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Minha mão rastejou pela pele macia de sua garganta, enrolando-se por ali, descendo pelo canto de seu seio direito. Suas pupilas dilataram. Eu adorava este jogo, e ali eu era o caçador e ela... adorou ser minha.
Inclino meu corpo contra o seu, deixando que ela sinta como estou ansioso para tê-la, inclino até que meu nariz esteja a centímetros de sua pele. Eu não podia resistir ao magnetismo dela e nem queria. Meus lábios roçaram levemente sua garganta sentindo o pulsar de suas veias sob minha boca. E isso me deixou fodidamente duro.
O arrepio de desejo que percorria minha pele...
Ela não me conhecia, não sabia que parte de mim tinha sido moldada para ser um monstro. O problema é que agora ele estava no fundo da minha mente, somente desejando tomar aquilo que queria: C–o–r-a.
Soletro lentamente essas quatro letrinhas em minha mente, sentindo minha língua enrolar desejosa pela pronuncia, enquanto meus olhos reivindicam seu corpo.
CAPITULO UM
Orrel, nove anos de idade
A campainha do jantar tocara há muito tempo. Era raro papai comer conosco, mamãe costumava dizer que ele era um homem muito ocupado. Mas hoje os papeis tinham se invertido, mamãe que ficou presa em seu compromisso com sua amiga e papai estava terminando seus negócios no escritório com o tio Czar.
Pego a faca e enfiando na tigela com purê de batata só para enfiar um grande punhado na boca.
Olivia, nossa governanta estalou a língua. — Um dia você vai se cortar.
Empurro novamente a faca de volta para o purê e lambo novamente, torço a boca teimosamente. — Não vou.
Empurro minha cadeira para trás, me levantando. Por que papai estava demorando tanto? Ando em volta da mesa.
Olivia dá um passo em minha direção, saindo de sua posição do outro lado da cozinha. — Orrel, sabe que seu pai não gosta de você fazendo mexericos quando trata assuntos importantes.
Encaro seu rosto bravo. — Tente me deter.
Ela não me seguiu quando eu atravessei a sala de jantar, nem mesmo quando virei no corredor que dava para o escritório de papai. A porta estava entreaberta. — Papa? O jantar está pronto.
Sem resposta. Dou mais um passo, assustando quando meu tio sai limpando as mãos do escritório de meu pai.
— Você deveria estar ceando.
— Sim, senhor, vim apenas chamar meu papa.
Tio Czar dá pequenos tapinhas no topo de minha cabeça sorrindo. — Em breve, Mikhal virá buscá-lo para o verão.
Estreito a sobrancelha confuso, em todos esses anos, nunca fui convidado para ficar na casa de meu tio, papa costumava dizer que ele não gostava de crianças. Espero que ele sumir pelo corredor para então me aproximar do escritório de meu pai. Empurro a porta aberta, engolindo em seco. Estava quieto demais. Dei mais alguns passos para dentro do escritório e congelei. O chão estava coberto de sangue, não que eu o vira com frequência, mas eu assistia filmes de ação para reconhecer, um cheiro de cobre e algo doce enchia o escritório de meu pai, causando náuseas.
Meus olhos seguiram o rio de sangue, meu pai estava entre sua cadeira elegante de couro e a mesa, o braço flácido esticado, a camisa branca com uma mancha irregular no peito, bem perto do coração.
— Papa? — me movi alguns passos, mais perto — Papa? — outro passo.
Ele não reagiu, estava morto. Olhei para meus pés, bem no meio daquela poça avermelhada, tropecei para longe escorregando, caindo para trás, gritando. Minha bunda bateu forte no chão e minhas roupas encharcaram com seu sangue.
Por que meu tio não chamou alguém, porque ele deixou meu papa ali? Saio correndo pela casa, meus olhos ardendo e acabo colidindo em alguém. Olho para cima me reconfortando nos braços de minha mãe.
— Orrel, querido o que houve, o que você... isso é sangue? Orrel? — sua voz mansa se tornou histérica, ela me apalpava em todos os lugares tentando encontrar a origem para o sangue em minhas roupas.
— Mama, papa está morto. — Sussurro.
Minha mãe corre em direção ao escritório de meu pai, caindo sobre o corpo dele, chorando e murmurando coisas entre eles.
— Quem fez isso, quem entrou em nossa casa, cadê os homens de seu pai?
— Papa veio sozinho para casa hoje, apenas o tio Czar esteve aqui, mama.
Enxugo os olhos com as costas de minha mão, evitando olhar para o rosto de meu pai, os olhos ainda abertos fixos em algo que somente ele saberia, quem sabe a pessoa que o matou.
— Etot sukin syn! 1 — Minha mãe gritou.
— Mama?
— Seu tio matou seu papa, Orrel, isso é coisa do seu tio. Nunca teremos justiça.
Aquelas palavras foram como socos em meu rosto, não conseguia acreditar...
— Por que não estamos no funeral do papa?
Madeleine, governanta do tio Czar veio em minha direção com um copo de chocolate quente. — Fique quieto, meu garoto.
Bato o pé, deixando de lado meu chocolate. — Não!
— Orrel! — alertou Madeleine.
— Eu quero dizer adeus ao papa! Não é justo que mama esteja sozinha!
— Seu papa era um traidor, um infame, manchando a imagem de nosso nome. Ele não merece a nossa tristeza. — A voz de Czar retumbou pela casa feroz, para logo depois vê-lo prostrado na entrada da cozinha. — Não seja como seu pai, Orrel!
Orrel, treze anos de idade
Estava frio naquele dia, muito frio. Mal podia enxergar meus pés com a quantidade de neve que cobria todo o chão. Czar mandou que eu aguardasse fora do carro, não existia uma única alma viva nas redondezas, ele havia entrado no prédio seguido de seus homens.
Canso de esperar no frio cortante do lado de fora, sigo a passos vacilantes até o prédio onde haviam entrado. Aquela área era miserável e imunda, não havia vida ali, apenas desespero e esquecimento.
Empurro com força a porta de metal, xingando-me em silêncio pelo ruído alto que ela fez por todo o prédio.
Estava escuro lá dentro, poucos flashes de luz iluminavam meu caminho. Um barulho alto me assustou e eu sobressaltei, arregalando os olhos, por instinto tirei o punhal que Czar havia me dado com as mãos tremendo. Por um segundo cogitei sair dali, voltar para fora, enfrentar o frio e aguardar por ele. Mas o choramingo de uma criança me chamou atenção. Sigo o som, atravessando o prédio.
— Você está com medo?
Viro-me assustado achando que havia sido comigo, mas não tinha ninguém por ali.
Sigo o som, vendo dois homens circulando um menino franzino, ele levou um chute na direção do estômago, fazendo-o vomitar.
— Por favor, me deixe voltar para as ruas, mamãe deve estar preocupada comigo.
O homem riu.
— Você é alto e forte para um menino de dez anos, será útil para o chefe.
— Ainda não entendo porque ele quer um garoto filho de uma prostituta — comentou o outro.
— Não xingue minha mãe! — o menino tentou avançar para cima dos homens, mas foi detido, seu corpo jogado contra a parede. Ele estava com o peito nu, um short imenso pendia por sua cintura. Nesse frio e ele vestia apenas isso?
— Acha que podemos nos divertir um pouco com esse pirralho?
O pânico brilhou no rosto do menino, fazendo-o se encolher mais contra a parede. Os homens pareciam estar sorrindo, eu podia sentir a maldade neles. Em parte eu queria fugir dali, não queria que eles me vissem, mais não era certo deixar o menino ali, meu peito martelava contra meu peito. O menino me viu escondido, seus olhos implorando por ajuda ou estaria me alertando para fugir?
Saio do meu esconderijo quando um dos homens começa a passar a mão pelo corpo do menino, rindo do desespero que fazia seu corpo magro tremer.
— Deixem-no em paz! — grito, jogando meu punhal contra um dos homens, atingindo-o no pescoço.
Vejo ele se virar surpreso, a mão indo até minha faca, o sangue jorrar de seu ferimento e então ele cair no chão. O outro começa a vir em minha direção, mas para, encarando algo para além de mim.
— Matem o menino.
Engulo em seco ao ouvir a voz de Czar em minhas costas, fecho os olhos esperando que o homem atire em mim ou faça o mesmo que fiz com seu amigo, mas ao abrir, vejo o menino franzino caído no chão com um corte profundo do pescoço. Um corte produzido com a minha faca, o sangue inunda o lugar, formando uma imensa poça ao seu redor, assim como foi com meu pai, os olhos vidrados assim como o do meu pai...
— Você deveria obedecer as minhas ordens, agora tem sangue nas mãos. — Czar acusa, soprando a fumaça do seu charuto em minha direção, me levando para longe dali.
Os passos dele são pesados e estão cada vez mais perto, eu posso ouvi-lo de dentro do meu pequeno esconderijo no armário. Assim como a música diabólica que tem o prazer em assobiar enquanto me caça, ele adora fazer isso, adorar ver o medo saindo dos meus poros como perfume. E eu sinto, sinto muito medo.
A porta do quarto se abre com um estrondo, colidindo-se contra a parede. Pela pequena fresca da porta entreaberta do armário vejo-o parado analisando o ambiente. Ele caminha como um leão faminto, seu assobio faz os pelos dos meus braços se eriçarem, engulo em seco, não piscando nem uma vez.
— Já está mijando nas calças, syn 2 ? — Czar passa na frente do armário sorrindo — Achei que estávamos chegando perto, mas vejo que isso será um mar de mijo logo, logo, saia seu desonrado!
Seguro a respiração, talvez ele desista, talvez meu tio saia..., mas penso isso cedo demais, ele dá apenas dois passos até o armário, escancarando as portas, me arrancando do meio das roupas e me jogando contra o chão.
Afasto-me até encostar contra a cama, mas ele é rápido e não está sozinho. Mikhal, seu lacaio mais fiel, agarra meus braços, colocando-me de pé.
— Cadê seus modos diante ao teu papa?
— Você não é meu papa! — Rosno me debatendo entre o aperto firme em meus braços vindos de seu capanga.
— Sabe o que não é nada gentil, syn . Você matar um de meus homens, mas você irá aprender rápido, vai se arrepender de ter atravessado meus negócios e será o homem que eu preciso que seja. Ou quer voltar para casa da suka 3 de sua mãe?
— Não fale de minha mat’ 4 — grito.
A chicotada foi rápida, meu rosto arde e duvido que não tenha cortado minha pele devido a força usada. Forte o suficiente para eu sucumbir ao chão, sendo sustentado pelo lacaio de meu tio.
— Etot gryaznyy ubil by yeye. 5 — Este sujo iria matá-la!
— A primeira foi de graça, um momento emocional vou considerar, mas quem seria você a protegê-la?
— Ela é filha da Made! — Rosno novamente.
— Você irá se tornar um homem. Chega de ser uma suka chorona dentro de minha casa. Entendeu?
Seguro as lágrimas de raiva que nublam minha visão. Trincando os dentes, pois sei que se afrouxá-los irei ser punido com o que sair de minha boca.
Czar torna a assobiar, senta-se na poltrona do outro lado do quarto, abrindo os botões de seu terno caro. — Traga-a. — ordena para Mikhal.
Em questão de minutos Mikhal retorna para o quarto com Lilith, ela me encara com os olhos arregalados, e isso é como um murro bem na boca de meu estômago. Sei que ela é forte e não chorará, mas eu sinto o gosto amargo do seu medo, do meu medo preenchendo cada canto daquele quarto.
Lilith é mais alta que eu, seus cabelos avermelhados brilham quando ela anda pelo sol, alguns anos mais velha do que eu. E eu gosto dela. Gosto quando estamos sentados no jardim e o sol faz sua pele se encher de sardas, gosto como ela é gentil comigo. Por isso minha voz falha miseravelmente quando imploro para o diabo.
— Por favor, não!
Czar suspira, passando a mão pela barba, seus olhos estavam bravos. — Tem duas opções. Faça você ou Mikhal irá fazer na sua frente e não sei se ela sairá viva disso, meu homem tem um grande apreço pela dor.
Arregalo os olhos, ainda olhando para Lilith, ela não pronuncia uma palavra, mas sei que está segurando o choro. Seus olhos param em mim e vejo-a sussurrar algo:
— Faça, Orrel.
Ela quer isso? Mas por quê? Madeleine me mataria, me castraria se soubesse que encostei em sua filha. Limpo rapidamente a lágrima traiçoeira que escorre por minha bochecha, enquanto encaro os olhos castanhos de Lilith.
— Escolho a primeira opção — digo a contragosto.
— Você o ouviu, tire suas roupas Lilith, hoje meu garoto irá se divertir com sua boceta virgem.
Ambos tiramos as roupas, Lilith se deita na cama encarando o teto do quarto. Eu a olho, nunca tinha visto uma garota nua, a não ser as revistas que roubava secretamente dos homens de Czar por pura curiosidade.
Ela se parecia muito com as garotas da revista, seu corpo não aparentava ter tantas coisas quando estava vestida, seus peitos eram volumosos e ela tinha pelos no meio das pernas.
— Acabe com isso de uma vez, moleque!
Olhar seu corpo exposto mexe com coisas dentro de mim, eu já tive ereção, meus amigos na escola se escondiam dentro do banheiro para provocá-las e ver quem tinha o maior pau. Mas sentir isso ali, olhando para o corpo de uma amiga, não me parece certo.
— Otkroy eti nogi! 6
Ela obedece, abre as pernas deixando que eu fique no meio, solto um gemido involuntário ao forçar sua entrada, nunca senti algo parecido com isso, ao mesmo tempo, é delicioso e estranho, é como se um pequeno tremor se prolongasse por minha coluna. Lilith é quente e apertada, é como se alguém apertasse meu pau, provocando mais gemidos.
Mesmo torcendo o rosto ela assentiu com a cabeça, indicando para que continue. Movo-me para baixo e então sinto uma pressão, ela geme mordendo os lábios, lágrimas escorrem por seu rosto. Faço menção de sair, de parar. Mas ela crava suas unhas pintadas de verde em meu braço olhando para algo atrás de mim.
— Continue — sussurra.
Movo-me para cima e baixo novamente e é como se algo urgente se abrisse dentro de mim, é errado, mas eu quero mais, desejo mais. Seguro sua cintura, indo mais rápido, parece que meu corpo sabe o que está fazendo. Não consigo sentir remorso com a inundação de sensação quente escorrendo pelas minhas veias.
Seguro as mãos de Lilith acima da cabeça, é automático minha mão descendo pelo seu corpo, segurando firme seu peito, até mesmo seu pescoço. Enquanto me enfio rápido no meio de suas pernas.
— Isso é tudo que você consegue? Mikhal, acredito que terá que mostrar para esse pequeno rato como fazemos, nós os homens de verdade. — Escuto Czar dizer rindo, ainda sentado na poltrona.
A raiva me cega, aumento o aperto no pescoço de Lilith, ver suas bochechas rosadas me instigam mais.
— Orrel, pare, está machucando! — Exclama choramingando.
Saio bruscamente, virando seu corpo, ainda segurando em sua garganta, tudo que enxergo é vermelho, raiva, ódio, vingança... Ouço o choro abafado dela, mas não paro de entrar nela bruscamente, o corpo dela treme. Aquilo tudo misturado me faz gritar, sinto algo sendo puxado dentro de mim, uma sensação de sono e liberdade, é a primeira vez que gozo. Saio de dentro dela com a respiração ofegante, meu coração bate descontrolado e meu pau está pulsando.
— Quem diria, pelo visto consegui tirar você das garras de sua mãe fodida bem a tempo! — Czar exclama batendo palmas. — Agora poderá comer todas as putas que quiser.
Volto pra cama assustado ao ver a marca de sangue nos lençóis e sobre meu corpo, sacudo Lilith chamando por seu nome, mas ela está imóvel.
— Lilith, acorde! Isso é normal? — viro em pânico, perguntando para os dois homens parados em minha frente.
Mikhal troca um rápido olhar com Czar, chegando perto de Lilith, conferindo algo em seu pescoço.
Afasto-me rapidamente, colocando minhas roupas. — Eu a matei? — questiono. — Responda, eu matei Lilith?
— Cale a porra da boca, moleque! — Czar olha para seu capanga, ele faz um pequeno gesto que não, e sinto um breve alívio por saber que não matei minha amiga.
— Você deve ter apertado muito o pescoço, ela está desmaiada. — Mikhal diz.
— Parabéns, Orrel! Você estuprou sua primeira mulher!
Corro para fora dali desesperado, atravesso a casa, cruzando com Made na sala e mal olho em sua direção, tamanha a vergonha que me inunda. No final da rua, algumas crianças estão abaixadas, brincando na calçada, tropeço em meus próprios pés, caindo sobre um deles.
— Orrel, que houve? — pergunta.
Fecho o punho acertando-o no meio do nariz. — Cuide da sua vida, Boyd — digo saindo correndo para longe de tudo.
Salve-se
Pois o diabo está a caminho
Então você reza
Mas você não pode se esconder
Você não pode esconder
Quando o mal chama seu nome
- The Wicked, Blues Saraceno
CAP Í TULO DOIS
O sangue escorria do meu nariz, mais uma surra em menos de dois dias, Kiran tinha se tornado o perfeito cão do diabo. Mais um soco foi acertado e eu nunca me permitia a emitir um som. As coisas em nosso redor caíam se quebrando e produzindo um estrondo alto.
Eu não poderia perder, isso seria demais, além de Czar ficar sabendo e isso ser mais um motivo para esfregar a grande perfeição que Kiran, o malen’kiy ublyudok 7 , era.
Então fiz o que podia, mordi o braço que me segurava, cravando meus dentes tão forte, que logo o gosto de sangue inundou minha boca. Dou uma joelhada no saco de Kiran, fazendo-o gritar, colocando as suas mãos no local afetado e caindo ao meu lado.
Sento em cima de suas costelas, acertando o máximo de socos que conseguia, trincando os dentes e reunindo o máximo de força. Seu rosto sangrava, assim como minhas mãos, ambas ardiam, minha respiração ofegante, eu mataria Kiran dessa vez.
— Mas não pode ser, parem já com isso! Saia de cima dele, Orrel!
Sou puxado para cima por Madeleine, colocando Kiran também de pé, segurando nossos braços. — Por que estão brigando novamente? — ela pergunta, olhando para Kiran e depois para mim, soltando um pesado suspiro.
Kiran e eu nos encarávamos com raiva.
— Acho bom pararem de agir como dois mamutes descontrolados, peguem duas pás e vassouras, eu é que não irei limpar a bagunça que fizeram tentando mostrar quem é o prodígio mais mijão.
— Foi ele que começou. — Kiran retrucou, saindo do aperto que Madeleine dava em seu braço.
— Ty tupoy ublyudok 8 ! — exclamo tentando avançar sobre ele.
— Ei! Chega! — Madeleine vocifera. — Façam exatamente o que mandei se ainda têm alguma esperança de receber o jantar essa noite.
Kiran foi o primeiro a concordar e sair em busca dos materiais de limpeza, quando fiz menção de fazer igual, Madeleine segurou gentilmente meu braço, encarando meus olhos.
— Orrel, meu lindo e bocudo menino! Não se meta em encrencas!
Desvio os olhos, encarando minhas mãos feridas.
— Pegue o kit de primeiros socorros, irei cuidar de você.
— Eu sei me cuidar. Não preciso de ajuda.
Ela passa a mão sobre meus cabelos, bagunçando-os. — Deixe de ser birrento, seu moleque. Faça o que mando. — E então acrescenta um beijo sobre minha testa.
Aquilo fazia meu coração se aquecer, se é que eu ainda poderia dizer que havia algo pulsante dentro de mim. Não depois do que fiz com Lilith ou as tarefas que Czar mandou que fizesse.
Passei vários meses evitando Madeleine, a culpa dava um nó em minha garganta, eu sabia que ela já tinha ciência do que houvera com sua filha, sentia culpa e remorso e não queria ver seu dedo apontado para meu rosto de maneira acusadora. Ela devia, devia me dar um tiro no meio da cara por isso, mas não, Madeleine continuou me tratando como sempre, como uma mãe. E pior, continuou sobre as garras de Czar.
Orrel, dezessete anos de idade
O médico particular de Czar dava instruções de como cuidar do corte para que não ficasse tão nojento como parecia naquele momento, e eu apenas concordava, deixando-o falar. Tinha perdido, perdi uma das pequenas lutas armadas por Czar, levava certa vantagem sobre Kiran, o que era excelente para desbancar a imagem de filho e soldado leal que Czar tanto mostrava aos seus homens.
Naquele dia vi uma pequena brecha em sua defesa e me aproveitei dela, sei que foi seu instinto de preservação, afinal, erámos criados pelo mesmo monstro.
— Tudo pronto, tem que seguir tudo que falei, entendeu?
Desço da maca improvisada, confirmando com um gesto, meus olhos parando diretamente no rosto sorridente de Czar.
— Fico contente que esteja bem.
— Foi apenas de raspão — respondo rudemente.
— Ótimo, não gostaria que meu menino se ferisse.
Controlo minha vontade de revirar os olhos ou a vontade sanguinária de voar no pescoço desse velho.
— Tenho uma tarefa para você. Como diz a regra...
— O perdedor tem que fazer servicinhos sujos de seus capangas.
Czar passa a mão pela barba bem alinhada, dispensando o médico e fechando a porta da sala imunda do galpão atrás de si.
— Sabe por que Kiran nunca tem que fazê-los? — ele realmente não espera por minha resposta, e acrescenta — Porque ele honra meus ensinamentos, você tem o sangue do teu pai, sangue desonrado, mas tem o meu também. E em todos esses anos eu lhe ensino isso, ser um homem de verdade.
Trinco os dentes e permaneço encarando seus olhos.
— Espero que não me decepcione, pois senão trato de terminar o serviço que Kiran começou — diz afundando o dedo gordo em meu curativo.
Eu não sou fraco, caralho! Estou tentando me convencer, um pouco chateado por estar achando isso mais difícil de engolir do que pensei que seria. Sei que a única razão para eu ainda estar aqui, parado no meio do caminho é porque esta situação, em particular, envolve uma mulher. Você pensaria que não haveria nenhum problema em seguir adiante, vendo como eu realmente não tenho moral já que sirvo o próprio Demo.
Respiro fundo, a adrenalina está inundando meu corpo, por mim eu deixaria tudo como está e me enfiaria em algum boteco clandestino para tomar algo que me fizesse esquecer a merda do meu dia, mas sei que se não chegar com uma prova de serviço feito, não passarei uma semana de folga em algum lugar incrível que ele fala para todos, irei para o buraco debaixo da terra sem comida ou água, até que me curve novamente a ele.
Há uma luz no final do corredor, suficiente para que escute risos e palavras sussurradas, tiro a arma da cintura escancarando a porta, assustando o homem e as duas mulheres transando na cama. Elas gritam, uma corre para fora da cama encostando na parede, a outra fica atrás do homem, como se esse covarde fosse realmente dar a vida por elas, vejo nos olhos dele que se oferecesse o contrário ele mesmo cortaria a garganta de cada uma.
Continuo mirando diretamente em sua cabeça, ele ergue as mãos.
— Por Cristo, leve tudo, mas deixe-nos em paz!
— Isso, não precisa nos ferir. — A mulher soluça, seus olhos fixos em mim.
Trinco meus dentes, apertando a mandíbula.
— Vim cobrar uma dívida. Por mim, os deixaria vivos, mas a pessoa que me mandou quer um pequeno lembrete — digo me aproximando da cama.
Aponto a arma primeiro para o homem e puxo o gatilho, seu corpo se desloca para trás, caindo no chão com um baque. Os gritos estridentes das mulheres logo são cessados, mais dois tiros rápidos e pronto, estão completamente inertes.
