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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


JARDINS DO PARAISO / Carole Mortimer
JARDINS DO PARAISO / Carole Mortimer

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

"Não se apaixone por mim, Danny. Não há lugar para uma mulher em minha vida", avisou-lhe Peter Sutherland na noite em que a conheceu. Mas ela não pôde impedir seu coração de se entregar àquele amor com toda a paixão de quem jamais se dera a um homem. Em poucos dias se tornaram amantes, envolvidos numa aventura alucinante, completamente esquecidos das diferenças que os separavam. Uma paixão que durou tão pouco, como uma chama tênue que se extingue ao menor sopro...

 

 

 

 

Danny já estava há algum tempo empurrando a máquina de cortar grama pelo jardim, quando ouviu a voz de um homem que, tendo se aproximado sem que ela notasse, perguntava irritado:

— O que você está fazendo aqui a esta hora da noite?!

Danny empalideceu de susto com a interrupção inesperada e não entendeu o motivo da pergunta. Qualquer um podia ver o que ela estava fazendo!

Por mais estranho que parecesse estar, cortando grama às onze horas da noite, para ela era perfeitamente natural. Sempre que algum problema a atormentava, essa era sua forma predileta de meditar e colocar as idéias em ordem. O ruído do cortador e o perfume agreste da grama recém-aparada lhe proporcionavam uma sensação agradável de paz e tranquilidade.

Mas ela ficou ainda mais alarmada ao ver que o desconhecido usava apenas uma minúscula tanga preta e parecia não se importar de lhe exibir o físico forte e musculoso. Com os cabelos, muito pretos, molhados e caindo desordenadamente sobre a testa, ele aparentava um ar selvagem que o tornava ainda mais atraente.

Danny não tinha a menor idéia de quem ele fosse, por isso irritou-se com sua maneira arrogante de lhe falar. Afinal, estava em sua própria casa, cortando grama; ele não tinha o direito de invadir a sua privacidade!

Percebeu então o quanto vivia isolada. Seu vizinho mais próximo ficava a uns quinhentos metros acima, na sede da propriedade, uma mansão do século dezoito, toda feita de pedra. Desde que sir Henry Sutherland, o atual proprietário, se mudara para lá com toda a sua comitiva, poucas vezes vira alguém pelas redondezas.

Sentindo-se amedrontada ao se dar conta de que usava apenas uma bermuda justa e uma camiseta cavada, ambas revelando suas curvas generosas e sensuais, Danny olhou para o desconhecido tentando perceber quais eram as suas intenções. Mas as sombras da noite a impediam de ver o rosto dele.

— Eu perguntei... — O intruso voltou a falar, quase gritando por causa do barulho do cortador.

— Eu ouvi o que você disse! — interrompeu-o Danny, desligando o motor. — Mas acho que está invertendo os papéis. O que você está fazendo aqui?!

O homem aproximou-se um pouco mais e então foi inteiramente iluminado pela luz da janela.

Danny quase perdeu a respiração ao observar a beleza rude do rosto de seu interlocutor. Os cabelos negros e desalinhados realçavam-lhe a estranha cor dos olhos, de um tom misterioso entre o azul e o cinza, e o nariz reto e perfeito, combinando com a linha marcante de seus lábios finos, lhe dava um ar cínico e arrogante. Ele a encarava com uma expressão séria e os olhos gelados.

— Suponho que você deva saber que já passa de onze horas da noite!

— Ora, não me diga!

— É que esta sua maldita máquina faz um tremendo barulho.

— E o que você tem a ver com isso?!

— Geralmente, numa noite calma como esta, os sons se propagam, você sabia?

— Bem, eu... — Ela ia argumentar de novo quando de repente caiu em si. — Oh, meu Deus! Não me diga que dá para escutar lá da sede!

— E isso a preocupa?

— Por nada neste mundo gostaria de perturbar o "Senhor Eremita". Oh, desculpe-me, quero dizer, o sr. Sutherland.

— Por que o chamou de eremita? Você o considera um solitário?

— Pode imaginar uma definição melhor para um homem que vive fechado entre quatro paredes a maior parte do tempo e possui dois cães ferozes e uma porção de guarda-costas para protegê-lo?

— Colocando nestes termos, realmente não posso, mas, respondendo a sua pergunta anterior, eu estava na sede quando ouvi o barulho do cortador.

— Oh, Deus! Pensei que o sr. Sutherland não estivesse lá. Ou está? Lembro-me de ter ouvido o helicóptero saindo hoje à tarde.

Danny ficara muito triste quando vira uma parte dos belos jardins da mansão ser transformada em campo de pouso para helicóptero. Isso acontecera pouco tempo atrás, depois que o bilionário homem de negócios comprara a propriedade, que pertencera à sra. Prendergast. A velha senhora provavelmente se viraria no túmulo se soubesse o que haviam feito a seus preciosos jardins.

— Ainda não me respondeu por que resolveu usar este cortador barulhento numa hora tão imprópria — continuou o intruso, irritado.

— Tenho o hábito de aparar a grama quando estou com algum problema. Ajuda a pensar melhor.

— E não poderia ter escolhido um horário mais razoável para filosofar?

— É que, numa "hora mais razoável", eu ainda não sabia que precisava meditar. O ruído nunca perturbou a sra. Prendergast. Para falar a verdade, ela era surda como um poste.

— Ah, eu entendo... — disse o desconhecido esboçando um sorriso. — Mas não sou surdo e você estava perturbando a minha natação!

— Você estava nadando?! Então isto aí é um maiô?!

— Ora, mas é lógico! O que pensou que eu estivesse usando?! Não... não responda, por favor. Me diga: o barulho não incomoda o seu avô? — ele falou, olhando para a casa de Danny.

— Claro que não! — surpreendeu-se ela. — Ele morreu há dez anos.

— Pelo que sei, esta casa pertence ao jardineiro-chefe da propriedade.

— A informação está correta — ela falou achando graça.

— Então ele é seu pai?

— Também não. Moro aqui sozinha.

— Mas você não pode ser Danny Martin!

— E por que não?

— Porque eu o vi cuidando das plantas. Tem mais ou menos uns setenta anos, cabelos brancos e é corcunda.

— Ah, esse é Zacky Boone. E aposto que você também seria corcunda se trabalhasse como jardineiro há tanto tempo quanto ele!

— Então é você o jardineiro-chefe?!

— De terceira geração — respondeu Danny com orgulho. — Como meu pai não teve filhos homens, eu, por ser a mais velha, assumi o posto depois que ele se aposentou. Natural, não acha?

— Pois não vejo nada de natural nisso. Não havia outra profissão para você escolher em vez de jardinagem?

— E não havia outra para você, também, em vez de ser guarda-costas do sr. Sutherland? Também não é um cargo que exija muita inteligência...

— Por que diz isso?

— Foi uma conclusão óbvia. Com este seu físico de atleta, era só o que eu podia pensar. No entanto, você não me parece uma pessoa com a cabeça vazia.

— Obrigado pelo elogio, mas lhe asseguro que os vigilantes que foram contratados aqui são homens bastante inteligentes.

— Desculpe-me. Não pretendia ofender ninguém.

— Mas você não me ofendeu, simplesmente porque não sou um segurança.

— Não?! Então quem é você?!

— Eu também sou um Sutherland. Peter Sutherland.

— Oh, meu Deus! Mais um, não!

— O que disse?!

— Preferia que você fosse mesmo um guarda-costas.

— Mas o que foi que eu fiz de errado? — perguntou ele muito confuso.

— Você, nada. Mas seu primo Nigel fez. Pelo menos, suponho que ele seja seu primo.

No mesmo instante ele percorreu com o olhar o corpo atraente e curvilíneo de Danny. Demorou algum tempo nos seios fartos, que a camiseta colocava em evidência, e na cintura delgada, ligeiramente descoberta.

— Não consigo ver nenhuma prova de que Nigel lhe tenha feito algum mal — disse ele com malícia.

Danny enrubesceu. E, pelo que podia se lembrar, esta era a primeira vez que ela, Danielle Erica Martin, corava em sua vida. Até mesmo durante a época da faculdade, quando estudara Botânica, um curso frequentado principalmente por homens, e ela era a única mulher numa classe de vinte e cinco rapazes, escapara ilesa desse tipo de embaraço. E havia motivos de sobra para que vivesse permanentemente rubra; no entanto, aprendera a se tornar imune a certos tipos de comentários. Desta vez, porém, havia uma diferença: a insinuação fora feita por um completo estranho e era pessoal demais para ser ignorada.

— Eu não me referia a mim — falou ela sem esconder seu ressentimento.

— Então quem é a vítima?

— Nigel anda tentando convencer minha irmã, Cheryl, a desmanchar o noivado com um rapaz com quem ela está comprometida desde os quinze anos!

— Talvez a garota esteja mesmo querendo romper com o noivo.

— Não. Apenas ele a enfeitiçou por ser um homem charmoso, atraente, inteligente e com uma fortuna capaz de satisfazer os menores desejos dela.

— Ah, entendo seu ponto de vista. Sua irmã tornou-se uma interesseira.

— Mas é claro que não! — Danny não sabia se continuava aquela conversa absurda, com um homem que mal conhecia. — Tem certeza de que seu nome é mesmo Sutherland?

— Por quê? Você não acredita? Então me diga qual o traço da família que está me faltando.

Não havia dúvida de que ele se parecia com o primo, charmoso, atraente. Mas, quanto à fortuna, como ela poderia avaliar as condições financeiras de uma pessoa vestida apenas com um maio reduzido? Sem concluir seu julgamento, Danny repetiu, indignada:

— Cheryl não é interesseira! No momento, apenas está fascinada pela aparente habilidade de Nigel em fazer tudo exatamente como ela quer.

"Em resumo, uma interesseira mesmo", concluiu Danny mentalmente. Também era dessa opinião e havia dito isso à irmã naquela tarde ao telefone, quando Cheryl lhe ligara para contar que estava até pensando em desmanchar o noivado por causa de Nigel Patrick, filho da irmã de sir Henry Sutherland.

A separação provavelmente partiria o coração de Gary, de quem Cheryl estava noiva há quase cinco anos, e com certeza ela própria também ficaria magoada quando voltasse a ter um pouco de bom senso.

O melhor que Danny pudera fazer no momento fora convencer a irmã a esperar um pouco mais antes de falar com o noivo. E, pela maneira rápida como Cheryl aceitara a sugestão, Danny concluíra que os sentimentos da jovem pelo sobrinho do bilionário não eram tão fortes como ela fazia supor.

— E o que você decidiu a respeito deles enquanto empurrava o cortador de grama... — perguntou Peter intrigado.

— ... numa hora tão imprópria? — completou ela com ar de riso.

— Justamente.

— Bem, no momento estou dividida entre duas opiniões: ou deixo as coisas correrem naturalmente, com o que não concordo, ou tento mostrar a Cheryl que Nigel pode estar enganando-a.

— Também não acho esta uma boa idéia. Embora eu seja suspeito por defender Nigel, posso lhe assegurar que, enquanto ele estiver saindo com sua irmã, ela será a única. Nigel não costuma relacionar-se com mais de uma mulher ao mesmo tempo.

— O que me diz do passado de Nigel? Vai me dizer que ele nunca se envolveu num escândalo?

— Não, nunca. Nigel trabalha nove horas por dia durante a semana toda. Ele é o encarregado das finanças dos Sutherland e isso não lhe deixa muito tempo livre para quase nada.

— Ele não tem maus hábitos? Bebida, por exemplo?

— Não sei de nenhum.

— Mas deve haver alguma coisa errada com ele! Todo mundo tem pelo menos um ponto negativo.

— O dele, provavelmente, era puxar as trancas das menininhas durante a aula.

— Ah, muito engraçado...

— E você, qual é o seu ponto negativo? — Peter a encarou.

— Conversar com um estranho praticamente nu às onze e meia da noite!

Depois de permanecerem um instante em silêncio, enquanto seus olhares se cruzavam, Peter começou a rir com vontade, um riso contagiante, que a muito custo ele vinha controlando, mas que agora saía solto e natural.

— E o meu é ouvir os problemas de uma jardineira-chefe cujo corpo parece o da Raquel Welch, às onze e meia da noite!

— Você poderia dizer isto de novo? À noite todos os gatos são pardos.

— Cujo corpo parece o da Raquel Welch, a qualquer hora do dia ou da noite.

— Assim está melhor — concordou Danny sorrindo.

— Há quanto tempo sua irmã conhece Nigel?

— Faz mais ou menos um mês. Eles se encontraram aqui quando ela veio da universidade para passar o fim de semana. Desde então eles têm se visto em Londres.

— E quanto ao noivo dela?

— Ele mora em Bedford.

Bedford era a cidade mais próxima da propriedade e ficava a uns cento e sessenta quilômetros de Londres.

— Ah, agora eu entendo, a questão toda é por causa da distância. Sua irmã deve estar sentindo falta de uma companhia masculina e Nigel foi a solução para o problema. O noivo dela não poderia se mudar para Londres?

— Ele trabalha como motorista de ambulância e seria impossível conseguir uma transferência imediata.

— Hum...

— Cheryl devia se envergonhar de sua conduta!

— Porque ele é um motorista de ambulância ou porque ela está pensando em desmanchar o noivado?

— Ambos.

— Seus pais não poderiam falar com ela? Na minha opinião, eles é que deveriam resolver este assunto.

— Desde que meu pai se aposentou, ele e minha mãe viajaram para uma praia da Cornualha. O médico recomendou uns tempos à beira-mar por causa da pressão alta de meu pai. Não gostaria de preocupá-los.

— Você tem razão.

— Como irmã mais velha, sinto-me responsável por Cheryl.

— Quantos anos você tem?

— Vinte e um.

— Uma criança. E Cheryl?

— Dezenove.

— Idade suficiente para tomar suas próprias decisões, certas ou erradas.

— Ah, então quer dizer que eu sou criança, mas ela não?!

— Você venceu. Mas eu continuo achando que deveria deixar sua irmã agir por conta própria, sem a sua interferência.

— A questão é que ela sempre toma decisões erradas e depois se arrepende. Escute, sinto muito estar incomodando você com todos esses problemas. Deve estar querendo voltar à piscina e eu pretendo continuar a minha meditação.

— Mas não cortando grama, eu espero.

— Não... — disse ela rindo. — Sinto muito a respeito do barulho. Eu não estava mesmo pensando...

— Pois eu acho que sim!

— Sabe, estou começando a me convencer de que você é mesmo um Sutherland.

— Isto é um elogio? Pelo que pude observar, sua opinião sobre eles não é das melhores.

— Gosto de você — disse ela depois de observá-lo por alguns instantes.

— Obrigado. Bem, espero que encontre a solução para o caso de Cheryl e Nigel.

— Oh, mas eles não têm um caso! Cheryl me garantiu que eles não estão dormindo juntos.

— Você acredita que quando um casal está tendo um caso significa que eles estejam necessariamente dormindo juntos?

— Eu não saberia responder...

Sem querer, Danny acabara de revelar sua própria inocência. De qualquer modo, isso não fazia a menor diferença. Não encarava sua virgindade como um talismã, assim como não sentia vergonha de sua inexperiência. Sabia que não pensaria duas vezes em entregar-se ao homem certo no momento certo. Meio sem jeito, desviou o olhar.

— Preferia que não me tivesse dito isso. Agora fiquei ainda mais preocupada.

— Pois eu não ficaria. Nigel não costuma seduzir garotinhas inocentes.

— Mas Cheryl não é ingênua — falou ela, sabendo que sua irmã costumava fazer amor com Gary há algum tempo.

— Ah, eu entendo...

— Não se preocupe, encontrarei uma solução. Afinal, não seria esta a primeira vez que eu livraria Cheryl de uma encrenca.

— Então já é tempo de você deixá-la se virar sozinha.

— E é o que farei, mas assim que ela estiver casada com Gary.

— Desejo-lhe boa sorte.

Peter abriu o portão de ferro que ligava os jardins das duas casas e Danny ficou observando enquanto ele caminhava para a mansão.

Tudo nele era muito harmonioso: os ombros largos e bem proporcionados, a cintura ligeiramente afilada, as coxas e pernas longas e musculosas. A ruga marcante de cinismo que ela vira em seu rosto, assim como alguns fios prateados em seus cabelos negros, eram as únicas provas de que ele já devia ter passado dos trinta. No mais, parecia um garoto de vinte anos.

Fascinada pela visão que tinha à sua frente, Danny admitiu que não desejava deixá-lo ir embora assim, sem mais nem menos, e num impulso correu atrás dele, gritando seu nome.

— Peter! Ei, Peter... Eu...

Ele voltou-se tenso.

— Pelo amor de Deus, Danny, volte!

Ela parou instantaneamente, sentindo-se magoada. Por que ele havia se tornado tão frio novamente?

— Danny, volte!

Peter correu para junto dela no instante em que os latidos dos cães puderam ser ouvidos.

— Oh, Deus! — gritou ele quando dois enormes dobermans surgiram a sua frente, vindo da mansão. — Quietos! —comandou com voz autoritária.

Mas eles se aproximavam velozmente, aparentemente sem obedecê-lo, e Peter tentou proteger Danny com seu próprio corpo.

Ele estava lívido. Respirava com dificuldade e berrava para os cães se afastarem.

Quando as duas feras já estavam bem próximas, Danny saiu de trás de Peter e falou energicamente:

— Sentem-se os dois!

No mesmo instante os dois animais atenderam ao seu comando e ficaram quietinhos, recebendo o afago que ela lhes fazia na cabeça.

— Está tudo bem, Peter. Eles não vão morder você enquanto eu estiver por perto — tranquilizou-o Danny, notando a palidez no rosto dele.

— Era você que eu pensei que eles fossem atacar — disse Peter rangendo os dentes.

— Fang e Killer?! Ora, que bobagem!

— Pelo que sei, os nomes deles são Ferdinand e Kilpatrick — corrigiu ele irritado.

— É verdade, mas são nomes muito idiotas para estas criaturas ferozes.

— No momento, eles não me parecem tão ferozes assim.

Deitados no chão de barriga para cima, os dois dobermans negros recebiam os agrados de Danny e lambiam-lhe a mão carinhosamente.

— Ah, você não deve se importar com isso. É porque eles me conhecem muito bem.

— Eles também me conhecem, no entanto não me fazem tanta festa assim.

— Momentos atrás você parecia estar com medo deles...

— Eu já lhe disse. Pensei que eles fossem atacá-la — explicou ele perdendo -a paciência. — Não fazia idéia de que vocês fossem tão íntimos.

— Somos velhos amigos. Danton me apresentou a eles no primeiro dia em que chegaram à propriedade.

— Entendo. E, por falar em Danton, ele deveria estar aqui junto com os cachorros...

— Provavelmente está pensando que Fang e Killer estão comigo. Costumamos dar uma corrida juntos nas noites menos quentes. Hoje eu estava sem tempo.

— É você quem leva os cachorros para fazerem a ronda em vez de Danton?!

— Evidentemente que não! Eles apenas me acompanham enquanto me exercito. Costumo correr cinco voltas em torno da propriedade.

— Meu Deus! E quanto significa isso?

— Mais ou menos uns oito quilômetros. Depois eu...

— Chega. Não me diga mais nada. Você pretende se matar fazendo um excesso desses todas as noites?! E para quê?!

— Não estou me matando, apenas mantendo a forma. Conservando meu corpo de Raquel Welch...

— Fazer jardinagem não é suficiente?

— Não, quando se quer exercitar os músculos.

— Mas em compensação não mata ninguém.

— Exercício na medida certa não prejudica ninguém. Aposto que você não conserva esse corpo atlético ficando sentado o dia todo.

O olhar ingênuo de Danny revelou sem querer o quanto ela o admirava.

— Faço vinte piscinas diariamente — admitiu ele com relutância.

— Ah, começo a entender... — ela disse satisfeita. — Na verdade, foi por isso que vim atrás de você.

— Por causa do meu corpo atlético?

— Agora você está indo longe demais. — O objetivo de Danny era mostrar-se irritada, mas a euforia estampada em seu olhar traiu-lhe a intenção. — Eu poderia acompanhá-lo em seus exercícios?

— Também consegue pensar enquanto nada?

— Nunca tentei. De qualquer forma, não era bem isso que eu tinha em mente.

— Ah, não?!

— Mas como você é malicioso, sr. Sutherland! De seu tio, que vive completamente isolado do mundo, não era de admirar tal atitude, mas de você eu esperava um pouco mais de bom senso. É evidente que não tenho nenhuma intenção do tipo que você está imaginando.

Ao ouvi-la mencionar a reclusão do tio, Peter assumiu novamente a postura fria e distante.

— Vá buscar seu maiô. Detestaria que você perdesse essa sua preciosa forma por não ter feito os exercícios de hoje.

 

 

Numa atitude quase infantil, Danny decidiu usar o minúsculo biquíni preto de Cheryl. Se em sua irmã ele ficava reduzido, que diria nela, cujas curvas eram bem mais generosas e acentuadas! Isso serviria de resposta ao comentário sarcástico de Peter.

O plano surtiu o efeito desejado. Aproximando-se da piscina com movimentos estudados, ela esperou até o momento em que Peter surgisse na superfície da água, para só então tirar a saída-de-banho preta que a protegia. Com os olhos fixos nela, ele pousou os braços na beirada de mármore e apoiou o queixo sobre eles, enquanto admirava a figura sensual de Danny.

— Eu estava errado. Você é melhor do que a Raquel Welch.

Com gestos lentos, Danny amarrou os longos cabelos ruivos num rabo-de-cavalo, usando um elástico que trazia preso no pulso. Em seguida, caprichando nos movimentos dos quadris, caminhou devagar até a escada da piscina, notando que ele a acompanhava com o olhar.

— Não venha com muita sede ao pote, sr. Sutherland. Já prometi não encostar um dedo em você.

— Mas eu não fiz a mesma promessa. Embora ache o local pouco propício.

A piscina, mais uma das inovações do atual proprietário, fora construída bem próxima da sede, numa área para onde se abriam as portas do jardim do inverno. Danny olhou para a sala iluminada e perguntou apreensiva:

— Seu tio ainda não voltou de viagem, não é mesmo?

— Eu lhe asseguro que Henry não se encontra na casa.

— Você o trata com essa intimidade? Ele deve ser um homem bastante poderoso, não?

— Muito.

— Também trabalha com ele? Qual a sua função dentro do império Sutherland?

— É uma grande organização e eu faço um pouco de tudo. Como é, animada para cobrir vinte piscinas?

— Vou tentar. Mas não vamos fazer disso uma competição, está bem? Ando completamente sem prática porque a piscina em Bedford foi fechada.

— Pode nadar nesta aqui sempre que desejar — disse ele enquanto deslizava suavemente na água, procurando manter suas braçadas ao ritmo de Danny.

— E o seu tio não se incomodaria?

— Não.

— Ouvi dizer que a esposa dele morreu.

— Já faz muito tempo — confirmou ele rispidamente.

— Que tristeza! E ele não se casou de novo?

— Não.

— É uma pena. Tenho certeza de que teria muito a dar de si.

— É. Ele é bastante rico.

— Eu não quis dizer nesse sentido. Com toda essa fortuna, ele deve ser um homem muito viajado e interessante.

— Até onde sei, nenhuma mulher jamais demonstrou interesse pelo seu lado intelectual.

— Não é um comentário muito delicado para se fazer sobre um tio.

— Mas verdadeiro — disse ele acelerando os movimentos. — Vamos mais rápido, senão passaremos o resto da noite aqui.

Depois da décima quinta vez, Danny desistiu. Exausta, deitou-se na fria beirada de mármore que circundava a piscina e ficou observando Peter completar as últimas cinco.

Ele nadava com muita elegância e estilo, e não parecia nem um pouco ofegante quando sentou-se ao seu lado com uma toalha enrolada no pescoço.

— Estive pensando... — ele começou.

— Ótimo. Isso quer dizer que pelo menos para um de nós a natação funcionou — brincou ela, lembrando a cena com o cortador de grama.

— E você? Ainda não tem uma solução para o seu problema?

— Não, mas encontrarei uma. O que você estava pensando?

— Quando sai à noite para essas suas corridas, por que os alarmes não soam e as luzes não,£e acendem?

— É mesmo um sistema de segurança muito eficiente, não? O que seu tio possui de tão precioso para necessitar de tanta proteção?

— A mais ilusória das posses: a privacidade.

— E a mais cara também. Imagino quanto devem custar todos esses seguranças e mais o sistema de alarme.

— Ainda não respondeu a minha pergunta.

— Sobre as luzes e o alarme? Dave Benson os desliga enquanto corro.

— O quê?! — exclamou ele perplexo.

— Não fique tão apavorado — tranquilizou-o Danny. — Ainda restam as guaritas com os vigias e os guardas da ronda. Além do mais, é por pouco tempo.

— Não posso acreditar — disse ele balançando a cabeça. — Você está mesmo me dizendo que Benson desliga um sofisticado equipamento no valor de um milhão de libras para que você corra os seus oito quilômetros todas as noites?!

— Um milhão de libras! Puxa, não imaginava que seu tio fosse tão rico.

— É mesmo? — ele duvidou com sarcasmo.

— E também não entendo por que tanto estardalhaço só por causa de uns minutos...

— Tempo suficiente para alguém entrar nos jardins e chegar até a casa.

— Não com os cachorros soltos por aí.

— Ferdinand e Kilpatrick estão com você, lembra-se?

Danny começava a perder a paciência.

— Neste caso, ainda restam os homens que patrulham a área.

— Levando em conta a confusão que você aprontou com o resto do sistema, não me admiraria se eles também estivessem olhando você. Oh, Deus, é inacreditável!

Danny mordeu os lábios numa atitude nervosa e perguntou timidamente:

— Vai contar para o seu tio?

— Pode estar certa de que ele saberá detalhadamente de tudo o que está acontecendo em sua própria casa!

— O que acha que ele fará?

— Bem, eu a aconselharia a interromper suas excursões noturnas.

— E quanto a Dave Benson? Ele não será punido, será?

Antes que ele respondesse, Danny já havia se arrependido de ter falado. Por que não ficara com a boca fechada? Maldição! Isso era uma coisa que nunca fora capaz de fazer e, além do mais, como poderia imaginar que uma bobagem daquelas fosse causar tamanha agitação?

— O sr. Benson vai receber exatamente o que merece.

O tom gelado daquelas palavras fez Danny encolher-se de medo. Obviamente, Peter Sutherland era um homem frio e calculista. Sua falta de misericórdia em relação aos empregados a fazia crer que ele devia ser o mandante do tio. Talvez fosse o encarregado de tomar as decisões mais drásticas e verificar que elas fossem cumpridas. Precisava tentar salvar a pele de Dave. Num gesto espontâneo, colocou a mão sobre o peito dele e murmurou com meiguice:

— Peter, eu...

— O que pensa que está fazendo? — ele reagiu àquele contato íntimo.

— Como?! — murmurou ela assustada.

Peter olhou para a mão pousada em seu peito e ela acompanhou seu olhar. A pele de sua mão era quase do mesmo tom bronzeado da dele; os dedos fortes e as unhas bem-aparadas denunciavam o hábito de lidar com a terra. Poderia não ser bonita, nem delicada, mas também não merecia aquele olhar crítico que ele lhe dispensava.

Ele voltou a encará-la.

— Por que está me tocando? — murmurou com a respiração ofegante.

— Ora, por nada. É o meu jeito de falar. Meu pai sempre diz que, se alguém amarrar as minhas mãos atrás das costas, eu fico muda.

— Não acredito.

— Verdade. Eu...

Danny calou-se diante do olhar de Peter, que aproximava os lábios dos seus. Quando suas bocas se uniram, ela foi invadida por uma onda de prazer e, com um suave murmúrio, curvou o corpo de encontro ao dele, passando os braços ao redor de seu pescoço viril.

Seus corpos se amoldaram com grande intimidade enquanto ele a beijava com delicadeza, obrigando os lábios dela a se entreabrirem para receber sua língua. Notando que Danny não lhe opunha resistência, Peter deitou-a suavemente sobre o mármore gelado, pressionando o peito forte contra os seios dela de uma maneira extremamente erótica.

— Danny — gemeu ele em meio às carícias —, como se chama?

