém mais iria tocar em você. Lembra? Eu castiguei você na época e vou descontar na sua bunda de novo até ouvir aquelas palavras, caralho.
Ele recuou e se moveu para o lado, e a próxima coisa que senti foi a cintada que ele deu nas minhas coxas. O grito que saiu foi abafado no sofá quando ele deu mais
uma.
— Blake!
— Podemos fazer isso pelo tempo que você quiser. Ver a sua bunda ficando vermelha só me deixa duro.
— Não estávamos juntos.
Minha voz, repleta da emoção que ele parecia não ter, vacilou quando ele deu outra chibatada na minha bunda.
— E de quem foi a culpa disso, porra? — latiu ele.
Minha. O calor ardente da minha pele dobrou quando outra cintada atingiu o mesmo local. Gritei, ficando tensa e me afastando, mas ele me segurava com força demais.
Ele não estava batendo aleatoriamente. Ele queria que eu sentisse isso de um jeito que não tinha sentido completamente antes.
Você pertence a mim.
As palavras se instalaram no meu cérebro enquanto eu recebia uma cintada após a outra, ficando tensa até achar que meus músculos fossem ter cãibra. Cada uma delas
causava uma dor que fazia com que o prazer parecesse algo muito distante. Cada uma parecia mais forte que a última, até que fiquei dormente. As lágrimas caíam, e
o único lugar onde eu podia sentir a dor era meu coração, o lugar onde eu feri nós dois.
Mal consegui registrar o alívio quando ele parou. Minha visão do quarto, dali do sofá, era embaçada de lágrimas. Ele afastou meus joelhos, e eu dei um pulo quando
as mãos dele rasparam na pele sensível que tinha absorvido a parte mais pesada da punição. Os dedos dele deslizaram pela abertura da minha bunda até meu sexo molhado
e mergulharam fundo. Choraminguei, tomada por tudo aquilo. Meu corpo era um fio de alta tensão, dormente e sobrecarregado ao mesmo tempo. Apesar do castigo, eu estava
encharcada para ele.
Ele tirou o dedo molhado e o pressionou no anel apertado entre minhas nádegas.
— Eu devia foder você aqui. Você merece — murmurou ele.
Meneei a cabeça. Eu tinha sobrevivido à dor, mas não conseguiria aguentar mais nada. Eu não achava que conseguiria, de qualquer forma. Eu não sabia se ele iria me
deixar gozar, mas mesmo esse destino enlouquecedor parecia bem melhor do que o que ele estava ameaçando agora.
— Por favor, não.
Um segundo dedo entrou em mim, me esticando.
Prendi a respiração, e meu cérebro voltou à vida no meio da neblina. Minha cabeça saiu do sofá, e todas as partes do meu corpo ficaram tensas.
— Não! Estou implorando a você, Blake. Por favor, não. Não consigo.
Ele ficou imóvel atrás de mim e tirou os dedos sem dizer mais nada. O alívio se abateu sobre mim como um martelo.
— Talvez não esta noite, mas vou comer o seu cu. Pode contar com isso. Sabe por quê? — Ele se abaixou, raspando os lábios na minha orelha. — Porque você pertence
a mim — sussurrou ele.
Meu maxilar se apertou, um pequeno fio de luta ainda existia em mim. O aperto na minha garganta sinalizava a torrente de emoções que escalava até meus olhos. Expectativa,
dor, amor. Todos aqueles minutos ou horas que tinham se passado provocaram em mim uma onda violenta de emoções que se espalhava pelo meu corpo como uma tempestade
de raios.
— Vou foder você e, Deus me acuda, você não vai gozar até dizer as palavras.
Segurando meu quadril, ele deslizou o pau pela entrada pulsante do meu sexo e empurrou com força. Um grunhido quase selvagem preencheu o ar, e eu percebi que eu
o emitira. Um tipo desesperado de prazer tomou conta de mim. Deslizou pelas minhas veias como uma droga altamente viciante, me deixando fora de mim quando a única
coisa que importava no mundo era o corpo dele no meu. Ele afastou minhas pernas ainda mais com o joelho, de modo que eu sentia cada investida bem no fundo do meu
sexo.
— Minha. — Ele metia em mim. — Você nunca mais vai se esquecer disso, Erica.
A possessão dele me consumia, me levava a algum outro lugar. Eu precisava dela, precisava dele. Disso. E eu era dele.
Minha. Você é minha. Sou sua. Para sempre. Insensatamente, repeti as palavras como um mantra até elas perderem o significado. Eu pertenço a você. Eu pertenço a você.
Sempre pertenci.
— É isso mesmo. Você pertence a mim, gata.
Meus olhos se abriram. Eu tinha dito aquelas palavras em voz alta. Todas elas. Na pressa ofuscante de querê-lo.
— E eu pertenço a você.
A confissão dele interrompeu meus pensamentos dispersos. Então, ele meteu em mim com tanta força que eu gritei. Os dedos dele voltaram ao meu clitóris, me excitando
novamente. Todos os músculos se tensionaram, mas ele segurou meus braços com firmeza. Ele me prendeu no prazer, me restringindo para que tudo que eu pudesse sentir
fossem os movimentos brutos dele, a fricção impossível dentro de mim. A necessidade de gozar queimava dentro de mim como fogo pelas minhas veias.
— Blake... Ó Céus, por favor, me deixe gozar. Eu amo você. Sou sua... Por favor... Por favor... Não consigo parar.
— Você quer gozar?
— Por favor!
— Então goze — disse ele.
Com aquele comando, a tempestade dentro do meu corpo explodiu. Empurrei o corpo com força para baixo, empurrando-o para dentro de mim. Todos os músculos ficaram
tensos, um estado elevado aparentemente infinito de satisfação. Solucei com o prazer, meus ruídos abafados pelas almofadas debaixo de mim. Tudo se libertou, me deixando
fraca e trêmula. Apoiando-se com a mão no sofá, ele buscou o próprio prazer, reivindicando meu corpo com a mesma paixão e o mesmo vigor com que tinha reivindicado
meu coração. Eu por completo. Aceitei tudo, querendo que a possessão dele chegasse à minha alma.
Ele se enterrou dentro de mim com uma última investida, tensa e silenciosa.
O suor gelava minha pele. Ele cobriu minhas costas com seu corpo, me envolvendo com seu calor. Ele finalmente soltou um expiro trêmulo e enrolou o braço nas minhas
costelas. Um abraço. Quente e, eu queria acreditar, apaixonado. Flexionei os dedos em cima da minha barriga, querendo mantê-lo ali, mantê-lo perto. Mas eu ainda
estava aprisionada, e ele não me soltou.
— Eu te amo — falei.
Quando as palavras saíram da minha boca, rezei para que ele as dissesse de volta. Me perdoe. Vamos superar tudo isso. Mas rápido assim, ele saiu de dentro de mim.
E eu não conseguia mais senti-lo. Liberta, me virei. Ele tinha desaparecido dentro do banheiro. A porta se fechou, fazendo um barulho alto no silêncio do quarto.
Vazia e gelada, me sentei no chão e envolvi meu corpo com os braços. Depois de alguns minutos ouvindo o chuveiro, fui até a cama. Minhas pernas mal conseguiram chegar
até lá. Desabei nos lençóis frios e puxei o edredom por sobre mim, querendo que a coberta pesada fosse o braço de Blake em torno de mim.
Deixei que as lágrimas caíssem. Onda após onda, até que o sono deixou tudo preto.
CAPÍTULO 8
— Erica... Acorde.
Acordei em um pulo. Os olhos arregalados, enquanto o quarto, agora iluminado, entrava em foco. Meu coração estava batendo rápido demais, como se algum pânico latente
ainda sobrevivesse em mim. Blake estava em pé ao meu lado, bebericando café. Ele estava totalmente vestido, de calça e uma camisa recém-passada. Relaxei um pouco,
grata pelo simples fato dele estar ali.
— Vamos encontrar Alex para almoçar. Ele me mandou uma mensagem avisando que estava atrasado, mas é melhor você se arrumar.
Me sentei lentamente e puxei as cobertas para esconder minha nudez. Esfreguei os olhos, esperando a sonolência passar. Dei uma olhada no relógio. Eu tinha dormido
por quase 12 horas, mas meu corpo parecia drogado, exausto até os ossos. Lentamente, comecei a me lembrar da noite anterior. Eu não tinha tomado uma gota de álcool,
mas, de alguma forma, me sentia de ressaca. Como prometido, Blake tinha dado à minha bunda a surra de uma vida inteira. Procurei a raiva, mas meu coração só doía
de tristeza e arrependimento.
Quando busquei o olhar dele, ele se afastou e voltou sua atenção para o celular.
— Melhor você se limpar.
Me recostei novamente nos travesseiros. Minha mão tocou a bagunça dos meus cabelos, e meus pensamentos foram parar no fim de nossa noite. Sozinhos. Tão distantes.
Me encolhendo, encontrei força para me levantar. Meus movimentos estavam longe de serem ágeis, enquanto eu ia até o banheiro. Meus músculos estavam rígidos, e uma
dor de cabeça chata pulsava atrás dos meus olhos.
Me demorei no chuveiro, escapando debaixo do jato quente como se, de alguma forma, a água pudesse levar embora a mágoa insistente que me preenchia. Pensamentos sobre
James e o erro que eu tinha cometido e pelo qual nós dois estávamos pagando dispararam no meu cérebro cansado. Blake estava ferozmente enciumado, mas eu pude ver
a dor que causara a ele na noite passada.
Ele se afastou de mim, me deixando sozinha com tudo o que tínhamos feito, sem dizer uma única palavra. Tínhamos tido noites intensas antes. Ele havia me forçado
até o limite, e tínhamos nos acabado juntos. Bem ou mal, sempre passávamos o final da noite juntos. Mas não na noite passada, e quando ele me deixou sozinha, ultrapassamos
um limite. Ele violou um novo limite invisível que eu nunca soube que estava ali. Talvez eu também tivesse passado do ponto com o que tinha feito para deixá-lo daquele
jeito. Mas a sensação de vazio que ele deixou em mim não era nada parecida com qualquer coisa que eu havia sentido com ele antes. Aquele vazio lançou uma sombra
em toda dor e punição que ele tinha provocado, tornando tudo muito mais sombrio.
O calor do chuveiro estava me deixando fraca e cansada de novo. Desliguei e saí para me secar, perfeitamente ciente de que Blake estava do outro lado daquela porta
com meu coração em suas mãos. Precisaríamos conversar sobre o que tinha acontecido em algum momento, mas não ia ser uma conversa fácil. Eu também não estava com
a cabeça no lugar certo para conversar com Alex agora, mas, de alguma forma, isso não importava tanto quanto deveria.
Blake ficou trabalhando em seu laptop enquanto eu me vestia para a reunião. Não nos falamos. Como se estivesse sendo puxado por alguma força magnética, meu olhar
era atraído para ele. Se ele sentiu, não demonstrou, seu foco estava aparentemente inabalado.
E se ele tivesse decidido conversar, o que é que eu teria dito? Em vez disso, apenas fui atrás dele enquanto entrávamos no restaurante no andar de baixo e nos sentávamos
à mesa. Tentei mascarar um tremor quando me sentei. Eu não conseguia ignorar o desconforto na minha bunda, bastante judiada, mas não queria dar a Blake a satisfação
de saber que aquilo estava me incomodando.
Quando Alex chegou, ele me cumprimentou. Sorri fracamente e mantive as aparências. Falei algo sobre ter ido embora cedo da festa por não estar me sentindo bem. E
era verdade. Ele queria saber mais detalhes, trabalhar na logística com o Clozpin. Concordei com a cabeça, mas o fogo que talvez tivesse tomado conta e me motivado
durante a conversa não estava lá. Fiquei simplesmente olhando para meu almoço, sem fome alguma. Meus pensamentos giravam em torno do que acontecera entre mim e Blake.
O que mais importava quando as coisas não estavam bem entre nós?
Um silêncio constrangedor se instalou, mas a parte de mim que talvez tivesse se importado não se importou. A mão de Blake foi até meu joelho debaixo da mesa e deu
um apertão leve. Ergui os olhos. Meu coração palpitou no peito com o contato, como se só tivesse começado a bater de novo naquele momento. Ele franziu a testa de
leve, me questionando, mas quando fui falar, meus olhos se encheram de lágrimas.
— Alex, já voltamos — disse ele rapidamente.
Rapidamente, saímos da mesa e encontramos um pouco de privacidade do outro lado do restaurante. A escuridão nos envolveu. O corpo dele se aproximou, parecendo forçar
o ar para fora dos meus pulmões. Esperei que ele me tocasse. Eu precisava que ele me tocasse, ou ia desmoronar.
Delicadamente, ele ergueu as mãos e segurou meu rosto. Suspirei, e a mesma fadiga de antes se apossou novamente de mim. Ele ergueu minha cabeça, me fazendo olhar
nos olhos dele. Aqueles olhos que me desmontavam, que eram uma tempestade de escuridão e paixão — tudo que eu tinha passado a amar naquele homem —, estavam olhando
fixamente para mim.
Eu te amo. Eu queria dizer a ele. Queria deixar as palavras saírem de novo e de novo até que ele as dissesse de volta.
— Blake...
— Você está bem?
Ele passou o polegar na minha bochecha. Mais contato, cada toque me assolava. Meus olhos se encheram de lágrimas, que começaram a cair. Minhas mãos foram até o peito
dele, querendo sentir o calor dele, sua força.
— Não consigo fazer isso, Blake. Não agora. Me desculpe... Simplesmente não consigo.
Ele me silenciou e secou as lágrimas.
— Posso cuidar disso, está bem?
— Não posso estragar isso. Preciso estar lá.
— Você não está estragando nada. Está tudo bem. Vou conversar com Alex. Suba e descanse.
Ele segurou meus ombros e desceu as mãos pelos meus braços, ficando ali só mais um instante antes de sair. Antes que eu pudesse chamá-lo de volta, ele estava fora
do alcance da minha vista e eu estava sozinha de novo.
Andei rapidamente até os elevadores, com minha cabeça abaixada para esconder a bagunça do meu rosto. Sequei as lágrimas, mas elas continuavam vindo. Que diabos havia
de errado comigo?
De volta lá em cima, dei uma olhada em torno do quarto vazio. Vazio como meu coração oco e dolorido. Eu queria Blake ali. Odiava o fato dele não estar comigo, mas
não estava em condições de encarar Alex e uma conversa de negócios agora. Irônico, visto que esse era o único propósito da viagem.
Sem tirar a roupa, caí de volta na cama desarrumada. Eu tinha acordado sem o toque dele e ali estava, mal sobrevivendo a isso. Comecei a pegar no sono, pronta para
ir para casa, rezando para que, de alguma forma, eu pudesse acordar e começar tudo de novo.
***
Me sentei na ponta da mesa de reuniões e esperei que o resto da equipe se acomodasse ao meu redor. Depois de ter dormido boa parte da tarde no quarto de hotel e
no voo durante a madrugada para casa, eu deveria estar descansada. Parte da névoa emocional pesada foi eliminada. O suficiente para que quando Blake eventualmente
me deixasse a par de sua reunião com Alex, meu cérebro mudasse relutantemente para o modo profissional. Os termos que eles tinham acordado eram bons, melhores do
que eu teria forçado ou mesmo pedido. Eu queria ficar surpresa, mas com Blake assumindo as rédeas, eu não deveria esperar nada menos. Tudo que eu precisava era aproveitar
a oportunidade enquanto ela estava ali e agir agora para continuarmos na dianteira.
— Como foi São Francisco?
A voz de Alli interrompeu meus pensamentos divagantes. Ela tinha se acomodado na cadeira ao meu lado. Olhei naqueles olhos castanhos, querendo, de alguma forma,
poder explicar tudo isso para ela. Minha querida e amável amiga. Eu não sabia por onde começar. Como eu poderia tocar no assunto de ser castigada por meu futuro
marido porque tinha sido pega aos beijos com um de meus empregados enquanto Blake e eu estávamos separados? Céus, meu dilema atual parecia fodido em todos os sentidos.
— Bem — menti.
Todo meu corpo doía; do sexo, claro, mas horas tinham se passado sem nenhuma emoção real entre mim e Blake. Na viagem para casa, tudo tinha ficado casual entre nós.
Mas eu podia sentir a hesitação dele, a contenção que transparecia na brevidade de cada palavra, a evasão cautelosa dos meus olhares, enquanto eu implorava silenciosamente
por mais. Um olhar, um toque, qualquer coisa que me deixasse saber que estávamos bem.
Exaurida demais para forçar a barra, eu simplesmente fui levando. Era uma sensação conhecida, uma sensação que eu tinha causado a mim mesma pouco tempo atrás, quando
estávamos separados sob circunstâncias bem diferentes. Tudo aquilo recaía sobre mim agora. Eu odiava não saber o que ele estava pensando, e parte de mim tinha medo
do que ele diria se eu ousasse perguntar. Eu precisava acreditar que superaríamos isso, que havia uma luz no fim desse túnel. Se eu pensasse, só por um segundo,
que não conseguiríamos — que não iríamos —, eu não sabia ao certo se conseguiria continuar.
Gradualmente, as pessoas ocuparam as cadeiras e eu fiz umas anotações de última hora. Suprimi todos os medos, me recusando silenciosamente a deixar que os acontecimentos
do fim de semana descarrilassem todo o meu dia. Apesar de tudo, tínhamos trabalho a fazer, e eu tinha que seguir em frente.
James se acomodou na cadeira à frente de Blake. O ar ficou denso à minha volta, preenchendo o espaço entre eles. Estalava com o desgosto de um pelo outro. A claridade
que eu estava buscando se desmantelou quando notei o olhar de Blake. James se mexeu em sua cadeira quando Blake lançou a ele um olhar tão furioso que eu não teria
ficado surpresa se eles começassem a se estrangular em alguns segundos.
Xinguei em silêncio, questionando como Blake tinha me convencido a deixar que ele liderasse esta reunião sabendo que James estaria ali também, bem no coração de
tudo. Eu devia ter imaginado que Blake estava procurando uma oportunidade de encontrá-lo cara a cara para começar algo que ele poderia terminar.
Me apressei em falar e voltar a atenção deles para as pautas da reunião.
— Nesse fim de semana, Blake e eu nos encontramos com um possível parceiro, Alex Hannon, que nos deu aval para redirecionar vendas de e-commerce para o site dele
em troca de mais exposição e comissões para nós. Ainda estamos trabalhando nos pormenores, mas essa é uma grande chance para crescermos, para expandirmos além do
que temos feito e ampliarmos nosso alcance. Vamos precisar fazer alguns ajustes na nossa plataforma para maximizar essa oportunidade.
— Alguma novidade quanto aos anunciantes? — perguntou James, moderando minhas boas novas com a realidade fria do baque que tínhamos sofrido como resultado dos esforços
do site concorrente.
Alli se pronunciou.
— Ninguém mais pulou fora desde semana passada, então, talvez Risa tenha catado só os frutos dos galhos mais baixos, por assim dizer. Esperamos que os outros permaneçam
leais durante essa expansão.
Mascarei uma careta. Eu me referiria à Risa de muitas formas diferentes.
— Qual o prazo? — perguntou Chris, nosso desenvolvedor fã de camisas havaianas.
— O quanto antes. Eu sei que vai ser complicado construir isso e, ao mesmo tempo, manter o que já temos. Mas acho que depois do que passamos com as tentativas de
invasão dos hackers, podemos multitarefar facilmente dessa vez. Sid, você pode começar a dar uma olhada no API deles?
Blake entregou a ele uma pilha de papéis.
— Tenho a documentação pra você. Alex e eu repassamos tudo. Deve ser bem tranquilo de implementar.
Sid pegou os papéis, com os olhos arregalados. Dei um sorriso pequeno, sem estar pronta ainda para celebrar, mas grata por ter, pelo menos, o interesse de Sid. Ver
o plano seguindo adiante era um pouco assustador. Eu estava navegando em águas desconhecidas, mas era isso que tínhamos que fazer. Nadar ou afundar, e eu estava
certa de que iríamos sobreviver. Essa oportunidade com Alex prometia ser o salva-vidas de que precisávamos.
O resto da reunião correu bem. Dividimos as tarefas entre toda a equipe. Durante o processo, comecei a me sentir mais presente do que antes. Eu só tinha ficado fora
durante o fim de semana, mas voltei completamente desequilibrada. Estar com a equipe de novo colocou meus pés no chão, e eu estava ávida para mergulhar de cabeça
nesse novo trabalho. A tensão que emanava de Blake amenizou, então talvez a mesma coisa tivesse acontecido com ele. Mesmo assim, James me lançava alguns olhares
preocupados. Como sempre, ele sabia que algo estava acontecendo, que eu estava estranha. Só que eu não fazia ideia de como, um dia, contaria a ele. Um suspiro cansado
escapou de mim. O que eu não daria para voltar no tempo...
A reunião acabou, e as pessoas começaram a dispersar. Reuni minhas anotações, me preparando para voltar à minha mesa e me dedicar ao trabalho.
— Precisamos conversar.
A voz de Blake era grave, com um tom ameaçador inconfundível. Ergui os olhos e o vi encarando James.
James permaneceu sentado sem se mexer por trás de uma máscara de aparente indiferença.
— Sobre?
Blake se levantou lentamente.
— Acho que é melhor discutirmos em particular. Vamos?
Ele apontou na direção da porta.
James se ergueu casualmente da cadeira e se dirigiu à porta. Meu coração estava batendo ferozmente, enquanto eu dava uma olhada em torno do escritório. Todo mundo
parecia confuso. Apressadamente, eu os segui. Eles tinham andado alguns passos no corredor quando me juntei a eles, fechando a porta.
Blake estava de frente para James, sua postura ampla e os braços cruzados em cima do peito.
— Eu queria dizer a você eu mesmo que você vai pedir aviso prévio. Esta semana, preferencialmente.
— Como é? — A postura de James ficou tensa. — Erica é minha chefe, não você.
— Essa não é a questão. Você vai embora.
O tom de Blake não deixava dúvidas. Raiva e confusão se espalharam por mim. Eu queria que Blake soubesse que eu lamentava muito, o quanto eu estava desesperada para
consertar as coisas entre nós. Mas ele estava me atacando no meu ponto mais fraco. Minha empresa. Minha subsistência. O porto seguro que era meu e só meu, e ele
estava lançando uma sombra nele com essas exigências.
— Blake, o que você está fazendo? Pare com isso.
Dei um passo para frente, torcendo para que ninguém no escritório pudesse nos ouvir.
Ele se virou para mim, seus olhos marcados por toda mágoa que eu tinha causado, aliada à raiva que ele focava em James.
— Ele vai embora, Erica. É simples assim. A não ser que você prefira que eu vá.
— Você não está falando sério.
Dei uma olhada dura para ele, quase cansada demais para pôr a resolução dele à prova.
O risinho de James interrompeu nosso impasse. Seu olhar azul frio fixado em Blake, as mãos apertadas em punhos ao lado do corpo.
— Você realmente deixa o sucesso subir à sua cabeça, não é, Landon? Você acha que pode entrar aqui e sair dando ordens. Que tipo de babaca presunçoso faz isso? E
você tem a coragem de ser violento com ela. Eu devia encher você de porrada para que você soubesse como é.
Blake se virou imediatamente para James de novo, seu maxilar pulsando.
— Do que é que você está falando, porra? Eu nunca bati nela.
Dei um passo hesitante à frente, não totalmente confortável com a tensão física que se instalava entre os dois. Com todas as emoções à solta, eu não acreditava que
não seria machucada no meio de tudo.
— James, não. Você não entende.
— Você disse a ele que eu bati em você?
Olhei para o rosto suplicante de confusão de Blake, talvez até um pouco culpado. Mas ele entendeu errado. Meu coração ficou apertado, lágrimas ameaçando cair.
— Não. Céus, apenas parem, vocês dois.
James deu um passo cauteloso na minha direção, sua voz mais suave.
— Você não precisa aturar essa merda, Erica. É só dizer, que eu coloco ele para fora daqui.
— Coloca porra nenhuma.
Blake, então, empurrou James, seu corpo, um pouquinho mais baixo, atingindo a parede. James reagiu instantaneamente, mirando um soco de que Blake desviou por pouco.
Os dois homens começaram a brigar. Eles se empurraram e se puxaram até que eu tive certeza de que eles iriam se destruir se eu ficasse ali parada sem fazer nada.
Eu estava desesperada para fazê-los parar.
— Foi Daniel — gritei, me desapegando da verdade secreta, contanto que isso significasse o fim daquela loucura.
Blake empurrou James e, por um instante, ele permaneceu distante enquanto ambos ofegavam, os olhos ferozes de raiva.
Uma expressão confusa amenizou levemente a fúria de James.
— Quem?
— Ele... Não importa. Mas no dia em que você me viu daquele jeito, eu tinha acabado de vê-lo. Tivemos uma briga e... — Suspirei, o peso das últimas 48 horas me assolando
instantaneamente. — Ele me bateu.
O silêncio se instalou. Nada de palavras, nada de socos. Nenhum dos homens se mexeu.
A expressão no rosto de Blake revirou meu estômago. Como se ficar sabendo do que tinha acontecido com James não fosse o suficiente, aquelas palavras lançaram uma
sombra de traição sobre os traços dele que me fizeram querer ir até ele, abraçá-lo e dizer novamente que eu sentia muito. Por tudo.
— Primeiro isso — disse Blake, apontando para James. — E agora você está me dizendo que Daniel bateu em você. Que diabos está acontecendo, Erica? Tem mais alguma
coisa que você queira me contar? Simplesmente despeje tudo.
Meu lábio tremeu, e lágrimas ameaçaram de novo. Envolvido demais em sua própria raiva, ele não sentiria remorso hoje. Eu estava sozinha. Sozinha e lutando para manter
uma aparência pacífica entre minha vida pessoal e minha vida profissional. Uma causa perdida, se é que havia uma.
— Melhor vocês irem. Vocês dois. Vão embora.
As últimas palavras ficaram presas na minha garganta, desprovidas de convicção e refletindo meus nervos em frangalhos.
James falou um palavrão e nos deixou sozinhos, seus passos desaparecendo pela escadaria. A porta bateu lá embaixo, o som ecoando até nós. Blake ficou parado sem
se mexer, com o olhar queimando em mim. O silêncio era doloroso, meus próprios pensamentos girando e gritando em meio a ele.
Eu quase podia ouvir os pensamentos dele também. Mais perguntas de “por quê”. Por que eu tinha sido tão idiota? Tão teimosa? Quando olhei nos olhos magoados dele,
eles me confirmaram isso. O esforço para conter a raiva e a culminação de toda dor estavam evidentes na postura dele. Os músculos de seus braços estavam tensos e
contraídos, sem dúvida, ainda preparados para socar James até não poder mais.
Eu teria pedido desculpas, teria tentado trazê-lo de volta para mim se não estivesse tão brava comigo mesma agora. Eu sabia que Blake estava com ciúmes, mas ele
tinha ido longe demais. Ele não tinha o direito de confrontar James e de se meter no meu negócio daquele jeito. Não importa o que tenha acontecido.
— Eu sequer sei o que dizer a você — disse ele, finalmente.
— Então não diga nada. Blake... Estou exausta, dolorida e pronta para perder a cabeça de vez. Não preciso de você me repreendendo, colocando toda a culpa em mim.
— Minha voz oscilou quando sequei uma lágrima que tinha escapado. — Talvez seja, mas não vou conseguir aguentar que você me diga isso agora. Não consigo.
Ele hesitou por um momento, aquele silêncio pesado preenchendo o espaço entre nós novamente. Então, sem falar mais nada, ele saiu.
Saiu do meu mundo novamente. Observei ele recuar, aliviada da pressão do ressentimento dele, mas infinitamente pior do que eu estava antes.
CAPÍTULO 9
Hesitei no corredor, com a mão parada na porta. A risada de Alli e dos outros ultrapassava as paredes do novo apartamento deles. Eu queria celebrar e ficar feliz
por Alli e Heath, mas estava do outro lado dessa moeda desde que Blake estava me mantendo a certa distância.
Ele havia atendido meu pedido de não dizer nada e ir embora muito ao pé da letra. Dois dias se passaram. Ele tinha trabalhado até tarde ontem à noite, chegando em
casa depois que eu tinha pegado no sono e se levantando antes de mim. A única prova de que ele tinha estado ali era a caneca vazia de café na pia. Ele sempre parecia
longe do meu alcance por pouco e, apesar de eu também estar brava, a distância estava me destruindo por dentro.
Respirei fundo e abri a porta, nem um pouco preparada para todo o amor que corria ao meu redor sempre que eu estava com a família de Blake. Mas aquilo tudo também
era contagiante, então eu tinha um pouco de esperança de que eles pudessem me tirar — e talvez até mesmo Blake — dessa fossa.
Como um reflexo perfeito da energia de Alli e Heath, o apartamento zunia com risadas, com o burburinho das conversas e com o grito alto de Alli quando a rolha foi
tirada do champanhe.
— Erica!
A irmã mais nova de Blake, Fiona, correu para me abraçar quando entrei na sala principal. Catherine estava logo atrás dela, me puxando em um abraço caloroso assim
que Fiona se afastou.
— Como você vai, querida? Você está maravilhosa.
— Estou bem. Obrigada.
Dei um sorriso fraco, dando uma olhada inibida para o traje que montei. Eu estava surpresa por não estar usando dois sapatos diferentes, dado o nível de foco que
meu cérebro conseguia ter ultimamente. Saia, blusa e sapatilhas pretas. Assim era difícil errar.
Quando meus olhos encontraram os de Catherine de novo, uma ruga de preocupação marcou sua testa. Fiquei instantaneamente mais animada e fixei uma expressão feliz
no rosto. Eu não queria que meus problemas com Blake estragassem a festa de Alli de jeito nenhum. Esse era um momento importante para ela e Heath, e eu já estava
com medo de roubar o ânimo dela com toda essa loucura envolvendo casamento; ela me relembrou que precisávamos discutir sobre isso esta noite.
Alli se juntou a nós, pegou minha mão e me puxou.
— Vou fazer o tour com você.
— Claro.
Dei a Heath e Greg um aceno rápido antes deles sumirem de vista.
Alli me levou de cômodo em cômodo, por todo o apartamento. Não faltava nada, como eu esperaria de qualquer imóvel da família Landon. Cores quentes, quartos espaçosos
e design de bom gosto. Alguns cômodos ainda estavam abarrotados de caixas, mas, em sua maior parte, já parecia um lar, o lar deles.
— Está lindo, Alli.
Os ombros dela se ergueram quando ela sorriu.
— Obrigada. Eu adorei. Estou tão animada para transformá-lo em nosso. Heath tem trabalhado um monte, mas espero que logo possamos mexer um pouco mais aqui.
Sorri também, apreciando quão longe ela e Heath chegaram. Ele tinha saído da clínica de reabilitação há poucas semanas, mas eles já estavam no caminho para melhorar,
para ter uma vida normal juntos. Alli estava trabalhando duro, reintegrando-se à minha empresa, e Heath estava fazendo o mesmo com o negócio de Blake. Blake o queria
mais envolvido e, por tudo que eu ouvi, ele estava encarando o desafio de frente, dedicando-se mais do que já tinha se dedicado na vida.
Bem no fundo, eu estava feliz por eles, muito feliz. Mas não conseguia não traçar paralelos entre eles e mim e Blake. Mesmo dividindo um apartamento, nos sentíamos
mais distantes do que quando eu morava no andar de baixo. Ir morar junto tinha sido fácil, quase fácil demais. Fiquei hesitante no começo, mas com a insistência
de Blake, os sacos de lixo repletos de coisas que eu tinha trazido alguns meses atrás do dormitório de Harvard subiram mais um lance de escadas. Em menos de 24 horas,
minha vida se misturou com ainda mais firmeza à riqueza organizada da vida dele. Apesar de eu gostar de dividir meu lar com ele, aquele apartamento nunca realmente
pareceu meu, não da maneira como Alli se sentia com relação ao deles.
— Estou tão feliz por você — falei, tentando manter a voz estável, enquanto Alli me fitava, buscando uma reafirmação, buscando o apoio de sua melhor amiga.
Ela sorriu, contente, e enganchou o braço no meu.
— Obrigada, amiga. Estou feliz. Agora vamos ficar mais felizes ainda e tomar um pouco de champanhe. Precisamos conversar sobre o casamento e definir os últimos detalhes
da festa com Fiona.
— Que festa?
Os olhos dela se ergueram de supetão, a mão cobrindo sua boca.
— Ah, merda.
— O quê?
— Merda, merda, merda. Esqueça que eu falei isso.
Interrompi nossa saída do quarto.
— É sério, Alli. Desembuche.
Os ombros dela arquearam.
— Era para ser surpresa. Catherine quer dar uma festa de noivado a vocês dois.
Ergui as sobrancelhas.
— Blake sabe?
— É claro.
— Por que ninguém me contou?
— Achamos que seria divertido fazer uma surpresa. Sei que você tem estado estressada com tudo que tem acontecido com a empresa agora. Não queríamos colocar mais
uma coisa nas suas costas. E não é nada demais, mesmo. Só uma festinha pequena na casa deles com alguns amigos da família que querem conhecer você e botar o papo
em dia com todo mundo.
Com aquilo, meu estômago revirou. Eu não conseguia imaginar quem seriam os tais amigos da família, mas considerando como as coisas estavam tensas entre mim e Blake,
eu poderia muito bem estar sozinha durante boa parte do evento. Aquele pensamento estava longe de ser agradável.
— Tudo bem por você?
— Sim, sim — insisti. — Me parece ótimo. Se eu puder ajudar em alguma coisa, me avise.
— Não se preocupe com isso. Acho que Catherine tem tudo sob controle. Tudo que vocês dois precisam fazer é ir lá e serem vocês mesmos.
Ela pegou minha mão e a apertou para me tranquilizar enquanto voltávamos à sala de estar principal. Fiona estava enchendo as taças de champanhe até o máximo que
era possível sem transbordar a espuma.
— Aonde os meninos foram? — perguntei.
Fiona se recostou no sofá com sua taça.
— Lá em cima. Há um deck no terraço. Bem bacana depois que o sol se põe em noites assim.
Fiquei pensando se Blake já tinha chegado e estava lá em cima com o pai e o irmão, mas fiquei envergonhada demais para admitir que eu quase não fazia ideia de por
onde ele tinha andado o dia todo e a noite toda. Eu queria acreditar que hoje talvez fosse diferente. A companhia da família de Blake sempre parecia deixá-lo mais
humano, menos divino, de certa forma. Talvez, perto deles ele pudesse baixar a guarda entre nós para que pudéssemos conversar, realmente conversar. Recém-noivos,
devíamos estar apaixonados, estáveis, querendo estar um com o outro. Neste momento, mal conseguíamos ficar no mesmo recinto sem uma tensão palpável entre nós.
Alli e eu nos sentamos no sofá em L de frente para Fiona. Admirei o espaço aberto e a luz que o preenchia, vinda de uma bay window na parte da frente.
— Acho que devíamos brindar. À mudança. — Fiona bateu a taça na de Alli. — E, é claro, ao noivado de Blake e Erica.
— Saúde — dissemos, em uníssono.
Relaxei no sofá, tomando um gole. Talvez fosse disso que eu precisava, enquanto Blake esfriava a cabeça. Um pouco de champanhe e um tempo com as meninas.
Alli não perdeu tempo em remexer em sua bolsa no chão.
— Por falar em noivado...
Ela pegou uma pilha considerável de revistas de casamento recheadas de marcadores coloridos. Minha avidez por um tempo com as meninas minguou na hora.
— Obviamente, a coisa mais importante é escolher o seu vestido, Erica, mas nós precisamos definir as cores hoje, porque não saber tem me deixado louca, e eu sou
egoísta mesmo.
Dei uma leve risada. Eu não havia nem pensado naquilo. Ao menos não desde o colégio, quando rosa e roxo estavam no topo da lista de todas as meninas.
Fiona se acomodou do outro lado de Alli.
— Ah, adorei este aqui. Mas talvez em azul marinho.
Ela apontou para um dos modelos.
Alli apertou os lábios.
— Não sei. Se vamos fazer algo praiano, talvez não haja contraste suficiente. Que tal malva ou algo bem berrante, tipo fúcsia?
Fiona riu.
— Fazer Blake e Heath usarem gravatas e coletes cor-de-rosa seria ótimo.
Alli riu junto com ela. Logo, logo o brainstorming delas tinha decaído para smokings com faixas cor-de-rosa cheias de brilhos, e elas estavam quase caindo do sofá
de tanto rir. Eu estava disposta a dá-las aval para qualquer coisa, se isso significasse mudar de assunto. Então, ouvi uns barulhos na cozinha e me lembrei de que
Catherine estava preparando o jantar para todo o grupo sozinha. Os homens ainda não tinham dado as caras por ali.
— Vou ver como está indo o jantar. Volto em um minuto.
Desapareci dentro da cozinha e encontrei Catherine mexendo algo em uma grande panela fumegante. O jantar tinha um cheiro italiano e delicioso. Fiquei repentinamente
com fome, apesar de não ter tido muito apetite o dia todo.