Olho a cena sentindo as ondas de nojo subirem por meu estômago. Fiz o que tinha que ser feito, fiz o que tinha que ser feito ... esse foi o mantra que usei para pegar as pequenas provas que Czar exigiria e sair pela porta dos fundos, me afastando o máximo que poderia dali. Naquele momento, eu soube o quanto as garras dele estavam fincadas em minhas costas, do quanto eu estava ferrado. Eu sabia disso.
Orrel, vinte e quatro anos de idade
Há alguns lugares que não importa quanto tempo passe, são assombrados por fantasmas do passado. Irlanda era um desses lugares e não havia boas lembranças para mim, mesmo que fosse minha casa de infância, ou melhor, porque era a casa de minha infância. Noites e dias foram passados encolhido de medo, perguntando-me quando a próxima punição viria ou quando o próximo teste começaria. Era como meu tio gostava de chamá-los, seus testes .
— Ouvi dizer que você está envolvido com negócios sujos. — A ruiva sussurra em meu ouvido, roçando seu corpo contra o meu enquanto dança. Sua mão deslizou para baixo, seus olhos flertando. Definitivamente ela era uma das riquinhas procurando por confusão.
Se ela aventurasse mais suas mãos em meu corpo, iria encontrar a arma no coldre na parte inferior de minhas costas, escondida sob a camiseta.
— Hum, pode ser que sim, pode ser que não.
Ela se apertou contra mim. — Então é verdade?
— O que você acha? — questiono, puxando seu quadril para mim, deixando-a sentir o que sua enorme bunda roçando fez com meu pau.
— Acho que eu não ligaria de deixar essa festinha de lado para ser fodida.
— Que bom, — faço uma pausa, terminando com minha bebida — mostre o caminho até sua boceta.
Com um sorriso ela pega minha mão, saindo da sala apinhada de convidados e entrando no que eu presumi ser o quarto dela. Empurro seu corpo contra sua pequena cômoda, quebrando alguns vidros de perfumes.
— Poxa eu gostava daquele — diz quando solto seus lábios, para sugar o colo de seu peito.
— Pareço me preocupar?
Puxo a saia de seu vestido para cima, empurrando sua calcinha para o lado, encontrando-a molhada. Brinco com seu corpo, só para enfiar dois dedos firmes dentro dela, gostando do brilho de fascinação que seus olhos tinham.
Ela gemia, curvando-se sobre a cômoda, fazendo-me fodê-la mais firmemente com os dedos, acrescentando mais um quando sua boceta se alargou desejosa.
Se ela soubesse o que eu já havia feito com essas mãos, ela não teria me pedido para fodê-la. Mas para a filha do senador isso era um jogo, enquanto seu pai me entregava tudo que era necessário eu fodia sua filha antes de ir embora. Parecia um bom prêmio, afinal.
Para aquela riquinha mimada eu era a fantasia sombria se tornando realidade, mas ela não entendeu que eu não estava representando um papel.
— É bom tê-lo aqui.
Encaro o rosto de meu primo, dando um breve aceno. Não tinha nada de bom nisso, nada de bom em entrar na casa que vivi meus piores anos, mas como dizem: a caça nunca está longe demais do seu caçador.
— Breves momentos, primo, breves momentos — sussurro.
— Orrel.
Ergo o olhar, notando Czar parado entre a imensa sala de estar e a de jantar. — Temos assuntos a encerrar — digo.
— Claro. — Responde com o mesmo sorriso que me dava arrepios quando criança.
Czar se sentou atrás de sua mesa com aquele sorriso narcisista que eu detestava mais que qualquer coisa. — Conseguiu o que pedi?
Jogo a pasta lacrada em sua frente, meu último servicinho sujo para ele.
Seu sorriso se alargou. — É uma pena que decidiu deixar os negócios da família.
— Foi nosso combinado, agora você tem Kiran assumindo seu lugar, não precisará de mim, afinal, ele tem uma imensa fama de assassino frio e impiedoso, você finalmente conseguiu o modelo exemplar.
— Sinto um gosto amargo em suas palavras, filho.
Ergo a sobrancelha. Kiran tinha se tornado tão impiedoso que os homens que viviam no lado obscuro tinham medo até de sussurrar seu nome. Mas eu ainda não compreendia porque Czar fazia tanta questão em me manter acorrentado nele.
— Espero que goste dos novos ares — diz fechando o envelope e guardando-o na gaveta.
Não era a primeira vez que considerava colocar uma bala no meio do crânio dele.
CAP Í TULO TR Ê S
Cinque Terre – Itália, dias atuais
Desço do carro alugado colocando os óculos de sol sobre o rosto, sorrindo animado ao ver a quantidade de italianinha gostosa que desfila em minha frente. Que bela terra meu primo veio se esconder!
A velha igreja de San Giovanni estava fechada, segundo o senhor que tirei informações. Poderia dizer que eu morreria e não veria tudo nessa vida, quem diria que Kiran, o impiedoso ou pelo menos fora um dia, iria cruzar solo sagrado!
Subo os pequenos degraus laterais, empurrando a porta branca no estilo arquitetônico liguriana gótica de 1244. E não foi uma surpresa encontrar apenas quatro pessoas sentadas, assistindo a cerimônia clandestina que Kiran havia montado.
— Podem trocar os votos, o padrinho chegou — digo parado no meio do corredor, sorrindo ao ver todos se virando surpresos. Seis armas foram apontadas diretamente para meu peito e cabeça, me fazendo sorrir. — As pessoas não se casam mais como antigamente. Coitado do padre — caminho rindo em direção a eles, parando perto de meu primo. — Achou mesmo que ficaria fora desse evento?
— Fora! — Kiran esbravejou.
— Tsc, tsc , é assim que trata seu único parente vivo?
— Os senhores poderiam guardas as armas? Essa ainda é a casa de Deus, meus jovens!
— Desculpe, padre Giuseppe. — diz Adria, escondendo a pistola Walther PPK 9 mm.
— Isso sim é poder de fogo, priminha! — Faço um gesto de rendição, guardando minha arma no coldre subaxilar. — Desculpe padre. Vou me sentar aqui, podem continuar — acrescento sorrindo.
O padre retoma a pequena lenga-lenga de casamento, enquanto meu primo me encara como o verdadeiro lobo feroz moldado por Czar que sempre foi.
— Você está muito mais gata — digo contra o pescoço de Lilith.
Escuto seu pequeno suspiro e sorrio.
— Alguém já lhe ensinou a não aparecer onde não foi chamado?
Ah, Lilith, sempre com o mesmo fogo nos olhos!
— Faz um bom tempo que não nos falamos.
Ela olha rapidamente para sua mãe sentada a poucos metros de nós, ao lado de um cara que sorri como um velho babão para Adria.
— Faz, desde que o diabo arrancou minha alma. — Ela retruca.
Torço a boca evitando relembrar esse dia, uma das muitas memórias das quais guardo trancadas no fundo de minha mente.
— Que o inferno lhe seja quente. — Digo.
Ela me encara, os olhos fixos nos meus. — Você está mudado.
Encosto no banco de madeira sorrindo sorrateiramente. — Ligeiramente mais gostoso, querida — digo piscando.
— Babaca como sempre! — Lilith exclama virando-se para frente.
— Declaro pelos poderes investidos em mim, marido e mulher — diz o padre fazendo um sinal da cruz.
— É agora que todos queimam? — pergunto contra o ouvido de Lilith rindo.
— Se você não pegou fogo até o momento, então Deus está de férias! — retruca.
— Uhul! Hora do sexo, pessoal! — digo alto, ficando de pé ao aplaudir a nova senhora Lobo.
O padre e os convidados me encaram com expressões de assombro. Dou de ombros rindo ainda mais.
Kiran vem em minha direção, o olhar assassino no rosto. — Que porra é essa?
— Além do fato de ter vindo para seu casamento clandestino? Ou você não ter me convidado, já que fui o responsável por ter salvado a linda bundinha da noiva?
— Orrel!
— Calma, eu vim tratar de negócios.
— Orrel.
— Você está uma linda noiva — digo puxando-a para dar um beijo em seu rosto, só pela pequena satisfação de ver o pequeno cérebro de meu primo fritando.
— Obrigada.
— Poxa priminho, você poderia ter me chamado para curtir os últimos momentos como um homem livre!
Kiran rolou os olhos para mim.
— Mas entendo seus motivos — caçoo assobiando baixo deixando meu olhar vagar pelo corpo de Adria.
— Orrel!
— Que tal irmos para a comemoração? Orrel eu vou poder guardar minha arma ou terei que usá-la contra você? — Adria questiona.
Solto uma gargalhada, colocando os óculos escuros sobre o rosto, saindo da pequena igreja.
No momento em que nos sentamos, a encrenqueira da Lilith senta-se ao meu lado. Tomo um grande gole de vinho antes de me inclinar para ela. — Em todos esses anos, eu jurei que se um dia um de nós casasse, iria envolver sangue e facas.
Ela me dá um olhar incrédulo. — Retiro o que disse, você continua o mesmo.
Bufo. — Oh, por favor, é óbvio que não esperava isso, será que ninguém tem senso de humor? — chego mais perto, afastando uma mexa de cabelo do seu pescoço. — Uma coisa que continua a mesma é...
— Impossível! Isso que você é! — diz se levantando, dando a volta na mesa, sentando-se do outro lado.
— Diz aí priminha, como está sendo aturar esse chemodan 9 — pergunto acomodando meus pés sob a mesa, retiro a 9mm do coldre subaxilar, deixando ao lado do meu prato.
— O que está fazendo aqui, Orrel? Até agora não entendi. — Kiran dispara.
— Vai comer o seu? — Aponto com o garfo para a Solyanka no prato de Adria.
Ela empurra o prato com sopa em minha direção sorrindo. — Não. Fique à vontade.
— Maravilha! Estava torcendo para que você não aguentasse comer tudo!
— Orrel! — Made chama minha atenção.
— Made estava com saudades, como anda nossa velha Irlanda?
— Tupoy mal’chik 10 . Eu deveria lhe dar uns cascudos!
Sorrio, sugando um bocado da sopa fazendo barulho.
— Acalme-se, chelovek . Acreditei que esse tempo afastado lhe daria paz de espírito.
— Como nos encontrou? — Kiran retoma.
— Acreditou mesmo que eu não iria encontrá-los? Você não é tão cuidadoso assim com seu rastro. E outra, — digo apontando o dedo para Adria — eu já poderia esperar isso dele, mas você priminha? Foi muita ingratidão não me convidar. Eu salvei sua vida!
Adria sorri com desdém, colocando a mão sobre a coxa de Kiran. — Não sabia que tinha sentimentos, vou anotar para uma próxima.
— Ei, isso foi mau, muito mau! Você tem um pequeno monstro nas mãos, Kiran.
— Desembucha, sei que teve um real motivo para vir para Itália.
— Tenho uma proposta para você.
Kiran me encarava com uma expressão calculista.
— Tenho que dizer que a oferta é bastante valiosa.
Adria trocou pequenos olhares com Kiran.
— Não estou no mercado, pensei ter deixado claro quando fez a proposta por telefone.
— Poderemos nos fixar em Munique.
— Adria e eu não pretendemos retomar os caminhos antigos, estamos bem e felizes como estamos — diz Kiran, sorrindo para sua esposa.
— O que eu disse de tão engraçado? — questionou cruzando os braços, por que comecei a gargalhar com vontade.
— Kiran, em toda minha vida nunca sonhei ou sequer cogitei em um dia que uma mulher fosse mais interessante que o sangue gotejando de seu punhal, mas vejo que até o próprio Diabo tem planos para seus filhos. Se acalmem, estou feliz por você, — acrescento ao ver sua feição mal-humorada — Não é todo dia que vejo meu lyubimyy ublyudok 11 , querendo formar uma família. Agora me digam, quando vêm os herdeiros?
CAP Í TULO QUATRO
Munique, Alemanha
— Porra, German! — Paro de movimentar o quadril, mas permanecendo dentro da mulher que mantinha as pernas enroscadas em minha cintura, o salto agulha de sua sandália fincado em minha carne, causando-me dor e prazer a cada cavalgada que ela belamente executava. — Estou ocupado agora!
Inclino o corpo até alcançar um dos mamilos rosados da minha bela acompanhante, ignorando a presença dele na sala privada daquela boate enquanto voltava a foder aquela boceta. Não era como se German nunca tivesse presenciado eu fodendo antes, esse pequeno verme tinha um timing perfeito quando se tratava em atrapalhar minhas fodas, já estava acostumado. Porém, foi sua expressão sombria que me fez hesitar. Ele era portador das notícias, fossem boas ou ruins. Pelo seu silêncio, calculei que não seria nada agradável quando resolvesse se pronunciar em voz alta.
Bombo mais forte contra a virilha de minha acompanhante antecipando meu coito, já a retirando de meu colo entre gemidos e pequenas reclamações. Retiro o preservativo, descartando-o na lixeira ao lado.
— Que porra aconteceu? — pergunto limpando meu pau com a toalha de rosto disponível na pequena mesa aparadora.
German suspirou pelo visto nem um pouco calmo. Esperando que minha acompanhante dessa noite terminasse de vestir suas roupas e sair de fininho nos deixando a sós.
— Eu disse que precisava da porra de um tempo e que voltaria para fazer o trabalho!
— Alex quer você agora no lugar de sempre, temos um trabalho especial dessa vez.
Passo as pontas dos dedos pelos lábios, Alex era meu contracheque, então não seria rude.
— Pelo visto a merda foi grande — digo olhando o rosto contraído de German.
— Precisamos de alguém que seja eficiente. Sabe qual será o preço se falhar.
— Se o dinheiro entrar, não será um problema. O que eu vou precisar fazer? — Relaxo pegando um cigarro do maço no bolso traseiro de minha calça.
Acendo o cigarro e trago lentamente, liberando calmamente a fumaça dos pulmões, enquanto visto minhas calças, isso eu sabia, Alex Bergstedt sempre dava ótimas recompensas por meus serviços, o problema era seu apreço pela morte, uma pequena traição já era motivo para cortarmos os laços do indivíduo com o mundo.
Eu não apreciava o mal que estava no mundo, mas não tinha esse imenso apetite em sangue fresco.
Cresci na velha Irlanda, em uma casa onde armas eram mantidas em cada pequeno canto, cresci com uma mãe que trabalhou nas ruas levando todos os tipos de homens para dentro de casa, depois que seu cunhado atirou cruelmente no peito de meu pai, me fazendo presenciar a pior qualidade de homens que existiam no mundo. Eu era apenas um garotinho quando encontrei meu pai estirado no chão de seu escritório ensanguentado, esse foi meu primeiro testemunho do verdadeiro mundo no qual vivia. Era apenas um garoto quando minha mãe foi esquecida pela família e forçada a se deitar com vários homens a mando de meu tio. É isso realmente fode um pouco a cabeça de alguém.
Era apenas um garoto com medo e sendo levado todos os verões para casa de meu tio, onde ele pudesse me moldar a seu próprio benefício. Segundo ele, meu pai era um traidor, traiu o que era mais precioso: a família. Por anos fingi que estava tudo bem, mesmo prometendo que um dia eu iria me vingar.
Antes, todos os meus motivos para andar bem armado e com sede de vingança, era Czar ainda respirar o mesmo ar que eu, mas pelo visto meu priminho bundão conseguiu conquistar uma mulher de verdadeiro culhão. Não tive o prazer de ver a luz se apagando nos olhos de meu querido titio, mas pelo menos o serviço estava feito. E ele estava onde merecia: no inferno.
Não seria a primeira vez que mataria alguém, e não será a última com certeza.
A maior parte das pessoas poderia dizer que o que faço, faz de mim um filho de uma puta doente, mas viver no mundo que vivo, conviver com as pessoas que me circulam durante os dias, não é como se dessem outra oportunidade. Quando você ganha a vida de forma ilegal você aprende a prosperar com o medo dos outros, descobre que existem três razões básicas para todas as ações: vingança, concorrência e poder. É assim que as coisas funcionam, você impõe medo, usando seu poder para impor suas regras e todos convivem felizes, Alex - meu chefe - agradece pelo serviço feito com uma boa quantia, os caras entram no eixo e eu saio para curtir a noite, as mulheres e os prazeres que isso me traz.
— Desembucha logo, qual o trabalhinho sujo dessa vez?
German tira por alguns segundos os olhos da direção, encarando meu rosto.
— Vamos lá, amigão, antecipe, vou saber de um jeito ou de outro.
German torce os lábios em desagrado. Ainda não entendia a graça que o povo via nesses alemães filhos da puta. Ô povo sem senso de humor!
— Seu trabalho é Cora Growl. Isso é tudo que terá de mim.
— Interessante, uma mulher.
— Alex — digo com um sorriso presunçoso nos lábios, assim que piso naquela espelunca que ele costumava tratar de seus negócios.
German para atrás de mim, assim como os outros dois capangas de Alex.
— Disseram que tem algo para mim. — Insisto.
— Tenho um trabalho diferente dos outros, você já conseguiu convencer seu primo a trabalhar para mim? — questiona com seu sotaque arrastado.
Esboço um sorriso não tão confiante quanto gostaria. Kiran estava fora do mercado, isso deixou bem claro na última vez que nos falamos.
— Irei reforçar a oferta, assim que puder. — Soo mais confiante. — Diga chefe, que tipo de trabalho especial tem para mim?
— Cora Growl. Preciso de seja meus olhos e ouvidos em cima dela. Quero que a traga para Alemanha.
— Sequestro?
— Considera um trabalho fácil? Que ótimo. — Alex se ajeitou na imensa poltrona. — Ela não é uma das putinhas que está acostumado, por isso nem tente encostar um dedo nela. — Alex me encara semicerrando os olhos. — Não pense que esqueci o que fez com Kyara, se encostar ou pensar algo com Cora, eu juro que termino o serviço. — diz apontando para meu baço, onde nós dois sabíamos que existia uma enorme cicatriz.
— Com todo respeito, chefe. Por que se importa tanto com essa garota? Gastar recursos trazendo-a para cá? Ela deve ter algo muito interessante para você — acuso curioso.
— Cora tem um senso de interdependência e sede de autonomia emocional igualzinho ao da mãe. E precisa ser podada. Além de ser minha filha, um caso antigo, tudo que você precisa saber. A questão é que temos um inimigo que está cego pela vingança, não quero deixar Cora por aí. Isso inclui seus serviços. Será um problema você sequestrar uma mulher?
— Se o dinheiro entrar, não será um problema. — Ele relaxou contra a cadeira depois de pegar um cigarro do maço que ofereci. Acendo o cigarro e trago, relaxando na cadeira ao liberar a fumaça dos pulmões.
Temos um trabalho.
Estava um bom tempo sentado apenas na companhia do meu cigarro e de um copo de vodca. A pasta amarelada lacrada em minha frente me encarava, perguntando silenciosamente quando iria começar realmente meu trabalho.
Alex foi sucinto, eu teria que bancar a babá para sua filha, evitar que a garota sofresse algum dano. No submundo era assim, as coisas eram simples. Ou você dançava conforme a música ou era morto, não tinha outra saída, Kiran foi uma exceção à regra.
Pensar em meu primo bastardo me fazia sorrir, o cara que esmagava gargantas com as próprias mãos, estava domado e amarrado nos pés de uma policial.
Pego o abridor de cartas, rompendo o lacre da pasta, uma enorme foto estava na primeira página. O olhar estava distante, ela atravessava a rua com algumas sacolas de compras nos braços, vestindo um casaco de inverno na altura dos joelhos, cobrindo o vestido de lã branco que usava delineando seu quadril largo e suas coxas grossas, assim como as botas que mostravam suas pernas e panturrilhas. Seu cabelo era curto, ondulado e escuro, descia até seus ombros, dando a sensação que sua pele morena sem maquiagem era uma ofensa para outras mulheres.
“Há mais perigo em seus olhos do que em mil espadas. Mas se eles forem doces, estarei protegido.”. – William Shakespeare, meu pai adorava citá-lo quando eu era menino.
De acordo com o relatório, Cora tinha vinte e oito anos, graduada em artes, morava em um apartamento no centro de Chicago, além disso, nada de tão significante, parecia uma vida normal e pacata. Ela exibia alguns de seus trabalhos em uma galeria conceituada no centro onde trabalhava, saía com as amigas, pelo visto um espírito livre. Ela ia e vinha.
Talvez seja por isso que Alex esteja tão disposto a defendê-la. A tal de Cora não tinha nenhum resquício de saber algo sobre o trabalho sujo que o pai realizava.
— Parece que tenho uma viagem — digo para mim mesmo.
A viagem até Chicago foi tranquila, estendo uma nota de cinquenta dólares para o taxista quando para no estacionamento da galeria, saio do carro, terminando meu cigarro, jogando-o na calçada e pisando em cima para apagá-lo completamente. Não estava ali para comprar uma obra propriamente dita, estava para conhecer a mulher que me instigou por noites.
O céu estava prestes a se abrir e deixar um dilúvio cair sobre nós, Cora abre a porta da galeria de arte tendo o mesmo pensamento que eu ao encarar o céu com desgosto em sua expressão. Ela fecha mais o casaco em torno de seu corpo, se protegendo do vento frio, caminhando apressada pela rua movimentada.
Dois quarteirões depois, uma fina garoa começa a cair sobre nós, colando na pele e na roupa. Cora para no meio fio, tentando chamar atenção de algum taxista, o estrondo de um trovão no céu a faz dar um pequeno salto de susto, indo para o meio da rua, meus olhos capturam rapidamente o carro indo em sua direção, o barulho do freio guinchando. Corro até ela envolvendo meus braços ao redor de seu corpo, puxando-a para longe da rua, fazendo-nos cair de bunda na calçada.
— Você está bem?
Ela me encara, aturdida, assentindo. Sinto os batimentos incontroláveis de seu coração batendo forte contra meu corpo.
— Estou, obrigada.
— Não tem que agradecer.
Cora inala profundamente, seu corpo relaxando depois do susto.
— Obrigada por me salvar.
— Qual é seu nome? — pergunto encarando diretamente seus olhos.
— Cora.
— Que bom que estava no lugar certo, na hora certa, não é mesmo, Cora? — pergunto puxando-a junto de mim, levantando a ambos.
— Você não me disse seu nome.
— Orrel.
Ficamos nos olhando por algum tempo depois disso, nenhum dos dois aparentemente era capaz de desviar o olhar.
Aja!
Deixo a pequena seringa escorregar pelo meu braço parando na palma de minha mão. Mesmo com os pedestres em volta não seria um problema, eles pensariam que ela tinha desmaiado devido ao susto, ou como bem me lembro da frieza do povo daqui, mal olhariam para nós. Dou um passo em sua direção, enfiando a seringa sobre sua coxa, atravessando o tecido de sua calça. Ela abre a boca para gritar, mas não consegue, seguro seu pescoço com a outra mão, sustentando seu corpo contra o meu, enquanto a droga vai paralisando cada músculo.
É um mal necessário.
Faço sinal para o táxi, sustentando o corpo de Cora colado no meu, como se fôssemos um casal de namorados. Entro no banco de trás quando o carro para ao meu lado, acomodo o corpo dela sobre o meu, o motorista lança olhares curiosos para mim, o que me faz encará-lo de maneira cruel.
— Siga para o aeroporto.
O motorista concorda com um leve aceno, seus olhos se desviam para o caminho, mas logo retornam para mim, encarando a mulher sobre meu colo.
— Perdeu algo?
Ele nega rapidamente com a cabeça.
Maldita cordialidade.
