Em Lycan Sombrio, Christine Feehan viajou para o coração dos Cárpatos, e para dentro das almas de dois companheiros agitados pelo rubor da paixão e a ameaça da aniquilação. Em Lobo Sombrio, a história de tirar o fôlego continua enquanto os laços familiares estão em perigo e o destino de dois amantes se esconde nas sombras sedutoras entre a vida e a morte.
Skyler Daratrazanoff sempre reconheceu o milagre que era Dimitri Tirunul, um homem além de qualquer sonho que já ocupou suas noites. Mas ela era humana. Vulnerável. Ele era Cárpato. Quase imortal. Ela tinha dezenove anos. Ele era um antigo. No entanto, ela segurava a metade de sua alma, a luz de sua escuridão. Sem ela, ele não sobreviveria. Presos entre duas espécies em guerra, Dimitri passou séculos caçando os mortos-vivos para manter seu povo livre, e os seres humanos seguros. Ele sobreviveu com honra quando outros escolheram desistir de suas almas. Mas agora, marcado para o extermínio pelos Lycans, Dimitri se encontra sozinho, e temendo por sua vida. Mas a salvação está chegando...
Nenhum Lycan nunca suspeitaria que alguém como Skyler se atreveria a montar uma operação secreta de resgate. Uma adolescente. Uma humana com habilidades não testadas. Mas ela tinha algo que ninguém mais tinha. Estava predestinada para Dimitri, como ele estava para ela. E não havia nada mais forte para Skyler que seu desejo de ver seu sonho de vida se tornando realidade. Apesar do risco.
Skyler Daratrazanoff puxou o longo xale preto para mais perto, certificando-se que seu cabelo estava coberto e havia pouco para ver de seu rosto. Seu coração batia tão forte que tinha medo de que alguém perto pudesse ouvir. Tudo dependia de fazer o oficial acreditar nela. Josef tinha forjado os documentos, e ele era o melhor. Podia hackear qualquer computador, fornecer informações ou obtê-las. Não duvidava nem por um minuto que os documentos que ele criou estivessem em ordem e passariam por um exame minucioso, mas ainda tinha que fazer o oficial acreditar nela.
O edifício de metal estava enferrujado e parecia como se fosse desmoronar a qualquer momento. Um homem veio ao seu encontro, parecendo solene enquanto o caixão era levado diante dela para a sombra do edifício. Felizmente o sol estava se pondo e sombras caíam ao seu redor, ajudando a tornar mais difícil vê-la claramente.
— Seus documentos? — Ele disse. Sua voz era amável. O nome em seu distintivo o identificava como Erno Varga.
Ela olhou para trás para o pequeno avião em que voou até o aeroporto e então entregou seus documentos ao oficial, certificando-se que seus olhos estavam abatidos e que parecia chorosa. Teve o cuidado de pingar umas gotas para deixar seus olhos vermelhos e lacrimejantes, por via das dúvidas caso não pudesse atuar por conta própria.
Varga examinou seus documentos e depois olhou para ela várias vezes com olhar penetrante e olhos incrédulos.
— Você é jovem para estar trazendo para casa sozinha o corpo do seu irmão. Ninguém mais está viajando com você?
Ela balançou a cabeça, tentando parecer mais trágica do que nunca.
— Meu pai está morto, e agora meu irmão. — Reprimiu um soluço digno, estava certa, do desempenho de um Oscar.
— Não tem mais ninguém para levá-lo pra casa, para nossa mãe.
O oficial olhou para ela novamente e estudou os documentos mais de perto.
— Ele morreu de coração partido? — Havia ceticismo em sua voz.
Skyler quase engasgou. Quando eu colocar minhas mãos em você, Josef, vai morrer de mais que um coração partido. Usou sua conexão telepática com Josef para avisá-lo que estava em grande dificuldade.
Uma terrível tragédia. Josef não sentia remorsos, como sempre. Havia diversão em seu tom. Não importa o quanto a situação fosse séria, não se importava nem um pouco em ser travesso.
Conseguiu manter um rosto sério e deu a Varga um aceno solene.
— Ele simplesmente definhou quando sua namorada o deixou. Recusou-se a comer. — Não tinha escolha a não ser seguir com isso, mesmo que significasse cruzar os dedos com força, a fim de evitar que o oficial visse que ela estava tremendo. — É uma terrível tragédia. Nada podia salvá-lo.
Ok, até mesmo aos seus ouvidos soava totalmente patético. Mas um coração partido? Só Josef poderia vir com algo tão dramático e inacreditável. Como poderia explicar que ele morreu de um coração partido? Definitivamente tinha que ter outra causa de morte depois que eles abrissem o caixão.
Ela podia sentir a risada de Josef. Claro que você está rindo. Está seguro no caixão, o irmão morto tragicamente, enquanto estou mentindo pra caramba pra este homem que pode me colocar na prisão para o resto da minha vida.
Sabia que Josef nunca deixaria isso acontecer. Se necessário, ele daria um “empurrão” para o oficial acreditar nela. Agora mesmo ele estava se divertindo muito ouvindo-a se contorcer — e supôs que merecia isso. Ela estava obrigando-o a fazer algo altamente perigoso e ele seria culpado mais do que ela se alguma coisa desse errado. Seu pai provavelmente o mataria só de olhá-lo.
Ele vai fazer também, disse Josef. Vai me arrancar membro por membro.
Você devia estar se preocupando comigo arrancando membro por membro, ela ameaçou.
— Quantos anos você tem? — O oficial olhou fixamente para seu passaporte e documentos e então para seu rosto. — Você pilotou aquele avião?
Ela ergueu o queixo tentando parecer mais velha e muito mais dura. Sabia que parecia jovem, mas não seus olhos. Se ele olhasse diretamente nos seus olhos acreditaria no que aqueles documentos forjados diziam. E eram ótimas falsificações. Josef tinha muitos talentos, embora inventar histórias claramente não fosse um deles.
— Sou muito mais velha do que pareço. — Skyler respondeu. Era parcialmente a verdade. Sentia-se mais velha e isso devia contar para alguma coisa. Ela passou por mais coisas que a maioria das mulheres — ok, adolescentes.
— Vinte e cinco? — Ele disse com ceticismo.
Josef insistiu que tinha que ter vinte e cinco se ela fosse pilotar o avião. Pilotar aviões veio fácil para ela e era algo que especialmente amava, por isso seu pai adotivo, Gabriel, permitiu que ela aprendesse.
— Eu tenho que abrir o caixão. — O oficial acrescentou, observando-a de perto.
Skyler conseguiu dar um pequeno soluço e cobriu sua boca, movimentando a cabeça ligeiramente.
— Sinto muito. Sim, claro. Eles disseram que você faria. Estava esperando por isso. — Ela endireitou os ombros e a espinha corajosamente.
Ele olhou para ela muito mais amavelmente.
— Você não precisa assistir. Fique ali. — Ele acenou a cabeça para um canto do prédio só alguns metros de distância.
Ela sentiu um pouco de pena dele. Se conhecia Josef, sabia que ele faria algum tipo de show.
Não se atreva a soprar para assustá-lo, ela advertiu. Estou falando sério, Josef.
Você não é divertida. Sempre posso remover as memórias dele. Não seria tão delicioso uma encenação de Conde Drácula? Assisti o filme um milhão de vezes. Tenho o olhar e o sotaque perfeitos.
Ele parecia extremamente ansioso. Precisou muita disciplina para manter a diversão afastada da sua mente onde ele podia ler. Ela não duvidou nem um instante que Josef podia fazer um Drácula perfeito.
Resista à tentação. Não estamos fora do bosque e não podemos nos dar ao luxo de arriscar. Estamos em território Cárpato. Ou pelo menos perto o suficiente para que alguém que esteja próximo de nós sinta o uso de energia. Contenha-se, Josef.
Ele soltou um suspiro. Não importa o resultado, seu pai vai me matar, uma morte lenta e dolorosa também. Eu poderia ter um pouco de diversão.
Isso estava batendo muito perto da verdade. Gabriel ia matar todos eles, mas se seus planos funcionassem, valeria a pena.
Ela deu a Varga um pequeno e agradecido sorriso e afastou-se do caixão. De pé na porta aberta com seus braços em volta da sua própria cintura para se confortar, ela olhou fixamente para o lado de fora na crescente escuridão mantendo-se muito quieta. Seu plano tinha que funcionar.
Comporte-se, Josef ou vai ver só. Gabriel está em Londres e eu estou aqui. Ela nunca esteve na extremidade de receber a raiva do Gabriel, mas ele e tio Lucian eram lendários caçadores de vampiros. O povo Cárpato, a maior parte extremamente poderoso, sussurravam seus nomes com reverência.
Você tem um ponto. Riso borbulhou na voz do Josef. Que desperdício lamentável de um bom caixão. Agora havia desgosto em seu tom.
Skyler não podia dizer se ele se comportaria ou não. Era impossível com Josef. Ele dançava conforme sua música. Ela enviou uma oração silenciosa, esperando pelo melhor.
Nesse instante, Francesca e Gabriel estavam provavelmente acordados e logo estariam se preparando voar para as Montanhas dos Cárpatos. Eles pensavam que ela estava em um continente afastado, segura com sua amiga humana da faculdade, Maria, usando suas férias para ajudar a construir casas e sistemas de irrigação para fazendeiros na América do Sul. Ela nunca mentiu para eles antes. Nenhuma vez. E doeu fazer isto agora, mas não tinha nenhum outro jeito.
Ela sabia que seus pais foram convocados para o grande encontro entre Lycans e Cárpatos para discutir uma aliança entre as duas espécies. A maior parte dos Cárpatos foi chamada pra casa. Gabriel e Francesca ficaram mais do que felizes em receber um telefonema seu da faculdade pedindo para ir com Maria. Eles não a queriam em nenhum lugar próximo às Montanhas Cárpatos.
Ela nunca pensaria em retribuir sua extraordinária bondade, o amor que lhe deram desde o momento que ela foi levada para sua casa — com mentiras e traição — nem por nada nem por ninguém, exceto Dimitri. Dimitri Tirunul era seu milagre inesperado. Um homem além de qualquer coisa que ela já sonhou. Ela era humana. Ele era Cárpato — quase imortal. Ela tinha dezenove anos. Ele era um antigo, com séculos de idade. Ela mantinha a outra metade de sua alma, a luz da sua escuridão. Sem ela, ele não sobreviveria. Ela era sua companheira — sua salvadora. No entanto, ela sabia exatamente que o oposto era verdade — que Dimitri era quem a salvou.
Ele sabia que era sua companheira quando era só uma criança e lhe deu tempo. Espaço. Amor incondicional. Nunca exigiu nada dela. Nunca disse a ela o quanto era difícil para ele — que ela era sua salvação — e fora de seu alcance. Ele sempre esteve lá para ela no meio da noite, quando seu passado violento estava perto demais e ela não podia dormir, quando pesadelos a assombravam a ponto dela não poder respirar. Estava lá em sua mente, mantendo todas aquelas memórias apavorantes à distância. Dimitri. Seu Dimitri.
Dimitri foi pego no meio entre as duas espécies. Os Lycans o levaram e planejaram matá-lo. Ninguém foi atrás dele para salvá-lo. Ele passou séculos caçando os mortos-vivos para manter tanto sua gente quanto os humanos a salvo. Sobreviveu honradamente quando outros escolheram desistir de suas almas. No entanto, não existia nenhum grupo de resgate. Nenhum caçador estava correndo para salvá-lo. Foi ferido gravemente. Ela sentiu muito antes dele cortar contato para protegê-la de sua dor — ou de sua morte.
Dimitri era estoico sobre vida ou morte. Era um caçador Cárpato e esteve por aí por séculos protegendo inocentes de vampiros. Sua linhagem era complicada, mas para todos os efeitos, ela era humana. Os Lycans nunca esperariam que uma adolescente, uma garota humana montasse uma operação de resgate para um Cárpato. Ela tinha o elemento surpresa ao seu lado. Isto, como também bons amigos confiáveis e suas habilidades poderosas, mas não testadas.
Skyler tinha fé em si mesma. Conhecia sua força e cada fraqueza. Como Josef, era extremamente inteligente e na maior parte das vezes, subestimada. Acreditava que os Lycans iriam subestimá-la — estava contando com isto.
Ao que parecia ninguém começaria uma guerra por um caçador Cárpato, mas sabia que seu pai viria atrás dela, e se alguém prejudicasse um fio do seu cabelo, o mundo Lycan estaria em um pesadelo que não poderia imaginar. Não só Gabriel viria atrás dela, mas seu tio Lucian também. Tinha quase certeza que seu pai biológico, Razvan e sua companheira Ivory se juntariam à ela na caça. Eles eram extremamente letais também. Havia satisfação em saber que se ela fosse ferida ou morta, seria vingada. Ninguém, nem mesmo Mikhail Dubrinsky, o príncipe do povo Cárpato, seria capaz de impedir uma guerra se os Lycans a machucassem.
Ela ergueu o queixo. Dimitri nunca a deixaria em perigo. Ele correu ao seu lado no momento que soube que estava com problemas; ele foi —mais de uma vez — só para acalmar os pesadelos quando ela tinha muitos enfileirados. Ela não podia fazer menos por ele.
Prendendo a respiração, ela se virou para olhar o oficial abrir cuidadosamente o caixão. Rangeu ameaçadoramente. De forma apavorante. Exatamente como nos filmes. O som fez um calafrio percorrer sua espinha. A tampa se levantou devagar e o danado do Josef, de qualquer forma, parecia como se estivesse se erguendo sozinho. Varga recuou, uma mão se levantando defensivamente.
Houve silêncio quando a tampa parou. Nada se movia. Ela podia ouvir o som alto de um relógio tiquetaqueando. Varga tossiu nervosamente. Ele olhou pra ela. Skyler pôs sua mão na boca e abaixou os olhos.
Josef! Comporte-se. Skyler estava em algum lugar entre rir e chorar com a tensão nervosa.
Varga deu um passo de volta para o caixão e espreitou dentro, gotas de suor visíveis em sua testa. Ele pigarreou.
— Ele certamente parece robusto para um homem que se matou de fome.
O mínimo que você podia ter feito era parecer magro se queria que ele acreditasse na sua história absurda. Ela o repreendeu.
Skyler apertou um lenço na boca.
— Eles fizeram um trabalho tão bom na funerária. Eu particularmente pedi a eles para ele parecer bem para nossa mãe.
Varga apertou os lábios e estudou o corpo. Estava desconfiado, mas ela não estava certa do que. Claramente existia um corpo morto no caixão. Ele suspeitava que ela estava traficando drogas? Armas? Se for assim, isso não era um bom sinal para o que ela planejou. Precisava parecer uma adolescente ingênua que poderia ser ligeiramente avoada.
Ela prendeu a respiração quando ele agarrou a tampa do caixão e lentamente a fechou.
— Alguém está vindo te buscar? — Varga perguntou enquanto fechava a tampa do caixão e olhava o relógio. — Não posso ficar. Você foi o último avião chegando.
— O amigo do meu irmão arrumou para que uma caminhonete nos pegasse. Estará aqui a qualquer minuto. — Skyler lhe garantiu solenemente. — Muito obrigado pela sua ajuda.
— Pode esperar aqui. — Varga disse em uma voz gentil. — Voltarei daqui a algumas horas e fecharei. — Ele olhou ao redor do edifício dilapidado. Não era nada além de quatro paredes de metal, na maior parte enferrujadas, algumas tanto que existiam buracos. — Não que exista muito para trancar. — Olhou novamente em seu relógio. — Eu esperaria com você, mas tenho que ir para outro trabalho.
Ela deu a ele um sorriso amarelo.
— Está tudo bem. Realmente. Ele vai estar aqui a qualquer momento.
Varga deu-lhe um último olhar e saiu do prédio deteriorado, deixando-a lá sozinha com o caixão trancado. Skyler esperou até que viu seu carro ir embora e as luzes desaparecerem completamente estrada abaixo. Deu um olhar cuidadoso ao redor. Parecia estar sozinha.
— Josef, pode parar de se fingir de morto. — Skyler disse, sua voz cheia de sarcasmo. Ela bateu na tampa de caixão com o punho. — Morreu de coração partido? Sério? Você não podia pensar em outra coisa, qualquer coisa, digamos, mais realista?
A tampa do caixão abriu com a mesma série de rangidos sinistros de filme de terror que ele usou quando Varga abriu a tampa. Houve silêncio. O coração de Skyler batia continuamente. Ela se debruçou em cima do caixão e olhou de cara feia para o jovem que estava como morto, seus braços cruzados por cima do peito e seus olhos fechados. Sua pele estava pálida como porcelana e seu cabelo preto espetado com as pontas pintadas de azul se destacavam nitidamente contra o fundo branco.
— Você parece incrivelmente robusto para um homem que se matou de fome. — ela disse sarcasticamente, imitando o oficial. — Podia ter acabado com tudo com sua história absurda.
Os olhos do Josef se abriram de repente de forma dramática. Ele fingiu um sotaque enquanto se sentava lentamente.
— Eu podia usar uma gota de sangue ou duas, minha querida.
Ela bateu na cabeça dele com seus documentos.
— O funcionário da Alfândega não acreditou que eu tinha vinte e cinco anos.
Josef abriu um sorriso convencido.
— Você não tem. Tem apenas dezenove e quando Gabriel e Lucian descobrirem o que fizemos, nós dois estaremos metidos em mais problemas do que qualquer um de nós já conheceu. — Ele fez uma pausa, o sorriso desaparecendo de sua boca. — E estive em um monte de problemas.
— Nós não temos escolha. — Skyler disse.
— Não se iluda, Sky, sempre existe escolha. E não é você quem eles vão matar. Vou ser seu alvo principal. Quando Gabriel e Lucian te procurarem — e eles vão — disse Josef —, eles vão encontrá-la. Eles tem uma reputação por uma razão. Se realmente vamos fazer isto, cada caçador Cárpato estará nos procurando.
Seu pai, Gabriel, era extremamente poderoso, um lendário caçador Cárpato. Seu tio Lucian, gêmeo do Gabriel, tinha ajudado a criar essa lenda entre o povo Cárpato, e quando descobrissem que ela foi embora, é claro que viriam atrás dela.
— Não é este o ponto? — Skyler respondeu com um pequeno dar de ombros. —Quando acordarem e perceberem que saímos, teremos uma boa vantagem. Devemos ser capazes de achar Dimitri.
— Você percebe — disse Josef flutuando pra fora do caixão — que isso pode muito bem causar um incidente internacional. Ou pior, uma guerra. Uma guerra total.
— Você concordou em me ajudar. — Skyler disse. — Mudou de ideia?
— Não. Você é minha melhor amiga, Sky. Dimitri provavelmente me despreza e queria que eu estivesse morto, mas ele é seu companheiro e foi literalmente lançado aos lobos. — Josef lançou-lhe um pequeno sorriso, contente com seu trocadilho. — Claro que vou te ajudar. Eu te ajudei com este plano, não é? E ele vai funcionar.
— Dimitri não te despreza, de fato está contente que você seja meu amigo. Nós conversamos sobre isto. Ele não é assim. — Skyler fez uma careta pra ele. — Você sabe muito bem que ele sabe que eu penso em você como um irmão. Ele te defenderia com sua vida.
Josef sorriu para ela.
— Perdoe-me por desprezá-lo só um pouquinho. Ele é bonito, inteligente, um caçador antigo e seu companheiro. Ele destruiu todos os meus sonhos e fantasias sobre você. Não me atrevo sequer a pensar neste sentido ou ele saberia.
Skyler revirou os olhos.
— Ah tá. Até eu sei que você não pensa em mim desse modo, Josef. Você pode esconder muitas coisas, mas não isto. Não há fantasias e nem sonhos destruídos. Sua companheira, seja nascida ou não — sorriu para ele maliciosamente, — provavelmente é uma das filhas do Gregori.
Ele gemeu e bateu na testa com a palma da mão.
— Vou soltar uma maldição em você por sempre proferir essas palavras, por enviar esse pensamento ao universo. Nem pense nisto, quanto mais dizer em voz alta. Pode imaginar Gregory Daratrazanoff como sogro? Credo, Skyler, você realmente me quer morto.
Ela riu.
— Serviria para te endireitar, Josef. Especialmente depois de por nesses documentos que você morreu de coração partido!
— Poderia acontecer. Sou um romântico, você sabe. Dimitri acha que sou uma criança, como todo mundo, o que provavelmente está bem, porque senão ele me veria como um rival.
— Você se esforça muito para fazer com que todos continuem pensando que você é uma criança. — Skyler assinalou com um sorrisinho. — Você gosta que eles o subestimem. Você é um gênio, Josef, e não deixa que qualquer um deles te veja de verdade. Você os provoca deliberadamente.
Seu sorriso alargou até que ele pareceu positivamente malicioso. Ele soprou as pontas dos dedos.
— Isto é muito verdade. Não nego. — Seu sorriso sumiu. — Mas isto é muito diferente das brincadeiras que faço com eles. Isto é grande, Skyler. Só quero que você entenda o que está em jogo.
— Claro que sei o que está em jogo.
— Sua família é uma das famílias mais poderosas de nosso povo. — Ele franziu o cenho.
— O que me lembra, por que você já não se refere a Gregori como seu tio? Ele é irmão de Lucian e Gabriel, então tecnicamente ele é seu tio.
— Acho que nunca pensei sobre isso. Eu não o conheço. Estamos em Londres e ele está aqui nas Montanhas Cárpatos e nunca se mostrou assim tão interessado em mim.
— Ele é um Daratrazanoff, acredite em mim, Sky, ele está interessado em você. Se desaparecer, sua família vai vir te procurar e eles estarão em pé de guerra. Toda sua família, especialmente Gabriel.
— Você tem medo do meu pai? — Skyler perguntou.
— Tenho novidades pra você, meu bem, todo mundo tem medo do seu pai, e se não tem, deveriam ter, especialmente quando se trata de você. Não notou o quanto ele é protetor contigo? Seu tio Lucian é tão ruim, senão pior, e se alguém se mete com um desses homens ou qualquer pessoa que eles amam, responde aos dois.
Skyler mordeu o lábio.
— Eu sinto muito, Josef, por colocá-lo nesta posição. Não posso voltar atrás. Tenho que encontrar Dimitri. Sei que eu posso fazer isto. Este plano é perfeito. E nós dois sabemos — e contamos com Gabriel e Lucian vindo atrás de mim. Posso partir daqui sozinha, eu realmente posso.
Josef desatou a rir.
— Agora você realmente enlouqueceu. Se eu deixar que você fazer isto sozinha, eles realmente me matariam. Não, nós estamos aqui e temos que resolver isto. Acho que é você quem poderia realmente conseguir isto. Mas Skyler, se você entrar em apuros, isto realmente vai começar uma guerra. Lucian e Gabriel não vão recuar se alguém te machucar ou se você for capturada. Eles não vão se importar com o que o Príncipe diz. Vão atrás de você e ninguém ficará no caminho deles. É melhor você entrar sabendo disso. Você tem que saber as consequências e estar disposta a enfrentá-las.
Skyler apertou seus lábios. Ela pensou muito pouco desde que ela e Josef surgiram com o plano.
— Dimitri é um bom homem. Ele podia ter me reivindicado, levado pra longe da minha casa e da única estabilidade que eu já conheci. Eu não seria capaz de resistir a ele, a atração de companheiros é simplesmente muito forte. Mas ele não o fez, Josef, não importa o custo terrível para ele. Não insistiu em me reivindicar ou nos vincular. Ele não tinha medo de Gabriel. Nunca teve medo de Gabriel.
Josef fez um gesto com a mão para o caixão e a tampa rangeu fechando.
— Eu sei. — ele admitiu suavemente.
— Ele sabia que eu não estava pronta, que precisava de tempo para eu me encontrar e superar... tudo do meu passado. — Skyler abaixou a cabeça, de forma que seu rico cabelo sedoso cobriu sua expressão.
— Não, Sky. — disse Josef. —Nós somos melhores amigos. O que aconteceu contigo não foi sua culpa e você nunca deve se sentir envergonhada.
— Eu não tenho vergonha, bem, não como você pensa. Acredito que Dimitri é um grande homem e merece uma companheira que pode se igualar a ele em tudo. Não sou essa mulher ainda. Quero ficar com ele, sinto essa necessidade quase tão forte quanto ele. Cresce em mim a cada dia.
— Você acha que ele usaria seu passado contra você? — Josef perguntou.
Skyler balançou a cabeça.
— Não, ele muitas vezes está perto o suficiente para conversar comigo à noite quando não consigo dormir. Nós conversamos muito de noite. Eu amo sua voz. Ele é muito gentil comigo, nunca é exigente. Eu sei que é difícil para ele. Posso sentir sua luta, embora ele escondesse isto de mim, a princípio. Você não pode estar na cabeça de outra pessoa sem eventualmente ver tudo. A escuridão ameaça engoli-lo o tempo todo, ainda assim ele nunca disse nada para mim, nunca tentou me apressar. Ele certamente não me condenou porque eu era muito jovem — e estava com medo. Dimitri não me julga.
— Ninguém a julga, querida. — Josef assinalou. — Você é quem é tão dura consigo mesma. Eu especialmente amei a fase quando você tingia seu cabelo constantemente. Demorou um pouco até você se encontrar consigo mesma e ficar confortável com quem você realmente é.
A sobrancelha de Skyler se levantou de repente. Ela encarou incisivamente o cabelo preto espigado de Josef com mechas azuis.
Seu sorriso era contagioso, revelando covinhas gêmeas próximas à sua boca.
— Isto é quem eu sou. Descobri isso muito tempo atrás. Gosto do meu cabelo com as pontas azuis.
— Porque ninguém vai adivinhar o quanto você é inteligente. Estão muito ocupados olhando para seu cabelo e os piercings que você ocasionalmente põe só para deixá-los chateados. — Ela acusou, rindo suavemente. — Eu te amo, Josef, você sabe disso, não é?
— Sim. É por isso que estou aqui, Sky. Não tenho muitas dessas pessoas se preocupando comigo. Se você disser que precisa de mim, eu venho. — Ele olhou pra ela.
Skyler pôs sua mão no braço dele.
— Existem muitas pessoas que se importam contigo, Josef, você só não as deixa chegar perto. Se desse uma chance a Dimitri, ele seria um bom amigo pra você. Eu sei que seria. Conversei com ele muitas vezes a seu respeito.
— Pensei que não o tinha visto desde que esteve nas Montanhas Cárpatos.
— Ele achou melhor se ficássemos longe um do outro. Eu sabia que seria muito difícil para ele comigo estando fisicamente perto, mas ele entrava e saía de Londres sempre que precisava ouvir minha voz.
— Gabriel sabia? — Josef perguntou.
— Provavelmente. Ele não me perguntava, mas notei que quando Dimitri estava perto, Gabriel ficava mais próximo e quando não estava comigo, Francesca estava perto. Houve vezes quando tio Lucian e tia Jaxon rondaram. Eles estavam preocupados, então eu sabia que era porque tinham medo que Dimitri viesse e me reivindicasse.
— Mas ele não o fez.
— Claro que não. Ele é um homem de honra. Não tenho idade suficiente na cultura Cárpato, o que é engraçado, porque na cultura humana eu poderia me casar facilmente. Ninguém pensaria duas vezes sobre isto.
— Você queria que ele te reivindicasse? — Josef perguntou com curiosidade.
Skyler deu de ombros.
— Às vezes. Sonho com ele. Nunca mais pensei em outros homens ou até mesmo olhei pra eles. É sempre Dimitri. Ele me atrai e nem sequer é ciente disto. Quando estamos conversando mentalmente, eu vejo coisas. Como ele é sozinho. Como seu mundo é escuro. O quanto é difícil lutar contra o constante puxão da escuridão. Ele suporta tanto por mim. Tanto por todos nós. Quando caça, fica mais difícil pra ele. Toda vez que ele tem que matar. Vejo tudo isso e os terríveis sacrifícios que faz por mim.
— Ele não ia querer que você visse essas coisas, Sky. — Josef disse suavemente. — Você sabe disso, não é? Machos Cárpatos, especialmente os caçadores, são como pedra, totalmente guerreiros, e se ele pensar que não estava te protegendo dessa sombra rastejante, ele ficaria muito puto.
Skyler sorriu pra Josef.
— Eu não posso evitar o que vejo, Josef. Não sou exatamente como todo mundo. Que tipo de mistura eu sou? Psíquica. Maga. Em parte Cárpato. Filha da Terra. Caçadora de dragões. Vejo coisas que não estou destinada a ver. Sinto coisas que não devia. Sei que ele quase foi tirado de mim. Eu senti. Eu o chamei. Cantei os cantos curativos que ouvi Francesca cantar. Acendi velas e chorei por dias quando ele estava tão longe que eu não podia alcançá-lo.
Ela examinou seus olhos, deixando-o ver seu pesar. Josef era definitivamente subestimado pela maioria das pessoas, mas ela via seu gênio e valorizava sua estreita amizade. Podia falar com ele e dizer qualquer coisa, e ele nunca traiu sua confiança.
— Eu preciso dele. — Ela admitiu simplesmente. — E tenho que encontrá-lo.
Josef jogou o braço ao redor dos seus ombros.
— Bem, irmãzinha, é isto exatamente o que nós vamos fazer. Paul deve estar aqui a qualquer minuto. Ele me enviou um torpedo dizendo que tinha tudo pronto.
— Ele cobriu seu rastro? Não disse a você que uma vez Nicolas tomou seu sangue? Se fez, ele pode localizar Paul.
— Meu bem, qualquer um deles pode nos rastrear e vão cair quentes na nossa trilha no momento que perceberem que você está sumida.
— Sei disso. Só estou dizendo que não pode acontecer até que estejamos prontos. —Skyler olhou novamente em seu relógio. — Ele está atrasado.
— Seu disfarce é perfeito. — Josef garantiu. — Ele sobrevoou com a família De La Cruz e disse a eles que iríamos explorar as montanhas no lado da Ucrânia. Estaremos acampando por umas semanas. Claro que eles ficaram felizes em se livrar de nós e ninguém perguntou se gostaríamos de fazer algo juntos. Conversamos sobre isso sem parar pelos últimos anos. Esta seria a oportunidade perfeita para ficarmos juntos para que eles comprem nossa história facilmente.
Skyler deu uma pequena fungada.
— Claro que eles não se importam se você dois forem acampar no meio do mato juntos. Lembra quando eu quis ir num de seus acampamentos? O mundo quase acabou.
Josef riu e encostou um quadril preguiçosamente no caixão.
— Gabriel se transformou no grande lobo mau e quase comeu Paul e a mim no jantar apenas com a sugestão. Fiquei surpreso que ele permitiu que você fosse pra faculdade. Você estava tão à frente de seu grupo de idade na escola.
Skyler deu de ombros.
— Eu ia pra casa à noite no primeiro ano. Eu precisava. Isso não tinha nada a ver com Gabriel e Francesca. Não sei o que eu teria feito sem eles. Precisava tanto deles nos primeiros dias. E eles realmente vieram quando precisei. — Lágrimas brilharam em seus olhos. — Odeio pagar seu amor e bondade com mentiras, mas eles não me deixaram escolha.
— Tentou conversar com eles sobre Dimitri? — Josef perguntou.
Skyler assentiu.
— Eu sabia que algo estava errado, que Dimitri estava perturbado da última vez que conversamos. Ele saiu abruptamente para as Montanhas Cárpatos algumas semanas atrás e então se meteu em uma batalha terrível. Eu o senti deslizando para longe de mim. Foi tão longe e eu quase não pude alcançá-lo. Quando alcancei, ele quase foi embora. Eu podia sentir sua força vital se desvanecendo. — Ela levantou o olhar para ele. — Você lembra daquela noite? Chamei você para vir e me ajudar.
— Você estava na biblioteca da faculdade e felizmente eu estava indo te visitar, então eu não estava muito longe — Josef disse, — mas não me disse o que aconteceu. Só que Dimitri precisava de você. Você ficou arrasada.
A memória daquela noite a balançou. Dimitri esteve muito ferido. Mortalmente ferido. Ela estava muito longe dele, estudando na biblioteca da faculdade — tão mundano — a distância diminuindo a conexão deles. Ela se estendeu para ele, sabendo que estava em apuros e foi o irmão dele que ela achou. Quando tocou Dimitri, estava tão frio, gelado. Ela estremeceu, a frieza ainda em seus ossos. Às vezes achava que não conseguiria tirá-lo.
— O irmão dele estava lá lutando por ele, seguindo atrás de sua luz desvanecendo e tentando trazê-lo de volta. Eu chamei Dimitri e implorei para não me deixar. Fiz o melhor que pude, mesmo através de uma distância tão grande, para ajudar seu irmão a trazê-lo de volta para a terra dos vivos. Simplesmente eu não podia deixá-lo ir.
Ela capturou seu lábio inferior entre os dentes, mordendo com força. Inclusive agora seu coração doía. Pressionou a palma da mão firmemente em cima da dor.
— Não posso perdê-lo, Josef. Sempre esteve ali pra mim quando precisei dele, de qualquer forma que eu precisasse. É minha vez agora. Não vou desapontá-lo. Vou encontrá-lo e vou ajudá-lo a escapar.
— Antes, quando ele estava morrendo, você conseguiu alcançá-lo. — Josef se aventurou cuidadosamente, sabendo muito bem agora que estava caminhando por um campo minado. — Por que acha que não pode agora?
— Eu sei onde você quer chegar, Josef — ela retrucou, — e isso não é verdade. Dimitri está vivo. Sei que ele está vivo.
Josef assentiu.
— Ouvi você, Sky, mas isso não responde à minha pergunta. Talvez seja melhor descobrirmos por que não pode alcançá-lo quando vocês dois sempre foram capazes de se comunicar telepaticamente. Você é extraordinariamente poderosa. Mais do que alguns Cárpatos. Muitos de nós não podemos cobrir o tipo de distância que você pode. Então o que está diferente agora?
Ela franziu o cenho para ele. Josef era incrivelmente brilhante e mesmo que não quisesse ouvir isto, precisava escutá-lo. Ele tinha um ponto. Ela foi capaz de cruzar grandes distâncias para se conectar com Dimitri — e ele com ela. Sabia quando ele estava com problemas, quando lutou em uma batalha com um bando de renegados e sofreu o ímpeto do ataque a fim de dar ao seu irmão a oportunidade de destruir um cruzamento muito perigoso de vampiro com lobo.
Ela sentiu a dor do Dimitri, tão terrível que mal pôde respirar. Ali mesmo, na biblioteca da faculdade, ela quase caiu no chão com aquele lampejo de dor que não era dela. Seguiu aquele rastro de volta para ele infalivelmente, apesar de sua luz estar desvanecendo. Depois de anos de conversar telepaticamente, a conexão entre eles ficou mais forte e ela o achou mesmo com sua força vital desaparecendo, viajando para outro reino. Se ela pôde fazer isto, Josef estava certo, por que não podia achá-lo agora? Não fazia sentido — e ela devia ter descoberto isso sozinha.
— Você está muito perto do problema. — Josef disse, provando que estava tão sintonizado com ela que praticamente podia ler seus pensamentos.
— Não gosto quando não estou pensando direito. — Skyler disse. — Ele precisa que eu esteja cem por cento nisso.
— Acho que se chama amor, Sky, por mais que eu não queira admitir que você possa amar alguém além de mim. — Josef piscou pra ela.
— Alguma coisa está realmente errada, Josef. Sei que está. Como pude encontrá-lo quando ele já estava tecnicamente morto, mas não posso fazer isto agora?
— Talvez ele esteja inconsciente. — ele aventurou.
Ela sacudiu a cabeça.
— Eu pensei nisto. Eu ainda poderia encontrá-lo. Sei que podia. Existe algo sobre nossa conexão. É tão forte que posso segui-lo em qualquer lugar. Podia tocá-lo quando ele estava no solo, rejuvenescendo na terra.
Os olhos do Josef se arregalaram.
— De jeito nenhum, Sky. Ninguém pode fazer isto. Nós paramos nossos corações e pulmões e não podemos nos mover. É o nosso momento mais vulnerável. Como ele podia estar consciente?
— Eu não sei, mas sempre que o alcanço, dia ou noite, ele sempre esteve lá pra mim. Sempre. Não posso me lembrar de uma única vez que não pude achá-lo. A mãe Terra sempre cantou para mim, uma vibração que eu podia sentir e sempre sabia onde ele estava.
— Você disse a Gabriel e Francesca que pode fazer isto? Que pode fazer isto com eles? Comigo?
Skyler andou de lá pra cá no chão, parecendo uma vez mais um pouco mais impaciente.
— Nunca pensei em dizer pra ninguém, nem mesmo para Dimitri, a respeito disso. Mas não, nunca tentei despertar mais ninguém. Francesca e Gabriel ficam muito pouco tempo juntos nestes dias, então nunca considerei despertá-los. Parecia natural me virar para Dimitri. Eu sabia que ele precisava de mim tanto quanto eu precisava dele.
— Todo este tempo pensei que você tinha medo de um relacionamento com ele. — Josef disse.
O sorriso de Skyler mantinha pouco humor.
— Nunca tive medo de um relacionamento com ele. Como eu podia ter? Temos uma relação maravilhosa. Ele me trata como se eu fosse a mais desejável e melhor mulher do mundo. Ele é inteligente, podemos conversar sobre qualquer coisa por horas. Ele é amável e gentil. É tudo que uma mulher pode querer num companheiro.
— Estou ouvindo um “mas” aí.
— Não tenho certeza se posso ser a companheira que ele realmente merece. Sou ótima na relação afetiva e na intelectual, mas não tenho nenhuma ideia se posso ser o que ele precisa fisicamente. Isto é uma história completamente diferente.
Josef sacudiu a cabeça.
— Skyler, não fique toda psicótica sobre isto. Vai acontecer quando tiver que acontecer. Dimitri nunca vai querer outra mulher. Jamais. Vai te dar todo o tempo que você precisar.
— Eu sei. De verdade. Dimitri nunca me forçaria e ele nunca fez. Não que ele esteja preocupado. Eu só fico ansiosa pensando nisto. Quero ser a melhor companheira possível para ele e minha mente simplesmente não pode ir para uma relação física ainda.
Ela olhou novamente para o seu relógio.
— Seria melhor Paul chegar aqui logo. Tem certeza que ele saiu sem ninguém suspeitar?
— Sim, ele está a caminho. Só alguns minutos. Você disse que Dimitri estava vivo. Se ele estiver, nós o acharemos.
Skyler deixou o fôlego escapar lentamente.
— Não gosto nada disso. Detesto o fato que o príncipe, junto com todos os outros o abandonaram.
Josef atirou o braço ao redor dela e abraçou apertado. O sorriso sumiu.
— Nós vamos encontrá-lo. Nós vamos.
Skyler se agarrou a ele por um momento e então acenou com a cabeça, endireitando seus ombros e andando para longe dele.
— Não gosto da única explicação que posso pensar sobre o fato de não poder me conectar com ele.
— E qual é? — Josef perguntou.
— Ele está me bloqueando. — Havia dor em sua voz. — Tem que estar. Não existe nenhuma outra explicação que faça sentido.
Paul Jansen apertou Skyler em seus braços e abraçou-a com força. Estava mais alto do que ela se lembrava, seus ombros e peito largos. Era parrudo e parecia mais um homem que um garoto. Trabalhava duro no rancho da sua família e exibia um bronzeado profundo, constituição forte, braços definidos e confiança. Parecia mais velho que seus vinte anos, pela responsabilidade que pesava sobre ele.
Skyler o abraçou de volta com a mesma força.
— Obrigada por vir. Eu não teria pedido se não estivesse tão desesperada.
Ele a segurou com o braço estendido, olhando-a cuidadosamente com um pequeno sorriso afetuoso no rosto.
— Eu não perderia isto por nada. Fizemos um pacto muito tempo atrás, nós três, que se qualquer um de nós estivesse com problemas, viríamos correndo. Estou feliz que me chamou.
Josef pegou em seus antebraços na tradicional saudação entre os guerreiros Cárpatos, chocando um pouco Skyler. Não existia nada de tradicional em Josef, e quando ele usava alguns dos rituais antigos sempre a surpreendia.
— Bom ver você, irmão. Passou muito tempo. Eles não deixam você sair do trabalho muitas vezes, não é? — Josef disse.
Paul o abraçou do modo humano mais tradicional.
— Eu cuido das minhas irmãs, especialmente Ginny. Os irmãos de La Cruz e suas companheiras têm inimigos, e tenho um rancho para correr e Ginny pra cuidar durante o dia.
— Você sempre trabalhou muito duro. — Josef comentou, retribuindo seu abraço. — É bom ver você. Conversar on-line não é a mesma coisa. Como está sua irmã? Ela está crescendo rápido.
— Ginny é incrível com os cavalos, exatamente como Colby sempre foi. Ela é bonita também, o que significa que tenho que vigiar todas aquelas mãos no rancho para ter certeza que não vão ter alguma ideia. — Paul sorriu, mas não havia nenhuma diversão em seus olhos.
Skyler teve que sorrir. A maioria dos caçadores Cárpatos eram duros como pregos e mais um pouco, mas Colby, a irmã de Paul, casou numa das famílias mais duras de todas. Ela era companheira de Rafael De La Cruz. Haviam cinco irmãos e todos eram considerados extremamente letais, uns dos predadores mais temidos do planeta. Claramente, Paul já tinha aprendido muito com eles. Ela não tinha nenhuma dúvida que ele aprendeu a se defender também. Lutou com vampiros e fazia o trabalho de um homem no rancho, cuidando das coisas enquanto os Cárpatos dormiam durante o dia.
— Josef, carregue seu caixão para a caminhonete, por favor. — Skyler disse a ele. — Temos que nos manter em movimento. Precisamos estar na estrada caso alguém venha procurando por um de nós.
Paul examinou o caixão ornamentado e então desatou a rir.
— Olhe para essa coisa. Josef, você se divertiu, não é?
Skyler revirou seus olhos.
— Não o encoraje. Você não faz ideia. Ele realmente colocou a causa da morte como coração partido nos documentos oficiais. Pode acreditar nisso?
Paul riu mais ainda.
— Eu não esperaria nada menos. — Ele bagunçou o cabelo de Skyler. — Você ficou mais bonita. Quem diria?
Josef franziu a testa para ele.
— Você a vê quase todo dia no Face ou no Skype. Ela parece da mesma forma de sempre. Você, por outro lado, deixou o cabelo crescer. Está até começando a parecer com os irmãos de La Cruz. Você está maluco?
Paul deu de ombros e empurrou seu chapéu de cowboy para trás em sua cabeça com o polegar.
— Todo mundo tem um pouco de medo dos irmãos de La Cruz. Não me importo nem um pouco em ser associado com eles. Isso me torna automaticamente um fodão.
Skyler se encontrou rindo — e relaxando — pela primeira vez em dias. Esqueceu a camaradagem fácil que compartilhava com Paul e Josef quando ficavam juntos assim. Ela amava os dois e sabia que eles sentiam o mesmo por ela. Ambos podiam provocá-la sobre Dimitri, mas o tinham em grande respeito. Queriam encontrá-lo tanto quanto ela.
Josef estava preocupado que ela pudesse não saber as consequências de suas ações, mas sabia muito bem. Como não saberia? Estava mentindo para as pessoas que amava. E ela sabia, sem sombra de dúvidas, que a família de La Cruz protegeria Paul assim como Gabriel e Lucian fariam com ela. Os irmãos de La Cruz passaram muito tempo longe das Montanhas dos Cárpatos, e eles eram sua própria lei. Eram leais ao príncipe, mas ao mesmo tempo era o primogênito Zacarias quem governava suas ações. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, permitiriam que um dos membros da sua família estivesse em perigo sem vir em sua ajuda.
Ela pensou muito sobre o que estava fazendo. Paul era importante para ela e ele sabia disso. Eles discutiram abertamente o que os irmãos de La Cruz fariam se o plano falhasse e todos entrassem em apuros. A família de La Cruz tinha mais a perder que qualquer outra. MaryAnn e Manolito De La Cruz seriam caçados e mortos, assim como Dimitri seria se os Lycans vencessem na cúpula que aconteceria em breve nas Montanhas Cárpatos. Eram considerados os temidos Sange rau — literalmente sangue ruim — uma mistura de Lycan e Cárpato.
Ela viu Josef flutuar de dentro do seu caixão na parte de trás da caminhonete. Ele era incrivelmente hábil em mover objetos. Ela podia fazer isto, mas não tão facilmente quanto ele. Josef passou por uma fase desajeitada, mas certamente terminou e estava pronto e hábil para usar seus dons Cárpatos. Era considerado criança aos olhos dos machos Cárpatos com séculos de idade. As crianças Cárpatos não eram consideradas adultas até que atingissem seus cinquenta anos.
Os Cárpatos estavam apenas começando a entender sua genialidade com tecnologia, especialmente computadores. Havia pouco que ele não pudesse fazer, nada que não pudesse hackear, e nenhum programa que não pudesse escrever. Estava bastante certa que eles ainda não reconheceram a enormidade de suas habilidades e o que significava para seu povo. Os Cárpatos eram muito intelectuais, mas sabia que Josef era um verdadeiro gênio, quilômetros à frente da maioria das pessoas de qualquer espécie.
Paul e Josef eram estranhos em seu próprio mundo, assim como ela, em muito menor escala. Ela vivia com pais Cárpatos que a tratavam amorosamente, mas não era Cárpata. Paul também era cercado por Cárpatos, mas tinha que viver num mundo humano, ainda que não se encaixasse mais lá. Tinha visto vampiros, até foi possuído por um. E havia também Josef. Seu olhar caiu sobre ele. Extravagante. Um rebelde. Sim, era ambas as coisas, mas também era leal, brilhante e alguém com quem sempre se podia contar.
O coração dela sempre esteve com ele. Não podia negar que o amava, então claro que Dimitri sabia. Ele sabia tudo sobre ela. Há muito tempo abriu sua mente para seu companheiro. A princípio permitiu que Dimitri entrasse na sua mente com a vaga ideia que ele veria, depois de sua infância terrível, que nunca poderia ser o que ele queria que ela fosse. Ele foi então o que era agora. Absoluto. Tranquilo. Implacável. Determinado. Amoroso.
Ele era um homem quase impossível de resistir. Bem. Certo. Sua resistência à ideia de ser sua companheira desapareceu completamente. Só precisava de um pouco de tempo para construir sua confiança em si mesma para, quando chegasse a hora, poder ser uma parceira completa para ele.
Skyler mordeu com força seu lábio inferior, estremecendo um pouco quando doeu. Ela ainda não estava lá, não na parte física, mas isso não importava, nem importaria se ele não sobrevivesse.
A cotovelada brincalhona de Josef quase a mandou voando. Ele gemeu.
— Lá vai ela novamente para fora deste mundo. Ela é levada a fazer isto ultimamente, Paul. Você está conversando com ela e parece uma pessoa normal, em seguida fica piegas, aluada, toda olhos pegajosos e pateta, e divagando em algum lugar. Acho que antes de qualquer outra coisa, precisamos levá-la a um médico e rápido.
— Ah, você vai precisar de um médico. — Skyler revidou com um pontapé nas suas canelas, e quando ele se virou para fugir, ela pulou nas suas costas, fingindo esmurrar suas costelas.
— Ajude, ajude, ela enlouqueceu. — Josef girou em círculos como se estivesse tentando tirá-la das costas, o tempo todo segurando-a com ele.
— Vamos, seus bobos. Não podemos estar certos se alguém não descobriu ainda se Sky não está onde ela disse que estaria. — Paul advertiu. — Tudo que Francesca ou Gabriel tem a fazer é tentar entrar em contato com ela.
Josef parou seu giro selvagem e curvou os joelhos para colocar Skyler no chão. Ele olhou ao seu redor, de repente cauteloso.
— Não acho que nos encontrarão tão rápido, mano. — disse Paul.
— Não. Não Francesca e Gabriel. — Josef disse, dando um passo diante de Skyler e colocando-a atrás dele com um braço. — Mas alguma coisa fez.
— Eu posso ajudar. — Skyler silvou. — Sou muito hábil em todos os tipos de defesa. — Ela espiou ao redor de Josef. Ela tinha encontrado e enfrentado todos os tipos de monstros e eles a assustavam pra caramba, mas não ia mostrar medo a qualquer um dos seus amigos — não quando estavam arriscando suas vidas em seu plano bastante desesperado para tirar Dimitri de seus sequestradores.
Paul aproximou-se do outro lado.
— Cale-se, maluco, pelo menos vamos ver o que está vindo atrás de nós.
— O caixão está na caminhonete, quer tentar apenas ir embora? — Skyler sugeriu esperançosamente.
— Prefiro encontrá-los a céu aberto. — disse Paul. — Josef?
Josef levantou a mão com os dedos bem abertos.
— Cinco deles. Punks. Viram o cara da alfândega ir embora e vieram ver o que pode ter sido deixado para trás. Dois deles são bastante altos. Todos estiveram bebendo. Nenhum vampiro.
Skyler pegou o braço de Josef.
— Vamos embora então. Cinco humanos com facas e correntes, e talvez armas, ainda podem nos atrasar. Vamos sair daqui.
— Não acho que eles têm qualquer intenção de nos deixar levar a caminhonete, Sky. — disse Josef. — Estão nos vigiando.
Skyler suspirou. Josef e Paul estavam ansiando por uma briga. Os dois tinham energia retida bem como raiva suprimida em relação ao seu príncipe e aos outros caçadores. Se fosse completamente sincera, ela também. Estava brava. Furiosa. Dimitri merecia muito mais lealdade que seu povo mostrava por ele. Todos os três foram mantidos fora do circuito, jovens demais pra contar, quando a própria pessoa que era sua outra metade estava em perigo. Não estava certo. Era companheira de Dimitri, e no mínimo deveria ser mantida informada o tempo todo, não descartada como se fosse uma criança e não entendesse.
Ela respirou fundo, sabendo que dos três, o único que parecia como se pudesse se cuidar era Paul. Josef eles descartariam. Era alto e desengonçado, mas não possuía músculos desenvolvidos que pudessem impressionar um grupo de valentões como este se mostrava. Josef, é claro, era o que todo mundo devia temer, mas parecia o hacker que era.
Ela escutou a conversa fiada e deu um pequeno suspiro. O mundo às vezes parecia o mesmo em todos os lugares que ela ia. Londres, América do Sul, Estados Unidos, até sua amada Romênia tinham os mesmos tipos que prefeririam roubar que ganhar.
Você é mole demais, Sky, Josef disse. Eles te matariam por essas botas chiques que está usando.
O pior era que Josef provavelmente estava certo. Ele podia ler os pensamentos deles. Ela podia também, se escolhesse, mas não o fez. Às vezes só queria fingir que a maioria das pessoas eram realmente boas, como Gabriel e Francesca, não os monstros que conheceu quando criança. Viver num mundo onde sabia que vampiros e monstros existiam não ajudava sua fantasia.
O cheiro dos cinco se aproximando a alcançou primeiro. Dois estavam definitivamente drogados. O cheiro de álcool tão forte não era um bom sinal. Sua experiência com álcool não era a melhor. Homens bêbados definitivamente tinham um sentido aumentado de fanfarronice e um julgamento muito prejudicado. Muito provavelmente, estes cinco pensavam que podiam fazer qualquer coisa.
Ela observou-os chegar perto, notando que os dois que cambaleavam atrás estavam claramente bêbados. Não podiam caminhar em linha reta, mas um deles tinha uma arma. Ela podia vê-lo acariciando o tambor, e para ela, parecia o mais perigoso. Ela manteve seu olhar colado nele.
— Bem, olha o que achamos? — O que se dizia líder disse. Apontou para Skyler e entortou seu dedo mindinho. — Venha aqui.
Josef sorriu para eles, deliberadamente mostrando seus dentes mais longos e afiados.
— Seria melhor partir enquanto tem chance.
— Ninguém está falando com você. — o líder estalou. — Chegue aqui. — ele adicionou com a mão na faca.
— Ela não vai a lugar nenhum. — Disse Josef, seus olhos assumindo um brilho vermelho. — Estou dando a você um último aviso, embora esteja um pouco faminto. Acabei de acordar, mas vocês todos emitem um forte cheiro de álcool e sou contra beber tanto.
— Olhe para aquilo, Gustoff. — O que estava diretamente à direita do líder indicou a caminhonete. — E um caixão legal. Eu quero.
— Este é meu quarto. — Josef disse. — E não convidei você.
Gustoff já estava de saco cheio de lidar com Josef. Ele puxou sua faca e imediatamente os outros seguiram o exemplo. Skyler não estava tão preocupada com as facas quanto estava com a arma que o homem embriagado puxou. Ele apontou diretamente para Josef. Ela se concentrou no objeto. A arma pareceu ganhar vida própria. Lentamente o sorriso sumiu do rosto do bêbado quando a arma começou a se virar contra ele. Não importa o quanto tentasse virar sua mão, a arma continuou virando, até que estava apontada para ele.
— Gustoff! — Ele exclamou.
Gustoff olhou por cima do ombro.
— Pare de brincar.
— Eu não estou. — o homem bêbado insistiu. Sua mão tremia. Ele tentou abri-la, mas sua palma estava firmemente fechada em torno da arma, seu dedo preso no gatilho. — Vai atirar em mim. Faça alguma coisa.
Gustoff franziu o cenho.
— Petr, ajude aquele idiota.
Petr entrou em ação, agarrando a arma. Ele não conseguiu movê-la, nem remover a mão do bêbado dela.
Alarmado, Gustoff virou-se para Josef, seu punhal na frente dele com a lâmina para cima.
— Ei, não olhe pra mim, isto é tudo ela. — Disse Josef, indicando Skyler. — Ela tem a tendência de fazer as coisas do seu jeito. Eu sou o bacana. — Conforme ele falava, os botões começaram a estalar na camisa de Gustoff. As costuras de sua calça jeans se abriram.
Paul riu baixinho enquanto as calças caíam ao redor dos tornozelos de Gustoff.
—Josef, o bacana.
— Pegue-os! — Gustoff gritou furioso.
Os outros se apressaram para eles puxando as facas. Um balançou uma corrente de metal pesada. Skyler andou de volta atrás de Paul e Josef, estendendo sua concentração para as outras armas. Desta vez ela mudou a temperatura para que mesmo que os tolos bêbados a esgrimissem, as facas e corrente começassem a ficar mornas e depois quentes.
Paul bateu sua mão abaixo com força no pulso do que vinha para ele, agarrando a mão da faca e torcendo-a para cima e para o lado enquanto avançava. O homem caiu com força, um audível crack sinalizando um pulso quebrado. Paul chutou a faca para longe e deu outro chute na cabeça do homem.
Dois correram para Josef. Ele se dissolveu justamente quando o alcançaram, deixando-os em pé olhando um para o outro. Um dos dois tinha balançado sua corrente, mas agora os elos de metal ardiam vermelhos no meio da noite, uma faixa bizarra de fogo girando sobre sua cabeça. A corrente de repente foi arrancada por trás e rapidamente enrolada em torno do corpo do homem. Ele gritou quando os elos em chamas tocaram sua pele.
O homem restante deu meia volta tentando achar Josef, quase histérico de medo. O metal de sua faca começou a arder quando a temperatura subiu. Ele abriu a mão rápido e a faca caiu no chão.
Paul estava nele imediatamente, enfiando seu punho na boca do homem, dirigindo-o para trás. Ele acompanhou sua vantagem com um chute direto no estômago, usando suas botas de bico de aço.
Josef surgiu do nada diretamente na frente de Gustoff. O líder o apunhalou, mas Josef pegou seu pulso num aperto mortal e girou ao redor dele, de forma que seu braço ficou travado em torno da garganta de Gustoff. Ele era extremamente forte, seu aperto não podia ser rompido. Ele curvou a cabeça para o pulso batendo forte de Gustoff.
— Já tem um tempo que comi. — ele sussurrou. — E preciso de sangue para sobreviver. Pena que você veio e não atendeu minha advertência.
Ele afundou os dentes profundamente naquele batimento martelando, permitindo que Gustoff sentisse a dor da queimação. O medo misturava seu sangue com adrenalina, ajudando a eliminar o amargo e repugnante gosto de álcool. Gustoff gritou e gritou, horrorizado com o vampiro drenando sua força vital.
Seu bando de valentões ficou rígido, só assistindo em terror absoluto.
Você é sempre tão bom em teatro, Skyler disse, tentando não rir. Está dando um belo show para eles.
Os olhos do Josef estavam totalmente vermelhos agora, ardendo como brasas gêmeas na escuridão. Ele realçou a aparência de Gustoff, fazendo-o parecer mais pálido a cada momento que passava. Seu corpo pareceu começar a convulsionar. Josef o deixou cair no chão. Duas gotas finas de sangue corriam de sua boca até o queixo.
Skyler revirou os olhos. Não posso manter esta arma apontada para ele para sempre.
Josef de repente girou sua cabeça em direção ao bêbado que segurava a arma. Seu olhar caiu sobre o homem.
— Você parece gostoso.
— Eu não sou. Eu não sou. — O bêbado sacudiu a cabeça e tentou cambalear de volta.
Josef fez um gesto com a mão e o bêbado não podia se mover. Josef flutuou para ele sem pressa, fazendo pequenos movimentos de natação com as mãos.
Oh, pelo amor de Deus. Isso é necessário? Skyler exigiu.
Paul se dobrou de rir. Quando um dos homens no chão se moveu, ele deu outro chute, mas mesmo isso não impediu sua diversão com as palhaçadas de Josef.
Sim, minha pombinha. É. Qual a diversão em ser Cárpato se realmente nunca pode assustar alguém pra caralho?
Josef, você tem uma tendência à maldade.
Josef alcançou o bêbado. Estendeu sua mão para a arma. O bêbado esticou o braço, e para sua surpresa, soltou a arma na palma de Josef.
— Obrigado. — Josef disse com uma pequena reverência formal. Removeu as balas e então esmagou a arma na mão.
Paul deslizou no assento do motorista.
— Vamos, Skyler, vamos sair daqui.
Ela entrou no pequeno assento atrás. Josef era alto e precisava de espaço para esticar suas pernas. Paul deu partida na caminhonete e dirigiu em volta dos cinco homens, debruçou sua cabeça para fora da janela e chamou Josef.
— Vamos, cara, vamos.
Josef fez um gesto com a mão para irem embora e se virou para recolher as armas. Uma por uma ele as destruiu. Em seguida fez um gesto com as mãos em direção aos homens e suas roupas desapareceram, deixando-os nus no chão.
— É um pouco difícil roubar e matar quando você tem a bunda pelada como agora, não é? Estarei observando você. Você não quer que eu volte. — Rindo, ele se elevou no ar, seguindo atrás do caminhão.
Ele ainda estava rindo quando se materializou no assento dianteiro do passageiro.
Skyler deu um tapa na parte detrás da sua cabeça.
— Você tirou suas roupas, não é? — Disse para benefício de Paul. Paul estava se tornando mais hábil em comunicação telepática, mas não podia fundir sua mente e ler pensamentos como ela podia fazer com Josef, embora ele estivesse aprendendo muito rápido.
Paul riu baixinho e levantou sua mão para dar a Josef um “toque aqui”.
— Ah, sim, gostaria de vê-los se esquivando para casa em seus trajes de nascimento.
Os dois homens irromperam em gargalhadas.
Skyler revirou os olhos, tentando duro não rir com eles.
— Você é impossível, Josef. Aqueles homens vão ter que andar pelo seu bairro sem um ponto adiante. — Ela apertou a palma da mão na boca, mas o riso derramou para fora de qualquer maneira.
Os olhos do Paul encontraram os seus no espelho retrovisor e Josef girou na sua cadeira, seus olhos cintilando com diversão. Todos os três caíram na gargalhada.
Skyler tinha esquecido como era estar com eles. Na faculdade fez alguns amigos, mas era vigiada por eles o tempo todo — como tinha que ser. Em casa, Gabriel e Francesca eram pais amorosos e maravilhosos. Sua irmãzinha, Tamara, era a criança mais adorável do mundo e não podia imaginar sua vida sem ela, mas não podia ser honesta com eles sobre sua relação com Dimitri.
Ela não era Cárpata e não podia esperar até que fizesse cinquenta anos para estar com seu companheiro. Era humana. Sem Dimitri, poderia não ter conseguido atravessar as muitas das longas noites onde despertava com suor cobrindo seu corpo e as memórias de homens apalpando-a, machucando-a, batendo e usando-a. Ela era uma criança, mas isso não importava para eles.
Ela aprendeu a manter seus gritos silenciosos, internos, e quando tinha pesadelos fazia a mesma coisa. Dimitri sempre a ouvia. Sempre. Vinha para ela na escuridão da noite em seus piores momentos, cercando-a com amor incondicional. Ele nunca pediu nada. Nunca exigiu seus direitos ou jogou na sua cara que ele sofreu porque ela não podia ser completamente sua companheira.
E ele sofreu. À medida que os anos passavam, Skyler era mais hábil em acessar sua mente e memórias. Viu claramente a terrível escuridão agachada como um monstro, sussurrando em tentação, tentando destruí-lo.
Dimitri. Amado. Estou com tanto medo por você. Estou segurando você perto de mim, fingindo que estou certa que está vivo, mentindo para meus amigos mais íntimos, mais queridos, mas na realidade mal posso respirar. O terror de estar sem você parece tão próximo — tão real.
Ela esperou lá na escuridão, grata pelo banco detrás da caminhonete, grata que Paul e Josef brigavam por causa da música e pensavam que estava dormindo. Ela manteve seus olhos fechados e sua respiração calma, mas seu coração batia muito forte, corria muito rápido e sem dúvida, pelo menos Josef podia detectar isto. Nesse caso, era cortês o suficiente para não chamá-la em seu fingimento.
O silêncio se estendeu. Não houve resposta. Dimitri até em seus piores momentos, uma vez até durante uma batalha com um vampiro, sempre a reassegurava se ela se estendesse para ele, por mais breve que fosse. O silêncio era frio e solitário, e absolutamente apavorante para ela. Viveu muito tempo num pesadelo sem nenhum modo de escapar até que Francesca a encontrou. Mas ainda assim, suas noites sempre foram passadas presa naqueles anos anteriores, repetindo e repetindo até que pensava que fosse enlouquecer.
Francesca fez tudo que podia pensar para ajudar a aliviar os pesadelos, inclusive dar sangue Cárpato para Skyler. Ela revezava com Gabriel sentando ao lado da cama de Skyler quando os pesadelos eram tão ruins que Skyler só podia gritar, não reconhecendo ninguém. Eles chamaram curadores. Nada funcionou — até Dimitri. Existia só Dimitri permanecendo entre ela e seu passado. Agora aquele escudo se foi e por mais duro que ela tentasse, não podia alcançá-lo.
Terror a agarrou. Tristeza. Desespero. Não existia como continuar se Dimitri não estivesse no mundo. Seu cavaleiro. Sua outra metade. Ela respirou fundo e se estendeu novamente, despejando tudo que sentia, tudo que era em seu apelo urgente.
Meu amor. Se acha que está me protegendo de algo terrível, não pode ser pior do que pensar que está morto. Eu preciso de você. Seu toque. Ainda que só por um momento. Não posso respirar sem você. Preciso saber que vive e que há esperança para nós.
A explosão de dor foi pura agonia. Seu corpo ficou rígido. Convulsionou. O ar foi expulso de seus pulmões em um longo grito que terminou abruptamente quando seu suprimento de ar acabou. Ela não podia pensar, a dor transformando cada terminação nervosa em chamas. Suas unhas rasgaram sua pele tentando aliviar a queimadura.
Mal estava ciente da caminhonete parando, de Josef a erguendo para fora do banco traseiro para deitá-la na grama. Paul segurou suas mãos para impedi-la de rasgar sua pele.
— Respire. — Paul exigiu. — Agora mesmo, Skyler. Respire.
Ela pediu por isto, e se era ruim para ela mesmo distante dele, como deveria ser para Dimitri? Ela forçou ar em seus pulmões. Não havia como afastar a dor. Sua conexão com Dimitri corria muito fundo.
Ela olhou para Josef. Ele era Cárpato e forte quando queria ser. Ela sabia o que estava pedindo, implorando com seus olhos por ajuda.
— Paul — Josef disse suavemente, — ela encontrou Dimitri e ele está mal. Tenho que ajudá-la. Isso deixa você para nos guardar, levar a gente de volta para a caminhonete quando acabar e me dar sangue.
Paul acenou com a cabeça.
— Tudo em cima, basta ajudá-la.
Josef não perdeu tempo.
— Sou todo seu, Skyler, pegue minha força e energia livremente. Onde quer que ele esteja, ajude-o.
Skyler não se atreveu a fazer uma pausa e então tentou superar essa dor entorpecedora novamente. Custou quase tudo que tinha ficar consciente enquanto seguia o fio de volta para Dimitri. Se Josef não estivesse com ela seria impossível. Ele estava a uma grande distância. Os Lycans que levaram Dimitri conseguiram movê-lo muito rápido para fora do país. Não deixaram nenhuma trilha atrás; Josef conseguiu obter essas informações para ela.
Ela sabia que a agonia que estava sentindo não era nada comparada ao que Dimitri estava passando. Ele a protegia, tentando bloquear o máximo de dor que podia quando se estendeu para ela para avisar que estava vivo. Ela o sentiu retrocedendo, interrompendo a fusão para impedi-la de sentir sua dor.
Skyler usou cada força e disciplina que possuía. Foi forjada no fogo do inferno quando criança. Polida naqueles mesmos fogos quando mocinha. Era uma Caçadora de Dragão. Uma filha da Mãe Terra. Em seu próprio direito era uma poderosa psíquica. Recusou-se a perder o fio que levava ao seu companheiro. Ele não duraria muito tempo, não com aquele tipo de tortura — e estavam torturando-o. Skyler estabeleceu sua mente numa única coisa — ficar com Dimitri, seguindo aquela tênue trilha de volta até ele.
O caminho estava quebrado, desvanecendo, muito lânguido, mas ela podia segui-lo, aquelas pegadas psíquicas com as quais estava tão familiarizada. A dor a rasgou até que cada terminação nervosa estava inflamada e queimando. Teve que virar sua cabeça para vomitar, a dor excruciante.
Ela se arrastou em suas mãos, silenciosamente dizendo a Josef que estava sob controle e que a soltasse. No momento que ele o fez, ela enfiou seus dedos na terra. Só este ato deu-lhe mais força. Mais determinada que nunca, Skyler se estendeu novamente para a trilha desvanecendo que levava de volta para Dimitri.
Viu o caminho de cores como ela sempre via, longas riscas prateadas como um cometa, só que desta vez aquelas listras estavam afiadas em vermelho sangue. Dimitri uma vez contou a ela que sabia que ninguém mais podia ver uma trilha psíquica da mesma maneira que ela. Frio amargo deslizou em sua mente. Seu corpo sacudia continuamente. Ela recorreu a Josef, toda aquela maravilhosa energia psíquica forte que ele possuía e que tão livre e generosamente dava a ela.
Csitri. Pequena. Você não pode ficar aqui.
Ela quase soluçou. Recolheu as lágrimas em sua garganta até que o caroço ameaçou sufocá-la. Sua voz amada estava devastada e crua.
Não há nenhum outro lugar para mim. Só existe você. Fique quieto e deixe-me examiná-lo. Ela achou mais um esforço falar com ele; a dor tão perto dele era esmagadora.
Não quero isso pra você.
Ela já sabia disso. Ele a protegeria de qualquer mágoa se pudesse. A maior ameaça para ela seria perdê-lo — e isso não aconteceria. Ela respirou fundo, seus punhos enrolando firmemente na terra como uma âncora, e enviou seu espírito ao devastado corpo dele.
Dimitri estava sendo atacado por tantas direções que era difícil achar um ponto de partida. Longas faixas finas prateadas avançaram pelo seu corpo como vermes mortais, balas traçantes, ela pensou a princípio. Foi baleado tantas vezes com balas de prata? Ela seguiu o caminho de uma daquelas linhas de volta à fonte.
Seu coração vacilou dentro do peito. Pela primeira vez hesitou. Ganchos. Ele tinha ganchos de prata em seu corpo, enormes garras terríveis disparando seu mortal veneno no seu corpo. A prata abria caminho em suas veias e músculos, espalhando-se ao longo dos seus ossos, abrindo caminho para cada órgão, sempre buscando seu coração. A expansão lenta de prata pelo seu corpo era mortal para seu sangue Lycan.
Ela escolheu o fio mais próximo ao seu coração. A prata parecia minúsculas gotas líquidas estendendo-se por seu corpo. Muito pequenas, os fios parecendo como veias. Ela experimentou trazer seu espírito perto do final dela. A trilha de prata recuou. Ela não ousou derretê-la, pois podia correr por seu corpo muito mais rápido. Havia tantos ganchos. O problema parecia impossível.
Ela empurrou de lado a ansiedade e quase entrou em pânico enquanto as emoções cresciam tão agudas e feias. Estava pensando como Cárpato, mas e o outro lado dela? Razvan era seu pai, e ele tinha sangue de mago. O pai dele foi o mago mais poderoso jamais conhecido. Certamente ela tinha sangue de mago também. Esta era a verdadeira razão que seu avô a rejeitou e vendeu a outro homem. Ele acreditava que ela não tinha o sangue Cárpato que precisava para ser imortal. Era possível que pudesse usar este outro lado, muitas vezes ignorado porque ela não queria se lembrar que isto era parte de sua herança.
Minúsculos fios de prata, tão mortais e brilhantes,
Invoco a Terra para roubar seu poder,
Como você foi criado, vou desfazer.
Apelo aos seus fabricantes e assumo seu matiz.
Skyler se moveu adiante, mais próxima aos fios prateados, concentrando-se na extremidade enquanto ela esticava seu espírito, estendendo sua luz branca para tocar a ponta final.
O que foi criado deve agora se tornar meu,
Cloro, enxofre, antimônio e arsênico eu amarro.
Cloro que possui a cor de verde e ouro,
Assumo sua energia e agora a mantenho.
Ela solicitou as coisas da Terra. Era uma filha da Terra, vinculada às suas propriedades. A Mãe Terra sempre vinha em seu auxílio quando precisava. Sentiu aquela conexão agora e a atraiu.
Enxofre, oh fogo e enxofre com os dons que dão vida,
Respiro sua essência e tomo seus dons,
Antimônio, doce metal, assumo seu brilho,
E teço agora uma barreira que ninguém pode desatar.
Ela era a neta do mago mais poderoso que o mundo já conheceu, e o sangue dele, quer ela gostasse ou não, corria em suas veias. Agora, neste momento de crise terrível, usava, agradecida, todos os dons que foram dados a ela.
Arsênico, doce arsênico, tão letal e cinza,
Invoco seu poder para deslocar o veneno pra longe.
Prata eu toco, prata eu ventilo,
Prata eu lanço de volta para sua fonte.
Para seu total espanto, a veia de prata começou realmente a se mover para trás.
Está vazando por meus poros. Dimitri arquejou desesperado para suprimir a dor, bloqueá-la para que Skyler não pudesse sentir a queimadura enquanto a prata parecia comer seu corpo inteiro, incendiando através de sua própria pele para se deixar cair no chão abaixo dele.
Ela seguiu aquela linha fina de prata de volta à fonte. Os ganchos que os Lycans colocaram em seu corpo eram realmente tubos de grânulos de prata. As minúsculas gotas na ponta do gancho inserido no corpo eventualmente eram aquecidas pela temperatura do corpo, transformando o grânulo em forma líquida. O grânulo caía dentro do corpo e começava a se esticar, atingindo o coração. Precisava de milhares daqueles grânulos para formar a rede de veias mortais. Era um modo feio para alguém morrer.
Skyler focou no gancho, procurando em sua mente um modo de parar o fluxo de prata venenosa no corpo de Dimitri.
Ganchos de prata, curvados e afiados,
Inseridos na carne para envenenar o coração,
Enxofre gelado e fogo eu chamo você de agora em diante.
Saiam e aqueçam esta fonte do mal.
Skyler se concentrou completamente nas pontas dos ganchos, determinada a fechar esta ponta aberta para que não houvesse nenhum modo daquela terrível prata continuar a envenenar o corpo de Dimitri.
