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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


LIVING DEAD EN DALLAS / Charlaine Harris
LIVING DEAD EN DALLAS / Charlaine Harris

 

 

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

Andy Bellefleur estava bêbado como um gambá. Isto não era normal para Andy - acredite, eu conheço todos os bêbados em Bon Temps. Trabalhar no bar de Sam Merlotte durante tantos anos me deixou bem familiarizada com todos eles. Mas Andy Bellefleur, que nasceu aqui e era detetive da pequena força policial de Bon Temps, nunca tinha ficado bêbado no Merlotte antes. Eu estava incrivelmente curiosa sobre o por que de esta noite ser uma exceção.  Andy e eu de jeito nenhum somos amigos, então eu não podia perguntar à ele diretamente. Mas outros meios estavam abertos para mim, e eu decidi usá-los. Apesar de eu tentar limitar o uso da minha deficiência, ou dom, ou seja lá como você queira chamar isso, para descobrir coisas que possam ter um efeito sobre mim ou meu, às vezes a mera curiosidade vence.  Eu baixei minha guarda mental e li os pensamentos de Andy. Me arrependi.  Andy tinha detido um homem naquela manhã por seqüestro. Ele tinha levado a sua vizinha de dez anos de idade a um lugar na mata e a tinha estuprado. A menina estava no hospital, e o homem estava na prisão, mas os danos que tinham sido causados foram irreparáveis. Me senti triste e com vontade de chorar. Foi um crime que atingiu intimamente o meu próprio passado. Eu gostei um pouco mais de Andy por sua depressão. "Andy Bellefleur, me dê suas chaves," eu disse. Seu rosto largo se virou para mim, mostrando pouquíssima compreensão. Após uma longa pausa enquanto seu cérebro confuso filtrava o significado das minhas palavras, Andy procurou atrapalhadamente no bolso da calça cáqui e entregou-me o seu chaveiro pesado. Eu coloquei uma outra dose de uísque e coca-cola sobre o balcão na frente dele. "Por minha conta", eu disse, e fui para o telefone no final do bar ligar para Portia, a irmã de Andy. Os irmãos Bellefleur viviam em um grande sobrado branco decadente do período anterior à guerra, antigamente uma atração turística, na rua mais bonita da melhor área de Bon Temps. Na Rua Riacho da Magnólia, todas as casas ficavam de frente  para a faixa do parque por onde corria o riacho, atravessado aqui e ali por pontes decorativas apenas para tráfego de pedestres; uma estrada corria em ambos os lados. Tinham algumas outras casas antigas em na Rua Riacho da Magnólia, mas todas estavam em melhor estado que a casa dos Bellefleur, Belle Rive. Belle Rive era demais para Portia, uma advogada, e Andy, um policial, manterem, uma vez que o dinheiro para sustentar uma casa como aquela e as suas terras há muito tinham  se esgotado. Mas sua avó, Caroline, teimosamente recusou-se a vender.  Portia atendeu no segundo toque. "Portia, aqui é Sookie Stackhouse," eu disse, tendo que levantar a minha voz sobre o barulho de fundo do bar.  "Você deve estar no trabalho."  "Sim. Andy está aqui, e ele está balançando mais do que vela de barco*. Tirei as chaves dele. Pode vir buscá-lo?"  
*(no orginal é three sheets to the wind, que é uma expressão idiomática que quer dizer bebedeira, não tem tradução mas significa que um barco com suas três velas içadas balança tanto que parece um bêbado)
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"Andy bebeu demais? Isso é raro. Claro, eu chego aí em dez minutos", ela prometeu, e desligou.  "Você é uma boa menina, Sookie", Andy voluntariou inesperadamente.  Ele tinha acabado a bebida que servi para ele. Eu arrastei o copo para fora da vista e esperei que ele não pedisse mais um. "Obrigado, Andy", eu disse. ―Você é bacana.‖ "Onde está o... namorado?"  "Bem aqui", disse uma voz  fria e Bill Compton apareceu logo atrás de Andy. Eu sorri para ele sobre a cabeça curvada de Andy. Bill tinha aproximadamente 1,78m, com seus cabelos e olhos castanhos escuros. Ele tinha ombros largos e braços com músculos definidos de um homem que fez trabalhos manuais por anos. Bill tinha trabalhado na fazenda com seu pai, e então sozinho, antes de ele se tornar um soldado na guerra. Essa seria a Guerra Civil.  "Ei, V. B.!" chamou o marido de Charlsie Tooten, Micah. Bill levantou a mão casualmente para voltar retornar a saudação, e meu irmão, Jason, disse: "Boa noite, Vampiro Bill", de uma maneira perfeitamente educada. Jason, que não tinha  exatamente dado boas vindas ao Bill em nosso pequeno círculo familiar, tinha mudado completamente de atitude. Eu estava meio que prendendo o fôlego mentalmente, esperando para ver se sua melhora de atitude era permanente.  "Bill, você é legal para um sugador de sangue," Andy disse judiciosamente, girando em seu banco para que ficasse de frente  para Bill. Aprimorei a minha opinião sobre a embriaguez de Andy, já que ele nunca tinha ficado entusiasmado com a aceitação dos vampiros no conjunto da sociedade na América.  "Obrigado," disse Bill secamente. "Você não é tão mau para um Bellefleur." Ele se inclinou sobre o balcão para me dar um beijo. Seus lábios estavam tão frios quanto sua voz. Tem que se acostumar com isso. Como quando se deita a cabeça em seu peito, e não ouve um batimento cardíaco dentro . "Boa noite, querida", disse ele em sua voz baixa. Eu deslizei uma garrafa do sangue sintético desenvolvido pelos japoneses tipo B negativo pelo balcão, e ele bebeu de uma só vez e lambeu os lábios. Ele pareceu mais corado quase que imediatamente. "Como foi a reunião, querido?" Perguntei. Bill tinha estado em Shreveport a maior parte da noite.  "Eu te conto depois."  Eu esperava que  sua história do trabalho fosse menos angustiante que a de Andy. "Certo. Eu apreciaria muito se você ajudasse Portia  a levar Andy até o carro. Aqui vem ela", disse, cabeceando em direção à porta.  Só desta vez, Portia não estava usando a  saia, blusa, paletó, meias, e sapatos de salto baixo que formava seu uniforme profissional. Ela tinha mudado para calça jeans e moletom esfarrapado Sophie Newcomb. Portia foi criada tão conservadoramente quanto seu irmão, mas ela  tinha  cabelos longos, espessos e castanhos. Mantê-los maravilhosamente bem cuidados era o sinal de que Portia não tinha desistido ainda. Ela obstinadamente avançava com dificuldade pela multidão desordenada. " Bem, ele está bêbado, está certo", disse ela, avaliando seu irmão. Portia estava tentando ignorar Bill, sua presença a deixava muito desconfortável. "Isso não acontece com freqüência, mas se ele decide ficar muito bêbado, ele faz  um bom trabalho."  "Portia, Bill pode carregá-lo até o seu carro", eu disse. Andy era mais alto do que Portia e mais encorpado, claramente um fardo demais para a irmã.  "Eu acho que eu posso lidar com ele", ela me disse firmemente, ainda não olhando para Bill, que levantou suas sobrancelhas para mim.  Então eu deixei que ela colocasse um braço em volta dele e tentasse içá-lo para fora do banco. Andy continuou empoleirado. Portia procurou por Sam Merlotte, proprietário do bar, que era pequeno e esguio na aparência, mas muito forte. "Sam está fazendo coquetéis para uma festa de aniversário no country club", eu disse. "É melhor deixar Bill ajudar."  "Tudo bem", afirmou a advogada forçadamente, olhando para a madeira polida do balcão. "Muito obrigada."   Bill levantou Andy e se dirigiu à porta em segundos, apesar das pernas do Andy quase se transformarem em geléia. Micah Tooten saltou para abrir a porta, então Bill conseguiu arrastar Andy direto para o estacionamento.  "Obrigada, Sookie", disse Portia. "Ele acertou a conta?"  Eu assenti com a cabeça.  "Ok", disse ela, batendo a mão sobre o balcão para sinalizar que ela estava indo embora. Ela teve que ouvir um coro de conselhos bem-intencionados enquanto ela seguia Bill pela porta da frente do Bar do Merlotte.  Foi por isso que o velho Buick do detetive Andy Bellefleur ficou parado no estacionamento do bar a noite toda e até o dia seguinte. O Buick estava certamente vazio quando Andy chegou ao bar, ele juraria depois. Ele também testemunharia que ele tinha ficado tão preocupado com o seu tumulto interno que ele teria esquecido de trancar o carro.  Em algum ponto entre as oito horas, quando Andy tinha chegado ao bar do Merlotte, e dez da manhã seguinte, quando cheguei para ajudar a abrir o bar, o carro de Andy recebeu um novo passageiro.   Ele causaria um grande embaraço para o policial.  Esse passageiro estava morto. 
 
Eu não deveria ter ido lá de jeito nenhum. Eu tinha trabalhado no último turno na noite anterior, e eu deveria ter trabalhado no último turno novamente nessa noite. Mas Bill tinha me perguntado se eu poderia trocar com um dos meus colegas, pois ele precisava de mim para acompanhá-lo até Shreveport, e Sam não tinha objeções. Eu perguntei à minha amiga Arlene se ela poderia trabalhar no meu turno. Ela estava no seu devido dia de folga , mas ela sempre queria ganhar as melhores gorjetasque ganhávamos à noite, então concordou em chegar às cinco naquela tarde.  Pra todos os efeitos, Andy deveria ter recolhido seu  carro  naquela manhã, mas ele estava com muita ressaca para convencer Portia a levá-lo até o Merlotte's, que era fora do caminho para a delegacia. Ela disse a ele que iria buscá-lo no trabalho ao meio-dia, e eles almoçariam no bar. Então ele poderia recuperar seu carro.  Portanto o Buick, com seu passageiro silencioso, esperou pela descoberta muito mais tempo do que deveria.  Eu tive umas seis horas de sono na noite anterior, então eu estava me sentindo muito bem. Namorar um vampiro pode ser difícil para seu equilíbrio caso você seja realmente uma pessoa diurna, como eu. Eu tinha ajudado a fechar o bar, e fui para casa com Bill por volta de uma hora. Entramos juntos na banheira aquecida do Bill, em seguidafizemos outras coisas, mas eu fui para a cama um pouco depois das duas, e eu não levantei até quase nove. Bill já estava escondido do sol há muito tempo.  Eu bebi muita água e suco de laranja e tomei um  multivitamínico e um suplemento de  ferro no café da manhã, que era o meu regime desde que Bill tinha entrado em minha vida e trouxe (juntamente com o amor, aventura e emoção) a constante ameaça de anemia. O clima foi ficando mais frio, graças a Deus, e me sentei na varanda da casa do Bill vestindo um  cardigã e as calças pretas que usávamos para trabalhar no Merlotte's quando estava muito frio para shorts. Minha camiseta de golfe branca tinha BAR DO MERLOTTE bordado sobre o peito esquerdo. Enquanto eu dava uma olhada no jornal matutino, com uma parte da minha mente eu estava registrando o fato de que a grama definitivamente não estava crescendo tão rápido. Algumas das folhas pareciam estar começando a virar. O estádio de futebol da escola podia estar somente tolerável na próxima sexta-feira à noite.  O verão simplesmente odeia deixar a Louisiana, mesmo o norte da Louisiana. O outono começa mostrando pouco entusiasmo, como se ele pudesse abandonar a qualquer momento e reverter para o calor sufocante de julho. Mas eu estava alerta, e pude detectar vestígios do outono nesta manhã. Outono e inverno significavam noites mais longas, mais tempo com Bill, mais horas de sono. Então eu estava alegre quando eu fui para o trabalho. Quando eu vi o Buick estacionado em sua solidão na frente do bar, me lembrei da surpreendente farra de Andy na noite anterior. Tenho de confessar, eu sorri quando eu pensei em como ele estaria se sentindo hoje. Justamente quando eu estava prestes a dar a volta e estacionar atrás como os outros empregados, notei que a porta traseira do passageiro do carro de Andy estava um pouquinho aberta. Isso faria sua luz do teto ser acionada,  certo? E sua bateria iria acabar. E ele ia ficar com raiva, e teria que entrar no bar para chamar o guincho, ou pedir a alguém para rebocar ele. . . então eu coloquei meu carro no estacionamento e desci dele, deixando-o ligado . Isso acabou se tornando um erro otimista. 
Eu empurrei a porta, mas ela moveu-se apenas dois centímetros. Então eu pressionei o meu corpo contra ela, pensando que isso iria trancá-la e eu poderia seguir caminho. Mais uma vez, a porta não fez clique ao fechar. Impacientemente, eu abri a porta totalmente para descobrir o que estava atrapalhando. Uma onda de cheiro saiu e ventilou para dentro do estacionamento, um cheiro horrível. Medo apertou a minha garganta, porque o cheiro não era desconhecido para mim. Eu olhei no banco de trás do carro, minha mão cobrindo a minha boca, ainda que isso dificilmente ajudasse com o cheiro. " Oh, cara," sussurrei. "Ah, merda." Lafayette, o cozinheiro de um dos turnos do Merlotte's, tinha sido empurrado para o banco traseiro. Ele estava nu. Era o fino pé marrom de Lafayette, com suas unhas pintadas de um carmesim* profundo, que mantivera a porta sem fechar, e era o cadáver de Lafayette que exalava aos quatro cantos.  *cor que se aproxima ao vermelho-alaranjado. Me afastei apressadamente, então entrei no meu carro e dirigi para trás do bar, apertando minha buzina. Sam veio correndo para fora pela porta de empregados, com um avental amarrado na sua cintura. Eu desliguei o meu carro e saí tão rápido que mal percebi que tinha feito isso, e eu me abracei ao Sam como uma meia cheia de estática.  "O que foi?" A voz de Sam disse no meu ouvido. Inclinando-me para trás para olhar para ele, sem ter que olhar para cima demais já que Sam é um homem pequeno. Seu cabelo dourado avermelhado estava brilhando no sol da manhã. Ele tinha olhos verdadeiramente azuis, e eles estavam arregalados com apreensão. "Trata-se de Lafayette," eu disse, e comecei a chorar. Isso foi ridículo e bobo e não ajudava em nada, mas eu não podia evitar. "Ele está morto, no carro de Andy Bellefleur."  Os braços de Sam estavam apertados em minhas costas e me puxaram contra seu corpo ainda mais. "Sookie, sinto muito que tenha visto isso", disse ele. "Iremos chamar a polícia. Pobre Lafayette."  Ser um cozinheiro do Merlotte's não é exatamente chamado de uma habilidade culinária extraordinária, já que Sam só oferece alguns sanduíches e batatas fritas, então há bastante rotação. Mas Lafayette tinha durado mais tempo do que a maioria, para minha surpresa. Lafayette era gay, espalhafatosamente gay, maquiado-com-unhas-compridas gay. As pessoas no norte da Louisiana são menos tolerantes do que as pessoas de New Orleans, e eu suponho que Lafayette, um homem de cor, tinha tido dificuldades duplas por isso. Apesar de suas dificuldades – ou por causa delas - ele era alegre, divertidamente malicioso, inteligente, e de fato um bom cozinheiro. Ele tinha um molho especial onde mergulhava os hambúrgueres, e as pessoas pediam regularmente pelos Hambúrgueres Lafayette. "Será que ele tem família aqui?" Perguntei ao Sam. Nos separamos um pouco sem graça e entramos no prédio, para o escritório de Sam. 
"Ele tinha uma prima", disse Sam, enquanto seus dedos apertavam 9-1-1. "Por favor, venha para o Merlotte's na Rua Beija-flor", disse à atendente. "Há um homem morto em um carro aqui. Sim, no estacionamento, na frente do local. Ah, e você pode querer alertar Andy Bellefleur. É o carro dele."  Eu podia ouvir a transmissão via rádio do outro lado da linha de onde eu estava.  Danielle Gray e Holly Cleary, as duas garçonetes do turno da manhã, entraram pela porta traseira rindo. Ambas mulheres divorciadas na casa dos vinte e poucos, Danielle e Holly eram amigas  por toda a vida que pareciam estar muito felizes com seu trabalho desde que pudessem estar juntas. Holly tinha um filho de cinco anos que estava no jardim de infância, e Danielle tinha uma filha de sete anos e um filho muito novo para a escola, que ficava com a sua mãe enquanto trabalhava no Merlotte's. Eu nunca seria íntima dessas duas mulheres – que, afinal, tinham mais ou menos a minha idade – porque eram cuidadosas em serem suficientes uma para a outra.   "Qual é o problema?" Danielle perguntou quando ela viu a minha cara. A sua própria, pequena e sardenta, ficou instantaneamente preocupada.  "Por que o carro de Andy está lá na frente?" Holly perguntou. Ela saiu com Andy Bellefleur por um tempo, eu me lembro. Holly tinha cabelos loiros curtos que caíam em torno de seu rosto como pétalas murchas de margarida, e  a pele mais bonita que eu já tinha visto. "Ele passou a noite  dentro dele?"  "Não", eu disse, "mas alguém passou."  "Quem?"  "Lafayette está lá dentro."  "Andy deixou uma bicha negra dormir no carro dele?" Esta era Holly, que era a franca, curta e grossa.  "O que aconteceu com ele?" Esta era Danielle, que era a mais inteligente das duas.  "Nós não sabemos", disse Sam. "A polícia está a caminho."  "Você quer dizer", disse Danielle, lenta e cuidadosamente, "que ele está morto."  "Sim", eu disse a ela. "Isto é exatamente o que queremos dizer." "Bem, nós devemos abrir em uma hora." As mãos de Holly estavam em volta dos seus quadris redondos. "O que vamos fazer sobre isso? Se a polícia nos deixar funcionar, quem vai cozinhar para nós? As pessoas virão, eles querem almoçar."  "É melhor ficarmos preparados, por via das dúvidas", disse Sam. "Embora eu esteja pensando que não iremos abrir até esta tarde." Ele entrou em seu escritório para começar a chamar cozinheiros substitutos.  Era estranho continuar a rotina diária do bar, como se Lafayette fosse andar com afetação a qualquer minutocom uma história sobre alguma festa que ele tivesse ido, como tinha feito alguns dias antes. As sirenes vinham soando pela estrada que passava em frente ao Merlotte‘s. Os carros rangiam cruzando o cascalho do estacionamento do Sam. No momento em que tínhamos colocado as cadeiras para baixo, arrumado as mesas, os e talheres extras enrolados em guardanapos e prontos para substituir os usados, a polícia chegou.
O Merlotte's fica fora dos limites da cidade, de modo que o xerife do condado, Bud Dearborn, seria o encarregado. Bud Dearborn, que tinha sido um bom amigo do meu pai, estava grisalho agora. Ele tinha a cara amassada, como um pequinês humano, e olhos castanhos opacos. Assim que ele entrou pela porta da frente do bar, eu notei que Bud estava usando botas pesadas e seu boné de santos. Ele deve ter sido chamado enquanto estava trabalhando em sua fazenda. Com Bud estava Alcee Beck, o único detetive afro-americano na força policial do condado. Alcee era tão negro que sua camisa branca brilhava em contraste. O nó de sua gravata era dado com precisão, e seu traje estava absolutamente correto. Seus sapatos estavam polidos e brilhantes.  Bud e Alcee, eram eles que patrulhavam o condado... ou pelo menos eram alguns dos elementos mais importantes que mantinham a coisa funcionando. Mike Spencer, diretor da funerária e médico legista do condado, tinha uma mão pesada nos assuntos locais também, e ele era muito amigo do Bud. Eu estava disposta a apostar que Mike já estava no estacionamento, anunciando que o pobre Lafayette estava morto.  Bud Deaborn disse: "Quem encontrou o corpo?"  "Eu encontrei." Bud e Alcee mudaram um pouco seu curso e se dirigiram a mim. "Sam, pode emprestar o seu escritório?" Bud perguntou. Sem esperar pela resposta do Sam, ele indicou com a cabeça que eu deveria entrar.  "Claro, vá em frente," meu chefe disse secamente. "Sookie, você está bem?"  "Tudo bem, Sam." Eu não estava certa de que era verdade, mas não havia nada que Sam pudesse fazer sobre isso sem se meter em problemas, e tudo em vão. Embora Bud sinalizasse para que eu sentasse, eu sacudi a cabeça enquanto ele e Alcee se estabeleciam nas cadeiras do escritório. Bud, naturalmente, pegou a cadeira grande do Sam, enquanto Alcee ficou com a melhor cadeira extra, a que tinha um pequeno acolchoamento.  "Conte-nos sobre a última vez que viu Lafayette vivo", sugeriu Bud.  Eu pensei nisso.  "Ele não estava trabalhando na noite passada", disse. "Anthony estava trabalhando, Anthony Bolívar."  "Quem é esse?" Alcee enrugou sua testa ampla. "Não reconheço o nome."  "Ele é um amigo do Bill. Estava passando por aqui, e precisava de um emprego. Ele tinha experiência." Ele tinha trabalhado em um restaurante durante a Grande Depressão.  "Você quer dizer que o mais novo cozinheiro do Merlotte's é um vampiro!" "E daí?" Perguntei. Eu podia sentir a minha boca ficando obstinada, minhas sobrancelhas se  juntando, e eu sabia que a minha cara estava ficando brava. Eu estava tentando arduamente não ler as suas mentes, tentando muito ficar completamente fora disso, mas não era fácil. Bud Dearborn era comum, mas Alcee projetava seus pensamentos como um farol enviava um sinal. Neste momento ele irradiava asco e temor.  Meses antes de eu conhecer Bill, e descobrir que ele apreciou muito minha deficiência - meu dom, assim como ele o via - eu fazia o meu melhor para fingir para todos e para mim mesma que eu não podia realmente "ler" mentes. Mas desde que Bill tinha me libertado da pequena prisão que eu tinha construído para mim mesma, eu estava praticando e experimentando, encorajada por Bill. Para ele, eu tinha colocado em palavras as coisas que eu vinha sentindo por anos. Algumas pessoas enviavam uma clara e forte mensagem, como Alcee. A maioria das pessoas eram mais liga-edesliga, como Bud Dearborn. Isso dependia muito de quão forte eram as emoções deles, o quanto suas mentes eram abertas, qual era o clima, pelo que eu sabia. Algumas pessoas eram sombrias como o inferno, e era quase impossível dizer o que elas estavam pensando. Eu poderia ter uma leitura de seu humor, talvez, mas isso era tudo.  Eu tinha que admitir que se eu tocasse a pessoa enquanto tentava ler seus pensamentos, isso fazia o quadro ficar mais claro – como colocar um cabo, depois de ter apenas uma antena. E eu descobri que se eu "enviasse" imagens relaxantes da à pessoa, eu poderia fluir através de seu cérebro como água. Não havia nada que eu quisesse menos que fluir através da mente de Alcee Beck. Mas de forma absolutamente involuntária eu estava recebendo uma visão completa da reação profundamente supersticiosa de Alcee ao descobrir que havia um vampiro trabalhando no Merlotte's, a sua revolta em descobrir que eu era a mulher que ele tinha ouvido falar que estava namorando um vampiro, a sua profunda convicção de que o escandaloso gay Lafayette tinha sido uma vergonha para a comunidade negra. Alcee achava que alguém devia ter um rancor contra Andy Bellefleur, para ter estacionado a carcaça de um homem negro gay em seu carro. Alcee estava imaginando que se Lafayette tivesse Aids, o vírus poderia ter se infiltrado de alguma forma no banco do carro de Andy e sobrevivido lá. Ele venderia o carro, se fosse seu.  Se eu tocasse Alcee, saberia o seu número de telefone e o tamanho do sutiã de sua esposa.  Bud Dearborn estava me olhando engraçado. "Você disse alguma coisa?" Perguntei. "Sim. Eu estava me perguntando se você já tinha visto Lafayette aqui durante a noite. Ele veio aqui tomar uma bebida?"  "Eu nunca o vi aqui." Pensando nisso, que eu nunca vi Lafayette bebendo. Pela primeira vez, eu percebi que embora a multidão do almoço fosse mista, a clientela do bar a noite era quase exclusivamente branca.  "Pra onde ele costumava sair?"  "Não tenho a menor idéia." Todas as histórias de Lafayette foram contadas com os nomes alterados para proteger os inocentes. Bem, na verdade, os culpados.  "Quando o viu pela última vez?"  "Morto, no carro".  Bud sacudiu a cabeça dele com irritação. "Vivo, Sookie".  "Hmmm. Eu acho que... há três dias. Ele ainda estava aqui quando eu cheguei para trabalhar o meu turno, e dissemos olá um ao outro. Ah, ele me falou de uma festa que ele tinha ido." Tentei relembrar suas palavras exatas. "Ele disse ele foi para uma casa onde havia sexo e todos os tipos de diversões desregradas acontecendo." 
Os dois homens me olhavam boquiabertos. "Bem, isso foi o que ele disse! Eu não sei quanta verdade tinha nisso." Eu podia ver a cara do Lafayette enquanto me contava isso, o jeito recatado que ele mantinha colocando o dedo em seus lábios para indicar que ele não iria me contar quaisquer nomes ou lugares.  "Você não pensou que alguém deveria saber sobre isso?" Bud Dearborn olhou espantado.  "Foi uma festa privada. Por que deveria contar a alguém sobre isso?" Mas esse tipo de festa não deveria acontecer em seu distrito. Ambos estavam olhando ferozmente para mim. Através dos lábios comprimidos, Bud disse: "Será que Lafayette lhe disse alguma coisa sobre drogas sendo utilizadas nesta festinha?"  "Não, não me lembro de nada parecido."  "Foi uma festa na casa de alguém branco ou de alguém negro?"  "Branco", eu disse, e depois eu desejei me declarar ignorante. Mas Lafayette tinha ficado muito impressionado com a casa - não porque fosse grande ou luxuosa. Porque ele tinha ficado tão impressionado? Eu não tenho muita certeza sobre o que poderia impressionar Lafayette, que havia crescido pobre e continuou assim, mas tenho certeza de que ele estava falando da casa de alguém branco, porque ele disse, "Em todas as fotos nas paredes, eles estavam brancos como lírios e sorrindo como jacarés." Eu não ofereci esse comentário à polícia, e eles não perguntaram mais.   Quando eu tinha deixado o escritório do Sam, depois de explicar por que o carro de Andy estava no estacionamento em primeiro lugar, eu voltei a ficar atrás do bar. Eu não queria assistir a atividade lá na área do estacionamento, e  nenhum cliente estava esperando porque a polícia tinha bloqueado os acessos ao local.  Sam estava reorganizando as garrafas por atrás do bar, tirando o pó delas enquanto fazia isso, e Holly e Danielle tinham se jogado numa mesa na área de fumantes onde Danielle poderia acender um cigarro.  "Como foi?" Sam perguntou.  "Nada demais. Eles não gostaram de saber sobre Anthony trabalhando aqui, e eles não gostaram do que eu disse sobre a festa que Lafayette estava se gabando outro dia. Você ouviu ele me contando? A coisa da orgia?"  "Sim, ele disse algo sobre isso para mim, também. Deve ter sido uma grande noite para ele. Se isso realmente aconteceu. "  "Você acha que Lafayette inventou isso?" "Eu não acho que tenha tantas festas birraciais e bissexuais em Bon Temps", disse ele.  "Mas isso é só porque ninguém o convidou para uma", eu disse severamente. Gostaria de saber se eu realmente sabia sobre tudo o que se passava na nossa pequena cidade. De todas as pessoas em Bon Temps, eu deveria ser aquela que sabe sobre os detalhes, uma vez que todas essas informações estavam mais ou menos facilmente disponíveis para mim, se eu escolhesse procurálas. "Pelo menos, eu presumo que este seja o caso?" 
"Esse é o caso", disse Sam, sorrindo para mim um pouco enquanto ele desempoeirava uma garrafa de uísque.  "Acho que o meu convite se perdeu no correio, também."  "Você acha que Lafayette voltou aqui ontem à noite para falar mais com você ou comigo sobre essa festa?"  Eu dei de ombros. "Ele pode ter simplesmente marcado de encontrar alguém no estacionamento. Afinal, todos sabem onde fica o Merlotte's. Ele tinha recebido seu salário?" Estávamos no final de semana, quando normalmente Sam nos pagava.  "Não. Talvez ele tenha vindo por isso, mas eu iria dar a ele durante o trabalho no dia seguinte. Hoje.‖  "Me pergunto quem convidou Lafayette para aquela festa."  "Boa pergunta." "Você não acha que ele teria sido burro o suficiente para tentar chantagear alguém, não é?"  Sam esfregava a madeira falsa do balcão com um pano limpo. O bar já estava brilhando, mas ele gostava de manter as mãos ocupadas, eu reparei. "Eu acho que não", disse ele, depois que ele pensou sobre isso. "Não, eles certamente convidaram a pessoa errada. Você sabe como Lafayette era indiscreto. Não só ele nos disse que foi a uma festa como essa - e eu estou apostando que não era para ele dizer - como ele poderia querer criar mais a respeito disso do que outros, hã, participantes, poderiam se sentir confortáveis".  "Tipo, manter contato com as pessoas que estavam na festa? Dar-lhes uma ardilosa piscadela em público?"  "Algo como isso."  "Eu acho que se tiver relações sexuais com alguém, ou assisti-los fazendo sexo, você acaba se sentindo bastante em igualdade." Eu disse isto duvidosamente, tendo pouca experiência nessa área, mas Sam concordou com a cabeça.  "Lafayette queria ser aceito por aquilo que ele era mais do que qualquer outra coisa", disse ele, e eu tive de concordar.
Nós reabrimos às quatro e meia, e a esta altura nós estávamos todos tão entediados quanto possível. Eu estava com vergonha disso, afinal de contas, nós estávamos lá porque um homem que conhecíamos tinha morrido, mas era inegável que depois de ter arrumado a despensa, limpado o escritório do Sam, e jogado várias mãos de bourré (Sam ganhou cinco dólares e uns trocados) estávamos todos prontos para ver alguém novo. Quando Terry Bellefleur, o primo de Andy e um substituto freqüente para barman ou cozinheiro do Merlotte's, entrou pela porta dos fundos, foi uma visão bem-vinda.  Acho que Terry estava no final de seus cinquenta anos. Um veterano do Vietnã, ele fora um prisioneiro de guerra durante um ano e meio. Terry tinha algumas cicatrizes óbvias no rosto, e minha amiga Arlene me disse que as cicatrizes em seu corpo eram ainda mais drásticas. Terry era ruivo, embora ele parecesse estar ficando um pouco mais grisalho a cada mês. Eu sempre apreciei Terry, que tinha uma habilidade acanhada para ser gentil comigo, exceto quando ele estava com seu humor sombrio. Todo mundo sabia que não devia cruzar com Terry Bellefleur quando ele estava nesses dias. Os dias negros de Terry eram inevitavelmente precedidos por pesadelos da pior espécie, como seus vizinhos testemunhavam. Eles podiam ouvir Terry gritando nas noites de pesadelo. Eu nunca, nunca li a mente de Terry.  Terry parecia bem hoje. Seus ombros estavam relaxados, e seus olhos não se lançavam de lado a lado. "Você está bem, docinho?", ele perguntou, agradavelmente dando tapinhas no meu braço.  "Obrigado, Terry, estou bem. Só triste por causa de Lafayette." "Sim, ele não era tão ruim." Vindo de Terry, isso era um grande elogio. "Fazia o trabalho dele, sempre chegava na hora. Limpava bem a cozinha. Nenhuma reclamação." Funcionamento neste nível era a maior ambição de Terry. "E então ele morre no Buick de Andy."  "Eu receio que o carro de Andy está meio que..." Eu tateava pelo termo mais ameno.  "Isso pode ser limpo, disse ele." Terry estava ansioso para encerrar esse assunto.  "Ele disse a você o que tinha acontecido com Lafayette?"  "Andy disse que parece que o seu pescoço foi quebrado. E tinha algumas, ah, provas de que ele foi... mexido." Os olhos castanhos de Terry piscavam longe, revelando o seu desconforto." ―Mexido‖ significava algo violento e sexual para Terry.  "Ah. Meu Deus, que terrível." Danielle e Holly apareceram atrás de mim, e Sam, com outro saco de lixo que ele tirou do seu escritório, parou enquanto se dirigia para a lixeira dos fundos. "Ele não parecia tão... Quero dizer, o carro não parecia tão..."  "Manchado"?  "Certo." "Andy acha que ele foi morto em outro lugar."  " Eca", disse Holly. "Nem me fale. Isto é demais para mim." 
Terry olhou por cima do meu ombro para as duas mulheres. Ele não tinha nenhum grande amor por Holly ou Danielle, embora eu não soubesse porque e não tivesse feito qualquer esforço para entender. Eu tentava dar privacidade às pessoas, especialmente agora que eu tinha um controle melhor sobre a minha própria habilidade. Ouvi as duas se afastando, após Terry ter mantido o seu olhar treinado sobre elas durante alguns segundos.  "Portia veio buscar Andy ontem à noite?" ele perguntou.  "Sim, eu a chamei. Ele não podia dirigir. Embora eu esteja apostando que agora ele desejaria que eu o tivesse deixado." Eu simplesmente nunca seria a número um na lista de popularidade de Andy Bellefleur.  "Ela teve problemas para levá-lo até o seu carro?"  "Bill a ajudou." "Vampiro Bill? Seu namorado?"  "Uh-huh."  "Espero que ele não a tenha assustado", disse Terry, como se ele não se lembrasse que eu ainda estava lá. Eu podia sentir meu rosto se espremendo. "Não há razão na terra para Bill algum dia assustar Portia Bellefleur," eu disse, e algo sobre a maneira como eu disse penetrou a névoa do pensamento privado de Terry.  "Portia não é tão forte como todo mundo acha que ela é", me disse Terry. "Você, por outro lado, é como um pequeno bombom por fora mas por dentro é um pit bull."  "Não sei se eu deveria sentir-me lisonjeada, ou se eu deveria te dar um soco no nariz."  "Lá vai você. Quantas mulheres - ou homens, se isso importa - diriam uma coisa dessas para um homem louco como eu?" E Terry sorriu, como um fantasma iria sorrir. Eu não sabia o quão consciente da sua reputação Terry era, até agora. Eu fiquei na ponta dos pés para dar um beijo em seu rosto marcado, para mostrar-lhe que eu não tinha medo dele. Enquanto eu voltava para minha altura, eu me dei conta de que não era exatamente verdade. Em algumas circunstâncias, eu não só estaria bastante desconfiada deste homem danificado, mas de fato eu poderia ficar realmente muito assustada.  Terry amarrou a cordas de um avental branco de cozinheiro e começou a abrir a cozinha. O resto de nós voltou para o módulo de trabalho. Eu não teria tempo para esperar pelas mesas cheias, já que eu estava saindo às seis esta noite para ficar pronta para ir à Shreveport com Bill. Eu odiava que Sam me pagasse pelo tempo que eu passei de bobeira pelo Merlotte hoje, à espera de trabalho; mas arrumar a despensa e limpar o escritório de Sam devia contar para alguma coisa. Logo que a polícia liberou o estacionamento, as pessoas começaram a chegar, num fluxo tão pesado como uma cidade pequena como Bon Temps obtêm. Andy e Portia estavam entre os primeiros, e eu vi Terry olhar da portinhola da cozinha para seus primos. Eles acenaram para ele, e ele levantou uma espátula para reconhecer a saudação deles. Gostaria de saber o quão perto de primo Terry era na verdade. Ele não era um primo de primeiro grau, eu tinha certeza. É claro, aqui você poderia chamar alguém de seu primo ou sua tia ou seu tio com pouca ou nenhuma ligação de sangue. Depois que minha mãe e meu pai tinham morrido em uma enchente relâmpago que varreu seu carro para fora da ponte, a melhor amiga da minha mãe tentava ir à casa da vovó toda semana ou a cada duas com um presentinho para mim; e eu a chamei de Tia Patty a minha vida toda.  Eu respondia a todas as perguntas dos clientes quando dava tempo, e servi hambúrgueres e saladas e tiras de peito de frango – e cerveja – até me sentir tonta. Quando eu olhei para o relógio, era hora de eu ir embora. No banheiro feminino encontrei a minha substituta, a minha amiga Arlene. O cabelo vermelho flamejante de Arlene (dois tons mais vermelho este mês) foi arrumado num elaborado monte de cachos na parte de trás da cabeça dela, e sua calça apertada deixava que o mundo soubesse que tinha perdido três quilos. Arlene tinha sido casada quatro vezes, e ela estava à procura do número cinco. Conversamos sobre o assassinato por alguns minutos, e a informei sobre as condições de minhas mesas, antes de pegar a minha bolsa no escritório de Sam e sair correndo pela porta dos fundos. Não estava muito escuro quando eu parei em minha casa, que fica a cerca de 402 metros depois do bosque de uma estrada da região raramente percorrida. É uma casa antiga, partes dela datavam de mais de cento e quarenta anos, mas ela foi modificada e aumentada tantas vezes que não a consideramos como uma casa de antes da guerra. É só uma velha casa de fazenda, de qualquer maneira. Minha avó, Adele Hale Stackhouse, deixou-me esta casa, e ela é preciosa para mim. Bill tinha falado pra eu me mudar para sua casa, que ficava numa colina do outro lado do cemitério depois da minha casa, mas eu estava relutante em deixar o meu próprio canto.  Eu arranquei meu traje de garçonete e abri o meu armário. Se nós estávamos indo para Shreveport em assuntos de vampiros, Bill iria querer que eu me arrumasse um pouco. Eu não entendia isso perfeitamente, já que ele não queria que ninguém me passasse uma cantada, mas ele queria que eu parecesse sempre mais bonita quando estávamos indo para o Fangtasia, um bar de um vampiro que servia principalmente para os turistas. Homens.  Eu não conseguia tomar uma decisão, então eu pulei para o chuveiro. Pensar sobre o Fangtasia sempre me deixava tensa. Os vampiros donos do local faziam parte da estrutura do poder vampírico, e uma vez que eles tinham descoberto o meu talento incomum, eu me tornei uma desejável aquisição para eles. Somente a entrada determinada de Bill no sistema vampírico de autoregulamentação tinha me mantido segura; isto é, vivendo onde eu queria viver, trabalhando no emprego que escolhi. Mas em troca dessa segurança, eu ainda era obrigada a aparecer quando eu fosse convocada, e colocar minha telepatia para uso deles. Medidas mais amenas do que as suas antigas escolhas (tortura e terror) eram o que vampiros que estavam "se integrando" necessitavam. A água quente imediatamente me fez sentir melhor, e eu relaxei enquanto ela batia nas minhas costas.  "Posso me juntar a você?"
"Merda, Bill!" Meu coração disparando quilômetros por minuto, me inclinei contra a parede do chuveiro para me apoiar.  "Desculpe, querida. Você não ouviu a porta do banheiro abrindo?"  "Não, raios. Porque você não pode simplesmente dizer 'Querida, eu estou casa', ou algo assim?"  "Desculpe", disse ele de novo, não soando muito sincero. "Você precisa de alguém para esfregar suas costas?" "Não, obrigado", eu sibilei. ―Eu não estou no tipo de humor para esfregar costas."  Bill gargalhou (então eu pude ver que suas presas estavam recolhidas) e puxou a cortina do chuveiro para fechá-la.  Quando saí do banheiro, embrulhada numa toalha mais ou menos modestamente, ele estava estirado na minha cama, os sapatos dele ordenadamente alinhados no pequeno tapete perto da mesinha de cabeceira. Bill estava usando uma camisa de mangas compridas azul escura e calças cáqui, com meias que combinavam com a camisa e os sapatos polidos. Seu cabelo castanho escuro estava penteado direto para trás, e sua extensa costeletas pareciam retrô. Bem, elas eram, mas mais retrô que a maioria das pessoas jamais poderia imaginar.  Ele tem sobrancelhas bem arqueadas e nariz reto. Sua boca é do tipo que você vê em estátuas gregas, pelo menos as que tinha visto em fotos. Ele morreu poucos anos depois do fim da Guerra Civil (ou a Guerra da Agressão do Norte, como minha avó sempre chamava).  "Quais os planos para hoje à noite?" Perguntei. "Negócios ou prazer?"  "Estar com você é sempre um prazer," disse Bill.  "Estamos indo para Shreveport pra quê?" Eu perguntei, já que conheço uma resposta evasiva quando ouço uma.  "Nós fomos convocados."  "Por?"  "Eric, evidentemente." Agora que Bill tinha se candidatado, e aceitado, uma posição como investigador da Área 5, ele estava à disposição de Eric - e sob sua proteção. Isso significava, Bill tinha explicado, que qualquer um que atacasse Bill também teria de lidar com o Eric, e isso queria dizer que as posses de Bill para Eric eram sagradas. O que incluía a mim. Eu não estava animada em ser numerada entre as posses de Bill, mas era melhor do que algumas das alternativas.  Fiz uma careta no espelho.  "Sookie, você fez um trato com o Eric."  "Sim", eu admiti, "Eu fiz."  "Então você deve ater-se a ele."  " Planejo fazer isso." "Use aquele jeans justo que amarra dos lados", sugeriu Bill.  Nem mesmo era um jeans, mas algum tipo de coisa elástica. Bill simplesmente me amava nesse jeans, que tinham o cós bem baixo. Mais de uma vez, eu me perguntei se Bill tinha algum tipo de fantasia com Britney Spears. Já que eu tinha plena consciência de que eu ficava bem com o jeans, eu o vesti, com uma camisa de mangas curtas azul escura e branca, que abotoava na frente até cerca de dois centímetros abaixo do meu sutiã. Apenas para expor um pouco de independência (afinal, era melhor ele se lembrar que eu era dona de mim mesma) eu penteei meu cabelo em um rabo de cavalo no alto da minha cabeça. Eu prendi um laço azul na minha faixa elástica e apliquei um pouco de maquiagem. Bill lançou um olhar pro seu relógio uma ou duas vezes, mas eu continuei no meu ritmo. Se ele estava extremamente preocupado sobre como eu iria impressionar seus amigos vampiros, ele poderia simplesmente esperar por mim.  Uma vez que nós estávamos no carro e no caminho oeste para Shreveport, Bill disse, "Eu comecei um novo empreendimento arriscado hoje." Sinceramente, eu me perguntava de onde vinha o dinheiro do Bill. Ele nunca pareceu rico; ele nunca pareceu pobre. Mas ele nunca trabalhou, tampouco; a não ser que fosse nas noites em que não estávamos juntos.  Eu estava apreensivamente consciente de que qualquer vampiro que valorize o seu suor poderia tornar-se rico; afinal, quando se pode controlar as mentes dos seres humanos até certo ponto, não é difícil persuadi-los a ceder dinheiro ou dicas de ações ou oportunidades de investimento. E até os vampiros ganharem o direito legal de existir, eles não tinham que pagar impostos, veja só. Até o governo dos Estados Unidos teve que admitir que não poderia cobrar imposto sobre os mortos. Mas se lhes dessem direitos, o Congresso tinha calculado, e lhes desse o voto, então poderia obrigá-los a pagar impostos. Quando os japoneses aperfeiçoaram o sangue sintético que realmente permitiu que vampiros "vivessem" sem beber sangue humano, foi possível para os vampiros saírem do caixão. "Vejam, não temos de vitimar a humanidade para podermos existir", eles poderiam dizer. "Nós não somos uma ameaça." Mas eu sabia que a grande emoção de Bill foi quando ele bebeu de mim. Ele poderia ter uma dieta bastante estável de LifeFlow (a marca mais popular de sangue sintético), mas morder meu pescoço era incomparavelmente melhor. Ele podia beber um A positivo engarrafado na frente de todo mundo num bar lotado, mas se ele estivesse prevendo um bocado de Sookie Stackhouse, por Deus era melhor que fosse em particular, o efeito era bem diferente. Bill não tinha qualquer tipo de estimulação erótica vinda de uma taça de LifeFlow.  "Então o que é esse novo negócio?" Perguntei.  "Eu comprei o strip mall* perto da rodovia, aquele onde fica o LaLaurie's."  *Strip mall, também chamado uma praça ou mini-shopping center, é um centro comercial em espaço aberto onde as lojas estão dispostas numa fila, com uma calçada em frente e possuem grandes áreas de estacionamento em frente. É mais ou menos um shopping a céu aberto. Comum em locais de grande tráfego. "E quem era o dono?"  "O Bellefleurs originalmente eram proprietários da terra. Eles deixaram Sid Matt Lancaster fazer um acordo de desenvolvimento para eles".  Sid Matt Lancaster já atuou antes como advogado do meu irmão. Ele estava sempre por perto há anos e tinha muito mais cacife do que Portia. "Isso é bom para os Bellefleurs. Elas têm tentado vender aquilo há alguns anos. Eles precisam de dinheiro, demais. Você comprou o terreno e o strip mall? Que tamanho tem um terreno como aquele?"  "Só um acre, mas tem uma boa localização," disse Bill, em um tom prático que eu nunca tinha ouvido antes. "Nesse mesmo shopping fica LaLaurie's, e um cabeleireiro, e a Tara's Togs*?" Tirando o country club, o LaLaurie's era o único restaurante com quaisquer pretensões na área de Bon Temps. Era onde você levaria sua esposa para o seu vigésimo quinto aniversário de casamento, ou o seu chefe quando você queria uma promoção, ou um encontro em que você realmente queria muito impressionar. Mas ele não estava rendendo muito dinheiro, ouvi dizer.  (*Tara‘s Togs é o nome da loja de roupas de propriedade da personagem Tara, amiga de Sookie, que pra quem ta acompanhando a série de TV, vai notar que aqui no livro ela é bem diferente)  Não tenho a menor idéia de como se deve gerir uma empresa, ou administrar acordos de negócios, estando apenas a um passo ou dois de ser pobre durante toda a minha vida. Se meus pais não tivessem tido a sorte de encontrar um pouco de petróleo em suas terras e guardar todo esse dinheiro antes do petróleo esgotar-se, Jason e vovó e eu poderíamos ter vivido ainda mais apertados esse tempo todo. Pelo menos duas vezes, estivemos perto de vender a casa dos meus pais, só para manter a casa da vovó e os impostos, enquanto ela nos criava. "Então, como é que isto funciona? Você é o dono do prédio que abriga essas três empresas, e elas lhe pagam aluguel?"  Bill assentiu. "Então agora, se você quiser fazer algo no cabelo, vá ao Clip and Curl."  Eu só tinha ido ao cabeleireiro uma vez em minha vida. Se as pontas ficassem irregulares, normalmente eu ia até o trailer de Arlene e ela aparava de modo uniforme. "Você acha que é preciso fazer algo no meu cabelo?" Perguntei duvidosamente.  "Não, ele é bonito." Bill foi tranquilizadoramente positivo. "Mas se você quisesse ir, eles têm, ah, manicures, e produtos para cuidar dos cabelos." Ele disse "produtos para cuidar dos cabelos", como se isso fosse uma outra língua. Eu abafei um sorriso.  "E," continuou ele, "leve quem você quiser ao LaLaurie's, e você não terá que pagar."  Me virei para encará-lo. "E Tara sabe que se você for lá, ela vai colocar qualquer roupa que você comprar na minha conta."  Eu podia sentir o meu gênio rangendo e me traindo. Bill, infelizmente, não podia. "Portanto, em outras palavras," eu disse, orgulhosa do nivelamento da minha voz, "eles sabem como mimar a extravagante mulher do dono".  Bill pareceu se dar conta de que tinha cometido um erro. "Oh, Sookie", ele começou, mas eu não receberia nada daquilo. Meu orgulho se elevou e atingiu meu rosto. Eu não costumava perder a cabeça, mas quando acontecia, eu fazia um bom trabalho.  "Por que você não pode simplesmente me mandar algumas malditas flores, como o namorado de qualquer outra pessoa? Ou alguma guloseima. Eu gosto de doces. Só me compre um cartão da Hallmark, por que não faz isso? Ou um gatinho ou um lenço!"  "Eu quis dar-lhe alguma coisa", disse com cautela.  "Você me fez sentir como uma interesseira*. E você certamente tem passado para as pessoas que trabalham nessas empresas a impressão de que eu sou."  (*No original é Kept Woman, que significa uma mulher que aceita presentes e tem suas contas pagas por um homem em troca do corpo, achei que nem amante, nem prostituta se aplicam aqui) Até onde eu poderia dizer sob o turvo painel de luz, Bill parecia que estava tentando entender a diferença. Nós estávamos passando pela curva para o Lago Mimosa, e eu podia ver os bosques profundos na estrada ao lado do lago sob os faróis de Bill. Para minha total surpresa, o carro engasgou e morreu. Tomei isso como um sinal.  Bill teria trancado as portas se ele soubesse o que eu ia fazer, porque ele certamente ficou assustado quando eu me arrastei para fora do carro e marchei pela estrada em direção ao bosque. "Sookie, volte aqui agora mesmo!" Bill estava furioso agora, por Deus. Bem, ele tinha demorado.  Eu mostrei o dedo pra ele enquanto eu entrava no bosque.  Eu sabia que se o Bill quisesse que eu ficasse no carro, eu estaria no carro, já que ele é cerca de vinte vezes mais forte e mais rápido do que eu. Depois de alguns segundos no escuro, eu quase desejei que ele me alcançasse. Mas depois o meu orgulho se contorceu, e eu sabia que tinha feito a coisa certa. Bill parecia estar um pouco confuso sobre a natureza do nosso relacionamento, e eu queria que isso entrasse imediatamente em sua cabeça. Ele que simplesmente movesse seu traseiro arrependido até Shreveport e explicasse a minha ausência ao seu superior, Eric. Por Deus, isso ia mostrar pra ele. "Sookie", Bill chamava da estrada, "Estou indo até ao posto de gasolina mais próximo para trazer um mecânico."  "Boa sorte", eu murmurei sob meu fôlego. Um posto de gasolina com um mecânico em tempo integral, aberto à noite? Bill estava pensando nos anos cinquenta, ou em alguma outra época.  "Você está agindo como uma criança, Sookie", disse Bill. "Eu podia ir buscar você, mas eu não vou perder tempo. Quando você estiver calma, venha para o carro e se tranque. Estou indo agora." Bill tinha o seu orgulho, também.  Para meu mix de alívio e preocupação, ouvi passadas fracas ao longo da estrada o que significava que Bill estava correndo em velocidade de vampiro. Ele realmente saiu.  Ele provavelmente pensou que ele estaria me ensinando uma lição. Quando foi precisamente o oposto. Eu disse isso a mim mesma várias vezes. Afinal, ele estaria de volta dentro de alguns minutos. Eu tinha certeza. Tudo que eu tinha a fazer era ter a certeza que eu não tropeçaria longe o suficiente pelo bosque e cairia dentro do lago.
Estava realmente escuro entre os pinheiros. Embora a lua não estivesse cheia, era uma noite sem nuvens, e as sombras  das árvores ficaram escuras como piche em contraste com o distante brilho calmo dos espaços abertos. Eu segui meu caminho de volta para a estrada, então tomei um longo fôlego e comecei a marchar de volta para Bon Temps, na direção oposta de Bill. Imaginava quantos quilômetros tínhamos colocado entre nós e Bon Temps antes de Bill ter começado a nossa conversa. Não seriam tantos, eu me tranquilizei, e parabenizei a mim mesma por estar usando tênis, não sandálias de salto alto. Eu não tinha trazido um suéter, e a pele exposta entre o meu top cavado e meu jeans de cós baixo estava arrepiada. Eu comecei a percorrer o acostamento com uma corrida leve. Não havia qualquer iluminação na estrada, então eu estaria em maus lençóis se não fosse a luz da lua.  Justo no momento em que me lembrei que alguém tinha assassinado Lafayette e estava à solta, ouvi pegadas dentro do bosque paralelamente ao meu próprio caminho.  Quando eu parei, o movimento nas árvores fez o mesmo.  Eu preferia saber logo. "Ok, quem está aí?" Eu falei. "Se você vai me devorar, vamos logo acabar com isso." Uma mulher saiu de dentro do bosque. Com ela estava um porco do mato, um porco selvagem. Suas presas reluziam nas sombras. Em sua mão esquerda ela carregava uma espécie de bastão ou varinha, com um tufo de alguma coisa sobre a ponta.  "Ótimo", sussurrei pra mim mesma. "Simplesmente ótimo." A mulher era tão assustadora quanto o porco selvagem. Eu tinha certeza que ela não era uma vampira, porque eu podia sentir a atividade em sua mente; mas ela era com certeza algum ser sobrenatural, então ela não enviava um sinal claro. Eu pude captar o teor de seus pensamentos de qualquer forma. Ela estava alegre. Isso não podia ser boa coisa. Eu esperava que o porco selvagem fosse amigável. Eles eram raramente vistos nas redondezas de Bon Temps, embora  de vez em quando um caçador localizasse um; mais raro ainda era conseguir derrubar um deles. Isso mereceria uma foto. Esse porco fedia, um cheiro horrível e diferenciado.  Eu não tinha certeza quem abordar. Afinal, o porco selvagem poderia não ser um animal de verdade, mas um metamorfo. Isso foi uma coisa que eu aprendi nos últimos meses. Se os vampiros, que por tanto tempo não passavam de uma aterrorizante ficção, realmente existiam, o mesmo acontecia com outras ficções que considerávamos igualmente aterrorizantes.  Eu estava realmente nervosa, então eu sorri.  Ela tinha cabelos longos embaraçados, um escuro indeterminado na iluminação precária, e ela estava usando quase nada. Ela tinha um tipo de camisola, mas era curta e esfarrapada e manchada. Ela estava descalça. Ela sorriu de volta pra mim. Em vez de gritar, eu dei um sorriso largo ainda mais brilhante.  "Não tenho nenhuma intenção de devorar você", disse ela. 
"Fico feliz em ouvir isso. E quanto ao seu amigo?" "Ah, o porco." Como se ela acabasse de notá-lo, a mulher se aproximou e coçou o pescoço do porco selvagem, como eu faria em um cachorro manso. As presas ferozes balançavam para cima e para baixo. "Ela vai fazer o que eu disser a ela," a mulher disse casualmente. Eu não precisei de um tradutor para entender a ameaça. Eu tentei parecer igualmente casual enquanto lançava um olhar ao redor do espaço aberto onde eu estava, na esperança de localizar uma árvore que eu pudesse subir, se fosse preciso. Mas todos os troncos perto o suficiente para eu alcançar há tempo não passavam de galhos; eles eram pinheiros loblolly* cultivados aos milhões nas proximidades dos bosques vizinhos, por causa da sua madeira. Os galhos começam a surgir cerca de 4,57 metros de altura. (*Loblolly Pine é uma das várias espécies de pinheiros nativos do sudeste dos Estados Unidos. O nome Loblolly quer dizer local de baixa umidade, mas não sei qual seria o nome dado a essa árvore em Português.)  "Como se a raiva de um vampiro significasse algo para mim", disse ela sem constrangimento.  "Desculpe-me, senhora, mas o que é você? Se você não se importa que eu pergunte."  Eu percebi que eu devia ter pensado nisso mais cedo; o carro de Bill ter paradolá não foi nenhum acidente, e talvez até mesmo a briga que tivemos não tinham sido nenhuma coincidência.  "Você queria falar comigo sobre alguma coisa?" Eu perguntei a ela, e me voltando para ela descobri que ela tinha se aproximado vários metros. Eu pude ver seu rosto um pouco melhor agora, e eu não fiquei de modo algum tranquila. Tinha uma mancha em torno de sua boca, e quando ela a abriu para falar, eu pude ver que os dentes tinham bordas escuras; Senhorita Misteriosa andou comendo um mamífero cru. "Eu vejo que você já jantou", eu disse nervosamente, e em seguida podia ter estapeado a mim mesma. "Mmmm", disse ela. "Vocês é o bichinho de estimação de Bill?"  "Sim", eu disse. Eu me opunha à terminologia, mas eu não estava em posição muito boa para argumentar. "Ele ficaria realmente muito chateado se alguma coisa me acontecesse." Ela sorriu novamente, e eu estremeci. "Nem um pouco. Sou uma Bacante*."  Isso era algo grego. Eu não sei exatamente o quê, mas era selvagem, do sexo feminino, e vivia na natureza, se minhas  impressões estivessem corretas.  (* No original Maenad ou Bacante - na mitologia grega, era mulheres adoradoras de Dionísio. O nome significa literalmente "aquela que tem ira". Seres que cultuam orgias e desejam abundantemente a violência, derramamento de sangue, sexo, intoxicação e mutilações, e são geralmente descritas como mulheres coroadas com folhas de videira, vestidas com peles e dançando selvagemente.) "Isso é muito interessante," eu disse, sorrindo como se valesse a pena. "E você está aqui esta noite porque..."? "Preciso que uma mensagem seja entregue para Eric Northman", disse ela, ao se aproximar. Desta vez eu pude vê-la fazer isso. O porco fungou ao seu lado como se ela estivesse vinculado à mulher. O cheiro era indescritível. Eu pude ver o pequeno rabo ouriçado do porco selvagem – estava balançando para frente e para trás de um jeito alerta e impaciente.  "Qual é a mensagem?" Eu lancei um olhar para ela – e rodopiei para correr o mais rápido que pude. Se eu não tivesse ingerido um pouco de sangue de vampiro no início do verão, eu não poderia ter me virado a tempo, e levaria o golpe no meu rosto e no peito, em vez de nas minhas costas. A sensação era exatamente como se alguém muito forte tivesse lançado um rodo pesado e as pontas tivessem capturado minha pele, atingindo profundamente, e dilacerado minhas costas. Eu não podia me manter de pé, mas atirei-me à frente e caí de bruços. Ouvi sua risada atrás de mim, e o porco fungando, e então eu me dei conta de ela tinha ido embora. Eu fiquei ali chorando por um minuto ou dois. Eu estava tentando não gritar, e me vi arquejando como uma mulher em trabalho de parto, tentando dominar a dor. Minhas costas doíam como o inferno. Eu estava com raiva, também, com o pouco de energia que ainda restava em mim. Eu era apenas um quadro de avisos vivo para aquela cadela, aquela bacante, qualquer diabo que ela fosse. Enquanto eu rastejava, sobre galhos e o chão áspero, espinhos de pinheiro e poeira, eu fui ficando mais e mais furiosa. Eu estava me tremendo toda por causa da dor e da raiva, me arrastando em frente, até que eu sentisse que eu não valia a pena morta, eu estava tão perturbada. Eu tinha começado a rastejar de volta para o carro, tentando me dirigir ao local onde provavelmente Bill me encontraria, mas quando eu estava quase lá eu reconsiderei sobre ficar no campo aberto. Eu tinha presumido que a estrada seria de grande ajuda – mas, evidentemente, não foi. Eu descobri alguns minutos antes que nem todo mundo por acaso estava com um humor lá muito prestativo. E se eu desse de cara com outra coisa, outra coisa com fome? O cheiro do meu sangue poderia estar atraindo um predador neste exato momento; dizem que um tubarão é capaz de detectar a mais ínfima partícula de sangue na água, e um vampiro é seguramente equivalente ao tubarão na terra.  Então eu rastejei dentro da linha das árvores, em vez de permanecer fora ao lado da estrada onde eu ia ficar visível. Este não parece ser um local muito digno ou significante para morrer. Isto não era o Álamo, ou Termópilas. Isto era apenas um ponto da vegetação de beira de estrada no norte da Louisiana. Eu estava provavelmente estendida na hera venenosa. Eu provavelmente não viveria tempo suficiente para fugir, entretanto.  Eu esperava a cada segundo que a dor começasse a diminuir, mas ela só aumentava. Eu não podia impedir as lágrimas de escorrerem pelas minhas bochechas. Eu tentava não soluçar em voz alta, para que eu não atraísse mais nenhuma atenção, mas era impossível me manter completamente quieta. Eu estava tão desesperadamente concentrada em manter o meu silêncio que eu quase não vi o Bill. Ele estava andando ao longo da estrada procurando dentro da floresta, e eu podia dizer pelo jeito que ele estava caminhando que ele estava alerta para perigo. Bill sabia que algo estava errado.  "Bill", sussurrei, mas para sua audição de vampiro, era como um grito.  Ele ainda estava instantaneamente parado, seus olhos vasculhando as sombras. "Estou aqui", eu disse, engolindo um soluço. "Cuidado." Eu poderia ser uma armadilha viva.  Sob o luar, eu podia ver que o seu rosto estava limpo de emoção, mas eu sabia que ele estava pesando as probabilidades, tal como eu estava. Um de nós tinha que se mover, e percebi que se eu fosse em direção à luz da lua, pelo menos Bill poderia ver mais claramente se alguma coisa atacasse. Eu usei minhas mãos para me agarrar à grama, e puxei. Eu não podia sequer ficar de joelhos, então este avanço era meu melhor êxito. Eu empurrei um pouco com os meus pés, apesar de que até a utilização dos músculos das minhas costas era torturante. Eu não queria olhar para Bill enquanto eu me movia na direção dele, porque eu não queria amolecer diante da visão de sua fúria. Era uma coisa quase palpável.  "O que fez isso com você, Sookie?" ele perguntou suavemente.  "Me leve para o carro. Por favor, me tire daqui", disse, fazendo o meu melhor para me manter inteira. "Se eu fizer muito barulho, ela pode voltar." Eu me tremi toda só de pensar nisso. "Leve-me até Eric," eu disse, tentando manter a minha voz equilibrada. "Ela disse que isso foi uma mensagem para Eric Northman."  Bill agachou-se ao meu lado. "Tenho que levantá-la", ele me disse.  Oh, não. Eu comecei a dizer, "Deve haver alguma outra forma," mas eu sabia que não havia. Bill sabia que era melhor não hesitar. Antes que eu pudesse antecipar a extensão total da dor, ele moveu rapidamente um braço para debaixo de mim e aplicou sua outra mão em minha virilha, e em um instante ele tinha me colocado sobre o seu ombro. Gritei alto. Tentei não soluçar depois disso, assim Bill podia ouvir algum ataque, mas eu não controlei isso muito bem. Bill começou a correr ao longo da estrada, de volta para o carro. Ele já tinha deixado o carro ligado, com o motor funcionando suavemente. Bill abriu a porta traseira abruptamente e tentou me sustentar no banco de trás do Cadillac, rápido mas suavemente. Era impossível não me causar mais dor ao fazer isso, mas ele aventurou-se.  "Foi ela," eu disse, quando pude falar alguma coisa coerente. "Foi ela quem fez o carro parar e me fez sair." Eu estava tentando avaliar se ela teria causado a briga para começar.  "Vamos falar sobre isso daqui a pouco", disse ele. Ele acelerou em direção a Shreveport, na maior velocidade que pôde, enquanto eu cravava as unhas no estofamento, na uma tentativa de manter controle sobre mim mesma.  Tudo que me lembrava sobre essa corrida era que pareceu durar pelo menos dois anos.  Bill me levou pela porta de trás do Fangtasia algum jeito, e chutou-a para conseguir atenção. "O quê?" Pam soou hostil. Ela era uma vampira loira bonita que eu encontrei algumas vezes antes, um tipo de pessoa sensata com grande perspicácia empresarial. "Oh, Bill. O que aconteceu? Oh, yum, ela está sangrando."  "Chame Eric," disse Bill.  "Ele está esperando aqui", ela começou, mas Bill andou a passos largos em direção a ela comigo em seu ombro como um saco numa droga de jogo. Eu estava tão por fora a essa hora que eu não me importaria se ele me carregasse para a pista de dança da frente do bar, mas ao invés disso, Bill invadiu o escritório de Eric carregando a mim e sua fúria.  "Isso é por sua conta," Bill rosnou, e eu gemi enquanto ele me sacudia como se isso fosse atrair a atenção de Eric para mim. Eu dificilmente achava que Eric poderia estar olhando para qualquer outro lugar, já que eu era uma fêmea adulta e, provavelmente, a única mulher sangrando no seu escritório. Eu teria adorado desmaiar, passar mal de vez. Mas não fiz isso. Eu só inclinei-me sobre o ombro de Bill e sofri. "Vá para o inferno," Eu resmunguei.  "O quê, minha querida?" "Vá para o inferno!"  "Devemos deitá-la de bruços sobre o sofá", disse Eric. "Aqui, deixe-me..." Senti um outro par de mãos agarrando minhas pernas, Bill meio que virou para debaixo de mim, e juntos eles me colocaram cuidadosamente sobre o grande sofá que Eric havia acabado de comprar para o seu escritório. Ela tinha aquele cheiro de novo, e era de couro. Eu fiquei satisfeita, contemplando-o há uma distância de pouco mais de um centímetro, que ele não tinha colocado capa nos estofados. "Pam, ligue para o médico." Eu ouvi passos deixando a sala, e Eric agachou-se para olhar o meu rosto. Foi uma baita agachada, porque Eric, alto e largo, parecia exatamente aquilo que ele era, um ex-Viking.  "O que aconteceu com você?" ele perguntou.  Eu olhei fixamente para ele, tão irritada que mal consegui falar. "Eu sou uma mensagem para você", eu disse, quase num sussurro. "Essa mulher no bosque fez o carro de Bill parar, e talvez até mesmo nos fez discutir, e então ela veio até mim com um porco."  "Um porco?" Eric ficaria menos abismado se eu dissesse que ela tinha um canário em cima do nariz. "Oink, oink. Porco do mato. Porco selvagem. E ela disse que queria lhe enviar uma mensagem, e eu me virei a tempo de evitar que ela acertasse o meu rosto, mas ela atingiu minhas costas, e então foi embora." "Seu rosto. Ela teria atingido o seu rosto," disse Bill. Vi suas mãos se cerrando em suas coxas, e sua costas enquanto ele andava de um lado a outro no escritório. "Eric, os cortes dela não são tão profundos. O que há de errado com ela?"  "Sookie", disse Eric suavemente, "Com o que esta mulher se parece?" Seu rosto estava bem próximo ao meu, seu espesso cabelo dourado quase tocando o meu rosto.  "Ela parecia uma louca, preciso te dizer. E ela te chamou de Eric Northman."  "Esse é o sobrenome que eu uso para relações com humanos", disse ele. "Sobre parecer louca, você quer dizer... como assim?‖ "Suas roupas estavam todas esfarrapadas, e ela tinha sangue em sua boca e dentes, como se tivesse acabado de comer algo cru. Ela estava carregando um tipo de varinha, com alguma coisa na ponta. Seu cabelo era longo e emaranhado... olha, falando de cabelo, meu cabelo vai ficar grudado em minhas costas." Eu arfei.  "Sim, estou vendo." Eric começou a tentar separar meus cabelos longos de minhas feridas, onde o sangue estava agindo como um aderente, enquanto coagulava. Pam chegou em seguida, com o médico. Se eu esperava que Eric estivesse falando de um médico comum, do tipo que anda com um estetoscópio e um abaixa-língua, estava mais uma vez condenada ao desapontamento. Esse médico era uma anã, que dificilmente teria que se curvar para me olhar nos olhos. Bill flutuava, vibrando com a tensão, enquanto a pequena mulher examinava minhas feridas. Ela estava vestindo calças brancas e um jaleco, exatamente como os médicos do hospital; bem, exatamente como os médicos costumavam usar, antes de eles começarem a usar aquela cor verde, ou azul, ou qualquer estampa maluca que aparecesse para eles. Seu nariz ocupava quase todo o rosto, e sua pele era de um tom oliva. Seu cabelo era marrom dourado e áspero, incrivelmente espesso e ondulado. Ela o usava relativamente bem curto. Ela me lembrava um dos hobbits. Talvez ela fosse um hobbit. A minha compreensão da realidade tinha trocado vários pontos de vista com a cabeça nos últimos meses. "Que tipo de médica é você?" Eu perguntei, apesar de eu ter levado algum tempo para me recompor o suficiente. "Do tipo que cura", disse ela em uma voz surpreendentemente profunda. "Você foi envenenada."  "Então é por isso que eu continuo achando que vou morrer", eu murmurei.  "Você vai, muito em breve", disse ela.  "Muito obrigada, Doutora. O que você pode fazer sobre isso?"  "Nós não temos muitas opções. Você foi envenenada. Alguma vez você já ouviu falar dos dragões Komodo? Suas bocas estão cheias de bactérias. Bem, feridas de bacantes têm o mesmo nível tóxico. Depois de um dragão morder você, a criatura segue seu rastro durante horas, esperando que as bactérias te matem. Para as bacantes, o atraso da morte acrescenta mais diversão. Para os dragões Komodo, quem sabe?"  Obrigado pela viagem do National Geographic, doutora. "O que você pode fazer?" Perguntei, entre dentes cerrados.  "Eu posso fechar as feridas exteriores. Mas sua corrente sanguínea foi comprometida, e seu sangue deve ser removido e substituído. Essa é uma tarefa para os vampiros." A boa médica parecia positivamente animada pela perspectiva de trabalharem todos juntos. Em mim. Ela virou-se para os vampiros reunidos. "Se apenas um de vocês tomar o sangue envenenado, ficará terrivelmente mal. Isto é o elemento de magia que a bacante transmite. A mordida do dragão Komodo não seria um problema para vocês." Ela riu cordialmente.  Eu odiava ela. Lágrimas corriam pelo meu rosto por causa da dor.  "Portanto," ela continuou, "quando eu tiver acabado, cada um de você terá sua vez, removendo apenas um pouco. Em seguida iremos dar a ela uma transfusão." "De sangue humano", eu disse, querendo deixar isso perfeitamente claro. Eu tive que tomar sangue do Bill uma vez para sobreviver a danos maciços e uma vez para sobreviver a um exame de gênero, e eu tomei sangue de um outro vampiro por acidente, improvável tanto quanto soa. Eu tinha sido capaz de ver mudanças em mim após a ingestão desse sangue, mudanças que eu não queria aumentar ao tomar outra dose. Sangue de vampiro era a droga da vez entre os ricos, e até onde eu me importava, eles podiam ficar com ela.  "Se Eric puder mexer os pauzinhos e conseguir sangue humano," afirmou a anã. "Pelo menos metade da transfusão pode ser sintética. Sou a Dra. Ludwig, a propósito." "Eu posso conseguir o sangue, e nós lhe devemos a cura", ouvi Eric dizer, para meu alívio. Eu teria daria tudo para ver a cara de Bill, naquele momento. "Qual é o seu tipo, Sookie?" Eric perguntou.  "O positivo", disse, satisfeita por meu sangue ser tão comum.  "Isso não deve ser um problema", disse Eric. "Você pode cuidar disso, Pam?"  Novamente, uma sensação de movimento na sala. Dra. Ludwig se inclinou para frente e começou a lamber minhas costas. Eu gritei.  "Ela é a médica, Sookie", disse Bill. "Ela irá curá-la desse jeito."  "Mas ela vai ficar envenenada", eu disse, tentando pensar em uma objeção de que não soasse homofóbica e preconceituosa com altura. Na verdade, eu não queria ninguém lambendo minhas costas, uma fêmea anã ou um vampiro macho grande. "Ela é a curadora", disse Eric, meio que num tom de censura. "Você precisa aceitar o seu tratamento."  "Ah, tudo bem", eu disse, sem sequer me importar como eu soei mal-humorada. "A propósito, ainda não ouvi um 'sinto muito' vindo de você ainda." Meu senso de descontentamento tinha subjugado o meu senso de auto-preservação.  "Lamento que a bacante tenha escolhido você." Eu lancei um olhar para ele. "Não é suficiente," eu disse. Eu estava me esforçando para insistir nessa conversa.  "Sookie Angelical, visão do amor e da beleza, estou abatido que a perigosa e malvada bacante tenha violado o seu corpo suave e sensual, em uma tentativa de entregar uma mensagem para mim."  "Assim é mais adequado." Eu teria tido mais satisfação nas palavras do Eric, se eu não tivesse derrubada de dor nesse momento. (O tratamento da médica não era exatamente confortável.) Seria melhor se as desculpas fossem sinceras ou aprimoradas, e uma vez que Eric não tinha um coração para sentir (ou pelo menos eu não tinha notado isso até agora), ele poderia me distrair com as palavras.  "Devo entender que a mensagem significa que ela está indo para a guerra com você?" Perguntei, tentando ignorar as atividades da Dra. Ludwig. Eu estava suando por todos os lados. As dores nas costas eram enormes. Eu podia sentir lágrimas escorrendo pelo meu rosto. O quarto parecia ter adquirido uma neblina amarelada; tudo parecia doentio.  Eric olhou surpreso. "Não exatamente," disse com cautela. "Pam?"  "Está vindo", disse ela. "Isso é ruim."  "Comece", disse Bill urgentemente. "Ela está mudando de cor." Eu me perguntava, quase impassível, de que cor eu estaria ficando. Eu não podia mais segurar minha cabeça fora do sofá, como eu estava tentando fazer para parecer um pouco mais alerta. Eu encostei minha bochecha sobre o couro, e imediatamente o meu suor me grudou à superfície. A sensação de queimação que irradiava através do meu corpo das marcas de garra nas minhas costas ficou mais intensa, e eu gritava porque eu simplesmente não podia evitar. A anã saltou do sofá e curvou-se para examinar os meus olhos.  Ela sacudiu a cabeça. "Sim, se houver alguma esperança", disse ela, mas soava muito distante de mim. Ela tinha uma seringa na mão. A última coisa que eu registrei foi o rosto de Eric se aproximando, e me pareceu que ele piscou. Capítulo 3      Eu abri os olhos com muita relutância. Senti que eu estava dormindo em um carro, ou que eu tinha tirado uma soneca em uma cadeira de encosto reto; Eu tinha definitivamente adormecido em algum lugar inadequado e desconfortável. Eu me sentia embriagada, e doía por todos os lugares. Pam estava sentada no chão há menos de um metro de distância, seus grandes olhos azuis fixos em mim.    "Funcionou", ela comentou. "Dra. Ludwig tinha razão."    "Ótimo".    "Sim, teria sido uma pena te perder antes que tivéssemos a chance de conseguir tirar algo bom de você", disse ela com uma praticidade chocante. "Há muitos outros humanos associados com a gente que a bacante poderia ter escolhido, e esses humanos são muito mais dispensáveis."   "Obrigada pelos calorosos elogios, Pam," Eu murmurei. Me sentia no último grau de sujeira, como se eu tivesse mergulhado em uma poça de suor e, em seguida, rolado na poeira. Até meus dentes estavam nojentos.    "De nada", disse ela, e quase sorriu. Então a Pam tinha senso de humor, não é algo pelo que os vampiros são conhecidos. Você nunca viu vampiros comediantes, e piadas humanas que ‗gelavam‘ os vampiros, ha-ha. (Algumas de suas piadas poderiam lhe dar pesadelos durante uma semana.)    "O que aconteceu?"    Pam entrelaçou seus dedos em torno de seu joelho. "Nós fizemos como a Dra. Ludwig disse. Bill, Eric, Chow e eu, todos nos revezamos, e quando você estava quase seca começamos a transfusão." Eu pensei sobre isso por um minuto, agradecida por ter ficado inconsciente antes que eu pudesse presenciar o procedimento. Bill sempre tomou sangue quando estávamos fazendo amor, então associei isso ao auge da atividade erótica. Ter "doado" para tantas pessoas teria sido extremamente embaraçoso para mim se eu tivesse presente, por assim dizer. "Quem é Chow?" Perguntei.    "Veja se consegue sentar-se", avisou Pam. "Chow é o nosso novo barman. Ele é bem desenhado."    "Ah?"    "Tatuagens", disse Pam, soando quase humana por um momento. "Ele é alto para um asiático, e ele tem um belo conjunto de... Tatuagens."    Eu tentei parecer interessada. Eu levantei, sentindo uma certa fragilidade que me deixou muito cautelosa. Era como se minhas costas estivessem cobertas de feridas que acabaram de cicatrizar, feridas que poderiam abrir novamente se eu não tomasse cuidado. E esse, Pam me disse, era exatamente o caso. Além do mais, eu não estava usando nenhuma camisa. Ou qualquer outra coisa. Acima da cintura. Abaixo, o meu jeans ainda estava intacto, embora extraordinariamente indecente.    "Sua camisa estava tão esfarrapada que tivemos que rasgá-la fora", Pam disse, sorrindo abertamente. "Nos revezamos segurando você no colo. Você foi muito admirada. Bill estava furioso."    "Vá para o inferno" era tudo que eu poderia pensar em dizer.    "Bem, quanto a isso, quem sabe?" Pam deu de ombros. "Eu quis render-lhe um elogio. Você deve ser uma mulher modesta." Ela levantou-se e abriu a porta de um armário. Havia camisas penduradas dentro, uma reserva extra para Eric, eu presumi. Pam puxou uma do cabide e jogou-a para mim. Eu alcancei para pegá-la e tive que admitir que o movimento foi relativamente fácil.    "Pam, tem um chuveiro aqui?" Eu odiava ter que colocar uma camisa branca imaculada sobre meu corpo encardido.    "Sim, na despensa. Junto ao banheiro dos empregados‖.   Era extremamente básico, mas era um chuveiro com sabonete e uma toalha. Você tinha passar direto por dentro da despensa, o que provavelmente estava muito bom para os vampiros, já que simplicidade não é um grande problema entre eles.    Quando Pam concordou em vigiar a porta, eu a recrutei para ajudar a puxar meu jeans e arrancar meus sapatos e as meias. Ela desfrutou do processo um pouco demais.    Essa foi a melhor chuveirada que já tomei.    Eu tinha que me mover devagar e cuidadosamente. Eu descobri que estava tão debilitada como se eu tivesse passado por uma doença grave, como pneumonia ou uma forte virose da gripe. E acho que eu tinha. Pam abriu a porta o suficiente para me passar alguma roupa íntima, o que foi uma agradável surpresa, pelo menos até que eu me secasse e me dispusesse a me contorcer para entrar naquilo. A calcinha era tão pequena e rendada que praticamente não merecia ser chamada de calcinha. Pelo menos era branca. Eu sabia que tinha melhorado quando me peguei desejando poder ver como eu estava em um espelho. A calcinha e a camisa branca foram as únicas peças que eu podia suportar vestir. Eu saí descalça, ao perceber que Pam tinha enrolado o jeans e todo o resto e enfiado em um saco plástico para que eu pudesse levá-los para casa para lavar.   Meu bronzeado parecia extremamente marrom contra o branco neve da camisa. Eu andei muito lentamente de volta ao escritório do Eric e procurei uma escova na minha bolsa. Assim que comecei a tentar desfazer o emaranhado, Bill entrou e pegou a escova da minha mão.    "Deixe-me fazer isso, querida", disse ele ternamente. "Como você está? Deslize a camisa, para que eu possa verificar as suas costas."
  Fiz isso, esperando ansiosamente que não houvesse câmeras no escritório – contudo desde a avaliação da Pam, eu poderia relaxar também.    "Como é que está?" Perguntei-lhe por cima do ombro.    Bill disse brevemente, "Haverá marcas."    "Eu imaginava". Melhor nas minhas costas do que na minha frente. E ficar marcada é melhor do que estar morta.    Eu escorreguei a camisa de volta, e Bill começou a trabalhar no meu cabelo, a coisa favorita dele. Eu fiquei cansada rapidamente e sentei na cadeira de Eric, enquanto Bill ficou atrás de mim.    "Então por que a bacante me escolheu?"    "Ela estava esperando pelo primeiro vampiro que passasse. E eu tinha você comigo - muito mais fácil de machucar – isso foi um bônus."    "Será que ela causou a nossa briga?"    "Não, acho que foi só o acaso. Eu ainda não entendo por que você ficou tão zangada."  "Estou muito cansada para explicar, Bill. Falaremos sobre isso amanhã, ok?"    Eric entrou, juntamente com um vampiro que eu sabia que devia ser Chow. Agora mesmo eu poderia ver porque Chow atrairia clientes. Ele era o primeiro vampiro asiático que eu tinha visto, e ele era extremamente bonito. Ele também estava coberto, pelo menos as partes que pude ver - com essa complexa tatuagem que eu ouvi dizer era de membros favorecidos da Yakuza. Se Chow tivesse sido um bandido quando ele era humano ou não, certamente ele era sinistro agora. Pam deslizou pela porta depois que mais um minuto tinha passado, dizendo: "Tudo trancado. Dra. Ludwig saiu, também."   Então o Fangtasia tinha fechado suas portas por esta noite. Devia ser duas da manhã, então. Bill continuou a escovar meu cabelo, e me sentei na cadeira do escritório com as mãos nas minhas coxas, agudamente consciente do meu vestuário inadequado. Porém, pensando nisso, Eric era tão alto que sua camisa me cobria tanto quanto alguns dos meus shorts que caíam bem. Acho que era a calcinha com modelagem de biquíni francês por baixo que me deixava tão envergonhada.    Além disso, nenhum sutiã. Uma vez que Deus foi generoso comigo no departamento de seios, não deixava nenhuma dúvida, quando eu saía sem sutiã.    Mas não importava se minhas roupas mostravam mais de mim do que eu queria, não importava se todas estas pessoas tinham visto ainda mais os meus peitos do que eles poderiam discernir agora, eu tinha que ser educada.   "Obrigada a todos vocês por salvarem minha vida," eu disse. Eu não fui bem sucedida em soar calorosa, mas esperava que eles pudessem dizer que fui sincera.    "Foi realmente um prazer", disse Chow, com um inconfundível escárnio em sua voz. Ele tinha um vestígio de sotaque, mas não tenho experiência suficiente com as diferentes características das muitas raças de asiáticos para dizer de onde ele vinha originalmente. Estou certa de que "Chow" não era o seu nome completo, tampouco, mas era como todos os outros vampiros o chamavam. "Teria sido perfeito, sem o veneno." 
Eu podia sentir Bill tenso atrás de mim. Ele colocava suas mãos em meus ombros, e eu alcançava seus dedos com os meus.    Eric disse: "Valeu a pena ingerir o veneno." Ele manteve seus dedos em seus lábios e os beijou, como se estivesse apreciando o aroma do meu sangue. Eca.    Pam sorriu. "A qualquer hora, Sookie".    Oh, simplesmente fantástico. "Você, também, Bill," eu disse, inclinando minha cabeça para trás contra ele.    "Fui um privilégio para mim", disse ele, controlando seu temperamento com esforço.    "Vocês dois tiveram uma briga antes de Sookie encontrar a bacante?" Eric perguntou. "Foi isso o que eu ouvi Sookie dizer?"   "Isso é problema nosso", eu vociferei, e os três vampiros sorriram entre si. Eu não gostei daquilo nem um pouco.    "A propósito, por que você queria que a gente viesse aqui esta noite, afinal?" Eu perguntei, na esperança de fugir do assunto ‗Bill e eu‘.    "Você se lembra de sua promessa para mim, Sookie? Que você usaria sua habilidade mental para me ajudar, desde que eu deixasse os humanos envolvidos vivos?"    "Claro que me lembro." Eu não sou de esquecer uma promessa, especialmente uma feita para um vampiro.    "Desde que Bill foi nomeado investigador da Área 5, não temos tido muitos mistérios. Mas a Área 6, no Texas, tem necessitado de seu trunfo especial. Portanto, temos que emprestar você."    Eu me dei conta de que estava sendo alugada, como uma serra elétrica ou uma escavadeira. Me pergunto se os vampiros de Dallas tiveram que fazer um depósito contra danos.    "Não vou sem Bill." Eric me olhou nos olhos com firmeza. Os dedos do Bill me apertaram um pouco, então eu soube que eu disse a coisa certa. "Ele estará lá. Nós conduzimos uma difícil negociação", disse Eric, sorrindo amplamente. O efeito era realmente desconcertante, porque ele estava feliz com algo, e suas presas estavam para fora. "Estávamos com medo que pudessem pegar você, ou matá-la, por isso uma escolta era parte do nosso acordo o tempo todo. E quem melhor do que o Bill? Se alguma coisa puder tornar Bill incapaz de protegê-la, enviaremos outra escolta imediatamente. E os Vampiros de Dallas concordaram em oferecer um carro e motorista, alojamentos e refeições, e, claro, uma bela recompensa. Bill terá uma porcentagem nisso."    Quando eu faria o trabalho? "Você precisa combinar o seu acordo financeiro com Bill", disse Eric suavemente. "Estou certo de que ele irá, pelo menos, recompensar você pelo seu tempo longe do seu trabalho no bar."    Ann Landers* nunca escreveu sobre "Quando seu namorado se torna o seu empresário"? *Ann Landers, pseudônimo de Esther Pauline Friedman Lederer (4 de julho de 1918 - 22 de junho de 2002)   foi uma escritora e jornalista americana, que tinha uma coluna de aconselhamento em vários jornais imporantes dos Estados Unidos, onde recebia e publicava cartas de varios leitores em busca de conselhos para seus problemas pessoais.   "Porque uma bacante?" Perguntei, surpreendendo a todos eles. Eu esperava ter pronunciado a palavra corretamente. "Naiades são ninfas das águas e Dríades são das árvores, certo? Então, por uma bacante, estava lá fora na floresta? Bacantes não foram apenas mulheres loucas impulsionadas pelo deus Baco?"    "Sookie, você tem uma profundidade inesperada", disse Eric, depois de uma sensível pausa. Não disse a ele que eu aprendi aquilo lendo livros de mistério. Deixei que penssasse que eu lia literatura grega antiga na língua original. Não poderia fazer mal.    Chow disse, "O deus entrou em algumas mulheres tão completamente que elas se tornaram imortais, ou bem perto disso. Baco era o deus da uva, naturalmente, então bares são muito interessantes para bacantes. Na verdade, tão interessantes que elas não gostam que outras criaturas da escuridão se misturem. Bacantes consideram que a violência provocada pelo consumo de álcool pertence a elas; é disso que elas se alimentam, agora que ninguém formalmente venera seu deus. E elas são atraídas pelo orgulho."  Isso badalou como um sino. Bill e eu não estávamos os dois bancando os orgulhosos, hoje à noite?    "Nós apenas ouivimos rumores de que uma estava na área", disse Eric. "Até que Bill trouxe você"    "Então sobre o que ela o está advertindo? O que ela quer?"    "Tributo", disse Pam. "Nós achamos."    "Que tipo?"   Pam deu de ombros. Parecia que essa era a única resposta que eu iria obter.   "Ou o quê?" Perguntei. Novamente os olhares. Eu dei um profundo suspiro de exasperação. "O que é que ela vai fazer se você não pagar o seu tributo?"   "Enviar sua loucura." Bill pareceu preocupado.    "Rumo ao bar? Ao Merlotte's?" Embora houvesse bares em abundância na área.    Os vampiros se entreolharam.   "Ou em um de nós", disse Chow. "Isso já aconteceu. O massacre do halloween de 1876, em São Petersburgo."     Eles todos assentiram solenemente. "Eu estava lá", disse Eric. "Foram necessários vinte de nós para pôr em ordem. E tivemos que enfiar uma estaca em Gregory, todos tivemos que fazê-lo. A bacante, phryne, recebeu homenagem depois disso, você pode estar certo."  Para os vampiros enfiarem uma estaca em um dos seus, as coisas tinham que estar bastante graves. Eric tinha estacado um vampiro que tinha roubado dele, e Bill me disse que Eric teve que cumprir uma punição severa. Por quem, Bill não tinha dito, e eu não tinha perguntado. Tinha algumas coisas que eu poderia viver muito bem sem saber.    "Então você vai dar um tributo a esta bacante?"    Eles estavam trocando idéias sobre isso, eu poderia dizer. "Sim", disse Eric. "É melhor que nós o façamos."    "Acho que bacantes são bem difíceis de se matar," disse Bill, com uma pergunta em sua voz.    Eric estremeceu. "Oh, sim", disse ele. "Oh, sim."   
 