— Minha noiva está cansada, estamos incomodando o senhor pelo fato dela dormir? Ela pode roncar um pouco, mas é apenas isso. — Digo colocando um sorriso ameaçador nos lábios.
— Sem problemas, senhor.
Meu corpo estava pesado pelo cansaço, meus dedos sensíveis ao segurar o volante por três horas. Encaro pelo canto dos olhos Cora respirar profundamente, pelo visto a droga injetada em seu organismo estava perdendo o efeito. Mesmo pelo canto dos olhos a noto colocando a mão sobre a cabeça, focando sua visão ainda meio desorientada e então um pequeno tremor varre seu corpo.
— Que porra, o que você fez comigo, onde eu estou? — disparou de maneira histérica.
— Bom tê-la de volta, Cora — digo suavemente.
Ela me lança um olhar assassino.
— Pelo visto será uma conversa de via única, você está aqui, pois seu pai mandou, acho que lembra que seu pai é um homem importante para certas pessoas e algumas delas decidiram ter sua cabeça como prêmio ou para que merda seu pai andou fazendo.
A morena estava apoiada na porta, olhando para frente, mas a carranca estava ali presente, como se a mínima chance que eu desse ela poderia pular para fora do carro.
— Então você é um lacaio de meu pai? — ela me encara por um segundo, torcendo os lábios. — E eu que achei que você fosse um homem para ter alguma consideração.
Solto uma gargalhada. A mulher tinha uma boca grande. No fundo eu estava grato por isso, não poderia conviver com uma pessoa aterrorizada o tempo todo, visando de onde vem suas raízes. Eu não era um cara sensível e perderia minha paciência rapidamente se tivesse que andar na ponta dos pés ao redor dela.
— Você tem garras — brinco.
— E você nem imagina onde posso enfiá-las se não me soltar.
— Bem eu poderia abrir a porta e incentivar que se jogue para fora, mas aí seu pai teria minhas bolas nas mãos e o Diabo sabe como amo ter minhas bolas no lugar.
Meto o pé no acelerador, cruzando as ruas de pedras de Munique.
Entro na garagem do prédio, estacionando o carro em minha vaga. Cora em vez de me seguir, sai correndo em direção ao portão. Reviro os olhos e com algumas passadas prendo seu corpo contra uma das vigas.
— Não tente tornar isso pior para você, seja uma boa menina.
— Vai para o inferno!
Seguro firme seu braço, puxando seu corpo contra a vontade até o elevador, onde subimos em silêncio até meu andar.
Só desejava tomar um banho e cair na cama, mas precisava passar as últimas notícias para German, assim como acomodar minha nova hóspede e me certificar que essa maluca não iria pular nenhuma janela.
Abro a porta deixando que a menina entre, encarando a sala enorme e a cozinha moderna e pequena que tinha, sim ali era um refúgio de solteiro, meu pequeno oásis para algumas festinhas quando tudo se tornava tedioso demais.
— Infelizmente, temos apenas um quarto, portanto, acostume-se com a ideia de dividir a cama. Que foi? — questiono vendo seu olhar observador. — Esperava uma masmorra com correntes e rugido de um animal selvagem? — acrescento rindo.
Cora me encara de maneira dura, e sai pisando duro em direção ao corredor.
Jogo-me no sofá, tirando o celular do bolso. Aperto a discagem automática. — Está feito.
— Ótimo, irei passar as informações para o chefe.
— Temos que ver quanto tempo ela ficará aqui, não é bem um lugar para manter uma pessoa presa. Preciso no mínimo de um homem no corredor, essa garota é maluca! — Resmungo, pensando seriamente nos danos que ela poderia causar em meu apartamento.
— Está com medo de uma garota? — German pergunta ácido.
— O dia que tiver medo de uma mulher, eu mesmo engulo minhas bolas. — retruco.
— Vou passar tudo para o chefe, em breve entro em contato.
Quando entro em meu quarto, as roupas jogadas sobre o piso foram as primeiras coisas que notei, em cima da cama estava uma minúscula calcinha e uma camiseta minha. Diaba!
O barulho do chuveiro sessou, e poucos minutos depois Cora surgiu com os cabelos molhados, o corpo mal enrolado em uma toalha.
— Será que posso pelo menos me vestir em paz? Você já me sequestrou, me arrancou da minha vida, dos meus amigos, do meu país, enfiando uma agulha no meu pescoço e me trazendo para esse lugar.
— Claro! — viro de costas escutando os xingos baixos que solta, ela se esquece do espelho do outro lado, me dando uma visão de seu corpo. Meu pau reclama querendo atenção é algo involuntário, ela é linda, seu corpo cheio de curvas bem distribuídas... Fico imaginando como seria ter seu corpo em minhas mãos, apertando suas nádegas contra meu pau. Ouvindo-a gemer.
Após o banho, vou até o quarto com uma toalha enrolada na cintura. Olho por sobre o ombro em direção à cama e me pego sorrindo cinicamente. Que merda de noite, seria a primeira vez que teria uma mulher gostosa em minha cama e não foderia. Ajeito-me ao seu lado, olhando para os cabelos escuros espalhados sobre seus ombros, minha camisa agarrada em seu corpo.
— Seria um imenso favor se parasse de encarar minha bunda e tirasse a porra da sua faca de perto de mim!
Merda! Levanto o travesseiro puxando meu punhal para longe dela, eu mesmo estava dando armas para a maluca me esfaquear. — Questão de segurança.
— Entendi, passado pesado, dorme com um olho fechado e outro aberto — diz no meio de um suspiro pesado.
— Não confio em ninguém.
CAP Í TULO CINCO
Algo fez cócegas em meu nariz, meus olhos se abriram deparando com as mexas escuras espalhadas perto de meu rosto. O corpo de Cora estava colado no meu. Eu que nunca deixara uma mulher dormir em minha cama, agora estava olhando para a mulher deitada ao meu lado, com aparência delicada e sensual, me surpreendi ao constatar o quanto ela era forte. Mais forte do que diria, após ter passado por uma experiência aterrorizante, não vi por um momento esboçar uma lágrima sequer, muito menos ter medo de minha aproximação.
Tudo bem, eu não estava realmente tentando ser alguém a temer, pelo menos nesse instante. Mas o certo seria que ela me repelisse, tivesse pelo menos receio do que eu poderia fazer.
Um pouco de raiva fervilhou em meu sangue, tinha tantas coisas que eu adoraria fazer com ela... E temer a mim, seria um dos últimos sentimentos que eu gostaria que tivesse. Cora Growl estava se tornando o fruto proibido.
Apoio-me nos cotovelos, ela não se mexe. Seus cílios repousando sobre a pele morena dourada, os lábios ligeiramente entreabertos. PORRA, ORREL!
A respiração de Cora mudou, seus olhos piscaram por algum momento.
— Você está acordada, finalmente. — Murmuro.
— Você já fez o que tinha que ser feito, então me diga, — ela se sentou na cama, cruzando os braços diante do peito, fazendo seus seios criarem mais volume por debaixo da blusa. — Quanto dinheiro foi investido em meu pequeno rapto e quanto tempo terei que bancar a Rapunzel e ficar trancada aqui com você?
— Não gosto do seu tom debochado, estou livrando sua bunda.
— Quando o assunto envolve o criminoso do meu pai, nunca é uma preocupação genuína, o que ele está ganhando ao me manter aqui? Por que não está protegendo sua preciosa filha Kyara?
Solto uma gargalhada, reconhecendo que Cora tinha mesmo a quem puxar.
— Isso terá que resolver com seu pai, estou apenas fazendo meu trabalho. — Aponto para o banheiro — Enquanto você se ajeita, eu preparo o café. — E saio do quarto, dando à esquentadinha um pouco de privacidade.
Pego uma maçã na fruteira dando uma grande mordida, lambendo os lábios ao sentir o sugo da fruta escorrer. Faço meu pequeno ritual, deixo o café passando enchendo o ar com o cheiro dos grãos moídos na hora, coloco sobre a bancada o queijo branco e o saco de pão. Deixando tudo preparado, vou até o quarto vendo Cora revirar a sacola de roupas que German deixou bem cedo aqui, contendo tudo que ela iria precisar nesse primeiro momento.
Levo um bom tempo tomando banho e me masturbando como um maldito adolescente. Uma linda, quente e atrevida mulher em minha cama a noite toda, e eu realmente sofrendo com as bolas endurecidas de tesão.
Jogo a toalha na cintura, saindo do banheiro. Cora estava em frente ao espelho terminando de ser arrumar, seus olhos percorreram meu corpo. Caminho até o armário, pegando algumas peças de roupas, sabendo que seu olhar me seguia. Deixo minha toalha cair no chão, me divertindo com o pequeno gemido que escapa de seus lábios, visto minha cueca e calça e me viro. Cora é pega de surpresa, desviando os olhos, saindo apressada do quarto, para meu divertimento.
— Será que todo maldito lugar que mexer encontrarei uma arma? — escuto sua voz brava vindo da cozinha.
— Isso é simples, não mexa no que não é seu — digo esboçando um sorriso sarcástico. — Além do mais, temos sempre que estar preparados.
— Essa é minha nova casa, querido. Ou já decidiu me deixar retornar para minha vida? — responde agressiva.
Sorrio chegando mais perto, me dobrando sobre a ilha da cozinha, pescando uma xícara e o café. Sinto os pelos de seu braço se eriçar e me fazem morder o canto da bochecha para não sorrir. — Desculpe, isso não é problema meu, se quiser posso levá-la ao papai.
— Não me provoque.
Afasto o cabelo que lhe caía sobre o rosto, curtindo o temperamento curto de Cora. — Você deve mesmo merecer o inferno para ele decidir te prender aqui comigo.
Ela afasta o rosto da minha mão. — Talvez seja o contrário.
Tomo um gole generoso do café, colocando a xicara novamente sobre a ilha. — Espero que não queime nosso lar, devushka — digo piscando.
— Conte-me, lacaio, o que você faz no seu tempo livre: muitos sequestros ou apenas mata em nome de Alex? — perguntou inclinando a cabeça.
— Suas ofensas não irão me atingir, pequena.
— Já matou mulheres? Homens? Acredito que sim... Minha mãe decidiu fugir para o outro lado do mundo justamente por isso, e vejo como as garras de Alex estão fincadas em suas costelas.
Encaro seus olhos. — Não queira entrar em um terreno que não conheça.
— Então, você já matou uma mulher ou não?
Não era exatamente uma pergunta, mas a sua curiosidade me irritava, somente por me fazer revisitar todas as merdas escondidas no fundo de minha mente.
Enfio a arma no cós da calça, — Isso não é da sua conta, meu trabalho é defender você, salvar sua vida de qualquer ameaça. Tão logo isso acabe, você voltará para sua vidinha em Chicago.
— Passa aquela garrafa ali. — Indiquei com o dedo, o cara do bar se virou para olhar, colocando o pano de prato sobre o ombro. Trazendo a bebida até mim.
— Não está muito cedo para isso?
— Não sabia que agora dava satisfações de quando bebia — falei virando uma grande dose no copo.
— Se tiver com a filha do chefe, deve satisfações.
— Meu Deus, você precisa beber, German! — digo empurrando o copo em sua direção.
— Obviamente não vim beber com você, preciso do relatório.
— Viva.
— Posso cortar sua língua e levá-la ao chefe ou você irá dizer mais do que isso?
Encaro-o de frente. — Eu preciso da porra de um trabalho decente, ficar em casa trancado com uma garota maluca não está ajudando, vou acabar odiando bocetas desse jeito!
Bufo encarando-o. — Ela está perfeitamente bem, comendo, usando o banheiro, não me pergunte se tem se limpado, acho que meus serviços como babá não têm isso incluso.
Sorvo um pouco da bebida, respirando fundo. — Me passe um trabalho de qualidade.
— Irei chutar sua bunda por não estar sendo cuidadoso, onde a garota está nesse exato momento em que você se afoga num copo?
— Trancada, janelas e portas estão trancadas, ela só sairia dali se passasse pelo ralo.
— Você tem peito. Por mim já era uma carta fora do baralho.
Coloco-me de pé. — Uma ameaça?
— Não preciso te ameaçar. Serei bonzinho, amanhã tem um carregamento importante, perto do porto. Se quiser poderá ir, estarei em seu lugar cuidando dela.
E German se foi, me deixando ali, sem entender que porra foi esse pequeno morde e assopra dele.
CAPÍTULO SEIS
“Minha palavra é a melhor coisa que tenho a oferecer.”
Mesmo se vivesse isso por meses a fio, não me acostumaria com essa ideia de voltar para casa sabendo que alguém estaria aguardando por mim.
A casa estava no escuro, tateio a parede em busca do interruptor, uma das mãos sobre a arma ainda dentro do coldre em minha axila. Escuto o barulho de algo caindo antes mesmo de acender a luz, e como reflexo tiro a arma, apontando bem no meio do rosto de Cora.
— É você. — Reparo que ela tenta controlar o tom da voz, como se ambos não tivéssemos nos assustados.
— Eu poderia ter te matado.
— Estou morrendo de fome, como você me tranca aqui como uma criança e some?
Jogo as chaves no aparador, fechando a porta com o pé, arranco a camisa pela cabeça, percebendo os olhares de Cora.
— Já encomendei nosso jantar, pelo visto a princesa Rapunzel não cozinha. — Caçoo.
— Não sou sua empregada — diz empertigando-se.
— Olha, em alguns casos de sequestro você seria. Mas sou um cara bondoso, pense nisso antes de torrar meu saco — digo e pisco em sua direção.
Caminho em direção à cozinha com ela logo atrás, tiro as embalagens do saco pardo, depositando as quatro opções de comida que trouxe; como não fazia ideia do que Cora gostava, comprei um punhado de cada coisa. Ela me assiste enquanto ando pela cozinha depositando talheres, pratos e copos sobre a ilha e abrindo as embalagens.
Pego um punhado do Sauerbraten mit Knödel 12 , lambendo os dedos ao saborear o molho de vinho e ervas.
— Vai ficar me encarando como um cachorro faminto ou vai comer?
— Você sempre come como um babuíno? — pergunta revirando a comida com a ponta do garfo.
Dou de ombros, pegando um pedaço grande da carne com a mão, mordendo como um animal, mastigando de boca aberta, me divertindo com sua cara de nojo.
— Perdi a fome — diz empurrando o prato em sua frente.
— Deixe de ser um problema, ok? Coma, saco vazio não se mantém em pé, e prometi para seu pai que está saudável como um cavalo. Então, se não quiser problemas para você, coma!
— Ogro!
— Obrigado. — Retruco voltando a mastigar.
— Você é mal-humorada quando está com fome — digo após cinco minutos no completo silêncio.
Cora ignora o que falo e continua a comer e bebericar o refrigerante que trouxe. Olho para seus lábios, me sentindo com fome, mas definitivamente não era de comida.
— O que foi?
Balanço a cabeça. Voltando à realidade.
— Amanhã você ficará com German, tenho um trabalho a ser feito.
— Mais algum sequestro? — questiona entre uma mastigada e outra.
— Engraçada, você. Espero que não me cause problemas.
Uma hora depois saio do banheiro com a toalha enrolada no quadril, o corpo úmido do banho recente. Cora estava sentada na cama, as mãos unidas sobre as pernas, encaro seu rosto por um segundo tentando descobrir o que possa estar aprontando.
Caminho em direção ao armário, jogando a toalha para longe, vestindo uma cueca. Num pequeno instante eu estava fechando a porta espelhada de correr do armário, no outro vejo Cora voar sobre mim com meu punhal nas mãos. Ergo o braço nu para afastar seu ataque, a lâmina corta ao longo de meu antebraço fazendo o sangue jorrar.
Agarro seu braço torcendo sua mão até que largasse o punhal, jogando seu corpo contra o armário, pressionando sua cabeça contra a porta espelhada. Cora solta um grito, assim como o punhal produz um ruído baixo ao cair em nossos pés, ela tentou se afastar ou me afastar, mas meus dedos estavam em torno de seus pulsos, o joelho no meio de suas pernas para que não tentasse mais nenhuma gracinha e a outra mão sobre sua garganta, sentindo suas veias jugulares pulsando rapidamente debaixo de meus dedos.
— Blin 13 ! — xingo contra seu rosto.
Eu a pego firme, ignorando a pequena pontada que sinto em meu braço, jogando seu corpo contra o colchão, ela se arrasta, tentando se manter longe de mim.
— Nem tente.
— Eu vou matar você, ficou completamente maluca? — ameaço pausadamente, tentando conter o ódio que sentia. O sangue escorria por meus dedos até o chão, mesmo não atingindo nenhuma veia importante isso não impedia de lavar meu quarto com meu sangue e o cheiro azedo de cobre.
Ela encara por alguns segundos meu ferimento, torcendo o nariz como se fosse vomitar.
— Acredito que nos veríamos novamente no inferno, lacaio — ela diz.
Encaro seus olhos castanhos que não demonstravam um pingo de medo, solto um longo suspiro, mas me mantenho perto, olhando seu corpo de cima, sua camisa estava manchada com meu sangue, assim como seu pescoço por onde a contive.
— Eu posso fazer seus piores pesadelos acontecerem, Growl. Não me provoque!
— Vai, me bate ou vai abusar de mim? — ela cuspiu contra mim, fazendo minha garganta se fechar por um segundo. — O que meu papaizinho faria com você sabendo que em vez de me proteger como foi pago, andou me batendo e abusando de mim?
A ideia enviou uma nova faísca de ódio através do meu corpo, rapidamente me afasto da cama, passando as mãos sobre o cabelo, respirando profundamente antes que perdesse o controle. Cora sentou-se devagar, com cuidado, como se ela pensasse que se ela demonstrasse movimentos bruscos eu poderia voar sobre ela.
— Por que acha que faria isso? — pergunto em uma voz surpreendentemente calma, — Lógico que você merece umas boas palmadas na bunda pelo que fez, olha a merda que está esse quarto!
As sobrancelhas dela se enrugaram, — Eu só quero minha vida de volta.
— Melhor ir para o banho, vou dar um jeito nessa cena de guerra, — digo — tudo que não quero é o braço direito do seu pai chegando aqui com todo esse sangue espalhado.
Eu a assisti sair da cama e ir para o banheiro, mas ela parou na porta, se virando para me olhar, com certo brilho no olhar que me doeu as bolas, me fazendo até mesmo repensar com que eu estava na cabeça para aceitar esse tipo de trabalho.
Xingo baixo ao pegar o kit de primeiros socorros no armário e ao suturar eu braço. Cora tinha feito um corte e tanto.
Passou um bom tempo e ela trancada no banheiro, estava começando a pensar se teria que arrombar a porta para ver se ela não cometeu nenhuma besteira, quando a porta se abre e Cora sai, com uma longa camisola azul, contrastando lindamente com seu cabelo escuro e a pele dourada. Meus olhos foram atraídos para a fenda mostrando um pequeno pedaço de sua coxa lisa.
— Você tem um ótimo gosto para roupas. Não sabia que monstros também sabiam sobre estilo. — Alfineta.
— Você deve agradecer outra pessoa. — Jogo a toalha ensopada de sangue no cesto de lixo, assim como os instrumentos de sutura. Passo a mão sobre o cabelo, passando por ela ao ir em direção ao banheiro.
— Poderia ter ajudado — sussurra.
— Poderia nem ter feito — digo batendo a porta do banheiro de forma brusca.
Jogo um pouco de água fria no rosto, xingando ao sentir a ardência que a água com sabão fazia em meu corte. Porra, aquela mulher tinha surtado!
Quando saí do banheiro, encontrei Cora enfiada debaixo das cobertas. Visto-me, apagando as luzes e me enfiando na cama. O corpo de Cora emanava calor para meu corpo, me deixando inquieto.
— Essa marca em seu abdômen foi uma briga?
Olho em direção ao seu rosto no escuro, não conseguindo vê-la realmente.
— Um pequeno aviso — digo tocando inconscientemente a cicatriz. — No meu mundo não seguir regras não é apenas um joguinho ou maneira de fazer a adrenalina correr sob minhas veias.
Escuto um suspiro vindo dela. E o pensamento de beijar aquela boca, fez a minha própria salivar, evito falar e ao que parece ela também, sua respiração fica mais espaçada e sei que caiu no sono.
CAP Í TULO SETE
Cora Growl
“De hoje em diante devo a vida ao inimigo...”
Caronte, isso que Orrel era, um verdadeiro personagem mitológico, era encarregado de levar as almas para o inferno. Isso que ele havia feito comigo quando me trouxe para o território de meu pai.
Por anos minha mãe me manteve longe, por anos enquanto eu crescia com caixas pretas enfeitadas com laços enormes endereçados a mim nas datas comemorativas evitei contato. Alex Bergstedt era um grande contrabandista de armas, além de todos os negócios ilícitos que praticava, poderia ser chamado de papai.
E após dez anos sem nenhum tipo de contato após me mudar para Chicago, acreditei sinceramente que essa parte da minha vida poderia ser esquecida. Mas lógico que eu estava completamente enganada, aquele Diabo tinha o poder de me achar no mais profundo confim da Terra e mandou seu lacaio para fazer isso.
Orrel dormia pesado, a cueca marcando sua bunda e a pouca luz que invadia o quarto me deixava ver o desenho dos troncos de uma árvore fincada em seu quadril, invadindo suas costelas. Forço-me a parar de encarar o corpo dele e me levanto, indo para sala.
O apartamento ainda cheirava a cobre, devido o sangue que foi derramado por ali. Eu não poderia acusá-lo de ser completamente ruim, afinal, quem tinha atacado foi eu, a raiva me dominou com tanta força ontem que sinceramente acreditei que poderia derrubá-lo e sair dali.
Paro em frente ao vidro da sacada, Munique amanhecia cinzenta, o frio grudado no vidro. O sol mal havia nascido e mesmo ali, dentro do apartamento eu poderia ver as pessoas caminhando pelas ruas com uma quantidade absurda de agasalhos. Em pequenos momentos assim eu pensava como seria ser apenas alguém qualquer pela rua, uma filha qualquer ou se todas as mentiras contadas aos meus amigos sobre meu pai se tornassem realidade. Tinha realmente acreditado que tudo isso tinha ficado no passado, mesmo antes da morte de minha mãe, por anos vivi com isso, essa falsa sensação de paz. Só agora, vejo o quanto eu estava enganada e o pior é não ter a mínima noção do porque estava aqui sob a proteção de alguém que nunca realmente fez parte da minha vida.
Respiro fundo, fazendo a fumaça que sai de minha boca se chocar com o vidro.
— Só não tente pular, seria uma desgraça se tivesse que me mudar porque uma maluca pulou do sexto andar. — Orrel me assustou, me fazendo virar para ele, o sorriso junto com a voz grossa fez meu corpo se arrepiar.
Paro por um segundo olhando o homem de cueca que me media de cima abaixo.
— Adoraria lhe causar mais alguns problemas— afirmo.
— Deixe para mostrar seus dotes quando German chegar.
Observo Orrel caminhar em direção à cozinha e o sigo. Ele começa a preparar seu café, me olhando desconfiado quando me viu parada encarando-o.
— Diga que não aprontou com meu café.
— Não sou criança. — Reviro os olhos.
— Ótimo, será péssimo o cão fiel de seu pai chegar e ver você morta sobre a ilha de minha cozinha.
Ele falou com uma naturalidade que me assustou, mas mantive a máscara de serenidade.
— Seria interessante ver você tentar — digo sobre o ombro, voltando para o quarto.
O som da campainha chamou minha atenção, pulo para fora da cama encostando o rosto na pequena abertura da porta, a fim de ouvir o que eles falavam antes de surgir no meio da sala.
