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JOGOS DE PODER / Sarah Holland
JOGOS DE PODER / Sarah Holland

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

JOGOS DE PODER

 

Rachel encontrava‑se nos braços de Tony, na pista de dança. Os seus olhos verdes brilhavam, o seu cabelo comprido flutuava enquanto o seu corpo esbelto e gracioso se movia envolto num vestido vermelho. Adorava dançar. Era uma das alegrias da sua vida. Naquela noite estava muito contente por dançar com Tony Radcliffe, já que era um dos seus amigos mais antigos e há um ano e meio que não o via.

        ‑       Tive tantas saudades tuas! ‑ exclamou ela

sorrindo-lhe.

        ‑       Se sentias tanto a minha falta, porque é que fugiste de Hong‑Kong? ‑ Tony sorriu. Era um jovem alto, loiro e de olhos azuis.

        ‑       Não conseguia suportar a pressão ‑ admitiu.

        Rachel nascera e fora criada em Hong‑Kong. Adorava a colónia, mas o seu pai e o seu tio brigavam constantemente por ela, arrastando-a para o seu eterno feudo e tentando conquistá‑la. Tinha posto fim a essa situação já há dois anos, fugindo para Londres.

        ‑       Continua tudo na mesma ‑ explicou Tony. ‑ A briga entre Charles e Jamie Swiff continua. São como dois cães á briga pelo mesmo osso.

        ‑       Vai ser sempre assim ‑ aceitou Rachel. ‑ Por fim apercebi‑me disso ‑ terminou. Levou vinte e dois anos, mas por fim compreendeu a verdade. O seu pai e o seu tio estavam em guerra, e ela nunca conseguiria detê‑los.

        ‑       Talvez aquele novo fulano consiga detê-los ‑ comentou Tony arqueando as sobrancelhas.

        ‑       Quem? ‑ Rachel franziu o sobrolho.

        ‑       Damian Flint.

        ‑       Ah, sim...

        Rachel achou graça ao recordar quando tinha ouvido aquele nome pela primeira vez, foi numa carta de Jamie. Ficou assombrada pela combinação daqueles dois nomes:

O romantismo misterioso de Damian e a contundência de Flint. "Sim, um homem com aquele nome é duro e apaixonado, sensual e sinistro", pensou.

        ‑       Como é? ‑ perguntou e bebeu um gole da sua bebida.

        ‑       As mulheres caiem rendidas aos seus pés ‑ explicou Tony. ‑ Tem muito poder e o dinheiro cresce nas palmeiras do seu jardim. Definitivamente, é um indivíduo detestável!

        ‑       É verdade que anda atrás da Swift? - perguntou Rachel.

        A empresa do seu pai, Investimentos Swift, era uma empresa internacional de investimentos que o seu avô fundara. Era a razão pela qual Charles e Jamie brigavam desde que nasceram.

        ‑       Parece que sim ‑ encolheu os ombros. ‑ Mas não te preocupes. Deixaste Hong‑Kong há dois anos para te afastares daquela tragédia. Se Damian Flint ficar com o controlo... tudo acabará finalmente.

        ‑       àS vezes sinto-me culpada por ter vindo de lá.

        ‑       Fizeste o que devias fazer, boneca ‑ Tony deu-lhe um beijo na ponta do nariz. ‑ Vamos, São três da manhã.

        Saíram do local, na frescura da noite. Estavam em Julho e Londres transbordava de actividade. Tony chamou um táxi e entraram nele. Rachel deu a direcção do seu apartamento em Clapham.

        ‑       Quanto tempo vais ficar em Londres? ‑ perguntou a Tony.

        ‑       Mais uma semana ‑ respondeu ele brincando com o cabelo preto da jovem.

        Conheciam‑se desde pequenos. Eram filhos de grandes gigantes financeiros em Hong‑Kong. Tinham a mesma idade, vinte e quatro anos. Nasceram e foram criados em Hong‑Kong e andaram juntos na escola. Não eram amantes nem namorados, apenas excelentes amigos.

        O táxi deteve‑se à frente do edifício. Nesse momento viram uma limusina preta, com motorista, estacionada mais à frente.

        ‑       Ora, tens vizinhos ricos! ‑ assobiou Tony.

        ‑       Talvez seja o meu príncipe! Finalmente! ‑ exclamou Rachel a sorrir e saiu do táxi. ‑ Sobe para falares com a Jenny. Ficou muito emocionada quando eu lhe disse que estavas em Londres!

        Dirigiram‑se ao apartamento de Rachel. Jenny era a rapariga com quem vivia, e que a alentou a fugir do seu pai e do seu tio. Era bonita e inteligente; estava quase a fazer trinta anos. Tinha trabalhado como secretária de Jamie, o tio de Rachel, e conhecia muito bem a família. Também se tinha apaixonado perdidamente por ele, mas ele rejeitou‑a. No seu coração não havia lugar para o amor porque estava consumido pelo ódio contra o seu irmão Charles.

        ‑       Estás aqui há dois anos ‑ brincou Tony enquanto Rachel abria a porta. ‑ Ainda não tens namorado?

        ‑       Não consegui substituir-te, Tony ‑ respondeu a brincar enquanto subiam a escada.

        ‑       Sou o teu amante insaciável! ‑ exclamou ele a rir.

        ‑       O único ‑ admitiu com risos e abriu a porta. ‑ O único homem da minha vida. O surpreendente e delicioso Tony Radcliffe!

        ‑       O fulano mais solicitado de Hong‑Kong! ‑ voltou a exclamar Tony, e os dois irromperam na sala abraçados e a rir‑se das suas histórias antigas.

        De repente, reinou um silêncio incômodo. Jenny estava perto da janela com o rosto pálido.

        Estava um homem a seu lado. Era alto e formidável. Usava um fato preto, de corte formal. Trazia uma corrente de ouro pendurada no seu colete.

        Os seus olhos eram azuis com um olhar penetrante. O seu rosto era anguloso, de tez bronzeada, e a sua boca tinha um traço tão firme e inflexível que Rachel sentiu uma tremura, umas cócegas intensas de atracção. Não pôde evitar de invejar Jenny por ter um amante secreto tão espantoso.

        ‑       Perdão ‑ exclamou Rachel. ‑ Não sabia que tinhas companhia... ‑ voltou‑se para sair com Tony.

        ‑       Rachel, é Damian Flint ‑ apressou‑se a sussurrar-lhe Tony.

        ‑       Veio para falar contigo ‑ explicou Jenny ao mesmo tempo.

        Rachel ficou congelada. Depois virou‑se e olhou para o poderoso homem de rosto duro. Sentiu que o seu coração batia com violência.

        ‑       Damian Flint? ‑ repetiu apenas com um fio de voz.

        Ele avançou e disse com uma voz profunda e sensual:

        ‑       Menina Swift, temo trazer-lhe más notícias. Posso falar consigo em particular?

        ‑       O meu pai ... ‑ sentiu um aperto no coração.

        ‑       Sim. Teve um ataque cardíaco grave ‑ explicou Damian Flint. ‑ Está no hospital. Deve ir para casa imediatamente.

        Seguiu‑se um momento de silêncio. Rachel ficou tensa ao imaginar o seu pai a enfrentar a morte; e tinha tido muito medo da morte.

        ‑       Pobre Charles! ‑ exclamou Tony. ‑ Quando aconteceu isso?

        ‑       Esta noite ‑ replicou Damian Flint com uma expressão dura e olhar frio ao mesmo tempo que examinava Tony. ‑ Eu estava em Londres por assuntos de trabalho e o meu assessor telefonou‑me para me dar a notícia. Vim ao seu apartamento de imediato ‑ olhou para Rachel, - menina Swift, preciso de falar consigo em particular.

        Então havia mais coisas, pensou a jovem. Olhou para Damian e de súbito compreendeu que o seu tio Jamie tinha alguma coisa a ver com aquilo. O seu coração acelerou‑se e voltou‑se para Tony.

        - É melhor ires embora, querido. Vejo-te quando regressares a Hong‑Kong. Parece que vou para lá primeiro que tu.

        Ele inclinou a cabeça, beijou‑a e acariciou-lhe a face.

        ‑       Toma cuidado, querida ‑ virou‑se para sair.

        ‑       Eu acompanho-te, Tony ‑ ofereceu‑se Jenny. O seu comprido cabelo vermelho formava uma espécie de nuvem que sobressaia em cima do tom cremoso da sua pele.

        A porta fechou‑se atrás deles. Sozinha com Damian Flint, Rachel achou-o ainda mais excitante que antes. Sentiu umas lágrimas nos olhos e lutou para se controlar.

        ‑       O ataque cardíaco ... Onde estava o meu pai quando isso aconteceu?

        - Em casa, na cama ‑ dirigiu‑lhe um olhar enigmático.

‑       Mas aí é que o assunto piora. Sente‑se, menina Swift.

O que tenho para lhe dizer talvez a altere mais do que a

própria notícia do enfarte.

        Rachel empalideceu e deixou‑se cair num cadeirão. Olhou fixamente para Damian.

        ‑       O meu tio tem alguma coisa a ver com isto

        ‑       Parece que ontem à noite armou um verdadeiro escândalo em Hong‑Kong ‑ caminhou em frente com as mãos nos bolsos.

        ‑       Continue ‑ a jovem engoliu em seco.

        ‑       O seu pai organizou uma festa para uns clientes japoneses ricos. Jamie apareceu lá em casa sem ser convidado; estava bêbedo. Começou a insultar o seu pai.

Rachel fez um gesto de contrariedade. Fechou os olhos, já não queria escutar o resto. Podia adivinhar o que tinha acontecido. Conhecia bem o ódio e a inveja que Jamie sentia pelo seu pai, a ambição que o possuía, levando-o a beber e a jogar freneticamente.

        ‑       O seu pai tentou expulsá-lo ‑ continuou ele. Houve um medir de forças que deu lugar à briga. Disseram‑me que foi bastante horrível.

        ‑       Algum deles ficou ferido? ‑ apressou‑se a perguntar Rachel.

        ‑       Jamie ficou com um olho negro, mas Charles com duas costelas partidas e o maxilar fracturado.

        ‑       Ai, meu Deus! ‑ balbuciou quando se levantou e levou as mãos à boca.

        ‑       Jamie está preso por agressão ‑ continuou Damian com frieza. ‑ Charles esteve acordado quase toda a noite. Primeiro curaram‑no no hospital, depois foi prestar declarações à polícia para que prendessem Jamie. Regressou a casa ás seis da manhã de Hong‑Kong e sofreu o ataque cardíaco.

        Rachel engoliu em seco e tremeu.

        ‑       Estava sozinho?

        ‑       Não ‑ replicou e observou‑a. ‑ Por sorte, a sua governanta estava acordada e chamou uma ambulância de imediato. É uma jovem inteligente. Chamou também o meu assessor.

        ‑       Tenho que ir imediatamente! ‑ murmurou Rachel e dirigiu‑se à porta. ‑ Reservar um bilhete de avião, fazer a mala...

        Damian Flint bloqueou-lhe a passagem com o seu poderoso peito.

        ‑       Já me encarreguei do seu voo. Vamos às sete em ponto, de Cathay a Hong‑Kong.

        Olhou para o seu rosto atraente e foi invadida por uma onda de alarme. Confundida, voltou‑se.

‑       Vou fazer a mala

        ‑       São três e meia da manhã... ‑ repôs ele com voz profunda. ‑ Saíremos ás quatro para apanhar o avião.

        ‑       Eu despacho‑me.

        Rachel entrou no quarto sentindo que as lágrimas lhe queimavam os olhos. Os lábios tremiam-lhe quando se dirigia ao guarda‑fato para tirar uma mala. Abriu‑a e colocou lá dentro tudo o que pôde.

        Tinha pensado que ao abandonar Hong‑Kong não só se tinha retirado da guerra privada de Jamie e Charles, mas também os tinha deixado sozinhos pela primeira vez nas suas vidas.

        Houve sempre alguém por perto para detê-los. Primeiro o seu avó, Edward Swift. Apesar dos seus dois filhos se odiarem, não se atreveram a atacar‑se enquanto o seu poderoso pai ainda vivia. Edward Swift fundou a Investimentos Swiff e legou‑a ao seu filho mais velho, Charles. Jamie, dez anos mais novo que o seu irmão, irou‑se muito quando ficou sem nada. Edward amava o seu filho mais novo, e por isso redigiu uma cláusula no testamento onde declarava que a Investimentos Swift permaneceria sempre em poder da família Swift. Charles teve que assinar um documento legal, no dia em que a herdou, que reafirmava esse efeito. Se não tivesse herdeiros, a empresa passaria automaticamente para Jamie. Edward redigiu essa cláusula para se assegurar que Jamie não se encontrasse em poder de Charles quando crescesse. Mas, pelo contrário, aquele foi o começo de uma luta eterna pela Swift, uma vez que Jamie sabia que um dia poderia chegar a cair nas mãos do seu irmão.

        Vinte e cinco anos atrás, Charles casou com Marguerite, uma bonita bailarina francesa. Nessa altura, Jamie temeu que pudessem ter um herdeiro. Quando Rachel nasceu, o seu tio tranquilizou‑se um pouco. Rachel era mulher e não constituía um rival tão ameaçador como um homem. O filho seguinte de Charles nasceu morto. Marguerite afogou‑se num acidente na ilha Lantau e Charles ficou destroçado. Ele não se tinha casado para arranjar herdeiros, mas por amor. Nunca o fez outra vez, nem tornou a olhar para outra mulher. A luta entre os dois homens começou então.

        Rachel cresceu como única herdeira de uma vasta fortuna e Situou‑se no campo de batalha entre os dois, porque os amava e acreditava que podia reconciliá-los.

        Foram precisos anos de inferno para se aperceber que aquela guerra nunca terminaria e que as tentativas de paz eram inúteis. Jenniy ajudou‑a a ter consciência disso. A sensível, inteligente e conhecedora Jenny consolava Rachel noite após noite enquanto chorava e se perguntava como podia conseguir a reconciliação do seu tio e do seu pai.

        ‑       Tens que salvar-te a ti própria ‑ tinha‑lhe aconselhado Jenny. ‑ Tens de deixar de participar naquela guerra estúpida.

        Finalmente aquelas palavras abriram-lhe os olhos. Quando Jenny deixou Hong‑Kong, depois da rejeição de Jamie, Rachel partiu com ela.

        Rachel vivia naquele apartamento há dois anos. Trabalhava como secretária e tentava refazer‑se da sua vida como vítima da guerra entre Charles e Jamie.

        Nesse momento tocaram à porta.

        ‑       Estás bem? ‑ perguntou Jenny ao entrar. Nos seus olhos verdes havia uma expressão de preocupação.

        ‑       Cá me arranjarei ‑ Rachel encolheu os ombros

        ‑       Eu ia contigo, mas acho que não seria de grande ajuda ‑ admitiu Jenny. ‑ Essa guerra vai continuar. Jamie está a desperdiçar a sua vida num ódio infantil, e Edward Swift brinca com eles e fá-los brigar da tumba.

        Rachel estudou o seu rosto, pálido e de traços finos.

        ‑       Tu sabias que isto ia acontecer, não era? ‑ inquiriu Rachel. ‑ Lembro-me que tinhas previsto tudo isto muito antes de virmos embora.

        ‑       Sabia que a última briga deles terminaria numa tragédia ‑ assentiu Jenny. ‑ Não queria que estivesses no meio quando acontecesse. Agora Charles deverá fazer a sua jogada e encontrar uma forma de sair da cláusula do testamento de Edward.

        ‑       Jenny, achas que a solução seria Damian flint? perguntou Rachel lembrando‑se de repente da conversa com Tony.

        ‑       O homem que está na sala? ‑ Jenny sorriu. ‑ Sim, parece um verdadeiro líder, hen?

        ‑       Demasiado ‑ Rachel franziu o sobrolho. ‑ É óbvio que Jamie não concorda. Senão, não tinha escrito tantas cartas contra Damian Flint.

        ‑       Mas ele não é da família ‑ sugeriu Jenny. ‑ Charles deve deixar tudo a ti, Rachel.

        ‑       Eu não sou presidente ‑ fez uma careta. ‑ Sou uma secretária que trabalha para pagar a renda do seu apartamento. Uma ex‑bailarina preguiçosa que não tem outras ambições que levar uma vida feliz e ser livre. Talvez o meu pai me deixe tudo, mas eu não saberia o que fazer com tudo aquilo, excepto dá-lo a Jamie.

        ‑       E ele delapidaria tudo ‑ terminou Jenny com um suspiro. ‑ É incapaz de se encarregar da empresa.

        ‑       Então o problema não tem solução ‑ declarou Rachel.

        Reinou um pequeno silêncio e depois Jenny olhou‑a pensativa.

        ‑       Estou muito impressionada com Damian Flint - comentou logo a seguir. ‑ O que pensas dele?

        Rachel fez uma careta ao recordar os seus olhos, a sua boca inflexível, o seu fato negro e o seu ar formidável de poder.

        ‑       Não me agrada! ‑ exclamou repentinamente. ‑ Tem aquela expressão de ambição brutal que tanto desprezo!

        ‑       É muito sensual ‑ comentou Jenny com um sorriso.

‑ Estive quase a desmaiar quando abri a porta e o vi ali.

        ‑       Então galanteou contigo? ‑ brincou Rachel sentindo uma inveja e uma irritação repentinas que não compreendeu.

        ‑       Oxalá! ‑ riu Jenny. ‑ Contudo, está aqui há algumas horas. Foi uma companhia bastante excitante!

        ‑       Bem, tenho que viajar de avião com ele! ‑ dirigiu‑se com a mala à porta e abriu‑a. ‑ Se o senhor Flint fosse tão sensual como dizes, não haveria problema, mas eu não o considero nem remotamente atraente.

        Voltou‑se e chocou precisamente com o duro peito de Damian Flint.

        Levantou o olhar com um suspiro. Ele observava‑a com os olhos semicerrados e os lábios apertados. Tinha escutado o que ela dissera e segundo parecia, não tinha gostado.

        ‑ Pronta, menina Swift?

        ‑ Sim ‑ Rachel corou. ‑ Sim, claro ‑ envergonhada, entregou-lhe a mala. Ele pegou nela com facilidade com uma mão.

        ‑       Boa sorte ‑ exclamou Jenny e deu um beijo a Rachel. ‑ Dá um abraço ao teu pai. E... a Jamie também.

        ‑       Claro ‑ sorriu Rachel. ‑ Agora precisa de todo o apoio.

        ‑       Adeus, senhor Flint ‑ Jenny estendeu-lhe a mão. - Foi um prazer conhecê-lo, e nunca me esquecerei o que me disse sobre o amor

        Rachel ficou tensa e teve uma reacção tardia.

        ‑       Como era? ‑ continuou Jenny. ‑ Disse que tinha lido nalgum sítio. O amor...

        ‑       É uma expressão erótica da alma através do corpo

‑ disse Damian com um sorriso burlão. Inclinou a cabeça e beijou a mão de Jenny. ‑ Adeus, Jenny. Obrigada por uma companhia tão interessante!

        Ao escutar aquele diálogo, Rachel incomodou‑se. Sentia‑se irritada e insignificante, e não conseguiu deixar de invejar a beleza da sua amiga.

        Desceram em silêncio. Damian Flint saiu para a noite fria. O Rolls‑Royce era seu. Bateu no vidro para acordar o motorista que tinha adormecido.

        Quando iam a caminho do aeroporto, Rachel perguntou.

        ‑       Porque falava de amor com a minha companheira de apartamento?

        ‑       Era uma simples conversa para nos distrairmos - explicou ele observando-a na escuridão.

        ‑       Esteve com ela umas cinco horas, não foi? Como chegaram ao tema do amor?

        ‑       Não sei.

        Rachel sentiu‑se humilhada e furiosa. Odiava Damian Flint. Era óbvio que considerava Jenny atraente. Ter‑lhe‑ia feito alguma proposta? Ter‑se‑iam beijado? Aquelas perguntas assaltavam a sua mente.

        ‑       O jovem com quem chegou chama‑se Tony Radcliffe, não é?

        ‑       Sim ‑ respondeu espantada pelo seu tom de voz frio.

        ‑       Conhece-o há muito tempo? ‑ perguntou com um tom inexpressivo. Rachel supôs que estaria apenas a ser amável.

        ‑       Somos amigos praticamente desde a infância. - replicou.

        Os seus olhos azuis apreciaram a sua figura esbelta.

        ‑       Deve ser difícil manter uma relação amorosa à distância. Vem vê‑la com frequência?

        ‑       Mantemo-nos em contacto.

        Seguiu‑se um tenso silêncio. Rachel estava consciente da sua presença no luxuoso interior da limusina. A dura coxa dele roçou a dela quando se moveu de repente para pegar no telefone.

        Rachel sobressaltou‑se como se a tivesse queimado. Olhou Damian com aversão.

        ‑       Está a telefonar para o aeroporto? Pensei que já tivesse os bilhetes!

        ‑       Estou a telefonar a uma amiga em Londres que está comigo ‑ informou‑a friamente. Ela telefonará para Hong‑Kong a avisar que vamos a caminho.

        Rachel assentiu e recordou o que Tony lhe tinha dito:

"As mulheres caiem rendidas aos seus pés, tem muito poder e o dinheiro cresce nas palmeiras do seu jardim..."

        ‑       Domino? ‑ disse com voz baixa e sensual. ‑ Sim está comigo agora. Vamos a caminho de Heathrow sim? Obrigado. Sim ... quando regressar - riu suavemente. ‑ É precisamente isso o que preciso!

        Rachel escutou a conversa em silêncio. Estava incomodada e a sua aversão por Damian Flint crescia. Perguntou‑se quem seria e como seria Domino. Era óbvio que eram amantes.

        Quando ele desligou, Rachel perguntou‑lhe:

        Essa mulher vai telefonar a quem? Ao meu pai ou ao meu tio?

        ‑       Ao seu pai ‑ explicou ele com os olhos semicerrados.

        ‑       Isso quer dizer que ele está bem para atender um telefonema, não é? Você disse que...

        ‑       O seu pai quer vê-la ‑ replicou. - No hospital pediram‑me que os informasse quando chegasse. Pensam que a sua recuperação pode acelerar‑se. Tem sentido muito a sua falta.

        A culpa embargou-a e levou as mãos às têmporas.

        ‑       Ele nunca me disse ... nunca deu uma indicação de

        ‑       Sabia que você queria ser independente ‑ interveio ele. ‑ Mas este ataque alterou-o demasiado para pedir-lhe que fosse até lá. Era de esperar, claro.

        ‑       Fala como se ele pudesse... ‑ alarmada calou‑se.

        ‑       Morrer? ‑ os olhos azuis dele examinaram‑na sem compaixão. ‑ Todos morremos, tarde ou cedo, menina Swift. O problema é que Charles pode morrer prematuramente pressionado por uma carga que não conseguiu suportar.

        Rachel susteve-lhe o olhar; depois assentiu e olhou para o outro lado. "Se o meu irmão não tivesse morrido

Se a minha mãe não tivesse falecido... Se eu fosse capaz de me encarregar da empresa Swift... mas não conseguia. Não conseguiria enfrentar a ambição cruel de todos a apunhalar‑me pelas costas e ocupar o meu lugar..."

        ‑       Há uma solução para a pressão que o seu pai suporta, claro ‑ comentou ele. ‑ Mas levará algum tempo a pô-la a funcionar, e isso é o que mais falta ao seu pai.

        ‑       Que solução? .‑ olhou-o. ‑ Diga‑me!

        ‑       O seu pai falar-lhe‑á nisso no momento apropriado

‑ esclareceu ele.

        Desviou o olhar e ignorou‑a. Era bom naquilo, pensou Rachel. A sua aversão intensificava‑se. Jamie tinha razão em temê‑lo. Todas aquelas cartas do seu tio que não paravam de falar em Damian Flint, de como tinha obtido um cargo executivo em muito pouco tempo... segundo parecia, ameaçava tirar-lhe a empresa nas suas barbas. Rachel tentou recordar o que Jamie tinha dito dele: Damian Flint era cruel, vivia só para a sua ambição. Ela não lhe tinha ligado. Pensou que as cartas fossem produto da ira, da sua tendência para pensar mal de todos os amigos de Charles.

        Contudo, não se tinha enganado a respeito de Damian Flint.

        Chegaram ao aeroporto e apressaram‑se a dirigir‑se para o avião que os levaria a Hong‑Kong. Hospedeiras orientais muito bonitas conduziram-nos aos seus lugares de primeira classe, e ofereceram-lhes um copo de champanhe que os dois recusaram.

        ‑       O que vai acontecer ao Jamie? ‑ perguntou Rachel quando o avião descolava. ‑ Disse que o acusaram de agressão.

        ‑       Essa é outra coisa que deverá falar com o seu pai.

        ‑       Mas se a acusação de agressão continua, ele

        ‑       Podia acabar na prisão. Certo ‑ repôs Damian. - Suponho que o seu pai retirará a acusação, mas apenas quando estiver bem o suficiente para controlar o seu

irmão...

        ‑       Pobre Jamie...! ‑ exclamou Rachel com um suspiro. Se houvesse alguma maneira deajudá-lo a esquecer a ira que o amargurava

        ‑       Deveria dormir ‑ sugeriu ele. ‑ Esteve acordada toda a noite. Preocupar-se com o seu <(amado" tio não servirá de nada!

        - Amo o meu pai e o meu tio .. por igual ‑ ressalvou ela com tensão.

        - Omiti alguma coisa? ‑ perguntou ele arqueando as sobrancelhas de uma força trocista.

        - Acho que sim! - replicou ela.

        ‑       Menina Swift ‑ sorriu com dureza. ‑ Posso

garantir-lhe que são conjecturas suas.

        ‑       Não me parece.

        Reinou um breve silêncio.

        ‑       Estou a ver - afirmou ele. ‑ Bom, não vamos discutir por causa disso. Não é o momento nem o lugar

        ‑       Penso que é ‑ interrompeu-o; o seu corpo estava tenso de ira.

        ‑ Menina Swift ‑ disse ele com os olhos semicerrados. - Está cansada. Recebeu uma notícia que lhe causou uma

emoção muito forte e...

        ‑       E estou histérica?

‑ Eu não disse isso ‑ murmurou ele, mas já não sorria nem tentava acalmá-la.

        ‑ Mas pensou ‑ disse ela. ‑ E gostava de saber que m'ais coisas pensa, senhor Flint!

 

O avião elevou‑se por entre as brancas nuvens. O sol brilhava no céu, e a luz banhou o rosto de Damian. Observava‑a com os olhos semicerrados.

        ‑ Muito bem, menina Swift ‑ aceitou suavemente. - Apanhou‑me.

        Rachel pestanejou. A sua ira e a sua aversão agudizavam‑lhe os sentidos. Tinha muita vontade de brigar com ele, e de ganhar.

        ‑ Não gosta do Jamie ‑ disse a jovem directamente.

‑ Ou gosta?

        ‑ Porque diz isso? ‑ os seus olhos brilharam.

        ‑ Estou em contacto com o meu tio - sorriu. ‑ Mantem‑me informada - a sua pulsação aumentou um pouco quando se apercebeu que ele parecia divertir‑se com aquela medição de forças. Aquilo significava que não levava a sua ira a sério.

        ‑ O que é que o seu tio lhe contou de mim? ‑ perguntou com um sorriso duro.

        ‑ Bom ‑ sorriu com malícia.‑ Ora vejamos, disse‑me que é o administrador principal da Swift Oriente...

        ‑ É verdade ‑ assentiu friamente. ‑ E então?

        ‑ Bem... isso converte-o numa pessoa muito poderosa dentro da empresa...

        ‑ Gosto do poder ‑ semicerrou os seus olhos azuis. Há pessoas que não. Eu, além disso, tenho gozo com o meu trabalho, e exerço com cuidado o meu... poder, menina Swift.

        ‑ Tenho a certeza que deve exercê‑lo com uma habilidade maligna!

Ele riu suavemente, mas os seus olhos brilharam quando descobriu ódio nos dela.

        ‑       Ora, obrigado! Sinto-me lisonjeado!

        ‑       As pessoas ambiciosas gozam sempre com o poder

‑ replicou Rachel. ‑ Isso é outra coisa que sei de si. É muito ambicioso.

        ‑       Isso é bem verdade.

        ‑       Jamie disse que é insensível quando se trata de conseguir o que quer ‑ continuou Rachel.

        ‑       É capaz de ter razão ‑ murmurou ele. ‑ Todos temos os nossos motivos pessoais, não é? Até Jamie.

        ‑       E quais são os seus, senhor Flint? ‑ perguntou em voz baixa.

        ‑       Bom ‑ murmurou ele com olhos trocistas, ‑ tive uma infância muito dura e isso empurrou‑me para grandes alturas.

        ‑       Que história tão triste! ‑ troçou com a pulsação acelerada. ‑ Perdoe‑me por não chorar, mas as alturas já constituem uma recompensa suficiente para si.

Ele riu e estudou o rosto dela.

        ‑       Sim, eu também penso assim!

        ‑       Jamie contou‑me alguma coisa acerca da suas ambições futuras ‑ continuou ela.

        Estava muito perto de Rachel, esboçando um sorriso duro e divertido pela sua hostilidade.

        ‑       Quer que lhe conte as suspeitas do meu tio sobre si?

‑ perguntou Rachel.

        ‑       Sou todo ouvidos, menina Swift ‑ afirmou ele.

- Bom, ele disse que você quer controlar a Investimentos Swift, deserdá-lo e casar com a esposa perfeita para fundar uma dinastia

        ‑       Disse isso? ‑ murmurou Damian Flint com um tom de troça.

        ‑       Sim ‑ garantiu. ‑ E também disse que quer fazer tudo isso antes de fazer trinta e cinco anos. Que idade tem, senhor Flint?

        ‑ Trinta e três - murmurou com cinismo.

        ‑ Faltam dois anos para o momento decisivo ‑ assinalou ela em jeito de troça. ‑ Ora, ora. Não terá calculado mal, senhor Flint?

        ‑       Não ‑ olhou‑a nos olhos. ‑ Eu nunca calculo mal.

        ‑       Que astuto! ‑ sussurrou sem alento. ‑ Diga‑me como vai consegui-lo! Gostava de conhecer o seu plano de acção! Afinal de contas, tem que movimentar‑se bastante depressa para conseguir tudo em dois anos, não lhe parece?

        ‑ Claro que vou conseguir ‑ declarou ele suavemente.

‑ Afinal, tenho apenas que fazer as jogadas correctas no momento adequado.

        - Terá que aproveitar as oportunidades.

        ‑ Tenho experiência disso.

        ‑ Aposto que sim - sorriu com tensão. ‑ Mas talvez essas oportunidades não sejam suas. Talvez pertençam a mais alguém. Como as aproveitará?

        ‑ Vou dizer-lhe um segredo ‑ inclinou‑se para ela. - As oportunidades pertencem a quem as agarra.

        ‑       Ah, sim? ‑ inquiriu com o coração acelerado.

        ‑ Sim ‑ murmurou sem sorrir. ‑ O mundo em que vivemos está apenas a um passo da selva. Há predadores... e há presas. Os predadores são os que se apoderam das oportunidades e das presas... bem, ficam feitas em fanicos, menina Swift. Ficam lançadas ao sol para que os abutres se alimentem com elas ‑ os seus olhos brilharam.

‑ É triste, sem dúvida. Os mansos não são abençoados e todos tremem quando um predador começa a caçar com um dedo - acariciou-lhe o pescoço fazendo‑a tremer. - Pergunto‑me... o que é você, menina Swift? Predador ou presa?

Rachel olhou para o seu rosto implacável e teve medo.

        ‑       Eu sei o que sou ‑ continuou ele. ‑ Porque todos fojem quando eu passo. Anteriormente, costumava incomodar‑me muito, a sério, não imagina quanto... Mas agora penso nesses abutres e continuo a ser um predador...

        Rachel estava quase a tremer, o seu coração batia acelerado. Sentia medo e emoção, e compreendeu que não lhe poderia ganhar.... naquela noite, porque estava sob muita tensão.

        ‑       É uma história interessante, senhor Flint ‑ anunciou, ‑ mas temo que tenho os olhoS a fechar. Acho que vou dormir um pouco.

        ‑       Cansada, menina Swift? ‑ troçou. ‑ Pensei que quisesse falar durante todo o voo!

        ‑       Parece que o cansaço me vence...

        ‑ Decepcionou‑me ‑ observou‑a com uma expressão dura e os olhos brilhantes.

        O coração de Rachel bateu ainda mais pelo mistério daquela voz.

        ‑ Não se importa de apagar a luz, por favor? ‑ perguntou ela sem alento.

        ‑       Claro que não ‑ murmurou.

        Estendeu uma mão e apagou‑a. Rachel fixou‑se nos seus dedos compridos e na ligeira camada de pêlos escuros que tinha no seu pulso. Voltou‑se, cobrindo‑se com a manta, e tentou reclinar o assento. Franziu o sobrolho enquanto procurava o botão.

        - Permita‑me... ‑ ofereceu‑se Damian Flint. Reclinou‑se sobre ela; o seu poderoso peito pressionou‑a e a sua boca ficou a poucos centímetros da dela.

        ‑ Estou bem. Eu... ‑ balbuciou com a pulsação acelerada.

        O assento reclinou‑se devagar e ele observou‑a serenamente. Por um suposto acidente, o homem puxou a manta, que caiu no chão.

        Rachel estremeceu. Sentia‑se quase nua, ali reclinada, frente ao poderoso corpo de Damian. Nenhum homem a tinha olhado daquela forma antes, e Rachel sabia muito bem no que é que ele estava a pensar.

        Alarmada, tentou apanhar a manta. Respirava com irregularidade e contemplava-o enquanto ele se inclinava sobre ela.

        ‑       O que procura? ‑ inquiriu Damian Flint a uns centímetros da sua boca. ‑ A sua manta?

        Rachel corou e os seus olhos verdes pareceram aumentar quando se apercebeu que ele era muito perigoso.

        ‑       Tome ‑ Damian apanhou a manta e estendeu‑a sobre o corpo trémulo de Rachel. Os dedos compridos dele roçaram-lhe o pescoço e ela estremeceu de irritação. Tirou‑lha e olhou-o com fúria. - Deixe‑me tapá‑la e desejar-lhe as boas‑noites. Vai precisar de todo o descanso que puder!

        ‑       Muito obrigada! ‑ replicou-lhe. ‑ Boas‑noites!

        Virou-lhe as costas. Estava sem alento por causa da ira. Jazeu na escuridão do interior do avião, consciente de que ele tinha voltado a ganhar a partida.