Tome o que está aberto e lacre agora, fechando-o,
Então o veneno não pode mais buscar o que está exposto.
Tome o que é líquido e dê-lhe uma forma,
Lacrando tudo longe para que não possa mais prejudicar.
Skyler sabia que não podia manter a ponte entre eles por muito tempo. Não havia nenhum modo de remover toda a prata espalhando por seu corpo no pouco tempo que tinha antes de entrar em colapso. Escolheu as linhas mais longas, aquelas mais ameaçadoras, e meticulosamente as empurrou de volta à sua fonte, e em seguida através dos poros de Dimitri. Uma a uma, ela removeu aquelas linhas finas e mortais o mais rápido que pôde.
Skyler. Volte. Tem que voltar agora! Dimitri, envie-a de volta para nós agora! Ela está perdida. Está muito longe e o fio está muito esticado.
Ela ouviu o chamado como se de uma grande distância. Josef, ela reconheceu, e sua voz estava cheia de medo.
Sívamet.
O tom de Dimitri era terno e gentil. Cheio de carinho. Rodeando-a com calor quando ela estava tão fria. Gelada.
Você deve voltar. Agora, csitri, não posso perder você. Quando estiver forte o suficiente, volte e termine o que começou.
Ela removeu um monte de prata, pelo menos metade, mas isso não diminuía a agonia em que ele estava. O pensamento de abandoná-lo quando precisava dela era absolutamente abominável. Disse a si mesma que só mais um fio — só tiraria mais um dele.
Ela sentiu o espírito de Dimitri roçar no seu e então ele a empurrou para longe. O impulso a empurrou do corpo dele, de volta para aquele caminho psíquico gelado. O caminho em si estava tão quebrado e rasgado que se sentiu muito confusa. Ela olhou em volta um pouco desamparada, não entendendo o que estava acontecendo com ela.
Juro que se não voltar, Sky, vou te estrangular.
Josef soava desesperado. Ela se sentiu perdida e solitária ali naquele fluxo frio. Ela se estendeu para sua voz familiar, usando-a como guia.
Ela se encontrou de volta ao seu próprio corpo, tão fria que não conseguia parar de tremer. Josef se inclinou sobre dela sibilando de raiva, pressionando o pulso na sua boca, olhando de cara feia para ela. Sua pele estava mais pálida que nunca, de um branco quase gritante. Se ela pudesse erguer a mão para o rosto dele poderia ser capaz de traçar cada linha de medo estampado nele. Ela tentou virar sua cabeça para longe de seu pulso, mas ele o apertou em cima de sua boca e acariciou sua garganta, forçando-a a engolir.
Paul escovou seu cabelo atrás com dedos gentis. Seu cabelo estava úmido, como se acabasse de sair do chuveiro. Não conseguia parar de tremer, embora o casaco de Paul a cobrisse. O sangue Cárpato que Josef empurrou em seu sistema estava quente dentro dela, começando a descongelar seu corpo depois daquele frio terrível. Josef fechou a dilaceração em seu pulso e se deixou cair ao lado dela, lá na grama. Deslizou seus braços ao redor dela, tentando aquecê-la com seu corpo.
Paul deitou ao lado dela também, usando seu corpo para ajudar a esquentá-la.
— Olhe pra mim, Skyler. — Paul instruiu. Existia medo em sua voz também. — Está de volta com a gente?
— Ele está em algum lugar na Rússia. — Ela conseguiu dizer. Sua voz estava rouca e parecia longe. — Na floresta. É pior do que eu imaginava.
Skyler acordou em pânico, ofegando para respirar, seu coração batendo forte, o eco de seu pesadelo enchendo-a de pavor. Como podia ter sonhado com tal modo brutal e feio de matar outro ser? O que estava errado com ela para que tivesse uma imaginação tão vívida e repugnante?
Levou um tremendo esforço para se sentar. Sua cabeça explodia de dor e ela se sentia tonta, tão fraca que tinha medo que pudesse desabar novamente. Respirando fundo, olhou ao redor. Estava num quarto desconhecido. Era muito limpo; colchas tradicionais jaziam na cama empilhadas em cima dela. Paul estava deitado no chão, a poucos metros de distância, dormindo profundamente. Ele parecia exausto.
Ela se sentia magra e amassada, tão absolutamente cansada. Queria se enrolar na posição fetal debaixo das cobertas quentes e voltar a dormir. Mas aquele pesadelo... Dimitri. Fios de prata pelo seu corpo...
Não conseguia respirar. Todo o ar saiu do quarto. Dimitri. Ela não sonhou. Os Lycans o estavam matando lentamente com prata. Os ganchos que rasgavam seu corpo eram ruins o suficiente, mas a prata serpenteando seu caminho através dele era pura agonia. Ela não deteve isto. Ela falhou. Falhou completamente. Ela cobriu seu rosto com as mãos, chorando.
— Skyler. — Paul saltou imediatamente.
Ele envolveu seu braço ao redor dela enquanto ela balançava de um lado para o outro, seu rosto enterrado no ombro dele.
— Eu não pude parar isso. — Ela soluçou. — Não tive tempo suficiente.
Paul não disse uma palavra, só a segurou deixando-a chorar enquanto ele a balançava, batendo levemente em suas costas e acariciando seu cabelo.
Exaustão mais do que qualquer outra coisa parou as lágrimas. Ela chegou a um ponto onde não podia mais chorar. Não podia fazer nada senão se agarrar em Paul.
— Eu simplesmente o deixei lá. — Ela sussurrou, erguendo a cabeça para olhar para Paul enquanto confessava. — Ele está com tanta dor, e eu simplesmente o deixei lá.
Paul franziu o cenho.
— Josef não pode dizer nada ontem à noite. Dei sangue a ele e imediatamente tentou trazer você de volta. Ele não disse por que, mas assumi que você ainda estava tentando curar Dimitri.
— Ele está sendo envenenado, e não consegui tirar tudo. — Ela ofegou e deu outro pequeno soluço.
— Você não tinha escolha. — Paul assegurou. — Se ficasse mais tempo, nós não poderíamos te trazer de volta. Estaria morta ou vagando no mundo espiritual, e então onde Dimitri ficaria? Ninguém mais poderia achá-lo. Pelo menos deste modo, quando estiver forte o suficiente, pode voltar e ajudá-lo.
— Nesse meio tempo ele está sofrendo horrivelmente. Essa dor é pior que qualquer coisa que possa imaginar. — Ela disse. — Pelo menos quando eu estava lá ele soube que alguém estava procurando por ele, que alguém se importava o suficiente para ir atrás dele. Mas a dor... — Ela foi parando de falar quando outro soluço a sufocou.
— Durante o dia, ele estará no sono dos Cárpatos e não sentirá nada. — Paul lembrou.
Ela sacudiu a cabeça.
— Seu sangue Lycan o manterá acordado na maior parte do tempo. Duvido que com aquele tipo de dor seja capaz de dormir. — Sua cabeça quase explodiu de novo e ela pressionou ambas as mãos nas têmporas. — Josef está bem? E você? Você deve ter dado sangue a ele algumas vezes.
— Ele estava em má forma. — Paul admitiu. — Não podia mover um músculo. Acho que você consumiu cada pingo de energia que tinham, mas eu sabia que se desse sangue a ele isso ajudaria. — Ele mostrou seu pulso onde cortou sua veia e pressionou o ferimento na boca de Josef.
Paul era humano e não curava como os Cárpatos faziam. A dilaceração parecia feia e em carne viva. Ela tomou sua mão suavemente e virou para examinar o corte limpo que a faca fez.
— Não tente me curar, Sky. — Paul preveniu. — Sou saudável e posso me curar sozinho. Precisa conservar sua energia para você mesma ficar bem. — Ele hesitou, claramente com medo de perturbá-la mais.
— O que? — Ela perguntou, recuando e tomando grandes sorvos de ar. — Estou bem, sério. Só me sinto fraca e minha cabeça está latejando. — E culpada. Tão terrivelmente culpada. Temerosa além de qualquer descrição. Não havia nenhuma maneira de expressar a Paul ou qualquer outra pessoa a agonia interminável que Dimitri estava. Ela sentiu um pouco da dor, mas ele tentou bloquear a maior parte dela. Não podia imaginar o quanto era pior para ele.
— Josef não pode me dizer nada na noite passada. O que exatamente está acontecendo com Dimitri? O que fizeram com ele? Como podem ter mantido alguém tão poderoso como prisioneiro? Isso não faz sentido para mim.
— Eles o amarraram com correntes de prata. — Ela explicou. — Sei disso porque elas queimam direto através de sua pele assim como o ácido faz com a nossa. Eles o estão torturando. Tem ganchos de prata no corpo dele, no tórax, costelas, quadris e coxas, até nos ombros e tornozelos. Os ganchos permitem que minúsculos grânulos de prata se rompam e caiam dentro dele quando sua temperatura corporal os aquece um por um. É uma morte lenta e torturante.
Paul sacudiu a cabeça.
— Um Cárpato deveria ser capaz de se livrar de qualquer prata se realmente o envenenasse.
— Dimitri é tanto Lycan quanto Cárpato. Seu sangue Lycan reage à prata, e ele não pode se libertar. A prata abre caminho pelo seu corpo até que perfure seu coração. Uma vez que os fios atravessem seu coração, isso vai matá-lo. — Ela se forçou a olhar para Paul, seus cílios molhados e a garganta tentando fechar. — É um modo feio e brutal de morrer.
Paul colocou sua mão sobre a dela.
— Não vamos deixar que aconteça. Josef acha que pode levar nós dois lá em cima da montanha. Vamos abandonar a caminhonete e o caixão assim que ele acordar e se alimentar. Não temos tempo para dirigir e passar por todas as fronteiras de cada país. Josef pode cobrir uma grande parte do território voando conosco a noite toda.
— Nós dois? Ele pode fazer isto? Um talvez, mas dois?
Paul deu de ombros.
— Ele diz que sim e tenho que acreditar nele. Josef estará de pé a qualquer hora. Acho que está envelhecendo num ritmo mais rápido porque não é mantido longe da sociedade como a maior parte das crianças Cárpatos. Está na sociedade humana aprendendo tecnologia moderna, provavelmente arrancando isto de todo mundo ao redor dele com quem entra em contato, mas mesmo assim, ele entende isso tudo. Teve que crescer muito rápido. Em anos humanos ele não é adolescente e é tratado como um homem.
Skyler esfregou as têmporas novamente. Não tinha força para curar sua própria enxaqueca.
— Pensei que com Josef me dando sangue ontem à noite, eu fosse curar mais rápido. Já tenho um pouco de sangue Cárpato no meu corpo.
— Ele disse que você não iria. Disse para te levar a algum lugar seguro e fazer você dormir o máximo possível. Disse que a cura psíquica leva mais tempo que uma cura física, e você foi longe demais. — Paul respirou fundo. Parecia abalado. — Sinceramente pensei que você não conseguiria, Sky. Sei que você voltará para Dimitri e tentará novamente livrá-lo da prata...
— Tenho que achar uma maneira de livrá-lo da prata. Ele não vai durar até que o encontremos. Está morrendo, Paul. Odeio deixá-lo sofrer assim só para que eu possa me curar, mas sei que está certo. Não posso ir pra ele assim e não fazer nada direito mesmo. Ele está pendurado lá, e agora que sabe que eu possa encontrá-lo, isso deve lhe dar esperança. Ele sabe que eu voltarei.
— Vou pegar alguma coisa para você comer. Existe um restaurante do outro lado da rua.
— Sopa, talvez. — disse Skyler relutantemente. Ela não conseguia se imaginar mantendo a comida abaixo, seu estômago se rebelava só de pensar nisso. — Sabe que sou vegetariana.
Ela recebeu duas trocas de sangue dos seus pais, para o caso de uma emergência. Precisava de três para convertê-la completamente e trazê-la inteiramente ao mundo dos Cárpatos. Desde então, não podia olhar para carne. Às vezes era difícil se forçar a comer frutas ou legumes.
— Não se preocupe.
— E bata, por favor, antes de entrar. Vou tomar um banho rápido. — O banheiro parecia estar a uma boa distância — pelo menos dez passos inteiros. Ela estava tão trêmula.
Paul olhou dela para a porta do banheiro como se estivesse lendo seus pensamentos. Ele nunca falou sobre seus dons psíquicos, mas tinha sangue de jaguar nele e isso devia servir para algo. Ele realmente não podia ler pensamentos — ele teria dito. Ele apenas a conhecia realmente bem.
— Posso te levar. Talvez por uma cadeira no chuveiro para você.
— Eu posso fazer isto. — garantiu a ele. — Não vou fazer nada estúpido. — Ela iria rastejando até o maldito banheiro nas mãos e joelhos se precisasse. Paul não iria carregá-la. Ela já estava se sentindo um fardo para Paul e Josef. Eles dois tiveram que cuidar dela na noite passada. Não apenas falhou com Dimitri, mas pôs a ambos — especialmente Josef — em perigo.
Paul se forçou a levantar da cama.
— Confio em você, Sky. Josef vai me arrebentar se acontecer qualquer coisa com você.
Isso a fez rir, ela não pode evitar. Mesmo com sua cabeça explodindo não importava naquele momento. Existia algo muito bonito sobre a amizade deles, Paul, Josef e ela, que a fazia feliz.
— Meninos são tão violentos. — Ela observou, piscando de volta uma nova torrente de lágrimas. Ela tinha sorte em ter os dois como amigos.
— Meninas são tão sentimentais. — Paul respondeu, debruçando-se até soltar um beijo em cima de sua cabeça. — Não venha toda chorosa para cima de mim. Pode imaginar o que acontecerá se Josef entrar e encontrar você chorando? Nossa, serei carne morta.
Ela fez uma careta para ele e deu-lhe um empurrãozinho, seu estômago revirando na referência de carne. — Eca. Vá embora antes que eu vomite em você.
— Você já fez isto. — ele assinalou.
— Não fiz. — Ela negou, sem saber se era verdade, mas inflexível do mesmo jeito. — Eu, com cuidado e educadamente, virei meu rosto para longe de você. — Ela deu um bufo de desdém, só para enfatizar que ele devia estar lembrando da sequência de eventos incorretamente.
— Então por que tive que passar metade do dia na lavanderia? — Ele perguntou com um sorriso cheio de si.
Agora sabia que estava brincando. Este quartinho não estava em um hotel. Ela podia dizer que era uma residência particular alugando quartos. Nenhum hotel era assim aconchegante ou tinha colchas detalhadas, obviamente feitas à mão. Não teria uma lavanderia.
— Vá embora, espertinho. — Ela disse. — Se eu não tomar meu banho logo, Josef aparecerá antes de eu sair.
— Prenda-o do lado de fora. — Paul disse enquanto cruzava até a porta.
Ela riu novamente.
— Tente você trancá-lo lá fora.
— Ele não pode entrar se as portas e janelas estiverem fechadas e trancadas, não sem um convite. — Paul disse.
— Sério? — Ela arqueou uma sobrancelha. — É de Josef que estamos falando. Ele é hábil em abrir fechaduras, como você bem sabe. Vocês dois estudaram o suficiente para serem criminosos.
Paul pôs a mão sobre seu coração.
— Ai. Uma mulher tão ofensiva.
Ele correu para a porta rindo, batendo depressa para que o travesseiro que ela lançou batesse na porta em vez dele.
Skyler sentou por um bom tempo, o sorriso desaparecendo do seu rosto. Paul permitiu que ela chorasse, algo que claramente precisava fazer. Ele fez o melhor para assegurar que ela deixar Dimitri foi seu único recurso. Agora tinha que se curar para que pudesse voltar para seu companheiro. Quanto tempo tinha? Duvidava que fosse muito. Uma noite. Talvez duas.
Ela cambaleou até o banheiro, horrorizada com sua fraqueza. Talvez uma cadeira no chuveiro fosse uma coisa boa, mas tinha um pouco de orgulho. Paul deu sangue para Josef duas vezes. Ele a carregou para a caminhonete e provavelmente fez o mesmo com Josef depois que ele entrou em colapso uma segunda vez ao lado dela. Então Paul dirigiu pelo resto da noite para achar um lugar para ficarem durante o dia. Ele devia estar exausto.
A água quente era boa em sua pele, reavivando-a um pouco. Um pouco da tensão saiu do seu pescoço e ombros, o suficiente para impedir que sua cabeça partisse num milhão de pedaços. Duas vezes teve que parar de lavar o cabelo e ficar muito quieta para não vomitar. Ambas as vezes agarrou sua cabeça, apertando as palmas das mãos com força num ou noutro lado de suas têmporas.
— Ei! Sky! Você está aí? — Josef exigiu.
— Não! — Ela gritou de volta. — Eu não estou.
— Sim, foi o que pensei. Você deixou seu cérebro em algum lugar na zona fria.
Encostada na parede do chuveiro, ela terminou de enxaguar o cabelo sem pressa. Josef não seria tão agradável a respeito do que aconteceu, como Paul. Ela teria sorte se ele não a sacudisse até seus dentes baterem. Já podia sentir sua raiva, e certamente a ouviu em sua voz.
— Pare de enrolar. — Ele estalou. — Não quer que eu entre aí atrás de você.
— Nossa, Josef, acabou de chegar aqui. Dê-me um minuto. Estou me movendo um pouco devagar.
— Isso não é surpreendente.
Ela suspirou. Ela não gritaria de volta do outro lado da porta do banheiro. Entendia sua raiva. Vinha do medo por ela. Certamente sentiria o mesmo se os papéis estivessem invertidos. Mas... ela era companheira de Dimitri. Vendo-o daquele jeito, sentindo sua dor, ela duvidava se muitos outros companheiros — homem ou mulher — seriam completamente racionais na mesma situação. Ainda assim, Josef merecia ser ouvido.
Vestiu-se cuidadosamente, escovou os dentes e saiu do banheiro secando seu cabelo com uma toalha. Josef estava de costas para ela, mas virou quando ela entrou. Parecia magro e cansado, seu rosto ainda muito pálido, embora tivesse certeza que ele já se alimentou. Ele se mantinha muito firmemente.
— Você quase morreu ontem à noite. — Ele fez disso uma declaração. Uma acusação.
Skyler lançou a toalha de lado, caminhou até ele e rodeou seu pescoço com ambos os braços, inclinando-se para segurá-lo.
— Eu sei. Sinto muito. — Ela disse sinceramente. — Quase levei você comigo.
Por um momento ele se manteve muito rígido, então seus braços levantaram e ele a abraçou tão forte que ela temeu que pudesse se partir ao meio.
— Eu não me importo comigo, sua boba — Josef disse, — mas não posso te perder. Dimitri não pode te perder. Gabriel e Francesca não podem te perder. Você não pode se arriscar assim. Se vai viajar mais de mil milhas e tentar uma cura, sabe que tem um limite de tempo. Você sabe disso. Não sei como consegui te trazer de volta.
Skyler se afastou para olhar para ele.
— Ele me chutou para fora dele.
Ele piscou. A tensão saiu dele uma lenta polegada de cada vez.
— Ele fez?
— Sim. E não soe tão feliz.
— Graças a Deus que esse homem pode mandar em você, porque ninguém mais parece ser capaz.
— Eu não preciso ser mandada. — Ela assinalou. — Josef, eu realmente sinto muito. Serei muito mais cuidadosa da próxima vez. Sabemos o que estamos enfrentando agora.
Josef respirou fundo e assentiu.
— Eu peguei vislumbres em sua mente, Skyler. Você é uma franguinha resistente.
Skyler se encolheu.
— Eu não me chamaria de franguinha resistente na frente dos meus pais ou alguém como... como o príncipe. Eles não apreciariam o jargão moderno.
Pela primeira vez, Josef sorriu. Era mais um sorriso de autossatisfação, mas ela aceitou. Pelo menos ele encontrou seu senso de humor novamente.
— Eles precisam desencanar e se tornarem um pouco mais modernos, especialmente Gregori. Está ainda vivendo nos tempos das cavernas.
— Não temos que ficar muito perto dele. — Skyler assinalou. — Pense no pobre Paul, vivendo com a família de La Cruz — especialmente o irmão mais velho. Eu nunca o encontrei, mas ouvi os rumores.
Josef tremeu um pouquinho.
— Evito totalmente a família de Paul. É a única coisa segura e inteligente a fazer. Quando isto acabar, vou sumir por um século ou dois.
Uma batida na porta anunciou a chegada de Paul. Josef acenou com a mão e a porta abriu. Lá fora Skyler podia ver a noite caindo rapidamente. O tempo estava nublado, nuvens se movendo pelo céu, mas não existia nenhuma chuva.
Paul colocou a sopa na mesinha.
— Venha comer, Sky. Eu devorei um sanduíche lá embaixo enquanto estava esperando pelo seu pedido.
Esse era o código para dizer que comeu um sanduíche de carne e não queria que ela sentisse o cheiro e ficasse nauseada.
— Obrigada, Paul. Agradeço. — Ela olhou para a tigela de sopa e sacudiu a cabeça, seu estômago já se rebelando.
— Isto não é o inimigo. — Josef disse a ela. — É alimento — a mesma coisa que você precisa para ter força novamente para que possa curar Dimitri.
Ela não se atrevia a respirar fundo, mas assentiu. Josef fazia sentido. Ela tinha que ficar forte rápido e a alimentação era necessária. Ela tocou com sua língua seu lábio inferior, traçando-o, achando sua pele bastante seca. Apesar do banho quente, ela ainda estava tremendo, incapaz de manter sua temperatura corporal.
— Encará-la não vai fazer com que desça. — Josef disse. — Queremos nos mexer. Temos muito território para cobrir, e quanto mais rápido chegarmos a Dimitri, mais cedo ele estará seguro.
Ela se aproximou cautelosamente da mesa e da tigela de sopa fumegante. O aroma, em vez de deixá-la mais faminta, deixou-a mais nauseada que nunca. Apertando as costas da mão na boca, ela cuidadosamente sentou na cadeira diante da tigela de sopa. Quem diria que seria tão difícil tomar algumas colheradas de sopa de legumes?
— Skyler. — Josef usou sua voz mais dura. — Você está perdendo tempo.
Ela girou, encarando-o.
— Você não acha que sei disso? Não está ajudando, Josef. — Só o ato de se mover tão rapidamente deixou sua cabeça latejando. Ela lutou contra a bílis no seu estômago se revolvendo.
A agitação em sua mente era tênue, mas seu coração saltou e começou a bater de forma irregular com antecipação. Ela se estendeu, e imediatamente a dor explodiu em sua cabeça. Paul fez um som de angústia.
— Você está sangrando, Skyler. — Ele correu para o banheiro para pegar um pano molhado.
Deixe Josef te ajudar, amada. Eu não posso, e precisamos de você forte.
Skyler fechou os olhos, as lágrimas queimando atrás das pálpebras. Dimitri tinha encontrado o caminho para ela apesar da agonia que sofria. Ela não podia tornar isso mais fácil para ele eliminando a distância. Suas habilidades psíquicas estavam esgotadas depois de sua noite tentando curá-lo. Sentiu-se rodeada por seu calor, seu amor infinito e por seu espírito indomável.
Dimitri não desistiu — por ela. Sofreu as agonias do inferno por uma chance de voltar para ela. Ela se enrolou nele, sabendo que ele precisava ajudá-la, e devia estar aflito porque não podia.
Eu amo você, Dimitri. Não vá. Estarei aí assim que puder.
Ele estava com dor demais para perceber que ela queria dizer isso literalmente. Ele sabia que ela retornaria para curá-lo e não tentou se aprofundar ainda mais em sua mente. Ela sentiu uma explosão de dor agonizante e então ele se foi. Ela não tinha nenhuma lembrança de disparar da cadeira e se estender na direção do céu depois que a trilha psíquica se desvaneceu, mas ouviu seu próprio grito de dor quando Dimitri desapareceu.
A dor tirou o fôlego de seu corpo, mas a estabilizou também. Tinha que se recompor e curar rápido. Paul empurrou uma toalha em suas mãos trêmulas, e ela cuidadosamente limpou o sangue escorrendo do seu nariz.
— Me desculpe ter brigado com você, Josef. — Ela disse. — Eu devia apenas ter pedido sua ajuda.
— Eu devia apenas ter oferecido. — Josef respondeu, jogando seu braço ao redor dela. — Vamos tirá-lo de lá, Sky. Nós vamos. Não posso acreditar que ele conseguiu chegar a você mesmo por um momento quando está com tanta dor. Eu brinco com você sobre ele, mas sabe que penso nele como um irmão. Poucos machos Cárpatos tolerariam uma relação como a nossa — nós três — mas Dimitri a encoraja.
Skyler o abraçou agradecida.
— Ele sabe que eu amo vocês dois.
— Como quer fazer isto?
— Só tenho que comer isto. E então, se você estiver forte o suficiente, dê-me uma pequena quantidade de sangue novamente. Isso vai acelerar o processo curativo, mas eu não quero sentir nada.
— É isso aí.
Skyler piscou e se encontrou sentada à mesa com uma tigela vazia de sopa na frente dela. Seu estômago protestou um pouco, mas achou a sopa nutritiva. Ou talvez fosse o sangue Cárpato que Josef deu a ela também.
— Obrigada.
Ela ainda estava fria, e tinham uma longa noite à frente deles. Ela não olhou muito à frente para cruzar o céu da noite.
— Vou mudar para a forma de dragão. Tenho praticado desde que acharam Tatijana e Branislava. Meu dragão pode levar vocês dois nas costas confortavelmente. — Josef disse.
— Skyler ainda não parou de tremer. O dia todo esteve tão fria que não podia empilhar cobertores suficientes em cima dela. — Disse Paul.
Skyler olhou para o lugar no chão onde Paul tinha dormido. Pela primeira vez percebeu que não tinha cobertores ali — estavam todos na cama onde ela estava.
Josef fez o que todos os Cárpatos faziam — ele simplesmente fez roupas para ela. Skyler vestia um colete de couro e um casaco de pele longo. Caía até o chão e tinha um capuz. Ele entregou botas de couro e luvas forradas também.
— Você está estilosa, Sky. — Paul disse com uma risada. — A próxima coisa que saberemos é que Josef vai ser design de moda.
Josef deu de ombros.
— Eu sempre me visto bem. Vou considerar uma carreira neste campo. — Ele parecia e soava muito sério.
Skyler esmurrou seu braço.
— Faria isto apenas para refinar os poderes, não é?
Josef enviou a ela um sorriso um pouco forçado.
— Claro. Onde está a diversão em conformar?
Ela seguiu os dois homens para fora.
— Percebe que o karma vai te pegar. Provavelmente sua companheira é realmente uma das filhas de Gregori.
— Ou ambas. — Disse Paul. — Como um dissidente, você pode ser o primeiro Cárpato a ter duas companheiras. Gêmeas. Não é ruim, Josef.
— Ha. Ha. Ha. Vocês dois querem realmente me ver morto, não é? Gregori cortaria minha cabeça e outras partes muito preciosas da minha anatomia e daria de comida aos lobos.
— Lentamente. Ele lentamente alimentaria os lobos enquanto sua cabeça estava ao lado dele assistindo. — Paul informou a ele.
— Eca. Isto é simplesmente nojento. — Skyler fez uma careta para eles. O casaco de pele já tinha ajudado a controlar o contínuo tremor. Até a dor em sua cabeça pareceu diminuir.
— É por isso que nos ama tanto. — Paul apontou para fora.
— Quanto tempo acha que vamos levar para chegar lá? — Skyler perguntou.
— Não posso voar tão rápido quanto um avião, mas acho que posso chegar aos arredores da floresta russa ao amanhecer. — Josef disse.
Skyler se surpreendeu.
— Achei que fôssemos levar algumas noites.
— Eu também. — disse Paul.
— Senti a dor de Dimitri através de você, Sky. — Josef respondeu. — Sinto uma sensação de urgência, e isso significa que precisamos chegar lá o mais rápido possível. Vou tentar. Honestamente não sei se sou tão forte. Tudo que podemos fazer é tentar. Você terá que descansar o máximo possível, Skyler. Durma se puder. Paul não deixará você cair voando, mas precisamos de você em forma assim que for possível.
Skyler assentiu.
— Obrigada, Josef. Sei que esta noite não vai ser fácil para você.
— Estamos juntos nessa. — Paul disse. — Dimitri é nosso amigo também, Sky. Queremos fazer isto. Não estamos apenas indo atrás dele por você. Agora, mais do que nunca, temos que chegar até ele. Se está sofrendo do modo que vocês dois dizem, poderíamos ser sua única chance.
O pensamento daquela prata venenosa avançando lentamente, tortuosamente, pelo corpo do Dimitri a enojou.
— Segure-se, meu amor. — Ela sussurrou para a noite. — Estou indo por você o mais rápido que posso.
Josef se moveu a uma certa distância, esquadrinhando depressa para garantir que estavam sozinhos. Paul achou o lugar perfeito para passar a noite. A casinha estava escondida por trás da floresta, a uma boa distância da estrada. Uma viúva alugava um quarto para ganhar dinheiro extra de quem viajava. Não haviam vizinhos próximos e isso permitiu que Josef tivesse a privacidade necessária para mudar para a forma de um dragão.
Ele estendeu sua asa, e Paul ajudou Skyler a subir nas costas do dragão. Ele providenciou uma sela dupla para tornar a viagem da noite mais confortável. Ela deslizou na sela com os pés nos estribos enquanto Paul subia atrás dela, fazendo o mesmo. Seus braços a envolveram.
— Se precisar dormir — disse Paul, — só se incline atrás contra mim.
— Obrigada. — Skyler disse. — Pode crer que pensarei nisso.
Ela tinha viajado pelo ar muitas vezes com os Cárpatos. Gabriel a levava voando o tempo todo usando várias formas. Ela sempre gostou. Este foi o começo de seu amor por voar e sua necessidade de obter seu brevê de piloto. Voar se tornou quase uma obsessão, mas Josef era jovem para um Cárpato e inexperiente em comparação com os antigos. Ela não tinha certeza se teria a força que precisava para manter a forma de dragão enquanto precisasse, bem como manter Paul e ela a salvo.
Se ficar cansado, Josef, não force a barra. Nós podemos achar um lugar para descansar.
Não se preocupe, Sky. Já te dei bronca por você forçar muito a barra. Não vou cometer o mesmo equívoco e te dar a chance de dizer: eu te avisei.
A diversão alegre na voz de Josef a fez sorrir quando o dragão balançou algumas vezes, as asas batendo enquanto insistia nas duas pernas. Ela se segurou firme quando ele começou a pular pelo chão, ganhando mais ar a cada salto. As grandes asas do dragão bateram com força enquanto ele lutava para sair do chão. Quando finalmente ganharam o ar, Paul aplaudiu e Skyler soltou a respiração que estava segurando.
Não foi particularmente gracioso, Josef comentou, mas conseguimos. Acho que vocês dois precisam perder um pouco de peso.
Ei, agora estou completamente ofendida. Skyler lhe deu seu tom mais altivo e arrogante. É Paul.
Josef bufou.
Para sua surpresa, Paul enfiou os dedos em suas costelas, fazendo-a guinchar. Pensou que estava segura, não é? Josef me fisgou com esta coisa de telepatia. Está funcionando muito bem.
Nós deveríamos ter feito isto há muito tempo.
Bem, claro que minha família e eu podemos falar juntos, Paul admitiu. É estranho que nunca pensamos nisso. É só sangue.
Skyler riu. Não é engraçado como nós dois apenas dizemos “É só sangue”? Somos humanos e isto é um tabu em nossa cultura, mas obviamente estivemos ao redor dos Cárpatos muito tempo. Na verdade, pedi a Josef para me dar sangue esta manhã, não é?
Sim, você fez, mas isso a ajudou. Paul a apertou mais forte quando a batida forte das asas do dragão os levou mais alto acima do cume da montanha.
Está com frio? Talvez Josef devesse ter fornecido roupas mais quentes para você também.
Tenho minha jaqueta. Se tiver muito frio, vou pedir para pagar e pedirei a ele então.
Ela soube imediatamente que Paul deliberadamente não pediu roupas mais quentes. Se sentisse o dragão cansar, planejava pedir a Josef para descer sob o pretexto que estava com frio.
Você é um bom amigo, Paul, Skyler disse. Já checou este dragão? É o dragão mais legal que já vi. Ela incluiu Josef naquele comentário.
O dragão era preto, mas cada escama era desviada num azul profundo, exatamente como o cabelo de Josef. O corpo do dragão era de bom tamanho, a cauda longa e espetada. Cada ponta era um degradê de azul.
Até seu dragão é estiloso, disse Paul.
Seu dragão tem um visual totalmente impressionante, Skyler adicionou com admiração.
Ele muito é legal, não é? Josef soou satisfeito.
Absolutamente legal, Skyler concordou.
Você devia ver minha coruja, Josef disse. As penas tem um visual ultra legal debruando em azul. Às vezes faço pontas na cabeça da coruja com penas azuis também.
Skyler olhou para a cabeça em forma de cunha. Com certeza havia pontas azuis salientes na cabeça do dragão. Rindo, deu um tapinha no pescoço do dragão. Você é tão maravilhoso, Josef. Amo tudo em você.
Josef era muito divertido. Nas piores situações — como esta aqui — ele ainda podia fazê-la rir.
Você já descobriu como vamos achar Dimitri? Paul perguntou. Imagino que está sendo mantido num lugar isolado cercado por alguns Lycans muito duros, que por sinal, são um bando de caçadores. Só estou comentando.
Devem o ter levado para algum lugar que acreditam que tenham vantagem, Josef disse. Os Cárpatos não devem estar muito perto ou não estariam usando essa floresta para mantê-lo. Ele podia mandar buscar ajuda.
Skyler sacudiu a cabeça, embora sentada como estava nas costas do dragão, Josef não pudesse ver o movimento. Não estou certa se ele pode. Ele me bloqueou, e talvez tenha bloqueado todos os outros também, mas nossa conexão é... diferente — mais forte. Nenhum de nós sabe por que, mas juntos parecemos ser capazes de percorrer distâncias que outros não podem.
Então você simplesmente vai caminhar pela floresta como Chapeuzinho Vermelho? Paul perguntou.
Skyler inclinou sua cabeça atrás contra seu ombro para vê-lo. É exatamente o que vou fazer.
Vou realmente te dar uma capa vermelha com um capuz, Josef disse. Queremos tornar fácil para o grande lobo mau localizá-la.
Paul ficou em silêncio por um momento franzindo o cenho, claramente não gostando da ideia. E se simplesmente a matarem? Está arriscando demais a vida dela, Josef. Pode soar engraçado dar a ela uma capa vermelha com capuz e mandá-la caminhar sozinha por essa floresta, mas não será tão engraçado se ela aparecer morta.
Lycans não matam humanos, Skyler disse. Pesquisamos muito cuidadosamente. Só os renegados o fazem, e são tratados por Lycans do mesmo modo que os Cárpatos tratam os vampiros. Dimitri não foi levado por renegados. Os Lycans o tem.
Como alguém sabe disso? Estavam usando camisetas proclamando a diferença? A voz Paul gotejava sarcasmo.
Houve um breve silêncio. Nunca considerei que podiam ser membros de um bando de renegados que o levaram, disse Josef. Todo mundo achou que eram membros da equipe de elite especial Lycan, porque dois deles desapareceram ao mesmo tempo que Dimitri, mas Paul está certo, Sky. Ninguém realmente sabe com certeza. Talvez precisemos repensar nosso plano.
Se fossem renegados, Skyler argumentou, o teriam matado ali mesmo. Não teriam nenhuma razão para tirá-lo do país e então o manter vivo só para torturá-lo. Os renegados matam e comem sua presa. São lobisomens ansiando carne crua e sangue fresco.
Você está disposta a apostar sua vida nisto? Paul perguntou.
Não era com sua vida que estava preocupada. Era com a de Dimitri. Claramente, se não o encontrassem a tempo, mesmo se ela fosse capaz de deter cada bala de prata traçante rastejando por seu corpo, eventualmente os Lycans achariam outro modo de matá-lo. Tinham que achá-lo. Ela tinha que encontrá-lo.
Sim, Paul. Vou caminhar pela floresta e rezar para que um Lycan me encontre. É este o plano. Vagarei para longe do nosso acampamento e me perderei. Você e eu somos parte de um grupo de alunos estudando lobos em estado selvagem. Os documentos estão em perfeita ordem, o local está pronto na Internet parecendo extremamente legítimo, e quando me acharem, a esperança é que me devolvam ao meu acampamento e não me comam no jantar.
Eu sempre soube que era um pouco louca, Sky, disse Paul. Você pode ser morta.
Skyler aceitava que poderia ser morta — mas não teria muita vida sem Dimitri nela. Ela podia não ser Cárpata, mas era sua companheira, reivindicada ou não. Sabia que suas emoções não eram a paixão de uma garota ou fantasias românticas que sabia que seus amigos da faculdade pensavam que ela se entregava. Dimitri era um homem especial. Nunca acharia outro homem como ele, um totalmente focado nela. Ela era a única mulher para quem sempre olharia. Era seu mundo. Sua outra metade. Não tinha como explicar para ninguém como se sentia. Nenhum de seus amigos da faculdade jamais poderiam conceber aquele tipo de devoção.
A coisa que Paul ainda não entendeu — e talvez Josef também não — ele era extremamente jovem — era que ela era igualmente devotada a Dimitri. Caminharia através do fogo para chegar até ele, por isso uma viagem ao fundo da floresta podia ser apavorante, mas nunca a impediria.
Que a encontrassem. E ela enviou muitas orações para que fosse o caçador de elite que Josef ouviu todo mundo falar — Zev — que viesse em seu socorro. Ele parecia com um Lycan decente que definitivamente poderia protegê-la de qualquer um ou qualquer outra coisa que a ameaçasse.
Eis a realidade da situação, Paul, Skyler disse. Eu poderia ser morta. Se não o encontrar, Dimitri vai morrer. Não lhe resta muito tempo. Ainda que os Cárpatos tenham se lançado numa missão de salvamento para encontrá-lo, não chegarão lá a tempo. Não sabem sobre os ganchos de prata.
Inesperadamente seu estômago se contraiu novamente. Eles puseram ganchos em seu corpo e o penduraram nas árvores como um pedaço de carne. Ela não pôde evitar as lágrimas ou o horror tão gritante em sua voz. Não se deu ao trabalho de tentar.
Paul apertou seus braços ao redor dela, cutucando seu ombro com o queixo. Nós o acharemos, irmãzinha, e quando o fizermos, nós vamos tirá-lo de lá.
O vento arrancou as lágrimas de seu rosto. Ela se encolheu debaixo do calor da pele, tão agradecida por ter dois amigos que a amavam o suficiente para arriscar tudo por seu companheiro. Atrás dela podia sentir Paul começar a tremer.
Talvez devêssemos achar um lugar para Josef aterrissar e conseguir algumas roupas mais quentes pra você.
Não ainda. Ele ainda está voando forte e estamos cobrindo os quilômetros rápido. Quando ele cansar, vou conseguir roupas mais quentes. Vá dormir. Conversar deste modo provavelmente não é a melhor coisa para você.
Ela não pensou nisso. Estava tão acostumada a se comunicar telepaticamente que não considerou que usava energia psíquica para fazer, mesmo tão perto da pessoa com quem estava falando.
Ela não respondeu. Estava cansada. Paul nunca a deixaria cair. Ela fechou os olhos e fez um esforço para adormecer.
Skyler, o que está fazendo? Posso sentir você perto de mim.
A dor na voz do Dimitri a rasgou. Pelo menos ela estava no caminho certo se ele podia senti-la perto. A floresta estava muito escura, as árvores grandes e antigas. Quase podia ouvi-las sussurrando umas com as outras.
Skyler seguiu as pegadas psíquicas diretamente de volta ao seu companheiro. Mais uma vez, o caminho estava esticado bem fino e gelado, mas não era longo. O triunfo a atravessou. Não teria que manter uma ponte por uma distância horrenda a fim de curá-lo.
Você deveria estar se curando.
A dor tomou sua respiração enquanto ela se conectava completamente com ele. Pensou que tinha se preparado — afinal, sabia o que esperar — mas não existia como de verdade se lembrar da dor agonizante tão claramente até que se tocava nisto. Ela a deixou queimar num esforço para se aclimatar.
Josef estava totalmente exausto. Fizeram seu caminho pela floresta em uma noite de voo, mas tinha esgotado seriamente sua energia. Paul lhe deu uma quantidade tremenda de sangue, que por sua vez o enfraqueceu. Ela teria que ser cuidadosa e não tomar esta sessão curativa como fez da última vez, mas não podia estar tão perto de Dimitri e não tentar afastar o pior daqueles fios de prata para longe do seu coração. Ela dormiu a maior parte do caminho e sentiu-se mais fortalecida só porque Dimitri estava em algum lugar na redondeza.
Vou ter mais cuidado desta vez, Dimitri, ela prometeu. Tenho que fazer isto. Sabe que não tenho escolha.
O tempo inteiro que ela esteve dormindo sonhou com a prata venenosa perfurando o coração dele. Seus belos olhos azuis ficaram gelados enquanto olhavam fixamente sem vida para ela. Acusando-a.
— Você chegou tarde demais. Por que está atrasada? — ele perguntou a ela.
Foi um sonho, sívamet. Só um pesadelo. Você aliviou a dor para mim.
Não pode haver mentiras entre companheiros, ela o citou. Seria impossível diminuir sua dor. Os fios de prata restantes que ainda estão em seu corpo queimam tão severamente quanto aqueles que eu removi.
Talvez seja assim, mas pareceu menos. Seu amor me manteve a salvo da Moarta de argint — morte por prata.
É assim que eles chamam esta tortura?
Isso absolve o conselho Lycan de toda culpa. Eles não me matam. Essencialmente, eu mato a mim mesmo movendo meu corpo constantemente para tentar fugir da dor e a prata trabalha seu caminho mais fundo. Eles podem ir para Mikhail com a consciência limpa.
Isso a deixou tão furiosa. Como o conselho Lycan podia condenar Dimitri a uma morte tão torturante, e em seguida ir para uma reunião com os Cárpatos para discutir uma aliança?
Vou remover mais segmentos, Dimitri, mas não poderei tirar todos. Vou por aqueles mais próximos do seu coração.
Não esperou por sua resposta. Entrou em seu corpo como puro espírito. Os ganchos que ela adulterou permaneciam fechados. Nenhuma nova prata escorreu em seu corpo, mas aquelas que restaram fizeram progresso. Sabia o que fazer agora. Chamando sua herança maga, usou novamente seus dons para empurrar a prata de seu corpo.
Prata, prata tão mortal, tão brilhante,
Invoco o poder da Terra para cessar sua ferida,
Como você foi criada e formada lá no fundo,
Eu te ordeno, prata, remover e ascender.
Fios de prata que se enroscam e causam dano,
Libero sua posse de serpentear charme.
Eu chamo você, prata, dê ouvidos à minha chamada,
Refaça o caminho de onde você cai.
Dê ouvidos a mim, prata, ouça meu comando,
Retire-se para não fazer mais nenhum dano.
Desta vez ela acrescentou um novo elemento a fim de diminuir a dor da queimadura nele. Estava tão exausta e acabava de deixá-lo na noite anterior. Estava inconsciente quando retornou ao seu corpo, mas teve bastante tempo para pensar sobre como ele estava sofrendo.
Corydalis, Valeriana, Hamamélis, todas,
Encubram a dor que agora cai.
A prata respondeu com a mesma relutância, quase como se estivesse viva, movendo-se atrás e para longe do seu coração, os pequenos grânulos de prata queimando sua pele à medida que forçavam através dos poros para saltar para o chão debaixo dele.
Exaltação a invadiu. A prata respondeu aos seus comandos. Ela podia vê-la se movendo atrás e para longe do seu coração, enquanto na outra extremidade, empurrava-se através dos poros e caía no chão em minúsculos pequenos grânulos mortais. Porém, em todos os lugares que a prata tocava o queimava, tanto por dentro quanto por fora. Desta vez ela não o deixaria até que tivesse certeza que curou cada possível ferimento em seu corpo que pudesse alcançar antes de sua força acabar.
Babosa doce babosa, verde e brilhante,
Chamo sua essência, buscando o que é mantido escondido do lado de dentro.
Aquilo que é pegajoso e cheio de bálsamo,
Busco sua essência para curar o que está queimado.
Kathalai, nome antigo,
Invoco seu poder para roubar a dor.
Os elementos foram se retirando ao seu comando e a dor diminuindo com as ervas. Ela conseguiu remover mais três fios antes da exaustão tomar conta dela. Ainda tinha vários outros vindo de suas panturrilhas e coxas, dois dos ganchos em seus quadris, mas a prata vindo daqueles ganchos não progrediu para chegar perto do seu coração como aqueles que ela removeu.
Você pode administrar esta dor por um pouco mais de tempo? Gostaria de tirá-la de você se pudesse.
Você me manteve vivo, csitri, e só tocar sua mente me fez mais forte. Onde está? Este é um lugar perigoso.
Esses que estão te mantendo preso são renegados?
Não. Lycans. Você talvez não possa entender o perigo que eles representam. Não hesitarão em lutar com qualquer equipe Cárpato que vier me salvar. Deve relatar esta mensagem para quem viaja com você. Meu irmão. Qualquer dos outros guerreiros com você.
Skyler teve que se mover para longe dele, desistindo daquela trilha psíquica. Ela precisava descansar. Eu sou humana, não Cárpato, e nenhuma equipe de resgate me acompanha.
Houve silêncio. Ela se encontrou de volta ao seu próprio corpo, deitada na rede que Paul pendurou entre duas árvores. Olhou fixamente para a copa das árvores acima de sua cabeça. O vento movia suavemente os galhos, fazendo-os balançar. Adorava o som da brisa quando farfalhava as folhas e o sentia no rosto. Estava gelado, mas o casaco de pele a cobria. De alguma maneira, mesmo em seu estado debilitado, Paul conseguiu cuidar dela.
Skyler. Apesar da dor em sua voz, Dimitri soou autoritário. Ele só usou essa voz com ela umas duas vezes. Você veio atrás de mim por conta própria? Josef está com você?
Ela sabia que este momento chegaria. Esperava que viesse muito mais tarde. Apertando os lábios, ela acenou com a cabeça, embora ele não pudesse ver o gesto.
Nós temos um bom plano. Uma vez que nós o libertemos, nenhum deles poderá nos machucar. Ela infundiu confiança absoluta em sua voz. Acreditava que eles podiam salvá-lo ou não pediria para Josef e Paul virem com ela. Ela teria vindo, mas não os envolveria.
É só conseguir tirar aqueles ganchos fechados e a prata fora do seu corpo e em seguida estamos livres, ela adicionou. Sabe que os Lycans não podem derrotá-lo.
Skyler, quero que dê meia volta e saia daqui. Estou falando sério. Não estou pedindo.
Mesmo se pedisse, isso não aconteceria, Dimitri. Estou indo por você. Não sou a criança que todo mundo pensa, e você, melhor do que ninguém, sabe disso. Você é meu, e não tem cabimento estes Lycans tentando te matar.
Dimitri, apesar da dor e do esgotamento, não pôde evitar a explosão de divertimento ante o delírio furioso de Skyler contra os Lycans. Ela era única. Especial. Seu próprio milagre pessoal. Muita gente a subestimava. Ele amava o fogo nela. Amava tudo nela.
Ele estava orgulhoso de sua coragem e tenacidade, apesar do fato que a queria fora de perigo. Não a queria em nenhum lugar perto dos Lycans. Não confiava no que os lobos poderiam fazer se descobrissem que ela estava trabalhando para libertá-lo. Mesmo assim... como não se sentir eufórico e subjugado com seu amor se ela se atreveu a tais perigos para vir buscá-lo?
Ele era um macho Cárpato, um caçador antigo e seu primeiro instinto — seu dever — era proteger sua mulher. Skyler era sua outra metade, e saber que ele a pôs em perigo era muito pior para ele do que a dor aparentemente infinita que sofria.
Você deve partir. Não posso ter você em perigo e sobreviver a isto.
Houve aquele momento de silêncio que fez seu coração falhar umas batidas. Ela passou tempo demais tentando impedir a prata de envenenar seu sistema? Estava inconsciente? Embora ele soubesse que ela estava muito mais perto, a distância ainda era difícil. Ela tinha que usar muita energia para construir a ponte e em seguida duas vezes mais para curá-lo.
Ele estava bem ciente que não podia empurrar a prata venenosa do seu corpo como ela fez. Ela foi meticulosa, e mais ainda, em todos os lugares onde a prata o queimou, ela acalmou as terríveis queimaduras.
Não pode sobreviver a isto sem mim, e você sabe disso.
Alívio o percorreu. Ela estava fraca. Podia sentir que seu nível de energia era muito baixo, mas não estava nem perto do estado em que esteve da última vez.
Sou grato por você estar removendo a prata do meu corpo. Uma vez que estiver feito, posso escapar sozinho. Você não pode chegar mais perto.
Ela fez um pequeno som na mente dele, um humpf de aborrecimento. Você não pode se desembaraçar das correntes que te prendem. Se pudesse, meu amor, teria feito há semanas.
Dimitri estava começando a se sentir um pouco desesperado. Ela não podia ficar. Estava impotente para ajudá-la se ela se metesse em apuros. Estava correta sobre as correntes que envolviam muito firmemente ao redor do seu corpo. Se não fosse pela conexão extremamente forte entre eles, nunca poderia alcançar Skyler. Já tinha tentado alcançar seu irmão, Fen, mas sem sucesso.
Infelizmente, sou tudo que tem agora, Dimitri. Nós três. Josef e Paul farão o que for necessário para me ajudar a libertá-lo.
Ele amava seus amigos. Veio a conhecê-los através dela e seu amor por eles. Os dois rapazes eram irmãos para ela, família, mas eram garotos, não homens, não no sentido de guerreiros que eram experientes em batalha. Não tinham ideia do que estavam enfrentando, e como poderiam proteger Skyler de um bando de Lycans?
Ele respirou fundo pra tentar se manter quieto. A queimadura torcendo pelo seu corpo o deixou ardendo. Mal podia forçar seu corpo a ficar sob controle, em vez de se mover continuamente num esforço para aliviar a agonia sem fim, disposta a destruí-lo. Ele tinha que admitir que era uma tortura medieval digna de um castigo de Maquiavel.
Skyler, eu te amo mais que a própria vida. Ele disse a ela a verdade gritante num tom baixo e compulsivo. A compulsão não funcionaria nela, mas podia usar sua melhor voz amorosa persuasiva. Meu irmão, Fen, virá. Já está a caminho. Ele falou com confiança absoluta. Sabia que Fen viria por ele. Preciso saber que está segura. Mais do que qualquer outra coisa, preciso disto. Fique onde está e continue a tirar a prata do meu corpo. Isso ganhará o tempo que meu irmão precisa para me achar. Você pode se estender para ele e saber o tempo que levará para me alcançar.
Skyler levou um tempo ponderando sobre isto enquanto o coração dele acelerava com medo por ela. Ela deu um pequeno suspiro. A ideia é entrar e sair sem que ninguém saiba que estamos aqui. Se eu chamar seu irmão, ele não terá escolha a não ser avisar meu pai. Gabriel virá. Com ele virá Lucian. Talvez outros. Pode haver uma guerra justamente quando Mikhail está tentando fazer as pazes com estes cretinos.
Ele sabia que ela estava certa. Sua família viria e seria um inferno a pagar. Pior ainda, se a família de La Cruz descobrisse que Paul estava com ela, eles viriam, e não haveria como deter Zacarias se um fio de cabelo na cabeça do seu sobrinho fosse prejudicado.
Skyler não recuaria. O desespero estava estabelecido. Estava impotente, acorrentado pela prata, pendurando numa árvore com ganchos em seu corpo para envenená-lo lentamente. Moarta de argint. Ele não podia salvá-la se ela fosse atacada.
Como podia detê-la? Ele não a queria nas mãos dos Lycans. O desespero o varreu quando mesmo em seus piores momentos ele não considerou, nem por um momento, ajudar a prata a se mover através do seu corpo mais rápido. Sabia que poderia acabar com o sofrimento, mas nunca deixaria Skyler sozinha, não se houvesse uma chance. Mas para salvar sua vida...
Não ouse sequer pensar em me deixar! Pura fúria afiou o medo em sua voz trêmula. Se escolher ir, eu te seguirei. Não serei compreensiva sobre isso também, Dimitri. Nós temos um pacto, você e eu, que fizemos muito tempo atrás quando todo mundo queria decidir nosso destino. Nós decidimos juntos. Você. Eu. Juntos.
Não posso suportar o pensamento de você em perigo.
É só porque você sofre...
Sofrimento não importa. A prata não importa. A morte não importa. Você não tem noção do que me motiva. Não posso ter você em perigo.
Sua voz mudou completamente. O medo e a raiva desapareceram. O tom de voz dela era musical. Suave. Vermelho aveludado escovando sobre cada nervo inflamado terminando com um toque calmante. Meu amor, ninguém, nem mesmo um antigo tão corajoso e forte como você pode suportar a falta de alimento. Você precisa se alimentar. Ficou acorrentado por mais de duas semanas e sofreu agonias que ninguém mais poderia ter suportado. A combinação deixaria qualquer um louco.
Às vezes ele se sentia louco. Sua mente vagava. Antes de Skyler vir, ele às vezes não podia pensar claramente, mas...
Você tem que confiar em mim. Sou sua companheira e abraço você em meu coração. Você é a outra metade da minha alma. Confie em mim para fazer isto direito.
A triste verdade era — Skyler tinha um ponto. Dias e noites correram juntos. Ele foi deixado de fora e às vezes estava impotente, preso na paralisia dos Cárpatos, mas incapaz de dormir. O sol batia através das árvores quase o cegando, queimando sua pele até que ficava empolado, mas felizmente a espessa copa das árvores — e seu sangue Lycan — impediram a morte que a maior parte dos Cárpatos temia.
A prata queimava continuamente, suas entranhas em chamas, sua pele e ossos sentindo como se estivesse sendo escaldado e queimado sem parar. A fome o golpeava até que não sabia o que era pior — a necessidade de sangue ou a agonia incessante em seu corpo. Agora, tudo isso pouco significava quando sabia que Skyler estava em perigo.
Dimitri. O modo como se sente sobre mim... é o modo como me sinto sobre você. Nós pertencemos um ao outro e não posso ir embora e deixar você sozinho assim. Partiria meu coração. Prefiro arriscar tudo na chance de conseguir você de volta, do que saber que está sofrendo e não fiz nada.
Chame Fen. Ele virá e saberei que você está a salvo.
Ele sentiu o suspiro dela. Ela estava cansada. As bordas de sua mente estavam distendidas. Ela estava tremendo de frio. Não podia ver onde ela estava, mas podia sentir isso.
Meu amor, você e eu sabemos que ele não chegará aqui a tempo. A prata estava a centímetros do seu coração. Inclusive agora temo descansar, com medo que algo saia errado. Deixe-me fazer isto. Por você. Por nós. Deixe-me fazer isto, Dimitri. Eu posso fazer isto.
Não tinha como negar a Skyler. Sabia que estava lutando uma batalha perdida. Ambos precisavam conservar sua força.
Diga-me seu plano, sívamet.
Ele sentiu seu amor o rodeando. Tentou manter seu corpo o mais imóvel possível, mas a prata torcia através dele, queimando cada terminação nervosa até que pensou que poderia enlouquecer. Antes, na escuridão em torno dele durante os dias e noites infinitas, quis acabar com tudo, mas o pensamento do que isso faria com sua companheira o mantinha tentando ficar quieto para impedir que o veneno achasse seu coração. Agora, com seu amor, com sua coragem, ele se sentiu motivado. Como não ficar vivo quando tinha uma mulher como Skyler lutando por ele?
Ele sentiu sua hesitação e encontrou-se franzindo o cenho. Skyler não era uma mulher de “sim”, e amava isso nela, mas mais do que qualquer coisa, queria que ela estivesse segura. Seu coração contraiu dolorosamente. Ela faria algo que sabia que ele nunca aprovaria.
Josef nos forneceu os melhores documentos possíveis, três alunos conduzindo um estudo sobre lobos em estado selvagem. Ele usou sua organização e nós parecemos muito legítimos. Os meninos estão montando acampamento agora. Deve passar em qualquer inspeção.
Isso não me diz nada.
Diz a você que planejamos isto cuidadosamente. Não queremos uma guerra, só queremos você seguro e de volta com a gente. Amanhã vou andar pelo bosque e me perder. Eu sou humana. Alguém vai me achar. Um dos Lycans. Vou ter um tornozelo torcido, Josef é muito bom em fornecer tais coisas. O Lycan me escoltará de volta para o acampamento nem que seja só para checar minha história. Plantarei um dispositivo de rastreamento nele. Isso vai nos levar direto a você.
Dimitri fechou os olhos. Parecia tão simples. Às vezes os melhores planos eram os mais simples, mas Skyler estaria no meio da floresta, longe da civilização, onde os lobos de verdade e os Lycans habitavam a floresta. Nem todos os homens eram bons — Lycan ou humano. De todas as pessoas, Skyler devia saber disso.
Ele ficou em silêncio, sabendo que ela sabia. Ela tinha pesadelos frequentemente. Estava arriscando sua vida, junto com sua paz de espírito tão duramente conquistada e tinha que estar apavorada, mas estava fazendo isto por ele. O pensamento o fez se sentir humilde.
Você faria o mesmo por mim.
Ele era um guerreiro antigo, ela era tão jovem e vulnerável. Ele podia sentir o quanto ela estava exausta. Em qualquer circunstância, curar era difícil. Pela distância e o fato que foi drenada de toda energia na noite passada, estava surpreso que afinal ela pudesse funcionar. Não tinha por que discutir com ela.
Se qualquer coisa der errado e você tiver dificuldade, jure para mim que vai chamar Gabriel. Ele capitulou, mas seu coração batia forte e a prata torcia por seu corpo muito mais rápido. Podia sentir a queimadura arrastando seu caminho através de sua caixa torácica.
Não se preocupe, meu amor, estarei gritando o mais alto que puder.
Skyler tranquilizou seu companheiro, a honestidade soando em sua voz.
Eu te amo e isso nem começa a descrever o que sinto por você. Não haviam palavras, Dimitri decidiu, que já tenham sido inventadas que poderiam expressar o amor que tudo consome que ele sentia por Skyler.
Por favor, fique a salvo, Dimitri. Fique muito quieto. Estou com você, ela sussurrou, lágrimas queimando em seus olhos quando a conexão entre eles terminou abruptamente.
Skyler odiava deixar aqueles fios soltos entre eles. Ele estava muito sozinho, em tão mau estado, muito pior do que poderia ter imaginado. Seu Dimitri era tão forte, tão extremamente poderoso, não parecia possível que pudesse estar preso, torturado e tão perto do fim da sua vida.
Ela sentiu lágrimas no seu rosto. Não podia se mover, estava simplesmente tão exausta, mas olhando fixamente na copa das árvores acima da sua cabeça enquanto os galhos balançavam e dançavam ao som da música do vento, percebeu o quanto tinha sorte. Dimitri estava vivo. Estava perto o suficiente para que pudesse alcançá-lo e ele pudesse se conectar com ela. Achariam um caminho juntos.
— Sky, vou dar a você alguns minutos — Josef disse, — e então vai ter que tentar comer alguma coisa. Temos muito trabalho pela frente e você tem que estar em forma.
Ela assentiu, contente em deitar na sua rede e escutar os sons da floresta. O zumbido contínuo dos insetos parecia familiar para ela e ainda assim, não totalmente. Asas tremulavam no alto enquanto pássaros saltavam de uma árvore a outra. Marmotas corriam e ratos se infiltravam na vegetação do chão da floresta. A floresta estava cheia de vida.
Virou a cabeça para assistir enquanto Paul instalava uma zona de segurança. Havia predadores na floresta, e embora tivessem Josef com eles precisavam se preparar por via das dúvidas. Estava deitada em sua rede pensando na última linha de defesa deles, caso tudo desse errado. Se fossem descobertos e os Lycans os atacassem, ela teria que providenciar um abrigo seguro para todos. Dimitri estaria fraco. Se não tivesse tempo para lhe dar sangue e curá-lo, estariam encarregados de achar um lugar seguro que pudessem defender enquanto ele ia para a terra se recuperar.
Paul andou a passos largos para ela, segurando uma garrafa de água.
— Aqui. Pode se sentar? — Ele já estava com o braço ao redor dela por trás, ajudando-a. — Beba. Estamos quase instalados aqui. Josef tem tudo em ordem. Até nossas descobertas estarão sob escrutínio. Não posso imaginar que os Lycans não vão engolir nossa cobertura.
— Josef disse que o plano mais simples é o melhor, e acho que ele está certo. — Skyler admitiu. Ela teve que se inclinar contra Paul para se sentar o bastante para beber a água. — Estou tão cansada, tudo que quero fazer é dormir. — Ela olhou para ele, franzindo o cenho. — Ele não pode ir ao chão ou sair do sol. Da última vez, a distância era tão grande que não pude ver nada ao redor dele ou até mesmo ter uma noção do que estava acontecendo com ele. A dor era tão terrível, mas desta vez... — Ela foi parando de falar.
— Ele é forte. — Paul assegurou a ela. — Vai sobreviver.
— Eu sei o quanto sou afortunada por que ele me ama. Saber que ele não se moveu deliberadamente e se remexeu para permitir que a prata perfurasse seu coração quando foi torturado todo esse tempo só para ficar vivo para mim é um sentimento surpreendente. Não sei se eu poderia ter resistido a esse tipo de agonia o tempo que ele resistiu.
Skyler tomou outro longo gole lentamente. A água era boa em sua garganta ressecada. Dimitri não se alimentava há mais de duas semanas. O que isso faria com ele? Ela olhou em volta procurando por Josef. Estava ocupado com a fogueira. Ele tinha uma coisa com o fogo.
— Se Dimitri não se alimentar por um longo tempo, Josef, o que isso faz?
Josef se virou devagar, as chamas tímidas da fogueira lançando sombras misteriosas sobre ele.
— Isto não é bom, Sky. Ele vai estar morrendo de fome. É melhor que quando o resgatarmos, eu dê meu sangue primeiro, não você.
Ela não gostou de como aquilo soava. Josef podia ser bastante adulto às vezes, e soava muito sério — e preocupado.
— Pode se levantar, Skyler? — Paul perguntou. — Temos uma cadeira para você e o fogo está acolhedor.
— Eu não sei. — Isso foi desonesto. Se tentasse ficar de pé, cairia de cara no chão.
Paul a pegou no colo sem perguntar, levando-a direto para o fogo e colocando-a numa cadeira diante dele.
— Josef lembrou dos marshmallows e chocolate. — Ele acrescentou.
— Parece divertido. — Ela respondeu.
Josef surgiu por trás dela e passou o braço ao redor dos seus ombros, colocando o queixo no topo da sua cabeça.
— Você acha que estará pronta para isto amanhã? Devemos te dar mais um dia para que possa se recuperar?
Ele estava relutando em esperar, ela ouviu em sua voz. Sabia que as chances de seu plano ser bem sucedido afundavam quanto mais tempo esperassem. Se um Lycan descobrisse seu acampamento antes dela estar “perdida” sua tática não funcionaria. Duvidava que pudesse chegar perto o suficiente para plantar um dispositivo de rastreamento sem seu conhecimento se não estivesse ferida e precisando de ajuda. Eles teriam que achar outra maneira de rastrear Dimitri de volta à sua prisão. Sabia que podia achá-lo agora com a trilha psíquica ficando mais forte, mas levaria tempo e energia que claramente não tinham. E também havia Dimitri. Qualquer coisa podia acontecer com ele no fim — e nenhuma delas era boa.
— Estarei pronta. — ela disse. Pegou sua caneca de chocolate quente mais para satisfazer seus amigos do que porque pensava que queria beber isto. — O que preciso é deixar a Mãe Terra ajudar a me curar. Pode abrir o chão aqui para que eu possa me esticar?
— Meu bem, você não pode dormir no chão. — Josef disse. — Não posso cobri-la e você estaria vulnerável a qualquer ataque. Sua maluca, você não é Cárpata ainda.
Ela se achou rindo.
— Seu maluco, eu quis dizer apenas algumas camadas. Não planejava dormir ali. Só a população de insetos me impediria.
— Os vermes. — Paul acrescentou. — Eles rastejam dentro e fora dos corpos...
— Os vermes rastejam para dentro, os vermes rastejam para fora... — Josef citou uma antiga canção que as crianças cantavam umas para as outras em brincadeiras no mundo todo.
— Parem. — Skyler mandou. Só por estar na companhia de seus dois melhores amigos já a fazia se sentir mais leve. Mais segura. Mais ancorada. — Eventualmente estarei dormindo na terra, e não quero pensar sobre vermes ou quaisquer outros insetos que rastejam em cima de mim.
Ela precisava sentir sua conexão com a Mãe Terra se seu plano infalível tivesse qualquer chance de sucesso. Não queria falar sobre isto ainda, não até que tivesse certeza que podia fazer isto. Tudo dependia do que ela aprendesse ali naquela terra da floresta antiga.
Josef beijou o topo da sua cabeça.
— Você às vezes realmente é uma bebezinha melindrosa, Sky. Terra não é uma palavra suja. Você disse isto com tal desgosto. Como uma menina.
— Eu sou uma menina, seu bobo. — Skyler assinalou. Abaixou o olhar para o chocolate na caneca. Seu estômago se rebelou novamente. Precisaria da ajuda de Josef novamente. — E nenhuma menina gosta da ideia de dormir no chão com insetos. Sou humana afinal.
— Você não é exatamente humana. — disse Josef, soltando-a. — Mais como uma pequena alien legalzinha. Aliás, esqueci de te dizer, eu realmente consegui ir bem longe naquele banco de dados de humanos psíquicos que Dominic achou na América do Sul. Consegui passar pelas criptografias e descobri o código que estiveram usando para cada pessoa que entrava. Estou perto de quebrar a coisa toda. Se eu fizer, posso dar os nomes para Mikhail e aquelas mulheres podem ser protegidas da sociedade humana tentando nos matar, vampiros, e quaisquer outras pessoas os caçando.
O estômago de Skyler deu uma sacudida. Um nó feio tinha se formado. Ela olhou para baixo e a caneca estava vazia.
— Obrigada, Josef.
— Pelo chocolate ou pelo “elogio” da pequena alien legalzinha?
Paul bufou.
— É isso que aquilo era? Um elogio? Você nunca vai se dar bem com as damas, Josef, se não melhorar ao falar com elas.
— Não vou gastar saliva na minha irmã aqui. — Josef cutucou o pé dela com o seu. — Eu me dou bem com as damas.
Paul sacudiu a cabeça.
— Fui seu parceiro na última festinha que fomos juntos, e tenho bastante certeza que você se deu mal cada vez que começou a conversar. — Ele piscou para Skyler. — Todas pensaram que ele era fofo até que abriu a boca e começou a jorrar algum tipo de teoria numérica.
— Oh, Josef. — Skyler disse, cobrindo o sorriso com uma mão. — Você realmente não fez isso, fez?
Josef tirou a caneca vazia de sua mão, encarando Paul.
— A menina era bonita, sabe, não toda magrela, loira e clonada como a maioria delas. Quero dizer que ela tinha uma figura de verdade e seu cabelo era escuro e brilhante, e quando ela sorriu, meu coração tipo explodiu e levou meu cérebro com ele. Quando tive esse curto-circuito, os números voltaram a cair na minha cabeça.
— Ele vê em números. — Paul disse. — Pode acreditar nisto?
Josef empurrou outra caneca na mão dela. Ela reconheceu o aroma de sopa de legumes. Seu estômago deu um nó ainda maior. Fechou os olhos, querendo acabar logo com isso. Se a comida ficaria lá embaixo ou não era outra questão. Ela sabia que antes de dormir Josef daria mais de seu sangue curativo. Ela não podia ser convertida sem uma verdadeira troca de sangue, mas isso não significava que não sentiria os efeitos.
Quando abriu os olhos, ficou agradecida que não só a sopa se foi, mas a caneca também. Paul entregou a garrafa de água novamente enquanto ela se concentrava em manter a comida no estômago.
— Josef é incrível. — Ela disse, falando sério. — E você também, Paul. Eu não poderia ser mais sortuda. Obrigado aos dois por virem comigo.
— Não vá ficar toda menininha pra cima da gente. — Josef repreendeu. — Por que a próxima coisa é que estaremos sentados em torno da fogueira soluçando, e alguns Lycans nos pegarão e aí vai descobrir que seria melhor que nos tirassem da nossa miséria.
— Tudo bem, abra um trecho da terra pra mim — vá bem abaixo onde o solo é rico em minerais.
Josef olhou ao redor no chão da floresta.
— Qualquer lugar deve ser bom. Esta é terra antiga e esteve regenerando por milhares de anos.
Ele afastou a vegetação e a terra superficial para expor a riqueza escondida. Paul ergueu Skyler no colo novamente e suavemente a depositou na abertura de quase um metro de profundidade. Skyler lhe devolveu a garrafa de água e voltou sua atenção completamente para a terra.
Ela deitou-se de costas, sem se importar que a sujeira entrasse em seu cabelo. Josef cuidaria disso facilmente. Tudo que importava era sua conexão com a Mãe Terra.
Grande Mãe Terra, que nos deu a todos nascimento,
Ouça minha chamada.
Ajude-me, grandiosa, mostre-me o caminho que eu devo andar,
Coloco-me em seus braços, ouça a batida do meu coração,
Ouça meu chamado.
Sons vieram primeiro. A profunda batida em franca expansão de um tambor. Constante. Vindo do próprio núcleo da Terra e espalhando-se pela terra para dar vida às plantas e árvores, toda a flora e fauna. O fio de água veio em seguida, tão suave a princípio, mas quando ela escutou, o som era poderoso, o fluxo de sangue da Terra se estendendo como artérias e veias para nutrir.
Grandiosa, eu sou sua criação,
Peço vosso bálsamo curativo,
Eu tenho necessidade de você e seus dons,
Meu corpo está gasto e cansado.
Ela nunca se sentiu tão no limite, com medo que se perguntasse a Paul e Josef eles diriam que podiam ver onde ela estava desgastada ou buracos rasgados em sua própria pele. Sem o sangue do Josef, sabia que nunca teria forças para ajudar a livrar Dimitri de uma arma tão terrível.
Ajude-me, Mãe, traga suas energias curativas para me dar forças.
Minha necessidade é grande. Ouça-me. Veja-me. Esteja comigo. Envolva-me no calor de seus braços.
Terra rica derramou ao redor do seu corpo, em cima uma camada fina, mas quase até o pescoço. Ela devia se sentir claustrofóbica, mas ao invés disso se sentiu aquecida e segura. Como se de uma grande distância, ouviu Paul ofegar, mas sua mente estava conectada ao constante ritmo de tambor do coração da Terra. Seu próprio coração combinava com aquele ritmo forte. Sentiu o novo crescimento, longas vinhas se torcendo, empurrando para fora da terra embaixo e ao lado dela para se enrolar ao redor do seu corpo, uma coberta de floresta verde.
Skyler sentiu como se estivesse no próprio berço da vida, segura por braços amorosos. Os pelinhos das raízes que se estendiam em sua direção roçavam suas pernas e braços. Brotinhos de vegetação se estendiam para ela para se aconchegar perto do seu corpo, começando a tecer juntos um cobertor bem fino em cima do seu corpo.
Eu preciso de você, Grandiosa, minha alma gêmea queima,
Ele está pendurado por ganchos, suas pontas entregando prata venenosa no seu corpo,
Fios de prata queimando seu caminho em direção ao seu coração.
A vida dele corre pelos meus dedos como finos grãos de areia.
Ouça-me, Grandiosa, traga suas energias curativas,
Dê-me sua força, atenda meu apelo, cure-me, Mãe.
Já podia sentir a força fluindo de volta dentro dela. As pequenas fendas que sentia se fragmentando em sua mente lentamente se fechando, e o contínuo martelar em sua cabeça desparecendo. Suas pernas e braços pareciam mais fortes do que nunca. O caos em sua mente se acalmou, e ela se achou calma e determinada.
Diga-me, Grandiosa,
Esses da raça Lycan nasceram deste lugar,
Quais são de sua criação?