Durante a nossa viagem de volta para Bon Temps, Bill e eu ficamos calados. Eu tinha um monte de perguntas sobre esta noite, mas eu estava cansada dos meus ossos até minha pele.    "Sam deve saber sobre isto", eu disse, enquanto paramos em minha casa.    Bill rodeou para abrir a minha porta. "Porque, Sookie?" Ele pegou minha mão para puxar-me do carro, sabendo que eu mal podia andar.    "Porque..." e então eu estanquei. Bill sabia que Sam era sobrenatural, mas eu não queria lembrálo. Sam era dono de um bar, e nós estávamos mais perto de Bon Temps de que Shreveport quando a bacante havia interferido.    "Ele é dono de um bar, mas ele deverá ficar bem," disse Bill razoavelmente. "Além disso, a bacante disse que a mensagem era para Eric."    Isso era verdade.    "Você pensa demais sobre Sam se adaptar a mim," disse Bill, e eu joguei-me em cima dele.    "Você está com ciúmes?" Bill ficava muito desconfiado quando outros vampiros pareciam estar me admirando, mas eu presumia que estava só demarcando seu território. Eu não sabia o que sentir sobre essa nova revelação. Eu nunca tive ninguém que sentisse ciúmes das minhas atenções antes.    Bill não respondeu, em um jeito muito mal humorado.   "Hmmm," eu disse com ponderação. "Bem, bem, bem." Eu estava sorrindo para mim mesma enquanto Bill me ajudava a subir os degraus e atravessar a antiga casa até o meu quarto, o quarto que minha avó tinha dormido durante tantos anos. Agora, as paredes foram pintadas de amarelo claro, os detalhes em madeira eram bege claro*, as cortinas eram da mesma cor com flores brilhantes estampadas. A roupa de cama combinava.  (*no original a cor é off-white, que no Brasil se chama assim mesmo, mas pra quem nunca ouviu falar é um branco meio amarelado, indo pro bege)   Fui ao banheiro por um momento para escovar meus dentes e tomar cuidados necessários, e sai ainda usando a camisa do Eric.    "Tire isso," disse Bill.    "Olha, Bill, normalmente eu até pularia as preliminares, mas hoje à noite-"   "Eu simplesmente odeio ver você com a camisa dele."    Ora, ora, ora. Eu podia me acostumar com isso. Por outro lado, se ele levasse isto ao extremo, poderia ser um transtorno.   "Ah, tudo bem", eu disse, dando um suspiro que ele podia ouvir a metros de distância. "Eu acho que eu só vou ter que tirar essa camisa velha." Eu a desabotei devagar, sabendo que os olhos de Bill estavam acompanhando minhas mãos se movendo entre os botões, abrindo a camisa cada vez mais. Finalmente, eu a despi e fiquei lá com a calcinha branca da Pam.   "Oh," Bill suspirou, e isso foi um tributo e tanto para mim. Bacantes estariam ferradas, só de ver a cara do Bill me fazendo sentir como uma deusa.    Talvez eu vá na Foxy Femme Lingerie em Ruston no meu próximo dia de folga. Ou talvez a loja de roupas recentemente adiquirida por Bill tivesse roupas íntimas?
 
Explicar a Sam que eu precisava ir para Dallas não foi fácil. Sam tinha sido maravilhoso para mim quando eu perdi a minha avó, e eu contei com ele como um bom amigo, um ótimo chefe, e (de vez em quando) uma fantasia sexual. Eu só disse a Sam que eu estava tirando umas pequenas férias; Deus sabe, que eu nunca pedi nenhuma antes. Mas ele já estava bem desconfiado do que se tratava. Sam não gostava disso. Seus olhos azuis brilhantes pareciam queimar e seu rosto petrificado, e até mesmo o seu cabelo loiro avermelhado parecia chiar. Embora ele praticamente se amordaçasse para não dizer isso, obviamente, Sam achava que Bill não deveria ter concordado com minha ida.  Mas Sam não sabia todas as circunstâncias das minhas relações com os vampiros, assim como apenas Bill, dos vampiros que eu conhecia, sabia que Sam era um Metamorfo. E eu tentava não relembrar Bill. Eu não queria que Bill penssasse ainda mais sobre Sam do que ele já fazia. Bill poderia decidir que Sam era um inimigo, e eu definitivamente não queria isso. Bill é um inimigo muito ruim para se ter.  Eu sou boa em guardar segredos e manter meu rosto em branco, após anos lendo itens indesejados nas mentes das pessoas. Mas tenho de confessar que separar Bill e Sam em compartimentos toma uma grande quantidade de energia.    Sam inclinou-se para trás em sua cadeira depois que tinha concordado em me dar essa folga, sua costituição resistente estava escondida por um grande tipo de pássaro azul na camiseta do Merlotte‘s. Sua calça jeans era velha porém limpa, e suas  botas eram antigas e de solado pesado. Eu estava sentada na ponta da cadeira do visitante em frente à mesa do Sam, a porta do escritório fechada atrás de mim. Eu sabia que ninguém poderia estar ouvindo atrás da porta; afinal, o bar estava ruidoso como sempre, com a jukebox lamuriando uma melodia Zydeco e os berros das pessoas que já tinham bebido um pouco. Mas mesmo assim, quando se fala sobre algo como uma bacante, você quer diminuir a sua voz, e eu me inclinei por cima da mesa.    Sam automaticamente imitou minha postura, e eu coloquei minha mão sobre o braço dele e disse em um sussurro, "Sam, tem uma bacante rondando pela estrada de Shreveport." O rosto de Sam ficou inexpressivo por um longo segundo antes que ele rompesse em gargalhadas.  Sam, não conseguiu se recuperar de sua crise de risos por pelo menos três minutos, durante os quais eu fui ficando bem zangada. "Me desculpe", ele ficava dizendo, aí parava e continuava novamente. Sabe o quão irritante isso pode ser quando foi você que desencadeou isso? Ele andou ao redor da mesa, ainda tentando abafar suas risadinhas. Eu suportei porque ele ficou constante, mas eu estava furiosa. Ele agarrou meus ombros. "Me desculpe, Sookie", ele repetiu. "Eu nunca vi uma, mas eu ouvi dizer que elas são sórdidas. Porque isto preocupa você? A bacante, ou seja".   "Porque ela não está feliz, como você notaria se pudesse ver as cicatrizes nas minhas costas", eu respondi bruscamente, e seu rosto mudou então, por Deus.    "Você foi ferida? Como isso aconteceu?"    Então eu contei a ele, tentando deixar parte do drama de fora, e suavizando no processo de cura empregado pelos vampiros de Shreveport. Ele ainda queria ver as cicatrizes. Eu virei, e ele levantou a minha camiseta, não passado do nível do sutiã. Ele não emitiu nenhum som, mas senti um toque nas minhas costas, e um segundo depois, percebi que Sam tinha beijado a minha pele. Eu estremeci. Ele puxou minha camiseta sobre as cicatrizes e me virou de frente.   "Eu sinto muito", ele disse, com toda a sinceridade. Ele não estava rindo agora, nem sequer perto disso. Ele ficava horrível perto de mim. Eu praticamente podia sentir o calor irradiando da sua pele, electricidade crepitando através dos pequenos pêlos finos sobre os seus braços.   Eu suspirei profundamente. "Estou preocupada de que ela volte a sua atenção para você," expliquei. "O que as bacantes querem como tributo, Sam?"   "Minha mãe costumava dizer ao meu pai que elas adoram um homem orgulhoso", disse ele, e por um instante eu pensei que ele ainda estava me provocando. Mas olhei para seu rosto, e vi que ele não estava. "Bacantes amam nada mais do que derrubar um homem orgulhoso pelo tamanho. Literalmente."   "Yuck", eu disse. "Alguma outra coisa as satisfaz?"    "Grandes jogos. Ursos, tigres, etc."   "É difícil encontrar um tigre na Louisiana. Talvez possa encontrar um urso, mas como se consegue isso no território das bacantes?" Eu refleti por um tempo, mas não cheguei a nenhuma resposta. "Eu presumo que ela vai querer ele vivo", eu disse, questionando.   Sam, que parecia estar me observando ao invéz de pensar sobre o problema, assentiu e, em seguida inclinou-se para frente e me beijou.    Eu devia ter previsto isso.   Ele estava tão quente depois de Bill, cujo corpo nunca se aqueceria. Morno, talvez. Os lábios de Sam realmente eram ardentes, e sua língua, também. O beijo foi profundo, intenso, inesperado, como a emoção que você sente quando alguém lhe dá um presente que você não sabia que queria. Seus braços me envolveram,e os meus a ele, e nós fomos dando a esse momento tudo o que tínhamos, até que eu voltei para a Terra.    Empurei-o um pouco para longe, e ele lentamente levantou seu rosto do meu.    "Eu realmente preciso sair da cidade por um tempinho", eu disse.    "Desculpe, Sookie, mas venho querendo fazer isso há anos."   Havia muitos caminhos que eu poderia tomar a partir dessa declaração, mas aumentei a minha determinação e tomei o caminho certo. "Sam, você sabe que eu sou..."   "Apaixonada por Bill", ele terminou a minha frase.    Eu não estava tão certa de que eu estava apaixonada por Bill, mas eu o amava, e eu tinha me comprometido com ele. Então, para simplificar a questão, eu balancei a cabeça concordando.  Eu não podia ler os pensamentos do Sam claramente, porque ele era um ser sobrenatural. Mas eu tinha que ser uma lerda, uma telepata nula, para não sentir as ondas de frustração e desejo que saíam dele.    "O ponto a que eu tentava me referir", disse, depois de um minuto, durante o qual nos desembaraçamos e intensificamos a distância um do outro, "é que se esta bacante tem um interesse especial em bares, este é um bar dirigido por alguém que não é exatamente um humano lá muito normal, como o bar de Eric em Shreveport. Então é melhor você tomar cuidado." 
 