        Jamie tinha razão em temer Damian Flint. Céus, ela também tinha medo dele.

        Doía-lhe a cabeça. As lágrimas quentes reuniram‑se nos seus olhos e não as secou. O seu rosto estava escondido pela escuridão do avião. Pensou que, graças a Deus, o seu pai tinha sobrevivido, e perguntou‑se quantos anos mais poderia suportar, com Rachel como herdeira e Jamie desesperado por dominar a empresa.

        Compreendeu que a sua dor era também culpa. Sabia tudo sobre a sua culpa. O seu pai tentou sempre que odiasse Jamie; desde que era criança; o seu tio, por sua vez, fez tudo o possível para que odiasse Charles. Culpa e mais culpa. Culpa por ter fugido deles. Culpa porque não estava ali para deter Jamie. Culpa por não estar ao lado do seu pai quando a morte lhe enviou um aviso.

        Cansada de chorar, Rachel adormeceu, enquanto o avião sobrevoava o Médio Oriente, por um céu cor de sangue.

        Foi um sono inquieto. Mexeu‑se e acordou de vez em quando para ouvir o zumbido constante dos motores do avião.

        acordaram‑nos para tomar o pequeno-almoço.

Rachel foi à casa de banho, lavou‑se e penteou o

cabelo comprido.

        E o voo continuou. A luz do dia entrou pelas janelas do avião. Rachel permanecia em silêncio ao lado de Damian Flint. Não se arriscaria a falar com ele outra vez até recarregar as baterias.

        Assim, permaneceram em silêncio, a ler. Ele, um livro de história económica e política; Rachel, um romance de famílias poderosas. No livro, o pai de um dos protagonistas morria de ataque cardíaco. Rachel baixou o livro e ficou pálida. As lágrimas vieram-lhe aos olhos. As hospedeiras orientais, moviam‑se no interior, recolhendo os copos e os tabuleiros.

        ‑ Já chegámos ‑ disse de repente Damian fechando o seu livro.

        Rachel ergueu‑se; estavam a descer por entre as nuvens. Olhou pela janela com o coração acelerado, à procura da colónia.

        Ali estava. Os arranha-céus brancos brilhavam no amanhecer. As águas azuis do porto estavam salpicadas de tons dourados e podiam ver‑se os barcos ancorados no porto, entre a península Kowloon e as colinas da ilha.

        ‑ Quando poderei ver o meu pai?

        ‑ Esta manhã ‑ respondeu ele friamente. ‑ Eu próprio a levarei lá.

‑ Não é preciso. Eu apanho um táxi ‑ voltou‑se para ele com um sorriso hostil. ‑ A casa de meu pai fica na Baía Repulse, longe da cidade. Não quero incomodá-lo.

        ‑ Em absoluto ‑ replicou ele. ‑ Sou dono da casa contígua à do seu pai.

        Reinou um silêncio tenso. Ela olhou- nos olhos e viu troça neles. O seu coração acelerava‑se ao perceber como aquele homem era perigoso para a família.

        ‑       Junto à do meu pai? ‑ repetiu com voz mais firme.

        ‑       Humm humm. Mesmo ao lado ‑ um sorriso duro desenhou‑se na sua boca. ‑ Ora, menina Swift, ficou muito pálida. Espero que não seja nada de mal.

        ‑       Nada, claro que não ‑ replicou. Olhou pela janela outra vez; o seu coração batia com fúria e ira. "A casa contígua!", repetiu em silêncio alarmada.

        O avião dirigiu‑se à terra. A pista estava iluminada com tons brancos azulados e dourados. Um segundo depois, aterraram.

        ‑       Está um carro à nossa espera ‑ anunciou Damian quando saíram.

        ‑       Ah, muito bem! ‑ Rachel caminhou atrás dele. Estava desalinhada, cansada e cheia de ressentimento porque Damian Flint parecia tão imaculado e fresco como sempre.

        Quando saíram do aeroporto, sentiu de imediato o ambiente de humidade. O carro, que era conduzido por um motorista, tinha ar condicionado. Viajaram pelas ruas de Tsimshatsui e depois pelo túnel da ilha de Hong Kong. Rachel quase não olhou para as ruas conhecidas. Estava muito ocupada a tentar assimilar que tinha regressado à sua casa depois de dois anos. Continuaram pelo caminho até Baía Repulse. O carro atravessou a entrada cinzenta em direcção a um pátio com uma fonte. Damian ajudou‑a a sair do carro.

        ‑       Vou buscar a sua mala.

A porta abriu‑se e saiu uma bonita oriental, vestida com um cheong‑sam branco até às coxas. Os seus olhos negros brilhavam intensamente.

        - Olá Nightingale ‑ cumprimentou Rachel com um Sorriso

        - Menina Rachel ‑ a mulher aproximou‑se com passos curtos e sorriu-lhe com alegria. ‑ Tem havido tantos problemas desde que se foi embora!

        - Alguma notícia do hospital? ‑ perguntou Rachel e abraçou‑a

        - O mesmo. O senhor Charles está bem e vai ficar melhor em pouco tempo.

        ‑ Oxalá ‑ murmurou Rachel.

        Nightingale era a amah do seu pai, a sua governanta, há cinco anos. Era mais nova que Rachel. Trabalhava muito, era leal e mantinha a casa limpíssima. Era considerada parte da familia.

        Damian Flint apareceu junto delas.

        ‑       Aqui está a sua mala. Vou deixá-la para que descanse e troque de roupa. As visitas são ás onze. Venho buscá-la às dez e meia.

        ‑       Estarei pronta ‑ disse Rachel com firmeza e olhar hostil.

        ‑       Sim, menina Swift? ‑ murmurou ele com indolência.

‑       Então exercitarei as minhas habilidades de esgrima... só para si.

        Pousou a mala e regressou ao carro. Ela contemplou-o com ódio, a estudar o seu poderoso corpo, tão alto e bem vestido. Meteu‑se no carro e desapareceu.

        ‑       O senhor Flint é muito atraente... ‑ suspirou Nightingale ao seu lado.

        ‑       Não acho ‑ replicou Rachel. Entrou no corredor fresco da casa.

        ‑       Todas as mulheres o desejam ‑ continuou Nightingale.

‑       Pois eu não ‑ Rachel dirigiu‑se à escada e tentou ignorar a adoração que a oriental sentia pelo detestável Damian.

        ‑       O senhor Charles diz que o senhor Flint éo filho que nunca teve.

        Rachel ficou gelada na escada. O seu coração parou e voltou‑se lentamente para ela.

        ‑       O meu pai disse isso?

        ‑       Todos os dias, desde que a menina partiu.

        ‑       Que Damian Flint é o filho que nunca teve?

        ‑       Claro.

        Rachel ficou calada durante um bom bocado com o rosto pálido. Era óbvio que Damian Flint poderia ser o presidente da administração a uma velocidade vertiginosa.

        Com esforço, Rachel tentou esquecer-se de Damian e

foi para o seu antigo quarto. Ligou o ventilador, abriu a

mala e colocou tudo no guarda‑fato. Estavam no inicio de

Julho e o calor era muito húmido. Tomou um duche e

colocou um vestido fresco para o Verão. Quando Damian

Flint chegou para buscá‑la, ela já estava pronta.

        Ele também tinha tomado banho, o seu cabelo preto ainda estava húmido. Usava um fato diferente, de corte impecável, de um tecido muito fino, e um relógio de prata com corrente sobre o colete formal. Rachel pensou que era a imagem viva do presidente da administração.

        ‑       Ora, ora, sim, está pronta para mim ‑ comentou suavemente observando a sua figura com insolência.

        ‑ Obrigada, senhor Flint ‑ corou. ‑ Vamos? ‑ ela passou junto dele e sentiu um formigueiro no seu interior.

        ‑       Já se adaptou? ‑ perguntou ele com troça, quando caminhavam para o carro que estava estacionado à frente da casa.

        ‑       Ah, sim, claro - respondeu ela odiando‑o quando lhe abriu a porta. ‑ Estou habituada às viagens longas de Ong-Kong à Europa, como você.

        ‑       Sim ‑ olhou‑a com sarcasmo. ‑ É muito inteligente! Olhe, agora também me encarrego de todos os assuntos internacionais. Já desde algum tempo.

        ‑       Sim? ‑ os seus olhos verdes lançaram faíscas de ódio. ‑ É um homem muito activo! Voa de um lado para o outro para a Investimentos Swift. Nova Iorque. Londres, Paris... Munique?

        ‑       Não esqueça o Japão ‑ acrescentou ele.

        Rachel apertou os lábios e entrou no carro. Damian sentou‑se ao seu lado e o motorista pôs o carro em andamento.

        ‑       Tive uma conversa muito interessante com Nightingale ‑ comentou Rachel. ‑ Disse‑me que o meu pai gosta muito de si.

        ‑       Eu também gosto muito dele.

        ‑       Também me disse que para ele você é o filho que nunca teve.

        ‑       Como as mulheres gostam de mexericar! ‑ resmungou Damian Flint.

        ‑       Toda a gente faz mexericos em Hong‑Kong. Sabia disto? Sim, suponho que sim. Morro de vontade por descobrir o que as pessoas dirão de...

        Reinou um breve silêncio. O mar apareceu à sua esquerda, e a costa rochosa à direita. O ambiente vibrava com uma sensação de ameaça.

        ‑       Não pretende intrigar‑me com esses rumores, pois não, menina Swift? ‑ perguntou ele com voz dura. ‑ Não ia gostar nada de saber que gosta de armar escândalos. Principalmente, sobre mim.

        ‑       Claro que não, senhor Flint ‑ o seu coração sofreu um aperto.

        ‑       Folgo em saber ‑ sussurrou com uma expressão muito séria. ‑ Porque se o fizesse, ver‑me‑ia obrigado a vingar‑me, e você não ia gostar disso. As coisas poderiam ficar negras.

        ‑       Está a querer dizer que saberei de coisas sobre si através de rumores. Não digo que eu o fizesse pessoalmente...

        ‑       Claro que não! Não quererá provocar‑me mais do que já fez. Pois não, menina Swift?

        Rachel ficou calada e observou‑o, hipnotizada pela ameaça patente no duro rosto de Damian.

        - Porque quando surge uma provocação entre um homem e uma mulher, trata‑se de uma briga pela supremacia ‑ continuou ele. ‑ Só há uma forma de terminar com isso ‑ o seu olhar desceu até os seus seios e observou-os subir e baixar, com a respiração agitada. ‑ Compreende‑me?

        ‑       Oh, sim! ‑ replicou ela com os olhos faiscantes. - Está a dizer que me enfrentaria da forma mais óbvia possível se alguma vez o irritar. É isso?

        ‑       Rapariga esperta ‑ murmurou ele. Bom, é uma ameaça inútil, não é? Porque tenho a certeza de que daqui por diante não me vai irritar. Não é?

        Rachel podia sentir que o seu corpo estava especialmente vivo; vibrava com pulsações que nunca tinha experimentado. Voltou‑se para o outro lado e compreendeu que estava a

vencê-la uma vez mais. Pensou que ele tinha razão: se houvesse uma briga entre eles, Damian Flint sairia vencedor.

        Desceram até à Baía Repulse e depois subiram por uma estrada sinuosa até ao cimo, de onde se podia ver o Distrito Central, era o coração do dinheiro e do poder de Hong‑Kong, com os seus arranha-céus brancos na neblina solarenga e o calor húmido.

        Não tardaram a entrar no estacionamento do hospital.

        ‑       O seu pai está à nossa espera ‑ disse Damian Flint quando saiu do carro. ‑ Vai parecer-lhe que está muito bem, mas deve ter cuidado. Não faça nem diga nada que o altere.

        ‑       Não precisa de me dizer isso ‑ replicou ela com

desdém.

        Entrou no hospital e estremeceu com o cheiro a

anti-céptico que emanava dos corredores brancos. O médico acompanhou-os aos quartos particulares.

        ‑       Não fiquem com ele muito tempo. Dez minutos no máximo, não quero que se altere.

        Levaram‑nos para uma sala com paredes de vidro. Por trás de um balcão havia várias enfermeiras.

        ‑       Tem uma visita, senhor Swift ‑ anunciou o médico e abriu a porta.

        Charles Swift levantou a vista e sorriu.

        ‑       Rachel! ‑ estendeu os braços.

        ‑       Olá, pai! ‑ sussurrou a jovem. Caminhou em direcção a ele e tentou não se alarmar com a sua aparência. Abraçou-o e beijou‑o.

        Parecia ter envelhecido vinte anos. Tinha o peito enfaixado e fios nos seus pulsos e peito para registar as palpitações na misteriosa máquina que estava atrás dele, na qual cintilavam as pulsações em números vermelhos.

        ‑Rachel... graças a Deus que estás em casa ‑ pegou‑lhe numa mão com força. ‑ Damian trouxe-te de volta para mim. Sabia que ele o faria. Sabia que ele compreenderia de imediato que já é hora de...

        ‑       Tenta não falar muito ‑ aconselhou‑lhe Damian. - Precisas de descansar.

        ‑       Agora já posso fazê‑lo ‑ sussurrou Charles. ‑ Não é, Damian? Agora que tu estás encarregue, agora que a trouxeste para casa

        Rachel franziu o sobrolho e olhou para Damian. "Agora que estás encarregue, que a trouxeste para casa? De que raios estão a falar?", perguntou‑se.

‑       Posso confiar sempre em ti, não é Damian? ‑ continuou Charles e pegou também na mão de Damian.

        ‑       Sempre ‑ replicou Damian com a sua voz profunda e controlada.

        Nesse momento Rachel compreendeu como estavam unidos, o muito que Charles confiava em Damian. Ficou comovida e impressionada. Damian tinha‑lhe declarado a ela que só actuava por ambição. Nesse sentido, aquela sensação só poderia acabar em traição

Swift olhou para Rachel.

        ‑       Vais ficar, não é? Farás de Hong‑Kong a tua casa outra vez, não Londres. Está muito longe

        Rachel desviou o olhar para a janela; as águas do porto estavam azuis, e a ilha Lantau sobressaía entre uma leve neblina. Verde, exótica, misteriosa, fazia‑a recordar a sua mãe Marguerite, e a sua trágica morte nas costas desertas da ilha. Uma dor profunda invadiu‑a; as lágrimas assomaram‑se aos seus olhos e olhou para o seu pai.

        ‑ Claro que ficarei ‑ repôs. ‑ Nunca mais te deixarei

‑ acrescentou com paixão.

        Charles suspirou e descontraiu‑se.

        ‑       Se ficas, precisas de um trabalho... Damian, há alguma vaga na Swift?

        ‑       Como minha secretária ‑ declarou ele e ela olhou‑o de repente.

        ‑       Não quero ser tua secretária! ‑ exclamou ela com ira e hostilidade.

        ‑ Necessitas de trabalho e eu necessito de uma secretária ‑ semicerrou os olhos.

‑ Não.

        ‑       Mas porque não? ‑ Charles estava pasmado. - Deverias aceitar o trabalho. É a única forma de nos garantir que... ‑ a máquina por trás dele começou a zumbir quando o seu coração se acelerou dramaticamente.

‑       Encosta‑te, pai! ‑ obrigou‑a, alarmada pelo piscar dos números vermelhos.

        ‑       Aceita o trabalho - insistiu Damian Flint em voz

baixa.

        ...... examinou-o.

        ‑       Rachel, por favor! ‑ Charles apertava‑lhe a mão.

        ‑       Têm que sair já ‑ o médico abriu a porta e entrou com as enfermeiras.

        ‑       O que se passa? ‑ Rachel levantou‑se. ‑ É outro ataque?

        ‑       Aceita o trabalho ‑ disse‑lhe Damian suavemente e também se levantou.

        ‑       Quero que trabalhes com ele ‑ murmurou Charles.

‑ Quero que o conheças. É um homem bom e forte. Pode salvar‑nos a todos!

        ‑       Eu aceito o trabalho ‑ replicou ela automaticamente.

        ‑       Estás contratada ‑ disse‑lhe Damian. Depois agarrou‑lhe num pulso e arrastou‑a até à porta, enquanto as enfermeiras cuidavam de Charles.

        ‑       Damian é o indicado! ‑ gritou Charles quando eles saíam. ‑ Escuta-, Rachel! A Jamie, não! A Jamie, não...!

        Damian puxou‑a e fechou a porta. Levou‑a pelos corredores a toda a brida. Então Rachel compreendeu tudo.

        Charles queria casá‑la com aquele homem. Ele tinha planeado tudo, e Damian Flint ia garantir‑lhe que acontecesse. Juntos, tinham preparado o seu casamento.

        "Nunca>), disse para si própria violentamente. Nunca se casaria com aquele tubarão sinistro que fingia ser atento, leal e trabalhador. Talvez tivesse conseguido enganar

o seu pai, mas a ela não. A ira invadiu‑a quando pensou na maneira como a tinha ido buscar a Londres: com tanta frieza, confiança e segurança.

        Se Jamie não a tivesse advertido desde o início que Damian Flint era perigoso, e que desejava apoderar‑se da Investimentos Swift, teria respondido à sua atracção sexual, à sua aparência grandiosa, ao seu engenho astuto e frio.

        Até a inteligente e conhecedora Jenny ficou impressionada com Damian Flint, quando lhe falou de amor.

        Olhou-o com ódio. Caminhava ao seu lado com uma expressão dura, e Rachel observou o canalha sem piedade que queria casar com ela para poder satisfazer as suas ambições e possuir a Swift. Que pensasse duas vezes, sussurrou para o seu interior.

        Quando saíram do hospital, Rachel perguntou com tensão.

        ‑       Alguma notícia do meu tio?

        ‑       Ah... o amado tio. Perguntava‑me quando irias mencioná‑lo!

        ‑       É meu tio e gosto dele - disse ela com um sorriso tenso e o coração acelerado pela ira. ‑ Suponho que continua a morar em Tai Hnag, hen?

        Damian abriu‑lhe a porta do carro e examinou‑a com os olhos semicerrados.

        ‑       Claro.

        ‑       Está a trabalhar esta semana? ‑ ela manteve o olhar baixo para esconder a fúria que brilhava nos seus olhos.

        ‑       Não, está suspenso, dadas as circunstâncias.

        ‑       Vou telefonar‑lhe assim que chegar a casa ‑ anunciou Rachel e entrou no carro.

        Damian sentou‑se ao seu lado e fechou a porta. O motorista acelerou, passando por edifícios coloniais, prados verdes e fontes brilhantes.

        ‑       Como é que está o caso da acusação por agressão?

‑ perguntou Rachel. ‑ É óbvio que não posso incomodar

o meu pai com isso, mas tem que se fazer alguma coisa.

        ‑ Não te preocupes. Deixa isso comigo. Eu vou tratar do assunto.

        ‑       Agradecia‑lhe, senhor Flint, que me deixasse ocupar‑me das relações familiares como eu achar conveniente.

Reinou um silêncio tenso. Os olhos de Damian possuiam um brilho ameaçador.

        ‑       Como quiseres ‑ aceitou com frieza. ‑ Enquanto isso, espero‑te no meu escritório na segunda-feira de manhã. Assim terás três dias para te adaptares. Pode ser às nove em ponto?

        - às nove em ponto ‑ concordou Rachel.

        Quando o olhou nos olhos sentiu muito medo, porque sabia que ele era mais forte.

 

‑       Então tinha razão ‑ Jamie estava pasmado, os seus olhos brilhavam de ódio. ‑ Flint vai apoderar‑se de tudo, do escritório de Hong‑Kong, da rede internacional, de tudo.

        Rachel telefonou‑lhe assim que chegou a casa, e ele foi à casa dela como um turbilhão. Jamie tinha imenso carisma, a sua personalidade era magnética. A jovem viu que tinha envelhecido, embora o seu cabelo continuasse negro. Tinha madeixas cinzentas nas têmporas e o seu rosto anguloso estava mais enrugado. Era alto e vestia uma camisa ás riscas azuis e brancas e umas calças pretas. O álcool tinha-o feito aumentar de peso e apresentava uma barriga incipiente.

        ‑       Não vou casar com ele ‑ sussurrou Rachel.

        Jamie observou‑a com alguma suspeita.

        ‑       A sério! ‑ repetiu ela examinando‑o; estavam no salão da casa. ‑ Não me importa o que ele diga ou faça, prefiro morrer a casar com Damian Flint!

        ‑       Graças a Deus ‑ suspirou Jamie e abraçou‑a. - Perdoa‑me por não acreditar em ti! Desde que partiste conspiraram contra mim, armaram-me armadilhas e...

        ‑       Jamie, porque armaste aquele escândalo? ‑ estudou-o com as lágrimas nos olhos. ‑ Bateste no meu pai! No teu próprio irmão, Jamie! Se pudesses vê‑lo no hospital... com os fios, as ligaduras e...

        ‑       Estava louco naquela noite ‑ confessou Jamie. - Estava tão ciumento do Flint, tão cheio de ódio pelo Charles... bebi demasiado. Nem sequer me lembro de lhe ter batido. Só sei que acordei numa cela, com uma dor de cabeça.

Rachel lutou por compreender as duas versões, mas era muito difícil. Sentia compaixão por Jamie, mas em fúria, ele tinha estado aponto de matar o seu pai. Jamie leu bem o seu pensamento e suplicou‑lhe com as mãos nos ombros.

        ‑ Rachel, juro‑te que não sabia o que estava a fazer.

        Muito pálida, Rachel inspirou profundamente.

‑ Tentaste... ir vê‑lo?

        ‑ Não me deixam nem aproximar‑me do edifício - explicou com amargura. ‑ Flint, claro! Telefonou de Londres para o hospital e deu instruções estritas para me impedirem de ver Charles.

        Rachel entendia, mas sentia aversão por Damian flint. Tinha feito o mais correcto e além disso tinha o controlo completo de uma situação que ela nunca conseguira dominar.

        ‑ Quando começas a trabalhar com ele? ‑ perguntou‑lhe Jamie de repente.

        ‑ Na segunda-feira de manhã ‑ respondeu.

        ‑ Faz por nunca ficares sozinha com aquele canalha - sugeriu‑lhe o seu tio com os olhos semicerrados.

        ‑ Pensas que ele tentará...? ‑ interrompeu‑se pálida.

        ‑ Seduzir-te? ‑ terminou Jamie por ela. ‑ É uma jogada astuta, Rachel. Tu és a chave do futuro dele.

        Quando Jamie se foi embora, Rachel sentou‑se no terraço. Nada tinha mudado. Charles tentava mantê‑la ao seu lado e Jamie fazia a mesma coisa. Emocionalmente, a jovem sentia‑se como uma marioneta. A única coisa diferente em Hong‑Kong era Damian Flint, e a ameaça que representava. Rachel não sabia como o controlaria.

        Passou perto dela uma vespa a voar e a brincar com as buganvilias. Rachel observou‑a e recordou as palavras de Jamie: "Seduzir-te? É uma jogada astuta..." Os seus olhos brilharam com determinação. Ele que experimentasse!

        Na segunda‑feira apresentou‑se para trabalhar no edifício Swift. O Distrito Central era o centro do dinheiro; as ruas estavam cheias de bancos, gigantes financeiros e hotéis internacionais. Circulavam os eléctricos, ouviam‑se buzinas dos táxis e os arranha-céus elevavam‑se até o o céu azul.

        Rachel usava um vestido de algodão branco com decote em bico, de mangas curtas, e umas sandálias prateadas. Levava o cabelo apanhado num rabo de cavalo.

        Quando saiu do elevador no último andar tropeçou com Damian que avançava pelo corredor.

        ‑       Oh! ‑ Rachel corou e fez uma careta. ‑ Porque não vês por onde andas?

        ‑       Tu atravessaste-te no meu caminho ‑ explicou Damian semicerrando os olhos. ‑ Tenta que isto não se transforme num hábito... ‑ os seus olhos desceram até aos seus seios agitados. ‑ Um vestido bem escolhido, eficiente, mas muito sensual. Tens um gosto admiráveL. Vou gostar de te ver a andar pelo escritório.

        ‑ Visto‑me para o meu trabalho, não para ti! replicou ela corada.

        ‑       Sou o teu chefe. As duas coisas são indivisíveis.

        ‑       Eu não contaria com isso.

        ‑       Ora! ‑ anunciou com calma. ‑ Isso é um desafio. -

a terceira vez que pões as tuas cartas todas na mesa!

Nunca serás uma boa jogadora de póquer - os seus olhos

troçaram dela. ‑ Tenta apresentar uma aparência bonita

e deixa a intriga para os grandes. Não gostaria de te ver

derrotada.

        Rachel olhou-o apenas com ira e decidiu não falar. Ele nu.

        ‑       Anda. Vou mostrar-te o teu escritório ‑ conduziu‑a pelo corredor. Rachel examinou o escritório, a decoração, a tapeçaria em tom creme e os móveis de mogno

‑       Bem‑vinda ao teu novo lar ‑ murmurou Damian

        em picardia.

‑ Muito bonito ‑ admitiu.

‑       Suponho que sabes usar essas máquinas, não é? - apontou para o computador, a impressora e o fax.

        ‑ Claro! ‑ admitiu com indignação.

‑       Bem ‑ voltou‑se metendo as mãos nos bolsos das do seu fato preto. ‑ Então podemos começar.

DoMina a tua estenografia e vem comigo. Vou ditar-te umas cartas.

        Rachel deixou a sua mala na mesa e seguiu- até ao seu escritório. A alcatifa era creme, a condizer com as paredes; havia uma grande palmeira num vaso de terracota, uma mesa enorme de mogno com seis telefones, quadros coloridos de Picasso e Kandinsky e uma vista panorâmica de Hong‑Kong nas grandes janelas.

        Damian sentou‑se na sua cadeira por trás da secretária.

        ‑ Senta-te ‑ anunciou e entrelaçou as mãos atrás da cabeça, reclinando‑se e observando Rachel com expressão misteriosa.

        Ela cruzou as pernas e os olhos de Damian seguiram o movimento. Ele não sorria. A atracção sexual vibrava entre eles como electricidade.

        ‑ As cartas? ‑ recordou ela.

        Ele olhou‑a. Depois ditou quatro cartas enquanto ela tentava seguir o ritmo.

        ‑ Novo parágrafo. Sugiro a quantia de dez milhões de dólares de Hong‑Kong para começar os... ‑ continuava a ditar sem parar.

        Rachel escrevia os símbolos que esperava conseguir decifrar depois.

‑ Atenciosamente, etc., etc. Agora a carta para o nhor Graham Warwick... - continuou.

        Quando terminaram Rachel tinha a mão a doer.

        ‑       Vou escrevê-las.

        ‑       Imprime- logo ‑ ordenou ele. ‑ Quero‑as no correio antes do almoço. Leva também essas pastas e estuda‑as. Vou fazer-te perguntas daqui a uma hora.

        Rachel regressou ao seu escritório, decidida a demonstrar‑lhe que era uma secretária eficiente. O processador de texto era fácil de manusear e escreveu as cartas em quinze minutos. Depois estudou as pastas com cuidado, atendeu chamadas e perguntou a Damian se estava disponível.

        ‑       Sim? ‑ sussurrou uma voz feminina muito sensual quando Rachel levantou o auscultador. ‑ Quem fala?

        ‑       Rachel Swift, a nova secretária do senhor Flint. O que deseja, senhora....?

        ‑       Menina ‑ corrigiu a voz. ‑ Menina Domino Mei‑Ling.

        Rachel ficou tensa e conteve a respiração ao recordar a chamada que Damian fez da limusina e o tom sedutor e sensual com que falou.

        ‑ Domino...? Vou ver se o senhor Flint está disponível ‑ anunciou Rachel e carregou no botão do intercomunicador. ‑ Domino Mei‑Ling na linha um.

        ‑ Podes passar.

        Rachel obedeceu.

        ‑ Domino! ‑ exclamou Damian. ‑ Obrigada pelo de ontem a noite...

        Rachel desligou o telefone como se este a queimasse; depois perguntou‑se porque teria experimentado aquelas reacções.

        Dez minutos mais tarde ouviu o inter‑comunicador.

        ‑       Reservei uma mesa para dois no Mandarim Grill para a uma hora, para hoje. A menina Mei‑Ling deverá estar aqui à uma menos um quarto. Avisa‑me assim que

chegar.

        ‑       De acordo ‑ replicou com tensão. Pensou que a levaria ao palácio do hotel Mandarim, onde a elite se encontrava.

        Mais tarde ligou para falar das pastas que ela tinha estudado. Flint descreveu‑lhe os acordos actuais, reclinado na sua cadeira com as mãos na cabeça.

        ‑ No que respeita ao Shangai... precisamos de mais informação antes de começar a escrever..... ‑ concluiu Damian.

        ‑ Não ddeveria ser Jamie a encarregar‑se disso? - perguntou Rachel de repente. ‑ Andou na escola com o MD e fez muitos trabalhos para eles.

        ‑Está suspenso do trabalho ‑ recordou‑lhe Damian semicerrando os olhos.

        ‑Mas este é um negócio importante‑disse ela. ‑Ele é o homem indicado para lhes ir arrancar a verdade.

        ‑ Sou sempre eu que decido. És minha secretária, não minha conselheira.

        ‑ Também sou a filha do presidente da administração

‑ replicou ela.

        ‑       És ‑ murmurou ele. ‑ Perguntava‑me quando chegaríamos a esta situação ‑ levantou‑se e caminhou com uma expressão fria em direcção a ela.

        Rachel observou-o e a sua pulsação acelerou‑se com o medo.

        ‑ Gostas de pôr as cartas na mesa ‑ troçou e estava muito perto dela. ‑ E acho que está na hora de eu te mostrar uma... ‑ arqueou as sobrancelhas. ‑ Apenas um dos meus ases. Eu controlo esta empresa, não tu, nem Jamie, nem sequer o teu pai.

        ‑ Só por algum tempo ‑ replicou ela. ‑ Vou herdar a empresa e quando isso acontecer...

‑ Expulsas‑me ‑ anunciou. ‑ Mas ninguém sabe o que pode acontecer até lá. Ora, talvez te cases e

        ‑ Não é muito provável ‑ replicou‑lhe com ira.

        ‑ Talvez mudes de opinião ‑ troçou ele.

        ‑       Não o farei. Mesmo que assim fosse

        ‑       Expulsavas-me. Sim, a vingança vai ser doce, não duvido. Enquanto isso eu controlo a empresa, e sou muito duro com secretárias insolentes.

        Rachel ficou calada e apertou os lábios com fúria.

        ‑ Assim está melhor ‑ murmurou ele, desfrutando o seu poder.

        ‑ Está quase na hora do almoço ‑ lembrou‑lhe Rachel com tensão. ‑ Há mais alguma coisa ou posso ir‑ me embora?

        ‑ Só mais uma coisa ‑ deslizou a mão pela nuca dela fazendo‑a gemer. ‑ Não gosto deste penteado ‑ puxou a fita de seda branca enquanto a olhava nos olhos, e deslizou um dedo pela nuca nua. Baixou o olhar para contemplar os mamilos que se erguiam violentamente como resposta. ‑ Daqui para a frente, usa o cabelo solto ‑ murmurou sorrindo. Depois olhou‑a nos olhos com autoridade. ‑ E é uma ordem!

        ‑ É tudo? ‑ balbuciou com ira.

        ‑       De momento sim ‑ ergueu‑se com um olhar brilhante.

        Rachel levantou‑se pesarosa e caminhou até à porta. Desejava desatar a correr porque tinha as pernas a tremer e sentia o olhar dele nas suas costas. Fechou a porta atrás de si e ficou ali, muito quieta, a tremer e respirando com dificuldade.

        A porta do escritório abriu‑se de repente. Rachel levantou a cabeça e viu uma jovem oriental muito bonita, de cabelo curto, óculos escuros e vestido preto justo.

        ‑       Sou Domino Mei‑Ling ‑ anunciou a mulher. Os óculos escuros davam‑lhe um ar de mistério. ‑ O FhIn está à minha espera.

        - claro ‑ concordou Rachel controlando‑se. ‑ Vou

        dizer‑lhe que está aqui - e bateu com força na porta de Damian. Abriu‑a um pouco e disse: ‑ A menina Mei‑Ling

        aqui.

        ‑ Manda‑a entrar.

        Rachel afastou‑se para um lado para deixar passar a bonita e enigmática mulher, que fechou a porta atrás de si. Não pôde evitar perguntar‑se se seria sua amante. Rachel não gostava da tensão que se criava no seu estômago perante aquela ideia. Fazia‑a recordar a maneira como entrou no seu apartamento de Londres e viu ali Damian Flint e pensou que era o amante secreto de Jenny. Pareciam ciúmes. Mas como podiam ser? Antes nunca se tinha sentido tão ciumenta...

        Recuperou‑se e apertou os lábios. Pensou que o melhor era afastar‑se uma hora para comer e esquecer Damian Flint.

        Ao sair à rua Des Voeux, inspirou o ar quente e húmido. Havia barulho por todo o lado e gente que corria de um lado para o outro.

        ‑ Espera! ‑ gritou uma voz do edifício Swift. ‑ Rachel, espera!

        Voltou‑se e gemeu de alegria quando viu Tony a correr para ela. Foi ao seu encontro de imediato e ele levantou‑a no ar. Rachel sentiu‑se muito contente quando viu o seu melhor e mais querido amigo.

        ‑ Tony!

        ‑ Querida Rachel!

        Abraçaram e riram com os olhos brilhantes.

        Naquele momento Damian saiu do edifício em direcção à sua limusina, com a bonita Domino pelo braço. Olhou para Tony e Rachel com desconfiança, que continuavam abraçados.

‑ Acabo de saber que voltaste para a Swift. É verdad que estás a trabalhar como secretária na empresa?

        Rachel viu Damian a pouca distância quando ele abria a porta da limusina a Domino.

        - Tony, vamos comer ou fazer qualquer coisa

        Comeram no Califórnia, um local nocturno com luzes de néon. Os locais nocturnos em Hong‑Kong estão abertos todo o dia. Aquele era muito bom, limpo e servia uma comida excelente.

        Rachel contou‑lhe depressa como se dera o ataque cardíaco do seu pai.

        ‑ Jamie sempre foi muito auto‑destrutivo. Agora também quer destruir o Charles ‑ comentou Tony. ‑ E a ti? Ainda te querem partir aos bocados?

        ‑ Sim, mas isso não é minha principal preocupação - admitiu. ‑ Damian Flint é quem mais me inquieta... - alguma coisa a preveniu para não mencionar o seu temor do casamento. Isso também a incomodou. Tinha sempre confiado em Tony, mas não lhe podia contar isso.