Como podem ser subjugados?
Mostre-me seu caminho,
Revele-me suas fraquezas,
Mostre-me o caminho para reduzí-los.
Dê-me o poder para liberar os que estão presos por eles.
Ela tinha que sentir os Lycans quando eles se aproximassem. Eram caçadores em bando e emitiam pouca ou nenhuma energia. Eram de alguma forma capazes de conter isto, para que até os Cárpatos não pudessem sentir sua presença antes de um ataque. Ela precisaria saber onde cada único lobo estava, por que onde estivessem, estaria seu plano de ação.
A Mãe Terra viu tudo se desenrolando em sua superfície. Séculos se passaram e a espécie Lycan tinha assumido o manto da civilização, mas como os Cárpatos, eram primeiro predadores. Eram lobos. Caçavam em bandos, em vez de como caçadores solitários como os Cárpatos. Os bandos geralmente tinham um casal alfa, e usavam ataques experimentais e verdadeiros que funcionaram durante séculos.
Eles evoluíram fortes, rápidos, muito letais, e eram inteligentes. Eles se integraram na sociedade humana parecendo civilizados, mas lá no fundo sob a pele, sempre foram Lycans. Ainda caçavam da mesma maneira que foram bem sucedidos há muito tempo.
Skyler absorveu as informações estampadas no próprio solo pelos Lycans que usaram esta floresta por tantos anos. Ela o fez sem pressa, grata por ser uma filha da Terra, grata pelo oferecimento ser tão detalhado. Era importante aprender sobre os Lycans como caçadores de bando a fim de descobrir a melhor maneira de escapar — ou derrotá-los.
Quando estava certa que conhecia o funcionamento interno do bando, agradeceu e então pediu ajuda com Dimitri. A fraqueza dele a golpeou. Sua fome. Ele estava morrendo de fome, e nenhum Cárpato podia passar dias ou semanas sem ir para a terra.
Grande Mãe, meu amado é sua criação,
Ele é seu próprio filho, um filho da Mãe Terra.
Você o julgou, você o conhece. Sabe seu valor.
Poupe-o, Mãe,
Traga depressa seu poder curativo,
Ajude-me na sua cura,
Use-me para levar adiante seu poder através de mim.
Skyler não tinha percebido como estava realmente abalada depois de se conectar com Dimitri tantas vezes e vendo, não importa o que fizesse para ajudá-lo, que seu sofrimento continuava. Havia pouco que ela pudesse fazer sobre as correntes de prata que o prendiam com tanta força do pescoço ao tornozelo, não de uma distância tão grande. Ela mal se permitia reconhecer aquelas correntes do mal.
Sabia que os laços finos envolvidos tão firmemente ao redor do seu corpo eram um traje de múmia de prata, e isso mantinha Dimitri contido. Ele não podia alcançar sua raça pedindo ajuda. Não podia se livrar ou lutar com seus inimigos. Ela tinha que achar a melhor maneira de remover a prata e certificar-se que podia curar as queimaduras em seu corpo, pelo menos o suficiente para permitir que ele viajasse rápido.
Ela realmente não queria começar uma guerra. Seria muito melhor se pudessem resgatar Dimitri sem ser descobertos.
Se seu plano funcionasse, ela levaria as informações que a Mãe Terra forneceu dos Lycans, seus pontos fortes e fracos, hábitos, sua natureza e própria característica única para eles, e usaria essas coisas contra eles.
Seu último plano infalível dependia dela. Se fossem feridos ou Dimitri estivesse muito fraco, precisariam daquela última zona de segurança. Precisaria chamar cada gota de seu sangue mago, de sua conexão com a Mãe Terra, de sua linhagem de Caçadora de Dragão para providenciar um feitiço de proteção forte o suficiente para permitir a qualquer coisa humana ou Cárpato entrar, mas manter de fora todos os Lycans. Se conseguisse, teriam um lugar para fugir, um lugar para se defender se os Lycans os atacassem. Se não, certamente todos morreriam.
A dor era infinita, diminuindo a velocidade do tempo de forma que cada único segundo se arrastava. Dimitri mal podia respirar, sua respiração vindo em arquejantes ofegos instáveis, sinalizando que estava quase no fim de sua resistência. Seu corpo tremia continuamente por vontade própria. Por mais que tentasse, ele não podia parar aquele reflexo automático, parecido com um animal ferido sozinho e encurralado. Sua mente estava um caos, o som de seu coração engasgando, trovejando em seus ouvidos.
A fome o golpeava a cada lento segundo que passava. Estava ciente de cada criatura viva com sangue correndo em suas veias que se aproximava dele. Podia ouvir esse batimento palpitante profundamente em suas veias como um tambor convocando-o. Até mesmo a dor agonizante retorcendo não podia deter a necessidade que não podia ser negada subindo como um tsunami.
Seus dentes estavam alongados e afiados. Precisou de cada gota de disciplina que possuía para não lutar com as correntes de prata rodeando seu corpo. Até com os ganchos nele podia ter chamado uma presa, mas as correntes o impediam.
Cheirava os Lycans se aproximando muito antes de ouvi-los chegando. Em seu estado debilitado, pensou que os dons tremendos de um sangue misturado — os Lycans temiam o Sange rau — diminuiriam, não fortaleceriam, mas todos os seus sentidos se esticaram e cresceram até que estava ciente inclusive dos insetos rastejando no chão e em cima dos troncos das árvores.
Algumas vezes pensava que realmente podia ver e ouvir as plantas crescendo ao seu redor. Alguns minutos antes, as gramas o cercando estiveram a alguns metros de distância de onde ele estava pendurado, mas agora cobriam o chão embaixo dele como um tapete espesso. Os cachos de flores pareciam estar brotando, completamente formados com talos e pétalas em questão de minutos. Firmou seu olhar no chão, surpreso por ver samambaias se empurrando através da terra em uma dezena de pontos o rodeando.
— Você não parece tão duro pendurado aí. — Gunnolf zombou quando chegou até Dimitri.
Dimitri não se dignou a responder, qual era o ponto? Gunnolf queria provocar alguma resposta dele, e não estava disposto a lhe dar essa satisfação. Isso não diminuiria sua dor, e não podia chegar até ele para tomar seu sangue, então na realidade, retirar-se para dentro de sua própria mente era uma opção muito melhor.
— Seus amigos não vieram exatamente correndo para salvá-lo. — Gunnolf continuou, chutando a perna do Dimitri. Ele riu quando o corpo do Dimitri balançou e os ganchos cravaram mais fundo, rasgando sua carne. — Eles devem ter percebido que monstro sujo e repugnante você é e nos deixaram matá-lo. De qualquer maneira, eles não eram tão bons em uma briga.
Dimitri permaneceu calado, seus olhos no chão. Podia ver a terra empurrando para cima em torno das samambaias e o mistério o fascinou. Um pouco da grama em lugares bem debaixo dele cresceu alto suficiente para que as lâminas roçassem suas pernas. A grama enrolou no seu tornozelo e deslizou por baixo da bainha de sua calça esfarrapada. Lentamente podia senti-la viajando pra cima pela sua pele até que achou aquele lugar exato onde o caçador Lycan o havia chutado. Gotículas de algo frio e molhado caiu da folha para encontrar a contusão. Imediatamente a dor se foi.
— Vou te dizer, você durou mais do que qualquer outra pessoa já condenada à morte por prata. — Desta vez havia um toque de apreensão na voz de Gunnolf. — Ninguém durou mais que três dias. Eles dizem que é impossível ficar quieto e a prata alcança seu coração mais rápido. Se você quiser acabar com sua miséria, dance por aí por um pouco mais.
Ele pegou os ombros do Dimitri e sacudiu seu corpo com força, rindo novamente quando sangue fresco se derramou de cada um dos ferimentos onde os ganchos o mantinham prisioneiro.
— Gunnolf! O que está fazendo? — Zev estalou rispidamente.
Gunnolf ficou sóbrio imediatamente. Ele se debruçou perto da orelha de Dimitri.
— Morra logo, seu monstro, para que eu possa sair daqui. — Ele o soltou e se afastou do corpo oscilando.
Zev o empurrou para longe de Dimitri.
— Você não tem nenhum direito de pôr suas mãos nele. O homem está sofrendo. Isto não é suficiente para você? Se não fosse um do meu bando, pensaria que era renegado e aprecia o sofrimento dos outros.
— Ele é Sange rau, um monstro sem comparação. — Gunnolf cuspiu no chão para mostrar seu desprezo. — Mataria cada homem, mulher e criança que temos e nunca olharia para trás.
— Ele não é vampiro como os outros. — Zev argumentou.
Seu tom ficou pensativo. O olhar de Dimitri se levantou de um salto, e viu que Zev agora estava olhando para o chão. Suas feições ásperas estavam inexpressivas, mas seus olhos penetrantes viam demais. O coração de Dimitri deu uma sacudida no peito, conforme Zev deslizava adiante num movimento fluído e fácil, que era quase impossível para Gunnolf seguir, mas extremamente fácil para Dimitri.
Lá no chão, embaixo do seu corpo balançando, em sua maior parte enterrado no tapete espesso da grama, samambaias e flores, estavam alguns grânulos reveladores de prata reluzindo, atraindo seu olhar. A sola da bota de Zev deslizou em cima da prata, esmagando-a ainda mais no chão. Quando moveu sua bota avançando, a grama brotou como se ele nunca tivesse dado um passo. Os grânulos de prata estavam completamente escondidos da vista.
Zev levantou seu olhar para o de Dimitri.
— É melhor sair daqui, Gunnolf. Você me desafiou vezes demais e minha paciência está se esgotando. Da próxima vez, é melhor vir preparado para me derrotar na batalha.
Gunnolf rosnou mostrando os dentes, mas virou abruptamente e se afastou a passos largos. Zev suspirou, sacudindo a cabeça.
— Aquele lá e eu vamos nos embolar num futuro próximo, e será uma briga até a morte.
— Ele não vai lutar justo. — Dimitri predisse. — De fato, duvido que virá a você cara a cara. Vai tentar te matar quando você virar de costas e não houver ninguém para ver sua traição.
— Eu realmente sinto muito. — Zev disse. — Mandei dizer ao conselho para tentar retirar esta sentença, mas não houve nenhuma palavra. Não posso ir contra meu povo, mas gostaria de ajudar no que puder.
— Você tem sido gentil ao me trazer água. — Dimitri disse.
— Ninguém jamais foi capaz de remover a prata do seu corpo. — Zev disse, olhando para o chão abaixo de Dimitri.
Usando a ponta da bota, Zev empurrou a grama e as samambaias de lado. Nenhum rastro de prata permanecia. Franzindo o cenho, ele cavou na terra.
— Desapareceu.
Dimitri não disse nada. Podia sentir as lâminas da grama enrolando e subindo por seu tornozelo e deslizando pela panturrilha até o ponto de entrada onde os ganchos estavam embutidos em seu músculo. Aquelas minúsculas gotas de bálsamo caíam sobre suas feridas em carne crua. A grama parecia massagear o gel calmante nas lesões, e então começou a subir em direção aos cortes nas suas coxas.
Skyler. Sua mulher. Sua companheira. Quem teria sequer pensado que ela poderia ter tanto poder embalado naquele pequeno pacote? Ela tinha um núcleo de puro aço. Não tinha nenhuma dúvida em sua cabeça que ela fez um pequeno pacto com a Mãe Terra, e esta era a forma de cura dela. Curando e escondendo a evidência.
Zev veio para mais perto.
— Não posso te soltar, mas posso ajudar você. Não existe nenhuma lei que diga que não posso fornecer nutrientes para você. Permita-me dar sangue a você.
O coração de Dimitri deu um salto e então começou a palpitar. Ele nunca considerou que um Lycan faria tal oferta. A tentação era irresistível. Podia sentir a saliva se formando em sua boca. Seus dentes estavam afiados e terríveis.
— Estou fraco. Extremamente fraco para confiar em mim mesmo. Estou incerto se vou poder parar. — Ele forçou a verdade respeitando o homem, não querendo se arriscar. Teria drenado Gunnolf até deixá-lo seco, mas Zev tinha integridade, e a sentença do conselho claramente foi um choque para ele.
— Você está envolvido em correntes. — Zev assinalou. — Posso controlar sua ingestão.
Dimitri ergueu a cabeça para olhar ao seu redor. A floresta estava cheia de árvores e arbustos, mas sentiu e ouviu a força vital de outros Lycans perto. Podia sentir os olhos neles. — Quanto mais me ajudar, mais se torna suspeito aos olhos dos outros. O que você chama de Gunnolf está envenenando a mente dos outros contra você. Ajudando-me, você ajuda a causa dele.
— Qual sua causa? — Zev perguntou. — Por que é tão importante que você morra antes da cúpula chegar à conclusão? Não faz nenhum sentido. Membros-chave do nosso conselho estão se encontrando agora mesmo com seu príncipe e seu povo para resolver a questão do Sange rau — o Sangue Ruim, e o Hän ku pesäk kaikak ou Paznicii de toate — Guardião de todos. Não faz sentido ver esse resultado antes da sua sentença de morte?
Dimitri tentou um sorriso, expondo seus caninos alongados.
— Sou o condenado à morte, então obviamente faz todo sentido para mim.
— Vejo que manteve seu senso de humor.
— Eu tento. — A grama calmante tinha alcançado suas coxas agora, subindo por ambas as pernas para encontrar aquelas terríveis feridas queimando, num esforço para aliviar a dor.
A fome atingiu uma nova altura. Podia contar cada batimento individual da pulsação firme e forte do Zev. Um estranho rugido em sua cabeça consumiu sua mente com a urgência de se alimentar. Ele viu vermelho, a cor se projetando em sua visão.
— Talvez você devesse dar um passo atrás, pôr alguma distância segura entre nós. — Dimitri advertiu. Sua voz se tornou mais um grunhido que uma voz de verdade.
Sem medo, Zev deu um passo mais perto, seus próprios dentes rasgando um buraco no seu pulso. Ele teve o cuidado de evitar as correntes de prata cercando o corpo do Dimitri quando ergueu seu pulso gotejando com sangue que dava a vida até a boca de Dimitri.
Sangue disparou para todas as células famintas, cada órgão murcho, se moveu pelos muitos caminhos que a prata queimou, revitalizou e rejuvenesceu. Dimitri tentou ser educado, tentou se agarrar à consciência. Zev arriscava sua vida dando-lhe sangue. Seu bando podia se virar contra ele a qualquer momento. Dimitri estava certo que Gunnolf tinha seus próprios planos. Queria mais poder e Zev estava no seu caminho. Este ato de bondade podia muito bem ser a queda de Zev.
No entanto, Dimitri não podia se obrigar a parar. Tudo que tinha a fazer era varrer sua língua por aquele ferimento no pulso de Zev, fechando o corte, mas a fome era tão crua, tão terrível, o monstro ganhando controle, que ele não conseguia controlar sozinho.
Você deve me deter. Ele empurrou as palavras para fora de sua mente dentro de um caminho, qualquer caminho, esperando que Zev o pegasse. Eles usaram comunicação telepática numa caçada de um bando de renegados antes, embora o caminho não estava entre eles. A comunicação telepática ficava mais fácil uma vez que era estabelecida, mas normalmente havia um caminho de sangue entre um Cárpato e quem ele se estendia. Seu coração afundou. Ele nunca deu sangue a Zev.
Zev puxou seu pulso de Dimitri, encolhendo enquanto aqueles dentes fortes eram arrancados de sua pele. Dimitri fechou os olhos tentando respirar fundo, desesperado por mais, mas agradecido pelo que recebeu.
— Eu ouvi você. Como isto é possível?
Dimitri sacudiu a cabeça. Até aquele leve movimento fez sua cabeça girar. Ele tinha ficado tonto pela dor e falta de alimento.
— Eu não tenho ideia. Talvez desespero da minha parte.
Zev enrolou uma tira de pano ao redor do seu pulso e deu um nó apertado.
— Fique vivo, pelo menos até que eu ouça pessoalmente do conselho. Como eu disse antes, nada disso faz qualquer sentido, e o conselho é tudo sobre lógica. — Ele olhou na direção que Gunnolf tinha ido. — Não gosto deste arranjo todo.
Dimitri levantou uma sobrancelha. Minúsculas gotas de sangue pontilharam sua testa conforme ele trabalhava para se manter muito quieto. A grama continuava a subir de suas coxas aos seus quadris, enrolando em torno dos ganchos e deixando cair pequenas gotas de bálsamo em cima dos ferimentos lá. No entanto, a prata em seu corpo queimava como um inferno feroz incessantemente até que às vezes esquecia até a mecânica básica de respirar.
— Existem muitos de nós aqui. — disse Zev, sua voz direcionada extremamente baixa. — Esta floresta é um posto avançado, reservada para os lobos em estado selvagem e basicamente usada para reuniões extremamente delicadas ou acampamento privado quando não se pode suportar a civilização por mais tempo. Nós não mantemos bandos grandes aqui. Não há mulheres ou crianças. Este é o acampamento básico de um exército.
Dimitri ficou imóvel por dentro. Skyler não tinha nenhuma ideia do tamanho do acampamento ou do problema em que estaria se metendo. Ele manteve suas feições absolutamente inexpressivas. Era imperativo que ninguém sequer soubesse que ela estava na floresta. Ela poderia estar a umas centenas de quilômetros de distância, mas para os Lycans, isso seria considerado muito próximo.
Ele gostava de Zev. Até mesmo o respeitava. Mas não confiava em ninguém com a vida de Skyler.
— Talvez seu conselho tenha decidido pela deslealdade e planejou atacar o príncipe.
— Isso seria suicídio e você sabe disso. Eles foram a esse encontro de boa-fé.
Dimitri suspirou. Estava ficando difícil conversar. O sol estava nascendo, filtrando-se através da copa das árvores. Esta hora do dia era administrável, mas sinalizava o inferno que estava chegando.
— Suponho que minha sentença, depois de darem sua palavra que não iriam me matar, também era um sinal de sua boa-fé.
Zev franziu o cenho. Ele esfregou a ponte do seu nariz e deixou escapar um suspiro suave.
— Acho que o mundo inteiro enlouqueceu.
— Só pra você saber, provavelmente o único a vir atrás de mim é meu irmão. Ele terá sua companheira e alguns dos seus amigos juntos, mas provavelmente não terá a aprovação do príncipe.
Zev enrijeceu.
— Fen. Fenris Dalka é seu irmão. Ele é Sange rau, também. Deve ter sido Cárpato antes de ser Lycan.
— Um guerreiro antigo e não Sange rau. Ele é Hän ku pesäk kaikak. Suas habilidades sempre foram artigo de lendas. — Dimitri tentou um leve sorriso, mas saiu mais como uma careta. — Você o viu em ação. Ele não vai ficar feliz com isso.
— Ele estava muito ferido. — disse Zev. — Não quero acabar com sua esperança. Alguma coisa o manteve vivo todo este tempo, mas quando deixei as Montanhas Cárpatos, seu irmão estava quase morto. — Ele balançou a cabeça. — Eu sinto muito, Dimitri, mas há poucas chances dele ter sobrevivido àquelas lesões.
Dimitri fechou os olhos e permitiu que o ar se movesse através dos seus pulmões. Era tão difícil manter seu corpo quieto quando a prata persistia em serpentear seu caminho subindo por suas pernas, suas coxas, acima de seus quadris e em seu abdômen, tornando seu ventre uma bola de fogo que o comia de dentro para fora.
— Você conheceu Tatijana. — Ele declarou.
— Claro. O que ela tem a ver com isto?
Desta vez Dimitri conseguiu dar um breve sorriso. Ele abriu os olhos e olhou diretamente para Zev. — Tudo. Ele vai vir. Não hoje. Não esta noite, mas em algum momento em breve, e quando o fizer, todos estes Lycans embalados nesta floresta, só esperando sua oportunidade, não serão suficientes. Eu ainda vou estar vivo, não importa o quanto Gunnolf me queira morto.
Zev praguejou baixinho e se virou para ir embora.
— E Zev. — Dimitri acrescentou, com a voz rouca e afiada pela dor. — Ele não virá sozinho. — Ele pôs a ideia na cabeça do caçador de elite deliberadamente. Se já fosse tarde demais para impedir Skyler de executar a primeira parte de seu plano, queria que Zev estivesse lá fora na floresta vigiando o inimigo, e não que algum outro Lycan a encontrasse.
Dimitri assistiu Zev ir embora. Ficou muito quieto, deixando o tempo passar, concentrando-se na grama se movendo de seu quadril para se espalhar pela sua barriga que estava queimando. Skyler. Usou a força que restava para alcançá-la. No momento que sentiu sua resposta, naquele instante derramando amor em sua mente, preenchendo cada lugar escuro que tantas mortes e tantos séculos vazios deixaram cicatrizes, a esperança foi renovada.
Você é um milagre. Como conseguiu que a Mãe Terra concordasse em me ajudar?
Você é filho dela. Ela quis ajudar. Só acrescentei alguns toques para ajudá-la. Vou trabalhar nos fios que estão se estendendo em direção ao seu coração vindo dos quadris. Quando eu descansar o bastante, vou partir e espero achar um Lycan. Paul está vigiando as trilhas. Ele é muito bom nisto. Nós estamos deixando rastros em todos os lugares, seguindo a matilha de lobos selvagens e gravando cada som, bem como instalando câmeras. A cobertura é muito sólida.
Apenas o som de sua voz o virou do avesso. Ela era indomável. Ele conhecia suas fraquezas humanas, mesmo assim ela não desviava do caminho pretendido.
Skyler. Sívamet. Soube de um dos melhores homens daqui que este lugar está abrigando um exército de Lycans. Ele estava obviamente preocupado. Eu me livrei dele dizendo que Fen viria. Ele sabia que Fen foi ferido e pensava que poderia até estar morto, mas vai em busca de sinais que um grupo de resgate está vindo por mim. Ele não estará esperando por você.
Skyler procurou nas memórias dele. Enviou outra onda de calor em sua mente. Com ela veio força. Ele deu sangue a você.
Sim. Preciso muito mais para tentar me curar e estar em plena força, mas posso aguentar até que Fen venha. Você devia fazer as malas e ir embora. Acho que eles estão se preparando para a guerra.
Skyler se esticou através do caminho telepático levando até ele. Ele podia sentir a abordagem de seu espírito curativo. Ela era a luz branca. Puro amor incondicional. Movia-se dentro dele entrando facilmente, já sabendo o que encontraria. Estava mais forte agora. Josef claramente deu seu sangue a ela novamente. Não conseguia achar ciúmes em seu coração pelo outro macho estar ajudando-a, podia apenas estar grato.
No momento que ela começou a trabalhar, sentiu a diferença nela. Parecia poderosa. Maga. Chegou a um acordo com aquela parte dela e a acolhia agora. Atraiu sua herança, sua linhagem, onde antes tentou esquecer que era relacionada a Xavier, o odiado e temido criminoso que sozinho quase acabou com a raça dos Cárpatos.
Eu invoco meu sangue.
Nasci de mago e dragão, não devo mais esconder.
Eu chamo você, Mãe, para me trazer à luz os registros codificados.
Mostre-me o passado enquanto eu vivo no presente.
Deixe-me visualizar o futuro enquanto você me ajuda agora.
Conheço suas palavras,
Ouço seus pensamentos,
Sinto seu coração,
Conheço sua intenção.
Você não pode se esconder.
Eu sou ambos: maga e Caçadora de Dragão.
A prata a obedeceu como fez em duas ocasiões anteriores, mas desta vez muito mais rápido, como se agora reconhecesse um mestre de elementos e minerais. Ela terminou com os rastros de prata, dirigindo-os do seu ventre queimando de volta aos ganchos nos seus quadris. Ela fechou esses e moveu-se abaixo seguindo a fina prata mortal para suas coxas, empurrando-a de volta para que ele sentisse queimando por seus poros e sua perna abaixo, à medida que rolava dele para o chão.
Apelo a você, Mãe, para que absorva aquilo que é mortal,
Ajude-me neste momento de cura,
Eu chamo o comfrey, knitbone[1],
Uso seu poder para sedar e acalmar o que queima,
Chamo você, Mãe, para auxiliar na cura dos danos internos,
Buscar o caminho pelo qual este veneno veio,
Cauterizá-lo e fechá-lo,
Assim o que está aberto e causando dor não pode ser aberto novamente.
Dimitri sentiu que ela estava cansando. Ainda havia uma grande distância entre eles. Ela tinha usado telepatia muitas vezes para não sentir os efeitos. Você precisa parar.
Estou quase acabando. Só falta os ganchos em sua panturrilha esquerda. Se eu puder dar um jeito de parar o fluxo de prata completamente, dará a você alívio ao longo do dia. Virei a você de noite.
Ela começou o trabalho de empurrar de volta os dois últimos fios de prata serpenteando em direção aos seus tornozelos. Não titubeou nenhuma vez, embora Dimitri pudesse sentir aquela luz branca desvanecendo com o passar do tempo e sua energia drenando. Mais uma vez se certificou que as pontas dos ganchos estavam fechadas para que nenhuma nova prata pudesse entrar em seu corpo.
Convoco você mais uma vez, babosa e comfrey,
Busco e uso seu bálsamo curativo para parar esta dor violenta,
Busque profundamente em sua carne onde as queimaduras são profundas e cruas,
Busque o dano que está lá no fundo,
Use seus dons para reparar células e pele.
O alívio foi quase instantâneo. Dimitri esteve se contorcendo em agonia por tanto tempo, que por alguns momentos quase não percebeu que a dor em seu corpo esmaeceu a um nível muito tolerável. Ele realmente podia empurrar isto de lado completamente. As correntes do lado de fora eram outra questão, mas comparado com a prata se movendo pelo seu corpo, formando suas próprias veias e artérias, o dano na sua pele pareceu mínimo.
Mãe, chamo você para tomar em seus braços,
Aquele que não está fazendo mal nenhum.
Cuide do veneno. Coma-o, beba-o,
Refaça-o em algo da Terra.
Que o verde da Grande Mãe possa ser visto,
E usado para esconder o que iria fazer o mal.
Que sua beleza floresça, mostrando todas as cores do seu coração,
Que a beleza de sua sombra esconda-nos de todo o mal.
Skyler não deixou pontas soltas, não quando estava plenamente ciente do que ela era agora. Ele sentiu esperança de verdade pela primeira vez. Contanto que nenhum outro Lycan descobrisse que os ganchos não estavam mais injetando gotas de prata fluídas em seu corpo, teria uma chance de ganhar força. Fen viria.
Você tem que deixar este lugar. Os Lycans se preparando para a batalha muda tudo.
Ela já estava desvanecendo. Eu não me importo com o que eles preparam.
Mande Josef então. Ele pode se esgueirar e me libertar.
Ele não pode. Sua energia avisaria os Lycans imediatamente e ele provocaria um vespeiro. Paul e eu somos humanos. Eles não nos verão como ameaças.
Skyler o ouviu dizendo palavrões em seu idioma antigo enquanto ela se via de volta à sua rede. Os pássaros cantavam ruidosamente, chamando uns aos outros conforme revoavam de árvore em árvore. A floresta estava viva à medida que os raios de sol do amanhecer derramavam pelas copas das árvores. Havia tanta beleza na natureza, e agora que sabia que Dimitri permaneceria vivo tempo suficiente para tirá-lo do acampamento do inimigo, podia realmente desfrutar de onde estava.
Ela não queria mais discutir com ele. Era um macho dominante, como a maioria dos homens Cárpatos, e não o culpava por se preocupar com ela. Ela se preocupava. Ela sabia, porque muitas vezes fundia sua mente com Dimitri, que a segurança e saúde de suas fêmeas eram colocadas acima de tudo. A espécie estava muito perto da extinção. As mulheres eram muito importantes para se arriscar. Existia também o fato que apenas uma mulher podia ser sua companheira. Se ela morresse ou o macho Cárpato não conseguisse achar sua companheira, o guerreiro não tinha nenhuma escolha senão encontrar o amanhecer ou optar por desistir de sua alma.
Ela não tinha simplesmente saltado no resgate sem pensar. Não era uma pessoa impulsiva. Sua vida anterior a deixou muito cautelosa. Dimitri esteve gravemente ferido e sentia-se impotente, ela entendia isto. Era humana e vulnerável aos seus olhos, e entendia isto também.
Csitri, não estou de forma alguma te repreendendo. Você salvou minha vida. Deu-me esperança e me cercou de amor. Não posso suportar a ideia de você magoada ou ferida.
Dimitri, neste exato momento sou sua melhor chance de fugir. Quanto mais tempo você estiver aí, mais provável que algo dê errado. Não estou disposta a correr este risco. Simplesmente não estou. Se o que você diz é verdade e estão se preparando para uma guerra, então precisam matá-lo. E só pra constar, sei que é difícil para você pensar em mim magoada ou ferida. Pode imaginar o que é para mim saber que você está machucado? Saber que eles torturaram você? Que na primeira noite que eu finalmente te encontrei não fui capaz de remover toda a prata? Ou parar a terrível queimadura?
Ela afastou as lágrimas escorrendo por seu rosto. Não pode manter a conexão muito mais tempo, mas isso não tornava mais fácil de suportar. Por que os homens sempre pensam que sofrem mais quando sua companheira está em perigo? As mulheres amam tanto, sofrem tanto. Você não está sozinho nessa, Dimitri. Ela não pode evitar a contundência em sua voz.
Houve um pequeno flash de diversão, em seguida ele despejou amor em sua mente. Era impossível ficar zangada com ele quando fundia sua mente tão profundamente com a dela.
Corrigi isso, päläfertiilam — minha companheira. Não fazia ideia que eu tinha uma mulher guerreira tão feroz por companheira. Só certifique-se que está protegida. Acredito que Josef e Paul cuidarão de você enquanto faz isto.
Foi varrida pelo alívio. Prometo ter cuidado, meu amor. Se eu me meter em qualquer dificuldade, você vai saber. O mesmo acontecerá com o mundo. Mandarei buscar Gabriel imediatamente. Descanse agora.
Só mais uma coisa, Skyler. Estou pendurado em uma árvore, enrolado em correntes de prata. Não posso me soltar. Você vai precisar achar um modo de remover a corrente, assim como os ganchos.
Estou preparada. Ela não tinha absolutamente nenhuma ideia ainda do que ia fazer para libertá-lo.
Ele riu suavemente em sua mente como se soubesse que ela estava lutando para descobrir aquela parte de sua fuga. Seu riso a envolveu em seu amor, em seguida a conexão entre eles enfraqueceu lentamente como se ele estivesse exausto.
Skyler respirou fundo e soltou o ar. Ela poderia estar com medo de sair pela floresta em busca de um Lycan, mas mesmo assim esperava ansiosamente por isto. Isso a levaria um passo mais perto de libertar Dimitri. Ela se sentou cuidadosamente, sentindo uma sensação de desmaio e tonteira.
Josef ergueu o olhar imediatamente de sua conversa com Paul.
— Você está bem?
Ela balançou a cabeça.
— Vou precisar de sua ajuda novamente.
— Você vai ter mais sangue Cárpato em você do que Josef. — Paul disse com um pequeno sorriso forçado. — Devia ver as armas que Josef conseguiu pra mim.
Skyler revirou os olhos.
— Homens. Vocês simplesmente não podiam esperar para que eu soubesse tudo sobre suas armas legais, não é?
— Eu quase fui para sua rede e terminei com você. — ele brincou.
Ela fechou os olhos e deixou que Josef lhe desse seu sangue, grata por ele ser hábil o suficiente para mantê-la inconsciente enquanto consentia na ajuda dele. Tomou a garrafa de água que Paul ofereceu e bebeu, mais para garantir que não restasse nenhum sabor em sua boca do que porque estivesse com sede.
— Acha que os Lycans sentirão seu sangue Cárpato nela, Josef? — Paul perguntou, de repente ansioso.
— Eles não podem dizer que somos Cárpatos até que usemos nossa energia para manipular os elementos. — Josef disse. — Li os e-mails entre Gregori e Gabriel.
Skyler fez uma cara feia para ele.
— Você hackeou o e-mail do meu pai?
Josef deu de ombros, nem um pouco arrependido.
— Ele tornou fácil. Eu disse que sua senha precisava ser muito melhor, mas ele não quis ouvir. Nunca ouvem. Hackeei o príncipe também. — Ele levantou a mão para detê-la quando ela abriu a boca para lhe dar uma lição sobre privacidade. — Melhor ainda, consegui achar e hackear dois dos membros do conselho Lycan.
Skyler fechou a boca. De alguma maneira hackear o e-mail dos Lycans não parecia tão ruim quanto hackear o e-mail do seu pai ou do príncipe.
— Achou qualquer coisa a respeito do que está acontecendo? — Paul perguntou.
— Só que eles pareciam querer resolver as coisas com os Cárpatos. Eles os querem como aliados. Obviamente estão apavorados com o que chamam de Sange rau, mas estão certos que podem convencer Mikhail do perigo.
Skyler franziu a testa, sacudindo sua cabeça de novo.
— Josef, Dimitri diz que está sendo mantido num acampamento de guerra. Os Lycans estão se preparando para uma batalha. Tem que ser com Mikhail. Alguns dos e-mails menciona Dimitri?
— Não, o que achei um pouco estranho.
Uma raposinha entrou correndo em seu acampamento, e então parou abruptamente como se estivesse confusa pela presença deles três. Era linda, seu pelo espesso e brilhante. Ela balançou o rabo, deu um rosnado indignado e refez seus passos de volta numa corrida.
Skyler riu suavemente.
— A vida continua não importa o que aconteça, não é?
— Essa raposa estava um pouco aborrecida com a gente. — disse Paul.
— Por um momento pensei que era Gabriel e meu coração quase parou. — Josef disse. — Tenho pensado muito sobre onde quero que você espalhe minhas cinzas depois que ele me matar. — Ele acrescentou.
Paul e Skyler olharam para a expressão triste de Josef, uma mão dramaticamente sobre seu coração, e ambos caíram na gargalhada simultaneamente.
— Ele não vai te matar, Josef. — Skyler acalmou. — Ele vai apenas… você sabe… fazer essa coisa de Gabriel.
— Ele vai te matar. — Paul assegurou. — Morto. Com certeza. Mas fará você sofrer primeiro.
— Não pareça tão feliz sobre isto, mano. — Josef disse. — Ele vai matar você também.
Paul deu de ombros.
— Melhor ele do que Zacarias. Tenho tipo cinco dos Cárpatos mais loucos conhecidos que estarão ansiosos para me estrangular; você só tem um par.
— Vamos entrar e sair sem ninguém saber. — disse Skyler. — Dessa forma ninguém será morto.
— Sky, vou estar no chão quando você estiver vagando pela floresta. — Josef disse, preocupação tirando o riso de sua voz. — Você ficará muito vulnerável. Paul não vai poder ficar muito perto, então terá que se certificar que Paul tenha uma linha clara de visão para você, o máximo possível em todos os momentos. Ele é sua única proteção até o anoitecer.
— Honestamente não acho que os Lycans vão se preocupar comigo resgatando Dimitri. Nossos documentos estão em ordem. Instalamos o acampamento com perfeição para ser um ambiente de trabalho, e eles devem conhecer a organização de Dimitri para salvar os lobos. Ele criou preservação no mundo inteiro. Claro que não têm ideia que é o Dimitri que eles envolveram em prata.
— Existem outras coisas nesta floresta para se preocupar que apenas os Lycans. — Josef apontou. — Predadores selvagens vivem aqui.
— Eu sei, mas a maior parte deles sai à noite. Realmente, sinto que entre você e Dimitri, eu podia ter algum encorajamento.
— Acho que o plano é sólido. — Josef disse. — Acho que sua presença atrairá um Lycan pra você. Basta fazer barulho. Quero você ciente, isto é tudo.
Ouviu a relutância, a preocupação em sua voz. Ele estaria no chão, incapaz de ajudá-la se ela se metesse em apuros. Ela sabia, que assim como Dimitri, estar impotente seria a coisa mais difícil de todas.
— Estarei hipervigilante. — ela prometeu.
— Conseguiu remover a prata do corpo dele? — Paul perguntou. — Toda?
Skyler assentiu, o alívio a varrendo. Não percebeu o quanto estava tensa até aquele momento.
— Sim. E um dos Lycans deu-lhe sangue. Ele estava morrendo de fome por mais de duas semanas, por isso quase não foi suficiente para trazer-lhe força total, mas deve ser suficiente para que ele possa sair sozinho depois que eu remover os ganchos e correntes.
— Não há como você ou qualquer um de nós algum dia poder carregar Dimitri. Ele é um homem muito grande. — Paul disse.
— Com licença. — Josef soprou suas unhas e lustrou-as na sua camisa. — Você está esquecendo minhas habilidades loucas. Eu poderia tirá-lo flutuando de lá.
Skyler revirou os olhos por ele ficar se gabando de forma tão descarada.
— E cada Lycan na floresta sentirá aquela brecha no campo de energia e virá correndo.
— Só queria que você fosse muito ciente dos meus talentos. — Josef disse. — Eu podia fazer isto se fosse necessário, só isso.
— Você poderia carregá-lo para fora da floresta em suas costas como dragão? — Skyler perguntou, de repente muito séria.
O sorriso desapareceu do rosto de Josef.
— Se fosse só ele, é claro, mas não com você também.
Skyler estendeu sua mão para ele.
— Não será necessário. Você pode dar sangue a ele. Paul e eu também. Ele ficará bem. Ainda que tenha que ir para a terra por uma noite ou duas, podemos nos esconder. E se não pudermos fazer isto, teremos nosso avião para voltar. — Ela falou com muito mais confiança do que sentia.
— Então seu corpo está sem prata e um Lycan deu sangue a ele. — disse Paul, seu tom especulativo. — Talvez nem todos sejam ruins.
— Dimitri sabe que estarei indo para ele hoje à noite e estará pronto. Só tenho que descobrir como conseguir tirar os ganchos do seu corpo e a corrente ao redor dele. Está queimando sua carne por dentro. Literalmente o queimando por dentro. Seus braços, tórax, abaixo por suas pernas. Eles o enrolaram como uma múmia em prata. — Havia desgosto e angústia misturados em sua voz.
Paul passou seu braço ao redor de seus ombros.
— Ele está vivo e esperando por você. Nós estamos chegando.
— Então fizemos uma trilha para você. — disse Josef. — Levarei vocês dois mais fundo na floresta. Não existe nenhum sinal de Paul em qualquer lugar indo naquela direção. Nossas pistas vão em duas direções opostas, claramente procurando por você. Se um Lycan se deparar ou for em busca de pistas, fizemos um bom trabalho de fazer parecer que você foi embora há várias horas.
— Vou precisar de um tornozelo torcido. — Skyler assinalou.
Josef franziu o cenho.
— Esta é a única parte do plano que não concordo. Você não pode correr com um tornozelo torcido.
Paul deu uma gargalhada.
— Alôô, seu idiota. Esqueceu quem ela é? Ela pode curar qualquer coisa, inclusive um tornozelo torcido.
— Só estou reticente em dar a mim mesma qualquer lesão. — Skyler admitiu.
— Porque ela é tão patricinha. — Paul provocou.
Skyler fez uma careta pra ele.
— Eu não dou risadinha.
— Você dá risadinha. — Josef disse, sacudindo o queixo dela com seu dedo. — Vou te ajudar com seu tornozelo torcido, mas você estará mancando por aí até que alguém venha. Gema muito.
— Se alguém vier. — Paul enfatizou. — É uma floresta grande. — De repente ele sorriu. — Esta é sua grande chance de realmente mostrar seu lado feminino. Chore e pareça linda enquanto está fazendo isto como elas fazem na televisão.
Josef riu baixinho.
— Seu rosto fica vermelho quando ela chora.
— Assim como a ponta do nariz. — Paul contribuiu.
— Que maneira de fazer uma menina se sentir bonita. Nenhum de vocês vai achar uma mulher que os tolere.
Paul balançou a cabeça.
— Zacarias tem uma mulher que é doida por ele. Sério, Skyler, se aquele homem que costuma ser tão assustador, pode conseguir uma mulher, qualquer um pode. Isso dá esperança a um homem.
Josef sorriu.
— Eu vou ter uma companheira. Ela não terá nenhuma escolha. — ele acrescentou.
— Pobre mulher. — disse Skyler. — Vou fazer amizade com ela e vou ensinar como pode dar um tapa nos seus dois ouvidos ao mesmo tempo quando você começar a ficar detestável.
— O que faz você pensar que vou ficar detestável? — Josef exigiu.
— Você nunca desistirá de pregar peças. Ela terá medo de dobrar uma esquina no caso de você voar pra ela na forma de um morcego gigante ou algo pior.
Paul deu um soco no ombro de Josef.
— Ela te pegou, mano.
O sorriso desapareceu do rosto de Skyler.
— Tenho que descobrir como conseguir tirar as correntes de prata do Dimitri. Eu sei que posso remover os ganchos. Consegui levar a prata de volta até seu ponto de origem, e podia derreter os ganchos se eu tivesse que fazer, mas aquela corrente está realmente dentro da sua pele. Alguma ideia que não inclua ativar a habilidade dos Lycans de sentir um pico de energia?
Os dois homens se entreolharam.
— Você pode cortá-la fora? — Paul disse. — Josef pode fornecer as ferramentas que você precisaria.
— Isso depende da profundidade que está entranhada em sua pele. — disse Skyler. — Eu acho que vou ter que ver antes de tomar uma decisão. Eu realmente não dei uma olhada ao redor dele. Estive tão concentrada em tirar aquela prata do seu corpo que não pensei em ver seu entorno.
— Não fique tão revoltada consigo mesma. — Paul repreendeu. — A verdade é que seu entorno não importaria se ele estivesse morto. Se você não tivesse trabalhado tanto para salvá-lo, não haveria razão para nada disso. Nós temos um plano. Vamos cumpri-lo e dar um passo de cada vez. Se isso funcionar hoje e você plantar aquele dispositivo de rastreamento em nosso Lycan, então descobriremos tudo o mais rapidamente.
— Concordo. — Josef disse.
Skyler olhou ao seu redor. As árvores se elevavam acima dela, galhos balançando e dançando ao vento. Ela estava mancando há várias horas, e ninguém tinha vindo salvá-la. Foi um tiro no escuro, todos sabiam disto, mas tinham que tentar. Ela podia seguir a trilha psíquica, sabendo que isto iria eventualmente levá-la a Dimitri. Sinceramente, era isso o que estava fazendo, milha após milha, apenas vagando como se estivesse tentando achar seu caminho. Várias vezes tomou cuidado em virar para direções diferentes, caminhando, distanciando e então voltando como se estivesse confusa.
Seu tornozelo latejava. Josef se assegurou que não fosse apenas uma pequena torção. Ele não queria que ela parecesse uma ameaça para ninguém, afinal. Estaria escuro em algumas horas e Josef viria até ela. Seguindo o som das águas, lutava sobre o terreno irregular e as raízes expostas. Pequenos animais corriam pela vegetação, se apressando para o abrigo dos arbustos e folhas num esforço para evitá-la.
Duas vezes pensou ter visto aquela pequena raposa. Intelectualmente sabia que não podia ser a mesma, mas disse a si mesma que era seu guardião, tomando conta dela. Isso seria algo que Dimitri poderia fazer por ela. Seu coração parecia sempre derreter um pouco quando pensava nele. Ele a vigiava por anos, tão abnegadamente, e mancar por aí com um tornozelo dolorido, apavorada que pudesse realmente entrar em contato com um homem estranho, parecia um preço pequeno a pagar pela lealdade dele e o amor inabalável.
Ela caminhou para o pequeno veio de um córrego e achou uma pedra grande o suficiente para sentar. Estava perto da água corrente. Borbulhando sobre os pedregulhos menores, fazendo um caminho abaixo até um leve declive.
No momento que afundou sobre a pedra e se debruçou para remover sua bota, soube que não estava sozinha. Um arrepio percorreu sua espinha e ela ergueu a cabeça, cuidadosamente procurando ao redor. Paul, você pode me ver? Ela certificou-se que seu caminho telepático com Paul tinha linhas limpas para que nenhum Lycan pudesse discernir isto ou sentir a energia psíquica. Deixou seu olhar mover-se de árvore em árvore, uma mulher perdida, sozinha e assustada lá na floresta. Infelizmente, a emoção era muito real.
Eu estou aqui doçura, estou cobrindo você.
Vê alguém?
Não. E você?
Ele está aqui. Posso senti-lo. O que era estranho, porque de acordo com Josef, nenhum Cárpato podia sentir um Lycan. Ela não era nem mesmo Cárpato — era humana — e ainda assim, sabia com certeza que alguém estava lá. A única explicação podia ser que a Mãe Terra passou-lhe tantas informações que estava afinada com o ritmo da natureza.
Talvez não fosse um Lycan observando. Talvez fosse um bando de lobos de verdade, caçando-a. Ou pior. Havia pior? Sua imaginação estava levando vantagem sobre ela. Paul tinha uma arma e a protegeria. Tinha apenas que agarrar-se a isto.
Ela abriu o zíper de sua bota e a tirou, fazendo o papel de estudante perdida, o pé dela inchado, machucado e doendo. Um humano estaria nervoso, mas nunca saberia que alguém estava lá fora observando cada movimento. Podia sentir aqueles olhos queimando nela. Seu coração começou a bater e sua boca ficou seca.
Ela conhecia o terror. Terror real, e aqui e agora, tinha que lutar contra isto. Não era mais uma criança para ser sexualmente ou fisicamente ou até mesmo emocionalmente abusada. Era uma mulher adulta no controle de si mesma. Com amigos. Com um caçador antigo como companheiro, e ele precisava dela. Dimitri precisava que fosse forte. Respirando profundamente varias vezes, rechaçando a necessidade de pôr a cabeça entre suas pernas para não se sentir tão tonta. Seu corpo estremecia continuamente, e parecia haver pouca coisa que pudesse fazer para impedir isto.
Quando criança ela retrocedia para um lugar em sua mente, onde ninguém podia machucá-la. Não tinha este luxo agora, não importa quão assustada estivesse. Se o medo se tornasse muito grande, Dimitri saberia. Não o queria mais chateado do que já estava. Skyler se forçou a ficar no controle. Podia fazer isto. Planejou cada movimento cuidadosamente. Foi uma criança impotente quando homens malvados dominaram sua vida, mas não era mais criança — e certamente não estava impotente. Endireitou seus ombros, a determinação se estabelecendo profundamente.
Um ramo estalou e ela virou ao redor para ver um homem alto de ombros largos, que andava a passos largos para fora da floresta. Ele tinha que ser um Lycan para se mover com aquela leve graça fluida e absoluta confiança. Seus olhos eram da cor do mercúrio com um brilho penetrante, um olhar muito focado que parecia ver através dela. Sua boca ficou um pouco seca. Ele parecia áspero — e resistente. Claramente viu muitas batalhas.
Vestia um longo casaco que caia até os tornozelos, mas esvoaçando, dando-lhe espaço suficiente para lutar. Ela podia ver que a calça e a camisa estavam soltas o suficiente para que se movesse, mas firmes o suficiente para não prender qualquer coisa. Seu peito era espesso e ondulado com músculos por baixo da camisa fina. Os braços dele pareciam os de um fisiculturista, mas apostaria tudo que tinha que ele nunca esteve em qualquer lugar próximo a uma academia. Quando se moveu, ela pegou o brilho prateado das muitas armas que carregava dentro de seu casaco, e ao redor de sua cintura.
Ela tentou erguer-se, agarrando sua bota como uma arma. Ele levantou ambas as mãos como se mostrando que não queria machucá-la, que vinha em paz. Detendo-se a uma pequena distância dela.
— Topei com seus rastros a cerca de uma hora atrás. O que está fazendo aqui sozinha? — Ele perguntou em russo.
Skyler apertou os lábios junto como se perguntando se poderia confiar nele ou não.
— Sou uma estudante, trabalhando para a Fundação All Things Wolf. — Ela falou em russo arrastado, embora falasse o idioma fluentemente. — Estava instalando uma máquina fotográfica e checava ao redor.
— Você fala inglês? — Ele falou em Inglês, movendo-se um pouco mais para perto dela.
Skyler ergueu sua bota em uma ação reflexa. Pareceu um pouco tolo já que estava certa de que ele era um Lycan e podia mover-se mais rápido do que ela, mas ainda assim, não pôde evitar.
Ela assentiu, mudando para o inglês também.
— Torci meu tornozelo. Pensei que se pudesse colocá-lo no córrego gelado me daria um pouco de alívio.
— Você está longe de seu acampamento.
O rosto dela se iluminou.
— Você sabe onde está? Qual a direção? Sei que poderia encontrá-lo se não estivesse tão ligada no entorno. Tudo começa a parecer igual depois de um tempo.
— Eles não lhe disseram para não vagar por aí sozinho? — O Lycan perguntou. — Meu nome é Zev Hunter. Qual é o seu?
Ele soava amigável suficiente. Não parecia particularmente faminto, como se estivesse procurado uma refeição.
— Skyler. — Ela respondeu, de repente lembrando que não podia fornecer um sobrenome. Ele reconheceria o Daratrazanoff.
— Gostaria de dar uma olhada em seu tornozelo, mas prefiro não ser destroçado na cabeça por esta bota parecendo má.
Ela se forçou a abaixar a bota ao lado dela.
— Sinto muito. Você me surpreendeu. Nunca me ocorreu que alguém estaria nestes bosques. Os outros provavelmente estão procurando por mim neste momento. Há apenas três de nós no momento, mas estarão trazendo mais suprimentos em alguns dias. Viemos cedo para instalar o acampamento. — Ela falou rápido, uma mulher ainda nervosa e falando demais.
Ele abaixou-se, uma mão agarrando o tornozelo dela. Ao redor do pulso dele estava uma tira de pano, sangrado como se ele estivesse seriamente ferido. Alívio varreu através dela. Dimitri lhe disse que um Lycan tinha mostrado compaixão e lhe dado sangue. Devia ser o mesmo. Dimitri definitivamente colocou a ideia na cabeça dela para que fosse procurar por Fen e um grupo de salvamento.
Ela não se conteve. Respirando fundo, procurou o cheiro amadeirado de Dimitri. Era lânguido, mas o pegou ainda prolongado no pulso do Lycan. Pegou aquele cheiro familiar em seus pulmões e o manteve lá, de repente desesperada para vê-lo.
— Seu tornozelo está muito inchado. Isto deve doer.
— Caminhei mais do que devia, usando isto. — Skyler admitiu, pondo a mão no ombro dele para se firmar. Deliberadamente cambaleou e agarrou o braço dele um pouco abaixo para não cair.
Seu coração começou a bater forte novamente. No punho dela estava o minúsculo dispositivo de rastreamento que Josef tinha feito. Ela precisava apenas de uma oportunidade para passar a mão por baixo daquele casaco, num dos bolsos laterais. Tinha uma sensação de que este homem em particular seria difícil de enganar.
— O córrego gelado servirá para isto. — Zev disse a ela. — Esperaremos alguns minutos, e então a levarei de volta ao seu acampamento. Não é seguro nestes bosques. A floresta é o lar de muitos predadores e você é quase do tamanho de um lanchinho para alguns deles. O bando de lobo que está tentando estudar teria muito prazer em dar-lhe uma experiência de primeira mão.
Skyler conseguiu dar um sorrisinho.
— Tenho uma imaginação muito vívida. Acredite-me, pensei sobre isto muitas vezes.
Ela afundou sobre a pedra, permitindo que sua mão naturalmente roçasse por baixo do casaco dele, como se estivesse ainda instável e com medo de cair. Uma aba estava sobre o bolso, mas estava bem versada em fazer pequenos objetos obedecê-la. A ponta ergueu e a transferência foi suave e completa.
Josef lhe disse muitas vezes que não podia sentir sua energia quando usava sua arte em objetos, mas ainda assim, segurou a respiração com medo que este Lycan muito mais experiente, percebesse isto.
— Você não deve ter muita idade; por que seus pais permitiram que viesse para uma área tão distante, onde está em grande perigoso? — A preocupação dele era genuína.
Skyler sorriu novamente, desta vez mais naturalmente.
— Apenas pareço muito jovem. Realmente tenho vinte e cinco anos. Tenho graduação e estou trabalhando em meu mestrado. Voluntariei-me nos vários centros de pesquisa da vida selvagem, como um meio para viajar. Quero dizer, estou genuinamente interessada no trabalho, mas quero ir a muitos países e ver muitos lugares surpreendentes, como também encontrar algumas pessoas muito legais.
Zev ergueu a sobrancelha.
— Nem em um milhão de anos eu teria adivinhado sua idade. Se muito, achei que talvez tivesse quatorze ou quinze.
Skyler encolheu os ombros.
— Isto acontece o tempo todo. Pelo menos alcancei a marca dos quatorze ou quinze em vez de dez ou doze.
Ele riu, relaxando de repente. A tensão aliviou completamente do corpo dele, e ele abaixou na grama ao lado dela, enquanto banhava seu tornozelo inchado no córrego gélido.
— Deve incomodar ter todos lhe dizendo que parece tão jovem.
— De certa forma. Especialmente quando estou viajando. Há muitos nojentos no mundo e alguns homens que atacam crianças... — Ela parou, percebendo a raiva genuína rastejando na voz dela.
Zev foi rápido. Ela viu conhecimento nos olhos dele e soube que deu informações demais. Amaldiçoando silenciosamente a si mesma, distraidamente pegou um pedregulho e lançou-o rio abaixo.
— A floresta é opressiva às vezes, não é? — Ela perguntou. — Acho isto tão bonito, todas estas cores, mas às vezes é difícil respirar quando se está profundamente no meio dela.
Os olhos dele focaram nela, toda aquela penetrante inteligência. Teve que lutar para ficar relaxada. Ele parecia como se pudesse ver diretamente em sua alma.
— Você é muito sensível.
— É isso que minha mãe sempre diz. — Skyler disse. Isto era verdade. Francesca dizia isso o tempo todo. Ela apontou a mão dele. Deixando-o pescar ao redor de algo plausível. — O que aconteceu com você?
Zev não vacilou. Ergueu o pulso para a inspeção dela.
— Estava trabalhando e fui um pouco descuidado. Rasguei meu pulso em um prego. Não é grande coisa, mas foi fundo o suficiente para sangrar muito. Coloquei este pano ao redor e parou.
— Há um kit de primeiros socorros no acampamento. Quando chegarmos lá, posso pôr um pouco de pomada antibiótica sobre isto e a laceração não inflamará.
Ele assentiu.
— Se não ficarmos sem tempo. Devemos nos mexer logo ou a noite cairá. Aqui na floresta tende a ficar escuro rápido.
Ela tinha muito prazer em entrar em movimento. Quanto mais rápido chegassem ao acampamento, mais rápido poderia curar seu tornozelo e começar a seguir o Lycan de volta até Dimitri.
— Você vive aqui perto?
— Estou acampado com alguns amigos há alguns quilômetros daqui. — Zev explicou. — Embora eu viva nestes bosques desde que era um menino, então estou muito familiarizado com eles.
Ela franziu o cenho para ele. Enquanto puxava seu pé latejando do córrego. O estremecimento dela foi bem genuíno. Teria que estrangular Josef por fazer sua lesão tão real.
— Você não caça aqui, não é? Os lobos são protegidos nesta reserva. — Ela manteve sua voz como de uma professora, o que sempre fazia Josef sentar-se e tomar nota — ou cair na gargalhada.
— Às vezes com uma câmera, embora quando éramos crianças, caçávamos por comida. Não lobos, mas outras criaturas, principalmente aves selvagens, perdizes, coisas que podíamos controlar quando éramos muito pequenos. Se matássemos isto, tínhamos que carregar.
Estava dizendo a absoluta verdade, e era por isto que era tão bom em intrigas. Ele misturava verdade com meias verdades — não mentiras. Ela tentou puxar a bota por cima de seu tornozelo inchado. Doía como o inferno.
— Eu a carregarei.
— Não precisa. — Skyler disse. — Posso andar. Só me dê um minuto para colocar minha bota de volta. — Quem sabe o que um Lycan poderia discernir tão perto? — Quão longe está o acampamento? Estive andando em círculos? Às vezes estava certa de que estive no mesmo lugar mais de uma vez.
— Achei que todos os pesquisadores sempre levassem um GPS consigo.
Ela solicitou suas habilidades de atuação inexistentes para não corar, seus longos cílios batendo deliberadamente.
— Devíamos. É minha primeira vez com este grupo e meus companheiros são ambos... — Ela parou, fazendo o possível para parecer envergonhada e culpada.
— Homens. — Ele terminou por ela. Zev pegou a bota das mãos dela e suavemente colocou-a em seu tornozelo.
— Sei que não tenho nada para provar, e não vai fazer parecer um bom começo, mas acho que quis parecer boa o suficiente. Levantei cedo e configurei as câmeras. Na pressa para ser útil, esqueci completamente o GPS. Está provavelmente ainda preso em minha rede.
Ele levantou-se e estendeu a mão para levantá-la facilmente para os braços dele, ignorando o protesto dela.
— Sinto muito, jovem Skyler, mas está ficando tarde. Preciso estar em um lugar e preciso levá-la de volta para seu acampamento.
Ela não teve escolha, a não ser aceitar. Em todo caso, não esperava ansiosamente caminhar com seu tornozelo inchado.
— Obrigado, Zev, aprecio isto, embora me sinta um pouco tola.
— Caminhar sozinha nestes bosques é tolice. — Ele disse severamente.
Skyler estava acostumada a estar ao redor de homens fisicamente fortes. Gabriel, seu pai adotivo, era extremamente forte, sendo Cárpato. Dimitri certamente era. Até Josef, tão jovem quanto era, tinha a força dos Cárpatos, mas Zev era espantoso. Ele movia-se pela floresta com absolutamente firmeza nos pés. Era gracioso até. Não respirava com dificuldade e nunca, nem uma vez, agiu como se precisasse de um descanso. Ele nasceu e foi criado na floresta, e era tão forte quanto um Cárpato.
Ela fechou os olhos e respirou uniformemente, abrindo sua mente um pouco de cada vez para tentar pegar e absorver a sensação de um Lycan através de todos os sentidos que tinha. Reconheceu o modo como ele se movia como o que a Mãe Terra revelou-lhe mais cedo. Havia apenas um som, um sussurro suave, nada mais, quando a roupa dela ocasionalmente roçava contra as folhas. Estava tão quieto que assustavam a vida selvagem que encontravam.
Ela sentia a mecânica dele, sua estrutura como aço, mas flexível e os músculos em movimento abaixo de suas roupas civilizadas. Até mesmo começou a absorver o campo ao redor dele que protegia sua energia de vazar e o entregar para uma caça — ou batalha.
Era um bom homem. Ela conseguiu muito dele, mas era letal e não hesitava em matar se necessário. Não o quereria vindo atrás dela. Aquele pensamento estava a assustando e não podia evitar o pequeno calafrio que percorreu sua espinha. Claro que ele notou isto imediatamente.
— Estamos quase lá. Não há nada a temer. Não vou deixar nada te acontecer. — Ele assegurou. Sua voz era amável, até compassiva.
— Sinto muito causar-lhe tantos problemas. — Skyler disse. Isso era verdade. Não gostava de usar uma pessoa boa. Ele claramente não era o demônio que imaginou em sua mente. Os Lycans aprisionaram Dimitri, quando ele foi defender não apenas seu príncipe, mas também os Lycans. Eles o torturaram e o teriam matado se ela não tivesse intervido. Desenvolveu uma antipatia por eles. Ainda assim, foi muito melhor que Zev a tenha encontrado, do que algum Lycan realmente terrível que pudesse matá-la.
— Você não pesa muito. — Zev observou. — Um bom vento poderia carregá-la.
Uma bolha de riso nervoso brotou.
— Meu pai diz isto.
— Seu pai está certo. — Ele franziu o cenho. — Ele deveria estar tomando conta de você. Vir aqui não foi uma boa ideia.
Ela não podia dizer que seu pai não sabia, e como ela já sabia, provavelmente o mundo acabaria, uma vez que ele descobrisse.
— Meu tornozelo concorda com você.
Ele encontrou a base de seu acampamento infalivelmente, como se já soubesse que estava lá. Ele não conferiu ao redor por sinais buscando o local, mas pareceu seguir direto — e em um curto espaço — diretamente para ele.
Ele parou abruptamente.
— Onde está todo mundo?
— Fora procurando por mim, suponho. — Skyler respondeu em voz baixa. Seu tornozelo realmente estava doendo e ficou agradecida quando a colocou em uma cadeira. Ele foi gentil, caminhando pela floresta, mas ainda assim, o movimento chacoalhou a lesão. — Há apenas Paul e Josef. Os outros não chegaram ainda.
Paul avançou a passos largos pelo acampamento, uma mistura de preocupação e aborrecimento em seu rosto. Ele segurava um rifle em suas mãos. Ela sabia que continha tranquilizantes.
— Que diabos aconteceu Skyler? — Ele exigiu. — Procuramos por você pela maior parte do dia. Já ia pedir ajuda.
Todo o comportamento de Zev mudou. Comeu a distância entre Paul e ele com longos e fluidos passos largos, quase deslizando. Estava sobre Paul antes de ele ter uma chance até mesmo de levantar sua arma.
— Sou um policial. — Zev anunciou com um olhar de desculpas sobre seu ombro para Skyler. — Gostaria de ver seus documentos agora. Ninguém devia ter autorizado a trabalhar nesta área. Nós a fechamos há algumas semanas atrás.
Era a última coisa que Skyler esperava, mas percebeu que a revelação e as exigências dele faziam sentido. Os Lycans tinham que ter uma maneira de manter todos afastados, enquanto se preparavam para a guerra, ou para torturar e matar seus prisioneiros. Zev provavelmente tinha um grau de algum tipo com a execução da lei.
Paul manteve a posse da arma, mas foi até a caixa fechada e removeu os documentos, que lhes dava permissão para instalar câmeras nesta área da floresta. Zev estudou seus passaportes e os documentos oficiais cuidadosamente, sem pressa. Aquele não era nenhum olhar superficial.
A boca de Skyler ficou seca. Seu coração começou a bater. Josef era o melhor, ela lembrou. Sua papelada era sempre impecável.
Zev olhou para cima de repente, alfinetando Paul com seu olhar penetrante, focado.
— Quem está no comando?
— Ele não está aqui no momento. — Paul disse. —Ele saiu à procura de Skyler, mas voltamos ao acampamento a cada duas horas. — Ele olhou para o relógio. — Ele deve voltar em breve.
Zev devolveu os documentos para Paul.
— Tudo parece estar em ordem, mas deve ter sido um engano. Quero que levante acampamento amanhã de manhã e saia daqui. Esta menina não deveria estar vagando pela floresta sozinha, nem você ou quem está no comando. É muito perigoso.
— Estamos cientes da existência de um bando ativo de lobos aqui. — Paul disse. — É por isso que estamos aqui. Simplesmente estudamos o ambiente deles. Não tentamos interagir. Se tivermos sorte, teremos as câmeras nos lugares certos e conseguiremos um vislumbre deles.
Zev balançou a cabeça.
— Houve várias assassinatos. Mutilações. Não dos lobos, alguém humano. Esta área está fechada no momento. Precisam empacotar tudo imediatamente e partir.
— Está dizendo que um assassino em série está solto? — Paul perguntou.
— Não reconhecemos tais coisas. Perseguimos um criminoso nestes bosques, e ele conhece o caminho ao redor. Oficialmente estou dizendo a você e seu grupo para partir. Voltarei amanhã para me assegurar de que obedeceu.
Paul franziu o cenho e tentou protestar. Skyler levantou a cabeça, torcendo os dedos, parecendo culpada, como se soubesse que Paul descontaria sua raiva nela. Afinal, pôs tudo isto em movimento ao se perder.
— Ela está com o tornozelo torcido e precisa de cuidados. — Zev adicionou. — E no caso de pensar em puni-la, já estava ciente do acampamento de vocês e já estava vindo para lhes dizer para partir, quando a encontrei casualmente.
Isto fazia sentido, também. Ele era um Lycan. Pertencia a floresta. Ela conversaria com ele do mesmo jeito que a Mãe Terra falava com ela. Não tinha nenhuma dúvida de que ele sabia — que ouvia os passos dos estranhos ou sentia o cheiro deles ao vento.
Zev colocou a mão sobre o ombro dela.
— Espero que se sinta melhor bem rápido. Sinto muito nos encontrarmos sob tais circunstâncias. Por favor, convença quem está no comando para me levar a sério. Sempre pode voltar, assim que encontrarmos o assassino.
Era uma cobertura perfeita — uma perseguição policial. Skyler assentiu.
— Obrigado por sua generosidade.
Zev os deixou, andando a passos largos para longe, desaparecendo nas árvores. Skyler embrulhou os braços ao seu redor e se balançou de um lado para o outro. Não esteve ciente de que estava tão assustada, mas agora se sentia um pouco mal, mas definitivamente triunfante. Tinha conseguido isto. Deslizou aquela minúscula escuta no bolso de Zev, e ele nem percebeu.
Paul se apressou para ela, envolvendo seus braços ao redor dos ombros dela.
— Você está bem?
Ela assentiu.
— Ele é um homem muito assustador, mas foi realmente bom para mim. Estava apavorada que os documentos não passassem.
— Estava mais preocupado que ele tirasse uma de suas armas e nos aniquilasse a ambos. — Paul disse. — Minha pequena arma tranquilizante não pareceu tão grande, e quando vi as armas na cintura dele, penduradas em um milhão de alças dentro daquele casaco, e até dentro de suas botas. Mas, ele parecia e cheirava como humano.
— Ele é um Lycan. — Skyler assegurou. — Posso perceber a diferença. Cheira a natureza. Parte da floresta. Estava na maneira como se movia também. Ele é um lobo. — Lentamente ela abriu sua bota e endireitou sua perna, segurando seu pé machucado em direção a Paul. — Pode tirar esta coisa de mim? Josef fez um ótimo trabalho com meu disfarce, isto é tudo o que tenho a dizer sobre o assunto.
— Você quer dizer até que ele chegue. Tinha que ver o rosto dele. — Paul fez o que pode para remover a bota sem machucá-la mais. Ele assobiou quando viu o tornozelo dela inchado, contundido. — Bem, uma coisa sobre Josef — ele é minucioso.
— Acho que vou me deitar e descansar até o sol se pôr. — Skyler disse.
Ela precisava tocar a mente de Dimitri. Ele poderia estar na paralisia dos Cárpatos, mas não podia dormir o sono necessário para o rejuvenescimento, e a mente dele ainda estava ativa. Achava que quanto mais fundia sua mente com a dele, mais precisava fazer isso.
Ela apaixonou-se por Dimitri, por seus modos gentis, ternos e seu amor absoluto e inabalável por ela. Agora conhecia a atração entre companheiros. Aquele vínculo crescia mais forte entre eles. Podia sentir a necessidade de tocá-lo, apenas para saber que estava vivo em algum lugar, elevando-se nela cada vez mais, enquanto todas as horas deslizavam. Talvez fosse porque estava mais velha agora, ou porque fez aquele compromisso final com ele.
Paul ajudou-a a mancar até sua rede e ela deitou-se, se esticando, tentando relaxar. Sabia que o pior seria esta noite. Seu plano ou funcionaria ou todos estariam em apuros. A maior parte dependia dela.
Abriu sua mente e se estirou ao longo daquele caminho familiar agora. Dimitri. Está feito e estou segura. Sabia que ele precisaria ouvir a voz dela da mesma maneira que ela precisava muito ouvir a dele.
Dimitri preso no meio da paralisia dos Cárpatos teria fechado os olhos se pudesse ser capaz de se mover. O alívio era tão primitivo que estava tingido com loucura. Não podia se mover, mas podia pensar — imaginar — cada cenário ruim que possivelmente poderia acontecer com Skyler sozinha na floresta. Despejou-se na mente dela, precisando tocá-la, sentir aquela proximidade com ela.
Skyler podia sentir o alívio de Dimitri fluindo na mente dela, junto com seu calor, o calor que sempre conduzia o frio de seus pesadelos para longe.
Estava preocupado. Não. Isto era nada menos do que um eufemismo.
Ela pegou-se sorrindo. Ele parecia diferente. Sabia, assim como ela, que hoje à noite era a noite deles. Seu plano tinha que funcionar, não havia nenhuma outra escolha. Respirou fundo e soltou. Havia se comprometido com ele. Sabia que o amava. Não haveria nenhum outro. Ambos poderiam morrer esta noite.
Dimitri, eu o amo com todo o meu coração. Sei que sinto isto. Nunca hesitei em vir até você como sua companheira por falta de amor.
Estou ciente de que me ama Skyler. Ele disse sua voz um pouco perplexa. Achou que eu duvidaria de você? Sinto seu amor me cercando toda vez que nós tocamos.
Sempre lhe disse a verdade, que temo que não possa satisfazê-lo em um nível físico. Eles conversaram tanto que não ficava mais envergonhada de tocar no assunto, embora ainda se sentisse inadequada quando discutiam sexo.
Sívamet. Dimitri falou o termo carinhoso dos Cárpatos ternamente. Seu coração sempre parecia ficar maior e mais completo, quando estava por perto. Sexo não é fazer amor. Há uma diferença. Mostrarei a você a diferença e não temerá mais nossa união no modo físico. Não há necessidade de se preocupar. Quando estiver pronta...
Estou pronta. Este é o ponto. Quero que me reivindique. Agora. Por favor, me reivindique agora. Seu coração disparou em seu peito. Ela o queria naquele momento. Não apenas em sua cabeça. Ou em seu coração. Ela queria suas almas tecidas juntas novamente, como deveriam estar.
O corpo inteiro de Dimitri reagiu. Por um momento cada dor foi embora e havia apenas Skyler — sua companheira — ao alcance dele. Oferecendo-se a ele no seu momento mais frágil. Como possivelmente poderia resistir a ela? Ela era tudo para ele. No entanto, aqui estava ele, pendurando no galho de uma árvore, perfurado com prata, envolto em correntes de prata, impotente até para ajudar sua companheira que deveria estar fugindo dos problemas. O que tinha para oferecer? Ainda que conseguissem libertá-lo, seriam caçados para sempre pelos Lycans.
Não tinha ideia do que seu sangue misto faria para ela durante a conversão. Não sabia se filhos seriam possíveis, ou nesse caso, o que se tornariam. Ele a amava com tudo que era ou poderia ser, mas que direito tinha de atá-la tão próxima, um vinculo inquebrável...
O silêncio de Dimitri assustou Skyler. Certamente ele se sentia da mesma maneira. Sabia que o caminho para reivindicar sua companheira era primitivo, forte, quase impossível de ignorar — e Dimitri conseguiu ignorar isto por anos. Ele estava tão preocupado com a incapacidade dela para se comprometer num relacionamento físico quanto ela? Aquilo permanecia um motivo.
Ele estava rejeitando-a. A dor a transpassou como uma faca. Ela puxou os joelhos para seu peito, se arrastando na posição fetal. Esperou muito tempo. Ela o fez esperar para sempre, achando que sempre estaria lá para ela.
Dimitri sentiu seu medo imediatamente, a dor da rejeição, e se amaldiçoou por tal manipulação desajeitada do enorme presente dela. E isto era um presente, um tesouro além de qualquer outra coisa que ela jamais poderia oferecer. Sua mente parecia lenta e sem energia. Mal podia respirar, seus pulmões se esforçando para funcionar, e a queimação agonizante da prata não permitia que o cérebro dele funcionasse da maneira que precisava.
Sívamet, você é meu coração. Você é, Hän ku vigyáz sívamet és sielamet — a guardiã do meu coração e alma. Acima de tudo, quero ligar nossas almas. É meu maior desejo. Mas Skyler, você não pode me tentar desta maneira. Estou fraco e você está vulnerável. Nós já passamos por tanta coisa. Não pode me tentar. Ele reiterou novamente, desejando que ela entendesse o que significava para ele, mas que era seu dever a proteger.
Ela ouviu a necessidade urgente na voz dele, igualmente forte quanto era na dela, talvez mais forte ainda. Seu coração revolveu. Tremulou. Cheio de alegria. Tomou um pouco de ar fresco. Sei que é a hora certa. Nosso tempo. Precisamos ser fortes juntos. Vincule-me a você, meu amor. Isto é o que eu quero.