— Oi, querida. Posso pegar algo para você?
— Ah, não. Estou bem. Eu só estava pensando se você não precisa de alguma ajuda.
Catherine sorriu.
— Acho que tenho tudo sob controle. Vá ficar com as meninas.
Dei uma olhada na grande cozinha planejada, querendo encontrar alguma bagunça para arrumar. Qualquer coisa que me desse uma desculpa para não sair dali por mais
alguns minutos. De volta ao covil das madrinhas.
Que diabos havia de errado comigo? Não era o sonho de todas as mulheres do mundo estar envolvida em todo esse processo? Como é que eu podia administrar uma startup
de moda e não ter o menor interesse nos detalhes deste protótipo de casamento, que seria algo além de qualquer coisa que poderia ter imaginado? “Grande casamento
tradicional” ganhava um novo significado a cada momento que passava enquanto Alli e Fiona competiam por confirmações de suas opiniões.
Mordi o lábio e procurei em meu cérebro um motivo para ficar ali.
— Você está bem?
— Sim, estou. — Confirmei com a cabeça. Mas eu não me importaria em desaparecer por um buraco no chão. — Acho que eu só precisava de um tempo. Elas estão...
O canto da boca dela se ergueu, uma compreensão silenciosa em seus olhos.
— Deixando você maluca?
Dei uma risada.
— Um pouquinho, talvez.
Novas explosões de risada ecoaram da sala de estar e trocamos olhares de compreensão.
— Alli contou sem querer sobre a festa de noivado. Obrigada. Não precisava.
— Ah! Imagine. Eu quero fazer isso. Você não faz ideia do quanto nossa família está animada com a notícia. Eles mal podem esperar para conhecer você. Sinceramente,
eles mal podem esperar para ver Blake também. Ele às vezes fica um pouco recluso quando se trata de fazer social com os outros parentes.
— Bom, obrigada novamente. Me sinto mal porque eu provavelmente deveria estar pensando em coisas assim. Eu deveria estar fazendo uma dúzia de coisas que sequer me
passaram pela cabeça nos últimos tempos.
Tudo estava acontecendo rápido demais. O trabalho. Os planos do casamento. Como se isso não fosse o bastante, esse conflito com Blake estava ameaçando ferrar com
todo o resto.
— Blake é do tipo que toma a frente, mas não acho que ele vá ajudar muito nos planos do casamento.
Meneei a cabeça.
— Acho que não.
Dei uma olhada em torno da cozinha com nervosismo, e meu olhar parava em qualquer lugar, menos no rosto dela. Como ela ficou quieta, arrisquei fitá-la. Suas sobrancelhas
se enrugaram. Ela se aproximou e pegou minha mão nas dela.
— Está tudo bem entre vocês? — perguntou ela gentilmente. — Espero que você não se importe que eu diga isso, mas você não parece uma garota que está feliz por estar
noiva no momento.
Engoli o nó em minha garganta.
— Não é nada demais.
— Ele magoou você?
Meu coração se contorceu, e eu fechei bem os olhos. Como é que eu podia começar a pôr em palavras o que aconteceu entre nós nesses últimos dias? Simplesmente concordei
com a cabeça, incapaz de esconder a mágoa.
— Nós nos magoamos. Estávamos errados, nós dois. E as coisas têm estado tensas. Tem sido difícil conversar ultimamente.
Olhei para baixo, arranhando a ardósia do chão com o dedo do pé.
— Às vezes, ele é totalmente sufocante. Enlouquecedor, de verdade.
Ela deu uma leve risada.
— Eu poderia ter dito isso a você. Experimente ser mãe dele.
Lancei um sorriso fraco.
— Nem consigo imaginar.
— Ele é um jovem difícil. Sempre foi. Ele é meu filho e eu vou amá-lo sob qualquer circunstância, mas ele é teimoso que só. Mas, de alguma forma, eu soube, no momento
em que a conheci, que você era boa para ele. Rezo todos os dias para que ele seja bom para você também. Ele mudou para melhor, em muitos sentidos. Nunca o vi tão
carinhoso quanto ele é com você, Erica. Algo está diferente. São coisas pequenas, mas eu percebo.
Lágrimas queimavam em meus olhos. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ou encontrar uma desculpa para sair dali, ela me puxou em um abraço. Eu a abracei de
volta.
— Não desista dele — sussurrou ela. — Se existe alguém que consegue ultrapassar aqueles paredões, é você.
Me afastei de leve e sequei as lágrimas que tinham caído.
— Eu só queria não me sentir tão distante dele agora.
A voz dele atravessou o apartamento, misturada à de Heath e à do pai deles. Meu coração palpitou com uma expectativa repentina. Ele estava ali.
— Blake! — gritou Catherine na direção da sala de estar, me soltando de seu abraço.
Sequei os olhos novamente, torcendo para conseguir esconder quaisquer sinais da minha mágoa. Alguns segundos depois, Blake se juntou a nós. Ele ficou parado alguns
passos depois da porta, com as mãos imóveis dentro dos bolsos da calça. Meu coração parou ao ver como ele podia ficar totalmente maravilhoso com tão pouco esforço.
Tudo meu, garanti a mim mesma, apesar de não me sentir totalmente assim ultimamente. O olhar verde dele se dividiu entre nós duas, pousando em mim. Desviei os olhos,
querendo esconder minha vulnerabilidade recente, mas eu sabia que tinha me entregado no segundo em que ele me viu.
— Blake. — O tom de Catherine ficou mais severo. — Você precisa conversar com Erica. Todo mundo aqui está celebrando e fazendo festa, e esta pobre criança está aos
prantos por sua causa. Você precisa começar a falar.
Ele ficou olhando para ela por um instante, com a expressão impassível.
— Mãe, não vou falar sobre isso com você.
Ela fez uma careta.
— Você não é o gênio da família? Pelo amor de Deus, não espero que você fale comigo. Fale com a sua noiva, sua futura esposa. Conserte seja lá o que tenha feito,
e é só isso que tenho a dizer sobre o assunto.
Ela deu uma olhada severa para ele, que suavizou quando ela se voltou novamente para mim. Ela deu um aperto tranquilizador na minha mão.
Sem dizer uma palavra, Blake se virou. Ele atravessou a cozinha e desapareceu por um corredor nos fundos. Eu o segui até que estivéssemos sozinhos em um dos quartos
quase vazios que tínhamos visto. Aquele seria o escritório deles. Duas mesas junto à parede já estavam abarrotadas de pilhas de papéis.
Blake ficou parado no meio do quarto, de costas para mim. Fechei a porta e me apoiei nela.
A privacidade repentina também significava silêncio, um silêncio vazio e constrangedor entre nós. Busquei por palavras, por algo que pudesse nos levar de volta para
onde estávamos antes de São Francisco. Mas eu não sabia o que dizer a ele agora. Ele ficaria bravo comigo por ter perdido o controle na frente de sua mãe, não que
eu jamais sonhasse em contar a ela o que tinha acontecido entre nós.
— Parece que você quer conversar — disse ele baixinho, virando-se para me encarar.
Concordei com a cabeça e engoli o nó em minha garganta. Eu não queria conversar ali, mas não sabia quando teria a atenção dele de novo.
— Eu não queria fazer isso aqui, mas você sumiu. Ela começou a fazer perguntas sobre nós, e eu simplesmente perdi o controle. Me desculpe.
— Estou aqui agora.
A voz dele era ainda mais baixa quando ele se aproximou. Ele parou a alguns passos de mim, com as mãos ainda aninhadas casualmente nos bolsos. Geralmente, eu gostava
daquela postura, daquela atitude não estou nem aí que emanava dele às vezes, geralmente quando se tratava de trabalho. Me lembrei, então, de como ele estava quando
se largou na cadeira à minha frente na sala de reuniões da Angelcom, aparentemente inabalado. Eu estava tanto irritada quanto atraída por ele. Hoje, eu já aprendi.
Eu sabia que ele se importava, mas não estava menos confusa com relação a como me sentia quanto a nós no momento.
— Blake... Você me machucou.
O maxilar dele se tensionou, e alguns segundos se passaram.
— Eu avisei que se você abrisse a porta para esse meu lado...
— Não estou falando de dor física — interrompi. — Sei que vamos ficar zangados algumas vezes e que vamos nos magoar. Isso é inevitável. Sei que vamos descontar um
no outro de maneiras diferentes. Admito que aquela noite foi difícil para mim, não porque seja algo que a gente não tenha feito antes, mas porque, no fim das contas,
tudo que eu podia sentir era a sua raiva. Aquilo me feriu muito mais do que qualquer coisa física, porque parecia que você me odiava e queria me machucar. Talvez
tenha feito você se sentir melhor...
— Não fez, acredite em mim.
Uma careta contraiu o rosto dele.
— Então por quê? Você me deixou lá como se aquilo não significasse nada para você. É como se você estivesse me evitando para me punir ainda mais. Quando é que isso
vai terminar? De quantas maneiras diferentes eu preciso dizer que sinto muito, que cometi um erro idiota e que eu gostaria de poder voltar atrás?
Ele se afastou ligeiramente, passando os dedos pelos cabelos. Suas mechas castanho-escuras apontavam em todas as direções.
— Aquilo nunca deveria ter acontecido.
Me larguei na porta.
— Eu sei disso. Gostaria que não tivesse.
Ele me encarou de novo.
— Não, acho que você não compreende plenamente. As coisas que aconteceram quando estávamos separados... Tudo aquilo aconteceu porque você não confiou em mim para
lidar com as ameaças de Daniel.
— Isso não é verdade.
— É sim, Erica. Se você tivesse confiado em mim, nunca teríamos nos separado. James nunca teria uma chance de chegar tão perto assim de você, vulnerável.
— Eu achava que Daniel mataria você. Você entende isso? Eu estava morrendo por dentro de saudades de você, querendo poder encontrar uma maneira de salvar nosso relacionamento,
mas quando eu vi você com a Sophia aquela noite, e depois com Risa, algo dentro de mim simplesmente desistiu. Eu sabia que tinha acabado, que eu tinha perdido você.
Não teve nada a ver com querer ficar com James. Teve tudo a ver com me sentir tão vazia por dentro sem você, que eu deixei que ele chegasse perto demais de mim.
— Você realmente acha que eu teria deixado Daniel machucar a mim ou a você? Você acha, por um segundo que seja, que eu não teria movido mundos e fundos para garantir
que você estaria a salvo daquele maníaco? Ao invés disso, você arrancou meu coração, porra!
A dor que permeava as palavras dele era real. Eu sabia, porque tinha vivido aquela tortura também. Com medo das ameaças de Daniel, eu tinha feito nós dois passarmos
por semanas infernais.
— Não tem só a ver com James, apesar de eu não estar feliz por aquilo ter acontecido, acredite. Mas esse é só mais um péssimo lembrete de toda aquela situação. Você
passou por poucas e boas com Daniel, e eu não queria que você passasse por mais. Mas a realidade disso é que você nos colocou em um risco maior ainda porque não
veio me pedir ajuda. Como eu serei seu marido se você não me deixa protegê-la? Caramba, Erica, lutei contra todos os meus instintos para dar a você o espaço de que
você precisa, e aonde isso nos levou?
Meus lábios tremiam enquanto eu absorvia a ferocidade das palavras dele.
— Cometi um erro. Eu estava assustada, e tudo que importava naquele momento era saber que você estava em segurança.
— Quantas vezes mais você vai nos fazer passar por isso por ser teimosa demais para confiar em mim?
— Você está me punindo por escolhas que eu já fiz, coisas que não posso desfazer. As coisas são diferentes agora.
Ele meneou a cabeça.
— São? Você pode me dizer que não faria exatamente as mesmas escolhas? Porque eu posso dizer a você agora que, se você tivesse vindo até mim diretamente e sem duvidar
assim que Daniel ameaçou você, tudo teria sido diferente. E esse tempo todo eu alertei você sobre James. Eu sabia. Eu sabia que ele estava ficando próximo demais
de você, porra, e você o manteve por perto. E tem mais, você continua fazendo isso, apesar de saber que me deixa louco. Quero arrebentar aquele filho da puta por
ter colocado as mãos em você. Você entende o que isso faz comigo, Erica?
Pisquei para afastar as lágrimas com esse ataque. Dias de nada e agora isso.
— Blake...
— Quero controle, Erica. Mas não vou tomá-lo de você. Você precisa dá-lo a mim. Você abriu a porta. Agora tem que passar por ela. Você tentou ser linha dura, com
o trabalho e com nosso relacionamento, traçou uma fronteira em que você detém a quantia de controle que acha que precisa. Isso termina agora.
Meu estômago se contorceu com uma vontade familiar de correr, de afastá-lo. Eu não sabia se, um dia, conseguiria dar a ele o controle que ele queria. E se eu não
conseguisse nunca?
— O que você está dizendo?
— Estou dizendo que você disse que me quer, me quer por inteiro. E este é quem sou. Aquela merda que rolou com Daniel... e agora James. Nada disso pode acontecer
de novo. Nunca mais.
— Não quero que aconteça — insisti.
— E eu vou garantir que não aconteça.
Meu maxilar se abriu um pouquinho, as palavras se perdiam em meio ao que ele estava dizendo. Ele tinha que saber que o que ele estava me pedindo era impossível.
Por que me dominar no quarto não podia ser suficiente?
— Isso tem a ver com eu ser submissa a você? Você quer que eu participe de um joguinho de dominador e submissa com você? Tudo bem, Blake. Vou implorar, vou ajoelhar,
mas não vou deixar você se meter na minha vida profissional. Tenho limites e preciso que você entenda isso.
— Isso não é um jogo para mim. E esse seu jeito de pensar é exatamente o problema.
Ele deu um passo adiante, me medindo com os olhos. Defensivamente, me inclinei para trás, agora pressionada firmemente contra a porta. Ele colocou as mãos dos dois
lados da minha cabeça, nossos corpos quase se tocavam, a menos uma polegada de distância. Eu não conseguia pensar direito assim, tão perto. Ele manteve os olhos
fixos em mim; não havia nenhuma sombra de dúvida neles. A voz de Blake era grave quando ele voltou a falar.
— Como é, Erica, quando você me dá o controle?
Aquela era uma pergunta carregada de significados, mas eu podia dizer que não estávamos falando sobre Daniel ou James. A expressão dele tinha suavizado, e a intensidade
severa se transformara em algo diferente. Algo sexual. A energia era palpável, não perdeu a intensidade. Ressoava entre nós, enviando faíscas por meu corpo em todos
os lugares que ele tocava. Um dedo na curva da minha boca, o polegar na pulsação acelerada em meu pescoço. Céus, eu queria as mãos dele em todos os lugares agora.
— Você abre mão de tudo, e é bom, não é? Saber que estou cuidando de você, de nós. Que não importa o que aconteça, vou fazer nós dois chegarmos lá.
Ele desceu a mão pelo meu corpo, raspando em meu seio e continuando pelo tronco, como se estivesse marcando todos os lugares que eram de seu domínio. No meu corpo,
havia muitos desses lugares.
— Alguma vez eu deixei você insatisfeita? Houve alguma vez em que, por mais que eu tenha forçado seus limites, você não tenha implorado por mais? Em que você não
tenha gozado com força, gritando meu nome? Me diga.
O fôlego sumiu do meu corpo e tive dificuldades em recapturá-lo. Meneei a cabeça, sabendo a resposta tão bem quanto ele. O calor formigou debaixo da minha pele e
pulsou entre minhas pernas com o lembrete do que ele podia fazer com meu corpo, o poder que ele exercia com tanta facilidade. Aquele tipo de dominação eu podia aceitar.
Na verdade, eu não queria que essa parte dele mudasse nunca.
Ele se aproximou. Um toque levíssimo de sua boca provocou meus lábios. Me curvei para cima para ir de encontro a ele, mas ele se afastou, me deixando carente, zonza.
Inspirei, tremendo, tentando me recuperar do feitiço que ele lançara sobre mim. Com as promessas do controle do qual eu já era escrava, ele estava me seduzindo para
algo que significava muito mais.
— O que você está fazendo comigo?
— Mostrando a você o que você quer, do que você precisa.
— Você sabe que não se trata disso. Eu sei que posso dar qualquer coisa a você e você estará lá por mim. Mas você não pode... Você não pode me reprimir, fazer sua
exigência e esperar que eu deixe você ser meu dono.
As sobrancelhas dela se ergueram.
— Ah, é assim? Não foi isso que você disse aquela outra noite. Eu ouvi as palavras, em alto e bom tom.
— Como se você tivesse me dado alguma escolha. Me mantenha à beira do orgasmo daquele jeito, e eu vou dizer que você é o imperador de Roma.
— Você não quer pertencer a ninguém, é isso? Você não quer pertencer a mim tanto quanto eu quero pertencer a você, é isso?
Uma dor seca surgiu no meu peito com aquelas palavras. Eu não conseguia conciliar o que ele estava dizendo com os medos que eu parecia não conseguir afastar de ter
outra pessoa controlando minha vida.
— Nunca tive que depender de ninguém, dar satisfação a ninguém. Você sabe disso e continua querendo me mudar, como se, de alguma forma, eu pudesse desligar isso.
— Se você se casar comigo, isso vai mudar. Permanentemente.
— O que isso significa?
— Significa que você deve falar comigo antes mesmo de começar a considerar tomar uma decisão precipitada. Significa que você vai me envolver para que eu me certifique
de que você faça isso, o que inclui remover James da empresa. Significa que você vai pedir minha ajuda quando precisar e que não vai guardar segredos de mim, nunca.
E quando surgir um problema que faça mais sentido que eu resolva, você vai me deixar resolver. Não importam as circunstâncias.
Ele se aproximou de novo, com seu olhar sério passeando pelo meu rosto, desenhando uma linha suave pelo meu maxilar. Quando ele voltou a falar, sua voz era um sussurro.
— Significa que a cada respiro e a cada passo que você der, você não estará levando apenas a sua vida adiante, mas a nossa. Você vai seguir sabendo que estou bem
ali com você, irrevogavelmente amarrado a cada decisão que você tomar.
Meu peito doeu com o esforço de encher meus pulmões de ar. Uma respiração após a outra, enquanto eu assimilava o que ele estava dizendo. Ele não estava me dando
espaço para correr, para lutar, para nada.
— Parece... Parece que você está me dando um ultimato.
Meus olhos estavam arregalados quando o questionei, torcendo para que eu estivesse interpretando tudo aquilo errado. A expressão séria no olhar dele me respondeu
antes dele.
— Quero tudo, Erica. Não vou aceitar menos. Aceite isso ou...
Tentei controlar o tremor que tomava conta do meu corpo. Como ele podia me pedir isso? Me ameaçar com nosso relacionamento? Eu me senti como um animal enjaulado
que tinha sido encurralado em um canto.
— Ou o quê?
As palavras saíram bruscamente, permeadas por um tom de desafio.
Ele apertou minha cintura ainda mais, espelhando as contrações de seu maxilar. Antes que eu pudesse avaliar quão furioso ele estava com meu desafio, os lábios dele
se espremeram contra os meus. Agora com força e exigência, ele buscou uma entrada. Me abri para ele, mal preparada para a paixão devoradora de sua língua. Palavrões
retumbaram no peito dele, abafados pela fusão selvagem de nossas bocas. O ataque fervoroso se espalhou por mim, acelerando todos os meus instintos para responder
à paixão dele.
Beijei-o de volta, agarrando a camisa dele para mantê-lo próximo. Línguas entrelaçadas, dentes mordendo, nos moldamos ardentemente um no outro. Comprimida pelos
quadris dele, senti a excitação inconfundível de sua ereção pressionada contra mim. Ele passou a mão na minha coxa, erguendo alto a barra da saia, deixando claro
o que ele queria de mim. Ofeguei, sufocando o gemido alto que queria explodir de meus lábios quando expirei.
Ele escorregou a mão por entre minhas pernas, me esfregando por cima do short, me deixando louca por ele. Um pequeno gemido escapou, e o prazer se sobressaiu à porção
racional do meu cérebro, que sabia que estávamos no lugar errado para isso. Meu corpo não ligava quando eu estava nas garras dele.
— Por quê, Erica? Por que você luta contra mim, porra?
Meus quadris se agitaram, se remexendo na mão dele. Minha calcinha estava encharcada, e eu estava pronta para tê-lo ali. Com as mãos em mim, ele venceria todas as
vezes. Lutar contra ele era uma causa perdida, e agora que eu fui privada do toque dele por tanto tempo, eu estava pronta para montar em cima dele, se isso significasse
dar um fim a essa distância.
Minhas mãos passearam por debaixo da camisa dele, pelo seu peito desnudo.
— Eu quero você... Agora.
O fôlego o abandonou apressadamente, e ele deixou de lado a parte inferior fina do meu short e massageou com os dedos meu sexo pulsante pelo tecido frágil da calcinha.
Dobrando os dedos, deslizei as unhas pelas laterais do tronco dele, cega por todas as maneiras como eu o queria.
Então, outro ruído estrondoso veio da sala de estar. O barulho foi seguido pelas vozes conhecidas da família dele e de Alli gritando meu nome, um lembrete para nos
trazer de volta à realidade de que não estávamos nem um pouco sozinhos para dar continuidade ao que tínhamos começado ali.
Nos afastamos, sem ar.
— Jesus.
Blake deu um passo desequilibrado para trás, recompondo-se.
Mesmo através de sua calça jeans eu podia ver que ele estava dolorosamente duro, totalmente pronto para me foder em qualquer superfície que pudesse encontrar. Ali,
poderia ter sido a mesa de Heath. Isso teria sido ruim. Bom demais, mas ruim demais.
Engoli em seco, tentando ao máximo redirecionar meus pensamentos e voltar à realidade. Deixei minha cabeça cair para trás. Meu peito se agitava mesmo enquanto eu
tentava, inutilmente, domar a onda de tesão que fluía pelo meu corpo. Puta merda. Isso devia ser pior que o sétimo círculo do inferno. Ele se afastou vários passos,
uma distância esmagadora, considerando a intimidade com que ele estava me abraçando há pouco.
— Blake, não quero brigar. Por favor, vamos para casa e deixar tudo para lá.
Após um instante, ele se virou novamente para mim, fazendo meu coração palpitar de novo. Mas não vi resignação nos olhos dele. Longe disso, ele parecia ter recomposto
sua determinação naquele breve momento em que eu estava colocando as células do meu cérebro para funcionar de novo.
— Eu disse a você que sinto muito e estava falando sério — supliquei.
— Eu sei que estava. Mas isso não é suficiente dessa vez. O que estou pedindo... Não é isso que eu quero. É disso que eu preciso. É disso que nós precisamos.
Ele fixou o olhar em mim; a tensão formava uma curva entre nós. Abri a boca, mas ele falou antes de mim.
— A escolha é sua, Erica.
As simples palavras. A determinação na voz dele quando ele as disse. A expectativa nos olhos dele enquanto ele esperava que eu... O quê? Me submetesse? Desse tudo
a ele? Cada pedacinho remanescente de mim mesma ao qual um dia tinha valido a pena me apegar, e ele queria que eu cedesse, juntamente com meu amor, e minha confiança,
e meu futuro.
Eu queria desabar. Queria chorar, porque eu sabia que não podia dar a ele a resposta de que ele precisava. Será que podia? Eu não conseguia imaginar.
Enquanto eu entrava em guerra comigo mesma, ele diminuiu a distância entre nós. Ele me beijou, uma bitoca rápida e suave nos meus lábios. O gesto carinhoso embaralhou
meus pensamentos novamente enquanto ele olhava fundo nos meus olhos.
— Eu te amo, Erica. Mas se você não puder dar isso a mim...
Ele não terminou, apenas meneando a cabeça, e seus olhos eram um tornado de emoções.
Mas... O que ele estava dizendo? Era isso e pronto? Antes que eu pudesse questioná-lo, ele aproximou-se da porta e eu me mexi para que ele pudesse passar. Com a
cabeça abaixada e as mãos enfiadas novamente nos bolsos, ele desapareceu pelo corredor na direção do burburinho da festa.
Fiquei parada ali, paralisada pelo acontecido. Por mais que eu quisesse conversar, eu estava incrédula por saber que era isso que estava fervilhando na cabeça de
Blake esse tempo todo.
Todas as emoções que eu sufoquei nos últimos dias tinham emergido à superfície esta noite, e eu passei do ponto de conseguir ficar ali com a família dele e fingir
que estava tudo bem. Uma olhada para Blake, sabendo que nosso relacionamento estava na corda bamba, me levaria às lágrimas.
Mesmo que pedir desculpas fosse o suficiente, eu não podia repetir isso mais vezes do que já fizera, e meu coração não podia mais suportar. Eu não conseguiria aguentar
mais um minuto sabendo que tudo que eu dei a ele ainda não era suficiente.
Sem dar à mãe de Blake nenhuma indicação de como foi a conversa, passei rapidamente por ela, na cozinha, e entrei na sala. A conversa animada silenciou quando entrei.
Ignorando os outros, por medo de desabar se fizesse contato visual com qualquer um, especialmente Blake, encontrei Alli. Ela estava em pé ao lado do sofá, com um
drink na mão. Peguei minha bolsa e dei um abraço rápido nela.
— Me desculpe — sussurrei e fui até a porta.
CAPÍTULO 10
O apartamento estava escuro e quieto. Quieto demais.
Eu voltei sozinha para casa e tentei dormir em vão. Por dentro, eu estava em guerra com a dimensão do que Blake tinha dito, sua proposta — o pedido depois do pedido
de casamento. Só que esse pedido não veio com um anel brilhante de diamantes, mas com uma ameaça real de não ter absolutamente nada. Eu queria acreditar que ele
estava blefando, que eu podia dissuadi-lo dessa forma de pensar. Mas e se ele não estivesse? E se nada do que eu dissesse pudesse me livrar dessa posição?
Eu mandei uma mensagem para Alli antes da meia-noite, querendo saber se ele havia passado a noite lá. Não, ele foi embora. Ela não sabia para onde. O sono finalmente
me atingiu nas primeiras horas da manhã.
A manhã estava mais abafada que o normal por causa das chuvas leves da noite. Saí do prédio e encontrei Clay esperando do lado de fora com o Escalade, pronto para
me levar para o trabalho. Mesmo quando ele não me levava nos outros dias, ele estava sempre por perto. Evidentemente, Blake não arriscaria mais minha segurança,
e eu não achava que eu pudesse mudar a opinião dele quanto a isso.
Saboreei o ar frio e seco dentro do carro e o deixei nos guiar pelas ruas da cidade. Minha mente vagueou até Blake e onde ele estava passando as noites. Antes que
minha imaginação começasse a me enlouquecer de novo, olhei para Clay.
— Você sabe onde Blake foi ontem à noite?
O olhar dele se ergueu, me encontrando no espelho retrovisor.
— Não tenho certeza, srta. Hathaway. Ele me pediu para ficar disponível para você esta semana. Não tive mais notícias dele desde então.
— Mais alguém fica com ele?
— Não, senhora. Só você.
Aparentemente, ele não estava preocupado consigo mesmo, mas eu estava. As ruas passaram correndo por mim até que reduzimos a velocidade na frente do escritório.
Me despedi de Clay e caminhei rapidamente até a entrada do prédio.
Meu corpo precisava desesperadamente de mais café para aguentar o dia todo, mas decidi pular minha rotina habitual de parar no Mocha. Eu estava evitando Simone.
Eu não sabia quanto James contara a ela sobre a briga com Blake. Eu já estava emocionalmente extenuada com o que rolou entre mim e Blake na noite passada. Se tivesse
que encarar mais uma situação emocionalmente desgastante, iria perder a cabeça.
— Erica.
Parando na porta que dava para a escadaria do escritório, me virei e vi um rosto familiar. Vestido profissionalmente com uma calça cinza e uma camisa leve de gola
V, Isaac Perry estava parado à minha frente.
Ah, que ótimo.
— O que você está fazendo aqui?
Mal pude mascarar minha irritação. De todos os dias para aparecer sem ser convidado, ele tinha que escolher justo hoje. Ele teve a decência de parecer um pouco desconfortável.
— Mandei um e-mail para você. Não tive resposta, então pensei em dar uma passada aqui, já que estava na cidade.
— Você podia ter me ligado para avisar.
— Eu sei, me desculpe. Foi meio que uma decisão de última hora.
Ele contraiu o maxilar de leve. Ele não parecia o homem que tinha me agarrado meses atrás. Parecia o homem com o sorriso infantil que tinha me convencido a ir a
um jantar com ele, que foi o começo de tudo.
— Sei que você tem coisas para fazer. Não vou tomar muito do seu tempo — disse ele.
— Se Blake souber que você veio aqui...
Eu estava grata por saber que, ao menos dessa vez, eu não precisava me preocupar que Blake fosse aparecer por ali. Ao menos eu achava que ele não iria. Depois da
noite passada, concluí que estávamos destinados a um tempo separados.
Ele se encolheu de leve, olhando para os sapatos caros.
— Eu sei. Tenho noção de que ele não é meu maior fã. Mas eu estava esperando que você tivesse piedade de mim e me desse uma chance de me explicar.
Me afastei um passo da porta, cruzando os braços sobre o peito. Estávamos em público, mas da última vez em que eu o vira, ele tinha colocado as mãos nada bem-vindas
em cima de mim. Eu não podia e não confiaria nele.
— Não sei ao certo se realmente existe alguma coisa que a gente precise discutir, Isaac.
Ele expirou, parecendo mais humano e menos hesitante que antes.
— Me desculpe, Erica. Me desculpe mesmo. Por favor, me deixe comprar um café para você. É tudo que peço. Cinco minutos.
Os olhos azuis claros dele suplicavam para mim e me lembrei do Isaac Perry charmoso. Além disso, ele estava prometendo café.
— Está bem.
Os olhos dele brilharam, mas eu me sentia menos que animada. Tremi por dentro enquanto passei pela porta do Mocha com ele atrás de mim, torcendo por um milagre de
que Simone não estivesse trabalhando aquela manhã. Isso seria pedir demais, pois a barista ruiva vivaz sempre estava lá para me cumprimentar.
Ela estava atendendo outro cliente, enquanto nos acomodávamos em nossos lugares. Me recostei na cadeira, contornando a beirada da mesa. Isaac ia me pressionar com
relação à publicidade, e eu ainda não decidira o que fazer. Blake ficaria furioso, é claro, mas talvez eu fosse uma idiota de recusar uma conta como a de Isaac se
isso significasse fazer o negócio andar mais depressa. Com tantas emoções maculando a situação, eu não estava nem um pouco perto de decidir como negociar a oferta
dele.
Perdida momentaneamente em meus pensamentos, quase pulei quando Simone me cumprimentou.
— Oi — disse ela com um sorriso suave. — Faz um tempo que não vejo você.
— Oi, Simone. Hmm, é. Desculpe — falei.
Mundos diferentes se colidiram, e eu não podia discutir isso com ela agora. Eu provavelmente devia contar de uma vez o que tinha acontecido com James e acabar logo
com isso.
— O de sempre? — perguntou ela, puxando meus pensamentos de volta para o presente.
— Claro.
O olhar dela desviou para Isaac, que parecia estar casualmente admirando a beleza dela, como a maioria dos homens fazia.
— Dois — disse ele com um sorriso educado.
Suspirei, totalmente pronta para minha próxima dose de cafeína.
— Então... Sobre o que você queria conversar?
— Queria explicar...
— O que há para explicar, Isaac? Mesmo. Não sou nada fã de homens que me agarraram ou encostam em mim de qualquer jeito sem minha permissão explícita.
— Fui longe demais, eu sei.
— Demais mesmo. E é um pouco difícil para mim deixar isso para lá e querer fazer negócios com você. Espero que você entenda isso.
Os lábios dele se apertaram.
— Eu entendo. Cometi um erro. Meu comportamento foi mais que lamentável.
Assimilei aquela simples confissão, e bem enquanto eu estava considerando perdoá-lo, ele falou de novo.
— Eu não devia ter bebido.
Franzi o cenho, sem querer aceitar essa desculpa.
— Está brincando? Nós tomamos uma garrafa de vinho.
— Eu estava tomando remédios. Remédios que afetam gravemente meu julgamento quando misturados com álcool. Você não tinha como saber disso, e não é uma desculpa.
— Tem razão, não é.
Ele ficou olhando fixamente para a mesa.
— Quero que você compreenda que aquele não sou eu. E eu estaria mentindo se dissesse que não me sinto atraído por você, mas se eu estivesse são, eu não teria lhe
abordado daquele jeito.
Eu o analisei atentamente, me perguntando onde tudo isso daria. A necessidade do meu perdão parecia repentina, e eu não tinha como evitar minhas suspeitas.
— O que você quer de mim, Isaac?
Ele suspirou e se endireitou.
— O mundo é um ovo. Temos várias conexões em comum. Sei que Blake me descartou, mas é provável que nossos caminhos se cruzem de novo em algum momento. Apesar de
tudo isso — disse ele, apontando para nós dois —, eu estava esperando que pudéssemos trabalhar juntos. Entenda como uma oferta de paz.
— Um acordo financeiro vinculativo é um tipo esquisito de oferta de paz.
Ele mal conseguiu suprimir um sorriso.
— Talvez, mas achei que você enxergaria mais valor do que em flores e chocolate.
— Estou noiva. Você estaria jogando dinheiro fora.
Os olhos dele ficaram imóveis, estreitando-se de leve.
— Eu não sabia. Parabéns.
— Obrigada — respondi secamente.
— De qualquer forma, eu realmente quero trabalhar com você. Antes do álcool me vencer, eu fiquei intrigado com o que você tinha proposto. Eu adoraria fazer uma tentativa,
se pudermos esquecer meu vacilo épico.
Meneei a cabeça. Ah, se ele soubesse pelo que eu passei...
— Não sei...
Ele se recostou na cadeira e abaixou a cabeça.
— Tudo bem. Eu entendo, Erica. Sem ressentimentos. Só achei que valia a pena tentar. Só para que você saiba, eu lamento muitíssimo. Estou indignado com meu próprio
comportamento. Quanto mais eu pensava nisso, mais eu sabia que tinha que ver você e me desculpar. Espero que, se nos encontrarmos de novo, e acho que iremos, possamos
ao menos ser cordiais.
Suspirei, querendo não sentir pena dele. Tentei ler sua linguagem corporal, buscando por sinais de mentiras, mas ele estava tão desarmado quanto no dia em que nos
conhecemos.
— Vou pensar no assunto, está bem?
Ele sorriu.
— É tudo que estou pedindo. — Ele se levantou rapidamente. — Olha, obrigado pela reunião. Não era minha intenção pegar você desprevenida, mas algumas coisas devem
ser ditas pessoalmente.
— Agradeço por isso.
Teria sido muito mais fácil recusar a oferta de trégua por e-mail. Apesar do ódio fervente de Blake pelo homem, eu agora estava considerando as pontes entre nossas
empresas.
Simone apareceu com nossos cafés, já convenientemente embalados para viagem. Ele entregou uma nota de dinheiro a ela e a agradeceu antes de se virar para ir embora.
— Quem era aquele? — perguntou Simone.
— Um possível anunciante.
Será? Eu estava realmente considerando uma conexão entre nossas empresas? Eu não estava totalmente convencida de que as intenções dele eram todas ruins, mas também
não estava inclinada a perdoá-lo.
— Parece um bom candidato. Ele me deu uma gorjeta de, tipo, quarenta pratas.
Consegui dar risada. Ela se sentou na cadeira que ele ocupara.
— O que está acontecendo? Você está me evitando?
Tomei um gole de café, cansada demais para estampar no rosto uma cara que não era a minha. Os olhos dela se estreitaram.
— Simone, correndo o risco de deixar você furiosa e criar uma tensão entre você e James, preciso contar uma coisa.
— James beijou você. Eu sei.
Meus olhos se arregalaram.
— Sabe?
— Sim, ele me contou outro dia. Disse que Blake ficou doido com ele, falando para ele pedir as contas.
— Puta merda — murmurei, tanto como reflexo daquela tarde quanto pelo fato de ela saber.
— Olha, você precisa acertar os ponteiros com James. Era com esse tipo de coisa que eu estava preocupada nesse lance de triângulo amoroso, mas...
— Mas o quê?
— Erica, eu gosto do James. Digo, estamos ficando há um tempo, e eu sei que ele gosta de você. Ele garante que já superou qualquer queda romântica que tinha por
você, mas ainda a considera muito como amiga. Não sei se ele e Blake conseguem superar isso, mas é você que está no banco do motorista. É você que tem que decidir.
Grunhi.
— Odeio isso. Tudo isso. Blake me colocou em uma posição terrível. Não quero demitir James e estou furiosa com Blake por confrontá-lo. Ele não tinha meu aval para
fazer aquilo. Ele obviamente está morrendo de ciúme e não consegue suportar a ideia de que eu trabalhe todos os dias com alguém que deu em cima de mim.
Ela curvou os lábios vermelhos para cima.