        ‑ Não te preocupes ‑ repôs ele. ‑ Eu sei que consegues controlá‑lo. Simplesmente conserva a calma e não poderá baralhar-te.

        ‑ Esse é o problema. Não consigo manter a calma e ele confunde‑me ‑ baixou o olhar.

        ‑ Precisas de te divertir ‑ declarou Tony. ‑ Sugiro‑te ir dançar ao 1997!

        ‑ É precisamente isso do que preciso! ‑ exclamou Rachel.

        ‑ Perfeito! Ao diabo com o cansaço da viagem. Vou levar‑te esta noite e ficarei acordado até os olhos se fecharem.

        Quando regressou ao escritório, Damian chamou‑a com voz dura. Rachel ficou tensa e obedeceu. Ele estava junto às janelas com as mãos nos bolsos.

‑ Pensei que o Radcliffe estivesse em Londres ‑ falou

        ‑       Estava lá em negócios ‑ explicou. ‑ Regressou hoje. Soube que eu estava a trabalhar contigo, e

        ‑       Soube ‑ interrompeu‑a. ‑ Precisamente ‑ caminhou em direcção a ela com os olhos semicerrados. - Olha, Rachel, Radcliffe não é uma boa companhia para ti nesta crise familiar Está claro?

        ‑ O quê...? ‑ os seus olhos deitaram faíscas de ira. - Não queres que esteja com ele? Estás louco! Não vou renunciar a...

        ‑       Se quiseres, podes fazê‑lo ‑ interrompeu‑a ele. - Mas lembra-te que é um membro muito importante da comunidade financeira. Também fala com as pessoas, garanto-te, de qualquer tema que tenhas nessa mente vazia.

        ‑ Como te atreves? ‑ perguntou ela furiosa.

        ‑ Não lhe digas nada que ele possa contar à comunidade ‑ declarou Damian. ‑ Já nos basta ter o Charles no hospital, Jamie acusado de agressão e tu a trabalhar comigo. Não quero que os rumores destabilizem as acções. Entendes?

        Lutou para manter o controlo.

        ‑ Sim, senhor!

        ‑ Volta para o trabalho ‑ olhou‑a; ‑ Vamos ter uma tarde muito ocupada.

        Rachel bateu com a porta quando saiu. Manter a calma! Era uma piada. Damian Flint fazia todo o possível para inflamá‑la em cada instante.

        Naquela noite foi visitar o seu pai no hospital. Encontrou-o muito melhor, a ouvir música clássica.

        ‑ Como foi o teu primeiro dia como secretária do Damian? ‑ perguntou‑lhe debilmente, mas com os olhos brilhantes. Escutou entusiasmado quando Rachel lhe contou algumas meias verdades sobre o seu trabalho.

        Não havia oportunidade de convencer o seu pai que Damian era uma víbora, pensou quando apanhou um táxi- para casa. De momento devia aceitar as coisas tal como estavam.

        O resto da semana passou quase da mesma maneira que o princípio. Os dias no escritório eram tensos, mas o trabalho tornou‑se mais interessante do que tinha imaginado. Enfrascou‑se numa rotina frenética com Damian Flint, e via o seu pai todos os dias e achava-o melhor. Também se mantinha em contacto com Jamie. Estava muito contente por Charles estar melhor, e isso deu esperanças a Rachel de uma possível reconciliação. Embora continuasse acusado de agressão, o julgamento estava programado para daí a dois meses. Isso dava‑lhe tempo para esperar e comentá‑lo com Charles quando estivesse melhor. O seu único alívio era Tony, que a levava a passear todas as noites. Iam aos seus lugares favoritos:

1997, Rick's Café, Go‑Down e às vezes iam à Casa da Fatalidade, em Wan Cham.

        No sábado de manhã Rachel estava no terraço, com um vestido vermelho de Verão, quando tocou a campainha. Nightingale abriu a porta.

        ‑ O senhor Flint ‑ anunciou um momento depois.

        Rachel olhou-o com irritação quando ele entrou na sala.

        Estava perigoso e sensual com as suas calças azuis e a sua camisa branca com o colarinho aberto. O seu peito bronzeado mostrava os pêlos escuros, e uns óculos pretos escondiam os seus olhos. A pulsação de Rachel acelerou‑se perante aquela consciência irritante que sentia junto dele. Naquele dia era mais forte, mais profunda porque ele vestia roupa informal.

        ‑       A que devo a honra? ‑ troçou ela.

        ‑       O teu pai vai sair do hospital à hora do almoço - anunciou Damian. ‑ Pensei que talvez quisesses ir comigo buscá‑lo.

‑       O meu pai sai hoje e sou a última a saber! ‑ os seus olhos brilharam. ‑ Que...!

                ‑       Não sejas infantil ‑ repreendeu‑a. ‑ Eu sou o contacto com o hospital. Telefonam‑me a mim, não a ti.

                Rachel sentia‑se dorida por o seu pai não lhe ter telefonado a ela. Depois de uma vida em que a tinha devorado emocionalmente, de repente sentia‑se relegada pelo odioso Damian Flint.

                - Não fiques aí a olhar para mim ‑ murmurou ele. Vens ou não?

                ‑       Sim ‑ respondeu com fúria.

                ‑Bem‑voltou‑se, meteu as mãos no bolso das calças e deu algumas ordens à amah. ‑ Nightingale, prepare o quarto do senhor Charles.

                ‑       Sim, senhor Damian.

                ‑       Leve para lá uma televisão para que possa ver as informações de Hong-Kong, e todos os seus programas favoritos. Além disso, prepare por favor um jantar para três para esta noite.

                Furiosa, Rachel avançou para ele.

                - Espera um minuto! Ninguém me disse nada sobre isto

                - São ordens do teu pai ‑ anunciou Damian com dureza ‑ Suponho que não terás objecção em jantar com o teu pai esta noite, pois não?

                ‑       Claro que não! ‑ replicou com ira. ‑ Simplesmente gostaria que me levassem em consideração!

                Ele olhou‑a com um desprezo que a irritou.

                ‑       Vamos ‑ apressou‑a. ‑ Devemos ir buscá‑lo ao meio‑dia.

                Dirigiram‑se ao hospital no carro de Damian. Iam no banco de trás, com uma janela aberta. A brisa quente alvoroçava o cabelo de Damian. Rachel estava consciente

       do seu corpo poderoso e musculoso. Cada pormenor da sua aparência ficQu gravado na sua memória.

‑       Malditos comprimidos! ‑ exclamou Charles enquanto Damian o ajudava a entrar no carro.

        ‑ Vai correr tudo bem ‑ acalmou-o Damian. ‑ Deves descontrair‑te.

        ‑       Contigo encarregue de tudo, posso descontrair‑me finalmente ‑ anunciou Charles.

        O carro dirigiu‑se a casa e o seu pai tagarelou alegremente. Quando se detiveram na estrada, Nightingale saiu a correr.

        ‑       Bem‑vindo a casa, senhor Ch aries ‑ cumprimentou-o com alegria. ‑ Coloquei uma televisão no seu quarto, e flores frescas, e fruta... manga, papaia.

        ‑Não quero ir para a cama! ‑ disse Charles apoiando‑se no forte braço de Damian. ‑ Acabo de sair de uma! Leva‑me para o terraço e prepara‑me um ponche Sirgapura.

        ‑       Nada de álcool ‑ replicou Damian com firmeza e levou-o para o terraço.

        ‑       Ah, assim está melhor ‑ Charles sentou‑se numa cadeira de baloiço. ‑ Nunca me cansarei desta paisagem.

Não é tão bonita?

        O telefone quebrou o silêncio da casa.

        ‑       Eu atendo ‑ anunciou Damian e entrou como se fosse o dono da casa. Era outra exibição de poder que fez ferver o sangue de Rachel. Depois de um momento, Damian levantou a cabeça e olhou‑a friamente. ‑ É para ti

‑ explicou e passou‑lhe o auscultador. ‑ Radcliffe!

        ‑       Olá, Tony ‑ respondeu Rachel.

        ‑       Olá, linda ‑ cumprimentou‑a com alegria. ‑ Vens ao meu barco amanhã à tarde?

        ‑       Não o perderia por nada deste mundo! ‑ respondeu ela a sorrir.

        ‑       Perfeito! Passo para buscar-te à uma e meia. Leva o teu fato de banho mais sensual. Os rapazes estão apaixonados por ti como de costume.

‑ Adulador! ‑ riu ela. ‑ Levarei o fato de banho mais sexi que encontrar! Vemo-nos amanhã. Adeus - Voltou-se e quase chocou contra o forte peito de Danian.

        ‑       Oh! ‑ corou. ‑ Estavas a escutar às escondidas, Damian?

        ‑       Saiste com o Radcliffe todas as noites desta semana.

        ‑       Também és espião? ‑ replicou ela com os olhos brilhantes.

        ‑       Onde vais amanhã com ele? ‑ os seus olhos azuis brilharam de ira.

        ‑       Vou passar a tarde no barco dele ‑ respondeu entre dentes. ‑ Alguma objecção?

        ‑       Desde que não fales com ele, não ‑ replicou. - Voltou‑se e saiu para o terraço.

        -Quando Rachel se recuperou, saiu para o terraço e sorriu ao seu pai.

        Charles olhou‑a com fadiga.

        ‑       Rachel, andas a sair com esse Dom Juan do Radcliffe outra vez?

        ‑       Pensava que gostavas do Tony! ‑ protestou surpreendida pela reacção do seu pai. ‑ Conheces‑o há anos... Até passávamos o Natal com a família dele!

        ‑ Bem... ‑ o seu pai mexeu‑se com descontentamento. - Isso era quando tu ainda eras uma criança e sabia que

não havia nada sério entre vocês.

        ‑ Mas, papa...

        ‑       Tens quase vinte e cinco anos ‑ interrompeu‑a Charles. ‑ Devias pensar em casar, escolher um companheiro adequado, ter filhos. Não devias sair com jovens aloucados como Radcliffe!

        Corando, Rachel olhou para Damian à espera da sua troça, mas ele contemplava a baía com uma expressão ilegível.

‑ Voú com ele e os seus amigos no barco ‑ explicou Rachel. ‑ É só por diversão

        ‑ Diversão! ‑ exclamou o seu pai com fúria. ‑ Nunca tive tempo para a diversão quando tinha a idade dele! Estava demasiado ocupado a tentar gerir esta empresa e fundar uma dinastia! E fiz um belo trabalho! A minha mulher morreu antes de tempo, o meu único filho nasceu morto e a minha única herdeira é uma egoísta que só quer divertir‑se ‑ exclamou e elevou uma mão ao peito. ‑ Vá tudo para o diabo!

        Rachel empalideceu e aproximou‑se dele a tremer.

        ‑ Está bem ‑ acalmou-se alarmada pela ânsia de Charles. ‑ Vou telefonar ao Tony e cancelo o encontro. Ficarei em casa contigo, a tratar de ti...

        ‑ Não sejas tola! ‑ suspirou o seu pai. ‑ Querida, não quero exigir‑te nada.

        ‑ Schh! ‑ Rachel estava aterrorizada e acariciou‑lhe a mão para acalmá‑lo.

        ‑ Preocupo‑me contigo, preocupo‑me com a tua com panhia, o futuro...

        ‑ Não deves preocupar-te ‑ disse‑lhe Rachel. ‑ Prometo‑te que farei tudo o que quiseres para não te aborrecer.

        ‑ Mas tens que casar bem! ‑ sussurrou apertando‑lh a mão. ‑ Tens que fazer isso... ou ficará tudo destruído.

        ‑ Dou‑te a minha palavra de honra de que vou encontrar um homem que possa salvar a Swift e depois caso-me com ele ‑ prometeu‑lhe Rachel com sentimento.

 

Jantaram na sala de mogno. Damian estava à frente dela e a jovem, cada vez que olhava para ele lembrava‑se da sua promessa apressada. Ninguém excepto Damian podia controlar a empresa. Tony não era o indicado. Oh, era encantador, sim, mas não tinha comparação com Damian Flint. Aquele pensamento incomodava‑a. Aliás, deixava‑a furiosa, já que indicava um respeito oculto por Damian e odiava reconhecê‑lo. Era mais conveniente odiá‑lo, pensar que era uma víbora, um vilão cruel. Não era bom enfrentar o facto dele ser dinâmico, inteligente, com o dom para as finanças e o poder. Naquele momento, Rachel reconheceu que a sua atracção por ele era mais do que física. "Não respeito Damian Flint", pensou para si própria com ira. "E também não o admiro. É duro, cruel e não quero ter nenhum tipo de relação com ele".

        Depois do jantar, Charles comentou:

        ‑ Estou cansado. Desculpem‑me... ‑ e foi‑se deitar ajudado por Nightingale.

        Rachel e Damian olharam‑se sob a luz ténue da sala.

        ‑ Um brandy? ‑ sugeriu ele friamente.

        ‑ Obrigada ‑ aceitou ela tensa, consciente de que o seu pai os tinha deixado sozinhos de propósito.

        Damian dirigiu‑se ao bar. O soalho de madeira polida brilhava; um tapete persa estava estendido no centro. Lá fora, as cigarras cantavam, o mar tinha um tom azul escuro e só o ruído do ar condicionado quebrava o silêncio. Damian regressou e entregou‑lhe o seu brandy.

        ‑ Toma ‑ os seus dedos compridos roçaram os dela, acelerando‑lhe a pulsação.

A mão de Rachel tremia quando bebeu o brandy. O ventilador zumbia suavemente, agitando o seu cabelo negro. O seu vestido vermelho era muito sensual.

        ‑       Isso é que foi uma promessa ‑ comentou ele. Espero que consigas cumpri‑la.

        ‑       Claro que vou cumpri‑la! ‑ exclamou sem olhá‑lo nos olhos.

        ‑       Já escolheste o teu marido?

        ‑       Ainda não, mas garanto‑te que me vou concentrar nisso.

        ‑       Não tenho dúvidas ‑ sorriu com dureza.

        Rachel olhou- no meio de um silêncio tenso. Ela estava demasiado consciente da sua presença física; a sua camisa aberta deixava ver o seu peito bronzeado.

        ‑       Porque é que estás interessado nos meus planos matrimoniais? ‑ perguntou ela de repente. ‑ Afinal de contas, tu estás demasiado ocupado com a voluptuosa Domino.

        ‑       Voluptuosa? ‑ sorriu com cinismo.

        ‑       Óculos escuros, vestidos justos, um ar de mistério oriental...

        ‑       Ah, sim ‑ murmurou ele contemplando‑a.

        ‑       Aquele tipo de mulher que os homens gostam. Não sei porquê ‑ comentou ela. "Cuidado! Podes parecer ciumenta", disse para si própria.

        ‑       Não sabes? ‑ murmurou ele com os olhos semicerrados.

        ‑       Não, não sei. ‑ É óbvio que tu gostas. Estão loucamente apaixonados?

        ‑       Somos apenas bons amigos ‑ os seus olhos brilharam.

        ‑       Tony diz que tu tens uma grande reputação.

        ‑       Ele gosta de armar escândalos ‑ recordou Damian e aproximou‑se dela. ‑ Já te tinha dito.

‑       Domino esteve em Londres contigo, não foi? - perguntou ela.

        ‑       Era a minha secretária antes de ti ‑ confessou ele.

        Rachel ficou tensa.

        ‑       Ora, que coincidência! E renunciou tão repentinamente? Depois de uma viagem de negócios a Londres com o chefe, todas as despesas pagas... Ora, ora, ora.

        Ele riu suavemente.

        ‑       Sim, é verdade!

        ‑       E eu estava precisamente no lugar apropriado ‑ os seus olhos brilharam. ‑ Um dia estou em Londres e no seguinte sou secretária de Damian Flint em Hong‑Kong!

        ‑       Sim, que sorte, não é? ‑ murmurou com um tom burlão.

        ‑       Mas quem pode adivinhar o futuro?

        ‑       Ah, eu podia fazer uma aposta.

        ‑       Sim? ‑ perguntou com tensão. ‑ Que inteligente, senhor Flint! Seria tão amável de partilhar comigo as suas previsões?

        ‑       Não neste momento.

        Estavam muito perto um do outro. Damian olhou a boca dela com os olhos semicerrados, e o coração de Rachel acelerou‑se.

        ‑       Que pena! ‑ comentou ela com voz trémula, tentando dissimular a sua confusão. ‑ Porque poderíamos partilhar previsões. Nunca se sabe o que a sorte tem para nós!

        ‑ Ah, sim?

        ‑       Sim ‑ afirmou. ‑ Talvez alguém não longe daqui decida aproveitar as oportunidades que tu querias para ti

        ‑       Quem faria uma coisa dessas?

        ‑       Eu não ‑ brincou ela.

        ‑       Não, claro!

        Rachel forçou uma gargalhada.

        ‑       Odiaria que o pensasses sequer!

- Sim ‑ sussurrou ele olhando‑a intensamente. ‑ E o ódio é uma emoção muito poderosa, Rachel. Muito poderosa. Tu não sentes nada assim parecido por mim... pois não?

        ‑ Não, claro que não ‑ olhou-o com desprezo e depois estudou-o com mais atenção. A sua pulsação acelerou‑se.

        - Não sinto nada... ‑ tentou que a sua mente funcionasse e olhou-o de novo. ‑ Não sinto ódio por ti. Eu... ‑ de repente fixou‑se nos seus lábios e o seu coração bateu ainda mais rápido, batendo‑lhe nas costelas como um martelo.

        Damian aproximou‑se mais e lentamente deslizou as fortes mãos pela cintura dela.

        ‑ Eu não... - Rachel engoliu em seco e lutou por pensar, enquanto subia as mãos para os ombros dele, olhava o seu peito, o seu pescoço bronzeado e os seus lábios.

        Ele baixou lentamente a cabeça. As suas bocas encontraram‑se e o breve arfar da sensação de Rachel converteu‑se num gemido quando fechou os olhos e o beijou por fim. Ao abraçá‑lo pelo pescoço, o copo do brandy caiu para o chão. Rachel abriu a boca com ânsia, acariciou‑lhe o cabelo, pressionou o seu corpo contra o dele, enquanto se abraçavam com uma necessidade intolerável. Escutou a respiração acelerada de Damian e as exclamações da sua excitação ao mesmo tempo que a beijava profundamente, e lhe acariciava as costas. Por fim tinha explodido a paixão entre eles. Tinham sentido sempre a necessidade de se tocar, de arder cada vez que se viam.

        ‑ Oh, meu Deus...! ‑ exclamou Damian com desejo, respirando por um momento e olhando‑a com os olhos brilhantes antes de voltar a beijá‑la com mais intensidade e exigência.

        Os dedos de Rachel acariciavam‑lhe o pescoço e os seus lábios moviam‑se sobre os dele; ela sentia as suas mãos fortes sobre as suas ancas, pressionando‑a contra ele, até que sentiu com evidência a violenta e dura excitação dele contra o seu corpo. Damian soltou‑lhe o cabelo e desceu as mãos pelas costas dela, agarrando o rabo dela e apertando‑a contra si. Quando ele deslizou uma mão pelo seu seio um gemido saiu da boca de Rachel. Enquanto a tocava e acariciava, Rachel gemeu de excitação, sussurrou palavras incoerentes contra os lábios de Damian numa louca e inquieta resposta.

        ‑ Quer mais café, senhor...? ‑ Nightingale calou‑se de repente.

        Separaram‑se, corados e sem alento. Rachel cambaleou com os olhos brilhantes, os lábios inflamados e o coração a bater‑lhe com violência.

        Damian passou a mão pelo cabelo com um gesto de irritação, e Nightingale saiu de imediato.

        Rachel avançou com um gemido, tentando encontrar um sítio onde se apoiar. Perguntou‑se como tinha sucedido aquilo. O sangue agitava‑se no seu corpo. Estava tonta... Damian seguiu‑a e alcançou‑a com três passadas.

        ‑ Não! ‑ disse‑lhe afastando‑se das mãos dele. ‑ Não me toques!

        ‑ Há um momento não te incomodava ‑ comentou ele com as faces coradas.

        ‑ Não sabia o que estava a acontecer ‑ sussurrou.

        ‑ Sabias sim ‑ replicou ele e agarrou‑a. ‑ Vem cá...

        ‑ Não ‑ retrocedeu batendo‑lhe com a mão com fúria.

‑       Quero esquecer que isto aconteceu. E tu também...

        ‑ Não esperavas que isto acontecesse ‑ explicou ele.

‑       Eu também não, mas aconteceu, e agora tens medo porque te apercebeste onde teríamos chegado se Nightingale não nos tivesse interrompido...

        ‑ Não ‑ exclamou. ‑ Foi uma aberração. Nunca mais voltará a acontecer!

        ‑ Oh, sim- claro que vai acontecer! ‑ exclamou ele e agarrou‑a pelo pulso, atraindo‑a para o seu corpo duro. Rachel lutou contra ele, desejando-o e odiando‑o ao

mesmo tempo.

        ‑       Foi um disparate! Não significou nada! Estou cansada e...

        ‑ E sentes-te atraida por mim! ‑ abraçou‑a enquanto ela lutava. ‑ Bom, e que raios tem isso de mal? Beija‑me outra vez, por favor ‑ inclinou a cabeça sobre o pescoço de Rachel.

        ‑Valha‑me... ‑ sussurrou ela com êxtase enquanto ele lhe beijava o pescoço. Não... não..:

        ‑ Desejo isto tanto como tu ‑ murmurou ele levantando a cabeça.

        Rachel estudou o seu rosto e a primeira coisa que pensou foi: "Desejá‑lo?" Parecia‑lhe inconcebível que um homem tão fantástico como Damian Flint a considerasse atraente. Quando ele lhe leu o pensamento, exclamou:

        ‑ Sim...! ‑ e voltou a beijá‑la.

        O seu contacto era ardente e sensual quando as suas mãos se moviam devagar sobre o cabelo da jovem. Quando Rachel abriu a boca, o desejo envolveu-os aos dois de novo. As suas respirações aceleraram‑se quando o beijo se inflamou. A boca de Damian era violenta, cálida, exigente e as suas mãos deslizavam pelo corpo da jovem. Rachel compreendeu então que estava em perigo de perder a sensatez naquela doce e ardente vaga de excitação.

        O sangue corria pelas suas veias; gemia estremecida. Abriu a boca com desejo e depois o medo envolveu‑a como um tulão.

        ‑ Disse que não! ‑ gritou e depois deu‑lhe uma bofetada.

        Olharam‑se, Rachel estava impressionada, irritada, confundida. Damian estava igualmente irritado; os seus olhos brilhavam com ira enquanto a observava.

Por um segundo, Rachel pensou que a forçaria a responder‑lhe e estremeceu.

        ‑ Não te desejo! ‑ replicou‑lhe.

        ‑ Noutra ocasião, talvez - disse Damian. ‑ Talvez consiga pensar em alguma outra mulher que esteja disposta a admitir que me deseja, em vez de se fazer difícil - empurrou‑a com fúria, voltou‑se e saiu de casa.

        A tremer, Rachel deixou‑se cair no sofá e escondeu o rosto entre as suas mãos. Perguntou‑se como é que aquilo podia ter acontecido.

        Os lábios tremeram‑lhe quando os tocou ao recordar o beijo. Recordou o que tinha pensado quando ele lhe disse que estava tão impressionado como ela e que queria que continuasse... O seu coração sofreu um aperto. Um homem semelhante, tão...!

        Depois disse a si própria que ele apenas a utilizava para possuir a empresa e para se casar com ela.

        O seu rosto ardeu de vergonha e humilhação. Como tinha permitido aquilo? Nunca se perdoaria a si própria. Sentia‑se tola, estúpida e ingénua. Odiava-o.

"E além disso recorria à bruxa da Domino", pensou Rachel. Era isso que o canalha tinha dito, recordando‑lhe de propósito a sua amante. Sabia que isso a faria sentir‑se inferior, estúpida e insignificante perto da voluptuosa Domino e a sua vasta experiência sexual. Como o odiava!

        No dia seguinte o seu pai encontrava‑se muito alegre quando tomavam o pequeno‑almoço no terraço solarengo.

        ‑ Soube que o Damian e tu passaram uma noite muito agradável.

        Rachel corou. As más notícias voam. Em silêncio, concentrou‑se em partir uma manga.

        ‑ Coraste ‑ repôs ele. ‑ Isso disse tudo o que preciso saber.

        Á hora do almoço, Damian apareceu para almoçar. Rachel corou quando o olhou nos olhos. O canalha estava mais atraente do que nunca com uma camisola de algodão e umas calças de ganga. Ela recordou o beijo da noite anterior e corou; a mão tremia‑lhe quando ela comia a salada. Tinha‑a humilhado por completo. Queria atirar‑lhe a comida ao seu rosto exuberante de confiança.

        ‑ Como está Domino? ‑ perguntou ela quando os três estavam a tomar café no terraço. ‑ Estiveste com ela ontem à noite?

        Damian semicerrou os olhos.

        ‑ Domino? ‑ Charles olhou para Damian. - De que é que estão a falar?

        ‑ É uma piada pessoal ‑ comentou Damian Flint com um sorriso trocista, para maior irritação de Rachel.

        Depois do almoço, a jovem desculpou‑se e subiu apressada para o seu quarto.

        Tony passou para buscá‑la no seu carro desportivo vermelho. Ela colocou um vestido de Verão, contente por escapar de casa. Conduziram até à Baía Causeway, onde Tony tinha o seu barco. Levaram‑nos até ao barco num junco, propriedade de um velho chinês.

        Estava um dia bonito, e o barco estava cheio com os seus antigos amigos. Sentaram‑se todos na coberta a beber ponche e fizeram a Rachel as perguntas da praxe.

        ‑ Como está Londres?

        ‑ Continua a chover todo o Verão?

        Apanharam sol, nadaram e ouviram música. A maioria dos amigos de Tony galantearam com Rachel, mas ela não estava interessada em nenhum deles. Damian Flint tinha‑lhe demonstrado isso com um só beijo.

        às seis horas todos abandonaram o barco, e Tony levou‑a a casa. A brisa quente agitava o seu cabelo húmido.

        Então viu os jardins Tiger Balm e percebeu que iam pelo caminho de Tai Hang.

‑       Tony, podias deixar‑me no apartamento do Jamie?

        ‑ pediu‑lhe. ‑ É perto daqui.

                ‑       Claro - concordou ele.

Segundos depois, o carro parava diante do edifício que Rachel apontou.

                Jamie respondeu pelo intercomunicador quando ela tocou à campainha e abriu‑lhe a porta. Rachel despediu‑se de Tony e subiu.

                ‑       Que surpresa! ‑ cumprimentou‑a com um beijo e um abraço.

                ‑       Jamie ‑ disse suavemente. ‑ Estou com problemas. Preciso de falar contigo.

                Ficou sério naquele momento. Deu‑lhe o braço e levou‑a até ao terraço.

                ‑       Senta-te. Conta‑me tudo.

                ‑       O meu pai regressou ontem a casa ‑ apressou‑se a explicar‑lhe. ‑ Receio por ele. Aborrece‑se e preocupa‑se com tudo. Agora entendo porque teve o ataque e não me surpreenderia se tivesse outro ‑ inspirou ar e olhou para o seu tio. ‑ Ontem à noite tive que lhe fazer uma promessa. Foi estúpido da minha parte, mas estava desesperada para que se acalmasse, se descontraisse, por isso...

                ‑       Que promessa? ‑ perguntou Jamie muito sereno.

                ‑       Prometi‑lhe que encontraria o homem indicado para salvar a Swift e que casaria com ele ‑ desviou o olhar.

                A brisa quente soprava por entre as flores que estavam penduradas do terraço. Lá em baixo, os arranha-céus de Hong‑Kong brilhavam na névoa solarenga.

                ‑       Jamie ‑ continuou Rachel, ‑ só há um homem capaz de controlar a Swift.

                Jamie ficou muito pálido.

                ‑       Estou a ficar sem tempo ‑ comentou Rachel. ‑ O meu pai não consegue aguentar mais tensão. Devo agir com rapidez.

Jamie levantou‑se de repente, meteu as mãos nos bolsos das suas calças brancas e olhou para a cidade.

        Rachel também se levantou e aproximou‑se dele.

- Tenho que salvar a vida do meu pai. Se casando com

o homem adequado o consigo, como posso negar‑me?

- Creio detectar o nome de Damian Flint nesta conversa - olhou‑a com amargura.

        Rachel ficou calada e examinou o seu rosto, o seu olhar amargurado, as rugas de tensão á volta da sua boca. Em tempos foi forte, mas os anos de luta e de ciúmes reflectiam‑se no seu rosto e estava a perder.

- Pensei que o odiavas, mas não é assim, pois não?

- disse Jamie. - Começas a gostar da ideia de casar com aquele canalha...

Não é verdade! ‑ explodiu corando.

        ‑ Que traição! Não esperava isso de ti! ‑ tremeram-lhe os lábios e as lágrimas assomaram-se aos seus olhos.

        As palavras do seu tio feriam‑na, embora soubesse que não era verdade.

        ‑ Não quero casar com Damian Flint, mas talvez seja a minha única opção. Não suporto que penses que é uma traição. Sabes que gosto de ti e...

        ‑ Claro, mas penso que está na hora de ires embora interrompeu‑a com um tom cortês. ‑ Preciso de me arranjar, vou ao 6-oDown dançar.

        Rachel saiu, sentindo-se culpada. Caminhou sem rumo até que decidiu apanhar um táxi.

        Pensou que a guerra continuava, só que naquele momento Charles lançava‑a para Damian Flint, enquanto Jamie lhe chamava traidora.

        Suspirou quando o táxi entrou no jardim da casa. Pagou, saiu e tentou pensar no seu futuro incerto sem sentir medo.

        Ao entrar na sala, o seu coração apertou‑se ao ver Damian Flint a jogar xadrez com o seu pai.

‑ Olá, querida ‑ disse Charles com alegria. ‑ Anda ver como o Damian me ganha. É sempre assim.

        Damian levantou para ela os seus olhos azuis, e Rachel tremeu. Tinha uma aparência insuportavelmente sensual, reclinado no cadeirão, com a camisa aberta e as calças de ganga pretas a fazerem-lhe sobressair as pernas compridas.

        "Bem", pensou com irritação, "sinto atracção por ele; E então? Isso não significa que sinta alguma coisa. É apenas uma atracção poderosa e consigo aguentá-la. Não posso deixar que ele se aproveite, nem que me obrigue a casar por causa das suas ambições".

        Então Damian percorreu o corpo da jovem com um olhar ardente que lhe acelerou a pulsação. "Não consigo aguentar", admitiu com horror. "Não posso fazer nada

        ‑ Então? Senta-te ‑ sugeriu o pai.

        - Não posso ‑ sussurrou. ‑ Tenho que tomar um banho antes do jantar.

        ‑ Está bem, querida, mas não demores muito ‑ o seu pai examinou o tabuleiro de xadrez. ‑ O jantar estará pronto daqui a uma hora, e Nightingale esforçou‑se muito. Preparou o prato preferido de Damian: Pato à moda de Pequim.

        ‑ O preferido de Damian? ‑ Rachel ficou tensa.

        ‑ Sim, ele fica para jantar connosco.

        ‑ Xeque‑mate! ‑ pronunciou Damian com suavidade quando moveu um cavalo preto para encurralar o rei branco.

        O jantar decorreu num ambiente tenso. Rachel quase não conseguiu saborear o delicioso prato que Nightingale tinha preparado com tanto carinho. Beberam sake e Rachel ficou tonta com a bebida.

        - Aaahhh -Charles bocejou exageradamente depois do jantar. ‑ Vou já para a cama ‑ levantou‑se e contrariou Damian quando este quis levantar‑se. ‑ Não, eu consigo subir sozinho. Tenham um bom serão!

        Rachel fez uma careta quando observou o seu pai. Acompanhou Damian à sala.

        ‑ Um brandy? ‑ sugeriu Damian.

        ‑ Não, obrigada! ‑ disse-lhe recordando a noite anterior. Estava nervosa e o seu coração batia descompassadamente. "Controla‑te!", repreendeu‑se a si própria. "Não olhes para ele, e não penses em como ele é encantador e engenhoso. Nem dinâmico, forte, inteligente, bem vestido, controlado, astuto... vais ficar louca se continuas a recitar as qualidades dele, não conseguirás resistir".

        ‑ Não é preciso gritares ‑ comentou ele. ‑ Um brandy talvez consiga acalmar os teus nervos.

        ‑ Os meus nervos não têm nada! ‑ resmungou ela com o rosto corado.

        ‑ Sim? Deste‑me a impressão contrária durante o jantar ‑ dirigiu‑se ao bar e serviu um copo.

        ‑ Estás surpreendido? ‑ perguntou em voz baixa e zangada. ‑ Depois do que aconteceu ontem à noite? Claro que estou um pouco alterada, é natural. Não quero que se repita.

        ‑ Foi apenas um beijo! ‑ replicou ele.

        ‑ Sim. Apenas um beijo! ‑ respondeu com a respiração acelerada.

        ‑ E já te beijaram muitas vezes antes! ‑ repôs Damian. ‑ Cada vez que te vejo com o jovem Radcliffe,. estão abraçados. Para não falar dos outros rapazes com quem andas. Uma multidão, não é? Como é que lhes chamam? É um nome ridículo

        ‑ Os foliões ‑ explicou ela olhando-o sob as suas pestanas. Depois respirou fundo e voltou‑se para ele.

        ‑ Os foliões! ‑ repetiu ele. ‑ Como me pude esquecer dum nome desses?

‑       Somos apenas amigos! ‑ protestou ela virando-lhe as costas.

        ‑       Claro! Então porquê tanto alvoroço por causa de um beijo?

        ‑       Não estou a armar nenhum alvoroço ‑ sentiu-o caminhar atrás dela e a sua pulsação acelerou‑se. Deu a volta, com os olhos muito abertos, pronta para repeli-lo.

‑ Não te aproximes de mim!

        ‑       Porque não? ‑ inquiriu ele examinando-a.

        ‑       Porque já sei o que vais tentar fazer, e não funcionará!

        ‑       O que tento fazer?

        ‑       Não brinques comigo ‑ advertiu-o. ‑ O meu pai deixou bem claro que quer que... nos... nos...

        ‑       Demos bem? ‑ sugeriu com um sorriso cínico.

        ‑       Podes dizê‑lo assim ‑ aceitou com os olhos brilhantes.

        ‑       Certo ‑ concordou ele com troça e deslizou as suas fortes mãos pela cintura dela, para depois atrai‑la para si.

