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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


JUNTOS NO PARAÍSO / Juliana Dantas
JUNTOS NO PARAÍSO / Juliana Dantas

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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O choque me paralisa.
O próprio tempo parece estar parado, enquanto observo Lukas de joelhos, as mãos segurando as minhas, pequenos pingos de chuva rolando por meu rosto, seu rosto, sobre nós.
Tento respirar, levar oxigênio ao meu cérebro entorpecido para que ele consiga absorver as palavras de Lukas que parecem rodopiar entre nós como uma entidade viva. Como uma incorporação espírita, fazendo minha alma estremecer e meu corpo se debater cheio de confusão.
Sentia-me como se houvesse mil pessoas dentro de mim, cada uma delas arrebatada por uma emoção diferente: Choque, Incredulidade, terror, alegria, aversão, júbilo... O caos é infinito.
Sinto minha mente girar completamente desorientada.
É quase como um déjà vu. Lukas me pedindo em casamento. Tão diferente de cinco anos atrás, embora suscite sentimentos parecidos.
Estou paralisada na minha perplexidade.
– Oh Meu Deus – digo por fim, conseguindo encontrar minha voz, em seguida meus movimentos, pois tiro minhas mãos das dele levando-as à boca, atordoada e dou um passo atrás.
Lukas também parece se refazer levantando-se do chão.

 


 


– Me desculpe – ele está tão abalado quanto eu, enquanto passa os dedos nervosos pelos cabelos molhados. – Eu não devia... eu precisava... Deus, você está congelando – exclama do nada e, sem que eu possa impedir, segura meus ombros me levando para dentro e só então percebo que estou tremendo descontroladamente.

Nem é por causa do frio da chuva e sim pelo assombro.

No instante seguinte, estou na sala, sentada em frente à lareira que Lukas atiça rapidamente.

Aproveito aquele tempo para tomar uma respiração profunda tentando colocar o caos das minhas emoções em ordem. Sem muito sucesso.

Pelo menos consigo começar a pensar claramente e a entender que Lukas tinha sim, me pedido em casamento. Outra vez. Apenas alguns dias depois de termos assinado o divórcio.

– Mary, por favor, traga algo quente para Mia beber e pode ir embora.

Olho para trás, nem tinha percebido que Mary havia entrado na sala. Ela olha de um para outro desconcertada, não fala nada enquanto se afasta.

Lukas parou de atiçar o fogo, embora continue a olhar para as chamas, e me pergunto se está tão atordoado quanto eu.

Mary retorna alguns minutos depois, sorri pra mim quando coloca uma bandeja com duas xícaras em cima da mesa de centro, saindo em seguida.

Lukas a espera sair e finalmente sai de sua letargia, caminhando até a mesa, pegando uma xícara e me entregando.

Eu a seguro entre meus dedos gelados, apreciando o calor e o cheiro bom de chocolate e conhaque. Mary era realmente um anjo por imaginar que algo com álcool iria me ajudar naquele momento.

Lukas não pega sua xícara. Eu tomo um gole, porque parece ser o que ele espera e depois o encaro com olhos suplicantes.

– Me desculpe – ele diz de novo. – Não deveria ter dito todas essas coisas, despejado tudo em cima de você, não deveríamos nem ter discutido, sinto muito.

– A culpa não é sua. Eu comecei a discussão...

– Não. Você acabou de perder seu pai. Está num momento difícil, de maneira nenhuma eu deveria piorar as coisas.

Sim, nisto ele tinha razão. Lukas havia piorado tudo, com certeza. Bagunçado tudo com aquele surpreendente pedido de casamento.

– Estou chocada que tenha me pedido em casamento – confesso.

– Sinto muito. Não estava pensando, estava... Desesperado.

– Não entendo Lukas... Nós assinamos o divórcio há dois dias...

– Sim, assinamos.

– Então como pode me fazer esta proposta? Se queria de alguma maneira ficar comigo, por que deixou acabar? – A dor em minha voz é latente ao relembrar o vazio que senti quando assinamos o divórcio naquele carro em Londres.

– Eu precisava deixar acabar. Aquele casamento era errado, Mia. Eu quis casar com você pelos motivos errados e só criamos uma confusão de mágoa e ressentimento em cinco anos.

– E, apesar disso, me pediu em casamento de novo – quase ironizo.

– Meus motivos são outros agora. São os motivos certos. Eu me casei porque precisava naquela época. Uma vez você me perguntou se eu iria querer me casar de verdade um dia e respondi que não sabia. Agora sei. E quero me casar com você.

Engulo em seco, meu coração se apertando de forma alarmante.

– Sei que não era o momento certo para fazer o pedido – ele continua. – Não espero que tenha uma resposta imediata também.

– Não? – Quase respiro aliviada.

Ou não.

Não consigo nem me entender mais.

– Há muitas coisas em jogo, Mia. Sei que não quero que vá embora. Que quero ficar com você, começar um relacionamento do jeito certo desta vez. Mas não sei se você quer.

Eu quero?

– Sei que tem sua vida em Londres, seus planos e, acima de tudo, que talvez eu não seja o melhor pra você. Se ficarmos juntos, não posso garantir que vai ser mais fácil desta vez. Nós teremos que lutar só que com inimigos diferentes. Você precisa ter certeza se vai querer entrar nesta luta comigo.

Sim, entendo o que ele quer dizer.

Ele não é simplesmente um cara que diz estar apaixonado por mim.

Existe Alexia Duran. Dylan. E nosso passado.

Uma vez eu me joguei em cima dele sem pensar em mais nada, a não ser em meu desejo de ser sua. E sofri as consequências até hoje.

E gato escaldado tem medo de água fria.

Lukas me deixou e me colocou de lado tantas vezes que, sinceramente, tinha dificuldade para acreditar que agora estava realmente disposto a ficar comigo, apesar de tudo.

Por outro lado, ele parecia tão sincero, tão lindo, parado ali na minha frente, com os cabelos brilhando por causa das chamas, os olhos tristes e confusos, que só o que meu coração anseia é se jogar de novo.

Sei que serei bem recebida em seus braços.

Que em pouco tempo não haverá nada entre nós, a não ser aquele desejo lindo e infinito que sentimos um pelo outro.

Porém, não somos apenas dois.

– Tem razão – digo por fim – não consigo lidar com isto neste momento.

– Sim, vá dormir.

Por um segundo, tenho vontade de perguntar se ele não vai dormir comigo, como ontem. Não seria certo.

Ir pra cama com Lukas era natural demais. Era a parte fácil.

Tinha medo de me deixar levar e não pensar no que realmente implicaria estar com ele de verdade. Então me levanto e vou para meu quarto. Sozinha.

Custo a dormir. Fico pensando na proposta de Lukas, me perguntando o tempo inteiro se estava sendo idiota só de cogitar aquela ideia que, em muitos aspectos, era absurda.

Desde que me casei, sabia que o fim chegaria. Ansiei por me libertar daquele contrato. No meio do caminho, me apaixonei e comecei a desejar que fosse para sempre. E, quando tudo se transformou em rejeição e dor, quis o fim de novo, como se o fim do casamento significasse também o fim da minha dor.

Se a dor existia era porque havia sentimentos, ela não desapareceu quando chegou o fim.

Agora ele acena com um novo começo.

Diferente de antes, porém não menos complicado. Talvez muito mais complicado.

Penso em Alexia e sinto vontade de vomitar. Aquele sorriso perfeito dela, dizendo que casamentos se desfaziam e outros começariam. O que ela quis dizer? Será que ainda pretendia casar com Lukas? Acho que era meio óbvio.

Só de pensar, sinto vontade de atear fogo em algo, na própria Alexia, de preferência. O que aconteceria se eu decidisse seguir meus planos e voltar para Londres? Lukas se casaria com Alexia, finalmente? Seria possível? Com certeza era o que Alexia estava esperando. Eu devo ter sido a pedra em seu sapato durante estes cinco anos. Ela queria Lukas e ele estava solteiro.

Eles até tinham um filho.

Um filho que Lukas havia deixado claro que amava mais que tudo. Mais que a mim.

Se Alexia exigisse, Lukas seria capaz sim, de se casar com ela por causa de Dylan.

Sinto meu peito doer e luto para respirar.

Como saber o que fazer?

Mesmo naquele momento, em que odeio pensar que ele seria capaz de me deixar de novo, desejo que esteja comigo. Desejo atravessar o corredor, entrar em seu quarto, me deitar em sua cama, dizer sim para qualquer coisa que ele peça.

Quando finalmente adormeço ainda não sei o que fazer.

Acordo nas primeiras horas da manhã com meu telefone tocando. Levanto-me confusa me recordando que só ontem à noite me lembrei de colocar meu celular para carregar e me surpreendo ao ver o nome de Christina no visor.

– Mia, finalmente atendeu!

– Christina...

– Nossa, estou desde ontem tentando falar com você!

– Meu celular estava desligado.

– Tudo bem. Nós estamos em Seattle.

– O quê?

– Sei que deveria ter te avisado, não consegui falar com você. Fiquei tão preocupada com você sofrendo sozinha pelo falecimento do seu pai, que decidi vir te fazer companhia.

– Como assim? Onde está?

– Estamos no aeroporto, acabamos de desembarcar.

– Espera... nós?

– Sim, Henry e eu.


****

Dirijo pelas ruas chuvosas de Seattle para buscar Henry e Christina sentindo um misto de alegria e apreensão.

Christina é minha amiga e nem estou tão surpreendida assim de ela ter vindo me dar uma força, o fato de Henry tê-la acompanhado é sim uma surpresa. E ainda não sei o que pensar. Se aprecio ou não.

Eu os encontro no aeroporto e Christina me abraça forte.

– Ah, Mia, querida, como você está? Queria ter vindo para o enterro, não encontrei um voo...

– Tudo bem, não tem problema. Estou feliz que esteja aqui, de verdade. – então encaro Henry, meio sem jeito.

– Oi, Mia, meus sentimentos pela sua perda.

– Obrigada...

– Mia, Henry tem um Simpósio de História em Nova York na próxima semana, quando contei que viria ficar com você por causa da morte de seu pai, ele se ofereceu para vir comigo.

– Ah, que... bom.

– Nossa, chove demais nesta cidade! Sou do sul, você sabe!

– Sim, aqui chove o ano inteiro.

– Mia, falei com Christina que não precisava incomodar você para nos pegar. Nós podemos pegar um táxi e procurar um hotel... – Henry diz enquanto Christina revira os olhos.

– Eu queria saber como você estava, Mia...

– Claro, vieram por minha causa, não iria deixar que ficassem por aí numa cidade estranha. Vamos indo?

Nós entramos no carro e Christina preenche o silêncio tagarelando suas impressões sobre a cidade.

– Mia, nós pesquisamos alguns hotéis – Henry começa a dizer, eu o corto.

– Não, ficarão comigo, claro – digo sem pensar.

– E onde você está hospedada? Não sabia que ainda tinha casa na cidade – Christina questiona.

– Estou na casa do Lukas Constantini – respondo sem maiores explicações, meu olhar encontra o de Henry no banco de trás.

E percebo que ele sabe.

De alguma maneira ele sabe que Lukas era o marido que eu havia comentado. Talvez Christina tenha falado sobre a presença de Lukas e meu suposto envolvimento com ele e Henry tenha somado dois mais dois. Fico vermelha e desvio o olhar.

– Mia, acho melhor nos deixar num hotel – ele insiste firmemente e mordo os lábios.

Sim, ele tem razão.

– Se a Mia está convidando a gente pra ficar com ela...

– Você pode ficar Christina – Henry diz.

– Claro você pode ficar – confirmo.

– Mas...

– Christina, não seja insistente – Henry a corta e ela se cala.

Sei que ela deve estar com a cabeça cheia de perguntas.

Nós chegamos à casa do Lago e Christina arregala os olhos.

– Uau, este Lukas Constantini é rico mesmo, hein? Que casa fantástica! Não é linda Henry?

– Sim, é linda – ele concorda comedidamente.

Mary vem nos receber quando entramos e faço as apresentações.

Sei que Lukas não está em casa, quando acordei, Mary me disse que ele saiu cedo para resolver um problema na Constantini.

– Preparei os quartos para vocês, venham comigo.

– Só Christina se hospedará aqui – Henry se adianta e Mary me encara confusa.

– Henry fique também, são apenas alguns dias. – insisto, mesmo sabendo que talvez Lukas não vá gostar. Mas quem garante que Lukas ficará ali? Ele tem seu apartamento na cidade onde costuma passar a maior parte do tempo.

– Não quero criar problemas...

– Não vai, garanto – respondo e Mary os leva para os quartos. Acompanho Christina, que depois de fechar a porta, me puxa pra cama.

– Que conversa é esta de ficar na casa do Lukas Constantini? Diga-me, cadê a esposa dele, ela sabe que você dormiu com ele em Londres? E tipo, você realmente transou com ele? Ainda custo a acreditar, se bem que ele é supergato e não dá para...

– Christina, pare um momento – peço e ela finalmente se cala. – Eu devia ter te contado antes, a esposa do Lukas era eu.

Ela arregala os olhos.

– O quê?

– Sim, nós éramos casados. Fomos por cinco anos e ele estava em Londres para assinarmos o divórcio.

– Ele tem um filhinho, eu vi...

– Filho dele com outra mulher... – digo amargamente.

– Ele te traiu?

– Tenho que contar tudo para você entender.

Christina está abobalhada quando termino de narrar minha história com Lukas deixando de fora o novo pedido de casamento.

– Nossa jamais imaginaria... Por que nunca me contou?

– Queria esquecer tudo, deixar pra trás.

– Eu entendo... sinto muito amiga – ela me abraça.

– Está tudo bem.

– E realmente sinto muito pelo seu pai.

– Ele esteve em coma por tanto tempo... Foi difícil pra mim, mas acho que já estou me conformando. Ele está em paz agora. Só sinto por nunca ter descoberto a verdade sobre o roubo.

– E se foi ele?

– Nunca vou saber, ainda é difícil acreditar.

– Bom, agora é passado, não é?

– Sim, é passado.

– E o Henry? – Ela pergunta curiosa.

Dou de ombros.

– Não sei, acho meio estranho ele estar aqui.

– Ele está mesmo a fim de você! Ele poderia ter ido direto para este simpósio em Nova York, mas quis vir comigo, dizendo que ia me acompanhar! Sei bem o que ele queria! Queria te ver!

– Não sei se estou pronta para embarcar em outro relacionamento...

– É compreensível. Só acho que deveria deixar claro para o Henry.

– Sim, acho que precisarei...

– Vou te dar um conselho. Ele é um cara legal, mas não vai te esperar pra sempre. Talvez seja a sua nova chance de ser feliz. Não deve ter medo. Agarre suas chances e vá em frente, não olhe para trás.

Sorrio tristemente.

– Conselho anotado.

Desço com Christina para almoçar, encontro Henry na cozinha com Mary e fico surpresa ao ver Simba zanzando por ali. No meio daquela confusão, tinha me esquecido do meu gato.

Eu o pego acariciando seu pelo macio.

– Estou cuidando dele Mia – Mary explica.

– Obrigada. Como pôde mandá-lo pra cá, Christina? – Reclamo.

– Não sei cuidar de gato! – Ela se defende. – E o garotinho ficou louco por ele.

– Dylan ficou realmente apaixonado pelo gato – Mary diz. – Acho que o Lukas terá que comprar um gato para o menino quando levar este embora, Mia.

Mordo os lábios com força ao ouvir as palavras de Mary.

Quando eu for embora.

Irei embora? Ou ficarei ali, dividindo meu gato com aquele garotinho loiro? Será que estou disposta a conviver com o menino?

Meu estômago embrulha sem saber a resposta.

Mary está avisando que o almoço está pronto, quando escuto a porta se abrir e Lukas entrar.

Seu olhar passa de mim para os visitantes e não entendo sua expressão.

– Oi Lukas – Christina acena com seu jeito despojado.

– Lukas, acho que já conhece a Christina – digo. – Ela decidiu vir ficar comigo enquanto estou em Seattle.

– Sim, fiquei muito preocupada com a Mia.

– Oi, Christina. Muito gentil de sua parte vir fazer companhia para a Mia. – Lukas responde educadamente, seu olhar perscrutador está em Henry.

– E este é Henry, o chefe da Christina e meu amigo também – complemento, pelo olhar de Lukas, sei que ele lembrou que Henry é o cara com quem saí em Londres.

Henry estende a mão cordialmente.

– Muito prazer.

Lukas hesita, mas segura a mão do outro homem e quase posso respirar aliviada, apesar de saber que ainda é cedo.

Talvez tenha cometido um pequeno erro convidando Henry para ficar.

– Henry está no país para um simpósio na próxima semana em Nova York. – explico.

– Claro – Lukas diz laconicamente.

– Que bom que chegou Lukas, o almoço está na mesa – Mary intervém, talvez sentindo a tensão.

– Mia, será que poderíamos conversar um minuto? – Lukas me aborda.

Fico nervosa, mas o acompanho para fora da cozinha.

– O que está pretendendo? – Ele indaga irritado.

– Nada. Eles são meus amigos e me surpreenderam vindo pra cá.

– Christina é sua amiga. Henry é seu namorado.

– Namorado? Eu saí com ele apenas uma vez, eu te disse!

– Por que ele veio então?

– Você ouviu, tem um simpósio...

– É uma desculpa. Ele veio por você.

– E se veio? Qual o problema? Eu te disse que ele estava interessado em mim não vou ficar negando! – Me irrito também.

– E você? Está interessada nele?

– Não sei! – Desabafo. – Estou surpresa com a vinda dele, não sei o que pensar. Só me deixa mais confusa.

– E eu estou com ciúmes – Lukas confessa.

– Sinto muito, não deveria tê-lo convidado para ficar aqui...

– Nisto eu concordo com você.

– Talvez eu também não deva ficar. Não é mais minha casa.

– Esta sempre será sua casa!

– Não. Não é mais. Não somos mais casados, Lukas.

– Podemos ser novamente. Basta você aceitar.

Fecho os olhos.

– Não faça isto, Lukas, não me pressione...

– Inferno, não quero pressioná-la! Prometi que não iria, que te daria o tempo que precisasse para pensar, só que ver este cara... rondando... querendo te levar embora...

– Talvez a presença dele seja boa pra mim – murmuro. – Tenho que pensar de verdade no que fazer e preciso que seja longe de você.

– Não faça isto Mia – ele fala com a voz tão cheia de sofrimento que quebra um pouco meu coração, porém não posso me deixar abalar.

O tempo de ser impulsiva com Lukas não existe mais.

– Me deixe decidir sozinha, Lukas, eu preciso.

– Está me pedindo para te deixar com outro cara!

– Você não está em condições de exigir nada – digo suavemente e ele respira fundo recuando.

– Tem razão. Apenas... não vá embora. Se este cara quiser ficar, ele pode.

– Não acho que vai ser uma boa todos nós aqui juntos. É sinônimo de confusão.

– Posso ir para meu apartamento.

– Faria isto?

– Por você eu faço.

– Tudo bem. Serão poucos dias.

– Não gosto de pensar que dentro de alguns dias você poderá ir embora pra sempre.

Não falo nada, porque, bem no fundo, também odeio pensar nisto.

Nós voltamos pra cozinha, Christina me lança um olhar curioso e Henry parece contrariado.

Lukas tenta ser cordial quando nos sentamos para almoçar, tenho que admitir. E Christina, com sua alegria nata, tenta amenizar a tensão. Ao fim da refeição, Lukas diz que voltará pra Constantini e pede que fiquemos à vontade.

Assim que vai embora, tento conter aquela sensação de que estou agindo tremendamente errado.

– Mia, queria aproveitar para conhecer a cidade, se não estiver bem para me levar... – Christina diz e eu sorrio.

– Não, levarei vocês para conhecer a cidade, claro. Vai ser bom me distrair. A vida continua, não é? E foi para isto que vieram, para me ajudar.

Naquela tarde nós visitamos o Space Needle e, à noite quando voltamos, Christina reclama de dor de cabeça e vai dormir logo depois do jantar, me deixando sozinha com Henry.

– Então você se divorciou? – Ele pergunta e imagino que Christina contou a ele.

– O que Christina te contou?

– Não muita coisa, só que ficou surpresa com o fato de Lukas Constantini ser seu ex-marido.

– Sim, é verdade, estou divorciada. E, aproveitando a oportunidade, também não estou pronta para embarcar num novo relacionamento – esclareço me perguntando se estou sendo um pouco grossa.

– Não estou aqui para pressioná-la neste sentido, Mia.

– Mas está aqui.

A minha afirmação e todos seus significados, ficam ali, entre nós.

– Estou – Henry diz por fim. – Não posso esconder que me interesso muito por você, Mia. E realmente fiquei preocupado quando Christina contou sobre seu pai. Queria ajudá-la, confortá-la.

Sorrio e percebo que gosto daquilo, embora seja um pouco assustador.

É bom saber que uma pessoa gosta da gente a ponto de atravessar o oceano para nos confortar.

– Aprecio muito seu gesto – murmuro. – Só não posso prometer nada no momento.

– Eu sei. Também sei que não deveria estar hospedado na casa do seu ex-marido quando quero tomar o lugar dele.

Wow! Ele foi direto ao assunto.

– Ele sabe sobre você.

– Sabe?

– Sim. Contei a ele que tive um encontro quando estávamos em Londres.

– Ele me pareceu muito possessivo hoje de manhã. Acho que ainda gosta de você.

– É complicado...

– E você ainda gosta dele?

Desvio o olhar. O que poderia dizer?

De repente não quero ser falsa com Henry. Se há a possibilidade de começarmos um relacionamento, preciso ser sincera.

– Henry, quer ouvir uma história?

Acabo contando tudo a ele, já é madrugada quando termino.

– É uma história surpreendente – ele diz.

– Eu sei... Então entenda que é mais do que um fim de casamento normal, que já seria horrível.

– Sim, eu entendo. Então, acabou de vez, você pode seguir em frente.

Reluto em dizer a ele o que Lukas me propôs.

Não quero contar, embora saiba que deveria.

– Acho melhor irmos dormir – recuo.

– Claro, está tarde.

Ele não se aproxima de mim, quando vamos cada um para seu quarto.

No dia seguinte, Henry age normalmente, quando saímos com Christina para explorar a cidade. Porém, agora sei que há uma nova nuance em nosso relacionamento.

É como se, sabendo minha história, ele soubesse mais sobre mim.

Também me sinto mais à vontade com ele. Foi bom ter sido sincera, colocado tudo para fora. É quase como se eu estivesse realmente limpa e vazia e, consequentemente, pronta para encher de novo.

E assim, os dias passaram. A dor da morte do meu pai vai cicatrizando, também outras dores que adquiri pelo caminho, como a decepção com a minha mãe.

Mas existe uma que permanece a mesma. Embora não saiba se posso chamá-la de dor. Acho que é mais saudade. Um vazio. Um anseio.

Ela vem à noite, quando estou sozinha em minha cama e fecho os olhos para dormir.

Sinto falta de Lukas.

Sozinha, não consigo mais a benção que a distração do dia me traz e meu dilema volta com força total quando me permito pensar nele.

Sinto raiva porque ele me deixou sozinha de novo tão facilmente. Deixou-me para que me encantasse com Henry e sua sedução gentil e comedida, fazendo-me antever o que seria minha vida se voltasse a Londres e me permitisse ficar com ele.

No entanto, se eu voltar a Londres, nunca mais verei Lukas. Nunca mais terei Lukas.

Por que ele não está ali? Por que não me obriga a ficar com ele, como da outra vez? Sei que estou sendo idiota e absurda pensando assim, porém quero ser convencida. Quero deixar para trás todos os medos e me entregar de novo à paixão que sinto por ele.

Seria tão fácil... Seria como no Havaí. Só nós dois nos amando e nada mais... Mas sei que não seria mais assim. Nunca foi, na verdade. O Havaí foi um sonho, enquanto a dura realidade de Lukas ter engravidado Alexia, se desenrolava aqui fora.

Eu ainda almejo o sonho e quase acredito que posso alcançá-lo outra vez. Só que a realidade feroz sempre me alcança de algum jeito.

E, naquela manhã, quando acordo e desço, escuto a risada infantil antes mesmo de entrar na sala e ver Dylan correndo atrás de Simba.

Sua babá Brittany está sentada conversando animadamente com Christina e fico sem saber o que fazer, de repente escuto um gritinho e Dylan vem em minha direção com os braços estendidos.

– Minha Mia, minha Mia...

Fico sem reação, totalmente chocada enquanto ele sorri pra mim, com os braços pra cima, como se quisesse que eu o pegasse.

– Bom dia, Mia – Christina diz, rindo. – Acho que ele gosta de você, hein?

– Dylan, não perturbe a moça! – Brittany comenta, se levantando e vindo puxar Dylan. Aproveito para me afastar ainda abalada.

Ele me chamou de "minha Mia"? E eu imaginando que ele nem se lembrava mais de mim!

– Não estava me perturbando – digo sem saber como agir.

Ou o que sentir.

– E o que fazem aqui? – Pergunto.

– É o dia de trazer Dylan para ficar com Lukas. Não sabia que ele estava no seu apartamento. Nós vamos para lá. Dylan não quer deixar o gato.

– Leve-o – digo sem pensar – não tem problema.

– Mia, vai dar o gato ao garoto? – Christina se surpreende.

– Meu gatinho – Dylan consegue pegar Simba e, de novo, vem em minha direção, coloca o gato em meu colo e pega minha mão, me fazendo acariciá-lo.

Não consigo deixar de sorrir.

– Sim, pode ser seu gatinho – ora, ele era um bebê e estava claramente apaixonado por Simba. Ele podia ficar com o gato.

– Não vou fingir que não gostei – Christina ri. – Não curto muito gatos – ela explica a Brittany.

– A mãe do Dylan também não. Não sei se ela vai querer ficar com ele.

– Ele pode ficar na casa do Lukas – intervenho irritada. Alexia, além de ser uma vaca, também não gostava de gatos?

– Bom, se o Lukas quiser...

– Ele vai querer – insisto e Brittany se cala.

Ela acaba pegando Dylan e o gato, se despedindo.

Dylan dá tchau para gente acenando com sua mãozinha e sorrindo.

– Ele é lindo – Christina comenta. – Fiquei com a impressão que não aceita muito bem esta criança.

Sinto-me mal por ela ter percebido.

– É difícil pra mim, não quero falar sobre isto...

– Tudo bem – ela desconversa. – Olha, Henry apareceu.

Henry entra na sala e diz que, amanhã de manhã, terá que viajar para Nova York.

– E eu tenho que voltar a Londres – Christina diz. – Você voltará comigo?

Fico apreensiva.

Meu prazo estava acabando?

– Sim, irei – acabo respondendo sem pensar.

– Vou subir e ligar para a agência para providenciar nossas passagens, então.

Ela desaparece escada acima e Henry me fita.

– Christina vai para um SPA hoje, ela te contou?

– Não, não me falou nada.

– Eu ia te convidar para almoçar comigo. Só nós dois

Hesito.

Parecia haver mais ali, se bem que Henry prometeu não me pressionar. E ele foi extremamente legal durante a semana.

– Tudo bem. Vou me trocar.

Subo e confirmo com Christina que ela vai passar o dia num SPA e ela pisca quando digo que almoçarei com Henry.

Estou acabando de me arrumar, quando meu celular toca e vejo que é Lukas.

Sinto meu coração disparando no peito. Uma semana sem notícias dele.

E eu iria embora amanhã.

– Mia – sua voz chega até mim como uma carícia e fecho os olhos.

– Oi, Lukas.

– Dylan acabou de chegar e trouxe seu gato. Brittany me disse que você o deu a Dylan.

– Sim, eu dei.

– Não precisava ter feito isto. Vou levá-lo de volta pra você.

– Não. Eu realmente dei Simba para Dylan.

– Por quê?

– Ele adora o gatinho. E é só uma criança.

– Por isto mesmo, ele esquece fácil.

Quero dizer que ele não esqueceria facilmente de mim, me calo. Não tem nada a ver.

Se eu for embora em pouco tempo Dylan provavelmente nem vai se lembrar que existo.

– Quis dar a ele e pronto. A Brittany disse que Alexia odeia gatos.

– Eu não sabia.

– Mantenha Simba longe dela. Quero que ele fique com você.

– Tudo bem. Ele ficará comigo, satisfeita?

Sorrio. Gosto de imaginar Lukas cuidando de Simba.

– Sim.

– Como você está? – Lukas pergunta depois de alguns segundos de silêncio.

– Estou bem.

– Está se divertindo com seus amigos – parece quase uma acusação.

– Foi para isto que eles vieram, não é?

– Claro.

– Por que não falou comigo esta semana? – Pergunto baixinho.

– Achei que precisava de um tempo para pensar longe de mim.

– É... eu falei, não é?

– Se não queria que eu ficasse longe, por que falou?

– O fato de eu precisar ficar longe, não quer dizer que aprecie ou que não sinta sua falta – confesso.

– Você sente minha falta? – Ele pergunta roucamente e suspiro para responder.

– Todas as noites.

– Só as noites?

– É quando fico sozinha.

– Eu sinto falta de você o tempo inteiro.

– Não parece... parece tão fácil pra você se afastar.

– Você está tão enganada, Mia...

– Lukas... – respiro fundo. – Vou embora amanhã.

Ele fica em silêncio por um tempo.

– É uma resposta?

– Não sei – tenho vontade de chorar.

– Fique comigo esta noite.

Eu fecho os olhos.

– Por favor, Mia.

– Tudo bem.

– Venha ao meu apartamento. Vou te esperar.

Almoço com Henry e depois nós caminhamos pela praia. Está fazendo sol e deixo meus pés afundarem na areia.

Poderia ser uma tarde perfeita, se eu não sentisse comichões de ansiedade cada vez que pensava em me encontrar com Lukas.

Seria uma despedida? Ou um começo?

– Está distraída – Henry diz.

– Estou pensando sobre uma decisão que preciso tomar.

– Quer falar sobre ela?

– Lukas me pediu em casamento.

Henry para, me fitando.

– Devia ter te contado – de repente me sentindo culpada.

– Não tem nenhuma obrigação, Mia.

– Eu sei, só... Realmente estou gostando da sua companhia esta semana. E sei que poderia sim, dar uma chance a você.

– Porém... – ele sorri tristemente.

– Eu amo o Lukas – confesso.

– Então por que a hesitação?

– Porque há tanta coisa entre nós que não sei se só o amor será suficiente. Nós já nos amamos uma vez. E não bastou. Não vou aguentar se ele me deixar de novo.

– Não deve ter medo de amar, Mia.

– Não tenho medo do amor. Tenho medo de perder.

– É a mesma coisa.

Nós não falamos mais nada quando vamos pra casa e Christina está lá quando chegamos.

– Onde vamos jantar hoje?

– Não poderei ir com vocês, tenho um compromisso – falo, ficando vermelha e acho que Henry sabe do que se trata, mas ele apenas diz a Christina que eles podem ir a restaurante tailandês que ouviu dizer que era bom.

– Usem qualquer um dos carros na garagem.

Christina bate palmas, animada.

– Eu dirijo!

Eu rio, rolando os olhos e, sem conseguir me conter mais, me despeço deles e sigo para o apartamento de Lukas, mesmo sendo cedo.

Toco a campainha, me lembrando de um tempo em que tinha a chave, que de nada adiantava, porque não tinha acesso a mais nada na vida dele.

Quando Lukas abre a porta, sinto meu coração saltar no peito ao vê-lo tão lindo na minha frente.

No segundo seguinte, estou em seus braços.

Estou em casa.

Ele me beija como se anos tivessem se passado sem que nos beijássemos e saboreio seu gosto com saudade e desejo, usando meus dedos para bagunçar ainda mais seus cabelos.

– Droga, Mia, senti tanto a sua falta – murmura entre beijos, me levando pra dentro. – Eu não devia ter ficado afastado esta semana...

– Mas ficou... – respondo, fechando os olhos para sentir seus lábios em meu rosto.

– Sou um idiota.

– Sim, é – gemo quando ele lambe meu queixo.

– Você está com gosto de maresia...

– Estive na praia.

Ele para, me fitando sem me soltar.

– Com o Henry – completo.

Uma sombra atravessa seu olhar.

– Eu devia ficar possesso e exigir que me conte o que fez, mas por ora, só penso em compensar o tempo que me mantive afastado tentando ser um cara legal e te dar espaço.

Então sua boca volta a minha, saudosa, voraz e me derreto nele, enquanto sinto que rapidamente estamos nos movendo em direção a seu quarto, até que os lençóis frios estão embaixo de mim.

– Preciso sentir você – sussurra, começando a tirar minha roupa e faço o mesmo com as dele. O sol do fim de tarde atravessa a janela, lançando uma luz dourada sobre nossos corpos que se entrelaçam nus sobre a cama, enquanto ele me beija numa adoração profana.

Sinto um fogo líquido percorrendo minhas veias se alojando num pulsar febril em meu íntimo.

Eu o quero tanto que dói.

– Por favor, Lukas – me esfrego nele, que desliza os dentes por meu pescoço, mordendo, enquanto deixa as mãos vagarem preguiçosamente por meu corpo, até pousarem em meus seios, apertando.

Arqueio as costas, sussurrando seu nome num anseio fremente.

– Assim? – Ele pergunta a voz saindo abafada no meu ouvido.

– Mais...

– Onde?

Eu abro as pernas num convite e ele desliza a mão, me tocando onde eu quero.

Solto um gemido longo quando sinto meu ventre sendo sugado.

– Aqui?

– Dentro...

– Assim? – Ele desliza um dedo para dentro de mim. Eu grito.

– Sim... sim... sim... – ergo os quadris do colchão, ávida por seu toque.

– Mais? – Sua voz sai contra meus lábios e estremeço.

– Mais... Por favor.

E ele me dá mais. Gozo rápido e forte em seus dedos, meus gemidos sendo absorvidos por seus lábios.

Estou fraca e trêmula quando abro os olhos e ele sorri pra mim. Tão lindo.

– Quero você dentro de mim.

– Como? – A pergunta que ele sempre fazia antes me faz lembrar de tempos felizes e rio com ele.

– Do jeito que quiser – ele me beija e fixa o olhar no meu enquanto me penetra devagar.

Eu o abraço e me movo junto, adorando sentir nossos corpos encontrando o ritmo perfeito, só nosso, o prazer renasce, incandescente, imensurável, me fazendo querer fechar os olhos para sentir melhor, mas continuo mirando seu olhar, porque há tanto sentimento, tanto querer que derrete não só meu corpo, também meu coração.

Quando ele goza, a testa encostada na minha enquanto geme em seu próprio prazer, sinto meu corpo e meu coração explodirem em mil pedaços de pura felicidade.

Ainda estou flutuando naquela nuvem de contentamento, quando ele se move para o lado, me levando junto. Fico ali, deixando nossas respirações voltarem ao ritmo normal.

Saio do torpor quando escuto um miado em algum lugar.

E me lembro de algo que havia esquecido totalmente.

– Dylan... – murmuro apreensiva.

Lukas ri, beijando minha testa.

– Não, Simba.

Eu o empurro.

– Não, quero saber do Dylan.

– Ele está dormindo.

Hesito e Lukas percebe.

– Eu poderia ter pedido para Brittany levá-lo para ficar sozinho com você, mas não quis Mia. Minha realidade é esta.

Então entendo e engulo em seco, me afastando um pouco.

Lukas queria que eu provasse não só como era bom estar sozinha com ele. Queria que entendesse que nunca mais seríamos somente nós dois.

Não falo nada por um tempo. Lukas estende a mão e fica acariciando meu cabelo.

– Tudo bem?

Eu o encaro.

– Em que sentido?

– Sexualmente, para começar – ele sorri preguiçosamente, sorrio de volta sentindo arrepios na minha espinha.

– Isto nunca foi um problema.

Sim, sexo entre nós nunca foi problema. Sempre era perfeito. Mas Lukas não está rindo mais e suas mãos já não estão nos meus cabelos.

Sinto um arrepio de medo.

– E qual seria nosso problema?

Não respondo, mordendo os lábios.

– Dylan é um problema, Mia?

Aí estava a pergunta.

Decido ser sincera, mesmo sabendo que estou começando uma guerra.

– Estaria mentindo se dissesse que não.

– Por quê?

– Você sabe por quê...

– Porque você sabe que a única coisa que coloco acima de tudo, até mesmo de você, é ele?

Sinto vontade de chorar, de tão perto que ele chegou da verdade, Lukas percebe. Em vez de ficar bravo como eu imaginava, ele toca meus cabelos.

– Você não entende este tipo de amor incondicional, Mia. Eu também não entendia. Você só irá entender quando tiver seus próprios filhos.

– Não é o Dylan – desabafo. – Ele é só uma criança e mal o conheço! É tudo o que ele representa. É você transando com a Alexia mesmo querendo ficar comigo. É você me levando para o Havaí e não sendo sincero comigo. É você terminando o que tínhamos por causa dele. Como posso acreditar que vai dar certo agora? – Estou chorando silenciosamente. – Eu te amo, Lukas. Mas temo que um dia você precise escolher de novo entre nós e sei que vou perder outra vez.

Respiro fundo, enxugando meu rosto, esperando a reação de Lukas à minha epifania. Ele me fita com infinita tristeza.

– Enquanto acreditar que você e Dylan estão em lados opostos, em algum tipo de disputa, não vai dar certo, Mia. Posso amar vocês dois. São tipos diferentes de amor e preciso dos dois. Se não é capaz de entender, melhor partir.

Sinto meu corpo se desintegrando com suas palavras.

– É assim que diz que está lutando por mim? Que quer ficar comigo? – soluço.

– Você deseja que eu a coloque antes de tudo, é impossível. Eu amo você. Quero que fique para sempre. Quero que me ame. No entanto, não sei se é capaz de se abrir a ponto de amar Dylan também.

Meu coração se quebra em mil pedaços de novo quando Lukas se levanta começando a se vestir.

Ele sai do quarto e não consigo me mexer. Só fico ali, chorando toda a dor que achei que não sentiria nunca mais.

Me perguntando se ainda conseguirei sentir a dor maior que será ir embora de vez.


Lukas

 

Minha alma está quebrada.

Estou na varanda quando a escuto passar pela sala e fechar a porta atrás de si. Tenho vontade de correr atrás dela e implorar, como fiz na casa do lago.

Fiz tudo o que podia? Poderia ter lutado mais?

Talvez não. Talvez eu tenha feito algo errado outra vez, como sempre faço com ela.

E agora ela iria embora para sempre.

Passei cinco anos lutando contra meus sentimentos. Lutando contra a quase obsessão que sentia por ela, pensando que era errado.

Eu a deixei no meio do caminho porque a amava e não o contrário. Fiz um mal tão grande a seu coração que agora ela não conseguia acreditar que podia amá-la e ainda ter amor para outra pessoa.

Eu desejava que Mia fizesse parte da minha vida também. Mais que isto: desejava criar uma vida nova com ela.

Doía saber que ela não queria amar Dylan.

Dylan era parte intrínseca da minha vida e nada iria mudar esta verdade. Se Mia não era capaz de aceitar, de nada adiantaria continuar lutando por ela.

Eu havia perdido.

Não sei quanto tempo passo ali, olhando o sol se pondo, o crepúsculo enchendo tudo lentamente de escuridão. Até que escuto a porta se abrindo de novo e, quando olho para trás, eu a vejo.

Meu coração para de bater quando ela larga uma mala no chão. A mesma mala que Christina fez em Londres que continha suas coisas.

Dou um passo para dentro, seus olhos estão vermelhos e ela enxuga o rosto de qualquer jeito.

– Mia...?

– Minha resposta é sim. Quero me casar com você. Quero que me ensine a amar Dylan, que me prometa que vamos ficar juntos e que nunca mais terei que ir embora... – ela tropeça nas palavras enquanto eu tropeço em sua direção, até que a tenho em meus braços.

De novo.

Agora para sempre.


Capítulo 2


Mia


Eu mal consigo acreditar que finalmente estou em seus braços.

Quando sai do seu apartamento mais cedo já não sentia mais a dor. No lugar em que sangrei até sentir uma quase morte emocional depois das palavras contundentes de Lukas,r havia apenas um grande vazio.

Não só a dor havia ido embora. A vida também.

Dirige sem rumo pelas ruas de Seattle, a mente vazia. O futuro vazio.

Não haveria mais Lukas. Nunca mais.

Apenas ausência e o vazio.

Parei o carro em um lugar qualquer lutando para continuar respirando, tentando trazer algum pensamento bom que instigasse em mim a simples vontade de continuar respirando.

E, ao olhar para fora, percebi que estava em frente ao cemitério onde enterramos meu pai.

Eu o havia perdido também.

De repente um filete de dor escorreu de volta para dentro do meu coração e ofeguei com força, um soluço escapando do meu interior.

E, como se viesse de muito longe, escutei o celular tocando, me chamando. Por um momento insano pensei: "É, ele. É Lukas." Como se uma injeção de adrenalina fosse injetada diretamente em meu peito, sacudi a bolsa até achar o telefone, a esperança tola me sufocando de emoção.

Mas não era Lukas. Quão boba eu podia ser? Lukas havia desistido de mim. Ou teria feito eu desistir? Já não sabia mais.

– Mia?

– Oi – murmurei ao reconhecer a voz. Como sempre, ele sabia o que estava sentindo.

Fazia tempo que não sentia aquela conexão entre nós, no entanto ela ainda existia.

– Será que você poderia vir me encontrar? – Pedi baixinho.

Estava sentada em frente à lápide do meu pai, quando Evan me encontrou. Por um momento, não disse nada, apenas sentou do meu lado esperando que eu falasse quando me sentisse pronta.

E eu desabafei tudo. Coloquei pra fora tudo o que vinha bagunçando minha mente durante cinco anos.

Toda a dor, a confusão, o desejo proibido e o amor sem esperança que sentia. Sempre ali, a meu alcance, porém nunca suficientemente perto para eu segurar junto ao peito e dizer: "é meu".

Ao final, ele passou os dedos pelos meus cabelos delicadamente e começou a falar.

– Sabe o que percebo de tudo, Mia? – Eu o encarei através das lágrimas. – No fundo você continua sendo aquela garota que perdeu o pai aos dezessete anos e, sem que notasse, colocou o Lukas em seu lugar.

Franzi o cenho sem entender e ele continuou.

– Você nem percebe que seu problema com Lukas e agora com Dylan, é que você desenvolveu uma espécie de relação pai e filha com ele. Você projetou no Lukas a proteção perdida quando se casaram. Lukas te levou pra casa, sustentou e protegeu, se tornou o centro do seu mundo, a figura paterna que você não tinha mais. Então, você se apaixonou e ele passou a ser o homem que você desejava ao seu lado. No entanto, você nunca deixou de ser aquela garota que ele colocou embaixo de suas asas. Agora você se ressente por ele ter um filho e você não ser mais a única garota dele. – Evan tocou meu rosto. – É mais do que um simples ciúme de um filho com outra mulher que você julga uma concorrente. Ter restrições a uma criança nestas condições é até normal, aposto que todas no seu lugar sentiriam o mesmo em algum momento. É algo superável. O que você realmente precisa é deixar de ser aquela garota necessitada de um pai. Você é adulta. Precisa saber cuidar de si mesma. Na prática, você já sabe. Só tem que resolver esta questão dentro de você. John se foi para sempre. Lukas é o homem que você ama, que pode continuar amando se quiser, apesar de todos os problemas. E para amá-lo precisa abrir seu coração para Dylan.