— Vou conversar com James. E só para você saber, eu sinto muito por isso estar afetando você. Acho que você e James são ótimos juntos. Eu realmente acho. Considero
vocês dois meus amigos, e a última coisa que quero fazer é me meter entre vocês por causa disso. Infelizmente, o ciúme de Blake é um lembrete insistente de uma indiscrição
que tenho certeza que tanto James quanto eu preferiríamos esquecer. Sei que nós dois queremos seguir em frente, e espero que a gente consiga.
— Não é uma situação fácil. Mas isso não afeta em nada a nossa amizade, não importam as circunstâncias. Ainda sou sua parceira. Primeiro as amigas, certo?
Eu ri, e ela esticou o punho para que eu batesse com o meu. Depois que o fiz, ela saiu da cadeira.
— Vá consertar essa sua vida louca que eu vou servir mais um pouco de combustível de foguete para os viciados aqui, tá?
— Me parece ótimo. Obrigada.
Ela deu um sorriso torto antes de me deixar. Peguei meu café e saí dali me sentindo um pouco mais leve. Ao menos aquele era um incêndio que eu não precisava apagar.
No escritório, passei a manhã colocando os e-mails em dia antes de Alli aparecer para me deixar a par do progresso da publicidade. Ela tinha fechado mais duas contas,
o que era um ótimo começo para compensar a perda de renda que sofremos. Eu estava calculando alguns números rápidos quando ela me interrompeu.
— Então, o que está acontecendo entre você e Blake?
Olhei para os olhos preocupados dela. Suspirei e larguei a caneta. Eu precisaria contar, em algum momento. Depois de sair correndo da festa, ela certamente iria
querer saber o que tinha acontecido entre nós para me fazer ir embora.
— Nada com que se preocupar. Umas pedras no caminho, acho.
— Eu vou me preocupar com você, sim. Especialmente quando Blake fica na minha casa até tarde, enclausurado com Heath tendo algum tipo de desabafo de irmãos até meia-noite.
Me mexi na cadeira.
— Eu não sabia que ele tinha ficado tanto tempo.
— Ele não foi para casa?
Meneei a cabeça.
— Aonde você acha que ele foi?
Fiquei apertando o botão da caneta nervosamente.
— Não faço a menor ideia.
— O que aconteceu entre vocês dois? Vocês têm agido de um jeito estranho desde que voltaram de São Francisco. Achei que tudo tivesse corrido bem.
— E correu, no quesito profissional. Mas encontramos a Risa lá. Olha, não posso conversar sobre isso aqui. Você quer sair para beber hoje depois do expediente? Posso
tentar explicar... de alguma forma.
Suprimi um grunhido. Aquela conversa seria uma merda, em todos os sentidos.
— Está bem. Vou dar uma saída rápida para almoçar. Quer alguma coisa?
— Claro, pode ser a mesma coisa que você.
Ela me deixou sozinha, e um minuto depois, James tomou o lugar dela na cadeira à minha frente.
— Tem um minuto?
— Claro.
Fiquei remexendo em alguns papéis na minha mesa, por nenhum outro motivo a não ser adiar o que ele diria, independente do que fosse. Mas Simone tinha razão. Precisávamos
conversar. Precisávamos chegar à raiz disso. Deixei a cabeça cair em minhas mãos. Não tínhamos dito nada ainda, e eu já estava perdendo o controle.
— Precisamos conversar.
Ele se recostou na cadeira, me fitando.
— Você não vai me mandar embora, vai?
— Não. — Me afundei na cadeira. Nenhuma quantia de café tornaria essa conversa suportável. — Sinto muito por tudo isso. Francamente, não sei onde tudo desandou,
mas estou desesperada para consertar. Só não sei como fazer isso de um jeito que todo mundo possa viver em paz.
— Landon é o único que está arrancando os cabelos. Todos nós estamos sendo adultos. Não vejo por que você precisa tolerar os chiliques dele, a não ser que ele a
esteja ameaçando financeiramente,
— Ele jamais faria isso. E... Sei lá, James. Eu o coloquei em uma situação que é meio impossível de explicar.
— Algo relacionado àquele tal de Daniel, suponho.
— É mais complicado do que você poderia compreender. Não porque você não seja capaz de compreender... mas algumas coisas devem ser mantidas em particular. E sim,
Daniel tem grande parcela de culpa na nossa separação. Tudo foi ficando cada vez mais fodido depois daquilo, até encontrarmos nosso caminho de volta um para o outro.
Quando ele descobriu o que aconteceu entre mim e você... — Suspirei, fechando os olhos. — Acho que posso dizer que foi a gota d’água, e agora estou meio que batalhando
para acertar as coisas entre nós.
Ele hesitou por um instante.
— Eu gosto de você, Erica. E gosto deste emprego também, mas se você vai ficar com Blake e, como resultado, o fato de eu permanecer aqui tornar sua vida desnecessariamente
complicada, é melhor que eu vá embora. Não gosto dessa tensão, assim como você.
— Mas eu não quero que você vá. Você é importante para a empresa e para mim. Apesar de tudo que aconteceu, você ainda é meu amigo. E não vou mandar um amigo embora.
Ele mordeu o lábio, tamborilando o polegar na beirada da cadeira, parecendo perdido em seus pensamentos.
— Ajudaria se eu não estivesse aqui?
— Como assim? Acabei de dizer...
— Digo, aqui no escritório. Seria mais fácil se eu não estivesse aqui no escritório todos os dias? Posso trabalhar de casa. Digo, é uma tecnicidade, mas se isso
significa manter meu emprego e permanecer na empresa, é algo que vale a pena considerar.
Foi exatamente o que fiz.
— Você estaria disposto a fazer isso?
— Claro. E se eventualmente você quiser alguém que fique no escritório, posso sair gradualmente. Talvez me virar sozinho. Como autônomo ou algo assim.
Torci o nariz, não gostando daquela parte da proposta.
— Odeio isso.
— Eu também, mas não é culpa sua. Não sei ao certo em que Blake está fazendo você acreditar, mas eu devia ter recuado assim que percebi que você estava saindo de
um relacionamento. Você precisava de um amigo, e eu fracassei nesse quesito.
— Você não fracassou.
— Tirei conclusões precipitadas. Sobre muitas coisas. Isso é culpa minha também, e se eu tenho que fazer sacrifícios por causa disso, que seja.
— Aprecio a oferta. Mas não vamos tomar nenhuma decisão impulsiva.
— Não acho que seja impulsiva, sinceramente. É só uma coisa que levamos mais tempo para processar. Posso ver que você está estressada. Você não tem sido a mesma
Erica a semana toda, e odeio ver você assim. Não quero ser a causa disso. Nunca fui e nunca serei. Mas se podemos fazer essa mudança, ao menos por hora, e isso der
a você um pouco de alívio ou espaço para consertar as coisas com ele, devemos fazê-la.
— Espero que ele se acalme um pouco. Talvez eu consiga ser racional com ele.
Esse era um grande “talvez”.
Ele se inclinou para frente, apoiando os antebraços nos joelhos.
— Você quer se casar com Blake, certo?
Fiz uma pausa.
— Sim.
— Pessoalmente, não suporto o cara, mas ele obviamente é importante para você. Importante o suficiente para você ter dito “sim” quando ele pediu você em casamento.
Não quero ser a pessoa que vai foder com isso. Fizemos uma confusão com esse negócio de relacionamento no ambiente de trabalho e agora nós dois precisamos limpar
a bagunça.
Dei um aceno curto com a cabeça, querendo que não houvesse tanta verdade no que ele estava dizendo.
— Talvez você tenha razão.
— Não é o que nenhum de nós quer, mas talvez seja a coisa certa.
CAPÍTULO 11
O resto do dia passou voando. Talvez nem toda esperança estivesse perdida na minha vida. Novas contas estavam sendo fechadas, eu estava numa boa com a Simone e,
ao menos por ora, James e eu tínhamos um plano para seguir em frente. Eu não podia negar que o fato dele não ir mais à empresa me partia o coração um pouquinho.
Ele se tornou parte do time e um amigo. Eu sentiria falta de vê-lo todos os dias e não podia evitar o ressentimento com Blake por me colocar nessa posição de ter
que fazê-lo ir embora. Enquanto eu me demorava naquele pensamento, Alli apareceu para me lembrar de nosso encontro depois do trabalho.
Juntei minhas coisas para ir embora. Alguns minutos depois, Clay nos deixou em um restaurante japonês moderno em uma rua movimentada. Alli e eu pedimos mai tais.
Virei a bebida doce e, educadamente, pedi outra à garçonete quando ela trouxe nossos rolinhos. Hoje era simplesmente um daqueles dias. Quem sabe o álcool me pusesse
para dormir quando eu me deitasse na cama vazia de novo.
— Então, James vai trabalhar em casa por um tempo — soltei, finalmente, sabendo que o silêncio tenso de Alli estava repleto de perguntas não ditas sobre o que estava
acontecendo.
Alli franziu o cenho.
— Por quê?
Respirei fundo.
— Quando Blake e eu estávamos separados, James e eu começamos a passar mais tempo juntos, como amigos. Tentei manter as coisas profissionais, mas ele começou a querer
mais. Eventualmente, ele deu em cima de mim e...
O queixo de Alli caiu.
— Você não...
— Nós nos beijamos. Foi rápido e eu quis que terminasse depois de uns três segundos. Aparentemente, Risa viu tudo e, nesse fim de semana, no evento de premiação,
ela contou a Blake. Acho que ela queria se vingar de mim e ferrar com nosso relacionamento. Infelizmente, deu certo. Blake ficou fora de si. Brigamos. Ele queria
James fora... ou haveria consequências.
Enfiei um sushi na boca, odiando o fato dele ter vencido.
Alli ficou olhando fixamente para mim, sem se mexer, com os olhos arregalados.
— Eu não esperava nada disso.
— Bom, foi por isso que nunca contei. Foi um erro, e eu queria que desaparecesse, mas não desapareceu, então, agora estou pagando por ele.
— Então está tudo bem entre vocês, agora que James não vai mais ficar no escritório?
— Não faço ideia. Ainda não conversamos de verdade.
Mutilei um dos meus rolinhos enquanto pensava na distância terrível que havia surgido entre nós nos últimos dias. Por mais brava que eu estivesse com Blake, eu odiava
cada minuto quando brigávamos. Nada funcionava quando não estávamos juntos, e eu só podia torcer para que tudo mudasse agora.
— Enfim, como vão as coisas com Heath? Me diga algo bom. As coisas parecem perfeitas entre vocês dois agora.
Ela deu de ombros e colocou uma fatia de gengibre em cima de um rolinho.
— Eu não diria “perfeitas”.
Ergui uma sobrancelha.
— Problemas no paraíso?
Ela deu uma risada, mas seu sorriso logo desapareceu.
— Não sei. Me preocupo com ele.
— Isso é compreensível, mas ele deu a você algum motivo?
— Aí é que está. Não exatamente. Mas não consigo deixar de me preocupar. Ele terminou o programa e, desde então, é como se eu não conseguisse afastar a sensação
de que ele vai ter uma recaída de novo.
— Mas ele tem você. Ele tem Blake, e o trabalho, e a família. Parece que ele está no caminho certo. Tudo está correndo bem, não está?
— Eu sei. Por fora, tudo está ótimo. O apartamento, nossos empregos. Mas parece que sempre que eu toco nesse assunto, ele me diz que eu estou controlando. Ele me
lembra de que Blake está controlando e a família está controlando. É compreensível, mas ele diz que não precisa de mais uma pessoa estudando cada passo dele. É que
eu me preocupo demais com ele para perder o que temos.
Contemplei o que ela estava me contando por um instante. Eu não conhecia o Heath viciado tão bem quanto o Heath renovado e sóbrio, mas tinha visto o suficiente para
reconhecer o quanto ele estava diferente. Eu acreditava que o relacionamento dele com Alli e ter sido privado disso quando foi para a clínica de reabilitação fizeram
com que ele ficasse sóbrio em um nível totalmente diferente. Blake acreditava nisso também, e foi por isso que ele o trouxe para casa mais cedo e inesperadamente.
— Parece que você está esperando que ele fracasse, Alli — disse, finalmente.
Os ombros dela se arquearam, e a tristeza cintilou por trás de seus olhos.
— Estou com medo. Não quero passar por aquilo de novo. Eu estava um caco. Digo, você me viu. Eu preciso de Heath — tipo, estou completamente apaixonada por ele e
não consigo imaginar ficar sem ele. Mas para que isso dê certo, preciso que ele permaneça saudável. Faço qualquer coisa para garantir que isso aconteça.
— Lembro que você estava um caco, mas ele também estava. Acho que vocês dois precisam um do outro, mas talvez ele precise, mais que tudo, que você confie nele. Todos
sabemos como Blake é, e pais são pais. Ele quer que você o ame e confie nele, não que banque a mãe dele.
Ela suspirou.
— É difícil, porque quando estávamos em Nova York, passávamos cada minuto livre juntos. Precisávamos apenas nos adequar à minha agenda naquela época, mas agora que
ele está trabalhando com Blake, temos menos tempo ainda.
— Só porque você não está passando cada minuto em que está acordada com ele, isso não significa que ele esteja em perigo. Trabalhar com Blake e assumir aquelas responsabilidades
mais a sério é bom pra ele. Mesmo que seja um tempo que ele não pode passar com você.
Ela concordou com a cabeça.
— Você tem razão. Eu só queria não ter que viver com esse demônio invisível ameaçando se meter entre nós. Cada dia é uma oportunidade para as coisas darem errado.
Segurei a mão dela e dei um aperto.
— Alli.
Ela ergueu os olhos para me olhar.
— Pare de esperar que algo ruim aconteça. A melhor coisa que você pode fazer é amá-lo, mostrar a ele que você se importa e aproveitar ao máximo cada minuto que você
tiver. Pare de tentar controlar o que você não pode.
***
Corri debaixo da marquise do prédio quando a chuva começou a cair com mais força. Dando uma olhada na rua, não vi sinal algum do Tesla de Blake. Meu coração ficou
apertado, e a ideia de passar outra noite sem ele me corroeu. Eu pensei em ligar para ele mais cedo para contar a ele sobre minha conversa com James, mas algo —
talvez orgulho — me deteve. Ele descobriria... mas eu ainda não estava totalmente pronta para avisá-lo de que ele tinha vencido esse round.
Enquanto eu subia as escadas, encontrei Cady na porta do apartamento que eu e Sid costumávamos dividir.
— Oi.
Ela sorriu, com as chaves na mão.
— Você viu Blake? — perguntei, com um entusiasmo obviamente bem mais fraco que o dela.
— Ele estava no escritório quando fui embora. Por quê?
Hesitei, debatendo comigo mesma se deveria contar mais a ela.
— Ele não veio para casa ontem à noite, só isso.
— Ah. — A preocupação estampou o rosto dela. — Acho que ele provavelmente passou a noite no escritório, então. Ele parecia cansado e... Bom, não estava de muito
bom humor hoje. Talvez isso explique o porquê.
Suspirei, e o alívio me inundou. Mesmo assim, saber que ele estava ficando no escritório não o trazia para mais perto de mim. Eu a agradeci e subi até nosso apartamento.
Larguei as coisas na ilha central da cozinha e fui até nosso quarto. A cama estava uma bagunça; os lençóis, um caos desarrumado, e pelos motivos errados. Eu não
tinha dormido muito e, provavelmente, ele também não.
Tomei um banho rápido. Quando saí, o apartamento ainda estava tão silencioso quanto na hora em que eu tinha chegado. Enrolando a toalha no corpo, fui até a cômoda
onde guardo minhas roupas. Minhas joias estavam em uma caixinha rasa em cima dela. Coloquei a aliança de volta e os diamantes dos braceletes do conjunto me chamaram
a atenção. Eu os peguei. Eram pesados na minha mão. As caras pulseiras brilhavam sob a luz fraca do quarto. Eram lindas, mas seu significado era maior. Passei os
dedos nos pequenos pingentes. A roleta de platina bateu em seu companheiro, o coração... O coração de Blake.
Erguendo os olhos, vi meu reflexo no espelho. Tudo que eu conseguia ver agora eram meus olhos cansados, cheios daquela tristeza que só estar longe de Blake poderia
trazer. Lutar essa batalha com ele parecia inútil e prejudicial, visto que minha resposta sempre seria “sim”. Visto que o único futuro que eu conseguia vislumbrar
era com ele.
Eu o queria de volta, a qualquer custo, até mesmo meu orgulho. Pensar que eu podia bater o pé contra alguém como ele — um homem que via o que queria e não parava
por nada para tê-lo — era, no mínimo, ilusório. Mas ele forçou a barra comigo, droga. Confiar meu corpo e meu coração a ele não era suficiente, mas, de alguma forma,
eu sempre soube que isso seria assim. Parte de mim sabia que, um dia, nosso relacionamento chegaria a esse ponto e que ele me pressionaria por tudo que eu pudesse
dar. Ele era controlador e enlouquecedor desde o primeiro dia. Eu fui tola por esperar que alguma coisa iria mudar.
Mas ele tinha razão. Eu lutei pra caramba para manter aquela divisa entre nossos mundos. Eu o deixei entrar aos pouquinhos, mas sempre o mantive a uma distância
segura de determinados aspectos da minha vida. Como eu dei a ele mais do que dera a qualquer outra pessoa, eu queria pensar que aquilo era suficiente. Mas não era.
Isso estava claro agora.
Eu não queria brigar e não queria que nosso relacionamento fosse um campo de batalha. Talvez por isso ele não me desse nenhuma outra opção agora. Nós dois estávamos
magoados e infelizes como resultado das minhas merdas e, agora, porque ele estava me fazendo pagar por isso — ou mudar por causa disso.
Coloquei os braceletes no pulso, admirando-os. Eu sempre os usei com orgulho. Eu queria que o mundo soubesse que eu os estava usando por ele, mesmo que ninguém soubesse
o que isso significava para nós. Nossa promessa. Como aquela em meu dedo.
Blake podia ser meu dono, ele podia deter algo profundo dentro de mim, mas eu também havia capturado algo precioso dele. Algo que ele nunca deu a ninguém antes.
Olhei de volta para a cama, e a dor aguda da saudade dele era forte demais para ignorar.
***
A chuva torrencial me deixou quase encharcada quando passei pelas portas dos escritórios do Grupo Landon. Uma faixa de luz iluminava o chão onde a porta de Blake
estava fechada. Bati levemente antes de entrar, não querendo cumprimentá-lo com um ataque cardíaco.
Lá dentro, ele estava sentado preguiçosamente à sua mesa, com os pés em cima dela, e o foco nos televisores do outro lado do escritório antes de se voltar para mim.
— Trabalhando duro?
Dei a volta na mesa dele e me sentei na beirada.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou Blake.
— Eu que deveria perguntar isso. Por quanto tempo você vai ficar acampado aqui fazendo birra?
O maxilar dele se contraiu e ele levou um copo de uísque até a boca. Sua garganta se moveu com o gole.
— Não estou fazendo birra. — Ele colocou o copo na mesa, e seus olhos passearam pelo meu corpo, descendo até minha sandália preta de salto. — Você está molhada.
Ergui as sobrancelhas e olhei pelas janelas do escritório. Estavam com as cortinas fechadas, bloqueando a vista dele do mundo lá fora.
— Se você saísse da sua caverna, talvez reparasse que está chovendo a cântaros lá fora.
Ele franziu o cenho.
— Você veio a pé?
Revirei os olhos.
— Não, Clay me trouxe. Relaxe.
Dei uma olhada pela mesa dele e parei em uma pilha de documentos com um logotipo familiar.
— O que é isto? — perguntei, pegando os papéis.
Ele suspirou, parecendo irritado.
— Documentos financeiros da agência de modelos da Sophia.
Ele pegou os papéis da minha mão e os jogou do outro lado da mesa, longe do meu alcance.
Estreitei meus olhos para ele.
— Ela está na cidade?
Ele tomou outro gole.
— Por quê? Você quer saber se ela entregou isso pessoalmente?
Fiquei olhando para ele, nada disposta a deixar isso para lá.
— Não, Sophia não está na cidade, ao menos não que eu saiba. Pode recolher as garras.
Aliviada, dei um sorriso para ele.
— Você não pode me condenar por perguntar, não é?
— Suponho que não — resmungou ele.
Respirei fundo e decidi mergulhar de cabeça. Por mais que eu quisesse provocá-lo a abandonar sua resolução, nós provavelmente só chegaríamos lá se conversássemos
a sério. Apesar de, na última vez, isso não ter dado muito certo.
— Pensei muito no que você disse noite passada.
— E...? — disse ele secamente.
— Entendo que você esteja chateado e entendo o porquê. Eu não me abri, especialmente quanto à empresa. Tem sido meu porto seguro, de certa forma. A parte da minha
vida para a qual eu posso fugir, não importa o que aconteça com a gente, e sei que é minha. Que cada sucesso e cada fracasso são meus. É tudo pelo que eu trabalhei,
e me assusta dividir isso com você. Sempre assustou. Mas estou disposta a mudar e envolvê-lo mais.
Os olhos dele se fixaram em mim.
— Por que você faria isso, depois de todo esse tempo?
— Bom, para começar, se vamos nos casar... — Me demorei naquele pensamento por um instante, tentando não descarrilar para a possibilidade de que isso não acontecesse,
de que ele não quisesse mais. — Suponho que o que é seu é meu nesse sentido. Se eu não puder confiar no meu futuro marido, em quem vou confiar?
Ele largou o copo. Cruzou as mãos sobre o colo, parecendo me estudar.
— OK — disse ele simplesmente. — Então James está fora, assumo?
Analisei os olhos dele em busca de qualquer sinal de que ele pudesse ceder nesse ponto.
— Já lhe ocorreu que você está sendo um pouquinho irracional quando se trata de manter James na empresa?
— Se estou sendo irracional, é em resposta a seu comportamento irracional e, nesse caso, considero plenamente justificado. Eu disse a você o que penso sobre o assunto.
Nada mudou.
— E se eu dissesse que, a partir de hoje, você pode ter todo controle que quiser sobre a empresa, menos desse único pedacinho?
Ilustrei meu “pedacinho” com o polegar e o indicador, como se isso pudesse ajudar.
— Melhor você ir, Erica. Não tem por que nós dois dormirmos aqui hoje.
Ele abaixou os pés e se virou para olhar para as telas dos computadores.
Jesus, como ele era teimoso. Eu quase podia vê-lo enfiando o calcanhar no chão.
Por Deus, Blake jogava sujo. Ele estava colocando a sobrevivência do nosso relacionamento na reta para conseguir o que queria — o que ele dizia que precisava. Eu
não conseguiria argumentar com ele esta noite. A não ser que também jogasse sujo.
— Como preferir — falei e desci da mesa.
Lentamente, passei o dedo pelo botão de cima da minha capa de chuva. Um por um, eu os abri. O olhar dele se fixou no meu corpo quando a jaqueta se abriu, dando a
ele um gostinho do que eu estava usando por baixo. Não era muita coisa.
— Você não vai me dobrar com sexo.
Inclinei a cabeça.
— Não? — desafiei, secretamente ciente de que eu já tinha cedido às exigências dele.
Sorri e sacudi os ombros para me livrar da jaqueta que eu tinha usado para ir até ali. Jogando-a longe, fiquei parada quase nua, com renda preta suficiente somente
para cobrir as partes essenciais. Rastros de água do meu cabelo encharcado pela chuva escorriam pela minha pele já úmida. Eu tinha ficado preocupada que o mau tempo
fosse arruinar meu look, mas baseada na maneira como os lábios de Blake se entreabriram, o efeito provavelmente trabalhou a meu favor.
— Acho que posso mudar a sua opinião.
— Não pode. Estou cansado dessa merda, Erica.
Se eu estivesse vendada, talvez tivesse acreditado nele, que ele não podia ser persuadido. Mas os olhos dele o entregaram, fixos no meu peito, enquanto eu abria
o fecho frontal do sutiã.
— Me lembro que você tem um fraco por renda — provoquei.
— Minha única fraqueza é você — murmurou ele. As palavras dele atingiram meu coração.
O sorriso brincalhão que eu trazia no rosto sumiu. Eu queria ser a fraqueza dele, mas não se ele ressentisse isso, como parecia ressentir agora. Me virando, me afastei
lentamente. Minha audácia tinha levado um golpe e, agora, eu só me sentia envergonhada e magoada. Eu queria que ele me quisesse, não queria nem que a gente encontrasse
um meio-termo, só queria que ele fizesse essa única concessão.
— Aonde diabos você está indo?
Meus lábios se ergueram de novo com aquele pequeno sinal de esperança. Parei na frente do sofá, do outro lado do escritório, e abri o sutiã. Deixei-o cair pelos
ombros e braços, privando-o da visão dos meus seios desnudos. Engatando os polegares na calcinha minúscula, abaixei-a, ficando totalmente nua, com exceção das joias.
— Você não vai vencer essa, sabia?
Me virei, e ele estava na minha frente imediatamente, os olhos em chamas.
— Não estou mais tentando vencer.
Toda provocação se esvaíra da minha voz com aquela concessão.
— Então o que você está fazendo?
Passei as mãos pelo peito dele.
— Estou deixando você vencer.
Ele se encolheu.
— Você está fazendo joguinhos. Não estou interessado em joguinhos.
— Não estou brincando. Estou dando a você o que você quer. Estou dando a você tudo de mim.
Me ergui e enrolei os braços no pescoço dele. Meus seios rasparam no peito dele. Eu podia sentir seu coração batendo rápido, igualando-se ao ritmo frenético do meu.
— Isso não dá certo. Ficar separados nos destrói. Não posso viver sem você, Blake. Mal consigo sobreviver a uma noite sem você. Como é que vou arriscar perder você
pelo resto da vida? Se você não me dá nem isso, então não tenho escolha, certo? Então, estou deixando você vencer. Estou confiando a você tudo que tenho: corpo,
alma e empresa. Pegue o que você quiser, vá aonde você quiser.
Olhei-o nos olhos, querendo que ele acreditasse em cada palavra.
— E James?
Inspirei, me resignando à escolha que eu tinha que fazer.
— Ele vai embora. Está feito.
CAPÍTULO 12
Ele ficou me olhando em silêncio. Eu estava agarrada a ele, mas ele não estava me tocando de nenhum outro jeito. Ainda se contendo. Apesar disso, pela maneira como
os músculos dele se tensionaram debaixo da pele, eu não podia deixar de achar que isso podia mudar a qualquer momento. Eu me tornara a presa, e essa caçada iria
dar uma reviravolta em um instante. A expectativa fez meu coração disparar.
— É isso que você quer, não é?
Minha voz sumiu quando ele lambeu os lábios.
— Não é só isso que quero.
O tesão preencheu os olhos dele, misturando-se à determinação silenciosa que eu tinha visto crescer nele nos últimos dias. O calor floresceu na minha pele sob os
olhos itinerantes dele.
— Estou dando tudo a você — sussurrei.
— Eu gostaria de acreditar, mas você não fez nada a não ser lutar contra mim. Como posso saber que alguma coisa mudou?
Como eu podia mostrar a ele?
Amor não era suficiente. Palavras, todas ditas com sinceridade, não eram suficientes. Lá estava eu, nua e vulnerável, com o peito encostado no peito do homem que
estava exigindo que eu desse a ele cada pedacinho de mim mesma. Desci da ponta dos pés e deixei minhas mãos caírem. Quanto seria suficiente? Eu tinha finalmente
me conformado com as exigências dele e agora estava lutando para saber como poderia provar isso.
Torci os dedos nervosamente entre nós. A ponta do meu dedo contornou o pequeno solitário. Um pensamento me ocorreu. Os nervos comprimiram meu estômago, e a adrenalina
pulsou dentro de mim. Fechei os olhos.
Puta merda. Eu estava prestes a dar tudo a ele. E estava apavorada.
Soltei uma expiração trêmula, torcendo para que aquilo fosse suficiente para afrouxar o nó na minha garganta. Abrindo os olhos, me preparei para o que eu tinha que
fazer. Olhei nos olhos de Blake, um tornado de desejo e preocupação.
— Blake, eu te amo muito. E confio em você. Eu realmente confio. — Mantive minha voz estável, sem querer dar a ele nenhum motivo para duvidar de mim. — Então, por
favor, entenda isso como realmente é... tudo... tudo que eu tenho. Por favor, não faça eu me arrepender.
Fechei os olhos por um segundo e, lentamente, fiquei de joelhos. O único barulho na sala era de metal contra metal, e os braceletes batiam um no outro, enquanto
eu colocava as mãos nas coxas.
Esperei por ele. Esperei que ele acreditasse em mim, que viesse até mim, e que fosse aquilo que nos uniria novamente.
Um minuto que pareceu uma eternidade se passou. Nenhum movimento, nenhuma palavra. Apenas o eco do que eu fizera e a expectativa de aonde aquilo iria nos levar.
Lentamente, ele se abaixou na minha frente. Mantive o foco no chão e, então, no tecido escuro de sua calça jeans se esticando sobre os joelhos. Ele ergueu meu queixo
para que eu o olhasse nos olhos. Os lábios dele estavam entreabertos, e sua respiração saía apressadamente em ofegos rápidos que se equiparavam à minha própria respiração
acelerada.
Ele contornou meus lábios trêmulos.
— Isto é o que eu quero, se for o que você quer — disse ele finalmente.
Meu coração martelava dentro do peito, como um lembrete gritante do quanto ele significava para mim.
— Eu quero você. Não posso prometer ser perfeita, mas quero tentar ser o que você quiser, tudo que você precisar.
Ele deslizou a mão pelo meu rosto até meus cabelos, me puxando para cima. Me ergui sobre os joelhos e me equilibrei com as mãos no peito dele. Os músculos rijos
e ondulados dele estavam sob minhas mãos. Ele me manteve assim, nossos lábios a um suspiro de distância, os olhos dele queimando de emoção.
A respiração dele sussurrou em meus lábios.
— Tudo que eu sempre quis, desde o dia em que nos conhecemos, era sua confiança. Quero estar lá por você, ajudar você, proteger você. Não posso fazer nada disso
do jeito que preciso se você fica lutando contra mim e me afastando.
— Não vou mais fazer isso, prometo.
Os olhos dele suavizaram. Ele enrolou um braço na minha cintura, me puxando mais para perto dele.
— E eu prometo que nunca vou deixar você se arrepender dessa escolha.
Uma sensação quente se expandiu pelo meu peito, dissipando o nervosismo e a dúvida. Meu amor por esse homem se espalhou por mim, enviando um tremor por cada membro
do meu corpo. Tesão e desejo se acenderam no caminho, e eu precisava tê-lo agora. Com o nome dele nos meus lábios, eu o beijei fervorosamente, como se nunca mais
fosse ter outra chance. Com as mãos em seus cabelos, me agarrei a ele, querendo nossos corpos com o máximo de proximidade possível. Ele respondeu ao pedido silencioso
colocando as duas mãos na minha bunda. Um movimento rápido dos quadris dele me mostrou o quanto ele também me queria.
Ofeguei, sem ar por causa do beijo e da eletricidade no ar.
— Me possua agora. Pegue o que é seu, Blake.
Ele me colocou rapidamente no sofá, de modo que fiquei de barriga para cima. Enquanto nos beijávamos, um beijo totalmente avassalador, ele agarrou meus pulsos e
os segurou acima de mim. Curvei as costas na direção dele, inquieta e ávida por senti-lo contra mim de novo. Ele me soltou e fui tentar tocá-lo, mas percebi que
meus pulsos estavam presos pelos braceletes. Eram as algemas mais caras que eu usaria na vida, e sua beleza me mantinha prisioneira de um jeito que nada, nunca,
tinha feito.
— Você me deu o que eu quero, Erica. Agora, vou dar a você tudo que você quer. Não vai lhe faltar nada esta noite, gata.
Meus dedos coçavam para tocá-lo, para deslizar em seus cabelos, arranhar suas costas. Gemi, e veio o desejo desesperado de me mexer e agarrá-lo, tê-lo pulsando dentro
de mim.
— Então me foda e não me faça esperar mais.
Ele desceu pelo meu corpo, traçando um caminho molhado de beijos. Uma lambida no meu umbigo, uma raspada leve de dentes no osso da minha bacia.
— Blake — gemi.
— Eu vou, gata. Confie em mim, eu vou. Quero provar você um pouquinho antes.
Ele empurrou uma das minhas pernas para o chão. Agarrando a outra pelo joelho, ele a segurou com firmeza contra o encosto do sofá, me expondo completamente para
ele. Fiquei deitada ali, cheia de desejo e à mostra para o homem que nunca deixava de me reduzir a uma meretriz desavergonhada com algumas palavras bem colocadas.
O calor serpenteou por mim. Meu coração ribombou, e a expectativa sexual agora se sobressaía ao meu amor por ele. Apertei as mãos em punhos, me lembrando das amarras.
O metal frio que apertava a pele me lembrou de quem era o dono daquele momento. Fechei os olhos e suspirei, ficando inerte na maciez do sofá.
— Boa menina. Fique deitada que eu vou fazer você ver estrelas — murmurou ele.
Ele raspou os lábios na minha coxa. Toda vez que a língua dele surgia e fazia contato com minha pele, meus olhos reviravam. Meus dedos apertaram com força o braço
do sofá, firmes onde ele os tinha posicionado. O calor fluía por mim como lava. Eu podia dizer que nunca fiquei tão desejosa e, mesmo assim, tão paciente e confiante
de que ele satisfaria esses desejos.
Mãos quentes e firmes deslizaram dos meus joelhos até o centro do meu corpo, onde Blake me abriu ainda mais com os dedos. Quando a boca dele fez contato com a carne
sensível entre minhas pernas, comecei a tremer. Ele apertou minhas coxas com mais força, pronto para me manter imóvel. A pressão suave do beijo íntimo deu lugar
à sua língua, desenhando uma lambida aveludada até meu clitóris. Gritei, e minha paciência sofreu um baque grande quando ele continuou a massagear aquele emaranhado
tenso de nervos, chupando e lambendo, resmungando palavrões em cima dele.
— Seu gosto é como o paraíso.
As palavras sopraram ar frio no meu sexo pulsante, sob a bênção quente da boca dele. Céus, a boca dele. A língua dele passeou pelo mesmo caminho, para cima e para
baixo, chupando e devorando. Não havia brincadeira alguma na maneira como ele me lambia. Eu estava perigosamente perto de gozar, movimentando-me na direção do toque
dele maliciosamente.
— Você quer gozar comigo dentro de você, gata? Você quer agarrar-se em algo quando eu fizer você chegar lá?
Ele deslizou um único dedo para dentro de mim, apenas o suficiente para me lembrar do que eu estava perdendo.
Concordei rapidamente com a cabeça, e minha voz foi substituída totalmente pela respiração que eu não conseguia mais controlar. Eu queria aquilo. Queria cada instante
intensamente erótico que aquela linda cabecinha dele podia bolar. Sem dizer mais nada, Blake se levantou. Tirou a camisa e desafivelou o cinto.
O barulho do cinto escorregando pelos passadores enviou um formigamento ardente pela minha pele. Mordi o lábio e me arqueei de leve. O canto da boca dele se ergueu
em um sorriso malicioso, enquanto ele abria a calça e a descia pelas coxas juntamente com a cueca, revelando seu pau duro, maravilhoso e completamente pronto.
— Admita.
Mudei meu foco para o rosto dele, tão impressionante quanto todas as outras partes de seu corpo. Franzi a testa.
— Admita que você gosta do cinto.
Meus dentes se enterraram no meu lábio inferior com um pouco mais de força.
— Eu sei que gosta. — Ele riu. — Sua boceta fica impossivelmente molhada toda vez. Você não precisa admitir, porque eu já sei. Seu corpo a entrega. Mas eu adoraria
ouvir as palavras saírem da sua boca.
A lembrança do couro açoitando minha pele incitava uma resposta física além de qualquer coisa que eu podia compreender. Apesar de todos os medos que eu tinha encarado,
poucos por minha culpa, eu gostava, sim, das coisas que tínhamos feito. Eu não conseguia pensar em uma única coisa de que eu não tivesse gostado ou, na real, não
tivesse adorado pra caralho. Talvez fosse louco, e talvez nada com relação a isso fizesse sentido para o resto do mundo, mas ele estava certo. Eu gostava, e era
inútil negar. Meus lábios se curvaram em um sorriso pequeno.
— Eu gosto.
Ele pairou sobre mim, sorrindo maldosamente.
— Acho que peguei uma pequena marginal. Uma marginalzinha esperta e linda. Eu sabia que você era perfeita para mim, e você continua provando que eu estava certo.
Meu sorriso aumentou.
— Mas eu prefiro a sua mão. Gosto quando você pode sentir aquela ardência também e quando você me pega e me toca.
Ele grunhiu e passou a mão pela própria ereção, masturbando sua rigidez.
— Eu não estava planejando bater em você esta noite, mas você está me fazendo querer debruçá-la na minha mesa neste instante.
— Isso pode ser resolvido.