Como ele podia explicar como o perigo que as escolhas da vida dele poderiam colocá-la? Queria que ela fosse permanentemente dele, vinculada para que nenhum outro jamais pudesse tirá-la do lado dele, mas não estavam num lugar seguro onde poderia cercá-la com seu amor, e mantê-la perto dele, tranquilizá-la se ficasse com medo. Não sabia se até mesmo viveria mais uma noite. Não podia nem mesmo assegurá-la disso.
Não posso segurá-la em meus braços e fazer isto corretamente. Uma vez que isto for feito, não pode ser desfeito.
Skyler se encontrou sorrindo. Mais do que qualquer outra coisa, estava certa do que queria, queria ser companheira de Dimitri em todos os sentidos da palavra. Ela estava fundida a ele e ele a ela. A conexão entre eles era muito forte. Tinha crescido desde o primeiro encontro deles. Como não podia apaixonar-se por ele? Como possivelmente poderia querer qualquer outro em sua vida?
Assim que nos encontramos meu amor, soubemos que nossa conexão nunca poderia ser desfeita. Quero isto com todo o meu coração. Quero você com todo o meu coração. Sei que estou pronta. Eu o seguirei a qualquer lugar, Dimitri. Caminharia sobre brasas para chegar a você.
Como pode estar tão certa?
Skyler cruzou os braços sobre seu peito e olhou fixamente para os galhos acima de sua cabeça. A floresta estava se preparando para anoitecer e os pássaros estavam retornando aos seus abrigos. Ela estava completamente preparada para dar o próximo passo em sua vida — seu maior passo.
Hoje encontrei um estranho na floresta. Estive sozinha com um homem que não conhecia. Ele era grande e forte e parecia muito duro. Antes que o visse realmente, senti sua presença e soube que ele me observava. Por um momento, me tornei aquela apavorada criança novamente, impotente e desesperada e querendo deslizar para o fundo da minha mente, onde ninguém poderia me prejudicar.
Sívamet, sinto tanto. Dimitri queria agitar as várias árvores que o mantinham prisioneiro, para chegar até ela. Sua Skyler. Ela merecia sempre se sentir segura.
Não, foi uma coisa boa. Descobri quem eu era. Sou Skyler, companheira de Dimitri. Descobri então que posso enfrentar qualquer coisa — até meu passado — a fim de chegar até você. Sou sua companheira, e serei tudo o que precisa, assim como você já é para mim.
Sabia que estaria se comprometendo numa relação física com ele — o que era parte de ser uma companheira. Quis dizer o que disse, enfrentaria qualquer coisa por ele, aprenderia qualquer coisa por ele. Ele já fazia parte dela. Se encontrava nesta jornada de despertar que estava começando a conhecer os sinais da atração física.
Quando ele falava com ela, a voz dele era como melado espesso movendo-se lentamente pelo corpo dela, tocando terminações nervosas que nunca soube que tinha. Aquela atração vinha crescendo com o passar do tempo. Às vezes se encontrava apenas esperando por uma nota da voz dele para o corpo inteiro dela reagir.
Dimitri reviu seu argumento repetidas vezes em sua mente. Tudo que ela disse era verdade. Eles já estavam conectados. Nenhum outro par de Cárpatos poderia transpor as distâncias que eles podiam. Já precisavam tocar a mente um do outro continuamente. Ele tentou bloquear a dor, pensar claramente, assim poderia fazer a coisa certa. Explicar tudo para ela. Deixá-la ver a verdade de como a vida deles juntos poderia ser, antes dela tomar a decisão final.
Você tem que ter certeza, antes de se decidir, existem outras coisas que precisa saber, as razões dos Lycans me condenarem. Estas razões afetarão você como minha companheira. Não sou mais Cárpato. Tornei-me algo mais. Algo diferente.
O que quer que você seja, eu serei.
Isto é sua lealdade a mim, assim como sua juventude falando. Você precisa saber das consequências. Precisa conhecer todos os fatos antes de se decidir. Por favor. Escute-me e então realmente pense nisto.
Skyler observou uma folha flutuando até o chão. Uma jornada. A folha sobreviveu à sua existência de uma maneira e agora estava em queda livre, confiando que a próxima jornada seria a maneira certa. Estou escutando, meu amor, com a mente aberta. Por favor, mantenha sua mente aberta também.
Os Lycans chamam o que sou de Sange rau. A tradução literal é — sangue ruim. — Alguém como eu, é muito difícil de deter — ou matar. A coisa sobre esta transição Skyler, é que continuo a sofrer mutações. Não sei o que acontecerá se eu tentar convertê-la. Duvido que corra este risco. Outra pessoa pode ter que trazê-la completamente para o meu mundo.
Skyler franziu o cenho, seus dedos tamborilando distraidamente em sua coxa, enquanto absorvia as informações que ele lhe deu repetidas vezes em sua mente. Podia ver por que Dimitri estava tão relutante. Ele não tinha nenhuma ideia do futuro ou o que estava oferecendo. Cárpatos não gostavam muito de outros machos ao redor de suas mulheres, mas o relacionamento deles era diferente e foi diferente quase desde o início. Dimitri aceitou seus amigos, Josef e Paul, tratando-os como irmãos mais novos. Sabia como ela se sentia sobre eles; não escondia nada dele quando abria sua mente para ele.
Conheço muitos Cárpatos, Dimitri. Recebi duas trocas de sangue. Uma mais será suficiente para uma conversão. Gabriel e Francesca temiam, porque nossa presença atraiu um vampiro, que precisasse ser salva numa emergência. Não tenho medo da conversão. Ela o assegurou com confiança absoluta.
Companheiros trocam sangue. É parte de nosso relacionamento físico, e um que não podemos negar. Eventualmente, com o passar do tempo, você se tornaria como eu.
Você realmente pensa que me assusta?
Não, porque você ainda não sabe o que pode acontecer. Todos os Lycans acreditam que o Sange rau deve ser destruído. Eles podem muito bem estar planejando uma guerra agora mesmo, sobre este assunto. Você será caçada e odiada. Os Cárpatos nos chamam de Hän ku pesäk kaikak. A tradução real é — Guardião de todos. — Isso distingue os Cárpatos/Lycan dos vampiros/lobos. Os Lycans recusam-se a reconhecer a diferença. Acreditam que nenhuma oportunidade deve ser dada e qualquer um com sangue misturado deve ser destruído.
Por quê?
Um único Sange rau quase dizimou sua espécie inteira, séculos atrás.
Skyler estudou a folha enquanto o vento soprava, levando-a primeiro em uma direção e em seguida espiralando-a em outra diferente. A folha parecia estar dançando. Ergueu a mão preguiçosamente e começou a dirigir a dança distraidamente, o som da brisa passando pelas folhas criando música.
Xavier, o mais odiado e ainda o mais poderoso de todos os magos, quase fez o mesmo com a espécie dos Cárpatos. Ela o lembrou. E, no entanto, você sabe o que descobri Dimitri? Temia este lado meu. Frequentemente tentei negar que ele estava relacionado a mim de qualquer forma. Na verdade, tenho evitado tanto qualquer relação real com meu pai biológico, Razvan, porque não posso suportar o conhecimento que sangue de mago corre em minhas veias. Mas descobri, através deste evento todo, que ser mago é uma coisa boa. Tendo estes dons para serem usados para o bem é um presente. O que você é, é um presente para o mundo inteiro.
É meu sangue Lycan que permite que eles me torturem.
É seu sangue misturado que o mantém vivo, quando ninguém mais podia ter possivelmente sobrevivido tanto tempo. Eles esperavam que morresse há muito tempo, Dimitri, sabe que isto é verdade. Teriam feito melhor ao matá-lo sem rodeios. O que é, é um testemunho que pode ser usado para o bem.
Existe incerteza no futuro.
Skyler riu suavemente, compartilhando sua diversão com ele. A folha ainda continuava sua jornada, sua breve dança adiando apenas o inevitável — como Dimitri estava simplesmente adiando o inevitável.
O futuro é sempre incerto, meu amor. Especialmente agora. Quero isto, Dimitri, agora, antes que aconteça qualquer coisa hoje à noite, se tivermos sucesso ou não. Eu o seguirei onde quer que vá. Não podemos ser separados. Por favor, me faça sua. Ela quis dizer cada simples palavra. Estava certa. Absolutamente certa que esta era a hora certa para ela — para ele. E se fossem mortos nesta tentativa de resgate, suas almas estariam vinculadas.
Dimitri imaginou um cenário completamente diferente. Teria a segurado em seus braços, na frente de seus pais e melhores amigos. Queria uma celebração para ela, um momento na vida dela que transcendesse todos os eventos traumáticos. Queria roupas elegantes e suas flores favoritas, uma festa e risos, a alegria deles compartilhada com suas famílias. Era mais uma tradição humana, mas ela falava de tais coisas com seus amigos da escola.
Ele não queria estar pendurado em alguma árvore como um criminoso, seu corpo rasgado e faminto. Só Deus sabia qual sua aparência — ou como pareceria se ela conseguisse arrancar as correntes dele. Nunca mais seria aquele elegante e bonito homem com o qual ela se acostumou. Não queria estar longe dela com os Lycans o cercando ou tê-la em perigo, enquanto se esgueirava pelos bosques numa tentativa de resgate, certamente não quando os vinculasse.
Ele vasculhou a mente dela. Não havia nenhuma dúvida lá. Nenhum remorso. Ela estava diferente — uma mulher adulta — e vinha até ele como uma mulher. Esta era a escolha dela. Prometeu-lhe há muito tempo que sempre seria escolha dela.
Skyler soube o momento exato que ele capitulou. Sentiu o coração dele disparar. Inchar com carinho e orgulho. O calor de seu amor a cercou, inundando-a, enchendo até aquele espaço escuro na mente dela, onde se escondia quando não conseguia evitar o que estava sendo feito ao seu corpo. Ele estava lá, vendo tudo isso, curando-a. Compartilhando seus piores momentos e a segurando nos braços, enquanto o fazia. Este era Dimitri, seu fenômeno particular.
Você sempre foi minha Skyler Rose. Sempre. Te avio päläfertiilam. Ele traduziu as palavras antigas para ela. Você é minha companheira. Éntölam kuulua, avio päläfertiilam. Te reclamo como minha companheira.
O coração dela deu um pulo de alegria. Ela colocou a mão no peito, diretamente acima do coração. Você sentiu isto, Dimitri? Até meu coração está ciente de você. Sabia que aquelas palavras antigas eram as palavras que pleiteava. Sentiu-as, minúsculas linhas tecendo sua alma na dele.
Ted kuuluak, kacad, kojed. Te pertenço. Pertenço a você, Skyler. No momento que a vi, você simplesmente não era a companheira que esperei séculos para encontrar, mas se tornou meu mundo também. Eu amo e a respeito.
Ela sentia a verdade disso cada vez que a mente dele se fundia com a dela. Mesmo agora, quando estava tão torturado, os primeiros pensamentos dele eram sempre para ela e seu bem-estar.
Élidamet andam. Te ofereço minha vida.
Ela amava aquela parte do voto, porque ofereceria a vida dele pela dela. Sabia que cada palavra era a verdade absoluta.
Pesämet andam. Te dou minha proteção. A satisfação dele era morna na mente dela. Neste exato momento, csitri, acho que está me dando proteção ao invés do contrário.
Não é assim que funciona a coisa toda? Ela perguntou. Amamos e protegemos um ao outro. Porque sabia que ele sentia um desejo feroz para garantir a saúde e a segurança dela, e sentia esta mesma necessidade feroz de cuidar dele.
Uskolfertiilamet andam. Te dou minha lealdade. Você sempre teve minha lealdade, mas estamos tornando isto oficial.
Sabia que tinha a lealdade e a fidelidade dele, no momento que seus olhos se encontraram. Ela não podia imaginar sua vida sem ele.
Sívamet andam. Te dou meu coração. O ritmo do coração dela mudou, correspondendo ao dele. Uma batida fixa e forte, apesar do fato dele ainda estar faminto.
Sielamet andam. Te dou minha alma.
Lá estava, aquele laço pelo qual tinha esperado. Ele tinha o coração dela. Ele deu-lhe o seu. Agora atava sua alma na dela.
Ainamet andam. Te dou meu corpo. Sívamet kuuluak kaik että um Ted. Tomo em mim os teus cuidados do mesmo modo.
Ela respirou fundo e soltou. Lá estava, o corpo dele. Tão forte. Muito mais forte do que o dela era. Nunca poderia impedi-lo, se qualquer coisa que ele fizesse a assustasse. Por um momento, um terrível momento, sentiu seu coração sair do ritmo e sua respiração explodir em seus pulmões. Ele esperou enquanto prendia a respiração, mas não disse nada, deixando-a absorver o que disse, o que aquele compromisso realmente significava. Era um voto, como todos os outros.
Ela soltou a respiração. Sentindo seu coração se mover. Dimitri era um homem de honra. Ele a amava, e sempre teve confiança naquele amor, assim como nesta noite, ele estava confiando no amor dela.
Não tenho nenhuma dúvida, Dimitri. Você é minha outra metade e juntos conseguiremos passar por qualquer coisa.
Novamente houve aquela explosão de calor, banhando sua mente com o amor dele. Cercando-a e erguendo-a como nada mais poderia.
Ainaak olenszal sívambin. Sua vida será apreciada por mim para sempre. Skyler, sabe que a tenho estimado sempre, mas isto significa muito mais. Te élidet ainaak pide minan. Sua vida será colocada acima da minha, para todo o sempre. Nunca a machucaria, ou a assustaria ou pediria a você para fazer algo do qual ficasse desconfortável. Você entende?
Claro que entendia. Sempre soube, em algum nível, que Dimitri era um homem acima dos homens. Ele permitiu que seguisse seu caminho até ele, sozinha. Nenhuma vez tentou fazê-la parecer culpada, ou puxá-la em sua direção mais rápido. Deu-lhe espaço, e ainda assim estava sempre lá quando precisou dele. Com que frequência se apoiou nele no meio da noite, quando os pesadelos estavam tão perto? Ele nunca pediu qualquer coisa em retorno.
Eu entendo. A lealdade dele por ela, seu completo respeito pelo passado e os sentimentos dela, a fizeram querer ser o que ele precisava ainda mais.
Te avio päläfertiilam. Você é minha companheira.
Ela adorou aquela palavra. Esta cerimônia de ligação era o equivalente a um casamento humano, mas mais ainda. Os votos não podiam ser quebrados.
Ainaak sívamet jutta oleny. Está unida a mim por toda a eternidade.
Podiam seguir um ao outro de uma vida até a próxima. Estavam unidos, coração e alma. Ela se sentia muito mais próxima dele. Sabia que aqueles fios que teciam suas almas juntas faziam seu trabalho.
Ainaak terád vigyázak. Você estará sempre aos meus cuidados.
Estava feito; estavam atados por toda a eternidade. Dimitri enviou-lhe uma última explosão de amor, antes de permitir que a conexão enfraquecesse. Eu a amo Skyler, com todo meu coração. Fique segura para mim.
Fique vivo, não importa como, Dimitri. Ela respondeu. Estou indo até você.
Skyler fez tudo o que podia para se preparar para a noite, diferente do mais importante — voltar ao plano deles. Josef definitivamente era um estrategista. Ele acreditava em planos de emergência. Seus planos de emergência tinham planos de emergência. Ela e Paul gostavam de provocá-lo sobre isto, mas era o cuidado meticuloso que ele tinha com os detalhes que sempre fazia tudo funcionar — como o inchaço e hematomas em seu tornozelo. Um Lycan como Zev nunca teria comprado sua história se ela não estivesse verdadeiramente ferida.
— Está quase na hora, Sky. — Josef assinalou. — É agora ou nunca. Pode fazer isto? Precisamos de um lugar seguro para nos refugiar, um que os Lycans não possam entrar. Este é o território deles. Conhecem todas as cavernas, todas as rochas. Posso ir pelo solo, assim como Dimitri, mas você e Paul não podem, então no caso de uma emergência, temos que ter uma zona de segurança.
— Eu sei. — Claro que sabia. Eles discutiram isto um milhão de vezes. Estava setenta e cinco por cento certa de que podia fazer isto. Certo, talvez fosse mais como cinquenta por cento agora que realmente tinha que produzir algo.
— Se formos pegos e nos dado à oportunidade de correr, alguns —ou todos — podem estar feridos. Não poderemos correr mais que um bando, não do jeito que Dimitri está.
Skyler olhou para ele.
— Você não está facilitando isto. Apenas me dê um minuto.
Ela pensou sobre este momento durante muito tempo. Tinha que abraçar completamente quem e o que ela era. Era uma Caçadora de Dragões. Seu pai biológico era de uma linhagem de Cárpatos poderosa, uma com grande honra. Nem um único Caçador de Dragões jamais virou vampiro. Seu pai foi torturado por séculos, e ainda assim se recusou a ceder à escuridão, que o teria livrado da prisão terrível de Xavier. Aquele sangue corria em suas veias.
Seu pai biológico também era mago, neto do mais poderoso mago que o mundo já conheceu. Ela era tataraneta de Xavier. Aquele sangue também corria em suas veias. Quanto mais ela usava suas habilidades, mais fortes se tornavam. Aquele poder estava lá, correndo sob a superfície, chamando por ela. Não tinha que ser do mal. O mal era uma escolha — assim como desistir de sua alma. Poderia usar seus dons para o bem, como estavam destinados a ser.
Sua mãe biológica foi uma psíquica muito poderosa. Sua habilidade em cruzar distâncias tão longas telepaticamente não veio dos Caçadores de Dragões ou dos magos, mas de sua mãe humana. Mais ainda, sua mãe era a única com uma conexão com a Mãe Terra. Ela podia fazer uma planta crescer, e às vezes, as plantas respondiam somente ao som da voz dela.
Skyler sabia que sua conexão mais forte com a Mãe Terra era tanto pelo sangue de Caçadores de Dragões quanto pelo de sua mãe humana. Precisaria de tudo que tinha a fim de criar uma zona de segurança, onde nenhum Lycan pudesse cruzar — a menos que, como Dimitri, tivesse sangue Cárpato também.
Ela escolheu bem sua localização. Apenas alguns quilômetros de onde instalaram o acampamento, que era uma clareira. Podiam ver qualquer coisa vindo até eles de qualquer direção. A terra era rica, assim Dimitri e Josef poderiam ir ao solo e nenhum dano os alcançaria. Paul e ela estariam expostos à visão dos Lycans, mas os lobos não poderiam chegar até eles. Se alcançassem aquela zona de segurança — e isto funcionasse — podiam simplesmente esperar a chegada de seu pai e de seu tio.
Ela estremeceu, pensando sobre enfrentar seu pai. Ele estaria muito bravo — o que podia aguentar, mas também estaria magoado e isso seria muito pior.
— Peguei o local exato do acompanhamento pelo rastreador que colocou no bolso do Lycan. — Josef disse. — Podemos ir. Consiga nossa falha de segurança e fuga e posso levá-la perto do acampamento. Paul e eu estaremos esperando para cobrir sua retirada.
Felizmente, a clareira que escolheu os trouxe alguns quilômetros mais perto de Dimitri. Paul e Josef caminhavam com ela para o lugar, ninguém tentando apressá-la, ambos sentiam que isto era uma tarefa difícil. Cada parte dessa proteção, acima deles, abaixo deles, cercando-os, tinha que estar selada.
Ela permaneceu no meio da clareira por um momento, sentindo a acolhida da terra sob seus pés. Ela estava cercada pelos quatro lados pelo frescor da floresta. Lentamente, começou a caminhar no sentido horário. Enquanto se movia, enviava um fluxo de luz brilhante à frente dela, para limpar e purificar a clareira.
Evoco-lhe, poderes do ar, produza sua respiração para guardar este círculo.
Evoco-lhe, poderes do fogo, testemunhe este rito, produza sua chama.
Evoco-lhe, poderes da água, mantenha e alinhe suas águas curativas.
Evoco-lhe, poderes da Terra, sustente-me me segurando.
Ar que é minha respiração.
Fogo que é sangue do meu coração.
Água que é o sangue das minhas veias.
Terra que é minha mãe.
Apelo por ti.
Convoco a ti.
Veja minha necessidade, ouça minha voz, responda meu chamado.
Guie-me, proteja-me, e me provenha com seus poderes.
Skyler tirou um pequeno punhal, uma de suas poucas estimadas posses. Foi passado por gerações de mãe para filha. O punhal estava intricadamente esculpido, gravado com a árvore da vida em seu cabo e com símbolos rúnicos sobre sua lâmina. Mantendo sua mão lateralmente, fez um rápido corte em sua palma, para que o sangue gotejasse abaixo sobre a terra onde ela estava de pé.
Clamo meu direito de nascença
Sou uma Caçadora de Dragões.
Nascida dos dragões.
Dracaena, Draco — sangue do dragão.
Sou uma Maga.
Nascida daqueles que exercem o poder — fabricantes de magias.
Estique o tempo.
Fabricantes de portais.
Evoco a ti, terra.
Abra seus braços, crie um espaço seguro e protegido.
Apelo à luz para cercar.
Deixe sua luz brilhante protetora circundar e proteger.
Ordeno a ti, fogo, embrulhe este lugar como um casulo que não possa ser penetrado.
Mãe permita este espaço apenas para nós.
Não permita que ninguém mais entre.
Água forneça-nos sustento vital.
Tanto acima, como abaixo.
Então assim seja.
O chão abaixo dela ondulou em resposta ao seu comando. O ar cintilou com fogo, e então se estabeleceu como uma parede quase transparente. Soltando a respiração lentamente, Skyler olhou para Josef.
— Está feito.
Josef olhou para ela com temor.
— Nunca pensei que realmente pudesse fazer isto.
— Não achou? Por que concordou com tudo isto se não achou que teríamos uma falha de segurança? — Ela esmurrou o braço dele. — Achei que poderia fazer isto, porque você achou que eu poderia.
Paul riu.
— Você já deveria conhecer Josef. — Ele pôs o braço ao redor do ombro de Skyler. — Você é incrível, sabe? Acho que consegue fazer qualquer coisa.
— Espero que esteja certo. — Ela disse. — Sei que posso tirar aqueles ganchos do corpo de Dimitri, mas as correntes queimaram tão profundamente o corpo dele que não estou certa...
— Não comece a duvidar de si mesma nesta fase final do jogo. — Josef advertiu. — Agora é quando precisa de confiança. Acabou de fazer o que ninguém acreditou ser possível. Paul está certo, você pode fazer qualquer coisa, inclusive conseguir soltar as correntes de Dimitri. Uma vez que isto esteja feito, não me importo o quão ruim a forma que ele estará, ele a tirará de lá.
— Você já considerou que ele não terá a mesma aparência? — Paul tocou a pequena cicatriz de meia lua em sua têmpora. — Ele terá cicatrizes.
— Cárpatos não ficam com cicatrizes. — Josef disse.
Paul balançou a cabeça.
— Isto não é verdade. Vi muitos deles com cicatrizes. Se o ferimento for fatal e estiver lá há muito tempo sem cuidados, ficam com cicatrizes.
— Pensa realmente que isto importa para mim? — Skyler perguntou num tom baixo. — Não me importa nem um pouco que Dimitri pareça outra pessoa. Ele é bonito para mim. Ele sempre será.
Paul sorriu para ela.
— Sabia que diria isso. Uma coisa legal, Sky, é que você quer dizer isto.
— Levarei Paul primeiro, e o deixarei em posição de proteger seu refugio. — Josef disse. — Ficará bem aqui sozinha até que eu volte por você?
— Claro, mas Josef, os Lycans podem sentir sua energia. Não chegue muito perto daquele acampamento ou qualquer um dos guardas.
— Serei cuidadoso. — Ele prometeu.
Paul abraçou-a com força.
— Boa jornada, irmãzinha.
— Boa jornada, meu irmão. — Ela murmurou, abraçando-o por um momento. Fechou os olhos brevemente, enquanto devolvia o abraço dele. Ele estava lá por ela, e podia muito bem ser morto se os Lycans descobrissem que o prisioneiro deles fugiu antes dela levar todos em segurança.
Relutantemente soltou os braços, libertando-o. Paul levantou o queixo dela, examinando seus olhos.
— Lembre-se sempre de que eu quis vir. Escolhi ajudar meus amigos. Dimitri é um bom homem e eu o considero da família, da mesma maneira que você é para mim. Com ou sem você, teria escolhido salvá-lo, ou pelo menos tentar.
Ela sentiu as lágrimas queimando, mas mostrou um sorriso, assentindo. Intelectualmente, sabia que Paul falava a verdade, mas ainda assim, sentia-se responsável. Se qualquer coisa acontecesse com ele, sempre carregaria isto com ela. Observou-os irem, Josef elevando-se para o ar com Paul, antes dela se sentar ali mesmo na vegetação, ignorando o zumbido dos insetos.
Estamos prontos, Dimitri. Estarei indo até você. Pode olhar ao redor? Pode ver uma provável rota de entrada e saída sem ser descoberto?
Ela não queria que ele empacasse no último instante. Isto seria muito difícil para ele. Um macho Cárpato não iria querer parecer impotente, especialmente quando sua companheira estava em perigo. Sabia que iria querer lutar com suas restrições, e agora mais do que nunca, deveria ficar quieto e conservar sua energia.
Não há ninguém ao meu redor no momento, mas normalmente eles ficam a alguns metros de distância, escondidos nas árvores, observando-me. Acredito que eu seja o entretenimento para o tédio. Do meu ponto de vista não posso ver muito. Sem estas correntes, eu poderia... Ele cessou bruscamente com frustração.
Ela mandou-lhe instantaneamente calor, o cercou com sua confiança e seu amor. Temos uma grande aliada na Mãe Terra. Ela virá para nos ajudar quando tivermos necessidade. Ela prometeu. Dê-me um minuto.
Ela mergulhou as mãos profundamente na terra, e imediatamente sentiu a conexão com a terra propriamente. Seu coração encontrou aquele confiante estrondo profundo que vinha de baixo. Sons da água, do vento, da seiva vazando e fluindo nas árvores, vindo para ela como se fossem parte de sua força de vida.
Apelo a ti, Mãe.
Ouça a minha voz.
Sinta minha necessidade.
Mande-me as criaturas que habitam dentro de sua escuridão.
Encubra nossas energias para que assim não sejamos vistos, ouvidos ou sentidos.
O fluxo de informações era forte, como se esta conexão com a terra estivesse crescendo a cada toque. Até mesmo os insetos falavam com ela. Não ficava mais incomodada com eles, mas entendia exatamente por que eram necessários e parte do sistema ecológico que viviam.
Mãe Terra.
Dou graças a você e seus subordinados.
Que haja sempre paz e harmonia entre nós.
Liberto-a agora, vá em paz.
Ela estava agradecida pela orientação e murmurou um agradecimento.
Dimitri, estou certa do caminho. Espere apenas um pouco mais. Assim que conseguir soltar as correntes, lhe darei sangue. Então caberá a nós dois corrermos como o inferno. Ela tentou empurrar um pouco mais de diversão na voz dela, sentindo a tensão dele.
Dimitri era um homem que raramente ficava tenso. Nas piores situações estava sempre calmo e tranquilo, mas saber que ela estava se pondo em perigo por ele, o incomodava num nível completamente novo. Provavelmente nunca tinha conhecido o que a palavra tenso realmente significava, até que a conheceu.
Ela teve que se esforçar para entender a natureza dele. Via suas necessidades em sua mente, mas ela não tinha vivido por séculos. Não tinha as experiências dele. Não era Cárpato e não entendia plenamente a necessidade de conduzir dos machos, de proteger sua companheira.
Não posso ajudá-la até que estas correntes sejam removidas. Ele reiterou. Estou fraco, faminto. Não poderei me mover rapidamente.
Dimitri tentou fazê-la entender sua condição. Estivera numerosas vezes mortalmente ferido ao longo dos séculos, mas nunca pareceu tão impotente. As correntes de prata impediam as mais básicas habilidades dos Cárpatos. Não conseguia alcançar seu irmão — algo que fez por toda a sua vida. Seu irmão não podia alcançá-lo. Josef estava perto, e tentou alcançá-lo pelo caminho comum dos Cárpatos, mas isso estava fechado para ele — por causa das terríveis correntes enroladas de sua testa até seus tornozelos.
A queimação em sua pele era interminável, mas agora seu medo pela segurança de Skyler anulava até mesmo aquela agonia horrenda. Podia apenas ficar pender impotente, apavorado por ela, esperando pelo trabalho da noite para agir.
Temos que fazer isto tão silenciosamente e furtivamente quanto possível. Skyler o lembrou. Lycans são sensíveis a toda energia usada. Não queremos que nos sintam.
Dimitri suprimiu um gemido de frustração. Sou Sange Rau. Eles não podem me sentir, é por isso que me odeiam. Eles me temem.
Você é um Guardião de Todos, Dimitri, não o temido Sangue Rau. Terá que pensar sobre si mesmo como um Guardião de Todos.
Skyler claramente não entendia os desejos dele, sua necessidade de ser Sange Rau, mesmo que apenas por um momento, para arrancar a garganta de seus algozes, aqueles que vieram quando Zev não estava próximo. Eles o chutaram, cuspiram nele, e alguns até ousaram se aproximar o suficiente para usar os punhos nele. Eles deliberadamente agitavam e chacoalhavam seu corpo na esperança que os ganchos rasgassem sua carne e a prata corresse para seu coração.
O ódio deles era tangível. Enfrentando-os, estando no meio deles, sabia que Mikhail Dubrinsky, o príncipe de seu povo, nunca poderia mudar a mente de tais fanáticos. O ódio deles era profundo, ensinado por gerações de ódio. Ele não lhes fez nada. De fato, veio para ajudar os de sua espécie. Gunnolf e Convel, o dois que salvou, eram os piores de seus algozes e pareciam levar para o lado pessoal que não morresse rapidamente.
Dimitri nunca conheceu tal coisa como o ódio. Ele caçou o vampiro, mas estava completamente sem emoção quando fez isso. Era um assunto de honra, de dever, nunca pessoal. Um vampiro era ruim e assassinava homens inocentes, mulheres e crianças. Tinha que ser levado à justiça. Não havia nenhuma alegria em tomar uma vida, qualquer vida. Esta experiência o ensinou o que era o ódio. Se não fosse a compaixão de Zev, teria decidido que a espécie dos Lycan não valia a pena ser salva, e seria tão ruim como eles.
Josef voltou. Ele me levará para perto do acampamento, e me deixará para que eu siga meu caminho. Tenho um caminho a tomar e posso sentir a presença dos Lycans. Skyler o informou. E, meu amado, para que não pense que realmente iria formar estas opiniões limitadas, posso assegurar-lhe que isto é sua dor e seu medo por mim falando com você, a falta de alimento e sua debilidade. Vejo em sua mente e nenhum desses sentimentos são verdadeiros. Não pode manter o mal em seu coração ou mente Dimitri, isto não é quem você é.
Dimitri soltou um suspiro. Skyler sempre trazia conforto. Ela era uma mulher jovem, contudo sua alma era velha, e combinava perfeitamente com a dele. Ela podia brincar e arreliar, mas havia sempre aquela distância nela, aquela parte dela que conhecia os monstros que viviam no mundo. Monstros humanos, vampiros e lobos. Teve experiências que nenhuma garota deveria ter e agora estava enfrentando lobos brutais — aqueles que se declaravam bons.
Os Lycans que o cercavam não eram renegados. Não caçavam e matavam humanos por alimento. Viviam entre eles. Até mesmo os protegiam. Sim... Isto não fazia nenhum sentido. Dimitri podia dizer que isto não fazia sentido para Zev também.
Esteja a salvo, sívamet. Sem você... Ele se tornaria o homem que ela acreditava que ele seria? Aquele que ela via e tinha tanta fé?
Se eles a matassem, ele se tornaria aquela coisa que detestavam, dando-se a chance de matar todos eles? Ou a seguiria para a próxima vida e iria até ela limpo e com honra? Desejava saber a resposta. Estava insuportavelmente cansado. Às vezes, a mente dele lhe pregava peças. Sabia que estava perto do fim. Se ela não tivesse sucesso, honestamente não sabia quanto tempo mais poderia esperar sem enlouquecer.
Skyler sentiu o desespero de Dimitri. Sabia desde o princípio que a tortura brutal estava minando sua força. Com a falta de alimentação por mais de duas semanas e a falta do sono rejuvenescedor, era apenas a vontade de ferro de Dimitri que o impedia de partir.
A brisa da noite parecia boa em seu rosto. Seus nervos estavam em frangalhos, mas assim que Josef retornasse ela se colocaria a caminho, e tudo que podia pensar era em alcançar Dimitri e libertá-lo, mantendo-o perto dela. O nervoso iria embora. Viveriam ou morreriam esta noite — mas fariam isto juntos. Se não conseguissem, Dimitri saberia que o amava o suficiente para arriscar tudo por ele, e saberia que fez absolutamente tudo. Não podia pedir mais nada.
Josef a depositou no meio de espessas árvores frondosas, exatamente para onde o conduziu. Ele manteve os braços ao redor dela, mantendo-a apertada contra o corpo dele, dizendo sem palavras o quanto significava para ele, a família que na verdade não teve. Ela o abraçou igualmente com força, transmitindo seu amor. Sem arriscar uma comunicação telepática ou verbal. Não sentiam nenhum Lycan por perto, mas ainda assim preferiram a troca silenciosa entre eles. Josef soltou um beijo no topo da cabeça dela e abruptamente a soltou.
Skyler soltou a respiração. Estava sozinha agora. A fuga de Dimitri dependia somente dela. Este era seu momento. Quando uma mulher se atava a um homem como Dimitri, sabia que ele seria dominante, não importa quão suavemente ou ternamente a tratasse. Nunca poderia se doar a si mesma do modo como fazia neste momento. Estava equiparada a ele aqui. Podia lutar por ele. Podia salvá-lo.
Ela deixou seus sentidos se estenderem lentamente, uma furtiva calma, atingindo a noite, procurando pelas marcas dos Lycan. Conhecia a origem deles. Sabia o local de nascimento deles. Como a Mãe Terra, podia discernir as batidas do coração deles e suas necessidades primitivas. Sabia como o bando pensava e trabalhava.
Skyler ergueu a mão, com a palma para baixo, e moveu-a lentamente, exatamente acima do chão. Como um imã, a atração veio diretamente para ela. Colocou a ponta da bota na grama intocada. Imediatamente sentiu a grama urgindo-a para se mover adiante. Ela correu, o solo amortecendo seus passos, impedindo o som de viajar pela noite.
Ela conhecia os Lycans muito bem agora. Seu senso de audição e seu olfato estavam tão aguçados que era importante permanecer absolutamente quieta. Enquanto corria, usou um pequeno feitiço para mascarar o som do ar movendo-se dentro e fora de seus pulmões.
Que minha respiração
Que agora não possa ser ouvida.
Que meu corpo.
Agora fique em silêncio.
Ela confiava na Mãe Terra para manter seus passos silenciosos. Os Lycans realmente poderiam sentir os passos daqueles que caçavam pelas vibrações. Tinham tantos dons, mas tinham algumas debilidades, assim como toda espécie, e tinha intenção de explorar cada uma delas.
O bando caçava junto e poucos ficavam confortáveis sem seus companheiros de bando. Até entre os caçadores de elite, aqueles que perseguiam o bando de renegados, os membros raramente estavam sem seus companheiros. Apenas alguns, como Zev, eram capazes de estar acima desta força motriz, de estar seguros e confortáveis dentro de seu grupo.
Um bando de Lycans tinha a tendência de posicionar seus guardas de forma a melhor proteger o centro do grupo deles, principalmente suas crianças. Como os Cárpatos, crianças era uma raridade, e vigiadas bem de perto. Embora não houvesse nenhuma mulher ou criança neste acampamento, a formação funcionava por séculos e era instintiva. Ela sabia a localização aproximada de cada guarda em torno do acampamento. Neste caso, sem crianças, Dimitri foi colocado no centro do acampamento. O Lycans se instalaram ao redor dele e os guardas estavam naqueles limites externos.
Ela sabia quantos metros cada guarda iria antes de considerar se afastar. As muito pegadas dos Lycans estavam cravadas na terra, e a terra compartilhava as informações com Skyler. Correu cuidadosamente para evitar que as roupas dela roçassem nos galhos, movendo-se na direção de Dimitri. Podia senti-lo agora, e seu coração entoava. A adrenalina inundou seu corpo e queria prantear de alegria. Esta foi uma longa jornada, árdua. Esteve com tanto medo por ele. Agora, estava perto de libertá-lo.
Enquanto se aproximava do quadrante do primeiro guarda, ela diminuiu a velocidade de seus passos. Os ouvidos e o nariz de um Lycan eram muitos melhores que os dela. Sabia se um vampiro estava próximo — seu sangue de Caçadora de Dragões assegurava isto — mas os lobos eram diferentes. Agora era a Mãe Terra que evocava, e as sugestões eram sutis.
Sentia a leve checagem do solo sob seus pés, quase como se a superfície passasse de um tapete de grama suave para areia. Ela deteve-se imediatamente e puxou longas e lentas respirações. Amarrou o cabelo atrás e deslizou a trança dentro da escura roupa feita de lã, que Josef lhe forneceu. As armas que solicitou estavam nos bolsos de suas calças cargo. Veio preparada para lutar com os Lycans e sabia de todas as armas que precisava. Também trouxe juntamente as ferramentas necessárias para proteger Dimitri dos Lycans.
A parte detrás de seu pescoço formigou, outro alarme sutil. Abaixou-se atrás de um arbusto e ficou bem quieta. O guarda patrulhava, mas claramente não achava que fosse encontrar qualquer coisa. Ele confiava exclusivamente no sentido de olfato e na audição dele. Estavam esperando que os Cárpatos tentassem salvar Dimitri, e acreditavam que sentiriam a energia agressiva vindo até eles antes dos Cárpatos chegarem.
Ela circulou ao redor na direção oposta aos movimentos do guarda, a fim de passar na frente dele. Atrás dela trotava uma pequena raposa curiosa. Desta vez, seguia exatamente os passos de Skyler, marcando seu território muito bem, mascarando qualquer odor que ela pudesse ter deixado atrás. Notou o momento em que a terra arenosa voltou para um acolhedor tapete de grama, e ela pegou o ritmo novamente. O próximo círculo estaria mais próximo, mas ela estava do lado de dentro.
Sentiu uma explosão de triunfo e teve que sufocar o desejo de compartilhar seu sucesso com Dimitri. Até agora os Lycans não descobriram sua estranha marca de telepatia ou teriam se tornado desconfiados, mas depois de encontrar Zev, Skyler não queria arriscar. Ela se apressou ao longo da fraca trilha, retorcendo-se dentro e fora das árvores. Caminhou rápido, resistindo ao desejo de correr. Os guardas de dentro ficavam sempre parados numa formação de V pelo lado de fora dos guardas, para conter melhor os inimigos.
O caminho mudou de direção para sua esquerda. Ela diminuiu a velocidade mais ainda, movendo-se cautelosamente ao longo da, agora, escura grama abafada no meio das árvores. Seus pés sentiam o caminho mais que seus olhos, mas ainda, confiava no caminho que a Mãe Terra fornecia.
Um ramo estalou à direita dela e susteve a respiração. O guarda mudou de direção e estava movendo-se na sua direção, não muito longe. A pequena raposa trotou na direção dele. Ouviu a pequena criatura ladrar uma advertência e o Lycan deu uma explosiva gargalhada. Quase imediatamente o guarda voltou, certo que estava perto de uma toca de raposa e o macho deu-lhe um aviso que seria melhor ele ir embora.
Os Lycans eram essencialmente lobos, crianças da floresta, e guardavam a vida selvagem tão cuidadosamente quanto Dimitri sempre fez. Ela achava irônico que cuidasse dos lobos e lhes desse um santuário pela maior parte de sua vida, e ainda assim os Lycans virassem as costas para ele.
Ela avançou passando o quadrante do segundo guarda e agora estava dentro do círculo interno. Aqui era onde o bando principal estaria disperso, acampando, talvez usando as poucas cabanas, mas qualquer um poderia estar fora para uma caminhada.
Ela sentiu o pulsar de seu companheiro agora. Forte. Muito forte. Sua agonia explodindo por ela como um inferno fora de controle. Agachou-se e lutou com a necessidade de vomitar. Não contava em sentir a dor dele apenas porque estavam tão próximos. Devia ter pensado sobre esta possibilidade. Não havia como se aproximar mais sem algum tipo de proteção. Novamente, evocou seu sangue de mago para ajudá-la.
Mãe do meu sangue.
Eu a evoco,
Cerque-me, encubra-me.
Extermine esta dor.
De forma que eu possa continuar.
Respirando fundo várias vezes, Skyler continuou a seguir o caminho. Por duas vezes mudou de direção, para longe de onde o pulsar de Dimitri era mais forte, mas confiava na terra para guiá-la e continuava no caminho. Por duas vezes, pegou um vislumbre de uma pequena cabana abrigada sob as árvores.
Então o viu. Não se preparou para aquela visão também. Nada podia tê-la preparado. Ele ainda estava a alguma distância dela, pendurado por ganchos em nada mais do que um grosso galho de árvore. A visão era nauseante. O corpo dele estava enegrecido, queimado pelas correntes de prata que literalmente comeram sua carne. Seu pescoço tinha pelo menos três laços em torno dele, e um em sua testa. Mas seu corpo estava todo acorrentado, tanto que parecia usar um manto de prata.
O rosto dele estava tão devastado pela dor que queria chorar. Havia círculos escuros sob seus olhos. Sua pele estava bem apertada ao redor de seu crânio, suas bochechas ocas. Claramente tiveram medo de soltar as correntes por tempo suficiente, então cortaram as roupas dele, deslizando uma faca dentro e ao longo de cada envoltório sinuoso colado ao tecido, num esforço para manter a prata em contato com sua pele. Não se importaram se a lâmina da faca de prata cortasse sua carne. Ela podia ver onde tinha sangrado em centenas de lugares sob as correntes.
Ela queria cair de joelhos, cobrir seu rosto e soluçar. Como um ser vivo podia fazer tal coisa com outro? Quanto teria que odiar? Agitada, apertou a mão na boca e se forçou a estudá-lo.
Podia ver onde os ganchos rasgaram seu corpo e o mantinham preso. Doze deles, seis de cada lado. Sabia de cada local porque o sangue brotava abaixo daquelas correntes e o manchava. Gotas minúsculas de sangue pontilhavam sua testa e corriam abaixo do rosto dele. Ele estava tão quieto quanto possível, mas a dor deveria ser excruciante, até mesmo sem a prata viajando por seu corpo na direção de seu coração.
Meu amor. A voz dela tremeu. Ela sufocava com o nó em sua garganta. Sabia que isto seria ruim, mas não imaginou — isto.
Ele não se moveu ou deu a entender que ela estava tão perto. Mantinha seus olhos fechados. Sua cabeça baixa. Mas ela sentia seu amor.
Não deveria ter esperado. No momento que o ouvi, deveria ter vindo até você.
Você está aqui agora. Pode senti-los me observando? Ele estava dizendo isto como uma advertência. Há sempre alguém observando.
Eu os sinto. Vim preparada para isto. Em todas as nossas conversas nestes últimos anos, peguei algumas coisas de você. E Josef é um mini general. Ele é muito bom em planejar uma batalha, até uma como esta, onde esperamos escapar despercebidos.
Ele não perguntou como. Sabia que ela tinha um plano e deu-lhe a confiança que merecia. Ela o encontrou contra chances impossíveis.
Ela estava na sombra de um arbusto, a alguns metros de Dimitri. Esta noite, seria a coisa que sempre desprezou em si mesma. Esta noite, tinha que contar com a maga — a odiada maga — que agora se encontrou abraçando com todo seu coração. Era a maga nela que salvaria Dimitri.
Cavando seus pés mais fundo na terra, levantou os braços na frente dela, fazendo pequenos movimentos e evocando os quatro elementos.
Evoco o Ar, expire adiante uma tempestade de força.
Evoco a Terra, produza seu tremendo poder.
Invoco o fogo, produza a luz de suas chamas.
Evoco a Água, lave aquilo que restar.
Imediatamente o vento aumentou, pequenas explosões que agitavam a mais alta das árvores. Uma ameaçadora rachadura soou alta no silêncio da noite. O topo de uma árvore muito pesada veio abaixo batendo no chão, direto sobre uma cabana um pouco distante dali. Galhos e troncos mergulharam pelo telhado fino e aterrissaram no espaço limitado, um dos galhos aterrissando diretamente na lareira. As chamas dispararam pelo galho, e alcançaram o tronco, assim que outra explosão de vento abanou a chama.
Gritos vieram de todas as direções. A terra abaixo dela se agitou com os passos, enquanto os Lycans convergiam para o incêndio. A cabana se consumia rapidamente, e tinham que correr para impedir o fogo de se espalhar para as árvores vizinhas e outras cabanas. Muitas das pequenas estruturas usavam ramos secos, pregos e lama como telhado.
Quando estava certa que todos os Lycan estavam tomando parte em salvar seu acampamento, voltou sua atenção para os ganchos. Tinha que conseguir soltá-los primeiro.
Aquilo que está enganchado e feito para prender.
Desfaço suas propriedades para que se solte e desdobre.
Ar, evoco-lhe, flutue-o suavemente para baixo.
Mantenha-nos à salvo de todas as visões e sons.
Evoco a Terra, tome-o em seus braços.
Cerque-o, proteja-o, impeça os danos.
Fogo eu o evoco, cauterize suas feridas.
Queime o que esta sangrando, para que isto não possa selar nossa maldição.
Água, evoco a ti adiante, seu poder de cura.
Lave aquilo que é sangue
Então não haverá nenhum odor.
Nenhum sinal.
O corpo de Dimitri quase soltou no chão, mas ela foi capaz de enviar uma almofada de ar debaixo dele para flutuá-lo abaixo. Skyler não deixou que a alegria precipitada tomasse o controle. Remover os ganchos do corpo dele foi a parte fácil. Agora restava aquela corrente terrível embutida bem dentro da sua pele. Ele ficou deitado impotente na grama espessa, as correntes enroladas bem apertadas na carne, e em algumas partes do osso.
Ela apertou os lábios com força. Precisava tomar coragem e não pensar sobre o que aconteceria depois que removesse as correntes. Não estava certa se Dimitri seria capaz de caminhar, muito menos ajudar caso se chocassem com problemas.
Ela respirou fundo, deixando isto sair e fez sua tentativa.
Correntes de prata acomodadas por dentro.
Correntes de prata debaixo de tecido e pele.
Correntes de prata conectadas ao osso.
Correntes de prata agora podem soltá-lo.
Skyler sentiu seu coração começar a acelerar em pânico. As correntes estavam tão profundamente embutidas na carne dele, que se tornaram uma parte dele. Nada aconteceu. E se não pudesse fazer isto?
Elas soltarão.
A tranquilidade na voz de Dimitri estabilizou-a. Ele soava o mesmo. Seu Dimitri. Frio debaixo do fogo. Uma rocha. Skyler assentiu, respirou fundo mais uma vez e tentou novamente.
Corrente de prata enterrada profundamente.
Corrente de prata enrolada como pele de serpente.
Corrente de prata que corta até o osso.
Busco sua fabricação de forma que agora seja conhecida.
Rastreio seu padrão e sigo seu caminho.
Removendo suas raízes enquanto lacro e fundo.
Em cada vale e queimadura insiro um bálsamo.
De forma que seu veneno cesse e não possa fazer mais dano.
Skyler se forçou a ir lentamente, planejando cada movimento metodicamente. Não tinha condições de chamar qualquer atenção na direção deles. O vento abanava as chamas, mas não queria arriscar um incêndio na floresta, embora os Lycans estivessem apagando-o bem depressa. Olhou para as chamas e abanou as mãos para que o fogo saltasse para uma segunda cabana, o telhado explodindo em chamas amarelo-alaranjadas, enquanto as correntes caiam do corpo de Dimitri, revelando a extensão horrível de suas queimaduras.
Ajoelhando ao lado de Dimitri, colocou seu pulso sobre a boca dele. Agora, aqui, tome meu sangue. Temos apenas alguns minutos. Preciso que faça isso.
Estava tão fraco. Ela sentia a batida do medo nele. A fome era terrível, dominando cada pensamento dele agora, batendo em suas veias e por seu coração faminto. O sangue dela era potente para ele, o sangue de sua companheira. Isto o tentaria como nenhum outro. Temia a perda de controle. A mente dele já estava errante, a dor se misturava com a fome, e, às vezes, não estava certo de onde estava, ou o que estava acontecendo ao redor dele.
Dimitri alimente-se agora. Se nos encontrarem, eles me matarão. Skyler usou aquilo que sabia que o alcançaria.
Ele pegou o pulso dela suavemente. Seu polegar roçando sobre o pulsar dela, um movimento tão leve, mas sentiu aquele toque suave por todo seu corpo. Os lábios dele, rachados e ressecados, roçaram suavemente acima de sua pele, direito onde a pulsação dela saltava. Esperou os dentes dele afundarem e a rasgar, mas lá estava o amor no toque dele — até mesmo sedução.
Dimitri estava ali deitado no chão, seu corpo queimado quase paralisado depois de pendurar na árvore por tanto tempo, sua mente apenas entendendo que estava livre da odiada prata. Estava faminto, ainda assim tomou muito cuidado em não assustá-la — ou machucá-la. Ela emoldurou um lado do rosto dele com a mão livre, sua palma contra aquelas marcas de queimadura horríveis, tentando enviar para longe a dor.
Os dentes dele afundaram em seu pulso. Por um momento houve a ardente dor e então a ferroada se foi, imediatamente transformando-se em qualquer outra coisa. Algo que ela não esperava. Josef tinha tomado sangue dela, e foi puramente uma função necessária. Não sentiu qualquer coisa quando fez isto. Isto era tão diferente — e inesperado.
Skyler alisou atrás os cabelos do rosto torturado dele, e em seguida, debruçou-se para roçar beijos sobre as queimaduras e a pele enegrecida, onde a corrente cravou na testa dele. Ela nunca o beijou voluntariamente. Nem uma vez em todos os anos que conversaram. Ele beijava o topo da cabeça dela, e às vezes o canto de sua boca ou seu queixo, mas ela nunca fez um simples movimento para fazer algo que considerava íntimo.
Achava que seus beijos pareceriam curativos. Achou que lhe daria conforto e se sentiria do mesmo jeito que ela. Era beijá-lo ou gritar. Seu lindo Dimitri, tão devastado pelo ódio quando era capaz de tanto amor. Quando roçou aqueles beijos ao longo da linha onde a corrente de prata estava, sentiu mais do que apenas conforto, mais que cura. Sentiu um amor opressivo que parecia, pela primeira vez, transcender o físico.
Não entendeu a necessidade que começava agora em seu pior momento, mas isto não importava. Isso era parte de quem eram juntos. Ela o teria deixado tomar cada gota de sangue que tinha em seu corpo se ele quisesse — ou precisasse disso. Foi Dimitri quem encontrou forças para parar, correndo a língua sobre os dois buracos em seu pulso para deter o sangramento, e em seguida apertou um beijo sobre a marca para aliviar qualquer dor.
Ele abriu os olhos e olhou para ela. Ela o enxergou lá, nos glaciais olhos azuis dele. Aquele sorriso que não alcançava seus lábios, mas estava lá apenas para ela.
Nós temos que ir, Dimitri. Pode ficar em pé? Este era seu maior medo. Ela não podia teletransportá-lo de lá, e duvidava que pudesse até mesmo mantê-lo de pé sozinha.
Posso fazer o que for preciso. Não posso acreditar que fez isto, sívamet, você realmente removeu as correntes. Isso era um milagre por si só. Elas se tornaram parte dele, comendo sua pele e encontrando músculos até a prata aderir a cada célula que tocava, deixando-o enlouquecido.
Dimitri sentou lentamente, tentando, esticando os braços, encontrando os movimentos dolorosos, mas maravilhosos ao mesmo tempo. Não tentou ficar em pé, seus pés e pernas estavam ainda entorpecidos, mas rolou sobre as mãos e joelhos, testando sua força. A fome ainda estava alta, trovejando em seus ouvidos e martelando uma exigência em suas veias, mas podia passar por isso agora. O sangue de Skyler era uma mistura poderosa, quase intoxicante. Ainda assim, estava fraco até com o que ela lhe deu.
Estava agradecido que ela não estivesse em pânico, ou tentando forçá-lo a ficar em pé. Sabia que tinha que levantar e fugir, então fez isto, tudo num movimento. As árvores das quais ela emergiu pareciam longe. Sentiu a mão dela em suas costas roçando e massageando. Curando.
Você vai primeiro e eu a seguirei. Não discuta comigo. Apenas faça isso. Ele disse a ela.
Viria na retaguarda e a protegeria o melhor que pudesse. Eles viriam atrás dele com a prata, e sabia que não haveria nenhuma clemência nele caso se aproximassem o suficiente para que conseguisse colocar as mãos neles.
Skyler assentiu e virou na direção das árvores que usou como cobertura. Dimitri a parou com uma mão em seu ombro. Ela olhou de volta para ele. Estava linda, agachada lá, a determinação em seu queixo e ombros. Amor em seus olhos. Ele precisava ver isto. Precisava ver a realidade. Ele assentiu, e ela decolou, ficando abaixado, Dimitri foi logo atrás dela.
Ganharam a proteção do suporte pesado das árvores. Os arbustos crescendo em todos os lugares, incomum numa floresta tão densa, onde o topo impedia o sol de atingir o chão da floresta. Bem no centro dos arbustos, um tapete verde espesso esticava-se diante deles. A faixa de grama era estreita e Dimitri percebeu que a cada passo que dava, a grama atrás dele afundava no chão, para que apenas folhas secas e arbustos permanecessem, cobrindo o caminho deles.
Skyler indicou a necessidade de ter cautela. Um guarda diretamente à nossa frente.
Ele já sabia disso. Seus sentidos estavam voltando, agudos, os sentidos do Sange rau, ou Hän ku pesäk kaikak, ou o que quer que tenha se tornado. O que quer que seu sangue misturado e a prata o tornaram. Sabia exatamente onde o Lycan estava. Eles seriam para sempre um fedor em suas narinas. Conhecia cada um individualmente. Este ficou longe dele. Várias vezes, Dimitri o notou falando com Zev.
Eles têm um padrão que seguem quando guardam seu bando. Este homem se moverá para a direita, enquanto os guardas no círculo exterior se moverão para a esquerda, para cobrir onde ele está.
Ele não deveria mais ficar surpreso com qualquer informação que Skyler tinha, mas o funcionamento interno de um bando de Lycans?
No momento que o guarda mudou de direção, ela estava em movimento. Como sabia o momento preciso que o Lycan mudaria sua posição? Dimitri achou que estava apenas um pouco temeroso de sua companheira. Eles rapidamente passaram o primeiro guarda e apressaram o passo, movendo-se depressa ao longo da pequena faixa de grama que serpenteava pelas árvores, e os mantinha cobertos pelos pesados arbustos.
Dimitri achou que estava começando a sentir suas pernas enquanto se apressavam juntos. A princípio estava duro, caminhando como uma marionete com alguém puxando as cordas em seus braços e pernas. O sangue fluía de volta com o movimento, e achou que poderia facilmente bloquear as alfinetadas e agulhadas dolorosas. Depois da queimadura da prata, a sensação espinhosa era mais aborrecida e inoportuna e facilmente manejável. Skyler aumentou o passo, mas em deferência ao estado dele, não estava se movendo muito rápido. Seus passos largos, mais longos a acompanhavam facilmente.
Há outro guarda a alguns metros adiante. Temos que esperar que ele circule de volta. Ela acautelou.
Ele não acreditou que conseguiriam apenas sair do acampamento Lycan. Pendurado numa árvore, com a prata enrolando-o da cabeça até os pés, teve bastante tempo para estudar o bando e o modo como operavam. Muitas das operações do dia a dia eram instintivas, provavelmente impressas neles antes do nascimento.
Seu próprio lobo o alimentou com informações sobre a espécie, dando-lhe os dados necessários para ser Lycan, mas isto era diferente. Seu lobo lhe disse como lutar em formação de bando, mas Skyler tinha recolhido muito mais. Ela sabia de movimentos, tempos, como o bando defendia os acampamentos. Manteve sua mente fundida com a dela, aprendendo as informações, e como a Mãe Terra compartilhava com ela.
Ele ficou com o coração cheio de orgulho e respeito. Não deveria existir mais nenhuma surpresa em sua companheira, mas ela ainda o surpreendia a cada rodada. As habilidades dela continuavam a crescer junto com sua confiança. Era a combinação de suas linhagens? Mas havia outros com a linhagem específica dela, e não exibiam seu extremo poder. Sua mãe? O que realmente sabiam da mãe dela e seus dons? Claramente precisava descobrir mais sobre ela.
O caminho mudou para a esquerda e então cortou bruscamente para a direita. Podia sentir o cheiro do outro guarda. O Lycan estava muito mais perto do que Skyler esperava, o que significasse que ele desviou de sua rotina normal. Dimitri pôs a mão no ombro dela, detendo seu progresso. Eles se abaixaram juntos no caminho estreito, Dimitri abrigando o corpo dela da melhor maneira possível, certificando-se de cobri-la completamente das balas que eventualmente viessem na direção deles. O bando preferia caçar sem armas, mas ele viu muitas armas no acampamento. Se estivessem se preparando para uma guerra, estariam usando armas modernas.
Todas as respirações que puxava eram difíceis, e teve que prevenir que um ofego fosse ouvido. Seus pulmões estavam queimando. Precisava de sangue. Sua proximidade com Skyler lhe dava água na boca, e seus dentes estavam alongando. Ele podia se mover, e podia suportar a dor, mas não podia deter a fome sempre presente, que rastejava por seu corpo exigindo que alimentasse as células famintas.
Sua mão permaneceu no ombro de Skyler e ele a sentiu tremer. Ela ficou de quatro, sentando um pouco atrás nos calcanhares, mas manteve as mãos em contato com o tapete de grama. Através dela, sentiu os passos silenciosos do guarda Lycan se aproximando. A terra emitia uma pequenina vibração. Skyler era tão sensível que sentiu isto.
Ele relaxou, mas bem no fundo, se retorcia pronto e mais do que disposto a atacar para proteger sua companheira. Poderia estar fraco, mas não havia nenhuma corrente de prata que o detesse. Skyler prendeu o fôlego enquanto o guarda se aproximava mais. O homem moveu-se primeiro para a direita e em seguida para a esquerda. Estava procurando por eles? Os arbustos os cercando eram espessos o suficiente para evitar que o Lycan fosse por ali, e não estava ciente da estreita faixa de floresta como um tapete verde, levando-os para a segurança.
Dimitri deu rédeas solta aos seus sentidos aprimorados. Ser um sangue misturado lhe dava todos os dons de um Cárpatos, como também de um Lycan. Conforme o tempo passava, ele evoluía ainda mais. Já estava ganhando a velocidade do sangue misturado, e tinha a visão e os sentidos de olfato aguçados, assim como a audição.
O cheiro forte do fogo, das árvores e as cabanas queimadas permeavam a floresta. O guarda Lycan continuava a recuar num esforço para ver o que estava acontecendo no acampamento. Ele não podia abandonar sua posição, mas estava claramente preocupado.
Uma sensação de alívio percorreu Dimitri. Não estava nem perto de sua plena força e duvidava que pudesse rechaçar um bando de Lycans. Queria cair fora sem nenhum deles perceber que se foi, até que fosse muito tarde para detê-los.
Eles esperaram, contando os segundos, ambos sabendo que a qualquer momento alguém descobriria que Dimitri escapou. Depois do que pareceu uma eternidade, o guarda desistiu e retomou sua patrulha normal. Dimitri apertou o ombro de Skyler. Ela olhou de volta para ele, seus olhos mudando de cor, como um caleidoscópio, uma assinatura de seu sangue de Caçadora de Dragões. Sabia que a mudança de cor indicava nervosismo.
Você é incrível. Ele suspirou as palavras na mente dela, acompanhado de seu respeito e amor profundo por ela. Honestamente não pensei que possivelmente pudesse me tirar daquela árvore, e muito menos remover as correntes de prata do meu corpo, mas você fez isto. E agora estamos nos movendo pelo segundo círculo de seus guardas.
É um longo caminho até que estejamos realmente livres. Ela lembrou. De agora em diante, terá uma chance muito melhor sem mim. Não posso ir pelo solo ou pelo ar.
Ele se inclinou mais perto, sua boca se movendo contra o ouvido dela, embora falasse em sua mente. Não posso fazer qualquer coisa no momento também, csitri. Estou extremamente fraco.
Josef está esperando logo adiante. Não podemos arriscar que se aproxime muito, no caso dos Lycans sentirem a energia dele. Mas ele lhe dará mais sangue — sangue Cárpato. Paul está aqui também. Está a apenas a alguns quilômetros de Josef. E você pode se alimentar novamente lá.
Ele devia saber que ela teria até mesmo se preparado para alimentá-lo, tentando deixá-lo em boa forma, o suficiente para uma fuga rápida.
Skyler assentiu, obviamente lendo a mente dele. Josef foi quem lembrou que você precisaria de mais sangue do que apenas o meu. Tudo o que pude pensar foi em tirar a dor e tentar curá-lo. Seus cílios se fecharam, a vergonha e a culpa em seus olhos. Devia ter pensado sobre isto, entretanto. Sinto muito.
Dimitri pegou o queixo dela entre os dedos, levantando sua cabeça até que seus olhos abrissem e seus olhares se encontrassem. Temos bons amigos em Josef e Paul. Tenho certeza que todos os detalhes de meu resgate e fuga foram atendidos por vocês três. Obrigado por ter vindo por mim. Você tem muita coragem, Skyler. Tentei protegê-la do que estava acontecendo comigo.
Ela balançou a cabeça. Estava errado ao fazer isto. Não quero que esconda nada de mim — bom ou ruim. Somos um time — parceiros. Somos companheiros, e quero ser isto em todos os sentidos da palavra.
Ele acenou com o queixo na direção do caminho, indicando que podiam começar novamente. O guarda se moveu completamente.
Penso que tem mais do que provado suas habilidades em ser minha companheira, Skyler. Estamos atados, vinculados, alma com alma. Antes que ela pudesse erguer-se, passou os braços ao redor dela e apenas a abraçou por um longo momento. Ela se sentiu aquecida e leve, o corpo dela se encaixando no queimado e ferido dele, trazendo um bálsamo para ele.
Skyler esfregou sua bochecha suavemente acima do seu peito queimado, tomando cuidado para fazer o gesto deslizar suavemente, mas ele sentiu isto pelo seu corpo inteiro, um leve toque que alcançou bem no fundo e fez seu coração disparar.
Eu o amo, Dimitri. Conseguiremos sair daqui e começar nossa vida juntos.
Ele roçou um beijo junto a sua têmpora. Daria qualquer coisa para tê-la em qualquer outro lugar, menos onde estavam naquele momento. Em algum lugar seguro. Ele assentiu, e ela ergueu-se e começou a caminhar ao longo do convidativo caminho estreito, entre as duas fileiras de arbustos espessos.
Ele lutou para ficar em pé, chocado com o quão fraco estava. Como Cárpato sempre teve força, e quando seu sangue se misturou com o sangue Lycan ao longo dos séculos, tornou-se muito mais forte. Seu corpo precisava curar por dentro e por fora. Também precisava desesperadamente do sono rejuvenescedor de sua espécie, profundamente debaixo do solo, na mais rica terra.
Skyler aumentou o passo, correndo ligeiramente, suficiente apenas para que ele tivesse que estender seus passos largos para acompanhá-la. Foi difícil manter seus pés no tapete de grama. Ele se concentrou em ficar naquela pequena faixa.
Não a queria em perigo, mas posso ver que é uma mulher que permanecerá comigo sempre. Não sou tão velho, sívamet, que não possa aprender. Apesar da situação medonha, seu corpo devastado e fraqueza, Dimitri ainda conseguiu rir de si mesmo.
Skyler sempre foi atraída pelos seus modos gentis e seu senso de humor. Sabia que era um predador e que qualquer macho Cárpato que rechaçava a tentação da escuridão por séculos, era um homem forte e perigoso. Ainda assim, com ela sempre houve ternura e humor.
Mal conseguia olhar para o corpo queimado dele. Sabia que se ele pudesse teria mudado sua aparência, mas estava muito fraco. O dano que lhe foi feito apenas serviu para lembrá-la que esperou muito tempo. Esteve tão preocupada em magoar os outros, mentindo para seus pais, entrando em dificuldades. Isso parecia tão trivial em comparação com o que ele sofreu.
Não sabia o quanto o amava até que quase o perdi. Ela admitiu. Sempre soube que não havia mais ninguém mais para mim, que eu era sua companheira, mas é muito mais do que isso, é tudo, Dimitri.
Ela o amava, mas quase com uma paixão adolescente, uma paixão que parecia obsessiva às vezes. Apoiou-se nele, contando com sua força, e foi tão egoísta que nem ao menos percebeu isto. Sabia que era difícil para que esperasse para reivindicá-la, mas realmente não considerou as consequências para a alma dele. Para sua honra. Foi uma criança, brincando de ser adulta.
Por que insiste em ser tão dura consigo mesma, Skyler? Não a teria reivindicado quando tinha dezesseis anos. Até em termos de anos humanos, você merecia um tempo para descobrir quem era e o que queria.
A resposta dele aos seus pensamentos a fez apenas amá-lo mais.
Uma arma disparou quatro tiros em sucessão rápida, o som alto no silêncio da noite.
Fomos descobertos, csecsemõ, apenas corra. O bando estará vindo atrás de nós com tudo. Eles são rápidos, mais rápidos que possivelmente possa imaginar.
Skyler soube no momento em que ouviu os tiros ecoarem que o bando estava sinalizando para os guardas. Descobriram que seu prisioneiro fugiu e estavam furiosos no encalço deles. Ela correu ao longo do tapete de grama.
Dimitri tente ficar na grama. A Mãe Terra esconderá nosso cheiro. Podemos alcançar mais alguns quilômetros antes deles nos descobrirem. Paul e Josef estão armados.
Eles mal podem esperar para lutar. Temos que encontrar um lugar para que todos vocês me dêem sangue. Se estiver com toda minha força, poderei ser capaz de segurá-los até que a ajuda chegue.
Ela ouviu a dúvida na voz dele. Ele estava severamente ferido, morrendo de fome e fraco. Não podia imaginar, mais do que ele podia, como poderia rechaçar um bando inteiro de Lycans, nas atuais condições dele.
Se nos alcançarem, não quero que tente lutar com eles. Se não pudermos escapar, você e Josef devem nos deixar. Paul e eu somos humanos. Eles provavelmente não nos machucarão. A estúpida prata deles não fará o dano em nós que faria em você. Se você e Josef escaparem e conseguir recuperar toda a sua força, poderá voltar por nós.
Não.
Skyler suspirou. Isso era incondicional. Dimitri raramente falava neste tom com ela, mas falava sério quando o usava. Ninguém ousava desobedecê-lo quando falava assim, inclusive ela. Nunca a machucaria, mas usaria todos os meios disponíveis para assegurar obediência — e tinha várias opções.
Ela correu ao longo do caminho, determinada a não ser pega — pondo tanta distância quanto possível entre o bando e eles. Se conseguissem alcançar sua zona de segurança na clareira, o bando não poderia tocá-los.
Não podemos começar uma guerra. Dimitri disse. Certifique-se de que Josef e Paul não atirem a menos que não tenhamos nenhuma alternativa.
Ele não se importaria de matar alguns Lycans. Alguns deles foram desnecessariamente cruéis. Tinha suas suspeitas sobre eles e seus motivos. Mas havia outros que claramente estavam desconfortáveis sobre o conselho condená-lo ao Moarta de Argint. Eles o evitavam, desviando os olhos. Alguns traziam água e balançavam a cabeça, mas não falavam. Apenas Zev conversou com ele e o encorajou. Ele pareceu estar tentando ativamente alcançar os membros do conselho, que estavam nas Montanhas dos Cárpatos com Mikhail, o príncipe do povo Cárpato. Os celulares não estavam funcionando muito bem onde estavam, e ele foi incapaz de alcançar quaisquer das pessoas no poder, que pudessem inverter a sentença de morte.
Duas vezes Dimitri ouviu Gunnolf conversando com um grupo de Lycans, e se referiu a Dimitri como o animalzinho de estimação de Zev. Ele estava deliberadamente minando a posição de Zev com os Lycans. Alguns pareciam concordar com ele, mas muitos não o faziam e iam embora desgostosos.
Não queria ser a causa de uma guerra entre Cárpatos e Lycans, mas se fosse para proteger Skyler, que a guerra acontecesse.
Skyler olhou para ele acima de seu ombro. Seu rosto estava muito pálido. Estamos quase chegando até Josef, e os Lycans estão em nosso rastro. Sinto os passos deles enquanto correm em nossa direção.
Diga-lhe para entrar em movimento. Não esperar.
Você precisa de sangue. O medo rastejava na voz dela, até mesmo enquanto tentava esconder isto.
Mande-o correr conosco. Se tivermos oportunidade, então ele pode me dar sangue.
Dimitri sentia-se calmo do modo como fazia antes de qualquer batalha. Esta era sua vida e até mesmo tão fraco quanto estava, era um homem perigoso numa batalha. Ele fugia, não por si mesmo, mas por sua companheira. Se estivesse sozinho teria os iludido, ido ao chão e esperado até que estive com força total. Ainda assim, não tinha nenhuma dúvida de que, mesmo agora, se eles atacassem, poderia abater alguns deles.
Josef. Skyler enviou uma chamada à frente deles.
Fundido como estava com ela, Dimitri ouvia cada palavra.
Estão os alcançando rapidamente. Josef advertiu.
Não dispare contra eles. Dimitri quer que corra conosco, assim possivelmente você possa dar-lhe sangue.
Existia uma nota interrogativa na voz dela, e Dimitri percebeu que seu plano era para que Josef pegasse Paul e caísse fora, se qualquer coisa desse errado.
Se entrarmos em dificuldade, csitri, ele ainda poderá cair fora. Dimitri assegurou.
Josef pulou de uma árvore, aterrissando levemente, exatamente atrás de Dimitri, acompanhando o ritmo dele. Estamos nesta juntos por escolha, Sky, não irei a lugar algum. Temos apenas que chegar até a clareira e estaremos salvos.
Ela correu tão rápido quanto ousava, e Dimitri, apesar de toda sua debilidade, acompanhava seu passo sem problemas. Tentou não entrar em pânico, sabendo que iria piorar as coisas, mas eles ainda estavam a alguma distância da zona de segurança. O chão sob ela vibrava com as passadas dos Lycans. Eram incrivelmente rápidos, espalhando-se na direção deles de diferentes posições.
Ouviu falar que eram rápidos, mas não imaginou tal ritmo. Já tinham se espalhado na formação de caça. Estavam tentando circular ao redor e chegar à frente deles. Se conseguissem fazer isto, teriam que abrir caminho por aquela linha a fim de entrar no local sagrado esperando para protegê-los.
Estava cansando. Não tinha a resistência física que os outros tinham. Até com Dimitri em forma tão ruim, não hesitava. Seus pulmões já estavam gritando.
Paul está lá adiante. Josef disse. Naquelas árvores.
Peça para que desça. Dimitri instruiu. Preciso saber exatamente onde a clareira está, como é e quão longe está.
Skyler mostrou-lhe as informações em sua memória, mas estava tentando decifrar como os Lycans sabiam que direção tomaram. Corriam silenciosamente, a Mãe Terra certificando-se que não houvesse nenhum cheiro a seguir. Seus passos eram abafados. Tinha que haver algo que ela não estava alcançando.
Espere. Espere. Skyler suspirou as palavras. Apenas por um momento temos que parar. Enquanto fazemos isto, Josef dê sangue à Dimitri. Não demais, tem que estar com plena força.
Dimitri colocou a mão no ombro dela, persuadindo-a a seguir adiante quando começou a diminuir a velocidade. Ainda não, Skyler. Não podemos ser pegos aqui na trilha.
Este é o ponto, eles já sabem exatamente onde estamos. Como?