Ela respondeu-lhe num suave murmúrio, surpresa por ainda conseguir lembrar-se do próprio nome; sentia-se tão inebriada com os beijos enlouquecedores daquele homem, que nem percebeu quando o segurança se aproximou e estacou, atônito.

— Sinto muito, sr. Sutherland, não sabia que... Meu Deus, Danny...

Completamente desnorteado, Don Bridge parou a alguns metros do casal, enquanto gaguejava alguma desculpa. Era o chefe do sistema de segurança e viera verificar um sinal de alerta que houvera no painel de controle.

— O que foi? — perguntou-lhe Peter secamente, enquanto tentava servir de escudo para que Danny ajeitasse a parte de cima do biquíni.

— Tivemos um alerta de segurança na ala oeste.

— Estou surpreso de vocês terem notado — repreendeu-o Peter com a voz gelada.

— O que disse, senhor?

— Nada, nada. Falarei com você mais tarde. Pode ir.

Danny teve pena do pobre homem. Peter o tratara com excessiva rigidez e ela se sentia culpada por tê-lo metido nessa encrenca. Mas também, como poderia imaginar que uma simples conversa casual com Peter fosse causar tanto transtorno? Bem lhe dizia sua mãe que ela era impulsiva demais, tanto nas ações quanto nas palavras.

— Sinto muito — desculpou-se Peter ajudando-a a se levantar. — Não esperava interrupções.

— O que vai fazer a respeito de Dave Benson?

— Você não tem nada a ver com isso.

— Mas...

— Se me der licença, preciso ver o que aconteceu com o alarme.

Danny gostaria de ter dito mais. No entanto, preferiu calar-se. A maneira-ríspida como ele a tratara indicava que não a ouviria. Com um ar de desânimo, pegou a saída-de-banho e voltou para casa acompanhada por Fang e Killer.

Que homem estranho! Ele lhe parecera ser muito poderoso e respeitável e, para sua surpresa, sentia-se mais atraída por ele do que jamais estivera por qualquer outro homem em sua vida.

 

 

A casa de Danny, embora construída na mesma época da mansão, era muito mais rústica. As paredes, todas de pedras cinzentas, contrastavam com as grossas vigas de madeira lavrada das portas e janelas. Pertencera ao antigo administrador da propriedade, mas, já havia três gerações, era habitada pela família de Danny. Embora pequena, mantinha um encanto todo especial, graças ao jardim que a rodeava, uma obra cuidada por mãos de mestre.

Na primavera, os tons vivos e alegres das flores se espalhavam por todos os cantos; no inverno, o cenário bucólico ganhava o romantismo dos pinheiros cobertos de neve. Danny adorava morar entre o verde, sentindo muito orgulho de pertencer a uma família que se dedicara à natureza com tanto amor.

— Hum, esta sua torta de limão é a melhor que já provei, Danny — comentou Gary estendendo o prato para receber mais uma fatia.

— Então termine com ela. Prefiro ver a minha geladeira livre de calorias tentadoras.

A idéia de convidar o noivo de sua irmã para jantar só lhe ocorrera no meio da semana. Calculava que ele comentaria com Cheryl sobre o convite e isso deixaria a irmã intrigada.

É que sua fama de má cozinheira já virara piada na família.

Ninguém podia imaginá-la recebendo um convidado para jantar sem pensar nas consequências que o pobre infeliz sofreria. Por esse motivo, Danny evitava encorajar alguém, principalmente se precisasse ir para a cozinha. Mas o caso agora era especial.

Ainda bem que Gary não tinha um paladar muito exigente e Danny sentira-se à vontade para servir-lhe uma refeição simples, mas tipicamente inglesa: o eterno rosbife com batatas cozidas e a tão elogiada torta de limão. De qualquer modo, eram os únicos pratos que ela conseguia preparar sem precisar abrir latas.

Gary tinha a sua idade e ambos haviam estudado na mesma classe durante o ginásio. Fora através de sua amizade que Cheryl o conhecera. Por isso a idéia de vê-los brigados a deixava consternada e ela não parará de pensar numa maneira de solucionar a questão.

Depois de algumas noites sem dormir, decidira que uma suave dose de ciúme em Cheryl talvez resolvesse o problema. Tinha certeza de que Gary não encararia o convite como um interesse romântico da sua parte. Ele só tinha olhos para Cheryl e via Danny apenas como mais uma irmã, além das duas que já possuía. Desde que chegara, ele não falara noutro assunto a não ser na noiva. Alto e musculoso, seu único interesse, além dela, era por comida. Saboreava a refeição trivial com prazer e mantinha nos olhos muito azuis um ar de gulodice.

— Cheryl virá neste fim de semana? — perguntou Danny, servindo-lhe o terceiro pedaço de torta.

— Não, ela precisa estudar, pois logo começarão os exames.

Danny precisou controlar-se para não perder a paciência. A única matéria que Cheryl estaria estudando no fim de semana se chamava Nigel Patrick!

Oh, Deus, como sua irmã era tola! Não que Nigel fosse um homem sem atrativos, muito pelo contrário. A questão era que ele estava apenas se divertindo à sua custa. Como poderia um homem tão importante sentir interesse por uma jovem fadada a ser uma jovem comum como ela?

— Aceita um café? — ofereceu Danny, enquanto retirava os pratos da mesa.

— Sim, obrigado. Quer que a ajude a lavar a louça, Danny?

— O quê?! Nada disso, obrigada. Sei o que acontece quando se mete a fazer o trabalho na cozinha: acaba quebrando todos os copos! Vá sentar-se na sala enquanto cuido de tudo.

Aliviado, Gary foi ligar a televisão e ficou assistindo a uma luta de boxe. Ao vê-lo gesticulando na frente da tela como se imitasse os golpes dos lutadores, Danny não pôde deixar de admitir a si mesma que não era para menos que a irmã achava o jovem milionário bem mais excitante...

Voltando à cozinha para pegar a bandeja do café, ouviu uma leve batida na porta dos fundos. Era Peter Sutherland. Fazia três dias que não se viam e Danny mal conseguiu disfarçar sua surpresa ao abrir a porta. Primeiro porque ele agora estava completamente diferente: vestia um terno impecável de linho bege e uma camisa caqui com o colarinho desabotoado, e seus cabelos estavam muito bem penteados, o que a fez duvidar se não os preferia mais desalinhados. Depois, porque não esperava vê-lo de novo, após o desconcertante incidente na piscina.

— Sei que é um pouco tarde... — começou ele com sua voz rouca.

— Ora, são só dez e meia. Vamos, entre!

— É verdade, havia me esquecido de que você é uma coruja. Já resolveu o seu problema?

— Estou trabalhando nele — disse ela, lembrando-se de Gary sentado na sala. — Deu tudo certo naquela noite?

— Com o alerta de segurança? Ah, foi apenas uma falha no sistema.

— Aceita um café? Acabei de fazer um, está quentinho.

— Não, obrigado. Não costumo tomar café.

— Cafeína? — perguntou ela fechando a porta atrás dele.

— Não. É que eu não gosto mesmo.

— Um chá?

— Não quero nada, obrigado.

— Então o que posso fazer por você?

— Eu... — ele se interrompeu ao ver Gary entrar na cozinha.

— Ei, Danny, escute... Oh! Não sabia que você estava com alguém — desculpou-se o rapaz, atrapalhado.

— Então somos dois — acrescentou Peter friamente. — Parece que cheguei em hora imprópria.

— Ora, que nada. Gary e eu acabamos de jantar, só íamos...

— Gary? — repetiu Peter confuso.

— Sim, não se lembra? Já lhe falei a respeito dele, é o noivo de minha irmã Cheryl.

— Claro que me lembro. Seu método de resolver as coisas é bastante excêntrico, Danielle.

O leve sotaque francês com que ele pronunciou seu nome era encantador, no entanto não via nada de excêntrico no fato de estar despertando o ciúme de sua irmã. Talvez pudesse dizer engenhoso, mas nunca excêntrico.

— Deixarei os dois sozinhos saboreando seu café — concluiu ele secamente, dirigindo-se para a porta.

— Mas você ainda não me contou o que veio fazer aqui, Peter.

— Não era nada importante — disse ele a Danny e, em seguida, olhando para Gary, acrescentou maliciosamente: — Sinto ter interrompido a noite de vocês.

— Peter... — chamou-o Danny, mas ele já havia saído e se afastara rapidamente.

Realmente, ele era um homem estranho, muito estranho. Quase tão esquisito quanto o próprio tio.

Danny fechou a porta e ficou pensativa por alguns instantes. Na verdade, não esperava mesmo vê-lo de novo. Não depois daquela noite e, principalmente, porque sabia que aquele beijo não significara para Peter o mesmo que para ela. Por que teria ele voltado à sua casa essa noite? Oh, que ódio! Talvez nunca chegasse a saber.

— Quem é o tal?! — perguntou Gary com um ar intrigado.

— Trabalha para Henry Sutherland — disse Danny omitindo deliberadamente o fato de ele ser um dos sobrinhos do eminente proprietário. Gary podia ser bem astuto quando desejava...

— Vocês são... amigos?

— Não — respondeu ela duvidando que Peter tivesse algum amigo.

— Ele não pareceu muito satisfeito em me ver aqui com você.

— Ora, Gary, você está imaginando coisas. Então, vamos tomar nosso café?

— Era justamente sobre isso que queria lhe falar, Danny. Não se importa de deixar o café para um outro dia? Preciso ir agora, meu turno é amanhã bem cedo.

Danny não procurou impedi-lo. Já havia feito sua parte no plano e não tinha interesse em manter o rapaz ali por mais tempo.

Após despedirem-se, foi até o portão que separava sua casa dos jardins da sede. Ficou ali pensativa, olhando as luzes acesas em volta da piscina e imaginando o corpo macio e brilhante de Peter deslizando suavemente através da água.

Gostaria de estar lá com ele, porém as coisas haviam mudado muito nos últimos três dias. Já não podia transitar livremente pela propriedade durante a noite sem que os alarmes a denunciassem: ordens de Henry Sutherland. E, quanto ao Dave Benson, coitado! Estava sob ameaça de uma séria advertência quando o patrão voltasse de sua viagem de negócios. Danny tentara várias vezes falar com o bilionário, a fim de interceder por Dave, porém os empregados da mansão foram categóricos: o sr. Sutherland não receberia ninguém. Não podia censurar Peter por ter aconselhado o tio a tomar uma atitude severa em relação ao empregado. No entanto, não concordava com o fato de o vigia receber a culpa de tudo.

Havia escutado o helicóptero chegar no fim da tarde e sabia que o tio de Peter havia regressado. No dia seguinte tentaria mais uma vez falar com ele.

 

 

— O que você anda planejando, Danielle Martin? — perguntou Cheryl ao telefone com a voz indignada.

— Planejando, eu?! Não estou entendendo.

— Está, sim. Não se faça de inocente. Gary me contou sobre o "jantarzinho" de vocês ontem à noite.

— Ah, então é isso? Gary anda muito abatido ultimamente. Achei que um pouco de comida caseira lhe faria bem.

— Mas não uma das suas comidas caseiras!

— Gary não se queixou.

— Ele come comida caseira todos os dias, Danny. Mora com os pais, lembra-se?

— É verdade. Então ele deve estar preocupado com alguma outra coisa...

— Você está me acusando, não é?

— Você?! Por que Gary deveria estar preocupado com você?

— Por causa de Nigel, ora!

— Ah, mas ele não sabe nada sobre Nigel e, mesmo se soubesse, poderia nem estar ligando. Você fica longe por tanto tempo, Cheryl. Os homens costumam buscar compensações quando as noivas estão ausentes.

— Está insinuando que Gary arranjou alguém?

— E por que não? Você não procurou companhia?

— Ah, mas isso é diferente.

— Não vejo em quê. Gary é bastante atraente e possui um emprego estável. Deve haver muitas mulheres doidas para sair com ele...

— Mas nós estamos noivos!

— É... os noivados de hoje em dia são bem diferentes dos de antigamente.

— Você está sabendo de alguma coisa, Danny? Gary tem saído com alguém?

— E isso magoaria você?

— Mas é claro que sim!

— Por quê? Pensei tê-la ouvido dizer que ia romper com ele.

— É verdade, mas eu... Escute, Danny, quem é ela?

— Ora, sei lá! Acho que não há ninguém...

— Mas você acabou de dizer que... Droga, Danny! Você me faz perder a paciência! Até que horas Gary ficou aí ontem à noite?

— Até bem tarde. Ele tem uma conversa interessantíssima...

— Vai convidá-lo outra vez?

— Estou pensando em fazer isso amanhã — mentiu ela na esperança de que uma vez já tivesse sido suficiente.

— Ah, mas será impossível. Gary vem a Londres para passar o fim de semana.

— Tem certeza?! Pensei que ele estivesse trabalhando.

— Ele deu um jeito de trocar o horário com um colega.

— E o que vai fazer com Nigel?

— Surgiu uma viagem inesperada e ele teve que ir para a Alemanha.

Ah, então era isso. Naquela manhã, Danny resolvera mais uma vez falar com Henry Sutherland, no entanto fora informada de que não seria recebida. Provavelmente Nigel viajara com o tio.

Preferia que Gary e Cheryl se encontrassem em outras circunstâncias mas, de qualquer modo, o fato de estarem juntos já ajudava muito. Tinha certeza de que sua intenção de dar uma sacudida na irmã funcionara. O resto cabia a eles resolverem.

— Preciso desligar, Cheryl. Há alguém batendo — falou Danny aflita ao ouvir um leve toque na porta.

— Espere um pouco, Danny. Sobre o Gary...

— Ele é problema seu — disse ela impaciente, achando que seu visitante poderia ser Peter. — Mas ouça bem, Cheryl. Se Gary não recusou meu convite para jantar, duvido que aja diferente se for convidado por outra pessoa. Precisa entender que ele vive muito sozinho.

— Eu também me sinto só.

— Mas, se você arranjou alguém para aliviar essa solidão, por que Gary não poderia fazer o mesmo?

— Não acredito que ele faça isso.

— Tomara que você esteja certa. Bem, Cheryl, tenha um ótimo fim de semana e não se esqueça de que mais cedo ou mais tarde terá de enfrentar essa situação. Telefono para você na segunda ou na terça. Tchau!

Danny desligou rapidamente e correu para a porta, certa de que não encontraria mais quem desejava. Mas ele estava lá.

— Oi, Peter, que bom vê-lo de novo! Você saiu tão rápido na outra noite.

— Você estava acompanhada...

— Ah, era apenas o Gary — falou ela com displicência enquanto analisava a aparência impecável de Peter, que vestia bem tanto um traje esportivo quanto um terno.

Ele estava usando calças de linho branco bem folgadas e uma camisa de tecido azul-petróleo com as mangas arregaçadas. Danny sentiu-se mal diante de tanta sofisticação, por estar apenas com um short muito curto de brim desbotado e uma camisa pólo que lhe acentuava o contorno dos seios.

— Você nunca viaja com seu tio?

— Com meu tio?!

— Sim. Quando você chegou, eu estava falando com Cheryl pelo telefone e ela me contou que Nigel foi para a Alemanha com Henry Sutherland.

— Tem certeza de que ela lhe disse isso?!

— Oh, Deus! Não me diga que violei de novo o seu sistema de segurança!

— Não que eu saiba — falou ele esboçando um sorriso imperceptível. — Mas lhe garanto que Henry Sutherland não estará nem próximo da Alemanha neste fim de semana.

— Verdade?!

— Pode ter certeza. Ele chegou no fim da tarde de hoje e não pretende viajar durante alguns dias.

— Então por que seu primo inventou aquela história para Cheryl?

— Não tenho a mínima idéia.

Danny ficou alguns instantes pensativa, imaginando que motivos teria Nigel para mentir a sua irmã.

— Em que está pensando? — indagou ele, notando o olhar sério de Danny.

— Oh, não é nada. Não quer entrar? Vamos até a sala, lá estaremos mais à vontade.

A casa de Danny havia sido decorada com simplicidade, mas com muito bom gosto. A própria construção em si, rica em detalhes de pedras e madeiras rústicas, já dava ao ambiente um ar bastante acolhedor. Além de um confortável sofá de couro, havia duas cadeiras de balanço que ficavam junto a uma lareira de pedra. Próximo à janela encontravam-se uma mesa e dois bancos muito bonitos, de madeira lavrada, cujo aspecto envelhecido evocava lembranças de alegres refeições em família. Sobre ela pendia um lampião de cobre muito antigo que Danny comprara em uma feira de antiguidades de Londres.

— O ambiente aqui é muito agradável — observou ele, sentando-se no sofá. — Parece que a sua família fez questão de preservar o estilo da casa.

— Também acho a casa encantadora. Os móveis são os mesmos desde a época de meu avô, eu só acrescentei alguns detalhes...

— Ah, isto é óbvio... — ele disse observando os vários almofadões de tecido indiano espalhados sobre o carpete macio. — Tenho certeza de que seu avô acharia essas almofadas bastante incômodas.

— Nem tanto. Você se esqueceu de que os jardineiros estão acostumados a ficar agachados? No inverno, eu adoro acender a lareira e me esticar sobre essas almofadas, é tão aconchegante...

— Posso imaginar, mas... só no inverno? — ele insinuou com malícia.

— O que quer dizer?

— Parece que no verão elas também são aconchegantes, ou o Gary não achou?

— Gary Cartwright?! O noivo de Cheryl?

— Não era ele quem estava aqui com você ontem à noite?

— Sim, mas não da forma como está pensando. Ele e minha irmã estão noivos há quase cinco anos, já lhe disse. Qual seria o motivo de Nigel ter mentido para Cheryl?

— Por que acha que ele mentiu?

— Lembro-me de você ter dito que Nigel não costuma se interessar por mais de uma mulher ao mesmo tempo.

— Talvez eu não o conheça tão bem quanto supunha. Você vai contar a sua irmã?

— Não. Isto só serviria para fazê-la pensar que estou sendo vingativa. É melhor deixá-la imaginando que ando com segundas intenções em relação a Gary.

— Era isso o que pretendia naquela noite?

— Era. Gosto muito de Gary e acho que Cheryl o está tratando mal.

— Ah, entendo...

— Não, você não entende — disse ela sorrindo diante da desconfiança de Peter. — Gary é amigo da minha família há muitos anos e a afeição que sentimos um pelo outro é puramente fraternal. Para mim ele é o irmão que nunca tive e para ele sou a terceira irmã. Mas você ainda não me contou por que veio aqui na noite passada.

— Queria lhe explicar por que certo tipo de providências serão tomadas em relação a Dave Benson.

— Eu compreendo, mas não o considero tão culpado assim. Apesar de ter errado em desligar o sistema de segurança, ainda restavam os vigias — protestou ela com veemência.

— Não era o suficiente.

— Mas, Peter...

— Escute, Danielle, a segurança noturna era responsabilidade de Benson. Como ex-policial, ele devia saber muito bem que estava errado.

— Por que faz isso?

— Porque Benson é...

— Não. Estou me referindo à sua maneira de me chamar. Ninguém me chama de Danielle.

— Danny me parece nome de homem.

— E era o que você pensava que eu fosse, não era? Mas não se preocupe, não estou me queixando, na verdade isso me faz sentir especial.

— E por que motivo desejaria ser especial para mim, Danielle?

— Por que não? Você não tem uma garota em cada país como seu primo Nigel deve ter, não é?... Ou tem?

— Não tenho nenhuma garota, ou melhor, nenhuma mulher, em parte alguma.

— Não tem?!

— Não.

Danny o olhou pasmada. Era difícil acreditar que um homem tão atraente e sedutor não vivesse rodeado de mulheres bonitas e sofisticadas. Na sua opinião, por trás daquela aparente insensibilidade havia um homem capaz de paixões ardentes. Ela mesma não tivera uma prova dessa capacidade? E por acaso não estaria em seu íntimo desejando que ela se repetisse?

— Gostaria de ter uma aqui na Inglaterra? — indagou ingenuamente.

— Está me oferecendo seus serviços?

— Não! Minha intenção é apenas a de nos conhecermos melhor — respondeu ela com seriedade. — Mas também gostaria de nadar em sua piscina outras vezes — concluiu, voltando à sua descontração habitual.

— Ah... uma outra interesseira — comentou ele com sarcasmo.

— Pois está redondamente enganado. Apenas achei que, como você é em parte o responsável pela interrupção dos meus exercícios noturnos, poderia me oferecer a piscina para compensar.

— Já lhe disse. Pode usá-la sempre que desejar.

— Tem certeza de que seu tio não iria se importar?

— Tenho.

— Já nadou hoje?

— Não está sendo nada sutil, Danielle.

— E por que eu deveria ser? Não é do meu feitio usar de subterfúgios para dizer o que penso. Sou sempre muito sincera com as pessoas, pois acho que o importante numa amizade é a franqueza. No momento estou lhe propondo que sejamos amigos. Sabe, você fica tão pouco por aqui, que tenho de aproveitar as poucas oportunidades que aparecem.

— Definitivamente, você é a mulher mais excêntrica que já conheci.

— E você conhece muitas?

— Acho este assunto irrelevante pelo simples fato de você ser jovem demais para mim.

— Pois eu não acho.

— Escute, se quer mesmo saber, mulher alguma jamais participou intensamente da minha vida. Para mim é muito simples: quando tenho vontade, arranjo uma e pronto.

Danny estremeceu diante da insensibilidade daquelas palavras frias e calculistas. Desde o princípio soubera que ele pertencia a um mundo completamente diferente do seu. Um mundo onde era difícil encontrar as verdadeiras emoções da vida e onde o simples fato de ser um Sutherland o tornava alvo de mulheres interesseiras, o que aumentava o seu cinismo e a sua insensibilidade. É, não era fácil pertencer a uma família tão poderosa, mesmo sendo apenas o sobrinho de Henry Sutherland.

— E você... arranja uma... frequentemente? — indagou ela com simplicidade.

— Se está tentando investigar a minha vida sexual, posso lhe assegurar que sou tão normal quanto a maioria dos homens. No momento, não estou particularmente interessado em nenhuma mulher, mas, quando quero uma, me certifico antes que ela não me causará nenhum problema depois.

— Muito sensível — disse ela, arrependida de ter prolongado o assunto.

Na verdade, havia feito a pergunta apenas com intenção de amenizar o clima tenso que se formara entre eles. Não esperava uma resposta tão veemente da parte dele, assim como não desejava que a conversa tomasse um rumo tão perigoso.

— Que tal nadarmos agora, Peter? — perguntou, notando que ele a olhava de maneira diferente.

— Danielle...

— Sim?

— Nada — disse ele levantando-se bruscamente. — Por favor, use a piscina se desejar. Não poderei nadar com você, hoje.

— Você não vai?! — perguntou ela visivelmente desapontada.

— Danielle, nunca lhe disseram que é muito arriscado você demonstrar tanto...

— Entusiasmo? Esse sempre foi o meu jeito de ser, não vejo motivo para mudar agora.

— Por acaso já imaginou até onde essa sua euforia pode levá-la?

Ela sabia muito bem que esse seu comportamento não a levaria a parte alguma. Pelo menos não com esse homem dono de olhos frios e impenetráveis. Para ele, sua sinceridade não era bem-vinda.

— Bem, no momento espero que essa minha euforia me leve à sua piscina — brincou ela, notando um certo alívio na expressão de Peter.

— Então não vou prendê-la aqui por mais tempo.

— Peter, você me disse que seu tio estaria em casa. Acha que ele me receberia?

— Com certeza, não a esta hora.

— Mas é claro que não. Quero dizer, amanhã. Tenho tentado vê-lo todos estes dias, mas parece que ele nunca está.

— Sobre o que quer falar com ele?

— Dave Benson.

— Já disse a você que Benson terá de arcar com as responsabilidades pelo que fez. Interceder por ele não vai adiantar nada.

— Mesmo assim, continuo querendo falar com seu tio.

— Vá até a mansão amanhã à tarde — concordou ele afinal, não duvidando por um minuto sequer da determinação de. Danny.

— Acha mesmo que ele não se importará?

— Ele nunca se importa de ver uma mulher tão bonita.

— Mas quantos anos ele tem?

— Não é tão velho que não saiba apreciar a beleza do sexo oposto. Aliás, acho que nenhum homem nunca o será.

— E eu sou bonita?

— Estou começando a pensar que daria uma excelente mulher de negócios, Danielle. Você não perde o menor detalhe.

— Essa seria a última coisa que faria em minha vida. Acho muito mais fácil entender as plantas do que as pessoas; especialmente os tubarões do mundo dos negócios.

— Você não parece ter tido tanto trabalho assim comigo.

— Oh, eu não quis ofendê-lo...

— Eu sei. Direi a Benson que você subirá daqui a pouco para nadar. Pelo menos, não preciso avisá-la sobre os cães ferozes, não é mesmo?

— Você sabe que não — disse ela rindo. — Deveria ter visto a sua cara quando Fang e Killer correram em nossa direção naquela noite. Gostaria de estar com uma máquina fotográfica naquele instante.

— Ainda bem que não estava. Posso lhe garantir que não é comum alguém me ver fazendo papel de bobo.

Ah, disso ela tinha certeza. Sabia que o simples fato de pensar que havia passado por um tolo o perturbava. Peter demonstrava ser o tipo de homem acostumado a manter o controle em qualquer circunstância, não se permitindo cometer erros, assim como não devia aceitar que os outros os cometessem. Como no caso de Dave Benson.

— Então está combinado. Amanhã irei falar com seu tio, às duas e meia da tarde, está bem?

— De qualquer forma, não vai adiantar nada. Benson já está com um mês de aviso prévio.

— Não me diga! Eu não sabia!

— O que você achou que aconteceria com ele?

— Dave me disse apenas que havia sido repreendido! — falou ela indignada.

— Mas, para o que fez, devia ter sido demitido imediatamente!

— Nesse caso, ainda bem que seu tio aparenta ser um homem bem mais razoável do que você! Honestamente, Peter, como pode ser tão cego? Afinal, Dave é um bom homem e, além disso, sou tão culpada quanto ele!

— Você também está querendo ser demitida? Tenho certeza de que poderemos dar um jeito nisso.

Definitivamente, Peter não estava sendo nem um pouco razoável! Ela procurava se controlar, no entanto começava a perceber que não aguentaria por muito tempo. Normalmente possuía um temperamento calmo e descontraído, porém, nem sempre era assim tão passiva. Havia momentos em que seu sangue fervilhava nas veias e vinha à tona o seu temperamento explosivo.

— Que eu saiba, a minha demissão é um assunto que cabe ao seu tio decidir — desafiou-o Danny com os olhos faiscantes de raiva.

— Não necessariamente.

— Sabe o que eu acho? Você está enclausurado nesta casa com seu tio por tanto tempo que perdeu a noção do mundo lá fora. Sua capacidade de julgamento anda completamente deformada! Não sabe o que é a realidade da vida.

— Sei muito bem, Danielle. Muito melhor do que você, se é que você a conhece!

— Eu ainda gosto das pessoas e confio nelas, Peter. Mas e você: conhece o significado dessas palavras?

— De alguns membros da minha família, eu gosto, mas não de todos. Quanto à confiança, não tenho em ninguém.

— Você deve se sentir muito triste e solitário.

— De maneira alguma. Isso torna as coisas bem mais fáceis para mim. A solidão é um estado mental e não físico. Você pode se sentir tão sozinho numa sala cheia de gente quanto, ao contrario, onde não haja ninguém.

— Ah, mas qual das duas situações você prefere?

— Eu sou mais pela última, mas você, tenho certeza, escolheria a primeira.

— Não pense que já me conhece tão bem assim só porque sou franca e sem rodeios. Fique sabendo que sou tão complexa quanto qualquer outra pessoa neste mundo! Talvez não tanto quanto você... mas a esse ponto eu já acho difícil que alguém chegue!

Peter a olhou divertido e esboçou um leve sorriso de satisfação.

— Nunca imaginei que tivesse um temperamento tão agressivo... Presumo que seja devido à cor de seus cabelos — disse ele sorrindo, com os olhos fixos em sua cabeleira cor de fogo.

— Pois está enganado! Ele é devido a esta sua arrogância desmesurada!

— Alguém já lhe disse que você fica mais bonita ainda quando se zanga?

— Não conheço ninguém tão sem imaginação assim!