Olhei para ele com os olhos semiabertos. Eu estava me preparando para implorar, quando ele se abaixou em meio às minhas pernas. Quando ele subiu em mim, o contato
sedoso de nossos corpos quentes deslizando um em cima do outro era quase demais. Inspirei bruscamente e prendi o lábio inferior que eu tinha mordido antes. Chupando-o
para dentro de sua boca, Blake contornou a carne inchada com a língua.
— Não quero punir você, gata. Quero recompensar você. Quero passar horas fazendo você gozar para mim. De novo — ele desceu os lábios até meu pescoço —, e de novo
— traçando um caminho chupado até meu ombro —, e de novo, até você implorar que eu pare.
Fiquei tensa, plenamente ciente de quão perto do limite ele já me levara.
— Estou implorando... para começar. Me deixe gozar, Blake, por favor.
— Vou deixar. Como você quer? Devagar?
Me curvei na direção da boca dele, quando ele desceu até meu seio. Circundando o ponto enrijecido com a língua, ele chupou e puxou.
Blake olhou para mim. Meneei a cabeça.
— Rápido?
Voltando-se para o outro seio, ele dedicou a mesma atenção a ele até que eu achasse que iria perder a cabeça.
— Sim — sussurrei.
— Forte?
Ele segurou a ponta com os dentes, e seus dedos encontraram meu calor molhado novamente. Ele deslizou dois dedos para dentro, girando-os lentamente. Ele mordeu o
mamilo delicadamente, e eu tremi e me contorci.
— Ah, caralho — arfei.
Ele soltou e subiu em meu corpo novamente.
— Seu corpo me diz tudo que eu preciso saber, gata. Agora vou dar a você tudo que quer.
Quando a ponta quente do pau dele pressionou a minha entrada, achei que pudesse morrer com o alívio doce e esmagador. Ele penetrou com facilidade, e o ar saiu de
dentro de mim em um grunhido. Eu estava perdendo a noção da realidade rápido demais. Enterrado dentro de mim, ele girou os quadris. O movimento possessivo não ajudou
em nada minha sanidade. Depois, ele me beijou em todos os lugares — meu rosto, meus ombros, meu pescoço.
— Blake, por favor, me deixe tocar em você. Eu preciso.
Com o corpo encaixado fundo dentro do meu, reconheci a vulnerabilidade nos olhos dele quando ele concordou com a cabeça. Abaixei os braços, e os músculos dos meus
ombros estavam doloridos por causa daquela posição. Ele soltou os braceletes, me libertando rapidamente. No segundo em que ele o fez, enfiei uma mão pelos cabelos
dele e o puxei até minha boca para um beijo quente.
Como se aquele pequeno gesto fosse um sinal verde para ele me foder até eu ficar fora de mim, ele segurou meu quadril e se afundou dentro de mim.
Investidas profundas e poderosas, que me empurraram sofá acima até a outra mão dele pressionar o braço do sofá. O apoio permitia que ele me fodesse ainda com mais
força, me tomasse ainda mais fundo.
— É isso que você quer, linda?
— Sim — gemi. — Céus, sim.
Arranhei as laterais do corpo dele, querendo marcá-lo. Prendi os quadris dele entre minhas coxas, acelerando os movimentos dele em mim. Eu precisava senti-lo, nós
juntos, tudo desaparecendo dessa maneira abençoada.
— Nunca pensei que poderia amar alguém como eu amo você, Erica... Céus, você não tem ideia do que faz comigo.
Tremi, e a profundidade da penetração dele enviava ondas de prazer como eletricidade pelo meu corpo. Eu estava perdida naquela sensação. Agarrei os cabelos dele
pela raiz, meu sexo se contraía em torno dele. Tudo desandou. Cada barreira, todo meu orgulho. Nada importava, só isto...
Sem avisar, Blake se ergueu sobre os joelhos. Ele segurou meus tornozelos, colocou-os em seus ombros. Na investida seguinte, entrei em órbita. Ele estava muito fundo.
Ele deslizou uma mão por entre nós e desenhou círculos pequenos em meu clitóris. Cores passaram por trás dos meus olhos. Comecei a me perder. O orgasmo estava tão
perto que eu podia sentir seu gosto. Podia sentir desde as pontas dos meus dedos das mãos até os dedos dos pés.
— Blake.
O nome dele saiu dos meus lábios como uma súplica.
— Me diga o que você quer.
— Forte! — gritei, o clímax já me rasgando por dentro.
Minhas costas saíram completamente do sofá, e meus músculos entraram em espasmos descontrolados.
Com um rosnado feroz, ele se agarrou à carne dos meus quadris. Com as duas mãos, ele me puxou de volta para o pau dele e me fodeu com mais força do que eu já tinha
sido fodida em toda minha vida. O pau dele se alongava dentro de mim, atingindo o meu cerne daquele jeito delicioso que sempre acontecia segundos antes dele gozar.
Ele xingou, pulsando dentro de mim. Olhando para cima, ele recuperou o fôlego. Ele parecia tão destruído quanto eu me sentia. Deslizando para fora de mim, ele desabou
no sofá. Com as mãos na cabeça, ele soltou um respiro instável.
— Por quê?
Ele virou a cabeça para olhar para mim, e a confusão se misturava à exaustão total em seu rosto.
— Por que o quê?
— Por que você nos privaria disso?
Ele deu uma risada e eu sorri também, exaurida demais para qualquer outra coisa. Então, o sorriso dele sumiu. Ele levou a mão ao meu joelho e acariciou minha perna
delicadamente. Alguns minutos vazios se passaram.
— Não me deixe de novo, Blake — falei baixinho.
Nossos olhos se fixaram um no outro.
— Eu não deixei você.
— Você deixou a nossa cama, e eu não sabia onde você estava.
— Eu não queria ficar longe. Nunca quero ficar longe de você. Você é tudo em que eu penso. Você é a única pessoa com quem sempre quero estar.
— Então por que você foi embora?
Ele sussurrou.
— Se eu fosse para casa, ia foder você até você perder os sentidos.
Dei outra risada, apesar da seriedade que eu estava tentando transmitir.
— Quando isso se tornou um crime?
— Não é, nem de longe, um crime, mas por mais incrível que isso tenha sido — e acredite, foi incrível —, foder você não me daria o que eu queria. No máximo, apenas
complicaria as coisas e confundiria tudo. Nós dois sabemos que sexo não é o problema aqui. Mas eu estava torcendo para que você mudasse de ideia; o quanto antes,
melhor. Eu estava preparado para bater punheta até que você cedesse às minhas demandas, mas não posso dizer que estava ansioso por isso.
Sacudi a cabeça, incrédula.
— E agora, que eu cedi?
Ele escorregou a mão mais para baixo, pegando a minha e entrelaçando nossos dedos.
— Agora posso levar você para casa e mostrar como estou grato até o sol raiar.
***
Me arrumei para trabalhar e fui até a cozinha me juntar a Blake. Vê-lo ali servindo café me fez perceber ainda mais o quanto aquele breve distanciamento tinha sido
terrível. Eu queria Blake em minha vida, todas as manhãs, todas as noites e todos os minutos que pudéssemos roubar nas horas vagas. A vida de casados, eu supunha,
se encaixaria como uma luva nessa ideia. Uma leve animação passou por mim com aquele sentimento.
Dei a volta na ilha central para pegar meu café, e ele me puxou mais perto para um beijo. Me derreti nele. Os lábios de Blake se demoraram, e sua língua me provocou.
Lembranças da noite passada rodopiaram em minha mente. Cada toque, cada momento incrível. Agora eu queria que tivéssemos tempo para mais. De qualquer forma, o fim
de semana estava chegando e poderíamos passar pelo menos um pouco dele na cama. Eu queria Blake ao meu lado, mas também queria recuperar um pouco do sono atrasado.
Eu não havia dormido direito desde a viagem a São Francisco, e a fadiga estava me pegando.
— Estou exausta.
Saí do abraço dele e me sentei em uma das banquetas da ilha com meu café.
— Somos dois. Por que você não fica em casa?
— Alguns de nós têm que trabalhar, querido.
Um silêncio confortável se instalou enquanto tomávamos nossos cafés.
— Quando James vai embora?
Apertei o maxilar, e a amargura remanescente por James ir embora se infiltrou.
— Para falar a verdade, eu queria conversar com você sobre isso.
Ele soltou a caneca com um ruído alto. As sobrancelhas dele se ergueram desafiadoras.
— Não é o que você está pensando — garanti a ele.
— O que é, então?
— Pedir para James ir embora não era algo que eu queria fazer, mas fiz por você.
— Por nós — disse ele.
Soltei uma expiração pesada.
— Que seja. Mas é difícil, para mim, não traçar paralelos com a sua situação com a Sophia.
Ele me deu uma olhada indiferente antes de se virar para encher a caneca novamente.
— Ela mora em Nova York.
— E você já dormiu com ela. Tem uma história com ela. Teve um relacionamento sexual e romântico com ela. Mesmo que eu não a detestasse pessoalmente, me incomodaria
saber que você ainda a vê... esporadicamente ou não.
Ele se virou e se apoiou no balcão. A pose era casual, mas eu podia sentir a tensão se agitando debaixo das roupas dele. Eu odiava o que o nome daquela mulher causava
no ambiente. Também odiava as roupas dele. Essas conversas pareciam fluir melhor quando estávamos pelados.
— O único motivo pelo qual eu ainda a vejo é profissional. Já disse isso a você. Por que você continua tocando nesse assunto?
— Porque sou humana e, assim como você, tenho ciúme de qualquer um que queira o que é meu. Você é meu, e nenhum de nós pode negar que ela quer você. Você pode passar
o dia todo alegando que vocês são só amigos, mas eu poderia dizer o mesmo sobre James, e as palavras entrariam por um ouvido seu e sairiam pelo outro.
— O que você quer que eu faça com relação a isso?
Contornei a borda da caneca, repentinamente morrendo de medo de estar dançando na beira do abismo do desastre novamente tão pouco tempo depois de termos nos entendido.
— Há quanto tempo você investe no negócio dela?
— Quatro anos.
Acenei positivamente com a cabeça.
— É bastante tempo.
— Aonde você quer chegar, Erica? Desembuche.
— Eu gostaria que você considerasse se retirar do negócio dela. Não estou dizendo que quero que a empresa dela sofra, mas não deixo de sentir que manter essa conexão
com você funcione como um salva-vidas para ela. Como se a chance de tentar ter você de volta sempre existisse para ela.
— As chances de voltarmos são zero.
— Você contou a ela que vamos nos casar?
O maxilar dele se contraiu. Ele se afastou do balcão e jogou o restante do café na pia.
— Você é um pé no saco, Erica. Tem noção disso?
Dei uma risada, aliviada por ter algum alívio cômico.
— Faça o que quiser, Blake. Só estou contando a você como me sinto. Você quer que eu seja honesta com você, então estou sendo. Fiz um sacrifício pelo bem do nosso
relacionamento, e esses sacrifícios são mais fáceis quando não há dois pesos e duas medidas.
Ele deu a volta na ilha e parou na minha frente. Olhando para baixo, os olhos dele brilhavam de bom humor. Algo mudou nele, e eu já estava adorando.
— Vou pensar no caso.
— Obrigada — murmurei, me inclinando para beijá-lo na boca.
— Isso deixa você feliz?
Sorri.
— Você me deixa feliz, então, sim. Quanto menos eu tiver que dividir você, melhor.
Ele emitiu um ruído apreciativo e se abaixou novamente para me beijar, passando a língua pelo meu lábio.
— Que tal eu fazer você feliz mais uma vez antes de irmos trabalhar?
CAPÍTULO 13
A manhã de trabalho foi atarefada. Em sua maior parte, tudo estava nos conformes. Blake e eu estávamos bem, James e eu tínhamos um acordo, e eu estava pronta para
seguir em frente com minha vida. Depois do almoço, Daniel me mandou uma mensagem no celular para me lembrar da reunião que tínhamos marcado para aquela tarde.
Xinguei a mim mesma por ter esquecido. Saindo do prédio, peguei um táxi para o Q. G. da campanha de Daniel. Por mais que eu não precisasse de um segundo emprego,
ter visto a energia esgotada do seu assistente de campanha tinha me deixado com pena dele. Sem delongas, ele me guiou pelo burburinho do Q.G., que sempre me deixava
aflita.
— Ótimo vê-la de novo, Erica.
Will fechou a porta. Passando a mão pelos cabelos loiro-escuros e geralmente bagunçados, ele se acomodou atrás da mesa.
Me sentei de frente para ele e tirei meu caderno.
— Digo o mesmo. Como andam as coisas?
— Bom, como você com certeza sabe, estamos no meio dos debates.
Ele jogou as mãos para o alto.
Curvei meus lábios para cima.
— Não, eu não sabia. Isso é bom?
Ele ergueu as sobrancelhas. Ele ainda pensava que este era um trabalho importante para mim, não uma situação na qual Daniel tinha me coagido a entrar, o que explicaria
minha total falta de conhecimento sobre a campanha e seu andamento atual. Se eu quisesse informações, sabia onde procurar, mas nada relacionado à disputa pelo cargo
de governador de Massachusetts me interessava, mesmo que meu pai biológico fosse um candidato proeminente.
— Até agora, sim, é bom. O sr. Fitzgerald está vencendo a maioria deles. Temos uma posição importante na disputa e, com apenas mais um mês de campanha, queremos
que essa última investida seja o que vai solidificar a vitória.
— É claro.
Eu ainda não sabia ao certo como me sentia com relação a Daniel ganhar ou perder. Ele era meu pai e, apesar de ser um sociopata assassino, parte de mim queria torcer
por ele. Afastei o pensamento estranho da minha cabeça e pedi que Will me contasse mais. Eu não estava antenada há semanas. Graças a Deus, Daniel tinha me dado um
pouco de espaço, mas eu tinha a impressão de que isso não duraria muito.
Will passou a próxima hora me deixando a par de tudo. Criamos estratégias e trocamos ideias. De alguma forma, consegui traçar alguns paralelos entre meu próprio
empreendimento e os objetivos de marketing de Daniel e, quando fui embora, eu tinha armado Will com algumas novas iniciativas para seguir em frente até nossa próxima
reunião, dentro de uma semana.
O ruído constante da área além do pequeno escritório de Will pareceu aumentar. Sentindo uma mudança, desviei o foco do assistente. Do outro lado das janelas de vidro
do escritório, algumas pessoas se aglomeravam perto da entrada, onde Daniel agora estava. Ele parecia imponente como sempre em um terno impecável, mas sua postura
era casual. Os lábios dele se moviam silenciosamente. Então, seus olhos azuis encontraram os meus, e seu sorriso pareceu aumentar um pouco. Alguns segundos depois,
ele se juntou a nós no escritório de Will.
Fiquei parada desajeitadamente. Eu deveria apertar a mão dele?
— Will, um dos nossos estagiários lá fora tem algumas perguntas sobre uns releases que saíram hoje. Citações e coisas assim. Você pode cuidar disso? Me dê um minuto
para conversar com Erica.
— Claro. Fiquem à vontade.
Will se levantou rapidamente, pegando seu celular e uns papéis.
Por mais desconcertante que a presença de Daniel às vezes pudesse ser, relaxei quando Will levou seu estresse para fora do escritório. Daniel se recostou na cadeira,
pernas cruzadas, tamborilando os dedos no joelho.
— Como você está?
— Estou bem.
— Como está Blake?
Dei uma olhada preocupada na direção dele. Ele riu em silêncio. O humor dele parecia leve, mas, por força do hábito, eu fazia todos os contatos diretos com ele,
especialmente relacionados a Blake, com cautela. Talvez eu ainda estivesse um pouco chocada com algumas das nossas outras reuniões menos civilizadas.
— Só estou perguntando. Na última vez em que conversamos, você me disse que vocês estavam noivos. Alguma novidade quanto a isso?
Inspirei, o alívio diminuindo a preocupação de que ele ainda nutria um ressentimento sério para com o meu noivo.
— Hmm, não. Nada de mais. Como está Margo? — perguntei, querendo mudar de assunto.
Daniel desviou o olhar de mim.
— Está se conformando. A eleição tem sido uma dádiva para ela, dando-lhe algo em que focar suas energias, graças a Deus.
— Isso é bom, suponho.
— Para falar a verdade, ela me perguntou de você outro dia.
Eu não via Margo há semanas, desde antes da morte de Mark. Nenhuma parte de mim queria encarar a mulher que deu à luz meu estuprador, sabendo que nossa infeliz conexão
foi aquela que acabou levando à morte dele. Eu não conseguiria ver o sofrimento nos olhos dela e sofrer junto. E não conseguiria fingir que não sabia que eu era
o motivo pelo qual ela agora não tinha mais filhos.
— Ela sabe que estou trabalhando com você na campanha?
Ele assentiu com a cabeça.
— Sabe. Você e Will resolveram os detalhes?
— Sim, acho que bolamos um bom plano para nossos próximos passos. Se as coisas continuarem indo bem fora do alcance virtual, parece que nossos esforços podem colocar
você na ponta. Digo, nunca fiz isso em política, mas eu diria que é promissor.
— Excelente. É isso que quero ouvir. Fico feliz por termos conseguido resolver isso, de um jeito ou de outro.
Rabisquei em meu caderno. Ele estava feliz agora, mas fizera da minha vida um inferno para me fazer trabalhar com ele, sendo que podia simplesmente ter pedido gentilmente.
Sem o assassinato e a violência e as ameaças de morte, que eu esperava que estivessem seguramente no passado.
— Erica.
Ergui o queixo com o tom mais agressivo dele.
— Ajudaria se eu dissesse que lamento? Por tudo que aconteceu?
— Estou aqui agora. Isso não é suficiente? Preciso ficar feliz com relação a isso também?
— Eu me sentiria melhor se você estivesse feliz. Se ganharmos, haverá muitos motivos para ficarmos felizes.
Tentei imaginar isso por um momento. Eu não tinha certeza se minha visão de vitória se alinhava com a dele.
— Você realmente acredita que vencer essa eleição vai lhe trazer felicidade?
Uma ruga profunda marcou a sobrancelha dele, e ele se levantou.
— Tenho um dia cheio. Preciso revisar algumas coisas com Will antes de ir, mas foi bom ver você.
Peguei minha bolsa rapidamente, enfiando meu caderno nela, enquanto me levantava.
— Vejo você mais tarde, então.
Passei por ele, seguindo na direção da porta. Ele colocou a mão em meu cotovelo e eu me desvencilhei. Meu coração acelerou com a lembrança da última vez que ele
me tocara, me sacudindo de raiva.
Olhei para trás. Nossos olhares se fixaram um no outro.
— Mesmo que isto não signifique nada pra você, que você não esteja necessariamente feliz por estar aqui, quero que você saiba que estou contente por você fazer parte
disso.
Dei um aceno curto com a cabeça e segui em frente.
Acenei um “tchau” para Will e saí o mais rápido que pude. Quando saí, avistei a figura de Daniel observando minha saída, e sua expressão estava impassível.
***
Entrei no apartamento e senti o cheiro saboroso do jantar, e jazz tocava baixinho como som ambiente. Blake estava na cozinha com uma expressão de concentração em
seu rosto enquanto dava os toques finais em dois pratos.
— O que é tudo isso?
Larguei a bolsa e me apoiei na ilha central para observá-lo.
— Se eu fiz tudo certo, deve ter cara e gosto de bife wellington. Julia Child estaria orgulhosa, eu acho.
Dei um sorriso torto, apaixonada pelo ato e um pouco orgulhosa também. Não surpreendentemente, Blake era ótimo em qualquer coisa que resolvesse fazer.
— Se eu soubesse que ficar de quatro iria resultar em refeições caseiras todas as noites, teria feito isso antes. Você sabe que a comida é a estrada para o meu coração.
Ele sorriu.
— Olhe essa boca. Pode ser que eu tenha que puni-la depois.
Emiti um ruído apreciativo, dando uma risadinha.
— Parece intrigante. Espero que você a use direito.
Ele me deu uma olhada sombria.
— Não confunda minha destreza culinária com fraqueza, docinho.
— Eu não ousaria. Tudo que você faz é perfeitamente dominador. Só não me faça chamar você de “mestre” enquanto comemos, está bem?
Parei atrás dele e envolvi seu peito com meus braços, dando um abraço, enquanto ele colocava pequenos raminhos de ervas em cima de nossos pratos.
— É justo. Venha comer — disse ele.
Soltei-o e caminhamos até a mesa. Minhas bochechas ficaram quentes com a lembrança de ter sido amarrada àquela mesma mesa, depois de ter chegado em casa e encontrado
um Blake bem menos amigável.
— No que você está pensando?
Arregalei os olhos como se tivesse sido pega bem no ato.
— Hmm... Na mesa.
Ele riu e colocou um pedaço de carne na boca.
— Está tentando fazer a gente engolir essa refeição gourmet com pressa para que eu possa amarrar você, gata?
— Não. Eu gostaria de relaxar um pouco antes de você começar a praticar seus exercícios com corda. Afinal, por que você está tão alegre?
Ele se recostou na cadeira.
— Max está fora.
Minhas sobrancelhas se ergueram de imediato.
— Fora da Angelcom? Isso é incrível. Como você fez?
— Infelizmente, minha conversa com Michael foi bastante infrutífera. Ele disse exatamente o que eu achava que ele ia dizer. Sempre quer que a gente se entenda, não
se envolve. Então, eu dei um jeito.
— Como?
— Eu estava conversando com Heath sobre retirar nosso investimento da empresa de Sophia. Ele também investiu, você sabe. Não tenho certeza se isso pode ser feito
sem...
— Espere, o que isso tem a ver com Max?
— Basicamente, dei uma olhada em todos os investimentos que compartilho com os membros dissidentes da diretoria e descobri as piores manobras que eu podia aplicar
a cada um deles. Algumas conversas depois, tive consentimento.
— Uau. Você luta sujo.
— Isso surpreende você?
— Não — admiti.
Ele deu de ombros.
— Eu podia ter hackeado as contas bancárias deles e limpado todo mundo. Fui legal.
— Você contou a Max?
Ele meneou a cabeça, e a subcorrente de contentamento ainda brilhava em seus olhos. Eu odiava Max, é claro. E adorava ver Blake finalmente feliz depois do que passou
por causa dele.
— Pedi que um de nossos administradores mandasse uma cópia da nossa ata a ele com nossas sinceras desculpas. Ele vai entender o recado.
Mastiguei em silêncio por um instante, tentando imaginar a reação de Max às notícias. Fiquei me perguntando se ele se importava tanto em ser expulso quanto Blake
se importava em tirá-lo de lá. No mínimo, a Angelcom era um canal majoritário para os negócios de Blake, o que dava a Max oportunidades de machucá-lo de novo no
futuro. Sem acesso a isso, Blake estava mais seguro. Nós estávamos mais seguros.
— Você deve estar aliviado.
— Estou. E estou esperançoso também, porque, enquanto estávamos votando os cargos da diretoria, eu os fiz acrescentar uma pessoa nova.
— Quem?
— A futura sra. Blake Landon, é claro.
Fiquei olhando para ele chocada, buscando palavras.
— Acho que alguns dos problemas de confiança que temos talvez tenham origem no fato de que eu estou envolvido no seu trabalho e você não tem, teoricamente, nenhum
envolvimento no meu. Fico feliz que você tenha vindo até mim, Erica. Não consigo expressar a você o alívio que isso me deu. Mas não quero que você pense que não
tem poder algum em nosso relacionamento, que você não tem voz. E não quero desencorajar o seu crescimento como empreendedora. Foi esse espírito que me atraiu em
você, afinal, então, a última coisa que quero fazer é apagar essa chama em você. Pensei a respeito disso e acho que um cargo na diretoria seria o lugar perfeito
para você participar com sua experiência em startup.
Larguei o garfo e engoli o aperto na minha garganta. Aquelas palavras e aquele gesto eram quase demais para eu processar imediatamente. Tudo que eu temia ser tirado
de mim parecia tão mais seguro nas mãos de Blake. Sob o controle dele. Talvez tudo que eu precisasse fazer era abrir mão de um pouco de controle para que ele voltasse
para mim de um jeito diferente.
— Obrigada. Fico lisonjeada por você sequer considerar isso. Mas você tem certeza? Digo, eu já sinto que tenho dificuldades imensas nesses eventos do setor. Não
consigo me imaginar sentada em um conselho e me manter lá. Me envolver nesse nível é uma decisão importantíssima.
— Pedi-la em casamento foi uma decisão importantíssima. Agregar você à diretoria foi fácil. Você vai dobrar esses caras rapidinho. Você é esperta e linda, atrevida
pra caramba. Eles não vão saber o que fazer com você, da mesma maneira que eu mesmo não sei, boa parte do tempo. Mal posso esperar para me sentar na cadeira e observar,
para falar a verdade.
— Mas não são todos investidores? Não sou investidora. Que espaço eu tenho?
— Você é minha esposa, ou vai ser. E é isso que eu faço. Eu encontro novos projetos para investir. Quando eu decidir soltar um ou cinco milhões em um novo projeto,
você vai fazer parte do processo decisório agora.
Brinquei com o guardanapo no meu colo.
— Não tenho intenção alguma de arruinar esta noite incrível, mas talvez este seja um bom momento para conversar sobre isso. Digo, suponho que você vá querer fazer
um acordo pré-nupcial, certo?
Não tínhamos conversado sobre a propriedade de bens ou qualquer uma dessas coisas desde que Blake tinha me pedido em casamento. Eu não tinha certeza se eu sequer
conseguiria, um dia, equiparar a desigualdade entre nós quando se tratava de dinheiro. Por mais que ele me garantisse que aquilo não significava nada, eu queria
conquistar meu espaço, fazer minha contribuição para nossas vidas.
O calor dos olhos dele diminuiu um pouco, com uma seriedade se instalando neles.
— Não se engane, o que é meu é seu. Não preciso de um documento legal para fazer eu me sentir mais seguro. Se você decidir se separar de mim e me depenar, não acho
que qualquer quantia de dinheiro amenizaria a dor de perder você. Não é uma questão para mim.
— Isso parece impetuoso. Você passou metade da sua vida acumulando sua fortuna e quer arriscar tudo agora?
— Você é um risco? Geralmente, quando você me deixa, você só leva o meu coração. Esse é o maior risco de todos, eu diria.
Joguei o guardanapo na mesa e olhei para além dele, odiando o lembrete recente de como eu o machucara antes. Antes que eu pudesse fazer mais bico ainda, ele segurou
minha mão e me puxou para seu colo.
— Não quero conversar sobre os “e ses” de não ficarmos juntos, de forma alguma. Eu te amo. Quero me casar com você. Nada é tão importante quanto fazer isso acontecer.
Esse laço, essa promessa, é a única papelada que estou interessado em ter entre nós.
Suspirei. Eu não ia ganhar essa discussão. Coloquei uma mão no peito dele, sentindo o sobe e desce lento de sua respiração. O coração dele batia ali, alimentando
a carne e o sangue do homem que eu amava tanto, que chegava a doer.
— Espero que você saiba que eu nunca iria...
Ele colocou um dedo nos meus lábios.
— Confio em você, e acredite em mim quando digo que não estou preocupado com isso. Quanto à Angelcom, é algo que você quer fazer? Digo, eu queria fazê-los aceitar
você enquanto ainda tenho as bolas deles nas minhas mãos, mas se você realmente não quiser, não precisa.
— Acho que vai ser divertido. E concordo que seria legal ter mais proximidade com tudo que você faz. É assustador, é claro, mas seria uma boa experiência para mim.
Você já me ensinou tanto.
— Ótimo.
Ele passou a mão pelos meus cabelos e me puxou para um beijo. Minha mente girou de leve enquanto eu me deleitava na maciez dos lábios dele. Ele me segurava com firmeza,
mas com ternura, me ancorando contra ele. Em meio àquele momento gostoso entre nós, tropecei em todo esse... progresso. Aquela parte de mim que queria se conter
e me proteger por tanto tempo agora parecia muito pequena, quase infantil. Dar a Blake minha confiança, toda ela, já mudara as coisas entre nós, mais do que eu conseguia
imaginar. De um jeito ótimo.
Essa mudança me lembrou de algo menos positivo. Me afastei, estudando os olhos dele.
Ele ergueu a mão e tirou uma mecha de cabelo do meu rosto.
— Está tudo bem?
— Eu queria falar com você sobre uma coisa.
Me mexi para sair do colo dele, mas ele me manteve ali.
— Conte.
Hesitei por um momento.
— Isaac foi ao escritório ontem.
— Foi, é?
O desgosto que saiu dos lábios dele era menos uma pergunta e mais uma ameaça. Brinquei com o tecido da camiseta dele. Eu não tinha certeza se gostava de conversar
sobre pessoas que ele detestava tão de perto.
— Ele entrou em contato comigo umas duas semanas atrás. Eu o ignorei no começo, sem saber como eu queria lidar com ele, visto o que ele fez.
— Você não falou nada.
— Não falei, mas estou falando agora. — Olhei nos olhos dele, tentando expressar que isso também era um progresso, mesmo que se tratasse de notícias de que ele não
gostava. — Eu não queria chatear você e também queria pensar um pouco sobre isso sozinha. Ele quer ser nosso anunciante. Não seria uma conta pequena, também. Abrangeria
todas as publicações relevantes para o nosso mercado, o que seria uma ação enorme para nós.
— Você não pode aceitá-lo como anunciante.
A voz dele era seca, sem sombra de dúvidas.
— Eu tinha a impressão de que você diria isso e entendo seus motivos. Obviamente, eu os compartilho. Talvez isso não pareça relevante, mas ele parecia realmente
sentir muito. Com exceção daquele incidente, ele parece bastante inofensivo.
— Alguém com tanto dinheiro e poder está longe de ser inofensivo.
— Então, com todo seu dinheiro e poder, o que faz de você diferente?
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Eu pareço inofensivo para você? Só porque estou apaixonado por você não quer dizer que eu hesitaria em destruir alguém que me ameaçasse, ou ameaçasse você, ou
qualquer uma de nossas empresas.
— É bem verdade. Isso nos ajudaria a preencher a lacuna na nossa renda, enquanto implementamos essas mudanças com Alex, mas acho que é um risco que não vale a pena
correr.
— Você pagaria por isso mais tarde, posso garantir. Tudo tem seu preço.
Eu o estudei por um momento.
— O que rolou entre vocês?
— Como se ter agarrado você à força não fosse motivo suficiente para odiar o homem?
Inclinei a cabeça, em um pedido silencioso pela sinceridade dele.
— Sei que tem mais. Você o conhecia antes e já não gostava dele.
Ele suspirou e me soltou. Ele deu um tapinha na minha bunda de um jeito que dizia “xô”.
Franzi o cenho.
— Não. Pode me contar enquanto estou bem aqui no seu colo.
A expressão dele não mudou por um momento, e eu fiquei preocupada que ele não concordasse. Finamente, ele soltou um respiro e começou a falar.
— Desde que conheço a Sophia, Isaac faz parte do círculo de amigos dela. Ela posava para as fotos dele, e eles se conheciam há um tempo. Quando eu terminei com ela,
ele apareceu para resgatá-la. Ele bancou o herói e, ah, desempenhou um papel formidável. Tenho certeza de que ele só queria comê-la e, vai saber, talvez ele tenha
comido mesmo. Quando terminamos, ele se certificou de me demonizar para ela e para outras pessoas. Eu realmente não ligava para o que todos os outros pensavam. Eu
me preocupava mais que ela sentisse que eu a abandonei.
— Mas você não abandonou.
— Eu disse a você antes, ela não aceitou muito bem. Ela não estava mais usando drogas quando terminamos e não conseguia entender. Foi preciso muita força de vontade
da minha parte para não voltar com ela só para que ela não sofresse. Mas não foram só as drogas. Na real, isso foi a gota d’água. A distância quando ela estava na
reabilitação só evidenciou o quanto nós éramos diferentes. Como nunca teria dado certo.
— Você a amava?
Ele apertou os lábios.
— Não sei. Dizíamos isso, mas não posso dizer a você se o que eu sentia era amor. Eu queria cuidar dela e ela progredia quando era cuidada. Deu certo por um tempo,
mas não posso dizer que aquilo era amor. Não era nem perto do que nós temos, Erica.
Mordi o lábio, tentando fortemente ignorar o ciúme que tomava conta de mim.
— Pensei no que você disse, sobre sair da agência dela. Financeiramente, seria prejudicial para ela se eu fizesse isso. Tenho mais ações que qualquer outra pessoa.
Investi pesado quando ela começou para ajudá-la a decolar. Além disso, Heath também investiu. Não sei ao certo o que ele pensa sobre isso, mas ele parece hesitante.
O relacionamento deles é diferente. Eles têm mais uma amizade, uma conexão que ela não tinha comigo. Talvez por eles terem passado por uma época difícil em suas
vidas juntos e terem superado. Não sei, mas parte de mim não quer pressionar Heath, se não for necessário.
Olhei para além dele, tentando esconder minha decepção. Fazer James trabalhar em casa também não era lá muito conveniente para mim. Apertei os lábios em uma linha
fina, enquanto o ressentimento se instalava. Blake deslizou a mão pelo meu rosto e me virou de leve, recobrando minha atenção.
— Entendo por que isso incomoda você, então vou ver o que posso fazer. Talvez dê para ser feito mais gradualmente para que não tenha um impacto tão dramático nos
negócios dela.
— Você ainda cuida dela.
Ele ficou levemente tenso.
— Talvez. É difícil se livrar dos velhos hábitos.
— Ela não é tão indefesa quanto parece. Se você visse como ele falou comigo... Ela pode ser cruel de verdade. Se ela usar aquela personalidade na vida profissional,
vai se sair bem.
— O ciúme pode transformar as pessoas em versões terríveis delas mesmas.
Meus pensamentos revolveram em torno daquele sentimento. Eu tinha sido forçada a expulsar James do escritório para satisfazer o ciúme do próprio Blake. Empurrei-o
bruscamente, apesar do esforço dele em me manter ali.
Quando cheguei na cozinha com toda intenção de limpar tudo até não estar tão furiosa, ele estava atrás de mim. Ele me virou e me empurrou de volta para o balcão.
— Pare.
— Parar com o quê? — ralhei.
— O que você quer que eu faça? Destrua a empresa dela?
— Você é esperto, Blake. Acho que vai pensar em alguma coisa. Faça um plano de pagamento para ela. Faça-a pedir um empréstimo. Talvez ela possa começar a vender
aquela coleção de sapatos de grife, que imagino ser considerável. Mas não quero as garras dela em você nunca, de jeito nenhum.
Ele revirou os olhos.
— Ela não está com as garras em mim. Porra, você está. Nesse exato minuto.
Dei uma olhada severa para ele. Eu não ligava para o que ele estava dizendo. As garantias dele eram uma perda de tempo se sempre que meu caminho se cruzasse com
o de Sophia, a expressão no rosto dele me contasse uma história diferente. Até que ele tivesse cortado relações com ela, ela sempre estaria na minha frente.
— Você é meu, e na próxima vez que eu vir a cara dela, quero que ela saiba disso. Pode me chamar de ciumenta, e se isso fizer de mim uma pessoa terrível, que seja.
Ele colocou meu cabelo atrás da orelha.
— Gosto que você seja protetora. Isso não faz de você uma pessoa terrível.
— Então corte relações com ela. Por favor.
Amoleci nos braços dele, querendo que ele simplesmente fizesse a coisa certa.
Um longo momento se passou. Meu ressentimento derreteu e se transformou em uma poça de decepção.
— Está bem.
Ergui os olhos, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, os lábios dele estavam em mim, me silenciando, me dando tudo que eu queria.
CAPÍTULO 14
Marie estava parada atrás de mim, enrolando pequenas mechas do meu cabelo. Alli estava com uma expressão concentrada no rosto enquanto colocava um pouco de cor nas
minhas bochechas.
— Você está fazendo alarde demais, Alli. É uma festa de noivado, não o grande dia. Estou bem.
Ela se afastou, a cabeça inclinada para o lado.
— Agora está. Você está perfeita. E também é bom você se acostumar. Casamento é tipo uma formatura mil vezes maior.
Meus lábios se ergueram em um sorriso.
— Era isso que eu temia. Se você continuar dizendo coisas assim, vou aceitar a oferta de Blake de fugirmos.
Fiona ergueu os olhos de onde estava sentada com mais uma revista de noivas no colo.
— Você não faria isso!
— Não — concordei. — Vocês são as únicas amigas que tenho, e se eu privasse vocês desse casamento, tenho certeza de que nenhuma de vocês jamais falaria comigo de
novo.
— Besteira. — Alli afofou um cacho que Marie tinha acabado de enrolar. — Mas é melhor irmos comprar vestidos logo. Acho que o segredo é fazer você entrar no clima
do casamento.
Suspirei.
— Talvez você tenha razão. Talvez eu devesse dar uma olhada nas revistas para ter ideias. Eu nem sei por onde começar.
— Bom, não se esforce demais, porque Alli e eu já escolhemos praticamente tudo para você — intrometeu-se Fiona, seus olhos brilhando de alegria.
Dei uma risada.
— Está bem.
— Cetim e tomara que caia.
Fiona abriu a revista em uma página, me mostrando a foto de uma linda noiva modelo.
