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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


LETTERS TO MOLLY / Devney Perry
LETTERS TO MOLLY / Devney Perry

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

Biblio VT

 

 

 

 

Molly Alcott não esperava abrir sua caixa de correio em uma manhã de verão e encontrar uma velha carta enfiada entre as contas e um panfleto de supermercado. Escrita com letra familiar, datada de mais de quinze anos, a carta foi escrita para Molly depois de seu primeiro encontro com o homem que ela nunca esquecerá.
Semana após semana, novas cartas apareceram. Cada uma delas marca um evento na história de seu épico caso de amor. Cada uma cura uma ferida. Cada uma detém a confissão do homem que ainda possui o coração de Molly.
As cartas estão cheias de promessas, esperança e amor, mas, verdade seja dita, Molly deseja poder não ler todas elas.
Porque o homem que escreveu estas cartas não é quem as envia.

 


 


PRÓLOGO

FINN

— SENHORITA? — Eu chamei a atenção da garçonete enquanto ela passava pela nossa cabine. — Me traz outra cerveja?

— É para já. — Ela sorriu e saiu correndo enquanto eu tomava o resto da minha primeira Bud Light.

Beber era necessário quando minha irmã estava sentada do outro lado da cabine, beijando esse novo cara que ela estava namorando. Jamie. Não havia nada mais desconfortável do que assistir sua irmãzinha beijar um homem de língua.

Olhei por cima do ombro, procurando no restaurante lotado a nossa garçonete. Se a noite fosse assim, eu precisava pedir mais duas cervejas em vez de uma. A garçonete havia desaparecido. Droga.

—Então, Jamie. — Eu me forcei a dizer o nome dele bem quando voltei para a cabine. —Poppy me disse que você é de um rancho por aqui.

Ele e Poppy se separaram - obrigado, porra - quando ele acenou para mim. —Sim. Da uns quarenta e cinco minutos daqui. Vocês deveriam vir comigo um dia desses.

Jamie esticou o braço para trás e apoiou na parte de trás da cabine. E lá estava o sorriso idiota. Claramente Jamie estava tão apaixonado por Poppy quanto ela por ele.

Inclinei a garrafa de cerveja nos meus lábios, franzindo a testa quando me lembrei que estava vazia. Quando a coloquei na mesa, analisei Jamie pelo canto do olho.

Ele era dois anos mais novo do que eu, mas igualmente musculoso, provavelmente de crescer trabalhando em um rancho. Ele usava o cabelo muito longo e muito desgrenhado. Sua camisa xadrez verde-e-branca, estava desabotoada demais. E o cara estava usando chinelos em setembro.

Apesar de sua estranha mistura entre surfista e cowboy, Poppy estava apaixonada. Ela já tinha saído com ele três vezes. Não era muito? Mas parecia muito.

Quando ela me convidou esta noite para conhecer Jamie e sua nova colega de quarto e comermos hambúrgueres, não tive escolha a não ser dizer sim. Poppy já estava muito envolvida, e eu tinha que saber com que tipo de cara ela estava saindo.

— Você é veterano? — Jamie perguntou. Acho que ele não tinha esquecido completamente que eu também estava na cabine.

— Sim. — Balancei a cabeça. — Paisagismo. O que você está estudando?

— Pedagogia. Acho que trabalhar até os sessenta e cinco anos será muito mais divertido se eu andar com crianças o dia todo. — Ele lançou um sorriso amplo e branco a Poppy. Então eu ele pegou o canudo fechado na mesa e tirou o papel.

Com um giro dos dedos, ele enrolou o papel. Eu sabia antes que ele terminasse que ia parar dentro do canudo.

Ele carregou a bola, sorriu para mim e pôs a ponta vazia em seus lábios. Então ele mirou. Um sopro forte e a bola de papel foi voando em direção ao nariz de Poppy.

—Jamie! — Ela empurrou o canudo enquanto ambos riam.

Esse cara era um idiota. Não é de admirar que ele quisesse estar perto de crianças o dia todo. Ele se encaixaria bem.

Só o conheci há um minuto, mas já o classifico como o palhaço da turma. O cara que faz piadas e divertido. O cara que faria um barulho de peido só para aliviar um humor sombrio. Ele é o cara que tem sempre um sorriso no rosto e faz com que todo mundo também sorria.

Eu gostei disso por Poppy.

O que significava que teria que me acostumar com eles se beijando.

Poppy precisa de um pouco de diversão. Ela tinha ido para o Alasca no verão para morar com nossos pais. Trabalhou duro por três meses e economizou dinheiro para o próximo ano letivo, o que significava que não havia muita diversão.

Se eu levasse uma luz negra para a testa de Jamie, tenho certeza que acharia a palavra divertido escrita em tinta invisível.

— Onde está essa nova colega de quarto? — Perguntei a Poppy, esperando manter a boca ocupada com a conversa, em vez de ... Jamie!

— Ela ligou e disse que estava atrasada. — Poppy checou seu telefone. — Isso foi a cerca de quinze minutos, então ela provavelmente estará aqui em breve.

— Qual é o nome dela, de novo?

— Molly — ela e Jamie disseram em uníssono, depois sorriram um para o outro.

—E eu não a conheci antes? — Conheci alguns amigos de Poppy, mas não me lembro de uma Molly.

— Não. Ela morava nos dormitórios mistos no ano passado.

Nossa garçonete passou pela mesa com uma bandeja de água, mas gaguejou quando ela me viu. —Oh, droga. Esqueci sua cerveja. Me dê alguns minutos.

—Quer saber? Tudo bem. — Levantei a mão, já saindo da cabine. —Eu vou ao bar e pego uma. — Ou duas. Talvez três.

—Você tem certeza? — Ela perguntou.

—Sim. Sem problema. Vocês querem alguma coisa? — Perguntei a Poppy e Jamie, mas já era tarde demais. Nos dez segundos que parei de observá-los, eles voltaram a sussurrar no ouvido um do outro e já tinham me esquecido.

Afastei-me da mesa, dando o tempo necessário ao feliz casal. Além de vê-los tentar se relacionar em público hoje à noite, eu também teria que ser simpático com a colega de quarto.

Poppy me garantiu que ela não tinha arranjado nenhum encontro duplo às cegas. Era só jantar e uma chance de conhecer Jamie e Molly antes de ficar muito ocupado com meus dois últimos semestres da faculdade.

Embora mesmo com carga pesada das aulas e o trabalho de meio período à noite e fins de semana, tive a sensação de que veria muito Jamie.

Eu tinha que admitir, ele não era um cara mau. O toque constante era irritante, mas pela minha intuição eu sabia que Jamie não estava nisso por uma transa fácil. Ele gostava dela.

Apoiei meus cotovelos no bar e sinalizei para o barman. — Bud Light.

Ele veio e conferiu minha identidade, depois foi para o refrigerador pegar minha cerveja. Deixei um pouco de dinheiro no bar, tomei um gole saudável da long neck e, sem pressa, comecei a voltar para nossa cabine no canto mais distante do restaurante.

Mesmo de longe, pude ver Poppy e Jamie olhando um para o outro. Ela nunca tinha sido assim com um cara antes. Uma pontada de possessividade de irmão mais velho bateu forte. Eu não queria pensar nela como uma mulher adulta. Eu não queria que ela encontrasse um homem que assumisse as coisas que eu fazia para ela, como trocar o óleo do carro ou comprar comida chinesa nas noites de domingo. Queria que ela continuasse minha irmãzinha.

Mas, ao mesmo tempo, queria que ela encontrasse um cara decente. Um que eu não quisesse de dar um soco no dia do casamento deles.

— Oh, merda, — uma mulher amaldiçoou quando uma camada de cerveja gelada cobriu minha mão. — Sinto muito.

— Não tem problema. — Troquei minha cerveja para a outra mão e limpei a molhada no meu jeans. Então olhei para a mulher que bateu no meu braço.

Minha boca ficou seca.

Emoldurado por cachos morenos havia um rosto tão estonteante que eu não sabia onde olhar. Seus olhos castanhos brilhavam, suas manchas douradas combinando com o brilho de sua sombra. Sua pele era como porcelana, impecável e clara, exceto pelo rosado rubor de suas bochechas.

Seus lábios estavam pintados de um pêssego pálido. Sua delicada e suave cor era doce, um forte contraste com aqueles cachos de chocolate que caíam por seus ombros. Esses cachos gritavam sexo. Eles imploraram para serem torcidos em volta dos meus dedos. Para ser espalhado pelo meu travesseiro.

—Você é Finn, não é? O irmão de Poppy?

Eu forcei meus olhos longe de seu cabelo. — Uh-huh. — Suave, idiota.

— Eu sou Molly. — Ela estendeu a mão, pegando a minha e mantendo o aperto de mão para nós dois.

Essa era a colega de quarto? Sim. A mulher dos meus sonhos era a colega de quarto da minha irmã. Foda-me

— Você não tem sardas também—, disse ela, estudando meu rosto.

Não, não tenho. Poppy e eu temos cabelos ruivos, os meus um tom mais perto de castanho do que o dela que era cobre. Nós herdamos de nossa mãe, mas não recebemos suas sardas. Nada disso eu poderia dizer porque tinha esquecido como falar.

Tomei um gole da minha cerveja enquanto Molly olhava ao redor do restaurante. Engoli tudo, lembrando que eu era um veterano na faculdade, não mudo. E definitivamente melhor que isso com mulheres.

— Estamos lá atrás—, eu disse, apontando para onde Poppy e Jamie estavam sentados - e se beijando novamente.

Molly os viu e gemeu. — Esses dois são melosos. Almocei com eles ontem e tive que jogar um nugget de frango na cabeça de Jamie antes mesmo que ele percebesse que eu estava lá.

Eu ri. — Poppy não teve muitos namorados no ensino médio. Essa coisa toda de PDA1 é nova para mim. Não vou mentir, não gosto disso.

— Eu não sou muito de PDA. Chame-me de antiquada, mas prefiro receber uma carta sincera ao invés de ficar me agarrando em um restaurante durante os dias da semana.

— Uma carta? Acho que o máximo que já escrevi para uma mulher foi uma pergunta em uma nota melosa. Isso conta?

Ela riu, o som melódico roubando minha respiração. — Não, uma nota não conta.

Meu olhar vagou de volta para o cabelo dela, seguindo os espirais sedosos da curva de seu peito até a concha de sua orelha. Eu realmente queria tocá-lo. Seria estranho tocá-lo? Sim.

— Com licença — A garçonete passou por mim com outra bandeja carregada.

— Desculpe. — Fui em direção a uma mesa alta vazia, e saí do corredor. Poppy estava tão focada em seu novo namorado que nem notou a chegada de Molly. — Não estou com pressa de voltar para a cabine do beijo. Quer se sentar? Você pode me ensinar sobre todos os outros costumes antiquados que faltam nos rituais de namoro de hoje.

—Como dormir junto só que de roupa. E o apelido do animal de estimação querido. Não querida, — ela demorou. — Eu odeio querida. Mas querida é bastante encantador, você não acha?

—É.— Sorri, puxando a cadeira, depois fui para a minha.

Molly olhou por cima do ombro, dispensando Poppy e Jamie pela última vez. Quando ela se virou para mim e sorriu, todo o restaurante desapareceu. — Esses dois nem sabem que estamos aqui.

— Que dois?


Um

MOLLY

 

QUINZE ANOS DEPOIS.....


—Casada, solteira ou divorciada? — Perguntou o vendedor, com o dedo posicionado acima do mouse, pronto para clicar na caixa de seleção apropriada na tela.

— Divorciada. — Mesmo depois de seis anos, essa palavra ainda parecia estranha na minha língua.

Por que eles precisavam mesmo fazer essa pergunta? Cada pedido de empréstimo, formulário de voluntariado do PTA2 e questionário da igreja queria saber o seu estado civil. Eu ia começar a verificar a caixa única. Qual é a diferença? Eu ia comprar esse carro. O fato de ter um ex-marido não faz diferença, porque eu, e somente eu não tinha a intenção de deixar de pagar.

— Endereço?

Falei meu endereço, número de telefone e número da previdência social, conforme solicitado, e depois de cem cliques, o vendedor finalmente desviou os olhos da tela.

— Ok, acho que estamos prontos. Deixe-me chamar o cara do financiamento aqui e podemos repassar os termos.

— Ótimo. — Fiquei sentada quando ele saiu do escritório. Quando ele saiu, verifiquei o relógio do meu telefone.

Já estava aqui há duas horas, fazendo test-drive, depois negociando o preço do novo Jeep Rubicon que eu estava comprando. Ainda tinha uma hora e meia antes de chegar em casa para encontrar as crianças, mas isso já tinha demorado mais do que eu esperava. Estava ansiosa para chegar em casa com essa surpresa.

Kali e Max não tinham ideia de que eu ia comprar um carro novo e iam pirar quando vissem o Jeep no lugar da nossa minivan.

Max odiava a minivan porque o DVD do banco de trás havia parado há um mês. Como a maioria dos garotos de oito anos, ele achava que qualquer viagem de mais de vinte minutos era uma tortura sem algo para se assistir. Não apenas o Jeep prestes a ser meu, equipado com aros cromados e janelas fumê, cada uma das crianças teria seus próprios central de entretenimento.

Kali não considerava a TV uma necessidade como seu irmão mais novo, mas tinha acabado de completar dez anos e estava se aproximando da idade em que garotas más achavam seus traços desagradáveis e tudo e qualquer coisa poderia causar constrangimento debilitante - como a minivan que eu estava negociando hoje. Amanhã eu ia chegar na escola com novas rodas, o que certamente me dariam pontos de mãe legal.

Eu estava ficando fraca ultimamente. O pai deles era o legal, não eu. Minhas áreas de excelência foram lavanderia, limpeza e importunar até o dever de casa ser feito e legumes serem comidos. Mas pelo menos agora eu teria um veículo moderno.

— Ok, Sra. Alcott. — O vendedor voltou para seu escritório com um homem mais jovem seguindo atrás, uma pilha de papéis em sua mão. — Vamos só examinar os termos do financiamento, assinar alguns documentos e estará pronto. Os caras da loja vão encher o tanque e fazer uma limpeza rápida. Você estará liberada daqui a trinta minutos.

Eu sorri. — Perfeito.

Uma hora depois, sentei no banco de couro preto do motorista e agarrei o volante, respirando fundo o cheiro do meu novo Jeep. Não era um carro novinho em folha. Eu era uma divorciada com uma hipoteca e duas crianças que estavam constantemente superando seus Nikes. Eu não podia me dar ao luxo de ser novinho em folha. Mas eu podia comprar um modelo brilhante de três anos de idade, com poucos quilômetros e dezoito meses sobrando da garantia do carro.

—Oh meu Deus, eu amo esse carro. — Com um grito alegre, ajustei o assento e os espelhos, em seguida, coloquei-o em movimento e saí do estacionamento. A excitação correu em minhas veias, e lutei para ficar abaixo do limite de velocidade enquanto dirigia pela cidade. O nervosismo não se acalmou até que eu estacionei na minha garagem.

Quando saí para inspecionar a tinta preta reluzente, escondi meu sorriso com uma mão. Este Jeep não era apenas legal, era foda e muito melhor do que a minivan branca que deixei para trás.

Meu olhar vagou para a garagem onde a minivan ficava e uma pontada de tristeza bateu. Nós a apelidamos de Beluga e ela foi meu fiel corcel por anos. Ela levou as crianças ao futebol e eu para o trabalho. Ela cuidou de centenas de Cheetos esquecidos e Snacks fruits3. Ela ficou para mim depois do divórcio, quando desabei no volante e soltei rios de lágrimas antes de colocar um rosto feliz para mostrar ao mundo.

Eu ia sentir falta de Beluga. Ela era um dos últimos artefatos restantes dos meus dias de casada.

A maioria das relíquias do meu casamento fracassado havia sido substituída nos últimos seis anos. A mobília da sala que Finn e eu havíamos comprado juntos foi primeiro depois que Kali derramou suco de uva no estofamento e a mancha aumentou. Em seguida foi o telhado e a lateral da casa depois de uma chuva de granizo severa. A casa bege que compramos agora era branca com venezianas pretas e telhado de zinco. Fotos foram tiradas. Memorias de mobília foram guardadas em caixas e escondida no sótão.

E agora Beluga também foi embora.

Foi o melhor. Isso é o que eu tenho me lembrado nestes últimos seis anos. Eu estava mais feliz agora do que durante o último ano do meu casamento. Assim como Finn. E também as crianças.

Foi o melhor.

Sorri de novo para o Jeep, em seguida, fui para varanda da frente. Meu gramado era exuberante verde e amplo. O ideal era cortá-la hoje, mas duvido que de tempo, então a tarefa foi adicionada à minha interminável lista de fim de semana. Ainda bem que amanhã é sexta-feira, então não preciso acrescentar muito mais.

Assim que Kali completasse doze anos, Finn prometeu ensiná-la a cortar a grama em troca de dinheiro extra. Cortar a grama era um dever que eu mal podia esperar para delegar às crianças. Ficaria feliz em limpar, cozinhar e lavar roupas por cem anos, se isso significasse nunca mais andar atrás do meu cortador de grama novamente.

Cortei grama o suficiente para a vida inteira.

Depois de Finn se formar na faculdade, ele foi trabalhar em uma empresa de paisagismo local, mas seu sonho sempre foi abrir o seu próprio negócio. No ano em que nos casamos, ele começou seu negócio. O nosso negócio.

Durante as duas primeiras temporadas da Alcott Landscaping, eu era a cortadora de grama número um. Enquanto o Finn fazia todas as coisas de paisagismo, desde as licitações até o projeto, o plantio, o dinheiro e qualquer outra coisa que tivesse que ser feita, eu administrava o serviço de corte. Nessa época passávamos a macarrão enlatado e salsicha empanada até que Finn construiu sua reputação. Três garotos da faculdade e eu cortei centenas de gramados, até que finalmente consegui me afastar completamente do corte e administrar o escritório.

Quando tivemos Kali, dei mais um passo para trás e trabalhei meio expediente. Quando Max chegou, fazia sentido que eu ficasse em casa período integral. Finn assumiu todos os aspectos da gestão de Alcott e eu me desliguei.

O único gramado que aparava nos dias de hoje era o meu. Mesmo o cheiro de grama recém-cortada e a perspectiva de um bronzeado não me deixavam animada para aquela tarefa.

Entrei e larguei minha bolsa no banco da entrada. Rodeei a cozinha, e quando olhei pela janela da pia para quintal da frente, suspirei. Eu precisava cortar de noite. Era inevitável. A primavera estava cheia de manhãs e tardes ensolaradas. Se eu não fizesse isso logo, estaria enfrentando uma selva.

Finn e eu compramos esta casa no ano em que Max nasceu. Nós quisemos um lugar espaçoso agradável em uma vizinhança amigável. A Alcott tornou-se uma das maiores empresas de paisagismo do Vale Gallatin, por isso, nos presenteamos com uma casa moderna e o melhor lote na rua sem saída.

Então Finn enlouqueceu com nosso paisagismo. Este lugar tinha sido seu local de teste, o quintal onde ele experimentava novos arbustos ou árvores para ver como eles cresciam antes de usá-los para os clientes. Havia uma fonte no quintal. Canteiros de flores dentro de canteiros de flores. Foi bonito. A inveja de todos os meus vizinhos.

E um pesadelo de manutenção.

Finn criara esse intrincado espetáculo que me obrigava a passar horas recortando e aparando. Passei mais tempo cuidando, do que realmente apreciando as flores.

E eu era muito econômica para gastar meu salário de mãe trabalhadora para contratar um jardineiro ou cortar a grama. Eu não tinha ajuda profissional quando fui casada com o rei dos cuidados com o gramado de Bozeman.

— Odeio meu quintal.

A campainha tocou, me puxando para longe da janela. Corri para a porta da frente. Meu vizinho Gavin acenou através do vidro.

— Hei. — Abri a porta com um sorriso.

— Olá. Eu vi você em seu novo carro. Tive que vir e conferir.

— Não é divertido? — Eu saí, me juntando a ele na varanda larga e coberta que envolvia toda a minha casa.

— Carro muito elegante, Molly. Gavin enfiou as mãos no short enquanto descia os degraus da varanda e inspecionava a grama. —Quer que eu corte para você?

Eu realmente queria dizer sim. — Não, tudo bem. Obrigado.

— Tem certeza? Eu não me importaria.

— Tenho certeza. É a única maneira de manter um bronzeado.

Gavin se ofereceu para cortar a grama uma dúzia de vezes desde que ele se mudou para a casa ao lado, dois verões atrás, mas eu nunca aceitei. Principalmente porque era uma tarefa muito chata. Eu queria continuar com a amizade, caso eu precisasse de um favor de vizinho.

Mas a outra razão pela qual recusei sua ajuda foi porque Gavin não tinha jeito para cortar a grama. Fiz uma careta para os pontos carecas em sua grama e as pilhas aleatórias de cobertura morta. Dois anos e ele ainda não havia descoberto as configurações corretas de altura da lâmina.

Eu não gostava de cortar, mas eu era boa nisso. Melhor que a maioria.

— OK. Bem, é uma oferta permanente. Gavin me deu um sorriso e meu coração acelerou.

Ele era bonito, com um bom cavanhaque e manchas prateadas no cabelo castanho. Ele era um pai solteiro que trabalhava em casa, cinco anos mais velho que meus trinta e cinco. Seu escritório ficava em frente ao meu, e nas raras ocasiões em que eu estava sentada em minha mesa enquanto ele estava na sua, ele acenava.

Nós estávamos passando mais tempo um com o outro nesta primavera. Suas gêmeas eram dois anos mais velhas que Kali, mas mesmo com a diferença de idade, todo mundo se dava bem. Enquanto as crianças brincavam juntas no parque ou pulavam no trampolim, Gavin e eu ficávamos juntos. Nossos jantares de pizza de sexta-feira à noite estavam se tornando rotina.

— Como foi o trabalho hoje? — Perguntei enquanto caminhávamos para o meu Jeep.

—Bom. Estou dando uma pausa por algumas horas. Minha ex está com as meninas até o fim de semana. É tão tranquilo quando elas vão, que provavelmente vou trabalhar durante o jantar.

Eu sabia exatamente como era solitário quando seus filhos estavam na outra casa. Abri minha boca para convidá-lo para jantar conosco, mas parei quando uma caminhonete familiar veio andando pela rua.

A janela de Max atrás do banco de Finn estava aberta. Sua cabeça estava para fora, sua boca se abrindo, enquanto ele olhava para o Jeep.

Gavin riu. — Alguém vai ficar excitado.

— É melhor eu pegar as chaves. Ele vai querer dar uma volta.

Corri para a casa com um sorriso enorme, saindo pela porta da frente e pegando minha bolsa do banco. Quando corri para fora, Finn estava estacionando na calçada ao lado do Jeep, deixando espaço para eu sair.

— Mãe! — Max gritou da caminhonete enquanto ele se esforçava para tirar o cinto de segurança. — O que? Isso é o quê?

Eu ri, me juntando a Gavin na garagem.

Kali abriu a porta e pulou para fora, seus cachos castanhos saltando quando ela aterrissou. — Mãe, isso é nosso?

— Isto é.

— Não. Seus olhos estavam enormes enquanto ela foi até o Jeep. —Eu - isso - de jeito nenhum.

— Sim, verdade. Surpresa.

— Uau. — Ela passou os dedos pelos cabelos. Que por sinal está na cintura hoje em dia, cerca de quinze centímetros mais curto que o meu. Eu estava tentando fazer com que ela aparasse, mas ela recusou. Ela disse que seus cachos a separavam de uma escola onde a maioria das garotas estava fazendo cortes ou mudando a cor do cabelo para azul ou rosa.

— Ahhh! — Max correu ao redor da caminhonete de Finn, pulando para cima e para baixo enquanto apontava para o Jeep. —Isso é tão legal. Podemos dar uma volta? Agora mesmo? Por favor? Vamos lá.

—Em um segundo. — Acenei para Finn, o último a sair de sua caminhonete. — Oi.

— Rodas legais, Molly. — Ele empurrou seus óculos em seu cabelo grosso e cor de ferrugem enquanto ele contornava o capô de sua caminhonete. — Chega de Beluga, hein?

—Chega de Beluga.

Seus olhos azuis encontraram os meus e brilharam com tristeza por um momento.

Eu não sabia o que dizer. Em algum lugar na estrada do nosso primeiro cheeseburguer até assinar os papéis do divórcio, nós esquecemos em como confiar um no outro.

Era toda a história antiga agora. Eu estava feliz solteira. Finn estava namorando outras mulheres há anos. Como a Beluga, algumas coisas não foram feitas para durar para sempre.

— Hey, Gavin. — Finn se aproximou de nós, com a mão estendida.

— Finn. — Gavin retornou o aperto de mão, em seguida, olhou para mim. —Eu vou parar de incomodar. Estou sozinho neste fim de semana se você mudar de ideia sobre o gramado.

— Obrigado. — Acenei para ele enquanto ele caminhava pelo meu quintal para o dele.

— O que tem o gramado? — Finn perguntou quando ele estava fora do alcance da voz.

— Oh nada. Ele apenas se ofereceu para cortar para mim.

Finn franziu a testa. — Não é uma opção. Olhe para o quintal dele. Ele não consegue descobrir como ajustar suas lâminas ou andar em linha reta. Você corta dez vezes melhor que aquele cara.

— Pelo menos ele se ofereceu para me salvar da dor de cabeça.

— Dor de cabeça? Pensei que você gostasse de cortar.

— Sim, antigamente. — Quando minha vida era um conto de fadas. Antes que os sapatinhos de cristal se quebrassem.

— Mãe, vamos embora. — Max estava correndo em círculos ao redor do Jeep. Seu sorriso largo mostrou os dois dentes que ele, no momento, tinha perdido. Ele precisava de um corte de cabelo porque estava constantemente caindo em seus olhos, mas eu odiava cortar o cabelo dele. Eu cortava desde que ele era um bebê.

Foi uma mistura de Finn e meu. Não é bem vermelho, mas não meu marrom também. Não era tão encaracolado quanto o de Kali - havia apenas uma leve onda - e tinha a mesma textura que os fios grossos e sedosos de Finn. Sempre que eu cortava, ele parecia muito mais velho.

— Estou com fome — ele gritou, ainda correndo.

— Quando ele não está? — Murmurei. — Ele está crescendo como uma erva daninha.

Finn assentiu. — Eu estava pensando a mesma coisa no outro dia. Ele ficará aqui algumas noites e mal o reconhecerei quando for a minha vez.

Max era uma das crianças mais altas do time de basquete juvenil, e sua estrutura realmente preenchia as roupas de futebol. Não havia dúvida sobre isso, ele cresceria e teria ombros largos e o peito de Finn. Ele seria alto como Finn também.

O único traço de Max que era cem por cento meu era seus olhos. Tanto ele quanto Kali tinham meus olhos castanhos.

As írises azuis de Finn eram dele e dele sozinho.

— Mãe — Max bufou, abrindo a porta de trás. — Vamos lá.

— Está bem, está bem. Vamos descarregar suas coisas da caminhonete primeiro para que papai não tenha que esperar por nós.

— Não, tudo bem. — Finn empurrou o queixo para o Jeep. —Vocês vão. Eu vou descarregar.

— Está certo. Obrigada. Vou te mandar uma mensagem de texto sobre o cronograma na segunda-feira.

— Parece bom.

Assenti adeus e dei três passos para o Jeep quando Finn chamou: — Molly?

Eu virei. — Sim?

Ele sorriu. — Você sempre quis um Jeep. Estou feliz que você tenha um.

— Eu também. — Acenei, não deixando meu olhar demorar no meu ex-marido por muito tempo.

Finn estava vestindo seu traje normal de verão polo da Alcott, jeans e tênis cinza. Suas roupas costumavam ser cobertas de manchas de grama, as mãos manchadas de sujeira. Ele viria para casa para mim cheirando a suor e sol e nós nos amaríamos sem hesitação.

Aqueles dias eram apenas lembranças agora. Ainda assim, ele era perigosamente bonito, de pé com as pernas bem abertas sob o brilhante céu de maio. Foi uma coisa boa que as crianças e eu estarmos de saída. Muito tempo com Finn e minha mente começaria a repetir aquelas cenas antigas, aquelas em que seus lábios pareciam tão macios contra os meus.

— Pronto? — Eu me concentrei nas crianças, que estavam pulando no carro. Quando estávamos todos dentro e as janelas abaixadas, saí da garagem, dando uma última olhada para Finn antes de ir embora.

Peguei seu olhar no espelho enquanto ele estava no quintal que outrora fora nosso.

Nos divorciamos há seis anos e três meses, e maldição, Finn ainda parecia pertencer àquele quintal. Como a Beluga, aquela casa era um artefato que provavelmente deveria ter sido enterrado também. Eu não queria mexer com as crianças, então era um enterro que esperaria até que eles estivessem na faculdade.

— Bem? O que vocês acharam? — Perguntei a eles.

— Isso é muito mais legal do que a van — Max gritou sua janela aberta atrás de mim.

Olhei por cima do ombro para encontrar o sorriso de Kali esperando. — É legal, mãe.

Ponto. — Com certeza é.

Vamos comer pizza gritou Max. O garoto não conhecia nenhum outro volume além de alto.

Ri e gritei também. — Pizza, aqui vamos nós.

Quarenta e cinco minutos depois, o som de um cortador de grama nos precedeu quando entramos na rua sem saída.

— Oh, ótimo. — Eu realmente esperava que Gavin não tivesse decidido me fazer um favor e cortar meu gramado. Com certeza, quando nos aproximamos, faixas recém-cortadas no meu gramado me cumprimentaram. Mas não era Gavin cortando.

— Papai ainda está aqui. — Kali apontou para a caminhonete de Finn.

Pisquei, certa de que eu tinha virado para a rua errada. Finn não cortava o gramado há anos, mesmo quando nos casamos. Naquela época, o trabalho exigia toda a sua atenção e ele chegava em casa quase no escuro na maioria das noites no verão.

O dever de cortar sempre caíra em mim.

Mas aqui estava ele, empurrando meu cortador vermelho em listras diagonais pela grama. O Comedor de Ervas Daninhas estava encostado na porta da garagem ao lado de uma pilha de cabos de extensão.

— O que ele está fazendo?

— Uh, cortando a grama. — Max riu. — Duh.

Revirei meus olhos. — Obrigado por esclarecer, Max.

— Faça uma pergunta estúpida, pegue um ...

— Não diga estúpido. — Eu estava feliz que ele não podia ver o meu sorriso.

Meu filho era um espertinho. Ele tem respostas mais rápidas e mais vivas do que a maioria dos adultos. Provocar Finn e eu era um dos seus maiores prazeres. A única pessoa com quem ele era gentil era Kali.

Ela não tinha sua pele grossa. Talvez fosse porque ela estava entrando naqueles anos difíceis da adolescência. Talvez fosse porque o divórcio tinha sido tão duro com ela. Seja qual for o motivo, Kali era mais sensível nos dias de hoje. E sempre fui grata por Max amar tanto sua irmã mais velha que ele se esforçava para proteger seu coração mole.

— Vocês podem levar a pizza para dentro? — Perguntei a Max e Kali quando estacionei na garagem.

— Claro, mãe — minha garota se ofereceu.

— Obrigada. — Tenho que descobrir o que seu pai ainda está fazendo aqui.

Enquanto carregavam as caixas para dentro, saí para encontrar Finn.

Seus sapatos estavam cobertos de grama, arruinados por qualquer coisa mais sofisticada que a mão de obra manual. Ele girou o cortador ao redor, vindo em minha direção. Quando chegou ao fim da fila, parou a máquina, desligou o motor.

— O que são.....

— Ei, pai. — Max apareceu ao meu lado, um pão roubado em uma mão e uma grande mordida em suas bochechas. Kali estava bem atrás dele.

— Ei pessoal. Como foi o passeio?

Max engoliu em seco. — Show, Kali e eu temos nossas próprias telas, para que não tenhamos que assistir a mesma coisa.

Finn riu. — Você gostou, Kali?

— Oh sim. Mamãe tem o carro mais legal de todos os meus amigos agora.

Eu sorri. Missão cumprida. — Vocês vão entrar e arrumar a mesa, por favor?

Seus pés pisaram nos degraus da varanda antes de irromperem pela porta, sem se incomodarem em fechá-la atrás deles.

— Você não tem que fazer isso, — eu disse a Finn.

Ele encolheu os ombros. — Não é nada.

Quem é esse estranho? Bem, quem quer que fosse o impostor finlandês, pelo menos lhe devia o jantar. — Temos pizza. Você é bem-vindo para ficar.

— Seria ótimo. Vou terminar aqui e começar lá atrás. Então eu vou entrar. Vocês podem comer. Não espere por mim.

— Se você quiser fazer só a frente, eu posso lidar com o fundo. Mesmo.

— Molly, está tudo bem. — Sua voz era suave, suave como a brisa da primavera. — Eu não tinha nada para fazer hoje à noite, somente ir para uma casa vazia.

— Ok. — Meus ombros relaxaram. Eu não estava colocando-o para fora, e sua ajuda foi muito apreciada.

Deixei-o, caminhando para os degraus da varanda e olhando por cima do ombro enquanto Finn puxava o cabo de tração e ligava o motor do cortador.

Ele largou as mochilas das crianças dentro da porta. Eu as carreguei pelo corredor, deixando-as na base das escadas antes de ir para a sala de jantar.

— Bom trabalho, pessoal. — Max estava colocando os copos enquanto Kali colocava guardanapos. Eles devem ter presumido que Finn ia ficar, porque havia quatro pratos já colocados.

Foi bom ver a mesa da sala de jantar cheia. Tê-la vazia três ou quatro noites por semana, quando as crianças ficavam na casa de Finn, era deprimente. Tanto que, eu geralmente comia em pé na cozinha ou sentada no sofá da sala. Em qualquer lugar, menos na sala de jantar, onde os cinco assentos vazios me fizeram sentir sozinha.

— Oh, droga. — Eu tinha esquecido que Gavin estava sozinho e meu plano de convidá-lo para jantar.

— O quê? — Perguntou Kali.

— Não importa. — Com Finn aqui, seria muito estranho convidar Gavin. Eu poderia convidá-lo para uma refeição diferente no final da semana depois que eu pegasse as crianças.

Abri as caixas de pizza e cada um levou nossos lugares para comer. Quando Max pegou seu sexto pedaço, golpeei sua mão. —Guarde um pouco para o seu pai. Se ele não comer tudo, você pode pegar o resto.

— Ok. — Ele deu um tapinha na barriga. — Estou satisfeito. Eu tenho que comer as bordas?

— Não. — Embora em uma hora, ele estará com fome novamente.

— Posso ir para o meu quarto?

— Claro. — Pisquei. — Por favor, leve sua mochila com você e desfaça a mala.

— Obrigado, mãe. — Ele se levantou da mesa, levando seu prato para a pia. Então ele correu para as escadas.

— Esse garoto não anda de jeito nenhum, não é?

Kali deu uma risadinha. — Posso ir também?

—Claro, querida. Você tem lição de casa?

Ela balançou a cabeça enquanto se levantava, também limpando o prato. — Não.

Fiquei na minha cadeira, observando enquanto ela colocava seu prato e do Max na lava-louças. Ela sempre foi minha ajudante. Eu sabia que ela ajudava na casa de Finn também.

— Estou feliz que você esteja em casa.

— Eu também. — Ela sorriu e veio para um abraço apertado, então ela desapareceu no andar de cima para o seu quarto.

Limpei meu próprio prato assim que o barulho do cortador parou. Através da janela da cozinha, vi Finn dar a volta na lateral da garagem e ir até a caminhonete. Ele tirou os sapatos sujos de grama e os jogou na parte de trás. Então ele fez o mesmo com as meias, que estavam verdes ao redor dos tornozelos. Ele se abaixou e bateu na barra de sua calça jeans, limpando as aparas de grama antes de fazer uma dobra grande.

Meus olhos foram para sua bunda. Hábito, imaginei. Ainda parecia tão bom quanto quando nos casamos. Finn não tinha deixado a idade ou o sentar-se atrás de uma mesa comprometer seu físico musculoso.

Eu ainda estava olhando quando ele se levantou e se virou, seus olhos encontraram os meus pela janela da cozinha. Morri de vergonha, espero que no momento em que ele entre, o rubor em minhas bochechas tenha sumido.

Finn entrou e foi direto para a cozinha. — Max me deixou alguma coisa além das bordas?

— Guardei algumas fatias para você, — disse quando peguei um copo de água.

— Obrigado. — Ele lavou as mãos, então nós dois nos sentamos à mesa, ele de um lado, eu do outro. O silêncio se estendeu por alguns momentos. — Então, uh, como está o trabalho?

— Bom. — Arranquei um elástico de cabelo do meu pulso. —Anda movimentado. Já estamos começando a ver os turistas de verão.

Eu tinha o melhor emprego de todos, trabalhando com minha melhor amiga, Poppy, no restaurante que ela tinha começado quase seis anos atrás.

O Maysen Jar sempre foi seu sonho. Quando seu marido Jamie morreu em um tiroteio trágico dez anos atrás, ela perdeu o rumo. Mas aquele restaurante a ajudou a recuperar o equilíbrio. E pouco depois, ela abriu seu coração para um novo amor. Ela se casou com Cole Goodman, um homem que faz jus ao seu nome.

Talvez fosse hora de eu encontrar o amor novamente. Desde o divórcio, me concentrei na minha carreira e nas crianças. Mas à medida que cresciam, à medida que o trabalho ficava mais fácil, eu tive mais e mais momentos solitários.

Gavin me convidou para sair em duas ocasiões diferentes. Não tinha dado certo porque eu já tinha planos. Talvez fosse hora de parar de viver essa vida de solteira e assumir um risco.

Talvez, quando eu comprasse um substituto para o Jeep daqui uns sete ou oito anos, eu mude meu estado civil no aplicativo.

Embora a ideia de namorar alguém me deixasse enjoada.

Finn não teve esse problema. Ele se mudou e namorou várias mulheres durante esses anos. Ele estava com sua namorada mais recente há cerca de um ano. Brenna. Eu não sabia muito sobre ela, porque fiz questão de saber pouco sobre seus relacionamentos. Fiz perguntas para ser educada, essas mulheres ficavam com meus filhos, mas nada além da superficial.

Com Brenna, as coisas estavam ficando sérias. Sempre que Finn não estava com as crianças, ela estava ao seu lado. Ela era até amiga de Poppy. Havia uma foto pendurada no escritório do restaurante dela e Finn jogando jogos de tabuleiro na casa de Poppy e Cole.

Quando Poppy me perguntou se eu tinha me importado com aquela foto, menti e disse a ela que não. Era o restaurante dela. Finn era seu irmão. Como ela escolhe decorar seu escritório é problema dela.

E quando a foto foi colocada a seis meses atrás, comecei a fazer meu trabalho fora do escritório.

Aceitei a vida de divorciada. Eu tinha que aceitar a vida amorosa de Finn.

— O que Brenna vai fazer hoje à noite? — Se Finn estava cortando meu gramado, ela deve ter planos.

Ele engoliu sua pizza, tomando água em seguida. —Eu não sei. Nós terminamos na semana passada.

— Oh. — Isso foi surpreendente. Talvez eu não devesse ter perguntado. —Desculpa.

Finn encolheu os ombros. — Não se desculpe.

Quase perguntei a Finn como ele estava se sentindo, mas discutir seus sentimentos era quase impossível quando nos casamos, e muito menos quando nos divorciamos.

Em vez disso, perguntei: — Como estavam as crianças? — Ele ficou com elas nos últimos três dias.

— Bem. — Ele sorriu enquanto mastigava. — Eles são sempre bons. Max mal pode esperar que a aula acabe a semana que vem. Kali não quer que acabe.

Eu sorri. — Max só quer fazer acampamento de basquete. Kali não quer passar o verão inteiro sem ver suas amigas.

— Ela me perguntou se poderia fazer aulas de natação com Vanessa.

— OK. Vou ligar para a mãe de Vanessa e pegar informações sobre o horário. Vamos ver se podemos encaixá-lo entre todos os seus acampamentos. Verões eram sempre caóticos, levando as crianças de um acampamento de verão para outro enquanto ainda tentávamos trabalhar.

— Me avise se precisar de ajuda. — Finn jogou sua borda não consumida em seu prato. Como Max, ele não come a borda a menos que estivesse à beira da inanição.

Eu, por outro lado, nunca diminui os carboidratos. Estendi minha mão, palma para cima. Ele riu e deslizou seu prato para que eu pudesse pegar a crosta. Comi enquanto ele comia outro pedaço de pizza.

— Mais? — Ele levantou outra borda.

Balancei a cabeça. — Estou satisfeita. Obrigado novamente por cortar a grama. — Isso me salvou da tarefa neste fim de semana e me deu mais tempo para levar as crianças para explorar nosso novo Jeep.

— Sem problemas. O que vocês vão fazer neste fim de semana?

— Nada demais. Estava pensando em planejar algo divertido para fazer com as crianças. Talvez levá-los ao lago Hyalite ou algo assim. E você?

Ele suspirou. — Provavelmente só vou me atualizar no trabalho. Estou atrasado em algumas licitações.

Que dúvida. Finn trabalhava constantemente quando as crianças estavam comigo.

— Mãe, — Max gritou do andar de cima. — Podemos assistir a um filme?

— Claro, — gritei de volta.

Eu me levantei da mesa e limpei o prato de Finn enquanto passos batiam nas escadas de madeira e as crianças desceram correndo para a cozinha.

Max franziu a testa quando viu a caixa de pizza vazia na mesa. — Podemos fazer pipoca?

Eu ri, caminhando em direção à despensa. — Sim, podemos fazer pipoca.

— Papai, você quer ficar e assistir com a gente? — Kali perguntou.

Minha mão congelou na maçaneta enquanto eu esperava por sua resposta. Ela provavelmente se sentiu mal agora que ele estava solteiro novamente. Sem dúvida ele tinha contado as crianças sobre o seu rompimento com Brenna.

Eu queria que Finn ficasse? Na verdade, não. Ele ficou as crianças por três dias e agora era a minha vez. Mas por causa deles, eu nunca o faria sair.

Finn e eu fizemos questão de planejar certas atividades para nós quatro. Teríamos um jantar ocasional ou levaríamos as crianças para uma aventura especial, como esquiar ou fazer caminhadas. Era importante para nós dois que as crianças nos vissem nos dando bem.

Mas passei dias me preparando para aqueles momentos. Eu me preparei para o quão difícil seria fingir que éramos uma família feliz, mesmo que por apenas algumas horas.

— Talvez, — Finn respondeu para Kali. — Preciso falar com sua mãe por um minuto.

— Vocês vão escolher o filme, — disse às crianças. — Juntos, por favor. Sem brigas.

Quando eles saíram da sala, peguei a pipoca da despensa e coloquei no microondas.

— Você se importaria se eu ficasse? — Ele perguntou.

— Nem um pouco. — Não era uma mentira completa. Depois de três taças de vinho, não me importaria nem um pouco que ele estivesse do outro lado do sofá.

A pipoca começou a estourar e fui a minha adega, tirando meu tinto favorito.

— Eu faço isso. — Finn se aproximou e me desviei do caminho para que não nos chocássemos um com o outro.

Nós não nos tocamos. Não havia abraços ou beijo na bochecha. Nós sorrimos. Nós acenamos. Mas nós nunca nos tocamos.

Deslizei a garrafa pelo balcão e tirei o saca-rolhas de uma gaveta. Enquanto ele abria a garrafa, peguei as taças. Ele serviu para nós dois. Pus a pipoca em uma tigela, e nós dois entramos na sala de estar, a que nós costumávamos dividir, para assistir a um filme com nossos filhos no meu lado do sofá.

Isso foi por eles.

A chave para um divórcio bem-sucedido, eu descobri, era estabelecer limites. Como tocar em Finn, havia coisas que eu não me permitia fazer.

Recusei-me a apreciar o som da risada de Finn. Tentei não olhar quando Kali se aconchegou ao seu lado, seu braço enrolando em torno dela com força. Não prestei atenção em seus olhos azuis enquanto eles me seguiam em minhas repetidas viagens para a cozinha para encher minha taça de vinho.

Não, assisti ao filme na minha TV do meu sofá na minha sala de estar. Eu me concentrei em beber meu vinho.

Limites, essa era a chave. E um tanque blindado não ia atravessa-lo.

 


O alarme do meu telefone estava sempre alto e estridente às cinco e meia da manhã. Hoje parecia exponencialmente pior. Levantei da cama, sentada tão ereta que os lençóis e edredons saíram voando.

— Ugh. — Meu estômago revirou. Minha cabeça estava se partindo em duas e minha pele nua parecia pegajosa.

Eu bebi muito

Por que diabos estou nua? Eu não durmo nua. Nunca.

Não desde ...

Pulei da cama, meus olhos arregalados quando eles pousaram no longo e musculoso braço curvado em volta de um dos meus travesseiros brancos de plumas. Uma cabeça com cabelo vermelho despenteado estava descansando em outro. Uma perna, polvilhada com o mesmo cabelo, estava dobrada para fora do lençol.

— Oh meu Deus — engasguei quando tudo veio correndo de volta. O filme. Finn carregando as crianças para a cama. De pé muito perto no corredor. O simples toque das nossas mãos.

O beijo.

O sexo.

Não não não não não não.

Tanto pelos meus limites.

Maldito vinho.


- Carta –

Querida Molly,


É por isso que as pessoas não escrevem mais cartas. Eu me sinto um idiota. Mas aqui estou eu, em toda a minha glória idiota escrevendo-lhe uma carta que nunca vou enviar.


Fico feliz que minha irmã estivesse tão interessada em Jamie para nos notar. Fico feliz que você gosta de hambúrgueres com queijo extra e bacon extra. Estou feliz que tenha me dado seu número de telefone.


Não me arrependo de ter te ligado duas vezes só para ouvir sua voz.


Então, como você nunca lerá isso, acho que é seguro dizer que tive o melhor encontro da minha vida com você hoje à noite. Eu não sei se você chamaria de um encontro. Mas eu chamo de encontro.


Cuidado, Molly Todd. Eu poderia querer me casar com você.


Seu,

Finn


DOIS

MOLLY


CORRI para o banheiro, quando meus pés se enroscaram em algo no chão. Meus joelhos bateram no tapete. Meu cabelo voou para o meu rosto enquanto meus braços disparavam para abrandar minha queda.

— Filho da puta, — sussurrei, tirando o cabelo do meu rosto para ver o que tinha me tropeçado.

Calcinha. Meus pés estavam emaranhados na calcinha que eu tinha colocado ontem de manhã e Finn tinha arrancado a noite passada.

Tirei e enrolei a calcinha de algodão cinza em uma bola, deixando meus pés livres. Se Finn acordasse antes de eu chegar ao banheiro, não queria que ele visse minha calcinha confortável e assexuada. Com elas escondidas, corri - com mais cuidado desta vez - para o banheiro, coletando roupas descartadas enquanto me arrastava.

Na porta, arrisquei um olhar por cima do meu ombro. Finn ainda estava dormindo. Nenhuma surpresa. O homem dormia como os mortos quando estávamos juntos. Quando as crianças eram recém-nascidas, tinha que chutá-lo repetidamente para acordá-lo para suas mamadas.

Fechei a porta do banheiro, encostei-me na madeira branca e respirei fundo.

Eu dormi com o Finn.

Isso foi um desastre. Que diabos eu estava pensando? Finn e eu passamos anos chegando a um lugar de amizade. Eu estava solteira feliz, comprei meu próprio carro e vivi minha própria vida. Até considerei namorar novamente. Por quê? Por que eu sou tão estúpida?

Estava tremendo quando fechei a porta. Joguei minhas roupas no cesto e liguei o chuveiro. Passei alguns segundos extras respirando o vapor e meu xampu de alecrim e menta. Mas não ajudou a acalmar meu tremor.

— Que estupida — eu disse ao vapor. —Eu não vou fazer isso de novo.

Eu não ia me envolver com Finn. Não sou uma mulher de sexo casual e certamente não com o homem que tinha sido meu mundo inteiro. O que aconteceu com meus limites? Eles estavam lá por uma boa razão.

Quando nos divorciamos, isso me destruiu.

—Eu não vou fazer isso de novo.

Não. Não, eu não vou. Com um aceno seguro, desliguei a água e saí do chuveiro. Sequei meu corpo com golpes de raiva, em seguida, prendi a toalha em volta do meu peito. Torci meu cabelo e saí do banheiro.

— Finn, levante-se. — Balancei seu ombro, em seguida, tirei o edredom de suas costas.

— Huh? — Ele se sentou, atordoado, piscando. Então ele baixou a cabeça para o travesseiro. — Mais cinco minutos.

— Finn — bati, puxando o edredom ainda mais antes de cutucar suas costelas. — Levante-se e saia. Você precisa sair antes que as crianças acordem.

Eu ia esquecer a noite passada no segundo em que a porta se fechasse atrás dele. As crianças nunca saberiam o que aconteceu com a gente.

Eles passaram uns maus bocados com o divórcio, especialmente Kali. Levara anos para entender que os pais dela tinham vidas separadas e nunca voltariam a ficar juntos. Ela não precisava ver o pai nu na cama da mãe.

— Finn. — O cutuquei novamente. Deus, por que ele tinha um sono tão pesado? — Acorde.

— Molly, mais cinco minutos. — Ele levantou os olhos sonolentos e piscou. Então eles se arregalaram. — Porra.

Ele saltou da cama, sibilando uma série de maldições enquanto examinava o chão em busca de roupas. Quando ele encontrou sua calça jeans, ele foi tão rápido até ela que caiu, ele teria queimaduras de tapete nos joelhos.

Revirei meus olhos. Eu tive uma reação semelhante, mas ele estava dormindo. Ele poderia pelo menos ter tentado esconder sua mortificação de mim.

— O que aconteceu? — Ele perguntou enquanto fechava o zíper.

Olhei para sua barriga lisa. Aqueles abdominais eram culpados por essa bagunça. Eles sempre foram minha fraqueza. Ontem à noite, toquei um dos seis e, bem. Aqui estávamos nós. Homens divorciados de trinta e tantos anos não deveriam ter aquele V ao longo de seus quadris. Como isso era justo?

O cabelo de Finn estava uma bagunça graças aos meus dedos. A barba por fazer em seu queixo não era menos sexy do que seu corpo seminu. Ele procurou no chão por sua camisa, indo para a cama e levantando as cobertas. Ele abaixou-se para ver onde tinha ido.

— Onde está a minha camisa? — Ele encontrou debaixo da cama antes que eu pudesse ajudá-lo a procurar, então ele a colocou mais rápido do que um ser humano já havia colocado um pedaço de pano.

Ignorei a dor daquilo também, junto com o fato de que ele não me olharia na cara.

Ele pegou o relógio do chão e deu um passo para a porta, mas depois parou para olhar para trás.

— Molly ...

—Você precisa ir.

Ele ainda não olhava para mim. — Deveríamos....

— Vá, Finn. Não quero que as crianças vejam você aqui.

Ele suspirou, depois assentiu e foi até a porta. Seus pés descalços não fizeram barulho quando ele escapou da casa. O sol estava começando a brilhar através da janela do meu quarto.

A porta da frente se abriu e fechou. Felizmente, meu quarto era no andar principal e as crianças estavam no andar de cima. Então esperei, ouvindo a caminhonete começar a funcionar e descer a rua. Quando ficou em silêncio novamente, afundei na beira da minha cama.

Ele se foi. Nós não íamos falar sobre a noite passada. Não iríamos discutir o erro monumental do sexo com um ex-cônjuge. Nós íamos fingir que nunca aconteceu.

Assim que minha cama desgrenhada fosse colocada em ordem, pegaria uma “Borracha Mágica” a memória da noite passada e esfregaria com fúria. Essas malditas coisas funcionavam em tudo. Certamente, uma delas funcionaria no meu cérebro.

Mas em vez de rasgar os lençóis do colchão, sentei congelada, olhando para os travesseiros.

Eu ainda não tinha me livrado do travesseiro de Finn. Ele encomendou on-line porque deveria ser bom para quem dorme de bruços. Acho muito firme e muito fino, mas não fui capaz de jogá-lo fora. Ponderei o caso semanalmente. Eu o afofei todas as manhãs.

Estava lá para ele dormir na noite passada.

Quando Finn se mudou, ele pegou meu travesseiro por engano. Foi uma das confusões no o que é dele ou dela. Em vez de falar e fazer uma troca, fiquei quieta. Mantive o travesseiro dele e comprei um novo para mim.

Travesseiro estúpido. Peguei e joguei no chão. Molly estúpida.

Como pude trazer aquele homem de volta a este quarto? Antes da noite passada, sua memória finalmente sumiu, mas agora teria que começar o processo de esquecimento de novo. Eu teria que me convencer que dormir sozinha era melhor do que dormir com companhia porque você tem mais espaço para as pernas. Teria que me lembrar como suas mãos tocavam minha pele e o peso de seus quadris entre as minhas coxas. Ou como era a sensação de enrolar minhas pernas com as dele antes de cair no sono, deitada de costas.

Delete. Delete. Delete. O que eu não daria por um botão de backspace mental.

Era mais um erro para sobreviver.

Começando com a cama.

Peguei o travesseiro de Finn e endireitei os lençóis torcidos. Lavandaria teria que esperar até o fim de semana, o que significa que eu teria que viver com seu perfume viril por mais uma noite. Talvez eu durma no sofá até que consiga lavar. Eu teria que aspirar também. Algumas folhas de grama tinham pegado carona para meu quarto em seus jeans.

Este fim de semana, eu limparia tudo.

Mas primeiro, terei que passar pela sexta-feira.

Terminei a cama e fiz minha rotina matinal, me vestindo com um par de jeans e tênis vinho. Então escolhi uma camiseta justa, uma das muitas do meu armário. Hoje era branca. O emblema do restaurante estava impresso no bolso do peito.

Fiz minha maquiagem. Arrumei meus cachos, escovando-os antes de borrifar um finalizador para domar o frizz. Com três elásticos de cabelo no meu pulso, subi para preparar as crianças para a escola.

A familiaridade da rotina matinal aliviou a maioria dos meus nervos e irritação. Não havia muito espaço para me preocupar com Finn quando eu estava gritando com Max para escovar os dentes e Kali para lembrar seu livro da biblioteca enquanto fazia o café da manhã. Todos comemos. Todos colocamos nossos pratos na lava-louça. E todos saímos para entrar no jipe.

— Nós esquecemos de alguma coisa? — Perguntei quando eles afivelaram seus cintos. Fiz a varredura para ter certeza de que eles pegaram suas mochilas e eu a minha bolsa.

Kali sorriu. — Não. E eu peguei meu livro da biblioteca.

— Eu não escovei os dentes, — admitiu Max.

Suspirei. — Então faça duas vezes esta noite.

— Ok. — Ele assentiu. — Foi divertido ter papai em casa na noite passada.

Meu coração quase saiu pela boca. Não havia como saber que Finn ficara a noite toda. Ele sabia? Procurei em seu rosto bonito por qualquer sinal de que ele estivesse falando mais do que da pizza e do filme, mas enquanto os segundos passavam, ele apenas olhou para mim como se eu tivesse enlouquecido.

Kali falou primeiro. — Uh, mãe. Vamos nos atrasar.

— Certo. — Eu me virei no banco, liguei o carro e saí. — Eu quero pegar a correspondência, então sairemos.

— Posso pegar? — Max perguntou.

— Claro. — Andei um pouco, perto o suficiente do meio-fio para que Max pudesse sair pela janela.

Ele teve que destravar e abrir a escotilha da caixa de correio. Ele se inclinou e voltou com uma pilha de envelopes e um catálogo.

— Obrigado. — Peguei dele e joguei tudo no banco do passageiro quando ele se sentou.

O caminho para a escola não demorou muito, com as crianças conversando o tempo todo. Esperamos na fila de desembarque e, quando chegou nossa vez, acenei quando as crianças saíram e correram em direção à escola. Kali me deu um último sorriso enquanto apontava o Jeep para seu círculo de amigos.

Eu me adiantei. A fila para sair do estacionamento era sempre lenta.

— E agora, nós esperamos. — Fiz uma careta para a fila de carros à frente e um sedã verde com o pisca esquerdo ligado.

No próximo ano, Kali iria para o fundamental dois. Eu não tinha certeza de quão cedo teríamos que sair de casa para deixar Max aqui, esperar nessa fila atroz, depois deixar Kali na escola a sete quarteirões de distância.

Mas nós faríamos funcionar. Essa era a vida de uma mãe solteira. Nós fazemos o impossível acontecer diariamente.

A fila estava especialmente lenta hoje, então peguei a correspondência e a trouxe para o meu colo, folheando-a enquanto avançava.

Na maior parte era lixo. Tudo seria jogado no lixo, exceto por uma conta da companhia de energia.

E uma carta

Virei o envelope branco na minha mão. Não havia endereço de retorno. Não havia um selo. A caligrafia na frente não era familiar. Deslizei meu dedo no canto para abrir o topo, mas parei quando uma buzina soou atrás de mim.

— Desculpe, — eu disse para o carro atrás de mim e segui em frente, saindo do circuito da escola. Então segui pela cidade em direção ao restaurante.

Enquanto dirigia, continuei a olhar para a carta no meu colo. Queria muito abri-la, mas também queria chegar ao trabalho viva, então esperei, resistindo à tentação de furar o sinal vermelho. Em vez disso, peguei um dos laços de cabelo do meu pulso.

Meu cabelo estava tão cheio e grosso, rapidamente estendi o elástico que eu gostava de usar, o que significava que eu tinha que manter uns de sobra. Juntei meus cachos e estava no meio de fazer um coque quando o elástico verde-neon quebrou.

Não. Me deu até um frio no estômago.

Minha avó morreu de ataque cardíaco no dia em que um elástico de cabelo arrebentou. Meu carro, aquele antes da Beluga, bateram nele no estacionamento da mercearia depois que um elástico de cabelo arrebentou. E Finn e eu assinamos nossos papéis de divórcio no dia em que um elástico de cabelo arrebentou.

Havia outros exemplos menores, mas esses elásticos de cabelo arrebentados haviam se tornado um presságio. Nos dias em que eles não só se esticavam, mas na verdade quebravam, o mal me encontrava. Deus, eu esperava que hoje fosse apenas um pneu furado ou uma merda no trabalho.

Meus olhos baixaram para a carta. Será a carta a coisa ruim que estava por vir?

O sentimento de desespero continuou até o trabalho, e no segundo em que o estacione o Jeep, rasguei o envelope.

A caligrafia do envelope não era familiar. Mas o roteiro da carta real era inconfundível. Finn foi o único que desenhou o primeiro pico do M em Molly dessa maneira.

Mesmo com o papel governado pela faculdade firmemente em minhas mãos, tive que ler a carta duas vezes antes de meu cérebro registrá-la como real. A carta era curta, ocupando apenas meia página.

Finn havia escrito isso quinze anos atrás. Ele me escreveu uma carta depois do nosso primeiro encontro e nunca a enviou.

Eu poderia querer me casar com você.

Essas palavras saltaram mesmo quando as li pela terceira e quarta vez.

Ele se casou comigo, tudo bem. Ele também se divorciou de mim.

Quanto tempo passou desde que vi o nome Molly Todd? Quanto tempo ele guardou esta carta para si mesmo? E por que ele me daria agora?

Meus dedos mergulharam no meu cabelo. O que estava acontecendo?

Num piscar de olhos, meu telefone estava na minha mão e encontrei o nome o nome de Finn na tela. Mas não consegui me convencer a ligar.

Eu queria respostas. Mas eu ainda não estava pronta para falar com Finn. Não depois da noite passada.

Em vez disso, enfiei a carta na bolsa e saí do Jeep, em direção ao restaurante.

A entrada dos fundos do restaurante era apenas para funcionários e levava direto para o escritório e para a cozinha. Coloquei minha bolsa dentro do escritório e entrei na cozinha. Poppy estava na grande mesa de aço inoxidável no centro.

— Bom dia. — Ela sorriu, com as mãos cobertas de farinha, enquanto esticava uma grande e ovalada de massa de torta.

— Dia.

— Assim? Conte-me sobre a noite passada.

Meu queixo caiu. — O que? Como você sabe?

Porra, Finn. Ele não poderia ter ficado quieto? Ou pelo menos me dado um aviso de que ele ia contar para sua irmã que fizemos sexo?

Poppy me olhou de canto de olho. — Porque você me disse.

— Eu disse? — Talvez eu ainda estivesse bêbada da noite passada. — Quando?

— Ontem. — Ela assentiu com a cabeça. — Estávamos sentadas no restaurante. Você estava com seu computador. Estávamos tomando café enquanto você me mostrou as fotos do Jeep antes de ir para a concessionária.

— Oh, o Jeep. — Bati uma palma na minha testa. —Desculpa. Não tive café suficiente esta manhã. Comprar o Jeep foi ótimo. As crianças adoraram.

— Bom. — Ela voltou para sua massa. — Do que você achou que eu estava falando?

— Nada — eu disse rápido demais. — Nada mesmo.

— Você está agindo estranho esta manhã.

— Não estou agindo de forma estranha. Estou aqui no trabalho. Não há nada estranho nisso. É o não-estranho.

Poppy piscou e suas mãos pararam. — O não-estranho?

— Estou meio fora do ar está manhã. Vamos apenas deixar para lá.

— OK. Se você quiser conversar, estou aqui.

— Estou bem. Mesmo. Mas obrigada. — Eu sorri. — Então, como está indo a manhã?

— Boa. A correria do café foi intensa, mas quase acabou então entrei para começar alguma as tortas de frango para o almoço. Mamãe ficou lá na frente se você quiser me fazer companhia. Tem café fresco.

— Deus abençoe você. — Corri até o bule e enchi uma das canecas de cerâmica que guardávamos na cozinha. Elas eram enormes e reservadas para o pessoal. Depois que enchi, me inclinei contra a lateral da mesa, tomando goles lentos até que comecei a me sentir mais humana.

Minha ressaca de vinho tinha sido temporariamente expulsa durante o fiasco, chute Finn fora da minha cama. Mas agora que a adrenalina baixou, minha dor de cabeça veio à vida. Viver com ela seria minha penitência.

— Quer uma ajuda? — Perguntei quando ela começou a cortar círculos na massa.

— Não, beba seu café e fique comigo. — Ela usou a parte de trás de seu pulso para empurrar uma mecha de cabelo vermelho de sua bochecha. As luzes fluorescentes da cozinha sempre pareciam deixar seus olhos azuis ainda mais brilhantes.

Nossas camisetas do restaurante combinavam hoje, mas ela cobriu a dela com um avental que seus filhos fizeram no último Natal. Pequenas impressões de mãos verdes e vermelhas haviam sido colocadas no tecido creme com MacKenna e Brady escritos embaixo.

Ela sorria mais quando usava o avental. Embora, Poppy Goodman sorri quase constantemente nos dias de hoje. Ela merecia toda a alegria que encontrara com Cole e seus filhos.

Poppy tinha sofrido bastante desgosto.

— Recebi um e-mail de confirmação do jornal ontem que eles vão fazer o convite para a celebração do aniversário — eu disse a ela.

— Perfeito. E esse era o último item da sua lista, então estamos prontos.

O Maysen Jar fará seis anos no mês que vem e planejávamos nossa comemoração anual de aniversário durante meses.

Era difícil acreditar que seis anos se passaram desde que Poppy transformou este edifício em um dos cafés mais populares de Bozeman. Antiga oficina mecânica, esse lugar agora era amplamente conhecido por sua comida deliciosa servida apenas em potes de vidro.

O Jar Maysen foi nomeado após seu falecido marido, Jamie Maysen, que foi sido assassinado em um assalto a loja de bebidas há onze anos. O aniversário de sua morte foi há algumas semanas.

Quando ele morreu, isso afetou todos nós.

Eu nunca soube que tal escuridão poderia tomar conta de um ser humano até que eu vi o que a morte de Jamie fez para Poppy. Mas ela juntou os pedaços quebrados ao terminar a lista de aniversário de Jamie. Para honrar sua memória, ela fez as coisas que ele mais queria fazer. Ao longo do caminho, ela conheceu Cole e ele preencheu as lacunas em seu coração.

O sobrenome de Poppy não é mais Maysen, mas por causa da placa na frente do prédio, o nome de Jamie continuava vivo. E todos os anos celebramos o lugar onde tantas curas começaram.

Para mim, o The Maysen Jar tinha sido o meu bote salva-vidas.

Finn e eu nos divorciamos apenas alguns meses antes do restaurante abrir. Nas semanas antes de assinarmos nossos papéis, Poppy me pediu para trabalhar com ela como gerente do café.

Agarrei-me ao trabalho e isso me manteve emocionalmente sã enquanto me ajustava a um novo modo de vida.

Seis anos depois, éramos um sucesso maior do que eu jamais imaginara, e assim continuaria. Para Poppy. Para o Jamie.

Para mim.

Este restaurante não era apenas um trabalho. Era minha salvação.

Nas noites solitárias em que não queria voltar para casa, porque as crianças estavam com Finn, fiquei aqui, conversando com clientes ou a equipe de meio período. Nos dias em que eu precisava de um abraço extra, minha melhor amiga estava bem aqui de braços abertos. Quando eu precisava exercitar meu cérebro, havia sempre planilhas e gráficos esperando com novos desafios.

Como gerente, supervisionei todos os aspectos desse negócio e, em seis anos, criei uma máquina bem lubrificada. Poppy cuidou do cardápio e preparou a comida, mas eu fiz todos os pedidos e orçamentos para os suprimentos. Eu estava encarregada das finanças, marketing e mídias sociais. Contratei, demiti e supervisionei os funcionários. Eu era uma garçonete. Uma barista. Uma lava-louças. Uma administradora.

Fiz o que tinha que ser feito para que Poppy pudesse se concentrar em sua paixão: a comida que trouxe as pessoas para dentro do negócio.

Ela até ganhou um prêmio pelo melhor restaurante de Bozeman no ano passado.

No começo, nós duas tínhamos passado horas loucas, mas aprendemos a delegar. Ela chegava por volta das seis ou seis e trinta todas as manhãs durante semana para abrir às sete. É saía para pegar seus filhos às três. Como Kali e Max eram mais velhos e tinham atividades depois da aula, eu entrava por volta das oito e ficava até as cinco. Se as crianças estivessem com Finn, ficava para fechar depois das oito.

O almoço era o nosso período mais movimentado, então Poppy e eu fizemos questão de estarmos aqui. Mas nós construímos uma base sólida para nos dar a flexibilidade de colocar nossas famílias em primeiro lugar.

Nossa equipe de dois universitários e a mãe de Poppy, Rayna, cobriam as horas em que estávamos em casa.

Rayna era uma chef no Alasca, onde Finn e Poppy cresceram. Mas, a afeição pelos netos foi maior. Ela e David, seu marido, haviam se mudado para Montana. Ela veio ao restaurante na maioria dos dias para estar com Poppy e porque ela simplesmente amava cozinhar. Ela ainda fazia meus biscoitos de aniversário todos os anos porque sabia o quanto eu os amava.

Mesmo depois do divórcio, Rayna me manteve por perto. Era da sua natureza atrair pessoas para o seu círculo e nunca deixá-las ir. E eu acho que foi porque ela nunca aceitou que Finn e eu nos separamos.

Mas aconteceu. Nos separamos. Então, por que ele me mandou essa carta? A noite passada foi confusa, mas lembrei que foi ele que tomou a iniciativa. Ele começou aquele beijo.

— Você tem certeza de que está bem? — Poppy perguntou. —Você está quieta esta manhã.

Olhei por cima do ombro e sorri. — Estou bem. Só cansada e estou com dor de cabeça. A menos que você ache que precisam de mim lá na frente, vou me afundar em algumas planilhas no escritório por um tempo.

— Vai. Fique com seus preciosos números.

— Excel e fórmulas são para mim como cozinhar é para você. — Dei-lhe um sorriso e tomei meu café no escritório, fechando a porta atrás de mim, porque eu queria ler a carta de Finn mais uma vez.

Retirei-a da bolsa e abri com cuidado. A caligrafia de Finn não mudou muito desde a faculdade. Meus dedos deslizaram as palavras escritas no papel, tocando-as, enquanto meus olhos seguiam da esquerda para a direita.

Aquele primeiro encontro foi um redemoinho. Nós rimos por horas, falando sobre velhos costumes de namoro. Ele me provocou por querer cartas e ser antiquada. No entanto, ele foi para casa naquela noite e me escreveu uma.

Por quê? Por que ele não tinha me dado então? Por que ele tinha enviado para mim agora?

Eu queria essas respostas? Cada célula do meu ser gritou não. Essas respostas me aterrorizaram. Elas abririam as feridas que finalmente haviam cicatrizado.

Se eu pudesse viajar no tempo, reverteria uma hora e jogaria essa carta com o lixo.

Porque eu odiava essa carta. Eu odiava ter amado isso. Era um lembrete muito forte de como as coisas eram boas. Talvez se tivéssemos mantido as lembranças felizes mais perto da superfície, não teríamos nos afundado tão profundamente nas coisas ruins.

Em algum lugar ao longo do caminho, Finn e eu perdemos aquela faísca.

Nós moramos juntos. Nós amávamos nossos filhos juntos. Mas não tinha sido juntos de verdade.

Por um ano, nós lutamos constantemente. Nós brigamos interminavelmente. Nós tínhamos nos tolerado, nós dois esperando a tempestade passar. Não passou. A tempestade se transformou em um furacão, e então tivemos uma briga muito maior que as outras.

Essa luta começou, ironicamente, com o meu cortador de grama. Eu estava do lado de fora cortando o gramado depois de colocar as crianças na cama. Estava com as babás eletrônicas presa ao cós do meu jeans. Mas eu não ouvi Kali sair de sua cama.

Depois de cortar a grama na escuridão, entrei para encontrar Kali na cozinha, onde ela havia comido um pacote inteiro de gotas de chocolate. Ela vomitou por uma hora.

Finn chegou em casa para me encontrar segurando o cabelo dela enquanto ela se afundava no vaso sanitário. Ele me culpou por não estar dentro de casa com as crianças. Eu o culpei por não chegar em casa do trabalho a tempo de cortar a grama. A discussão se transformou em gritaria.

Depois que Kali finalmente voltou a dormir, Finn e eu resolvemos. Nós decidimos por uma pausa. Naquela noite, ele se mudou para o loft em seu escritório.