Aquela foi a gota d'água. Estimulado pela reação agressiva de Danny, Peter enlaçou-a com força, prendendo-lhe os braços atrás das costas, para que ela não tentasse escapar.

— Admito que a minha técnica verbal não seja das melhores, mas a física é.

Danny logo descobriu a razão daquela afirmativa. Jamais vira nos olhos de um homem um desejo tão intenso quanto o que percebia agora no olhar de Peter. Os beijos da outra noite não significavam nada se comparados à fúria que se apossou dele ao agarrá-la fortemente, obrigando-a a curvar-se sob o peso de seu corpo. Seus lábios procuraram os dela com tanta avidez, que Danny acabou se rendendo às carícias loucas daquele homem.

Passando os braços ao redor de seu pescoço, deixou que ele a pressionasse até sentir o corpo doer. De repente, ele ergueu sua camiseta e começou a beijar-lhe os seios redondos e rijos. Os lábios e a língua de Peter acendiam labaredas por onde passavam, provocando em Danny uma verdadeira vertigem. Um gemido de prazer escapou de sua garganta enquanto uma onda de volúpia explodia em suas veias.

— Peter...

Ao ouvir o desejo contido no suave murmúrio de Danny, ele voltou bruscamente à realidade.

— Eu poderia deitá-la neste carpete e possuí-la agora mesmo — disse ele afastando-a. — Mas não sou louco a tal ponto. Pelo menos em relação a esta realidade eu ainda não perdi a consciência.

Perturbada com aquela atitude inesperada, Danny virou-se para o outro lado e ajeitou a camiseta. Em seguida, numa voz totalmente inexpressiva, murmurou sem se voltar para ele:

— Mudei de idéia a respeito de nadar. Por favor, diga a seu tio que amanhã irei vê-lo.

— Danielle, escute...

— Você sempre deixa as suas mulheres assim com esta sensação de vazio?

— O quê?! — Ele parecia totalmente desconcertado.

— Sua técnica é boa, Peter, mas, se ela se resume a isto, então só serve para causar uma enorme insatisfação, um sentimento de frustração. Talvez seja pelo fato de você não gostar das pessoas, nem mesmo de mulheres. Sinto pena de você.

— Pois não sinta! — Ele estava fora de si. — Posso pagar uma mulher para gostar de mim.

— E quanto a você? Gostará dela?

— Isso importa?

— Para você, é óbvio que não.

— Acertou em cheio. Henry estará a sua espera amanhã — concluiu ele rispidamente antes de sair, deixando atrás de si um suave aroma de colônia masculina.

Estivera errada a respeito desse homem. Ele não desejava encontrar sentimentos verdadeiros, preferia pagar pelos falsos. Sua maneira de pensar e de agir estavam simplesmente além de sua compreensão.

Sentia-se uma vítima de sua atração por ele porque, mesmo não o compreendendo e duvidando de que alguém mais o fizesse, ainda o achava extremamente fascinante.

 

 

A mansão da sra. Prendergast sempre fora uma casa bonita. Mas, desde que sua decoração passara por uma reformulação completa, quando fora vendida para Henry Sutherland, estava magnífica. A mobília, em estilo clássico, ainda era a antiga, mas não havia mais os velhos tapetes ralos e desfiados, nem os estofados já desbotados e maltratados pelo tempo. Em seu lugar se encontravam grossos tapetes de lã de carneiro, intercalados por autênticas tapeçarias persas. Danny, que não havia entrado lá desde que o novo dono a comprara, ficou satisfeita ao notar que a maioria das mudanças contribuíra para melhorar sua aparência. Só não estava bem certa quanto à construção da piscina e da pista de pouso no jardim.

Assim que saíra de casa, encontrara Dave Benson a sua espera para escoltá-la até Henry Sutherland. No caminho, o vigilante pedira a Danny para que desistisse de sua intenção de interceder por ele, dizendo-lhe que o patrão tinha todo o direito de demiti-lo, uma vez que havia agido como um tolo. Mas Danny sabia muito bem que, se não fosse por ela, Dave não teria feito o que fizera. Sentia-se na obrigação de, pelo menos, tentar justificar os atos do amigo perante o bilionário, mesmo que isso não a levasse a nada.

Lembrando-se do comentário de Peter a respeito de seu tio apreciar mulheres bonitas, decidira tirar vantagem disso, escolhendo um vestido preto de algodão, em estilo tomara-que-caia, que por ser justo lhe acentuava as suaves curvas dos quadris e realçava a exuberância de seus seios volumosos. Fizera uma maquiagem suave e luminosa, que acentuava o brilho de seus olhos verdes, cujas pestanas espessas e escuras dispensavam o uso do rímel, e deixara os cabelos em parte soltos sobre os ombros, prendendo-os lateralmente para trás com duas fivelas, para afastá-los do rosto e valorizar seus traços perfeitos.

— O sr. Sutherland a aguarda na biblioteca — disse-lhe a governanta assim que chegou.

Na sala espaçosa, cujas paredes eram forradas de estantes de mogno, encontravam-se as mais variadas coleções de livros luxuosamente encadernados. Em frente a uma lareira havia confortáveis poltronas de couro e, entre as duas janelas, uma escrivaninha antiga, atrás da qual se achava sentado, de costas para ela, sir Henry Sutherland, multimilionário homem de negócios e seu patrão.

Quando ele se voltou, entretanto, Danny levou um choque que a deixou paralisada: o homem autoritário e elegante à sua frente não era o venerável senhor de sessenta e cinco anos que ela imaginava encontrar à sua espera. Em seu lugar, vestindo um impecável blazer azul-marinho e uma camisa branca, lá estava, impassível, com uma expressão taciturna e mantendo nos olhos cinzentos fixos nela um brilho de aço, nada menos que Peter em pessoa.

Assim que Danny o encarou, percebeu com clareza o motivo do comportamento estranho desse homem: a solidão, a descrença nas pessoas, o fanatismo em relação à própria segurança e à autoridade que exercia como se fosse um deus.

O mais curioso era que, embora ela mesma o tivesse tomado por sobrinho de Henry Sutherland naquela primeira noite em que se encontraram, nunca tinha ouvido falar que seu patrão possuísse outro além de Nigel.

 

 

Passados alguns instantes do choque inicial, Danny voltou a raciocinar com clareza. Talvez no seu íntimo já soubesse quem era ele. Nunca pudera realmente acreditar que todo aquele cinismo e toda aquela desconfiança nas pessoas se devessem apenas ao fato de ser parente de Henry Sutherland.

Oh, Deus! Era embaraçoso lembrar-se das barbaridades que lhe havia dito quando nem desconfiava de sua verdadeira identidade, sobretudo do modo como caçoara da sua obsessão em manter-se afastado do mundo, chamando-o até de "Senhor Eremita"! Essa sua mania de falar o que lhe vinha à cabeça às vezes a colocava em má situação...

— Sr. Sutherland... devo continuar a chamá-lo de Peter ou você prefere apenas Henry? Talvez, de acordo com as circunstâncias, "sr. Sutherland" seja o mais adequado, não?

— Peter está bem — respondeu ele secamente. — Desde quando você sabe quem eu sou?

— Desde agora, infelizmente.

— Infelizmente?

— Bem, você acha que eu teria dito tantos disparates a respeito de Henry Sutherland se soubesse que ele era você? Embora você deva ter se divertido com minha inocência, não é?

— Não, particularmente. Esperava que você ficasse brava quando soubesse da verdade.

— Ora, não se preocupe. A minha cota de raiva desta semana já foi gasta ontem à noite. Por que manteve a farsa por tanto tempo?

— No começo, porque achei divertido me fazer passar por outra pessoa durante algum tempo. E depois, porque percebi que realmente estava gostando da brincadeira. Às vezes, torna-se muito cansativo ser Henry Sutherland.

— Ah, "disso eu tenho certeza.

— Pelo menos você não me perguntou como eu poderia ficar entediado possuindo tanto dinheiro!

— Imagino mesmo que de vez em quando você se sinta sufocado pela própria riqueza.

— Você é bastante perspicaz.

— Então por uns tempos você decidiu se chamar Peter Sutherland.

— Mas eu sou Peter Sutherland. Sou a quarta geração de Henrys que há na minha família. Meu nome todo é Henry Peter Sutherland, o Quarto. E, para hão haver confusão, sou tratado pelo meu segundo nome, graças a Deus!

É. Ela tinha que admitir.que à primeira vista ele não se parecia muito com um Henry mas, examinando-o melhor, ele agia exatamente como o bilionário que era. Seu cinismo derivava do fato de ser tratado como um deus desde que herdara, muito jovem, a fortuna dos Sutherland. Sua desconfiança e sua descrença nas pessoas provinham daqueles que tentavam usá-lo para atingir seus objetivos. E, por fim, seu desprezo pelas mulheres era por culpa delas mesmas, que se entregavam a ele por dinheiro.

— Imaginava que Henry Sutherland fosse bem mais velho que você.

— Às vezes os meus trinta e sete anos pesam tanto quanto setenta!

Danny o olhou por uns instantes e depois, mordendo o lábio inferior, perguntou:

— E então, como ficamos?

— O que quer dizer com isso?

— Bem, vim aqui para conversar com Henry Sutherland a respeito de Dave Benson. Saber que você é o próprio tornou a situação um tanto sem graça.

— Pelo que vejo, veio adequadamente vestida para a ocasião. Estava pretendendo impressionar o velho Sutherland?

— Hum-hum.

— Danielle Martin, o que eu devo fazer com você? — perguntou ele sorrindo.

— Ouvir... — disse Danny suavemente, aproveitando a oportunidade, ao vê-lo descontraído.

Peter levantou-se, deu a volta e sentou-se na beirada da escrivaninha.

— Estou ouvindo.

— Promete ser imparcial?

— Isto eu não posso prometer.

— Escute, Peter, Dave Benson é um homem bom. Ele...

— O que ele significa para você?

— Não estou entendendo. Aonde quer chegar?

— Ora, Danielle, não se faça de inocente.

— Dave tem idade para ser meu pai!

— Ele é só seis anos mais velho do que eu. E eu posso lhe garantir que meus sentimentos por você não são nada paternais!

— Mas ele é casado...

— E daí?

— Estou vendo que vou acabar usando a minha cota de raiva daqui a um minuto! — Danny respirou profundamente procurando acalmar-se. — Gosto muito de Dave, ele é um homem excelente. Gosto da mulher e dos filhos dele também. Houve um domingo em que eles vieram todos tomar chá comigo em casa...

— Isso não quer dizer nada.

— Quer parar de me interromper? Não sou tão estúpida a ponto de pensar que uma aliança seja suficiente para impedir que o marido ou a mulher olhem para o sexo oposto. Só que não costumo me envolver com homens casados. Desta vez você foi longe demais com esse seu maldito cinismo!

— Talvez...

— Não há nenhum talvez neste assunto! — disse ela perdendo a paciência. — Dave Benson é meu amigo e eu sou fiel aos meus amigos. Para você devo parecer uma idiota, mas é assim que eu sou e não pretendo mudar!

— É lógico.

— Nunca encontrei ninguém tão cínico quanto você!

— E eu nunca vi ninguém mais ingênua. Você acredita que, se a situação fosse inversa, Benson teria vindo aqui interceder por você?

— Pouco me importa o que ele faria. Os papéis não estão invertidos e em parte é por minha culpa que Dave está sendo punido.

— Eu diria que é totalmente por sua culpa. Você deve ter jogado esse seu charme para cima de Benson e ele não hesitou em quebrar as regras. Como eu poderia manter uma pessoa desse tipo encarregada de um sistema de segurança tão complexo? Apenas um sorriso de uma mulher bonita e ele provavelmente mostraria a ela a entrada da casa! Dave não merece confiança!

— Ele fez aquilo porque me conhecia.

— De qualquer forma, não merece confiança.

— Isto é ridículo!

— Não tanto quanto o que ele fez.

— Você dá tanto valor assim às coisas materiais?

— Como?

— Não vi nada nesta casa que justificasse tamanho drama.

— Não, mesmo?

— Não. Os quadros podem ser todos autênticos... Dinheiro... talvez você tenha algum guardado por aí. Quem sabe possui documentos secretos e não deseja que ninguém os veja...

— Acertou em tudo.

— Mas essas coisas todas são substituíveis, meu Deus!

— A um alto preço. Porém, você se esqueceu de algo muito mais valioso aqui dentro.

— O quê?

— Eu.

— Você?! Que diabos alguém desejaria com você?!

— Em outras circunstâncias, eu lhe perguntaria o porquê deste comentário, mas no momento acho suficiente lembrá-la que as pessoas poderosas correm o risco de ser sequestradas.

— Ora, vamos lá, esse tipo de coisa só acontece nos filmes ou nos livros.

— Você não tem a mínima idéia do que está falando.

— O que eu sei é que você tem vivido nesse mundo artificial por tempo demais! Mantém seus guarda-costas protegendo-o dia e noite, possui helicóptero particular, jato particular e suítes particulares nos hotéis do mundo inteiro! Consegue mulheres às quais prefere pagar para dormir com você, mas eu lhe digo uma coisa, Peter Sutherland, você não tem amigos verdadeiros! Você vive a sua vida como um personagem fora de um livro!

— Eu vivo a minha vida da maneira como a sociedade me obriga a fazê-lo! Você é que não tem a menor idéia do que se passa pelo mundo. Vive dentro desse seu casulo protetor e não sabe nada a respeito dos inúmeros sequestros de gente importante que tem havido ultimamente! Duvido que os Getty algum dia se esquecerão do que aconteceu com eles!

Danny lembrava-se muito bem das notícias em todos os jornais sobre o sequestro do neto deles.

— Você está exagerando, Peter. Essas coisas não acontecem assim com tanta frequência.

— Porque nós, possíveis vítimas, procuramos aumentar cada vez mais o nosso sistema de proteção.

— Você está sendo ridículo outra vez.

— Pois você está sendo infantil!

Por mais que tentasse, Danny não conseguia entender o raciocínio absurdo de Peter. Uma figura tão importante, tão dominadora e com tanto autocontrole, não poderia usar argumentos tão pouco razoáveis.

Embora respirasse com dificuldade por causa da raiva, Danny decidiu que a discussão ainda não terminara. Faltava ainda resolver a questão de Dave e ela não deixaria de defender seu ponto de vista até as últimas consequências.

— E quanto a Dave Benson?

— A demissão permanece — disse ele secamente dando o assunto por encerrado.

Em seguida, pegou um arquivo que havia sobre a mesa e começou a folheá-lo, ignorando por completo a presença de Danny.

Ela respirou fundo. Estava a ponto de perder o controle, mas fazia o impossível para manter-se calma. Sabia que, para vencer os argumentos de Peter, precisava ter a cabeça fria e os sentidos alertas.

— Ele tem uma família para sustentar — falou após alguns instantes de silêncio.

— Devia ter pensado nisso antes — Peter retrucou sem levantar os olhos dos papéis que tinha à frente.

— Você quer parar de ler essa droga e me ouvir?!

Danny arrancou os arquivos das mãos dele e atirou-os sobre uma cadeira que havia ao seu lado. Antes que ele dissesse alguma coisa, desabafou furiosa:

— Você pode estar se sentindo são e salvo nessa sua torre de marfim, mas nós, simples mortais, temos que lutar para sobreviver! Dave Benson tem quarenta e três anos e, embora não seja tão velho, está numa idade em que não é nada fácil arranjar um emprego.

— Como eu já disse, ele devia ter pensado nisso antes.

— Você é um monstro implacável! Teria realmente coragem de fazer isso com ele?!

— Foi ele mesmo quem provocou essa situação.

— Mas foi por minha causa! Muito bem, sr. Sutherland, pelo que vejo, você só ficará satisfeito se a punição for total! Eu me demito!

— Ora, Danielle, não seja criança.

— Sou tão culpada quanto Dave! Se ele vai embora, eu também vou!

Peter sobressaltou-se com o tom categórico da voz de Danny.

Procurando manter no olhar uma calma que não lhe era peculiar, perguntou suavemente:

— Há quanto tempo você disse que sua família trabalha neste condado?

— Sou a terceira geração. Faça as contas você mesmo.

— São pelo menos sessenta anos.

— Perto de sessenta e cinco.

— Não acha que deveria ir para casa pensar racionalmente nessa sua decisão antes de quebrar uma tradição de família?

Ora, era só o que faltava. Ele acabara de decidir impiedosa-mente sobre o futuro de cinco adoráveis pessoas e ainda tinha a coragem de sugerir que ela pensasse racionalmente! O homem com certeza não tinha a menor idéia do significado dessa palavra!

— Eu já me decidi. Vou cumprir um mês de aviso prévio.

— Não se precipite, Danielle. Pense no desapontamento de seus pais quando souberem que você não está mais aqui.

— Tenho certeza de que eles vão concordar com a minha decisão.

Peter tamborilava os dedos sobre a mesa, numa atitude de impaciência. Mostrava-se visivelmente irritado com a atitude obstinada de Danny.

— Não fique tão perplexo, sr. Sutherland, afinal, sou apenas a jardineira.

— E, por sinal, muito tola. A sua demissão será inútil, Danielle, não vai devolver o emprego a Benson.

— E nem eu esperava por isso. A verdade é que eu não poderia continuar trabalhando aqui sabendo que por minha causa alguém foi despedido.

Peter levantou-se, deu a volta na escrivaninha e sentou-se em sua cadeira.

— E o quanto isso significa para você?

— Posso facilmente conseguir outro emprego.

Talvez conseguisse, mas não seria assim tão fácil como afirmara. Não havia muitos condados em condições de empregar um jardineiro por período integral e, além disso, só de pensar que deixaria o lugar onde crescera e que tanto amava, sentia-se terrivelmente desanimada. No entanto, não deixaria que Peter percebesse o quanto a demissão a afetava.

— Eu não me referia ao seu emprego e sim a Benson — disse ele com a voz áspera.

— Significa muito — murmurou Danny devagar, ciente da mudança na expressão de Peter.

— Quanto?

— Bastante.

— Muito bem. Decidi passar o próximo fim de semana em Paris e quero que você venha comigo.

Danny levou um choque diante da prepotência dele em fazer aquele convite.

— Mas por que eu?!

— Ainda bem que não se fez de ingênua e me perguntou o motivo.

— Sei muito bem qual é o motivo, só não entendi por que justamente eu.

— Simplesmente porque eu quero você — disse ele sem demonstrar a menor emoção.

— Suponho que o sr. Henry Sutherland, o Quarto, nunca aprendeu que não pode ter tudo o que deseja — zombou ela, com ódio.

— Você só precisa decidir qual é o seu preço. Será que o emprego de Benson vale a sua ida comigo a Paris?

— O que você quer de mim não tem preço. Jamais me venderia da maneira como o fazem as suas mulheres.

— Sempre achei que todas tivessem um preço. Talvez um dia ainda descubra o seu — ironizou ele pegando um calendário sobre a mesa. — Um mês a partir de hoje será o dia dez de agosto. Acha tempo suficiente para encontrar um outro trabalho?

Danny ficou paralisada diante da petulância daquele homem. Não tinha dúvidas de que, se tivesse concordado em ir com ele Para Paris, ela e Dave estariam com seus empregos garantidos.

— Não se preocupe. Duas semanas serão o bastante — vociferou ela lançando-lhe um olhar fulminante.

— Não gostaria de pensar mais um pouco antes de se decidir?

— Não.

Voltando para casa, Danny sentiu-se esgotada como se tivesse acabado de enfrentar uma tempestade. A proposta de Peter mostrou-lhe mais uma vez como suas vidas eram diferentes. Provavelmente esta era a primeira vez que ele não conseguia comprar um de seus caprichos e, para ela, não fora assim tão difícil recusar uma oferta tão humilhante e ofensiva.

 

 

Passou os próximos dois dias tentando encontrar Dave para se desculpar por não ter podido ajudá-lo. Finalmente soube que ele havia ido para a França com Peter, mas não se surpreendeu. Afinal, Dave também precisava tomar providências quanto a um novo emprego.

Apesar de ter dito a Peter que seus pais apoiariam a sua decisão, ainda não tivera coragem de contar-lhes. Conhecendo o pai como conhecia, não tinha dúvidas de que ele ficaria muito perturbado quando soubesse. Melhor seria conseguir antes um novo trabalho, para então dar-lhes a notícia.

Depois de três dias, Dave foi procurá-la momentos após o helicóptero tê-los trazido de volta.

Dave era alto e possuía ombros largos e musculosos. Estava muito atraente num elegante terno marrom e aproximou-se com um sorriso exultante nos lábios, deixando-a bastante intrigada.

— Oi, Danny, vim aqui para agradecer-lhe.

— Agradecer-me?! Pelo quê?! — indagou ela com o olhar pasmo.

— O sr. Sutherland me disse que por sua causa posso ter meu emprego de volta.

— Como?! Está me dizendo que não vai mais embora? Não era possível. Peter havia sido tão categórico. O que o fizera mudar de idéia?

— Aquela conversa que vocês tiveram o fez reconsiderar a decisão.

— Mas que bom, Dave! Isto é realmente maravilhoso. O sr. Sutherland está lá na casa?

— Sim, mas...

— Então vou vê-lo agora mesmo. Quero agradecer-lhe também.

Tudo o que conseguia pensar ao se dirigir quase correndo para a mansão era que Peter havia cedido. Encontrou-o nadando e, ao vê-lo deslizar mansamente pelas águas cristalinas, ficou alguns instantes esperando que ele se aproximasse. Notando as linhas marcantes ao redor de seus olhos, comentou casualmente:

— Você trabalha demais. Está com uma aparência de cansaço.

— Impressão sua — ele reagiu, tomando a observação como um insulto. — O meu cansaço é por falta de sono e não por excesso de trabalho. A companhia que arranjei para substituí-la mostrava-se extremamente entusiasmada sempre que entrávamos no quarto.

Ele procurava embaraçá-la novamente e conseguira, o miserável, com todo o sucesso. Com uma mulher tão insaciável, não era para menos que aquele conquistador barato decidira ficar em Paris por mais um dia!

— Vim apenas agradecer-lhe por ter readmitido Dave e, agora que já o fiz, vou embora. Não quero perturbar o seu descanso. Você obviamente está precisando.

Ao perceber a sombra de um sorriso nos lábios de Peter, Danny arrependeu-se de tê-lo provocado. No entanto, não tinha conseguido resistir à tentação de desconcertá-lo.

— Danielle... não quer saber se também terá o seu emprego de volta?

— Já sei que não. De qualquer maneira, eu não fui a Paris com você... lembra-se?

— O lugar ainda é seu.

— Mas por quê?!

— Decidi dar uma nova chance a Benson porque, depois de pensar melhor, cheguei à conclusão de que ele é o meu melhor homem da segurança. Após ter passado pelo risco de quase perder o emprego, tenho certeza de que daqui para frente ele dobrará a vigilância.

Ela já devia ter adivinhado que o motivo de Peter ter recuado era bem menos nobre do que imaginava. Por nenhum momento pensara que ao readmitir Dave estaria lhe devolvendo um meio de ganhar a vida ou o sustento da própria família.

— E quanto a mim? Por acaso sou também a sua melhor jardineira?

— Seria uma atitude muito incoerente da minha parte despedi-la uma vez que pretendo manter Benson.

— Ora, não me diga! Pensei que você não se importasse com esses detalhes. Afinal, sua vontade não é lei?

— Parece que você nunca está satisfeita. Sempre arranja um meio de me agredir — ele desabafou rispidamente.

Desta vez, Danny tinha de admitir que ele estava com a razão. Se já conseguira seu emprego de volta, por que não ficava com a boca fechada?

— Sinto muito, Peter — murmurou arrependida de tê-lo agredido.

— Não acredito. Jante comigo esta noite para prová-lo.

Danny irritou-se com a maneira agressiva como ele fizera aquele pedido. Parecia mais uma de suas ordens do que um convite.

— Pensei que você sentisse medo de ir a lugares públicos — ela ironizou.

— Eu quis dizer aqui na minha casa e não num restaurante.

— Não posso.

— Não pode ou não quer? Pode dizê-lo, não se acanhe.

— Não se preocupe, se o motivo fosse esse eu o diria abertamente. Mas a verdade é que não posso mesmo. Gary vem à minha casa hoje à noite.

— Pensei que ele não significasse nada para você.

— Sinto por ele apenas uma profunda amizade. Não consigo encontrar Cheryl desde o fim de semana, por isso ando muito curiosa para saber como se passaram as coisas entre eles.

— Apenas curiosa?

— Não. Ainda estou preocupada com os dois.

— Por que insiste em se envolver com o problema deles? Não seria melhor deixá-los resolver tudo sozinhos?

— Está aí um sentimento que você nunca poderia entender, o da amizade.

Peter a olhou friamente.

— Já que não pode jantar comigo hoje, o que me diz de amanhã?

— Qual é o motivo? Por acaso a sua companhia desses últimos três dias não o satisfez?

Ele soltou uma gargalhada zombeteira e exclamou irônico:

— Mais do que o suficiente...

— Então, por que...

— Pelo amor de Deus, Danielle, não complique tanto. Diga apenas sim ou não.

— Sim. A que horas devo ir?

— Mandarei Benson ir buscá-la.

— Não será preciso. Posso muito bem vir sozinha. Às oito está bom?

— Combinado. Você é sempre tão independente assim?

— Sempre — disse ela sorrindo. — Eu o verei amanhã à noite — acrescentou sorridente, sentindo-se envolvida por uma onda de felicidade.

— Danielle...

Ela se voltou ao ouvi-lo dizer seu nome e sentiu uma ponta de tristeza ao notar o quanto ele parecia solitário. No entanto, procurou afastar de si este sentimento inútil. Afinal, aquela era uma opção que ele mesmo havia feito para si.

— Você joga xadrez? — ele indagou amavelmente.

— Xadrez?! — repetiu Danny desapontada. Aquela era a última coisa que esperava ouvi-lo dizer.

— Sim, um jogo de tabuleiro onde há peões, bispos...

— Eu sei o que é xadrez, apenas achei a pergunta um pouco estranha. Para falar a verdade sou a campeã da família.

— Já esperava por isso — falou ele esboçando um leve sorriso. — Então eu a desafiarei para uma partida amanhã.

— Depois do jantar?...

— Sim.

"Enigmático" era um termo muito brando para definir o temperamento excêntrico daquele homem. Às vezes ele se comportava de forma tão estranha que ela sentia um ligeiro temor percorrer-lhe a espinha. Mas nunca fora do tipo covarde e não seria agora que iria se deixar intimidar.

O jantar com Gary fora tranquilo naquela noite, e isto provava que sua irmã ainda não havia contado nada a ele sobre Nigel. Cheryl misteriosamente havia desaparecido, preocupando Danny, já que a irmã não costumava ficar fora por tanto tempo. Mas, se Gary não se mostrava aflito quanto ao comportamento da noiva, por que iria ela se inquietar? De qualquer maneira, como o próprio Peter lhe dizia, a vida amorosa da irmã não era da sua conta!

 

 

Durante todo o dia seguinte, Danny pensou em Peter sem cessar, alternando o sentimento de ansiedade e de apreensão pelo encontro da noite. Na realidade, não sabia muito a respeito dele, com exceção de seu cinismo em relação às emoções mais suaves da vida. Com certeza, ele não tinha sido sempre assim, especialmente quando era casado, embora seu casamento datasse de muitos anos atrás. Ah, como gostaria de tê-lo conhecido naquela época!

A escolha do traje que vestiria para o jantar foi relativamente fácil, pois só possuía dois vestidos de noite. Costumava usar roupas descontraídas em seus raros programas, mas Peter não era o tipo do homem que se vestisse informalmente. Assim, descartando o primeiro vestido, de veludo marrom, quente demais para aquela estação do ano, optou pelo outro, em estilo cigano, de um tecido leve de algodão verde-esmeralda com detalhes de renda larga no mesmo tom, que lhe deixava os ombros nus e a curva dos seios fartos ligeiramente à mostra. Calçou sandálias de pelica branca, que contrastavam com suas pernas bronzeadas, deixou a longa cabeleira livre, apenas escovada de uma maneira natural, e como o brilho de seus olhos não pedia nenhum artifício, apenas passou um batom cintilante para realçar os lábios sensuais.

Eram exatamente cinco para is oito quando ela saiu de casa em direção à sede. E logo uma expressão de desagrado se formou em seus lábios ao notar que Dave a esperava junto ao portão com os dois cães.