— Hmm, bonito. E que tal renda?
Alli arregalou os olhos de leve.
— É isso que você quer?
— Não sei, talvez. Acho que Blake gosta de renda.
— Deve ser de família — caçoou Alli, com os olhos brilhando.
Dei uma risada, tentando me manter imóvel para que Marie não me acertasse sem querer com o ferro quente.
Fiona não se esforçou em esconder o nojo.
— Deus, esta conversa tem que terminar. Por favor. Vocês vão me fazer ter pesadelos.
Alli e eu rimos, dando uma olhada uma para a outra.
A porta, então, se abriu, e Heath enfiou a cabeça para dentro.
— Minha mãe queria que eu dissesse a vocês que as pessoas estão começando a chegar, então venham assim que estiverem prontas. Não as façam esperar demais para conhecer
nossa convidada de honra.
Ele piscou.
— Vá embora, Heath. Você vai deixá-la nervosa — disse Fiona.
— Está tudo bem. Tenho carisma líquido bem aqui — falei, erguendo minha taça de champanhe.
Marie soltou o último cacho.
— Você não precisa de carisma líquido. Todo mundo vai amar você.
Fiquei quente com as palavras dela. De todas as pessoas ali, Marie era minha única família, embora quanto mais eu pensasse no assunto, mais a linha entre a família
de Blake e a minha começava a sumir. Alli vivia nos dois mundos, junto comigo, e eu estava longe de ser uma estranha na vida dos Landon. Eles eram uma família calorosa
e receptiva, à qual eu pertencia cada vez mais, a cada dia que passava. A ausência dos meus próprios parentes importava pouco, e as vezes que eu lamentava por não
ter uma família mais normal eram cada vez mais raras.
— Logo vamos. Assim que estivermos lindas.
Alli passou os dedos pelos cabelos já perfeitamente lisos.
— Você já é linda, gata.
Heath deu um sorriso malicioso, com os olhos fixos em Alli.
Ela ficou vermelha, fingindo ignorá-lo.
— Que nojo, saia daqui.
Fiona jogou uma almofada na direção da porta, errando o alvo, quando ele a fechou, rindo alto do outro lado.
Marie enrolou a última mecha do meu cabelo.
— Você está pronta, minha menina.
Levantei, assimilando minha aparência mais uma vez. Eu não estava tão preocupada com minha aparência quanto estava com meu comportamento na frente de todos os amigos
e parentes dos Landon. Isso seria uma sobrecarga familiar, mas eu estava mais pronta do que nunca.
Alli enganchou o braço no meu e me deu um cutucão de leve.
— Vamos lá embasbacar toda a árvore genealógica dos Landon.
— Estou pronta. Vamos.
Blake nos encontrou quando saímos do quarto extra onde eu e as meninas tínhamos nos instalado para nos arrumarmos. Ele estava delicioso, de jeans escuro e uma camisa
de listras finas com as mangas dobradas e solta na cintura. Ele ficaria lindo em um saco de aniagem, em uma toga, basicamente em qualquer coisa. Enquanto todo mundo
seguiu casa adentro, eu fiquei para trás para curtir um momento com ele.
— Você está estonteante. Mal posso esperar para exibi-la — disse ele, seus olhos escurecendo.
— Gostou?
Olhei para baixo, para o vestido tomara que caia creme que eu estava usando. A renda da parte de cima se encontrava com as camadas da saia, que ia até pouco acima
dos joelhos.
— Amei, pareço até uma noiva. Mas, é claro, amo você mais.
Ele me puxou para perto dele e se abaixou para um beijo carinhoso e cheio de devoção. Aquela sensibilização, o arco sempre presente de energia, crepitou entre nós.
Fechei os olhos e me afundei naquele abraço. Ele contornou a junção dos meus lábios com a língua. Suspirei e os abri para ele, acolhendo o gosto doce dele.
A língua dele mergulhou ainda mais fundo, explorando e mordiscando. Gemi de leve, ficando nas pontas dos pés. Ele se afastou um pouquinho, sacudindo a cabeça.
— Vamos, antes que eu decida raptar você daqui para fazermos amor.
Eu nem discutiria, se não soubesse que os pais dele estavam nos esperando e já tinham dedicado muito tempo planejando a festa.
— Alli passou os últimos vinte minutos fazendo minha maquiagem. Ela me mataria. Sem contar os seus pais e todos os outros.
Ele fez uma pausa.
— Você está nervosa?
Dei de ombros.
— Um pouco, talvez. Não conheço a maioria das pessoas.
— Vai conhecer logo. A maioria são amigos dos meus pais de quando eu era pequeno. Eles vão adorar você.
Ele uniu nossas mãos, entrelaçando nossos dedos. Peito contra peito, não fizemos menção alguma de nos mexer. Eu podia ficar assim, me escondendo nos braços dele,
o dia todo. Como se o resto do mundo não existisse.
— Eu te amo, Blake. Dizemos isso o tempo todo, mas, às vezes, eu gostaria de poder demonstrar mais a você. Nada parece ser suficiente.
Ele ergueu minha mão e pressionou os lábios na aliança que decorava meu anelar.
— Você demonstra. Todos os dias, apenas por ficar comigo. E se isso não for suficiente, você tem o resto das nossas vidas para provar.
Sorri calorosamente.
— Parece um bom plano.
— Venha. Vamos lá.
Blake me guiou até a área ao ar livre acoplada à cozinha gourmet e a uma área de refeições impressionante na casa dos Landon. Todos os cômodos combinados tinham
vista para o oceano através de uma parede de janelas. O recinto, que já era amplo, começou a se encher de convidados. Antes que eu pudesse pensar em me apresentar,
Catherine apareceu com o primeiro grupo de amigos. O reconhecimento acendeu o rosto de Blake, e eu me preparei para a primeira das muitas apresentações da noite.
Horas se passaram enquanto pulávamos de um grupo para outro. Os parentes de Blake eram tão gentis e amáveis quanto sua família de primeiro grau. Para eles, Blake
ainda era um homem jovem, um menino. Eu podia ver nos olhos deles e na maneira como eles interagiam com ele, muito informal. Não mais o homem intimidador e dominador
que lutava com unhas e dentes pelo que queria, Blake brincou e até ficou corado algumas vezes quando as pessoas compartilhavam histórias de sua juventude.
Repeti a história de como tínhamos nos conhecido na Angelcom, revivendo aqueles momentos. A atração que tinha provocado nosso interesse inicial um pelo outro só
tinha crescido desde então.
Por fora, Blake era perfeição. Lindo, extremamente bem-sucedido, mais rico do que qualquer coisa que eu pudesse medir e charmoso até não poder mais. Pouquíssimas
pessoas conheciam o coração dele, contudo. A escuridão que habitava ali de vez em quando e a paixão que tinha fortalecido nosso laço. Na imagem que ele pintava de
sua infância, eu via um homem extraordinariamente inteligente buscando por respostas em nosso mundo complicado. E nessa busca, ele tinha perdido um amigo.
Apesar de ele se recusar a conversar sobre isso mais profundamente, eu sabia que ele carregava o peso do suicídio de Cooper consigo. Eu achava, também, que algo
mudara nele quando isso aconteceu. Aquela necessidade de controle tinha nascido ali. Uma determinação fervente de nunca mais passar por aquele tipo de experiência
terrível combinada com a oportunidade que Pope, seu mentor, lhe dera para que ele tivesse sucesso com seu software empreendedor tinham tornado o controle possível
para ele. Agora, ele tinha mais controle do que qualquer pessoa comum poderia querer ter.
Eu estava perdida em meus próprios pensamentos quando a expressão de Blake ficou dura como pedra. Segui a direção de seu olhar e parei abruptamente. Max estava parado
casualmente ao lado de um homem que eu reconhecia de fotos on-line — Michael, seu pai. Vestindo calça cáqui e uma camiseta escura de gola V, Max trazia seu sorriso
charmoso ao recinto. Os dois homens tinham a mesma altura e estrutura corporal, e Michael não era menos atraente que o filho por ser mais velho. Sua pele era bronzeada,
e seus cabelos brancos tinham uma nuance do loiro que desbotara com a idade.
Quando o olhar de Max nos encontrou, ele ficou imóvel por um momento. Michael seguiu na nossa direção. Sem dizer nenhuma palavra, ele puxou Blake em um abraço casual.
O pequeno gesto demonstrava como o relacionamento deles ia além do mundo profissional. Max se virou e se misturou a outro grupo de pessoas na festa.
— Que ótimo vê-lo, Blake. E, é claro, meus parabéns.
Quando Michael se afastou, seus olhos sorriam. Para um magnata, ele era mais caloroso do que eu teria esperado.
— Eu não estava convencido de que você um dia chegaria lá, mas estou muito agradavelmente surpreso.
O olhar dele desviou para mim, com o mesmo calor e a mesma apreciação.
— Você deve ser a adorável Erica de que tanto ouvi falar. Catherine ficou comigo no telefone por quase uma hora na semana passada. Acho que ela queria garantir que
eu viria até aqui, mas é claro que eu teria vindo de qualquer forma. Sou o Michael, a propósito.
Apertei a mão dele.
— Fico muito feliz que você tenha vindo. É maravilhoso finalmente conhecê-lo.
A postura de Blake relaxou apenas um pouco.
— Você não disse que ia trazer Max junto.
Michael deu uma olhada na direção da porta pela qual eles tinham entrado.
— Para ser sincero, eu não sabia que ele viria. Eu disse a ele que estaria na cidade e ele já sabia da festa, então supus que o convite da sua mãe se estendesse
a ele.
A expressão de Michael ficou um pouco mais severa, enquanto as narinas de Blake se inflaram.
— Michael, Erica, me deem licença por um instante, já volto.
O sorriso dele era contido, mas seu tom de voz deixava transparecer a raiva que agora fervilhava sob a superfície.
Michael suspirou pesadamente.
— Morreria feliz se essa rivalidade desaparecesse um dia. Até lá, eles estão diminuindo meus anos de vida.
— Tenho certeza de que você não é o único que gostaria que isso terminasse.
— Sem dúvidas. É triste que duas pessoas tão inteligentes possam dedicar tanto tempo competindo.
Eu não podia discordar totalmente, mas mesmo assim eu sabia que, entre eles dois, Max era o agressor. Mordi a língua, contudo. Michael parecia misericordiosamente
no escuro quanto aos pormenores das táticas de Max, ou talvez simplesmente as ignorasse. Um homem com a estatura profissional dele talvez não tivesse muita escolha.
Ele tinha impérios para administrar, enquanto seu filho e protegido fazia o que bem entendia com questões que provavelmente não valiam o tempo dele.
Blake e Catherine sumiram de vista. Senti pena deles dois. Max não deveria ter vindo, mas agora que ele estava lá, a preocupação formou um nó no meu estômago. Ele
certamente não estava contente por Blake tê-lo removido da diretoria, e eu só podia torcer para que uma discussão não brotasse e arruinasse a noite.
A expressão de Michael era pensativa.
— Talvez você possa ser a pessoa que vai fazê-los enxergar o absurdo disso tudo, Erica. Eles conhecem você, respeitam você. Homens podem ter uma visão terrivelmente
curta, às vezes. Reacionária. Tenho certeza de que você sabe disso por experiência própria. Talvez tudo de que eles precisam é um pouco de orientação de uma mulher
inteligente e convincente para fazê-los ver que perda de tempo tudo isso é.
Me senti corando. O homem mal me conhecia. Além disso, que poder eu tinha sobre qualquer um deles? Max percorrera caminhos muito longos para prejudicar o sucesso
da minha empresa. Eu era a última pessoa que podia selar a paz entre eles. Eu tinha me tornado uma terceira, inextricavelmente envolvida naquela bagunça terrível.
— Aprecio o voto de confiança, mas acho que me meter entre eles seria perigoso.
Ele concordou com a cabeça.
— Talvez. Max é meu filho e Blake é como se fosse um filho para mim. Nenhum deles ouve uma maldita palavra do que digo, infelizmente. Mas você certamente capturou
a atenção de Blake. Então, se o mesmo acontecesse com Max, talvez tivéssemos algum progresso. É difícil se preocupar com qualquer outra coisa quando você tem uma
mulher linda em seus braços.
Ele sorriu, e eu fiquei quente mesmo sem querer. Eu queria dizer mais e tentar esclarecer a verdade para esse homem idealista, embora doce. Mas isso não ajudaria
em nada. Michael, Max e Blake eram como deuses em guerra um com o outro, sem ter perspectiva sobre o potencial impacto de todos os envolvidos. Só que Max sabia exatamente
qual seu impacto seria sobre mim. Talvez o sucesso da minha empresa tivesse sido um interesse passageiro por um tempo, mas passou a ter uma importância consideravelmente
maior assim que ele percebeu que poderia machucar Blake através dela.
Mesmo assim, eu não falei com Risa ou Max desde que o site deles tinha sido lançado. Por mais que eu quisesse lhes contar o que eu achava deles, eu escolhi ficar
em silêncio.
— Parece que você precisa de uma bebida.
Me virei e dei de cara com Max entregando uma taça de champanhe para mim. Hesitei, mas sentindo os olhos de Michael em mim, peguei-a, mesmo que só pela paz de espírito
momentânea. Mascarei o nojo por aquele jovem homem, pintando um sorriso contido.
Max acenou com a cabeça para o pai.
— Pai, Greg estava perguntando de você.
— Estava? Vou procurá-lo, então. — Michael deu uma olhada pela sala e, então, se voltou novamente para mim. — Erica, foi um prazer finalmente conhecê-la. Vamos conversar
de novo antes de eu ir embora, mas se não conversarmos, talvez você consiga convencer Blake a ir a Dallas para uma visita decente. Já faz tempo demais que isso não
acontece.
— É claro. Vou ver o que posso fazer.
Ele me deu um beijo no rosto e piscou antes de me deixar com Max. Estar sozinha com ele me deixou instantaneamente desconfortável. Este deveria ser um dia feliz,
mas eu não tinha nada de bom para dizer a Max. Não importavam os pensamentos otimistas de Michael quanto a todo mundo se dar bem, Max me feriu e atacou minha empresa
de um jeito que era imperdoável.
— Por que você veio?
Ele bufou, fingindo estar ofendido.
— Era de se pensar que você estaria mais feliz em me ver. Estive a apenas algumas assinaturas de dar a você dois milhões de dólares. Ou será que os quatro milhões
de Blake se sobressaíram a tudo aquilo?
— Não, mas a sua propensão a cagar em tudo que ele faz certamente teve um impacto nessa escolha.
— Foi uma escolha? Ou ele prensou você contra a parede? É assim que ele trabalha, você sabe. Ele manipula e se coloca em uma posição em que você não pode tomar outra
decisão a não ser aquela que ele quer. É com esse tipo de homem que você quer se casar?
— O que você quer, Max? Ou só veio aqui para irritar todo mundo?
— Para falar a verdade, eu estava querendo falar com você.
Dei de ombros, tomando um gole de champanhe.
— Estou aqui.
— Eu gostaria de conversar sobre negócios e prefiro não fazer isso na frente de pais e amigos de infância. Podemos conversar a sós?
Ele ficou me olhando fixamente. Dando uma olhada em torno da sala, não consegui encontrar Blake, mas a possibilidade de ele interferir se nos visse conversando parecia
provável.
— Blake não quer você aqui. É melhor você ir embora, sério. Os pais dele se dedicaram muito a esta festa e eu prefiro não vê-la arruinada porque vocês dois não conseguem
se entender.
— Concordo. Vou embora assim que conseguir um minuto do seu tempo.
Suspirei, minha irritação crescia a cada minuto que eu passava mantendo a compostura com ele. Por mais que eu não estivesse no clima para qualquer tipo de papo com
Max, eu também não queria que Blake fizesse um barraco. Eu deixaria que Max dissesse o que precisava dizer e, com sorte, o faria ir embora para que o resto da noite
continuasse conforme o planejado.
— Está bem. Cinco minutos. E depois você precisa ir embora.
— É justo.
Relutantemente, o levei dali, pelo corredor, até a sala privativa de Greg. A sala estava fria e silenciosa.
Entrei e me virei na grande mesa de Greg, me apoiando nela.
A porta se fechou atrás de Max com um clique.
— Assim é melhor, não é?
Ele se aproximou, algo escondido em sua expressão cautelosa.
— Diga o que você tem a dizer.
Ele parou a alguns passos de mim, uma distância que garanti a mim mesma ser segura. Meu estômago se contraiu. Uma sensação desconfortável formigou sob minha pele.
Erguendo a taça, ele deu um sorriso malicioso.
— Que tal um brinde?
Revirei os olhos.
— A que é que nós poderíamos brindar, Max?
— A Blake.
Inclinei a cabeça, esperando que ele continuasse.
— Por ter ganhado a garota, me tirado da Angelcom e conseguido fazer com que meu velho desviasse o olhar da própria família por boa parte dos últimos 15 anos. Que
tal esse brinde?
O ressentimento permeava cada palavra de Max. Mas quando considerei o que ele fizera comigo e com Blake, eu não consegui juntar nem um grama de empatia por ele.
Eu estava feliz por ele estar perdendo essa batalha para Blake e podia, definitivamente, brindar a isso.
— Saúde.
Ergui minha taça para ele e deixei o champanhe escorrer por minha garganta, o líquido era bem-vindo em minha boca, já ressecada pelas horas de apresentações e conversas.
Um sorriso ergueu os lábios dele.
— Então, como vão os negócios?
Dei uma risada.
— Então você quer saber, é? Você perdeu seu canal lá dentro. Acho que vai ter que apenas dar palpites e torcer pelo melhor agora.
— Você parece amargurada, Erica. Por quê? Eu disse a você que estava interessado no conceito. Você optou por não me deixar investir. O fato de eu estar disposto
a fazer isso acontecer com ou sem você não deveria atestar meu comprometimento?
— Isso indica que você está extremamente comprometido com correr atrás dos empreendimentos de Blake, tentando inventar algo que poderia rivalizar qualquer coisa
que ele já criou. Você teve acesso a informações privilegiadas da minha empresa e as usou contra mim. Um golpe baixo, eu diria.
Os olhos dele se estreitaram de leve. Eu não me importava. Queria que ele sentisse todas as cutucadas que eu desse.
— Não assinamos nenhum acordo de confidencialidade. Eu estava agindo dentro dos meus direitos.
— Você estava agindo dentro dos seus direitos de ser um babaca desonesto e antiético. Infelizmente, não existem leis contra isso.
Ele riu baixo.
— Ainda bem. Para sua sorte, também não existem leis contra chegar ao topo dando por aí.
Fechei os olhos. Larguei a taça, repentinamente exausta demais para querer o alívio da bebida.
— Vá embora.
A força que eu queria impor com minha exigência sumiu da minha voz. Quando abri os olhos, ele tinha se aproximado e estava me encarando.
— Só estou dizendo que se você queria dar para alguém para conseguir o investimento, eu estava bem ali. Você sabe que é isso que todo mundo pensa, né? Você não precisa
de mim para arruinar sua reputação. Você fez isso por conta própria, docinho.
Me encolhi.
— Você está mentindo.
— Estou? As pessoas adoram falar. Um pouquinho de fofoca pode se espalhar rapidamente se iniciada nos círculos certos. Uma moça bonita como você, debaixo da asa
de alguém como Landon. Ele tem sua própria reputação, você sabe. Você é a última de uma fila longa, então não fique se sentindo especial só porque ele vai casar
com você.
— Você não sabe nada sobre quem ele realmente é. Ele me ama...
Me interrompi, confusa pela maneira lenta como as palavras estavam saindo de mim. Por quanto meu corpo de repente pareceu cansado. Sacudi a cabeça, mas o movimento
só me deixou mais tonta. Eu estava bêbada, repentinamente mais bêbada do que me lembrava de ter estado em um bom tempo. Merda.
Fiquei olhando para minha taça e, em meio às bolhas borbulhantes, grânulos quase invisíveis flutuavam perto da borda. Ergui os olhos, minha visão ficando embaçada.
Quando Max entrou em foco, seus dentes brancos perfeitos brilhavam em um sorriso perverso. Ele era um demônio disfarçado, se é que eu já tinha visto um.
— Vamos ver se ele ama você depois desta noite.
Uma onda de pânico deu força às minhas pernas, que me levaram até a porta, mas ele bloqueou minha passagem, me segurando pelo braço.
— Indo embora tão cedo? Fique mais um pouco.
Ele me virou de costas e me jogou no sofá. Uma nova onda de fadiga me atingiu com o impacto. Me bati para conseguir me manter ereta. Todos os músculos perderam o
vigor, pesados com essa nova e repentina fraqueza. Eu o tinha subestimado uma vez, e agora o subestimei de novo. A confusão redemoinhou dentro de mim, enquanto eu
tentava encontrar uma saída para o que estava acontecendo. Minha mente estava se movendo devagar demais, e minha atenção se dispersou até que ele estava ao meu lado,
segurando meu maxilar dolorosamente para que eu olhasse para ele.
— Na melhor das hipóteses, pensei que você fosse parecer uma bêbada de cair no chão na frente da família de Blake. Mas isto é muito melhor. Agora eu vou dar uma
provadinha, e talvez... Talvez a gente consiga arruinar o “felizes para sempre de Blake” depois que ele vir você desse jeito. Bêbada, recém-comida, como a vadia
que você é.
— Max, não.
Minha cabeça parecia um tambor, zunindo com uma vibração silenciosa que não parava. Eu disse para meus membros se moverem, mas quando eles se moveram, era Max me
empurrando para baixo, até o sofá.
Aí, a boca dele estava em mim, forçando a língua pelos meus lábios. Debilmente, eu o empurrei. Ele respondeu o esforço frágil com uma risada abafada, sua respiração
quente em meu rosto.
— É isso mesmo, MacLeod disse que você era briguenta. Você é rodada, hein? Blake sabe que você é uma putinha?
A menção do nome de Mark conjurou uma lembrança profunda e violenta.
— Por favor, não — balbuciei.
As palavras derreteram no espaço entre nós, juntamente com minha consciência, que se esvaía.
Ele abafou meus gritos fracos.
— Não se preocupe. Vou ser rápido. Estou com tesão por você há meses, Erica. Vou lhe mostrar como é ser comida por um homem de verdade, não um hacker de meia tigela
que se aproveita do sucesso da minha família. Se tivermos sorte, você vai se lembrar disso também.
Tentei desesperadamente recuperar o controle, lutar contra a paralisia que escorria como melaço gelado pelas minhas veias, deixando tudo lento. Meus pulmões lutavam
por ar, e o esforço para respirar aumentava em meio ao pânico crescente e àquele inimigo invisível contra quem meu corpo estava lutando.
— Boa menina.
Perdendo o controle, eu estava vagamente ciente de que ele estava me pressionando com força sobre a calcinha.
Não, não, não. Meu Deus, não.
Ninguém me ouviria, mas minha mente gritou até que minha visão ficou preta.
CAPÍTULO 15
Meus olhos se abriram subitamente, e então se fecharam. Toda vez que eu buscava a consciência, algo me nocauteava de novo. Eu nunca estive tão cansada em toda minha
vida. Mesmo quando minha consciência começou a capturar os detalhes do que aconteceu, meu corpo exigia sono. Eu cedi, mas, mesmo assim, lutei contra a vontade desconcertante.
Algo não estava certo com relação àquilo. O cansaço enfraqueceu meus músculos, penetrou em meus ossos fatigados.
Enquanto eu oscilava entre dormir e despertar, meu estômago revirava, o enjoo fervendo dentro dele. A náusea potente e a ameaça real de que eu poderia vomitar bem
ali onde estava deitava foi o que finalmente me tirou da cama. De pé, empurrei a porta do banheiro e mal consegui chegar à privada.
Alguns exaustivos minutos depois, fiquei sentada sem me mexer no chão. Repousei a cabeça no braço enquanto recuperava o fôlego.
— Gata.
A voz dolorida de Blake veio de trás de mim. Então, os braços dele estavam me envolvendo. Ele passou a mão pelas minhas costas, o calor de seu toque penetrava a
camisola fina que eu estava usando. A fadiga se instalou novamente, me enfraquecendo na segurança dos braços dele. Me recostei nele e limpei a boca, determinada
a não transformar o piso do banheiro em uma cama.
Ele deu um beijo no meu ombro.
— Você está bem?
Confirmei com a cabeça.
— Melhor, agora.
Ainda bem que estar mal reprimiu a náusea por hora. Eu queria me mexer, afastar o peso que tinha se instaurado em mim.
— Me ajuda a levantar? Me sinto tão fraca.
— Claro. Só vá devagar.
Concordei novamente com a cabeça, e a tarefa de me erguer sobre meus pés era impossível no momento. Ele circundou meus ombros e, depois, minha cintura, até que eu
estava em pé. Ele enfiou uma mecha solta de cabelo atrás da minha orelha, e eu vi o reflexo dele no espelho. Seus olhos normalmente expressivos se escondiam por
trás dos óculos de aro escuro que ele raramente usava.
Deixei de lado a segurança do corpo sólido dele e me apoiei na pia, juntando força suficiente para lavar o rosto e escovar os dentes. Ele escovou meu cabelo para
trás, para longe do meu rosto e do meu pescoço, permitindo que o suor frio evaporasse da minha pele.
— Quer um pouco de chá? Posso pegar alguma coisa para você?
— Chá seria bom, eu acho.
Minha voz era muito baixa. Eu não conseguia ter certeza de que ele tinha me ouvido até que ele se afastou, me dando um beijo carinhoso na bochecha antes de ir.
Eu podia estar dormindo em pé, mas consegui voltar para a nossa cama. No turbilhão do massacre físico, minha mente ficava perguntado o que tinha acontecido. O que
causou isso? Isso não era uma ressaca. Eu nunca tinha ficado enjoada desse jeito, e meu cérebro estava turvo demais para compreender. Me afundei na cama, e o segundo
em que o cobertor me cobriu, o calor bem-vindo foi o que bastava para me arrastar novamente para o mesmo sono profundo.
A noite era escura, mas, lentamente, os detalhes dos meus arredores começaram a aparecer. A grama estava molhada nos meus pés. Fria, em contrapartida ao ar quente.
Então, ele me puxou para frente. Por mais ignorante que eu fosse, eu sabia aonde estávamos indo. O mesmo lugar para onde ele sempre me levava. Umas centenas de vezes,
talvez, e eu o acompanhava em todas elas. Como a menina burra e bêbada que eu era, eu o seguia.
Risos. Todos estavam rindo, celebrando. Pessoas que eu conhecia. Franzi o cenho, me perguntando por que todos eles estavam ali.
A pressão do toque dele no meu braço aumentou o suficiente para se tornar dolorosa, e o medo familiar espiralou em meu estômago. Estava chegando.
A careta cruel, uma expressão criada por sua satisfação presunçosa, seu ódio. Ele me odiava. A mesma irritação estava em sua voz enquanto ele esclarecia, rangendo
os dentes, seu plano para mim.
Só que quando eu olhei nos olhos dele, eles estavam diferentes. Não eram mais as íris redondas escuras que me assombravam. Confusa, analisei as características dele
até que elas se solidificaram e o reconhecimento ficou claro. Max. O rosto, aquele corpo pressionando o meu pertenciam a Max.
Meu coração se contraiu de repente antes da dor familiar. Não importava quanto eu lutasse, ele sempre encontraria seu caminho na escuridão, pegando o que queria.
Impotente, eu não conseguia me mexer. Não conseguia correr. Ofegando por ar, tentando me agarrar à realidade, eu disse o nome dele. Uma súplica questionadora. Então,
percebendo que eu tinha uma voz, mesmo com o barulho e o borrão de risadas à nossa volta, eu gritei. Gritei por ajuda.
Me ergui de supetão na cama, ainda gritando, até perceber que estava em casa, em nosso quarto. O ar entrava e saía apressadamente dos meus pulmões, alimentando a
vertigem. Minha pele se arrepiou, formigando com o suor e os toques imaginários das mãos de outro homem em mim.
Me assustei quando Blake entrou às pressas pela porta. Ele estava sem camisa, de calça de pijama. Ele deu a volta na cama e reduziu a velocidade, se sentando na
beirada. Minha respiração estava difícil e irregular. Depois de um minuto, ele falou, mal sussurrando.
— Posso abraçar você, gata?
Com os olhos arregalados, fixei meu olhar no dele. Eu não conseguia falar, ainda presa demais ao sonho. Eu não conseguia entender nada até que ele tentou tocar em
mim.
Segurei as mãos dele entre nós, mantendo-as a uma distância segura. O contato repentino ativou uma dor conhecida por meu corpo. Mesmo assim, contra todos os instintos,
eu as segurei, algo em mim não queria soltá-las. Apertei o maxilar, engolindo seco por cima do nó em minha garganta. Lágrimas encheram meus olhos, mas algo dentro
de mim lutou contra o reflexo de lutar. Minha mente racional me lembrou de que ele não era inimigo, que eu precisava dele. Como se estivesse me agarrando a uma cerca
elétrica, eu simplesmente esperei que o pânico e a dor passassem.
— Erica... docinho. Respire. Sou só eu, está bem?
Trabalhei a respiração até que meu corpo relaxou o suficiente para permitir que eu falasse. Encontrei minha voz novamente, agora rouca.
— Tive um sonho. Eu... Eu não sei ao certo o que aconteceu.
— Um pesadelo... como os outros?
Concordei rapidamente com a cabeça. Ele sabia sobre o sonho e como ele me afetava de vez em quando, por mais que eu desejasse que ele desaparecesse para sempre.
— Parecido, mas era Max. Ele era Max, de alguma forma.
Relembrei o rosto dele, e a versão do sonho se fundia com o rosto que minha mente conhecia. Então, uma onda de imagens da festa esvoaçou pelo eu cérebro. Marie,
Michael e um borrão de outras pessoas. E, então, Max, seu sorriso arrogante enquanto ele subia em meu corpo impotente. A ânsia subiu em minha garganta. Soltei as
mãos de Blake e enrolei os braços em meu próprio corpo, como se isso pudesse me proteger do que minha mente estava me mostrando agora.
— Blake, o que aconteceu? — perguntei apressadamente, meus olhos agora arregalados, alarmados. — Não consigo me lembrar, mas sei que algo aconteceu. Me conte.
A dor nos olhos de Blake, enquanto ele contraía o maxilar confirmou.
— Ele não machucou você, gata.
Aproximando-se para me tocar, ele fechou a mão em punho e a abaixou antes de fazer contato. O rosto dele estava pálido, a não ser por um hematoma escuro em sua bochecha
que eu não tinha notado antes. Os músculos do braço dele se tensionaram como se ele estivesse se contendo para não me tocar mais. Então, reparei na mão dele, uma
bandagem grossa enrolada nela.
— Você está machucado.
Ele meneou a cabeça, o maxilar tenso.
— Ele está pior.
Cobri a boca. Uma nova onda de náusea me atingiu, enquanto eu tentava juntar as palavras para perguntar a ele. Eu não queria saber, mas precisava. Fixei os olhos
nos de Blake, analisando, querendo não precisar perguntar. Se eu não queria ouvir, ele não queria me contar.
As lágrimas escorreram dos meus olhos, enquanto meu corpo tremia. Eu só conseguia encaixar alguns detalhes daquela noite, mas, de alguma forma, eu sabia que algo
terrível tinha acontecido. E, Deus me acuda, tinha sido causado por Max.
— Preciso saber o que ele fez — sussurrei.
Ele fechou os olhos por um momento, como se para conter a raiva.
— Peguei Max no flagra... tocando em você. Ele não... Ele não fez sexo com você.
Meus olhos se apertaram, forçando mais lágrimas para fora.
— Ah, meu Deus.
— Você estava drogada. Era óbvio. Você mal conseguia se mexer. Você esteve dormindo por uns dias.
— Por que ele faria isso? Por quê?
As palavras saíram em um soluço enquanto eu lutava para entender por que ele iria querer me machucar, me fazer passar pelo tipo de tortura a qual eu mal tinha sobrevivido
antes.
— Ele nunca mais vai fazer nada assim de novo.
— Como você pode saber?
Os olhos dele ficaram sérios e imóveis naquele breve silêncio.
— Eu quebrei a porra da cara dele, Erica, por isso. Nós dois temos sorte de eu não tê-lo matado, porque eu queria mesmo fazer isso. Foram necessários três homens
para me tirar de cima dele.
Ele flexionou a mão, fazendo uma careta.
— Todo mundo viu. Não consigo imaginar o que eles devem estar pensando.
Ele pegou minha mão, tirando-a de meu rosto. Lambi os lábios secos e respirei para me controlar. O contato não doeu como doía um minuto antes. Algo tinha se reorganizado
em minha cabeça à medida que o sonho se separava da realidade.
— Eles não pensam nada. Eles sabem o que ele fez. Minha mãe está morrendo de preocupação. Marie tem ligado sem parar. Alli, Jesus, tive que dispensá-la algumas vezes.
Não deixei ninguém aparecer aqui pra que você pudesse descansar. Eu sabia que você precisava de um tempo. Ninguém fez mau juízo de você. Posso garantir que fazem
um juízo muito pior dele.
— Ele me chamou de puta. — Me encolhi com aquelas palavras quando elas ressurgiram em minha mente. — Disse que eu tinha chegado ao sucesso dando por aí. Ele quer
nos arruinar, Blake.
— É ele quem está arruinado.
Dei uma olhada questionadora para ele.
— Nunca vi Michael tão devastado na vida. Não sei o que vai acontecer entre eles, mas essa foi uma cagada que talvez nem mesmo Michael consiga relevar. Ele me tirou
de cima de Max, mas nunca vou esquecer a maneira como ele olhou para o filho. Ele sequer foi até ele para ajudá-lo. Ele simplesmente foi embora.
— Ele estava me falando sobre como queria que vocês dois fizessem as pazes.
As narinas dele se inflaram.
— Nunca haverá paz entre nós até que um de nós esteja morto.
O ódio ficou estampado nas linhas severas de sua expressão. Ergui a mão e contornei o músculo tenso de seu maxilar. Ele o relaxou, se aconchegando em meu toque.
Deu um beijo delicado nas pontas dos meus dedos. O gesto carinhoso começou a desemaranhar o pavor com o qual eu tinha acordado. Blake estava aqui. Estávamos juntos,
ambos a salvo. Lembrei a mim mesma dessas verdades repetidamente, mesmo enquanto minha mente lutava com as lembranças corrompidas do que Max tinha feito.
— Você tem certeza de que ele...
Os olhos dele se arregalaram, a tristeza se demorando neles.
— Tenho. Fui procurar você antes de qualquer outra pessoa. As intenções dele eram bem claras, mas ele não chegou longe. — Como se estivesse aninhando uma criança
assustada, ele passou a mão de leve em meu braço, fazendo círculos em meu ombro com o polegar. — Eu o teria matado. Ninguém poderia ter me parado, naquele dia ou
agora. O coração dele teria parado de bater se ele tivesse ido um centímetro além do que foi.
Uma espécie estranha de alívio me inundou, como se eu tivesse escapado por pouco da morte. Se Max tivesse me estuprado, eu não conseguia nem começar a calcular o
que aquilo teria feito comigo. Seria um tipo de morte diferente, da mesma forma que Mark matara parte de mim quando tirou minha inocência anos atrás. Suprimi a náusea
insistente, e todos os sentimentos renovados e frescos tomaram conta de mim. Uma névoa fina varreu minha pele. Ele não conseguiu o que queria, mas a ameaça de que
ele poderia ter conseguido me assombrava.
Coloquei uma mão trêmula no peito de Blake. Me aproximar fisicamente dele era como forçar passagem por uma parede. Todos os meus instintos me diziam para me manter
afastada, onde era seguro. Ele me deixou ir até ele, desapressadamente, seu toque, um sussurro na minha pele. Tremendo dos pés à cabeça, finalmente encontrei um
lugar em seu colo. Ele me acariciou lentamente, com cuidado, passando a mão nas minhas costas, para cima e para baixo, até que fiquei totalmente relaxada em cima
dele.
— Vai ficar tudo bem. Você está segura agora. Estou com você, gata.
Ele me confortou silenciosamente, enquanto eu desabava em seus braços. Essa nova violação se combinou com o peso da antiga até que eu achasse que tinha chorado todas
as lágrimas que meu corpo podia produzir. Em meio aos meus soluços, ele murmurava palavras reconfortantes. Promessas de seu amor, que ele sempre me protegeria e
me manteria em segurança, preenchendo o ar à nossa volta até que eu acreditei naquilo, com cada grama da minha alma.
***
A fadiga implacável que tinha pesado em mim por dias finalmente se dissipara. Pela primeira vez desde a festa, eu tinha energia, mas, por insistência de Blake, fiquei
em casa mais um dia. Incapaz de ficar sozinha com meus pensamentos incoerentes, passei a tarde assistindo a filmes. Comédias sem nenhuma profundidade emocional,
que não podiam ameaçar a paz mental que eu estava tentando ao máximo atingir.
Gritei quando a porta do apartamento se abriu. Pulando no sofá, observei o rosto preocupado de Alli.
— Desculpe, não queria assustar você. Trouxe almoço.