Eles são Lycan. Caçadores.
Não deveria haver rastro para eles seguirem, ainda assim, sabem do nosso local. Skyler insistiu. Ela deteve abruptamente e girou para enfrentar Dimitri.
— Espertinhos, espertinhos estes Lycans. — Josef disse em voz alta, estendendo o pulso para Dimitri. — Ofereço livremente. — Ele adicionou a formalidade. Tentou não olhar para o corpo queimado de Dimitri, mas era difícil desviar o olhar. Respirou fundo e soltou, voltando para os negócios em questão. — Devem ter posto um dispositivo de rastreamento no prisioneiro deles, e isto foi ativado.
Dimitri tomou o oferecimento, sabendo que tinham muito pouco tempo. Mordeu e permitiu que o rico sangue Cárpato fluísse em seu corpo faminto.
— Temos que encontrá-lo, Josef. Pode levá-lo para outra direção e nos conseguir tempo. No momento que se aproximarem, solte-o e vá para o ar. Não deixe que o vejam. — Skyler advertiu.
Enquanto Dimitri bebia, Skyler procurou pelos trapos das roupas dele e mostrou um minúsculo rastreador, que foi colocado no bolso de sua calça.
Josef agarrou isto com a mão livre.
— Vou trazer Paul de cima da árvore e me por em movimento, e depois ver se consigo levar o bando para longe de você. — Piscou para ela, seu sorriso alargando.
— Tome cuidado, Josef. — Skyler advertiu. — Não banque o herói. Isto não é um jogo.
Dimitri fechou o ferimento no pulso dele, mas manteve a posse. Ele olhou nos olhos de Josef, seu olhar glacial.
— Não se arrisque, me entendeu? Não é dispensável, não importa o que pensa. Você é nossa família e ficaremos juntos.
Josef engoliu em seco e assentiu.
— Serei cuidadoso.
— Volte para nós no momento que puder. — Dimitri disse. — Precisaremos de você. — Relutantemente, ele soltou Josef. O garoto achava-se dispensável. Skyler não tinha chegado àquela conclusão ainda, mas Dimitri viu isto nos olhos dele.
— Vou buscar Paul. Comecem a correr. — Josef elevou-se ao ar antes que qualquer um deles pudesse dizer qualquer outra coisa.
Skyler estabeleceu o ritmo novamente, uma velocidade constante, mas rápida, Dimitri em seus calcanhares. Tentou não pensar onde enfiou seus amigos. Se não tivessem achado Dimitri como fizeram, ele estaria morto. Sabia daquilo com certeza, mas não queria sacrificar Josef ou Paul por sua própria felicidade.
Josef colocou Paul diretamente atrás de Dimitri no caminho estreito que abafava os passos deles. Sem outra palavra, afastou-se, movendo-se rápido, levando o dispositivo de rastreamento com ele.
A princípio, Skyler estava certa que o ardil não ia funcionar. O bando parecia permanecer no curso. Seu coração acelerou e sentiu a boca seca. Não seria capaz de conseguir levar Dimitri e Paul ao abrigo seguro deles. Ela escolheu o prado pela riqueza da terra. Nada o tinha perturbado em séculos. A terra era rica com minerais e agentes curativos, tudo o que Dimitri precisaria quando fosse para o chão.
Normalmente levaria semanas para curar as queimaduras terríveis de dentro e fora do corpo dele, mas não tinham semanas. A Mãe Terra iria fazer com que seu filho estivesse na melhor forma possível para a luta — ou voar — se Skyler pudesse apenas levá-lo lá.
De repente, sentiu a mudança do bando, movendo-se para longe deles, circulando ao redor, seguindo o dispositivo de rastreamento que colocaram em Dimitri. Josef estava levando-os para longe. Ele desviou a direção do bando de Lycans, embora gostasse obviamente, de certificar-se que tinha a atenção deles, mas agora estava em pleno vôo, dando-lhes a oportunidade de conseguir tempo e alcançar a meta deles.
Sabe quantos são? Paul perguntou.
Dimitri olhou para o garoto por cima do ombro. Não, não um garoto. Paul se transformou num homem. Era da família dos irmãos de La Cruz, alguns dos mais letais caçadores Cárpatos. Eles juraram fidelidade ao príncipe, e Dimitri não tinha quaisquer dúvidas que todos os cinco irmãos o defenderiam com suas vidas, mas respondiam ao primogênito, Zacarias. Sua reputação era bem merecida. Ele era um predador perigoso, intocado pela civilização, um caçador renomado por suas habilidades e perseguição implacável. Estes eram os homens que ensinavam Paul.
Muitos. Dimitri disse.
Então basicamente um exército inteiro. Existia uma nota de lânguido humor na voz de Paul.
Você pode colocar desta maneira. Dimitri concordou. Não percebi que você era telepata.
Josef trocou sangue comigo. Ele me possibilitou falar com Skyler e ele. Caso contrário, realmente não seria. Paul admitiu.
Mas tem dons psíquicos, também. Dimitri fez disso uma afirmação. Paul poderia ter trocado sangue com Josef para iniciar o processo, mas era muito bom telepaticamente para não ter nenhum talento natural. Sei que você e sua irmãzinha têm um pouco de jaguar em vocês, o que pode ter passado estas habilidades psíquicas, mas me disseram que você não as tinha.
Ginny é muito parecida com Colby. Paul disse, evitando o assunto. Ela tem um dom com os animais, não apenas cavalos, mas todos os animais. Ela pode conversar com eles. A princípio pensei que era uma encantadora de cavalos, mas é muito mais. Ela pode se comunicar com os animais, e eles a entendem tanto quanto ela os entende.
Quando começou a notar a habilidade dela? Dimitri fez o possível para manter a atenção de Paul longe do fato de que, estavam correndo para salvar suas vidas, e Skyler de pensar demais sobre a segurança de Josef.
Ainda assim, Dimitri estava genuinamente intrigado. Os dons se expandiam ou apareciam quando as crianças humanas ficavam mais velhas. Era por isso que Skyler estava se tornando tão poderosa? Era sua idade? Ou a aceitação dela de quem era e o reconhecimento que os dons realmente dominavam?
Ela sempre teve jeito com cavalos. Paul disse. Mas desde que estivemos na América do Sul, está realmente prosperando. Neste último ano todos nós começamos a notar suas habilidades.
Dimitri de repente ficou ciente de outra batida de coração. Ele pegou Skyler exatamente quando ela parou. Paul chocou-se com ele, quase jogando todos fora do caminho. Ele sinalizou para Paul abaixar e ficar quieto. Deslizou o braço ao redor dos ombros de Skyler.
Ouço apenas uma batida de coração na nossa frente. Ele disse. Provavelmente uma sentinela que ficou atrás para advertir o bando, se topasse com nosso rastro. Eles sabem que alguém me ajudou.
Skyler soltou a respiração com a mão na trilha, revolvendo a terra para juntar mais informações. Apenas um em nosso caminho. Está quase diretamente em nossa frente. Ainda que sejamos super fortuitos, não vejo como poderemos passar por ele sem sermos descobertos.
Dimitri poderia, mas mesmo que Skyler camuflasse sua respiração e abafasse os passos dela, o Lycan estava em alerta máximo e os sentiria. Skyler tentou pensar num feitiço, qualquer coisa para desviar o lobo.
Os dedos de Dimitri foram para a nuca dela, massageando, aliviando a tensão dela. Dê-me um minuto. Eu voltarei.
Skyler pegou a mão dele, balançando a cabeça. Não, o bando saberá no momento em que ele cair. Eles se comunicam por algum tipo de rede psíquica. Não telepatia, mas quando caçam assim, têm algum tipo de habilidade de saber onde cada membro do bando está. A formação é crucial para eles. Dê-me um minuto para resolver isto.
Não temos um minuto. Josef não pode fugir deles por muito tempo. Uma vez que o bando o alcance, ele vai ter que sair de lá rapidamente. Ainda que vá para o céu, eles saltam distâncias impressionantes.
Skyler mordeu o lábio com força. Você pode dar-lhe um senso de que altura? Josef se arrisca. Sei que lhe disse para que não o fizesse, mas sempre está tentando provar algo para si mesmo.
Ele ainda não tem senso de auto-estima. Dimitri disse. Posso mandar as informações e adverti-lo novamente que precisamos dele.
Skyler voltou sua atenção para a tarefa em mãos. Criando um desvio para mover o guarda que estava no caminho da segurança.
Apelo ao coração do caçador.
Evoco o cheiro de sangue.
Apelo para a raposa que é ladina.
Use sua astúcia para desviá-lo.
Eles esperaram agachados no caminho. Skyler podia ouvir o coração do guarda agora por sua conexão com Dimitri. Estava surpresa com o quão agudo os sentidos dele eram. Com as mãos na terra, sentiu o movimento da raposa, trotando apenas um pouco no caminho do lobo, longe das vistas, mas roçando a pele ao longo de um arbusto espinhoso.
Imediatamente, o Lycan respondeu ao barulho furtivo que a raposa fez. Ele moveu-se com muito mais cautela, abrindo caminho no meio do mato.
Agora, precisamos ir neste momento. Skyler disse. Adequando a ação às palavras, ela ficou de pé e apressou-se ao longo do tapete verde, enviando orações silenciosas para que o guarda não retornasse exatamente ao mesmo local, mas que escolhesse um lugar longe do caminho deles.
Josef, ouça-me. Dimitri disse. Não pode permitir que o bando chegue muito perto de você. Você nos deu um rumo. Eles saltam alturas tremendas. Fez o possível para dar-lhe um exemplo com imagem, mostrando os caçadores de elite em batalha. Precisamos de você conosco assim que puder voltar.
Josef sabia que os Lycans estavam se aproximando dele. Era um corredor rápido, e na verdade, mal estava pondo os pés no chão, mas apenas deslizando um pouco acima disto, porque não queria que os Lycans pegassem seu cheiro. Eles não podiam seguir o cheiro de Dimitri, mas saberiam de onde vinha o dispositivo que plantaram nele.
Ainda assim, apesar de toda sua velocidade, eles estavam respirando em seu pescoço. Estava na hora de abandonar seu subterfúgio e sair de lá. Ele os levou a vários quilômetros de Skyler, Paul e Dimitri, e esta era sua meta. Lançou o minúsculo dispositivo de rastreamento na camada espessa de vegetação no chão da floresta, e lançou-se ao céu. Conforme fazia isto, um Lycan apareceu do arbusto, meio homem, meio lobo e saltou atrás dele.
Enganchando as garras em suas pernas, terríveis unhas curvas que rasgaram e arrancaram sua carne. O Lycan se recusou a soltá-lo, tentando arranhar seu caminho pelo corpo de Josef até sua barriga. Josef não podia se transformar com as garras nele. O grande peso do Lycan o puxava de volta em direção ao chão, onde mais do bando esperava avidamente. Eles saltavam e rosnavam. Um apontou uma arma em sua direção.
Desesperado, Josef mudou de tática. Não podia transformar seu corpo, mas podia mudar suas mãos. Levantou o braço e trouxe o punho cerrado, agora feito de ferro sólido, diretamente abaixo na cabeça do Lycan. O ruído foi nauseante. O estômago de Josef embrulhou, mas o lobo se soltou para longe dele, aterrissando em cima de dois do bando.
Josef inverteu a direção, transformando-se enquanto o fazia, fazendo seu corpo ficar pequenino para que não pudessem agarrar, o pássaro abriu suas asas e decolou, levando-o para a segurança da copa. Pequenas gotas de sangue fluíam atrás dele como um cometa. Ele circulou para longe do bando e de volta na direção de Skyler e Dimitri.
Ultrapasse-nos para a clareira. Dimitri dirigiu. Chegaremos rapidamente.
O bando sabe. Josef advertiu. Já estão se espalhando e vindo em sua direção, tentando passar na frente de vocês e ao redor por trás de vocês. Posso vê-los daqui de cima. São rápidos Dimitri, muito rápidos.
Conheciam o bosque, e estavam acostumados a correr cada quilômetro sem respirar com dificuldade. Agora estavam num frenesi para alcançar Dimitri.
Posso ter matado um deles. Josef confessou. Sinto muito. Eles estão realmente agitados.
Dimitri soltou toda sua pretensão.
— Corra. Tão rápido quanto puder. Não olhe para trás, apenas vá para o prado. Não siga mais a trilha. Skyler pegue a menor rota possível.
O que importava esconder o cheiro deles? O bando sabia a direção deles e usariam todos os meios para interceptá-los. Podiam não saber sobre o refugio de Skyler no meio da clareira, mas sabiam que estavam percorrendo um destino específico e o bando estava determinado que não o fizessem.
Skyler pegou o ritmo, correndo muito. Não podia imaginar o que este tipo de esforço faria com Dimitri. Já tinha uma grande distensão em seu flanco e seus pulmões estavam queimando. As árvores começaram a afinar, dando-lhes menos cobertura.
Os lobos saltaram da floresta exatamente atrás deles — os guardas por trás à esquerda convergindo em conjunto para tentar impedi-los de escapar.
Um deles levantou uma arma. Dimitri saltou diretamente atrás dela, seu corpo maior protegendo o dela. Skyler, destemida, enviou seu apelo mais uma vez.
Apelo a ti Mãe, ouça meu chamado.
Envie o que é prata para parar os passos deles.
Produza o que é prata, agora deixa isto bloquear.
Use o que está escondido para proteger e parar.
Gotas de prata borbulharam acima da terra e começaram a liquefazer e estender-se pelo chão, por trás e ao redor deles, em um semicírculo. Dimitri olhou para trás e abaixo para a prata espalhando-se rapidamente. Seu corpo estremeceu involuntariamente.
Lycans usam botas. Isto não pode detê-los.
Lycans usavam luvas finas a fim de lidar com as armas de prata se necessário, quando perseguiam o bando de renegados, e quase sempre usavam botas para proteger suas pernas na floresta espessa. A prata no chão não poderia detê-los.
Isto não irá impedi-los, mas os atrasará. Precisamos apenas de tempo. Skyler assegurou.
A prata começou a subir em colunas, assim como redemoinhos de poeiras ou pequenos tornados, espiralando rapidamente à medida que subiam e desciam, sempre cercando o grupo em fuga.
No momento em que um Lycan chegou perto demais, as gotas minúsculas dispararam tornados rodopiantes, salpicando os lobos que surgiam atrás deles. Maldições, grunhidos e rosnados se elevaram, quando alguém disparou contra eles, a bala se lamentando pelas esferas rotativas.
Dimitri virou como se fosse atacá-los, mas Skyler o agarrou, puxando-o pelo braço. Não, não, nós não podemos arriscar começar uma guerra, não se tivermos uma chance de chegarmos até a clareira. Meu sangue foi derramado lá. O feitiço é forte. Eles não poderão penetrar o escudo.
Ele correu, mas não gostou disso. Duas vezes tentou ficar atrás e dar cobertura para Paul também, mas Paul diminuiu a velocidade com ele.
Cuide de Sky. Paul advertiu. Ficarei bem. Se eles continuarem a disparar contra nós, vou atirar de volta, com guerra ou sem guerra. Isto é uma merda.
Dimitri teve que concordar com ele. Não estava acostumado a fugir ou estar tão fraco. Preparou-se para a batalha, sabendo que a parede inteligente de tornados de prata de Skyler, não deteria os Lycans por muito tempo. Assim que este pensamento entrou em sua cabeça, os lobos saíram das árvores, saltando alto para pegar os galhos, elaborando seu caminho em torno das paredes de prata espiralando.
Ele vislumbrou espaços vazios como se a distância das árvores fossem muito mais longas.
Estamos perto. Skyler disse. Mas posso sentir o bando principal aproximando-se de nós. Sinto muito Dimitri, sei que sou quem está atrasando vocês dois.
Ele sempre soube que o bando os alcançaria. Sua preocupação era que o abrigo que Skyler criou não estivesse lá, e fossem pegos em campo aberto, num lugar quase impossível de se defender.
Meu corpo ainda está instável, csitri, ele lhe disse, não estou completamente certo de que seria mais rápido sozinho. Mas ele poderia se virar e abatê-los um por um. Ao inferno de não ir para a guerra, não quando iam matar sua companheira e Paul.
Estou com você, mano. Paul disse.
Eu pensei isto em voz alta? Dimitri perguntou. Era um sinal da debilidade que estava.
Skyler respondeu. Alto e claro. Eu ouvi isto, também. Todo este tempo, pensei que fosse o guerreiro frio, pacífico e tipo Zen.
Dimitri viu que tanto Skyler quanto Paul, acharam sua pequena gafe divertida, e apesar do perigo em que estavam, estava agradecido pelo engano que cometeu. Estavam correndo a toda agora, indiferentes aos seus pulmões queimando e câimbras nos músculos. Sabiam que estavam correndo por suas vidas.
Paul deu um deselegante bufar. Sim, frio e tipo Zen, este é Dimitri. Digo para soltá-lo nestes palhaços.
Pouco mais a frente, Dimitri podia ver a clareira. Skyler invadiu o espaço aberto primeiro, correndo rápido em direção ao centro. Josef esperou, com as mãos no ar, pronto fazer o que fosse preciso para protegê-los, mas não tendo realmente nenhuma ideia de como.
Dimitri compassou exatamente atrás de Skyler, sempre se certificando de que seu corpo bloqueasse o dela da linha dos Lycans. Atrás dele, ouviu Paul grunhir e os passos do garoto mudaram. Ele olhou por cima do ombro, mas Paul continuava a correr, não tão rápido, mas estava vindo para a clareira.
Tiros ecoaram. Ele sentiu cheiro de sangue. Dimitri virou enquanto Skyler derrapava até parar. Atrás deles, Paul caiu, contorcendo-se bem na extremidade do prado. Assim que Dimitri começou a recuar, Paul cambaleou de pé e acenou.
Paul pegou o ritmo novamente, às vezes pulando, mas corajosamente vindo na direção deles. Dimitri podia ver a proteção cintilante, translúcida, mas definitivamente entortando no ar da noite. Algo estava lá esperando por eles. Estava relutante em remover seu corpo de onde bloqueava a linha de fogo dos Lycans de sua companheira.
Entre, Skyler. Fique em segurança. Vou voltar para Paul.
Paul caiu novamente, com força. Qualquer um poderia ver que o garoto estava em apuros. Havia sangue em seu ombro, claramente um atravessou, e mais sangue na perna dele.
Deixe-me ir buscá-lo. Josef disse, passando correndo por Skyler e Dimitri.
Outra rajada de tiros ecoou, e Josef caiu no chão, seu corpo rolando. Skyler soltou um grito assustado e teria corrido passando por Dimitri, mas ele bloqueou o caminho dela.
— Vou buscá-los. Você fica do lado de dentro. — Dimitri usou sua voz mais firme, um comando.
Ele correu em direção aos dois garotos. Ambos os garotos estavam em jogo, Paul forçando-se para cima o suficiente para arrastar seu corpo para a frente, enquanto Josef rolava e ficava de pé, permanecendo abaixado e ziguezagueando, enquanto corria em direção a Paul.
— É uma armadilha. — Skyler gritou, de repente vendo o bando de Lycans que emergia da floresta, todos com armas apontadas para Dimitri. — Estão usando Josef e Paul como isca.
Dimitri já sabia que era exatamente o que os Lycans estavam fazendo. Seriam muito mais precisos em suas pontarias se quisessem os garotos mortos. Correu passando por Josef e alcançou Paul, curvando-se até erguê-lo.
Uma rajada de tiros ecoou, muitas armas disparando balas de prata diretamente nele. Ele ouviu um grito de puro medo de Skyler por ele, e em seguida de alguma maneira ela estava lá, lançando seu corpo na frente do dele, seus braços completamente estendidos para dar-lhe o máximo de proteção possível. Até mesmo saltava no ar para proteger a cabeça dele.
O corpo dela foi arremessado com força de volta no dele, e ele a pegou, a queimadura da prata atravessando ambos, seus braços e pernas. Virou e correu a toda para a segurança do escudo dela. Atrás dele, Josef pegou Paul e correu atrás dele.
Os Lycans dispararam repetidas vezes, o som como trovões, uma saraivada atrás da outra. Dimitri saltou pela parede transparente, sentindo o arranco em seu corpo, uma terrível e desorientadora torção, quase cortando seu corpo ao meio, quase como se o abrigo deles o rejeitasse. Depois que atravessou, a sensação estranha desapareceu, deixando atrás a percepção que não apenas Skyler foi baleada numerosas vezes, mas ele também.
Josef gritou quando atravessou, Paul jogado sobre os ombros dele. Salpicos de vermelho pontilhavam ambos os corpos.
Dimitri colocou sua companheira no chão, seus dedos procurando por uma pulsação. Ela estava sangrando por meia dúzia de ferimentos, qualquer um do quais a mataria. Não encontrando nem mesmo uma leve batida de coração, jogou a cabeça atrás e rugiu sua ira e tristeza.
Mikhail Dubrinsky, príncipe do povo Cárpato, estava sentado em frente aos quatro membros do conselho Lycan que vieram negociar uma aliança com ele. Trouxeram um regimento de guardas para protegê-los. Não podia culpá-los — também chamou seus guerreiros. Isto fazia uma combinação interessante.
Gregori Daratrazanoff não gostou nada disto, entretanto era incumbido da proteção pessoal de Mikhail, e basicamente colou-se ao lado de Mikhail. O tópico principal na mesa, e o maior pomo de discórdia entre as duas espécies, era o assunto do sangue misturado. Os Lycans evitaram os Cárpatos por séculos, assegurando que tal mistura entre as duas espécies não acontecesse.
Os Lycans se referiam a qualquer mistura entre Lycans e Cárpatos como Sange rau — sangue ruim. Acreditavam que qualquer um que tivesse tal mistura deveria ser encontrado e morto. Desde que isto não acontecia com muita frequentemente, nenhum de seus caçadores estava bem versado em matar tal mistura.
Mikhail viu o Sange rau em ação e podia bem entender o perigo, não só para os Lycans, mas para todas as espécies. Eram quase incontroláveis — a menos que tivesse outro de sangue misturado para trazê-los à justiça. Esta era a chave nesta reunião. Tinha que convencer o conselho dos Lycans que havia uma diferença entre o cruzamento de lobo/vampiro e o cruzamento de Lycan/Cárpato. O lobo/vampiro assassinava tudo e todos sem discriminação, às vezes simplesmente pelo prazer de matar — da mesma maneira que um vampiro faria. O Lycan/Cárpato era chamado de Hän ku pesäk kaikak — Guardião de Todos. Os Cárpatos deram este nome ao sangue misturado porque era verdade: lutavam por todas as espécies contra o Sange rau.
Ele gostou de todos os quatro membros do conselho. Era cada qual bem diferente. Lyall era de fala mansa, escutava atentamente e parecia extremamente inteligente. Randall era um urso de homem, peludo e vultoso, com uma voz intensa, um aperto como um torno, ainda assim era definitivamente o mais razoável. Pesava o que dizia, pensativo. Arno tinha o melhor senso de humor, era mais aberto e amigável que os outros, mas também era o mais franco sobre o Sange rau. Rolf raramente falava, mas quando o fazia, os outros Lycans imediatamente emudeciam e escutavam todas as palavras. Se houvesse um único alfa entre os membros do conselho — e Mikhail estavam certo que havia — Rolf seria o líder.
Francesca Daratrazanoff movia-se graciosamente pelas mesas. Lycans comiam comida, e ela distribuía as comidas que a pousada local entregou-lhes. Era um recurso com seus gentis e calmos modos, e mais de uma vez, quando o debate entre os Lycans e os Cárpatos esquentou, ela escolheu este momento para inserir algum pequeno comentário com sua voz suave, trazendo-os todos de volta sob controle.
Ainda assim, o nível de tensão era extremamente alto na sala, dado que os irmãos de La Cruz estavam presentes. Todos trouxeram sua companheiras para a Romênia, embora nenhuma das mulheres estivesse na reunião, o que não surpreendeu Mikhail. Monolito De La Cruz e sua companheira, Maryann, seriam considerados Sange rau pelos Lycans, por terem sangue misturado. Felizmente, os Lycans podiam apenas descobrir tal coisa durante a lua cheia, então não tinham nenhuma ideia, mas impedir os irmãos muito letais de saltar em cima e matar os Lycans, todas as vezes que insistiam que o Sange rau deveria ser morto, estava definitivamente se tornando um problema.
Lucian e Gabriel Daratrazanoff falavam pouco. Nenhum deles se juntou aos argumentos, mas ficaram no fundo observando o resultado da reunião com interesse. A filha de Gabriel, Skyler, era companheira de Dimitri, e os Lycans mantinham Dimitri cativo. Mikhail foi assegurado pelos membros do conselho que Dimitri estava seguro e permaneceria daquele modo até que a cúpula entre as duas espécies chegassem a uma decisão.
Mikhail esfregou a nuca. Seu povo nunca aceitaria a visão dos Lycans do sangue misturado — e nem ele o faria. Todos os debates e discussões aquecidas eram realmente um desperdício de tempo. Nunca mudaria a posição deles sobre o assunto, ou concordaria em dar uma sentença de morte a homens inocentes, apenas pela possibilidade remota de que pudessem virar criminosos.
Mikhail levantou-se, um sorriso em seu rosto, pedindo uma pausa na reunião quando o debate estava mais uma vez se tornando extremamente aquecido.
— Estou certo de que vocês estão todos famintos, e Francesca está sinalizando que a comida chegou. Ela deixou muito claro para mim que devem comer enquanto está quente. Devemos adiar e dar a este assunto um descanso.
Dar a isto um descanso?
Ele olhou para Gregori. Seus olhos se encontraram. A diversão apareceu brevemente nos olhos de Gregori, embora não mudasse de expressão.
Zacarias não disse uma palavra, mas as mulheres não estão aqui esta noite.
Margarita, Colby, Juliette, Lara e Maryann estão todas guardadas em algum lugar seguro, Mikhail assinalou. Esta reunião vai deteriorar rapidamente se não pensarmos numa maneira de conseguir que os Lycans entendam a diferença entre vampiro e Cárpato. Monolito e Rafael estão completamente agitados.
Isto surpreende você? Algo realmente catastrófico teria que acontecer para ativar Zacarias a fazer qualquer tipo de movimento sem sua permissão. Gregori assegurou.
Os membros do conselho Lycan se levantaram e moveram em direção às mesas. Seus guardas seguindo bem atrás deles, flanqueando-os, uma parede sólida de homens grandes. Mikhail estava muito ciente de quão rápido os Lycans se moviam na batalha. Todos estavam armados, da mesma maneira que seus homens estavam.
Em algum lugar ao longe ouviu uma mulher chorar convulsivamente. Colby De La Cruz, companheira de Rafael. O som era alto, um lamento, um gemido de medo e pesar. Nicolas De La Cruz saltou de pé, seus irmãos seguindo o exemplo. Houve um silêncio imediato na sala, os Lycans virando ao redor, enfrentando o que pareceu ser uma ameaça muito letal.
Mikhail colocou-se entre as duas facções, levantando as mãos, enfrentando os irmãos. Francesca gritou, cobriu seu rosto com ambas as mãos e teria caído ao chão se Gabriel não pegasse ao redor de sua cintura e a segurasse, apertando o rosto dela em seu ombro, seus olhos frios e duros, enquanto também olhava fixamente com intenção letal para os Lycans.
Não havia nenhuma maneira de parar a onda instantânea de reconhecimento da traição. Mikhail virou ao redor para enfrentar os membros do conselho. A tristeza na sala estava subjugando, apertando todos eles.
— Eles eram crianças. — Francesca acusou. — Você matou nossas crianças. — Ela começou a soluçar. — Ela está morta, Gabriel. Oh, Deus, como isto pôde acontecer? Como eles puderam matá-la?
— Você entra em minha casa, se senta na minha mesa e todo este tempo, estava cometendo tal deslealdade? — Mikhail disse, sua voz muito baixa, um chicote, atingindo duro os quatro membros do conselho.
Eles estremeceram pelo seu tom, olhando de um para o outro. Os guardas Lycans agarraram suas armas. Gregori pegou Mikhail e praticamente o empurrou para trás. Lucian intensificou ao lado dele, apresentando assim uma parede sólida entre os Lycans e seu príncipe.
Foi Rolf quem empurrou e passou seus próprios guardas e permaneceu sem qualquer arma, enfrentando seus acusadores.
— Não tenho nenhum conhecimento do que está acontecendo. Claramente, você está ciente de algo trágico acontecendo. Viemos aqui de boa fé. Não cometemos qualquer crime contra seu povo, e certamente não matamos crianças.
Mikhail moveu-se passando seus próprios guarda-costas, embora ambos se reforçassem ao lado dele, preparados, estava certo, para matar todos na sala se fizessem um movimento na direção dele. Mal podia suportar o olhar de pesar esculpido profundamente no rosto de Gabriel. O choro de Francesca partia seu coração, ainda assim havia o halo de verdade na voz de Rolf.
— A filha de Gabriel e Francesca, Skyler é a companheiro de Dimitri. — Ele explicou.
— Eu a ouvi. — Francesca disse, erguendo seu rosto do ombro de Gabriel. Ela empurrou atrás seus longos cabelos escuros e deu um passo em direção a Rolf — um passo muito agressivo.
Como todo Cárpato, homem ou mulher, ela mantinha grande poder. Mikhail poderia ser capaz de manter os homens sob controle pelo tempo suficiente para chegar à verdade, mas o lamento de uma mulher que perdeu um filho era outra coisa completamente diferente.
— Eu vi. Dimitri pendurado numa árvore por ganchos, a prata retorcendo seu caminho até o coração dele. Mentiu para nós. Disse que ele estava seguro, mas enquanto você se sentava aqui, encantando a todos nós, estava matando-o, torturando-o, morte por prata é assim que isto se chama. — Francesca acusou.
Ela deu outro passo na direção do Lycan. Gabriel colocou uma mão gentil em seu braço, mas ela escapou disto.
— Ela o libertou, e seu exército a perseguiu.
— Paul estava com ela. — Nicolas disse. — Ele foi atingido também.
— Com prata. — Francesca disse. — Eles crivaram o corpo dela com prata.
Rolf franziu o cenho, balançando a cabeça.
— Eles não o fariam. Estou dizendo que nenhuma sentença foi legada a Dimitri. Era para ele ser mantido a salvo.
Os outros membros do conselho olharam um para o outro, as expressões perplexas ou alarmadas.
Francesca deu outro passo na direção de Rolf.
— Ela tinha dezenove anos de idade. Dezenove.
A porta escancarou e um par apareceu junto da entrada. O coração de Mikhail afundou. Como possivelmente podia impedir uma guerra entre Lycans e Cárpatos? Razvan dos Caçadores de Dragões, pai biológico de Skyler, e sua companheira, Ivory, permaneciam ombro a ombro. Paul era um De La Cruz. Skyler era Daratrazanoff e Caçadora de Dragões. Prejudicar qualquer um deles faria com que os predadores letais implacavelmente procurassem o autor do crime. Não haveria nada que detivesse essas famílias.
— Não fizemos isto. — Rolf repetiu, desta vez olhando diretamente para Francesca. — Juro para você, dou minha palavra de honra, nós não fizemos isto.
— Ela não está morta. — Josef gritou. — Ela não pode estar morta. Siga-a Dimitri. Você tem que segui-la. — Ele ficou de quatro para ficar ao lado de Dimitri. —Ela é Caçadora de Dragões. Ela é forte. Siga-a.
Paul arrastou-se para o outro lado de Skyler e Dimitri, uma perna inútil para ele. Ele assentiu.
— Ela lutará pela vida com a mesma determinação que lutou por você.
Skyler estava ali deitada inanimada nos braços de seu companheiro. Dimitri respirou fundo. Ele mesmo estava sangrando por vários ferimentos, a prata retorcendo por seu corpo, queimando com uma intensidade terrível, mas nada podia rivalizar o pesar e raiva subindo como uma tormenta fora de controle. A loucura estava perto — muito perto. Podia sentir a escuridão que rondava dentro dele, as extremidades se transformando em vermelho ardente. Puxou outra respiração, lutando contra as emoções que ameaçavam desonrá-lo.
— Se conseguir pegar o espírito dela e trazê-la para perto, você terá que convertê-la, Josef. Não poderei fazer ambos. — Dimitri instruiu. Sua voz estava áspera, rouca, o medo por Skyler o sufocando.
Ele verteu seu corpo rapidamente, tornando-se espírito puro, uma luz branca que entrou no corpo dela e se apressou abaixo pela árvore da vida atrás do espírito dela desvanecendo. Ele a conhecia tão bem. Todas as expressões. O som de seu riso. O modo como a cor de seus olhos mudava e seus cabelos listrava colorido, até mesmo quando o tingia. Conhecia seu coração e alma. Aquela espinha de aço que a tornou tão formidável. Acima de tudo conhecia seu amor.
Não posso perdê-la. Sua alma está amarrada com a minha. Somos um, csitri. Aonde você for, eu a seguirei. Fique onde está, espere e deixe-me alcançá-la.
Lá na escuridão ele a sentiu. Não havia nenhuma luz para guiá-lo, mas sentiria a sensação dela em qualquer lugar. Aquela natureza suave e gentil, aquilo que o cercava e o mantinha com ela, quando tudo mais estava perdido. Ela o encontrou na sua hora mais sombria. Sua dama. Sua Skyler.
O espírito dele se moveu descendo ao longo do tronco da árvore da vida, passando pelos galhos superiores. Uma vez abaixo deles, não pode senti-la mais. Um momento de pânico quase o lançou de volta ao seu próprio corpo, entretanto se tranquilizou, solicitando os séculos de disciplina. Caçá-la no frio e na escuridão exigia tranquilidade, não pânico, e se recusou a perder quando sabia que ela estava ainda lá — em algum lugar.
Dimitri elevou-se devagar, desta vez permitindo que a sensação do Guardião emergisse. No momento que o fez, ficou ciente de tudo o que havia lá na escuridão. As almas clamando. Aqueles sem almas abaixados na escuridão esperando por um viajante desavisado que os conhecesse. O frio intenso vindo das profundezas, subindo para infundir tudo em seu caminho com gelo.
Ainda por cima dele e apenas à sua esquerda, havia um bolsão de calor entre dois galhos, quase como se algo estivesse preso lá, ou agarrado. Ele moveu-se rapidamente, cercando aquele calor com sua luz, mantendo-o cativo, reconhecendo a sensação e a força do amor incondicional dela por ele.
Päläfertiilam. Companheira. Hän ku vigyáz sívamet és sielamet — guardiã do meu coração e alma. Entregue a si mesma em minha guarda. Deixe-me segurá-la forte, enquanto Josef a traz completamente para meu mundo. Para fazer isto, deve ter confiança absoluta em mim. Precisarei possuir seu corpo.
Ela tinha ido longe demais. Nunca poderia tomar o sangue de Josef até mesmo com a ajuda dele. Não estava nem mesmo certo se a conversão poderia ser feita. A possessão era proibida, uma ferramenta do mundo mago ou vampiro, mas talvez não houvesse nenhuma outra maneira.
Skyler não podia responder. Ele não podia nem ver uma tênue trêmula luz, mas o calor dela aumentava ao ponto de calor verdadeiro. Tomou aquilo como um sim. Dividiu seu espírito, um movimento perigoso quando seu próprio corpo estava queimando de dentro para fora. Nada importava exceto salvar sua companheira.
Ele voltou ao seu corpo, desorientado e agitado. Uma parte dele permaneceu no mundo inferior.
— Paul, ela é uma filha da Terra. Não podemos curar estes ferimentos a tempo, mas a Mãe Terra pode fazê-lo. Consiga a terra mais rica e aperte isto em cada buraco de bala. Josef tome o sangue dela, o suficiente para uma troca.
— Mas... — Josef e Paul trocaram um olhar de incredulidade.
— Apenas faça isso. Então dê a ela seu sangue.
Dimitri não esperou que eles concordassem com seu plano. Tomando posse do corpo inanimado de Skyler. O ajuste era estranho e errado. Os olhos dela estalaram abertos e olhou para Josef.
Josef afastou-se de Skyler. Reconhecia aqueles gélidos olhos azuis, e não eram os de Skyler. Se ele fizesse aquilo que Dimitri pediu, ela se elevaria como uma marionete? Uma morta-viva? Balançou a cabeça com a ideia. Não havia nenhuma escuridão em Skyler, nem mesmo com seu poderoso sangue de maga. Ele a conhecia.
Ele se debruçou e afundou os dentes no pescoço dela, apreciando a combinação poderosa da linhagem dela. Tinha tomado seu sangue muitas vezes antes, quando foi pego de surpresa, longe dos outros e precisava se alimentar, mas ela estava diferente agora. Mais potente. Havia até mesmo um gosto diferente nela. Não sabia se estava se alimentando de Skyler ou Dimitri, ou uma combinação de ambos.
Quando estava certo que tomou o suficiente para uma troca, rasgou seu próprio pulso e apertou a laceração na boca de Skyler. Os movimentos dela eram bruscos, duros até, como se ela tivesse pouco controle sobre seu próprio corpo. Sua língua hesitante roçou sobre o ferimento, e então começou a beber, um pequeno movimento, apenas lá, reforçando.
Chocado, Josef deu-lhe tanto sangue quanto ousou, não entendendo o que Dimitri estava fazendo. Sabia que curandeiros podiam recuperar espíritos que não foram muito longe no outro mundo, mas nunca tinha visto isto sendo feito. A conversão era severa para o corpo. Uma espécie não permitia facilmente que outro assumisse o comando. Mas possessão? Tal abominação era proibida. Não se assumia o comando do corpo de outro.
Nesta fase, Skyler ainda era humana. Pressionar terra, não importa quão rica, em seus ferimentos possivelmente não poderia curá-la. Ainda assim, Paul fez como Dimitri instruiu e então o fez Josef. O que mais eles poderiam fazer?
Ao redor deles, os Lycans estavam ficando selvagens e desesperados para atravessar o escudo transparente que Skyler ergueu. Eles o raspavam com as garras nuas. Mordiam, disparavam balas nele, e até o cortavam com as espadas. O escudo resistia. Lycans subiam nas árvores cercando a clareira e os mais fortes deles davam grandes pulos, num esforço para ultrapassar por cima do escudo. A maioria caía no chão, mas dois aterrissaram sobre suas cabeças, lançando seus corpos com força no teto transparente. Mais cavavam no chão num esforço febril, frenéticos para cavar um túnel por baixo do escudo para entrarem.
Razvan enviou a Gabriel e Lucian um olhar silencioso, virou as costas e saiu abruptamente pela entrada, andando a passos largos para longe, seus ombros a única coisa que demonstrava sua raiva absoluta. Não havia nenhuma dúvida na mente de ninguém, que ele tinha a intenção de encontrar aqueles que assassinaram sua filha.
Ivory entrou pela porta e caminhou diretamente até os Lycans, destemida. Suas costas estavam cobertas por tatuagens de lobos. Os lobos olhavam fixamente para os Lycans com olhos vividos, quando ela se moveu pelas fileiras deles. Ninguém disse uma palavra. Ninguém se moveu, nem mesmo quando ela emergiu do bando de Lycans, para ir até Rolf e olhá-lo nos olhos.
— Ele não mente. — Ela anunciou. — Parece que nenhum dos membros do conselho superior estava ciente desta traição, mas não posso dizer se todos aqueles que os guardam desconheciam esta traição. Há um cheiro de conspiração aqui. Quais são os culpados, não posso dizer.
Ivory recuou até Rolf.
— Você não me conhece, mas sou lobo também, não no sentido de sangue, mas tive meu próprio bando por séculos. Posso dizer-lhe, alguém quer uma guerra entre Cárpatos e Lycans. Não sei quem se beneficiaria com tal guerra, mas existem aqueles de sua espécie que trabalham contra você.
Rolf franziu o cenho para ela.
— Ouço o halo da verdade em sua voz, mas não há nenhum indicio de tal traição. Seria difícil esconder isto de nós.
Ivory gesticulou em torno da sala.
— Quem está por trás disso, agora tem a arma perfeita disponível com eles. Estes guerreiros irão buscar seus filhos. Nenhum deles ficará por baixo. Nenhum irá parar. Caçarão todos os Lycans que tomaram parte na morte de seus filhos. Ninguém estará seguro. Ninguém. Você e Mikhail devem encontrar um caminho para deter isto.
Abruptamente ela se virou e saiu, seguindo seu companheiro.
— Rolf. — Um dos guardas, um homem de nome Lowell, adiantou-se. — Devíamos tirar todos vocês daqui, antes que isto se agrave.
Outro guarda, Varg, assentiu de acordo.
— Não temos nenhuma confirmação de que tudo isso é verdade. Isto pode ser a conspiração deles para matar todos nós e lançar o mundo dos Lycan no caos.
Várias espadas dos guardas foram puxadas, de forma que a luz atingiu a prata, fazendo-a cintilar com ansiedade. Mais do que um começou a se transformar de sua forma humana para Lycan, metade lobo, metade homem.
Dois dos caçadores de elite que Mikhail reconheceu se colocaram em posição para defender Rolf. Daciana e Makoce, dois da elite do bando de Zev, trocaram olhares inquietos. Estavam cientes, mais que os outros, do perigo que todos os Lycans estavam. Haveria um banho de sangue aqui, se a tensão continuasse a se intensificar entre as duas espécies.
Os irmãos de La Cruz imediatamente se espalharam, um sinal claro de agressão. Jacques Dubrinsky, Irmão de Mikhail, e vários outros machos Cárpatos se moveram nos espaços ao redor de Mikhail. As duas espécies enfrentavam uns aos outros, movendo-se cautelosamente para darem-se espaço para lutarem, ainda cuidadosos para não ativar um ataque.
Rolf não tirou os olhos do rosto agoniado de Francesca.
— Nós não sabíamos. Quando ouvimos que um Sange rau foi pego...
— Dimitri não é Sange rau. — Mikhail reiterou, ignorando a advertência de Gregori e emergindo da linha de protetores ferozes que colocaram seus corpos entre o dele e o perigo. — Ele é Hän ku pesäk kaikak, Guardião de todos. Ele salvou as vidas de seus Lycans, e eles o recompensaram com a deslealdade. O Sange rau teria arriscado sua própria vida para salvar dois de seu povo?
Rolf balançou a cabeça.
— A maior parte dos outros nunca experimentou a destruição completa que tal combinação provoca. Proibimos o contato com os Cárpatos a fim de prevenir que tal mistura de sangue surgisse.
— Se sabia que Dimitri possivelmente não poderia ser Sange rau, um renegado, uma mistura de vampiro/lobo, por que o manteve, então? — Mikhail perguntou.
Apesar do tom baixo e frio de ambos os líderes, a tensão na sala continuava a crescer. Mikhail alfinetou Zacarias com os olhos penetrantes. Zacarias era o líder entre seus irmãos, um predador feroz e selvagem, que permaneceu indomado e incivilizado apesar de ter encontrado sua companheira. Era o homem mais letal na sala, e o mais imprevisível, um regresso aos velhos tempos, quando os Cárpato caçavam sem medo de serem descobertos.
Sabia que Zacarias era a lei até para si mesmo. Ele esteve durante muito tempo nas selvas, um caçador antigo sozinho, longe de casa, com a escuridão sempre o rasgando, ainda assim permaneceu um homem honrado.
Não seremos aqueles que começarão a guerra, Zacarias. Mantenha seus irmãos, especialmente Rafael sob controle, enquanto resolvo isso. Rafael era o companheiro de Colby, irmã de Paul. Ele amava o garoto e sem dúvida nenhuma, estava furioso porque os Lycans ousaram atacá-lo.
— Não tínhamos interrogado Dimitri ainda. — Rolf disse. — Nenhum de nós colocou os olhos nele. Enviamos um aviso que o tratassem com respeito e cuidado, enquanto estivéssemos fora. Uma chamada para Zev Hunter, e terei uma compreensão mais clara do que está acontecendo.
— Zev é um bom homem. — Mikhail disse. — Um que confiamos. Ele não fez parte da prisão de Dimitri, e saiu logo em seguida para localizar aqueles que o levaram.
Rolf balançou a cabeça.
— Zev é o líder da equipe de elite. Eles não agiriam sem autorização de Zev. Isto seria... — Ele franziu o cenho, olhando de Daciana para Makoce, os dois dos quatro membros do bando de elite de Zev, que estavam ali para protegê-lo. — Traição.
Daciana e Makoce ambos assentiram com a cabeça.
— Estávamos lutando com o bando de renegados aqui com os Cárpatos. — Daciana explicou. — Zev estava conosco. O Sange rau projetou uma imagem, uma ilusão de si mesmo, e todos acreditamos que havia uma ameaça iminente para o príncipe. Enquanto lutávamos aqui, dois dos membros de nossa equipe, Gunnolf e Convel escaparam, e de alguma maneira este incidente aconteceu com Dimitri.
— Como pode dois de seus caçadores de elite, que lutaram conosco, nos trair, sequestrar o homem que salvou suas vidas, torturando-o e assassinando nossos filhos? — Francesca exigiu.
Rolf olhou ao redor da sala para a postura dos guerreiros e balançou a cabeça.
— Não tenho uma resposta para você. Posso apenas reiterar que não viemos aqui para começar uma guerra. Entramos em paz para construir uma aliança com vocês. Uma aliança entre nós não beneficiaria apenas sua espécie, mas a nossa e os humanos também. Permita que eu saia e dê um telefonema para Zev. Chegarei ao fundo disso.
— Por que precisa de permissão para qualquer coisa daqueles que abrigam o Sange rau? — Lowell, o guarda que insistiu que não havia nenhuma prova do ataque às crianças, exigiu. Sua voz aumentou, uma agressiva zombaria adicionando combustível ao fogo. — Olhe para eles, vivendo nas montanhas, escondendo-se do mundo. Pensam que têm o poder de nos ditar, mas não são nada. Não precisamos deles. Nenhum Lycan mataria uma criança. — Ele olhou seus companheiros guardas. — Eles inventaram esta história a fim de ter uma razão para matar a todos.
Um murmúrio de concordância quase inflamou Rafael em ação. Ele fez um movimento, suas mãos elevando-se, mas Zacarias olhou para ele, seu rosto parecia de pedra e Rafael acalmou.
— Lowell. — Rolf disse, sua voz firme. — Você permanecerá calado.
— É meu dever mantê-lo e a todos os membros do conselho seguros. — Lowell insistiu. — Tenho um trabalho a fazer, e enquanto respeito sua autoridade, nesta caso, acredito que seja importante salvá-lo de si mesmo.
A maioria dos guardas pareceu concordar, assentindo com a cabeça, ou simplesmente pegando mais armas.
Mikhail, você deve sair agora, Gregori insistiu. Isto está saindo do controle. Lowell deliberadamente está virando os outros Lycans contra nós. Ele quer começar uma luta. Sua segurança é muito importante para arriscar.
Talvez assim seja, Mikhail concordou, mas uma vez que eu deixe a sala, uma luta começará. Não quero desistir ainda. Rolf é um homem honrado. Não apenas sinto isto, mas Ivory confirmou minha convicção, e você sabe que ela é extraordinária.
Gabriel moveu-se para o lado de Francesca. Lucian, seu gêmeo, deslizou entre a fileira dos irmãos de La Cruz juntando-se ao seu irmão para proteger Francesca.
— Você permanecerá quieto, Lowell. — Rolf ordenou. — Todos vocês. Não vamos aumentar isto sem conhecer todos os fatos. — Ele retornou sua atenção para Francesca. — Sinto tanto por sua perda. Não posso imaginar o que deve estar sentindo, mas prometo-lhe que conseguirei as respostas.
Francesca examinou os olhos dele pelo que pareceu uma eternidade, antes de movimentar a cabeça, virar e enterrar o rosto agoniado contra o ombro de Gabriel. Enquanto Gabriel afastava-se dos Lycans, seu braço ao redor de sua companheira, Lowell ergueu a espada, executando um rápido e fluido arremesso nos dois Cárpatos.
Lucian foi mais rápido. O lendário Cárpato encontrou espada com espada, aparando o golpe para longe, de forma que Gabriel e Francesca saíssem ilesos. O som de metal confrontando acendeu a sala.
Josef afundou nos calcanhares, tentando não soluçar. Não tinha nenhuma ideia de como Dimitri pensava salvar Skyler, mas não havia realmente nenhuma vida no corpo dela. Ela permanecia deitada como se estivesse morta, seus olhos abertos e fixos, ainda que não fossem seus olhos. Nem seu espírito. Paul lotou cada entrada de bala com a rica terra, num esforço para deter a hemorragia. As balas eram de prata, projetadas para matar um lobo renegado ou o Sange rau. Josef tinha um desejo insano de arrancar a prata fora do corpo de Skyler. Até isto parecia uma abominação para ele.
Ele olhou para o rosto agoniado de Paul e então desceu pelo corpo dele.
— Você foi baleado. — Anunciou, como se isso fosse novidade. Percebeu que estava em choque. Claro que sabia que Paul foi baleado. Ele foi baleado. Dimitri e Skyler foram baleados. Os Lycans estavam lá com um propósito. Ele olhou ao seu redor, sentindo-se atordoado e um pouco tonto. — Eles nos cercaram.
— Sim, eu notei. — Paul disse. — Acho que pretendem trazer uma ogiva. — Ele pegou a mão flácida de Skyler na dele e se esticou ao lado dela. — Vá para o chão, Josef. Pode curar-se no chão. Skyler iria querer isto.
— Não vou para o chão até que resolva os ferimentos dela da melhor maneira possível, e traga Skyler de volta.
Josef engasgou várias vezes, limpando a garganta repetidamente, determinado a não desabar e chorar. Queria que Paul acreditasse que ainda havia uma chance de salvar Skyler. Não acreditava nem por um momento que Skyler pudesse retornar dos mortos, e julgando pelas escolhas loucas de Dimitri, temia que o Cárpato se transformasse de Guardião para Sange rau e todos estariam em apuros. O pensamento o apavorou. Nunca poderia derrotar Dimitri numa batalha, nem mesmo um fraco, faminto e torturado Dimitri, mas não podia deixar que Paul o enfrentasse sozinho — ou enfrentasse a morte de Skyler sozinho.
O corpo de Skyler sacudiu inesperadamente e ambos os homens quase saltaram fora de suas peles. Josef pegou a mão dela. Estava gelada — fria o suficiente para fazê-lo ter calafrios. Onde quer que estivesse, não habitava o corpo que estava entre eles.
Veja os ferimentos de Paul.
A voz de Dimitri em sua cabeça o fez saltar quase tanto quando o sacolejar desajeitado de Skyler. Ele soava longe e cansado, como se o que quer que estivesse fazendo, estivesse custando caro.
O que você está fazendo? Josef exigiu. Dimitri, possuir o corpo de Skyler não a trará de volta.
Achei seu espírito. E ainda está morno. Se seu corpo humano sofrer uma conversão, tenho uma chance de empurrar seu espírito de volta em seu corpo. Ela consentiu, deu-me sua inteira confiança.
A respiração de Josef ficou presa em seus pulmões. Dimitri iria sofrer a conversão no corpo de Skyler. Ele estava ferido. A prata queimava pelo corpo dele. Ainda debilitado e faminto, as chances dele morrer com Skyler eram enormes.
Não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, manter Skyler neste mundo e sofrer a conversão, Josef advertiu. Ele respirou fundo, apavorado, mas disposto. Existe alguma maneira que eu possa tomar seu lugar no corpo de Skyler — pensar em fazer isto o apavorou totalmente — ou manter o espírito dela neste mundo?
O corpo de Skyler sacudiu novamente. Seus olhos estavam selvagens, azuis glaciais, mas espiralando com outras cores por baixo do azul — um belo cinza que Josef reconheceu. Os olhos de Skyler, quando estava completamente tranquila e relaxada, frequentemente eram daquela sombra surpreendente de cinza. Quando estava feliz, seu surpreendente azul brilhava. Agora, ali parecia haver uma mistura e pela primeira vez, Josef teve esperança que ela não partiu completamente de seu mundo.
— Lute Skyler. — Ele sussurrou. — Não tenho ninguém mais, só você e Paul. Lute para voltar. Você é forte.
Obrigado Josef, por sua oferta, Dimitri disse. Desta vez sua voz estava afiada com dor. Você sempre foi o irmão que ela amava. Você e Paul. Está contente que esteja aqui com ela, você dois. Acrescentando sua coragem para ver esta coisa completa. Não pode tomar meu lugar. Ela foi para muito longe de nós, e estou segurando-a por nossa conexão mais que qualquer outra coisa. Não pode sofrer a conversão por ela.
A voz de Dimitri estava cansada agora. Rouca e áspera. Josef podia ver as ondulações sob a pele de Skyler, como se o corpo dela voltasse à vida, apesar de apenas seus olhos mostrarem realmente sinais de vida. Seu corpo estava gélido, sua pele quase cinza.
Conto com você para atender Paul, e então abrir o chão para nós. Encontre uma maneira de manter Paul o mais seguro e confortável possível. Fen e os outros estão se aproximando, mas eles também precisarão ir ao chão. Eu contei sobre isso... Dimitri interrompeu-se bruscamente.
Josef sentiu um lampejo de dor ofuscante. O corpo de Skyler convulsionou.
Paul ofegou e rolou para encará-la, puxando a mão dela para seu peito.
— O que devemos fazer? Temos que fazer algo.
Josef balançou a cabeça.
— Não há nada que possamos fazer. Ela está sofrendo a conversão, seus órgãos remodelando. Seu corpo humano deve morrer de certo modo, para que a conversão funcione. Todas as toxinas serão removidas de seu corpo e ela será refeita como Cárpato. O processo é extremamente difícil.
Ele deu a volta ao redor de Skyler e se ajoelhou ao lado de Paul.
— O ferimento em sua perna parece estar pior. Você está sangrando muito.
— Não ponha terra no ferimento. — Paul disse. — Não sou Cárpato ou prestes a ser, e vou acabar com uma gangrena ou algo igualmente tão terrível. — Seu olhar se manteve desviado para o corpo de Skyler, embora tentasse o máximo possível não olhar para o que estava acontecendo com ela.
Josef queria distraí-lo, sabendo que o pior ainda estava por vir. Não queria dizer a Paul que era Dimitri quem estava possuindo o corpo de Skyler por ela, porque até para o mundo dele isso era estranho — e errado.
— Um pouco de terra não machuca ninguém. Fique quieto por um momento. Não pode se mover ou me distrair, ainda que Skyler comece a convulsionar. Esteja preparado para qualquer coisa, Paul. Estou contando que não se mova, enquanto estou tentando curá-lo de dentro para fora.
Ele verteu seu próprio corpo e entrou em Paul. Ele deliberadamente deu a Paul a tarefa de se concentrar nele, em vez do que estava acontecendo com Skyler. Skyler estava completamente nas mãos de Dimitri. Josef nunca ouviu falar de alguém tentando o que Dimitri estava fazendo. Por mais que quisesse que isto funcionasse, temia que Skyler não pudesse ser recuperada e Dimitri seria empurrado para os limites da loucura. Estava muito contente que Fen estivesse se aproximando, e enviou uma oração silenciosa para que o irmão mais velho de Dimitri — ele próprio um Guardião — chegasse lá a tempo de destruir Dimitri se ele se tornasse o Sange rau.
Dimitri estava bem ciente dos pensamentos de Josef. Temia muito aquelas mesmas coisas. Estava fraco, e neste momento, seu único foco estava em salvar Skyler. Uma vez que tomou posse do corpo dela, estava certo que uma faísca de luz, muito lânguida, mas lá assim mesmo, apareceu naquela massa calorosa que mantinha com ele naquele outro mundo.
Ele a sentiu, a conexão deles transcendendo espaço e tempo agora. Naquele outro mundo podia facilmente se perder. Durante a pior parte da conversão, Skyler poderia querer se perder. Temia que ela pudesse tentar afastar-se dele, uma vez que a dor tomasse conta. Fez o possível para adverti-la.
Sinta-me, sívamet. Sinta-me segurando-a perto de mim. Isto irá doer diferente de tudo que possa imaginar. O fogo queimará por seu corpo, limpando-o, preparando-o para a conversão completa. Estarei com você a cada passo do caminho.
Ele sentiu uma pequena resposta. Calor em sua mente. Seu coração saltou em seu peito. Estremecendo de alegria. Ela estava lá, agarrando-se à vida, contando com ele, confiando nele.
Os Lycans me fizeram passar pelas chamas do inferno, mas estou grato agora. Posso nos guiar por isto. Você sentiu a queimação da prata retorcendo por meu corpo. Foi capaz de resistir àquele tormento. Podemos fazer isto juntos.
Não tinha nenhuma ideia do quão ruim uma conversão realmente era, mas até em seu estado debilitado, sabia com certeza absoluta que podia enfrentar qualquer coisa e assumir o impacto disto e permanecer honrado — por ela.
Fique comigo. Fique, Skyler. Sei que está cansada e com dor, mas estou pedindo para ficar comigo. Ela lhe disse palavras semelhantes quando ele esteve mortalmente ferido, estripado pelos lobos renegados com quem lutou. Ela veio até ele, através de uma distância impossível e ajudou a curá-lo. Fique, csitri, não posso aguentar ficar sem você. Estamos muito perto de vivermos juntos.
Novamente houve aquela pequena expansão de calor. Desta vez estava certo daquela pequena luz no meio do calor. Skyler tinha um espírito indomável. Não iria abandoná-lo. Lutou por ele, ousou cruzar as terras dos Lycans para resgatá-lo. Não o deixaria agora. Ele tinha que acreditar nisto.
A dor brotou, uma onda afiada e terrível, queimando nas entranhas dele/dela, posicionando-se e arranhando em seu estômago. Ele virou a cabeça de Skyler no exato momento que o estômago humano dela se rebelou, esvaziando o conteúdo repetidas vezes, uma ação miserável que não podia parar. Algo mais poderoso que ele os consumia. Onda após onda colidiu por eles, durando longos minutos que pareceram horas. Ele perdeu a noção do tempo.
Abruptamente, a dor enfraqueceu, e eles ofegaram juntos, desesperados para puxar ar para seus pulmões. Sentia-se atordoado e fraco. Não podia deixar o espírito de Skyler sozinho no outro mundo. Ela nunca voltaria para ele. Possuir o corpo dela tomava uma quantia tremenda de energia. Ainda estava sangrando dos ferimentos e das múltiplas queimaduras de prata por seu próprio corpo, ainda assim não ousava perder tempo tentando empurrar isto para fora. Imediatamente outra onda de fogo subiu pelo corpo de Skyler, erguendo-a e lançando-a de costas no chão.
A força e intensidade da convulsão arrancou a respiração de seu corpo. Os olhos dele/dela arregalaram em choque. Ele sofreu infinitos dias e noites enquanto a prata queimava e rastejava implacavelmente por ele, mas esta dor era diferente, uma onda longa rugindo por eles, elevando tão rápido que era quase impossível ficar acima ou sobre isto.
Ele forçou o corpo de Skyler a relaxar, contando com os séculos de disciplina. Não havia nenhuma maneira de bloquear a dor, nenhum modo de parar as convulsões, ou um modo do corpo deles não levantar, ficar rígido e lançar-se de volta ao chão. Quando a onda diminuiu, ela vomitou novamente, um som de ânsia de vômito horrível que parecia reverberar pela clareira.
Dimitri ficou ciente de duas coisas. O espírito de Skyler, em lugar de diminuir e retroceder pela dor, parecia ficar um pouco mais brilhante no centro do calor que o cercava. A terra afundou ao redor deles, escavando mais fundo nas riquezas de seu solo em quase todas as ondas ou convulsões. Ambas as coisas deram-lhe esperança de que realmente pudesse puxá-la de volta da terra dos mortos.
Fenris Dalka amaldiçoou em todos os idiomas que conhecia, riscando pelo céu, furioso por não conseguir localizar seu irmão mais novo. Ele era Hän ku pesäk kaikak — Guardião de todos, e ainda mais por não ter mantido seu irmão seguro. Dimitri salvou sua vida em mais de uma ocasião, lutou com o bando de renegados e o Sange rau bravamente, salvando a vida de Lycans e Cárpatos da mesma forma, e ainda assim foi traído, mantido prisioneiro e torturado.
Fen, estamos perto dele e ele ainda está vivo. Tatijana, sua companheira sussurrou em sua mente, tentando acalmá-lo.
Skyler foi assassinada. Ele ou a seguirá ou escolherá o caminho da vingança. Se fizer isso, estará perdido para nós para sempre — perdido para ela. Isto é minha culpa. Deveria ter cuidado melhor dele ao longo dos séculos, não apenas com a quantidade de sangue que lhe dei quando ele estava ferido.
Ele podia sentir o cheiro dos Lycans agora. O vento trazia o cheiro insuportável de sangue e guerra. Os Lycans estavam em formação de bando, cercando a presa, provavelmente seu irmão e os dois homens que ajudavam Dimitri a tentar salvar Skyler.
Ele não estava sozinho. Os quatro guerreiros Cárpatos que vieram com ele para encontrar e salvar Dimitri, foram abruptamente chamados de volta para as Montanhas dos Cárpato. Dois outros se juntaram a ele, e não ficou surpreso. Byron Justicano e Vlad Belendrake, a única família de Josef, chegaram no momento que ficaram cientes de que estava em apuros. Ambos estavam muito mais perto da área, e uma vez que souberam a localização exata de Josef, partiram rapidamente para encontrá-lo. A companheira de Byron, Antonietta, era cega e sua irmã Eleanor, Companheira de Vlad, nunca esteve numa batalha em toda sua vida, então não vieram, embora ambas aparentemente argumentassem para fazê-lo.
Fen não podia culpá-las. Se Josef fosse seu filho ou sobrinho, teria corrido para a batalha também. Enquanto riscavam através do céu, transmitiu a ambos os homens tanto quanto podia sobre o modo como um bando de Lycans lutava, alertando-os sobre a velocidade e habilidade deles de saltar, quais suas armas favoritas e para ficar fora do alcance deles sempre que possível.
Fen, Tatijana tentou ser a voz de razão, realmente temos que ver o que está acontecendo antes de entrarmos e começarmos uma guerra.
Eles torturaram meu irmão depois de nos dar a palavra deles de que ele estaria seguro. Eles o sentenciaram a morte. Ele me chamou quando Skyler estava deitada em seus braços, a respiração saindo do corpo dela, e me mostrou tudo o que aconteceu.
Fen considerava Zev Hunter como seu amigo. Gostava e respeitava o caçador de elite Lycan. Lutaram e se feriram juntos. Ele estava irritado com os Lycans, mas era por Zev que sentia uma fúria fria e perigosa. Pouco importava para ele que Zev fosse o único a dar cobertura ao seu irmão, ou até mesmo que tivesse lhe dado sangue, enquanto podia ver que Dimitri estava morrendo de fome lentamente. Não o tirou daqueles horríveis ganchos de carne feitos de prata. Permitiu que Dimitri fosse torturado.
A verdade era que se Skyler, Josef e Paul não tivessem partido para salvar Dimitri sozinhos, seu irmão teria morrido. A prata teria encontrado seu caminho até o coração dele. Skyler, em sua opinião, foi magnífica, merecedora de ser companheira de Dimitri, não importa o quão jovem fosse. Josef, por toda sua reputação, ganhou o respeito de Fen. E o jovem Paul, um humano, foi corajoso. Nenhum deles merecia o tratamento que os Lycans mostraram.
A floresta diluiu, e através daquelas árvores ele viu a clareira. Não tinha nenhuma ideia de quantos Lycans cercavam o prado, mas pareciam estar atacando uma parede transparente dos quatro lados, usando machados. As lâminas simplesmente saltavam de volta para eles. Podia ver onde os Lycans tentaram cavar um caminho por baixo daquela ondulante transparência, e onde alguns tentaram invadir pelo topo.
Skyler criou este abrigo bem no meio do território dos Lycan. Havia orgulho na voz de Tatijana. Apesar de seus melhores esforços, eles não foram capazes de passar.
Fen levou um tempo estudando o abrigo transparente. As roupas de Josef estavam manchadas de vermelho em vários lugares, parecia estar tentando deter o fluxo de sangue dos ferimentos de Paul. O corpo de Dimitri jazia deitado ao lado dele, aparentemente inanimado, mas estava sangrando por vários ferimentos. O corpo de Skyler deitado ao lado do dele, uma mão estendida em direção a Paul.
Enquanto observava, o corpo de Skyler convulsionou. Seu coração saltou. Tatijana, você viu isto?
Ela está sofrendo a conversão. Havia excitação na voz dela.
Você pode sentir sua força vital? Ela se foi. Não posso tocá-la. Sinto a ondulação com nossa conexão com todos do nosso povo, até mesmo com o príncipe. Ela está perdida para nós. Fen viu o corpo erguer-se e cair novamente, e mesmo testemunhando isto com seus próprios olhos, não podia acreditar no que estava vendo. Como isto era possível?
Tatijana era Caçadora de Dragões e Skyler parente dela. Ela avançou através de sua conexão, ávida para encontrar a garota viva. Ela se estendeu e estendeu, mas havia apenas espaço frio e escuridão vazia.
Ela está muito longe para eu tocá-la. Relutantemente admitiu. Seu corpo não estaria sofrendo a conversão se estivesse morta, Fen. Não entendo o que esta acontecendo aqui, mas Dimitri e Skyler têm uma conexão muito poderosa, talvez ele possa tê-la encontrado, quando ninguém mais poderia.
Fen sabia que não tinham muito tempo antes dos Lycans detectarem os Cárpatos. Sentiriam a energia que vinha deles — embora não a de Fen. Ele tinha sangue misturado, condenado por eles, mas não estavam cientes disso. Até onde todos sabiam, ele era Lycan, um deles. Não tinham nenhum conhecimento que era irmão de Dimitri, e isso conseguiria levá-lo para perto de Zev.
Não. Não, Fen. Não pode jogar sua vida fora, nossas vidas por vingança. Ainda não sabemos se Skyler está morta...
Você não pode senti-la e ela é de sua própria família. O príncipe não pode senti-la e ele é o recipiente de todo o nosso povo. Ele saberia se sua força vital se fosse. Até mesmo enquanto discutia com ela, seu olhar implacavelmente procurava por Zev, no bando de lobos frenéticos tentando derrubar o abrigo de Skyler, e chegar nas quatro pessoas lá dentro para terminar o que começaram.
O corpo de Skyler sacudiu novamente. Ao redor de Dimitri e Skyler a terra pareceu afundar de forma que seus corpos estavam parcialmente enterrados. Podia ver que alguém empurrou o rico e preto barro nos ferimentos de Skyler. Enquanto observava, Josef saiu de perto de Paul e arrastou-se sobre Dimitri.
Observando a determinação do garoto e seu ato altruísta de coragem, o coração de Fen inchou com orgulho. Josef poderia ser jovem, mas era totalmente um guerreiro Cárpato. Poderia ter ido ao solo e curar suas próprias feridas. Ninguém o teria culpado. Claramente estava gravemente ferido, mas cuidou de seu amigo e agora se virava para tentar ajudar Dimitri.
Alívio despejou nele. Dimitri não estaria morto ou Josef não estaria se incomodando. Se Dimitri não foi ao solo num esforço para curar a si mesmo, deveria ter uma boa razão, e a única boa razão, seria tentar salvar a vida de sua companheira.
De sua posição, não conseguia dar uma boa olhada em seu irmão, mas Josef diligentemente trabalhava. Fen viu o momento exato quando o menino verter seu corpo e entrou no de Dimitri.
Ele é hábil na cura. Tatijana disse. Tinha alguma ideia de que ele podia fazer isso? Ela perguntou à Vlad, o pai adotivo de Josef.
Vlad e Byron trocaram um longo olhar. Vlad balançou a cabeça. Ele continuamente nos surpreende. O menino é... diferente. Segue seu próprio caminho. Não fiquei surpreso, porém, ao vê-lo com Skyler ou Paul. Eles são muito próximos.
Fen sinalizou para os outros ficarem onde estavam, enquanto permitia ao vento levá-lo para mais perto. Os Lycans não podia sentir sua energia e nunca saberiam que estava lá. Mudou para a forma de vapor, enviando pequenos dedos se movendo pelas árvores em direção à clareira. Ele se moveu entre eles. Queria dar uma boa olhada nos ocupantes do abrigo e contar o número de Lycans.
Lutar com um bando de Lycan era absurdo com apenas três homens. Teriam que abatê-los, um de cada vez. O dragão de Tatijana poderia desencadear o fogo do inferno neles, ali mesmo na clareira, e contemplou qual seria o melhor movimento a fazer, apenas para repeli-los. Ele e os outros podiam ganhar acesso ao abrigo e ajudar os feridos.
Ele estava diretamente acima do campo de força transparente. Não importa o quão duro os Lycans cortassem e batessem na proteção, nem um único arranhão podia ser visto. Como isto podia ser tão forte para resistir a tal ataque, especialmente quando Skyler jazia quase morta — ou morta?
Ele saltou mais abaixo, forçando-se a ser paciente, permitindo que o vento naturalmente o levasse. Pegou o cheiro de Skyler. O sangue de Caçador de Dragões. Sangue de Mago. Ela usou seu próprio sangue para construir este lugar seguro para os outros. Sua essência foi tecida no feitiço. Ele até sentia o potente cheiro do rico solo. Filha da Terra.
Se ele podia pegar o cheiro dela, então os Lycans também podiam. Saberiam que Skyler era poderosa o suficiente para criar tal fortaleza, o qual não podiam entrar. Ela foi a única que veio salvar Dimitri e encontrou um caminho para todos fugirem, evitando os Lycans até que estivessem quase em segurança. Não entendiam o tipo de poder que ela tinha — e isso a deixaria sob suspeita aos olhos deles. O Sange rau era odiado e temido. Skyler poderia muito bem ser colocada na mesma categoria desta condenada abominação.
Fen permitiu-se mover para o teto para perscrutar abaixo em Dimitri e Skyler. Seu coração quase sacolejou numa parada. Mal reconhecia seu irmão. Dimitri sempre foi extraordinariamente bonito, alto, com ombros largos e musculosos. Enegrecidos redemoinhos das correntes estavam agora queimados na carne de sua testa e sobre o corpo inteiro dele. Parecia mais magro, sua pele cinza entre os círculos queimados cobrindo seu corpo. Suas roupas, sempre elegantes, estavam cortadas em tiras, em farrapos. Manchas vermelhas claras encharcavam o que restava de sua camisa e calça, e o chão abaixo dele.
Josef bravamente lutava para estancar o sangue, mas claramente seu foco estava em puxar o líquido de prata do corpo de Dimitri pelos poros. Em todos os lugares que a prata tocava, a pele de Dimitri estava marcada por queimaduras e bolhas.
Fen encontrou-se amaldiçoando novamente. Estava furioso pelos Lycans terem torturado Dimitri. A tortura era tão selvagem, e ainda assim os lobos deveriam ser muito mais civilizados que os Cárpatos. Integravam a sociedade humana e, apesar de sua longevidade e instintos predatórios, se tornaram muito habeis em esconder suas identidades “de outras espécies”.
Você viveu entre os Lycans durante este último século e às vezes até antes disso. Tatijana disse. Isto parece um comportamento normal para você?
Fen durante muitos anos foi um caçador de vampiro, muitos anos existindo no infinito, sem emoção e vazio, para não ser capaz de recorrer à autodisciplina quando precisava disto. O comentário de Tatijana atingiu uma nota nele. Nunca viu os Lycans armados do modo que estes estavam, ou tantos. Pareciam mais uma força militar que um bando organizado.
Ele afastou seu olhar do corpo queimado de seu irmão e começou a avaliar os Lycans cercando o abrigo que Skyler construiu. A princípio, todos os lobos pareciam estar tentando derrubar as paredes, mas depois de alguns momentos de estudo, percebeu que havia três facções. Os primeiros — e pareciam ser os mais fortes e mais numerosos — eram agressivos, Lycans ativamente determinados, usando armas e instrumentos para chegar aos quatro feridos do lado de dentro.
Ele reconheceu Gunnolf e Convel na frente, dirigindo o outros com um esforço maior. Enviou um grunhido silencioso a caminho deles. Dimitri praticamente arriscou sua vida para salvá-los, e eles o recompensaram com traição e tortura. Não viveriam mais uma noite se Fen tivesse qualquer coisa a dizer sobre isto.