  Dallas estava tão quente quanto o inferno, especialmente sobre a pavimentação do aeroporto. Nossos breves dias de outono tiveram uma recaída para o verão. Rajadas de ar quente como tochas traziam todos os sons e cheiros do aeroporto Dallas Fort Worth - o funcionamento de pequenos veículos e aviões, seus combustíveis e seus carregamentos - pareciam se acumular ao redor do pé da rampa do compartimento de carga do avião que eu estava esperando. Eu voaria em um avião comercial comum, mas Bill tinha que ter um embarque especial.  Eu estava agitando meu blaiser, tentando manter as minhas axilas secas, quando um padre católico se aproximou.  Inicialmente, eu tive tanto respeito por seu colarinho que eu não levantei objeções à sua abordagem, embora eu realmente não quisesse falar com ninguém. Eu tinha acabado de sair de uma experiência totalmente nova, e eu tinha vários outros obstáculos a minha frente.  "Posso ser útil para você? Não pude deixar de notar a sua situação," disse o pequeno homem. Ele estava sobriamente vestido em preto eclesiástico, e ele parecia cheio de simpatia. Além disso, tinha a confiança de alguém acostumado a se aproximar de estranhos e ser recebido educadamente. Ele usava o que eu achei que era uma espécie de corte de cabelo incomum para um padre, contudo; seu cabelo castanho era comprido, e emaranhado, e ele tinha um  bigode, também. Mas eu só notei isso vagamente.  "A minha situação?" Eu perguntei, sem realmente prestar atenção às suas palavras. Eu tinha acabado de dar uma olhada no caixão de madeira polida na borda do  compartimento. Bill era tão tradicional; metal teria sido mais prático para viagens. Os atendentes uniformizados estavam rolando o caixão para o topo da rampa, então eles devem ter colocado rodas sob ele de alguma forma. Eles tinham prometido ao Bill que iria chegar ao seu destino sem um arranhão. E os guardas armados atrás de mim asseguravam que nenhum fanático avançaria subitamente e despedaçaria a tampa. Esse era um dos serviços extras que a Anúbis Air propagava em seu anúncio. Por instruções do Bill, eu também especifiquei que ele seria o primeiro a sair do avião.  Até aqui, tudo bem.  Eu lançei um olhar para o céu escuro. As luzes ao redor do campo tinham chegado minutos  antes. A cabeça do chacal preto sobre a cauda do avião parecia selvagem na luz forte, o que criava sombras profundas onde não tinha ninguém. Eu chequei meu relógio novamente.  "Sim. Eu sinto muito." Eu olhei de lado para meu acompanhante indesejado. Ele tinha entrado no avião em Baton Rouge? Eu não lembrava do seu rosto, mas até aí, eu tinha estado muito nervosa durante todo o vôo. "Sente," eu disse. "Por quê? Tem algum tipo de problema?"  Ele pareceu complexamente abismado. "Bem," disse ele, cabeceando em direção ao caixão, que agora descia a rampa sobre um sistema de rodas. "A sua perda. Era um ente querido?" Ele se aproximou um pouco mais de mim.  "Bem, claro," eu disse, oscilando entre a perplexidade e a irritação. Porque ele estava aqui fora? Certamente a companhia aérea não pagaria um padre para atender todas as pessoas que viajavam com um caixão? Especialmente um sendo descarregado pela Anubis Air. "Por que mais eu estaria aqui parada?"  Eu comecei a me preocupar.  Lentamente, com cuidado, eu deslizei meu escudo mental e começei a examinar o homem ao meu lado. Eu sei, eu sei: uma invasão de sua privacidade. Mas eu era responsável não só pela minha própria segurança, mas pela de Bill.  O padre, que por acaso era um forte transmissor, estava pensando sobre o anoitecer chegando tão atentamente quanto eu estava, e com muito mais medo. Ele esperava que seus amigos estivessem onde supostamente deveriam estar.  Tentando não demonstrar a minha crescente ansiedade, eu olhei para cima novamente. No crepúsculo profundo, restava apenas um fraco rastro de luz no céu do Texas.  "Seu marido, talvez?" Ele curvou seus dedos em volta do meu braço. Esse cara era assustador, ou quê? Eu olhei  para ele. Seus olhos estavam fixos sobre os carregadores de bagagem que estavam bem visíveis no porão do avião. Eles estavam vestindo macacões pretos com pratacom o logotipo da Anubis sobre o peito esquerdo. Então o seu olhar tremeluziu para o funcionário da companhia aérea que estava no solo, se preparando para guiar o caixão numa descida amortecida pela rampa plana. O padre queria... o que ele queria? Ele estava tentando avistar todos os homens olhandopara longe, preocupados. Ele não queria que eles vissem. Enquanto ele. . . o quê?  "Não, ele é meu namorado," eu disse, só para manter as aparências. Minha avó tinha me criado para ser educada, mas ela não me criou para ser estúpida. Furtivamente, eu abri minha bolsa com uma mão e tirei o spray pimenta que Bill tinha me dado para emergências. Segurei o pequeno cilindro perto da minha coxa. Eu estava me  afastando do falso padre e suas intenções obscuras, e sua mão estava apertando meu braço, quando a tampa do caixão se abriu.  Os dois carregadores de bagagem no avião tinhamoscilado para baixo em direção ao chão. Agora eles se inclinavam profundamente. Aquele que estava guiando o caixão sobre o carrinho disse "Merda!" antes que ele inclinasse, também (um cara novo, eu acho). Esta pequena parte de comportamento servil também era um extra da companhia, mas eu considerei um exagero. O padre disse: "Me ajude, Jesus!" Mas ao invés de cair de joelhos, ele pulou para a minha direita, agarrou-me pelo braço segurando o spray, e começou a me puxar.  No começo, achei que ele estava tentando me livrar do perigo representado pelo caixão aberto, puxando-me para a segurança. E eu acho que era isso que parecia para os carregadores de bagagem, que estavam absortos em assumir seu papel como atendentes da Anubis Air. O resultado final foi, eles não me ajudaram, apesar de eu ter gritado, "Solte!" no mais alto tom dos meus pulmões bem desenvolvidos. O "padre" continuava puxando meu braço e tentando correr, e eu me mantive firme em meus saltos de cinco centímetros e puxei de volta. Eu o ataquei com minha mão livre. Eu não deixo ninguém me arrastar para algum lugar que eu não queira ir, não sem uma boa luta.  "Bill!" eu estava realmente assustada. O padre não era um homem grande, mas ele era mais alto e mais pesado do que eu, e quase tão determinado. Embora eu estivesse dificultando seu esforço o quanto podia, centímetro por centímetro ele estava me movendo em direção a uma porta de funcionários dentro do terminal. Um vento tinha soprado do nada, um vento quente seco,  e se eu pulverizasse produtos químicos eles explodiriam de volta na minha cara. O homem dentro do caixão levantou-se lentamente, seus grandes olhos escuros absorvendo a cena em sua volta. Eu vislumbrei-o passando uma mão sobre seus cabelos castanhos macios.  A porta dos funcionários se abriu e eu poderia dizer que havia alguém lá dentro, como reforço para o padre.  "Bill!"  Houve um som de assobio pelo ar me rodeando, e de repente o padre me largou e zuniu pela porta como um coelho no rastro de um cão de caça. Eu cambaleei e teria caído de bunda se Bill não tivesse avançado lentamente para me segurar.  "Oi, amor," eu disse, incrivelmente aliviado. Eu larguei o blaiser do meu novo terno cinza, e fiquei feliz que tinha aplicado um pouco mais de batom quando o avião pousou. Eu olhei na direção que o padre tinha tomado. "Isso foi muito estranho." Eu enfiei o spray de pimenta de volta na minha bolsa.  "Sookie," Bill disse, "você está bem?" Ele se inclinou para me dar um beijo, ignorando os sussurros aterrorizados dos carregadores de bagagens que trabalhavam em um avião fretado ao lado do portão da Anubis. Apesar de todo o mundo ter sido informado há dois anos que os vampiros não eram apenas personagens de lendas e filmes de terror, mas realmente levavam uma longa existência há séculos entre nós, muita gente nunca tinha visto um vampiro em carne e osso. Bill os ignorou. Bill é bom em ignorar coisas que ele não acha dignas de sua atenção.  "Sim, eu estou bem," eu disse, um pouco tonta. "Não sei por que ele estava tentando me agarrar."  "Ele entendeu mal o nosso relacionamento?"  "Eu acho que não. Acho que ele sabia que eu estava esperando por você e ele estava tentando me tirar daqui antes que você acordasse."  "Vamos ter que pensar sobre isso," disse Bill, mestre em atenuar coisas. "Fora este incidente bizarro, como foi a noite?"  "O vôo foi bom," disse, tentando não fazer beicinho.  "Alguma outra coisa desagradável aconteceu?" Bill soou um pouquinho irônico. Ele estava bem consciente de que eu me sentia posta de lado.  ―Eu não sei o que é normal em viagens de avião, já que nunca fiz isso antes," eu disse mordaz, "mas até esse padre ter aparecido, eu diria que as coisas correram bem tranqüilas." Bill levantou uma sobrancelha naqula pose superior que ele tem, então eu tive que dar detalhes. "Não acho que aquele homem fosse realmente um padre de verdade. Pra quê ele queria esperar o avião? Por que ele veio conversar comigo? Ele estava apenas esperando até que todos que estavam trabalhando no avião olhassem em outra direção." "Vamos falar sobre isso em um lugar com mais privacidade," meu vampiro disse, lançando um olhar para os homens e mulheres que tinham começado a se reunir em volta do avião para verificar o tumulto. Ele passou pelos funcionários uniformizados da Anubis, e em uma voz serena ele os censurou por não virem me ajudar. Pelo menos, eu presumi que esse era o conteúdo da sua conversa, pela maneira que eles ficaram brancos e começaram a balbuciar. Bill deslizou um braço em torno de minha cintura e começamos a caminhar para o terminal.  "Mande o caixão para o endereço na tampa," Bill falou por cima do seu ombro. "O Hotel Silent Shore". O Silent Shore era o único hotel na área de Dallas que tinha realizado a extensa reforma necessária para acomodar hóspedes vampiros. Era um dos grandes hotéis antigos no centro da cidade, o panfleto dizia, não que eu já tivesse visto o centro de Dallas ou qualquer um dos seus grandes hotéis antigos antes. Nós paramos na escadaria sobre um lance de degraus sujos que levavam até o pátio principal de passageiros. "Agora, me diga," ele exigiu. Eu lancei um olhar para ele enquanto eu relatava o estranho incidente do início ao fim. Ele estava muito pálido. Eu sabia que ele devia estar com fome. Suas sobrancelhas pareciam negras contra a palidez da sua pele, e seus olhos castanhos pareciam ainda mais escuros do que eles realmente eram.  Ele ajudou a abrir uma porta e eu passei através do alvoroço e confusão de um dos maiores de aeroportos do mundo.  "Você não o ouviu?" Eu poderia dizer Bill não se referia aos meus ouvidos.  "Eu ainda estava fortemente protegida contra as mentes no avião," eu disse. "E no momento em que fiquei preocupada, comecei a tentar ler sua mente, você saiu de seu caixão e ele caiu fora. Eu tive  uma sensação estranha , antes que ele fugisse..." Hesitei, sabendo que isso era imporvável.  Bill só esperava. Ele não é de desperdiçar palavras. Ele me deixou terminar o que estava dizendo. Nós paramos de andar por um segundo, deslocando-nos para junto da parede. "Eu senti como se ele estivesse ali para me seqüestrar," eu disse. "Eu sei que parece loucura. Quem saberia quem sou eu, aqui em Dallas? Quem saberia que estaríamos reunidos no avião? Mas essa foi definitivamente a impressão que eu tive." Bill pegou minhas mãos quentes com as suas frias.  Olhei para cima dentro dos olhos de Bill. Não sou tão baixinha, e ele não é tão alto, mas eu ainda tenho que olhar para cima para encará-lo. E isso meio que é uma questão de orgulho para mim, que eu possa olhá-lo nos olhos e não sentir seu encantamento. Às vezes eu desejava que Bill pudesse me dar uma série de memórias diferentes - por exemplo, eu não me importaria de esquecer sobre a bacante – mas ele não pode.  Bill estava pensando sobre o que eu disse, arquivando isso para referências futuras. "Então o vôo em si foi chato?" ele perguntou.  "Na verdade, foi bastante emocionante," eu admiti. "Depois que me certifiquei que o pessoal da Anubis tinha acomodado você no avião deles, e eu fui embarcada no meu, a mulher nos mostrou o que fazer se o avião caísse. Eu estava sentada na fila da saída de emergência. Ela disse para trocarmos de lugar se nós achássemos que não poderiamos lidar com isso. Mas eu acho que eu podia, não acha? Lidar com uma emergência? Ela me trouxe uma bebida e uma revista." Eu raramente sou servida, sendo uma garçonete profissional, você poderia dizer, então eu realmente apreciei ser atendida. "Eu tenho certeza de que você pode lidar com praticamente qualquer coisa, Sookie. Você estava assustada quando o avião decolou?"  "Não. Só estava um pouco preocupada com esta noite. Fora isso, foi tudo bem."  "Me desculpe não poder estar com você," ele murmurou, sua voz tranqüila e clara flutuando à minha volta. Ele me pressionou contra seu peito.  "Não tem problema," eu disse em sua camisa, na maior parte falando sério. "Voar pela primeira vez, você sabe, é meio que desesperador. Mas correu tudo bem. Até nós aterrissarmos.‖  Eu podia lamentar e podia gemer, mas eu estava realmente contente por Bill ter levantado a tempo de me conduzir pelo aeroporto. Eu estava me sentindo mais e mais como a prima pobre do interior.  Nós não falamos mais nada sobre o padre, mas eu sabia que Bill não tinha esquecido. Ele me acompanhou na hora de recolher nossa bagagem e encontrar transporte. Ele poderia ter me deixado em algum lugar e preparado tudo, exceto, como ele me fazia lembrar freqüentemente,  eu teria que fazer isso sozinha alguma hora, se nossos assuntos exigissem que aterrissássemos em algum lugar em plena luz do dia.  Apesar do fato de que o aeroporto parecia incrivelmente lotado, cheio de pessoas que aparentavam ser profundamente sobrecarregadas e infelizes, eu consegui seguir os sinais com uma pequena cutucada de Bill, depois de reforçar o meu escudo mental. Foi ruim o suficiente, ser banhada com a angústia dos viajantes cansados, sem ouvir seus lamentos específicos. Eu dei as instruções ao carregador com a nossa bagagem (que Bill poderia facilmente ter levado sob um braço) para o ponto de táxi, e Bill e eu estávamos a caminho do hotel dentro de quarenta minutos devido a emergência de Bill. O pessoal da Anubis tinha jurado que de qualquer forma o seu caixão seria entregue dentro de três horas. Isso nós veríamos. Se eles não conseguissem, teríamos um vôo grátis.  Eu tinha esquecido a expansão de Dallas, nos sete anos desde que eu acabei o segundo grau. As luzes da cidade eram incríveis, e a agitação. Eu olhei para fora das janelas em direção a tudo que passava por nós, e Bill sorriu para mim com uma satisfação irritante.  "Você está muito bonita, Sookie. Suas roupas estão perfeitas."  "Obrigado," disse, aliviada e contente. Bill tinha insistido para que eu precisava parecer "profissional", e depois que eu disse, "Profissional o quê?" ele me deu um daqueles olhares. Então eu estava vestindo um terno cinza sobre uma blusa sem mangas branca, com brincos de pérola e uma bolsa preta e saltos. Eu até alisei meu cabelo para trás e torci em um coque na parte de trás da minha cabeça com um desses prendedores que eu tinha encomendado pela TV. Minha amiga Arlene me ajudou. Para mim, eu estava parecendo profissional, tudo bem - uma profissional de atendimento de funerária - mas parecia que Bill tinha aprovado. E eu tinha colocado a cobrança da roupa na conta dele na Tara's Togs, uma vez que era uma legítima despesa de trabalho. Então eu não podia me queixar dos custos.  Eu me sentiria muito mais confortável no meu traje de garçonete. Prefiro shorts e uma camiseta todos os dias a um vestido e meia-calça. E eu poderia estar usando o meu Adidas com meu uniforme de garçonete, e não esses malditos saltos. Eu suspirei. O táxi estacionou no hotel, e o motorista saiu para retirar a nossa bagagem. Ali tinha o suficiente para três dias. Se os vampiros de Dallas tivessem seguido minhas instruções, eu poderia encerrar isso logo e poderíamos voltar para Bon Temps amanhã à noite, para viver sem sermos perturbados ou envolvidos na política vampírica - pelo menos até a próxima vez que o Bill recebesse um telefonema. Mas era melhor trazer roupas extras do que contar com isso.  Eu deslizei rapidamente pelo assento para sair depois de Bill, que estava pagando o motorista. Um mensageiro do hotel uniformizado estava carregando a bagagem em um carrinho. Ele virou o seu rosto magro ao Bill e disse, "Bem-vindo ao Hotel Silent Shore, senhor! Meu nome é Barry, e eu vou..." Então Bill saiu andando, a luz vinda da porta do lobby se espalhando sobre seu rosto. "Vou ser o seu carregador," Barry terminou debilmente.  "Obrigada," eu disse, para dar ao menino, que não podia ter mais do que dezoito anos, um segundo para se recompor. Suas mãos estavam um pouco trêmulas. Eu captei uma rede de pensamentos com o objetivo de verificar a origem de sua aflição.  Para o meu deleite e surpresa, eu percebi (depois de uma vistoria rápida na cabeça de Barry) que ele era um telepata, como eu! Mas ele estava no nível da organização e desenvolvimento que eu tinha passado quando eu tinha, talvez, doze anos de idade. Ele era uma bagunça, aquele rapaz. Ele não podia se controlar de jeito nenhum, e seus escudos eram uma confusão. Ele estava em uma densa negação. Eu não sabia se agarrava ele e o abraçava, ou  dava um tapa na sua cabeça. Depois percebi que o segredo não era meu para ser revelado. Eu fiquei olhando em outra direção, e mudando de posição de um pé para outro, como se eu estivesse entediada.  "Levarei a bagagem de vocês em seguida," balbuciou Barry, e Bill sorriu para ele gentilmente. Barry sorriu de volta com cautela, e então se ocupou de trazer o carrinho. Tinha que ser a  aparência de Bill que desconcertava Barry, já que ele não podia ler a sua mente, a grande atração dos mortosvivos para pessoas como eu. Barry ia ter que aprender a relaxar ao redor de vampiros, uma vez que ele concordou em trabalhar em um hotel que os atende. Algumas pessoas acham que todos os vampiros têm uma aparência assustadora. Para mim, isso depende do vampiro. Lembro-me de pensar, quando conheci o Bill, que ele parecia incrivelmente diferente; mas eu não tinha ficado assustada.  Aquela que estava agora à nossa espera no saguão do Silent Shores, ela sim era assustadora. Aposto que ela fez o velho Barry aqui molhar suas calças. Ela se aproximou depois de dar-mos entrada no registro do hotel, enquanto Bill estava colocando o seu cartão de crédito de volta em sua carteira (apenas tente solicitar um cartão de crédito quando tiver uns cento e sessenta anos de idade; esse processo devia ter sido uma tarefa difícil) e eu me aproximei um pouco mais ao lado dele enquanto ele dava a gorgeta à Barry, esperando que ela não me notasse.  "Bill Compton? O detetive de Louisiana?" Sua voz era tão calma e fria como a de Bill, consideravelmente com menos inflexão. Ela estava morta há muito tempo. Ela era tão branca quanto papel e tão reta como uma tábua, e seu  fino e comprido vestido azul e dourado na altura do tornozelo não fazia nada por ela exceto acentuar ainda mais sua palidez e falta de curvas. Cabelo castanho claro (trançado e tão longo que batia na bunda) e olhos verdes cintilantes realçavam suas diferenças.  "Sim." Os vampiros não apertam as mãos, mas os dois fizeram contato visual um com o outro e deram um breve aceno com a cabeça. "Esta é a mulher?" Ela tinha provavelmente sinalizado na minha direção com um desses movimentos relâmpagos super rápidos, porque eu peguei um borrão com o canto dos meus olhos.  "Esta é a minha companheira e colaboradora, Sookie Stackhouse," disse Bill.  Após um momento, ela acenou com a cabeça para mostrar que ela tinha entendido a dica. "Eu sou Isabel Beaumont," disse ela, "e depois de instalar sua bagagem em seu quarto e cuidar de suas necessidades, você deverá vir comigo."  Bill disse, "Eu tenho que me alimentar."  Isabel girouos olhos na minha direção com ponderação, sem dúvida se perguntando por que eu não estava fornecendo sangue para a minha escolta, mas isso não era da sua conta. Ela disse: "É só apertar o botão do telefone para serviço de quarto."   ***   A pobre e desprezível mortal aqui  tinha que simplesmente pedir algo do menu. Mas enquanto considerava o tempo de preparação, eu percebi que eu me sentiria muito melhor se eu esperasse para comer depois que os compromissos desta noite fossem concluídos.  Depois que nossas malas tinham sido colocadas no quarto (grande o suficiente para o caixão e uma cama), o silêncio na pequena sala de estar tornou-se desconfortável. Tinha um pequeno frigobar bem abastecido com PuroSangue, mas esta noite Bill queria uma coisa de verdade.  "Eu tenho que ligar, Sookie," disse Bill. Tínhamos passado por disso antes da viagem. "Claro." Sem olhar para ele, eu recuei para dentro do quarto e fechei a porta. Ele poderia ter de se alimentar de outra pessoa para que assim eu pudesse manter a minha força à altura dos próximos eventos, mas eu não tinha que assistir isso ou gostar. Após alguns minutos, ouvi uma batida na porta do corredor e eu ouvi Bill receber alguém – sua refeição de saltos. Houve um pequeno sussurro de vozes e em seguida um gemido baixo. Infelizmente para o meu nível de tensão, eu tinha bom senso demais para fazer algo do tipo atirar a minha escova de cabelo ou os malditos saltos altos pela sala. Talvez conservando alguma dignidade simbolizada alí, e também, um pressentimento saudável de quanto temperamento Bill iria aturar.
Então eu desfiz a minha mala e acomodei a minha maquiagem no banheiro, usando a  instalação embora eu não me sentisse especialmente necessitada. Banheiros eram opcionais no mundo dos vampiros, eu tinha aprendido, e mesmo que uma instalação funcional estivesse disponível em uma casa ocupada por vampiros, ocasionalmente eles esqueceriam de abastecer de papel higiênico.  Logo ouvi a porta exterior abrir e fechar de novo, e Bill bateu levemente antes de entrar  no quarto. Ele parecia rosado e seu rosto estava satisfeito.  "Você está pronta?" ele perguntou. De repente, me dei conta do fato de que eu estava indo para meu primeiro trabalho de verdade para os vampiros, e me senti em pânico novamente. Se eu não fosse um sucesso, a minha vida iria tornar-se um perigo absoluto, e Bill poderia ficar ainda mais morto do que ele já estava agora. Eu assenti, minha garganta seca com medo. "Não leve a sua bolsa."  "Por que não?" olhei para ela, espantada. Quem poderia se opôr?  "Coisas podem ser escondidas em bolsas." Coisas como estacas, eu supunha. "Só deslize a chave do quarto dentro... Essa saia tem um bolso?"  "Não."  "Bom, deslize a chave para a sua roupa de baixo."  Eu levantei minha bainha e assim Bill pôde ver exatamente em quais roupas de baixo eu ia ter que meter alguma coisa. Eu gostei da expressão em seu rosto mais do que eu posso dizer.  "Isso é... isso seria uma... calcinha fio dental?" Bill parecia um pouco apreensivo de repente.  "Seria. Eu não vi a necessidade de ser profissional na pele por baixo da roupa."  "E que pele é essa," Bill murmurou. "Tão bronzeada, tão...macia."  "Sim, eu percebi que eu não preciso usar nenhuma meia." Eu guardei o retângulo de plástico - a "chave" - sob uma das tiras laterais.  "Oh, eu não acho que isso vai ficar aí," disse ele, seus olhos grandes e luminosos. "Podemos ficar separados, então você definitivamente precisa levá-la com você. Tente um outro local."  Coloquei-a em outro lugar.  "Oh, Sookie. Você nunca irá alcançá-la aí se estiver com muita pressa. Nós temos... Ah, nós temos que ir." Bill parecia estar balançando a si mesmo para fora do transe.  "Tudo bem, se você insiste," eu disse, suavizando a saia do terno sobre minha "roupa de baixo."  Ele me ançou um olhar sombrio, batendo seus bolsos como fazem os homens, só para ter certeza que eles têm tudo. Foi um gesto estranhamente humano, e isso me tocou de uma forma que eu não podia sequer descrever para mim mesma. Demos um ao outro um perspicaz aceno com a cabeça e caminhamos pelo corredor até o elevador. Isabel Beaumont estaria esperando, e eu tive uma nítida sensação que ela não estava acostumada a isso. A vampira anciã, que não parecia ter mais de trinta e cinco, estava em pé exatamente onde nós a tínhamos deixado. Aqui no Hotel Silent Shore, Isabel sentia-se livre para agir como , a vampira que era o que incluía ficar ociosamente imóvel. Pessoas são inquietas. Elas são forçadas a procurar se envolver em uma atividade, ou a ficarem resolutos. Vampiros podem simplesmente ocupar espaço sem se sentirem obrigados a justificar isso. Quando nós saímos do elevador, Isabel parecia exatamente uma estátua. Você poderia pendurar seu chapéu sobre ela, apesar de que você iria se arrepender. Algum sistema de alerta antecipado acionou quando estávamos há pouco menos de dois metros da vampira. Os olhos de Isabel cravaram em nossa direção e sua mão direita se moveu, como se alguém tivesse apertado o seu botão de ―ligar‖. "Venham comigo," disse ela, e passou suavemente pela porta principal. Barry mal pôde abri-la para ela rápido o suficiente. Eu reparei que ele tinha treinado o suficiente para abaixar os olhos enquanto ela passava. Tudo que você tinha ouvido falar sobre olhar vampiros nos olhos é verdade.  Previsivelmente, o carro de Isabel era um Lexus preto carregado de opcionais. Os vampiros não saem por aí em qualquer carrinho apertado*. Isabel esperou até que eu afivelasse meu cinto de segurança (ela e Bill não se preocuparam em utilizá-los) antes de se afastar do meio-fio, o que me surpreendeu. Em seguida fomos conduzidos por Dallas, descendo a principal via de trânsito. Isabel parecia ser do tipo firmemente calada, mas depois que estávamos no carro por talvez cinco minutos, ela parecia sacudir a si mesma, como se estivesse lembrando que tinha ordens. (*no original a palavra usada é Geo, que se refere a um modelo de carro tipo cupê lançado pela GM nos anos 90, um carro econômico e apertado)  Nós entramos numa curva para a esquerda. Eu podia ver uma espécie de gramado, e  uma forma vaga que poderia ter sido uma espécie de marco histórico, talvez. Isabel apontava para a sua direita com seu dedo longo e ossudo. "O Depósito de Livros da Texas School," disse ela, e eu percebi que ela se sentia obrigada a me informar. Isso significava que ela tinha recebido ordens de fazer isso, o que foi muito interessante. Eu segui o seu dedo com entusiasmo, conseguindo ver o prédio de tijolos tanto quanto pude. Fiquei surpresa que ele não parecesse mais imponente.  "Essa é a colina relvada*?" Eu suspirava, animada e impressionada. Isso foi como se eu estivesse indo em direção ao Hindenburg** ou algum outro artefato lendário. 
(* ponto na Praça Dealey, onde o presidente americano John F. Kennedy foi assassinado: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/7/76/Grassy_Knoll_2003.jpg) (** O LZ 129 Hindenburg foi um dirigível construído pela Luftschiffbau-Zeppelin GmbH, na Alemanha. Conhecido como Zeppelin, o dirigível, com 245 metros de comprimento e sustentado no ar por 200 mil metros cúbicos de hidrogénio, o maior dirigível da história até 1937, saiu de Hamburgo e cruzou o Atlântico a 110 km/h. Na noite de 6 de maio de 1937, o gigantesco dirigível Hindenburg preparava-se para descer na base de Lakenhurst, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, com 97 ocupantes a bordo, sendo 36 passageiros e 61 tripulantes, vindos da Alemanha. Durante as manobras de pouso, um incêndio tomou conta da aeronave e o saldo foi de 13 passageiros e 22 tripulantes mortos e um técnico em solo, no total de 36 pessoas. O dirigível foi encomendado por Adolf Hitler e após ser considerado o Titanic do céu, marcou o fim da era dos dirigíveis na aviação comercial de passageiros)
Isabel assentiu, num quase imperceptível movimento que eu só peguei porque sua trança sacudiu.
"Existe um museu no antigo depósito," disse ela.  Agora, isso era algo que eu gostaria de ver durante o dia. Se ficássemos aqui por tempo suficiente, eu ia a pé ou talvez descobrisse como pegar um táxi enquanto Bill estivesse no seu caixão.  Bill sorriu para mim sobre seu ombro. Ele podia captar o meu humor mais leve, o que era maravilhoso em cerca de oitenta por cento das vezes. Nós seguimos o percurso por pelo menos mais vinte minutos, deixando áreas comerciais e entrando em áreas residenciais. No início as estruturas eram modestas e em formato de caixote, mas gradualmente, embora os terrenos não parecessem muito maiores, as casas começaram a crescer como se elas tivessem tomado esteróides anabolizantes. Nosso destino final era uma casa enorme espremida sobre um pequeno lote. Com o pequeno desarranjo de terra em torno da estrutura da casa, ela parecia ridícula, mesmo no escuro.  Eu com certeza poderia ter aguentado um passeio mais longo e mais atrasado .  Estacionamos na rua em frente à mansão, assim me pareceu. Bill abriu a porta para mim. Eu parei por um momento, relutante em iniciar o - projeto. Eu sabia que havia vampiros lá dentro, muitos deles. Eu sabia disso da mesma maneira que eu seria capaz de discernir que humanos estavam esperando. Mas ao invés de uma onda positiva de pensamentos, do tipo que eu recebo para indicar pessoas, eu tive imagens mentais de... como posso explicar? Havia buracos no ar dentro da casa. Cada buraco representava um vampiro. Eu desci um pouco mais a curta calçada até a porta da frente, e aí, finalmente, eu peguei um sopro mental de humanos. A luz sobre a porta estava ligada, assim eu podia dizer que a casa era de tijolo bege com branco elegante. A luz, também, era para meu benefício; qualquer vampiro poderia ver muito melhor do que o mais afiado olhar humano. Isabel guiou o caminho para a porta da frente, que era emoldurado em arcos de tijolos graduais. Havia uma elegante coroa de videira e flores secas na porta, que quase camuflava o olho-mágico: esta era uma integração inteligente. Eu percebi que não havia nada aparente neste aspecto da casa que indicasse que ela era diferente de qualquer uma das outras casas excessivamente grandes pelas quais tínhamos passado, nenhum indício visível de que no interior viviam vampiros.  Mas eles estavam ali, em vigor. Enquanto eu seguia Isabel para dentro, eu contei quatro na sala principal para qual a porta da frente abria, e lá estavam dois no corredor e pelo menos seis na grandiosa cozinha, que parecia ter sido projetada para produzir refeições para vinte pessoas ao mesmo tempo. Eu soube imediatamente que a casa tinha sido comprada, não construída, por um vampiro, porque os vampiros sempre planejam cozinhas minúsculas, ou abandonam a cozinha totalmente. Tudo que eles precisam é de uma geladeira, para o sangue sintético, e um microondas, para aquecê-lo. O que eles iriam cozinhar?  Na pia, um alto e esguio humano estava lavando alguns pratos, então talvez alguns humanos realmente vivam aqui. Ele virou um pouco enquanto nós passávamos, e acenou com a cabeça para mim. Ele estava usando óculos e as mangas de sua camisa estavam enroladas. Eu não tive uma chance de falar, pois Isabel estava nos conduzindo para o que parecia ser a sala de jantar.
Bill estava tenso. Eu poderia não ser capaz de ler a mente dele, mas eu o conhecia bem o suficiente para interpretar a rigidez de seus ombros. Nenhum vampiro nunca fica confortável entrando no território de outros vampiros. Os vampiros têm tantas regras e regulamentos quanto qualquer outra sociedade; eles apenas tentam mantê-las secretas. Mas eu estava entendendo as coisas.  Dentre todos os vampiros na casa, eu localizei rapidamente o líder. Ele era um daqueles sentados à longa mesa na grande sala de jantar. Ele era um nerd total. Essa foi minha primeira impressão. Depois eu percebi que ele tinha sido cuidadosamente disfarçado de nerd: ele era bem... diferente. Seu cabelo arenoso estava ensebado para trás, sua constituição física era estreita e nada impressionante, seus óculos de armação preta eram pura camuflagem, e sua camisa listrada de tecido oxford estava enfiada numa calça misturada de algodão e poliéster. Ele era pálido – bem, duh – e sardento, com pestanas invisíveis e sobrancelhas mínimas.  "Bill Compton," disse o  nerd.  "Stan Davis," disse Bill.  "Sim, bem-vindo à cidade." Houve um ligeiro traço de sotaque estrangeiro na voz do nerd. Ele costumava ser Stanislaus Davidowitz, pensei, e, em seguida limpei minha mente como se apaga uma lousa. Se algum deles descobrisse que de vez em quando eu colhia um pensamento vago fora do silêncio de suas mentes, eu estaria sem sangue antes de cair no chão.  Nem mesmo Bill sabia disso. Eu comprimi o medo empurrando-o para o porão da minha mente assim que os olhos pálidos se fixaram em mim e me examinaram minuciosamente traço por traço.  "Ela vem em um pacote agradável," ele disse ao Bill, e eu suponho que isso devia significar um elogio, um tapinha nas costas, para Bill.  Bill inclinou a cabeça.  Os vampiros não perdiam tempo dizendo um monte de coisas que os humanos diriam sob circunstâncias semelhantes. Um executivo humano perguntaria ao Bill como Eric, seu chefe, estava indo; iria ameaçar Bill um pouco no caso de eu não executar; talvez apresentasse Bill e eu para pelo menos as pessoas mais importantes na sala. Não Stan Davis, o líder vampiro. Ele levantou sua mão, e um jovem vampiro hispânico com cabelo preto eriçado deixou a sala e voltou com uma garota humana rebocada. Quando ela me viu, ela deu um grito penetrante e se debateu, tentando se libertar das garras que o vampiro mantinha em seu braço.  "Ajude-me," gritou. "Você tem que me ajudar!"  Eu soube na mesma hora que ela era estúpida. Afinal, o que eu poderia fazer contra uma sala cheia de vampiros? Seu apelo era ridículo. Eu disse isso a mim mesma várias vezes, rapidamente, assim eu poderia fazer o que eu tinha que fazer. Eu capturei seu olhar, e  levantei meu dedo para dizer à ela que ficasse em silêncio. Depois que ela olhou para mim, fixamente, ela obedeceu. Eu não tenho o olhar hipnótico de uma vampira, mas não pareço nem um pouco ameaçadora. Eu pareço exatamente como a garota que você veria em um emprego de salário baixo em qualquer lugar de qualquer cidade do sul: loira e peituda e bronzeada e jovem. Possivelmente, não pareço muito inteligente . Mas eu acho que isso é o que as pessoas (e vampiros) mais presumem, que se você é bonita e loira e tem um trabalho de salário baixo, você é irremediavelmente burra.  Eu me virei para Stan Davis, muito grata por Bill estar bem atrás de mim. "Sr. Davis, você entende que eu preciso de mais privacidade enquanto interrogo essa menina. E eu tenho que saber o que você precisa dela."  A menina começou a soluçar. Isso foi lento e doloroso, e quase inacreditavelmente irritante sob aquelas circunstâncias.  Os olhos pálidos de Davis se prenderam nos meus. Ele não estava tentando me encantar, ou me subjugar; ele estava apenas me examinando. "Eu entendi que sua escolta compreendia os termos do meu acordo com o seu líder," afirmou Stan Davis. Tudo bem, entendi a mensagem. Eu estava em posição inferior para desobedecer já que eu era uma humana. Eu falando com Stan era o mesmo que uma galinha falando com o comprador da KFC*. Mas mesmo assim, eu tinha que saber o nosso objetivo. "Estou ciente de que você recebeu as condições da Área 5," eu disse, mantendo a minha voz o mais firme que pude, "e eu vou fazer o meu melhor. Mas sem um objetivo, não posso começar." (*Kentucky Fried Chicken – uma rede de fast food) "Precisamos saber onde está o nosso irmão," disse ele, após uma pausa.  Tentei não parecer tão abismada quanto eu me sentia.  Como eu disse, alguns vampiros, como Bill, vivem sozinhos. Outros se sentem mais seguros em um grupo, chamado de ninho. Chamam-se uns aos outros de irmão e irmã quando estão no mesmo ninho há um tempo, e alguns ninhos duram décadas. (Um  em Nova Orleans durou dois séculos.) Eu sabia graças às instruções passadas por Bill antes que nós saíssemos de Louisiana que os vampiros de Dallas viviam  em um ninho excepcionalmente grande .  Eu não sou uma neurocirurgiã, mas até eu percebi que para um vampiro tão poderoso como Stan ter um de seus irmãos do ninho desaparecido não era apenas muito incomum, isso era humilhante.  Vampiros gostam de ser humilhados quase tanto quanto as pessoas gostam.  "Explique a situação, por favor," eu disse na minha voz mais neutra.  "Meu irmão Farrell não tem retornado ao seu ninho há cinco noites," disse Stan Davis.  Eu sabia que eles teriam verificado as áreas de caça favoritas de Farrell, teriam perguntado a todos os outros vampiros em ninhos de Dallas para descobrir se Farrell tinha sido visto. Mesmo assim, eu abri minha boca para perguntar, como os humanos são obrigados a fazer. Mas Bill tocou meu ombro, e eu olhei atrás de mim para ver um minúsculo gesto com a cabeça. As minhas perguntas teriam sido como um grave insulto. "Essa menina?" Perguntei em vez disso. Ela ainda estava quieta, mas ela estava tendo calafrios e tremendo. O vampiro hispânico parecia ser a única coisa que a segurava de pé.  "Trabalha no clube onde ele foi visto por último. É um de nossa propriedade, O Asas de Morcego." Bares eram os empreendimentos favoritos dos vampiros, naturalmente, porque o seu movimento mais pesado era de noite. De alguma forma, um estabelecimento de limpeza de presas que funcionasse a noite toda não tinha o mesmo fascínio que um bar onde os vampiros eram as atrações.  Nos últimos dois anos, bares vampiros tinham se tornado a balada mais quente que uma cidade poderia se vangloriar. Os humanos patéticos que se tornavam obcecados pelos vampiros – os vampirófilos – saiam para bares de vampiros, muitas vezes fantasiados, na esperança de atrair a atenção de um vampiro verdadeiro. Os turistas vão para ficarem boquiabertos com os mortos-vivos e os vampirófilos. Estes bares não eram os lugares mais seguros para se trabalhar. Eu capturei o olhar do vampiro hispânico, e indiquei uma cadeira ao meu lado na longa mesa. Ele libertou a menina em cima dela. Baixei meu olhar sobre ela, me preparando para entrar em seus pensamentos. Sua mente não tinha qualquer proteção. Fechei os olhos.  O nome dela era Bethany. Ela tinha vinte e um, e se achava uma garota rebelde, uma verdadeira garota má. Ela não fazia ideia dos problemas em que poderia se meter por causa disso, até agora. Conseguir um emprego no Asas de Morcego tinha sido o gesto mais rebelde de sua vida, e isso poderia se transformar em fatal.  Olhei de volta para Stan Davis. "Você entende," eu disse, correndo um grande risco, "que se ela fornecer as informações que você quer, ela fica livre, sã e salva." Ele disse que tinha compreendido os termos, mas eu tinha que ter certeza. Bill soltou um suspiro atrás de mim. Não tinha uma cara muito feliz. Os olhos de Stan Davis realmente reluziram por um segundo, de tanta raiva que ele estava. "Sim," disse ele, mordendo as palavras, suas presas meio para fora, "eu concordei." Nós nos encaramos por um segundo. Nós sabíamos que até mesmo dois anos atrás, os vampiros de Dallas teriam seqüestrado e torturado Bethany até que eles tivessem todos os fragmentos de informações que ela tivesse armazenado no cérebro, e algumas que tivesse inventado.  Se integrar à sociedade, tornando público o fato de sua existência, tinha muitas vantagens - mas também tinha seu preço. Neste caso, o preço era o meu serviço.  "Com o que Farrell se parece?"  "Como um  caubói." Stan disse isto sem um traço de humor. "Ele usa uma dessas gravatas de coronel*, jeans e camisetas com fecho de pérola falsa".
 (*http://silverj.com/sitebuildercontent/sitebuilderpictures/StringTieSmall.jpg) Os vampiros de Dallas vampiros não parecem entender muito de alta costura. Talvez eu pudesse ter usado o meu uniforme de garçonete afinal de contas. "Quais as cores do cabelo e dos olhos?"  "Cabelo castanho indo pro grisalho. Olhos castanhos. Uma grande mandíbula. Cerca de... um metro e setenta e nove centímetros." Stan estava traduzindo de algum outro método de medidas. "Ele pareceria ter uns trinta e oito anos, para você," disse Stan. "Ele não tem barba, e é magro."  "Você gostaria de me colocar com Bethany em outro lugar? Tem uma sala menor, menos lotada?" Eu tentei parecer agradável, porque isso parecia ser uma boa idéia. Stan fez um movimento com a mão, quase rápido demais para que eu pudesse detectar, e em um segundo – literalmente – todos os vampiros, exceto ele mesmo e Bill, tinham saído da cozinha. Sem olhar, eu sabia que Bill estava de pé contra a parede, pronto para qualquer coisa. Eu respirei fundo. Hora de começar esta aventura.  "Bethany, como você está?" Eu disse, suavizando a minha voz.  "Como você sabe meu nome?" ela perguntou, caindo bruscamente na cadeira. Era uma cadeira sobre rodas num canto destinado a refeições rápidas, e eu a empurrei para fora da mesa e virei-a de frente para onde eu estava sentada. Stan ainda estava sentado na cabeceira da mesa, atrás de mim, levemente à minha esquerda.  "Eu posso dizer muitas coisas sobre você," eu disse, tentando parecer íntima e onisciente. Comecei pegando pensamentos soltos pelo ar, como maçãs de uma árvore carregada. "Você tinha um cachorro chamado Woof quando você era pequena, e sua mãe faz o melhor bolo de côco do mundo. Seu pai perdeu muito dinheiro em um jogo de cartas uma vez, e você teve que empenhar seu videocassete para ajudá-lo a pagar, assim a sua mãe não iria descobrir." Sua boca estava aberta. Tanto quanto  era possível, ela tinha esquecido o fato de que ela estava em um perigo terrível. "Isso é incrível, você é tão boa quanto o vidente da TV, aquele da propaganda!"  "Bem, Bethany, eu não sou uma vidente," eu disse, um pouco  severa demais. "Sou uma telepata, e o que eu faço é ler os seus pensamentos, até mesmo alguns que você talvez nem soubesse que tinha. Vou relaxar você, primeiro, e depois vamos relembrar a noite em que você trabalhou no bar – não a de hoje, mas cinco noites atrás." Eu olhei de volta à Stan, que acenou com a cabeça.  "Mas eu não estava pensando sobre o bolo da minha mãe!" Bethany disse, agarrada ao que tinha descoberto dela.  Tentei reprimir o meu suspiro.  "Você não estava ciente disso, mas você pensou. Isso deslizou por sua mente quando olhou para a vampira mais pálida – Isabel - porque o rosto dela era tão branco quanto a cobertura do bolo. E você pensou em quanto você sentia falta de seu cachorro quando você estava pensando em quanto seus pais sentiriam sua falta." Eu soube que isso era um erro assim que as palavras saíram da minha boca, e com certeza suficiente, ela começou a chorar outra vez, fazendo-a se lembrar da atual circunstância.  "Então  pra que você está aqui?" Ela perguntou entre soluços.  "Estou aqui para ajudá-la a se lembrar".  "Mas você disse que não é vidente."  "E eu não sou." Ou eu era? Às vezes eu achava que tinha um vestígio disso misturado com meu outro "dom", que era o que os vampiros achavam ser. Eu mesma sempre tinha pensado nisso mais como uma maldiçãoaté que eu conheci Bill. "Videntes podem tocar objetos e obter informações sobre seus usuários. Alguns videntes têm visões de acontecimentos passados ou futuros. Alguns podem se comunicar com os mortos. Sou uma telepata. Sou capaz de ler os pensamentos de algumas pessoas. Supostamente, posso enviar pensamentos também, mas eu nunca tentei isso." Agora que eu conhecera outro telepata, a tentativa era uma possibilidade empolgante, mas eu guardei essa idéia para explorá-la em meu lazer. Eu tinha que me concentrar no negócio que tinha em mãos. Enquanto me sentava com os joelhos juntos aos de Bethany, eu tomava uma série de decisões. Eu era nova na idéia de "ouvir" para algum propósito. A maior parte da minha vida eu passei lutando para não ouvir. Agora, ouvir era o meu trabalho, e a vida de Bethany provavelmente dependia disso. A minha quase que certamente dependia.  "Ouça, Bethany, eis o que vamos fazer. Você irá lembrar daquela noite, e eu irei passar por isso com você. Em sua mente."  "Vai doer?"  "Não, nem um pouco."  "E depois disso?"  "Bem, você vai embora."  "Vou pra casa?"  "Claro." Com uma lembrança apurada de que isso não me incluía, ou esta noite, cortesia de um vampiro.  "Eles não vão me matar?"  "De jeito nenhum."  "Promete?"  "Eu prometo". Eu consegui sorrir para ela.  "Ok," disse ela, hesitante. Eu a movi um pouco, assim ela não podia ver Stan por cima do meu ombro. Eu não fazia ideia do que ele estava fazendo. Mas ela não precisava ver  aquela cara branca enquanto eu estava tentando fazê-la relaxar.  "Você é bonita," ela disse de repente. "Obrigada, o mesmo digo de você." Pelo menos, ela poderia  ser bonita em melhores circunstâncias. Bethany tinha uma boca que era pequena demais para o rosto dela, mas isso era uma característica que alguns homens consideravam atraente, uma vez que parecia que ela estava sempre fazendo biquinho. Ela tinha uma grande quantidade de cabelo castanho, espesso e volumoso, e um corpo magro com seios pequenos. Agora que outra mulher estava olhando para ela, Bethany estava preocupada com suas roupas amassadas e maquiagem borrada.  "Você está bem," eu disse calmamente, pegando suas mãos. "Agora, nós vamos apenas ficar de mãos dadas aqui por um minuto - eu juro que não estou te passando uma cantada." Ela deu uma risadinha, e seus dedos relaxaram um pouco mais. Então eu comecei a minha lengalenga.  Este era um novo plano para mim. Em vez de tentar evitar usar minha telepatia, eu procurei tentar desenvolvê-la, com o encorajamento de Bill. Os funcionários humanos do Fangtasia tinham agido como cobaias. Eu descobri, quase por acidente, que eu poderia hipnotizar as pessoas num instante. Isso não os colocava sob meu encanto nem nada disso, mas me deixava entrar em suas mentes com uma facilidade assustadora. Quando você pode dizer o que realmente acalma alguém, lendo a mente dele ou dela, é relativamente fácil relaxar essa pessoa direto em um estado de transe. 
"O que você mais aprecia , Bethany?" Perguntei. "Você faz uma massagem de vez em quando? Ou talvez você goste de fazer as unhas?" Olhei na mente de Bethany delicadamente. Eu selecionei o melhor canal para os meus objetivos.  "Você está arrumando seu cabelo," eu disse, mantendo a minha voz suave e uniforme, "com seu cabeleireiro favorito... Jerry. Ele o está penteando e penteando, não deixando nenhum fio emaranhado. Ele o está dividindo em partes, tão cuidadosamente, porque o seu cabelo é muito espesso. Ele vai levar um longo tempo para cortá-lo, mas ele está ansioso por isso, porque o seu cabelo está saudável e brilhante. Jerry está levantando um cacho, e aparando-o... a tesoura faz uma pequena incisão. Um pouco de cabelo cai sobre a capa de plástico e desliza até o chão. Você sente seus dedos em seu cabelo novamente. Mais uma vez e outra, seus dedos mexendo em seu cabelo, levantando um cacho, e cortando-o. Às vezes ele o penteia novamente, para ver se ele ficou alinhado. É uma sensação tão boa, apenas sentar e ter alguém arrumando seu cabelo. Não há mais ninguém..." Não, espere. Eu tinha apurado uma insinuação de desconforto. "Havia apenas poucas pessoas na loja, e eles estavam tão ocupados quanto Jerry. Alguém estava usando um secador. Você mal pode ouvir vozes murmurando na próxima cabine. Os dedos dele corriam através, levantando, tesourando, penteando, de novo e de novo..."  Eu não sabia o que um hipnotizador treinado diria sobre a minha técnica, mas funcionou para mim desta vez, pelo menos. O cérebro de Bethany estava em um estado sossegado e inativo, apenas à espera de receber uma tarefa. Na mesma voz calma eu disse: "Enquanto ele está trabalhando em seu cabelo, nós estamos indo passear por aquela noite no trabalho. Ele não vai parar de cortar, ok? Comece se aprontando para ir para o bar. Não se importe comigo, eu sou apenas um sopro de ar bem atrás de seu ombro. Você pode ouvir a minha voz, mas está vindo de uma outra cabine do salão de beleza. Você nem vai ser capaz de ouvir o que estou dizendo a não ser que eu use o seu nome." Eu estava informando Stan assim como tranqüilizando Bethany. Então eu submergi profundamente na memória da menina.  Bethany estava olhando para seu apartamento. Era muito pequeno, relativamente arrumado, e ela o dividia com outra funcionária do Asas de Morcego, que se passava por Desiree Dumas. Desiree Dumas, como observou Bethany, parecia exatamente com o seu nome inventado : uma autodesignada mulher sensual, um pouco  rechonchuda demais, um pouco loira demais, e convicta de seu próprio erotismo. Conduzir a garçonete através desta experiência foi como ver um filme, um realmente tedioso. A memória de Bethany estava quase boa demais. Ignorando as partes chatas, como Bethany e Desiree discutindo sobre os méritos relativos de duas marcas de rímel, o que Bethany lembrava era isso: ela tinha se preparado para trabalhar como ela fazia sempre, e ela e Desiree tinham ido juntas para os seus empregos. Desiree trabalhava na loja de presentes do Asas de Morcego. Vestida num bustiê vermelho e botas pretas, ela vendia suvenirs de vampiros por muitos dólares. Usando presas artificiais, ela posava para fotos com turistas por uma boa gorjeta. A esquelética e tímida Bethany era uma humilde garçonete; por um ano, ela vinha esperando por uma vaga na loja de presentes mais agradável, onde ela não iria ganhar grandes gorjetas mas seu salário base seria maior, e ela poderia sentar-se quando não estivesse ocupada. Bethany não tinha chegado lá ainda. Um grande rancor contra Desiree, ali, da parte de Bethany; irrelevante, mas eu ouvi a mim mesma contando ao Stan sobre isso como se se tratasse de uma informação crucial. Eu nunca tinha estado tão profundamente na mente de alguém. Eu estava tentando separar o joio do trigo enquanto percorria, mas não estava funcionando. Por fim, simplesmente deixei que tudo viesse. Bethany estava completamente relaxada, ainda recebendo aquele corte de cabelo. Ela tinha excelente recordação visual, e ela estava tão profundamente empenhada quanto eu na noite que tinha passado trabalhando.  Em sua mente, Bethany serviu sangue sintético para apenas quatro vampiros: uma mulher de cabelo vermelho; uma hispânica baixa, entroncada com olhos tão negros como piche; um adolescente loiro com tatuagens antigas; e um homem de cabelo castanho com uma mandíbula projetada e uma gravata de corda. Lá! Farrell estava embutido na memória de Bethany. Eu tive que suprimir a minha surpresa e identificação, e tentar guiar Bethany com mais autoridade.  "É esse aí, Bethany," Eu sussurrei. "O que você se lembra sobre ele?"  "Oh, ele," disse Bethany em voz alta, me surpreendendo tanto que quase saltei da minha cadeira. Na sua mente, ela virou-se para olhar para Farrell, pensando nele. Ele tinha tomado dois sangues sintéticos, O positivo, e ele deixou-lhe uma gorjeta. Bethany franziu as sobrancelhas como se ela estivesse se concentrado no meu pedido. Ela estava tentando de verdade agora, vasculhando sua memória. Pedaçinhos da noite começaram a se compactar, de modo que ela pudesse chegar às partes que continham lembranças do vampiro de cabelo castanho. "Ele voltou para o baheiro com o loiro," disse ela, e eu vi na sua mente a imagem do vampiro loiro tatuado, aquele que parecia muito jovem. Se eu fosse uma artista, eu  o teria desenhado ele.  "Vampiro jovem, talvez dezesseis. Loiro, tatuagem," Eu murmurei para Stan, e ele pareceu surpreso. Eu mal percebi isso, tendo tanta coisa pra me concentrar – isso era como tentar fazer malabarismo - mas eu acho que surpresa foi o lampejo do sentimento no rosto de Stan. Isso foi enigmático.  "Tem certeza que ele era um vampiro?" Perguntei à Bethany.  "Ele bebeu o sangue," disse ela terminantemente. "Ele tinha essa pele pálida. Ele me dava arrepios. Sim, tenho certeza."  E ele tinha entrado no banheiro com Farrell. Fiquei incomodada. A única razão pela qual um vampiro entraria num banheiro era se houvesse um humano lá dentro com quem ele quisesse fazer sexo, ou beber dele, ou (o favorito de qualquer vampiro) fazer as duas coisas simultaneamente. Submergindo-me novamente nas recordações de Bethany, eu a assisti servindo mais alguns clientes, ninguém que eu reconhecesse, porém eu dei uma olhada tão boa quanto eu pude nos outros clientes. A maioria deles parecia do tipo turista inofensivo. Um deles, um homem de aspecto sombrio com um bigode espesso, parecia familiar, então eu tentei observar seus companheiros: um homem alto, magro com cabelos loiros na altura do ombro e uma mulher atarracada com um dos piores cortes de cabelo que eu já tinha visto.  Eu tinha algumas perguntas a fazer para Stan, mas queria terminar com Bethany primeiro. "O vampiro que parecia um caubói saiu novamente, Bethany?"  "Não," ela disse após uma pausa perceptível. "Eu não o vi novamente." Eu verifiquei cuidadosamente por espaços em branco em sua mente; eu nunca poderia substituir o que tinha sido apagado, mas eu poderia saber se a sua memória tivesse sido adulterada. Não encontrei nada. E ela estava tentando lembrar, eu podia afirmar. Eu podia sentir seu esforço para recordar uma outra visão rápida de Farrell. Eu percebi, a partir da sensação desse seu esforço, que eu estava perdendo o controle dos pensamentos e memórias de Bethany.  "E quanto ao jovem loiro? Aquele com as tatuagens?"  Essa Betânia ponderou. Ela estava quase saindo de seu transe agora. "Eu não ovi também," disse ela. Um nome deslizou através da cabeça dela.  "O que foi isso?" Eu perguntei, mantendo a minha voz muito tranqüila e calma. "Nada! Nada!" os olhos de Bethany estavam abertos agora. Seu corte de cabelo tinha acabado: eu a tinha perdido. Meu controle estava longe de ser perfeito.  Ela queria proteger alguém; ela queria que ele não passasse pela mesma coisa que ela estava passando. Mas ela não conseguia parar de pensar no nome, e eu o peguei. Eu não podia entender perfeitamente porque ela pensava que este homem poderia saber algo mais, mas ela pensava. Eu sabia que não serviria de nada deixá-la saber que eu captei seu segredo, então eu sorri para ela e disse a Stan, sem me virar para olhar para ele, "Ela pode ir. Eu já peguei tudo."  Eu absorvi o olhar de alívio sobre o rosto de Bethany antes de virar para olhar para Stan. Eu tinha certeza que ele percebeu que eu tinha algo na manga, e eu não queria que ele dissesse nada. Quem pode dizer o que um vampiro está pensando quando ele está sendo bem guardado? Mas eu tive a nítida sensação de que Stan me compreendeu.  Ele não falou em voz alta, mas um outro vampiro entrou, uma garota que tinha mais ou menos a idade de Bethany quando tinha se transformado. Stan tinha feito uma boa escolha. A garota se inclinou para Bethany, pegou a mão dela, sorriu com as presas totalmente retraídas, e disse: "Vamos te levar para casa agora, está bem?" "Ah, ótimo!" o alívio de Bethany estava escrito em néon na sua testa. "Ah, ótimo," disse ela de novo, menos segura. "Ah, você realmente está indo para minha casa? Você..."  Mas a vampira tinha olhado diretamente para os olhos de Bethany e agora ela disse, "Você não lembrará de nada sobre hoje ou esta noite exceto a festa."  "Festa?" a voz de Bethany soou bem lenta. Apenas levemente curiosa.  "Você foi a uma festa," disse a vampira enquanto conduzia Bethany para fora da sala. "Você foi para uma grande festa, e conheceu um cara bonito lá. Você esteve com ele." Ela ainda estava murmurando para Bethany enquanto saíam. Eu esperava que ela estivesse lhe dando uma boa memória.  "O quê?" Stan perguntou, quando a porta se fechou atrás das duas. 
"Bethany pensou que o segurança do clube saberia mais. Ela o viu entrar no banheiro masculino logo atrás de seu amigo Farrell e o vampiro desconhecido". O que eu não sabia, e quase não gostaria de perguntar à Stan, era se os vampiros faziam sexo uns com os outros. Sexo e comida estavam tão ligados um ao outro no estilo de vida vampiro que eu não poderia imaginar um vampiro transando com alguém não humano, ou seja, alguém  de quem ele não poderia tomar sangue. Será que os vampiros tomavam sangue uns dos outros em situações comuns? Eu sabia que se a vida de um vampiro estava em jogo (ironicamente) outro vampiro doaria sangue para reviver o que foi prejudicado, mas eu nunca tinha ouvido falar de uma outra situação que envolvesse troca de sangue. Dificilmente eu gostaria de perguntar isso ao Stan. Talvez eu puxasse o assunto com Bill, quando saíssemos desta casa.  "O que você descobriu em sua mente, foi que Farrell estava no bar, e que ele entrou no banheiro com outro vampiro, um jovem do sexo masculino com longos cabelos loiros e muitas tatuagens," Stan resumiu. "O segurança entrou em seguida enquanto os dois estavam lá dentro."  "Correto". Houve uma pausa dimensionável enquanto Stan pensava sobre o que fazer em seguida. Esperei, satisfeita em não ouvir uma palavra do seu debate interno. Sem imagens, sem reflexos.  Pelo menos esses vislumbres momentâneos da mente de um vampiro eram extremamente raros. E eu nunca recebi um de Bill; eu não sabia que isso era possível por algum tempo após ser introduzida ao mundo vampírico. Portanto sua companhia continuava um puro prazer para mim. Isso possibilitou, pela primeira vez na minha vida, ter um relacionamento normal com um homem. Claro, ele não era um homem vivo, mas não se pode ter tudo.  Como se ele soubesse que eu estive pensando nele, senti a mão de Bill no meu ombro. Eu coloquei a minha sobre a dele, desejando poder me levantar e dar-lhe um abraço bem longo. Não seria uma boa idéia na frente do Stan. Poderia deixá-lo faminto.  "Não conhecemos o vampiro que esteve lá com Farrell," afirmou Stan, que parecia um pouco mais como uma resposta depois de tanto pensar. Talvez ele estivesse imaginando me dar uma explicação mais longa, mas decidiu que eu não era esperta o suficiente para entender a resposta. Prefiriria ser subestimada que ser superestimada qualquer dia. Além disso, que diferença real isso faz? Mas guardei minha pergunta abaixo dos fatos que eu precisava saber. "Então, quem é o segurança do Asas de Morcego?"  "Um homem chamado Re-Bar," disse Stan. Havia um rastro de desgosto pela forma que ele falou. "Ele é um vampirófilo."  Então Re-Bar tinha o emprego de seus sonhos. Trabalhando com os vampiros, trabalhando para os vampiros, e ficando ao redor deles todas as noites. Para alguém que tinha se fascinado pelos mortos-vivos, Re-Bar tinha tirado a sorte grande. "O que ele poderia fazer se um vampiro criasse uma arruaça?" Eu perguntei, provida de mera curiosidade.  "Ele estava lá apenas para conter humanos bêbados. Descobrimos que um segurança vampiro tendia a usar mais força do que o necessário." 
Eu não queria nem pensar muito nisso. "Re-Bar está aqui?"  "Isso levará pouco tempo," disse Stan, sem consultar ninguém no seu círculo. Era quase certo que ele tinha algum tipo de contato mental com eles. Eu nunca tinha visto isso antes, e eu tinha certeza que Eric não podia abordar Bill mentalmente. Devia ser o dom especial de Stan. Enquanto nós esperávamos, Bill sentou na cadeira ao meu lado. Ele chegou perto e pegou minha mão. Achei muito reconfortante, e amei Bill por isso. Eu mantive a minha mente relaxada, tentando manter a energia para o questionamento que estava por vir. Mas eu estava começando a moldar algumas preocupações, preocupações muito sérias, sobre a situação dos vampiros de Dallas. E eu estava inquieta com a visão rápida que eu tive dos clientes do bar, especialmente o homem que eu pensei ter reconhecido.  "Oh, não," eu disse abruptamente, recordando de repente onde eu o tinha visto.  Os vampiros ficaram totalmente alertas. "Que foi, Sookie?" Bill perguntou.  Stan parecia que tinha sido esculpido no gelo. Seus olhos efetivamente brilharam verdes, eu não estava apenas imaginando isso.  Eu tropeçei sobre minhas palavras na minha pressa de explicar o que eu estava pensando. "O padre," disse para Bill. "O homem que fugiu no aeroporto, aquele que tentou me agarrar. Ele estava no bar." As roupas diferentes e o cenário tinham me enganado quando estava no fundo da memória de Bethany, mas agora eu tinha certeza.  "Entendi," disse Bill lentamente. Bill pareceu ter uma lembrança quase total, e eu podia contar com ele para ter o rosto do homem impresso em sua memória. "Eu não achei que ele realmente fosse um padre então, e agora eu sei que ele estava no bar na noite em que Farrell desapareceu," eu disse. "Vestido em roupas normais. Não, eh, o colarinho branco e camisa preta."  Houve uma pausa carregada.  Stan disse, delicadamente, "Mas este homem, este falso padre, no bar, mesmo com dois companheiros humanos, ele não poderia ter levado Farrell se Farrell não quisesse ir."  Olhei para baixo diretamente em minhas mãos e não disse uma palavra. Eu não queria ser aquela a dizer isto em voz alta. Bill, sabiamente, não queria falar também. Por fim, Stan Davis, chefe vampiro de Dallas, disse, "Alguém entrou no banheiro com Farrell, Bethany recordou. Um vampiro que eu não conheço."  Concordei com a cabeça, mantendo o meu olhar direcionado noutro local.  "Então esse vampiro deve ter ajudado a raptar Farrell."  "Farrell é gay?" Perguntei, tentando soar como se a minha pergunta tivesse acabado de se infiltrar pelas paredes.  "Ele prefere homens, sim. Você acha-"  "Eu não acho nada." Eu sacodi minha cabeça energicamente, para deixá-lo saber o quanto eu não estava pensando. Bill espremeu meus dedos. Ai. O silêncio estava tenso até que a vampira que parecia uma adolescente retornou com um homem corpulento, um que eu tinha visto nas memórias de Bethany. Ele não parecia ser da forma que Bethany o via, porém; através de seus olhos, ele era mais robusto, menos gordo; mais fascinante, menos desleixado. Mas ele era reconhecível como Re-Bar.  Ficou imediatamente evidente para mim que algo estava errado com o homem. Ele seguia atrás da vampira facilmente demais, e ele sorriu para todos na sala; mas isso era improvável, não era? Qualquer  humano que sentisse problemas com vampiros ficaria preocupado, não importava o quão limpa estivesse sua consciência. Eu levantei e fui em sua direção. Ele assistiu minha abordagem com alegre antecipação.  "Olá, amigo," eu disse suavemente, e apertei sua mão. Eu a soltei assim que eu pude decentemente. Dei uns dois passos para trás. Eu queria tomar um Advil* e descansar. (*marca de analgésico)  "Bem," eu disse a Stan, "ele com certeza tem um buraco na cabeça."  Stan examinou o crânio de Re-Bar com um olhar cético. "Explique," disse ele. "Como é que tá, Sr. Stan?" Re-Bar perguntou. Eu estava disposta a apostar que ninguém nunca havia falado com Stan Davis dessa forma, pelo menos não nos últimos quinhentos anos ou por aí.  "Estou bem, Re-Bar. Como vai você?" Eu dei crédito ao Stan por se manter calmo e uniforme.  "Você sabe, eu me sinto ótimo," disse Re-Bar, agitando sua cabeça maravilhado. "Sou o mais sortudo filho da mãe na terra - desculpe, dona."  "Está desculpado." Eu tive que forçar as palavras a saírem.  Bill disse, "O que foi feito com ele, Sookie?"  "Ele tem um buraco queimado em sua cabeça," eu disse. "Eu não sei de que outra forma posso explicar isso, exatamente. Não posso dizer como foi feito, porque eu nunca vi isso antes, mas quando eu olho em seus pensamentos, suas memórias, há apenas um grande velho buraco rasgado. É como se Re-Bar precisasse remover um minúsculo tumor, mas o cirurgião tirou seu baço e talvez o seu apêndice, também, só para ter certeza. Sabe quando todos vocês tiram a memória de alguém, e a substitui por outra?" Eu acenei para mostrar que eu quis dizer todos os vampiros. "Bem, alguém tirou um pedaço fora da mente do Re-Bar, e não colocou nada no lugar. Como uma lobotomia," acrescentei, inspirada. Eu leio muito. A escola foi difícil para mim com o meu pequeno problema, mas lendo por minha conta me deu um meio de fugir da minha situação. Acho que eu sou autodidata. "Portanto o que quer que fosse que Re-Bar soubesse sobre o desaparecimento de Farrel se perdeu," disse Stan.  "Sim, juntamente com alguns componentes da personalidade do Re-Bar e um monte de outras lembranças."  "Ele ainda está funcionando?"  "Sim, por que, acho que sim." Eu nunca me deparei com nada assim, nunca sequer percebi que era possível. "Mas eu não sei quão eficaz como um segurança ele será," eu disse, tentando ser honesta.  "Ele foi ferido enquanto ele estava trabalhando para nós. Nós cuidaremos dele. Talvez ele possa limpar o clube depois de fechar," disse Stan. Eu poderia dizer pela voz de Stan que ele queria ter certeza de que eu estava assimilando isso mentalmente; que vampiros poderiam ser compassivos, ou pelo menos justos.  "Meu Deus, isso seria ótimo!" Re-Bar sorriu com alegria ao seu chefe. "Obrigado, Sr. Stan."  "Leve-o de volta para casa," disse o Sr. Stan à sua serva. Ela partiu diretamente, com o homem lobotomizado a reboque. "Quem poderia ter feito tal trabalho bruto nele?" Stan indagou. Bill não respondeu, já que ele não estava lá para se meter onde não era chamado, mas para me proteger e fazer suas próprias descobertas quando fosse exigido. Uma vampira alta de cabelo vermelho entrou, aquela que tinha estado no bar na noite que Farrell foi levado.  "O que você notou na noite que Farrell desapareceu?" Eu perguntei a ela, sem pensar no protocolo. Ela rosnou para mim, seus dentes brancos destacando-se contra a sua língua escura e batom brilhante.  Stan disse, "Coopere." Imediatamente seu rosto suavizou, todas as expressões desaparecendo como uma ruga em uma colcha quando você desliza a sua mão sobre ela.  "Não me lembro," disse ela finalmente. Então a habilidade de Bill para recordar o que ele tinha visto em minúsculos detalhes era um dom pessoal. "Não me lembro de ter visto Farrell mais de um minuto ou dois." "Você pode fazer com Rachel a mesma coisa que você fez com a garçonete?" Stan pediu.  "Não," eu disse imediatamente, minha voz talvez um pouco enfática demais. "Eu não posso ler mentes de vampiros de jeito nenhum. São livros fechados." Bill disse: "Você consegue lembrar de um loiro - um de nós - que parecia ter cerca de dezesseis anos? Um com uma antiga tatuagem azul em seus braços e tronco?"  "Oh, sim," disse a ruiva Rachel instantaneamente. "As tatuagens eram do tempo dos romanos, eu acho. Eles eram brutos, mas interessantes. Me perguntei sobre ele, pois eu não o tinha visto vir aqui na casa para pedir a Stan por privilégios para a caça."  Então vampiros passando pelo território de outros eram requisitados a associar-se no centro de visitantes, por assim dizer. Eu arquivei essa para referências futuras.  "Ele estava com um humano, ou pelo menos teve alguma conversa com ele," a vampira ruiva continuou. Ela estava vestindo calça jeans e um suéter verde que parecia incrivelmente sexy para mim. Mas vampiros não se preocupam com a temperatura real. Ela olhava para Stan, então Bill, que fez um gesto acenando para indicar que ele queria qualquer lembrança que ela tivesse. "O homem era de cabelo escuro, e tinha um bigode, se eu me recordo corretamente." Ela fez um gesto com as mãos, uma abertura de dedos estendidos que parecia dizer, "Eles são todos muito parecidos!" Depois que Rachel partiu, Bill perguntou se havia um computador na casa. Stan disse que havia, e olhou para Bill com verdadeira curiosidade quando Bill perguntou se ele poderia usá-lo por um momento, se desculpando por não ter trazido o seu laptop. Stan acenou com a cabeça. Bill estava prestes a sair da sala quando ele hesitou e olhou de volta para mim. "Você vai ficar bem, Sookie?" - ele perguntou.  "Claro." Eu tentei soar confiante.  Stan disse, "Ela vai ficar bem. Existem mais pessoas para que ela veja."  Eu assenti, e Bill saiu. Eu sorri para Stan, que é o que eu faço quando estou tensa. Esse não é um sorriso feliz, mas é melhor do que gritar.  "Você e Bill estão juntos por quanto tempo?" Stan perguntou.  "Por alguns meses." Quanto menos Stan soubesse sobre nós, mais feliz eu ficaria.  "Vocês está satisfeita com ele?"  "Sim".  "Você o ama?" Stan soou divertido.  "Não é da sua conta," eu disse, sorrindo. "Você mencionou que havia mais gente que eu precisava verificar?" Seguindo o mesmo procedimento que tive com a Bethany, eu segurei uma grande variedade de mãos e verifiquei um monte de cérebros entendiantes. Bethany tinha sido definitivamente a pessoa mais observadora no bar. Estas pessoas - outra garçonete, o barman humano, e um cliente freqüente (um vampirófilo) que realmente voluntariou-se para isto – tinham pensamentos monótonos e tediosos e poderes limitados de recordação. Eu realmente descobri que o barman foi cercado roubando produtos domésticos ao lado, e depois que o cara tinha ido embora, eu recomendei a Stan que colocasse outro empregado por trás do bar, ou ele seria sugado para qualquer investigação policial. Stan pareceu mais impressionado com isso do que eu esperava que ele estivesse. Eu não queria que ele ficasse enamorado demais dos meus serviços.  Bill retornou assim que acabei com o último empregado do bar, e ele parecia um pouco satisfeito, por isso conclui que ele tinha sido bem sucedido. Bill tinha gasto a maior parte de suas horas despertas no computador ultimamente, que não estava sendo uma idéia muito popular comigo. "O vampiro tatuado," disse Bill quando Stan e eu éramos os dois únicos que restaram na sala, "tem o nome de Godric, embora pelo século passado ele mudou para Godfrey. Ele é um renunciante." Eu não sei quanto ao Stan, mas fiquei impressionada. Poucos minutos no computador, e Bill tinha feito uma parte caprichada do trabalho de detetive.  Stan parecia estarrecido, e eu suponho que eu parecia intrigada.  "Ele está se aliando com os humanos radicais. Ele planeja cometer suicídio," Bill me disse em uma voz suave, uma vez que Stan estava envolvido em pensamentos. "Esse Godfrey planeja sair ao Sol. Sua existência se tornou azeda para ele."  "Então ele vai levar alguém com ele?" Godfrey iria expôr Farrell junto com ele?  "Ele nos traíu para a Sociedade," disse Stan.  Trair é uma palavra que carrega um monte de melodrama, mas eu nem sonhei em sorrir quando Stan disse isso. Eu tinha ouvido falar da Sociedade, apesar de que eu nunca conheci ninguém que alegasse na verdade pertencer a ela. O que era a Klan para os afro-americanos, a Sociedade do Sol era para os vampiros. Era o culto de crescimento mais rápido na América. 
Mais uma vez, eu estava em águas mais profundas do que eu poderia nadar.  
 