‑ Gosto muito da ideia!

        ‑       Tira as mãos de cima de mim ‑ sussurrou, mas as suas mãos agarravam‑se aos ombros largos dele.

        ‑       Acho que não quero ‑ replicou ele. ‑ O que vais fazer contra isso?

        ‑       Dar-te outra bofetada ‑ engoliu em seco.

        ‑       Muito bem. Eu aguento.

        Rachel levantou a mão e tentou esbofeteá‑lo, mas ele agarrou-lhe o pulso e sorriu.

        ‑       Que pena! Eu fui mais rápido. A jogada seguinte é minha, parece‑me ‑ e baixou a cabeça para beijá‑la com uma habilidade sensual e ardente.

        Rachel proferiu um gemido rouco de resistência e desejo. Tentou empurrá-lo quando as mãos dele atraíram as ancas dela para si. Quando Rachel sentiu a boca de Damian reclamando a sua com uma profunda paixão, sentiu a evidência da sua dura excitação e o seu corpo pediu mais. Pequenos gemidos saiam da sua garganta. Ele era fantástico... Deslizou as mãos pelo seu pescoço, pelo seu cabelo negro, e perdeu a cabeça de novo quando o beijo se intensificou e o ouviu gemer de excitação. Aumentou a pressão até Rachel ficar hipnotizada, tonta. Ela agarrava‑se a ele com as mãos a tremer e arfava rouca contra os seus lábios. Quando sentiu as mãos dele subirem até aos seus seios para acariciar os mamilos, soltou um grito de refinado deleite. Depois Damian deslizou os lábios pelo pescoço dela para beijá-lo, e puxou-lhe o vestido para baixo tentando despi-la com habilidade.

        De repente, Rachel tentou libertar‑se do abraço ardente. Empurrou-o com força e murmurou.

        ‑ Não! Não vou permitir que faças isto!

        ‑ Não me rejeites ‑ sussurrou ele com o rosto corado.

        Rachel quis render‑se. Os seus olhos fechavam‑se e os seus dedos apertavam os duros ombros de Damian. Depois recordou o que ele queria dela e foi invadida pela ira.

        ‑ Andas apenas atrás da empresa! Fazes isto por ambição e não vou aceitar! ‑ gritou e lutou para se libertar. Depois virou‑se e correu até às escadas.

        Damian agarrou‑a pelo pulso.

        ‑ Isto não tem nada a ver com a empresa! Isto é entre tu e eu!

        ‑ Não me importa o que seja! ‑ disse‑lhe. ‑ Não vou deixar que aconteça. Agora tira as mãos de cima de mim, antes que grite tão alto que vou acordar toda a polícia de Hong‑Kong ‑ semicerrou os olhos. ‑ Estou a falar a sério, Damian. Grito como uma louca se não me soltares!

        Damian apertou os lábios, mas soltou‑a e Rachel correu para o seu quarto e fechou a porta com força. Compreendeu com uma certeza terrível que tinha fugido do seu próprio desejo.

        Vê‑lo no escritório no dia seguinte foi como entrar num incêndio. Rachel saiu do taxi em Des Voeux e pagou ao motorista. Quando chegou ao escritório sentou‑se a tremer, esperando que Damian não fosse trabalhar, mas compreendeu que estava a tentar enganar‑se a si mesma.

        A porta do seu escritório abriu‑se de repente; Rachel olhou-o e o seu coração bateu violentamente.

        Vestia um dos seus fatos formais, de corte impecável, que se adaptava bem ao seu corpo musculoso. Recordou o ar de poder que projectava sem nenhum esforço na sua vida profissional.

        ‑ Anda cá, Rachel ‑ ordenou sem sorrir. ‑ Imediatamente.

        Rachel levantou‑se, pegou numa caneta e num caderno e tentou adoptar uma aparência fria e profissional quando o seguiu ao escritório.

        ‑ Temo que tenha surgido um problema na nossa delegação de Auckland ‑ comentou ele. Estava de pé junto das janelas.

        ‑ O que foi? ‑ inquiriu ela com tensão.

        ‑ Um milionário da Nova Zelândia, chamado Forster

‑ replicou sem olhar para ela. ‑ Chegou‑lhe a notícia do

ataque cardíaco do teu pai, e quer a minha garantia pessoal em como eu serei o presidente da rede internacional,

o que inclui as negociações com Auckland.

        ‑ Tens que ir lá, é isso? ‑ Rachel humedeceu os lábios.

        ‑ Sim, mas uma garantia pessoal minha não é aceitável, a menos que seja apoiada por um membro da família Swift.

        A pulsação de Rachel começou a acelerar‑se mais e mais...

        ‑ O teu pai não pode viajar. Jamie recusaria, por isso só resta uma pessoa ‑ voltou‑se para ver como ela empalidecia e nos seus olhos aparecia uma expressão de medo e excitação. ‑ Devias ir comigo a Auckland durante três dias, Rachel.

A jovem tentou não sair a correr do escritório ao prever a viagem. Sabia o que aconteceria. Aquele desejo, a excitação opressora que ardia entre eles, num hotel e noutra parte do mundo, iria arrastá‑la cada vez mais para uma relação que já a estava a destroçar.

        Mas não podia recusar. Os rumores sobre a Swift corriam rapidamente e nos mercados de acções mundiais. Até à nomeação do sucessor de Charles as acções encontravam‑se numa situação de incerteza, prontas para a derrocada.

        ‑ Vais comigo? ‑ perguntou Damian.

        ‑ Onde ficaremos hospedados? ‑ perguntou com um gesto duro.

        ‑ Em quartos separados, claro.

        ‑ Claro ‑ repetiu corada. Olhou para os seus sapatos vermelhos e continuou: ‑ Tens razão. É uma emergência. Conheço o Forster... e se não lhe garantirmos alguma segurança ele fará declarações aos jornais ‑ respirou e olhou-o nos olhos. ‑ Sim, Damian, eu vou contigo a Auckland e representarei a minha família nessa reunião.

        Damian observou‑a em silêncio com um sorriso. Rachel acabava de reconhecer abertamente que ele era o sucessor do seu pai, e Damian sabia-o.

        A jovem voltou‑se e saiu. Fechou a porta e apoiou‑se nela. "Não tenho alternativa", disse para si própria. "Tenho que ser forte, pensar na empresa, no meu pai... não em mim".

        Mas quando estivesse em Auckland, quando se encontrasse sozinha com Damian durante três dias e três noites... o que se passaria nessa altura?

        "Vou pensar nele", reconheceu espantada com si mesma. "Não pensarei em mais nada senão nele". Mas sabia que isso seria diferente. Isso ultrapassaria qualquer outra coisa.

        "Ele vai estar ali, dia e noite. Vou vê-lo descansar, trabalhar, descontrair‑se; cansado, irritado, descontraído, divertido, despreocupado, com roupa formal ou de ganga, e as conversas que tivermos talvez quebrem o equilíbrio da atracção sexual e o respeito crescente nalguma coisa nova e mais profunda..."

        O medo envolveu‑a. "Resiste", pensou. "Rejeita-o e

lembra-te que só te quer para satisfazer as suas ambições...".

 

Auckland estava banhada pelo sol. Era uma cidade de edifícios brancos modernos. O hotel de Rachel e Damian situava‑se numa rua larga do centro da cidade, rodeado de cafés, restaurantes e lojas de roupa. O quarto dele era mesmo ao lado do dela. Rachel esperava as noites com medo e emoção. A viagem ao seu lado foi dura e muito tensa. Era como se estivessem à beira de um vulcão à espera da erupção.

        Jantaram no restaurante do hotel na primeira noite e Damian comentou:

        ‑ Falei com o teu pai antes de sairmos. Retirou a queixa por agressão e Jamie pode voltar ao trabalho.

        Rachel olhou-o com espanto. Não tinha pensado que fosse capaz de um gesto semelhante. De facto, não se atrevia a acreditar. Se o fizesse, ficaria debilitada, render‑se‑ia à sua potente atracção, e depois admitiria que tinha sentimentos por trás de tudo aquilo. Sentimentos que só lhe partiriam o coração e por isso enterrou-os por instinto, com decisão, para poder sentir apenas ódio por Damian Flint.

        ‑ Nunca fazes nada sem um motivo ‑ comentou ela.

‑ Pergunto-me porque é que ajudaste o Jamie.

        ‑ A opinião que tens de mim é muito má, hen? ‑ os seus olhos brilharam.

        Depois do jantar regressaram à suite. No elevador, Rachel sentia calor, devido à presença do poderoso corpo de Damian ao seu lado.

        ‑ Se tivermos sorte solucionamos o problema do Forster num dia ‑ informou‑ a Damian apoiado na parede e observando-a com uma expressão misteriosa. ‑ Depois podemos passar o tempo juntos.

        ‑ Espero que não! ‑ exclamou com inquietação.

        ‑ Ah, não acredito em ti ‑ troçou. A suavidade das suas palavras e o seu olhar fizeram com que o coração dela batesse de uma forma violenta.

        As portas do elevador abriram‑se.

        ‑ Boa-noite ‑ despediu‑se Rachel e saiu do elevador quase a correr para o seu quarto. Tremeu de alívio quando fechou a porta e a trancou.

        Na manhã seguinte uma limusina foi buscá-los depois do pequeno-almoço.

        O edifício da empresa Swift era construído em mármore cinzento que brilhava à luz do sol. Caminharam pelo corredor e depois subiram de elevador até à sala do conselho. Já ali, os executivos abordaram Damian.

        ‑ Senhor Flint... tenho umas propostas que gostaria que estudasse.

        ‑ Senhor....... quer um café?

        ‑ Senhor Flint...

        Ignoraram e esqueceram Rachel. De repente Damian voltou a cabeça e olhou‑a com os olhos semicerrados. Deu‑se conta de que ela já o reconhecia como presidente da administração e que só necessitava de uma confirmação oficial. Um sorriso duro desenhou‑se nos seus lábios e o coração de Rachel sofreu um aperto.

        Caminhou até ela e pegou‑lhe na mão.

        ‑ Esta é a menina Swift. Ficará sentada ao meu lado durante a reunião. Tragam-lhe uma cadeira e café.

        Todos a cumprimentaram. Rachel sentia as pernas debilitadas. Resistia ao encanto de Damian e rejeitava‑o com todas as suas forças, mas havia momentos como aquele em que ele atravessava as suas barreiras. E ali estava ela, derretendo-se de admiração por um homem que só se importava com as próprias ambições.

        Depois da reunião, foram ao sul de Auckland para comer com Forster. Kurt Forster era um homem impressionante: alto, de tez bronzeada e cabelo loiro e encaracolado, com uns olhos verdes brilhantes. A comida foi servida num salão majestoso com paredes cobertas de espelhos dourados, candelabros de cristal e enormes janelas.

        Os dois homens discutiram àcerca do futuro da Swift.

        ‑ Achas que o Charles vai renunciar?

        Damian observou‑o sem expressão.

        ‑ Parece que é o mais óbvio.

        ‑ Falou‑te nisso, Damian?

        ‑ Várias vezes ‑ inclinou a cabeça.

        ‑ Fico contente por saber. Só Deus sabe o desastre que se daria se Jamie tomasse o controlo. É um tipo agradável, mas destroçaria a Swift em cinco anos.

        ‑ Penso que não há nenhuma possibilidade de Jamie se converter em presidente do conselho ‑ anunciou Damian friamente e olhou para Rachel. ‑ O que te parece?

        Olhou‑o nos olhos. Era a sua oportunidade, e já sabia que não tinha opção.

        ‑ Não... Jamie nunca será o presidente da administração.

        ‑ Quem vai ser, Rachel? ‑ Kurt observou‑a com os olhos meio fechados.

        Rachel não hesitou.

        ‑ Damian Flint ‑ anunciou e Damian sorriu‑lhe.

        A sua mão tremeu um pouco quando baixou o copo de vinho. Queria atirar-lho à cara e gritar-lhe: "Deixa‑me em paz. Deixa de me afectar desta maneira, de atacar‑me com o teu maldito encanto, inteligência e atracção sexual". Mas evidentemente não podia fazê-lo. Devia ficar ali, ser cortês e apoiá-lo como presidente, consciente de que já o era, de que só ele podia controlar tudo, e de que algum dia também a controlaria a ela...

        Despediram‑se de Kurt Forster às sete da tarde.

        ‑ Correu melhor do que eu esperava ‑ comentou Damian dentro da limusina. ‑ Só estaremos com ele de novo na quinta‑feira, por isso amanhã temos o dia livre - sorriu-lhe com picardia. ‑ Vou alugar um carro e podemos fazer um pouco de turismo.

        A sua pulsação aumentou com uma violência que a alarmou.

        ‑ Enquanto isso sugiro que celebremos a nossa vitória com uma noite na cidade ‑ continuou Damian friamente.

‑ Encontramo-nos lá em baixo, no bar, às nove. Veste um dos teus numerosos vestidos sensuais.

        ‑ Uma noite na cidade? ‑ perguntou ela com nervosismo. ‑ E eu que pensei que te interessasses apenas por dinheiro e ambição!

        ‑ Ah, garanto-te que gosto tanto de divertimento como de trabalho.

        Mais tarde, Rachel colocou um vestido justo de veludo vermelho, que lhe chegava um pouco acima dos joelhos.

        Damian estava de pé junto ao balcão. Estava magnífico com o seu fato clássico e o seu colete preto justo. Tinha um cravo na lapela e tinha uma aparência tão impressionante que Rachel tropeçou e teve que se apoiar no seu duro peito para não cair.

        ‑ Agarro sempre uma senhora quando cai ‑ anunciou ele. ‑ Sobretudo quando tem um vestido tão sensual!

        Rachel afastou‑se, consciente que o empregado os olhava com um sorriso indulgente.

        ‑ Vamos? ‑ sugeriu Rachel com tensão.

        Damian tinha reservado uma mesa no melhor restaurante da cidade. Comeram ostras e lagosta com salada, numa mesa de onde se podia contemplar o porto.

        ‑ Há um local nocturno excelente do outro lado do porto ‑ comentou Damian quando bebiam café. ‑ Vamos lá depois de termos bebido qualquer coisa.

        Rachel olhou para ele.

        ‑ Damian Flint, presidente da administração, num local nocturno? ‑ provocou‑o.

        ‑ Gosto do ambiente dos locais nocturnos ‑ explicou.

‑ São sensuais, enérgicos e dinâmicos. Além disso, faz bem dançar. Mens sana,,...

        ‑ Uma mente sã num corpo são?

        ‑ Eu cuido do meu corpo! Tenho um ginásio em minha casa ‑ explicou Damian. ‑ Levanto pesos todas as manhãs antes de ir para o escritório.

        ‑ Sem dúvida, tens uma condição física muito boa - comentou ela num tom estranho.

        ‑ Sim ‑ murmurou ele. ‑ Treino muito.

        Rachel imaginou‑o a fazer exercício. Reinou um breve silêncio.

        ‑ Vamos embora? ‑ sugeriu Damian. Rachel percebeu que estava a segurar o copo com tanta força que podia parti‑lo. Corada, levantou‑se.

        ‑ Sim, claro.

        Caminharam juntos. Os barcos do porto balançavam, iluminados. A rua estava ladeada de cafés e restaurantes.

        ‑ Porque não me contas como conservas a tua figura sensual, Rachel? ‑ sugeriu ele.

        ‑ Ballet ‑ replicou. Os seus saltos vermelhos ressoavam no pavimento. ‑ Queria ser bailarina quando era pequena. Quem não quer? ‑ sabia que estava a falar demasiado para esconder os seus nervos. ‑ Mas era muito trabalho e sacrifício, por isso deixei quando tinha dezasseis anos. Mesmo assim, pratico uma hora diária.

        ‑ Tens razão para te moveres com tanta graça - observou ele friamente.

        Rachel olhou‑o enquanto caminhava a seu lado. "Só quer a empresa, não a ti", disse para si própria mais do que uma vez. "É ambição pura".

        O local estava escuro e era muito elegante. Enormes luzes especiais desciam do tecto para cintilar ao ritmo da música. Damian conduziu‑a para uma cadeira e pediu uma garrafa de champanhe, que lhe foi servida num balde de prata.

        Damian serviu, levantou o seu copo e anunciou:

        ‑ Pela nossa vitória.

        ‑ Nossa vitória? ‑ perguntou Rachel. ‑ Não queres antes dizer a tua?

        ‑ Acho que tu beneficiarás de qualquer vitória da Swift ‑ examinou‑a. ‑ Afinal de contas, é a empresa da família.

        ‑ É verdade ‑ observou‑o com irritação. ‑ Mas pensa em como a tua vitória seria completa se fosses membro da família e a empresa te pertencesse ‑ reinou um breve silêncio. ‑ Pensa em como te sentirias se fosses a cabeça... da familia ‑ acrescentou com um sorriso.

        O ambiente vibrava no local, as luzes cintilavam, iluminando o sorriso sarcástico de Damian.

        ‑ Ou já consideraste essa possibilidade? ‑ terminou Rachel com um sussurro.

        ‑ Não ‑ os seus olhos brilharam. ‑ Estou demasiado ocupado a considerar possibilidades... mais excitantes - agarrou-lhe no pulso. ‑ Vamos dançar.

        Acelerou‑se‑lhe a pulsação quando lhe permitiu que a levasse para a pista sob as luzes.

        Damian atraiu‑a para si. Ele movia‑se, fazia‑a girar, encurralava‑a com um braço na cintura e seguia o ritmo da música sem nenhum esforço. Rachel estava sem alento pela emoção. Damian parecia dominar o seu corpo. Era como se ele estivesse a fazer amor com ela na pista. Quando a música chegou a um climax estrondoso, ele inclinou‑a agarrando-a com um braço, e os seus rostos ficaram separados apenas por uns centímetros.

        Ficaram assim durante uns segundos. Os dois respiravam com dificuldade, as suas bocas quase se tocavam. Começou outra canção; era sensual, romântica e lenta. Lentamente, Damian levantou‑a.

        Rachel estava muito débil e, a tremer, agarrou‑se a ele; as suas mãos subiram até ao seu pescoço forte. Enquanto se moviam juntos, os seus corpos estavam presos na violenta tensão do seu desejo acelerado. As coxas dele roçavam nas de Rachel, que apoiou o rosto no ombro de Damian. "Não posso desejá‑lo assim... Não posso", dizia para si mesma.

        Mais tarde regressaram à limusina. Observaram‑se na escuridão. Os seus rostos estavam tensos e os seus olhos brilhavam.

        No hotel, Damian conduziu‑a ao elevador e perguntou-lhe:

        ‑ Posso sugerir‑te uma bebida no meu quarto?

        ‑ Claro que não! ‑ a voz dela tremeu.

        Estava muito perto e observava‑a intensamente. Desceu a vista até ao vale que se abria entre os seus seios. Rachel soltou um gemido sensual, e segundos depois Damian inclinou a cabeça para pressionar os seus lábios cálidos contra a curva dos seus seios.

        Rachel sussurrou qualquer coisa incoerente. A sua mão trémula moveu‑se para tocar na cabeça dele. Aquela boca cálida movia‑se sobre a sua pele sensível, arrancando-lhe gemidos de desejos violentos enquanto lhe acariciava o cabelo.

        Damian levantou o rosto corado e depois beijou‑a, entreabrindo-lhe os lábios com ânsia, enquanto Rachel arfava e lhe acariciava o cabelo e os ombros, cega a tudo excepto àquela excitação opressora.

        As portas do elevador abriram‑se. Continuaram a beijar‑se, apoiados na parede. A coxa de Damian deslizou entre as pernas dela quando a levantou. Rachel arqueou-se contra ele arfando de desejo.

        As portas do elevador fecharam‑se e tornaram a abrirse.

        ‑       Vem para o meu quarto ‑ Damian levantou a cabeça; a sua respiração era acelerada.

        ‑       Não ‑ resmungou ela e resolveu tentar libertar‑se.

        ‑       Meu Deus, não te mexas assim! ‑ disse-lhe, apertando-lhe a anca quando baixou a cabeça para a beijar.

        Rachel bateu-lhe em pânico. Quando Damian deitou a cabeça para trás, ela escapou‑se, saiu do elevador e procurou às cegas a chave do seu quarto.

        ‑       Não fujas, cobarde! ‑ Damian estava por trás dela e agarrou‑a pelos ombros, fazendo-a virar‑se. ‑ Não vês que só consegues piorar as coisas?

        ‑       Não! ‑ gemeu lutando por se afastar. ‑ Afasta-te de mim, cruel e avarento...

        ‑       E o que nos acontece aos dois ‑ disse ele.

        ‑       E a empresa! Só queres a empresa!

        ‑       Estás louca? ‑ perguntou com voz rouca e o rosto ruborizado. ‑ Com os teus braços no meu pescoço, só consigo pensar em... ‑ calou‑se quando uma porta se abriu no corredor. Nesse momento Rachel escapou, entrou e fechou a porta.

        ‑       Miúda...! ‑ Damian bateu na porta e gritou. ‑ Abre esta maldita porta e deixa‑me entrar!

        ‑       Não, Damian! ‑ retrocedeu. ‑ Podes ficar aí a noite toda, mas eu não vou abrir a porta.

        ‑       Abre ou arrombo-a! ‑ advertiu, batendo com violência.

        ‑       à vontade! ‑ sugeriu enquanto recuava. ‑ Vamos ver o que a gerência diria depois. Vamos ver o que dizem os jornais...

‑       A gerência não me assusta... nem os malditos jornais!

        ‑       Claro! ‑ ameaçou. ‑ Então pensa no que o meu pai dirá quando souber que entraste à força no meu quarto e me violaste!

        Reinou um silêncio tenso. Depois Damian disse com tom mordaz:

        ‑       Quando por fim acontecer entre nós, Rachel, não

será uma violação. Será uma avalanche e tu sabes bem - bateu na porta com fúria. Depois foi para o seu quarto e

fechou a porta com força.

        Rachel dirigiu‑se à cama e atirou‑se para cima dela. Não fazia ideia de como se devia comportar. Como podia resistir se ardia debaixo do seu olhar? A maneira como tinha olhado para os seus seios no elevador tinha‑a feito tremer de excitação. A sua experiência tinha‑se limitado a beijos indiferentes com homens ternos e amáveis que não a afectaram. Damian Flint não entrava nessa categoria.

        "Seduzir-te? É uma jogada astuta. Rachel. És a chave para o futuro dele"; recordou as palavras de Jamie enquanto se deitava. O seu corpo estava rígido de tensão pelo violento e insatisfeito desejo.

        "Está a dar cabo de mim", pensou. "Não é só atracção física. Se fosse, não me sentiria assim, como se estivesse a tentar em vão fechar uma porta que ele continua a abrir com um olhar, uma palavra, um movimento de cabeça."

        Adormeceu entre sonhos eróticos e inquietos. Um homem moreno oculto num bosque usava um casaco do seu pai e os óculos escuros de Jamie. Ela fugia dele. O pânico produzido pelo pesadelo fazia com que a sua respiração e

o seu coração ecoassem num caminho ladeado por árvores até que viu a lua a brilhar numa janela do jardim do

Eden. Deu a volta, suando de pânico, para ver Damian na clareira da floresta. Quando avançou para beijá‑la, a janela quebrava‑se em mil pedaços, e começavam a fazer amor de uma forma feroz e apaixonada sobre a erva.

        Rachel gritou e acordou, coberta de suor, a tremer e a olhar à sua volta. Já tinha amanhecido. O horror passou quando regressou à realidade. Tinha sido apenas um sonho.

        De repente escutou o som de uns passos e depois umas batidas na sua porta.

        ‑       Rachel! O que aconteceu? Estás bem? ‑ perguntou Damian.

        ‑       Sim, estou bem ‑ gritou a tremer. ‑ Não te vou deixar entrar!

        ‑       Ouvi-te gritar! ‑ replicou ele. ‑ O que se está a passar aí? Está alguém contigo?

        ‑       Tive um pesadelo! ‑ saiu da cama e caminhou em direcção à porta. ‑ Foi apenas isso... um sonho mau.

        Reinou um silêncio tenso.

        ‑       Sobre o quê? ‑ exigiu ele saber. ‑ Sonhaste com quê?

        ‑       Não tem importância... ‑ engoliu em seco.

        ‑       Para mim sim! ‑ depois de uma pausa, sussurrou: - Deixa‑me entrar...

        A tentação levou‑a a fazer o que ele pedia. Rachel fechou os olhos e apoiou‑se na porta com o coração acelerado. De repente recordou a janela no jardim do Eden, do sonho, e retrocedeu de imediato.

        ‑       Não, Damian! Vai-te embora e deixa‑me sozinha!

        ‑       Raios! ‑ bateu na porta e depois disse num tom mordaz. ‑ Vejo-te daqui a vinte minutos para tomar o

pequeno-almoço ‑ e afastou‑se.

        Rachel perguntou‑se durante quanto tempo mais poderia suportar aquela pressão.

        Vestida com umas calças de ganga e uma camisola de malha branca, Rachel desceu para tomar o pequeno-almoço. Damian já lá estava, a beber café e com o rosto sério.

        ‑       Alugaste o carro? ‑ perguntou Rachel para quebrar o silêncio.

        ‑       Sim ‑ declarou. ‑ Pede o teu pequeno-almoço. Quero sair cedo.

        Olhou‑o com fúria, mas obedeceu. Era óbvio que estava de mau humor.

        Depois de comer, Damian foi buscar as chaves do carro à recepção, e saíram para a cidade.

        ‑       Onde vamos? ‑ perguntou Rachel quando se perderam no tráfego.

        ‑       às compras ‑ replicou. ‑ E depois passeamos.

        "Que simpático", pensou e olhou pela janela. Pararam na rua Queen. Rachel comprou uma estatueta de madeira trabalhada, de um guerreiro maori, para o seu pai; um nu trabalhado de conchas para Jamie; e um pequeno jogo de galheteiros maoris para Tony.

        ‑       Pareces uma turista convencional ‑ disse Damian com irritação, olhando o que ela tinha comprado.

        ‑       São para o Tony ‑ explicou deliberadamente.

        Semicerrou os olhos e depois admirou o nu da prenda que ela tinha comprado para Jamie.

        Bonita ‑ murmurou acariciando-lhe as curvas. Faz‑me lembrar a Domino.

        ‑       Ah, sim ‑ os ciúmes asfixiaram‑na e sentiu uma verdadeira ira. ‑ Já me tinha esquecido! O que vais inventar quando lhe disseres que tiveste que trazer outra mulher a esta "viagem de negócios"?

        ‑       És a minha secretária ‑ afirmou ele. ‑ E a herdeira Swift. Não és outra mulher!

        ‑       Foi isso o que disseste a Domino?

        ‑       Não lhe disse nada.

        ‑       Mentiste por omissão! ‑ exclamou com pesar. ‑ És tão cruel na tua vida pessoal como na profissional, hen?

‑       De todo! ‑ riu com diversão.

        Rachel estremecia de ciúmes e de medo. Era a prova que necessitava que Damian era um homem sem escrupulos.

        Voltaram ao carro. Durante um bom bocado reinou o silêncio.

        ‑       O que disseste ao Radcliffe sobre esta viagem? - perguntou‑lhe Damian de repente.

        ‑       Nada.

        ‑       Mentiste por ómissão?

        ‑       Valha‑me Deus! ‑ explodiu ela com irritação. Tony e eu não estamos apaixonados!

        ‑       Eu também não estou apaixonado pela Domino - replicou friamente.

        ‑       Ora! ‑ os seus olhos brilharam. ‑ Pois isso ainda faz com que a tua conduta seja pior!

        ‑       Porquê?

        Reinou o silêncio. Dirigiram‑se aos campos dos arredores. As árvores apareceram no horizonte e Rachel sentiu uma pontada de ciúmes.

        ‑       Porque é tua amante ‑ respondeu com a voz carregada de ira. ‑ Porque é que havia de ser?

        ‑       Radcliffe é teu amante? ‑ semicerrou os olhos.

        Rachel respirou fundo.

        ‑       Basta um simples sim ou não ‑ interrompeu‑a com cinismo. ‑ Se falamos das nossas vidas amorosas, a tua está igualmente aberta à crítica como a minha. Vá lá! Vamos trocar relatos, ou melhor conquistas sexuais.

        Corou, muda de ira. Olhou furiosamente para o perfil forte de Damian e para o seu sensual casaco de couro.

        ‑       Desculpa‑me ‑ troçou ele. ‑ Fui demasiado aberto? Pensei que estavas a pensar precisamente nisso.

        ‑       Sabes bem que não!

        ‑       Pois eu tinha pensado nisso durante algum tempo ‑ declarou. ‑ Gostava de saber até onde chega a tua experiência. A forma como me beijas é tão

        ‑       Cala-te! ‑ disse-lhe a tremer.

        ‑       Desinibida e ingénua ao mesmo tempo.

        ‑       Disse‑te para te calares!

        ‑       És tão experimentada como eu penso? Se é assim, regressemos ao hotel e façamos amor de uma vez por todas ‑ expressou ele com voz rouca.

        Rachel voltou‑se para ele, corada.

        ‑       Tu não me desejas! ‑ gritou-lhe furiosa. ‑ Só queres a Swift e tudo o que ela inclui!

        ‑       Ah, sim! ‑ sussurrou. ‑ Investimentos Swift. O grande polo da minha ambição. Como podia esquecer?

        Rachel olhou fixamente pela janela.

        De repente Damian perguntou-lhe:

        ‑       Qual foi o teu pesadelo?

        ‑       Não é assunto teu! ‑ rangeu os dentes.

        Rachel percebeu que a pergunta principal era durante quanto tempo mais conseguiria contê-lo?

 

Foram ao parque safari de leões, nos arredores de Auckland. Passaram por várias grades de ferro e por caminhos de terra. Quando chegaram ao centro viram uma jaula enorme com rodas, e uma jovem que deitava carne crua por entre as barras de ferro, enquanto os leões machos adultos, as leoas e as crias se amontoavam.

        Um pedaço de carne caiu na terra junto ao carro. Um leão, com a juba dourada em alvoroço, avançou em direcção a eles.

        ‑       Não te mexas ‑ murmurou Damian ao seu lado.

        ‑       Não partirá o vidro, hen? ‑ perguntou nervosa ao ver o leão tão perto.

        ‑       Não, a menos que queiras tirar‑lhe a comida.

        Rachel olhou para o leão assombrada. Uns olhos verde‑amarelado olharam‑na com fúria. Havia uma expressão de terrível justiça natural, e Rachel ficou admirada quando compreendeu porque é que os leões são considerados os reis da selva.

        De repente o animal rugiu a Rachel e levantou os pedaços de carne entre os seus dentes. Depois afastou‑se para se acomodar na erva e devorar a sua comida.

        ‑       Que animal tão lindo! ‑ exclamou Rachel.

        ‑       O melhor ‑ concordou Damian. ‑ Tive uma cria quando era pequeno. Costumava brincar com ele até que me lambeu a mão e me esfolou a pele. As línguas deles são como

        ‑       Tiveste uma cria? ‑ olhou‑o com incredulidade. - Uma cria de leão?

‑       Claro. Nasci em África. Vivi ali até os dezasseis anos.

        Rachel observou- com os olhos bem abertos.

        ‑       Estás a falar a sério?

        ‑       Porque te mentiria? ‑ perguntou e reclinou‑se no seu assento.

        ‑       Como era a tua vida em África?

        ‑       As planícies são magníficas ‑ explicou. ‑ Paisagem verde, leões dourados e céus incríveis. Em que consistiu o teu pesadelo de ontem?

        ‑       Pára de me perguntar sobre isso! ‑ apertou os lábios.

        ‑       Fez‑te gritar. Deve ter sido memorável.

        ‑       Não. Já me esqueci.

        Damian riu e ligou o carro.

        ‑       Vamos. Observar os leões estimulou os meus instintos.

        Regressaram à cidade. Estacionaram numa rua com edificios de madeira de estilo Nova Orleães, com lojas de arte e cafés com varandas e restaurantes. Damian levou‑a a um deles e partilharam uma dúzia de ostras frescas.

        ‑       O que fazias antes de trabalhares para a Swift? - perguntou-lhe Rachel quando tomavam café.

        ‑       Trabalhava em Wall Street para uma empresa de investimentos.

        ‑       Nova Iorque? ‑ arqueou as sobrancelhas.

        ‑       Mudei‑me para lá com dezasseis anos ‑ explicou.

        ‑       Para que empresa trabalhaste?

        ‑       Para a única que eu sabia que poderia satisfazer a minha ambição de ser multimilionário antes dos trinta anos ‑ explicou a rir‑se.

        ‑       E suponho que tiveste êxito ‑ sussurrou. ‑ E agora tens mais ambições!

        ‑       É verdade ‑ riu com sarcasmo.

        ‑       Achas que vais conseguir, Damian? ‑ perguntou.

‑       Claro ‑ murmurou observando-a. ‑ Consigo sempre o que quero, apesar do que me custe.

        Uma onda de medo percorreu‑a. O respeito por ele que sentia crescer na sua mente e no seu coração indicou-lhe que ele era capaz de tudo. Sentia‑se ferida, irritada e insignificante. Perguntou‑se se Damian a consideraria a ela mesma como a aquisição da Swift.

        ‑       E agora queria fazer-te algumas perguntas pessoais

‑ disse Damian.

        ‑       Podes começar ‑ provocou‑o.

        ‑       Porque é que ainda não te casaste? ‑ observou‑a.

        ‑       Porquê?...? ‑ a sua mão tremeu.

        ‑       És jovem ‑ disse friamente, ‑ bonita, sensual e inteligente. Gozas a fazer amor ‑ os seus olhos azuis brilharam com troça quando a viu corar. ‑ Porque é que ainda não houve nenhum que te apanhasse?

        Rachel olhou para a rua ladeada de árvores. O seu coração batia lenta e pesadamente.

        ‑       Não suporto os homens possessivos ‑ explicou. - Os homens que não me deixam ser eu mesma, nem ser livre. São esses os que sempre se casam novos, não são?

        ‑       Não queres casar com o Radcliffe? ‑ inquiriu de repente.

        Rachel riu, mas não respondeu, olhou antes para as árvores.

        ‑       A ideia de casar faz-te sentir presa, não é? ‑ insistiu Damian.

        ‑       Muito ‑ olhou‑o. ‑ E tu? Porque não casaste?

        ‑       Por razões semelhantes ‑ sorriu com cinismo.

        ‑       A sério? ‑ troçou.

        ‑       Claro ‑ encolheu os largos ombros. ‑ Sou um homem muito solicitado. Durante um tempo fui assediado por numerosas "mulhere-aranha".