Precisamos conseguir entrar a fim de ajudá-los. Tatijana lembrou. Mudarei para meu dragão. Vlad e Byron seguirão o exemplo. Podemos repeli-los desta fortaleza que Skyler criou e chegar do lado de dentro. Nosso sangue pode muito bem ser o que vai virar a maré.
Fen não podia discordar dela. Dimitri definitivamente estava a caminho da inanição. Não tinha nenhuma ideia se Skyler estava morta ou pendurada por um fio, mas seu sangue antigo misturado e o de Tatijana definitivamente ajudariam.
Dê-me outro minuto aqui. Tenho que compreender o que está acontecendo.
Algo não estava certo. A segunda facção parecida estar discutindo com a primeira, tentando detê-los, separando-se das atividades frenéticas do primeiro grupo. Havia um conflito, uma divisão clara entre os Lycans. Viu Zev no segundo grupo, claramente furioso, lançando os Lycans para o chão enquanto andava com dificuldade em direção a Gunnolf e Convel.
O terceiro grupo de Lycans parecia incerto. Eram os de menor número, e não queriam juntar-se nem a um ou outro lado, confuso sobre o que deviam fazer. Onde estava a liderança decisiva sempre presente em um bando? Em todos os séculos que Fen esteve em torno dos Lycans, o alfa sempre chamava a tiros e liquidava todas as diferenças — existia uma hierarquia clara. No entanto, este bando enorme parecia fragmentado, uma grande dissidência dividindo-os.
Começou a retornar aos outros, pronto para chamar os dragões para queimar os Lycans até o inferno, quando ouviu um rugido que enviou calafrios por sua espinha, e deteve todos os Lycan. Abaixo dele, Zev apressou-se para Gunnolf em sua forma de Lycan, aceitando o desafio pela liderança.
Lycans lutavam pela supremacia de mãos vazias. Não matavam uns aos outros como regra. Acontecia no calor da batalha, mas muito raramente. Gunnolf virou-se para encontrar Zev, baforando para a frente, mas não antes de Fen ver o sinal que ele deu à Convel.
Os Lycans formaram um círculo em torno dos dois combatentes, abandonando seus esforços para entrar no refúgio, que abrigava os quatro foragidos.
Convel avançou atrás de Zev, sua mão na espada. Fen tomou sua decisão. Estava com tanta raiva de Zev, certo que o Lycan traiu todos, no entanto Zev claramente estava tentando deter o ataque para aqueles já feridos.
Fen tomou a decisão de confiar nele. Lutaram juntos em batalhas antes, e Fen não o deixaria ser cortado por trás. Até onde todos sabiam, Fenris era Lycan.
Se tiverem uma chance, se a distração for suficiente, deslizem para dentro e ajudem os outros. Vou permanecer do lado de fora e fazer o que puder para descobrir o que está acontecendo. Ainda acredito que há alguém da equipe, alguém por trás disso tentando começar uma guerra entre Lycans e Cárpatos.
Quem era, e se tal pessoa existia, estava muito perto de seu objetivo. Fen andava a passos largos para fora da floresta, movendo-se rapidamente, um fluxo gracioso de músculos e nervos, vestido de calças com um cinto segurando uma série de armas, suas botas com laços dentro para segurar as estacas de prata, como também duas facas, e seu casaco longo escondendo ainda mais armas. Seus longos cabelos estavam puxados atrás severamente de seu rosto, fluindo por suas costas, preso na nuca com uma corda enrolada em torno do comprimento, para impedi-lo de se prender em qualquer coisa enquanto lutava.
Ele surgiu por trás de Convel, assim que o Lycan puxou sua espada e golpeou as costas desprotegidas de Zev. A espada de Fen pareceu vir do nada, aparando o golpe e seguindo-o ao redor num semicírculo, faíscas chovendo abaixo pela noite. Um suspiro coletivo atravessou pelas fileiras de Lycans por tal deslealdade. Até aqueles que Gunnolf liderava pareceram ficar chocados.
Zev arremessou Gunnolf para longe dele, aproveitando sua vantagem, saltando sobre o Lycan e o derrubando no chão com tal força que o chão tremeu. Zev passou um olhar rápido atrás, vendo Fen e Convel batalhando com as espadas.
Tatijana, Vlad e Byron aproveitaram o momento, quando todos os Lycans estavam ocupados, assistindo os quatro combatentes. A energia estava relampejando pela clareira quase tão brilhante quanto as duas espadas se chocando. O soar de metal contra metal era alto na quietude.
Gunnolf soltou-se e saltou de pé, ofegando por ar. Ele rasgou a camisa para longe, mostrando um bocado de dentes enquanto circulava Zev. Duas vezes enxugou o sangue de seu focinho e lambeu-o de suas mãos com garras nas extremidades.
— Você desobedeceu o conselho. — Zev acusou alto o suficiente para todos os Lycans ouvirem. — Foi diretamente contra as ordens deles. Mentiu para todos nós, e colocou as vidas dos membros do conselho em perigo, juntamente com as de todos aqui.
Gunnolf recompôs-se, correndo para Zev. No último instante, suas mãos em forma de garras retornaram para as de homem, capacitando-o a puxar um punhal de prata de seu cinto e retalhar violentamente todo o braço de Zev. Sangue espirrou sobre o Lycan traiçoeiro. Zev soltou uma série de maldições, saltando atrás, para longe do homem que o tinha seguido por tantos anos — um homem que foi seu amigo. Nenhum Lycan jamais puxou a prata para outro — não a menos que fossem renegados. Outro ofego coletivo subiu do circulo de Lycans.
Fen tinha suas mãos cheias impedindo Convel de explorar seu caminho ao redor dele, a fim de fatiar Zev. Ele era mais rápido e mais forte que o Lycan, mas não podia acidentalmente entregar a si mesmo como sangue misturado. Estava com a ponta do pé numa linha fina, lutando apenas bem o suficiente para parecer quase empatado.
— Claramente deveria matar seu alfa. — Fen disse, num tom aprazível, mas carregado. Queria que o outro Lycans estivesse ciente da verdadeira natureza de ambos os adversários. — Você e Gunnolf obviamente planejavam matar Zev durante o ataque às pessoas feridas. Este era o verdadeiro objetivo? Livrar-se do homem que era o verdadeiro ouvido do conselho?
Convel avançou nele com força e rápido com sua espada, movendo-se facilmente sobre o chão desigual, claramente um espadachim talentoso. Para ser um caçador de elite ele tinha que ser. Tinha confiança. Tinha experiência, e esperava cortar Fen rapidamente.
Gunnolf sorriu zombeteiramente para Zev, mais uma vez lambendo as gotas de sangue que grudavam na pele ao longo do dorso de sua mão e braço.
— Seu tempo está terminando.
— Você não tem cérebro para tramar isto por conta própria. — Zev disse. Ignorando o largo corte em seu braço, embora o sangue estivesse jorrando do ferimento. — Quem deu a ordem para condenar Dimitri a Moarta de argint?
— Dimitri. — Gunnolf rosnou. Ele cuspiu no chão em desgosto, circulando Zev, procurando por uma abertura para atacá-lo. — Você quer dizer o Sange rau? Por que você é o campeão dele? Notei que se tornou muito amigável com o Cárpato. É possível que seja sangue misturado e busque salvar sua própria espécie?
Outro ofego coletivo subiu, e os Lycans mais próximos dos dois combatentes recuaram, pondo distância entre eles e um possível Sange rau.
Zev encolheu os ombros, seu olhar fixo em seu oponente.
— Você traiu nosso conselho, Gunnolf. Colocou todos eles em perigo. Desobedeceu quase todas as leis que temos. Mesmo agora, não luta justo, desafiando-me pela liderança, mas ainda não seguindo as regras do bando. Chamar-me de um odiado e temido nome parece uma tática desesperada. Se isto é tudo que resta, derrube suas armas e permita-me levá-lo em custódia.
— Não há justiça quando se luta com um Sange rau. — Gunnolf rebateu. — Nós os matamos — os exterminamos onde os encontrarmos.
Ele correu novamente para Zev, fintando pela direita e em seguida, golpeando pela esquerda, o punhal ainda agarrado em sua mão. Zev estava pronto desta vez, evitando a lâmina afiada e pegando o pulso de Gunnolf num aperto inquebrável, curvando-o para trás e para longe de Gunnolf, para que o lobo caísse no chão. Zev reteve a posse do pulso, extraindo o punhal e lançando-o longe.
Gunnolf rolou, uivando quando um estalo audível sinalizou que seu pulso estava quebrado. Ele chutou Zev, repelindo-o apenas o suficiente para saltar atrás, de pé. Os dois corpos se uniram num impacto estrondoso.
Fen aparava a espada de Convel, repetidas vezes, mas nenhuma vez cedeu terreno, guardando as costas de Zev do Lycan que estava determinado a cortar o líder do bando por trás. A esgrima era rápida e feroz. Convel tentava afastar Fen de sua posição, mas Fen lutou para ele recuar, aumentando a força de cada golpe minuciosamente, ampliando a velocidade tão habilmente que a princípio Convel não notou a diferença.
Convel obviamente reconheceu que Fen era tão qualificado quanto ele com uma espada. Sua expressão mudou de confiança pura para raiva, e em seguida para desespero. Estava agora na defensiva, freneticamente encontrando cada golpe da espada de Fen. Seus movimentos eram apenas um pouco lento demais. Seus jogos de pernas começaram a sofrer quando repetidas vezes o metal pesado abalava seus braços, e enviava ondas de choque pelo corpo inteiro dele.
Ele tentou retroceder, mas os golpes continuavam vindo implacavelmente, com tanta força, tão rápidos, que não conseguia acompanhar Fen.
— Solte sua espada no chão. — Fen aconselhou. — E enfrente o conselho.
Convel não podia, mesmo se quisesse. Seu agarre era tão apertado, a adrenalina e o medo colando seus dedos ao cabo. Fen fintou na direção dele e o triunfo surgiu no Lycan. Afinal, Fen tinha cometido um engano terrível. Ele empurrou com força diretamente para o corpo de seu oponente, pondo tudo que tinha naquele ataque, determinado a matar.
Fen não estava lá, ele deslizou para o outro lado, e Convel não viu a espada vindo nele. Apenas ouviu, aquele traidor sussurro quando a espada, aparentemente viva, cortou pelo ar diretamente nele. Sentiu a energia, tão agressiva e mortal, correndo em sua direção. A lâmina era tão afiada que realmente não sentiu o corte fatiando por carne e osso. Estava morto antes de bater no chão, sua espada deslizando dos dedos inanimados.
Dimitri, este é um de seus inimigos indo. Fen sussurrou na mente de seu irmão.
Ele aproveitou a oportunidade para olhar o abrigo que Skyler criou lá no prado. Tatijana estava do lado de dentro.
Eles vivem? Ele perguntou à sua companheira.
Tatijana alisou o cabelo de Dimitri atrás de sua testa. Nunca tinha visto um corpo tão rasgado e machucado, nem mesmo nas cavernas de gelo da câmara de tortura de seu pai. As queimaduras eram profundas e perversas. Curar os ferimentos, se ainda fosse possível, levaria tempo.
Ele está lutando para salvá-la. Cuide dos negócios aí fora, e cuidarei dos feridos.
Não disse o que suspeitava — que Dimitri possuía o corpo de Skyler e estava sofrendo a conversão por ela. A ideia era desagradável e errada. Ninguém deveria possuir o corpo de outro. Para ela especialmente, e para a própria Skyler, tal crime era uma abominação.
O pai de Tatijana, Xavier, tinha por prática possuir o corpo de seu filho, seduzindo as mulheres e deixando-as grávidas. Queria o sangue dos Cárpato para sua imortalidade. Skyler nasceu de uma destas unidades profanas. A possessão era um tabu em qualquer espécie. Seu estômago revirou, mas forçou-se a passar por sua aversão e examinar o corpo de Skyler.
Ela foi baleada múltiplas vezes. Alguém colocou o rico barro nos ferimentos em antecipação à sua conversão. Enviou-se fora de seu próprio corpo para se tornar puro espírito de cura. Entrar no corpo de Skyler confirmou seus piores medos: Skyler não estava sozinha; e ali havia mais de Dimitri do que de Skyler.
A ideia era tão repugnante para ela que Tatijana se encontrou de volta ao seu próprio corpo, lançada lá por uma força além dela.
— O que é isto? — Byron perguntou. — Ela está morta?
Tatijana respirou fundo. Sentia-se pegajosa, suja até. Errada.
— Não sei. Como Josef está indo?
Josef ergueu a mão e acenou para ela, ainda se alimentando do pulso de seu tio.
Vlad alisou os cabelos espetados com as pontas azuis de Josef.
— Ele ficará bom uma vez que vá para o chão. — Ele assegurou.
Josef fechou as incisões no pulso de Byron e olhou de um homem para o outro. Duas vezes abriu a boca e fechou-a, piscando rapidamente.
— Você veio. — Foi tudo que conseguiu pronunciar, engasgando um pouco e virando o rosto.
— É claro que viemos. — Vlad disse. — Você é meu filho, Josef. Nosso mundo. Nosso orgulho e alegria. Como pôde pensar que nós não viríamos?
Lágrimas queimavam nos olhos de Josef e depressa desviou os olhos.
— Sou diferente. Dou um monte de problemas à vocês.
Byron riu.
— Supõe-se que deveria nos dar problemas. Você nos afasta de envelhecermos.
— Eleanor e eu sempre nos orgulhamos de sua habilidade em fazer coisas que a maioria de nós não pode fazer. — Vlad disse. — Tive que algemá-la ao pé da cama para impedi-la de vir. — Ele adicionou.
Josef riu, mas até aquele som familiar estava um pouco aguado e sufocado.
— Isto é errado, Vlad. Vou dizer a ela que disse isto.
Byron atirou o braço em torno dos ombros do garoto.
— Você manteve todos eles vivos, Josef.
Josef balançou a cabeça, olhando abaixo para o corpo de Skyler. Outra ondulação de dor atravessou seu rosto sinalizando que uma convulsão estava chegando.
— Não sei se fiz. Ela se... foi.
Vlad balançou a cabeça.
— Dimitri está lutando por ela. Ele é um antigo poderoso.
Tatijana apertou seus lábios firmemente. Os olhos dela encontraram os de Josef através dos dois corpos. Ele sabia. Sabia exatamente o que Dimitri estava fazendo. Seu cunhado não devia ter outra escolha. Era um movimento desesperado, e um que poucos tentariam.
Ela respirou fundo novamente enquanto o corpo de Skyler convulsionava, empurrando as últimas toxinas de seu sistema. Dimitri jazia inanimado ao lado dela, mas seus dedos estavam firmemente enfiados nos de Skyler. Os dois pareciam tão machucados e longe do mundo. Lágrimas rolaram. Ela apertou a mão na boca, empurrando de volta um soluço de desespero. Como alguém podia sobreviver a isto?
Ela se sentou silenciosamente ao lado dos dois corpos, indecisa da melhor forma de ajudar. Não podia tentar curar Skyler já que o corpo dela continuava passando pela conversão. O espírito de Dimitri tinha desaparecido de seu corpo, mas estava definitivamente vivo, e mais do que qualquer outro, seu corpo foi terrivelmente espancado.
A cada convulsão que agitava o corpo de Skyler, a terra abaixo dela tremia ligeiramente e os dois corpos afundavam um pouco mais na terra. Julgava que os movimentos eram nada mais que uns sessenta centímetro de cada vez, mas os números estavam começando a somar. A terra escorria das bordas do buraco afundando, empurrando os dois corpos, trabalhando seu caminho acima dos quadris e pernas deles num esforço para cobri-los.
Tatijana não estava completamente surpresa que a Mãe Terra estivesse ciente do empenho de Skyler e encontrou a única maneira que podia para tentar ajudar sua filha e filho. Ela não podia ajudar, então passou a mão ternamente sobre o cabelo de Skyler, empurrando os fios de sua testa.
— Segure-se, irmãzinha. — Ela sussurrou em voz alta. — Fique com ele. Confie nele para mantê-la segura. — Era tudo que podia pensar em dizer. Dimitri fez grandes esforços para assegurar que Skyler não morresse esta noite.
Os olhos de Skyler de repente se abriram quando o corpo dela aquietou. Tatijana sentiu o frio afundar em sua espinha. Tanto Skyler como Dimitri olhavam fixamente para ela, os olhos azuis glaciais espiralavam em cores, enviando uma sensação estranha e assustadora por todo seu corpo.
— Se puder me ouvir, estamos com você agora. — Ela sussurrou. — Vou curar agora o corpo de Dimitri o melhor que eu puder. Quando ele for bem sucedido e seu corpo terminar a conversão, farei o possível para curá-la também, embora a Mãe Terra já esteja de pé na fila para fazer isto.
Tatijana enviou seu espírito buscando do lado de fora de seu próprio corpo pelo de Dimitri. Podia ver onde Josef fez sua tentativa de empurrar a prata do corpo do Guardião. Tinha feito um bom trabalho para um jovem e sem experiência. Ela fez uma anotação mental para si mesma de observar o garoto. Ele tinha um dom para poder realizar tanto, quando era tão inexperiente.
Existiam rastros de prata queimando em longas linhas finas, ao longo dos ossos, como se aquele metal precioso se prendesse propriamente onde podia machucá-lo mais, como também fazer mais dano. Meticulosamente, sem pressa, quando todos os seus movimentos procuravam ser rápidos, ela começou a trabalhar.
Tatijana, e meu irmão? Ele não se move. Uma conversão não leva todo este tempo.
A ansiedade de Fen rastejava pela mente dela, apesar de estar focada completamente em sua tarefa. Seja paciente, homem lobo, ela disse. Estou curando o corpo de Dimitri e preciso me concentrar.
Fen soltou a respiração. Devia saber que não deveria perturbá-la. Não podia continuar arriscando olhar para a parede transparente, enquanto a atenção dos Lycans estivesse tão focada na batalha de vida ou morte entre Gunnolf e Zev.
O corpo de Convel jazia aos seus pés, cortado ao meio pela precisa espada de prata. Sua tarefa não estava acabada, raramente estava, a menos que você soubesse como matar um Lycan. Seus corpos podiam se regenerar se tivessem uma oportunidade. Ele fincou a familiar estaca de prata, dirigindo-a pelo coração do Lycan, e então separou a cabeça.
Fen olhou fixamente abaixo para o corpo por um momento, antes de enxugar o sangue de sua lâmina na camisa do traidor, e então recolocar a espada de volta na bainha. Lycans saiam de seu caminho enquanto andava a passos largos pelo círculo espesso, para dentro de onde podia manter um olho nos outros que pensavam em ajudar Gunnolf.
Lá deveria haver mais deles — partidários da rebelião de Gunnolf. Gunnolf nunca faria seu movimento contra Zev a menos que achasse que poderia ter uma vantagem. Se Zev estivesse certo, e Gunnolf era deliberadamente contrário à palavra do conselho, então fez isto com seguidores suficientes aqui neste acampamento para desafiar a autoridade de Zev.
Dois Lycans mantiveram o olhar de Fen. Eles estariam misturados com a grande multidão, se não fosse pelo fato de seus movimentos parecerem furtivos, enquanto todos os outros gritavam encorajando Zev ou Gunnolf, todos completamente focados na briga. Alguns encorajavam Gunnolf aos gritos e rosnavam em advertência para qualquer dos Lycans que reclamasse dos métodos de Gunnolf.
Isto estava muito brutal, como uma luta entre Lycans frequentemente ficava. Ambos os homens estavam ensanguentados, sem camisas, os músculos riscados por lacerações e terra. O olho esquerdo de Gunnolf estava quase fechado e ele favorecia seu lado esquerdo, como se protegesse uma costela quebrada. Seu pulso estava quebrado com certeza, embora usasse a mão, resistindo o suficiente para fazer a dor passar.
O talho aberto no braço de Zev preocupava Fen. Estava sangrando demais, como se Gunnolf tivesse tratado a lâmina do punhal com um anticoagulante. Fen cheirou o ar, permitindo a seus sentidos de sangue misturado farejar a noite. O odor de sangue era forte. Assim como o de medo e deslealdade. E sim... Lá estava... aquele lânguido odor confirmando sua convicção que Gunnolf equipou até mesmo suas lâminas contra seu oponente. Não havia nenhuma dúvida que Gunnolf veio preparado para matar Zev.
Uma vez mais começou a se mover, passando pela multidão de Lycans interceptando os dois que estavam agindo tão deslealmente. O primeiro, um lobo escuro com um focinho quadrado, empurrava sua passagem pelos outros Lycans, circulando ao redor novamente, a fim de aparecer atrás de Zev. O outro era muito mais dissimulado, e movia-se para longe dos Lycans. Longe dos combatentes.
Fen praguejou baixinho. Tinha que escolher um deles para perseguir, não podia vigiar ambos. Acabe com isto já, Zev, ele estalou por entre os dentes cerrados. Eles tinham estabelecido uma linha de comunicação através da irmã de Tatijana, Branislava. Ele seguia aquela trilha agora, tentando empurrar sua advertência na mente de Zev.
Estou um pouco ocupado aqui, Fen.
A habilidade de comunicação lhes dava uma pequena vantagem, que os outros não perceberiam. Gunnolf não podia violar o código dos Lycans sem irritar e provocar a vingança dos Lycans que ainda não se juntaram a ele. Se tivesse sucesso em derrotar Zev, seria o alfa superior do bando, e os outros não questionariam sua autoridade — seus métodos talvez — mas não sua autoridade.
Parece estar brincando com o bastardo. Acabe com isto. Tem mais ou menos cem outros esperando pra matá-lo. Grande imbecil, pele escura, mandíbula quadrada, fazendo seu caminho atrás de você.
Cuide disto. Tenho minhas mãos cheias com este aqui. Ele não é o cabeça do motim e gostaria de encontrar um jeito de extrair informações dele sem seu conhecimento.
Mate-o e mantenha sua cabeça intata. Verei quais informações posso tirar dele. Fen manteve sua atenção no Lycan que escapava da multidão e ia na direção da extremidade da floresta.
Esta é uma prática perigosa. Zev pegou Gunnolf e o lançou para o lado quando o Lycan atacou, rosnando furioso, começando a perder o controle.
Zev moveu-se com graça fluida, um balé de intento letal. Parecia não mover os pés, ainda que estivesse em todos os lugares, fluindo ao redor de Gunnolf, atingindo-o com socos, pontapés e bofetões com a mão aberta. A briga era brutal, mas o alfa conseguia fazer isto parecer mais como uma dança ou uma exibição de artes marciais, que uma briga de morte.
Há uma segunda ameaça, movendo-se na floresta. Acredito que tenha um rifle de precisão com ele. Estou apenas presumindo aqui, mas alguém quer você morto. Não corte a cabeça de Gunnolf até que eu possa voltar.
Rifle de precisão?
Fen ouviu o choque na voz de Zev, até sentiu isto em sua mente. O caçador de elite disse a si mesmo que Gunnolf e Convel queriam assumir o comando do bando pelo poder. Talvez na mente dele, acreditasse que os dois eram renegados e estavam recrutando seguidores, mas um rifle de precisão era uma ameaça séria — uma que cheirava a uma conspiração maior.
Fen estava se movendo rápido, sumindo na multidão, mas rapidamente indo para o ponto mais próximo da linha das árvores. Na extremidade da clareira haviam menos Lycans, e com um furtivo escalar nas árvores poderia ser capaz de localizá-lo. Ele obscureceu sua imagem apenas o suficiente para fazer isto na floresta, sem ser descoberto.
Havia sempre uma fina linha para se caminhar, quando ele estava em torno dos Lycans, mas fez isto por séculos e tinha muita prática. Não podia usar a velocidade ou os sentidos de seu sangue misturado, ou suas habilidades como Cárpato na frente deles. O tempo todo eles deviam acreditar que era completamente Lycan. Às vezes, como agora, se sentia em desvantagem.
Ele olhou para o céu, ampliando as nuvens de tempestade, acumulando-as rapidamente para que se erguessem no ar como torres escuras. Trovões retumbaram ao longe e raios atravessaram as nuvens mais escuras como veias. Afundando cada vez mais no meio das árvores e usando a escuridão do céu como cobertura, riscou para a parte inferior das árvores onde viu o Lycan subir.
Sabendo que estava escondido das vistas e seu sangue misturado escondia sua energia dos Lycans, se transformou em vapor puro, correndo pelos galhos até que estivesse atrás do Lycan. Este tinha treinamento militar. Ele instalou seu rifle e a mira com cuidado meticuloso. Amarrou um pedaço de pano num galho pela clareira para ter uma ideia do vento. Ele já estava com o olho na mira.
Fen abruptamente comandou o vento, enviando uma explosão inconstante que enviou a pequena bandeira em todas as direções. O Lycan ergueu a cabeça e esperou. Ele tinha a paciência de um atirador de elite, Fen notou, seu estômago apertando.
De seu ponto de vista na árvore, Fen conseguia uma visão melhor do que estava acontecendo na clareira. Os Lycans não estavam mais prestando nenhuma atenção nos Cárpatos presos dentro da estrutura de segurança. Eles apenas olhavam para o Lycan morto, cuja cabeça permanecia separada de seu corpo, bem perto da extremidade da arena. Os Lycans cercavam os dois combatentes, e estavam selvagens. Fen viu este comportamento antes, uma loucura frenética que se estendia por um bando durante um desafio pela liderança.
Gunnolf e Convel contavam com aquela característica nos lobos da mesma categoria deles. O animal aparecia quando estavam em combate um com o outro, especialmente durante um desafio. Poucos pensavam claramente. Eles aplaudiam, gritavam e marchavam de um lado para o outro, sua adrenalina e natureza indomada assumindo o comando de sua metade mais civilizada.
Fen podia ver os recrutas do exército de Gunnolf cercando os outros, um movimento sutil que ninguém notaria dentro daquele círculo. Eles mudavam de um lugar a outro, fechando a fileira para que os partidários de Zev estivessem completamente rodeados. Um massacre? Ou Gunnolf acreditava naquilo, que se derrotasse Zev de alguma forma o bando o aceitaria?
Estamos em apuros Zev. Ele conseguiu que um exército cercasse seus lutadores, Fen anunciou.
Acho que estamos quase a salvo, Skyler, Dimitri sussurrou suavemente em sua mente. Você é tão incrível. Obrigado por me dar a sua confiança.
Aquela luz no centro do calor que ele cercou e protegeu com tanto empenho lá no mundo inferior brilhava um pouco mais clara. Ela não recuou. Lutou para ficar com ele. Ela só tinha que aguentar um pouco mais.
Sentiu o quanto ela estava cansada. Ela aceitou a dor, permitindo que fluísse através dela, nem uma vez tentando lutar ou resistir. Estavam unidos, firmemente entrelaçados, ambos sentindo a dor aumentando como uma onda chocando-se contra eles. Concentrou-se em respirar pelos dois, empurrando o ar pelos seus pulmões, pelos pulmões dela.
Se isso durasse muito mais tempo iria perdê-la. Fen chegou. Está em algum lugar próximo. Eu sei, porque Tatijana, sua tia, cura meu corpo mesmo quando estou com você no seu.
A dor era pior do que nunca, roubando sua respiração, a capacidade de pensar por um longo tempo. Não podia dividir em compartimentos para ela. Não podia distanciar nenhum dos dois. A agonia era tão ruim ou pior do que a prata serpenteando seu caminho através do organismo dele, queimando-o de dentro para fora. Seu corpo estremeceu com essa lembrança.
Estranhamente, em vez de diminuir, a luz de calor em seu centro se estendeu, espalhando-se pela escuridão lá no mundo gelado, alcançando sua luz. Confortando-o? Só Skyler, a beira da morte, já em outro mundo, pensaria em alcançá-lo. Ela veio por ele quando pensou que não existia nenhuma esperança. Contra todas as probabilidades, ela ficou por ele, quando duvidou que qualquer outro teria feito o mesmo dadas as circunstâncias.
A onda diminuiu, e ele sentiu que era o momento certo para tentar reunir corpo e espírito. Dimitri cercou Skyler de calor e começou a se mover muito lentamente longe da escuridão gelada.
Venha comigo agora, csitri. Seu espírito não pode ficar afastado de seu corpo por muito tempo. Devo levá-lo de volta.
Sua luz se movia, mas não essa pequena consciência quente que era Skyler. Ela ficou pairando nas extremidades da árvore da vida. No momento em que seu espírito deixou de tocar o dela, a luz em seu centro de calor esmaeceu e, em seguida, piscou e apagou como se ela não pudesse manter a chama sem ele.
Seu coração golpeou. Quase a perdeu. Forçou-se a ficar calmo. Precisava ficar confiante e seguro. Skyler precisava saber que podia contar com ele para qualquer coisa. Mais uma vez a cercou com sua luz, parando para examinar o que a segurava no mundo inferior.
Só mais alguns minutos no escuro e frio, Skyler. Estou com você. Você não está só, ele garantiu a ela. Nunca estaria só novamente. Se ela não pudesse sair da escuridão com ele, em seu próprio corpo, iria com ela para iluminar seu caminho para onde ela fosse na próxima vida.
Seu espírito parecia preso nos galhos e ele teve que parar para descobrir como liberá-la. Foi só então que percebeu que de alguma maneira Skyler se prendeu aos galhos. Ela era uma filha da Terra e a árvore da vida reconheceu sua grande necessidade.
Libere-a para mim, Dimitri murmurou suavemente. Agradeço a você por segurá-la para mim, mas precisamos voltar ao nosso mundo.
Não tinha a habilidade de Skyler quando se comunicava com todas as coisas da terra, mas tinha sinceridade. Abriu-se para o ataque das criaturas vorazes esperando abaixo na escuridão, abaixou-se, só esperando que uma alma desprevenida descesse, sem saber do perigo que espreitava no escuro. Sabia o que estava lá em baixo, mas ainda assim, queria que a árvore da vida entendesse sua grande necessidade.
No momento que abriu a mente lá no mundo inferior, ele ouviu e sentiu a explosão de cobiça e ódio vindo até ele de todas as direções. Permaneceu onde estava, sua luz rodeando Skyler de calor, entre os galhos superiores. Abaixo dele, detectou os sons dos mortos-vivos arranhando seu caminho até a árvore em direção a ele.
Ele era Hän ku pesäk kaikak, e não iria vacilar. Seu espírito era brilhante, e tinha esperança que sua companheira recém-descoberta não o deixasse. Tatijana, uma Caçadora de Dragões e tia de Skyler, estava sobre o chão, guardando seus corpos. Sentiu sua força e seu brilho, a luz incandescente de cura.
Skyler, sívamet, meu coração e alma, volte para mim. O pior já passou. Deixe-me ajudá-la a voltar para a terra dos vivos. Manteve a voz calma e suave, acalmando, recusando-se a apressá-la ou assustá-la.
Cometeu um pecado imperdoável ao possuir o corpo dela, mas não sentia nenhum remorso. Passou pela conversão, assegurando que pudesse trazê-la de volta, para o esperado corpo Cárpato dela e que se curasse naturalmente debaixo da terra.
Estavam entrelaçados, alma com alma. Depois do que fez, estariam ligados mente com mente. Ela confiou nele, deu sua permissão, mas não conhecia as consequências. Ele não foi capaz de contar e escolheu pelos dois. Eventualmente ela seria como ele — sangue misturado — e suas mentes estariam conectadas para sempre.
Isso deveria ser o pior dos sacrifícios, mas ela teria que viver com o conhecimento único de cada assassinato que ele cometeu. A tristeza e a culpa de caçar os amigos pesariam numa empata como Skyler. Conheceria todos os seus segredos sombrios, todos aqueles infinitos anos depois que descobriu que tinha uma companheira. Ele lutou contra a escuridão rastejando a cada amanhecer, mas ainda assim, ela saberia como verdadeiramente foi difícil. Não poderia protegê-la daquelas noites terríveis. A maioria dos companheiros deixavam aquelas memórias isoladas; ela não teria essa escolha.
A árvore vibrou, um movimento sutil, e então agitou um pouco mais forte como se tentando soltá-la. Sentiu o impulso do calor dela contra sua luz, e depois nele. No momento que se fundiram, começou a subida.
Essa é minha garota. Não há nada a temer. Exceto, talvez todo um exército de Lycans em torno deles, mas se recusou a pensar sobre isto. A presença de Tatijana significava que Fen estava lá. Fen lutaria até seu último suspiro para salvá-los. Ele teria trazido outros com ele.
Ainda sentia o calor de Skyler e a pequena luz que era sua própria essência piscando valentemente, mas ela precisava de sangue e precisava ir para debaixo da terra, se pudesse enviá-la ao seu corpo, o espírito dela poderia não reconhecê-lo depois da conversão.
Não sei se já disse a você como é bonita para mim. Não apenas sua aparência, mas o que vejo dentro de você, e isso foi antes de saber como é corajosa. Você veio por mim, Skyler, e mesmo quando eu era tolo e tentava me afastar de você, se recusou a desistir de nós.
Não desistiria dela. Estava preparado para fazer qualquer coisa, lutar qualquer batalha. Não importava se o ato era proibido ou não, se pudesse recuperá-la, se humilharia, se colocaria em qualquer tipo de perigo ou lutaria em qualquer batalha para salvá-la.
Pode me ouvir, csitri? Não pode me deixar. Preciso tanto de você.
Não sentia nenhuma vergonha em suplicar. Ela não mostrou nenhum sinal externo de estar mais forte. Sua luz era exatamente a mesma, mas estava lá. Não podia ter perdido o seu caminho em outro mundo como algumas almas faziam, porque ela estava ancorada nos galhos superiores da árvore.
Dimitri ainda não sabia se ela tinha pleiteado sua causa e pediu ajuda, ou se a árvore a reconheceu como uma filha da Terra e interveio para salvá-la. Queria acreditar, inclusive em sua agonia, que Skyler pensou em se prender naqueles galhos superiores na certeza que ele viria por ela.
Flutuaram juntos para a superfície. Esse era seu momento. Podia trazer seu espírito cálido e luz vacilante de volta ao seu corpo? Manteve seus movimentos suaves, a voz calma. Não queria que ela sentisse medo ou experimentasse qualquer trauma além do que já teve. Se pudesse ficar calmo e manter sua convicção que os dois estavam bem, ela podia tomar essa transição como completamente natural e não tentar se separar dele.
Ela estava mais do que ciente de sua morte corporal, da dor da conversão, mas não se soltou. Ficou com ele, se agarrando à vida, quando devia ter sido impossível. Ele estava começando a perceber que, com Skyler, todas as coisas eram possíveis.
Sempre fico secretamente divertido que os outros continuamente a subestimem, meu amor, ele confessou, mas descobri que essas últimas noites me ensinaram que até eu a subestimo e a sua força.
Pela primeira vez, sentiu o movimento familiar em sua mente, aquele toque amado que sinalizava que o amor de sua vida delicadamente se fundia com ele. Como ela encontrou força quando restava tão pouco sangue em seu corpo, ele não sabia.
Dimitri.
Seu corpo veio à vida. Seu coração. Sua alma. Aquele toque suave, o roçar da sua voz através das cicatrizes em sua mente celebrando tanto amor que doía por dentro. Ela construiu o desejo com suas maneiras gentis e suaves. Fome. Ela achou um poço de ternura nele que foi enterrado e esquecido por séculos.
Você me assustou, ele admitiu. Não faça isso de novo.
Ela não respondeu com palavras, o esforço para conversar, até mesmo telepaticamente, era demais em seu estado debilitado, mas fez uma carícia sobre a tristeza e o medo que ele estava ocultando no interior dele.
Você deve entrar novamente no seu corpo, Skyler. Será desconfortável e vai doer de novo, mas não como antes. Ele incutiu confiança absoluta em sua voz, e a manteve primeiro em sua mente, embora bem no fundo tivesse medo que ela pudesse se recusar.
Houve um tremor nas paredes de sua mente, tão suave quanto as leves asas de uma borboleta. Você?
A cada etapa do caminho. Segurarei você. Nunca estará só, não naquele mundo escuro e frio ou acima onde nós enfrentamos a guerra e a perseguição.
Ela sabia o que ele queria dizer. Se escolhesse voltar para o outro mundo, ele a seguiria. Por mais que ele quisesse retaliar contra os Lycans pelo que fizeram a ela, nada era mais importante para ele do que Skyler.
Ela o surpreendeu mais uma vez, sua luz brilhou um pouco mais viva, estendendo-se mais para, finalmente, tocá-lo. Imediatamente a sentiu. Ela estava lá, seu espírito indomável, tão determinado como sempre.
Mais uma vez esperou, sem se importar que estava morrendo de fome e que trazê-la de volta da terra dos mortos teve efeito sobre ele. Sofreu a cada momento da conversão dela, mas agora que estava viva e disposta a voltar ao seu próprio corpo, a terrível exaustão que se instalou nele pareceu desaparecer.
Seu espírito escoltou o dela para seu corpo danificado. Skyler não hesitou enquanto ele esperava, simplesmente uniu seu espírito ao seu corpo, se estabelecendo em sua própria pele com um pequeno arrepio. Ele ficou com ela, com medo de deixá-la muito cedo. Ele esteve em três lugares, no corpo dele, no dela e no outro mundo por muito tempo e estava começando a sentir os efeitos de tal divisão.
Não o deixarei, Dimitri, ela o tranquilizou.
Pensou que ela sussurrou as palavras em sua mente, mas talvez só ouviu o que desejava. Ela já estava desvanecendo, deslizando na inconsciência. Com o coração batendo forte, a verificou. Não morta. Estava pronta para aceitar a cura da terra.
Ele se encontrou de volta em seu próprio corpo. Tatijana e Josef removeram a prata e a queimadura agonizante por todo o seu corpo se foi. Ele abriu os olhos e olhou ao redor dele, precisando ver Skyler, precisando saber que não estava alucinando, que ela estava realmente lá e viva.
Parecia tão pálida, tão devastada pelas balas, o sangue manchando suas roupas e até mesmo preso em seu cabelo. Mas estava viva e era linda. A terra sob eles afundou, seus corpos a quarenta e cinco centímetros abaixo. Argila preta, rica em minerais, cobria tudo ao redor deles, entre suas pernas e até mesmo formando um fino cobertor sobre eles.
Novamente ouviu o chamado da Mãe Terra. Respirou fundo e girou a cabeça, sabendo que Tatijana estava perto.
— Voltou para nós. — ela saudou. — Conseguiu o que nenhum outro fez, que eu tenha ouvido falar. Você a trouxe de volta.
— Foi uma luta. Ela precisa ir para a terra.
— Vocês dois. Mas primeiro precisa se alimentar.
Concordou. Sabia que ela estava certa. A fome o atingia agora, mais forte do que nunca.
— Antes de qualquer outra coisa. — Olhou ao redor, seu olhar sobre Josef e Paul.
Paul estava deitado no chão, na sua expressão apareciam linhas de dor, mas ele não fez nenhum som. Josef se sentava perto dele, e ambos estavam olhando com apreensão para Skyler.
— Ela está viva. — Dimitri anunciou. — De volta para nós, e tenho que agradecer a vocês dois. Salvaram minha vida e depois a dela. Nunca poderei pagar a grande dívida que tenho com vocês.
— Ela está viva? — Paul perguntou. — Realmente viva? Não está se movendo. Nem sequer parece que está respirando.
— Você já viu Cárpatos entrando em sono rejuvenescedor. — Dimitri disse. —Vou mandá-la dormir, garantir que não acorde até que esteja curada o suficiente para sair desse lugar.
Paul afastou o cabelo do rosto e rapidamente desviou a cabeça, mas não antes de Dimitri pegar o brilho das lágrimas.
— Não pensei que fosse possível. — Josef admitiu. Sua voz tremeu, mas se recusou a desviar o olhar do penetrante olhar de Dimitri.
—Você foi o único que me disse que ela não estava morta, — Dimitri lembrou com um sorriso cansado. —Disse para ir atrás dela e eu fui.
— Sim, eu disse, não foi? — Josef disse, um sorriso lento, respondendo, empurrando o peso de seu medo e tristeza. — Mas honestamente pensei que era disparate e você nunca seria capaz de trazê-la de volta.
— Foi tudo Skyler. — Dimitri disse. — Ela é forte. Encontrou uma maneira de se deter, até na morte, de se mover para muito longe de mim.
— Porque ela tem tanta fé em você. — Josef respondeu. Esfregou as duas mãos no rosto. — Nunca mais quero passar por isso novamente. Você pode colocá-la num porão embrulhada em plástico bolha para que Paul e eu não tenhamos que nos preocupar mais com ela?
— Uma excelente ideia. — Dimitri disse.
Tatijana o cutucou suavemente.
— Você precisa se alimentar e então, ir para a terra. Estaremos seguros aqui por enquanto. Verifiquei cuidadosamente e não existem pontos fracos que eu possa encontrar.
Dimitri forçou-se a se mover, a olhar em volta. A estrutura transparente permitia que vissem os Lycans, que pareciam estar vendo algo diferente dos Cárpatos.
— Onde está Fen?
Tatijana colocou a mão no braço dele. Só então ele percebeu que estava em pé, em posição de luta.
— Fen está apoiando Zev, tentando encontrar respostas. Só tenho vislumbres do que está acontecendo. Lutas de espadas, franco-atiradores, dois Lycans lutando pela posição de alfa do bando, esse tipo de coisa. Eu diria que ele está ocupado. — ela respondeu.
Dimitri desabou, embora não gostasse do seu irmão sozinho lá fora com os Lycans. Conhecia e gostava de muitos deles, mas já não confiava em nenhum deles.
— Alguém avisou Gregori que o príncipe pode estar em perigo?
— No momento em que Skyler morreu... — Tatijana se interrompeu. — Todo mundo sentiu aquele momento terrível. Ela alcançou Francesca. Gregori vai garantir que o príncipe esteja seguro.
Dimitri soltou o fôlego. Não conseguia mais pensar.
— Obrigado por remover a prata de meu corpo. — Virou a cabeça para incluir Josef. — Você dois.
Byron ofereceu o pulso dele.
— Precisará estar em plena forma quando Skyler despertar. Talvez tenhamos que lutar para sair daqui.
Dimitri aceitou a oferta, sua fome superando sua necessidade de ver a todos em segurança. Não podia fazer muito em sua condição debilitada. Teve o cuidado de não tomar muito de Byron, não importava o quão tentador fosse. Queria os outros machos com força total para ter certeza que poderiam lutar contra os Lycans que achassem uma maneira de entrar.
Vlad foi o próximo a se oferecer. Com a segunda alimentação, o corpo de Dimitri foi se restabelecendo, moveu-se apenas o suficiente para poder envolver Skyler em seus braços, segurando o que parecia ser o corpo sem vida dela. Tatijana enevoou o fundo ao redor deles, tornando impossível para os olhos espreitadores verem o que fez em seguida.
Ondulando sua mão, abriu a terra, colocando Skyler profundamente, flutuando bem para baixo, nos braços da Mãe Terra. De uma só vez, antes mesmo dele dar a ordem para Skyler cair no sono rejuvenescer dos Cárpatos, a terra se derramou sobre eles por sua própria iniciativa, embalando os dois nos braços quentes e amorosos.
Fen, Dimitri e Skyler estão seguros na terra. O amanhecer romperá em breve. Todos temos que segui-los em breve. Consegue voltar para nós? Tatijana perguntou. Manteve a pequena compulsão da voz dela de fora, sabendo que ele provavelmente não estaria com ela ao longo do dia, mas em algum lugar só e em perigo.
Zev está em apuros, Tatijana. O circulo externo de Lycans já rodeou o circulo interior. Os do interior apoiam Zev. O circulo exterior, e existem mais deles, apoiam Gunnolf. Acho que vai ter um banho de sangue aqui. Não posso deixar Zev lutar sozinho.
Não morra, Tatijana ordenou.
Fen enviou tranquilidade para Tatijana, mas não podia se mover de sua posição e queria que Zev o respondesse, para saber qual o tamanho do problema. Com um exército de Lycans renegados cercando o bando leal a Zev, a situação parecia sombria para o caçador de elite.
O franco-atirador colocou seu olho na mira mais uma vez e Fen o atingiu por trás, agarrando sua cabeça e a torcendo, quebrando o pescoço. Enfiou uma estaca de prata no coração, cortou a cabeça e o deixou lá na árvore.
Posso começar a abatê-los, um a um, Zev, mas existe um bom número deles e não vamos durar para sempre.
A luta feroz entre Gunnolf e Zev continuava. Gunnolf várias vezes olhou na direção da árvore onde o atirador morto estava posicionado, claramente esperando soar um tiro. O grande imbecil de um Lycan manobrou seu caminho atrás de Zev e finalmente se meteu no lugar. Tudo que Gunnolf tinha a fazer era virar Zev e o outro Lycan podia matá-lo por trás.
Fen vacilou quando os dois combatentes atingiram o chão com tanta força que tremeu. Eles rolaram, rosnando e esmurrando, rasgando um ao outro. Ele camuflou a presença dele e usou a velocidade duplicada dos Cárpatos e Lycans para cruzar o prado e mais uma vez se inserir no meio da multidão.
Tatijana, isso está ficando ruim para Zev muito rápido. Aqueles leais a ele estão cercados pelo exército de Gunnolf.
O que você precisa, homem lobo, é um dragão no céu.
É verdade, mas eles têm armas de fogo.
E nós temos escudos.
A multidão empurrou os combatentes mais para o interior, tocando os dois machos enquanto lutavam pela supremacia. A grande massa de Lycans avançava com ânsia fingida. De perto, usando seus sentidos mistos, Fen leu o frio e calculadamente fechado campo energético em torno do assassino. Este era um homem acostumado a cometer assassinatos. Matar Zev não era pessoal para ele, mas seu trabalho, um dever a cumprir, nada mais. Ele tinha orgulho do seu trabalho, e não pararia até Zev estar morto.
Zev derrubou Gunnolf no chão várias vezes, e a cada vez o outro macho tentava ficar em pé. Os socos aumentaram em força cada vez que Gunnolf se recusava a se submeter. Percebendo que estava com problemas, Gunnolf rolou para longe de Zev, tentando esconder uma pequena lâmina no punho dele, quando conseguiu ficar de cócoras.
Aqueles mais próximos a ele viram e reagiram com um rugido de raiva. Em um desafio, dois machos lutavam mano a mano. Gunnolf claramente não estava seguindo as regras. Zev fingiu um pontapé na mão da faca e entrou embaixo, dirigindo-se para a cabeça de Gunnolf. Ele prendeu o braço em torno do pescoço do Lycan e girou, puxando a cabeça dele para trás. Gunnolf ficou pendurado ali por um momento, mas o crack foi alto e seu corpo ficou rígido e, em seguida, mole.
A multidão ficou em silêncio quando Zev deixou cair o corpo sem vida no chão. Ele segurou uma estaca de prata e abaixou com força, diretamente no coração do Lycan caído.
A multidão rugiu em aprovação. Zev lentamente se endireitou. Enquanto fazia, o assassino fez seu movimento. Ele avançou para a frente com os outros ao redor dele, de boca aberta, aparentemente tentando dar uma olhada no corpo morto de Gunnolf. No momento que estava perto de Zev, seu comportamento inteiro mudou. Não havia nada de estranho com ele. Ele foi rápido e suave, mantendo sua faca baixa e coberta com seu punho, dirigindo a lâmina envenenada diretamente ao rim de Zev.
Fen o pegou por trás, girou ao redor dele, seu aperto como aço, o polegar cravando o ponto de pressão do pulso, expondo a faca e a intenção do assassino. Zev virou para enfrentar o assassino. Ele pegou o punhal enquanto caia dos dedos paralisados. Fen deixou o assassino ir, e Zev avançou para atacar o homem, afundando a lâmina de prata no coração.
Um sopro quente de fogo varreu a multidão. Todo mundo olhou para cima. Haviam três dragões no céu, todos circulando para voarem atrás deles. O dragão principal era azul, o pescoço comprido esticado na direção daquele círculo exterior de Lycans. Caiu uma chuva de fogo, um fluxo constante que queimou cabelos e ombros dos Lycans.
Tatijana aprendeu com os confrontos anteriores o quão alto um lobo podia saltar. O dragão azul dela estava na liderança, ficando alto o suficiente para se manter fora de perigo, mas baixo o suficiente para chamuscar a pele. Os dragões sobrevoaram o circulo externo dos Lycans, chamas caindo em fluxos longos, constantes. Os Lycans quebraram a formação, abandonando qualquer plano que tinham para matar Zev a força.
Lycans se espalharam, alguns caindo de joelhos para olhar a impressionante aparição dos dragões no céu. Eles dispararam vários tiros, mas as balas pareciam ricochetear nas escamas duras dos dragões. Quando as criaturas sobrevoaram para mais uma rodada de fogo, o resto dos Lycans foi para a floresta, abrigando-se embaixo das copas das árvores mais altas.
— Vejo que ainda está esperando aquela mulher. — Zev observou. Ele não moveu um músculo quando os dragões voaram sobre ele, pulverizando os Lycans com fogo. — Posso entender por que quer ficar com ela, mas sério, o que ela vê em você?
Fen sorriu para ele.
— Sou inteligente o suficiente para sempre bancar o herói, ao contrário de você, que parece entrar em problemas cada vez que abre os olhos.
— Você gosta de brincar com fogo, não é? — Zev perguntou com um sorriso largo. Ele advertiu a Fen mais de uma vez que uma relação com uma mulher Cárpato traria problemas, era inclusive proibido. O conselho decretou séculos atrás que todos os Lycans deviam evitar os Cárpatos, então não havia nenhuma chance de criar o temido Sange rau.
— Ha ha. Você é muito engraçado. — Fen respondeu. Até onde Zev sabia, Fen era Lycan. Ele podia entender a atração de Fen por Tatijana, mas não podia tolerar uma união.
Zev cutucou o corpo de Gunnolf com a ponta da bota.
— A coisa realmente triste é que eu gostava dele. Eu o conheço há anos. — Ele olhou para Fen. — Que diabos está acontecendo?
Fen assentiu com a cabeça em direção a Gunnolf.
— Vou perguntar a ele.
Zev balançou a cabeça.
— É muito perigoso. O respeito como um lutador, Fen. Já disse a você antes. Não consigo entender por que não está liderando um bando de elite, mas interrogar um Lycan morto, mesmo para alguém tão forte quanto você, não é uma boa ideia.
Fen deu de ombros.
— Um de nós tem que fazer isso, e sou mais dispensável do que você. — E tinha uma companheira, esperando para puxá-lo de volta do abismo. Não seria a primeira vez que extrairia informações de um Lycan morto. Zev estava certo, era perigoso, mas Tatijana era poderosa e nunca falharia em puxá-lo de volta. Tinha completa fé nela.
Zev balançou a cabeça e fez um movimento em direção ao seu oponente sem vida. Fen estava ali diante dele, segurando a cabeça dele entre as duas mãos. O Lycan ficou ciente dele quase imediatamente e mentalmente lutou com ele, desesperado para proteger seu segredo. Ódio perverso se derramou sobre e em volta de Fen. A ira tomou conta, um caldeirão de tal fúria violenta que o corpo de Fen balançou. As emoções do lobo morto, ainda ativas em seu cérebro, encontrou uma nova casa em Fen.
Como se de uma grande distância, Fen ouviu Zev xingando, sabia que ele desembainhou sua espada e estava perto, muito perto. Seu ódio se espalhou para o caçador de elite como uma infecção. Por que devia tolerar as ordens do batedor? Por que, toda vez que Zev retornava ao bando, Gunnolf tinha que abrir mão da autoridade?
Zev era um traidor. Ele se misturou com os Cárpatos. Dançou com um deles, claramente apaixonado. E permitiu à mulher entrar em sua mente, tomar o sangue dele. Cada membro do bando sabia que estava sofrendo por ela. Até cometeu o maior pecado de todos, argumentou que havia uma diferença entre Dimitri, prisioneiro deles, e qualquer outro Sange rau.
Pior, Zev se aliou a Dimitri e até deu sangue a ele. O Sange rau devia ter morrido dentro de três dias. Todo mundo que já foi condenado a Moarta de argint sucumbiu à dor e se contorceu e se moveu até a prata conseguir perfurar seu coração. Nem uma vez existiu um sobrevivente além do terceiro dia, mas Dimitri durou mais de duas semanas. Zev que deve tê-lo ajudado.
O Sange rau estava fraco, morrendo. Tiveram a chance de destruir o monstro. Foi a mulher, que de alguma forma, através de alguma prática sombria, conseguiu proteger a abominação. A repulsa se espalhou como câncer. Um nojo e repugnância como nenhum outro. Eles tinham o cheiro do sangue dela, que penetrou no prado e no próprio ar. Ela tinha que morrer. Sua existência era uma afronta à humanidade. E se o Sange rau começasse a procriar? Tinham que ser detidos. Era uma missão sagrada.
Matar. Matar. Matá-lo. Matá-la. Os dois têm que morrer. Matar Zev. Ele devia morrer com os monstros, a abominação. Mate todos eles. O som era alto em sua mente, ecoando por suas veias com uma necessidade e fome que o sacudiu.
Fen deixou a emoção selvagem escorrer por ele, mas se recusou a ficar lá e se chafurdar nela como Gunnolf queria. O Lycan o prenderia lá ou Fen seria forçado a partir para impedir que a intensidade do ódio e raiva o consumisse.
O sentimento de superioridade ajudou. A emoção inundou sua mente e Fen se agarrou ao pensamento e o alimentou. Era mais do que Gunnolf. Mais do que Zev. Era um Guardião, e esse Lycan que queria prendê-lo para sempre na lama negra do preconceito e ódio não iria fazê-lo. Fen era muito forte para ser iludido pelo Lycan. Muito inteligente.
Ele era implacável, recusando-se a recuar, mas pesquisando pelas memórias para encontrar um caminho que o levasse de volta ao mestre de Gunnolf. O Lycan cheirava a fanatismo. Suas emoções eram inflamáveis, intensas, e acreditava em sua causa com um único objetivo.
Guerra. Tinham que eliminar os Cárpatos para impedir a propagação dos mestiços. Todos os Lycans que se recusavam a se juntar a eles, que ignoravam o código sagrado, seriam varridos da face da Terra também. Eram inimigos do grande conselho, o grande que os manteve vivos e prósperos por séculos. Aquelas antigas bússolas morais que estavam lentamente sendo esquecidas ou deliberadamente deixadas de lado pelo novo Conselho que somente queria sua própria glória.
O zelo e devoção permeavam cada movimento e memória que Gunnolf tinha. Foi difícil encontrar um único caminho para voltar ao mestre que alimentou seu extremo fervor. Fen não podia ficar muito mais tempo. A intolerância e o radicalismo estavam lentamente o corroendo, ameaçando consumi-lo apesar de sua força. Nunca encontrou tal veemência.
Não que Gunnolf fosse necessariamente um homem mau. Ele acreditava apaixonadamente que estava certo. Não havia outra maneira, nenhum outro espaço para as crenças de qualquer outra natureza. Ele não só morreria por sua causa, mas mataria por ela. Aqueles que se opusessem a ele eram inimigos e não aptos a caminhar na mesma terra.
A veemência e ardor do fanático transformou tudo em vermelho e preto. Apoderou-se das emoções, lutando para envenená-lo, para espalhar aquela infecção para cada célula do seu corpo.
Companheira. A luz para sua escuridão. Toda escuridão. Nada tão feio podia tocar algo tão brilhante. Uma palavra. Uma respiração. Isso bastou. Ele tinha total confiança nela para chamá-lo de volta da beira da loucura.
Ela estava lá instantaneamente, preenchendo sua mente, iluminando cada lugar escuro, empurrando para fora o fedor do fanatismo e ódio, substituindo aquelas intensas emoções negativas pelo seu amor incondicional.
Ele soltou a cabeça de Gunnolf, afastando-se, lutando contra a terrível necessidade de vomitar depois de ser tão consumido pelo fervor do Lycan para matar cada criatura viva que não acreditava no mesmo que ele.
Zev balançou a espada de prata, cortando o pescoço do Lycan, dividindo a cabeça. Houve um longo momento de silêncio.
— Valeu a pena? — Zev perguntou tranquilamente quando Fen caiu na grama verde.
Imediatamente Fen sentiu a Mãe Terra o alcançando, confortando. Sentia-se oleoso e sujo, balançando a cabeça repetidamente para tentar expulsar as emoções de Gunnolf para fora de sua cabeça. Passou a mão no rosto e a sujou de sangue. Minúsculas gotas de sangue saíam de seus poros. Não é uma coisa boa. Lycans não suavam sangue.
— Diga você. — Fen conseguiu dizer. — Isso tudo é sobre o Sange rau. Gunnolf sentiu que você estava se envolvendo muito com os Cárpatos e tinha que agir para salvar todos os Lycans do dano que faria. O objetivo final é começar uma guerra entre as duas espécies. Se fizerem isso, então todos os Lycans ficariam do lado de sua facção, aqueles que acreditam nos velhos costumes, o rígido código de moralidade, ele usou o termo código sagrado.
Zev suspirou, limpou a lâmina e embainhou a espada antes de cair abruptamente na grama mais alta em torno de Fen. A laceração no braço ainda sangrava, da ferida até o osso.
— Vou fingir que não percebi que o chão responde a você da mesma maneira que faz com Dimitri.
— Dimitri é meu irmão. — Fen ofereceu. Acabou mentir para Zev. Tinham um problema, um enorme. Ou iam deter uma guerra, ou começar uma ali mesmo. — Eu nasci Cárpato. Sou Hän ku pesäk kaikak, Guardião de todos.
— Gostaria de dizer que é uma grande surpresa, mas isso não aconteceu. Tatijana está ligada a você de alguma forma?
— Ela é minha Companheira.
Os dedos de Zev brincaram com o punho da espada.
— Entendo. Eu cortaria sua cabeça para você, mas estou muito cansado. Vai ter que esperar por outro dia. Como ficou desse jeito, e quando?
— Ao longo dos séculos, é fácil sofrer ferimentos graves e precisar de sangue. Os que caçavam comigo com frequência me deram o que eu precisava, e fiz o mesmo com eles.
— É por isso que foi capaz de matar o Sange rau. Você é como eles.
Fen assentiu.
— Dimitri me ajudou. Ele salvou Gunnolf e Convel, mas ao fazer isso, eles perceberam que ele era sangue misturado e o levaram. Quem está por trás do movimento para voltar a esse código sagrado está tentando começar uma guerra entre as duas espécies. Não pude ficar em sua mente tempo suficiente para conseguir um nome sem o risco de infecção.
Zev rasgou uma tira de tecido de sua camisa e começou a envolvê-la ao redor do seu braço.
— Eu perdi um monte de sangue. — ele notou. — Você bem que podia me dar um pouco. Se vou ter que ser forte o suficiente no futuro para caçá-lo, vou ter que viver com isso.
— Corre o risco de se tornar um mestiço. — Fen assinalou. — Foi assim que Dimitri se tornou um Guardião. Houve tempos que caçamos bandos de invasores e vampiros juntos ao longo dos séculos. Quando feridos, ajudamos um ao outro dando sangue.
— Temo que é um pouco tarde demais para me avisar. — Zev disse. Ele passou a mão pelo cabelo. — Eu me dei conta faz um tempo que existia algo diferente ganhando força dentro de mim. Creio ter inadvertidamente me convertido ou estou me convertendo no que cacei por séculos.
Fen ficou de joelhos. A ferida no braço de Zev sangrava demais.
— Acho que Gunnolf usou um anticoagulante na lâmina de seu punhal.
Zev acenou de acordo.
— Lycans se recuperam rápido. No mínimo, o fluxo de sangue devia ter cessado. Estou sangrando aqui. — Ele teve um calafrio involuntário, seu corpo já esfriando. — Vai ajudar ou apenas ficar sentado?
— Estou calculando as probabilidades de você usar uma das centenas de armas que estão com você, que não usou em Gunnolf, mas deve ter. — A voz de Fen estava pensativa.
— Estou cansado pra caramba para me desarmar, então se certifique. — Zev disse e se deitou na grama.
— Apenas saiba que inferno está vindo para cá. — Fen advertiu. — Seus Lycans balearam uma jovem relacionada praticamente com cada família poderosa que existe. A família de Paul é o pesadelo de todos os vampiros, e o rapaz foi baleado também. A família de Josef já chegou, e quando Dimitri levantar novamente vai estar em dívida com esse rapaz. Ele vai caçar cada Lycan que disparou uma arma naqueles que são indefesos como crianças.
— Acho que tem mais do que transmitiu do grave perigo que todos estamos. — Zev secamente disse. Ele fechou os olhos.
Fen suspirou.
— Sabe que sou mestiço. Eu posso chamar um Cárpato para dar sangue a você. Pode retardar o processo.
— Apenas me dê seu maldito sangue antes que eu desmaie.
— Que marica. — Fen disse, combinando com o cômico tom de Zev. Ele se moveu rápido, no entanto.
Zev era um homem muito valioso para ser deixado para morrer. Se não estava preocupado com o sangue mestiço, então Fen sabia que o caçador de elite estava realmente em apuros. Não fazia sentido, mesmo que Zev soubesse que estava perto da transformação, ele faria tudo que podia para retardar isso até que o Conselho se pronunciasse sobre o assunto do Sange rau, sangue ruim, contra o Hän ku pesäk kaikak, Guardião de todos.
Fen rasgou o pulso e pressionou contra a boca de Zev. O perigo em alimentar um Lycan com sangue era que poderiam se tornar muito viciados por isso. Lycans abandonaram a necessidade de sangue e carne fresca, abraçando um mundo civilizado, mas era impossível domesticar uma criatura com uma natureza predadora. A selvageria estava lá, a espreita logo abaixo da superfície, sempre ameaçando superar a aparência duramente conquistada de civilização.
Zev pareceu não ter qualquer problema tomando sangue na maneira dos Cárpatos. Fen sabia que Tatijana também deu sangue a Zev quando ele esteve gravemente ferido. Mais de uma vez os Cárpatos doaram seu sangue para manter esse Lycan vivo, mas não teria sido suficiente para causar a transformação. Era um processo lento, que acontecia durante um longo tempo de exposição, o que significava que mais de uma vez ao longo dos séculos, Zev tinha caçado com um dos Cárpatos.
— Só quer sangue mestiço porque deu uma olhada em certa mulher e toda massa cinzenta morreu. — Fen acusou.
Zev não abriu seus olhos ou parou de se alimentar. Ela causou uma boa impressão.
O choque de espadas soou por toda a sala. Daciana e Makoce mantiveram Rolf entre eles, enquanto Lykaon e Arnau defendiam os outros membros do Conselho, surpreendentemente não dos Cárpatos, mas de outros Lycans que de repente se voltaram contra eles.
Estão tentando assassinar o Conselho, Mikhail advertiu seus guerreiros. Escolham seus alvos com cuidado.
— Lycans são leais. — Rolf gritou — Aqueles leais ao conselho nos defendam, não dos Cárpatos, mas da nossa espécie.
Lucian derrubou Lowell, o lobo que tentou assassinar Francesca e Gabriel com sua espada. Outro Lycan apunhalou uma estaca de prata no coração do assassino e com sua espada cortou a cabeça dele.
Gabriel empurrou sua companheira para o fundo da sala, longe da batalha. Zacarias pulou para a frente para cerrar fileiras, protegendo a mulher. Ele estava em toda parte, sua expressão nunca mudando, reagindo rapidamente, de um jeito que parecia que cada Lycan que derrubava um de sua própria espécie, num esforço para alcançar um membro do conselho tinha que passar por ele ou um de seus irmãos. Claramente, ele chefiava sua família, e eles pareciam se mover juntos numa dança coreografada da morte.
O grupo de Lycans que queria o Conselho morto estava presa entre sua própria espécie e os Cárpatos. Sua tentativa de começar uma batalha entre as espécies falhou quando ambos os lados mantiveram suas cabeças frias e seguiram as ordens dos seus líderes.
— Abaixem suas armas. — Rolf ordenou. — Suas vidas serão poupadas.
Nenhum dos Lycans que estava com Lowell e Varg obedeceram; mesmo sabendo que seriam mortos, aumentaram sua determinação para chegar a um membro do Conselho. Daciana levou um golpe cruel no estômago com uma faca de prata de Varg enquanto ele tentava passar entre ela e Rolf. A lâmina afiada a cortou e a prata devia queimar como um inferno, mas ela não vacilou.
Quando a lâmina veio por ela uma segunda vez, defendeu-se com seu pulso, evitando, confiando em Makoce, seu companheiro, para proteger Rolf enquanto ela lutava com Varg. Ela o conhecia bem, mas ele sempre a subestimou. Ultimamente, notou que dois caçadores de elite do seu bando a estavam tratando um pouco diferente. Ambos, Gunnolf e Convel começaram a ignorar as coisas que ela dizia, agindo como se não a ouvissem. Muitas vezes se afastavam quando ela se aproximava deles.
Varg tinha a mesma atitude que Lowell. Ela devia ter trazido o assunto para Zev cuidar, mas se sentiu tola reclamando. O que mudou neles? As diferenças começaram há muito tempo, mas realmente não notou até que começaram a desdenhar. Não a queriam em seu bando de elite.
Usando o impulso do próprio Lycan, ela agarrou o pulso dele sobre seu próprio ombro, lançando Varg de costas. Ele caiu sobre a mesa de comida que Francesca preparou para eles e com um rugido de ira, deu um salto, lançando-se em Daciana. Ela esperava o movimento, contando com seu novo desdém contra mulheres lutadoras. Ela permitiu que a derrubasse no chão, seu focinho, quando ele se transformou para metade homem e metade lobo, agarrando violentamente seu ombro.
Em seu punho ela segurou uma estaca de prata, apontando-a para cima. Com o próprio peso do corpo de Varg, bem como a velocidade de seu salto, dirigiu aquela estaca direta no coração dele. Sua pontaria era perfeita, como sempre foi. Olhou-o nos olhos, assistindo a força vital se desvanecendo.
— É verdade, espertalhão. Uma mulher o derrotou. Vá para o inferno pensando nisso.
Zacarias puxou o corpo dela e estendeu a mão. Ela pegou e saltou direto para a luta, deixando o Cárpato para cortar a cabeça do lobo.
A batalha terminou num curto espaço de tempo. Uma dúzia de Lycans mortos no chão. Os guerreiros Cárpatos recuaram, olhando para o restante dos Lycans com cautela.
— Peço desculpas pelo comportamento do meu povo. — Rolf disse, fazendo uma reverência formal. — Nós apreciamos a ajuda de vocês para lidar com os assassinos. Se nos desculparem, retornaremos para a pousada. Nossos feridos precisam ser atendidos, e os membros do Conselho gostariam de fazer alguns telefonemas para ver se podemos descobrir essa traição.
Mikhail varreu com o olhar os Lycans restantes. Se existia um grupo de Lycans tentando começar uma guerra entre as duas espécies, duvidava que os doze mortos no chão fossem tudo que restava.
Essa foi uma trama bem pensada, Gregori, para nos fazer parecer responsáveis.
Concordo.
Se os membros do Conselho são assassinados na terra dos Cárpatos, não existirá ninguém explicando isso para o restante dos membros do Conselho que escolheu ficar atrás.
Você e eu sabemos que o Conselho ainda não está seguro. Algumas daquelas pessoas conspirando contra eles ainda estão vivos. Seria absurdo acreditar que todos foram mortos, Gregori assinalou.
— Sem querer desrespeitar, Rolf — Mikhail continuou em voz alta —, mas prefiro enviar alguns dos meus homens para garantir sua segurança.
Rolf deu um leve aceno com a cabeça, indicando que não se opunha à ideia. Ele, como Mikhail e Gregori, sabia que provavelmente existiam mais assassinos à espreita entre seus guardas, apenas esperando por uma oportunidade para matá-lo e aos outros.
Mikhail. Zacarias enviou uma chamada pelo caminho comum dos Cárpatos, que permitia que Gregori ouvisse também. Minha família deve partir agora, se vamos chegar até Paul antes do amanhecer. Assim, estamos indo. Andre, Mataias, Lojos e Tomas retornaram.
Claramente, Zacarias estava lembrando-o que existiam outros de sua família para tomar conta. Mikhail sabia que iriam. Ainda assim, era incômodo. Zacarias era imprevisível. Não era um homem de fazer prisioneiros ou muitas perguntas. Se os Lycans o provocassem, retaliaria. Não existia como pedir que ficasse, não quando Paul foi baleado. Paul era sobrinho dele, e nenhum De La Cruz deixaria um membro da família, especialmente uma criança, para trás.
Mikhail tinha homens suficientes para guardá-lo, sua mulher e filhos. Não tinha nenhuma verdadeira desculpa para manter as famílias daqueles que estavam em apuros na Rússia com ele. Sabia que Lucian e Gabriel Daratrazanoff também iriam. A combinação de Zacarias, seus irmãos e os gêmeos lendários era mais do que já desejou para seu pior inimigo.
Não comece uma guerra, ele advertiu. Os membros do Conselho parecem ter vindo aqui de boa fé. Nos dê tempo para resolver isso.
Se uma guerra for iniciada, Gabriel lembrou-o severamente, os Lycans começaram o primeiro round.
Emoções eram fortes. Não havia como contornar isso. Ele não sabia o que faria se os Lycans atacassem qualquer um de seus filhos. Colocou a mão no ombro de Gabriel.
—Traga-os pra casa. Todos eles. — Não se importava se Rolf e os outros membros de Conselho o ouvissem. Queria que ouvissem. Eles podiam ver por si mesmo o que seu povo era capaz de fazer, só de olhar para eles — temperados, antigos guerreiros — cada um deles. Deixe o conselho chamar seu bando e avisá-los. Não havia nenhuma armadilha que pegaria esses homens.
Olhou em volta para os homens e mulheres. Não eram voláteis, ou impacientes. Não podia dizer o mesmo sobre Zacarias. Eram constantes, tranquilos e mortais. Entende o que estou dizendo? As crianças pertencem a todos nós. Traga-os para casa não importa o preço.
Os sete homens olharam para ele, diretamente em seus olhos, cada um deles, e então balançaram a cabeça lentamente. Mikhail ergueu a mão.
— Boa viagem e boa sorte.
Rolf balançou cabeça com um suave suspiro.
—Temos muito o que falar.
Mikhail assentiu.
— Conversaremos, mas nossos filhos devem ser trazidos para casa.
— Você pode andar? — Fen perguntou à Zev. Ele deu uma lenta olhada ao redor. — A maioria dos Lycans foi para a floresta ou se retiraram na direção do acampamento deles, mas alguns permanecem. Acredito que esses poucos têm a tarefa de matá-lo. Parece que você é um homem importante, Zev Hunter.
Zev não abriu os olhos, deitando na grama alta, descansando, esperando que seus genes Lycan e a infusão de sangue Cárpato fechasse o ferimento em seu braço. Ele nunca tirou a mão do punho de sua espada.
— Ser importante tem suas desvantagens.
— Ser amigo de um homem importante tem suas desvantagens. — Fen disse. Podia sentir o cabelo atrás de seu pescoço arrepiando. Eram alvos e os Lycans estavam armados com armas de fogo.
Tatijana, nos proteja. Zev perdeu muito sangue. Eu preciso levá-lo para o abrigo.
Você não pode. Ele é Lycan e nenhum Lycan pode passar.
É a única maneira de salvar a vida dele. Ele tem sangue Cárpato nele. Quanto eu não sei, mas ele me disse que sente que a transformação já começou.
É um risco terrível.
Fen suspirou.
— Você é realmente um pé no saco, Zev, importante ou não. Aqui é onde estamos. Tatijana está nos protegendo das balas no momento, mas não vai durar por muito tempo, porque está amanhecendo, e precisaremos ir para a terra. Você não está seguro com seus Lycans sem alguém vigiando suas costas, até que esteja com força total novamente, e mesmo assim, está em perigo.
— Quer chegar em algum lugar? — Zev perguntou, erguendo seus cílios o suficiente para perscrutar Fen. — Porque percebi isso sozinho.
— Eu posso tentar levá-lo para dentro onde ninguém possa chegar até você, mas se não tiver sangue Cárpato suficiente, não vai funcionar. Teremos que fazer uma corrida e não tenho certeza de onde te levar. Eu preciso ir para a terra. Existe alguém que confie nesse momento? Confie com sua vida?