— São ordens do sr. Sutherland — explicou-lhe o segurança assim que ela se aproximou.

Foram diretamente para a sala onde Peter já a esperava com uma bebida nas mãos. Como Danny previra, ele estava vestido formalmente, com um elegante terno preto e uma camisa de seda branca, que ressaltava ainda mais o tom bronzeado de sua pele. Mas, embora estivesse bastante atraente, mantinha aquela aparência fria e distante. Apreensiva, Danny sentou-se no sofá e ficou à espera de que ele lhe trouxesse uma bebida. Ambos estavam tensos e ela pressentia que a noite não transcorreria de maneira tão agradável quanto imaginara.

— Você está adorável — ele a elogiou quase bruscamente ao entregar-lhe o copo de conhaque.

— E você também — respondeu Danny com um brilho misterioso no olhar.

Peter a olhou intrigado. Jamais ouvira de uma mulher uma retribuição tão espontânea para um elogio daqueles. Mais descontraído, sentou-se ao lado dela e perguntou-lhe polidamente:

— Como foi o seu encontro com Gary na noite passada?

— Tudo bem. Mas quanto a você ter mandado Dave...

— Já esperava que você tocasse nesse assunto.

— Então por que o mandou?

— Hábito.

Era uma resposta simples e direta e Danny não tinha meios de contestá-la. Como discutir com um homem cujas ações obedeciam a impulsos tão instintivos? Não pretendia brigar com ele naquela noite, por isso desviou sabiamente o assunto.

— Teremos alguma comida especial para o jantar? Sabe, o fato de morar sozinha me tornou tão preguiçosa que minhas refeições em geral se limitam a alguns enlatados.

— Você não parece estar sofrendo muito por causa disso — ele comentou, lançando-lhe um olhar minucioso. — Creio que vamos ter uma espécie de carne.

A "espécie de carne" a que ele se referira foram os mais deliciosos e tenros bifinhos que Danny já provara em sua vida. Vinham regados por um finíssimo molho aveludado de caril e, como foram precedidos por coquetel de camarão com abacate e seguidos de uma deliciosa mousse de chocolate, ela degustou com prazer cada porção daquelas iguarias.

Em contraste com a sua gula, Peter praticamente não tocou no prato e Danny passou a refeição inteira censurando-o por tamanha insensatez.

— Você não gostou de nada?! — perguntou-lhe incrédula, como se ele estivesse cometendo um crime por não ter apreciado um jantar tão fino.

— Estava razoável — ele resmungou, fazendo uma careta.

— Pois então deveria tentar viver comigo por uma semana. Aí, sim, saberia o que é razoável.

Peter ergueu as sobrancelhas e a olhou com ar divertido.

— Isto é um convite?

Danny não respondeu. Lançou um olhar embaraçado em direção ao mordomo, um homem de meia-idade com uma aparência tão arrogante quanto a do próprio patrão.

— Isto é tudo, Masters — dispensou-o Peter sem desprender os olhos de Danny.

Enquanto se dirigiam para uma outra sala, um pouco menor e mais íntima do que a primeira, Danny não se conteve e soltou um riso abafado.

— Você deixou o pobre homem morrendo de curiosidade para saber qual será a minha resposta.

— Eu também estou.

— Você entendeu muito bem que foi apenas uma maneira de falar. Não significa que eu esteja realmente convidando você para morar comigo.

— Oh, que pena.

— Não diria isto se tivesse debato que provar a minha comida por uma semana.

— Não é bem na sua arte culinária que estou interessado.

— Você é sempre assim tão obcecado por sexo? — perguntou ela irritada.

— Como norma, eu diria que não costumo pensar muito no assunto.

— Também, com tantas mulheres se colocando à sua disposição...

— Você não se coloca.

— Simplesmente porque eu não sou disponível.

— Gostaria de jogar aquela partida de xadrez?

— Agora?! — exclamou ela admirada com a mudança súbita de atitude de Peter.

— E por que não?

— Bem... eu... Está bem. Se é o que você quer.

As peças do jogo eram uma preciosidade. Esculpidas em jade e ônix, lembravam antigas figuras egípcias. O tabuleiro, feito do mesmo material, era cravado no tampo de uma pequena mesa laqueada de preto. Duas cadeiras confortáveis seguiam o estilo da mesa e completavam o conjunto, que ficava próximo a uma das janelas da saleta.

— Você joga tão bem quanto gosta de se gabar? — indagou Peter maliciosamente.

Danny o encarou através do tabuleiro.

— Eu não disse que jogava bem, disse apenas que sou a campeã da família.

— E que tal fazermos uma pequena aposta?

— Você quer dizer quanto ao resultado do jogo?! — ela perguntou preocupada.

— Sim. Tornará a partida mais... digamos, interessante.

— Bem, depende do tipo de aposta que você pretende fazer — ela ponderou, sentindo-se apreensiva diante do brilho estranho que notava no olhar dele.

— Você.

Danny explodiu numa gargalhada.

— Não sei por quê, mas ontem à noite tive um pressentimento de que era isso que você tinha em mente ao perguntar se eu jogava xadrez.

— E qual é a graça? — indagou ele ofendido.

— O que eu ganho se vencer?

— Você escolhe.

— Hum, deixe-me ver... já sei, uma Ferrari! Uma Ferrari vermelha!

— Será sua — concordou ele prontamente.

— Escute, Peter, eu estava apenas brincando — recuou Danny assustada.

— Mas eu não. As mulheres sempre me pedem jóias, um carro se torna bem mais original.

— Costuma fazer com frequência esse tipo de aposta?! Deixar que o resultado de um jogo decida se vai levar ou não uma mulher para a cama?!

— A maioria delas não sabe nem diferenciar um tabuleiro de xadrez do de gamão.

— Pois fique sabendo que eu nunca me entregaria a um homem sob estas condições!

— Há a chance de você ganhar uma Ferrari.

— Não estou interessada.

— Então o que você deseja? — a voz dele soou com raiva e seus olhos faiscavam. — Me diga o que deseja para que eu possa fazer amor com você!

 

 

Danny ficou assustada, chocada, com o descontrole de Peter.

— Você poderia tentar me pedir, Peter.

Ele a olhou por uns instantes procurando entender o mistério daqueles maravilhosos olhos verdes que o fitavam. Por fim, rendendo-se à vontade de Danny, pediu asperamente:

— E então...

— Tenho que lhe dizer não...

— O que quer de mim afinal?! Fazer-me de palhaço?! — interrompeu-a enfurecido, batendo com as mãos no tabuleiro e praguejando ao ver as peças se espalharem pelo chão. — Primeiro você me diz para pedir-lhe, depois simplesmente me diz não!

— Não é bem assim — disse ela balançando a cabeça. — Você não me deixou terminar, Peter. Tenho que lhe dizer não, por enquanto — continuou ela suavemente — porque, sinceramente, eu acho que ainda não nos conhecemos o suficiente para iniciarmos um relacionamento mais íntimo. Na verdade, eu me sinto atraída por você e... acredito que talvez algum dia acabe cedendo ao seu pedido.

— Algum dia?!

— Quando nos conhecermos melhor.

— Até que ponto você precisa conhecer um homem antes de fazer amor com ele?

— Certamente mais do que o conheço agora.

Na verdade, ainda não tinha uma resposta definida; nem mesmo havia pensado sobre isso antes. No entanto, não iria mentir sobre a evidência de sentir uma grande atração por ele. Bastaria que Peter a beijasse para descobrir toda a verdade.

— Venha morar comigo, Danielle.

Ela arregalou os olhos de espanto.

— Moro a menos de seiscentos metros de sua casa... Além do mais, tenho o meu trabalho para fazer.

— Pois deixe que Zacky Boone o faça para você durante algumas semanas.

Algumas semanas! Estaria Peter colocando um limite no relacionamento deles antes mesmo que este começasse?

— Impossível — murmurou ela, sacudindo a cabeça negativamente.

— Eu a desejo, Danielle.

— Sim, eu sei. Também me sinto atraída por você, mas...

— Não é apenas atração o que eu sinto. Estou queimando de desejo. Durante todo o tempo em que estive em Paris com Marie-Claire, desejei que ela fosse você. Eu a quero em minha cama, Danielle. Desejo tocá-la e quero que você me toque também.

O coração de Danny batia acelerado. Sentia-se profundamente perturbada ao se formarem em sua mente as imagens dos desejos de Peter. Seus mamilos se enrijeceram e ela começou a respirar com dificuldade.

— Continuar falando dessa maneira só torna as coisas mais difíceis, Peter — ela o censurou, mal conseguindo disfarçar a emoção que sentia.

— Porque não é de palavras que precisamos! — ele murmurou com a voz rouca de desejo. — Prometo a você que desta vez não se sentirá frustrada, Danielle.

Ele demonstrava o quanto ficara magoado com o insulto que ela uma vez lhe fizera. Longe de esquecer, ele ainda guardava rancor por seu comentário sarcástico.

— Peter, o importante num relacionamento não é só a satisfação física. A parte emocional também conta. E é precisamente nesse aspecto que não me sinto ainda preparada — disse ela suavemente, sem desprender os olhos dos dele.

— Se acha que com o tempo eu me apaixonarei por você, terá uma grande decepção.

Danny balançou a cabeça com tristeza.

— A minha esperança é que eu me apaixone por você, porque esta seria a única maneira de me levar para a sua cama. De outra forma não seria fazer amor, você não acha?

— O amor pouco tem a ver com sexo.

— Para mim ele é essencial.

— Mesmo que eu nunca me apaixone por você?

— Este é um risco que corremos ao nos apaixonarmos por alguém.

— Pois eu prefiro não me arriscar.

— Será um homem de sorte se puder escolher. A maioria das pessoas não pode.

— Não é uma questão de sorte. O amor é um sentimento que nos torna muito vulneráveis. Não pretendo senti-lo outra vez.

Danny acreditava que ele tivesse amado a esposa, mas, pelo tom amargo daquelas palavras, teve a impressão de que não haviam sido felizes no casamento. O fato de Peter não haver se casado de novo talvez provasse que não gostara da primeira experiência.

— Não deveria ter devolvido o meu emprego tão facilmente — falou ela em tom de brincadeira. — Agora que eu já pesquisei e vi que não é fácil conseguir outro, você poderia usar a minha readmissão como uma forma de me chantagear.

— Eu não chantageei você ao devolver o emprego a Benson — retrucou ele asperamente. — Ofereci-lhe uma troca.

— Sem dúvida. Meu corpo pelo trabalho de Dave.

— Isso me pareceu muito justo.

— Suponho que sim — concordou ela sem rancor.

Percebia claramente o quanto ele achava aquela troca um bom negócio. Pobre Peter! Possuía uma visão do mundo totalmente distorcida. As pessoas com quem se relacionara desde muito jovem eram inescrupulosas, não hesitavam em usá-lo em benefício próprio. Talvez coubesse a elas a culpa de ter se tornado tão frio e calculista. Perturbada, Danny abaixou-se e começou a recolher as peças do jogo.

— Largue isso! — ele ordenou impaciente.

— Não seja tolo...

— Eu disse: largue isso!

Peter segurou-lhe o braço e ergueu-a bruscamente do chão, mas sua expressão suavizou-se ao olhar para o rosto assustado de Danny.

— Por que você tem que ser tão jovem? — murmurou ele transtornado ao senti-la tão próxima e tão indefesa diante de sua força física.

— Não penso que a idade seja o obstáculo que existe entre nós — respondeu ela suavemente.

— Você tem razão. É o seu idealismo que me perturba.

— Mas eu tenho o seu respeito, não tenho?

Peter a olhou zangado.

— E isso é tudo o que deseja de mim?! Respeito?

— Já é um começo — sorriu Danny.

— De quê? — ele afastou-se olhando-a desconfiado.

— De uma amizade, ora.

— Na verdade, você quer dizer o começo do amor, não é? — indagou ele com desprezo. — Não, Danielle, se é no que está pensando, não tenha esperanças.

E ela não tinha. Sabia que ele nunca amara outra mulher desde que ficara viúvo, portanto, não seria ela quem iria despertar-lhe este sentimento depois de todos aqueles anos.

— Há quanto tempo não se relaciona com alguém, Peter?

Ele a olhou espantado.

— Acabei de chegar de Paris ontem...

— Eu disse um relacionamento verdadeiro e não um simples encontro conveniente — corrigiu Danny gentilmente.

— Você quer dizer do tipo conversar juntos, rir juntos, ficar apenas de mãos dadas em silêncio e amar? Há tanto tempo que já perdi a conta.

— Não é para menos, você não confia em ninguém.

— Não, não confio — confirmou irritado. — Como é, você vai ou não para a cama comigo?

— Não — disse ela simplesmente sem alterar o tom de sua voz e, olhando para ele com certa apreensão, perguntou gentilmente. — Ainda quer jogar?

— Ora, droga, é claro que não! Para mim a noite está acabada!

— Está me mandando embora?! — indagou Danny arregalando os olhos.

— Estou.

— Não está sendo muito educado — censurou-o ela sem perder a calma.

— Não estou nem um pouco preocupado com isso — resmungou Peter enfiando as duas mãos nos bolsos da calça. — Para falar a verdade, neste exato momento estou com vontade de ser bastante mal-educado.

— Você parece um garotinho emburrado por lhe terem negado o brinquedo que queria — caçoou Danny tentando conter o riso diante da figura desconsolada de Peter.

— Pois eu me sinto como um garotão para quem foi negado o brinquedo que ele deseja!

Danny explodiu numa estrondosa gargalhada e sentiu uma onda de prazer ao notar que Peter também fazia o mesmo. Na verdade, ele ficava bem mais atraente quando abandonava o ar frio e arrogante que costumava exibir.

— Vamos jogar — convidou-o animada. — Tenho a impressão de que vou vencê-lo.

— Uma vez já não foi o bastante esta noite? — reclamou ele, abaixando-se para pegar as peças espalhadas no chão.

— Eu não o venci. Apenas adiei o inevitável e ambos sabemos disto.

Peter tornou-se muito sério.

— Não me deixe machucar o seu coração, Danielle.

— Ê um risco que terei de correr.

Peter a olhou longamente, mantendo entre eles alguns momentos de silêncio. De repente, respirou fundo e perguntou-lhe num tom quase agressivo:

— Jade ou ônix?

Danny escolheu jade. Enquanto preparavam o tabuleiro, procurou manter a conversa num nível alegre e descontraído, não se permitindo pensar até mesmo quando se encaravam. Por enquanto não ousaria deixar que seu coração desse importância ao fato de já estar apaixonada.

— Tem ouvido falar de seu sobrinho ultimamente? — perguntou ao acaso.

Peter moveu a primeira peça e a olhou curioso.

— Nigel?

— Pelo que sei, Henry Sutherland só tem um sobrinho.

— Você não me pareceu zangada ao descobrir a minha verdadeira identidade.

— E não estou agora também. Deve ser divertido ser uma outra pessoa por uns tempos.

— Concordo. Mas por que deseja saber de Nigel?

— Por nada. Não tenho conseguido falar com Cheryl, por isso achei que talvez você soubesse de alguma coisa sobre eles.

— Nigel está em Nova York no meu escritório — falou ele distraído, concentrado apenas no jogo.

— Então, por que Cheryl não atende ao telefone há alguns dias?

Peter ergueu a cabeça e a olhou curioso.

— Você está tão preocupada assim com ela?

— Não, eu... quero dizer, sim. Cheryl não veio mais para casa ultimamente e eu estou estranhando que não se comunique comigo.

— Bobagem. Talvez ela tenha encontrado alguém para entretê-la enquanto Nigel estiver viajando.

— Sei que não teve a intenção de me provocar, Peter, mas... você está me provocando!

— Desculpe-me. Gostaria que eu enviasse alguém a Londres para encontrar Cheryl?

— Não. Ela não iria gostar.

— Eu poderia providenciar para que ela não ficasse sabendo.

— Mesmo assim, agradeço. Não seria correto mandar espionar minha própria irmã — disse Danny enquanto avaliava seu próximo lance no jogo. — Estou contente por não termos feito aquela aposta. Você é bom demais nisto aqui.

— Era o que Sa... — disse ele, interrompendo-se bruscamente.

— O que ia dizendo?

— Nada.

— Você costumava jogar xadrez com sua esposa?

— Não gosto de falar sobre ela.

Há poucos instantes ele quase tocara no nome dela e estava furioso consigo mesmo por tê-lo feito. Ciente de que ele reagiria, Danny insistiu com delicadeza.

— Qual era o nome dela?

— Sally — respondeu ele pondo-se de pé.

— Você a amava muito, não?

— Mas é claro que eu... Escute, por que está me fazendo todas essas perguntas?

— Porque ela é parte de você e eu desejo conhecer tudo o que lhe diz respeito.

— Ela já havia morrido antes mesmo de você entrar para a escola.

— E você ficou sozinho por todo esse tempo?

— Não está pretendendo me submeter a uma lista de perguntas maçantes para depois tentar me consolar com aquelas célebres frases banais que já estou farto de ouvir, não é?

— Você disse certo. Qualquer coisa que eu diga terá um sentido superficial, pois somente você pode avaliar a extensão da sua dor.

— Sim — disse ele num fio de voz.

Percebendo o quanto aquela conversa o afetava, Danny levantou-se e propôs gentilmente:

— Por que não terminamos esta partida numa outra noite? Ou então você pode se dar por vencedor, afinal, seu jogo é realmente superior ao meu.

— Esta foi uma noite bastante desagradável para você, Danielle.

— Está enganado. Eu gostei muito.

— Não poderia. Eu me comportei como um adolescente insensível. Devia tê-la seduzido em vez de pedir-lhe tão asperamente ou tentar comprá-la.

— Quem sabe numa outra ocasião você terá mais sucesso? — disse ela sorrindo com meiguice.

— Então fique alerta. Daqui para frente você estará sob a minha mira — brincou ele menos tenso.

— Venha jantar comigo amanhã. Abrirei uma porção de latas para nós.

— Isto me soa...

— Muito mal, aposto — terminou ela sorrindo. — Não se preocupe, não sou tão má cozinheira assim. Pelo menos o Gary não se queixou. Ele nem desconfiou que eu lhe servi sopa enlatada, rosbife comprado e merengue de pacote. Para ele, o jantar havia sido feito por mim mesma e era digno de um rei!

— Hum, sopa enlatada e rosbife semi-pronto... já estou com água na boca.

— Tem certeza de que não prefere jantar aqui? Você provavelmente tem a melhor cozinheira da Inglaterra!

— Você mesma tirou a prova. Ando meio cansado de comida sofisticada.

— Então nesse caso você será bem-vindo para experimentar as delícias da minha cozinha — concluiu ela antes de sair.

— Vou levá-la até sua casa.

 

 

Era uma noite de verão muito clara, os raios prateados do luar transformando a paisagem num cenário romântico. Danny caminhava feliz ao lado de Peter. Naquele momento ele não parecia nem um pouco com Henry Sutherland, o Quarto. Era apenas um homem atraente, dono de um humor sarcástico que às vezes até mesmo a ele surpreendia.

— Há quanto tempo você não leva uma garota para casa depois de um programa? — perguntou Danny sorridente ao entrarem no jardim de sua casa.

O agradável perfume das rosas dava um encanto especial ao clima de amizade que se formava entre eles. Pararam alguns instantes próximos à porta de entrada e Peter fingiu uma expressão de quem estivesse calculando:

— Hum, deixe-me ver... Muitos e muitos anos...

— Mas você não é tão velho assim — disse Danny tocando de leve o queixo dele. — Você é maduro.

— E você prefere os homens maduros?

— Gosto de você — murmurou ela erguendo-se nas pontas dos pés para beijá-lo levemente nos lábios. — Obrigada pela noite agradável. Espero que amanhã você ache o mesmo também.

— Suponho que esta seja a parte em que o rapaz dá um beijo de boa-noite na garota, não?

— Sim — encorajou-o ela gentilmente.

Com delicadeza, Peter tomou-lhe o rosto entre as mãos e beijou-a longamente, de modo quente e suave, delicado e terno, mas tremendamente dominante.

Trêmula, Danny afastou-se e respirou fundo.

— Você se incomodaria se eu usasse o cortador de grama hoje à noite?

— Precisa pensar?

— Hum-hum,

— Sobre nós?

— Sim.

— Então vá em frente. Fico feliz que esteja precisando cortar grama por nossa causa.

— Estou começando a me apaixonar por você — confessou ela, séria.

— Você sabe que eu não desejava que isto acontecesse, Danielle.

— Por que se preocupar se é justamente o que me levará para a sua cama? — perguntou ela notando o ar pensativo de Peter. — Não fique tão perturbado, Peter, provavelmente estou apenas com um caso de indigestão.

— Você realmente sabe como lisonjear um homem... apenas um caso de indigestão? — disse ele fingindo-se indignado.

Sem dúvida não era tão simples assim como o fizera acreditar, mas, por outro lado, sabia que sua franqueza não seria bem-vinda. Peter deixara bem claro que não desejava qualquer emoção envolvida no relacionamento deles. Até então, só encontrara mulheres que se contentavam com o tipo de aventura que ele lhes impunha. Mas... e agora? Seus sentimentos por ele já não se resumiam apenas à atração física. Em algum momento naquela noite percebera que seu amor por aquele homem complexo e estranhamente vulnerável estava longe de um simples entusiasmo de adolescente. Por isso passou um bom tempo no jardim, com o cortador de grama ligado...

 

 

O jantar foi um sucesso, principalmente porque Danny decidiu saquear o seu freezer de todos os sofisticados pratos semi-prontos que havia trazido da cidade na última vez em que lá estivera.

A salada de lagosta já viera preparada: Danny apenas tivera que juntar-lhe algumas folhas de alface e assar algumas batatas como acompanhamento para a torta de cebola. Aqueceu uma torta de maçãs e serviu-a com sorvete de creme, ambos comprados numa finíssima loja de doces.

Ficou contente ao notar que Peter não viera formalmente vestido, pois decidira arrumar a mesa no pequeno terraço cheio de plantas que havia próximo à sala de estar. O ambiente era bastante descontraído e combinava bem mais com a calça jeans descorada e a camisa de algodão cinza-azulada que ele usava esta noite do que com os ternos impecáveis que usava habitualmente. O local era uma espécie de jardim de inverno que Danny transformara numa verdadeira estufa, pendurando vasos por todos os lados. Havia uma pequena mesa redonda de ferro e várias cadeiras forradas de plástico com motivos de flores em tons alegres e vistosos.

— Nos filmes parecem bem mais confortáveis do que na realidade — exclamou ela espantando alguns mosquitos.

— Achei tudo ótimo. Você precisa me contar o nome de seu mestre de culinária — disse ele sorridente e satisfeito por ter devorado até a última porção que fora colocada a sua frente.

— Você gostou tanto assim? Pois então imagine se a mercearia onde comprei tudo isto pudesse imprimir em seus produtos: "Com a aprovação de sir Henry Sutherland"! Venderiam bem mais do que poderiam imaginar!

— Mas isso só acontece com a realeza.

— Que nada, Peter, você também é muito famoso. Não entendo como pude ter coragem de servir-lhe algo tão insosso!

— Já lhe disse, eu adorei.

Ele estava com uma expressão muito descontraída e Danny notou em seus lábios um sorriso tranquilo que suavizava os traços marcantes e rígidos do rosto.

— O que gostaria de fazer agora? — indagou ela com certa malícia enquanto levava os últimos copos para a cozinha.

— Está me parecendo uma pergunta com segundas intenções.

— Isso depende...

— De quê?

— De você estar ou não com segundas intenções.

Peter ficou algum tempo em silêncio.

— Venha cá, Danielle.

Ela não hesitou. Sem desprender os olhos dele, caminhou lentamente para os braços fortes e musculosos que a esperavam. Sentiu um calor tomar conta de seu corpo e colou-se a Peter sem reservas.

— Peter, eu...

— Não diga nada, por favor.

Gentilmente ele a atraiu para si e beijou-lhe a boca macia e úmida até sentir-lhe o corpo tremer. No momento em que percebeu que o desejo dela era tão intenso quanto o seu, seus lábios tornaram-se exigentes, numa exploração impetuosa e delirante.

Com uma das mãos, ergueu a blusa de Danny até a altura dos ombros e admirando os seios fartos e volumosos murmurou com prazer:

— Sem sutiã... gosto disto.

Quando ele se curvou para sugar-lhe os bicos róseos e rijos, Danny não se conteve e deixou escapar um gemido de prazer. Depois comentou com certa dificuldade:

— Tirei-o... por sua causa, Peter.

Ele ergueu os olhos para ela.

— Você planejou isso?

— Eu o desejo.

— Danielle...

— Por favor, Peter, vamos apenas aproveitar cada minuto deste nosso momento juntos.

— Mas...

— Você é sempre assim tão complicado quando seduz uma mulher?

— Eu preciso saber...

— Você disse que o importante era que eu o desejasse — interrompeu-o ela com firmeza. — E eu o desejo. Mais do que tudo.

Tinha medo que Peter lhe perguntasse sobre seus sentimentos, pois sabia que no momento em que confessasse seu amor por ele poria tudo a perder. Ele era teimoso até mesmo a ponto de recusar o que mais desejava, e ela não pretendia deixá-lo ir embora tão cedo.

Peter apenas hesitou por mais alguns segundos antes de beijá-la novamente. Desta vez não houve mais palavras, apenas suaves murmúrios de prazer e encorajamento, antes que eles subissem para o quarto de Danny, largando suas roupas espalhadas pelo chão da sala.

— Posso deixar a luz de cabeceira acesa? — perguntou ele contemplando a beleza dourada do corpo de Danny. — Quero olhá-la enquanto fazemos amor.

— Também quero vê-lo — sussurrou ela, admirando a rigidez de seu corpo másculo e bem proporcionado.

— Ainda bem que você não é uma dessas virgens tímidas e recatadas. Já não estou mais em idade de lidar com esse tipo de comportamento feminino.

Ela certamente não era tímida, ou recatada, mas ainda era virgem.

— Oh, Danielle, não sabe como esperei por este momento. Quero mostrar-lhe o quanto a desejo e o quanto você me excita.

— Peter, preciso lhe dizer...

— Não agora, Danielle — ele abraçou-a prendendo-lhe os braços para trás. — Assim você não conseguirá mais falar, está bem?

Danny sorriu percebendo a intenção dele em caçoar de seu hábito de falar com as mãos. No entanto, estava aflita. Precisava lhe contar sobre a sua...

Oh, Deus, o que Peter estava fazendo com ela era tão maravilhoso que não conseguia pensar mais em nada. A não ser nos caminhos tortuosos que os lábios dele desenhavam pelo seu corpo. Hesitando a princípio, e depois com mais confiança, devolveu-lhe as carícias correndo os dedos pelo torso forte e nu, puxando-o de encontro a si.

Seus movimentos eram lentos, sem pressa, cada um tentando descobrir os segredos do outro. O calor de ambos fundia-se num só, no encontro de suas peles nuas. Danny guiava-se por instinto, suas pernas fortemente presas ao redor do corpo de Peter no momento em que ele fez cair a última barreira que os separava.

— Danielle, você é...

— Eu sei o que eu era, Peter. Sei também que não vou deixá-lo desistir de algo tão maravilhoso entre nós. Ambos ansiávamos por este momento e, mesmo que você o negue, seu corpo o denunciaria.

Peter beijou-a ardentemente e ela sentiu um tremor percorrer-lhe a espinha fazendo com que gemesse de prazer. Embora se sentisse um pouco dolorida com a dança selvagem que os dominava, Danny continuou seus movimentos numa explosão de sensualidade até então desconhecia para ela.

— Oh, Peter, foi maravilhoso! Jamais pensei que pudesse existir algo igual... Peter? O que há? Não foi bom para você?

— Foi mais do que bom — murmurou ele mergulhando o rosto nos cabelos sedosos e perfumados de Danny. — O que partilhamos foi muito especial, Danielle. Mulher alguma jamais me fez sentir emoções tão fortes.

— Não ficou zangado por eu ser virgem?

— Não! Não exatamente zangado. Pelo menos não com você.

— Com quem então?

— Comigo mesmo.

— Mas você não tem culpa de nada!