Pedi-lhe para ir ao aconselhamento matrimonial. Ele concordou, mas nunca apareceu em uma única sessão.

Minha vida virou uma loucura. Eu me tornei uma mulher perdida sem seu casamento como âncora. E uma noite, quando minha esperança em Finn e nosso relacionamento tinha sido verdadeiramente abatida, pus o último prego em nosso caixão.

Cometi um erro que eu sempre lamentaria. Fiquei bêbada na festa de despedida de um amigo.

Eu fiz sexo com outro homem.

No dia seguinte, contei a verdade a Finn. Eu disse a ele como eu estava no fundo do poço. Que eu o amava e queria desesperadamente salvar nosso casamento. Implorei por perdão.

Ele me disse para conseguir um advogado.

Honestamente, eu provavelmente teria dito o mesmo. Alguns erros eram imperdoáveis. Alguns erros vêm com arrependimento que vivem como um monstro em sua alma.

Eu me forcei a voltar ao presente, empurrando aquele monstro para baixo. Todo esse drama era história antiga agora. Finn e eu nos divorciamos. Ele estava mais feliz assim. Eu também.

Exceto que com sua carta na mão, era difícil não questionar todos os dias desde o divórcio. Nós vivemos com muito amor. Como chegamos aqui? Como fomos do casal apaixonado dessa carta para o que somos hoje?

Meu forte instinto me disse que havia só uma coisa a fazer.

A carta tinha que ir embora. Apertei meu pulso, pronta para fazer uma pequena bola, mas meus dedos perderam a força.

— Tudo bem. — Recoloquei a carta e enfiei na minha bolsa. Eu não jogaria fora, pelo menos não ainda. Em vez disso, eu devolveria para Finn.

Devolveria e lembraria a ele que nosso casamento estava morto. Aqueles momentos felizes estavam mortos.

E não adiantava despertar velhos fantasmas.


TRÊS

FINN


Horas depois de ter sido expulso da cama de Molly, entrei no The Maysen Jar, examinando o salão aberto à procura dela. Mas ela deveria estar nos fundos com Poppy porque era só a mamãe na máquina de café expresso. Atravessei o salão até o balcão de mármore preto na parte de trás.

— Ei, mãe.

— Finn. — Ela sorriu por cima do ombro. — Que surpresa agradável. Me dê um minuto para terminar este latte.

— Fique à vontade. — Quando ela voltou para o leite fumegante, sentei em um banquinho ao lado de Randall, um dos clientes regulares no restaurante. — Dia.

O velho ergueu o queixo, mas não respondeu minha saudação. Sua bengala estava apoiada no espaço entre os nossos bancos. Seu gorro cinza descansava em seu joelho.

— Como você está?

Tudo o que eu consegui foi um encolher de ombros.

Randall não gostava muito de mim. Não levei para o lado pessoal, porque Randall James não gostava de ninguém, exceto de Poppy e Molly. Ele constantemente dava trabalho, reclamando que a música de fundo estava muito alta ou as luzes estavam muito brilhantes. Reclamava de tudo. Ele se queixou e lamentou porque elas limitaram o número de tortas de maçã que ele poderia comer em um dia, mas ele as amava.

Ele era seu primeiro cliente, entrando no The Maysen Jar antes mesmo de abrir. E, para meu conhecimento, ele esteve aqui quase todos os dias desde então.

Randall sentava no mesmo banquinho todos os dias, um que Poppy e Molly tinham marcado reservado para que ninguém mais ousasse sentar lá. Elas não queriam que os clientes enfrentassem sua ira. O assento à sua direita também estava reservado, aquele para Jimmy. Ele e Randall faziam tudo junto, incluindo fingir que eram arqui-inimigos.

— Bom dia, Finn, — Jimmy cumprimentou.

—Oi, Jimmy. Como você está hoje?

— Muito bem. Seria melhor se os Rockies pudessem contratar um maldito arremessador.

Randall zombou. — Eles não precisam de um arremessador. O que eles precisam é de um par de jogadores que possam acertar a maldita bola.

Jimmy revirou os olhos. — Você sabe alguma coisa sobre beisebol?

— Claramente, mais do que você, se você acha que os Rockies têm alguma esperança de ganhar uma temporada com a formação deles.

Jimmy se contorceu em seu assento, olhando para Randall enquanto os dois se preparavam para um de seus confrontos diários.

Hoje foi o beisebol. Amanhã seria o mercado de ações. Estive aqui há algumas semanas quando os dois gritaram um com o outro sobre qual cheiro representava melhor Montana: arbustos de zimbro ou arbustos de sálvia.

Molly foi a única que conseguiu acabar com essa luta, ameaçando revogar seu privilégio de segunda sobremesa livre se não calassem a boca.

Foi a coincidência que juntou Jimmy e Randall. Os dois moravam no The Rainbow, uma casa de repouso local. Quando Randall começou a vir ao The Maysen Jar, ele não sabia que seu vizinho Jimmy era parente da dona.

Jimmy era o avô de Poppy. Ele era o avô de Jamie e tinha ficado perto de Poppy após a morte de Jamie. Como Jimmy não dirigia e Randall sim, eles iam ao restaurante todos os dias de manhã. Eles tomavam café, comiam e brigavam. Minha teoria era que ambos viviam para irritar o outro.

Poppy adorava tê-los aqui, não apenas porque eles faziam parte de sua família, mas porque eles ofereciam entretenimento gratuito para os clientes do restaurante.

Ter um restaurante era o sonho de criança de Poppy e o The Maysen Jar era exatamente o estilo dela. Não era grande. Ela havia comprado uma oficina mecânica de duas baias e a converteu em um café aconchegante, aberto e próspero.

O piso de cimento, coberto com manchas de óleo, estava escondido sob um piso de madeira em forma de espinha de peixe. As portas reais da oficina haviam sido arrancadas e substituídas por janelas do chão ao teto com vidros pretos. Eu não tinha certeza de quantos baldes de sujeira e gordura ela limpara.

Se eu não tivesse visto o original, não teria acreditado que aquele lugar já foi uma oficina. Ela o transformara, mantendo apenas as paredes originais de tijolos vermelhos expostos e deixando os altos tetos industriais abertos. Mesas e cadeiras pretas enchiam o salão. O balcão na parte de trás era onde as pessoas podiam pedir café ou refeições na vitrine.

Estava na moda sem estar na moda. Era clássico sem ser abafado. Era Poppy misturada com uma corrente de Molly.

O toque de Molly estava em toda parte, provavelmente só notado por mim. No modo como os menus estavam empilhadas pelo balcão. Como em baixo do balcão, as prateleiras estavam organizadas com caixas e recipientes para talheres ou guardanapos extras. Como as mesas estavam dispostas de modo que o corredor central fosse largo o suficiente para andar com um cesto de coleta apoiado no quadril.

Isso era Molly. Ela colocava os outros em primeiro lugar, e aqui, outros significavam Poppy, funcionários e clientes.

Ela montou este negócio da melhor forma possível para garantir o sucesso de Poppy. Molly tinha feito o mesmo para Alcott Landscaping quando começamos juntos. Naquela época, quando era ela, eu e alguns cortadores de grama. Ela era muito eficiente e ajudou nossos negócios a decolar.

Molly tinha um dom para manter as coisas organizadas, mas relaxadas e divertidas. Ela infundiu amor e família em tudo o que fez. Alcott havia perdido esse toque ultimamente.

Mais do que um toque, se eu fosse honesto.

— Tudo bem. — Mamãe voltou entregou o latte pronto. — O que posso fazer por você?

— Eu tomaria um café.

— Considere feito. — Sem pedir detalhes, mamãe me deu o meu café com leite favorito. Não diria isso para a mamãe, mas a versão de Poppy era melhor. — Então, o que você está fazendo aqui? Pensei que você estaria trabalhando.

— Só queria parar e dizer olá. Minha manhã foi bem devagar.

Eu estava mentindo. Minha lista de tarefas estava crescendo mais rápido do que a grama molhada em um dia ensolarado, mas o trabalho se tornou impossível para mim no momento.

Depois de deixar Molly, fui para casa tomar banho e me trocar. Então fui para o escritório, na esperança de chegar cedo e adiantar as coisas. Passei uma hora olhando para o protetor de tela no meu computador enquanto imagens da noite passada passavam pela minha cabeça.

Seus longos cabelos sobre travesseiro branco. Meu travesseiro branco. A pele lisa de suas coxas acariciava meus quadris. A cócega de seus dedos enquanto ela deslizava em minhas costas.

Meu pau estremeceu só de pensar em afundar dentro dela novamente.

O que diabos estávamos pensando? Fazia tanto tempo e puta merda, eu sentia falta de fazer sexo com Molly. Foi tão fácil e natural. Os anos desapareceram enquanto nós mergulhamos naquela dança familiar e sensual.

Eu me perdi nela ontem à noite.

Não importa quantos dias ou meses ou anos se passaram, Molly ainda era inesquecível. A melhor que eu já tive. A maneira como ela se mexia embaixo de mim, suas unhas cavando em meus ombros enquanto eu nos levava ao paraíso, não tinha nada igual no mundo.

Isso significava algo, não é? Que nós fomos tão bons juntos na noite passada quanto todos aqueles anos atrás? Não deveria significar nada. Nós nos divorciamos. Foi apenas sexo. Isso foi tudo. Certo?

Conclusão? Muita coisa aconteceu para destruir nossa relação. Havia coisas do passado que eram inesquecíveis.

E imperdoáveis.

— Finn. — Mamãe acenou com a mão na frente do meu rosto.

Eu pisquei. — O que?

— Eu perguntei se você queria comer algo para acompanhar o seu café com leite.

— Ah, claro. Overnight Oats4, por favor.

— Você está bem? — Ela caminhou até a vitrine refrigerada e tirou o frasco para mim. — Você parece cansado.

— Acordei cedo.

— Você trabalha muito duro. — Mamãe suspirou. — Quando foi a última vez que você tirou férias?

— Faz algum tempo.

Brenna planejou minhas últimas férias. Ela me implorou para passar um fim de semana esquiando em Big Sky no inverno passado. Ou talvez eu disse a ela e foi interpretado como um sim, e ela se encarregou de planejar a coisa toda.

Brenna tinha reservado um fim de semana romântico para nós em um resort de esqui local. Exceto que de alguma forma nossos planos foram por água abaixo, porque acabou sendo meu fim de semana com as crianças. Nosso fim de semana romântico tinha se transformado em um fim de semana só comigo e as crianças porque Brenna ficou brava e voltou para Bozeman.

Max, Kali e eu tivemos uma aventura esquiando e ficamos acordados até tarde na piscina.

Essa foi a segunda vez que ela ficou irritada por eu ficar com as crianças em um final de semana. A terceira vez tinha sido no último final de semana, quando ela queria dormir comigo, mas eu disse a ela que não porque as crianças estavam lá.

Ela tinha dado um ataque, então eu desisti.

Não tinha um lugar na minha vida para uma mulher que não queria passar mais tempo com meus filhos. Uma mulher que não podia respeitar que eu não estava pronto para certas coisas em nosso relacionamento. Não foi inteiramente culpa dela, mas eu deixei minha posição clara. Ela escolheu me ignorar.

— Finn. — Mamãe colocou a mão sobre a minha. — Você está em outro lugar hoje. Tire férias. Por favor. O trabalho sempre estará lá.

—Eu sei. Eu estou diminuindo.

Ela franziu a testa. — Mesmo?

— Estou tentando diminuir, — admiti.

— Tente mais.

Ela disse a mesma coisa para mim quase toda semana desde que ela e papai se mudaram para Bozeman. Foi maravilhoso tê-los mais perto, especialmente para as crianças, mas eles sabiam muito sobre a minha vida.

E mamãe era muito parecida com Jimmy e Randall, que ainda estavam discutindo ao meu lado - não conteve suas opiniões sobre meu estilo de vida. Papai também não.

Eles achavam que o meu negócio havia causado uma ruptura no meu casamento que acabou levando à completa e total destruição.

Eu não concordei. Claro, eu estava ocupado, mas eu estava sustentando a nossa família. Molly sabia disso também.

Meu telefone tocou no meu bolso - uma mensagem da minha paisagista, Bridget. Ela estava tendo problemas para delimitar um muro de contenção em uma propriedade que estávamos fazendo ao longo do rio Gallatin. Folheei as fotos que ela enviou e mandei de volta algumas ideias.

Então me afundei na minha aveia e tomei meu café antes de esfriar. — Molly está aqui?

Esperava que minha pergunta fosse casual, não a razão pela qual eu viria aqui hoje. A última pessoa que poderia saber sobre a transa com Molly a noite passada era minha mãe.

— Eu não a vi ainda, mas ela provavelmente está nos fundos com Poppy.

Engoli meu café com leite e levantei do meu banquinho. — Vou lá então. Preciso falar com ela.

— Tudo bem com as crianças? — Ela perguntou.

Minha família sabia que Molly e eu não fazíamos mais nada além de falar sobre as crianças. Nosso relacionamento outrora épico tinha sido reduzido a conversas sobre transporte, entrega e as noites das crianças na casa dela ou na minha.

— Kali e Max estão ótimos. Eu só preciso falar com ela sobre algumas coisas da agenda.

Valeu a pena a mentira. A verdade iria mandar mamãe para um estado de êxtase. Ela tinha a esperança que Molly e eu pudéssemos nos reconciliar. Pior, ela aumentaria as esperanças de Poppy.

Minha irmã teve bastante dor de cabeça, então ela não precisava estar na montanha russa que era Molly e eu.

Esse passeio acabou.

Empurrei a porta vaivém que separava a cozinha do restaurante e encontrei Poppy em sua estação de trabalho, pressionando círculos de crosta de torta em frascos de vidro em miniatura.

— Ei.

— Ei. — Ela olhou para cima, com as mãos cobertas de farinha. — O que você está fazendo aqui?

Dei de ombros, continuando com a mesma mentira que disse a mamãe. — Eu tive uma manhã tranquila no trabalho.

— Você tomou café da manhã?

Balancei a cabeça. — Mamãe me alimentou.

Desde o divórcio, a principal preocupação de todos era minhas refeições. Embora eu tivesse aprendido sozinho a cozinhar - e muito bem - recebia constantemente guisados e refeições congeladas prontas. Não tinha passado despercebido que eles apareceram na noite anterior a que as crianças estavam comigo.

Mas as crianças e eu adorávamos a comida de Poppy e da minha mãe, então não pus um fim nisso.

— Molly está aqui? — Perguntei.

— Ela está no escritório.

— Obrigado. Vou até lá. Deixando-a com as tortas, fui até o escritório, batendo com os dedos na porta antes de entrar.

Molly estava na mesa atrás de um laptop. Seus olhos se arregalaram quando entrei. — O que você está fazendo aqui?

Fechei a porta atrás de mim. — Bem, você me expulsou antes que pudéssemos conversar esta manhã, então.....

— Não há nada para discutir. — Ela cruzou os braços sobre o peito. — Foi um lapso de julgamento.

— Sim. Eu acho. — Ela estava completamente certa, mas suas palavras não se encaixaram em mim.

Andei até a parede que Poppy cobriu com quadros de cortiça para que ela pudesse fixar uma tonelada de fotos. Eu não estava pronto para voltar atrás e deixar essa conversa para depois, mas eu também precisava de alguns minutos porque não tinha ideia do que dizer.

A maioria das fotos na parede de Poppy era dela, Cole e seus filhos. Havia algumas minhas. Algumas de Molly. Havia até mesmo alguns na faculdade, quando Molly e eu éramos inseparáveis, quando não havia uma festa em que todos nós não comparecemos juntos.

Quando Jamie estava vivo.

Porra, eu senti falta daquele cara. Aposto que ele provocaria Molly e eu por termos ficado juntos ontem à noite.

Eu não tinha certeza de como Poppy podia vir aqui e ver a foto dele. Me chateava muito toda vez que eu via o rosto dele e lembrava que ele tinha ido embora. Ainda me lembro do grito de sua mãe na noite em que liguei para contar a seus pais que o filho deles fora assassinado.

Tirei meus olhos de uma foto de Jamie sentado atrás de Poppy em um snowmobile. Olhei mais fotos, esperando que Molly fosse a única a quebrar o silêncio.

Sorri para os rostos de MacKenna e Brady. Apesar de ter passado alguns anos horríveis, Poppy tinha conseguido sobreviver e estava mais feliz do que nunca com Cole ao seu lado. Com aquelas duas lindas crianças.

Meu sorriso desapareceu quando encontrei uma foto mais recente. Eu não vinha aqui há meses, mas agora gostaria de ter entrado com mais frequência. A foto era de Brenna e eu jogando jogos de tabuleiro na casa de Poppy e Cole. Não deveria estar neste quadro.

Por que Poppy colocaria isso na parede dela? Ela nem gostava tanto de Brenna. Talvez fosse o jeito dela de me dizer que ela estava tentando conhecer minha namorada.

Não importava agora. Puxei a parte de baixo da foto, rasgando-a do alfinete, depois amassei em uma mão e joguei na lata de lixo ao lado da mesa. Quando olhei para Molly, seus olhos castanhos estavam esperando.

— Sinto muito sobre o seu rompimento — ela disse gentilmente.

— Está tudo bem.

— É por isso que você ficou para jantar ontem à noite? Porque você estava chateado?

— O que? Não. As coisas com Brenna não estavam bem há um tempo. Como eu te disse, já era hora.

— Você parece triste.

Corri minha mão sobre o meu queixo. — Eu não estou chateado.

— Bem, você acabou de matar essa foto. Parece que você está chateado.

— Eu não estou chateado.

— Tudo bem se você estiver.

Foda-se. Essa mulher alguma vez me ouviria? — Eu não estou chateado!

Minha voz bateu nas paredes e imediatamente me arrependi de levantar minha voz.

Molly fez uma careta e voltou-se para o laptop. — Bem. Estou ocupada. Eu sei que você provavelmente também está. Como não há mais nada para discutir, você provavelmente deve voltar ao trabalho.

— Me mandando embora de novo?

Ela franziu os lábios, posicionando as mãos sobre o teclado. — Eu vou pedir para as crianças ligarem antes da hora de dormir. Obrigado novamente por cortar minha grama na noite passada.

Aquele maldito gramado. Acabou se tornando um desastre. Eu o culpei por nos colocar nessa posição.

— Molly. — Eu suspirei. — Sinto Muito. Eu só ... Eu não estou chateado por Brenna. Mesmo. Me desculpe, que gritei.

— Eu não quero brigar, Finn.

— Nem eu. — Já fizemos isso o suficiente enquanto estávamos casados. — Estou fora do ar esta manhã. A noite passada foi, bem, eu não sei.

— Foi um erro.

— Você acha isso?

Seus olhos se voltaram para os meus. — O que você quer dizer?

— Foi um erro? — Eu estava lutando com essa questão por horas.

— Somos divorciados. Pessoas divorciadas não deveriam ter relações sexuais uma com a outra. É muito complicado.

— Não parecia complicado.

Ela piscou para mim, sua boca se abrindo. — O que você está dizendo?

— Eu não sei. A noite passada foi a minha melhor noite de sono em anos. E não só porque senti falta do meu travesseiro.

O canto da boca dela apareceu. —Eu não consegui me livrar desse travesseiro. Eu pensei sobre isso, mas simplesmente não consegui.

— Estou feliz que você não fez.

— Talvez você devesse levar com você. Dessa forma, você terá em casa.

Casa.

A imagem que surgiu na minha cabeça naquela palavra era a casa dela, não a minha. O lugar onde vivi nos últimos cinco anos e meio nunca me senti em casa. Pegando meu travesseiro não ia mudar esse sentimento.

Outro homem dormiu no meu travesseiro? Esse pensamento me atingiu forte e rápido, caindo como uma pedra no meu estômago. As crianças não mencionaram ninguém desde o nosso divórcio. Poppy certamente não me contou. Mas talvez Molly estivesse escondendo isso. Talvez ela tivesse alguém em sua vida e eu nunca soube.

Era Gavin?

Teria ele cortado o gramado e passado a noite com ela? Eu não me deixaria pensar em Molly com outro homem, incluindo seu vizinho. O outro homem, o único que eu sabia, era o suficiente. Passei anos tentando bloquear a visão dos lábios de outro homem em seu pescoço, seus dedos em seus cabelos.

Se outro cara tivesse dormido naquele travesseiro, eu com certeza não o queria de volta.

— Fique com o travesseiro.

— Ok. — Ela baixou o olhar para o colo e pegou uma unha. Era isso que Molly fazia quando estava refletindo sobre suas palavras, então eu me preparei. Normalmente, era quando ela dizia coisas que eu não queria ouvir. — Eu não sei o que aconteceu ontem à noite.

— Você não se lembra? — Isso foi um golpe para o ego. Nós dois tínhamos tomado algumas taças de vinho, mas ela não estava bêbada, e pensei que tinha conseguido lhe dar prazer.

— Não. Eu lembro o que aconteceu. Só não sei porque aconteceu.

— Eu também não. — Caminhei até a mesa e sentei na borda. — Você está sozinha?

— Sim, — ela admitiu. — Você está?

— Sim.

— OK. Então eu acho que nós somos duas pessoas solitárias fazendo sexo para sentir uma conexão com outra pessoa. — Eu odiava o som disso. Não foi a explicação correta.

Molly fez uma careta. — Isso soa patético.

— Estava pensando a mesma coisa.

— Gah. — Os dedos de Molly mergulharam em seus cabelos, puxando as raízes. Era seu sinal de que um discurso estava chegando. — O que estamos fazendo? Nós finalmente estávamos descobrindo as coisas. Entrando em uma rotina com as crianças. Estar perto um do outro sem brigar. As coisas foram muito mais fáceis ultimamente. Você até cortou meu gramado. É quase como se fossemos ...

— Amigos.

Molly soltou as mãos do cabelo, que então caiu sobre o peito enquanto seus ombros caíam para frente. — Acabamos de desfazer seis anos e três meses de trabalho duro?

Seis anos e três meses. Ela estava acompanhando quanto tempo tinha passado desde o divórcio. Eu também.

— Eu não tenho uma boa explicação para a noite passada, — disse a ela. — Aconteceu. Eu não me arrependo. Mas eu não quero que as coisas fiquem estranhas entre nós.

— Nem eu. Eu não aguento. Nem as crianças. Acho que a melhor coisa é esquecer que isso aconteceu.

Esquecer? Não é provável. Pelo menos não tão cedo. Mas por Molly, e pelos nossos filhos, eu poderia fingir que isso nunca aconteceu. — OK. Se você acha que é melhor.

— Bem, não é?

— Eu, uh ... Sim. Sim, é o melhor.

Não é? Nos divorciamos. Então sim. É o melhor.

Meu telefone tocou no meu bolso novamente. O dia na Alcott Landscaping estava bem encaminhado. Era hora de eu voltar. — É melhor eu deixar você voltar ao trabalho.

— Sim. — Ela assentiu com a cabeça. — Tenho certeza que você tem muita coisa para fazer também.

— Vejo você na segunda à noite?

— Eu vou trazer as crianças depois que eu as pegar na escola.

— Então o caos começa na semana que vem.

Ela soltou um longo suspiro. — Este verão vai ser louco.

As crianças tinham uma atividade atrás da outra com o objetivo de mantê-las ocupadas, para que pudéssemos trabalhar. Kali foi matriculada em cinco acampamentos de uma semana durante os três meses das férias escolares. Max foi matriculado em quatro. Dois deles coincidiam na mesma semana, o que significava que Molly e eu estaríamos levando as crianças por todo o condado.

Enquanto isso, era a época mais movimentada do ano para a Alcott Landscaping.

— Eu não vejo muito sono no meu futuro.

Era uma piada, mas Molly não riu. — Posso ficar com as crianças por mais tempo se você precisar trabalhar. Eu sei que as coisas são uma loucura no verão.

— Não, está tudo bem. Eu estava brincando.

— Você estava?

— Sim. — Não importa o que aconteceu, meu tempo com as crianças era sagrado. Eu trabalharia mais horas quando eles estivessem em casa com Molly.

— OK. Eu sei que eles odeiam sentir saudade de você.

— Eu também sentiria falta deles. — Eu já odiava as noites em que estávamos separados. — Então, vejo você segunda-feira?

—Segunda-feira.

Eu me levantei da mesa e caminhei até a porta, acenando um adeus quando a abri.

Mas antes que eu pudesse voltar para a cozinha, Molly disse: — Espere, Finn. Há outra coisa.

Eu voltei. — Sim?

Ela abriu a boca para dizer algo, mas parou. Seus olhos caíram para sua bolsa enquanto ela estudava por um momento.

— Por que você deixou isso ...

Eu esperei, mas ela continuou olhando para sua bolsa. — Por que eu deixei o quê?

Antes que ela pudesse responder, a voz de minha irmã percorreu o corredor. — Finn!

— Sim, — eu respondi.

— Mamãe quer saber o que ela manda para o seu jantar.

Revirei meus olhos. — Não preciso de nada.

— Se você não escolher, ela vai mandar qualquer coisa.

— Bem. Me dê um minuto. Voltei para Molly. —Eu sei cozinhar. Eu sou bem decente.

Ela segurou um sorriso.

— O que? Eu sou. Pergunte às crianças. Kali disse que o espaguete que eu fiz para eles neste fim de semana foi o melhor.

— Tenho certeza que foi o seu melhor.

— Obrigado. — Eu me virei para a porta, mas recuei. —Espere. Você sabe de alguma coisa? As crianças não gostam da minha comida?

— Eu acho que eles gostam muito. Acho que eles amam os potinhos de galinha da tia Poppy e a caçarola de sua avó.

— Justo. Vou separar seus favoritos para a próxima semana. — Tentei novamente sair do escritório, mas parei. — Você ia me perguntar alguma coisa?

— Eu? — Ela encolheu os ombros. — Acho que esqueci.

— Você tem certeza?

— Tenho certeza. Obrigado por vir hoje. É bom esclarecer as coisas.

— Sempre. Até mais tarde.

Ela assentiu. — Tchau.

Saí do escritório, sentindo-me melhor do que quando cheguei. As coisas estavam esclarecidas. Foi tudo resolvido. Molly e eu voltaríamos a ser como antes.

Hoje à noite eu iria dormir na minha própria cama com meu próprio travesseiro.

Bem, não exatamente meu. Era da Molly. Em um momento fraco, eu levei o dela comigo durante o divórcio, não querendo esquecer o cheiro de seu xampu chique.

Meus pés pararam. Ela manteve meu travesseiro. E eu mantive o dela.

Seis anos era muito tempo para um travesseiro.

O que isso significa?

Nada. Não significou nada. Isso significava que éramos preguiçosos demais para comprar novos travesseiros.

Não é?


QUATRO

MOLLY


POPPY e eu pegamos um banquinho na mesa de aço inoxidável da cozinha. Depois que Finn partiu, terminei o trabalho do escritório e fui trabalhar no balcão. O movimento do meio-dia do restaurante tinha acabado e, como fazíamos a maioria dos dias de trabalho, Poppy e eu pegamos uma salada na geladeira para comermos juntas.

Randall e Jimmy haviam ido embora há pouco tempo, voltando ao The Rainbow. Eu tinha ouvido rumores de um jogo de pôquer com alguns de seus outros vizinhos, seguidos de algumas horas aproveitando a assinatura de Jimmy na HBO.

Rayna também tinha passado o dia, dando cobertura para Dora, nossa mais nova funcionária, que trabalhava meio período enquanto estudava na escola estadual de Montana. Ela pegou rápido, então Poppy e eu estávamos deixando-a sozinha mais e mais esses dias.

Coloquei meu molho de salada no pote de legumes, fechei a tampa e balancei o frasco. Esta era a melhor parte de comer salada, embora tudo no Poppy's ser delicioso. Era só que o macarrão com queijo dela era fenomenal. Mas guardei para ocasiões especiais - e hoje não era uma - então joguei minha salada no meu prato e levantei meu garfo.

— Está tudo bem entre você e Finn? — Poppy fez a pergunta que eu estava esperando a manhã toda. — Quando ele fechou a porta do escritório, fiquei preocupada que vocês estivessem brigando.

— Tudo bem. Tivemos que resolver algumas coisas com o cronograma das crianças. — Não era uma total mentira. Nós tínhamos concordado que a agenda dele nunca mais incluiria dormir na minha casa. — Ele cortou meu gramado ontem.

— Quem? Finn? — Seus olhos se arregalaram. — Isso foi legal. Especialmente por que ele nunca fez isso quando você era casada.

Pus um pouco de salada na minha boca para esconder um sorriso. Poppy estava possivelmente mais irritada com o comportamento de Finn como marido do que eu. Ela manteve esse ressentimento por mais tempo também, enquanto eu deixava passar.

— Foi ótimo não fazer isso por uma mudança — eu disse a ela. — Ou foi encontrar o tempo ou tomar Gavin em sua oferta para fazer isso por mim.

— Gavin quer cortar o seu gramado? — Poppy sorriu e espetou alguns legumes e balançou as sobrancelhas. — Você deveria deixar.

— Eu estou culpando a influência de Cole por todas as insinuações que você tem feito ultimamente. Ele corrompeu minha doce e recatada amiga — provoquei.

— Ele me corrompeu. — Ela sorriu. — Da melhor maneira possível. Agora quero que alguém venha e te corrompa.

— Não. — Balancei a cabeça enquanto mastigava. — Eu tenho uma vida boa. Estou feliz. Não precisa de corrupção, muito obrigada.

— Nos dias em que você está com as crianças, você é. Mas nos dias em que eles estão com Finn ... — Ela parou quando deu outra mordida.

— Estou feliz mesmo nos dias em que as crianças estão com Finn. — Feliz. Solitária.

— Gavin parece ser um cara legal.

— Ele é legal.

Ele vinha ao restaurante de vez em quando para dizer olá, e Poppy torcia por ele desde o começo. Ela achava que o cavanhaque e os óculos de tartaruga eram sexy.

— Por que você não lhe dá uma chance? — Ela perguntou.

— Talvez. — Ontem à noite, considerei namorar de novo, mas depois fiz sexo com Finn e lembrei que não tinha tempo para lidar com esse tipo de drama. Não que eu pudesse compartilhar isso com Poppy. — O momento com Gavin não tinha chegado. Vamos ver como me sinto se ele me pedir de novo.

Ela revirou os olhos. — Você pode convidá-lo para sair.

— Não. — Eu zombei. — Nunca vai acontecer. O cara convida a garota.

Era uma daquelas coisas que eu tinha enfiado na cabeça desde que eu era adolescente. Talvez por causa da educação conservadora dos meus pais, mas gostava da ideia de um homem cortejar uma mulher. Gosto quando o homem assume o comando e mostra para a mulher que ele está interessado. Quando ele sai de sua zona de conforto porque ela vale a pena o risco.

A carta na minha bolsa me veio à cabeça.

Eu deveria ter perguntado a Finn sobre a carta. Por que eu não perguntei? Estava na ponta da minha língua, mas eu tinha perdido a coragem e engoli.

Ignorância era uma bênção, certo? Saber por que ele havia enviado a carta agora, por que ele não a enviara naquela época, era garantido que doeria. A verdade é que eu não tinha coragem de suportar essa dor.

Depois que nos divorciamos, as coisas entre nós ficaram tensas por meses. Finn estava tão zangado comigo, com razão, que ele não era capaz de olhar para mim. Ele falava comigo estritamente o necessário. Nós nos movíamos como imãs opostos, repelindo em vez de atrair.

Então uma noite ele veio falar comigo.

Foi logo depois que Poppy começou a namorar Cole. Minha teoria era que ele tinha parado de me punir porque ela o inspirou.

Poppy havia encontrado a felicidade depois do desgosto, e Finn também queria isso. Ele admitiu ser um idiota desde o divórcio e confessou que estava cansado da animosidade. Estou pronto para deixar para lá, ele disse.

Eu lembro de prender a respiração enquanto ele falava naquela noite. Sentei-me no sofá, estupidamente pensando por alguns segundos felizes que ele queria voltar a ficar juntos. Que as próximas palavras de sua boca seriam ele ainda me amava, ele me perdoou, e ele queria nossa família de volta.

Não. Ele queria namorar novamente. Para seguir em frente, como Poppy tinha feito. Ela encontrou o amor depois que Jamie morreu. Ela encontrou Cole.

Ele queria um novo amor também. Se eu ainda tivesse oxigênio em meus pulmões, essas palavras teriam roubado o resto. Os pequenos fragmentos do meu coração partido se transformaram em pó, porque ele queria o fechamento.

A carta era outra peça de sua busca pelo fechamento?

Finn nunca me perdoaria por passar uma noite com outro homem. Ele deixara claro que procurava a próxima Sra. Alcott, não a primeira.

Meu palpite era que essa carta era outro mecanismo para ele deixar as coisas de lado. Para dissolver todo Finn e Molly.

Eu não precisava ou queria que Finn soletrasse para mim, então, junto com a noite passada, eu fingiria que aquela carta nunca tinha chegado. Se Finn tivesse algo a dizer, ele viria falar sobre isso, não eu.

— Você vai me fazer uma promessa? — Poppy perguntou.

— Eu não gosto do som disso.

Ela riu. — Por favor, diga sim se e quando Gavin te convidar para sair. Diga sim se algum cara te convidar para sair. Eu quero que você seja feliz, Molly-moo.

— Ooof. Puxando as grandes armas. — Ela deve estar realmente preocupada comigo se ela estiva usando o apelido que ela me deu no nosso primeiro ano na faculdade. — A última vez que você usou o Molly-moo foi quando você precisou que eu ficasse com as crianças para que você e Cole pudessem desaparecer para 'esquiar' em Big Sky e não sair do seu quarto de hotel.

Ela riu. — Esse foi um final de semana muito bom. E lembro-me de não querer encontrar com ele quando hesitei ir ao meu primeiro jantar com Cole.

— Lembra-se disso, não é?

— Talvez Gavin não seja o cara. Mas ele é um cara. E você não teve nenhum encontro desde o divórcio.

— Eu não preciso namorar para ser feliz. Amo que você queira que eu encontre um relacionamento novamente, mas não sei se tenho energia para um agora.

— Você está sozinha, Molly.

— Eu não estou....

— E antes de mentir para mim, lembre-se de que não sou apenas sua melhor amiga, sou sua irmã. Divorciada de Finn ou não, você é minha irmã, então eu noto as coisas. Percebo como você trabalha aqui da hora que abre até ao fechamento nos dias em que Finn fica com as crianças. Percebo que você vai ao cinema sozinha. Percebo que você não sai para beber desde aquela noite.

Não, eu não fui mais aos bares. Se fosse inevitável, eu bebia água ou refrigerante. A única vez que eu bebi agora estava em casa de pijama e rabo de cavalo, onde não havia risco de um homem dizer palavras doces e fazer gestos gentis para entrar em minha calça de moletom.

Até que Finn veio.

Talvez Poppy tivesse razão. Talvez a minha vontade de ir para a cama com Finn na noite passada tenha sido porque eu estava desesperada por alguma companhia. Quando estávamos conversando no escritório, ele chegou à mesma conclusão.

— Ficar sozinha três ou quatro dias por semana não é maneira de viver.

— Você está certa, — eu disse a ela. — Eu me sinto sozinha. Mas não quero voltar a namorar.

— Então - e eu odeio dizer isso - faça alguns amigos.

Meu rosto azedou. — Eu tenho amigos.

— Eu não conto. Sou da família.

— Eu tenho....

— Não se atreva a dizer Randall e Jimmy.

Droga. Isso significava que eu não poderia listar Rayna também. — OK tudo bem. Vou tentar fazer novos amigos.

— Obrigada.

— Quando eu convidar minhas novas amigas para vir ao restaurante, você não pode ficar com ciúmes. Isso foi a sua ideia.

Ela sorriu. — Prometo.

— OK. Vamos falar de outra coisa. Quer fofocar sobre o Finn?

— Sempre.

Eu sorri abertamente. Ela era sua irmã, mas como ela disse, ela era minha também. E Poppy gostava de fofocar sobre seu irmão.

— Ele terminou com Brenna. — Se ela soubesse, ela já teria me dito. Eu não tinha certeza do por que ele não tinha contado à sua família ainda - isso iria vazar de algum jeito - então eu estava simplesmente adiantando esse anúncio.

— O quê? — Ela engasgou. — Quando?

— Último fim de semana, eu acho. Depois que ele cortou o gramado na noite passada, as crianças e eu o convidamos para comer pizza. Perguntei se ele tinha planos com Brenna e ele disse que eles terminaram.

— Uau. — Poppy sentou-se em sua cadeira, chocada. Então ela sorriu. — Finalmente. Estou procurando uma desculpa para tirar essa foto do escritório.

— O que? — Agora era a minha vez de ficar chocada. — Eu pensei que você gostasse de Brenna.

— Ela é uma mulher legal e eu me dava bem com ela. Por amor a Finn, eu tentei. É por isso que coloquei essa foto, mesmo sabendo que você odiava aquilo.

— Você sabia?

— Como eu disse, noto as coisas. Eu deveria ter tirado isso, mas ... — Ela parou.

— Você estava apoiando seu irmão.

Ela assentiu. — Quero dizer. Eu gosto da Brenna. Ela não é certa para o Finn.

Porque ela não sou eu.

Senti pena das mulheres que Finn apresentou a Poppy. Elas tinham uma parede de tijolos para quebrar se elas quisessem ganhar sua simpatia. Porque não importa, elas seriam comparadas com a ex-cunhada que também era a melhor amiga da irmã. Até mesmo Brenna, alguém que tinha ido na casa de Poppy e Cole muitas vezes no ano em que ela namorou Finn, não chegou perto de quebrar aquela parede.

— Finn já te bateu nisso. A foto está no lixo do escritório.

— Uh-oh. — Ela suspirou. — Ele está bem?

— Acho que sim. Ele me disse que eles não tinham nada em comum.

— Ela parecia nervosa em torno das crianças. E ela odiava caminhar.

Eu estremeci. — Isso bastou.

É claro que Finn não ficaria com uma mulher que não fosse boa com Kali e Max. Mas além disso, Finn adorava fazer caminhadas. Antes das crianças nascerem, nossos domingos foram gastos explorando novas trilhas nas montanhas. Depois que nós tivemos Kali, as caminhadas eram mais curtas e mais suaves, mas nós ainda íamos com um bebê amarrado nas costas dele.

— Estou feliz que ele começou a caminhar de novo, — eu disse a Poppy.

— Eu também. — Ela me deu um sorriso triste.

Finn parou de caminhar depois que Jamie foi morto. Em vez disso, ele passou seu tempo livre na casa de Poppy, persuadindo-a a sair da cama ou entrar no chuveiro. Mesmo depois de ter conseguido sair da depressão, ele não tinha ido muito. Ele trabalhava.

Só depois de estarmos divorciados há um ano que ele voltou a se envolver com isso. Nas manhãs em que ele não ficava com os filhos, ele caminhava por uma hora. O homem subia até o topo de uma montanha e depois descia. No inverno, ele fez raquetes de neve porque adorava sair ao ar livre.

— Você acha que Finn está feliz? — Poppy perguntou.

— Eu não sei, — respondi honestamente. — Acredito que sim.

— Eu quero que vocês dois sejam felizes. Eu não... Ela balançou a cabeça. — Deixa pra lá.

— O que?

Seus olhos azuis brilhavam com lágrimas enquanto ela olhava para mim. — Às vezes sinto como se tivesse lidado melhor com a morte de Jamie, se eu não tivesse sido tão destruída, você e Finn não teriam se divorciado.

— Poppy, — sussurrei. — Não.

Ela piscou algumas vezes, limpando as lágrimas. — Maio sempre me faz lembrar.

Maio. Houve muitos aniversários em maio. Foi o mês em que ela e Jamie se casaram. Foi o mês em que ele foi assassinado, pouco antes do aniversário de casamento de um ano. Ela passou cinco Maios perguntando por que ele tinha sido levado. Imaginando por que seu assassino de sangue frio conseguiu fugir.

Até que Cole apareceu e resolveu o assassinato de Jamie que ela foi capaz de colocar essas questões de lado.

Poppy não estava deprimida, ela foi destruída. Seu coração tinha sido quebrado, e ela se tornou uma concha de uma pessoa, andando como um cadáver.

Durante meses, Finn tinha ido à sua casa logo de manhã. Ele se certificou de que ela estava bem para o trabalho. Ele se certificou de que ela estivesse viva. Todas aquelas manhãs, mantive meu telefone perto, porque eu nunca soube o que ele encontraria quando chegasse lá.

Ela estava à beira de morrer por estar com coração partido.

— Por favor, não pense isso, Poppy. O que aconteceu com Finn e eu não tem nada a ver com você.

— Eu quero acreditar nisso. Realmente quero. Mas a coisa é que ele me manteve estável. Vocês dois me seguraram. Se não fosse por vocês dois, não sei se eu teria sobrevivido.

— Você teria ficado bem. — Lágrimas brotaram nos meus olhos. — Não posso suportar pensar neste mundo sem você.

— Aqueles primeiros meses são um borrão. — Ela cruzou as mãos no colo, olhando para baixo. — Mas eu sei o quanto foi ruim. Eu sei o estresse que Finn passou para cuidar de mim. E você também.

— Mas isso foi anos antes de começarmos a ter problemas.

Ela encolheu os ombros.

— Poppy, olhe para mim, — eu pedi, esperando por seus olhos azuis para encontrar os meus. — Você não é a razão pela qual nos divorciamos. Nos separamos porque nos esquecemos de cuidar um do outro. Não porque estávamos cuidando de você.

— Promete?

Roubei o gesto dela e cruzei meu coração. — Pela minha vida.

Uma lágrima escorreu pela bochecha dela e ela afastou, então forçou um sorriso. — Desculpa. Isso ficou muito pesado. Mas tenho pensado nisso porque ...

— É maio.

— Sim. — Ela assentiu com a cabeça. — Cole sabe que está em minha mente. Ele me disse para perguntar porque você seria honesta. Eu amo meu irmão, mas não acho que ele me diria a verdade. Ele ainda acha que tem que proteger meus sentimentos.

Finn sempre cuidou de sua irmã mais nova, antes mesmo de Jamie morrer. Mas ela estava certa. Se Finn pensasse que a morte de Jamie teria afetado nosso casamento de alguma forma, ele nunca diria a Poppy. — Ele te ama.

— Eu também o amo. — Ela se levantou e levou seu frasco de salada para a máquina de lavar louça industrial, lavando-o e colocando-o no rack.

Eu a segui, fazendo o mesmo com o meu enquanto ela arrancava seu avental especial de seu gancho e o amarrava em volta da cintura.

— Vou trabalhar no balcão por um tempo, — disse — enrolar alguns talheres para o jantar. Precisa de alguma coisa?

— Não. Eu vou fazer um pouco de pão de banana. Nós fizemos muitos deles esta manhã.

Pão de banana no pote, salpicado com os pedaços de chocolate. Atrás de sua quiche diária, era o que mais vendia no café da manhã. Nunca deixou de me surpreender as coisas que Poppy inventou para pôr em um pote.

— OK. Grite, se você precisar de mim.

— Molly? — Ela me parou antes de eu empurrar a porta de vaivém. — Amo você.

Eu sorri. — Amo você também.

Não me importei com o que ela disse. Eu não precisava de novos amigos.

Não quando eu a tenho.

 


— O que o caminhão do papai está fazendo aqui? — Max perguntou quando entramos na rua sem saída.

— Uh, não tenho certeza.

Saí do restaurante às quatro e meia para pegar as crianças nas aulas extracurriculares. Então paramos no supermercado para pegar alguns itens para fazer os BLTs5 para o jantar - era a escolha de Kali esta noite.

Desde que ele deixou o restaurante esta manhã, não tive notícias dele. Então, por que ele estava de volta à minha casa?

Estacionei o Jeep na garagem e as crianças saíram antes mesmo de desligá-lo. Eu me apressei para alcançar e estava entrando no jardim da frente quando Finn circulou o lado mais distante da casa empurrando um carrinho de mão e vestindo roupas diferentes das que ele estava no restaurante esta manhã.

A frente de sua camiseta branca estava manchada de sujeira e seus bíceps esticados contra a bainha das mangas curtas. Sua pele brilhava com um leve brilho de suor.

Ele estava usando um velho boné de beisebol, que eu reconheci de uma década atrás. Sua aba azul brilhante estava desgastada porque sempre que Finn tirava, ele enrolava e colocava no bolso de trás das calças de trabalho como as que ele estava usando agora. Eles estavam amarelados, exceto pelas manchas permanentes de sujeira e grama nos joelhos e coxas.

Provavelmente lavaria as calças uma centena de vezes, mas elas pareciam encaixar melhor em Finn a cada lavagem. A curva de sua bunda perfeita estava impressa nessas calças. O tecido havia se moldado em torno de suas coxas grossas.

Um rubor subiu pelas minhas bochechas enquanto me lembrava de todas as vezes que tirei as calças de seu corpo antes de me juntar a ele no chuveiro. Um pulsar surdo se estabeleceu entre as minhas pernas. Lutei contra o desejo de abanar o rosto, respirando fundo algumas vezes e castigando meu corpo traidor por tal reação.

Mentalmente castiguei Finn também. O idiota sexy. Eu me dei muito bem nesses últimos seis anos me satisfazendo. Pelo menos eu pensava assim. Mas então ele lembrou ao meu corpo como era ter um orgasmo decente.

Quanto tempo levaria para esquecer isso também?

— Papai. — Kali correu para ele primeiro.

— Ei, linda. — Ele sorriu, colocando o carrinho de mão para baixo para tirar os óculos escuros do rosto. Então ele tirou as luvas de couro e se inclinou para beijar sua bochecha antes de bater as mãos com Max.

— O que você está fazendo? — Max perguntou, inspecionando o carrinho de mão vazio. — Posso ajudar?

Finn riu. — Certo. Mas você tem que trocar o uniforme da escola.

Sem outra palavra, as duas crianças correram para a casa. Max tirou a camiseta enquanto corria.

— Oi. — Acenei e atravessei o pátio. — Não ouvi você dizer que viria de novo?

— Não. Eu disse segunda-feira. Mas então eu tive em uma ideia. — Ele girou seu boné de beisebol para trás, provavelmente porque sabia que me faria ficar fraca nos joelhos e instantaneamente o perdoaria pelo enorme buraco na frente do meu quintal.

Meu cérebro chegou até meus olhos. Há um enorme buraco na frente do meu quintal.

Eu estava tão distraída com Finn que não tinha notado a ruína que estava a borda que separava meu quintal do de Gavin.

Dei um passo mais perto dos destroços. O buraco estava no mesmo lugar de um monte de capim indiano quando eu saí esta manhã. Não só a grama ornamental se foi, mas também uma parte longa da calçada foi arrancada. O arranjo de paisagístico que passei horas repondo nesta primavera fora levado embora.

— O que. Está. Acontecendo?

Finn plantou as mãos nos quadris. — Este gramado é foda para cortar.

— Diga-me algo que eu não sei.

— Eu estou arrumando.

— Repete isso?

Ele pegou as alças do carrinho de mão e levou-a para onde estava trabalhando. — Eu sei que deveria ter perguntado primeiro. Sinto muito. Vim para olhar um pouco, uma coisa levou a outra e me deixei levar.

— Você acha?

— Aqui está o que estou planejando. Vou arrancar tudo, nivelar e semeá-lo com grama. Então você não terá que usar o cortador de grama aqui. — Ele se virou e apontou para o canto oposto do pátio ao lado da garagem. — Vou deixar o canteiro como está, mas vou refazer a borda em uma curva mais larga para que o cortador possa pegar toda a grama. Mesmo com os canteiros ao longo da varanda. O que você acha?

— O que eu acho? Eu, uh ... Ok? — Isso saiu como uma pergunta. Por um lado, eu odiava cortar a grama do quintal. A perspectiva de não ter que usar meu cortador de grama me dava quase tanta alegria quanto um dos orgasmos que tive na noite passada. Mas por outro lado, esse era meu quintal. —Você deveria ter perguntado.

— Você está certa. Eu deveria. Se você quer que tudo volte ao que era antes, eu farei agora mesmo.

Eu realmente queria aquela grama indiana? Nem um pouco. — Não, está bem.

— Também podemos ver os planos para o quintal, mas eu queria começar com a frente. Posso garantir que tudo será feito em pouco tempo. A parte de trás pode terá que esperar um pouco. Todos os meus funcionários estão encaixados na minha agenda para o verão e está apertado.

— Está bem. Se a frente ficar mais fácil de cortar, isso é bom o suficiente. Mantenha sua equipe no cronograma.

Ele balançou sua cabeça. — Isso não foi o que eu quis dizer. Eu não posso enviar uma equipe, mas vou fazer isso sozinho. Provavelmente terei a frente pronta em algumas semanas. Preciso elaborar algumas ideias para o quintal, e posso te dar uma previsão de quando ficará pronto.

Previsão. Essa palavra sempre vem acompanhada de outra: orçamento.

— Não posso pagar uma conta enorme de paisagismo agora.

Ele franziu a testa. — Eu não vou cobrar. Este quintal é uma dor na bunda porque eu estava muito ocupado fazendo experimentos para torná-lo funcional.

Meu queixo caiu. Quem era esse homem e para onde fora o verdadeiro Finn Alcott? — Você está falando sério? Você vai mesmo consertar meu quintal?

— Eu gostaria de tentar.

Antes que eu pudesse concordar, a porta da frente da casa se abriu e as crianças desceram correndo os degraus da varanda.

Max estava usando as luvas de jardim que Finn lhe comprara no verão passado. Ele bateu palmas duas vezes enquanto sorria. — OK. Por onde eu começo?

Finn riu. — Que tal começarmos a passear pelo quintal? Eu gostaria de perguntar a sua mãe como ela quer que ele fique.

Essa declaração enviou meu queixo para o chão. Quando Finn fez o paisagismo aqui, ele não me perguntou o que eu queria. Nem uma vez. Eu me recuperei do choque rapidamente, sabendo exatamente o que eu queria para o meu quintal. — Eu gostaria de um arbusto de lilases.

— Que cor?

— Roxo profundo. — Sempre quis um para que eu pudesse cortar flores na primavera e colocá-los em casa para desfrutar do seu cheiro. Mas com os outros arbustos e plantas, não havia espaço. Lilases se expandiram rapidamente e havia poda suficiente para fazer cada ano uma diferente.

— Você entendeu. — Finn liderou o caminho para o quintal, as crianças pulando ao seu lado.

Eu segui atrás deles.

Finn estava arrumando meu quintal. Pessoalmente. O que diabos está acontecendo?

Ele não estava entregando um projeto secundário a um de seus encarregados administrar. Ele não estava delegando isso para uma equipe de garotos da faculdade que vinham até minha casa e levavam a sujeira lá dentro sempre que precisavam usar o banheiro.

Ele estava se esforçando para fazer isso sozinho.

Nós três caminhamos pelo perímetro do quintal quando Finn me fez perguntas sobre o que eu queria manter ou esconder.

— E a fonte?

— Eu não quero isso, — admiti. — Leva uma eternidade para limpar e está sempre cheia de folhas.

Ele assentiu. — Então vou tirar.

Se não fosse o meu coração inchando a três vezes o tamanho normal, eu não teria acreditado que isso fosse real.

— Vamos fazer BLTs para o jantar hoje à noite, — disse Kali quando fizemos a volta completa do quintal. — Quer comer com a gente?

Ele me procurou por permissão. Seus olhos azuis estavam brilhantes ao sol. Ele cheirava como o ar da primavera e a grama fresca. Sua mandíbula quadrada estava polvilhada de leve penugem do dia. Ele parecia tão bonito, um pequeno sorriso puxando um lado da boca, que esqueci tudo sobre os meus planos de ignorar a noite passada e manter distância de Finn.

— Fique. Por favor.

Seus olhos brilharam com as minhas palavras. Eu disse a mesma coisa na noite passada quando ele me pressionou contra a parede do corredor do lado de fora do meu quarto. Seus lábios estavam descendo pelo meu pescoço. Suas mãos estavam segurando meus seios.

O jantar não seria apenas jantar.


- Carta –

 

Querida Molly,


Eu vou te pedir em casamento amanhã.


Estou tão nervoso que não consigo dormir. Não sou bom em dizer a você como me sinto. Misturo as palavras e nada sai certo. Estou com medo de estragar tudo e você dizer não. Talvez eu mantenha essa carta como apoio. Se eu começar a dizer algo estúpido, vou entregar isso. Não que você vá conseguir ler. Minhas mãos estão tremendo tanto que mal posso escrever.


Eu te amo, Molly.


Eu amo que você, acima de tudo, seja honesta. Eu amo que você tenha uma alma velha e ainda me incomoda para escrever cartas. Eu amo que você disse não quando eu pedi a você para morar comigo porque você queria deixar essa experiência para a vida de casado.


Eu amo fazer aniversário no mesmo dia que você. Não há uma pessoa no mundo com quem eu gostaria de compartilhar meu bolo além de você. E amanhã, quando apagarmos as velas, vou te pedir em casamento.


Por favor diga sim.


Seu,

Finn


CINCO

FINN


— FINN, VOCÊ ESTÁ AQUI? — Bridget chamou de seu escritório.

— Não.

Ela riu quando as rodas de sua cadeira de escritório rolaram sobre o chão de madeira. Deslizando para trás, ela apareceu na minha porta. — Você entrou enquanto eu estava no telefone.

— Não havia como me intrometer. Você estava gritando tão alto que não me ouviu.

O lábio de Bridget se encolheu. — Eu estava conversando com aquele babaca, vendedor chauvinista do viveiro.

— Você quer dizer que estava gritando com aquele babaca, vendedor chauvinista do viveiro. O que Chad fez desta vez?

— Ele errou meu pedido. Novamente. Ele mandou o Colorado azul em vez do Abeto da Noruega e sabe o quanto eu odeio o azul com aquelas agulhas afiadas. Ele não incluiu o nosso desconto a granel, ele enviou dois arbustos extras de cereja selvagem, e para corrigir seus próprios erros, ele disse que serão mais duas semanas. Minha equipe está pronta para plantar amanhã no projeto Nelson.

— Merda. — Esfreguei minha testa. — Vou ligar para o proprietário.

— Esta é a terceira vez. Chad sempre anota certo os seus pedidos. Sempre. Ele faz tudo errado no meu, e nós dois sabemos que é porque sou uma mulher.

Eu queria discutir e dizer a Bridget que Chad era apenas um idiota, mas ela estava certa. Eu estava no viveiro na primeira vez que os dois se encontraram e quando ela foi apertar a mão dele, ele a expulsou.

— Vou ligar para o dono. Ou ele põe um novo vendedor em nossa conta, ou nós mudamos para a Cashman.

E pague um extra de cinco por cento em todos os pedidos. Eu estava usando esse viveiro menor no ano passado porque seus produtos eram de primeira linha e seus preços eram imbatíveis. Mas eu não ia fazer Bridget lidar com um idiota.

— Obrigada. — Ela empurrou a cadeira mais para o meu escritório, rolando até a borda da minha mesa. Ela sorriu para a foto de Max e Kali na ponta. — Hoje é o último dia de aula, certo?

— Sim. É difícil acreditar que minha Kali seja uma estudante do fundamental dois.

— Parece que ontem ela veio aqui e jogou cartas depois da pré-escola.

— Os anos passam cada vez mais rápido. — Não só os anos. Os dias e semanas também. Parecia que algumas horas atrás eu tinha começado o projeto do quintal de Molly, mas já fazia uma semana.

— Os verões estão correndo, — disse Bridget. — Não podemos acompanhar.

Empurrei meu calendário para ela para que ela pudesse avaliar a programação. — Não, não podemos.

Tive que recusar três clientes na semana passada porque não tínhamos a capacidade de orçar seus projetos. Nossa equipe de corte estava no limite e a lista de espera era de vinte metros. A adição de mais funcionários não era possível até talvez na próxima temporada - simplesmente não havia mão de obra treinada na cidade.

A temporada estava começando e eu já estava atrasado no trabalho do escritório. Normalmente, eu trabalhava até tarde nas noites em que Molly ficava com as crianças e as ordenava. Mas esta semana, eu estava saindo do escritório às cinco horas em ponto para ir à sua casa e trabalhar no quintal. Nós jantávamos e saíamos com as crianças. Então eu passava a noite, acordava cedo para sair antes do amanhecer.

Eu estava saindo escondido com minha mulher.

Ex-mulher.

Mas maldita seja, o sexo era bom. Talvez melhor do que nunca. Nós dois estávamos tendo um caso completo na casa que compramos juntos. E eu não tinha planos de parar, mesmo que isso fosse idiota.

Eu tinha mais energia agora do que em anos. Eu me peguei sorrindo mais durante todo o dia sempre que pensava em seus lábios na minha pele ou minhas mãos em seus cabelos. Porra, mas eu amava o cabelo dela. Quando foi a última vez que fiquei tão envolvido por uma mulher?

Quinze anos atrás.

Nenhuma das namoradas que tive desde me separei de Molly, me deu uma grande emoção. Namorei Brenna por um ano e, na última metade, passei mais tempo evitando encontros do que correndo na direção deles.

As três noites da semana passada, quando as crianças estavam na minha casa, fui para a cama mal-humorado, desejando que fosse Molly ao meu lado, não meu laptop fechado.

Se houvesse uma maneira de trazê-la, eu teria feito isso. Exceto que meus filhos não eram idiotas e eles saberiam que algo estava acontecendo. Eu poderia ter a desculpa do paisagismo para me levar para a casa de Molly. Mas ela não pôs os pés em minha casa. Nem uma vez. Sempre que ela deixava as crianças, ela se despedia na calçada, ficando a pelo menos três metros da porta da frente.

Por que isso? Eu a convidei em mais de uma ocasião, mas em seis anos ela não cruzou o limiar. Nem mesmo quando Max a convidou para ver seu quarto. Ela deu uma desculpa sobre estar atrasada e prometeu ver outro dia - o que nunca aconteceu.

Estas eram todas as coisas que deveríamos ter conversado em vez de nos despirmos como fizemos o fim de semana todo e a noite passada também.

Sexo era mais fácil que falar. Sempre foi.

Molly e eu passamos anos nos comunicando fisicamente, aprendendo e aperfeiçoando o modo como nos reuníamos silenciosamente. Assim que as palavras se tornaram realidade, as coisas ficaram difíceis.

Nós concordamos que a primeira noite foi um erro. Eu arriscaria um palpite de que ela sentiu o mesmo sobre as outras três. Mas para o inferno com isso, eu estava animado para ir lá depois do trabalho hoje à noite.

O jardim da frente estava ficando bom, e foi uma alegria ter as crianças me ajudando. Molly também. Ela se juntou a nós lá fora ontem à noite, usando suas próprias luvas de couro e trabalhando por uma hora antes do jantar.

Pela primeira vez, nós quatro trabalhamos juntos em um projeto. Como uma família.

Max achava que a sujeira era fascinante. Kali tinha o polegar verde. E Molly tinha um olho para o design que eu não tinha respeitado o suficiente. A sensação de estar ao lado deles, ouvindo suas ideias, tinha me enchido de tanto orgulho, fiquei tentado a esticar esse projeto por meses, porque não queria que terminasse.

Exceto que eu não podia me dar ao luxo de estender o projeto. Eu não podia me dar ao luxo de passar todas aquelas noites na casa da Molly. Tenho que trabalhar. A única outra opção era fazer algumas mudanças na Alcott.

Bridget estava olhando com os olhos arregalados para o meu calendário. Eu tinha um horário separado que costumava rastrear as equipes de corte, o mesmo sistema que Molly havia projetado anos atrás. Mas este calendário estava cheio dos principais projetos, aqueles em que Bridget e eu fomos designados para supervisionar o design e a execução.

Ela tinha duas equipes que se reportavam a ela, cada uma liderada por um encarregado que trabalhava no local e trabalhava todos os dias. Eu tinha três que se reportavam a mim.

Usamos um sistema codificado por cores no calendário para atribuir tarefas. Seus projetos eram amarelos, meus azuis.

O mês de junho estava tão cheio, que se você olhasse para a página, tudo ficava verde. Talvez fosse hora de admitir que precisávamos de alguma ajuda.

— Só estamos nós dois projetando e gerenciando equipes por um longo tempo, — eu disse a ela.

— Sim. — Sua espinha se endireitou. — Espera. Você está pensando em contratar outra pessoa?

— Talvez. — Eu parei. — Na verdade sim. Quero continuar crescendo, mas preciso de mais funcionários.

O queixo de Bridget ficou tenso. — Eu provavelmente posso levar mais três projetos por mês.

— Aprecio isso, mas eu não quero que você se queime.

— Prefiro trabalhar um pouco mais do que jogar alguém no meio disso que vai atrapalhar. Lembra como as coisas eram desorganizadas quando Jason trabalhava aqui? Ou naquele verão você contratou ela que não será nomeada?

— Athena.

Ela franziu o cenho. — Que puta. Ela não conseguia ser pontual e ainda roubou dez clientes quando saiu.

Dez clientes que não fiquei triste em perder. Suas casas estavam espalhadas por todo o Vale Gallatin e, como não se encaixavam em nossas rotas normais, tive que cobrar um pouco mais para cobrir a gasolina. Athena tinha ido trabalhar para um concorrente, levando-os junto com uma promessa de um preço menor. Isso não me incomodou, mas claramente Bridget ainda estava preocupada, embora Athena tivesse saído há sete anos.

E em defesa de Athena, eu realmente não defini o horário de expediente. Acontece que Bridget e eu chegamos na mesma hora todas as manhãs.

— Não temos outro arquiteto na equipe há sete anos, — eu disse a ela.

— Porque nós não precisamos de um.

Bridget foi a primeira arquiteta que contratei na Alcott Landscaping, então ela estava comigo desde o começo, uma das minhas primeiras funcionárias. Eu a contratei como estudante universitária para trabalhar na equipe de corte nos verões. Ela começou como minha aprendiz de design um dia depois de se formar no Estado de Montana, com um diploma em arquitetura e paisagismo.

Nós estávamos juntos há tanto tempo que nossos processos estavam perfeitamente em sincronia. Inferno, ela ajudou a criar a maioria deles. E ela estava certa. Toda vez que tentamos trazer alguém novo, a merda acontecia.

Isso não parece razão suficiente para continuar nos matando. Certamente tinha que haver alguém lá fora que realmente contribuísse.

— Estou cansado de recusar clientes, — admiti. Eu estava cansado de sempre me sentir em desvantagem. — Gostaria de tentar, e gostaria da sua ajuda. Talvez, em vez de contratar um arquiteto experiente, seja hora de você ter um aprendiz.

O bloqueio que ela deu à ideia de outro designer diminuiu um centímetro. — Estou ouvindo.

— Vamos colocar um anúncio. Você pode participar das entrevistas. Ou se qualquer membro da equipe de corte mostrar algum potencial, você também pode trazê-lo. Pense nisso. Avise-me. Mas é hora de nós dois diminuirmos. — Apontei para a foto emoldurada das crianças. — Em pouco tempo, Kali e Max vão sair de casa para construir suas próprias vidas. Não quero perder o tempo que tenho.

— Ok. — Ela soltou um longo suspiro. — Mensagem recebida. Estou dentro.

— Obrigado.

Ela girou a cadeira, empurrando-a para fora do meu escritório e para dentro do seu. Então as chaves balançaram quando ela apareceu na minha porta novamente, desta vez em pé. — Estou no campo o resto do dia.

— Vou ligar para você assim que souber do viveiro.

Bridget acenou e saiu. No momento em que tudo ficou quieto, peguei o telefone e causei um inferno. Dez desculpas, três mudas de Abeto da Noruega pela metade do preço e um novo vendedor contratado para nossa conta mais tarde, voltei para minha pilha de contas não pagas e transbordando da caixa de entrada.

Só consegui entrar no meu portal bancário online quando a porta da frente do escritório soou. Suspirei quando passos vieram em minha direção. As contas teriam que esperar.

— Ei, Finn?

— Entre. — Acenei para Jeff de onde ele estava pairando do lado de fora da minha porta.

Ele entrou no meu escritório hesitante, olhando para as botas enlameadas.

— Você não é o primeiro e você não será o último cara a trazer lama para o meu escritório. Sente-se.

— Obrigado. — Ele atravessou a sala, tirando o gorro da cabeça.

Jeff, meu mais novo funcionário, havia começado na Alcott há duas semanas. Bridget, meu encarregado e alguns dos outros foram mantidos em período integral durante todo o ano. Eles mudaram de paisagismo para remoção de neve nos invernos, com exceção de Bridget, que poderia fazer um trabalho de design mesmo depois que a neve se dissipasse. Mas, como eu precisava de mais trabalhadores nos verões do que nos invernos, enchi as equipes com caras que precisavam de trabalho sazonal. De abril a outubro, estávamos totalmente lotados. Jeff tinha sido uma adição de última hora quando um dos outros novos contratados não apareceu.

— O que posso fazer por você? — Perguntei a Jeff.

— Eu, uh ... Ele baixou a cabeça. —Eu queria saber se eu poderia conseguir um adiantamento salarial. Estou tendo alguns problemas com minha ex-esposa e ela está me levando ao tribunal para obter a custódia total da minha filha. Preciso de um advogado.

Ele parecia muito jovem para ter um filho e uma ex-esposa, mas o que diabos eu sei. Na sua idade, eu estava de cabeça para baixo pela minha esposa. Se alguém tivesse me dito que eu estaria divorciado de Molly, teria rido e dito que eles eram loucos.

Poucos homens ficam no altar e dizem que sim para a esposa pensando que um dia ela será uma ex. Eu certamente não sabia.

— Eu gostaria de poder ajudá-lo, Jeff. Mas eu não faço adiantamentos. — Eu fiz isso uma vez quando comecei. O cara tinha feito um adiantamento de mil dólares e nunca mais apareceu na loja.

— Compreendo. Eu só... Eu não sou um pai caloteiro. É disso que ela está me chamando. Mas minha filhinha tem dois anos e ela é meu mundo inteiro. Minha ex é uma cadela cruel e ela está usando Katy para se vingar de mim. Não posso perder minha filha.

Merda. Gostei do Jeff e vi algum potencial nele. Ele estava na minha melhor equipe e estava trabalhando duro, mesmo como novato. Ele trabalhou duro. De acordo com Gerry, meu encarregado mais importante, Jeff era o primeiro a chegar todas as manhãs e nunca pedia para sair mais cedo.

Eu senti pelo cara. Eu não podia imaginar passar por um divórcio desagradável.

Molly e eu não ficamos rancorosos durante todo o nosso divórcio. Nós não havíamos brigado por coisas materiais. Eu queria que ela ficasse com a casa. Ela queria que eu mantivesse a Alcott Landscaping.

Nós dois estávamos completamente empenhados a compartilhar a custódia das crianças.

Sim, eu estava furioso com ela na época. Eu estava de coração partido por sua noite. Na verdade, eu fui um idiota. Mas eu disse ao meu advogado durante nosso primeiro encontro que isso não era sobre vingança. Dei a ele uma ordem para tratá-la de forma justa. E ele trabalhou com o advogado dela para que isso acontecesse.

— Sinto muito — eu disse a Jeff. — Eu realmente sinto. Eu me divorciei um tempo atrás e entendo como é estressante. Especialmente quando você joga crianças no meio. Mas eu tenho políticas de funcionários por um motivo e não posso lhe dar um adiantamento.

— Está certo. Eu sabia que você disse durante a minha orientação que vocês não fazem hora extra. Se isso mudar, você me chama?

— Eu chamo.

Eu não ia contar para Jeff, mas não paguei horas extras em cinco anos. As horas extras eram o caminho mais rápido para enviar as despesas da Alcott pelo telhado. Em vez disso, eu gerenciei as horas das equipes e não me comprometi com projetos que não pudemos encaixar no cronograma.

— Obrigado, Finn. É melhor eu sair daqui. Os caras estão esperando.

— Antes de você ir. — Levantei um dedo quando ele se levantou da cadeira. Eu mergulhei na gaveta da minha escrivaninha, tirando uma nota adesiva. Rabisquei o nome do meu advogado e entreguei. — Esse foi meu advogado quando me divorciei. Ele não é barato. Mas ele é bom. Muito bom. Se você conseguir tente fazer uma reunião com ele. Ele também faz alguns trabalhos pro bono. Diga a ele que você trabalha para mim.

— Obrigado. Eu realmente aprecio isso. Jeff assentiu, colocando a nota no bolso.

— Sem problema. — Eu me levantei da minha cadeira e o segui para fora do escritório. Um de nossos caminhões da Marinha, com o logotipo branco da Alcott Landscaping na porta, estava parado do lado de fora.

Jeff entrou com dois outros caras e acenou enquanto se afastavam do escritório. Um álamo balançando foi carregado na carroceria junto com algumas hostas.

Enquanto se afastavam, desci a pequena estrada de cascalho até a oficina. Era o coração de Alcott.

Nós estávamos localizados nos arredores de Bozeman em um terreno de doze mil metros quadrados. Nos primeiros dois anos em que Alcott esteve no negócio, Molly e eu alugamos um local para guardar nossos equipamentos. Nós dirigíamos o escritório da nossa mesa de jantar no pequeno apartamento em que nos mudamos depois de nos casarmos.

Mas depois que começamos a nos tornar mais lucrativos, encontrei essa propriedade e nós fizemos uma aposta. E valeu a pena. Nós colocamos um pequeno galpão de aço no canto mais distante da propriedade. Depois de um ano, tivemos que triplicar seu tamanho para acomodar os caminhões de equipamentos e da empresa. No ano seguinte, estava tão cheio que Molly sugeriu que construíssemos um escritório para que ela pudesse sair da sala que tínhamos montado com um armário de escritório.

Na entrada da propriedade, colocamos um prédio pequeno, separado e de dois andares. Os escritórios e a pequena sala de conferências ficavam no primeiro andar. Na parte traseira, uma escada levava a um pequeno lounge no segundo andar.

Nós tínhamos planejado deixar o pessoal do escritório usar o salão para relaxar ou realizar reuniões informais. Molly queria um espaço – suave - para as crianças brincarem quando estivéssemos todos juntos, junto com um banheiro.

Nenhum de nós tinha planejado que o salão, com o sofá e a cozinha, se tornaria meu apartamento quando eu saísse de casa. Nenhum de nós tinha planejado que não iríamos trabalhar juntos em Alcott por muitos anos.

Passei por uma das portas abertas do galpão e olhei em volta. A maior parte estava livre, exceto por alguns equipamentos maiores, como duas minis carregadeiras que não saíam todos os dias. As equipes de corte tinham saído horas atrás. A última equipe de paisagistas estava no pátio, carregando uma árvore que chegou do viveiro ontem.