— Corte feio, Baryshnikov. — A voz rouca e grave chegou baixa pelo corredor, abro mais um pouco a porta, sem produzir ruído.
— Um presente da princesinha das trevas — Orrel diz amargamente.
O tal German gargalha com gosto.
— Posso saber quem é que está causando toda essa merda? — Orrel questiona.
— Vincenzo.
Escuto a risada de Orrel. — Aquele italianinho filho da puta! Eu imagino porque ele queira Alex fora dos negócios, mas as filhas?
— Nosso mundo tem maneiras interessantes de se mostrar.
— Uma dor de cabeça dos infernos!
— Falando em dor de cabeça... — O tal German questiona.
— Não encostei nela, mas que saiba isso aqui ainda é minha casa — escuto Orrel dizer bravo.
— O que importa é que: se Vincenzo toma nossas armas, toma nossa cidade, e o chefe não tolera isso. Vincenzo está envolvido com a máfia. Mist 14 ! — escuto-o dizer de forma arrogante e o barulho do que seria um cuspe.
— Ele conseguiu fazer um armamento pesado de Alex, sumir.
— Então meu trabalho é recuperar?
— A entrega para os vermes será hoje, e você está atrasado.
O silêncio toma o ambiente. Afasto-me correndo da porta, sentando na cama, olhando para minhas unhas por fazer como se não tivesse visto o tempo passar.
— Escutar atrás das portas é coisa de criança — Orrel entra no quarto sorrindo, indo para seu armário.
— Aposto que adoraria tal atenção.
Ele se vira sorrindo, veste uma calça e uma camiseta preta moldando seu corpo com perfeição, enfia a arma no cós da calça e o punhal que usei ontem para atacá-lo na proteção em seu tornozelo. Para por um segundo me analisando e então some pelo corredor.
— Fique de olho nela. — Orrel diz, logo depois escuto a porta se fechar.
— É apenas uma mulher! — escuto o tal de German dizer rindo.
Uma vez que Orrel saiu, meu novo guarda-costas se retirou para a cozinha. Fecho a porta do quarto passando discretamente a chave na fechadura, estava na hora de descobrir o que mais meu querido Caronte escondia além de armas e punhais pela casa. Começo pelas gavetas, revirando seu conteúdo e me frustro por encontrar apenas roupas e objetos íntimos, que eu saiba ele não tinha outro lugar para guardar coisas pessoais ou que sejam importantes. Procuro por um notebook, todos tem um, mas também não acho em lugar nenhum e quando finalmente sento no meio de uma pilha de roupas jogadas no chão prestes a desistir, frustrada por não encontrar nada que valha a pena. Observo mais o quarto, analiso o imenso armário, meus olhos indo para o chão.
Saio do meio das roupas obstinada, ajoelhando de frente ao armário, faço força para soltar a placa do chão, vendo que minhas suspeitas estavam certas, Orrel tinha feito um fundo falso, encontro uma pasta de couro, e para minha surpresa uma quantidade razoável de seringas ali dentro. Devia ser da mesma que utilizou em mim para que eu apagasse e ele conseguisse me trazer para cá.
Aquilo seria útil. Corro em direção à porta, encostando meu ouvido contra a madeira, meu guarda-costas estava ocupado com o telefone. Enfio as coisas de volta no armário, como não voltaria mais ali, deixaria aquela bagunça mesmo, Orrel que arrumasse como uma pequena lembrança minha. Pego uma mochila pequena enfiando algumas peças de roupas e alguns bolos de dinheiro que encontrei junto com as seringas, deixando-a escondida debaixo da cama.
O tal de German era alto, forte, provavelmente um lutador tão hábil quanto Orrel, o problema seria como injetar a droga nele. Eu teria que criar uma cena, teria que criar uma distração.
Escondo a seringa em minhas costas, tomando cuidado para que ela não me machucasse ou que o feitiço virasse contra o feiticeiro. Abro a porta do quarto, caminhando em direção à cozinha, German ainda estava sentado na banqueta analisando algo em seu telefone, quando notou minha presença colocou-o sobre a ilha. — Deseja alguma coisa, srta. Bergstedt? — perguntou.
Ele não parecia muito ameaçador, poderia até ser um vovozinho enxuto, mas não deixaria que me enganasse.
Inclino ao seu lado na ilha, analisando a fruteira, pressionando a palma da mão contra o estômago.
— A senhorita está bem?
— É apenas fome, não tenho costume de cozinhar — digo com um falso sorriso amigável e inocente nos lábios. Tiro a seringa discretamente das costas, segurando-a junto ao corpo.
— Vou providenciar algo.
Meus batimentos aceleram com a adrenalina percorrendo meu sangue. Quando ele faz menção de se levantar enfio a seringa na lateral de sua coxa injetando a droga. German grita algo em alemão, jogando meu corpo contra ilha da cozinha, minhas costas colidem dolorosamente contra o mármore, me fazendo engolir o grito.
— Que porra é essa? — ele engasga, suas pernas fraquejam, e eu sei que deu certo, se ocorrer como foi comigo em poucos segundos ele irá apagar.
German cambaleia em minha direção, mas cai no chão, seus movimentos menos coordenados, olha para mim, sei como ele está se sentindo, o corpo enrijecendo, mal respondendo aos seus comandos.
— Desculpe — digo olhando-o de cima.
Corro pelo apartamento buscando a mochila debaixo da cama, saio batendo a porta, entrando correndo no elevador. Eu não conhecia nada de Munique, passo pelo segurança com um sorriso no rosto e o medo queimando meu estômago que ele pudesse ter alguma ordem contra me deixar passar, mas pelo visto Orrel não deixou nenhuma. Foi só pisar na calçada para sair correndo rua abaixo, virando uma esquina ou outra, tentando me manter longe o bastante para que finalmente conseguisse respirar aliviada e pensar numa maneira de sumir dali.
Não sei por quanto tempo andei, mas minhas pernas queimavam de cansaço, minha boca sedenta por um gole de água, devia ter me afastado do pequeno centro, pois as ruas ali eram mais estreitas, os comércios em sua maioria fechados. Entro em um pequeno bar, parando no balcão. O infeliz do atendente não compreendia meu idioma o que meu deixou irritada.
— Pelo visto não é daqui, — viro dando de cara com um homem alto. — Nessa parte da cidade eles não estão acostumados com turistas.
Ele se vira para o atendente, falando algo em alemão. Que concorda e se vira para buscar minha água.
— Obrigada.
— Imagina, está perdida?
Encaro o rosto dele, vendo que aquele velho conselho de nossas mães sobre não falar com estranhos nunca foi tão real em minha vida. Dou um sorriso simpático, pegando a garrafinha de água no balcão, deslizo uma nota como pagamento. — Sinto muito, estou indo encontrar uma pessoa. Obrigada novamente pela ajuda.
Saio do bar evitando olhar para trás, e mesmo assim quando meus olhos me traem vejo o desconhecido na calçada olhando em minha direção ao falar no telefone. Merda! Viro em direção a um pequeno beco, correndo para me manter longe. Mas a falsa sensação de conseguir me livrar dos homens de Alex dura pouco, um homem cruzou o beco correndo atrás de mim, chegando cada vez mais perto. O cansaço somado ao desespero da fuga fez com que eu tropeçasse em minhas próprias pernas, cambaleando enquanto tentava me apoiar nas paredes de pedras.
— Não adianta correr.
Engulo em seco.
— Você tem um imenso e valioso alvo no meio das costas, estávamos esperando que sua irmã fosse a mais tola de sair sem qualquer vigilância. Afinal, é ela que se deita com todos os homens do submundo.
— Não sei do que está falando.
Ele diminui o passo, sorrindo como um leão faminto. — Não tente ser insolente, você é igualzinha a ele — diz cuspindo no chão com nojo.
A arma estava apontada para mim, diretamente para meu peito. Não teria erro. Eu não teria chance. Ninguém ouviria por causa do silenciador na ponta da arma. Para a polícia local poderia ser apenas um assalto seguido de morte, isso era comum em Chicago.
Meus olhos arregalados ao encarar o cano da arma, no momento exato em que ela dispara.
A colisão doeu, jogou meu corpo para trás, fazendo minha cabeça doer ao colidir com o chão. Minha cabeça latejava, meus dedos instintivamente passaram sobre a camisa de botão que vestia e foi uma surpresa não encontrar meus dedos manchados com meu sangue. Foi então que vi o homem que atirou contra mim, cair no chão como um fantoche largado por uma criança, o sangue escorria por seu rosto, seus olhos estavam fixos em mim ao cair de joelho, até que seu corpo desabasse para frente, morto.
Despertei do meu pequeno torpor, encarando o corpo sem vida alguns passos de mim, tentando entender principalmente como ele havia errado o tiro. Meus olhos encontraram os de Orrel, seu peito estava ensanguentado, poderia até arriscar que ainda tinha uma fina fumaça saindo de sua arma. Orrel travou sua arma e guardou no coldre subaxilar, puxando meu braço para que ficasse de pé.
— Olá, Cora. — A voz dele estava enganadoramente suave e o rosto perfeito, sem expressão. Ainda assim, sentia a fúria dele queimando silenciosamente.
Por um segundo eu apenas encarei, paralisada pelo terror. Não conseguia ouvir nada além de meu próprio coração e ver nada além da imensa mancha de sangue em sua roupa. Comecei a recuar, ainda mantendo os olhos no rosto dele. Lógico que mesmo machucado o cara era um monstro, suas mãos de aço agarraram meus braços, apertando dolorosamente os pulsos.
Orrel apenas me encarava enquanto eu me contorcia em seus braços.
— Me solta! — pedi odiando como minha voz soava esganiçada se comparada a dele — Você está me machucando!
— Merda, acabei de salvar sua vida! De novo! — exclamou com raiva.
— Não acho que pedi por socorro, muito menos acendi uma lanterna contra o céu. — Meus lábios tremeram quando disse isso.
Orrel soltou o ar dos pulmões em um suspiro pesado.
— Não, de fato não fez. Mas meu trabalho é proteger sua vida. Mesmo que isso me faça ficar com uma cicatriz no ombro. Segunda causada por você, em menos de quarenta e oito horas.
— Sabe a merda que acabou de fazer? — volta a falar, devido ao meu silêncio. — Será que pode ver se o tiro atravessou?
Dou a volta enfiando o dedo na sua ferida. Escutando o urro de dor que Orrel soltou. — Sim, você pelo visto é duro de matar.
Orrel arranca o telefone do bolso discando rapidamente. — Sorte sua.
Minutos depois de dar e receber ordens desligou enfiando o telefone novamente no bolso traseiro. — Graças a sua escapadela, tenho o cão fiel de Alex estirado no meio de minha cozinha e problemas para enfrentar — diz segurando com força meu braço.
Tento me desvencilhar, mas o aperto é firme.
— Não tem medo que eu chame a polícia?
Orrel parou, sorrindo com escarnio ao me encarar. — Medo? Não conheço essa palavra, isso daqui — diz apontando para o corpo jogado em cima de uma poça de sangue — logo não existirá, eu me preocuparia com o que pode acontecer com você.
Orrel me olhou com um toque de diversão nos olhos. — Permita-me explicar uma coisa. Mesmo que seu ataque tivesse dado certo, o que não teria acontecido de qualquer maneira, você acabaria morta por ele. — diz apontando para o cadáver mergulhado em seu sangue. — Não sei a razão para Alex querer você aqui, mas estou fazendo meu trabalho.
— Então porque não me mata? — questionei dando um tranco em seu braço ao tentar me soltar mais uma vez.
Ele me olhou de cima a baixo, estreitando os olhos ao encarar meu rosto. — Se fosse outra mulher, pode apostar que eu mataria.
A frieza com que ele falava nem sempre estava presente em seu olhar ou em sua postura. Havia ali uma contradição, como se ele tivesse em uma guerra interna, o lado perverso em conflito com o homem que acabou de tomar um tiro por mim. Orrel era perigoso, até cruel, isso eu reconhecia de imediato. Ele era Caronte, o ceifador em grande estilo.
CAPÍTULO OITO
Orrel, dois meses depois
Eu me sentia como um intruso em minha própria casa, tentava evitar ficar no mesmo cômodo que Cora por muito tempo, mas o cheiro dela parecia se prolongar. Meus olhos seguiram-na até o sofá, ela vinha mantendo distância de mim, e eu também, mas porra! Eu não conseguia parar de olhar para ela.
Meu ombro ainda doía ocasionalmente quando mexia o braço, mas o doutor retirou os pontos e disse que era questão de tempo para a dor sumir por completo. Toco a cicatriz vermelha por instinto, ainda estava tenra, parecendo frágil.
Cora desviou os olhos da TV fixando-os em mim, — Você poderia ter se livrado de um problema.
Levanto os olhos para encontrar os seus, as sobrancelhas unindo-se. — Faria de novo — digo sem hesitação.
Solto uma respiração dura, levantando, puxo a camisa sobre o ombro machucado evitando a careta de dor ao passar pelo ferimento.
— Não preciso de você se vangloriando por ter salvo minha vida, — ela ri de maneira irônica — não que isso seja a vida que estava acostumada.
— Tenho trabalho para fazer o dia todo. — Informo.
— Tudo bem.
Sufoco minha frustração, virando-me e indo em direção à porta. German havia me enviado uma mensagem dizendo que estava chegando. Abro a porta voltando meus olhos para suas coxas grossas esticadas no sofá, o short curto dando muito espaço para que o demônio brincasse. — German vem para ficar de olho em você, tente não provocar sua morte e nem a nossa — digo antes de bater a porta do apartamento.
“Se eu te dissesse o que era, você viraria as costas para mim? E se eu parecesse perigoso, você ficaria com medo? Estou lutando para escapar do que está dentro de mim: Um monstro.”
— Baryshnikov, está muito tempo aí? — Alex perguntou soltando a fumaça de seu cigarro.
— Não muito — dou de ombros e entro, apoiando em sua mesa. — Então, você me chamou?
— German contou do ocorrido. É bom vê-lo realmente empenhado na missão que lhe dei, isso além de ter mandado pro inferno a Der Schmutz 15 .
Alex traga profundamente o cigarro. — Espero que isso não te impeça de realizar o trabalho — diz apontando para meu ombro.
— Estou bem.
— Posso dar até um bônus. Ela não está feliz, não é?
— Não — digo.
Alex me analisa por um instante — Então que se contente logo em ser miserável.
Desvio minimamente os olhos para o teto antes de encará-lo novamente com seu sorriso irônico.
— Lembrando que você está em um teste de fidelidade, todos sabem. Foi um bom passo ter salvo metade de minha mercadoria ontem e ainda ter tomado um tiro pela minha filha.
— Poderia pelo menos me falar o porquê disso tudo. Não sou homem para ser feito de babá.
— Faça seu trabalho sem perguntas, estou pagando por isso, que me lembre.
Fecho as mãos em punhos, me controlando para não avançar e dar um soco em Alex, começando realmente uma pequena guerra ali dentro da sala.
Eu me concentro na minha raiva, no monstro dentro de mim. Afastei-me da parede — Está atrasada.
A garota corou, pedindo desculpas, retirou o pesado casaco.
— Eu não espero por ninguém.
— Eu vou compensar você. Eu vou te dar o que você precisa. Minha buceta está pingando para o seu pau, Orrel.
Sim, meu pau estava duro, mas não era pelas razões certas, aquilo era basicamente fisiológico, o que me irritou muito. Ela me segurou através das minhas calças e apertou com força. Meu pau estremeceu. Eu não dormia com uma mulher fazia um longo período, desde que aquela diaba foi posta em minha vida. Esse foi o período de seca mais longo que sofri desde os treze anos.
— Você nunca mais veio me ver — ronronou.
Seguro o pescoço dela com força e aproximo nossos rostos. — Não devo nada a você.
Lyndra estremeceu, mas minha aspereza a excitou. Seus mamilos enrugaram e seus lábios se separaram. Eu só precisava tirar a porra da raiva do meu sistema, o maldito desejo por aquela mulher tempestuosa que habitava meus pensamentos. — Fique de joelhos. Vou foder sua boca.
Lyndra estremeceu e se ajoelhou diante de mim. Abri o zíper, segurando o cabelo dela e guiei sua boca até meu pau. Ela fechou os lábios com força e rapidez, engolindo meu pau profundamente, gemendo em volta dele algumas vezes.
Eu me afasto de repente, incapaz de suportar seus gemidos, aquela merda não estava funcionando!
Ela ficou de pé com um sorriso. — O que você precisa?
Endureço chutando para longe a pequena mesa de madeira, irritado por não tirar os olhos discriminatórios de Cora do pensamento.
— PORRA NENHUMA!
Deixo-a nua no quatro, vestindo minhas roupas com raiva.
Lyndra agarra minha mão, detendo meus movimentos. — Vamos, não vai me deixar toda desejosa por você, nunca foi de fugir.
— Cale a boca!
Quando volto para casa, caminho direto para o chuveiro, o fato de ver Cora deitada sobre minha cama vestida novamente com uma de minhas camisas e suas calcinhas minúsculas, deitada sobre os lençóis completamente largada, deixando que eu visse com perfeição os detalhes do seu corpo, visse os seios perfeitamente redondos e empinados, estava me enlouquecendo.
Limpo-me sob o jato quente recorrendo mais uma vez à punheta, eu, um homem feito, tinha me tornado um adolescente ridículo, escondido no banheiro batendo bronha para aliviar a pressão que minhas bolas faziam!
Rastejo pela escuridão do quarto, deslizando cuidadosamente para cama, Cora não se mexeu, o perfume de seu corpo deslizou até meu nariz me fazendo bufar no escuro. Rolei, virando de costas para ela.
Aquilo me corroía, nunca me senti assim e nem fazia sentido.
CAP Í TULO NOVE
Cora Growl
— Achei que já estaria dormindo.
Assusto-me com o som de sua voz, embora tenha ouvido a porta da frente abrir, seguida por seus passos. Evito dar real atenção para ele, a luz da televisão ilumina sua forma alta e tonificada, enquanto ele descansa contra a parede ao lado da porta, me fazendo lutar contra um arrepio, e não é de medo, mas do olhar pecaminoso que ele me encara ao morder o canto da boca.
Sei não só pelo cheiro, mas por ficar se firmando constantemente na parede, que ele bebeu além da conta.
Depois do que aconteceu meses atrás, eu não tinha certeza de que arriscaria outra fuga. A intensidade do olhar de Orrel tinha mexido com uma parte de mim que eu tentava lutar, era uma completa insanidade. Vejo-o resmungando algo em russo, mas ele desiste e se joga no sofá ao meu lado, me fazendo dobrar as pernas contra o peito. O queixo quadrado de Orrel estava travado, deixando a pequena covinha mais pronunciada no queixo, no entanto, era os lábios sua característica mais marcante.
— Noite difícil?
— Se você diz.
Observo o sorriso zombeteiro e sombrio que ele me lança.
— Nós somos parecidos, Rapunzel.
Arqueio a sobrancelha encarando-o. — Não vejo como. E pare de me chamar assim — resmungo.
Ele solta um longo suspiro. — Mais do que provável.
— Não sabia que parte do seu trabalho era me deixar sozinha, já está tão seguro que não chutarei suas bolas e sairei correndo daqui? — provoco.
Ele se inclina para mais perto, torcendo minimamente os lábios, atraindo minha atenção para sua boca. — Nunca pense que está sozinha, princesa das trevas.
Meu corpo arrepia com seu olhar se fixando em minhas pernas nuas. Esta é a primeira vez que ele me olha dessa maneira, como um leão faminto. E, por Deus, eu gostei. Parte de mim pelo menos, a outra, a parte teimosa queria que eu chutasse suas bolas e saísse correndo mais uma vez, queria que perdurasse minha raiva e indignação e não desse a mínima para esses olhares.
Sua mão rastejou pela pele de minha garganta, seus dedos enrolaram por ali, minhas pupilas dilataram com receio, mas ele não colocou pressão em seu toque. Sabia que ambos podíamos sentir meu pulso contra a palma de sua mão. Ele inclinou mais sobre mim, até que seu nariz ficasse centímetros da pele abaixo de minha orelha e inalou. Orrel abaixou os lábios até minha pele, fazendo meu pulso acelerar onde ele beijou, meus olhos procuraram pelos dele, esperando.
CAP Í TULO DEZ
Orrel
Em alguma parte de meu cérebro, algo me dizia que estava ultrapassando uma linha proibida, tomando-a em meus braços daquela forma, mas naquele momento não conseguia me importar menos.
Iria cumprir minha missão, iria proteger assim como fui pago para fazer. Era capaz de reconhecer um espírito guerreiro quando encontrava um, e aquela garota estava disposta a lutar até o final. Por que ela ainda tinha esperanças de conseguir sair daquela situação, de vencê-lo, de voltar a ser livre.
Nunca tinha tido algo para mim mesmo, nunca ousei sonhar, mas não poderia dizer que não adorava o perigo, a sensação de tomar posse de algo que não era meu. Sempre tive que me contentar com viver sob as ordens de um monstro e concordar com elas, tinha levado um pouco, senão todo o traço humano que poderia ter. E agora Alex, mesmo sem saber, me dera o que há poucos meses estava fora de meu alcance: alguém que nem sequer me permitia admirar de longe.
Minha boca se fechou sobre a dela com violência. Havia medo, mas também prazer, minha língua deslizou pela sua, enquanto um gemido suave ecoava pela garganta de Cora. Ainda de olhos abertos, tudo o que podia fazer era observá-la, a concentração que vincava sua testa, o jeito como o cabelo caía sobre seu rosto, meus dedos roçaram seu cabelo, segurando firme seu pescoço, para que pudesse aprofundar o beijo. Eu adorava esse jogo e pude perceber que Cora estava satisfeita por fazer parte dele.
Então, como comecei a empurrei, segurando seu corpo um tanto afastado do meu, cambaleando de pé para longe daquele sofá. Os olhos de Cora cheios de confusão encaravam os meus. Sua boca estava vermelha e ainda podia sentir o toque ferino do seu veneno sobre minha pele. A respiração acelerada dela ecoava pela sala, fazendo por alguns segundos o mundo parecer um lugar sordidamente silencioso.
Amaldiçoando em minha língua natal, puxei seu corpo do sofá, trazendo-a para mim, beijando sua boca mais uma vez.
Beijei sua boca com lentidão, mesmo querendo literalmente foder seus lábios com minha língua, deixei que Cora percorresse minha boca com a sua com cautela, aquilo era surreal para mim, aquela sensação era irreal. O prazer era uma droga percorrendo meu sangue, minhas mãos pararam de apertar seu corpo contra o meu, caindo ao lado de meu corpo, assim como minha boca parou de profanar a sua, dei um passo para trás, depois mais outro, mantendo uma distância.
— É melhor parar com isso — rosno.
— O quê? — Cora sussurra.
— Esse não é um jogo no qual você queira entrar, portanto, não levante suas fichas. — Viro, o cansaço banhando meu semblante, sem nem mesmo lançar um segundo olhar em sua direção.
Acordo antes do amanhecer, com o braço em volta de Cora, minha mão posicionada bem em cima do seu seio direito. Por alguns momentos, fiquei assim, tentando entender qual merda havia me metido e aproveitando que ela estava dormindo relaxada do meu lado.
Trinta minutos depois, estava olhando para a geladeira, tentando descobrir o que poderia fazer de café da manhã. Uma coisa que descobri é que nem morto eu comeria algo que Cora preparasse, ela era um desastre na cozinha e poderia facilmente me envenenar, mesmo sem intenção.
Estava inclinado contra o balcão da cozinha, com uma xícara de café nas mãos quando notei Cora encostada na porta, meus olhos percorreram todo seu corpo, permanecendo nas malditas pernas que ela gostava tanto de exibir.