— Escute, Danielle, o problema não é pelo fato de eu ter sido o primeiro homem da sua vida. Esta foi uma opção sua. Estou zangado por ter sentido um prazer primitivo em ser o primeiro. Sempre achei que a fidelidade não era importante, mas agora tenho certeza de que se você arranjasse outro homem eu o mataria.

— Esperei por você durante vinte e um anos, não tenho pressa em encontrar outro alguém. Sou apenas sua, Peter. Confio em você.

— Eu sei, e é por isso que se torna mais difícil para mim dizer-lhe o que já deveria ter dito.

— Algum problema?! — indagou ela apreensiva.

— Depois que a deixei ontem à noite decidi telefonar a Nigel em Nova York a fim de descobrir alguma coisa sobre sua irmã. Ela está lá com ele.

 

 

Danny umedeceu os lábios subitamente secos pela revelação inesperada.

— Por que não me contou antes?! Podia tê-lo feito durante o jantar.

— Há alguns minutos eu achava que não deveria me intrometer na vida de vocês. Agora penso diferente, é só.

— Não me diga que mudou de idéia só porque fizemos amor...

— Foi muito mais do que isso e você sabe.

— E como eu poderia saber? Você faz questão de não demonstrar seus sentimentos.

— E se eu lhe disser que esta noite foi especial para mim? Que quase sempre depois que faço sexo com uma mulher me sinto completamente vazio, totalmente só? Muitas vezes nem sequer me lembro o nome da minha parceira, e o pior é que isso não faz a menor diferença!

— Pare, por favor! — interrompeu-o Danny com a voz trêmula.

— Hoje foi diferente. Quando tudo terminou, tive vontade de aninhá-la em meus braços, protegê-la e depois começar de novo. Foi uma experiência totalmente nova para mim, e é esse o motivo de eu sentir que o problema de Cheryl se tornou meu também.

Peter falava pausadamente, procurando vencer a dificuldade de se expor tanto assim, principalmente diante de uma mulher. Ela esperou algum tempo até que ele se refizesse das emoções que o dominavam.

— Há quanto tempo eles estão em Nova York? — perguntou então, gravemente.

— Há quatro dias.

— Oh, Deus! Como Cheryl pôde ser tão tola? O que acontecerá quando Gary descobrir?!

— Nigel me falou que ele e sua irmã estão apaixonados. Duvido que ela se importe que o noivo descubra.

— Meus pais ficarão furiosos, quando souberem.

— Pretende contar a eles?

— Minha irmã pode ser estúpida, mas eu não tenho a intenção de complicar mais ainda a vida dela.

— Tem razão, desculpe-me.

— Sabe quando eles voltarão?

— No fim da semana.

— Não é possível! Eles precisam voltar já! Quero conversar com Cheryl e ver se consigo enfiar algumas idéias sensatas naquela cabeça-de-vento!

— Danielle, não se precipite. E se eles realmente estiverem apaixonados um pelo outro?

— Neste caso, Cheryl tem obrigação de contar a Gary toda a verdade. Pelo menos isso ela deve a ele.

— Você está certa. Vou mandar que tragam Nigel de volta imediatamente.

— Mandar que o tragam?! — exclamou ela franzindo as sobrancelhas. — Não estou entendendo.

— É evidente que por livre e espontânea vontade ele não virá. Pelo menos eu não voltaria, se estivesse com você na mesma situação...

— Então é melhor esperarmos que eles mesmos se decidam. Cheryl não gostaria de ser submetida a esse tipo de humilhação.

— Vocês são muito apegadas, não?

— A julgar pelos últimos acontecimentos, nem tanto.

— Ora, não se sinta tão ofendida. Você também não falou a ela sobre nós.

Danny corou diante da verdade daquelas palavras.

— Bem, até hoje à noite não havia muito o que contar!

— Tanto pior. Ela pensará que mal nos conhecemos e já fomos juntos para a cama — ele a provocou com malícia.

— E o que você queria que eu fizesse? Tenho culpa de você ser tão sedutor assim? — retrucou ela bem menos tensa.

— Quem sabe se Nigel não teria herdado o charme irresistível do tio?

— Você não é jovem demais para ser tio dele? Nigel parece já estar próximo dos trinta.

— É verdade. Minha irmã Chloe é dez anos mais velha do que eu e casou-se muito cedo. Eu costumava me comportar como se Nigel fosse meu irmão mais novo quando voltava para casa durante as férias.

— Não há mais ninguém na sua família?

— Não — respondeu ele secamente. — Nigel será o meu herdeiro algum dia.

— Mas você ainda é tão jovem e...

— E nunca me casarei outra vez — disse ele tornando-se muito sério. — Não importa o quanto tenha sido maravilhoso este momento juntos ou quantas vezes mais tivermos outros, eu nunca me casarei com você, Danielle.

Ela estava perfeitamente consciente disto. Sally havia morrido dezesseis anos atrás e, se ele desejasse ter se casado de novo, já o teria feito.

— Não tive intenção de sugerir nada a você. Queria apenas lhe dizer que é jovem ainda para se preocupar com um herdeiro.

— Neste caso fui vaidoso demais na minha suposição.

— Não — disse ela sorrindo. — Você muito sabiamente adivinhou que eu o amo.

— Danielle...

— Você sabe que não costumo esconder o que sinto. Também não pretendo fingir que o nosso relacionamento não me agrada, pois não é do meu feitio agir dessa forma. Serei sua sempre e quando você me quiser. Nunca o deixarei sentir-se meu prisioneiro.

— Está me parecendo um acordo bastante parcial.

Ela deu de ombros.

— Ao menos não terá de me pagar para eu gostar de você... Alguma vez já pensou o quanto está se subestimando ao fazer esse tipo de negociação amorosa? Você é um homem, capaz de sentimentos muito mais profundos do que os que partilha com essas mulheres.

— Sou mesmo? — disse ele com amargura.

— Sim, e se você fosse tão egoísta como se diz ser, esta noite não teria sido tão maravilhosa para mim. A sua ternura e o seu carinho me levaram a conhecer um mundo novo e cheio de sensualidade. Ambos sentimos isto.

Peter aproximou-se, tocando-a levemente nos lábios.

— Até mesmo Sally não era virgem quando a conheci.

— Estive escondida num armário por todos estes anos...

Danny percebeu nos olhos de Peter que ele não se iludia quanto ao número de convites masculinos feitos a ela desde que se tornara mulher. Danny tinha plena consciência da beleza de seu corpo, no entanto nunca se deixara levar por simples vaidade; se entregara ao homem certo no momento certo.

— Já que está há tanto tempo escondido, é hora de aprender mais uma lição para agradar o seu homem — disse ele fingindo-se zangado, mas tendo nos olhos um brilho de desejo.

— Oh, muito obrigada. Você é tão bom comigo — respondeu-lhe ela com ar submisso.

— E você é um bem para mim, Danielle. Nenhuma mulher jamais me fez sentir o senso do ridículo ou até mesmo rir como você conseguiu.

— Não neste exato momento, eu espero.

— Não. A única coisa ridícula sobre este exato momento é ficarmos perdendo tempo com palavras em vez de agirmos...

— Bem, não estou bem certa se meu corpo aguentaria outra lição assim tão em seguida.

— Oh, Deus, eu havia me esquecido! Sinto muito, Danielle, nunca enfrentei uma situação como esta antes.

— Estava só brincando, Peter — disse ela rindo da preocupação dele. — Começo a pensar que você talvez seja mesmo maduro demais para mim. Quem sabe alguém mais jovem...

— Você adora me provocar... Venha cá e eu já lhe mostro que não sou tão velho assim...

Peter mostrou-se insaciável, amando-a várias vezes durante a noite e até mesmo depois que eles tomaram banho juntos. Já era quase meio-dia quando Danny, completamente vestida, abriu a cortina do quarto para deixar a luz do sol entrar e olhou pela janela.

— Don Bridgeman está lá embaixo — comentou ela, estranhando a presença do segurança parado à sua porta. — Acha que ele está querendo falar com você?

— Não — respondeu Peter com tranquilidade, aproximando-se da janela enquanto terminava de abotoar as calças.

— Então por que ele viria até aqui?

— O que costuma fazer um segurança?

— Protegê-lo?!

— Sim, Danielle.

— Você está me dizendo que ele passou a noite toda em pé lá embaixo?! — exclamou ela indignada, sentindo as faces corarem. — Ele ficou lá esperando enquanto nós... Oh, não, Peter! Diga-me que não é verdade!

Ele permaneceu em silêncio por alguns instantes.

— Não tenho intenção de mentir para você, Danielle — murmurou gravemente.

— Então ele esteve lá! E agora? Como poderei encará-lo novamente?! Ou aos outros?!

— Está envergonhada?

— Não.

— Pois é a impressão que está dando.

— Pois não estou! Apenas quero lembrá-lo de que os seus guarda-costas também são meus amigos! Podem estar acostumados a manter guarda enquanto você passa a noite com suas outras mulheres, mas eu não sou uma delas! Nunca deseja ter um pouco de privacidade, Peter?

— Pois aí é que você se engana. Bridgeman ficou lá fora e o que se passou entre nós aqui dentro foi totalmente particular!

— Mas ele não necessita de muita imaginação para adivinhar o que aconteceu aqui!

— Se não pode viver comigo da maneira como sou, então é melhor terminarmos tudo agora.

Danny decidiu não protestar mais ao notar a expressão de desespero e preocupação nos olhos cinzentos de Peter. Subitamente compreendeu o quanto o relacionamento deles o deixava nervoso.

— Tudo bem, acho que posso aceitar — disse ela, procurando manter-se calma. — Eu o verei hoje à noite?

— Tenho um encontro em Londres esta tarde e não sei se estarei de volta. Talvez passe a noite lá.

Há poucos instantes esse encontro de negócios não parecia ter importância. Aliás, se não fosse por insistência dela, que precisava trabalhar, eles ainda se achariam na cama. Estaria Peter começando a se arrepender daquele envolvimento?

Danny aninhou-se em seus braços sentindo a resposta imediata ao pressionar seu corpo contra o dele.

— De qualquer forma, esperarei por você — sussurrou ela beijando-o suavemente na curva do pescoço.

— Por favor, Danielle, não me ame.

— Não posso mais atender a este seu pedido, Peter.

— Você sairá magoada.

— Faz parte da vida.

— Ainda é jovem demais para entender o verdadeiro significado de uma desilusão.

— Meus pais lhe diriam que eu já nasci velha. Ainda estava no berço e já costumava filosofar.

— Em experiência, você ainda está no berço, Danielle. A vida não é um conto de fadas.

— Sei disso. Ninguém diria que o que houve entre nós está escrito num livro de conto de fadas — falou ela maliciosamente.

— Danielle!

— Vá e diga a Bridgeman que eu não envenenei você enquanto dormia — provocou-o ela, divertindo-se com a expressão zangada de Peter. — Se algum dia eu o matar, será de amor.

Peter balançou a cabeça com ar de desânimo e desceu as escadas rapidamente, deixando-a ali pensativa.

Embaraçada ou não, Danny pretendia manter sua amizade com Don Bridgeman. Gostava dele e era muito importante que ainda conservasse o seu respeito.

 

 

Danny sentiu o coração dar um salto no peito ao ouvir o barulho do helicóptero retornando pouco antes das nove horas.

Esperou tempo suficiente para que Peter tomasse um banho e mudasse de roupa antes de vir vê-la, mas, quando o relógio deu dez horas e ele não apareceu, uma raiva intensa tomou o lugar de sua ansiedade. Se ele pensava que podia tratá-la como um casinho qualquer de uma noite, estava redondamente enganado. Mostraria a ele que não era mais uma de suas mulheres negociáveis!

Kilpatrick e Ferdinand a acompanhavam enquanto subia furiosa até a sede, usando apenas um short branco e uma camiseta verde muito curta que lhe deixava o umbigo à mostra. Peter que não esperasse dela um comportamento idiota de menina meiga e insegura. Não ficaria em casa boazinha apenas porque ele decidira que não a queria mais! Não! Ela sabia que ele no fundo ainda a desejava!

Com a mesma fúria que a trouxera até ali, Danny entrou na sala sem se dar ao trabalho de bater ou impedir que os dois cães a seguissem. A cena que se passou a seguir teria sido muito engraçada se não fosse tão desastrosa.

Kilpatrick e Ferdinand se aproximaram do casal que estava conversando com Peter e, após farejarem no ar o cheiro de estranhos, começaram a rosnar, exibindo-lhes as fileiras de dentes mortalmente afiados.

A moça, uma jovem de pele bem clara, cabelos loiros e aparência muito frágil, lançou um olhar apavorado para as duas feras e subindo no sofá, começou a gritar como uma histérica. O homem, um senhor de meia-idade com cabelos ligeiramente esbranquiçados nas têmporas, correu para trás de uma mesa sem desprender os olhos dos cachorros.

Peter, a princípio, não entendeu muito bem o que estava acontecendo, e ficou zangado; mas, quando percebeu o que se passava, precisou fazer um enorme esforço para conter o riso.

— Muito bem, Danielle, agora que você já proporcionou aos meus hóspedes uma cena de um filme de terror, creio que não se importaria em mandar os cachorros embora para que Clarissa possa descer do sofá.

Danny fez o que Peter lhe pediu, sentindo sua raiva crescer ao notar a gentileza com que ele ajudava a delicada criatura, colocando seus braços protetores ao redor dos ombros nus da moça.

— De onde você surgiu? — ela ouviu perguntar uma voz masculina com o sotaque enrolado do Texas atrás de si.

Virou-se e deparou com a figura do homem que havia fugido para trás da mesa. Bastante atraente, embora já perto dos cinquenta anos, possuía olhos muitos azuis e a encarava de uma forma ousada, um pouco além de simples curiosidade.

— Bem, posso lhe garantir que não sou nenhuma fada vinda do fundo do jardim de Peter. Embora seja lá que eu more.

— Os cachorros são seus?

— Não. São de Peter — respondeu mal-humorada. — São os cães de guarda dele — acrescentou bruscamente, dirigindo um olhar furioso para a loirinha, que ainda estava tendo chiliques nos braços de Peter.

— Por acaso eles são encarregados de protegê-la para Peter?

— Posso perfeitamente tomar conta de mim mesma, o que não acontece com a sua namoradinha — retrucou Danny olhando em direção à moça.

— Aposto que pode. Mas, a propósito, Clarissa é minha filha. Eu sou Paul Banyon — apresentou-se ele.

— Danny Martin — respondeu ela automaticamente, mal conseguindo desviar os olhos de Peter, desejando que ele parasse de confortar a tal Clarissa.

— As reações emocionais de minha filha são praticamente incontroláveis — disse o texano acompanhando o olhar de Danny. — A culpa é do colégio suíço onde a mandei estudar. Você foi sensacional, deu um verdadeiro show com aqueles cachorros.

— E foi por isso que fugiu assustado?

— Não acha indelicado lembrar a um homem um de seus momentos de fraqueza?

— Por acaso me viu fazendo alguma delicadeza desde que cheguei?

— Oh, você é mesmo adorável! — disse ele rindo da ironia de Danny. — Há muito tempo não encontro uma mulher que me interessasse tanto.

— Então deve levar uma vida muito maçante!

— Ao contrário, ao contrário. Eu já era um demônio antes mesmo de você nascer.

Paul Banyon! Só agora se lembrava de fato de quem era ele. Herdeiro de um verdadeiro império do petróleo no Texas, assumira a companhia do pai aos dezoitos anos. Casara-se aos vinte com uma dançarina de cabaré, com quem tivera uma filha, provavelmente Clarissa, e de quem se separara, dois anos mais tarde quando ela o largara por um astro de rodeios. Depois disso houvera uma infinidade de mulheres e escândalos em sua vida; material suficiente para encher as páginas dos jornais do mundo inteiro! E, pela maneira como ele a encarava, Danny tinha a impressão de que acabara de elegê-la sua próxima conquista.

— Posso notar que você me reconheceu.

— Sim, sr. Banyon — sorriu ela apreensiva. — E eu sou a jardineira de Peter.

— Não me diga! Verdade? E eu que pensava que você fosse um presente dele para mim...

Danny lançou-lhe um olhar furioso e explodiu indignada.

— Talvez Peter costume oferecer esse tipo de presentes aos seus convidados, eu não sei, mas esteja certo de que eu não sou um deles!

— Danny...

Foi a única palavra que o pobre homem conseguiu balbuciar antes de vê-la atravessar a sala a passos largos em direção a Peter, que ainda procurava acalmar Clarissa.

— Não sei que tipo de jogo você tem em mente, Peter, mas posso lhe assegurar que não pretendo tomar parte nele! — disse ela antes de se dirigir para a porta.

— Danielle!

Ela se voltou com lágrimas nos olhos.

— O que pretendia, Peter? Me testar primeiro para depois me oferecer aos seus amigos?

— Danny, não foi isto o que eu quis dizer! — desculpou-se Paul Banyon ao vê-la tão perturbada.

Peter reagiu com veemência.

— Mais tarde você me explica exatamente o que foi, Banyon — sentenciou. — Por ora, considere os nossos negócios cancelados! Não costumo lidar com gente capaz de insultar pessoas especiais para mim!

— Negócios?! — repetiu Danny assustada.

— Eu lhe disse que precisava resolver um assunto de trabalho em Londres, Danielle. Banyon faz parte dele. Eu os convidei para virem até aqui a fim de concluirmos as negociações antes que eles retornassem aos Estados Unidos amanhã. Pretendia ir vê-la mais tarde.

— Oh, meu Deus! O que foi que eu fiz! Pensei que...

— Sei perfeitamente o que você pensou — disse Peter suavemente, sem se importar com a presença dos Banyon. — Talvez com uma outra mulher eu tivesse agido daquela forma, mas não com você, Danielle.

Envergonhada, Danny olhou para Banyon e sua filha.

— Sinto muito, vocês devem estar pensando que eu sou completamente louca.

— O que penso é que Sutherland é um homem de muita sorte — sorriu-lhe Paul Banyon.

A garota, totalmente diferente do pai, ainda não se recuperara do susto e parecia chocada com a cena que Danny acabara de fazer.

— Será que eu podia ir para o meu quarto, Peter? Sinto-me um pouco... cansada — murmurou ela com uma vozinha tão frágil quanto a sua própria silhueta.

— Você quer parar de ser tão enjoada, Clarissa? — censurou-a o pai, irritado. — O seu mal é ter sido superprotegida!

— Papai!

— O futuro marido dela ainda não sabe o que terá de enfrentar — comentou ele desgostoso com a atitude melindrosa da filha. — Se vocês preferem, talvez possamos voltar para Londres ainda hoje.

— Oh, não, por favor, fiquem — pediu-lhes Danny amavelmente, dirigindo um olhar suplicante a Peter. — Foi tudo um terrível engano. O sr. Banyon não quis me ofender, eu é que fiquei meio descontrolada ao olhar para você e a srta. Banyon e...

— E ela quase chamou os cachorros de volta. Se eu fosse você, Sutherland, não confiaria muito na lealdade deles — brincou Paul.

— E nem preciso. O importante para mim é que eles protejam Danielle até a morte, e isto eu sei que eles farão. É assim que eu quero.

Danny notou um brilho estranho nos olhos de Peter, mas não conseguiu definir o que era. Sentia-se embaraçada diante da confusão que causara, mas não havia como fugir da situação. Sua vontade era voltar para casa e se ver livre daquele pesadelo, no entanto, não foi essa a sua maneira de agir.

— Por favor, Peter, não desista de seus negócios com o sr. Banyon por minha causa. Eu estava com a cabeça quente, a culpa foi minha.

— Ê verdade? — perguntou ele a Banyon.

— Talvez eu tenha sido um pouco ousado.

— Que tipo de ousadia?

— Não foi nada, Peter, ele apenas...

— Eu dei a entender a Danny que a desejava em minha cama — explicou-se Paul. — Não fazia idéia que ela fosse tão especial assim para você.

— E agora que já sabe? — indagou Peter com a voz gelada.

— Ora, Sutherland, não sou o tipo que costuma se aventurar com a mulher dos outros. Terei por Danny o maior respeito.

Ela estava atônita. Não podia acreditar ser ela a causa desta cena tão ridícula. Peter deveria julgá-la uma idiota ou, pelo menos, um transtorno na vida dele. Talvez fosse melhor arranjar uma desculpa e deixá-los a sós resolvendo suas desavenças.

— Eu... eu acho que esqueci a minha cafeteira ligada — inventou, desesperada. — Sinto muito preciso ir — desculpou-se novamente antes de sair quase correndo em direção à porta.

Oh, Deus, que desastre! Sempre fora tão esperta, no entanto acabara de fazer um papel ridículo diante de Peter e seus hóspedes! Duvidava que ele a perdoasse ou mesmo se ela mesma se perdoaria por ter se comportado tão tolamente!

 

 

Ficou esperando a batida na porta dos fundos desde que chegara em casa dez minutos antes... Quando finalmente a ouviu, sentia-se a mais miserável das criaturas.

— Você me perdoa, Peter? Não sabia que tinha convidados, mas quando percebi eu...

Ele a interrompeu beijando-lhe os lábios com ternura.

— Oh, Peter! — murmurou com voz trêmula. — Os Banyon se foram?

— Não, vão passar a noite, conforme o combinado, e partem amanhã cedo — disse ele suavemente envolvendo-a nos braços. — E os nossos negócios também continuarão conforme o combinado.

— Não deveria estar lá com eles?

— Não. Que eu saiba não precisam de mim para dormir, por isso passarei a noite aqui com você. Esta, e todas as outras que vierem...

Sorrindo, ele tomou-lhe gentilmente o rosto entre as mãos e beijou-lhe os lábios com profunda ternura.

— Não está mais zangado comigo? — murmurou Danny com delicadeza.

— E nem estive. Fiquei envaidecido ao vê-la tentando me livrar das garras da doce Clarissa. Senti a sua falta hoje...

— A minha intromissão foi além das suas expectativas, não foi?

— Foi espetacular. Talvez tivesse sido mais emocionante se você aparecesse vestindo um biquíni de pele de leopardo como a Jane das selvas! — Olhou-a por alguns instantes e beijou-lhe a ponta do nariz. — Pensando melhor, ainda bem que não foi assim. Não gostaria que Banyon a visse tão sedutora.

— Ciúme?

— Muito.

Danny puxou-o pela mão.

— Vamos para a cama?

— Benson estará de guarda lá fora — preveniu-a ele.

— Não me importo — falou ela sabendo que esta era uma regra que ele jamais quebraria, nem por sua causa.

— Telefonei hoje de novo para Nova York. Nigel e Cheryl estarão de volta amanhã e eu os convidei para passarem a noite aqui.

— Oh! — exclamou Danny desapontada.

— Parece que a notícia não a deixou muito feliz.

— Não desejo que Cheryl pense que a ando espionando. Embora eu esteja.

— Não há motivo para se preocupar, Danielle. Por que não aproveita para ter uma conversa franca com ela? É a melhor forma de esclarecer tudo de uma vez.

— Tem razão, mas eu não saberia o que dizer.

— Penso que é Cheryl quem lhe deve explicações, não acha?

— Suponho que sim. Embora não acredite que ela vá fazê-lo.

— Bem, ela tem mais de dezoito anos e é livre para agir como bem entender. Só não concordo com o fato de estar preocupando você.

— Provavelmente Cheryl nem sabe disso.

— Então não vamos mais falar sobre eles, esta noite, está bem? — disse ele com a voz carregada de desejo.

Não. Aquela noite, assim como a anterior, seria somente deles.

 

 

Parecia tolice ficar nervosa apenas porque sua irmã iria chegar; no entanto, era assim que Danny se sentia naquela tarde.

Havia algum tempo vinha achando que já não eram mais tão unidas quanto antigamente. Que outra razão teria Cheryl para ir à Nova York com Nigel e não contar a ela? Deveria ter previsto que seus pais também se preocupariam, caso lhe telefonassem e não obtivessem resposta. E fora exatamente o que acontecera. Sua mãe lhe ligara logo cedo, aflita por não ter conseguido falar com Cheryl. Danny tivera um grande trabalho em convencê-la que não havia com o que se preocupar.

Peter havia mandado o helicóptero buscá-los no aeroporto e eles os aguardavam na sala de estar da mansão. Danny procurava inutilmente se acalmar, tentando organizar suas idéias sobre a conversa que pretendia ter com a irmã. Na verdade, nem mesmo sabia se Cheryl tinha conhecimento de que também a estaria esperando junto com Peter.

— Fique tranquila, Danielle — confortou-a ele, passando o braço ao redor dos ombros.

— Impossível. Cheryl sempre foi muito impulsiva, mas desta vez, passou dos limites!

— Ela já tem idade suficiente para saber o que faz.

— Diz isto porque não a conhece. Ela chega a ser infantil em certas atitudes, e seu primo já está com quase trinta anos!

— Sua irmã lhe diria que a nossa diferença de idade não é muito menor do que a deles.

— Ah, mas conosco é diferente.

— E provavelmente ela sente o mesmo em relação a Nigel.

— Pode ser. Mas o que me deixa mais furiosa com Cheryl é a sua total falta de compromisso tanto com Gary quanto com Nigel. Às vezes tenho a impressão de que ela não sabe o que quer.

— É possível que não mesmo, mas de uma coisa você pode estar certa: se Nigel a deseja realmente, tentará de todas as maneiras convencê-la de que ele é o homem de sua vida.

— Tão obstinado quanto o próprio tio, não?

— Prefiro dizer que sou persuasivo — murmurou ele roçando os lábios pelo pescoço de Danny.

Peter passou os próximos quinze minutos tentando convencê-la de que havia tempo suficiente para irem até seu quarto antes que os convidados chegassem. Não fosse o barulho do helicóptero se aproximando, ele teria provado que seu poder de persuasão era mesmo um mal de família.

— Eles chegaram! — Danny ergueu-se de um salto, ajeitando rapidamente os cabelos desalinhados pelos agrados de Peter.

Danny usava um vestido branco de algodão, muito charmoso, cujo encanto estava no fato de possuir um ombro só. Penteara os cabelos para o alto, prendendo-os num simples coque que lhe expunha a nuca e a linha delicada do pescoço.

Em pé, ao lado de Peter, quase não acreditou que a mulher elegante e maravilhosa que se aproximava acompanhada de um homem bastante atraente fosse sua irmã Cheryl. Nunca a havia visto assim tão bonita, com um brilho diferente cintilando nos olhos cor de avelã. Os cabelos aloirados, que Cheryl costumava usar soltos até o meio das costas, haviam sido cortados em estilo Chanel, o que lhe dava um ar mais amadurecido e sofisticado. Usava um finíssimo vestido chemisier de seda natural, obviamente comprado em alguma loja da famosa Madison Avenue, uma das ruas mais badaladas de Nova York.

— Danny! — gritou Cheryl radiante, abraçando a irmã mais velha. — Não tinha a menor idéia de que você estaria aqui. Foi uma surpresa? — perguntou olhando para Nigel.

— Para nós dois — respondeu ele dando um beijo no rosto de Danny.

Embora Nigel possuísse olhos azuis, no mais era muito parecido com o tio. Seus cabelos também eram negros e seu porte alto e atlético exibia a mesma harmonia do de Peter.

— Que bom finalmente conhecê-lo, Peter — disse Cheryl estendendo-lhe a mão.

— Eu também ansiava por este momento — respondeu-lhe ele amavelmente. — Você é muito parecida com Danielle.

Conversaram alguns instantes sobre a viagem, antes que tio e sobrinho resolvessem ir tratar de alguns assuntos urgentes, deixando-as a sós.

— Ele não é maravilhoso, Danny? Ah, eu o amo tanto!

— Cheryl... — começou ela, mas foi interrompida pela tagarelice da irmã.

— Você e Peter Sutherland são... amigos?

— Que diabos a faz pensar isto?!

— Ora, a maneira como ele falou seu nome — Cheryl riu da expressão assustada de Danny. — Foi tão sexy...

— Cheryl!...

— É evidente que ele não é tão irresistível quanto Nigel, mas é um homem bastante atraente. Você está se envolvendo com ele?

— Não acha que era você quem deveria me responder algumas perguntas? Você desaparece para Nova York com um homem que sua família nem conhece, passa cinco dias com ele lá, sem dar a menor satisfação, falta às aulas e ainda por cima volta me questionando?!