        Rachel sentiu ciúmes, e tentou dissimulá-los.

        ‑       Mas nunca te apanharam.

‑       Aparentemente, não ‑ sublinhou.

        ‑       Não. Para algumas mulheres, o casamento é uma forma de ascensão social. Construiriam qualquer estratégia, jogo, planos, armadilhas... Qualquer coisa para te obrigar a depender delas, e depois arrastam-te ao altar e chamam a isso amor ‑ semicerrou os olhos. ‑ Mas isso não é amor, mas uma longa série de tácticas.

        ‑       Mas, como homem de negócios que és, tu respeitarias isso, ou não?

        ‑       É um negócio, claro ‑ arqueou uma sobrancelha. - Mas na minha vida pessoal... ‑ abanou a cabeça. ‑ Eu sou o caçador, obrigado. Não a vítima.

        Rachel tremeu. Damian era um caçador, como o leão cujos olhos ferozes se pareciam com os dele. Podia imaginá-lo a preparar‑se para a matança.

        Durante o resto da tarde, enquanto passearam de carro pela cidade, Rachel estava nervosa.

        Quando o sol se começou a pôr em Auckland, foram andar de avioneta para desfrutar de uma vista aérea da cidade moderna.

        ‑       Consigo ver a sombra do avião na água ‑ exclamou Rachel com deleite, assomando‑se à janela.

        ‑       Eu não ‑ disse Damian. Depois moveu‑se para olhar pela janela dela. Inclinou o seu corpo sobre o da jovem, com um braço sobre os seus ombros e o peito contra os seus seios.

        Rachel olhou fixamente para o seu pescoço bronzeado onde a camisa estava aberta. O seu coração batia acelerado. Damian voltou‑se e olhou‑a. A jovem observou os lábios dele.

        ‑       Estás a gostar da visita? ‑ sussurrou?

        ‑       Odeio‑a! ‑ mentiu. Então o avião virou à direita e Damian afastou‑se dela.

Quando regressaram ao hotel, ele entrou no vestíbulo com um passo decidido.

        ‑       Quero ver as actas que fizeste ontem durante a reunião da administração.

        ‑       De acordo. Quando queres vê-las?

        ‑       Esta noite ‑ anunciou e entrou no elevador. A sua expressão era dura e indecifrável quando pressionou o botão. ‑ Vou buscar-te às oito para jantar. Leva‑as contigo.

        Rachel tomou um banho; depois secou o cabelo e maquilhou‑se com cuidado. Escolheu um vestido preto, de corte ajustado, e decote pronunciado, muito sensual.

        Quando ele bateu à porta, estava pronta e abriu‑lha com uma expressão fria.

        ‑       Tens as actas? ‑ Damian estava na ombreira da porta, com as mãos nos bolsos do seu fato azul. A sua gravata de seda vermelha e a sua camisa branca enfatizavam obronzeado do seu rosto. Estava tão atraente que ela se sentiu muito nervosa e débil.

        ‑       Toma ‑ Rachel entregou‑lhas.

        Jantaram num clube de jazz. Uma pequena banda tocava no cenário de um salão luxuoso. As pessoas começaram a dançar enquanto a vocalista cantava blues sensuais.

        ‑Febre... ‑ sussurrou Damian. ‑ É uma das minhas canções preferidas.

        ‑       Eu também gosto ‑ observou ela.

        ‑       O Radcliffe dá-te febre? ‑ perguntou ele de repente.

        ‑       Tony é um velho amigo! ‑ o seu rosto corou de ira.

        ‑       Vês-lo todas as noites ‑ comentou. ‑ Deve dar-te mais do que isso.

        ‑       Gostamos um do outro ‑ replicou.

        ‑       Quanto?

        ‑       Isso não é assunto teu.

        ‑       É um bom amante? ‑ os seus olhos brilharam.

        ‑       É‑o Domino? ‑ replicou com fúria.

‑ Esqueçe‑a ‑ riu‑se dela. ‑ Vamos dançar

        permitiu que a levasse para a pista, mas pensou que a sua recusa em falar de Domino era sintoma do tipo de homem que era. Quando a abraçou, tremeu de desejo. Damian deslizou os lábios pelo seu pescoço suave e sussurrou:

        ‑ Adoro a forma como te moves. Inspiro‑te como par?

        ‑ Pelo contrário! ‑ exclamou, mas a sua pulsação acelerada dizia outra coisa.

        Rachel compreendeu que o seu desejo por ele crescia a cada momento, bem como os seus sentimentos. O desejo era fácil de iludir, mas as emoções não. O seu medo tinha aumentado ao dar‑se conta que Damian Flint ameaçava mais o seu coração do que o seu corpo.

        Regressaram ao hotel a pé. Quando estavam no elevador, Damian comentou‑lhe:

        ‑ Acho que deveríamos ir estudar as actas.

        ‑ Está bem ‑ encolheu os ombros. ‑ Ao pequeno-almoço?

        ‑ Não, Rachel. Agora, no meu quarto.

        ‑ Não vou ao teu quarto! ‑ o seu coração bateu com força.

        ‑ Vá lá. Tenta ser profissional!

        ‑ Profissional? ‑ os seus olhos lançaram faíscas. Sabes bem que só queres que vá ao teu quarto para fazeres amor comigo!

        ‑ Esta noite não me apetece ‑ garantiu com arrelia.

‑ És demasiado problemática.

        Rachel ficou calada, dorida e irritada.

        ‑ Além disso, vamos ter um dia muito ocupado amanhã ‑ afirmou quando se abriram as portas do elevador. ‑ E os negócios estão antes do prazer ‑ caminhou em direcção ao seu quarto. ‑ Vamos, menina Swift. Ganhe o seu salário como secretária! É para isso que aqui está, não é?

‑       Não podíamos ir para outro lado, o bar ou...? - protestou ela negando‑se a segui-lo.

        ‑       É um assunto demasiado confidencial para uma discussão pública ‑ abriu a porta do seu quarto. ‑ Anda. Entra.

        Lentamente Rachel caminhou em direcção a ele, lutando contra a chamada de alarme que ressoava dentro da sua cabeça. Compreendeu que devia escutá‑la porque no momento em que Damian fechou a porta, trancou‑a. Ela olhou‑o convencida que tinha chegado o momento da confrontação física e emocional. Sentia‑se tão vulnerável que quase não podia respirar.

        ‑       O que estás a fazer...? ‑ exigiu com a maior firmeza possível, mas a sua voz traiu‑a.

        ‑       Vem cá ‑ ordenou Damian e caminhou para ela. - Meu Deus, vou simplesmente atirar-te para essa maldita cama e...

        ‑       Não! ‑ recuou ela rapidamente.

        ‑       Estou farto de evitar isto! ‑ exclamou enquanto a agarrava.

        ‑       Afasta-te de mim! ‑ o pânico invadiu‑a e agarrou numa cadeira para se defender dele. ‑ Disse-te para te afastares!

        Imediatamente depois de Damian receber uma pancada da cadeira, reinou um breve silêncio. Recuou um pouco e praguejou.

        ‑       Fica aí...! ‑ gritou Rachel.

        ‑       Vá tudo para o diabo! ‑ exclamou ele dando um forte pontapé na cadeira.

        Rachel arfou e sussurrou qualquer coisa incoerente. O seu corpo estava a tremer. De repente Damian agarrou-lhe num pulso e atraiu‑a para o seu corpo duro. Rachel soltou um gemido rouco de excitação e ele observou‑a nessa altura.

‑       Rejeita-me agora, Rachel! ‑ exclamou. ‑ Rejeita‑me agora! ‑ baixou a cabeça e beijou‑a

        Rachel arfou e abriu a boca ansiosamente, incapaz de lutar mais. O sangue corria acelerado pelas suas veias quando o beijou; subiu as mãos para o seu pescoço e acariciou‑lhe o cabelo curto com um abandono selvagem.

        Damian levantou‑a ao colo sem deixar de beijá‑la, levou‑a para a cama e deitou‑se com ela. Tonta, oprimida pela necessidade e intensidade da atracção que tinha ardido entre eles desde que se conheceram, Rachel não resistiu, mas tomou parte activa. Arqueou o seu corpo contra ele quando Damian se colocou em cima dela. O coração batia‑lhe com força quando começou a acariciar e a explorar o seu corpo apaixonado e sensível.

        Rachel ouviu alguém gemer de prazer. Era ela. Não podia pensar mais ninguém. Sabia que as mãos trémulas de alguém puxavam a gravata de Damian, lutavam por despojá‑lo do casaco. Não podiam ser as dela; nunca teria feito uma coisa semelhante. De repente deu‑se conta que a camisa de Damian estava aberta, e que estava a contemplar o seu peito nu. Era como sempre o tinha imaginado.

        Deslizou as mãos trémulas pela sua pele bronzeada. Respirava com dificuldade, sussurrando palavras sem sentido.

        ‑       Sim... toca‑me...! ‑ murmurou Damian e voltou a beijá-la, tirando a camisa.

        Rachel deslizou as mãos pelos seus õmbros nus, beijou o seu peito, afundou o rosto quente nele. Damian inclinou‑lhe a cabeça para trás e fê-la recostar‑se nas almofadas. Depois, quando ele pousou as mãos sobre os seus seios, Rachel percebeu que tinha o vestido desapertado e que ele lhe tirava o seu fino soutien, sussurrando palavras ardentes contra o seu pescoço nu. Quando a boca de Damian se fechou sobre os mamilos excitados, Rachel revolveu‑se, gemeu e agarrou‑lhe a cabeça com um prazer agonizante.

        ‑ Oh, Deus! ‑ arfou ele com excitação. Moveu‑a e Rachel sentiu a pressão da sua masculinidade na sua coxa.

‑ Sim... sim...! ‑ gemia Damian. Começou a subir‑lhe a saia; havia gotas de suor na sua testa bronzeada quando deslizou uma mão pelo seu rabo. ‑ Rachel! ‑ balbuciou e voltou a beijá‑la. ‑ Desejo‑te de morte...! Estou a ficar louco...! ‑ as suas grandes mãos agarraram o rabo de Rachel enquanto o seu coração palpitava furiosamente. Deixa‑me possuir‑te... deixa‑me...

        A sensatez de Rachel regressou como um raio. Tinha chegado demasiado longe e agora estava em grave perigo, a sua mente conseguiu apagar o seu forte desejo.

        ‑ Não...! ‑ sussurrou contra a sua boca ardente, mas Damian não a ouviu ou não lhe fez caso. Estava a subir ainda mais a saia e ela ficou aterrada. ‑ Não! Disse que não! ‑ gritou batendo‑lhe na mão e apartando a cara.

        ‑ Não te vou decepcionar ‑ sussurrou ele com respiração entrecortada. ‑ Sou tão bom nisto como nos negócios. ‑ contemplou o seu corpo semi‑nu. ‑ Oh, meu Deus...! Desejo‑te tanto que me dói...

        ‑ Vai para o diabo! ‑ disse Rachel e lutou com violência. Bateu‑lhe, arranhou‑o enquanto gritava em pânico, ao perceber como tinha estado próximo do abismo.

        ‑ Está bem! ‑ replicou ele, agarrando‑a pelos pulsos.

‑ Está bem... Não te vou violar!

        ‑Solta‑me!

        ‑ Não ‑ replicou. ‑ Diz‑me porque mudaste de opinião. Estavas pronta para que eu te possuisse há um minuto. O que raio aconteceu?

        ‑ Sei o que estás a tentar fazer ‑ disse envergonhada.

‑ Queres seduzir‑me para te apoderares da empresa!

        ‑ Valha‑me Deus, outra vez a maldita empresa! Pára de me acusar disso! A empresa é a última coisa em que penso nestes momentos e tu sabes disso!

        ‑ Não me mintas! ‑ gritou com amargura. Estava magoada pela obsessão de Damian pelo poder, porque afectava as próprias raízes dos seus sentimentos em relação a ele. ‑ Sei tudo sobre os teus planos para casares comigo e ficares com a companhia!

        Reinou um breve silêncio. Damian estudou‑a com os olhos brilhantes e o rosto ruborizado.

        ‑       Está bem ‑ admitiu. ‑ Já que estás a falar disso, deixa‑me explicar-te uma coisa. Casar comigo é um fait accompil! Nenhum de nós tem outra saída... se o que desejamos é obter o 'que queremos!

        ‑ E o que é que eu ganho com isso?

        ‑ A vida do teu pai ‑ sugeriu.

        ‑ Tem que haver outra saída!

        ‑ Diz‑me qual é! Surpreende‑me! Qual é a outra opção?

        ‑       Bem, não existe mais nenhuma ‑ desviou o olhar com as lágrimas nos olhos. ‑ Tenho que casar contigo, porque se não o fizer o meu pai pode morrer!

        ‑       Exacto. Não só pode morrer, como o Jamie herdaria a companhia, e tu vais transformar-te na herdeira de tragédias e desastres ‑ interrompeu‑se para respirar. ‑ O nosso casamento foi arranjado desde o primeiro dia, e não podemos fazer nada contra isso.

        As lágrimas turvavam‑lhe a visão. Rachel olhou‑o com os lábios trémulos.

        ‑       Só porque desejas a empresa!

        ‑       E tu desejas que o teu pai viva! ‑ exclamou. ‑ É um intercâmbio justo, não é um roubo. Tu dás-me o que eu quero, eu dou-te o que queres e ficamos todos contentes.

        ‑       Só que nós não nos podemos separar, hen? ‑

recordou-lhe odiando‑o.

        ‑       Não, nós ficamos com a melhor parte ‑ troçou.

‑ Não quero!

        ‑ Ah! ‑ contemplou os seus lábios. ‑ Mas há uma coisa que queres, sim...

        ‑ Solta‑me! ‑ ficou tensa e tentou libertar‑se.

        ‑ Desejo fazer amor contigo desde que te vi pela primeira vez.

        ‑ Deixa‑me! ‑ gritou em pânico.

        ‑ O sentimento é mútuo, não? ‑ agarrou‑a com força debaixo dele. ‑ Se apenas eu te desejasse, podia acostumar‑me a não estar contigo, sem ficar louco. Mas tu também me desejas, não é?

        ‑Não...!

        ‑ Rachel, tenho trinta e três anos, não sou uma criança. Conheço bem as mulheres e

        ‑ No sentido bíblico, claro!

        ‑       Não me rejeites por orgulho ou ira. Devemos casar‑nos, mas isto é à parte, é uma coisa muito diferente, eu desejo‑te com todo o meu coração, Rachel. Quero que me dês tudo o que tens... ‑ baixou a cabeça e beijou‑a com paixão enquanto lhe acariciava os seios. ‑ Não me rejeites... não lutes... entrega-te como fizeste antes!

        ‑ Vai para o diabo! ‑ exclamou com força. Como ele não parava, mordeu‑lhe um lábio com força.

        Damian deitou a cabeça para trás com o lábio ensanguentado. Olhou‑a com fúria.

        ‑       Maldita sejas! Talvez não consiga fazer com que admitas que me desejas, mas posso fazer com que o teu corpo o faça por ti. Podes ter a certeza de que o vou fazer!

        ‑ Solta‑me! ‑ gritou quando ele se aproximou outra vez.

        ‑ Desejo‑te ‑ comprimiu‑a contra a cama. ‑ E vou ter-te! Porque raios não o conseguiria? Radcliffe e os seus amigos já o fizeram!

        O insulto inesperado assentou em Rachel como uma bofetada. A revelação do que Damian pensava dela foi tão dolorosa, teve um impacto tão grande que ficou branca e rígida nos seus braços. Rachel queria morrer

        Damian pestanejou. Tinha interpretado correctamente a sua expressão, e isso fê-lo deter‑se com incerteza.

        ‑ Eles possuiram-te, ou não? ‑ perguntou.

        ‑ Sim ‑ as lágrimas emergiram dos seus olhos verdes.

‑ Claro. Sou uma rameira. É isso que queres ouvir? - balbuciou com a voz quebrada.

        Damian contemplou‑a. Quando Rachel descobriu a comoção naqueles olhos, sentiu que as lágrimas a cegavam.

        ‑ Pensava que

        ‑ Já sei o que pensavas!

        Reinou outro silêncio.

        - É apenas uma opinião que formei ‑ sussurrou Damian examinando‑a. ‑ Andavas sempre com Radcliffe e os amigos dele. Todos aqueles jovens que te consideram tão sensual

        ‑       Por favor, solta‑me! ‑ exclamou tentando cobrir o rosto. Sentia‑se destroçada.

        ‑       Queres dizer que não dormiste com nenhum deles?

‑ perguntou ele de repente a olhar para ela.

        ‑       Solta‑me! ‑ abanou a cabeça e lutou.

        Damian agarrou-lhe o queixo e obrigou‑a a olhá-lo nos olhos.

        ‑ Responde‑me! Dormiste com Radcliffe ou com algum dos amigos dele?

        ‑ Não! ‑ gritou.

        ‑ Com nenhum deles? ‑ murmurou Damian.

        ‑ Com ninguém! ‑ as lágrimas corriam-lhe pelas faces. Disse para si mesma que Damian Flint, o homem que admirava, pensava que ela era uma rameira barata que podia levar para a cama e ficar com a empresa ao mesmo tempo.

        Ele ficou rígido e pálido.

‑       Não me digas que és virgem! ‑ exclamou. ‑ Não me digas que

        ‑       Porque não? ‑ quis saber com amargura. ‑ Isso faz-te sentir como o canalha que és?

        Damian respirou fundo, murmurou qualquer coisa, desviou o olhar e soltou‑a. Levantou‑se da cama e meteu as mãos nos bolsos. Depois virou-lhe as costas e ela aproveitou para arranjar a roupa.

        Depois de um longo silêncio,, Damian declarou:

        ‑       Na noite em que fui ao teu apartamento de Londres, vi-te aparecer abraçada ao Radcliffe. Ouvi‑o dizer-te que era o teu amante incansável. Pensei que...

        ‑       Já expressaste muito bem o que pensaste!

        ‑       Era fácil cair nesse erro ‑ passou as mãos pelo cabelo e voltou‑se para ela. ‑ Tudo o que dizias ou fazias fazia‑me pensar que eras uma mulher com muita experiência...

        Rachel contraiu o rosto.

        ‑       Não utilizei os termos adequados ‑ protestou com ódio nos olhos. Colocou a saia para baixo, levantou‑se a tremer e apanhou a sua mala do chão.

        ‑       Olha ‑ Damian caminhou em direcção a ela. - Compreendo que estejas muito aborrecida, mas eu perguntei-te esta manhã, lembras-te? Sabia que havia qualquer coisa estranha na maneira como me beijavas e

        ‑ Não me interessa! ‑ exclamou e voltou‑se, mas ele agarrou‑a por um pulso.

        ‑       Disse-te que pensava que eras desinibida, mas ingénua ao mesmo tempo. Tu não respondeste nada, por isso pensei que tinhas experiência, que tinhas dormido com todos aqueles...

        ‑       Oh, por Deus! ‑ calou‑o. ‑ Estás a tentar que isto seja mais intolerável do que já é?

        Damian afastou‑se e ela inspirou profundamente. Depois correu até à porta, saiu e fechou‑a com força atrás de si.

        Já no seu quarto, atirou‑se para a cama. Sentia‑se devastada... ele tinha‑a destroçado, como tinha suposto antes que faria.

        Sentia‑se traumatizada porque' tinha descoberto que o desejava intensamente, pelas palavras cruéis do casamento, e depois pelas suas declarações acerca do que tinha pensado dela.

        Pasmada de agonia e humilhação, despiu‑se e meteu‑se na cama, sem querer pensar muito mais no assunto para que a pergunta inevitável não chegasse: Se odeio Damian Flint, porque é que o que ele possa pensar ou sentir me afecta tanto?

        Na manhã seguinte acordou de um sonho intenso e não se atreveu a interrogar‑se sobre o seu significado. Não sabia como enfrentar Damian. Agora que sabia tanto acerca dela... Não podia fingir ser sofisticada, dura e fria como antes. Ele iria olhá‑la com aqueles olhos penetrantes e faria‑a sentir‑se tão vulnerável como se sentia. Como podia dissimular isso? Como...?

        Às oito menos um quarto estava pronta para enfrentá-lo ao pequeno‑almoço, mas bateram à porta e ficou inquieta.

        ‑ Quem é?

        ‑ Damian ‑ respondeu. ‑ Deixa‑me entrar. Preciso de falar contigo.

        ‑ Estás a brincar! Depois do que aconteceu ontem à noite...

        ‑ Não te vou seduzir ‑ interrompeu‑a. ‑ Abre apenas a porta e deixa‑me entrar. Precisamos de falar antes de sairmos para o escritório.

        Houve qualquer coisa no tom de voz dele que a comoveu e abriu a porta.

‑       Obrigado ‑ repôs ele.

        Rachel fechou a porta e ficou perto dela.

        ‑ E então?

        ‑       Está na hora de tomar uma decisão sobre o assunto do casamento ‑ enfrentou‑a. ‑ Falámos sobre tudo isso ontem à noite mas não chegámos a uma conclusão final e temos que

fazê-lo hoje.

        ‑       Não podemos esperar até regresarmos?

        ‑ Não ‑ declarou.

        ‑ Mas eu não quero falar disso!

        ‑ Temo que tens de fazê‑lo. O teu pai espera que nos casemos em questão de semanas, e eu também.

        ‑ O quê...? ‑ abriu os olhos e ficou pálida........ - ainda não estou pronta! Preciso de tempo para aceitar que...

        ‑       Já tiveste tempo suficiente. Agora preciso de saber a tua resposta antes de regressarmos a Hong‑Kong esta noite. Casas comigo... sim ou não?

 

A figura de Damian recortava‑se contra a luz do sol que entrava pelas janelas.

        ‑       Ia propor-lo ontem à noite ‑ explicou, observando o rosto dela espantado. ‑ Mas se te lembras... não saiu nada conforme os planos. Agora já não tenho muito tempo. Sei que é de um modo apressado, mas pelo menos tens um dia para pensar nisso antes de partirmos

        ‑       Prefiro morrer a casar contigo! ‑ gritou Rachel.

        ‑       Infelizmente, é o teu pai que morrerá se não o fizeres.

        ‑       Não me venhas com essa, desgraçado! ‑ murmurou.

‑ Pensas que não sei como está doente?

        ‑       Não sei ‑ replicou. ‑ Se soubesses já serias minha esposa.

        ‑       Mas ele não está em perigo imediato ou

        ‑       Este não é o primeiro ataque dele ‑ interrompeu‑a com dureza. Reinou um silêncio. ‑ Não te avisámos antes porque não era grave ‑ explicou. ‑ Foi apenas uma ameaça, nada de estranho num homem da idade do teu pai.

        ‑       Quando foi isso? ‑ murmurou pasmada.

        ‑       Mesmo depois de partires para Inglaterra. Afluiu tudo para esse momento. Os seus temores pelo futuro, a sua preocupação crescente por ti, e aquele ódio que partilha com o Jamie.

        ‑       Mas como é que sabes tudo isso? ‑ perguntou. ‑ Tu começaste a trabalhar para ele quando...

        ‑       Quando tu foste para Inglaterra ‑ declarou. ‑ Estive com ele quando sofreu o terceiro enfarte leve.

‑ O terceiro? ‑ empalideceu. ‑ Ai, Deus!

        ‑       Foi então que aconteceu. Os seus temores por ti, Jamie, a empresa... Pude ver que estava aterrorizado. Também percebi que não havia solução. Não com aquela cláusula no testamento.

        ‑       Sabes acerca... ‑ abriu muito os olhos. Era o cúmulo. Agora compreendia que Damian sabia tudo e já não tinha mais nenhum ás na manga.

        ‑       Aquela cláusula é a culpada dos seus ataques cardíacos, Rachel ‑ declarou. ‑ Sei que gostas do teu tio, mas deves calcular o que aconteceria se lhe dessem as rédeas de tudo.

        ‑       Jamie é bom! ‑ protestou. ‑ É amável, carinhoso e merece uma coisa melhor do que essa condenação. Só que teve muitos problemas.

        ‑       Esquece o Jamie ‑ troçou ele. ‑ Todos devemos jogar quando é a nossa vez. Até certo ponto podemos culpar o que dá as cartas, mas esse ponto já passou para Jamie Swift há trinta anos ‑ a sua expressão era dura e cruel. ‑ Lançou fora a sua vida e lançaria a empresa se lha entregassem.

        Rachel não podia negá-lo. Amava Jamie e odiava Damian, mas não podia negá-lo.

        ‑       Só restamos tu e eu, Rachel ‑ continuou. ‑ Se casarmos de imediato, podemos salvar a situação.

        Rachel disse para si própria que o pior de tudo era que os dois sabiam que tinha que consentir. Esperaria Damian que ela dormisse na sua cama e fizesse amor com ele? O seu coração palpitou acelerado. A quem queria enganar depois da noite anterior?

        Claro que ele o faria! Que outra coisa podia esperar? Nada, porque isso era o que sentia por ela... Nada.

        ‑       E tu o que ganhas com tudo isto? ‑ perguntou com voz trémula. ‑ Ou não preciso perguntar?

        ‑       Podes fazê-lo ‑ sugeriu. ‑ E eu respondo‑te. Muito, como os dois sabemos. Em primeiro lugar aprecio o teu pai e não gostaria que tivesse um ataque cardíaco fatal. Em segundo lugar, claro, quero a Investimentos.......

        ‑ Claro!

        ‑ A ambição não tem nada de mal.

        ‑ Tem quando destróis a vida dos outros!

        ‑       Este casamento não vai destruir a tua vida ‑ explicou friamente. ‑ Pelo contrário, pode intensificá-la. Ontem disseste‑me que odiavas a ideia do casamento porque não suportavas os homens ciumentos e possessivos.

        Rachel desviou o olhar.

        ‑       Os ciúmes são sintoma de amor ‑ continuou Damian, destruindo‑a ainda mais. ‑ Eu não terei ciúmes, nem serei um marido possessivo pela simples razão que não estou apaixonado por ti.

        ‑       Ainda bem! ‑ exclamou ela ferida. ‑ Porque eu também não estou apaixonada por ti!

        ‑       Então não há problemas ‑ disse sem mais nada.

        ‑       Dizes que não serás ciumento nem possessivo. Isso significa que posso estar com outros homens? ‑ perguntou Rachel com pesar. ‑ Com Tony? Com os meus amigos?

        ‑       De todo! ‑ riu com crueldade. ‑ Nenhum homem se aproximará de ti, nem em público nem em privado. Conto com que me dês filhos e não penso ter dúvidas sobre a sua legitimidade.

        ‑       Como te atreves a sugerir isso? ‑ os seus olhos lançavam faíscas. ‑ Como te atreves? Depois do que te disse ontem à noite

        ‑       O que me disseste ontem à noite, Rachel, só me convenceu que este casamento pode funcionar ‑ disse suavemente e caminhou para ela com um olhar intenso nos olhos.

        ‑       Não te aproximes de mim! ‑ exclamou Rachel enquanto retrocedia em direcção à porta.

‑       És virgem e eu despertei-te! ‑ exclamou abraçando‑a pela cintura. ‑ Isso faz com que me sinta muito lisonjeado, embora gostasse que fosses mais específica sobre o grau da tua inocência ‑ encurralou‑a contra a porta. - Até onde chegaste com Radcliffe? E com os outros? Tão longe como ontem? Ou mais do que isso?

        ‑       Valha‑me Deus...! ‑ empurrou‑o pelos ombros, mas ele era tão forte que não conseguiu movê-lo.

        ‑       Então? ‑ semicerrou os olhos e levantou-lhe o queixo. ‑ Responde‑me.

        ‑       Não é assunto teu! ‑ replicou.

        ‑       Diz‑me, Rachel, ou começo a fazer amor contigo até conseguir a verdade. Os dois sabemos que gostaria muito de fazê-lo, por isso não me provoques.

        ‑       Nunca...! ‑ o seu rosto ardia e baixou as pestanas com amargura. ‑ Nunca cheguei tão longe como ontem!

        Rachel podia ouvir o bater do coração acelerado de Damian. Ou era o dela? O sangue corria violentamente pelas suas veias quando sentiu a dura excitação dele contra o seu corpo.

        ‑       Estou a ver ‑ murmurou Damian e olhou‑a fixamente;

        Rachel não levantou o olhar.

        ‑       Vais soltar‑me?

        ‑       Não me parece ‑ ele riu.

        Reinou outro silêncio tenso. Rachel quase não se podia mexer, tão imenso era o desejo que lhe dava medo. Pensou que o seu casamento seria assim. Sentir‑se‑ia ferida, humilhada... mas bastava apenas que a tocasse para que ficasse tonta de excitação. Desprezava‑se a si própria. Desejava que a beijasse, que acontecesse o mesmo da noite anterior...

        ‑       Não quero casar contigo! ‑ explodiu Rachel de repente.

        ‑       Não queres casar comigo... ‑ sussurrou ele com a sua boca ardente perto da dela ‑ mas há uma coisa que queres fazer comigo.

        ‑Não...!

        ‑ Vou tirar-te a roupa e demonstrar-te ‑ sugeriu ele. - Mas nestas circunstâncias, acho que devo esperar até estarmos casados.

        Rachel fechou os olhos. A sua cabeça andava às voltas; tinha a boca seca e as suas mãos fechavam‑se com um desejo irremediável sobre os ombros dele.

        ‑       É estranho ‑ sussurrou ele. ‑ Mas nós temos isto, que vai fazer com que tudo seja mais fácil.

        ‑       De que estás a falar? Porque é que é estranho? Com certeza tiveste centenas de amantes em todo o mundo

        ‑       Nunca tive problemas para dormir com mulheres, é verdade ‑ confessou. ‑ Mas nunca senti uma atracção mútua tão intensa como a que nós partilhamos. Com certeza temos um vinte em compatibilidade sexual!

        ‑       Isso não é suficiente para fundar um casamento!

        ‑       O que temos não é amor, mas pelo menos não é uma fria relação profissional.

        ‑       Grande consolação! ‑ exclamou ferida. ‑ Eu queria amor!

        ‑       Não posso dar-lo ‑ confessou‑lhe ele.

        Rachel esteve quase a chorar, mas o seu orgulho acorreu em seu auxílio.

        ‑       Todos temos que renunciar alguma vez aos nossos sonhos, Rachel ‑ declarou Damian.

        ‑       Tu não ‑ sussurrou amargamente. ‑ Tu levas tudo o que querias, não é? A empresa, o dinheiro, a mulher

        Ele assentiu com crueldade.

        ‑       Anunciaremos a notícia ao teu pai assim que chegarmos!

 

        Evidentemente o pai dela ficou muito contente.

        ‑       Estou tão feliz! ‑ abraçou‑a. ‑ Durante muito tempo sonhei com isto... ‑ soltou‑a e apertou a mão a Damian. ‑ Não te disse que te apaixonarias por ela à primeira vista?

        ‑ E tinhas razão ‑ admitiu Damian com um olhar trocista a Rachel. ‑ Gostei dela desde o primeiro momento em que a vi.

        Os seus olhos brilharam porque ela sabia bem o que tinha querido dizer.

        ‑       Quando se casarão? ‑ perguntou Charles.

        ‑       Dentro de três semanas ‑ respondeu Damian. - Assim todos têm tempo de se preparar para o casamento.

        ‑       Em meados de Agosto ‑ observou Charles. ‑ Sim,

é tempo suficiente. Ora vamos ver... o que é preciso para

um casamento? O vestido, os convites, a festa, o banquete,

flores... oh, meu Deus! ‑ o seu rosto corou de emoção.

‑       Vamos brindar com champanhe para comemorar!

Nightingale!

        Rachel deixou‑se levar pela emoção do seu pai enquanto bebiam champanhe no terraço solarengo. Como podia lamentar tal decisão? O seu pai parecia ter rejuvenescido, como se se tivesse livrado de um peso enorme. Rachel pensou naqueles enfartes ligeiros e teve medo.

        Mais tarde ela e Damian foram ao Distrito Central comprar o anel de noivado. Foram à Cartier, em Landmark, uma loja luxuosa. Damian escolheu uma esmeralda enorme de corte quadrado, incrustada em platina, que cintilava como fogo verde. Rachel quase desmaiou ao ver o preço.

        ‑       Quero que jantes comigo amanhã à noite ‑ propôs-lhe Damian quando saíram da Cartier e caminhavam pelos corredores de mármore. ‑ Na minha casa.

        ‑       Na tua casa? ‑ olhou‑o desconfiada.

        ‑       Não te alarmes. Já te disse que não vou possuir-te até à noite de núpcias.

‑       Como sei que posso confiar em ti Se estivermos sozinhos na tua casa...

        ‑       Só quero que a vejas ‑ anunciou. ‑ Em breve vais mudar-te para lá comigo e poderás conhecê‑la.

        A realidade do casamento era intolerável para ela. Rachel estava pálida enquanto caminhava ao seu lado pelo pátio de mármore.

        ‑       Um chá gelado? ‑ sugeriu Damian e apontou para um café.

        ‑       Porque não? ‑ humedeceu os lábios secos.

        Sentaram‑se numa mesa, perto de uma fonte.

        ‑       Já pensaste na lista dos convidados? ‑ inquiriu Damian.

        ‑       Tenho que convidar o Jamie ‑ olhou‑o.

        Damian inclinou a cabeça.

        ‑       Sabes que me odeia tanto a mim como ao teu pai.

        ‑       É meu tio. Não quero exclui-lo.

        ‑       Não estou a pedir que o faças, mas deves lembrar-te do que ele sente. Este casamento é o que ele sempre temeu. Talvez... ‑ interrompeu‑se ao olhar uma coisa por trás dela.

        Rachel virou‑se por instinto e os seus olhos iluminaram‑se de alegria.

        ‑Tony!

        ‑       Olá! ‑ exclamou Tony e inclinou‑se para beijá-la nos lábios. ‑ Como estás, querida?

        ‑       Estupenda, fofo! ‑ replicou ela. Os dois desataram a rir.

        ‑       Olá, Damian! ‑ sorriu Tony e depois pensou melhor quando deu de caras com o seu olhar furioso. ‑ Quer dizer... senhor Flint ‑ corrigiu‑se apressadamente e estendeu-lhe a mão. ‑ Como está, senhor?

        Damian olhou para a mão com pesar e depois para Rachel.

        ‑       Temos que ir. Estás pronta?

‑ Mas gostava de falar com... ‑ comentou irritada, ressentida pela sua atitude.