Ela ergueu uma sacola de papel.
Abaixei a mão, que estava no peito, sobre meu coração acelerado.
— Tudo bem. Obrigada.
Ela se juntou a mim no sofá, colocando a sacola na mesa de centro.
— Desculpe — repetiu ela. — Como você está? Eu queria ter visto você antes, mas Blake insistiu que você precisava descansar. Heath me contou que ele estava no escritório
hoje, então pensei em dar uma fugidinha para ver você.
— Estou bem. Melhor. O que quer que Max tenha posto na minha bebida tomou conta total do meu sistema por um tempo. Mas estou finalmente começando a me sentir humana
de novo. Estou ansiosa para voltar ao trabalho amanhã. Ficar sentada sem fazer nada me dá tempo demais para pensar demais em tudo.
Ela mordeu o lábio, seus olhos marejados. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela me puxou em um abraço apertado. Eu a abracei de volta enquanto também lutava
contra as lágrimas. Ela sabia. Todo mundo sabia. Eu não podia me esconder da minha melhor amiga e fingir que não estava sofrendo.
— Eu nem sei o que dizer — sussurrou ela. — Ainda estou incrédula. Simplesmente não consigo acreditar.
— Está tudo bem, Alli. Está tudo bem — garanti a ela, querendo acreditar naquilo também, apesar de minha voz vacilar.
Talvez eu não estivesse bem naquele momento, mas ficaria. Eu superaria isso, do mesmo jeito que tinha superado antes. Só que quanto mais eu pensava no que Max fizera
e na festa, mais eu questionava se eu realmente superei o que Mark fez comigo.
— Não está tudo bem. Ele não pode sair impune dessa, Erica.
Me recostei no sofá e sequei as lágrimas. Eu não queria estar desmoronando agora. Não queria trazer tudo à tona depois de ter passado o dia todo tentando esquecer.
Além de ter bombardeado meu cérebro com programas bobos de TV, eu tinha me mantido ocupada em mandar as lembranças daquela noite que insistiam em surgir de volta
para o lugar sombrio onde eu guardava as lembranças de Mark. Eu não queria pensar em nada daquilo.
— Erica?
Ergui os olhos.
— Você vai à polícia, não vai? Eles vão precisar da sua cooperação para poder processá-lo.
— Acho que sim — falei, deixando transparecer o fato de que eu ainda não estava realmente convencida de que conseguiria seguir em frente com isso.
— Você precisa ir. Não consigo acreditar que ele teve a audácia de prestar queixa contra Blake depois do que fez com você. A vingança dele realmente não tem limites.
Tudo isso é tão retrógrado e errado.
Me endireitei, me certificando de que tinha ouvido direito.
— Ele fez o quê?
— Blake não contou? Max prestou queixa contra ele por agressão. Obviamente, ele estava agindo em sua defesa. O babaca mereceu tudo que levou.
Soltei o ar que estava prendendo. Deixei a testa cair na minha mão.
— Não consigo acreditar que ele não me contou isso. Ele me disse que tinha quebrado a cara do Max, mas eu sequer tinha imaginado que ele poderia se dar mal por causa
disso. Merda, não consigo nem pensar direito. Isso não é bom.
Alli tocou delicadamente em meu ombro.
— Ele nunca quer te preocupar. Ele sabe que isso não é fácil para você, especialmente depois do que você passou com Mark. Tenho certeza de que Heath provavelmente
teria feito a mesma coisa no lugar de Blake. Ainda bem que os Landon têm bons advogados.
— Tenho certeza de que os Pope também têm. Deus, ele não precisa ter que lidar com mais isso. Agora estou chateada de novo.
Ela suspirou silenciosamente.
— Você vai conversar com a polícia? Me prometa que vai.
Confirmei rapidamente com a cabeça.
Eu estava debatendo comigo mesma sobre ir até a polícia. Blake me dissera que eles tinham deixado cartões e iriam querer conversar comigo. Algo nisso me assustava
pra caramba. Talvez fosse a mesma coisa que me impediu de ir até eles quando Mark me estuprou. Bem no fundo, eu culpava a mim mesma. A culpa e a vergonha de compartilhar
aquilo com alguém me mantiveram em silêncio. Enterrei tudo tão fundo que não me preocupava em encontrar meu estuprador, em verbalizar aquilo.
Mas isso era diferente. Eu conhecia Max, e ninguém podia questionar o que ele tinha feito comigo, com todas aquelas pessoas que estavam lá. As drogas no meu organismo
eram prova suficiente das intenções dele. Como eu encontraria força para entrar na delegacia e contar minha história, contudo, eu jamais saberia. Mas se isso ajudasse
Blake a se livrar dessa loucura, eu faria o que fosse preciso.
— Eu vou com você. Você não estará sozinha.
Alli tocou em minha mão.
— Obrigada. Não sei o que eu faria sem você.
— Você nunca vai precisar saber. Sempre estarei aqui por você e não vou a lugar algum. Todos estamos. Somos todos uma família agora.
Meu coração pulsava de gratidão pela amizade dela.
— Ei, tenho uma ideia.
Alli ficou um pouco mais animada e segurou minha mão.
Ergui as sobrancelhas.
— O que é?
— Sei que esta provavelmente é a última coisa se passando na sua cabeça, mas o que você acha de irmos dar uma olhada nos vestidos esta semana? Isso desviaria a sua
atenção dessa chateação toda.
Sorri e concordei com a cabeça.
— Me parece perfeito.
CAPÍTULO 16
— Alli me contou sobre Max ter prestado queixa.
Blake tinha trabalhado até tarde e chegado em casa há menos de cinco minutos quando o questionei. Não consegui pensar em quase mais nada desde que Alli foi embora
aquela tarde. Além disso, eu estava furiosa por ele não ter me contado de cara. Ele tirou a camiseta e saiu do quarto, entrando no banheiro adjacente, me ignorando
completamente. Eu o segui.
— Blake.
— Não tem importância.
— Ter queixas criminais contra você importa, sim.
Ele suspirou e se virou na minha direção. Tentei focar minha concentração no problema em questão, mas o peito desnudo e o cheiro dele quando ele me puxou para perto
daquele jeito tinham um poder de dispersão sobre meus neurônios. Com uma mão em meu quadril, ele se abaixou e deu um beijo suave em meus lábios.
— Não me preocupa, então não deveria preocupar você também. Você já tem coisas suficientes na sua cabeça.
Fiquei olhando fixamente nos olhos dele, deixando-o saber que era claro que eu ia me preocupar.
— Isso vai afetar o seu trabalho? E a Angelcom, ou todas as outras empresas às quais o seu nome está atrelado?
Uma risada curta escapou dele.
— Você está falando da minha reputação, Erica? O dinheiro fala por si, Erica, e, ainda bem, tenho dinheiro de sobra. Os motivos pelos quais a diretoria queria continuar
lambendo o Max até meu aperto neles são os mesmos motivos pelos quais nada disso vai importar para nenhum deles. Sou eu que estou com as cartas. De qualquer forma,
estou cagando e andando para o que todos os outros pensam.
Não pude evitar a preocupação que se instalou bem ao lado de todo o ódio que eu sentia por Max no momento.
Blake segurou meu rosto com as mãos.
— Me ouça. Não se preocupe com isso. Não é nada que eu não possa resolver e, confie em mim, estou resolvendo.
— Como?
Ele suspirou e me soltou, deixando alguns centímetros de distância entre nós.
Engatei os dedos na calça jeans dele, puxando-o de volta.
— Vou conversar com a polícia amanhã. Não me lembro de tudo, mas espero que seja suficiente. Se isso significar ter que testemunhar ou algo assim, vou fazer o que
for preciso.
Ele fez uma pausa.
— Fico feliz em saber. Não por mim, mas por você.
Franzi a testa.
— Não tenho certeza se eu faria isso se não fosse por você. Odeio o fato dele ter feito isso com você.
— Por que você não contaria sua história à polícia, Erica? Ele merece pagar pelo que fez, e, Deus sabe, você merece justiça. Você nunca vai ter justiça se não contar
à polícia o que aconteceu. Você é a vítima e eles precisam ouvir a sua história, não a minha.
Meus olhos se abaixaram até a altura da cintura de Blake, onde meus dedos estavam engatados preguiçosamente nos passadores de cinto da calça dele.
— Pensar em passar por tudo aquilo me deixa enjoada, é por isso.
Ele ergueu meu queixo até eu olhar para os olhos sérios dele.
— Há vezes em que faz sentido deixar para lá e há vezes em que você precisa lutar, não importa o quanto a ideia pareça ser ruim.
Me perdi nos olhos dele por um segundo.
— E você quer que eu lute.
— Não vou tomar a decisão por você. Mas se isso servir — disse ele, apontando para as cicatrizes vermelhas em seus dedos —, você sabe qual meu posicionamento quanto
a derrubá-lo.
Me encolhi ao ver as lesões dele e ao pensar em como elas surgiram. Eu não conseguia imaginar as lesões de Max, mas me deliciava em saber que ele provavelmente estava
sofrendo com elas. Respirei fundo pelo nariz. Eu passei os últimos dias tentando superar tudo aquilo. Eu não podia seguir esse caminho de novo. Eu não daria a Max
a satisfação de me destruir como Mark fizera.
— Aprecio o fato de você ter lutado por mim, mas isso não se trata de vingança.
— Você está certa. Se trata de fazer com que Max Pope seja responsabilizado pela primeira vez na vida. Ele precisa aprender uma lição que vem pedindo há muito tempo.
Isso não é vingança. É justiça. É consertar uma situação que está errada há tempo demais.
Eu podia argumentar o quanto quisesse, mas Blake tinha razão. Max não apenas me ameaçou, ultrapassando um limite que nunca deveria ser ultrapassado. Ele traiu minha
confiança, ameaçou tanto minha empresa quanto a de Blake. As reclamações de Blake iam muito além das experiências que tínhamos tido juntos com Max. Antes mesmo de
eu conhecer Max, já sabia que ele era um playboy, um menino mimado. Ele patinava sobre as consequências que teriam recaído sobre qualquer outra pessoa. Ele, contudo,
estava blindado pela fortaleza de riqueza e proeminência de sua família. O professor Quinlan usara uma circunstância dessas em seu benefício, conseguindo, para mim,
uma reunião com a promessa de que ele investiria no Clozpin.
Por quanto tempo isso continuaria? Por quanto tempo ele causaria estragos em nossas vidas sem consequências, incitado pela inveja insensata que Blake inspirava nele?
Talvez Blake estivesse certo. Talvez essa fosse uma escorregada que não pudesse ser ignorada — por Michael ou pela lei. Talvez essa infração fosse finalmente mostrar
a ele que ele não era imune às consequências.
Blake interrompeu meus pensamentos com um beijo que era tanto carinhoso quanto cauteloso. Afastando-se, ele me estudou.
— Como foi o seu dia? Está se sentindo melhor?
— Estou bem. Eu disse a você hoje de manhã. Vou voltar ao trabalho amanhã, independentemente do que você disser. Se eu ficar sentada aqui fazendo nada mais um dia,
vou ficar louca.
Ele deu um sorriso torto.
— Bom, não podemos deixar isso acontecer.
Afastando-se de mim, ele ligou o chuveiro. Tirou toda a roupa e abriu a porta, enchendo o banheiro de vapor. Mordi o lábio, seguindo a bunda dele com os olhos, enquanto
ele entrava debaixo d’água. O fogo que andava dormente há dias reacendeu dentro de mim. Aparentemente, os dias de privação de intimidade tinham surtido efeito, e
agora que minha energia estava de volta, eu estava com dificuldades em ignorá-lo.
Eu não tinha certeza se estava pronta, mas sentia falta da nossa proximidade. Blake tinha sido cuidadoso comigo. Excessivamente cuidadoso. Eu odiava o fato do incidente
ter erguido uma barreira invisível entre nós, nos separando por conta do nosso medo de machucar um ao outro quando eu precisava de Blake mais que nunca.
Empurrei a calça jeans para baixo, até o chão, e tirei o sutiã e a blusa de uma vez só. Ele se virou para olhar, e sua expressão refletia a fome silenciosa que estava
fervilhando dentro de mim. Entrei no chuveiro atrás dele. Ele me deixou passar para dividir o jato de água. Nossos corpos se tocaram, disparando todos aqueles alarmes
familiares. Meus mamilos rasparam nos pelos macios do peito dele, ficando instantaneamente duros. Pausei nossa jornada ali, perfeitamente contente com nossa proximidade,
a água quente jorrando sobre nós.
— Senti sua falta — falei.
— Eu também senti a sua falta, gata.
Coloquei as mãos no peito dele, ávida por sentir cada crista deslizar sob meus dedos, para me entrelaçar nele. Fui descendo, tocando nos músculos tensos de seu abdômen.
Eu queria descer mais. Queria sentir a carne quente dele nas minhas mãos, saber que ele me queria tanto quanto eu o queria. Depois de toda essa loucura, eu ansiava
pelo toque dele, pela garantia de que nada tinha mudado entre nós. Contornei a linha de pelos que descia de seu umbigo. Ele segurou minha mão, interrompendo meu
trajeto.
— Vire-se — disse ele baixinho.
Olhei para ele por trás dos cílios, e minha respiração vacilou com o simples comando. Coisas boas geralmente estavam prestes a acontecer quando ele me pedia para
virar. Virei e apoiei as mãos no mármore frio da parede do banheiro. Fechei os olhos, imaginando as mãos dele em mim enquanto a água escorria pelas minhas costas
entre nós.
Ouvi um pequeno clique e, então, as mãos dele estavam nos meus cabelos, massageando e fazendo espuma. Apesar de não ser o toque que eu estava esperando, eu o recebi
de boa vontade da mesma forma. Deixei minha cabeça cair para trás enquanto ele esfregava pequenos círculos no meu couro cabeludo.
— É bom?
Emiti um ruído apreciativo.
— Muito. Obrigada.
— Sempre às ordens.
Sorri. Ele moveu o jato de água para me enxaguar e limpou o resto de mim, da cabeça aos pés. Ele lavou meus ombros, massageando os músculos tensos enquanto o fazia.
Me virando para que ficássemos de frente um para o outro novamente, ele não deixou nenhuma parte intocada, entre meus seios e sobre minha barriga. Ele evitou se
demorar em qualquer lugar em que eu mais o queria. Todo o processo estava me deixando louca, mas ele não parecia estar com pressa e nem parecia estar curtindo o
joguinho de tortura sexual de costume que ele tão frequentemente fazia.
Ele se ajoelhou para esfregar a esponja nas solas dos meus pés. Fazia cócegas, mas vê-lo agachado aos meus pés, incapaz de esconder seu desejo, que balançava para
cima e para baixo sob o corpo dele na minha frente, parecia anular isso. Cada toque inocente aumentava minha ânsia por um contato mais íntimo. Ele estava duro e
eu estava queimando de desejo.
Quando ele se levantou, peguei a esponja dele e a joguei no chão. Segurei-o pelos cabelos e me apoiei nele, deixando-nos peito contra peito. Ele grunhiu e me empurrou
de volta contra a parede do banheiro. O instinto tomou conta de mim, e, em segundos, eu estava montando nele. Coxa sobre quadril, me curvando na direção de seu corpo
rijo. Ele segurou minha bunda, aumentando o contato. Não podíamos estar mais próximos.
— Sinto sua falta. Quero sentir você — gemi.
Respirei um pouco antes de colar minha boca na dele novamente. A ereção dele estava pressionada contra mim, provocadora. Mas a sensação estava prejudicada. Beijei-o
com mais força, afogando a dúvida. Ele traçou um caminho lento entre minhas pernas, demorando-se no meu sexo antes de me tocar. Fiquei tensa nos braços dele, sem
entender imediatamente por quê. Meu peito se agitou, minha respiração rápida deixava transparecer a batalha que se enfurecia dentro de mim.
— Gata?
Beijei-o ferozmente, encerrando a breve separação entre nós, respondendo qualquer pergunta que ele pudesse ter. Dane-se tudo, eu precisava dele. Não menos do que
eu sempre precisaria.
Ele se afastou e segurou minhas mãos itinerantes, me imobilizando.
— Não precisamos fazer isso.
— Eu quero.
Ele hesitou.
— Eu sei. Eu também quero, mas... dê um pouco de tempo a si mesma.
— Estou bem — insisti, mesmo minha voz tendo vacilado.
Será que estava? Eu sabia o que queria, o que desejava, mas conhecia a tensão. No limite, pronta para reagir, batalhei com meu desejo. A batalha me deixou tão brava
quanto excitada, faminta para que ele me amasse, me fodesse em meio àquele sentimento que eu não queria encarar.
Ele me beijou, um beijo rápido e casto que eu mal senti em meio ao calor e ao vapor que se acumulava na minha pele. O gesto pareceu repetir as palavras dele.
— Estou bem, Blake — repeti. — Ele não fez nada. Estou bem, nada mudou.
Ele olhou para baixo, a preocupação nadando por trás de seus olhos.
— Só porque ele não teve a chance de chegar até o fim não significa que você não passou por um inferno emocional. Não estamos falando de alguns dedos machucados.
Você sabe tanto quanto eu que essas lesões são muito mais profundas do que qualquer um de nós gostaria que fosse. Você precisa de tempo. Melhor darmos uma parada.
Eu odiava o fato de ele provavelmente estar certo. Odiava ter ficado tão imperfeita e vulnerável em uma questão de dias.
— Talvez eu seja mais forte do que você imagina.
Ele soltou um suspiro exasperado.
— Não tenho dúvidas quanto à sua força, Erica. Estou falando do seu estado de espírito, do seu bem-estar. Você não pode dispensar isso tudo assim, como se não fosse
nada.
— E que tal você me deixar dizer o quanto eu aguento?
Minha vergonha misturou-se com a rejeição. Deixei-o lá sozinho. No quarto, bati as gavetas com força enquanto pegava uma calcinha e uma camiseta e, depois, fui para
a cama. Deitada de lado e encolhida, tentei ignorar a presença dele quando ele se juntou a mim. Um momento se passou antes de ele me abraçar por trás, enrolando
um braço na minha cintura. Pressionando os lábios no meu ombro, ele fez um carinho no meu braço, provocando um arrepio que quase me fez esquecer minha irritação.
— Eu forcei você além dos seus limites antes. Me deixe honrá-los agora, mesmo que você mesma não o faça.
Fechei os olhos com a verdade daquelas palavras. Verdade, amor e toda a preocupação que os homens que ergueram essa barreira emocional entre nós não tinham. Suspirei
pesadamente, me obrigando a confiar nele.
— Olhe para mim — sussurrou ele.
Relutantemente, me virei, ficando de frente para ele. Um sorriso suavizou sua expressão, enquanto ele contornava meu maxilar, traçando uma linha sensual sobre meus
lábios.
— Eu amo você, mesmo quando você anda batendo o pé, toda bravinha e indignada.
— Odeio isso.
Os olhos dele escureceram.
— Eu sei que odeia. Sei que nós dois queremos mais, mas vale a pena esperar. Esta noite, tudo que quero fazer é sentir o gosto de seus lábios doces e abraçar você.
Tenho toda minha vida para fazer amor com você. Esta noite, só quero você em meus braços.
Algo desmoronou em mim, aquela necessidade de lutar murchou com a insistência delicada de Blake. Meus músculos enfraqueceram e eu me rendi.
***
Entrei no escritório na manhã seguinte pronta para encarar o dia. Pronta para encarar minha vida. Alli se levantou para me encontrar quando me aproximei da mesa
dela.
— Você não vai acreditar.
Meus olhos se arregalaram. Havia uma gama imensa de possibilidades de coisas nas quais eu poderia não acreditar.
— O quê?
— O PinDeelz está fora do ar. Sid disse que está fora desde ontem à noite.
— Sabemos por quê? Pode ser qualquer coisa. Problemas no servidor ou um pico de tráfego.
— Não acho que seja isso.
Ela me arrastou até sua estação de trabalho e abriu o site. Quando ele abriu, uma imagem audaciosa em preto e branco marcava a tela. Eu já a tinha visto antes, em
nosso site. M89. A logo do grupo hacker substituía a página inicial do site competidor, mas agora eu estava mais confusa do que nunca.
— Não entendo. Se Trevor e Max estavam conspirando juntos para montar essa coisa, por que Trevor hackearia? E não só isso, como ele hackearia o próprio site?
Alli enrolou uma mecha de cabelo nos dedos.
— Também não sei. A não ser que as coisas tenham azedado com Trevor e isso seja uma retaliação. Como se ele estivesse dando um aviso ou algo assim.
— Justo quando eu achava que as coisas não podiam ficar mais estranhas...
— A boa notícia é que ao menos um dos anunciantes deles retomou contato para renovar o contrato com a gente. Nunca mencionou o PinDeelz, é claro, mas eu diria que
podemos esperar ter notícias de outros anunciantes agora.
Dei uma leve risada.
— Inacreditável. Acho que vamos ver quantos voltam pedindo arrego. Ou quanto tempo o site vai ficar desse jeito.
— Por falar em pedir arrego, o que você decidiu com relação a Perry?
— Ele parece estar arrependido, mas não é o suficiente. Blake tem razão. Não é uma boa ideia se envolver com ele.
— Tenho que concordar.
A voz mais grave de James nos interrompeu. Ele pareceu ter surgido do nada.
— James, oi — falei, confusa com a presença dele no escritório.
— Alli achou que seria melhor que eu estivesse por aqui enquanto você estava afastada.
— Certo. — Concordei rapidamente com a cabeça, sem querer pensar na potencial reação de Blake a isso. — Bom, fico feliz que você esteja aqui. Podemos bater um papo
rapidinho?
Deixei Alli lá para ir para a privacidade do meu escritório. James me seguiu e se afundou na cadeira à minha frente.
— O que está rolando? O que eu perdi, além de uma semana inteira?
— Conversei com o seu noivo. Foi bem interessante, mas vou ficar aqui no escritório por enquanto.
Meu queixo caiu, e o choque tomou conta de mim. Eu já estava mais embasbacada do que esperava em meus primeiros 15 minutos de volta ao trabalho. O medo se alojou
em meu estômago.
— Você deve estar brincando.
Ele deu uma risada.
— Não há nada com que se preocupar. Mas você provavelmente deve conversar com Landon sobre isso.
— OK, tudo bem. Nesse caso, quer me atualizar das coisas? Estou por fora de tudo.
Passei o resto da manhã correndo atrás do tempo perdido. Depois de uma semana longe do caldeirão fervente, eu podia finalmente apreciar o progresso que tinha sido
feito na minha ausência. Estávamos perto de implementar as mudanças que nos colocariam anos-luz à frente do site de Max. Apesar de a ameaça da competição talvez
estar no passado, eu podia ver claramente, agora, que a concorrência tinha sido uma motivação importante para nos dar um empurrão em uma direção completamente nova.
Quando a hora do almoço se aproximou, meu celular tocou. Meu coração quase parou quando vi o rosto de Risa aparecer na tela.
Atendi, hesitando um momento.
— Alô?
— Erica, é a Risa.
— Sim.
Obviamente. Que diabos você quer?
— Ouça, eu sei que provavelmente sou a última pessoa com quem você quer conversar. Eu só... Eu realmente preciso falar com você.
— Sobre o quê?
— Podemos nos encontrar para almoçar?
Uma sensação ansiosa se espalhou por mim. Risa se associara a Max, e nada de bom tinha saído da minha escapada com ele para discutir negócios.
— Não tenho nada para dizer a você.
— Por favor, estou implorando. Por favor. Sei que você me odeia. E você tem todo direito. Se você nunca mais quiser me ver ou conversar comigo depois de hoje, eu
vou ficar fora da sua vida completamente.
Fiquei olhando para a divisória branca à minha frente. Risa parecia diferente. Parecia... desesperada. Eu não devia me importar, mas me importava. Apertei os olhos,
tentando imaginar como eu poderia lidar com aquilo sozinha. Então, uma ideia surgiu.
— Encontro você na delicatessen da esquina perto do escritório ao meio-dia.
— Perfeito, obrigada.
Desliguei antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa e mandei uma mensagem para Alli por Skype para que ela viesse me ver.
Ela apareceu alguns segundos depois.
— O que foi?
— Por acaso você estaria interessada em encontrar a Risa para almoçar? Ela quer conversar comigo. Não confio nela e não confio em mim mesma para não estrangulá-la,
se eu for sozinha.
— Claro. Eu mesma tenho algumas coisas para dizer a ela.
— Combinado.
CAPÍTULO 17
— Obrigada de novo pela reunião.
Risa parecia um filhote desgarrado sentada à nossa frente. Alli se recostou na cadeira com os braços cruzados, dando a Risa sua melhor encarada de desprezo. Eu não
achava que Alli fosse capaz de odiar ninguém, mas ela parecia bastante convincente agora. Por mais patética que Risa parecesse, eu tinha dificuldade em sentir pena
dela. Seus cabelos normalmente brilhantes e lisíssimos estavam presos em um coque bagunçado. Vestindo calça jeans e uma camisa preta simples e com o rosto maquiado,
ela parecia cansada e esgotada. A menina sagaz e energética que deixara o Clozpin e levara meu banco de dados de usuários com ela parecia ter envelhecido no curto
período desde que tinha saído. Eu queria dizer que ela estava terrível, mas achei melhor guardar aquilo.
— Ainda não estou convencida de que eu deveria estar perdendo meu tempo com você, então, se você tem algo a dizer, diga logo.
Os olhos dela marejaram enquanto ela dividia os olhares entre mim e Alli.
— Eu sinto muito. Quero que você saiba disso.
— É um pouco tarde para isso — ralhou Alli, tirando as palavras da minha boca.
— Eu sei e não espero perdão. Cometi um erro. Max... Ele me fez acreditar que sair era a escolha certa, a única escolha se eu quisesse ser alguém e alavancar a minha
carreira. Ele não é quem eu pensava que fosse.
Apertei o maxilar, engolindo as palavras. Ele não era quem eu pensava também. Era muito pior.
— Ele me usou para atingir você — continuou ela, e seus olhos doloridos suplicavam para mim. — Ele brincou com todas as minhas emoções, minha própria inveja e minhas
inseguranças para me fazer sair. Mas, agora, eu sequer sei quem ele é. Ele está encrencado, acho, e está completamente obcecado por destruir Blake. Não tem nada
a ver com a empresa que eu achava que íamos construir juntos. É muito mais profundo do que eu jamais imaginaria.
Me inclinei para frente, estudando-a. Comecei a ver que ela não fazia ideia do que tinha acontecido entre mim e Max.
— Risa, Max me drogou e tentou fazer sexo comigo na semana passada. Ele quer machucar Blake nesse nível. Acredite em mim, você não faz ideia do quanto ele é depravado
até que se ponha no meu lugar.
— O quê? — O queixo dela caiu, e seus olhos estavam fixos em mim. — Meu Deus. Eu não sabia. Sabia que ele e Blake tinham brigado, mas eu não fazia ideia.
Fiquei tensa com as emoções que ameaçaram emergir. Eu não podia perder a cabeça na frente dela, por mais que o comportamento de Max ainda me abalasse. Me agarrei
à minha raiva, então.
— Pois é. Você deveria perguntar a ele sobre isso. Tenho certeza de que ele vai inventar uma história sobre como eu dei em cima dele na minha própria festa de noivado.
E talvez, já que você achou que seria uma boa ideia contar a Blake sobre James, vocês possam trocar figurinhas sobre como eu sou vadia.
Apertei os dentes, mal resistindo à vontade de ir embora. Eu queria ter encontrado Risa uma última vez ao menos para poder soltar os cachorros em cima dela. Vai
saber quando eu teria outra oportunidade de dizer a ela o que eu pensava.
— Não acho que você é uma vadia. Na hora, no calor do momento, depois de você ter me mandado embora, eu contei para Max que vi você com James. Foi ele quem quis
que eu contasse a Blake. Eu não queria, de verdade. Blake pareceu tão bravo quando eu contei, que me arrependi imediatamente. Eu sequer sabia que vocês estavam noivos.
Ergui o queixo, meus lábios apertados em uma linha fina.
— E prosperando, de alguma forma, apesar de tudo. Apesar de você e Max tentarem destruir minha empresa, nosso relacionamento, eu, estamos mais fortes do que nunca.
Então o que você quer agora? Foi ele que você escolheu. Agora tem que viver com essa escolha.
— Eu quero largá-lo. Eu realmente quero.
Os olhos dela marejaram. O guardanapo em suas mãos estava retorcido, quase em frangalhos. Céus, ela estava mesmo um caos.
— Então largue. Isso não é da minha conta.
Ela concordou rapidamente com um aceno, a cabeça abaixada.
— Eu quero — sussurrou ela. — Tenho medo de que ele me destrua. Seja lá o que foi que aconteceu entre vocês, ele está uma pessoa completamente diferente. Não sei
quem ele é. Acho que ele está com problemas financeiros. Ele disse que não pode mais bancar o site. Tudo pelo que trabalhamos, ralo abaixo. E eu tenho ouvido conversas
dele com o pai. Não tenho certeza, mas acho que Michael está cortando a grana dele. Tudo está fodido agora.
— Eu sei, Risa. Mas também não me importo.
Ela soltou um suspiro pesado.
— Me deixe recompensar você. Eu me sentia péssima antes, mas agora... Não consigo acreditar no que ele fez com você.
Eu dei uma risada.
— Não quero que você me recompense. Quero seguir adiante com a minha vida, e você não vai fazer parte dela. Parece que você virou a presa de uma pessoa terrível
com motivações horrorosas, mas não sou a pessoa que vai salvar você.
Os olhos castanho-escuros dela ficaram sérios por um momento.
— Posso ajudá-la a encontrar Trevor.
Arqueei uma sobrancelha.
— Ele é bem esquivo. Não consigo imaginar que deixaria você ou mesmo Max chegarem perto demais.
— Posso tentar encontrar provas de que Max pagou a ele, talvez um endereço para que você possa rastreá-lo. Ele não vai parar. Se tem alguém que odeia Blake mais
do que Max é o Trevor.
Estreitei os olhos para ela, e a curiosidade queimava dentro de mim. Será que eu teria uma chance de encontrar um inimigo através do outro ou será que esse era apenas
um passo perigoso que traria Risa para mais perto do meu mundo quando isso era o que eu menos queria?
— Admito que estou intrigada, mas não o suficiente para morder a isca. Trevor não é uma preocupação minha agora. Ao contrário de você e dos seus parceiros, eu não
planejo meus dias baseada em vingança e contra-ataques. Só quero seguir em frente com a minha vida. Tenho um casamento para planejar e uma empresa para administrar.
Lamento que Max tenha tirado proveito de você. Talvez eu não devesse lamentar, mas, para falar a verdade, eu gostava de você, Risa, e isso é difícil de esquecer.
Espero que pelo menos você tenha aprendido uma lição com tudo isso.
— Não espero que você me aceite de volta, mas quero consertar as coisas. Vou recompensar você de alguma forma.
***
Me apoiei na parede do corredor escuro e frio do lado de fora do escritório enquanto pensava em ir para casa mais cedo. Este devia ter sido o dia mais emocionalmente
exaustivo de volta ao trabalho da história. Peguei o celular e liguei para Blake.
— Fala, gata.
Suspirei, ainda incapaz de processar tudo.
— Então... Almocei com a Risa hoje.
— O quê?
A preocupação dele ficou evidente naquelas únicas palavras.
— Trouxe Alli comigo e Clay nos levou. Correu tudo bem.
— O que ela queria?
— Acho que ela quer me recompensar. Disse que se sente péssima com relação a tudo, apesar de, não surpreendentemente, Max não ter contado a ela o que realmente aconteceu
na festa. Ela só achava que vocês dois tinham saído no braço.
Ele bufou.
— Mas, ao menos por enquanto, ela ainda está com ele. Ela parece com medo de retaliações, caso o deixe. Sinceramente, fiquei com pena dela, apesar dela estar colhendo
o que plantou.
— Eles se merecem — murmurou ele, e havia um ruído das teclas de um teclado baixinho ao fundo.
— Ela acha que Michael está cortando a grana dele.
O silêncio pairou no ar. Nenhum ruído de teclas, nenhuma palavra, apenas o barulho suave da respiração de Blake.
— Por que ela acha isso?
— Ela disse que ouviu conversas entre eles. E ele disse a ela que não pode mais bancar o PinDeelz. Não tenho certeza, mas acho que talvez isso tenha algo a ver com
o site estar fora do ar. Diz lá que o M89 hackeou agora, o que não faz sentido algum.
— Eu hackeei o site.
Minha boca se abriu para falar, mas as palavras ficaram paradas ali por um segundo.
— Você hackeou o site deles?
— Não fique tão surpresa. Eles mereceram.
Se eu não estivesse tão chocada, talvez sentisse um pouco de pena deles.
— Mas como... se Trevor desenvolveu o site?
— Trevor é um troll, não um desenvolvedor. E ele obviamente não desenvolveu o site deles com a mesma dedicação que tem como hacker. Consegui entrar e limpei o servidor
com pouco esforço. Ele é um programador de merda.
— Mas espere, e a logo do M89?
— Fiz isso só para foder com a cabeça de Max.
Uma risada curta escapou de mim. Blake era cruel, mas eu meio que adorei aquilo.
— Talvez tenha dado certo. Risa mencionou que Trevor sumiu do mapa. Max não consegue contato com ele.
— Sem dúvida porque ele não está pagando mais. O negócio que Max estava usando como garantia para pagar Trevor foi dissolvido alguns dias atrás. Se Michael não está
mais mandando dinheiro para ele, talvez seja por isso.
Minha mente girava, enquanto eu absorvia todos esses novos detalhes. Me atacar teria sido o gatilho que alavancara toda essa sequência de eventos. E se o que Risa
disse era verdade, talvez o mundo de Max estivesse implodindo. As finanças dele, sua família, quem sabe até sua liberdade.
— Se tudo isso está acontecendo por causa de Michael, faria sentido que nenhum dos seus outros investidores quisesse aborrecê-lo.
— Não deixe que o charme dele engane você. Michael é uma ótima pessoa, mas não é alguém a se desafiar.
— Mas o próprio filho?
— Max finalmente está tendo o que merece. Não tenho empatia nenhuma por ele, e você também não deveria ter.
— Eu sei. Acredite em mim, não tenho — falei.
Meus pensamentos vaguearam. Eu ainda tinha que falar com a polícia e não estava nada entusiasmada para fazer isso.
— Preciso ir, Erica. Tenho que atender uma ligação. Mas esqueci de dizer a você antes que minha mãe quer que a gente vá jantar lá amanhã à noite. Eu disse a ela
que iríamos, mas não estava pensando direito. Tudo bem por você ir lá e ver todo mundo tão cedo?
— Claro. Blake, eu amo a sua família.
— Eu sei, mas depois de tudo que aconteceu... Não precisamos ir se você não quiser voltar lá tão cedo.
— Não, tudo bem. Mesmo, estou bem. Preciso seguir em frente. Não posso desfazer o que aconteceu, mas também não posso ficar me apegando a isso. Além do mais, seria
legal ver todo mundo. Na maior parte do tempo, eles são demais para mim, mas você me manteve isolada por tempo suficiente. Estou, para falar a verdade, ansiosa por
toda a confusão.
— Está bem, vou dizer a ela que estaremos lá.
— Me parece ótimo.
— Te amo, gata.
Sorri.
— Eu também te amo.
***
Me foquei atentamente na revista em meu colo, tentando ao máximo não me sentir sobrecarregada. Viver dentro do meu cérebro ultimamente era como viver em um circo.
Sid e James tinham os planos de relançamento sob controle, então Alli e eu decidimos tirar a tarde de folga para dar uma olhada nos vestidos. Eu ainda estava aérea
por causa do encontro com Risa, então nem discuti quando Alli sugeriu que fizéssemos uma pausa.
— Minha menina.
Ergui os olhos e vi Marie caminhando na minha direção. Ela sorriu calorosamente, mas pude ver a preocupação em seus olhos. Me levantei do sofá creme ornamentado
da loja de noivas e a abracei quando ela estava perto o suficiente.
— Você parece bem, querida. Como está se sentindo?
— Estou bem — insisti, engolindo a onda de emoções que surgiu ao vê-la de novo. — Me sinto muito bem. Voltei a trabalhar e tudo mais.
— Fico feliz.
Ela não se mexeu, seus braços estavam enrolados e apertados em torno dos meus ombros. Quanto mais tempo ficávamos daquele jeito, menos controle eu tinha sobre as
lágrimas que queimavam atrás dos meus olhos.
— Marie. — Dei uma risada fraca para evitar soluçar. — Você vai me fazer chorar de novo. Não posso mais chorar por causa disso.
Ela se afastou, com os olhos marejados como os meus.
— Não tem problema em chorar. O que aconteceu foi terrível. Não consigo nem imaginar o que você está passando.
Meneei a cabeça e esfreguei os olhos.
— Não é nada que eu já não tenha superado antes. Vou ficar bem.