Havia muitos humanos que não tinham gostado de descobrir que partilhavam o planeta com os vampiros. Apesar do fato de que eles sempre o  tiveram feito - sem saber - logo que eles acreditaram que os vampiros eram reais, essas pessoas ficaram determinadas a destruí-los. Eles não eram mais seletivos em relação aos seu métodos de homicídio do que um vampiro traiçoeiro seria sobre o  seu.  Vampiros traiçoeiros eram os mortos-vivos que pareciam ultrapassados;  eles não queriam que os humanos tivessem conhecimento de sua existência mais do que qualquer humano queria saber sobre eles. Os traiçoeiros recusavam-se a beber o sangue sintético que era a base da maioria das dietas dos vampiros hoje em dia.  Traiçoeiros acreditavam que o único futuro para os vampiros seria estabelecer o retorno ao segredo e invisibilidade. Vampiros traiçoeiros massacrariam humanos só pela diversão, agora, porque eles realmente  acolhiam um retorno à perseguição da sua própria espécie. Os traiçoeiros viram isso como um meio de persuadir vampiros integrados que o sigilo era melhor para o futuro de sua espécie; e, nesse caso, também, perseguição era uma forma de controle populacional. Agora eu aprendi com Bill que havia vampiros que começaram a sofrer de um terrível remorso, ou talvez tédio, depois de uma longa vida. Estes renunciantes planejavam "encontrar o Sol", o termo vampiro para cometer suicídio permanecendo fora após o raiar do dia.  Mais uma vez, minha escolha para namorado tinha me conduzido por caminhos que eu jamais teria pisado sob outros aspectos. Eu não precisaria saber de nada disso, nunca sequer teria sonhado em namorar alguém definitivamente falecido, se eu não tivesse nascido com a deficiência da telepatia. Eu era uma espécie de pária pros caras humanos. Você pode imaginar como é impossível namorar alguém cuja mente você pode ler. Quando eu conheci Bill, eu comecei o momento mais feliz da minha vida. Mas indubitavelmente eu me deparei com mais problemas nos meses que o tinha conhecido do que eu tive em todos os meus vinte e cinco anos antes. "Então, você está pensando que Farrell já está morto?" Perguntei, me forçando a manter o foco na crise atual. Eu detestava ter que perguntar, mas eu precisava saber. "Talvez," disse Stan após uma longa pausa.  "Possivelmente eles o estão mantendo em algum lugar," disse Bill. "Vocês sabem como eles convidam a imprensa para estas... cerimônias,"  Stan encarou o espaço por um bom tempo. Então ele se levantou. "O mesmo homem estava no bar e no aeroporto," disse ele, quase à si próprio. Stan, o  chefe vampiro nerd de Dallas, estava agora andando, de um lado pro outro na sala. Isso estava me deixando louca, embora dizer isso  estivesse fora de questão. Esta era a casa de Stan, e seu "irmão" estava desaparecido. Mas eu não sou do tipo que fica remoendo silêncio por muito tempo. Eu estava cansada, e eu queria ir para a cama. 
"Então," eu disse, fazendo o meu melhor para soar ativa, "Como eles sabiam que eu iria estar lá?"  Se há algo pior do que ter um vampiro encarando você, é ter dois vampiros encarando você.  "Para saber que você estava vindo antes do tempo... Há um traidor," disse Stan. O ar da sala começou a tremer e crepitar com a tensão que ele estava produzindo. Mas eu tive uma idéia menos dramática. Eu peguei um bloco de notas de cima da mesa e escrevi, "TALVEZ VOCÊ ESTEJA SOB ESCUTA." Ambos olharam para mim como se eu tivesse oferecido à eles um Big Mac. Vampiros, que individualmente têm vários poderes incríveis, às vezes se abstraem do fato de que os humanos desenvolveram alguns poderes por conta própria. Os dois homens trocaram um olhar de especulação, mas nenhum delas ofereceu qualquer sugestão prática.  Bem, ao diabo com eles. Eu só tinha visto isso sendo feito em filmes, mas pensei que se alguém tinha plantado uma escuta nesta sala, teriam feito isso com muita pressa e deviam estar morrendo de medo. Então a escuta estaria perto e não tão bem escondida. Eu tirei o blaiser cinza e chutei fora meus sapatos. Já que eu era uma humana e não tinha dignidade a perder aos olhos de Stan, me joguei debaixo da mesa e começei a engatinhar sob seu comprimento, empurrando as  cadeiras com rodinhas à distância enquanto eu seguia. Pela milionésima vez, eu desejei  ter usado calças.  Eu tinha chegado a aproximadamente dois metros das pernas do Stan quando vi algo estranho. Havia uma protuberância escura grudada do lado de baixo da madeira clara da mesa. Eu olhei aquilo tão perto quanto eu pude sem uma lanterna. Não era nenhum chiclete velho. Após ter encontrado o pequeno dispositivo  eletrônico, eu não sabia o que fazer. Eu engatinhei para fora,  um tanto mais poeirenta por causa da experiência, e me encontrei bem aos pés de Stan. Ele estendeu sua mão e eu a segurei com relutância. Stan me puxou suavemente, ou pareceu que foi suavemente, mas de repente eu estava de pé encarando ele. Ele não era muito alto, e eu olhei mais nos olhos dele do que realmente queria. Eu segurei o meu dedo na frente do meu rosto para ter certeza de que ele estava prestando atenção. Apontei para debaixo da mesa.  Bill deixou a sala como um raio. O rosto de Stan ficou ainda branco, e seus olhos incendiaram. Eu olhei para qualquer lugar exceto diretamente para ele. Eu não queria ser a imagem enchendo os seus olhos enquanto ele digeria o fato de que alguém tinha plantado uma escuta em sua câmara de audiência. Ele tinha realmente sido traído, só não da maneira que ele supôs.  Eu fiz uma busca em minha mente por algo a fazer que ajudasse. Eu sorri para Stan. Alcançando automaticamente meu rabo de cavalo para endireitá-lo, eu percebi que o meu cabelo ainda estava em seu rolo na parte de trás da minha cabeça, embora consideravelmente menos arrumado. Brincando com ele nas mãos tive uma boa desculpa para olhar para baixo. Fiquei consideravelmente aliviada quando Bill reapareceu com Isabel e o homem que lavava pratos, que estava carregando uma tigela de água. "Desculpe, Stan," disse Bill. "Eu receio que Farrell já esteja morto, se você seguir aquilo que descobrimos esta noite. Sookie e eu retornaremos para Louisiana amanhã, a menos que você precise de nós ainda mais." Isabel apontava para a mesa, e o homem colocou a tigela no chão. 
"É o melhor a fazer," respondeu Stan, em uma voz tão fria quanto gelo. "Me mande a conta dos seus serviços. Seu superior, Eric, foi bastante categórico quanto a isso. Terei que conhecê-lo algum dia." Seu tom indicava que esse encontro não seria agradável para Eric.  Isabel disse abruptamente, "Sua humana estúpida! Você derramou a minha bebida!" Bill passou por mim estendendo a mão para arrancar a escuta debaixo da mesa e largá-la na água, e Isabel, andando ainda mais suavemente para impedir que a água transbordasse pelos lados da tigela, deixou a sala. Seu companheiro ficou para trás. Isso tinha sido disposto da forma mais simples. E era no mínimo possível que quem quer que estivesse ouvindo fosse enganado por aquele pequeno diálogo. Todos nós relaxamos, agora que a escuta não estava mais lá. Mesmo Stan parecia um pouco menos assustador.  "Isabel diz que você acredita que Farrell pode ter sido raptado pela Sociedade," o homem disse. "Talvez essa jovem e eu pudéssemos ir para o Centro da Sociedade amanhã, e tentar descobrir se lá existem planos para algum tipo de cerimônia em breve."  Bill e Stan o consideraram cuidadosamente.  "Essa é uma boa idéia," disse Stan. "Um casal parece ser menos evidente."  "Sookie?" Bill perguntou. "Certamente nenhum de vocês pode ir," eu disse. "Acho que talvez pudéssemos conseguir pelo menos o projeto do local. Se você acha que há realmente uma chance de Farrell estar preso lá." Se eu pudesse encontrar mais informações sobre a situação no Centro da Sociedade, talvez eu pudesse evitar que os vampiros atacassem. Eles com certeza não iriam descer até a delegacia de polícia para registrar uma denuncia de pessoas desaparecidas para incitar a polícia a fazer uma busca no Centro. Não importa o quanto os vampiros de Dallas quisessem permanecer dentro dos limites da lei humana para que fossem bem sucedidos em colher os benefícios da integração, eu sabia que se um vampiro de Dallas estava sendo mantido cativo no Centro, humanos morreriam a torto e a direito. Eu poderia talvez evitar que isso acontecesse, e localizar o desaparecido Farrell, também.  "Se esse vampiro tatuado é um renunciante e planeja encontrar o Sol, levando Farrell com ele, e se isto está sendo organizado através da Sociedade, então o falso padre que tentou agarrar você no aeroporto deve trabalhar para eles. Eles sabem quem é você agora," salientou Bill." Você teria que usar sua peruca." Sorriu com satisfação. A peruca tinha sido idéia dele. Uma peruca neste calor. Oh, diabos. Tentei não parecer petulante. Afinal, seria melhor ter uma coceira na cabeça do que ser identificada como uma mulher que se relacionava com vampiros, enquanto eu estivesse visitando um Centro da Sociedade do Sol. "Seria  melhor se houvesse um outro humano comigo," eu admiti, sentindo muito ter que envolver mais alguém em perigo.  "Este é o homem atual de Isabel," disse Stan. Ele ficou silencioso por um minuto, e eu suponho que ele estava "transmitindo" para ela, ou como quer que ele contactasse seus subordinados.  Como era de se esperar, Isabel entrou. Tinha que ser conveniente, ser capaz de convocar as pessoas desse jeito. Você não precisaria de um interfone, ou um telefone. Pergunto-me quão distante outros vampiros poderiam estar e ainda receber a sua mensagem. Eu fiquei meio que agradecida por Bill não poder me enviar sinais sem palavras, porque eu me sentiria demais como sua escrava. Stan poderia convocar humanos da forma como ele chamava seus vampiros? Talvez eu realmente não quisesse saber. O homem reagiu à presença de Isabel da maneira que um perdigueiro faz quando ele percebe uma codorna. Ou talvez tenha sido mais como um homem faminto a quem foi servido um filé grande, e ainda tinha que esperar pela oração de agradecimento. Você poderia quase ver água em sua boca. Eu esperava que eu não parecesse desse jeito quando eu estava perto de Bill.  "Isabel, o seu humano se ofereceu para ir com Sookie ao Centro da Sociedade do Sol. Ele pode ser convincente como um convertido em potencial?"  "Sim, eu acho que ele pode," disse Isabel, fitando os olhos do homem.  "Antes que você vá - temos visitantes esta noite?"  "Sim, um, da Califórnia."  "Onde ele está?"  "Na casa."  "Ele esteve nesta sala?" Naturalmente, Stan adoraria que o plantador da escuta fosse um vampiro ou humano que ele não conhecesse.  "Sim".  "Traga-o." Uns bons cinco minutos mais tarde, Isabel voltou rebocando um vampiro alto e loiro. Ele devia ter um metro e noventa e cinco, ou talvez até mais. Ele era musculoso, rosto recém-barbeado, e ele tinha uma cabeleira cor de trigo. Eu olhei para os meus pés imediatamente, enquanto eu senti que Bill estava imóvel.  Isabel disse: "Este é Leif."  "Leif," Stan disse suavemente, "bem-vindo ao meu ninho. Esta noite temos um problema aqui."  Eu encarava meus dedos do pé, desejando mais do que qualquer coisa que já tivesse desejado que eu pudesse estar completamente sozinha com Bill por dois minutos e descobrir o que diabos estava acontecendo, porque esse vampiro não era nenhum "Leif," e ele não era da Califórnia.  Era Eric.  As mãos de Bill entraram em minha linha de visão e se fecharam em torno das minhas. Ele apertou meus dedos muito cuidadosamente, e eu retornei. Bill deslizou o braço em minha volta, e eu me inclinei contra ele. Eu precisava descansar, por Deus.  "Como posso ajudá-lo?" Eric - não, Leif, no momento – perguntou com cortesia.  "Parece que alguém entrou nesta sala e realizou um ato de espionagem." Essa parecia uma bela maneira de explicar. Stan queria manter a escuta em segredo por enquanto, e levando em conta o fato de realmente haver um traidor aqui, isso era provavelmente uma grande idéia.  ―Eu sou um visitante no seu ninho, e não tenho nenhum problema com você ou qualquer um dos seus."  A calma e sincera negação de Lief foi bastante impressionante, dado que eu sabia de fato de que toda sua presença ali era impostora para favorecer algum propósito vampírico insondável.  "Desculpem-me," eu disse, soando tão frágil e humana quanto eu possivelmente poderia.  Stan pareceu bastante irritado com a interrupção, mas ele que se dane.  "O, er, item, teria de ter sido colocado aqui mais cedo do que hoje," eu disse, tentando soar como se estivesse certa de que Stan já havia pensado em tal fato. "Para obter os detalhes de nossa chegada em Dallas." Stan estava olhando para mim sem qualquer expressão.  Quem tem medo de se molhar, não sai na chuva*. "E com sua licença, estou realmente esgotada. Bill poderia me levar de volta ao hotel agora?"  * (no original é In for a penny, in for a pound, que é uma expressão antiga relacionada a apostas, que quer dizer que se você vai correr um risco que seja logo um dos grandes, achei melhor traduzir com um ditado nosso que tem mais ou menos o mesmo sentido) "Nós temos Isabel para levá-la de volta sozinha," disse Stan desdenhosamente.  "Não, senhor."  Por trás dos óculos falsos, as sobrancelhas pálidas de Stan levantaram-se voando. "Não?" Ele soou como se nunca tivesse ouvido falar desta palavra.  "Pelos termos do meu contrato, eu não vou a lugar algum sem um vampiro da minha área. Bill é esse vampiro. Não vou a lugar nenhum sem ele, durante a noite."  Stan me lançou outro olhar bem longo. Eu fiquei feliz que tinha encontrado a escuta e me proveiútilde outra maneira, ou eu não iria durar muito na jurisdição de Stan. "Vá," disse ele, e Bill e eu não perdemos tempo nenhum. Nós não poderíamos ajudar Eric se Stan chegasse a suspeitar dele, e nós muito possivelmente poderíamos entregá-lo.Eu seria de longe a mais provável que fizesse isso por algum gesto ou palavra, com Stan me observando. Os vampiros têm estudado os humanos ao longo de séculos, daquele jeito como os predadores aprendem tanto quanto possível sobre a sua presa. Isabel saiu com a gente, e voltamos em seu Lexus para a carona de volta até o Hotel Silent Shore. As ruas de Dallas, embora não estivessem vazias, estavam pelo menos muito mais calmas do que quando tínhamos chegado ao ninho horas antes. Eu estimava que faltavam menos de duas horas até o amanhecer.  "Obrigada," eu disse educadamente quando estacionamos sob o átrio do hotel.  "O meu humano virá buscar você às três horas da tarde," Isabel me disse.  Reprimindo o instinto de dizer, "Sim, senhora!" e batendo meus calcanhares juntos, eu só disse a ela que isso seria ótimo. "Qual é o nome dele?" Perguntei.  "O nome dele é Hugo Ayres," disse ela.  "Ok." Eu já sabia que ele era um homem ágil com uma idéia. Fui para o saguão e esperei por Bill. Ele estava apenas alguns segundos atrás de mim, e nós subimos pelo elevador em silêncio.
"Você tem a chave?" ele perguntou-me na porta do quarto.  Eu estava semi-adormecida. "Onde está a sua?" Eu perguntei, nada graciosamente.  "Eu só gostaria de vê-la recuperar a sua," disse ele.  De repente eu melhorei o meu humor. "Talvez você gostaria de encontrá-la,", eu sugeri.  Um vampiro do sexo masculino com uma cabeleira escura de comprimento até a cintura passeava pelo corredor, com seu braço em torno de uma garota cheia de curvas com cabelo ruivo crespo. Quando eles entraram num quarto mais distante ao fundo do corredor, Bill começou a procurar pela chave.  Ele a achou muito rápido.  Uma vez lá dentro, Bill me pegou nos braços e me beijou longamente. Precisávamos conversar, já que tanta coisa aconteceu durante esta noite longa, mas eu não estava com humor pra isso e nem ele.  A melhor coisa sobre saias, eu descobri, era que elas simplesmente deslizavam para cima, e se você estivesse usando apenas uma calcinha fio dental por baixo, ela poderia desaparecer num instante. O paletó cinza estava no chão, a blusa branca foi descartada, e os meus braços estavam travadas em torno do pescoço de Bill antes que você pudesse dizer, "Transe com um vampiro." Bill estava encostado contra a parede da sala de estar tentando abrir suas calças comigo ainda enrolada em seu corpo quando alguém bateu na porta.  "Droga," ele sussurrou no meu ouvido. "Vá embora," disse ele, um pouco mais alto. Eu me retorci contra ele e sua respiração presa se prendeu em sua garganta. Ele tirou os grampos e prendedores do meu cabelo para deixá-lo cair pelas minhas costas.  "Preciso falar com você," disse uma voz familiar, um pouco abafada pela porta espessa.  "Não," eu me queixei. "Diga que não é Eric." A única criatura no mundo que tínhamos de admitir.  "É o Eric," disse a voz.  Eu desenlacei minhas pernas da cintura de Bill, e ele gentilmente me colocou no chão. Irritada de verdade, eu fui como um furacão para o quarto colocar o meu roupão. Para o inferno com recolocar todas aquelas roupas.  Voltei quando Eric estava dizendo a Bill que ele tinha se saído bem esta noite.  "E, é claro, você estava maravilhosa, Sookie," disse Eric, lançando um olhar abrangente ao roupão rosa e curto. Eu levantei os olhos para ele – mais alto e mais alto - e desejei que ele estivesse no fundo do Rio Vermelho, com sorriso espetacular, cabelo dourado, e tudo mais. "Ah," eu disse malignamente, "muito obrigada por ter subido para nos dizer isso. Não poderíamos ter ido para a cama sem um tapinha nas costas vindo de você."  Eric parecia tão insossamente encantado quanto ele possivelmente poderia. "Oh, querida," disse ele. "Eu interrompi algo? Estas seriam – bem, esta – seria sua, Sookie?" Ele segurava a tira preta que anteriormente tinha sido uma lateral da minha calcinha.  Bill disse, "Em uma palavra, sim. Há mais alguma coisa que você gostaria de discutir com a gente, Eric?" O gelo ficaria surpreso com o quanto Bill podia ser frio. 
"Nós não temos tempo hoje à noite," disse Eric pesarosamente, "já que a luz do dia está tão próxima, e há coisas que eu preciso ver antes de dormir. Mas amanhã à noite devemos nos encontrar. Quando você descobrir o que Stan quer que você faça, deixe-me um recado no balcão, e faremos um acordo." Bill assentiu. "Adeus, então," disse ele.  "Você não quer uma bebida noturna?" Ele estava esperando que oferecêssemos uma garrafa de sangue? Os olhos de Eric foram para o frigobar, e depois para mim. Eu me arrependi de estar vestindo um roupão de nylon fino em vez de algo volumoso e de algodão bem felpudo. "Quente direto da veia?" Bill conservou um silêncio insensível.  Seu olhar demorando sobre mim até ao último minuto, Eric atravessou a porta e Bill a trancou logo atrás dele. "Você acha que ele está ouvindo lá fora?" Perguntei ao Bill, enquanto ele desamarrava a faixa do meu robe.  "Eu não me importo," disse Bill, e inclinou sua cabeça para outras coisas.    ***   Quando levantei, por volta de uma hora da tarde, o hotel tinha um silêncio apalpável. Evidentemente, a maior parte dos hóspedes estava dormindo. Arrumadeiras não iriam entrar em um quarto durante o dia. Eu tinha notado a segurança na noite passada – guardas vampiros. O dia seria diferente, já que a segurança durante o dia era pelo que os hóspedes pagavam tão maciçamente. Eu liguei para serviço de quarto pela primeira vez na minha vida e pedi o café da manhã. Eu estava faminta como um cavalo, pois eu não tinha comido nada ontem à noite. Eu estava saindo do banho e enrolada no meu roupão quando o garçom bateu na porta, e depois que eu tive a certeza de que ele era quem dizia ser, o deixei entrar.  Após a tentativa de me raptarem no aeroporto no dia anterior, eu não estava tomando nada por garantido. Eu segurei o spray de pimenta ao meu lado enquanto o jovem posicionava a comida e o bule de café. Se ele desse um passo em direção a porta atrás da qual Bill dormia no seu caixão, eu o atingiria. Mas este indivíduo, Arturo, tinha sido bem treinado, e seus olhos nunca sequer desviaram-se em direção ao quarto. Ele nunca olhou diretamente para mim, também. Ele estava pensando em mim, no entanto, e eu desejei ter posto um sutiã antes de deixá-lo entrar. Quando ele foi embora - e como Bill tinha me instruído, acrescentei uma gorjeta à nota que tinha assinado – eu comi tudo o que ele tinha trazido: salsicha e panquecas e uma tigela de bolas de melão. Oh Deus, isso é muito gostoso. A calda era realmente xarope de bordo, e as frutas estavam bem maduras. A salsicha estava maravilhosa. Eu fiquei feliz que Bill não estava por perto para me olhar e fazer com que me sentisse desconfortável. Ele realmente não gosta de me ver comer, e ele odeia ele que eu coma alho.  Escovei meus dentes e cabelos e apliquei minha maquiagem. Já estava na hora de me preparar para a minha visita ao Centro da Sociedade. Eu dividi meu cabelo e o prendi para cima, e peguei a peruca da caixa. Era curta e castanha e realmente vulgar. Eu tinha pensado que Bill estava louco quando ele sugeriu que eu trouxesse uma peruca, e eu ainda me pergunto por que lhe veio à mente que eu poderia precisar de uma, mas eu fiquei grata por tê-la trazido. Eu tinha um par de óculos como o de Stan, que servia para o mesmo propósito de camuflagem, e os coloquei. Houve um pequeno aumento na parte inferior, para que eu pudesse afirmar legitimamente que eram óculos de leitura. O que fanáticos vestiam para ir a uma reunião de fanáticos? Em minha experiência limitada, fanáticos eram normalmente conservadores ao se vestirem, ou porque eram preocupados demais com outras questões para pensarem nisso ou porque eles viam algum pecado em vestir-se elegantemente. Se eu estivesse em casa eu teria que correr para o Wal-Mart e sido conveniente com o dinheiro, mas eu estava aqui no caro e sem janelas Hotel Silent Shores. Entretanto, Bill tinha me dito para ligar para a recepção caso eu precisasse de qualquer coisa. Então foi o que fiz. "Recepção," disse um humano que estava tentando copiar a calma e fria voz de um vampiro antigo. "Como posso ajudar?" Tive vontade de dizer a ele para desistir. Quem quer uma imitação quando o verdadeiro está sob o mesmo teto?  "Aqui é Sookie Stackhouse do trezentos e quatorze. Preciso de uma saia longa de brim, tamanho trinta e oito, e uma blusa floral em tom pastel ou um top de tricô, do mesmo tamanho."  "Sim, senhora," disse ele, após uma pausa bem longa. "Quando eu tenho que providenciá-los para a senhora?"  "Breve." Caramba, isso foi muito divertido. "De fato, quanto mais rápido melhor." Eu estava começando a gostar disso. Eu amei estar ‗por conta‘ nas despesas de outra pessoa.  Assisti às notícias enquanto esperava. Eram as notícias típicas de qualquer cidade americana: problemas de tráfego, problemas de zoneamento, problemas de homicídios. "Uma mulher encontrada morta ontem à noite num hotel em Dumpsterhas foi identificada," disse um apresentador, com a voz apropriadamente grave. Ele abaixou os cantos de sua boca para demonstrar preocupação séria. "O corpo de Bethany Rogers, de vinte e um anos de idade, foi encontrado atrás do Hotel Silent Shore, famoso por ser o primeiro hotel em Dallas a hospedar os mortos-vivos. Rogers foi morta por um único tiro na cabeça. A Polícia descreveu o assassinato como "estilo execução." A detetive Tawny Kelner disse ao nosso repórter que a polícia está acompanhando várias pistas." A imagem da tela foi transferida de um rosto artificialmente severo para um rosto verdadeiramente amargo. A detetive tinha seus quarenta anos, eu achei, uma mulher muito baixa com uma longa trança lhe descendo as costas. O alvo da câmera fez uma rotação para incluir o repórter, um pequeno homem negro com um terno muito bem cortado.  "Detetive Kelner, é verdade que Bethany Rogers trabalhava em um bar de vampiros?" O olhar carrancudo da detetive ficou ainda mais temível. "Sim, é verdade," disse ela. "No entanto, ela era contratada como uma garçonete, não como uma animadora." Uma animadora? O que uma animadora faz no Asas de Morcego? "Ela estava trabalhando lá há apenas dois meses."  "O local utilizado para despejar o seu corpo não indica que houve algum tipo de envolvimento de vampiros?" O repórter foi mais persistente do que eu seria.  "Pelo contrário, acredito que o local foi escolhido para enviar uma mensagem para os vampiros," Kelner rebateu, e em seguida olhou como se lamentasse ter falado. "Agora, se você me der licença..."  "Claro, detetive," disse o repórter, um pouco confuso. "Então, Tom," e ele virou-se para a câmera, como se pudesse ver o apresentador através da lente na estação de tv, "esse é um caso pertubador."  Heim?  O apresentador âncora percebeu que o repórter não estava fazendo o menor sentido, também, e rapidamente mudou para outro tópico. A pobre Bethany estava morta, e não havia ninguém com quem eu pudesse conversar sobre isso. Eu reprimi as lágrimas; Eu senti que nem tinha o direito de chorar pela a menina. Eu nãopude deixar de me perguntar o que tinha acontecido com Bethany Rogers na noite passada depois que tinha sido conduzida para fora daquela sala do ninho vampiro. Se não houver nenhuma marca de presas, sem dúvida não foi um vampiro que a matou. Era raro um vampiro que poderia dispensar o sangue.  Fungando de reprimir as lágrimas e infeliz com consternação, me sentei no sofá e procurei pela minha bolsa tentando encontrar um lápis. Até que enfim, descobri uma caneta. Usei-a para coçar por baixo da peruca. Mesmo no ar-condicionado pesado do hotel, ela coçava. Em trinta minutos, houve uma batida na porta. Mais uma vez, eu olhei através do olho mágico. Era Arturo novamente, com roupas estendidas por seus braços. "Devolveremos aquelas que a senhora não desejar," disse ele, entregando-me o monte. Ele tentou não encarar meu cabelo.  "Obrigada," eu disse, e dei a gorjeta à ele. Eu podia me acostumar com isso muito rápido.  Não demorou muito tempo até o horário que supostamente eu deveria encontrar com o tal de Ayres, o ‗pão de mel‘ de Isabel. Largando o roupão onde eu estava, olhei para o que Arturo me trouxe. Uma blusa pálida cor de pêssego com flores beges, essa serviria, e a saia... hmmm. Ele não tinha sido capaz de encontrar em brim, aparentemente, e as duas que ele trouxe eram cáquis. Isso ficaria bem, eu pensei, e puxei uma delas. Ela parecia muito justa para o efeito que eu precisava, e fiquei agradecida por ele ter trazido um outro estilo. Era simplesmente perfeita para a imagem. Deslizei meus pés nas sandálias rasteiras, coloquei brincos minúsculos em minhas orelhas furadas, e eu estava pronta para ir. Eu até tinha uma bolsa de palha desgastada para acompanhar o traje. Infelizmente, essa era a minha bolsa normal. Mas ela combinou direitinho. Eu despejei meus documentos e itens de identificação, e desejei ter pensado nisso antes em vez de no último minuto. Eu me perguntava que outras medidas de segurança cruciais eu poderia estar esquecendo.  Eu saí pelo corredor silencioso. Foi exatamente como tinha sido na noite anterior. Não havia espelhos e nem janelas, e a sensação de confinamento era completa. O vermelho escuro do tapete e a combinação de tons escuros de azul, vermelho e creme do papel de parede não ajudava. O elevador abriu-se ao meio quando eu toquei o botão, e desci o percurso sozinha. Nem mesmo música de elevador. O Silent Shore estava à altura do seu nome. Havia guardas armados de ambos os lados do elevador, quando saí em direção ao lobby. Eles estavam vigiando as portas principais do hotel. Essas portas estavam obviamente bloqueadas. Tinha um monitor de TV montado ao lado das portas, e ele mostrava a calçada do lado de fora das portas. Outro monitor mostrava uma visão mais abrangente.  Eu achei que um terrível ataque devia ser iminente e eu congelei, o meu coração disparou, mas após alguns segundos de calma eu me dei conta de que eles deviam ficar lá o tempo todo. Era por esta razão que os vampiros se hospedavam aqui, e em outros hotéis com especialidades semelhantes. Ninguém iria entrar nos elevadores tendo que passar por esses guardas. Ninguém invadiria os quartos do hotel onde os vampiros deitavam sonolentos e indefesos. Esta era a razão pela qual a diária do hotel era exorbitante. Os dois guardas de plantão no momento eram ambos enormes, e usavam o uniforme preto do hotel. (Ho, hum. Todo mundo parecia achar que vampiros são obcecados com o preto.) As pistolas dos guardas pareciam gigantescas para mim, mastambém, eu não sou tão familiarizada com armas. Os homens olharam para mim e em seguida voltaram para o mesmo olhar entediado fixo em frente.  Até mesmo os recepcionistas estavam armados. Havia espingardas em prateleiras atrás do balcão. Eu me perguntava até onde iriam para proteger seus hóspedes. Será que eles realmente atirariam em outros humanos, invasores? Como a lei lidaria com isso? Um homem usando óculos sentou-se em uma das poltronas estofadas que enfatizava o piso de mármore do saguão. Ele tinha cerca de trinta anos, alto e esguio, com cabelo cor de areia. Ele estava usando terno, um terno de verão de tecido leve na cor cáqui, com uma gravata conservadora e sapatos tipo mocassim. O lavador de pratos, com certeza suficiente.  "Hugo Ayres?" Perguntei.  Ele saltou para apertar a minha mão. "Você deve ser Sookie? Mas o seu cabelo... na noite passada, vocêera loira?"  "Eu sou. Estou usando uma peruca."  "Parece muito natural."  "Bom. Você está pronto?" "Meu carro está lá fora." Ele tocou a minha costa brevemente me indicando a direção certa, como se eu não fosse ver as portas caso contrário. Apreciei a gentileza, ainda que não o que implicava. Eu estava tentando conseguir uma impressão de Hugo Ayres. Ele não era um apresentador de TV.  "Há quanto tempo está namorando Isabel?" Perguntei enquanto colocávamos o cinto de segurança em seu Caprice.  "Ah, hum, acho que há cerca de onze meses," disse Hugo Ayres. Ele tinha mãos grandes, com sardas nas costas. Eu estava surpresa por ele não estar morando no subúrbio com uma esposa com luzes no cabelo e duas crianças com cabelos cor de areia.  "Você é divorciado?" Perguntei impulsivamente. Fiquei arrependida quando vi o luto cruzar seu rosto.  "Sim," disse ele. "Muito recentemente."  "É uma pena." Eu comecei a perguntar sobre os filhos, decidi que isso não era da minha conta. Podia lê-lo bem o suficiente para saber que ele tinha uma filhinha, mas não pude descobrir o seu nome e idade.  "É verdade que você pode ler pensamentos?" ele perguntou.  "Sim, é verdade."  "Não admira que você seja tão atraente para eles."  Bem, ai, Hugo. "Essa é provavelmente uma boa parte do motivo," disse, mantendo a minha voz monótona e imparcial. "Qual é o seu trabalho durante o dia?" "Sou um advogado," disse Hugo.  "Não admira que você seja tão atraente para eles," disse, na voz mais neutra que eu poderia conduzir.  Após um longo silêncio, Hugo disse: "Acho que eu mereci essa."  "Vamos deixar isso para trás. Vamos criar uma história como pretexto."  "Podemos ser irmão e irmã?"  "Isto não está fora de questão. Tenho visto grupos de irmãos e irmãs que se parecem menos entre si do que nós dois. Mas acho que namorado-namorada poderia explicar mais as lacunas no nosso próprio conhecimento, se nós formos separados e interrogados. Eu não estou prevendo que isso vá acontecer, e eu ficaria espantada se o fizessem, mas como irmão e irmã nós teríamos de saber tudo sobre o outro."  "Você está certa. Porque não dizer que nos conhecemos na igreja? Você acabou de se mudar para Dallas, e eu a conheci na escola dominical na igreja metodista Glen Craigie. Essa é realmente minha Igreja." "Bem. Que tal se eu fosse a gerente de um... restaurante?" Por trabalhar no Merlotte's, pensei que poderia ser convincente no papel se não fosse interrogada intensamente.  Ele parecia um pouco surpreso. "Isso é diferente o bastante para soar bem. Eu não sou muito de atuar, por isso se eu apenas for eu mesmo, eu vou ficar bem."  "Como você conheceu Isabel?" Claro que eu estava curiosa.  "Eu representei Stan no tribunal. Os vizinhos dele entraram com uma ação para que vampiros fossem barrados do bairro. Eles perderam." Hugo tinha sentimentos mistos sobre seu envolvimento com uma mulher vampira, e não estava totalmente certo que ele deveria ter vencido o processo judicial, inclusive. De fato, Hugo estava profundamente ambivalente sobre Isabel.  Ah, bom, isso fez esta incubência ser muito mais assustadora. "Isso saiu nos jornais? O fato de você ter representado Stan Davis?" Ele pareceu desgostoso. "Sim, saiu. Merda, alguém no Centro poderia reconhecer o meu nome. Ou a mim, a partir de uma foto minha no jornal."  "Mas isso poderia ser ainda melhor. Você pode dizer a eles que viu o erro que cometeu, depois de conhecer os vampiros."  Hugo pensou sobre isso, suas grandes e sardentas mãos se movendo agitadamente ao volante. "Ok," disse ele finalmente. "Como eu disse, eu não sou muito bom ator, mas eu acho que isso dá pra fazer."  Eu atuava o tempo todo, então eu não estava muito preocupada comigo mesma. Tomar nota do pedido de um drink para um cara enquanto finge que você não sabe que ele está especulando sobre se você é loira em todas as partes do corpo pode ser um excelente treinamento de atuação. Você não pode culpar as pessoas – na maior parte das vezes - pelo que estão pensando em seu íntimo. Você tem que aprender a colocar-se acima disso.  Eu comecei a sugerir ao advogado que ele segurasse a minha mão se as coisas ficassem tensas hoje, para enviar-me pensamentos que sobre os quais eu poderia agir. Mas sua ambivalência, a ambivalência que soprava dele como uma colônia barata, me deteve. Ele podia ser escravo sexual de Isabel, ele podia até mesmo amá-la e o perigo que ela representava, mas eu não achava que o seu coração e mente estavam totalmente comprometidos com ela. Em um momento desagradável do auto-avaliação, eu me perguntava se o mesmo poderia ser dito sobre Bill e eu. Mas agora não era a hora nem o local para refletir sobre isso. Eu estava tendo o bastante da mente de Hugo para imaginar se ele era completamente confiável em termos da nossa pequena missão. Era só um pequeno passo dali para me perguntar o quanto eu estava segura em sua companhia. Eu também me perguntava o quanto Hugo Ayres realmente sabia sobre mim. Ele não tinha estado na sala, quando eu estava trabalhando na noite anterior. Isabel não tinha me passado a impressão de ser uma tagarela. Era possível que ele não soubesse muito a meu respeito.  A estrada de quatro faixas, passando através de um enorme subúrbio, era cercada por todos os habituais locais de fast-food e cadeias de lojas de todos os tipos. Mas gradativamente, os estabelecimentos comerciais davam lugar às residências, e o concreto às áreas verdes. O tráfico parecia implacável. Eu jamais poderia viver em um lugar deste tamanho, deparar-me com isso diariamente.  Hugo diminuiu e ligou o sinal quando nós chegamos a um grande cruzamento. Nós estávamos prestes a virar para a área de estacionamento de uma grande igreja; pelo menos, tinha sido anteriormente uma igreja. O santuário era enorme, pelos padrões de Bon Temps. Somente a igreja Batista poderia contar com esse tanto de demanda, na parte da cidade onde moro, e isso se todas as suas congregações se reunissem. Os dois andares do santuário eram ladeados por duas longas alas de um andar. O edifício inteiro era de tijolo pintado de branco, e todas as janelas estavam coloridas. Lá tinha um gramado quimicamente verde em toda a área, e um enorme estacionamento. A placa sobre o bem tratado gramado dizia CENTRO DA SOCIEDADE DO SOL - Só Jesus Levantou-se dos Mortos.  Eu bufei enquanto abria a minha porta e saía do carro de Hugo. "Aquilo ali é falso," apontei para meu companheiro. "Lázaro levantou-se dos mortos, também. Os idiotas não conseguem sequer passar as escrituras sagradas corretamente." 
"É melhor banir essa atitude da sua cabeça," advertiu-me Hugo, enquanto ele saía e travava as portas. "Isso vai fazer você ser descuidada. Estas pessoas são perigosas. Eles assumiram responsabilidade, publicamente, pela entrega de dois vampiros aos Drenadores, dizendo que pelo menos a humanidade poderia se beneficiar com a morte de um vampiro, de alguma forma."  "Eles lidam com Drenadores?" me senti enojada. Drenadores seguiam uma profissão extremamente arriscada. Eles encurralavam vampiros, aprisionando-os em correntes de prata, e drenavam o sangue direto deles para vender no mercado negro. "Essas pessoas aqui têm entregue vampiros aos Drenadores?" "Isso foi o que um dos seus membros disse em uma entrevista publicada na imprensa. Naturalmente, o morto estava nas notícias do dia seguinte, negando veementemente o relato, mas eu achava que isso era só um despiste. A Sociedade assassina vampiros de qualquer forma que eles consigam, acham que eles são pecaminosos e uma abominação, e eles são capazes de qualquer coisa. Se você é a melhor amiga de um vampiro, eles podem produzir uma pressão enorme para suportar. Basta lembrar disso, toda vez que você abrir a boca aqui."  "Você, também, o Sr. Aviso Agourento."  Nós caminhamos lentamente para o prédio, observando-o enquanto entrávamos. Havia cerca de dez outros carros no estacionamento, indo do envelhecido e amassado ao novíssimo e luxuoso. O meu favorito era um Lexus branco perolado, tão bom que poderia até ter pertencido a um vampiro.  "Alguém está se dando bem por fora do negócio do ódio," observou Hugo.  "Quem é o líder deste lugar?"  "Um cara chamado Steve Newlin."  "Aposto que este é o carro dele."  "Essa seria a razão para o adesivo no pára-choque." Eu assenti. Ele dizia FAÇA UM MORTO-VIVO COMETER EUTANÁSIA*. Balançando no espelho de dentro estava a réplica - bem, talvez uma réplica - de uma estaca.  (*no original a frase é TAKE THE UN OUT OF UNDEAD, que é um trocadilho que fica ridículo traduzido, mais ou menos como ―tire o vivo fora da palavra morto-vivo‖) Este era um lugar movimentado, para um sábado à tarde. Havia crianças usando os balanços montados e pendurando-se nas barras de ferro de brinquedo em um jardim cercado ao lado do prédio. As crianças estavam sendo vigiadas por um adolescente entediado, que olhava para cima de vez em quando após futucar suas unhas. Hoje não estava tão quente como o dia anterior – o verão estava condenado a perder o seu posto, e graças a Deus por isso - e a porta do prédio estava escorada aberta para tirar vantagem do dia bonito e de temperatura moderada.  Hugo pegou a minha mão, o que me fez pular até que eu percebi que ele estava tentando nos fazer parecer apaixonados. Ele tinha zero de interesse em mim pessoalmente, o que era bom para mim. Após alguns ajustes conseguimos parecer bem naturais. O contato fez com que a mente de Hugo ficasse mais aberta para mim, e eu pude dizer que ele estava ansioso porém decidido. Ele achou que me tocar era desagradável, o que era um sentimento um pouco forte demais para que eu me sentisse confortável com isso; falta de atração era insignificante, mas esta aversão efetiva me deixou apreensiva. Tinha algo por trás desse sentimento, alguma atitude básica... mas havia gente à nossa frente, e eu puxei minha mente de volta ao meu trabalho. Eu podia sentir meus lábios movendo-se para o sorriso deles. Bill teve o cuidado de deixar o meu pescoço em paz ontem à noite, para que eu não tivesse que me preocupar em disfarçar qualquer marca de mordida, e em minha roupa nova e neste lindo dia era mais fácil para nós parecermos despreocupados enquanto acenávamos com a cabeça para um casal de meia-idade que estava de saída.  Passamos para a obscuridade do edifício, no que deve ter sido a ala da escola dominical da Igreja. Havia novas placas fora das salas subindo e descendo o corredor, placas em que se lia ORÇAMENTO E FINANÇAS, PUBLICIDADE, e mais sinistramente, RELAÇÕES COM A MÍDIA.  Uma mulher em seus quarenta anos saiu de uma porta distante ao fundo do corredor, e virou-se para nós. Ela parecia agradável, até mesmo doce, com uma pele adorável e cabelos curtos castanhos. Seu batom definitivamente rosa combinava com suas unhas definitivamente rosa, e seu lábio inferior ligeiramente fazia beicinho, o que lhe dava um ar inesperadamente sensual; isso reunia uma provocação peculiar ao seu corpo agradavelmente arredondado. Uma saia de brim e uma blusa de tricô, caprichadamente enfiada por dentro, eram o eco da minha própria roupa, e eu me dei batidinhas nas costas mentalmente. "Posso ajudá-los?" ela perguntou, parecendo esperançosa.  "Queremos saber mais sobre a Sociedade," disse Hugo, e ele parecia tão amável e sincero quanto a nossa nova amiga. Ela tinha um crachá, eu notei, que dizia S. Newlin.  "Estamos contentes que vocês estão aqui," disse ela. "Eu sou a esposa do diretor, Steve Newlin? Sou Sarah?" Ela apertou a mão de Hugo, mas não a minha. Algumas mulheres não acreditam em apertos de mãos com outras mulheres, então não fiquei preocupada com isso.  Nós trocamos ‗prazer em conhecer você‘, e ela acenou uma mão feita por manicure em direção às portas duplas no fim do corredor. "Se vocês puderem me acompanhar, eu vou mostrar-lhes onde as coisas acontecem." Ela riu um pouco, como se a idéia de reunião de metas fosse um toque sarcástico.  Todas as portas do corredor estavam abertas, e o interior das salas evidenciava atividades perfeitamente expostas. Se a organização do Newlins estava mantendo prisioneiros ou realizando operações secretas, estava completando seus objetivos em alguma outra parte do edifício. Eu olhei para tudo tão atentamente quanto pude, determinada a encher-me de informação. Mas até agora o interior da Sociedade do Sol era tão enganosamente limpo quanto o exterior, e as pessoas dificilmente pareciam sinistras ou desonestas. Sarah avançou a nossa frente com uma fácil caminhada. Ela agarrou com força um monte de pastas de arquivo contra seu peito e conversou por cima do ombro enquanto ela se movia num ritmo que parecia relaxado, mas na verdade era um pouco desafiador. Hugo e eu, abandonando as mãos dadas, tivemos que sair andando para acompanhar o ritmo. 
Este edifício estava se revelando muito maior do que eu tinha estimado. Nós entramos na extremidade final de uma das alas. Agora nós atravessávamos o grande santuário da antiga Igreja, criada para encontros como em qualquer grande salão, e então passamos para a outra ala. Esta ala foi dividida em salas menores e maiores; a mais próxima do santuário era claramente o escritório do antigo pastor. Agora tinha uma placa na porta que dizia G. STEVEN NEWLIN, DIRETOR.  Esta foi a única porta fechada que eu tinha visto no prédio. Sarah bateu e, depois de esperar um instante, entrou. Um homem alto e magro atrás da mesa ficou olhando atentamente para nós com um ar de prazeirosa expectativa. Sua cabeça não parecia grande o suficiente para o seu corpo. Seus olhos eram de azul vago, seu nariz era bicudo de perfil, e seu cabelo era castanho escuro quase do mesmo tom do de sua mulher, com uns fios cinza. Eu não sei qual a imagem que eu esperava de um fanático, mas esse homem não era ela. Ele parecia um pouco animado com seu estilo de vida.  Ele estava falando com uma mulher alta com cabelo acinzentado. Ela estava vestindo calça e uma blusa, mas parecia que ela se sentia mais confortável em um terno de executiva. Ela era formidavelmente artificial, e estava descontente com alguma coisa – talvez com nossa interrupção. "O que posso fazer por vocês hoje?" Steve Newlin perguntou, indicando que Hugo e eu deveríamos nos sentar. Nós puxamos as poltronas de couro verde do lado oposto à sua mesa, e Sarah, sem ser convidada, caiu subitamente em uma cadeira menor que estava encostada na parede de um lado. "Com licença, Steve," ela disse para o marido. "Escuta, posso trazer para vocês dois um café? Ou Soda?"  Hugo e eu olhamos um pro outro e balançamos nossas cabeças.  "Querido, estes são – oh, eu nem sequer perguntei seus nomes?" Ela olhou para nós com uma aflição encantadora.  "Eu sou Hugo Ayres, e esta é a minha namorada, Marigold*." (*marigold é um tipo de flor que aqui nós chamamos de cravo, ou mais conhecido como cravo-dedefunto, não traduzi por que ia ficar ridículo como nome próprio)  Marigold? Ele ficou louco? Eu mantive o meu sorriso colado no meu rosto com um esforço. Depois eu vi um vaso de cravos-de-defunto na mesa ao lado de Sarah, e pelo menos eu pude entender sua escolha. Nós certamente já teríamos cometido um grande erro; devíamos ter falado sobre isto na vinda para cá. É lógico que se a Sociedade era responsável pela escuta, eles já conheciam o nome Sookie Stackhouse. Graças a Deus Hugo se tocou disso. "Já não conhecemos Hugo Ayres, Sarah?" O rosto de Steve Newlin tinha a perfeita expressão zombeteira - testa ligeiramente enrugada, sobrancelhas levantadas de modo questionador, cabeça inclinada para um lado.  "Ayres?" disse a mulher de cabelo acinzentado. "A propósito, eu sou Polly Blythe, chefe do cerimonial da Sociedade."  ―Oh, Polly, eu sinto muito, eu fiquei distraída." Sarah inclinou sua cabeça dela de volta. Sua testa enrugou-se, também. Então suavizou a expressão e olhou fixamente para seu marido. "Não foi um Ayres o advogado que representou os vampiros em University Park?"  "Então era ele," disse Steve, se inclinando para trás em sua cadeira e cruzando suas pernas longas. Ele acenou para alguém passando pelo corredor e enlaçou seus dedos em torno de seu joelho. "Bem, é muito interessante que você esteja nos fazendo uma visita, Hugo. Nós podemos ter esperanças de que você tenha visto o outro lado da questão dos vampiros?" Steve Newlin emanava satisfação como o aroma que exala do gambá.  "É apropriado que você deva colocar dessa maneira," Hugo iniciou, mas a voz de Steve continou provocando: "O lado dos sugadores de sangue, o lado escuro da existência dos vampiros? Já descobriu que eles querem matar todos nós, nos dominar com as suas maneiras sujas e promessas vazias?"  Eu sabia que os meus olhos estavam tão redondos quanto pratos. Sarah assentia cuidadosamente, ainda parecendo tão doce e meiga quanto um pudim de baunilha. Polly olhava como se ela estivesse tendo algum tipo de orgasmo realmente cruel. Steve disse - e ele ainda estava sorrindo - "Sabe, a vida eterna nesta terra pode parecer boa, mas você perderia sua alma e eventualmente, quando nós alcançarmos você – talvez não eu, naturalmente, talvez meu filho, ou eventualmente a minha neta – nós iríamos cravar-lhe uma estaca e queimá-lo e então você estaria no inferno de verdade. E isso não vai ser nada melhor por ter sido adiado. Deus tem um cantinho especial para os vampiros que vêm usando humanos como o papel higiênico e dando descarga em seguida..."  Bem, eca. Isto estava despencando montanha abaixo. E o que estava captando do Steve era exatamente esta interminável, envaidecida satisfação, juntamente com um forte traço de esperteza. Nada de concreto ou informativo. "Desculpe-me, Steve," disse uma voz profunda. Eu girei na minha cadeira para ver um lindo homem de cabelo preto com um corte bem masculino e uma musculatura bem trabalhada. Ele sorriu para todos nós na sala com a mesma boa vontade que todos estavam mostrando. Isso tinha me impressionado antes. Agora, eu estava achando simplesmente assustador. "O nosso convidado está perguntando por você."  "Verdade? Estarei lá em um minuto".  "Eu queria que você pudesse vir agora. Tenho certeza que seus convidados não se importariam em esperar?" O cara do cabelo preto bem cortado nos lançou um olhar apelativo. Hugo estava com a mente absorta em lugares distantes, um lampejo de pensamento que me pareceu muito peculiar.  "Gabe, eu estarei lá assim que tiver acabado com os nossos visitantes," disse Steve muito firmemente.  "Bem, Steve..." Gabe não estava disposto a desistir dessa facilmente, mas ele percebeu um piscar de olhos de Steve que endireitou-se na cadeira descruzando as pernas, e Gabe captou a mensagem. Ele disparou um olhar para Steve que era tudo menos cheio de devoção, mas ele saiu.  Esse intercâmbio foi promissor. Me pergunto se Farrell estava atrás de alguma porta trancada, e eu poderia me imagnar voltando para o ninho dos vampiros de Dallas, dizendo para Stan exatamente onde seu irmão de ninho estava preso. E então...   
Oh-oh. E então Stan viria e atacaria a Sociedade do Sol e mataria todos os membros e libertaria Farrell, e em seguida...  Ah, meu Deus.
 
"Nós só queríamos saber se você tem alguns eventos futuros aos quais possamos assistir, algo que nos dê uma idéia do alcance dos programas aqui." A voz de Hugo soou levemente curiosa, nada mais."Já que a senhorita Blythe está aqui, talvez ela possa responder a isso."  Eu notei Polly Blythe lançando um olhar para Steve antes de falar, e eu reparei que seu rosto permaneceu impassível. Polly Blythe ficou muito contente por ser convidada a dar informações, e ela estava muito contente pelo fato de Hugo e eu estarmos lá na Sociedade.  "Nós realmente temos alguns eventos por acontecer," a mulher de cabelos acinzentados disse. "Hoje à noite, teremos uma cerimônia fechada especial e após isso, teremos um ritual ao amanhecer do domingo."  "Isso parece interessante," eu disse. "Literalmente, ao amanhecer?" "Oh, sim, exatamente. Chamamos o serviço de meteorolgia e tudo mais," disse Sarah, rindo.  Steve disse, "Você nunca mais esquecerá um dos nossos serviços ao amanhecer. É inspirador além da crença."  "Que tipo de - bem, o que acontece?" Hugo perguntou.  "Você verá a prova do poder de Deus bem na sua frente," disse Steve, sorrindo.  Isso soa muito, muito agourento. "Oh, Hugo," eu disse. "Isso não parece excitante?"  "Claro que sim. A que horas começa a cerimônia fechada?"  "Às seis e trinta. Queremos que os nossos membros cheguem aqui antes que eles acordem." Por um segundo eu visualizei uma bandeja de pãezinhos servidos em algum local quente. Depois percebi que Steve queria dizer que os membros chegassem aqui antes que os vampiros saíssem para a noite.  "Mas o que acontece quando sua congregação for para casa?" Eu não poderia deixar de perguntar.  "Oh, você não deve ter ido para uma cerimônia fechada enquanto era adolescente!" Sarah disse. "É tudo muito divertido. Todo mundo vem e traz os seus sacos de dormir, e nós comemos e fazemos jogos e temos leituras da Bíblia e um sermão, e todos nós realmente passamos a noite na Igreja." Percebi que a Sociedade era uma Igreja, aos olhos de Sarah, e eu estava bem certa de que isso refletia a opinião dos restantes membros da direção. Se lá parecia uma Igreja, e funcionava como uma Igreja, então era uma Igreja, não importa qual fosse o seu estatuto fiscal. Eu tinha ido umas duas vezes para cerimônias fechadas quando era adolescente, e eu praticamente não fui capaz de suportar a experiência. Um bando de garotos trancados em um prédio durante toda a noite, acompanhados minunciosamente, abastecidos com um fluxo infinito de filmes e lanches, atividades e sodas. Eu tinha sofrido através do bombardeamento mental dos hormônios adolescentes – entupidos de idéias e impulsos, os gritos e os acessos de raiva.  Isto seria diferente, eu disse à mim mesma. Estes são adultos, e adultos com propósitos nisto. Lá não teria um milhão de sacos de batatas fritas espalhados ao redor, e até poderia ter preparativos para uma noite de sono decente. Se Hugo e eu viéssemos, talvez a gente tivesse uma oportunidade de procurar pelo prédio e resgatar Farrell, porque eu tinha certeza de que ele era aquele que ia se reunir ao amanhecer do domingo, pudesse ele escolher ou não.  Polly disse, "Vocês serão muito bem vindos. Teremos cama e comida de sobra."  Hugo e eu nos olhamos indecisos. "Porque nós não vamos apenas dar uma volta pelo prédio agora, e vocês poderão ver tudo o que há para ver? Depois vocês podem se decidir," Sarah sugeriu. Peguei a mão de Hugo, tomei um soco de ambivalência. Eu estava consternada com as emoções divididas de Hugo. Ele pensou, Vamos cair fora daqui.  Eu abandonei meus planos anteriores. Se Hugo estava em tal tumulto, nós não precisaríamos estar aqui. As perguntas poderiam esperar até mais tarde. "Nós devíamos voltar para minha casa e pegar os nossos sacos de dormir e travesseiros," eu disse brilhantemente. "Certo, amor?"  "E eu tenho que alimentar o gato," disse Hugo. "Mas estaremos de volta aqui às... seis a trinta, você disse?"  "Meu Deus, Steve, não temos alguns colchonetes deixados no depósito? Desde quando aquele outro casal veio para ficar aqui por um tempo?" "Adoraríamos tê-los aqui conosco até que todos chegassem," Steve nos encorajou, seu sorriso radiante como nunca. Eu sabia que estávamos sendo ameaçados, e eu sabia que precisávamos sair dali, mas tudo que eu estava recebendo mentalmente do Newlins era um muro de determinação. Polly Blythe parecia estar na realidade quase – nos devorando com os olhos. Eu odiei ser forçada e sondada, agora que eu estava consciente de que eles tinham alguma suspeita de nós. Se pudéssemos simplesmente sair dali naquele momento, eu prometeria a mim mesma que nunca mais voltaria. Eu iria desistir desta investigação para os vampiros, eu só cuidaria do bar e dormiria com Bill.  "Nós realmente precisamos ir," eu disse com firme cortesia. "Nós estamos tão impressionados com vocês todos aqui, e nós queremos vir para a cerimônia fechada hoje à noite, mas ainda há tempo suficiente para nós fazermos algumas das nossas incubências antes. Sabe como é quando você trabalha a semana toda. Todas essas pequenas coisas se acumulam."  "Ei, elas ainda estarão lá quando a cerimônia fechada terminar amanhã!" Steve disse. "Vocês precisam ficar, ambos." Não havia nenhuma maneira de sair daqui sem sair arrastando tudo pela frente até a saída. E eu não seria a primeira a fazê-lo, não enquanto houvesse qualquer esperança de que pudéssemos ir embora. Havia muitas pessoas em volta. Nós viramos à esquerda quando saímos do escritório de Steve Newlin, e com Steve andando a passo lento atrás de nós, e Polly à nossa direita, e Sarah à nossa frente, fomos descendo o corredor. Cada vez que passávamos por uma porta aberta, de dentro alguém chamava, "Steve, eu posso vê-lo por um minuto?" ou "Steve, Ed diz que temos de alterar o texto sobre isso!" Mas além de uma piscadela ou um pequeno tremor em seu sorriso, eu não podia ver muita reação de Steve Newlin a essas demandas constantes.  Eu me perguntava quanto tempo esse movimento duraria se Steve fosse removido. Então eu tive vergonha de mim mesma por pensar assim, porque o que eu quis dizer foi, se Steve fosse morto. Eu estava começando a achar que Sarah ou Polly seriam capazes de dar conta do serviço, se tivessem permissão, porque ambas pareciam feitas de aço. Todos os escritórios estavam perfeitamente abertos e inocentes, se você considerar inocente a premissa sob a qual a organização foi fundada. Estes todos pareciam americanos habituais, particularmente mais-bem-apessoados-que-o-normal, e havia até algumas pessoas que eram nãocaucasianos.  E um não humano.  Passamos por uma pequena e magra mulher hispânica no saguão de entrada, e enquanto os olhos dela agitaram-se sobre nós, eu peguei uma assinatura mental que eu senti apenas uma vez antes. Então, ela vinha de Sam Merlotte. Esta mulher, como Sam, era uma Metamorfa, e ampliou seus grandes olhos assim que sentiu o sopro de "diferente" em mim. Eu tentei capturar seu olhar, e por um minuto nós nos encaramos, eu tentando enviar uma mensagem à ela, e ela tentando não recebê-la.  "Eu contei-lhe que a primeira Igreja a ocupar este local foi construída no início dos anos sessenta?" Sarah estava dizendo, enquanto a minúscula mulher foi para o fundo do corredor num piscar de olhos. Ela lançou um olhar sobre seu ombro para trás, e eu encontrei os olhos dela novamente. Os dela estavam assustados. Os meus diziam, "Socorro." "Não," eu disse, assustada com a súbita mudança na conversa.  "Só um pouquinho mais," Sarah persuadia. "E vamos ter visto toda a Igreja." Tínhamos chegado à última porta do fim do corredor. A porta correspondente na outra ala levava para o exterior. As alas pareciam ser exatamente equilibradas pelo lado de fora da Igreja. Minhas observações tinham sido obviamente falhas, mas ainda...  "É certamente um lugar imenso," disse Hugo de maneira agradável. Qualquer que fossem as emoções ambivalentes que o atormentavam ele parecia ter abrandado. Na verdade, ele já não parecia tão preocupado. Só alguém com nenhuma sensibilidade psíquica poderia deixar de se preocupar com esta situação.  Esse seria Hugo. Nenhuma sensibilidade psíquica. Ele só pareceu interessado quando Polly abriu a última porta, a porta plana, no final do corredor. Devia levar para fora.  Em vez disso, ela levava para baixo.
 
"Você sabe, eu tenho um pouco de claustrofobia," eu disse instantaneamente. "Não sabia que havia muitos edifícios em Dallas com porão, mas tenho que dizer, eu só não acredito que eu queira vê-lo." Me agarrei ao braço de Hugo e tentei sorrir de um jeito encantador mas auto-depreciativo.  O coração de Hugo estava batendo como um tambor porque ele estava apavorado – eu juraria que ele estava. Confrontado com aquelas escadas, de algum modo sua calma foi corroendo novamente. Qual era a do Hugo? Apesar do medo, ele resolutamente deu um tapinha no meu ombro e sorriu se desculpando com nossos companheiros. "Talvez devessemos ir," ele murmurou.  "Mas eu realmente acho que vocês deveriam ver o que temos no subsolo.Realmente temos um abrigo anti-bombas," Sarah disse, quase rindo em seu entretenimento. "E é totalmente equipado, não é, Steve?" "Temos todo o tipo de coisas lá em baixo," Steve concordou. Ele ainda parecia relaxado, bemhumorado, e no comando, mas eu já não via essas características como benignas. Ele de um passo à frente, e já que ele estava atrás de nós, eu tinha que ir em frente ou correr o risco de ele tocar em mim, o que eu achava que não estava muito afim.  "Vamos lá," disse Sarah com entusiasmo. "Eu aposto que Gabe está aqui em baixo, e Steve pode ir ver o que Gabe queria enquanto nós olhamos o resto da instalação." Ela seguiu trotando pelas escadas tão rapidamente quanto ela tinha percorrido o corredor, seu traseiro redondo remexendo de um jeito que eu provavelmente teria considerado bonito se eu não tivesse simplesmente beirando um ataque de pânico.  Polly acenou para que fôssemos à sua frente, e nós descemos. Eu estava indo em frente com isso porque Hugo parecia absolutamente confiante de que nenhum dano seria causado a ele. Eu estava pegando isso muito claramente. Seu medo anterior tinha completamente apaziguado. Era como se ele tivesse resignado a algum planejamneto, e sua ambivalência tivesse desaparecido. Em vão, desejei que ele fosse mais fácil de ler. Virei o meu foco sobre Steve Newlin, mas o que eu recebia dele era um espesso muro de auto-satisfação. Avançamos bastante escada abaixo, apesar do fato dos meus passos terem sido lentos e em seguida tornarem-se mais lentos ainda. Eu tive a certeza de que Hugo estava convencido de que ele iria voltar a subir estas escadas: afinal, ele era uma pessoa civilizada. Estas todas eram pessoas civilizadas.  Hugo realmente não poderia imaginar que algo irreparável poderia acontecer com ele, porque ele era um americano branco de classe média com uma educação universitária, como todas as pessoas que estavam na escada com a gente.  Eu não tinha tanta convicção. Eu não era totalmente uma pessoa civilizada.  Esse era um pensamento novo e interessante, mas como muitas das minhas idéias nesta tarde, ela teve que ser armazenada, para ser explorada no meu tempo livre. Se eu fosse ter tempo livre novamente.  Na base da escada havia uma outra porta, e Sarah bateu nela em um padrão. Três batidas rápidas, suspendia, duas rápidas, o meu cérebro registrou. Escutei fechaduras se abrindo. O cara de cabelo preto curtíssimo – Gabe - abriu a porta. "Ei, você me trouxe alguns visitantes," disse ele entusiasticamente. "Boa demonstração!" Sua camisa de golfe foi enfiada ordenadamente em suas calças de pregas, seu tênis Nike era novo e imaculado, e ele estava tão bem barbeado quanto uma navalha poderia raspar. Eu estava disposta a apostar que ele fazia cinqüenta flexões, todas as manhãs. Havia uma corrente interior de excitação em cada gesto e movimento dele; Gabe estava realmente adrenalizado com alguma coisa.  Eu tentei "ler" a superfície do ambiente, mas eu estava muito agitada para me concentrar. "Estou feliz que você esteja aqui, Steve," disse Gabe. "Enquanto Sarah vai mostrando o abrigo aos nossos visitantes, talvez você possa dar uma inspecionada no nosso quarto de hóspedes." Ele balançou sua cabeça para a porta do lado direito do estreito corredor de concreto. Havia uma outra porta no final do corredor, e uma porta do lado esquerdo.  Eu odiei aqui em baixo. Eu tinha alegado claustrofobia para sair desta. Agora que eu já tinha sido coagida a descer as escadas, eu estava achando que essa era uma falha minha verdadeira. O cheiro azedo, o brilho da luz artificial, e a sensação de clausura. . . Eu odiei tudo isso. Eu não queria ficar aqui. As palmas das minhas mãos transbordaram em suor. Meus pés pareciam ancorados ao chão. "Hugo," eu sussurrei. "Eu não quero fazer isto." Tinha muito pouco fingimento no desespero da minha voz. Eu não gostei de ouvir isso, mas estava lá.  "Ela realmente precisa voltar para cima," disse Hugo se desculpando. "Se vocês não se importam, vamos apenas voltar a subir e esperamos por vocês lá." Eu virei, esperando que isto fosse funcionar, mas me encontrei olhando para a cara do Steve. Ele não estava mais sorrindo. "Acho que vocês dois têm de esperar naquela outra sala, até que eu resolva este outro assunto. Então, vamos conversar." Sua voz não permitia nenhuma discussão, e Sarah abriu a porta para expôr um pequeno quarto com duas cadeiras e duas camas estreitas.  "Não," eu disse: "Eu não posso fazer isso," e empurrei Steve o mais forte que eu pude. Eu estou muito forte, muito forte de verdade, já que eu tomei sangue vampiro, e apesar do seu tamanho, ele cambaleou. Eu agarrei as escadas tão rápido quanto pude me mover, mas uma mão se fechou no meu tornozelo, e caí da forma mais dolorosa. As bordas da escada bateram em mim por toda parte, sobre a minha bochecha esquerda, meus seios, meus quadris, o meu joelho esquerdo. Isso me machucou tanto que quase comecei a vomitar.  "Aqui, mocinha," disse Gabe, me puxando pelos pés. "O que você  - como você pôde machucá-la desse jeito?" Hugo estava soltando faíscas, verdadeiramente zangado. "Viemos aqui pensando em aderir ao seu grupo, e essa é a maneira como você nos trata?"   "Pare com a atuação," avisou Gabe, e ele torceu meu braço atrás das minhas costas antes que eu tivesse recuperado o juízo após a queda. Eu arfei com a nova dor, e ele me empurrou para dentro do quarto, no último minuto agarrando a minha peruca e arrancando-a da minha cabeça. Hugo entrou atrás de mim, embora eu arquejasse, "Não!" e em seguida eles fecharam a porta atrás dele.   E nós ouvimos ela ser trancada.   E foi isso. 
 