— Aqui — digo empurrando uma xícara para ela.
Os olhos de Cora se focaram novamente no coldre de minha arma na cintura.
— Você sempre tem que estar com isso na cintura?
— Eu não precisaria ficar constantemente armado se você não me atacasse pelas costas.
Cora ficou obviamente irritada com meu comentário.
— O que devo fazer? Agradecer aos deuses por viver como uma prisioneira? O que você faz da vida, além de brincar de gângster?
Abro um sorriso, parando diante da pia, abro a torneira arregaçando as mangas do meu suéter. — Engenharia.
— Isso é uma surpresa, achei que fosse analfabeto.
Não me viro, continuo lavando a xícara tranquilamente — Ao contrário do que pensa, eu tive um bom pai. Não quis entrar no submundo, é uma longa história e não é da sua conta. — Digo enxugando as mãos no pano.
— Algo não bate na sua história, entrou para o mundo do crime porque queria sentir o medo correr nas veias então?
— Não tenho medo de nada, e sua investigação acabou.
— Então depois dessa farsa de protetor você vai fazer o quê? Entregar-me de bandeja para ele ou vai me matar?
Interrompo minha passada, encarando seu rosto, cerrando a mandíbula, tentando controlar a vontade súbita de lhe arrancar as calças e dar umas chicotadas em sua bunda.
— Eu tentei te matar! — Afirmou irritada.
— Meu único interesse é me ver livre de você e desfrutar do dinheiro que irei cobrar do seu pai em algum lugar com muito sexo, bebida e com certeza longe de você. — Respondo. — Tenho trabalho a fazer e você ficará aqui vendo TV.
— Você é um monstro! — Esbraveja.
Aproximo-me lentamente dela, os olhos fixos nos seus. Meu corpo, um traidor moribundo, se anima com essa aproximação, fazendo meu cérebro repassar o que houve ontem. O jeito que o rosto de Cora fica corado também não ajuda. — Sim, eu realmente sou.
Mais uma vez aquele olhar. Porra! Aperto seu corpo contra a parede, seu grito de surpresa foi silenciado pela minha boca. Mergulho a língua na boca dela, saboreando o sabor amargo que o café tinha deixado, e ela se aperta contra mim, Cora estava atraída por mim, eu sabia disso. Beijo-a com mais força, passando a mão pelo seu corpo, pressionando a palma da mão contra sua virilha e mesmo através do fino tecido do short de dormir podia sentir seu sexo pulsando na palma de minha mão. Esfrego-a através do tecido sorrindo contra sua boca ao ouvir o gemido que lhe escapa. Ela queria e meu pau ganhava vida, eu queria tomá-la ali, imprensada contra a parede até que ela gritasse meu nome.
As palmas dela começaram a empurrar contra meu peito, então a pequena víbora rasgou meu lábio inferior com uma mordida. — Pare com isso! — ofegou. Ela empurrou com força, e acabei cedendo, dando um passo para trás, tirando minhas mãos de seu corpo. O olhar de Cora estava atordoado, seus olhos foram em direção ao meu pau que demarcava a calça jeans, fazendo um rubor lhe subir às bochechas.
Deixar que ela saísse batendo os pés para longe de mim, foi uma das coisas mais difíceis. Olho para minha protuberância sorrindo, seria delicioso sentir o que ela poderia fazer com aquela boca em outros lugares.
Queria prová-la, fazer o corpo anular o sinal de fruto proibido de minha mente. O problema é que agora o monstro estava no fundo da minha mente, somente desejando tomar aquilo que queria: Cora.
CAP Í TULO ONZE
Cora Growl
Fechei a porta do quarto atrás de mim. Meu coração estava pulsando descontroladamente em meu peito. Cubro os olhos com a mão e respiro profundamente. Movida pelos instintos, minha mente estava em silêncio. Eu queria sentir seus dedos tão desesperadamente, mesmo através do tecido o toque tinha me inflamado. Por que meu corpo fez isso comigo? Eu odiava Orrel e ainda assim meu corpo correspondeu novamente a ele.
Cambaleei até a cama, onde me deixei cair. Parte de mim queria voltar para onde ele estava e deixá-lo terminar o que tinha começado, queria provocá-lo até ver aquele fogo novamente em seus olhos. Engasguei com o riso, eu estava ficando insana, era isso, perdi a cabeça.
A pulsação no meio de minhas pernas ainda não tinha cedido, a pressão no meu ventre querendo de volta a atenção que havia recebido, desci minha mão pela barriga, mas logo interrompendo esse gesto. Mesmo fantasiar sobre alguém como Orrel estava errado e me tocar imaginando seria assinar de vez minha sentença.
Durante duas manhãs evitei enfrentar Orrel, fingia estar dormindo e não ligar sobre acordar sempre com seu braço içado em minha cintura; esperava até ouvi-lo sair de casa para realmente levantar. Eu não me esconderia para sempre, ainda mais sendo um apartamento tão pequeno, mas o calor ainda consumia minha pele ao pensar em nosso beijo. Pelo menos, ele não procurou minha companhia, o que tornou fácil.
Como de costume chequei todas as portas, como sempre trancadas e ao olhar pelo olho mágico instalado na porta de entrada, um brutamonte estava parado do outro lado do corredor. Portanto, me joguei mais uma vez em meu lugar habitual do sofá, esperando que o dia passasse.
Quando ele retornou à noite, trouxe pizza, colocou-a sobre a mesa de centro na sala. Ele não parecia afetado quando se acomodou ao meu lado no sofá, abriu a caixa da pizza, pegando um pedaço.
Algumas vezes eu me pegava olhando seus dedos longos e lembrava como era tê-los em meu corpo. Precisava seriamente parar com essa estupidez. Meus olhos vão para a pequena cicatriz em sua nuca, era irregular, como um corte de faca. Olhando-o agora com atenção ele tinha várias pequenas cicatrizes espalhadas pelo corpo, cortes ou marcas do que poderia ter sido uma infância de travessura.
— Coma!
Meus olhos foram para a caixa de pizza, mas voltaram para seu rosto.
— Pergunte ou pare de me encarar — disse enfiando o restante do pedaço na boca.
— O que houve?
Orrel empurrou outro pedaço de pizza na boca, mastigando lentamente. Depois olhou para mim. — Briga com facas.
Encaro seu rosto. — Não sabia que participava de briga de rinha.
Ele balançou a cabeça em direção à pizza, fazendo-me pegar um pedaço. — Meu tio aprovava isso, para ele era um pequeno ganho pessoal colocar meu primo e eu parar lutar.
Mordo um pedaço mastigando com calma, Orrel nunca falou algo sobre si, algo que revelasse um pouco mais sobre quem era na verdade. Mas isso, pelo ódio que banhou seu olhar por alguns segundos, vejo que não era uma das melhores memórias que ele poderia ter. E eu havia encontrado um tópico que Orrel ficava desconfortável.
Mas assim que terminou, ele se ergueu, limpando as mãos na calça e saiu novamente, deixo escapar um suspiro pesado assim que a porta se fecha, não sabendo lidar com o que passava dentro de mim.
CAP Í TULO DOZE
Orrel
— Que bom que se juntou a nós, Baryshnikov.
Controlo o desprezo quando encaro Alex terminar de desmembrar um dos capangas de Vincenzo.
O cara estava amarrado na cadeira, seu peito estava todo ensanguentado.
— Fodendo os italianos — Nikolai diz animado, batendo o punho com Krienth.
— Um pequeno aviso. Quero minha área limpa desses vermes — diz Alex.
— Esse infeliz teve a audácia de entrar na casa segura onde Kyara está — explicou German encarando-me.
— Quero que façam o que tem que ser feito para que esses vermes sujos saibam seu lugar. — Alex diz, limpando as mãos com sangue na toalha branca que German lhe entrega.
Confirmo com um pequeno gesto quando Alex se vira para me encarar.
— Escolha os homens que você quer. Eu ficaria contente se Kiran estivesse ao seu lado, mas afirma que ele está indisponível, não é mesmo? — questiona me analisando.
— Sim, ele está cumprindo outras ordens na América.
Alex encara os dedos por um instante, terminando de limpá-los. — É uma pena, uma verdadeira lástima.
— Quando tudo acabar, o que farei com Growl?
Alex dá um sorriso zombeteiro. — Se meus planos não correrem como desejo, devolva-a para sua vidinha mundana, Kyara nunca aceitaria uma bastarda junto de si e Deus sabe que Kyara será minha sucessora nos negócios. Mas se tudo seguir como está rumando, terei dois problemas eliminados.
— Então, por que me fez atravessar o país em busca de uma mulher, se iria jogá-la aos lobos depois?
Os homens de Alex me encaram como cães ferozes, prontos para me morder na jugular caso o chefe mandasse.
— Você está se preocupando demais, Baryshnikov.
Dou de ombros. — Quero apenas me certificar quando poderei ter minhas festinhas sociais de volta — digo suavizando o clima.
— Sempre o velho Orrel. — Alex comenta com um sorriso de tubarão.
No retorno para casa, somente uma coisa ocupava meus pensamentos, uma coisa que me consumia fortemente, fazendo-me acelerar o carro pelas ruas de Munique. Não conseguia pensar em mais nada além dela, do corpo dela.
— Tudo certo por aqui.
— Obrigado, pode ir Rony.
Ele dá um pequeno aceno, entrando no elevador e desaparecendo.
Como nos outros dias, encontro o apartamento no escuro. Deixo minha chave no esconderijo perto da porta, assim como minha arma travada. Caminho em silêncio em direção à cozinha, mas ao chegar perto do corredor, um som chama minha atenção, aproximo-me do quarto, o barulho está vindo de lá.
A porta está aberta por uma pequena fresta, a luz do abajur que tinha providenciado para Cora está acessa, dando um brilho dourado para o quarto com mobílias escuras. Parece que ela está gemendo.
Aproximo-me da porta, ouvindo mais uma vez o gemido baixo e prolongado. Fecho os olhos sentindo como se uma carga elétrica tivesse cortado meu corpo. Posso sentir meu membro endurecendo com a mera ideia do que está acontecendo atrás daquela porta.
Agarro a maçaneta, me certificando de ser o mais silencioso possível enquanto abro um pouco a porta. Eu não quero que Cora note de imediato que estou observando seu momento íntimo. Olho para dentro, Cora está deitada com os olhos fechados, a respiração saindo baixa entrelaçada com seus gemidos, sua mão se move entre suas pernas, fazendo-a entreabrir os lábios.
Porra, eu não sou um bom homem, e ela está fazendo meu mantra de me manter longe do problema se tornar imensuravelmente difícil! Posso cheirar sua excitação.
Empoleiro mais sobre a porta, tomando cuidado para que ela não me veja, Cora se contorce, abre mais as pernas, me fazendo sufocar um gemido. A camisola que ela usa está enrolada sobre sua cintura, a calcinha puxada para o lado, deixando a vagina nua, exposta para mim.
Respiro fundo observando dois dedos deslizarem lentamente sobre os lábios inferiores. Cora não era despida de pelos como a última puta que fodi, mas ela estava bem aparada.
Meu pau estava tão duro que fiquei surpreso por ainda não ter explodido na calça. Cora chamou minha atenção mais uma vez choramingando, necessitada, seu próprio toque não parecia levá-la tão longe.
Escancaro a porta, vendo os olhos dela se fixarem em mim.
Atravesso o quarto como um animal faminto diante de um banquete. Inclino sobre seu corpo, Cora não tenta me interromper quando abaixo minha boca em direção a sua vagina, nem mesmo quando dou uma longa lambida sobre seu sexo inchado. Ela apenas estremece gemendo alto.
Afasto suas mãos, deslizando a língua entre os lábios, lambendo sua entrada, lentamente lambendo até a pequena protuberância no topo. Ela geme, ficando tensa.
Puxo seu clitóris em minha boca, sugando-o num ritmo suave.
Ela estava em conflito, eu próprio estava enfrentando os meus, ou melhor, o monstro sedento dentro de mim estava rasgando a unhadas um por um, abrindo caminho para seu fruto proibido.
Lambi seu sexo com mais força, mergulhando a língua dentro dela, intercalando com sugadas em seu clitóris. Cora gritou gozando, inundando minha boca, e nem mesmo assim eu parei, continuo lambendo, mordiscando cada pequeno tremor que toma seu corpo, não dando tempo para que ela se recuperasse; deslizo os dedos como ela estava fazendo, fodendo-a, esfregando a palma da mão sobre seu clítoris, só para depois roubá-lo novamente para minha boca.
Meu pau devia estar esfolado de tanto esfregar contra minhas calças, mas eu precisava de mais, precisava de mais tempo para ela. Ela precisava se preparar para quando eu não conseguisse mais parar...
CAPÍTULO TREZE
Cora Growl
Eu mal podia respirar, vê-lo parado na porta, encarando-me com luxúria aumentou meu tesão, me fez perder qualquer pudor e continuar me tocando de maneira tão íntima. Meu corpo estava queimando, meu pulso acelerado. Ele subiu na cama como um animal faminto, lambendo, chupando e beijando meu corpo, estava tão perto do orgasmo, do meu segundo orgasmo. Sua mão se infiltrou pela camisola, segurando com força meu seio, torcendo meu mamilo, me fazendo gritar.
Via a dúvida aparecer em seus olhos, mas mesmo parte de mim achando aquilo tudo completamente insano, eu não poderia interromper, não poderia deixá-lo se afastar como sabia que faria.
Entrelaço minhas pernas sobre sua cintura, forçando sua calça para baixo, tendo um pouco de dificuldade por estar fechada. Orrel em um pequeno movimento fica livre de suas roupas agachando-se entre minhas pernas, seus olhos segurando os meus. Minhas unhas se agarram em sua pele, me senti despedaçando no momento que ele entrou com um movimento curto e delicioso.
Orrel conseguia me deixar nua de tantas maneiras com seu olhar, não era suficiente que já estivesse deitada nua com ele sobre mim? Ele tinha que tirar lascas de minha alma?
Minhas unhas se enterraram profundamente nos braços dele, fazendo-o grunhir, os olhos brilhando de prazer enquanto lambia a curva de seu pescoço, faço um caminho pela tatuagem de árvore em seu abdômen, levando as mãos para as costas, acompanhando os desenhos dos troncos grossos e tortos, deixando sua pele vermelha pelos arranhões.
Poderia ser apenas um sexo convencional, o famoso mamãe e papai, mas tinha tanto tesão ali, tanta vontade que era inevitável não tremer de prazer toda vez que ele se encaixava profundamente dentro de mim, nossos corpos suavam por estar colados um no outro. Orrel tremeu fixando seus olhos nos meus ao gemer, antes de sentirmos o vórtice maluco do orgasmo tomar nossos corpos.
Ele sentou na ponta da cama, com as pernas sobre a borda, olhando por cima do ombro, e agora, esse olhar não fazia meu corpo zumbir de prazer, fazia toda parte racional voltar a gritar em meus ouvidos. Seguro o cobertor sobre o peito, sentando-me na cama. Vejo reunir suas roupas do chão, mas ele não se incomoda em vestir, em vez disso, sai, começando a fechar a porta, mas se deteve olhando em minha direção.
Por três vezes abriu e fechou a boca, aguardei por algo que obviamente ele iria dizer, mas então ele apenas fechou a porta atrás de si.
Nem ao menos fui capaz de chorar, deitada na cama após o banho, de ter ficado um bom tempo esfregando minha pele na água quente, tentando tirar o cheiro e a lembrança do toque de Orrel em meu corpo. Nem mesmo a frustração formando um calombo em minha garganta eu chorei. O tempo se arrastou ao meu redor, enquanto permanecia deitada rodeada pelo silêncio e os pensamentos caóticos e sem sentido polvilhando minha mente.
Sentia como se tivesse atravessado uma barreira da qual não seria capaz nem mesmo de compreender. Meu mundo tinha virado de cabeça para baixo, minhas prioridades pareciam distorcidas em minha mente. Eu deveria estar procurando uma saída desse lugar, e embora o pensamento rodasse forte por minha mente, continuei deitada naquela cama, sentindo o lado onde Orrel dormia frio e vazio. O aroma de sua pele estava por todos os lados, permeando meu nariz, zombando de minha burrice.
Orrel
Até agora meu corpo parecia ferver de luxúria. Meu orgasmo não tinha diminuído nem um pouco o desejo por Cora. Não porque o sexo não tinha sido satisfatório, embora isso fosse verdade também. Eu tinha tido orgasmos mais fortes, tinha tido sexo melhor, mas o que tinha acontecido entre Cora e eu e tinha sido a coisa mais intensa que já tinha experimentado.
Não fazia sentido.
Ela não era alguém que pudesse saciar minha fome e mesmo assim, neste segundo de merda, eu não podia imaginar estar com outra mulher.
Queria Cora, antes dela eu estava satisfeito com o que tinha, com as cartas que recebia, mas ela me fez querer mais e isso não era exatamente seguro em meu mundo, muito menos com a faca diretamente apontada para o meu peito pelo seu pai.
O que ela estava fazendo comigo?
A convivência com Cora quando estávamos quietos não era difícil, mas o peso do que fizemos parecia encolher as paredes para cima de nós. Tudo estava intenso, por isso, na manhã do dia seguinte, enquanto ela fazia seu café, não falei absolutamente nada, sabia que tinha sido grosseiro o modo como a deixei, as mulheres esperavam mais dos homens, óbvio que as putas com que eu fodia não ficavam esperando um obrigado ou bancar o carinhoso depois do sexo, elas estavam acostumadas a me ver sair tão logo acabasse.
Mas claro, Cora não era uma delas.
Por isso optei pelo silêncio, me ocupando ao limpar minha pequena coleção de facas, evitando confrontar os olhares que ela me lançava do outro lado da cozinha. Limpei e afiei todas, enquanto Cora preparava o pão na torradeira e depois desaparecia para o quarto, ficando trancada até que anoitecesse.
Estava sentado na sala na completa escuridão, quando ouço o pequeno clique da porta se abrindo, os passos descalços de Cora sobre o piso de madeira. Ela não queria que eu a ouvisse, mas se a vida tinha me ensinado algo, era vigilância. Não havia um som que passasse por mim, os passos de Cora eram cuidadosos, ela com certeza não me viu sentado no canto da sala enquanto passou indo para a cozinha. Logo o barulho da geladeira e dos talheres batendo ao abrir com força a gaveta chegou a mim, assim como o xingamento baixo que ela soltou.
Levantei, seguindo em direção à cozinha, Cora estava empoleirada sobre a ilha, devorando um pote de cereal com leite.
Acendo a luz, pegando-a de surpresa. Com o susto ela acabou jogando a pequena tigela para longe, quebrando em dezenas de pedaços afiados, derramando o cereal e o leite por todo piso.
— Porra! — assobiou me encarando.
Cora estava tentando me matar com seus olhos. Não que eu não estivesse acostumado com olhares assim, mas tinha que admitir que me excitava.
— Você deveria comer comida de verdade.
— Qual é o seu problema? — explodiu cruzando os braços diante dos seios.
Dei de ombros. — Nenhum, você?
Ela soltou uma risada histérica, me fazendo arquear a sobrancelha. — Eu poderia enumerá-los para você.
Cora me enfrentou com o olhar.
— Se está tão furiosa por ontem, por que me deixou tocá-la?
Sabia que minhas palavras serviam para inflamar a raiva dela, se pudesse ela com certeza voaria para cima de mim, novamente me atacando. Péssimo lugar para provocá-la, penso.
— Tudo não passava de um plano seu para mais uma fuga? Eu deveria mesmo ter me livrado de você quando tive oportunidade, ou, entregá-la para seu pai — digo.
— Você é ridículo, um monstro e eu odeio você! — gritou.
— Se me odeia tanto, por que me deixou tocá-la? — pergunto novamente.
Não sabia para onde iríamos com essa discussão, mas sabia que queria novamente sentir sua boca contra a minha, mesmo que ela se debatesse como uma serpente em meus braços.
— Você nem teve ao menos capacidade de olhar para mim, me ignorando como se eu fosse a única que tivesse perdido a cabeça...
Ela nunca foi capaz de terminar sua discussão, agi por instinto, deixei que ele me levasse até ela. Minha boca se fechou sobre a dela com violência e possessividade, beijando com ganância e desespero. O choque a deixou por um momento paralisada, ela até tentou empurrar meus ombros para trás tentando se libertar de mim.
Ela virou o rosto, interrompendo o beijo roubado. — Você não tem direito de fazer isso! — disse acertando um tapa em cheio no meu rosto.
Ela até tentou se afastar mais uma vez, mas meus braços em torno de sua cintura seguravam firmemente seu corpo ao meu, diminuindo a distância com cautela, encarando no fundo daqueles olhos castanhos, me aproximei, roçando meus lábios por sua bochecha, por seu nariz. — Me diga que é isso que você quer, que não é mais uma artimanha para injetar uma droga em minha bunda e fugir.
Os dedos de Cora se infiltraram por meu cabelo, ergo o queixo roçando a barba rala por seu pescoço, gostando dos arrepios que sua pele apresentava.
O que Cora Growl está fazendo comigo?
Foda-se, puxo seu corpo para cima da ilha, derrubando a caixa de leite no chão, rasgando a blusa de Cora deixando seu sutiã à mostra, para logo isso também desaparecer, chupo seu mamilo, mordiscando e vendo-a jogar a cabeça para trás, enquanto com a mão livre, solto o botão e o zíper da calça, meu pênis salta para fora da cueca ereto. Não esperava que ela girasse segurando meu pênis e colocando-o na boca.
Seguro firme a parte de trás do seu cabelo, gemendo ao sentir Cora raspar a língua pelo meu membro, empurro para dentro, deslizando para dentro e fora daquela boca mais rápido, suas mãos agarravam minha bunda.
Esta noite eram meus gemidos que quebravam o silêncio do apartamento, eu amava quando uma mulher me chupava, amava sentir meu pau batendo no fundo de suas gargantas, mas eu estava sedento por outra coisa com Cora, tiro meu pau de seus lábios lentamente, aproveitando a fricção que ela fazia, ajeitando-a na ilha, tirando sua calça de moletom e sua calcinha, deixando-a com as pernas bem abertas e expostas, para que quando eu beijasse novamente sua boca a cabeça do meu pau brincasse com sua entrada, provocando-a. Meu dedo invadiu seu sexo, fazendo pequenos círculos profundamente dentro de si.
Eu podia sentir as terminações nervosas de Cora explodindo em seu cérebro. Sabia que apenas uma metida profunda em seu corpo arrastaria nós dois pelo mais delicioso limbo.
— É disso que você precisa, e eu lhe darei. Bem-vinda ao meu inferno, princesa das trevas — disse antes de me enfiar por completo dentro dela, fazendo nossos corpos tremerem e nossos gemidos tomarem conta do lugar.
Um gemido choroso escapou de seus lábios, espasmos tomando conta de seu corpo, seus olhos brilhantes se fecharam no prazer do momento, enquanto o sexo dela apertava meu pênis, uma vez e mais outra até eu perceber que havia chegado ao seu limite. Os gemidos dela encheram minha cabeça, o orgasmo dela ondulando por toda minha ereção.
Aumento o ritmo, o som de corpos se chocando ecoando no ambiente. Nunca sentira nada como aquilo, o puro prazer indescritível. A necessidade de preenchê-la inundou meu instinto, tomando conta de meu corpo completamente, jogando sua cabeça para trás, enquanto sentia seus olhos se fecharem num reflexo, arrancando um grito de meus pulmões no momento do gozo.
CAPÍTULO QUATORZE
Cora solta um suspiro, descendo da ilha. — Você precisa parar de me atacar assim.