Ela franziu o cenho e eu me arrependi daquelas palavras assim que elas escaparam da minha boca. Eu comecei a assumir que todo mundo sabia sobre Max e que a maioria
sabia também sobre Mark. Ter meu passado tão escancarado não era uma sensação confortável, mas, estranhamente, me deu um pequeno alívio. Às vezes, esconder o que
tinha acontecido e fingir que aquilo não tinha se tornado parte de mim exigia mais energia do que simplesmente assumir tudo.
Nos últimos anos, eu frequentemente debatia comigo mesma se devia ou não contar a Marie sobre o que aconteceu com Mark, mas, no final, decidi que era melhor não
colocar esse fardo nela. Não sei por que eu disse aquilo agora, a não ser para dar mais um passo na direção de trazer aquela cicatriz à tona. Mesmo assim, eu não
queria preocupá-la com isso hoje.
Ela fez um carinho nos meus braços lentamente.
— O que você quer dizer com isso?
— Nada. Esqueça. Hoje é para ser um dia feliz. Certo?
Sorri e funguei, tentando me recompor.
Os lábios dela estavam apertados, então, ela soltou um suspiro breve.
— É claro. Obrigada por me convidar. Mas eu não sei ao certo como vou conseguir não chorar como um bebê quando a vir em um vestido branco. Você já escolheu alguma
coisa?
Olhei em volta, procurando por Alli.
— Não, ainda não. Alli está com a vendedora escolhendo vestidos para mim. Ela disse que sabe o que eu quero, afinal de contas. Ela geralmente sabe, então estou tranquila.
Dei de ombros.
Então, Alli apareceu com outra mulher jovem. Ambas tinham os braços repletos de mais renda do que eu podia usar em toda a vida.
Meu estômago revirou. Caramba, lá vamos nós.
Quinze minutos depois, a vendedora estava prendendo a parte de trás do meu vestido, ajustando o tecido apertado em meu busto e minha cintura. Cuidadosamente, saí
na saleta que a loja tinha reservado para nós. Alli e Marie estavam sentadas na beirada do sofá, com olhos arregalados, quando apareci. Me virei para olhar para
os espelhos.
Marie levou as mãos à boca. Antes que eu pudesse chorar rios, voltei meu foco para o vestido. Era lindo, mas os detalhes do design não eram importantes quando tudo
em que eu conseguia pensar era caminhar na direção de Blake naquele vestido. Para ser sua esposa. Para ser dele, para sempre.
A realidade daquele pensamento me atingiu como uma marreta. Eu não sabia se queria vomitar, desmaiar ou cair no choro. Tudo que eu sabia era que, até este momento,
a ideia de me casar parecia mais abstrata. Agora, era real e estava bem na minha frente, impossível de ignorar.
Alli veio até o meu lado com um sorriso largo.
— É lindo. Amei. Você gostou?
— Isso está realmente acontecendo — foi tudo que consegui dizer.
Ela deu uma risada e apertou meus ombros.
— Sim! Está acontecendo e você vai ser muito feliz.
Dei uma leve risada ao pensar em quanto aquilo tudo parecia surreal.
— Não consigo acreditar que estou fazendo isso. Eu vou realmente me casar.
Marie parou do outro lado e pegou minha mão, cheia de amor nos olhos.
— Você está preparada para isso, querida?
Olhei para o reflexo dela, estática, enquanto me perguntava a mesma coisa. Um peso dentro de mim desapareceu quando me ouvi responder.
Sim.
Eu nunca estive tão pronta.
CAPÍTULO 18
Fiquei olhando para meus pés, enquanto eles afundavam na areia molhada. Onda após onda batia nas minhas panturrilhas. Enquanto esperávamos pelo jantar, Blake e eu
tínhamos descido até a orla, parando na beirada da praia particular dos pais dele. Inspirei o ar salgado, a umidade tocando minha pele na noite quente de verão.
Ergui os olhos para o horizonte, que escurecia.
— Você não se sente como se estivéssemos no limite do mundo?
Blake se abaixou para pegar uma concha que rolava com a maré.
— Acho que sim. — Ele a jogou de volta nas águas agitadas. — Você adora o mar, não é?
— Sim. Acho que não posso mais viver sem ele. — Dei uma risada baixinha. — Acho que gosto de viver no limite.
Meu olhar encontrou o de Blake. Os olhos dele estavam quietos, contemplativos. O brilho fraco do pôr do sol lançava sombras em seu rosto. A camiseta vintage que
ele estava usando se agitou com a brisa que soprava do mar. A calça jeans dele estava enrolada acima dos tornozelos, apesar de a barra estar molhada mesmo assim.
Blake era perfeito em todos os sentidos que importavam para mim. Perfeito e todo meu.
Ele pegou minha mão e me puxou para ele. Fui voluntariamente, adorando o calor de seu abraço. Ele me envolveu pela cintura, pressionando um peito contra o outro.
Minhas mãos foram até os cabelos dele, bagunçando suas mechas castanho-escuras. Sorri, memorizando Blake e aquele momento.
— Às vezes, eu gostaria de poder simplesmente pegar você no colo e levá-la para longe. Fugir de toda essa loucura e tirar um tempo. Um tempo de verdade.
Inspirei. Eu concordava plenamente, mas também sabia o quanto isso era irreal. Eu tinha passado um tempão querendo fugir da vida, mas sem fazer ideia de para onde
ou para quem correr. Eu resisti à vontade e segui em frente, fazendo a vida dar certo mesmo nos momentos difíceis. Durante a morte do meu pai, a separação do único
pai que eu conhecia até recentemente e, depois, durante o inferno que Mark me fez passar. E cá estava eu — mais forte, mais feliz do que nunca, curtindo esse momento
perfeito com o homem que eu tanto amava.
— Também quero escapar com você. Mas este é o nosso lar, e nossas vidas sempre estarão aqui esperando por nós. Além disso, tirar mais uma folga me faria ter um colapso.
Teria uma tonelada de coisas para resolver depois de ter ficado tanto tempo fora.
Me lembrei imediatamente da montanha de trabalho em que eu mal tinha tocado hoje. O almoço com Risa me desconcentrou, quando meu foco deveria estar nos detalhes
relacionados à nossa atualização iminente.
Então, me lembrei de uma coisa.
— Aliás, o que está rolando com James? Quase tive um ataque cardíaco quando o vi no escritório hoje de manhã. O que aconteceu?
— Alli queria que ele estivesse no escritório para ajudar enquanto você estava fora.
— Não consigo acreditar que essa tenha sido a única razão pela qual você concordou com isso.
— Não, nós conversamos.
— Ele veio falar com você?
Me afastei de leve, sem acreditar que James tinha, afinal, procurado Blake ou vice-versa.
— Acho que nós dois podemos concordar que ele é bastante protecionista com relação a você, então quando Alli mencionou que você tinha se machucado, não levou muito
tempo para que ele aparecesse no meu escritório querendo saber mais.
— E?
— Acho que, inicialmente, ele queria ter certeza de que eu não tinha nada a ver com você estar machucada. Ele parece ter essa ideia fixa de que eu bato em você.
Ele se encolheu, e eu não gostei das emoções que apareceram ali.
— Acho que não tem nada a ver com você. O pai dele era violento. Acho que é uma questão delicada para ele.
— Pode ser isso. De qualquer forma, depois de saber que Max tinha atacado você e, já sabendo que Daniel a machucou, ele apresentou um argumento convincente de que
ele deveria ficar, pelo seu bem.
— E você concordou?
— Basicamente, por mais que eu quisesse, não posso estar com você 24 horas por dia. Com tudo que aconteceu ultimamente, faz sentido que James esteja lá para garantir
que você estará segura no trabalho.
Me afastei ainda mais dele, encarando-o incrédula.
— Deixe-me ver se eu entendi direito. Você está me dizendo que está disposto a deixar que James fique na empresa para que ele atue como meu guarda-costas interno?
— Erica. — Uma subcorrente de alerta passou quando ele disse meu nome. — Se você acha que vou correr qualquer risco quanto à sua segurança, você está louca.
Tentei me afastar, mas ele não se mexeu.
— Não posso suportar a ideia de todos vocês me rondando, esperando que algo terrível aconteça. Quero que confiem em mim para cuidar de mim mesma, ao menos um pouquinho.
— Eu sei, mas cuidar de você é meu papel agora. Lembra?
Fato. Eu tinha aberto mão do direito de brigar com ele com relação a isso.
— Além disso, eu sei que excluir James da sua vida não foi uma decisão fácil para você.
— Você não me deu muita escolha.
— Mesmo assim, você tinha uma escolha. Fico feliz por você ter escolhido o que escolheu e ter se disposto a fazer aquele sacrifício por nós. Não estou dizendo que
acredito plenamente que ele não nutra mais sentimentos por você...
— Ele está namorando a Simone. Estou bastante confiante de que ele partiu para outra.
— Ele fez questão de me contar isso também. Eu mesmo não tive muito sucesso em esquecer você, então você precisa me desculpar se eu aceito a garantia dele com um
pé atrás. Como eu estava dizendo, talvez ele ainda goste de você, mas enquanto ele conseguir se conter, esses sentimentos podem servir para manter você em segurança
e fora de perigo quando você estiver longe de mim. Manter ele lá me pareceu uma concessão que valia a pena.
— Blake Landon fazendo uma concessão?
Revirei os olhos.
Ele me puxou de volta e deu um tapa na minha bunda, por cima do tecido fino do vestido. Gritei e me contorci.
— Revire esses lindos olhos azuis para mim de novo e você vai se arrepender. — Ele me massageou onde tinha dado o tapa, me agarrando com delicadeza. — Talvez você
possa me agradecer, em vez disso.
— Obrigada.
Eu queria ter sido sarcástica, mas estava sem fôlego enquanto ele me pressionava contra seu corpo, com as mãos espalhadas possessivamente pelas minhas costas e na
minha bunda.
— Assim é melhor.
Suprimi um sorriso.
— Você é um caso perdido, sabia?
— Sim. Perdidamente apaixonado por você. Se acostume. Casamento é para sempre.
Os olhos dele brilharam de um jeito que me fez esquecer que eu estava irritada com ele.
— Por falar nisso, eu estava querendo conversar sobre os planos para o casamento hoje.
Enfraqueci um pouco.
— Ah, é?
Ele pegou minha mão e começamos a caminhar de volta para a casa dos pais dele.
— Acho que não é segredo para ninguém que você não consegue competir com o entusiasmo de Alli com relação a todas essas coisas de casamento.
— Você percebeu, é?
Ele deu uma risada.
— Sou bastante observador. Mas eu estava pensando que talvez a gente possa descartar todas essas coisas elaboradas e simplesmente fazer algo pequeno. Ainda podemos
convidar minha família e a sua, mas pular essa coisa de ostentação. Quero me casar com você, Erica. Não quero esperar. Coloque uma faixa rosa na minha cintura para
acompanhar o smoking e pronto, basta.
— Mesmo?
— Mesmo. O que você acha? Podemos fazer aqui ou no vinhedo. Fazemos uma pequena cerimônia na praia, tiramos umas fotos e passamos umas duas semanas na casa lá, só
eu e você. Aí eu posso re-explorar cada centímetro do seu corpo com a doce satisfação de saber que você é minha esposa.
Dei um sorriso largo, adorando tudo aquilo. Especialmente a parte dele re-explorar meu corpo.
— Parece perfeito.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Tudo. Tudo parece perfeito.
***
Alli quase transbordou minha taça de pinot grigio ao rir de algo que Heath estava dizendo. Eu estava ocupada demais ouvindo Fiona desabafar sobre seu último encontro,
que tinha dado errado. Algumas garrafas vazias enchiam a mesa enquanto terminávamos outra excelente refeição em família, cortesia de Greg, que estava se mostrando
um expert na cozinha.
Greg tendia a ser quieto, ao menos em comparação com o resto da família. Mas ele era acessível. Mais acessível do que Blake volta e meia era, apesar de eu conseguir
enxergar semelhanças entre os dois. Observar como as pessoas se tornavam um produto de seus pais ainda me fascinava, talvez porque era uma perspectiva que eu quase
não tinha. Blake era muito diferente tanto de Heath quanto de Fiona, mas, mesmo assim, eles tinham esse traço comum que os tornava uma família.
Eu não podia ter pedido por uma família melhor para fazer parte. Meu coração se alegrava toda vez que eu pensava na bênção que eles tinham se tornado. Ter Blake
teria sido suficiente, mas me tornar parte do mundo deles tornou toda a perspectiva de casar e fazer parte de outra família muito mais do que eu teria esperado.
Catherine desafiava todas as histórias de horror que eu já tinha ouvido sobre sogras malvadas e Fiona era doce, natural e simples. Heath, por mais perturbado que
já tivesse sido, também estava se tornando um amigo leal. E Greg parecia ser a cola que mantinha todos unidos.
Um tilintar repentino soou e meu olhar pausou na taça que Blake estava segurando.
— Temos um pequeno comunicado.
— Ah! O que é?
Alli uniu as mãos em uma palma, endireitando-se na cadeira.
— Você já pediu a Erica em casamento, Blake. Chega de farra. Você está me deixando em maus lençóis — disse Heath.
Alli ficou intensamente vermelha e o empurrou. Ele a segurou pelo pulso, puxando-a de volta para ele e dando um beijo rápido em sua boca.
Blake limpou a garganta.
— Enfim, queríamos que vocês soubessem que tomamos algumas decisões com relação ao casamento.
Ele olhou para mim, silenciosamente me dizendo que eu podia assumir o controle, se quisesse.
Respirei fundo e comecei.
— Bom, como a maioria de vocês sabe, não tenho tido muito tempo e energia para dedicar aos planos do casamento. Eu sei que todos vocês provavelmente querem e esperam
algo grandioso, o que, para ser sincera, tem sido um pouco intimidador.
Catherine sacudiu a cabeça.
— Besteira. Estamos aqui para apoiar você e Blake, não importa o que vocês decidirem. Sendo egoísta, é claro que eu adoraria estar lá para ver meu filho se casar,
mas a maneira como vocês vão fazer isso cabe totalmente a vocês. É o seu dia especial.
— Eu adoraria que vocês estivessem lá, todos vocês. Vocês já se tornaram minha família...
Bati o pé no chão nervosamente, dizendo a mim mesma para não começar a chorar. Caramba, esse era um assunto delicado. Então, senti a mão de Blake no meu joelho,
me dando segurança.
— E como minha própria família é pequena e um tanto distante, pensamos que seria maravilhoso fazer algo pequeno com as poucas pessoas próximas a nós. Talvez só pela
simplicidade, e também porque poderíamos casar antes.
— Você não está grávida, está? — soltou Heath.
Ele estava segurando uma taça de vinho. Alli franziu a testa e bateu com força no ombro dele, que deu uma olhada de desculpas para ela.
— Não, definitivamente, não — respondi rapidamente.
Catherine pegou a última garrafa quase vazia de vinho e encheu sua taça novamente.
— Bom, você não ouviria nenhuma reclamação de nós. Estamos entediados e aposentados. Preciso de um neto o quanto antes.
Fechei a boca, que estava aberta. Ai, caramba. Blake mal conseguia conter um sorriso. Ele me deu mais um leve apertão no joelho.
— O jantar estava ótimo, mãe. Acho que essa é nossa deixa para ir para casa.
***
Talvez o vinho branco e o ar marinho tivessem causado algo em mim, porque eu não conseguia tirar minhas mãos de Blake enquanto ele dirigia de volta à cidade. Passei
a mão pela coxa dele, subindo até a saliência sob a calça jeans e acariciei delicadamente. Ele colocou a mão sobre a minha, mas não me parou.
— O que você pensa que está fazendo, docinho?
— Quero você esta noite, Blake. Não posso mais esperar.
Eu o esfreguei, e sua ereção crescia sob meu toque. Eu queria cada centímetro dele e, esta noite, eu iria ter. Não me importava o que tinha acontecido. Blake era
meu amante e nossos corpos foram feitos para tudo que eu queria dar a ele hoje. Já fazia tempo demais e eu precisava dele. Só que precisar não fazia jus às emoções
que tomavam conta de mim. Algo diferente estava acontecendo e, lentamente, comecei a compreender tudo.
Ele segurou minha mão com mais força, desacelerando meus movimentos. Ele contraiu o maxilar e eu pude sentir sua preocupação.
— Espere até chegarmos em casa — disse ele baixinho.
Passei o polegar pela cabeça macia do pau dele e o agarrei com mais força.
Ele puxou o ar bruscamente.
— Céus.
Emiti um ruído apreciativo de pura satisfação feminina, me aproximando para que nossos corpos se encostassem.
— Não quero esperar — falei no ouvido dele.
Meus seios rasparam no braço dele quando fui abrir sua braguilha. Mas ele me parou.
— Erica, coloque as mãos sobre os seus joelhos. Agora.
A expressão dele ficou severa quando aquele comando bruto saiu de sua boca, a vulnerabilidade anterior desapareceu.
Meu coração batia rapidamente enquanto eu analisava o humor dele. Será que ele estava bravo ou só estava sendo mandão? Independentemente, uma pequena agitação por
receber ordens se espalhou por mim, alojando-se no fundo da minha barriga. Me acomodei no banco novamente e coloquei as mãos sobre os joelhos.
Ele me olhou rapidamente antes de voltar sua atenção para a estrada novamente.
— Erga a saia e tire a calcinha. Quero ver você.
Sorri, satisfeita com o rumo que isso estava tomando. Obedeci e ergui a saia o suficiente para que ele pudesse me ver nua e pronta para ele. Tudo que eu queria era
montar nele na estrada, mas poderia me contentar com isso até chegarmos em casa.
— Ótimo. Agora, toque em seus seios.
Hesitei por um segundo, considerando o pedido dele e o calor que ele me fez sentir. Então, segurei os seios com as mãos, reparando em como eles já estavam pesados
e tensos.
— Belisque seus mamilos, exatamente como eu faria. Forte.
Fiz o que ele pediu e a sensação disparou até meu sexo. Abafei um pequeno gemido. Meus mamilos rapidamente se transformaram em brotos rijos, implorando pela boca
dele. A maneira como ele me olhava agora, seus olhos sombrios e perigosos, me derreteu na hora.
— Me conte como é a sensação.
Fechei os olhos e me contorci, a sensação do couro na minha bunda me lembrando da minha nudez. Grunhi.
— Estou toda quente. Mas estou frustrada. Quero as suas mãos em mim.
— Sei que você quer, gata. Logo, logo. Você quer que eu deixe você se tocar mais um pouco?
— Sim. Por favor.
— Que tal você colocar os dedos na sua xota e me dizer como é a sensação?
Expirei bruscamente, meu desejo agora era urgente. Eu não tinha como durar muito desse jeito. Deslizei a mão pelo tronco até que meus dedos contornaram a entrada
do meu sexo. Deslizei o indicador pela abertura, pelo clitóris sensível, e desci novamente. Abri os olhos e vi Blake me observando de novo, sua língua umedecendo
o lábio inferior. Vendo aquele pequeno sinal do desejo dele próprio, enfiei os dedos em mim mesma. Curvei as costas para fora do banco e gemi, querendo que ele estivesse
me preenchendo agora, onde eu o queria há tanto tempo.
Ele se recompôs antes de acelerar um pouco mais.
— Converse comigo, gata. Estamos perto.
— Você poderia estar dentro de mim tão facilmente. Quero você aqui, sua boca e seu pau. Não é suficiente, só eu. Preciso ter você ou vou perder a cabeça, Blake.
Agarrei meu seio com a mão livre, beliscando o mamilo como ele tinha me pedido antes.
— Puta merda — suspirou ele.
Ele apertou o volante com mais força.
— É isso que quero. Quero você se movendo dentro de mim, metendo em mim. Quero esquecer tudo que não seja essa sensação, como você faz ser perfeito toda vez.
Ele olhou para o lado e colocou uma mão na minha coxa. Ele ergueu minha perna, apoiando meu joelho no console. Eu estava totalmente aberta, exposta e ávida pela
atenção que ele deveria estar dedicando à estrada.
— Continue — disse ele roucamente.
— Só você já fez eu me sentir desse jeito. Eu amo. Eu amo você. Tenho ficado louca de saudades de você, precisando de você. Blake, preciso de você.
Movimentei os dedos nos tecidos sensíveis, minha mente girando de desejo.
— Blake, por favor — gemi, não ligando para onde estávamos. Eu estava perto e não conseguia esperar.
— Não pare. Quero ver você gozar pra mim.
Fiz o que ele pediu, desesperada por qualquer alívio, mesmo com minha própria mão. Cheguei mais perto do orgasmo, e a promessa espiralava em meus músculos. Com os
olhos fechados, eu não fazia ideia de onde estávamos até que o carro parou repentinamente e as mãos de Blake estavam nos meus seios, sua boca quente e molhada na
minha.
— Goze, gata. Rápido.
As mãos dele cobriram as minhas enquanto eu apressava meus últimos movimentos. Meus músculos ficaram tensos, minha pele queimando nos lugares em que ele tocava.
— Blake — suspirei o nome dele, de novo e de novo.
— Adoro ver você fazer isso. Céus, eu te quero muito. Pra caralho.
Então, eu desandei, assim que os dentes dele se afundaram no meu ombro, tremendo com a força do clímax.
Desci a perna lentamente, a realidade de que eu estava toda aberta no carro dele em nossa rua não muito deserta despertava devagar. Engoli um ofego, gradualmente
me recompondo. Blake se recostou no banco, parecendo fazer o mesmo enquanto olhava pela janela.
— Vamos.
CAPÍTULO 19
Me apoiei na porta do apartamento assim que ela se fechou, apenas parcialmente saciada. Minhas pernas ainda estavam moles como gelatina, mas todas as células do
meu corpo estavam carregadas, prontas para ele.
— Venha aqui.
Blake se virou após alguns passos, o desejo e a hesitação estavam em guerra em seu lindo rosto. O desejo venceu quando ele voltou até mim, me prendendo delicadamente.
Ele me beijou, levemente, como se os lábios dele fossem plumas nos meus. Tremi quando ele desceu a mão que estava em meu ombro pelo braço, entrelaçando nossos dedos.
Ele se afastou uma fração.
— Não precisamos fazer isso se você não estiver pronta.
Meu coração doeu com a breve separação entre nós, com aquela pequena recessão de onde ele tinha estado instantes atrás. Agarrei-o pelo quadril, querendo que ele
voltasse para perto de mim, querendo que a distância fosse o único obstáculo entre nós.
— Eu quero.
— Posso esperar. Deus sabe, eu não quero, mas posso.
A tensão permeava as palavras dele. Me curvei na direção do toque suave dele — sussurros de pele sobre pele, declarações silenciosas do amor entre nós que, muito
recentemente, não tiveram escape. Blake era meu amante e nos amávamos com nossos corpos.
— Estou pronta, Blake. Preciso disso, estar perto assim de você.
Eu tinha que encontrar meu caminho e sair dessa, para que pudéssemos nos encontrar um no outro novamente.
Ele segurou meu rosto, me encarando.
— Eu vou esperar. Pelo tempo que você precisar.
— Chega de esperar. Estou...
Sacudi a cabeça, sem querer mostrar minhas dúvidas a ele, mas era tarde demais. Ele se afastou, e seus olhos verdes me questionavam.
— Não posso mais suportar isso. Não sei se estou pronta ou se vou ter um treco no meio do caminho, mas precisamos tentar porque eu não posso viver assim, sem você.
— Estou bem aqui. Não vou a lugar algum.
— Não, não é a mesma coisa. Você sabe que não é. É isso que nós somos, como nos amamos, e às vezes eu não consigo demonstrar a você de nenhum outro jeito.
— Você precisa de tempo para superar isso. Posso ver a hesitação em seus olhos. Posso sentir quando você se contém. Isso me destrói. Não consigo suportar a ideia
de ser a pessoa que a assusta e traz de volta aquelas memórias a você.
— Eu sei... Céus, nunca vou conseguir pedir desculpas o suficiente por tudo isso.
Larguei o peso do corpo na porta, derrotada pelo que Max causara entre nós.
— Você não precisa pedir desculpas. Eu disse a você uma centena de vezes. Você precisa acreditar em mim quando digo isso. Nada disso é, nem nunca foi culpa sua.
— Eu gostaria de fazer com que isso fosse embora. Você não faz ideia de quanto eu quero isso... que a lembrança de Mark fosse apagada para sempre, mas nem mesmo
a morte dele conseguiu isso. O medo de que ele pudesse me machucar de novo se foi, mas o que ele fez comigo por dentro... Não sei se um dia eu vou conseguir me livrar
disso. Quero pensar que, um dia, isso vai parar de me assombrar, mas tudo isso... nos últimos tempos... tudo parece tão recente. Às vezes, sinto como se eu estivesse
vendo tudo de novo, mas com outros olhos.
— Como assim?
— Eu sei que parece loucura, mas antes, com Mark, logo depois de ele ter me atacado e nos anos seguintes ao ataque, eu nunca estive realmente melhor. Eu era funcional
e feliz o suficiente e segui em frente com minha vida, mas, para isso, eu ignorei o que ele fez comigo. Tranquei-o numa caixa, joguei a chave fora e me convenci
de que eu estava bem. Mas eu não estava. Antes de você aparecer na minha vida, eu nunca tinha encarado de fato nada daquilo. Talvez por autopreservação na faculdade,
porque eu não conseguia admitir que o estupro me arruinasse e destruísse tudo que eu tinha lutado tanto para conquistar. Mas não consigo mais bloquear isso. Você
já viu e não me julga ou tem pena de mim por causa disso. É parte de mim e, pela primeira vez em anos, estou percebendo que ainda não estou totalmente curada. E
está tudo bem. Mas estou melhor por causa de você, por causa de nós.
Puxei-o contra meu peito novamente e dei um beijo suave nele. Eu o inspirei. Seu cheiro e sua proximidade me deixavam tonta.
— Não vou mentir para você, Blake. Estou um pouco em choque. Odeio estar assim e odeio ter reagido do jeito que reagi antes. E não posso prometer que não vá acontecer
de novo, em uma escala menor. Fisicamente, não há dúvidas com relação ao que eu quero, mas eu nunca sei o que vai despertar a minha mente. Você tem razão quanto
a eu precisar de tempo. Mas não posso passar esse tempo longe de você porque é você quem faz eu me sentir melhor. Você é a única pessoa que pode me fazer superar
isso, porque eu nunca confiei em ninguém como confio em você. Eu te amo tanto que, às vezes, até dói. Você precisa acreditar em mim, que você é o único que pode
me curar, Blake.
Eu o abracei forte, deixando que uma lágrima escorresse pelo meu rosto. As emoções correndo soltas dentro de mim estavam tomando conta, de um jeito ou de outro.
— Gata — sussurrou ele contra meus lábios, seus ombros relaxaram sob minhas mãos.
— Por favor.
Beijei-o novamente, com mais firmeza, mais demanda.
Ele se afastou um pouquinho novamente, a preocupação estava impressa nas rugas em torno de seus olhos. Tentei tocá-lo, mas antes que eu pudesse selar a súplica com
mais um beijo, ele me ergueu pela cintura. Enrolei as pernas em torno dele e deixei que ele nos levasse à escuridão do quarto. Ele me soltou no pé da cama, sem parar
de me tocar.
Passei a mão pelos cabelos dele, intensificando o beijo e fundindo nossos corpos em um só. Minha língua encontrou a crista dos lábios dele, tocando de leve, buscando
acesso. Ele suspirou contra mim, abrindo-se. Nossas mãos deslizavam pelo corpo do outro. Mesmo com a tensão que nos envolvia, cada movimento era calculado e sem
pressa, como nunca havia sido antes. Eu não conseguia me lembrar de uma vez em que ele tivesse se demorado e sido tão cauteloso assim antes. E apesar de parte de
mim estar berrando para que ele se apressasse, de alguma forma, isso era mais importante. A dança lenta de pedir com cada toque.
Quando as roupas caíram no chão e nossas mãos encontraram o caminho para nossos corpos de novo, eu interrompi o beijo e me sentei na beirada da cama. Fui um pouquinho
para trás, sem saber ao certo como ele me queria ou quanto eu podia aguentar. Apenas a lua iluminava o quarto, lançando um brilho violeta nos lençóis emaranhados
sob mim. Ele ficou parado por um momento, com um amor dedicado estampando seus traços no escuro.
Segurando meu pé, ele o ergueu até seus lábios e deu um beijo no meu dedão. Me deitei, deixando que meu corpo relaxasse no edredom macio enquanto ele subia pela
minha panturrilha, traçando um caminho delicioso até meu joelho e pela minha coxa. Parando um pouquinho antes do meu sexo, ele migrou para o outro lado.
A ânsia contra a qual eu estava lutando há dias agora era impossível de ignorar, impossível de resistir. Meu orgasmo anterior tinha colaborado pouco para reprimi-la.
Eu queria implorar, mas ele se demoraria agora independentemente do que eu dissesse. Nada o faria forçar os limites de seu controle. Ele seguiu o mesmo caminho com
a mão e meus olhos se abriram de supetão. Segurei a mão dele no meio da minha coxa, interrompendo seu trajeto. Respirando para acalmar as batidas frenéticas do meu
coração, eu me debati com um novo tipo de pressa que se espalhava por mim.
Os olhos dele se arregalaram, todos os músculos congelados, imóveis. Busquei pelas palavras enquanto ele esperava que eu falasse.
— Não use as mãos, está bem?
Minha voz era pequenina. Eu odiava o que aquelas palavras implicavam, mas não podia não dizê-las a ele e arriscar aquele momento entre nós.
A linha do maxilar dele se tensionou, o músculo se contraindo. Dei um aperto de garantia na mão dele.
— Está tudo bem — falei, evitando as razões reais, as razões que ele provavelmente já tinha deduzido.
Uma das lembranças menos agradáveis que eu tinha ultimamente era das mãos de Max em mim aquela noite. Eu queria apertar os olhos até que aquela imagem sumisse, mas,
ao invés disso, me foquei em Blake.
Ele deixou meu pé cair novamente na cama. Ele se levantou, me penetrando com seu olhar. Ele não perderia nenhum sinal esta noite. Na maioria dos dias, ele estava
em mais sintonia com meu corpo do que eu. Sabendo contra o que estávamos lutando, nada passaria batido por ele.
— Erica, eu já disse isso antes, mas precisamos de uma palavra de segurança. Se você não achava que precisávamos antes, eu preciso que você tenha uma agora.
Revirei os olhos.
— Pense nisso como algo para me dar tranquilidade também.
— Vou dizer a você quando parar. Eu sempre digo — insisti.
— Não. É mais difícil me pedir para parar e explicar por quê. Tudo de que você precisa é uma palavra e isso vai dizer tudo. Vai me dizer para parar. Vai me dizer
que estou forçando a barra, que sua cabeça está gritando de tal forma que você precisa me dizer “pare”. Precisamos de uma agora ou é melhor não continuarmos com
isso esta noite, porque eu não vou arriscar forçar a barra com você. Não hoje.
Suspirei, não convencida de que precisávamos de uma palavra de segurança, mas se isso significava tanto para Blake, eu cedia.
— O que vai ser? Simplesmente escolha alguma coisa.
— Você tem que escolher. É a sua palavra de segurança. Escolha uma palavra que você não vai hesitar em dizer se eu estiver forçando os seus limites. Não pretendo,
mas...
— Limite.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— É isso. Vou dizer limite se você estiver fazendo qualquer coisa que eu não possa aguentar.
— OK, funciona.
Ele pareceu convencido. Expirou e a preocupação em seus olhos amenizou-se. Eu não fazia ideia de que escolher a palavra daria tanta segurança a ele, porque eu sempre
tinha pensado o contrário. Como se dizê-la significasse que eu não podia assimilar tudo que ele podia me dar ou que eu estava assumindo plenamente o papel de submissa
no qual eu já estava mais atolada do que nunca.
O silêncio se instaurou entre nós, um vazio que ameaçou arruinar nosso momento. Enganchei o calcanhar atrás da coxa dele e puxei a mão dele para persuadi-lo a vir
até mim. Ao invés de se acomodar entre minhas pernas, ele se deitou ao meu lado. Me virei para ele, alinhando nossos corpos. Nossas cabeças estavam repousadas sobre
os travesseiros, ficamos nos encarando.
— Eu quero isso — sussurrei. — Por favor, não deixe que eu arruíne isso ou assuste você.
— Me diga exatamente o que você quer.
— Quero que você faça amor comigo, Blake, e que nunca pare. Pelo resto das nossas vidas, quero amor na nossa cama. Nada pode se intrometer entre nós desse jeito
de novo, não importam as circunstâncias.
Antes que ele pudesse responder, eu o beijei. Era um beijo cheio de frustração e determinação e, acima de tudo, amor. Era o nosso amor que podia nos fazer superar
aquilo. Ele retribuiu minha paixão, me inclinando do jeito que ele me queria. Respiramos o ar um do outro e nos embebedamos um do outro até que os segundos se transformaram
em minutos. Até que meus lábios estivessem sensíveis e inchados. Minhas hesitações não tinham sumido, mas estavam bem lá no fundo. Circundei a grossura dura da ereção
dele entre nós, deslizando a mão até a ponta.
Ele rosnou, curvando os quadris para cima, na direção do meu toque. Escorreguei a mão até a base e subi novamente, masturbando-o delicadamente.
— É isso que eu quero. Venha cá.
Puxei o quadril dele na minha direção e me deitei de barriga para cima. Ele se moveu com elegância, subindo em mim, mas mal me tocando. Com as mãos ao lado da minha
cabeça, ele se abaixou. O calor de nossos corpos se encontrou. Ele beijou meu ombro e se aninhou no meu pescoço.
— Me coloque dentro de você.
Tremendo de leve, encontrei a carne quente do pau dele novamente e o guiei até mim até que a cabeça quase me penetrava. Puxei o quadril dele novamente e me curvei,
sinalizando para que ele me penetrasse. Centímetro a centímetro, ele deslizou para dentro, sem nenhum sinal de resistência do meu corpo.
— Ó, Deus.
Meus olhos reviraram, uma onda de alívio e prazer me inundando. Cada célula do meu corpo parecia suspirar, porque ele estava comigo de novo, onde deveria ter estado
esse tempo todo. Esse abismo insuportável entre nós tinha finalmente se rompido e nada nunca foi tão perfeito.
— Olhe para mim — sussurrou ele.
Quando abri os olhos, os olhos de Blake estavam sombrios, encobertos pelo tesão. Mas a intensidade de costume que mal podia ser contida tinha, de alguma forma, sido
reprimida pela preocupação dele comigo. Ele se afundou em mim, se acomodando ali até eu falar.
— Ter você dentro de mim é incrível, Blake. — Minha voz vacilou, densa de emoção. — Me sinto como se já pudesse gozar, mas quero que isso dure mais.
Ele soltou a respiração, movendo-se com cuidado, mas sem penetrar com tudo.
— Você sabe que não me oponho a você gozar quantas vezes quiser. Não precisa se conter.
Sorri e enrolei as pernas em torno da cintura dele. Prendendo os quadris dele entre minhas coxas, eu o estimulei a me penetrar de novo. Ele o fez, de novo e de novo,
cada movimento um pouco mais seguro, cada pressão de nossos corpos me relaxando e levando para longe todos os pensamentos que poderiam me assombrar nesse momento
perfeito.
Nós amávamos desse jeito, sem palavras, os movimentos dele eram guiados apenas pelos meus. Estávamos em sintonia, como se o corpo dele me ouvisse. Com cada explosão
do encontro de nossos corpos, o fogo dentro de mim crescia. Passei as mãos na pele dele, querendo poder acelerar os movimentos dele para saciar essa fome sugadora,
mas adorando a escalada lenta. A chama não era menos intensa e a necessidade de gozar não era menos potente.
— Me avise quando você for gozar. Me diga do que você precisa.
O desespero na voz dele e sua respiração em meu pescoço me levaram além do limite.
— Ó céus. Agora... Estou gozando.
O lampejo de calor se espalhou por mim à medida que o orgasmo tomava o controle. Marquei ele com as unhas quando eu precisava de mais. Desandei em torno dele, criando
uma fricção aguda entre nós. Ele penetrou mais fundo, me levando àquele êxtase que ninguém nunca conseguira causar.
— Erica...
Sobre as batidas do meu coração, eu ouvi a dúvida na voz dele. Ele queria saber que eu estava com ele, que estávamos bem para continuar. Ele não precisava ser tão
cauteloso. Eu estava fora de mim agora, imune aos horrores quando estávamos tão perto assim do arrebatamento.
— Eu te amo. Eu te amo tanto — choraminguei, lágrimas se formando nos cantos dos meus olhos.
Tudo estava incrível agora, finalmente. As palavras saíam dos meus lábios sem parar.
Ele pegou minha mão na dele, pressionando-a na cama, acima da minha cabeça. Com a outra, ele agarrou meu quadril e me ergueu da cama. Ele investiu forte e eu gritei.
O prazer vibrou pelo meu corpo, se sobrepondo ao clímax que já tinha me deixado sem fôlego e enfraquecida.
— Ninguém pode tirar isso de nós — disse ele, roucamente, crescendo dentro de mim.