        ‑ Bom dia, Radcliffe! ‑ disse-lhe Damian e levantou‑se, atirando duas notas para cima da mesa. ‑ Vamos, Rachel!

        Rachel levantou‑se e virou‑se para Tony.

        ‑       Telefono‑te mais tarde para te explicar...

        ‑       Rachel! ‑ Damian agarrou‑a pelo pulso e puxou‑a.

        ‑       Vamos ao 1997 esta noite! ‑ gritou Tony quando Damian a arrastava. ‑ Estaremos lá até à meia‑noite, se quiseres ir!

        Rachel estava furiosa com o comportamento de Damian quando saíram da rua Des Voeux.

        ‑       Como te atreves a comportar-te desta maneira? - disse ela.

        ‑       És minha noiva! ‑ exclamou ele. ‑ Minha futura

esposa! Não aceitarei que outros homens te beijem em

público! E no que diz respeito ao convite, se te apanho no

1997, vou esquecer o assunto da noite de núpcias e faço‑te

minha de imediato ‑ ameaçou‑a enquanto a metia quase

à força dentro do carro.

        ‑       Pensava que não eras ciumento nem possessivo! - indicou ela.

        ‑       Não sou.

        ‑       Então o que foi isto?

        ‑       No caso de te teres esquecido ‑ começou a dizer com os olhos brilhantes, ‑ usas o meu anel e vai aparecer um anúncio do casamento no South China Morning Post amanhã cedo. Agora estamos comprometidos publicamente. Se beijares outro homem em público ou te virem com ele num clube como o 1997, vais humilhar‑me diante de toda a maldita colónia.

        ‑       Tony é o meu melhor amigo! Andámos juntos na escola! Ninguém vai pensar que há alguma coisa entre nós.

‑       Eu pensava que havia alguma coisa ‑ recordou‑lhe.

‑ E ainda penso.

        ‑       Queres dizer que não acreditas no que te disse em Auckland? ‑ os seus olhos brilharam. ‑ Oh, isso não pode ser...

        ‑ Rachel! ‑ interrompeu‑a. ‑ Não o verás mais!

        ‑       Nunca? ‑ olhou‑o pálida. ‑ Não podes estar a falar a sério! ‑ protestou, mas podia ver pela expressão dele que estava. ‑ Por favor, Damian! Conheço Tony desde sempre!

        ‑       Então começa uma vida nova sem ele ‑ declarou.

        ‑       Não, a menos que tu faças o mesmo com a Domino Mei‑Ling.

        Reinou um silêncio tenso. O carro seguiu até à Baía Repulse.

        ‑ Não vais fazer isso, pois não? ‑ repetiu Rachel apanhada por um ataque de ciúmes. ‑ Farás com que eu deixe de ver o meu melhor amigo, mas tu não deixas de ver a tua amante!

        ‑       Eu sou mais discreto, Rachel ‑ lançou-lhe um olhar misterioso.

        ‑       Meu Deus...! ‑ conteve a respiração, pasmada pela dor dos ciúmes. ‑ Vais continuar a dormir com ela, é isso?

‑ balbuciou. ‑ É isso?

        ‑       O que eu faço com a Domino só a mim diz respeito

‑ sorriu com cinismo.

        ‑Ora,ésum...!

        ‑       O que faças com o jovem Radcliffe, contudo... - interrompeu‑a. ‑ Poderia arruinar‑nos. No momento em que se anuncie o casamento, os bisbilhoteiros desta colónia estarão prontos para procurar indícios de que este é, como já previram, um casamento por conveniência.

        ‑       Bem, é isso o que é, ou não? ‑ protestou odiando‑o.

        ‑       Não quero ser objecto de rumores maliciosos! - disse‑lhe ele. ‑ E se me causas problemas, Rachel, garanto‑te que te dou uma lição que nunca esquecerás ‑ os olhos dele percorreram o seu corpo. ‑ Em toda a tua vida!

        Rachel não respondeu porque sabia que Damian levaria a cabo a sua ameaça. Sabia que no momento em que fizesse amor com ele, todos os sentimentos que mantinha ocultos viriam ao de cima e a envergonhariam, deixando‑a vulnerável e devastada pela realidade. Tentava escondê-los, enterrá-los, mas ele continuava a insistir e Rachel tinha muito medo que o nome daqueles sentimentos fosse amor... mas não podia ser, pensou violentamente; "não pode ser, não deixarei que isso aconteça".

        Naquela noite foi visitar Jamie ao apartamento deste na rua Tai Hang.

        ‑       Aceitei casar com o Damian Flint...

        Jamie voltou o rosto para ela com uma expressão de tristeza nos olhos.

        ‑ Jamie... ‑ a jovem colocou a mão no ombro dele. - Por favor não leves a mal. Não tive outra opção. Afinal, era a única coisa possível...

        ‑       Eu sei, eu sei! ‑ suspirou. ‑ Acho que tive bastante tempo para aceitá-lo. Assim que ele entrou para a empresa, temi que isto acontecesse.

        ‑       O papá vai colocar outra cláusula no testamento - continuou ela. ‑ Deixa-te uma grande quantia em dinheiro... milhões talvez, e um novo cargo: director de diversões para o cliente.

        ‑       Diversões para o cliente! ‑ exclamou com amargura.

‑ É um insulto!

        ‑       Jamie, não reajas assim! ‑ tentou tranquilizá-lo. - Sei que estás magoado e decepcionado, mas esta é uma boa oportunidade. Não vês? Podes terminar com esse ódio, deixá-lo para trás para sempre. Começa uma nova vida com coisas positivas, não com forças destrutivas que destruíram a tua vida.

        Ele olhou‑a com tristeza.

- Casarei com o Damian, e ele terá a empresa quando o meu pai morrer.

        Assentiu com amargura, mas Rachel reconheceu resignação no seu rosto. Sentiu uma compaixão profunda por ele, pela sua vida, pelos esforços e pela dor desperdiçados.

        Quando regressou a casa, sentia‑se triste e vazia ao pensar no seu tio. Se ao menos pudesse ajudá‑lo... Quando se casasse com Damian, a luta de Jamie contra Charles terminaria por fim e não teria mais nenhuma razão pela qual continuar a viver. Como poderia ser feliz?

        Rachel sentou‑se no sofá e escreveu uma longa carta a Jenny, em que lhe contava tudo o que tinha acontecido naquelas três semanas. Só omitiu os seus sentimentos por Damian, já que eram demasiado íntimos, intensos e confusos e cresciam cada vez mais

        Na noite seguinte jantou com Damian na casa dele. Rachel avançou pelo elegante vestíbulo, olhando com surpresa para a estátua oriental, misteriosamente iluminada, que vigiava a porta da sala.

        O rés-dochão era muito grande, com quatro salões de recepção, uma cozinha enorme e o ginásio. Damian tinha utilizado diversos estilos decorativos. Rachel viu estátuas africanas de bronze, da Índia, do Peru, e até uma enorme figura, em madeira, de um índio sioux. O ginásio era um salão com paredes de vidro, e uma carpete creme. Na sala, uma aparelhagem de alta fidelidade dominava o móvel de madeira; tinha umas colunas grandes ao seu lado. No centro estavam dois cadeirões vermelhos, um frente ao outro.

        ‑       Porque compraste esta casa? ‑ perguntou com tensão. ‑ É mesmo ao lado da do meu pai?

        ‑       Sabes perfeitamente que metade da população de Hong‑Kong vive em apartamentos. Eu queria uma casa - explicou. ‑ Esta casa foi posta à venda e comprei‑a. Era esta ou um palácio grande nos Novos Territórios, ou nalguma das ilhas dos arredores.

        ‑       Imagino que isso te devia ter agradado mais!

        ‑       Não, se tiver que apanhar um helicóptero cada vez que quisesse ir ao centro ‑ explicou e lentamente desceu o olhar até aos lábios dela. ‑ Queres ver os quartos?

        ‑       Não! ‑ o coração dela apertou‑se

        ‑       Tens que vê‑los mais tarde ou mais cedo.

        ‑       Prefiro que seja tarde ‑ disse‑lhe e afastou‑se dele, pela sua proximidade, por aquele corpo que a incendiava.

        Damian não tentou seduzi-la. Nem sequer tentou beijá‑la, o que era notável, uma vez que passaram o serão a olharem‑se e a sentir como o ambiente se carregava de electricidade entre eles quando se roçavam. Quando Rachel se foi embora, o seu estômago era um nó de excitação intolerável.

        ‑       Vejo‑te na segunda‑feira no escritório ‑ disse-lhe Damian quando a acompanhou a sua casa. Rachel parou na porta principal e olhou para ele.

        ‑       Porquê? Estás ocupado amanhã? ‑ os seus olhos brilharam de ciúmes e dor. ‑ Vais ver a Domino?

        Observava‑a intensamente.

        ‑       Porquê? Incomoda‑te?

        ‑       De todo ‑ exclamou com demasiada rapidez.

        ‑       A sério? ‑ riu friamente. ‑ Bom, se não te conhecesse bem, diria que estás com ciúmes.

        Parecia que o seu coração parava. Tinha que dizer qualquer coisa rapidamente para convencê-lo do contrário.

        ‑       Estou irritada porque não queres que veja mais o Tony! É meu amigo e gosto dele!

        ‑ Paciência!

        ‑ Porquê? Porque é que tenho de renunciar ao Tony, se tu não vais renunciar a Domino?

‑ Renunciarei a ela quando te levar para a cama, antes não ‑ replicou ele aborrecido.

        Damian voltou‑se e foi‑se embora. Rachel observou‑o com amargura. Mais tarde, enquanto contemplava pela janela do seu quarto o mar iluminado pela lua, calculou que ele devia estar nesse momento com Domino. Estaria a fazer amor nalgum apartamento dacidade? Rachel apertou os punhos quando imaginou a cena vividamente.

        Não suportava. A imagem daquela boca nos lábios de outra mulher, as suas mãos noutro corpo, as suas coxas duras separando as de outra... "não, não, não!)>, gritava a sua mente.

        Trémula voltou‑se de costas para o mar e olhou para o quarto na penumbra. Os ciúmes que sentia aumentavam sem controlo.

        "Não deixarei que tenha outras mulheres!", pensou violentamente. "Como se atreve sequer a pensar nisso?" Mas não sabia o que fazer para impedi-lo. Tinha vontade de ir à sua casa naquele momento a meio da noite, bater à porta e

gritar-lhe ordens furiosas e ciumentas que, de qualquer maneira, ele não acataria.

        De repente as palavras de Damian regressaram à sua mente:

        "Não serei um marido ciumento nem possessivo pela simples razão que não estou apaixonado por ti".

        Rachel ficou imóvel, a pensar. "Tenho ciúmes, mas não estou apaixonada por ele. Não estou. Não pôde ser...".

        Contudo, sabia que o seu próprio comportamento era suficientemente explícito acerca do que sentia: o seu respeito, admiração, ciúmes, dor, desejo de que ele sentisse alguma coisa por ela, qualquer coisa, desde que procedesse do coração e não do corpo

        Rachel agarrou‑se desesperadamente às palavras de Damian. "É estranho... mas nós temos isto... Com certeza temos um vinte em compatibilidade sexual!". O alívio invadiu‑a. Sim, era isso. Essa era a explicação dos seus ciúmes.

        Embora parecesse lógico, não tinha um sentido emocional. Lembrou‑se então que alguém lhe dissera alguma vez que apaixonar‑se era uma experiência aterradora.

        O seu estômago contraiu‑se. Sentia‑se doente, trémula, assustada. Sentia cada um dos sintomas do amor, mas continuava a repetir para si própria que não estava apaixonada por Damian Flint; não devia, não podia fazê-lo, não...

 

Rachel foi ao escritório na segunda‑feira de manhã, e sorriu cortesmente quando o pessoal a felicitou. O Morning Post tinha publicado a notícia do seu compromisso no fim-de‑semana, mas na segunda-feira imprimiram um pequeno artigo sobre Damian, intitulado: Damian Flint novo presidente da Swift?

        - Que misterioso! ‑ comentou Damian inclinando-se sobre o jornal.

        ‑       Que preciso! ‑ afirmou Rachel.

        ‑       Sim ‑ concordou ele e levantou os olhos para ela.

        ‑       Estás a desfrutar os teus últimos momentos com Domino? ‑ perguntou-lhe Rachel.

        ‑       O resto da colónia não terá nada de melhor para fazer do que mexericar sobre a minha vida privada, mas não vou consentir que a minha noiva se junte a eles - olhou‑a com autoridade. ‑ Volta para a tua mesa e começa a trabalhar.

        ‑       Trabalhar? ‑ perguntou com ódio. ‑ Nós os dois sabemos que nunca fui realmente tua secretária. Foi apenas uma desculpa para poderes seduzir‑me! Devo incomodar‑me em redigir a minha demissão?

        ‑       Vai e escreve‑a agora! Renuncias a partir do dia do nosso casamento.

        Rachel saiu batendo com a porta.

        Para sorte de Rachel, naquela semana Domino não foi ao escritório para almoçar com Damian. Pensou que talvez a tivesse advertido. Era uma atitude bastante sensata, dados os rumores que corriam por todo o lado. Contudo, à medida que o tempo foi passando e como Damian não fazia nenhuma tentativa de ver Rachel à noite, a jovem imaginou que ele devia ir ter com Domino enquanto ela ficava sozinha na sua casa, torturada pelos ciúmes, imaginando-os juntos. Sentia‑se como se Damian a tivesse lançado para o inferno.

        Entretanto, Charles recuperava rapidamente. Muito raramente ia ao escritório. Passava mais tempo com os seus velhos amigos e louvando o seu futuro genro.

        Julho deu lugar a Agosto e o calor era sufocante. Por

fim chegaram as chuvas. Rachel saiu do escritório e

correu pela rua Des Voeux para apanhar um táxi que a

levasse a casa. O carro avançou pelas ruas inundadas.

        O táxi parou num semáforo e, nesse preciso momento, Rachel viu que outro taxi parava ao lado do seu. Damian saiu dele com Domino pelo braço e os dois correram para um edifício de apartamentos. Rachel ficou a olhar para eles com o rosto pálido.

        No dia seguinte entrou no escritório e disse‑lhe:

        ‑       Vi-te ontem com ela. Quero que me prometas que nunca mais a verás.

        Damian ficou tenso sentado na sua cadeira e observou‑a com calma. Devagar levantou‑se e caminhou para ela.

        ‑       A mãe dela estava doente ‑ explicou ele. ‑ Prometi pagar‑lhe...

        ‑       Não me venhas com essas histórias! ‑ replicou a tremer e com os olhos brilhantes de dor. ‑ Disseste que serias discreto!

        ‑       E fui ‑ replicou ele. ‑ Ninguém me viu com ela.

        ‑       Eu vi-te! ‑ repôs incomodada. Lutou por se controlar, por conservar a sua dignidade. ‑ Se eu te vi, qualquer pessoa podia tê-lo feito também. Num segundo toda a cidade vai saber. Quero que deixes de vê‑la. Agora.

‑       Só falta uma semana para o casamento ‑ replicou ele e apertou os lábios.

        ‑       Não me importa! ‑ replicou com fúria. ‑ Deixa de vê‑la agora ou vou começar a sair com o Tony. Publicamente, todas as noites no 1997.

        Reinou um silêncio tenso.

        ‑       Não vou receber ordens de ti, Rachel ‑ sussurrou ele. ‑ Não faças isso ou tenho que me opor de uma maneira que não vais gostar.

        ‑       Como? ‑ perguntou com a pulsação acelerada.

        ‑       Beijo-a à tua frente ‑ explicou. ‑ Dessa forma...    Qualquer coisa estalou dentro de Rachel. Lançou‑se contra Damian e bateu‑lhe e arranhou-o até que ele lhe agarrou os pulsos e a atraiu para si.

        ‑       São ciúmes? ‑ perguntou ele num tom estranho e profundo. ‑ Se são, diz‑me! Deixarei de vê‑la se isso te faz sofrer!

        ‑       Vai para o diabo! ‑ replicou humilhada e lutou para se libertar. ‑ Não estou ciumenta das tuas aventuras sórdidas! Simplesmente não quero que me humilhem em público!

        Damian endureceu o gesto e soltou‑a com um empurrão.

        ‑       Deixarei de vê‑la quando estivermos casados, antes não ‑ disse com ira. ‑ Dou‑te a minha palavra que ninguém me verá com ela outra vez.

        ‑       Antes prometeste‑me que...

        ‑       Rachel! ‑ interrompeu‑a. ‑ Não me pressiones!

        A expressão dele era ameaçadora. Muito pálida, Rachel dirigiu‑se directamente à casa de banho e chorou em privado. Odiava‑se por se ter rendido, mas o que podia fazer? Ele tinha‑lhe dito que deixaria de ver Domino, se ela confessasse que tinha ciúmes e sentia‑se ferida. "Nunca!", pensou com fúria. "Hei-de morrer antes de admitir o que sinto por ele". Com decisão, refrescou a cara, retocou a maquilhagem e voltou para a sua mesa para enfrentar o seu pesadelo com dignidade.

        Na quinta-feira a família de Damian chegou do Quénia, e saíram todos para jantar com Charles no Jumbo, um restaurante flutuante no porto Aberdeen. A sua irmã Katya e Lydia, a sua mãe, tinham um fisico fantástico. Eram as duas loiras e tinham os olhos verdes. O seu pai, um homem de cabelo prateado com olhos azuis, felicitou Damian calorosamente. Quando entraram no restaurante, o empregado levou-os ao mostrador de marisco fresco.

        ‑       Oh, Damian, olha! ‑ exclamou Katya e deu‑lhe o braço para lhe mostrar os caranguejos vivos.

        ‑       Damian, foi óptimo teres‑nos trazido aqui! ‑ sussurrou a sua mãe, pegando-lhe no outro braço.

        Rachel ia atrás, esquecida e ignorada. Ardia de ciúmes. "Tenho ciúmes da mãe e da irmã dele", pensou, desprezando-se a si própria. Mais tarde, conduziram‑nos a uma mesa muito bem arranjada.

        ‑       A querida Katya quer levar um vestido escarlate ao teu casamento ‑ comentou Lydia com um somso.

        ‑       Essa cor fica‑me bem ‑ murmurou Katya. ‑ Não achas, Damian?

        ‑       Sim ‑ assentiu com diversão.

        ‑       A mamã está aborrecida porque não gostaste da prenda do casamento ‑ continuou Katya.

        ‑       Claro que gostou! ‑ exclamou Lydia. ‑ Não gostaste?

        ‑       Sim, é muito bonito ‑ replicou Damian com diversão.

        O serão continuou nos mesmos termos. As duas mulheres brigavam por atrair a atenção de Damian.

        Na noite seguinte, Damian e Rachel abriram mais presentes juntos na casa de Charles. A família de Damian saiu sozinha para jantar.

        ‑       Preciso de ter a tarde livre amanhã ‑ disse Rachel.

‑       A Jenny vai chegar e quero ir buscá‑la ao aeroporto.

        ‑       Podes sair depois do almoço ‑ declarou ele e depois franziu o sobrolho quando tirou um grande quadro de Rachel, deitada numa praia cheia de sol. Usava um biquini diminuto e o seu rosto era jovem e adorável. Damian tirou o papel que tinha à volta e olhou-o assombrado.

        ‑       Oh! ‑ os olhos de Rachel iluminaram‑se e tentou tirar‑lho.

        ‑       De quem é? ‑ quis saber olhando para o cartão.

        ‑       De Tony! ‑ respondeu e corou de prazer. ‑ Pintou‑o quando eu tinha dezoito anos, na praia de Chung Hom Kok, perto da casa dos pais dele.

        ‑       Não podemos aceitá‑lo ‑ apertou os lábios. ‑ Não é adequado.

        ‑       Porquê? ‑ sentia‑se ferida. ‑ Talvez ele tenha pensado que tu também gostasses.

        ‑       Um retrato da minha mulher semi‑nua? Acho que não! Devolve-o, e se não o fizeres faço-o eu e ainda dou um murro a esse impertinente.

        ‑       Ah, estou a ver! ‑ protestou a tremer. ‑ Podemos aceitar os lençóis de seda branca da tua amante, mas não o retrato que Tony me manda!

        ‑       É assim mesmo! ‑ anunciou ele com os olhos brilhantes.

        ‑       Então é isso mesmo, hem? ‑ a fúria embargou‑a. - Quem está surpreendido? Eu não, já conheço a tua família. Passar o tempo a fazer com que as mulheres briguem por tua causa tem sido a tua experiência desde sempre com o sexo oposto.

        ‑       É isso que achas? ‑ observou‑a com os olhos semicerrados. ‑ Tens a sensação que estás a brigar com Domino por mim?

        ‑       Não! ‑ respondeu e virou o rosto com dignidade.

        Reinou uma breve pausa e depois ele colocou‑se atrás dela e murmurou‑lhe:

‑       Rachel, se estás com ciúmes

        ‑       Não estou com ciúmes, maldito egoísta! - replicou com os olhos brilhantes. ‑ Quero o meu quadro. Tony prometeu dar‑mo no dia do meu casamento e não vou permitir que lho devolvas.

        ‑       Com certeza pensava que seria ele a casar contigo - sorriu Damian com tensão.

        ‑       A resposta é tão óbvia que nem me vou incomodar a dar‑ta.

        ‑       Estou a ver ‑ Damian ficou tenso. ‑ E agora ele acha que tem o direito de me provocar por causa disso. Muito bem, já veremos! ‑ deu meia volta, pegou no quadro e saiu de casa batendo com a porta.

        ‑       O que vais fazer? ‑ Rachel correu atrás dele. Damian meteu o quadro no Mercedes, entrou e arrancou sem lhe responder. Rachel regressou a casa e com as mãos a tremer marcou o número de Tony. Depois desligou sem falar. Se telefonasse a Tony para adverti‑lo, Damian adivinharia e nem sequer queria pensar como reagiria. Dez minutos mais tarde, o telefone tocou. Era Tony.

        ‑       Sabia que me arriscava ‑ resmungou ele. ‑ Mas prometi-te o quadro para o dia do teu casamento, e por isso enviei-o.

        ‑       O que aconteceu? ‑ perguntou Rachel com o coração acelerado.

        ‑       Chegou aqui muito apressado há alguns minutos - explicou. ‑ Saiu do carro batendo com a porta, caminhou na minha direcção, atirou o quadro para o chão, bateu-me, disse‑me para me afastar de ti e desapareceu de novo.

        ‑       Oh, não! ‑ sussurrou Rachel espantada. ‑ Tony, lamento! Estás ferido?

        ‑       Quer dizer, não me sinto muito bem! Acho que me deslocou o maxilar.

        Espantada, Rachel tentou acalmá‑lo e não ouviu Damian a entrar em casa.

- Não tinha o direito de te bater assim ‑ repôs Rachel.

        Damian tirou‑lhe o auscultador; os seus olhos reflectiam a sua ira.

        ‑       Desliga esse telefone imediatamente, Radcliffe! - disse‑lhe Damian. ‑ E não tornes a telefonar‑lhe ou acabo contigo! ‑ e desligou com força.

        ‑       Como te atreves a falar assim com o meu amigo? - gritou furiosa. ‑ Não tinhas o direito de...

        - Nunca ouves o que eu te digo? ‑ interrompeu‑a. -

Disse-te que te afastasses dele e falava a sério!

        ‑       Mas isso é irracional! ‑ Ele é apenas meu

        ‑       Rachel! ‑ Não voltes a aproximar-te dele nunca mais! Nunca, percebes? ‑ estudou o seu rosto pálido e depois repetiu: ‑ Percebes?

        ‑       Sim! ‑ assentiu com medo.

        ‑       Ainda bem ‑ passou uma mão pelo cabelo e depois saiu da casa e bateu a porta.

        No dia seguinte Rachel foi buscar Jenny ao aeroporto. Na noite antes do casamento foram aos seus lugares preferidos, 1997, Rick's Café, o G-Down, e terminaram às duas da madrugada a sair de um táxi em Wan Chai. Foram à Casa da Fatalidade, um velho bar inglês do centro da cidade, e sentaram‑se numa mesa, num canto.

        Quando tomavam café, Rachel perguntou‑lhe:

        ‑Jenny... lembras-te de falares com o Damian sobre o amor na noite em que ele me foi buscar?

        ‑       Sim.

        ‑       Bom, perguntava‑me porque é que falaram sobre isso. Quer dizer... Damian fez... fez-te alguma proposta?

        ‑       Falámos disso porque lhe contei que estava apaixonada pelo Jamie, e ele olhou para mim como se estivesse louca! ‑ riu. ‑ Sabia o que ele pensava, por isso falei do amor, de que significa coisas diferentes para cada pessoa, e foi então que ele me disse aquilo.

        Rachel recordava exactamente cada palavra.

        ‑       Que o amor é uma expressão erótica da alma através do corpo?

        ‑       Sim ‑ Jenny sorriu. ‑ Disse que o tinha lido em qualquer sítio há dois anos e ficou tão comovido que não conseguia esquecê‑lo. Disse que lhe parecia uma loucura, mas desde que o lera tinha querido experimentá‑lo, embora ainda não tivesse conhecido uma mulher que lhe fizesse sentir isso.

        Rachel olhou‑a e sentiu‑se esperançada. Sabia que Damian queria, acima de tudo, fazer amor com ela. Podia dar‑se o caso dele sentir por ela alguma coisa mais além do desejo sexual?

        Então recordou com horror o que ele lhe dissera: "Não me digas que és virgem!", e sentiu‑se ferida. Damian considerava‑a demasiado inexperiente para cumprir o seu desejo de se expressar completamente através do corpo.

        Damian não a amava, nunca o faria. Casava‑se com ela apenas por ambição. Perguntou‑se quantas vezes deveria repeti‑lo a si própria.

        A manhã seguinte foi um verdadeiro caos. Rachel ficou no seu quarto a vestir‑se, enquanto as outras pessoas iam e vinham. O seu pai estava eufórico.

        Nightingale entrou com um bonito gancho para o cabelo, em forma de cascata de flores de seda branca.

        ‑       M'goi, sai ‑ agradeceu‑lhe Rachel na língua cantonesa. ‑ Dochay.

        - Todas as noivas japonesas usam um no seu casamento ‑ explicou‑lhe Nightingale. ‑ A menina nasceu em Hong‑Kong... casa‑se em Hong‑Kong. É um pouco chinesa, acho eu. É pena é a pele branca e os olhos verdes

        Rachel decidiu que precisaria de toda a boa sorte do mundo. Depois de se vestir, chamou Jenny para a pentear.

        ‑       Oh, Rachel...! ‑ exclamou Jenny quando ficou pronta. ‑ Estás lindíssima!

        Rachel olhou no espelho o seu vestido de seda branca, que se ajustava ao seu corpo esbelto deixando a descoberto os seus ombros e acentuando a sua cintura estreita. A saia consistia em finas camadas que pareciam flutuar no ar. O seu cabelo preto encaracolado estava preso com uma fiara da qual caía um véu de renda branca. Por trás da cabeça, as flores de seda e as pérolas do gancho brilhavam debaixo do véu.

        ‑       És a noiva mais bonita que já vi ‑ elogiou‑a Jenny.

        Mas Rachel não se sentia uma noiva. Olhou para o espelho e viu uma mulher que os deuses castigavam pela sua temeridade ao ter declarado que nunca se deixaria possuir por emoções incontroláveis. E agora ali estava

        Pensar em Damian acelerava‑lhe o coração. Continuava a dizer a si mesma que o que sentia não podia, não devia ser amor. Ele destrui‑la‑ia se fosse amor, arrancar‑lhe‑ia o coração como aquele leão que tinham visto em Auckland.

        ‑       A noiva está pronta? ‑ perguntou o seu pai alegremente.

        Uma limusina branca levou-os até à igreja. Estavam no pico Vitória e de ali podia ver‑se a cidade através de uma névoa muito fina.

        ‑       Estou tão orgulhoso de ti! ‑ Charles apertou‑lhe a mão quando se dirigiam à igreja. ‑ Durante todos estes anos tenho vindo a suportar uma carga enorme. A empresa, o futuro, Jamie... Agora tu tiras‑me esse peso e finalmente posso descansar, sabendo que estás a salvo ‑ os seus olhos brilharam pelas lágrimas. ‑ Assim que vi Damian compreendi que era o filho que nunca tive, e agora é meu filho de certa forma, não é? ‑ beijou‑lhe a mão. ‑ Obrigado, Rachel. Tornaste a minha vida completa desde que a tua mãe morreu.

        ‑       Fico contente ‑ sussurrou ela. - Achas que há a possibilidade de tu e Jamie se reconciliarem agora que tudo terminou?

        ‑       Já estamos a ultrapassar os obstáculos. Acho que seremos amigos dentro de algum tempo ‑ assentiu o seu pai.

        Rachel e o pai saíram do carro e avançaram de braço dado. Jenny ia atrás deles, deslumbrante com o seu vestido de seda verde e o cabelo adornado com diminutas margaridas de seda.

        Damian voltou‑se no altar e o coração de Rachel apertou‑se. Sentia‑se fraca pela emoção de vê‑lo, e pelo som profundo da sua voz quando repetia os votos.

        ‑       Pode beijar a noiva.

        Fê‑la voltar‑se para ele, levantou‑lhe o véu e o acto simbólico comoveu Rachel.

        ‑       És minha!

        A jovem pensou que tinha passado a vida a fugir de um amor possessivo e naquele momento estava a arder e a revelar‑se como uma mulher apaixonada.

        Posaram sob o sol sufocante enquanto tiravam as

fotografias. Rachel abraçava‑o pelo pescoço. A sua boca fechou‑se sobre a dela e a jovem perdeu‑se no beijo.

        ‑       És minha! ‑ expressou ele com voz rouca de novo. Rachel susteve‑lhe o olhar com uma esperança selvagem de que ele sentisse o mesmo que ela. Depois recordou tudo o que ele tinha lutado para tê‑la e o prémio que obteria, e voltou‑se para o outro lado com desespero. O seu desejo de possui‑la baseava‑se apenas na ambição, não no coração.

        Foram para o carro. Estavam todos à volta deles, felicitando-os.

        De repente Rachel voltou‑se para lançar o ramo. Viu Jenny e Jamie ao lado desta e lançou- directamente para a jovem, que o agarrou. Jamie observou‑a e Rachel voltou‑se para entrar no carro.

        ‑       Rachel Flint ‑ murmurou Damian examinando-a.

        Ela tremeu e olhou para o anel no seu dedo.

        ‑       Estou a ficar louco... ‑ murmurou ele enquanto lhe acariciava o ombro nu. ‑ Mal posso esperar para fazer amor contigo... Quem me dera que fôssemos para a cama e não para essa maldita festa!

        Rachel corou intensamente.

        ‑       A noiva corada ‑ repôs ele. ‑ Tu também estás ansiosa, meu amor.

        ‑       Não! ‑ negou com a pulsação acelerada. ‑ Estava a pensar em Tony. Devia estar aqui, no meu casamento, mas não se atreveu depois de lhe teres batido

        ‑       E faço- outra vez se não deixares de falar com ele

‑       disse Damian violentamente, agarrando-a pelos ombros.

        ‑       Podes tirá‑lo da minha vida, mas não da minha mente ‑ replicou irritada.

        ‑       Claro que posso, e os dois sabemos isso ‑ replicou.

‑       Talvez tenhas recordações de amizade dele, mas eu sou

o homem que desejas ‑ a sua voz era rouca. ‑ E sou o

homem que terás quando chegarmos à Tailândia! - Damian tinha alugado uma casa na praia na ilha Phuket, na Tailândia, onde passariam a lua-de‑mel. Rachel temia‑a e ansiava por ela ao mesmo tempo e ele conseguia ver a excitação nos seus olhos.

        ‑       Oh, sim! ‑ continuou. ‑ Vais esquecer o Radcliffe esta noite! ‑ beijou‑a de uma maneira que lhe acelerou as batidas do coração, e ela gemeu de prazer quando abriu a boca à dele.

        O carro deteve‑se de repente. O motorista tossiu discretamente e Damian levantou o rosto corado.

        ‑       Não o menciones de novo! ‑ ordenou‑lhe. Um momento depois entravam no clube de críquete Hong‑Kong, um edifício de estilo colonial da ilha.

        A celebração teve lugar no pavilhão, de estilo Tudor. Havia mesas requintadamente adornadas com loiça e talheres de prata, e os discursos tiveram lugar.

        O baile realizou‑se ao ar livre. Estava uma banda a tocar jazz quando Rachel e Damian abriram obaile, perto da piscina iluminada.

        Depois Damian reuniu‑se com a sua irmã e a sua mãe, que tinham chorado durante toda a cerimónia. Katya e Lydia olhara para Rachel, que permanecia de pé, sozinha na pista, a olhar para Damian com intensa paixão. As duas olharam‑na com descontentamento, e ela correspondeu‑lhe da mesma forma pelos ciúmes que sentia. A boca de Lydia retorceu‑se num sorriso irónico; os seus olhos tinham um brilho de compreensão. Rachel devolveu‑lhe o sorriso, com uma ponta de futura dor e êxtase nos olhos.

        ‑       Não devias preparar-te para irem para a Tailândia?

‑ perguntou‑lhe o seu pai a olhar para o relógio.

        ‑       Onde está Jenny? Disse que... ‑ calou‑se quando viu Jenny e Jamie a dançar muito juntos.

        Jamie inclinava a cabeça, tinha os olhos fechados e parecia absorto em Jenny. Rachel reconheceu o sentimento.

        ‑       Maldição! ‑ murmurou Charles. ‑ Vou buscá‑la e...

        ‑       Não! ‑ Rachel deteve-o.

        O seu pai olhou para Jenny de novo e franziu o sobrolho.

        ‑       Ora! Não me digas que eles...

        ‑       Não me admirava nada ‑ comentou ela com um sorriso.

        ‑       Valha‑me Deus! ‑ exclamou o seu pai. ‑ Seria uma benção se Jamie se casasse e assentasse a cabeça. Reconciliavamo-nos mais rápido.

Rachel foi para um quarto privado, onde colocou um vestido de seda verde, com uma jaqueta por cima.

        O voo foi curto. Depois de aterrar em Banguecoque, um helicóptero levou-os à pequena ilha Phuket. Estava um motorista à espera deles e conduziu-os à casa da praia. Havia lua cheia e as águas escuras do mar tinham um brilho prateado.

        Os insectos zumbiam na noite cálida quando saíram do veículo. A casa era enorme, bem iluminada, isolada do caminho por plantas e árvores. Uma rapariga tailandesa estava à espera deles e cumprimentou-os com timidez. Levou as malas e serviu‑lhes umas bebidas frias.