Seguro o riso tirando fragmentos de cereal moído de seus cabelos. — E você precisa de um banho. Não que eu desaprovaria continuarmos com nossa pequena refeição, adoraria saber como seria tomar o café da manhã direto de seu corpo.
Cora olha para o estrago que tínhamos feito na cozinha com um sorrisinho no rosto.
— Quer mais alguma coisa? — questiono vendo seu olhar subir e descer pelo meu corpo nu.
Ela passa por mim em direção à geladeira, balançando os quadris de uma forma que me deixou duro novamente. — Eu estou bem. — diz com um encolher de ombros. — Tudo que preciso é uma dose de doce. Talvez encontre um por aqui. — Ela arrebitou a bunda em minha direção enfiando metade do corpo dentro da geladeira. — E você? Existe alguma coisa de que você precise? — seus olhos vagam pelo meu corpo em direção ao meu pau semiereto.
Ela realmente sabia como ser sedutora, quando queria.
— Estou bem também.
— Como você parou nas mãos de Alex?
Olho seus olhos, surpreso pela mudança brusca de assunto.
Dou de ombros — Uma coisa levou a outra.
— Orrel... Russo?
Confirmo com um gesto, apoiando os cotovelos no pedaço limpo que havia sobrado na ilha depois da bagunça de sexo e cereal.
— Você não se sente mal com tudo que fez? Sei lá, como dorme tranquilamente depois?
— Eu não peço para ser bom, fui ensinado a ser do jeito que sou e até pior, se meu falecido titio estivesse vivo, aquele ublyudok!
— Você disse que seu pai era bom — investiga.
Cora sabia que estava entrando em um terreno perigoso, eu via o receio em seus olhos.
— Meu pai era um grande homem, até ser morto pelo meu tio.
A boca de Cora se abre em um pequeno “oh!”, mas logo ela se recompõe.
— Nem todos têm uma mãe com pulso firme para levá-lo do outro lado do planeta para livrar sua vida de todo o sangue e monstruosidade. — Digo em voz baixa. — Mas assim como meu pai está morto, e sim, fui criado pelas mãos do próprio Diabo, então não seria uma surpresa se eu me apresentasse a outro no passar dos anos. Alex foi necessário naquela época.
O silêncio ficou pesado por alguns minutos.
— Não decidi ser um monstro, como você mesma diz por causa do que vivi, não por ter visto meu pai ser morto pelo meu próprio tio quando era apenas um menino, ou por ter todos os meus verões transformados em verdadeiros infernos, ou por ter sido forçado a estuprar minha única amiga porque eu tinha que virar um homem. — Vejo o horror pintar o rosto de Cora, até mesmo seu corpo estremece. — Nada disso me fez um monstro, mas meninos maus já nascem maus. Não é mesmo?
— Talvez você deva ser melhor, se esforçar para ser.
Solto um suspiro.
— Compensar erros, nunca é tarde.
— Duvido que seja capaz, estou trabalhando nisso há muitos anos.
Sorrio sombriamente, era uma pena voltar para a realidade, ainda mais depois do sexo que fizemos. Pego minhas coisas espalhadas pelo chão da cozinha virando de costas para Cora e saindo dali.
Cora Growl
Afinal, Caronte era apenas um menino quando experimentou os horrores de homens crescidos? Ele estava certo eu não o conhecia. Ainda. Mas hoje ele me entregou pequenas peças do imenso quebra-cabeça que era ele, e eu estava disposta a conseguir o restante.
Decidi não o pressionar mais, Orrel poderia ser como um elástico e voltar-se contra mim. Havia muitas que gostaria de questionar, tanto sobre ele, quanto o fato de um pai que nunca se importou realmente comigo ter decido me sequestrar, ou melhor, mandar Orrel fazer o serviço sujo.
Existia a sensação que Orrel poderia se fechar completamente se eu tentasse cedo demais arrancar informações dele. Pelo menos ele não aparentava estar me odiando por fazer tais perguntas.
Quando ficamos deitados um do lado do outro na cama depois de mais uma vez sucumbirmos a essa tensão sexual que nos cobria, ele, que geralmente se afastava, agora estava com o braço levemente tocando o meu.
— Você não tem que sair? — pergunto vendo os pequenos flashes de luz atravessar a cortina, deixando o corpo de Orrel ainda mais atraente.
— Hoje não.
Aperto-me contra seu corpo, o braço pendurado em seu estômago.
— Eu não esperava que você ficasse tão feliz.
— Estou sozinha, tirando o fato do brutamonte que colocou como um poste na porta da frente — digo, eu precisava ter cuidado ao demonstrar ou deixar escapar as emoções. Emoções podem ser usadas como armas poderosas, mesmo que no fundo algo em mim dizia que Orrel não fosse descer tão baixo para me atingir, mesmo assim, deveria ter cuidado.
— Você andou bisbilhotando — escuto Orrel dizer com uma pitada de humor na voz.
Dou de ombros, sentindo seu perfume. As pontas dos meus dedos roçaram a hipnotizante tatuagem de árvore e a estranha cicatriz que deixava um de seus galhos irregulares.
— Você disse que foi um aviso, o que você fez para ganhá-la?
Orrel ergueu a cabeça olhando para onde apontava. — Nada tão horripilante quanto imagina.
— De que tipo, com algum gângster?
Um canto de sua boca se contraiu num quase sorriso. Esse pequeno gesto conseguia mudar todo o seu rosto, tirando o peso de sua expressão, fazendo-o mais acessível.
— Com seu pai.
— E mesmo assim continua trabalhando para ele?
— Tem coisas que não podemos explicar, princesa das trevas. Podemos culpar meu pai por ser quem era, ou por nascer na família que nasci, ninguém que nasce com uma família do submundo pode viver fora dele. Você é arrastado. — Ele fez uma pequena pausa, parecia difícil ele falar sobre isso, parecia reviver grandes pesadelos. — Poderia culpar minha mãe, por ter virado uma prostituta, muitas vezes planejei matar meu tio a cada castigo que me dava. Mog by sdelat’ mnogo veshchey 16 !
— Sabe que eu não entendi nada do que disse agora, né?
Ele encolheu os ombros com um quase sorriso novamente. — Você não deveria se importar, não deveríamos nem deixar isso acontecer. — Murmurou.
— Eu sei.
Durante vários batimentos cardíacos, ficamos olhando um para o outro, com palavras não verbalizadas perdurando no ar entre nós.
De vez em quando eu desmorono
De vez em quando eu fico um pouco inquieto
E eu estou mentindo como uma criança em seus braços
- Total Eclipse Of The Heart, Bonnie Tyler
CAPÍTULO QUINZE
Cora Growl
Naquela noite descobri o motivo de Orrel pouco dormir ou quase nunca estar na cama quando acordo.
Depois do banho, ele se enfiou na cama com o corpo musculoso encostado nas minhas costas e um braço pesado sobre meu torso. Ouvi o ritmo regular de sua respiração enquanto olhava para o escuro. Gradualmente pegando no sono.
Acordo com um barulho, abro os olhos assustada procurando o real motivo, logo descobri que os barulhos estranhos que me acordaram vieram de Orrel, sento na cama olhando para ele que rolara para longe de mim durante o sono. Ele falava algo em sua língua materna, o sotaque russo forte, deixando sua voz grave e medonha.
— Orrel? — chamo baixinho.
Ele claramente estava tendo um pesadelo, mas eu deveria acordar o cara que dorme com um punhal debaixo do travesseiro? Ele gritou algo virando o corpo, ficando de costas sobre a cama batendo o braço no travesseiro poucos centímetros de mim.
— Orrel? — Estendo a mão, tocando de leve seu ombro.
Ele resmunga, vira seu rosto em minha direção, mas ainda totalmente adormecido. Ele pareceu se acalmar, a respiração voltando a um ritmo regular e pesado, os braços relaxaram. Orrel sussurrou novamente em russo, mas não havia dor ou raiva em sua voz.
Orrel
Nunca liguei para coisas cotidianas, como passar o dia em casa, digo dia normal, sem planejar quem amarrar, extorquir, enganar ou até mesmo sequestrar. Sempre disse que isso não era algo para mim, para a vida que estava tão bem acostumado a viver, mas foi bom ser recepcionado com cheiro de comida e ver Cora rebolando na cozinha ao som de “Imagine Dragons” , cantando em plenos pulmões, vestida apenas com minha camiseta e uma calcinha de renda.
Naquele momento eu não estava com tanta fome de comida, mas Cora tinha realmente se empenhado na cozinha. Passo meus braços em volta dela beijando a curva de seu pescoço.
— Espero que esteja bom.
— Estou faminto apenas por uma coisa.
Eu estava realmente tentando ficar longe dela, se estava preocupado em me aproximar demais? não sei dizer ao certo, mas isso não parecia uma real possibilidade tendo-a ali, tão disponível para as minhas mãos.
Escovo um fio de cabelo de seu rosto antes de me afastar, não era um gesto romântico, era mais como se precisasse me convencer de algo, algo necessário para tonar tangível tudo isso. Esses dias eu não estava sendo a pessoa que precisava ser, seria o certo eu tornar Cora tão miserável e quebrada como Alex queria, não o contrário, mas algo em mim tinha sido quebrado, e também não foi da maneira como Czar fez comigo quando moleque... era diferente.
Amor é uma noção tola. E perigosa, coisas horríveis foram feitas em nome do amor. Ou da ideia dele.
Ao me jogar na banqueta, vendo Cora zanzar pela minha cozinha, fiquei pensando se alguma vez já tinha sentido algo parecido. Pelos menos não recordava. Talvez tivesse amado minha mãe quando pequeno, tinha conseguido marcas por isso. Não poderia entender a ideia tola sobre doar-se para alguém, Kiran fazia isso, ele largou tudo que sempre foi importante para ele por causa de Adria. Não era algo que pudesse compreender.
Mas aquela mulher, Cora... Sentia algo, mas não sabia o que era. Como disse, não era de fácil entendimento.
Ela me fez querer tratá-la bem, ela me fez querer ser... ela me fez querer fazer tantas coisas que eu nem deveria pensar sobre isso. Cora era perigosa para mim, mas ainda assim parecia um mosquito atraído pelo seu cheiro. Uma mariposa atraída por sua luminosidade.
Cora sentou-se em minha frente abrindo a garrafa de cerveja alemã, torcendo um pouco o nariz para o cheiro.
— Você terá que provar para dizer que não aprecia.
— Claro. — Ela pega um copo virando um pouco da bebida, experimentando.
— Você parece distante. — Observo tomando um gole direto da garrafa.
— Hum
— Cora?
Ela ainda não tinha olhado para mim.
— Cora? — digo colocando força no meu tom e como esperado, sua cabeça ergueu-se. Seus olhos castanhos nadando em ansiedade. Apoio os cotovelos na ilha, imaginando que caminho seguir. — Você tem algo a me contar? Tenho que me preocupar em ter uma dor de barriga ao comer ou de você esconder alguma agulha venenosa atrás de você?
— Não, nada de agulhas ou caganeiras — diz rapidamente.
— Poderia levá-la para conhecer Munique.
Cora me encara surpresa. — Sério?
— Desde que não tente nenhuma artimanha. Ou terei que colocar uma tornozeleira em você.
— Você não faria isso.
— Não faz ideia do que sou capaz. — Desafio sorrindo.
— E quanto...
— Seu pai? Ele não precisa saber.
— Podemos ir agora? — pergunta, a excitação iluminando seu rosto.
— Que tal um beijo para me convencer?
Ela me surpreende, agarrando minha camisa, me puxando em direção a ela e pressionando sua boca contra a minha. Seu corpo fodidamente sexy inclinou-se contra mim, sua língua deslizando por minha boca. Não precisaria de mais incentivo, deixo a comida de lado agarrando sua bunda, espremendo entre meus dedos, saboreando nossas línguas dançando juntas.
Sem aviso ela recua, sorrindo de maneira triunfante me fazendo rosnar como um cachorro ao tirarem o prato de comida de sua frente.
— Você queria seu beijo, aqui está. Agora eu quero sair da sua pequena masmorra.
Megera!
Fazia frio quando deixamos o apartamento, estava quase quatro graus abaixo de zero em plena luz do dia, mesmo o sol estando presente e imponente no céu, não era um sinal real de conforto. Aperto o casaco pesado em volta do corpo, deixando minha arma no coldre subaxilar escondida, enfio minhas mãos nas luvas de couro.
— Teremos que comprar algo para você — digo, vendo o seu casaco fino em relação ao frio que fazia nas ruas. Os raios de sol que conseguiam atravessar o globo de frio que nos engolia, deixava a pele dourada de Cora ainda mais apetitosa.
Ela inclinava o rosto para cima, como se saboreasse o vento batendo em sua pele e os raios de luz.
— Certo, você gostaria de conhecer Munique, podemos dar uma volta de carro e depois paramos em algum lugar para providenciar uma roupa de verdade para você.
Ela parecia uma pequena criança debruçada na janela tentando absorver tudo, passamos pela praça central Marienplatz , onde Cora fez perguntas sobre cada edifício. Eu entendia seu fascínio, olhando para Munique, era realmente uma cidade encantadora.
— Está vendo aquela sacada? — pergunto — É da prefeitura, durante as tardes tocam música.
Paramos em algumas lojas, mas vejo o rosto de Cora vermelho devido ao frio, guio-a pelas ruas bonitas de Munique parando em frente a um restaurante que, como tradição, tem os tetos abobadados recobertos de pinturas e bancos longos, onde as pessoas estavam sentadas comendo e bebendo.
— Vamos tomar alguma coisa e comer.
Peço uma cerveja Spatebräu segurando o riso quando Cora faz uma pequena careta para o gosto forte e amargo da bebida. Assim como olha desconfiada para todas as comidas que pedi.
— O que acha de Munique? — questiono mais interessado em encará-la do que apreciar a comida em minha frente.
— Majestosa, mas sinto falta de Chicago.
Suspiro. — Vou pagar e iremos embora, está esfriando.
Cora para o que está fazendo olhando no fundo de meus olhos. — Você disse...
— Sim, outro dia faremos o passeio longo, existem castelos lindos espalhados pela Alemanha. — Digo, mas a empolgação que me movia tinha sumido por completo.
Não tirei os olhos por nenhum segundo enquanto estava longe de Cora, e agradeci mentalmente por ela não ter tentado sair em busca de uma fuga.
Paro ao seu lado enrolando meus dedos em seu braço, guiando-a para fora, seguindo para a ruazinha que havia deixado o carro estacionado.
— Obrigada por isso — diz com um sorriso.
Eu queria retribuir o sorriso, mas o homem encostado em um carro fumando um cigarro, fez com que eu apertasse o braço de Cora em advertência.
— Você não aprende com seus erros. — Krienth diz.
Ignoro tentando levar Cora para além dele, mas ele se afasta do carro, joga o cigarro no chão esmagando-o com o sapato. Sei que sua mão direita está enfiada propositalmente dentro de seu casaco por estar segurando a arma.
Krienth sorri maliciosamente.
— Entre no carro — ordeno no ouvido de Cora.
Ela me olha assustada, — Orrel...
— Faça a porra do que eu mandei!
— Você foi descuidado, mais uma vez agindo com a porra do pau, Baryshnikov. — Krienth diz cuspindo. — Irá ser uma delícia ver sua ruína diante do chefe. Ninguém contou que sua cabeça vale um prêmio?
Afasto-me de Cora, virando totalmente de frente para ele.
Mas foi a súbita movimentação dele que me fez agir com destreza, sacando minha arma do coldre, apontando-a diretamente para sua testa, da mesma forma que Krienth faz.
— Nunca aponte uma arma se não tem intenção de usá-la.
— Quem disse que não estou disposto a estourar seus miolos? — retrucou. — Ainda levaria essa bocetinha para casa. Alex estava certo quando desconfiou de você.
Avanço sobre ele ignorando sua arma apontada direto para minha cabeça, agarrando-o pelo pescoço e jogando-o no chão. Chuto suas costelas, inclinando para dar uma coronhada com a arma em seu rosto. Krienth geme, sangue sai de seu nariz e seu supercilio.
— Nunca mais volte a falar assim ou eu vou te estrangular com seu próprio saco, entendeu?
Krienth tosse.
— Entendeu, schwein 17 ?
— Sim.
Enxugo as mãos no casaco de Krienth tirando as manchas de sangue, antes de me virar para Cora.
Ela recua um passo quando tento me aproximar.
— Eu não vou ferir você, mas não significa que farei o mesmo com quem tente isso.
Sabia dos riscos de sair com Cora, sabia que Alex provavelmente teria colocado olhos por toda a cidade, mas queria vê-la sorrir, por uma maneira extremamente egoísta, mas eu queria. Por alguma razão, aquela garota significava algo para mim, nunca me importei com ninguém, apenas comigo, mas com Cora, não sabia ao certo o que estava acontecendo.
Eu não queria me importar com ela, minha vida seria melhor se eu não me importasse; se talvez ela não me odiasse tanto quanto eu suspeitava. Às vezes ela não parecia me odiar tanto quando estava perto de mim. Cora gostava de meu toque e do sexo e de meus beijos, era óbvio.
Algo me dizia que essa porra toda talvez não importasse tanto assim, eu a protegeria. Mesmo contra Alex. Mesmo que ela fugisse de mim.
CAPÍTULO DEZESSEIS
Cora Growl
É assim que realmente vai acabar?
É assim que diremos adeus?
Eu devia ter desconfiado quando você apareceu
Que você me faria chorar
- What Goes Around Comes Around, Justin Timberlake
Orrel estava muito quieto desde que tínhamos retornado ontem, ele tinha voltado a ser o Caronte, sua aura tão negra quanto o céu esta manhã.
— Quero sua atenção aqui — retumbou pressionando o polegar em meu clitóris, arrancando-me do emaranhado que eram meus pensamentos.
Orrel abandonou seu lugar entre minhas pernas, ficando de pé fora da cama, seu rosto sério, olhando-me de cima. — Toque-se.
— Toque-se — ordenou novamente.
Hesitei.
— Toque-se, como foi na primeira vez em que me viu assistindo. — Ele caminhou em torno da cama, nunca tirando os olhos dos meus, seu peitoral nu inflava a cada respiração pesada que dava, deixando seus músculos mais aparentes, a calça de moletom abaixo da cintura mostrando as raízes da árvore esculpida em seu abdômen.
Orrel voltou segurando meu pulso com firmeza, esfregando no meu centro úmido, cobrindo meus dedos com os dele, passando entre minhas dobras, a ponta de nossos dedos friccionando meu clitóris, deslizando por todo meu centro. Pulo na sensação estranha de nossos dedos esfregando meu anus, mas Orrel continuou segurando firme minha mão, deslizando os dedos para trás e para frente em ritmo lento.
Seus olhos encaravam os meus, ele guiou meu dedo para minha abertura, infiltrando-se junto com seus dedos, me fazendo arquear as costas na cama. A fome em seu olhar só aumentava meu desejo, Orrel foi estabelecendo um ritmo lento deslizando nossos dedos para fora e dentro.
Um meio sorriso brincou em seu rosto antes da máscara de seriedade engoli-lo por inteiro. Ele empurrou mais forte nossos dedos, sentia as paredes do meu sexo vibrarem em nossas mãos.
— Continue se tocando — ordenou saindo novamente de perto de mim.
Dessa vez não hesitei em seguir seu comando, desci minha outra mão pressionando dois dedos sobre meu clitóris. Gemi produzindo movimentos mais rápidos e urgentes.
— Não goze, Cora.
Vejo-o voltar para a cama trazendo uma cadeira e uma maleta preta. Como eu não tinha percebido que ele havia me abandonado tempo o suficiente para aparecer com isso?
— Fique de pé.
Saio da cama protestando.
— Venha aqui.
Dou um passo em sua direção, ele enlaça minha cintura com uma das mãos, puxando-me para si. — Quero que confie em mim.
Fito seu rosto.
Orrel segura mais forte meu corpo, sentando-se na cadeira e colocando-me em seu colo, a mão em volta de minha cintura nua, enquanto sua mão livre tateava meu corpo, passando pelo meu seio direito, pelo meu pescoço, pelo meu sexo.
— Relaxe e deixe-se se levar.
Confirmo com um pequeno gesto de cabeça.
— Feche seus olhos.
O tom de comando em sua voz fazia minha pele se arrepiar.
Seu pênis estava duro entre minhas coxas, completando a tortura que tudo aquilo estava sendo. Ele enterrou as mãos em meu cabelo, segurando meu rosto e pescoço exposto para ele.
A língua de Orrel invadiu minha boca, meu corpo pressionava o dele, meus seios esmagados contra seu peito, me remexo em seu colo, o quadril pressionando seu pênis. Ele se afasta bruscamente.
— Orrel?
— Quieta. Seja boa menina.
Um arrepio percorre meu corpo diante dessas palavras. Ele manteve o olhar em meu rosto, deslizando sua outra mão entre minhas coxas, usando o gesto para abri-las. Passa os dedos sobre meu sexo, separando a carne inchada, beliscando meu clitóris, puxando aquele pedaço de carne, ora massageando, ora apenas torturando meu corpo. Minha respiração foi ficando mais rápida e ofegante, meus lábios entreabertos.
Orrel sorria sombriamente a cada pequena barreira que quebrava sobre meu corpo, tendo minha completa rendição. Ele me virou sobre seu corpo, trazendo algo da maleta preta consigo, passando sobre minha bunda como pequenas caricias até se tornarem pequenos golpes com pressão suficiente para que pudesse jogar a cabeça para trás gemendo. Ele procurava em meu rosto qualquer sinal que aquilo me incomodava, mas era quando via apenas prazer que se tornava mais delicioso, Orrel bateu um pouco mais forte, minha pele ficou aquecida enquanto eu permanecia entregue.
— Bem-vinda ao que chamo de subespaço — diz mordendo o lóbulo de minha orelha.
Seu pênis se contorceu embaixo de mim quando bateu mais forte e a outra mão segurava bem firme a parte de trás do meu pescoço. Ele sabia entender as reações do meu corpo como se fosse continuação do seu próprio, existia dor no fundo de minha mente, mas mais que isso existia um profundo prazer em me entregar a ele.
Sabia que se encarasse meu rosto no espelho naquele exato momento veria minhas pupilas dilatadas e as maçãs do rosto coradas.
Ele levantou a mão batendo com mais força em minha nádega, fazendo-me assustar.
— Orrel...
Ele estava ficando incrivelmente selvagem.
— Orrel?
Ele parou. — O quê?
— Eu preciso... gozar.
Meus seios estavam esmagados contra as coxas dele, o pênis criava uma rígida barreira em um dos lados de meu corpo. Eu queria senti-lo dentro de mim, queria sentar e montar nele e tudo isso estava correndo a mil por hora em minha cabeça, deixando-me zonza de desejo.
— Por favor.
Ele dá uma risadinha antes de deslizar a mão entre minhas coxas. Curvo meu corpo contra aquela mão quando ele a pressiona ali, enquanto a outra ainda castiga minha bunda em chamas; o corpo transformando tudo no mais alto nível de prazer que meu corpo poderia suportar, os dedos de Orrel trabalhando em uma velocidade incrível contra meu sexo, o prazer expandindo-se sobre meu corpo, aquilo tudo era demais.
Com um movimento Orrel nos levou até a cama, colocando meu corpo no meio, arrancou sua calça vestindo uma camisinha sobre o pênis. O ar frio contra minha pele nua e judiada era como uma carícia.
— Você irá me foder agora? Porque eu preciso que faça isso.
Ele sorriu, acariciando o pênis rígido, da base até a ponta, me fazendo passar a língua pelos lábios. — Sim, irei foder você, bem forte.