Refleti sobre as palavras de Evan. Poderia até me rebelar contra elas, embora no fundo, sabia que ele tinha razão.

Eu queria ser tudo na vida de Lukas. Nunca tinha sido tudo na vida de ninguém. Somente do meu pai, talvez. Mas ele me abandonou, me deixando sozinha e desprotegida para resolver todos os problemas.

E Lukas estava lá.

– Você é responsável por sua própria felicidade, Mia. – Evan continuou. – Nem Lukas nem ninguém pode escolher por você. Se acredita que ir embora e recomeçar é o que precisa, vá. Você também pode ficar e recomeçar com ele.

– Acha que daria certo? – Perguntei baixinho. Um fio de esperança pleiteando um lugar no meu peito.

– Lukas sempre amou você. Devo dizer que nem sempre da maneira correta – Evan sorriu ironicamente. – Lukas, à sua própria maneira, também tem sua imaturidade emocional para resolver. O nascimento de Dylan o fez crescer muito. E sim, eu acho que poderia dar certo se vocês dois parassem de andar em círculos dentro das mesmas atitudes erradas e resolvessem enfrentar os problemas juntos.

E ali eu me permiti, pela primeira vez desde que saí arrasada da casa de Lukas, ver a situação por outro ângulo.

Eu ainda podia escolher.

Podia seguir com minha vida em Londres, deixando para trás toda aquela confusão e dor. Ou seguir minha vida com Lukas, que significava abraçar todos os problemas dos quais queria fugir.

Eu era responsável pela minha própria felicidade, Evan disse.

Então, o que me faria feliz?

Eu sabia a resposta.

E quando abri a porta, mal respirando e ele ainda estava ali, a luz escura da noite cobrindo como um manto seus ombros curvados, eu soube que estava onde precisava estar.

Havia escolhido ser feliz. Agora. E que venham todos os problemas, iria enfrentá-los e derrotá-los um a um. O primeiro seria saber se Lukas ainda me queria. Eu tinha lhe virado as costas quando a única coisa que ele pediu foi que aceitasse seu filho. Ele tinha razão, eu não entendia toda a complexidade daquele tipo de amor, mas podia aprender.

E iria pedir para ele me ensinar.

Seu abraço tem gosto de para sempre. Meu coração exulta.

Fecho meus olhos, aspiro seu cheiro precioso. O aperto forte.

Lukas me aperta com força. Sorrio através das lágrimas quando ele se afasta o suficiente para segurar meu rosto entre as mãos, os olhos sondando os meus.

– Nunca mais faça isto – sua bronca, tão magoada e aflita, só me faz sorrir mais.

Iria sorrir sempre de agora em diante.

– Então nunca mais me solte...

– Nunca mais – ele repete com fervor, beijando minha testa, meus olhos, meu nariz. – Nunca mais... – finalmente paro de rir quando o beijo chega a minha boca. Mil beijos. Famintos, intensos, curtos em sua avidez. E nós repetimos palavras sem sentido e, ao mesmo tempo, tão verdadeiras, que vão se solidificando como uma promessa escrita com ferro em brasa sobre nossas peles.

– Nunca mais.

– Para sempre.

– Eu te amo.

– Tanto...

– Mais...

E não sei quanto tempo ficamos perdidos em nossos sussurros, beijos afoitos e mãos que se buscam como se amedrontadas que estivessem agarrando algo que fosse se desmaterializar a qualquer momento, até que, como se viesse de muito longe, escuto uma vozinha baixa e chorosa.

– Papai...

Lukas me solta imediatamente e olhamos para o local de onde vem a voz.

Dylan está parado no corredor, segurando um pequeno cobertor com uma mão, com a outra esfrega os olhos sonolentos.

– Oh Meu Deus! – Fico paralisada sem saber como agir.

– Calma Mia. – Lukas segura meu ombro, me lançando um olhar apaziguador – está tudo bem.

De repente percebo como estou exagerando agindo daquele jeito, como se Dylan fosse um pequeno alienígena que tivesse vindo do nada para me atacar.

Era só uma criança e teria que me acostumar com ela. Lukas parece um tanto assustado e preocupado com a minha reação.

– Claro – sorrio amarelo, respirando fundo. – Me desculpe, só fiquei um tanto surtada, está tudo bem – o acalmo.

– Papai – Dylan insiste, agora choramingando e Lukas se afasta, pegando-o no colo.

– Não precisa chorar. Veja quem está aqui! Lembra-se da Mia?

Dylan olha para mim com seus olhinhos sonolentos e confusos. Me recordo de quando ele se agarrou nas minhas pernas na casa do lago, me chamando de minha Mia.

Ele gostava de mim, não é? Então por que está me olhando como se não me conhecesse?

– Oi Dylan – murmuro, acenando, ele apenas deita a cabeça no ombro de Lukas e vira o rosto. Fico assustada e Lukas ri.

– Ele está com sono, daí o mau humor, não se preocupe. – Está com fome? – Lukas pergunta e ele sacode e cabeça afirmativamente.

Eu os sigo até a cozinha, onde Lukas o coloca em um cadeirão, abre a geladeira retirando algo de lá e levando ao microondas.

Dylan começa a choramingar de novo e me pergunto o que há de errado, Lukas não parece preocupado.

– Parece que tem algo errado – murmuro.

– Ele está manhoso, só isto. Crianças tendem a ser assim quando acordam não se preocupe.

O microondas apita e Lukas coloca o que parece ser uma sopa, num prato e põe na frente de Dylan que pega uma colher e começa a comer. Ou algo assim já que mais lembra algum experimento que envolve passar a comida de cor laranja em seu rosto, que fica todo sujo em pouco tempo.

Devo parecer horrorizada porque Lukas ri, ao colocar um prato na minha frente.

– Está assustando a Mia, Dylan.

– Não, não estou assustada, apenas... – tento explicar.

– Ele está na fase de querer ser independente. É difícil dar comida a ele. Há algumas semanas decidiu que era perfeitamente capaz de se alimentar sozinho. Infelizmente, ainda não obteve muito sucesso, como pode ver. – Lukas explica.

Olho de novo para a criança que realmente tenta levar a colher do que parece ser sopa de cenoura, à boca. Às vezes até consegue, no final há mais comida em sua roupa do que em sua boca.

Não consigo deixar de sorrir, é quase engraçado vê-lo todo sujo daquele jeito.

– Parece uma bagunça sem tamanho. Como consegue limpá-lo depois? – Pergunto.

– Nada que um bom banho não resolva – Lukas responde um pouco mais relaxado.

Como se soubesse que estávamos falando dele, Dylan levanta o olhar e sorri, batendo a colher no prato, espalhando comida para todo lado.

– Dylan, não faça isto. – Lukas pede e o menino ri, descobrindo que chamou a atenção dos adultos pra si, até que Lukas retira a colher de sua mão e ele abre o berreiro num choro alto.

– Me dá... me dá.

– Não! Está fazendo bagunça. – Lukas tenta dar a comida em sua boca, ele reluta, virando o rosto até que, depois de algum tempo, o choro cessa e Lukas começa a alimentá-lo em silêncio.

– Coma Mia – Lukas pede e percebo que colocou um prato com sanduiche na minha frente.

Descubro que estou faminta, minha última refeição foi no almoço com Henry. Pensar em Henry me faz sentir uma leve culpa. Preciso ligar para ele e Christina dizendo que não irei mais viajar.

Obviamente terei que voltar a Londres para acertar minha saída do emprego e fazer minha mudança... Eram muitas coisas, decido não pensar nelas agora.

– Coma Mia – a voz infantil em tom de brincadeira me tira do devaneio. Dylan está rindo e repetindo as palavras de Lukas. – Coma Mia.

– Ele está aprendendo as palavras e repeti-las faz parte. – Lukas explica, dando por encerrado o jantar de Dylan, quando coloca o prato na pia e ele se mexe para sair da cadeira.

– Descer. Me desce, papai.

Lukas o tira da cadeira, sem colocá-lo no chão.

– Vou lhe dar um banho e colocá-lo para dormir de novo. Talvez demore um pouco.

– Tudo bem – murmuro.

– Dê boa noite a Mia, Dylan.

Dylan sorri com seu rostinho sujo e acena.

– Boa noite, Mia.

– Boa noite – aceno de volta, ele sacode os braços em minha direção.

Busco o olhar de Lukas.

– Ele está querendo te dar um beijo de boa noite.

– Ah – me levanto e Dylan coloca as mãos sujas no meu rosto, depositando um beijo igualmente melecado na minha bochecha.

– Me desculpe – Lukas pede me jogando um pano de prato. – Esqueci que ele está todo sujo.

– Não tem problema – eu me limpo enquanto Lukas se afasta com Dylan pelo corredor.

Respiro aliviada.

Primeira hora, eu tinha resistido bravamente a um jantar regado a beijos melequentos e a uma dose de manha pós-sono. Não pareceu tão difícil assim.

Sem saber o que fazer decido lavar a louça depois volto para a sala.

Dali escuto Lukas conversando com Dylan em algum lugar do apartamento. Penso se deveria ir ficar com eles, hesito. Não sei o que fazer. Talvez minha presença atrapalhe algum ritual de colocar uma criança para dormir.

Então fico por ali, caminho pela sala e paro em frente a um aparador que nem tinha reparado antes que está cheio de fotos.

Há fotos de Lukas com seus pais, suas irmãs adotivas e, como não poderia deixar de ser, várias de Dylan em diferentes estágios de crescimento.

Graças a Deus, nenhuma de Alexia, penso com certo amargor.

Pensar em Alexia me dá um incômodo no estômago. Certo medo do que me aguarda agora que decidi ficar na vida de Lukas.

Certamente Alexia não espera por isto e prevejo alguns problemas, para dizer o mínimo.

Quando não escuto mais nenhum barulho deles, me pergunto se Dylan finalmente dormiu.

Realmente não demora muito para Lukas aparecer.

Ele senta do meu lado no sofá e, sem aviso, me puxa para seu colo.

Por um momento não dizemos nada, apenas apreciamos aquele momento tão raro. Nós dois juntos. Sem brigas ou discussões, ou até mesmo sem estarmos nos atracando em busca de sexo.

– Dylan dormiu? – Pergunto.

– Sim, até que foi fácil.

– Onde está Brittany?

– De folga. Voltará segunda-feira.

– Você faz parecer fácil cuidar de um bebê – digo, quase que pra mim mesma.

– Não é nada fácil. Todo dia aprendo algo diferente com ele.

– Eu não sei... – brinco com os botões de sua camisa, sem encará-lo. – Não sei muito bem como interagir com vocês...

– Mia, olhe pra mim – Lukas pede e o encaro. – Não se torture. Vamos dar tempo ao tempo. Não vou obrigá-la a se aproximar do Dylan se não estiver preparada.

– Eu sei, só...

– Shi – ele beija meus lábios levemente. – Sei que temos que conversar sobre milhões de coisas, faz apenas poucas horas que a tenho de volta e, só por hoje, queria simplesmente te levar pra cama e te abraçar, sabendo que amanhã ainda estará aqui.

– E depois também – sorrio e ele sorri de volta. Tão lindo que faz meu coração doer.

– E depois de amanhã – ele me pega no colo levando-me para o quarto, onde me ajuda a vestir uma camiseta sua e nos deitamos.

Não transamos naquela noite. Não havia necessidade, embora eu sinta os familiares arrepios na minha pele que ele acaricia com a ponta dos dedos, enquanto me enrosco em seu corpo morno e perfeito. É como se soubéssemos que agora não há mais pressa. O desejo pode ser guardado e colocado à espera, pois o tempo, pela primeira vez, está a nosso favor.

Quando acordo, estou sozinha. Sinto o cheiro familiar de Lukas em mim e sorrio.

É quase como um sonho estar com ele de novo. Com um suspiro, jogo as cobertas para o lado, coloco minhas roupas e, depois de uma passada no banheiro para me ajeitar, saio do quarto e encontro Simba perambulando pela sala. Sorrio e o pego, indo para a cozinha. Lukas está de costas para o fogão fritando algo e Dylan está brincando com sua comida, ou tentando comer, quando me vê abre um sorriso cheio de cereal.

– Gatinho!

Lukas se vira e sorri pra mim.

– Espero que a gente não tenha te acordado. Pedi para o Dylan não fazer barulho, mas é difícil.

– Não acordaram – afirmo.

– Gatinho. Me dá – Dylan se contorce esquecendo da comida e hesito sem saber se dou o gato a ele ou não.

– Dylan você não acabou de comer.

– Meu gatinho – ele continua se contorcendo e Lukas suspira exasperado, tirando-o do cadeirão, limpando sua boca e suas mãos no processo.

Dylan vem ansioso em minha direção.

Eu lhe entrego Simba e ele o abraça.

– Meu gatinho.

– O nome dele é Simba – explico.

– Não, gatinho – Dylan insiste e sorrio.

– Sim é um gatinho, seu nome é Simba.

– Simba? – Dylan me olha confuso.

– Simba – repito.

Simba mia, como se soubesse que estávamos falando dele e pula do colo de Dylan, fugindo para algum lugar e Dylan vai atrás dele.

– Simba, Simba... Aqui, gatinho.

– Você perdeu um gato, definitivamente – Lukas diz.

– Acho que sim – respondo sorrindo.

– Venha aqui – ele pede e me aproximo, ficando na ponta dos pés beijo seu queixo e aperto meus braços a sua volta por um momento, encostando a cabeça em seu ombro.

Lukas desliga o fogo e se vira, me abraçando e beijando de verdade.

Estou com a cabeça girando e o corpo quente quando se afasta.

– Bom dia!

– Bom dia! – Respondo com um sorriso bobo no rosto.

– Sente-se e tome seu café.

– Hum, poderia ter me acordado e faria minhas famosas panquecas – digo me sentando, ele coloca ovos mexidos no meu prato.

– Ah, me lembro da primeira vez que comi suas panquecas exatamente aqui nesta mesa.

– Elas foram apenas uma desculpa para ficar perto de você – confesso e Lukas me olha intrigado.

– Foi muito engenhoso... eu era tão idiota que não fazia ideia.

– Quando estávamos no Havaí, você sabia muito bem como ficar esperto quando estávamos na cozinha.

Com um gemido, ele se aproxima e me beija novamente e eu rio.

– O que foi isto?

– Lembrar do Havaí me deixa com tesão – ele diz no meu ouvido e eu gemo.

Era realmente uma pena que não estivéssemos sozinhos que eu não pudesse implorar para que ele me jogasse em cima da mesa e me comesse de café da manhã.

Com um suspiro pesado, Lukas se afasta, comendo seus próprios ovos. Acho que ele sabe exatamente o que estou pensando, pois sorri quase tristemente.

– Sei que as coisas nunca mais poderão ser como naqueles dias, porém...

– Shi – seguro sua mão – vão ser melhores.

Obviamente agora era diferente. Lukas tinha um filho que a qualquer momento irromperia pela porta querendo atenção. Nunca mais seríamos somente nós dois.

Mas Dylan não ficaria para sempre, ele tinha uma mãe e uma babá. Então, não precisava me sentir frustrada.

Tudo tinha seu tempo.

E nós tínhamos tempo, não é?

De repente o celular em cima da mesa toca e ele atende.

– Brittany...? O quê? Não pode acontecer já te falei. Tenho uma reunião hoje cedo... está certo. Darei um jeito.

Lukas desliga e parece irritado.

– Brittany vai se atrasar.

– Oh.

– E tenho uma reunião na Constantini daqui a uma hora.

Claro. Hoje era segunda-feira e Lukas tinha que ir trabalhar, obviamente.

E a babá iria se atrasar.

– Terei que providenciar alguém para cuidar de Dylan – ele fala distraído, mexendo no celular e tomo uma decisão repentina.

– Eu cuido dele.

Lukas me olha surpreso.

– Não precisa. Vou ligar para Mary e perguntar se ela pode vir. Está em cima da hora, mas...

– Lukas, é sério. Posso ficar com ele até Brittany chegar.

– Tem certeza?

Lukas ainda parece hesitante, me pergunto que tipo de bruxa devo ter sido para ele pensar que não tinha capacidade para ficar algumas horas sozinha com seu filho.

– Claro que sim. E Brittany vai chegar logo, não é? Não tem problema. Está decidido.

Termino de comer sem olhar pra ele, me perguntando se seria realmente capaz de cuidar de uma criança mesmo que por algumas horas.

Não havia segredo, não é?

– Vou tomar banho – Lukas diz meio ausente quando terminamos e me pergunto o que se passa em sua mente.

Coloco a louça para lavar, quando volto pra sala, Dylan ainda está distraído brincando com Simba.

Está vendo? Não era nada demais cuidar de uma criança.

Vou para o quarto e Lukas está fazendo o nó na gravata.

Paro admirando-o. Ele fica realmente delicioso de terno. Não que não ficasse lindo vestindo qualquer coisa, penso.

Nossos olhares se encontram através do espelho e sorrio. Ele sorri de volta e a má impressão que ficou em mim ao fim do café da manhã, se desfaz.

Me aproximo e abraço sua cintura.

– Você fica tão lindo de terno.

Ele ri.

– O que me faz lembrar que hoje à tarde precisarei ir à casa do lago para buscar o resto das minhas coisas – digo.

Ele me encara.

– Henry e Christina estarão lá?

– Estarão.

Lukas passa os dedos para ajeitar as mechas rebeldes do cabelo, uma meia carranca se formando em seu rosto bonito.

– Quero me despedir deles.

– Claro que sim.

– Foi tudo muito rápido e, na verdade, acho que eles ficarão meio chocados com minha decisão de ficar.

Lukas para de se arrumar e respira fundo me encarando seriamente.

– Sei que está sendo tudo muito rápido e também que precisamos conversar sobre várias questões práticas. Prometo que conversaremos hoje a noite, tudo bem?

– Tudo bem – respondo.

– Pode parecer uma pergunta boba, mas sinto que preciso fazer. – Ele toca meu rosto e parece inseguro de repente. – Você estará aqui quando eu voltar, não é?

Seguro sua mão, beijando a palma.

– Nunca mais irei a lugar algum sem você. Não vai mais se livrar de mim, Lukas.

Ele sorri lindamente. Aquele sorriso que faz as minhas velhas amigas borboletas alvoroçarem meu estômago.

– Gostei muito de ouvir isto – se inclinando, dá um beijo rápido nos meus lábios e depois na minha testa.

Nós vamos pra sala e ele aponta para Dylan que ainda está distraído com o gato.

– Tem certeza que está tudo bem?

– Já disse que sim – insisto já não me sentindo tão segura agora que Lukas estava pronto pra sair.

– Me liga se precisar de qualquer coisa. Brittany deve chegar daqui a umas duas horas, provavelmente.

– Tudo bem.

Ele se despede de Dylan.

– Filho, o papai vai trabalhar, Mia ficará cuidando de você. Comporte-se, hein?

Dylan acena com a cabeça e me pergunto se ele entende alguma coisa. Provavelmente não.

Lukas o solta e abro a porta para ele.

– Mia, eu... – ele ainda hesita e eu sorrio corajosamente.

– Pode ir Lukas, qualquer coisa juro que te ligo.

Ele me beija novamente de leve e vai embora.

Fecho a porta e Dylan está olhando curiosamente pra mim.

Não sei o que fazer.

– Hum, que tal voltar a brincar com o Simba? Vamos procurá-lo? – pergunto animada, de repente os lábios de Dylan tremem.

– Cadê meu pai? Quelo meu pai.

Ai! E agora?

Ele parece realmente que vai chorar.

– Ele vai voltar logo – digo rápido.

– Meu pai foi embola – ele repete e fico arrasada com sua tristeza.

Será que ele age assim sempre que Lukas sai? Ou será que é porque está comigo, praticamente uma estranha? Provavelmente a última alternativa penso consternada.

– O papai vai voltar logo. Ele foi trabalhar e virá mais tarde. Brittany também virá para ficar com você.

– Cadê a Be?

– Ela vai chegar logo – estendo a mão para ele. – Venha, vamos procurar o Simba. Cadê o gatinho? – Tento distraí-lo e funciona, ele segura minha mão começando a chamar por Simba.

Nós achamos Simba embaixo da mesa de centro e nos abaixamos para pegá-lo.

De novo, Dylan parece distraído e respiro aliviada.

Eu o deixo ali e decido ligar para Christina.

– Mia, meu Deus, onde se meteu?

– Calma Christina.

– Estou calma! Só fiquei preocupada. Não surtei mais porque o Henry disse que sabia onde deveria estar, porém não iria me contar e ele ainda espera que eu fique de boa com isto!

– Sim, acho que ele devia fazer ideia – digo meio culpada.

– Então só pode ser a mesma que a minha; Está com seu ex, não é?

– Estou.

– Eu sabia! Sabia que ainda tinha alguma coisa aí, vamos, me conte tudo!

– Vou aí me despedir de vocês hoje à tarde e conto tudo...

– Se despedir, como assim?

– Não vou mais para Londres.

– Como é?

– Decidi ficar em Seattle.

– Que história é esta, como assim?

– Vou voltar com o Lukas. Na verdade, nós vamos nos casar de novo.

– Meu Deus! Isto é... Estou chocada! Por favor, me conte tudo agora, senão terei um treco!

Respiro fundo e conto a ela o que aconteceu.

Não sei quanto tempo estamos ali, no telefone, até que escuto um baque, levanto a cabeça e Dylan está vindo em minha direção chorando.

– Ai meu Deus! Christina preciso desligar – sem esperar sua resposta, desligo e Dylan está na minha frente mostrando o joelho.

– Mia, machuquei... – ele chora copiosamente apontando para o joelho que está arranhado e sangrando.

Acho que vou desmaiar.

– Ai Deus, Dylan... – o coloco sentado no sofá e me ajoelho na sua frente, examinando seu joelho. Não parece grave, mas o que eu sei?

Eu costumava cair muito quando criança e me arranhava toda. Na hora ardia, depois voltava a brincar normalmente.

– O que aconteceu? – Pergunto.

– Eu caí. – ele começa a falar várias coisas entre as quais eu entendo "Simba", "caí" e "machuquei".

Olho para onde ele aponta e vejo que Simba está em cima da estante. Imagino que Dylan tenha tentado escalar o móvel para alcançar o gato.

Onde eu estava com a cabeça que não o estava vigiando? Me recrimino.

– Oh, Dylan, não foi nada, não chore – peço, quase começando a chorar também.

– Tá doendo...

E agora? De repente me lembro do meu pai, de quando eu era bem pequena e caía, ele dizia que se desse um beijinho ia sarar.

– Olha vou dar um beijinho para sarar, está bem? – Beijo seu joelho, Dylan para de chorar e fica me olhando confuso, como se avaliasse meus métodos de cura.

– Está sarando? – Toco seu rosto secando suas lágrimas e ele acena positivamente.

– Mais um beijinho – pede e rio, beijando de novo.

– Sarou?

Ele funga.

– Salou.

Sento do seu lado e ele pula no meu colo, ainda fungando de leve e deitando a cabeça em meu ombro.

Passo a mão nos seus cabelos, me sentindo muito esperta e uma ótima babá naquele momento.

E também sinto que estou gostando de tê-lo assim, aconchegado a mim.

– Oi!

Levanto a cabeça e vejo Brittany entrando.

Ela tinha a chave?

Dylan levanta a cabeça ao ouvir Brittany então pula do meu colo indo em sua direção mostrando o joelho.

– Eu caí Be.

– Você caiu?

Brittany olha acusadoramente pra mim.

Levanto-me meio envergonhada com o olhar da babá.

– Eu me distraí, acho que ele tentou subir na estante e caiu, arranhando o joelho.

– Vem aqui para eu ver Dylan. – Brittany diz, pegando-o no colo. – Nossa você se machucou – ela olha pra mim com ar acusador de novo. – Você o deixou cair!

– Não foi nada grave! – Defendo-me, muito vermelha.

– Poderia ter sido! Onde o Lukas está com a cabeça ao deixar o garoto com você? – Dardeja enquanto se afasta com Dylan no colo. – Vamos colocar um remédio nisto!

Fico ali, paralisada. Sentindo-me envergonhada e muito descuidada.

Brittany tinha razão. Como Lukas podia ter deixado o filho dele comigo? E se em vez de subir na estante, ele tivesse subido na janela ou algo assim? Estremeço de horror.

Eu tinha sido muito sem noção acreditando que podia cuidar de Dylan. Não fazia ideia do que uma criança precisava.

Respirando fundo para conter o nó na minha garganta, vou para a cozinha e encontro Brittany colocando remédio no joelho de Dylan que chora.

– Dói, dói...

– Preciso limpar o machucado! – Brittany fala firmemente.

– Tá doendo... – ele soluça fracamente e fico com pena.

– Tem mesmo que colocar isto? – Pergunto e ela me lança de novo um olhar de: "você é burra ou o quê”?

Recuo.

– Vou até a casa do lago.

– Que me importa – resmunga e me pergunto se ouvi direito.

– Já vou então.

Pego minha bolsa e arrumo meu cabelo no banheiro, quando estou passando pela sala escuto Dylan perguntando.

– Cadê a Mia?

– Ela foi embora! – Brittany responde rispidamente e não fico para ouvir o resto.


Lukas

 

Estou feliz.

Tão feliz que tenho um sorriso idiota no rosto quando chego à Constantini cumprimentando a todos efusivamente.

– Nossa, que bom humor – Megan nota ao entrar na minha sala com alguns papéis para eu assinar.

– Estou mesmo – confirmo.

– Algum motivo especial? – Pergunta curiosa.

Será que devia contar a ela sobre a volta de Mia? Hesito. Ainda era muito recente, tão maravilhosamente irreal e nós nem tínhamos conversado de verdade sobre nada.

– Danielle já chegou para a reunião? – Pergunto desconversando.

– Ah, ela está enjoada hoje de manhã.

– De novo? – Franzo a testa preocupado. Era a terceira vez que Danielle atrasava nesta semana por se sentir indisposta.

– Pois é. Sabe o que eu penso? Acho que serei avó! – Megan diz, não parecendo muito satisfeita com a ideia.

Jack e Danielle se casaram há alguns meses e, aparentemente, viviam bem, apesar de minhas óbvias restrições àquele relacionamento. De um tempo para cá, Danielle parecia sempre abatida e desgastada. Eu perguntava qual o problema, ela sempre se esquivava.

E eu bem imaginava que os problemas se resumiam num só: talvez Danielle estivesse finalmente enxergando que Jack era um idiota.

Vou para a sala de reunião e, tarde demais, me lembro de ligar para Mia para ver se está tudo bem. Ainda me sinto inseguro por deixá-la sozinha com Dylan. Sei de toda sua hesitação em relação a ele, como poderia não saber, se foi este o motivo principal de ela ter ido embora ontem? Eu me senti muito triste, mas no fundo a entendia.

Eu me colocava no lugar dela. Se fosse diferente e Mia tivesse um filho com outro cara, talvez um filho com Henry, por exemplo, ficaria enciumado também. Embora, agora, depois de ter Dylan, me sentisse muito sensibilizado com qualquer criança.

Mia não tinha filho, não entendia. Em muitos aspectos, ainda era uma menina e eu compreendia sua insegurança em relação a este assunto. Inferno! Foi por este motivo que a deixei quando descobri que Dylan era realmente meu filho quase dois anos atrás.

Sabia o quão difícil seria tornar a situação confortável para todos.

Agora ela havia voltado. E estava disposta a tentar.

Eu mal pude conter a onda de amor que senti quando ela me disse ontem.

Eu sempre a amaria, porém o fato de saber que ela queria amar meu filho tinha um significado muito especial para mim. Era a realização de um sonho que nunca imaginei que poderia se concretizar. Ter Mia e Dylan comigo.

Agora era algo possível.

Sabia que não seria fácil, mas nós íamos conseguir. Estava convicto.

– Bom dia Lukas – Wilson entra na sala e fecha a porta – Danielle ainda não chegou?

– Não. Parece que está indisposta.

Wilson senta diante de mim.

– Isto é bom, preciso te falar algo e prefiro que, pelo menos por enquanto, fique apenas entre nós.

– O que foi?

– Estão acontecendo umas movimentações estranhas nas contas da empresa.

Sinto um arrepio de medo.

Já tinha ouvido isto.

Cinco anos antes.

– Como assim?

– Ainda estou investigando, porém estou certo que há algo errado.

– Está querendo dizer o que, Wilson? Seja claro.

– Parece muito com cinco anos atrás – ele diz e sinto um calafrio.

– Não é possível!

– Tyler, o novo gerente contábil foi quem percebeu e veio falar comigo.

– Ele contou para mais alguém?

– Não. Pedi que fosse muito discreto enquanto estamos investigando.

– E de quanto estamos falando? – Pergunto.

– Não muito, por enquanto e não há muito tempo.

– Não que sirva de alívio, pelo menos desta vez, se for verdade, descobrimos no início, seja lá quem for que esteja desviando dinheiro da empresa – digo sombriamente.

– Sim. Eu o manterei informado.

– Faça isto – afrouxo a gravata, irritado.

Era incrível que, agora que eu começava a colocar minha vida pessoal nos eixos, as coisas na Constantini começassem a se complicar.

Danielle entra na sala em seguida e parece muito pálida.

– Bom dia, Danielle, está se sentindo bem? – Wilson pergunta.

– Enjoada – ela resmunga.

– Já foi ao médico? – Indago.

– Não, é só uma indisposição. Vamos começar? – Ela corta e me pergunto se sabe sobre as desconfianças de sua mãe, me calo.

A reunião termina, entro em outra logo em seguida, já é começo de tarde quando finalmente consigo ir embora.

Chego em casa, ansioso para ver Mia e saber como se saiu com Dylan, encontro apenas Brittany na sala assistindo TV.

– Oi, Brittany.

– Oi, Lukas, Dylan está dormindo.

– Onde está Mia? – Eu havia ligado para Brittany quando saí de manhã avisando que Mia estaria em casa cuidando de Dylan. Brittany ficou pasma.

– A sua ex-mulher? – Perguntou.

– Sim, ela mesma – havia respondido sem dar mais detalhes.

Brittany pareceu muito surpresa, embora não tenha falado nada.

– Ela saiu assim que cheguei, parecia louca pra se livrar de Dylan.

Franzo a testa.

– Tenho certeza que está errada.

– Não estou não! Quando cheguei ele estava chorando porque tinha caído e machucado o joelho.

– Ele se machucou? – Pergunto preocupado.

– Sim, ele subiu na estante e caiu, a Mia nem viu! Olha, não querendo me intrometer, não acho que ela sirva pra cuidar de uma criança. Ela me pareceu muito relapsa e irresponsável. Nem passou remédio para limpar o machucado!

Passo os dedos pelos cabelos me perguntando o que tinha realmente acontecido.

Será que Brittany tinha razão e Mia havia fugido rapidamente por achar que foi demais precisar cuidar de Dylan?

Imagino que deve ter ficado assustada quando Dylan caiu e se machucou. Agora estava me sentindo mal por deixá-la sozinha com ele quando não estava preparada.

– Vou ver Dylan – vou para o quarto onde Dylan dorme calmamente.

Olho seus joelhos e estão levemente arranhados, não me parece nada sério. O que terá parecido para Mia? Não acreditava que ela tivesse sido relapsa de propósito, como Brittany descreveu, apesar de ela, obviamente ser inexperiente com crianças.

De repente sinto medo. E se isto servir de motivo para fazê-la desistir de mim, de nós?

Meu coração se aperta com esta possibilidade e, fechando a porta devagar, volto para a sala e pego as chaves do carro.

– Vou até a casa do lago.

– Achei que eu e Dylan ficaríamos lá também... Se quiser posso aprontá-lo.

– Não, por enquanto fique aqui. Vou buscar Mia.

Saio me perguntando se tenho realmente motivos para achar que Mia vai voltar.


Mia

 

Sinto meu coração apertado.

Christina me abraça forte ao entrar no táxi e olho para Henry. Penso que cogitei seriamente voltar para Londres e lhe dar uma chance. Teria dado certo? Teria deixado de amar Lukas e me apaixonado por ele um dia?

Nunca saberia, havia tomado outro rumo que me deixaria bem longe de Londres e de Henry. Ele parece um tanto triste quando o abraço.

– Espero que seja feliz – ele fala.

– Serei – respondo, apesar de minhas palavras conterem convicção, meus pensamentos estão um pouco inseguros.

Os acontecimentos com Dylan e as acusações de Brittany tinham abalado minha confiança.

Ele entra no táxi também e os vejo se afastar com alguma vontade de chorar. Uma vozinha baixa sussurra em meu interior: "Tomei a decisão certa?”

A tarde está caindo e, em vez de entrar na casa, sigo para a pequena ilha em frente ao lago.

Me recordo de quando era apenas uma garota e fiz daquele lugar meu refúgio. Quanto tempo havia se passado e ainda me sentia insegura por causa dos mesmos sentimentos pelo mesmo homem.

– Mia? – Olho para trás e vejo Lukas se aproximando.

Mordo os lábios numa mistura de desejo e nervosismo.

Ele senta do meu lado.

– Brittany me contou o que aconteceu – ele diz.

– Oh, sinto muito, sei que deveria ter cuidado direito do Dylan, me distraí e...

– Calma Mia.

– Não, eu fui horrível! Falei que podia cuidar dele e o deixei se machucar na primeira oportunidade! Está claro que não posso ficar perto dele.

– Ei, não fale assim. Está exagerando. Todo mundo comete erros quando não sabe o que fazer com uma criança.

– E se eu não aprender? Como pode dar certo entre nós se não sirvo para cuidar do seu filho?

– Mia, Deus, está sendo absurda!

– Tenho medo de não ser boa o suficiente para... você – murmuro.

Lukas segura meu rosto entre as mãos me obrigando a fitá-lo.

– Você é boa pra mim. Não há ninguém melhor para mim do que você.

Sinto meu coração derreter com sua convicção. Também sei que não é tão simples assim.

– E Dylan?

– Ele se apaixonará por você também, assim como eu me apaixonei.

Eu rio.

– Por favor, Mia, diga para mim que ainda quer ficar. Diz que não desistiu de nós...

Seguro suas mãos tirando-as do meu rosto, apertando-as entre as minhas.

– Não quero desistir. Percorri um longo caminho até aqui para entender que quero ficar com você. Não irei a lugar algum a não ser que seja com você.

– É tudo que preciso saber. – Ele enfia uma mão no bolso e, quando a retira, vejo o brilho dourado do anel de noivado. O mesmo que ele me deu neste mesmo lugar cinco anos atrás. – Acho que já está na hora de ele voltar para o lugar ao qual pertence – diz, pegando minha mão e deslizando o anel em meu dedo.

– Vamos realmente fazer isto, não é? – Pergunto.

– Sim nós vamos. Vamos noivar, casar e... – ele dá de ombros. – O que mais você quiser.

Sorrio e o beijo, Lukas puxa minhas pernas para cima das dele, me afasto um pouco. Ainda há algo que quero fazer.

– Vamos fazer uma promessa. Vamos prometer que nunca mais vamos nos separar.

– Vamos resolver todos os nossos problemas juntos. – Ele mergulha os olhos nos meus intensamente.

– Iremos a todos os lugares juntos – enfio os dedos em seus cabelos. - Nunca mais vai me mandar embora.

– Nunca mais você vai me deixar. – Seus braços me enlaçam com mais força.

Me enrosco nele, selando nossa promessa com um beijo.


Capítulo 3

 

Mia

 

Beijamo-nos tanto que nem percebo a luz laranja do fim de tarde sendo substituída lentamente pela escuridão da noite.

A escuridão já não me assusta. Estou protegida pela luz dos olhos de Lukas que mergulham nos meus, quando finalmente separamos nossos lábios para respirar.

Uma vez comparei este lugar a um paraíso sombrio. Agora era somente paraíso.

– Estou feliz – murmuro e ele sorri. Tão lindo que faz as borboletas no meu estômago aparecerem para me dar olá.

Desta vez sorrio de volta, dando muito boas-vindas a todas elas.

Estou tão feliz que poderia pular no lago e nadar até o infinito.

Quando me dou conta, estou falando isto para Lukas entre beijos e ele ri me puxando com ele, começando a tirar a roupa.

– O que está fazendo?

– O que você gostaria de fazer – responde, tirando a camisa e indo para a calça.

– Está maluco? E se Mary nos vir?

– Mary já foi embora. Estamos sozinhos – ele dá uma piscadela vindo tirar minha roupa então entro de vez em sua doce loucura, deixando que tire minhas roupas e me pegue no colo, pulando no lago.

Estremeço de frio quando sinto a água atingindo meu corpo e a risada divertida de Lukas chega até mim quando emerjo.

– Está frio.

– Não estamos no Havaí, baby – ele se aproxima e me abraça.

– Então me esquente – peço, passando os braços em volta do seu pescoço e ele me beija.

– Melhor? – Pergunta, fazendo um caminho até meu ouvido.

– Muito. – Suspiro, passando as pernas por sua cintura, beijando seu pescoço. – Sabe o que seria melhor agora? – Passo os dedos por seu cabelo molhado e ele me lança um sorriso malicioso que faz meu ventre sacudir.

– Aposto que sei – responde e me tira da água.

Recolhemos nossas roupas do chão e Lukas me pega no colo me levando para a casa, passando direto para o quarto e paramos apenas quando ele me joga na cama. E estou rindo sem conseguir parar, quando ele se joga em cima de mim, molhado, quente. Duro.

E maravilhosamente sexy.

Enrosco meus braços languidamente nele, gemendo baixinho, mostrando claramente minhas intenções e grudo meus dentes em seus lábios.

É sua vez de gemer roucamente e me beijar em retribuição, a língua fazendo um caminho de reconhecimento até encontrar a minha ávida pela dele.

Estou sem fôlego, excitada ao extremo quando paramos e ele lambe meu queixo, fazendo uma trilha de beijos quentes por meu pescoço até meus seios.

Grito quando sinto um chupão forte em meu mamilo, que faz uma lança intensa e aguda de prazer atravessar meu corpo e se alojar em forma de um pulsar urgente entre minhas pernas.

– Ah, por favor... – arqueio meu corpo em direção ao dele, meus dedos castigando seus cabelos.

Lukas ri contra minha pele, dando a mesma atenção ao outro seio me fazendo quase pular da cama.

– Ah, é tão bom...

– E isto, é bom? – Ele desliza uma mão por minha barriga até pousar onde estou ansiosa por ele.

– Ah, sim... Não pare... – Fecho os olhos e mordo os lábios para não gritar alto ao sentir seus dedos espertos fazendo um caminho para dentro de mim.

Se pensava que era só esta sua intenção, estou enganada, ele desce com beijos atrevidos por minha barriga, circunda meu umbigo e abre minhas pernas para sua inspeção sacana.

– Abra os olhos, baby – faço o que ele manda para vê-lo colocar minhas pernas em seus ombros e mergulhar seu rosto entre elas.

E não há mais lugar para pensamentos coerentes quando o sinto me explorando intimamente com língua, lábios e dentes, só me resta gemer, perdida em sensações que fazem meu corpo arquear e queimar até explodir num orgasmo que me faz gritar seu nome em meio a mil palavrões que ficaria corada ao repetir em qualquer outra ocasião.

Volto à realidade ainda tremendo e fraca, com Lukas se posicionando em cima de mim retirando os cabelos do meu rosto suado, enquanto me penetra devagar.

– Tudo bem? – Pergunta, beijando meus lábios secos.

– Mais do que bem – sussurro já sentindo o prazer me tomar de novo quando ele se move no meu interior, seus olhos sondando meu rosto.

– Eu te amo – ele diz de repente, como se fosse extremamente necessário que eu entendesse aquele fato e sinto meu coração se expandir com um amor tão grande que não cabe dentro de mim e o abraço forte, aumentando o ritmo do nosso amor.

– Eu sei... Eu sei... – ele fecha os olhos para o próprio prazer, grunhindo meu nome enquanto o aperto forte e deixo meu prazer fazer eco ao dele.

Depois ficamos em silêncio, seus dedos acariciando minhas costas devagar até que começo a sentir fome e digo a ele.

– Vamos comer depois temos que voltar ao apartamento.

– A Brittany não pode cuidar do Dylan? – Pergunto me desvencilhando de seus braços.

– Se ele está comigo, não gosto de ficar longe. Não me sinto totalmente feliz quando ele não está por perto.

– Como funciona este seu... acordo? – Pergunto, apesar de me sentir incomodada com aquele assunto.

Alexia jamais, nunca, em hipótese alguma, seria um assunto fácil pra mim. Eu teria que me acostumar, não é? Ela era a mãe de Dylan e estaria para sempre em nossas vidas

Pensar nisto tira um pouco do brilho daquela noite, afasto os pensamentos sombrios, enquanto cato minhas roupas do chão e começo a me vestir.

– Nós temos um acordo. Cada semana ele fica com um – Lukas diz meio contrariado.

Talvez ele também não gostasse de falar de Alexia comigo.

– Vocês se veem muito? – Não consigo me impedir de perguntar. Lukas para de abotoar a blusa e me encara seriamente.

Desvio o olhar, ocupada em fechar meu jeans.

– Mia, não faça isto.

Eu o encaro.

– O quê?

– Não sinta ciúmes de algo que não existe.

Suspiro pesadamente, passando os dedos pelos fios molhados do meu cabelo.

– Me desculpe, vai ser difícil pra mim por um bom tempo conviver saudavelmente com esta situação... A Alexia... – até falar o nome dela me dá enjoo. – Ela sempre será alguém que eu preferiria que não existisse – confesso.

Lukas se aproxima retirando minhas mãos do cabelo e ele mesmo começa a desembaraçá-lo.

– Eu também, infelizmente é impossível. Não podemos voltar no tempo, somente tentar conviver da melhor maneira possível com nossas escolhas.

– Ela já sabe sobre nós? – Pergunto curiosa e Lukas se afasta, acabando de fechar sua blusa.

– Ainda não.

Não sei como me sinto sobre aquilo. Prefiro deixar o assunto Alexia de lado pelo menos por aquela noite. Eu tinha plena consciência de que ela seria pauta entre nós por muito tempo ainda.

– O que vamos comer? – Mudo de assunto deliberadamente.

– Vou te levar a um restaurante italiano – ele sorri e sorrio de volta.

Passar mais algumas horas sozinha com Lukas seria perfeito. Poderia fingir que éramos somente nós.

Exatamente quando aquele pensamento se forma me sinto culpada, era como se eu não quisesse que Dylan existisse.

