Menu | Biblio VT |
Segundo a lenda e os mitos dos povos da ancestral civilização chinesa, a deidade principal, criadora do mundo e de todo o existente, recebia o tratamento de Venerável e era o rei dos humanos e dos deuses. O Venerável governava sobre o Céu e a Terra, e era considerado como um deus principal, de maneira que seu nome completo encerrava todos os atributos, razão pela qual devia ser chamado de Venerável Celeste de Origem Primeiro. O mito narra que já há passado uma eternidade desde que o Venerável Celeste se retirou para meditar em sua serena morada e que, desde então, seus três discípulos, os Três Puros, que também são deuses, governam o mundo.
Mas, dentre esta tríade de deuses, o Venerável Celeste escolheu um como sucessor, o senhor do Céu, chamado Venerável Celeste da Aurora, para que realizasse a tarefa de ordenar e governar todo o Universo.
Assim pois, o Senhor do Céu é o segundo dos deuses e para ajudar-lhe na tarefa de governar o mundo contava com outras deidades semelhantes a ele.
Assim, entra em cena o Segundo Senhor, um deus ao qual recorriam com frequência os humanos mortais, e que chegou a ser muito popular porque em invocado para afastar os maus espíritos e sempre conseguia afastá-los e fazê-los fugir. Para expulsar os maus espíritos, o Segundo Senhor enviava contra eles o Cachorro Celeste com o objetivo de os perseguir sem descanso e com furor até que fugissem para o mais longe possível, e assim não pudessem assustar os humanos.
Dentro do grupo de deuses de segunda ordem havia também deidades femininas, às quais acudiam muitos jovens para pedir conselhos antes do casamento, pois tinham o dom da profecia e eram consultadas com frequência, já que podiam predizer se o futuro matrimónio seria estável ou se, pelo contrário, não duraria nem alguns meses e, conseqúentemente, não deveria celebrar-se, pois a posterior ruptura e separação causaria grande desassossego, agravo e tristeza tanto ao homem como à mulher.
Da mesma forma que para a vida cotidiana tinham estabelecido hierarquia e níveis sociais diversos, os homens e mulheres do antigo povo chinês também consideravam os deuses segundo a hierarquia que ocupavam e a importância que tinham. Assim, os deuses da segunda categoria, ou deidades menores, tinham a missão de ajudar o Senhor do Céu; e os homens e mulheres que tinham se causado grandes danos entre si, deviam pedir perdão ao deus que tinha a capacidade de perdoar as faltas graves, pois só assim ficariam purificados para sempre.
O deus que perdoava as faltas graves se chamava Ti-kuam, e todos o chamavam de Agente da Terra pois,
segundo a crença mais divulgada, era uma das deidades que formavam a tríade sagrada junto com o Agente da Água e o Agente do Céu. Assim pois, sempre que se invocava o deus apropriado, os desejos dos homens e mulheres se cumpriam e suas necessidades ficavam satisfeitas.
Os mesmos deuses velavam para que a vida cotidiana dos humanos transcorresse sem sobressaltos, já que custodiavam e protegiam seus lares, suas ruas e seus campos. A imagem do Deus do Lar, representado por um ancião de barba branca, presidia o recoleto e artesanal altar interior de cada casa. O mesmo sucedia com o chamado Deus da Porta, cuja função e incumbência era receber as almas dos mortais e conduzi-las até o lugar onde seriam julgadas.
Uma vez atravessada a primeira porta do mundo das sombras, a alma se encontrava diante do deus dos Muros e Fossos, que se ocupava de julgá-la, mesmo que de maneira muito benigna. Não obstante, o interrogatório durava quase cinquenta dias, passados os quais a alma podia prosseguir o caminho traçado pela deidade que lhe havia julgado, até chegar ao seu novo lar, isto é, ao fim da viagem.
Mas também podia ocorrer que o deus dos Muros e Fossos aplicasse uma condena à alma que tinha diante dele, em cujo caso, ela poderia ser azotada ou amarrada à uma tábua com os braços, os pés e o pescoço presos com uma corda. Mas, se lhe era permitido seguir adiante, a alma tinha que comparecer diante da presença do Rei Yama, um juiz que lhe interrogaria novamente para saber se, durante o tempo em que esteve no mundo dos vivos, fez mal a alguém ou, se pelo contrário, atuou de maneira bondosa e compassiva com seus semelhantes.
Se a alma é inocente, o Rei Yama a enviará a um dos paraísos chineses que se encontram na Grande Montanha, ao lugar legendário onde gozará de liberdade e felicidade porque lateja em toda parte a presença do Buda; se trata, portanto, de um sítio maravilhoso que se chama também, Terra da Grande Felicidade do Ocidente.
Mas, se a alma causou dano físico ou moral, torturou o corpo, a mente ou o espírito de qualquer de seus semelhantes e, em consequência, é declarada culpada pelo Rei Yama, então será jogada às profundezas insondáveis do obscuro abismo do mundo das sombras. Deste sinistro local, só poderá sair se reencarnar em animal, em cujo caso sofrerá e sentirá uma grande dor quando lhe maltratarem, baterem ou sacrificarem, já que a alma sempre conservará a sensibilidade humana original. Ao atravessar o décimo inferno, caminho do lugar onde se acha a Roda das Transmigrações, as almas tinham que beber a água do Manancial do Esquecimento, que estava misturada com uma poção preparada pela deusa que vigiava as portas de saída do mundo subterrâneo.
Logo que a alma bebia do Manancial do Esquecimento já lhe era permitido seguir adiante, posto que a poção que as águas continham, atuava de forma a atrofiar a memória, de maneira que, a partir de então, já não podia recordar nada do quanto havia lhe sucedido, nem reconhecer o caminho de volta para os lugares onde havia estado reclusa.
O melhor da literatura para todos os gostos e idades
LENDAS & MITOS