Orrel não esperou por uma reação minha, agarrou minha cintura puxando-me para baixo, abrindo minhas pernas com os joelhos, enroscando-as em sua cintura, com a outra mão ele agarrou meus pulsos, puxando meus braços para cima da cabeça. Parecia que Orrel estava dançando, seu movimento de quadril o fazia enterrar-se no fundo de mim, o quadril indo e vindo com pequenos movimentos para cima e para baixo, meus olhos semicerraram com o desejo ondulando em mim, minha respiração como um suspiro desesperado.
Meu mamilo em sua boca era torturado assim como o resto de meu corpo, sugando intensamente usando os dentes para roçar aquele pedaço de carne, só para morder enviando uma onda de tesão diretamente para meu sexo.
Ele libertou meus braços quando impôs um ritmo mais forte, o corpo tensionado, ambos ofegantes e eu o chamei quando gozei, repetindo seu nome como um murmúrio ininterrupto.
Orrel gemeu alto, dando uma estocada profunda quando finalmente gozou, pulsando dentro de mim, ambos eram pura carne e suor.
Orrel
Cora estava esparramada na cama ao meu lado, seu peito subindo e descendo rapidamente, seus mamilos duros ainda mais rosados do que o habitual contra sua pele morena. Algumas gotas de suor desceram por seu estômago e eu tive que parar de lambê-los de sua pele.
Cora virou a cabeça, erguendo as sobrancelhas. — Há um olhar engraçado em seu rosto. Eu fiz algo errado? — duas manchas rosa apareceram em suas maçãs do rosto e eu me inclinei para frente, beijando sua testa. Não sabia por quê. Nunca tinha feito isso. Nunca tinha pensado em fazer. A testa não era um lugar muito interessante para um beijo.
Cora estava virando-me de cabeça para baixo, isso era certo. — Você não fez nada de errado.
Surpresa encheu o lindo rosto dela. Ela pôs uma mão em meu peito. Um pequeno gesto que também não fazia sentido. Talvez nem tudo tivesse sentido. Por um momento achei que ela fugiria apavorada com o sexo, achei que sairia horrorizada, mas Cora me surpreendeu como sempre, se entregou a mim, deixando que levasse seu corpo para além, deixou o monstro em mim sair para brincar, mesmo que tenha sido por apenas alguns instantes.
— Vou ajudá-la contra seu pai — digo soltando a respiração.
Cora se vira, encarando meu rosto. — Vai me deixar ir?
Aquela pergunta atingiu algo dentro de mim, mas eu não a queria como minha prisioneira, não estávamos em nenhum conto de fadas babaca, onde ela iria se apaixonar pelo príncipe que a prendeu.
Cora não tinha visto o pior de mim. Eu poderia ser fodidamente egoísta com a única coisa boa que ocorreu para mim? E ser o monstro que ela havia me acusado, somente para tê-la inteiramente para mim?
— Sim. — Respondo, agora não havia mais volta. Tomara minha decisão, poderia morrer por ela e mesmo assim valeria a pena. Soube assim que Krienth nos viu que logo os problemas chegariam como lama cobrindo nossos pés e nos afundando. — Eu vou ajudar você a sumir do mapa para seu pai.
O amor é uma fraqueza que um homem como eu não poderia ter. As palavras de Czar soaram fortes e claras nesse momento em meus pensamentos. Sempre revirei meus olhos quando ele proferia convencido que era um desperdício de tempo, já que ele havia feito um excelente trabalho comigo e com Kiran.
No entanto, a mulher nos meus braços tinha penetrado meus pensamentos, e pior, meu coração.
CAPÍTULO DEZESSETE
Cora Growl
— Deixe-me entender, — disse lentamente, querendo me certificar que não estava entendendo errado — você quer me ajudar, mesmo ainda trabalhando para ele?
Minha mente estava gritando para que eu me calasse, afinal, a mínima coisa poderia fazer Orrel mudar de ideia e me livrar finalmente desse pesadelo que estava passando. Mas eu precisava saber, estava começando a aceitar que por alguma razão, parte de mim sentia algo pelo homem em minha frente. E, no fundo, eu queria saber se ele também...
Apoio-me nos cotovelos procurando respostas em seu rosto.
— Não seria a primeira vez, — diz olhando para a cicatriz em seu abdômen — você extorquir, ameaçar, coagir alguém com culpa verdadeira é uma coisa, ele sequestrou você por um motivo, motivo esse que não posso dizer, porque não sei. A menos que você saiba o motivo e não esteja contando.
Os olhos negros de Orrel traçam meu rosto. — Eu não sei de nada, não estou escondendo nada.
Orrel assente. Ele corre um dedo pelo meu braço, em seguida de volta para cima novamente. — Ele não se importa com você, porém algo que você tem pode ser útil para ele. Eu a trouxe para cá, não deveria me meter em assuntos que não são meus, mas eu quero te ajudar, sei como é ficar em posse de alguém, ter sua vida roubada, viver apenas uma vida miserável. Quero que saia desta cidade, disso tudo. Eu nunca quis isso para mim, mas você, para você eu quero tudo.
— Obrigada — digo calmamente.
Isso foi esmagador em meu peito, difícil dizer algo a mais.
— O que vamos fazer? Como vou sair daqui, parece que Alex tem olhos em todos os lugares.
Orrel puxou a mão para longe de meu corpo, sua expressão ficando séria. — Tenho favores a cobrar.
Por um momento houve silêncio, então lentamente ele se retirou, sentando-se na beirada da cama, mas depois se levantando — Durma bem.
Porque Orrel sempre escapava por entre os dedos quando envolvia emoções? Será que ele não poderia aprender a lidar com elas? Talvez isso fosse estranho para ele, o passado de Orrel foi doloroso, isso eu sabia, mas não tinha ideia da profundidade das cicatrizes em sua alma, mas paixão era estranho para mim também, as coisas não precisavam ser assim para sempre. Orrel tinha me ensinado o que era paixão e o desejo enlouquecedor, e não me deu escolhas a não ser render-me a isso.
Talvez ele já tenha aprendido a lidar. Talvez. E talvez não fosse o suficiente.
Orrel
A brisa fria cortava minha pele no instante que a tocava. Senti isso de forma mais intensa assim que lambi os lábios, antes de dar mais um gole na bebida em meu copo. O celular descansando sobre minha coxa.
— Orrel. — A voz de rancor de meu primo me fez sorrir.
— Kiran, vim cobrar uma dívida.
— Já deixei claro que não estou mais trabalhando com isso, não quero saber dos seus problemas.
— Não estou te ligando no meio da noite por isso, como disse preciso cobrar uma divida antiga. Quando você me ligou implorando por uma salvação para sua mulher eu fiz.
— Você me fez matar um homem para seu chefe estamos quites.
— Exato, você matou um homem para Alex Bergstedt. Não para mim.
Escuto o suspiro pesado de Kiran do outro lado da linha.
— Não estou interessado em trabalho sujo.
— Preciso que mantenha uma pessoa em segurança, até que eu vá buscá-la.
— Orrel, o que você andou aprontando?
O riso escapa alto. — É a minha Adria.
O silêncio faz estática na ligação, até que Kiran retorna.
— Qual seu plano? Tem certeza disso?
— Estou tolamente encantado por ela. Alex a quer a todo custo, estarei mandando-a de trem, serão doze horas de viagem até Milano Lambrate, depois mais cinco horas até Corniglia, será mais seguro e menos rastreável dessa forma. Preciso que cuide dela, eu voltarei para buscá-la quando tudo tiver resolvido.
— Quando colocará em prática?
— Mando uma mensagem avisando, por enquanto estou analisando os movimentos por aqui.
Viro o resto de minha bebida, deixando o copo de lado. — E então, posso contar com você?
— Estarei esperando.
— Ótimo, entrarei em contato.
Alex mandou um breve recado durante os dias que se passaram, uma mensagem clara que ele estava ciente do meu envolvimento com Cora e queria um encontro, mas eu não arriscaria trazê-la para a luz, não iria em um encontro onde possivelmente ela poderia ser morta, nem mesmo eu garantindo ser bom no que faço, me faria comprar essa briga em questão. Porém, não deixo de confirmar, minha falta de resposta colocaria os homens de Alex em minha porta.
Envio uma mensagem codificada para Kiran com o horário e o dia que Cora estaria embarcando no trem rumo à Itália. Seria melhor agir o quanto antes.
— Não podemos esperar mais tempo, Alex está ciente de nosso envolvimento, marcou um encontro para que eu a entregue para ele. Sabemos que esse encontro é uma maneira sutil de mandar um recado dizendo que não sairei vivo de lá. Ele tem um grande apreço pela morte dos que considera seus inimigos.
Cora arregalou os olhos sentando-se ereta no sofá.
— Você embarcará rumo à Itália, Kiran irá buscá-la na estação, darei uma foto para reconhecê-lo, não confie em ninguém, não esqueça que não temos apenas seu pai querendo nossas cabeças e sim os homens de Vincenzo.
— O que Vincenzo quer tanto comigo? — perguntou assustada — Por que você não vem comigo? Porque irá me deixar sozinha com seu primo? Se alguém de Alex me perseguir...
Passo a mão por seu rosto segurando seu queixo, trazendo seus olhos para mim. — Você tentou me matar por duas vezes, sabe o que fazer se alguém persegui-la. Vincenzo quer vingança, ele não quer especificamente você, assim como também deseja colocar as mãos em Kyara, ele quer se vingar de seu pai, fazê-lo sentir o mesmo que sentiu ao perder tudo. — Observo seu rosto — você irá embora antes de me encontrar com Alex, eu não quero você na cidade enquanto estiver lidando com ele. Nós nos encontraremos em Cinque Terre.
— Eu não quero ir sem você, se algo der errado? E se esse tal de Kiran não puder me encontrar, e se ele não estiver lá? Eu posso te ajudar aqui.
Sustento seu olhar no meu. — Você não tem como me ajudar e não a quero aqui. Kiran é ótimo no que faz, melhor que eu, mas nunca diga isso na frente dele.
Eu via o medo nublando seu rosto, passo a mão por sua nuca, trazendo sua boca para mim, sugando carinhosamente o lábio inferior com os meus. — Eu prometi que iria te ajudar. Vou fazer isso por você, então talvez você possa...
— Possa? — ela sussurra, mas eu a silencio com um beijo, levando seu corpo ancorado ao meu para nosso quarto.
Seu olhar ficou meio vago quando pressionei meus dedos em sua pele, ela se movia contra minha ereção, balançando lentamente seu quadril, esfregando-se contra mim, cada vez mais quente, um fogo acesso dentro dela, queimando, deslizo a mão sobre seu cabelo puxando sua cabeça para trás, pressionando as palavras ásperas contra seu ouvido. — Você só irá gozar comigo dentro de você Cora, não antes.
Uma respiração instável escapou dela como um gemido carente pelo ângulo de sua cabeça. Xingo em russo, firmando o punho em seu cabelo. Puxo as taças do seu sutiã mostrando os seios, encarando seus olhos com intensidade. Capturo um mamilo em minha boca, lambendo e chupando rudemente, sentindo meu pau vibrar com seus movimentos de quadris e seus gemidos altos. Uno os dois seios no centro, mordiscando os dois, sugando os dois.
Os olhos de Cora se reviram, sua pulsação latejando em meu pau. Ela abre minha calça, puxando meu pau para fora, bombeando-o para cima e para baixo. Arranco suas mãos substituindo por seu quadril, afundo-a em mim, sentindo meu pau estocá-la bem no fundo.
Gemo e ela suspira. Seguro firme suas pernas, a ponta de meus dedos brinca com seu clitóris num movimento circular.
— Me foda, Cora!
Eu via o que uma ordem minha fazia com seu corpo, ela se desligava do mundo, apenas seguindo minha voz. Minha ordem, meu desejo. Ela se moveu lentamente, balançando o quadril num movimento circular, fazendo meu pau tocar em torno das paredes de seu sexo, esfregando o clitóris com mais força contra meu dedo.
Minhas mãos se moviam por todo seu corpo, agarrando sua espinha, arranhando sua bunda ao forçá-la para baixo, estocando meu pau dentro de si. Minha mão descia sobre sua bunda, batendo com força em uma das nádegas, mordia seu pescoço e sua garganta, chupava seus mamilos. Eu queria que ela guardasse isso em sua mente, eu estava em todas as partes, eu dominava seu corpo.
Gozei tão forte que arrastei Cora junto de mim, sua cabeça tombando contra meu peito, sua respiração falhada.
— Ty samaya krasivaya zhenschina kotoruyu ya kogda-libo videl — Você é a mulher mais linda que já vi.
— O que você disse?
— Estou cansado.
— Eu odiaria ser russa se preciso de tantas palavras para dizer isso.
Solto seu corpo, vendo-a se afastar em direção ao banheiro.
Passo a mão pelo cabelo, tentando me livrar da sensação de seu corpo no meu, tentando afastar os pensamentos obsessivos que me invadiam. Fique com ela, faça-a querer, ela precisar de você.
Eu não deveria ter transado com ela nesse momento, era como dar a um viciado sua droga preferida. Por mais que eu odiasse admitir, Cora não era para mim, ela era de alguém que não tinha esqueletos guardados no armário.
CAPÍTULO DEZOITO
Cora Growl
Estava me acostumando com os pesadelos, não meus, mas de Orrel, alguns eram apenas resmungos e palavras ditas em russo, outros eram ele se contorcendo e ofegante em seu sono. Eu nunca tentava acordá-lo, algo martelava em minha mente que ele não iria gostar de saber que ficava vulnerável. Era estranho vê-lo angustiado, seu rosto torcido de agonia. Eu nunca tinha considerado que algo poderia incomodá-lo tanto. Talvez ele fosse ainda mais humano do que eu pensava.
Acordei com o lado da cama dele frio e abandonado, mais uma coisa que havia virado costume, eram raros os dias que Orrel permanecia na cama comigo, mas eu o encontrei na cozinha, encostado na ilha com uma xícara de café, aquilo tudo estava virando uma pequena rotina.
— Bom dia — digo com um sorriso.
Orrel enche um pote com leite e açúcar, me passando o cereal. Sorrio, tocando em sua mão apoiada sobre a ilha. Como em silêncio, deixando que ele tome a atitude de falar comigo, sempre, todos os dias eram como o começo de tudo, como se Orrel precisasse de uns instantes para se acostumar com tudo que havia mudado.
— Eu tenho um pedido — Orrel diz calmamente.
Espero que ele continue, minha mente formando mil coisas que ele poderia querer ou que poderia fazer por ele.
— Tente não causar problemas com Kiran, ele não tem muita paciência. E se planeja sumir, até mesmo de mim, você terá oportunidade em uma das estações, prometo que não irei atrás de você se for isso que deseja.
Torço os lábios em uma careta.
— Tenho certeza que está ansiosa por essa oportunidade, sempre desejou isso.
Sim, no começo tudo que mais desejava era fincar uma de suas benditas facas no peito dele e fugir, para bem longe, em breve estaríamos longe, talvez fosse a última vez que estaríamos juntos, não sabia quais eram os planos de Orrel para quando nos separarmos. Era estranho pensar nisso, ainda mais estranho ficar triste com isso. Era tudo fodidamente confuso!
Examino seu rosto, eu não queria mais distância de Orrel, estendo a mão, pegando a sua entre meus dedos, as veias grossas e saltadas no dorso de sua mão seguindo até desaparecerem no braço musculoso...
— Acredito que poderia me encontrar em qualquer lugar do mundo — sussurro.
— Sim, poderia. — Seus olhos me sugaram, eles sempre me hipnotizavam, me deixando colada no lugar.
— O que sou para você?
Orrel franze o cenho.
— Diga, Orrel, o que sou para você?
O silêncio dele dizia tudo, seguro a respiração sentindo meus olhos queimando. Era apenas um negócio, um brinquedinho?
— Você é minha. — disse simplesmente antes de virar as costas, me deixando sozinha na cozinha.
Faltavam poucas horas para o sol despontar no horizonte e nenhum sinal de Orrel, quando acordei horas mais cedo para ir até o banheiro notei a quietude do apartamento, ele tinha sumido, assim como o capanga que ficava parado como uma parede de músculos na porta do apartamento ou perto dos elevadores, não estava mais lá. Por um instante, minha mente me inundou com pensamentos negativos, como: Será que ele desistiu de arriscar tudo para me tirar das garras de Alex? Ou ele tinha me entregado como um porco pronto para o abate, sendo por isso que tinha sumido e levado consigo o brutamonte?
Meu coração deu um salto quando a porta da frente se abriu, trazendo consigo o vento frio de fora e Orrel, seu rosto estava no mínimo maligno, seu olhar compenetrado.
— Temos que ir.
— Como assim, agora?
— Já, antes que seja tarde!
Pulo para fora do sofá seguindo-o até o quarto, Orrel abriu o armário com violência arrancando uma mala de viagem preta e uma bolsa de couro com alça.
— Nessa bolsa tem dinheiro e tudo que precisará para chegar até Kiran, ele está avisado e aguardando você, tem um telefone descartável apenas com dois números, meu e de Kiran. Se algo acontecer você pode ligar, não utilize para coisas fúteis, apenas caso de vida ou morte.
Ele ia despejando ordens e empurrando roupas de frio em cima de mim, enquanto ele próprio trocava suas roupas ou corria pelo quarto ajeitando os últimos detalhes.
— E o que você fará quando eu estiver longe?
— Cuidarei dos problemas.
Orrel estendeu o braço como se fosse puxar meu corpo para o seu, mas deixou o braço cair. Decepção encheu meu peito juntamente com o medo de tudo que estava acontecendo. — Vista-se, dentro da bolsa tem algumas peças de roupa, assim como uma injeção paralisante, espero que não utilize em mim, como disse, precaução para caso ocorra algum imprevisto. Pegue suas coisas, quero partir em vinte minutos.
Eu assenti sentindo-me trêmula.
Coloco as roupas que ele havia empurrado para mim antes de desaparecer pelo corredor, coloco também escova de dente e utensílios de higiene antes de fechar a mala e sair correndo do quarto. Orrel aguardava na porta. Eu queria dizer algo, mas minha boca estava seca.
— Vamos.
Quando saímos da garagem, uma sensação estranha de melancolia me domina, me fazendo olhar para trás. Não pela falta que o lugar me faria, com certeza Alemanha entrou na lista de países que não visitaria nem de graça, mas pela conexão completamente insana que tinha desenvolvido com Orrel ali. Não sabia como seria quando nos separássemos, não sabia se faria o que ele acusou, fugir para mais longe que pudesse de tudo, inclusive dele, algo dentro de mim dizia que eu e Orrel não funcionaríamos juntos, não erámos programados para ficarmos juntos.
Arrisquei uma olhada para o homem ao meu lado, suas mãos com veias saltadas seguravam firme o volante, o zumbido baixo do motor em alta velocidade era todo o barulho dentro do carro, além de nossas respirações. Quase cinco meses atrás, estávamos exatamente assim, naquela época eu estava odiando-o com todas as forças, achava que minha vida tinha se acabado, planejava matá-lo quando virasse as costas. Ele era um lacaio, um monstro de estimação de Alex.
E agora... ele já não era tão monstruoso, havia um lado humano nele.
Orrel estacionou com uma freada brusca em frente da majestosa estação de trem, rapidamente saltando do carro, abrindo a porta do passageiro para mim.
— Temos que ser rápidos e o mais discreto que pudermos, coloque o gorro de seu casaco sobre a cabeça e tente não encarar as pessoas. Não seria nada difícil seu pai mandar German ou qualquer um de seus capangas pegar as fitas de filmagem do lugar. Ou terem nos seguido até aqui.
Olho assustada ao nosso redor, seguindo Orrel pela plataforma em passos apressados, seguindo sua ordem de andar com a cabeça meio baixa, algumas pessoas já embarcavam no trem que ele havia apontado como o meu. Orrel apertou os lábios ao me encarar, parado ao lado do trem. Ele apertou um botão ao lado da porta, abrindo-a para mim.
— Você precisa ir — Orrel diz desconfortável, olhando para as pessoas em volta que passavam ou aguardavam para entrar no trem.
— Orrel...
— Ande, Cora, você precisa ir. — Ordenou — Nos vemos em Cinque.
Não soube dizer se isso era uma pergunta ou uma afirmação, mas a confirmação com um gesto foi automática, assim como eu pular para fora no trem, agarrando seu pescoço e o máximo de seu corpo que conseguisse, trazendo sua boca para minha. Eu precisava daquele beijo, eu precisava da sua língua enroscando-se na minha, nem que fosse pela última vez!
CAPÍTULO DEZENOVE
Orrel
Queria muitas coisas durante a vida, coisas que nunca quis antes. Acima de tudo, queria dizer para Cora no momento que se afastou de mim subindo no trem que não queria perdê-la. E, que pela primeira vez na vida estava com receio de não ter mais tempo com ela e ao mesmo tempo de ter que vê-la me deixando no momento que nos reencontrarmos.
Cora sempre seria um mistério para mim, provavelmente seria para sempre, mas não importava. De qualquer maneira ela fez o que ninguém conseguiu.
— O que a puta fez para embrulhar você em torno dos dedos? Acreditei que apenas dinheiro pudesse te manipular.
Senti primeiro a arma encostar no final das minhas costas, antes mesmo da voz perto de meu ouvido.
— Tenha cuidado — advirto olhando para o trem se afastando em alta velocidade.
— Ela vale a pena perder tudo? Mas podemos fazer uma negociação interessante. Se você conseguir o que desejo e no final matar Cora.
Sorrio amargamente. — Teria sido mais fácil matá-la em Chicago, pouparia mais tempo.
— Poderia, mas nada seria melhor do que matar a filha de Vincenzo na frente dele. Não faça essa cara de surpresa, — diz encarando meu rosto — Cora é filha de Vincenzo, ele antes de se rebelar era um parceiro muito lucrável, conheci Mariza durante uma de minhas viagens para a Espanha, o resto você pode imaginar, deixei Vincenzo cuidando de Mariza quando retornei para minha esposa e filha.
Alex dizia tudo isso com tranquilidade, como se não tivesse com uma arma destravada no final da minha coluna ou como se não tivesse falando da traição dupla que sofreu.
Alex ri. — Por isso imagine minha indignação ao descobrir que Cora, a bastardinha que sempre tive que esconder de minha esposa não é minha filha? Poderia ter me poupado milhares de euros em viagens e tentativas irritantes de escondê-la. Como digo, ela não vale a pena.
— Senhor, o trem para em Milano Lambrate. — German anunciou, enfiando o celular no bolso.
Lanço um olhar para eles. — Ela vale mais do que você.
— Eu devia ter matado você quando fodeu a boceta de Kyara, German leve-o, teremos um dia interessante, mande homens atrás de Cora.
— Sim, senhor.
German parou em um estacionamento deserto, o açougue fechado e com aparência de abandono era apenas uma fachada para o que acontecia no subsolo. Alex saltou do carro, assim como German, que me arrastou para fora do assento traseiro.
— Está na hora de nos livrarmos do müll 18 , German.
Atravessamos a loja, descendo pela escada auxiliar, onde German me jogou na cadeira, amarrando minhas mãos com um pedaço de corda, torcendo meus punhos para trás.
— Para onde ela está indo?
Sorrio. — Não vou te contar.
Alex retribuiu meu sorriso — Ah, você vai!
O que Alex Bergstedt não sabia era que eu havia sido treinado pelo próprio Diabo, e quando o soco que ele havia acabado de me dar acertou no meio da mandíbula, não fez nenhum efeito.