"Sookie," disse Hugo, "sua maçã do rosto está amassada."  "Não me diga," Eu murmurei fracamente.  "Você está muito ferida?"  "O que você acha?"  Ele me respondeu literalmente. "Acho que você está com contusões e talvez uma concussão. Você não quebrou nenhum osso, quebrou?" "Apenas um ou dois," eu disse.  "E você não está obviamente machucada seriamente o suficiente para cortar o sarcasmo," disse Hugo. Se ele pudesse ficar zangado comigo, isso iria fazer ele se sentir melhor, eu tive a certeza, e eu me perguntava por quê. Mas eu não tive que pensar muito. Eu estava bastante certa de que sabia. Eu estava deitada sobre uma das cama estreitas, um braço atravessando meu rosto, tentando manter a privacidade e fazer algumas reflexões. Nós não conseguíamos ouvir muito do que estava acontecendo no corredor do lado de fora. Uma vez eu pensei ter ouvido uma porta abrir, e tínhamos ouvido vozes sussurando, mas isso foi tudo. Estes muros foram construídos para resistir a uma explosão nuclear, então eu acho que o silêncio era de se esperar.  "Você tem um relógio?" Perguntei ao Hugo.  "Sim. São cinco e meia."  Umas boas duas horas até que os vampiros levantassem. Eu deixei o silêncio continuar. Quando eu percebi que o difícil-de-ler Hugo tinha recaído dentro de seus próprios pensamentos, eu abri minha mente e escutei com toda a concentração.  Não deveria acontecer assim, não gosto disto, certamente tudo irá ficar bem, como será quando precisamos ir ao banheiro, não posso puxar para fora na frente dela, talvez Isabel nunca fique sabendo, eu deveria saber que depois daquela garota ontem à noite, como vou poder sair dessa ainda advogando, se eu começar a me distanciar depois de amanhã talvez eu possa cair fora disso meio que facilmente. . .  Eu pressionei o meu braço contra os meus olhos forte o suficiente para doer, para me impedir de dar um pulo e agarrar uma cadeira e bater em Hugo Ayres insensatamente. Até então, ele não compreendia completamente a minha telepatia, e nem a Sociedade, ou não teriam me deixado aqui com ele. 
Ou talvez Hugo fosse tão dispensável para eles quanto era para mim. E certamente seria para os vampiros; eu mal podia esperar para dizer a Isabel que seu brinquedinho era um traidor. Isso acalmou meu desejo de derramamento de sangue. Quando me dei conta do que Isabel iria fazer com Hugo, me toquei de que não teria nenhuma satisfação real em testemunhar isso. Na verdade, ficaria aterrorizada e enojada.  Mas uma parte de mim pensava que ele suntuosamente merecia isso.  A quem esse advogado em conflito devia fidelidade?  Uma maneira de descobrir.  Eu me sentei dolorosamente, pressionando minhas costas contra a parede. Eu me curaria bem rápido – o sangue de vampiro, novamente - mas eu ainda era uma humana, e eu ainda me sentia péssima. Eu sabia que meu rosto estava terrivelmente machucado, e eu estava disposta a considerar que o osso da minha maçã do rosto estava fraturado. O lado esquerdo da minha face estava com um inchaço um tanto feroz. Mas as minhas pernas não foram quebradas, e eu ainda podia correr, se tivesse chance; esse era o principal.  Uma vez que eu estava preparada e o mais confortável quanto eu iria ficar, eu disse: "Hugo, há quanto tempo você tem sido um traidor?" Ele ficou ruborizado com um vermelho incrível. "Para quem? Para Isabel, ou para a raça humana?"  "Faça a sua escolha."  "Eu traí a raça humana quando assumi o lado dos vampiros no tribunal. Se eu tivesse alguma idéia do que eles eram. . . Eu adotei o ponto de vista do caso despercebido, porque achei que seria um desafio jurídico interessante. Eu sempre fui um advogado dos direitos civis, e eu estava convencido de que os vampiros tinham os mesmos direitos civis que as outras pessoas."  Sr. Comportas. "Claro," eu disse.  "Negar-lhes o direito de viver em qualquer lugar que eles quisessem, isso era anti-americano, eu pensei," Hugo continuava. Ele parecia amargo e cansado da vida. Ele não tinha visto amargo, ainda.  "Mas sabe de uma coisa, Sookie? Vampiros não são americanos. Eles nem sequer são negros ou asiáticos ou índios. Eles não são Rotarianos ou Batistas. Eles são só simples vampiros. Essa é a sua cor e sua religião e sua nacionalidade."  Bem, isso é o que acontece quando uma minoria se oculta durante milhares de anos. Dãh.  "Na época, eu pensei que se Stan Davis quisesse viver na Rua Green Valley, ou na Floresta Hundred-Acre, era um direito seu como um americano. Então eu o defendi contra a Associação dos Moradores do Bairro, e eu ganhei. Fiquei realmente orgulhoso de mim mesmo. Então eu acabei conhecendo Isabel, e eu fui para a cama com ela uma noite, me sentindo ousado de verdade, realmente o grande cara, o intelectual emancipado."  Eu o encarava, sem piscar ou dizer uma palavra.
"Como você sabe, o sexo é ótimo, o melhor. Eu estava em servidão a ela, não conseguia ter o suficiente. A prática do meu trabalho sofreu. Eu comecei a ver os clientes apenas na parte da tarde, porque eu não conseguia me levantar de manhã. Eu não conseguia cumprir audiências no tribunal pela manhã. Eu não podia deixar Isabel depois de escurecer."  Isto soava como um conto de alcoólatra, para mim. Hugo tinha se tornado um viciado em sexo vampírico. Achei a idéia fascinante e repugnante. "Eu comecei a fazer pequenos trabalhos ela encontrava para mim. Este mês passado, eu ficava indo lá e fazendo todas as tarefas domésticas, só para que eu pudesse ficar perto de Isabel. Quando ela me pediu para trazer a tigela de água para a sala de jantar, fiquei animado. Não por fazer essa tarefa tão inferior – Eu sou um advogado, pelo amor de Deus! Mas porque a Sociedade tinha me chamado, me perguntando se eu poderia dar-lhes qualquer perspectiva do que os vampiros de Dallas pretendiam fazer. Na época que chamaram, eu estava bravo com Isabel. Nós tínhamos tido uma briga por causa da maneira como ela me tratava. Então eu estava aberto a ouví-los. Eu tinha escutado o seu nome passando entre Stan e Isabel, então eu o passei para a Sociedade. Eles têm um cara que trabalha para a Anubis Air. Ele descobriu quando o avião do Bill estava chegando, e eles tentaram agarrá-la no aeroporto para que pudessem descobrir o que os vampiros queriam com você. O que eles fariam para ter você de volta. Quando eu entrei com a tigela de água, ouvi Stan ou Bill chamá-la pelo nome, então eu sabia que eles tinham perdido você no aeroporto. Eu senti como se eu tivesse alguma coisa a dizer a eles, para compensar a perda da escuta que eu coloquei na sala de conferências." "Você traiu Isabel," eu disse. "E você me traiu, embora eu seja humana, como você."  "Sim," disse ele. Ele não me olhava nos olhos.  "E quanto a Bethany Rogers?"  "A garçonete?"  Ele estava se esquivando. "A garçonete morta," eu disse.  "Eles a levaram," disse ele, agitando a cabeça de lado a lado, como se ele estivesse na verdade dizendo: Não, eles não poderiam ter feito o que fizeram. "Eles a levaram, e eu não sabia o que eles iam fazer. Eu sabia que ela era a única pessoa que tinha visto Farrell com Godfrey, e eu disse isso a eles. Quando eu acordei hoje e ouvi que ela tinha sido encontrada morta, eu simplesmente não podia acreditar." "Eles a raptaram depois que você disse a eles que ela tinha estado na casa do Stan. Depois de você ter dito a eles que ela era a única verdadeira testemunha."  "Sim, eles devem ter feito assim."  "Você ligou pra eles na noite passada."  "Sim, eu tenho um telefone celular. Eu saí para o quintal e liguei. Eu estava realmente me arriscando, porque você sabe o quão bem os vampiros podem ouvir, mas eu liguei." Ele estava tentando convencer a si mesmo de que tinha sido uma coisa corajosa, ousada de se fazer. Fazer uma ligação do quartel general dos vampiros para por o dedo na ferida da pobre, patética Bethany, que acabou levando um tiro em um beco.  "Ela foi baleada depois que você a traiu."  "Sim, eu... Eu ouvi isso no jornal."  "Adivinha quem fez isso, Hugo."  "Eu... Simplesmente não sei." "Claro que sabe, Hugo. Ela foi uma testemunha ocular. E ela foi uma lição, uma lição para os vampiros: ‗Isto é o que faremos com as pessoas que trabalham para vocês ou ganham a vida a partir de vocês, se eles forem contra a Sociedade.‘ O que você acha que eles vão fazer com você, Hugo?"  "Eu os estava ajudando," disse ele, surpreso.  "Quem mais sabe disso?"  "Ninguém."  "Então, quem iria morrer? O advogado que ajudou Stan Davis a viver onde ele queria."  Hugo ficou sem fala.  "Se você é tão extremamente importante para eles, como é que você está aqui nessa sala comigo?"  "Porque até agora, você não sabia o que eu tinha feito," ele salientou. "Até agora, era possível que você me desse outra informação que pudesse usar contra eles."  "Então, agora, agora que eu sei o que você é, eles deixarão você sair. Certo? Por que você não tenta isso para ver? Eu preferia ficar sozinha." Bem nesse momento uma pequena abertura na porta abriu. Eu não tinha sequer percebido aquilo ali, estando tão preocupada enquanto eu estava fora no corredor. Um rosto apareceu na abertura, que media talvez vinte e cinco por vinte e cinco centímetros.  Era um rosto familiar. Gabe, sorrindo. "Como estão indo aí, vocês dois?"  "Sookie precisa de um médico," disse Hugo. "Ela não está reclamando, mas eu acho que sua maça do rosto está quebrada." Ele soou reprovador. "E ela sabe sobre a minha aliança com a Sociedade, então você poderia muito bem me deixar sair."  Eu não sabia o que Hugo pensava que estava fazendo, mas eu tentei parecer tão espancada quanto possível. Isso foi bastante fácil.  "Tenho uma ideia," disse Gabe. "Eu já fiquei meio que entediado aqui embaixo, e eu não espero que Steve ou Sarah – ou até a velha Polly - voltem para cá em breve. Temos um outro prisioneiro por aqui, Hugo, que poderia ficar feliz em ver você. Farrell? Você o conheceu lá no quartel general dos diabólicos?"  "Sim," disse Hugo. Ele parecia muito descontente com esta reviravolta na conversa. "Você sabe o quanto Farrell vai apreciar você? E ele é gay, também, uma bicha sugadora de sangue. Estamos tão fundo no subterrâneo que ele tem acordado cedo. Então eu pensei que eu poderia simplesmente colocar você lá dentro com ele, enquanto eu me divirto um pouco com a traidora fêmea, aqui." E Gabe sorriu para mim de uma forma que fez o meu estômago embrulhar.  A cara de Hugo estava uma careta. Uma verdadeira careta. Várias coisas passaram pela minha mente, coisas pertinentes para dizer. Eu abri mão do prazer duvidoso. Eu precisava poupar a minha energia.  Um dos ditados preferidos da minha avó estalou em minha mente irresistivelmente enquanto eu olhava para o rosto bonitão de Gabe. "Bonitinho mas ordinário*", eu murmurei, e começei o doloroso processo de ficar de pé para me defender. Minhas pernas podem não estar quebradas, mas o meu joelho esquerdo certamente não estava em boa forma. Já estava muito manchado e inchado.  (*No original é Pretty is as pretty does, que quer dizer que não se deve julgar a pessoa pela aparência e sim pelo comportamento, achei que assim ficou menos formal) Eu imaginava se Hugo e eu poderíamos derrubar o Gabe juntos quando ele abrisse a porta, mas logo que ela balançou para fora, e vi que ele havia se armado com uma pistola e um objeto preto de aspecto ameaçador, que eu decidi que poderia ser uma arma imobilizadora.  "Farrell!" Eu chamei. Se ele estivesse acordado, ele ia me ouvir; ele era um vampiro. Gabe deu um pulo, olhando para mim com suspeita.  "Sim?" uma voz profunda vinda do quarto mais longe descendo o corredor. Ouvi sons de correntes enquanto o vampiro se movia. Claro, eles tinham que acorrentá-lo com prata. Caso contrário ele poderia arrancar a porta das dobradiças.  "Stan nos enviou!" eu gritei e em seguida Gabe me atingiu com as costas da mão que segurava a arma. Já que estava contra a parede, minha cabeça ricocheteou nela. Eu fiz um barulho horrível, não exatamente um grito mas muito alto para um lamento.  "Cala a boca, cadela!" Gabe gritava. Ele estava apontando a arma para Hugo e tinha a arma imobilizadora no ponto a poucos centímetros de mim. "Agora, Advogado, saia para o corredor. Mantenha-se afastado de mim, você ouviu?" Hugo, com suor escorrendo pelo seu rosto, avançou lentamente passando por Gabe em direção ao corredor. Eu estava dando um duro danado para rastrear o que estava acontecendo, mas eu reparei que no espaço estreito que Gabe teve de manobrar, ele chegou muito perto de Hugo a caminho para abrir a cela de Farrell. Exatamente quando eu achei que ele tinha descido o corredor o suficiente para que eu escapasse, ele disse ao Hugo para fechar a porta da minha cela, e embora eu sacudisse freneticamente a minha cabeça para Hugo, ele o fez.  Eu não acho que Hugo sequer me viu. Ele estava completamente voltado para seu íntimo. Tudo dentro dele estava desmoronando, seus pensamentos estavam num caos. Eu tinha feito o meu melhor por ele dizendo a Farrell que fomos enviados por Stan, o que no caso de Hugo foi desenvolvido consideravelmente, mas Hugo estva muito assustado ou desiludido ou envergonhado para mostrar alguma determinação. Considerando a sua profunda traição, fiquei muito surpresa de ter me incomodado. Se eu não tivesse segurado a mão dele e visto as imagens de seus filhos, eu não teria.  "Não tem nada para você, Hugo," eu disse. Seu rosto reapareceu na janela ainda aberta momentaneamente, sua cara branca com aflições de todos os tipos, mas depois ele desapareceu. Ouvi uma porta abrindo, eu ouvi o tinir das correntes, e eu ouvi uma porta fechando.
Gabe tinha forçado Hugo a entrar na cela de Farrell. Eu tomei um profundo fôlego, um após o outro, até eu sentir que podia hiperventilar. Eu peguei uma das cadeiras, uma de plástico com quatro pernas de metal, do tipo que você sentou milhões de vezes nas igrejas e nas reuniões e salas de aula. A segurei no estilo domador-de-leão, com as pernas viradas para fora. Era tudo que eu poderia pensar em fazer. Pensei em Bill, mas era muito doloroso. Pensei em meu irmão, Jason, e desejei que ele estivesse lá comigo. Fazia muito tempo que eu não tinha essa vontade quanto a Jason.  A porta abriu-se. Gabe já estava sorrindo enquanto foi entrando. Era um sorriso sórdido, deixando toda a feiúra escoar de sua alma através de sua boca e olhos. Esta realmente era a idéia dele de diversão.  "Você acha que essa pequena cadeira irá mantê-la segura?" ele perguntou. Eu não estava com disposição para conversar, e eu não quis ouvir as serpentes em sua mente. Eu me mantive fechada, contendo a mim mesma apertadamente, amarrando a mim mesma.  Ele segurou a pistola, mas manteve a arma imobilizadora em sua mão. Agora, tal era a sua confiança, ele a colocou em uma pequena bolsa de couro em seu cinto, do lado esquerdo. Ele apoderou-se das pernas das cadeiras e começou a sacudi-las de lado a lado.  Eu ataquei.  Eu quase o fiz sair pela porta, de tão inesperado que foi o meu forte contra-ataque, mas no último instante ele conseguiu virar as pernas lateralmente, de forma que elas não poderiam passar através da porta estreita. Ele ficou contra a parede do outro lado do corredor, arquejando, seu rosto vermelho.  "Puta," ele sibilou, e veio pra cima de mim novamente, e desta vez ele tentou puxar a cadeira para fora de minhas mãos completamente. Mas como eu disse antes, eu tomei sangue vampiro, e eu não o deixei pegá-la. E eu não deixei ele me pegar. Sem eu ver, ele esticou a arma imobilizadora e, rápido como uma serpente, ele me alcançou sobre a cadeira e tocou a arma em meu ombro.  Eu não sofri um colapso, o que ele esperava, mas caí de joelhos, ainda segurando a cadeira. Enquanto eu ainda estava tentando descobrir o que havia acontecido comigo, ele arrancou a cadeira das minhas mãos, e me deu um golpe por trás.  Eu quase não podia me mover, mas eu poderia gritar e manter minhas pernas fechadas, e eu o fiz.  "Cala a boca!" ele gritou, e já que ele estava me tocando, eu tive a certeza de que ele realmente me queria inconsciente, ele iria gostar de me estuprar enquanto eu estivesse inconsciente; na verdade, isso era ideal para ele.  "Não gosta de mulheres acordadas," eu ofeguei, "não é?" Ele enfiou uma mão entre nós e puxou com força abrindo minha blusa.  Eu ouvi a voz de Hugo, gritando, como se isso fosse fazer algum bem. Mordi o ombro de Gabe. Ele me chamou de puta novamente, o que estava ficando ultrapassado. Ele abriu suas próprias calças, agora ele estava tentando levantar a minha saia. Fiquei feliz instantaneamente por ter comprado uma longa. 
"Você tem medo que elas reclamem, se estiverem acordadas?" Eu gritei. "Deixe-me ir, saia de cima de mim! Sai, sai, sai!" Finalmente, eu afastei meus braços. Em um momento, eles tinham se recuperado o suficiente da descarga elétrica para funcionarem. Eu coloquei minhas mãos em conchas. Enquanto eu gritava com ele, eu batia minhas mãos sobre seus ouvidos.  Ele urrou, e se ergueu para trás, colocando suas próprias mãos na sua cabeça. Ele estava tão cheio de raiva que isso fluía dele e desaguava em mim; era como tomar um banho de fúria. Então eu soube que ele ia me matar se pudesse, não importava quais represálias ele tivesse que enfrentar. Eu tentei rolar para um lado, mas ele tinha me fixado com suas pernas. Vi assim que sua mão direita formou um punho, que parecia tão grande quanto um pedregulho para mim. E com uma sensação de sentença, eu assisti o arco do punho que descia para o meu rosto, sabendo que esse iria me nocautear e estaria tudo acabado... E isso não aconteceu.  O punho de Gabe passou, as calças abertas e com o pênis para fora, o seu soco atingiu o ar, seus sapatos chutando as minhas pernas.  Um homem baixo estava segurando Gabe para cima; não um homem, eu percebi com um segundo olhar, um adolescente. Um adolescente antigo.  Ele era loiro e estava sem camisa, e seus braços e tórax eram cobertos com tatuagens azuis. Gabe estava gritando e batendo, mas o menino continuou com serenidade, seu rosto inexpressivo, até Gabe acabar. No momento em que Gabe calou-se, o menino trocou a suspensão de Gabe por uma espécie de abraço de urso pela cintura, e Gabe ficou pendurado para frente.  O menino baixou os olhos para mim imparcialmente. A minha blusa estava aberta rasgada, e o meu sutiã se rompeu ao meio.  "Você está muito ferida?" o garoto perguntou, quase relutantemente.  Eu tinha um salvador, mas não um muito entusiasmado. Eu me levantei, o que foi uma proeza maior do que parece. Levei um bom tempo nisso. Estava tremendo violentamente por causa do choque emocional. Quando eu fiquei de pé, eu estava no nível do olhar do garoto. Em idade humana, ele teria cerca de dezesseis anos quando ele foi transformado em vampiro. Não tinha como dizer há quantos anos isso tinha acontecido. Ele devia ser mais velho que Stan, mais que Isabel. Seu inglês era distinto, mas com forte sotaque. Não tinha idéia de que tipo de sotaque era. Talvez o seu idioma original nem sequer ainda fosse falado. Que sentimento solitário deveria ser. "Eu vou remendar," eu disse. "Obrigada." Eu tentei reabotoar minha blusa - havia poucos botões sobrando - mas minhas mãos estavam tremendo demais. Ele não estava interessado em ver a minha pele, de qualquer maneira. Ela não fazia diferença para ele. Seus olhos estavam muito frios.  "Godfrey," disse Gabe. Sua voz estava esganiçada. "Godfrey, ela estava tentando fugir."  Godfrey sacudiu ele, e Gabe calou-se.  Então, Godfrey era o vampiro que eu tinha visto através dos olhos Bethany - os únicos olhos que podiam se lembrar de tê-lo visto no Asa de Morcego naquela noite. Os olhos que já não estavam vendo nada.  "O que você pretende fazer?" Perguntei a ele, mantendo a minha voz tranqüila e regular.  Os olhos azuis pálidos de Godfrey pestanejavam. Ele não sabia.  Ele fez as tatuagens enquanto ele estava vivo, e elas eram muito estranhas, símbolos cujo significado foi perdido há séculos, eu estava disposta a apostar. Provavelmente algum estudioso daria o seu canino superior para dar uma olhada nessas tatuagens. Sorte minha, eu as estava vendo de graça.  "Por favor, me deixe sair," eu disse com tanta dignidade quanto eu consegui reunir. "Eles vão me matar." "Mas você tem ligações com vampiros," disse ele.  Meus olhos se lançavam de um lado para o outro, enquanto eu tentava entender essa.  "Ah," eu disse hesitante. "Você é um vampiro, não é?"  "Amanhã eu repararei o meu pecado publicamente," disse Godfrey. "Amanhã irei cumprimentar o amanhecer. Pela primeira vez em mil anos, verei o sol. Então eu irei ver o rosto de Deus."  Certo. "Você escolheu," eu disse.  "Sim."  "Mas eu não. Eu não quero morrer." Eu dispensei um olhar para a cara de Gabe, que estava bastante azul. Em sua agitação, Godfrey estava espremendo Gabe muito mais apertado do que deveria. Me perguntei se eu deveria dizer alguma coisa.  "Você está ligada mesmo aos vampiros," Godfrey acusou, e eu voltei a olhar fixamente para seu rosto. Eu sabia que era melhor não deixar minha concentração perambular novamente.  "Estou apaixonada," eu disse.  "Por um vampiro."  "Sim. Bill Compton." "Todos os vampiros são amaldiçoados, e todos deveriam encontrar o sol. Nós somos uma mácula, uma mancha na face da terra."  "E estas pessoas" - apontei para cima para indicar que me referia a Sociedade - "estas pessoas são melhores, Godfrey?"  O vampiro parecia desconfortável e infeliz. Ele estava faminto, eu notei; suas bochechas estavam quase côncavas, e elas estavam tão brancas como papel. Seus cabelos loiros quase flutuavam sobre sua cabeça, estavam tão elétricos, e seus olhos pareciam mármores azuis contra a sua palidez. "Eles, pelo menos, são humanos, parte do plano de Deus," disse ele discretamente. "Os vampiros são uma abominação." "Ainda assim você foi melhor para mim do que este humano." Que estava morto, eu percebi, enquanto lancei um olhar em seu rosto. Tentei não hesitar, e voltei o foco para Godfrey, que era muito mais importante para o meu futuro.  "Mas tiramos o sangue dos inocentes." Os olhos azuis pálidos de Godfrey fixos nos meus.  "Quem é inocente?" Eu perguntei retoricamente, esperando que eu não soasse muito como Pôncio Pilatos perguntando: O que é verdade? quando ele sabia muito bem.  "Bem, as crianças," disse Godfrey.  "Ah, você... se alimentou de crianças?" Eu coloquei minha mão sobre minha boca.  "Eu matei crianças."  Eu não pude pensar em algo para dizer por um bom tempo. Godfrey continuou alí, olhando para mim tristemente, segurando o corpo de Gabe em seus braços, esquecido.  "O que parou você?" Perguntei. "Nada vai me parar. Nada além da minha morte."  "Eu sinto muito mesmo," eu disse inadequadamente. Ele estava sofrendo, e fiquei realmente triste por isso. Mas se ele fosse humano, eu diria que ele merecia ir para a cadeira elétrica sem pensar duas vezes.  "Quanto falta para anoitecer?" Eu perguntei, não sabendo o que dizer.  Godfrey não tinha relógio, claro. Presumi que ele estava de pé apenas porque estava no subsolo e porque ele era muito velho. Godfrey disse: "Uma hora."  "Por favor, deixe-me ir. Se você me ajudar, eu posso sair daqui."  "Mas você vai dizer aos vampiros. Eles vão atacar. Vou ser impedido de encontrar o amanhecer."  "Por que esperar até de manhã?" Eu perguntei, subitamente irritada. "Caminhe lá para fora. Faça isso agora."  Ele ficou estupefato. Ele deixou Gabe cair, que aterrisou com um baque. Godfrey nem sequer lhe dispensou um olhar. "A cerimônia está prevista para a madrugada, com muitos crentes ali para testemunhar isso," explicou. "Farrell também será trazido para enfrentar o sol."  "Qual é a minha parte nesse jogo?"  Ele deu de ombros. "Sarah queria ver se os vampiros trocariam um deles por você. Steve tinha outros planos. Sua idéia era flagelar você junto a Farrell, assim quando ele quimasse, você queimaria com ele." Fiquei espantada. Não que Steve Newlin tenha tido essa idéia, mas que ele pensasse que isso seria um atrativo para sua congregação, porque isso é o que eles eram. Newlin estava ultrapassando os limites além do que eu sequer tinha adivinhado. "E você acha que um monte de gente se divertiria vendo isso, uma jovem mulher executada sem qualquer tipo de julgamento? Que eles iriam pensar que era uma cerimônia religiosa válida? Você acha que as pessoas que planejaram esta morte terrível para mim são verdadeiramente religiosas?"  Pela primeira vez, ele parecia ter uma sombra de dúvida. "Mesmo para os humanos, isso parece um pouco extremo," ele concordou. "Mas Steve pensou que isso seria uma poderosa declaração."  "Bem, claro que seria uma poderosa declaração. Ela diria: ‗Eu sou louco.‘ Eu sei que este mundo é cheio de gente ruim e vampiros maus, mas eu não acredito que a maioria das pessoas neste país, ou neste caso simplesmente aqui no Texas, seriam edificadas pela visão de uma mulher gritando queimando até a morte."
Godfrey parecia duvidoso. Eu podia ver que eu estava expressando pensamentos que já tinham ocorrido a ele, pensamentos em que ele negava a si mesmo que estava se divertindo. "Eles chamaram a mídia," afirmou. Isto era como o protesto de uma noiva designada a casar com um noivo que de repente ela duvidava. Mas os convites já tinham sido enviados, Mãe.  "Tenho certeza de que chamaram. Mas isso vai ser o fim da organização deles, posso te dizer francamente. Repito, se você realmente quer fazer uma declaração dessa maneira, um grande 'Sinto Muito,' então saia dessa igreja agora e repouse sobre o gramado. Deus estará assistindo, eu lhe prometo. É com isso que você deve se importar."  Ele lutou com isso; devo reconhecer.  "Eles têm um manto branco especial para eu vestir," disse ele. (Mas eu já comprei o vestido e reservei a igreja.)  "Grande merda. Se estamos discutindo roupas, você realmente não quer fazer isso. Aposto que você vai amarelar na hora."  Eu tinha definitivamente perdido de vista o meu objetivo. Quando as palavras saíram da minha boca, eu me arrependi delas.  "Você vai ver," eledisse firmemente.  "Eu não quero ver, se eu vou estar amarrada a Farrell no momento. Eu não sou malvada, e eu não quero morrer." "Quando foi a última vez que esteve na igreja?" Ele estava me lançando um desafio.  "Há uma semana. E eu fiz a Comunhão, também." Eu nunca fui tão feliz de ser uma freqüentadora da igreja, porque eu não poderia ter mentido sobre isso.  "Ah." Godfrey parecia peplexo.  "Tá vendo?" Senti que estava roubando dele toda sua majestade ofendida com este argumento, mas droga, eu não queria morrer queimada. Eu queria Bill, queria ele com uma saudade tão intensa que eu esperava que ele pulasse do seu caixão. Se eu pudesse ao menos dizer a ele o que estava acontecendo... "Vamos lá," disse Godfrey, estendendo a sua mão.  Eu não quis dar a ele uma chance de repensar a sua posição, não depois de todo esse balé, por isso peguei a mão dele passando por cima de Gabe que estava de bruços, indo para o corredor. Havia uma abominável falta de conversa entre Farrell e Hugo, e para dizer a verdade, eu estava muito assustada para gritar algo para descobrir o que estava acontecendo com eles. Eu pensei que se eu pudesse sair daqui, eu poderia salvá-los simultaneamente, de qualquer maneira. Godfrey inalou o sangue sobre mim, e seu rosto foi varrido pelo desejo. Eu conhecia esse olhar. Mas era desprovido de luxúria. Ele não se importava nem pouco com meu corpo. A ligação entre sangue e sexo é muito forte para todos os vampiros, assim eu me considerei com sorte que eu era definitivamente madura e em forma. Eu inclinei o meu rosto para ele por gentileza. Depois de uma longa hesitação, ele lambeu o pingo de sangue que saía do corte na minha maça do rosto. Ele fechou seus olhos por um segundo, saboreando o gosto, e então nós começamos a subir as escadas. 
Com uma grande dose de ajuda de Godfrey, eu voei pelos degraus. Ele usou seu braço livre, para socar a combinação de batidas na porta, e abriu-a. "Eu estava aqui embaixo, na sala no final do corredor," ele explicou, numa voz que parecia um pouco mais que uma perturbação do ar. O corredor estava limpo, mas a qualquer segundo alguém poderia sair de um dos escritórios. Godfrey não parecia ter medo disso de jeito nenhum, mas eu tinha, e eu era aquela cuja liberdade estava em jogo. Não ouvi nenhuma voz; aparentemente o pessoal tinha ido para casa para se preparar para a cerimônia fechada, e os convidados ainda não tinham começado a chegar. As portas de alguns dos escritórios estavam fechadas, e as janelas dos escritórios eram a única forma da luz do sol chegar ao corredor. Estava escuro o suficiente para Godfrey estar confortável, eu presumi, já que ele não tinha sequer estremecido. Havia muita luz artificial vindo por baixo da porta do escritório principal. Estávamos apressados, ou pelo menos tentando ser, mas a minha perna esquerda não estava cooperando muito. Eu não sabia ao certo qual era a porta para onde Godfrey se dirigia, talvez para as portas duplas que eu tinha visto antes na parte de trás do santuário. Se eu pudesse chegar com segurança até elas, eu não teria de atravessar a outra ala. Eu não sabia o que ia fazer quando chegasse lá fora. Mas estar fora definitivamente seria bem melhor do que estar lá dentro. Justamente quando alcançamos a porta de entrada próxima ao último escritório à esquerda, aquele onde a pequena mulher hispânica tinha vindo, a porta do escritório de Steve abriu. Nós congelamos. O braço de Godfrey em volta de mim parecia uma faixa de ferro. Polly saiu de lá, ainda virada para a sala. Estávamos há apenas uns dois metros de distância.  "... fogueira," ela estava dizendo. "Ah, eu acho que nós temos o suficiente," disse a voz doce de Sarah. "Se todos respondessem seus cartões de presença, saberíamos ao certo. Eu não posso acreditar o quanto as pessoas são ruins em confirmar presença. É tão sem consideração, depois que fizemos tudo para facilitar o máximo possível para eles nos dizerem se estariam ou não aqui!"  Uma discussão sobre etiqueta. Deus, eu queria que a Senhorita Boas Maneiras estivesse aqui para me dar conselhos sobre essa situação. Eu era uma hóspede indesejada de uma pequena igreja, e eu fui embora sem dizer adeus. Eu sou obrigada a escrever um bilhete de agradecimento, ou posso simplesmente enviar flores?  Polly começou a girar a cabeça, e eu sabia que a qualquer momento ela nos veria. Mesmo que com a idéia formada, Godfrey empurrou-me para um escritório vazio escuro.  "Godfrey! O que você está fazendo aqui em cima?" Polly não soou assustada, mas ela não soou feliz, também. Era mais como se ela tivesse encontrado o jardineiro na sala de estar, se sentindo em casa.  "Eu vim para ver se há mais alguma coisa que eu precise fazer."  "Não é terrivelmente cedo para você estar acordado?" "Eu sou muito velho," disse ele educadamente. "Os velhos não precisam dormir tanto quanto os jovens." 
Polly riu. "Sarah," disse ela brilhantemente, "Godfrey está acordado!"  A voz de Sarah soou mais próxima, quando ela falou. "Bem, olá, Godfrey!" disse ela, em um tom brilhante idêntico. "Você está animado? Aposto que está!"  Elas estavam conversando com um vampiro de mil anos como se fosse uma criança na véspera de seu aniversário.  "O seu manto está todo pronto," disse Sarah. "Tudo funcionando perfeitamente!"  "E se eu mudasse de idéia?" Godfrey perguntou.  Houve um longo silêncio. Eu tentei respirar muito devagar e silenciosamente. Quanto mais perto ficasse do anoitecer mais eu podia imaginar que tivesse uma chance de sair desta.  Se eu pudesse telefonar... Eu olhei sobre a mesa do escritório. Havia um telefone sobre ela. Mas os botões dos aparelhos nos escritórios não acenderiam, indicando essa linha, se eu utilizasse o telefone? Neste momento, isso faria muito barulho. "Você mudou de idéia? Isso pode ser possível?" Polly perguntou. Ela estava claramente irritada. "Você veio até nós, se lembra? Você nos contou sobre a sua vida de pecado, e da vergonha que você sentiu quando você matou crianças e... fez outras coisas. Alguma destas coisas mudou?"  "Não," disse Godfrey, soando mais pensativo do que qualquer outra coisa. "Nada disto mudou. Mas não vejo qualquer necessidade de incluir algum humano no meu sacrifício. Na verdade, acredito que Farrell deve ser deixado para fazer sua própria paz com Deus. Não deveríamos forçá-lo ao sacrifício."  "Precisamos trazer Steve de volta para cá," disse Polly para Sarah em um tom suave.  Depois disso, só ouvi a Polly, então eu presumi que Sarah voltou para o escritório para ligar para Steve.  Uma das luzes do telefone acendeu. Sim, isso era o que ela estava fazendo. Ela saberia se eu tentasse usar uma das outras linhas. Talvez em um minuto.  Polly estava tentando considerar docemente com Godfrey. Godfrey não estava falando muito, ele mesmo, e eu não fazia ideia do que se passava pela cabeça dele. Eu continuei indefesa, pressionada contra a parede, esperando que ninguém entrasse no escritório, esperando que ninguém fosse lá embaixo e desse o alarme, esperando que Godfrey não tivesse ainda uma outra mudança de sentimento.  Socorro, eu disse na minha mente. Se eu pudesse simplesmente pedir ajuda dessa maneira, através do meu outro sentido! A centelha de uma ideia cruzou a minha mente. Tentei permanecer tranquila, embora as minhas pernas estivessem ainda em choque tremendo, e meu joelho e rosto machucados como as seis sombras do inferno. Talvez eu pudesse chamar alguém: Barry, o mensageiro do hotel. Ele era um telepata, como eu. Ele poderia ser capaz de me ouvir. Não que eu alguma vez tivesse tentado algo assim antes - bem, eu nunca conheci um outro telepata, não é? Eu tentei desesperadamente me localizar em relação ao Barry, supondo que ele estivesse no trabalho. Este era aproximadamente o mesmo horário que nós tínhamos chegado de Shreveport, então ele deveria estar. Eu imaginei a minha localização no mapa, que felizmente eu tinha dado uma olhada com Hugo - embora eu soubesse agora que ele estava apenas fingindo não saber onde era o Centro da Sociedade - e eu percebi que estávamos a sudoeste do Hotel Silent Shore. Eu estava em um novo território mental. Eu reuni o que eu tinha de energia e tentei girá-la em uma bola, na minha mente. Por um segundo, me senti totalmente ridícula, mas quando eu pensava em ficar livre deste lugar e dessas pessoas, tinha muito pouco a ganhar em não ser ridícula. Pensei em Barry. É difícil fixar exatamente como eu fiz, mas eu projetei. Saber o seu nome ajudou, e saber a sua localização também.  Eu decidi começar devagar. Barry, Barry, Barry, Barry...  O que você quer? Ele entrou absolutamente em pânico. Isto nunca tinha acontecido com ele antes.  Nunca tinha feito isto também. Eu esperava estar reassegurando. Eu preciso de ajuda. Estou em apuros.  Quem é você?  Bem, isso iria ajudar. Burra. Eu sou Sookie, a loira que chegou na noite passada com o vampiro de cabelos castanhos. Da suíte do terceiro andar.  Aquela dos peitões? Ah, desculpe.  Pelo menos ele se desculpou. Sim. Aquela dos peitões. E o namorado.  Então, qual é o problema?  Agora, tudo isso soa muito claro e organizado, mas não eram palavras. Era como se estivéssemos enviando telegramas emocionais e fotos um ao outro.  Tentei pensar como explicar a minha situação difícil. Vá até meu vampiro assim que ele acordar.  E então?  Diga-lhe que estou em perigo. Perigoperigoperigo... Ok, peguei a ideia. Onde?  Igreja. Eu imaginei que teria que taquigrafar o Centro da Sociedade. Eu não conseguia pensar em como transmitir isso ao Barry.  Ele sabe onde?  Ele sabe onde. Diga a ele que desça as escadas.  Você é de verdade? Eu não sabia que havia mais ninguém...  Eu sou de verdade. Por favor, me ajude.  Eu podia sentir um complicado conjunto de emoções correndo pela mente de Barry. Ele estava com medo de falar com um vampiro, ele estava assustado que seus patrões descobrissem que ele tinha uma "coisa estranha no cérebro", ele estava simplesmente animado que havia alguém como ele. Mas ele estava com medo principalmente desta parte dele que o intrigou e assustou durante tanto tempo. Eu conhecia todos esses sentimentos. Está tudo bem, eu entendo, eu disse a ele. Eu não pediria isso se não estivesse à beira de ser assassinada.  O medo o surpreendeu novamente, o medo da sua própria responsabilidade nisso. Eu nunca deveria ter acrescentado essa parte.  E então, de alguma maneira, ele ergueu uma barreira superficial entre nós, e eu não tinha certeza do que Barry iria fazer. 
 
Enquanto eu estava me concentrando em Barry, as coisas tinham ficado bem movimentadas lá no corredor. Quando eu comecei a ouvir novamente, Steve tinha retornado. Ele, também, estava tentando ser razoável e positivo com Godfrey.  "Agora, Godfrey," ele dizia, "se você não queria fazer isso, tudo o que tinha que fazer era falar. Você se comprometeu com isso, todos nós o fizemos, e nós levamos adiante confiantes na expectativa de que você iria manter a sua palavra. Muitas pessoas vão ficar muito desapontadas se você deixar o seu compromisso com a cerimônia."  "O que você vai fazer com Farrell? Com o humano Hugo, e a mulher loira?" "Farrell é um vampiro," declarou Steve, ainda com a doce voz da razão. "Hugo e a mulher são criaturas dos vampiros. Eles devem ir para o sol, também, amarrados a um vampiro. Esse foi o grupo que escolheram em suas vidas, e esse deve ser seu grupo na morte."  "Eu sou um pecador, e sei disso, então quando eu morrer minha alma vai para Deus," disse Godfrey. "Mas Farrell não sabe disto. Quando ele morrer, ele não terá uma chance. O homem e a mulher, também, não tiveram uma chance de arrepender-se de seus atos. Será justo matá-los e condená-los ao inferno?"  "Precisamos ir ao meu escritório," disse Steve decisivamente. Então eu percebi, finalmente, que isso era o que Godfrey tinha a intenção de fazer o tempo todo. Tinha uma certa quantidade de pés se arrastando, e eu ouvi Godfrey murmurando, "Depois de você," com grande cortesia.  Ele queria ser o último para que assim pudesse fechar a porta atrás dele.  Meu cabelo finalmente parecia seco, livre da peruca que o tinha encharcado em suor. Ele estava solto caindo pelos meus ombros em cachos separados, porque fiquei enrolando-os silenciosamente durante a conversa. Parecia uma coisa bem casual a fazer, enquanto ouvia o meu destino sendo resolvido, mas eu tinha que me manter ocupado. Agora eu cuidadosamente arrumei as mechas, corri os dedos pelo meio do emaranhado, e me preparei para me esgueirar para fora da igreja. Eu espiei com cautela pelo vão da porta. Sim, a porta de Steve estava fechada. Eu saí na ponta dos pés do escritório escuro, peguei a esquerda, e continuei pela porta que levava até o santuário. Virei a maçaneta bem discretamente e ela abriu fácil. Eu entrei no santuário, que estava muito escuro. Havia luz suficiente vinda dos enormes vitrais nas janelas para me ajudar a descer pela nave da igreja sem cair sobre os bancos.  Então eu ouvi vozes, ficando mais altas, vindo da ala mais distante. As luzes do santuário foram ligadas. Eu me meti em uma fileira e rolei para debaixo do banco da igreja. Uma família entrou em grupo, todos falando alto, a menininha choramingando por ter que perder algum show favorito na televisão porque tinha que vir para a velha e fedida cerimônia fechada. Isso rendeu a ela um tapa no traseiro, ou pareceu isso, e seu pai lhe disse que ela tinha sorte de estar indo ver essa prova tão incrível do poder de Deus. Ela estava indo ver a salvação em ação.  Mesmo sob as circunstâncias, eu discordava disso. Eu me perguntava se esse pai realmente entendeu que seu líder planejou que a congregação assistisse dois vampiros queimarem até a morte, pelo menos um deles com um humano agarrado que também se queimará. Imaginei o que aconteceria com a saúde mental da menina depois da "incrível prova do poder de Deus."  Para meu horror, eles prosseguiram com o posicionamento dos seus sacos de dormir contra uma parede do outro lado do santuário, ainda falando. Pelo menos esta era uma família que se comunicava. Além da menininha reclamona, tinha dois filhos mais velhos, um rapaz e uma garota, e como verdadeiros irmãos brigavam como gatos e cachorros. Um par de pequenas sapatilhas vermelhas percorreu até o final do meu banco de igreja e desapareceu através da porta da ala de Steve. Me perguntava se o grupo em seu gabinete ainda estava discutindo.  Os pés iam passando novamente após alguns segundos, desta vez muito rápido. Me perguntava sobre isso, também.  Esperei cerca de cinco minutos a mais, porém nada mais aconteceu.  De agora em diante, haveria mais gente chegando. Era agora ou nunca. Eu rolei para fora do banco e me levantei. Para minha sorte, eles estavam todos olhando para baixo para sua tarefa quando me levantei, e eu comecei a andar rapidamente em direção às portas duplas no fundo da igreja. Por seu súbito silêncio, eu sabia que eles tinham me localizado. "Oi!" chamou a mãe. Ela se levantou ao lado do seu saco de dormir azul brilhante. Seu rosto claro estava cheio de curiosidade. "Você deve ser nova na Sociedade. Eu sou Francie Polk."  "Sim," eu respondi, tentando soar alegre. "Estou com pressa! Falo com você mais tarde!"  Ela se aproximou. "Você se machucou?" ela perguntou. "Você - me desculpe - você está horrível. Isso é sangue?"  Eu dei uma olhada em minha blusa. Tinha algumas pequenas manchas no meu peito.  "Eu levei uma queda," disse, tentando parecer chateada. "Eu preciso ir para casa e fazer um pouco de primeiros socorros, trocar minhas roupas, coisas assim. Eu volto!"  Eu podia ver a dúvida no rosto de Francie Polk. "Há um estojo de primeiros socorros no escritório, por que não corro até lá e pego ele?" ela perguntou.  Porque eu não quero que você vá. "Você sabe, eu preciso buscar uma blusa limpa, também," eu disse. Eu enruguei meu nariz para mostrar a minha opinião contrária a andar com uma blusa manchada a noite toda. Outra mulher tinha chegado bem na porta pela qual eu tinha esperanças de sair, e ficou ouvindo a conversa, seus olhos escuros se lançando para frente e para trás, de mim para a determinada Francie. 
"Ei, garota!" ela disse com um sotaque levemente acentuado, e a pequena mulher hispânica, a Metamorfa, me deu um abraço. Venho de uma cultura de abraços, e foi automático abraçá-la de volta na mesma hora. Ela me deu um beliscão significativo enquanto nós estávamos abraçadas.  "Como vai você?" Perguntei de modo perspicaz. "Já faz muito tempo."  "Oh, você sabe, a velha história de sempre," disse ela. Ela sorriu alegremente para mim, mas havia cautela em seus olhos. Seu cabelo era castanho bem escuro, ao invés de preto, e era grosso e abundante. Sua pele era da cor de um caramelo leitoso, e ela tinha sardas escuras. Os lábios generosos estavam pintados com um fúcsia extraordinário. Ela tinha grandes dentes brancos, piscando para mim em seu sorriso largo. Eu olhei para baixo em seus pés. Sapatilhas vermelhas.  "Ei, vamos lá fora comigo, enquanto eu fumo um cigarro," disse ela.  Francie Polk estava parecendo mais satisfeita.  "Luna, você não está vendo que sua amiga precisa ir ao médico?" ela disse honestamente.  "Você tem mesmo alguns inchaços e machucados," afirmou Luna, me examinando. "Você já caiu de novo, menina?" "Você sabe que a mamãe sempre me diz, 'Marigold, você é tão desajeitada quanto um elefante.'"  "Essa sua mãe," disse Luna, sacudindo a cabeça em desgosto. "Como se isso fizesse você menos desastrada!"  "O que posso fazer?" Eu disse, dando de ombros. "Se você nos der licença, Francie?"  "Bem, claro," disse ela. "Vou vê-la mais tarde, eu acho."  "Com certeza vai," afirmou Luna. "Eu não perderia isso por nada."  E com a Luna, eu dei um passeio para fora do salão de renião da Sociedade do Sol. Eu estava ferozmente concentrada em manter a minha marcha constante, assim Francie não iria me ver mancar e ficar ainda mais desconfiada.  "Graças a Deus," eu disse, quando nós estávamos fora.  "Você me reconheceu pelo que eu era," disse ela rapidamente. "Como você sabia?"  "Tenho um amigo que é um Metamorfo."  "Quem é ele?"  "Ele não é daqui. E eu não vou te dizer sem o consentimento dele." Ela me encarou, toda simulação de amizade caiu nesse instante.  "Ok, eu respeito isso," disse ela. "Por que você está aqui?"  "O você tem com isso?"  "Eu simplesmente tirei o seu da reta."  Ela tinha um ponto, um bom ponto. "Certo. Sou uma telepata, e fui contratada pelo líder vampiro da sua área para descobrir o que foi feito de um vampiro desaparecido."  "Assim está melhor. Mas ele não é líder da minha área. Eu sou um sobre*, mas não sou nenhum vampiro esquisito. Com qual vampiro você tem acordo?"  "Eu não preciso de lhe dizer isso."  Ela levantou suas sobrancelhas. 
"Não vou."  Ela abriu a boca como se fosse gritar.  "Pode gritar. Há algumas coisas que eu simplesmente não vou dizer. O que é um sobre?"  (*no original supe, abreviatura de supernatural)  "Um ser sobrenatural. Agora, escute aqui," disse Luna. Nós estávamos andando pelo estacionamento agora, e carros começaram a passar regularmente pela estrada. Ela sorriu um monte de vezes e acenou, e eu tentei pelo menos parecer feliz. Mas não dava mais pra esconder que estava mancando, e meu rosto estava inchado como uma puta, como diria Arlene.  Meu Deus, eu estava com saudades de casa de repente. Mas empurrei essa sensação pra longe para prestar atenção em Luna, que claramente tinha coisas a me dizer.  "Você diga aos vampiros que nós mantemos este lugar sob vigilância-"  "Nós quem?"  "Nós os metamorfos da maior parte de Dallas."  "Vocês são organizados? Ei, isso é ótimo! Eu tenho que contar ao... meu amigo." Ela rolou seus olhos, claramente não se impressionando com meu intelecto. "Escuta aqui, menina, você diz aos vampiros que assim que a Sociedade descobrir sobre nós, eles virão atrás de nós, também. E nós não vamos nos integrar. Nos ocultamos para sempre. Estúpidos vampiros esquisitos. Então nós estamos de olho na Sociedade."  "Se vocês estão tão de olho, como é que vocês não chamaram os vampiros e lhes disseram sobre Farrell estar no porão? E sobre Godfrey?"  "Ei, Godfrey quer se matar, não temos nada com isso. Ele procurou a Sociedade; eles não foram atrás dele. Eles quase mijaram nas calças, e ficaram tão felizes por tê-lo, depois que eles superaram o choque de sentar na mesma sala com um do condenados."  "E quanto a Farrell?" "Eu não sabia quem estava lá embaixo," Luna admitiu. "Eu sabia que eles tinham capturado alguém, mas não estou exatamente na panelinha ainda, e não pude descobrir quem era. Eu até tentei bajular o idiota do Gabe, mas isso não ajudou."  "Você ficará contente em saber que Gabe está morto."  "Ei!" Ela sorriu genuinamente pela primeira vez. "Isto é uma boa notícia."  "Aqui está o resto. Assim que eu entrar em contato com os vampiros, eles virão para resgatar Farrell. Então se eu fosse você, eu não voltaria para a sociedade hoje à noite."  Ela mastigou seu lábio inferior por um minuto. Nós estávamos na parte final da área de estacionamento.  "Na verdade," eu disse, "seria perfeito se você pudesse me dar uma carona até o hotel." "Bem, eu não estou no negócio de tornar a sua vida perfeita," ela rosnou, fazendo lembrar sua personalidade rude. "Eu tenho que voltar para aquela igreja antes da merda bater no ventilador, e pegar alguns documentos. Pense nisso, garota. O que os vampiros vão fazer com Godfrey? Eles podem deixá-lo vivo? Ele é um molestador de crianças e um assassino em série; fez isso tantas vezes que você sequer pode contar. Ele não consegue parar, e ele sabe disso."  Então tinha um lado bom para a igreja... ela deu a vampiros como Godfrey um local para cometer suicídio enquanto são vigiados?  "Talvez eles devessem simplesmente disponibilizar na tv paga," eu disse.  "Eles o fariam se pudessem." Luna estava séria. "Esses vampiros tentando se integrar, eles são bastante duros com qualquer um que possa perturbar seu plano. Godfrey não é nenhum garoto propaganda."  "Não posso resolver todos os problemas, Luna. Aliás, o meu nome verdadeiro é Sookie. Sookie Stackhouse. De qualquer forma, eu fiz o que pude. Fiz o trabalho que eu estava contratada para fazer, e agora eu tenho que voltar e relatar. Godfrey viva ou Godfrey morra. Acho que Godfrey vai morrer." "É melhor você estar certa," disse ela de modo agourento.  Eu não poderia entender por que seria minha culpa se Godfrey mudasse de idéia. Eu tinha apenas questionado o local que ele escolheu. Mas talvez ela tenha razão. Eu poderia ter alguma responsabilidade, aqui.  Tudo foi simplesmente demais para mim.  "Adeus," eu disse, e começei a mancar durante o caminho do estacionamento até a estrada. Eu não tinha ido longe quando ouvi uma gritaria originando-se da igreja, e todas as luzes do exterior se acenderam. O clarão repentino era de cegar.  "Talvez eu não volte para o Centro da Sociedade afinal de contas. Não é uma boa idéia," disse Luna pela janela de um Subaru Outback. Eu me arrastei para o assento do passageiro, e nós aceleramos em direção a saída mais próxima pegando a estrada de quatro faixas. Eu apertei meu cinto de segurança automaticamente. Mas tão rápido quanto tínhamos nos movido, outros tinham ido ainda mais rapidamente. Diversos veículos familiares estavam sendo posicionados para bloquear as saídas do estacionamento.  "Merda," disse Luna.  Nós ficamos em marcha lenta por um minuto, enquanto ela pensava.  "Eles nunca me deixariam sair, mesmo que você se escondesse de alguma maneira. Eu não posso levar você de volta para a igreja. Eles podem revistar a área de estacionamento com muita facilidade." Luna mastigou seu lábio um pouco mais.  "Ah, dane-se esse trabalho, de qualquer maneira," disse ela, e jogou o Outback em marcha. Ela dirigiu conservadoramente no início, tentando atrair a menor atenção possível. "Essas pessoas não saberiam o que é a religião se isso lhe mordesse o traseiro," disse ela.Perto da igreja, Luna dirigiu sobre o meio-fio que separa a área de estacionamento do gramado. Depois seguimos sobre o gramado, circulando a área de recreação cercada, e eu descobri que estava sorrindo de orelha a orelha, embora machucasse fazer isso. "Yee-hah!" Eu gritei, enquanto nós atingíamos o borrifador principal do sistema de irrigação do gramado. Nós voamos pelo jardim da frente da igreja, e, com um surpreso choque, ninguém estava nos perseguindo. Eles se organizariam em um minuto, contudo, os obstinados. As pessoas que não adotavam as medidas mais extremas desta Sociedade iriam receber uma ligação para despertar de verdade esta noite.  Como era de se esperar, Luna olhou no espelho retrovisor e disse: "Eles desbloquearam as saídas, e alguém está vindo atrás de nós." Nós arrancamos dentro do tráfego na estrada que passava em frente a igreja, uma outra estrada de quatro faixas enorme, e as buzinas soaram ao nosso redor por causa da nossa entrada súbita no fluxo de tráfego.  "Puta merda," Luna disse. Ela diminuiu para uma velocidade razoável e manteve seu olhar no espelho retrovisor. "Está muito escuro agora, não posso dizer quais faróis são os deles."  Eu me perguntei se Barry tinha alertado Bill. "Você tem um celular?" Eu perguntei a ela.  "Está na minha bolsa, junto com a minha carteira de motorista, que ainda está lá no meu escritório na igreja. Foi assim que eu soube que você estava à solta. Fui ao meu escritório, senti seu cheiro. Soube que você estava machucada. Então eu saí e explorei os arredores, e quando eu não pude encontrá-la, voltei para dentro. Tivemos uma sorte danada de eu estar com as minhas chaves no meu bolso."  Deus abençoe os metamorfos. Fiquei triste pelo telefone, mas isso não podia ser evitado. De repente eu me perguntei onde estava a minha bolsa. Provavelmente lá no escritório da Sociedade do Sol. Pelo menos eu tirei meu documento de identidade dela.  "Será que devemos parar em um telefone público, ou na delegacia?"  "Se você chamar a polícia, o que eles vão fazer?" perguntou Luna, num tom encorajador de alguém que conduz uma criança pequena ao aprendizado.  "Ir para a igreja?" "E o que vai acontecer então, garota?"  "Ah, eles perguntariam ao Steve porque é que ele estava mantendo uma humana presa?"  "Claro. E o que ele vai dizer?"  "Não sei".  "Ele vai dizer: ‗Nós nunca fizemos dela uma prisioneira. Ela entrou em algum tipo de discussão com o nosso empregado Gabe, e ele acabou morto. Prendam-na!‘"  "Ah. Você acha?"  "Sim, eu acho."  "E quanto a Farrell?"  "Se a polícia começar a entrar, é melhor você acreditar que eles terão alguém detalhado para correr até o porão e enfiar uma estaca nele. Até a hora que a policia chegar lá, não exitirá mais Farrell. Eles poderiam fazer o mesmo com Godfrey, se ele não os apoiasse. Ele provavelmente iria permanecer quieto nisto. Ele quer morrer, esse Godfrey." "Bem, e sobre Hugo?"  "Você acha que Hugo iria explicar como foi que ele ficou trancado num porão daqueles? Eu não sei o que aquele idiota diria, mas ele não contaria a verdade. Ele levou uma vida dupla por meses até agora, e ele não pode dizer se sua cabeça está em ordem ou não."  "Então não podemos chamar a polícia. Quem é que podemos chamar?"  "Tenho que te deixar com os seus parceiros. Você não precisa conhecer os meus. Eles não querem ser conhecidos, você entende?"  "Claro."  "Você tem que ser alguma coisa esquisita também, hein? Para nos reconhecer."  "Sim."  "Então, o que você é? Não é uma vampira, com certeza. Não é uma de nós também."  "Sou uma telepata."  "Você é! Não brinca! Bem, woooo woooo", afirmou Luna, imitando o tradicional som de fantasma.  "Não mais woo woo do que você é," eu disse, sentindo que eu podia ser perdoada por soar um pouco irritada.  "Desculpe", disse ela, sem intenção. "Ok, eis o plano-"  Mas eu não tive chande de ouvir qual era o plano, porque naquele momento nós fomos atingidos na parte traseira. 
 
A próxima coisa que eu soube, foi que eu estava pendurada de cabeça para baixo em meu cinto de segurança. Uma mão estava penetrando para me puxar para fora. Reconheci as unhas; era Sarah. Eu a mordi.  Com um grito penetrante, retirou a mão. "Ela está obviamente fora de si," Eu ouvi a voz doce de Sarah tagarelando para alguém, alguém não relacionado com a igreja, eu percebi, e eu sabia que tinha que agir.  "Não dê ouvidos a ela. Foi o carro dela que bateu em nós," eu gritei. "Não deixe que ela toque em mim."  Eu olhava para Luna, cujo cabelo já tocava o teto. Ela estava acordada, mas não falando. Ela estava se retorcendo toda, e deduzi que estava tentando desatar seu cinto.  Tinha muita conversa fora da janela, a maior parte delas controversa.  "Eu estou dizendo, eu sou a irmã dela, e ela só está bêbada," Polly estava dizendo a alguém. "Eu não estou. Eu exijo um teste de sobriedade agora mesmo," eu disse, em uma voz tão digna quanto eu poderia conduzir, considerando que fiquei aérea com a pancada e estava pendurada de cabeça para baixo, "Chamem a polícia imediatamente, por favor, e uma ambulância."  Embora Sarah tenha começado a falar precipitadamente, uma forte voz masculina disse: "Senhora, não está parecendo que ela quer você por aqui. Parece que ela tem alguns pontos positivos."  Um rosto de homem apareceu na janela. Ele estava ajoelhado e curvado lateralmente para ver dentro. "Liguei para o nove-um-um," disse a voz pesada. Ele estava despenteado e eriçado, e eu achei que ele era bonito.  "Por favor, fique aqui até que eles cheguem," eu implorei.  "Eu vou," ele prometeu, e seu rosto sumiu. Havia mais vozes agora. Sarah e Polly estavam ficando estridentes. Elas tinham atingido o nosso carro. Várias pessoas tinham testemunhado. Elas afirmando ser irmãs ou qualquer coisa assim não caiu muito bem com essa multidão. Também, eu entendi, elas estavam com dois homens da sociedade que não estavam sendo nada encantadores.  "Então nós vamos simplesmente embora," disse Polly, com fúria em sua voz.  "Não, vocês não vão," disse meu maravilhoso agressivo homem. "Vocês têm que negociar o seguro com elas, de qualquer jeito."  "É isso mesmo", disse uma voz masculina muito mais jovem. "Vocês simplesmente não querem pagar para consertar o carro delas. E se elas estiverem feridas? Vocês não terão de pagar o hospital?"  Luna tinha conseguido se desatar,e ela retorceu quando caiu no teto que agora era o piso do carro. Com uma maleabilidade que eu só podia invejar, colocou sua cabeça para fora da janela aberta, e então começou a apertar os pés contra qualquer aquisição que pudesse encontrar. Gradualmente, ela começou a se mover para fora da janela. Uma das aquisições passou a ser o meu ombro, mas eu não dei um pio sequer. Uma de nós precisava ficar livre.  Havia exclamações lá fora enquanto Luna aparecia, e então eu a ouvi dizer, "Ok, qual de vocês estava dirigindo?"  Várias vozes aderiam, uns dizendo que era um, uns dizendo que foi outro, mas todos eles sabiam que Sarah e Polly e seus escudeiros foram os autores do crime e Luna era a vítima. Tinha tantas pessoas em torno daquilo que quando mais um carro de homens vindos da Sociedade estacionou, não havia nenhuma maneira de que eles pudessem simplesmente nos rebocar dalí. Deus abençoe o espectador americano, eu pensei. Eu estava num humor sentimental.  O paramédico que acabou me soltando do carro era o cara mais fofo que eu já vi. Seu nome era Salazar, de acordo com seu crachá, e eu disse, "Salazar," só para ter certeza de que eu poderia dizer isso. Tive que falar cuidadosamente. "Sim, sou eu," disse ele enquanto levantava minha pálpebra para ver o meu olho. "Você se bateu um pouco, moça."  Comecei a dizer a ele que eu já tinha algumas dessas lesões antes do acidente de carro, mas então ouvi Luna dizer, "Minha agenda voou do painel e atingiu seu rosto."  "Seria muito mais seguro se você mantivesse o seu painel vazio, senhora," disse uma nova voz com tom fanho desafinado.  "Eu o ouvi, senhor policial."  Policial? Tentei virar a minha cabeça e fui adverdida por Salazar. "Você fique parada até eu terminar de examinar você," disse ele firmemente.  "Ok." Eu disse após um segundo, "A polícia está aqui?" 
"Sim, senhora. Agora, o que dói?"  Passamos por toda uma lista de perguntas, a maioria das quais eu era capaz de responder. "Acho que vai ficar bem, senhora, mas temos de levar você e sua amiga para o hospital só para verificar isso." Salazar e sua parceira, uma mulher anglo-americana grande, eram práticos sobre essa necessidade.  "Oh," eu disse ansiosamente, "não precisamos ir ao hospital, precisamos, Luna?"  "Claro," disse ela, mais surpresa que ela poderia ficar. "Temos que tirar um raio x seu, doçura. Quero dizer, essa sua bochecha está com aspecto ruim."  "Ah." Fiquei um pouco espantada com essa virada. "Bem, se você acha que sim."  "Oh, sim." Então Luna se dirigiu para a ambulância, e eu fui carregada em uma maca, e com a sirene soando estridente, nós começamos a sair. A minha última visão antes de Salazar fechar as portas era de Polly e Sarah falando com um policial muito alto. Ambas pareciam muito chateadas. Isso era bom.  O hospital era como todos os hospitais. Luna ficou grudada em mim como arroz de sushi*, e quando estávamos no mesmo cubículo, uma enfermeira entrou para anotar mais alguns detalhes. Luna disse, "Diga ao Dr. Josephus que Luna Garza e sua irmã estão aqui."  (* a expressão no original é like white to rice, que quer dizer o mais próximo possível de algo ou alguém, uma expressão originada de comentários em relação aos asiáticos, por isso preferi traduzir assim pra dar um sentido mais parecido)  A enfermeira, uma jovem mulher afro-americana, deu a Luna um olhar duvidoso, mas disse, "Ok," e saiu imediatamente.  "Como fez isso?" Perguntei.  "Fazer uma enfermeira parar de preencher formulários? Eu pedi este hospital de propósito. Nós temos uma pessoa em cada hospital na cidade, mas sei que o nosso homem aqui é o melhor."  "Nosso"?  "Nós. Os de natureza dupla." "Ah." Os metamorfos. Eu mal podia esperar para contar a Sam sobre isso.  "Eu sou o Dr. Josephus," disse uma voz calma. Eu levantei minha cabeça para ver que um homem com cabelo prateado e escasso tinha entrado em nossa área cortinada. Seu cabelo estava diminuindo e ele tinha um nariz acentuado onde pousava um par de óculos de armação fina. Ele tinha olhos azuis intensos, ampliados pelos seus óculos.  "Eu sou Luna Garza, e esta é minha amiga, ah, Marigold." Luna disse isto como se ela fosse uma pessoa diferente. Na verdade, eu olhei em volta para me certificar de que era a mesma Luna. "Nós encontramos contratempos esta noite no caminho do dever."  O médico me olhou com uma certa desconfiança.  "Ela é merecedora," afirmou Luna, com grande solenidade. Eu não queria estragar o momento rindo, mas tive que morder o interior da minha boca.
"Você precisa de raios X," disse o médico após a olhar para meu rosto e analisar meu joelho grotescamente inchado. Eu tinha várias escoriações e contusões, mas essas eram minhas únicas lesões realmente significativas.  "Então precisamos que eles sejam tirados rapidamente, e em seguida temos de sair daqui de forma segura," disse Luna em uma voz que não iria tolerar negação.  Nenhum hospital já tinha se movimentado tão rapidamente. Eu só poderia supor que o Dr. Josephus estava na mesa dos diretores. Or talvez ele fosse o chefe de equipe. A máquina portátil de raios-X foi trazida, os raios X foram tirados, e em poucos minutos Dr. Josephus me disse que eu tinha um traço de fratura do osso malar que se emendaria por conta própria. Ou eu poderia ver um cirurgião plástico quando o inchaço acabasse. Ele me deu uma receita de comprimidos para dor, uma série de conselhos, e uma bolsa de gelo para o meu rosto e outra para o meu joelho, que ele chamava de "desconjuntado." Dentro de dez minutos depois, estávamos saindo do hospital. Luna foi me empurrando numa cadeira de rodas, e o Dr. Josephus foi nos guiando através de uma espécie de túnel de serviço. Passamos por dois funcionários no caminho. Eles pareciam ser pessoas pobres, do tipo que arranja empregos com baixos salários como zelador de hospital e cozinheiro. Eu não podia acreditar que o Dr. Josephus maciçamente auto-confiante tinha alguma vez descido por este túnel antes, mas ele parecia saber o caminho, e o pessoal não agiu assustado ao vê-lo. No final do túnel, ele empurrou para abrir uma porta de metal pesado.  Luna Garza meneou a cabeça regiamente para ele, dizendo "Muito obrigada," e me empurrando para a noite lá fora. Tinha um velho carro grande estacionado lá. Era vermelho escuro ou marrom escuro. Quando olhei ao redor um pouco mais, eu percebi que estávamos em um beco. Tinha grandes lixeiras encostadas na parede, e eu vi um gato se movendo para atacar algo - que eu não quero saber o que - entre duas das lixeiras. Depois de fechar a porta ruidosamente por causa da pressão do ar atrás de nós, o beco ficou calmo. Comecei a sentir medo novamente. Eu estava extremamente cansada de ter medo.  Luna foi até o carro, abriu a porta traseira, e disse alguma coisa para quem quer que estava dentro. Qualquer que fosse a resposta que ela recebeu, a deixou zangada. Ela estava protestando em outro idioma.  Houve outra discussão.  Luna andou como um furacão de volta para mim, "Você tem que ficar de olhos vendados," disse ela, obviamente certa de que eu levaria isso como uma grande ofensa.  "Sem problemas," disse, com um aceno de lado para indicar o quão insignificante isso era.  "Você não se importa?"  "Não. Eu entendo, Luna. Todo mundo gosta de sua privacidade."  "Ok, então." Ela apressou-se de volta ao carro e retornou com um lenço em suas mãos, de seda verde e azul pavão. Ela o dobrou como se fôssemos jogar ‗cabra cega‘, e amarrou-o firmemente por trás da minha cabeça. "Me escute," ela disse ao meu ouvido, "esses dois são difíceis. Você vai ver." Legal. Eu queria ficar mais assustada. Ela me empurrou até o carro e ajudou-me a entrar. Eu acho que ela guiou a cadeira de rodas de volta para a porta para ser coletada; de qualquer forma, após um minuto ela entrou do outro lado do carro.  Havia duas presenças no banco da frente. Eu os senti mentalmente, muito delicadamente, e descobri que ambos eram metamorfos; pelo menos, tinham a sensação de metamorfo em seu cérebro, o semi-opaco emaranhado confuso que eu recebo de Sam e Luna. Meu chefe, Sam, geralmente se transforma em um collie. Imagino qual seria a preferência de Luna.  Tinha uma diferença sobre esses dois, uma pulsação meio que pesada. O esboço das suas mentes parecia sutilmente diferente, não exatamente humano.  Houve apenas silêncio por alguns minutos, enquanto o carro caía fora do beco e se dirigia pela noite.  "Hotel Silent Shore, certo?" disse a motorista. Ela parecia meio que rugindo. Então eu percebi que era quase a lua cheia. Oh, diabos. Eles tinham que se transformar na lua cheia. Talvez foi por isso que Luna tinha chutado o pau da barraca tão prontamente na Sociedade esta noite, uma vez que ficou escuro. Ela tinha ficado atordoada pelo aparecimento da lua.  "Sim, por favor," eu disse educadamente.  "Comida que fala," disse o passageiro. Sua voz estava ainda mais perto de um rugido.  Claro que eu não gostei daquilo, mas não tinha idéia de como reagir. Havia tanto para eu aprender sobre os metamorfos quanto havia sobre os vampiros, aparentemente.  "Parem com isso vocês dois," Luna disse. "Esta é minha convidada."  "Luna andando com comida de cachorro," disse o passageiro. Eu estava começando a realmente não gostar desse cara.  "Cheira mais como hambúrguer pra mim," disse a motorista. "Ela tem um arranhão ou dois, não é, Luna?"  "Vocês estão lhe dando uma grande impressão de como somos civilizados," Luna rebateu. "Mostre algum controle. Ela já teve uma noite difícil. Ela tem um osso quebrado, também." E a noite não estava sequer na metade ainda. Eu mudei de posição a bolsa de gelo que estava segurando no meu rosto. Você só pode agüentar tanto frio assim na cavidade do seu seio.  "Por que Josephus tinha que enviar os lobisomens esquisitos?" Luna murmurou em meu ouvido. Mas eu sabia que eles tinham ouvido; Sam ouvia tudo, e ele não era de jeito nenhum tão poderoso quanto um verdadeiro lobisomem. Ou pelo menos, essa era a minha avaliação. Para dizer a verdade, até este momento, eu não tinha certeza se lobisomens realmente existiam.  "Eu acho," eu disse com tato e audivelmente, "que ele pensou que eles poderiam nos defender melhor se fossemos atacadas novamente."  Eu podia sentir as criaturas no banco da frente endirentando seus ouvidos. Talvez literalmente.  "Nós estávamos indo bem," afirmou Luna indignadamente. Ela se contorceu e se inquietou no banco ao meu lado como ela tivesse bebido dezesseis xicaras de café.  "Luna, nós fomos atingidas e seu carro ficou destruído. Nós estávamos no pronto socorro. ‗Bem‘ em que sentido?" Então eu tive que responder à minha própria pergunta. "Ei, me descupe, Luna. Você me tirou de lá quando eles iam me matar. Não é sua culpa que bateram em nós."  "Vocês duas fizeram uma pequena algazarra esta noite?" perguntou o passageiro, mais civilizadamente. Ele estava ansioso por uma luta. Eu não sei se todos os lobisomens eram tão briguentos quanto esse cara, ou se isso era apenas a sua natureza.  "Sim, com a porra da Sociedade," disse Luna, mais de um traço de orgulho em sua voz. "Eles estavam com essa garota presa em uma cela. Em uma masmorra."  "Não diga?" perguntou a motorista. Ela tinha a mesma hiper pulsação nela - bem, eu tinha que chamar isso de sua aura, pela falta de uma palavra melhor.  "Digo sim," eu disse firmemente. "Eu trabalho para um metamorfo, onde moro," acrescentei, para fazer conversa.  "Não brinca? Qual é o negócio?"  "Um bar. Ele é dono de um bar."  "Então, você está muito longe de casa?"  "Muito longe," eu disse.  "Este pequeno morcego salvou sua vida esta noite, de verdade?" "Sim." Eu estava sendo absolutamente sincera sobre isso. "Luna salvou minha vida." Eles poderiam estar falando literalmente? Luna se transformava em um. . . Oh, Deus.  "Mandou bem, Luna." Houve um pouco mais de respeito em sua voz de rosnado profundo. Luna achou o elogio agradável, tal como devia, e deu tapinhas em minha mão. Num silêncio mais agradável, nós dirigimos talvez mais cinco minutos e, em seguida, a motorista disse, "O Silent Shore, chegamos."  Eu exalei um longo suspiro de alívio.  "Há um vampiro na frente, esperando."  Eu quase arranquei a venda, antes de eu perceber que fazer isso seria uma coisa muito brega. "Como é que ele é?"  "Muito alto, loiro. Cabeleira comprida. Amigo ou inimigo?"  Eu tive que pensar sobre isso. "Amigo," eu disse, tentando não soar duvidosa.  "Yum, yum," disse a motorista. "Será que ele topa um encontro híbrido?"  "Eu não sei. Quer que eu pergunte?"  Luna e o passageiro ambos fizeram som de engasgos. "Você não pode sair com um morto!" Luna protestou. "Me poupe, Deb - eca, garota!"  "Ah, tá bom," disse a motorista. "Alguns deles não são tão ruins. Estou estacionando no meio-fio, senhorita biscoitinho de cachorro."  "Essa seria você," Luna disse no meu ouvido.
Nós paramos, e Luna inclinou-se sobre mim para abrir minha porta. Enquanto eu saltava, guiada e puxada pelas mãos, eu ouvi uma exclamação da calçada. Rápida como um piscar de olhos Luna fechou a porta atrás de mim. O carro cheio de metamorfos arrancou do meio fio cantando os pneus. Um uivo o seguiu no ar espesso da noite.  "Sookie?" disse uma voz familiar.  "Eric?"  Eu estava hesitante com a venda, mas Eric simplesmente agarrou-a por trás e puxou. Eu tinha adquirido um belo, embora um pouco manchado, lenço. A frente do hotel, com as suas pesadas portas falsas, estava brilhantemente iluminada na noite escura, e Eric parecia notavelmente pálido. Ele estava usando um absolutamente convencional terno de risca de giz azul marinho, ainda por cima.  Eu estava realmente feliz em vê-lo. Ele agarrou meu braço para que eu não cambaleasse e me olhou até embaixo com uma cara ilegível. Os vampiros eram bons nisso. "O que aconteceu com você?" disse ele. "Eu fui... Bem, é difícil de explicar em um segundo. Onde está o Bill?"  "Primeiro ele foi para a Sociedade do Sol para buscar você. Mas ouvimos ao longo do caminho, por um de nós que é um policial, que você tinha se envolvido em um acidente e foi para um hospital. Então ele foi para o hospital. No hospital, ele descobriu que você tinha saído por uma rota conveniente. Ninguém dizia nada a ele, e ele não conseguia ameaçá-los adequadamente." Eric parecia extremamente frustrado. O fato de que ele tinha que viver dentro das leis humanas era uma constante irritação para Eric, ainda que ele aproveitasse bastante os benefícios. "E então não foi encontrado qualquer vestígio seu. O porteiro só tinha ouvido você uma vez, mentalmente."  "Pobre Barry. Ele está bem?"  "Mais rico por várias centenas de dólares, e muito feliz com isso," disse Eric numa voz seca. "Agora só precisamos do Bill. Que monte de problemas você é, Sookie." Ele puxou um celular do seu bolso e discou um número. Depois do que pareceu um longo tempo, ele foi atendido. "Bill, ela está aqui. Alguns metamorfos a trouxeram." Ele me olhou mais. "Espancada, mas andando." Ele ouviu um pouco mais. "Sookie, você tem sua chave?" ele perguntou. Eu senti no bolso da minha saia onde eu enfiei o retângulo de plástico cerca de um milhão de anos atrás.  "Sim," eu disse, e simplesmente não podia acreditar que algo tinha dado certo. "Ah, espere! Eles pegaram Farrell?"  Eric sinalizou com a mão para indicar que ele falaria comigo em um minuto. "Bill, eu vou levá-la para cima e começar a restaurá-la." As costas de Eric enrijeceram. "Bill," disse ele, e tinha um mundo de ameaças na sua voz. "Tudo bem então. Adeus." Ele virou de volta para mim como se não tivesse havido qualquer interrupção.  "Sim, Farrell está seguro. Eles invadiram a Sociedade."  "Mui... muita gente se machucou?"
"A maioria deles estava muito apavorada para se aproximar. Eles se dispersaram e foram para casa. Farrell estava numa cela subterrânea com Hugo."  "Oh, sim, Hugo. O que aconteceu com Hugo?"  Minha voz deve ter sido muito curiosa, porque Eric me olhou de lado enquanto estamos avançando em direção ao elevador. Ele estava acompanhando o meu ritmo, e eu estava mancando demais.  "Posso carregar você?" ele perguntou.  "Oh, eu acho que não. Eu cheguei até aqui." Se fosse Bill, eu teria aceitado a oferta instantaneamente. Barry, na campainha do balcão da recepção, me deu um pequeno aceno. Ele poderia ter corrido até mim se eu não estivesse com Eric. Eu dei a ele o que eu esperava ser um olhar significativo, para dizer que eu falaria com ele de novo mais tarde eentão a porta do elevador tiniu aberta e entramos. Eric apertou o botão do andar e inclinou-se contra a parede espelhada do lado oposto da cabine. Ao olhar para ele, eu dei uma olhada no meu próprio reflexo. "Oh, não," eu disse, absolutamente chocada. "Oh, não." Meu cabelo tinha sido achatado pela peruca, e em seguida penteado com os meus dedos, então estava um desastre. Minhas mãos iam até ele, indefesas e doloridas, e minha boca estremeceu com lágrimas reprimidas. E o meu cabelo era o de menos. Eu tinha hematomas visíveis variando de leve a grave sobre a maior parte do meu corpo, e isto apenas na parte que você podia ver. Meu rosto estava inchado e descolorido em um lado. Havia um corte no meio da contusão na minha maça do rosto. A minha blusa estava sem metade de seus botões, e minha saia estava rasgada e imunda. Meu braço direito estava com uma crosta de sangue aglomerado.  Comecei a chorar. Eu estava tão horrível; isso simplesmente quebrou o que restava do meu espírito.  Para o seu crédito, Eric não deu risada, embora ele talvez quisesse. "Sookie, um banho e roupas limpas e você ficará bem," disse ele como se estivesse falando com uma criança. Para dizer a verdade, eu não sentia me muito mais velha no momento. "A lobisomem achou você bonito," eu disse, e chorei um pouco mais. Nós saímos do elevador.  "A lobisomem? Sookie, você teve aventuras esta noite." Ele me recolheu como uma braçada de roupas e segurou-me junto a ele. Eu deixei o seu lindo paletó molhado e imprestável, e sua camisa de um branco puro não estava mais impecável.  "Oh, eu sinto muito!" Eu me apoiei para trás e olhei seu traje. Eu esfreguei-o com o lenço.  "Não chore de novo," disse ele apressadamente. "Só não comece a chorar novamente, e eu não me importo de levar isso para o pessoal da limpeza. Eu não me importo nem mesmo de comprar um terno novo."  Eu achei isso muito divertido que Eric, o temido comandante vampiro, tinha medo de mulheres chorando. Eu sorri silenciosamente através dos soluços restantes.  "Algo engraçado?" ele perguntou.  Balancei a minha cabeça. Eu deslizei minha chave na porta e entramos. "Eu ajudo você a entrar na banheira se quiser, Sookie," Eric ofereceu. 
"Oh, eu acho que não." Um banho era o que eu queria mais do que qualquer outra coisa no mundo, isso e nunca mais colocar essas roupas novamente, mas com certeza não tomaria um banho com Eric em qualquer lugar a minha volta.  "Eu aposto que você é um deleite, nua," disse Eric, só para aumentar o meu astral.  "Você sabe disso.Sou tão saborosa quanto um grande Éclair*," eu disse, e sentei cuidadosamente em uma cadeira. "Embora no momento eu me sinta mais como boudain". Boudain é uma lingüiça Cajun**, feita de todos os tipos de coisas, nenhuma delas elegante. Eric empurrou uma cadeira e levantou a minha perna para elevar o joelho. Eu recoloquei a bolsa de gelo nele e fechei os olhos. Eric pediu para a recepção uma pinça, uma tigela, e uma pomada anti-séptica, além de uma cadeira com rodinhas. Os itens chegaram em cerca de dez minutos. Este pessoal do hotel era bom.  (*doce) (**Os cajun são os descendentes dos acadianos expulsos do Canadá e que se fixaram na Luisiana, no sul dos Estados Unidos. Este povo tem uma cultura própria, em especial uma variedade de música e culinária que se tornaram muito populares naquela região)  Tinha uma pequena mesa encostada a uma parede. Eric a deslocou para o lado direito da minha cadeira, levantou meu braço, e deitou-o por cima da mesa. Ele ligou a lâmpada. Após limpar meu braço com uma toalha de rosto molhada, Eric começou a remover o aglomerado. Eles eram pequenos pedaços de vidro da janela do carro de Luna. "Se você fosse uma garota comum, eu poderia encantar você e você não sentiria isso," comentou ele. "Seja corajosa." Aquilo doeu como o inferno, e as minhas lágrimas corriam pelo meu rosto durante todo o tempo que ele trabalhava. Eu lutei muito para ficar quieta.  Por fim, ouvi outra chave na porta, e eu abri meus olhos. Bill olhou em meu rosto, estremeceu, e em seguida examinou o que Eric estava fazendo. Ele assentiu aprovadoramente para Eric.  "Como isso aconteceu?" ele perguntou, tocando levemente meu rosto. Ele puxou a cadeira disponível mais próxima e sentou-se. Eric continuou com o seu trabalho.  Eu comecei a explicar. Eu estava tão cansada que minha voz gaguejava de tempos em tempos. Quando eu cheguei à parte sobre Gabe, eu não tive juízo suficiente para suavizar o episódio, e eu podia ver que Bill estava segurando seu temperamento com um controle de ferro. Ele levantou a minha blusa suavemente a deu uma olhada no sutiã rasgado e nas contusões no meu peito, mesmo com Eric lá. (Ele olhou, naturalmente.)  "O que aconteceu com este Gabe?" Bill perguntou, muito calmamente.  "Bem, ele está morto," eu disse. "Godfrey o matou." "Você viu Godfrey?" Eric se inclinou para frente. Ele não tinha dito nada até este ponto. Ele tinha acabado de cuidar do meu braço. Ele aplicou uma pomada antibiótica em todo o braço como se fosse proteger um bebê de assaduras.  "Você tinha razão, Bill. Foi ele quem raptou Farrell, embora eu não tenha qualquer detalhe. E Godfrey impediu Gabe de me estuprar. Embora eu tenha que dizer, eu tinha conseguido dar eu mesma algumas boas bofetadas." 
"Não se gabe," disse Bill com um pequeno sorriso. "Então, o homem está morto." Mas ele não parecia satisfeito.  "Godfrey foi muito bom em parar Gabe e me ajudar a sair. Especialmente quando ele só queria pensar em encontrar o amanhecer. Onde ele está?"  "Ele correu para a noite durante o nosso ataque à Sociedade," explicou Bill. "Nenhum de nós conseguiu pegá-lo."  "O que aconteceu na Sociedade?"  "Eu vou te dizer, Sookie. Mas vamos dizer boa noite ao Eric, e eu contarei tudo enquanto eu te dou um banho."  "Ok," eu concordei. "Boa noite, Eric. Obrigado pelos primeiros socorros."  "Acho que esses são os pontos principais," disse Bill a Eric. "Se existir mais, eu vou até o seu quarto mais tarde." "Bom." Eric olhou para mim, seus olhos meio abertos. Ele deu uma lambida ou duas no meu braço ensanguentado enquanto ele o tratava e que o gosto parecia tê-lo intoxicado. "Descanse bem, Sookie."  "Ah," eu disse, meus olhos escancararam de repente. "Você sabe, nós devemos aos metamorfos."  Ambos os vampiros me encararam. "Bem, talvez não vocês, mas eu com certeza sim."  "Ah, eles vão reivindicar," Eric previu. "Aqueles metamorfos nunca executam qualquer serviço gratuitamente. Boa noite, Sookie. Estou feliz que você não foi violentada e assassinada." Ele deu seu repentino sorriso forçado brilhante, e pareceu muito mais como ele mesmo.  "Meu Deus, muito obrigada," disse, fechando os olhos novamente. "Boa noite."  Quando a porta se fechou atrás de Eric, Bill me carregou para fora da cadeira e me levou para o banheiro. Era tão grande quanto a maioria dos banheiros de hotéis, mas a banheira era adequada. Bill a encheu de água quente e com muito cuidado tirou minhas roupas.  "Basta jogá-las, Bill," eu disse. "Talvez eu faça, nesse ponto." Ele estava olhando as contusões novamente, seus lábios pressionados em uma linha reta.  "Alguns deles são provenientes da queda da escada, e alguns são do acidente de carro," eu expliquei.  "Se Gabe não estivesse morto eu o encontraria e o mataria", disse Bill, principalmente para si mesmo. "Eu levaria o tempo que quisesse." Ele me levantou tão facilmente como se eu fosse um bebê e me colocou na banheira, começando a lavar-me com um pano e uma barra de sabonete.  "Meu cabelo está tão nojento."  "Sim, ele está, mas vamos ter de cuidar dos seus cabelos pela manhã. Você precisa dormir." Começando com o meu rosto, Bill gentilmente me limpou de cima a baixo. A água se tornou manchada com sujeira e sangue velho. Ele checou minuciosamente o meu braço, para certificar-se de que Eric tinha tirado todos os vidros. Então ele esvaziou a banheira e encheu-a novamente, enquanto eu tremia. Desta vez, eu fiquei limpa. Depois que eu lamentei sobre o meu cabelo uma segunda vez, ele se deu por vencido. Ele molhou minha cabeça e passou shampoo em meus cabelos, lavando-o arduamente. Não há nada mais maravilhoso do que sentir-se limpa da cabeça aos dedos dos pés depois de você ter estado imunda, em uma confortável cama com lençóis limpos, sendo capaz de dormir nela em segurança.  "Me fale sobre o que aconteceu na Sociedade," eu disse enquanto ele me carregava para a cama. "Me faça companhia."  Bill me colocou sob os lençois e engatinhou para o outro lado. Ele deslizou seu braço sob minha cabeça e aproximou-se rápido. Eu cuidadosamente encostei minha testa em seu peito roçando nele.  "Quando nós chegamos lá, estava como um formigueiro despedaçado," disse ele. "O estacionamento estava cheio de carros e pessoas, e mais continuavam chegando para a – noite da festa do pijama?" "Cerimônia fechada," eu murmurei, cuidadosamente virando o meu lado direito para me abrigar junto a ele.  "Houve um certo tumulto quando nós chegamos. Quase todos eles se amontoaram em seus carros e foram embora tão rápido quanto o trânsito permitiria. Seu líder, Newlin, tentou negar nossa entrada no salão da Sociedade - tem certeza de que foi uma igreja alguma época? - e ele nos disse que iríamos explodir em chamas se nós entrássemos, porque éramos amaldiçoados." Bill bufou. "Stan pegou ele e o colocou de lado. Entramos na igreja, Newlin e sua mulher seguindo atrás de nós. Nenhum de nós explodiu em chamas, o que pareceu agitar bastante as pessoas."  "Eu aposto que sim," Eu balbuciei em seu peito.  "Barry nos disse que quando se comunicava com você, ele tinha a sensação que você estava 'baixa' - abaixo do nível do solo. Ele achou que ouviu a palavra "escada" de você. Estavamos em seis, Stan, Joseph Velasquez, Isabel, e outros - e isso nos tomou talvez seis minutos para eliminar todas as possibilidades e encontrar as escadas." "O que você fez em relação a porta?" Ela tinha fechaduras fortes, eu lembrei.  "Nós a arrancamos de suas dobradiças."  "Ah." Bem, isso proporcionaria acesso rápido, com certeza.  "Eu pensei que você ainda estava lá, é claro. Quando eu encontrei a sala com o homem morto, que estava com suas calças abertas..." Ele fez uma longa pausa. "Eu tinha certeza de que tinha estado lá. Eu ainda podia sentir o seu cheiro no ar. Tinha uma mancha de sangue nele, o seu sangue, e eu achei outros vestígios dele em volta. Eu estava muito preocupado."  Eu o afaguei. Me sentia muito cansada e fraca para o afagar vigorosamente, mas esse era o único consolo que tinha para oferecer no momento.  "Sookie," disse ele com muito cuidado, "há algo mais que você queira me dizer?"  Eu estava muito sonolenta para pensar sobre isso. "Não," eu disse e bocejei. "Eu acho que fiz a cobertura completa das minhas aventuras mais cedo." "Eu pensei que talvez já que Eric estava no quarto antes, você não gostaria de contar tudo?"  Eu finalmente entendi o que obviamente ele queria saber. Eu beijei o seu peito, sobre seu coração.
"Godfrey realmente chegou a tempo."  Houve um longo silêncio. Olhei para cima para ver o rosto de Bill que estava tão rígido que parecia uma estátua. Seus cílios escuros destacavam-se contra a sua palidez com uma clareza espantosa. Seus olhos escuros pareciam insondáveis. "Conte-me o resto," eu disse.  "Então nós fomos mais adiante no abrigo anti-bombas e encontramos o quarto maior, juntamente com uma extensa área repleta de suprimentos - alimentos e armas - onde era evidente que outro vampiro tinha estado."  Eu não tinha visto esta parte do abrigo anti-bombas, e eu certamente não tinha planos de voltar para ver o que foi que eu perdi.  "Na segunda cela encontramos Farrell e Hugo."  "Hugo estava vivo?"  "Por pouco." Bill beijou a minha testa. "Felizmente para Hugo, Farrell gosta de sexo com homens mais jovens."  "Talvez tenha sido por isso que Godfrey escolheu Farrell para raptar, quando ele decidiu fazer um outro pecador de exemplo." Bill assentiu. "Isso foi o que Farrell disse. Mas ele tinha estado sem sexo e sangue por um longo tempo, e ele estava faminto em todos os sentidos. Sem as algemas de prata, Hugo teria... tido um momento ruim. Mesmo com prata em seus punhos e tornozelos, Farrell foi capaz de se alimentar de Hugo."  "Você sabia que Hugo era o traidor?"  "Farrell ouviu sua conversa com ele."  "Como - oh, certo, audição de vampiro. Que estúpida."  "Farrell também gostaria de saber o que você fez para Gabe que lhe fez gritar."  "Dei um golpe sobre as suas orelhas." Eu coloquei uma mão em concha para mostrar a ele.  "Farrell estava satisfeito. Esse Gabe era um desses homens que tem prazer em ter poder sobre os outros. Ele submeteu Farrell a muitas indignidades."  "Farrell tem sorte de não ser uma mulher," eu disse. "Onde está o Hugo agora?"  "Ele está em um lugar seguro."  "Seguro para quem?"  "Seguro para os vampiros. Longe da mídia. Eles todos iriam apreciar demais a história de Hugo."  "O que é que eles vão fazer com ele?"  "Isso é para Stan decidir." "Lembra-se do acordo que nós temos com Stan? Se humanos forem considerados culpados por uma de minhas evidências, eles não serão mortos."  Bill obviamente não quis debater comigo sobre isso agora. Seu rosto estava fechado. "Sookie, você tem que ir dormir agora. Nós vamos falar sobre isso quando você levantar."  "Mas até lá ele pode estar morto."  "Por que você se importa?" 
"Porque esse foi o acordo! Eu sei que Hugo é um merda, e eu o odeio, também, mas eu sinto pena dele; e não creio que eu possa estar implicada na sua morte e viver com a consciência tranquila."  "Sookie, ele ainda estar vivo quando você se levantar. Iremos falar sobre isso depois."  Senti o sono me puxando como o recuo das ondas de surf. Foi difícil de acreditar que era apenas duas horas da manhã.  "Obrigado por ir atrás mim."  Bill disse, após uma pausa, "Primeiro você não estava na Sociedade, apenas vestígios de seu sangue e um estuprador morto. Quando eu te descobri que não estava no hospital, que você tinha sido sumido de lá, de alguma maneira..." "Mmmmh?"  "Eu fiquei muito, muito assustado. Ninguém tinha alguma idéia de onde você estava. Na verdade, enquanto eu estava ali falando com a enfermeira que admitiu que você seu nome sumiu da tela do computador."  Fiquei impressionada. Aqueles metamorfos eram organizados em um grau surpreendente. "Talvez eu deva enviar algumas flores para Luna," eu disse, dificilmente conseguindo com que as palavras saíssem da minha boca.  Bill me beijou, um beijo muito gratificante, e essa era a última coisa que eu lembrava.
 