Usamos o terreiro como um local de trabalho, tendo todos os suprimentos de nossos fornecedores vendidos aqui em vez de locais de trabalho individuais. Havia árvores e arbustos em um canto. Do outro lado da propriedade, mantivemos pedregulhos ornamentais e pilhas de cascalho ervilha ao lado de palets de turfa e adubo.

— Ei, Finn. — Um dos caras saiu do banheiro da loja, fechando as calças.

— Ei. Saindo?

—Sim. Estamos carregados. Até mais. — Seus passos ecoaram nas paredes de metal e no teto antes de sair para o sol.

Respirei fundo, saboreando o cheiro de sujeira e óleo. Eu não entrei aqui o suficiente. Passei a maior parte dos meus dias no escritório. Mas isso ... essa foi a razão pela qual comecei Alcott. Tinha que encontrar uma maneira de passar mais dias no ar fresco do verão, não sob os ventos do meu ar condicionado.

Girei em um círculo lento, absorvendo tudo.

Nós construímos muito. Eu não teria sequer pensado que isso era possível sem Molly sonhando ao meu lado. Ela me apoiou completamente naqueles primeiros dias. Ela ficou de fora, trabalhando as longas horas. Foi só quando tivemos Kali que ela recuou um pouco.

Quando uma brisa do lado de fora invadiu a loja, surgiu uma dúvida.

Eu tirei isso dela? Molly sentiu como se eu a tivesse excluído do nosso negócio porque sugeri que ela ficasse em casa com as crianças?

Eu achava que isso facilitaria a vida se ela estivesse em casa e não estivesse trabalhando. Mas quando pensei nisso, não conseguia me lembrar de perguntar o que ela queria. Quando ela não brigou, achei que queríamos a mesma coisa, muito parecido com o quintal que eu aprendi uma década depois que ela odiava.

Ela amava Alcott - ou ela costumava amar.

Molly não vinha aqui há anos. A última vez que me lembro de tê-la visto na propriedade foi antes do divórcio.

Perdi alguma coisa? Por que Molly não entrou na minha casa? Por que ela não veio aqui?

Os divorciados tiveram permissão para adiar esses tipos de perguntas. De abrir conversas que provavelmente só causariam dor.

Até que eles começassem a dormir juntos de novo.

Agora essas perguntas estariam constantemente em minha mente. Elas estavam implorando por respostas que eu duvidava que gostaria de saber. Saí do galpão, e pela primeira vez, o ar fresco não oferecia qualquer tipo de paz.

O último caminhão saiu do pátio, com dois caras armados enquanto Lena, outra líder da equipe, foi embora. Ela sorriu quando passou por mim na estrada.

Deus, eu queria ir com eles. Correr e pular na traseira do caminhão e me perder em junho por um dia. Para esquecer as perguntas e dúvidas e apenas ... trabalhos.

Mas o escritório chamou. As contas e horários não podiam ser ignorados. Então, me arrastei para dentro, deixando uma janela aberta no meu escritório como o único link para o trabalho que eu realmente amava.

Mentalmente adicionei gerente de negócios à minha lista de possíveis funcionários.

Poppy fora brilhante em contratar Molly para administrar o lado comercial do restaurante. Permitiu que minha irmã estivesse na cozinha, fazendo o que amava. Eu precisava de uma Molly para dirigir Alcott. Exceto que eu tive uma Molly para executar Alcott e ela saiu.

Ou eu a afugentara?

Consegui pagar três contas antes de a porta da frente soar novamente. Abaixei minha cabeça, soprando um longo suspiro. As chances de eu sair daqui a tempo de chegar à casa da Molly estavam diminuindo a cada interrupção.

Os passos no corredor estavam hesitantes. Provavelmente era um cliente ou cliente em potencial que vinha visitar. Espero que eles passem bastante tempo olhando as fotos no corredor dos nossos projetos anteriores para me dar mais um minuto.

— Entre — chamei, fazendo meu último pedido.

Eu tinha acabado de clicar no botão de envio quando Molly apareceu na porta. — Oi.

Olhei duas vezes. — Ei. O que você está fazendo aqui? Está tudo bem com as crianças?

— Eles estão bem. Você tem um segundo?

— Sim. — Parei quando ela atravessou a sala. —Quer um pouco de água? Ou café?

— Não, obrigada. — Ela sentou-se em uma das cadeiras em frente à minha mesa e apertou a bolsa no colo enquanto olhava ao redor do escritório. — Não mudou muito aqui.

Eu sorri e me sentei. — Não, acho que não. Eu estava pensando antes que você não esteve aqui há muito tempo.

Seus olhos caíram para a borda da mesa. — Faz algum tempo.

— Tem certeza que está tudo bem?

— Por que você os enviou?

— Enviei o quê?

Ela olhou para cima. — As cartas.

Cartas? Enviamos cartas aos clientes em março, lembrando-os de que a estação de corte estava bem perto. Bridget fora ambiciosa no último Natal e mandara cartões de natal. Mas além disso, não consegui pensar em nada que eu pudesse ter enviado a Molly.

— Que cartas?

Ela rangeu os dentes e mexeu em sua bolsa. Então ela pegou dois envelopes brancos. — Estas cartas.

Cheguei do outro lado da mesa e tirei da mão dela. A caligrafia nos envelopes não era minha. — Estas não são minhas.

Molly não disse uma palavra quando tirei o papel dobrado de um. No minuto em que o papel estava na minha mão, uma sensação desconfortável se instalou no meu estômago. Havia algo familiar sobre isso. Separei as pontas e aquela sensação de afundamento se transformou em uma rocha de chumbo.

— Onde você conseguiu isso? — Ninguém, especialmente Molly, deveria ver essa carta.

— Chegou na semana passada.

— Semana passada?

— A outra veio hoje.

Rasguei o outro envelope como um louco, puxando o papel e espalhando-o. Foi a carta que eu escrevi na noite anterior ao pedido de casamento.

Foda-se. — Como você conseguiu isso?

— O que você quer dizer com como consegui isso? — Molly retrucou. — Você as enviou para mim. Por quê?

— Eu não enviei isso para você.

A palavra mentiroso estava escrita em todo o rosto dela.

— Molly, eu não enviei isso.

— Mas você as escreveu?

Balancei a cabeça. — Sim, eu as escrevi. — Para mim. Eu nunca tive qualquer intenção de dar a Molly essas cartas.

— Eu não entendo. — Ela afundou mais na cadeira. — Você as escreveu, mas não as enviou? Então, como elas apareceram na minha caixa de correio?

— Eu não sei. — Passei a mão sobre o meu rosto, esfregando minha mandíbula. As cartas estavam no meu armário - ou deveriam estar - em uma caixa que eu não abria há anos. A última vez foi depois do divórcio. Joguei meu anel de casamento lá, empurrei na prateleira de cima e fingi que não existia.

— Realmente não foi você? — Perguntou Molly.

— Realmente não fui eu.

— Oh. — Algo passou em seu rosto, mas antes que eu pudesse entender, ela estava fora de sua cadeira. Com o cabelo caindo sobre os ombros, ela correu para fora do escritório e pelo corredor.

— Molly. — Eu me levantei e corri atrás dela, mas era tarde demais. Ela já tinha saído pela porta da frente.

— Estou atrasada para o trabalho, — ela gritou antes de entrar em seu Jeep e dirigir o mais rápido possível para fora da propriedade Alcott.

— O que o — Eu peguei o telefone no meu bolso, procurando o nome dela. Ela não podia simplesmente sair assim. Nós temos que descobrir isso. Temos que descobrir quem estava enviando minhas cartas.

Minhas cartas. Ela tinha conseguido duas.

Houve mais.

Muitos mais.

Meus joelhos se dobraram. Alguém encontrou minhas cartas. Alguém as enviava para Molly.

Eu joguei para fora, cada letra.

— Não. Foda-se. Não.

Girei em um salto e corri para o meu escritório. Tirei as chaves da mesa junto com meus óculos de sol, então eu corri para fora, trancando o escritório antes de correr para a minha caminhonete. Quebrei todos os limites de velocidade na minha corrida para casa.

Corri para minha casa, corri para o meu armário e para a caixa na prateleira de cima. Estava no mesmo lugar de sempre. Não parecia que alguém tivesse entrado na minha casa e roubado meus pertences mais pessoais.

— Por favor, esteja aqui.

Eu abaixei, jogando a tampa no chão. Então o medo se transformou em realidade. Não foram apenas essas duas cartas que faltavam. Elas foram todas embora. A única coisa que restava era minha aliança de casamento de prata e uma foto de Molly e eu nos beijando depois que o pastor nos declarara marido e mulher.

A caixa caiu do meu colo, aterrissando com um baque suave no carpete. O anel rolou e se perdeu entre um par de tênis.

Todas as cartas que eu escrevi foram embora. Cartas que escrevi ao longo de quase uma década. As duas que Molly recebeu eram boas, escritas em um tempo em que éramos felizes.

Mas havia mais.

Se alguém lhe enviasse minhas cartas, era apenas uma questão de tempo até que ela recebesse as que eu deveria ter queimado. As que estavam cruas e zangadas. As que eu nunca deveria ter escrito em primeiro lugar e com certeza nunca deveria ter guardado.

— Foda-se. — Eu bati na parede, então me arrastei para trás do armário até que meus joelhos bateram na cama e eu desmoronei na borda.

Eu tinha que descobrir quem estava enviando essas cartas e pará-las.

Rápido.


SEIS

 

MOLLY


— O QUE HÁ DE ERRADO? — Randall me perguntou enquanto eu colocava sua sobremesa e uma colher limpa.

— Nada, — menti.

Ele franziu a testa. — Essa é a minha terceira fruta crocante. Você normalmente só me deixa comer duas antes do almoço.

— Talvez eu esteja me sentindo generosa hoje.

— Talvez. Mas ainda há algo incomodando você.

Eu me inclinei contra o balcão. — Talvez haja.

Esta manhã tinha sido uma montanha russa. Primeiro, eu acordei feliz porque Finn estava na minha cama. Ele saiu cedo para que as crianças não o vissem, como aconteceu depois de todas as nossas noites juntos.

Mas esta manhã foi diferente. Ele me beijou antes de sair. Um beijo longo e lento que roubou meu fôlego e colocou um sorriso sonhador no meu rosto. Eu sorri enquanto tomava banho e me vestia. Sorri enquanto fazia o café da manhã das crianças. Sorri enquanto parei na caixa de correio.

Então eu encontrei a carta.

Adeus, sorriso. Olá lágrimas.

Foi uma façanha de pura força de vontade secá-las e segurar enquanto eu levava as crianças para a escola. Se não fosse por sua extrema excitação no último dia de aula, eles teriam notado meus olhos avermelhados e bochechas manchadas.

Não foram apenas as palavras ou a súbita aparição de sua carta que me abalou. Estava lendo as palavras e sendo jogado para trás no tempo.

Finn estava tão nervoso naquela noite. Quando descobrimos que fazíamos aniversário no mesmo dia, nossas celebrações foram passadas juntas. Normalmente planejamos uma festa com amigos ou um jantar especial em um restaurante bacana. Nós estávamos juntos há dois anos e meio a essa altura, então eu não esperava que nossa comemoração de aniversário fosse diferente.

Mas Finn insistiu que passássemos a noite sozinhos. Ele fez o jantar, embora eu suspeitasse que Poppy tivesse dado uma mão. Ele admitiu plenamente que ela era responsável pelo bolo de aniversário.

Depois que nós comemos nossa lasanha, ele trouxe a criação de dupla camada de chocolate. Em vez de um monte de velas para nós dois soprarmos, havia apenas uma. Era branca. Na sua base estava um anel de diamante.

Finn se ajoelhou e me pediu em casamento. Eu imediatamente disse sim. Ele estava tão animado para ver o anel no meu dedo que ele colocou, com cobertura de chocolate e tudo.

Nós nos casamos dois meses depois.

Nós não moramos juntos antes da cerimônia, porque eu queria que meu marido compartilhasse o banheiro, o armário e a casa comigo, então nosso noivado foi curto. Eu ainda tinha um mês do meu último ano quando nos casamos em abril em uma cerimônia pequena e simples - para desgosto de minha mãe. Poppy era minha dama de honra. Jamie era o padrinho de Finn.

Eu me mudei para o apartamento dele, passei o mês seguinte terminando a faculdade, então vesti meu capelo e beca para a formatura antes de tirarmos um fim de semana no acampamento de lua de mel. Mal saímos da barraca.

Aqueles foram alguns dos dias mais felizes da minha vida. Foi por isso que a carta me fez chorar. Aquelas lágrimas? Elas eram de tristeza. Luto por uma vida que já havia passado.

— Você vai me dizer o que está errado ou devo adivinhar? — Randall perguntou.

— Não adivinhe. — Andei ao redor do balcão e peguei o banquinho vazio de Jimmy. Jimmy não tinha ido ao The Maysen Jar esta manhã porque ele estava com um resfriado de verão. Ele estava evitando todos por três dias, convencido de que era contagioso.

O restaurante estava vazio, exceto por duas pessoas em cantos opostos que tinham fones de ouvido e estavam trabalhando em laptops. Eu estava sozinha no restaurante hoje. Poppy estava tirando um dia de folga para matricular as crianças nas aulas de natação de verão e depois passar um dia especial com elas. Rayna abriu para nós, mas saíra pouco depois de eu chegar. Então, eu estava aqui sozinha até as três, quando Dora chegava para o turno da noite.

Se eu fosse confessar, agora era a hora.

— Isso fica entre nós, — disse Randall.

— É óbvio.

— Eu estou dormindo com Finn. — Eu soltei essas palavras e um peso enorme saiu dos meus ombros. Estava liberando, embora Randall não estivesse satisfeito. Ele não conseguia reprimir o tique em sua mandíbula. — Eu sei que você não gosta muito dele.

— O homem é um tolo por deixar você ir.

Meu coração palpitou. — Isso pode ser a coisa mais legal que você já disse para mim.

— É a verdade. Ele é um tolo. E você também.

OK. Isso não foi tão bom. — Há o Randall que eu conheço e amo. Eu estava preocupada que você estivesse sendo gentil comigo.

Ele não riu da minha piada. — O que você está pensando?

— Eu não sei — admiti. — Aconteceu e nós não falamos sobre isso. Ele é... Finn. Ele é o pai dos meus filhos. Eu fui apaixonada por ele durante anos. Esses sentimentos não foram embora no dia em que assinamos nossos papéis de divórcio. Há uma história por trás disso.

Randall enfiou a colher na fruta crocante, dando uma grande mordida. — Eu já te disse que eu era divorciado?

— Oh não.

Randall não falava muito sobre sua vida, nem mesmo depois de ficar sentado naquele banco por quase seis anos. Eu sabia que, quando era mais jovem, ele ajudara a construir este edifício. Ele era de Bozeman e viveu aqui toda a sua vida, assim como eu.

Ele havia escolhido vender sua casa anos atrás e se mudar para o The Rainbow porque era mais fácil. Ele alegou que era pela equipe de limpeza e a comida. Eu acho que ele se sentia sozinho, algo que ele nunca admitiria.

Mas eu nunca soube se ele era casado.

— Fui casado por vinte e um anos. Minha esposa e eu nunca tivemos filhos, então éramos apenas nós dois. Vinte e um anos, e então um dia percebemos que éramos miseráveis juntos. Mas eu nunca parei de amá-la.

— Ela amava você?

— Ela amava. Eu diria que ela não ama mais. Eu falo com ela algumas vezes por mês. Ela se mudou para o Arizona porque odeia a neve.

— Qual é o nome dela?

— Mary James.

James. Ela manteve seu sobrenome. Tudo o que eu queria fazer era abraçar aquele homem maravilhoso, mas mantive minha postura. Escutei porque havia uma razão pela qual ele estava se abrindo.

— O problema do divórcio é que nem sempre há um erro. Uma bomba nuclear que destrói seu casamento. Às vezes, ela se aproxima lentamente de você. E um dia, a realidade te atinge e tudo que você sabe é que você não quer mais estar casado. Talvez uma bomba nuclear teria sido melhor do que queimar lentamente até a morte. Talvez isso não faça você se sentir como um fracasso. Desistir nos mata, mas você sabe que é a decisão certa. Porque se vocês continuarem, vão se odiar. É por isso que Mary e eu nos deixamos. Porque eu não queria odiá-la. Eu não queria que ela me odiasse.

O ar deixou meus pulmões. Randall sentou-se aqui quase todos os dias e eu não sabia o quão perto sua história era da minha. Alguém que realmente entendia.

— Eu não sei o que estou fazendo com Finn — sussurrei.

— Se eu tivesse que adivinhar, diria que vocês dois têm mais amor do que eu e Mary já tivemos. Você pode até ter alguma paixão em você. Tudo bem. Mas você se divorciou por um motivo. Provavelmente mais de um. Esses motivos foram embora?

— Não. — Essas razões ainda estavam lá, flutuando sob a superfície. — Ele está me enviando cartas. — Bem, alguém estava me enviando suas cartas.

— Que tipo de cartas?

— Foram duas, mas ambas são de séculos atrás. A primeira que ele escreveu depois do nosso primeiro encontro. A segunda foi escrita na noite anterior ao seu pedido de casamento.

— E elas estão reavivando sentimentos — ele adivinhou.

Balancei a cabeça. — Eu estava feliz. Nós éramos felizes.

— E você não é agora.

— Não, estou feliz. Mas não é o mesmo. Não é tão intenso.

Randall deu outra mordida, mastigando tão lentamente quanto possível. Então ele o fez novamente. Eu tinha certeza que havia um ponto em seu silêncio, e ele entregaria eventualmente, então eu sentei e esperei.

Finalmente ele falou. — Aquele menino foi terrível para você quando eu comecei a vir aqui.

— Eu sei. Mas ele ficou ferido.

— Você sempre o defende, — ele resmungou. — O homem era um idiota e você não merecia isso.

Não, eu fiz por merecer. Mas eu não ia expor os detalhes sujos para Randall. Finn estava agindo por causa da dor. Os ombros frios, os olhares vazios. Eu ganhei cada um.

— Ele não tem agido assim há muito tempo — eu disse.

— Ele ainda é um tolo.

— Obrigada. — Eu bati seu ombro com o meu. — Sinto muito pela sua esposa.

Ele encolheu os ombros. — Faz muito tempo. E não fique fofocando sobre isso. Eu não preciso de todos colocando seus narizes em meus problemas. É uma história antiga.

— Seu segredo está seguro comigo.

— Não é um segredo, — ele murmurou. — Eu só não quero falar sobre isso.

— Entendi. Não é um segredo. Mas fique de boca fechada.

— Certo.

Randall terminou sua sobremesa enquanto eu me sentava ao seu lado. Quando ele terminou, ele puxou a tampa e pegou a bengala. — É melhor eu ir para casa. Verificar Jimmy. O bebê grande acha que tem a maldita peste em vez de apenas um nariz escorrendo.

— Deixe-me enviar algumas coisas com você. — Saí do banquinho e corri ao redor do balcão para encher um saco de papel cheio de canja de galinha e algumas tortas de maçã. — Isso é para o Jimmy. Você pega uma dessas tortas. Ele pega duas. E vou verificar se ele recebeu as duas.

— Tudo bem. — Ele franziu o cenho. Sem outra palavra, ele pegou a bolsa e se virou, arrastando-se para a porta.

— Randall? — Chamei antes que ele pudesse sair. Ele fez uma pausa, mas não voltou atrás. — Obrigada.

Ele levantou a bengala em reconhecimento enquanto continuava a sair pela porta.

Fiz uma ronda rápida no restaurante, checando os outros dois fregueses e fazendo café para uma mulher que entrava para uma encomenda. Então me acomodei no balcão, minha bolsa debaixo dos meus pés.

Normalmente, eu deixava minha bolsa no escritório, mas hoje eu a trouxe para frente por causa da carta. Cuidadosamente, eu peguei para ler de novo.

Não houve lágrimas desta vez. Eu me senti mais entorpecida do que triste. Foi a mesma sensação que tive ao entrar na Alcott Landscaping. Eu não entrava ali há anos, não desde aquela noite. Era estranho, como retornar à cena de um crime.

Mas eu tive que enfrentar Finn. Arranjei coragem para saber por que ele enviou as cartas. Uma eu poderia ignorar. Mas duas? Impossível.

Esperança era uma coisa engraçada. Passei seis anos afastando isso. Jogando fora para manter bem morta. Mas aquela segunda carta havia despertado minhas esperanças para a vida.

Ele achava que havia uma chance para nós de novo? Ele queria tentar?

Randall estava certo. Eu fui uma tola.

Finn não havia enviado essas cartas. Ele as escondeu. Ele colocou seus sentimentos no papel para não compartilhar, mas para viver em uma caixa ou pasta ou onde diabos ele as manteve por todos esses anos.

Eu estava brava com Finn por escondê-las. Mais ainda, eu estava com raiva de mim mesma por acreditar que ele me queria de novo para mais do que uma brincadeira em sua antiga cama.

Dobrei a carta e guardei. A lata de lixo ao lado dos meus pés era tentadora, mas eu não conseguiria jogá-la fora. Nessas páginas, escritas em tinta azul, estava a felicidade. Talvez um dia Kali quisesse ler. Talvez Max quisesse saber o tipo de coisas que seu pai sentia por sua mãe. Eu as guardaria para as crianças. Eu coloquei as cartas em um lugar seguro e cruzei meus dedos para que estas fossem as únicas.

Se Finn não estava as enviando, então quem estava colocando elas na minha caixa de correio? Meu palpite estava em Poppy. Talvez ela tenha pensado que isso nos traria de volta. Ou Rayna. Amanhã, quando estivéssemos todas juntas, eu perguntaria. Eu me certificaria de que suas esperanças fossem tão esmagadas quanto as minhas.

Um cliente entrou pela porta, seguido por outro. A corrida do almoço estava começando, me salvando dos meus pensamentos, e trabalhei com um sorriso, repetindo a história de Randall na minha cabeça cem vezes.

Ele me deu uma perspectiva diferente sobre o divórcio. Finn e eu havíamos desistido na hora certa, antes que nossa raiva e frustração um com o outro se transformasse em ódio.

Os últimos seis anos foram bons para mim. Encontrei o eu que eu perdi quando dei tudo para Finn.

Eu trabalhei para o seu negócio. Vivi por sua agenda. Eu fui em suas caminhadas e aparei seu gramado. Eu não fiz o suficiente para mim durante o nosso casamento. E na época da nossa separação, eu era uma mãe que ficava em casa e que se perdera na vida daqueles que amava.

Passar as noites sozinha enquanto Finn ficava com as crianças me deram muitas horas para pensar. Refletir. E mudar.

Eu investi em mim nos últimos seis anos. Eu era mãe. Uma gerente de negócios. Uma amante do vinho tinto. Uma odiadora de arroz pilaf. Eu gostava de ir ao cinema sozinha, e me esbaldava com um pote de sorvete de biscoito com gotas de chocolate da Häagen-Dazs uma vez por mês. Só fui a lugares que me fizeram feliz. Fiquei longe de lugares que me deixaram triste, como o Alcott Landscaping e a casa de Finn.

Estabeleci limites para o feio. Eu abracei o lindo.

Eu encontrei a Molly sem o Finn.

Desta vez, eu estava segurando-a com um aperto de morte. Ela era importante demais para se perder de novo.

Trabalhei durante a tarde, e quando saí do restaurante o deixando nas mãos capazes de Dora à noite, fui pegar as crianças com um coração mais leve.

Max e Kali dançaram descontroladamente, agitando os braços com sorrisos brilhantes enquanto corriam para o Jeep. Nem um segundo de silêncio ocorreu no caminho, porque ambos estavam tão animados com seus planos de verão.

No momento em que avistaram o caminhão de Finn, a excitação disparou.

E a minha desapareceu. Eu estava melhor do que esta manhã, mas ainda precisava de uma pausa do Finn. Eu precisava de algumas noites para levantar algumas paredes. Me castigar por aqueles tremores que sempre apareciam ao ver seu belo rosto.

Maldito, nervosismo.

— Pai! — Max gritou da janela do carro. — Vamos trabalhar hoje à noite?

— Se você quiser.

Max bateu palmas uma vez, depois apontou para a garagem. —Eu vou pegar minhas luvas.

Entrei e estacionei. As crianças saíram, encontrando Finn no para-choque.

— Oi, papai. — Kali sorriu para ele, em seguida, seguiu Max para pegar as luvas de uma prateleira na parede da garagem.

Deixando Finn e eu em pé sozinhos.

— Você poderia por favor me mandar uma mensagem ou algo assim antes de você vir? — Isso saiu mais cruel do que eu tinha planejado. Ah bem.

— Desculpe. — Finn baixou a cabeça. — Eu não quero deixar o quintal uma bagunça. Eu comecei tudo isso. Eu preciso terminar.

— Tudo bem. — Cruzei meus braços sobre o peito. — Mas um me avisa que você vem eu prefiro, no caso de eu ter planos.

Nós dois sabíamos que eu não tinha planos, mas estava lutando para colocá-lo de volta em seu lugar. Nós nos divorciamos. Ex-maridos telefonam antes de vir. Ex-maridos não compartilhavam jantares. Ex-maridos não dormem na mesma cama que suas ex-esposas.

— Molly, temos que conversar sobre as cartas.

— Não agora.

As crianças voltaram correndo, seus sorrisos impossíveis de ignorar. Eles adoravam ter Finn aqui à noite. Eles adoram a atenção de ambos os pais.

Estamos enviando a mensagem errada? Eles acham que vamos voltar?

— Vocês têm um par de horas para trabalhar com seu pai, então ele precisa ir.

Finn franziu a testa e os sorrisos nos rostos das crianças desapareceram.

— Você não pode ficar para jantar hoje à noite, pai? — Max perguntou.

— Eu, uh. — Finn esfregou a parte de trás do seu pescoço, olhando para o meu lado. — Não, não esta noite.

— Por quê? — Kali estreitou o olhar no rosto do pai. — Você tem um encontro ou algo assim?

— Sem encontro. Eu só tenho algumas coisas para fazer em casa.

— Que coisas? — O olhar no rosto de Kali era um que eu tinha visto muitas vezes antes. Minha garota era teimosa, e até Finn dar uma resposta satisfatória, ela o cansaria com perguntas. Ela não era nem um pouco vaga.

— Só coisas, Kali. Então, vamos resolver isso. — Ele se virou e deu um passo, mas sua resposta não foi satisfatória.

Kali cruzou os braços sobre o peito, espelhando minha postura. — É o último dia de aula. Nós tivemos o melhor dia de todos. Você poderia sair com a gente e não estragar tudo.

Eu revirei meus olhos. — Vamos diminuir o drama.

Ela apertou sua mandíbula e me lançou um olhar.

— Vamos, papai — implorou Max. — Nós poderíamos pedir pizza novamente.

— É sua mãe — Ele parou quando meus olhos se arregalaram. Ele estava jogando a responsabilidade em mim, não quando ele não pediu para vir em primeiro lugar. — Pessoal. Precisamos puxar a casca para o canto, e então podemos nivelar o solo para o gramado. Que tal vocês dois começarem a carregar a casca no carrinho de mão enquanto eu falo com sua mãe?

Max assentiu, indo imediatamente para o trabalho. Kali manteve os braços cruzados sobre o peito enquanto atravessava o gramado para se juntar a seu irmão.

— Eu não vou ficar para o jantar — disse ele. — Vou garantir que as crianças saibam que é minha escolha, não sua.

— Obrigado. — Eu deixei meus braços caírem. — Eu preciso de algum espaço.

— Vou te dar. As crianças e eu vamos trabalhar aqui. Você pode ficar lá dentro. Quando terminarmos, irei. Mas, Molly. — Finn aproximou-se, seu perfume fresco enchendo meu nariz enquanto ele abaixava a voz para falar. —Precisamos conversar sobre as cartas o mais rápido possível.

— Eu concordo, mas não esta noite.

— É meu final de semana com as crianças. E se você aparecesse uma noite e conversássemos na minha casa?

Não vai acontecer. — Podemos conversar um dia no restaurante.

— Bem. Vamos conversar no restaurante sobre tudo. As cartas. O sexo. A razão pela qual você não põe os pés na minha casa.

Eu estremeci.

— Achou que eu não tinha notado, não é?

— Não — eu murmurei. Ele nunca disse nada antes sobre a minha aversão em cruzar seu limite.

— Pai, carregamos, — Max gritou.

Finn suspirou e trancou seus olhos com os meus. —Conversamos depois.

Até então, é melhor eu ter controle sobre minhas emoções. O que Finn e eu precisávamos era de uma conversa adulta, e com o jeito que meu coração estava acelerado e meu temperamento aquecido, não havia como qualquer coisa racional sair da minha boca.

Entrei e passei trinta minutos arrumando as coisas. Toda vez que eu passava pela janela, dava uma olhada lá fora.

As crianças estavam sorrindo. Finn também estava. O dele era largo e brilhante, cheio de orgulho e encorajamento enquanto ensinava as crianças.

Aqueles sorrisos me enfraqueceram. Ele esfriou meu temperamento.

Finn me pegou olhando de uma janela e sorriu. Era o mesmo sorriso que ele me deu em nosso primeiro encontro, aquele que era despreocupado, confiante e tão irritantemente perdoável.

Aquele sorriso foi o motivo pelo qual eu caminhei até o balcão da cozinha para tirar meu celular da minha bolsa.

E pedi pizza - o suficiente para quatro.

 


— Dormiram. — Eu me juntei a Finn no sofá da sala, certificando-me de deixar muito espaço entre nós.

— Obrigado por me deixar ficar para jantar e passar o tempo com as crianças.

— Seja bem-vindo. Obrigada por todo o trabalho que você fez no quintal.

Ele se inclinou para frente no sofá, seus antebraços apoiados em suas coxas. Ele usava calça jeans hoje à noite, um par velho desgastado na bainha. Eles ficaram assim devido a tantas lavagens e estavam surrados nos joelhos. Ele tirou os sapatos, descansando na sala de estar com os pés descalços como se morasse aqui.

— Acho que você deveria ir.

— Eu não quero ir.

— Você não pode ficar.

— Por quê?

Eu fiquei de boca aberta. — Porque estamos divorciados.

— Eu ficar não muda esse fato.

— Então, porque é tolice. — Desde que Randall disse essa palavra, ela estava presa na minha cabeça.

— Provavelmente. — Finn riu e se levantou do sofá. Então ele estendeu a mão.

Eu recuei, afundando mais no sofá.

Ele riu de novo, então se inclinou e tirou minha mão do meu colo tão rápido que nem tive tempo de piscar antes que ele me tirasse do sofá.

— Finn. — Puxei minha mão, tentando me libertar, mas ele segurou firme quando ele me puxou pelo corredor e para o meu quarto.

Quando nós dois estávamos lá dentro, ele me soltou e fechou a porta.

Fui até o final da cama e sentei-me. — Não é por isso que eu convidei você para ficar para o jantar.

— Eu sei disso. — Ele sentou ao meu lado. — E eu vou em alguns minutos. Mas precisamos conversar sobre as cartas.

— Eu não quero falar sobre as cartas.

— Por que não?

— Porque... porque você não as enviou.

Sua estrutura caiu, seu ombro largo encostado no meu. — Sinto muito, Molly.

— Por que você não as enviou? — Acima de tudo, eu queria saber por que ele escolheu esconder aquelas cartas bonitas em vez de entregá-las para mim em algum lugar ao longo do caminho.

— Muitas razões. Eu as escrevi para você, mas elas eram mais para mim, se isso faz sentido. Um jeito de eu juntar meus pensamentos.

Isso fazia sentido, especialmente dadas as letras reais. Se ele me mandasse aquela primeira depois do nosso primeiro encontro, eu teria ficado assustada. Depois de um encontro, era estranho saber que você queria se casar com alguém. Não é? Embora não parecesse estranho. Me senti... como nós.

Sua explicação também fazia sentido para a carta de proposta. Ele não tinha dito essas palavras para mim na noite em que ele propôs, mas eu podia ver por que ele queria ter seus pensamentos escritos. Por que ele iria querer usar a carta como um planejamento antes de pedir a alguém para se tornar sua esposa.

— Há mais? — Perguntei.

— Sim.

— Quantas?

Ele hesitou. — Um pouco. Talvez seis ou sete. Não me lembro.

Se a pessoa que enviou as duas primeiras planejasse continuar, acho que acabaria descobrindo. —Você sabe quem poderia estar enviando-as?

— Eu tenho minhas suspeitas — ele resmungou.

— Eu também.

Ficamos sentados em silêncio por alguns momentos, o braço dele pressionado contra mim. O calor de sua pele se fundiu com a minha, me aquecendo até o núcleo. Aquele calor era a razão pela qual deveríamos ter ficado no sofá.

— É melhor você ir — sussurrei.

Ele assentiu, mas não fez um movimento para ficar de pé.

—Finn.

Ele olhou para mim. — Eu não quero ir.

— Você disse que iria em alguns minutos.

— Eu menti.

Eu odiava o quão bom essas duas palavras pareciam. — O que estamos fazendo?

Finn levantou a outra mão e levou-a ao meu rosto. Ele segurou meu queixo, então deslizou a palma da mão até que seus dedos foram enfiados no meu cabelo. — Sendo tolos.

Nossos lábios colidiram enquanto nós dois nos movíamos. Eu, em seus braços. Ele, me empurrando para trás, nos levando mais para cima na cama.

Sua língua varreu dentro da minha boca, explorando. Minha própria torceu e emaranhou com o dele, enquanto provando tudo que era Finn até que ele se separou para arrastar beijos quentes, molhados abaixo meu pescoço.

— Eu não quero ir. — Seus dedos envolveram a bainha da minha camiseta, puxando-a pelos meus braços.

— Não vá, — ofeguei, meus próprios dedos pegando o botão em seu jeans. No minuto em que soltou, deslizei o zíper. A ereção de Finn pulsou dentro de sua cueca boxer.

Antes que eu pudesse escorregar minha mão para dentro, Finn tirou minha camiseta, forçando meus braços para longe. Com um movimento de seu pulso, o sutiã de renda azul que coloquei esta manhã, o que eu sabia que ele gostaria, tinha ido embora.

Finn sentou o suficiente para tirar sua própria camiseta, em seguida, me beijou mais uma vez.

Meus mamilos atingiram o plano firme de seu peito, os pelos vermelho escuro fazendo cócegas e enviando uma onda de desejo ao meu núcleo. E esqueci as muitas razões racionais que não deveríamos estar fazendo isso.

Nós simplesmente nos despimos até que Finn me rolou de costas e se acomodou entre as minhas coxas. Meus quadris embalaram os dele. Meus braços se enrolaram em sua cintura, nos segurando juntos enquanto ele relaxava dentro de mim.

Meus olhos se fecharam, minha respiração roubada pela sensação dele enchendo os vazios que eu tinha ignorado por tanto tempo. Aqui, neste lugar, tudo fazia sentido. Nada foi descuidado. Aqui, juntos, foi como voltar no tempo. Nós viajamos para os dias em que aquelas cartas estavam sendo escritas. Para quando a felicidade irradiava ao nosso redor.

Quando nos perdemos um no outro, o resto do mundo é um borrão.

Finn e eu estávamos tão perdidos que nenhum de nós notou a pessoa do lado de fora.

A pessoa deixando outra carta na minha caixa de correio.


- Carta -

Molly,


Esta noite você me disse que queria adiar o casamento. Isso foi logo antes de você me pedir para deixar seu apartamento para que você pudesse ter algum espaço. Vamos nos casar na próxima semana e você precisa de espaço. Vamos nos casar na próxima semana e você quer adiar nosso casamento porque sua mãe te convenceu de que é cedo demais. Nós estamos namorando há dois anos e meio, e é muito cedo para se casar? Que porra é essa?


Eu não disse nada sobre o casamento. Eu lhe disse para fazer o que quisesse, que tudo o que importava era que no final do dia você seria minha esposa. Mas eu mudei de ideia. Agora quero algo. Quero que você pare de ouvir as palavras tóxicas que saem da boca de sua mãe. Quero que você pare de deixar seu veneno infiltrar-se em nossa vida. Quero que você pare de duvidar de mim. Duvidar de nós.


É a nossa vida, Molly. Eu e você. E toda vez que você tem uma de suas —sessões— com ela, ela distorce tudo que sinto. Ela diz que eu posso não te amar o suficiente. Ela diz que posso eventualmente olhar para outras mulheres pelas suas costas. Diz que nosso casamento poderia te impedir de ter seus próprios sonhos.

É tudo besteira. Eu sei disso. Você sabe. Ela sabe disso.

Ela sabe que você é o amor da minha vida. Sabe que você é a única mulher que vejo e sempre será. Mas essa mulher me odeia. Desde o primeiro dia. Nada do que eu fizer será bom o suficiente, porque ela acha que você pode fazer melhor.

Foda-se isso. E foda-se ela.


Você ganha vinte e quatro horas de espaço. É isso aí. Não há uma versão do meu futuro onde você não esteja ao meu lado. Então usufrua do seu espaço. Separe isso em sua cabeça, assim como eu sei que você fará. Você sempre faz. Então ponha de lado. Porque vamos nos casar na próxima semana. E mal posso esperar para te chamar de minha esposa.


Eu te amo.


Seu,

Finn


SETE

FINN


ABRI a porta do The Maysen Jar e entrei, examinando a sala. No segundo em que vi o rosto dela, me virei para a porta.

Ela me viu?

—Olá, Finn.

Sim. Merda.

Lentamente me virei, desejando ter olhado através das janelas da frente mais de perto antes de entrar. — Olá, Deb.

A mãe de Molly rangeu os dentes. — Deborah.

— Certo. — Estalei meus dedos. — Deborah.

Nos primeiros oito anos que a conheci, ela passou por Deb. Então ela decidiu que uma mulher de sua idade não deveria ser chamada por apelidos. Ela odiava Deb, então eu só a chamava de Deb. Aproveitei todas as oportunidades para obter minhas descobertas. Ela fez o mesmo. Deborah chegou a falar mal de mim para meus próprios filhos.

— Já está de saída? — Ela perguntou.

Mais como tentar fugir. — Esqueci minha carteira na caminhonete.

Seus olhos se estreitaram. — Tenho certeza de que minha filha e sua irmã raramente fazem você pagar.

— Sim, mas eu gosto de apoiar o negócio.

Deborah fez um gesto para o assento em frente a ela, silenciosamente me mandando sentar. Ela sempre foi assim, rígida e esnobe em seu terninho preto. Eu nunca tinha visto a mulher de jeans. Ela tinha o mesmo cabelo que Molly, mas enquanto sua filha deixava os cachos escuros correrem selvagens, Deb mantinha o dela curto. Longo o suficiente para fazer seus coques extravagantes.

Sua aparência gritava que sou melhor, mais inteligente e mais rica do que você jamais será.

Em um dia diferente, eu me afastaria da minha ex-sogra sem lhe dirigir a palavra. Ela poderia enfiar aquela cadeira na bunda que eu não ia me importar. Mas hoje eu ia ser educado.

Fazia uma semana desde que a última carta apareceu na caixa de correio de Molly, a que eu escrevi em um momento de extrema frustração antes do casamento. Naquela semana, Molly mal tinha falado comigo. Se eu irritasse Deb, de jeito nenhum Molly estaria disposta a conversar hoje.

Seu silêncio estava me matando.

Eu me desculpei, mas o dano havia sido feito. Molly se afastou na última semana. Ela ficou quieta. Algo que eu sabia significava que ela estava ferida.

Fiquei longe, dando-lhe algum espaço. Eu não tinha ido à casa para trabalhar no quintal. Fiquei com as crianças no fim de semana e alguns dias esta semana. Nas noites em que estavam em casa com ela, eu marcava reuniões noturnas com Bridget para rever os projetos, para não ficar tentado a ir até a casa de Molly.

Mas era o fim de semana novamente e eu queria trabalhar no quintal, o que seria muito mais fácil se Molly não estivesse esquivando o contato visual e fugindo de mim.

Então aqui estava eu, sentando em frente à minha ex-sogra para ter certeza de que eu não irritaria ainda mais minha ex-esposa.

— Como você está hoje? — Perguntei a Deb.

— Eu estou bem. Vim para ver Molly. Ela anda tão ocupada.

Eu me contorci na minha cadeira enquanto ela me olhava de cima a baixo. Não havia como Molly ter dito a Deb sobre nós, ou contou? Até onde eu sabia, Molly não contara a ninguém sobre nosso caso. A última pessoa que entenderia ou teria alguma coisa decente a dizer sobre isso era sua mãe.

— Molly gosta de estar ocupada. Ela prospera nisso. — Estudei a reação de Deb. Se ela sabia sobre nós, ela não demonstrou.

— Não é mentalmente saudável estar tão estressado.

Ahh. O comentário era sobre o stress não sobre o nosso caso. Era sobre a constante necessidade da Dra. Deborah Todd de separar cada uma das emoções de Molly.

Em sua mente, não era certo ter a gama normal de emoções que acompanhavam a vida. Sempre que Molly estava preocupada, triste ou zangada, elas tinham uma sessão para que Deborah pudesse se aprofundar na causa raiz e diagnosticar uma cura. Se Molly não estivesse em um estado constante de tranquilidade, então havia algo errado com ela.

— Eu não acho que Molly está estressada. — Como se ela tivesse ouvido a minha sugestão, Molly saiu da cozinha com um largo sorriso no rosto. — Viu?

Deb olhou para a filha, mas não pareceu ver o sorriso. — Ela parece cansada.

— Oh-kay, — concordei. Não adiantava discutir com Deb. A mulher nunca admitiria um erro. — Bem, vou dizer olá.

Eu me levantei da cadeira e dei três passos de distância da mesa quando ela me chamou de novo.

— Finn, eu disse à Molly, mas vou dizer a você também. Vocês dois precisam ficar de olho na Kali.

Os cabelos na parte de trás do meu pescoço ficaram em pé quando eu me virei. — O que?

— Estou preocupada com Kali. Nas últimas três vezes que a vi, ela ficou quieta e retraída. Eu acho que você e Molly precisam considerar colocá-la em aconselhamento. Estou preocupada que esse comportamento seja um sinal de que ela possa estar deprimida. A última coisa que queremos é que ela faça algo drástico como um pedido de ajuda.

Minhas mãos se fecharam em punhos. — Kali é feliz e saudável. Não há nada de errado com ela.

— Ela está com problemas.

— Ela não está com problemas. Ela é uma menina de dez anos. Seu humor oscila em todo o lugar, dependendo do que está acontecendo com seus amigos, seus professores ou seu irmão. Mas ela é uma criança feliz e saudável. E estou lhe dizendo agora, Deb. Se você disser algo diferente para ela, se você plantar essas ideias em sua cabeça que ela não está bem, você nunca mais verá minha filha novamente. Estamos entendidos?

Meu peito arfava quando o queixo de Deb caiu. A Dra. Deborah podia diagnosticar a própria filha o quanto ela quisesse, mas minha filha estava fora dos limites. Eu não iria fazer com Kali o que ela fez com Molly.

— Eu estou simplesmente cuidado de Kali. — Ela bufou.

— Não, você está usando sua merda de psicologia. Isso vai parar. Agora.

Os olhos de Deb se arregalaram quando ela se levantou. — Eu não vou ser ameaçada.

— Isso não é uma ameaça. — Eu me aproximei, então eu falei alto e claro para que não houvesse dúvidas sobre a minha posição. — Você não vai falar com Kali sobre aconselhamento. Você não vai falar com Kali sobre seu humor. Você não vai falar com Kali sobre nada além do que Kali quiser falar. Se eu descobrir o contrário, você não a verá novamente.

— Hey — Molly sibilou, correndo para o meu lado. — O que está acontecendo? Vocês dois estão fazendo uma cena.

— Finn está me ameaçando.

— Não estou nada, — gritei. — Sua mãe e eu estávamos chegando a um entendimento.

Molly olhou para um e para o outro. — Mãe, isso é sobre Kali? Você disse ao Finn? Eu te disse. Ela está bem.

— Discordo.

— Ela está — Molly respirou calmamente. — Quer saber? Agradeço sua preocupação e ficarei de olho. Nós dois vamos. Então vamos decidir o que é melhor para nossa filha.

Abri minha boca para retrucar, mas parei quando as palavras de Molly me atingiram. Ela realmente tinha acabado de ficar do meu lado? Contra a mãe dela? Eu fiz o possível para manter a minha expressão neutra, mas foi uma batalha. Eu não conseguia lembrar de uma época em que Molly tinha ficado ao meu lado em uma batalha de Finn contra Deb.

— Na minha opinião profissional, você está cometendo um erro — disse ela.

Molly assentiu. — Anotado.

Deb franziu a testa para Molly, esperando por uma resposta diferente. Quando ela não conseguiu uma, ela se virou e pegou sua bolsa da mesa. — Eu tenho que ir. Vamos discutir isso novamente em uma data posterior, Molly.

Eu zombei. — Contanto que você não discuta com Kali.

Molly me lançou um olhar que disse cale a boca, então ela acompanhou Deb até a porta. Enquanto sua mãe caminhava para fora pela porta da frente, Molly fez uma careta para mim.

— O quê? — Levantei minhas mãos.

— Você sempre tem que discutir com a minha mãe?

— Ei, eu não comecei isso.

Ela balançou a cabeça. — Você nunca começa. Mamãe é sempre a antagonista, não é mesmo?

— Não é assim, sabe de uma coisa? Eu não vou brigar novamente. Eu vim até aqui para falar com você.

— Sobre?

— A carta.

Ela balançou a cabeça, afastando-se da porta e atravessando o restaurante até o balcão. Eu segui, sem dizer nada quando ela me levou para a cozinha.

— Oi. — Poppy sorriu do seu lado da mesa enquanto misturava algo em uma grande tigela de prata. — Quer um lanche?

— Oi. Eu, uh... Talvez em um minuto. — Molly estava marchando em direção ao escritório, então levantei um dedo para Poppy e corri para alcançá-la.

Molly estava esperando no centro da sala quando cheguei lá. Ela ficou de boca fechada até que eu fechei a porta.

— Sinto muito sobre a carta.

— Está tudo bem. — Ela encolheu os ombros. — Me pegou de surpresa. Mas tudo bem.

— Você não está bem. Você está chateada comigo.

— Porque você veio ao meu local de trabalho e brigou com a minha mãe. Você não pode simplesmente evitá-la?

Cerrei meus dentes. — Não escolhi brigar com sua mãe. Eu estava tentando ser civilizado, mas ela cruzou a linha. Se você quiser aceitar os conselhos de merda que ela dá a você, a escolha é sua. Mas quando se trata de Kali e Max, eu não quero ela se metendo.

— Ela recebe muito dinheiro para dar esse conselho de merda.

Minha pressão sanguínea subiu um pouco. Eu odiava aspas no ar. E essa briga. Nós a tivemos tantas vezes, mas nunca ficamos do mesmo lado. Molly sempre ficava ao lado da mãe, o que me deixava sozinho, imaginando como uma mulher com tanta confiança e inteligência poderia deixar alguém manipulá-la.

— Diga-me honestamente. Você acha que Kali está deprimida?

— Não. Claro que não.

— Bem, sua mãe diz que Kali está quieta e retraída. Todos os sinais, diz ela, apontam para uma criança deprimida prestes a agir e fazer pedidos drásticos por ajuda.

Molly soltou um longo suspiro. — Mamãe está exagerando. Nas últimas vezes fomos ver a mamãe, foi no consultório dela. Kali fica entediada lá, então ela joga um jogo no meu celular. Ela entra e isola o resto do mundo.

— Sim, porque ela é uma criança normal com uma tela na frente de seu rosto. Mas a última coisa que quero é que sua mãe a convença de que há algo errado com ela.

— Mamãe nunca faria isso, Finn.

— Realmente? — Eu fiquei boquiaberto com ela. — Claro que sim. A mulher não tem limites. Ela tentou impedir nosso casamento.

— Agora quem está exagerando?

Cruzei meus braços sobre o peito. — Ouça, isso foi há muito tempo. Mas eu lembro, Molly. Você queria cancelar o casamento.

— Não, adiar.

— Isso importa? — Eu atirei de volta. —Cancelar. Postergar. Estávamos a uma semana do casamento e você queria cancelá-lo porque sua mãe a convenceu de que estávamos nos apressando. Dois meses não foram longos o suficiente para estarem envolvidos e estávamos quebrando uma de suas regras.

— Ela estava apenas preocupada. Nós dois éramos tão jovens e o planejamento do casamento era estressante.

— Vê? Você sempre a defende.

— O que há de errado comigo defendendo ela? — Ela perguntou. — Ela é minha mãe.

— Então talvez ela pudesse apoiar você e suas escolhas pela menos uma vez, ao invés de sempre questioná-las.

Molly era uma mãe incrível. De alguma forma, ela sempre soube a coisa certa a dizer para Kali quando ela estava chateada. Ou como se comunicar com Max com apenas um único olhar. Porque ela era uma mãe tão boa, me deixou perplexo que ela não viu como as palavras da própria mãe poderiam ser tóxicas.

— Não importa de qualquer maneira. — Molly acenou. — Nós resolveremos isso.

Quinze minutos depois de eu terminar de escrever aquela carta, Molly tinha batido na minha porta. Eu me desculpei por ficar tão chateado. Ela me disse que não queria adiar o casamento, então fizemos amor por horas, a luta esquecida.

Até aquela carta aparecer na semana passada.

Agora, treze anos depois, tudo estava voltando.

O casamento perdeu um pouco do brilho por causa desse argumento. Na semana que antecedeu a cerimônia, eu estava em constante estado de alerta, esperando que Molly mudasse de ideia.

Assumi o máximo que pude para ajudar a reduzir o estresse dela, não apenas pelo bem de Molly, mas para manter Deb longe. Tornei-me a ligação para o florista, fornecedores de comida e fotógrafo, certificando-me de que todos sabiam quando e onde aparecer. Empacotei as coisas de Molly e mudei tudo para o meu apartamento para que ela pudesse se concentrar no casamento e nas aulas. E limpei minha agenda, tirando mais dias do trabalho do que planejei, então eu estava completamente disponível para ajudar se ela precisasse.

No dia do casamento, fiquei no altar morrendo de medo dela ter mudado de ideia. Quando ela apareceu no final do corredor, eu quase chorei. Ela era linda, minha Molly. Cheio de alegria e confiança. Eu nunca esqueceria como ela estava naquele dia em seu vestido branco.

O top tomara que caia era adornado com rendas e um cinto em volta da cintura. Ele separava a renda da saia de tule ondulante, que mal cabia na cabine da minha caminhonete. Nós rimos sobre isso, depois que compartilhamos nossos votos e nos beijamos. Depois nós corremos por de uma chuva de alpiste para minha caminhonete - não uma limusine, porque ela não queria compartilhar os primeiros momentos após a cerimônia com um motorista.

Levamos dez minutos para colocar seu vestido na caminhonete. A saia encheu cada centímetro disponível da cabine. Nós rimos o caminho inteiro da igreja para o hotel onde nós fizemos a recepção.

Aquela risada, havia apagado o estresse do casamento. Com o anel de Molly no meu dedo, foi fácil esquecer a luta da semana anterior. O mal simplesmente fora ofuscado pelo bem.

— Nós nunca conversamos sobre isso — eu disse. — Sobre essa luta. Nós realmente não resolvemos isso, não é? Nós apenas avançamos, mas nunca consertamos o problema.

— Você quer dizer o problema da minha mãe?

Balancei a cabeça. — Escrevi essa carta porque tive que expressar esses sentimentos. Eu segurei eles por tanto tempo. Eu sei que foi duro, mas foi assim que me senti.

Molly caminhou até a mesa e caiu na borda. Então ela brincou com uma fita de cabelo verde em seu pulso. — Eu não gostei de ler essa carta.

— Eu sei. — Sentei ao lado dela.

— As outras duas cartas eram tão especiais. Havia amor lá. Esta ... você estava tão bravo e cru. Isso me levou de volta, e eu não gosto de estar naquele lugar novamente. Tem me incomodado a semana toda.

— A mim também.

— Mas me fez pensar. Você foi tão ... honesto. Nada nessa carta foi subestimado. Você não adoçou nada.

Soltei uma risada seca. — Porque você não deveria lê-la.

— Estou feliz por ter feito isso. Isso me fez ver as coisas da sua perspectiva. E você estava certo. Mamãe tem um jeito de me fazer questionar minhas decisões. Acho que ela faz isso para me desafiar e testar minha convicção. Mas por causa do jeito que ela faz, acabo duvidando de mim às vezes. Eu vejo isso agora.

Ah- porra-aleluia.

— Quer saber a coisa que realmente tem mexido comigo a semana toda? — Ela perguntou. — Não posso deixar de pensar que mamãe estava tramando algo. Não sobre você. Você estava certo, ela nunca gostou de você e sinceramente não sei por quê.

— Porque eu tenho uma opinião diferente da dela cem por cento do tempo — murmurei.

Ela sorriu. — Verdade.

— O que disse a grande Dra. Deborah na época?

Molly olhou para o chão. — Que estávamos condenados desde o começo.

Suas palavras foram como uma faca no meu coração. —Condenados? Você realmente acha isso?

— Bem, somos divorciados.

— Sim, é verdade.

— Eu não vou deixar mamãe entrar na cabeça de Kali — ela prometeu. — E vou tentar parar de deixá-la entrar na minha também.

— Bom. — Pelo menos uma coisa boa viria daquela carta. Bati seu ombro. — Sinto muito pela carta.

Seus olhos se aproximaram dos meus. — Obrigada.

Mantivemos nossos olhares travados e meu coração acelerou mais rápido. Teria sido tão fácil beijá-la. Eu queria beijá-la. Mesmo divorciado, não houve muitas ocasiões em que não quisesse beijar Molly.

Eu me inclinei uma polegada, seus lábios macios me puxando para dentro.

Ela ficou perfeitamente imóvel, os olhos firmes quando cheguei ainda mais perto. No minuto em que meus lábios roçaram os dela, sua respiração engatou. Ela não se afastou.

Pressionei contra ela, firmemente passando a língua sobre o pequeno vinco no centro do lábio inferior cheio. Ela abriu para mim, inclinando-se para que eu pudesse ter um gosto mais profundo.

Soltei um gemido quando passei meus braços ao redor dela, trazendo-a ainda mais perto.

Molly relaxou em mim, deixando sua língua varrer minha boca. Seus dedos agarraram minha camiseta, uma mão na frente e a outra na parte de trás, puxando-a de onde eu a coloquei no meu jeans e cinto.

Meu pau ficou duro e empurrou meu zíper, querendo a chance de colocar Molly na mesa e fodê-la com força e rapidez. Mas o som estridente das tigelas de metal nos separou, um lembrete de que Poppy estava do lado de fora.

— O que estamos fazendo? — Molly sussurrou enquanto se levantava. Sua mão foi para os lábios, secando-os enquanto andava pelo escritório.

— Foi apenas um beijo.

Ela parou de andar. — Por que estamos nos beijando?

— Porque eu não pude parar. — Beijá-la era tão natural quanto respirar. — Você quer parar?

Ela balançou a cabeça, mas disse: — Sim. Deveríamos.

Eu me levantei da mesa e me virei para ela, enquadrando o rosto dela com as minhas mãos. — Deveríamos.

Meus lábios caíram sobre os dela novamente, este beijo mais quente e mais duro que o primeiro. Quando seus lábios estavam molhados novamente e ela arrancou minha camiseta completamente do meu jeans, finalmente nos separamos.

Molly alisou o cabelo em volta das têmporas que eu tinha bagunçado. Enfiei minha camisa, certificando-me de que meu cinto estava reto e a protuberância atrás do meu jeans não era muito perceptível.

— Chega de me beijar hoje, — ela ordenou.

— Eu ia aparecer hoje à noite e trabalhar no quintal. — E passar a noite em sua cama.

Suas bochechas coraram. — Então chega de beijar até escurecer.

Eu ri. — OK.

Eu tinha ficado anos sem sexo, mas a semana passada tinha sido uma tortura. Era assim que os viciados se sentiam? Com essa compulsão desesperada, como eles faziam para melhorar?

— Realmente gostaria de saber quem está enviando essas cartas — disse ela.

— Eu também. — Especialmente porque eu poderia fazê-las parar. Se Molly não gostou de ler esta carta, ela odiaria algumas das outras. — E uma das crianças?

Ela balançou a cabeça. — Temos filhos brilhantes, mas isso lhes dá muito crédito. Você acha que é Poppy?

Dei um passo em direção à porta. — Só há uma maneira de descobrir.

— Espere. — A mão de Molly disparou e pegou meu cotovelo. —Não podemos ir lá. Olhe para nós. Ela saberá exatamente o que estávamos fazendo aqui.

Uma parte de mim queria ir lá e orgulhosamente mostrar o gloss que roubei da Molly. Mas isso só tornaria as coisas mais complicadas. — Eu tenho que sair em algum momento.

— Aqui. — Ela se apressou em torno da mesa, pegando um guardanapo de uma gaveta. Ela jogou para mim enquanto ia para a bolsa por um espelho compacto. — Ugh. Meus lábios estão inchados.

Escondi meu sorriso no guardanapo enquanto limpava meus lábios. — Cinco minutos e eles voltarão ao normal. Vamos esperar um pouco.

— OK. Então, como você quer fazer isso com Poppy?

— Vamos perguntar a ela.

Ela me deu uma olhada desconfiada. — Se for ela, ela não vai admitir isso. Ela se deu muito trabalho para esconder isso.

— É ela. Eu sei que é ela. — Havia apenas uma pessoa mais devastada pelo divórcio do que as crianças, Molly ou eu, e essa era minha irmã. — Ela está na minha casa regularmente. Ela provavelmente tropeçou na caixa onde eu estava mantendo-as e pensou ... bem, não sei exatamente o que ela achou.

— Provavelmente que as cartas poderiam nos unir novamente. — Molly suspirou. — Eu não quero das esperanças a ela. As cartas podem nos forçar a lidar com algumas feridas antigas, mas não vamos voltar.

— Certo — concordei, mas algo sobre sua declaração não se encaixou bem. Nós não vamos voltar. Então, por que suas palavras soaram tão erradas?

— Como estão meus lábios? — Molly perguntou quando ela aplicou um brilho labial. — Parece que estávamos nos beijando?

— Não, você está bem. Vamos embora. — Sacudi a sensação estranha e saí do escritório e fui para a cozinha.

Poppy estava exatamente onde eu a deixei, parada na mesa com um sorriso no rosto enquanto enchia pequenos potes com mistura de pão de milho.

— Ei, você tem um segundo? — Perguntei a ela.

— Sim. Está tudo bem?

Olhei para Molly. Ela me deu um aceno para ir em frente. —Precisamos conversar com você sobre as cartas.

— Cartas? — A testa de Poppy franziu. — Que cartas?

— As que você colocou na minha caixa de correio — disse Molly. — As de Finn.

— Uh ... — Ela balançou a cabeça, claramente sem acompanhar nosso raciocínio. — Eu não tenho ideia do que você está falando.

— Vamos, Poppy. Apenas confesse para que possamos conversar sobre isso.

— Eu adoraria confessar — disse ela, acrescentando as aspas, nada feliz por eu tê-la chamado de mentirosa. — Mas eu juro que não tenho ideia do que você está falando.

— Realmente? — Molly perguntou.

— Sim. — Poppy jurou. — Prometo.

Ela estava dizendo a verdade. Poppy não era apenas minha irmã, ela era minha melhor amiga. Ela fazia aquela coisa de cruzar os dedos no coração desde que éramos crianças. Era sagrado para ela, significando que ela estava dizendo a verdade.

— Que tipo de cartas? — Poppy perguntou.

Ignorei minha irmã e olhei para Molly. — Se ela não está por trás das cartas ...

— Então quem é?


- Carta -

Querida Molly,


Eu preciso que você me diga o que dizer. O funeral de Jamie é amanhã e eu devo falar. Mas eu não sei o que dizer. Aqui está o meu problema. Bem, um deles. Eu não quero te pedir ajuda. Não quero colocar isso em você. É difícil o suficiente para me carregar, então vamos fingir, ok? Vamos fingir que você vai ler isso e me ajudar a decidir o que dizer.


Jamie foi embora há oito dias. Você continua dizendo como isso não parece real. Talvez eu diga isso amanhã. Tenho certeza que todo mundo vai se emocionar. Exceto é que a coisa parece real.


Ele se foi. Eu tive que ligar para seus pais e dizer a eles. Nunca vou tirar o grito de sua mãe da minha cabeça. Nunca esquecerei o som do pai dele chorando no telefone. Nunca vou esquecer o olhar no rosto de Poppy naquela noite quando cheguei na casa deles. Sua luz se foi. Como ela vai sobreviver a isso? Sinceramente não sei se ela vai. Mas eu não posso dizer nada disso amanhã, não quando a família dele está esperando que eu mantenha minha compostura. Tudo é diferente agora.


Eu não posso fazer isso. Eu não posso fazer isso, Molly. Não quero contar histórias engraçadas sobre meu melhor amigo. Eu não quero falar sobre o quanto ele amava minha irmã. Principalmente, estou com medo de não saber onde procurar as palavras quando estiver na frente de todos. Eu acho que para você. Sempre vou olhar para você.


Não sinto que posso fazer isso agora, mas vou olhar para você. E as palavras certas virão.


Seu,

Finn


OITO

FINN


— EI — respondi o chamado de Molly. — Está tudo bem?

Ela fungou. — Recebi outra carta.

Meu coração parou. Ela estava chorando, o que significava que a carta não era boa. Foda-se. Eu e minhas malditas cartas. Eu não conseguia me lembrar de todas exatamente palavra por palavra. Eu me lembrei do humor delas. Cerca de metade foi escrita com o coração cheio. A outra metade, quebrado.

Uma delas foi catastrófica. Eu conhecia Molly bem o suficiente para saber que, se ela recebesse aquela, eu não receberia um telefonema. Ela nunca mais falaria comigo de novo. Pensei em pedir a ela para não as abrir, mas seria como dizer a uma criança para não tocar em um brinquedo brilhante e colocado bem na frente delas. A curiosidade levaria a melhor sobre ela. Além disso, não tinha esse tipo de influência com Molly. Não mais.

Ela não precisava me escutar. Ela não precisava me fazer favores ou confiar em mim porque eu era seu marido. Esse tempo passou.

O que significava que eu realmente precisava descobrir quem estava enviando. Na semana passada, desde que enfrentamos Poppy, estudei a caligrafia no envelope por horas tentando localizá-la, mas não achei nada. Eles estavam chegando em ordem, e enquanto isso continuasse, eu tinha um pouco de tempo.

A última carta apareceu na caixa de correio de Molly há duas semanas. Cada dia que passava sem outra, eu respirava mais fácil, pensando que talvez tivesse acabado. Que talvez a pessoa que roubou meus pensamentos mais pessoais tenha reconsiderado suas ações.

Mas eu tinha usado a minha sorte anos atrás, no dia em que encontrei Molly.

— O que ela diz? — Parei na cadeira do meu escritório, já pegando minhas chaves e carteira. Eu chegaria cedo hoje, esperando resolver trabalho de escritório antes do meio-dia. Então ia passar o dia em visitas de campo, revisando uma oferta de projeto com um cliente e encontrando com outro para obter sua aprovação no projeto que tínhamos concluído ontem.

Mas, dependendo da carta, essas reuniões teriam que ser remarcadas.

— Foi a carta que você escreveu depois que Jamie ...

Morreu.

Meus joelhos enfraqueceram e afundei na cadeira.

De todas as cartas que eu escrevi, aquela era a que eu lembrava mais. Foi também aquela que eu nunca abri depois do dia em que eu a tinha envelopado.

Encontrei a força para ficar em pé novamente. — Estou chegando.

— Você não precisa, — disse ela. — Tenho certeza que você está ocupado.

— Eu não quero falar sobre isso por telefone. Você está em casa?

— Sim.

— Vejo você em alguns minutos. — Desliguei e corri para fora do meu escritório.

— Finn — Bridget chamou quando passei por sua porta aberta.

— O que há? — Eu recuei, não indo para dentro.

— Você está saindo? Pensei que íamos passar por esses pedidos antes do almoço.

— Merda. — Chequei meu relógio. — Desculpa. Surgiu uma coisa.

Ela franziu a testa. — Tem acontecido muita coisa ultimamente. O que está acontecendo com você?

— Apenas algumas coisas pessoais.

Meu relacionamento com Molly nunca foi da conta de Bridget. Isso não a impediu de se inserir. Quando estávamos passando pelo divórcio, Bridget estava do meu lado. Ela era uma das poucas. Eu cometi o erro de contar a Bridget sobre o caso de uma noite de Molly. Bridget tinha rotulado Molly de trapaceira e não disse nada agradável sobre ela desde então.

Não era frequente, mas de vez em quando Bridget fazia algum comentário falando mal de Molly. Molly não tinha entendido o negócio. Ou Molly não tinha entendido o compromisso e as horas que levaram para eu administrar Alcott.

Bridget estava errada, mas não valia o drama dizer isso a ela.

As duas mulheres nunca se deram bem, mesmo quando Molly trabalhava na Alcott e Bridget era uma das empregadas dela.

Mas eu tenho o suficiente para lidar. Não preciso ouvir a opinião de Bridget sobre o tempo que eu passava com Molly. Em última análise, não era da sua conta.

— Bem, você vai voltar? — Ela perguntou.

— Não tenho certeza. Não sei quanto tempo isso vai levar.

— Tudo bem. — Ela fez uma careta. — Eu acho que nós podemos passar os pedidos depois que seu cliente vier esta noite. Podemos comprar comida e trabalhar no loft. Como nos velhos tempos.

— Na verdade, não posso ficar até mais tarde. Tenho planos. — Eu ia para a casa de Molly esta noite, e tiraria a fonte. As crianças me perguntaram se eu grelharia cheeseburgers para todos nós quando terminássemos o trabalho.

Bridget também não gostou dessa resposta. — Então quando?

— Que tal agora? Você passa por todos eles, escolhe seus favoritos, então eu os reviso com você de manhã. Talvez pudéssemos nos encontrar cedo?

— Eu não posso amanhã. Tenho reuniões com clientes consecutivas a partir das oito.

— Te encontro às sete? Vou levar seu café favorito.

Ela lutou com um sorriso. — Meu café favorito é o tipo que eu faço aqui todas as manhãs.

— Exatamente. Vou entregá-lo pessoalmente, desde a cafeteira até o seu escritório. Vou até me certificar de usar nossa caneca mais limpa.

— Vá. — Ela me dispensou. — Vejo você amanhã.

— Você é a melhor, — falei enquanto caminhava pelo corredor até a porta da frente.

Meu telefone estava cheio de e-mails no bolso e a lista de coisas que eu precisava fazer era enorme, mas tudo o que eu conseguia pensar na viagem até a casa de Molly era aquela carta.

Deus, eu estava com o coração partido. A morte de Jamie havia destruído todos nós.

A viagem para Molly demorou mais tempo do que antes. Bozeman crescera rápido demais para a infraestrutura existente, por isso as ruas estavam constantemente ocupadas. Mesmo agora, com as pessoas da faculdade indo embora para o verão, o fluxo de turistas na cidade tornava o trânsito lento.

Finalmente, troquei as estradas principais para ruas secundárias menos movimentadas. As crianças andavam de bicicleta, aproveitando o sol de verão. Os sprinklers giravam, mantendo os quintais verdejantes, e o sol entrava pela minha janela.

Tudo gritava felicidade. Isso normalmente me faria sorrir. Mas minha mente não estava neste lindo dia de junho. Foi em um dia de maio, anos atrás, que havia sido negro como a noite.

Parei na entrada da casa de Molly, pulando e correndo para a porta. Gavin estava do lado de fora e ele acenou do seu lugar na varanda. Seu telefone estava pressionado ao ouvido enquanto ele sentava do lado de fora, com o computador no colo.

Acenei de volta, em seguida, o despedi. Eu não me incomodei em bater na porta. Abri e corri pela entrada. Encontrei Molly na mesa da sala de jantar, a carta na madeira ao lado de uma caixa de lenços.

— Hey. — Seus olhos estavam vermelhos. — Você não precisava vir aqui.

Fui direto para o lado dela, peguei a mão dela e a puxei da cadeira.

No momento em que meus braços estavam em volta dela, as lágrimas vieram novamente, encharcando a frente da minha camisa. Foi assim que passamos naqueles dias depois que Jamie morreu. Nós nos abraçamos, lamentando a morte de nosso irmão e amigo.

— Eu odeio isso, — ela sussurrou.

— Eu também.

— Eu sinto que toda vez que vou para a caixa de correio, eu vou explodir de volta ao passado. Eu já chorei essas lágrimas. Eu não quero fazer isso de novo.

Beijei o topo de seu cabelo. — Eu sinto muito.

— Não é sua culpa.

— Isto é. Eu as escrevi. E eu deveria ter me livrado delas anos atrás.

— Não. — Molly balançou a cabeça enquanto voltava para o seu lugar. — Estou feliz que você não tenha. Esta... Eu precisava ler está aqui.

— Por quê? — Levei a cadeira ao lado dela, brincando com a lateral da carta.

Eu não queria abri-la novamente. Eu não queria ler e lembrar. Porque não era justo que ela tivesse que revivê-lo e eu não, deslizei o papel sobre a mesa e abri as dobras, lendo as palavras que escrevi em agonia anos atrás.

Engoli o nó na garganta e fechei a carta, esperando que as emoções ficassem na página e no passado, onde elas pertenciam.

— Eu preciso te dizer uma coisa. — Molly soltou um longo suspiro. — Poppy e eu estávamos conversando no outro dia. Ela se perguntou se a morte de Jamie era a razão pela qual nos separamos. Ela pensou que se tivesse lidado melhor com isso, poderíamos ainda estar juntos.

— Droga. — Passei a mão pelo meu cabelo. — Eu odeio que ela se sinta assim. Ela não foi a razão pela qual nos separamos.

— Foi o que eu disse a ela também. Mas desde então, tenho pensado. Todas essas cartas ...— Ela apontou para o papel. — Elas me fizeram pensar. Por muitos anos, tentei identificar isso.

— Identificar o quê?

Ela fez uma pausa. — O começo do nosso fim.

Eu me mexi na minha cadeira. — Você acha que foi isso?

— Eu não sei. Eu não sabia. Mas agora que li esta carta, sim. Eu acho.