— Podemos voltar como erámos, só dizer para onde você mandou Cora, você é esperto, não a largaria no meio da Itália. Deve ter algum buraco para escondê-la.
O segundo soco acertou bem no meio do meu estômago. Assim como o terceiro e o quarto.
Minha boca tinha gosto de sangue e meu corpo começava a ficar dolorido.
Alex pegou de German meu punhal, olhando com admiração. Chegando mais perto de mim, — Sempre admirei muito sua habilidade com facas, me diga, se eu cortar aqui, — diz apontando para o músculo do trapézio — o que aconteceria?
Encaro respirando profundamente.
Alex torceu os lábios enfiando a ponta do punhal sobre minha ferida cicatrizada do tiro que tomei por Cora, me fazendo ranger os dentes ao segurar o urro de dor que queria sair.
— Responda!
— Possivelmente eu perderia grande parte dos movimentos do ombro — falo com um ranger de dentes.
Alex sorri passando a lâmina do punhal sobre o músculo, ela entra em minha carne dividindo-a como se fosse papel, nesse momento eu poderia saber exatamente o que cada um dos homens em que utilizei esse punhal sentia com a lâmina afiada. Ele desce a lâmina até o músculo do peitoral, parando o punhal em horizontal sobre mim.
— E aqui? Estou curioso.
— Se você errar o corte irá atingir a veia cefálica, o sangue jorrará mais intensamente.
Alex deu uma grande gargalhada batendo palmas, — Viu, German, é por isso que tinha Orrel como aliado, ele conhece os pontos mais divertidos do corpo humano, e sempre é bom termos um açougueiro em nossa folha de pagamento.
German continuou apontando a arma em direção ao meu rosto em silêncio.
— Mas não queremos acabar com a diversão. Diga-me, Orrel. Onde está escondendo aquela prostituta?
— Quando eu sair daqui você vai ter mais buracos que uma peneira e irá engolir a própria língua.
Alex enfia a ponta do punhal sobre o peitoral, descendo em horizontal, em direção ao meu braço esquerdo. O grito escapa de minha garganta, misturado à raiva que consumia meu corpo.
— Diga, Orrel, o que acontece com esse corte?
— Idi trakhni sebya 19 !
— German, continue brincando com nosso amigo, irei ver se temos alguma informação de Krienth. Ele está ansioso para colocar as mãos naquela prostituta, você deixou meu homem com muita raiva, Orrel. Agora ele irá descontar tudo naquela bocetinha.
German aceitou o punhal que Alex passou, deixando-o que saísse com o baque alto da porta de metal batendo atrás de si.
— Você sabe que irá morrer, e eu não quero isso. Você tem sua família.
— Cale a boca! — gritou acertando um soco em meu rosto.
O sangue escorreu da minha boca, o gosto metálico revestindo meus lábios mais uma vez.
— Pobre Eileen, imagine como seria o desespero dela ao saber que German não passa de um saco pobre no meio de alguma vala pela Alemanha. Você acredita mesmo que Alex tem algum apreço por você? É capaz de jogar sua mulher e filha pequena num bordel qualquer. Para caras como Nikolai e Krienth fodê-las depois.
German desce a lâmina do punhal com força sobre meu abdômen, fazendo o sangue jorrar do corte que fez. Minha mandíbula apertou, consegui atingir o ponto cego de German e quando ele parte para cima de mim enfurecido, cego pelo seu ponto fraco que era sua família, dou um chute em sua mão fazendo o punhal voar longe, entrelaçando minhas pernas em sua cintura, ajoelhando seu corpo no chão, uma de minhas pernas segura seu pescoço no lugar enquanto o outro joelho pressiona sua traqueia aplicando pressão. German se debate no meio de minhas pernas, tentando sair, mas sinto sua resistência aos poucos deixar o corpo. Até que cai no chão.
— Eu realmente lamento — digo, segundos antes de forçar a cadeira para trás, fazendo a madeira ceder e se quebrar com meu peso, livro meus braços da corda, fazendo uma pequena massagem onde a corda fez mais pressão.
O rosto surpreso de Alex ao abrir a porta e me ver completamente livre e com seu fiel capanga estirado em meus pés, faz um sorriso maléfico banhar meu rosto.
— Alex! — grito vendo-o sair correndo, meu sangue bombeou mais rápido, eu sabia que era para matar e Alex pagaria com sangue, a dor em meu corpo era algo que eu tinha treinado para não sentir, sabia que se quisesse ir o mais rápido possível atrás de Cora, eu precisaria cuidar desses cortes. Mas no momento eu só queria dar a Alex o que ele merecia.
— Eu poderia dizer que estou decepcionado com você, ninguém nunca te ensinou que nunca devemos dar uma lição em alguém que teve como professor o diabo? Você acreditou mesmo que apenas um homem poderia me deter?
Escuto barulho de coisas caindo.
Giro meu punhal entre meus dedos, limpando os vestígios de sangue em minha blusa puída, manchada pelo meu sangue e rasgada pelos cortes que fizeram. Voltando para minha perseguição.
Alex poderia ser um cara conhecido no mercado negro como cruel, mas de fato quem sempre comandou suas crueldades era eu, seus capangas tinham o trabalho de limpar as merdas deixadas para trás. Por isso, ele não passava de um covarde, e o fato de estar correndo pela loja, escondendo-se entre as coisas não me surpreendeu.
Alex estava quase chegando à porta, e eu não queria arrastar isso para o lado de fora, onde poderia ter pessoas e atrair atenção da polícia alemã. Seguro na ponta do punhal mirando nas costas de Alex. Ela entra na quarta vertebra da coluna, fazendo-o cair.
— DESGRAÇADO! — gritou levando a mão para as costas tentando alcançar o punhal em suas costas.
—Você nunca deve levar um monstro para brincar se não puder controlá-lo.
Miro a arma que peguei do corpo de German, diretamente em sua cabeça, meu pé direto sobre o final das suas costas prendendo-o contra o chão.
— Mesmo que você corra para sua vadia, Krienth já pode ter posto as mãos nela, e estar tão fodida, que nem seu nome saberá mais.
Agacho perto de seu rosto, olhando no fundo de seus olhos — Poderia dizer para você rezar para que isso não aconteça, mas você vai morrer agora, então não tenho porque ameaçá-lo depois. Nos reencontramos no inferno!
Aperto o gatilho vendo os olhos arregalados de Alex se fixarem, petrificado assim que os últimos suspiros saem de sua boca. Retiro o celular que vibra em um dos bolsos de Alex, ficando de pé ao atender, fico em silêncio encarando o corpo inerte sob meus pés.
— Chefe, perdemos a garota, alguns homens de Vincenzo nos seguiram, mas despistamos. Nos encontramos no local marcado? Chefe? Chefe?
Desligo a ligação deixando o celular cair no chão pisando-o em cima da tela, terminando-o de destruí-lo. Eles não encontraram Cora, ela estava a salvo.
CAPÍTULO VINTE
Cora Growl
Fazia doze horas que tinha deixado Alemanha para trás, a paisagem do lado de fora do trem não me surpreendia mais, na verdade, me irritava. Meus pensamentos não saíam de Orrel, mil perguntas inundavam meu cérebro me deixando inquieta e cansada.
A parada em Milano Lambrate seria de dez minutos, o que me deixava ansiosa e com medo, mesmo tendo verificado mais de cinco vezes nos últimos cinco minutos se não havia nenhuma notícia dele. Orrel não tinha enviado uma mensagem, nem mesmo ligado. A vontade de ligar era tamanha, mas ele deixou bem claro que era apenas em uma emergência. Estávamos quase deixando a estação quando dois homens, uns vinte metros mais longe, chamaram minha atenção na plataforma, um dele tinha um grande hematoma espalhado pelo rosto, mas assim que me viram encarando trocaram algumas palavras correndo em direção ao trem que começava a partir.
Meu coração batia forte entre minhas costelas, os batimentos eram como cavalos trotando bem no meu ouvido, pego minhas coisas indo para o banheiro, troco de roupa, principalmente de casaco, prendendo meus cabelos em um rabo no alto da cabeça, sentando-me quase no fundo do trem.
Não sabia se eles haviam conseguido embarcar, mas mesmo assim fiz questão de trocar de lugar e deixar a seringa que Orrel tinha posto na bolsa, no alcance das mãos.
Foram mais de dezessete horas dentro de um trem, meu corpo estava dolorido, minha cabeça latejava pela falta de sono. Quando o trem parou na última estação, me vi colada em meu lugar, a foto do tal de Kiran estava na bolsa, para que pudesse reconhecê-lo no meio da multidão que desembarcava pegando suas malas e cortejando quem os aguardava.
Movimentei-me lentamente, mantendo uma das mãos enfiadas na bolsa segurando firmemente a seringa e a outra com a foto. Meu coração batia forte quando desembarquei na plataforma, girando ao olhar ao meu redor. O frio da noite fazia minha respiração sair entrecortada, assim como uma neblina tomar o chão.
Um homem alto saiu detrás de um dos pilares, ele era alto e muito mais musculoso que Orrel, seu cabelo era preto e não havia tatuagens visíveis. Olho rapidamente a foto entre meus dedos confirmando que esse é realmente Kiran.
Eu estava muito cansada para sentir medo dele, o medo viria depois, pelo que eu sabia, Kiran era amigo de Orrel, ou o que eles tinham um com o outro, portanto, eu não morreria neste momento.
Eu sentia falta de Orrel, mais do que pensava ser possível.
— Sou a Cora, Orrel me mandou.
— Sei bem quem você é. — Ele me interrompeu.
Não parecia nada contente em ter-me ali.
— Você foi seguida? — questiona esquadrinhando a plataforma, encarando as poucas pessoas que haviam ficado ali depois do trem partir.
— Na estação de Milano, mas ao que parece eles não entraram no trem.
— Orrel deveria estar aqui, irei te levar para o local seguro. — diz virando-se.
— Como assim? Onde Orrel está? Ele... — o resto da pergunta morreu em minha língua. Meu peito espremido com essa informação.
— Não sabemos e não podemos ficar aqui.
Mesmo durante a noite eu era capaz de admirar aquele pequeno paraíso margeado por montanha e o oceano. Era fácil dizer que a primeira vista Cinque Terre era muito parecida com a Grécia, as casas padronizadas em cores vivas, as ruas estreitas, as escadarias, as subidas intermináveis, além das curvas estavam me deixando ainda mais zonza dentro do carro. Mas ao parar em frente a uma casa de três andares entendi por que esse Kiran tinha escolhido esse lugar para morar. A vista do mar e toda sua imensidão transcorriam para longe, assim como a vista de toda a cidade acessa lá embaixo. O segundo, assim como o terceiro andar da casa, tinham uma imensa varanda, fico por alguns segundo pensando como seria acordar todos os dias, abrir as portas de vidro e dar de cara com essa paisagem.
A porta da frente se abriu trazendo minha atenção de volta para a realidade, uma linda mulher com cabelos morenos e grávida saiu com uma expressão de alívio.
— Estava ficando preocupada — diz encarando Kiran, ficou óbvio pelo olhar que ele lhe lançou que ela tinha poderes sobre ele.
O sorriso acolhedor que me lançou atingiu diretamente meu estômago. Talvez Orrel realmente quisesse me manter a salvo.
— Sou a Adria — diz estendendo a mão para mim.
— Cora — digo com um sorriso.
— Fico contente que tenha dado tudo certo, mas não era para Orrel estar com vocês? — questiona olhando para além de nós.
— Entrarei e verificarei o que houve. — Kiran soou novamente sem paciência. — Espero que não me arrependa em trazer os problemas dele para cá.
Adria lançou um olhar reprovador, fazendo Kiran passar gentilmente a mão sobre a protuberância em sua barriga, sumindo para dentro de casa logo em seguida.
— Obrigada, por tudo.
Ela sorriu — Seja bem-vinda. Não ligue para Kiran, ele apenas quer proteção pra nós e a ligação de Orrel realmente foi algo inusitado.
— Claro, eu entendo.
— Vou lhe mostrar onde poderá ficar.
CAPÍTULO VINTE E UM
Cora Growl
— ...Não sabemos o que Orrel pretende com isso, foi uma loucura deixar essa garota perto de nós, perto de vocês!
Respiro fundo abrindo a porta em uma pequena fresta, para ouvir melhor o que Kiran dizia.
— Kiran. Não podíamos virar as costas para ela, você percebeu a cara de pânico que ela chegou?
— Não confio plenamente em Orrel. Ele deveria ter chego aqui antes dela, então, seja lá qual merda está metido, trará isso para cá!
Escuto Adria falando algo em russo para ele e o silêncio reinar novamente.
Eu não tinha intenção de confrontar Kiran novamente, por isso permaneci trancada no quarto, me encolhendo no meio da cama, pensando em Orrel. Não tinha dormido muito bem na noite anterior, tinha sonhado com a morte de Orrel, um pesadelo mais terrível que o outro. Queria saber o que tinha acontecido, porque ele não atendia minhas ligações e por que não estava aqui, a lembrança do nosso último momento junto queimava na minha mente.
Orrel
Minha boca estava seca, minha respiração acelerada.
— Veja quem eu trouxe — os homens colocaram o menino sentado em uma cadeira, amarrando as mãos dele para trás. — Ele vai se tornar um homem quando terminarmos.
O homem sorria tão abertamente, tão feliz e maldoso ao mesmo tempo, que meu estômago dolorido se contraiu ainda mais de medo.
Aquele maldito monstro se aproximou do menino, o corpo pequeno tremia na cadeira, mas eu não podia fazer nada. Olhando para mim com seus olhos vibrantes pela maldade, ele foi para trás da cadeira, puxando o saco da cabeça da criança, me fazendo tremer quando me vi lá.
A risada alta e escandalosa de Czar chegou aos meus ouvidos, os xingamentos em nossa língua materna enchendo meus ouvidos, o homem que estava perto do menino sorriu concordando com algo que foi dito para ele. Exibindo com alegria o punhal que hoje era meu, banhado em sangue, sangue do pequeno eu, os olhos do menino que um dia foi vidrado de pânico, dou um berro, mas não saiu som nenhum e eu, finalmente, acordei.
Minha testa estava molhada de suor. Ergui o braço livre, limpando o rosto, respirando fundo. Meu corpo doía consideravelmente, os pontos que tinha dado em mim mesmo estavam doloridos em volta, dificultando o simples ato de levantar da cama.
Mas eu precisava encontrar Cora, não sabia se Kiran havia conseguido reconhecê-la na plataforma de trem ou se ela tinha seguido meu conselho e sumido para sempre de mim também.
Cora Growl
— Orrel irá aparecer.
Viro o rosto encarando Adria sentar ao meu lado na ampla varanda que se abria para a sala, o sol não tinha nascido por completo, o que dava uma linda paisagem para se admirar dali.
— Você o ama.
— Não é tão simples — digo.
— Por quê? Se você ama realmente, tudo tem um jeito.
— Ele me sequestrou, me manteve em cativeiro presa em seu apartamento e depois tinha os beijos, aquela mão e o sexo... — olho para ela, vendo um sorriso sincero pintar em seu rosto. — Desculpe. Ele roubou tudo, inclusive meu coração.
— Kiran também fez o mesmo...
— Você foi sequestrada? — pergunto em pânico, ela estava grávida, meu Deus, onde estava me enfiando?
— Calma, eu era uma agente do FBI, entrei em uma missão para resgatar mulheres, conheci Kiran poucos dias antes de me aprofundar na missão assumindo meu codinome. Então, descobri que ele era filho do mandante de tudo, no início foi um choque, maior ainda ao me ver completamente apaixonada por um cara longe de tudo que eu acreditava ser certo e errado. — diz dando de ombros.
— Posso ver o quanto ele te ama, é nítido — comento.
— Nem todos os amores são feitos no preto e branco, existem os cinzentos. Eu amo as duas partes de Kiran, a boa e a ruim.
Suspiro olhando para a paisagem, absorvendo tudo que Adria tinha me contado.
— Nunca vi Orrel dever um favor para Kiran, quando o tio dele foi morto perdemos o contato, Orrel sofreu demais, assim como Kiran. Não digo que as coisas que fizeram foram corretas, mas você não pode achar que uma árvore torta não dará lindos frutos. Maluco, né? — pergunta vendo minha expressão.
— Um pouco.
— Aposto que ele te ama, Kiran não iria acreditar em Orrel e defender você se desconfiasse minimamente. Ele pode ter suas desconfianças, mas Kiran mais do que ninguém sabe o que o amor pode fazer com uma pessoa.
Assenti, mas não conseguia dizer mais nada, eu precisava caminhar um pouco, esclarecer a mente por alguns minutos.
Voltei de minha caminhada por Cinque Terre, entrando na casa de Kiran e Adria em silêncio, quando ouvi a conversa vindo do outro lado da casa. Eu conhecia aquela voz. Durantes todas essas noites eu a ouvia em meus sonhos. Ando apressada em direção à conversa e não parei até vê-lo em pé na beirada da varanda. Meu coração batia forte. E ali estava ele, sombrio e ferido, eu sabia, mesmo sem encará-lo de frente, seu corpo estava meio curvado como se sentisse dor por estar em pé.
Kiran e Orrel viraram no mesmo instante vendo-me parada ali, os olhos de Orrel se fixaram em mim perfurando minha alma, fazia apenas quatro dias que tínhamos nos despedido na estação de trem. Onde ele esteve por esses dias, por que não havia dado nenhum sinal que estava vivo? Sentia raiva por isso, mas agora ele estava ali, parado em minha frente, podia ver a pequena atadura saindo sobre a gola de sua camisa, como suspeitava, e tudo que me questionava era se teríamos um futuro juntos. Nunca conversamos sobre isso, eu tinha sido dele não por escolha, mas por algo além da razão. E agora, com ele ali, indicando que estava livre, me perguntava se uma coisa dessas poderia funcionar.
Um segundo apenas antes de ver o escudo que Orrel sustentava sobre si tomando conta de sua expressão, ele também tinha as mesmas dúvidas estampadas no rosto.
— Você não fugiu — ele disse simplesmente.
— E você não morreu.
Ele sorriu, tentando endireitar a postura. — Sou difícil de matar.
Noto Kiran e Adria nos observando no canto da sala.
— Alex...
— Está morto, ele não será um problema para você, você está livre para seguir sua vida, fui bom o bastante para sumir com todos os seus rastros, ninguém sabe que você ainda está viva.
Orrel
— Você se importa com ela. — Não foi uma pergunta.
— Como nunca me importei tanto com alguém antes. — Soltei o ar dos pulmões, sentindo-me exausto.
— Eu te entendo. Não consigo nem imaginar como me sentiria se algo acontecesse com Adria. — Kiran diz.
Estávamos lado a lado, ambos com as mãos nos bolsos das calças, encarando o oceano sumindo no horizonte.
— Eu não achava que você seria capaz de entender como é amar outra pessoa a ponto de querer trocar de lugar com ela.
— O que isso faz de nós, Kiran? O que isso quer dizer sobre mim? É egoísta de minha parte querer mantê-la para mim. Agora não posso mais obrigá-la?
— Isso tudo te torna humano, Orrel. Você terá que deixar na mão do destino, terá que descobrir se o que vocês viveram nesses meses foi forte o suficiente para que sintam vontade de algo mais, de seguir uma vida juntos.
Eu era um assassino, torturador, um monstro.
A compreensão que ela poderia não ficar comigo era como um soco em meu estômago, doía mais do que a ideia de ser perfurado com meu punhal. Eu gostava da sua proximidade atrevida, do seu toque. Mas não queria ter Cora como uma posse, queria que ela desejasse ficar comigo. Era insuportável pensar que ela poderia dizer não, retornar para sua antiga vida, encontrar um cara bobalhão que fosse legal para ela, que nunca tenha enfiado uma seringa paralisante em seu pescoço.
Ainda era difícil assimilar todas as emoções, e isso não mudaria, eu acredito. Era mais fácil viver sem algo que você nunca teve, que nunca provou. Eu poderia esquecê-la, sim e faria isso, seria o melhor...
Mas tudo desmoronou quando Cora apareceu, percebi que estava tentando me enganar se acreditava que poderia esquecer Cora nem que fosse por um segundo.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Cora Growl
— Não há motivos para você ficar comigo. Você pode ir se desejar.
Essas palavras me magoaram. Empino o nariz encarando seu rosto. — Então prefere que eu vá?
— Essa é a última coisa que quero.
A brisa gélida que vinha do oceano fazia os cabelos de Orrel balançar, ele desviava seus olhos do meu, fixando nas luzes de Cinque Terre ao longe. — Então me diga o que quer!
Adria estava correta sobre uma coisa: Orrel tinha partes ruins, muitas até. Anos pesando sobre seus ombros, uma infância ruim e a vida seguiu o mesmo curso. Não tentava me enganar que isso sumiria para sempre ou que de certa forma poderia ser controlado, era tudo um jogo de adivinhação, em todos esses meses foi isso, um jogo do qual eu senti prazer, ódio e amor ao jogá-lo com Orrel. E isso era algo que eu precisava aceitar.
Ficar ao seu lado esperando que a fera se transforme era assumir o fracasso, eu não poderia ficar com ele esperando apenas pela mudança. Os olhos de Orrel deixaram de admirar a paisagem para me encarar.
— Uma vez você disse que não tinha medo de nada — desafio.
Um pequeno sorriso zombeteiro aparece em seus lábios. Ele eliminou a distância que havia entre nós, prensando minhas costas na mureta da varanda. — Quero que fique comigo, quero que você me queira.
— Quero você. Quero ficar com você.
Orrel olhou fixamente.
Ele passou uma mão pelo rosto. — Eu não sou bom com palavras.
—Talvez você só precise tentar.
Vi a determinação surgir em seu rosto. — Isso entre nós me assusta. Minhas emoções me assustam, e não são muitas coisas hoje em dia que me botam medo. Eu desisti de esperar por algo bom há muito tempo. Acostumei-me com o que me foi dado em todos esses anos, me acostumei com o pior, pois convivia com isso todos os dias. Mas quando você apareceu em frente àquela galeria em Chicago, percebi de repente o tipo de vida que tinha levado em todos esses anos, meses antes vim ao casamento de meu primo e não entendia como ele poderia abrir mão de tudo, jogar tudo para o lado por Adria... E enquanto eu estava lutando contra os homens de Alex, percebi o quanto eu gostava de estar com você, de ter alguém para conversar, compartilhar refeições com você, até mesmo de aturá-la e até mesmo compartilhar uma cama com você. Eu nunca pensei que poderia gostar desse tipo de coisa, nunca pensei que poderia precisar de algo assim, mas agora... — Ele para, a incerteza voltando. — Agora estou com medo pra caralho de perder tudo isso, de te perder. Eu nunca soube que precisava de você, mas agora não posso imaginar ter que ficar sem você. Eu... eu te amo, Cora.
Nunca pensei que ouviria essas palavras de Orrel, toco seu coração e sua bochecha.
— E eu amo você.
Adria tinha razão. Eu precisava fazer uma escolha. E eu escolhi o amor, insano, mas o amor.
Ele sorriu francamente. Ainda me surpreendia como um sorriso mudava seu rosto irritado. Ele se inclinou me beijando, depois se afastou alguns centímetros.
— Quero que tenhamos um novo começo.
— E eu aceito esse novo começo, mas quem sabe com o mesmo sexo de antes — Respondo rindo.
Ele envolve seus braços em torno de mim e me segura com força.
— Minha diaba safada das trevas — murmura contra meu cabelo. — Sei que não mereço você, mas irei merecer cada parte, cada pequeno suspiro de você...
“Pensei em desistir, meu bem.
Mas meu coração não aceitará.
Todo mundo merece um novo começo
de vez em quando”
A. K. Raimundi
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