— Eles estão nas Montanhas Cárpatos guardando o Conselho. É por isso que estão lá, porque confio neles. — Zev disse. Ele tentou sentar, mas uma onda de fraqueza o devolveu ao chão. — Saia daqui, Fen. Vá enquanto pode.
Fen bufou seu escárnio.
— A irmã de Tatijana não está aqui para ver seus atos heroicos, então pare. Vou tentar levá-lo para dentro. Você pode descansar e nos guardar enquanto dormimos.
Um sorriso fraco suavizou as rugas de Zev.
— Agora vejo onde isso vai dar. Sou o único ferido aqui e você vai para a cama esperando que eu proteja seu traseiro.
— Isso seria quase certo. — Fen disse com um sorriso que desapareceu depressa. — Temos um menino totalmente humano que teria que ficar sozinho durante o dia. Ele está ferido, é corajoso e vai ficar em pé, mas a responsabilidade de proteger seu pai, tio, meu irmão e Skyler, bem como Tatijana e eu, é enorme para uma criança.
Zev acariciou sua espada.
— Então não tem problema. Eu posso vigiar todos os Lycans para você, com ninguém além de uma criança, só assim você pode conseguir seu sono de beleza.
— Minha companheira é Tatijana e sabe o que ela é. Não posso arriscar parecer com o Drácula.
Zev riu suavemente.
— Não sei o que essa mulher vê em você.
— Francamente, nem eu. — Fen bufou. — Você está pronto?
— Tão pronto quanto sempre estive. — Zev respondeu.
Mais uma vez ele lutou para se sentar. Dessa vez conseguiu. Seu rosto, bronzeado ao longo dos anos, estava suado e pálido. Parecia como se estivesse doente, mas forçou-se a ficar sentado, balançando um pouco.
— Dê-me um segundo e, em seguida, vamos tentar ficar de pé.
— Uma vez que estivermos prontos, precisamos chegar na fortaleza. — Fen advertiu. — Tatijana só pode nos proteger em alguns lugares. Se colocarem atiradores nas árvores...
Zev assentiu com a cabeça.
— Eu os sinto. Estão nos cercando. — Ele olhou para Fen. — Foi assim que soube que estava me tornando algo diferente. Às vezes sentia os outros quando não devia. Lycans não emitem energia.
— Eles o fazem, mas se contêm. — Fen corrigiu. — À medida que seu corpo se torna um Guardião, seus sentidos ficam mais agudos.
Se Zev estava no ponto onde sua consciência cresceu a tal ponto, podia ser suficiente para entrar no abrigo de Skyler. Semanas antes estiveram juntos em várias batalhas. Tatijana deu sangue a Zev. Outros Cárpatos também. Era possível que aquelas últimas trocas tenham empurrado Zev na transformação real. Ninguém realmente sabia quando isso acontecia.
Ir de Cárpato para Lycan era mais fácil saber por que o lobo era um delator. A pessoa lentamente ficava ciente da presença dele. Um Lycan já tinha o lobo nele. Não havia como perceber o que estava acontecendo até que fosse tarde demais. Se Zev suspeitava que se tornou um mestiço, era mais que provável.
Algo bateu contra o escudo que Tatijana forneceu, uma bala estilhaçando a armadura transparente na forma de teia com um estalo.
— Acho que acabamos de ficar sem tempo. — Fen disse. Ele ficou em pé e estendeu a mão para Zev.
Zev estava no jogo e Fen estendeu a mão para ele. Ele lutou enquanto Fen o puxava para ficar em pé.
— Estou bem. — Zev assegurou. — A vertigem está começando a passar.
Estava provavelmente otimista, mas Fen não ia discutir. Uma segunda bala juntou-se à primeira, e então uma saraivada ecoou. Colocou o braço ao redor de Zev e correram para o abrigo. Fen ouviu as balas batendo no escudo de todas as direções. Tinha que ter pelo menos cinco atiradores — todos franco-atiradores, pelo calibre das balas. Cada um seria um golpe na cabeça. Quem comandava o exército de Gunnolf recrutou alguns franco-atiradores.
Uma vez que alcançaram a parede do abrigo, a transparência ondulante que resistia a Lycans e balas por igual, Fen recuou para permitir que Zev passasse primeiro.
— O que faço?
— Você acaba de atravessar. Se fizer isso, está dentro, se não, eu não sei o que acontecerá com você.
— Você não esteve lá dentro?
— Não, mas Dimitri está lá e ele é como nós.
Zev respirou fundo, expirou e deu um passo. O puxão em seus ossos foi horrível, torcendo, uma sensação que arrancou o ar de seus pulmões e parecia rasgar separando músculo e tecido. Seu coração acelerou, batendo tão forte que seu peito doeu.
Ele poderia ter recuado, mas sabia que Fen ficaria com ele, continuando a arriscar sua vida. Não teriam chance do lado de fora da fortaleza, qualquer um deles. Não sozinhos. Ele foi adiante enquanto suas células gritavam e seu corpo parecia ser rasgado em pedaços.
De repente estava livre da sensação, caindo no chão, capaz de respirar novamente, seu coração diminuindo de velocidade para um ritmo mais normal. Ele rolou, tossindo, ofegando com seus pulmões em chamas. Manteve o olhar fixo em Fen. Fen foi mestiço por séculos. Era verdadeiramente metade Lycan e metade Cárpato. Não havia nenhuma dúvida em sua mente que Fen experimentou o mesmo puxão, rasgando seu corpo quando caiu no chão ao lado dele, respirando com dificuldade.
— Quem é essa garota que conseguiu construir essa coisa? — Zev perguntou.
Fen teria rido se conseguisse ar suficiente para isso. Ainda sentia seu corpo como se fosse empurrado em mil direções diferentes. Como descrever Skyler?
— Ela se parece com um anjo inocente. É assim como meu irmão a descreve. Seu nome é Skyler.
Zev levou à mão a testa.
— Eu a encontrei. Na floresta. Ela disse que stava perdida. Tinha uma torção no tornozelo e não conseguia encontrar o caminho de volta para seu acampamento.
Fen riu então. Ele não podia evitar.
— Ela enganou você totalmente.
—Ela é humana.
— Ela é Skyler, Companheira de Dimitri. Os Lycans o levaram, e ela o pegou de volta.
Byron se aproximou deles com uma ponta de cautela. Ele sorriu, mas seus olhos eram planos e frios.
—Tatijana me disse que você o estava trazendo para dentro, que ele foi ferido gravemente. Ele precisa de sangue?
— Sim. — Fen disse. — E quero que Tatijana dê uma olhada em sua ferida.
— Estou aqui. — Zev lembrou. — Sou Zev. Zev Hunter. Parece que meu próprio povo me quer morto, assim Fen me convidou para o lado de dentro.
— Eu sou Byron Justicano. — Byron se apresentou. — Josef é meu sobrinho. Ele e Paul ajudaram Skyler a resgatar Dimitri.
— Crianças valentes. — Zev disse. Ele acenou com a cabeça em direção a Paul, que ergueu a mão e deu a ele um leve sorriso. — Bons atores também. Eles me enganaram. — Ele bufou com desgosto. — Carreguei aquela menina todo o caminho de volta para seu acampamento. Ela nunca se entregou, nem mesmo por um segundo. Eu estava desconfiado, claro, por causa do tempo, mas não dela, só que o acampamento estava lá quando nós tínhamos certeza de que ninguém estaria na área.
Fen e Byron trocaram um curto sorriso. Parecia que não foram só os Cárpatos que subestimaram Skyler, Josef e Paul.
— Sinto muito que ela esteja morta. — Zev disse. —Ela se jogou entre Dimitri e uma dúzia de Lycans. A maioria dos Lycans obedeceram quando eu disse que se retirassem, mas o grupo de Gunnolf estava determinada a matar Dimitri. Ela acabou no caminho.
— Ela não está morta. — Byron disse.
Zev franziu a testa e olhou em volta. O abrigo tinha paredes e teto transparentes, podia ver os ocupantes facilmente. Tatijana e outro homem pareciam estar trabalhando nos ferimentos de um homem mais jovem. Ele tinha o cabelo espetado de preto e azul e estava muito pálido. Paul estava no chão perto, olhando para ele. Mas não havia outros na fortaleza além de Byron e Fen.
— Dimitri a colocou na terra para se curar. — Fen explicou.
— Eu pensei que fosse humana. — Zev disse perplexo. — Você está me confundindo e já estou um pouco desorientado.
— Ela se levantará completamente Cárpato — Fen esclareceu. — Dimitri foi capaz de salvá-la.
— Depois de ver seus ferimentos, não vejo como foi possível. — Zev disse. —Mesmo de longe, ela parecia morta ou morrendo.
— Seu pai é Gabriel Daratrazanoff. — Fen disse. — Seu pai adotivo.
Zev prendeu o folêgo. Se fosse possível ele ficar mais pálido, conseguiu.
— A lenda? Gabriel e Lucian? Os gêmeos? Todo Lycan jovem ou velho ouviu falar deles. Suponho que não existe qualquer esperança deles não estarem vindo para cá, porque onde um está, está o outro.
— Nenhuma. — Fen disse. — Gabriel e Lucian esperam chegar antes do amanhecer.
Zev fechou os olhos.
— Isso está ficando pior a cada minuto.
— Eu não te contei o pior. — Fen advertiu.
Zev gemeu baixinho.
— Só acabe com isso, Fen. O que mais?
— Já ouviu falar de um Cárpato de nome Zacarias?
Os olhos de Zev se arregalaram. Até sentou novamente.
— Está brincando? Nenhum Lycan chega perto da América do Sul se podem evitar. Já foi feito, mas raramente. Ninguém quer chegar perto dele ou dos seus irmãos. Claro que ouvimos falar dele. É o bicho-papão que usamos para assustar nossas crianças.
Fen indicou Paul com o polegar.
— Aquele é sobrinho dele.
— Fen. — Zev passou a mão pelo rosto. — Como vamos evitar uma guerra? Nem todos os Lycans do acampamento são culpados. Sabe disso. Todos eles, eu inclusive, fomos enganados a pensar que o Conselho condenou Dimitri a morte pela prata. De certa forma fazia sentido, eles podiam negar que o mataram porque ele se moveria continuamente até a prata alcançar seu coração. Tecnicamente, podiam alegar que ele se matou.
— Isso é absurdo. — Fen retrucou, os olhos começando a brilhar. Até mesmo sentiu seus dentes se alongarem um pouco.
Zev franziu o cenho para ele.
— Não vai dar uma de vampiro pra mim. Só estou explicando como pareceu de um ponto de vista Lycan. Tentei ligar para os membros do Conselho, mas nenhum dos telefones atendeu. Olhando atrás, Gunnolf e seus seguidores devem ter bloqueado os celulares.
— Você o teria deixado morrer. — Fen acusou. — Meu irmão.
Zev assentiu.
— Pensei em matá-lo eu mesmo, para acabar com o sofrimento dele. — ele admitiu. — Tenho o dever de cumprir as decisões do Conselho, concordando ou não. — Ele tamborilou os dedos em sua perna. — Sinceramente, pensei pela primeira vez na minha longa existência em ir contra eles. Não foi só a sentença injusta, mas parecia suicida. Os membros do Conselho estavam negociando com Mikhail por uma aliança, e eles querem isso. Eram a favor disso. Ou a maior parte deles.
— Maior? — Fen repetiu.
— A maioria manda no Conselho, e todos os Lycans acatam as leis. O alfa impõe as leis dentro de cada bando, mas nenhum bando jamais foi contra uma decisão do conselho.
— Acho que devia estar feliz por você não tê-lo matado. — Fen disse.
—Eu teria perguntado a ele em primeiro lugar. Ele durou muito tempo, então percebi que devia ter uma razão poderosa para manter-se vivo, uma que transcendia aquele tipo de dor. Se esforçou para ficar quieto, o que significava que não queria morrer. Encontrei vestígios de prata no chão abaixo dele e percebi que devia estar expulsando a prata pelos poros. Ele estava completamente enrolado em correntes de prata da cabeça aos pés, de forma que não fazia nenhum sentido.
— Skyler. — Fen disse. — Aquela menina, mulher. — ele corrigiu.
— Quem diria que aquela criança de aparência inocente poderia causar tais estragos e atrapalhar completamente uma rebelião por um grupo fanático dentro dos Lycans? — Zev disse.
— Você percebe — Fen assinalou — que Gunnolf e Convel estavam trabalhando com outra pessoa há muito tempo, iniciando uma rebelião no lugar e quando tropeçamos com o mesmo bando de renegados indo para as Montanhas Cárpatos, na realidade entramos na primeira jogada deles.
Zev assentiu. Ele sorriu para Tatijana quando ela veio para seu lado.
— É bom vê-la. — ele a saudou. — Obrigado por nos salvar lá fora.
Ela sorriu de volta para ele e afundou na grama, pegando seu braço para inspecionar os danos.
— Está começando a virar um hábito. Não podemos deixar ninguém matá-lo, Zev. Minha irmã não ficaria muito contente. Ela está esperando conseguir dançar com você outro dia.
— Ela provavelmente nem se lembra do meu nome. — Zev disse. — Mas foi amável da sua parte dizer isso.
Tatijana riu.
— Homem tolo. Seu nome é, provavelmente, o único que ela se lembra. Ela não é muito social.
Fen deu um pequeno bufo irônico.
— Até onde se vai, se ferir só por um pouco de simpatia feminina. Sabe, Tatijana, ele realmente é muito mais rápido do que deixa transparecer e podia ter evitado a faca que o cortou. Ele estava apenas esperando sua irmã aparecer e beijá-lo até melhorar.
Zev deu-lhe um olhar de advertência.
— Eu ainda estou armado até os dentes, seu bastardo.
Tatijana balançou a cabeça, a diversão em seus olhos.
— Você dois são terríveis. — O sorriso de repente desapareceu de seus olhos deixando-a séria e um pouco preocupada. — Zev, esse corte vai até o osso. Existe algum tipo de veneno trabalhando aqui e mal posso detectar. Eu posso verificar se você me permitir, mas terei que fazer do jeito Cárpato.
Zev deu de ombros.
— Aparentemente já sou quase meio Cárpato. Eu também posso aprender a fazer a cura do seu jeito. E não é como se não tivesse feito isso antes.
Tatijana não esperou, mas verteu seu corpo, seu espírito se tornando energia branca, movendo-se em Zev, tentando achar o composto venenoso se espalhando por seu organismo. Um corte ao longo do osso que ia do cotovelo ao pulso mostrou onde o corte foi. A ponta da lâmina cortou o osso e ela podia ver bolhas minúsculas, minuciosas, como pequenas gotas ao longo do corte. Os glóbulos não estavam agarrados ao osso, mas espalhados ao longo do corte e além. As gotas mortais penetravam em um caminho pelo braço, seguindo o osso.
Ela tinha que erradicar cada único rastro minúsculo daquele veneno. Mais, por todo o tecido e músculos de seu braço, ela podia ver a evidência de um sangue mais diluído e anticoagulante. Gunnolf foi preparado para desafiar Zev para uma luta pela liderança do bando e veio pronto para assassiná-lo. Enquanto o diluído e o anticoagulante saturassem seu braço, nunca haveria cura. Eles poderiam dar-lhe sangue várias vezes e não faria diferença.
Ela voltou para o próprio corpo, os olhos dela se encontraram com os de seu companheiro, sua expressão sombria.
— Gunnolf planejava matá-lo, Zev. Existem pelo menos três combinações deixadas para trás em seu organismo para matá-lo. Seu sangue Lycan está tentando regenerar o tecido e músculo e seu sangue Cárpato está tentando remover os intrusos, mas você não pode fazer muito por conta própria.
Fen estendeu a mão e pegou a mão dela, entrelaçando seus dedos com os dela.
— Sabíamos que era ruim. — ele disse a ela suavemente. — Nada deteve o sangramento. Consegue tirar isso dele? Tenho algumas habilidades também. Entre nós dois, devemos ser capazes de limpá-lo.
— Vlad pode dar-lhe sangue. — Byron disse. — Assim que você parar o sangramento.
— Eu posso também. — Paul ofereceu.
— Se ele me der o sangue dele, vou ser considerado parte da família de Zacarias? — Zev perguntou. — Isso pode me deixar a salvo.
— Acho que Gabriel vai ser o que vem como vingador. — Byron disse. — Ouvi alguns rumores. Razvan, pai biológico de Skyler, está a caminho com Ivory, sua companheira. Ele acabou de me chamar. Nenhum deles está feliz com nada disso. Razvan me informou que houve uma tentativa de assassinato aos membros do conselho.
Zev xingou baixinho.
— Isso é muito pior do que pensei. Não está acontecendo só aqui então. Eu tinha medo disso. Existem membros do Conselho em um local seguro também. É uma precaução tomada quando há perigo para qualquer um deles. Dessa forma, há estabilidade no caso de qualquer um deles morrer. Há sempre uma continuidade, os membros mais velhos, com todos os necessários novos membros. Alguns deles foram mortos ou feridos? Enviei meus melhores membros com eles.
— Felizmente, prevaleceu manter a cabeça fria. — Byron o informou. — Razvan não estava lá quando os assassinos atacaram. Aparentemente, tentaram matar Gabriel e Francesca, que se afastaram. Zacarias os deteve, e ambos, Mikhail e um membro sênior do Conselho persuadiram os outros a se retirarem depois de uma breve, mas aparentemente, feroz batalha. Doze Lycans foram mortos, mas pareceram ser do outro lado, qualquer que seja.
Zev xingou novamente.
— Preciso chegar lá. Se um único membro do Conselho for assassinado nas Montanhas Cárpatos, quem está por trás disso ganhou. — Ele meio que se sentou como se pudesse ficar bem em seguida.
Fen levantou a mão para contê-lo.
— Esqueceu do veneno? O anticoagulante? Está planejando levar um corpo junto com você para fornecer sangue?
Zev pareceu aflito, revirando os olhos, balançando sua cabeça.
— Quando ele começou a ser comediante, Tatijana?
Tatijana encarou Fen, embora a diversão espreitasse em seus olhos.
— Eu não tenho ideia, mas você realmente está em apuros aqui. Moderem-se, homens lobos, você dois, temos que cuidar bem desse braço. — Ela olhou por cima do ombro. — Vlad, vou precisar de você. Ele ainda está perdendo muito sangue.
— Ela acabou de me chamar de homem lobo? — Zev perguntou, com uma sobrancelha erguida.
— Tivemos sorte por não ser menino lobo. — Fen assinalou. — Ela solta isso de acordo com a ocasião.
— Zev, deite-se e relaxe. — Tatijana aconselhou. — Fen e eu vamos trabalhar em você, juntos. — Seus olhos encontraram os de Fen. — Você segue o veneno, e eu vou trabalhar no anticoagulante.
Fen balançou a cabeça, sabendo que ela estava particularmente preocupada com a ferida. Ninguém estava escondendo nada de Zev. Ele sabia, provavelmente porque foi ferido mil vezes em batalhas. Era um lobo com um corpo que regenerava rapidamente. Se seu braço se recusava a parar de sangrar e se sentia mais fraco, mesmo após a infusão de sangue, ele saberia.
Fen verteu seu corpo, tornando-se energia branca curativa, seu espírito viajando rapidamente em Zev. O sangue de ambos, Lycan e Cárpato estava presente, embora o Lycan ainda fosse mais forte. Provavelmente, se não dessem a Zev tanto sangue ao longo das últimas batalhas, ele teria vários anos sem perceber que estava se transformando lentamente.
Moveu-se pelo corpo, inspecionando os ossos procurando por qualquer rastro de veneno. Tatijana forneceu uma imagem clara em sua mente, mas as bolhas minúsculas estavam se espalhando do braço até o ombro e ao longo da clavícula. Extraiu o veneno, lentamente o conduzindo para fora do corpo. Alguns dos pontos venenosos eram tão minúsculos que era difícil localizá-los.
Ele sentiu a presença de Tatijana, mas só o calor de sua energia, quando ela começou seu próprio trabalho separando o anticoagulante do tecido e músculo ao redor da ferida. Alguém trabalhou na fórmula para revestir as facas e punhais de Gunnolf, provavelmente sua espada. Fen devia ter pensado em recolher as armas, assim poderiam descobrir exatamente como era feito.
Se o grupo de Lycans que queria a guerra estava usando armas venenosas, então os Cárpatos e quaisquer aliados tinham que encontrar depressa uma maneira de neutralizar a fórmula utilizada. Ele empurrou mais das gotas do osso de Zev, conduzindo o veneno para fora do corpo de Zev. Não encontrou nenhum rastro de prata no veneno, por isso era possível que um Lycan tenha trabalhado no composto. Um inimigo teria adicionado aquele componente também, mas um Lycan, até um traidor, não gostaria de chegar perto da prata.
Ele estudou a linha de gotas. Viu algo semelhante recentemente. Tinha um mago ajudado com a química necessária? A ideia de uma aliança de um mago com Lycans era, francamente, bem assustadora. Uma vez que os crimes de Xavier, o grande mago, eram conhecidos ao longo de seu mundo, a maior parte dos outros magos se dispersou, não querendo ser associado com ele, mas isso não significava que não estavam por perto. Xavier os explorou e assassinou para suas próprias experiências assim como todas as outras espécies. Ninguém era sagrado para ele, nem mesmo sua própria carne e sangue.
Fen não tinha nenhuma ideia do passar do tempo enquanto meticulosamente removia cada gota minúscula de veneno do corpo de Zev e então voltava para trabalhar na cura de dentro para fora. Tatijana fez a parte dela e estava trabalhando para reparar o enorme corte também. Terminaram juntos, e quase caíram em seus próprios corpos.
— Ele precisa de sangue. — Tatijana disse à Vlad. — Vou te dar mais um pouco antes de ir para a terra.
— Quero me assegurar que todos entendam que, quando se levantarem famintos amanhã, e o farão, especialmente depois de doar todo esse sangue. — Fen disse. — Provavelmente qualquer um com quem se depararem será Lycan. Ingerir o sangue deles eventualmente irá mudá-los. Mikhail conversou com todos sobre os problemas.
— Ele não conversou comigo. — Zev disse, e ergueu sua cabeça para se alimentar do pulso estendido de Vlad.
— Não temos respostas suficientes para todas as perguntas. — Fen disse honestamente. — Como quando uma mulher é afetada, ou uma criança, se devemos decidir ter uma. Como um Cárpato pode converter outro. Mais, continuaremos a sofrer mutações quanto mais vivermos com tal mistura.
— Deviam vir com uma etiqueta de advertência. — Byron disse a Zev.
Zev mostrou-lhe o dedo do meio. Atrás deles, Paul riu silenciosamente e Josef começou a rir. Mostrar o dedo do meio não era uma prática aceita entre os antigos Cárpatos, ou mesmo aqueles considerados como Byron.
Byron abafou um sorriso e se virou com uma expressão firme, muito séria.
— Josef, acredito que Tatijana disse para você ir para a terra.
Tatijana se mexeu, e Josef depressa acenou com a mão para abrir a terra antes que ela pudesse repreendê-lo. Ele flutuou abaixo e a rica terra depressa preencheu por cima dele, cobrindo-o completamente.
Byron balançou a cabeça.
— Aquele rapaz é certamente corajoso, mas eu tenho que dizer a você, Vlad, ele é um problema.
— Nunca sabemos o que ele vai fazer ou se meter. — Vlad mostrou a Paul um cenho franzido sobre seu ombro. — Ficamos felizes quando ele estava saindo com Paul e Skyler porque pensamos, erroneamente, que eram uma boa influência para ele.
Paul deu um sorriso presunçoso.
— Conseguimos, no entanto. Todos nós.
— Eu não ficaria tão feliz. — Vlad aconselhou. — Seus tios estão a caminho. Estarão aqui antes do amanhecer.
O sorriso desapareceu rapidamente do rosto de Paul.
— Tios? Como todos eles? Rafael? Zacarias, também?
Vlad assentiu.
— Todos eles. — ele confirmou.
Paul gemeu, cobriu seu rosto com as mãos e deitou-se.
— Eu gostaria de poder ir para a terra. Talvez por vinte anos ou mais. Não acho que minha irmã vai me tirar dessa.
Zev educadamente agradeceu a Vlad, tentando não rir do desânimo do rapaz. O garoto o enganou, o que não era uma coisa fácil de fazer.
— Então somos você e eu, garoto. — ele disse. — Vamos enfrentá-los juntos. O Lycan que eles culpam por tudo isso e você, porque foi mais esperto que todos nós, até eles.
— Não deveria mencionar essa parte. — Paul disse. — Não é como se tivessem o melhor senso de humor. Não estou certo se já vi Zacarias rir. Gostaria de me arriscar na floresta.
— Você está cercado por franco-atiradores. — Fen assinalou. — Não seria uma boa ideia.
— Melhor uma bala rápida do que Zacarias arrancando minha cabeça e usando-a como algum tipo de arma macabra, o que ele é muito capaz. — Paul disse.
— Nos velhos tempos costumavam cortar cabeças e colocá-las em cima de lanças para advertir todo mundo do que aconteceria se irritassem os grandes senhores. — Fen disse com um olhar astuto para Zev. Ele o cutucou com o pé. — Sua cabeça ficaria muito bonita empoleirada em cima de uma lança, olhando para a floresta como advertência para os Lycans que balearam o jovem Paul lá.
— Fen! — Tatijana parecia chocada. — Está ficando mais sanguinário a cada minuto. Vá para a terra e comporte-se.
— Ele não sabe o significado da palavra. — Zev disse, um pouco piedosamente. — Mas se o tio de Paul cortar minha cabeça, Fen, caberá a você impedi-lo de começar uma guerra. Você terá que fazê-lo ser razoável.
Fen fez uma careta para ele.
— Duvido que qualquer um possa fazer isso, até eu, e quando meu irmão se levantar, precisarei de todos vocês para me deixar razoável.
Ele não conseguia suprimir a raiva que subia de vez em quando, quando pensava em seu irmão sendo torturado pelos Lycans no acampamento. Ele nunca teria encontrado Dimitri a tempo de salvá-lo. Se Skyler e Dimitri não tivessem uma incrível e intensa ligação entre eles, seu irmão teria morrido uma morte inexplicável de pura agonia.
O sorriso fraco de Zev desvaneceu-se.
— Sinto muito, Fen.
Fen deu de ombros. Sabia que anos de serviço de Zev para o Conselho o condicionaram a seguir ordens e executar comandos. Ele era a defesa do Conselho. Seus olhos e ouvidos. Eles confiavam nele implicitamente, e ele ganhou aquela confiança da maneira mais difícil. Não podia culpar Zev. O próprio caçador de elite confessou a ele que considerou ir contra as ordens do Conselho ou mesmo acabar com o sofrimento de Dimitri, matando-o.
— Não estamos em guerra ainda. — Fen suavemente lembrou. — Acho que é difícil entender como Dimitri poderia ser tratado dessa maneira, durante a guerra, muito menos quando estamos em paz.
— Acho igualmente difícil de entender. — Zev admitiu. — Percebi que não podia apoiar as decisões do Conselho se não acreditasse que foram justos e corretos. — Aquela percepção abalou o próprio fundamento de sua existência, toda sua convicção.
Fen respirou fundo e soltou o ar.
— Sinto muito. Nada disso é sua culpa.
— Talvez. E talvez seja. Devia saber que algo estava muito errado quando não pude encontrar o Conselho por respostas. — Zev balançou a cabeça. Estava cansado. Exausto, na verdade. Queria fechar os olhos e dormir. — Você não tem que ficar acordado e me fazer companhia. Paul e eu vamos nos revezar vigiando. Você precisa dormir tanto quanto eu.
Fen olhou para Paul.
Paul acenou com a cabeça, parecendo muito velho para sua idade.
— Não tem problema, cuidamos disso. — ele concordou.
O som de choro abafado encheu sua mente. Os olhos de Dimitri se abriram. Ele olhou para a mulher em seus braços. Skyler permanecia enrolada nele, parecendo menor do que nunca. Videiras entrelaçadas, de cores brilhantes, os tinha envolvido num casulo de flora viva. Sob o cobertor, ambos estavam nus, precisando do solo para curar todas as feridas. Ele vislumbrou seu corpo, de porcelana branca, marcado agora por várias balas rasgando sua carne.
A mão de Skyler se moveu contra seu pescoço, o menor dos gestos, um simples roçar de seus dedos, e ao mesmo tempo, traindo nervosismo.
Imediatamente ele acenou com a mão e ordenou ao solo para abrir, para permitir a entrada do ar e da noite. Uma brisa fresca se espalhou instantaneamente em seus rostos. No alto, estrelas brilhavam e a lua resplandecia um amarelo suave atrás das nuvens preguiçosas. Ele os protegeu cuidadosamente de quaisquer olhos ou ouvidos, envolvendo-os num casulo quente de privacidade.
Ele afastou seu cabelo do rosto, removendo todos os resíduos de ambos, permitindo que o cobertor permanecesse vivo. Ele queria que ela se sentisse confortável com ele, não tendo conhecimento que ambos estavam nus sob a camada de vinhas entrelaçadas.
— O que é isso, Skyler? Está com medo?
Seus longos cílios levantaram e ela olhou para ele. No momento que seus olhos se encontraram, seu coração saltou no peito. Ela sempre foi belíssima para ele. Quando cresceu para se tornar uma mulher, seu sangue Caçador de Dragões se tornou muito mais aparente. A herança corria forte nela, dando aos olhos uma constante mudança, escuros agora, com as pontas dos seus cílios molhados.
— Não posso ter medo com seus braços em volta de mim, Dimitri. — ela respondeu. Virou o rosto para cima em seu pescoço, esfregando como um gato sobre sua pele.
Houve um pequeno percalço em sua voz que o atraiu.
— E então? — Ele levantou o queixo com um dedo e inclinou a cabeça para beijar o caminho das lágrimas. — Por que está chorando? — Arrastou mais beijos, leves como plumas, pelo canto da boca.
Sentiu-a tremer, o menor dos tremores, mas ela não se afastou dele, e virou o rosto sutilmente para que seu próximo beijo roçasse seus lábios.
— Csitri, estamos seguros agora. — Ele a beijou suavemente, não exigindo nada. Sem pedir nada. Bastava dizer que a amava e segurá-la perto, era tudo o que importava naquele momento.
Seus lábios se curvaram num leve sorriso por baixo dele.
— Estamos seguros enquanto ficarmos aqui na terra, meu amor. Acredito que meu pai e meu tio estão em algum lugar perto.
— Não tem nada a temer de sua família, Skyler. — Dimitri assegurou. — Sem você, eu estaria morto. Como minha companheira, tinha todo o direito de fazer o que fez.
— Eu sei. Então, se nossa filha nunca...
— Ela seria trancada em seu quarto pelo resto de sua vida. — Ele interrompeu. — Nossa filha será tímida e agarrada aos seus pais.
Ela riu, virando o rosto atrás até a garganta dele. Seus lábios macios roçaram beijos ao longo dos três ciclos de queimaduras circulando sua garganta e pescoço. Sua língua acariciou lá, seguindo o caminho dessas correntes de prata. Ele sabia por que tinha despertado com o choro dela. Por ele. Não por si mesma. Ela chorou por ele e pelo sofrimento que ele passou.
Ele deslizou a mão em seu cabelo, juntando os fios de seda grossa em seu punho.
— Amada. Está feito. Nós dois estamos seguros e juntos. Paul e Josef estão vivos, e se recuperarão. Ambos serão anunciados como heróis... bem, depois de suas famílias e Gabriel dar sermões e tentar colocar um medo de morte neles. O que não vai funcionar, porque já enfrentaram a morte real.
Ela riu suavemente.
— Isso é tão verdadeiro. Josef disse que teria que ir para a terra por cem anos. Mas vieram comigo. Ambos. Tenho amigos incríveis. — Seus lábios voltaram para leves beijos entre o afago de seda de sua língua.
A onda de calor enviou pequenas chamas bruxuleantes através de sua corrente sanguínea. Todos os músculos tensos tomaram conhecimento da mulher em seus braços. Sua mulher. A cada movimento, sua pele nua o roçava intimamente. Ele vislumbrou seus atraentes seios, os montes de pontas rosas e as arredondadas curvas muito femininas.
Estavam vinculados agora, de alma para alma, e nem mesmo um homem com a força de vontade como seu lendário pai poderia separá-los novamente. Ele não tentou esconder a reação de seu corpo dela. Respeitava Skyler demais para fingir alguma coisa.
Ela levantou a cabeça para olhar para ele, seus olhos escuros brilhando na constante mudança de cor.
— Quero que você me deseje, Dimitri.
Ele deu um leve sorriso.
— Isso é uma coisa boa, Skyler. — assegurou. — Porque a desejo. É natural querer fazer amor com a mulher que você está apaixonado.
— Precisa ser paciente comigo. Quero que me ensine.
Ele emoldurou o rosto dela com as duas mãos.
— Não há problema em ter medo e me diga quando estiver.
Ela assentiu com a cabeça.
— Eu sei. Conheço-o agora. Sei que estou segura com você. — Ela se inclinou para mais perto dele. — Senti tanto sua falta em todas as vezes que se foi. Não tenho nenhuma ideia de quando comecei a realmente saber que te amo, mas foi há muito tempo e agora cada vez mais forte a cada momento.
— Obrigado por terem vindo me resgatar. — Ele disse simplesmente, expressivo. Ela salvou os dois, dando-lhes uma chance de uma vida juntos. — Você salvou minha vida.
— Eu descobri, quando não podia tocar sua mente com a minha, que não havia Skyler sem Dimitri. — Seus olhos estavam suaves, aquele tom cinza que ele gostava especialmente. — Acho que foi mais um ato egoísta que um heroico, seguir em seu encalço.
Ele riu suavemente.
— Só você pensaria isso.
A diversão desapareceu de seus olhos.
— Precisamos encontrar um lugar onde possamos ficar sozinhos, Dimitri. Sei que posso fazer um trabalho melhor na sua cura, tanto dentro como fora, mas não aqui. Não com os Lycans conosco e uma multidão de caçadores Cárpatos observando cada movimento ao nosso redor.
— Ninguém está nos vendo agora, sívamet. — assegurou. — Estamos nas profundezas do solo. Mesmo que os Lycans rastejem sobre a cobertura do abrigo acima de nós e olhem para baixo, não poderiam nos ver aqui deitados. Criei um escudo que nenhum olho pode penetrar.
Ela caiu contra ele, como se aquele pequeno jorro de energia partisse e ela estivesse exausta novamente.
— Estou tentando não culpar todos os Lycans, Dimitri. Intelectualmente, entendo que são alguns indivíduos, mas ainda quero chutar todos eles.
Sua confissão o fez rir.
— Chutar todos? — Repetiu ele. — Você é de valor inestimável, csitri, você realmente é. Tinha algo muito mais letal em mente.
— Dimitri! — Ela virou a cabeça para olhá-lo de novo. — Como é perfeitamente maravilhoso. Você é capaz de querer vingança. Me senti um pouco culpada por não ser uma pessoa melhor.
— Não acho que já teve que se preocupar em se igualar a mim ou que precisava corresponder às minhas expectativas. — Assegurou. — Tenho muitas falhas.
— Como? — ela perguntou.
Ele se inclinou para beijá-la. Desta vez, sua boca estava mais firme, um pouco mais insistente. Ele acariciou a língua ao longo da sua boca e, em seguida, traçou seus lábios macios, cheios.
— Não vou dizer. Tem que descobrir as coisas por si mesma.
Skyler pressionou a boca contra a dele, um beijinho provocador suave, roçando seus lábios para trás e para a frente sobre os dele, como se estivesse testando a sensação. Sua língua acariciou seus lábios, seguindo seu exemplo, provando-o um pouco timidamente, mas ficando mais ousada quando ela aprofundou o beijo.
Sua mão apertou em seu cabelo, mantendo-a imóvel. Ela se assustou, um cervo estático nas luzes de um caçador, mas não se afastou dele. Seus olhos se arregalaram, ficaram suaves. Aquele belo tom de cinza, indicando que ela estava relaxada e feliz.
Amar com tal intensidade era terrível — maravilhoso — mas aterrorizante. Ele nunca mais seria o mesmo. Ele nunca teria esse controle perfeito do guerreiro sem emoção. Sempre precisaria desta pequena mulher que segurava sua vida na palma da sua mão.
Ele tomou posse da boca perfeita, tão quente e suave e convidativa. Seu punho fechado nos sedosos fios grossos de seu cabelo, ancorando-a para ele, seu primeiro movimento agressivo, sua primeira demanda. Ele esperou um instante, dando-lhe a chance de se afastar, mas ela permaneceu imóvel, um pequeno pássaro com um coração vibrante, ainda quieta, à espera.
Sua boca persuadiu a dela a abrir para ele, mais uma reivindicação, como ele já tinha feito nela antes, mais insistente. Ele contou as batidas do coração, desta vez, com medo que ela entrasse em pânico e se afastasse, mas sua confiança nele superou todos os medos que ela tinha e abriu a boca para ele. Ele assumiu o controle, entrando para reclamá-la como mulher, como amante.
As arremetidas eram quentes e instantâneas, uma descarga elétrica escaldante em suas veias, estalando ao longo de cada terminação nervosa. O amor por ela o englobou, infundindo-se em seus próprios músculos e ossos, de modo que sua necessidade por ela ergueu-se como uma onda, se fundindo com o desejo. Nunca haveria como separar as duas emoções, a urgente fome devastadora por ela e o imenso amor.
Seu cérebro ameaçou um curto-circuito. Seu coração disparou, quase explodiu em seu peito. Cada músculo endureceu quando o sangue correu quente para sua virilha. Sua boca era doce, picante e quente, um refúgio de prazer que ele queria visitar mais e mais. Ele provou paixão, não só dele, mas dela também.
Sua necessidade encontrou a dele. Cresceu com a dele. Igualou-se com a dele. Sua boca era inexperiente, e que fez tudo mais doce para ele. Ela não estava hesitante, mas talvez um pouco tímida. No entanto, seguiu seu exemplo de boa vontade, e quando ele tocou sua mente, não havia medo, apenas a necessidade de dar-lhe o mesmo prazer que ele estava lhe dando.
Beijou-a mais e mais, permitindo-se afogar em sua paixão, roubando sua respiração, dando-lhe a sua. Esta mulher suave, aparentemente frágil o salvou com o núcleo de aço que a atravessava e o incrível poder feminino que exercia. Dera-lhe vida uma vez, uma razão para viver, e, em seguida, uma segunda vez, quando só havia agonia e não havia razão para a esperança, ela veio para ele.
Ele levantou a cabeça para olhá-la, extraindo o ar em seus pulmões doloridos. Skyler se afastou, olhando-o com seus enormes olhos, os cílios vibrando abaixo para cobrir sua expressão, mas não antes que percebesse o olhar assombrado, atordoado.
— Beijar é tão incrível. — Admitiu ela, fixando-se em seus braços novamente. — Acho que poderia ficar viciada nisso com bastante facilidade.
— Já sou viciado em beijar você. — Ele disse, seu tom baixo. — Então vamos esclarecer, para o caso de topar com uma dessas coisas não tão agradáveis sobre o meu caráter. Me beijar é incrível. Seria muito mortal para qualquer outra pessoa.
Um pequeno calafrio percorreu a espinha de Skyler pelo seu tom. Ele parecia tão calmo e tão familiar, sempre como seu perfeito Dimitri, mas havia algo no timbre de sua voz e em seus olhos que dizia que falava muito sério.
— Homem tolo, quem mais eu estaria beijando? — Antes que ele pudesse responder, riu suavemente. — Paul e Josef são minha família. Eles não contam.
Paul e Josef eram sua família. Ele aceitou isso há muito tempo — e não foi fácil. Uma vez que olhou em sua mente e realmente resolveu suas emoções em relação a ambos os meninos — não, homens agora — o relacionamento entre eles jamais o incomodou novamente. Na verdade, ficou muito afeiçoado a ambos, considerando-os como ela: irmãos, mais que amigos.
— Precisamos nos alimentar. — disse Dimitri. — Nós dois estamos fracos.
Ela estremeceu.
— Não acho que poderia apenas me aproximar de alguém e afundar meus dentes em seu pescoço, Dimitri. Não é que não pensei muito sobre isso, e Josef me deu seu sangue várias vezes, mas apenas tomar o sangue de alguém que não conheço...
— Esse é meu trabalho agora, não o seu. — Disse Dimitri. — Acredito que seu pai e seu tio estão esperando você subir, para que possam ter certeza que está viva e bem. Eles vão nos dar sangue. São antigos e seu sangue é poderoso. Vai ajudar na cicatrização. Nós dois precisamos estar fortes, a fim de sair daqui. Os Lycans realmente nos tem cercados. Já verifiquei a floresta e estão lá fora, à espera de todos nós para fazer um movimento.
Skyler acariciou os dedos sobre o cobertor de vinhas.
— Temos muita sorte por ter esse tipo de ajuda quando precisamos dela. Nós dois estávamos muito machucados.
Seu coração se contraiu. Nunca queria reviver aqueles primeiros momentos, quando ela jogou o corpo dela na frente do seu para impedir que as balas de prata o atingissem. Seus braços se apertaram ao redor dela, quase a esmagando, mas ela não lutou, apenas aceitou sua necessidade de abraçá-la.
— Não faça isso de novo, Skyler. Pode imaginar como foi para mim pensar que estivesse morta?
Ela virou a cabeça para olhá-lo.
— Sim, Dimitri. — Sua voz era muito firme. — Eu posso imaginar, vendo como achava que era possível que estivesse morto.
— Sinto muito, csitri. — Ele deixou mais um beijo em cima de sua cabeça. —Não queria que se conectasse comigo, porque sabia que ia sentir minha dor.
— Em vez de acreditar que estava morto. — disse ela muito sobriamente. Ela acenou com a mão e o cobertor sobre eles recuou. — Sei que tenho que enfrentar meu pai e sua decepção por mim por mentir para eles. Prefiro acabar com isso.
— Sabe que planejei um casamento para você. Um humano. O tipo que você falou com seus amigos, com Gabriel caminhando com você até o altar. Queria me vincular com você na frente deles, e fazer com que fosse um ritual especial para você. — Dimitri reiterou. — Era importante para você incluir sua família e queria isso para você.
Ela ficou de joelhos, encolhendo-se, quando seu corpo protestou, dizendo que ela não estava em qualquer lugar perto de estar curada. Ajoelhada ao lado dele, inclinou-se sobre ele, emoldurando seu rosto, seu cabelo caindo ao seu redor como uma capa de seda.
— Nosso ritual foi especial para mim. Eu pedi, Dimitri. Era importante para mim que estivéssemos unidos. Você não me dispensou como uma criança. Ouviu o que eu tinha a dizer. Falou-me de suas preocupações e confiou em mim para te ouvir. No final, apesar de sua relutância, fez o que pedi. Isso fez com que a nossa ligação fosse especial para mim.
Ele franziu o cenho para ela.
— Tem sido difícil ter tantas pessoas dizendo que você é muito jovem para tudo?
Ela inclinou a cabeça para a dele, roçando a boca cuidadosamente sobre as queimaduras em espirais da corrente em sua testa.
— Não tem ideia de como isso pode ser irritante. Na verdade, foi Josef que tornou tudo mais fácil para mim. Ele acha engraçado que todos ao seu redor o rejeitem como uma criança. Eu desenvolvi um senso de humor sobre isso na maior parte do tempo.
Ela franziu o cenho, estudando a imagem perfeita de uma corrente queimada tão profundamente em sua pele. Ela passou a ponta do dedo sobre ele, traçando a corrente completamente ao redor de sua cabeça em um círculo. Ela podia sentir que a corrente queimou seu crânio.
Eu a invoco, Mãe, traga vosso poder,
Como eu selei esses caminhos que trazem dor e praga.
Eu chamo o aloé, tão verde e fresco,
Produza o sangue de sua vida novamente para curar.
Cada linha que eu traço, pode desaparecer dia a dia,
Levando tudo que causa dor.
Sua voz suave desapareceu e ela se inclinou para a frente, trilhando mais beijos em torno dos elos da corrente, e usando a saliva curativa quando traçou os elos com a ponta da sua língua.
Dimitri achou suas ministrações não só suaves e extremamente íntimas, mas sexys também. Ela estava realmente montada em seu corpo, ajoelhada, seus quadris entre as coxas, os seios pressionados perto de seu rosto enquanto cuidava dele.
Ele levou as mãos suavemente até a copa dos seus seios, sentindo o peso suave em suas mãos. Sentiu-a ingerir ar rapidamente. Ela continuou imóvel, quieta. Seu coração acelerou sob sua mão. Ela se inclinou novamente, pressionando os seios mais fundo em suas palmas enquanto beijava-lhe os olhos e pelo nariz.
Ela levou seu tempo para encontrar sua boca, usando um caminho rotatório tentador, que incluía suas orelhas e sua mandíbula antes de se mover de volta para seus lábios. Ele roçou o polegar sobre o mamilo. Leve como pluma. Imediatamente ele sentiu sua reação, o tremor, o calor, o rubor de seu corpo, seus olhos assustados pulando para encontrar seu olhar.
— Beije-me, sívamet. Eu quero conhecer seu corpo. Não estou pedindo nada a você, este não é o momento nem o lugar — ele sussurrou —, mas você é minha. Este corpo belo está sob minha guarda. Preciso ver cada ferida. Preciso conhecer cada curva. Tudo que faz você suspirar de prazer e estremecer de medo.
Seus olhos procuraram os dele pelo o que pareceu uma eternidade, embora ela não tivesse enrijecido ou estivesse tensa. Ela lentamente entrelaçou os dedos na nuca de seu pescoço e se inclinou para a frente para tomar posse de sua boca.
Beijou-a profundamente enquanto sensações se derramavam nele, iniciando um incêndio em cada terminação nervosa. Beijando-a mais e mais, querendo que ela se perdesse nessas mesmas sensações, começou a explorar seu corpo com as mãos. Ele mapeou cada centímetro de sua delicadeza, as pontas dos seus dedos passando por cima de sua pele, como se estivesse lendo braille. A longa linha de suas costas. Sua pequena caixa torácica. As curvas da cintura e o alargamento dos quadris. Suas firmes nádegas que pareciam se encaixar perfeitamente em suas mãos. Suas coxas e panturrilhas. Até mesmo seus pés.
Dimitri levou seu tempo, explorando seu corpo, cuidadoso para não fazer um único pedido, simplesmente familiarizando-se com ela. Seus seios eram muito sensíveis. Ela ofegava cada vez que ele puxava ou torcia os mamilos. Ele os lambeu, usando um golpe amplo do plano de sua língua, enquanto sua mão deslizava por sua coxa para o crescente calor entre suas pernas.
Ela fez um pequeno som que estava em algum lugar entre medo e excitação. Ele levantou a cabeça para olhar em seus olhos, mantendo a mão apertada contra seu montículo.
— Beije-me outra vez. — Ele sussurrou. — Apenas deixe-se sentir. Não vou fazer nada, apenas conhecer seu corpo.
Ela obedeceu de imediato, encontrando sua boca de novo, beijando-o um pouco freneticamente. Ele manteve sua mão parada enquanto a beijava mais e mais à espera que relaxasse.
Essa é minha garota, ele sussurrou em sua mente. Falei sério sobre tomar seu corpo em minha guarda. Você sempre estará segura comigo. Apenas deixe-se sentir, não pense. Está comigo, e vou valorizar e protegê-la para sempre.
Ele sentiu sua calma, seu corpo quente contra o dele. A junção entre as pernas dela ficou quente e úmida. Ele moveu um dedo num lento círculo preguiçoso, beijando sua boca e, em seguida, o queixo, a garganta dela, de volta ao inchaço suave de seu peito. Cada movimento era gentil e não ameaçador, mas projetado para aumentar seus sentidos.
Sua língua brincou com o mamilo esquerdo, acariciou e lambeu. Seus dentes o roçaram e, em seguida, ele puxou o mamilo para o calor de sua boca. Ela ofegou, arqueou-se, empurrou mais fundo nele. Ao mesmo tempo, ele empurrou seu dedo em sua apertada, escaldante bainha quente. Seus músculos se apertaram firmemente em torno dele, quando o agarrou com um punho fechado. Ele quase gemeu alto ao sentir a reação de seu corpo ante sua pequena invasão.
Está tudo bem. Apenas sinta como é bom quando está com alguém que realmente a ama. Você é meu mundo. Meu tudo. Para mim, sempre vai ser a mulher mais bonita, desejável do mundo. Eu te amo e adoro seu corpo. Quero fazer você se sentir assim, mas muito mais.
Não estou certa que possa tomar mais. Ela parecia assustada.
O que é isso?
Me sinto um pouco fora de controle.
Isso é exatamente o que deve estar sentindo. Quando fizermos amor, csitri, nós dois vamos ficar um pouco fora de controle, mas estaremos seguros um com o outro.
Lentamente, com relutância, ele retirou o dedo, deu mais um puxão suave em seu seio e, em seguida, levantou a cabeça. Ela estava com os olhos arregalados, um pouco atordoada, sua respiração um pouco irregular, e seu corpo estava totalmente corado. Ele a beijou novamente, desta vez longa e lentamente.
— Você é tão linda, Skyler. Apenas assim. Não acho que alguma vez chegará um dia em que serei capaz de resistir a você.
Ela colocou os braços ao redor do pescoço dele e segurou-o perto dela.
— Surpreende-me o tempo todo, Dimitri. Você sempre parece saber exatamente o que fazer. Me faz sentir bonita e especial. — Ela fez uma pausa, contorcendo-se um pouco.
— O que é, sivamet? — Dimitri a persuadiu suavemente. —Sempre fomos capazes de dizer tudo um ao outro.
— É um pouco mais difícil cara a cara e sem roupas — ela admitiu. Ela se afastou apenas o suficiente para que seus olhos se encontrassem, corando num profundo tom de vermelho. — Eu realmente o queria. Estava com medo, mas não queria que parasse.
— Eu não queria parar também — confessou ele —, mas mesmo que ninguém possa nos ver ou ouvir, não quero metade da população Cárpata em volta.
— Você até me fez esquecê-los. — Skyler reconheceu. — Minha mente decolou e foi para outro lugar.
Dimitri riu suavemente.
— Deite-se e deixe-me dar uma olhada nesses buracos de bala. Eles ainda estão parecendo bastante inflamados. Dói?
— Um pouco. — Ela admitiu.
Suas mãos estavam em seu corpo, um pouco possessivas, obrigando-a a deitar-se enquanto inspecionava os danos causados a ela.
— Essas lesões vão levar algum tempo para cicatrizar. Entre levar um tiro e a conversão, acho que seu corpo precisa passar algum tempo na terra.
— Mas não aqui. — Disse Skyler. — Não sei quanto tempo esse abrigo vai durar. Nunca tentei uma coisa dessas antes. Tatijana pode ser capaz de nos dizer. —Ela alisou o cabelo dele para trás com os dedos amorosos. — Não sou a única que precisa de muito mais tempo para curar.
Ele levou a mão para o calor de sua boca, beijando os nós dos dedos com ternura.
— Estou muito bem. Um pouco de sangue e vou estar em funcionamento.
Ela revirou os olhos.
— Sei. Essa coisa de homem viril que mencionou no passado. Acho que não entendi o conceito. Pior, Paul e Josef agora dizem a mesma coisa.
Ele sorriu.
— Está vendo? Até eles sabem.
Skyler sacudiu a cabeça.
— Odeio estourar sua bolha viril, mas eles dizem isso sobre si mesmos.
Dimitri fez seu melhor para parecer murcho, apenas para conseguir um sorriso dela. A tensão estava começando a desgastá-lo — o pensamento de enfrentar seu pai e tio. Ela estava preocupada com sua mãe e irmã mais nova também.
— Vamos encarar as consequências e ver se alguém tem alguma ideia de onde podemos ir e como vamos chegar lá. — sugeriu ele.
Skyler apertou os lábios e deu um pequeno aceno de cabeça.
— Vou precisar de roupas.
— E não se preocupe, sívamet, vou ter certeza que tudo será cuidado.
Dimitri a vestiu com jeans confortáveis e uma camisa macia, de mangas compridas. Ela continuava a tremer, embora pudesse controlar a temperatura do seu corpo. Ele levou seu tempo, trançando o cabelo dela com a mão, dando-lhe um pouco de tempo extra para resolver em sua mente o que ia dizer ao seu pai.
— Vou estar ao seu lado. — Dimitri assegurou. — Sabe que nunca permitiria que alguém a ofendesse.
— Gabriel não é assim. — disse Skyler. — Ele vai ficar desapontado... não com raiva. Odiei mentir para meus pais. Eles não mereciam isso, mas sabia que eles tentariam me deter. — Ela virou a cabeça para olhar por cima do ombro enquanto ele puxava o cabelo dela. — Nada, ninguém poderia ter me impedido, Dimitri.
Ele acariciou a mão abaixo em sua trança.
— Eu sei. Nem mesmo eu. Isso é apenas uma das milhões de razões pelas quais a amo. Você me assusta até a morte com sua coragem, Skyler, você realmente me assusta.
Ela sorriu para ele.
— Eu te disse, não era coragem, era egoísmo. Não estava disposta a viver sem você.
Ela poderia virá-lo de dentro para fora sem tentar. Seu coração teve algum colapso ridículo. Ela tirou o ar de seus pulmões, fez seu sangue explodir quente e encontrou uma maneira de fazê-lo sentir o mais intenso, imenso amor que ele nem sabia que poderia existir.
Não havia nada que pudesse dizer a ela, sem palavras para expressar o quanto, ao longo dos últimos três anos, ela mudou sua vida de forma tão completa. Tinha-lhe dado propósito. Amor. Razão para existir. Ela fez todos os dias escuros que ele sofreu ao longo dos séculos desaparecerem. Ela fez todas as selvagens matanças horríveis valer a pena.
Skyler. Não havia outra mulher como ela. Um nó na garganta ameaçou sufocá-lo. Forçou o ar através de seus pulmões.
— Vamos fazer isso. — Suas emoções estavam muito cruas, muito intensas. Em momentos como este, não confiava em si mesmo para ficar a sós com ela. Queria que ela fosse até ele de forma gradual, ao ver que um relacionamento físico era simplesmente outro aspecto do compartilhamento de suas vidas juntos. Corpo. Mente. Coração. Alma.
Ele não considerou que sua iniciação suave o jogaria numa tempestade de necessidade ou que cada momento em sua companhia aumentava seu amor por ela e só adicionava combustível ao fogo.
— Você vai precisar de roupas também, meu amor. — ela apontou gentilmente, acariciando seu peito nu com a mão. — E não pense que eu não vou gastar muito tempo sobre essas feridas suas no momento que estivermos sozinhos e num lugar mais seguro.
A intimidade em sua voz, uma nota suave, quase rouca enviou dedos de desejo provocando sua espinha, levando seu controle ao limite. Ele sabia que ela iria usar a boca sobre ele, em cada um desses elos da corrente de seu pescoço até os tornozelos. Seu corpo estremeceu de prazer com o pensamento.
Dimitri acenou com a mão para vestir suas próprias roupas, certificando-se que os dois estivessem impecáveis quando passou o braço em volta dela e os levitou para a abertura acima deles.
Ele não ia enfrentar seu pai também, mas queria ver Fen. Fen tentou ser educado e não tocar sua mente, não interrompendo seu tempo com Skyler, mas eles sempre olhavam um pelo outro e Fen precisava ver que Dimitri estava vivo e bem.
Claro, ele não estava muito bem. Sentia suas entranhas inflamadas e doloridas. Estava muito mais fraco do que imaginou que estaria ou ele teria dado sangue a Skyler. Ambos precisavam do porto seguro de que ela falou, um lugar para se curar e ficar sozinhos.
Gabriel e Lucian estavam ombro a ombro a alguma distância de onde Skyler e Dimitri descansaram na terra. Pareciam estar estudando o lado ocidental da floresta com cuidado, mas no momento que o casal veio à tona, eles se viraram, sentindo sua presença.
Gabriel imediatamente caminhou na direção deles, Lucian um passo atrás. Skyler começou a correr para seu pai, mas era impossível, ela estava muito fraca. Teve que ficar de pé, esperando, os braços de Dimitri segurando-a na posição vertical, até seu pai chegar.
No momento em que ele fez isso, Skyler entrou em seus braços.
— Eu sinto muito, Gabriel. — ela sussurrou. — Eu nunca faria você e Francesca atravessar tal provação, se sentisse que tinha outra escolha.
Dimitri achou sua escolha de palavras intrigante. Ele encontrou-se a admirando ainda mais. Sabia que estava genuinamente arrependida do que fez seus pais passarem, pensando que estava morta, mas também foi uma tomada de posição, sinalizando para o pai que estava crescida e tomava suas próprias decisões.
O forte abraço de Gabriel devia doer, mas ela não estremeceu nem tentou se afastar. O pai beijou o topo de sua cabeça.
— Pensamos que estava morta, Skyler. Todos nós. Todos. Encontrá-la viva é um milagre.
Lucian a retirou delicadamente das mãos de seu pai.
— Você nos assustou muito, menina. — Ele a repreendeu. — Significa que ninguém pode ficar bravo com você agora que está viva.
Skyler abraçou seu tio.
— Isso é um alívio. Estava preocupada que pudesse ficar trancada em meu quarto por um milênio.
— Gabriel não pode trancá-la em seu quarto por uma hora e quanto mais um milênio. — Lucian apontou.
Mesmo enquanto seu tio brincava com ela, os lendários guerreiros tinham seu olhar sobre Dimitri. Ele não vacilou. Nunca foi homem de se intimidar, mas de repente desejou estar um pouco em melhor forma. Ele sentiu Fen se aproximar do seu lado direito. O grande irmão brincando de mauzão. Fen conseguia parecer bem ameaçador quando queria, e no momento estava encarando os dois.
Skyler retirou-se dos braços de Lucian e inclinou-se para Dimitri, deliberadamente, ele tinha certeza. Ela manteve o sorriso quando envolveu o braço ao redor da cintura de Dimitri. Ele sentiu o leve tremor em seu corpo.
— Pedi a Dimitri para me reclamar antes de salvá-lo. Estava com medo que se não fosse bem-sucedida, ele morreria. Teria escolhido segui-lo e ficaria apavorada, sem nossas almas unidas. — Ela olhou seu pai nos olhos quando falou isso.
Gabriel começou a balançar a cabeça enquanto ela falava.
Lucian colocou a mão em seu ombro.
— Está feito, irmão. Não há nada a ser feito com ele agora. Ela tirou o assunto de nossas mãos.
— Ele poderia tê-la recusado. — Havia um aviso na voz de Gabriel.
— Será que você recusaria sua companheira? — perguntou Lucian suavemente. — Ela estava certa ao fazer o que fez. Dimitri estava em apuros e ela foi até ele. É sua verdadeira companheira, não há como negar isso.
— Todas as chances eram que eu não chegasse a ele em tempo. — Disse Skyler. Ela estendeu a mão para o pai. — Não posso viver sem ele. Sabe o que é isso. Se algo acontecesse com Francesca...
Gabriel sacudiu a cabeça novamente.
— Não diga isso. Não pense nisso.
— Papai. — Disse Skyler, pela primeira vez, soando como uma criança perdida. — Não tive escolha. Tem que ver isso e entender.
Dimitri se agitou, cada instinto protetor crescendo rapidamente. Seu coração doía realmente por ela. Skyler precisava do conforto de Gabriel. Ela fez a coisa certa. Todos sabiam disso, mas seu pai não queria admitir que ela tinha idade suficiente para tomar suas próprias decisões. Ele não queria deixar a criança ir e reconhecer que era uma mulher.
Dimitri a aproximou mais em seus braços, protegendo seu corpo contra o dele. Ir abertamente contra Gabriel, corria o perigo de colocar Skyler na posição de defender seu pai. Ainda assim... não estava disposto a permitir que qualquer pessoa, nem mesmo seu pai, a fizesse se sentir tão terrível e culpada. Skyler escolheu salvar seu companheiro. Foi mortalmente ferida no processo e submetida à conversão. Precisava desesperadamente que seu pai entendesse.
— Ninguém mais poderia encontrá-lo. — Disse Fen antes que Dimitri pudesse falar. — Nem mesmo eu. O que seja que eles têm juntos é algo muito especial.
Levou uma grande quantidade de disciplina para Dimitri ficar lá em silêncio e permitir que outros defendessem seu caso para Gabriel. Ele respeitava o guerreiro lendário, mas não tinha medo dele, e não sentia que devia uma explicação. Mais, ele queria atacar e dizer ao homem para ver Skyler como ela era, e não a criança assustada que Gabriel tomou, amou e cuidou.
As paredes em torno deles de repente tremeram, quase dobrando em si mesmas. O chão tremeu sob seus pés e acima deles, o teto parecia cair, e em seguida, recuar de volta ao lugar.
— Não temos muito tempo — disse Tatijana. — Temos que sair hoje à noite, em breve.
Não deixe sua filha magoada quando sabe que ela fez a coisa certa, Lucian aconselhou seu irmão. Deve ficar orgulhoso dela. Ela fez o que nenhum outro poderia fazer.
Ela é meu bebê. Nosso bebê. De Francesca e meu. Nossa primeira. Sabe como a vida dela era.
Havia verdadeira dor na voz de Gabriel.
Primeiro dou a Francesca a notícia de que ela vive, e prometi levá-la para casa e, agora, devo dizer-lhe que ela se foi para sempre. Tivemos muito pouco tempo com ela. Sinto-me traído.
Você sente medo por ela. Não pode controlar seu mundo ou mantê-la fora de perigo. Esse é seu medo, Gabriel. Todo pai deve enfrentá-lo. Olhe para Dimitri. Realmente o olhe. Você nem sequer olhou para ele. O que ele passou por ela. Para permanecer vivo por ela. Que outro homem sofreria uma coisa dessas?
Pela primeira vez, Gabriel se permitiu olhar para seu genro. Seu parente. A testa e o pescoço de Dimitri tinham os elos das correntes queimadas em sua pele, quase até o osso. Ele podia ver uma camada que foi envolvida em torno da testa e três voltas ao redor do pescoço.
Todo seu corpo tem estas marcas. Tatijana e Fen me disseram que dentro de seu corpo, todos os órgãos e ossos foram queimados também. Ele esteve faminto por mais de duas semanas — pendurado em ganchos e balançando numa árvore. Ele permaneceu vivo, por ela. Ela o teria seguido e ele sabia disso, Lucian persistiu. Este é um antigo caçador de habilidades excepcionais. Todos conhecem sua reputação. Agora veja não só sua força e determinação, mas seu amor por sua filha para sempre gravado em seu corpo para que todos possam ver.
Gabriel passou a mão sobre o rosto. Balançou a cabeça. Sabia que estava sendo irracional. Skyler estava em boas mãos. Dimitri obviamente a amava, isso estava lá, em seu rosto. Ele podia não estar pronto para Skyler crescer, mas em algum lugar ao longo da linha, ela fez isso, amadurecendo a si mesma como mulher, ganhando confiança e tomando suas próprias decisões. Ele não podia culpá-la por isso. Sabia, como pai, que era a mesma coisa que ele queria para ela.
Ele se aproximou do casal e apertou os antebraços de Dimitri, Skyler entre eles.
— Bem-vindo, meu filho. E obrigado por salvar sua vida. Poucos poderiam fazer uma coisa dessas. Seu espírito estava tão longe de nós, nem sua mãe nem eu pudemos encontrá-la. — Gabriel olhou para a filha. — Você nos fez nos orgulhar muito, Skyler. Ninguém jamais teria concebido que você, Paul e Josef poderiam realizar o que todos nós deixamos de fazer. Mikhail enviou grupos de busca, mas ninguém foi capaz de encontrar uma pista do caminho.
Skyler circulou sua cintura com os braços e encostou a cabeça no peito de seu pai, a tensão lentamente se esvaindo.
— Estou grata que entenda que eu tinha que encontrá-lo.
Gabriel beijou o topo de sua cabeça.
— Eu entendo. — Ele olhou por cima do ombro para o casal em silêncio atrás dele. — Acho que há outros que desejam recebê-los e certificar-se que estão vivos e em segurança. Eles foram caçar esta manhã e podem fornecer sangue para ambos.
Atrás dele, o pai biológico de Skyler, Razvan, estava em pé e ereto. Ele foi o homem mais odiado além de seu avô Xavier, antes que ele saísse da prisão também, e Xavier usava seu corpo para cometer crimes indizíveis. Ele era seu pai, mas não a conhecia. O sangue de Razvan, tanto Caçador de Dragões como mago, corria em suas veias.
Skyler herdou seu poder concentrado deste homem. A mulher ao lado dele era Ivory, sua companheira, guardiã dos lobos. Ela estava ao lado de Razvan, perto dele, mas ainda capaz de se mover com facilidade e rapidez se houvesse necessidade de lutar. Seus lobos viajavam como tatuagens em seu corpo, protegendo-a, e agora metade da matilha protegia Razvan também.
Os dois eram considerados experientes, lutadores perigosos. Eles raramente estavam próximos de outros Cárpatos, mas caçavam vampiros implacavelmente.
As mãos de Skyler se apertaram ao redor de Dimitri. Sempre deixou de lado esta parte de sua vida, sem vontade de enfrentá-lo, inconscientemente vendo Razvan como participante do mal que Xavier fez. Ela foi vendida a um homem, sua mãe e ela, pelo grande mago. Aquele homem a vendeu a outros por dinheiro.
— Não tem que fazer isso. — disse Dimitri.
— Não. — Ela levantou o queixo. — Eu tenho.
— É melhor se sentar. — Dimitri assumiu o comando. Skyler estava cambaleando de cansaço. Ele precisava sentar também. Ambos precisavam de sangue. — Mas Skyler quer cumprimentar o pai de nascimento.
Gabriel e Lucian se afastaram para dar a Razvan e Ivory privacidade, tanta como poderia haver naquela parte privada do abrigo transparente.
Razvan se agachou na frente de sua filha, onde Dimitri a ajudou a sentar-se na grama. Ivory colocou a mão firme no ombro dele, apoiando tudo que pudesse acontecer.
— Estava com medo que o mundo perdesse você. — Razvan cumprimentou.
— Você veio. — disse Skyler. — Mesmo mal nos falando, ainda assim você veio.
— Você é minha filha. Posso não ter tido o prazer de criá-la, mas sempre será minha carne e sangue. Nunca ninguém vai feri-la e fugir da nossa punição. Gostaríamos de caçá-los até os confins da terra.
Dimitri sorriu para Ivory em saudação.
— Skyler tem a natureza feroz de Razvan. Ela estava bastante disposta a caçar todos os Lycans depois de ver o que fizeram comigo.
A tensão drenou do corpo de Ivory e ela sorriu de volta para ele.
— Viemos trazendo um presente para você, para os dois, se vocês aceitarem.
— Só sua vinda é um presente. — Disse Skyler. Ela empurrou de volta alguns fios de cabelo que escaparam da trança grossa. Sua mão tremia.
— Você precisa se alimentar. — Disse Razvan. — Os dois.
— Não tenho certeza que posso fazer isso por mim ainda. — Skyler admitiu, olhando para Dimitri.
— Não há necessidade. — disse Ivory. — Razvan pode ajudá-la, e vou dar sangue a Dimitri. Mais tarde, os outros podem também. No momento, os irmãos Da Cruz estão caçando. Devem estar de volta muito em breve.
Ante o olhar alarmado de Dimitri, sorriu.
— Discretamente. Disseram que seriam discretos. — Estendeu o pulso para Dimitri. — Eu ofereço livremente.
Razvan não hesitou. Ele acenou com a mão para Skyler para acalmá-la, distanciá-la do que aconteceria. Isso permitiria que ela tomasse seu sangue sem conhecimento real para que pudesse tomar o que ela precisava para sobreviver. Ela tinha muito tempo para se acostumar a tomar sua própria comida, mas por agora, para acelerar sua cura, seria melhor apenas permitir que ela se alimentasse sem perigo.
Skyler soube o momento que a mente de Razvan alcançou a dela e tentou assumir o controle. Ela sempre sabia quando Josef ou seus pais o faziam. Sabia que precisava lhe permitir fazê-lo, dar seu consentimento. Antes, nunca teria confiado em algum mago nascido, não depois do que aconteceu com ela, mas esse homem resistiu contra o impossível e ele não se tornou vampiro ou sucumbiu à terrível tentação do poder que seu avô balançou na frente dele. Ele sofreu tortura sem fim e aceitou o ódio de todos que o conheciam com determinação estóica.
Ele era muito parecido com seu amado Dimitri. Não pedia compreensão ou se defendia. Simplesmente aceitava e ia embora se esquivando, mas lutaria ferozmente por aqueles que amava. Ele era leal e corajoso e sempre podiam contar com ele.
Ela olhou para o homem que era seu pai biológico pela primeira vez através dos olhos da aceitação. Ela se soltou e permitiu sua entrada em sua mente. Seu toque era gentil, e tudo acabou num instante, ela piscou e viu-se mais forte.
Dimitri já tinha educadamente fechado a pequena ferida no pulso de Ivory, fazendo uma leve curvatura na cintura, embora estivessem sentados na grama.
— Obrigado a ambos. — Disse Dimitri. — O seu sangue vai ajudar na nossa cura.
Razvan sorriu para o casal.
— Trouxemos um pequeno presente, um presente para comemorar vocês se tornarem companheiros. Soubemos no momento que tomamos consciência que Skyler ainda vivia. — Acrescentou à guisa de explicação. — Embora, é claro, é uma responsabilidade e, portanto, deve ser sua escolha recusar ou aceitar, sem indisposição da nossa parte.
Dimitri e Skyler trocaram um longo olhar. O coração de Skyler começou a bater com entusiasmo. Ivory e Razvan eram considerados excêntricos entre os Cárpatos. Mais que tudo, adoravam lobos e corriam com sua própria matilha — não totalmente animal e certamente não Lycan. Eram lobos que Ivory acidentalmente transformou em Cárpatos. Tal coisa era proibida, claro, mas assumiu a responsabilidade por eles e os mantinha na linha.
Dimitri passou séculos protegendo lobos em estado selvagem, defendendo-os e fornecendo terras para eles caçarem e viver sem medo de humanos os matando. Ele fez isso no início para fornecer um santuário para seu irmão quando era ferido em batalha, mas ao longo dos anos, comprou terras em vários países para fornecer reservas seguras.
Ivory e Razvan saberiam o quão árduo Dimitri lutava pelos lobos em estado selvagem e ela conhecia todos os seus estudos, preparando-se para ajudá-lo em sua luta escolhida. Ela prendeu a respiração, com os olhos brilhando, tinha certeza do quê, com seu entusiasmo. Ela apenas sabia.
— Trouxemos filhotes de lobo. Eles nasceram há quase dois anos e não são do nosso bando. Nosso bando de lobos os encontrou, os adultos foram dilacerados, deixando os filhotes passando fome. Estavam fracos e nós... — Ivory parou e olhou para Razvan para obter ajuda.
— Nós os salvamos da única maneira que podíamos. Nosso bando raramente pede algo e não podíamos recusar. O vampiro confundiu o bando com o nosso. Estávamos atrás dele há algum tempo — continuou Ivory. — Eu... nós... nos sentimos responsáveis. Inadvertidamente levamos o vampiro direto para eles. Ele golpeou e eliminou o bando, mas não matou os filhotes, deixando-os como isca para nós.
— Acho que seu plano não deu certo em seu favor. — disse Dimitri, sua voz se tornando sombria.
— Não, ele foi levado à justiça. — Assegurou Razvan. — E nós adquirimos mais quatro filhotes. Uma fêmea e três machos. Pensávamos que, dadas as circunstâncias, estariam mais bem posicionados com vocês. Por mais que sejam uma parte da nossa família agora, percebemos que não podíamos permitir que nosso bando ficasse tão grande.
Skyler agarrou a mão de Dimitri. Estava realmente tremendo de excitação, dificilmente capaz de contê-la.
— Pensamos que vocês dois seriam perfeitos para cuidar deles. — confidenciou Ivory. Ela esfregou a mão sobre sua coxa, inquieta.