E, analisando meus sentimentos, enquanto estamos no carro indo para o centro de Seattle, percebo que não é o que realmente desejo.

Tenho medo de Dylan. Medo do que ele significa para Lukas. Medo da mãe dele que sempre vai pairar sobre nossas cabeças como um urubu faminto, mas não odeio aquela criança.

Lukas sorri pra mim, na semiescuridão do carro e sinto seu amor. Sei que ele me ama. E esta certeza significa tudo. Me faz ter vontade de amá-lo mais. De ser capaz de amar aquilo que ele ama. E Dylan é o que ele ama.

Então não vou deixar que Alexia seja uma ameaça. É a mim que Lukas ama. Nós vamos nos casar novamente e nada mais vai nos separar. Não foi o que prometemos hoje?

– Por que está com este olhar? – Lukas pergunta curioso, me aproximo e beijo seu rosto.

– Eu te amo – respondo e ele sorri.

– Eu sei.

Nós chegamos tarde em casa, Brittany está adormecida no sofá. Na TV está passando um filme adolescente qualquer.

Lukas a acorda e ela parece confusa por um momento.

– Oh, me desculpe, eu adormeci.

– Tudo bem – Lukas responde. – Está tarde. Deve ir pra casa.

– Tem certeza que não quer que eu fique?

– Não precisa. Amanhã pode tirar o dia de folga.

– Amanhã? Não irá trabalhar? – Ela olha pra mim com um olhar desdenhoso. – Vai deixá-la cuidar de Dylan?

– Ficarei em casa amanhã – Lukas responde simplesmente, não percebendo ou fingindo não perceber sua ironia.

– Tudo bem – ele a leva até a porta e quando volta o encaro.

– Ela não é muito jovem?

– Tem 18 anos. Foi a única que deu certo com Alexia. Ela cuida do Dylan há quase de um ano.

– Com 18 anos ela não deveria estar na faculdade?

– Ela diz que ainda não se decidiu.

– Sei... não vai mesmo trabalhar amanhã? – Pergunto ansiosa e ele sorri.

– Não, vamos passar o dia juntos. Eu, você e Dylan – ele acrescenta e de repente parece inseguro. – Tudo bem?

– Claro que sim – afirmo, embora ainda sinta um pouco de medo.

– Vou ver o Dylan.

– Vou tomar um banho.

Ele se afasta, sigo para o banheiro, tomo um banho rápido e acho uma camiseta de Lukas a vestindo. Quando ele entra no quarto estou retirando as cobertas da cama.

– Você fica bem com a minha camisa.

– Obrigada – sorrio.

Quando nos deitamos, Lukas me abraça.

– Amanhã veremos minha família – diz e o encaro.

– Eles já sabem sobre nós?

– Não. Eu os convidei para jantar na casa do lago e nós contaremos.

– Nossa, acho que ficarão surpresos.

Lukas ri e me beija.

– Lukas?

– Hum?

– Podemos transar de novo?

Ele sorri imiscuindo a mão por baixo da minha camiseta e me arrepio com a sensação de seus dedos em minha pele.

– Você ainda pergunta? – Responde, esfregando sua ereção muito óbvia em mim e me derreto inteira, do último fio de cabelo até a ponta dos pés.

Mergulho em cima dele, arrancando minha camiseta e depois a dele no processo, então o encho de beijos molhados, enquanto mexo meus quadris sobre os dele, que geme contra meus lábios puxando meus cabelos.

– Você me deixa louco – e é a minha vez de rir, me sentindo muito bem por vê-lo tão excitado, desço com beijos e mordidas por seu peito perfeito até que retiro sua calça de pijama e seguro sua ereção entre meus dedos, acariciando devagar adorando ouvir seus sons roucos, depois o tomo na boca, provando seu gosto.

Lukas puxa meus cabelos e me faz subir em cima dele de novo, até que nossos quadris estejam conectados me fazendo descer sobre sua ereção, enquanto sobe ao meu encontro, me abraçando e beijando minha boca. Empurramos juntos, um contra o outro, para o outro, buscando aquele prazer perfeito e sem limites que sempre encontramos em nossos corpos.

Não demora para que um clímax intenso exploda em meu ventre e se espalhe como brasa quente por minha pele, queimando tudo por onde passa, me fazendo gritar e apertar minhas coxas ao redor de seu corpo, enterrando as unhas em seus ombros. Lukas aperta os dedos em meus quadris, me marcando, enquanto grunhe em meus cabelos e se desmancha dentro de mim.

Nós caímos exaustos sobre a cama em seguida, respirando com dificuldade, a última coisa que escuto antes de cair no sono, é Lukas puxando a coberta sobre nós.

Acordo ouvindo um barulho que vem de algum lugar indefinido.

Abro os olhos e a luz do dia invade o quarto Lukas está dormindo do meu lado.

Sorrio preguiçosamente, ainda sem coragem de me mexer pensando em voltar a dormir, me assusto quando a porta abre de repente e escuto passos correndo.

Solto um grito quando Dylan pula em cima da cama, rindo.

– Papai, acorda...

– Oh, me desculpe – olho para a porta e vejo Brittany parada com um sorriso que não sei o que significa, não me parece culpa, enquanto escuto Lukas acordando com as sacudidas de Dylan.

– Papai! – Dylan pula em cima de Lukas, muito animado, sem perceber a tensão a sua volta.

Lukas parece finalmente acordar e entender, ao ver meu olhar de horror, toda encolhida embaixo do lençol. Pelo amor de Deus estou nua!

– Dylan, não – Lukas repreende, a criança apenas ri e pula para debaixo da coberta. Eu me encolho ainda mais.

Percebo quando Lukas vê Brittany, que continua na porta com os braços cruzados. Ela tem o bom senso de não rir mais e até mostra um olhar culpado. Que sonsa!

– Sinto muito Lukas, Dylan estava chorando, como sei que não se importa que ele venha acordá-lo... não me lembrei que Mia estava aqui...

– Não deveria tê-lo deixado entrar sem avisar antes, Brittany. – Lukas fala contrariado, saindo da cama e percebo que está usando uma calça de pijama. Quando a havia colocado? Eu não me lembrava.

– Me desculpe mesmo... – Brittany continua, Lukas se vira para a cama.

– Venha, Dylan.

– Não – ele diz com aquela voz imperiosa de criança, segurando a coberta com suas mãozinhas firmemente.

– Dylan... – Lukas se aproxima ameaçadoramente.

– Tudo bem, Lukas – me vejo dizendo, não querendo que ele brigue com o filho, que, afinal, não tem culpa de nada. Quem deveria tê-lo impedido era Brittany.

Aliás, que diabos ela estava fazendo ali? Lukas não lhe deu folga?

– Ele pode ficar aqui um pouco, não tem problema – asseguro.

Lukas acaba concordando e sai do quarto puxando Brittany.

– O que está fazendo aqui? Eu lhe dei folga – escuto a conversa no corredor.

– Eu me esqueci. – O quê? Ela estava falando sério? – Acho que estava meio grogue de sono ontem, só me lembrei quando estava chegando aqui, resolvi subir para ver se não precisaria de ajuda mesmo. Dylan estava acordando, decidi ficar e cuidar dele enquanto você não acordava.

– Preciso te repreender por tê-lo deixando entrar no quarto. Você sabia que a Mia estava comigo – Lukas diz com seriedade.

– Eu esqueci. – Meu Deus, ela não podia ser tão cara de pau! – Ele estava chorando todo manhoso e nunca foi problema deixá-lo entrar no seu quarto antes...

– Mia está aqui e você já é adulta para entender que não se entra no quarto de um casal sem antes bater e pedir permissão.

– O Dylan...

– Principalmente com o Dylan.

– Me desculpe, tentarei mantê-lo longe dela enquanto ela estiver aqui se este é um problema...

O quê?

– Não foi o que eu disse! E a Mia não está aqui provisoriamente.

– Não?

– Não, nós vamos nos casar. Ela está morando aqui.

Queria muito ver a cara de Brittany, acho que posso imaginar.

– Nossa! – Ela murmura. – A Alexia sabe?

– Não. Você me disse que ela estava em Aspen, não é? Conversarei com ela quando voltar.

– Ah claro, ela está em Aspen.

– Bom, nós estamos entendidos?

– Estamos.

– E, por favor, a Mia não tem experiência em cuidar de criança, então tenha paciência e a ajude, tudo bem? Posso contar com você?

Eu bufo, irritada.

– Claro que sim – tento não ignorar a falsidade na voz da babá, é difícil. Está claro que não vai com a minha cara e devo imaginar que seja team Alexia Duran.

– Já que está aqui, pode fazer o café do Dylan enquanto nos arrumamos?

– Faço, não precisa nem pedir. Posso ficar com vocês hoje. Só pra ajudar, seria legal.

– Não se importa?

– Não me importo.

Uma mãozinha cutuca meu ombro e me lembro da presença de Dylan, quando olho em sua direção, ele está escondido debaixo do cobertor e escuto sua risadinha infantil.

– Me acha! – ele pede e eu rio.

– Hum, onde estará o Dylan? – Entro na brincadeira e cutuco seu corpinho por cima do cobertor ele ri mais ainda e se descobre com um gritinho.

– Achou!

– Oh, você estava aí, seu danadinho! – Brinco, fazendo cócegas nele, que se contorce, rindo.

Quando levanto a cabeça Lukas está parado na porta e parece surpreso.

– Papai, a Mia me achou! – Dylan explica, ficando de pé e pulando sobre a cama.

Lukas ri e se aproxima, tirando-o de lá.

– Eu percebi, agora vamos tomar seu café.

Eles se afastam, saio da cama e tomo um banho, quando volto Lukas está ao telefone, sentado sobre a cama.

– Está certo. Espero vocês hoje à noite, então.

Ele desliga.

– Estava falando com Richard.

– Eles virão? – Pergunto.

– Sim. Mandei o avião buscá-los.

– Hum, vai ser como cinco anos atrás – digo me lembrando do meu primeiro jantar com sua família. Lukas me puxa pela cintura.

– Nem tudo é como há cinco anos.

Sorrio, enterrando os dedos nos seus cabelos.

– Nem tudo...

– Mia, me desculpe pela invasão do Dylan e da Brittany. Eu já a repreendi.

– Eu escutei – confesso. – Está tudo bem, Lukas.

– Bom, é tudo novo para eles, esta situação.

Franzo o cenho.

– Ter uma mulher na minha cama – ele esclarece.

– Ah é? – Sinto uma satisfação tremenda ao ouvir aquilo.

– Todos teremos que nos adaptar – ele diz se levantando e me puxando pela mão até a cozinha.

Dylan está lá, tomando algo que deve ser leite em uma xícara colorida e Brittany sorri.

Ainda me parece muito falsa.

– Querem que eu prepare algo pra vocês? Panquecas?

– Não, deixe que eu faço – passo por ela e pego os ingredientes na geladeira.

– Mia, prepara a melhor panqueca do mundo Brittany – escuto Lukas dizer.

– Ah é? – O tom de Brittany parece dizer que não acredita muito em Lukas.

– Você não está de folga, Brittany? – Pergunto começando a bater os ingredientes, enquanto Lukas coloca a cafeteira para funcionar, depois sai da cozinha, dizendo que tem que fazer uma ligação.

– Disse ao Lukas que poderia ficar com vocês hoje. Para ajudar, já que não sabe cuidar de criança – Brittany responde.

Respiro fundo.

Ela é só uma adolescente, penso. Ela não deve fazer por mal. Ou faz?

– Sou babá desde os 14 anos – ela diz toda orgulhosa. – Além disso, tenho dois irmãos menores, então sei muito bem como fazer. Pode me pedir algumas dicas...

– Eu me lembrarei – resmungo, colocando as panquecas no fogo.

– Alexia também é ótima com Dylan. – Ela continua e seguro com mais força o cabo da frigideira. – Precisa ver como é amorosa e como Dylan a adora. É horrível para ela se separar dele quando ele está com Lukas, é uma mãe muito dedicada e...

– Está pronto! – Corto, me virando e colocando uma panqueca em seu prato. A vontade é de jogar na sua cabeça oca e puxa-saco de Alexia Duran.

– Hum... a aparência está boa...

– O gosto é ainda melhor – Lukas responde, voltando à cozinha.

Eu lhe sirvo panqueca também e me sento do seu lado.

– Estava dizendo a Mia como Alexia é uma mãe incrível! E... – Brittany recomeça Lukas a corta.

– Brittany, coma sua panqueca.

Ela se cala na mesma hora e não sei o que pensar desta explosão de Lukas.

Dylan acaba de comer e começa a pedir pra sair da cadeira.

Lukas o tira. E, para minha surpresa, ele corre e pula no meu colo sem cerimônia.

– Eu quelo isto, Mia – pede, apontando para minha panqueca.

– Eu não sei... – olho pra Lukas buscando ajuda. Nem faço ideia se ele pode comer!

Lukas ri.

– Pode dar pra ele experimentar.

Corto um pedaço e dou na sua boca ele parece gostar, pois pede mais.

– Está gostoso? – Pergunto e ele acena que sim.

– Gotoso. Mais.

– Eu disse que era a melhor panqueca do mundo – Lukas comenta. – Até o Dylan aprovou.

Simba aparece miando Dylan pega um pedaço de panqueca com as mãos e põe na boca do gato.

– Come Simba.

– Aí já é bagunça demais – rio e limpo a boca de Dylan, que desce do meu colo indo atrás de Simba pelo corredor.

– Vou atrás dele – Brittany some também.

Começo a recolher os pratos da mesa e Lukas me ajuda.

– Acho que podíamos sair o que acha? Tem um parque de diversões que Dylan adora.

– Tudo bem – respondo. – Você deveria dispensar Brittany.

Lukas cruza os braços me estudando enquanto começo a lavar a louça.

– Por que acho que não gosta dela?

– Não é isto. É... ela que não gosta de mim.

– Deve ser impressão...

– Lukas, é sério. Não é possível que não tenha percebido.

– Bom, ela é muito próxima de Alexia... – ele diz com cuidado.

– E Alexia deve ter falado muitas merdas a meu respeito, imagino – digo irritada.

– Não acho que...

– Como pode saber? Assim como não gosto da Alexia, ela também deve me detestar. E é malditamente normal, dadas às circunstâncias!

– Sei que essa situação não é fácil pra ninguém, só que Brittany não pode se transformar em outro problema, Mia. Ela é apenas a babá.

– Por isto mesmo! – Ironizo e espero que ele entenda que Brittany está sendo sim um problema.

Lukas passa a mão pelos cabelos e então responde.

– Vou dizer que ela pode ir embora. Não posso dispensá-la pelo resto da semana porque tenho que trabalhar e Dylan precisa de alguém que cuide dele.

– Claro, eu entendo.

Pergunto-me como vamos conviver sem que tudo se torne um desastre total, mas me calo.

Lukas se afasta. Termino de lavar a louça e encontro Brittany na sala. Ela está recolhendo alguns brinquedos do chão e colocando numa caixa colorida.

– Achei que já tivesse ido embora – não consigo deixar de ser ríspida. Foi ela que começou, oras!

– Sim, Lukas me dispensou – ela diz, se abaixando para pegar um brinquedo embaixo do sofá. – Estou só recolhendo os brinquedos...

Percebo a marca de sua calça e fico surpresa. É de uma grife muito cara. Devia ganhar muito bem pra usar algo assim.

Ela recolhe o último brinquedo e me encara.

– Espero que não fique brava comigo.

– Por que eu ficaria?

– Porque não gosta da Alexia – ela dá de ombros.

– Quem disse que não gosto da Alexia? – Rebato.

– Ah, é meio óbvio, não é? Ela engravidou do seu marido bem embaixo do seu nariz!

– Isto não é da sua conta! – Respondo friamente.

– Claro que não, só estou expondo os fatos. E sei que, você estando de volta e tudo mais, vai ser uma confusão só... Quando Alexia souber...

– Guarde sua opinião pra você – rebato, tentando não perder a paciência com aquela garota insolente. – Você é apenas a babá! Não deve se intrometer em assuntos que não lhe dizem respeito.

– Nossa não precisa ficar agressiva...

Respiro fundo.

– Olha, realmente não quero brigar com você, então vamos manter este assunto de fora.

– Claro, como queira! – Ela fala com desdém pegando sua bolsa. E de novo reparo na marca. Caríssima. Meu Deus, quanto ela ganhava?

Eu a meço dos pés à cabeça e vejo que está muito elegante, de um jeito jovial. Mesmo assim, todas suas roupas parecem bem caras.

Sem falar nada, ela sai fechando a porta atrás de si e respiro aliviada.

Nós nos arrumamos e Lukas diz que vai arrumar Dylan.

– Devo me sentir culpada por pedir que a Brittany fosse embora? – Pergunto, insegura.

– De maneira nenhuma – ele diz com um sorriso. – Prefiro passar o dia apenas com vocês.

Sinto-me um pouco melhor.

Dylan fica quietinho no carro a caminho do parque e, quando chega lá, parece ligado em 220 volts enquanto pula e aponta para tudo falando em sua linguagem infantil a qual eu não entendo nem metade.

– Você entende o que ele fala? – Pergunto a Lukas quando o colocamos num trenzinho que fica girando e Dylan dá tchau todo animado quando passa por nós.

– Algumas coisas, você vai aprender também – ele diz, passando os braços a minha volta beijando meus cabelos, o que me distrai totalmente.

– Mia! – A voz de Dylan me chama e quando olho ele acena. – Olha eu, olha!

Eu rio. Ele era realmente muito bonitinho!

Nós o levamos a vários brinquedos quando saímos do parque, parece muito cansado, pois deita a cabeça no ombro de Lukas, sonolento.

– Vamos pra casa. Provavelmente irá dormir a tarde inteira.

E como Lukas previu, a criança mal mantém o olho aberto, enquanto Lukas lhe dá o almoço. Quando ele o chama pra dormir, Dylan estende os braços pra mim.

– Quelo a Mia.

Surpreendo-me e acho que Lukas também, mas o pego no colo corajosamente. Ele se ajeita em meu ombro.

– O que eu faço? – Pergunto pra Lukas.

– Só o leve para o quarto e coloque na cama.

Ao entrar no quarto, me dou conta que nunca estive ali.

É um quarto muito bonito em tons pastéis com uma caminha com um cercado no meio, onde coloco Dylan.

– Achei que bebês dormissem em berços – comento, enquanto Lukas o cobre.

– Nós trocamos o berço há um mês. Ainda tenho receio que ele possa cair, então colocamos o cercado.

Lukas apaga a luz e voltamos pra sala. É quando meu celular toca e vejo que é o número de minha chefe em Londres, Paula.

– Hum, preciso atender – digo me afastando, porque sei que a conversa com ela não será fácil.

Como previ, Paula fica chateada por eu ter desistido do emprego e, consequentemente, do mestrado que iria fazer.

Até aquele momento não tinha pensando nos fatores práticos de minha escolha de não voltar para Londres.

Quando Paula me faz a pergunta fatal, não sei o que responder.

– E o que vai fazer? Vai arranjar um emprego aí? Posso fazer uma carta de recomendação. E seu mestrado? Em Seattle existem boas faculdades?

– Ainda não sei Paula...

– Não deve desistir, Mia. Fico feliz que esteja se casando, isto não anula o fato de que você tem seus próprios sonhos e objetivos.

– Eu sei...

No fim prometo que voltarei a Londres nos próximos dias para acertar minha saída e ajudá-la a contratar alguém para meu lugar.

Teria mesmo que providenciar minha mudança também.

Quando desligo, volto pra sala e sento ao lado de Lukas, que puxa meus pés para seu colo.

– Era Paula, minha chefe – explico. – Terei que voltar a Londres.

– Não vou fingir que gosto da ideia, Mia.

– Eu teria que voltar de qualquer jeito para organizar minha mudança. Tenho muitas coisas práticas pra fazer.

– Posso contratar alguém pra providenciar tudo.

– Não. Tenho que ajudar a Paula. Devo isto a ela.

Ele não parece satisfeito. Tiro meus pés do seu colo e me aproximo.

– Eu preciso fazer.

Ele me encara, tocando meu rosto. Seu olhar é inseguro.

– Nós dissemos que nunca mais iríamos nos separar.

– Não é uma separação, não seja bobo! – Eu o abraço e ele me leva para seu colo, enterrando o rosto em meus cabelos.

– Tudo bem, eu entendo – diz por fim. – Ainda é difícil vê-la ir e não saber se vai voltar.

Eu o encaro, segurando seu rosto.

– Eu vou voltar.

Ele sorri.

– Se não voltar terei que ir buscá-la de novo.

Eu rio e o beijo.

– Não vai ser preciso.

– Quando vai?

– Amanhã?

– Já?

– Quanto mais cedo, melhor.

– Certo. Pedirei para Megan providenciar sua passagem já que meu avião estará com meus pais.

– Tudo bem.

– E agora, o que vamos fazer enquanto estamos sozinhos? – Ele pergunta e mordo os lábios pensando em mil coisas muitos sacanas.

– Hum... deixarei você escolher...

E assim, alguns minutos depois, eu estou jogando Xbox com meu sexy ex-futuro-marido.

– Nunca mais deixarei você escolher – resmungo, me divertindo enquanto atiro contra a tela e ele ri.

Dylan acorda algumas horas depois e pula no sofá, ainda todo sonolento e, de novo, vem para meu colo, me impedindo de continuar jogando.

Dou de ombros, quando Lukas nos observa, ele ainda parece meio admirado toda vez que Dylan quer ficar perto de mim. Ora, eu mesma me sinto surpresa.

– Ele está apaixonado por você – diz sorrindo, fico vermelha e fito o rostinho de Dylan enterrado em meu peito com cara de mau humor.

– Ele não parece muito feliz...

– Crianças ficam assim quando acordam, às vezes. É normal. Sempre procuram alguém que lhes é familiar e seguro. Quer dizer que ele confia em você.

Sorrio, me sentindo quase emocionada e passo os dedos por seus cabelos. Ele abre um sorriso pra mim e meu coração se aquece de um jeito muito parecido com o do pai dele quando sorri pra mim.

– Acho que estou me apaixonando por ele também – murmuro para Lukas e seu sorriso de satisfação é tão lindo que me deixa feliz também.

Sem pensar, me inclino e beijo sua boca.

– Não... – Dylan reclama e me afasto de Lukas rindo. – Ela é minha! – Ele abraça meu pescoço todo possessivo. – É minha Mia.

– Ah, Deus, tenho um concorrente – Lukas sorri, olhando para nós com amor.

Dou de ombros, apertando Dylan e de repente algo muito insano passa pela minha cabeça.

Uma imagem, um desejo, que achei que nunca teria. Que agora se forma em minha mente com muita força.

Encaro Lukas.

– Quero ter um filho com você.


Capítulo 4


Mia

 

Assim que as palavras escapam da minha boca, me sinto tão abismada quanto Lukas parece estar.

Por alguns segundos atordoantes, nós apenas nos encaramos sem dizer nada e me sinto mais confusa do que nunca.

Eu tinha realmente dito aquilo? Ou melhor, eu queria realmente aquilo?

Nunca tinha pensando em ter filhos antes. E, obviamente, não houve nenhum plano quando me casei com Lukas da primeira vez, considerando-se que era somente um contrato com fim pré-determinado.

E quando estivemos momentaneamente juntos no Havaí, estava tão loucamente apaixonada e envolvida que só pensava naquele momento.

Depois, tudo se transformou num inferno, quando descobri que Lukas teria um filho com Alexia. E passei anos sofrendo tentando evitar este fato. Agora eu tinha o filho deles no meu colo, me abraçando com seus bracinhos e me chamando de "minha Mia".

E era extremamente surpreendente que eu não tivesse nenhuma aversão ao fato, muito pelo contrário, estava gostando de tê-lo enroscado em mim num arroubo de possessividade infantil.

Era quase como se eu sentisse como seria se ele fosse nosso filho.

Mas ele não era.

E, nesse momento, estou aguardando a reação de Lukas depois de expressar meu súbito desejo.

Mas a resposta não vem.

Em vez disto, Dylan sai do meu colo e pula para o de Lukas, resmungando algo parecido com "fome, papai, me dá comida". Vejo como num filme, Lukas se levantar com ele e ir pra cozinha, me deixando sozinha perdida com meus novos e surpreendentes desejos.

Duraram poucos segundos aqueles tensos momentos em que as minhas palavras pairaram sobre nós, num silêncio sem nexo, foi o bastante pra uma dúvida dolorosa se instalar em minha mente.

Lukas não havia respondido.

Ok, não houve uma negativa, também não aconteceu um entusiasmado: "Sim, também quero ter filhos com você".

O que o significava? Que ele não queria?

Será que Dylan era o suficiente para ele? Amava tanto o filho que não sentia necessidade de ter outros?

Comigo?

– Mia? – Escuto sua voz me chamando na cozinha, hesito um pouco, atropelada pelas minhas recentes angústias.

Lukas não queria ter um filho comigo?

– Mia? – Ele chama de novo, agora com um tom de preocupação e me levanto indo até a cozinha onde Dylan brinca com o gato, esperando pacientemente sua comida que Lukas esquenta no microondas.

– Está com fome? Quer comer alguma coisa? Ou prefere ir se arrumar enquanto dou comida ao Dylan? – Lukas pergunta, enquanto se mexe colocando a sopa de Dylan num prato.

– Não estou com fome – murmuro e ele então me encara. Vejo uma centelha de preocupação quando seu olhar pousa no meu.

Ah, só agora que ele se tocou que fiz uma declaração bombástica e ele fugiu sem reação alguma?

Vejo seus dedos nervosos passarem pelos cabelos e sei que tem mil coisas passando por sua mente, pela sua postura, também sei que não vai falar agora.

Ok, talvez também esteja tentando entender seu próprio assombro. Afinal, não poderia culpá-lo de estar espantado com minha confissão, já que eu mesma estava um tanto quanto chocada.

Decido recuar, por enquanto.

Talvez nós dois precisássemos avaliar melhor minhas palavras.

– Vou tomar um banho e me arrumar.

Coloco um vestido preto, pois imagino que será algo formal, em se tratando da família de Lukas. Tenho vontade de rir enquanto seco meu cabelo me recordando da dificuldade que foi para minha mãe, me colocar num vestido em meu primeiro jantar com a família de Lukas.

– Por que está rindo? – Lukas entra no banheiro e começa a tirar a roupa.

– Estou me lembrando de como minha mãe sofreu para me arrumar no meu primeiro jantar na sua casa.

– Ah – ele sorri como se estivesse se lembrando. – Você parecia muito pálida e assustada. Também foi a primeira vez que a vi sem o capuz.

– Eu estava assustada, acredite. – Afirmo, jogando meu cabelo para frente para secar embaixo e, quando jogo para trás, Lukas continua atrás de mim e seu olhar captura o meu pelo espelho.

Meu coração erra um compasso.

– Eu nunca tinha visto seu cabelo, estava sempre de capuz. Você chegou com os cabelos presos, lembro de ficar curioso sobre eles. Só os vi mesmo quando entrei no quarto no dia do casamento e você estava surtando com o vestido de noiva que Taylor a obrigou a usar. Eu a achei... linda. – Ele se aproxima de mim, seus dedos roçando a lateral dos meus braços delicadamente. – Era como se, aquela Mia adolescente com cabelos escondidos sob um capuz preto, tivesse desaparecido e, no lugar dela, aparecesse uma moça linda de pele tão branca que rivalizava com o tom do vestido cheio de tule e cabelos flamejantes que dançavam em volta do seu rosto corado pela irritação. E seus cabelos... – sinto um arrepio descer por minha espinha quando seus dedos tocam meus cabelos quase reverentemente. –... Sem dúvida, os cabelos mais bonitos que já tinha visto, meus dedos chegaram a coçar de vontade de passar por entre os fios para ver se eram tão macios quanto pareciam. – Ele faz exatamente isto por um momento, enquanto aproxima o nariz do alto da minha cabeça e me cheira, fechando os olhos. Meu coração está disparado ao me lembrar daquele dia tão perdido no tempo e nem podia imaginar que se sentia assim, quando eu mesma nem conseguia entender o começo do meu fascínio por ele.

Quando abre os olhos, está sorrindo e suas mãos estão colocando meus cabelos recém-escovados de lado para beijar meu pescoço e me derreto no seu corpo nu atrás de mim.

Me pergunto se haveria tempo para ele tirar minha roupa e me levar para o chuveiro com ele, para eu pedir que faça todas as coisas sacanas que estão passando pela minha cabeça neste momento.

– Deixe seus cabelos soltos – ele diz dentro do meu ouvido e me premia com mais um beijo atrás da minha orelha antes de se afastar para o chuveiro.

Respiro fundo e desligo o secador que só agora percebo que continua em minhas mãos.

– Onde está Dylan? – Limpo a garganta e consigo voltar ao modo prático de pensamento que não inclui "fazer sexo agora com Lukas".

– Está vendo desenho na TV. Depois que me arrumar, cuidarei dele.

– Eu posso fazer isto – digo sem pensar.

– Hum... Acho melhor deixar comigo... – Lukas parece indeciso. Eu teria que aprender, não é? Então decido ser corajosa.

– Deixe comigo.

Acabo de ajeitar o cabelo e saio do banheiro.

Dylan está quietinho assistindo o rei leão na TV.

– Ei Dylan, vamos tomar um banho?

– Simba! – Ele aponta pra TV.

– Eu sei você pode assistir depois. Venha...

– Não, quero ver o Simba – ele está irredutível.

E agora?

Pensando rápido, pego Simba, o gato, não o leão, que está zanzando pelo chão e espero que sirva de chamariz.

– Olha Dylan, vamos dar banho no Simba?

Ele franze a testa, confuso.

– Vamos colocar o Simba na água? – Digo animada e ele se empolga também.

– Vamos!

Eu o levo para o banheiro e encho a banheira depois não é difícil tirar sua roupa.

Simba já fugiu, ele não gosta nem um pouco de água, acho que Dylan também já esqueceu, pois parece feliz de entrar na banheira que está cheia de bichinhos de plástico.

Ele sorri me mostrando os brinquedos e falando coisas das quais entendo apenas "patinho", enquanto tento ensaboá-lo sem me molhar.

E estou quase me congratulando pelo sucesso, quando ele bate suas mãos de repente, espalhando água por todo lado, inclusive em mim.

– Dylan, não faça isto!

Ele ri, achando muito divertido e continua a bater a mão na água.

– Agora chega, vamos sair – digo, tentando não pensar que terei que trocar de roupa e ajeitar os cabelos de novo.

– Não!

– Dylan, por favor... – choramingo, tirando a água com sabão que respingou no meu olho. Dylan não se comove, pois continua a brincar com a água despreocupadamente.

E é assim que Lukas nos encontra momentos depois.

– Falei que era melhor eu cuidar disto. – Lukas ri, se aproximando com uma toalha tirando Dylan da banheira, ignorando seu esperneio e o levando para o quarto.

Vou atrás, parecendo um pinto molhado e humilhada.

Lukas pousa o olhar em mim e ri.

– Não é engraçado – resmungo.

– É sim. Vá se trocar. Eu termino de arrumá-lo.

Bufo e volto para o quarto, colocando um vestido verde que Christina me deu no Natal. Quase nunca o usava porque o achava muito curto e extravagante. Era bonito. Só Cristina para lembrar de colocar vestidos elegantes em uma mala feita às pressas.

Volto de novo para o banheiro e ligo o secador, num gesto de pirraça prendo o cabelo num coque baixo. Isto era por Lukas ter rido de mim.

Eu os encontro na sala quando saio, Dylan parece um pequeno gentleman vestido com um terninho social que parece bem caro.

– Meu Deus, ele parece um minipríncipe – comento admirada e Lukas sorri.

– A mãe dele gosta de gastar dinheiro com estas coisas, como deve imaginar.

Tento não colocar o dedo na garganta quando escuto sua menção a Alexia, me contenho.

Teria que me acostumar com o nome dela bailando a nossa volta, afinal.

– Ele está lindo – me aproximo e ajeito seus cabelos, que parecem tão rebeldes quanto os de Lukas neste momento.

Lukas se abaixa e sussurra algo em seu ouvido.

Dylan estende os braços pra mim.

– Me pega, Mia.

Eu o pego no colo, ele sorri satisfeito e, sem que eu possa imaginar qual sua intenção, estende as mãos desmanchando meu cabelo.

– Dylan! – Reclamo e escuto a risada de Lukas fazendo eco com a de Dylan quando ele abre a porta para sairmos.

– Eu falei para deixar os cabelos soltos.

Reviro os olhos sem conseguir ficar séria.

Ainda mais quando Dylan decide me dar beijos molhados no rosto enquanto ri e acha muito engraçado.

Deus, ele era muito lindinho. Se continuasse neste ritmo, seria pior que Lukas com as garotas quando crescesse.

Rio deste pensamento. Ah não, elas não teriam a menor chance se Dylan sorrisse assim, penso divertida.

– O que é tão divertido? – Lukas pergunta, tirando Dylan do meu colo e o colocando na cadeirinha no banco de trás do carro.

– Estou pensando no quanto seu filho é irresistível. Vai ser um terror com as garotas – rolo meus olhos.

Lukas ri quando entramos no carro.

– Espero que seja mais esperto na hora de conquistar a garota certa – diz, quase que pra si mesmo.

Nós chegamos à casa do lago e há vários carros estacionados no jardim. Começo a me sentir meio nervosa. O que a família pensaria daquele nosso noivado?

Será que seria tão contundente como foi o anterior?

Mary aparece toda sorridente.

– Olha, chegaram, finalmente!

Dylan corre em sua direção e Mary o pega no colo.

– Que saudade do meu lindinho! Oi, Mia, como está bonita – Mary diz.

– Obrigada...

– Entrem! Vou ficar com este garotinho, se não se importam, enquanto acabo o jantar.

– Seria um alívio – Lukas brinca e Mary desaparece pela porta dos fundos com Dylan.

Lukas segura minha mão.

– Pronta?

Aceno positivamente e nós entramos na casa.

Escuto vozes vindas da sala de visitas e a de Taylor se sobressai às outras.

– Não via a hora de estarmos de volta a Seattle. A Austrália é tão quente! É impossível usar um belo casaco de inverno... Ei, aí estão vocês! – Ela nos vê e para sua tagarelice.

Vários pares de olhos estão presos em nós.

Erin e Richard estão sentados num sofá e sorriem quando nos veem, então trocam um olhar que parece surpreso e feliz.

Denise está abraçada a Paul perto da janela, que sussurra alguma coisa em seu ouvido e pisca pra mim com malícia. Enquanto ela parece ter um olhar de: "sério isto?"

Evan ostenta um sorriso discreto e sábio no rosto, Taylor parece que vai desmaiar e tem até a mão no coração.

Então vejo mais duas pessoas na sala que não esperava de maneira alguma.

Jack e Danielle estão lá também. Ela está usando um vestido preto, que contrasta com sua pele muito pálida e com olheiras. Parece mais magra do que a última vez que a vi. Definitivamente está abatida e com cara de que vai vomitar a qualquer momento, Jack está de pé atrás dela, segurando um copo de whisky, tão bonito como antes, sorrindo do mesmo jeito sarcástico.

Que diabos eles estavam fazendo ali?

– Vocês estão juntos? – Taylor quebra o silêncio, vindo em nossa direção. – Quer dizer, eu sabia que estava por aqui e achei meio estranho este pedido do Lukas para o jantar fiquei curiosa para saber o motivo, mas... ai meu Deus...

– Taylor, pare de falar um minuto – Evan pede.

– Sim, acho que estou vendo algo brilhando na mão da Mia. – Denise diz se aproximando e segurando minha mão. – Como deduzi. Anel de noivado.

Taylor solta um grito.

– É sério? É sério? Ai meu Deus!

– Sim, Taylor – Lukas concorda com um sorriso. – Eu e Mia estamos noivos.

– Desta vez é de verdade ou é mais um contrato maluco? – Denise pergunta com ironia.

– É de verdade – Lukas não perde o humor para responder.

– Parabéns meus queridos – Erin se levanta seguida de Richard e somos sufocados por abraços.

Então braços estranhos estão a minha volta e me afasto rapidamente ao reconhecer Jack.

– Meus parabéns – ele diz com um sorriso que não chega aos olhos. Seu hálito cheira a whisky.

– Obrigada – olho em volta. Danielle continua no mesmo lugar e Lukas parece ter sumido de vista.

– Você está muito bonita, Mia. Devo dizer que esta temporada em Londres lhe fez bem.

– Não sabia que viriam – digo sem me conter.

Ele dá de ombros.

– Eu não perderia por nada.

– Ainda não entendi.

– Hum, Lukas contou a Danielle seus lindos planos então a convenci a pedir Lukas para virmos celebrar também. Afinal, somos quase família, não é?

– Está falando sério? – Não posso acreditar nas asneiras ditas por Jack. Será que está bêbado? – Danielle não me parece bem – observo.

– Ela não anda muito bem mesmo – ele parece irritado. – Estou de saco cheio desta merda!

– Mia – respiro aliviada ao ouvir a voz de Lukas e, em seguida suas mãos estão a minha volta, tirando-me do alcance de Jack. – Jack é melhor você ir cuidar de sua esposa e deixar a minha noiva em paz!

– Sempre possessivo, não é, Lukas? – Ele sorri tomando mais um gole de sua bebida, mas se afasta.

– Estou surpresa de vê-los aqui – murmuro.

– Danielle é minha amiga de longa data. Ela manifestou vontade de estar presente quando contei que seria nosso jantar de noivado.

Eu me pergunto se Lukas sabe que foi Jack que quis vir, imagino que não.

– O jantar está pronto – Mary nos chama e todos seguimos para a sala de jantar.

– Onde está Dylan? – Pergunto.

– Com Mary. Ele ficará agitado com tanta gente à volta para mimá-lo. Depois que comermos ela o trará.

– Que lindo vestido, Mia. – Taylor comenta.

– Sim, muito diferente do vestido de enterro do primeiro jantar! – Denise ri.

– Nem me lembre! – Taylor faz cara de horror. – E, por favor, me diga que desta vez vai deixar que eu organize um casamento lindo para vocês!

Lukas olha pra mim com um sorriso.

– A Mia decide.

– Por favor, Mia, deixa! – Taylor pede feito uma criança e não consigo deixar de rir.

– Claro que sim.

Taylor bate palmas, entusiasmada.

– Ah, vai ser maravilhoso...

– Você não está morando na Austrália?

– Não soube? Estamos voltando! Evan vai dar aula numa escola de Seattle, estamos procurando apartamento.

– Espero que encontrem logo e saiam da minha casa. – Denise resmunga.

– Não seja chata!

– Chata é você que não se toca e...

– Meninas, não briguem – Richard pede.

– Ouvi dizer que tinha um bom emprego em Londres, Mia. – Erin comenta – uma universidade, não é?

– Sim. Voltarei para lá nos próximos dias para me demitir e cuidar da minha mudança.

– Quem diria que iria acabar como nós, hein? – Denise brinca com seu sarcasmo habitual. – Nunca pensei que iria se contentar em ser uma dondoca como Taylor e eu.

– E não vou – corto-a, sem pensar.

– Ah não? Pensa em trabalhar então? – Denise continua e percebo todos os olhares curiosos sobre mim.

E o que vou responder? Não faço ideia!

– Eu...

– Deixem a Mia em paz – Lukas pede. – Danielle, você está bem?

Graças a Deus todos olham para Danielle agora, que parece verde.

– Não, me desculpem – ela levanta e se afasta pelo corredor. Jack parece não ter pressa em se levantar com cara de enfado e ir atrás dela.

– Nossa qual o problema dela? – Taylor pergunta.

– Acho que foi vomitar – Denise faz cara de nojo.

– Esta menina não está bem – Erin diz. – Richard, será que deveria ir vê-la?

– Dever ser só uma indisposição – Lukas comenta. – Megan acha que ela está grávida.

– Ah, isto explica muita coisa – Erin sorri.

Todos continuam a comer, quando terminamos, Danielle e Jack ainda não apareceram.

Dylan é trazido por Mary, como Lukas falou se torna o centro das atenções e fica fazendo gracinhas para chamar ainda mais a atenção pra si.

Sigo para o banheiro e, quando estou chegando lá, escuto a voz de Jack no corredor.

– Estou farto desta merda, Danielle!

– Jack, não fale assim... – ela está chorando?

– Pare de chorar! Não queria ter que te aguentar deste jeito e você sabia... Já tenho problema demais!

Meu Deus, por que ele falava assim com ela?

– Você está descontrolado, Jack, a culpa não é minha...

– Cale a boca!

Bom, já era demais pra mim.

Eu me aproximo batendo os saltos no chão para denunciar minha presença.

Danielle está com o rosto vermelho de tanto chorar.

– Danielle, está tudo bem?

– Está sim. Desculpe-me. Eu e o Jack já vamos.

Ela passa por mim, se afastando.

Jack continua nervoso.

– Estava sendo muito grosseiro com ela. É obvio que ela não está bem...

– Meta-se com a sua vida! – Ele resmunga ao passar por mim e se afastar também.

Volto pra sala quando Danielle e Jack já foram embora, o que é um alívio. Sinto muita pena por Danielle estar sendo tão maltratada por Jack, ainda mais quando, aparentemente, pode estar grávida.

– Tudo bem? – Lukas pergunta.

– Sim, vi Jack e Danielle brigando – murmuro.

– Danielle não deveria ter se casado com este idiota.

– Será que ela esta grávida?

– Não sei.

– Ei, nós já vamos – Richard diz e todos se despedem. Dylan está dormindo no sofá quando voltamos pra sala.

– Acho que devemos ir embora também – Lukas diz.

– Pensei que fôssemos dormir aqui.

– As coisas de Dylan estão no apartamento – Lukas o carrega e nós nos despedimos de Mary que me abraça forte e me parabeniza pelo noivado.

Quando chegamos ao apartamento, ele coloca Dylan para dormir enquanto tiro o vestido e coloco uma camiseta sua. Em vez de ir pra cama eu o espero na sala.

Ele parece surpreso quando retorna e me encontra lá.

– Achei que tivesse ido dormir.

– Temos que conversar.

Ele passa a mão pelos cabelos e se senta ao meu lado.

– Você não falou nada quando falei que queria ter um filho – murmuro.

– É um assunto que precisamos conversar. E acho que é cedo. – Lukas diz com cuidado. – Fiquei surpreso que tenha falado sobre isto. Você ainda está se acostumando com Dylan. Até poucos dias nem o aceitava.

– Estou aceitando agora. Mais que isto, gosto realmente dele! Porém ele não é meu filho e... – percebo meu erro assim que vejo o olhar sombrio de Lukas e me arrependo na hora. – O que eu quero dizer é...

– Mia, seja sincera comigo. Esta sua súbita vontade de ter um filho tem a ver com alguma competição com Alexia?

Sinto meu rosto corar de raiva.