Ele roubou minha próxima respiração com um beijo devorador. Me apertando com mais força onde me segurava, ele gozou.
***
Abri um olho e vi a luz do dia espiando pela janela. Mais uma manhã nos cumprimentava e, dando uma olhada no relógio, decidi que era hora de começar a me mexer.
O corpo quente de Blake estava enrolado atrás de mim. Metade dos travesseiros estava espalhada pelo chão. Os lençóis estavam emaranhados ao nosso redor. Quando fui
me levantar, ele gemeu, me puxando de volta até eu estar presa no peito musculoso dele.
— Está ficando tarde. Melhor levantarmos.
— Não me importa — resmungou ele, aninhando-se no meu cabelo. — Você é bonita demais para sair daqui.
Sorri. Meu coração se alegrou e eu relaxei no abraço ele. Ele traçou um caminho delicado descendo pelos meus braços até minhas coxas e de volta à saliência da minha
bacia. Ele me segurou ali e me puxou para trás. O suficiente para que nossos corpos estivessem moldados um ao outro. O suficiente para sentir o quanto ele estava
duro. O fato não era surpreendente, mas ameaçava, de fato, minha tentativa de chegar ao trabalho no horário.
Tivemos uma noite incrível e eu não conseguia parar de pensar nisso. Não apenas no sexo, que tinha, como sempre, me deixado completamente molenga e satisfeita dos
jeitos mais maravilhosos. Mas quebramos uma barreira e fizemos isso juntos. Eu me recusava a permitir que meu passado nos mantivesse distantes e confiávamos o suficiente
um no outro para superar os medos que ele tinha plantado em nós dois.
Algo mudou entre nós nessas últimas semanas. Em meio a todo puxa e empurra e aos obstáculos do caminho, estávamos aprendendo a seguir em frente juntos. Às vezes,
errávamos o passo e tropeçávamos, mas estávamos encontrando um novo tipo de ritmo. Toda vez que confiávamos um no outro, nos movíamos com mais graça.
A maneira como Blake fizera amor comigo na noite passada personificou essa graça e eu não poderia estar mais aliviada e satisfeita. Apertei o braço que abraçava
minha cintura, incapaz e sem vontade alguma de resistir.
Ele traçou um caminho até meu ombro, salpicando beijos pelas minhas costas e subindo até meu pescoço. Lá, a língua dele se pôs a trabalhar, lambendo e chupando delicadamente
a pele sensível. Fechei os olhos e me curvei na direção dele antes mesmo de perceber o que eu estava fazendo. Encorajando-o, nos levando a um caminho que eu não
tinha intenção alguma de desviar.
Segurei a mão dele e o guiei até a parte da frente do meu corpo, na direção do V entre minhas coxas. Ele parou antes de me tocar onde eu queria e eu não tive a força
necessária para estimulá-lo a ir além.
— Me toque. Está tudo bem.
— Tem certeza?
A voz dele estava rouca de sono, tornando tudo ainda mais sexy quando ele relaxou o músculo que o estava detendo.
— Tenho — falei.
Lentamente, ele abaixou a mão até chegar ao meu sexo. Com movimentos hesitantes, ele provocou meu clitóris. Aumentei a pressão dos dedos dele, estimulando-o, ainda
mais certa de que estávamos bem e de que isso com certeza era o que eu queria. Lentamente no começo e, depois, acelerando mais, ele foi me tocando até que comecei
a ouvir os barulhos molhados dos movimentos dele. Um gemido suave escapou dos meus lábios. A tensão arranhou meu sexo, a parte de mim que queria ser preenchida.
Atrás de mim, Blake se apoiou sobre o cotovelo. Ele enrolou meu cabelo na mão e deu um puxão leve. Inclinei o pescoço, exposta, enquanto ele continuava seu ataque.
A respiração dele fez cócegas na minha pele sensível enquanto ele chupava e lambia e mordiscava.
— Blake — gemi.
Pressionei o corpo no calor da ereção dele.
— Está querendo alguma coisa?
Ele deu beijos ao longo do meu maxilar até a parte de trás da orelha, seus dedos diabólicos fazendo mágica em meu clitóris.
— Sim.
Ele largou meu clitóris para esfregar o pau na minha entrada, me provocando. Contra todos os instintos, resisti à vontade de empurrá-lo para dentro, de tê-lo dentro
de mim de uma vez. Ele me chamaria de gananciosa, porque eu era mesmo. Eu queria ele todo e odiava ter que esperar.
Como se isso não fosse suficiente, ele segurou meu quadril com firmeza, me mantendo imobilizada, garantindo que eu só me mexeria quando ele quisesse. Minha pele
queimava sob o toque dominador dele.
— Me diga o que eu gosto de ouvir que eu vou lhe dar o que você quer.
— Me foda, Blake. Me faça sua.
— Ah, eu adoro essa sua boca suja — murmurou ele antes de me penetrar apenas alguns centímetros. — Você tem ideia do que provoca no meu pau quando implora que eu
foda você?
Agarrei os lençóis com os punhos. Meu desejo já estava a ponto de bala. Ele penetrou e recuou aquele pedacinho pequeno e enlouquecedor. Pacientemente, esperei por
mais. Então, ele girou os quadris com uma investida curta e pressionou mais fundo. Arfei com a sensação daquela pequena recompensa.
— Eu te amo, Blake. Por favor... Por favor.
— Você não faz ideia do quanto eu adoro ouvir você me dizer isso.
Mesmo assim, ele se demorou, se afundando em mim centímetro após centímetro, me deixando louca de desejo de ser fodida. Ele me apertou com mais força e, depois,
afrouxou. Então, sem nenhum aviso prévio, ele me soltou. Um segundo depois, a mão dele deu um tapa na minha bunda. Gritei, me contraindo impotentemente em torno
do pau dele, o calor se espalhando por meus membros.
— Puta merda, gata. Adoro ver meu pau deslizar dentro de você. Tão suave, como se aqui fosse o meu lugar. — Ele penetrou fundo, expirando bruscamente. — E você é
apertada pra caralho. Me deixa sem fôlego.
Meu gemido se transformou em um grito estrangulado quando ele bateu na minha bunda de novo, mais forte do que antes. As respostas do meu corpo me puseram em órbita
quando ele começou um ritmo irregular, mergulhando fundo dentro de mim. Nossos corpos se moldaram um ao outro com firmeza. Ele envolveu minha cintura com um braço
e bateu os quadris na minha bunda com tudo.
— Blake — gritei quando ele me atingiu bem no fundo. De novo e de novo, tão rápido que eu estava chegando no limite.
Quando eu estava quase lá, a mão dele deu outro tapa, forte. Tremi à medida que o clímax me assolava, esparramando-se por cada membro. Um segundo depois, Blake estava
lá. Com o pau enterrado fundo dentro de mim, ele rosnou. Ele se manteve ali e o jato quente do êxtase dele me preencheu.
Ficamos deitados ali, exaustos sob a luz a manhã. Que bela maneira de acordar.
Depois de um instante, Blake escorregou para fora de mim e se deitou de barriga para cima, seu peito subia e descia com o esforço para recuperar o fôlego.
— Banho? — perguntei, me virando para olhá-lo.
— Pode ir. Já vou lhe fazer companhia. — Ele virou a cabeça, olhando-me nos olhos. — O quê?
Desenhei um pequeno círculo no ombro dele.
— Eu só estava pensando que nunca vou me cansar de provocar essa expressão no seu rosto.
Ele sorriu.
— É melhor você levar esse seu corpinho delicioso para o chuveiro antes que eu faça você provocar essa expressão no meu rosto pelo resto da tarde.
— Você precisa trabalhar, mocinho.
— Relaxe. Para isso, o trabalho pode esperar.
Ele se virou e tentou me agarrar, mas eu me esquivei, escapando por pouco da tentativa dele de me puxar de volta. Não que eu me importasse muito, mas eu tinha minha
própria montanha de trabalho esperando por mim no escritório.
Me demorei no banho, meus músculos estavam esgotados e cansados. Sorri quando pensei em todas as maneiras com que poderíamos recuperar o tempo perdido no fim de
semana. Finalmente, ao perceber que ele não viria, terminei o banho e desliguei o chuveiro.
Saí do banheiro e, como ele não estava no quarto, fui procurar por ele. Vasculhando o apartamento com a toalha enrolada no corpo, segui o som da voz dele e o encontrei
na cozinha ainda maravilhosamente nu. O peito dele continha alguns arranhões das nossas aventuras de final de semana e seus cabelos bagunçados estavam lindos de
um jeito que só podia apreciar plenamente.
— Está certo, obrigado. Me avise se acontecer alguma coisa.
Ele terminou a ligação e largou o telefone no balcão. Eu estava no campo de visão dele, mas ele ficou olhando para frente.
— Está tudo bem?
Ele olhou para mim, mas eu não sabia dizer o que estava se passando na cabeça dele.
— Blake?
Ele piscou, parecendo se afastar dos pensamentos que estavam zunindo em sua cabeça.
— Está tudo bem. Mais do que bem, na verdade.
— Com quem você estava falando?
Ele coçou a testa despreocupadamente.
— Era o meu advogado. Ele queria me avisar que as queixas foram retiradas. Então a audiência foi cancelada.
Ergui as sobrancelhas.
— Assim, simplesmente?
Ele deu de ombros.
— Assim.
— Por que Max retiraria as queixas contra você? Não é possível que ele te odeie menos do que odiava uma semana atrás.
— Ele não retirou. O promotor simplesmente as rejeitou. O advogado acha que talvez seja por causa da natureza da situação, já que Max está sendo acusado de abuso
sexual. Mesmo assim, ele pareceu achar que foi um golpe de sorte. Mas, por mim, tudo bem.
Meu peito esvaziou com um suspiro de alívio.
— Isso é ótimo.
Meus pensamentos focaram imediatamente no lembrete persistente de que eu ainda precisava ir à delegacia prestar depoimento. As queixas contra Blake tinham sido minha
motivação para prosseguir com aquilo.
— Você vai à delegacia mesmo assim, né?
Ele deve ter lido a dúvida nos meus olhos, pois veio até mim. Fiquei imóvel, paralisada pela visão de seu corpo perfeitamente esculpido. Ele parou à minha frente
e desceu as mãos pelo meu braço. Tremi, o toque dele era frio na minha pele.
— Você precisa fazer isso — disse ele baixinho.
— Por quê? Por que preciso me forçar a passar por isso?
Lágrimas logo encheram meus olhos. A apreensão se alojou em meu estômago.
— Você mesma disse que ainda tem cicatrizes para curar. Estou aqui por você. Sempre estarei. Deus é testemunha, não posso evitar. Mas contar a mim, contar a Alli...
não é suficiente. Você precisa ser forte e encarar o que aconteceu com você. Lá atrás e agora. Toda vez que penso no que Max fez... no que ele poderia ter feito...
meu sangue ferve. Mas não posso fazer isso por você. Esta é a sua chance de consertar as coisas, e você é a única que pode fazer isso.
Fechei os olhos.
— Não posso. Tem algo nisso... Não quero quebrar na frente de um estranho. Admitir o quanto fui estúpida... o quanto ele me deixou vulnerável. Todo mundo viu.
Engasguei naquelas últimas palavras.
Ele me silenciou e me puxou para perto. Derreti nos braços dele e deixei as lágrimas caírem.
— Você não foi estúpida. Ele deixou você vulnerável, mas você não precisa ser assim agora. Você é forte. — Ele me abraçou ainda mais forte. — Você consegue.
CAPÍTULO 20
A Oficial Bates me levou a uma pequena sala privativa. Ela devia ter a idade da minha mãe e estava um pouco acima do peso. Seus cabelos estavam presos em um rabo
de cavalo apertado. Alguns cachos curtos escapavam dele, emoldurando um rosto enrugado.
As pernas da cadeira rangeram sobre o piso de concreto, e nos sentamos à mesa de frente uma para a outra. Fiquei torcendo os dedos nervosamente enquanto ela abria
um arquivo e remexia em alguns papéis. Meu coração palpitava contra as paredes do meu peito enquanto esperava por ela. O almoço frugal que eu comi revirou-se ligeiramente
no meu estômago. As afirmações tolas que eu estava dizendo a mim mesma foram engolidas pela voz na minha cabeça, que ficava me lembrando do quanto eu não queria
fazer isso.
O que Max tinha feito era a gota d’água para dragar o passado que eu queria que ficasse no passado. Isso fazia parte do trabalho de superação. Mas eu não conhecia
essa mulher. Uma estranha para mim, ela parecia tão dura e fria quanto a sala em que agora estávamos, e eu não queria ser vulnerável na frente dela, ou de qualquer
outra pessoa, aliás.
Ela deu uma olhada nos papéis e olhou rapidamente para mim.
— Você está bem, querida?
Concentrei meu foco no rosto dela. Minha respiração ficou errática. Lambi os lábios.
— Sim, estou bem. Só nervosa, acho.
Ela pegou uma folha de papel e colocou a caneta em cima.
— Não precisa ficar nervosa. Tudo que você tem que fazer é me contar exatamente do que você se lembra. Vou anotar aqui e ler de volta para você quando terminarmos.
E se tudo estiver correto, você assina e aí acabou.
Concordei rapidamente com a cabeça. Minha mente inventara toda aquela frieza que eu tinha visto nela. Naquele segundo, ela se transformara em outra pessoa, alguém
que, talvez, não estivesse me julgando de todos os jeitos que eu temia que ela e o resto do mundo julgassem.
— Está bem — falei, finalmente.
— Me conte o que aconteceu na noite do ataque.
Fechei os olhos e deixei minha mente viajar até aquela noite.
Durante meia hora, relatei à Oficial Bates como os eventos se desenrolaram. Desde conversar com os convidados e, depois, com Michael, até ceder ao pedido de Max
para conversar em particular. Contei a ela tudo de que eu me lembrava até tudo ficar preto. Durante a última semana, mais ou menos, fragmentos daquela noite ressurgiram.
Eu preferia que não tivesse acontecido, mas qualquer informação poderia ser útil para montar uma imagem mais completa do que tinha acontecido. O resto tinha sido
testemunhado por Blake e várias outras pessoas. Enquanto ela anotava as passagens finais do meu relato, me encolhi por dentro por todo mundo ter me visto tão impotente.
— Tem mais alguma coisa que você gostaria de acrescentar?
Voltei meu foco para ela novamente e meneei a cabeça, desconcertada por quão pouco eu, na verdade, lembrava daquela noite. Conforme o prometido, ela releu tudo para
mim. Assinei, minha mão tremendo de leve quando o fiz.
Não era o nervosismo que estava me fazendo tremer, mas uma onda de alívio. Acabou. Finalmente. Ela me contou que eles entrariam em contato se precisassem de mais
alguma coisa e me acompanhou para fora da sala.
Quando saí, o bloco de concreto que se alojara no meu estômago desapareceu. Tudo tinha sido dito e feito, literalmente. Eu não sabia se isso faria com que Max pagasse
pelo que fez, mas começou a significar algo mais para mim. Eu tinha feito algo que nunca pude fazer antes. Tinha superado meus medos e minhas inseguranças o suficiente
para contar minha história. Eu queria acreditar que esse era um passo importante na direção da cura.
Passei pelas filas de mesas e saí no corredor dos elevadores. Fiquei esperando ali por um instante, antes de ouvir a voz de um homem atrás de mim. Me virei um pouquinho
e vi Daniel com outro homem, que eu reconheci como um dos detetives com quem eu tinha conversado.
— Srta. Hathaway. Você deve se lembrar de mim, Detetive Carmody.
Minha mão estremeceu, mas ele não esticou a dele para um aperto. Ao invés disso, manteve uma expressão casual, quase casual demais em comparação com a maneira sagaz
como ele estava me estudando. Forcei uma expressão impassível.
— O que a traz aqui? — perguntou o detetive.
Meu olhar se voltou para Daniel. O desprazer no rosto dele fez meu coração parar.
— Uma questão pessoal — murmurei.
— Muito bem. Bom, sr. Fitzgerald, obrigado por seu tempo. Vou deixar vocês dois sozinhos. — Ele se voltou novamente para mim e ergueu o queixo de leve. — Entrarei
em contato.
O elevador se abriu e entramos juntos. Me apoiei na parede do fundo, minhas mãos segurando o metal frio do corrimão.
— Não posso dizer que eu esperava ver você aqui.
A expressão de Daniel não revelava nada.
Ah, merda. E se ele pensasse que eu estava conversando com alguém sobre o caso ainda não solucionado do suicídio de Mark?
Gaguejei para começar a falar, sem saber o que dizer.
— Não tem nada a ver com Mark.
Ele olhou para os números que decresciam acima da porta do elevador.
— Então suponho que tenha algo a ver com Max Pope.
Fiquei olhando estupidamente para ele, minhas sobrancelhas se unindo no meio da testa.
— Sim. Mas como você sabe?
Os olhos dele se voltaram novamente para os meus.
— Tenho um escritório de advocacia, lembra? Para quem você acha que ele ligou primeiro?
Meu queixo caiu. Me assustei quando a campainha tocou, anunciando nossa chegada no térreo. Ele saiu, e eu soltei o corrimão, que estava segurando com força, para
segui-lo. Passamos pelas portas pesadas da delegacia e diminuímos o passo ao sair na rua. Ele pegou um maço de cigarros e puxou um. Torci o nariz.
— Você devia mesmo parar de fumar.
Ele me deu uma olhada irritada e deu uma tragada.
— Mesmo? Estou correndo o risco de perder uma disputa na qual investi milhões do meu próprio dinheiro, e você está me dizendo para parar de fumar. Você só pode estar
brincando.
Dei um passo defensivo para trás. A raiva dele, apesar de fugaz, ainda tinha o poder de me fazer hesitar.
— Por que você está aqui? — perguntei, assumindo que os motivos, quaisquer que fossem, estavam diretamente associados ao seu péssimo humor.
— Porque alguém está vazando informações para a polícia.
Congelei. Nada daquilo parecia bom.
— Que informações?
— Alguém denunciou para eles que você é minha filha. Eles sabem muito bem o quanto isso vai ser prejudicial para minha campanha. Idiotas.
Ele fez uma careta e soltou um respiro fumacento. Isso explicava por que Carmody tinha me olhado daquele jeito, ele sabia do nosso segredinho. Ele sabia.
— Você não negou?
Ele riu.
— Para quê? Você claramente é, e se houvesse alguma dúvida, um simples teste de DNA confirmaria. É só nós dois tomarmos um cafezinho na sala deles e eles teriam
provas.
— Mas quem você acha que denunciou?
Ele sacudiu a cabeça, um sorriso amargo curvando seus lábios.
— Pode me chamar de maluco, mas o seu noivo está no topo da minha lista. A não ser que você queira começar a me contar quem mais sabe, porque eu, com toda certeza,
não tenho feito propaganda para ninguém.
Meu estômago revirou, enquanto eu repassava a lista mentalmente. Sid, Alli, Marie... talvez até Heath soubesse, a essa altura. Mas nenhum deles teria motivo algum
para se beneficiar por tornar essa informação pública.
Blake tinha seus próprios motivos para querer prejudicar Daniel, mas será que ele faria isso? Mesmo depois de eu tê-lo feito prometer que não faria? Talvez saber
que Daniel tinha me batido tenha sido motivo suficiente para ele anular aquela promessa. No contexto do nosso novo acordo, talvez a promessa dele não significasse
nada se Blake julgasse que era para o meu próprio bem. Mesmo assim, parecia uma atitude extrema a se tomar. As repercussões de essa informação se tornar pública
seriam prejudiciais para Daniel, mas eu não conseguia enxergar por que Blake iria querer chamar ainda mais atenção para mim. Ele não faria isso comigo. Faria?
— Daniel, Blake sabe que sou sua filha, sim, mas eu realmente não acredito que ele vazaria essa informação. Ele me garantiu que não faria isso com você.
Torci para que ele não pudesse ouvir a dúvida na minha voz, afinal, eu queria nos manter em segurança, acima de tudo. Eu já tinha vivido sob o medo das ameaças de
morte de Daniel antes.
Ele riu novamente, dando uma longa tragada em seu cigarro.
— Ele me prometeu — insisti.
— Eu prometo coisas para Margo umas dez vezes por dia. Ela fica feliz por me ouvir dizer algumas coisas, mesmo que nem sempre eu cumpra. Desculpe se não estou dando
muito crédito para as promessas do seu hacker. E que agradecimento do caralho eu recebo por ter tirado o dele da reta também.
Franzi o cenho.
— Do que você está falando?
— Quem você acha que conseguiu que as queixas fossem retiradas?
— Você fez isso? — Hesitei, enquanto absorvia essa novidade. — Como?
Ele olhou para mim de lado, com uma expressão quase entediada no rosto.
— Você não deveria ficar surpresa pelo fato de alguns promotores me deverem favores. Pedir que alguém fizesse vista grossa para alguém que estava defendendo uma
pessoa de um abuso sexual não foi muito difícil. Mas vou lhe dizer que ele fez um belo estrago em Max.
— Então você sabe o que aconteceu.
Ele confirmou com a cabeça, sua expressão ainda indiferente, mesmo que um pouco mais tensa.
— Mas se ele foi procurar você, seu escritório não está defendendo Max?
Ele fez uma careta.
— É claro que não. Jesus, quem você pensa que eu sou?
Meus olhos se arregalaram, talvez um pouco demais, em resposta ao que ele estava perguntando. Quem era ele? Em um minuto, ele podia estar tocando meu coração e,
no outro, ameaçando cruelmente executar o homem que eu amava. Eu nunca conseguiria ter certeza de que tipo de homem Daniel era.
Ele expirou bruscamente.
— Por mais que eu talvez não queira que o mundo saiba, você é minha filha. E o homem drogou você e tentou estuprá-la. Eu provavelmente vou direto para o inferno
de qualquer maneira, mas não sou completamente sem coração. Basta eu ter que viver com o que Mark fez. Posso nem sempre seguir as regras, mas não vou ajudar Max
a se safar dessa.
Meu cérebro girava com todas essas novas informações. Eu nunca teria contado a Daniel sobre o ataque, mas uma pequena parte de mim estava feliz por ele saber, especialmente
se isso significava privar Max da proteção de um dos escritórios mais proeminentes da cidade.
— O que você vai fazer agora? — perguntei baixinho.
— Tenho que conversar com o pessoal de RP sobre contenção de danos. Creio que seja uma questão de dias até tudo isso chegar na mídia.
Ele me estudou por um momento.
— Se você realmente acredita que Blake não vazou a informação, então peça para ele pelo menos me ajudar a descobrir quem foi. — Ele jogou o cigarro no chão e o apagou.
— Porque eu quero ter uma conversa com essa pessoa.
Eu acreditava nele e tinha poucas dúvidas de que ele planejava fazer um pouco mais que conversar.
***
Dei um “oi” rápido à Cady, que ergueu os olhos para mim de sua mesa do lado de fora do escritório de Blake. Os cabelos dela estavam um tom intenso de rosa hoje.
— Pode entrar direto.
Ela apontou para a porta, apesar de não ser preciso dizer que eu podia — e iria — entrar ali, gostasse ele ou não.
— Obrigada — falei e entrei.
Blake se virou na cadeira quando fechei a porta.
Ele sorriu, e meu coração derreteu um pouco. Tantas coisas aconteceram desde a última vez em que eu o tinha visto, algumas horas atrás, e não havia ninguém que eu
quisesse ver mais que ele.
Fui até ele, que se levantou para me receber. Me puxou até ele e deu um beijo na minha testa. Me aconcheguei nele, acolhendo o alívio de estar em seus braços, mesmo
que esse alívio fosse ser curto, depois que começássemos a conversar. Ele ergueu meu queixo. Suas sobrancelhas se uniram.
— Você está chateada.
Suspirei, expirando o alívio no mesmo respiro.
— Vi Daniel hoje. Fui à delegacia prestar o meu depoimento e ele estava lá. Ele estava conversando com os mesmos detetives que me entrevistaram no mês passado.
— Ele disse alguma coisa a você?
Blake me levou até o sofá do outro lado da sala. Ele se sentou ao meu lado, sua expressão preocupada demandando que eu lhe contasse tudo. Eu estava preparada para
contar a verdade a Blake, mas não sabia ao certo se eu estava totalmente preparada para ouvi-la. Eu estava dando a ele mais controle do que jamais tinha dado, mas
ele não tinha o direito de vazar aquela informação, por mais que ele odiasse Daniel.
— A polícia sabe que Daniel é meu pai. Alguém contou a eles. Foi você? Por favor, simplesmente seja sincero e me conte se foi você.
Blake franziu ainda mais o cenho.
— Não.
Olhei nos olhos dele, analisando sua expressão em busca de qualquer sinal de que ele pudesse estar mentindo.
Ele recuou de leve.
— Erica, eu já menti para você alguma vez?
— Não — admiti, finalmente, escorregando no sofá macio de couro.
Percebi de repente que saber que Blake tinha vazado a informação teria sido mais fácil de aceitar do que me agarrar ao desconhecido. Era um milagre que eu conseguisse
dormir à noite, dado o número de pessoas cuja missão de vida era destruir um de nós dois.
— Daniel ameaçou você de novo? — perguntou ele.
— Não, graças a Deus. Mas você é o suspeito número um. Obviamente, eu garanti que você não faria isso, mas ele não dá muito crédito às promessas que você me faz.
Ele está puto e mal pode esperar para colocar as mãos em quem quer que seja que deu essa informação à polícia. Ele disse que se não foi você, você deveria descobrir
quem foi.
— E se foi uma denúncia anônima? Como é que vou rastrear isso? Mande o Daniel tomar no cu e fazer sua própria pesquisa.
— Blake.
Olhei para ele.
— O quê?
— Isso é sério. A polícia sabe, e tenho bastante certeza de que eles vão querer falar comigo de novo em breve.
— Você deveria ter contado a verdade a eles quando teve a chance. Agora vai ter que manter a mentira e arriscar uma obstrução da justiça.
— Eu não queria ver Daniel atrás das grades.
Ele falou um palavrão, sua expressão repentinamente severa.
— Erica, você é de enlouquecer, às vezes, sabia? O homem bateu em você e ameaçou me matar. Só Deus sabe o que mais ele fez que garantiria uma vida inteira atrás
das grades.
— Ele é meu pai, Blake. Desculpe se não tenho uma família perfeita como a sua. Minha mãe está morta, e meu padrasto recomeçou a vida sem mim. Infelizmente, Daniel
é o único pai que tenho. Prefiro não viver o resto da minha vida sabendo que fui eu quem o colocou atrás das grades por ter matado o homem que quase destruiu minha
vida.
Ele passou a mão pelos cabelos, um gesto que sempre denunciava sua frustração crescente, geralmente comigo.
— E agora?
Suspirei.
— Não sei. Antes, eu era só uma menina em quem Mark estava dando em cima na noite do evento. Agora, sou oficialmente sua meia-irmã e filha ilegítima de um homem
poderoso com uma campanha multimilionária em andamento. A descoberta vai torcer alguns narizes. Eles com certeza terão mais perguntas.
— Você tem certeza de que contou à polícia que Mark estava dando em cima de você aquela noite?
— Mesmo que eu não tivesse contado, estava óbvio nas fotos. Eles tinham uma série de imagens de nós dançando. Dele... falando no meu ouvido.
Tremi, a lembrança arranhou minha pele.
Blake fitou o nada por alguns instantes.
— Por que eles teriam tantas fotos suas daquela noite? Havia centenas de pessoas naquele evento e eu não me lembro de ter visto um monte de pessoas da imprensa lá.
Você estava estonteante, é claro. Não posso negar que você teria chamado a atenção de qualquer um aquela noite. Mas isso não lhe parece estranho?
Eu não podia discordar, mas não conseguia pensar em outra resposta que fizesse sentido. Eu nunca tinha parado para pensar direito na infeliz existência daquelas
fotos quando os detetives vieram até meu apartamento no mês passado para fazer perguntas sobre Mark. Eu estava nervosa demais para proteger Daniel e parecer natural
ao mesmo tempo. Mas que sorte existirem tantas fotos do homem na noite em que ele morreu... De todas as pessoas lá, de todos os figurões da cidade, aquela pessoa
tinha se interessado por nós, por mim...
Aí, eu me toquei.
— Meu Deus.
Minha mão foi parar na minha boca.
— O quê?
Meu estômago revirou, e eu achei que fosse vomitar.
— Merda — sussurrei, sacudindo a cabeça, incrédula.
— Erica. Fale comigo — pressionou ele, puxando minha mão e colocando-a sobre a dele.
— Richard. — Ergui os olhos. — Richard estava cobrindo o evento aquela noite com um fotojornalista. E ele sabia que eu estaria lá. Eu me lembro, Marie disse a ele
para me procurar.
Blake e eu trocamos um olhar perspicaz.
— O que mais ela contou a ele?
AGRADECIMENTOS
Este livro não teria sido possível sem o encorajamento diário dos meus fãs. Cada mensagem e comentário massageia meu ego mais do que vocês podem imaginar. Poder
escrever e saber que tantos de vocês estão esperando ansiosamente o próximo episódio da minha imaginação é uma bênção além do que as palavras podem expressar.
Um agradecimento especial aos meus leitores beta e aos membros da minha equipe incrível de promotores pelo apoio e pela paciência inabaláveis! O time Wild é uma
força que não pode ser ignorada. Amo vocês, garotas, pra caramba!
Muito obrigada a cada uma das pessoas que me disseram que seria possível escrever esse livro, apesar de um prazo assustador, uma tonelada de pressão e tudo mais
que a vida decidiu jogar no meu caminho no meio tempo, que foi bem mais do que eu esperava. Obrigada, também, à minha mãe, que me lembrou de dormir, fazer uns intervalos
e pensar no contexto como um todo. Apesar de eu, na maioria das vezes, ter ignorado todos esses conselhos e seguido em frente mesmo assim, obrigada por me lembrar
de que sou humana, e não uma supermulher.
Eu gostaria de agradecer aos meus amigos autores também, pelo apoio e pelas palavras gentis. Não sei ao certo como eu teria sobrevivido sem suas checagens regulares
e os encontros virtuais para tomar um uísque com minha soul sister, a sexy Mia Michelle. Por falar nisso, obrigada, Jack. Você me fez superar alguns momentos difíceis
também.
Como sempre, sou eternamente grata à minha editora, Helen Hardt, por fazer milagres de última hora acontecerem. Meus livros não nascem oficialmente para o mundo
até que ela pulverize seu pozinho mágico da edição sobre eles. Obrigada a Amy e Jon, por dedicarem seu tempo à revisão!
Obrigada, também, a Remi por me apresentar às estrelas e apontar um holofote para os elementos deste capítulo da história de Blake e Erica que eu talvez nunca tivesse
descoberto de outra forma.
Por fim, mas não menos importante, obrigada à minha equipe por manter os negócios ativos quando eu desaparecia no mundo de Blake e Erica por dias a fio. Um agradecimento
especial a Kurt, cuja ajuda em redesenhar as capas da série me poupou montanhas de tempo e estresse. Você tem a paciência de Jó!
A HISTÓRIA DE BLAKE E ERICA CONTINUA
NA SEQUÊNCIA DA SÉRIE HACKER
Potência extrema
PRÓLOGO
E: Me encontre no clube em dez minutos. Por favor, não fique bravo.
Reli a mensagem de Erica até meu cérebro compreender o que ela estava querendo dizer.
Puta que pariu.
O clube ao qual ela estava se referindo só podia ser um. Os nós dos meus dedos ficaram brancos, como se apertar o telefone quase a ponto de esmagá-lo fosse impedi-la
de fazer isso. Respirei fundo, o que não ajudou em nada a me acalmar, encontrei o número dela e coloquei o celular na orelha. Ouvi tocar infinitas vezes, engolindo
os palavrões que eu soltaria caso ela atendesse. Eu sabia que ela não atenderia.
O timbre caloroso da caixa postal dela me cumprimentou. Fui cutucado pela saudade da mulher por trás daquela voz, mas eu não podia ignorar o fato exasperante de
que ela não estava atendendo a porra do telefone. Desliguei e peguei minhas chaves. Desci as escadas voando até o Tesla e, sem perder tempo, me enfiei em meio ao
tráfego do horário de pico.
Dando uma checada no horário, calculei meu trajeto e quanto tempo ela ficaria lá sem mim. Dez ou quinze minutos, se eu tivesse sorte. Minha mente rodopiou com o
que poderia acontecer nesse espaço de tempo no estabelecimento subterrâneo exclusivo que eu conhecia há anos como La Perle.
Ela seria uma presa.
Se eu espreitasse nas sombras, como tinha feito mais vezes do que gostaria de admitir, apenas assim a veria. Uma loirinha maravilhosa com fogo suficiente para fazer
um dominador querê-la para si. Qualquer homem teria que ser cego para não querer fazê-la se ajoelhar.
Pisei no acelerador e costurei pelo tráfego, deixando para trás o aglomerado de carros lentos que aumentava o intervalo de tempo precioso entre nós. À medida que
a preocupação atormentava meus pensamentos, as lembranças indesejadas do clube também me assombravam. Eu não punha o pé lá desde que tinha conhecido Erica, meses
atrás. Eu não tinha motivo algum para retomar aquela vida. Meu maxilar se contraiu quando pensei em tudo que rolava lá, incontáveis momentos sem significado algum
para os quais eu continuava voltando, anos depois de ter deixado Sophia. Tudo naquele lugar era carregado com a promessa de sexo, as possibilidades mais obscuras
pairavam no ar em meio a cada troca não muito inocente de respiração.
Havia um aperto doloroso no meu peito. A raiva. A frustração de ranger os dentes que só Erica conseguia provocar. Mas debaixo de tudo aquilo havia amor. Amor por
Erica, que deixava meu desejo em chamas. Apesar de eu a querer longe daquilo, meus desejos mais básicos pintavam uma fantasia de encontrá-la no clube e ser o homem
que a domava — mesmo sabendo como essa porra dessa tarefa seria impossível. Na luz do dia, ela nunca tornava as coisas fáceis, mas, ah, como ela se submetia como
um sonho à noite.
Pisei no freio em um sinal vermelho. Fechei os olhos e lá estava ela, me espiando com seus olhos azuis semiabertos, oceanos infinitos. Todo aquele comportamento
rebelde domado em nome do prazer que eu daria a ela. E eu sempre dava mais do que ela podia aguentar. Eu nunca a deixava descansar até que ela estivesse saciada.
Até que eu visse a fascinação naqueles olhos que só eu podia provocar, tendo a conduzido a um lugar onde ninguém mais nunca a tinha levado. Até que a única palavra
que ela conseguia formular era o meu nome.
Nunca nos faltava paixão. Não conseguíamos tirar as mãos um do outro. A adrenalina se sobressaía à fadiga que tinha se instalado nos meus ossos depois de mais uma
noite sem dormir. Eu poderia foder aquela mulher até ficar cego, e não seria o suficiente. Ela tinha me prometido uma vida inteira, e eu tinha total intenção de
amá-la bem todos os dias dessa vida que ela iria me dar.
Amor era pouco para o que eu sentia por Erica. Talvez fosse uma obsessão, essa determinação de torná-la minha de todas as maneiras que ela permitisse nunca diminuía.
Heath tinha notado, até mesmo me alertado, ao ver como ela estava me mudando. Ele sabia bem o que era ser viciado e ninguém podia negar que ela era o meu vício.
A droga sem a qual eu me recusava a viver, não importava quantas vezes ela me empurrasse para longe. Eu lutaria muito para protegê-la, mantê-la longe do caminho
daqueles que machucariam um para destruir o outro. Eu não poderia perder o controle e arriscar perder o mais importante — a única pessoa que tinha entrado em minha
vida e feito com que ela valesse a pena.
Sim, ela tinha me mudado, tanto quanto um homem com as minhas afinidades peculiares poderia mudar. Ela tinha me impulsionado. Tinha entrado na minha vida, um metro
e sessenta de independência feroz. A mera presença dela me desafiava, entrava pela minha pele, me deixando habitualmente duro até que eu conseguisse encontrar a
paz inexplicável que estar dentro daquele corpinho maleável dela podia proporcionar. Mesmo agora, eu mal conseguia respirar direito, sabendo que ela estava longe
do meu alcance. Apertei o volante com mais força. Meus dedos já sem sangue formigaram com o desejo de sentir o corpo dela sob eles, amando-a, reivindicando-a, prendendo-a.
Puta merda.
Ajeitei minha ereção inconveniente. O que era inútil, visto que visões da noite anterior agora me inundavam. Os lábios cheios e inchados dela se abrindo para mim
e só para mim. Suas unhas se enterrando nas minhas coxas enquanto ela me recebia por inteiro no êxtase quente de sua boca.
Parei de apertar tanto o volante, soltando um respiro instável. Meu polegar escorregou pelo couro gasto do cinto. Os batimentos do meu coração aceleraram. O sinal
ficou verde e eu acelerei rumo ao nosso destino. Um lampejo de expectativa tomou conta de mim com uma rajada de sangue para meu pau, agora duro como pedra.
No mínimo, eu iria gostar de castigá-la depois que tudo fosse dito e feito.
Meredith Wild
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