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Há uma terra dourada e verde no sul, uma terra cálida cuja superfície se converte em branco espelho de areia fina que cintila quando os raios do sol acariciam sua superfície. É uma terra povoada de homens e mulheres que sabem e narram as mais maravilhosas lendas que se pode imaginar. É a terra da África, o continente negro, cujos ancestrais legaram a seus povoadores a riqueza de antigas e sábias lendas, o modo com que hão de adorar os objetos de madeira, de marfim, de ferro..., e como convertê-los em fetiches protetores.
É a terra onde, por exemplo, e segundo a tradição da tribo dos dogon, o deus Sol criou os primeiros seres humanos; ou, tal como assegura a tradição dos basari, onde habitam, desde tempos imemoriáveis, os povos desnudos da África. Se trata, então, de um grande território paradisíaco, um lugar onde as máscaras sagradas, lavradas com detalhe e delicadeza, simbolizam o nascimento de todas as criaturas e as origens do mundo. É, em resumo, a terra dos bruxos, feiticeiros, adivinhos, magos e curadores que convocam os espíritos bons e lhe falam com gestos e palavras mediante rituais, onde o baile, a dança e os cânticos purificadores têm a virtude de afastar os maus espíritos para que o povo esteja protegido e viva livre do temor do futuro incerto.
Na parte sul desta terra luminosa está a região do Kus, habitada pelos homens e mulheres kusitas, rica em ouro e marfim e em outros minerais valiosos. Daí que o oficio de ferreiro fosse respeitado e invejado desde tempos remotos, já que aqueles que o praticavam tinham a consideração dos artesãos criadores. Todos os que conheciam e dominavam a técnica de forjar o ferro e o trabalho com materiais, como o estanho, se agrupavam para formar castas, grémios ou sociedades de maneira que, assim, sua sabedoria perdurava através dos séculos.
É, também, a terra das forças poderosas, onde se encontram as figuras de duas cabeças, parecidas com o deus Jano, a deidade que guardava as portas e que, segundo a mitologia clássica romana, como tinha duas cabeças, podia olhar nas duas direções ao mesmo tempo.
Aqui, nessa terra, as estrelas, as luminárias Sol e Lua, as fontes e as montanhas são sagradas; os rios, as árvores, os animais e os mares são sagrados; toda a natureza é sagrada. Por todo lado surgem fetiches, ídolos, amuletos, talismãs, magos, bruxos e feiticeiros que adivinham o porvir. As lendas primitivas da parte meridional da África estão carregadas de animismo, de maneira que seus povoadores adoram, em primeiro lugar, as árvores pois as associam com seus antepassados. Outro tanto ocorria com os animais, já que se pensava que os mortos apareciam para os vivos em forma de animal. A morte não devia ser lembrada, já que era tabu, algo que não devia se mencionar. Daí que, quando alguém morria; todos abandonavam o lugar onde se encontrava o cadáver pois, deste modo, não lhes alcançaria a mesma desgraça acontecida ao morto.
Alguns dos grupos populacionais se estabeleceram na Costa do Marfim, como os denominados lobis. Por sua parte, os chamados sombas ocuparam a região de Togo. E as terras da Nigéria se viram povoadas por tribos de angus e fabis, todos os grupos enumerados foram conformando as grandes zonas étnicas da África. Mas também nos territórios desérticos e nas zonas equatoriais se foram assentando povoações de diversos contextos étnicos, como os mandingas e os bambara. Mesmo assim, os yoruba, resultado da união dos hausa e dos ibos, iriam se assentando pela zona da Nigéria até constituir-se na massa de maior população de todo o continente africano.
As distintas tribos assinaladas, mantinham entre si uma clara diferenciação social, o mesmo ocorria no terreno político ou religioso. A autonomia estava garantida, assim como os costumes milenares de cada tribo e sua idiossincrasia própria. A variedade de crenças, de histórias, de lendas e mitos, que confluem nas povoações mencionadas, faz com que o continente africano se mostre muito interessante.
A tudo isto há que somar-lhe que foi em Núbia — território situado no fértil e maravilhoso vale do rio Nilo — onde teve origem uma das primeiras civilizações do continente africano, que recebeu precisamente o nome de civilização dos núbios, poiém lio em dia quase toda a região e território sudanês, que provinha, provavelmente da Ásia, ja que a cor da sua pele era muno similar a dos povoadore deste continente e, durante um milénio, manteve todo seu esplendor.
Muitos povos africanos contam, também, com numerosas lendas para explicar a origem da espécie e têm elaborado misteriosos mitos sobre a criação do primeiro homem e da primeira mulher. A narração dos acontecimentos está cheia de inventivas e fantasias: houve um tempo em que o ser superior Mulukú -nas povoações centro-africanas, a deidade suprema era conhecida com o nome de Woka- se propôs fazer brotar da própria terra, o primeiro casal do qual todos descendemos.
Mulukú, que dominava o ofício da plantação, ou, melhor dito, era um exímio plantador, fez dois buracos no solo. De um surgiu uma mulher, do outro nasceu um homem. Ambos gozavam da simpatia e do carinho de seu criador que, em consequência, decidiu ensinar-lhes tudo que era relativo à terra e seu cultivo. Os proveu ademais, de ferramentas para cavar e amolecer o solo e para cortar e podar as árvores secas, e também para cravar estacas. Pôs em suas mãos sementes de milho para semear na terra; enfim, lhes mostrou a maneira de viverem por si mesmos, sem terem que depender de nenhuma outra criatura.
Porém, conta a lenda que o primeiro casal da espécie humana desatendeu os conselhos das deidades e que seus dois componentes, um homem e uma mulher, abandonaram as terras, as quais terminaram convertendo-se em terras inúteis e desérticas.
E assim, o primeiro casal consumou sua desobediência, pelo que seu criador os transformou em macacos. A lenda narra que Mulukú embravecido, arrancou o rabo dos macacos para colocá-lo nos humanos. Ao mesmo tempo ordenou que os macacos fossem humanos e os humanos fossem macacos, e depositou nos macacos, sua confiança, enquanto a retirava dos humanos. E disse aos macacos: "Sedes humanos". E disse aos humanos: "Sedes macacos".
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