– Pensa realmente assim? Claro que não! Será que não posso ter o desejo de ter um bebê com você? Por que minha vontade tem que ser um problema? Ter um bebê com a Alexia não foi!

– Meu Deus, Mia, não distorça minhas palavras! Não disse que não quero ter um filho com você!

– Então por que estamos discutindo?

Antes que ele possa responder, escutamos Dylan chamando-o no quarto.

– Ele acordou – Lukas se afasta para cuidar dele.

Demora um pouco para eu conseguir respirar normalmente e controlar minha raiva.

E a decepção.

E o ciúme.

Não queria me sentir assim, infelizmente era inevitável.

Talvez Lukas tivesse razão e havia realmente uma necessidade em mim de competir com Alexia de igual para igual.

Porém eu sei que, bem lá no fundo, não se trata apenas disto.

Realmente quero ter um bebê de Lukas.

Lukas retorna algum tempo depois e me abraça.

– Vamos ter um bebê. Se for o que você quer – diz em meu ouvido, me surpreendendo.

Eu o encaro.

– Por que mudou de ideia?

– Porque tenho medo de que nunca se sinta segura o suficiente comigo e queira me deixar.

– Você tem que parar de achar que eu vou embora. Todas as vezes que parti, foi porque você quis assim!

– Nunca mais vou querer que vá. Quero fazê-la feliz e se isto a faz feliz...

– Não quero o que me faz feliz, precisa ser bom para nós dois. E você não me parece feliz com a ideia.

– Você acha que eu não gostaria de ter um bebê com você?

– Não sei... – digo insegura.

– Só acho que faz apenas dias que estamos juntos, Mia. Você está se acostumando com Dylan. Não quero apressar nada. Nós temos muito tempo. Temos o para sempre.

– Então você gostaria?

Ele sorri.

– Algumas vezes, enquanto cuidava de Dylan quando ele era pequeno, imaginava como seria se ele fosse nosso filho. Queria realmente que ele fosse nosso. Então imaginar você grávida, ter um bebê parecido com você, eu quero muito, mas...

– Não agora – completo.

– Vamos conversar sobre o assunto depois do casamento, o que acha?

– E quando vamos nos casar?

Ele sorri.

– O mais breve possível.

– Gosto disto.

E nada mais é dito, então ele me beija e me leva pra cama.

Acordo ouvindo o choro de Dylan. Lukas está enroscado em mim, dormindo profundamente. Será que deveria acordá-lo? Ele estava dormindo tão pesado...

Eu me desvencilho e levanto. Encontro Dylan sentado na cama com o rosto vermelho.

– Ei, por que está chorando? – Ele estende os bracinhos pra mim e o pego no colo. – Shi, não precisa chorar...

– Embaixo da cama... – murmura em meio ao choro.

– O que foi? O que tem debaixo da cama?

– Tô com medo...

– Ah, não tenha medo. Vou ver o que tem embaixo da cama.

Eu olho e rio ao ver Simba escondido ali e o arrasto pra fora.

– Vê? Foi o Simba que te assustou!

Dylan soluça baixinho.

– Simba?

– Sim, não precisa ter medo! Ele estava brincando. Acho que Simba queria dormir com você. Por que não se deita e fecha os olhos?

Dylan gruda no meu pescoço de novo.

– Dome comigo, Mia.

– Tudo bem, fico com você, está bem?

Deito e ele me abraça. E até Simba se ajeita do meu lado.

Meu último pensamento é que eu não sentiria falta somente de Lukas quando fosse para Londres. Sentiria muita falta daquele garotinho também.


Capítulo 5


Lukas

 

A primeira coisa que noto ao acordar de manhã é a ausência de Mia.

Por um momento a angústia me invade. Fazia pouco tempo que estávamos dormindo juntos, porém já havia me acostumado tanto que achava estranho não acordar com ela.

Jogo as cobertas para o lado e vou a sua procura, depois de procurá-la em todo canto do apartamento a encontro num lugar inusitado. O quarto de Dylan.

Mia está dormindo na pequena cama de Dylan, que tem seus bracinhos firmemente enroscados nela. Sorrio com a cena, ainda maravilhado que as duas pessoas mais importantes da minha vida estejam se apaixonando tão rapidamente. Ter Mia e Dylan juntos era algo que nem ousei sonhar um dia.

Por muito tempo fiz de tudo para separar os dois, pois achava impossível que pudessem conviver. Sempre pensei que teria que escolher. E escolhi. Mandei Mia embora porque Dylan era meu filho e precisava de mim.

Só que eu precisava de Mia, e mantê-la longe foi como viver sem um órgão vital. Agora ela estava ali, abraçando meu filho junto ao peito como se fosse dela.

Ah, como desejei isto nos meus mais secretos sonhos, que não tivesse me envolvido com Alexia e tido coragem de assumir meus sentimentos por Mia. Dylan poderia ser nosso filho.

Mia disse que queria ter um filho. Um filho nosso.

Não posso negar que aquela afirmação me pegou de surpresa. Ainda mal acreditava que ela estava comigo de verdade e para sempre. Que tínhamos passado por todos os obstáculos que foram se interpondo através dos anos para podermos, enfim, nos unir de verdade.

Minha preocupação maior era que Mia se adaptasse a Dylan e ele a ela, então ainda não havia chegado àquele pensamento sobre ter nossos próprios filhos. Também fiquei com medo que Mia estivesse desejando um filho pelos motivos errados. Por insegurança em relação à Alexia, e ou por ciúme de Dylan.

Agora, vendo-a abraçada a ele começo também a desejar ter um bebê meu e dela. Para que eu possa amar desde quando estiver em sua barriga e que se pareça com Mia em todos os sentidos.

Mia será uma mãe maravilhosa, Dylan já começou a se apegar a ela neste sentido.

Por isto mesmo não desejo precipitar nada. Haverá tempo. Temos o futuro inteiro pela frente.

– Papai? – Dylan abre seus olhinhos confusos e me vê.

Sorrio e coloco o dedo sobre a boca.

– Shi, não acorda a Mia.

Dylan olha para o lado e vê Mia, que dorme um sono pesado e imita meu gesto.

– Shi, não acoda a Mia.

Eu rio, quando ele a cobre e beija seu rosto.

– Boa noite, Mia.

– Venha, vamos deixá-la dormir – eu o puxo e saímos do quarto.

Estou ao telefone providenciando tudo para a viagem de Mia para Londres, quando Brittany entra.

Ela acena e Dylan corre para ela, mostrando algo tagarelando em sua linguagem infantil e os dois desaparecem pela cozinha.

Quando desligo, os sigo e Brittany está preparando o café da manhã dele.

– Bom dia, Brittany, tudo bem?

– Sim, tudo ótimo. Aproveitei bem a minha folga ontem.

– Que bom.

Ver Brittany me faz pensar em Alexia. Preocupo-me com sua reação a respeito de Mia e eu estarmos juntos. Sei que preciso conversar com ela o mais breve possível.

– Tem falado com Alexia? – Pergunto enquanto Brittany serve Dylan.

– Sim, ela está morrendo de saudade do Dylan! Liga todos os dias para perguntar dele! – Diz, sorrindo.

– Quando ela volta?

– Quando Dylan voltar pra casa, claro.

– Por acaso você comentou algo sobre Mia?

– Não, acho que é melhor você falar. E olha Lukas, não quero ser atrevida nem nada, mas tem certeza que vai casar com esta garota? Eu não confio nela com o Dylan sabe e...

– Brittany, pare agora – eu a corto.

– Mas...

– Não. Não me interessa com o que Alexia andou enchendo sua cabeça sobre a Mia, não quero mais que a destrate ou que fale mal dela pelas costas.

– Não estou fazendo...!

– Está sim, sabe muito bem – a advirto. Mia tinha razão. Brittany realmente parecia ter algum tipo de aversão a ela. E eu bem podia imaginar por quê. – Você está aqui para cuidar do Dylan e não para fazer intriga. Só não te dispenso, porque é uma boa babá.

– Me desculpe, realmente não queria ofender a Mia, nem nada... – Brittany recua.

– Tudo bem, este assunto está encerrado, espero que tenha entendido.


****


Estamos no aeroporto há algum tempo, esperando o voo ser chamado e o tempo inteiro permanecemos em silêncio. Eu a mantenho junto a mim, aspiro seu cheiro peculiar e o guardo na memória para os dias áridos que viriam com sua ausência. Também tento não ficar apavorado com aquela partida.

Ela ia voltar desta vez.

Tenho que me acostumar com a nova ordem das coisas. Suas partidas serão temporárias, nunca permanentes. Preciso acreditar nisto para não arrastá-la dali e amarrá-la a minha cama e nunca mais deixá-la ir a lugar algum sem mim.

Seu voo é chamado e ela suspira, suas mãos se prendem em minha nuca e encosto minha testa na sua.

– Tenho que ir.

– Não quero vá – murmuro e ela sorri.

– Voltarei logo.

– Vai parecer uma eternidade.

– Acha que pra mim é diferente? – Ela abre os olhos se afastando um pouco, reluto em libertá-la.

O voo é chamado novamente e resmungo um palavrão baixo, finalmente a soltando, minhas mãos continuam segurando as dela até o terminal de embarque, onde dou um último beijo em sua boca e a deixo ir, sufocando a onda de medo que ameaça me afogar quando a perco de vista.

Ela ia voltar.

Ou eu teria que buscá-la onde quer que fosse.


****

Danielle aparece aquele dia no escritório mais pálida do que nunca. Eu a observo, enquanto ela me mostra alguns relatórios como se nada de mais estivesse acontecendo, até que dou um basta naquela situação.

– Dani, o que está acontecendo?

Ela me encara.

– O quê?

– Você está horrível. Faz dias que está passando mal, anda pálida e abatida. E ontem Mia me disse que estava discutindo com Jack.

Ela desvia o olhar.

– Não era nada...

– Acho que tem algo grave acontecendo.

– Não é nada, Lukas, só estou estressada com alguns problemas.

– Você está grávida?

Ela dá de ombros.

– Não sei. Minha mãe acha que sim.

– E por que ainda não foi fazer um exame para confirmar?

– Estou com tanta coisa na cabeça, se ficar grávida agora... – ela suspira pesadamente. – Simplesmente não é um bom momento...

– Por que não?

– Eu e Jack estamos tendo problemas... – ela diz relutantemente.

– Que tipo de problemas? No casamento?

– Não é bem no casamento só que acaba resvalando nele sim...

– Qual é o problema, Danielle? – Insisto.

Ela hesita por alguns instantes, então me fita com um olhar angustiado.

– O Jack está falido.

– Falido? – Eu sabia que Jack tinha aberto um negócio que, sinceramente não sabia do que se tratava. Como não gostava de Jack nunca fiz questão de saber nada a seu respeito, somente o que Danielle me contava. Então fiquei até de certa forma, aliviado, quando há alguns anos, ela me contou que finalmente um de seus investimentos duvidosos tinha dado certo. Pela conversa de Danielle, ele parecia estar indo bem todos aqueles anos, o que me fez imaginar que não era totalmente um fracasso. Pelo bem de Danielle era bom que não fosse. Agora começava a acreditar que minha primeira impressão era mais verdadeira.

– Sim, o negócio dele ia bem, de um tempo pra cá... começou a dar errado... Acho que vamos perder tudo...

– Por que não me contou antes? Talvez eu pudesse ajudar de alguma maneira.

– Não! Jack jamais permitiria.

– Sei que nunca nos demos bem, mas por você eu até poderia ajudar. Poderia verificar o que está acontecendo, que erros ele cometeu.

– Jack jamais aceitaria que justamente você visse seus erros.

– Aparentemente ele não está em condições de ter este tipo de orgulho idiota.

– Você não conhece o Jack como eu conheço...

– Você está sofrendo com a situação, está definhando Dani...

– Vai ficar tudo bem. Tenho certeza que Jack vai dar um jeito.

– Ele está descarregando em cima de você – digo irritado.

– Ele só está nervoso. Vai passar. Ele sempre dá um jeito. Jack é um lutador.

– Eu quero ajudar...

– Não. Por favor, Lukas, fique fora disto. Eu e Jack daremos um jeito. Ele nem pode ficar sabendo que te contei.

– Certo. Não quero te trazer mais problemas. Agora, por que não vai pra casa descansar ou aproveita para consultar um médico?

– Tenho trabalho a fazer aqui...

– Não se preocupe. Vá pra casa.

Ela relutantemente sai e chamo Wilson.

– O que foi? – Wilson pergunta quando entra na sala e conto a ele sobre Jack.

– Este cara sempre me pareceu muito estranho.

– Ele é um idiota, estou muito preocupado com a Danielle.

– E o que quer que eu faça?

– Quero que investigue a empresa dele. Descubra tudo o que puder e me faça um relatório.

Assim que Wilson sai da sala, Megan me liga.

– Lukas, uma ligação para você, é a mãe da Mia.

Suspiro, meio irritado. Não estava com a menor disposição para falar com Andrea. Mas o que eu podia fazer?

– Tudo bem, pode passar.

– Lukas, como vai? – Andrea pergunta animada.

– Estou bem, Andrea e você? – Me pergunto o que ela quer comigo. Andrea não é o tipo de mulher que bajula à toa.

– Ah, com alguns probleminhas... não liguei por isto e sim para saber se é verdade que você e Mia irão se casar de novo.

– Você conversou com a Mia?

– Não, ela não me ligou mais. Acho que ainda tem algum ressentimento... E não quero pressioná-la. Ontem liguei para a amiga dela lá em Londres, a Christina, para saber como Mia estava. Porque, embora possa não parecer, eu me preocupo com a minha filha. Christina me disse que ela ainda estava em Seattle porque iam se casar de novo! Fiquei chocada!

– Sim, é verdade.

– Então vão se casar de verdade agora? Quem diria...

– Andrea, se foi só pra isto que ligou estou ocupado no momento...

– Na verdade, queria saber se, agora que vão se casar de novo... bom, seremos parentes, não é? Eu e Mark estamos com alguns problemas financeiros...

Ah aí está. O verdadeiro motivo de toda a conversa fiada de Andrea.

– O que você quer Andrea? Vá logo ao ponto.

– Eu queria um empréstimo. Juro que iremos pagar. O Mark está prestes a conseguir um novo emprego, mas...

– Tudo bem. Fale com minha secretária, ela cuidará de tudo.

– Ah, obrigada, Lukas! Eu sabia que nos ajudaria!

Desligo, cansado de sua conversa interesseira e olho o relógio, contando as horas para poder ligar para Mia em Londres, finalmente.


Mia

 

Chego a Londres à noite.

Sinto uma leve nostalgia e alguma saudade quando o táxi me transporta pelas ruas da cidade. De certa forma, fui feliz ali. Pelo menos o quanto era possível.

Foi onde realmente comecei a viver minha vida adulta, me senti útil no meu trabalho e paguei minhas contas. Onde fiz planos para o futuro e acreditei que poderia realmente ficar em paz comigo mesma.

Acreditei de verdade que esqueceria Lukas.

No entanto, contrariando todas as expectativas, estava com Lukas. Era ele que faria parte do meu futuro.

E o que mais?

Enquanto estávamos juntos, na nossa pequena bolha de felicidade recém-conquistada, não pensava mais em nada. Não precisava de mais nada.

Ali em Londres, a cidade onde fui alguém, não apenas a noiva de Lukas Constantini, me perguntava o que faria da minha vida, além de amá-lo.

Suspiro, quando o carro para em frente a meu antigo endereço, pago o taxista e subo as escadas. Terei que pensar nisto com cuidado. Também precisarei conversar com Lukas. Antes do casamento ou depois? Pergunto-me, indecisa, não querendo trazer nenhuma discussão desnecessária à nossa recém-conquistada paz, enquanto abro a porta com a minha chave.

O apartamento está silencioso, aspiro o cheiro do incenso de Christina com um sorriso no rosto. Eu senti falta.

– Christina? – Chamo-a entrando e fechando a porta atrás de mim deixando minha pequena bolsa de viagem no sofá.

Não há resposta. Vou para a cozinha e rio ao ver a louça para lavar então reparo na mesa, onde duas taças de vinho repousam.

Será que Christina tinha companhia?

Fico envergonhada de repente, não querendo atrapalhar nada com minha chegada repentina. Deveria ter telefonado dizendo que viria.

Mordendo os lábios, ando na ponta dos pés até a sala, pego minha bolsa pensando em ir direto para o quarto, mas paro estupefata, quando a porta do quarto de Christina se abre e de lá sai Henry. Só de cueca.

E uma Christina muito vermelha usando a camisa dele.

E não sei quem está mais surpresa se eu ou eles.

Meu Deus, Christina e Henry? Estou de boca aberta, literalmente.

Henry está tão vermelho quanto Christina.

– Mia! O que está fazendo aqui? – Ela é a primeira a se refazer.

– Ah, eu... Me desculpem, que idiota eu sou, deveria ter avisado que estava vindo, a Paula me ligou e preciso ajudá-la a encontrar alguém para meu lugar e cuidar da minha mudança... Meu Deus, vocês estavam transando? – Eu não me aguento.

– Hum, acho que é meio óbvio, não é? – Christina responde e Henry parece petrificado.

– Oh... eu vou... vou para meu quarto – digo rapidamente passando por eles, me trancando no quarto.

Christina e Henry? Ainda não consigo acreditar.

Passam-se alguns minutos até que escuto uma batida na porta e Christina aparece.

– Oi, precisamos conversar, não é?

Me levanto da cama e a puxo para um abraço apertado.

– Ah, senti sua falta!

Ela ri.

– Senti sua falta também.

Nós nos sentamos sobre a cama.

– Que diabos está acontecendo? Você e Henry? Desde quando? Estou... chocada!

– Eu sei, eu sei...

– Conte-me tudo!

– Olha, não pense que furei seu olho, ok?

– Claro que não! Nunca tive nada com Henry.

– Ele era a fim de você!

– Eu não era a fim dele!

– Mentira! Estava rolando um flerte entre vocês!

– Até rolou, não passou disto. Henry não passou de uma possibilidade.

– Amiga, deveria ter passado de possibilidade a fato, juro que não iria se arrepender. – Christina diz maliciosamente com sua costumeira falta de vergonha e rio, ficando vermelha.

– Christina!

– Sério, ele é muito bom de cama Mia! Nossa, acho que estou apaixonada!

– De verdade?

– Quer dizer – ela dá ombros – é modo de dizer...

– Sei... como aconteceu?

– Ele estava todo caidinho quando fomos para o aeroporto e, para animar, disse que ia com ele para Nova York. E foi muito divertido, eu já conhecia a cidade e o levei a vários lugares, realmente nos divertimos juntos. Passei a conhecê-lo melhor, quando me dei conta estava começando a olhá-lo com outros olhos e uma coisa levou a outra...

– Você o seduziu.

– Com certeza! Você me conhece!

– Uau! Ainda estou muito chocada...

– Não está com raiva?

– Claro que não. Estou feliz. E este lance tem futuro ou...?

– Não sei... Vamos deixar o barco correr, por enquanto está tudo ótimo. E você como vai com seu Lukas?

– Tudo ótimo também – falo sonhadoramente.

– Ah, precisa me contar tudo! Mas acho que está cansada.

– Nem tanto. Na verdade estou com fome...

– Ah, então vamos sair para comer. Vá tomar um banho e se arrumar!

Eu me arrumo rapidamente e nós duas saímos como nos velhos tempos, entrando num táxi.

– Aonde vamos? – Pergunto.

– Quero um lugar para comemorar! Afinal, está indo embora para se casar!

– Certo, que tal irmos ao Dorchester? – O Lukas me levou quando estava em Londres.

– Meu Deus, já está falando como uma milionária, eu aceito, lógico!

Nós saltamos minutos depois em frente ao hotel onde fica o restaurante. Está chovendo levemente e corremos para a entrada, rindo. Algumas pessoas estão saindo, passando por nós enquanto Christina me puxa para dentro, eu paro quando um lampejo de cabelos loiros chama minha atenção.

Aquele cabelo...? Eu me viro e a mulher loira entra no táxi com um homem moreno alto seguindo-a e a porta se fecha.

Tenho a nítida impressão, quando o táxi de afasta, que aquela mulher era Alexia Duran.


Capítulo 6

 

Mia

 

Quando voltamos para casa naquela noite, tontas de tanto champanhe, estamos rindo alegremente ao entrar no apartamento quando o telefone toca estridentemente.

– Nossa! Já vai! – Christina tropeça em seus próprios pés para atender, me passa o aparelho com um revirar de olhos.

– É seu querido ex-marido, ou futuro marido, sei lá como classificar! – Ela ri e se afasta para o quarto.

Pego o telefone ansiosa, me sentando no sofá enquanto tiro os sapatos e jogo longe.

– Lukas!

– Onde estava? Eu te liguei mais cedo, ninguém atendeu – ele parece meio preocupado e um tanto irritado.

Acho fofo.

– Fui jantar com a Christina, você não sabe o tanto de fofoca que eu tenho...

– Fofoca, Mia? Sério? – Ele ri indulgentemente.

– Ah, para você talvez não seja, pra mim é. A Christina e o Henry estão juntos!

– Henry, o cara que estava te paquerando? – Agora Lukas parece ligeiramente interessado.

– Este mesmo, não é legal?

– Você acha? – Ele indaga em dúvida e franzo a testa.

– Por que não acharia?

– Porque há poucos dias este mesmo cara parecia estar apaixonado por você.

– Não estava apaixonado por mim, não exagere. Era só um flerte. – Eu me mexo incomodada por falar sobre Henry com Lukas.

– E não te incomoda?

– Incomoda se você está se importando e pensando que eu estaria chateada.

– Só estou verificando, não se irrite.

– Não estou. Ainda – ameaço.

– Só acho muito estranho alguém deixar de gostar de você.

Eu sorrio feito idiota...

– Eu falei que ele não gostava de mim!

– Bom, eu gosto de você – sua voz assume um tom íntimo e mordo os lábios para não suspirar alto.

– Já estou com saudade.

– Eu também.

– Tem certeza que não consegue largar todo este seu trabalho chato de CEO multimilionário para vir ficar comigo?

– Eu disse que você poderia estar aqui neste momento, eu mandaria alguém cuidar desta maldita mudança.

– Não vim por causa da mudança e sim para ajudar a Paula – corrijo.

– Tudo bem, terei que me conformar em ouvir sua voz apenas ao telefone por um tempo. Acho que posso sobreviver.

– É ruim pra mim também, se faz você se sentir melhor...

– Mia, espere... – escuto sua voz ao longe e, depois de um tempo, retorna. – Tem alguém aqui que não para de perguntar: "papai, cadê a Mia", desde que cheguei do trabalho – então eu escuto uma conhecida risadinha infantil. – Oi, Mia!

Sorrio ao ouvir a voz de Dylan.

– Oi, Dylan!

– Onde você tá? – Sua voz parece queixosa.

– Estou viajando, em Londres, não se lembra do que eu lhe disse de manhã?

Havia me despedido dele com um abraço melado de panquecas e naquele momento, acho que ele nem se deu conta de que eu havia dito que viajaria. Se é que ele entendia este conceito, penso divertida.

– Viajando?

– Sim, voltarei logo, está bem?

– Está bem – ele repete. – Me taz um binquedo?

Rio e escuto a risada de Lukas também.

– Claro que sim, que brinquedo você quer?

– Um carrinho! – Diz, sem titubear.

– Certo, será um carrinho então.

– Já chega filho – escuto Lukas dizer e imagino que Dylan não quer largar o telefone. – Dylan preciso falar com a Mia, despeça-se dela e vá brincar...

– Tá bom... – ele resmunga. – Tchau Mia!

– Tchau, Dylan.

– Ele é um pequeno interesseiro – Lukas diz brincalhão. – Sabe que sempre que eu viajo lhe trago um presente e a Alexia também – fecho a cara ao ouvir o nome da mãe de Dylan, mas tento me controlar. Não poderia ficar nervosa cada vez que o nome daquela bruxa surgisse numa conversa.

O que me faz lembrar sobre o episódio no restaurante mais cedo.

– Então você e a Alexia o acostumaram mal... E, falando em Alexia. Hoje quando estava entrando no restaurante, vi uma mulher igualzinha a ela entrando num carro.

– Alexia? Impossível. Ela está em Aspen com a família dela.

– Tem certeza? Era realmente muito parecida...

– Deve ser impressão.

– Sim, pode ser... – talvez tenha sido realmente impressão. O que Alexia estaria fazendo em Londres, quando deveria estar em Aspen? – Então preciso providenciar um presente para Dylan – mudo de assunto deliberadamente.

– Ele sente sua falta.

– Só ele?

– Vou mostrar quando voltar o quanto sinto. Nunca mais a deixarei viajar sozinha.

– E como vai me impedir?

– Preciso tirar Dylan de cima da estante, antes que ele caia de novo por causa deste seu gato malcriado, senão lhe descreveria em detalhes minhas técnicas de dominação.

– Ok, parece bastante promissor. Vá salvar seu filho e o gato e me deixe dormir.

– Boa noite, então.

– Boa noite... eu te amo.

– Eu te amo também, baby... Dylan, não suba aí! – Desligo com um sorriso no rosto.

Desejando que eu consiga ajeitar todos meus assuntos pendentes em Londres o mais rápido possível para poder voltar para Seattle e Lukas.


Mas demoraria quase três semanas para que conseguisse finalmente avistar o céu nublado e chuvoso pela janela do avião enquanto pousamos em Seattle.

Sinto meu coração vibrando de alegria e expectativa. Foram longos dias, nos quais me despedi lentamente da satisfatória vida que havia construído em Londres para começar a sonhar com a vida que teria com Lukas em Seattle.

Ainda parecia sonho de certa forma. Passei cinco anos apaixonada por um desejo impossível, sofrendo e tentando esquecer o que nunca poderia ter. Por um breve período, julguei que seria possível, mas o sonho se desfez assim como as ondas na praia do Havaí.

E me acostumei a sofrer, a seguir em frente, rezando para que um dia a dor se transformasse em vazio e tudo ficasse esquecido.

Então Lukas apareceu de novo para colocar um ponto final no contrato que deu origem a tudo. Justamente quando pensei que finalmente estaria livre, o destino me brindou com uma nova chance. Desta vez, tudo real, como manda o figurino. Declaração de amor, pedido de casamento e um provável futuro perfeito, enfim.

E hoje só queria esquecer aqueles anos infelizes e olhar pra frente, desta vez com Lukas. E até mesmo com um garotinho loiro que antes julgava ser um empecilho para minha felicidade, mas que agora me fazia sorrir quase tanto quanto seu pai fazia.

Eu me recordo da minha visita a uma loja de brinquedos com Christina para escolher o "binquedo" que ele me pediu e como foi difícil ficar somente com uma escolha. Nós acabamos levando não só o carrinho encomendado por ele, como também outros brinquedos que não pude resistir em comprar. Pelo visto Dylan tinha mais um adulto para estragá-lo, penso enquanto saio do terminal de desembarque com minha pesada mala.

Minha mudança não era tanta assim, optei por deixar todas as coisas para Christina, pensando que, em muito pouco tempo, ela teria outro companheiro de apartamento, já que ela e Henry estavam ficando bem sérios.

Nós nos despedimos na noite anterior no aeroporto com a promessa de nos vermos novamente em meu casamento. E, se eu e Lukas não nos apressássemos, era provável que Christina e Henry se casassem antes de nós.

– Mia, Mia! – Volto ao presente ao escutar a voz infantil em meio ao burburinho de gente no desembarque do aeroporto, então vejo Dylan correndo com seus passinhos ainda meio vacilantes em minha direção, não estou preparada para a onda de afeto que me assola ao vê-lo sorrindo e estendendo os braços para mim.

– Dylan! – Eu o pego no ar, abraçando-o e avisto Lukas se aproximando logo atrás com um sorriso perfeito no rosto, tão lindo quanto me lembrava. Então me dou conta do quanto senti sua falta e de como sua presença me causa algo como uma overdose de felicidade.

– Parece que alguém roubou meu abraço.

Sorrio, ainda sentindo os braços de Dylan firmemente grudados em volta do meu pescoço.

– Tenho outros guardados para você, não se preocupe... – me aproximo por cima da cabeça de Dylan e, ficando na ponta dos pés, beijo seus lábios. Afasto-me antes que Dylan reclame.

– Vamos pra casa – Lukas pega minhas malas e nós seguimos o percurso inteiro com Dylan tagarelando sem parar em sua linguagem infantil da qual eu entendia apenas algumas coisas. Não me importo, porque Lukas me lança sorrisos perfeitos e sua mão livre acaricia a minha.

Quando chegamos, abro minha mala e tiro os presentes de Dylan que pula e grita extasiado ao rasgar os pacotes.

– Achei que o combinado fosse um carrinho – Lukas comenta, ocupado em pegar os papéis do chão e dou de ombros, vendo Dylan entretido brincando com uma minicaminhonete vermelha.

– Não resisti, confesso. Adorei comprar brinquedos! É tudo lindo! – Eu o sigo para a cozinha, onde ele joga os pacotes desfeitos no lixo.

– Dylan tem muitos brinquedos, sei que às vezes é difícil nos conter. Vivo passando dos limites que eu mesmo imponho. E já discuti algumas vezes com Alexia – de repente ele para quando vê minha carranca ao ouvir o nome dela. – Bom, acho que não te interessa, não é?

Eu me aproximo meio arrependida e toco seu rosto.

– Não! Claro que me interessa.

– Não quero aborrecê-la.

– Não vou negar que me aborrece ouvir você falar de Alexia, terei que me acostumar. Ela é a mãe de Dylan e precisaremos aprender a conviver, não é? – Ainda me perguntava como seria possível, teria que dar um jeito. Eu odiava Alexia e ainda tinha um enorme ressentimento por tudo o que ela representava. Iria demorar um tempo para que conseguisse lidar com ela numa boa. Esperava conseguir um dia, sabia que seria um fator importante para que eu e Lukas ficássemos bem.

Como seria se eu e a mãe de Dylan vivêssemos em pé de guerra? Ele iria crescer e começar a entender, não seria nada saudável.

– E, por falar em Alexia, ela já sabe sobre nós? – Pergunto com cuidado.

– Não. Liguei para ela algumas vezes para podermos conversar, não consigo falar com ela.

– Que estranho, ela ainda está viajando? – Me recordo da mulher muito parecida com ela que vi em Londres.

– Não, ela voltou. Toda vez que ligo, seu celular está desligado. Quando ligo em sua casa só Brittany atende. Uma hora ela está tomando banho, outra no cabeleireiro, ou fazendo as unhas.

– Não parece estranho? Acha que ela não quer falar com você? Parece estar te evitando...

– Foi o que pensei. Sinceramente, estive tão ocupado com a Constantini nestes dias que realmente não me empenhei em encontrá-la. Ter esta conversa com ela não é algo que eu deseje – ele passa a mão pelos cabelos, frustrado e franzo a testa.

Por um lado, fico aliviada por saber que Lukas não se encontrou com Alexia nenhuma vez na minha ausência. Era algo no qual, constantemente, me pegava pensando em Londres morrendo de medo do que poderia acontecer. Ainda havia em mim um resquício de insegurança, não podia negar. Era difícil me livrar de velhos hábitos, por pior que eles fossem.

Além disso, não estava nada ansiosa para confrontar Alexia com a nova realidade.

A verdade é que, embora não fizesse ideia de quais eram seus planos, era óbvio seu grande poder sendo a mãe do filho de Lukas. Ela não era boba e devia se aproveitar daquele status. Será que era somente isto que ela queria ser? Apenas a mãe do filho de Lukas, ou desejava muito mais?

Dylan tinha quase dois anos, e todo aquele tempo, Lukas esteve casado comigo, o que dificultava qualquer plano que poderia ter neste sentido. E agora que ele estava divorciado?

Recordo-me de suas palavras quando nos encontramos brevemente na casa do lago há algumas semanas, sobre gente descasando e outros casando. Será que queria dizer que pretendia casar com Lukas?

Bom, ela poderia almejar muitas coisas, porém Lukas certamente não compartilhava seus desejos. Era o mais importante.

Lukas ia se casar comigo. Alexia teria que se conformar.

– Será que não é melhor que nós dois conversemos juntos com ela?

– Não – Lukas responde firmemente. – Nem pensar. Não se preocupe com Alexia – ele acaricia meu rosto. – Você está aqui depois de tanto tempo, falar sobre ela não é o que desejo no momento.

Mordo os lábios e fico na ponta dos pés, ansiando por sentir um beijo de verdade, antes que consiga meu intuito, uma voz nos interrompe.

– Olá! – Eu me afasto para ver uma sorridente Brittany na porta da cozinha. – Oh, desculpe interromper. Oi, Mia, não sabia que tinha voltado.

– Pois é, voltei.

– Brittany veio buscar Dylan – Lukas explica. – Hoje é dia de ele voltar para a casa de Alexia.

– Ah, entendi – me surpreendo ao me sentir desapontada por Dylan estar indo embora.

Era incrível, também senti falta dele quando estava em Londres.

Nós vamos pra sala e Dylan mostra seus presentes a Brittany, muito animado.

– Nós precisamos ir, Dylan – ela diz, pegando os presentes e juntando tudo para pôr na caixa de brinquedos.

– Meu carrinho – ele reclama.

– Deixe ele levar o carrinho, Brittany – Lukas pede e ela coloca o carrinho na mochila de Dylan.

– Despeça-se do Lukas e da Mia, Dylan.

Obedientemente, ele me abraça, me dando um beijo melado depois abraça Lukas e acena animado no colo de Brittany que o leva embora.

– Como consegue vê-lo ir embora toda semana? – Pergunto.

– Ele tem a mãe dele. Faz parte do acordo que fizemos.

De repente me passa pela cabeça que Lukas poderia ter optado por ficar com Alexia assim teria Dylan sempre com ele, em vez disto ficou com apenas parte do filho.

Seria justo?

Que merda estou pensando? Não quero que Lukas fique com Alexia! Eu a quero bem longe, na verdade! Mesmo assim, não consigo deixar de pensar em como, às vezes, fazer o certo parece tão errado.

Não quero mais pensar nisto. Lukas fez suas escolhas.

Ele me escolheu.

Dylan não estava ali agora, voltaria na próxima semana. E, por enquanto, estávamos sozinhos.

Sozinhos.

Sorrio lentamente, sentindo todo meu corpo se aquecer com as mil possibilidades que passam pela minha cabeça.

Foram longas e solitárias três semanas...

– Hum, acho que fiquei te devendo um abraço – murmuro, me aproximando, ele sorri me puxando pela camiseta e me colo inteira nele, adorando sentir seus braços a minha volta, finalmente.

Era ali o meu lugar. A minha casa.

Passo meus próprios braços em volta de sua nuca e fico na ponta dos pés para sentir seu beijo, então, em algum lugar do apartamento, um telefone toca.

Lukas resmunga um palavrão e me solta.

– Deve ser da Constantini. Preciso atender.

– Tudo bem. Vou tomar um banho. Encontre-me no chuveiro – pisco e me afasto para o quarto.

Lukas não aparece, quando termino de tomar banho, coloco apenas uma camiseta dele e vou à sua procura. O encontro ainda no escritório, todo compenetrado ao telefone.

– Isto não deveria estar acontecendo com a filial de Nova York... – ele levanta a cabeça e me vê, seus olhos me medem com interesse rapidamente enquanto escuta, seja lá quem for.

Encosto-me na porta e cruzo os braços, esperando, batendo o pé no chão num claro pedido para que ele desligue logo, Lukas sacode a cabeça negativamente e continua concentrado na sua conversa, desviando o olhar.

Devia ser uma boa garota e me afastar, deixando que termine seu assunto de trabalho, mas não me sinto muito boazinha depois de três semanas, sem contar todos os meses, anos e horas intermináveis que passei solitária e triste sem sua presença.

Agora que o tinha tão perto, era difícil não agir feito uma criança deliciada com seu brinquedo preferido. Assim como Dylan não queria abrir mão de seu novo e reluzente carrinho, não queria ficar com minhas mãos longe de meu lindo e sexy noivo.

Sinto um frêmito de excitação percorrer minha espinha e uma onda gigante de expectativa estimular todo meu corpo enquanto caminho sorrateiramente para dentro do escritório e, sem aviso, sento em seu colo, passando meus braços a sua volta.

Lukas engasga de susto no meio de uma frase e solto uma risadinha em seu ouvido.

– Nelson, um minuto – ele cobre o telefone com a mão e me encara com um olhar exasperado. – Mia, é um assunto sério...

– Continue, eu espero – respondo sem fazer o mínimo movimento para sair de meu lugar preferido.

Lukas respira fundo.

– Não consigo me concentrar com você...

– Então volte logo para o tal Nelson que está esperando para terminar rápido.

– Mia...

– Não vou a lugar nenhum.

Ele solta um palavrão exasperado e volta para a ligação.

– Continue Nelson, estava falando sobre as ações...

Sorrio enfiando meu rosto em seu pescoço aspirando seu cheiro inebriante. Lukas tinha um cheiro único, todo másculo e misterioso, me deixava intoxicada e atraída.

– As ações não podiam ter baixado tanto... – Lukas continua e insiro meus dedos em seus cabelos bagunçados, adorando sentir a textura entre meus dedos, puxo um pouco fazendo Lukas soltar um som rouco, meio gemido, meio resmungo, sua mão livre vai até a minha, soltando-a de seus fios e o encaro como uma menina birrenta, ele me lança um olhar de advertência.

Eu bufo e, já que não posso puxar seus cabelos, desço meus dedos para seu peito, começando a desabotoar a camisa branca, espalmo as mãos em seu peito perfeito e de novo estou em seu pescoço, desta vez não apenas aspiro como dou uma sonora lambida em sua pele, experimentando seu gosto em minha língua.

– Caralho! – Lukas exclama e rio, ele não parece disposto ceder. – Não, Nelson, continue, estou escutando...

Também não estou disposta a parar e minhas mãos se tornam mais afoitas, descendo por seu estômago, pousando rapidamente em sua calça.

E wow... Ele já não parece tão concentrado assim. Estou fazendo um serviço muito bom ou devo me preocupar por Lukas ter uma ereção conversando com o tal Nelson sobre as ações de Nova York?

Antes que possa prosseguir, a mão dele segura meu pulso com força, levanto a cabeça para fitá-lo mordendo os lábios. Ignorando seu olhar que é uma mistura de advertência e frustração, o acaricio em toda sua extensão apertando um pouco e, como esperava, seu olhar escurece de excitação e sua respiração falha.

Não faço ideia do que o tal Nelson está falando, porém Lukas está escutando e não me impede quando abro sua calça e enfio minha mão dentro, até que esteja sentido sua dureza firme entre meus dedos sequiosos.

Sua respiração se torna um arquejar ofegante e também começo a resfolegar com um desejo súbito e urgente que me deixa trêmula e sedenta por mais.

Sedenta por ele. Inteiro. Dentro de mim. Agora!

Tenho certeza que meus olhos estão dizendo isto de uma maneira inequívoca e feroz, choramingo de frustração quando Lukas, de repente, segura minha mão e acaba com minha brincadeira.

– Nelson, podemos continuar outra hora? – Ah, sim. Quase exulto ao ouvi-lo finalmente terminar a conversa e meu corpo inteiro pulsa de antecipação. – Certo. Falamo-nos amanhã...

Então, finalmente sua boca está sobre a minha e não mais ocupada com conversas telefônicas sobre trabalho. Gemo com a força do seu beijo, que devora meus lábios e termina com uma mordida.

– Ai – meio reclamo, meio gemo.

– Isto é para deixar de ser provocadora – suas mãos apertam meus seios por cima da blusa, meus mamilos estão duros e ansiosos por sua língua.

– Estou sendo provocada há três semanas... – me defendo, adorando sentir seus dentes em meu pescoço e grito alto quando sinto seus dedos no meio das minhas pernas.

– Porra, Mia, você estava nua o tempo todo?

Eu rio e o beijo.

– Não estou nua, estou usando sua camiseta.

– E é muito – ele tira a blusa por minha cabeça numa velocidade incrível e vibro quando ele me beija de novo, nossas respirações ofegantes se misturando com gemidos e grunhidos. Meu desejo por ele é tanto, que sinto meus ossos se dissolverem, meu sangue correr veloz nas veias e uma espécie de zunido fechar meus ouvidos.

Escuto apenas nossos corações batendo acelerados em uníssono e os sons maravilhosos de excitação que saem de sua boca, permeados por palavras sujas de sexo que ele sabe que me deixam úmida e pulsante por ele, exatamente onde ele me toca nesse momento.

– Puta merda preciso foder você...

– Sim, sim, por favor – movo-me ansiosa em cima dele, seguro sua ereção guiando-a para dentro de mim.

Nós dois gememos juntos quando sentimos seu escorregar profundo e me preparo para me movimentar novamente, Lukas me segura.

– Não, não, aqui não...

– O quê? – O encaro resfolegante e confusa, Lukas já me levanta, me seguro nele, passando as pernas a sua volta.

– Vamos para a cama... – e, firmemente ainda dentro de mim, ele caminha para fora do escritório eu o beijo sem conseguir parar.

Uma risada abafada sai do meu peito, quando me vejo jogada contra a parede do corredor e Lukas estoca com força dentro de mim.

– Achei... que... fôssemos... para... a... cama – arquejo.

– Não consigo parar... – ele beija meu queixo, meu pescoço. – Não vou parar nunca de foder você... é impossível...

– Parece perfeito pra mim... Não vou deixar mais você sair de casa... – finco minhas unhas em seus ombros.

– Terei que sair eventualmente para trabalhar...

– Ah, terei que te fazer algumas visitas sexuais, tipo na cadeia...

Ele ri e me beija.

– Isto existe?

– Ora, você é o presidente, pode inventar algo, ah... – paro ao senti-lo beliscando meu clitóris com uma mão e meu mamilo com outra. – Porra, Lukas, eu vou... vou... – meu ventre se aperta tomado pelas sensações que ele me causa.

– Sim, baby... goza pra mim...

– Só pra você... – explodo em volta dele num clímax perfeito, os espasmos se espalhando por minha pele suada como fogos de artifícios sob meus poros. Ele geme roucamente em meu ouvido, estocando com força uma última vez e goza forte.

– Tudo bem? – Pergunta ofegante ao me encarar, lindo e suado, sorrio bobamente.

– Cama?

– Ok...

Ele me leva pra cama e caímos exaustos sobre os lençóis.

– Ah, isto foi bom – murmuro e ele me encara.

– Nunca mais você vai viajar sem mim.

Eu me enrosco nele.

– Ah é? Devo concluir que sentiu minha falta?

Ele me dá um tapa no traseiro.

– Ai!

– Nunca mais me interrompa numa ligação de negócios. Foi realmente muito esquisito me sentir excitado ouvindo a voz do meu gerente em Nova York.

– E com relação às visitas sexuais no escritório, senhor Constantini?

Ele beija meu pulso e me puxa para cima dele.

– De jeito nenhum. Você é muita distração. Se for atrás de mim no escritório, irei à falência.