Eu me virei arduamente e espiei o relógio iluminado na mesa de cabeceira. Ainda não estava amanhecendo, mas o amanhecer viria logo. Bill já estava em seu caixão: a tampa estava fechada. Por que é que eu estava acordada? Eu pensei sobre isso.  Havia algo que eu tinha de fazer. Parte de mim ficou para trás espantada com a minha própria estupidez enquanto eu colocava um short e uma camiseta e deslizava meus pés em sandálias. Eu parecia ainda pior no espelho, para o qual eu dei apenas uma olhada de lado. Eu fiquei de costas para ele para escovar meus cabelos. Para meu espanto e contentamento, a minha bolsa estava em cima da mesa da sala. Alguém a tinha recuperado lá na sede da Sociedade na noite anterior. Eu enfiei a minha chave de plástico nela e segui dolorosamente pelo corredor silencioso.  Barry não estava mais a serviço, e seu substituto era muito bem treinado para me perguntar o que diabos eu estava fazendo andando por aí parecendo que tinha sido arrastada por um trem. Ele me arranjou um táxi e eu disse ao motorista onde eu precisava ir. O motorista me olhou no espelho retrovisor. "Não seria melhor você ir a um hospital?" ele sugeriu apreensivamente.  "Não. Eu já estive em um." Isso dificilmente pareceu reassegurá-lo.  "Aqueles vampiros tratam você tão mal, por que você anda entre eles?"  "Pessoas fizeram isso comigo," eu disse. "Não vampiros." Nós saímos. O tráfego estava tranquilo, já que estava quase amanhecendo o domingo. Levou apenas quinze minutos para chegar ao mesmo lugar que eu tinha estado na noite anterior, o estacionamento da Sociedade.  "Você pode esperar por mim?" Perguntei ao motorista. Ele era um homem em seus sessenta anos, grisalho e com um dente da frente faltando. Ele usava uma camisa xadrez com encaixes ao invés de botões.  "Acredito que eu posso fazer isso," disse ele. Ele puxou uma ficção de velho oeste de Louis L'Amour de debaixo de seu assento e ligou a luz para ler.  Sob o brilho intenso das lâmpadas de sódio, o estacionamento não mostrava traços visíveis dos acontecimentos da noite anterior. Havia apenas um par de veículos restante, e eu percebi que tinham sido abandonados na noite anterior. Um desses carros era provavelmente de Gabe. Me perguntei se Gabe tinha tido uma família; tomara que não. Por um lado, ele era tão sádico que devia ter infernizado a vida deles, e por outro, pelo resto de suas vidas eles irão ficar imaginando como e por que ele morreu. O que Steve e Sarah Newlin fariam agora? Haveria restado membros suficientes para eles continuarem com a Sociedade? Provavelmente as armas e as provisões ainda estavam na igreja. Talvez eles tivessem armazenando contra o apocalipse. Das sombras escuras próximas à igreja uma figura surgiu. Godfrey. Ele ainda estava com o peito nu, e ele ainda parecia um adolescente de dezesseis anos. Apenas as caracteríticas diferentes nas tatuagens e seus olhos desmentiam o seu corpo. 
"Eu vim para assistir," eu disse, quando ele estava perto de mim, mas talvez "testemunhar" teria sido mais exato.  "Por quê?"  "Eu devo isso a você."  "Eu sou uma criatura do mal."  "Sim, você é." Simplesmente não havia como contornar isso. "Mas você fez uma coisa boa, salvando-me de Gabe."  "Matando mais um homem? Minha consciência mal sabia a diferença. Houveram tantos. Pelo menos eu poupei você de uma humilhação."  Sua voz arrebatou meu coração. A crescente luz no céu ainda estava tão fraca que as luzes de segurança do estacionamento permaneceram ligadas, e pelo seu brilho eu examinei o jovem, jovem rosto.  De repente, absurdamente, eu comecei a chorar.  "Isso é bom," disse Godfrey. Sua voz já estava distante. "Alguém chorar por mim no final. Eu dificilmente esperaria por isso." Ele se afastou para uma distância segura.  E então o Sol nasceu.
 
Quando eu voltei para o taxi, o motorista guardou o seu livro.  "Tem um incêndio acontecendo ali?" ele perguntou. "Eu pensei que tinha visto uma fumaça. Eu quase fui ver o que estava acontecendo."  "Está extinto agora," eu disse. 
 
Eu esfreguei meu rosto por um quilômetro ou mais, e então eu olhei para fora da janela enquanto os trechos da cidade emergiam da noite.  De volta ao hotel, entrei em nosso quarto de novo. Eu tirei o meu short, deixei em cima da cama, e justo quando eu estava me preparando para um longo período de insônia, caí num sono profundo.  Bill me acordou no pôr do sol, do seu jeito favorito. A minha camiseta foi puxada para cima, e seu cabelo escuro roçava no meu peito. Era como despertar no meio do caminho, por assim dizer; sua boca sugava tão carinhosamente metade do que ele me disse que era o mais belo par de seios do mundo. Ele era muito cuidadoso com suas presas, que estavam totalmente para fora. Isso era apenas uma das evidências de sua excitação. "Você está afim de fazer isso, desfrutar isso, se eu for muito, muito cuidadoso?" ele sussurrou no meu ouvido.  "Se você me tratar como se eu fosse feita de vidro," Eu murmurei, sabendo que ele poderia.  "Mas isso não se parece com vidro," disse ele, suas mãos movendo suavemente. "Isso é quente. E molhado."  Eu arfei.  "Tanto assim? Estou machucando você?" Sua mão moveu mais vigorosamente.  "Bill" foi tudo que eu pude dizer. Eu coloquei meus lábios nos dele, e sua língua começou num ritmo familiar.  "Deite-se de lado," ele sussurrou. "Eu vou cuidar de tudo." E ele cuidou.  "Por que você estava parcialmente vestida?" ele perguntou, mais tarde. Ele se levantou para pegar uma garrafa de sangue do frigobar no quarto, e foi aquecê-la no microondas. Ele não tinha tomado nem um pouco do meu sangue, em consideração ao meu estado debilitado.  "Eu fui ver Godfrey morrer."  Seus olhos arderam em mim. "O quê?"  "Godfrey encontrou o amanhecer." A frase que uma vez eu tinha considerado embaraçosamente melodramática fluiu naturalmente da minha boca.  Houve um longo silêncio.  "Como você sabia que ele iria? Como você sabia onde?"  Eu dei de ombros do jeito que era possível quando se está deitado em uma cama. "Eu só imaginei que ele ia continuar firme com o seu plano original. Ele parecia bem determinado sobre ele. E ele salvou a minha vida. Era o mínimo que eu podia fazer."  "Ele demonstrou coragem?"  Olhei nos olhos de Bill. "Ele morreu muito corajosamente. Ele estava ansioso para ir."  Eu não tinha idéia do que Bill estava pensando. "Temos que ir ver o Stan," disse ele. "Vamos dizer a ele."  "Por que é que temos que ir ver Stan novamente?" Se eu não fosse uma mulher tão madura, eu faria beicinho. Por assim dizer, Bill deu-me um daqueles olhares.  "Você tem que dizer a ele a sua parte, para que ele se convença de que nós realizamos o nosso serviço. Além disso, tem a questão de Hugo." Isso foi suficiente para me deixar desanimada. Eu estava tão dolorida que a ideia de qualquer roupa a mais do que o necessário tocando a minha pele me fez sentir doente, então eu puxei um longo vestido sem mangas marrom-acinzentado feito de uma malha suave e deslizei cuidadosamente meus pés em sandálias, e este era o meu traje. Bill escovou meus cabelos e colocou meus brincos para mim, uma vez que levantar meus braços era desconfortável, e ele decidiu que eu precisava de uma corrente de ouro. Eu parecia como se estivese indo a uma festa no ambulatório para mulheres espancadas. Bill pediu que fosse trazido um carro alugado. Quando o carro chegou na garagem subterrânea, eu não tinha idéia. Eu nem sequer sabia quem tinha providenciado isso. Bill dirigiu. Eu não olhei mais para fora da janela. Eu estava de saco cheio de Dallas.  Quando chegamos à casa em Green Valley Road parecia tão calma quanto há duas noites. Mas antes que fomos admitidos, descobri que estava movimentada com vampiros. Nós chegamos no meio de uma festa de boas-vindas para Farrell, que estava na sala com seus braços em volta de um belo rapaz que poderia ter no máximo dezoito. Farrell tinha uma garrafa de TrueBlood O negativo em uma mão, e seu acompanhante tinha uma Coca-cola. O vampiro parecia quase tão rosado quanto o garoto.  Farrell na verdade nunca tinha me visto, então ele estava satisfeito por me conhecer. Ele estava vestido da cabeça aos pés como um cowboy tradicional do velho oeste, e enquanto ele se inclinava sobre minha mão, eu esperava ouvir as esporas tinindo. "Você é tão encantadora," disse ele extravagantemente, agitando o frasco de sangue sintético, "que se eu dormisse com mulheres, você receberia a minha inteira atenção por uma semana. Eu sei que você está constrangida com suas contusões, mas elas só realçam sua beleza."  Eu não pude evitar rir. Não só eu estava caminhando como se tivesse oitenta anos, como o meu rosto estava preto-e-azul do lado esquerdo.  "Bill Compton, você é um vampiro de sorte," Farrell disse a Bill.  "Estou bem ciente disso," disse Bill, sorrindo, apesar de um pouco friamente.  "Ela é corajosa e bela!"  "Obrigado, Farrell. Onde está o Stan?" Decidi quebrar este fluxo de elogios. Não apenas isso deixava Bill tenso, mas o jovem companheiro de Farrell estava ficando totalmente curioso. Minha intenção era relatar essa história mais uma vez, e apenas uma vez.  "Ele está na sala de jantar," disse o jovem vampiro, aquele que trouxe a pobre Bethany para a sala de jantar quando tínhamos vindo aqui antes. Este devia ser Joseph Velasquez. Ele tinha talvez um metro e setenta, e sua ascendência hispânica deu a ele um tom de pele bronzeado e olhos escuros de um fidalgo, enquanto a sua condição de vampiro deu-lhe um olhar sem emoção e a iminente disposição para causar danos. Ele estava explorando a sala, à espera de encrenca. Eu decidi que ele era o tipo de sargento do exército do ninho. "Ele vai ficar feliz em ver vocês dois." Eu lancei um olhar em torno de todos os vampiros e a pequena quantidade de humanos nas grandes salas da casa. Eu não vi Eric. Me perguntava se ele tinha voltado para Shreveport. "Onde está Isabel?" Perguntei a Bill, mantendo a minha voz calma.  "Isabel está sendo punida," disse ele, quase baixo demais para ouvir. Ele não quis falar sobre isso mais alto, e quando Bill achava que essa era uma idéia sensata, eu sabia que era melhor calar a boca. "Ela trouxe um traidor ao ninho, e ela tem de pagar um preço por isso."  "Mas,—"  "Shhh."  Nós fomos para a sala de jantar para encontrá-la tão lotada quanto a sala de estar. Stan estava na mesma cadeira, usando praticamente a mesma roupa que ele tinha vestido da última vez que eu o vi. Ele se levantou quando entramos, e da maneira como ele fez isso, eu entendi que isso era para sinalizar a nossa posição como de pessoas importantes.  "Senhorita Stackhouse," disse ele formalmente, apertando a minha mão com muito cuidado. "Bill."
Stan examinou-me com seus olhos, seu azul desbotado não perdeu um detalhe das minhas lesões. Seus óculos foram remendados com fita adesiva. Stan era nada menos que meticuloso com o seu disfarce. Eu pensei em mandar pra ele um protetor de bolsos no Natal.  "Por favor me diga o que aconteceu com você ontem, não omitindo nada," disse Stan.  Isso me lembrou irresistivelmente de Archie Goodwin se reportando a Nero Wolfe. "Eu vou entendiar o Bill," eu disse, esperando me livrar desta recitação.  "Bill não se importará de ficar um pouco entediado." Não havia como contornar isso. Eu suspirei, e começei com Hugo indo me buscar no Hotel Silent Shore. Tentei deixar o nome de Barry de fora da minha narrativa, já que eu não sei como ele se sentiria sendo descoberto pelos vampiros de Dallas. Eu simplesmente o chamei de "um mensageiro do hotel." Claro, eles poderiam saber quem ele era, se tentassem.  Quando eu cheguei à parte onde Gabe enviou Hugo para a cela de Farrell e em seguida tentou me estuprar, meus lábios se repuxaram em um sorriso apertado. Meu rosto ficou tão tenso que eu pensei que poderia rachar.  "Por que ela faz isso?" Stan perguntou a Bill, como se eu não estivesse lá.  "Quando ela está tensa..." Bill disse.  "Ah." Stan olhou para mim ainda mais atenciosamente. Eu estendi o braço e começei a puxar meu cabelo em um rabo de cavalo. Bill me entregou um prendedor elástico do seu bolso, e com um desconforto considerável, eu segurei os cabelos em um monte apertado para que eu pudesse torcer o prendedor em volta dele três vezes.  Quando eu disse a Stan sobre a ajuda que os metamorfos tinham dado a mim, ele inclinou-se para frente. Ele queria saber mais do que eu contei, mas eu não entregaria nenhum nome. Ele ficou intensamente pensativo depois que contei sobre ser deixada no hotel. Eu não sabia se devia incluir ou não o Eric; eu o deixei de fora, completamente. Ele supostamente era da Califórnia. Eu corrigi a minha narrativa dizendo que eu subi para nosso quarto para esperar pelo Bill.  E então eu disse a ele sobre Godfrey.  Para meu espanto, Stan pareceu que não podia assimilar a morte de Godfrey. Ele me fez repetir a história. Ele girou em sua cadeira para encarar o outro lado enquanto eu falava. Pelas costas dele, Bill me deu uma carícia reconfortante. Quando Stan virou novamente para nós, ele estava limpando os olhos com um lenço manchado de vermelho. Então era verdade que os vampiros podiam chorar. E era verdade que as lágrimas dos vampiros eram de sangue. Eu chorei juntamente com ele. Por seus séculos molestando e matando crianças, Godfrey tinha merecido morrer. Me perguntava quantos humanos estavam na prisão por crimes que Godfrey teria cometido. Mas Godfrey tinha me ajudado, e Godfrey tinha carregado com ele a mais tremenda carga de culpa e tristeza que eu já encontrei.  "Quanta determinação e coragem," disse Stan admiradamente. Ele não tinha nenhum pesar, mas sim ficado absorvido em admiração. "Isso me faz chorar." Ele disse isto de tal maneira que eu sabia que significava uma grande homenagem. "Depois de Bill identificar Godfrey na outra noite, fiz algumas perguntas e descobri que ele tinha pertencido a um ninho em San Francisco. Seus companheiros do ninho sentirão muito ao saberem disso. E de sua traição a Farrell. Porém sua coragem em manter sua palavra, no cumprimento do seu plano!" Isso pareceu ter dominado Stan por completo.  Eu apenas sentia dores por todo o corpo. Eu remexi minha bolsa a procura de uma pequeno vidro de Tylenol, e despejei dois comprimidos em minha mão. Diante do gesto de Stan, o jovem vampiro me trouxe um copo de água, e eu disse, "Obrigado," para sua surpresa.  "Obrigado por seus esforços," disse Stan bem abruptamente, como se de repente ele lembrasse de suas boas maneiras. "Você fez o trabalho para o qual foi contratada, e muito mais. Graças a você nós descobrimos e libertamos Farrell a tempo, e sinto muito que você tenha sofrido tantos danos no processo."  Isso soou extremamente como uma dispensa.  "Com licença," eu disse, deslizando para frente na cadeira. Bill fez um repentino movimento atrás de mim, mas eu o ignorei.  Stan levantou suas claras sobrancelhas diante da minha ousadia. "Sim? O seu cheque será enviado ao seu representante em Shreveport, conforme nosso acordo. Por favor fique connosco esta noite enquanto comemoramos o retorno de Farrell." "O nosso acordo era que se eu descobrisse que um humano fosse culpado, esse humano não seria punida pelos vampiros mas sim seria entregue à polícia. Para que o sistema judicial lidasse com ele. Onde está Hugo?"  Os olhos de Stan deslizaram do meu rosto para focar em Bill atrás de mim. Ele parecia estar silenciosamente perguntando ao Bill porque ele não podia controlar melhor a sua humana.  "Hugo e Isabel estão juntos," disse Stan secretamente.  Eu realmente não queria saber o que isso significava. Mas era uma questão de honra ir até o fim nisto. "Então você não irá honrar o seu acordo?" Eu disse, sabendo que para Stan isso era um verdadeiro desafio.  Deveria haver um ditado, ‗orgulhoso como um vampiro‘. Todos eles são, e eu apunhalei Stan em seu orgulho. A implicação de que ele era desonroso enfureceu o vampiro. Eu quase recuei, seu rosto tornou-se tão assustador. Ele realmente não tinha mais nada de humano sobrando nele depois de alguns segundos. Seus lábios se afastaram dos seus dentes, suas presas cresceram, e seu corpo arqueou e pareceu alongado.  Após um momento ele ficou de pé, e com uma breve sacudida de sua mão, indicou que eu deveria segui-lo. Bill me ajudou, e nós seguimos depois de Stan enquanto ele andava para o interior de sua casa. Devia ter seis quartos no lugar, e todas as portas para eles foram fechadas. Por trás de uma porta saíam inconfundíveis sons de sexo. Para meu alívio, nós passamos por essa porta. Nós subimos as escadas, o que era muito desconfortável para mim. Stan nunca olhou para trás e nunca diminuiu o passo. Ele subiu as escadas exatamente no mesmo ritmo em que ele andou. Ele parou em uma porta que parecia igual a todas as outras. Ele a destrancou. Ele ficou de lado e sinalizou para que eu entrasse.  Isso era algo que eu não queria fazer - oh, tanto. Mas eu tinha que fazer. Eu fui em frente e olhei dentro.  Exceto pelo azul escuro de parede a parede, o quarto estava vazio. Isabel estava acorrentada à parede em um lado da sala - com prata, é claro. Hugo estava no outro. Ele foi acorrentado, também. Ambos estavam acordados, e ambos olharam para a porta, naturalmente. Isabel acenou com a cabeça como se tivéssemos nos encontrado no shopping, embora ela estivesse nua. Vi que seus pulsos e tornozelos foram acolchoados para prevenir que a prata a queimasse, mesmo assim as correntes continuariam a mantê-la fraca.  Hugo estava nu, também. Ele não conseguia tirar seus olhos de Isabel. Ele mal olhou em minha direção para ver quem eu era antes de seu olhar retornar para ela. Tentei não ficar constrangida, porque isso parecia uma consideração bem insignificante; mas eu acho que foi a primeira vez que eu vi um outro adulto nu na minha vida, além de Bill.  Stan disse, "Ela não pode se alimentar dele, embora ela esteja faminta. Ele não pode fazer sexo com ela, embora ele esteja viciado. Este é o seu castigo, por meses. O que aconteceria com Hugo em tribunais humanos?"  Eu ponderei. O que Hugo tinha feito realmente era de fato acusável?  Ele enganou os vampiros por ter ficado no ninho de Dallas sob falsos pretextos. Isto é, ele realmente amava Isabel, mas ele traiu os companheiros dela. Hmmm. Nenhuma lei sobre isso.  "Ele colocou escutas na sala de jantar," eu disse. Isso era ilegal. Pelo menos, eu achava que era.  "Quanto tempo ele ficaria na prisão por isso?" Stan perguntou.  Boa pergunta. Não muito, era o meu palpite. Um júri humano poderia achar que plantar uma escuta na moradia de um vampiro era até justificável. Eu suspirei, resposta suficiente para Stan.  "Que outra pena Hugo cumpriria?" ele perguntou.  "Ele me levou para a Sociedade sob falsos pretextos... não é ilegal. Ele... bem, ele..."  "Exatamente." O olhar ensandecido de Hugo nunca mudou da direção de Isabel.  Hugo tinha causado e auxiliado o mal, tão seguramente quanto Godfrey tinha cometido o mal.  "Quanto tempo você vai mantê-los lá?" Perguntei.  Stan deu de ombros. "Três ou quatro meses. Iremos alimentar Hugo, é claro. Não Isabel."  "E depois?"  "Vamos libertár-lo primeiro. Ele terá um dia de vantagem."  Bill segurou forte o meu pulso. Ele não queria que eu fizesse mais alguma pergunta.  Isabel olhou para mim e assentiu. Isto parecia justo para ela, era o que estava dizendo. "Tudo bem," eu disse, segurando minhas mãos em frente em posição de "Pare". "Tudo bem." E eu me virei e segui meu caminho lenta e cuidadosamente descendo as escadas.  Eu tinha perdido alguma integridade, mas se minha vida dependesse disso, eu não seria capaz de descobrir o que eu poderia fazer diferente. Quanto mais eu tentava pensar nisso, mais confusa eu ficava. Não estou acostumada a considerar cuidadosamente questões morais. É uma coisa ruim a se fazer, ou não é.  Bem, havia um dilema ético aí. É onde alguns conceitos são derrubados, como dormir com Bill embora não fôssemos casados, ou dizer a Arlene que seu vestido era bonito, quando na verdade ele fazia ela ficar horrorosa. Na verdade, eu não podia casar com o Bill. Não era legal. Mas também, ele não me pediu.  Meus pensamentos vagavam num círculo de incerteza em torno do casal miserável do quarto acima. Para minha surpresa, eu senti muito mais por Isabel do que por Hugo. Hugo, afinal, era culpado de um mal efetivo. Isabel era apenas culpada de negligência. Eu tinha muito tempo para divagar mais e mais através de semelhantes padrões de pensamentos sem saída, uma vez que Bill estava se divertindo entusiasmadamente na festa. Eu só fui a uma festa mista de vampiros e humanos uma ou duas vezes antes, e era uma mistura que ainda era desconfortável após dois anos de vampirismo legalmente reconhecido. Bebendo à vontade – isto é, sugando sangue – de humanos era absolutamente ilegal, e eu estou aqui para dizer que na sede dos vampiros de Dallas, esta lei foi rigorosamente vigiada. De tempos em tempos, via um casal desaparecer por um tempo no andar de cima, mas todos os humanos pareciam voltar em boas condições de saúde. Eu sei, porque eu contei e observei.  Bill tinha se integrado à sociedade por tantos meses que aparentemente era um verdadeiro prazer para ele se reunir com outros vampiros. Então ele mergulhou em conversas com este ou aquele vampiro, relembrando os velhos tempos de Chicago nos anos vinte ou oportunidades de investimento em diversas propriedades vampíricas em todo o mundo. Eu estava tão abalada fisicamente que eu estava satisfeita em sentar num sofá macio e assistir, tomando um gole de vez em quando do meu Screwdriver*. O barman era um rapaz agradável, e nós conversamos sobre bares por um tempo. Eu deveria estar desfrutando minha folga de servir mesas no Merlotte's, mas eu iria de bom grado vestir meu uniforme e anotar pedidos. Eu não estou acostumada a grandes mudanças na minha rotina. (*coquetel feito de vodka com suco de laranja) Então uma mulher talvez um pouco mais nova que eu jogou-se no sofá ao meu lado. Acabou que ela estava saindo com o vampiro que agia como um sargento do exército, Joseph Velasquez, que tinha ido a sede da Sociedade com Bill na noite anterior. Seu nome era Trudi Pfeiffer. Trudi tinha o cabelo espetado com pontas bem vermelhas, um piercing na língua e nariz, e maquiagem macabra, incluindo um batom preto. Ela me disse orgulhosamente que cor dele era chamada de Túmulo Podre. Seu jeans era tão baixo que eu me perguntava como ela se levantava e abaixava com ele. Talvez ela usasse esse cós tão baixo para mostrar o seu piercing no umbigo. Seu top de tricô estava cortado muito curto. A roupa que tinha usado na noite em que a bacante me atacou perdeu a cor em comparação. Então, tinha muito de Trudi para ver.  Quando falei com ela, ela não era tão bizarra quanto sua aparência levava você a acreditar. Trudi era uma estudante universitária. Eu descobri, por meio de escuta absolutamente legítima, que ela mesma acreditava estar acenando a bandeira vermelha para o touro, por namorar Joseph. O touro era seus pais, eu deduzi.  "Eles até prefeririam que eu namorasse alguém negro," ela me disse com orgulho.  Eu tentei parecer apropriadamente impressionada. "Eles realmente detestam o cenário dos mortos, hein?"  "Oh, eternamente." Ela assentiu várias vezes e acenou suas unhas pretas extravagantemente. Ela estava bebendo Dos Equis*. "Minha mãe sempre diz: 'Você não pode namorar alguém vivo?" Nós rimos. (*cerveja mexicana) "Então, como estão você e Bill?" Ela meneou suas sobrancelhas para cima e para baixo para indicar o quão significativa era a pergunta.  "Você quer dizer...?"  "Como ele é na cama? Joseph é inacreditavelmente foda."  Não posso dizer que fiquei surpresa, mas fiquei assustada. Eu remexi a minha mente durante um minuto. "Fico feliz por você," Eu disse finalmente. Se ela fosse minha grande amiga Arlene, eu poderia dar uma piscadela e sorrir, mas eu não iria discutir a minha vida sexual com uma estranha total, e eu realmente não queria saber sobre ela e Joseph.  Trudi cambaleou para buscar outra cerveja, e se manteve conversando com o barman. Eu fechei os olhos de alívio e cansaço, e senti o sofá se pressionar ao meu lado. Abri meu olhar para a direita para ver qual novo companheiro eu tinha. Eric. Ah, ótimo.  "Como você está?" ele perguntou.  "Melhor do que eu pareço." Isso não era verdade.  "Você viu Hugo e Isabel?"  "Sim." Eu olhei para as minhas mãos dobradas no meu colo.  "Apropriado, você não acha?"  Pensei que Eric estava tentando me provocar.  "De certa forma, sim," eu disse. "Presumindo que Stan cumpra a sua palavra."  "Você não disse isso para ele, eu espero." Mas Eric parecia estar apenas divertido.  "Não, eu não disse. Não em tantas palavras. Vocês são todos tão orgulhosos."  Ele olhou surpreso. "Sim, eu acho que é verdade."  "Você só veio para me investigar?"  "Para Dallas?"  Eu assenti. "Sim." Ele deu de ombros. Ele estava vestindo uma camisa de malha numa bonita padronagem bege-e-azul, e ao se encolher os seus ombros pareceram imensos. "Estamos emprestando você pela primeira vez. Eu queria ver se as coisas correriam bem, sem estar aqui na minha capacidade oficial." 
"Você acha que Stan sabe quem você é?"  Ele pareceu interessado na idéia. "Não é difícil de acreditar," disse ele finalmente. "Ele provavelmente teria feito a mesma coisa no meu lugar."  "Você acha que a partir de agora, você poderia só me deixar ficar em casa, e deixar a mim e Bill em paz?" Perguntei.  "Não. Você é muito útil," disse ele. "Além disso, tenho esperanças de que quanto mais você me ver, mais gostará de mim."  "Tal como um fungo?"  Ele riu, mas seus olhos estavam fixos em mim de um jeito de quem pretendia seriamente. Oh, inferno.  "Você fica especialmente saborosa nesse vestido de malha sem nada por baixo," disse Eric. "Se você deixasse Bill e viesse para mim por sua vontade própria, ele teria que aceitar."  "Mas não vou fazer uma coisa dessas," eu disse, e então algo capturou os limites da minha consciência.  Eric começou a dizer outra coisa para mim, mas coloquei minha mão na sua boca. Movi minha cabeça de um lado para o outro, tentando obter a melhor recepção; esta é a melhor forma que posso explicar isso.  "Me ajude a levantar," eu disse. Sem uma palavra, Eric se levantou e suavemente puxou-me para ficar de pé. Eu podia sentir minhas sobrancelhas se juntando.  Eles estavam todos à nossa volta. Eles cercaram a casa.  Seus cérebros estavam ávidos para entrar em campo. Se Trudi não estivesse tagarelando antes, eu poderia tê-los ouvido enquanto eles moviam-se furtivamente até cercar a casa.  "Eric," eu disse, tentando apanhar tantos pensamentos quanto eu conseguia, ouvindo uma contagem regressiva, oh, Deus!  "Todos no chão!" Eu gritei com meus pulmões a toda força.  Cada vampiro obedeceu.  Então, quando a Sociedade abriu fogo, foram os humanos que morreram.
 
Há um metro de distância, Trudi foi repartida por um tiro de espingarda.  O vermelho escuro que tingia o cabelo dela virou um outro tom de vermelho e os seus olhos abertos me encararam para sempre. Chuck, o barman, foi apenas ferido, uma vez que a estrutura do  bar em si ofereceu a ele alguma proteção.  Eric estava deitado em cima de mim. Devido a minha condição machucada, isso era muito doloroso, e eu comecei a empurrá-lo. Então eu percebi que se ele fosse atingido com balas, ele provavelmente sobreviveria. Mas eu não. Então eu aceitei sua proteção gratamente pelos horríveis minutos da primeira onda do ataque, quando fuzis e escopetas e revolveres foram acionados contra a mansão suburbana deliberadamente. Instintivamente, eu fechei os olhos enquanto a explosão durou. Vidros despedaçaram, vampiros rugiam, humanos gritavam. O barulho batia em mim, tal como um tsunami de cérebros me cobrindo em alta velocidade. Quando ele começou a diminuir gradualmente, eu olhei dentro dos olhos de Eric. Incrivelmente, ele estava animado. Ele sorriu para mim. "Eu sabia que ia ficar em cima de você de alguma maneira," disse ele.  "Está tentando me deixar com raiva para que eu esqueça como estou assustada?"  "Não, só estou sendo oportunista."  Eu me contorci, tentando sair de debaixo dele, e ele disse: "Oh, faça isso de novo. Isso é maravilhoso."  "Eric, aquela garota com quem eu estava conversando está há menos de um metro de nós com uma parte de sua cabeça faltando."  "Sookie," disse ele, de repente sério, "Eu tenho estado morto durante algumas centenas de anos. Estou habituado a isso. Mas ela ainda não está tão morta. Existe uma faísca. Você quer que eu a converta?"  Fiquei chocada e sem fala. Como eu poderia tomar essa decisão?  E enquanto eu pensava nisso, ele disse, "Ela se foi." Enquanto eu o encarava, o silêncio se tornou completo. O único barulho na casa eram os soluços do namorado ferido de Farrell, que estava pressionando ambas as mãos em sua coxa avermelhada. De fora vinham os sons remotos de veículos arrancando rapidamente para cima e para baixo na calma rua suburbana. O ataque estava acabado. Eu parecia estar tendo problemas para respirar, e descobrir o que eu deveria fazer a seguir. Certamente havia alguma coisa, alguma atitude, que eu deveria tomar?  Isto foi o mais perto de uma guerra que eu já cheguei.  A sala estava cheia dos gritos dos sobreviventes e os rugidos de raiva dos vampiros. Pedaços do estofamento do sofá e das cadeiras flutuavam no ar como neve. Havia vidro quebrado em tudo e o calor da noite emanou pela sala. Vários dos vampiros já estavam de pé e indo à caça, Joseph Velasquez entre eles, eu reparei. "Nenhuma razão para hesitar," disse Eric com um suspiro de deboche, e levantou-se de cima de mim. Ele olhou para baixo para si mesmo. "Minhas camisas sempre ficam arruinadas quando estou perto de você."  "Oh droga, Eric." Fiquei de joelhos com uma prontidão desajeitada. "Você está sangrando. Você foi atingido. Bill! Bill!" Meus cabelos sacudiam pelos meus ombros enquanto eu virava de um lado para outro procurando na sala. A última vez que eu reparei ele estava conversando com uma vampira de cabelos pretos com um acentuado sinal de viúva*. Ela parecia algo tipo a Branca de Neve, para mim. Agora eu estava meio de pé para fazer uma busca pelo andar e eu a vi estatelada perto de uma janela. Algo estava se projetando em seu peito. A janela tinha sido atingida pela explosão dos tiros, e alguns estilhaços tinham voado pela sala. Um deles perfurou seu peito e a matou. Bill não estava à vista, entre os vivos ou os mortos. (*pra quem não conhece essa expressão, sinal de viúva é quando se tem a raiz do cabelo em formato de v bem na testa)   Eric arrancou fora sua camisa encharcada e olhou para baixo em seu ombro. "A bala está bem dentro da ferida, Sookie," disse Eric, através dos dentes cerrados. "Sugue-a para fora."  "O quê?" Eu fiquei pasma diante dele. "Se você não sugá-la, ele irá cicatrizar dentro da minha carne. Se você está tão melindrada, vá pegar uma faca e corte."  "Mas eu não posso fazer isso." Minha pequena bolsa de festa tinha um canivete dentro, mas eu não tinha idéia de onde eu a tinha colocado, e eu não poderia parar pra pensar e procurar.  Ele mostrou os dentes para mim. "Eu levei esta bala por você. Você pode tirá-la para mim. Você não é covarde."  Me obriguei a ficar firme. Eu usei a sua camisa descartada como um pano de limpeza. O sangramento foi diminuindo, e espiando dentro da carne perfurada, eu pude simplesmente ver a bala. Se eu tivesse unhas longas como Trudi, eu teria sido capaz de retirá-la, mas meus dedos são curtos e grossos, e as minhas unhas são cortadas bem curtas. Eu suspirei resignada.  A expressão "morder a bala*" assumiu um novo significado quando eu me inclinei para o ombro de Eric.  Eric deu um longo gemido enquanto eu chupava, e eu senti a bala pular em minha boca. Ele estava certo. O tapete dificilmente poderia ficar mais manchado do que já estava, então já que isso me fez sentir como uma verdadeira bárbara, eu cuspi a bala no chão juntamente com a maior parte do sangue em minha boca. Mas parte dele, inevitavelmente, eu tinha engolido. Seu ombro já estava se curando. "Esta sala está exalando sangue," ele sussurrou. (*no original ‗biting the bullet‘ é uma expressão que significa suportar a dor e foi criada quando ainda não existia anestesia e os soldados baleados na guerra, colocavam uma bala entre os dentes para agüentar firme a cirurgia)
"Bem, taí,", eu disse, e olhei para cima. "Isso foi a mais asquerosa-"  "Seus lábios estão ensangüentados." Ele segurou o meu rosto com ambas as mãos e me beijou.  É difícil não responder quando um mestre na arte de beijar está aplicando um em você. E eu poderia ter me deixado desfrutar – bem, desfrutar mais - se eu não estivesse tão preocupada com o Bill; porque vamos encarar isso, flertar com a morte tem esse efeito. Você quer reafirmar o fato de que você está vivo. Embora os vampiros realmente não estejam, parece que eles não são mais imunes a essa síndrome do que os humanos, e a libido do Eric veio a tona por causa do sangue na sala.  Mas eu estava preocupada com o Bill, e fiquei chocada com a violência, então depois de um longo momento excitante esquecendo o horror ao meu redor, me afastei. Os lábios de Eric estavam ensangüentados agora. Ele os lambeu lentamente. "Vai procurar por Bill," disse ele em uma voz rouca. Eu olhei em seu ombro novamente, para ver que o buraco tinha começado a fechar. Eu peguei a bala de cima do tapete, pegajosa uma vez que estava com sangue, e a envolvi em um pedaço pequeno da camisa do Eric. Parecia como um bom suvenir, na hora. Eu realmente não sei o que eu estava pensando. Havia ainda os feridos e mortos no chão da sala, mas a maioria daqueles que ainda estavam vivos tiveram ajuda de outros humanos ou de dois vampiros que não haviam se juntado à caça.  Sirenes soavam à distância.  A bela porta da frente foi estilhaçada e esburacada. Eu fiquei de um lado para abri-la, só pra garantir se houvesse um vigilante solitário no jardim, mas nada aconteceu. Eu espiei da soleira da porta pelos arredores.  "Bill?" Eu chamei. "Você está bem?"  Só então ele voltou passeando pelo jardim parecendo positivamente rosado. "Bill," eu disse, sentindo-me usada e impiedosa e triste. Uma aversão estúpida, que realmente era apenas uma profunda decepção, enchia o abismo no meu estômago.  Ele parou em seu trajeto.  "Eles dispararam contra nós e mataram alguns de nós," disse ele. Suas presas cintilavam, e ele estava brilhando de excitação.  "Você acabou de matar alguém."  "Para nos defender."  "Para se vingar."  Havia uma clara diferença entre as duas coisas, na minha mente, naquele momento. Ele parecia desnorteado.  "Você nem sequer esperou para ver se eu estava bem", eu disse. Uma vez vampiro, sempre um vampiro. Tigres não podem mudar suas listras. Não se pode ensinar novos truques a um cachorro velho. Ouvi cada alerta que todos já tinham me dado, no caloroso sotaque de casa.  Eu virei e voltei para a casa, andando desatentamente através das manchas de sangue e caos e confusão como se eu visse coisas como essas todos os dias. Algumas das coisas que eu vi eu nem sequer registrei mentalmente, até a próxima semana quando de repente o meu cérebro ia acrescentava uma fotografia para minha visualização: talvez um close de um crânio despedaçado, ou uma artéria jorrando. O que era importante para mim nesse momento era que eu encontrasse a minha bolsa. Eu achei a bolsa no segundo lugar que eu procurei. Enquanto Bill se exasperava com os feridos pois assim ele não teria que falar comigo, eu saí daquela casa e entrei no carro alugado e, apesar da minha ansiedade, eu dirigi. Ficar nesta casa era pior do que o medo do tráfego da cidade grande. Eu caí fora da casa logo antes da polícia chegar lá.  Depois que eu dirigi alguns quarteirões, eu estacionei na frente de uma biblioteca e retirei o mapa do porta-luvas. Embora tenha tomado o dobro do tempo que deveria tomar, já que o meu cérebro estava tão traumatizado que quase não estava funcionando, eu descobri como chegar ao aeroporto.  E foi pra lá que eu fui. Segui as placas que diziam ALUGUEL DE CARROS e estacionei o carro e deixei as chaves dentro e saí. Eu arranjei um lugar no próximo vôo para Shreveport, que estava partindo na hora. Agradeci a Deus por ter o meu próprio cartão de crédito.  Já que eu nunca fiz isso antes, eu demorei alguns minutos para descobrir o telefone público. Eu tive sorte o suficiente de encontrar Jason, que disse que iria me encontrar no aeroporto.  Eu estava em casa na cama pela manhã cedo.  Eu não comecei a chorar até o próximo dia.
 