Como essa carta poderia fazê-la pensar que isso foi o que causou nossa separação? — Eu não estou entendendo você. Nós tivemos bons anos depois disso. Nós tivemos Kali depois Max depois disso.

— Você disse isso em sua carta. Tudo mudou. Depois que Jamie morreu, tudo mudou.

— Sua morte não foi a razão pela qual nos separamos.

— Então o que foi? Nós ficamos diferentes depois de sua morte.

Abri minha boca para responder, mas calei quando as palavras não vieram. O que causou nosso divórcio? O que nos levou de um lugar onde tudo que eu precisava para passar por um dos momentos mais difíceis da minha vida era um olhar para ela?

— Eu não sei.

— Não foi apenas um motivo — disse ela. — Mas depois disso, os dias ruins começaram.

— Que dias ruins?

— Os dias ruins. Nós concebemos Kali durante o sexo de reconciliação. Nós dois estávamos tão cansados e exaustos. Você estava gastando quase todo segundo com Poppy, certificando-se que ela estava ... bem, você sabe.

Viva.

Meus pais haviam voltado ao Alasca depois do funeral. Cada um tinha que trabalhar porque a vida continuou. Exceto para Poppy, não tinha continuado. Ela passou meses quase em coma.

Poppy tinha caído tanto em depressão, nada ajudou. Nada que eu disse a fez sorrir. Nada que eu fiz a ajudou se abrir e falar. Ela nem chorou.

Sem Jamie, ela perdera o coração. Então eu lutei. Lutei muito por ela. Eu ligava constantemente. Quando ela não respondia, eu ia verificá-la. Fiquei até tarde na casa dela, deitado ao lado dela no sofá até que seu cérebro fosse desligado e ela finalmente adormecesse. Então eu a levava para a cama. Dia após dia. Semana após semana. Passei cada minuto do dia temendo pela vida da minha irmã.

Todo o resto foi excluído, especialmente Molly. Ela assumiu muito na Alcott e me cobriu quando eu precisava estar com Poppy. Ela se certificou de que minha roupa estava lavada e o gramado estava cortado. Ela continuou nossas vidas.

Em troca, chegava da casa de Poppy miserável. Briguei com Molly, tirando minhas frustrações sobre a morte de Jamie na pessoa que eu mais amava.

— Por que nós brigamos aquela noite? — Perguntei. — Não me lembro.

Ela sorriu. — O preço do aspen sueco6.

— Está certo. Para o projeto Bexter. Deus, ele era um idiota!

— Ele com certeza era. Essa foi a primeira e única vez que um cliente me fez chorar.

Alan Bexter era um cara que se mudou para Bozeman por um capricho, um garoto do fundo fiduciário que achava que pagar o preço total estava abaixo dele. Foi um grande projeto e valeu a pena para Alcott, mesmo depois de dar um desconto ao cara. Eu fiz um acordo verbal com Alan por um preço reduzido nas árvores que ele queria para alinhar a entrada de sua casa.

Eu estava no meio desse projeto quando Jamie foi assassinado.

Quando terminamos, semanas se passaram. Molly estava fazendo todo o faturamento para Alcott e ela enviou a última fatura para Bexter. Todos os cinquenta e seis aspen suecos foram discriminados pelo preço total.

Bexter ligara para Molly, massacrando-a com gritos e malcriações. Então ele me ligou, me dando uma bronca antes de recomendar que eu demitisse meu contador. O idiota não tinha juntado dois e dois para perceber que ele estava falando sobre a minha esposa.

— Eu juro que falei sobre a mudança de preço — eu disse.

— E eu juro que você não disse. — A verdade era um mistério. Não que isso importasse agora.

— Droga, isso foi um inferno de uma luta.

Ela sorriu. — Não me lembro quem começou a jogar a comida primeiro.

— Você. — Eu ri. — Fiquei chocado quando você jogou o macarrão na minha cara.

— Oh, senhor. — Ela baixou o rosto em suas mãos. — Não foi o meu melhor momento.

— Não. — Eu estendi a mão e tirei as mãos dela, segurando uma. — Foi perfeito. Essa foi a primeira vez que eu ri em semanas.

Aquela briga de comida me lembrava Jamie. Ele teria feito isso, começou uma luta de comida para desarmar uma situação. Talvez tenha sido por isso que eu me juntei, jogando uma tigela de salada Ceasar no rosto dela ao mesmo tempo em que ela me golpeava com o pão francês.

Nós tínhamos desmoronado juntos na cozinha, rindo histericamente, Bexter e suas imensas árvores esquecidas. Então fizemos amor no chão, cercados por nossas roupas descartadas e o jantar não comido.

Essa foi a noite em que fizemos a nossa Kali.

— As coisas foram melhores depois disso. — Nós conversamos a noite toda, e começamos a fazer as coisas juntos novamente, ao invés de dividir as coisas. E nós fomos honestos com Poppy.

Nós colocamos meus pais em um avião para vê-la novamente. Eles telefonavam todos os dias, mas no telefone não tinham visto como as coisas estavam ruins. Então todos nós a sentamos e dissemos a ela como estávamos preocupados. Poppy se sentiu horrível. Ela se sentiu culpada. Mamãe e papai pediram para ela se mudar para o Alasca e ela pensou sobre isso.

Mas então nós lhes dissemos que estávamos grávidos. Era cedo, mas estávamos muito empolgados para não compartilhar as novidades.

— Foi por Kali, — disse Molly. — Eu acho que ela teria ido ao Alasca com seus pais se não fosse por Kali. Ela queria ser uma boa tia. Deu-lhe algo para sorrir.

— Foi o ponto de virada.

Então, como é que as coisas ficaram tão ruins de novo? Como nos envolvemos em mais brigas? Mais discussões?

Nós dois encaramos a carta novamente, o silêncio se instalando ao nosso redor como um manto pesado. Será que ela percebeu alguma coisa? A morte de Jamie tinha sido o começo do nosso fim?

Eu me recusei a acreditar. Eu não colocaria isso nele.

Esse funeral foi um dos dias mais difíceis da minha vida. Mas eu consegui passar. Fiquei no pódio da igreja tão cheia de pessoas que mal havia espaço para ficar nos corredores e falei sobre Jamie. Disse a uma sala cheia de amigos e familiares como nós dois nos ligamos ao nosso amor compartilhado por cerveja gelada e cheeseburgers gordurosos. Falei sobre o tempo que passamos juntos esquiando e tivemos que ser resgatados pela patrulha de esqui, porque nos convencemos de que os marcadores fora dos limites estavam errados.

Falei sobre como ele era um bobo por fora - como a habilidade dele de iluminar um quarto tinha sido incomparável - e que no interior, ele tinha um coração de ouro. Que ele amava nada mais do que fazer as mulheres em sua vida sorrirem. A sua mãe. E sua esposa.

Fiquei na frente de centenas de pessoas, mas falei com apenas uma.

Para Molly.

Porque, como eu sabia naquela carta, a única maneira de passar por esse dia era mantendo meus olhos nela.

A morte de Jamie não foi o que iniciou nossa espiral descendente. Eu me recuso a acreditar.

— Eu não vou culpar Jamie pelo fim do nosso casamento.

— Finn, — disse Molly suavemente. — Isso não é o que estou dizendo. Nós terminamos. As coisas ficaram difíceis e não nos mantivemos juntos. E sei que isso parece estranho, mas eu precisava dessa carta. Eu precisava de um motivo.

Uma razão para nós termos nos divorciado.

— Ele não era o motivo, — eu disse com firmeza.

Ela fechou os olhos. — Isso não é o que estou dizendo. Eu amava Jamie. Sinto falta do Jamie. Mas você não pode me dizer que as coisas não mudaram.

Não, não consigo.

— Precisamos descobrir quem está enviando essas cartas. — Eu me levantei da cadeira, andando ao longo da mesa enquanto eu mudava de assunto.

— Você falou com sua mãe?

Balancei a cabeça. — Não é ela ou papai.

Eu tinha ido na semana passada e me sentei com os dois. Então implorei pela verdade. Meus pais não mentiram para mim, então quando disseram que não eram eles, acreditei neles.

Não foi fácil falar para eles sobre as cartas. Ou a Poppy, a propósito. Eu não queria explicar por que as escrevi, muito menos porque guardei. Mas meu desejo de impedir que as cartas chegassem à caixa de correio de Molly era mais do que o desejo de esconder minha vulnerabilidade com relação a ela.

Felizmente, minha família não tinha cutucado. Eles me deixaram escapar com uma explicação vaga e depois prometeram que não estavam envolvidos.

— Não é Poppy. Não são seus pais. Não podem ser as crianças. — Molly suspirou. — Então, estamos de volta à estaca zero.

Balancei a cabeça. — Quem mais poderia ser? Quem mais os teria encontrado no meu armário?

— Cole?

— Eu não acho que ele já esteve no meu quarto. — Passei a mão no meu rosto. — Estou sem palpites.

— Eu posso precisar começar a vigiar minha caixa de correio.

Eu parei de andar. — Isso não é uma má ideia.

— Eu estava brincando.

— Por quê? — Voltei para a mesa, sentando ao lado dela. — As crianças vão para o Alasca na próxima semana com meus pais. Eles vão ficar lá por duas semanas, então não preciso ficar me esgueirando por aí. Vamos vigiar a caixa de correio.

Meu desespero estava aparecendo, mas não me importei. Eu sabia o que estava por vir. Se Molly também soubesse, ela estaria tão ansiosa quanto eu para pará-lo.

— Vamos começar com Cole — disse ela. — Então podemos evoluir para óculos de visão noturna e assistir em turnos.

— Combinado.

Molly se levantou e foi até a cozinha buscar um copo de água. — Desculpe tirar você do trabalho.

— Não tem problema.

Ela me deu um olhar cético. — Finn. É verão. Eu sei o quão ocupado você é. Eu estou bem. Aprecio você vir para que pudéssemos conversar. Mas você não precisa ficar. E enquanto as crianças estiverem fora, você pode esquecer meu quintal.

Ela estava me dando o fora? — Você não me quer aqui?

— Não é isso não. Mas você esteve muito aqui. Tenho certeza de que você está atolado.

— Eu estou.

— Então leve o tempo que precisar. Coloque suas coisas em dia, enquanto não precisar lavar roupa extra, cozinhar ou correr com as crianças.

— Eu não sei como você faz tudo — admiti. — Como você trabalha no restaurante e consegue manter tudo tão limpo. — Levantei-me e encostei-me no balcão. — Minha casa é um desastre a maior parte do tempo, e eu sinto como se uma pilha de roupa crescesse enquanto estou dormindo.

Ela riu. — Bem-vindo à vida de uma mãe.

— Eu não digo o suficiente. Obrigado por tudo que você faz. Eu sei que você lava a maior parte das roupas para as crianças, então eu não preciso fazer. Eu sei que você se certifica de que eles tenham suas coisas para a escola. Eu agradeço.

— Obrigada. — Suas bochechas coraram antes de ela dar de ombros. — Eles são meus filhos.

Era mais que isso. Mesmo depois do divórcio, quando fui um idiota para ela, ela sempre fazia o melhor possível para que eu não me estressasse nas noites em que eu ficava sozinho com as crianças. Demorei muitos anos para desenvolver uma rotina melhor. Descobrir como fazer a hora do jantar, a hora do banho e a hora de dormir sem que uma ou ambas as crianças sofressem um colapso. Ou sem querer arrancar meu cabelo.

Tudo sofreu por um tempo, meu negócio e sanidade na maior parte. Durante anos, foi um show de horror. Mas eu ganhei respeito por Molly. Sempre achei que as coisas eram mais fáceis para ela porque ela estava em casa enquanto eu trabalhava. Ela nunca reclamou.

Eu não tinha ideia do quanto era difícil.

— Eu menosprezei você.

Ela piscou para mim. — O que?

— Você. Eu menosprezei você. Eu sinto por isso.

— Oh, hum... obrigada.

— Eu deveria ter dito isso antes.

Ela baixou o olhar para o copo de água, piscando rapidamente.

Meu telefone tocou no meu bolso, quebrando o momento. Havia mais coisas para conversar com Molly. Eu ainda precisava saber por que ela não veio para Alcott e minha casa. Se ela se ressentiu de mim quando ficou em casa com as crianças.

Mas ela estava certa. Eu estava muito ocupado e precisava voltar ao trabalho.

— Estou pensando em vir hoje à noite para trabalhar no quintal.

— Você não precisa.

— Eu quero — eu disse. — Quero passar mais tempo com as crianças antes que elas viagem. E você.

Ela assentiu, seguindo-me até a porta. Acenei para ela enquanto abria, mas ela me parou. — Finn?

— Sim? — Eu virei meu ombro.

— Você acha que nós teríamos feito isso se Jamie não tivesse sido morto?

Meus ombros caíram. — Eu não sei. Realmente não sei. Você?

— Sim. — Ela não hesitou. — Mas isso não importa agora.

— Não, acho que não.

Nós estávamos quebrados.

Porque tudo mudou.


NOVE

MOLLY


— ENTÃO, VOCÊ AINDA ESTÁ ...— As sobrancelhas de Randall dispararam quando ele parou.

— Sendo tola? — Perguntei e ele assentiu. As crianças estavam no Alasca e Finn não passara uma noite em sua própria cama a semana toda. — Sim.

Sua carranca me fez sentir pior do que quando recebi uma multa por excesso de velocidade no ensino médio com a minha mãe sentada no banco do passageiro.

Randall estava tão perto de um avô quanto eu já tive. Os pais da mamãe moravam na costa leste, ambos muito velhos para viajar. Eu não estava perto deles quando criança e também não quando era adulta. Eles não conheceram meus filhos.

Os pais do meu pai tinham vivido em Bozeman, mas ambos morreram quando eu era jovem. Meu pai era doze anos mais velho que minha mãe. De muitas maneiras, ele tinha sido mais como um avô do que um pai. Ele me estragou com guloseimas escondidas. Ele me deixaria ficar além da minha hora de dormir quando ela estava fora. Eu não conseguia lembrar de uma época em que ele me punira. Mas também não éramos próximos. Ele era um professor aposentado no estado de Montana. Ele sempre estivera mais interessado em passar tempo com seus alunos do que com sua filha.

Acho que mamãe queria um filho e deu um ultimato a ele. Ele nunca discutiu com a minha mãe. Ele fez o que ela queria, então desapareceu em sua biblioteca antes que ela pudesse pedir outra coisa.

Eu o via a cada dois meses quando minha mãe o forçava a visitar as crianças, mas desisti de construir um relacionamento próximo de pai e filha com ele anos atrás. Não interessava ao meu pai e não tínhamos nada em comum.

Isso me fez pensar como seria a vida se Randall fosse pai. Ou meu pai. Talvez eu tivesse tido o ombro de alguém para chorar durante o divórcio. Em vez disso, mantive minhas lágrimas escondidas, sem querer sobrecarregar Poppy com elas. Ela tinha sido inundada tentando abrir o restaurante, e dada a proximidade que tinha com Finn e eu, ambos lutamos arduamente para não fazê-la escolher um lado.

Mamãe tinha sorrido como um gato Cheshire quando contei a ela sobre a nossa separação, então não compartilhei minhas lágrimas com ela também.

Talvez se eu tivesse um Randall, não teria cometido um erro tão horrível. Eu não teria dormido com aquele outro homem.

— Tenha cuidado — alertou Randall.

— Eu vou.

Foi bom ter o aviso dele. E eu estava sendo cuidadosa. Mesmo que este caso tenha surgido do nada, estava mantendo minha guarda. Eu não precisava mais do afeto de Finn para reforçar minha confiança. Poderia terminar isso a qualquer momento.

Poderia terminar hoje se quisesse.

Eu não queria, mas podia.

— O que está acontecendo? — Jimmy perguntou, suas bochechas estufadas com uma mordida de pão de milho e pimentão.

— Nada que seja da sua maldita conta, — Randall murmurou antes que eu pudesse me esquivar da pergunta.

— Tudo bem. — Jimmy terminou de mastigar e engoliu em seco. — Vocês dois sempre têm suas piadas internas e conversas silenciosas. É muito chato. E meio rude. Mas isso dá a mim e a Poppy algo para falar pelas suas costas.

— O que? — Meus olhos se arregalaram, um sorriso puxando meus lábios. — Vocês não fazem isso.

Ele assentiu. — Nós fazemos. Nós falamos sobre vocês dois o tempo todo. Como vocês dois não conseguem acompanhar nossas piadas. Isso é provavelmente o que você está falando. Nós achamos que você tem explicado nossas piadas a Randall há anos.

O rosto de Randall ficou magenta enquanto ele fazia uma careta.

Jimmy encontrou meus olhos, os dele brilhando enquanto ele lutava com um sorriso, empurrando outro pedaço de pimentão na boca. Ele não se importava nem um pouco se Randall e eu tivéssemos nossa própria língua. Nós tínhamos isso há anos. Ele e Poppy também tinham a sua. Mas qualquer desculpa para irritar Randall e Jimmy apertava os botões mais rápido do que uma criança brincando igual louca.

— Suas piadas são tão simples que Brady poderia entendê-las — retrucou Randall.

— Brady pode ser apenas uma criança, mas ele é brilhante. Claro, ele poderia entendê-los. Ele é meu bisneto, então ele tem genes superiores.

Randall tirou o boné do joelho e puxou-o na cabeça. Era o final de junho e muito quente lá fora, mas não passava um dia em que ele não usava aquele boné. Com ele seguro e sua bengala na mão, ele se levantou de seu banco.

— Ei. — Jimmy tinha acabado de empurrar outra mordida em sua boca e com seu grito, pequenas migalhas foram pulverizadas. — Onde você vai?

— Encontre sua própria carona para casa. Talvez Brady possa levá-lo em seu trator de plástico.

Eu ri, rapidamente cobrindo minha boca com a mão. Meu riso só tornaria isso pior.

— Volte aqui, — Jimmy ordenou. — Poppy fez torta de maçã fresca esta manhã e eu não vou perder isso.

— Eu vou embora se eu quiser. E você não vai mais sair comigo.

Em seis anos, essa foi a 729ª vez que ele fez essa ameaça. Poppy e eu fizemos um registro abaixo da caixa registradora. Abaixei-me, pegando lentamente o lápis e o bloco de anotações e risquei o número antigo para adicionar o novo.

Poppy enfiou a cabeça pela porta de vaivém da cozinha. — O que está acontecendo aqui fora?

— Estou indo embora — gritou Randall, aproximando-se da porta. — Eu não preciso lidar com esse assédio todos os dias.

— Oh, tudo bem. Tchau. — Ela sorriu para Jimmy. — Eu estava experimentando a mousse de chocolate. Fiz uma geleia de framboesa para pôr por cima. Quer experimentar um?

O corpo de Randall parou, seus ouvidos se animando. Ele era louco por doces. Todos os ossos do corpo dele eram viciados em açúcar. Mencione o chocolate e o homem praticamente vibra.

— Eu quero um — disse a Poppy. — Se houver algum extra.

— Acabei de fazer um pequeno lote. Apenas quatro potes para eu saber se as pessoas vão gostar da receita.

— O que você está esperando? — Randall girou de volta, sua visão fixada em seu banquinho. — Pegue esses potes.

Poppy desapareceu na cozinha, fui pegar quatro colheres e Jimmy terminou seu almoço enquanto esperávamos a mousse. Randall estava em seu banco, as brigas de hoje esquecidas tão rapidamente quanto haviam começado.

Quatro mousses de chocolate depois, todos nós concordamos que a mistura de framboesa de Poppy seria um sucesso.

— Acho que vou fazer mais um pouco antes de esquecer o que fiz. Então podemos congelá-lo e usá-lo para a celebração do aniversário na próxima semana.

— Quer companhia na cozinha?

— Certo. Dora acabou de fazer o sinal que ela pode assumir aqui.

Deixamos Randall e Jimmy em suas cadeiras e fomos para os fundos. Dora estava na pia, lavando as mãos para começar seu turno. Eu disse olá, depois conversei com ela sobre as aulas dela antes que ela deixasse Poppy e eu sozinhas na cozinha.

— Mais alguma carta? — Poppy perguntou, medindo o açúcar em uma tigela.

— Não. Nada. — Eu não lhe contara muito sobre a carta que Finn escrevera para o funeral de Jamie. Simplesmente disse que recebi outra carta e ela fez com que Finn e eu conversássemos sobre algumas coisas.

— E você ainda não tem ideia de quem as está enviando?

— Não é você.

— Não sou eu, — ela garantiu.

— Não são seus pais. Você acha que poderia ser Cole?

Ela balançou a cabeça. — Eu perguntei a ele sobre isso quando vocês me perguntaram. Ele estava tão confuso quanto eu.

— Droga. Então estou perdida.

— E quanto a Kali?

Eu ri. — Finn pensou que poderia ser ela também. Mas eu não sei. A caligrafia no envelope não é dela. Parece muito adulto.

— E você tem certeza que não é Finn?

— Finn? — Eu nem sequer pensei em questionar. Ele me disse que não era ele, e acreditei nele. — Ele ficou tão chocado quando eu disse a ele sobre as duas primeiras, não acho que ele poderia estar inventando.

— Não posso acreditar que ele as manteve todo esse tempo.

Suspirei. — Eu também. Gostaria ... gostaria que ele tivesse me enviado essas cartas depois que ele as escreveu. Elas foram boas para nós.

— Como assim?

— Elas nos fizeram falar sobre algumas discussões antigas. Reviver alguns bons momentos. Acho que curou muitas das feridas que infligimos um no outro. Isso e ... O sexo.

Não foi a primeira vez que quase soltei que Finn e eu estávamos dormindo juntos. Manter segredos de Poppy era completamente estranho para mim. Eu não tinha mantido algo assim dela durante todo o nosso relacionamento, e não conseguia pensar em uma época em que ela não fosse a primeira pessoa, além de Finn, para eu correr e contar boas notícias. O mesmo aconteceu com as ruins.

Era uma boa notícia ou uma má notícia que Finn e eu estávamos fazendo sexo diariamente?

Boas notícias. Tinha que ser uma boa notícia. O jeito que Finn me fazia sentir, o jeito que suas mãos faziam meu corpo ganhar vida não podia ser ruim.

— Isso e o quê? — Perguntou ela, tirando uma enorme caixa de framboesas da geladeira.

— Eu amo que você faça isso.

— Fazer o que?

— Você sempre começa algo novo com uma amostra. Você fica tão preocupada que não ficará bom. Mas no fundo, você já sabe que vai ser incrível porque você já comprou os ingredientes a granel.

Ela encolheu os ombros, mas um sorriso apareceu em seus lábios. — Poderíamos ter usado as framboesas nas saladas. E não mude de assunto. Nós estávamos falando sobre você e Finn.

Estamos dormindo juntos. As palavras estavam ali, prontas para se derramarem sobre a mesa ao lado das caixas de frutas.

— Eu, uh, eu e Finn. — Minha garganta se fechou. Eu queria tanto contar a ela, mas isso a faria sofrer? Se Jamie estivesse vivo, eu teria dito a Poppy sem um momento de hesitação. Mas eu a vi quebrada no seu nível mais baixo. Era difícil não querer protegê-la, mesmo que ela tendo se reerguido.

Talvez isso a ajudasse a entender e acreditar que ela não era o motivo pelo qual nos divorciamos. Talvez contar a ela sobre Finn realmente aliviasse algumas das dúvidas em sua mente.

Poppy olhou para mim, esperando.

— É mais do que apenas as cartas. Estamos vendo um ao outro.

Suas sobrancelhas se uniram. — Como namorar?

— Não, não realmente. Ele tem vindo e nós dormimos juntos.

Uma mistura de emoções brilhou em seu rosto. Excitação. Esperança. Medo. — O que isso significa? Vocês vão voltar?

— Não — eu disse imediatamente. — Não. Eu não quero que você tenha esperanças, porque nós absolutamente não vamos voltar.

— Como isso aconteceu? — Ela piscou duas vezes. — Foram as cartas?

— Sim e não. Lembra da noite em que ele cortou meu gramado? Ele ficou para assistir a um filme comigo e com as crianças. Nós bebemos muito vinho. Uma coisa levou a outra e fizemos sexo.

— Já faz semanas. E você não me contou?

Estremeci. — Eu sinto muito. Eu não sabia o que dizer. Fiquei muito surpresa. Eu não tinha certeza do que estava acontecendo. Honestamente, ainda não sei.

— Então você está fazendo sexo, mas não vai voltar?

— Certo. — Dei-lhe um aceno definitivo. — Nós não vamos voltar.

— Vocês vão continuar dormindo juntos? — Ela perguntou, vindo para o meu lado da mesa, as framboesas esquecidas.

— Eu acho? Também não sei. Quero dizer, tem que acabar em algum momento. Certo?

— Molly, o que você está fazendo?

— Eu não sei. É o Finn.

— Você vai ter seu coração partido novamente.

— Não dessa vez. É diferente agora.

— Como?

— Eu não estou apaixonada por Finn.

Ela se encolheu. — Oh

E foi por isso que mantive isso para mim mesmo. Poppy acreditava que eu estava apaixonada por Finn. Que ele estava apaixonado por mim. Sim, havia amor lá. Eu o amava como pai dos meus filhos. Eu o amava como meu primeiro amor. Mas eu não estava apaixonada por Finn. Não mais.

Eu não tinha certeza se meu coração seria capaz de se apaixonar por alguém novamente.

— Ok, — ela finalmente disse.

Fiquei feliz por saber que o segredo foi contado, mas não gostei do julgamento no rosto dela. Ela não sairia e diria como Randall. Ela não era uma pessoa rude. Mas eu a conhecia bem e conhecia aquele olhar severo. Ela achava que esse caso também era tolo.

Ela não estava errada.

A porta da cozinha se abriu e Cole entrou.

O rosto de Poppy se iluminou como luzes brilhantes em uma noite negra, sua irritação com Finn e eu esquecida. — Ei. O que você está fazendo aqui?

— Esperando conseguir um almoço tardio. — Cole foi direto para sua esposa para um longo beijo na boca.

Ele vestia sua calça jeans de marca e polo preta do Departamento de Polícia de Bozeman. Sua arma no coldre e um distintivo brilhante estavam presos no cinto de couro. Seu cabelo estava afastado da testa pelos óculos escuros de aviador que ele nunca deixava.

Cole Goodman era o perfeito policial gostoso. Com aqueles olhos verde-claros e um corpo tonificado, ele era o detetive que toda mulher queria no calendário anual do Departamento de Polícia de Bozeman. No entanto, para o desapontamento da população feminina, eles estavam fazendo cenários locais, reduzindo suas oportunidades de arrecadação de recursos.

Eu o amava por Poppy. Ela era a vida dele, junto com os filhos, e eu esperava que ele usasse as algemas nela regularmente.

— Procurem um quarto, — provoquei quando seu beijo se arrastou.

Cole apenas sorriu contra a boca de Poppy. Quando eles finalmente se separaram, ele jogou um braço ao redor de seus ombros e examinou a mesa. — O que você está fazendo?

— Compota de framboesa para a mousse de chocolate. Eu estava experimentando mais cedo e tudo correu bem.

— Mais do que tudo bem. — Revirei os olhos em sua modéstia. — É incrível. Tão bom que fez parte do cardápio para a celebração do aniversário.

— Tem mais alguma coisa?

Ela franziu a testa. — Não, eu só fiz quatro. Se eu soubesse que você viria, teria guardado o meu para você.

— Está tudo bem, linda. Nunca é uma dificuldade comer a torta de maçã.

— O que você quer para o almoço?

Ele deu de ombros, deixando-a ir. — Surpreenda-me.

Poppy sorriu e foi até a geladeira, pegando um tomate, alface e um pouco de bacon restante. Então ela pegou um pouco de pão da prateleira da despensa.

— Se eu soubesse que você estaria disposta a fazer um de seus famosos BLTs7, eu teria pulado a mousse também—, eu disse.

Seus BLTs eram meus favoritos. Poppy não ficava satisfeita com a maionese no sanduíche. Ela misturaria um monte de temperos que levavam o sanduíche simples ao próximo nível. Mas como muitas de suas receitas, a mistura de especiarias era improvisada. Nunca era a mesma, embora sempre delicioso.

— Quer um? — Ela perguntou.

Eu estava cheia, mas esses sanduíches não deviam ser desperdiçados. — Você faz metade?

Antes que ela pudesse responder, a porta se abriu novamente.

Meu coração pulou quando Finn entrou. Com sua arrogância natural e sorriso sexy, que mostravam alguns de seus dentes brancos e retos, a presença do homem sempre enviara arrepios pelo meu corpo.

— Hey, pessoal. — Ele acenou e se aproximou para apertar a mão de Cole. — O que está acontecendo?

— Acabei de chegar para o almoço. Você?

— O mesmo.

— Eu estava fazendo BLTs — Poppy disse a ele. — Quero um?

Ele esfregou as mãos, praticamente babando. — Isso aí. Estou faminto. Eu perdi o café da manhã hoje.

Baixei o meu olhar para os meus pés, na esperança de esconder minhas bochechas coradas. Com as crianças viajando, ele não teve que sair correndo de casa antes do amanhecer, então eu fazia o café da manhã todas as manhãs. Eu estava prestes a quebrar alguns ovos esta manhã quando ele entrou na cozinha e beijou meu pescoço. Aquele beijo levou a outro, depois outro, até ficarmos na horizontal no chão da cozinha, a boca de Finn entre as minhas pernas.

Tecnicamente, eu fui o café da manhã.

E café. Eu era uma anfitriã generosa. Eu o mandei para o trabalho com uma caneca de café depois que ele me encheu com sua própria libertação.

— Hey. — Finn veio para ficar do meu lado da mesa.

A atração magnética estava lá, o desejo de ficar perto o suficiente para que nossos braços se tocassem. Mas nós lutamos, permanecendo rigidamente, doze centímetros de distância. Seu aroma fresco e do ar livre era ainda mais atraente do que a culinária de Poppy. Era impossível não olhar por um momento longo demais para seus brilhantes olhos azuis enquanto eles cintilavam com malícia.

Ele estava definitivamente pensando em seu café da manhã.

Minhas bochechas doeram quando me forcei a não sorrir.

— O que vocês vão fazer hoje à noite? — Cole perguntou.

— Nada — respondi rápido demais.

— Provavelmente fazer sexo, — Poppy murmurou.

— O quê? — A boca de Finn ficou aberta quando Cole murmurou: — Hã?

— Poppy — eu assobiei.

Ela virou-se da bancada, espátula na mão, e acenou em um círculo. — Assim que vocês saíssem, eu ia dizer a Cole de qualquer maneira.

— Pedi para manter isso para nós mesmos, — Finn resmungou.

— Desculpa. Apenas saiu.

— Está tudo bem. — Ele passou a mão pelo cabelo, as mechas vermelhas ficaram engraçadas. — Vocês duas não têm segredos.

Eu sorri. Ele entendeu minha amizade com sua irmã tão bem.

— Vocês vão voltar? — Cole perguntou.

— Não — respondemos em uníssono.

— É, uh ... — Finn parou. — Complicado.

Bem, pelo menos eu não era a única que não sabia como explicar nosso caso.

Cole deixou a explicação, talvez porque, como detetive, sabia quando chegara a um beco sem saída em uma linha de interrogatório.

— O que você ia perguntar sobre hoje à noite? — Finn perguntou.

— Oh. — Cole pegou uma framboesa e colocou na boca. — Meus pais querem levar as crianças para passar a noite na casa deles. Como estamos todos sem filhos, achei que poderíamos sair para tomar uma cerveja ou algo assim.

— Ou eu poderia cozinhar? — Poppy ofereceu.

Cole sacudiu a cabeça. — Você vai fazer uma pausa hoje à noite.

— Eu gostaria de ir para àquele novo lugar tailandês, — sugeri. — Tenho vontade de experimentar, mas as crianças não comem.

Enquanto eu amava ir ao cinema sozinha, comer em um restaurante sozinha não era minha praia. Eu admirava mulheres que poderiam fazer isso.

— Tenho uma ideia melhor. — Poppy trouxe a torrada e o bacon frito para a mesa, começando a montar os sanduíches. — Que tal pedirmos comida tailandesa e ter uma noite de jogo?

Uma noite de jogo. Eu não ia a uma noite de jogos fazia uma década.

Poppy adorava jogos de tabuleiro, algo que todos nós costumávamos fazer juntos durante e depois da faculdade. Depois que Jamie morreu, Poppy não jogou um jogo de tabuleiro até que Cole entrou em sua vida.

Agora os dois construíram uma coleção de jogos e fazem noites de jogos de vez em quando. Ugh. Finn costumava levar Brenna.

— Eu estou dentro, — disse Finn e pegou o sanduíche que Poppy deslizou sobre a mesa.

— Ótimo — Poppy entregou a Cole seu sanduíche em seguida. Ele sorriu para ela, em seguida, deu uma grande mordida.

Noite do jogo. Eu trabalhei tanto para ser feliz com Poppy e Cole fazendo coisas com Finn e qualquer mulher com quem ele estivesse namorando. Era estranho estar naquele lugar. O lugar da outra mulher. Estranho e ainda confortável.

Excitação explodindo. — Parece bom.

Todos nós ficamos em pé ao redor da mesa, comendo nossos BLTs, muito absorvidos com a comida para conversar. Até que Finn quebrou o silêncio.

— Então, Cole. Quais são as chances de você tirar as impressões digitais de algumas cartas para nós?

Cole riu. — Tanto quanto eu concordar em deixar MacKenna namorar antes dos trinta anos.

— Hmm. — Finn franziu a testa. — Então eu gostaria de denunciar um crime. Alguém invadiu minha casa, roubou algumas cartas antigas e as jogou na caixa de correio de Molly.

— Ainda não é possível verificar as impressões digitais.

— Droga. — Finn olhou para mim. — Estamos de volta à estaca zero.

— Caixa de correio tem vigilância?

Ele sorriu. — Vou trazer os óculos de visão noturna.

 


— Tchau. — Acenei para Poppy e Cole enquanto eles estavam na varanda de sua casa. Meus lados doem de tanto rir a noite toda. — Eu amo a noite do jogo.

Finn riu. — Eu também. Especialmente quando ganhamos.

— Eles ganharam alguma coisa?

— Não. — Finn levantou a mão para um high five. — Equipe Alcott limpou.

Bati minha mão contra a dele. Equipe Alcott.

Era como se tivéssemos voltado no tempo. Hoje à noite tinha sido muito divertida, rindo e provocando um ao outro como nós fazíamos jogo após jogo. Era difícil lembrar a espiral descendente que havia acontecido entre a noite do jogo e a última que jogamos na faculdade.

Morte e divórcio.

— Cole é um bom desportista, — eu disse a Finn enquanto caminhávamos pela calçada em direção a sua caminhonete.

Jamie era tão competitivo, havia algumas noites de jogos na faculdade, onde as coisas tinham mudado de diversão para luta. Mas não Cole. Ele era competitivo o suficiente para apresentar um desafio, mas quando ele perdia, o que eles fizeram muito esta noite, ele não ficou bravo.

— Sim, ele é. — Finn abriu a porta para mim e me ajudou a entrar.

Ele me pegou hoje à noite em casa para que pudéssemos vir para cá juntos. Nós dois presumimos que ele voltaria para casa comigo. Enquanto eu prendia o cinto de segurança, ele fechou a porta e deu a volta para o lado dele, subindo e nos colocando na estrada.

Minha cabeça estava leve de todo o vinho e até um pouco tonta. Amanhã de manhã pode ser miserável, mas valeu a pena.

— O que você acha de irmos para a minha casa?

Meu rosto bateu no perfil de Finn. — O que?

— Eu gostaria de ficar na minha casa para uma mudança.

— Oh, uh ... — Eu me movi por uma desculpa. — Eu não tenho roupa ou qualquer das minhas coisas.

— Que coisas?

— Minha escova de dentes. Pijamas. Laços de cabelo extra. — Eu só tinha um no meu pulso, então eu precisava ir para casa por um segundo.

— Eu tenho uma escova de dentes extra. Kali tem uma pilha de laços de cabelo no banheiro. Ele encontrou meu olhar. — E você não vai precisar de pijama.

Eu não tinha outra desculpa além da verdade. Nós tivemos uma noite tão divertida, e eu não queria mergulhar nessa conversa.

— Por que você não vem para a minha casa? — Ele perguntou gentilmente.

— Nós realmente temos que falar sobre isso esta noite?

Nos aproximamos de um sinal vermelho na Main Street. Tomando a direita levava à minha casa. À esquerda para a dele.

Ele respondeu minha pergunta virando à esquerda.

Meus ombros caíram. — É a sua casa.

— Exatamente. O que há de errado com a minha casa? As crianças moram lá cinquenta por cento do tempo.

— Não. — Balancei a cabeça. — Você não entende. É a sua casa.

— O que você está dizendo?

— Eu estou dizendo, é a sua casa. Uma casa que você criou sem mim. Nós quebramos tantos limites nas últimas semanas. Este aqui, eu preciso deste, Finn. É a sua casa. Seu lugar. Não é meu.

Essa linha era uma que eu não cruzaria. Porque, se eu entrasse em sua casa e me apaixonasse pelos quartos que ele montara para as crianças, ou pelo jeito que era dormir debaixo de seus lençóis, seria ainda mais difícil manter essa fronteira quando isso acabasse.

Finn dirigiu em silêncio por mais alguns quarteirões. Meu coração estava na minha garganta, me perguntando se o fim estava mais perto do que eu pensei esta manhã. Mas então ele virou o sinal, nos levando ao redor de um quarteirão até que nós parássemos em outro cruzamento.

Desta vez, ele virou à direita.

Para minha casa.

— Obrigada — sussurrei.

Talvez fosse o vinho. Talvez tenha sido o fato de ele não ter discutido, mas ter me escutado e ouvido o que eu estava dizendo, mas lágrimas inundaram meus olhos. Na cabine silenciosa e escura, uma escorria pela minha bochecha.

Se Finn viu cair, ele não disse uma palavra. Mas ele esticou o braço sobre o assento vazio entre nós, acenando para eu vir mais perto.

Peguei a dica, desafivelando o cinto e levantando o console para deslizar para o lado dele. Finn sempre insistiu que todos os caminhões Alcott tivesse um assento central, porque, com frequência, uma equipe de trabalhadores ficava no interior. Um assento de banco salva uma equipe de seis pessoas de levar dois veículos.

Eu estava feliz por isso. Eu me enrolei ao seu lado e seu braço envolveu meus ombros. E eu murmurei outro: —Obrigada.

— O que eu estava pensando? Temos uma caixa de correio para vigiar.

— Verdade.

Embora no momento, eu não quisesse que as cartas parassem, porque eu tinha a sensação de que uma vez que elas acabassem, Finn e eu pararíamos também.


- Carta -

Querida Molly,


São quatro horas da manhã. Não durmo mais de duas horas seguidas há cinco dias. Você está desmaiada agora na cama e eu deveria estar ao seu lado. Mas antes que eu possa dormir, eu tenho que tirar isso.


Você é a mulher mais incrível que já conheci. Não achei que poderia te amar mais, mas então vi você trazer Kali para este mundo. Dezenove horas. Sem drogas. E você não gritou nem uma vez. Surpreendente. A dor no seu rosto parecia insuportável, mas você segurou firme porque não queria o primeiro som que nossa filha ouvisse fossem seus gritos. Foi a coisa mais incrível que já vi. E você é tão incrível com ela. A amamentação não está indo bem. Ela não está dormindo. Posso dizer que você está dolorida porque você estremece toda vez que anda. Mas você não deixou cair seu sorriso incrível. Como você faz isso?


Você é incrível. Estou exausto e não consigo pensar em nenhuma outra palavra agora para isso. Para você. Mas você é incrível. Eu te amo.

Seu,

Finn


DEZ

FINN


— VOCÊ GOSTOU? —Kali me perguntou enquanto mastigava um pedaço do meu taco.

Balancei a cabeça, engolindo antes de sorrir. — Eles estão ótimos, querida. Bom trabalho.

— Ótimo? Ou incrível, — Molly brincou. —Eu acho que eles estão incríveis.

Atirei-lhe um olhar quando dei outra mordida.

Eu nunca iria sobreviver até a última maldita carta. Escrevi em um estado de delírio. Era a única carta que eu pretendia dar a Molly enquanto escrevia as palavras. Depois que dobrei e deixei na mesa do escritório, fui para a cama naquela noite com um sorriso estúpido no meu rosto.

Tudo que eu escrevi era verdade. Molly era incrível e eu nunca esqueci aquelas duas primeiras semanas de privação de sono depois que Kali nasceu.

No dia seguinte, acordei e fui pegar a carta para entregar a Molly, mas depois reli. Incrível tinha sido em quase todas as malditas frases, então eu não lhe dei a carta. Corri para guardá-la com as outras para que ela nunca a encontrasse. Em vez disso, eu disse a ela como ela era incrível.

Disse a ela enquanto ela estava na cadeira de balanço no quarto de Kali. Ambas estavam relaxadas e sonolentas, mas acordadas, olhando nos olhos uma da outra.

Sentei no chão ao lado da cadeira, peguei a mão livre de Molly e disse a ela como ela era corajosa. Quão abnegada, quão forte. As palavras que eu não consegui encontrar na noite anterior foram muito mais fáceis depois de algumas horas de sono.

Mas desde que a carta apareceu em sua caixa de correio ontem, ela estava me provocando implacavelmente com a palavra incrível.

— Estes estão realmente bons, Kali, — Max disse a ela, suas bochechas salientes com sua própria mordida.

Ela corou, segurando seu próprio taco. — Obrigada.

Enquanto Max e eu trabalhamos no quintal esta noite, Molly e Kali fizeram os tacos. Molly havia dado crédito a Kali pela refeição.

Meus filhos são incríveis.

Esse pensamento passou pela minha cabeça pelo menos uma vez por dia. Eu poderia usar demais, mas foi preciso neste caso. Eles me impressionaram. Eles me deixaram imaginando como diabos eles se saíram tão bem quando metade de cada semana ficaram comigo.

Foi Molly. Sua bondade tinha penetrado neles desde o começo.

— Estou feliz que vocês estão de volta, — disse Molly. — É muito quieto por aqui sem vocês.

As crianças haviam chegado na sexta à noite com meus pais, bem a tempo da comemoração do aniversário no restaurante ontem. A celebração foi um sucesso, como as festas de todos os anos anteriores. E como Poppy e Molly tinham trabalhado por quase vinte horas seguidas para garantir que tudo saísse perfeito, todos estavam de folga hoje antes de retornar na segunda-feira.

Passei meu domingo de manhã em minha casa, trabalhando no meu laptop na mesa da sala de jantar enquanto Molly estava na casa dela com as crianças. Então, quando eu não aguentava mais a ideia de ficar sozinho, dirigi, não me importando se ela tinha planos ou queria tempo com as crianças. Eu estava sob o pretexto de trabalhar em seu quintal, quando na verdade, eu sentia falta de Kali e Max.

E Molly.

Depois de duas semanas dormindo em sua cama todas as noites, eu estava me revirando na minha própria cama porque não tinha meu travesseiro.

— O que vocês fizeram enquanto estávamos fora? — Max perguntou.

— Não fale com a boca cheia — eu disse a ele em voz baixa.

Ele assentiu e mastigou mais rápido antes de repetir sua pergunta. — O que vocês fizeram enquanto estávamos com vovó e vovô?

O que fizemos enquanto eles estavam fora? Ficamos juntos.

— Oh, não muito. — Os olhos de Molly foram para os meus.

Nós passamos a última semana em guarda da caixa de correio, que na verdade não era nada mais do que ocasionalmente olhando pela janela ou passando nossas noites na varanda da frente, em vez de dentro de casa.

Nós éramos péssimos com a vigilância, provavelmente porque íamos ficar sentados na varanda, a poucos centímetros de distância um do outro. A tensão se tornaria espessa, o ar quente, e nos retiraríamos para o conforto dos lençóis frios do quarto de Molly.

Foi assim que a última carta chegou e ainda não tínhamos ideia de quem a havia deixado.

— Nós fomos na tia Poppy e tio Cole e tivemos uma noite de jogo — eu disse às crianças.

— Quem ganhou? — Perguntou Kali. Minha doce menina tinha uma tendência competitiva.

Eu ri. — Nós ganhamos. Duh.

Max sorriu e me cumprimentou. — Agradável.

Nós passamos o resto da refeição ouvindo mais sobre a viagem das crianças para o Alasca, então todos nós saímos para jogar um frisbee no quintal antes que eles tivessem que ir para a cama.

Nem uma vez durante a noite eles me perguntaram quando eu ia para casa. Eles não perguntaram o que eu estava fazendo na casa deles.

— Obrigada pelo jantar — eu disse a Molly enquanto colocamos os pratos restantes na lava-louças. Depois do jantar, nós os deixamos na pia para que pudéssemos passar a noite do lado de fora antes do pôr do sol.

— Sem problemas. Estou feliz por podermos ver as crianças esta noite. Senti falta deles.

— Eu também. — Coloquei o último copo no rack superior e fechei a porta. — Devo ir?

Ela olhou na direção da escada. — Eu não sei. Eles começam o acampamento amanhã e ambos estão animados. Duvido que eles acordem cedo demais, mas não quero forçar a nossa sorte.

— Sim, — murmurei. — Eu não quero ir.

Molly se inclinou contra o balcão ao meu lado, falando em voz baixa. — Eu não quero que você vá. Mas ...

— Eu sei. As crianças não sabem que estou dormindo na cama da mãe delas.

Nós poderíamos dizer a eles até esgotar que não iríamos voltar, mas se eles nos pegassem, enviaria uma mensagem completamente diferente.

— Devemos acabar com isso agora? — Ela perguntou.

Eu endureci. A resposta imediata foi não. De jeito nenhum. Eu não queria desistir disso. Mas a lógica começou a se infiltrar, como uma névoa embaçando a luz do sol.

Isso ia acabar em algum momento. Molly e eu não íamos voltar, então essa aventura acabaria por expirar.

— Eu não quero, — sussurrei. — Não estou pronto ainda. Você está?

Ela não hesitou. — Nem mesmo perto.

Nossos olhos se encontraram, segurando um ao outro cativo. Os seus eram tão expressivos e famintos. Havia algo abaixo da luxúria, algo familiar, mas eu não conseguia identificar.

Uma vez, anos atrás, Molly e eu podíamos ter conversas inteiras só com os olhos. Mas isso foi antes de aprendermos a esconder as coisas um do outro - antes de começar a deixar de falar dos meus problemas com ela, e ela começou a esconder seus verdadeiros sentimentos de mim.

Não tentei resolver esse olhar. Isso não era sobre Molly e eu solucionando as coisas como um casal. Era sobre sexo.

Apenas sexo.

Eu me inclinei para mais perto dela, abaixando minha cabeça para que meu rosto roçasse contra seu cabelo. Foi puxado em um nó bagunçado, mas alguns dos cachos haviam escapado desde o jantar, balançando soltos em direção ao pescoço.

Molly foi em minha direção, sua respiração ficou mais rápida. O ar na cozinha rangeu de antecipação.

— Me beija.

Ela me deu um leve aceno de cabeça, subindo na ponta dos pés.

Abaixei, minha respiração descendo pela bochecha dela, mas então me lembrei de onde estávamos. — Espera. Aqui não.

Ela bufou quando me afastei, respirando fundo algumas vezes enquanto pegava sua mão e a arrastava pelo corredor até seu quarto. No segundo em que estávamos longe das escadas - com a porta fechada e sem perigo de que uma das crianças viesse até nós, emoldurei seu rosto com as mãos e colei meus lábios nos dela. Engoli seu suspiro e deixei minhas mãos vagarem de seu rosto e abaixo de seus ombros. A puxei para mais perto, precisando senti-la contra mim.

Suas mãos foram para o meu zíper, abrindo o botão do meu jeans para mergulhar lá dentro. A sensação de seu aperto, aqueles dedos longos em volta do meu eixo, era tão incrível que quase desmaiei.

Como foi possível para nós errarmos tanto? Nós éramos bons juntos. Tão. Caralho. Bons.

— Finn — ela gemeu em minha boca, sua língua deslizando ao longo da costura do meu lábio inferior. Seu punho envolveu meu pau mais forte, acariciando a carne aveludada dentro do meu jeans. — Mais.

A puxei para mais perto, minhas mãos em todos os lugares. Sob a camisa dela. Nos cabelos dela. Apalpando sua bunda. Eu não consegui encontrar o lugar certo. O aperto certo para que eu não a perdesse.

— Eu não posso ... eu preciso ... — Ela soltou meu pau e seus dedos se atrapalharam com o zíper. Ela abaixou e empurrou a barra da minha camisa. — Mais próximo. Chega mais perto.

Cheguei por trás da minha cabeça e tirei minha camisa. Antes que minha pele pudesse registrar o ar frio, suas mãos estavam em mim, deixando uma trilha quente enquanto viajavam para cima e para baixo no meu peito e abdômen.

Em seguida, veio a blusa de algodão em direção ao chão de madeira. Só então me aproximei. Passei meus braços ao redor de seu corpo, deixando minhas mãos mergulharem debaixo de sua calcinha.

Molly assobiou quando as pontas ásperas dos meus dedos morderam suas curvas suaves. Mas ela deu o melhor que conseguiu, as unhas arranhando minhas costas enquanto eu andava de costas para a cama.

Jeans foram perdidos ao longo do caminho, mãos quebrando o contato por frações de segundo para rasgar e nos deixar nus.

Quando a parte de trás dos meus joelhos bateram na cama, levantei ambos para o colchão, me arremessando em direção à cabeceira da cama.

Molly seguiu de joelhos, os seios pesados, os mamilos pontiagudos e apertados. Então ela me deu um sorriso perverso que foi direto para as minhas bolas. — Eu quero montar você.

— Suba, querida.

Querida. Deixei isso escapar, mas ela não pareceu notar. Com seus joelhos apertando meus quadris, ela fechou os dedos em meu pau novamente, arrastando-o através de sua fenda.

— Foda-se, você está encharcada.

— Hmm. — Sua cabeça virada para o lado quando ela pegou minha ponta e rolou contra seu clitóris. O tremor que percorreu seu corpo sacudiu a cama. Ela fez isso de novo, usando meu pau para se levantar.

Por mais que eu quisesse vê-la se afastar de mim, eu estava perdendo o controle. Seu perfume me cercou. O cheiro inebriante de sexo estava no ar, e eu precisava de sua boceta. Sentei-me em linha reta, tomando seus quadris no meu aperto. Seus olhos se abriram, escuros e tontos. Bêbados.

Com um impulso dos meus quadris, eu a penetrei.

— Oh, foda-se. — Caí para trás, deixando seu calor intenso me apertar quando ela gritou meu nome.

Eu a segurei no lugar, seu corpo inteiro tenso enquanto ela esperava para se ajustar ao redor do meu tamanho. Quando ela estava pronta, ela abriu os olhos.

— Bom?

Seus olhos brilharam. — Maravilhoso.

Minha risada profunda encheu o quarto, então ela baixou as mãos para os meus ombros e se moveu.

Segurei seus quadris com um aperto leve, pronto para ajudar se ela se cansasse, mas ela estava no controle. Ela estabeleceu o ritmo. E ela me montou até que nós dois estávamos brilhando e sem fôlego.

Todos os músculos do meu corpo estavam tensos - minhas bolas estavam apertadas, prontas para me esvaziar no corpo delicioso de Molly. Mas quando ela fechou os olhos, um sulco entre as sobrancelhas, eu sabia que havia algo acontecendo em sua cabeça. Algo a impedia de gozar.

Com uma mão, me agarrei a um mamilo. Com a outra, toquei seu clitóris com a ponta do meu polegar.

Seus olhos se abriram. Eles trancaram nos meus.

— Finn, — ela choramingou.

— Goze. Goze comigo.

Isso foi tudo o que aconteceu. Uma ordem grave e ela explodiu, a cabeça caindo para trás, aquele lindo cabelo saindo de seu laço. Ele caiu em cascata pelas costas dela, esfregando minhas coxas.

E quando ela apertou em torno de mim, pulso após pulso, eu parei de lutar contra a minha própria liberação. Eu me derramei nela, atirando longe e forte até que eu estivesse acabado e mole.

Molly caiu em cima de mim, o cabelo em torno de nós como um cobertor. Minhas mãos se enrolaram nas espirais, cada dedo reivindicando alguns fios para girar.

Onde foi que nós erramos?

A pergunta correu em minha mente, tirando os holofotes de qualquer outra coisa. Onde nos enganamos? Como poderíamos ser tão bons e perder tudo isso? Como pudemos jogar isso fora?

As brigas. Os jantares perdidos. As noites em que fomos para a cama, as costas viradas um para o outro.

O outro homem.

Apenas o pensamento dela com outro homem me deixou enjoado. Eu a rolei para o lado, deslizando para sentar na lateral da cama.

— Está tudo bem?

Olhei por cima do meu ombro, o rosto corado de Molly e cabelos desgrenhados uma visão que achei que era minha e só minha. Ela compartilhou isso com outro homem. Havia mais? Meu estômago revirou novamente.

— Finn?

Saí do meu devaneio. — Vou pegar uma toalha. Aguente firme.

Ela caiu nos travesseiros quando me levantei e caminhei até o banheiro com as pernas trêmulas.

Não me permiti pensar no outro homem por anos. Cada vez que eu me sentia mal. Na noite em que ela me contou sobre isso, eu vomitei por uma hora quando ela finalmente me deixou sozinho. Mas isso foi há anos atrás. Não deveria ainda me chocar tanto assim. Não deveria mais doer.

Joguei um pouco de água fria no meu rosto no banheiro, esperando alguns minutos até que a dor no meu peito fosse embora. Olhei para o meu rosto no espelho e lembrei do que esta aventura era.

Sexo.

Eu estava fazendo sexo com Molly. Nós não precisamos desenterrar tudo do passado. Eu não precisava pensar no passado.

Quando tudo foi bloqueado, guardado no canto escuro da minha mente que eu me recusei a visitar, corri água morna em uma toalha para Molly. Então voltei para o quarto e entreguei para minha esposa.

Ex-mulher.

 


— Não.

O murmuro de Molly me acordou.

— Mãe?

A voz de Kali me fez voar para fora da cama.

— Aí credo.

O gemido de Max me mandou de volta para a cama quando me lembrei que estava nu.

Foda-se. O nascer do sol lançou um leve brilho nas sombras da janela e olhei para o relógio. Cinco da manhã. Era muito cedo para as crianças acordarem durante as férias de verão. Quinze minutos a mais e meu alarme seria estridente. Eu estaria vestido e a meio caminho da porta.

— O que vocês estão fazendo? — Molly perguntou, segurando os lençóis para se cobrir. O cabelo dela estava por toda parte, as bochechas vermelho carmesim.

— Eu não me sinto bem. — Max segurou seu estômago quando ele veio para a cama, não se importando que seus pais estivessem juntos. Nus.

— Ele vomitou, — disse Kali. — Eu o ouvi no banheiro.

— Você está doente? Oh, não. — Molly se esticou para o cobertor que ela mantinha ao pé da cama. Ela puxou-o para cima, substituindo-o como uma cobertura para o peito enquanto deslizava para fora da cama. Então ela o enrolou em seu corpo como fazia com a toalha depois de tomar banho.

Peguei o lençol comigo enquanto me levantava, enrolando-o em torno de meus quadris e segurando-o com a mão.

Molly correu para Max, suas mãos indo direto para sua testa e bochechas. — Você está quente.

Ele inclinou o rosto para as palmas das mãos dela. — Ainda posso ir ao acampamento hoje?

— Desculpe querido. Acho que não. Não se você estiver doente.

— Ah. — Seu rosto se encolheu, seus olhos se encheram de lágrimas. — Eu quero muito ir.

— Eu sei. — Ela puxou-o em seus braços quando ele caiu contra seu peito. — Vamos descansar hoje e esperamos que você se sinta bem amanhã.

Ele fungou e assentiu, seus olhos se fechando.

Eu me aproximei e me ajoelhei, bagunçando o cabelo de Max. — Quer vir e sair comigo hoje? Você pode descansar no sofá do meu escritório e assistir no iPad.

Molly olhou para cima. — Eu posso ficar em casa. Poppy pode cobrir o restaurante hoje.

— Você decide. Se for mais fácil levá-lo comigo, eu posso.

Ela acariciou o cabelo de Max. Em poucos instantes, ele estava praticamente dormindo em seu ombro. — Eu vou ficar em casa com ele.

— OK. Então vou levar Kali para o acampamento e buscá-la hoje à noite.

Kali se afastou de nós três. Seus olhos estavam cheios de confusão enquanto eles disparavam entre mim e Molly.

Um punho invisível se fechou ao redor do meu coração, fazendo cada batida doer. A descrença em seu olhar. A esperança. Nós íamos esmagá-la.

Porra. O que nós fizemos?

— Você ficou aqui? — Ela sussurrou.

— Eu fiquei. — Eu não tinha certeza do que dizer, mas a verdade não poderia doer. Muito né.

— M-mas....

— Vamos. — Molly se levantou, cortando Kali. Ela ergueu Max com força, suas pernas circulando ao redor de sua cintura. Ele era muito grande para ela carregar, mas sua força nunca deixou de me surpreender. — Vamos para a sala de estar. Então podemos conversar.

Kali girou devagar, depois, hesitante, indicou o caminho.

— Eu vou levá-lo. — Embora eu não tivesse certeza de como, pois, eu precisava de uma mão para segurar o meu lençol.

— Pode deixar. — Molly balançou a cabeça. — Você se veste.

Mas em vez de encontrar minhas roupas, segui-a até a sala de estar.

Kali estava empoleirada na beira do sofá com os braços ao redor da barriga.

Max estava atordoado quando Molly o deitou ao lado de sua irmã.

Ela beijou sua testa. — Volto logo.

Molly e eu corremos para o quarto dela. Ela foi direto para o banheiro, pegando um robe de seda vermelha que não tinha quando nos casamos.

Eu me esforcei para encontrar minhas roupas espalhadas no chão e as puxei. — O que vamos dizer a eles?

Ela saiu, amarrando o cabelo enquanto andava. — A verdade.

Nós sempre fomos honestos com Kali e Max, mesmo quando eles eram pequenos. Não acho que nenhum dos dois tenha realmente entendido o que significava quando dissemos a eles sobre o divórcio. Max tinha apenas dois anos e Kali quatro. Mas eles aprenderam com o tempo. Quando nós tínhamos as noites da mamãe e as noites de papai, quando boas noites eram dadas via FaceTime, eles aprenderam.

Molly e eu compartilhamos um olhar preocupado enquanto nos dirigíamos para a sala de estar. As crianças podem ter se ajustado ao nosso estilo de vida divorciado, mas isso não significa que encontrar os pais na cama não teria impacto. Maldição. Essa conversa ia ser miserável.

Quando chegamos à sala de estar, meu coração afundou. O olhar distante no rosto de Kali foi a razão pela qual não deveríamos ter iniciado este caso. Eu odiei que eu coloquei lá.

Molly sentou-se entre as crianças, pegando a mão de Kali do colo para segurá-la sozinha.

Eu fui até Max, pegando-o para que ele pudesse se apoiar contra o meu lado. — Acorde por um segundo cara grande.

Ele assentiu, abrindo os olhos. Então olhei para Molly, esperando que ela soubesse por onde começar porque eu não tinha a mínima ideia.

— Papai dormiu aqui ontem à noite. Comigo. — Ela foi direto ao assunto.

— Vocês vão voltar? — Perguntou Kali.

— Não — disse Molly suavemente. — Não, não vamos.

A imagem da minha filha se encolheu, confusão se tornando devastação.

— Nós amamos tanto vocês dois. Me desculpe se isso é confuso.

Kali não disse uma palavra. Nem Max.

O olhar preocupado de Molly encontrou o meu enquanto esperávamos que as crianças dissessem alguma coisa. Qualquer coisa. Mas, à medida que os minutos passavam, percebi que não havia mais nada a dizer.

— Se vocês querem falar sobre isso, estamos aqui — eu disse a eles. — Sempre.

Kali se levantou e olhou para Molly. — Posso ficar em casa hoje também?

— Claro, querida. Vocês podem se aconchegar no sofá. Eu vou por um filme.

Eu me levantei para deixar Max deitar. Kali tomou o canto onde Molly estava sentada. Quando os dois estavam cobertos com cobertores e a televisão estava ligada em silêncio, segui Molly até o quarto, fechando a porta atrás de nós.

— Não podemos fazer isso com eles, Finn. De novo não.

— Eu sei. — Eu esfreguei meu queixo. — Pronto ou não, temos que parar.

Ela sentou-se na beira da cama, deixando um espaço para eu me sentar também. Com nossas coxas se tocando, coloquei uma mão entre nós, palma para cima. Ela instantaneamente colocou a palma da mão para baixo, entrelaçando nossos dedos juntos.

— Ia acabar, certo?

Ela assentiu. — Sim. Certo.

— Eu não sinto muito.

— Nem eu — ela sussurrou. — Talvez esse tenha sido o final que deveríamos ter tido o tempo todo. Aquele que perdemos porque estávamos ocupados demais com raiva, amargura e mágoa. Eu gosto desse final muito mais.

— Eu também.

Nós nos sentamos juntos, com as mãos entrelaçadas, até a hora de nos separarmos. Quando ela tentou erguer os dedos da minha, eu não larguei a princípio. Mas ela mexeu neles novamente e não tive escolha. Quando ela se levantou e foi até o banheiro, senti de novo.

O buraco.

Tinha sumido no último mês, temporariamente preenchido.

Eu me levantei da cama e fui até a porta do banheiro para dizer adeus. Abri uma fresta. No chuveiro, os ombros de Molly estavam debruçados para frente, tremendo.

Ela estava chorando.

Porra, mas eu queria abraçá-la. Queria prometer que tudo ficaria bem. Nós descobriríamos juntos.

Mas nós tentamos isso uma vez. Eu tinha feito aquelas promessas quando nos casamos e não tínhamos mantido nenhuma.

Então me afastei, fechando a porta apenas uma fresta, para que ela não pensasse que eu estava espiando.

— Eu vou embora — falei.

— O-okay.

— Tchau. — Fechei a porta e encostei no batente. Então fiz o que deveria ter feito ontem à noite. Eu saí.

Tudo sobre isso parecia errado. Eu estava deixando Molly em lágrimas. Max estava doente no sofá. Kali havia recuado para o seu próprio mundo, mal dizendo uma palavra enquanto eu a beijava para dizer tchau.

Não dirigi para casa, mas para o trabalho, vestindo roupas de ontem. Se eu fosse para casa, tomaria banho. Eu não queria tomar banho, não quando o cheiro de Molly permanecia na minha pele.

Fui o primeiro a chegar na Alcott. Minha caminhonete estava estacionada sozinha na frente do escritório, como aconteceu em muitas, muitas manhãs. Antes de sair do carro para entrar, uma lembrança me atingiu com força.

Quando Max tinha um ano, ele ficou doente com um resfriado de verão. Molly também ficou. Ela estava péssima e perguntou se eu poderia ficar em casa por um dia para entreter Kali. Eu saí para o trabalho, deixando-a para cuidar sozinha das crianças. Estacionei sozinho naquela manhã também. O que eu deveria ter feito todos aqueles anos atrás era ter voltado. Ou melhor ainda, não ter saído em primeiro lugar.

— Maldição — amaldiçoei no volante.

Eu estava cometendo os mesmos erros novamente, exceto que hoje era diferente. Eu não poderia voltar para Molly e consertar isso. Se eu voltasse, apenas pioraria e confundiria ainda mais as crianças.

Então entrei no escritório e liguei meu computador. Trabalhei sem foco e com raiva, imaginando quantos outros erros cometi, sabendo que havia muitos.

Olhei para os planos de design de um projeto, as linhas e palavras se confundindo. O trabalho, meu companheiro constante, não foi uma boa companhia hoje. Este não era mais meu refúgio. Eu não poderia resolver este problema trabalhando mais.

Sempre pensei que, se Alcott tivesse sucesso, me daria mais liberdade para ajudar em casa. Isso garantiria que Molly e as crianças ficariam bem se algo acontecesse comigo. Se eu morresse, eles estariam estabilizados na vida.

Objetivo atingido. Alcott teve sucesso, quer eu estivesse no comando ou não.

E isso me custou tudo. Isso me custou minha esposa.

Algo que eu tinha percebido em uma festa de despedida de solteira e de um caso de uma noite, tarde demais.


ONZE

MOLLY


FINN e eu mantivemos distância um do outro na semana depois que as crianças nos encontraram juntos. Voltamos para a nossa rotina pós-divórcio, onde as crianças estavam em sua casa ou na minha e com apenas um dos pais presente. O único tempo que passamos juntos foi quando estávamos fazendo a troca.

O universo devia saber que eu não aguentaria lidar com outra carta, porque eu não recebi nenhuma durante toda a semana. Eu não tinha energia para reviver o passado ou a coragem de falar sobre como as coisas foram.

Foi melhor assim, o único caminho.

Era melhor se concentrar no agora. Finn e eu não estávamos apaixonados. Esse amor era história.

As crianças estavam mal-humoradas durante toda a semana - não foi nenhuma surpresa. Max havia se recuperado rapidamente de seu problema estomacal de vinte e quatro horas e passara o resto da semana no acampamento. Ele ficou quieto a semana toda, seus sorrisos eram raros. Kali estava inexistente. Ela estava tão animada com o acampamento, mas porque estava com raiva e confusa, ela passava cada dia com uma atitude ruim. Eu me senti péssima pelos monitores.

Porque foi tudo culpa minha.

Eu me perdi nas lembranças. Deixei essas cartas obscurecerem a realidade da minha situação. Fui arrastada pela segunda vez na vida por Finn.

Eu não pensava no meu caso com Finn como errado. Foi tão bom ser tocada, acariciada, beijada... procurada. Mas eu pensaria nisso como imprudente.

O fato das crianças nos pegando foi chato. Acima de tudo, eu não queria que Kali pensasse menos de mim. Não queria que minha filha crescesse pensando que eu estava à disposição do pai dela. Não era assim que Finn me tratava. Eu sabia disso. Mas e ela?

A manhã estava calma quando me sentei à mesa da cozinha, tomando meu café da manhã sozinha. Eu me levantei cedo, incapaz de dormir e fiz um pouco de aveia. Era a favorita de Finn, e não foi por isso que fiz. Era a minha favorita também.

Com a tigela vazia, olhei para os meus dedos. Você mal podia ver a marca dos meus anéis de casamento e noivado agora. Levou muito tempo para desaparecer, ou talvez só pareceu muito tempo porque meu dedo parecia nu sem os meus anéis de casamento e noivado.

Eles estavam no andar de cima em uma pequena caixa na minha penteadeira. Eu os tirei três dias depois do divórcio. Eu provavelmente os teria mantido por mais tempo, mas não queria que Finn os visse. Ele tirou a aliança no dia anterior à assinatura dos papéis. Esperei até que fosse oficial.

Durante um ano, eu as colocava de vez em quando. Geralmente nas noites em que estava sozinha e sentia a falta dele terrivelmente. Mas eu não tive esse desejo por muito tempo. Por que essa vontade nesta manhã?

Empurrei essa tentação da minha mente e levantei para lavar a minha tigela e sair para o trabalho. Eu chegaria cedo esta manhã e por mim tudo bem.

Saí pela porta da frente em vez da garagem, querendo verificar a correspondência antes de sair. Desci os degraus da varanda, mas em vez de ir para a caixa de correio na rua, parei e olhei na outra direção.

As luzes de Gavin estavam acesas. As persianas estavam abertas no escritório e ele já estava sentado à sua mesa, com os olhos colados na tela do computador.

Esqueça a caixa de correio. Atravessei meu gramado, cruzando a fronteira invisível no seu, e fui até a porta da frente, não me deixei hesitar um segundo antes de bater. Mudei de um pé para o outro enquanto seus passos se aproximavam da porta.

Quando ele abriu a porta, forcei um sorriso sem fôlego. — Ei.

— Ei. — Suas sobrancelhas se uniram quando ele olhou para a minha casa. — Está tudo bem?

— Sim — eu disse muito alto. Meu coração estava acelerado. —Está tudo bem. Ótimo. Eu estava... — Respirei fundo. — Eu estava pensando se você gostaria de sair para jantar comigo. Num encontro.

— Oh. — Surpresa atravessou seu rosto. — Um encontro?

— Um encontro.

— Eu, uh... Sim. — Ele ajustou os óculos no rosto. — Gostaria sim. Mas tenho que ser sincero. Notei a caminhonete do seu ex na garagem. Várias vezes.

— Ele está trabalhando no quintal.

— Eu notei isso também. Não é exatamente do que estou falando.

Droga. Sem dúvida, Gavin tinha notado a caminhonete de Finn - e Finn não estava no jardim - porque ele estava na minha cama.

— A verdade é que Finn e eu ficamos juntos por um longo tempo. Nós não terminamos exatamente nas melhores condições. Eu acho que nós dois tivemos alguns sentimentos inacabados para trabalhar. Mas acabou agora.

— Você tem certeza? Porque, Molly, gosto de você. Gostei de você desde o dia em que me mudei para esta casa.

— Obrigada. — Um rubor subiu pelas minhas bochechas. Quanto tempo se passou sem que um homem dissesse que gostava de mim? Um cara que era gentil e doce. E bonito também.

—Mas.

— Uh-oh — eu gemi. — Tive que jogar isso lá, não é?

— Mas... — Gavin riu. — Não quero entrar no meio de algo que está inacabado.

— Entendi. Mas está acabado. Para valer.

Dizendo aquelas palavras magoadas, mais do que deveriam. Mas era hora de avançar, doloroso ou não. Era hora de ir em frente e parar de olhar para trás.

— Ok. — Gavin sorriu. Foi um pouco torto e completamente fofo. — Então eu adoraria ir jantar. Num encontro.

— Sério? — Eu tinha acabado de convidar um cara para um encontro e ele disse sim. Eu sorri quando minha confiança aumentou.

— Mesmo. Que dia?

— Boa pergunta. — Eu pensei na minha agenda. — Eu não estou com as crianças amanhã. Mas está meio em cima da hora.

— Eu posso ir amanhã.

— Então é um encontro. Sete?

— Sete. — O telefone tocou no escritório e Gavin colocou o polegar por cima do ombro. — Essa é a minha primeira conferência telefônica matinal.

— Vou deixar você trabalhar. Até logo.

— Vejo você. — Seu sorriso se alargou mais. — Amanhã.