– Isto quer dizer que terei que me contentar com você apenas à noite?

– Se for boazinha, posso ser legal de manhã também.

– Soa bastante promissor... – beijo-o devagar e de novo estamos perdidos.

Nós passamos o dia na cama matando as saudades, depois de Lukas me convencer a tomar outro banho, desta vez juntos, como deveria ter sido de manhã, ele faz o jantar pra mim, vestindo apenas cueca boxer enquanto ainda estou com sua camiseta.

– Por que não estamos na casa do lago? – Pergunto, quando Lukas me serve um pouco de massa ao molho pesto que parece estar muito boa.

– Você prefere ficar lá?

Dou de ombros.

– Na verdade, adoro ficar aqui, acho que é porque é tão menor e mais aconchegante sem contar que você pode ficar assim – passo a mão no peito dele. – À vontade. E não escandalizaremos Mary.

Lukas ri, segurando minha mão, beijando-a e sentando no seu lugar.

– Também aprecio que você possa ficar assim... – ele toca minha coxa por baixo da mesa... – À vontade.

– Acho que tem minha resposta.

Enquanto comemos, penso que nem sempre poderemos ficar desse jeito, não quando Dylan estiver em casa e me pergunto se isto me aborrece.

Descubro que não. Claro que eu gosto de ficar à vontade com Lukas, mas também gosto quando Dylan está por perto. Nós apenas precisaremos adequar tudo à sua presença; E sempre haveria tempo, como este agora, para ficarmos sozinhos.

– Por que está sorrindo? – Lukas pergunta curioso.

– Estou pensando que sinto falta do Dylan.

Ele parece surpreso.

– Sério?

– É sim. Sei que está surpreso, ainda mais por eu ter tido problemas antes, estou me acostumando com ele. É uma criança adorável.

– É sim – Lukas concorda com um sorriso orgulhoso. – E está louco por você também.

– Ah, não posso evitar ser irresistível... – brinco e Lukas me puxa para seu colo me beijando profundamente.

– Ei, estou comendo!

– Eu te amo – diz e suspiro, meu coração expandindo.

– Eu também. Muito. Quero ficar assim com você para sempre.

– É para sempre, amor...

– Jura? – Digo e ele toca meu rosto

– Juro.

– Me leva pra cama.

Ele sorri lentamente. Deliciosamente.

Então me pega no colo me levando para nosso quarto.

– Mia? – Lukas me chama no escuro algum tempo depois e abro os olhos.

– O que foi?

– Marquei nosso casamento.

Me viro chocada e acendo o abajur.

– Como é?

Ele parece culpado.

– Taylor me pressionou.

– Taylor? O que Taylor tem a ver com isto?

– Você não sabe como ela é?

– Sei sim. Está me dizendo que a Taylor te coagiu e você marcou nosso casamento sem falar comigo?

– Sim eu fiz, agora me parece uma idiotice. Você está brava comigo.

– Não sei se estou brava, só me irrita um pouco esta sua mania de tomar decisões por mim.

– Não tomei...

Eu o corto com um olha irônico.

– Ah não? Você sempre fez isto. Acho que uma parte da sua mente ainda me vê como aquela menina de 17 anos sem poder de decisão sobre nada.

– Não queria que ficasse irritada, me pareceu natural na hora marcar logo...

– Por que não me ligou e perguntou minha opinião?

– Realmente não me passou pela cabeça que seria um problema. Achei prático marcar logo.

– Está vendo o que estou dizendo? Na sua mente é supernatural, quando não é!

– Certo, tudo bem. Posso desmarcar e você escolhe a data.

– Não disse que precisa desmarcar.

– Achei que fosse esta a questão.

– Não. A questão é você tomando decisões por mim. Foi desse jeito durante cinco anos e, sinceramente, não quero que continue.

– Está falando de quando mandei você embora.

– Sim.

– Não vou mais fazer isto, Mia. Eu prometi.

Suspiro.

– Certo. Você promete que não vai mais tomar nenhuma decisão importante sem me consultar?

– Prometo – ele concorda prontamente, parecendo angustiado. – É difícil pra mim. Acho que tem razão. Tomei conta de você por um longo tempo...

Sorrio e toco seu rosto.

– Tomaremos conta um do outro de agora em diante, pode ser?

Ele me beija.

– Tudo o que quiser.

– Já que estamos conversando sobre assuntos sérios...

Ele me encara desconfiado.

– Estou com mais problemas?

– Não. Só queria falar com você sobre o que eu vou fazer, já que larguei meu emprego em Londres.

– Você não precisa trabalhar, sabe disto.

– E vou ficar fazendo o quê?

– O que quiser...

– Lukas, não vou ficar sem fazer nada só porque você é rico e pode me sustentar. Não é somente uma questão de ganhar dinheiro, trata-se de ter uma ocupação, ser útil.

Ele me encara longamente, sei que tem mil objeções e está tentando entender meu ponto de vista.

– Certo. Acho que te entendo, embora prefira que fique me esperando na cama o dia inteiro...

Eu lhe dou um tapa no ombro e ele ri.

– Ah certo, imagino que sim. Só nos seus sonhos.

– E o que deseja fazer?

Eu mordo os lábios, indecisa.

– Não sei...

– Mia, quer dizer que nem sabe o que gostaria de fazer?

– Sei que não quero ficar sem fazer nada, só não pensei direito ainda. É tudo muito recente...

– Não se angustie agora. Terá tempo para pensar. Afinal, nos casaremos em um mês e...

– Um mês?

– Acha que devemos esperar mais?

– Hum, tem razão. Não vejo a hora de me unir a você e, desta vez, de todas as maneiras possíveis.

Ele me abraça com força e me enrosco nele.

– Então combinado. Casamento e depois lua de mel.

– Lua de mel?

– Sim, tudo o que temos direito. Para onde quer ir?

– Ah, não decidiu sozinho?

Ele faz uma cara culpada e sei que pensou sim, está deixando que eu escolha para não haver mais discussão.

– O que pensou? – Provoco.

– Havaí, claro.

– Ah, escolheu certo. Eu amaria estar com você no Havaí novamente.

Ele sorri me beijando, sinto sua excitação em meu ventre e ronrono.

– De novo...?

– Sempre... – ele se move para cima de mim.

Desta decisão, eu não reclamo.


****


Aquela semana passa como um devaneio perfeito.

Na primeira manhã, Lukas me deixa sonolenta na cama para ir trabalhar, acordo muito tempo depois com a campainha tocando, me arrasto para a porta e, surpresa, vejo Taylor e Denise invadindo o apartamento com amostras de tecidos, listas de convidados e possíveis cardápios para a festa.

– Já? – Pergunto confusa, Taylor revira os olhos.

– Só falta um mês! Temos que nos mexer! Denise e eu já cuidamos de tudo, só queremos sua aprovação!

Assim me vejo às voltas com os planos de um grandioso casamento no jardim da casa do lago, como Taylor sonhou e não aconteceu há cinco anos.

E me pego realmente apreciando a companhia das duas meias-irmãs de Lukas que afastei da minha vida quando fui para Londres, pois não suportava ficar perto de nada que me lembrasse dele, agora percebo que me fizeram falta.

Elas são realmente eficientes, cuidaram de todos os detalhes, a mim só restando aprovar suas ideias extravagantes.

– Vai ser o casamento mais lindo que já se viu nesta cidade! – Taylor se gabava.

E não me importava. Estava delirantemente feliz.

Lukas voltava todas as noites para casa, com um desejo saudoso e feroz, igual ou maior àquele que tinha nos unido depois de semanas separados. E me fartava dele com igual ferocidade, como se tudo não passasse de um sonho e pudesse ser acordada a qualquer momento, sozinha em algum lugar do mundo.

Teria que me acostumar a ser feliz. Era muito recente e sensível demais à perfeição que era ter Lukas comigo.

Havia apenas uma sombra em toda aquela felicidade, o fantasma de Alexia Duran.

Enquanto estávamos sozinhos naquela semana, em nossa bolha de desejo e felicidade sem fim, era fácil esquecer sua existência.

Sabia que todos os dias Lukas continuava a falar somente com Brittany quando ligava para saber sobre Dylan, Alexia continuava sem dar as caras. Aquilo era muito estranho me fazia ter medo de que uma tempestade estivesse se formando em silêncio.

Naquela noite, estávamos deitados no sofá vendo um filme que nem sabia qual era, porque estava muito ocupada me amassando com Lukas como uma adolescente cheia de hormônios, quando ele me lembra que Dylan virá ficar conosco na manhã seguinte.

– Então esta é a última noite que posso fazer isto livremente – ele diz, tirando minha blusa, estou com a mente longe.

– Isto significa que a Brittany virá junto, não é? – Ainda tinha sérias restrições à babá enxerida de Dylan.

Lukas para seus dedos a poucos centímetros do meu seio e me encara.

– Acha que está preparada para ficar com ele sozinha?

Hesito. Estou?

– Preciso aprender... E, sinceramente, acho que a Brittany mais me atrapalha do que ajuda...

– Mia, não sei...

– Não confia em mim – digo meio magoada.

– Não se trata disto. Só não quero que se sinta pressionada. Crianças podem ser difíceis.

– Eu sei. Me deixe tentar. Juro que se não der certo, chamamos a Brittany, pode ser?

– Tudo bem – Lukas acaba concordando, esboço um sorriso feliz e seguro sua mão levando-a a meu seio de novo.

– Onde estávamos...?

Acordo cedo junto com Lukas na manhã seguinte e rumo ansiosa para a cozinha para fazer as panquecas que Dylan gosta, não demoro a ouvir sua voz pelo apartamento. Infelizmente seguida pela voz chata de Brittany.

– Papai, cadê você?

– Lukas! Chegamos! – Brittany grita e engulo um palavrão malcriado.

Pelo menos ela iria embora em breve.

– Ah, você está aqui – ela diz, sem disfarçar o desdém quando me vê.

Forço um sorriso.

– Estou. Cadê o Dylan?

– Foi atrás de Lukas no quarto.

– Ele está se arrumando. E você pode ir embora.

– Como é?

– Lukas pode confirmar se não acredita em mim, está dispensada...

– Não, tenho que cuidar do Dylan e...

– Mia tem razão, Brittany – Lukas entra na cozinha com Dylan no colo.

– Mia! – Dylan pula do colo dele e vem em minha direção eu o pego no ar, abraçando-o apertado.

Vejo Lukas se afastar com Brittany, mantenho minha atenção em Dylan.

– Senti tanta saudade, seu danadinho! – Faço cócegas na sua barriga e ele se dobra de rir. – Está com fome? Fiz panquecas!

– Oba!

Em vez de colocá-lo no cadeirão, fico com ele no meu colo e o ajudo a comer.

Quando Lukas volta, estamos ambos melecados.

– Brittany foi embora – diz.

Respiro aliviada e sorrio para deixá-lo seguro.

– Vai dar tudo certo. Veja só, estamos nos dando bem.

Lukas ri e pega um pano, limpando a boca de Dylan depois a minha.

– Estou vendo...

Dylan vai para seu colo, com sua tagarelice infantil e adoro ver sua paciência com ele, parecendo entender tudo o que diz.

– Preciso ir. Vai ficar com a Mia, Dylan. – Lukas explica. – Tudo bem?

– A Mia vai bincar comigo? – Ele pergunta sério e eu rio.

– Claro que sim.

– Oba! – Ele pula no meu colo. – Cadê o Simba? Cadê o gatinho?

– Boa pergunta... – Simba era um gato muito independente, às vezes, realmente ainda não o tinha visto esta manhã. – Vamos procurá-lo?

Coloco Dylan no chão, que sai chamando por Simba e levo Lukas até a porta.

– Me ligue se precisar, ok?

– Pode deixar.

Ele se vai e saio à procura de Dylan encontrando-o brincando com o gato em cima do sofá.

Então, começa a retirar todos seus brinquedos de dentro da caixa e tento acompanhá-lo em suas brincadeiras, suando para entender como montar um robô com suas peças de lego.

Estamos distraídos, quando a campainha toca.

Será que são Taylor e Denise? Elas não marcaram nada hoje, era típico delas aparecer do nada para tratar de algum detalhe do casamento.

Nem Denise ou Taylor estão à minha porta.

É Alexia Duran.


Capítulo 7

 

Mia

 

Por um momento não consigo acreditar no que meus olhos veem.

Infelizmente não é uma alucinação, para meu desgosto, Alexia Duran com seu cabelo perfeitamente arrumado e suas roupas de última moda está me fitando com olhos dardejantes.

– Então é realmente verdade – sua voz ácida passa por mim assim como seu perfume enjoativo e caro, quando entra sem pedir licença.

Bato a porta, tentando conter a vontade de puxá-la pelos cabelos e jogá-la porta afora. Respiro fundo, vendo Dylan brincar no fundo da sala.

Não passa despercebido a mim, que Alexia não se dirige a Dylan e muito menos a criança corre para ela feliz por ver a mãe. Em outro momento pararia para analisar, agora estou mais preocupada com a presença inusitada de Alexia que não pode significar nada de bom.

Ela havia sumido, ou se escondido por semanas, não dando sinal de vida, certamente a babá enxerida deve ter contado a ela as novidades, meu iminente casamento com Lukas. E o tempo inteiro fiquei esperando uma explosão que não veio.

Até agora.

– O que está fazendo aqui, Alexia? – Pergunto o mais serena possível.

Ela joga a bolsa de couro no sofá e me encara com as mãos na cintura.

– Acho que quem deveria fazer esta pergunta sou eu. Que diabos você ainda está fazendo aqui?

– Eu moro aqui – minha resposta é simples. Os olhos de Alexia escurecem como se fossem lançar chamas em minha direção.

– Sim, ouvi dizer. Aliás, ouvi histórias fantásticas nas quais realmente não acreditei e tive que vir para ver com meus próprios olhos!

– Ah, claro, a sua babá fofoqueira – ironizo.

– Sim, Brittany me contou que, em vez de voltar para o outro lado do mundo, depois de finalmente se divorciar de Lukas, você permaneceu em Seattle e qual não foi minha surpresa ao saber que ficaram noivos. De novo!

– Está realmente bem informada...

– Como é possível? – Ela dá um passo em minha direção – Vocês se divorciaram! Vocês nunca nem foram casados de verdade! Ele te obrigou a casar quando tinha 17 anos e ainda dormiu comigo por um longo tempo. Teve um filho comigo! Você dormiu com a metade de New Haven antes de ir embora pra Londres fazer sabe lá o que e nem me interessa... – como é que Alexia sabia da minha vida em New Haven, me pergunto com um resquício de choque. – E, quando finalmente está livre, você volta? – Sua voz está repleta de incredulidade.

– Sim, eu voltei. E vamos nos casar. Desta vez não é nenhum contrato. Nada além de amor verdadeiro.

Ela ri debochadamente

– Amor verdadeiro? Ah, por favor!

– Aposto que você não sabe do que significa.

Ela respira fundo.

– Não, está tudo errado! Simplesmente não pode ser! – Ela volta a me encarar com raiva – esperei por cinco anos. Cinco malditos anos, vivendo de migalhas da atenção que Lukas podia me dar! É claro que sabia que ele nunca poderia ser meu realmente enquanto estivesse preso a este maldito contrato! Esperei assim mesmo. Cinco anos. Esperei que esta merda de casamento de mentira acabasse e ele finalmente estivesse livre. Livre para mim, agora você voltou e está roubando o que é meu!

– Você enlouqueceu? – Digo começando a me sentir mal com tanto ódio que emana dela em minha direção – Lukas nunca quis você.

Ela ri de novo.

– Claro que quis! Muitas vezes. Aposto que o tive muito mais do que você! – Suas palavras me ferem como sonoros tapas em meu rosto. – Fizemos um filho juntos! Acha pouco? Acha que eu não deveria esperar mais?

Quero gritar que ela não tem razão, embora saiba que há muita verdade em suas palavras.

Lukas a quis, eles foram amantes e tiveram um filho.

E o que eu fui o tempo inteiro? Somente a garota com quem ele se casou através de um contrato.

De repente me vejo de novo presa àquela dor que me envolveu por tanto tempo, a dor da rejeição. De não ser o que queria ser na vida de Lukas. De saber que existia outra mulher com ele.

"Você está com ele agora. Foi com você que ele escolheu ficar. É com você que vai se casar. É a você que ele ama", uma voz sussurra com força dentro de mim me trazendo de volta à realidade.

Porque era real. Eu e Lukas juntos. E não o passado equivocado com Alexia.

– Sinto muito se esperou mais – finalmente digo. – Você é uma mulher esperta, Alexia, deve ter percebido há tempos que Lukas nunca ia ficar com você. Ele teve inúmeras oportunidades. Como você disse, nosso casamento era mera fachada. Por um tempo ínfimo, nós ficamos juntos de verdade e sabe que ele me mandou embora por causa de sua gravidez. Por acaso ele ficou com você? Ele nunca mais quis nada com você, além de cuidar do seu filho. Filho este que fez para prendê-lo. E este é o único motivo de ele suportá-la. É só por isto que não te jogo porta a fora. Então, por favor, se toca e para de correr atrás do Lukas, não vai adiantar. Você perdeu. Aliás, acho que nem isto, porque não se perde aquilo que nunca se teve. Aceite. Nós vamos nos casar. Em menos de um mês. É fato consumado. É de verdade. Você não pode fazer nada para impedir.

Sinto um alívio tremendo ao acabar de cuspir minhas palavras na cara de Alexia e quase me regozijo por vê-la empalidecer, por um momento ela não fala nada.

Nós apenas nos fitamos como duas lobas presas numa luta de vida ou morte.

Não vou recuar. Nunca mais vou dar-lhe as costas e fugir deixando-a ficar com o que é meu.

– Certo – ela diz por fim – está muito segura não é?

– Não acho que te devo satisfação, então, se puder, por favor, ir embora...

– O Lukas te contou o que nós combinamos quando você fugiu para Londres depois de dormir com todo mundo na faculdade?

De novo aquela história? Queria gritar que não dormi com ninguém, mesmo não sendo da conta daquela bruxa.

De que porra ela estava falando agora?

– Vejo que ele não te contou, não é?

– Não me interessa. Sua história com Lukas é passado e tenho certeza que qualquer acordo existente entre vocês é pelo Dylan.

– Sim, Dylan é nosso filho e fizemos tudo por ele. Lukas te contou que prometeu se casar comigo depois que se separassem?

O quê?

– Está mentindo.

– Estou? Pergunte a ele. Vamos ver o que irá dizer!

Alexia está mentindo, claro que está. Lukas nunca prometeria algo desse tipo a ela. Vacilo. Uma semente de dúvida crescendo como hera venenosa em minha cabeça com suas insinuações.

Por isto decido jogar o seu jogo.

– Se ele prometeu, por que não está cumprindo?

– Porque você voltou! Lukas sempre teve um fascínio sem sentido por você! Nunca entendi, mas sempre soube! Eu desconfiava, quando os vi em Aspen, tive certeza! Ele queria você, e eu deveria saber que um dia ele iria ter. Só achei que depois do Dylan, ele ficaria comigo. Que o amor que tem pelo filho seria mais forte que sua obsessão por você. Estou vendo que me enganei. Estou levando meu filho embora! Diga ao Lukas que, se ele quiser ver Dylan de novo que seja homem o suficiente para cumprir suas promessas!

E, sem esperar mais, ela caminha com os saltos batendo no chão até Dylan.

Estou meio atordoada com suas palavras. Quando a vejo se agachando perto dele, desperto.

– Não pode levá-lo. É a semana do Lukas...

– Meu acordo é com o Lukas, não quero que ele fique com você! Venha Dylan, vamos para casa! – Ela faz um gesto impaciente para ele acompanha-la, o garoto a olha confuso.

– Não. Não quelo!

– Não seja teimoso, Dylan, ande logo! – Ela o puxa para o colo.

A criança se debate, enquanto Alexia pega sua bolsa no sofá, ignorando seus gritos.

– Não quelo ir embola...

– Alexia, pare – peço. – Não pode levar o Dylan assim. Ele não quer ir.

– Sou a mãe dele e vou levá-lo!

Dylan começa a chorar enquanto Alexia passa por mim indo até a porta.

– Mia... – ele grita, agitando os braços em minha direção e não sei o que fazer.

– Alexia, por favor... – imploro, sentindo meu coração se apertar ao vê-lo chorando daquele jeito, mas Alexia está decidida abre a porta e, ignorando o choro e os gritos de Dylan, o leva embora.

Fico paralisada por alguns instantes. Toda a cena passando em minha mente como um borrão, um sonho ruim, do qual iria acordar a qualquer momento, enquanto o choro de Dylan vai se distanciando até desaparecer.

Eu me sento tremendo e percebo que estou chorando também.

Meu estômago está embrulhado e não sei o que fazer. Estou tonta e chocada com nossa discussão. Será que Alexia tem razão? Será que Lukas prometeu se casar com ela? Será que eles estariam casados se eu não tivesse escolhido ficar e lutar?

Minha cabeça está rodando e meu coração afundando em desespero e medo.

E também de raiva.

Se for verdade...

Inferno, só tinha um jeito de saber. Pego as chaves do outro carro que ele mantinha no apartamento e decido ir até a Constantini. Preciso tirar aquela história a limpo e avisar Lukas que Alexia levou Dylan embora.


Lukas

 

– Danielle veio trabalhar? – É a primeira pergunta que faço a Megan quando ela entra na minha sala pela manhã. E me condoo de seu suspiro cansado.

– Veio. Está em reunião com alguns fornecedores. Continua do mesmo jeito. Não sei mais o que fazer.

– Ela está com problemas, com Jack, ela contou?

– Não. Ela não fala sobre seu relacionamento comigo, eu desconfiava há tempos.

Hesito sobre contar a Megan o que Danielle me confessou a respeito da falência de Jack, já que ela não contou nada a mãe.

– Olha, estou tentando ajudar. Farei o possível para que tudo fique bem para a Danielle.

– Eu e o pai dela não sabemos o que fazer. Jack sempre pareceu bom para nossa filha, de uns tempos pra cá, principalmente depois que eles casaram, não sei o que deu errado...

– Só tente convencê-la a ir ao médico. Ela pode estar com estafa por causa dos problemas.

– Ela está grávida.

– Foi confirmado?

– Eu a pressionei ontem. Ela disse que sim. Não quer falar sobre o assunto, desconfio que Jack não está aceitando bem e este é o problema.

Sinto ainda mais raiva de Jack naquele momento.

Como ele pode rejeitar um filho?

– Um filho é algo bom e Danielle deveria estar feliz.

– Eu disse a ela. Sabe como ela ama Jack, quase irracionalmente.

Sim, disto eu sabia.

– Diga a ela para vir aqui assim que sair da reunião.

– Obrigada por ajudar, Lukas. Meu marido e eu agradecemos.

Assim que ela sai da sala meu telefone toca e vejo que é Wilson.

– Oi Wilson.

– Lukas estou a caminho da Constantini.

– Já deveria ter chegado – olho o relógio.

– Sim, estou verificando algumas informações do relatório sobre Jack.

– Já está concluído?

– Sim, como Danielle disse, ele está quebrado. As finanças da empresa dele estão uma bagunça, cheia de rombos, Jack é um péssimo administrador. O pior não é isto, Lukas.

Fico alerta.

– Estou quase certo de uma informação, mas quero falar pessoalmente.

– É tão sério assim?

Wilson parece alarmado.

– É. Assim que chegar eu conto.

– Tudo bem, eu o aguardo.

Desligo e passo os dedos pelos cabelos, olhando a paisagem chuvosa de Seattle pela janela. O que Wilson teria a dizer sobre Jack que pode ser tão grave?

Volto ao trabalho, tentando me concentrar, até que Danielle entra na sala.

Ela realmente está muito pálida e abatida.

– Dani, como está?

Ela sorri amarelo sentando diante de mim.

– Estou bem.

– Sua mãe me contou que está grávida.

Ela fica visivelmente desconfortável.

– Ainda era segredo...

– Por quê?

– Eu... Não sei se ficaremos com o bebê.

– Jack não está aceitando, não é?

– Lukas...

– Danielle, não pode fazer tudo o que Jack quer! Estou vendo você definhar faz tempo, cada dia mais apagada, tudo por causa dele!

– Ele é meu marido.

– Jack não está te fazendo bem, não percebe?

– Ele está com problemas.

– Sim, você já disse, mas não é motivo para maltratá-la, ou não querer o bebê de vocês.

– Ele vai melhorar, só... preciso fazer o que ele quer... Eu disse que não ia fazer, não queria mais, ele prometeu que nunca mais ia precisar, vou ter que fazer...

– Dani, do que está falando?

Ela me encara, com os olhos perdidos.

– Nada... – percebo que ela tenta se recompor. – Sinto muito, Lukas. Sei que não estou cumprindo minhas obrigações direito, prometo que vou melhorar.

– Não deve se preocupar com isto. Quero que cuide de sua saúde e de seu filho. É o mais importante – seguro suas mãos. – Você quer este filho?

Ela hesita, porém sorri fracamente.

– Claro que sim. É meu e de Jack.

– Então lute. Não há nada mais importante do que lutar por um filho. Ele agora depende totalmente de você e deve ser o mais importante.

– Acho que tem razão – ela respira fundo, soltando as mãos.

De repente escuto uma comoção na minha porta.

– Jack, não pode entrar aí – Megan diz, exatamente quando a porta se abre e Jack entra enfurecido.

– Vim buscar minha esposa, não pode me impedir Megan!

Eu e Danielle nos levantamos.

– Jack, o que faz aqui? – Danielle balbucia.

– Vamos embora! Vim te buscar – ele se aproxima, eu me coloco na frente.

– Não vai levá-la a lugar nenhum.

– Saia da minha frente! – Ele me empurra, eu o soco no rosto.

Danielle grita e Jack se levanta enfurecido.

– Seu filho da puta! – Jack vem em minha direção, Danielle o detém.

– Jack, pelo amor de Deus, pare! Agora!

– Este idiota passou dos limites! Vou acabar com você! – Esbraveja.

Megan entra na sala com Paul que rapidamente imobiliza Jack.

– Jack, saia deste prédio ou Paul te arrastará pra fora. – Sibilo.

Jack se livra dos braços de Paul.

– Tudo bem, não precisa mandar seus guarda-costas me segurarem, já que não é homem para me enfrentar! Acha que pode tudo, não é? Porque é rico, você vai ver...

– Jack, chega vamos embora – Danielle pede, segurando seu braço. Jack ainda me lança um último olhar de ódio antes de se afastar com Danielle.

– Que diabos este maluco estava fazendo aqui? – Paul indaga.

– Ele é um idiota.

– Você bateu nele?

– Não é a primeira vez.

– Ele não gosta de você...

– Tem razão.

– E é realmente um babaca. Danielle deveria dar o fora nele.

– Venho falando isto há anos... Paul, por favor, verifique se ele realmente foi embora e dê ordens para que ele não entre mais na empresa.

– Pode deixar chefe.

Paul sai da sala e ainda estou tentando me acalmar quando vejo Mia entrando.

– Mia, o que faz aqui? Cadê o Dylan? – Pergunto confuso.

Ela hesita e percebo que parece consternada, minha confusão se transforma em preocupação.

– Mia? Qual o problema? – Vou em sua direção.

– Alexia o levou embora.

– O quê? – Paro espantado.

– Sim, ela esteve em seu apartamento hoje de manhã – Mia diz quase friamente e um alerta soa em minha mente – estava furiosa com nosso casamento. Nós discutimos.

– E por que ela levou Dylan?

– Eu não podia impedi-la. É a mãe dele. Ela disse que se você quiser ver seu filho novamente, que seja homem e honre suas promessas. – Mia para na minha frente com os olhos cheios de perguntas e acusações. – É verdade que prometeu se casar com ela quando nos separássemos?

Desvio meu olhar e sei que ela entendeu errado, quando escuto sua respiração falhar num soluço.

– Ah meu Deus!

– Não! – Eu a encaro. – Não foi bem assim...

– Não? Como foi? – Sua voz está embargada e corta meu coração.

Me fazendo querer voltar no tempo e mudar todas as decisões equivocadas que tomei quando não tinha mais nenhuma esperança de tê-la de volta em minha vida.

Quando tudo parecia sem sentido, sem futuro.

Só havia Dylan.

E precisava tomar uma decisão parar tentar garantir um bom futuro para ele. Naquele momento pensei que só existia aquele futuro...

Mia precisava ouvir a verdade. A verdade que acreditei que ela nunca precisaria saber.

– Sim, eu e Alexia tivemos uma conversa muito séria, depois que você foi para Londres. Ela era péssima com Dylan. Não tinha a menor responsabilidade e me preocupava. Uma criança precisa de uma mãe presente. Havia pedido que ela fosse morar na casa do Lago, foi um erro. Alexia entendeu errado. Achou que fôssemos voltar. E eu não estava preparado naquele momento. De alguma maneira sentia que devia algo a Alexia, por todo o tempo em que a usei... e havia Dylan. Mesmo sabendo que levaria um longo tempo para te esquecer, eu precisava tentar, por ele.

– Então prometeu se casar com ela... – a voz de Mia vacila. Perfura meu peito.

Quantas vezes mais eu a faria sofrer?

– Disse que precisava que Dylan tivesse uma mãe. Que ela precisava melhorar e cuidar dele direito. Que eu a deixaria viver sozinha com ele se me provasse que havia mudado. E, se tudo melhorasse... Sim, eu disse que poderíamos conversar sobre casamento quando eu obtivesse o divórcio.

Mia fecha os olhos e tento tocá-la.

– Mia, por favor... – ela se afasta.

– Não... Ah, Lukas... – ela chora silenciosamente e não sei o que fazer.

Sinto-me acuado e culpado, sem ter como me defender a não ser falando toda a verdade, que eu via agora, deveria ter sido dita há tempos.

– Você queria se casar com ela... Com a Alexia...

– Deus, Mia, não! – Preciso que ela entenda. – Sempre amei você. Estava com o coração partido por você! Também tinha que pensar em Dylan e nós dois... Eu não via mais nenhum futuro. Por um momento desejei desesperadamente seguir em frente!

– Com a Alexia? – Ela grita, como se eu a tivesse trocado pelo próprio demônio.

– Com a mãe do meu filho – digo por fim.

– Então por que inferno não está com ela agora?

– Porque eu amo você. Porque o tempo passou e nada mudou – sinto minha própria voz vacilando de medo, um nó profundo na minha garganta ao ver a desolação em seu olhar e a dor em sua voz. – Continuei te desejando, continuei sonhando com você, apesar da distância. Quando fui pra Londres, levei Dylan comigo e, mesmo sabendo que seria nosso fim definitivo, no fundo, inconscientemente, desejava saber se teríamos alguma chance. Se você aceitaria meu filho, aceitaria minha vida como era agora. Por que eu ainda te amava mais que tudo e não poderia ficar com Alexia ou qualquer outra.

– Por que não me contou? – Ela pergunta baixinho.

– Por que tive medo. Medo disto que estou vendo em seu olhar. Sabia que ia te fazer sofrer mais uma vez. E temia que não me perdoasse de novo. Errei com você tantas vezes que tenho receio de nunca conseguir fazer o certo.

Mia se afasta para a janela. Seattle está nublada e escura.

Anseio me aproximar e tocá-la.

Desejo fazer a pergunta que está sufocando meu ar.

Tenho medo da resposta.

Nós ficamos em silêncio por um longo tempo.

O telefone em minha mesa toca e não atendo. Até que Megan entra na sala.

– Lukas, me desculpe, precisa atender. É uma emergência.

– O que foi?

– É Wilson. Ele sofreu um acidente.

Pego o telefone e um policial me diz com voz profissional que Wilson capotou o carro a caminho da Constantini.

– E como ele está? – Pergunto chocado.

– Está sendo levado para o hospital central.

– Certo. Obrigado.

Desligo e Mia me olha preocupada.

– Wilson sofreu um acidente grave – digo pegando as chaves do carro – preciso ir ao hospital.

– Claro... vou embora...

Ela me segue para fora da sala e entramos no elevador.

Hesito ao ver sua desorientação.

O mundo parece estar ruindo a minha volta.

Nós chegamos ao térreo e Paul se aproxima.

– Vou com você Lukas? – Pergunta.

– Não. Acompanhe Mia até em casa – eu a vejo saindo do prédio sem se despedir.

– Tudo bem? – Paul pergunta preocupado.

– Certifique-se de que ela fique bem. Tenho que ver Wilson.

– Certo.

Entro no meu carro e logo a frente vejo Paul entrar no carro com Mia.

Enquanto dirijo pelas ruas molhadas, me pergunto se ela manterá sua promessa de nunca mais ir embora.

Chego ao hospital ávido por notícias.

– O que aconteceu? – Indago ao policial.

– Ainda não sabemos explicar direito. A emergência foi chamada quando o carro bateu e pegou fogo.

– Fogo?

– Sim, o motorista foi jogado para fora do carro, sofreu uma contusão na cabeça, além de outros ferimentos bastante graves. O carro foi perda total.

O policial diz que precisarei verificar com os médicos sobre o estado de Wilson, sou informado que ele está passando por uma cirurgia e terei que aguardar.

Aproveito para ligar para Paul.

– Oi Lukas, deixei Mia em casa. Ela se recusou a falar comigo, então não insisti. Vocês brigaram?

– Sim, brigamos – sinto a dor oprimindo meu peito. Brigar parecia um eufemismo para nossa situação.

– Sinto muito cara... quer que eu ligue pra Denise ou Taylor...?

– Não, melhor deixá-las de fora.

– Como está Wilson?

– Está passando por uma cirurgia – conto a ele rapidamente o que aconteceu – por favor avise Megan que ficarei aqui até conseguir saber sobre Wilson. Peça a ela para ligar para sua esposa.

– Claro.

Desligo e penso em ligar para Mia, desisto, em vez disto respiro fundo e ligo para Alexia.

– Imaginei que ao menos se daria ao trabalho de vir até aqui, se não por mim, já que não tem a mínima consideração, por Dylan – diz acidamente.

– Não deveria ter levado Dylan embora, sabe muito bem. Só não fui aí buscá-lo, porque estou no hospital, meu advogado sofreu um grave acidente.

– Wilson?

– Sim, o Wilson. Assim que resolver aqui teremos uma conversa.

– Ah, agora quer conversar comigo?

– Estou tentando te encontrar faz três semanas, você sabe muito bem! Tenho certeza que Brittany te contou sobre Mia estar comigo.

– Hum, tem razão. Precisamos conversar pessoalmente – sinto sua hesitação e me pergunto se Alexia está me escondendo algo.

Não era de seu feitio estar sabendo a respeito de Mia e eu por três semanas sem vir me confrontar como fez hoje. Porém, no momento, não tenho cabeça para as maquinações de Alexia.

– Dylan está bem? – Pergunto.

– Ele está ótimo! Está comigo, que sou a mãe! E não com uma desconhecida que me odeia e possivelmente o odeia também...

– Alexia, pelo amor de Deus, cale a boca, você não sabe o que está dizendo! Mia gosta de Dylan...

– Duvido muito...

Respiro fundo, para não explodir.

– Não vou discutir com você agora.

Desligo e tento me acalmar.

O dia se arrasta, o crepúsculo vem, finalmente a noite cai me trazendo notícias de Wilson.

Eu e sua esposa, que havia vindo assim que soube do acidente, cercamos o médico.

– Ele está estável, a cirurgia correu bem. Ainda temos que mantê-lo em coma induzido.

– Ele ficará bem?

– As próximas horas são críticas.

– Não sei como aconteceu, ele é um motorista tão cuidadoso – Claire Wilson suspira e aperto sua mão.

– As ruas estavam escorregadias.

– Ainda é estranho...

– A policia está investigando, vamos torcer para que ele fique bem.

– Claro. Obrigada por tudo, Lukas. Acho que deve ir para casa.

Eu me despeço, pedindo que me informe assim que ele acordar e vou pra casa. A chuva cessou enquanto dirijo até meu apartamento na noite escura. O tempo inteiro me pergunto se Mia estará lá.

O que farei se ela não estiver?

Simplesmente não posso mais aceitar que ela se vá. Nem agora.

Nem nunca.

Ela me perdoará?

Abro a porta e a sala esta escura e o silêncio reina.

Ao acender a luz lá está ela. Sentada imóvel no sofá com o gato no colo. Sinto um alivio físico me dominar.

Ela está ali. Pelo menos isto.

– Mia? – Me aproximo hesitante.

– Como está Wilson? – Ela pergunta simplesmente.

– Estável. Passou por uma cirurgia. Fiquei no hospital a tarde inteira. Está em coma induzido.

– Ele ficará bem?

– Temos que esperar.

Ela desvia o olhar.

O gato pula do seu colo.

O silêncio entre nós é cheio de uma tensão angustiante.

– Mia, eu sinto muito – digo por fim, me aproximando.

Não aguento e sento diante dela segurando suas mãos entre as minhas.

Ela não se afasta.

– Juro que nunca quis Alexia deste jeito. Nunca a quis como quero você. Pensei que nunca mais ficaríamos juntos, e...

– Eu sei – ela me corta – tive bastante tempo para pensar, acho que entendi esta parte. Entendo que queria o melhor para o Dylan e que não havia futuro para nós. Só não entendo como pode ter escondido de mim. Achei que estávamos sendo sinceros! Como posso confiar em você se me esconde estas coisas?

– Não queria te magoar...

– Mas magoou... muito – sua voz vacila. Corta mais um pouco meu coração quando ela tira suas mãos das minhas e se afasta.

Afasta-se de mim.

Dói fisicamente.

O medo volta a me oprimir de forma alarmante.

De repente meu celular toca. Quero ignorar, então vejo o número da Alexia. Poderia não atender, não posso me dar ao luxo quando Dylan está com ela.

– Alexia – digo e Mia comprime os lábios.

– Lukas, é o Dylan – Alexia diz do outro lado da linha.

– O quê? O que aconteceu com Dylan?

– Ele está doente. Estou no hospital com ele...

– Estou indo para aí.

Desligo e olho pra Mia.

– Dylan está doente. Está no hospital, tenho que ir – explico pegando as chaves do carro.

Sei que tenho que resolver, ou pelo menos tentar até não restar nenhuma força em mim, os problemas com Mia, mas nesse momento só posso pensar em meu filho.

– Vou com você – Mia diz colocando seu casaco e a encaro surpreso.

– Não precisa...

– Eu quero ir – sua voz se eleva não dando margem a discussão.

Por um momento, ouso ter esperanças, enquanto saímos do apartamento em direção à garagem.

Ela ainda estava comigo.


Capítulo 8

 

Mia

 

Como tudo pode mudar em tão pouco tempo?

Hoje de manhã estava feliz e segura em minha bolha de felicidade com Lukas, porém, como eu temia, Alexia Duran voltou para perfurar minha bolha com suas verdades inconvenientes.

Olho para o perfil preocupado de Lukas no carro escuro enquanto percorremos o caminho até o hospital. Também estou preocupada com Dylan. Ainda sentia meu coração se quebrando ao me lembrar do seu choro sentido quando Alexia o levou embora de manhã, o que eu podia fazer? Arranjar mais confusão para prendê-lo à força, sendo que ela era a mãe?

Devia saber que nada seria fácil entre mim e Lukas só porque decidimos ficar juntos para sempre.

Alexia seria sempre um obstáculo em meu caminho, como poderia ser diferente? Ela o queria antes mesmo que eu entrasse na vida dele, atrapalhando seu caminho de sedução até o coração dele.

Mas ela persistiu. Um casamento de contrato não seria empecilho para alcançar seu objetivo maior: Lukas.

E como poderia culpá-la? Eu mesma me apaixonei sem perceber, quando ele era apenas meu algoz, me obrigando a um casamento de conveniência para não tirar tudo o que eu tinha, enquanto meu pai jazia em coma acusado de um crime que até hoje eu tinha dúvidas se ele realmente cometeu.

Então me tornei mais uma na fila de mulheres deslumbradas por Lukas Constantini.

Só que eu não era Alexia, que conhecia todos os truques para levar um cara como Lukas para a cama. Ela conseguiu mantê-lo lá e com certeza esperava o dia em que seu envolvimento iria além dos meros encontros sexuais se tornando muito mais.

Assim como eu esperei secretamente que nosso casamento deixasse de ser um simples contrato e se transformasse em algo verdadeiro.

Julguei ter ganhado o primeiro round quando ele me levou para o Havaí. Infelizmente não venci a guerra, pois Alexia ganhou a batalha seguinte engravidando de Dylan. E eu, julgando que a guerra estava perdida para sempre fui embora, recolhendo minhas armas.

Nós duas nos esquecemos que quem decidia o vencedor era Lukas. Ele foi atrás de mim, o contrato acabou e ele me escolheu.

E eu aceitei o que ele tinha para me oferecer, julgando que seria capaz de enfrentar tudo o que ainda existia entre nós. E me apaixonar por Dylan foi tão fácil quanto me apaixonar por Lukas. Infelizmente Alexia Duran ainda estava por ali, pronta para enfiar suas garras de unhas compridas em nossa bolha e rachar minha confiança em nosso amor, até que eu fugisse de novo com o rabo entre as pernas como sempre fiz.

Era o que ia acontecer? Pergunto-me com um estremecimento de dor.

Quero quebrar minha promessa a Lukas deixando-o de novo para que Alexia possa, enfim, ter o seu prêmio?

Porque sei que, na verdade, é só o que Lukas representa pra Alexia. Um grande prêmio de loteria.

Para mim ele significa muito mais. Lukas é tudo o que preciso para ser feliz. Prefiro estar ali com ele, num silêncio tenso de um carro depois de uma briga, indo ver o filho que ele teve com outra mulher e, muito provavelmente, indo ao encontro desta mesma mulher que certamente não perderá a oportunidade de me enfurecer, do que estar sem ele de novo.

Nunca mais quero estar só novamente.

Quero lutar para ser feliz. Prefiro viver lutando a desistir.

O que sinto por Lukas vale minha luta.

Ele para o carro em frente ao hospital. Respiro fundo ao descer e seguro sua mão. Ele me encara entre confuso e surpreso.

– Não vou a lugar algum – murmuro.

Vejo seu olhar suavizar e uma expressão de alívio desanuviar um pouco seu rosto. Sei que ele quer dizer muitas coisas, o calo.

– Agora não. Vamos ver Dylan.

Nós entramos no hospital e nos informamos até chegar ao pronto socorro infantil.

Alexia está na sala de espera, ao telefone.

– Não me interessa o que está fazendo, você é paga para cuidar dele... – ela para ao nos ver. – Brittany, depois eu te ligo, Lukas chegou.

Ela desliga e nos encara, o olhar passando de Lukas para mim.

– O que ela está fazendo aqui?

– Não comece Alexia, como está Dylan? O que aconteceu?

– Ele parecia bem, então começou a vomitar e estava quente, eu o trouxe para cá direto, o médico está com ele...

– E por que você não está lá?

– Vim falar com a Brittany...