Houve ainda um movimento na legislatura do Texas para nomear um vampiro como executor jurídico do estado. Afinal, um senador Garza foi citado dizendo, "Morte por mordida de vampiro é pelo menos supostamente sem dor e o vampiro recebe nutrição dela."  Eu tinha uma novidade para o senador Garza. Mordidas de vampiro só são agradáveis pela vontade dele. Se o vampiro não encantar você primeiro, uma mordida grave (ao contrário de uma dentada de amor) dói como o inferno.  Me perguntava se o Senador Garza tinha parentesco com Luna, mas Sam me disse que "Garza" era tão comum entre os americanos de ascendência mexicana como "Smith" era entre os americanos de estirpe inglesa. Sam não perguntou por que eu queria saber. Isso me fez sentir um pouco abandonada, porque eu estava acostumada a me sentir importante para Sam. Mas ele estava preocupado nestes dias, no trabalho e fora. Arlene disse que achava que ele estava saindo com alguém, o que era uma novidade, até onde qualquer uma de nós poderia lembrar. Quem quer que fosse ela, nenhum de nós a tinha visto, o que já era estranho por si só. Tentei contar a ele sobre os metamorfos de Dallas, mas ele apenas sorriu e encontrou uma desculpa para ir fazer outra coisa.  Meu irmão, Jason, passou em casa para almoçar um dia. Não foi como se era quando a minha avó estava viva. Vovó teria servido uma grande refeição na mesa à hora do almoço e, em comparação, tínhamos apenas comido sanduíches à noite. Jason aparecia bem frequentemente naquela época; Vovó era uma excelente cozinheira. Eu consegui servir sanduíches debolo de carne e salada de batata (embora eu não tenha dito a ele que comprei pronta), e tinha preparado um pouco de chá de pêssego, por sorte. Houve ainda um movimento na legislatura do Texas para nomear um vampiro como executor jurídico do estado. Afinal, um senador Garza foi citado dizendo, "Morte por mordida de vampiro é pelo menos supostamente sem dor e o vampiro recebe nutrição dela."  Eu tinha uma novidade para o senador Garza. Mordidas de vampiro só são agradáveis pela vontade dele. Se o vampiro não encantar você primeiro, uma mordida grave (ao contrário de uma dentada de amor) dói como o inferno.  Me perguntava se o Senador Garza tinha parentesco com Luna, mas Sam me disse que "Garza" era tão comum entre os americanos de ascendência mexicana como "Smith" era entre os americanos de estirpe inglesa. Sam não perguntou por que eu queria saber. Isso me fez sentir um pouco abandonada, porque eu estava acostumada a me sentir importante para Sam. Mas ele estava preocupado nestes dias, no trabalho e fora. Arlene disse que achava que ele estava saindo com alguém, o que era uma novidade, até onde qualquer uma de nós poderia lembrar. Quem quer que fosse ela, nenhum de nós a tinha visto, o que já era estranho por si só. Tentei contar a ele sobre os metamorfos de Dallas, mas ele apenas sorriu e encontrou uma desculpa para ir fazer outra coisa.  Meu irmão, Jason, passou em casa para almoçar um dia. Não foi como se era quando a minha avó estava viva. Vovó teria servido uma grande refeição na mesa à hora do almoço e, em comparação, tínhamos apenas comido sanduíches à noite. Jason aparecia bem frequentemente naquela época; Vovó era uma excelente cozinheira. Eu consegui servir sanduíches debolo de carne e salada de batata (embora eu não tenha dito a ele que comprei pronta), e tinha preparado um pouco de chá de pêssego, por sorte. "O que há com você e Bill?" ele perguntou sem rodeios, quando ele tinha terminado . Ele foi muito bom em não perguntar na estrada de volta do aeroporto.  "Eu fiquei furiosa com ele," eu disse.  "Por quê?" "Ele quebrou uma promessa para mim," eu disse. Jason estava tentando arduamente agir como um irmão mais velho, e eu deveria tentar aceitar a sua preocupação em vez de ficar zangada. Veio à minha mente, não pela primeira vez, que eu possivelmente tinha um temperamento muito esquentado. Sob algumas circunstâncias. Eu bloqueei meu sexto sentido firmemente, assim eu apenas ouviria o que Jason estava realmente dizendo.  "Ele tem sido visto bastante em Monroe."  Eu respirei fundo. "Com outra pessoa?"  "Sim."  "Quem?"  "Você não vai acreditar nisso. Portia Bellefleur."  Eu não poderia ter ficado mais surpresa se Jason me dissesse que Bill estava saindo com Hillary Clinton (apesar de que Bill era um democrata). Encarei meu irmão como se ele de repente anunciasse que ele era o Satanás. As únicas coisas que Portia Bellefleur e eu tínhamos em comum era o local de nascimento, órgãos femininos, e cabelos compridos. "Bem," eu disse sem expressão. "Não sei se dou piti ou uma gargalhada. O que você faria?"  Porque se alguém entendia coisas sobre relação homem-mulher, era Jason. Pelo menos, ele entendia sobre isso pelo ponto de vista masculino.  "Ela é o oposto de você," disse ele, com ponderação excessiva. "De todas as maneiras que eu posso pensar. Ela é realmente educada, ela vem de um, eu acho que se chama de, antecedente aristocrático, e ela é uma advogada. E mais, o seu irmão é um policial. E eles vão para sinfonias e merdas assim." Lágrimas pinicavam em meus olhos. Eu teria ido a uma sinfonia com Bill, se ele tivesse me convidado. "Por outro lado, você é inteligente, você é bonita, e está disposta a aguentar seus pequenos costumes." Eu não estava exatamente certa do que Jason queria dizer, e achei melhor não perguntar. "Mas nós com certeza não somos da aristocracia. Você trabalha em um bar, e seu irmão é de uma equipe que trabalha em uma estrada." Jason sorriu para mim distorcidamente. 
"Nós estamos aqui há tanto tempo quanto os Bellefleurs," eu disse, tentando não soar rabugenta.  "Eu sei disso, e você sabe disso. E Bill com certeza sabe disso, porque ele estava vivo na época." É verdade.  "O que está acontecendo no caso contra Andy?" Perguntei.  "Não há acusações formuladas contra ele, mas os rumores estão voando pela cidade a torto e a direito sobre essa coisa de clube de sexo. Lafayette estava tão contente por ter sido convidado; evidentemente ele mencionou isso a um bom número de pessoas. Dizem que já que a primeira regra do clube é mantê-lo em segredo, Lafayette foi castigado por seu entusiasmo."  "O que você acha?"  "Eu acho que se alguém estivesse formando um clube de sexo nos arredores de Bon Temps, eles me chamariam," disse ele, absolutamente sério.  "Você está certo," eu disse, novamente impressionada com o quão sensato Jason podia ser. "Você seria o número um da lista." Porque eu não tinha pensado nisso antes? Não só Jason tem uma reputação de um cara que tinha a cama aquecida por muitas garotas, ele era também muito atraente e solteiro.  "A única coisa que eu posso pensar é," eu disse lentamente, "Lafayette era gay, como você bem sabe."  "E?"  "E talvez este clube, se ele existe, só aceite pessoas que estão de acordo com isso."  "Você pode ter razão nisso," disse Jason.  "Sim, Sr. homofóbo." Jason sorriu e deu de ombros. "Todo mundo tem um ponto fraco," disse ele. "Além disso, como você sabe, eu estou saindo com Liz regularmente. Acho que qualquer pessoa com um cérebro veria que Liz não é capaz de dividir um guardanapo, muito menos um namorado." Ele estava certo. A família de Liz notoriamente levou a frase "Não peço emprestado e nem empresto*" completamente ao extremo. (*No original "Neither a borrower nor a lender be", é uma frase muito famosa da obra Hamlet de Shakespeare, que significa que é melhor não pedir emprestado e nem ser o emprestador pois em ambos os casos há o risco de perder o dinheiro e o amigo)  "Você é uma peça rara, irmão," eu disse, focalizando suas imperfeições, em vez daquelas da gente de Liz.  "Há tantas coisas piores do que ser gay."  "Tais como?"  "Ladrão, traidor, assassino, estuprador..."  "Ok, ok, já entendi."  "Espero que sim," eu disse. Nossas diferenças me entristeciam. Mas eu amava Jason de qualquer jeito; ele era tudo que ainda me restava.  Eu vi Bill saindo com Portia na mesma noite. Eu peguei uma visão rápida deles juntos no carro de Bill, descendo pela Rua Claiborne. Portia estava com a cabeça voltada para Bill, conversando; ele estava olhando direto para a frente, inexpressivo, até onde eu poderia dizer. Eles não me viram. Eu estava vindo do caixa eletrônico no banco, a caminho do trabalho.  Ouvir dizer e ver diretamente são duas coisas muito diferentes. Eu senti uma onda esmagadora de raiva; e eu entendi como Bill se sentiu, quando ele tinha visto seus amigos morrendo. Eu queria matar alguém. Eu só não estava certa de quem eu queria matar. Andy estava no bar naquela noite, sentado no setor de Arlene. Fiquei contente, porque Andy parecia mal. Ele não estava com a barba feita, e suas roupas estavam amarrotadas. Ele veio até mim quando estava indo embora, e eu pude sentir o cheiro de bebida. "Tome ele de volta," disse ele. Sua voz estava cheia de raiva. "Pegue o maldito vampiro de volta pra que ele deixe minha irmã em paz."  Eu não soube o que dizer a Andy Bellefleur. Eu só olhei fixamente para ele até ele cambalear para fora do bar. Passou pela minha mente que as pessoas não ficariam tão surpresas ao ouvir sobre um cadáver no carro dele agora como tinham ficado há algumas semanas. A noite seguinte eu estava de folga, e a temperatura caiu. Era uma sexta-feira, e de repente eu estava cansada de ficar sozinha. Eu decidi ir para o jogo de futebol do colégio. Este é um passatempo de cidade grande em Bon Temps, e os jogos são discutidos exaustivamente na segunda-feira de manhã em cada loja na cidade. A filmagem do jogo é apresentada duas vezes em um canal de tv local, e rapazes que demonstram habilidade com a bola de futebol são a pequena realeza, o que é de dar dó.  Você não aparece no jogo toda despenteada.  Eu puxei o cabelo para trás da minha testa numa faixa elástica e passei o enrolador de cabelo no resto, então fiquei com cachos espessos pendurados em torno de meus ombros. Minhas contusões desapareceram. Apliquei maquiagem completa, até delineador labial. Eu vesti uma calça preta de malha e um suéter preto e vermelho. Eu usei minhas botas de couro preto, e minhas argolas de ouro, e eu prendi um laço vermelho-e-preto para esconder a faixa elástica em meu cabelo. (Adivinha quais são as cores da nossa escola.) "Muito bom," eu disse, vendo o resultado no meu espelho. "Bom pra caramba." Eu peguei o meu casaco preto e minha bolsa e me dirigi para a cidade.  As arquibancadas estavam cheias de pessoas que eu conhecia. Uma dúzia de vozes me chamaram, uma dúzia de pessoas me disseram como eu estava uma gracinha, e o problema era... Eu estava extremamente infeliz. Logo que eu percebi isso, eu colei um sorriso no rosto e procurei alguém para me sentar junto.  "Sookie! Sookie!" Tara Thornton, uma das minhas poucas boas amigas do colégio, estava me chamando do alto das bancadas. Ela fez um gesto frenético acenando, e eu sorri de volta e começei a longa caminhada para cima, falando com mais pessoas pelo caminho. Mike Spencer, diretor da funerária, estava lá, no seu favorito traje de cowboy, e a grande amiga da minha avó, Maxine Fortenberry, e seu neto Hoyt, que era um amigo de Jason. Eu vi Sid Matt Lancaster, o antigo advogado, empacotado ao lado da esposa.
Tara estava sentada com seu noivo, Benedict Tallie, que era inevitável e lamentavelmente chamado de "Ovos". Com eles estava o melhor amigo de Benedict, JB du Rone. Quando eu vi JB, meu ânimo começou a se elevar, e também a minha libido reprimida. JB poderia ter estado na capa de um romance original, ele era tão lindo. Infelizmente, ele não tinha um cérebro em sua cabeça, como eu descobri em um punhado de encontros que tivemos. Eu muitas vezes pensei que eu dificilmente teria de colocar qualquer escudo mental para estar com JB, porque ele não tinha pensamentos para serem lidos.  "Ei, como vão vocês todos?" "Estamos ótimos!" Tara disse, com seu rosto de garota alegre. "E você? Eu não tenho visto você há muito tempo*!" Seus cabelos escuros estavam cortados curtos no estilo pajem, e seu batom poderia acender uma fogueira, de tão quente que era. Ela estava vestindo branco ‗sujo‘ e preto com um lenço vermelho para mostrar sua torcida pelo time, e ela e Ovos estavam dividindo uma bebida em um dos copos de papel vendidos no estádio. Foi incrementada; eu conseguia cheirar o bourbon de onde eu estava. "Chega pra lá, JB, e me deixe sentar com você," eu disse com um sorriso em resposta.  (*No original ‗in a coon's age‘ que quer dizer um tempo muito longo já que a expressão se refere à idade do coati, que pode viver até uns 8 anos ou mais) "Claro, Sookie," disse ele, parecendo muito feliz em me ver. Esse era um dos encantos do JB. Os outros incluíam dentes brancos perfeitos, um nariz absolutamente reto, um rosto tão másculo e ainda assim tão bonito que fazia você desejar alcançar e afagar suas bochechas, e um amplo tórax e cintura esbelta. Talvez não tão esbelta quanto costumava ser, mas também, JB era humano, e isso era uma Coisa Boa. Eu me estabeleci entre Ovos e JB, e Ovos virou-se para mim com um sorriso piegas.  "Quer uma bebida, Sookie?"  Eu meio que me poupo de bebidas, uma vez que eu vejo os seus resultados todos os dias. "Não, obrigada," eu disse. "Como você tem passado, Ovos?" "Bem," disse ele, depois de considerar. Ele tinha bebido mais do que Tara. Ele tinha bebido demais. Conversamos sobre amigos em comum e conhecidos até o pontapé de saída, após o qual o jogo era o único tema da conversa. O jogo, amplamente, porque todo jogo pelos últimos cinquenta anos estava fixo na memória coletiva de Bon Temps, e este jogo era comparado com todos os outros jogos, estes jogadores com todos os outros. Eu poderia realmente curtir um pouco esta ocasião, já que eu tinha desenvolvido minha blindagem mental de tal forma que eu poderia fingir que as pessoas eram exatamente o que diziam, já que eu absolutamente não estivesse estava escutando.  JB aconchegou-se mais e mais perto, depois de um banho de elogios sobre o meu cabelo e minha imagem. A mãe de JB tinha ensinado a ele desde cedo que mulheres apreciadas são mulheres felizes, e era uma simples filosofia que tinha mantido a cabeça de JB acima da água por algum tempo. 
"Você se lembra daquela médica no hospital, Sookie?" ele me perguntou de repente, durante o segundo quarto do jogo.  "Sim. Dra. Sonntag. Viúva." Ela era jovem para ser uma viúva, e mais jovem ainda para ser uma médica. Eu a tinha apresentado para JB.  "Nós saímos por um tempo. Eu e uma médica," disse ele admiradamente.  "Ei, isso é ótimo." Eu esperando tanto. Me pareceu que a Dra. Sonntag certamente poderia usar o que JB tinha para oferecer, e JB precisava... bem, ele precisava de alguém para cuidar dele. "Mas então ela foi transferida de volta para Baton Rouge," ele me disse. Ele parecia um pouco arrasado. "Acho que sinto a falta dela." Um sistema de saúde tinha comprado nosso pequeno hospital, e os médicos do pronto socorro foram trazidos para quatro meses contínuos. Seu braço apertou-se em volta do meu ombro. "Mas é terrivelmente bom ver você," ele me assegurou.  Que idiota*. "JB, você poderia ir para Baton Rouge para vê-la," Eu sugeri. "Por que você não vai?"  (* No original a expressão é Bless his heart que tem vários contextos - 1: frase usada por mulheres do Sul para desculpar-se para falar mal de alguém. Tipo ―Deus me perdoe‖. 2: uma manifestação de simpatia ou piedade. No sentido de ―Você merece.‖ Ou ―Você é uma boa pessoa‖. 3: uma maneira educada de responder a um ignorante, especialmente do sexo masculino, que inunda você de lisonjas, mas os elogios são indesejados. No sentido ―Você é um idiota!‖ ou ―Foda-se!‖) "Ela é uma médica. Ela não tem muito tempo livre."  "Ela arranjaria um tempo para você."  "Você acha?" "A menos que ela seja uma absoluta idiota," eu disse a ele.  "Eu poderia fazer isso. Eu falei com ela ao telefone na outra noite. Ela disse que queria que eu estivesse lá."  "Essa foi uma grande insinuação, JB".  "Você acha?"  "Com certeza."  Ele pareceu mais atrevido. "Então, eu estou decidido a dirigir até Baton Rouge amanhã", disse ele de novo. Ele beijou a minha bochecha. "Você me faz sentir bem, Sookie."  "Bem, JB, o mesmo vale para você." Eu dei-lhe um selinho nos lábios, um bem rápido.  Então eu vi Bill olhando fixo diretamente para mim. Ele e Portia estavam no próximo setor de assentos, perto do fundo. Ele tinha se virado e estava olhando para mim.  Se eu tivesse planejado, não poderia ter funcionado melhor. Este foi um magnífico momento ‗danese‘.  E foi arruinado.  Eu só desejava ele.  Eu desviei meus olhos e sorri para JB, e todo o tempo o que eu queria era me encontrar com Bill embaixo da arquibancada e transar com ele exatamente ali e naquele momento. Eu queria que ele abaixasse minhas calças e me agarrasse por trás. Eu queria que ele me fizesse gemer.  Fiquei tão chocada comigo mesma que eu não sabia o que fazer. Eu podia sentir meu rostoficando um vermelho apagado. Eu não poderia sequer fingir um sorriso. Após um minuto, eu pude avaliar que isto era quase engraçado. Eu tinha sido criada o mais convencionalmente possível, dada a minha deficiência incomum. Naturalmente, eu aprendi a realidade da vida desde muito cedo já que eu podia ler mentes (e, como uma criança, não tinha controle sobre o que eu absorvia). E eu sempre achei que a idéia do sexo era muito interessante, embora a mesma deficiência que me levou a aprender muito sobre isso teoricamente me manteve longe de colocar essa teoria em prática. Afinal, é difícil ficar realmente envolvida em sexo quando você sabe que o seu parceiro está desejando que fosse Tara Thornton em vez de você (por exemplo), ou quando ele está esperando que você tenha lembrado de trazer um preservativo, ou quando ele está criticando partes do seu corpo. Para o sexo bem sucedido, você tem de manter sua concentração fixa no que seu parceiro está fazendo, então você não pode ficar distraída com o que ele está pensando.  Com Bill, eu não podia ouvir uma única coisa. E ele era tão experiente, tão suave, tão absolutamente dedicado fazer tudo direito. Aparentemente eu estava tão viciada quanto Hugo. Fiquei o resto do jogo, sorrindo e assentindo com a cabeça quando parecia indicado, tentando não olhar para baixo e para a minha esquerda, e constatando que após o show durante o intervalo da partida que eu não tinha ouvido uma única música que a banda havia tocado. Nem tinha notado o primo de Tara numa performance solo. Enquanto a multidão movia-se lentamente para o estacionamento após o Bon Temps Hawks ter vencido, por 28 a 18, concordei em levar JB para casa. Ovos já estava quase sóbrio nessa hora, então eu tinha certeza que ele e Tara estariam bem; mas fiquei aliviada ao ver Tara assumir o volante.  JB morava perto do centro da cidade na metade de um duplex. Ele me convidou muito carinhosamente para entrar, mas eu dissea ele que tinha de ir para casa. Eu lhe dei um grande abraço, e o aconselhei a ligar para Dra. Sonntag. Eu ainda não sabia o primeiro nome dela. Ele disse que iria, mas em se tratando do JB, você não pode realmente contar com isso.  Então eu tive que parar e abastecer no único posto de gasolina aberto até tarde da noite, onde eu tive uma longa conversa com Derrick, o primo de Arlene (que teve a coragem de assumir o turno da noite), então eu demorei um pouco mais para chegar em casa do que eu tinha planejado. Enquanto eu destrancava a porta da frente, Bill surgiu da escuridão. Sem uma palavra, ele agarrou meu braço e me virou para ele, e depois ele me beijou. Em um minuto nós estávamos pressionados contra a porta, com o seu corpo se movimentando ritmicamente contra o meu. Eu estendi uma mão por trás de mim para apalpar a fechadura, e finalmente virei a chave. Nós cambaleamos pela casa, e ele me virou de frente para o sofá. Eu o a agarrei com fimeza com minhas mãos e, tal como eu tinha imaginado, ele puxou as minhas calças, e então ele estava em mim.  Fiz um ruído rouco que eu nunca ouvi sair antes da minha garganta. Bill estava fazendo barulhos igualmente primitivos. Eu não acho que poderia formar uma palavra. Suas mãos estavam sob o meu suéter, e meu sutiã estava em dois pedaços. Ele foi implacável. Eu quase tive um colapso depois do primeiro orgasmo. "Não," ele rosnou quando eu estava enfraquecendo, e ele continuou se movimentado em mim. Então, ele aumentou o ritmo até eu quase perder o fôlego e, em seguida, rasgou meu suéter, e os seus dentes encontraram o meu ombro. Ele fez um som profundo, terrível, e em seguida, depois de longos segundos, tinha acabado.  Eu estava arquejando como se tivesse corrido um quilômetro, e ele estava tremendo, também. Sem se incomodar em fechar suas roupas novamente, ele me posicionou de frente para ele, e inclinou sua cabeça para o meu ombro novamente para lamber as pequenas feridas. Quando tinha parado de sangrar e começou a cicatrizar, ele tirou tudo o que eu estava usando, muito lentamente. Ele me limpou em baixo; e me beijou em cima. "Você cheira a ele" foi a única coisa que ele disse. Ele continuou a apagar aquele cheiro e substituí-lo pelo seu próprio.  Então nós estávamos no quarto, e eu tive um momento para dar graças por ter trocado a roupa de cama naquela manhã antes de ele colocar sua boca na minha novamente.  Se eu tinha dúvidas até então, agora não tinha mais. Ele não estava dormindo com Portia Bellefleur. Eu não sabia o que ele estava fazendo, mas ele não tinha um verdadeiro relacionamento com ela. Ele deslizou os braços embaixo de mim e me segurou junto a ele o mais apertado possível; ele encostou o nariz meu pescoço, massageou meus quadris, correu os dedos pelas minhas coxas, e beijou as costas dos meus joelhos. Ele tomou banho em mim. "Afaste suas pernas para mim, Sookie," ele sussurrou, em sua voz fria e melancólica, e eu fiz. Ele estava pronto novamente, e ele foi violento no ato, como se ele estivesse tentando provar alguma coisa.  "Seja doce," eu disse, a primeira vez que eu tinha falado.  "Não posso. Já faz muito tempo, da próxima vez eu vou ser doce, eu juro," disse ele, correndo a língua por baixo da linha da minha mandíbula. Suas presas arranharam meu pescoço. Dentes, língua, boca, dedos, masculinidade; era como fazer amor com o diabo da Tasmânia. Ele estava em todo lugar, e em todo lugar com pressa.  Quando ele desabou em cima de mim, eu estava exausta. Ele mudou de posição para se deitar ao meu lado, uma perna joagada sobre a minha, um braço atravessando o meu peito. Ele poderia também ter arranjado um ferro de marcar gado e ter deixado suas iniciais, mas isso não teria sido tão divertido para mim.  "Você está bem?" ele murmurou.  "Exceto por ter corrido em direção a uma parede de tijolos algumas vezes," eu disse indistintamente. Nós dois ficamos inertes para dormir um pouco, ainda assim Bill acordou primeiro, como ele sempre faz durante a noite. "Sookie," disse ele calmamente. "Querida. Acorde." "Oo," eu disse, lentamente voltando à consciência. Pela primeira vez em semanas, eu acordei com a vaga convicção de que tudo estava certo no mundo. Com lento desânimo, eu percebi que as coisas estavam longe de estar certas. Eu abri meus olhos. Bill estava logo acima de mim.  "Temos que conversar," disse ele, afagando o cabelo para trás do meu rosto. 
"Então fala." Eu já estava acordada. O que eu estava lamentando não era o sexo, mas ter de discutir as questões entre nós.  "Me deixei levar em Dallas," disse ele imediatamente. "Os vampiros fazem isso, quando a chance de caçar se apresenta tão obviamente. Fomos atacados. Nós temos o direito de caçar aqueles que querem nos matar."  "Ou seja regressando aos dias de anarquia," eu disse.  "Mas vampiros caçam, Sookie. É a nossa natureza," disse ele muito seriamente. "Como leopardos; como lobos. Nós não somos humanos. Nós podemos fingir que somos, quando estamos tentando conviver com as pessoas... em sua sociedade. Podemos às vezes lembrar como era estar entre vocês, ser um de vós. Mas nós não somos da mesma raça. Nós já não somos do mesmo corpo.‖  Eu pensei que isso tivesse acabado. Ele me disse isso, repetidas vezes, em palavras diferentes, desde que tínhamos começado a nos ver. Ou talvez, ele estivesse me vendo, mas eu não o tinha visto: claramente, verdadeiramente. Não importa quantas vezes eu pensei que estava em paz com a sua diversidade, me dei conta de que eu ainda esperava que ele reagisse como se ele fosse como JB du Rone, ou Jason, ou o meu pastor da igreja.  "Acho que finalmente estou entendendo isso," eu disse. "Mas você tem que perceber, às vezes eu não vou gostar dessa diferença. Às vezes eu tenho que me afastar e esfriar a cabeça. Eu realmente vou tentar. Eu realmente amo você." Tendo feito o meu melhor para prometer conhecê-lo em partes, me lembrei da minha própria queixa. Agarrei seu cabelo e girei para ficar sobre ele para que eu o olhasse embaixo. Eu olhei bem nos olhos dele.  "Agora, me diga o que você está fazendo com Portia." As grandes mãos do Bill repousaram sobre meus quadris enquanto ele explicava.  "Ela me procurou depois que voltei de Dallas, na primeira noite. Ela tinha lido sobre o que aconteceu lá, imaginou se eu conhecia alguém que tinha estado lá naquele dia. Quando eu disse que eu mesmo tinha estado lá - eu não mencionei você - Portia disse que tinha informações de que algumas das armas utilizadas no ataque tinham saído de um lugar em Bon Temps, a Loja de Esportes Sheridan's. Perguntei a ela como tinha ouvido isso; ela disse que como uma advogada, ela não poderia dizer. Eu perguntei por que ela estava tão preocupada, se não havia mais nada que ela pudesse me contar; ela disse que era um boa cidadã e odiava ver outros cidadãos perseguidos. Eu perguntei a ela por que procurou por mim; ela disse que eu era o único vampiro que ela conhecia." Eu acreditava nisso como eu acreditava que Portia era uma dançarina do ventre secreta.  Eu estreitei meus olhos enquanto pensava sobre isso. "Portia não se importa com os direitos dos vampiros coisíssima nenhuma," eu disse. "Ela pode querer entrar na sua calça, mas ela não se preocupa com as questões jurídicas dos vampiros."  "Entrar em minha calça?" Que trocadilhos você tem."  "Ah, você já ouviu isso antes," eu disse, um pouco envergonhada.  Ele balançou a cabeça, diversão faiscando em seu rosto. "Entre em minhas calças," ele repetiu, fazendo soar lentamente."Eu estaria dentro das suas calças, se você estivesse com uma." Ele passou as mãos para cima e para baixo para demonstrar.  "Corta essa," eu disse. "Estou tentando pensar."  Suas mãos estavam pressionando o meu quadril, em seguida soltando, movendo-me para frente e para trás em cima dele. Comecei a ter dificuldade para formar pensamentos.  "Pára, Bill," eu disse. "Ouça, eu acho que Portia quer ser vista com você para que ela possa ser convidada a aderir ao suposto clube de sexo aqui em Bon Temps."  "Clube de Sexo?" Bill disse com interesse, nem ao menos parando. "Sim, eu não disse a você... Oh, Bill, não... Bill, eu ainda estou cansada da última... Oh. Oh, meu Deus." Suas mãos tinham se apoderado de mim com sua força enorme, e moveu-me intencionalmente, bem para cima de seu membro rígido. Ele começou a balançar-me novamente, para frente e para trás. "Oh," eu disse, desnorteada com as sensações do momento. Eu comecei a ver cores flutuando na frente dos meus olhos, e então eu estava sendo mexida tão rápido que não pude acompanhar meus movimentos. O fim chegou ao mesmo tempo para nós dois, e nós ficamos abraçados juntinhos arquejando durante vários minutos. "Nós nunca devemos nos separar novamente," disse Bill.  "Eu não sei, isso quase fez a separação valer a pena."  Uma pequena série de tremores agitaram seu corpo. "Não," disse ele. "Isso é maravilhoso, mas eu preferiria sair da cidade por apenas alguns dias, do que brigar com você novamente." Ele arregalou os olhos. "Você realmente sugou uma bala do ombro de Eric?"  "Sim, ele disse que eu tinha que tirá-la antes de sua carne se fechasse sobre ela."  "Ele te disse que ele tinha um canivete no bolso?"  Eu quase caí pra trás. "Não. Ele tinha? Por que ele faria isso?"  Bill levantou suas sobrancelhas, como se eu tivesse dito algo completamente ridículo.  "Adivinha," disse ele.  "Pra que eu chupasse o ombro dele? Você não pode estar falando sério."  Bill apenas manteve o olhar cético.  "Oh, Bill. Eu caí nessa. Espere um minuto - ele foi baleado! Essa bala poderia ter me atingido, mas em vez disso atingiu a ele. Ele estava me protegendo."  "Como?"  "Bem, se jogando por cima de mim..."  "Isso encerra o caso." Não havia nada antiquado em Bill no momento. Mas por outro lado, havia um olhar bem antiquado em seu rosto.  "Mas, Bill... Quer dizer que ele é enganador assim?"  Novamente com as sobrancelhas levantadas.  "Deitar em cima de mim não é um prazer tão grande," eu protestei, "que alguém deveria levar uma bala para isso. Credo. Isso é loucura!" "Isso deixou algum sangue dele em você."
"Só uma gota ou duas. Eu cuspi fora o resto," eu disse.  "Uma gota ou duas é suficiente quando se é tão velho quanto Eric é."  "Suficiente para quê?"  "Ele vai saber algumas coisas sobre você, agora."  "O que, tipo o tamanho de meu vestido?"  Bill sorriu, o que nem sempre é uma visão relaxante. "Não, tipo como você está se sentindo. Zangada, excitada, amando."  Eu dei de ombros. "Isso não fará nenhum bem a ele."  "Provavelmente isso não é tão importante, mas tenha cuidado a partir de agora," Bill me advertiu. Ele pareceu bastante sério.  "Eu ainda não posso acreditar que alguém poderia colocar-se numa posição de tomar uma bala por mim só na esperança de que eu fosse ingerir uma gota de sangue tirando a bala. Isso é ridículo. Sabe, está parecendo que você introduziu este assunto para que eu desistisse de incomodá-lo sobre Portia, mas não vou fazer isso. Eu acho que Portia acredita que se ela namorar você, alguém vai convidá-la para ir a este clube de sexo, pois se ela estiver disposta a transar com um vampiro, ela estaria disposta a fazer qualquer coisa. Eles pensam assim," eu disse rapidamente após olhar para a cara de Bill. "Então Portia calcula que se ela for, ela vai se informar de coisas, ela vai descobrir quem realmente matou Lafayette, Andy estará livre de uma enrascada."  "Essa é uma trama complicada."  "Você pode refutá-lo?" Fiquei orgulhosa por usar refutar, que tinha estado na minha lista de Palavra do Dia. "Para falar a verdade, eu não posso." Ele ficou imóvel. Seus olhos estavam fixos e sem piscar, e as mãos relaxadas. Já que Bill não respirava, ele ficava absolutamente parado.  Por fim ele piscou. "Teria sido melhor se ela me tivesse dito a verdade desde o começo."  "Acho bom que você não tenha transado com ela," eu disse, finalmente admitindo para mim mesma que a mera possibilidade tinha me deixado quase cega de ciúmes. "Estava imaginando quando você ia me perguntar," disse ele calmamente. "Como se eu alguma vez fosse para cama com uma Bellefleur. Não, ela não tem a menor vontade de fazer sexo comigo. Ela até deu um duro danado fingindo que ela iria querer em algum encontro posterior. Portia não é muito boa atriz. Na maioria do tempo em que estávamos juntos, ela me levava em investigações em vão para encontrar este esconderijo de armas que a sociedade tem armazenado aqui, dizendo que todos os simpatizantes da Sociedade estão escondendo."  "Então por que você iria adiante com uma coisa dessas?"  "Tem alguma coisa nela que é nobre. E eu queria ver se você ficaria com ciúmes."  "Ah, entendi. Bem, o que você acha?"  "Eu acho," disse ele, "que era melhor eu nunca ver você a menos de um metro daquele imbecil atraente novamente."  "JB? Eu sou como se fosse irmã dele," eu disse. 
"Você esqueceu, você tomou o meu sangue, e posso dizer o que você está sentindo," disse Bill. "Eu não acho que você se sente exatamente como uma irmã para ele."  "Isso explicaria por que estou aqui na cama com você, certo?"  "Você me ama."  Eu sorri, contra a sua garganta. "Está quase amanhecendo," disse ele. "Eu tenho que ir."  "Ok, baby." Eu sorri para ele enquanto ele recolhia as suas roupas. "Ei, você me deve um suéter e um sutiã. Dois sutiãs. Gabe rasgou um, então foi um prejuízo de roupas relacionado ao trabalho. E você rasgou um na noite passada, além do meu suéter."  "Foi por isso que eu comprei uma loja de roupas femininas," disse ele suavemente. "Assim eu poderia rasgar se estivesse motivado." Eu ri e me deitei de volta. Eu podia dormir por mais algumas horas. Eu ainda estava sorrindo quando ele deixou minha casa, e me levantei no meio da manhã com uma leveza no meu coração que não tinha estado lá por um longo tempo. (Bem, parecia um longo tempo.) Eu caminhei, um pouco cuidadosamente, para o banheiro para ficar de molho em uma banheira cheia de água quente. Quando eu comecei o banho, senti algo no lóbulo da minha orelha. Levantei-me na banheira e olhei para o espelho em cima da pia. Ele colocou os brincos de topázio, enquanto eu estava dormindo.  Sr. Última Palavra.
 
Já que nossa reunião foi secreta, eu é que fui convidada para o clube primeiro. Nunca me ocorreu que isso poderia acontecer; mas depois que aconteceu, eu percebi que se Portia imaginou que ela poderia ser convidada após ficar com um vampiro, eu fui uma refeição mais primária.  Para minha surpresa e repugnância, a pessoa a abordar o assunto foi Mike Spencer. Mike era o dono da funerária e o médico legista em Bon Temps, e nós nem sempre tínhamos uma relação absolutamente cordial. No entanto, eu o conheço desde pequena e estava acostumada a oferecerlhe respeito, um hábito difícil de quebrar. Mike estava vestindo suas roupas da funerária quando ele entrou no Merlotte‘s aquela noite, porque ele estava vindo da visitação da Sra. Cassidy. Um terno escuro, camisa branca, gravata listrada suave, e sapatos de bico fino polidos mudavam Mike Spencer de ser o cara que realmente preferia gravatas de fio de couro e botas de cowboy pontudas.  Já que Mike era pelo menos vinte anos mais velho do que eu, eu sempre me referi a ele como um senhor, e isso foi o que me deixou boba quando ele me abordou. Ele estava sentado sozinho, o que era incomum o suficiente para ser digno de atenção. Eu levei para ele um hambúrguer e uma cerveja. Enquanto me pagava, ele disse casualmente, "Sookie, alguns de nós estarão se reunindo na casa do lago de Jan Fowler amanhã à noite e estávamos imaginando se poderíamos contar com sua presença."
Tenho a sorte de ter uma cara de bem educada. Eu me senti como se tivesse aberto uma cova sob meus pés, e eu estava realmente um pouco enjoada. Eu entendi de imediato, mas eu não podia acreditar realmente. Eu abri minha mente para ele, enquanto a minha boca estava dizendo, "Você disse ‗alguns de nós‘"? Quem seriam esses, Sr. Spencer?"  "Por que você não me chama de Mike, Sookie?" Eu assenti, olhando dentro de sua mente todo o tempo. Oh, cruz credo. Eca. "Bem, alguns de seus amigos estarão lá. Ovos, e Portia, e Tara. Os Hardaways."  Tara e Ovos. . . essa realmente me chocou.  "Então, o que se passa nessas festas? É apenas uma coisa do tipo beber e dançar?" Esta não foi uma pergunta despropositada. Não importava quantas pessoas sabiam que eu supostamente era capaz de ler pensamentos, eles quase nunca acreditavam nisso, não importava quantas evidências do contrário eles tivessem testemunhado. Mike simplesmente não podia acreditar que eu poderia receber as imagens e ideias flutuando em sua mente. "Bem, nós nos liberamos um pouco. Pensamos que já que você rompeu com o seu namorado, você poderia querer dar uma relaxada e se soltar um pouco."  "Talvez eu vá," disse, sem entusiasmo. Isso não me faria parecer ansiosa. "Quando?"  "Ah, amanhã às dez da noite."  "Obrigada pelo convite," disse, como se estivesse lembrando de boas maneiras, em seguida caminhei vagarosamente com a minha gorjeta. Pensei furiosamente, nos momentos estranhos que eu teria de passar durante o resto do meu turno.  Que utilidade poderia ter a minha presença? Poderia realmente obter alguma informação que pudesse resolver o mistério da morte de Lafayette? Eu não gosto muito de Andy Bellefleur, e agora eu gosto de Portia menos ainda, mas não seria justo que Andy pudesse ser processado, ter sua reputação arruinada, por algo que não era culpa dele. Por outro lado, parecia lógico que ninguém que estivesse presente em uma festa na casa do lago iria confiar a mim qualquer segredo obscuro até que eu me tornasse habitual, e eu simplesmente não tinha estômago pra isso. Eu nem sequer tinha certeza de que eu poderia aguentar uma reunião. A última coisa no mundo eu queria era ver era meus amigos e meus vizinhos "dando uma relaxada e se soltando." Eu não queria vê-los relaxando, ou soltando qualquer outra coisa.  "Qual o problema, Sookie?" Sam perguntou, tão perto de mim que eu pulei. Eu olhei para ele, desejando que eu pudesse perguntar sua opinião. Sam era forte e resistente, e ele era esperto, também. A contabilidade, as encomendas, a manutenção e planejamento, ele nunca pareceu sobrecarregado com nada disso. Sam era um homem auto-suficiente, e eu gostava e confiava nele.  "Estou apenas num pequeno dilema," disse. "O que houve com você, Sam?"  "Recebi um telefonema interessante ontem a noite, Sookie."  "De quem?"  "Uma mulher de voz esganiçada em Dallas." 
"Sério?" percebi que eu estava sorrindo, realmente, não o sorriso que eu uso para disfarçar meu nervoso. "Seria uma mulher de ascendência mexicana?"  "Acredito que sim. Ela falou de você."  "Ela é agressiva," eu disse.  "Ela tem um monte de amigos."  "Do tipo dos amigos que você deseja ter?"  "Eu já tenho alguns bons amigos," disse Sam, apertando a minha mão brevemente. "Mas é sempre bom conhecer pessoas que compartilham seus interesses."  "Então, você irá até Dallas?"  "Talvez eu vá. Ao mesmo tempo, ela me colocou em contato com algumas pessoas que em Ruston que também..."  Mudam sua aparência quando a lua está cheia, terminei mentalmente. "Como foi que ela rastreou você? Eu não dei o seu nome a ela, de propósito, porque eu não sabia se você iria querer." "Ela rastreou você," disse Sam. "E ela descobriu quem era o seu patrão através de... pessoas locais."  "Como é que você nunca tinha se envolvido com eles por conta própria?"  "Até você ter me contado sobre a bacante," Sam disse: "Eu nunca percebi que havia muito mais coisas que eu tinha que aprender."  "Sam, não diga que você tem andado por aí com ela?"  "Eu passei algumas noites na mata com ela, sim. Como Sam, e na minha outra pele."  "Mas ela é tão má," eu disse impulsivamente.  As costas de Sam enrijeceram. "Ela é uma criatura sobrenatural como eu," disse ele calmamente. "Ela nem é má nem tampouco boa, ela simplesmente é o que é."  "Ah, que papo furado." Eu não podia acreditar que eu estava ouvindo isso de Sam. "Se ela está enchendo você com esta conversa, então ela quer algo de você." Eu lembrava como a bacante era bonita, se você não se importar com manchas de sangue. E Sam, como um metamorfo, não se importaria. "Oh," eu disse, a compreensão se extendendo em mim. Não que eu pudesse ler a mente de Sam claramente, já que ele era uma criatura sobrenatural, mas eu podia captar um bloqueio no seu estado emocional, que era - envergonhado, excitado, ressentido, e excitado. "Oh", eu disse de novo, um tanto rigidamente. "Desculpe-me, Sam. Eu não queria falar mal de alguém que você... Você, ah..." Eu mal conseguia dizer, "está transando," não importando o quanto fosse pertinente. "com quem você está passando o tempo," eu terminei de maneira pouco convincente. "Eu tenho certeza de que ela é adorável, uma vez que você começa a conhecê-la. Naturalmente, o fato de ela ter cortado minhas costas em tiras sangrentas pode ter algo a ver com o meu preconceito contra ela. Vou tentar ser mais mente aberta." E saí altivamente para tomar nota de um pedido, deixando Sam boquiaberto atrás de mim.
Deixei um recado na secretária eletrônica do Bill. Eu não sabia o que Bill pretendia fazer sobre Portia, e eu havia imaginado a possibilidade de alguém que iria estar lá quando ele ouvisse suas mensagens, então eu disse, "Bill, eu fui convidada para aquela festa amanhã à noite. Me avise se você achar que eu deveria ir." Eu não me identifiquei, pois ele conhecia a minha voz. Possivelmente, Portia tinha deixado uma mensagem idêntica, uma ideia que me deixou simplesmente furiosa.  Quando eu dirigi para casa naquela noite, eu meio que esperava que Bill estivesse esperando para me emboscar novamente de uma forma erótica, mas a casa e o jardim estavam silenciosos. Eu me animei quando notei que a luz na minha secretária eletrônica estava piscando. "Sookie," disse a voz suave de Bill, "fique fora da floresta. A bacante ficou insatisfeita com o nosso tributo. Eric vai estar em Bon Temps amanhã à noite para negociar com ela, e ele pode ligar para você. As – outras pessoas – de Dallas, os que ajudaram você, estão pedindo uma compensação exorbitante dos vampiros de Dallas, por isso estou indo para lá pela Anubis para me reunir com eles, com Stan. Você sabe onde eu vou ficar."  Putz. Bill não estaria em Bon Temps para me ajudar, e ele estava fora do meu alcance. Estava? Era uma da manhã. Eu liguei para o número que eu tinha colocado na minha agenda, para o Silent Shore. Bill ainda não tinha feito o check-in, apesar de seu caixão (ao qual o concierge se referia como sua "bagagem") ter sido colocado em seu quarto. Eu deixei uma mensagem, que eu tive que expressar tão cautelosamente que poderia ficar incompreensível.  Eu estava realmente cansada, já que eu não tinha dormido muito na noite anterior, mas eu não tinha nenhuma intenção de ir à festa da noite seguinte sozinha. Eu suspirei profundamente, e liguei para o Fangtasia, o bar vampiro em Shreveport. "Você ligou para o Fangtasia, onde os mortos-vivos vivem novamente a cada noite," disse uma gravação com a voz da Pam. Pam era uma sócia-proprietária. "Para horários do Bar, aperte um. Para fazer uma reserva para festa, aperte dois. Para falar com uma pessoa viva ou um vampiro morto, aperte três. Ou, se você tem a intenção de deixar uma mensagem engraçadinha de brincadeira na nossa secretária eletrônica, saiba disto: vamos encontrá-lo."  Eu pressionei três.  "Fangtasia," Pam disse, como se ela estivesse totalmente mais entediada que qualquer um jamais havia ficado.  "Oi," eu disse, ponderando sobre o lado atrevido para contrapor o tédio. "Aqui é Sookie, Pam. O Eric está por aí?"  "Ele está cativando os vermes," disse Pam. Eu entendi isso como Eric estava esparramado em uma cadeira sobre o piso principal do bar, parecendo lindo e perigoso. Bill tinha me dito que alguns vampiros estavam sob contrato com o Fangtasia, para se dispor a fazer uma ou duas aparições por semana de uma determinada duração, para que os turistas continuassem indo. Eric, como um proprietário, estava lá quase toda noite. Havia um outro bar aonde vampiros iam por sua própria iniciativa, um bar onde um turista nunca entraria. Eu mesma nunca estive nele, porque francamente, eu vejo o suficiente de bares enquanto estou no trabalho. 
"A senhora poderia levar o telefone para ele, por favor?" "Ah, tudo bem," disse ela de má vontade. "Ouvi dizer que sua estada em Dallas foi bastante agitada," disse ela enquanto caminhava. Não que eu pudesse ouvir os passos dela, mas o barulho de fundo ia e vinha.  "Inesquecível."  "O que você achou do Stan Davis?"  Hmmm. "Ele é um exemplar único."  "Eu mesma gosto daquele visual nerd, CDF."  Fiquei feliz que ela não estava lá para ver o olhar espantado que dei ao telefone. Eu nunca percebi que Pam gostava de caras, também. "Ele certamente não parecia estar saindo com alguém," eu disse, eu esperava que casualmente.  "Ah. Talvez eu tire umas férias em Dallas em breve." Também foi novidade para mim que vampiros tivessem interesse uns nos outros. Eu na verdade nunca vi dois vampiros juntos.  "Estou aqui," disse Eric.  "E eu estou aqui." Me diverti um pouco com o método do Eric para atender ao telefone.  "Sookie, minha pequena chupa-bala," disse ele, soando apaixonado e ardente.  "Eric, meu grande loroteiro."  "Você deseja alguma coisa, minha querida?"  "Eu não sou sua querida, e você sabe disso, em primeiro lugar. Em segundo, Bill disse que você viria aqui amanhã à noite?"  "Sim, para percorrer a floresta procurando pela bacante. Ela achou as nossas oferendas de vinho antigo e um touro jovem inadequadas." "Você levou um touro vivo pra ela?" Fiquei momentaneamente distraída pela visão de Eric pastoreando uma vaca pra dentro de um reboque e conduzindo-a ao acostamento da rodovia interestadual e enxotando-a por entre as árvores.  "Sim, na verdade nós levamos. Pam e Indira e eu."  "Foi divertido?"  "Sim," disse ele, soando fracamente surpreso. "Se passaram vários séculos desde quando eu negociava com animais. Pam é uma garota da cidade. Indira estava aterrorizada demais com o touro para ser de muita ajuda. Mas se quiser, da próxima vez que eu tiver que transportar animais eu ligarei pra você, e poderá ir junto."  "Obrigada, isso seria ótimo," eu disse, me sentindo bastante confiante de que essa era uma ligação que eu nunca atenderia. "O motivo de eu ligar para você é que preciso que você vá a uma festa comigo amanhã à noite."  Um longo silêncio.  "Bill não é mais o seu companheiro de cama? As diferenças que vocês desenvolveram em Dallas são permanentes?" 
"O que eu deveria ter dito é, 'Eu preciso de um guarda-costas para amanhã à noite‘. Bill está em Dallas. " Eu mesma estava batendo sobre a minha testa com a palma da minha mão. "Veja só, tem uma longa explicação, mas a situação é que eu preciso ir a uma festa amanhã à noite que é realmente apenas uma... Bem, é uma... coisa tipo orgia? E eu preciso de alguém comigo no caso de... só pra garantir." "Isso é fascinante," disse Eric, soando fascinado. "E já que eu vou estar pela vizinhança, você achou que eu poderia ir como uma escolta? Para uma orgia?" "Você pode parecer quase humano," eu disse.  "Esta é uma orgia de humanos? Uma que exclui vampiros?"  "É uma orgia de humanos que não sabem que um vampiro está indo."  "Portanto, quanto mais humano eu parecer menos assustador eu vou ser?"  "Sim, eu preciso ler os pensamentos deles. Explorar suas mentes. E se eu pegá-los pensando sobre uma determinada coisa, e escarafunchar seus conhecimentos, então nós podemos ir embora de lá." Eu tinha acabado de ter uma grande ideia sobre como fazê-los pensar sobre Lafayette. Dizer a Eric é que seria o problema.  "Então você quer que eu vá para uma orgia de humanos, onde não serei bem-vindo, e quer que nós saiamos antes de eu mesmo começar a aproveitar?"  "Sim," eu disse, quase esganiçando a voz na minha ansiedade. É tudo ou nada. "E... Acha que você poderia fingir ser gay?"  Houve um longo silêncio. "Que horas eu preciso estar lá?" Eric perguntou suavemente.  "Um. Nove e meia? Assim posso deixá-lo informado?"  "Nove e meia em sua casa."  "Estou carregando o telefone de volta," informou-me Pam. "O que você disse a Eric? Ele está balançando a cabeça de um lado pro outro com seus olhos fechados."  "Ele está rindo, mesmo um pouquinho?"  "Não que eu possa afirmar", disse Pam.
 