Pulei os degraus da varanda. A adrenalina correndo pelas minhas veias me fez querer correr para a minha casa, mas forcei meus pés a andarem.

Eu tenho um encontro.

Poppy ia ficar tão orgulhosa.

Eu decidi não olhar a caixa do correio. Se uma das cartas de Finn estivesse lá, teria que esperar. Eu não ia deixar isso manchar esse sentimento. Porque esta manhã era sobre mim, não Finn, então corri para dentro e peguei minhas coisas e fui para o trabalho.

Poppy estava sentada no balcão quando eu cheguei lá, um latte fumegante na frente dela e um pote com sua deliciosa quiche de espinafre e cebola. — Ei. Você chegou cedo.

— Eu estava de pé. — Dei de ombros, indo para a cafeteira. Algumas mesas estavam ocupadas por clientes, por isso, antes do movimento da manhã começar, tirei alguns momentos a sós com minha melhor amiga para conversar. — Então, eu tenho um encontro amanhã.

Ela parou de mastigar, seus olhos piscando duas vezes como se ela não tivesse me ouvido direito. — Um encontro?

— Sim. Com Gavin.

Um lampejo de desapontamento atingiu seus olhos, mas foi rápido, desaparecendo com seu largo sorriso. — Eu gosto de Gavin.

— Eu também.

— Estou feliz que ele finalmente teve a coragem de te convidar para sair.

— Na verdade, — coloquei um pouco de creme no meu café e levei-o para o balcão, — eu o convidei.

— Você? É tão... ousado e moderno. Estou impressionada.

— Obrigada. — Eu sorri. — Já era tempo.

— Sim, era. Estou feliz por você e, na minha opinião, é exatamente o que você precisa.

Eu tinha entrado no restaurante na semana passada para dizer a Poppy que meu caso com Finn tinha acabado. Eu esperava algum desapontamento, talvez algum choque. Exceto que ela não ficou surpresa porque Finn já havia contado a ela que as crianças nos encontraram na cama. No dia em que aconteceu, eles almoçaram juntos e ele confessou tudo.

Foi assim que ela ouviu sobre o divórcio também. Finn parecia saber as conversas que eu não queria ter com Poppy e as tinha para mim.

Ele me salvou de ter que chorar na frente dela.

Chorar na frente das pessoas, até mesmo da minha melhor amiga, era algo que eu tentava ao máximo evitar. Minha mãe tinha pessoas chorando com ela o dia todo. Quando eu era criança, lembrei-me dela voltando para casa em mais de uma ocasião e dizendo como ela estava feliz por não ter ninguém chorando para ela por algumas horas.

Mamãe amava seu trabalho. Ela adorava ajudar as pessoas, mas eu podia ver como as cargas e as lágrimas de todos os outros descarregados em você poderiam ser cansativos. Então eu poupei a minha. E ao longo dos anos, tornou-se um hábito.

Chorei mais sobre as cartas no mês passado do que em anos. Era outra razão que encerrar meu caso com Finn foi uma escolha inteligente.

— Então, qual é o plano para hoje? — Perguntei a Poppy depois de fazer o meu próprio café com leite.

— Bem, eu acho que finalmente estou recuperada da festa. As geladeiras são estocadas novamente. Dora é uma campeã e embalou uma tonelada de talheres na noite passada em seu turno. Ela até limpou profundamente os banheiros.

— Eu a amo. Eu gostaria que não a perdêssemos tão cedo.

— Eu também. Faculdade idiota. Sonhos idiotas.

Eu ri. — Certo? Por que ela iria querer ser uma advogada de sucesso quando pode continuar trabalhando aqui pelo resto de sua vida? É egoísta mesmo.

— Completamente. — Poppy riu. — Devemos perguntar a ela se ela tem algum amigo mais jovem que queira tomar seu lugar.

— Muito à frente de você. Ela já está perguntando por aí.

— Eu deveria saber. — Poppy voltou para sua quiche. — Vocês estão sempre à frente. Eu não tenho certeza como Finn conseguiu Alcott sem você.

Meu sorriso desapareceu. — Ele conseguiu.

Ele realmente não precisava de mim lá, afinal.

O telefone de Poppy tocou e ela atendeu, sorrindo enquanto respondia: — Oi, papai.

A alegria em seu rosto desapareceu dois segundos depois. A cor drenada de suas bochechas, a luz em seus olhos azuis se apagou.

Cole

Não. Não, o universo não era tão cruel. Não levaria um dos amores de Poppy e depois roubaria o outro também.

Passei ao redor do balcão, correndo para o lado dela enquanto a voz de David retransmitia informações rápidas. Exceto que não era o nome de Cole que eu continuava ouvindo através do alto-falante do telefone.

Era do Finn.

O mundo se inclinou sob meus pés e eu tropecei para o lado, segurando o balcão por equilíbrio. Minha mão livre mergulhou no meu bolso, procurando pelo meu telefone, mas saiu vazia. Minha bolsa. Meu celular estava na minha bolsa.

Eu mantive uma mão no balcão enquanto eu ia para o outro lado, caindo de joelhos enquanto jogava gloss, óculos escuros e dois Hot Wheels de Max no chão, procurando pelo meu telefone.

Eu perdi três chamadas de um número que não reconheci. Havia uma mensagem de voz, mas antes que eu pudesse ouvir, Poppy chamou minha atenção.

— Tudo bem, papai. Nós estaremos bem aqui.

— O que? — Eu fiquei de pé. — O que aconteceu?

— Finn sofreu um acidente.

 


— Alguma novidade? — Bridget perguntou quando voltou para a sala de espera com uma xícara de café.

Balancei a cabeça, meus olhos encarando desfocada na parede à minha frente. Max estava na cadeira à minha direita. Kali minha esquerda. Nós estávamos no hospital há seis horas, esperando para ouvir notícias sobre Finn.

A primeira hora passou num piscar de olhos. Poppy e eu saímos do restaurante em um pânico atordoado. Tão educadamente quanto possível, pedimos aos clientes que saíssem, colocamos uma placa na porta da frente, trancamos tudo e corremos em direções diferentes.

Poppy foi direto para o hospital onde trouxeram Finn.

Eu fui a Alcott para pegar meus filhos.

Max e Kali não foram ao acampamento de verão esta semana. Foi uma das poucas semanas durante as férias de verão, onde eles não tinham nada planejado, então eles estavam indo ao trabalho conosco. Eles preferiam ir a Alcott, porque o loft acima do escritório de Finn era basicamente uma central de jogos.

Tinha uma televisão grande e uma grande variedade de filmes que as crianças gostavam. Tinha também um Xbox. Quando eles vieram comigo para o restaurante, ficaram entediados. Eu lhes dei tarefas fáceis para ajudar, e eles adoraram comer lá mais do que no Finn, mas eu não pude competir com os videogames. Mesmo quando precisavam acordar mais cedo para ir com Finn, não se importavam. Eles dormiam em seu sofá e depois acordavam para brincar.

Então combinamos que eles passariam essa semana na Alcott.

Eles estavam lá pelo acidente. Eu odiava isso.

Um dos membros da equipe regular estava doente, então Finn pediu-lhes para ficar dentro do loft enquanto ele saía para o quintal para ajudar a carregar materiais para um local de trabalho.

Max e Kali estavam no escritório enquanto Finn carregava um balde de grandes rochas paisagísticas em um minicarregadeira. Eles ouviram os gritos quando uma pedra caiu do balde levantado e aterrissou no caminho das rodas da máquina. Eles ouviram os berros quando a carregadeira bateu na pedra, avançou e jogou Finn no chão e a trava do cinto de segurança não funcionou corretamente.

Apesar de todos terem se apressado para tirar Finn do equipamento, seu corpo havia sido esmagado sob as rodas dianteiras. E Max e Kali observaram a ambulância se afastar, o pai deles carregado na parte de trás.

Quando cheguei, Alcott estava um caos. Todos os membros da equipe estavam no quintal. Cinco dos homens tinham sangue manchando as calças.

Dei uma olhada para eles e quase vomitei, mas deixei de lado para me concentrar em encontrar meus filhos.

A maioria das pessoas estava correndo, colocando as coisas de lado, mas algumas foram agrupadas com olhares chocados e atordoados em seus rostos.

Bridget estava lá conversando com dois policiais. Gerry, o capataz favorito de Finn, que trabalhara na Alcott desde os primeiros anos, estava ao telefone, andando perto da minicarregadeira que ainda estava no quintal.

Não dei a nenhum deles mais do que uma olhada. Estacionei, pulei do Jeep e corri.

Max e Kali estavam do lado de fora, segurando um ao outro. Apenas um homem estava preocupado em ajudar com as crianças. Eu não o conhecia, mas aparentemente ele estava de pé ao lado de Max e Kali, cuidando deles até eu chegar.

No segundo em que me viram, Kali e Max correram em minha direção, com lágrimas escorrendo pelos preciosos rostos.

Depois de um abraço apertado, eu os carreguei e corri pela cidade até o hospital para me juntar aos pais de Finn, Poppy e Cole. Ele levou Kali e Max para o refeitório enquanto o médico explicava a gravidade do acidente de Finn.

Então todos nós nos sentamos na sala de espera e... esperamos.

Finn foi estabilizado e levado imediatamente à cirurgia para reparar os danos causados aos seus órgãos internos. Eles estavam nisso há mais de cinco horas.

Ele tinha ferimentos ao longo do lado direito de seu corpo. Braço quebrado. Costelas quebradas. Pelve quebrada. Perna quebrada. A partir da avaliação inicial, os médicos suspeitaram que um, se não os dois pulmões, haviam sido perfurados e seu fígado dilacerado. Metade do seu corpo estava quebrado. Se ele tivesse sido jogado trinta metros na outra direção, a minicarregadeira teria esmagado seu crânio e ele teria morrido instantaneamente.

As chances de ele ainda não sobreviver a esse acidente eram surpreendentes.

Depois daquela primeira hora na sala de espera, o tempo diminuiu para quase uma parada. Cada segundo era tortura quando nos sentávamos em uma sala lotada de pessoas que eu não conhecia. Cheio de pessoas que eu não queria ver.

Meu cabelo estava pesado no meu pescoço e ombros, então deslizei meus braços para fora das crianças e arranquei um elástico de cabelo do meu pulso. Era preto. Eu empilhei meu cabelo em cima da minha cabeça, pronto para enrolá-lo, mas quando eu estiquei o laço de cabelo, ele quebrou.

Eu quase caí da minha cadeira. Não. Não, isso não estava acontecendo. Hoje já tivemos o pior. Não tivemos? Isso não poderia piorar. Nós não poderíamos perder o Finn.

Respirei fundo, depois outro. Joguei o elástico quebrado e deixei meu cabelo cair. Eu não tentaria o destino tentando colocá-lo novamente. Então distraí meus pensamentos do pior estudando as pessoas na sala.

Gerry e cada um dos outros encarregados de Alcott tinham chegado ao hospital, uma enorme quantidade de membros da equipe se infiltrando atrás deles. Bridget também estava aqui, sentada em frente às crianças e a mim, tomando seu café e fazendo caretas depois de cada gole.

— Você não precisa ficar. — Era a maneira mais gentil com a qual eu tinha feito nas últimas cinco horas para dizer a ela para sair.

Ela encontrou meu olhar, seu próprio estreitamento. — Mas eu quero.

— Por quê?

Ela não era da família. Ela não era amiga aqui. Ela era funcionária do Finn e eu a odiava. Odiava seu corte de duende loiro. Odiava como ela usava tops que se encaixam perfeitamente em seu corpo tonificado. Odiava que ela fizesse o estilo de trabalho dos homens ficar mais bonito. Eu era mulher o suficiente para admitir que havia ciúmes lá em algum momento. Ela era uma pequena bola de músculos com um rosto bonito e um sorriso brilhante, e ela estava ao lado de Finn todos os dias.

Mas não foi por isso que a odiei. Eu a odiava porque ela achava que era seu dever me julgar. Bridget achou que ela estava acima de mim, melhor que eu. Que, apesar de estar do lado de fora, ela sabia mais sobre o meu casamento do que eu. Odiava que Finn tivesse dito a ela sobre meu caso de uma noite. Eu odiava que ele confiasse para dar essa informação, e ela usou isso contra mim.

A última vez que estive em Alcott, pouco antes do divórcio, ela me chamou de prostituta na minha cara.

Eu não tinha visto Bridget desde então. Ela parecia exatamente a mesma, embora com algumas linhas mais finas em seu rosto. Trabalhar no sol o tempo todo estava cobrando seu preço.

— Vou ficar. Finn é importante para mim — ela retrucou. —Assim como seus filhos.

Meus filhos.

Apertei minha boca e voltei a olhar para a parede. Nada de bom viria de mim brigando com Bridget hoje. Não quando eu tinha mais coisas importantes para me preocupar.

Como eu iria sobreviver se Finn não vivesse. Ou como eu iria manter nossos filhos à salvo se o pai deles morresse.

Meu estômago revirou, a saliva encheu minha boca e eu engoli em seco, forçando-me a não vomitar. Eu tinha que ser forte. Para Kali e Max, não podia ceder ao medo e a dúvida que estavam lentamente tomando conta.

Por que a cirurgia está demorando tanto? Era porque os médicos estavam lutando para salva-lo?

Não leve ele. Por favor.

Nós três estávamos em uma pequena namoradeira. Normalmente, mal haveria espaço para Kali, Max e eu nos encaixarmos. Mas já que ambos estavam deitados no meu colo, seus corpos esmagados em mim o mais forte que podiam, havia espaço de sobra.

Por favor, não leve ele.

Eu não tive a chance de rezar por Jamie. Ele tinha sido tirado de nós antes de termos a chance. Mas para Finn, eu rezei. Eu estava orando há horas. Orando por um milagre.

— Posso pegar alguma coisa para você, Molly? — Perguntou um dos funcionários de Finn. Ele era o cara que estava ao lado das crianças. Ele veio para o hospital depois que saímos, junto com um monte de outros caras e os encarregados.

— Eu sinto muito. Qual é o seu nome?

— Jeff, minha senhora.

— Não, obrigada, Jeff.

Kali tinha me dito depois que chegamos ao hospital que as três ligações que eu havia perdido tinham sido dela. Jeff a deixara usar o celular.

Ele apontou para as crianças, dizendo: — Qualquer coisa para eles?

Eu balancei a cabeça.

Kali e Max tinham os olhos fechados. Max estava dormindo. O estresse emocional do dia o esgotara completamente. Kali não foi embora. Ela parecia que estava dormindo, mas a cada poucos minutos, seu corpo ficava tenso.

Toda vez, eu a segurei mais perto.

Por favor, não o tire de nós.

No outro canto da sala, David e Rayna estavam sentados em cadeiras mais próximas do corredor. Eu sempre pensei que David parecia tão jovem para sua idade. Ele era bonito, muito parecido com Finn. Mas hoje ele parecia abatido. O branco em torno de suas têmporas era mais pronunciado. O medo em seu coração estava se infiltrando em sua pele, tornando-a cinzenta.

Rayna, sempre linda como Poppy, estava sentada estoicamente ao seu lado. Seu queixo estava erguido. Seus ombros fixados para trás como se ela não esperasse nada diferente de seu amado filho vir andando para fora em poucos minutos e contando piada sobre como ele estava usando o cinto de segurança.

Ela estava se esforçando, como eu, para manter o pior escondido. Mas os olhos dela a traíram. Eles estavam cheios de terror porque ela tinha ouvido o aviso do médico também.

A chance de Finn sobreviver a tanto trauma era pequena, na melhor das hipóteses. Cinco por cento. Foi o que ele nos disse que a chance de ele sobreviver à cirurgia era. Cinco por cento.

Todos estávamos orando por cinco por cento. Por um milagre.

David recebeu o telefonema primeiro. Bridget ligou para ele depois que os primeiros socorristas chegaram e assumiram a situação. Ele ligou para Cole, então Poppy, porque David sabia que depois que o choque inicial se desvanecesse, depois que afundasse, Poppy ia ser atingida e duramente.

Aconteceu cerca de três horas atrás.

Todos nós estávamos sentados na silenciosa sala de espera-os únicos sons de pessoas mudando em suas cadeiras e a equipe do hospital trabalhando no fundo - quando um soluço escapou da boca de Poppy.

Ela quebrou, colidindo com Cole enquanto ela chorava incontrolavelmente. Ele a pegou e levou-a para fora da sala sem uma palavra. Eles não voltaram desde então.

Mas eu não estava preocupado com ela. Cole cuidaria dela. Ele a ajudaria, não importando o que acontecesse com Finn.

Eu não tinha um Cole para me apoiar.

Finn era meu Cole.

Uma picada aguda atingiu meu nariz. As lágrimas brotaram. Eu funguei e o corpo de Kali se encolheu. O braço que eu envolvi em volta dela se apertou.

Seus braços estavam enrolados em volta da minha coxa e ela o abraçou ainda mais apertado quando ela choramingou, seus ombros tremendo.

Eu me curvei e sussurrei em seu cabelo, — Respire fundo.

Ela assentiu, sugando um pouco de ar. — Estou assustada.

— Eu também querida. Eu também.

Se eu chorasse, ela iria quebrar. Então, mesmo que minha garganta estivesse em chamas, me forcei a segurar firme. Eu teria meu momento mais tarde, quando estivesse em casa e sozinha e pudesse abafar o som em um banho quente.

Um médico limpou a garganta enquanto entrava na sala de espera usando avental verde-azulado e botinhas combinando sobre seus tênis. — Sr. Alcott?

A sala ganhou vida, repentinamente barulhenta e movimentada, embora estivesse parada e silenciosa momentos atrás.

Kali disparou no sofá enquanto eu cuidadosamente deixei Max de lado, certificando-se de que ele não cairia quando eu estivesse de pé.

Agarrei seu braço antes que ela pudesse correr para o médico. — Kali, espere. Fique com o Max.

— Mãe

— Por favor. Caso ele acorde. E caso o médico não tivesse boas notícias.

Ela não o ouviria de um médico de cinquenta e poucos anos com uma verruga no queixo. Se houvesse uma má notícia, minha filha ouviria isso de mim.

Seus ombros caíram. — Está bem.

Beijei o topo de seu cabelo, então corri para o outro lado da sala.

O médico ligou para o nome do pai de Finn, mas todos ali haviam chegado a ele. Bridget, claro, estava na frente e no centro. — Ele está bem?

— Desculpe-me. — Passei por ela, juntando-me a David e Rayna enquanto eles estavam ao lado do médico.

— Sr. Alcott. — O médico gesticulou para que David o seguisse até o corredor. Rayna agarrou minha mão, puxando-me enquanto seguia David.

Kali e Max esperaram na entrada da sala de espera, olhando pelo corredor enquanto nos afastávamos do alcance da voz. Kali provavelmente o acordou no segundo em que me afastei.

— Meus filhos estão bem aqui — eu disse ao médico. — Você se importaria de virar as costas para eles?

Ele acenou com a cabeça uma vez, girando para que eles não pudessem ler seus lábios ou ver a expressão em seu rosto. — Finn saiu da cirurgia e está em recuperação. Ele teve muitos danos internos. Neste momento, estamos preocupados com infecções e inchaços. Mas se ele conseguir sobreviver nas próximas vinte e quatro horas, suas chances aumentam drasticamente.

— Mas ele está vivo? — Eu gritei.

O médico assentiu. — Ele está vivo.

Obrigado Deus.

A mão de Rayna chegou à sua boca enquanto ela chorava lágrimas de alívio. David puxou-a para o lado dele, segurando-a com força e virando-a de lado para que as crianças não enxergassem.

Eu passei meus braços em volta de mim, fisicamente segurando as emoções dentro. — Podemos vê-lo?

— Eu posso deixar você entrar lá por apenas alguns minutos, mas ele não está acordado. Estamos mantendo-o sedado por enquanto.

— Vocês vão — eu disse a Rayna e David. — Eu vou dizer às crianças.

— Não — disse Rayna. — Você deveria ir.

— Mas.....

— Molly. — David tocou meu braço. — Vai.

Kali e Max ...

— Nós ficamos com eles, — disse ele. — Vai.

— Ok. — Balancei a cabeça e segui o médico por uma série de corredores brancos até que entramos na UTI. Quando entramos no quarto de Finn, meu coração trovejando abafou o som de seus monitores.

Minha mão voou para a minha boca, meus olhos se fecharam. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto enquanto eu respirava três vezes para me recompor.

Finn, meu Finn, mal era visível sob montes brancos de gaze e ataduras. Era difícil ver mais do que os tubos e fios conectados ao seu corpo imóvel.

— Vou te dar um minuto. — O médico tocou meu ombro e saiu do quarto.

Meus sapatos arrastaram pelo chão, as solas de borracha rangeram porque eu não tinha forças para levantar meus pés.

A mão de Finn estava fria quando a peguei na minha. Uma centena de coisas para dizer passou pela minha cabeça. Fundamentos para ele lutar, sobreviver por nossos filhos. Piadas sarcásticas sobre sua incapacidade de operar máquinas pesadas. Perguntas sobre por que ele me manteve como seu contato médico de emergência após todos os nossos anos separados.

Mas se Finn pudesse me ouvir, se ele não conseguisse passar no dia seguinte, então realmente haveria apenas uma coisa a dizer.

— Eu te amo. Eu te amo muito, Finn. Eu vou te amar para sempre.


DOZE

MOLLY


— EI — Sorri para Gavin enquanto eu caminhava para a varanda.

Encostou-se a um dos postes, com um copo de chá gelado nas mãos. — Ei.

Eu me abaixei para pegar o copo que ele havia colocado no degrau mais alto para mim. — Eu amo o seu chá do sol.

Gavin riu e sentou ao meu lado na escada. — Este é o último lote.

— O quê? — Olhei para ele com horror. — Por que você não pode fazer mais?

— Fiquei sem sacos de chá.

— Eu posso pegar alguns na mercearia mais tarde. — Eu estava dedicada ao chá de Gavin. Foi uma das minhas coisas favoritas durante as últimas seis semanas. Sentar-se nos degraus com ele tornou-se meu pequeno intervalo da realidade.

— Eu pedi alguns, mas estão atrasados.

— Eu vou lhe contar um pequeno segredo. — Eu me inclinei para mais perto para sussurrar. — Essa empresa chamada Lipton é bastante famosa por seu chá. Eles entregam na mercearia. Aqui. Nesta cidade.

Ele riu. — Eu não bebo Lipton.

— Bom demais para Lipton, hein? Eu não sabia que você era tão esnobe. Sinto que nem te conheço.

— É culpa da minha mãe. Quando eu estava crescendo, minha família tirou férias anuais no deserto. Minha mãe tropeçou neste pequeno café fora de Flagstaff8, e tornou-se nosso lugar favorito. Eles faziam o melhor chá de sol. Com o passar dos anos, ela se tornou boa amiga do dono e descobriu a marca do chá que ele usava. Mamãe encomendou e nunca mais olhou para trás. Ela tem Alzheimer de início precoce e tivemos que colocá-la em uma casa há alguns anos. Há dias em que ela não se lembra de mim, da minha irmã ou do meu pai. Mas ela nunca esqueceu aquele chá.

— E certifique-se de pedir também.

— Sempre.

Eu sorri, tomando um gole saudável da minha bebida. —Obrigado por compartilha-la comigo.

— O prazer é todo meu. Você é minha vizinha favorita.

— Não diga isso para a Sra. Jarrit. — Balancei a cabeça para a casa no final da rua sem saída. — Eu acho que ela tem uma queda por você.

— Há algo em mim que mulheres solteiras de setenta anos não conseguem resistir. Eu acho que são meus óculos.

Eu ri, terminando meu chá. Engoli a última gota quando uma van preta virou na nossa rua. ] Meus ombros caíram, a exaustão das últimas seis semanas me atingindo com força total.

— Hoje é o dia da grande mudança?

Suspirei. — Sim.

— Como está todo mundo?

Olhei para a van enquanto ela se aproximava da minha garagem, não tendo certeza da melhor maneira de responder a essa pergunta. — Eu não sei. Tem sido difícil. Eu sei que eu te disse isso ontem, mas eu realmente aprecio tudo que você fez para ajudar. De cortar a grama, enviar as meninas para brincar com Kali e Max, trazer pizza. E o chá.

Esses intervalos de cinco minutos na varanda de Gavin tinham se tornado um destaque de cada dia, principalmente porque não falamos sobre todas as coisas ruins. Ele me contou anedotas de sua infância ou sobre seu trabalho. Nós brincamos sobre os outros vizinhos. Mas por cinco minutos, não precisei pensar nas crianças ou nas mudanças que viriam.

Eu não tive que pensar em Finn.

— Estou sempre feliz em ajudar. Apenas deixe-me saber o que as garotas e eu podemos fazer.

— Obrigada.

Ele me deu um tapinha no joelho quando a van parou na entrada da garagem.

Poppy acenou para mim do banco do passageiro. Cole desligou a van e a grande porta do lado se abriu. Kali e Max saíram em disparada.

— Ei, mãe. — Max acenou. — Oi, Gavin.

Nós dois acenamos de volta e me levantei dos degraus. —Obrigada novamente.

— A qualquer momento. Até a próxima.

Hoje foi meu último intervalo para o chá com Gavin. Depois da mudança de hoje, eu não tinha certeza de quando teria tempo de vir aqui novamente.

Parti pela grama, correndo para a van para dar um abraço em Poppy. — Como foi?

— Muito bem. — Ela assentiu. — Estamos bem.

Kali e Max se juntaram a nós, e todos nos afastamos da van enquanto Cole mexia com a rampa da cadeira de rodas.

Fazer Finn sair e entrar na van nos levaria a prática.

Seis semanas após o acidente, ele finalmente saiu do hospital.

Os primeiros dias após a cirurgia inicial foi uma luta para todos nós. Eu não quero pisar em um hospital tão cedo novamente. Max tinha dito o mesmo esta manhã.

Finn teve muita sorte de passar por suas cirurgias sem infecção, mas o dano ao seu corpo era tão severo que tinha sido difícil pensar nisso sem me sentir mal.

Ele fez três cirurgias desde o dia do acidente, e em cada uma, passei as horas rezando para que ele conseguisse sair vivo.

Sua perna havia sido quebrada em quatro lugares e, após a última cirurgia, era mais almofada de alfinetes do que uma perna. O mesmo aconteceu com o braço dele. Sua perna e seu braço estavam engessados em moldes grossos e brancos. A pélvis de Finn também estava quebrada e, por causa disso, nos deparamos com outro mês dessa cadeira de rodas.

Mas os ferimentos internos foram curados. Eles tinham sido os que ameaçavam a vida. Agora, o que ele precisava era de tempo, descanso e reabilitação.

— Oi. — Finn sorriu para mim quando a cadeira de rodas saiu da rampa da van.

— Oi — Meu coração se derreteu em seu sorriso.

Ele estava escondendo a dor. Ele estava frustrado e chateado por estar confinado a uma cadeira de rodas. Mas ele estava vivo. Ele estava sorrindo. Para mim. Para as crianças. Para Poppy, que teve mais dificuldade do que o resto de nós.

Ele estava sorrindo porque hoje foi o primeiro dia em seis semanas, que ele não estava em uma cama de hospital.

Era lindo, aquele sorriso mais reconfortante do que uma respiração profunda de ar fresco depois de uma chuva de verão.

— Você tem certeza de que quer fazer isso? — Perguntou ele. — Eu posso me empurrar de volta para a van.

— Você não vai a lugar nenhum. — Revirei os olhos e dei a volta para o guidão de sua cadeira. — Bem-vindo em casa.

Ele olhou para mim por cima do ombro, com os olhos quentes. — É bom estar aqui.

Eu pisquei para ele, então balancei a cabeça para as crianças. — Liderem o caminho.

Kali e Max riram enquanto corriam para a rampa que os funcionários de Finn haviam construído para ele.

Quando os médicos nos deram os detalhes do plano de recuperação de Finn, ficou claro que ele não iria para sua própria casa. Bem, tinha ficado claro para mim e para todos os outros na sala naquele dia. Todos, exceto Finn.

Ele passou uma hora explicando para mim, Poppy e seus pais como ele ficaria bem em sua casa. Sua cadeira tinha uma opção automática, para que ele pudesse andar com o controle. Ele tinha um braço de trabalho e podia comer sanduíches por alguns meses. Ele iria fazer xixi em uma garrafa e poderia gerenciar um banho de esponja de uma mão.

Quando ele terminou de explicar seu plano ridículo, peguei meu telefone na frente dele e liguei para Gerry na Alcott. Eu disse a ele que precisava de uma rampa de cadeira de rodas para a porta da frente. Quando cheguei em casa naquela noite, toda a sua equipe estava lá junto com um trailer cheio de madeira.

Eles construíram em dois dias.

— Quer que eu empurre? — Cole ofereceu.

— Não, eu faço isso.

Cole puxou Poppy para o lado dele, e os dois seguiram as crianças até a rampa e entraram na casa.

Eu me segurei, querendo alguns momentos com Finn. — Como está a dor?

Seus ombros caíram. — Foi muito movimentado hoje. Estou sentindo dor.

— Tenho seus remédios lá dentro. Você comeu?

— Não. Meu estômago não aguentaria mais uma refeição no hospital.

— OK. Comida. Comprimidos e soneca. — Empurrei a cadeira para a frente lentamente.

— Molly, eu... — Ele passou a mão pelo rosto. Sua barba cresceu bastante enquanto ele esteve no hospital. Eu me ofereci para fazê-la algumas vezes - mas tinha algumas enfermeiras interessadas que eu não sentiria falta - mas ele recusou. Ele gostava da baixa manutenção da barba.

— O que? — Eu diminuí a velocidade até pararmos.

— Obrigado. — Seus olhos azuis levantaram para os meus. —Você não precisava fazer isso. Eu poderia ir para casa. Contratar uma enfermeira. Mamãe disse que ficaria comigo por um tempo. Este é um enorme fardo para a sua vida.

Andei em torno da cadeira e me ajoelhei, então estávamos no nível dos olhos. — Finn, você não vai a lugar nenhum. Até que você esteja curado, esta é a sua casa. As crianças precisam ver você. Eles precisam ver que você está ficando cada vez melhor. — Então faça Isso.

— Eu preciso vê-los também. — Ele estendeu a mão boa sobre o braço da cadeira de rodas e segurou minha bochecha. — E você.

Eu dei a ele um pequeno sorriso. — Nós vamos ficar bem.

David e Rayna teriam feito qualquer coisa para ajudar. O mesmo aconteceu com Poppy e Cole. Mas ninguém fez a oferta de trazer Finn para suas casas. Por quê? Porque tomei a decisão de trazê-lo aqui antes que eles tivessem a chance.

Ele ficaria aqui. Em casa.

Onde todos nós precisávamos que ele ficasse.

Empurrei-o pela rampa, com a cadeira mais pesada do que me lembrava. Quando chegamos à varanda, acenei para Gavin, que ainda estava do lado de fora.

Ele acenou de volta antes de entrarmos.

— Diga a Gavin obrigado por cortar a grama, — disse Finn.

— Eu disse.

— Não, diga a ele por mim.

— Está certo.

Eu ainda me sentia horrível por Gavin por manter o nosso encontro. Ele ligou à noite em que deveríamos jantar, mas eu estava no hospital. Finn tinha acabado de ser retirado de seus sedativos e todos estávamos esperando ansiosamente que ele acordasse.

Eu nem percebi que horas eram. Que dia era. As horas tinham se confundido e, quando Gavin ligou, fui para um canto sossegado. Ele me perguntou onde eu estava. Eu me enruguei em um monte de lágrimas.

Eu chorei forte, finalmente deixando ir. Gavin ficou no telefone o tempo todo. Quando me recompus, contei a ele sobre o acidente de Finn. Ele ouviu e prometeu estar lá se eu precisasse de ajuda.

Ele não pediu para remarcar nosso encontro. Eu não ofereci. Nós dois sabíamos que não haveria encontro.

Eu aprendi alguma coisa desde o acidente.

Meu amor por Finn não ia morrer. Eu poderia dizer a mim mesma e aos outros que não estava apaixonada por Finn. Era tudo mentira. Enterrei aquele amor profundo, empurrando-o para baixo sempre que ele ameaçava aparecer, mas ainda estava lá.

Sempre esteve lá.

Até que eu descobrisse como lidar com isso, não havia espaço para outro homem em meu coração.

— Papai. — Max veio descendo as escadas enquanto eu empurrava Finn para a sala de estar. Havia uma pilha de livros debaixo do braço dele. — Veja isso.

— O quê? — Finn forçou a dor e a exaustão de seu rosto. Ele estava dando o seu melhor desde o acidente para escondê-lo das crianças.

— Vovó Deborah me deu todos esses livros ontem. Você tem que encontrar Waldo.

— Isso foi legal da parte dela.

Max assentiu. — Vovó tem alguns desses em seu consultório, mas outra criança circulou todos os Waldos já. Estes são diferentes e são mais difíceis.

Eu sorri, empurrando Finn ao lado de uma mesa final para que Max pudesse arrumar os livros e eles pudessem caçar Waldo juntos. — Eu vou fazer o almoço. Max, ajude seu pai se ele precisar de alguma coisa.

Finn me deu um sorriso antes de voltar sua atenção para a primeira página que Max abriu. — Nós ficaremos bem.

Mamãe havia intensificado as últimas seis semanas. Ela nunca foi voluntária para ser babá, especialmente quando as crianças ainda estavam de fraldas. Mas quando eu passava minhas horas livres no hospital, mudando de turno com Poppy, David e Rayna para que Finn não estivesse sozinho, mamãe passara mais tempo com as crianças do que nos últimos anos juntos.

Gostaria de poder dizer que foi para o Finn. Mas eu conheço mamãe. Ela estava fazendo isso por mim e, no momento, eu aceitaria.

Entrei na cozinha e encontrei Poppy, Cole e Kali já fazendo o almoço. Pão e frios foram colocados no balcão. Kali estava cortando um pedaço de queijo. Cole estava arrumando a mesa para seis.

— Eu ia fazer isso. Vocês não precisam fazer o almoço.

— Estou feliz em ajudar. — Poppy sorriu de onde ela estava montando sanduíches. — Você não precisa fazer tudo sozinha.

Exceto por tanto tempo, tinha sido apenas eu. Mesmo antes do divórcio, eu fiz tudo nessa casa. Lavando. Cozinhando. Limpando. Jardinagem. Foi estranho ver outras pessoas trabalhando, então eu peguei bebida para todos.

— Nós trouxemos roupas suficientes do Finn por um tempo, junto com seus produtos de higiene pessoal. Mas pode haver outras coisas que ele queira. Cole colocou uma pilha de guardanapos sobre a mesa para nós. — Me fale e eu trago.

Balancei a cabeça, grata por não precisar ir à casa de Finn e procurar por pertences pessoais. — Obrigada. Vou correr para Alcott e pegar o computador e o calendário. Ele vai tentar trabalhar no laptop um pouquinho a cada dia e entrar no ritmo das coisas. —

— Quer que eu vá até lá?

— Não, eu posso fazer isso. Mas obrigada. — Olhei por cima do ombro. Poppy e Kali estavam rindo de algo ao lado da pia. Elas estavam em seu próprio mundo, e nós estávamos longe o suficiente para que eu pudesse fazer a Cole a pergunta que estava na minha cabeça ultimamente. — Ela está bem?

Cole olhou para sua esposa, seus olhos suavizando. — Ela é a mulher mais forte que eu já conheci.

— Sim ela é.

— Ela está bem. Ela só ficou com medo.

— Todos nós ficamos, — sussurrei.

— O que ela precisa agora é ajudar. Ela precisa estar lá para o Finn. Ele a puxou depois que Jamie morreu. Vocês dois fizeram.

— Eu estava lá, mas Finn foi quem chegou até ela. Ele estava lá no fundo do poço.

— Ela quer fazer isso para ele. Eu sei que você pode fazer isso por conta própria, Molly. — Cole encontrou meu olhar, seus olhos verde-claros implorando. — Mas não faça. Largue algumas bolas pela primeira vez na vida e deixe-as pegá-las. Ela precisa equilibrar a balança. Ela precisa ter a chance de estar lá por Finn como ele esteve para ela.

Balancei a cabeça, minha garganta muito apertada para falar.

Eu não queria desistir do controle do malabarismo. Eu não queria entregar algo para Poppy. Na verdade, se eu entregasse uma bola, receava que todos as outras caíssem. Mas eu arriscaria por ela.

— O almoço está pronto, — anunciou Kali, gritando por Finn e Max enquanto carregava dois pratos para a mesa.

— Obrigada por cozinhar, — eu disse a Poppy enquanto ela caminhava para a mesa.

— São apenas sanduíches. Tecnicamente, não há culinária envolvida.

— Ainda é apreciado.

— Eu estava pensando em fazer o dobro de tudo que faço em casa, — disse ela, largando os pratos e sentando-se quando Finn e Max entraram na sala.

Cole tirou a cadeira da cabeceira da mesa e colocou no canto para que Finn pudesse encostar a cadeira de rodas.

O rosto feliz de Poppy desapareceu quando ela olhou para o irmão. Ela viu o que eu vi. Finn estava lutando. Ele ia continuar lutando porque esse era caminho para a recuperação, e seria longo e difícil. Ele era um homem que gostava de trabalhar com as mãos e estar do lado de fora, mas estava confinado naquela cadeira.

Quando ele estivesse fora da cadeira de rodas, haveria fisioterapia intensa. Ele não ia pular daquela cadeira e dizer Ta-da, vamos plantar algumas árvores. Os médicos disseram que ele pode ter efeitos duradouros do acidente.

— De qualquer forma, — Poppy limpou a garganta. — Eu estava pensando em fazer o dobro de tudo que faço em casa. Então você não terá que cozinhar.

Abri minha boca para dizer a ela que eu conseguia, mas parei antes que a resposta automática saísse. — Isso seria bom.

Este mês seria brutal.

O trabalho no restaurante era muito, como sempre. Eu mal podia esperar para a escola começar de novo, porque tanto quanto eu amava verões com as crianças, este verão precisava acabar. Eles estavam entediados e irritados. Eles passaram mais horas no hospital do que eu gostaria.

A escola seria minha graça salvadora. Talvez então eu dissesse a Poppy que ela poderia desistir das refeições. Mas se cozinhar a fazia se sentir útil, eu aceitaria.

Finn pensou que ele seria capaz de mergulhar de volta no trabalho, mas eu sabia que não seria tão fácil. Ele iria precisar de um motorista para ir a locais de trabalho e inspecionar o trabalho feito. Ele precisaria de alguém para fazer parte do trabalho no escritório porque sua energia diminuía muito rapidamente. Isso tudo caberia a mim.

E Bridget. Tanto quanto eu a odiava, eu estava grata pela lealdade de Bridget a Finn. Enquanto ele estava no hospital, ela assumiu tudo em seus projetos, executando-os junto com os seus funcionários. Ela o visitou todos os dias para mantê-lo informado dos negócios.

Gerry e os outros encarregados haviam se adiantado também. Eles vinham ao hospital uma vez por semana para transmitir o progresso. Eles mantiveram Finn no circuito, e isso salvou a sanidade de Finn.

Parte de sua sanidade. Nós não o tínhamos deixado ficar com seu laptop enquanto ele estava no hospital, preocupado que isso lhe causasse muito estresse. Mas Finn estava ansioso para saber o quanto fora negligenciado no escritório. Bridget pode ter o lado do design do negócio coberto, mas ela não pagou as contas nem trabalhou com fornecedores.

O que ele não sabia era que eu tinha assumido o trabalho do escritório.

De manhã, seus pais levavam as crianças ou eles estavam no acampamento, eu passei algumas horas na Alcott, reaprendendo as coisas que eu já conheci de trás para frente. Então voltava depois que o meu dia de trabalho no restaurante acabava.

Eu paguei as contas. Eu retornei mensagens de fornecedores. Recusei clientes em potencial, colocando-os na lista de espera do próximo ano. Eu me empurrei de volta para um mundo que eu já havia ajudado a criar, aproveitando a familiaridade agridoce.

— Qual é o plano para o resto do dia? — Perguntou Kali. Seus olhos pareciam ansiosos lá fora.

— Nada. — Balancei minha cabeça. — Nós só vamos relaxar.

Bem, eles poderiam relaxar. Eu ia fazer uma limpeza que não tinha sido feita por muito tempo. Ia desencaixotar algumas coisas de Finn e ter certeza de que ele estava no quarto de hóspedes. E então eu ia cortar a grama.

Mas Kali e Max estavam livres.

— Podemos andar de bicicleta? — Max perguntou.

— Claro.

As crianças compartilharam um sorriso. Poppy e Cole trocaram um olhar cheio de silêncio e eu te amos. E meus olhos se voltaram para Finn.

Ele estava esperando, um sorriso brincando com os cantos da boca.

Finn. Meu Finn Vivo.

E por enquanto, em casa.

 


As melhorias que Finn fez no jardim da frente foi um sonho. Mas o quintal era um pesadelo. Não só eu tinha os enfeites normais para contornar, mas agora eu tinha pilhas de sujeira e um buraco onde a fonte também estava. Empurrei o cortador na grama, temendo quanto tempo levaria para eu fazer isso.

Provavelmente duas horas. Talvez três. Enquanto Gavin impediu que se transformasse em uma selva, ele não tinha feito a borda bastante limpa para o meu gosto.

Depois do almoço, Cole e Poppy saíram para buscar seus filhos na casa dos pais de Cole. Max e Kali haviam passado o tempo que eu levara para cortar a grama do quintal da frente, andando de bicicleta pelo bairro. Mas eles se retiraram dentro de cerca de cinco minutos para jogar em seus quartos.

Max voltou para onde está Waldo? Enquanto Kali queria atacar o quebra-cabeça que mamãe havia comprado para ela.

E Finn estava tirando uma soneca.

Eu o coloquei no quarto de hóspedes para que ele tivesse muito espaço. Mesmo que fosse completamente livre de sexo para ele dormir na minha cama, eu tendia a me espreguiçar ou abraçar e não queria acidentalmente rolar para ele em meu sono e arriscar bater em sua perna quebrada ou empurrar seus quadris. Então ele estava no quarto de hóspedes porque era o único quarto no andar principal.

Todo o seu lado direito estava extremamente sensível. As contusões tinham durado mais do que eu esperava, transformando metade do seu corpo em um roxo escuro antes de desvanecer-se para verde-limão. Fiz uma careta só de pensar em como ele parecia naquela primeira semana, todo inchado e azul.

Eu respirei fundo, curvando-me para o fio para pegar o cortador, mas parei quando a porta de um carro bateu com força. Então outro.

Deixei o cortador em seu lugar e caminhei ao longo da lateral da casa em direção à frente enquanto três caras estavam se empilhando para fora de um caminhão da Alcott da marinha estacionado ao longo da rua. Atrás havia um trailer de corte.

— Oi. — Acenei enquanto caminhava na direção deles, chamando a atenção deles. Todos os três caras acenaram de volta, embora eu apenas reconhecesse um deles. Eles provavelmente estavam aqui para ver Finn, mas eu não queria que eles o acordassem. —Finn está tirando um....

— Ei pessoal.

Minha cabeça virou para o lado. Finn estava em sua cadeira de rodas na varanda da frente.

— Ei, chefe. — Um homem sorriu quando ele ligou um polegar para a van. — Nova corrida? É sexy.

Finn riu. — Obrigado por ter vindo tão cedo.

— Não tão cedo. — Ele examinou minha grama recém-cortada. — Desculpa.

— Os fundos precisa ser feito — Finn disse a eles. — Você pode fazer isto hoje. E depois coloque na rotação para toda sexta-feira.

Todos os três homens assentiram, se viraram e foram pegar o equipamento deles.

Assisti com a boca aberta enquanto um deles apoiava um moto cortador do trailer, outro descarregada um cortador de grama manual e o terceiro pegava uma serra de corte.

— Posso chegar ao quintal dessa maneira? — Perguntou um deles.

Balancei a cabeça, deslizando para fora do caminho enquanto eles iam em direção à cerca. Cada um deles sorriu quando eles passaram por mim.

Quando as máquinas ligaram, fui para a varanda. Parei a dois passos do topo, então eu estava no nível dos olhos de Finn. — O que você está fazendo?

— Algo que eu deveria ter feito há muito tempo atrás. Alcott faz o gramado a partir de agora.

Quantas vezes eu cortei este gramado, me perguntando por que Finn não trazia sua equipe aqui para fazer isso por nós? Eu sempre achei que ele queria economizar o dinheiro. Ou que ele não tinha tempo na rotação para se encaixar. Quando nos divorciamos, imaginei que seria estranho ter uma equipe cortando a grama da ex-mulher. Mas aqui estavam eles.

Um pequeno gesto. Mas um que tocou meu coração. —Obrigada.

— Não me agradeça. Me desculpe, eu não fiz isso antes. — Seus olhos estavam cheios de remorso enquanto ele olhava para mim. Sua estrutura, embora quebrada, estava decidida a acertar.

Kali saiu do lado de fora, interrompendo o momento. Ela se inclinou contra a cadeira de Finn, algo que se tornou seu novo tipo de abraço. — Pai, você quer me ajudar com o meu quebra-cabeça?

— Eu adoraria, querida.

Ela sorriu para ele, beijou sua bochecha e correu para dentro. Finn me lançou um sorriso, então guiou sua cadeira de volta para dentro também.

Fiquei naquele degrau por alguns longos minutos, maravilhada com o quanto tudo havia mudado em tão pouco tempo. Como meus sentimentos eram tão diferentes agora.

O poder do medo era terrivelmente magnífico.

Virei no degrau, desci até a calçada, depois caminhei até a caixa de correio enquanto os sons de lâminas girando cortando grama zumbiam à distância.

Eu estava perdida no brilho do sol e na maneira como meu estômago não estava revirado pela primeira vez em semanas. Ter Finn em casa foi um alívio que eu não me permiti sentir, pelo menos não no começo. Nos primeiros dias no hospital, eu me preparei para o pior.

Aproveitando esse alívio, saboreando que estávamos fora de área eu não prestei muita atenção ao correio. As velhas cartas de Finn haviam parado.

Finn me perguntou na semana passada se havia mais, e eu disse a ele que não. Nós dois ficamos felizes que elas pararam. Nós tínhamos muito para lidar e o passado, bem, ele precisava ficar lá. Folheei a pilha, colocando o lixo em uma mão e as contas na outra.

Mas então uma curva familiar de caligrafia chamou minha atenção.

As cartas não acabaram afinal.


- CARTA -

Querida Molly,


Eu estou falhando com você. Eu sei que estou falhando com você, mas não tenho certeza de como consertar isso. Max tem seis dias, e talvez por estar em casa me ocorreu que não tenho feito o suficiente. Eu desapareço para trabalhar e deixo você aqui. Você lida com tudo isso. A casa. As crianças. Você me cumprimenta com um sorriso quando chego em casa.


Mas eu vejo agora. Eu vejo que não estou fazendo o suficiente. Você está exausta. Você chorou no chuveiro esta manhã. Eu odeio isso. Eu odeio estar te decepcionando.


O que devo fazer? Eu não sei como te fazer essa pergunta. Estou com medo de que sua resposta seja nada. Que não importa o que eu faça, não será suficiente. Que você sabe que estou falhando com você e desistiu de mim.


Eu acho que preciso me esforçar mais. Trabalhar mais. Eu posso trabalhar mais. Assim que as coisas na Alcott estiverem definidas e eu souber que não importa o que aconteça, você e as crianças vão ficar bem se algo acontecer comigo, nós ficaremos melhores.


Você adormeceu na cadeira em frente a mim. Eu planejava me sentar e conversar com você, mas no momento em que levei Kali para a cama, você já estava dormindo. Max é perfeito. Ele está dormindo em seus braços. Eu não quero movê-lo.


Mas você está se desfazendo bem na minha frente. A vida está muito pesada agora. Vou tirar mais uma semana para ajudar. Espero poder ajudar. Eu quero mais do que tudo lhe dar esta carta. Falar com você. Mas estou com medo. Estou com medo que isso só vai aumentar seus fardos.


Eu preciso descobrir uma forma. Eu vou descobrir. Eu prometo. Eu farei melhor. Eu farei melhor por você, Kali e Max. Eu te amo. Você é o centro do meu mundo. Apenas segure firme por um pouco mais.

Seu,

Finn


TREZE

FINN

 

EU DESLIGUEI o telefone e coloquei minha cabeça na minha mão boa, esfregando minha testa, esperando que a construção da dor de cabeça fosse adiada por mais uma hora. Eu precisava terminar um projeto para um cliente, e se essa dor se transformasse na mesma coisa que eu tivera nos últimos dias, isso nunca seria feito.

Sentado à mesa da sala de jantar, concentrei-me na tela do computador, querendo que o pulsar desaparecesse. Minha perna estava doendo. Meus quadris doem. Meu pescoço tinha uma torção por usar apenas um braço e se esticar em ângulos estranhos durante todo o dia. E eu estava cansado até a morte de estar nessa porra de cadeira de rodas.

O que eu realmente queria era um analgésico e um cochilo. Para passar o dia na cama enquanto eu esperava as crianças chegarem em casa com Molly. Mas não tive tempo para tirar uma soneca e, a partir desta manhã, parei de tomar analgésicos. Eu tive problemas suficientes. A última coisa que eu precisava era de um vício em drogas.

Eles me colocaram em uma névoa e eu não queria ficar confuso enquanto estava aqui com todos nós vivendo sob o mesmo teto. Esta situação de vida foi a única coisa boa que veio do acidente.

O resto da minha vida estava uma porra de bagunça.

Respirei fundo, bloqueei a dor e me concentrei na única coisa que me fez passar pela maior parte dos momentos de merda da minha vida: trabalho.

Alcott estava uma confusão no momento. Todos fizeram o melhor para manter os projetos em movimento enquanto eu estava no hospital. Bridget e cada um dos encarregados haviam se esforçado. Mas não foi o suficiente. Eu fazia o trabalho de três designers. Bridget, embora tentasse me ajudar, estava fora de seu alcance. Ela tentou fazer, mas não foi o suficiente. O que precisávamos era colocar as mãos na massa de verdade. De preferência até os cotovelos se fosse necessário.

A única parte do negócio que não estava em completa e total desordem era meus livros de caixa.

Todos os funcionários foram pagos. Depósitos foram levados para o banco. Contas foram enviadas e pagas.

Por causa da Molly.

De alguma forma, nas semanas que eu estava no hospital, as semanas em que ela corria para —fazer algumas coisas—, ela ia na Alcott, certificando-se de que meu negócio estava se movimentando. Ela entrou como se estivesse lá o tempo todo.

Mais eficientemente do que eu jamais poderia ser.

Ela não disse nada. Ela tinha que ir lá quando as crianças estavam com meus pais. Ou talvez a noite. Eu não tinha certeza. Sem uma palavra, sem esperar qualquer tipo de gratidão ou elogio, Molly tinha sido minha salvadora.

Graças ao seu trabalho, consegui me concentrar nos projetos que encerrariam o verão e o outono, em vez de me desenterrar do trabalho de escritório. Este projeto que eu precisava terminar hoje era o último. Depois que o comecei, todos os projetos seriam oficialmente iniciados, e depois só tínhamos de levá-los até o fim.

Para um cara destro, trabalhar com um gesso completo no braço direito era extremamente frustrante. Eu estava rangendo os dentes por horas, provavelmente o motivo da dor de cabeça. Usando apenas a minha mão esquerda, tudo demorou três vezes mais do que o normal. Mas depois de duas horas, eu estava quase terminando.

Então a porta da frente se abriu.

— Merda, — amaldiçoei baixinho. Eu estava tão malditamente doente de visitantes que eu podia gritar.

Meus pais passavam diariamente para me ver. Se Bridget não estava me chamando, ela vinha em um borrão frenético, sacudindo pergunta após pergunta, mal parando para ouvir minhas respostas. E as equipes claramente tinham sido designadas por turnos. Nas duas semanas desde que cheguei à casa de Molly, descobri o padrão de quem iria aparecer - porque estavam na vizinhança.

O que eu precisava era que todos me deixassem em paz para que eu pudesse trabalhar.

— Finn? — A voz de Poppy percorreu o corredor da porta da frente.

Eu relaxei. Minha irmã era a única pessoa cujas visitas nunca me davam nos nervos. — Na mesa.

Ela atravessou a cozinha e entrou na sala de jantar com um sorriso no rosto e uma sacola de papel do restaurante na mão. — Oi.

— Por favor, me diga que há biscoitos ou tortas ou algo com açúcar naquela sacola.

Ela franziu o nariz enquanto colocava na mesa. — É, uma salada de couve.

— Foda-se a couve, — murmurei.

— Você sabe o que os médicos disseram. Os verdes folhosos ajudarão você a se recuperar rapidamente.

— Assim que eu sair dessa cadeira, nunca mais vou comer couve, alface, espinafre ou repolho ou a maldita acelga novamente.

Poppy riu. — Por favor. Não é tão ruim.

— Mesmo? E o que você comeu no almoço? Foi essa deliciosa salada de couve?

— Ok. — Ela levantou as mãos. — Ponto feito.

Ela provavelmente tinha comido um pouco do seu macarrão com queijo. O tipo com crutons crocantes no topo e montes de queijo pegajoso que me fez querer comer até eu estar miserável.

— Como você está? — Ela perguntou, tomando o assento ao meu lado.

— Tudo bem. — Deslizei meu laptop para fora do caminho e peguei a bolsa.

Mas Poppy pegou antes de mim. — Eu vou pegar.

— Obrigado. — Eu deixei ela. Desde o acidente, desisti de fingir que podia fazer tudo por mim mesmo.

Eu vim para Molly pensando que eu poderia sair, e ela estaria por perto se eu precisasse de alguma ajuda. Percebi que as enfermeiras do hospital tinham sido exigentes, não querendo que eu fizesse nada por mim mesmo. Elas me serviram água e me ajudaram no banheiro porque era o trabalho delas.

Não, elas sabiam o que eu não sabia: eu não podia fazer nada por mim mesmo.

Literalmente. Eu não poderia cagar sozinho. Eu não conseguia sair da cadeira e ir ao banheiro sem alguém para me ajudar a manter o equilíbrio.

Percebi isso na primeira noite em que estive aqui. Então, na manhã seguinte, aprendi que não podia tomar banho sozinho ou escovar meus dentes sozinho. A única coisa de que eu era realmente capaz era andar por aí. Ah, e eu podia comer cereais frios porque era fácil –fazer - com uma mão.

Eu teria ficado bem comendo Rice Chex e Honey Bunches of Oats por alguns meses, mas as mulheres da minha vida não me deixariam pular essas deliciosas folhas verdes. Elas estavam tentando me transformar em um coelho.

Poppy misturou minha salada com o molho, uma quantidade generosa, graças a Deus por isso, e depois pegou um garfo da cozinha. Com tudo chapado, mergulhei, fazendo caretas nas primeiras mordidas.

Foda-se couve.

Pelo menos o molho era o ranch da Poppy, meu favorito. Ela trouxe o suficiente para que a salada fosse comestível.

— Você está trabalhando hoje? — Perguntei.

— Sim. Molly está cobrindo a hora do almoço para que eu possa dar uma passada e dizer olá.

— Estou feliz que você veio.

Ela tocou a ponta dos meus dedos que saiam do meu gesso. — Eu também estou.

Abaixei meu garfo, querendo dar a ela toda a minha atenção. Realmente estava esperando por um desses momentos tranquilos com ela. Havia coisas que eu não tive a chance de dizer no hospital ou aqui porque sempre havia muitas pessoas por perto.

— Eu sinto muito.

— Por quê? — Ela perguntou.

— Por te assustar. Pelo acidente. Eu sei que trouxe muitas memórias antigas.

— Oh. — Seus olhos caíram para a mesa. — Não foi sua culpa.

— Eu ainda sinto muito.

Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela piscou secando-os, forçando um sorriso. — Estou bem. Isso nos assustou a todos. Eu não quero perder você também.

— Eu não vou a lugar nenhum, — prometi.

— Bom. Como você está se sentindo?

Minha primeira resposta foi dizer que eu estava ótimo. Que as coisas ficariam bem e voltariam aos eixos em pouco tempo. Mas eu estava tão cansado que não tinha energia para mentir.

Encontrei seu olhar. — Estou lutando.

— Com a dor?

— Sim. Não. Soltei um longo suspiro. — Com o fato de que quase morri há dois meses. Eu quase deixei Kali e Max sem um pai. E Molly...

Minha garganta fechou só de pensar nisso. Trabalhei tanto por tantos anos para me preparar para esse tipo de acidente. Para ter certeza de que se algo acontecesse comigo, eles estariam cobertos.

Eu estava cego para o que realmente importava.

Nós recebemos outra carta há duas semanas. Molly e eu havíamos lido e depois colocado de lado. Não havia muito o que conversar. Eu tinha falhando com ela. Eu sabia disso. Eu escrevi isso. Mas eu não fiz nada para mudar.

—Você sabe o que é realmente confuso? — Perguntei a Poppy. —Estou feliz.

— Que você está vivo? — Ela brincou. — Sim, nós também estamos.

— Não, isso aconteceu. Eu tive muito tempo para pensar no hospital. Tive muito tempo para perceber... Eu arruinei minha vida, Poppy.

— O que? Não, você não arruinou. Assim que você sair desta cadeira e começar a fisioterapia, você estará andando em pouco tempo. Seu braço não estará no gesso para sempre. Você não arruinou sua vida.

— Não, não estou falando do acidente. Depois de Jamie. — Eu engoli em seco, sabendo que essa conversa seria difícil de ter com Poppy, mas ela era a única pessoa que poderia entender. — Eu arruinei minha vida depois que Jamie morreu. Eu a sabotei.

— O que você quer dizer? — Quando não respondi, Poppy pensou sobre isso por um momento. Então ela entendeu. — Oh. Com Molly.

— Não de propósito. Molly me disse há algum tempo que você conversou com ela sobre o divórcio. Ela me disse que você estava preocupada de ser a razão pela qual nos separamos.

A cor sumiu do rosto de Poppy. — Eu fui, não fui?

— Não. Você não. Fui eu. A morte de Jamie me assustou. Eu comecei a trabalhar muito. Queria que Molly e as crianças tivessem respaldo se algo acontecesse comigo. E acabou virando uma bola de neve. Eu sabia que não estava fazendo o meu melhor como pai e marido. Mas eu estava tão focado na Alcott, me certificando de que poderia ... morrer.

— Oh, Finn. — Os olhos de Poppy se encheram de lágrimas.

— Eu a perdi. E penso... Acho que a afastei.

— Não só porque você estava com medo de morrer.

Balancei a cabeça, querendo que ela falasse o pensamento que eu não podia. O pensamento que me atormentava enquanto eu passava dias olhando para o teto do meu quarto de hospital.

— Você a afastou porque estava com medo que ela morresse.

Abaixei minha cabeça, minha visão borrada de lágrimas. — Arruinei minha vida. Porque eu estava com medo de acabar ...

— Como eu. — Poppy limpou uma lágrima perdida de seu olho, em seguida, pegou minha mão. — Você estava com medo de acabar como eu.

— O que diabos eu fiz? — Sussurrei.

Molly tentou tanto. Ela continuou tentando me puxar de volta para ela. Mas eu continuei me afastando em direção ao trabalho. Ela puxou. Eu empurrei.

Muito difícil.

O que eu tinha forçado a Molly a fazer?

— Você tem que consertar isso, Finn.

— Eu sei.

— Como? — Poppy perguntou. — O que você vai fazer?

— Bem, primeiro, preciso que Alcott esteja resolvida. Então eu...

— Finn. — Ela revirou os olhos. — O que vai levar para você perceber que Alcott não é sua resposta aqui? Foi sua morte.

Fiquei de boca aberta para ela. — O que? O que você quer dizer?

— Você quer uma vida com Molly?

— Sim. — Admitir em voz alta enviou um choque de eletricidade através das minhas veias. Eu queria uma vida com Molly e meus filhos. Eu queria minha família de volta.

— Então Alcott tem que ir.

Nunca. — Não estou desistindo do meu negócio. — Era meu sustento. Era a segurança da minha família. Era também a minha paixão. — Tem que haver uma maneira de ter os dois.

Poppy pensou por um momento. — Você sabe o que eu nunca entendi? Como você e Molly conseguiram trabalhar juntos. Quando vocês começaram Alcott, eu não acreditava que vocês trabalhavam durante todo o dia e depois iam para casa juntos à noite.

— Bem, nós não trabalhamos juntos o dia todo. Ela cortava a grama primeiro e depois ficava no escritório. Eu estava fazendo os trabalhos da paisagem, então não ficamos juntos o dia todo.

— Sim, mas foi tudo para vocês dois.

— Ok — eu disse, perguntando onde ela queria chegar com isso. Mas ela não me falou mais nada. — Assim?

— É apenas uma observação. — Ela encolheu os ombros. — Como está a investigação do acidente?

— Bem. Vai ficar tudo bem.

— Por favor, não faça isso. Não adoce como você faz todo o resto. Conte-me.

— Eu não vou adoçar as coisas.

Ela riu. — Meu querido irmão. Você é o rei de minimizar seu próprio estresse porque acha que está protegendo o resto de nós. Quando, na realidade, você apenas nos excluí.

Não, não excluí. Eu excluí? Abri minha boca para discutir, mas Poppy me lançou um olhar. Ok, talvez eu tenha excluído as pessoas. — Eu não quero pensar.

— Eu sei. Então vamos tentar de novo. Como está indo à investigação?

Fiz uma careta. — Acabei de desligar o telefone com o meu advogado antes de você chegar aqui. Vai ser uma maldita bagunça.

— Vai ser resolvido.

— Sim, mas pode levar anos. Estou feliz que tenha sido eu. O pensamento de um dos meus empregados se acidentando me deixa doente.

— Isso não deveria ter acontecido com ninguém. Esse cinto de segurança não deveria ter quebrado.

— Você está certa. Mas foi um negócio por acaso.

De acordo com o meu advogado, a empresa fabricante dessa mini carregadeira está dedicada a fazer o certo. Eles arrumaram a nova van acessível a cadeira de rodas até que eu estivesse andando de novo. Eles pagaram por uma cadeira de rodas motorizada quando meu seguro cobriria apenas um manual. E eles cobriram uma grande parte das minhas despesas médicas que meu seguro não pagaria. Eles estão fazendo tudo ao seu alcance para que eu não os processe.

Mesmo que eles não tivessem se oferecido para ajudar, eu não tinha intenção de processar. Acidentes acontecem. A vida era injusta. Eu sabia. Às vezes as pessoas estavam no lugar errado na hora errada, como Jamie. E a última coisa que eu queria era arrastar minha família por uma longa e cara batalha legal.

Uma coisa é certa: eu nunca me queixaria de pagar meus prêmios de seguro novamente. Era muito caro para as pequenas empresas fornecer seguro para seus funcionários. Eu tinha dado como certo, porque em todos os anos que estive no negócio, nunca tive uma reivindicação importante. Um cara cortou a mão dele com uma faca quando ele estava abrindo uma sacola de palha. Outro quebrou o dedão quando uma pallet de grama caiu em sua bota. Além desses pequenos ferimentos, tivemos muita sorte.

Até agora.

— Bem, é melhor eu voltar ao trabalho. — Poppy se levantou e beijou minha bochecha. Eu finalmente decidi tirar a barba hoje de manhã e o beijo dela ficou frio. — Ligue para mim se precisar de alguma coisa, ok? Ou se você quiser conversar?

— Obrigado. E obrigado pelo almoço.

— Você vai comer cereal assim que eu sair, não é?

— Sim. Vou jogar essa salada fora assim que ouvir a porta se fechar.

Poppy riu. — Vejo você mais tarde.

— Tchau.

Ela se virou e caminhou em direção à cozinha para sair, mas antes que ela desaparecesse no corredor, ela fez uma pausa e se virou. —Eu te amo.

— Eu também te amo.

— Faça-me um favor. Você disse que arruinou sua vida?

Eu balancei a cabeça. — Sim.

— Arruíne de novo.

Arruinar minha vida. Aquela em que passei a maioria das noites sozinho. Aquela em que eu não conseguia ver meus filhos todos os dias. A vida em que o trabalho era ótimo, mas estar em casa era triste e solitário.

Definitivamente era hora de arruinar a minha vida.

 


— O que exatamente você está fazendo? — Eu perguntei, andando atrás de Molly.

Ela soltou o binóculo dos olhos e sorriu por cima do ombro. —Vigilância de caixa de correio.

A caixa de correio ficava a alguns metros de distância, não a quilômetros. Ela trouxe aqueles binóculos aqui como uma piada durante a última vigilância da caixa de correio, aquela antes do acidente. Eu acho que ela os manteve perto.

Ela estava sentada no degrau mais alto da varanda. Era o crepúsculo, os últimos raios de sol remanescentes lutando para aguentar o dia por mais alguns minutos. Ela estava linda, sentada lá com o cabelo solto, as mechas ao redor de suas têmporas soprando com a brisa morna.

Um choque repentino fez meu coração pular. Se eu ainda estivesse ligado a um monitor, o pulo teria levado toda a estação de enfermeiros à minha cabeceira. De qualquer forma, eu estava feliz que a luz fraca escondia a cor no meu rosto.

Deus, eu estava nervoso. Não apenas nervoso, eu estava apavorado. Minha mão livre estava estrangulando o controle da cadeira de rodas. Minha palma abaixo do gesso estava pegajosa. Até meus dedos estavam tremendo.

A última vez que senti essa ansiedade em torno de Molly foi durante nosso primeiro encontro. Mas aqui estávamos nós de novo, no começo.

Como eu ia fazer isso? Passei a maior parte do meu dia depois que Poppy saiu pensando em nossa conversa e como eu ia fazer isso com Molly. Minha conclusão? Eu não tinha ideia do que estava fazendo. Molly pode nem me querer de volta.

Ela tinha todo o direito de me dizer para deixar para lá. Eu não tinha sido o homem que ela merecia. Não tinha sido o marido que prometi ser. Eu a deixei cair mais vezes do que conseguia lembrar.

Nenhuma dessas razões iria me impedir de tentar.

— Estava me perguntando se você queria dar um pequeno rolé ao redor do quarteirão comigo.

— Um rolé? — Perguntou ela.

— Sim. Você anda. Eu rolo. Nós rolamos.

Ela riu e ficou de pé, colocando os binóculos de lado. — Então vamos rolar.

Rolei para frente alguns centímetros, mas parei quando ela veio para trás da cadeira, empurrando-a em vez de me deixar usar os controles. — Eu sei dirigir.

— Eu não me importo. — Ela não se apressou quando descemos a rampa para a calçada. — É bom sair esta noite.

Ao longe, as risadas e gritos das crianças encheram o ar. — Parece que as crianças estão se divertindo no parque.

— Estou feliz. Eles poderiam ter alguns dias de diversão antes do início das aulas. Este verão foi ... intenso.

— Como você está? — Perguntei.

— Eu estou bem.

— Essa é a resposta real? Não aquela que você dá automaticamente. — Olhei por cima do meu ombro. Eu não era o único na Alcott que adoçava seus sentimentos. — Como você está?

— Às vezes esqueço o quão bem você me conhece.

—Melhor do que ninguém, por isso não se esquive da minha pergunta.

Ela nos fez descer cinco quadrados de cimento antes de responder. — Estou meio cansada. Eu não tenho dormido.

— Por que não?

— Por sua causa.

— Eu? — Os analgésicos me derrubavam. Combinado com a fisioterapia que eu estava fazendo e uma carga pesada de estresse mental, quando eu dormia, eu apagava. — Tenho dormido como os mortos.

— Piada de mau gosto, Finn.

Eu estremeci. — Desculpa. Mas é sério, por que eu sou a causa?

— Continuo tendo esse sonho que eu acordo e você se foi. A única maneira de eu voltar a dormir é entrar e checar você.

Foda. — Eu sinto muito.

— Não é sua culpa. Pode levar algum tempo, mas vou superar isso.

— Você quer que eu durma na sua cama? Então você não precisa se levantar e ver se estou bem?

— Não. — Ela riu. — A última coisa que precisamos é a tentação de pular em um relacionamento físico novamente.

— Querida, no caso de você não ter notado, eu não estou pulando em qualquer lugar.

Ela riu. — Verdade. Mas não. Eu vou ficar bem. Você conseguiu fazer seu layout de design hoje?

— Sim. Depois que Poppy foi embora, terminei.

— Isso é bom. Ela me disse que vocês tiveram uma boa conversa. Sobre o que foi?

— Você.

Ela diminuiu o ritmo. — Eu?

— Nós estávamos falando sobre Alcott e como as coisas costumavam ser lá. Ela disse que sempre ficou surpresa que pudemos trabalhar juntos e morar juntos.

Um sorriso lento se espalhou pelo rosto dela. Seus olhos estavam voltados para a rua enquanto caminhávamos, como se ela estivesse olhando para o passado. — Foi divertido, não foi? Nós éramos tão pobres e havia muito trabalho. Mas houve alguns dias bons.

— Alguns dos melhores. — Balancei a cabeça. — Podemos falar sobre a última carta por um minuto?

— Eu não sei se há mais nada a dizer. Como eu te disse na noite que eu peguei, acho que você era muito duro consigo mesmo. Gostaria de saber como você estava se sentindo sobre Jamie. Eu não sabia que era por isso que você estava trabalhando tanto.

— Eu não queria que vocês estivessem em uma situação ruim sem mim.

— Eu sei disso agora, e ajuda saber que você estava pensando em nós. Por muito tempo, pensei... deixa pra lá.

— Pensou o que?

— Que você ia trabalhar para me evitar e fugir.

Abaixei minha cabeça. — Você pode parar por um minuto?

— Claro. — Ela diminuiu a minha cadeira para uma parada, apertando o freio. Então ela deu a volta pela frente. — Você está bem? Alguma coisa está doendo?

— A verdade? — Estendi minha mão esquerda, esperando até que ela colocasse a dela na minha palma. Então juntei nossos dedos, virando nossas mãos e costas, amando o jeito que seus dedos magros se enrolavam entre os meus. — Eu estava evitando você.

Ela se encolheu, mas não falou.

— Não intencionalmente. Eu acho que, depois de falar com Poppy hoje, uma parte de mim estava fugindo de você. A morte de Jamie me assustou mais do que deixei transparecer. Eu corri porque estava com medo de te perder. E isso teria me matado.

— Oh. — Ela olhou para nossas mãos, deixando minhas palavras afundarem. — Eu, hum ...