Lukas não espera ela terminar e entra no quarto. Dylan está dormindo e tem um soro preso em seu bracinho.

O médico olha o prontuário.

– Sou o pai de Dylan, o que aconteceu? – Lukas pergunta.

– Ele está com febre alta que já estamos baixando com medicamento. Provavelmente é uma virose. Estamos fazendo alguns exames para tirar as dúvidas.

– Quando ele poderá ir embora?

– Temos que controlar a febre e aguardar os resultados dos exames.

Toco os cabelos de Dylan, o achando tão pequeno e indefeso naquela cama.

Lukas se coloca do meu lado, parece arrasado.

– Ele vai ficar bem, não é? – Pergunto e Lukas toca meus ombros.

– Sim, vamos esperar.

Alexia entra no quarto.

– Brittany não deveria ter tirado folga hoje! Está dizendo que está numa festa e não quer vir pra cá.

– Deixe a garota em paz, Alexia – Lukas pede. – Dylan está doente e somos nós que temos que cuidar dele.

Ela pisca e num segundo está ao lado da cama segurando a mão de Dylan.

– Claro que sim, coitadinho do meu bebê... A mamãe vai cuidar de você querido...

Eu me sinto enjoada de repente com o perfume dela e saio de perto, me afastando.

– Mia, tudo bem? – Lukas pergunta e meu olhar fixa na cena diante de mim.

Lukas de um lado e Alexia de outro, os dois ao lado de Dylan.

De repente me sinto uma intrusa. Sei que não deveria e que aquela cena é normal. Afinal, eles são os pais, verei isto muitas vezes daqui pra frente, terei que me conformar. Ainda é duro.

Mordo os lábios com força.

Saio do quarto, me sento em um dos bancos e respiro fundo algumas vezes para acalmar minha tontura súbita.

Foi um longo e interminável dia, esta era a verdade meu corpo estava cobrando o preço.

Algum tempo depois Lukas senta do meu lado.

– Você está bem? Está pálida – ele toca meu rosto.

– Acho que estou cansada – murmuro.

– Vá para casa descansar, então.

– Não, quero ficar...

– Dylan está dormindo e vai demorar algumas horas para sair o resultado dos exames. Você não parece bem, prefiro que vá descansar.

Quero discutir e bater o pé, apesar de realmente me sentir esgotada.

Sem contar que, ficar ali com toda aquela tensão entre nós e Alexia não iria ajudar Dylan em nada.

Lukas me acompanha até a rua e chama um táxi. Eu o abraço, ficando um momento encostada nele, sentindo seus lábios em meus cabelos.

Não sei quanto tempo vai demorar para as coisas ficarem bem, porém precisava acreditar que ficariam.

– Irei pra casa assim que Dylan estiver liberado.

– Você vai levá-lo pra casa também? – Pergunto, me afastando.

– Não sei. Talvez seja melhor que ele fique com Alexia e Brittany.

Eu me sinto meio mal por ele não confiar em mim com Dylan doente, não discuto.

Talvez ele tenha razão, o que eu entendo sobre cuidar de uma criança doente?

Entro no táxi e vou pra casa.

Tomo um banho e tento comer alguma coisa, há um nó na minha garganta. Eu me deito e adormeço num sono agitado até que sinto a presença de Lukas, abro os olhos para encontrá-lo deitado do meu lado.

– Lukas... Como está Dylan?

– Está em casa com Alexia. Ele vai ficar bem.

Eu me pergunto se ele foi até a casa de Alexia. Deve ter ido claro. Não deveria me incomodar com isto. Infelizmente me incomoda.

Escolho não falar nada, afinal, por causa de Dylan, não posso simplesmente proibir Lukas de ir à casa de Alexia.

– E você está bem? – Pergunta, tocando meu cabelo.

– Sim, estava apenas cansada. Ontem foi um longo dia... Aliás, que horas são?

– Passa das três.

– Você parece cansado também – toco seu rosto. Ele tem olheiras escuras sob os olhos cansados.

– Foi um longo dia para mim também. A discussão com Jack, o acidente com Wilson e Dylan doente. E tudo o que eu pensava era que poderia estar perdendo você – dedos tocam meu rosto e seus olhos capturam os meus, me levando para sua tormenta. – Eu posso aguentar qualquer coisa se tiver você esperando por mim, sem você...

– Estou aqui – seguro sua mão com força e me aproximo dele – eu disse que nunca mais iria embora.

– Você está brava comigo.

– E acho que ficarei brava muitas vezes, não é? – Sorrio ternamente infiltrando os dedos em seus cabelos e puxando. – Não pense que vai se livrar de mim tão fácil.

Ele me beija, me apertando forte e me derreto inteira. Meu coração se aquecendo no mesmo compasso do meu corpo com seu beijo.

Era assim que devia ser. Nós dois juntos, ao final de um dia horrível. Ainda juntos.

– Eu te amo – sussurra, quando finalmente afasta os lábios dos meus. – Preciso tanto de você... tanto...

Ele me beija muitas vezes, me fazendo esquecer tudo a não ser o seu gosto, o seu toque, o seu desejo despertando o meu.

E, sem necessidade de mais palavras, nossos corpos encontram um no outro um jeito de se desconectar do mundo lá fora.

Fechos os olhos e deslizo numa doce e bem-vinda inconsciência onde só existe Lukas se movendo dentro de mim devagar enquanto seus olhos sondam os meus, tão cheios de amor que enchem minha alma de contentamento.

– Nunca me deixe... – ele murmura entre gemidos contra meus lábios e o abraço forte.

Sou inteiramente dele naquele momento. E serei para sempre.

– Nunca... – murmuro, deixando o prazer que ele sempre me dava dominar meus sentidos mais uma vez.

Acordo quando Lukas já está pronto para sair e ainda é cedo.

– Vai mesmo trabalhar? Dormiu tão pouco – reclamo quando ele pega o celular e a chave do carro.

– Preciso. Ainda estou na expectativa que Wilson acorde, temos alguns problemas da Constantini pendentes...

Ele parece realmente preocupado.

– Que problemas?

– Contarei depois. Agora preciso ir – ele me beija rapidamente e sai.

Taylor liga algum tempo depois perguntando se vamos sair hoje para escolher as flores para o casamento.

– Agora de manhã não posso – respondo. Eu sabia o que ia fazer, mesmo intuindo que poderia dar em confusão.

– Por que não? Eu já combinei com a Denise...

– Vou ver o Dylan, ele está doente.

– Jura? Coitadinho, o que ele tem?

– Uma virose.

– Ah, está atacando todo mundo! Espera, não é a semana do Lukas? Dylan está com a Alexia?

– Está.

– Hum, e você vai à casa dela?

– Vou sim.

– Quer que eu vá com você?

– Não precisa. A gente se encontra à tarde, pode ser?

– Tudo bem.

Nós combinamos de nos encontrar na casa de Denise e desligo indo me arrumar.

Me pergunto se devo avisar Lukas que vou a casa de Alexia, decido não dizer nada. Ele já está preocupado com a Constantini e Wilson e vai ficar maluco se souber que irei até lá.

Preciso ver se Dylan está realmente bem. Sei que Brittany vive dizendo que Alexia é uma ótima mãe e parece convencer Lukas, sinceramente, há algo que não se encaixa direito.

Dirijo até o prédio de Alexia, que não é longe da casa de Lukas, o porteiro me deixa subir sem problemas quando digo que sou noiva de Lukas.

Toco a campainha e, depois de alguns segundos, uma empregada uniformizada atende.

– Olá, sou Mia Agnelli.

– A Senhora Alexia está ocupada. Está fazendo as unhas – a mulher diz secamente.

– Sou a noiva do Lukas. Vim ver o Dylan – passo por ela mesmo sem ser convidada, antes que tenha tempo de chamar Alexia.

O apartamento é ricamente decorado, vou até a sala, onde há uma TV passando desenho animado e no sofá Dylan está deitado todo encolhido agarrado a um cobertozinho.

– Dylan! – Me aproximo e seus olhinhos se iluminam confusos quando me vê.

Ele parece bem doente ainda deitado sozinho ali.

– Mia – ele estende os braços pra mim e me sento no sofá, puxando-o para meu colo.

– Oh, querido, você está bem? – Acaricio seus cabelos suados. Ele ainda está bastante quente.

– Eu tô dodói, Mia – ele murmura fracamente.

Olho para a empregada que continua ali, acho que ela não sabe o que fazer.

– Onde está a Alexia? – pergunto.

– Está no quarto com a manicure.

Como a Alexia podia deixar Dylan sozinho quando está doente para fazer as unhas?

– E Brittany?

– Ela ainda não chegou...

– E por que Dylan está sozinho? Ele está doente, acho que está com febre!

– Não sou babá e dona Alexia sabe disto.

Respiro fundo, irritada.

– Entendi... Pode chamar a Alexia então? Se ela não aparecer agora, eu vou lá arrastá-la até aqui – ameaço.

Dylan parece assustado quando puxa minha blusa.

– Mia, fica comigo.

– Não fique assustado, Dylan, não vou a lugar nenhum. Vou ficar com você, está bem?

– Está doendo... – ele começa a chorar.

– Está doendo onde?

– Minha barriga...

– O que está acontecendo aqui? – Alexia aparece irritada, então me vê com Dylan. – Ah é você? Quem te deu permissão para entrar na minha casa?

– Eu vim ver o Dylan e o encontro sozinho largado aqui, enquanto você está fazendo as unhas! – Explodo, irritada.

Dylan chora mais alto e, antes que eu possa impedir, Alexia se aproxima e o tira do meu colo.

– E você está fazendo ele chorar! Ele estava quietinho até você vir fazendo escândalo... – olha irritada pra Dylan. – Pare de chorar, Dylan! Está tudo bem! – Diz impaciente.

– Ele está com dor! – Eu me levanto.

– Você não sabe de nada... – antes que termine Dylan vomita em cima dela. – Ai meu Deus, Dylan, olha o que você fez! – Grita enojada afastando a criança, prontamente eu o seguro.

Dylan apenas choraminga agora e o abraço.

– Está tudo bem...

– Esta roupa era nova! – Alexia reclama não parecendo nem um pouco preocupada com a criança.

– Qual o seu problema? – Exclamo começando a me dar conta que minhas suspeitas eram verdadeiras. – Dylan está doente e você está mais preocupada com a sua roupa!

– Esta roupa é cara e duvido que alguém goste de levar vômito! Que nojo!

– Não deveria ter nojo de seu filho! Eu tenho nojo é de você agindo deste jeito!

Alexia parece perceber o que está fazendo e dá de ombros, mudando de atitude.

– Não estou com nojo, claro! Só fiquei assustada, me dê ele – estende os braços, mas Dylan se agarra a mim.

– Não, eu posso ajudar. Diga-me onde é o quarto dele.

– Hum, tudo bem, preciso mesmo trocar de roupa, antes que fique arruinada pra sempre.

Ela segue pelo corredor vou atrás e chegamos ao quarto de Dylan.

Eu o coloco na cama e ele ainda chora baixinho, quando tiro sua roupa suja.

– Está tudo bem, querido, a barriga está doendo?

Ele funga.

– Não.

Toco sua testa. Ainda parece com febre.

Vou até o armário e pego outro pijama, coloco nele e o deito na cama.

– Eu já volto, está bem?

Vou atrás de Alexia para perguntar se tem algum termômetro para medir a febre.

Para minha surpresa, ela está na sala com Brittany.

– Você deveria ter vindo ontem a noite quando a chamei! – Diz, irritada.

– Lukas me deu folga!

– Não interessa! Quem manda sou eu e temos um acordo!

– Olha, já estou de saco cheio destes seus gritos – Brittany reclama. – E você me prometeu um aumento por eu ter ficado com Dylan todo este tempo e... – ela para quando me vê. – Mia?

Alexia se vira e me vê também.

– Preciso de um termômetro para medir a febre de Dylan, você tem, Alexia? – Pergunto, ignorando a discussão das duas para me concentrar em Dylan.

– Não faço nem ideia do que é isto! – Alexia exclama.

– Sim, nós temos – Brittany diz e vai até o quarto pegando o termômetro numa prateleira e me entrega.

Eu me aproximo de Dylan e o seguro no meu colo, enquanto uso o termômetro.

– Achei que ele estivesse melhor – Brittany nos observa.

– Acho que ainda tem febre.

Ela se aproxima e coloca a mão na testa dele.

– Não acho que seja febre, está só um pouco quente.

– Como sabe?

– Já cuidei de Dylan doente antes – diz presunçosamente.

– Hum, não deveria ser Alexia a cuidar?

Brittany dá de ombros desviando o olhar.

– Claro que ela cuida... só ajudo...

– Sei...

Tiro o termômetro e, como Brittany disse, a temperatura dele não estava alta.

Sinto-me aliviada.

Ainda fico com Dylan no colo por um tempo, até que ele adormece.

Eu o coloco na cama e o cubro.

Alexia entra no quarto.

– Acho que deveria ir embora – diz friamente.

Reluto. Não quero deixar Dylan ali, contudo, o que posso fazer?

Alexia é a mãe dele, embora eu tenha certeza que é péssima mãe, quem deve cuidar de Dylan é Brittany.

Encaro Brittany.

– Você vai ficar?

– Sim, vou cuidar dele – Brittany garante.

– Tudo bem, eu vou. Ligarei mais tarde para saber se está tudo bem.

Brittany dá de ombros.

– Como quiser.

Alexia me acompanha até a porta.

– Não venha mais a minha casa sem ser convidada. Sei muito bem como cuidar do Dylan, ele é meu filho, não seu.

– Infelizmente ele é seu filho, mas também é filho de Lukas e vou ficar de olho em você a partir de agora. Pode ter enganado Lukas com esta pose de boa mãe, a mim não engana!

Saio de lá pisando duro decidida a colocar um fim naquela farsa de Alexia fazendo Lukas ver a mãe relapsa que é.

– Finalmente apareceu! – Taylor exclama, divertida, ao abrir a porta pra mim no apartamento de Denise.

Denise obviamente não acha nem um pouco divertido meu atraso.

– Achamos que nem vinha mais! Tenho mais o que fazer do que ficar esperando o dia inteiro – bufa irritada.

Se ela está irritada, também estou e por motivos muito mais sérios.

– Fui visitar Dylan – começo a explicar.

– Ah, sim, Taylor me disse que ele está doente. Até liguei pra Alexia pra saber se estava tudo bem depois que Taylor me contou, ela não atendeu ao telefone.

– Possivelmente estava bastante ocupada fazendo as unhas ou sei lá que futilidade, em vez de cuidar do próprio filho!

– E aí? Como foi na casa dela? Pensei que ela te odiasse! – Taylor ri. Como sempre ela não vê seriedade em nada.

– Claro que ela odeia a Mia. Sempre quis casar com o Lukas. Tinha certeza que Lukas se casaria com ela quando acabasse o contrato com a Mia, deve ter ficado furiosa quando ficou sabendo que vão se casar de novo – Denise alfineta.

– Vocês ainda são amigas? – Pergunto.

– Falo com ela de vez em quando, geralmente mais sobre o Dylan.

– Depois que foi morar com Paul, Denise largou os amigos fúteis – Taylor pisca.

– Meus amigos não são fúteis! – Denise reclama. – E então, o Dylan está bem?

– Ele está caidinho ainda, mas não tem febre. O que me irritou mesmo, é que Alexia estava fazendo as unhas, enquanto o menino estava sozinho no sofá, largado, sem ninguém cuidando dele!

– E a babá? – Taylor pergunta.

– O Lukas a dispensou ontem e quando cheguei, ela não estava lá. Isto não justifica! A Alexia tinha que cuidar do filho!

– Achei que ela fosse uma boa mãe – Denise comenta. – Pelo menos é o que dizem! Sei que ela demorou a se adaptar no começo, o Lukas deu uma dura, chegou até a levá-la pra morar na casa do Lago. Depois nunca mais teve problema...

– O Lukas está sendo enganado, isto sim! Pelo que vi a Alexia não cuida do Dylan e sim a Brittany! Acredito que a Brittany mente para o Lukas dizendo que a Alexia é uma mãe presente!

– Será? – Taylor parece descrente.

– Tenho certeza! Pelo menos nesse tempo que estou aqui, nunca vi Alexia demonstrar nem carinho pelo filho, quanto mais cuidados! Ela teve um chilique quando ele vomitou nela e tive que tomar a iniciativa de ver se ele tinha febre. A Alexia nem sabia o que era um termômetro, só ficava reclamando que a Brittany tinha que voltar pra cuidar do Dylan. Sinceramente não é atitude de uma boa mãe, com certeza!

– O Lukas teria percebido, ele adora aquele menino...

– Ah, Lukas, como a maioria dos homens, não vê um palmo diante do próprio nariz quando uma mulher ardilosa se propõe a enganá-los! – Denise intervém. – Sim, ele é um ótimo pai e adora o Dylan, só que o menino passa uma semana inteira com a Alexia e Lukas não sabe o que acontece por lá. O Dylan parece bem cuidado sempre e não é difícil ser do jeito que a Mia falou. A babá cuida e Alexia leva a fama!

– Claro, ela não ia querer que o Lukas colocasse em cheque sua integridade como mãe, já que ele prometeu se casar com ela, caso melhorasse! – Digo amargamente e as duas se entreolham.

– Então é verdade? – Denise indaga.

– Sim, ela me disse e o Lukas confirmou.

– Lukas é tão idiota às vezes, que dá vontade de sacudi-lo! – Denise bufa. – Imagino que você esteja furiosa...

– Fiquei claro. Mas... – dou de ombros. – Eu e o Lukas estamos comprometidos agora. Ele fez esta promessa a ela quando fui embora e ele estava pensando no Dylan.

– Hum, você é bem boazinha, eu o teria mandado à merda!

– Denise! – Taylor reclama e me encara quase suplicante. – Mia, o Lukas adora você! Acho que ele fez bastante coisa errada, afinal é humano, mas gosta de verdade de você, não o deixe por causa da Alexia. Ela é só uma mulher gananciosa querendo o dinheiro do Lukas!

– Eu sei – murmuro. – Por isto ainda estou aqui. Preciso dar um jeito de Lukas ver que ela não presta como mãe.

– Conte a ele o que viu, oras!

– Não sei se adianta simplesmente contar! Ele acreditou nesta farsa dela até hoje! Não quero que pareça que estou com ciúme de Alexia...

– Já sei o que vamos fazer – Denise diz. – Vamos colocar a babá contra a parede!

– Se ela é da confiança de Alexia, não vai nos contar nada! – Taylor intervém.

– Ah, ela vai falar, ah se vai! – Denise pega o telefone e disca. – Alô? É a Denise... Não, quero falar com a Brittany... Sim, a babá, anda logo! – Ela revira os olhos. – Empregados!

Troco um olhar apreensivo com Taylor e Denise volta a falar.

– Oi, Brittany, é a Denise, irmã do Lukas... Não, é com você mesmo que quero falar... poderia vir até a minha casa?... Tenho uma proposta de trabalho pra você... Sei que já tem um emprego, imagino que não queira ser babá e capacho da Alexia para sempre. É um serviço fantástico e pagarei muito bem. Claro que se não quiser, pode declinar. Se puder vir conversar comigo hoje a noite, seria ótimo... tudo bem está marcado!

Minutos depois, ela desliga e sorri para nós.

– Está feito.

Naquela tarde, nós saímos para escolher as flores para a cerimônia, como Taylor queria, porém minha mente está longe. Me pergunto se conseguiremos fazer Brittany confessar os podres de Alexia. Estou muito preocupada com Dylan naquela casa, tendo apenas a babá para cuidar dele e uma mãe que não está nem aí.

À noite, estamos na casa de Denise, esperando Brittany, quando Lukas me liga.

– Mia, tudo bem?

– Tudo, estou na casa da Denise cuidando dos preparativos para o casamento – minto.

– Vou passar na casa da Alexia para ver o Dylan – ele diz com a voz meio receosa esperando que eu fique irritada.

– Tudo bem. Estive lá hoje – confesso.

– Esteve? Por que não me disse?

– Porque achei que ficaria preocupado.

– Fiquei preocupado agora. Como foi?

– Hum, podemos falar sobre isto depois? Dylan estava doentinho ainda, sem febre. É o que importa.

– Sim, Alexia me disse quando liguei de manhã.

– Ah é? Que mais ela disse? – Jogo verde para ver que tipo de mentira ela havia inventado.

– Que o estava vigiando constantemente, que ele estava bem melhor, brincando e animado. Até pensei que poderia levá-lo pra casa hoje, já que melhorou...

– Ele não me pareceu animado quando estive lá, muito pelo contrário, aliás... – respiro fundo para não jogar tudo o que vi para Lukas ao telefone. – Enfim, vá visitá-lo. Fique com ele lá e acho que deveria levá-lo pra casa. Nós podemos cuidar dele.

– Vou conversar com a Alexia e verificar o que é melhor para o Dylan.

– Claro – rosno pensando que minha raiva de Alexia aumenta a cada segundo.

Desligo quando Brittany está entrando no apartamento e ela arregala os olhos quando me vê.

– O que está acontecendo aqui?

– O que está acontecendo queridinha, é que você vai nos contar tudo sobre seu acordo com Alexia Duran – Denise diz friamente.

– O quê? Do que está falando?

– Brittany, nós queremos só conversar. – Taylor segura seu braço e a faz sentar. – Sente-se, fique à vontade e nos conte por que mente para o Lukas sobre Alexia? – Pergunta.

– Não estou entendendo...

– Está sim – eu me aproximo. – Você sabe tão bem quanto nós que Alexia é péssima mãe. Você mente para o Lukas dizendo que ela é ótima, quando quem cuida do Dylan é você.

– Claro que não! Você está maluca? Olha, eu vou embora – ela faz menção de se levantar, Denise a impede.

– Fique aí! Não vai a lugar nenhum!

– Você me disse que tinha um emprego pra mim...

– Era mentira, obviamente!

– Me chamou aqui para eu falar mal da Alexia? Não vou fazer isto.

– Você não vai falar mal de Alexia. Vai dizer a verdade – afirmo. – Estive lá hoje. Vi o desleixo com o qual Alexia trata o Dylan. Ela estava desesperada a sua procura. Vou contar ao Lukas...

– Ele não vai acreditar...

– Pode ser que de primeira não. Acredita que vão continuar com esta farsa por mais quanto tempo? Sei que você também já está farta de ser usada por Alexia. Por que concorda com isto?

– Ela me paga muito bem! – Brittany desabafa. – E não faço nada errado! Sou paga para cuidar do menino e cuido bem!

– E acoberta Alexia...

– Ela me paga a mais! Se bem que, ultimamente ela anda me devendo, sem contar que estou mesmo de saco cheio! Fiquei estas três semanas cuidando do menino, sem poder ir pra casa porque ela estava viajando...

– O quê? Viajando? – Me recordo da mulher parecida com Alexia que vi em Londres.

– Sim, ela vive fazendo isto. Ou diz que vai pra Aspen e vai pra outro lugar, ou Lukas pensa que ela está aqui e na verdade está em alguma praia com o namorado da vez...

– Ela tem um namorado? – Taylor se intromete toda curiosa.

– Sempre tem! Quando volta me traz presentes caros. Por que eu iria me negar a ajudá-la?

– Porque está mentindo para o Lukas! – Exclamo. – Não pensou que é errado?

– Não tenho nada a ver com isto – ela dá de ombros. – Sou paga e faço o que mandam.

– Não pensa no Dylan?

– Eu cuido direitinho do Dylan. Bem melhor que a Alexia que não sabe nada de crianças nem tem a menor paciência. É até melhor para o menino que ela fique longe!

– E, mesmo assim, tem coragem de dizer ao Lukas que ela é uma boa mãe?

– Como disse, não é da minha conta... Ela tem que se fazer de santinha para o Lukas, porque quer casar com ele. Ela ficou furiosa quando descobriu que iam se casar...

– Você contou a ela? Ela só apareceu agora...

– Estava viajando. Costuma desaparecer, às vezes, não sei onde está por dias... não conseguia falar com ela. Quer dizer, acho que ela não atende de propósito! Tentei avisar sobre o casamento, só consegui quando voltou. E ela ficou louca!

Deus, Alexia era realmente uma pilantra! Como Lukas pôde ser tão cego? Ela e Brittany armaram direitinho o tempo inteiro! Agora isto ia acabar.

Pego as chaves do carro.

– Vamos para a casa da Alexia.

– O quê?

– O Lukas está lá. Você vai contar a ele tudo o que me contou.

– Não posso. A Alexia vai me matar!

– Aposto que Lukas vai matar Alexia primeiro quando ficar sabendo de toda esta armação. E, se ele não matar, eu mato!


Lukas

 

E se as coisas estão ruins, elas podem ficar piores, era o que eu pensava constantemente durante aquele dia.

Ontem meu mundo entrou em colapso. Acidente com Wilson, justo quando ele parecia ter algo importante para me revelar. Jack invadindo minha sala e levando Danielle, depois a briga com Mia.

E, para completar, Dylan adoeceu.

Se Wilson continuava desacordado, Danielle não veio trabalhar e Megan não conseguia contato com a filha desde ontem e Dylan ainda estava adoentado, pelo menos Mia permanecia comigo.

Se além de tudo, Mia tivesse, mais uma vez se afastado, não teria forças para manter a mente trabalhando para solucionar os outros problemas.

Então com isto em mente, sabendo que está segura em casa esperando por mim, liguei para Alexia para saber como Dylan estava, ela me garantiu que ele estava melhor.

Respirando aliviado disse que iria passar lá à noite, não adiantei que pretendia levá-lo para ficar comigo e Mia. Não havia esquecido que precisava conversar seriamente com Alexia sobre a discussão que teve com Mia ontem. Certamente não seria fácil, embora tivesse que ser feito.

Precisava deixar claro para Alexia que Mia e eu iríamos nos casar e era fato consumado. Realmente estava muito arrependido de ter feito uma promessa a ela que era incapaz de cumprir, infelizmente as coisas eram assim.

Nunca mais iria abrir mão de Mia. Dylan era minha única preocupação e já não era um problema. Ele estava apegado a Mia e ela a ele.

Não conseguia deixar de sorrir ao pensar nisto. Era como um sonho se tornando realidade. Um sonho que julgava impossível. Ver Mia sendo amorosa com Dylan me fazia amá-la ainda mais, além de me fazer pensar em como seria quando tivéssemos nossos próprios filhos um dia.

Teríamos tempo.

Agora precisava resolver as questões da Constantini sobre o novo desfalque cujo culpado ainda não conseguimos descobrir. Também havia Danielle e seus problemas com Jack. E o acidente de Wilson. Se ao menos ele acordasse e me dissesse o que descobriu...

O dia passou sem que Wilson demonstrasse sinais de melhora.

Fazendo-me lembrar sombriamente de outro acidente grave. O que deixou John Agnelli em coma por cinco anos. Era uma terrível coincidência, não era? John Agnelli estava fugindo porque foi descoberto e Wilson...

Bem, não sabia o que tinha acontecido com ele realmente.

Chego à casa de Alexia já me sentindo tenso, ela abre a porta sorridente.

– Olá, Lukas.

– Como está Dylan? – pergunto.

– Está bem, dormindo no quarto...

Vou até o quarto e ele dorme tranquilamente. Coloco a mão na sua testa e ele não tem mais febre.

– Eu falei que ele estava bem! – Alexia diz atrás de mim. – Brittany estava aqui até agora a pouco mas saiu, não sei para onde. Esta garota é tão insolente e folgada, se não fosse uma boa babá, eu a demitiria...

– Alexia, vamos para a sala – peço e nós saímos do quarto. – Mia me disse que esteve aqui hoje.

– Ah, ela disse? Ela veio sem ser convidada.

– Mia pode ver Dylan quando quiser – digo friamente. – Você terá que se acostumar. Como minha esposa, Mia terá tanto acesso a Dylan quanto eu.

– Esposa – Alexia faz uma careta. – Pensei que eu seria sua esposa.

Passo os dedos pelos cabelos. Lá vamos nós.

– Eu disse que nós iríamos conversar sobre...

– Em vez disto, estamos falando sobre o seu casamento com a Mia!

– Sinto muito. Naquela época pensei que realmente poderíamos ter um futuro. Ia fazer pelo Dylan.

– Claro, sempre pelo Dylan! Nunca por mim!

– Nunca menti pra você, Alexia, sabe muito bem.

– Não, nunca mentiu! Mas se comprometeu comigo! E eu te esperei! Fui uma boa mãe para o Dylan, fiquei cuidando dele, sem ter nenhum homem na minha vida, te esperando...

– Pode parar de mentir, Alexia – eu me viro surpreso ao ouvir a voz de Mia. Com Brittany muito pálida ao seu lado.

– Mia?

– O que está fazendo aqui? – Alexia rosna depois encara Brittany. – E você onde se meteu?

– Sinto muito, Alexia, tive que contar tudo a Mia. Já era...

– O quê? – Eu e Alexia falamos ao mesmo tempo.

– Brittany tem muita coisa para contar a você Lukas. – Mia fala calmamente. – Começando pelo fato de Alexia ser uma péssima mãe e de vir mentindo pra você há muito tempo!

– Ora, sua mentirosa! – Alexia grita. – O que foi que você fez?

– Elas me coagiram! Não queria contar nada, Alexia... em algum momento eles iriam descobrir.

– Descobrir o quê? – Pergunto, começando a ficar irritado com aquele jogo de palavras.

Que porra Brittany tinha pra me contar? Que mentiras Alexia andou inventando?

– Brittany, o que tem a me dizer?

– Não acredite no que ela diz! – Alexia começa, eu a calo com um olhar ameaçador e seguro o braço de Brittany. – Venha comigo!

Levo-a para o escritório e a faço sentar.

– Que merda está acontecendo? Por que Mia diz que Alexia mentiu? Sobre o que estão falando?

– Eu não sei... – Brittany hesita.

– Brittany, você começou, agora terá que terminar.

– Sinto muito Lukas, a Alexia estava me pagando...

– Pagando? Quem paga você sou eu.

– Ela me pagava por fora para ficar cuidando de Dylan quando viajava.

– O quê? Para Aspen? Dylan ficava comigo quando Alexia viajava...

– Não, ela viaja sempre. E não pra Aspen, era mentira. Ela geralmente vai para alguma praia chique, ou para a Europa, como da última vez...

– Está me dizendo que a Alexia viajava e deixava o Dylan com você?

– Sim, muitas vezes. Ela sempre tinha algum namorado esperando e não queria que você soubesse. Eu concordava porque ela me pagava e trazia presentes.

Começo a sentir uma raiva cega borbulhar dentro de mim.

– Por que nunca me contou?

– Porque ela me pagava! E eu não via mal algum. Eu cuido direito do Dylan, Alexia nunca cuidou dele. Nem quando estava aqui. Nem fazia diferença.

– Você está me dizendo que Alexia nunca cuida do Dylan? – Pergunto devagar.

– Ela não tem paciência nem vontade! É uma péssima mãe, se quer saber...

Sinto dificuldade para respirar.

Quantas coisas tinham acontecido bem debaixo das minhas vistas?

Quanto Alexia havia me enganado?

Eu deveria saber. Deveria ao menos desconfiar. Não, o idiota acreditou que ela iria mudar. Nós fizemos um acordo enquanto eu esperava que ela continuasse com sua vida desregrada, ela, aparentemente, nunca mais deu uma festa. Até onde eu sabia, estava sempre em casa com Dylan e Brittany.

Brittany foi a primeira babá que se entendeu com Alexia, parecia ser perfeita.

Claro. Era muito bem paga para cuidar de Dylan e não contar sobre as mentiras de Alexia.

E eu julgando que estava tudo bem. Fiquei aliviado por ver que nosso acordo de guarda compartilhada estava dando certo, por isto desisti de pedir a guarda de Dylan só para mim, como desejava, às vezes. Alexia era a mãe e tinha seus direitos também.

E a vida seguiu porque, antes de Mia voltar a minha vida, como eu tinha dito a Alexia, havia a possibilidade de darmos outra chance a nosso relacionamento. Não por eu ter algum sentimento por ela. E sim por Dylan, que merecia ter um pai e uma mãe presentes.

No entanto a mãe de Dylan não se importava com ele.

Nunca se importou.

Sinto uma dor profunda no meu peito.

Dylan é só uma criança e não merece ser tratado desse jeito. Como eu iria dizer a ele, quando tivesse idade para entender, que a mãe não se importava?

Que provavelmente só o manteve por perto para que eu a sustentasse, enquanto ela se esgueirava por aí com algum amante?

Me pergunto como teria sido se Mia não tivesse voltado.

Será que me casaria com Alexia? Será que ela continuaria a fingir ser uma boa mãe? Ou finalmente sua irresponsabilidade se revelaria?

Era algo que nunca iria saber.

Porque ia me casar com Mia. Ela seria minha esposa e minha família

E Dylan faria parte desta família também.

– Você está despedida – digo a Brittany antes de abrir a porta e ir para a sala. Alexia estava lá, andando de um lado para o outro.

– O que foi que ela inventou? É tudo mentira! Eu ameacei despedi-la porque ela...

– Chega Alexia! – Paro diante dela. A vontade que tenho é de estapeá-la, me contenho. Só tenho um objetivo agora. Capturo o olhar de Mia, que está parada próxima à porta, muito apreensiva. – Mia, por favor, vá pegar Dylan.

– Ei, não... – Alexia começa. Seguro seu braço com força, vendo Mia se afastar rapidamente. – Escute bem o que vou dizer. Acabou! Vou levar Dylan. Você nunca mais vai pôr os olhos nele. Não que se importe, tenho certeza. Pelo menos vai ficar livre para continuar com suas viagens e seus amantes...

– Não pode tirar meu filho de mim...

– Ele não é seu filho! Você não é uma mãe! – Cuspo as palavras em sua cara junto com toda raiva que estou sentindo. – Só não lamento o dia em que fiz um filho numa pessoa como você, porque nunca vou me arrepender de ter Dylan.

– Não pode estar falando sério! Eu sou a mãe, sim! Vou lutar pela guarda dele! Não vai se livrar de mim tão facilmente!

– Já estou me livrando! Você pode até tentar, não vai conseguir! – Eu a solto.

– Vai se arrepender! – Ela grita furiosa. – Está querendo dar meu filho para essa garota que se pôs no meu caminho, não vai conseguir!

Vejo Mia surgindo com Dylan no colo.

– Essa garota é minha mulher! E tem mais consideração pelo Dylan, no pouco tempo em que convive com ele, do que você! Dylan deveria ser filho dela e não seu. – Passo meu braço pelo ombro de Mia, que segura Dylan protetoramente e abro a porta.

– Vamos para casa.


Capítulo 9

 

Mia

 

Enfim, a farsa de Alexia teve fim, só que, se eu pensava que os problemas acabaram como num passe de mágica, estava muito enganada.

Lukas não disse uma palavra desde que saímos de sua casa e posso ver o quão irritado está por tudo o que aconteceu. Olho para Dylan no meu colo. Pelo menos ele dorme tranquilamente alheio à confusão que está acontecendo a sua volta.

Ainda tenho vontade de dar muitos murros na cara bem maquiada de Alexia, ao pensar no que ela foi capaz. Como pôde usar o próprio filho deste jeito? Pior era saber que ela não se importava de verdade com ele. Eu conhecia Dylan faz tão pouco tempo, ele nem era meu filho de verdade e já sentia que faria qualquer coisa para protegê-lo.

Pelo menos ele está conosco e Alexia não chegaria mais perto. Se ela ousasse, não responderia por mim.

– Quer que eu o leve? – Lukas pergunta quando saímos do carro e vamos em direção ao estacionamento, sacudo a cabeça negativamente ao ver o quanto ele está tenso, soturno.

– Não, está tudo bem?

Ao chegarmos em casa levo Dylan direto para o quarto e o coloco na cama. Passo os dedos por seus cabelos e o cubro, dando-lhe um beijo.

Quando levanto o olhar, Lukas está parado na porta e seus dedos castigam os cabelos escuros enquanto uma tormenta se forma em seu olhar.

– Como pude deixar meu filho com aquela mulher e não perceber nada, todo este tempo? – Sua voz está cheia de dor, me aproximo e toco seu peito o empurrando pra fora e fechando a porta.

Sei que está prestes a explodir.

– Ela é a mãe dele – argumento.

– Ela era péssima quando ele nasceu... Por isto a trouxe pra morar comigo, as coisas não deram certo, claro que ela queria que ficássemos juntos, porém não ia acontecer nunca mais. Eu quis Dylan comigo o tempo todo, mas ela era a mãe dele! – A voz de Lukas vai elevando conforme sua revolta aumenta. – Perdi a minha mãe e sei como é não tê-la por perto. Não queria que acontecesse o mesmo com o meu filho!

– Você acreditou realmente que ela fosse melhorar?

– Fui um idiota, não é? Eu lhe dei um ultimato. Dei a ela todo dinheiro que queria, só pedi que fosse uma boa mãe para Dylan. Realmente acreditei que havia dado certo. E o tempo inteiro ela era omissa e não se importava com ele! Como pude não perceber?

– Você queria muito que desse certo. Chegou inclusive a pensar em se casar com a Alexia – sinto minha voz alquebrando ao dizer, finalmente havia entendido todos os motivos de Lukas. Hoje, enquanto segurava Dylan em meu colo, também senti que podia fazer qualquer coisa por ele. Imagine o que Lukas não faria? – Você ia fazer pelo Dylan, porque quer o melhor para seu filho...

– No fim acabei sendo tão omisso quanto Alexia!

Seguro seu rosto, forçando seus olhos tempestuosos a focarem nos meus.

– A farsa de Alexia acabou! Ele está aqui. Nós vamos cuidar dele, do jeito que ele precisa.

Lukas toca meu rosto.

– Nós?

Sorrio me encostando nele.

– Sim, nós.

– Como você pode acreditar em mim ainda?

– Eu te amo. E amo o Dylan também.

Ele fecha os olhos e respira fundo, seus braços me apertando, sua testa encostando na minha.

– Nunca quis tanto que Dylan fosse seu quanto agora.

– Ele é seu e tudo o que é seu é meu não é?

Ele sorri e sinto toda tensão começar a deixar seu corpo, a minha própria tensão também começa a ruir ao vê-lo se acalmando.

– Vamos dormir – digo depois de um tempo.

Ele me solta, com um beijo nos meus cabelos.

– Vá você, quero ficar um pouco com Dylan.

– Tudo bem.

Vou para o quarto, coloco uma roupa de dormir e me deito. Quero esperar Lukas, porém o dia longo e cansativo me faz adormecer quase imediatamente, pois, quando abro os olhos novamente, a luz clara da manhã ilumina o quarto.

E estou sozinha.

Levanto-me e vou para o quarto de Dylan. Lukas está deitado com ele.

Sorrio e me aproximo, deitando-me também.

– Ele está bem? – Pergunto baixinho.

– Sim, não tem febre e dorme tranquilamente. Vou levá-lo ao médico para me certificar que está realmente bem.

– Nós o levaremos – o corrijo e ele sorri.

– Sim, nós – concorda e mordo meus lábios para não suspirar. Um contentamento gostoso se apossando de mim, me deixando cheia de amor.

Estou me perguntando se Dylan ainda vai demorar a acordar e se daria tempo de convencer Lukas a voltarmos para nosso quarto onde poderia beijá-lo, tirar suas roupas e...

– Papai? – Dylan abre os olhinhos confusos e sonolentos.

– Oi, filho – Lukas sorri então Dylan vira a cabeça e me vê.

– Mia...

– Bom dia, amorzinho.

– Cadê a Bee?

– Você está em casa, querido, comigo e com a Mia. Vai ficar sempre aqui agora. – Lukas diz acariciando seus cabelos e sei que Dylan não consegue compreender o que aquilo significa, espero que fique feliz mesmo assim.

Ele sorri e passa seus bracinhos em volta do meu pescoço.

– Minha Mia.

Sorrio por cima dos seus cabelos para Lukas.

De repente sinto uma reviravolta no meu estômago e afasto Dylan.

– O que foi? – Lukas pergunta preocupado, só tenho tempo de correr para o banheiro me inclinar sobre o vaso e vomitar.

– Tudo bem? – Lukas me ajuda a levantar depois que passo mal e sacudo a cabeça afirmativamente, ainda meio tonta.

– A Mia tá dodói papai? – Escuto a voz de Dylan e percebo que está ali também.

– Ela vai ficar bem – Lukas sonda meu rosto e dou de ombros.

– Alguma coisa me fez mal, não sei...

– Mia vai tomar injeção, papai? – Dylan pergunta preocupado e nós rimos.

– Vá cuidar dele, vou tomar um banho.

– Está bem mesmo? – Lukas insiste.

– Estou – garanto, assim que ele pega Dylan e sai do banheiro, eu me sento sobre o vaso, intrigada.

Não havia motivo para ficar mal daquele jeito. Ontem quase não comi nada. Ou pelo menos nada que pudesse me fazer mal.

Será que havia pegado a mesma virose que Dylan? Toco minha própria testa, não pareço ter febre.

Entro no chuveiro enquanto continuo pensando, tentando entender. Então, de repente, algo me ocorre me fazendo perder o fôlego.

Desligo o chuveiro, me seco rapidamente, minha mente ocupada em fazer contas, estou quase certa que sei o motivo daquele mal estar súbito, quando Lukas entra no quarto.

– Ei, o que foi? Está se sentindo mal de novo? Está pálida...

Sacudo a cabeça negativamente ainda sem conseguir respirar direito.

– Mia, está me assustando, o que está acontecendo? – Seus dedos tocam meu rosto, preocupados.

Engulo o nó na minha garganta e respiro fundo.

– Nada – respondo me afastando procurando uma roupa para vestir.

Não ia falar nada para Lukas. Não quando nem sabia se não passava de alarme falso.

Recordo-me de nossa conversa algumas semanas atrás, quando falei que queria ter um bebê e ele disse que não era a hora.

E havia concordado.

Agora poderia ser um fato e não mais algo hipotético a ser discutido.

E se eu estivesse mesmo grávida, como seria?

Ainda nem sabia como cuidar de Dylan direito, ele acabou de se mudar de vez para a nossa casa e vida. Como poderia lidar com outro bebê?

E como Lukas lidaria?

De repente me sinto tão assustada que meu coração dispara de ansiedade no peito enquanto Lukas continua me olhando intrigado.

– Mia, tem certeza que está tudo bem? – Insiste e me obrigo a sorrir.

– Claro que sim. Onde está Dylan?

– Comendo.

– Então vou comer também.

– Vai comer? Pensei que estivesse passando mal.

– Não mais. Na verdade, me sinto faminta. Por que não vai tomar banho e se arrumar para que possamos levar Dylan ao médico?

– Tudo bem.

Ele vai para o banheiro e faço planos para ver um médico ainda hoje. Me pergunto se não deveria contar a Lukas sobre minhas suspeitas. Decido que primeiro é melhor ter certeza.

Quando chego à cozinha, Dylan está ocupado em deixar Simba comer seu cereal.