Bill não ligou de volta naquela noite, e eu saí para o trabalho antes do pôr do sol no dia seguinte. Ele tinha deixado uma mensagem na secretária eletrônica quando cheguei em casa para me vestir para a "festa."  "Sookie, levei um bom tempo para decifrar de que situação se tratava, por causa de sua mensagem tão cautelosa," ele dizia. Sua voz geralmente calma estava definitivamente com aspecto depressivo. Irritado. "Se você estiver indo para esta festa, não vá sozinha, independentemente do que você for fazer. Não vale a pena. Leve o seu irmão ou Sam com você."  Bem, eu consegui alguém ainda mais forte para ir comigo, então eu deveria estar me sentindo muito eficiente. De alguma maneira, eu não achava que levar Eric comigo iria tranquilizar Bill.  "Stan Davis e Joseph Velasquez enviam os seus cumprimentos, e Barry o mensageiro."  Eu sorri. Eu estava sentada de pernas cruzadas na minha cama vestindo apenas um roupão velho de chenilha, escovando o meu cabelo enquanto ouvia às minhas mensagens.  "Eu não esqueci de sexta-feira à noite," disse Bill, na voz que sempre me fazia tremer. "Eu nunca vou esquecer."  "Então, o que aconteceu sexta-feira à noite?" Eric perguntou.  Eu gritei. Uma vez que eu pude sentir que o meu coração permaneceria em minha caixa torácica, eu pulei para fora da cama e parti pra cima dele com meus punhos fechados. "Você tem idade suficiente para saber que você não entra na casa de alguém sem bater na porta e ter uma resposta. Além disso, quando foi que eu convidei você para entrar?" Eu tinha que ter estendido o convite, ou senão Eric não poderia ter atravessado a soleira da porta.  "Quando eu passei por aqui no mês passado para ver o Bill. Eu bati," disse Eric, tentando o seu melhor para parecer ofendido. "Você não respondeu, e eu pensei ter ouvido vozes, então eu entrei. Eu até chamei o seu nome."  "Você deve ter sussurrado meu nome." Eu ainda estava furiosa. "Mas você agiu mal, e você sabe disso!"  "O que você vai vestir para a festa?" Eric perguntou, efetivamente mudando de assunto. "Se isto vai ser uma orgia, o que uma boa garota como você vai usar?"  "Eu simplesmente não sei," eu disse, desinflada pelo lembrete. "Eu tenho certeza que eu supostamente devia parecer com o tipo de garota que frequenta orgias, mas eu nunca estive em uma e não tenho idéia de como começar, mas eu tenho uma ideia bem clara de como supostamente vou acabar."  "Eu já estive em orgias," ele ofereceu.  "Por que é que isso não me surpreende? O que vocês usam?" "A última vez eu usei uma pele de animal; mas desta vez eu resolvi usar isso." Eric estava vestindo um trench coat* comprido. Agora ele o deixou cair dramaticamente, e eu só pude parar e observar. Normalmente, Eric era o tipo de cara que usa calça jeans e camiseta. Esta noite, ele usava uma camisa regata rosa e uma calça de lycra. Não sei onde ele arranjou isso; eu não conheço nenhuma empresa que faça calças de lycra para homens altos em tamanho extra-grande. Ela era rosa e azul-esverdeado, como os espirais colocados nas laterais da caminhonete de Jason.  (*O clássico trent coat é um casaco de chuva, que protege do frio e da umidade, feito em couro, algodão ou gabardine, com tamanho na altura do joelho ou um pouco maior. Foi desenvolvido para os soldados da 1ª Guerra Mundial, e foi criado por Thomas Burberry, da famosa grife Burberry.) "Uau," eu disse, já que era tudo que eu pude pensar em dizer. "Uau. Isso é que é vestimenta." Quando se vê um cara grande usando lycra isso não deixa muita coisa pra idealizar. Eu resisti à tentação de pedir para Eric dar uma voltinha.  "Eu não acreditei que eu pudesse ser convincente como uma bicha," Eric disse, "mas decidi que isto enviaria um sinal tão confuso, que quase tudo era possível." Ele agitou suas pestanas para mim. Eric estava definitivamente curtindo isso.  "Ah, sim," eu disse, tentando encontrar outro lugar para olhar.  "Devo ir vasculhar suas gavetas e encontrar algo para você vestir?" Eric sugeriu. Ele tinha na verdade aberto a gaveta de cima da minha cômoda antes que eu dissesse, "Não, não! Eu vou encontrar alguma coisa!" Mas eu não consegui encontrar nada mais informalmente sexy do que shorts e camisetas. No entanto, os shorts eram uns que eu tinha abandonado desde os tempos da escola, e eles se encaixavam em mim "como uma lagarta abraça uma borboleta," disse Eric poeticamente. "Tá mais pra uma calcinha que um short*," eu murmurei, me perguntando se as marcas da renda da minha calcinha ficariam impressas na minha bunda para o resto da minha vida. Eu usava um sutiã azul acinzentado combinando com uma regata branca transparente que deixava exposta boa parte dos enfeites do sutiã. Este era um dos sutiãs repostos, e Bill ainda não tinha sequer chegado a vê-lo, então eu certamente esperava que nada acontecesse com ele. Meu bronzeado ainda estava durando, e usei o meu cabelo solto.  (*No original a frase é ‗More like Daisy Dukes‘, que se refere a um tipo de short jeans curtíssimo e colado, daqueles desfiados que mostram um pouco do bumbum, que ficou famoso entre as garotas sulistas por causa da personagem Dayse Duke, do seriado de tv The Dukes of Hazzard muito popular nos anos 80, hoje no Brasil chamaríamos de o shortinho da Carla Perez...)  "Ei, o nosso cabelo é da mesma cor," eu disse, nos olhando lado a lado no espelho.  "Claro que é, amorzinho." Eric sorriu ironicamente para mim. "Mas você é loira da cabeça aos pés?"  "Você não adoraria descobrir?"  "Sim," disse ele simplesmente.  "Bem, você simplesmente terá que imaginar só."  "Eu sou," disse ele. "Loiro por toda parte."  "Eu poderia afirmar o mesmo pelos seus pelos do peito." 
Ele levantou o braço para verificar minhas axilas. "Vocês garotas bobas, depilando o pelo do seu corpo," disse ele, soltando meu braço. Eu abri a boca para dizer alguma coisa sobre o assunto, mas de repente percebi que isso levaria a um desastre e ao invés disse, "Temos que ir."  "Você não vai usar perfume?" Ele estava farejando todos os frascos em cima da minha penteadeira. "Oh, use este!" Ele me arremessou um frasco e eu o peguei sem pensar. Suas sobrancelhas levantaram. "Você andou tomando mais sangue de vampiro do que eu pensava, Senhorita Sookie."  "Obsession," eu disse, olhando para o frasco. "Ah, ok." Cuidadosamente não respondendo à sua observação, eu coloquei levemente um pouco de Obsession entre meus seios e atrás de meus joelhos. Achei que dessa maneira que eu estaria perfumada da cabeça aos pés.  "Qual é a nossa pauta, Sookie?" Eric perguntou, observando este processo com interesse.  "O que vamos fazer é ir a esta estúpida assim chamada festa do sexo e fazer o mínimo possível do gênero enquanto eu recolho informações das mentes das pessoas que estiverem lá."  "Relacionadas à"? "Relacionadas ao assassinato de Lafayette Reynold, o cozinheiro do Merlotte's."  "E por que é que nós estamos fazendo isso?"  "Porque eu gostava de Lafayette. E para limpar Andy Bellefleur da suspeita de que ele assassinou Lafayette."  "Bill sabe que você está tentando salvar um Bellefleur?"  "Por que você pergunta isso?"  "Você sabe que o Bill odeia os Bellefleurs," disse Eric, como se esse fosse o fato mais conhecido na Louisiana.  "Não," eu disse. "Não, eu não sabia de nada disso." Sentei na cadeira ao lado da minha cama, meus olhos fixos no rosto de Eric. "Por quê?"  "Você tem que perguntar isso ao Bill, Sookie. E esta é a única razão pela qual estamos indo? Você não está usando habilmente isto como uma desculpa para transar comigo?"  "Eu não sou tão hábil assim, Eric."  "Eu acho que você engana a si mesma, Sookie," disse Eric com um sorriso brilhante.  Eu lembrei que ele poderia agora sentir meus humores, de acordo com Bill. Me pergunto o que Eric sabia sobre mim que eu não sabia. "Escute aqui, Eric," eu comecei, enquanto saíamos pela porta e passávamos pela varanda. Então eu tive que parar e procurar mentalmente uma maneira de expressar o que eu queria dizer.  Ele esperou. A noite estava nublada, e o bosque parecia se aproximar ao redor da casa. Eu sabia que a noite só parecia opressora porque eu estava indo para um evento pessoalmente desagradável para mim. Eu estava indo descobrir coisas sobre pessoas que eu não conhecia e não queria conhecer. Parecia estúpido procurar pelo tipo de informações que eu passei a minha vida aprendendo a bloquear. Mas eu sentia uma espécie de obrigação de serviço público com Andy Bellefleur para descobrir a verdade; e eu respeitava Portia, de uma maneira estranha, por sua disposição de submeter-se a algo desagradável a fim de salvar seu irmão. Como Portia podia sentir uma verdadeira aversão por Bill era simplesmente incompreensível para mim, mas se Bill disse que ela tinha medo dele, era verdade. Nesta noite que chegava, a ideia de ver a verdadeira face secreta de pessoas que eu conhecia desde sempre era simplesmente aterrorizante para mim. "Não deixe que nada aconteça a mim, ok?" Eu disse a Eric diretamente. "Não tenho nenhuma intenção de ficar íntima com nenhuma dessas pessoas. Acho que estou com medo de algo acontecer, alguém ir longe demais. Nem mesmo pelo propósito do assassinato de Lafayette ser vingado, eu não faria sexo de bom grado com qualquer uma dessas pessoas." Esse era o meu verdadeiro medo, aquele que eu não tinha admitido para mim mesma até este momento: que escorregássemos em alguma mentira, alguma defesa falhasse, e eu me tornasse a vítima. Quando eu era criança, uma coisa tinha me acontecido, algo que eu não podia impedir nem controlar, algo incrivelmente perverso. Eu quase preferiria morrer a ser submetida a abusos como esse novamente. Foi por isso que eu lutei tanto contra Gabe e fiquei tão aliviada quando Godfrey o matou.  "Você confia em mim?" Eric pareceu surpreso. "Sim."  "Isso é... loucura, Sookie."  "Eu não acho." De onde vinha essa certeza, eu não sabia, mas ela estava lá. Eu coloquei um suéter pesado de comprimento até a coxa que eu tinha trazido comigo.  Balançando sua cabeça loura, seu trench coat fechado em volta dele, Eric abriu a porta de seu Corvette vermelho. Eu iria chegar na orgia com estilo.  Eu dei as direções para Eric até o Lago Mimosa, e eu o coloquei a par o máximo que eu pude sobre o contexto desta série de eventos enquanto nós dirigíamos (voávamos) pela estreita pista dupla. Eric dirigiu com grande entusiasmo e vigor - e a imprudência de alguém extremamente difícil de morrer.  "Lembre-se, eu sou mortal," eu disse, após passar por uma curva em uma velocidade que me fez desejar que minhas unhas fossem suficientemente longas para roer.  "Eu penso sobre isso muitas vezes," disse Eric, os olhos fixos na estrada à sua frente.  Eu não sabia o que achar disso, então deixei a minha mente ser levada por coisas relaxantes. A banheira de Bill. O belo cheque que eu receberia do Eric quando o cheque dos vampiros de Dallas compensasse. O fato de Jason estar saindo com a mesma mulher há vários meses seguidos, o que poderia significar que ele estava levando ela a sério, ou poderia significar que ele já tivesse passado por todas as mulheres disponíveis (e algumas que não deviam estar) no condado de Renard. Esta era uma noite linda, fresca e eu estava andando em um carro maravilhoso. "Você está feliz," disse Eric.  "Sim. Eu estou." "Você estará segura."  "Obrigada. Eu sei que vou."  Eu apontei para a pequena placa escrita FOWLER que indicava um caminho quase escondido por um estrado de murtas e espinheiros. Nós viramos descendo por uma alameda curta, coberta de cascalhos e cercada com árvores. Ela inclinava-se acentuadamente morro abaixo. Eric franziu o cenho enquanto o Corvette cambaleava pelos cascalhos fundos. Na hora em que a entrada nivelou na saída da clareira onde ficava a cabana, a ladeira era suficiente para tornar o telhado um pouco abaixo da altura da estrada ao redor do lago. Havia quatro carros estacionados sobre a terra batida em frente à cabana. As janelas estavam abertas para acolher o forte frescor da noite, mas as persianas estavam puxadas. Eu podia ouvir as vozes à deriva, embora eu não conseguisse distinguir as palavras. Eu estava de repente, profundamente relutante em entrar na cabana de Jan Fowler. "Eu poderia ser bissexual?" Eric perguntou. Isso não parecia incomodá-lo, ele parecia, para falar a verdade, estar se divertindo. Nós ficamos junto ao carro do Eric, encarando um ao outro, minhas mãos enfiadas nos bolsos do suéter.  "Ok." Eu dei de ombros. E daí? Isto é só um faz de conta. Eu captei um movimento pelo canto do olho. Alguém estava nos observando através de uma persiana parcialmente levantada. "Estamos sendo vigiados."  "Então eu vou agir amigavelmente."  Nós saímos do carro nessa hora. Eric se inclinou, e sem me puxar para junto dele, encostou sua boca na minha. Ele não me agarrou, então eu me senti razoavelmente descontraída. Eu sabia que no mínimo eu teria que beijar outras pessoas. Então eu estabeleci isso em minha mente.  Talvez eu tivesse talento natural, o qual havia sido estimulado por um grande professor. Bill tinha me declarado uma excelente beijadora, e eu queria deixá-lo orgulhoso.  Julgando pela condição da lycra de Eric, eu me saí bem.  "Pronto para entrar?" Eu perguntei, me esforçando para manter os meus olhos acima do seu peito.  "Não de verdade," disse Eric. "Mas eu suponho que temos que entrar. Pelo menos eu pareço no clima." Embora fosse alarmante pensar que esta era a segunda vez que eu tinha beijado Eric e que eu tinha apreciado isso mais do que deveria, eu podia sentir um sorriso contrair os cantos de minha boca enquanto atravessávamos o terreno acidentado da clareira. Subimos os degraus de um grande terraço de madeira, com as habituais cadeiras de alumínio cadeiras espalhadas e uma grande churrasqueira a gás. A porta de tela rangeu estridentemente assim que Eric a abriu, e eu bati levemente na porta interior. "Quem é?" a voz de Jan disse.  "É Sookie e um amigo," eu respondi.  "Ah, oba! Entre!" ela chamou.  Quando empurrei a porta, todos os rostos na sala estavam voltados para nós. Os sorrisos de boasvindas se transformaram em olhares assustados quando Eric entrou atrás de mim.  Eric posicionou-se ao meu lado, seu casaco sobre o seu braço, e eu quase assobiei diante da variedade de expressões. Após o choque de perceber que Eric era um vampiro, o que todos na sala perceberam após um minuto ou algo assim, os olhos vislumbravam para cima e para baixo a extensão do corpo do Eric, absorvendo o panorama.
"Ei, Sookie, quem é seu amigo?" Jan Fowler, uma trintona divorciada inúmeras vezes, estava usando o que parecia ser uma combinação de renda. O cabelo de Jan estava com mechas e profissionalmente despenteado, e sua maquiagem parecia de uma encenação teatral, embora para uma cabana no Lago Mimosa o efeito era um pouco exagerado. Mas como anfitriã, eu suponho que ela achava que poderia usar o que quisesse em sua própria orgia. Eu deslizei para fora do meu suéter e suportei o constrangimento de receber o mesmo exame minucioso que foi dado a Eric.  "Este é Eric," eu disse. "Eu espero que vocês não se importem de eu ter trazido um amigo?"  "Oh, quanto mais, melhor," disse ela com indiscutível sinceridade. Seus olhos nunca levantaram para o rosto de Eric. "Eric, o que eu posso te servir para beber?"  "Sangue?" Eric perguntou esperançosamente.    "Sim, eu acho que eu tenho algum tipo O por aqui," disse ela, incapaz de separar seu olhar da Lycra. "Às vezes nós... fingimos." Ela levantou suas sobrancelhas de forma significativa, e meio que olhou atravessado para Eric.  "Não precisa mais fingir," disse ele, devolvendo a ela olhar por olhar. No caminho para se juntar a ela na geladeira, ele deu um jeito de bater nos ombros de Ovos, e a cara de Ovos se iluminou.  Ah. Bem, eu sabia que eu aprenderia algumas coisas. Tara, ao lado dele, estava aborrecida, suas sobrancelhas escuras se contraindo para baixo sobre os olhos escuros. Tara estava usando um sutiã e calcinha de um vermelho gritante, e ela ficou muito bonita. Suas unhas dos pés e das mãos foram pintadas de modo que combinassem, e também o seu batom. Ela veio preparada. Encontrei os olhos dela, e ela os afastou. Não era preciso uma leitora de mentes para reconhecer a vergonha.  Mike Spencer e Cleo Hardaway estavam em um sofá arruinado contra a parede do lado esquerdo. A cabana inteira, basicamente uma grande sala com uma pia e um fogão contra a parede do lado direito e um banheiro cercado no canto mais afastado, era mobiliada com móveis abandonados, porque em Bon Temps isso é o que se faz com seus móveis antigos. Contudo, a maioria das cabanas de lago não exibia um tapete tão espesso e macio e tantos montes de almofadas espalhadas ao redor aleatoriamente, e não teria persianas tão densas puxadas em todas as janelas. Além disso, os adereços espalhados ao redor daquele tapete macio eram simplesmente indecentes. Eu nem sequer sabia o que eram alguns deles. Mas eu colei um sorriso alegre no meu rosto, e abraçei Cleo Hardaway, como eu costumava fazer quando a via. Só que, ela sempre estava vestindo mais roupas quando ela dirigia a lanchonete da escola. Mas calcinha era mais do que o que Mike estava usando, que não era nem costurado.  Bem, eu sabia que seria ruim, mas eu acho que você simplesmente não consegue estar preparada para algumas visões. Os enormes seios marrom-achocolatados de Cleo estavam cintilantes com algum tipo de óleo, e as partes íntimas de Mike estavam igualmente brilhantes. Eu nem sequer queria pensar nisso.  Mike tentou agarrar minha mão, provavelmente para ajudar com o óleo, mas eu deslizei para longe e aproximei-me lentamente de Ovos e Tara.  "Eu certamente nunca pensei que você viria," Tara disse. Ela estava sorrindo, também, mas não realmente feliz. Na verdade, ela parecia extremamente infeliz. Talvez o fato de que Tom Hardaway estava ajoelhado em frente a ela lambendo até o interior de sua perna tivesse algo a ver com isso. Talvez fosse o óbvio interesse de Ovos em Eric. Tentei encontrar os olhos de Tara, mas me senti enojada.  Eu só estava aqui há cinco minutos, mas estava disposta a apostar que estes eram os cinco minutos mais longos da minha vida.  "Você faz isso realmente com frequência?" Perguntei a Tara, absurdamente. Ovos, de olho na bunda do Eric enquanto Eric estava conversando com Jan perto da geladeira, começou a tatear o botão do meu short. Ovos esteve bebendo novamente. Eu conseguia sentir o cheiro. Seus olhos estavam embaçados e seu maxilar estava frouxo. "Seu amigo é muito grande," disse ele, como se sua boca estivesse salivando, e talvez ela estava. "Muito maior que Lafayette," Eu sussurrei, e seu olhar se lançou ao encontro do meu. "Achei que ele seria bem-vindo."  "Oh, sim," disse Ovos, decidindo não enfrentar a minha declaração. "Sim, Eric é... muito grande. É bom ter alguma diversidade."  "Isto é tão multicolorido quanto Bon Temps consegue ser,‖ disse, tentando muito não soar ousada. Eu suportei a luta contínua de Ovos com o botão. Isto tinha sido um grande erro. Ovos estava pensando só na bunda do Eric. E em outras coisas do Eric. Falando do diabo, ele se aconchegou atrás de mim e me envolveu em seus braços, puxando-me para ele e me afastando dos dedos desajeitados de Ovos. Eu me inclinei para junto do Eric, realmente muito feliz por ele estar lá. Me dei conta disso porque já esperava que Eric fosse se comportar mal. Mas vendo pessoas que você conhece por toda a sua vida agindo assim, bem, isso é que era profundamente repugnante. Eu não estava tão certa de que poderia impedir meu rosto de mostrar isso, então eu me contorci contra Eric, e quando ele fez um som feliz, me virei em seus braços para olhá-lo de frente. Eu coloquei meus braços ao redor do seu pescoço e levantei o meu rosto. Ele obedeceu algremente a minha sugestão silenciosa. Com meu rosto escondido, minha mente estava livre para vagar. Eu me abri mentalmente, da mesma forma que Eric separou meus lábios com sua língua, então me senti completamente desprotegida. Havia alguns fortes "remetentes" naquela sala, e eu sentia que não era mais eu mesma, mas sim um tipo de canalizador para as necessidades devastadoras de outras pessoas.  Eu conseguia sentir o sabor dos pensamentos de Ovos. Ele estava lembrando de Lafayette, seu corpo magro moreno, dedos talentosos, e olhos fortemente maquiados. Ele estava lembrando dos sussuros insinuantes de Lafayette. Então ele foi asfixiando essas recordações felizes com as mais desagradáveis, Lafayette protestando violentamente, esganiçando...  "Sookie," disse Eric no meu ouvido, tão baixo que não creio que outra pessoa na sala podia tê-lo ouvido. "Sookie, relaxe. Eu estou com você."  Eu acariciei seu pescoço com minha mão. Notei que alguém estava atrás de Eric, meio que apalpando ele por trás.
As mãos de Jan se estenderam ao redor de Eric e começaram a massagear o meu traseiro. Já que ela estava me tocando, seus pensamentos estavam absolutamente claros; ela era uma excepcional "remetente." Eu folheei sua mente como se fossem as páginas de um livro, e não li nada de interessante. Ela só estava pensando na anatomia de Eric, e preocupada com sua própria fascinação com os seios de Cleo. Não tinha nada lá para mim.  Avancei em outra direção, me movendo como uma minhoca na cabeça de Mike Spencer, encontrei o desagradável emaranhado que eu esperava, descobri que enquanto ele enrolava os seios de Cleo em suas mãos ele estava pensando em outra carne morena, mole e sem vida. Sua própria carne se levantava quando ele lembrava isso. Através de suas memórias vi Jan adormecida sobre o sofá enrugado, o protesto de Lafayette que se eles não parassem de machucá-lo ele iria dizer a todos o que ele tinha feito e com quem, e em seguida os punhos de Mike descendo, Tom Hardaway se ajoelhando sobre seu peito magro e escuro...  Eu tinha que sair daqui. Eu não podia suportar isso, mesmo que eu não tivesse acabado de ter a informação que eu precisava saber. Eu não conseguia ver como Portia teria aguentado isto, tampouco, especialmente porque ela teria de ficar para saber alguma coisa, não tendo o "dom" que eu tinha.  Eu senti a mão de Jan massageando minha bunda. Este era o pretexto mais triste para sexo que eu já tinha visto: sexo separado da mente e do espírito, do amor ou afeto. Mesmo simples simpatia. De acordo com a minha amiga Arlene - casada quatro vezes - os homens não tinham qualquer problema com isso. Evidentemente, algumas mulheres também não.  "Eu tenho que sair daqui," eu sussurrei na boca do Eric. Eu sabia que ele poderia me ouvir.  "Vá junto comigo," ele respondeu, e foi quase como se eu o estivesse ouvindo na minha cabeça.  Ele me levantou e me lançou sobre o seu ombro. Meu cabelo ficou estirado até quase o meio de sua coxa.  "Nós vamos lá fora por um minuto," ele disse a Jan, e ouvi um grande barulho estalado. Ele tinha lhe dado um beijo.  "Posso ir também?" ela perguntou, em uma voz ofegante tipo Marlene Dietrich. Foi sorte que meu rosto não estava aparecendo.  "Dêem-nos um minuto. Sookie ainda está um pouco tímida," disse Eric em uma voz tão cheia de promessas quanto um pote com um novo sabor de sorvete.  "Deixe ela bem quente," disse Mike Spencer em uma voz abafada. "Nós todos queremos ver a nossa Sookie pegando fogo."  "Ela estará aquecida," Eric prometeu. "Acesa pra caralho," disse Tom Hardaway, por entre as pernas da Tara.  Depois, graças a Eric, saímos pela porta para fora e ele me deitou sobre o capô do Corvette. Ele se colocou em cima de mim, mas a maior parte do seu peso estava apoiada em suas mãos repousando sobre o capô de ambos os lados dos meus ombros.  Ele estava olhando para mim, seu rosto impondo restrições como um convés de navio durante uma tempestade. Suas presas estavam para fora. Seus olhos estavam arregalados. Uma vez que os brancos dos olhos eram tão puramente brancos, eu podia vê-los. Estava escuro demais para ver o azul dos seus olhos, mesmo que eu quisesse.  Eu não queria. "Isso foi..." Eu comecei, e tive que parar. Eu tomei um fôlego profundo. "Você pode me chamar de madame pudica* se quiser, e eu não culpo você, afinal de contas tudo isto foi ideia minha. Mas você sabe o que eu penso? Eu acho isso horrível. Os homens realmente gostam disso? As mulheres gostam, por sinal? É divertido fazer sexo com alguém que você nem mesmo gosta?"  (*No original a expressão é Goody two-shoes, que se refere ao personagem de uma história infantil de 1765, e que significa em geral uma pessoa certinha, recatada e sentimental) "Você gosta de mim, Sookie?" Eric perguntou. Ele se apoiou mais fortemente em mim e se mexeu um pouco.  Uh-oh. "Eric, se lembra de por que estamos aqui?" "Eles estão assistindo."  "Mesmo se eles estiverem, você se lembra?"  "Sim, eu me lembro."  "Então, temos que ir."  "Você tem alguma prova? Você já soube o que queria descobrir?"  "Eu não tenho nenhuma prova a mais do que eu tinha hoje noite mais cedo, não uma prova que você possa entregar no tribunal." Eu me obriguei a colocar meus braços em torno de suas costelas. "Mas eu sei quem fez aquilo. Foi Mike, Tom, e talvez Cleo."  "Isso é interessante," disse Eric, com uma completa falta de sinceridade. Sua língua se movimentava rapidamente em meu ouvido. Acontece que eu gostava particularmente disso, e eu podia sentir a minha respiração acelerar. Talvez eu não fosse tão imune ao sexo sem envolvimento como eu pensava. Mas també, eu gostava de Eric, quando eu não estava com medo dele. "Não, eu simplesmente odeio isso," eu disse, chegando a uma conclusão interna. "Eu não gosto de nenhuma parte disso." Eu empurrei Eric com força, embora isso não tenha feito a menor diferença. "Eric, me ouça. Tenho feito tudo que posso por Lafayette e Andy Bellefleur, porém é muito insignificante. Ele só tem que começar a partir daqui com os fragmentos que eu captei. Ele é um policial. Ele pode encontrar provas concretas para um tribunal. Eu não sou altruísta o suficiente para ir mais longe com isso."  "Sookie," disse Eric. Eu não acho que ele ouviu uma palavra. "Renda-se a mim."  Bem, essa foi bem direta.  "Não," eu disse, no tom de voz mais definitivo que eu poderia convocar. "Não."  "Eu vou te proteger de Bill."  "Você é quem vai necessitar de proteção!" Quando eu refleti sobre essa frase, não fiquei tão orgulhosa.  "Você acha que Bill é mais forte do que eu?"  "Eu não estou falando sobre isso." Então eu fui adiante. "Eric, eu agradeço a sua oferta para me ajudar, e eu aprecio a sua boa vontade de vir a um lugar horrível como este."  "Acredite, Sookie, esta pequena porcaria de reunião não é nada, nada, comparado com alguns dos lugares que já estive." E eu acreditei nele completamente. "Ok, mas pra mim isto é terrível. Agora, eu me dei conta de que eu deveria saber que isso iria, ah, aumentar suas expectativas, mas você sabe que eu não vim aqui esta noite para fazer sexo com ninguém. Bill é o meu namorado." Embora as palavras namorado e Bill soassem absurdas na mesma frase, "namorado" era o papel de Bill em meu mundo, de qualquer maneira.  "Fico feliz em ouvir isso," disse uma voz fria e familiar. "Esta cena me deixaria espantado, não fosse isso."  Ah, ótimo.  Eric saiu de cima de mim, e eu me afastei do capô do carro e cambaleei na direção da voz de Bill.  "Sookie," ele disse, quando me aproximei, "está chegando num ponto em que eu não posso deixar você ir a lugar algum sozinha."  Até onde eu poderia dizer sob a má iluminação, ele não parecia muito feliz em me ver. Mas eu não poderia culpá-lo por isso. "Com certeza cometi um grande erro," eu disse, do fundo do meu coração. Eu o abracei.  "Você está cheirando ao Eric," disse ele entre meus cabelos. Bem, que inferno, eu estava sempre com cheiro de outros homens para Bill. Eu senti uma inundação de angústia e vergonha, e eu percebi que coisas estavam prestes a acontecer.  Mas o que aconteceu não foi o que eu esperava. Andy Bellefleur saiu dos arbustos com uma arma na mão. Suas roupas pareciam rasgadas e manchadas, e a arma parecia enorme.  "Sookie, fique longe do vampiro," disse ele.  "Não." Eu me enrolei ao redor de Bill. Eu não sabia se eu estava protegendo ele ou se ele estava me protegendo. Mas se Andy nos queria separados, eu nos queria unidos.  Houve um aumento súbito de vozes na varanda da cabana. Alguém estava claramente olhando pela janela - eu estava meio que me perguntando se Eric tinha inventado isso - porque, embora nenhuma voz tivesse se elevado, o confronto na clareira tinha atraído a atenção dos participantes da orgia lá dentro. Enquanto Eric e eu estávamos no jardim, a orgia tinha avançado. Tom Hardaway estava nu, e Jan, também. Ovos Tallie parecia embriagado.  "Você está cheirando ao Eric," Bill repetiu, num sopro de voz.  Eu me ergui de volta pra ele, esquecendo completamente de Andy e sua arma. E eu perdi a calma.  Isto é uma coisa rara, mas não tão raro quanto costumava ser. Isso era meio que estimulante. "Sim, hum-hum, e eu não posso sequer dizer como quem você cheira! Até onde sei você esteve com seis mulheres! Dificilmente justo, não é?"  Bill ficou boquiaberto comigo, estupefato. Atrás de mim, Eric começou a gargalhar. A multidão no terraço estava silenciosamente fascinada. Andy não achava que todos nós deveríamos estar ignorando o homem com a arma. "Fiquem juntos em um grupo," ele falou alto. Andy tinha bebido demais.  Eric deu de ombros. "Alguma vez você já negociou com vampiros, Bellefleur?" ele perguntou.  "Não," disse Andy. "Mas eu posso atirar em você até a morte. Eu tenho balas de prata."  "Isto é-" Eu comecei a dizer, mas a mão de Bill cobriu minha boca. Balas de prata só eram definitivamente fatais para lobisomens, mas vampiros também tinham uma péssima reação a prata, e se um vampiro fosse atingido num local vital iria certamente sofrer.  Eric levantou uma sobrancelha e passeou com prazer em direção aos participantes da orgia no terraço. Bill pegou minha mão, e nós nos juntamos a eles. Pelo menos desta vez, eu teria adorado saber o que Bill estava pensando.  "Quem foi de vocês, ou foram todos vocês?" Andy levantou a voz.  Todos nós ficamos em silêncio. Eu estava de pé ao lado de Tara, que estava tremendo em sua lingerie vermelha. Tara estava assustada, não era uma grande surpresa. Me perguntava se conhecer os pensamentos de Andy poderia ser de alguma ajuda, e eu comecei a me concentrar nele. Bêbados não servem para uma boa leitura, posso afirmar, porque eles só pensam em coisas estúpidas, e suas ideias são bastante instáveis. Suas memórias são duvidosas, também. Andy não tinha muitos pensamentos no momento. Ele não gostava de ninguém na clareira, nem dele mesmo, e ele estava determinado a extrair a verdade de alguém. "Sookie, venha aqui," ele gritou.  "Não," Bill falou bem definitivamente.  "Tenho que tê-la bem aqui ao meu lado em trinta segundos, ou eu atiro - nela!" Andy disse, apontando a arma direto para mim.  "Você não viverá trinta segundos depois, se você fizer isso," disse Bill.  Eu acreditei nele. Evidentemente Andy acreditou, também.  "Eu não me importo," disse Andy. "Ela não é muita perda para o mundo."  Bem, isso me deixou completamente zangada de novo. Minha ira tinha começado a se apagar, mas aquilo intensificou-a de uma grande maneira.  Eu arranquei minha mão da de Bill e desci como um furacão as escadas para o jardim. Eu não estava tão cega de raiva a ponto de ignorar a arma, mas eu estava extremamente tentada a agarrar Andy por suas bolas e espremer. Ele ainda atiraria em mim, mas ele se machucaria, também. No entanto, isso era tão auto-derrotante quanto a bebedeira. Esse momento de satisfação valeria tanto a pena?   "Agora, Sookie, leia as mentes dessas pessoas e me diga qual deles fez aquilo," Andy ordenou. Ele agarrou meu pescoço por trás com suas mãos grandes, como se eu fosse um cachorrinho destreinado, e me girou de volta para encarar o terraço.  "Que diabos você acha que eu estava fazendo aqui, seu burro de merda? Você acha que este é o jeito que eu gosto de passar o meu tempo, com imbecis como estes?"
Andy me sacudiu pelo pescoço. Eu sou muito forte, e tinha uma boa chance de eu poder ficar livre dele e agarrar a arma, mas isso não estava perto o suficiente de de uma certeza para me deixar confortável. Eu decidi esperar por um minuto. Bill estava tentando me dizer algo com seu rosto, mas eu não tinha certeza do que era. Eric estava tentando tirar uma casquinha de Tara. Ou de  Ovos. Era difícil dizer.  Um cachorro choramingava na margem da floresta. Eu rolei meus olhos nessa direção, incapaz de virar a minha cabeça. Bem, ótimo. Simplesmente ótimo.  "Esse é o meu Collie", eu disse a Andy. "Dean, lembra?" Eu poderia ter usado alguém em formato humano para ajudar, mas uma vez que Sam tinha chegado à cena transformado num Collie*, ele tinha que ficar desse jeito ou arriscar se expor.   (*Pra quem não sabe Collie é uma raça de cachorro, aquele igual a Lessie) "Sim. O que é que o seu cachorro está fazendo aqui?"  "Eu não sei. Não atire ele, ok?"  "Eu nunca atiraria num cão," disse ele, soando verdadeiramente chocado.  "Ah, mas em mim, tudo bem," eu disse amargamente.  O Collie caminhou na direção em que nós estávamos conversando. Gostaria de saber o que se passava na mente do Sam. Me perguntava se ele retinha muito do pensamento humano enquanto ele estava na sua forma preferida. Rolei meus olhos em direção a arma, e os olhos de Sam/Dean seguiram os meus, mas quanto entendimento tinha nele, eu simplesmente não poderia avaliar.  O collie começou a rosnar. Seus dentes estavam expostos e ele estava olhando furioso para a arma.  "Para trás, cachorro," Andy disse, irritado. Se eu pudesse apenas segurar Andy parado por um minuto, os vampiros poderiam pegá-lo. Eu tentei visualizar todos os movimentos em minha mente. Eu tinha que agarrar a mão que estava com arma com as minhas duas mãos e forçá-la para cima. Mas com o Andy me segurando longe dele desse jeito, não ia ser fácil.  "Não, meu amor," disse Bill.  Meus olhos brilharam em direção a ele. Fiquei consideravelmente assustada. Os olhos de Bill se moveram do meu rosto para trás de Andy. Eu poderia ter uma dica.  "Oh, quem está sendo mantido como um pequeno filhote?" perguntou uma voz atrás de Andy.  Oh, isto era simplesmente fofo.  "É minha mensageira!" A bacante passeou devagar ao redor de Andy em um círculo amplo e veio parar à sua direita, uns poucos metros adiante dele. Ela não estava entre Andy e o grupo no terraço. Ela estava limpa esta noite, e vestindo absolutamente nada. Eu suponho que ela e Sam estavam pela floresta fazendo folia, antes de ouvirem o grupo. Seu cabelo negro caía em um monte emaranhado que ia até seus quadris. Ela não parecia com frio. O resto de nós (exceto os vampiros) estava definitivamente sentindo as alfinetadas da brisa. Viemos vestidos para uma orgia, não para uma festa ao ar livre.
"Olá, mensageira," disse a bacante para mim. "Eu esqueci de me apresentar na última vez, o meu amigo canino me lembrou disso. Eu sou Calisto."  "Senhorita Calisto," eu disse, uma vez que não tinha a menor idéia de como chamá-la. Eu teria feito uma saudação, mas Andy estava de posse do meu pescoço. Isso estava certamente começando a doer.  "Quem é este robusto corajoso agarrando você?" Calisto chegou um pouco mais perto.  Eu não tinha idéia de como estava a cara do Andy, mas todos no terraço estavam encantados e aterrorizados, com exceção de Eric e Bill. Eles estavam indo cuidadosamente para trás, para longe dos humanos. Isso não era bom.  "Este é Andy Bellefleur," Eu resmunguei. "Ele tem um problema."  Eu poderia dizer pela forma como minha pele formigava que a bacante tinha facilmente se aproximado um pouco.  "Você nunca viu nada parecido comigo, não é?" ela disse a Andy.  "Não," admitiu Andy. Ele parecia tonto.  "Eu sou bonita?"  "Sim," disse ele, sem hesitação.  "Eu mereço um tributo?"  "Sim," disse ele. "Eu amo embriaguez, e você está muito bêbado," Calisto disse alegremente. "Adoro os prazeres da carne, e estas pessoas estão cheias de luxúria. Este é o meu tipo de lugar."  "Ah, que bom," disse Andy de modo incerto. "Mas uma destas pessoas é um assassino, e eu preciso saber qual deles."  "Não apenas um," Eu murmurei. Lembrado de que eu estava no final do seu braço, Andy sacudiume novamente. Eu estava ficando realmente cansada disso.  A bacante tinha chegado perto o suficiente agora para me tocar. Ela suavemente acariciou meu rosto, e eu senti o cheiro de terra e vinho em seus dedos.  "Você não está bêbada," ela observou.  "Não, minha senhora."  "E você não aproveitou os prazeres da carne esta noite."  "Oh, apenas me dê um tempo," eu disse.  Ela sorriu. Era uma risada alta, gritava de rir. E era sem parar.  O aperto de Andy foi se soltando, à medida que ele tornou-se mais e mais desconcertado pela proximidade da bacante. Eu não sabia o que as pessoas no terraço pensavam que estavam vendo. Mas Andy sabia que ele estava vendo uma criatura da noite. Ele me largou, muito repentinamente. "Venha até aqui, novata," chamou Mike Spencer. "Deixe-nos dar uma olhada em você."  Eu estava sobre um amontoado no chão perto de Dean, que estava lambendo meu rosto com entusiasmo. A partir desse ponto de vista, eu podia ver o braço de serpente da bacante em torno da cintura de Andy. Andy transferiu sua arma para a mão esquerda para que assim ele pudesse devolver o cumprimento.  "Agora, o que você queria saber?" ela perguntou a Andy. Sua voz era calma e razoável. Ela ociosamente balançou a longa varinha com um ramalhete no final. Isso era chamado de thyrsis*; Eu tinha pesquisado bacante na enciclopédia. Agora eu poderia morrer culta. (*Não sei se esse nome tem algum significado nesse contexto, a única referência de Thyrsis que encontrei é que é o título de um poema escrito por Matthew Arnold em dezembro de 1965, mas nada nesse poema se encaixa aqui.)  "Uma dessas pessoas matou um homem chamado Lafayette, e eu quero saber quem foi," disse Andy com a agressividade dos bêbados.  "É claro que quer, meu querido," a bacante susurrou. "Devo descobrir para você?"   "Por favor," ele implorou.  "Tudo bem." Ela examinou as pessoas, e curvou o dedo para Ovos. Tara segurava em seu braço para tentar mantê-lo com ela, mas ele moveu-se descendo os degraus em direção à bacante, sorrindo estupidamente o tempo todo.  "Você é uma garota?" Ovos perguntou. "Não por qualquer alcance da imaginação," disse Calisto. "Você tem tomado muito vinho." Ela o tocou com o thyrsis.  "Oh, sim," ele concordou. Ele não estava mais sorrindo. Ele olhou dentro dos olhos de Calisto, e ele sentiu calafrios e estremeceu. Os olhos dela estavam incandecentes. Olhei para Bill, e vi que ele estava com seus próprios olhos focando o chão. Eric estava olhando para o capô do seu carro. Ignorada por todos, eu comecei a rastejar em direção a Bill.  Esta era uma bela confusão.  O cão andava ao meu lado, me cheirando ansiosamente. Senti que ele queria que eu me movesse mais rápido. Alcancei as pernas de Bill e as agarrei. Eu senti sua mão no meu cabelo. Eu estava com medo de fazer um movimento maior como ficar de pé.  Calisto envolveu seus braços finos ao redor de Ovos e começou a sussurrar para ele. Ele assentiu e sussurrou de volta. Ela o beijou, e ele ficou rígido. Quando ela o deixou para subir suavemente para o terraço, ele permaneceu absolutamente imóvel, olhando para o bosque. Ela parou perto de Eric, que estava mais próximo do terraçoe do que nós. Ela o olhou de cima a baixo, e sorriu aquele sorriso aterrorizante novamente. Eric olhou fixamente para o peito dela, tendo cuidado para não encontrar seus olhos. "Lindo," disse ela, "simplesmente lindo. Mas não para mim, seu belo pedaço de carne morta."  Então ela estava entre as pessoas no terraço. Ela inspirou profundamente, inalando os aromas da bebida e do sexo. Ela aspirava como se ela estivesse seguindo uma trilha, e então ela girou para encarar Mike Spencer. Seu corpo de meia-idade não se dava muito bem com o ar frio, mas Calisto parecia encantada com ele.  "Ah," ela disse tão alegremente quanto se tivesse acabado de ganhar um presente, "Você é tão orgulhoso! Você é um rei? Você é um grande soldado?" 
"Não," disse Mike. "Eu possuo uma funerária." Ele não soou tão seguro. "O que você é, moça?"  "Você alguma vez viu algo parecido comigo antes?"  "Não," disse ele, e todos os outros balançaram suas cabeças.  "Você não se lembra da minha primeira visita?"  "Não, minha senhora."  "Mas você me fez uma oferenda antes."  "Eu fiz? Uma oferenda?" "Oh, sim, quando você matou o pequeno homem negro. Aquele bonito. Ele era um discípulo inferior dos meus, e um tributo adequado para mim. Eu o agradeço por tê-lo deixado fora no local de bebidas; bares são a minha satisfação particular. Você não poderia me encontrar na floresta?"  "Senhora, nós não fizemos nenhuma oferenda," disse Tom Hardaway, sua pele escura toda arrepiada e seu pênis apontando para baixo.  "Eu vi você," disse ela.  Tudo ficou silencioso então. O bosque ao redor do lago, sempre cheio de pequenos ruídos e movimentos mínimos, tornou-se imóvel. Eu cuidadosamente fiquei de pé ao lado de Bill.  "Adoro a violência do sexo, eu adoro o cheiro forte de bebida," disse ela sonhadoramente. "Eu posso correr por quilômetros para estar presente para o final."  O medo transbordando de suas cabeças começou a encher a minha, e me sugou. Eu cobri meu rosto com as minhas mãos. Eu atirei rapidamente os escudos mais fortes que eu pude criar, mas eu ainda mal podia conter o terror. Minhas costas arquearam, e eu mordi minha língua para evitar emitir um ruído. Eu podia sentir o movimento enquanto Bill se virava para mim, e em seguida Eric estava ao seu lado e ambos estavam me amassando entre eles. Não há nada de erótico em ser imprensada entre dois vampiros sob essas circunstâncias. Seus próprios desejos urgentes pelo meu silêncio alimentavam o medo, porque o que poderia amedrontar vampiros? O cão pressionava contra as nossas pernas como se ele nos oferecesse proteção. "Você bateu nele durante o sexo," disse a bacante a Tom. "Você bateu nele, porque você é orgulhoso, e a submissão dele enojava e excitava você." Ela esticou sua mão magra para acariciar a face sombria de Tom. Eu podia ver o branco dos olhos dele. "E você," – ela deu um tapinha em Mike com sua outra mão – "você bateu nele, também, porque vocêfoi dominado pela fúria. Então ele ameaçou contar." A mão dela deixou Tom e roçou a de sua esposa, Cleo. Cleo tinha vestido apressadamente um suéter antes de sair, mas não estava abotoado.  Uma vez que tinha evitado participar, Tara começou a recuar. Ela era a única que não estava paralisada pelo medo. Eu podia sentir a pequena centelha de esperança nela, a vontade de sobreviver. Tara encolheu-se embaixo de uma mesa de ferro forjado sobre o terraço, transformando a si mesma em uma pequena bola, e apertou seus olhos fechados. Ela estava fazendo um monte de promessas à Deus sobre o seu comportamento no futuro, se Ele a tirasse dessa. Isso foi despejado em minha mente, também. O cheiro forte do medo dos outros atingiram um ponto máximo, e eu podia sentir meu corpo ter tremores enquanto eles irradiavam tão fortemente que penetraram todas as minhas barreiras. Não tinha sobrado nada de mim mesma. Eu era apenas o medo. Eric e Bill travaram seus braços um com o outro, para me manterem de pé e imóvel entre eles. Jan, em sua nudez, foi completamente ignorada pela bacante. Só posso supor que não havia nada em Jan que fosse atrativo para a criatura; Jan não era orgulhosa, ela era patética, e ela não tinha bebido nada esta noite. Ela adotou o sexo por outras necessidades além da carência de sua perda em sí - necessidades que não tinham nada a ver com renunciar ao corpo e a mente por um momento maravilhoso de loucura. Tentando, como sempre, ser o centro do grupo, Jan se aproximou com um pretenso sorriso flertador e pegou a mão da bacante. De repente ela começou a ter convulsões, e os ruídos vindos de sua garganta eram horríveis. Espuma saía de sua boca, e seus olhos reviravam. Ela desabou no terraço, e eu pude ouvir seus calcanhares martelando na madeira.  Depois o silêncio reiniciou. Mas algo estava se preparando há poucos metros de distância no pequeno grupo sobre o terraço: algo terrível e bom, algo puro e horrendo. O medo deles foi retrocedendo, e meu corpo começou se acalmar novamente. A terrível pressão em minha cabeça aliviou. Mas a medida que ela decaía, uma nova força começou a se formar, e isso era indescritivelmente bonita e absolutamente má. Isto era pura loucura, era loucura estúpida. Da bacante transbordava a ira selvagem e incontrolável*, o desejo de saquear, a arrogância do orgulho. Eu fui oprimida quando as pessoas no terraço foram oprimidas, eu estremeci e fui açoitada enquanto a insanidade saía girando de Calisto e invadia seus cérebros, e somente a mão de Eric sobre minha boca me conteve de gritar como eles fizeram. Eu o mordi e provei o seu sangue, e o ouvi gemer pela dor.  (*No original a expressão é ‗berserker rage‘ ou Ira de Berserker, que se refere ao antigo guerreiro nórdico conhecido por sua selvajeria e seu furor em batalhas, hoje o termo é usado com pessoas que agem de forma irracional e sem controle.) Continuou sem parar, a gritaria, e então vieram terríveis sons úmidos. O cachorro, pressionado contra as nossas pernas, choramingava.  De repente, tinha acabado.  Eu me senti como uma marionete dançante cujos barbantes tinham sido cortados de repente. Eu mancava. Bill me deitou no capô do carro de Eric novamente. Eu abri meus olhos. A bacante olhou para mim. Ela estava sorrindo novamente, e ela estava encharcada de sangue. Era como se alguém tivesse derramado um balde de tinta vermelha sobre a cabeça dela; seu cabelo estava encharcado, assim como cada pedaço de seu corpo nu, e ela exalava o cheiro de cobre, o suficiente para deixar seus dentes afiados. "Você estava perto," ela disse para mim, sua voz tão doce e alta como uma flauta. Ela se moveu um pouco mais deliberadamente, como se tivesse comido uma refeição pesada. "Você estava muito perto. Talvez mais perto do que você jamais chegará, talvez não. Eu nunca vi ninguém enlouquecido pela insanidade dos outros. Um pensamento divertido."  "Divertido para você, talvez," Eu arfei. O cachorro mordeu minha perna para me trazer à razão. Ela olhou para baixo para ele. 
"Meu caro Sam," ela murmurou. "Querido, eu devo deixar você."  O cachorro olhou para ela com olhos inteligentes.  "Nós tivemos algumas boas noites correndo pela floresta," disse ela, e afagou sua cabeça. "Capturando pequenos coelhos, pequenos coatís."  O cachorro balançou sua cauda.  "Fazendo outras coisas."  O cachorro forçou um sorriso e suspirou.  "Mas está na minha hora de partir, querido. O mundo está cheio de bosques e pessoas que precisam aprender sua lição. Devo receber um tributo. Eles não devem me esquecer. Eles devem a mim," disse ela, em sua voz saciada, "devem a loucura e a morte." Ela começou a seguir o curso para a margem da floresta.  "Afinal de contas," disse ela sobre seu ombro, "não pode ser sempre temporada de caça."
 
Mesmo que eu quisesse, eu não poderia ter caminhado ao redor para ver o que tinha se passado no terraço. Bill e Eric pareciam amortecidos, e quando vampiros parecem amortecidos, isso significa que você realmente não quer ir investigar.  "Nós vamos ter que queimar a cabana," disse Eric há poucos metros de distância. "Eu queria que Calisto tivesse cuidado de sua própria bagunça."  "Ela nunca cuidou," disse Bill, "é o que tenho ouvido. Ela é a loucura. O que faz a verdadeira loucura se preocupar em ser descoberta?"  "Ah, eu não sei," disse Eric descuidadosamente. Ele soou como se estivesse levantando algo. Houve um pesado baque. "Eu já vi algumas pessoas que estavam definitivamente loucas e bem astutas com isso."  "É verdade," disse Bill. "Não deveríamos deixars uns dois deles na varanda?"  "Como se pode prever?"  "Isso é verdade, também. Esta é uma noite rara comigo podendo concordar desse tanto com você."  "Ela me ligou e me pediu para ajudar." Eric estava respondendo às entrelinhas ao invés da afirmação.  "Então, tudo bem. Mas lembre-se do nosso acordo." "Como posso esquecer?"  "Você sabe que Sookie pode nos ouvir."  "Por mim está tudo muito bem," disse Eric, e sorriu. Eu lancei um olhar para a noite e me perguntei, não muito curiosamente, sobre que diabos eles estavam falando. Não é como se eu fosse a Rússia, para ser distribuída para o ditador mais forte. Sam estava descansando ao meu lado, de volta à sua forma humana, e nu em absoluto. No momento, eu não poderia ter me importado menos. O frio não incomodava Sam, uma vez que ele era um metamorfo.  "Opa, aqui tem um vivo," Eric gritou.  "Tara," Sam chamou.  Tara se arrastou pelos degraus do terraço em nossa direção. Ela atirou seus braços em volta de mim e começou a chorar. Com enorme cansaço, eu a segurei e a deixei soluçar como um bebê. Eu ainda estava no meu disfarce com aquele short curtíssimo,  e ela estava com sua lingerie de incendiar-o-motor. Éramos como grandes lírios brancos aquáticos em um lago gelado, nós duas. Consegui me estabilizar e sustentar Tara. "Haveria um cobertor naquela cabana, você não acha?" Perguntei a Sam. Ele correu devagar sobre os degraus, e eu notei que o efeito era interessante por trás. Após um minuto, ele voltou correndo – uau, esta visão era ainda mais notável – e enrolou um cobertor em volta de nós duas.  "Eu devo que estar viva," Eu murmurei.  "Por que você diz isso?" Sam era curioso. Ele não pareceu demasiadamente surpreendido pelos acontecimentos da noite.  Eu dificilmente poderia dizer a ele que era porque eu o vi saltitando por aí, então eu disse, "Como estão Ovos e Andy?"  "Soava como um programa de rádio," Tara disse de repente, e sorriu. Eu não gostei do som daquilo.  "Eles ainda estavam de pé quando ela os deixou," relatou Sam. "Ainda encarando."  "Eu estou-ainda-encarando," Tara cantou, ao som da música do Elton John "I'm Still Standing."  Eric riu.  Ele e Bill estavam prestes a começar o fogo. Eles passaram por nós para nos checar no último momento.  "Em qual carro você veio?" Bill perguntou a Tara.  "Ooo, um vampiro," disse ela. "Você é o namorado de Sookie, não é? Por que você foi ao jogo da outra noite com uma cadela como Portia Bellefleur?" "Ela é gentil, também," disse Eric. Ele olhou para baixo para Tara com uma espécie de sorriso benevolente mas decepcionado, como um criador de cães admirando um fofo, mas inferior, filhote.  "Em qual carro você veio?" Bill perguntou novamente. "Se houver um lado sensível em você, quero vê-lo agora."  "Eu vim no Camaro branco," disse ela, bem sobriamente. "Vou levá-lo para casa. Ou talvez seja melhor não. Sam?"  "Claro, eu deixo você em casa. Bill, você precisa de minha ajuda aqui?"  "Acho que Eric e eu podemos lidar com isso. Você pode levar o magrelo?"  ―Ovos? Eu vou ver."  Tara me deu um beijo na bochecha e começou a pegar seu caminho pelo jardim até o seu carro. "Deixei as chaves dentro," ela gritou.  "E a sua bolsa?" A polícia certamente questionaria se eles encontrassem a bolsa de Tara em uma cabana com um monte de corpos.  "Ah... Está lá dentro."  Olhei Bill silenciosamente, e ele correu para buscar a bolsa. Ele voltou com uma enorme bolsa à tiracolo, grande o suficiente para conter não só maquiagem e itens cotidianos, mas também uma muda de roupa.  "Isto é seu?" "Sim, obrigada," disse Tara, pegando sua bolsa dele como se ela estivesse com medo que os dedos dele pudessem tocar os dela. Ela não tinha sido tão exigente no início da noite, eu pensei.  Eric estava transportando Ovos para o carro dela. "Ele não vai lembrar de nada disto," Eric disse a Tara enquanto Sam abria a porta traseira do Camaro para que Eric pudesse deitar Ovos dentro.  "Gostaria de poder dizer o mesmo." Seu rosto parecia decair sobre seus ossos pelo peso do conhecimento sobre o que tinha acontecido esta noite. "Eu gostaria de nunca ter visto aquela coisa, o que quer que ela seja. Gostaria de nunca ter vindo aqui, pra começo de conversa. Eu odiava fazer isso. Eu só achei que Ovos valia a pena." Ela deu uma olhada na forma inerte no banco traseiro de seu carro. "Ele não valia. Ninguém vale."  "Posso remover a sua memória, também." Eric fez a oferta sem constrangimento.  "Não," disse ela. "Eu preciso lembrar um pouco disso, e vale a pena carregar o fardo do resto." Tara parecia vinte anos mais velha. Às vezes nós podemos amadurecer em um minuto; eu tinha feito isso quando eu estava por volta dos sete anos e os meus pais morreram. Tara tinha feito isso esta noite.  "Mas eles estão todos mortos, todos exceto a mim e Ovos e Andy. Vocês não estão com medo do que possamos falar? Vocês irão atrás de nós?" Eric e Bill trocaram olhares. Eric chegou um pouco mais perto de Tara. "Olha, Tara," ele começou, em uma voz muito razoável, e ela cometeu o erro de olhar para cima. Então, quando ela fixou o olhar, Eric começou a apagar a memória daquela noite. Eu estava simplesmente cansada demais para protestar, como se isso fosse melhorar alguma coisa. Ainda que Tara pudesse levantar a questão, ela não deveria ser sobrecarregada com o conhecimento. Eu esperava que ela não repetisse seus erros, tendo sido desligada do conhecimento do quanto eles tinham custado a ela; mas ela não podia ser autorizada a contar histórias.  Tara e Ovos, conduzidos por Sam (que tinha tomado emprestado as calças de Ovos), estavam em seu caminho de volta para a cidade quando Bill começou a organizar um incêndio-de-aspectonatural para consumir a cabana. Eric estava aparentemente contando os ossos sobre o terraço, para se certificar de que os corpos estavam completos o suficiente para tranquilizar os investigadores. Ele atravessou todo o terreno para verificar Andy.  "Por que é que Bill odeia tanto os Bellefleurs?" Perguntei-lhe novamente.  "Ah, essa é uma velha história," disse Eric. "Desde antes de Bill ter sido transformado." Ele pareceu satisfeito com a situação de Andy e voltou ao trabalho.  Eu ouvi um carro se aproximar, e tanto Bill quanto Eric apareceram no jardim instantaneamente. Eu podia ouvir um estalo fraco do outro lado da cabana. "Não podemos iniciar o incêndio em mais de um local, ou eles poderão ser capazes de dizer que não foi natural," disse Bill a Eric. "Odeio esses avanços na ciência da polícia." "Se não tivéssemos decidido a ir público, eles teriam de pôr a culpa em um deles," disse Eric. "Mas do jeito que está, nos tornamos bodes expiatórios tão atraentes... É irritante, quando você pensa no quanto nós somos muito mais fortes."  "Ei, rapazes, eu não sou uma marciana, sou uma humana, e eu posso ouvi-los muito bem," eu disse. Eu estava olhando furiosa para eles, e eles estavam parecendo talvez com um-quinquagésimo de vergonha, quando Portia Bellefleur saiu de seu carro e correu para seu irmão. "O que vocês fizeram com o Andy?" disse ela, sua voz áspera e afiada. "Seus vampiros malditos." Ela puxou o colarinho da camisa de Andy de um lado e do outro, procurando por marcas de perfuração.  "Eles salvaram a vida dele," eu disse a ela.  Eric olhou para Portia por um longo momento, avaliando-a, e então ele começou a procurar os carros dos participantes da orgia que estavam mortos. Ele pegou as chaves dos carros deles, o que eu não queria nem ver. 
Bill foi até Andy e disse, "Acorde," numa voz mais silenciosa, tão silenciosa que dificilmente poderia ser ouvida há poucos metros de distância.  Andy piscou. Ele olhou em volta para mim, confuso por eu não estar maisem seu domínio, eu acho. Ele viu Bill, tão perto dele, e ele recuou, esperando retaliação. Ele registrou que Portia estava ao seu lado. Então ele olhou passando de Bill para a cabana.  "Está pegando fogo," ele observou, lentamente.  "Sim," disse Bill. "Eles estão todos mortos, com exceção dos dois que já voltaram para a cidade. Eles não sabiam de nada."  "Então... Estas pessoas realmente mataram Lafayette?"  "Sim," eu disse. "Mike, e os Hardaways, e acho que talvez Jan sabia de tudo.‖ ―Mas não tenho nenhuma prova."  "Ah, eu acho que tem," Eric chamou. Ele estava olhando dentro do porta-malas do Lincoln de Mike Spencer.  Todos nós fomos até o carro para ver. A visão superior de Bill e Eric tornava fácil para eles dizerem que havia sangue estampado da mala do carro, sangue e algumas roupas manchadas e uma carteira. Eric se abaixou e cuidadosamente abriu a carteira.  "Você pode ler de quem é?" Andy perguntou.  "Lafayette Reynold," disse Eric.  "Então se nós apenas deixarmos os carros como estão, e formos embora, a polícia vai encontrar o que está no porta-malas e estará tudo acabado. Estarei limpo."  "Oh, graças a Deus!" Portia disse, e deu uma espécie de suspiro gemido. Seu rosto claro e cabelos castanhos espessos captaram um clarão do luar filtrado através das árvores. "Ah, Andy, vamos para casa."  "Portia," Bill disse, "olhe para mim." Ela lançou o olhar para ele, então afastou. "Lamento ter envolvido você nisso desse jeito," disse ela rapidamente. Ela estava envergonhada de pedir desculpas a um vampiro, você poderia notar. "Eu estava apenas tentando conseguir que uma dessas pessoas que vinham aqui me convidasse, assim eu poderia descobrir por mim mesma o que estava acontecendo."  "Sookie fez isso por você," disse Bill suavemente.  O olhar pasmo de Portia lançou-se sobre mim. "Espero que não tenha sido tão terrível, Sookie," disse ela, me surpreendendo.  "Foi realmente terrível," eu disse. Portia encolheu-se. "Mas acabou."  "Obrigado por ajudar Andy," disse Portia corajosamente.  "Eu não estava ajudando Andy. Eu estava ajudando Lafayette," Eu rebati.  Ela tomou um fôlego profundo. "É claro," disse ela, com alguma dignidade. "Ele era seu colega de trabalho." "Ele era meu amigo," Eu corrigi.  Suas costas ficaram eretas. "Seu amigo," disse ela. 
O fogo estava se estendendo na cabana agora, e logo chegariam a polícia e os bombeiros. Era definitivamente hora de ir.  Notei que nem Eric nem Bill se ofereceram para remover quaisquer memórias de Andy.  "É melhor você sair daqui," eu disse a ele. "É melhor você voltar para sua casa, com Portia, e dizer à sua avó para jurar que você estava lá a noite toda."  Sem uma palavra, irmão e irmã se amontoaram no Audi de Portia e foram embora. Eric se dobrou dentro do Corvette para dirigir de volta para Shreveport, e Bill e eu fomos pelo bosque para o carro de Bill, escondido entre as árvores ao lado da estrada. Ele me carregou, como ele gostava de fazer. Tenho de adimitir, eu gostava disso, também, de vez em quando. Essa foi definitivamente uma das vezes.  Não estava longe de amanhecer. Uma das mais longas noites da minha vida estava prestes a chegar ao fim. Eu me encostei sobre o banco do carro, cansada além da conta.  "Para onde Calisto foi?" Perguntei a Bill. "Eu não tenho ideia. Ela se desloca de um lugar para outro. Não foram muitas as bacantes que sobreviveram à perda do deus, e aquelas que encontram florestas, ficam vagando nelas. Eles se mudam antes de sua presença ser descoberta. Elas são astutas assim. Eles adoram guerra e a sua loucura. Você nunca vai encontrá-las longe de um campo de batalha. Eu acho que todas elas se mudariam para o Oriente Médio se lá houvesse mais florestas."  "Calisto estava aqui porque...?"  "Só de passagem. Ela ficou talvez dois meses, agora ela vai tomar o seu caminho... Quem sabe? Para Everglades, ou subir o rio para Ozarks."  "Eu não consigo entender Sam, ah, se amigando por aí com ela."  "É assim que você chama isso? É isso que nós fazemos, nos amigamos por aí?"  Eu o alcancei e dei-lhe uma cotovelada no braço, que era como pressionar uma madeira. "Você," eu disse.  "Talvez ele só quisesse caminhar no lado selvagem," disse Bill. "Afinal, é difícil para Sam encontrar alguém que possa aceitar a sua verdadeira natureza." Bill pausou significativamente.  "Bem, isso pode ser difícil de fazer," eu disse. Eu lembrei de Bill voltando para a mansão em Dallas, todo rosado, e eu engoli seco. "Mas pessoas apaixonadas dificilmente se mantêm fora dos assuntos do outro." Pensei em como eu me senti quando eu ouvi dizer que ele estava saindo com Portia, e pensei de como eu reagi quando eu o vi no jogo de futebol. Eu estendi minha mão para repousar sobre sua coxa, e a apertei delicadamente. Com seus olhos na estrada, ele sorriu. Suas presas apareceram um pouco.  "Você deixou tudo acertado com os metamorfos em Dallas?" Perguntei depois de um momento.  "Eu resolvi em uma hora, ou melhor, Stan resolveu. Ele ofereceu-lhes a sua fazenda para as noites de lua cheia, pelos próximos quatro meses."  "Oh, isso foi legal da parte dele."  "Bem, isso não lhe custou nada exatamente. E ele não caça, então os cervos precisam ser abatidos de qualquer forma, como ele salientou."  "Oh," eu disse em reconhecimento, e então após um segundo, "Ooooh."  "Eles caçam."  "Certo. Entendi."  Quando chegamos de volta à minha casa, não faltava muito até amanhecer. Eric deveria já estar chegando em Shreveport, eu imaginei. Enquanto Bill tomava banho, eu comi um pouco de manteiga de amendoim e geléia, já que eu não tinha comido nada por mais horas do que eu poderia somar. Então eu saí para escovar meus dentes. Pelo menos ele não teve que sair com pressa. Bill tinha passado várias noites do mês anterior criando um lugar para ele na minha casa. Ele cortou o fundo do armário no meu antigo quarto, aquele que eu tinha usado durante anos antes de minha avó morrer e eu começar a usar o dela. Ele transformou o fundo inteiro do armário em um alçapão, assim ele poderia abri-lo, entrar, e fechá-lo depois que ele estivesse dentro, e ninguém teria sido mais sensato, além de mim. Se eu estivesse ainda acordada quando ele fosse se enterrar, colocaria uma mala velha mala no armário e uns dois pares de sapatos para dar uma aparência mais natural. Bill mantinha uma caixa acomodada na área abaixo para dormir nela, porque era extremamente sujo lá embaixo. Ele não ficava lá com frequencia, mas vinha a calhar de vez em quando.  "Sookie," Bill chamou do meu banheiro. "Venha, eu tenho tempo para esfregar você."  "Mas se você me esfregar, vai ser difícil para eu pegar no sono."  "Por quê?"  "Porque eu vou ficar frustrada."  "Frustrada?"  "Porque eu estarei limpa, mas não... amada."  "Está quase de manhã," Bill admitiu, empurrando a cabeça pela cortina do chuveiro. "Mas nós teremos um tempo só nosso amanhã à noite. " "Se Eric não nos fizer ir para outro lugar," Eu murmurei, quando sua cabeça estava seguramente sob a cascata de água. Como de costume, ele estava esgotando a maior parte da minha água quente. Eu me contorci para tirar o maldito short e resolvi jogá-lo fora amanhã. Puxei a camiseta pela minha cabeça e me estirei sobre minha cama para esperar por Bill. Pelo menos o meu sutiã novo estava intacto. Eu virei para um lado, e fechei os olhos contra a luz que vinha da porta banheiro meio aberta.  "Amor?"  "Você saiu do chuveiro?" Perguntei sonolenta.  "Sim, doze horas atrás."  "O quê?" Meus olhos se abriram voando. Eu olhei para as janelas. Não estava totalmente escuro, mas escurecendo.  "Você adormeceu."  Eu tinha um cobertor sobre mim, e eu ainda estava usando o conjunto de sutiã azul acinzentado e calcinha. Eu me senti como pão mofado. Eu olhei para Bill. Ele não estava vestindo nada.  "Segure esse pensamento," eu disse e fiz uma visita ao banheiro. Quando eu voltei, Bill estava esperando por mim sobre a cama, apoiado sobre um cotovelo.  "Você notou a roupa que você me deu?" Eu dei uma voltinha para mostrar ele todos os benefícios de sua generosidade. "É lindo, mas você pode estar levemente muito arrumada para a ocasião."  "Que ocasião seria essa?"  "O melhor sexo de sua vida."  Eu senti um solavanco de puro desejo descendo no meu interior. Mas eu mantive meu rosto tranquilo. "E você pode ter certeza de que vai ser o melhor?"  "Ah, sim," disse ele, tornando sua voz tão suave e calma que era como água correndo sobre pedras. "Eu posso ter certeza, e você também pode."  "Prove," disse, sorrindo muito ligeiramente.  Os olhos dele estavam nas sombras, mas eu podia ver a curva de seus lábios quando ele sorriu de volta. "Com prazer," disse ele.  Algum tempo depois, eu estava tentando recuperar a minha força, e ele estava enrolado sobre mim, um braço cruzando minha barriga, uma perna cruzando a minha. Minha boca estava tão cansada que mal podia contraí-la para beijar seu ombro. A língua de Bill estava suavemente lambendo as minúsculas marcas de furos no meu ombro.  "Você sabe o que precisamos fazer?" Eu disse, sentindo-me preguiçosa demais para me mover alguma vez novamente.  "Hm?"  "Precisamos pegar o jornal." Após uma longa pausa, Bill se desembrulhou de mim lentamente e deu uma voltinha até a porta da frente. A minha jornaleira para na entrada da garagem e lança o jornal diretamente na varanda porque eu dou a ela uma excelente gorjeta por esse discernimento.  "Olha só," disse Bill, e eu abri meus olhos. Ele estava segurando uma bandeija embrulhada em papel laminado. O jornal estava enfiado debaixo do braço.  Eu rolei para fora da cama e fomos automaticamente para a cozinha. Eu coloquei meu robe cor-derosa enquanto eu caminhava depois de Bill. Ele ainda estava ao natural, e eu admirava o resultado.  "Tem uma mensagem na secretária eletrônica," eu disse, enquanto servia um café. A coisa mais importante estava pronta, eu removi a folha de papel laminado e vi um bolo com duas camadas de cobertura de chocolate, salpicado com nozes-pecã e um desenho de estrela no topo.  "Esse é o velho bolo de chocolate da Sra. Bellefleur," eu disse, com reverência em minha voz. "Você pode dizer quem o fez simplesmente olhando?"  "Ah, este é um bolo famoso. É uma lenda. Nada é tão bom quanto o bolo da Sra. Bellefleur. Se ela o introduz na feira regional, a faixa de campeã está garantida. E ela o traz quando alguém morre. Jason dizia que valia a pena alguém morrer, só para pegar um pedaço do bolo da Sra. Bellefleur." 
"Que cheiro maravilhoso," disse Bill, para minha admiração. Ele se curvou para baixo e cheirou. Bill não respira, então eu ainda não descobri exatamente como ele sente cheiros, mas ele consegue. "Se você pudesse usar isso como um perfume, eu comeria você."  "Isso você já fez."  "Eu o faria uma segunda vez."  "Eu não acho que eu aguentaria." Eu me servi uma xícara de café. Eu encarei o bolo, cheia de admiração. "Eu nem sequer achava que ela sabia onde eu morava."  Bill pressionou o botão de mensagens da secretária eletrônica. "Senhorita Stackhouse," disse a voz de uma aristocrata muito velha e muito sulista. "Eu bati na sua porta, mas você devia estar ocupada. Deixei um bolo chocolate para você, já que eu não sabia o que mais poderia fazer para agradecê-la pelo que Portia me contou que você fez pelo meu neto Andrew. Algumas pessoas têm a amabilidade de me dizer que esse bolo é bom. Eu espero que você goste. Se eu algum dia eu puder ser útil a você, me ligue."  "Não disse o nome dela." "Caroline Holliday Bellefleur espera que todo mundo saiba quem ela é."  "Quem?"  Levantei o olhar para Bill, que estava de pé perto da janela. Eu estava sentada na mesa da cozinha, bebendo café em uma das xícaras floridas da minha avó.  "Caroline Holliday Bellefleur."  Bill não poderia ficar ainda mais pálido, mas ele estava indubitavelmente atordoado. Ele sentou bem abruptamente na cadeira em frente a mim. "Sookie, me faça um favor." "Claro, amor. O que é?"  "Vá até minha casa e pegue a Bíblia que está na estante de livros com portas de vidro no corredor."  Ele parecia tão chateado, que agarrei minhas chaves e me dirigi até lá de robe, esperando que eu não encontrasse ninguém pelo caminho. Não havia tantas pessoas que viviam pelas ruas em nossa região, e nenhum deles estaria fora às quatro da manhã.  Eu entrei sozinha na casa do Bill e encontrei a Bíblia exatamente onde ele disse que estaria. Eu a tirei facilmente da estante com muito cuidado. Era obviamente muito antiga. Eu estava tão nervosa carregando-a pelo caminho até a minha casa que eu quase tropeçei. Bill estava sentado onde eu o tinha deixado. Quando eu coloquei a Bíblia na frente dele, ele ficou olhando fixamente para ela por um longo minuto. Eu comecei a me perguntar se ele poderia tocá-la. Mas ele não pediu ajuda, então eu esperei. Sua mão a alcançou e os dedos brancos acariciaram a capa de couro gasta. O livro era pesado, e as letras douradas na capa eram ornamentadas.  Bill abriu o livro com os dedos suaves e virou uma página. Ele estava olhando para uma página familiar, com registros desbotados em tinta, feitos em várias caligrafias diferentes.  "Eu fiz esses," disse ele em um sussurro. "Esses aqui." Ele apontou para algumas linhas de escrita.  Meu coração estava na minha garganta como eu dei a volta pela mesa para olhar sobre seu ombro.
Eu coloquei minha mão sobre seu ombro, para estabelecer uma ligação dele com o aqui e agora.  Eu mal podia decifrar a escrita. William Thomas Compton, sua mãe tinha escrito, ou talvez seu pai. Nascido em 9 de abril de 1840. Outra mão tinha escrito Morto em 25 de novembro de 1868.  "Você tem uma data aniversário," eu disse, de todas as coisas estúpidas que eu poderia dizer. Eu nunca pensei em Bill fazendo aniversário.  "Eu era o segundo filho," disse Bill. "O único filho que cresceu."  Me lembrei que Robert, o irmão mais velho de Bill, tinha morrido quando ele tinha doze ou algo assim, e outros dois bebês tinham morrido na infância. Havia todos estes nascimentos e mortes registrados, na página sob os dedos de Bill.  "Sarah, a minha irmã, morreu sem filhos." Eu me lembrava disso. "Seu jovem marido morreu na guerra. Todos os homens jovens morreram na guerra. Mas eu sobrevivi, apenas para morrer mais tarde. Esta é a data da minha morte, até onde a minha família tem conhecimento. Esta é a letra de Sarah."  Segurei meus lábios pressionados firme, assim eu não emitiria um som. Havia algo na voz do Bill, a maneira que ele tocava a Bíblia, que era quase insuportável. Eu podia sentir meus olhos se enchendo de lágrimas.  "Aqui está o nome da minha esposa," disse ele, sua voz cada vez mais inaudível.  Eu me iclinei novamente para ler, Caroline Isabelle Holliday. Por um segundo, a sala balançou de lado, até que eu percebi que isso não podia ser.  "E tínhamos filhos," disse ele. "Nós tivemos três filhos." Seus nomes estavam lá, também. Thomas Charles Compton, nascido em 1859. Ela ficou grávida logo depois que eles se casaram, então.  Eu nunca teria um filho de Bill.  Sarah Isabelle Compton, nascida em 1861. Teve seu nome dado em honra da sua tia (irmã do Bill) e sua mãe. Ela tinha nascido na época que Bill tinha partido para a guerra. Lee Davis Compton, nascido em 1866. Um bebê no retorno ao lar. Morto em 1867, uma mão diferente tinha acrescentado.  "Os bebês morriam como moscas naquela época," Bill sussurrou. "Nós éramos tão pobres após a guerra, e não havia qualquer medicamento".  Eu estava prestes a me retirar triste e chorona da cozinha, mas depois percebi que se Bill podia suportar isso, eu tinha que conseguir ainda mais.  "As outras duas crianças?" Perguntei.  "Elas viveram," disse ele, a tensão em seu rosto aliviando um pouco. "Eu tinha os tinha abandonado, obviamente. Tom estava apenas com nove anos quando eu morri, e Sarah tinha sete. Ela era loirinha, como a mãe dela." Bill sorriu um pouco, um sorriso que eu nunca tinha visto em seu rosto antes. Ele pareceu bastante humano. Foi como ver um ser diferente sentado aqui na minha cozinha, não a mesma pessoa com quem eu tinha feito amor tão intimamente a menos de uma hora antes.
Eu puxei um lenço de papel da caixa da prateleira de bolos e passei levemente em meu rosto. Bill estava chorando também, e eu lhe entreguei um. Ele olhou para o lenço surpreso, como se ele esperasse ver algo diferente – talvez um lenço de algodão com monograma. Ele passou de leve em suas próprias bochechas. O lenço ficou rosa. "Eu nunca sequer tinha procurado saber o que aconteceu com eles," disse ele de forma questionadora. "Me afastei de todos completamente. Eu nunca voltei, é claro, não enquanto houvesse qualquer possibilidade de que um deles estivesse vivo. Isso seria muito cruel." Ele leu a página abaixo.  "Minha descendente Jessie Compton, de quem recebi a minha casa, foi a última da minha linhagem direta," Bill me disse. "A linhagem de minha mãe, também, tinha diminuído, até os Loudermilks que restaram são apenas meus parentes bem distantes. Mas Jessie era descedente do meu filho Tom, e aparentemente, a minha filha Sarah se casou em 1881. Ela teve um fiho em - Sarah teve um filho! Ela teve quatro filhos! Mas um deles nasceu morto."  Eu não podia sequer olhar para Bill. Em vez disso, eu olhei para a janela. Tinha começado a chover. Minha avó amava seu telhado de estanho, por isso quando teve que ser substituído, colocamos de estanho novamente, e o barulho da chuva era normalmente o som mais relaxante que eu conhecia. Mas não esta noite.  "Olha, Sookie," Bill disse, apontando. "Olha! A filha da minha filha Sarah, nomeada Caroline em honra da sua avó, casou com um primo dela, Matthew Phillips Holliday. E a sua segunda filha foi Caroline Holliday." Seu rosto estava resplandescente.  "Então a velha Sra. Bellefleur é a sua bisneta."  "Sim," disse ele incredulamente.  "Então, Andy," eu continuei, antes que eu pudesse pensar duas vezes sobre isso, "é o seu, ah, tatara-tatara-tatara-neto. E Portia..."  "Sim," disse ele, de modo menos feliz.  Eu não tinha ideia do que dizer, então, por uma vez, eu não disse nada. Após um minuto, tive a sensação de que poderia ser melhor se me afastasse, então tentei deslizar por ele para sair da pequena cozinha.  "Do que eles precisam?" ele me perguntou, segurando meu pulso.  Certo. "Eles precisam de dinheiro," eu disse imediatamente. "Você não pode ajudá-los com suas personalidades problemáticas, mas eles estão sem grana da pior maneira possível. A velha Sra. Bellefleur não vai desistir daquela casa, e mantê-la está comendo cada centavo."  "Ela é orgulhosa?"  "Eu acho que você pode perceber pela sua mensagem ao telefone. Se eu não tivesse descoberto que o seu nome do meio é Holliday, eu teria pensado que era ‗Soberba‘." Eu fitei Bill. "Acho que ela é assim naturalmente."  De qualquer maneira, agora que Bill sabia que ele poderia fazer algo por seus descendentes, ele pareceu se sentir muito melhor. Eu sabia que ele ficaria relembrando o passado por alguns dias, e eu não me ressentiria dele por isso. Mas se ele decidir assumir Portia e Andy como causas permanentes, isso pode ser um problema.  "Você não gostava do nome Bellefleur antes disso," eu disse, surpreendendo a mim mesma. "Por quê?"  "Quando eu falei no clube de sua avó, você se lembra, os Descendentes dos Mortos Gloriosos?"  "Sim, claro." "E eu contei uma história, a história do soldado ferido no campo, aquele que ficou gritando por ajuda? E como o meu amigo Tolliver Humphries tentou resgatá-lo?"  Eu assenti.  "Tolliver morreu na tentativa," disse Bill desoladamente. "E o soldado ferido recomeçou a pedir ajuda após a morte dele. Nós conseguimos recuperá-lo durante a noite. Seu nome era Jebediah Bellefleur. Ele tinha dezessete anos de idade."  "Ah meu Deus. Então, isso era tudo o que você sabia dos Bellefleurs até hoje."  Bill assentiu.  Tentei pensar em algo de significativo para dizer. Algo sobre planos cósmicos. Algo sobre atirar o seu pão sobre as águas*. Todas as ações têm consequências?   (*Uma expressão do Livro do Eclesiastes no Antigo Testamento: "Lançai teu pão sobre as águas: para que tu devas encontrá-lo depois de muitos dias." Este ditado convida as pessoas a acreditarem que suas boas ações acabarão por beneficiá-las.) Tentei sair novamente. Mas Bill pegou meu braço, e me puxou para ele. "Obrigado, Sookie."  Essa era a última coisa que eu esperava que ele dissesse. "Por quê?"  "Você me fez fazer a coisa certa sem nenhuma ideia da eventual recompensa."  "Bill, eu não posso induzir você a fazer nada." "Você me fez pensar como um humano, como se eu ainda estivesse vivo."  "O bem que você faz está em você, e não em mim."  "Eu sou um vampiro, Sookie. Tenho sido um vampiro muito mais tempo do que eu fui humano. Tenho chateado você muitas vezes. Para dizer a verdade, às vezes eu não consigo entender por que você faz certas coisas, isso porque já se passou muito tempo desde que eu fui uma pessoa. Nem sempre é confortável lembrar como era ser um homem. Às vezes eu não quero ser lembrado."  Estes eram problemas sérios para mim. "Eu não sei se estou certa ou errada, mas eu não sei como ser diferente," eu disse. "Eu estaria extremamente infeliz se não fosse por você."  "Se qualquer coisa me acontecer," disse Bill, "você deve procurar Eric."  "Você já disse isso antes," eu disse a ele. "Se alguma coisa acontecer com você, eu não tenho de ir procurar ninguém. Eu sou dona de mim mesma. Eu é que tenho que decidir o que quero fazer. Você tem que ter certeza de que nada acontecerá a você."  "Nós vamos ter mais problemas com a Sociedade nos próximos anos," disse Bill. "As ações que terão de ser tomadas podem ser repugnantes para você como uma humana. E há os perigos ligados ao seu trabalho." Ele não se referia a servir mesas. 
"Nós vamos atravessar essa ponte quando chegarmos nela." Sentar no colo de Bill era um verdadeiro prazer, especialmente porque ele ainda estava nu. Minha vida não tinha sido exatamente cheia de prazeres até eu conhecer Bill. Agora todos os dias guardavam um prazer, ou dois.  Na cozinha fracamente iluminada, com o cheiro do café tão bom (na sua própria maneira) quanto o do bolo de chocolate, e a chuva batendo no telhado, eu estava tendo um belo momento com o meu vampiro, o que se poderia chamar de um caloroso momento humano.  Mas talvez eu não devesse chamar assim, eu refleti, roçando a minha bochecha contra a do Bill. Esta noite, Bill tinha aparentado ser bem humano. E eu - bem, eu tinha notado enquanto fazíamos amor em nossos lençóis limpos, que na escuridão a pele de Bill tinha estado incandescente em sua bela maneira sobrenatural. E a minha tinha, também.

 

 

                                                                                                    Charleine Harris

 

 

 

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