— Você já conhecia Nigel! Além do mais, já terminei todos os meus exames e perder a última semana de aulas não me faria diferença. Quanto a Nova York...

— Qual será a sua próxima desculpa?

— Quer parar de agir como se fosse a minha tia solteirona?!

— Pois é como me sinto! Mamãe me telefonou preocupada com você.

— Liguei para ela do aeroporto.

— Ainda bem. Pelo menos demonstrou ter um pouco de consideração...

— Danny, antes que você comece com o seu sermão, quero lhe dizer que Nigel e eu nos casamos antes de irmos para Nova York.

Danny sentiu que o ar lhe faltava nos pulmões. Casaram-se?! Não era possível! Olhou incrédula para a aliança de platina que Cheryl orgulhosamente exibia na mão esquerda, certa de que sua irmã esperava algum elogio seu.

— É muito bonita...

— Nigel pretendia me comprar um anel de noivado em Nova York, um brilhante solitário. Mas eu não quis. Já usei um uma vez e não deu certo...

— Gary já sabe?

— Sim. Contei a ele no último fim de semana quando foi a Londres. Ele tem sido maravilhoso.

— Mas ele... ele esteve aqui depois disso e nem tocou no assunto!

— Ê por isso que eu lhe digo que ele tem sido maravilhoso. Ele compreendeu que entre nós já não havia mais possibilidade de casamento. Isso acontece. Algumas vezes, as pessoas ficam adultas e se tornam apenas amigas. Tenho certeza de que a nossa amizade continuará. Embora seja essencial que você goste da pessoa com quem se casa, não pode se casar com quem apenas tenha amizade.

— Ele não ficou magoado?

— Não. Apenas um pouco desapontado.

— Mas você morreu de ciúme quando o convidei para jantar!

— E não era o que você desejava?

— Não me diga que foi tudo uma farsa!

— Ora, Danny, você não foi muito sutil. Até o Gary, que é tão ingênuo, percebeu o que tinha em mente.

— Ah, mas esta é uma ótima notícia! — exclamou Danny desgostosa.

— Não fique tão aborrecida. Sabemos que a sua intenção foi boa, porém já não tinha mais razão de ser. O próprio Gary admitiu que há seis meses vinha notando que o nosso relacionamento havia mudado, antes mesmo de eu conhecer Nigel. Ele apenas não tocou no assunto por não querer ferir meus sentimentos.

— E você? Está feliz?

— Como jamais estive. Foi tudo tão maravilhoso. Quando aceitei o pedido de Nigel, ele me contou que andava com uma licença de casamento no bolso desde o dia seguinte ao que tínhamos nos conhecido. Você acha que eu poderia ter dito não a um homem tão irresistível?

— Só me tire uma dúvida, Cheryl: por que vocês resolveram manter em segredo?

— No instante em que eu contasse a você, com certeza iria me fazer desistir e nós não pretendíamos esperar nem mais um dia. No entanto, para contentar nossos pais teremos um segundo casamento e você ainda será minha dama de honra.

— Já esteve com a família de Nigel?!

— Sim. Nós os encontramos em Nova York. Ficaram radiantes e também desejam que tenhamos uma cerimônia com a família. Agora me conte sobre você e Peter.

— Bem, eu...

— Ora, não me diga que não existe nada entre vocês porque eu não acreditaria. Até uma criança pode ver a alegria que há em seus olhos.

Como era difícil admitir que sua irmã já não era mais uma garota! Em apenas algumas semanas Cheryl amadurecera, tornando-se uma mulher segura e autoconfiante. Não tinha dúvidas de que faria de seu casamento um sucesso. Seria inútil tentar esconder suas emoções de uma mulher que também estava apaixonada.

— Eu o amo — confessou-lhe emocionada. — E ele também me quer.

— E...

— E ele conseguiu o que desejava.

— Você sabia que Peter foi casado?

— Sim, mas já faz muito tempo e não foi um casamento feliz.

— Você está enganada. Ambos eram muito jovens, mas de acordo com o que Nigel me contou, foram extremamente felizes.

Pelo pouco que soubera através de Peter, ficara com a impressão de que, embora ele tivesse amado a esposa, o mesmo não acontecera da parte dela. Por que razão Peter demonstrava tanta amargura ao mencionar o passado se não haviam sido infelizes? Este seria apenas mais um na lista de fatos que desconhecia a respeito do homem que amava.

— Danielle, há algo que você precisa saber — disse-lhe Peter ao retornar à sala com Nigel. — Cheryl e Nigel...

— Estão casados — completou ela beijando o rosto de seu novo cunhado. — Bem-vindo à família, Nigel.

Cheryl também fez o mesmo com Peter.

— Não sei se vou conseguir chamá-lo de tio... principalmente agora — brincou ela olhando maliciosamente em direção a Danny.

— Bem, de acordo com as circunstâncias, acho que você tem razão — disse-lhe Peter.

— Circunstâncias?! — indagou Nigel intrigado. — Que circunstâncias?!

— Vamos até o quarto, querido? — convidou-o Cheryl. — Gostaria de tomar uma ducha para me refrescar um pouco. Conversaremos lá em cima.

Mesmo estando preocupada com o que Cheryl lhe contara a respeito do casamento de Peter, notou uma mudança súbita na sua expressão assim que o jovem casal se retirou. Que problemas o afligiam para que se tornasse tão vulnerável a qualquer assunto referente a seus sentimentos?

— O que você disse a sua irmã sobre nós? — perguntou-lhe ele secamente.

— Apenas que eu o amo. O resto, ela adivinhou.

Mais tranquilo, ele se aproximou e enlaçou-a pela cintura.

— O que achou do casamento deles?

— Tenho certeza de que dará certo.

— Eu também. Amanhã eles irão ver seus pais, por que não vai também?

— E quanto a você?

— Não posso ir, mas como é um encontro de família, entendo que você gostará de estar presente.

— Mas você faz parte da família de Nigel — lembrou ela com suavidade.

— Celebrarei hoje com ele.

— Então eu farei o mesmo.

Peter a olhou irritado com sua teimosia.

— Prefiro que você vá com eles.

— Mas por quê, Peter?

— Estou esperando alguém amanhã.

Uma sombra atravessou o olhar de Danny.

— Bem, se é por causa disso, não se preocupe — murmurou, virando-se para ir embora.

— Danielle! Não é o que você está pensando. A pessoa que estou esperando é um homem com quem tenho negócios a tratar.

— E você prefere que eu não esteja por perto. Tem medo que eu provoque outra confusão? — perguntou ela ofendida. — Não foram suficientes as minhas desculpas pelo que aconteceu ontem?

— Já lhe afirmei que a sua entrada com os dois cães foi espetacular e eu não fiquei zangado. Acontece que o meu encontro de amanhã é muito importante e extremamente sigiloso.

E ela também sabia não ser este o único motivo de sua recusa em acompanhá-los. Ele preferia não se envolver com ela a ponto de frequentar a casa de seus pais. Para Peter era importante evitar qualquer ligação que pudesse tornar o relacionamento deles um compromisso mais profundo.

— Está bem — concordou afinal. — Faz mesmo muito tempo que não vejo meus pais e, além do mais, esta será uma ocasião especial.

— Voltará amanhã?

— Se você deseja...

— E muito.

Abraçando-a carinhosamente, Peter roçou de leve os lábios nos dela.

— Não gostaria de "tomar uma ducha e se refrescar um pouco"? — sugeriu ele com ternura.

— Você nunca está satisfeito, Peter?

— De você? Não.

 

 

Apesar de demorarem, ainda assim desceram para os aperitivos bem antes dos recém-casados. O jantar transcorreu num clima de alegria contagiante. Até mesmo Peter, normalmente tão circunspecto, parecia ter sido atingido pela aura de felicidade que emanava do jovem casalzinho.

Nigel juntou-se a Danny no terraço enquanto seu tio e Cheryl escolhiam alguns discos para dançar. Ficou alguns minutos silencioso ao lado dela admirando a lua cheia que banhava a paisagem com seus raios prateados.

— Há muito tempo não vejo Peter tão descontraído — confidenciou ele finalmente.

— Foi mesmo uma noite muito agradável.

— Não estou me referindo apenas a hoje. Desde a semana passada quando falamos ao telefone ele me pareceu mais acessível.

— Não havia notado — ela mentiu.

Nenhum detalhe a respeito do homem que a amava lhe passava despercebido. Tinha um vago pressentimento de que o encontro do dia seguinte não seria um mero assunto de negócios. Era difícil descrever esta estranha sensação que a dominava, no entanto ela existia.

— Às vezes tenho a impressão de que ele decidiu afastar o problema por uns tempos — disse-lhe Nigel.

— Problema?!

— Há dezesseis anos ele vem se torturando por se sentir culpado e com remorso. Já é tempo de deixar isso para trás e começar uma vida nova.

Dezesseis anos? Por que diabos deveria ele sentir-se assim a respeito da morte da esposa? Nigel falara como se ela já soubesse de algum fato relacionado ao passado de Peter. Se não tivesse apenas cinco anos naquela época, talvez agora não se sentisse tão confusa. Impossível arrancar algum esclarecimento de Peter, sabendo que ele não permitiria uma invasão de sua tão preciosa privacidade!

— Se você o ama de verdade, Danny, faça com que desista desta idéia insana.

— Sinto muito, Nigel, mas eu...

— Por Deus, Danny. Não me diga que você o está encorajando?! Ele está se autodestruindo!

— Eu...

— Ei, vocês dois! — gritou Cheryl da porta. — Peter já afastou os móveis para dançarmos.

— Andou fazendo charme para o meu severo tio?

— Fui eu quem a seduzi, Nigel — disse Peter bem-humorado. — Ela já me prometeu a primeira dança.

Ao som da voz romântica de Frank Sinatra, os dois casais deslizavam suavemente num clima de amizade e descontração.

Perturbada pelas afirmações enigmáticas de Nigel, Danny lançava olhares angustiados em direção a Peter e sua irmã, mal conseguindo se concentrar nos passos simples que seu cunhado executava. Percebendo a sua atitude inquieta, Nigel achou que ela estava preocupada por causa de Cheryl.

— Cuidarei bem dela — tranquilizou-a ele. — Cheryl é muito especial para mim.

— E ela pensa o mesmo a seu respeito.

— Não sem motivo — brincou ele.

— Vejo que além de especial é muito modesto também. Meus pais com certeza vão adorá-lo.

— Espero que sim. É importante para Cheryl que eu tenha a aprovação deles.

— Acredite em mim, eles sempre desejaram um filho como você, alegre, terno e educado.

— E modesto.

— Tem razão — riu ela. — Espero que não se incomodem, mas gostaria de ir com vocês amanhã.

— E Peter?

— Ele não irá. Tem um encontro de negócios.

— Sabe com quem? — perguntou ele preocupado.

— Ele não me disse. Talvez seja com Paul Banyon.

— Oh, não. Ele e Clarissa já voltaram para os Estados Unidos. Por que diabos Peter não acaba de uma vez com essa loucura?! — desabafou Nigel sem notar que seu tio se aproximava mantendo nos olhos um brilho de aço.

— Cheryl está querendo dançar com o marido, agora — disse ele sugerindo uma troca de parceiros.

Danny podia sentir a tensão em seus braços mesmo ao som da canção romântica que dançavam. Provavelmente ele ouvira parte da conversa que ela e Nigel mantinham.

— Peter, eu...

— Se você pretende continuar bisbilhotando a minha vida, acredito que nosso relacionamento termina por aqui.

Danny irritou-se com o tom áspero de sua voz.

— Eu não estava bisbilhotando!

— Você contou a ele sobre o meu encontro de amanhã!

— Pensei que ele já soubesse.

— Eu lhe avisei que era secreto!

— Mas você também disse que era um assunto de negócios! — lembrou-lhe ela com raiva.

— Como meu contabilista, ele não tem obrigação nenhuma de ser informado de tudo o que me diz respeito.

— Bem, sinto muito.

— Aceito as suas desculpas — disse Peter ignorando o fato de Danny ainda estar zangada. — Penso que já é hora de encerrarmos a noite. Sua irmã está com uma aparência muito cansada.

Embaraçada, Danny ficou ainda alguns instantes em pé no meio da sala depois que Nigel e Cheryl se despediram. Peter ofereceu-lhe mais um uísque, que ela polidamente recusou, e ele preparou um para si.

— Onde você quer dormir esta noite? — perguntou ele abruptamente.

Sem saber se a pergunta era sincera ou apenas uma forma de saber se ela ainda desejava passaria noite com ele, Danny demorou algum tempo antes de responder suavemente:

— A minha cama é mais aconchegante.

— Mais aconchegante?! — disse ele com ar zombeteiro.

Embora menos frequentemente, ainda havia momentos em que seu humor sarcástico vinha à tona. Com sabedoria, Danny os ignorava, evitando que se tornassem uma barreira entre eles. Afinal, não seriam obstáculos desse tipo que iriam impedi-la de conquistar o coração do homem que amava.

— Entendo que ela seja um tanto pequena para você, mas pelo menos não precisamos ficar nos procurando durante a noite — justificou-se ela, pois abominava a enorme cama do quarto dele.

— Então vamos embora — disse ele, virando de uma vez o resto do uísque que havia no copo.

Nessa noite fizeram amor de uma forma diferente. Peter não permitiu que ela o acariciasse como ele próprio lhe ensinara, embora a fizesse sentir inúmeras ondas de prazer, possuindo-a várias vezes com uma calma deliberada. Era como se ele a tivesse punindo por alguma coisa e, quando tudo terminou, ela se sentia fisicamente satisfeita, mas emocionalmente incompleta.

 

 

O domingo na casa de seus pais foi alegre e descontraído. Como Danny previra, eles foram imediatamente cativados pela simpatia e ternura de seu novo genro e ela teve que suportar as brincadeiras maliciosas por sua irmã mais jovem ter se casado primeiro. Embora se sentisse feliz, surpreendia-se a todo momento pensando em Peter, imaginando quem seria a pessoa que se encontrava com ele.

Naquela manhã, ao se levantarem, notara no comportamento dele uma certa distância; formalidade demais para quem havia acabado de passar a noite na mesma cama que ela. Supunha que parte dessa atitude se devesse ao fato de Peter estar se sentindo sufocado por um relacionamento mais duradouro. Afinal, ele sempre fora categórico ao afirmar que não desejava esse tipo de envolvimento.

— Por que está tão quieta? — perguntou-lhe Nigel durante a viagem de volta.

— Estou pensando na nossa conversa de ontem à noite — Danny respondeu, notando que Cheryl adormecera no banco da frente.

— Não tenho permissão para continuar este assunto — ele falou.

— Permissão?!

— São ordens de Peter. E quando ele manda, posso lhe garantir, ninguém ousa desobedecê-lo — acrescentou em tom de brincadeira.

— Ele conversou com você hoje de manhã antes de sairmos?

— Sim. E não usou meias palavras. Parece que andei falando mais do que devia...

— Sobre a esposa dele?

— Exatamente.

— Peter não permite que ninguém toque no nome dela, não é? Nem mesmo ele!

— Sally era uma mulher dotada de rara beleza, física e interior, e a sua morte abalou toda a Inglaterra. Lembro-me dela como uma criatura sempre sorridente, olhos muito azuis e uma cabeleira negra revolta como a de uma cigana.

— Não é fácil competir com uma imagem tão maravilhosa.

— Escute, Danny, Peter precisa de você. Ele ainda não descobriu, mas você é muito importante para ele.

— Vejo que meu cunhado é bastante animador... — disse ela esboçando um leve sorriso.

— Cheryl e eu estamos querendo torná-la titia — comentou Nigel procurando alegrar o humor de Danny.

— Já?! Não é muito cedo para pensarem em bebês?

— De forma alguma. Cheryl adora crianças e eu já me vejo sendo chamado de papai.

Como era bom ver a felicidade estampada no rosto de Nigel! Ajudava a não se sentir tão angustiada pensando no reencontro com Peter quando o jovem casal a deixasse em casa antes de seguir viagem para Londres.

Assim que desceu do carro foi informada por Dave Benson de que Peter a esperava na biblioteca.

Ao se despedirem de manhã não haviam deixado nada definido quanto ao encontro dessa noite. Danny apreciaria muito se o mau humor dele tivesse evanescido durante o dia.

— Esperava que você voltasse mais cedo — disse-lhe ele secamente sem sequer cumprimentá-la. — Devo ir a Londres esta noite...

— Oh, não! — protestou Danny instintivamente.

— ... e amanhã sigo para Washington — terminou ele lançando-lhe um olhar gelado de reprovação.

Provavelmente o motivo dessa viagem inesperada era o visitante misterioso que ele recebera. E alguma coisa lhe dizia também que o assunto estava relacionado com a morte da esposa. Num impulso, decidiu que não o deixaria partir sem ela.

— Leve-me com você, Peter! Está mesmo na época de tirar minhas férias.

— Esta será uma viagem estritamente de negócios, Danielle. E não costumo levar mulheres em ocasiões desse tipo.

— Mas havia uma com você em Paris.

— Ela não foi comigo; além do mais, a minha ida a Paris não foi por motivo de trabalho.

— Prometo a você que não ficarei em seu caminho. Gostaria tanto de conhecer Washington, nunca estive lá.

Na verdade, nunca estivera em nenhum lugar mais longe do que a França e, se algum dia tivesse ido à América, Washington com certeza não seria a cidade de sua escolha. No entanto, por alguma razão que não sabia explicar, sentia ser imperativo que acompanhasse Peter nessa viagem. Alguma coisa lhe dizia que ele poderia precisar dela.

— Estarei muito ocupado durante quase todos os dias. O que você fará enquanto isso?

— Oh, não se preocupe comigo. Adoraria passar as férias num quarto de hotel em Washington! — inventou ela sentindo que Peter começava a amolecer.

De fato, ele não resistiu. Acabou cedendo diante da teimosia irracional de Danny.

— Você é mesmo terrível, Danielle — disse ele sorrindo. — Se conseguir estar pronta em meia hora, é o que fará nas suas férias.

Danny saiu correndo em direção à sua casa, com a intenção de demorar menos de meia hora. Tinha esperança de que essa viagem lhe esclarecesse pelo menos parte do mistério que havia em torno da morte de Sally.

 

 

O luxo de voar revelou-se uma surpresa agradável para Danny. No entanto, não imaginava que ao chegar à capital dos Estados Unidos fosse ficar quase uma prisioneira no hotel.

Rodeada pelos guarda-costas, ela recebeu ordens categóricas de Peter quanto às restrições que deveria obedecer. Nada de passeios ou excursões às lojas sem estar acompanhada por um dos guarda-costas. Nem mesmo à piscina ela poderia ir sozinha!

Apesar do cansaço da viagem, Danny estava excitada demais por estar fora da Europa pela primeira vez. Depois de percorrer inquieta a luxuosa suíte, notou que os seguranças também sentiam-se como ela: enjaulados como feras no zoológico!

Quando Peter chegou de seu encontro de negócios, a fumaça enchia a saleta. Os seguranças e Danny disputavam uma animada partida de pôquer.

— O que está acontecendo por aqui? — ele perguntou, surpreso.

— Oh! Peter... Eu já estava me preocupando com sua demora...

— Não diga! Pois me parece bastante entretida!

Ela tentou controlar a vontade de rir diante da expressão enfurecida dele. E realmente ele tinha razão... a saleta mais parecia um cassino.

Depois de dispensar os guarda-costas, Peter chamou-a para que se sentasse ao seu lado e entregou-lhe uma caixinha de uma joalheria famosa.

— Eu lhe trouxe um presente para compensá-la por ter ficado tantas horas sozinha.

— Para mim?

— Notei que você tem orelhas furadas...

Abismada, Danny fitou a belíssima jóia: um colar trançado de platina, de onde pendia um brilhante em forma de lágrima, e brincos iguais.

Naquela tarde, ao passar em frente a uma joalheria no saguão do hotel, ela vira o preço absurdo daquele conjunto e sentiu-se mal por receber um presente tão caro.

Peter notou sua expressão contrafeita e procurou tranquilizá-la.

— Sei que não poderá usá-los enquanto trabalha, mas...

— Não poderei usá-los nunca! Foi uma maneira de mostrar qual é o meu lugar na sua vida, não é? Pois saiba que eu não tenho preço!

Recuando como se tivesse levado um soco no estômago, Peter empalideceu.

— Não houve outra intenção além de dar-lhe um presente! Jamais pensei em pagamento por serviços prestados.

— E sabe a diferença entre um presente e... um pagamento?

— Sinto muito se você faz questão de interpretar mal o meu gesto. Só imaginei que ficariam lindos contrastando com seus cabelos e o pingente aninhado no vale entre seus seios. A única forma de gratidão envolvida é pela honestidade que sempre encontrei em suas atitudes.

Danny tinha vontade de retirar as palavras ofensivas. Ferira os sentimentos de Peter imperdoavelmente! Aproximando-se dele com uma expressão de arrependimento, ela se viu presa naqueles braços que lhe provocavam sensações delirantes.

— A verdade, querida, é que eu o comprei para vê-la usando... apenas o colar sobre a pele, mais nada!

Enquanto ele removia os últimos obstáculos para que suas peles nuas se tocassem, Danny reconheceu que o presente era a única maneira de um homem fechado como Peter expressar suas emoções e se entregou sem ressentimento às suas carícias sensuais. A noite alcançou a madrugada entre suspiros de prazer, onde os dois trilharam juntos um caminho ascendente à procura de êxtases, cada vez mais completos.

 

 

Na manhã seguinte, Danny evitou ao máximo se comprometer com Peter, que queria uma promessa de que ela não sairia do hotel enquanto ele estivesse fora a negócios. Afinal, estava disposta a visitar Washington e nada iria impedi-la.

Depois de muito pensar, decidiu que despistaria os seguranças tão logo Peter se retirasse. Escolheu um vestido de algodão bem leve e sandálias de salto baixo, e comunicou a Bob e Jerry que pretendia fazer algumas comprinhas nas butiques do hotel. No mesmo instante o guarda-costas John foi designado para acompanhá-la, mas, no momento em que esperavam pelo elevador, Danny lhe disse que esquecera sua bolsa no quarto. Os poucos segundos em que ele se afastou foram suficientes para que ela entrasse no elevador e descesse até o andar que ficava logo abaixo do saguão de recepção. Dirigiu-se rapidamente para o balcão de turismo, chegando a tempo de entrar num ônibus que partia para a Estação Greyhound. Era lá que, de acordo com os catálogos que havia sobre a escrivaninha de seu quarto, partiam excursões turísticas através da cidade.

Ao lado de várias senhoras e alguns casais idosos bastante simpáticos, Danny vislumbrou uma capital cuja beleza e imponência estavam além de suas expectativas. Depois de ter visitado os principais pontos turísticos, decidiu não acompanhar a excursão até o Cemitério de Arlington, onde John Kennedy estava enterrado. Tomou um táxi e foi ao Museu do Espaço, ficando muito satisfeita por ter seguido a recomendação da moça que a atendera no balcão de turismo. Pôde apreciar os mais incríveis modelos de aviões e espaçonaves, tão fascinantes que Danny só tomou consciência do tempo quando seu estômago lhe lembrou que ainda não havia almoçado.

Levou algum tempo para fazer a conversão das horas no relógio de pulso e quase se descontrolou ao perceber que havia demorado bem mais do que pretendera. Cinco e meia! Não era para menos que se sentia tão faminta! Pelo menos esperava que Peter ainda não tivesse regressado ao hotel.

 

 

Assim que saiu do elevador percebeu que alguma coisa estava errada. Onde estaria o segurança do corredor? Ora, que bobagem. Se Peter e ela não se encontravam no apartamento, não havia ninguém para ser guardado. Mas, antes mesmo de entrar, pôde ouvir a confusão que se passava lá dentro. Cautelosamente abriu a porta apenas o suficiente para notar que Don Bridgeman e Jerry Adams se encontravam nos quartos, cada um em um telefone, falando e gesticulando de maneira agitada. Caminhando a passos largos, Peter conversava asperamente com os dois estranhos que estavam com ele na sala. Um deles, alto e aparentando estar perto dos sessenta, se encontrava no sofá, e o outro, mais jovem e de aparência muito frágil, sentara-se numa cadeira. Peter provavelmente resolvera concluir seus negócios ali mesmo no hotel.

Sem desejar incomodá-los, entrou silenciosamente com intenção de ir direto ao seu quarto.

— Danielle! Onde você esteve?!

Ela ouviu a voz de Peter soar como um trovão dentro da sala.

— Numa excursão turística. Escute, Peter, não pretendia incomodá-los. Esperarei em meu quarto enquanto terminam os seus negócios. Sinto muito, cavalheiros.

Peter a olhou furioso.

— Estes "cavalheiros" são policiais, Danielle!

— Aconteceu alguma coisa grave?! Com Cheryl, Nigel? Ou com meus pais? — indagou ela aflita.

O policial mais velho levantou-se.

— Seria esta por acaso a srta. Danielle Martin, sr. Sutherland? — perguntou com voz aborrecida.

— Peter, Cheryl não está bem?! — insistiu Danny nervosa.

— Não! O problema é com você! — urrou ele segurando-a fortemente pelo braço enquanto se dirigia aos dois homens. — Parece-me que estive fazendo os senhores perderem o seu tempo, cavalheiros. A srta. Martin estava simplesmente excursionando pela cidade!

— Muito bem, senhor — disse o mais velho fazendo um sinal para o companheiro enquanto se dirigia para a porta. — Ficamos contentes que tudo tenha terminado bem.

Assim que se retiraram, Peter dispensou os dois guarda-costas, ordenando-lhes que esperassem no corredor.

Danny estava trêmula. Oh, Deus! Nunca o havia visto assim tão furioso. Falava com Don e Jerry como se eles tivessem acabado de cometer um crime. E o pior é que não tinha a mínima idéia do motivo daquele pandemônio todo!

— Peter, aqueles policiais estiveram aqui por minha causa? — perguntou num fio de voz.

— Sim!

— Sinto muito se lhe causei algum problema.

— Problema?! Onde você esteve o dia todo?!

— Conhecendo Washington, ora! Você não imagina que cidade fascinante!

— Sim, eu sei. Especialmente quando se anda por certos bairros. Você corre o risco de nem voltar viva para o hotel!

— Oh, mas eu não andei em parte alguma... ou melhor, apenas em áreas onde havia parques. A gente ouve falar em Disneylândia ou lugares parecidos para se visitar na América, mas nunca na elegância de Washington. O passeio de ônibus foi tão instrutivo...

— Você esteve num ônibus?!

— E num táxi para ir ao Museu do Espaço e voltar até o hotel. Todo mundo é tão gentil nesta cidade...

— Meu Deus, Danielle, será que você não tem nem um pouco de juízo?! Alguma coisa poderia ter-lhe acontecido enquanto perambulava por aí sozinha.

— Ora, não seja exagerado. Havia centenas de mulheres andando desacompanhadas como eu.

— Aí é que você se engana. Elas não são como você.

— Bem, eu não sou tão atraente assim, Peter.

— Para mim você é. E a estas horas há uma porção de pessoas que já perceberam isso. Foi um erro trazê-la comigo, e eu já desconfiava disto antes mesmo de termos saído de casa.

— Só porque eu dei uma fugidinha de algumas horas para conhecer a cidade?

— Porque você enganou os meus seguranças e saiu por aí sozinha! — berrou ele perdendo a paciência.

— Eles me fazem sentir claustrofobia.

— Por acaso você tem idéia do transtorno que causou com esta sua "fugidinha"? Voltei para o hotel às onze e meia para ser informado de que bastou John largá-la por alguns segundos junto ao elevador e você já havia desaparecido. Todos nós achamos que alguém poderia tê-la raptado e eu quase fiquei louco só em pensar no que lhe teria acontecido. Chamei a polícia, mas eles me disseram que ainda era cedo para fazermos suposições. Mesmo assim insisti com eles que você não iria a parte alguma sozinha, a menos que a obrigassem.

— Oh, Peter, sinto muito.

— Sente muito?! Você está brincando!

Ele agora já estava exagerando. Afinal, tudo acabara bem e não lhe acontecera nenhuma tragédia.

— Não tive intenção de preocupá-lo. Olhe, eu agora já estou de volta e está tudo bem; prometo que não farei mais nenhum passeio.