– Não Dylan não pode! – Reclamo, tirando o prato e o gato de perto dele.

– Ele tá com fome, Mia.

– Ele tem sua própria comida, querido. Não pode deixá-lo comer no seu prato! – Sirvo a comida para gatos na tigela de Simba e Dylan começa a se contorcer para sair de sua cadeira.

– Me tila daqui...

– Não, precisa terminar de comer!

– Não quelo.

– Quer sim – sirvo cereal de novo, depois de alguma insistência, consigo que coma. Só então o tiro da cadeira para que possa correr atrás de Simba que já sumiu para algum lugar dentro do apartamento.

Estou comendo meu próprio cereal, quando o telefone toca. Lukas ainda está no quarto, atendo e fico surpresa ao ouvir a voz da minha mãe.

– Oi, filha, como está?

– Oi, mãe, tudo bem?

– Por que esta voz desconfiada? – Ela ri.

– Porque não esperava que ligasse.

– Ora, Mia. Sou sua mãe, não posso ligar para saber se está tudo bem?

– Claro que sim – não ia lembrá-la de que não nos despedimos de forma muito amigável, depois do velório de John.

– Quando vai ser o casamento?

– Daqui a três semanas.

– Tão rápido?

– Não temos motivos para esperar, mãe.

– É, tem razão.

– E como está sua vida? O Mark está trabalhando?

– Ainda não.

– Ah mãe, tem certeza que o Mark deve continuar insistindo em ser massagista profissional? Talvez devesse desistir e tentar outra carreira...

– Ele vai conseguir! É só um período difícil...

– Vocês têm que se sustentar, mãe. Até quando vão esperar?

– Ah, nós estamos bem, com o dinheiro que Lukas nos emprestou.

– O quê? – Será que ouvi direito? – Lukas te emprestou dinheiro?

– Sim, querida. Ele foi muito gentil em nos ajudar...

Respiro fundo, sentindo a raiva fermentar dentro de mim.

– Mãe, você não ouviu nada do que eu te disse no enterro do papai? Como teve coragem de pedir dinheiro pro Lukas de novo?

– Nós somos família e família se ajuda!

– Meu Deus, você é muito cara de pau!

– Não seja exagerada! Lukas tem muito dinheiro nem faz diferença pra ele!

– Não se trata disto! E sim de você e o Mark cuidarem da própria vida!

– O dinheiro foi emprestado! Nós vamos pagar!

– Ah, mãe, difícil de acreditar viu!

– Você está sendo cruel comigo...

– Estou é muito irritada com você! E com o Lukas também!

– Ah, querida, não fique assim...

– Olha, vou desligar...

– Mas eu...

Desligo no mesmo segundo que Lukas entra na sala.

– Não acredito que deu dinheiro pra mim mãe! – Explodo.

– Ela é sua mãe, Mia, queria que eu fizesse o quê?

– Que dissesse não! Ela precisa aprender a cuidar da própria vida! Não é justo que passe a vida pedindo dinheiro pra você!

– Não me importo Mia, sinceramente.

– Eu me importo! E te proíbo de dar mais dinheiro a ela, entendeu?

– Está exagerando. O dinheiro é tão meu quanto seu e ela é sua mãe.

– Minha mãe é muito egoísta, Lukas. Só pensa em si mesma...

– Ei – ele toca meus cabelos. – Não sabia que tinha todo este rancor da sua mãe.

– Não tenho!

– Tem sim. Sei muito bem como a Andrea é, Mia, independentemente disso ela ainda é sua mãe. Se precisar de alguma coisa, vou ajudar, mesmo sabendo que no fundo é uma egoísta como você diz.

Respiro fundo para me acalmar. Do que adiantava ficar brava com a Andrea? Ela era deste jeito não iria mudar nunca.

– Queria tanto que ela mudasse.

– E eu que minha mãe estivesse viva. A vida nunca é do jeito que a gente quer, amor.

– Ah, Lukas – eu o abraço.

– Não fique com raiva de sua mãe.

Eu o encaro.

– Fiquei irritada com você também! – Tento dizer seriamente, porém ele está me encarando com aquele sorriso lindo, é impossível continuar brava. – Você é bonzinho demais! Todo mundo se aproveita! Vou ter que dar um jeito nisto.

– Hum, acho está me dando tesão você brava comigo – ele diz no meu ouvido e rio me afastando quando ouço os passinhos de Dylan se aproximando.

– Papai, o Simba sumiu – ele choraminga e Lukas o pega no colo.

– Ele deve estar escondido, vamos trocar de roupa para sairmos.

Antes que saia, seu celular toca.

– Preciso atender, é da Constantini.

Pego Dylan de seu colo.

– Tudo bem, eu o arrumo.

Levo Dylan para o quarto e o apronto sem dificuldade. Então me vem à mente que, se eu estiver realmente grávida, terei que aprender a lidar com um bebê pequeno em breve.

Como Dylan reagiria tendo outra criança em casa?

Sacudo a cabeça tentando tirar aqueles pensamentos. Eu poderia nem estar grávida e nenhuma destas preocupações faria sentindo.

– Tenho que ir para a Constantini agora – Lukas diz sério quando voltamos pra sala.

– Tudo bem. Eu levo Dylan ao médico.

– Tem certeza?

Rolo os olhos.

– Lukas, confie em mim. Posso muito bem cuidar disto, ok?

– Está bem – ele concorda por fim.

Nós descemos e Lukas passa a cadeirinha de Dylan pro meu carro, porém, quando dou partida, o motor não pega.

– Acho que o carro quebrou – digo, tentando dar partida de novo, sem sucesso.

– Levarei vocês ao hospital depois peço para um motorista buscá-los. Não temos tempo para chamar um mecânico agora.

Percebo que Lukas parece tenso e me pergunto se tem outro problema ocorrendo na Constantini, além do acidente de Wilson.

– Está tudo bem? – Pergunto quando ele sai da garagem, o carro deslizando pela rua molhada.

– Estamos com alguns problemas na empresa...

– De qual tipo?

Ele estaciona em frente ao hospital.

– Te conto hoje à noite, pode ser?

– Certo.

Saímos do carro e Lukas me entrega Dylan.

– Mandarei alguém vir buscá-la, está bem?

– Posso pegar um táxi.

– Não. Fique esperando um motorista vir pegá-la.

– Ok, eu espero.

Ele me beija rapidamente e entra no carro.

Não é difícil conseguir uma consulta com o pediatra que atendeu Dylan e ele se certifica que Dylan está melhor, para meu alívio.

Quando nós saímos da consulta, em vez de ir embora, peço para passar num clínico e informo a ele minhas suspeitas.

– Sim, seus sintomas são de gravidez, vamos fazer um exame de sangue para nos certificarmos.

Uma enfermeira me leva até a sala de exame e pergunto se pode ficar de olho em Dylan, enquanto o coloco sentado do lado de fora da sala.

– Claro, cuidarei do seu filho – ela diz e sorrio para mim mesma, sem corrigi-la.

– Dylan vou fazer um exame e já volto. Preciso que fique quietinho, está bem?

Ela sacode a cabeça positivamente, como se realmente entendesse a seriedade da situação.

O exame de sangue é rápido e quando volto Dylan está com uma seringa na mão fingindo dar injeção na enfermeira.

– Vejo que estão se divertindo.

– Mia, eu sou mético – ele ri e vem com a seringa no meu braço. – Não dói – ele ri e rio também.

– Sem agulha não dói seu espertinho! – Pego minha bolsa que deixei no banco de espera e seguro a mão de Dylan.

O médico me disse que teríamos que esperar pelo menos uma hora pelo resultado. Sei que poderia ir embora e esperar a confirmação, no entanto estou tão ansiosa que decido esperar lá mesmo.

Pego o celular para verificar se Lukas já mandou o motorista, o celular não dá sinal de vida.

– Nossa, que estranho, achei que estivesse com bateria...

De qualquer maneira, se Lukas mandou um motorista, ele deve estar no estacionamento do hospital esperando.

Fico brincando com Dylan, até que o médico me chama e entro em sua sala me sentindo trêmula de expectativa.

– Bom, como suspeitava o resultado foi positivo. Está grávida.

Fico sem saber o que dizer por um momento, totalmente em choque. Até que Dylan, em meu colo, puxa minha blusa.

– O que é isto, Mia?

O médico ri.

– Significa que tem um bebê dentro da barriga dela, criança – o médico explica.

– Dento da baíga? – Dylan levanta minha blusa procurando. – Não tem nada aqui... cadê o bebê, Mia?

– Acho que ele é pequeno demais para entender que grávida quer dizer que ele terá um irmãozinho. Ou irmãzinha – o médico continua sorrindo.

– É, acho que sim – murmuro bobamente.

O médico se levanta, dando a consulta por encerrada e faço o mesmo.

– Obrigada.

Saio da sala e Dylan parece intrigado.

– Tem um bebê na sua baíga Mia?

– Ah Dylan, não sei se vai entender...

Nós chegamos à recepção e paro ao ver alguém conhecido ali.

– Oi Mia – ele sorri – vim te buscar.


Lukas

 

– Megan, Dani retornou? – Pergunto assim que entro na Constantini, Megan está muito abatida e nega com a cabeça.

– Não. Fui até sua casa ontem e não a encontrei. E ela não retorna minhas ligações...

– Hum, pedi ao Paul que investigasse, sabe se ele já chegou?

– Acho que não. Vou pedir para verificar. Posso pedir ao policial que está aguardando para entrar?

– Claro que sim – Megan havia me ligado dizendo que um detetive de polícia estava me esperando na Constantini para falar sobre o acidente de Wilson, o que me deixou em alerta.

O policial entra na sala minutos depois e peço que se sente.

– Minha secretária disse que queria falar algo sobre o acidente do meu advogado.

– Sim. Os peritos ainda não concluíram nada, estão investigando, nós colhemos depoimentos de algumas testemunhas que viram o acidente e duas foram unânimes em dizer que havia um carro perseguindo o do seu advogado e que eles colidiram.

– Colidiram? Estranho, só o carro de Wilson estava no local acidente.

– O outro carro fugiu. Segundo as testemunhas, era um sedan preto dirigido por um homem loiro e jovem.

Sinto um calafrio no peito.

– Falei algo familiar? O senhor conhece alguém com estas características?

– Sim – afirmo.

Jack, o marido de Danielle, era o único homem loiro que conheço que tem um sedan preto.

Acabo por dar estas informações ao policial, além de tudo o que tinha ocorrido na Constantini nos últimos tempos, incluindo a briga com Jack e o sumiço de Danielle.

– Certo. Vamos investigar – o policial se levanta. – Qualquer informação, entraremos em contato.

Ainda estou remoendo toda aquela avalanche de informações, quando meu celular toca e vejo que é o número de Paul.

Só então me lembro que ia pedir pra ele ir buscar Mia, obviamente Paul deve estar ocupado procurando Jack pra mim.

– Oi, Paul – atendo.

– Lukas encontrei a Danielle – sua voz é urgente. – Ela está muito mal, Lukas.

– O que aconteceu? – Sinto um frio na espinha.

– Ela estava na casa deles, sozinha e sangrando muito, Jack a espancou.

– Meu Deus...

– Chamei a ambulância e a trouxemos para o Pronto-socorro... acho que perdeu o bebê.

– Algum sinal de Jack?

– Nada. Danielle está muito aflita murmurando o tempo inteiro que precisa falar com você.

– Estou indo para o hospital com a Megan.

Desligo dou a triste notícia a Megan e seguimos juntos para o pronto-socorro.

Lembro de ligar no celular de Mia para avisá-la para pegar um táxi, cai na caixa postal.

Quando chegamos ao hospital, somos levados ao quarto de Danielle, que está muito abatida e cheia de hematomas.

– Oh, querida, o que lhe fizeram? – Megan chora segurando a mão da filha.

– Mãe, preciso falar com o Lukas...

– Mas, querida...

– Por favor, nos deixe sozinhos...

Megan obedece e me aproximo da cama de Danielle segurando seus dedos frios.

– Eu sinto muito.

– Não deveria sentir. Estou sendo punida... – uma lágrima cai de seu olho.

– Não, a culpa não é sua, Jack não vale nada!

– Você não sabe Lukas... Você não faz ideia das coisas que fui capaz de fazer...

– Dani...

– Eu o amava... Fiz tudo por ele... Queria que ele ficasse feliz... ele nunca estava. Sempre queria mais e mais, agora chega... Ele matou nosso bebê... – ela começa a chorar e não sei o que fazer.

– Fique calma... Não precisa dizer nada.

– Não! Eu preciso. Tenho que te contar tudo.

– Contar o quê?

Ela respira fundo e me encara.

– Quando conheci o Jack, ele te odiou à primeira vista. Tinha inveja. De seu dinheiro, de seu sucesso... Sempre dizia que você foi privilegiado e não era justo... Eu tentava dizer que não era verdade, ele me acusava de ter uma paixão secreta por você – ela suspira. – Acho que ele tinha razão. Eu o admirava tanto! Era meu melhor amigo, mas eu sabia que nunca passaríamos disto. Ainda mais depois que conheci Jack e me apaixonei... Jack continuava a insistir que nós nunca poderíamos ser felizes, porque ele não tinha nada. Não o que você nasceu possuindo. Ele queria ser um grande empresário – seus olhos estão cheios de culpa quando ela me fita e, antes que fale, de repente, entendo e meu mundo desmorona. – Ele me convenceu a desviar o dinheiro... – dou um passo para trás, como se tivesse sido atingido por um soco. – Foi fácil, com meu pai no poder naquela época. Nós precisávamos de um bode expiatório.

– John Agnelli – murmuro.

– Sim. Lembra-se daquelas festas que a Constantini dava nos Natais? Onde os funcionários levavam suas famílias? Jack conheceu Mia Agnelli... Ela tinha 12 ou 13 anos e acho que ela nem se lembra, eles conversaram. Acho que o cabelo dela estava verde ou algo assim. John os viu conversando e percebeu logo que Jack não era boa coisa. Ele estava certo, Jack procurou John e disse que se ele não colaborasse, machucaria Mia. John não queria. Jack sabe ser persuasivo e ameaçador quando quer.

– Danielle, como pôde deixar acontecer? Jack é um monstro! – Eu o imagino ameaçando Mia, ainda uma criança deixando John sem saída, a não ser colaborar com suas exigências.

– Eu estava apaixonada. Acreditava que ele não seria capaz de fazer mal a ninguém realmente, então nós começamos a desviar o dinheiro com a ajuda Jonh, passávamos tudo para sua conta, depois tirávamos. John fazia questão de não ficar com nada...

– Seu pai sabia?

– Não. Ele não fazia ideia. Quando saiu e você assumiu, ficou mais difícil controlar tudo e Wilson descobriu. Jack disse a John que ele teria que assumir toda a culpa, John se recusou e...

Ela engasga.

– Eu não sabia o que Jack ia fazer... Quando descobri, era tarde. John disse que iria pegar o helicóptero para ir até Aspen contar tudo a você. Jack sabotou o helicóptero...

– Ele tentou matar John Agnelli – digo horrorizado.

– Sim... Oh Deus, eu sinto tanto... ele ia nos entregar! Fiquei com tanto medo... – ela chora baixinho. – Quando ele entrou em coma, nós esperamos que nunca mais acordasse e nosso segredo estaria a salvo para sempre.

Sinto-me chocado e enojado com todas aquelas revelações. John Agnelli foi uma vítima de Jack e Danielle.

Danielle, minha amiga de infância. A quem eu confiei minha empresa. Estava me roubando durante todo o tempo. Tudo para ajudar um canalha monstruoso como Jack.

E agora ela mesma havia se transformado em vítima.

– Ele abriu sua empresa e faliu – ela continua. - Precisava de mais dinheiro e comecei a desviar de novo... Eu não queria continuar porque sabia que não ia adiantar nada! Então ele começou a ficar violento comigo... Wilson descobriu tudo. Descobriu que o dono daquela empresa que você queria, na verdade se aliou a Jack. Ele contou a Wilson de onde achava que o dinheiro de Jack vinha... Por isto Jack foi atrás dele e provocou o acidente... Como Wilson não morreu Jack sabia que era questão de dias para você descobrir tudo. Foi quando ele foi atrás de mim na empresa. Ele disse que íamos fugir. Eu não queria mais. Estava cansada. Precisava pensar em nosso filho... Então ele me bateu... E matou nosso bebê... – ela chora baixinho.

– Nunca deveria ter se envolvido nisto tudo, Danielle... Meu Deus! – Eu me aproximo e a encaro sério. – Onde Jack está agora? Se você sabe onde ele pode estar, tem que dizer... Isto tem que acabar.

– Oh, Lukas... Ele disse que iria atrás de Mia...


Capítulo 10

 

Mia

 

Sorrio ao ver quem veio me buscar.

– Oi, Paul, voltou a ser motorista? – Pergunto brincalhona, percebo, quando me aproximo, que o sorriso de Paul é tenso e arregalo os olhos, surpresa, ao olhar através dele e ver Lukas se aproximando com cara de poucos amigos. – Ei, o que faz aqui?

– Papai! – Dylan se contorce no meu colo, Lukas apenas passa o braço a minha volta, praticamente me empurrando pra fora, enquanto Paul olha em volta como se fôssemos ser atacados a qualquer momento.

– Vamos sair daqui, logo – Lukas diz num tom grave e começo a me assustar.

– Lukas, o que está acontecendo? – Pergunto quando entramos na parte de trás do carro seguidos por Lukas, Paul senta no banco do motorista e arranca cantando pneu.

– Acho que ele não está aqui, Lukas – Paul diz.

– Quem nos garante? – Lukas resmunga, teclando o celular.

– Ele não tinha como saber onde a Mia estava.

– Subestimei aquele cretino por muito tempo, não vou mais. – Lukas coloca o fone no ouvido. – Aqui é Lukas Constantini... Já fizeram o que mandei...? Não quero saber quanto homens serão necessários. Quero meu prédio cercado. Ninguém pode chegar perto... Que se danem os outros moradores. Eu compro a merda do prédio!

– Lukas! – Lanço-lhe um olhar irritado por ele estar falando deste jeito perto de Dylan.

– Certo... Espero que façam como eu mandei – ele termina a ligação e respira fundo.

– Vai me dizer o que está acontecendo? – Pergunto e ele fita Dylan, que nos olha com os olhinhos confusos. Lukas me encara com uma advertência no olhar.

– Conversaremos quando chegarmos em casa.

Bufo, aquela situação estranha estava me irritando muito.

Estávamos em perigo? Quem é que Lukas achava que estaria no hospital?

– Papai, tem um bebê na baíga da Mia. – A vozinha de Dylan rompe o silêncio tenso do carro e Lukas me encara, confuso.

E, como se para ilustrar sua afirmação, Dylan começa a levantar minha blusa de novo.

– Não consigo ver, papai, cadê o bebê da Mia?

– Pare com isto, Dylan! – Peço, vermelha feito pimentão, enquanto puxo minha blusa pra baixo, até Paul parece estar de olhos arregalados pelo espelho retrovisor.

– Do que ele está falando Mia? – Lukas pergunta e o encaro, mordendo os lábios, apreensiva. Eu não tinha planejado como contar a ele a novidade, com certeza não esperava dizer no banco de trás de um carro com Paul espiando e Dylan tentando levantar minha blusa.

– Eu quelo vê o bebê... – ele resmunga.

– Dylan, não tem como ver o bebê, ainda é pequenino do tamanho de um feijãozinho, entendeu? – Explico e ele fica pensativo.

– Tá aí dento? – Insiste.

– Está só não dá pra ver ainda entendeu?

Ele sacode a cabeça afirmativamente.

– Mia, de que diabos vocês estão falando? – Lukas praticamente grita e Paul ri.

– Não seja burro, Lukas, não entendeu ainda que ela está grávida?

Olho pra Lukas e tenho certeza que meu olhar é uma mistura de culpa, medo e ansiedade.

– Sim, é verdade. Estou grávida.

– Grávida? – Lukas arregala os olhos, descrente.

Sacudo a cabeça afirmativamente.

– Sei que não planejamos, quer dizer... Sei que seria para o futuro... nem sei como aconteceu...

– Eu sei – Paul ri mais alto ainda e Dylan também ri sem fazer ideia do que está rindo.

– Desde quando você sabe? – Lukas balbucia.

– Desconfiei hoje quando passei mal.

– E por que não me disse?

– Queria ter certeza, podia não ser nada...

– Agora você tem certeza?

– Sim, fiz um exame no hospital quando estava lá com Dylan... deu positivo. Vamos ter um bebê. – Sorrio timidamente ainda esperando a reação de Lukas. Por enquanto ele parece apenas chocado.

O carro passa pelos portões da casa do lago e olho ao redor, surpresa.

– Por que viemos pra cá?

– Porque é mais seguro, ao que parece. Aqui conseguirei colocar uma equipe de segurança, no prédio seria muito mais difícil. – Lukas explica.

Paul para o carro em frente a casa e nós saltamos.

Ainda espero uma explicação para toda aquela confusão quando Mary sai da casa e Dylan corre em sua direção.

– Mary!

– Dylan, que saudades! Nunca mais veio ver a tia Mary! – Ela nos encara com um sorriso. – Estou surpresa, não avisaram que viriam.

– Nós tivemos uma emergência, será que pode cuidar do Dylan por um instante? Preciso conversar com Mia depois eu te explico.

– Claro que sim! Venha Dylan, fiz biscoitos de aveia do jeito que gosta.

– Oba! – Dylan pula animado e eles desaparecem pela porta da cozinha.

– Vou esperar a equipe de segurança que já deve estar chegando. – Paul diz e Lukas segura meu braço me levando pra dentro.

– Agora vai me dizer que merda está acontecendo? Eu... – antes que eu termine, Lukas está puxando meu rosto e me beijando.

Respiro uma longa golfada de ar quando ele finalmente me solta.

– O que foi isto?

– Foi o quão feliz estou por nosso bebê.

– Jura? Não está bravo?

– Mia, não seja absurda. Claro que estou feliz. Um pouco chocado, porém feliz – ele sorri e retribuo o sorriso me sentindo aliviada.

– Também estou chocada – confesso. Nós rimos e nos beijamos de novo.

Eu podia esquecer o mundo e ficar assim com ele por um longo tempo, então me recordo do que anda acontecendo e me desvencilho o encarando com uma pergunta no olhar.

– Agora diga o que está acontecendo?

Ele fica sério de repente e se afasta, passando os dedos pelos cabelos.

– Hoje descobri algo muito sério que tem a ver o desfalque feito na Constantini há cinco anos.

Sinto um arrepio na espinha.

– O desfalque que meu pai fez?

– Não foi seu pai, Mia.

– O quê?

– Seu pai foi usado como bode expiatório.

– Se não foi meu pai... quem...?

– Jack e Danielle.

Eu me sento para não cair.

– Como assim? – Não consigo entender.

Lukas segura minhas mãos frias e começa a contar.

Eu o escuto, sentindo toda a cor fugir do meu rosto.

Jack me ameaçando. John sendo chantageado e os ajudando...

O acidente do meu pai causado por Jack. Tenho vontade de vomitar.

– Jack causou o acidente do meu pai – digo vivenciando novamente toda a dor do dia em que me comunicaram que John estava em coma.

Naquela época, além de lidar com a desolação com seu estado de saúde, ainda precisei lidar com o fato de ele estar sendo acusado de um roubo milionário.

E toda minha vida mudou em função desse fato!

Meu Deus, como tudo poderia ter sido diferente se aquela atrocidade não tivesse acontecido!

Mal posso respirar quando Lukas termina seu relato.

– Danielle está no hospital. Ela perdeu o bebê depois de Jack agredi-la então resolveu contar toda a verdade.

– Agora? Agora ela quis contar – digo sentindo um ódio frio por dentro. Como ela pôde enganar Lukas deste jeito? Eles eram amigos de infância, ele havia confiado nela!

E tudo por um homem sem caráter nem escrúpulos feito Jack.

Agora entendia toda a aversão e medo que sentia quando o via.

Lukas se afasta, parecendo desolado.

– Mal consigo acreditar em tudo o que ela foi capaz. Me roubar, deixar Jack fazer o que fez com John... Ela era minha amiga nunca poderia desconfiar. Fui um idiota completo.

– Você confiava nela porque a conhecia desde sempre. Eu também não desconfiaria.

– Você não vê? – Ele me encara cheio de dor no olhar. – Eu devia ter percebido! Eu acusei seu pai! Ameacei você e sua mãe! Te obriguei a casar comigo, você não merecia! Tudo poderia ter sido diferente!

Eu me levanto e toco seu rosto.

– Eu sei. Estou pensando a mesma coisa. Penso, sobretudo, na vida de John. Ele poderia ter contado antes sobre as ameaças e evitado o que aconteceu.

– Eles estavam te ameaçando, Mia. Era a filha dele. Acho que faria o mesmo pra proteger meu filho.

– Meu pai errou também, Lukas. Mesmo sendo pra me proteger. E ele morreu por causa do seu erro. – Sinto uma lágrima escorrer por meu rosto e Lukas a segura com seu dedo.

– Sinto muito. Sinto tanto, que nem imagina... Tudo que fiz você passar, por ter te obrigado a casar comigo...

– Eu queria que fosse diferente e que John estivesse aqui. Só não me arrependo de ter casado com você – eu o encaro. – E você, se arrepende? – Pergunto.

– Eu me arrependo de não ter me casado de verdade desde o primeiro momento. – Seus braços cingem minha cintura me levando facilmente pra perto.

Sorrio, imaginando como seria se nosso casamento fosse real desde o começo. Alexia nunca teria uma chance de colocar suas garras sujas em Lukas. Eu nunca teria passado anos sozinha sofrendo e fazendo merda para esquecê-lo. E Dylan poderia ser nosso filho.

Sim, era algo lindo de se imaginar, porém a realidade era outra.

Nós nunca poderíamos mudar o passado. Mas poderíamos construir um futuro.

– Nosso próximo casamento será de verdade – garanto sorrindo. – Tudo vai ficar bem, Lukas.

Ele fica sério de novo.

– Jack pode estar atrás de você.

– Danielle pode estar delirando! – Retruco, apesar de sentir um arrepio de medo.

– Ele me odeia. Passou anos te ameaçando para chantagear John. Não vou deixá-lo chegar perto de você!

– A polícia vai pegá-lo mais dia menos dia e tudo vai acabar – falo.

– Assim espero. Enquanto não acontece, vai ficar aqui em segurança.

Quero dizer que é exagero ficar presa naquela casa com medo de Jack, como não quero deixar Lukas mais preocupado acabo concordando.

Nas horas seguintes, a casa se enche de movimento com todos os seguranças verificando cada canto e armando um aparato de segurança digno do presidente da república.

Tento não me sentir apreensiva, é bem difícil com tudo aquilo. No fim da tarde, somos comunicados que Wilson finalmente acordou e Lukas vai vê-lo.

Taylor e Denise aparecem para ficar comigo e me distraem com os planos de casamento que acontecerá dentro de algumas semanas na casa do Lago.

– Não seria melhor adiar? – Denise pergunta, sacudo a cabeça negativamente.

– Nada disto! Posso adiar tudo, menos o casamento.

– Claro que não vai adiar nada! – Taylor revira os olhos. – Com a Mia grávida, o vestido pode nem entrar seria uma tragédia!

– Não seja fútil, Taylor – Denise reclama.

– Estou sendo prática! Se a própria Mia não quer adiar, está decidido!

Quando vão embora, ajudo Mary a dar banho em Dylan e alimentá-lo depois o levo para dormir.

Ele pega um livro infantil na estante e sobe na cama ao meu lado.

– Conta uma historinha pra mim, Mia.

Sorrio e começo a contar a história de um garotinho que encontra um pinguim na porta de casa e decide levá-lo de volta a Antártida.

Quando termino, Dylan está dormindo feito um anjinho. Saio da cama devagar e o cubro, beijando seus cabelos e deixo o quarto encostando a porta atrás de mim.

Desço para a sala para esperar Lukas e me surpreendo ao ver uma Mary bastante apreensiva aparecer.

– O que foi?

– Os seguranças acabaram de informar que tem alguém no portão que insiste em entrar.

– Quem?

– A Senhorita Alexia Duran.

Eu me surpreendo. O que Alexia estaria fazendo ali? Claro que fui ingênua acreditando que ela simplesmente ia nos deixar em paz depois que Lukas descobriu suas mentiras. Tanta coisa havia acontecido de ontem pra hoje que tinha até me esquecido da existência dela. Infelizmente ela existia. E era a mãe de Dylan. Pensar nisto me faz hesitar.

Minha vontade era proibir sua entrada na casa. Tudo o que mais desejava no mundo era me ver livre de Alexia pra sempre. No entanto não podia esquecer que era a mãe de Dylan, talvez ele sentisse falta dela, afinal. Não que existam indícios de que Alexia dedicou algum amor ao filho, mas Meu Deus, ela era mãe e algum sentimento devia ter.

Eu estava grávida há pouco tempo e já sentia uma conexão enorme com meu bebê não podia imaginar alguém querendo me separar dele.

Então, com um suspiro, digo que ela pode entrar.

Espero alguns minutos, me preparando psicologicamente para aquele reencontro dizendo a mim mesma para ser paciente e benevolente. Chega de brigas e desavenças. Lukas havia deixado claro que Dylan ficaria conosco e não queria mais entrar em atrito com Alexia.

Quando ela finalmente aparece, como sempre, muito bem vestida e sem um fio de cabelo fora do lugar, cruzo os braços no peito mirando-a com a maior cordialidade que consigo.

– Oi, Alexia, em que posso te ajudar? Acho que veio ver o Dylan, não é? Sinto muito, ele está dormindo agora, se quiser dar uma olhadinha nele, verá que está muito bem e...

– Vamos deixar de papo furado! – Ela me corta sem paciência. – Não banque a educada comigo, sei muito bem que me odeia!

Respiro fundo, tentando não me irritar.

– Eu não te odeio Alexia. Sei que tivemos nossas diferenças...

Ela ri com ironia.

– Ah, por favor! Você me odeia sim! Roubei o Lukas de você, tive um filho com ele. Você sempre teve ciúme e inveja! Tanto fez que conseguiu roubar meu filho de mim!

– Não roubei nada! O Dylan está aqui porque é filho do Lukas! E ele só o tirou de sua casa porque você não era uma boa mãe.

– E você vai ser, por acaso?

– Escute Alexia, realmente, vamos deixar de papo furado! Eu estava disposta a te tratar bem, te dar o benefício da dúvida por causa do Dylan, vejo que veio com algum propósito que desconfio não ser nada bom! Então fale logo o que veio fazer.

– Vim ver o Lukas.

– Lukas não está como já deve ter sido informada.

– Vou esperar.

– Não sei a que horas ele vai chegar. Deveria ir embora e marcar uma hora para conversarem.

– Não! Preciso que seja hoje! E não vai ser um tipo como você que vai me impedir.

– Tipo como eu? – Começo a sentir a raiva borbulhar por dentro.

– Sim, tipinho como você! Saiba que já falei com meus advogados e eles estão a par do tipo de garota que é!

– E que tipo de garota eu sou, Alexia?

– O tipo promíscua, que usa drogas e até foi presa!

Arregalo os olhos.

– Como sabe?

Ela sorri.

– Tenho minhas fontes. Por acaso, temos uma amiga em comum. Deve se lembrar de Amy Del Piero. Nos conhecemos em Saint Tropez algum tempo atrás, ela me revelou que foram muito amigas, até me contou suas aventuras... Portanto, sei do que é capaz! Lukas está enganado se acha que vai conseguir a guarda de Dylan estando com alguém como você!

Fico assustada temendo que Alexia tenha razão. Que tipo de juiz daria a guarda a Lukas se ele for casado com alguém como eu?

– Está com medo? – Alexia sorri, se aproximando. – Deve ficar mesmo! Vou conseguir a guarda de Dylan de volta, se Lukas insistir em ficar com você. Darei a ele a chance de lhe dar o pé na bunda e voltar para mim! Assim, não vai perder Dylan.

– Por que está agindo assim? – Pergunto enojada. – Sequer gosta do seu filho! É tudo um jogo pra você!

– É problema meu! Investi anos da minha vida em Lukas! Aguentei uma gravidez estragando meu corpo, cuidei de uma criança que nunca quis. Acha que vou realmente deixar tudo me escapar?

Não sei que tipo de força se apodera de mim, num minuto estou digerindo as palavras odiosas de Alexia no outro minha mão em punho está socando sua cara bonita, ela cai para trás com o impacto.

– Sua Vadia! Sua miserável! – Grito, indo pra cima dela pronta para socá-la mais. – Você não é uma mãe, é um monstro!

– Ei, Mia, o que está acontecendo aqui? – Lukas segura meu braço, estou fora de mim.

– Solte-me Lukas, quero quebrar a cara desta mulher!

– Mia, pare com isto!

Vejo Paul levantando Alexia, que tem o nariz sangrando.

– Ela me bateu!

– Desapareça da minha casa! Paul, tire esta mulher da minha frente! – Continuo gritando.

– Isto não vai ficar assim! – Ela olha pra Lukas. – Vim falar com você e fui agredida por sua namorada! Além de vagabunda, é agressiva! É com este tipo que quer criar nosso filho?

– Alexia, chega! Paul, leve-a até seu carro.

Paul sai levando-a e me solto de Lukas, respirando fundo tentando me acalmar.

– Mia, pelo amor de Deus, por que estava batendo na Alexia?

– Porque ela mereceu! Veio me dizer que vai usar as coisas erradas que fiz em Yale contra nós! Que vai tirar o Dylan de nós – começo a chorar, sem conseguir me conter.

– Ei, não fique assim – Lukas segura meu ombro. – Alexia está blefando. Não vai conseguir tirar o Dylan desta casa.

– Ela tem provas, ah meu Deus, nunca deveria ter feito aquelas coisas... Se você perder Dylan por minha...

– Não vamos perder Dylan! – Ele segura meu rosto, me obrigando a encará-lo. – Alexia pode até tentar, não vai conseguir. As coisas que aconteceram em New Haven ficaram no passado. Não têm a menor importância agora.

– Você ficou tão aborrecido comigo...

– Pra mim não tem mais importância. Odiei vê-la daquele jeito, mas a culpa foi minha também.

– Nunca dormi de verdade com aqueles caras, precisa saber – confesso. – Só queria esquecer, até deixei que colocassem as mãos em mim, nunca consegui ir até o fim com nenhum deles... nunca fiz amor com ninguém a não ser você.

Lukas enxuga as lágrimas do meu rosto.

– Isto não tem a menor importância agora. Você poderia ter dormido com todos eles e ainda seria a minha Mia. Porque só eu te amo de verdade.

Sorrio através das lágrimas.

– Assim como não tem a menor importância nenhuma mulher do meu passado, porque nenhuma me amou.

– Diga que Alexia não vai conseguir tirar Dylan de nós.

– Ela não vai. Eu juro. Agora se acalme.

Ele me leva para o quarto e me põe na cama, me abraçando.

– Eu amo tanto o Dylan como se ele fosse meu, fiquei triste hoje por ver que a Alexia não se importa – murmuro.

– Também fico triste. Nós vamos cuidar dele e amá-lo, não vamos deixar que sinta falta dela. – Lukas diz com convicção tocando minha barriga. – Assim como vamos amar nosso filho.

Sorrio cobrindo sua mão com a minha.

– Ou filha.

Ele sorri e me beija.

Acordo na manhã seguinte com Dylan me fazendo cócegas e rindo.

– Acoda, Mia!

– Dylan! – Começo a fazer cócegas nele também que ri todo feliz.

– Tô com fome, Mia.

– Tudo bem, vamos comer, então. – Eu o pego no colo Lukas está na sala conversando com Paul e alguns homens que não conheço.

Levo Dylan pra cozinha e me surpreendo ao ver Taylor e Denise tomando café e falando da cerimônia de casamento.

Deixo Dylan com elas e vou pra sala. Lukas está dispensando Paul e os outros que deduzo serem seguranças.

– Bom dia, o que está acontecendo? – Ele se aproxima e beija minha testa.

– Nenhum sinal de Jack ainda. Estou preocupado.

– Ele deve ter fugido Lukas. Sabe que estão atrás dele, que descobrimos tudo, deve estar bem longe.

– Quero pegá-lo. Não vou sossegar enquanto não estiver atrás das grades.

– E Danielle?

– Será indiciada também. Como está no hospital, o advogado dela vai conseguir um habeas corpus é possível que seja julgada em liberdade.

– O que acha disto? – Pergunto com cautela.

– Não sei o que pensar. Às vezes tenho ódio e quero que ela pague, também tenho pena. O que está sofrendo agora talvez seja castigo suficiente.

– E Megan?

– Megan está arrasada e envergonhada. Ela não fazia ideia. Pediu demissão e está cuidando de Danielle.

– E Wilson?

– Ficará bem. Em alguns dias sairá do hospital.

– Papai, papai! – Dylan entra correndo na sala e puxa a camisa de Lukas. – Cadê o Simba, papai?

Eu e Lukas nos entreolhamos e rimos.

– Acho que nos esquecemos do gato – Lukas diz, pegando Dylan no colo.

– Sim, coitadinho do Simba! Melhor pedir que alguém o pegue no apartamento.

– E nós vamos fazer a prova final do vestido – Taylor entra na sala animada.

– E homens são proibidos! – Denise acrescenta e Lukas ri.

– Acho que Dylan e eu fomos dispensados.

Fico na ponta dos pés e beijo sua boca.

– Também quelo beijo, Mia. – Dylan reclama e lhe dou um beijinho, antes que Taylor e Denise me levem para o andar de cima.

Eu estou sorrindo feito boba. Sim, tudo ia ficar bem, afinal.


****


Assim os dias passam. Não ouço mais falar de Alexia e me pergunto se ela está aprontando alguma ou se, finalmente, entendeu que não adianta nada lutar contra Lukas. Wilson sai do hospital e fico feliz por saber que poderá comparecer ao nosso casamento.

Simba vai para a casa do lago também, para alegria de Dylan e terror de Taylor, que reclama que o gato desmancha os arranjos de flores do casamento.

Conforme vai chegando o dia da cerimônia, a casa vai se enchendo de vida e movimento com todos os preparativos. Não consigo deixar de pensar no meu outro casamento, em como odiei ver todo aquele aparato que me parecia tão fora de contexto. Dessa vez estava amando tudo. Queria aproveitar tudo o que tinha direito.

O noivo era o mesmo, só que eu estava apaixonada de verdade agora.

Estava me casando de verdade desta vez.

A única sombra naqueles dias era que Lukas passava muito tempo na Constantini tentando colocar tudo no lugar depois dos últimos desfalques feitos por Danielle, ainda mais sem a Megan que o ajudava tanto.

Muitas vezes acabava adormecendo na cama de Dylan, que insistia para que eu contasse muitas histórias para ele dormir, tantas que estava começando a inventar minhas próprias, já que os livros haviam sido todos lidos. E acordava na manhã seguinte, depois de Lukas me levar pra nossa cama e ele ter saído.

Não reclamava. Sabia que, em breve, estaríamos sozinhos no Havaí de novo, na nossa lua de mel.

Mal podia esperar que chegasse.

E, finalmente chega o dia do meu segundo casamento com Lukas.

Pela segunda vez na minha vida, estou me casando.

Há flores por todos os lados. Uso um lindo vestido branco e, ao fim do caminho, Lukas Constantini espera por mim.

Enquanto avanço em sua direção, vejo como um filme passando pela minha cabeça, desde o dia em que o vi de relance na sala da minha casa, acusando meu pai de roubo ameaçando me tirar tudo o que eu tinha.

E me casei com ele numa insípida biblioteca, usando jeans e camiseta desejando que aqueles cinco anos passassem rápido e eu ficasse livre.

Os cinco anos passaram e conquistei a liberdade, só que não a queria mais. Queria somente uma coisa: a chance de fazer tudo de novo.

E, desta vez, de verdade. Pedido de verdade. Cerimônia de verdade.

Amor de verdade.

E o destino havia colocado este sonho à minha disposição outra vez.

E não é só Lukas que espera por mim no fim do caminho, um lindo garotinho loiro, vestido igualzinho a Lukas, que havia ganhado meu coração também.

Ele está bem seguro no colo de Denise, enquanto Taylor fazia sinais para eu andar mais rápido, rolo os olhos, sem ligar para seu humor que havia piorado conforme se aproximava o dia do casamento.

Não vejo mais nada quando meus olhos encontram os de Lukas, sorrindo lindamente pra mim, quando segura minha mão.

– Você está linda – ele murmura e eu suspiro.

– Você também.

– Me põe no chão, tia Dee – escuto Dylan reclamando e nós dois rimos.

– Melhor começar logo a cerimônia, antes que Dylan perca a paciência. – Lukas diz e o padre começa a cerimônia, que parece um sonho onde meus olhos estão presos em Lukas fazendo os mais lindos votos que guardarei pra sempre na memória.

– Mia, uma vez você me perguntou aqui neste mesmo jardim, se um dia eu iria me casar de verdade e respondi que achava que nunca iria acontecer. Está acontecendo agora. Naquela noite, não imaginava que me apaixonaria por minha noiva de mentira e passaria cinco anos para entender que já estava casado de verdade no meu coração. Agora eu te desposo de verdade pela lei e pela igreja e prometo que tudo será de verdade agora e para sempre.

Sorrio por entre as lágrimas.

– Lukas, acho que te amei no minuto em que colocou aquele anel de noivado no meu dedo, dizendo que era um presente que prometi guardar até o dia em que encontrasse sua noiva de verdade. Agora posso ficar com ele, porque sou sua de verdade, para sempre.

Ele me beija debaixo de aplausos, até que alguém puxa meu vestido e nós rimos, enquanto Lukas pega Dylan no colo.

– Quelo casar com a Mia também – ele diz, agarrando meu pescoço e o encho de beijos.

– Espere a sua vez de encontrar uma noiva – Lukas diz e Taylor aparece toda esbaforida.

– Vamos, vamos, todos pra recepção!

O dia transcorre lindamente, como Taylor planejou. Todo jardim está repleto de flores os convidados nos felicitam pelo casamento até que eu e Lukas dançamos a primeira valsa dos noivos perante os olhares curiosos.

– Está feliz? – Lukas pergunta, me girando.

– Muito.

– Esta cerimônia foi melhor que a outra?

– Infinitamente melhor.

– Não está triste por sua mãe não ter vindo?

Eu suspiro.

– Já devia esperar algo assim. Ela está chateada porque proibi você de custear a viagem de Mark para Tailândia. Fala sério, Tailândia para fazer curso de massagem? Difícil acreditar...

– Sabe que não me importaria...

– Mas eu sim! Agora chega de falar disto. Vamos falar de nós...

Ele me aperta.

– Mal posso esperar para levá-la para nossa ilha, senhora Constantini.

– Eu também. – Ele me beija e somos interrompidos por Taylor.

– Mia, vamos trocar de roupa!