— Eu deixei meus próprios medos me afastarem. Eu me isolei. E por isso, sempre vou me arrepender. — Segurei firme sua mão, não querendo que ela se afastasse. — Sinto muito, Molly.

— Eu entendo, — ela sussurrou. — Isso dói. Mas eu entendo. Isso me faz desejar que tivéssemos conversado mais.

— Eu também.

— Nenhum de nós realmente tomou essa atitude. Eu. Você. Poppy. Nós perdemos Jamie e a vida continuou. Mas nós não nos curamos. Nós enterramos nossa dor e nossos medos porque era muito difícil falar sobre isso.

— Eu fui um covarde.

— Você estava fazendo o melhor que podia. Todos nós estávamos. — Ela apertou meus dedos, então soltou nossas mãos para ir atrás da cadeira novamente. Ela me empurrou mais para baixo na calçada, até que a luz quase se foi e era hora de ir para casa.

Parecia que havia mais a dizer. Aquele pedido de desculpas não foi suficiente.

Então eu daria a ela outros, todos os dias até que o peso em meu coração fosse descarregado.

A casa apareceu e olhei por cima do meu ombro novamente. —Obrigado por todo o trabalho que você fez enquanto eu estava no hospital.

— Como eu te disse as últimas quatro vezes que você me agradeceu, não foi nada.

Porra, eu odiava essa maldita cadeira. Odiava que ela estivesse atrás de mim. Que eu não podia ficar de pé e olhá-la nos olhos para que ela soubesse o quão sincero eu era.

— Não foi nada. Isso me salvou.

Ela sorriu. —Ainda bem que você mantém todas as suas senhas escritas em uma nota na gaveta da sua escrivaninha. Eu estaria perdida sem isso. Além disso, você não deve anotar suas senhas.

— Eu vou lembrar disso para a próxima vez. — Eu ri. — Uma última pergunta antes de chegarmos em casa?

— Você está cheio de perguntas esta noite. Isso deve ter sido a conversa com Poppy.

Tinha sido. Era a conversa que precisei ter por anos. — Você se sente como se eu tivesse tirado Alcott de você? Era nossa. E depois foi só minha.

As rodas da minha cadeira diminuíram. Então parou.

Eu esperei por sua resposta, meu coração trovejando.

— Sim. — Não era mais alto do que o sopro de vento sussurrando em minha bochecha.

Abaixei minha cabeça. — Eu sinto muito.

— Eu amava aquele lugar. Eu não percebi o quanto me ressenti por você ter me afastado.

— Eu não fiz isso intencionalmente. Eu juro.

— É passado. — Ela começou a avançar novamente, o nosso ritmo lento foi-se quando ela correu para casa. — É melhor chamarmos as crianças, senão elas ficarão no parquinho a noite toda.

E com isso, a porta para o passado se fechou. Droga.

As crianças já estavam lá quando chegamos em casa. Eles estavam pulando pela sala de estar descontroladamente, animados por terem passado algum tempo com seus amigos da vizinhança. Horas se passaram antes de irem para a cama. Molly deixou-os ficar acordados até mais tarde do que o habitual, já que não havia agenda para o dia seguinte, embora eu suspeitasse que era realmente porque ela não queria falar comigo.

Já passava da meia-noite e já estava na hora em que ela me ajudava a usar o banheiro e a ir para a cama.

— Molly? — Chamei antes que ela pudesse sair do quarto.

— Estou cansada, Finn. Não aguento mais conversar esta noite.

Eu suspirei, assentindo. — OK.

Não estava bem.

Eu queria segurá-la. Para dizer a ela que ela era a mulher mais incrível que eu já conheci. Perguntar se ela achava que poderíamos ter energia para nos dar outra chance. Prometer que nunca deixaria de amá-la, que ela possuía meu coração desde o dia em que nos conhecemos.

Em vez disso, eu simplesmente disse: — Bons sonhos.


- Carta -

Molly,


É mesmo isto que você quer? Eu morando no loft do escritório? Você em casa sozinha com as crianças? Porque foi a porra real que acabou de acontecer?


Cheguei em casa sexta-feira. Nós entramos em uma briga que durou dois dias. Eu estava cansado de discutir. Estava cansado de você dizer que precisava de espaço, então arrumei uma mala para passar uma noite no escritório. Você me disse para embalar o suficiente por uma semana.


Foda-se isso. Foda-se tudo isso. Como você pode ficar bem comigo indo embora? Por uma semana? Você ao menos se importa?


Não acho que você me ama mais. Como diabos isso aconteceu? Então vou sentar aqui, sozinho no meu escritório, escrevendo outra das minhas fodidas cartas que não fazem nada, mas deixe-me tirar um pouco disso. Se eu te dissesse isso, nós apenas entraríamos em outra maldita briga.

Você me machucou. Você me machucou. Talvez eu devesse ter embalado coisas suficientes para duas semanas.

Finn


QUATORZE

MOLLY


— HOJE É O DIA. — A fisioterapeuta de Finn, Ashley, sorriu para ele. — Pronto para sair dessa cadeira?

— Mais que pronto.

Ela bateu palmas juntas. — Então vamos fazer isso.

— Vou esperar ali, — eu disse a Finn, apontando as cadeiras ao longo da parede. — Boa sorte.

Ele sorriu. — Obrigado.

Faz dez semanas desde o acidente de Finn. Alguns dias atrás, ele conseguiu um novo e mais curto gesso em seu braço, dando-lhe mobilidade do ombro até o cotovelo. Ele também removeu o gesso de sua perna. Em seu lugar havia uma bota especial para dar estabilidade a seus ossos enquanto eles terminavam de cicatrizar. Seu osso pélvico se fundiu. O dano a seus órgãos internos agora é um pesadelo distante. Ele estava se recuperando, melhor e mais rápido do que os médicos esperavam.

Por semanas, Finn estava trabalhando duro para construir a força para andar com faixas elásticas e pesos leves. Hoje era o teste. Se ele fosse bem na fisioterapia, ele se livraria da cadeira e se adaptaria às muletas.

Eu sorri quando ele se levantou da cadeira de rodas. Nas últimas duas semanas, ele começou a ficar em pé sozinho. Ele ganhou alguma liberdade da cadeira que o estava deixando louco.

Ele estava se curando.

Nós todos estávamos.

Fui até as cadeiras de couro azul e tomei meu assento habitual, a segunda a partir do final. Isso me deu a melhor visão de onde Finn e Ashley estavam trabalhando. Então peguei meu laptop da minha bolsa e comecei.

As consultas de fisioterapia de Finn tinham sido uma obrigação exigente para todos nós. Ele tinha que ter uma carona, o que me deixava em atraso. Como eu não me deixava ficar para trás no restaurante, me tornei muito boa em trabalhar com essa pequena tela empoleirada nas minhas pernas. Tudo o que tinha que ser feito no computador, eu deixava para essas sessões de duas horas. Dessa forma, quando eu voltava para o restaurante, eu poderia cobrir o espaço para Poppy.

Foi um ajuste, mas nós estávamos fazendo funcionar. As aulas tinham voltado e as crianças estavam em uma rotina normal. Estávamos achando o normal novamente, algo que eu ansiava e temia ao mesmo tempo.

Normalidade significava vida antes do acidente. À época em que Finn morava em sua casa com as crianças três ou quatro dias por semana. E eu ficava sozinha.

Eu não estava pronta para ficar sozinha novamente.

Desde que Finn havia se mudado, tinha sido fácil pensar que éramos uma família. Que minha casa abrigasse quatro, não três. Quando ele saísse, eu me acostumaria. Eu me ajustaria.

Mas eu não era a única que havia se apaixonado por essa vida.

Kali estava tão feliz em ter Finn por perto todos os dias. Ela conversava com ele mais do que ela falava comigo. Ela contava sobre seus amigos, sobre o que ela estava ansiosa para fazer em suas aulas. Ela chegou em casa uma noite na semana passada com um humor horrível. Não importa quantas vezes eu perguntasse o que estava errado, ela insistia que não era nada.

Finn perguntou uma vez. Kali Querida, o que há de errado?

A oportunidade apareceu. Aparentemente, havia uma garota em sua escola que estava brincando com Kali sobre seu corpo durante o recreio. Kali não tinha começado a desenvolver seios ainda, e essa outra garota a provocou por estar com peito liso. Todas as outras garotas estavam usando sutiãs.

Enquanto ouvia Kali contar a Finn tudo sobre isso, lutei contra a vontade de rastrear a mãe desta garota e mastigá-la de um lado e do outro. Mas eu fiquei quieta. Eu não tinha certeza do porquê de Kali não ter me contado, talvez porque Max estivesse no carro conosco. Eu sabia que minha filha teria se aberto para mim eventualmente, mas ela e Finn tinham essa conexão. Mesmo falando de sutiãs e seios e ficando mais velha, ela confiava nele completamente.

Ele não teve que forçá-la. Ele era seu confidente. Sua zona segura.

Max adorava ter Finn por perto também. Ele era tão despreocupado e jovial como sempre. Eu juro que aquele garoto tinha os músculos das bochechas mais fortes do mundo porque ele podia sorrir por horas. Mas com Finn em casa, era mais. A luz de Max estava ajustada para o farol alto.

Logo, isso terminaria.

Do outro lado da sala, Finn pegou um par de muletas de Ashley e as colocou sob seus braços. A determinação estava escrita em todo o seu rosto. Ele estava deixando a cadeira para trás hoje. Ele não precisaria da minha ajuda por muito mais tempo. Ele não podia dirigir ainda, mas isso também aconteceria em breve. Sua partida era apenas uma questão de tempo.

Nós precisávamos preparar as crianças.

Ele me lançou um sorriso quando deu um passo, depois outro. Ashley se aproximou, tocando o braço dele.

Meus olhos se estreitaram em sua mão.

Ela sempre tocava nele. Não, ela sentia ele. Isso me afetava do jeito errado desde o começo. Era íntimo demais, não da maneira como os terapeutas deveriam tocar seus pacientes. Isso me lembrou de como a líder de torcida da minha escola sempre encontrara maneiras de tocar o zagueiro do time de futebol americano.

Além disso, ela não deveria estar ajudando-o a andar? Por. Conta. Própria?

Voltei minha atenção para a tela do computador, me recusando a olhar para cima, porque sabia que a expressão no meu rosto não era bonita. Minha pele provavelmente estava ficando verde.

A risadinha irritante de Ashley atravessou a sala. Deveria ter trazido meus fones de ouvido para que eu pudesse ouvir música e bloqueá-la. Mas eu era idiota e os tinha esquecido hoje na sacola que fiz para a academia.

Embalar e desempacotar aquela bolsa tinha se tornado parte da minha rotina nessas últimas semanas. Eu estava determinada a tirar proveito de ter Finn por perto todas as manhãs. Eu poderia ir à academia antes que as crianças acordassem porque ele estava em casa, se precisassem de algo. Então eu arrumava minha bolsa todas as noites, ajustava meu despertador para quatro e adormecia. Eu acordava com o sinal sonoro e reprogramava para cinco e meia, e antes de dormir novamente, prometi que amanhã seria o dia.

Amanhã nunca foi o dia.

Mas ainda guardei aquela sacola.

Ashley riu de novo, prendendo minha atenção, e apertei meu queixo. Não foi apenas o riso dela que me irritou. Foi o jeito que ela ronronou seu nome, acrescentando um número desnecessário de ns9. E foi como ele ria de volta. Ele sempre sorria ao seu redor.

Claro que ele ria. Ela era bonita. Ela estava em forma debaixo de suas calças brancas e camiseta branca simples. Ela provavelmente chegava à academia todas as manhãs às quatro. Aposto que ela era a alegre que sorria enquanto corria ou subia uma montanha de escadas sem fim. Ela e seu rabo de cavalo marrom e elegante.

Tanto faz. Meu cabelo nunca ia ser elegante e brilhante. Eu nunca ia aumentar a motivação para ir à academia às quatro da manhã. E eu nunca ficaria bem assistindo outra mulher flertar com Finn.

— Você conseguiu! — Ashley gritou, batendo palmas e pulando para cima e para baixo. O rabo de cavalo balançou descontroladamente.

Finn acabara de atravessar a sala usando as muletas. Normalmente levava mais tempo para percorrer aquela distância, mas ele estava motivado hoje. Ele queria sair daquela cadeira e nada iria impedi-lo.

Seu sorriso era ofuscante, tão lindo que roubou meu ar. Ele sorriu para Ashley e suas bochechas coraram.

Meu coração despencou. Não. Finn e eu construímos um relacionamento tão fácil ultimamente. Era fácil fingir que o passado tinha sido perdoado. Que ele não queria encontrar uma nova mulher para sua vida, porque eu era aquela mulher.

Mas aqui estávamos nós. Tive a sensação de que ficaria presa a Ashley.

Ele passaria por essa fisioterapia e começaria a dirigir por conta própria. Aposto que depois de alguns compromissos em que sua ex-mulher não estivesse na sala, ele a convidava para jantar fora.

Eu ia ficar presa com aquele rabo de cavalo como a nova namorada de Finn.

A felicidade que senti por Finn segundos atrás desapareceu. Porque se não fosse Ashley, seria outra pessoa. Concentrei-me no meu laptop por alguns instantes, fazendo uma pausa no futuro casal.

— Obrigado. — A voz profunda de Finn não era nada mais do que um sussurro, mas atravessou a sala. Quase parecia que era para mim, não para ela. Olhei para cima bem a tempo de ver Ashley correndo para o lado dele e tocando seu ombro.

— Estou tão orgulhosa de você. — Sua mão viajou para cima e para baixo de seu braço.

Eu estava esperando que ele a derrubasse com outro sorriso sexy. Mas em vez de olhar para ela, ele se virou para mim.

Eu tenho o sorriso.

— Obrigado, — ele murmurou.

Um único aceno de cabeça foi tudo que consegui dar como resposta.

— Então, hum ... — Ashley murmurou. — Vamos voltar para o outro lado. Vamos fazer alguns alongamentos e ver como sua pélvis está reagindo.

Pélvis. Ela estava sempre dizendo pélvis. Ela sempre tocou o quadril dele quando ela falava.

Eu odiava que Finn não parecia se importar.

Eu me concentrei no trabalho, fazendo o meu melhor para bloquear suas risadinhas. Mas sempre que eu olhava do meu computador, Finn parecia estar olhando em minha direção.

Ele provavelmente queria que eu desaparecesse, fosse tomar café ou algo assim. Talvez ele estivesse esperando por um momento sozinho para convidá-la para sair.

Incapaz de me concentrar nas projeções financeiras em que estive trabalhando durante toda a semana, fechei meu laptop e o guardei na bolsa. Então saí da sala, caminhando pelo longo corredor que levava para fora do consultório de fisioterapia.

Mandei a Finn uma mensagem de que estava do lado de fora antes de vagar pela calçada, o sol quente nos meus ombros. Encontrei um pequeno jardim em frente ao prédio, cercado por uma grossa borda de cimento.

O jardim estava em paz. Todas as plantas circulavam uma pequena fonte de pedra. Os vários tons das folhas e flores faziam uma espiral que explodia de cor. Sentei-me na borda, hipnotizada pelo redemoinho de amarelos desaparecendo em laranjas e depois em vermelhos. Flores brancas em videiras esmeraldas enroladas na borda.

Foi uma nova descoberta em uma cidade antiga que estava mudando a cada minuto.

Bozeman não era a pitoresca cidade de Montana que fora quando eu era criança. Era agora uma das cidades que mais crescem no país.

O nascer do sol sobre as montanhas era lindo demais. Os exuberantes campos verdes do vale eram de tirar o fôlego. Os invernos, quando as árvores estavam cobertas de neve que cintilavam sob o sol, eram muito majestosas.

Todo mundo queria morar aqui.

Exceto eu.

Se não fosse pelas crianças, eu teria pensado em me mudar depois do divórcio. Mas eu não queria tirá-los de perto do Finn. Não havia como ele se afastar de Alcott.

O crescimento de Bozeman foi parte da razão pela qual Alcott teve tanto sucesso. Nos primeiros anos, quando Bozeman estava se expandindo mais rápido do que os trabalhadores podiam manter, seus serviços estavam em alta demanda. Ele poderia ter trabalhado vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana e ainda não teria sido suficiente para continuar.

Talvez por isso eu tenha me ressentido tanto com o crescimento de Bozeman. Não apenas porque a cidade que eu amava quando criança tinha ido embora para sempre, mas porque esse crescimento tinha desempenhado um papel em rasgar meu casamento em pedaços.

— Ei.

Eu pulei ao ouvir a voz de Finn. — Oh, ei. Não ouvi você sair.

— Está bem. Você está bem?

Balancei a cabeça e pulei da borda. — Só pensando.

— Sobre?

— Bozeman. Nada disso estava aqui quando eu era criança. — Acenei para o novo prédio do outro lado da rua de uma nova subdivisão e um novo parque comunitário.

— Você sabia que eu fiz isso? — Ele apontou para o jardim onde eu estava sentada.

— Você fez?

— Sim. Dois ou três anos atrás. Não me lembro. Os anos estão se confundindo.

— É impressionante. — Talvez por isso eu consegui me desligar do mundo tão rapidamente e realmente pensar em uma mudança. O trabalho de Finn criou serenidade.

Dei uma última olhada no jardim e depois me virei para Finn.

Finn, de muletas.

— Não mais cadeira?

Ele sorriu. — Não. Ashley vai cuidar de devolvê-la ao hospital. Eu uso as muletas por algumas semanas e depois veremos se podemos nos livrar delas e da bota.

— Estou feliz. Eu sei que você estava louco com a cadeira.

— A única coisa que vou sentir falta são os nossos rolés.

— Eu também. — Eu sorri. — Pronto para ir?

— Vá na frente.

Nós caminhamos lentamente de volta para a van. Sem a cadeira de rodas, Finn podia sentar na frente, e era tão bom não me sentir como sua motorista.

— Então, Ashley estava muito animada hoje. — Olhei para Finn no banco do passageiro para avaliar sua reação ao seu nome. Não havia muito, nenhum sorriso tímido ou brilho em seus olhos.

— Ela acha que vou me recuperar completamente. Ela tem hesitado em dizer qualquer coisa, mas ela me disse isso hoje. Até meu tornozelo.

— Mesmo? Isso é ótimo.

Os médicos estavam preocupados que a perna de Finn não se curasse corretamente devido à gravidade do acidente. Eles também alertaram que ele poderia ter problemas ao longo da vida com o joelho. Eles sabiam que ele seria capaz de andar de novo, mas eles estavam preocupados que ele fosse mancar. Ele não tinha dito nada para mim, mas eu sabia que Finn estava preocupado que isso pudesse impactar seu trabalho e sua capacidade de fazer caminhadas.

Seu alívio era palpável nos limites da van.

— Você sabe a primeira coisa que eu vou fazer quando esta bota e gesso sair?

— Tomar um banho sem o filme plástico?

— Espertinha. — Ele riu. — Vou levar você e as crianças para Fairy Lake10.

Foi uma caminhada fácil. Não é realmente uma caminhada a não ser descer escadas feitas de ferrovias. Mas o Fairy Lake era um ponto de piquenique normal para nós quando as crianças eram pequenas.

Foi quando Finn não trabalhava todo fim de semana.

Quando nós éramos uma família e agíamos como uma também.

— Finn. — Suspirei, minhas preocupações de mais cedo atormentando minha mente novamente. — Precisamos começar a preparar as crianças.

— Para quê?

Meu aperto aumentou no volante. — Quando você for para casa.

— Oh. — Ele se virou para olhar pela janela. — Certo. OK.

Nós dirigimos o resto do caminho para casa em silêncio. Quando entramos na garagem, Finn saiu sem precisar de ajuda. Mas antes de fechar a porta, ele fez uma pausa. — Você quer manter a van por mais tempo?

— Não. — Eu estava pronta para dirigir meu Jeep.

— Eu vou pedir a alguém que venha buscá-la.

— Está certo.

Ele bateu a porta e caminhou até a casa, usando suas muletas como se ele as usasse por dias, não menos de uma hora. Quando a porta da frente se fechou atrás dele, deixei cair a minha testa no volante.

Porque ele estava bravo? Ele tinha que saber que isso ia acontecer.

Eu tirei um elástico de cabelo do meu pulso. Eu fui puxar meu cabelo para cima, amarrando-o em torno dos cachos, mas arrebentou.

— Droga.

Outro elástico de cabelo quebrado. Meu coração acelerou. Meus ombros caíram.

É só um elástico de cabelo, Molly.

Talvez meus elásticos de cabelo quebrados não fossem um mau presságio. Talvez isso tenha sido uma coisa boa. A última vez que quebrou eu estava no hospital e recebemos boas notícias naquele dia. Finn estava vivo.

Puxei meu elástico de reserva do meu pulso, feliz quando ela se manteve forte. Quando meus cachos foram fixados em uma confusão no topo da minha cabeça, peguei tudo o que era meu da van.

Não havia muito. Minha bolsa e uma garrafa de água. Max tinha deixado uma embalagem de barra de chocolate no chão ao lado de onde a cadeira de Finn estava. Peguei as chaves e saí. Com minha bolsa pendurada no ombro, fui até a caixa de correio.

Estava vazia, exceto por uma carta não carimbada.

Droga. Hoje não.

As cartas pararam enquanto Finn estava no hospital. Quem quer que as estivesse enviando tinha que saber que não estávamos preparados para lidar com elas durante aquelas semanas. Eu ainda não estava, mas não tive escolha.

Não havia energia para uma carta hoje. E aquele elástico de cabelo arrebentado era um sinal de que essa não seria uma maravilha para mim.

Abri a carta com cautela, olhando ao redor da rua para me certificar de que estava sozinha, depois li as palavras de Finn.

Suas palavras irritadas e amargas.

Você me machucou. Você me machucou. Talvez eu devesse ter embalado coisas suficientes por duas semanas.

Minha mão subiu para o meu peito, esfregando a dor atrás do meu esterno enquanto eu lia aquelas palavras rabiscadas antes de seu nome.

No final, ele deveria ter embalado o suficiente para sempre. Finn não voltou para casa depois disso.

Olhei para a página, chocada com a gravidade dela. A dureza. As cartas antes tinham sido dolorosas. Elas machucaram.

Esta foi a primeira em que fiquei com raiva.

Como se atreve a dizer que eu o feri? Ele me quebrou. Ele me quebrou em pedaços no dia em que saiu pela nossa porta com suas roupas.

Foda-se ele. Finn não poderia ter escrito esta carta. Ele não tinha o direito de enviar suas palavras para o universo de maneira que não me deu nenhuma chance de me defender. Ele certamente não chegou a dizer que isso era culpa minha.

Entrei em casa, jogando minha bolsa no chão enquanto fui em busca de Finn. Eu o encontrei no sofá, com o laptop aberto e pronto.

— Você vai trabalhar agora? — Ele perguntou.

— Não. — Joguei a carta para ele. O envelope deslizou. O papel flutuou para o assento.

— Por que – oh.

Cruzei os braços sobre o peito arfando, esperando que ele lesse as palavras. Ele teve a decência de parecer apologético depois que chegou ao fim.

— Porra, Molly. — Ele baixou a cabeça e colocou a carta de lado. — Eu sinto muito. Eu estava com raiva.

— Eu também! — Gritei. A tampa do meu temperamento soprava como um foguete, atravessando diretamente o teto e entrando no espaço sideral. — Você não tem o direito de culpar a mim.

— Foi há muito tempo.

— Isso não é desculpa —falei. — Aquele dia não foi minha culpa.

— Eu não quis dizer isso. — Finn bufou e pegou uma muleta apoiada ao lado dele no sofá para ajudá-lo a se levantar. Então ele colocou debaixo do braço para usá-la para equilibrar seu lado ruim. — Podemos falar sobre isso sem gritar?

— Não.

— Molly ...

Eu levantei minha mão, silenciando seu protesto. — Você se lembra porque estávamos brigando?

— Kali comeu essas gotas de chocolate e adoeceu enquanto você estava fora.

— Sim, eu estava fora. Estava cuidando da casa e do gramado. Eu estava ocupada preparando jantares que você perdeu.

— Foram apenas alguns jantares.

— Alguns? Você perdeu o jantar dez noites seguidas. Dez — cuspi. — E no mês anterior àqueles dez, você foi fazer visita ou errou metade do tempo. Você estava muito ocupado levando Bridget para jantar porque precisava alcançá-la em alguns projetos.

— Mesmo quando você chegava em casa, seu laptop estava ligado constantemente. Eu me acostumei a adormecer ao som dele trabalhando na cama enquanto eu estava enrolada ao meu lado. Sozinha.

Eu disse a ele tudo isso. Eu gritei e gritei, esperando que ele ouvisse. Que por uma vez, ele colocasse sua esposa antes de seu trabalho. Em vez disso, ele me disse que eu não o estava apoiando. Ele estava fazendo isso por nós, afinal. Construindo um legado.

Três dias. Sexta-feira. Sábado. Domingo. Nós brigamos por três dias, mal conseguindo olhar um para o outro. Finalmente, eu disse a ele que talvez precisássemos fazer uma pausa. Nosso argumento foi dar voltas. A cada poucas horas, voltávamos para o começo e começamos tudo de novo.

Ele saiu.

Coloquei um sorriso no rosto para as crianças.

E naquela noite, chorei até estar tão exausta que acabei desmaiando.

Minha raiva aumentou uma última vez antes de se transformar em dor. Pisquei rapidamente, não me deixando chorar. Mas senti as lágrimas queimarem. Elas eram as lágrimas frustradas e incontroláveis de uma mulher de coração partido que eu fui todos aqueles anos atrás.

— Sinto muito, — Finn sussurrou. Ele pegou meu braço, mas eu dei um passo para longe.

— Por que você escreveria isso? — Minha voz tremeu.

— Eu estava tão bravo.

— Como você pode estar com raiva de mim? Eu só queria você em casa para o jantar.

— Não foi você. — Ele balançou a cabeça. — Eu estava com raiva. Eu não sabia disso na época, mas estava com raiva de mim mesmo. Era mais fácil descontar em você do que admitir que eu era o problema. Que você estava certa o tempo todo.

— Eu o quê?

Ele se aproximou, liderando com a perna boa. — Você estava certa.

Eu bati a mão sobre a minha boca, segurando em um grito. Essas palavras eram muito bem-vindas. E muito, muito tarde. Minha mão caiu, meu queixo caiu. — Eu não quero mais essas cartas.

— Sinto muito. — Finn se aproximou.

No momento em que sua mão tocou meu braço, perdi o controle. Depois de semanas fazendo tudo para todos, de me esticar ao máximo para manter ele e as crianças juntos, eu quebrei.

As lágrimas vieram. Os soluços escaparam. Meus ombros tremiam.

Eu quebrei.

Mas pela primeira vez em mais de seis anos, eu não estava sozinha. Finn me envolveu em seus braços e eu chorei. Pela primeira vez em anos, compartilhei minhas lágrimas com outra pessoa.

E quando eu estava chorando, deixei Finn me abraçar.

— Por favor, Molly. Estou te implorando. Não as leia. Por favor, pare de lê-las.

Eu endureci. — Quantas mais existem?

— Prometa que você não vai ler.

Eu o empurrei e olhei em seus olhos. — Elas são como esta?

Ele não respondeu. Ele não precisava. O remorso em seu olhar me disse tudo o que eu precisava saber.

Elas não eram como esta carta.

Elas eram piores.


QUINZE

FINN


— VOCÊ ESTÁ INDO TÃO BEM. — Ashley aplaudiu. — Estou tão impressionada.

— Obrigado, Ashley. — Eu sorri para ela, em seguida, terminei o exercício de bíceps que eu estava fazendo com uma faixa de elástico.

O nome do nosso jogo no momento era Muscle Mass. Meu braço direito parecia um macarrão mole comparado ao meu esquerdo. Minhas pernas tinham diminuído e minhas coxas não preenchiam mais meus jeans. Em vez disso, eles cobriam minhas pernas, cobrindo os palitos que haviam se tornado minhas panturrilhas, então eu estava trabalhando duro para reconstruir os músculos que perdi após o acidente.

Nunca fui vaidoso sobre o meu corpo. Eu não era um rato de academia ou obsessivo com a minha dieta. Eu tinha um trabalho físico e adorava fazer caminhadas nas montanhas, as quais me mantinham em forma. Mas depois de meses de estar preso em uma cama ou cadeira, não estava feliz com o reflexo no espelho. Eu parecia um feijão de corda.

Quando Ashley me deu o sinal verde para começar a aumentar, mergulhei na proteína e me joguei nessas sessões. Meus braços estavam ficando mais fortes. Então foram minhas pernas. Eu até comecei a recuperar alguma definição no meu abdômen.

Não perdi o quanto Molly amava minha barriga lisa. Suas unhas sempre permaneceram nas depressões do meu abdômen de tanquinho. Se eu tivesse a chance de levá-la para a cama, para ganhar sua confiança e coração mais uma vez, eu queria todo o vigor que tive uma vez para dar a ela o máximo de prazer.

— Feito. — Respirei pesadamente depois de terminar a última série. — Qual é o próximo?

Ashley sorriu. — Eu acho que é isso por hoje. Não exagere.

— Eu não quero recuar.

— Você está indo muito bem, Finn. Isso foi muito por hoje. — Sua mão descansou no meu ombro. — Embora, se você quiser sair comigo, você é meu último paciente do dia. Eu estava pensando em ir ao centro e tomar uma bebida depois do trabalho.

— Uh ... — Uma onda de pânico atingiu enquanto eu escolhia o que dizer. Ashley foi legal. Ela era linda e as dicas que ela estava dando não tinham sido perdidas. Mas eu esperava que ela tivesse percebido que eu só tinha olhos para Molly. Além disso, não havia alguma regra sobre não namorar pacientes? Eu não tinha certeza de como isso funcionava para fisioterapeutas.

— Desculpe, — uma voz chamou atrás de mim. — Ele já tem um encontro.

Minha cabeça girou quando Cole se aproximou. Ele tinha tirado a tarde e me trouxe aqui hoje porque Molly e Poppy estavam ambas ocupadas no restaurante. Planejei comprar-lhe uma cerveja por me levar aqui. Agora eu compraria duas para ele por vir em meu socorro.

— Que chatice. — Ashley fez beicinho. — Talvez outra hora.

— Eu não penso assim, — eu disse a ela, vendo sua cabeça baixar. — Desculpe, Ashley.

Ela encolheu os ombros e colocou um sorriso falso. — Tá legal. Até a próxima sessão.

— Tudo pronto? — Cole perguntou.

— Tudo pronto. — Balancei a cabeça, então olhei para Ashley. —Obrigado novamente.

— Tchau, Finn.

Peguei minha muleta e segui Cole para fora da porta. Decidi na semana passada, depois de dois dias lidando com as duas muletas, que era mais uma encheção de saco do que outra coisa. Eu tinha dado a Max uma muleta que ele estava fingindo ser uma arma laser.

— Obrigado por isso, — eu disse quando saímos.

Cole riu. — Você estava branco como um lençol. Suponho que não há interesse em namorar Ashley.

— Nenhum. — Meu coração já estava tomado.

Nós entramos em sua caminhonete sem muito atraso, então ele ligou e abaixou nossas janelas. Outono em Montana era uma temporada curta, quente durante o dia e fresco à noite. Em breve, estaríamos lidando com neve e gelo, mas, por enquanto, não havia uma maneira melhor de viajar pela cidade do que com as janelas abertas.

Este tempo sempre me fez ansiar pelo ar livre. Eu adorava trabalhar no campo nessa época do ano. Normalmente, eu ajustava minha agenda para poder sair com as equipes, plantando árvores ou colocando areia. Havia algo sobre trabalhar com o sol quente nas minhas costas, o suor escorrendo pelo meu corpo, que me fazia sentir em paz. Me fazia sentir como se eu estivesse onde eu precisava estar.

— Porra, eu quero voltar ao trabalho.

Cole riu. — Logo, logo. O que os médicos disseram?

— Uma semana ou duas mais com a muleta e a bota, posso dirigir de novo. Se a fisioterapia continuar bem, devo ser capaz de trabalhar no final do mês.

O trabalho estaria diminuindo até então, mas qualquer coisa era melhor que nada.

— Boa notícia. Você ainda quer tomar uma cerveja?

— Certamente.

Cole e eu tentamos nos encontrar para cervejas uma vez por mês. No outono, passamos nossos sábados assistindo jogos de futebol do estado de Montana juntos. Desde que ele entrou na vida de Poppy, nós dois nos tornamos amigos rapidamente.

Além de Poppy, eu o considerava meu melhor amigo. Ele era tão sólido, tão equilibrado. Sempre que eu precisava de conselhos, sobre uma namorada ou um problema no trabalho, Cole estava lá.

Talvez se eu o conhecesse quando Molly e eu estivéssemos passando pelo nosso divórcio, ele poderia ter me salvado de mim mesmo. Ele poderia ter colocado algum juízo em mim quando eu comecei a afastar Molly.

Nós dirigimos para o centro, procurando por um lugar raro para estacionar. Os jovens da faculdade estavam de volta à cidade e Bozeman estava agitada. Depois de algumas voltas ao redor do quarteirão, encontramos um lugar e nos dirigimos para nosso bar favorito. Cole e eu nos sentamos em um banco ao ar livre e pedimos, e a garçonete trouxe uma cerveja local logo em seguida.

— Eu sinto falta da cerveja. — Suspirei depois daquele primeiro gole. — Molly só tem vinho. — Ela costumava manter cerveja na casa. Quando eu morava lá.

— Como vão vocês dois? Aposto que não é fácil morar com sua ex-esposa. Prontos para matar um ao outro?

— Não, na verdade, está indo bem. Eu, uh ... — Tomei outro gole, não sei exatamente como dizer isso. — Eu vou tentar reconquistá-la.

O copo de Cole, que estava a meio caminho de sua boca, congelou no ar. — Reconquistá-la?

— Eu a amo. Sempre amei. Sempre vou amar.

Ele colocou seu copo na mesa, me estudando por alguns longos momentos. Como detetive do Departamento de Polícia de Bozeman, seu olhar era sempre enervante. Era como se ele pudesse olhar direto na minha mente e arrancar meus pensamentos.

Era estranho que Poppy não tivesse contado sobre a nossa conversa e seu conselho para arruinar a minha vida atual. Talvez ela não achasse que eu iria passar por isso. Talvez ela não acreditasse que eu venceria.

Finalmente, depois que comecei a suar sob o escrutínio de Cole, ele pegou sua cerveja e tomou um gole. — Qual é o seu plano?

A tensão deixou meus ombros. — Ir devagar. Tentar esquecer todas as merdas do passado e começar de novo. O que seria mais fácil se essas malditas cartas parassem.

— Esquecer, huh? Você não acha que vocês precisam tirar essa história a limpo?

Eu balancei a cabeça. — Nada de bom virá se nós desenterrarmos velhos esqueletos. Quero dizer, nós meio que já fizemos. Essas cartas nos forçaram a falar sobre algumas coisas que deveríamos ter conversado quando nos casamos. Mas acredite, as outras coisas, melhor é esquecer.

Eu poderia superar o fato de Molly ter um caso de uma noite se eu simplesmente não pensasse sobre isso. Não havia razão para falar sobre isso. Nenhuma razão para nós dois passarmos por isso novamente e revivê-lo.

Esquecer era melhor. E ela prometeu não ler mais nenhuma carta, eu não tive que me preocupar com isso.

— Falando de cartas, vocês já descobriram quem as está deixando? — Cole perguntou.

— Nenhuma maldita pista. Passei tanto tempo pensando em quem poderia encontrá-las que estou mais confuso do que nunca. Honestamente, ainda acho que é Poppy ou minha mãe.

— Poppy nunca mentiria para você. Não é ela, — ele disse, pulando para defender sua esposa. — Você realmente acha que sua mãe faria isso?

— Não. — Admiti. — Eu não consigo pensar em ninguém que se importe. Ou quem teve acesso ao meu armário?

— E quanto a Brenna?

— Brenna?

Cole encolheu os ombros. — Você namorou por um ano. Acho que ela passou muito tempo no seu quarto.

Não, ela não passou, e foi por isso que nos separamos.

Mas ela esteve no meu quarto. Poderia Brenna ter encontrado as cartas? — Por que ela iria enviá-las?

— Talvez ela tenha sido ameaçada por Molly. Talvez ela tenha pensado que seria uma maneira de jogar Molly contra você. Quero dizer, você disse que vocês tiveram algumas brigas por causa das cartas.

— Então, por que deixá-las em vez de carimbar e enviá-las? Por que ela deixaria as boas cartas? Acredite em mim quando digo que se ela quisesse que Molly me odiasse, tudo o que ela precisava fazer era enviar algumas.

Como as que Molly ainda não tinha lido.

— Eu só estou descartando hipóteses. — Cole encolheu os ombros. — Às vezes, quando estamos presos em um caso, descartamos hipóteses aleatórias para eliminá-las. Isso ajuda a ampliar nosso foco.

— Bem, eu acho que isso realmente não importa de qualquer maneira. Pelo que me lembro, restam apenas algumas cartas e Molly prometeu não abri-las.

— Mesmo? Por quê?

— Porque eu pedi a ela que não fizesse. As cartas ... elas não são boas. Eu as escrevi quando estava chateado e magoado. Elas não mostram como eu realmente me sinto.

— Hmm. — Cole tomou outro gole de sua de cerveja. — Você realmente acha que vocês vão voltar?

— Ela é o amor da minha vida. O acidente ... foi uma grande surpresa. Tudo o que eu conseguia pensar quando estava naquela cama de hospital era como eu queria ir para casa. E casa não era minha casa. Era com ela e as crianças. Ela é a melhor coisa que já aconteceu comigo e eu estraguei tudo.

— Eu te desejo sorte. Não acho que vai ser fácil, mas eu estou torcendo para vocês.

— Obrigado. — Tomei outro gole. Foi bom admitir para Cole que eu queria Molly de volta. Foi bom saber que tinha o apoio dele, mas também não queria me azarar. Molly e eu nem conversamos sobre reconciliação.

Ela pode rir. Ela poderia me dizer que ela estava mais feliz divorciada do que quando era casada.

— Eu preciso trocar uma ideia com você. — Cole apoiou os antebraços na mesa, inclinando-se mais perto. — Eu quero levar Poppy para a Itália. Estou pensando em maio porque ela odeia esse mês. Pensei que poderia ser algo divertido para variar. E se eu puder fazer isso, gostaria que a viagem fosse uma surpresa.

— Oh. — Balancei minha cabeça. — Minha irmã não gosta de surpresas.

Cole riu. — Ela vai gostar dessa aqui. Encontrei esta vila fora de Roma para nós dois ficarmos uma semana. Eles têm uma piscina e um spa. Eles têm um chef no local que faz aulas particulares de culinária. São as férias de sonho que ela nem sabe que quer ainda.

— Parece maravilhoso. O que você precisa de mim?

Cole lançou seu plano para fazer uma surpresa, desde a reserva das passagens no meu cartão de crédito até a providência para que seus pais e os meus vigiassem as crianças. Quanto mais ele falava, mais eu ficava animado para a viagem e nem ia. E Cole estava certo, Poppy adoraria essa viagem.

Nós terminamos nossas cervejas e voltamos para a caminhonete de Cole.

— Casa ou Alcott? — Ele perguntou.

— Lar. — Por mais trabalho que houvesse para fazer, eu não queria estar no escritório. Queria estar do lado de fora, e o deque com vista para o quintal de Molly estava se tornando o meu lugar favorito para descansar e trabalhar no laptop.

No começo da semana, Bridget veio me buscar. Ela me levou para todo o lado para que eu pudesse checar meus projetos, assim como os dela. A maioria estava em um bom ponto, embora estivessem uma ou duas semanas de atraso. Mas como não podia entrar e ajudar a plantar árvores, não havia muito que eu pudesse fazer além do trabalho de escritório, o que eu poderia fazer em casa.

— Agradeço você me levar hoje, — eu disse a Cole enquanto ele estacionava na garagem.

— Sem problemas.

Abri a porta e levantei minha muleta, mas parei antes de sair. — Poppy vai amar a surpresa. E acho que maio é um bom momento. Isso fará com que ela sorria.

— Não há nada que eu não faça para fazer minha esposa feliz. — Mesmo gastando uma boa parte do meu salário para levá-la para a Itália em maio, esperando que tornaria o mês mais fácil de suportar.

Cole Goodman foi uma dádiva de Deus. Ele amava Poppy incondicionalmente. Ele trouxe muita luz para a vida dela, era difícil até lembrar dos dias sombrios.

Eu queria isso para Molly. Ela merecia ter o homem dos seus sonhos, um parceiro que a apoiava e cujo propósito na vida era fazê-la feliz. Eu não tinha sido esse homem.

Eu falhei com ela.

Eu não falharia com ela novamente.

Dando adeus a Cole, fui até a casa e parei na porta da frente. As luzes estavam acesas na cozinha, mas eu as desliguei quando saí.

Molly? Chamei sem resposta.

Eu andei pelo corredor, verificando a cozinha e depois o quarto dela. Além das luzes, não havia sinal dela. Ela poderia estar na casa de Gavin? Fui até a garagem, encontrando seu Jeep estacionado lá dentro, então enfiei a cabeça do lado de fora da porta que levava ao quintal.

E lá estava ela.

Seu cabelo estava empilhado em uma enorme confusão. Um par de cachos soltos estava aparecendo, tentando escapar. Molly estava de joelhos ao lado de uma cama de flores, arrancando ervas daninhas com uma fúria desenfreada. Sujeira voou. Folhas desfiadas. Ela empilhou montes em vários pontos ao longo da borda do quintal.

Eu me inclinei contra o batente da porta, observando-a trabalhar. Devido ao acidente, eu não tinha tido tempo ou habilidade para terminar as mudanças aqui, embora não houvesse muito a fazer. Alguns contornos precisavam ser ajustados e as camas preparadas com o bloco de ervas daninhas antes de colocar um adubo novo. Era fácil eu pegar uma equipe para terminar. Mas enquanto eu tinha dado a eles a poda da grama, eu não queria entregar este quintal.

Era meu quintal. Nosso lugar. Eu queria terminar. E eu queria plantar o arbusto lilás de Molly.

— Você pouco — Molly grunhiu, sua mão enrolada em um teimoso dente de leão, puxando com toda a força. Mas a erva não se mexeu. Em vez disso, a mão dela escorregou e ela caiu de bunda. —Desgraçado.

Eu ri, alto o suficiente para que ela girasse, segurando seu coração.

— Você me assustou. — Ela franziu o cenho.

— Desculpe. — Sorri e cruzei o quintal. Então joguei minha muleta de lado e me encostei na grama ao lado dela. O dente de leão que ela estava tentando puxar era enorme. Suas folhas foram arrancadas e o caule exposto, mas quebrou uma polegada acima do solo, o que significa que estaria de volta.

Eu me estiquei passando por Molly e peguei a colher de pedreiro na terra. Com uma pontada dura, senti a raiz se romper abaixo da superfície. Puxei para fora pelo toco e joguei em sua pilha. — Aí está.

Ela revirou os olhos. — É mais gratificante se você usar suas mãos.

— Há muitas coisas mais satisfatórias quando você usa suas mãos.

— Oh meu Deus. — Ela cutucou meu ombro, suas bochechas corando. — Você é tão adolescente.

—Eu não pude resistir. Isso foi muito fácil.

Ela riu, limpando uma gota de suor da testa com as costas da mão. — Como foi a fisioterapia com Ashley?

— Ashley, — imitei. — Se eu não soubesse melhor, eu pensaria que você estava com ciúmes.

— Eu não estou com ciúmes, — ela murmurou, suas mãos agarrando outra erva daninha e arrancando-a do chão. — Mas acho que ela está testando os limites do profissionalismo.

Abri minha boca para dizer a ela que Ashley tinha me convidado para sair hoje, mas decidi que era melhor manter isso para mim. Sua labareda de ciúmes foi o suficiente para me fazer sorrir, porque Molly não ficaria com ciúmes se não houvesse algo entre nós.

— Eu não quero Ashley, — eu disse a ela.

— Oh. Tanto faz. Não é da minha conta.

Eu não perdi o pequeno sorriso puxando sua boca flexível.

Colocando mais de um pé, comecei em outro remendo de ervas daninhas, aumentando a pilha de Molly.

— Eu deixei sair do controle de novo isso aqui. — Ela balançou a cabeça, repreendendo a si mesma.

— Você estava ocupada.

— Eu sei. Mas eu odeio ervas daninhas.

— Eu posso te colocar na rotação com a equipe de flores. — Eu tinha uma equipe unicamente responsável por flores. Eles viajavam pelo vale, cuidando dos canteiros de flores e vasos de flores dos clientes, de modo que nunca havia necessidade de capinar ou aparar. Era um serviço de elite, principalmente solicitado pelos meus clientes mais ricos.

— Não, mas obrigada, — ela disse. — Eu não me importo. Quando não está tão grande, é na verdade uma espécie de alívio para o estresse.

— Você chegou em casa cedo hoje. Achei que você estaria no restaurante até as seis.

— Eu também. Mas tivemos pouco movimento. Acontece quando o tempo fica assim. As pessoas ficam curtindo o sol enquanto podem. Poppy e eu jogamos uma moeda para quem tinha que ficar e trabalhar. Eu venci.

Continuamos a limpar o canteiro até chegarmos ao fim. Minha mão boa estava suja, minhas cutículas manchadas de marrom. — Porra, mas eu senti falta de sujeira.

Molly riu e se aproximou, tirando as luvas. Seus dedos estavam muito mais limpos, mas seu rosto tinha algumas manchas. — É estranho ver suas mãos limpas. Elas simplesmente não parecem certas, a menos que haja alguma sujeira sob suas unhas.

— E eu sempre achei você sexy quando você fica um pouco bagunçada. — Eu trouxe a minha mão para o rosto dela, usando o polegar para esfregar uma camada de sujeira de sua bochecha.

Nossos olhos ficaram presos. O dela ficou mais escuro. Uma onda de cor se espalhou pelo seu rosto enquanto eu deixei minha mão deslizar por sua bochecha, as pontas dos meus dedos deslizando para cima e sobre a concha de sua orelha.

— Você é linda.

Sua respiração engatou e seus lábios se separaram.

O calor do sol foi substituído pelo calor escaldante entre nós. Eu me inclinei, deixando-a se aproximar.

Molly não se inclinou para trás. Ela ficou lá de joelhos, as mãos ao lado do corpo enquanto eu roçava meus lábios nos dela. — Finn — ela sussurrou.

— Molly.

— O que você está fazendo? — Sua respiração acariciou minha boca.

— Beijando você.

Ela ficou imóvel enquanto eu repetia o movimento, desta vez deixando minha língua sair e traçar a costura de seus lábios. Ela tinha gosto de hortelã e sol. Ela cheirava a céu e terra.

— Beije-me — eu pedi.

— Eu não....

— Me beija. Beije-me como eu sei que você quer.

Ela soltou um pequeno gemido de protesto.

Porra. Eu pressionei muito. Eu estava certo de que ela se afastaria a qualquer segundo, mas então seus braços levantaram, hesitantemente dando voltas ao redor dos meus ombros. Seu peito pressionou o meu.

Foi todo o consentimento que eu precisava.

Esmaguei meus lábios nos dela, deslizando minha língua pelos dentes dela. Passei meu braço em torno de suas costas, puxando-a com força enquanto mergulhava na doçura de seus lábios.

Uma onda de sangue pulsou no meu pau. A contração familiar foi tão bem-vinda. Graças a Deus, ainda funciona. Eu não tinha perguntado aos médicos se o sexo seria normal. Eu não me importei. Eu me prejudicaria todos os dias da semana se isso significasse mais uma chance com Molly.

Eu me aproximei, querendo pressionar minha excitação em sua barriga, mas minha bota pegou no gramado quando eu mudei e enviou uma picada aguda na minha perna.

— Ah. — Eu estremeci, afastando-me da boca de Molly.

— O que? — Ela estava longe de mim em um flash, seus olhos me examinando da cabeça aos pés. — O que aconteceu?

— Nada. — Acenei de volta em meus braços, mas ela já tinha ido embora.

Ela se levantou, tirando os cabelos soltos do rosto, depois passou a mão sobre a boca.

Tão perto. Eu abaixei minha cabeça, tomando algumas respirações para manter meu pau sob controle. Silenciosamente amaldiçoei a bota.

— Eu acho que você precisa ir para casa.

— O quê? — Meus olhos chicotearam para Molly. Casa? Eu estava em casa. — O que você quer dizer?

— Eu acho que você precisa ir para casa. É muito confuso. — Seus braços estavam fechados em torno de si. Ela deu outro passo para longe.

Usei o meu lado bom para ficar de pé, com cuidado para evitar muito peso na minha perna ruim. — Não há nada de confuso nisso, Molly. Estou aqui. Eu quero estar aqui. E não apenas até eu poder dirigir ou até estar completamente móvel. Eu quero estar aqui. Com você.

Sua boca se abriu um pouco, seu lábio inferior ainda inchado do nosso beijo.

Tomei seu choque momentâneo e me aproximei. — E se nós levarmos isso devagar? Eu vou te cortejar. Você pode me lembrar de todos aqueles rituais antiquados que você tanto ama.

— Finn...

— Pense nisso. Não responda agora. Eu vou entrar e tomar banho. Um banho frio. Então podemos jantar juntos quando as crianças chegarem em casa. Nós podemos assistir a um filme e se você quiser, você pode segurar minha mão. Então amanhã, vamos fazer de novo. Até o dia em que você perceber que estou aqui. Eu quero estar aqui. Com você.

Molly estudou meu rosto, seus olhos se estreitando como se ela não acreditasse em uma palavra que eu disse. — Há muita história entre nós.

— Então nós esquecemos disso. Apague-o completamente. Começamos com uma lousa em branco.

— Esquecer isso? — Um flash de irritação cruzou seu rosto. — Eu não posso esquecer. Eu não vou esquecer.

Antes que eu pudesse lidar com o que eu disse para irritá-la tão rapidamente, ela passou por mim e entrou na garagem.

Dei um passo para persegui-la, mas a porra da bota me atrasou. Então peguei a minha muleta. E a persegui.

Quando a encontrei, ela estava fechada em seu quarto. Eu escutei na porta e ouvi a água correndo no chuveiro.

— Bem, merda.

O que foi que eu disse? Por que ela não iria querer esquecer a dor que causamos um ao outro?

Eu testei a maçaneta. Estava destrancada, então abri a porta uma fresta, espreitando por dentro para ter certeza de que ela não estava no quarto. Ela não estava. Eu me deixei entrar e caminhei até a porta do banheiro.

Eu deixei aquela fechada, descansando minha testa na madeira. Falei com a madeira, esperando que ela pudesse me ouvir sobre a água corrente.

— O que eu disse, Molly?

Passos pisaram no meu caminho. A água se desligou um segundo antes de a porta do banheiro se abrir.

— Eu não quero esquecer, — ela retrucou. — Eu não quero esquecer todas as vezes que você disse que me amava. Ou como se sentia por ser uma família. Não quero esquecer as vezes em que rimos juntos. Ou as vezes que você fez amor comigo. Essas memórias me mantiveram por seis anos. Seis. Anos. Eu não quero esquecer. Não quando os apreciei.

— Isso não foi o que eu quis dizer.

— Tanto faz. — Molly tentou passar por mim, mas eu a peguei pelo cotovelo.

— Não foi isso que eu quis dizer, — repeti. — Eu nunca esquecerei o jeito que você costumava roubar os lápis da minha mochila porque você continuava dando o seu para o garoto em Econ que nunca teve um. Nunca esquecerei a maneira como você sorriu para mim quando estava em trabalho de parto com Max, embora estivesse com muita dor, porque queria que eu parasse de me preocupar. Eu nunca esquecerei o jeito que você costumava sussurrar, você me amava bem antes de adormecer. Eu não quero esquecer esse tempo. Eu quero esquecer os maus momentos. As brigas. O divórcio. O.....

— Outro cara?

Meu corpo inteiro estremeceu. Dor passou pela minha espinha com a lembrança.

— É só isso, Finn. — Ela baixou o queixo. — Não podemos esquecer. Não é possível. O bom ficou ruim. Se esquecermos isso, isso acontecerá de novo. E eu não quero passar por isso novamente. Quase me quebrou uma vez. Eu não posso arriscar. Então, por favor, vá para casa.

Meu braço caiu do cotovelo dela.

Ela correu para fora do quarto, deixando-me sozinho enquanto suas palavras afundavam.

Ela não queria esquecer. Ok, então o que ela queria? Aquele beijo no quintal disse que ela ainda me queria, pelo menos.

Eu me virei para segui-la porque eu não ia deixar isso passar. Eu não ia sair também. Mas quando eu dei um passo para longe do banheiro, meus olhos ficaram presos em um envelope em sua mesa de cabeceira. Eu não precisava ver a letra para saber o que era. Outra carta chegou e ela escondeu de mim.

Eu agarrei e relaxei quando a encontrei fechada.

Ela manteve sua palavra.

Levei-o para a cozinha, onde Molly estava na pia, esfregando furiosamente com um alvejante.

— Você ia abrir isso?

Suas mãos pararam. — Não. Talvez.

— Eu pedi a você para não fazer isso.

Ela jogou a esponja na pia e abaixou a cabeça. Então ela enxaguou as mãos e secou-as antes de girar para encontrar o meu olhar. — Eu não ia. Chegou hoje e eu disse a mim mesmo que não ia ler. Mas então ...

— Então o que?

Ela cruzou a distância entre nós, levantando a carta do meu aperto. — Eu tenho que saber.

— Nada de bom estará nesse envelope. Rasgue-o. Por favor.

— E esquecer? — Ela olhou para o envelope por alguns longos momentos.

Prendi a respiração, esperando que o próximo som que eu ouvisse fosse o de papel amassado, porque se ela abrisse a carta, não teríamos um futuro. — Por favor, Molly.

Ela olhou para mim com lágrimas nadando em seus olhos. — Eu tenho que.


- Carta –


Como você pode?


Você é minha esposa.

Você é minha esposa.

Você é minha esposa.


Eu te odeio por isso. Eu te odeio por deixar outro homem entrar em você. Eu te odeio por jogar fora tudo que já tivemos. Você quebrou meu maldito coração.


Acabou.


DEZESSEIS

MOLLY


NÃO DEMOROU MUITO para ler a carta. Na primeira vez, uma pontada de dor perfurou meu coração tão profundamente que quase desmoronei. Mas meus joelhos ficaram fortes. Eles ficaram fortes, o suficiente para eu ler de novo.

Então novamente.

Pela quarta vez, a dor desapareceu.

Eu estava entorpecida.

Talvez Finn estivesse certo. Talvez eu devesse ter rasgado esta em pedaços. Mas ele me disse no começo que essas cartas eram sua maneira de expressar seus sentimentos. Eles eram crus e reais.

E ele escondeu o cru e real de mim, manteve-os afastado, estas cartas eram o único modo de eu ver em sua alma.

A ferida jorrando estava lá, colocada com tinta azul em papel branco. Foi devastador. Eu o destruí.

Eu destruí nós dois.

Não haveria lágrimas para esta carta. Eu não consegui chorar. Nós tivemos problemas em nosso casamento, mas a pessoa que havia destruído tudo fui eu. Eu merecia cada gota de sua dor. Merecia ler esta carta todos os dias.

O que eu não merecia era Finn.

— Tudo bem — eu sussurrei, dobrando a carta de volta e deslizando-a no envelope com as mãos trêmulas.

—Tudo bem?

Balancei a cabeça e entreguei a carta a Finn. — OK.

Ele pegou, olhando para mim como se estivesse esperando por uma explosão. Não houve uma. Fui até a pia e retomei a limpeza.

— É isso? — Ele perguntou.

— É isso aí.

Finn se aproximou e bateu a carta no balcão. O papel não fez muito barulho. Sua palma fez. — É isso aí? Você faz um grande show de abrir esta carta, e é isso? Por quê?

— Eu precisei.

— Por quê?

— Porque. — Eu me virei para ele. — Você não confia em mim o suficiente para me dizer como se sente. Você escondeu as coisas de mim por anos, escolhendo escrever coisas em cartas que você nunca enviou. Você escapou dos nossos problemas correndo para o trabalho. Você me manteve no escuro. Depois de todo esse tempo, depois de tudo que passamos, tenho o direito de saber como você realmente se sentiu.

— Eu mantive-as de você, porque era para o seu próprio bem. — Ele passou a carta para cima, sacudindo-a em seu punho, o papel crepitando. — Você realmente quer que eu deixe isso por aí?

— Pelo menos nos teria feito falar.

— Não há nada para falar.

Eu apertei meu queixo. — Você não pode esquecer o que aconteceu.

— Eu posso, com certeza, tentar.

— E é por isso que nunca vamos funcionar, — retruquei. — Eu fiz sexo com outro homem.

Ele fez uma careta, a dor em seu rosto rolando por todo o seu corpo. — Não.

— Não o que? Não diga isso em voz alta? Aconteceu. Eu cometi o maior erro da minha vida e esta carta é a primeira vez que você admitiu em voz alta que eu te machuquei.

— Isso não é verdade.

— Sim. Sim. Eu te disse a verdade. Eu vim até você no dia seguinte e admiti meu erro. E em vez de gritar ou chorar ou me mostrar qualquer tipo de emoção, tudo o que você disse foi: 'Consiga um advogado'. Você era indiferente. Você terminou comigo. Eu fui ignorada por meses, a ponto de eu não saber se você já tinha se importado. Eu te machuquei e você me dispensou. Você se desligou.

— Você me quebrou. Isso não era um segredo.

— E me desculpe. Eu sinto muito. Eu perdi a conta das vezes que me desculpei. Eu sempre vou me arrepender.

— Somente... Não. — Finn passou as mãos pelos cabelos. — Por favor, não quero falar sobre isso. Eu não posso.

— Tudo bem. — Eu suspirei. — Escute, eu tenho um monte de coisas para fazer antes das crianças chegarem em casa. Talvez você deva fazer as malas. Eu acho que Poppy e seus pais podem te levar e ir do trabalho para a fisioterapia pelas próximas semanas.

Ele recuou um passo. — Você está realmente me chutando daqui?

— Sim. — Balancei a cabeça. — Eu quis dizer o que eu disse lá fora. Isso é muito confuso. Eu não posso fazer isso com você novamente. Meu coração não aguenta outro fim com você.

— Molly — disse ele gentilmente. — Não tem que acabar.

— Mas vai. — Eu abaixei minha voz. — Será. Você quer fingir que não nos matamos. Isso. — Peguei a carta. — Isto é um problema. Ele irá ressurgir, talvez não amanhã ou no dia seguinte. Mas, eventualmente, surgirá novamente e nos separará. Não podemos ignorar isso.

— Você realmente quer falar sobre isso? — Sua mandíbula conteve. Havia fogo em seus olhos. — Você quer saber como me sinto?

Eu me preparei. — Sim.

— Sinto o mesmo que fiz quando escrevi essa carta. Eu te odeio por isso.

Um soco no estômago teria sido melhor. — Você me odeia?

— Eu odeio o que você fez. Eu odeio que outro homem esteve dentro de você.

— Eu também. — Meu queixo caiu enquanto a vergonha lavava meus ombros.

— Como? Por que, Molly? As coisas realmente eram tão ruins e eu não vi? Por que você não falou comigo?

Falar com ele? A dor diminuiu quando meu temperamento explodiu.

— Eu tentei falar com você, — eu bati, colocando um dedo em seu peito. — Eu tentei falar com você todos os dias. Sim, as coisas estavam tão ruins assim. Mas você não queria conversar. Você se mudou. E toda vez que tentei falar com você ou oferecer uma solução, você me excluiu. Você nem se incomodou em aparecer em uma única sessão de aconselhamento.

— Estava ocupado.

— Certo, —eu murmurei. — Muito ocupado. Essa foi sempre a desculpa. Você estava muito ocupado para tentar salvar nosso casamento. Tudo o que pedi foram algumas horas do seu tempo para conversar com um conselheiro.

— Você sabe como me senti sobre esse conselheiro.

— Não. Eu não. Porque você nunca me contou. Você simplesmente não apareceu.

— Não havia como eu falar sobre o nosso casamento com um dos amigos da sua mãe. A última coisa que precisávamos era que a Dra. Deborah soubesse tudo sobre a merda acontecendo em nossa vida.

— Sério? Essa é a sua desculpa?

— Não é uma desculpa.

— Por que você não me contou? — Meus braços se agitaram no ar. — Eu teria escolhido outro conselheiro. Eu teria ido a qualquer um. Mas em vez disso, você simplesmente não apareceu.

— Eu lhe disse desde o começo que não queria ver aquele conselheiro. Você agendou os compromissos de qualquer maneira.

— Porque eu queria salvar nosso casamento. Estávamos nos afogando. — Eu estava me afogando. Eu não tentei esconder isso também. Usei meu esgotamento no meu rosto. A queda dos meus ombros. O jeito que eu me enroscava em uma bola e dormia encolhida em mim mesma à noite. Eles estavam lá. Todos os sinais. — E você não parecia se importar.

— Isso é mentira.

Eu endireitei minha coluna e desafiei: — É?

Ele abriu a boca, mas fechou com um estalo.

— Tudo o que aconteceu. Tudo isso. Eu pensei que você tinha terminado. Eu pensei que você não se importasse. Pensei que nós estávamos acabados.

E em vez de me dizer ou me mostrar que ele se importava, ele se virou para páginas em branco. Ele deu à caneta e à tinta seus sentimentos.

Ele não confiava em sua esposa.

— Nós não tínhamos terminado, Molly. Nós ainda éramos casados. Você ainda era minha esposa.

— Você está certo. Você está absolutamente certo. — O fato de eu concordar o pegou desprevenido. Eu acho que ele estava esperando para discutir, mas eu era ainda sua esposa. E eu o traí.

Nós traímos um ao outro.

— Eu não digo isso porque estou dando uma desculpa—, eu disse. — Mas, Finn, isso pode ter quebrado você. Mas você me esmagou naquela noite.

— Que noite? — Ele perguntou.

— A noite. A noite da festa de despedida de solteira da Lanie.

Sua testa franzida. — Do que você está falando?

— Eu fui para Alcott naquela noite. Antes da festa. Eu estava toda vestida com aquele vestido preto que você sempre amou. Eu pensei, eu tenho uma babá, você estava sozinho, e talvez o que precisássemos fosse uma noite só para nós. Sem distrações. Só você e eu lembrando que nos amávamos.

— Eu passei uma hora no meu cabelo, domando os cachos. Eu assisti três vídeos do YouTube para aprender como obter esse olhar esfumaçado com um delineador de carvão.

Finn sacudiu a cabeça, tentando lembrar. — Você nunca chegou lá.

— Eu cheguei. Você não estava sozinho.

— Quem ... — Seu rosto caiu quando ele respondeu sua própria pergunta. — Bridget.

— Ela estava lá. Aninhou-se ao seu lado enquanto assistia a um filme no loft.

Bridget e seu corpinho apertado. Ela se encaixaria bem no lado de Finn. Talvez fosse por isso que eu a odiava tanto. Ela se encaixou com Finn.

E eu... Eu era apenas uma mulher que passara horas se preparando para impressionar um homem cujo olhar já tinha se desviado.

— Molly. — Ele ergueu as mãos. — Nunca houve nada entre Bridget e eu. Eu juro.

Ele estava mentindo? Procurei seu rosto, cada vinco. Cada ângulo. Ele estava dizendo a verdade. — Você jura?

— No túmulo de Jamie, — disse ele com um aceno de cabeça. — Eu nunca toquei Bridget dessa maneira.

O alívio deixou minhas pernas moles. Eu sempre me perguntei, mas a maneira como Finn reagiu depois da minha noite me convenceu de que ele nunca tinha feito nada com Bridget. Ele não era o tipo de homem que me puniria por um erro que ele já havia cometido.

Mas depois houve os anos após o divórcio. Eles trabalharam até tarde juntos. Eles estavam perto. Eu me convenci anos atrás que eles tinham algo em um ponto ou outro.

A imagem deles abraçada naquela noite era uma que eu nunca esqueceria.

— Eu subi as escadas. Calmamente, eu acho. Ou então a TV estava muito alta porque você não me ouviu. Eu congelei quando vi vocês dois juntos.

— Ela me fez companhia. Isso foi tudo.

— Fez companhia? Eu estava lá, a centímetros de você, me rasgando em pedaços. Sua esposa. E você sentado ali com ela.

— O que? Não. — Finn sacudiu a cabeça. — Eu não deixaria ela te atropelar.

Eu fumeguei. Não era essa conversa sobre honestidade?

— Eu estava lá. Vocês dois estavam sentados juntos, comendo da mesma tigela de pipoca, como tínhamos feito uma e outra vez. Ela perguntou se você ia para casa. Você disse que não.' Ela perguntou se estávamos nos divorciando. Você disse sim. Então ela começou a discursar sobre como eu não era boa o suficiente para você. Que eu não era a esposa que você precisava porque eu não te apoiava. Ela me chamou de cadela por chutar você para fora de casa e separar você das crianças. E o que você disse? Nada.

Finn abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu.

— Nós estávamos separados apenas. Nós não havíamos decidido nos divorciar. Ou, pelo menos, achei que ainda estávamos tentando consertar nosso casamento. Mas você já tinha decidido que tínhamos terminado. E em vez de me dizer que você queria o divórcio, você disse à sua empregada, a mulher que me chamou de puta na sua cara e você ... Você. Não. Disse. Nada.

— Molly, — disse Finn, abaixando a cabeça. — Eu não sei o que dizer. Juro por Deus, não me lembro dela dizendo isso.

— Eu não estou inventando.

— Eu não disse isso. — Ele levantou as mãos. — Eu não estou chamando você de mentirosa. Se a TV estava ligada, se eu estava cansado... Não me lembro. Tem certeza de que eu estava acordado?

— Sim! Talvez. — Ele estava acordado? Eu estava tão focada no perfil de Bridget, o jeito que seu corpo se inclinava para o lado dele. Eu realmente não tinha percebido muito do rosto de Finn. Ele estava sentado com os braços jogados sobre as costas do sofá. Seu rosto estava voltado para a TV, não solto ou embalado para o lado. Mas eu não conseguia lembrar se os olhos dele estavam abertos. Oh meu Deus. Ele poderia estar dormindo?

Bridget estava falando com ele como se ele estivesse acordado. Mas ele poderia ter acenado com a cabeça?

A ideia de que eu poderia ter interpretado mal a coisa toda, que ele talvez nem tivesse ouvido as palavras dela, me fez querer me enrolar em uma bola e chorar. Um som estrangulado veio da minha garganta.

— Por que você não me confrontou sobre isso? — Ele perguntou.

— Porque. — Eu pisquei, as dúvidas embaçando minha mente. —Porque era tarde demais. Eu saí de Alcott, pensando que tínhamos terminado. Eu me encontrei com Lanie na festa dela. Poppy não estava lá porque ela estava tendo uma noite difícil, então eu estava sozinha. Bebi demais. Escutei as garotas me dizendo como eu merecia melhor. Como você provavelmente estava transando com Bridget de qualquer maneira.

— Eu não estava transando com Bridget — Finn disse.

— Ela está apaixonada por você desde o primeiro dia. Era fácil acreditar que você também estava nela.

— O quê? — Seu corpo inteiro estremeceu. — Bridget não está apaixonada por mim.

— Então você é cego, — bufei.

Bridget olhou para Finn como se ele fosse um deus do rock no palco, cercado por uma massa de pessoas, cantando apenas para ela.

— Seja como for. — Finn acenou. — Você deveria ter me perguntando.

— Enquanto você estava aconchegado com Bridget? — Eu atirei de volta. Ela estava usando shorts. Eles haviam subido tanto que toda a coxa dela estava pressionada contra o jeans dele.

— E o dia seguinte? Você poderia ter me perguntando no dia seguinte.

— Era tarde demais. Depois de, depois que foi feito, quando vim lhe contar a verdade, tentei contar tudo. Eu tentei te dizer que eu estava fora da minha mente. Que havia esse grupo de caras nos seguindo de bar em bar. Aquele deles estava flertando comigo. Mas você não queria ouvir.

— Eu não ouvi na época. Eu não quero ouvir agora. Então pare. Simplesmente pare.

— Não! — Eu gritei. — Você não consegue escolher partes da história para ouvir. O cara que estava flertando comigo era doce. Ele me chamou de linda. Ele me deu água quando eu estava ficando bêbada demais. Ele me levou para fora para esperar meu táxi, para que eu não ficasse sozinha.

— Pare! — Finn gritou, afastando-se de mim.

— Ele me beijou. Estava escuro. Não me lembro se havia outras pessoas por perto, mas lembro-me dele me beijando.

— Molly, — Finn implorou, dando um passo para longe. — Pare. Por favor.

— A próxima coisa de que me lembro foi estar encostada a uma parede. Ele puxou meu vestido e ...

— Cale a boca! — Finn rugiu. Ele jogou a muleta, lançando-a voando pela cozinha e caindo no chão. Ele derrapou até parar na mesa da sala de jantar.

Eu vacilei. Fui longe demais. Eu não pretendia compartilhar os detalhes com Finn, mas a represa tinha sido aberta. Eu nunca disse a uma alma sobre o que aconteceu naquela noite, nem mesmo Poppy. Eu disse a eles que tinha feito sexo com outro homem e deixei todo mundo assumir os detalhes.

— Durou uns cinco segundos inteiros até que percebi o que estava acontecendo. Eu o empurrei para longe. Eu disse a ele que sentia muito e então corri. Ele não era você e eu sabia que tinha cometido um erro terrível. Mas era tarde demais.

O ar na cozinha parou. O peito de Finn arfava. Seus olhos estavam em branco.

Eu balancei da cabeça aos pés. Eu finalmente consegui entender tudo. Finalmente revivendo aquela noite, não só para Finn, mas para mim mesma. Ele não era o único que tinha bloqueado por anos. Mas agora não haveria esquecimento. Não haveria como ignorar isso e fingir que poderíamos ser aquele casal amoroso novamente.

O sonho de Finn e Molly acabou.

— Por que você está me dizendo isso? — A voz de Finn era suave enquanto ele falava.

— Você tinha suas cartas. Eu não tinha nada. A pessoa com quem conversava, a pessoa a quem recorria quando minha vida estava de cabeça para baixo, era você. Sempre foi você. E você não estava lá.

— Isso não é uma razão boa o suficiente para foder com outro homem.