— Você está certa. Não fará mesmo, porque amanhã voltaremos a Londres.

— Já terminou seu trabalho?!

— E mesmo que não tivesse terminado iríamos embora de qualquer forma. E eu espero, para o bem deles, que John e Bob não estejam mais lá quando chegarmos.

— Bob e John?

— Sim. Eles já estão a caminho da Inglaterra.

Danny respirou fundo.

— Por minha causa?

— E de quem mais poderia ser? Você conseguiu destruir um sistema de segurança que eu pensava ser inviolável. Mas para o futuro isto não tornará a acontecer; a menor falha será imediatamente eliminada!

— Está me dizendo que despediu aqueles dois homens excelentes só porque eu deliberadamente os enganei?!

— Não me importa o que tenha feito. Isto não deveria ter acontecido.

Ela o olhou indignada sentindo o sangue ferver nas veias. Será que ele não tinha sentimentos?

— Que espécie de homem é você?! Destrói a vida das pessoas como se elas lhe valessem um par de sapatos velhos!

— Eu tive uma razão muito forte para agir desta forma.

— Oh, sim! Esta sua maldita paranóia!

Danny notou nos olhos dele um brilho de aço e teve medo de que ele a agredisse.

— Paranóico, eu?! Pois então vou lhe contar uma pequena história e então veremos se ainda me julgará um louco sem coração!

— Não foi o que eu disse...

— Fique quieta e me escute! — A voz autoritária de Peter transmitia a extensão de sua raiva. — Há dezesseis anos uma jovem da sua idade sentia o mesmo que você em relação à sua guarda pessoal; ela a evitava sempre que podia. Mas, como era casada com um homem muito rico, consequentemente se tornava alvo de bandidos que andam à solta por aí. E, apesar de você não acreditar, há centenas deles espalhados pelo mundo todo!

— Peter...

— Cale a boca e me deixe terminar, droga! Ela achava muito divertido quando conseguia escapar da vigilância de seus guarda-costas e fazia isto constantemente, se ausentando por várias horas e retornando com um ar de triunfo no olhar. Só que um dia ela não voltou. Muito tempo mais tarde o marido recebeu um pedido de resgate; o dinheiro foi pago, mas ela nunca foi libertada.

Danny tornava-se cada vez mais pálida à medida que Peter prosseguia seu relato, com a voz embargada pela emoção.

— Eu lhes paguei o que eles pediram, Danny, mas eles desapareceram sem deixar uma única pista que pudesse nos levar a Sally.

Desde o princípio Danny soubera que ele falava de sua esposa. Que tristeza! Sentia na própria pele, o sofrimento por que ele passara. E o pior é que o havia chamado de paranóico, além de tê-lo acusado uma vez de não ter noção do mundo lá fora! No entanto, Peter havia sofrido muito mais do que algum dia poderia imaginar.

— Duas semanas mais tarde — continuou ele pausadamente — um casal de adolescentes encontrou o corpo de Sally numa fazenda abandonada em Wales. A polícia concluiu que ela havia sido morta antes mesmo de os bandidos exigirem o dinheiro do resgate.

— Por favor, Peter, não prossiga — suplicou Danny transtornada pela expressão de sofrimento que havia em seu rosto.

— E então, eu tive que identificar o corpo — ele continuou como se ela não tivesse falado — e quase não pude reconhecê-la. Sally era tão linda, tão cheia de alegria. Ela amava a vida. Aquilo que eu vi no necrotério não era...

— Oh, Deus, Peter, pare, eu lhe peço — Danny abraçou-o desesperada e com os olhos cheios de lágrimas enterrou a cabeça em seu peito. — Não se torture desta forma, querido. Por favor!

— Quando voltei ao hotel hoje de manhã e soube que você havia desaparecido, tive a sensação de que iria encontrá-la no mesmo estado de Sally.

— Oh, Deus! Eu não podia imaginar que...

— Não, você não podia — disse ele asperamente afastando-a de si. — Você gosta de viver fazendo exatamente o que quer e eu não tenho o direito de tentar impedi-la.

— Peter...

— Não me envolvi com nenhuma mulher desde que Sally morreu. Foi a forma que encontrei para não causar sofrimento a mais ninguém, mas com você abri uma exceção e fui contra todos os meus princípios. Isto não tornará a acontecer.

— O que quer dizer?

— Nosso... acordo termina assim que chegarmos à Inglaterra, Danielle. Você voltará a agir da forma que lhe apraz, e eu, à minha maneira.

— Não vou permitir que se feche entre quatro paredes novamente.

— Esta escolha não é sua. Fui um tolo em deixá-la envolver-se comigo até este ponto.

— Não pode terminar tudo entre nós apenas porque não o compreendi.

— Não me importo que você me compreenda ou não. Eu não me envolvo com mulheres, e é só.

— Mas...

— Não quero mais você em minha vida, Danielle. Portanto, não adianta insistir.

Danny entendeu que dessa vez ele não voltaria atrás. Como explicar-lhe que não tinha culpa, pois não sabia nada sobre a tragédia de sua esposa? Ele jamais a entenderia; falara sério quando lhe afirmara que não se envolvia com mulheres.

 

 

Uma prisioneira em um hotel de Washington!

Era como Danny se sentia naquela noite após ter visto Peter pegar o pijama e se mudar para o quarto ao lado, deixando ordens estritas para que Don Bridgeman montasse guarda no corredor e Jerry Adams não abandonasse sua porta por um minuto sequer!

Embora compreendesse parte da angústia por que Peter passara ao presumi-la raptada, tinha de admitir que somente ele poderia saber da sua verdadeira extensão. Entretanto, ainda o amava e não pretendia se afastar apenas porque ele receava que a tragédia de sua esposa se repetisse.

O jantar lhe fora servido ali mesmo em seu quarto, fazendo-a supor que Peter não tinha intenção de deixá-la sair até o dia seguinte quando fossem para o aeroporto.

Ao perceber movimentos no quarto ao lado, Danny tomou rapidamente um banho e colocou uma finíssima camisola rosa-choque que havia trazido consigo. Teve o cuidado de vestir um robe de seda preta por cima a fim de esconder o decote provocante e a transparência do tecido, ambos revelando seu corpo totalmente nu.

— O sr. Sutherland disse para não deixá-la sair — comunicou-lhe Jerry ao vê-la abrir a porta.

Danny o olhou com malícia, caprichando num sorriso terrivelmente sedutor.

— Estou me dirigindo aos aposentos dele — murmurou ela suavemente.

— Oh!... — exclamou o guarda um tanto atrapalhado diante da insinuação de Danny. — Ele não deixou instruções a este respeito.

— Pois eu lhe asseguro que as ordens do sr. Sutherland não incluem seu próprio quarto.

— Bem, eu... eu vou perguntar a ele.

Tendo planejado surpreendê-lo, Danny preferia que Jerry não o fizesse, no entanto, não desejava causar encrencas a mais um dos seguranças de Peter. Já se sentia suficientemente culpada em relação a John e Bob.

Esperou alguns instantes enquanto eles confabulavam, desejando que Peter não a obrigasse a passar pela humilhação de ouvir um não como resposta.

— Você pode ir — disse Jerry sorrindo ao retornar.

Peter a esperava numa escrivaninha junto à janela e a olhou friamente quando ela entrou.

— Adams me falou que deseja me ver.

— Sim.

Oh, Deus, ele parecia tão distante! Onde estariam a sua coragem e a sua fibra para enfrentá-lo?

— E então? — perguntou ele impaciente.

Danny abriu o robe e ergueu a mão mostrando-lhe a gargantilha em seu pescoço.

— Vim lhe devolver isto.

— Não quero!

— Mas... — protestou ela notando uma chama de desejo nos olhos de Peter.

Apesar de zangado, ele ainda sentia uma grande atração por ela. Olhou-a de alto a baixo, visivelmente perturbado pela figura sensual que tinha à frente. Subitamente uma sombra apagou o brilho que havia em seu olhar.

— Não adianta tentar me provocar, Danielle, não vai conseguir.

— Não?

— Não! Já passei da idade de ficar enfeitiçado pela visão de um corpo feminino.

— Oh! — exclamou ela desapontada.

— Você é tão impetuosa que eu aposto que não previu esta minha reação.

— Isto sempre funcionou nos filmes. Além do mais, você me acha parecida com a Raquel Welch!

— Melhor do que ela. Mas no momento estou interessado em um tipo mais miúdo.

— Está sendo desnecessariamente grosseiro, Peter — disse-lhe ela com raiva, enquanto abria o fecho do colar e retirava os brincos, colocando-os sobre a cama.

— E esta sua atitude também é desnecessária. Já lhe disse que são um presente.

— Não acho apropriado usá-los para ir ao supermercado! Além do mais, cada vez que os olhasse me lembraria de você apoiando a cabeça em meu peito.

— Por Deus, Danielle! E você pensa que eu não sinto o mesmo?! Acha que não a quero também?!

— Então, por que...

— Porque você acabaria se machucando por minha causa.

— E como pensa que eu me sinto? Menos ferida por amá-lo e não poder estar ao seu lado?!

— Não quero que corra o mesmo risco que Sally.

— Mas você não pode me impedir de amá-lo, Peter! Trabalho em sua propriedade, nós nos veremos todos os dias!

— Se isto se tornar um inconveniente para mim, sempre haverá a possibilidade de eu me livrar de você. E sabe muito bem que eu não hesitaria em fazê-lo!

Sim, não tinha dúvidas de quanto ele era inflexível!

— Eu o amo, Peter — repetiu ela suavemente.

— Mas eu não a quero.

— Mentiroso!

— Se continuar insistindo em permanecer aqui, serei forçado a me retirar... e lhe garanto que não voltarei sozinho!

— Não teria coragem de fazer isso comigo.

— Talvez eu nem me divirta, mas pode estar certa de que farei.

Em seu íntimo, sabia que Peter não estava apenas blefando. Já o conhecia o suficiente para saber que aquele era o fim de seu sonho impossível...

— Sempre me disseram que não há nada mais doloroso — queixou-se ela quase chorando. — Agora entendo que eles têm razão.

— Eles quem?! Razão de quê?!

— Não há nada mais triste do que revolver as cinzas do passado! — murmurou ela com lágrimas nos olhos.

— Ora, Danielle. Doze horas não são tanto tempo assim.

— Para mim são uma eternidade.

— Danielle...

— Estarei pronta amanhã bem cedo. Sinto tê-lo incomodado — disse ela andando para a porta.

— Pelo amor de Deus, Danielle! Não fique assim. Entenda que eu só estou pensando em você.

Danny deu um sorriso amargo.

— Se isto fosse verdade, não teria me expulsado da sua vida. O que está querendo é evitar sofrimento para você mesmo, Peter, não para mim.

— Ainda pensa assim depois de tudo o que lhe contei sobre minha esposa?

— Sinto muito, Peter, muito mesmo. Mas Sally está morta.

— Sim, porém os homens que a mataram não estão!

— Você está sendo ridículo. Acha que após todos estes anos eles virão atrás de mim?!

— Não, se eu os pegar antes!

— Você ainda os procura?! — ela perguntou incrédula.

Peter balançou a cabeça gravemente.

— Fui informado de que um deles estaria aqui em Washington.

— E foi por isso que viemos para cá?!

— Sim. No entanto a informação estava incorreta.

Só agora entendia por que Nigel insistira para que ela fizesse Peter desistir da obsessão que o dominava por dezesseis anos. Tinha que concordar com seu cunhado; ele estava se autodestruindo.

— Devia abandonar essa idéia fixa de encontrar os assassinos de Sally — censurou-o ela.

— Não, enquanto eles estiverem soltos por aí. Sally foi morta. Só descansarei quando pegar os responsáveis por isso.

— Mas isso foi há dezesseis anos, Peter.

— Não importa. Mesmo que eu leve o resto da minha vida, não desistirei.

E ela não duvidava. Podia ver em seu rosto que ele não teria paz enquanto não atingisse seu objetivo.

— Entendo — murmurou deprimida. — Vou voltar para o meu quarto.

— Danielle...

Ela se voltou olhando-o diretamente nos olhos.

— Se preferir, não vá.

— Gostaria que eu ficasse?

— Por que não? — ele deu de ombros. — Já que estamos aqui juntos, uma noite a mais não fará diferença.

Para ela fazia! E muita!

— Não sou mais um de seus encontros convenientes, Peter. Eu o verei amanhã.

— Está bem. E, Danielle... sinto muito.

Ela também. Sentia por ele não permitir que o ajudasse a vencer o pesadelo de seu passado. Gostaria de mostrar-lhe que a vida possuía muitos encantos e que um deles era partilhar momentos de alegria com uma companheira que o amava. Porém, Peter se achava por demais obcecado com a vingança pela morte de Sally. Não aceitaria um outro amor em sua vida.

 

 

A vida no condado transcorria na mesma serenidade de sempre. Até mesmo Danny voltara ao seu ritmo normal de trabalho, embora sentisse que já não era mais a mesma. Perdera o entusiasmo e a alegria pela vida, traços marcantes de sua personalidade esfuziante.

O ruído do helicóptero lhe anunciava as idas e vindas de Peter, e ela ficava imaginando quantas dessas viagens não seriam para tratar do assunto sobre a morte de Sally em vez de negócios. Por várias vezes o procurara numa tentativa de reconciliação; em todas elas fora encaminhada diretamente ao administrador da propriedade.

A segurança em volta da mansão e em seus arredores havia sido redobrada. Don Bridgeman se encontrava sob séria ameaça de demissão caso houvesse mais um lapso, do tipo que ela provocara, no sistema. Talvez, se soubesse antes das razões de Peter exigir tanta eficiência quanto à segurança, não tivesse se portado de maneira tão inconsequente. Ou teria? No seu íntimo sabia que sim. Não era o tipo de pessoa capaz de se impor uma prisão da forma como Peter o fazia. Esperava que algum dia ele reconhecesse o absurdo dessa sua atitude e voltasse a viver normalmente.

Poucas vezes Danny viu Cheryl e Nigel durante as primeiras semanas após o casamento. Compreendia que o jovem casal precisava de um pouco de privacidade e, por isso, só os convidou para jantar quando eles regressaram de uma viagem que fizeram aos Estados Unidos.

— Você continua se abastecendo naquela mercearia em Londres? — perguntou-lhe Cheryl ao se servir de mais uma fatia de bolo de café.

— Pssiu! Nigel pensa que fui eu quem preparei tudo — disse Danny franzindo as sobrancelhas.

— E não foi?! — exclamou ele fingindo-se surpreso.

— Ora, Cheryl, você contou a ele!

— Apenas lhe aconselhei a trazer um digestivo no bolso caso você resolvesse preparar o jantar.

— Não pode se gabar de ser melhor do que eu, minha querida irmã.

— Ah, mas eu não preciso mais me preocupar com isso — reagiu Cheryl, referindo-se à cozinheira que acabara de contratar.

— Como estão indo na casa nova? — perguntou Danny ao sentarem-se na sala para o café.

— No início ficamos um pouco confusos, mas agora já está tudo maravilhoso.

— Alguém perguntou por você quando estivemos fora, Danny — disse-lhe Nigel.

— Por mim? Não conheço ninguém nos Estados Unidos.

— Nem Paul Banyon?

— Bem, nós nos encontramos apenas brevemente — respondeu ela notando o ar intrigado de Nigel.

— Pode ter sido breve, mas ele me garantiu que foi memorável! Importa-se de nos contar o que aconteceu?

— Não!

— Está aguçando a minha curiosidade, Danny. Paul ficou muito desapontado por você não ter ido conosco.

— Ido aonde?

— Ao casamento de sua filha Clarissa — explicou Cheryl. — Lembro-me de ter dito a você que era este o motivo da nossa ida à Califórnia.

Danny tinha uma vaga idéia de Cheryl tê-lo mencionado, mas ultimamente não prestava muita atenção em assuntos que não fossem de seu interesse.

— Clarissa estava linda, parecia um anjo. Nunca vi um vestido tão encantador.

— Querida, tenho certeza de que o seu será ainda mais bonito. A calcular pelo tempo que você gasta na modista!

— Hum, este é um mau sinal, Cheryl. Ele já está se queixando dos seus gastos com roupas — brincou Danny.

— Sua agitadora! Eu estava apenas me referindo ao tempo que ela fica longe de mim.

— Hum, mas que diplomacia! — Danny riu.

— Com uma cunhada como você eu preciso de armas para me defender.

— Não se preocupe, querido, já estou acostumada com o senso de humor irônico de Danny — tranquilizou-o Cheryl.

— Ainda estou aguardando que ela nos conte até que ponto conhece Paul Banyon — insistiu Nigel.

— Eu já lhe disse, apenas o vi uma vez — esquivou-se Danny meio sem jeito.

— Neste caso, ele me fez perguntas muito estranhas a seu respeito.

— O que quer dizer?

— Paul queria saber se você ainda mora nos fundos do jardim da casa de Peter.

— Não vejo nada de estranho nisso — disse ela, procurando demonstrar naturalidade. — Ele sabe que sou a jardineira da propriedade.

— Mas depois ele quis saber se você ainda andava acompanhada por dois cães. Ora, Danny, que eu saiba você não tem cachorros, ou tem?

Ela sentiu suas faces arderem de tão coradas.

— Você sabe que não — murmurou ela.

Na verdade Paul Banyon desejava saber através daquelas perguntas se ela ainda era a garota de Peter.

— Devia ter ido conosco ao casamento de Clarissa — falou Cheryl.

— Mal conheço aquele homem e não tenho a menor idéia por que ele ficou desapontado por eu não ter ido. Nem fui convidada.

— Ele nos disse que lhe enviou um convite, mas que você não aceitou.

Isto não era verdade, ou melhor, sabia muito bem por que motivo não o havia recebido.

— Provavelmente o convite era extensivo a Peter e ele o recusou por nós dois.

— Oh, querida, nós não havíamos pensado nisso. Sinto muito — desculpou-se Cheryl embaraçada.

— E por que deveria? Nunca tive esperanças de que nosso relacionamento durasse para sempre.

— Mas você o amava.

— E ainda o amo. Mas ele criou uma barreira a sua volta e nem mesmo eu tenho permissão para transpô-la. Ele me contou tudo sobre a morte de Sally e, embora eu entenda o quanto tem sofrido, não aceito que ele viva eternamente achando que todas as pessoas ao seu redor constituam uma ameaça à sua segurança.

— E é o que Peter tem feito desde que Sally foi morta — disse Nigel com tristeza.

— Eu sei. Porém, penso que sua obsessão em encontrar os sequestradores dela é totalmente sem sentido. Se ainda não foram capturados, duvido que o serão.

— A menos que ajam novamente — opinou Nigel.

— Não acredito! — reagiu Danny com veemência.

— Cheryl, que tal você preparar-nos um outro café? — sugeriu Nigel tentando mudar o assunto. — Afinal, Danny passou a tarde toda à beira do fogão!

No momento em que Cheryl voltou com a bandeja, os dois conversavam animados sobre a cerimônia do casamento deles, que seria no próximo mês.

— Gary concordou em vir — comentou Cheryl entusiasmada. — E disse que trará uma das enfermeiras do hospital!

Olhando para a irmã com carinho, Danny constatou que ela realmente estava feliz com o fato de seu ex-noivo haver superado o problema e não lhe guardar rancor.

Apenas um detalhe atormentava o coração de Danny: Peter também compareceria à cerimônia, pois seria o padrinho de Nigel. Depois de tantas recusas em recebê-la, ele com certeza não via com bons olhos um provável reencontro com a mulher que o amava.

 

 

Quem poderia estar esmurrando a sua porta àquela hora da madrugada?! Oh, Deus, já eram seis horas da manhã! Teria acontecido alguma desgraça com a família? Ou com Peter? Danny voou pelas escadas em disparada, mal tocando os degraus com os pés. Abriu a porta assustada, ainda amarrando o cinto de seu robe.

— Nigel! Cheryl está bem?!

— Está em casa dormindo tranquila após ter conseguido que eu viesse até aqui falar com você.

— Entre. Quer que eu lhe prepare um café?

— Talvez mais tarde. Vim lhe falar sobre Peter.

— Ele está ferido?! — perguntou tornando-se pálida. — Me diga!

— Calma, Danny. Tanto quanto sei, ele também está dormindo.

Danny suspirou aliviada e sentou-se numa cadeira ao lado de Nigel.

— O que o preocupa? — perguntou ela notando o olhar perturbado de seu cunhado.

— Consciência pesada, eu acho.

— Por quê?

— Tinha esperanças de que Peter, após tê-la conhecido, abandonasse essa idéia absurda de vingança. Na verdade, você foi a única mulher que teve algum significado na vida dele, além de Sally. Ele nunca levou uma companhia feminina em suas viagens de negócios.

— Sim, mas não foi bem este o motivo da nossa ida a Washington. Ele pretendia encontrar os sequestradores.

— Foi o que pensei quando você nos disse que Peter lhe contou sobre Sally.

— E então? — perguntou Danny sentindo que ele queria revelar-lhe algo muito importante.

— Como já sabe, estive na Alemanha no mês passado e...

— Encontrou-os?

— Penso que sim. Um deles.

— Não tem certeza?

— Absoluta não, mas é provável que seja.

— E por que não contou a Peter?

— Porque não desejo que ele continue com essa estupidez. Você sabe o que é vê-lo girar em círculos por dezesseis anos, consumindo-se lentamente?

— Mas ele tem o direito de saber, Nigel, e mesmo que você não o diga Peter não vai desistir enquanto não encontrá-los.

— O tal homem está na prisão há dois anos e foi por isso que não pude vê-lo. Alguma coisa saiu errada durante um sequestro e ele acabou matando a mulher que tinha como refém.

— E como você soube de tudo isto?

— Investigações. Há muito tempo Peter vem montando um esquema através do qual obtemos informações sigilosas de várias pessoas contratadas para tal.

— Então por que motivo ele não foi avisado sobre este homem?

— Simplesmente porque fui eu quem recebi a mensagem. E, como pensei que fosse mais um alarme falso, decidi investigar primeiro para que Peter não sofresse mais uma decepção.

— Só que ele é realmente o homem, não?

— Tudo indica que sim. E Peter não descansará enquanto não conseguir que ele e os outros cúmplices sejam incriminados pela morte de Sally. Isto pode se arrastar por muitos anos!

— Sendo assim, você não estará fazendo nenhum favor a ele escondendo a verdade. Talvez seja melhor contar-lhe tudo de uma vez, Nigel, assim ele acaba logo com este contra-senso — aconselhou ela afetuosamente, colocando a mão sobre seu braço.

— Eu tinha um pressentimento de que você me diria isso. Cheryl também é da mesma opinião — disse Nigel com desânimo. — Você já imaginou o que ele será capaz de me fazer quando souber que não lhe contei a verdade?

— Pois explique a ele os seus motivos. É possível que entenda por que tomou essa atitude.

— Não acredito. Que tal um café agora, hum?

Enquanto esperava que Nigel regressasse da casa de Peter, Danny praticamente acabou com a garrafa de café.

Entendia muito bem a atitude do cunhado. Talvez no lugar dele tivesse feito o mesmo, embora soubesse qual seria a reação de Peter.

 

 

Passou-se quase uma hora antes que Nigel voltasse e ela pôde ver pela palidez de seu rosto que a conversa não fora das mais agradáveis.

— Café? — ofereceu-lhe ela enquanto sentavam-se à mesa da cozinha.

— Sim, obrigado.

Danny esperou em silêncio que ele tomasse vagarosamente a bebida quente e confortante antes de lhe dirigir um olhar inter-rogativo.

— E então?

— Ufa! Agora entendo o verdadeiro significado da expressão "esfolar vivo". Ele não me tocou, mas me sinto como se tivesse levado uma surra.

— Ficou muito zangado?

— Furioso seria o termo exato. Não posso acreditar que não tenha ouvido daqui os berros dele. Nunca o vi tão possesso.

— E...

— Depois da explosão, acreditou estarmos na pista certa.

Danny mordeu o lábio inferior.

— E o que ele pretende fazer a respeito?

— Está de saída para a Alemanha — respondeu Nigel gravemente ao ouvir o barulho do helicóptero deixando o condado.

 

 

Os dias que antecederam a volta de Peter foram os piores da vida de Danny. E os mais longos também.

Certamente, Peter agora iria desistir da vingança e talvez nem mesmo tentasse incriminar o homem, como pensava Nigel. Mas, por outro lado, recordando-se da expressão amarga de seu rosto nas últimas vezes em que o vira, Danny ficava em dúvida se ele realmente esqueceria, caso não fosse feita a justiça. E uma justiça que o deixasse plenamente satisfeito!

Talvez Nigel estivesse certo ao tentar esconder-lhe os últimos fatos, embora soubesse que esta não era uma decisão a ser tomada por ninguém além de Peter.

Na noite do quarto dia ouviu o ruído do helicóptero que retornava e, mesmo sabendo que isto não significava necessariamente a volta de Peter, decidiu ir até a mansão. Don Bridgeman a aguardava na porta e, assim que o viu, teve certeza de que Peter havia regressado.

— O sr. Sutherland mandou dizer que a espera em seu escritório.

— Obrigada, Don, eu sei o caminho — disse ela surpresa, não só por Peter ter adivinhado que ela viria vê-lo como também por não ter se recusado a recebê-la, como vinha fazendo ultimamente.

Danny entrou e ficou alguns instantes embaraçada no meio da sala. Se ultimamente se achava abatida pela angústia que a consumia, ficou chocada ao ver o estado em que se encontrava Peter. Ele parecia doente. Seus olhos fundos e sem brilho davam um ar cansado ao rosto cavado e pálido. Sem dúvida ele havia emagrecido muito.

— Peter... — exclamou ela, mal conseguindo disfarçar sua tristeza.

— Eu estou bem, Danielle — disse ele asperamente como se tentasse impedi-la de sentir pena dele.

Oh, como gostaria de correr e abraçá-lo, oferecer-lhe um ombro amigo para que ele pudesse chorar toda a dor que sentia no peito! Infelizmente não era isso o que ele desejava. Infelizmente ele não queria amor ou compreensão. Havia em seu semblante uma espécie de fragilidade emocional que o faria rejeitar qualquer ato de benevolência. Ele estava como um animal machucado que prefere ficar sozinho para lamber suas feridas.

— Era ele, Peter?

— Não.

— Tem certeza?!

— Tenho. Deseja uma bebida?

— Um pouco de conhaque, obrigada. Nigel estava tão certo sobre...

— Ele poderia ter evitado toda essa confusão se tivesse me avisado antes. Nigel não tinha o direito de me esconder nenhuma informação!

— Ele o ama, Peter.

— Pois tem uma maneira muito estranha de demonstrá-lo!

— Se você se olhasse no espelho, não pensaria assim.

— O que quer dizer?

— Peter, você parece doente!

— Você também pareceria se tivesse conversado com aquele animal! — Ele a olhava como se não a estivesse vendo. — Aquele monstro matou uma mulher e mesmo assim não sente o menor remorso por tê-lo feito!

— Conte-me tudo — encorajou-o ela sabendo de sua necessidade de desabafar.

— O homem não tem consciência. E nem sentimentos, já praticou inúmeros sequestros, embora não o de Sally, graças a Deus! — ele respirava com dificuldade. — Eu o teria esganado com minhas próprias mãos se soubesse que era ele o responsável pela morte dela. O que mais me tortura é pensar que o verdadeiro culpado pode ser uma pessoa dessa espécie!

— Venha cá, Peter — disse Danny puxando-o gentilmente pela mão para que se sentasse ao seu lado no sofá. — Gente desse tipo não tem sentimentos. Escute, querido, você não vê que é melhor desistir? É inútil continuar procurando por esses homens.

— Desistir?! Nunca. É em momentos como estes que eu me sinto capaz de cometer um assassinato!

Danny arregalou os olhos.

— Você... você não faria uma loucura destas, não é?

— Não. Eu não me colocaria no mesmo nível deles. Mas cuidarei para que paguem pelo crime que cometeram.

— Não acha que já dedicou muitos anos de sua vida a esta loucura?

— Como você mesma me disse uma vez, eu ainda sou jovem.

— Sally não gostaria...