Taylor me separa de Lukas me levando para dentro. Escuto o barulho de um helicóptero descendo.

– O que é isto?

Ela rola os olhos.

– Pelo visto Lukas está com pressa pra te levar ao aeroporto! Vamos logo, então!

Eu a sigo até o quarto e ela me ajuda a trocar o vestido de noiva por um vestido simples.

– Onde está Dylan? – Pergunto, ao ver Denise entrando no quarto chamando Taylor para resolver um problema na cozinha.

– Deve estar com a Mary – Denise diz distraída.

– Pensei que você fosse cuidar dele durante a recepção.

Denise iria ficar cuidando de Dylan na semana que passaríamos no Havaí.

Já estava sentindo falta dele, porém fosse nossa lua de mel e provavelmente seria a última vez em que Lukas e eu ficaríamos sozinhos por muito tempo, já que dentro de poucos meses não teríamos somente Dylan para cuidar, haveria mais um bebê.

Nosso bebê. Passo a mão na barriga cheia de contentamento. Não vejo a hora de minha barriga começar a crescer...

– Mia, querida, já vai descer? – Mary entra no quarto e franzo a testa.

– Dylan está com você?

– Não. Não está com a Denise?

– Não, ela acabou de dizer que achava que estava com você... – olho pela janela preocupada, procurando Dylan entre os convidados, não o encontro.

– Não fique preocupada, querida, vou descer e procurá-lo.

– Obrigada.

Ela desaparece e tento esperar, impaciente, decido descer e procurá-lo eu mesma. Quero ficar um tempo com ele antes de partir com Lukas.

Estou passando pelo corredor quando escuto sua risada.

– Dylan?

Começo a abrir as portas, paro horrorizada ao ver Dylan no colo de alguém que julgava que nunca mais iria rever, afinal.

– Oi Mia – Jack sorri para mim, enquanto brinca com Dylan. – Fico feliz que tenha se juntado a nós.

Sinto o chão fugir sob meus pés e tenho vontade de gritar. Mas não quero assustar Dylan.

– Como conseguiu entrar? – Dou um passo à frente.

– Com toda esta gente, não foi difícil.

– Não deveria estar aqui, Jack... Me dê o Dylan e vá embora.

Ele ri.

– Acha mesmo que vim apenas para dar um oi e ir embora? Estou esperando há muito tempo por esta oportunidade, Mia...

Engulo o medo.

Preciso tirar Dylan de perto daquele maluco.

– Dylan, venha aqui – peço com a maior calma que consigo juntar, Jack dá um passo atrás e então vejo em sua cintura. Uma arma.

Meu coração dispara.

– Não, Mia, Dylan e eu somos amigos, estamos nos divertindo, não é?

Dylan se contorce em seu colo.

– Quelo ir no chão, Jack...

– Não, Dylan, vai ficar aqui! Nós vamos dar um passeio de helicóptero, lembra?

– Não! – Grito e Dylan se assusta ficando com os olhinhos arregalados.

– Não assuste o menino, Mia – Jack diz sorrindo passando a mão em seus cabelos. – Está tudo bem, Dylan. A Mia vai com a gente, o que acha?

– Oba! – Dylan comemora. – Vamos passear de licoptelo Mia!

– Você não vai conseguir sair com ele, Jack. Desista! – Tento convencê-lo. – A casa está cheia de seguranças. Lukas vai sentir falta de nós...

– Por isto mesmo precisamos ir logo. Vou te passar o Dylan e você vai sair quietinha. Tem uma escada para o terraço onde está o helicóptero no fim do corredor. Chegaremos lá rapidamente. Sabia que eu sou piloto, Mia?

– Não vou fazer isto. Vou gritar e todos vão ouvir.

Ele pega a arma e deixo de respirar.

– Jack, por favor, – me aproximo.

– Pegue o garoto e fique quieta!

Tiro Dylan de seu colo abraçando-o com força.

– Posso bincar com a arma também Jack? – Dylan pergunta inocentemente tenho vontade de correr, porém sei que Jack não está brincando.

– Devo deixar Dylan brincar com minha arma, Mia? – Ele pergunta e sacudo a cabeça negativamente.

– Então faça o que eu mando. Não tenho nada a perder e adoraria ver Lukas perdendo um filho como perdi o meu...

– Lukas não teve nada a ver com a perda do bebê de Danielle foi você...

– Cale a boca! – Ele sibila perigosamente baixo. – Vamos! – Me empurra para fora e eu sigo na sua frente, rezando para encontrar alguém pelo caminho.

– Eu ia levar somente a criança, já que está aqui, acho que terá que ser assim...

– O que vai fazer? Por que quer nos levar? Poderia estar longe agora...

– Não posso fugir deixando Lukas ficar com tudo! Ele sempre teve tudo e eu nada! E Danielle quer um bebê. Eu disse que daria um bebê a ela.

Chegamos ao terraço e vejo que Jack não veio sozinho. Danielle, muito pálida ainda, o aguarda perto do helicóptero.

– Danielle!

– Jack, o que a Mia está fazendo aqui? – Ela pergunta apreensiva.

– Ela apareceu do nada! Tudo bem. Vai ser mais fácil levar a criança com ela junto. Nós nos livraremos dela no meio do caminho! – Ele olha pra mim e ri. – Vai gostar de tomar um banho de rio...

– Jack, por favor, não faça isto...

– Fique quieta e entre no helicóptero.

Apelo para Danielle.

– Danielle, não pode concordar com ele!

Ela sorri tristemente.

– Ele voltou pra mim, disse que seremos uma família...

– Com Dylan? Vocês são loucos!

– Vou cuidar bem dele, Mia. Fique tranquila... – ela estende os braços.

– Não posso permitir que o levem...

– Não me irrite, Mia – Jack se aproxima de novo...

– Leve só a mim – imploro.

– Você não tem serventia!

– Estou grávida! Não é o que querem? Um bebê? Levem-me, quando o bebê nascer o deixarei para vocês. Lukas ficaria com muito ódio, não acham? E vocês teriam um recém-nascido...

Danielle sorri.

– Sim, seria mais perfeito ainda. Você faria isto? – Deus, Danielle estava completamente insana.

– Com certeza. Dylan está grande, não se acostumaria só daria trabalho... – tento ganhar tempo.

– Tudo bem... – Danielle concorda, Jack não parece tão contente.

– Deixe de papo furado e entrem no helicóptero. Agora!

– Por favor, deixe Dylan ficar – imploro. – Vou com vocês... vou ajudá-los...

– Inferno, estamos ficando sem tempo! – Jack pragueja e então concorda. – Certo, deixe a criança aí e vamos embora!

Coloco Dylan no chão e olho em seus olhinhos.

– Querido, tem que descer e procurar o papai, entendeu?

– Quelo ir no licoptelo...

– Agora não pode...

Eu o levo até a escada.

– Desça com cuidado.

– Não, Mia...

– Por favor, Dylan...

– Anda logo, Mia – Jack grita. Largo Dylan que começa a descer as escadas e Jack me arrasta até o helicóptero.


Capítulo 11

 

Lukas

 

Percorro o jardim, sendo cumprimentado por muitos convidados, enquanto olho o relógio pela terceira vez. Já não era para Mia ter voltado?

Wilson aparece sorrindo.

– Meus parabéns, meu amigo. Podemos dar uma palavrinha antes de partir para sua lua de mel?

– Claro.

– Sei que o último assunto que gostaria de falar hoje seria sobre Alexia Duran.

Fico sério.

– Com certeza.

Havia pedido a Wilson, assim que ele saiu do hospital, para cuidar do caso da guarda do Dylan.

– Ela tentou realmente todas aquelas ameaças, deu com os burros n'água porque tem mais podre em seu passado do que podemos contar e percebeu que de nada iria adiantar.

– Disto eu já sabia...

– Ontem recebi um comunicado do advogado dela. Está se mudando para a Itália, onde se casará em breve com um rico italiano chamado Fernando Rivas.

– Alexia vai se casar com Fernando?

– O conhece?

– Sim, nós nos conhecemos há alguns anos – me lembro do ex-namorado de Alexia com quem fiz negócios antes de eu mesmo engatar um romance com ela.

– Bom, que ele faça bom proveito. Pelo menos estou livre de Alexia pra sempre.

– Ela disse que assinará um documento abrindo mão da guarda da criança, que exige apenas passar férias com ele todos os anos.

– Não, nem pensar...

– Seja razoável, Lukas. Ela é a mãe, tem direitos.

– Ela não se importa com ele.

– Continua sendo a mãe, perante a lei. E talvez seu filho queira ter algum contato com ela.

Respiro fundo, irritado.

– Você poderá determinar como será este tempo, claro. Não vamos nos preocupar com isto por ora. Acho que a Mary está te procurando.

– Mary, cadê a Mia?

– Ela já está pronta. Pediu que eu encontrasse o Dylan.

– Ele está com a Denise.

– Não, Denise está com Taylor na cozinha...

Olho em volto, preocupado, começo a procurar Dylan entre os convidados com a ajuda de Mary e Wilson.

Já estou começando a ficar seriamente preocupado, quando o vejo sair correndo da casa.

– Dylan.

– Papai! – Ele pula em meus braços, todo ofegante. – A Mia está no licoptelo.

– O quê?

De repente escuto o barulho inconfundível de um helicóptero sobrevoando a casa.

– De quem é este helicóptero?

– Achei que fosse do prefeito.

– Não...

– A Mia foi passear com o Jack, papai – Dylan continua a dizer então eu paro.

– O que disse?

– Eu quelia ir também...

– Você viu o Jack? – Tento não entrar em pânico. Dylan poderia estar se confundindo.

– O Jack e a Dani, no licoptelo com a Mia, vamos também, papai...

Troco um olhar com Wilson.

– Paul – grito ao vê-lo sair da casa com Denise, a quem entrego Dylan.

– De quem era aquele helicóptero?

– Não sei! Não é seu para viajar com a Mia?

– Não! Veja quem estava naquele helicóptero! Agora! – Paul começa a falar rápido no rádio.

– Cadê a Mia? – Entro na casa a sua procura e Denise vai atrás junto com Paul e Wilson.

– Ela ficou no quarto.

– Paul chame os seguranças e vasculhem tudo!

– O que aconteceu?

– Dylan diz ter visto Mia com Danielle e Jack no helicóptero – digo fracamente ainda sem poder acreditar.

Olho para Dylan, que continua a falar em sua linguagem infantil sobre Jack e o helicóptero e, enquanto os minutos passam sem que ninguém a encontre, começo a acreditar que Dylan está falando a verdade.

– Chame a polícia – ordeno, tentando conter meu medo. – De alguma maneira Jack e Danielle entraram na festa e levaram Mia.


Mia

 

O helicóptero sobrevoa o lago Washington e tento conter o meu medo. Pelo menos posso me sentir aliviada por terem concordaram em deixar Dylan.

O que acontecerá agora?

Olho para Danielle.

– Danielle, estão fazendo uma loucura, você sabe, não é?

Ela me encara com um olhar ausente.

– Vai ficar tudo bem, Mia.

– Não vai! Jack é perigoso! Ele bateu em você! Você perdeu seu bebê por causa dele!

– Não fale assim! – Seu rosto se enche de angústia.

– Cale a boca, Mia! – Jack pede, enquanto manobra o helicóptero.

– Não vou me calar! Você a está manipulando o tempo inteiro! E ela está fragilizada demais para entender o tamanho desta loucura! A polícia vai nos encontrar, nós não iremos a lugar nenhum!

– Chega!

– Danielle, me escute – seguro suas mãos. – Lembre-se do que Jack fez com você nestes últimos anos. Ele te agrediu! Ele disse que não queria o filho de vocês...

– Não...

– Sim! Ele está louco e está te usando! Não vai querer este bebê também. Só quer prejudicar o Lukas! E vai agredir você no novo... Tem que fazê-lo parar!

– Eu só queria ser feliz – ela começa a chorar.

– Eu sei. Precisamos sair daqui. Precisamos nos livrar do Jack. Por favor, Danielle, acorde! – Eu a sacudo então ela fecha os olhos e respira fundo.

Tudo parece acontecer em câmera lenta. Vejo Danielle se livrar do cinto de segurança e investir para cima de Jack, no segundo seguinte vejo o brilho da arma em sua mão e está apontada pra Jack.

– Eu te amo, Jack, mas ela tem razão. Está tudo acabado.

Fecho os olhos aterrorizada quando a arma dispara na direção de Jack, quando volto a abri-los, ele está banhado em sangue.

– Danielle, o que você fez? – Mal consigo respirar com o choque.

O helicóptero desgovernado sacode no ar.

Ela sorri através das lágrimas.

– Eu sinto muito – então aponta a arma para a própria cabeça e atira.

Começo a gritar enquanto vejo as águas profundas do rio se aproximando rapidamente.

Vou morrer.

Morrer como meu pai.

A água do rio nos atinge e tudo escurece.


****


Acordo sentindo dor.

Meu corpo está dolorido. Minha cabeça dói.

Abro os olhos e Lukas está olhando pra mim.

– Mia, querida... – seus dedos tocam meu rosto e o encaro confusa.

– Lukas... – tento me mover. – Onde estou?

– No hospital... está tudo bem agora.

Então me lembro.

O casamento. Jack com Dylan. O helicóptero e Danielle.

Danielle atirando em Jack.

Ofego, como se todo o horror daquele momento tivesse voltado.

– Oh Meu Deus, Jack e Danielle...

– Calma... você está em segurança...

– Ela atirou nele... O helicóptero caiu no lago... pensei que fosse morrer...

– Shi, está tudo bem... Graças a Deus você está bem...

– O que aconteceu?

– A polícia estava atrás de vocês quando a guarda costeira deu o alerta do helicóptero caindo no lago. O resgate foi rápido conseguiram tirá-la rapidamente...

– Jack e Danielle...

– Mortos – Lukas diz sombriamente.

Uma mistura de sentimentos me assola. Sinto alívio por aquele pesadelo ter terminado e eu estar viva. Também o choque ainda reverberando por meu corpo ao me lembrar de todo medo que senti, de todo terror ao ver Danielle e Jack morrendo na minha frente.

– Você vai ficar bem. – Lukas diz com um olhar de sofrimento. – Teve algumas escoriações e... – de repente ele para e sinto um arrepio de medo.

– O que aconteceu? Estou muito machucada? O quê... – então entendo.

Minha mão vai para minha barriga.

– Meu bebê... O bebê está bem, não está? Lukas...

Vejo no olhar triste de Lukas a resposta e uma dor profunda rasga meu peito.

– Sinto muito, amor... – sua mão aperta a minha e seu rosto está dilacerado.

Sinto o nó na minha garganta explodir num choro convulsivo e Lukas me abraça.

Encosto a cabeça em seu peito e deixo a dor fluir.

Meu bebê. O nosso bebê que eu esperava com tanto amor.

Não existia mais.

– Sinto muito, sinto tanto – Lukas acaricia meus cabelos, me embalando.

– Me desculpe – me afasto encarando-o. – A culpa é minha...

– Não! Foi uma tragédia, Mia... A culpa não foi sua.

– Não deveria ter entrado naquele helicóptero... Eles queriam levar Dylan... não podia deixar, contei que estava grávida, por isto me levaram... Oh Deus...

– Shi, vai ficar tudo bem. A culpa não foi sua. Jack e Danielle estavam loucos... acabou. Eles não vão mais te machucar nem a Dylan.

– Ele está bem? Fiquei com tanto medo...

– Sim, ele está bem. Sente sua falta.

– Há quanto tempo estou aqui?

– Três dias.

Fungo, enquanto Lukas enxuga meu rosto.

– Dylan está aí fora com Taylor e Denise. Ele tem atormentado a todos perguntando sobre você.

Sorrio tristemente.

– Quero vê-lo. Posso?

Lukas sai do quarto e volta trazendo Dylan no colo. Ele abre os bracinhos pra mim quando me vê.

– Mia.

Eu o seguro junto ao peito, o abraçando forte e chorando mais ainda.

Dylan toca meu rosto, enxugando minha lágrima.

– Não chora Mia, eu te amo.

Sorrio, sentindo o vazio do meu coração pela perda do meu bebê se preencher um pouquinho com o amor por aquela criança tão doce.

O meu bebê se foi. Mas ainda tinha Dylan.

– Também te amo querido.

Ele sorri.

– Papai falou que vai colocar oto bebê na sua baíga, Mia – ele diz solenemente e rio olhando pra Lukas.

– Nós não precisamos ter pressa. Afinal, temos você, não é?

Lukas senta do nosso lado e sussurra no meu ouvido.

– O papai vai gostar de praticar – o encaro e ele fica sério. – Vamos ter outros bebês, prometo.

Ele beija minha boca e sorrio.

– Me leva pra casa?

Ele acaricia meu cabelo, enquanto Dylan passa os bracinhos em volta do meu pescoço.

– Sim, vamos pra casa.


Epílogo

 


O dia estava claro e ensolarado na casa do lago.

Um dia perfeito para um casamento.

Percorro os jardins impecavelmente arrumados, me lembrando com nostalgia do dia do meu próprio casamento tanto tempo atrás.

Havia demorado uns bons anos para que conseguisse me ater apenas aos momentos felizes daquele dia esquecendo a tragédia ocorrida depois. Com o passar do tempo, me apeguei às boas lembranças deixando as ruins para trás. Quanto mais velhos vamos ficando, mais aprendemos a levar da vida apenas o que nos faz feliz.

Entro na casa e Taylor está correndo de um lado para o outro reclamando de algo sobre as flores e sorrio. Pobre Taylor estava enlouquecendo há meses com o casamento. Pelos menos parecia que esse seria o último durante um bom tempo para ela organizar. Ou eu esperava que fosse assim, penso ao bater duas vezes na porta pintada de cor de rosa antes de abrir.

– Lizzy ainda não se arrumou? – A adolescente de 18 anos revira os olhos pra mim e joga o cabelo ruivo, enquanto continua a digitar algo em seu celular.

– Ainda é cedo mãe.

– Taylor vai matar você se não se arrumar agora. – Pego o vestido lavanda pendurado no armário e coloco em cima da cama. – Anda logo!

Saio do quarto me perguntando a quem Lizzy puxou. Na verdade acho que o problema era que era mimada demais, Lukas diria que ela era um espírito livre. Pelo menos não se tornou uma rebelde, como eu temi em certo momento.

Ela havia sido aceita em Yale com louvor e partiria no fim do verão. Eu já estava com o coração partido.

Passo pelo quarto principal e Denise e sua filha, Penélope, estão lá com a noiva. Olívia está linda em seu vestido branco, assim como Penélope, de apenas sete anos, que será a responsável por levar as alianças. Sorrio passando por elas e entrando no quarto de Dylan.

Ele está em frente ao espelho e tenta, sem sucesso, fazer o nó na gravata. Eu me aproximo.

– Deixe que eu faço.

– Ah você sempre me salvando.

Reviro os olhos. Ele está tão alto que tenho que levantar a cabeça para fitar seus olhos.

– Foi tão fácil te ensinar a amarrar o tênis, por que não aprendeu a fazer o nó da gravata também?

Ele ri.

– Acho que gosto que faça pra mim.

– Pronto. Está ótimo – dou um passo para trás admirando-o.

Vinte e dois anos. O tempo passou rápido desse jeito?

Parece que foi ontem que aquele garotinho loiro enroscava os bracinhos a minha volta me chamando de Minha Mia.

E hoje era o dia de seu casamento.

– Você está tão bonito – admiro. Dylan se parecia muito com Lukas, embora seus cabelos loiros sejam de Alexia.

Pensar em Alexia me deixa meio irritada, não podia deixar de lamentar que ela preferisse estar em Mônaco com seu quarto marido, em vez de comparecer ao casamento do filho.

– Queria que a sua mãe estivesse aqui – murmuro.

Quantas vezes eu disse aquela frase para ele no decorrer dos anos?

Em seus aniversários? Em sua formatura? Ou em qualquer data importante que Alexia não esteve presente.

Eu e Lukas fizemos de tudo para que ele fosse feliz, mesmo assim, eu queria que Dylan se sentisse amado.

– Sinto muito, querido – sorrio tristemente, ele segura minhas duas mãos junto ao peito e sorri pra mim.

– Minha mãe está aqui – ele diz com carinho e meus olhos se enchem de lágrimas.

– Oh, querido, não me faça chorar e estragar toda a maquiagem que a Taylor fez.

Ele sorri. Aquele sorriso tão lindo quanto o de Lukas.

– Meu pai pode não ter me colocado dentro da sua barriga, Mia, mas você é a minha verdadeira mãe em todos os sentidos. A minha Mia.

– E você é meu filho querido – eu o abraço e beijo seu rosto.

– Que a Lizzy não ouça.

Eu rio me afastando.

– Isto me faz lembrar que preciso ir verificar se ela já se vestiu. E você, faça o favor de descer para receber os convidados junto com seu pai. Nada de atraso, senão Taylor nos mata!

Entro no quarto de Lizzy e ela está terminando de colocar o vestido. Eu a ajudo com os últimos detalhes. Olho nosso reflexo no espelho e ainda me assusto com nossa semelhança. Ela sorri pra mim.

– Vou sentir sua falta, mamãe – diz de repente e eu beijo seus cabelos. Ela era meu tesouro mais precioso. Mas era uma adulta agora, e seguiria sua própria vida.

– Eu também meu amor. Mas estarei sempre aqui quando precisar.

– Eu sei.

Nós descemos, passando pelos convidados que nos cumprimentam pelo caminho. Minha mãe está muito bonita, e acena para mim, segurando o braço de seu terceiro marido, Adam. Eu devia ter ficado feliz quando ela largou Mark por um partido melhor. Adam era dono de uma loja de carros e podia sustenta-la pelo menos. E o casamento já durava 15 anos. Não muito longe vejo Joe e Lilly, conversando animados com Henry e Christina, que vieram de Londres para a cerimônia.

Então avisto Paul, que sorri para mim, bem humorado, mas meus olhos estão em Lukas ao seu lado.

– Aí estão minhas garotas.

Suspiro. Depois de tanto tempo de casados ele ainda me deslumbra.

Dylan está próximo ao altar, conversando com Evan e Levi, o filho de Taylor e Evan, de 17 anos.

Seguro o braço de Lukas indo nos posicionar em nosso lugar defronte ao altar.

– Você está linda, senhora Constantini.

– Você também não está nada mal.

A marcha nupcial começa a tocar, nós vemos a noiva deslizando para o altar e sorrimos.

Dylan a conheceu na universidade, nós ficamos felizes quando ele a trouxe para nos apresentar meses depois. Fazia quatro anos e eles só esperaram a formatura para se casarem.

Alguns podiam dizer que era cedo, eu e Lukas não concordávamos. Dylan encontrou sua garota certa e era o bastante.

A cerimônia começa e Lukas passa os braços a minha volta.

– Fizemos um bom trabalho, não é?

– Sim. Ele é um homem maravilhoso – digo orgulhosa.

– E nossa filha está indo para a faculdade – ele diz já saudoso, olhando para Lizzy que pisca para nós segurando o buquê da noiva. Não posso deixar de pensar que em breve será ela a encontrar um grande amor e estará se casando. Pelo menos espero que aconteça um dia, mesmo não sendo tão em breve.

– Sim e o que vamos fazer agora, senhor Constantini? – Pergunto e Lukas sorri, beijando meus cabelos.

– A casa do Havaí está vazia, já que Dylan preferiu viajar para a Europa...

– Sim, acho que uma temporada com sol seria ótima para nós...

– Mal posso esperar Senhora Constantini, mal posso esperar...

 

Fim


Capítulo Extra


Dylan

 

Alguma coisa estava errada naquela manhã.

Por que ela não veio me acordar como fazia sempre?

Esfrego meus olhos, olhando em volta e só encontro meus hominhos na estante em frente à cama me encarando.

Cadê a minha Mia?

Primeiro penso que é muito cedo e ela deve estar dormindo ainda. Às vezes ela dorme até tarde e Tia Mary é quem cuida de mim quando acordo, preparando meu cereal. Tia Mary não faz panquecas gostosas como a minha Mia.

Minha Mia faz as panquecas mais gostosas do mundo! E me deixa comer no colo dela quase sempre. Ultimamente a barriga da Mia está muito gande pra eu ficar no colo dela. Não gosto disto. Nem um pouco.

E de novo eu me sinto... Como é mesmo que chama?

Bavo. Acho que era esta a palavra. Não, é Bravo. Brrravo. Repito na minha cabeça a palavra como Mia mandava eu fazer quando falava errado.

Ouvi ela dizer ao meu pai que teria que ir na fauna... fauna... olga. Por que eu às vezes falava errado. Ficava tiste quando falava errado, porque a Mia sempre me corrigia. Ela não ficava bava nem nada, ela ficava bem séria e fazia eu ficar repetindo. Eu queria fazer tudo direitinho pra ela ficar feliz comigo. Ela ficava muito feliz quando eu falava certo e me dava beijos melados no rosto.

Eu gostava dos beijos molhados da minha Mia.

Cadê ela?

Será que ela de novo está com dor de barriga, colocando a comida toda pra fora? Fazia muito tempo que ela não ficava assim. Ela tinha ficado dodói algumas vezes antes, depois que a baíga dela começou a crescer e ficar gande igual uma bola de basquete, não ficou mais.

A baíga dela está gande porque tem um bebê dento. Meu pai que colocou lá.

Às vezes me pergunto como ele fez isto. Meu pai é tão gande e fote como um super-herói, então não deve ser difícil pra ele fazer estas coisas legais.

Quando crescer quero ser igual meu pai. Além de ele ser gande e fote, a Mia diz o tempo todo que o ama mais que tudo.

A Mia me ama também. Ela sempre diz. Só que não posso dormir com ela abaçadinho toda a noite como meu pai faz.

E agola tem aquele bebê na baíga dela. Será que o bebê vai poder dormir com ela? De novo me sinto bavo. Brrravo. Doga.

Ops, Droga.

Desde que o bebê está morando na baíga dela, o tempo todo as pessoas ficam falando dele. Meu pai beija a baíga da Mia todo dia. E diz coisas do tipo "não vejo a hora de você sair"

Como é que o bebê vai sair? Não entendo.

Perguntei pra Mia uma vez e ela riu, dizendo que eu era muito curioso e me distraiu com um beijo e perguntou se eu quelia sorvete.

Eu gostava de sorvete e estava muito calor. Aí esqueci o que tinha perguntado.

O que eu sei é que aquele bebê estava me deixando bavo.

Tinha medo que ele roubasse a Mia pra ele. Eu não ia deixar. Ela era minha! Minha Mia.

E agora ela não veio me acordar hoje. Começo a sentir vontade de fazer xixi. Se eu não correr vou fazer na cama. E tia Mary vai ficar muito bava! Então me desenrolo das cobertas e corro para o banheiro.

Faço xixi e dou descarga como é o certo depois subo no banquinho e lavo minha mão, como a Mia me ensinou. Ela disse que sempre temos que lavar as mãos quando fazemos xixi ou cocô.

Eu sempre obedeço a Mia.

Desço do banquinho e vou até o quarto dela e do meu pai. A porta está aberta, quer dizer que posso entrar. A Mia e meu pai me disseram que não posso entrar quando a porta estiver fechada. Não entendo porquê.

Mia não está na cama.

– Mia? Mia cadê você? – Chamo entrando no banheiro, ela também não está ali.

Saio do quarto confuso e desço as escadas em direção a cozinha chamando-a.

Só a tia Mary está lá.

– Bom dia garotinho! – Ela limpa as mãos no avental.

– Cadê a Mia?

Mary sorri e vem em minha direção.

– A Mia está no hospital, querido – ela me coloca em uma cadeira.

Arregalo os olhos assustado.

– Hospital? A Mia está dodói? Ela está tomando injeção? – Fico preocupado. Não gosto de hospital e muito menos de injeção. Doía muito.

Mary belisca minha bochecha.

– Não, criança. Ela foi ter o bebê.

É aí que fico mais preocupado ainda.

Então o bebê ia sair da baíga da Mia! Tenho vontade de perguntar pra tia Mary como é que vai acontecer. Talvez ela não saiba. Devo perguntar ao meu pai.

Cadê ele?

– E cadê o meu pai?

Meu pai costuma tomar café com a gente antes de ir trabalhar. Eu às vezes chorava e pedia pra ele não ir. Gostava de ficar com meu pai. Não que não gostasse de ficar com a Mia. Com o meu pai eu podia fazer coisas de garotos, como jogar bola e Xbox. Meu pai apenas me abraçava e dizia que precisava ir trabalhar para ganhar dinheiro.

Ganhar dinheiro parecia algo muito importante, porque a Mia deixava ele ir e ficar o dia inteiro fora sem reclamar.

E olha que ela gostava muito de ficar com meu pai. Muito mesmo.

Às vezes, ela gostava tanto de ficar com ele que viajavam pra uma ilha e ficavam sozinhos lá. Eu nunca podia ir. Quer dizer, uma vez, eles me levaram. Estava todo mundo lá, minha tia Denise, a tia Taylor e os tios Evan e Paul. Além do vovô Richad e da vovó Erin. Foi muito divertido.

Eu quelia voltar na ilha, porque gostava de pescar com meu pai no barco da Mia. Era muito legal. Até o Simba ia junto.

Meu pai e a Mia voltaram lá um monte de vezes e não me levaram mais. Eu ficava com a tia Mary e às vezes com a tia Denise ou a tia Taylor.

Tia Taylor gostava de me levar para compar roupas. Era um pouco chato ficar lá parado, enquanto ela me vestia com um monte de roupa. Pelo menos depois ela me dava sovete.

Eu gostava mesmo era de ficar com o tio Paul, porque ele bincava de luta comigo. E eu sempre ganhava. Eu ia crescer e ficar fote igual tio Paul e meu pai. Porque meu pai era mais fote que tio Paul, eu tinha certeza. Meu pai era o maior em tudo!

Eu gostava quando ele chegava à noite depois de ganhar dinheiro e me abaçava e assistia desenho comigo. Na hora de dormir ele e a Mia me contavam uma historinha. Era minha hora preferida do dia, quando nós três estávamos juntos.

Como ia ser agola com aquele bebê?

Uma vez eu vi um bebê e não gostei nada!

O bebê era de uma amiga da tia Denise. Tia Denise o pegou no colo e se abaixou para mostrar pra mim. Aí, ele começou a chorar muito alto, me fazendo tampar os ouvidos. Ele gritava muito. E ficou assim o tempo todo! Esperneando e gritando.

Como é que eu ia dormir com o bebê gritando? Como é que alguém ia dormir?

– Seu pai está com ela no hospital – Mary respondeu colocando o prato de cereal na mesa. Nada de panquecas pra mim hoje!

– Por que ele está no hospital? – Encho minha boca de cereal, conformado.

– Por que ele vai ajudar a Mia a ter o bebê. Agora coma seu cereal e seja um bom menino.

– Quando a Mia vai voltar pra casa?

– Muito em breve, muito em breve.

Não sei o que isto significava. Então comi porque eu era um bom menino e fui brincar com Simba.

Mary me chamou pra almoçar e comi direitinho depois assisti desenhos.

Sentia falta da Mia. E estava com medo. Porque sabia que quando ela voltasse o bebê estaria com ela.

Será que ela ainda ia gostar de mim?

Eu sabia que não tinha saído de dentro da baíga dela como aquele bebê.

Meu pai me explicou direitinho quando fiquei meio confuso. Tinha alguns amiguinhos no parquinho que a Mia me levava para brincar e todos eles iam ao parque com a mãe.

Eu achava aquilo tão estranho! Porque quem me levava pro parque era a Mia. Claro que eu também tinha uma mãe. Ela era loira e cheirava muito bem. Ela não gostava que eu a abraçasse e nem aparecia muito. E muito menos me levava ao parque.

Uma vez meu pai me levou de avião para ver ela. Era num lugar bonito e nós passeamos. Ela me deu presentes e disse que eu estava gande e bonito. Achei divertido no começo. Ela deixava eu fazer várias coisas quando meu pai não estava perto. Eu dormia num quarto gande e ficava muito tempo sozinho, vendo desenho em uma língua esquisita que não entendia e bincando com meus binquedos novos. Aí começou a ficar chato e eu senti falta da Mia e do meu pai.

Quando meu pai apareceu, fiquei muito feliz de ir embora. A minha mãe me beijou e se despediu com um sorriso. Ela e meu pai falaram bavos um com o outro, não entendi por quê.

Nós fomos logo embora e quando vi a Mia me esperando corri pra ela que me pegou no colo me abaçando muito forte. Quase chorei de tão feliz que fiquei de ver a minha Mia. A Mia não era minha mãe, mas ela me contava historinhas pra eu dormir, me abaçava o tempo todo e me levava no parque.

Eu preferia ficar com a minha Mia.

E Mia não parecia se importar de eu não ter saído da baíga dela. Agora o bebê ia sair de lá. E eu estava preocupado.

Nem quis jantar naquela noite, mesmo tia Mary insistindo.

– Coma, querido, por favor.

E só peguei o Simba e fui para a cama da Mia. Ela não se importa que eu deite lá. Fico tiste por ela não estar ali pra me abaçar.

Acordo de repente com meu pai sorrindo pra mim.

– Bom dia, dorminhoco!

Pulo em cima dele, o abraçando. Tinha ficado com saudade dele também!

– Ei, garotão, tudo bem? – Ele pega meu rosto, me examinando.

– Cadê a Mia, papai?

Seu sorriso se alarga.

– A Mia vai voltar amanhã pra casa com sua irmãzinha.

– Imãzinha?

– Sim, sua irmã nasceu! E ela é linda. Se parece com a Mia.

Franzo a testa tentando entender todas aquelas informações.

O Mike era um dos meus amigos no parque. Ele tinha uma irmã também. Ela era um pouco menor que a gente. Quando perguntavam qual a idade dela, ela sorria e mostrava dois dedos.

Eu e Mike mostrávamos três. Na verdade, a Mia tinha me dito que em pouco tempo eu teria quatro!

Então o bebê na verdade era minha irmã?

A irmã do Mike era uma menina!

Fico confuso sem saber o que pensar. Eu não conhecia muitas meninas. Eu sabia que tia Denise e tia Taylor eram meninas. Assim como a Mia.

E eu e meu pai éramos meninos. Porque nós tínhamos uma torneirinha de onde saía o xixi. Meninas não tinham torneirinhas, eu acho!

Devia ser muito chato.

Uma vez Peter, outro amigo do parque, empurrou a irmã de Mike, que se chamava Luna. Ela caiu e chorou. Mike empurrou Peter por causa disto!

A mãe de Peter separou os dois e lhe deu uma bronca dizendo que não se batia em meninas porque elas eram delicadas.

Perguntei por que Mike havia empurrado Peter e ele disse que ele tinha que proteger sua irmã. Ninguém ia bater nela que ele ia socar de volta!

Agora eu tinha uma irmã pra proteger?

Era o que parecia.

O bebê chorão era uma irmã.

Não teria torneirinha e era delicada.

Eu ainda não sabia o que pensar.

Por hora, fico no colo do meu pai. Porque sabia que os bebês gostavam de ficar o tempo inteiro no colo, então era melhor eu aproveitar enquanto podia!

Meu pai não parece se importar. Ele me deu banho e até tentou fazer panquecas como as de Mia. Não ficou igual!

Espero que a Mia tenha tempo de fazer panquecas pra mim quando o bebê estiver aqui.

Tia Taylor e Tia Denise aparecem depois falando muito dizendo o tempo inteiro que minha irmã é linda.

As duas arrumam o quarto que a Mia tinha reservado para o bebê. Já havia um monte de coisas, que elas tocaram por outras. Tudo cor de rosa.

Eu preferiria verde. Era a cor do incrível Hulk e eu gostava do incrível Hulk. Tia Denise disse que rosa era cor de menina.

Elas até me pediram para ajudar. Foi muito divertido!

A minha irmã ia dormir num berço branco, tinha um monte de ursinho no quarto e bonecas.

Eu não gostava de bonecas. Cadê os carrinhos?

– Meninas não gostam de carrinhos! – Tia Taylor ri quando pergunto.

Meninas eram mesmo muito diferentes!

Depois fico muito cansado e me deito no sofá com Simba. Mary me faz comer e me leva para o quarto para dormir. Sinto falta da Mia e do meu pai.

Acordo com um barulho estranho. Por um momento não sei o que é e me levanto confuso indo em direção ao som, quando chego ao corredor percebo que o barulho que me acordou é um choro. Um choro de bebê.

Meu coração dispara como se fosse sair pela boca e corro em direção ao quarto do bebê. Ou melhor, ao quarto da minha irmã.

Quando chego lá, fico feliz ao ver Mia no quarto, mas, em vez de ela virar pra mim e me chamar para me abraçar, como sempre faz, ela se inclina sobre o berço e quando volta eu a vejo.

O bebê chorão. Minha irmã. No colo da Mia.

Ela a embala contra o peito, sussurrando docemente e o choro vai cessando.

Fico ali parado, sem saber o que fazer, meu coração está apertado no peito. Tudo vai mudar. Agora a Mia não é só minha. Meus lábios tremem e engulo a vontade de chorar.

De repente ela levanta o olhar me vê e sorri pra mim.

Como antes!

– Dylan! Vem aqui, querido!

Eu me aproximo devagar, enquanto Mia se senta na poltrona cor de rosa. Estou receoso, Mia continua sorrindo e estende a mão pra mim. Eu a pego e ela me puxa pra perto então consigo ver a bebê de pertinho.

Ela é bem branquinha. E muito, muito pequena. Seus olhinhos param em mim e são da cor dos olhos da Mia. Tem um pouquinho de cabelo na cabeça dela também da cor do cabelo da Mia. Bem vermelho.

– Esta é sua irmãzinha, meu amor, seu nome é Elizabeth, nós vamos chamá-la de Lizzy.

– Oi Lizzy – sussurro, não sei se a Lizzy consegue me ouvir. Certamente ela não vai responder. Bebês não falam. Mas choram – ela vai chorar de novo?

– Ela vai chorar um pouquinho sim, sempre que quiser avisar que está com fome, precisando trocar a fralda ou estiver doente. Bebês dão um pouco de trabalho, você vai me ajudar, não é?

Arregalo os olhos.

– Eu?

– Claro. Você é o irmão mais velho e irmãos mais velhos ajudam a cuidar de suas irmãzinhas.

Penso por um momento. Do jeito que Mia falou parece um gande negócio. Tipo uma missão de super-herói. Eu gosto da ideia.

– Tudo bem. Posso fazer isto. Também vou protegê-la se algum galoto maior quiser bater nela.

Mia ri.

– Com certeza. E ela vai te amar por isto.

Hum, a Lizzy ia me amar?

Gosto quando as pessoas me amam. E gosto de amar as pessoas.

Acho que posso gostar disto também.

– Vejo que já estão se conhecendo – meu pai entra no quarto, Mia pega Lizzy e a coloca em seu colo.

Ele sorri para ela quase do mesmo jeito que sorri pra Mia.

E acho que é o jeito que sorrio pra Mia também.

Talvez eu possa sorrir assim pra minha irmãzinha quando Mia me deixar pegá-la no colo. Começo a ficar ansioso por isto, embora tenha medo de quebá-la. Talvez outra hora, agora Mia me pega no colo e me amassa num abaço gostoso.

– wow, senti muita saudade, meu amorzinho.

– Eu também, Mia – sussurro contra seus cabelos.

Ela beija meu rosto e sorri pra mim.

– Você foi um bom garoto e não deu trabalho pra Mary?

Sacudo a cabeça afirmativamente.

– Fui sim. E até ajudei tia Denise e tia Taylor a arrumar o quarto da Lizzy.

– Jura? Que bom! Que tal nós descermos para eu fazer panquecas pra nós?

– Eba! – Eu me animo de verdade.

Mia me leva pra cozinha e fico muito feliz quando ela faz as melhores panquecas do mundo e me deixa ficar no seu colo enquanto comemos.

Vô Richad e vó Erin chegam e depois de me abraçarem, querem ver Lizzy. É assim também com minhas tias e tios. Lizzy realmente fica o dia inteiro passando por todos os colos. Ela chora às vezes, agora até nem acho tão chato. Na maioria das vezes ela está dormindo. Mia diz que os bebês são assim mesmo.

Eu me pergunto quando vou poder ensinar algumas bincadeiras a ela. Tomara que ela queira bincar comigo, mesmo sendo uma menina. Eu dividiria meus carrinhos com ela, se ela quiser. Só não vou bincar de boneca!

E a noite, depois que todos vão embora. Meu pai me dá o jantar e me sinto sonolento, foi um dia muito longo e começo a bocejar.

Papai e me leva para cima, antes de irmos para meu quarto, ele me leva para o quarto de Lizzy quando chegamos lá, a coisa mais engaçada está acontecendo. Lizzy esta gudada no peito da Mia!

– Ela está mamando – meu pai explica.

– Mamando?

– Sim – Mia sorri – tem leite nos meus peitos para alimentá-la.

– Wow! – Realmente estou bem surpreso!

Quando termina de mamar, ela está dormindo e tomo coragem para colocar minhas mãos em sua cabeça, fazendo um carinho nos seus cabelos. É muito macio. Ela também tem um cheiro gostoso.

– Dê boa noite a Lizzy Dylan e vamos dormir – meu pai diz, eu me inclino e beijo seu rostinho.

– Boa noite, Lizzy.

Meu pai me leva pro quarto, me ajuda a vestir o pijama e me pergunto se Mia não virá me colocar pra dormir também.

Eu me sinto um pouco tiste, mas não estou mais bavo com a Lizzy.

Agora sei que ela é muito pequenininha e precisa que Mia cuide dela. Eu já sou um menino gande!

Quando estou entrando debaixo das cobertas, Mia aparece me fazendo sorrir.

– Conta uma historinha pra mim, Mia – peço como toda noite.

Ela pega um livro, senta do meu lado e começa a contar a historinha. Estou com muito sono quando ela termina. Meu pai beija minha testa.

– Boa noite, Dylan.

– Boa noite, papai.

Mia também se inclina e me beija.

– Boa noite, bebê.

– Não sou mais bebê, Mia. O bebê agora é a Lizzy!

– Ah sim – ela ri – você é meu hominho então!

Eu rio beijando seu rosto.

– Eu te amo, Mia.

Ela acaricia meu rosto.

– E eu te amo pra sempre – ela murmura e sinto todo o medo indo embora.

A minha Mia ainda me ama! Vai amar pra sempre, ela disse.

Sei que Mia e meu pai ainda vão ficar ali até eu dormir, abro os olhos apenas para me certificar e eles estão ao lado da minha cama, meu pai se inclina e beija a boca da Mia.

É, eles fazem muito isto. Muito mesmo.

Fecho os olhos, feliz.

Antes de dormir, eu me lembro que ainda não sei como o bebê entrou na Mia e nem como saiu. Preciso me lembrar de fazer esta pergunta pra eles amanhã.

 

 

                                                   Juliana Dantas         

 

 

 

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