— Não, não é. E sinto muito. — Meu queixo tremeu incontrolavelmente. — Eu sinto muito por ter machucado você. Eu sinto muito por ter te traído dessa maneira. É algo que vou me arrepender até o fim da minha vida. Mas isso aconteceu. Aconteceu, Finn. Tudo aconteceu. Assim como você estar com outras mulheres aconteceu. Eu odeio pensar em você com Brenna ou qualquer uma das outras. Mas está aí. Temos que viver com as feridas que infligimos uns aos outros.

— Não houve outras — Finn disse tão baixo que quase não ouvi.

— Não. Eu não estive com ninguém desde o divórcio. Exceto você.

— Não é isso que eu quis dizer. — Finn olhou para cima, seu olhar vazio desaparecido. — Não houve outras. Desde você, não houve outras.

Não houve outras? O que? — Eu não entendo.

— Mulheres. Não houve outras mulheres.

Eu pisquei para ele, repetindo suas palavras. — Você estava namorando há anos.

— Sim, eu estava. E nem uma vez levei outra mulher para a cama.

Meus joelhos resistiram até aquele momento, mas com aquele golpe, eles não tinham mais força. Eu tropecei de lado, meu quadril batendo na lateral do balcão com tanta força que machucaria.

— Não. — Fechei meus olhos, minhas mãos vindo para o meu rosto. — Não, não, não.

Deveria haver outras mulheres. Elas deveriam igualar o placar. Eu me tornei celibatária e Finn se tornou o playboy mais elegível da cidade.

Mas a balança se inclinou novamente, de volta a seu favor.

— E quanto a Brenna?

Ele zombou. — Brenna se cansou de esperar. Ela me deu um ultimato. Intimidade ou nós terminamos. Essa foi a semana antes de eu começar a dormir com você.

Minha cabeça girava e a única coisa que consegui pensar foi: — Por quê?

— Por quê? Estou apaixonado por você desde os vinte e um anos de idade. Eu posso não usar a aliança, mas isso não significa que eu não esteja casado.

Todo esse tempo ele estava livre.

E ele se segurou em mim.

O ar na cozinha estava sufocante. Eu não conseguia encher meus pulmões. Eu não consegui limpar o nevoeiro, então eu passei por Finn e corri pelo corredor em direção à porta da frente.

No momento em que abri e o ar do verão bateu no meu rosto, as lágrimas escorreram pelo meu rosto. Mas eu não dei mais um passo.

— Não corra de mim.

Eu congelei na força da voz estrondosa de Finn. Atrás de mim, ele se arrastou para me alcançar, então seu calor estava nas minhas costas.

— Eu preciso de ar — sufoquei.

— Então nos sentaremos na varanda. Juntos. Mas não fuja de mim, Molly. De novo não. Você queria abrir tudo isso. Está aberto. E não vamos deixar isso mal resolvido. De novo não. Então não se atreva a fugir de mim. Eu vou quebrar minha perna novamente perseguindo você. E não se engane, eu vou perseguir você.

Eu não duvidei dele, nem por um segundo.

Eu me virei, as lágrimas fazendo seu rosto severo ficar embaçado. — Eu sinto muito, Finn.

— Eu sei. — Ele pegou meu cotovelo e nos levou para fora. Quando nós dois estávamos sentados no degrau da frente, ele me puxou para o lado dele. — Eu sei.

— Eu não queria que tivesse acontecido.

— Eu sei.

— Você sabe?

Ele hesitou, tempo suficiente para que eu soubesse que sua resposta seria honesta. — Eu sei.

Ficamos sentados em silêncio por um longo tempo. Os pássaros chilreavam enquanto voavam entre as árvores. A leve brisa agitava as folhas. O mundo era brilhante e lindo.

Em todos os lugares, mas não neste.

A escuridão pairou sobre nossas cabeças. O peso de tudo que aconteceu em nossos ombros.

— É muito pesado, — eu disse, quebrando o silêncio.

— O que é muito pesado?

— O passado. É muito pesado para esquecer. — Era pesado demais para perdoar.

Mas isso era o que precisava acontecer. Nós tínhamos que perdoar. A nós mesmos.

Quantas vezes desejei voltar no tempo e mudar minhas ações? Quantas horas passei me odiando? Eu estava vivendo com muito pesar. Tanta culpa.

Até eu me perdoar por ser humana, imperfeita e impulsiva, o passado me assombraria.

Isso nos assombraria.

— Você pode me perdoar? — Perguntei a Finn.

Ele se inclinou para trás para olhar no meu rosto. Seus olhos me deram a resposta antes de sua boca. — Eu não sei.

— Justo.

O silêncio voltou, os únicos ruídos da varanda vindo do bairro. Um garoto estava jogando basquete na próxima casa e o baque do drible da bola ecoou nas casas. Um avião voou por cima, o zumbido desapareceu quando subiu para as nuvens. O mundo continuou em torno de nós sem nenhum cuidado quando Finn e eu nos sentamos congelados na varanda, se recuperando da verdade.

As coisas poderiam ter sido tão diferentes, se apenas ...

Se apenas.

Finn pigarreou. —Meu médico disse que com a minha fisioterapia indo tão bem, eu poderia entrar em uma bota diferente ou talvez sem nenhuma em duas semanas. Independente disso, eu devo ser capaz de dirigir até o final do mês. Você se importaria se eu ficasse até então? Eu gostaria de um pouco mais de tempo com as crianças.

—OK.

Por mais difícil que fosse tê-lo aqui, era a coisa certa a fazer. Eu queria aliviar Kali e Max do fato de que estávamos todos nos separando de novo.

Era o melhor.

— Sinto muito, Molly.

Eu me inclinei para o lado dele e descansei minha cabeça em seu ombro. — Sinto muito, Finn.

— Eu te amo.

Fechei meus olhos. — Eu também te amo.

Foi bom dizer essas palavras. Para deixá-las flutuar no vento e desaparecer com o sol.

Foi bom dizer essas palavras.

Uma última vez.


- Carta –


Eu nunca pensei que isso aconteceria com a gente. Eu nunca imaginei que estaríamos aqui, nos divorciando.


Eu sinto que vou acordar amanhã de manhã em nossa cama e isso tudo terá sido um pesadelo. Mas é real.


Tenho vergonha de você. Tenho vergonha de mim mesmo.


Você me largou.


E eu te expulsei.


DEZESSETE

FINN


— ACABEI. — Max correu de seu canto do quintal.

— Impressionante. Deixe-me verificar. — Empurrei para fora da grama e lentamente fui para o outro lado do jardim. Minha bota havia sido removida ontem e o médico disse que eu estaria bem para andar apenas com a muleta. Mas aquela coisa era uma dor no rabo, então eu a abandonei em um corredor vazio no hospital e eu estava andando bem devagar.

Max me passou pelo quintal e estava pulando para cima e para baixo ao lado do lugar que ele que ele estava nivelando com adubo. — Veja?

Eu sorri abertamente. — Parece perfeito, filho.

Seu peito inchou de orgulho. — Qual é o próximo?

Girei em um círculo lento, observando o quintal. Nas últimas duas semanas, passei a maior parte do meu tempo livre aqui fora. Com as coisas tensas e desajeitadas com Molly, escapei para o quintal para terminar o projeto que tinha começado no começo do verão.

Os ângulos estranhos e cantos afiados foram removidos. As árvores e arbustos que Molly não gostou que eu os havia plantado como experimentos - foram removidos. Tudo o que restava era plantar seu lilás.

Kali estava de quatro no canto oposto do pátio, cuidando do buraco que cavamos. Como os lilases tinham a tendência de ficar tão grandes, eu queria que este tivesse bastante espaço para crescer e florescer. Mesmo com a distância, as flores perfumadas atravessariam o quintal até o deck traseiro. Se Molly deixasse a tela aberta, ela sentiria o aroma da primavera todo dia.

— Corra para dentro e chame sua mãe, — eu disse a Max.

Ele assentiu e saiu enquanto eu me aproximava de Kali.

— Eu derramei a água no fundo, assim como você disse. — Ela sorriu para mim. — Qual é o próximo passo?

— Vamos tirar as estopa das raízes e colocá-las no lugar. — Puxei uma faca do bolso e me abaixei, cortando o pano das raízes do arbusto.

— Papai, eu ... — Kali hesitou, com os olhos voltados para o buraco.

— O quê? — Eu perguntei gentilmente.

Ela me deu aqueles olhos tristes, aqueles que derreteram meu coração. — Eu queria que você não tivesse que ir para sua casa.

Eu joguei a faca de lado e coloquei minha mão em seu ombro. —Eu também. Mas é onde eu moro.

— Você... Não importa. — Ela baixou o olhar para a terra, espalhando alguns sob seus dedos.

Dei tempo a ela, deixando que ela criasse coragem para conversar. Esse foi o caminho com Kali. Ela sempre se abriria se eu não a apressasse. Ela era como eu. Ela ponderava as coisas antes de falar. Ela mantinha mais coisas do que eu desejava que ela fizesse.

— Isso é uma merda, — ela murmurou.

— Sim, querida. Sim.

Ela olhou para mim, seu lábio inferior preocupado entre os dentes. — Você acha que você e mamãe podem ficar juntos novamente?

Meus ombros afundaram. Mais do que tudo, eu queria dizer a ela que sim. Para dizer a ela que seríamos uma família novamente. —Não. Acho que não.

— Oh. OK.

— Eu amo sua mãe.

— Você ama?

Balancei a cabeça. — Eu sempre amarei sua mãe. Ela é a melhor pessoa que eu já conheci. E ela me deu você e Max.

— Então eu não entendo. Eu sei que mamãe te ama também. Então, por que vocês não podem ficar junto? Você não gosta de morar aqui com a gente?

— Mais do que qualquer coisa. — Eu dei-lhe um sorriso triste. —Eu sei que é difícil de entender. Nós nos amamos, mas temos que ser capazes de nos fazer felizes também. E agora, nós não conseguimos fazer isso ainda. Isso faz sentido?

Ela encolheu os ombros. — Acho que sim.

Isso foi um não. Não fazia sentido. Eu estava lutando para compreender tudo sozinho. E eu estava com medo do final deste dia.

Depois da nossa briga, duas semanas atrás, Molly e eu estávamos evitando uma ao outro. Isso me deu muito tempo para refletir sobre a nossa situação. Para cavar fundo e decidir se eu poderia realmente perdoar Molly pelo que aconteceu naquela noite.

Quatorze dias, e eu não estava mais perto da resposta.

Então hoje, depois que o pátio estava acabado, eu ia para casa.

— Sozinho? — Perguntou Molly enquanto atravessava a porta do pátio, seguindo Max enquanto ele corria em minha direção e Kali.

— Estamos prontos para plantar o arbusto lilás.

Ela sorriu, fazendo uma varredura no quintal. — Parece tão maravilhoso aqui fora.

— Sim, parece. — O melhor quintal na terra. Não por causa do paisagismo, mas por causa dela e das crianças. Porque nós construímos juntos.

Molly se aproximou e se ajoelhou ao meu lado e de Kali. Max pairou em torno de nós, saltando de um pé para o outro enquanto eu levantava o arbusto acima do buraco.

— Precisa de ajuda? — Perguntou Molly, estendendo as mãos.

— Eu consigo. — Com o arbusto colocado no buraco, eu dei o sinal para começar a empurrar a terra. — Ok, pessoal. Preencha-o.

Quatro pares de mãos mergulharam na terra, empurrando-a e enrolando-a nas raízes.

— É isso? — Max perguntou quando o buraco estava cheio.

Molly riu. — É isso aí. O que você estava esperando?

— Eu não sei. Acho que gosto de arrancar as coisas mais do que plantar.

Eu bati no ombro dele. — Da próxima vez que eu precisar de uma mão extra em um trabalho de demolição, você é meu cara.

— Sim. — Ele socou o punho. — Mãe, posso ir ao parque?

— Se sua irmã for também.

Os olhos de Max se voltaram para Kali. — Por favor venha comigo.

— Claro. — Ela sorriu e se levantou, limpando a sujeira de seus joelhos nus.

Molly bateu no relógio em seu pulso. — Não fiquem muito tempo. É quase hora do jantar.

— Ok, mãe. — Kali acenou com a cabeça antes que ela e Max saíssem para o portão na cerca.

— Espera, — eu chamei, empurrando o chão. Então eu os peguei antes que eles desaparecessem pelas ruas do bairro que levava a um parquinho. — Estou indo para casa em breve.

— Oh. — O rosto de Max entristeceu. Kali não faria contato visual comigo.

— Que tal um abraço?

Ambos me apressaram, passando seus braços ao redor da minha cintura como se estivessem se afogando. Eu coloquei uma mão em cada uma de suas cabeças. — Amo vocês, pessoal.

— Amo você, papai, — Kali sussurrou.

Max apenas me abraçou com mais força.

Atrás de nós, Molly estava com os braços ao redor de sua cintura e seu olhar apontava para qualquer lugar menos para nós.

Nós conversamos ontem à noite sobre como isso iria acontecer. Molly não queria fazer muita coisa sobre isso. Ela disse que iria tratá-lo como um dia normal. Eu queria trabalhar no quintal. Ela precisava fazer uma limpeza na casa. Então, quando o dia acabasse, eu iria para casa.

Normal. Rotina. Miserável.

— Vejo vocês em alguns dias.

Max assentiu contra o meu quadril.

Kali se afastou e abaixou a cabeça quando ela limpou os olhos. —Vamos, Max.

Ele me apertou uma última vez, depois soltou e correu para a cerca.

Eu observei enquanto eles corriam pelo caminho, seus tênis batendo no cascalho enquanto corriam. Foi uma corrida punitiva, como se ambos estivessem levando sua frustração com os pais no cascalho.

Esperei até que eles estivessem fora de vista, então eu me virei e caminhei em direção à casa.

Molly me encontrou no caminho e eu segurei a porta do pátio aberta para ela entrar. A casa cheirava a alvejante e limão. Meu serviço de limpeza usava os mesmos produtos que Molly, a meu pedido, mas eles não tinham o mesmo cheiro.

Isso cheirava a casa.

— Posso ajudar você a fazer as malas? — Ela perguntou, brincando com os laços de cabelo em seu pulso. Hoje eram corais e amarelos. Nem combinavam com a roupa dela, mas era o que eu amava neles. Eles estavam sempre brilhantes.

— Não, eu estou bem. Eu só preciso limpar as coisas do banheiro e eu vou estar pronto.

Ela apontou para a cozinha. —Eu acabarei lá. Diga adeus antes de ir?

— Eu vou. — Fui para o banheiro de hóspedes e arrumei minha maleta de couro. O som de água corrente veio da cozinha.

Porra.

Isso era mais difícil do que deveria ser. Eu tinha uma casa, uma vida para voltar. Uma única vida. Uma vida que eu tenho vivido por seis anos. Uma vida que eu disse a minha irmã que queria arruinar, mas aqui estava eu, correndo de volta para ela.

As últimas duas semanas foram estranhas. Com a escola a todo vapor, passamos a maior parte de nossas noites ajudando as crianças no dever de casa. Jantamos juntos, assistíamos à TV se havia tempo ou jogávamos. E apesar de tudo, Molly e eu tínhamos coexistido em paz.

Algo inesperado aconteceu desde a última briga. Estava calmo. Quieto. Como se o fantasma zangado se enrolasse em seu túmulo para finalmente descansar.

Nós nos demos bem depois do divórcio, mas isso era diferente. Isso não era simplesmente um senso de civilidade ou amizade. Esta semana foi, fácil. Colocamos tudo para fora. As feridas foram expostas ao ar e elas estavam fechando.

Anos atrasada.

— Finn? — Molly chamou.

— Sim?

— Eu vou pegar a correspondência.

Abaixei minha cabeça. — Está certo.

Havia mais uma carta. Uma que eu escrevi na época do divórcio. Eu estava pisando em ovos, esperando que ela viesse.

Eu esperava que fosse hoje. Que quando eu saísse, acabaríamos com elas para sempre.

Eu rapidamente terminei de arrumar minhas coisas e entrei no quarto de hóspedes e coloquei tudo na minha mala. Com ela carregada e uma mochila abaulada pendurada no meu ombro, caminhei até a sala de estar e coloquei as duas ao lado do sofá.

Então esperei que Molly voltasse, segurando uma pilha de envelopes em uma mão e um único envelope na outra.

— Ela chegou?

— Ela chegou. — Ela atravessou a sala e estendeu a carta. —Aqui.

— Continue.

— Não, está tudo bem.

Eu peguei o envelope da mão dela. — Eu pensei que você queria lê-las.

— Eu li. Eu não preciso mais.

— Por quê?

Ela me deu um sorriso triste. — Porque você finalmente me contou como se sentiu.

Se nada der certo, isso fez com que escrever essas cartas valesse a pena.

Eu rasguei o envelope, puxando a única folha de papel. Uma pontada aguda atingiu meu peito quando me lembrei de como me senti naquele dia. Seis anos depois, ainda era difícil acreditar que nos abandonaríamos.

— Aqui. — Eu estendi a carta, mas Molly se afastou. — É cru. Mas ... é real.

— Ok. — Ela pegou e leu. — Uau.

— Eu sinto muito.

— Não sinta. Eu me sinto da mesma forma. Nós desistimos um do outro.

— Como? — Eu perguntei. — Como isso aconteceu?

— Eu não sei. Os dias ficaram tão difíceis. Nós paramos de lutar um pelo outro e lutamos por nós mesmos. No final, acho que foi demais e desistimos. Eu sinto muito.

Eu odiava ouvir essas palavras de sua boca. Parecia que ela tinha dito muito. — Você pode fazer algo para mim?

— Claro.

— Não se desculpe mais por mim.

— Hã?

Peguei a carta e amassei em uma bola apertada. — Esta carta é besteira. Bem, metade disso. Você não me deixou. Eu te afastei. Eu não disse isso o suficiente, mas sinto muito. Eu sinto muito, Molly.

Ela me encarou por alguns segundos, depois fechou os olhos. — Eu acho que nos desculpamos muito. Talvez pudéssemos parar os dois.

— Ainda não. — Eu me aproximei e peguei suas duas mãos nas minhas. — Eu sinto muito. Por te afastar depois que Jamie morreu. Por colocar Alcott acima do nosso casamento e usar o trabalho como desculpa para me esconder dos meus sentimentos. Por ser tão idiota com você depois que nos divorciamos. Por todas essas cartas. Você não merecia ser tratada assim.

Molly balançou para trás em seus calcanhares, o choque de ouvir minha declaração escrita em todo o rosto.

O que significava que esse pedido de desculpas não era apenas necessário, estava muito atrasado.

Eu a culpei pelo nosso divórcio. Eu dei a ela o desprezo por meses, na esperança de fazê-la pagar por eu estar machucado. Eu estava com tanta dor que fisicamente me feria olhar para ela.

— Não era justo colocar tudo em você, — disse a ela.

Lágrimas brotaram nos olhos dela. — Você teve um bom motivo.

— Não, eu não tive. — Emoldurei seu rosto com as minhas mãos. — Eu sinto muito.

Uma lágrima caiu. — Obrigada por dizer isso.

A distância entre nós era apenas alguns centímetros, mas eu a puxei para o meu peito e a apertei com força. Respirei o cheiro de alecrim e hortelã de seu cabelo enquanto ela envolvia seus braços atrás das minhas costas.

Nosso abraço não durou muito tempo. Muito em breve, Molly me empurrou para longe. — Essa é a última carta, certo?

Eu balancei a cabeça. — É isso aí.

— Owa. — Ela sorriu, piscando os olhos secos. — Estou feliz. Eu não aguento mais chorar. Estou ficando desidratada.

Eu ri. — Você acha que nós vamos descobrir quem as estava enviando?

— Desde que interrogamos todas as pessoas que conhecemos, estou achando que é um mistério para a posteridade.

— Nós não perguntamos às crianças.

Molly soltou um longo suspiro. — Eu não acho que foram eles.

— Kali me perguntou antes se íamos nos reunir novamente. Poderia ter sido ela.

— Acho que não. — Molly sacudiu a cabeça. — Você conhece sua filha, Finn. Ela mostra tudo o que sente. Algumas dessas cartas foram devastadoras para serem lidas. Eu não acho que ela teria sido capaz de ler e esconder isso de nós.

— Sim — murmurei. — Você provavelmente está certa. OK, um mistério para a posteridade.

— Estou realmente feliz por não saber quem é.

— Você está?

— Eu não quero conhecer os motivos de outra pessoa para fazer isso conosco. Estou feliz que eles fizeram. Nós deixamos muito não dito. Agora está tudo esclarecido. Agora podemos finalmente respirar.

Fui até o sofá e peguei minha mochila, atirando-a por cima do ombro. — Concordo.

— Eu vou sair com você. — Ela pegou a minha mala, rolando pelo corredor atrás de mim. — Se cuida.

— Eu vou. O mesmo para você. — Eu me inclinei para beijá-la na porta da frente, indo para os lábios dela, mas ela virou a cabeça, então eu peguei sua bochecha. Fiquei lá por um momento longo demais. Nunca me senti bem beijando-a na bochecha, não quando eu sabia como era bom ter seus lábios em vez disso.

— Eu vou levar as crianças amanhã, — disse ela, dando um passo para longe.

— Ótimo. Até mais.

E foi isso. De volta para duas casas. Dois horários. Duas vidas separadas.

Peguei a mala da mão dela e saí. A rampa que os caras de Alcott construíram para minha cadeira havia sido removida na semana passada. Sem outro adeus, desci as escadas até a minha caminhonete. Dirigi no dia em que minha bota foi removida.

— Finn — Molly chamou.

— Sim. — Suspirei, desejando que ela não tivesse me chamado de volta. Eu precisava ir enquanto ainda podia. Cada passo para longe da casa era forçado. Ter saído pela primeira vez foi tão difícil?

— Obrigado pelas cartas. — Na mão dela, ela tinha desarrumado a última.

Balancei a cabeça uma vez, em seguida, virei de novo e carreguei a caminhonete.

Ela ficou na varanda, esperando a porta do lado do motorista se fechar, depois desapareceu dentro da casa.

Meu coração parecia que estava sendo arrancado do meu peito quando saí da garagem. A dor piorou quando eu dirigi pela cidade. Quando cheguei na minha casa, parecia o mesmo de quando saí. Limpo. Caro. Solitário.

Casas neste bairro raramente iam à venda e quando acontecia, elas eram vendidas pelo preço pedido ou acima. Este era o bairro onde todos queriam uma casa.

Todos menos eu.

Muita coisa havia mudado.

Entrei na garagem, estacionei e entrei. Mamãe prometera que o lugar estava limpo. Poppy tinha abastecido a geladeira para mim. Eu andei pela lavanderia, levando minhas malas para o meu quarto e colocando-as no edredom.

— Esqueci meu travesseiro, — resmunguei.

Eu deixei na Molly porque era da Molly. Exceto que era meu.

Fiz um tour lento pelo resto do lugar. Os quartos das crianças estavam impecáveis, suas camas feitas e prontas para eles virem amanhã para o fim de semana. Havia uma pequena samambaia no balcão da cozinha - algo novo que mamãe provavelmente encontrara na mercearia. Todas as outras plantas da casa foram regadas, e a geladeira estava de fato abastecida com meus pratos favoritos.

Mamãe e Poppy devem ter passado um dia inteiro cozinhando. Era bom que as crianças estivessem vindo porque, de outra forma, eu nunca comeria isso tudo sozinho.

O silêncio era enervante, então fui até a sala de estar e liguei a televisão. Encontrei um jogo de beisebol e sentei na minha poltrona reclinável. Não era tão confortável quanto eu me lembrava.

Apenas um tempo passou antes que eu perdesse todo o interesse no jogo, então puxei meu telefone do meu bolso para ligar para Poppy.

— Ei — ela respondeu. — Você está em casa?

— Sim, obrigado pela comida.

— Certo. Como você está se sentindo?

—Fantástico — brinquei.

— Uh-oh. — No fundo, as crianças estavam rindo e brincando com algum tipo de instrumentos musicais de brinquedo. — Espere um segundo. Deixe-me ir para um quarto silencioso.

Esperei, silenciando a TV enquanto ela andava pela sua casa.

— Ok, o que há de errado?

— Eu não estou no lugar certo.

— E o lugar certo é ...

Eu revirei meus olhos. — Você sabe a resposta para isso.

— Eu sei. Mas você? O que aconteceu a arruinar sua vida?

— Esse plano se desfez quando Molly e eu brigamos por uma das cartas. — Esfreguei meu queixo. — Foi ruim. Era sobre ela e aquele outro cara.

— Oh. — A voz de Poppy caiu.

— Ela me perguntou se eu poderia perdoá-la. Eu disse que não sabia.

O outro lado da linha ficou em silêncio. Durou tanto tempo, eu tinha certeza que eu tinha desligado o telefone. — Poppy?

— Estou aqui.

— Você não tem nada a dizer?

— Você não quer ouvir o que eu tenho a dizer.

— Não, eu realmente sei.

— Você não tem o direito de jogar aquela noite na cara da Molly. E que vergonha se você fizer isso.

Eu estremeci. O tom agudo de Poppy foi um que eu não tinha ouvido falar, bem, nunca. — Ouch.

— Eu não terminei. — Ela. Estava. Chateada. — É hora de tirar sua cabeça da sua bunda. Esteja com Molly, ou pelo amor de Deus, deixe-a ir. Por favor, deixe ela ir. Ela merece ser feliz. Vocês dois merecem. Seja o homem que ela precisa ou vá embora. Porque nós dois sabemos que ela vai amar você até que diga a ela para parar.

Eu também a amava. E eu estava dizendo a mim mesmo para parar por anos.

— Mamãe, — uma pequena voz gritou no fundo.

— Eu estou aqui, Brady, — Poppy gritou de volta. — Finn, eu preciso fazer o jantar antes de Cole chegar em casa.

— Ok — eu resmunguei.

— Amo você. Eu te ligo mais tarde. E... desculpa. Eu tenho mantido isso por um tempo.

— Sim. — Eu tinha levado uma chicotada. Ela desconectou a ligação, mas suas palavras ainda ecoavam pela minha casa silenciosa.

Ela estava certa. Em todos os pontos. Eu não tinha o direito de jogar aquela noite contra Molly, não quando ela não estava jogando tantos dos meus erros contra mim.

Então, por que era tão difícil perdoar? Para deixar ir?

Eu me levantei da cadeira e fui para as janelas que se alinhavam na parede mais distante da sala. Lá fora, um dos meus vizinhos estava ensinando seu filho a balançar um taco de beisebol. Eu fiz o mesmo com o Max. Passei horas brincando com meus filhos no gramado errado.

Perdoar. Isso é tudo que eu tinha que fazer. Eu tinha que perdoar Molly pelo outro homem.

Fechei meus olhos, repassando aquela noite na minha cabeça. Pensei nela de pé na escada para o loft, ouvindo Bridget falar mal dela. Ela deve ter ficado arrasada ao me ver sentado no sofá com outra mulher, sem dizer nada.

Imaginei-a escorregando pelas escadas, silenciosamente recuando para o carro. Aposto que ela tinha lutado muito para não chorar porque ela estava toda vestida e tinha a maquiagem pronta. Essa primeira chance provavelmente foi muito fácil. Ela provavelmente deu boas-vindas àquele sentimento entorpecido.

Porque eu a quebrei. Não apenas naquela noite, mas todas as anteriores. Eu a abandonei. Eu me envolvi em um casulo chamado trabalho. Deixei ela sentar sozinha com um conselheiro matrimonial enquanto eu olhava para o relógio, sabendo que eu deveria estar ao lado dela.

Eu a decepcionei.

Eu.

E naquele momento, quando abri os olhos e o garoto do lado de fora balançou o bastão com muita força, sentindo falta da bola, eu sabia que não precisava perdoar Molly.

Eu já tinha, anos atrás.

Eu não queria que ela sofresse ou se sentisse culpada por suas ações. Eu queria que sua vida fosse cheia de alegria. De riso. Eu não estava abrigando essa carga de ressentimento.

Molly não deveria estar implorando pelo meu perdão. Era o contrário.

Eu precisava do dela.

Isso foi tudo minha culpa.

Seja o homem que ela precisa ou vá embora.

Poppy, abençoe sua alma, estava tão certa. Não haveria mais como me afastar. Era hora de consertar os erros que cometi todos aqueles anos atrás.

E eu sabia como começar.

Eu abandonei a janela, andando direto pelo corredor para o meu escritório. Sentei-me na cadeira, vasculhando uma gaveta até encontrar um bloco de anotações pouco usado. Então peguei uma caneta.

As duas primeiras palavras da minha carta trouxeram um sorriso ao meu rosto e esperança ao meu coração.

Querida Molly


- CARTA -

Querida Molly,


Eu ficaria honrado se você se juntar a mim para o jantar neste sábado à noite.


Seu,

Finn


DEZOITO

MOLLY


—VOCÊS VÃO ficar doentes. — Revirei os olhos para Jimmy e Randall.

Poppy ficou ao meu lado com os braços cruzados sobre o peito. —Eu não vou limpar o vômito. Eu amo vocês dois, mas há linhas que não vou cruzar.

— Eu não vou vomitar, — Jimmy murmurou. As palavras eram quase inaudíveis desde que sua boca estava cheia de comida.

Randall nos lançou um olhar enquanto mastigava. Sua boca estava tão cheia que ele nem conseguia fechar os lábios por todo o caminho.

— Sério, vocês são homens crescidos. Idosos. Tenham algum auto respeito. — Entreguei a Randall um guardanapo para que ele pudesse limpar a baba em seu queixo.

O par não deu ouvidos a uma única coisa que dissemos. Eles não fizeram pelos últimos vinte minutos. Eles apenas continuavam a comer.

O balcão estava cheio de potes parcialmente vazios. Pimenta. Pão de milho. Rolos de canela. Macarrão com queijo. Torta de maçã. Mousse de chocolate. Pão de banana. Por quê? Porque eles estavam fazendo um concurso de comida.

— Se vocês pararem com isso agora, eu vou citar um item no menu depois de vocês dois, — disse Poppy. Ela tentava suborná-los desde antes mesmo de o desastre ter começado. Primeiro, ela se ofereceu para lhes dar uma sobremesa extra - na casa. Então ela ofereceu duas sobremesas. Normalmente, os incentivos ao açúcar eram suficientes para colocar esses dois na linha.

Mas hoje, eles estavam em uma missão contra o outro. Eu não sabia exatamente o que havia desencadeado essa batalha em particular, mas ouvi alguns resmungos e o nome Nan mais de uma vez. Provavelmente, Nan era uma nova moradora do The Rainbow, que chamou a atenção de Jimmy e Randall, e esse concurso foi um espetáculo viril para determinar quem iria conquistar o coração de Nan.

— E pensar que quando deixei as crianças na escola esta manhã, pensei em como seria bom passar meu dia com adultos.

Jimmy estalou os dedos no ar, apontando para o pote vazio de chili.

— Não é assim que pedimos comida neste restaurante, — Poppy retrucou.

Ele enviou-lhe um olhar implorante, olhando para a coleção de frascos de Randall. Ele estava ganhando por um pimentão e uma batata frita tripla.

— Não. — Poppy cruzou os braços sobre o peito.

— Eu pego para você, Jimmy. — Cole foi para a vitrine refrigerada em nossos lados e pegou um chili da prateleira de cima. — Quente?

Jimmy balançou a cabeça e acenou para Cole.

— Você não está ajudando, detetive. — Poppy olhou para o marido.

Seus ombros tremiam com risadas silenciosas. — É tarde demais agora. Podemos também ver qual deles desiste primeiro.

Cole era a razão pela qual Jimmy e Randall tinham tido a ideia de começar toda essa provação. Ele desceu para almoçar no The Maysen Jar com Poppy. Aparentemente, eles tinham alguma coisa de teste físico no departamento de polícia hoje, e ele estava cortando carboidratos por algumas semanas para se preparar. Com o teste completo, e revelando sua liberdade dietética, Cole tinha inalado dois potes de mac e queijo como uma criança que tinha sido dada permissão para devorar sua sacola de doces de Halloween.

Ver Cole comer tão rápido desencadeara os instintos animais de Jimmy e Randall.

Eu poderia comer um pote mais rápido do que isso.

Eu poderia comer dois potes mais rápido do que você poderia comer um.

Então Cole concordou com a brilhante ideia de ter um concurso.

Um pote levou a dois, depois a três.

Quando Poppy e eu havíamos recusado veementemente servir-lhes outro pote de qualquer coisa, Cole tinha vindo atrás do balcão e assumido o papel de fornecedor.

— Eu não posso assistir. — Poppy virou de costas para o balcão.

Eu fiz o mesmo. Ainda podíamos ouvir colheres de prata raspando potes de vidro, mas pelo menos assim não precisávamos ver os idiotas se sentindo doentes.

— Vocês têm algum plano neste fim de semana? — Perguntei a Poppy. — Eu estava pensando em sequestrar MacKenna e Brady no sábado à noite. Com tudo o que aconteceu neste verão, sinto que não passei muito tempo com eles. Max e Kali estarão com Finn, então se você e Cole quiserem sair à noite, eu me ofereço como babá.

Ela não hesitou. — Feito. Nós os traremos por volta das seis.

— Perfeito. — Eu sorri. Seria legal estragá-los – e ficar com eles, assim, eu não estaria sozinha em casa.

Max e Kali tinham ficado na casa de Finn duas noites na semana passada e isso foi uma tortura. Com eles passando algumas noites por semana e de volta à escola, minha casa estava muito quieta.

Embora as palhaçadas de Randall e Jimmy tivessem ido além do espectro de loucura de hoje, eu precisava disso. Eu precisava de um bom dia no trabalho e lembrar da vida que eu construíra após o divórcio.

— O que mais está em pauta para hoje? — Perguntei a Poppy.

Ela olhou por cima do ombro e revirou os olhos. — Eu não tinha planejado reabastecer macarrão com queijo até amanhã, mas é melhor eu fazer isso hoje em vez disso.

— Chili também, — acrescentou Cole. Quando ela lançou lhe um olhar, ele ergueu as mãos. — O que? Está quase acabando. Jimmy está em três. Randall apenas dois. Eu sinto muito pelos residentes em seu andar hoje à noite. Isso vai feder.

Eu tossi para encobrir uma risada.

Poppy puxou os lábios para esconder um sorriso.

Isso é exatamente o que eu preciso hoje.

— Ok, eu vou me afastar disso. — Joguei um polegar por cima do meu ombro. — Eu vou fazer uma rápida varredura das mesas, em seguida, pegar o laptop e ler alguns e-mails.

— Eu vou voltar para a cozinha, — disse Poppy, em seguida, olhou para Cole. — Você volte para o trabalho?

Ele assentiu. — Assim que declararmos um vencedor aqui, eu vou embora.

— OK. Venha dizer adeus antes de ir. — Ela se aproximou e o beijou, derretendo contra o peito dele enquanto ele inclinava a cabeça e aprofundava.

Eles eram adoráveis. E tinham sorte. Tanta sorte.

Deixei todos eles e atravessei a porta de vaivém para a cozinha. A manhã foi movimentada, o restaurante cheio de estudantes universitários. Metade das mesas estavam ocupadas com livros didáticos e laptops enquanto os adolescentes estudavam, então eu não tinha passado muito tempo no escritório, saindo na frente para ajudar.

Eu me acomodei atrás da mesa, optando por separar as cartas primeiro para pegar as contas. Principalmente, a pilha que era lixo. A empresa de suprimentos de cozinha favorita de Poppy lhe enviara um novo catálogo que ela ficaria babando mais tarde.

Minhas mãos pararam em uma carta na parte inferior da pilha. Não foi dirigida para o restaurante, mas para mim. E era na letra de Finn.

— O que é isso? — Resmunguei. Não terminamos as cartas? Sério, eu precisava terminar com as cartas.

A outra correspondência foi jogada para o lado quando eu rasguei a costura do envelope e tirei o único pedaço de papel.

Meu queixo caiu quando eu peguei.

Jantar? Virei a página, mas as costas estavam em branco. Então eu li novamente. Por que ele quer que eu vá jantar? E por que ele me convidaria com uma carta?

Levantei-me da escrivaninha e corri para fora do escritório, carta na mão.

Poppy ainda não tinha chegado à cozinha. Ela estava rindo com Cole quando Randall ergueu as mãos em vitória.

Jimmy estava respirando com dificuldade, seu rosto um tom de verde enquanto ele agarrava seu estômago. — Nan é um amor, mas nenhuma mulher vale esse tipo de dor. Eu já estou com gases.

Randall riu.

— Algumas mulheres valem a pena tudo, — disse Cole, puxando Poppy para o lado dele.

Eu abri minha boca para puxar Poppy de lado, mas parei. Todos estavam de bom humor, apesar do cheiro desagradável se arrastar no ar. Esta carta, embora não seja ruim, seria o centro das atenções.

Randall deslizou da cadeira, os braços ainda levantados e começou a dançar pelo chão.

— Para um cara que usa uma bengala, você com certeza é ágil, — eu provoquei.

Sua resposta foi um sorriso e girar seus quadris.

— Nan, ela é uma mulher de sorte, — provocou Poppy.

Cole soltou uma exclamação antes de rir enquanto ele pegava seu celular para gravar um vídeo.

Eu dobrei a carta, juntando-me ao riso, determinada a não deixar que isso me incomodasse hoje. Eu não tinha certeza do que Finn estava tocando, mas hoje foi um dos primeiros dias normais que eu tive em um tempo.

Eu precisava de cartas normais, não uma para confundir minhas emoções.

Com a carta dobrada ao meio e enfiada no bolso de trás, virei-me para voltar ao escritório, mas parei quando a voz de mamãe passou pelo restaurante. — Molly.

— Oi, mãe. — Abandonei a porta da cozinha com um sorriso e encontrei a mamãe no meio do restaurante para um abraço. — Que surpresa. O que te traz aqui hoje?

Ela sorriu. — Eu não venho almoçar há algum tempo, e pedi a um cliente que cancelasse a sessão. Eu pensei em vir e dizer olá.

— Maravilhoso. Eu sentarei com você. O que você gostaria?

— Uma salada, por favor. O que você recomendaria.

— OK. Escolha um lugar e eu trarei para você.

Ela assentiu com a cabeça, olhando para Jimmy - ainda gemendo - e Randall - ainda dançando - junto com suas pilhas de potes.

Eu corri para almoçar com ela, uma salada de espinafre com uma incrível vinagrete de champanhe que Poppy havia misturado esta manhã.

— Como você está? — Perguntei depois de sentar em frente a ela.

— Tudo bem. — Ela preparou a salada. — Bem.

— E papai?

— Bem também. Ele está editando o livro de um colega esta semana, então eu mal o vi.

E para mamãe, isso provavelmente era o preferido. Papai também. Eles gostavam de suas vidas separadas, algo que eu nunca fui capaz de entender desde que Finn e eu fundimos cada pedaço do nosso casamento. Relação. O negócio. No começo, éramos praticamente inseparáveis.

Finn e eu talvez não tivéssemos trabalhado, mas eu não teria trocado aqueles dias por nada. Mamãe e papai, eles nunca tiveram isso. Eles nunca tiveram a paixão ou o amor um pelo outro que queimou mais que uma estrela.

Mesmo que nossa estrela tenha ficado escura, valeu a pena.

— Recebi uma ligação interessante esta manhã, — disse minha mãe antes de dar outra mordida. — Isso é delicioso.

— Poppy é um gênio da culinária.

—E lá é. Então, de qualquer maneira a chamada. Era de Lauren Trussel.

— Oh? — Eu me endireitei na minha cadeira.

Lauren Trussel era a conselheira matrimonial que eu tinha ido ver antes do divórcio. Depois daquelas sessões com ela sozinha, comigo dando desculpas para que Finn não tivesse se dado ao trabalho de aparecer, eu finalmente desisti. Quantas sessões foram necessárias antes de Lauren nos escrever como um caso destinado ao divórcio? 1? Talvez duas?

— E o que ela disse? — Perguntei.

— Ela disse que recebeu uma ligação estranha ontem do Finn. Ele queria agendar algum tempo para falar com ela.

Eu pisquei. — Finn? Meu Finn?

— Bem, ele não é mais seu Finn. Você é divorciada. E agora que ele finalmente está fora de sua casa e de volta à dele, você pode seguir em frente com sua vida.

— Isso não é ... — Eu parei, não querendo entrar em uma discussão sobre seus medos que eu tivesse um apego doentio ao meu ex-marido. Ela não sabia que Finn e eu estávamos dormindo juntos antes do acidente. Ela não sabia sobre as cartas. Ela não ia descobrir também.

— Por que Finn quer ver Lauren? — Eu perguntei. —E por que ela iria falar sobre isso?

— Nós sempre mantivemos contato. Ela me mantém a par das coisas que preciso saber.

— Coisas que você precisa saber? E isso inclui o Finn? E quanto à confidencialidade médico-paciente?

— Bem, Finn não é tecnicamente um cliente. Pelo menos ainda não.

Os cabelos na parte de trás do meu pescoço se levantaram. Havia algo mais aqui. Algo que mamãe estava guardando para si mesma.

— Mãe, — eu disse gentilmente. — Lauren manteve você a par das sessões que eu tive com ela?

Outro encolher de ombros quando ela terminou uma mordida de salada. — Eu sabia em alto nível o que estava acontecendo.

— Defina 'alto nível' para mim, por favor.

— Ela me deu uma avaliação do seu estado mental e emocional em uma escala de um a dez. Ela achava importante que eu soubesse quando você estava perto de um colapso para que eu pudesse estar lá para apoiá-la, já que Finn nunca se incomodou em aparecer para as suas sessões.

E ai estava. Todo esse tempo, Finn estava certo. Se Lauren estivesse confortável em contar a mamãe sobre como eu estava me sentindo, ela teria ficado tão confortável em dar detalhes de alto nível das sessões se Finn aparecesse.

Ele estava preocupado que mamãe iria descobrir sobre nós. E ele estava certo.

Droga.

— Isso não foi legal. — Minhas mãos estavam fechadas, os músculos furiosos enquanto eu falava. — Ela não tinha o direito de compartilhar isso com você.

— Não fique toda nervosa com isso, Molly. Não há muitos terapeutas na cidade. Todos nós mantemos contato caso enfrentemos um caso difícil e precisemos de informações.

— Eu não sou um caso difícil. Eu sou sua filha.

— Uma filha que deixou seu parceiro governar sua vida por muito tempo.

Governar minha vida? Isso era ridículo. Mamãe fez Finn ser esse vilão egocêntrico e controlador. — Você nunca gostou de Finn. Eu não entendo porque.

— Você é uma pessoa diferente quando ele está por perto.

— Uma pessoa diferente? O que você quer dizer?

— Você está mais preocupada com os sentimentos dele do que com o seu. Você dá a ele muito poder.

— Poder sobre o que? Eu sempre tomei minhas próprias decisões. Eu sempre vivi minha vida. Levar seus sentimentos em consideração não é uma coisa ruim, mãe. É o que você faz quando ama alguém.

— Você nunca se mudou para Nova York depois da faculdade. Você desistiu desse sonho.

Eu revirei meus olhos. — Esse foi o meu sonho por cerca de um mês, quando eu tinha dezesseis anos, quando pensei que queria trabalhar em Wall Street. Eu mencionei isso para você uma vez e você nunca deixou passar. Meus sonhos mudaram.

— E sobre o negócio dele? Vocês começaram esse negócio juntos e assim que foi estabelecido, ele praticamente empurrou você para fora da porta.

— Eu fiquei em casa com nossos filhos. Mas você está certa, isso foi difícil para eu aceitar. — Eu daria a ela aquele gosto.

— Isso realmente importa? — Ela perguntou entre mordidas. — Eu vim almoçar com você e avisar que Finn está procurando aconselhamento. Talvez seja por causa do acidente, mas você deveria saber. Ele poderia estar à beira de uma crise emocional. Pode não ser seguro para ele ficar sozinho com Kali e Max.

Que diabos?

— Você se ouviu? — Eu balancei a cabeça. — Finn nunca faria nada para prejudicar nossos filhos. Ele não está tendo uma crise emocional. Ele passou por um trauma horrível. Você de todas as pessoas deveria aplaudi-lo por querer falar sobre quaisquer problemas que possam ter causado.

Embora tenha sido bom saber que ele estava lutando. Depois de todas as cartas, depois de todo o ar que havíamos passado nos últimos meses, ele ainda não confiava em mim em seus sentimentos.

— Eu tenho os melhores interesses no coração.

Eu ouvi essa declaração da minha mãe mil vezes, sempre quando eu não concordava com ela. — Eu não vou fazer mais isso.

— Fazer o que?

— Jogar dos dois lados. Eu amo o Finn. Eu sempre amarei o Finn, quer estejamos juntos ou não. Ele é o pai dos meus filhos e um bom homem. Você pode julgar o meu casamento fracassado o quanto quiser, mas é hora de aprender a guardar essas opiniões para si mesma. Não venha para cá ou para minha casa e menospreze ele.

Mamãe olhou para mim como se eu tivesse enlouquecido. — O que há de errado com você?

— Nada. — Eu me levantei da mesa. — Estou apenas deixando minha posição perfeitamente clara. Na escolha entre você e Finn, ele sempre será o vencedor. Chame isso de doentio. Me chame de tola. Pense o que quiser. Essa é sua decisão. Mas eu fiz a minha escolha. Espero que você possa respeitar isso. Por favor, aproveite o resto da sua refeição. É por minha conta.

Sem outra palavra, deixei minha mãe sentada boquiaberta na mesa. Atravessei o restaurante, meu coração acelerado. Passei por Randall e Jimmy quando eles estavam quase em coma em seus bancos. Cole deve ter escapado pela porta dos fundos. Eu consegui manter meu queixo e ombros levantados até que eu chegasse na cozinha, então soltei o ar que estava segurando e deixei minhas mãos tremerem.

Poppy estava na mesa trabalhando. Ela abandonou o que estava misturando quando viu meu rosto pálido. — O que aconteceu? Você está bem? Você está tão pálida quanto um fantasma.

— Eu estou bem. — Tomei três respirações profundas. — Estou bem.

— Você tem certeza?

Eu balancei a cabeça. — Eu preciso que você me diga algo como minha melhor amiga e não como a irmã de Finn.

— OK.

— É loucura que eu amo Finn?

— Talvez, — ela respondeu. — Mas eu prefiro estar louca de amor do que apenas louca.

Eu ri, meus ombros relaxando longe dos meus ouvidos. Deixe para Poppy me fazer sorrir. Eu andei até a mesa, soltando meus cotovelos no topo e descansando meu rosto em minhas mãos. — Eu não acho que vou ter a relação mãe-filha que eu sempre quis.

— Claro que você vai. Com Kali.

Meu coração inchou enquanto eu imaginava o rosto de Kali a partir desta manhã, seu sorriso largo e brilhante quando ela se afastou do Jeep para começar seu dia de escola. — Deus, você está tão certa. Eu tentei por anos construir este diálogo fácil com a minha mãe e é apenas - difícil. Nunca foi fácil.

Mamãe falava. Eu escutava. Eu fazia porque era exaustivo demais discutir com ela. Aprendi isso cedo. Mamãe tinha uma resposta para tudo. Raramente era Você tem razão, Molly.

— Estou cansada de tentar, — admiti.

A porta se abriu com um rangido e eu me preparei, esperando que mamãe invadisse com algumas palavras bem escolhidas.

Em vez disso, Finn entrou. — Ei.

— Ei. — Eu me levantei da mesa. — Minha mãe ainda estava lá quando você entrou?

— Sim.

— Você falou com ela?

— Sim.

Eu dei a ele o olho lateral. — O que você disse?

— Eu comecei com oi, então eu disse a ela que a sombra marinho parecia boa nela, mas apressei-me para cá antes que ela pudesse dizer algo para me irritar.

— Obrigado por isso. Provavelmente é melhor que apenas um de nós brigue com ela hoje.

Ele piscou para mim duas vezes. — Você entrou em uma briga com sua mãe? Como uma briga real?

— Eu não sei se foi realmente uma briga, — disse a Finn. — Mas ela me deixou louca e eu pus um limite.

— Vou sair na frente e ficar de olho nas coisas. Deixarei vocês conversarem. — Poppy enxugou as mãos no avental, depois apertou o braço de Finn enquanto passava pela cozinha.

— Vamos para o escritório.

Ele me seguiu pelo corredor, tomando o assento em frente a mim na mesa, apoiando os cotovelos nos joelhos para me dar toda a sua atenção. — O que aconteceu?

— Mamãe não gosta de você.

Finn riu. — Diga-me algo que eu não sei.

— Eu acho que pensei que um dia ela iria. Mas agora vejo que ela não vai. Deixei claro que ela pode manter essas opiniões para si mesma porque elas não são bem-vindas na minha presença, que eu estou do seu lado e ela precisa ser respeitosa.

— Você brigou com sua mãe por mim?

— Briguei. — Eu balancei a cabeça. — Me desculpe, eu nunca fiz isso antes.

— Uau. — Ele sentou-se na cadeira. — Eu, hum ... obrigado.

— Por nada. Me desculpe por você brigar agora. Se houver algo que eu possa fazer para ajudar, mesmo que seja só para ouvir, estou aqui.

— Uh, eu estou brigando? — As sobrancelhas de Finn se juntaram. — Do que você está falando?

— Minha mãe. Você estava certo sobre o aconselhamento. Ela saberia tudo sobre nossas sessões com Lauren Trussel. Ela veio almoçar hoje e me disse que Lauren havia ligado para ela e dito que você tinha agendado uma consulta para conversar com ela.

— Ah não, vou cancelar esse compromisso!

— Não é justo. Você deve estar seguro para falar sobre o acidente se estiver causando estresse. Eu posso fazer uma escavação para encontrar um terapeuta na cidade que não se associe com a minha mãe.

— Eu não estou estressado sobre o acidente. Acabou. Estou bem. Eu me sinto sortudo e realmente feliz por estar vivo. Eu queria me encontrar com Lauren porque você se encontrou com Lauren.

— Estou confusa.

Ele se levantou e deu a volta na mesa, sentando na beirada. — A consulta de aconselhamento não foi para mim. Foi para nós.

— Hã?

— Eu tinha planejado levá-la junto. Para aconselhamento matrimonial.

— Nós não somos casados.

Finn encolheu os ombros. — Você recebeu minha carta?

— Não mude de assunto. Quer ir ao aconselhamento matrimonial com a sua ex-mulher?

— Antes tarde do que nunca.

Minha cabeça estava girando, e levei um momento para deixar tudo entrar. Finn queria ir ao aconselhamento matrimonial comigo. Aquilo foi atípico. E incrivelmente doce. — Você quer ir para o aconselhamento?

— Eu pensei que talvez tivéssemos algumas coisas para conversar, mas isso não importa agora, porque eu não vou me encontrar com Lauren. Eu esperava que estivesse errado e paranoico por ela ser uma das espiãs de sua mãe. Acho que eu estava certo.

— Sim, você estava. Mas tirando isso, obrigada. O gesto do aconselhamento ... eu agradeço.

— Você não respondeu minha pergunta. Você recebeu minha carta?

Eu mudei no meu lugar para que eu pudesse tirá-la do meu bolso. — Esta carta?

— Essa é a única. — Finn sorriu. — O que você diz? Janta comigo no sábado? Meus pais já concordaram em ficar com as crianças.

— Eu tenho planos. Desculpe. — Eu me levantei da cadeira e passei por ele em direção à porta. Eu não tinha certeza do que estava acontecendo, com a coisa de aconselhamento e a carta me convidando para sair, mas nós já havíamos decidido seguir nossos caminhos separados. Mais de uma vez.

— Espera. — Finn correu para me alcançar enquanto eu andava pela cozinha. — Que planos?

— Eu vou cuidar de MacKenna e Brady, então Poppy e Cole podem ter um encontro.

— Oh, — ele resmungou. — Então, que tal domingo?

— É uma noite de escola.

— Da última vez que verifiquei, você não estava na escola.

— Nós temos dois filhos que estão. Eles devem estar em casa, se preparando para a semana.

— Minha mãe pode vir e ajudá-los lá. Eles estarão na cama às nove, assim como todas as outras noites.

Eu passei pela porta de vaivém e fui para trás do balcão. — Eu vou assumir aqui fora.

— Ok. — Poppy sorriu e desapareceu de volta para a cozinha.

Finn estava em pé no final do balcão, com as pernas bem abertas e os braços cruzados sobre o peito. — Eu vou buscá-la no domingo às seis.

— Não.

— Por que não?

— Porque, — eu assobiei, andando mais perto dele para que Randall e Jimmy não ouvisse. — Não vamos fazer isso de novo.

Ele achava que eu voltaria para o caso que tivemos antes do acidente?

— Eu vou repetir, porque não?

— Nós já fizemos isso. Muitas vezes. Nós concordamos que era melhor assim, então ... é isso.

— Eu mudei de ideia, — declarou ele. — Eu vou mudar a sua também.

Antes que eu pudesse dar uma resposta, Randall nos interrompeu da cadeira. — Do que vocês dois estão sussurrando?

— Nada — eu respondi.

— Eu convidei a Molly para um encontro.

— Finn, — eu bati, batendo no braço dele.

— O que? Eles vão descobrir de qualquer maneira.

— E por que isto?

Ele sorriu. — Porque depois do nosso encontro na noite de domingo, você será todo sorrisos na segunda de manhã.


DEZENOVE

FINN


—VOCÊ ESTÁ me LEVANDO para o Burger Bob? — Molly perguntou enquanto caminhávamos pela calçada ao longo da rua principal.

Eu sorri e deixei cair a mão nas suas costas. — Você ainda gosta de hambúrgueres com queijo extra e bacon extra, não é?

— Duh

— Então Burger Bob sim. — Meu sorriso se alargou quando abri a porta para ela. Nós dois entramos no restaurante, ficando na soleira por um longo momento. Levei Molly para uma mesa alta ao longo da parede oposta, uma que nos daria privacidade para conversar.

Não foi fácil convencer Molly a sair hoje à noite. Ela recusou mais cinco vezes no dia em que recebeu minha carta no restaurante. Mas eu estava de pé atrás do balcão, perguntando repetidamente com meus pés aparafusados no chão, recusando-me a sair até que ela concordasse com um encontro hoje à noite.

Finalmente, ela bufou e disse sim. Jimmy tinha aplaudido por nós. Randall olhou com raiva.

Peguei Molly vinte minutos atrás. Mamãe chegou cedo na minha casa para ficar com as crianças. Ela prometeu três vezes aderir à sua hora normal de dormir - mas todos nós sabíamos que Kali e Max conseguiriam ficar acordados até tarde em uma noite de escola.

Bati na porta com dois buquês de lírios na mão: um para o quarto de Molly e outro para a cozinha.

Ela amava lírios. Ela disse que eles fazem a casa cheirar como um jardim de fadas. Quando entreguei meu cartão de crédito para a florista, percebi que já fazia muito tempo desde que eu comprei flores para ela. Molly as merecia semanalmente, e se isso desse certo, se eu a ganhasse de volta, ela os teria.

Talvez por trazê-la aqui para o Burger Bob, para o lugar onde nos conhecemos, ela se lembraria daquela excitação. Ela relaxaria e passaria uma noite fora. Como estava, ela estava tensa no passeio. Ela estava quieta. Mas o cheiro gorduroso no ar, prometendo uma boa refeição, a soltaria. Eu tinha certeza disso.

Eu não estava planejando falar sobre nada sério esta noite. Esta refeição foi toda sobre passar o tempo com o outro. Eu não ia contar a Molly que estava apaixonado por ela. Eu não ia dizer a ela que queria ir para casa e vender meu lugar. Eu não ia dizer a ela que não precisávamos esquecer o passado porque eu a perdoei. Eu estava trabalhando em me perdoar.

Eu não ia implorar a ela que me perdoasse por todo o mal que cometi em nosso casamento.

Essas declarações viriam.

Hoje à noite, eu queria absorver seu sorriso e saborear sua risada.

Molly sentou-se à mesa primeiro, enfiando a bolsa por baixo. Ela estava vestindo um par de jeans skinny que exibia a curva deslumbrante de seus quadris. Seu cabelo estava solto, caindo sobre os braços nus e as tiras finas da blusa cinza de cetim e renda que escolhera - obrigada, mãe natureza, pelo inestimavelmente quente outubro de Montana.

Molly parecia sexy como o inferno. Tinha sido difícil não tomá-la em meus braços em sua porta, mas eu resisti, aguardando o meu tempo para um beijo de boa noite mais tarde, quando a deixasse em casa.

— Você sabe o que eu mais amo neste lugar? — Seus olhos percorriam os tetos altos, as mesas de madeira - anos de arranhões em suas superfícies - e a infinidade de molduras com fotos de memorias de Bozeman adornando as paredes. — Isso nunca muda. Sempre o mesmo cheiro e sempre o mesmo aspecto. Desde a faculdade, nunca mudou.

Eu estendi a mão sobre a mesa para cobrir a dela. — Obrigado por vir aqui hoje à noite.

— De nada. — Ela sacudiu a mão para que fôssemos palma com palma. Os laços de cabelo em seu pulso fizeram cócegas na minha pele. — Por que você me convidou para um encontro?

— Você sabe o motivo.

— Eu não.

— Sim, você sabe.

— Por que você escolheu o Burger Bob?

— Lembrar. E para começar de novo. — Eu envolvi meus dedos ao redor de sua mão. — Há outras coisas nesta sala que não mudaram desde a faculdade.

— Como a graxa cobrindo o chão?

— Não. — Eu ri e olhei em seus olhos. — Como quando você está aqui, você é tudo que eu vejo.

Suas bochechas coraram, seus olhos dispararam para nossas mãos. Se ela ia dizer alguma coisa, se perdeu quando dois menus de plástico foram colocados na mesa.

— Bem-vindos, pessoal. O que vão beber? — Perguntou a garçonete.

Molly e eu pedimos uma cerveja. Quando a garçonete saiu para pegá-las, soltei a mão de Molly para pegar os dois cardápios. — Posso pedir para você?

— Sim, mas me reservo o direito de interpor se você errar.

— Errar. — Eu zombei. Eu tinha memorizado a encomenda de cheeseburguer de Molly na noite em que a conheci. E eu sabia que não mudara em quinze anos.

A garçonete apareceu com nossas cervejas. — O que vão comer?

— Dois hambúrgueres, bem passado. Ambos com queijo extra e bacon extra. Fritas de acompanhamento. Para ela molho ranch. O meu com ketchup.

Meus olhos foram para Molly. Seu queixo caiu quando ela tentou esconder um sorriso. Acertou em cheio.

— Ok. — A garçonete recolheu os menus. — Eu vou pegar isso.

— Saúde. — Molly levantou seu copo de cerveja.

Eu balancei a cabeça, tilintando a borda do meu para o dela antes de tomar a bebida. — O que você vai fazer no próximo sábado à noite?

— Uh, nada. Sair com as crianças. Por quê?

— Eu queria saber se eu poderia levá-la para assistir um filme.

— Tentando planejar outro encontro já? — Ela brincou. — Isso é arriscado. E se este se transformar em um desastre?

— Desde que eu passe um tempo com você, nunca será um desastre.

Ela corou novamente e acrescentou um revirar de olhos. — Acho que você está exagerando.

— Um homem não pode cortejar e fazer elogios para conquistar sua mulher?

Suas sobrancelhas se uniram enquanto ela me estudava por um momento. — Você está me cortejando?

— Estou tentando.

— Eu, hum ... — Ela engoliu em seco. — Oh.

Ficamos em silêncio por alguns momentos, bebendo nossas cervejas, até que ela disse: — Sim. Seria um prazer ir ao cinema.

— Querida, o prazer será todo meu.

— Vou perguntar a Poppy se eles podem ficar com as crianças.

— Já fiz. Ela topou.

Molly lutou com um sorriso, em seguida, olhou para a cabine de canto no lado oposto da sala. — Eu não venho aqui há anos. Não desde ...

Não desde que Jamie foi morto.

— Nem eu. — Havia alguns lugares em Bozeman que eu parei de ir simplesmente porque as memórias com Jamie estavam impressas nas paredes. O Burger Bob's era um deles. Foi um ponto de encontro favorito para todos nós na faculdade. Muitas vezes nos encontramos aqui para um hambúrguer de fim de noite e algumas risadas.

Mas era hora de colocar esses fantasmas para descansar também. Foi outra razão pela qual eu escolhi este lugar para o nosso encontro. Eu queria que Molly visse que a morte dele não iria me atormentar. Não mais.

— Não é tão difícil quanto eu pensei que seria, — disse ela. — É agridoce. Eu sempre vou sentir falta do Jamie. Mas não consigo imaginar uma vida sem Cole.

— Eu sinto o mesmo. Acho que demorei muito para perceber que não era um ou outro. É e. Nós tivemos Jamie. E nós temos o Cole.

— Cole. — Molly franziu a testa. — Eu tomei uma multa no outro dia quando o meu medidor acabou, e ele não vai consertar isso para mim. Idiota.

Nós dois rimos e a conversa ficou fácil. Por horas. Nós não falamos sobre as crianças ou o trabalho. Nós acabamos de falar sobre a vida. Que programas de TV eu estava assistindo. Molly me contou sobre um livro que ela leu recentemente. Quando nossos jantares chegaram, nós comemos, mastigando rápido para que pudéssemos conversar um pouco mais.

— Estou tão cheia. — Molly suspirou. Seu prato tinha os últimos restos de seu hambúrguer e algumas batatas fritas não comidas. —Isso estava delicioso.

— Você gostaria de sobremesa?

Ela balançou a cabeça. — Não, obrigado. Não tenho espaço.

— Ok. — Olhei por cima do meu ombro, recebendo a atenção da garçonete pedindo a conta. O restaurante estava cheio, mesmo para um domingo.

— Vou usar o banheiro antes de irmos, — disse Molly, em seguida, se aventurou no fundo da sala quando a garçonete se aproximou para pegar meu cartão de crédito e tirar os pratos.

Eu estudei a mesa, sorrindo que a noite tinha sido um sucesso. Foi o melhor encontro que tivemos, com exceção do primeiro. E eu queria mais. Muito mais. Uma vida inteira de mais.

— Finn? — Eu olhei para cima da mesa, surpresa ao ouvir a voz de Bridget. — Ei.

— Ei. — Eu sorri. — O que está rolando?

— Raylene e eu estamos indo jantar. — Ela ergueu um dedo para sua amiga, que foi em busca de uma mesa enquanto Bridget se aproximava da minha. — Você está chegando agora? Você pode se juntar a nós.

— Estou prestes a sair, na verdade.

— Eu não sabia que você ia comer sozinho. Você deveria ter me ligado. Eu teria vindo para jantarmos juntos.

— Oh, não. — Eu balancei a cabeça. — Eu não estou sozinho.

O sorriso de Bridget caiu e o menor estremecimento puxou suas bochechas. Seus olhos também se afastaram.

Uma reação que fez meu cheeseburger se agitar.

Quando tivemos nossa grande investida, Molly disse que Bridget estava apaixonada por mim. Eu não tinha pensado muito sobre isso desde então porque as emoções estavam altas naquele dia. Houve muitas coisas mais importantes nessa briga para me concentrar do que minha empregada.

Mas Molly estava certa? Bridget estava apaixonada por mim?

Minha mente correu quando pensei em todas as vezes que as duas mulheres estavam juntas. Mesmo no começo, Bridget nunca se deu bem com Molly. Não que elas tivessem trabalhado muito tempo juntas. Eu tinha tomado Bridget sob minha asa, e naqueles primeiros dias, estávamos juntos desde a manhã até a noite.

Houve tempos em anos mais recentes, quando uma namorada minha ia para Alcott. Brenna costumava descer e levar o almoço de vez em quando. Não me lembrava se Bridget dissera olá.

Foda-se.

Molly estava certa. Eu estava cego.

— Finn? — Bridget tocou meu braço. — Você está bem?

— Desculpe-me. — Molly limpou a garganta.

Eu pulei, torcendo no meu lugar. O movimento bateu a mão de Bridget do meu braço. A carranca no rosto de Molly era tão indesejável quanto a percepção de que minha funcionaria mais confiável e leal tinha sentimentos por mim.

Bridget olhou entre nós dois, juntando as peças. Então ela olhou para mim, os olhos arregalados e cheios de julgamento. — Ela é o seu encontro?

— Você se importaria? — Bridget estava bloqueando a cadeira de Molly. Ela deu um passo à frente na tentativa de fazer Bridget recuar. — Eu preciso pegar minha bolsa.

Bridget não se mexeu. E eu a conhecia bem o suficiente para saber que ela tinha cavado seus saltos. Ela faria Molly andar todo o caminho para pegar sua bolsa.

Deus, eu era tão idiota. Todos os homens perderam essa merda com as mulheres? Ou eu estava especialmente sem noção? Eu vi agora. Estava iluminado mais do que o sinal de néon Bud Light na janela da frente do restaurante.

Eu me levantei da mesa, me inserindo entre as mulheres. Forçou Bridget a recuar dois passos, dando-me espaço suficiente para que eu pudesse me esconder debaixo da mesa, pegar a bolsa de Molly e passá-la.

Ela pendurou no ombro e cruzou os braços. Mesmo com eles enrolados no peito, seus ombros tremeram. Não com medo, mas com raiva. Seus olhos estavam frios quando ela olhou para Bridget.

Molly não odiou. Nunca. Ela não se antagonizou. Ela não criava inimigos, o que significava que se ela olhasse para Bridget como se estivesse pronta para envolver as mãos no pescoço, era porque Bridget tinha empurrado longe demais.

Minha protegida - minha amiga - tinha sido horrível com minha esposa.

Aconteceu bem debaixo do meu nariz e eu fiquei inconsciente.

—É melhor irmos. — Eu peguei o cotovelo de Molly, erguendo os braços separados. Ela lutou comigo por um momento, depois desistiu. Com os braços pendurados ao lado do corpo, eu capturei a mão dela e a segurei com força.

Bridget franziu o cenho para as mãos entrelaçadas, depois olhou para mim com os olhos cheios de descrença. — Realmente, Finn? Ela?

Que porra é essa? Quem é essa estranha? Porque ela certamente não era a Bridget que eu conhecia há anos.

Molly tentou puxar a mão dela, mas eu apertei mais forte.

— Sim, ela. É sempre ela. — Passei por Bridget, puxando Molly. —Te vejo amanhã. Aproveite seu jantar.

O ar fresco da noite era impossível de desfrutar quando Molly e eu caminhamos para a minha caminhonete. A cada passo ela recuava para longe de mim, embora nossas mãos permanecessem trancadas.

Todo o progresso que fizemos, o bom tempo, tinha sido arruinado.

Respirei fundo enquanto caminhávamos, na esperança de nos acalmar. Mas minha raiva só queimou mais. Estávamos a três metros da caminhonete, mas não pude dar outro passo.

Meus pés pararam de repente. — O que ela fez?

Molly tentou continuar andando. Eu não soltei meu aperto. —Vamos apenas, Finn.

— O que ela fez?

— Não é nada.

— Molly, — eu sussurrei. — Por favor. Conte-me.

Ela encontrou meu olhar. — Você trabalha com ela. Eu não quero causar problemas com isso.

— Existem problemas. Não importa o que você me diga esta noite, nós temos grandes problemas. E eu realmente gostaria de ouvir isso. De você.

Seu queixo caiu quando ela assentiu. — Acho que ela pensou que eu era uma piada quando começou em Alcott. Que eu era apenas sua esposa boba, fingindo administrar um negócio. Ela foi brusca. Educada, mas malcriada. Então nos divorciamos. A educação parou.

Meus molares se uniram enquanto eu me obrigava a ficar quieto e deixar Molly continuar.

— Ela ficou do seu lado. Eu entendi isso. Mas ela era desagradável, sempre olhando e resmungando as coisas pelas minhas costas. Então houve aquela noite, aquela em que eu fui a Alcott e ela me chamou de cadela enquanto você assistia TV.

— Eu juro que não ouvi. — Eu não teria deixado isso passar. Porra, eu me odiava por aquela noite.

Ela assentiu. — Eu acredito em você.

— O que mais aconteceu?

— Bem, você contou a ela sobre mim. Sobre ...

— O outro cara. — Fechei meus olhos. — Porra. Eu sou tão idiota. Eu nunca deveria ter dito a ela. O que ela fez?

— Ela parou de murmurar coisas nas minhas costas e me disse na minha cara que eu era uma prostituta.

O que. O. Porra. Minha visão ficou vermelha. — Você não é uma prostituta.

— Não. — Ela trancou meus olhos, endireitando sua coluna. — Não, eu não sou.

— Algo mais?

— Ela tem se portado como uma vadia desde então. Eu evitei ela a todo custo.

— É por isso que você parou de ir a Alcott?

Dei de ombros. — É parte disso. Principalmente parei de ir porque era seu, não o nosso lugar.

— Eu sinto muito. Eu quero que você saiba que eu vou resolver isso.

— Não se estresse com isso. — Ela apertou minha mão uma vez e então apontou para a caminhonete. — Eu não preciso da aprovação dessa mulher para ser feliz.

Não, ela não precisava. Mas ela precisava saber que eu a apoiava.

E amanhã de manhã, Bridget e eu íamos ter uma conversa.

O caminho para a casa de Molly foi rápido e silencioso. Foi difícil bloquear o incidente com Bridget, mas eu estava determinado a colocar esse encontro de volta nos trilhos. Então dirigi com uma mão, a outra apertando a de Molly, para que ela soubesse que eu estava lá. Eu não ia deixá-la se afastar.

— Obrigado, — eu disse quando entrei na garagem.

— Por nada. Foi muito bom. Até mais tarde. — Ela soltou a mão.

— Espere. — Eu parei enquanto ela pegava a maçaneta da porta. — Eu vou abrir.

— Está ...

— Por favor. Deixe-me abrir a sua porta.

— Tudo bem.

Eu saí da caminhonete e fui para o outro lado. Com a mão dela na minha enquanto a ajudei a descer, enviei uma oração silenciosa até o céu crepuscular. Um beijo. Me dê um beijo. Se eu pudesse conseguir uma abertura para um beijo, eu poderia ter uma chance de mudar essa noite.

— Posso acompanhá-lo até a porta?

— Se você insiste. — Ela assentiu com a cabeça e me deixou liderar o caminho. — É estranho sem a rampa. Não demorou muito, mas me acostumei com isso.

— Eu posso mandar construí-la novamente. Eu sei que Max adoraria tê-la para seu skate.