        ‑       Só vamos precisar de ti uma hora por dia. à hora do almoço. Isso é suficiente. Agora podes ir ‑ diss-lhe Damian.

        Rachel estava junto ás portas do alpendre traseiro. O seu coração acelerou‑se quando enfrentou Damian, completamente sozinhos na lua‑de‑mel deles.

        Ele tirou‑lhe a bebida da mão trémula.

        ‑       Acho que está na hora de ir para a cama, não é? - sugeriu suavemente.

        Levou‑a aos quartos de madeira. Havia ventoinhas no tecto e mosquiteiros nas portas e janelas.

        Damian acendeu a luz. Rachel estava no meio do quarto, com a enorme cama branca atrás dela.

        Lentamente, Damian trancou a porta atrás deles.

 

O desejo pulsava nas suas veias, mas mais além havia uma emoção intensa e misteriosa. Rachel compreendeu que a luta estava a terminar. A cama estava atrás dela e Damian à sua frente. Não tinha para onde fugir.

        "Estou louca por ele", pensou, e foi como se caísse por fim aos seus pés.

        Reconheceu que se tinha apaixonado por ele no próprio momento em que o viu, embora tenha lutado, enganou‑se a si mesma, resistiu... mas o amor não podia ser evitado para sempre. Era uma força imparável.

        Quanto mais ódio consciente, mais amor inconsciente.

E como o odiava! Com paixão, as suas defesas caíram e o

ódio converteu‑se num amor profundo e intenso. Quando

o admitiu, o amor envolveu‑a totalmente.

        Damian deu um passo em frente, respirando com dificuldade.

        ‑Rachel... ‑ sussurrou e aproximou‑se dela.

        ‑       Não te aproximes de mim! ‑ a jovem retrocedeu.

        ‑       O quê...? ‑ Damian deteve‑se em seco e olhou‑a impressionado.

        Rachel estava decidida. Tentou passar junto dele para chegar à porta e colocar‑se a salvo da verdade: estava a ponto de cair aos seus pés e de admitir que o amava.

        ‑       Que raios estás a fazer? ‑ agarrou‑a pelo pulso.

        ‑       A fugir de ti! ‑ respondeu com amargura. ‑ Desta farsa de casamento!

        ‑       Não podes rejeitar‑me agora! ‑ anunciou com voz rouca, puxando-a para si; os seus olhos brilhavam. ‑ Não posso acreditar... Rachel, por Deus...!

        Ela lutou em silêncio, tentando escapar.

        ‑       Como te atreves a fazer‑me isto? ‑ perguntou‑lhe ele enquanto a agarrava com mãos trémulas. ‑ Como te atreves? ‑ repetiu com ira.

        Rachel tentou morder‑lhe uma mão no seu desespero de escapar.

        ‑       Não, não o farás! ordenou‑lhe ele. Depois de tudo o que me fizeste passar, não vais escapar assim!

        ‑       Solta‑me! ‑ lutou ela com força.

        ‑       Sabes o inferno que me fizeste passar? Tive que morder as mãos para não te tocar durante estas três semanas e fi‑lo pela tua inocência. Tínhamos um acordo.

Compreendíamo-nos. Dei-te tempo para aceitar que esta noite faríamos amor e

        ‑       Amor! Não lhe chames isso! ‑ gritou. ‑ Somos uma tragédia! Que farsa de casamento é este? De mim só queres uma coisa: sexo!

        ‑       Disse-te que não te podia dar amor!

        Rachel teve uma reacção como se ele lhe tivesse batido.

        ‑       O Tony podia dar‑me amor!

        ‑       Maldita...! ‑ rangeu os dentes. ‑ Maldita! ‑ de repente atraiu‑a para si e apertou‑a enquanto a beijava com violência, forçando-a a abrir a boca. Com uma mão agarrava‑lhe a cabeça, enquanto ela lhe batia e dava pontapés.

        Batendo num móvel, Rachel tentou fugir, já que ele queria arrastá‑la para a cama. No final caíram os dois contra uma mesa de cabeceira, que caiu ao chão.

        O candeeiro quebrou‑se em pedaços, e ficaram os dois estendidos junto à cama, ainda a brigar.

        ‑       Radcliffe, dava-te amor, hen? ‑ replicou‑lhe ele com um tom desconhecido para ela.

‑       Sim!...... não violação!

        ‑       Não vai ser uma violação! Tu desejas‑me!

        ‑       Não é verdade! ‑ os seus lábios tremeram. ‑ Quero amor, Damian, amor...!

        ‑       Bom, então vamos ver como te dás sem ele. Vamos ver o muito que precisas de amor.

        ‑       Não deixarei que me possuas! ‑ exclamou enquanto continuava a lutar.

        ‑       Se queres briga, vais tê‑la ‑ pegou‑a ao colo e lançou‑a para cima da cama; tinha o rosto corado pela ira.

‑ E vou chegar até ao fim, custe o que custar!

        Rachel arrastou‑se de gatas, desesperada, por fugir pelo outro lado da cama.

        ‑       Vem cá! ‑ agarrou‑a por um tornozelo e agarrou‑a pelos ombros. ‑ Deixa de lutar ou enlouqueço por completo...!

        ‑       Vai para o diabo! ‑ tentou fugir uma vez mais.

        Aprisionou‑a contra a cama com o seu próprio corpo.

        ‑       Não me provoques mais, Rachel! Por Deus... não vês que estou à beira... ‑ baixou a cabeça e beijou‑a violentamente.

        Rachel lutou contra ele, revolvendo-se enquanto a mantinha presa, embora quando resistia a uma coisa que Damian sabia que desejava. A jovem sabia que ele não se deteria. A sua boca parecia queimá‑la; a sua rejeição tinha-o enlouquecido.

        Um gemido de profunda emoção saiu dos lábios dela. Reinou um tenso silêncio e Damian levantou a cabeça respirando com dificuldade.

        ‑       Beija‑me...! ‑ ordenou‑lhe.

        Rachel, desejosa, entreabriu os lábios e ouviu-o gemer. Damian diminuiu a força do seu braço quando o beijo se tornou mais profundo e apaixonado. A jovem fechou os olhos, virou a cabeça e arqueou o corpo contra ele.

- beija‑me...! ‑ murmurou ele com uma excitação angustiante.

        Damian movimentou as mãos pelo seu corpo enquanto a sua boca aumentava a pressão. Rachel não podia evitá‑lo. O seu coração batia mais e mais...

        E de repente abraçou Damian com força, arfando com um desejo crescente quando ele lhe acariciou os seios; abriu‑lhe a camisa e os deixou a descoberto. Rachel arqueou‑se contra ele apaixonadamente.

        ‑       Oh, Deus...! ‑ gemeu Damian.

        Ela tinha as mãos no cabelo dele e beijava‑o com todo o amor e paixão que tinha reprimido durante tanto tempo.

        ‑Damian...! ‑ sussurrou o seu nome. ‑Damian...!

        ‑       Sim ‑ os seus olhos brilhavam de ânsia. ‑ Isto é o que eu quero... isto... ‑ murmurou ele, e os dois tremeram quando Damian lhe tirou o vestido e o lançou para o chão. ‑ Dá‑me tudo... faz amor comigo... faz amor ‑ e beijou‑a intensamente, excitando-a mais até que se moveu contra ele, delirante.

        Rachel estava quase nua, vestia apenas a roupa interior. Damian baixou a cabeça e a sua boca quente fechou‑se ansiosa sobre um seio, enquanto ela lho oferecia com uma mão. A jovem deitou a cabeça para trás, fechou os olhos e rendeu‑se à sensação misteriosa dos seus lábios no seu mamilo.

        ‑Damian...! Damian...! ‑ sussurrava com excitação.

        Ele puxou a sua gravata de seda e tirou o casaco. Rachel viu-o suar quando lhe desapertou a camisa e a deslizou pelos seus largos ombros, passando a mão pela pele, chegando‑o a si. O coração de Damian batia aceleradamente. Era o que ela desejava desde que o conheceu. Tocá‑lo, sentir o seu corpo nu nela. Só a comunicação silenciosa do seu corpo lhe permitia expressar o seu amor

        Estava completamente nua e ouvia-o murmurar palavras de desejo. Isso excitava‑a sobremaneira; o seu corpo revolvia‑se contra ele numa febre intensa de paixão.

        ‑Deita-te... ‑ ordenou‑lhe ele, enquanto a acariciava intimamente.

        Mantinha a sua mão forte entre as suas coxas sedosas, sem deixar de beijá‑la. Rachel gemia de prazer.

        ‑       Oh, Deus! ‑ sussurrou Damian contra o seu pescoço enquanto continuava a acariciá‑la........ - Rachel...!

        Os gemidos da jovem tornavam‑se mais frenéticos e rápidos até chegar ao ofegante.

        As inibições quebravam‑se na sua mente, coração e corpo. A escuridão envolvia‑a andando à sua volta de um modo tenso; o contacto dos dedos dele obrigavam‑na a ascender ao êxtase. Quando viu que abria o fecho das calças sussurrou:

        ‑ Sim... sim...!

        Sentiu-o despir‑se; a sensação da sua pele contra a dela deixou‑a louca. Sentiu‑o nu entre as suas coxas, sentiu a pulsação da sua virilidade. E os seus dedos continuavam naquele lugar que a enlouquecia, que a envolvia numa paixão selvagem.

        ‑       Rachel... Rachel...! ‑ sussurrava ele como se estivesse louco. Começou a possui‑la, fazendo-a agarrar‑se ao seu corpo, arfando, convertendo‑se num só.

        Com um grito rouco, Rachel explodiu num climax violento. O seu corpo ficou possuído pela pulsação que rugia nos seus ouvidos, no seu coração, estômago e coxas, provocando uma convulsão das suas pernas. Já não tinha consciência de nada; apenas se importava com o fluxo de prazer que corria nela.

        E depois a sua dura excitação entrou nela. Damian agarrou‑a pelas ancas enquanto ela jazia exausta, tonta. Então ele começou a proferir gemidos de prazer, sussurrando palavras incoerentes com voz rouca. Deslizou as mãos sob o seu rabo e o seu rosto contorcionou‑se quando alcançou um climax violento com movimentos rápidos e profundos. Estremeceu contra ela com um grito selvagem; o seu corpo estremeceu com uma libertação espontânea de energia eléctrica.

        ‑       Rachel... Rachel...! ‑ suspirava com a respiração entrecortada.

        Rachel olhou para ele e sentiu no seu interior a explosão de sentimentos que durante tanto tempo tinha contido.

        Damian apoiou a cabeça no seu peito, a tremer, respirando de maneira acelerada.

        O amor esvaziava‑se nela e não podia detê‑lo ao estar deitada debaixo dele. Não conseguiu evitar as lágrimas que lhe corriam pelas faces. Abraçou-o e afundou o rosto quente e húmido no pescoço dele. Sentia‑se tão comovida, tão apaixonada, que deixou escapar um soluço da sua garganta. Naqueles momentos, quando alcançava o êxtase, Rachel tinha chegado a acreditar que ele a amava, que sentia alguma coisa por ela, e queria reter essa sensação.

        Damian levantou a cabeça e viu que estava a chorar.

        ‑       O que foi? perguntou suavemente. ‑ Magoei-te? Querida, fiz tudo o possível para que fosse bom, não doloroso...

        A jovem disse para si que ele pensava que a sua dor era física, e que a sua voz era tão terna só pela experiência sexual que tinham vivido. Continuava a ser o duro homem de negócios que se tinha casado pela empresa de Charles, não por ela. "Nunca lhe poderei dizer que o amo", pensou sentindo-se devastada.

        ‑       Rachel...? ‑ examinava‑a confuso.

        Tinha que responder. Inventar qualquer coisa convincente.

        ‑       Entreguei a minha inocência a um ambicioso, em vez de ao homem que amo ‑ sussurrou. ‑ Isso é suficiente para uma mulher chorar.

        Damian observou‑a e empalideceu. Rachel não o olhou nos olhos. As lágrimas resvalavam‑lhe pelas faces e afundou o rosto no pescoço dele, a soluçar.

        ‑       Oh, meu Deus! - exclamou ele fundindo os dedos no cabelo dela. ‑ Não chores... Rachel, não... Schh!

        ‑       Damian, gostaria... de ficar sozinha. Deve haver mais quartos nesta casa.

        Reinou um silêncio tenso. Os dedos na cabeça dela ficaram tensos, e Rachel pôde escutar como o coração dele batia com ira.

        ‑       Não! ‑ replicou‑lhe Damian.

        ‑       Mas já conseguiste o que desejavas ‑ olhou-o. ‑ É suficiente por uma noite, não?

        ‑       Não, não é suficiente ‑ rangeu os dentes. ‑ Quero fazer amor contigo outra vez.

        ‑       Outra vez? ‑ a sua pulsação acelerou‑se.

        ‑       Sim! Não faças essa cara. Deves sentir como me excito dentro de ti ‑ a sua respiração acelerava‑se. ‑ Não fazes ideia do que me provocas?

        Rachel corou. Estava excitada apesar dos seus sentimentos; os seus olhos escureceram, e humedeceu os lábios com a língua.

        ‑       Oh, Deus...! ‑ murmurou Damian com voz trémula e inclinou a cabeça para beijá‑la com um desejo lento e sensual.

        Voltaram a fazer amor. Os seus corpos moveram‑se com lentidão e segurança em direcção ao êxtase, até que Rachel ficou ofegante, delirante de prazer pelas suas carícias.

        Fizeram amor uma terceira vez antes de cair num cansaço que ia mais além do prazer. Os seus corpos nus jaziam juntos, entrelaçados. Quando acordaram no dia seguinte, Damian fez amor com ela até Rachel fechar os olhos e estremecer num ardente delírio. Depois levantaram‑se, tomaram o

pequeno-almoço no alpendre e deitaram‑se ao sol, abraçados na areia branca. Depois nadaram e Damian fez amor com ela no mar, despindo-a enquanto boiavam juntos, envolvendo os seus corpos num desejo irracional, beijando-se enquanto os seus gemidos enchiam o ar. Quase se afundaram como pedras quando Damian ficou rígido de prazer e os seus dedos se enterraram no corpo de Rachel.

        - Já não falas mais de amor? ‑ perguntou‑lhe ele. - Não precisamos dele, pois não? ‑ beijou-lhe o pescoço enquanto ele ofegava de prazer. ‑ Nós, não, Rachel... temos isto

        ‑       O que temos? ‑ sussurrou olhando para ele intensamente. ‑ Dá-lhe um nome, Damian, antes que fique louca

        ‑       Somos amantes, meu amor. Nascemos para fazer isto juntos, e é uma coisa grandiosa, tens que admitir

        ‑       Mais grandioso do que o amor? ‑ sussurrou e beijou o seu peito nu.

        ‑       Muito mais... ‑ replicou. ‑ Esta necessidade insaciável, esta sede, esta paixão incontrolável

        ‑       Sim ‑ concordou ela. Levantou uma mão para proteger o rosto do sol, enquanto jaziam nus na praia. ‑ Uma paixão incontrolável.

        Rachel pensou que pelo menos descrevia algum tipo de resposta emocional da parte de Damian, e que era só o que ela precisava dele. Sem isso, não poderia entregar‑se tão completamente a ele. Quando ele fazia amor com ela, pensava que sentia algo mais por ela.

        Os dias deles seguiram numa rotina ardente e sensual. Acordavam tarde, nus e abraçados, Depois Damian começava a acariciá-la e faziam amor de novo até ficarem exaustos. A fome obrigava‑os a sair da cama, e levava-os à cozinha para preparar o pequeno-almoço.

        De tarde apanhavam sol e nadavam. A pele de Rachel ficou dourada. Vivia em fato de banho, com um sarong colorido preso à anca e o seu cabelo comprido a cair como uma cascata de seda pelas suas costas. Damian contemplava‑a intensamente quando se movia pela casa; os seus olhos devoravam‑na, à medida que ela se tornava mais sensual; as suas inibições iam desaparecendo.

        ‑       Adoro quando fazes isso... ‑ sussurrou Rachel um dia quando faziam amor, e ele riu suavemente, olhando com imensa ternura.

        ‑       O que se passa? ‑ perguntou Damian. - Em que é que estás a pensar?

        Vacilou, as suas esperanças eram muito frágeis.

        ‑       Eu... estava a pensar... Quando me sorriste assim pensava que

        ‑       O quê? Diz‑me!

        ‑       Bom, que... ‑ o seu rosto ardia e falou de pressa. - Que este desejo que partilhamos podia transformar‑se em algo mais, num afecto profundo. Quer dizer, olhaste‑me com... com uma coisa que parecia amor e

        ‑       Amo o teu corpo e fazer amor contigo ‑ explicou ele com o corpo tenso. ‑ Nada mais!

        Disse‑lhe que ela mesma tinha tido a culpa por ter perguntado. O preço foi a dor que sentiu no seu coração quando Damian a beijou e continuou a amá-la até alcançar um êxtase agridoce nos seus braços. Depois disso nunca mais voltou a falar de amor. Não se arriscaria mais, já que cada rejeição dele deixava cicatrizes profundas. Só podia contar com a voz terna de Damian quando faziam amor, o seu corpo contra o dela, e a oportunidade de fingir que algum dia podia amá-la depois de fazer amor com ela dia após dia, noite após noite...

        Comiam cada vez menos e não se aventuravam a sair da casa. O aspecto físico da relação deles consumia-os, enquanto Damian a levava mais além da sua sensualidade

recém-descoberta, quebrando as barreiras enquanto lhe mostrava tudo sobre o seu corpo e o dele. Rachel deleitava‑se com o prazer de saber tocá‑lo, beijá-lo e fazê-lo gemer de paixão. Parecia-lhe estranho, mas a sua dor foi cedendo para ser substituida pela intimidade absoluta.

        Quando chegou o último dia, Rachel percebeu que a atmosfera entre eles mudava.

        Acordaram abraçados como sempre, mas quando fizeram amor, ela pensou detectar algo estranho, particularmente intenso, no comportamento dele.

        Quando a sua respiração voltou ao normal, ele disse com frieza:

        ‑       É melhor fazermos as malas depois do pequeno-almoço.

        ‑       Sim.

        Não se olhavam enquanto falavam. Damian afastou‑se dela e a intensa dor que Rachel sentiu pela sua indiferença começou a feri-la lentamente como uma punhalada no coração.

        às três da tarde, a intimidade entre eles tinha‑se desintegrado. Quando Rachel entrou no quarto para buscar a sua mala, encontrou Damian vestido com o seu fato formal; a sua expressão era séria e dura.

        ‑       Temos que ir. O nosso helicóptero está à espera.

        ‑       Claro ‑ replicou sem expressão, mas estava devastada pela perda do seu amante sensual. Ele tinha partido para sempre, para ser substituído pelo homem com quem tinha casado verdadeiramente: o ambicioso e poderoso Damian Flint.

        Pela primeira vez na sua vida sentiu dor quando viu Hong‑Kong, porque esta significava o fim absoluto do seu sonho com Damian, o final de um mundo isolado sem passado nem futuro, submergido num prazer sem limites nem consequências.

        A realidade tinha ficado prisioneira naquela casa, no paraíso de Phuket. A confiança que tinha tornado possível a sua intimidade não existia no mundo exterior. Ao ver os arranha-céus de Hong‑Kong, Rachel compreendeu que essa confiança tinha desaparecido.

        Quando saíram do avião, pareciam dois estranhos.

        ‑       Onde diabo se meteu o Bennet? ‑ perguntou Damian com impaciência depois de passarem o controlo de passaportes.

        ‑       Talvez esteja à espera lá fora ‑ replicou Rachel.

        Damian apertou os lábios e olhou à sua volta com irritação.

        ‑       Senhor! ‑ Bennet dirigiu‑se apressadamente para eles com a sua farda cinzenta.

        ‑       Leva as malas ‑ ordenou-lhe Damian. Deu o braço a Rachel e conduziu‑a até à limusina.

        Avançaram pelas ruas iluminadas. Para Rachel foi como regressar à terra depois de ter flutuado no ar. Sentiu‑se como se a abanassem violentamente. Por último, deixou escapar a recordação daquele paraíso sensual que tinham partilhado em Phuket.

        Pensou que a ambição e o poder não podiam ser superados pelo amor ou por sonhos estúpidos, e a jovem tomou consciência disso ao confrontar‑se com a realidade do seu casamento, agora que a lua-de‑mel tinha acabado.

        Estavam sozinhos na casa de Damian.

        Rachel olhou-o através da bonita sala e compreendeu que o seu amante sensual tinha partido. Aquele era o verdadeiro Damian Flint, e a máscara cruel da ambição que usava era a sua verdadeira personalidade. Para quê dizer-lhe se o amava ou o odiava? Ele olharia para ela simplesmente com dureza e não sentiria nada.

        ‑       Vem para a cama ‑ disse ele de repente no meio do silêncio.

        ‑       Estou um pouco cansada esta noite... ‑ voltou‑se sentindo uma dor viva no coração.

        ‑       Cansada! ‑ a expressão dele endureceu‑se e agarrou‑a.

‑       Não! ‑ Rachel recuou. ‑ Era diferente na Tailândia! Estávamos em lua-de‑mel. Podia fazê-lo sem amar ou ser amada, mas aqui não... em Hong‑Kong não... não consigo, Damian, por favor não me obrigues

        ‑       Porquê? ‑ inquiriu. ‑ Porque Radcliffe está a dez minutos daqui?

        ‑       Eu não disse isso... ‑ olhou-o directamente.

        ‑       Não precisas do dizer ‑ observou‑a com ira. - Percebi logo no momento em que chegámos! Agora vem para a cama! ‑ agarrou‑a pelos pulsos e arrastou‑a até ao quarto e fez amor com ela selvaticamente. ‑ Vou tirar aquele canalha da tua mente, nem que seja a última coisa que faça na vida ‑ replicou com ódio no rosto, enquanto a possuiu como o inimigo que era.

        Adormeceram abraçados, e Rachel derramou lágrimas amargas no peito dele, desejando o seu amante perdido.

        Na manhã seguinte encontrou-o vestido em frente ao espelho, a fazer o nó da gravata, vestido com um fato impecável, símbolo de poder e riqueza.

        ‑       Onde vais? ‑ perguntou‑lhe Rachel suavemente da cama.

        Ele ficou tenso e olhou‑a pelo espelho e depois declarou:

        ‑       Trabalhar. Para onde é que haveria de ser?

        ‑       Mas só estão à tua espera amanhã ‑ engoliu em seco. ‑ Lembro-me que disseste que não irias trabalhar no dia seguinte à viagem.

        ‑       E o que posso fazer? ‑ perguntou de mau humor. - Sentar‑me e falar contigo? Já tive o bastante na nossa

lua-de‑mel! ‑ disse e Rachel empalideceu. ‑ Estou aborrecido ‑ voltou‑se para ela. ‑ Quero regressar ao escritório.

        ‑       Queres antes dizer que te queres afastar de mim! - replicou a tremer com os olhos brilhantes.

        Damian riu com crueldade, pegou no casaco que estava numa cadeira e colocou-o ao ombro.

‑       Esta noite chego tarde. Passa o dia como quiseres, mas não te aproximes do Radcliffe, se o fizeres parto-lhe os ossos todos do corpo. Estás a perceber?

        Saiu sem dizer mais nada. Rachel ficou na cama, pálida e escutou o seu carro a afastar‑se.

        Enterrou‑se na cama e chorou até ficar sem lágrimas, vazia, a olhar para o tecto.

        Uns passos na escada fizeram‑na ficar tensa. Depois, alguém bateu à porta e abriu‑a.

        ‑       Oh! ‑ uma mulher filipina ficou surpreendida. - Desculpe, senhora Flint. Arrumarei o quarto mais tarde.

        A porta fechou‑se e Rachel sentou‑se. <(Não posso ficar aqui", pensou. Foi à casa de banho lavar‑se e arranjar‑se.

        Mais tarde foi ao Bazar dos Jardins da Baía Causeways. Os gritos das bancas das ruas, que vendiam todo o tipo de coisas, era um indício de vida e alegria.

        Rachel adquiriu coisas absurdas e regressou a casa para desembrulhar as suas compras inúteis, consciente de que tinha comprado uma gargantilha ridícula para se alegrar e que nesse momento se sentia como uma estúpida.

        Segurando a gargantilha na mão, ouviu os passos da amah, que se aproximava. Rachel procurou um lugar na sala para esconder a gargantilha. Correu para a mesa de mogno, abriu uma gaveta e atirou a gargantilha para cima de um montão de papéis.

        Foi num desses papéis que leu as palavras: Investimentos Flint Lado. Ficou gelada e olhou para o logotipo impresso a negro. A amah entrou nesse preciso momento.

        ‑       Olá, senhora Flint ‑ cumprimentou alegremente. - Foi às compras?

        ‑       Sim... ‑ Rachel continuava a olhar para o papel.

Investimentos Flint, Lado, WiIlow e Wall, Nova Iorque.

        O seu coração batia cada vez mais rápido. Olhou para a assinatura e as palavras impressas em baixo: Damian Flint. Presidente.

‑       Fiz café ‑ disse a amah. ‑ Quer uma chávena?

Rachel estava muda e contemplava o papel da secretária. Nesse mesmo momento tocou o telefone.

        ‑       Não, obrigada ‑ disse Rachel enquanto atendia o telefone. ‑ Sim?

        O ruído que tinha a chamada indicou à jovem que se tratava de uma ligação de longa distância.

        ‑       Olá! ‑ disse uma voz com pronúncia americana. - Estou a falar com a noiva radiante?

        ‑       Sou a senhora Flint ‑ respondeu. ‑ O meu marido não está agora. Quem está a falar?

        ‑       Jack Bernstein, de Nova Iorque. Estará na Swift? É urgente, senhora Flint, e eu

        ‑       É alguma coisa relacionada com a empresa de investimentos de Nova Iorque? ‑ perguntou Rachel.

        ‑       Bem, sim, senhora Flint. Surgiu um problema e...

        ‑       Posso dar-lhe algum recado? ‑ insistiu esperançada.

‑ Talvez o veja à hora do almoço.

        ‑       Acho que sim. Diga-lhe que Bachman Hart está a negar‑se ao acordo. Diz que só fala com o Damian.

        O coração de Rachel batia acelerado, mas precisava de uma prova irrefutável.

        ‑       Que Bachman só falará com o presidente da administração em pessoa? Com o meu marido?

        Jack Bernstein riu.

        ‑       Sim, acho que esse é um bom resumo da mensagem!

        Minutos mais tarde Rachel entrava num táxi para que a levasse ao centro.

        Damian já era presidente da sua própria empresa de investimentos em Nova iorque, em Wall Street! Já era rico, poderoso, já tinha mais do que a Swift lhe poderia dar, e isso significava apenas uma coisa: não se podia ter casado com ela para ser presidente de uma grande empresa de investimentos porque ele já tinha a sua.

        O que queria dizer que a amava.

Lágrimas de felicidade fizeram‑na tremer, mas conteve‑se, não queria sentir‑se mal se estivesse enganada. Iria simplesmente confrontá‑lo com o facto de que sabia que era dono da Investimentos Flint em Nova iorque e esperaria a resposta.

        O táxi parou em frente dos escritórios da Swift, em Des Voeux. Rachel procurou na sua carteira uma nota de vinte dólares.

        De repente, o carro de Damian parou à frente do táxi, as portas da Swift abriram‑se e ele saiu do veículo abraçado a Domino Mei‑Ling.

 

Durante um grande bocado Rachel ficou imóvel, cheia de dor. As portas da Swift tinham voltado a fechar‑se e o carro tinha desaparecido no tráfego, mas Rachel continuava a ver Damian de braço dado com a bonita Domino.

        ‑       Trinta e cinco dólares, menina.

        Rachel pestanejou e olhou para o condutor. Lembrou‑se que não lhe tinha pago. Não podia entrar no edifício; nesse momento era incapaz de o fazer. Não com Domino ali. Não regressaria a casa, não conseguia estar sozinha. Também não podia preocupar o seu pai, por isso só tinha um lugar para onde ir.

        ‑       Chumg Hong Kok, m'goi ‑ indicou ao condutor e reclinou‑se no assento.

        Tony estava na praia da casa da sua família, a apanhar sol e a ouvir música. Quando a viu chegar, aproximou‑se dela e franziu o sobrolho.

        ‑       Aconteceu alguma coisa? Pensei que acabavas de regressar da tua lua-de‑mel e

        ‑       Precisava apenas de te ver! ‑ explicou Rachel com um sorriso tenso; caminhou junto a ele pela praia, sentindo que as lágrimas lhe queimavam os olhos.

        Tony abraçou-lhe os ombros.

        ‑       Estás bem? Parece que estiveste a chorar

        ‑       Estou bem! ‑ murmurou e sorriu de novo. ‑ Posso sentar‑me contigo a apanhar sol um bocado? Damian foi trabalhar e aborreç-me de estar sozinha em casa.

        ‑       Claro! ‑ aceitou ele depois de observá-la um momento. ‑ Fico sempre contente de te ver. Queres beber alguma coisa? Ponche de frutas ou um refresco?

        ‑       Um refresco... ‑ replicou, agradecida pela discrição.

        Tony entrou em casa. Rachel sentou‑se sozinha, a olhar o mar de tons turquesa que banhava a areia branca. A dor que sentia ia além dos ciúmes. Era um desespero comovedor, tão profundo que não conseguia controlar.

        Tony regressou e entregou‑lhe um copo alto de refresco. Depois deitou‑se na areia junto dela e sorriu‑lhe.

        ‑       Uma vez Damian perguntou‑me se eu era o predador ou a presa ‑ disse Rachel suavemente.

        ‑       O quê? ‑ perguntou Tony sem compreender.

        ‑       Predador ou presa ‑ sussurrou ela e escondeu o rosto entre as mãos.

        ‑       Querida! ‑ Tony sentou‑se e abraçou‑a com força. - Não chores... por favor!

        O som de um motor de um carro quebrou o silêncio enquanto permaneciam abraçados. Rachel levantou a vista e franziu o sobrolho quando viu o carro de Damian a travar bruscamente no caminho.

        ‑       Pronto! ‑ murmurou Tony ainda a abraçá-la.

        ‑Damian... ‑ sussurrou Rachel.

        Damian saiu do carro e bateu com a porta. O seu rosto estava vermelho de ira.

        ‑       Tira as mãos de cima da minha mulher!

        ‑       Espera um minuto. Deixa‑me explicar... ‑ comentou Tony.

        ‑       Disse-te para não a tocares! ‑ Damian caminhava decididamente para eles.

        Rachel levantou‑se com dificuldade.

        ‑       Eu estava a chorar! Ele só me consolava

        ‑       Que comovedor! Perdoa‑me se não pergunto como te sentes, porque agora vou partir todos os ossos do teu amante ‑ gritou Damian com fúria.

Empurrou violentamente Tony para longe de Rachel, e ela gritou de horror quando o seu amigo caiu para o chão.

        ‑       Não! Não lhe batas! ‑ exclamou Rachel.

        ‑       És como uma vespa maldita que não pára de me picar ‑ pronunciou Damian. ‑ Levas a Rachel a dançar por toda a cidade, beijas‑la nas minhas costas, mandas‑lhe um quadro dela semi‑nua como prenda de casamento - agarrou-lhe o colarinho da camisa. ‑ E agora telefonas‑lhe no dia em que regressamos de lua-de‑mel e convida-la para vir aqui contar-te tudo! Desprezo-te, e Deus sabe que é com razão!

        ‑       Ele não me telefonou ‑ gritou Rachel.

        ‑       Mentirosa! ‑ replicou Damian. ‑ A minha amah disse‑me que saíste a correr depois de receber uma chamada de um homem!

        ‑       Mas não era o Tony! Era Jack Bernstein!

        Reinou um silêncio tenso e Damian observou‑a. Tony tremia enquanto Damian continuava a agarrá‑lo pelos colarinhos.

        ‑       Era Jack Bernstein! ‑ repetiu Rachel a tremer de ira. ‑ E fui à Swift para te dar o recado pessoalmente! Tinha intenções de que fôssemos almoçar juntos, mas tu já tinhas um encontro, não foi? ‑ os olhos brilhavam-lhe.

‑ Vi-te levar a Domino para o escritório! Iam abraçados. Por isso não me venhas aqui acusar‑me de

        ‑       De que raios estás a falar? ‑ Damian soltou Tony com um empurrão violento, foi em direcção a Rachel e colocou‑lhe as mãos nos ombros. ‑ O que é que o Jack te disse? Disse-te que eu sou...? ‑ interrompeu‑se de repente. Depois praguejou em voz baixa, soltou‑a e passou as mãos pelo cabelo.

        Reinou um silêncio tenso. Tony revolveu‑se incómodo.

        ‑       Talvez queiram estar sozinhos para falar sobre isto.

‑       Cala-te, Radcliffe! ‑ resmungou Damian e voltou‑se para ele. ‑ Vou tirar da minha mulher toda a verdade, e se descobrir que há alguma coisa entre vocês... No que respeita aos teus amigos, convida-os! Há muito tempo que tenho vontade de lhes pôr as mãos em cima! ‑ os seus olhos brilhavam ameaçadores. ‑ Estás a perceber?

        ‑       Sim, percebo! ‑ replicou Tony enquanto sacudia a areia dos pés.

        Damian arrastou Rachel para o carro, meteu‑a lá dentro e sentou‑se ao volante. Ligou o motor e saiu disparado.

        ‑       Que descaramento! ‑ disse Rachel com amargura quando chegaram à estrada principal. ‑ Acusar o Tony assim como um louco, tentar bater-lhe...

        ‑       Tens sorte de não lhe ter batido até matá‑lo! - replicou. ‑ O nome Tony Radcliffe dá‑me raiva ‑ olhou‑a com fúria. ‑ Por isso não me digas que sou descarado! Pareço um santo por ainda não o ter morto!

        Entrou no pátio da casa e travou bruscamente.

        ‑       Meu Deus, tu és perigoso... ‑ murmurou Rachel.

        ‑       Pois sou. E ainda serei mais, a menos que te afastes dele! - saiu do carro, bateu com a porta e arrastou‑a até casa.

        Levou‑a para a sala e fechou a porta.

        ‑       Bom! Vamos falar sinceramente! ‑ caminhou em direcção a ela. ‑ Dizes que o Bernstein ligou? Isso é o princípio de alguma mentira retorcida?

        ‑       Não é nada disso! ‑ replicou. ‑ Tu é que és retorcido! Com os teus critérios machistas e a tua obsessão por sexo e...!