— O que você sabe para dizer se minha esposa gostaria ou não de alguma coisa?! Estivemos casados durante mais de um ano, eu a amava, portanto devo saber muito mais do que uma jovem com quem apenas dormi algumas noites!

Danny não reagiu sabendo que o motivo daquela agressão deliberada era o estado emocional em que ele se encontrava.

— Sinto muito, Peter — murmurou erguendo-se para sair. — Você tem razão, eu certamente não poderia saber o que Sally pensava.

— Oh, Deus, o que estou fazendo? — disse ele desesperado, cobrindo os olhos com ambas as mãos. — Por favor, Danielle, desculpe-me. Não se vá.

— Deve estar querendo ficar só.

— Não! Esta é a última coisa de que preciso. Fique comigo esta noite, Danielle. Me conforte com o seu calor e me ajude a perceber que ainda existe amor neste mundo, que aquele monstro não pode ser chamado de gente!

Ela não se importava em estar sendo solicitada apenas para lhe oferecer um pouco de calor humano. Seu amor por aquele homem sofrido e amargurado não tinha preconceitos.

— É claro que ficarei com você, Peter — tranquilizou-o com suavidade.

Ele a envolveu em seus braços, murmurando um agradecimento por sua compreensão.

— Você já jantou? — perguntou ela preocupada.

— Não estou com fome.

— Peter, Sally está morta há muitos anos. Deixar de se alimentar não vai mudar esta realidade.

Ele sorriu tristemente.

— Isto me soa como uma mãe falando ao seu garotinho.

E era como Danny se sentia naquele instante. Desejava protegê-lo e acalentá-lo, afastar qualquer sofrimento que pudesse magoá-lo ainda mais. Sua avó sempre lhe afirmara que quando uma mulher ama um homem ela se torna, para ele, parte mãe, parte amante e parte esposa, fá conhecia a alegria e a dor dos dois primeiros sentimentos; quanto ao terceiro, jamais saberia.

— Quando foi a última vez que fez alguma refeição decente? — insistiu ela.

— Ontem. No café da manhã.

— Então, você vai jantar agora. Depois, vamos andar um pouco para acalmar as idéias e em seguida iremos para a cama.

Ele franziu as sobrancelhas.

— Quanto a ir para a cama...

— Não se preocupe. Não estou esperando nada de você além de um pouco de calor — assegurou-lhe ela suavemente, sabendo que nesta noite suas lembranças estariam vivas demais para que ele pudesse pensar em alguma outra mulher além de Sally.

 

 

Ele parecia bem mais disposto após ter comido e aceitou com prazer uma volta pelos jardins da mansão.

— O que tem feito para se manter em forma? — brincou ele gentilmente.

— Ainda corro. Só que agora uso as estradas.

— E isto é seguro?

— Oh, sim. Não há muito tráfego.

— Não é aos automóveis que me refiro.

— Escute, Peter, a razão de você ter me atirado fora de sua vida foi porque...

— Não foi o que eu fiz!

— Muito bem. Você me pediu para deixá-lo. E isto por eu ter me tornado uma preocupação para você. Agora, é minha a escolha de andar sozinha pela estrada ou não.

— É uma irresponsabilidade e você poderia ser atropelada! Essas estradas mal dão para passar um carro, que dirá com um pedestre!

Ambos sabiam que não era esse tipo de perigo a que ele se referira anteriormente.

— Elas são bastante desertas às onze horas da noite.

Seus olhos se encontraram por uma fração de segundo. Peter estava profundamente perturbado.

— Danielle...

— Peter!

— Vamos voltar para casa.

Danny sabia que depois daquela conversa as intenções de ambos tomaram um novo rumo. Ele não mais a desejava apenas como conforto e, amando-o da forma como o amava, não poderia recusá-lo.

Abraçou-o com ânsia no momento em que se deitaram, suas bocas se encontrando com avidez, num desejo intenso, quase selvagem.

Foi uma noite mágica, mesclada de murmúrios de prazer, carícias ardentes e corpos se fundindo num só.

Mas o encanto foi quebrado tão logo Peter lhe comunicou no dia seguinte que partiria para Londres. Danny não lhe perguntou o motivo, sabendo que era importante para ele concentrar no trabalho todas as forças que lhe restavam. Em seu íntimo, já adivinhara que aquela noite não havia mudado em nada o relacionamento deles.

— Quando estará de volta? — perguntou num fio de voz.

— Ainda não sei.

— Acho melhor eu me vestir.

— Danielle... Foi um erro você ter ficado comigo esta noite. Devia ter ido embora quando percebeu que eu não desejava mais nada além do seu consolo.

— Eu o amo.

— Ainda?

— Sempre.

— Gosto muito de você, mas não quero magoá-la.

— Então desista dessa loucura.

Ele afastou-se bruscamente.

— Não posso.

— Peter, se eu estivesse no lugar de Sally, não gostaria que você continuasse se punindo desta forma. Preferia vê-lo tocando a vida em frente e aceitando o fato de que não se pode mudar o passado.

— Você não compreende — disse ele calmamente vestindo o roupão. — Ninguém compreende.

— É melhor que eu me vá — murmurou ela sabendo que ele tinha razão.

— Seja cuidadosa.

— Você também.

— Não se preocupe comigo. Eu sou o eterno sobrevivente.

Não poderia deixar de se preocupar com ele enquanto o visse persistindo nessa sede de vingança que o consumia há dezesseis anos.

 

 

A cerimônia do casamento de Cheryl e Nigel foi muito comovente e, embora eles parecessem bastante compenetrados no momento de fazerem os votos, Danny sentiu que o primeiro compromisso fora para eles mais significativo do que este.

Durante a recepção Danny observou que Peter tinha um aspecto doentio e estava bem mais magro do que há três semanas, quando o vira pela última vez.

— Ele está péssimo, não acha? — Ela ouviu uma voz vagamente conhecida falar atrás de si quando se servia de uma taça de champanhe.

— Paul Banyon! — ela o cumprimentou calorosamente. — Não esperava vê-lo aqui. Clarissa também veio?

— Não. Depois que descobriu os prazeres do casamento, ela e o marido raramente saem do quarto.

Danny não pôde conter um sorriso.

— É bom saber que eles estão felizes.

— Pelo que vejo, Cheryl e Nigel também estão — observou o texano, olhando para o feliz casal que circulava entre os convidados. — Apenas você e Peter me parecem um pouco tristes.

— Somos amigos.

— Era o que eu imaginava. Posso concluir que a perda de Peter significa uma esperança para mim?

— Peter não perdeu nada — disse-lhe Danny, sem disfarçar seus sentimentos.

— Que pena! Obviamente ele não avalia o que está desprezando.

— Incomoda-se de mudar de assunto? — ela pediu irritada.

— Certamente. O que acha do meu charme devastador?

— O que eu acho? Hum... Bem... — E sorriu, cada vez mais cativada pela simpatia daquele homem cujo charme era mesmo irresistível.

Ele fez uma careta.

— É... parece que não funcionou.

— Não particularmente.

— Onde estão os cachorros?

— Provavelmente no canil. Ou talvez por aí em algum lugar, cumprindo suas tarefas — acrescentou, sabendo que Peter não havia dispensado seus seguranças nem mesmo quando estiveram na igreja. — Você não tem guarda-costas?

— Não. Acho terrivelmente sufocante andar seguido por duas babás o tempo todo. Embora eu compreenda as razões de Peter para tal.

— Você sabe sobre Sally?

— Sim. A notícia de sua morte saiu na primeira página de todos os jornais e o fato de seu corpo só ter sido encontrado duas semanas mais tarde foi motivo de novas manchetes sobre o assunto. Até que, com o tempo, todos se esqueceram e ela se tornou apenas mais uma tragédia de ricos.

— Não para Peter.

— É natural, ela era a esposa dele. Se houvesse acontecido comigo um fato semelhante quando me casei, eu também ficaria muito abalado. E, embora eu esteja separado de minha esposa, não gostaria de vê-la morta.

— Mas...

— Escute, doçura, você não pode mudar o passado de um homem. Pode apenas tentar modificar o presente — ele segurou carinhosamente em seu braço. — Sinto que você e Peter estão sofrendo muito por estarem separados.

Danny não podia contar a ele o verdadeiro motivo de seu rompimento. Peter lhe dissera que sua busca dos assassinos de Sally era um assunto confidencial. Provavelmente ninguém mais sabia, além dos familiares mais próximos.

— Peter prefere não assumir a responsabilidade de um novo amor em sua vida — ela disfarçou.

— Você não me deu a impressão de ser vulnerável a um argumento destes.

— O que quer dizer?

— A mulher que eu vi entrar naquela sala com os dois cães não me pareceu do tipo que desiste fácil. Se o seu objetivo antes era lutar por ele, por que não agora?

Sim. Por que não agora? Simplesmente porque Peter não a queria. Não, não era verdade e ela sabia muito bem que ele ainda a desejava. E também sabia que alguém precisava fazê-lo esquecer o passado ou pelo menos tentar aceitá-lo.

Nada havia mudado desde aquela noite, quando estava disposta a enfrentar uma outra mulher por causa de Peter; apenas agora seu adversário era outro.

— Obrigada, Paul — disse ela beijando-lhe o rosto com ternura. — Estive muito confusa achando que devia aceitar a vontade de Peter, mas você acabou de me abrir os olhos. De hoje em diante, mesmo que ele me evite, não abrirei mão de lutar pelo nosso amor.

— E você pode começar isto agora mesmo — cochichou-lhe Paul. — Peter está vindo para cá.

Danny virou-se no exato momento em que ele se aproximava. Sua expressão era rígida, seu olhar, frio.

— Alô, Paul — cumprimentou ele secamente. — Não imaginava que vocês dois tivessem mantido contato um com o outro.

— Oh, Danny e eu somos grandes amigos.

— Já percebi — ele falou irritado.

— Duvido — brincou Paul fazendo uma careta. — Bem, espero que vocês dois me dêem licença, vou cumprimentar os noivos — e antes de sair tocou levemente o queixo de Danny. — Eu a verei mais tarde, boneca.

Depois que ele se afastou, Danny e Peter permaneceram lado a lado em silêncio, nenhum dos dois desejando ser o primeiro a falar, até que ela não pôde mais se conter.

— Foi uma cerimônia linda, você não achou?

— Sim.

— Sua mensagem aos noivos comoveu a todos nós.

Ele inclinou ligeiramente a cabeça em sinal de agradecimento.

— Você está muito bonita de lilás.

— Obrigada.

— Danielle — disse ele mudando bruscamente o tom de voz. — Não acho que deva se envolver com Paul.

O coração de Danny deu um salto. Jamais sonhara que o método de lutar pelo amor de Peter pudesse ser o ciúme. Sim, porque estava mais do que evidente, pela raiva estampada em seu rosto, que ele se irritara ao vê-la na companhia do charmoso homem do petróleo.

— E por que não? — perguntou então com um ar inocente.

— Porque Paul é um conquistador inveterado.

— E por que razão isto deveria afetá-lo?

— Não me afeta. Apenas não quero que você acabe se magoando.

— Outra vez, você quer dizer?

— Danielle, jamais tive a intenção de feri-la.

— Mas conseguiu.

— Eu lhe avisei para não se apaixonar por mim.

— E o que eu posso fazer se meu coração não o ouviu?

Ele a olhou muito sério.

— Eu nunca deveria ter me envolvido com você.

— Não — admitiu ela suavemente, notando que ele a olhava desconfiado.

— Concorda?

— Sim.

— Então você admite que foi um erro termos nos tornado amantes?!

— Não foi o que eu disse. — Ela sacudiu a cabeça. — Nunca me arrependerei de amá-lo.

— Danielle, eu jamais me permitirei retribuir esse amor.

Aí estava o problema. Ele nem mesmo desejava se dar uma chance de voltar a amar novamente.

— Peter, entendo suas razões para tomar essa atitude, mas hoje decidi que vou me casar com você, mesmo que tenha de esperar até nos tornarmos velhinhos e de cabelos brancos! Um dia acabará entendendo que não pode viver sem mim e então estarei a sua espera em minha casa, no fundo do seu jardim.

Peter respirou fundo.

— Eu nunca a amarei.

— Não mesmo? — sorriu ela gentilmente.

— Não!

— Então não se importará se Paul passar esta noite comigo? — provocou-o, sabendo que seu admirador não hesitaria em fazê-lo, caso o convidasse.

Peter segurou-a fortemente pelo braço.

— Você não se atreva! — disse, rangendo os dentes.

— E por que não? Eu disse que pretendo esperar a vida toda se for necessário para me casar com você. Mas não afirmei que seria sozinha.

Visivelmente irritado, ele apertou-lhe o braço ainda mais, como se tivesse medo de que ela cumprisse o que havia sugerido.

— Danielle!

— Sim? — disse ela erguendo as sobrancelhas.

— Droga! — Peter a soltou bruscamente e foi embora, deixando-a ali sozinha e apreensiva.

Achou que acabara de cometer a maior tolice de sua vida. Afinal, naquela noite com os Banyon, embora tivesse agido por impulso, pelo menos fora sincera; o mesmo não poderia dizer agora. Valeria a pena arriscar tanto numa atitude tão fingida?

 

 

Droga! E se Peter não viesse vê-la esta noite, acreditando que estaria com Paul? Não devia tê-lo desafiado tanto, ele ainda não estava preparado para enfrentar uma situação dessas. Sua atitude fora muito precipitada e agora, arrependida, sentia medo de não haver mais esperanças para eles.

Em pé, no escuro, ao lado da janela de seu quarto, podia ver as luzes ao redor da piscina. Com certeza Peter deslizava suavemente através da água, executando movimentos precisos e elegantes. Já passava das onze horas. Será que ele ainda viria até sua casa ou decidira dar vazão à raiva nadando até a exaustão?

Tensa demais para dormir, desceu até a cozinha, decidida a encontrar alguma distração que afastasse Peter de seus pensamentos. Cortar grama estava totalmente fora de questão esta noite!

Já estava em sua terceira xícara de café quando ouviu um ruído no jardim seguido de uma forte pancada na porta dos fundos. Que bom, Peter viera!

Assim que Danny abriu a porta ele passou ao seu lado como um furacão, obrigando-a a se apoiar na mesa para não perder o equilíbrio. Como na primeira vez em que o vira, ele usava apenas o minúsculo maio preto, e seus cabelos, ainda úmidos, caíam revoltos sobre a testa, dando-lhe aquele ar selvagem que ela tanto adorava, mas que agora não era apenas um ar...

— Muito bem, onde está ele?!

— Psiu! Você vai acordar...

— Não se preocupe, vou fazer justamente o contrário. Vou desacordá-lo! — interrompeu-a ele furioso.

— Meus pais estão dormindo — explicou Danny com paciência.

— O quê?! Está me dizendo que seus pais ficaram aqui com você?!

— No quarto de hóspedes. Mas, querido, você está gelado... não se enxugou depois de nadar?

— Não! O vento se encarregou de fazê-lo enquanto vinha para cá! Escute, Danielle, quero saber...

— Vai pegar uma pneumonia — ralhou ela enquanto ia buscar uma toalha. — Pronto, aqui está.

Ele a ignorou.

— Recebeu Paul em sua cama mesmo tendo seus pais aqui como hóspedes?!

— Sim e não — disse ela enquanto friccionava suas costas com a toalha.

— Explique-se melhor — ele exigiu impaciente, afastando-a de si.

— Sim, meus pais estão aqui; e não, Paul não está em minha cama.

— Mas você me disse que... Ora, você mentiu para mim!

— Não menti. Apenas perguntei se você se incomodaria que Paul passasse esta noite aqui e, como sua resposta obviamente foi afirmativa, ele não veio.

— Mas você pretendia mesmo ir para a cama com ele se a minha reação fosse outra?

— Não, mas, por favor, Peter, não se zangue, eu apenas queria provar a você o quanto se importa comigo.

— Eu devia ficar furioso com você — disse ele envolvendo-a em seus braços —, mas estou tão aliviado em saber que não há nada entre você e Paul que seria impossível ficar zangado. Você tem razão, Danielle, eu a amo. E só em pensar que um outro homem poderia tocá-la sinto ímpetos de matá-lo.

Aninhada em seu peito forte e acolhedor, Danny sentiu-se ainda mais protegida ao ouvir o tom possessivo de suas palavras.

— E eu me sinto da mesma forma em relação a qualquer outra mulher em sua vida.

— Não tem havido nenhuma desde a primeira que passamos juntos — murmurou ele, desabotoando a camisola de malha que a cobria do pescoço aos pés. — Assim que a vi, achei esta sua roupa comportada demais para o que tinha em mente esta noite! — acrescentou ele, descobrindo-lhe os seios e a suave curva da cintura.

Deliciada, Danny sorriu, cheia de mistérios.

— Eu a vesti esperando que você viesse até aqui.

— Estava tão certa assim? — perguntou ele intrigado.

— Era a minha última esperança. Caso contrário...

— Seus planos todos iriam por água abaixo. — Ele a abraçou com ternura. — Oh, meu amor, eu não estou zangado. Estas últimas semanas sem você têm sido um inferno para mim.

— Por isso está tão magro?

— Como poderia comer se o que mais desejava era estar ao seu lado? Alguém precisava me dar uma sacudida e estou contente que tenha sido você. Tenho pensado muito desde que rompemos; sobre a morte de Sally, sobre estes anos todos e sobre as mudanças que ocorreram em mim. Antigamente, eu era como você, Danielle, não gostava de me sentir tolhido em meus movimentos e acho que foi por este motivo que nunca consegui ficar realmente bravo com Sally por ter se esquivado dos guarda-costas. Talvez em seu lugar eu tivesse feito o mesmo.

— Peter, se for importante para você eu não me incomodo em ter um guarda-costas — disse-lhe ela sabendo que faria o impossível para vê-lo tranquilo. — Se a princesa Diane pode acostumar-se, eu também poderei — brincou para deixá-lo mais à vontade.

— Estou certo que sim. No entanto, sei que detestaria. E, enquanto eu não puder dispensar todo o meu pessoal da segurança, desejo fazer um acordo com você.

— De que tipo? — perguntou ela apreensiva.

— O que acha de um filhote de doberman? Uma das irmãs de Kilpatrick e Ferdinand acabou de dar cria a uma ninhada de seis e, como sei que você adora cachorros, penso que Danton poderia treinar um para você.

Ele a olhava ansioso e Danny entendeu o quanto era importante que ela dissesse sim.

— Vou começar a pensar em um nome bem sugestivo. Que tal Átila? Ou talvez Gêngis?

— Prefiro Rover.

— Você não tem mesmo imaginação. Um cão tão feroz quanto um doberman exige nomes mais significativos. Mas tudo bem; que seja Rover.

Danny sentia-se aliviada ao pensar na vitória que conseguira, quando poderia ter perdido tudo numa jogada insensata.

— A morte de Sally me chocou profundamente — admitiu ele tenso — e, à medida que os anos se passaram, foi se tornando um comodismo não ter de me preocupar com mais ninguém além de mim mesmo. Só que agora percebo que, na verdade, não queria assumir a responsabilidade de uma outra pessoa em minha vida.

— Sim. Eu o compreendo.

— No entanto, eu a desejei desde o primeiro momento em que a vi, e sabia que não ficaria em paz enquanto não a tivesse. Foi apenas quando, naquela noite, você entrou em casa furiosa, acompanhada de Ferdinand e Kilpatrick, que comecei a suspeitar que estava me apaixonando por você. E mesmo assim não pude evitá-lo. Você esteve magnífica, Danielle, parecia uma deusa que viera clamar por seu amante. Infelizmente eu ainda não havia percebido o quanto desejava que você o fizesse. Só mais tarde, em Washington, foi que entendi que a amava de verdade.

— Peter...

Ele a olhou com intensidade, demonstrando toda a dor que aquelas lembranças lhe causavam.

— As horas em que você esteve desaparecida foram as piores que passei em minha vida, Danielle. As piores. Tenho vivido todos estes anos, desde que Sally morreu, tentando me punir ao me negar o direito de amar novamente. Mas mesmo com você longe de mim continuei preocupado e querendo protegê-la. O que me impedia de aceitá-la em minha vida era o meu sentimento de culpa em relação à morte de Sally.

— Querido, você não é responsável pela morte dela apenas porque a amava. Assim como ela também não morreu apenas porque o amava. Sally foi morta por uma razão que escapa ao seu controle.

— Porque ela era minha esposa.

— Sally poderia ter morrido atropelada por um ônibus! Esconder-se numa casa num momento de tempestade não vai impedir que uma árvore desabe sobre ela. Não se pode fugir aos perigos da vida, deve-se apenas respeitá-los.

— Você é sábia, Danielle — murmurou ele, beijando-a levemente nos lábios. — Entendeu por instinto o que eu levei dezesseis anos para compreender.

— E o que vai fazer sobre aqueles homens agora?

— Gostaria de lhe dizer que vou desistir da minha busca, no entanto sei que não seria verdade. De qualquer forma, não deixarei que isso interfira em minha vida... em nossa vida.

— É tudo o que lhe peço — disse Danny satisfeita com a honestidade dele, pois sabia que Peter jamais desistiria completamente daquilo.

— E tudo o que lhe peço é que se case comigo e continue me amando pelo resto de nossas vidas — murmurou ele, olhando-a intensamente.

Danny não respondeu. Não havia necessidade de pôr em palavras o que ela poderia transmitir-lhe com mais intensidade através de um beijo.

O amor de Peter já não era mais um sonho impossível. Era uma realidade que acabara de se tornar possível!

 

 

Caminhando lentamente para frente e para trás, Danny já nem mais prestava atenção no cortador de grama à sua frente ou nos movimentos que fazia. Seus pensamentos estavam em Peter, que se achava trancado na biblioteca conversando com dois policiais.

Os dois homens haviam chegado pouco antes de Peter retornar de um encontro de negócios e, por mais de meia hora, Danny os entretivera na sala de estar, curiosa para saber por que motivo eles desejavam falar com o homem que há três anos se tornara seu marido.

Haviam se casado na mesma igreja que Cheryl e Nigel, apenas dois meses após o casamento deles. E, apesar de isto já fazer três anos, ela se sentia cada dia mais feliz ao lado de Peter, que estava mais alegre e descontraído. Às vezes podia até jurar que ele passava semanas inteiras sem ao menos se lembrar da morte trágica de Sally.

E justo agora, quando tudo parecia caminhar tão bem, apareciam essas drogas de policiais querendo falar com Peter. Sua intuição feminina lhe dizia que essa visita iria mexer numa ferida que já estava quase cicatrizada.

Desligou o cortador para andar um pouco pelos jardins. Talvez uma boa caminhada ao lado de Rover, seu fiel amigo, a deixasse menos tensa. Rover havia chegado a sua casa com apenas três meses de idade e fora treinado por ela e Danton para protegê-la, o que fazia sem hesitar. Toda a sua ferocidade quando se tratava de defender a dona não impedia que ele também fosse mimado como o bichinho de estimação da família. Peter o adorava tanto quanto ela.

Sentando-se sobre a relva verdejante à sombra de um velho carvalho, Danny apoiou as costas no tronco da árvore e dirigiu o olhar preocupado para a mansão.

Aquele dia prometia ser bastante agradável para eles, mas a vinda dos dois policiais significava um mau presságio. Sempre soubera que Peter não interrompera a procura dos assassinos de Sally, porém, até aquele momento, isto nunca interferira em sua vida familiar. Peter se tornara um homem diferente daquele que conhecera. Não mais exibia aquele ar distante e irônico, e seus pais o adoravam. As duas crianças de Cheryl e Nigel, um menino de dois anos chamado Nathan e Amy, uma linda garotinha de um ano, tinham verdadeira adoração pelo tio Peter. Sim, eles formavam uma família muito feliz...

— Até que enfim a encontrei! O que esteve fazendo este tempo todo? — perguntou-lhe Peter, sentando-se ao seu lado.

— Seus visitantes já se foram?

— Sim. Sinto muito ter lhe causado tanto trabalho esta tarde. Não fazia idéia de que...

— Eles os encontraram, não? — interrompeu-o ela, referindo-se aos bandidos.

— Um deles — disse Peter suavemente segurando-lhe as mãos com ternura. — O outro está morto. Você se lembra do caso Robbins?

Sim, ela se lembrava. Cerca de dois meses atrás a jovem esposa de um rico industrial, George Robbins, havia sido raptada. Quase por milagre ela conseguira escapar sem que lhe fizessem nenhum mal.

— Parece que a polícia achou a similaridade entre os dois casos grande demais para ser ignorada. Assim que prenderam os sequestradores de Rebecca Robbins, começaram a pressioná-los até que, três dias mais tarde, um deles finalmente confessou ter sido um dos participantes do sequestro de Sally. O parceiro dele morreu há cinco anos, de um ataque cardíaco.

— Vou preparar sua mala — disse-lhe ela resignada.

— Mas eu não vou a lugar nenhum.

Danny o olhou intrigada.

— Não?! Mas eu pensei que...

— Danielle, o homem será julgado e seu companheiro está morto. Não há mais nada que eu possa fazer,

— Mesmo assim não deseja estar lá?

— Não. A lei agora o fará cumprir o que ele merece.

Danny o abraçou comovida, sentindo que Peter acabava de tirar um peso enorme de seu coração. Não havia motivo para chorar, mas a emoção que a dominava era tão forte que ela se descontrolou.

— Eu pensei que você...

— Sei o que você pensou, meu amor. Mas eu apenas desejava que o assassino fosse preso. Não estou mais interessado em vingança pessoal. Agora está tudo terminado.

Danny suspirou aliviada. Poucos instantes atrás tivera medo de que ele desejasse assistir ao julgamento em Londres, ausentando-se por meses enquanto o processo estivesse em andamento.

Beijou-o com sofreguidão, como se quisesse provar a si mesma que ele agora era somente seu.

— Rover está ficando enciumado — ele disse quando finalmente se afastaram.

— Não há perigo. É só quando um outro homem me toca que ele se irrita.

— Não há outros homens — Peter falou com arrogância.

— Diz isto apenas porque nunca lhe dei motivos para duvidar — brincou Danny, aninhando-se em seus braços.

— E porque, após três anos de casados, você ainda me faz sentir remorso ao deixar a nossa cama de manhã.

Danny sorriu com malícia.

— E você muitas vezes não se levanta.

— Não — confirmou ele, beijando-lhe os cabelos macios.

— Querido, tenho uma novidade para lhe contar.

— Hum? — sussurrou ele, mordiscando suavemente a ponta da orelha de Danny.

— Você vai ser pai.

Ele a olhou erguendo as sobrancelhas.

— Já?

Após conversarem muito a respeito, eles haviam decidido que já era tempo de terem um bebê e há três meses Danny não tomava mais nenhuma precaução.

— Pena, não acha? Pensei que ainda poderíamos ter alguns meses de divertimento antes que eu engravidasse.

— Que nada, ouvi dizer que as mulheres nesse estado podem ser muito sexy.

— Por intermédio de Nigel, sem dúvida — ralhou ela sabendo que tio e sobrinho costumavam jogar golfe juntos. — Suponho que este seja o motivo de haver apenas dez meses de diferença entre Nathan e Amy!

— Provavelmente. Tem certeza sobre o bebê?

— Bem, se o doutor confirmou, não tenho motivos para duvidar.

— Está feliz?

— Muito.

— Danielle, não imagina o quanto você me faz feliz.

— Ei, calma lá! Que eu saiba fizemos juntos este bebê.

— Não me refiro apenas a ele. Estes três anos ao seu lado têm sido os mais felizes de minha vida. E os mais eróticos também.

Ela tomou-lhe o rosto entre as mãos e puxou-o para perto do seu.

— Quando se ama sente-se prazer em agradar.

Peter a beijou longamente.

— Você me satisfaz a ponto de me levar à loucura algumas vezes.

— Agora, por exemplo?

— Sim.

Ela ficou em pé e estendeu a mão, erguendo-o agilmente do chão.

— Então, vamos para casa.

Enquanto caminhavam através das alamedas ornadas de canteiros floridos, Rover os acompanhava, cheio de vivacidade.

— Um fim e um começo — disse ele, deslizando a mão pelo ventre de Danny.

Ela compreendeu que Peter finalmente havia dito adeus ao passado. O futuro deles e o da criança que estava para chegar era tudo o que importava para ele no momento.

 

 

                                                                  Carole Mortimer

 

 

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