Ela riu. — Vou me acostumar com os passos de novo e do jeito que as coisas eram.

Chegamos à porta e ela olhou para mim. Sua mão não foi para o trinco.

Sim. Alguém no andar de cima ainda gostava de mim.

Sem uma palavra, coloquei as bochechas de Molly nas palmas das mãos, depois coloquei meus lábios nos dela, engolindo o arfar de surpresa.

Suas mãos vieram ao meu peito, hesitando em descansar no algodão engomado do meu botão. Enquanto eu segurava sua boca aberta e deslizava minha língua para além da costura, suas mãos pressionaram contra o meu peito, seus dedos segurando o material enquanto eu inclinei sua cabeça e mergulhei mais fundo.

Ela gemeu. Eu gemi. Nós nos movemos um contra o outro, minha dureza empurrando contra seu quadril. Seus seios batendo no meu peito.

Nós nos beijamos quentes e molhados, cada um de nós ofegante quando eu finalmente me afastei.

— EU ... — Ela engoliu em seco. — Uau.

— Eu quero entrar. — Dei um passo para longe. Então outro. —Mas eu vou para casa.

— Ok. — Suas bochechas estavam vermelhas, seus lábios inchados. Ela tocou em um, o canto de sua boca se elevando. — Isso é provavelmente inteligente.

— Obrigado pelo jantar.

— Essa é a minha fala.

— Sinto muito sobre Bridget.

— Está tudo bem. — Ela acenou. — Não é sua culpa.

— Isto é. Vou consertar. — A primeira coisa amanhã de manhã. Eu me estiquei entre nós, pegando a mão dela, e levei os nós dos dedos aos meus lábios para um beijo suave. — Boa noite, querida Molly.

— Boa noite.

Ela estava na varanda, encostada em um poste enquanto eu corria para minha caminhonete e me afastava da casa. Ela me beijou de volta. Apesar aparição inoportuna de Bridget, Molly me beijou de volta. O sorriso no meu rosto permaneceu no lugar até em casa.

— Parece que você teve um bom encontro, — disse minha mãe do meu sofá enquanto eu entrava e jogava as chaves no balcão da cozinha.

— Eu tive. As crianças estão dormindo?

— Max sim. Mas eu disse a Kali que ela poderia ler por um tempo em sua cama.

— OK. Eu vou entrar e dizer boa noite.

Mamãe levantou do sofá e veio para um beijo na minha bochecha. — Estou indo para casa.

— Obrigado por ficar com eles.

— A qualquer momento. E eu quero dizer isso. O que for preciso para você ganhar Molly novamente, estou aqui para ajudar. Sentimos falta dela.

— Você trabalha com ela. Diariamente. Você a vê mais do que eu.

— Não é o mesmo. Ela está desaparecida da nossa família.

Natal. Ação de Graças. Os churrascos aleatórios que tínhamos desde que mamãe e papai haviam se mudado para cá. Mamãe estava certa. Molly estava desaparecida da nossa família.

Mas eu a pegaria de volta e preencheríamos esse vazio. E nunca mais ficaria vazio de novo.

— Dirija com segurança. — Abracei minha mãe, em seguida, desci o corredor, em direção ao brilho dourado debaixo da porta de Kali. Eu entrei devagar, no caso de ela ter caído no sono. Mas lá estava ela, os cachos ainda molhados do banho, lendo um livro apoiado nos joelhos. — Oi docinho.

— Oi, papai. — Ela fechou o livro. — Como foi?

Sorri e atravessei o quarto, inclinando-me para beijar sua testa. —Bom.

— Ela disse sim ao filme? Ou vamos com o Plano B?

Eu não estava nem um pouco envergonhado de recrutar minha filha para meu plano de reconquistar sua mãe. Kali estava no convés como minha salvadora para o encontro do filme. Se Molly dissesse não, Kali ia pedir a Molly para dormir na casa de uma amiga. Nós já pensamos em uma desculpa para levar Max para a casa da mamãe. E isso me liberaria para levar Molly em um encontro surpresa.

— Ela disse sim. Vocês podem ficar na casa da tia Poppy e do tio Cole.

Kali socou o punho. — Sim.

— Ok, é melhor você descansar um pouco. Escola amanhã. — Eu beijei sua testa novamente. — Eu te vejo pela manhã. Eu te amo.

— Eu também te amo. — Ela se aconchegou quando eu apaguei a lâmpada.

— Noite.

— Pai? — Ela me chamou antes de chegar à porta. — Eu sei que você pode fazer mamãe feliz.

Eu sorri. — Eu também.

 


—Bom dia—, Bridget murmurou, ela ainda estava de óculos escuros quando entrou em seu escritório.

Suspirei, tomando o último gole do meu café. Eu estava temendo essa conversa a manhã toda. Assim que eu deixei as crianças na escola, vim para Alcott esperando que ela já estivesse aqui.

Bridget normalmente entrava antes das oito para ajudar a colocar as equipes no pátio. Mas o relógio na parede dizia nove.

Ela provavelmente estava chateada comigo, mas eu não me importava. Ela cruzou uma linha. Ela deveria saber disso.

Molly estava fora dos limites.

Eu me levantei e fui até a porta do escritório dela. Ela estava tirando um frasco de analgésicos da gaveta da escrivaninha. — Eu preciso falar com você esta manhã.

— Pode esperar? Tenho uma dor de cabeça desagradável e vou embora em trinta para verificar o projeto Morrison.

— Não, não pode. Eu vou te dar alguns minutos. Entre quando estiver pronta.

— Tudo bem, — ela disse.

Voltei para o meu escritório, mentalmente percorrendo as coisas que queria dizer, em seguida, peguei meu telefone para enviar um texto para Molly.

Eu: Então? Você está sorrindo a manhã toda?

Apertei enviar e imediatamente três pontos apareceram.

Molly: Você nunca saberá.

Isso foi um sim. Eu ri da tela quando Bridget entrou no escritório, uma garrafa de água de plástico na mão. — Tudo bem?

Coloquei meu telefone na mesa, apoiando meus cotovelos nela. —Precisamos falar sobre Molly.

Ela revirou os olhos.

— Isso. — Eu apontei para o rosto dela. — Essa é a última vez. Você vai tratá-la com respeito.

— Ou o que?

— Ou você está demitida.

— O quê? — Seus olhos saltaram para fora. — Você não pode me demitir.

— Você esqueceu qual nome está na placa?

— Você precisa de mim. Este lugar entraria em colapso sem mim.

— Bridget, você é talentosa e trabalhadora. Você traz muita habilidade e experiência. Você conhece nossos sistemas por dentro e por fora e trabalhar com você é fácil. Mas eu não vou, sob nenhuma circunstância, permitir que você destrate Molly. Ela é a mulher mais importante da minha vida e sempre foi. Ela ajudou a criar esse negócio a partir da sujeira. Estou lhe pedindo como seu colega para mostrar seu respeito. Eu estou dizendo a você como seu empregador que você vai tratá-la com respeito.

— Você está me dando um ultimato? Eu tenho que jogar bem com uma mulher que não apoiou você ou este negócio? Uma mulher que te traiu ou estou sem emprego?

— Você entendeu.

Ela zombou. — Você vai se afogar sem mim.

— Todo mundo é substituível. Todos. Incluindo você.

Eu não queria demiti-la. Nós trabalhamos juntos há tanto tempo - ela tinha tanta bagagem - e eu teria uma grande bagunça em minhas mãos. Mas eu descobriria. A temporada estava quase no fim e eu recuperaria as coisas antes da próxima primavera.

— Então é melhor você ter um advogado decente. Não há lei que diga que eu tenho que ser legal com a ex-esposa do meu chefe. Se você me demitir, espere uma ação judicial.

Uma ameaça. Agora não era uma questão de se eu a demiti. Agora era uma questão de quando. Bridget não tinha intenção de respeitar Molly, e isso não funcionaria para mim.

— Você sabe que Molly possui dez por cento de Alcott?

O rosto de Bridget empalideceu. — Não.

Poucas pessoas sabem. Molly não queria Alcott no divórcio. Ela queria a casa em vez disso. Mas o valor do negócio em comparação com a casa era tal que ela estava perdendo dinheiro. Então eu me ofereci para lhe dar uma quantia fixa. Fomos rodada após rodada, tentando resolver.

No final, concordamos que ela poderia manter dez por cento de propriedade como investimento. De acordo com o estatuto da minha empresa, os dez por cento não significavam nada. Ela não tinha controle, nada a dizer nas decisões de negócios. Mas se Alcott vendesse, ela teria um retorno.

Ela protestou contra os dez, dizendo que cinco eram suficientes. Mas eu insisti. Ela ganhou muito e muito mais. Minha proposta original tinha sido para quinze.

— Molly é uma investidora dessa empresa, — eu disse a Bridget. — Considere-a uma de suas chefes. Trate-a como você faz comigo e todos ficaremos bem.

A sala ficou em silêncio. Ela olhou para mim como se não pudesse acreditar que isso estava acontecendo, que meu pedido foi completamente irracional, até que finalmente ela disse: — Então eu me demito.

Fechei meus olhos. Doeu ouvir essas palavras. Isso me irritou também. Ela não tinha o direito de odiar tanto Molly. Certamente não o suficiente para desistir de sua carreira aqui em vez de crescer e agir como um maldito profissional. Mas eu não ia me mexer.

— Sinto muito que tenha chegado a isso. — Eu parei na minha mesa. — Eu escolto você.

— Minhas coisas ...

— Eu vou mandar embalar e enviar para você esta noite.

— Você está me tratando como se eu fosse uma criminosa! — Ela gritou, voando para fora de sua cadeira.

— Esta é a política quando alguém é denunciado ou desiste, — eu a lembrei. Inferno, ela foi a única que arrumou um armário ou dois.

Eu nunca tive aviso prévio de alguém. Se eles iam embora, eles iam embora. E eu não queria que ex-funcionários empacotassem suas coisas - ou qualquer um dos meus - então fazemos as malas para eles e entregamos os pertences pessoais.

Esta é a política. Eu aderi a política.

Ela olhou para mim por mais um longo momento, depois atravessou a sala. Ela foi direto para o escritório, pegou a bolsa, as chaves e os óculos escuros antes de marchar para a porta da frente.

Eu a segui, parado do lado de fora quando ela foi para o carro. Eu tinha certeza que ela sairia sem uma palavra e nunca olharia para trás, mas quando ela abriu a porta, ela se virou para mim.

— Eu poderia ter sido, poderíamos ter.... — Ela balançou a cabeça. — Você sempre foi um tolo por ela.

— Sempre. E eu não faria de outra maneira.


- CARTA -

Querida Molly,


Eu tenho saudade de você. Eu senti falta de ver seu sorriso e ouvir sua voz. Sábado não pode vir em breve. Jantar com você no Burger Bob's foi uma das melhores noites que tive em meses. Anos, na verdade. Eu quero fazer uma coisa regular para nós, compartilhando uma refeição que você não tem que cozinhar. Uma onde podemos rir e conversar e apenas desfrutar da companhia um do outro. Eu espero que você também queira isso.


Me diga que você também quer. Que você nos quer.


Eu não vou desistir desta vez. Não há mais desculpas. Não há mais obstáculos. Eu não vou deixar nada nos impedir de estar juntos. Mesmo que seja apenas um encontro, uma semana de cada vez.


Seu,

Finn


VINTE

MOLLY


— VOCÊ TEM CERTEZA DISSO? — Perguntei a Finn enquanto caminhávamos pelo corredor do cinema.

Meus braços estavam carregados com uma pipoca média, uma caixa de Mike e Ikes, passas cobertas de chocolate e um refrigerante grande. Finn tinha um carregamento semelhante em seus braços, exceto que ele optou por nachos com sua pipoca e apenas uma caixa de doces.

— Nós podemos lidar com isso.

— A última vez que fiz lanches de cinema foi uma refeição completa na faculdade.

— Eu me lembro. — Ele riu. — Esses foram alguns dos encontros mais caros que tivemos.

— Mas alguns dos melhores também. Eles eram os especiais.

Custara a Finn uma pequena fortuna pagar os ingressos de cinema e os lanches que compramos em vez de um jantar de verdade. Ele sempre insistiu em pagar, muito parecido com essa noite. Então, apesar de ir ao cinema ter sido um dos meus encontros favoritos, eu sempre tive o cuidado de não sugerir isso com muita frequência.

— Você esteve no cinema ultimamente? — Finn perguntou.

— Não. Não houve muito tempo neste verão.

— Sim. Este verão foi outra coisa.

— Eu costumava ir ao cinema muito, — eu disse ao Finn. — Foi o meu tratamento sempre que você ficava com as crianças nos fins de semana.

— Com quem você foi? Amigos?

— Não. Eu vim sozinha.

Finn diminuiu o ritmo. — Mesmo?

O olhar no rosto dele. A inclinação lamentavelmente culpada de sua boca era cômica. — Por escolha. Eu gosto de ir ao cinema sozinha.

— Eu não gosto que você vá sozinha. — Ele franziu a testa. — Mas acho que isso não importa mais. Eu sou o seu acompanhante para os filmes a partir de agora.

Um formigamento quente se espalhou pela minha pele. A maneira como ele disse isso, a forma como ele abordou esses reavivamento de nosso relacionamento com tanta segurança e determinação, não foi realmente um reaquecimento. Foi mais como um novo começo. E embora isso me deixasse nervosa, a confiança absoluta de Finn na direção em que estávamos indo era emocionante.

Ele me enviou uma carta na semana passada. Eu tinha chegado no restaurante de novo, e sorri como uma louca enquanto eu lia repetidamente.

Não há mais desculpas. Não há mais obstáculos.

Lendo essas palavras, eu realmente não acreditei nelas. Eu realmente não tinha pensado que Finn mudaria. Mas então Poppy veio me falar sobre Bridget. Que Finn se sentou com ela e exigiu que ela me tratasse com respeito, e que quando ela se recusou e desistiu, ele a levou até a porta.

Isso me deu esperança. Ele me deu esperança.

Esperança não era uma borracha para meus medos. Nós começamos brilhantemente uma vez antes e terminamos em cinzas.

Havia algo diferente sobre isso. A diferença era Finn.

Mamãe sempre disse que ele era um homem fechado. Eu não diria a ela que ela estava certa, mas o acidente, as cartas, ambos os forçaram a se abrir.

Talvez desta vez, nós acertaríamos.

Como eu tinha feito antes do nosso jantar no Burger Bob, deixei meus medos e dúvidas de lado e entrei na caminhonete de Finn para esse encontro no cinema com a mente aberta.

Finn e eu encontramos nossos lugares no teatro. Nós colocamos salgadinhos nos nossos porta-copos. Bandejas descansaram em nossas voltas. E como as prévias começaram, nos prendemos nossa refeição irresponsável, insalubre e deliciosa.

Quando as caixas de pipoca estavam descansando aos nossos pés, mantive meus olhos na tela, mas minha atenção estava na mão de Finn, esperando que ela tomasse a minha.

Em nosso primeiro encontro no cinema, ele o levou no meio do filme para finalmente me tocar.

Esta noite levou alguns minutos. Assim que ele terminou seu último nacho, minha mão estava na dele. Ele manteve até que as luzes se acendessem e os créditos fossem tocados.

— O que você achou? — Finn perguntou enquanto caminhávamos para fora. Estava escuro agora. A luz do entardecer de quando entramos desapareceu há muito tempo.

— Gostei.

— Ok. — Ele zombou. — Você odiou isso.

Eu sorri abertamente. — Não, está tudo bem.

— Molly, eu podia ver seus olhos rolando.

Foi sem dúvida um dos piores filmes que eu já vi. O enredo era previsível. A atuação era quase horrível. O personagem do ator principal era burro demais para viver - o único ponto brilhante do filme era no final, quando o mataram.

— O filme não foi o melhor, — eu admiti. — Mas ainda assim me diverti.

— Eu também. — Ele balançou nossas mãos entre nós, como se fôssemos duas crianças e apaixonadas com estrelas em nossos olhos. — Quer beber alguma coisa?

— Claro. — As crianças estavam na Poppy e Cole para dormir. Eu não tinha nada para me apressar para casa além de uma cama vazia.

Quando saímos do estacionamento, esperei que Finn se voltasse para os bares do centro da cidade. Em vez disso, ele seguiu o caminho oposto.

— Onde estamos indo?

Ele se inclinou e colocou a mão no meu joelho. — Minha casa.

Meu corpo inteiro ficou tenso, os músculos se agarrando.

Finn sentiu isso. Ele não tirou a mão, mas desenhou círculos no meu jeans com o polegar. — É só a minha casa. Você disse que não queria ir para lá porque precisava manter os limites eretos. Mas eles têm que descer, Molly. Todos eles.

Ele estava certo. E sua casa se tornara menos intimidante agora que eu sabia que ele nunca esteve com uma mulher em sua cama.

— Ok, — eu respirei. Se nós íamos namorar, isso era inevitável.

Meu estômago estava em nós no momento em que entramos em sua garagem. Eu não tinha enlouquecido esta noite. Eu tinha comido apenas o suficiente para me sentir completa, mas não o suficiente para ficar doente. Tanto para minha contenção. A combinação de pipoca e doces estava girando em minhas entranhas como um tornado de arco-íris.

Finn abriu a minha porta para mim, pegando minha mão enquanto me levava para sua casa.

Minha aversão à casa de Finn era estúpida. Eu sabia. Mas ainda demorei alguns instantes para respirar.

O cheiro me atingiu primeiro quando entramos. Estava limpo com um toque de limão. E por baixo disso estava o perfume masculino de Finn. A garagem se abriu para uma lavanderia. Ele tinha uma lavadora e secadora melhor do que a minha, e o piso de cerâmica estavam impecáveis. Não havia uma pilha pequena de meias perdidas em cima da secadora como eu tinha em cima da minha nos últimos três anos.

Da lavanderia, a casa se abriu em um espaço de conceito aberto. Parei a poucos passos da sala de estar e absorvi tudo. As vigas escuras no teto abobadado estavam expostas. As portas e o acabamento estavam todos manchados de marrom para combinar. As paredes eram escassas com algumas paisagens de Montana aqui e ali. A pedra angular do tema da decoração de Finn era - sem surpresa - plantas.

Havia uma samambaia de Boston na sala de jantar sobre um pedestal, com suas folhas verdes e macias quase até o chão ao lado de uma das pernas da mesa oval de mogno. Uma hoya numa grande panela de cerâmica verde-sálvia ficava num canto da sala de estar. Um ficus em outro.

A cozinha tinha uma bandeja de suculentas. Havia uma violeta africana em uma mesa de café, suas folhas aveludadas implorando para serem tocadas. Isso me lembrou do que ele me trouxe uma vez como um presente aleatório. Eu a coloquei na borda da janela do nosso quarto até que ela morreu.

Costumava haver plantas em toda a minha casa. Os clientes de Finn muitas vezes o presentearam quando o trabalho estava completo. Ele os deixou para trás quando se mudou. E lentamente, comovente, todos eles morreram. Até a violeta.

Finn era o único a cuidar delas. Eu as negligenciara, muitas vezes esquecendo de regar um até que o solo estivesse rachado e as folhas crocantes. Cada vez que eu jogava uma na lata de lixo, eu ficava com o coração partido.

— O que você acha? — Ele perguntou.

— Você tem uma bela casa. Mesmo. É adorável. Eu posso ver porque as crianças gostam daqui.

De muitas maneiras, isso me lembrou da minha casa. Ele criou uma casa semelhante à que nós compartilhamos, ele querendo ou não.

Finn me puxou mais para dentro da sala. — O que você gostaria de beber?

— Eu não sou exigente.

— Eu tenho um recipiente com o mais recente âmbar da Bozeman Brewing.

— Isso é perfeito.

Seu aperto aumentou por um segundo, então ele soltou minha mão para que ele pudesse ir para a cozinha.

Quando a porta da geladeira se abriu, fui até a lareira para inspecionar as fotos emolduradas. A foto da escola de Max estava em um. Kali estava em outro, sorrindo brilhantemente em seu uniforme de voleibol. Havia uma selfie dos três agachados juntos em uma trilha de cascalho.

Desci para o outro lado da lareira, esperando mais fotos das crianças. Eu pisquei duas vezes quando meu próprio rosto sorriu de volta para mim.

Um quadro continha uma foto de família de nós quatro. Foi a partir de anos atrás, quando Poppy estava trabalhando para terminar a lista de aniversário de Jamie. Ela organizou uma luta de tinta, um dos itens de Jamie. Nós todos nos encontramos em um parque para jogar balões de água cheios de tinta um no outro. Jimmy e Randall estavam lá e ela até convidou Cole.

Não foi muito tempo depois do nosso divórcio, e aquela luta de tinta foi a primeira vez que Finn parou de ser tão frio e insensível comigo. Na foto, uma Kali de quatro anos estava coberta de tinta rosa. Max tinha apenas dois anos e suas bochechas estavam manchadas de amarelo. Finn e eu estávamos cobertos por um caleidoscópio de cores.

Nós ficamos felizes naquele dia. Não muito depois da guerra de tinta, Finn veio jantar conosco. Nós nos sentamos e conversamos depois que as crianças foram colocadas na cama. Nós prometemos um ao outro que faríamos melhor, que nos daríamos bem, por eles.

Ele também me disse naquela noite que queria namorar.

Esse foi o dia em que um pedaço de mim foi arrancado. O dia em que os limites se encaixaram. Eu não tinha entrado em sua casa depois que ele comprou. Evitei Alcott completamente. Mesmo quando estávamos fazendo sexo, eu me recusei a ter sentimentos por Finn. Eu me lembrei que era apenas sexo.

Segurei aquelas paredes por anos.

Todos elas desabaram quando olhei para a última foto.

Foi de Finn e eu na minha formatura da faculdade. Eu estava usando um chapéu preto e um vestido. Seus pais tinham vindo comemorar com Poppy e eu, e Rayna pedira a Finn e eu que posássemos para uma foto. Mas em vez de fazer uma pose, Finn passou os braços em volta da minha cintura, prendeu-me contra o peito e fez cócegas em minhas costelas até que eu ri tanto que chorei.

Rayna o repreendeu por quase arruinar meu rímel. A foto que ela tirou naquele momento se tornou minha favorita. Fomos nós.

Enquadrei para o escritório de Finn quando começamos Alcott. Enquanto Finn estava no hospital e eu fui para Alcott, eu me perguntava onde aquela foto tinha ido.

Tinha estado em sua casa o tempo todo.

— Aqui está. — Ele entrou na sala e colocou duas canecas geladas sobre a mesa de café.

Apontei para a nossa foto. — Há quanto tempo você tem isso aqui?

— Um pouco.

— Defina um pouco.

Ele me deu um pequeno sorriso. — Desde que me mudei.

— O tempo todo? — Eu sussurrei.

— O tempo todo.

— Mas... — Minhas palavras morreram quando minha mente correu. Ele tinha essa foto de nós, só nós, em sua lareira há anos. Ele manteve lá quando ele poderia colocá-lo em uma gaveta e escondê-la. Ele poderia ter jogado fora. Mas ele não tinha jogado. Ele deixou em exibição para as crianças verem. Para seus pais e Poppy e Cole. Para qualquer visitante que tenha vindo aqui. Ele havia deixado em exibição, juntamente com uma foto de família, para suas namoradas verem a qualquer hora que fossem ao seu lugar. — Por quê?

Ele suspirou. — No começo, eu estava tentando fazer deste lugar um lar para as crianças. Eu pensei que ter fotos de você e de todos os quatro faria com que eles se sentissem como se fosse a casa deles também.

— Isso foi há seis anos. Eles estão muito bem ajustados agora.

— Eu sei. Mas eu não consegui tirar. Toda vez que eu tentava, minha mão não tinha forças para tirá-la da lareira. Eu precisava ver seu rosto todos os dias. Eu precisava de você aqui. Na minha casa.

Lágrimas inundaram meus olhos. — Nós éramos divorciados. Você estava namorando outras mulheres.

Ele se aproximou, suas mãos roçando minhas bochechas, seus dedos desaparecendo no meu cabelo. — E você ficou neste pedestal o tempo todo. Agora você sabe por que eu não parei com namorada nenhuma nos últimos seis anos.

Eu ri, soltando meu olhar. Finn não era o tipo de homem que teria prazer em ferir as outras mulheres. Ainda. — Você merecia ser chutado.

— Sim. Eu fui o pior namorado de todos os tempos. — Seu sorriso diminuiu. — E marido.

— Não. — Eu cheguei mais perto, meus seios roçando seu peito. — Não foi o pior. Acabamos de falhar em um teste, mas isso não significa que não tenhamos aprendido.

Sua mão livre se uniu em minhas costas, me puxando para frente até que eu estava nivelada contra seu torso. — Vamos tentar de novo, Molly. Por favor. Eu sei que não vamos falhar uma segunda vez. Eu não vou deixar.

— Com uma condição.

Ele segurou a respiração. — Qual?

— Me beija.

Seus lábios desceram sobre os meus tão rápido, que eu ofeguei. A língua de Finn mergulhou dentro, girando contra a minha enquanto seus lábios consumiam os meus.

Deixei escapar um gemido, que foi recebido por um dos seus. Nós éramos uma confusão de lábios molhados e dedos agarrados e arrastando os pés enquanto andávamos pelo corredor.

Finn me levou para trás, seu braço nunca deixou minhas costas. Sua mão estava firmemente emaranhada no meu cabelo, segurando minha cabeça em qualquer ângulo adequado à sua língua.

A paciência tinha desaparecido no segundo em que seus lábios tocaram os meus. Quando puxei sua camisa, nós batemos na parede, meu quadril ricocheteando com força suficiente para provar que eu estava com tesão. Finn segurou firme, me firmando. Mas em vez de continuar nossa caminhada, ele me pressionou contra a parede.

Uma de suas mãos se moveu para o meu peito. A outra se mudou do meu cabelo para minha bunda. Ele apertou ambos, a ponta dos dedos enviando uma onda de prazer ao meu centro.

Eu estava latejando, ansiosa por mais. Encontrei seu olhar sombrio e faminto, então circulei meus quadris para frente, querendo sentir sua ereção sob seus jeans. Parecia que fazia anos que estivemos juntos, não meses. E esta noite era mais do que sexo.

Este era o ponto de virada.

Finn estava me reivindicando. Nós dois sabíamos que depois disso, nós não poderíamos voltar à nossa vida de divorciados. Nós estávamos todos juntos, nessa viagem. Aproveitando uma outra chance juntos.

Haveria pessoas que nos chamariam de imprudentes por voltarmos quando já havíamos tentado uma vez, caído e sofrido epicamente. Eu não me importaria com o que as pessoas pensassem. Ninguém sabia sobre Finn e eu. Ninguém, exceto nós.

Finn me puxou para longe da parede, sua mão na minha bunda apertada. A mão no meu peito se levantou para que ele pudesse cobri-lo em minhas costas, então ele correu pelo corredor. Na porta do seu quarto, nós tropeçamos novamente, seu ombro esmagando no batente da porta.

Nós estávamos como um pinball, saltando em todas as superfícies até que finalmente encontramos a cama. Nos separamos e pulei no colchão, ainda saltando quando tirei minha camisa sobre a minha cabeça. Finn tirou os sapatos e tirou as meias. Ele desabotoou os botões da camisa para afastá-la.

No momento em que ele estava abrindo seu jeans, eu estava nua, mas deixei o meu fio dental. No momento em que seus olhos pousaram no pedaço de tecido, ele soltou uma longa maldição que encheu o quarto. — Porra.

— Eu adoraria. — Sorri. — Tire as calças.

Seu sorriso diabólico me fez tremer. O pulsar no meu núcleo era como um bumbo enquanto ele abria o zíper da calça jeans e as baixava junto com a cueca boxer. Seu pênis saltou livre, grosso e duro e chorando por atenção.

Lambi meus lábios quando ele se estabeleceu entre as minhas pernas. Quando ele se inclinou, meus mamilos roçaram contra seu peito duro, me deixando desesperada.

Finn beijou meu pescoço, descendo pela minha clavícula até o vale entre meus seios. Então ele abaixou, sua língua serpenteando através da curva da minha barriga.

— Finn. — Seu nome era um sussurro quando ele caiu de joelhos e acariciou sua língua através das minhas dobras. Eu estava tão preparada, tão carente, arqueei para fora da cama quando ele deu um beijo suave no meu clitóris. Meus dedos mergulharam em seus cabelos, as madeixas ruivas suaves e sedosas entre meus dedos.

Ele acariciou e lambeu, trazendo-me perto de um orgasmo em segundos. Então, quando minhas pernas tremiam e meu coração disparou, ele se afastou. Minha cabeça voou para fora do colchão, meus olhos arregalados. O sorriso arrogante de Finn estava esperando enquanto ele limpava o lábio inferior.

Uma de suas mãos deslizou pelo seu estômago liso, trazendo meu olhar junto com ele. Ele agarrou seu pau e acariciou duas vezes.

— Deus, eu nunca pensei em ver isso.

— O que? — Sussurrei.

— Você. Nua na minha cama. Mais bonita que o dia em que nos conhecemos.

Meu coração. Eu segurei a mão sobre o meu peito nu para evitar que ele voasse para longe.

Finn veio até mim, seus olhos fixos nos meus quando ele baixou seu peso em mim. Ele arrastou a ponta do seu pênis através do meu centro uma vez e empurrou para frente, roubando minha respiração quando ele nos uniu.

Eu estava perdida na sensação dele dentro de mim quando ele começou a se mover. Assim como nós fizemos durante anos, ele me fez tremer. Ele nos trouxe para a borda de uma forma que me fez esquecer tudo, menos Finn.

Chegamos juntos em uma corrida, a construção tão forte e me consumindo que abri minha boca em um grito silencioso. Todo o corpo de Finn tremeu quando ele se derramou em mim, os tremores secundários nos deixaram com um monte de pernas soltas na cama.

Quando recuperamos a respiração e as manchas brancas desapareceram da minha visão, sorri contra sua bochecha trincada. — Eu gosto da sua cama.

— Bom. — Ele riu. — Porque você vai dormir aqui esta noite.

Com um rápido beijo no pescoço, ele saiu da cama e entrou no banheiro, acendendo uma luz. O som de água correndo ecoou no quarto e eu sorri. Ele sabia que eu gostava de me limpar, e ele estava se certificando de que a água estivesse quente quando eu fosse ao banheiro.

Eu me empurrei para fora da cama e passei pela sala, minhas pernas geladas e meus passos incertos. Meus olhos correram para o armário escuro quando passei pela abertura. Era onde ele guardava as cartas que me enviara? A questão surgiu do nada, mas eu queria saber.

— Você guardou as cartas neste armário? — Perguntei a Finn.

Ele assentiu. — Sim. Em uma caixa no topo. Por quê?

— Apenas curiosidade. — Entrei no banheiro, apertando os olhos enquanto eles se ajustavam às luzes brilhantes refletidas no azulejo branco no chão e no chuveiro espaçoso. O balcão de mármore tinha dois lavatórios na parte superior. Finn estava em um. Liguei a torneira na outra e uma toalha foi colocada junto com uma escova de dentes nova.

Finn terminou de escovar os dentes e depois beijou meu ombro nu quando saiu do banheiro. Não demorou muito para me juntar a ele no quarto, rastejando sob o canto dos lençóis que ele havia dobrado. No momento em que eu estava na horizontal, Finn rolou em cima de mim, me prendendo para um beijo lento e preguiçoso.

— Eu me diverti hoje à noite, — disse ele depois de me enfiar em seu lado.

— Eu também. — Eu descansei no travesseiro, mas um sentimento estranho e familiar me atingiu. Isso foi ... Eu levantei. — Este é meu travesseiro?

Ele riu quando eu afofei e deslizei minhas mãos sobre ele. —Talvez.

— Isto é. Você roubou meu travesseiro.

Ele riu mais. — Como assim? Você ficou com o meu.

— Eu pensei que você tivesse deixado para trás.

— Só porque eu precisava fazer uma fuga limpa com o seu. Eu não queria que os dois desaparecessem.

Fechei meus olhos e passei um braço ao redor de sua cintura. —Nós perdemos tantos anos.

— Então vamos fazer este ano e todos os que vierem contar em dobro.

Eu me aproximei mais, tomando uma inspiração profunda do aroma terroso e limpo de Finn.

— Eu te amo. — Finn beijou meu cabelo. — Caso isso não fosse perfeitamente claro. Eu te amo, minha querida Molly. Pelo resto dos meus dias.

— Eu também te amo. — E não importava o que acontecesse, eu diria a ele todos os dias. Não demorou muito para o meu corpo relaxar. Eu estava à beira do sono quando outra pergunta surgiu em minha mente. — Finn?

— Hmm. — Ele já estava meio adormecido.

— Onde você guardou essas cartas quando nos casamos?

— Em uma caixa no armário, — ele respondeu.

— Você levou com você quando você se mudou para o loft na Alcott?

Ele se mexeu para olhar para mim. — Não. Por quê?

— Bem, a última carta foi escrita logo antes do divórcio. Você colocou na mesma caixa?

— Sim. Eu cheguei em casa para ver as crianças. Coloquei-as na cama. Escrevi antes de chegar em casa.

Aquelas eram as noites do limbo antes que ele encontrasse esta casa. Ele vinha à minha casa à noite para ver as crianças. Eu as deixava por algumas horas para ajudar Poppy quando ela montava o restaurante. Eu chegaria em casa, as crianças estariam dormindo e Finn iria para o loft na Alcott.

— Por que você pergunta?

— Eu estou tentando... — A linha do tempo do nosso divórcio passou pela minha cabeça enquanto eu tentava lembrar exatamente quando ele saiu e quando aquela caixa deveria ter sido tirada. — Você fez as malas na semana após o divórcio.

— Sim. Isto mesmo.

— Assim ... tem certeza de que as cartas foram com você? Ou elas poderiam ter sido tiradas da minha casa?


- Carta-

Querida Molly,


Você está dormindo na minha cama. Se eu conseguir fazer o suficiente, esta será a única vez que você acorda nesta casa. Se eu conseguir o que quero, nos sentaremos e diremos às crianças que eu vou para casa hoje à noite. Se eu conseguir fazer o suficiente, nunca mais vou passar outra noite sem você em meus braços.


Nós vamos cometer erros. Mas eu prometo, se você me deixar seguir meu caminho, daqui em diante minhas cartas serão suas.


Você realmente deveria me deixar seguir meu caminho.


Seu,

Finn


VINTE E UM

FINN


— EU NÃO QUERO sair, — disse Kali do banco de trás do Jeep de Molly. Seus olhos estavam voltados para a janela, trancados no pátio da Alcott. Trancado no local onde eu estava quase esmagado sob um minicarregador. — Eu tenho que sair?

— Não. — Eu cheguei de volta e coloquei minha mão em seu joelho. — Você pode ficar no carro.

— Posso ficar também? — Max perguntou. Ele estava olhando para o seu colo, recusando-se a olhar para cima.

— Sim, filho. Você pode ficar. Não vamos demorar muito.

Molly e eu compartilhamos um olhar quando ela desligou a ignição. Saímos e, de mãos dadas, entramos na Alcott.

Quando estávamos dentro do escritório, olhei por cima do ombro. — Eles nunca vão gostar de vir aqui novamente.

— É apenas difícil agora. Vai passar.

Eu não concordei. Fazia meses desde o acidente, e nas poucas vezes em que eu trouxe as crianças para cá, as duas se recusaram a pôr os pés no solo de Alcott. Eles nem sequer entrariam no escritório.

Foi outra razão pela qual a decisão que tomei na semana passada foi a decisão certa.

— Venha. — Puxei Molly pelo corredor em direção ao meu escritório.

Ela me seguiu, seu olhar vagando pelo escritório silencioso e vazio que pertencera a Bridget.

Fazia mais de duas semanas que Bridget desistiu. A primeira semana foi um caos. Eu me apressei constantemente apagando incêndios, mas depois as coisas se acalmaram. Encontrei um ritmo e passei por isso. Eu deleguei mais. Eu não tinha esquecido de ouvir qualquer drama que Bridget criou. Eu não tinha notado até que ela se foi quanto drama ela causou.

Foi refrescante trabalhar duro durante o dia para que eu pudesse sair a cada noite a tempo. O que quer que tenha perdido, bem, estava lá na manhã seguinte.

As tarefas intermináveis não eram tão importantes quanto antes.

Molly e eu fomos inseparáveis na semana passada - tão inseparáveis quanto dois adultos com dois filhos e dois empregos de tempo integral poderiam ser. Mas sempre que possível, desde a manhã seguinte ao nosso encontro no cinema, estávamos juntos. Eu deixei minha última carta ao lado da cafeteira. Ela abriu, leu uma vez e caiu na gargalhada.

Então ela me deixaria fazer do meu jeito.

Naquela noite, sentamos as crianças e explicamos que estávamos namorando. E por namoro eu quis dizer que eu estaria vivendo em sua casa e dormindo na cama de sua mãe indefinidamente.

Molly e eu tínhamos pensado que seria um grande negócio. Que eles teriam perguntas, talvez algumas preocupações. As palavras exatas de Max foram: — Legal. Você vai brincar comigo? — Kali sorriu, me deu um high five, depois foi ao seu quarto para desenhar.

Foi isso. Depois fui até minha casa arrumar algumas coisas enquanto Molly preparava o jantar. No caminho, liguei para uma empresa de administração de imóveis e comecei o processo de alugar minha casa.

Em sete dias, meus pertences pessoais foram transferidos para casa de Molly. As camas das crianças foram doadas para caridade. E hoje, um cara que havia se mudado para Bozeman estava alugando minha antiga casa com a mobília restante.

Molly não havia dito nada sobre a rapidez com que estávamos nos movendo. Sua mãe ligou e avisou Molly que era muito rápido. Eu estava em pé na cozinha, ouvindo a ligação no viva-voz. A resposta de Molly? Não é rápido o suficiente.

Este foi nosso primeiro fim de semana juntos como uma família. No primeiro fim de semana, que não precisamos pensar em trocas de crianças ou horários separados. Nós estávamos levando as crianças em uma caminhada fácil, algo que eu não tinha feito desde o acidente.

Mas primeiro eu tive que fazer uma última mudança.

Eu disse a Molly que precisava passar por Alcott e pegar algumas coisas. Não foi mentira. Eu precisava pegar alguma papelada - depois que ela assinasse.

Chegamos ao meu escritório e meu coração estava quase batendo no meu peito. Minhas mãos estavam úmidas. Suor escorria nas minhas têmporas porque hoje eu iria arruinar a minha vida.

Da melhor maneira possível.

— Ok. — Soltei um longo suspiro e parei no meio da sala. — Não estamos aqui apenas para pegar alguma coisa. Primeiro, preciso que você assine alguns papéis.

— Que papéis? — Ela perguntou, seu olhar cauteloso.

— Eu estou vendendo Alcott.

Ela piscou, sacudiu a cabeça e piscou novamente. — Você está o que?

— Estou vendendo Alcott. Como você tem dez por cento, preciso que você assine o contrato de compra e venda para que eu possa devolvê-lo ao meu advogado.

— O que? — Ela levou as mãos ao rosto enquanto andava ao redor da sala. — Você não pode vender Alcott. Por quê? O que? Por quê? Não.

—Tem que ser, Molly.

— Mas por que? Você ama Alcott. Este é o seu trabalho. Sua paixão. Pense em todo o tempo e energia que você colocou aqui. O sangue e o suor que você colocou neste lugar. Você não pode simplesmente vender.

— Está vendido.

— Você já fez isso? Você está louco? — Ela gritou. — Para quem?

Eu ri. — Cerca de um ano atrás, esse cara da Califórnia me ligou. Ele tinha uma grande empresa de paisagismo em Sacramento e a vendera. Ele se mudou para Bozeman para se aposentar, mas a aposentadoria não combinava com ele. Ele não se sentiu como começar do zero, então ele me perguntou se eu venderia. Na época, eu disse que não. Então as coisas mudaram. Eu liguei para ele na segunda-feira. Estamos negociando o preço a semana toda. Acertamos um ontem. Agora tudo o que tenho que fazer é assinar os papéis. Você também.

— Mas, Finn. — Os olhos de Molly se encheram de lágrimas. — Este... isso foi tudo.

— Isso foi. Quando fizemos isso juntos. Mas a Alcott Landscaping não é a Alcott Landscaping há muito tempo. Desde antes do divórcio. Quando você parou de trabalhar aqui, muito do coração da empresa foi junto. Levei muito tempo para perceber, mas eu estava me colocando em um copo que tinha um enorme buraco no fundo.

— Não, Finn. Você não pode desistir.

Atravessei a sala e peguei as duas mãos dela nas minhas. — Estou ganhando mais do que estou perdendo aqui. As crianças, nossa vida, vem primeiro. Alcott está em boas mãos.

— Isso não faz nenhum sentido. Alcott é o seu sonho.

— Meu sonho era um trabalho onde eu pudesse trabalhar fora fazendo o que eu amo. Mas eu não plantei uma árvore em nome de Alcott Landscaping em mais de sete anos. Eu me diverti mais trabalhando no quintal com você do que aqui em tempos. Estar confinado ao meu escritório, dirigindo e dando ordens às equipes sem realmente trabalhar com eles lado a lado, nunca foi meu sonho. A única vez que eu realmente fiz muito trabalho foi carregando caminhões no quintal, e veja como isso aconteceu. Eu quase morri.

Ela suspirou. — Acho que precisamos conversar sobre isso. Uma decisão de impulso como essa, você vai se arrepender.

— Eu não vou.

Molly se afastou e andou de um lado para o outro. Ela brincou com os laços de cabelo em seu pulso. Hoje eram amarelo e laranja. — O que você vai fazer? Você ficará louco se ficar sentado em casa o dia todo.

— Eu vou encontrar alguma coisa. Não tenho que decidir imediatamente.

— Mas seus funcionários. Eles perderão seus empregos.

Balancei a cabeça. — Esse cara quer manter os funcionários existentes. Ele quer ser o cara do escritório.

Eu até lhe dei o nome de Bridget. Por mais zangado que eu estivesse com a maneira como ela tratara Molly, não desejava mal para ela. Eu sabia pela vinícola que ela não tinha outro emprego ainda, então joguei o nome dela lá fora como um gesto de boa vontade.

— Ele pode destruir tudo o que você construiu.

— Sim. — Balancei a cabeça. — Ele pode. E eu não vou dizer que não será difícil de assistir. Mas eu não estou vendendo este lugar barato. Ele está vindo para a mesa com um cheque infernal. Estou pensando que ele está bastante motivado para manter Alcott no topo do jogo.

— Oh meu Deus. Eu não posso acreditar que isso está acontecendo. Estou sonhando. Isso tem que ser um sonho.

Fui até a minha mesa e peguei o contrato que imprimi ontem. —Aqui. Talvez isso torne isso mais real.

Ela olhou os papéis por alguns instantes, depois desistiu e os pegou da minha mão. Ela se sentou em uma das cadeiras ao lado da minha mesa, definiu o contrato em cima e começou a escanear. Eu soube imediatamente quando ela leu o preço de compra.

—Um ponto cinco milhões de dólares. Ele está comprando Alcott por um milhão e meio de dólares?

Balancei a cabeça. — Tivemos alguns bons anos nos negócios.

— Subestimação, — ela murmurou.

— Com esse dinheiro, podemos pagar a casa, reservar uma boa quantia para as crianças e depois sermos criativos. Talvez começar outro negócio. Juntos.

— Eu não quero sair do meu emprego no restaurante.

— Então não faça. O ponto é que isso nos dá a liberdade de fazer o que quisermos. E isso me dá a chance de corrigir alguns erros. Eu amo a Alcott. Eu sempre vou amar. Estou orgulhoso do que criamos aqui. Mas é hora de dizer adeus.

— Você tem certeza? Quero dizer, realmente certeza? Não quero que você se ressinta por isso depois.

— Esta é minha decisão. E eu sei em meus ossos que é o caminho certo.

Ela assentiu com hesitação. Eu dei a ela tempo para pensar nisso, para deixar a surpresa do meu anúncio desaparecer. Molly assentiu novamente, desta vez com mais confiança.

Quando ela encontrou meu olhar, era sólido como uma rocha. —OK. Então eu vou te apoiar.

— Bom. — Peguei uma caneta e entreguei. — Então assine na última página.

Molly virou para onde meu advogado tinha marcado as linhas de assinatura com etiquetas amarelas. A caneta pairou sobre o papel enquanto ela respirava fundo. Então, quando ela explodiu, sua mão se moveu, assinando seu nome.

Com isso pronto, ela empurrou o papel e caneta no meu caminho.

Eu não hesitei em rabiscar meu nome ao lado do dela, nem mesmo um segundo.

Alcott tinha sido o sonho. Consegui mais sucesso aqui do que jamais poderia imaginar, mas isso teve um preço. O coração de Molly.

De alguma forma, eu tive a sorte de recuperá-lo. E eu não iria arriscar perdê-lo nunca mais.

A sala estava silenciosa enquanto eu colocava a caneta na mesa. Nos sentamos lá, ouvindo o ar rodopiar.

— Eu me sinto mais leve, — confessei.

Ela encontrou meu olhar, seus olhos castanhos nadando em lágrimas. — Eu também.

Nós demos um último momento para olhar ao redor da sala, então me levantei e fui até a cadeira dela. Peguei a mão de Molly e nos levei para fora. Entramos no Jeep, sorrimos para as crianças e deixamos Alcott para trás.

A vida que eu tive ficou no espelho retrovisor.

E eu não faria de outra maneira.

 


— Lugar bonito, não é? — Perguntei a Kali enquanto estávamos em pé no topo da cordilheira que havíamos caminhado. Abaixo de nós, todo o Vale Gallatin estava espalhado em um tapete de campos verdes e colinas douradas. As árvores eram uma mistura de outono de verde profundo, limão e vermelho cereja.

— Já estivemos aqui antes? — Kali perguntou, inclinando-se para o meu lado.

— Algumas vezes quando você era bebê. Sua mãe e eu costumávamos subir muito essa trilha.

— Por que você parou?

— Havia muitos outros ótimos lugares para explorar com vocês também.

Foi uma verdade parcial. Eu fiz uma tonelada de caminhadas em outras partes do vale com as crianças, mas eu não as trouxe até aqui. Era uma subida mais difícil. E essa trilha era a favorita de Molly. Não parecia certo vir aqui sem ela.

Atrás de nós, Molly e Max estavam examinando uma parte diferente da cordilheira. Max estava em pé em uma pedra alta, fazendo caretas enquanto Molly tirava fotos dele em seu telefone.

— Eu amo isso aqui, — Kali disse calmamente, mais para si mesma do que para mim.

Eu a puxei mais perto do meu lado. Ela sorriu para mim, depois olhou para trás quando Max e Molly riram.

Então ela baixou o olhar para os pés. — Elas funcionaram.

— Hã? O que funcionou?

— O deixe ...— Seu corpo ficou tenso. Então ela se foi, girando para fora do meu abraço e correndo para se juntar a Max em sua pedra.

— Que diabos? — Eu murmurei para o vento.

Talvez eu estivesse errado, mas meu instinto estava me dizendo que Kali tinha acabado de escorregar e quase disse as cartas.

Eu queria puxá-la de lado e perguntar de novo, mas me forcei a deixar passar. Para agora. Eu perguntaria quando estivéssemos em casa e sozinhos.

Depois de uma selfie familiar, descemos a trilha. As crianças assumiram a liderança, estabelecendo o ritmo em nossa descida quando Molly e eu chegamos à retaguarda.

— Isso foi divertido. — Ela cutucou meu ombro com o seu próprio.

— Sim, foi.

— Você está bem? Quando estávamos no cume, você parecia chateado. É a Alcott? Porque podemos rasgar esses papéis quando chegarmos ao Jeep.

Eu a puxei em meus braços, nos parando na trilha. — Não, não é Alcott. Não foi nada.

— Você tem certeza?

Minha resposta foi colocar meus lábios nos dela e beijá-la sem fôlego.

— Que nojo! — Max gritou.

Molly sorriu contra meus lábios. — Ele está de castigo.

— Por pelo menos uma hora. Kali também. Tempo suficiente para nós tomarmos banho juntos quando chegarmos em casa.

— Você é brilhante. Eu te amo.

— Eu também te amo. — Eu a beijei novamente. — Corrida até o final?

— Oh, eu não acho que deveríamos. Sua primeira caminhada, é melhor você ir com calma.

Antes que eu pudesse terminar de discutir com ela, ela me empurrou para longe e estava correndo pela trilha. — Trapaceira.

Sua risada ecoou através das árvores quando ela voou passando pelas crianças. — Você nunca vai me pegar, Alcott.

Max e Kali riram quando saíram atrás dela.

Eu ri, correndo lentamente para dar-lhes uma vantagem inicial.

Eu a pegaria, tudo bem. Eu nunca pararia de perseguir.

 


— Ei. — Cole me saudou com sua garrafa de cerveja. — Já era hora de vocês chegarem aqui.

— Desculpa. Nos atrasamos em casa.

Estávamos atrasados para o churrasco na casa de Cole e Poppy, mas valera a bronca da minha irmã. Molly e eu tomamos banho por tanto tempo, que o aquecedor de água ficou frio.

— Cerveja? — Ele ofereceu.

— Por favor. — Eu o segui pela casa, longe do barulho das crianças brincando e dos adultos visitando a cozinha. Ele mantinha seu estoque de cervejas em um frigobar na garagem, assim como o carro que ele estava atualmente reconstruindo em seu tempo livre. — Como vai o “Cuda”?

— Ótimo. Vai demorar um ano ou mais para terminar, mas é divertido mexer. Meu pai está ajudando também. Eu ouvi que você está desempregado.

— As notícias correm rápido. — Embora não fosse surpresa que Molly já tivesse contado a Poppy.

— O que você vai fazer? — Cole perguntou.

— Aproveitar a vida. — Eu suspirei. — Comprar um anel de diamante para Molly. Levar as crianças para a escola todas as manhãs. Cortar o gramado no verão. Pá de neve no inverno.

— Bom para você. Estou feliz por vocês.

— Foi o movimento certo. — Tomei um gole da minha cerveja. —Devo-lhe.

— Para?

— As cartas.

Cole tentou esconder seu sorriso atrás de sua garrafa de cerveja. — Eu não sei do que você está falando.

— Fomos fazer uma caminhada hoje e Kali quase escorregou. Ela se conteve, mas foi o suficiente para me fazer pensar.

Não havia como minha filha ter feito isso sozinha. Não havia datas para colocá-las em ordem sem mais contexto para o nosso relacionamento. Não havia como ela ter agendado a entrega para a caixa de correio. Mas se ela tivesse ajudado, se tivesse sido a pessoa que entregou a caixa de correio, eu poderia acreditar.

Havia poucas pessoas no mundo em quem Kali confiava. Seu tio Cole era uma delas. Meu palpite era que ele encontrara as cartas, e Kali se tornara seu ratinho, ajudando-o a colocá-las na caixa de correio.

— Quando você conseguiu?

— Lembra-se que ano jogamos softball liga da cidade? — Ele perguntou e eu assenti. — Você esqueceu suas chuteiras. Você estava trabalhando e não teve tempo de correr para casa, então parei para pegá-las.

— Aquilo foi ... — Eu mentalmente registrei os anos. — Quatro anos atrás. Você as teve todo esse tempo?

Ele assentiu. — Eu estava apenas esperando o momento certo. Quando você terminou com Brenna, eu decidi que era agora ou nunca. Você estava tão empenhado em namorar alguém por tanto tempo. Todo relacionamento foi um desastre. Poppy estava empurrando Molly para namorar seu vizinho, e eu pensei em dar uma chance. Eu pedi a Kali para manter um segredo. Ela estava mais do que feliz em ser minha serva.

— Ela sabia o que havia nelas? — Diga não.

— Não, — jurou Cole. — Ela nunca soube. Eu só pedi a ela para entregar algumas cartas que seriam boas para sua mãe ler. Ela nunca soube que elas eram suas, só que eu esperava que elas fizessem Molly feliz.

Elas não tinham a princípio. Mas no final, eles foram o catalisador para curar nossos corações. Para consertá-los juntos.

— Por quê? — Eu perguntei a ele.

— Eu farei qualquer coisa para fazer minha esposa feliz.

Meu queixo caiu aberto. — Você fez isso por Poppy?

— E para você. — Ele encolheu os ombros. — Quando Poppy e eu nos encontramos pela primeira vez, foi logo depois que você e Molly se divorciaram. Você tinha acabado de encontrar uma espécie de trégua e decidiu começar a namorar novamente. Poppy me disse que era porque você queria encontrar a felicidade novamente e amar, como ela fez comigo.

— Não foi o meu passo mais inteligente, — eu murmurei.

— Honestamente, na época achei que era inteligente. Você e Molly se divorciaram. Você estava seguindo em frente. Eventualmente ela também. Poppy teve um tempo tão difícil com isso. Ela sabia que vocês ainda se amavam e achava que você estava perdendo o amor.

E para uma mulher que perdeu o amor inesperadamente, não foi surpresa que Poppy tenha se esforçado.

— Nossas opiniões trocaram, Poppy e minha, — disse Cole. — No começo, pensei que fosse uma coisa boa. Poppy lutou com isso. Então ela começou a aceitar que você e Molly acabaram. Quanto mais eu estava ao seu redor, todos os anos vocês olhavam um para o outro do outro lado da sala e sorriam, esquecendo por uma fração de segundo que vocês estavam divorciados, isso começou a me deixar louco. Mas eu não queria me envolver.

— Então você encontrou as cartas, — adivinhei.

— Exato. Eu as encontrei e adivinhei que Molly nunca tinha visto uma única. Eu imaginei, talvez se ela lesse, vocês dois parariam de palhaçada.

Eu ri. — Apostou alto.

— Não. Eu sabia que vocês dois não me decepcionariam. Ele levou sua garrafa aos lábios sorridentes. — Como você descobriu que era eu?

— Depois que Kali disse isso hoje, eu sabia que tinha que ser alguém próximo. Comecei a pensar em todas as vezes que Molly e eu confrontamos vocês sobre as cartas. Todos negaram. De novo e de novo. Todos, exceto você. Você evitou.

Cole havia agido chocado. Ele tinha álibis para o seu paradeiro todas as noites. Mas ele nunca realmente saiu e disse Não, não fui eu.

— Eu não sei o que dizer, — admiti. Eu deixei minha cerveja de lado e estendi minha mão. — Obrigado.

— Faça certo por Molly. E por você. — Ele apertou minha mão. —Esse é todo o agradecimento que preciso.

A porta da garagem se abriu e Poppy colocou a cabeça para fora. — Cole, você pode começar a grelha.

— Ok linda.

Cole e eu saímos da garagem com cervejas frescas. Enquanto ele foi para a grelha, encontrei Molly em pé na cozinha, comendo batatas fritas e salsa.

— Ei. — Ela levou minha cerveja para um gole. — Poppy e eu estávamos pensando em dar uma festa para celebrar sua “aposentadoria”. Nós poderíamos fazê-la no restaurante. Você poderia convidar alguém de Alcott. O que você acha?

— Eu estou dentro.

Ela sorriu. — Bom. Nós vamos nos planejar.

A cozinha estava cheia de atividade enquanto as pessoas se reuniam em torno da propagação de aperitivos que Poppy preparara. Meus pais estavam aqui. Cole também estava junto com a família de sua irmã. Era garantido que seria uma noite divertida, mas antes de chegarmos aos bons momentos, tive que conversar com Molly.

Eu tive que dizer a ela que Cole tinha enviado as cartas. Por isso, não precisei de audiência.

— Venha comigo por um segundo. — Agarrei sua mão, enfiando nossos dedos juntos enquanto nos afastávamos para a varanda da frente. Então contei a ela como Cole enviara as cartas e como Kali ajudara.

— Uma parte de mim quer bater na cabeça dele por nos fazer passar por tudo. Mas sou grata. Muito grata.

— Eu também. — A puxei em meus braços, descansando minha bochecha no topo de sua cabeça. Ela se encostou, acomodando-se no abraço como fizemos centenas de vezes. Como se fizéssemos mais mil. — Eu não vou parar.

— Parar o que?

Eu a segurei com mais força. — As cartas.

A partir de agora até o final dos nossos dias, Molly receberia minhas cartas.


- Carta -


Querida Molly,


Eu só poderia ter que casar com você. Novamente.


Seu,

Finn


EPÍLOGO

MOLLY


DEZ MESES DEPOIS...

— Finn, você poderia por favor diminuir a velocidade? — Foi a terceira vez que perguntei.

— Eu estou indo no limite de velocidade.

— Parece mais rápido. — Eu não conseguia ver o velocímetro, mas do banco de trás do Jeep, parecia que ele estava praticando para as eliminatórias na Indy 500.

Ele resmungou algo que eu não conseguia ouvir antes de me lançar um olhar através do espelho retrovisor.

— Olhos na estrada!

— Molly, vamos nos atrasar. — Suas mãos apertaram o volante enquanto ele lutava para manter sua paciência.

Eu estava de mau humor hoje. Todos no carro sabiam disso. Kali estava sentada na frente no banco do passageiro, fazendo o seu melhor para evitar a minha ira, misturando-se com o estofamento de couro. Max estava ao meu lado, seu olhar mirou a janela para evitar todo contato visual.

— Sinto muito, pessoal. — Eu suspirei. — Eu só estou cansada. E eu realmente não quero fazer isso hoje.

Os olhos de Finn suavizaram quando ele olhou de volta no espelho. Dei a ele um pequeno sorriso.

A última coisa que eu queria era ir a este memorial hoje. Eles não eram divertidos para começar, e hoje seria duplamente miserável, considerando a semana que eu tive.

Na segunda-feira, passei vinte horas em trabalho de parto para tentar dar à luz nosso filho. E quando o bebê não saiu, meu obstetra empunhou o bisturi e me cortou ao meio. Isso foi na terça-feira. Quarta, quinta e sexta tinham sido passadas em uma cama de hospital desconfortável porque aos trinta e sete anos, meus médicos estavam preocupados que eu pudesse ter complicações da cesariana. Finalmente, depois de uma internação hospitalar obrigatória de setenta e duas horas, eles nos libertaram no sábado de manhã.

Finn e eu, junto com James Randall Alcott, pudemos ir para casa. O que eu queria mais do que tudo para o meu domingo era descansar no sofá apreciando nosso novo bebê. Em vez disso, empurrei as melancias que eram meus seios em um sutiã de amamentação. Eu tomei banho, fiz meu cabelo, maquiei e vesti minha camisa de maternidade mais comum com meus jeans de grávida.

E todos nós entramos no carro para ir a uma cerimônia em memória de Randall.

Eu não tinha certeza de como convocar a energia para ficar ao lado de uma lápide por mais de vinte minutos. A última semana me esgotou completamente. Eu não me lembrava de me sentir tão cansada depois de ter Kali ou Max, mas com Jamie, minha idade havia se tornado um problema.

— Isso vai demorar muito tempo? — Max perguntou.

— Espero que não. Eu realmente espero que não.

— Vamos fazer o melhor disso, ok? Depois que terminarmos no cemitério, iremos ao restaurante e vocês podem correr por aí.

Nós estávamos fechados hoje para uma função familiar. Essa seria minha graça salvadora. Eu só tinha que passar pelo serviço, então eu poderia me esconder no restaurante, onde todo mundo não se importaria se eu sentasse em um canto sossegado para cuidar do bebê. Haveria muitas pessoas para me trazer coisas.

Não era meu sofá em casa, vestido com minha calça de moletom, mas era a segunda melhor coisa.

Além disso, daria a todos a chance de curtir Jamie.

Finn e eu não havíamos planejado outro bebê. Duas semanas depois de se mudar, encontrei uma carta no balcão do banheiro. Embaixo havia um anel de noivado de diamante.

Eu não estava usando no momento porque meus dedos tinham inchado igual salsicha durante a minha gravidez. Mas no segundo em que pude ver as juntas novamente, voltaria para a minha mão.

Eu brinquei com a corrente em volta do meu pescoço. Tinha o primeiro anel de noivado que Finn me deu na faculdade junto com minha primeira aliança de casamento.

Finn usava a aliança de casamento do Casamento Parte Um, como ele chamava, em sua mão direita. A banda do Marriage Part Forever estava à sua esquerda.

Nós optamos por um casamento de viagem, viajando para o Havaí para nos casarmos na praia com nossas famílias por perto. Meus pais até fizeram a viagem, apesar da irritação da minha mãe que eu estivesse me casando novamente com Finn.

Nos últimos dez meses, ela não superou isso. Talvez ela nunca supere. Mas se ela estivesse pensando algo, ela os guardava para si mesma e isso era tudo que eu poderia pedir.

Todos os outros estavam em êxtase ao nos ver amarrar o nó novamente. Finn usava um terno simples creme. Optei por um vestido de chiffon na altura do joelho. Nós festejamos a noite inteira com tochas de tiki e música alta. Nós apreciamos a praia até o fim de semana.

Finn e eu ficamos para uma lua de mel enquanto seus pais levaram Kali e Max para casa. Nós passamos uma semana explorando Maui, caminhando na selva e relaxando na praia quando nós não estávamos ocupados na cama.

Foi um dia chuvoso que achamos que engravidei. Eu perdi uma pílula anticoncepcional em algum lugar ao longo do caminho e esperava que não importasse.

Isso importava.

Eu não mudaria isso por nada. Jamie era o pedaço da nossa família que não tínhamos percebido que estava faltando. E Poppy estava na lua que pedimos para chamá-lo de Jamie depois de nosso amigo falecido.

Quando Finn saiu da estrada principal e entrou no caminho arborizado do cemitério, minha irritação com o dia de hoje aumentou. — Isso é tão estupido.

— Eu não vou discutir com você, — Finn murmurou. — Mas vamos acabar logo com isso.

Nós paramos ao lado de um meio-fio e estacionamos atrás de uma linha curta de veículos familiares. Eu não estava acostumada a arrumar um bebê, então fomos os últimos a chegar aqui. Nossos amigos e familiares estavam à sombra de uma árvore para evitar o sol escaldante de agosto. Eram onze da manhã, mas assim que saí do Jeep, minhas glândulas sudoríparas se abriram.

Finn passou um braço pela alça do carro de Jamie e colocou o outro em volta dos meus ombros. — Você está bonita.

— Eu pareço horrível. — Eu olhei para ele e sorri. — Mas obrigado por mentir para mim.

— Nós vamos passar por hoje. As crianças vão embora no acampamento amanhã. E você, Jamie e eu vamos dormir um pouco.

Eu estava tirando algumas semanas de folga do restaurante, apenas gerenciando os livros do meu laptop em casa, e Poppy e Rayna tinham o resto coberto. Finn tinha assumido alguns trabalhos freelance de paisagismo nesta primavera, mas não tinha nenhum prazo para se aproximar.

— Você não vai me ouvir argumentar. — Lágrimas rolaram nos meus olhos e eu me inclinei para o lado dele, farejando-as. — Estou tão cansada, Finn. Não sei se posso fazer isso.

— Eu estou bem aqui. — Ele me segurou firme e beijou meu cabelo. — Eu estou bem aqui.

Balancei a cabeça, piscando as lágrimas enquanto nos aproximamos o suficiente para que todos pudessem convergir.

MacKenna e Brady se aproximaram primeiro, querendo ver seu novo primo novamente. Uma das fotos mais fofas que eu tinha da semana passada era de mim no meio da cama do hospital, segurando Jamie, e todas as crianças empilhadas em volta de mim, olhando para o narizinho.

— Oi. Como você está hoje? — Poppy perguntou.

— Eu estou bem.

Ela franziu a testa. — Você está uma morta viva.

— Sim, — admiti, ainda usando Finn como uma muleta. — Mas vamos passar por hoje e depois eu posso ir com calma.

— Será rápido, — declarou ela. — É estúpido de qualquer maneira.

— Ei, — rebateu Jimmy. Ele estava pairando sobre as crianças para dar uma olhada em Jamie. — Vamos ser respeitosos. Randall queria isso como seu serviço memorial. Devemos a ele realizar seus desejos.

Um coro de gemidos encheu o ar. Todos os adultos reviraram os olhos.

— Vamos começar, — disse Cole. — Então podemos sair do calor.

— Espero que esta não seja a atitude que você terá em meu funeral, — resmungou Jimmy enquanto liderava o caminho para a mais nova lápide desta seção do cemitério.

Ele era o único vestindo todo preto hoje.

Enquanto circulávamos a lápide, Jimmy tirou os óculos de leitura do bolso da camisa. Depois de estarem empoleirados no nariz, ele desdobrou um pedaço de papel que estava no bolso da calça.

— Obrigado a todos por virem aqui hoje, — ele leu. — Estamos aqui para celebrar a vida de Randall Michael James, um amigo querido.

Jimmy passou a ler sobre Randall. Ele recitou uma lista das realizações de Randall. Ele falou sobre as qualidades que todos nós amamos mais sobre o nosso querido amigo. E no final, ele secou uma lágrima de seu olho.

— Randall e eu, bem... Eu não poderia ter pedido por um amigo melhor nesta fase da minha vida. As brigas. As competições. Eles eram todos de bom humor. Vou sentir sua falta, amigo.

O ar ficou em silêncio enquanto suas palavras ecoavam pela grama verde. Todos nós olhamos para o túmulo, até que finalmente MacKenna quebrou o silêncio.

— Mamãe? — Ela olhou para Poppy. — Por que o Grande Vovô vai sentir falta do vovô Randall? Ele não está de pé ali?

Abençoe seu pequeno coração.

MacKenna nos apontou para uma árvore do outro lado do cemitério. Uma árvore que Randall estava fazendo um trabalho ruim se escondendo atrás.

Cole foi o primeiro a começar a rir. Finn, David e Rayna se juntaram a seguir. Poppy quebrou por último, fazendo com que Jimmy jogasse o pedaço de papel no ar e murmurasse: — Eu desisto.

Eu tentei abafar minha risada, mas só porque doía. Infelizmente, não adiantou. Agarrei minha barriga e a banda médica me envolveu para manter os pontos contidos.

Poppy riu. — Eu vou fazer xixi nas minhas calças.

— Meus pontos vão se romper. — Ainda assim, eu não conseguia parar. Até as crianças estavam rindo.

— É bom ver que você está levando a minha morte tão a sério, — disse Randall quando se juntou ao nosso grupo. — Vocês todos estão de pé no meu túmulo. Rindo.

— Você está vivo! — Poppy chorou, levantando as mãos. — Você queria que tivéssemos um serviço memorial para você enquanto você ainda estivesse vivo. Claro que não estamos levando isso a sério. Está um milhão de graus lá fora. Estamos de pé sobre uma lápide que nem está completa porque - de novo, você está vivo. E não estamos em pé no seu túmulo. Porque, repito, você está vivo.

A risada se transformou em uivos que duraram muito mais do que o discurso que Jimmy tentara dar. Finalmente, todos nós nos juntamos, secando os olhos e deixando os músculos das bochechas relaxarem.

— Eu estava fazendo isso por você, — Randall disse a Poppy. —Então você não teria que passar por um serviço memorial depois que eu fosse embora. Eu não quero todos vocês chorando por mim.

E era por isso que nós o amamos tanto. Era por isso que sentiríamos a falta dele tão terrivelmente quando a hora dele chegasse. Randall tinha o maior coração de qualquer pessoa que eu conhecia, mesmo quando ele o escondia profundamente.

Poppy e eu compartilhamos um olhar, em seguida, fomos até ele e o puxamos para um abraço em grupo. Realmente, era mais de nós nos abraçando com Randall no meio, porque ele ainda estava fazendo beicinho.

— Eu te amo, — eu disse a ele.

— Eu também te amo, — Poppy ecoou.

Ele suspirou. — Eu sei.

Ficamos lá por alguns momentos até que estava quente demais para compartilhar o calor do corpo.

— Vamos almoçar. — Poppy enrolou seu braço com o de Randall. — Você pode ter quantas sobremesas quiser hoje.

Isso animou-o. — Jimmy, você ouviu isso? Não há limite de sobremesa hoje. Aposto que posso comer mais tortas de maçã do que você.

Jimmy zombou. — Vamos ver sobre isso.

Os dois seguiram em direção aos carros, as crianças e os pais de Finn foram também, o que deixou Poppy, Cole, Finn e eu. Em uníssono, voltamos nossos olhares para o extremo do cemitério.

Para onde Jamie foi enterrado.

Poppy desviou o olhar primeiro, sorrindo enquanto pegava a mão de Cole. — Hoje é a primeira vez que venho aqui e rio. Talvez o esquema maluco de Randall não fosse tão maluco assim.

— Talvez não. — Cole inclinou-se e deu um beijo em sua bochecha. Então ele a levou em direção aos carros, para onde seus filhos estavam rindo.

Eu não desviei o olhar do lado oposto do cemitério. Jamie teria adorado ter um sobrinho com o nome dele. Ele teria adorado ensinar-lhe maus hábitos e a melhor maneira de brincar com seus irmãos mais velhos. Ele adoraria saber que sua esposa era tão querida.

Ele adoraria saber que Finn e eu havíamos voltado.

— Ele teria ficado tão orgulhoso. — Lágrimas caíram dos meus olhos novamente. — Ugh. Eu estou tão emotiva.

Finn simplesmente sorriu e me pegou debaixo do braço mais uma vez enquanto eu lutava para sugar as lágrimas. Então ele me levou e nosso bebê através da grama.

— Jamie, — Finn disse baixinho para o nosso filho, ainda dormindo em seu lugar. Foi um milagre que ele não tenha acordado durante todo o tumulto. — Um dia, vou contar a história de como, na faculdade, sua mãe e seu tio Jamie se trancaram em um baú.

— Oh meu Deus. — Eu bati no estômago de Finn, minhas lágrimas desaparecendo em um sorriso feliz. — Você não pode dizer isso a ele. É humilhante.

— Talvez não amanhã. Mas algum dia. Algum dia vou contar-lhe todas as histórias engraçadas. Aquelas sobre você e eu. Sobre Poppy e Cole. Sobre o Jamie. Eu quero que ele e Max e Kali saibam como fomos abençoados e o quanto eu amo você. Porque essa é a nossa história.

Não foi perfeita. Mas foi nossa.

 


Fiel à sua palavra, Finn contou às crianças nossa história. Ele esperou até nosso vigésimo aniversário de casamento, quando Kali e Max tinham suas próprias famílias. Quando Jamie se tornou um jovem.

Foi quando ele compartilhou nossa história de amor com eles.

Uma carta de cada vez.

 

 

                                                                  Devney-Perry

 

 

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