        ‑       Conta‑me apenas o que se passou ‑ interrompeu‑a.

‑ O que é que o Bernstein te disse? Alguma coisa em particular? Deixou alguma mensagem?

        ‑       Não podes dissimular por mais tempo, Damian! Mesmo se o Jack Bernstein não mo tivesse dito eu teria 'averiguado!

        ‑       Estás a referir-te a quê? ‑ resmungou.

        ‑       Ao facto de já seres presidente de uma empresa internacional de investimentos ‑ expressou com amargura. ‑ Que não precisavas de casar comigo para satisfazer as tuas ambições!

        ‑       Um bom trabalho de detective! ‑ riu com crueldade.

        ‑       Vi uma carta na tua secretária ‑ explicou. ‑ Tinha o nome de Investimentos Flint em cima, e a tua assinatura em baixo como presidente.

        ‑       E quando descobriste? ‑ perguntou. ‑ Desde quando sabes isso?

        ‑       Antes do Jack Bernstein telefonar.

        Damian desviou o olhar; o seu rosto estava ruborizado.

        ‑       Continua. O que se passou depois do Jack ter ligado?

        ‑       Apanhei um táxi e dirigi‑me à Swift. Ia pagar ao motorista quando o teu carro parou à minha frente e saíste de braço dado com a Domino.

        ‑       Porque é que apanhaste um táxi? ‑ perguntou observando-a intensamente. ‑ Porque é que foste pessoalmente e não te contentaste com telefonar‑me?

        ‑       Não tinha nada melhor para fazer ‑ mentiu na defensiva.

        ‑       Não seria porque querias ver‑me? ‑ sorriu com dureza.

        ‑       Olha, do que é que se trata...? ‑ o seu coração batia em pânico. ‑ O que tem isto a ver...?

        ‑       Soubeste que sou presidente de uma empresa ainda maior do que a Swift! O que passou pela tua mente quando ias ter comigo à empresa?

        ‑       Não me lembro!

        ‑       Porque tiveste que ir ver‑me no momento em que soubeste que eu tinha a minha própria empresa de investimentos? ‑ aproximou‑se dela com os olhos brilhantes.

        ‑       Porque... ‑ quase não conseguia respirar porque o seu coração estava acelerado. ‑ Então percebi que não te tinhas casado comigo pela empresa do meu pai. Queria saber porque me mentiste ‑ sentia‑se vulnerável, temerosa. ‑ Acho que ainda quero.......

        ‑       Não vou responder-te até chegarmos ao final da tua história ‑ replicou ele com um sorriso tenso.

        ‑       Isso vai dar-te tempo para inventares uma boa desculpa! ‑ replicou amargamente

        ‑       Isso espero! ‑ troçou. ‑ Adiante.

        ‑       Fui à empresa e vi-te com Domino!

        ‑       E o que sentiste? ‑ perguntou. ‑ Quer dizer

disseste que foi por isso que foste directamente ter com o Radcliffe. Deve ter-te causado um grande impacto!

        ‑       Meu Deus, és detestável! ‑ balbuciou Rachel.

        ‑       Pensaste que aquilo te dava carta branca para vê-lo?

‑ apertou os lábios. ‑ Acho que sempre quiseste manter uma relação sexual com o Radclife. Agora seria a oportunidade ideal para...

        ‑       Não, não pensei nisso! ‑ interrompeu-o. ‑ Não estou tão obcecada com o sexo como tu!

        ‑       Na Tailândia estavas! ‑ recordou-lhe e Rachel corou.

        ‑       Ora, és um

        ‑       Continua com a história. O que sentiste quando me viste com a minha bonita amante oriental?

        Rachel conteve a respiração. Qualquer coisa dentro dela explodiu e lançou‑se contra ele, batendo-lhe com todas as suas forças. Damian agarrou-lhe os pulsos e examinou‑a intensamente.

        ‑       Gostas de humilhar‑me? ‑ gritou Rachel com voz rouca, a tremer. ‑ Andas há semanas a perguntar‑me se estou ciumenta! É alguma espécie de brincadeira mórbida?

        ‑       Estás ciumenta? ‑ sussurrou ele com o coração acelerado. ‑ Diz‑me... diz‑me!

        ‑       Sim! ‑ gritou. ‑ Sim, estou com ciúmes! Estou tão ciumenta que nem consigo pensar como deve ser.

        ‑       Oh, Rachel! ‑ murmurou Damian e afundou o seu rosto no cabelo dela. ‑ Domino não é minha amante! Nunca foi!

        Rachel continuava a lutar.

        ‑       Eu inventei tudo isso! ‑ continuou ele a

explicar-lhe. ‑ Ela não é minha amante! Não...

        - O quê? ‑ deixou de lutar e olhou para ele impressionada. ‑ O quê...?

        ‑       Não é minha amante! ‑ sussurrou. ‑ Fiz-te acreditar nisso porque queria fazer-te ciúmes. Só isso. Domino Mei‑Ling é minha secretária, mais nada. Teve um mês de férias enquanto tu trabalhavas. Depois começou outra vez a trabalhar na semana passada ‑ levantou a cabeça. Quando me viste com ela, tinha o meu braço sobre o seus ombros porque estava a chorar. A mãe dela está muito doente. Fui buscá-la ao hospital quando vinha de uma reunião em Kowloon. Só isso.

        Rachel olhou-o sem compreender.

        ‑       Não acredito. Dizes isso só para que o nosso casamento não se desintegre. Tens medo que vá ter com o meu pai e lhe diga que... ‑ interrompeu‑se de repente.

        Reinou um breve silêncio. Damian pestanejou, soltou‑a de repente e foi para junto das janelas. Meteu as mãos nos bolsos e ficou ali, com a sua figura recortada com o mar ao fundo.

        ‑       Mas... se não precisas da Investimentos....... - balbuciou sem alento. ‑ E se Domino não é tua amante...

        Reinou outro longo silêncio. A mente de Rachel era um caos, e nada parecia ter sentido para ela. Ele não precisa da empresa. Domino não era amante dele

        ‑       Não entendo... Porque casaste comigo se...?

        ‑       Deixei Nova iorque há dois anos ‑ interrompeu‑a

Damian, virando-lhe as costas e olhando para o mar. - Mudei‑me para Hong‑Kong. Não tinha nada planeado.

Saí do avião e apaixonei‑me por este lugar, por isso fiquei.

Acho que precisava de me apaixonar por alguma coisa.

Bolas, passei a maior parte da minha vida a trabalhar.

Rachel aproximou‑se dele lentamente. Damian percebeu a sua presença, mas não olhou para ela.

        ‑       Quando cheguei aqui... ‑ continuou sem expressão.

‑ Apercebi‑me que precisava de me apaixonar por mais alguma coisa além de uma cidade, mas sempre tive esse problema toda a vida ‑ riu com frieza.

        Rachel estava ao seu lado, olhando-o e contendo a respiração.

        ‑       Conhecia dois tipos de mulheres ‑ explicou com voz rouca. ‑ As mulheres de que gostava, mas com quem não queria ir para a cama. E as mulheres com quem queria ir para a cama, mas não conseguia falar com elas. Imaginei que em algum lugar deveria existir uma mulher que pudesse ser as duas coisas ao mesmo tempo. Uma mulher que pudesse amar e com quem desejasse ir para a cama. Procurei e procurei; lia muitos livros sobre o tema, tive conversas com muitas pessoas

        ‑       Como Jenny? ‑ sussurrou e apoiou‑se na porta.

        ‑       Sim, contei-lhe a minha teoria. Disse‑lhe que quando esses dois aspectos se combinam, esse sentimento chama‑se amor. Quer dizer, tem que ser, não é? Embora acreditasse que um homem pode ter sexo com qualquer mulher e desfrutar, não é conclusivo ‑ olhou‑a friamente. ‑ Terias que ser homem para me entenderes.

        Rachel assentiu.

        ‑       E quando se ama uma mulher ‑ continuou em voz baixa. ‑ Não é necessário que se queira expressar isso fisicamente. Como encontrar uma mulher com as duas coisas? Seria uma explosão química, mas emocional, não física.

        Rachel observou-o na expectativa. Sabia que Damian estava quase a pronunciar as palavras: "Amo-te". E ela agarrava‑se à última esperança; apertava os punhos para evitar suplicar que lhas dissesse.

        ‑       Por isso fiquei em Hong‑Kong. Ia e vinha de Nova iorque, trabalhava na Swift para me manter ocupado, e evitei muitas cartas incómodas da minha família que sempre me perguntavam quando pensava regressar ao Quénia.

        Rachel tremia dos pés à cabeça.

        ‑       Enquanto isso, claro, desfrutei de aventuras ocasionais com mulheres ‑ sorriu com sarcasmo.

        O rosto de Rachel contraiu‑se de uns ciúmes terríveis. Não sabia se aguentaria se ele lhe começasse a falar de outras mulheres

        ‑       Fui para a cama com algumas, mas não funcionou. Nada funcionou. Odiava fazer amor com mulheres que nem sequer achava simpáticas. E não podia suportar a ideia de estar com uma mulher que me agradava, porque. me lembrava que não me enlouquecia. Então, há mais ou menos um ano tomei uma decisão. Não gostaria de nenhuma mulher a menos que fosse aquela, a que andava à procura, a que tivesse as duas coisas...

        "Por favor, fala. Por favor, por favor...", repetia Rachel para si própria.

        ‑       Então uma noite... ‑ continuou ele. ‑ Há aproximadamente um mês e meio estava em Londres quando uma rapariga com um vestido vermelho irrompeu na sala e...

        Rachel lançou‑se nos seus braços.

        ‑       Damian, amo-te!....... amo-te...

‑       Oh, graças a Deus...! ‑ afundou a cabeça no pescoço dela. Abraçava‑a com força, mas o seu corpo estava quase desmaiado pelo alívio que sentia. ‑ Rachel

        ‑ Diz! ‑ rogou esquecend-se do seu orgulho. ‑ Por favor, por favor, diz!

        ‑ Amo-te! ‑ sussurrou e beijou‑a.

        O desejo ardeu entre eles, misturado com alívio. Quando Damian levantou a cabeça, estava muito corado. Apertou‑a contra o seu peito e ela escutou as batidas do seu coração.

        ‑ Pensei que amavas o Radcliffe! ‑ explicou. ‑ Pensei que o amavas e que apenas gostavas de mim. Passei um verdadeiro inferno, Rachel, ao pensar que tu tinhas o mesmo problema que eu, e que eu era o homem com quem querias dormir, mas que não suportavas como pessoa.

        ‑ Nada mais longe da verdade! ‑ sussurrou contra o seu peito. ‑ Meu amor, amo-te há tanto tempo... Recusava‑me a reconhecê-lo, escondia-o... Dizia aquelas coisas de Tony porque estava desesperada para não te aperceberes do que eu sentia.

        ‑ Quanto mais falavas dele com amor, mais devastado eu ficava. Tive ciúmes do Radcliffe desde o princípio porque ele estava contigo na noite em que nos conhecemos. Eras dele tão completamente, chamando-lhe (<querido", a dizer-lhe que estavam apaixonados desde miúdos

        ‑ Não era verdade! ‑ explicou ela. ‑ Eras tão frio e evasivo, que fazias com que me sentisse insignificante.

        ‑ Evasivo! ‑ arqueou as sobrancelhas. ‑ Não fazes ideia.... cortaste‑me a respiração, Rachel. Quando foste fazer a mala naquela noite, fiquei no vestibulo, a planear a melhor jogada. Devia convidar-te para sair de imediato? Ou esperar que chegássemos a Hong‑Kong? E depois a porta abriu‑se, saíste e disseste

        ‑ Que não te achava nada atraente! ‑ gemeu e desatou a rir, apoiando a cabeça no rosto dele. ‑ Oh, não...!

‑       Oh, sim! ‑ contrariou‑a a rir mas ela conseguiu detectar a tensão na sua voz e quis reconfortá-lo.

        ‑       Só disse aquilo porque tinha ciúmes de Jenny e não compreendia o motivo ‑ levantou a cabeça. ‑ Quando entrei em casa, percebi uma atmosfera de intimidade entre vocês. Pensei que eras o amante secreto dela e ela não me tinha falado de ti. Fiquei impressionada perante as emoções que senti: ciúmes, ira, atracção sexual. Pensei que eras espectacular, magnífico

        ‑       Ai, Deus! ‑ murmurou a rir. O seu corpo descontraiu‑se e beijou‑a. ‑ Esperei tanto tempo para que me dissesses que me consideras atraente, meu amor! Pensei que estavas encantada com o Radcliffe... loiro, magro, simples. Sem ambições, nem metas, nem atracção sexual. Ele é tudo o que eu não sou!

        ‑       Bem podes dizê-lo! ‑ murmurou-e olhou-o ardentemente.

        Ele sorriu.

        ‑       Não podes imaginar os ciúmes que tinha dele. Depois já era uma obsessão. Só pensava nisso, e não acreditava. Não acreditava. Aqui está a mulher dos meus sonhos, apaixonada por um jovem loiro cuja única ambição é conduzir um carro desportivo vermelho e beber champanhe.

        ‑       Tony foi sempre meu amigo ‑ explicou.

        ‑       Não lhe chames Tony. Não suporto.

        ‑       Meu amor, não tens motivos para teres ciúmes dele.

        ‑       Sim. Não estás apaixonada por ele e não desejas fazer amor com ele, mas gostas dele, não é?

        ‑       Como amigo sim, mas...

        ‑       Rachel, sei que é irracional ‑ continuou. ‑ Mas não consigo controlar o que sinto por ti, não no que se refere ao Radcliffe. Descobri os ciúmes quando te conheci. Agarraram‑me pelo pescoço e apertaram‑me. Não fazes ideia do que senti na primeira semana que estivemos em Hong‑Kong. Ficava aqui sozinho todas as noites, quando esse tipo te vinha buscar no seu carro. Cada vez que o ouvia tocar a buzina, tinha vontade de matá-lo. No final, levei as coisas de um modo pessoal e cheguei a perguntar‑me se fazia de propósito, se sabia que estava loucamente apaixonado por ti, e divertia‑se a irritar‑me ‑ riu e abanou a cabeça. ‑ É uma loucura, eu sei, mas foi isso o que pensei.

        ‑       Como devo tratá-lo então? ‑ perguntou suavemente.

        ‑       Radcliffe! ‑ replicou e riu. ‑ Sei que é ridículo, mas fá-lo por mim ou talvez fique louco outra vez e o mate.

        ‑       Não é ridículo ‑ reconfortou- acariciando-lhe a face. ‑ Eu nunca me senti ciumenta antes, nem pensei que estivesse. Mas Domino... oh, Damian! Porque é que continuavas a dizer‑me que ias para a cama com ela? Quase enlouqueci. Queria ir à tua casa, bater na porta e ordenar-te que deixasses de vê-la.

        ‑       Era a minha única defesa ‑ explicou. ‑ Não tinha outra forma de esconder o meu amor por ti. Pensava que era tão óbvio... Quer dizer... ali estava eu, a contemplar-te de um modo obsessivo, incapaz de parar de te tocar, à procura de uma maneira de estarmos sozinhos, e no final, a maior revelação. Pedi‑te em casamento! ‑ riu. ‑ Não pude acreditar que tivesses engolido a história que queria apoderar‑me da empresa! Temia que em algum momento alguém te dissesse: "É verdade, sabias que Damian é presidente da Investimentos Internacionais Flint?".

        ‑       Ninguém me disse! ‑ exclamou ela.

        ‑       Mas todos sabiam ‑ afirmou. ‑ Todos, sem excepção!

        ‑       Até o meu pai?

        ‑       Claro. Porque achas que me deixou encarregar‑me da empresa? Porque sabia que podia controlá-la, que não o decepcionaria e que automaticamente me tratariam com respeito nos países onde representasse a empresa.

‑       Porque é que não mo disse?

        ‑       Bom, meu amor, nunca lhe perguntaste.

        ‑       Mas eu pensei que querias a Swiff porque continuavas a dizer‑me isso.

        - Bom, isso deve‑se à nossa excitante conversa no avião.

        ‑       Também a consideraste excitante? ‑ exclamou ela.

        ‑       Intolerantemente excitante ‑ replicou beijando-lhe a face. ‑ Foi a primeira coisa boa que me aconteceu desde que te conheci. Depois de me deixares destroçado ao dizeres que não me achavas atraente, inventei uma maneira de fazer com que mudasses de opinião. Por isso telefonei à Domino e falei-lhe em tom sedutor.

        ‑       Víbora! E eu engoli!

        ‑       Bem, tinha que fazer alguma coisa! ‑ exclamou. - Queria deixar bem claro que era sexualmente activo, e que muitas outras mulheres me desejavam.

        ‑       Pois então conseguiste! Estava com ciúmes de Domino antes mesmo de conhecê-la!

        ‑       Sim, mas eu não sabia ‑ disse. ‑ A única coisa que tinha como base era a clara excitação que mostraste naquela conversa no avião. Conseguia ver que estremecias da cabeça aos pés por alguma emoção em relação a mim. E contemplava-te e pensava: "Meu Deus é tudo o que eu sempre procurei!" Eras tão inteligente, graciosa, inventiva... Queria beijar-te até morrer.

        ‑       Quase o fizeste! ‑ murmurou a sorrir. ‑ Fiquei aterrada quando puseste o meu banco para trás.

        ‑       Precisava de algum contacto físico contigo ‑ explicou. ‑ Estive violentamente excitado durante todo o tempo em que estivemos a falar. Quando te negaste e disseste que querias dormir, fiquei decepcionado. Queria falar contigo durante toda a viagem, mas não podia deixar que percebesses isso, por isso fiquei a pensar: tenho que tocá-la... tenho que fazê-lo, e depois tu tentaste reclinar o banco ‑ levantou uma sobrancelha com picardia. ‑ Como te disse, aproveito sempre as oportunidades!

        ‑       Aceleraste‑me o coração quando aproveitaste aquela oportunidade...

        ‑       E deste‑me a minha estratégia ‑ continuou. ‑ Durante todo o voo pensei que havia três factos para analisar. Que te atraía sexualmente e que rejeitavas esse facto. Que consideravas a minha mente tão excitante como eu a tua. Que pensavas que era um crápula ambicioso que tentava arrebatar a empresa ao teu pai ‑ sorriu-lhe. - Quando te deixei na tua casa, fui directamente ao hospital e disse ao teu pai que queria que trabalhasses para mim.

        ‑       Não pode ser!

        ‑       Temo que sim, querida. Sabia que Charles queria que casasse contigo por razões óbvias, era uma esperança que me insinuou durante anos, sem que eu me interessasse. Ele não foi o único responsável pelo facto de trabalhares para mim. Foi ideia minha. Foi a única coisa que me ocorreu para te ter perto e para que a atracção aumentasse.

        ‑       Lutei tanto...

        ‑       Podia ver-te a lutar contra isso cada dia ‑ continuou suavemente. ‑ No primeiro dia que foste trabalhar comigo, estavas a tremer quando te soltei o cabelo

        ‑       Ai, Deus...! ‑ gemeu e corou profundamente.

        ‑       Meu amor, asseguro-te que te vigiava como um falcão à procura do menor indício... ‑ beijou-lhe a cabeça. ‑ E provocava-te de propósito, sempre que podia, sem denunciar‑me.

        ‑       Mas nesse dia foste almoçar com a Domino... - recordou cheia de ciúmes.

        ‑       Deixa‑me falar-te um pouco sobre a Domino ‑ interrompeu‑a. ‑ Há dois anos que é minha secretária. É tranquila, reservada e está loucamente apaixonada pelo homem com quem vive: um médico chinês que trabalha nos Novos Territórios e que ganha o salário mínimo. Domino trabalha para poder sustentá-lo ‑ fez uma pausa.

‑ Além disso a mãe dela está muito doente.

        Rachel assentiu tentando superar os ciúmes. Sabia que era irracional e injusto sentir‑se assim, mas não conseguia conter‑se.

        ‑       Não fiques com ciúmes, meu amor ‑ reconfortou‑a acariciando-lhe o cabelo. ‑ Só a vejo no escritório. É eficiente e trabalha duro.

        ‑       Eu sei, mas

        ‑       Nunca devia ter inventado aquelas histórias sobre ela. Eu sei isso e lamento, mas as coisas cresceram de uma forma desmesurada. Estavas convencida que ela era minha amante, e eu não podia negá-lo porque me denunciaria. Desejava desesperadamente descobrir algum sintoma de ciúmes em ti. O dia do casamento aproximava‑se e parecias estar louca pelo Radcliffe. Eu conseguia respostas sexuais de ti, mas nada emocional. Era tudo para Radcliffe. Tinha a sensação de estar prisioneiro do meu passado, e a única maneira de viver com o que me estava acontecer, era tentar provocar uma reacção emocional em ti. A única coisa que pareceu funcionar foi dizer-te que ela era minha amante.

‑       Nunca amarás outra mulher.! ‑ ordenou trémula. - Não podia suportá‑lo, Damian. Perderia o controlo, enlouqueceria

        ‑       Esta é a minha mulher! ‑ exclamou suavemente a sorrir.

        O coração de Rachel derreteu‑se. Sorriu com ternura.

        ‑       Canalha! Como foste capaz de me fazer uma coisa destas? Vivi um verdadeiro inferno... imaginando-vos juntos. imaginando-vos a fazer amor.

        ‑       Tinha que fazer com que deixasses de fingir ‑ riu.

‑ Estava tão apaixonado por ti desde que te vi, e tu vias

o Radcliffe todas as noites e rejeitavas‑me todos os dias

‑       Meu amor... ‑ apoiou‑se nele.

        ‑       Nunca poderei exprimir‑te o que senti na noite em que por fim aconteceu! ‑ exclamou com emoção. ‑ Na noite em que nos beijámos pela primeira vez. Foi delicioso. Estava ali parado, com o coração a martelar‑me no peito. Olhaste para mim, não conseguias falar e o teu rosto ardia de calor

        ‑       Foi como um clarão ‑ admitiu ela.

        ‑       E quando te beijei, qualquer coisa se apoderou de mim. Quase não consegui conter‑me. Pensei que acabaria por fazer amor contigo ali mesmo. Claro, tive que retroceder porque no fim tu começaste a brigar.

        ‑       Nunca senti nada parecido em toda a minha vida - confessou-o ‑ Quando te apercebeste que a coisa era séria? Em Auckland?

        ‑       Sim ‑ sussurrou.

        ‑       O pesadelo ‑ disse ele sem deixar de observá-la.

        ‑       Lutava contra os meus próprios sentimentos, mas no meu interior sabia o que me estava a acontecer.

        ‑       E agora finalmente, vais dizer‑me qual foi o pesadelo... ‑ sorriu ironicamente.

        Rachel corou, baixou os olhos e contou‑lhe tudo com pormenores.

        ‑       Eu sabia ‑ beijou‑a. ‑ Sabia que era sobre mim. Não sabia que te tinha afectado tão profundamente. Estava consciente de que a atracção era muito séria, mas também pensava que tinhas experiências. Quando tiveste o pesadelo, calculei que era por teres mantido relações com muitos homens e nunca teres alcançado um verdadeiro êxtase com eles ‑ riu. ‑ Já sabes a que me estou a referir!

        Rachel virou a cabeça e franziu o sobrolho.

        ‑       Não, não sabes! ‑ replicou ele a rir‑se. ‑       Eu não sabia o que se passava, nem em Auckland, nem na noite em que por fim.. por fim... fui para a cama contigo.

        ‑       Tinha tanto medo do que estava a acontecer - explicou ela. ‑ quando me pediste que fosse ao teu quarto, o meu coração batia com tanta força que pensei que me sairia do peito.

        ‑       O meu também ‑ sussurrou. ‑ Deitei‑te na cama e perdi a cabeça. Nunca saberás como estive perto de te possuir nessa noite. Estava na agonia mais deliciosa, incapaz de pensar em mais nada além de querer fazer amor contigo. E então levantei‑te a saia e deste‑me uma bofetada. Isso expulsou‑me do paraíso e voltei à realidade ‑ riu.

‑ E que realidade! Uma virgem... Deus, quase não consegui recuperar a minha sensatez destroçada. Fiquei acordado a noite toda a tentar pensar. E durante todo o tempo Radcliffe estava na minha cabeça como um demónio, dizendo-me que tu não reparavas em mim. Depois, quando te propus casamento no dia seguinte e me disseste até onde tinhas ido com outros homens

        ‑       Nada para além de um beijo ‑ expressou corando.

        ‑       Estive quase a cair desmaiado ‑ explicou. ‑ Pensei que me ia ajoelhar à tua frente. Amo-te, amo-te...

        ‑       Amor! ‑ sussurrou.

        ‑       Então soube que era real, Rachel, que era um sentimento mútuo. O problema era que tu não sabias. A tua inexperiência dizia‑me que devias apaixonar-te por mim, mas não tinha a certeza. Também era possível que um homem nunca te tivesse forçado a responder antes.

        ‑       Antes nunca tinha querido responder a um homem!

        ‑       Mas eu provoquei isso, deliberadamente. Não te esqueças que eu já estava louco de ciúmes pelo Radcliffe. Dei‑me conta que ele era o tipo de homem que seduziria uma virgem, sobretudo uma pessoa que conhece desde sempre. Acho que esperava que acordasses ao estilo da Bela Adormecida. Nesse momento casaria contigo e faria amor contigo ternamente.

        ‑       Nunca houve atracção entre mim e... ‑ interrompeu‑se ao ver que ele ficava ciumento de novo. - Entre mim e Radcliffe ‑ corrigiu.

        Damian fechou os olhos, abraçou‑a e murmurou:

        ‑       Amo‑te.

        ‑       Nunca houve nada entre Radcliffe e eu ‑ insistiu ela.

‑ Nem com nenhum dos amigos dele. Acho que era por isso que tinha tanto medo de ti.

        Damian levantou a cabeça com um sorriso nos lábios.

        ‑       Saí sempre com rapazes; nunca conheci homens, e muito menos algum que me fizesse sentir as coisas que tu me provocaste.

        ‑       Como quais, por exemplo? ‑ murmurou ele com uma expressão misteriosa.

        ‑       Eu... passava o tempo a perguntar‑me como serias sem camisa ‑ corou.

        ‑       Quando foi isso? ‑ perguntou com o coração acelerado.

        ‑       Na primeira noite em que me beijaste ‑ confessou.

‑ E não foi uma coisa deliberada. Simplesmente surgiu na minha cabeça quando te contemplava... e estava tão impressionada... tão excitada.

        ‑       E nunca sentiste nada parecido com outro homem?

‑ perguntou.

        ‑       Nunca.

        ‑       Disse-te que era estranho. Tentava fazer‑te ver que alguma coisa excepcional estava a acontecer, mas não podia dizer-te assim sem mais nem menos, porque o amor, querida, deixou‑me sem defesas. Já tinha posto em risco a minha vida ao casar contigo quando pensava que estavas apaixonada pelo Radcliffe. Só podia fazer insinuações, tentar fazer com que tomasses consciência de que estávamos a viver uma coisa inacreditável.

‑       Não entendi até à noite de núpcias.

        ‑       Por isso tentaste fugir de mim?

        ‑       Sabia que se fizesses amor comigo, estaria perdida.. afogar‑me-ia e ninguém me poderia salvar ‑ confessou.

        ‑       Não pude acreditar quando nessa noite saíste a correr em direcção à porta! ‑ admitiu. ‑ Estava tão impressionado... Depois começaste a rejeitar‑me, e senti uma ira muito grande. Passar por tudo aquilo, não te tocar durante semanas, e depois ser rejeitado na noite de núpcias!

        ‑       Eu lembr-me! ‑ brincou. ‑ A nossa luta frenética pelo quarto todo!

        ‑       Estava suficientemente louco para possuir-te, mas também estava profundamente apaixonado por ti e desejava fazer amor contigo mais do que qualquer coisa no mundo. Verdadeiro amor. O tipo de amor ao qual dediquei a minha vida.

        ‑       Disseste à Jenny que era... ‑ baixou o olhar.

        ‑       Sim. Uma expressão erótica da alma através do corpo ‑ replicou suavemente. ‑ Disse a mim próprio durante semanas que a nossa noite de núpcias seria uma experiência tão comovedora para os dois, que em breve te darias conta de que me amavas, mo dirias e tudo teria um final feliz.

        ‑       Sim, reconheci nessa mesma noite que te amava - explicou. ‑ Foi incrível. As barreiras caíram por todos os lados, mas eu pensava que tinhas tanta experiência que a ti não te afectou tanto como a mim.

        ‑       Deus, não! ‑ sussurrou. ‑ Pelo contrário, isso tornou-o muito mais comovedor. Afogava‑me em ti. Não conseguia nem respirar...

        ‑       Sim, lembro-me que afinal era incoerente.

        ‑       E pronunciaste o seu nome ‑ sorriu. - Tinha que expressar o que sentia. Não podia ficar calado. Foi a experiência emocional e física mais excepcional da minha vida.

        Rachel afundou o rosto no seu pescoço.

        ‑       Eu nunca o teria dito, sabes? ‑ continuou ele. ‑ Se não tivesse escutado de ti primeiro...

        ‑       A sério? ‑ levantou a cabeça.

        ‑       Muito a sério ‑ estudou‑a com um sorriso.

        ‑       Mas tinha tanta certeza que tinhas essa intenção!

        ‑       Não ‑ replicou. ‑ Eu estava a provocar-te para que dissesses que me amavas! Não acreditas que me teria ajoelhado perante ti? Nunca? Sem importar as circunstâncias ou o que sentia, o muito que precisava dizer-te que te amava?

        Rachel estudou o seu rosto por um momento e depois abanou a cabeça.

‑Não.

        Ele sorriu e pestanejou.

        ‑       Vamos para a cama.

        Quando caminhavam de braço dado, Rachel sussurrou.

        ‑       Meu amor, o que teria acontecido se eu não tivesse dito primeiro?

        ‑       Não sei ‑ respondeu levando-a para cima. ‑ Acho que te teria obrigado a admiti-lo. Tinha tanto medo que nunca chegasses a amar‑me... Não podia dizê‑lo. Sabia que devia confessar, mas dizer "amo-te" a uma mulher que ama outro homem? De maneira nenhuma!

        ‑       Claro que não ‑ concordou ela.

        ‑       Só podia continuar a falar, dizer-te quem era na realidade, o que se passava na minha mente, e esperar que percebesses que as barreiras caiam lentamente e no final reconhecesses que me amavas. Se não o tivesses feito, Rachel... essas barreiras estariam no seu lugar outra vez.

        ‑       Acabaram‑se as barreiras ‑ garantiu. ‑ Meu amor, amo tudo o que tu és. Não consigo suportar pensar no que teria acontecido se não tivesse falado. Imagina apenas o inferno que estaríamos a viver agora,...

        ‑       Sim, teríamos tido que continuar assim. Não te deixaria ir sem brigar por ti. Lutarei por ti se algum dia me quiseres deixar ‑ o seu olhar estava escuro quando a guiou dentro do quarto e fechou a porta.

        ‑       Nunca pensei que sentiria isto por um homem - sussurrou ela abraçando-o. - Mas comoveste‑me tão profundamente que me sinto completa pela primeira vez. Como se as emoções intensas, ciúmes, ira, desejo, fossem uma parte de mim que me faltava.

        ‑       As componentes necessárias para o amor, querida, são aparentemente tão misteriosas e indecifráveis como as razões pelas quais estamos vivos. Mas pelo menos podemos expressá-las todas quando fazemos amor; libertamo-las numa unidade física, mental e emocional.

        Foram para a cama de mão dada e deslizaram nela.

        ‑Rachel... ‑ sussurrou franzindo o sobrolho.

        A jovem conteve a respiração ao ver a incerteza nos olhos dele.

        ‑       Sim, meu amor, o que foi?

        ‑       Talvez este momento não dure para sempre. Apercebeste disso, hen?

        ‑       Eu... ‑ a dor dilacerou‑a. ‑ Acho que nada dura para sempre.

        ‑       Refiro-me ao desejo avassalador que agora sentimos

‑ explicou. ‑ Não vai estar necessariamente presente em toda a nossa relação para o resto das nossas vidas. Meu amor, não poderia ser! ‑ riu com sensualidade. ‑ Ficaríamos exaustos. Eu morreria de um ataque cardíaco e tu também ‑ examinou‑a com intensidade e o sorriso desapareceu dos seus lábios. ‑ O amor é o que nos mantém juntos. É o que temos, não é? Para além de tudo... da ira, dos ciúmes e do desejo, há amor puro e simples.

        ‑       Não consigo imaginar que algum dia não queiras fazer amor comigo, mas entendo o que dizes ‑ sussurrou.

        ‑       Assim espero ‑ sussurrou ele. ‑ Porque quero ter filhos.

        Os olhos dela encheram‑se de lágrimas.

        ‑Querido... Eu também.

        ‑       Quero estar contigo o resto da minha vida ‑ acariciou-lhe o cabelo. ‑ Não apenas enquanto estivermos apaixonados, mas também depois. Quando estiveres acostumada a mim ‑ desatou a rir e beijou-lhe a cabeça. Quando me apanhares a comer papas às três da madrugada. Quando estiver a ver o rugby na televisão e as crianças estiverem a correr como selvagens a pedir atenção... quando as recordações forem sendo apagadas pelos anos que passamos juntos, e nos perguntarmos como diabos é que nos conhecemos... ‑ fê-la levantar a cabeça e olhou para ela. ‑ Quero que me ames apesar de tudo isso.

        ‑       Amei-te apesar de tudo isto ‑ replicou. ‑ Como não amar‑te mais à medida que formos envelhecendo?

        ‑       Não é fácil estar apaixonado, embora devesse sê-lo.

        ‑       É um inferno, não é? ‑ ela riu. ‑ Chegar ao ponto em que nada importa excepto escutar as palavras "Amo-te".

        ‑       Isso é a única coisa que importa.

        Então beijou‑a. A sua boca era ti'bia e sensível a cada resposta dela. O beijo incendiou‑se, tornou‑se apaixonado, os seus corpos abraçaram‑se com mais força

        ‑       Oh, Deus! ‑ murmurou com voz rouca.‑Rachel...

        ‑       Odeio-te! ‑ murmurou ela. ‑ Como foste capaz de me fazer passar por este inferno...? ‑ o seu corpo arqueou‑se em direcção ao dele. ‑Toca‑me... toca‑me...

        Damian respirôu e deslizou as mãos pelo corpo dela. Por fim Rachel compreendeu que aquela paixão incontrolável que a dominava chamava‑se amor.

 

                                                                                Sarah Holland  

 

                      

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