Razvan se aproximou e colocou a mão sobre Ivory, acalmando o pequeno movimento, confortando-a. Ela estava oferecendo parte de sua família, os filhotes que ela criou, e amava.
Skyler podia ver as cicatrizes em retalhos fracos que atravessavam a pele de Ivory. Ela era linda, apesar de todas essas cicatrizes, radiante, sabendo que tinha o amor incondicional de Razvan. Skyler olhou para Dimitri, para os elos da corrente queimados em sua pele. Ela afastaria a escuridão, e até mesmo as corrosões ao longo do tempo, mas suas cicatrizes estariam lá, suas insígnias de coragem, assim como as de Ivory eram.
E ela o amaria. Nada poderia mudar o que sentia por Dimitri. A intensa emoção por ele só cresceria com o tempo, se isso fosse possível.
— Eles são treinados para aderir à nossa pele e vigiar nossas costas. — Explicou Ivory. — Vão fazer o mesmo por você. Só parecem grandes tatuagens intrincadas humanas se alguém os ver.
— Vocês têm que permitir que saiam para caçar para se alimentarem, mas controlar o que escolherem para comer. E têm absolutamente que estar no controle em todos os momentos. — Explicou Razvan. — Não podem permitir que os atropelem ou vão acabar tendo que destruí-los como se fossem vampiros.
Ivory assentiu solenemente.
— Vocês dois são os únicos que consideramos. Estariam interessados? Se estiverem, podemos compartilhar informações com vocês agora e dar-lhes os filhotes quando ambos estiverem se sentindo mais fortes. Vou treiná-los, Skyler, para se relacionarem.
Skyler tentou não se decepcionar. Ela queria seu próprio bando de lobos naquele momento. Sempre adorou a ideia das famosas tatuagens de lobo de Ivory.
Dimitri?
Ela tentou não influenciá-lo. Era sua decisão juntos, e não apenas dela. Sabia que ele ouviria com mente aberta suas razões e queria ser capaz de fazer o mesmo por ele.
Sua risada era suave em sua mente, enchendo-a com uma sensação de formigamento estranho, como uma pequena onda de calor.
Skyler.
Era isso. O nome dela. Ela enviou-lhe um olhar por baixo dos cílios, que geralmente reservava para Josef.
Está zombando de mim?
Brincando com você. Só um pouco. Vamos aceitar os filhotes de lobo. Como eu poderia dizer não a um presente como esse? Você nunca pararia de discutir comigo.
Discutir. Estava totalmente preparada para ser razoável e ouvi-lo e, em seguida, mostrar todas as razões que eram absolutamente erradas se você discordasse.
Dimitri soltou uma gargalhada.
— Skyler Rose tem uma coluna de aço. Sim. Sim, com agradecimentos. Não há palavras para expressar nossa apreciação por um presente tão raro. Ambos os queremos.
Skyler se inclinou na direção de Ivory.
— Obrigada pela oferta incrível de treiná-los para mim. Eu certamente aceitarei. Seria uma honra conseguir tal experiência. Sempre invejei seus lobos. Eles são tão bonitos.
— Mas mortais. — Ivory lembrou. — Eles caçam vampiros com a gente. Os filhotes já têm caçado também. Nossos adultos compartilham conhecimento com eles e sabem o que fazer. Você nunca será capaz de ter uma casa numa cidade ou mesmo numa vila, não com seu bando.
O abrigo em torno deles tremia. O canto ocidental se dobrou. Mais uma vez o solo se deslocou abaixo deles.
— A nossa fortaleza está desestabilizando rapidamente. — Disse Dimitri. — E os irmãos Da Cruz voltaram.
Skyler respirou fundo.
— Não tenho certeza de que posso corrigi-lo. Posso tentar, mas... — Ela parou. Olhou por cima dos outros Cárpatos, que formaram um círculo folgado e estavam discutindo como partir sem iniciar uma guerra. Ela podia sentir olhos a observando e estremeceu, sabendo que teria que deixar seu santuário temporário e, mais uma vez, enfrentar os Lycans.
— Devemos nos juntar aos outros. — Razvan sugeriu. Ele estendeu a mão para a filha. — Eu sei que você cresceu com Gabriel e Francesca, e eles são seus pais. Nunca iria querer tirar nada deles, mas queremos você em nossas vidas, Skyler.
— Eu amo Gabriel e Francesca com todo meu coração. — Ela admitiu. — Sem eles, não estaria aqui. Eles me mostraram o que era amor, o que um relacionamento poderia ser... deveria ser. Eles também me ensinaram que o amor não tem fim, que temos a capacidade de amar muitas pessoas e nunca tirar daqueles que já estão em nossas vidas.
Ela olhou para Dimitri e, em seguida, fez sua confissão com um pouco de pressa.
— Quando Tamara nasceu, tenho que admitir, estava um pouco com medo de ser deixada de lado. Eu não era Cárpato e tinha um monte de problemas, mas isso nunca aconteceu. Tamara reforçou nossas vidas, a minha, assim como a de Gabriel e Francesca. Ficar mais perto de vocês dois nunca tiraria nada de Gabriel e Francesca.
— Eu gostaria disso. — disse Razvan.
Skyler ainda podia sentir aquele pequeno espaço entre Ivory e todos os outros, exceto Razvan. Ela era muito protetora com seu companheiro, usando isso para os outros se distanciarem dele. Skyler se inclinou para tocar a mão de Ivory, querendo se conectar com ela.
— Eu temia minha relação com Razvan. — Ela admitiu. — Não porque achava que era criminoso ou horrível, mas porque era mago. Não queria ter nascido maga. A ideia disso me assustava até a morte.
Ivory franziu o cenho.
— Por quê? Nem todo mago é inconsciente do poder, como Xavier. Como você poderia conhecer o temor aos magos?
Essa era uma boa pergunta. Skyler se encontrou correspondendo à careta de Ivory. Em algum lugar, no fundo, era uma memória que escapulia mais rápido do que ela podia pegar. Seu coração acelerou e ela provou o medo em sua boca. Fechou a porta da memória. Mesmo quebrá-la e abrir apenas uma polegada trazia um pânico terrível, de modo que mal podia respirar.
Dimitri imediatamente colocou seu braço ao redor de seus ombros e a puxou de volta contra ele.
— Você já aceitou ser maga. O que poderia ser tão alarmante que seu corpo reage com tanta ansiedade quando sua mente está confortável com o conhecimento de quem você é?
— Não tem que se lembrar. — Disse Razvan. — Não por mim.
— Mas Ivory está certa. Passei minha infância no mundo humano. Certo, eu estava ao redor dos monstros, mas eram monstros humanos. Como desenvolvi esse medo dos magos? Como teria sequer ouvido falar deles? Mesmo depois de Gabriel e Francesca me adotarem, estive muito protegida durante anos. Eu certamente nunca me deparei com um mago.
— Você bloqueou algo. — Disse Ivory. — Sua reação ao seu pai biológico não era normal. A maioria das meninas ficaria curiosa, especialmente quando ele mostrou interesse.
Skyler olhou para Dimitri.
— Quero lembrar. Quero saber. Pode encontrar essa memória para mim?
— Se quiser que a encontre, Skyler — Dimitri assegurou. —, vou fazer isso.
— Já enfrentei cada monstro na minha vida. Não posso imaginar o que está enterrado em minhas memórias que me daria tal aversão ao magos... ao meu próprio pai biológico. Compartilhei tudo que consigo me lembrar com você. Não me importo que saiba isso, também.
Dimitri balançou a cabeça. Skyler era corajosa ao permiti-lo em sua mente, explorando suas lembranças, quando ela sabia o que ia encontrar. Ele sabia sobre seu passado. Certamente compartilhou pesadelos escuros com ele. Ele viu as coisas feias que um indivíduo doente podia fazer com crianças — com ela —, mas entrar em suas memórias e reviver esses momentos era uma coisa completamente diferente.
Ele não esperou, preferindo não arrastar a tensão nervosa. Ele passou os braços em volta dela com força, puxando-a de volta contra seu peito, protegendo-a enquanto a respirava em seus pulmões. Ela abriu sua mente para ele facilmente. Ele teve tempo para ser surpreendido pela forma como ela era adepta a se fundir com ele. Sua ligação era tão forte, que por vezes, não podia dizer onde ela começava e ele terminava.
Classificou através de suas memórias rapidamente, indo para sua infância, tentando não ver aqueles momentos de pesadelo e coisas feitas a ela por homens depravados. Ele tinha o desejo de caçá-los, um de cada vez, e eliminá-los.
Acredito que meu tio Lucian e meu pai já o fizeram, apesar de que eu não deveria saber. Havia humor em sua voz.
Ele seguiu as memórias até seus anos de criança. Era sua mãe. Ela parecia assustadoramente com Skyler. Uma garota bonita, uma mulher. Seu riso era tão parecido com o de Skyler. Ela sentava-se ao lado de sua filha e distraidamente começou a fazer a dança da chuva, apenas sacudindo os dedos na direção das gotas.
As duas — mãe e filha — muito perto, numa tábua estreita com um único cobertor que sua mãe envolveu em sua criança para mantê-la aquecida. Havia barras na janela e uma corrente em volta do pé de sua mãe. A mãe de Skyler a divertia criando música com a chuva. Ela ainda sussurrava pequenas rimas para sua filha, ajudando os pequenos dedos a fazer a dança da chuva também.
Este, então, era o lugar onde os dons de Skyler começaram a ser tão poderosos. Ela foi treinada pelos jogos que sua mãe fazia com ela. Pequenos insetos de repente se derramaram no quarto. Skyler ficou tensa, mas não chorou. Sua mãe a empurrou atrás dela, um dedo nos lábios.
— Não importa o que aconteça. Não diga nada. Nunca fale com ele. Nunca o deixe saber que pode fazer qualquer coisa extraordinária. Prometa-me. Por minha vida, prometa-me.
A criança pequena assentiu com a cabeça solenemente.
Um homem entrou na sala. Não Xavier, mas alguém que Dimitri conheceu há muito tempo, alguém que parecia esconder-se nos quartos onde Xavier dava suas aulas para os mais talentosos. Ele entrou no quarto, ergueu a mão e bateu na mãe de Skyler tão forte que ela caiu do outro lado da cama. Ele pegou Skyler e arrastou-a com ele.
— Sua pirralha. Esta é a última vez que venho aqui. Se não pode dar o que ele quer, você e sua mãe serão vendidas. — Ele retirou uma faca.
Dimitri observava a mãe de Skyler, incapaz de suportar ver a criança quando a faca atravessou seu pequeno braço. Ela não fez nenhum som. Nem um, como se fosse muda. A mãe de Skyler tocou sua coxa e dançou os dedos na direção das gotas. Foi a única a fazer um som, chamando a atenção do mago. Quando ele se virou, as gotas de chuva penetraram através das grades nas janelas e se misturaram ao sangue escorrendo junto do corte de Skyler.
Minha mãe me salvou de Xavier, Skyler disse. Ele não achava que o sangue do Caçador de Dragões em mim era forte o suficiente, então ele nos vendeu. Eu não falei, para que pensassem que eu era inútil para eles.
Mesmo quando criança, Skyler tinha um controle impressionante. Que bebê não choraria quando um estranho mau atravessava seu braço com uma faca? Dimitri se perguntava como isso poderia ser, mas, em seguida, quando foi examinar a criança, percebeu que sua mãe a tinha ensinado a se retirar para um lugar em sua mente, onde ninguém a poderia seguir. Foi como manteve sua filha em segurança.
— Quem é o homem mau? — Skyler perguntou à mãe.
— Ele é mago, bebê. Nunca chegue perto de um mago.
Minha mãe me alertou para me manter longe de magos. Essa memória estava tão vívida quando você a atraiu, mas a enterrei profundamente. Quero lembrar tudo que puder sobre minha mãe.
Ela apertou a cabeça contra Dimitri. Ele a fazia se sentir segura quando olhava suas memórias. Obrigada.
— Razvan, perdoe-me por perguntar — Skyler se aventurou —, mas você se lembra de alguma coisa sobre minha mãe?
Ele parecia arrependido.
— Xavier possuía meu corpo. Eu podia ver e ouvir o que estava acontecendo, mas não podia interferir. Estava muito longe nesses momentos. Ver como ele usava meu corpo era pior que a tortura física. Eu não podia ajudar as mulheres que ele seduziu. Claro que ele se certificou de que eram férteis. Sabia o que estava reservado para elas e seus filhos, mas estava completamente impotente para detê-lo. Principalmente quando as mulheres corriam juntas, porque, para manter a sanidade, eu tentava me separar.
Skyler assentiu. Era compreensível, quando coisas terríveis estavam sendo feitas ao seu corpo, havia recuado em sua mente, a fim de salvar sua sanidade mental, mas ainda assim, queria saber mais sobre sua mãe. Ela manteve vislumbres dela, pequenas vinhetas que às vezes temia ser invenção dela.
Dimitri acariciou o topo de sua cabeça.
Ela era real. Ela a amou e protegeu o melhor que pôde. E então Gabriel e Francesca entraram em sua vida e agora Razvan e Ivory. Você é amada, csitri. Muito amada.
— Uma coisa que me lembro — disse Razvan — foi como ele estava animado ao encontrar sua mãe. Ela era uma poderosa psíquica humana. Extremamente poderosa. Ele não podia acreditar que era humana. Disse que era descendente dos Incas e a linha era extraordinária e muito pura. Ele enfureceu-se por meses sobre o fato que a criança gerada era inútil para ele, e queria punir sua mãe por decepcioná-lo.
Skyler respirou fundo. Xavier encontrou um castigo perfeito ao vendê-las para o mundo do tráfico do sexo. Ela fechou os olhos por alguns instantes, aconchegando-se mais fundo contra Dimitri. Sentia-o sólido, uma parede de músculos e tendões, sempre a ser contado.
— A vida muda certamente, não é? — Ela perguntou ao pai biológico. — Num momento você sente que não há esperança, não há saída, e no próximo, todo o mundo se abre para você.
Razvan pegou a mão de Ivory.
— Essa é a verdade, Skyler. Você e seus amigos conseguiram o impossível ao resgatar Dimitri. Se conseguirmos evitar uma guerra com os Lycans, será um milagre e isso se deve a você. Se ele morresse, Mikhail não perdoaria.
— Eu não tinha ideia que ele enviou uma equipe de resgate. — Skyler admitiu.
— Apesar disso — Dimitri disse —, deveria saber que Fen viria atrás de mim.
Skyler assentiu.
— Mas chegaria tarde demais. Você não pode alcançá-lo. — Ela traçou a queimadura ao longo de sua testa, os elos que impediram a telepatia — com outro que não fosse ela. Tivera sorte por terem uma conexão tão forte ou ela o teria perdido. — Eu tenho bons amigos. Paul e Josef vieram comigo sem um pensamento para sua própria segurança.
— Nós temos bons amigos. — corrigiu Dimitri. — Nunca vou esquecer o que eles fizeram por nós. — Ele olhou para os dois jovens, sentados lado a lado no círculo de guerreiros discutindo a iminente fuga do abrigo em colapso.
Josef parecia mais feliz do que Dimitri já tinha visto. Josef não esperava que todos os membros da família viessem por ele, e o fato que tanto seu pai adotivo como seu tio virem imediatamente teve impacto sobre ele. Ele corria livre, fazendo seu próprio caminho e, muitas vezes criando problemas com os Cárpatos mais velhos. Não lhe ocorrera que, apesar de suas diferenças, ele era amado.
Por outro lado, Paul sabia que a família De La Cruz viria se entrasse em apuros. Eles trabalharam com ele, ensinando-o a lutar contra vampiros, trabalhando as habilidades necessárias para dirigir seu impressionante império — muitas fazendas de gado — na América do Sul. Eles confiaram nele para manter sua irmã Ginny segura, enquanto estavam na terra. Paul fazia parte de suas vidas e estava sob sua proteção.
Dimitri suspirou, olhando para os rostos sombrios dos Cárpatos. Eles sabiam que a pequena fortaleza estava se desintegrando, e os Lycans sabiam disso também. Ele, como os outros, podia sentir os olhos os observando. Podia detectar os lobos nos ramos das árvores oscilantes, bem como nos arbustos ao longo das bordas da floresta. Não via como poderiam evitar uma briga.
— Devemos nos juntar aos outros. — Disse ele. — Estão planejando nossa fuga daqui. Lycans são fortes quando vêm para você em bando e são muito rápidos. Se devemos evitar matar qualquer um deles, como Mikhail deseja, recuar sem realmente lutar vai precisar de um milagre.
Skyler se inclinou na direção de Ivory novamente.
— Estou muito animada e feliz que nos ofereceu um presente tão incrível como os filhotes de lobo. Estou realmente ansiosa para tê-los.
Ivory assentiu.
— Razvan e eu discutimos isso por um longo tempo. Devia ser mais esperta do que salvá-los. Não podemos ter lobos Cárpatos correndo sem controle, mas me lembraram do tempo que voltei da caça e encontrei meu bando aniquilado pelo vampiro. Por alguns minutos lá, não tenho certeza que estava completamente sã. Troquei sangue antes de pensar sobre o que estava fazendo. Então não podia simplesmente deixá-los. Razvan foi compreensivo e me ajudou com a conversão, mas nós dois sabíamos que não podíamos manter muitos lobos. Nosso bando está estabelecido. Estes quatro precisam de seu próprio.
Dimitri se encontrou sorrindo. Seu corpo doía como o inferno e, mesmo com a transfusão de sangue dos Cárpatos antigo, já estava exausto, mas o pensamento dos filhotes de lobos, sendo uma parte permanente de suas vidas era emocionante.
— Acha que, com meu sangue misturado, meu lobo tão perto em todos os momentos, uma parte de mim, os filhotes vão me aceitar? — Questionou.
Skyler ficou séria.
— Não tinha pensado nisso. Nós dois temos sangue misturado em algum nível.
Ivory sacudiu a cabeça.
— Os filhotes de lobos devem ser capazes de se relacionar ainda mais rápido com os dois. Vão sentir o lobo e aceitá-lo como alfa muito mais facilmente do que seria o previsto. Essa aceitação é tudo. O fato de você, Dimitri, saber muito sobre lobos influenciou nossa decisão. Estamos certos que poderia facilmente liderar um bando.
Dimitri apertou os braços em torno de Skyler, sentindo alegria. Ela precisava de momentos alegres como este e sabia disso. Ela passou por demais num curto período de tempo. Ela não vacilou por um momento em sua determinação, mas ainda assim, as últimas insurreições foram extremamente difíceis para o corpo e a mente. O presente imenso dos filhotes de lobos chegou no momento mais oportuno.
— Obrigado a ambos novamente. — Disse Dimitri sinceramente. — Encontraram o presente perfeito para nós dois e somos gratos. No momento que estivermos saudáveis, iremos até vocês.
— Basta enviar mensagem. — disse Ivory, com outro olhar rápido em direção a Razvan, como se ela, de alguma forma pudesse ofendê-lo. Sua privacidade era lendária. Poucos, se é que existia alguém, sabiam o caminho para sua casa claramente, e eles queriam mantê-lo assim.
Dimitri não podia culpá-la. Ela foi traída e cortada em pedaços e espalhada por um prado, na esperança que os lobos a devorassem. Ivory renasceu mais forte do que nunca, uma lutadora feroz, tão habilidosa quanto seus colegas do sexo masculino. Razvan rapidamente alcançou sua experiência e se tornaram o flagelo dos vampiros. Mesmo vampiros mestres os evitavam.
Quando os quatro subiram, Dimitri e Skyler um pouco trêmulos, Skyler enviou a Gabriel um olhar agradecido.
Nenhum pai poderia ser melhor que você, Gabriel. Obrigada por me trazer a paz com Razvan. Você é um homem tão generoso, e ensinou-me essa característica. Espero sempre fazer você se sentir orgulhoso de me chamar de filha.
Não há necessidade de temer que algum dia irá me decepcionar. Sei que a mentira que disse a Francesca e a mim sobre seu paradeiro e os planos para seu tempo de férias da faculdade pesa sobre você, mas na verdade, nós decepcionamos você.
Ela ia protestar, mas ele levantou a mão, abrindo espaço no círculo ao lado dele. Skyler e Dimitri tomaram seu lugar ao lado dele.
Mesmo sendo muito jovem para ser reclamada, já estava estabelecido que Dimitri era seu companheiro. Todos sabíamos, ainda que não lhe déssemos a consideração de dizer o que estava acontecendo. Nós a tratamos como criança e a deixamos no escuro. Esse foi nosso erro e nossa culpa. Você não tem nenhum motivo para se sentir culpada ou envergonhada. Agradeço ao universo que você tem bons amigos em Paul e Josef.
Ambos, Dimitri e Skyler, agradeciam ao universo por eles também. Ela sorriu para os dois, sentados no círculo de guerreiros, de repente, sendo tratados como homens, embora fosse Zacarias De La Cruz que todos estavam ouvindo.
— A questão é, como vamos levar todos com segurança para fora daqui? — Disse Zacarias. — Poderíamos lutar para sair, e como último recurso, vamos, mas por respeito a Mikhail e como está lidando com isso, seria melhor se encontrássemos uma maneira diferente.
— Skyler e Dimitri precisam de um lugar seguro de descanso para se curar. — acrescentou Gabriel. —Ambos ainda estão em má forma. — Ele enviou um olhar de desculpas para a filha.
As paredes transparentes ao seu redor de repente ondularam novamente. O chão se moveu ligeiramente.
Skyler aninhou a mão dentro da de Dimitri pedindo conforto. Ela sabia que não era culpa dela que o abrigo estivesse desmoronando... ele não foi projetado para durar para sempre, mas estava muito fraca para corrigi-lo.
Dimitri apertou seus dedos ao redor dos dela imediatamente e moveu seu corpo, só um pouco, para oferecer mais proteção. Ela inclinou a cabeça atrás contra o ombro dele. Os Cárpatos e Zev ficaram discutindo várias possibilidades por algum tempo. Ela pensava até agora que teriam que descobrir algo.
— Temos o suficiente de nós aqui para escorregar para fora e pegá-los um por um. — Nicolas De La Cruz sugeriu. — Eles podem sentir nossa energia, mas com uma grande tempestade elétrica, poderíamos facilmente atrasá-los e distraí-los. Sabemos como lutam. Podemos pegá-los.
— Você não pode matar todos os Lycan, porque está com raiva deles. — Zev protestou.
— Por que não? — Rafael exigiu. — Fazer guerra com as crianças torna um jogo justo, no que me diz respeito.
Paul e Josef trocaram um longo olhar com Skyler. A diversão de Josef estava em seus olhos, fazendo com que os outros dois sorrissem apesar das circunstâncias. Apesar de serem convidados para participar da discussão, era evidente que ainda estavam relegados, por alguns, para o rótulo de "criança".
Porque estão resolvendo este problema tão pacificamente e como adultos, Josef enviou, seu tom de voz transbordando de tanto rir.
Era difícil manter uma cara séria com o senso de humor transbordando para eles de Josef.
— Acho que sou seu maior problema. — Paul confessou num sussurro alto. —Não posso mudar.
— Nem eu, neste momento. — Disse Skyler. — Mal posso me sentar.
Suas palavras sussurradas agiram como uma espécie de gatilho para os Cárpatos debatendo. Todos se viraram e olharam para ela.
Ela afundou de volta contra Dimitri novamente. Ele colocou os braços em volta dela, prendendo-a num pequeno aviso para os outros que estava perdendo a paciência com a discussão.
— Tenho que tirá-la daqui agora. — Dimitri decretou. — Não me importo com a retaliação, só assegurar que Skyler receba os cuidados que precisa.
— Vamos voar todos daqui. — Disse Fen. — Não há necessidade de ir à guerra com essas pessoas. Temos força suficiente para proteger Paul, Zev e nossos feridos.
— Temos razão. — declarou Rafael.
Zev fechou a cara e começou a dizer algo, mas Fen balançou a cabeça em sinal de advertência e o interrompeu antes que pudesse se envolver com Rafael, que claramente estava chateado por seu sobrinho ser baleado várias vezes.
— Não há nenhuma maneira de dizer quem está com a facção de Gunnolf e quem fica com o conselho. Não podemos agrupar todos os Lycans. Claramente, há uma guerra interna acontecendo e quem está por trás da luta pelo poder vê os Cárpatos como ameaça. Até que tenhamos uma compreensão clara de quem é nosso verdadeiro inimigo, não podemos arriscar ferir ou matar um inocente.
— Fen tem razão. — Zacarias concordou. Seu tom não admitia discussão, e ninguém o fez.
— Vamos sair logo. — Disse Dimitri. — Temos a maior parte do que resta da noite.
— Podemos formar um escudo para permitir a fuga para fora daqui — Zacarias propôs aos seus irmãos —, mas vamos retaliar se atacados.
Zev balançou a cabeça.
— Eu poderia tentar falar com eles.
— Neste momento — disse Fen —, a maioria dos Lycans acredita que você é um traidor ao se tornar o Sange rau e o estamos protegendo. Seus membros do conselho, ou a maioria deles, está nas montanhas dos Cárpatos. Portanto é seu bando. Vai ficar melhor lá. Se conseguirmos chegar ao fundo do que está acontecendo, teremos uma melhor chance de detê-lo.
Gabriel e Lucian se entreolharam e deram um aceno lento em perfeita harmonia, como se fossem uma só mente. Estavam lutando juntos por séculos. Estratégia era um modo de vida. Apesar de recuar ser abominável, às vezes sabiam que era necessário.
— Lucian e eu vamos conduzi-los. — Disse Gabriel. — Razvan e Ivory podem ficar na retaguarda. Se Zacarias e seus irmãos nos protegerem, isso nos deixa Tatijana, Fen, Byron e Vlad para transportar os feridos. Vamos precisar de mais um portador.
— Posso voar pra fora daqui. — Disse Dimitri. — Posso estar fraco, mas não estou morto.
Gabriel sacudiu a cabeça.
— Não estou disposto a arriscar você, Dimitri. Tem a vida da minha filha em suas mãos. Foi torturado além de toda razão e alvejado também. Seu corpo precisa de tempo de recuperação.
— Posso voar. — Josef ofereceu. — Trouxe Paul e Skyler aqui.
Zacarias se virou, seus olhos escuros frios e de aço.
— Riordan irá levá-lo. Não o arriscaremos também.
Josef soltou a respiração e abaixou a cabeça. Não esperava que Zacarias tivesse interesse nele, até mesmo prestasse atenção. Estava acostumado a discutir com seu pai adotivo e tio, mas Zacarias estava num nível totalmente novo.
Cara, como vive com isso? Josef perguntou a Paul, mas estava secretamente contente que Zacarias o notasse, e mais ainda que decretasse que um dos irmãos Da Cruz realmente cuidasse dele.
Ele é legal, não é? Disse Paul.
Legal como um tigre enjaulado. Josef respondeu. Ele é um pouco assustador.
Eu sei. Mas então você o vê com Marguarita e é todo grudento e piegas com ela.
— Está resolvido, então. — Gabriel continuou como se não tivesse sido interrompido. — Tatijana, você leva Skyler e me segue. Fen pode levar Dimitri. Riordan leva Josef. Vlad leva Paul. Byron, você levará Zev?
— É claro. — Ele deu ao seu sobrinho um olhar de advertência. Não faça nenhuma loucura ao redor dos irmãos Da Cruz.
Eles me conhecem por meio de Paul, Josef assegurou, reconhecendo que a cautela rude de seu tio era mais medo por ele que embaraço sobre algo que pudesse fazer. Mas quero chegar em casa o mais rápido possível. Skyler precisa se curar e estar segura. Seu tio sabia que ele a amava e que confortar Skyler era o melhor que podia dar.
— Zev irá experimentar problemas para passar através da parede. — Fen advertiu. — É difícil para mim. Imagino que seja para Dimitri também. O sangue Lycan que temos é o mais difícil de passar.
Skyler assentiu.
— Eu o projetei dessa maneira, por isso os Lycan não poderiam nos acompanhar para dentro. Contei com o sangue Cárpato de Dimitri para terminá-lo, embora admito que estava preocupada.
— Tem alguma ideia de como isso é extraordinário? — Perguntou Gabriel, admiração genuína em seu tom. —Estou muito orgulhoso de você.
— Estou com medo da minha sobrinha. — Tatijana admitiu.
— Eu posso fazer isso. — Zev assegurou. — Estou dentro.
— Mas dói pra caramba. — Fen apontou. — E você não está em qualquer lugar perto de cem por cento.
— Não tenho que estar cem por cento para me agarrar às costas de um dragão. — Zev apontou com um sorriso irônico.
— E você, Dimitri? — Perguntou Fen. — Acha que pode passar através disso?
— O muro está desmoronando. Duvido que seja tão forte quanto era. Vou passar. Como Zev, não acho que pendurado em um dragão vai ser mais difícil que me forçar por ela como fiz anteriormente.
Gabriel virou-se para Vlad.
— Isso te deixa com Paul. Ele tem múltiplos ferimentos, como sabe, e ainda está fraco, embora se recuse a admitir. Um braço está quase inútil. Dei-lhe sangue, assim como você e Josef, mas não o fizemos entender o fato que teve hemorragia interna até esta manhã.
— Foi minha culpa. — disse Josef. — Disse a Tatijana que minhas feridas estavam curadas por dentro. Ela ficou ocupada com Dimitri na maior parte do tempo.
— Foi uma coisa estúpida. — Disse Paul. — Não é grande coisa, e você estava sangrando em cinquenta lugares também, Josef.
As paredes ondularam novamente e desta vez parte do teto se dobrou. Ao longo da parede ocidental, o canto cedeu.
— Estamos definitivamente correndo contra o tempo. — Disse Lucian. —Precisamos ir agora antes que os Lycans percebam e botem para quebrar.
Zacarias sinalizou para três de seus irmãos. Rafael concordou e escolheu a parede ocidental, desmoronando mais rápido. Ele caminhou em direção a ela casualmente, como se não tivesse uma preocupação no mundo ou soubesse que os Lycans os vigiavam da segurança da floresta, ou que a estrutura poderia cair sobre si mesma e prendê-los. Nicolas pegou a parede leste, caminhando na direção dela, confiante. Manolito escolheu o norte, deixando a entrada sul para Zacarias.
Os irmãos se moveram em perfeita sincronia, escorregando pela parede desmoronando rápido, mãos para cima tecendo um padrão no ar.
Gabriel não hesitou. Ele seguiu Zacarias para fora, todos os seus sentidos em alerta para o perigo dos transportadores voarem com os feridos de volta para as montanhas dos Cárpatos. Tatijana se transformou rápido, estendendo a asa para Skyler. Dimitri ajudou sua companheira a subir nas costas do dragão azul. Skyler deu uma última olhada em Dimitri e acenou com a cabeça.
Esteja bem atrás de mim. Tenho que ser capaz de vê-lo, ela implorou, de repente, com medo. Não queria se separar dele, não depois de tudo que tinham passado.
Fen vai ficar perto de Tatijana para protegê-la, Dimitri assegurou. Eu nunca ficarei longe de você. Se algo acontecer, sou bem capaz de escorregar de suas costas, me transformando e vindo por você. Não tenha medo. Vamos viajar para longe esta noite e descansar ao amanhecer.
Tatijana subiu rápido, correndo para a parede se rompendo. Skyler se abaixou para tocar o pescoço de espinhos azuis, olhando atrás, com o coração na garganta, olhando para Dimitri. Fen já estava no ar, içando sua companheira com seu dragão. Dimitri sentava-se ereto, sem as mãos, uma arma em punho.
Para horror de Skyler, ela viu uma linha de Lycans correndo da floresta diretamente para eles quando as asas do dragão bateram ferozmente para ganhar altura. Ela sentiu o dragão azul encolher-se para dar mais um salto impressionante para o céu, enquanto dois Lycans incrivelmente rápidos se atiraram para ela. Garras engancharam nas escamas de ambos os lados do dragão, e mais dois conseguiram prender suas garras no ventre mais suave numa tentativa de arrastar o dragão do céu.
Tiros soaram quando o próximo dragão saiu do abrigo em desmoronamento. Riordan De La Cruz estourou através da parede do abrigo com Josef em suas costas. Balas gemiam através do ar, os sons reverberando através da noite, mas Zacarias e seus irmãos construíram um escudo materializando ao redor dos dragões. As balas não conseguiam penetrar na medida protetora. Infelizmente, a área de proteção não era tão grande, apenas mantendo os dragões e seus passageiros em segurança quando deixaram o abrigo em colapso.
Vlad foi o próximo a aparecer, um grande dragão dourado prestes a ficar livre do refúgio se desintegrando com Paul em suas costas. Lycans se espalhavam na clareira, percebendo que suas armas de longo alcance não adiantavam. A maioria estava em forma de Lycan, metade lobo, metade homem, mais altos e mais fortes e capazes de cobrir grandes distâncias num salto.
Os dragões necessariamente tinham que sair abaixo do solo, devido à estrutura caindo sobre si mesma. Para ganhar altitude para uma grande criatura com o peso adicional de um passageiro em suas costas, o dragão tinha que se esforçar muito, as asas se batendo forte para criar sustentação suficiente para o salto.
Byron seguia de perto Vlad, Zev em suas costas. A visão do caçador de elite com os Cárpatos enviou os Lycans a um louco frenesi. A maioria deixou o dragão de Vlad sozinho para correr para Byron, saltando ao seu lado, arranhando e rasgando, dilacerando as asas, num esforço para desativar a criatura de modo que não pudesse voar. Vários abaixo dela rasgaram seu ponto fraco, arrancando mordazmente pedaços sangrentos do dragão.
Razvan e Ivory saíram do abrigo, os dois correndo pelo céu, atirando flechas em simultâneo, mirando braços e pernas, ferindo tantos quanto possível, tão rápidos quanto os Lycans.
O dragão de Byron vacilou e caiu, batendo com o nariz primeiro, derrapando na terra e grama, deixando sulcos longos e profundos atrás.
Vão, vão. O resto de vocês, vão, Zacarias pediu. Vamos conseguir libertá-los.
Fen, não posso deixá-los, Dimitri disse, colocando a mão sobre o pescoço grosso com espinhos do dragão de Fen, a fim de saltar livre.
Nem eu posso. Somos Hän ku pesäk kaikak. Vamos proteger Byron e Zev. Só não aceite mais golpes. Realmente não importa se esses lobos souberem o que somos neste momento. Use sua velocidade, Fen concordou, mais porque Dimitri estava em suas costas do que qualquer outra coisa.
Não havia nenhuma forma de deter seu irmão quando seu senso de justiça estava enfurecido. Zev lutou batalhas com ele, deu-lhe sangue, e apesar dos recentes acontecimentos, Dimitri o considerava um amigo. Byron era Cárpato. Nenhum guerreiro deixaria outro no chão.
Fen girou seu dragão, sentindo o rugido de fogo em sua barriga, uma raiva que surgiu profundamente depois do que essas criaturas fizeram ao seu irmão. Pensou que era passado, mas vê-los rasgando Byron quando o Cárpato não tinha sequer tentado se defender, o deixou furioso de novo, mas com uma raiva fria, o que não pressagiava nada de bom.
Ele praguejou quando os Lycans cercaram o dragão abatido de Byron, enganchando suas garras nele, evitando a mudança. Havia tantos rasgando e dilacerando o corpo do dragão, as flechas dos defensores pareciam fazer pouca diferença. Tão rápido quanto um caía, outro tomava seu lugar.
Os Lycans abandonaram as tentativas nos outros dragões e o resto saiu, de forma segura. O bando concentrava seus esforços em matar e mutilar o dragão em sua posse. Quando Zev atraiu uma espada de prata, num esforço para proteger Byron, quatro grandes Lycans pularam nas costas do dragão e puxaram Zev para o chão.
Xingando, Fen redobrou sua velocidade.
Fira-os, Razvan insistiu no caminho de comunicação telepática comum dos Cárpatos. É evidente que estava advertindo os irmãos De La Cruz. Não é necessário matá-los.
Dirija-os de volta para longe de Byron e Zev, Zacarias instruiu. Rafael, uma flecha perto do coração pode matar.
Não a estes bastardos, Rafael respondeu. Não uso prata. Embora esteja próximo.
Fen aterrissou seu dragão, chegando duro, fogo saindo de sua boca, envolvendo os Lycans mais próximos do dragão no chão, levando-os para longe de seus companheiros caídos. Dimitri levantou-se sobre as costas do dragão, equilibrando-se quando Fen se curvou abaixo. Pouco antes de Fen ser forçado a desviar para evitar as árvores, Dimitri saltou de suas costas, bem no meio dos Lycans que puxaram Zev para o chão.
Dimitri ignorou seu corpo protestando, cortando a multidão com uma velocidade surpreendente, sua espada de prata manchada e pingando sangue Lycan. Abriu caminho para Zev, puxando-o com uma mão, voltando atrás com ele. Zev estava coberto de sangue e feridas, mas não hesitou em ficar e lutar com Dimitri.
Fen materializou-se ao lado deles, para formarem um triângulo de combatentes mortais, movendo-se na direção do dragão caído, derrubando todos em seu caminho.
Zacarias facilmente viu seu plano. Ajudem a limpar o caminho, Razvan e Ivory. Tornem muito perigoso ficar entre eles e o dragão, Rafael e Nicolas, tirem os Lycans mantendo Byron nessa forma. Manolito e eu vamos começar a limpar outro caminho para sair daqui.
— Você está bem? — Dimitri perguntou a Zev quando sentiu o outro homem vacilar por um momento.
— Estou vivo, e isso é tudo que importa. — A respiração de Zev vinha em suspiros irregulares. Estava ferido, mas Dimitri não tinha tempo para ver o quão ruim a ferida ou feridas estavam.
Precisamos ver se podemos encontrar a divisão entre as facções, Fen sugeriu. Posso detectar uma leve diferença no cheiro, às vezes.
Lycans escondem todos os odores quando caçam, Zev lembrou. Sua espada brilhou quando ele girou em torno de dois lobos agressivos empunhando espadas. Ele desarmou um e cortou fora o braço do outro, retomando sua posição costas-com-costas com Dimitri.
No entanto, posso saber a diferença, disse Fen. Posso sentir a energia vazando de seus escudos também.
Ele se dirigiu a três Lycans particularmente grandes e peludos em volta do dragão caído. Um realmente tinha um pedaço da barriga do dragão entre os dentes.
Espere por ele, Zev, Dimitri disse, permitindo que seus sentidos, tão agudos e afiados, explodissem, tentando encontrar as diferenças que Fen detectou. Sentiu primeiro por que é mais evoluído que nós.
Dois Lycans caíram aos seus pés, duas flechas brotando. Ele quase escorregou no sangue circundante do dragão de Byron. Os guerreiros no céu estavam tornando o trabalho mais fácil, ferindo todos os Lycan que ousavam rasgar o dragão.
Com a adição de três espadas de prata mortais, os Lycans recuaram, tentando arrastar os feridos com eles.
Tenho um escudo para vocês, no caso de tentarem usar armas de novo, disse Zacarias. Desta vez, a bala vai saltar fora e retornar ao remetente. Ele parecia tão calmo como sempre. Nada parecia irritar Zacarias.
Temos alguns logo abaixo de nós, retirando seus rifles. A voz de Rafael continha uma pitada de satisfação.
Dimitri, Zev e Fen alcançaram o dragão, movendo-se em torno dele num círculo, certificando-se que nenhum Lycan permanecesse.
Você tem que mudar, Byron, Dimitri insistiu. Não pode sair assim conosco. Não podemos arrastar esta forma para o céu. É um peso morto. Mude e vamos tirar você daqui.
Eles não tinham muito tempo. Os Lycans se reuniam e fariam outro ataque. Uma salva de tiros soou, balas salpicando o escudo, tiros na cabeça de cada um.
Treinamento militar com certeza, Fen observou.
Gritos e uivos aumentaram quando as balas encontraram os atiradores. Zacarias não teve grande cuidado para assegurar que aqueles disparos não causassem danos permanentes. Ele não se importava muito, não com Byron quase despedaçado e três de seus outros homens em perigo.
Byron se agitou dentro do corpo do grande dragão, gemendo um pouco enquanto seu corpo dilacerado se recusava a responder às suas demandas.
Dê-me um minuto.
Zacarias estava determinado a ganhar o tempo que ele precisava. Rafael, você e Nicolas peguem os atiradores, cada um até o último deles. Sem mortes, se possível, ele acrescentou. Os Lycans podem regenerar membros, por isso não se preocupem em ser bons. E se acontecer de ter uma noção de quem atirou em Skyler, Paul e Josef, bem, o que acontecer com eles, não vamos soltar nenhuma lágrima.
Liberar seus dois irmãos sobre os atiradores provavelmente não teria a aprovação de Mikhail, mas Zacarias os conhecia, sabia de suas habilidades. Eles tornariam tão perigoso para qualquer Lycan ousar levantar uma arma na direção dos Cárpatos, que poucos tentariam.
Nicolas, em particular, era adepto de ler os pensamentos de várias espécies. Se conseguisse encontrar os atiradores originais, esses homens seriam definitivamente parte do grupo determinado a assassinar os membros do conselho e começar uma guerra. Ele não incluía aqueles que atiraram em Dimitri, principalmente porque era um guerreiro Cárpato e considerava um jogo justo, mas ninguém ia atirar em Paul e se safar.
Zacarias estava bem consciente que tinha escolhido os dois mais habilidosos e perigosos de seus irmãos para conduzir aqueles com armas de volta. Eles sabiam que tinham que ficar altos, longe dos Lycans. Todos compartilharam a informação que Fen e Dimitri forneceram aos Cárpatos sobre as matilhas de lobos e como lutavam. Ele deu uma ordem mais aos seus irmãos.
No momento que souber ao certo quem são os atiradores, quero saber.
Isso será feito, Rafael concordou. Ele era companheiro de Colby, irmã de Paul, e ela olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas, suplicando-lhe para encontrar Paul e levá-lo para casa. Ninguém fazia sua companheira gritar, ou tentava matar seu jovem cunhado, sem retaliação.
Vieram para encontrar e matar os atiradores. Fizeram o seu melhor para seguir as ordens de Mikhail e não começar uma guerra. Evitariam matar inocentes, se pudessem, ferindo aqueles que não tinham certeza de que lado estavam, mas uma vez que as armas saíram, esses atiradores estavam marcados.
Quando Byron conseguiu mudar de volta para a forma humana, outra onda de Lycans irrompeu do chão onde tinham cavado, escondidos, para chegar em sua presa. Dois pegaram o corpo ensanguentado de Byron, arrastando-o atrás, longe dos três defensores, enquanto outros oito corriam para os mestiços.
Dimitri saltou por cima do muro de Lycans, caindo diretamente sobre a parte superior do corpo de Byron, abrangendo-o, sua espada cortando um dos lobos que tentava puxar Byron para longe. Ao mesmo tempo, Dimitri se inclinou abaixo, empurrando um punhal de prata no punho de Byron, e puxou-o impiedosamente.
—Fique em pé. Não importa o que, fique em pé. — ele advertiu Byron, engajado em esgrimar com o segundo, agora frenético, Lycan.
Byron estava sangrando por uma dúzia ou mais feridas, algumas profundas até os ossos. Mantinha uma mão sobre sua barriga, onde os lobos tinham procurado estripá-lo, como eram conhecidos por fazer.
A espada de Dimitri cortou o braço do Lycan. O lobo gritou quando seu antebraço, punho e mão caíram no chão. Dimitri o dispensou, movendo-se para enfrentar o ataque quando cinco de seus companheiros se voltaram para ajudá-lo. Eles cercaram Dimitri, na tentativa de dominar e matá-lo.
Fique atrás de mim, Byron, e mantenha um olho sobre o lobo de um braço só. Mantenha-se firme e se mova quando eu fizer.
Byron não respondeu. Ele perdeu muito sangue, demais, e estava enfraquecendo rapidamente, mas se recusava a se permitir deslizar para a inconsciência. Ele agarrou a adaga e tentou ajustar-se ao ritmo de luta de Dimitri.
Ele era rápido. Muito mais rápido do que Byron tinha concebido, mesmo quando foi avisado sobre o sangue misturado e suas habilidades. Não havia nenhuma maneira possível para continuar. Mais do que qualquer coisa, queria assistir o balé mortal entre os lutadores. Ele não podia sentir qualquer energia subindo de qualquer um dos lutadores, muito menos de Dimitri. Ele s encontrou antecipando os movimentos do inimigo, sendo guiado por eles ao invés de seu defensor, enquanto tentava ficar costas com costas com Dimitri. Os movimentos rápidos de Dimitri eram totalmente imprevisíveis.
Sem aviso, mais dois Lycans irromperam quase aos seus pés. Byron colocou o punhal no peito do mais próximo, evitando a faca vindo para ele da mão esquerda do Lycan. O segundo lobo tinha uma espada e a balançou não muito alto, ainda meio no chão. Dimitri de alguma forma sentiu os dois quando estouraram fora do chão, mas Byron ouviu Dimitri grunhindo e soube que ele teve sucesso.
Dimitri praguejou baixinho quando a ponta de uma espada pegou em toda a volta de sua panturrilha. Fogo queimou sua pele e corpo quando a prata penetrou.
Acho que minha validade venceu, ele disse ao seu irmão.
Caia fora daí. Zacarias criou uma abertura para nós. Razvan e Ivory farão um sobrevoo e pegarão você e Byron.
Merda, Fen. Dimitri não estava prestes a deixar os outros dois no chão, não com tantos Lycans determinados a matar todos.
Vincular-se à sua companheira não melhorou muito seu temperamento, Fen observou. Não planejei isso. Não estou ferido em vinte e sete lugares, queimando como o inferno e voltando e bancando o herói para minha mulher. Eu posso pegar Zev e ir no momento que você e Byron estiverem seguros.
Dimitri defendeu-se de duas espadas ao mesmo tempo, estendendo-se num círculo no chão e, em seguida, cortando profundo em ambos os tórax dos Lycans.
Sem falar daqueles irmãos De La Cruz, que estão causando tantos danos quanto se atrevem. Não acho que tecnicamente realmente mataram alguém, mas são cruéis como o inferno e, definitivamente, estão na borda do limite. Pretendem proteger nossa decolagem. Posso mudar no ar. Zev está muito adepto de voo agora.
Isso fazia mais sentido. Apenas uma vez, Dimitri considerou que poderia ser divertido ser um dos irmãos De La Cruz. Eles eram sua própria lei... ou melhor, seu irmão mais velho. Cada Cárpato vivo sabia que ninguém zangava Zacarias e saía disso ileso.
Estou um pouco ocupado agora, Dimitri apontou. Vocês saiam daqui e vamos estar atrás de vocês assim que pudermos abrir caminho.
Estamos indo em sua direção agora.
Quando Fen e Zev começaram a se mover constantemente para Byron e Dimitri, houve uma mudança em suas mentes, uma mensagem telepática clara de triunfo.
Nós os encontramos, disse Nicolas. Sete atiradores. Todos estão se sentindo um pouco presunçosos porque atiraram em Skyler, Paul e Josef. Estão até mesmo sussurrando sobre como a menina foi a única a morrer, e que se conseguiram matá-la, os Cárpatos com certeza vão para a guerra.
Acham que Skyler é Sange rau porque foi capaz de construir o abrigo, Rafael acrescentou. Um assassino foi enviado para ela e seus principais assassinos enviados para rastrear e matar a ela, Dimitri, Fen e Zev.
O intestino de Dimitri se apertou. Razvan, pegue Byron e leve-o para algum lugar onde possa fechar suas feridas e dar-lhe sangue.
O que diabos está planejando fazer? Fen exigiu. Dimitri, perdeu o juízo? Não pode ver a si mesmo, mas sua pele está cinza e tensa. Tem que sair daqui agora, antes de entrar em colapso. Não está totalmente curado e não conseguiu repor o sangue que perdeu.
Dimitri não era um homem que argumentava. Razvan voou baixo, vindo do céu rápido, um traço de vapor, para se materializar no último momento e pegar Byron em seus braços, levando-o alto antes dos Lycans sequer saberem que esteve lá.
Dimitri mudou instantaneamente em pequenas moléculas impossíveis para um Lycan o agarrar. Se lançou por entre as árvores, de volta à profundidade da floresta, buscando os homens que Nicolas encontrou. Começaram a briga entre as espécies, assim como receberam ordens para fazer, mas não corriam risco de passar além dos guerreiros qualificados.
Fizeram seu trabalho, estimulando o acampamento, envenenando mentes contra Zev, ou pelo menos levantando dúvidas sobre ele. Proclamaram que o conselho estava por trás deles e que Zev fez algo para cortar todos os contatos de telefone celular, deixando-os isolados. Enviaram seus peões para o campo de batalha, ao lado daqueles que ainda estavam em cima do muro, ou mesmo leais ao conselho.
Sentado em cima das árvores e assistindo a batalha de uma distância segura com óculos de visão noturna, agiam como comentaristas num evento esportivo, ainda rindo enquanto alguns fiéis seguidores do conselho sofriam amputações. Os membros voltariam a crescer, mas ainda assim, os ferimentos severos definitivamente fariam com que aqueles que não acreditaram completamente neles mudassem de opinião.
— Isso não poderia ficar melhor. — um dos Lycans afirmou. Ele tinha cabelos loiros e se considerava muito bonito. Acreditava no código sagrado, todo ele, incluindo o lugar da mulher na sociedade. Coisas que há muito tempo foram influenciadas pela interação humana. Os velhos costumes, as tradições e códigos foram há muito esquecidos. — Nós definitivamente conseguimos agitar as coisas, mesmo sem Gunnolf.
Outro assentiu, olhando através dos ramos para ver o caos abaixo.
— Vão se juntar a nós agora. Metade deles foram alvejados com setas ou cortados em dois, assim como Gunnolf previu.
— Não dêem tapinhas nas costas ainda. — Disse um terceiro. — Zev é carismático. Todo mundo o ouve, incluindo o conselho. Ele tem que morrer antes de começar a falar de novo.
— Não ouvi se conseguiram na reunião as negociações para uma aliança. — Comentou outro. — Impedir que usem seus telefones significa que não temos acesso a qualquer um. Podemos apenas esperar que façam sua parte e eliminem o conselho. No momento que a notícia se espalhar, todo mundo vai pegar em armas contra os Cárpatos.
— Acredita que Zev é verdadeiramente Sange rau? Ou que o prisioneiro dos Cárpatos era? Se era tão poderoso, por que não podia se libertar?
— Que diferença isso faz? — O loiro rosnou. — A mulher foi quem o libertou e criou a fortaleza que não conseguimos penetrar. Se há alguém de Sange rau é ela. Ela usou algum tipo de feitiço de sangue, pude sentir seu cheiro em todos os lugares.
— O nome dela — Dimitri disse, vindo atrás dele — é Skyler. — Ele mergulhou a estaca de prata direto através das costas do Lycan loiro, tão forte que a ponta saiu através do peito do lobo. Num movimento, a espada afiada de Dimitri o cortou, dividindo o pescoço para que a cabeça caísse no chão abaixo.
Ele girou como um dançarino, nunca realmente colocando os pés nos galhos, mas sim realizando um balé brutal lá no ar se mantendo perto para que os Lycans fossem prejudicados pelos galhos e folhas. Enquanto tentavam se livrar das árvores, ele cortou um segundo, usando sua espada para cortar a cabeça do pescoço.
— Poderia ter esperado. — Queixou-se Rafael, atravessando uma estaca de prata no coração do Lycan, com a cabeça entalada numa árvore. Ele se virou no ar, usando uma faca de prata para colher o coração de um terceiro, soltando-o na forquilha da árvore na frente de um Lycan chocado. Ele esfaqueou através do centro do coração para pregá-lo ao tronco e deslizou atrás para permitir que a espada de Dimitri enviasse a cabeça caindo no chão, ao lado dos outros dois.
Um Lycan conseguiu se soltar dos ramos. Saltou no chão, percebendo, tarde demais, que um terceiro Cárpato estava esperando. O homem estava tão quieto que poderia ser uma parte da própria paisagem. Quando se transformou, fluiu como água, batendo tão rápido que o Lycan estava morto antes de realmente bater no chão, uma estaca de prata em seu coração e sua cabeça completamente cortada.
Os três conspiradores restantes fingiram se render, os dedos sobre o gatilho de suas armas.
— Não fizemos nada para você. — Um declarou, movendo a cabeça para a esquerda para olhar ao redor do ramo, tentando dar uma olhada em Dimitri. — Nós desistimos. Podem pegar nossas armas. —Três espadas e duas facas foram atiradas no chão abaixo.
Enquanto o primeiro do trio esperava, os outros dois escorregaram suas armas silenciosamente para a frente, num esforço para encontrar um alvo. Um pensou ter visto um dos Cárpatos por apenas um momento, e cutucou seu companheiro e apontou para o arbusto abaixo.
Atrás deles, Dimitri se inclinou para sussurrar em seus ouvidos.
— Posso sentir o cheiro de mentira. E os três fedem.
Um girou, disparando quando fez isso, a arma explodindo ao lado do peito de Dimitri, mas a adaga de Dimitri já estava profunda, a lâmina encontrando uma casa no coração do mentiroso. A mão que segurava a arma ficou tensa e, em seguida mole, o corpo deslizando na direção do chão, só para ficar preso nos galhos mais baixos, esparramado de forma macabra.
Nicolas cortou a cabeça, permitindo-a cair no chão como as outras. Com grande desprezo, empurrou o corpo para fora da árvore com a ponta da bota, para que ele, também, caísse na bagunça dos Lycans vivos somente minutos antes.
Os dois lobos restantes abriram fogo, disparando rodada após rodada em todas as direções, desesperados para matar seus atacantes. Infelizmente para eles, os Cárpatos tinham desaparecido, e em meio ao caos do terror, os dois Lycans deixados vivos não podiam ler a energia que chegava de todas as direções.
Um desceu pela árvore triturando a casca, quase soluçando. Aterrissou no meio de uma poça de sangue e quando olhou abaixo, os olhos de seus amigos o fitavam acusadoramente.
— Não me deixe, Don. — O outro gritou. — Temos que ficar juntos. Espere por mim.
O Lycan chamado Don nem sequer olhou para seu companheiro, ele correu por sua vida, segurando ainda a arma na mão com o dedo no gatilho, mas ele nem se lembrava que estava lá. Não deu mais que cinco passos quando bateu em alguma coisa afiada. Dolorosa. Ele parou de repente e ficou ali balançando. A arma caiu dos dedos nervosos.
Don olhou para seu peito. A estaca de prata em espiral se projetava. Chocado, olhou abaixo, colocando as mãos por baixo dela como se pudesse pegar o sangue escorrendo ao redor do ferimento. Por duas vezes balançou a cabeça e, em seguida, conseguiu olhar para cima. Um homem alto estava na frente dele, um com queimaduras terríveis em torno de sua cabeça e pescoço.
— Realmente não deveria ter atirado nela. — disse Dimitri desapaixonadamente. — Estava morto no minuto que as balas saíram da sua arma. Se não tivesse encontrado vocês agora, os teria caçado até o último suspiro do meu corpo. — Ele ergueu a espada de prata e a girou, o movimento gracioso e mortal. A cabeça de Don rolou na direção dos outros.
O Lycan deixado na árvore jogou a arma no chão e tentou se levantar com as pernas trêmulas, as duas mãos no ar.
— Não pode me matar. Sou um prisioneiro de guerra. Não pode me matar.
— Não há guerra entre nossa espécie. — Disse Nicolas, a voz desencarnada vindo estranhamente da noite.
— Infelizmente para você — acrescentou Rafael, projetando sua voz tanto para cima quanto para baixo —, meu irmão não acredita em fazer prisioneiros.
O Lycan pulou da árvore, livrando-se dos ramos, os braços abertos como se tivesse asas. No ar, uma espada de prata apareceu. Não havia como mudar sua trajetória. Ele bateu na ponta da espada com seu peito, seu ímpeto espetando-o na lâmina, direto através de seu coração.
— Seu irmão não acredita num monte de conversa desnecessária também. — Disse Zacarias, materializando-se por trás da espada. Ele fez uma careta escura para seus irmãos. — Você gosta de seus jogos. — Ele retirou a lâmina, cortou a cabeça com um golpe e limpou a lâmina no corpo quase antes de bater no chão.
Nicolas e Rafael trocaram um pequeno sorriso secreto.
Conseguiu chamar muita atenção, Fen disse ao seu irmão. Saia daí.
Zacarias olhou para o céu e as nuvens imediatamente obedeceram, agitando-se negras e soprando acima. Relâmpagos bifurcaram ao longo de uma nuvem imponente. Ele dirigiu o raio escaldante para o meio da pilha de Lycans mortos.
As chamas saltaram alto, queimando os corpos. Rafael deixou uma mensagem para os outros Lycans. Traidores do conselho, assassinos de crianças. Levados à justiça.
Não vou deixar você atrás e Zev está perdendo a batalha aqui com suas numerosas feridas. Mexa-se.
Estou a caminho, Dimitri disse placidamente.
Fen podia ser seu irmão mais velho, mas Dimitri era um antigo guerreiro e caçou vampiros por séculos, principalmente por conta própria. Não importa o quanto amasse seu irmão, seguia seu próprio caminho e pensava por conta própria. Estes Lycans eram assassinos e se atreveram a abordar sua companheira. Não estava disposto a deixá-los viver. Mais cedo ou mais tarde os pegaria. Estava grato que foram descobertos por Zacarias e seus irmãos. Quem sabia o mal que fariam se não fossem destruídos?
Sabia que Fen estava preocupada com ele, mas se recusava a reconhecer que Fen estava certo o tempo todo e seu corpo ainda não estava pronto para fazer justiça a ninguém. Ele subiu para o ar, voltando para seu irmão. Razvan fez uma fuga limpa com Byron, ainda que Fen e Zev se recusassem a sair até que Dimitri estivesse a uma distância segura. Dimitri estava bastante certo que Zev era tão teimoso como seu irmão e nem se mexeria até que soubessem que ele estava seguro.
Rafael e Nicolas voaram às suas costas. Zacarias foi à frente. Em algum nível, Dimitri percebeu que o estavam protegendo, voando numa formação que mantinha seu corpo maltratado no centro de um triângulo.
Estou esperando por você, Fen, disse ao irmão. Se está tendo problemas e precisa de um pouco de ajuda, vou voltar e salvá-lo, como de costume. Basta pedir. Estava apenas dando-lhe um pouco de tempo para resolver isso, mas sério, não posso ter você atrapalhando todo mundo.
Dimitri tinha que manter a diversão em sua voz e em sua mente também. Rir de Fen era uma proposta perigosa.
Muito engraçado. Está se transformando num comediante regular. Faça com que um dos irmãos De la Cruz transporte seu traseiro até aqui.
Dimitri sabia que não ia fugir rindo de seu irmão, mas ainda assim, era bom estar indo para casa, com Fen perto. Estava livre, a dor estava diminuindo lentamente e Skyler era sua por toda a eternidade.
Movendo-se através do céu noturno com o vento em seu rosto e as estrelas brilhantes em cima sempre era relaxante e tranquilo. Não olhou para o campo de batalha sob seu corpo, coberto por Lycans feridos. Teve o suficiente de sangue, morte e dor — o suficiente para durar mais uma vida. Estava cansado. Exausto. Acabado para a luta por um tempo.
Onde você está?
Ela estendeu a mão para ele imediatamente com seu toque suave, como se soubesse do seu cansaço e sua exaustão. Ela fez isso no passado. Lembrou-se de uma vez, quando passou meses rastreando um vampiro mestre e testemunhando o rescaldo da morte e destruição que os mortos-vivos deixavam em seu rastro, estava tão enojado com a depravação que não podia encontrar consolo ou paz, mesmo na terra.
Ela chegou a ele então, como fez agora. Skyler. Seu milagre. Despejou-se em sua mente suavemente, com aquele toque lento, quase delicado que se tornou tão familiar para ele. Encheu-o, esses lugares escuros de morte, as rachaduras que pareciam impossíveis de consertar, tantos lugares rasgados dentro dele causados pelas inúmeras mortes que fez e coisas que viu. De alguma forma, quando ela estava lá, quando se fundia assim, conseguia limpar tudo. Tudo que viu e fez se ia, substituído por calor e amor.
Em segurança. Sou seguido de perto, ele a assegurou.
Dimitri, algo está errado. Eu sinto isso.
É apenas a distância entre nós. Estou um pouco fraco. Ele fez a admissão a ela que nunca faria ao seu irmão. Ela estava lá com ele, em sua mente, saberia de qualquer maneira. Era praticamente impossível esconder algo de sua companheira, e sua companheira era especialmente sensível.
Não é a distância. É algo mais. Algo se aproximando de você. Está perto. Perigoso.
Ele se colocou no piloto automático, basicamente permitindo que Zacarias e seus irmãos dirigissem seu voo, protegendo-os de quaisquer olhos que pudessem vê-los enquanto mantinha sua força para o longo caminho para casa. Ele deu uma olhada rápida ao redor. Fen, na forma de um dragão com Zev nas costas, voava apenas à esquerda.
Os irmãos De La Cruz, como ele, escolheram a forma de pássaros, movendo-se poderosamente através do céu noturno. Estavam todos em alerta, mas ninguém parecia indevidamente alerta.
Ele acreditava nela. Ele descobriu, ao longo dos anos, que valia a pena acreditar em Skyler. Ele era um Guardião, uma mistura de sangue, e tinha dons especiais. Estava mais do que na hora de começar a usar as habilidades especiais que ser Hän ku pesäk kaikak lhe dava. O perigo estava na sensação de superioridade que se arrastava dentro dele sem ser notada. Estava mais forte. Mais rápido. Seu cérebro podia resolver problemas numa grande velocidade. Era preciso temperar esses dons com o preço inevitável que pagava por eles.
Sua visão era especialmente afiada. Deu um olhar longo e lento ao redor, para o chão abaixo dele, à sua direita, sua esquerda, atrás e à frente. Sua audição era aguda. Ouviu qualquer som que pudesse estar fora do lugar, uma única nota que pudesse avisá-lo do perigo. Seu olfato era extremamente sensível, o lobo combinado com o Cárpato dava-lhe enormes vantagens que ele simplesmente usava.
Havia algo. A mais fraca das ondulações varreu por cima dele, um mal-estar que solidificou e o possuiu, no entanto, não conseguia identificar a ameaça.
Fen. Localize. Há algo aqui. Algo que vem atrás de nós. Ou estamos caminhando em sua direção. Skyler sente isso também.
Ele sabia que seu irmão o levaria a sério. Lutaram juntos e separados por séculos. Por mais que Fen gostasse de fazer valer sua autoridade na posição como irmão mais velho, respeitava as habilidades de Dimitri e nunca ignoraria um aviso.
Sinto isso. Mas o quê? É tão sutil. O que poderia ser tão sutil que nenhum de nós ficasse ciente disso? perguntou Fen.
A resposta estava clara para Dimitri — para ambos. Sange rau. Quem orquestrou esta guerra está usando o Sange rau para assassinar aqueles que quer tirar do seu caminho.
Houve Bardolf e Abel. Fen nomeou os dois Sange rau que derrotaram semanas antes. Os dois foram enviados para matar Mikhail Dubrinsky. Como ele poderia controlar um sangue misturado, um vampiro além isso. Tem que ser muito poderoso para fazer algo assim.
Se era Cárpato antes de ser Sange rau e avisarmos os outros, ele iria ouvir, Dimitri apontou.
Nem Fen nem Dimitri trocaram sangue com Zacarias ou seus irmãos. Teriam que usar o caminho comum que permitiria que um mestiço nascido Cárpato ouvisse.
Skyler, Paul pode chegar aos seus tios? Se assim for, faça-o transmitir a notícia que estamos sendo perseguidos por um assassino. Estamos certos que o assassino é Sange rau.
Houve um breve silêncio, provavelmente enquanto ela conferia com Paul. Ele trocou sangue com Nicolas.
Diga-lhes para continuar andando como se nada tivesse mudado, mas alguém terá que pegar Zev de Fen. Vou começar a me retardar apenas um pouco de cada vez, dando a impressão que estou ferido e o vôo está começando a fazer efeito sobre mim, disse Dimitri.
Está ferido. Dimitri, não pode lutar contra esse monstro, não em sua condição, Skyler objetou.
Ele riu suavemente em sua mente, alcançando-a e rodeando-a com amor. Csitri, bão tenho nenhuma intenção de lutar com ele. Vou deixar isso para Fen. Ele precisa se sentir necessário e nunca tiraria isso dele.
Por um momento ele pensou que Skyler não ia entender, mas ela o fez. Ele está ouvindo, não é? Está provocando seu irmão de novo.
É claro que estou.
Fen deu um pequeno bufo zombador. Ele simplesmente não pode lidar com isso, sou melhor numa luta.
Você que está dizendo. Pelo que me lembro, da última vez, sinto muito, mas eu salvei seu traseiro, Dimitri apontou.
Tem que levar a sério esta ameaça, Skyler insistiu, em algum lugar entre o riso e a exasperação.
Não se preocupe, sívamet. Temos tudo sob controle, Dimitri disse com confiança.
Ele estava confiante. Sobreviveu à pior tortura dos Lycans e tinha sua companheira. Não importava que seu corpo estava rasgado e exausto, sua mente estava mais forte do que nunca. Seus sentidos estavam se desenvolvendo rapidamente.
Você e eu sabemos, o Sange rau será difícil de matar, Fen advertiu em seu caminho particular de comunicação. Sei que está tentando manter Skyler sem preocupação, mas não fique confiante.
Em todos os séculos que estive viajando, mesmo em continentes diferentes, quantas vezes qualquer um de nós já se deparou com o Sange rau? Dimitri perguntou ao seu irmão.
Eu vi quatro, contando Abel e Bardolf.
Só me deparei com Abel e Bardolf, e foram especificamente enviados para matar Mikhail, Dimitri disse, esperando deixar a implicação ser entendida.
Dimitri soube o momento exato que Paul transmitiu a advertência a Nicolas e Nicolas a enviou a Zacarias. Não houve nenhuma mudança em si, mas sentiu a diferença. Esperava que seu perseguidor não sentisse também. Ele hesitou um pouco, parecia que tentava se recuperar e escorregou atrás, longe de seus protetores. Nicolas e Rafael em forma de pássaro voaram por ele, hesitaram por um momento e depois continuaram como se ele dissesse a eles para continuar.
Fen pegou o significado rápido. Alguém está criando-os, usando sangue misturado para melhorá-los e usá-los como assassinos. Não são necessariamente vampiros.
E se são, provavelmente, recém-criados. Abel e Bardolf foram provavelmente suas experiências mais antigas.
Nunca enviariam um amador atrás do príncipe em nosso território. Quem está por trás disso está criando seu próprio exército de mestiços.
Dimitri permitiu que o corpo de seu pássaro mergulhasse um pouco, procurando uma altitude mais baixa, suas asas batendo o dobro do tempo que os outros faziam, mas na verdade não chegando a lugar nenhum. O vento mudou um pouco, soprando-o, fazendo-o vacilar mais. Tentou redobrar seus esforços — os outros pareciam estar se movendo para longe dele mais rápido, — mas ele estava muito desgastado.
Uma grande ave de rapina — uma águia careca — desceu rapidamente, garras estendidas, seu bico de uma cor estranha. Dimitri passou do corpo de uma coruja ao maior de uma águia tão rápido que foi impossível detectar a mudança até que o outro estava quase em cima dele. Dimitri teve tempo suficiente para perceber que as garras e bico eram armas de prata, destinadas a destruir, esfaquear e matar rápido. Encontrou as garras da ave com as dele, prendendo-as juntas para que caíssem do céu, sobre a extremidade final. Não podiam mudar, e o chão parecia crescer rapidamente ao encontro deles.
O assassino rasgou o corpo de Dimitri, esfaqueando repetidamente no peito, buscando o coração. Nunca ouviu ou viu o ataque por trás, Fen cruzando o céu, indo para a matança. O Sange rau nem sequer sentiu a estaca passando por seu corpo para penetrar seu coração. Quando Fen removeu a cabeça e o pássaro pousou morto no chão, Dimitri evocou o relâmpago para queimá-lo.
Ele afundou no solo macio, sentando abruptamente, empurrando as duas mãos pelos cabelos. Havia sangue em seu peito, que escorria de uma dúzia de cortes e golpes.
— Sabe, Fen, acho que vou querer aquela carona agora. — Disse quando Fen caminhou até ele.
Em seu último retorno para casa, Dimitri fixou residência na antiga casa da família, no meio da floresta, onde os lobos o avisavam se visitantes chegassem muito perto. Ele fez alguns reparos modernos, mas não ficava na residência com frequência. A pedra do lado de fora estava coberta de musgo e árvores e arbustos cresceram tão perto que quase cobria a casa. Trepadeiras grossas teciam em torno das colunas de pedra que formavam a varanda. As vinhas eram tão grossas que quase formaram uma parede impenetrável, fazendo um arco nas escadas como se fossem projetadas dessa forma.
Sob o edifício de pedra, no subsolo, Dimitri e Skyler estavam entrelaçados, seus corpos se curando lentamente. Dimitri acordava a cada elevação e caçava, sustentando os dois e, em seguida, voltava para a terra, para permitir que a Mãe Terra rejuvenescesse os dois.
Ele acordou e ficou ouvindo a batida do coração da terra. Com o tempo, o ritmo tornou-se reconfortante, uma batida firme constante que sempre podia contar. Não importa onde estivesse no mundo, caso se deitasse no chão, isso estava lá.
Ele abriu o solo acima de suas cabeças, olhando para o lado debaixo da casa que seus pais construíram tantos séculos antes. Ele tinha brincado no quarto acima deles. Lembrou do som da risada de sua mãe e do murmúrio da voz de seu pai. Percebeu que queria ficar, para fazer desta sua casa. Era profundo o suficiente na floresta para manter sua matilha de lobos segura e ainda perto o suficiente de outros Cárpatos para que Skyler pudesse ter companhia sempre que quisesse.
Ele se inclinou sobre ela. Adorava olhá-la enquanto dormia. Skyler sempre parecia em paz, agora tão diferente das noites que ele entrou em seu quarto e encontrou-a se sacudindo e virando, presa no meio de um pesadelo horrível. Delicadamente, ele afastou os sedosos fios de cabelo que se soltaram da trança simples que fez para ela na última elevação.
Seus cílios eram longos e espessos, escuros, mas com pontas douradas. Ele traçou suas altas maçãs do rosto com a ponta de seu dedo, absorvendo a pele lisa de cetim. Sempre a irritou não poder ficar bronzeada. Josef e Paul brincavam com ela sem piedade, jogando as mãos sobre os olhos para acusá-la de estar cegando-os com sua barriga branca ou pernas, dependendo do que ela estava usando. Se ela ficasse no sol, queimava num vermelho brilhante, e então eles a chamavam de "menina lagosta."
Dimitri se encontrou sorrindo pela lembrança das brincadeiras de seus amigos.
— Você faz minha vida bela e plena. — Ele murmurou em voz alta para ela. Acorde, csitri. Temos muito o que fazer. É hora de começar nossa vida.
Ela se agitou com sua chamada, enrolada em seus braços e levantou os cílios. O impacto de seus olhos encontrando os deles era físico, um soco perverso que levou o ar de seus pulmões. Ela tinha sua cor relaxada, feliz, o verdadeiro cinza pomba que ele amava acima de qualquer outra cor.
— Boa noite, sívamet. Está se sentindo mais forte?
Skyler assentiu e tocou seu rosto.
— Muito. Não me importaria de explorar nossa casa um pouco. Realmente não vi muita coisa desde que começamos a cura.
— Quero que cace comigo. — Era a primeira vez que ele dizia isso. Não a pressionou por uma resposta, sabendo que este seria um dos conceitos mais difíceis para ela aceitar.
Dimitri não se importava com fornecer sangue para ela, mas no caso de estarem sempre em apuros, ela precisava saber como caçar e que poderia fazê-lo sozinha. Era uma parte natural de ser Cárpata. Skyler desejava sangue, mas a ideia de tomá-lo de uma fonte desconhecida a incomodava num nível estritamente humano.
Houve um pequeno silêncio. A mão de Skyler caiu para o peito dele e ela alisou sobre as queimaduras de corrente ali — distraidamente — como fez a cada elevação.
— Tudo bem.
Seu coração deu um pulo. Uma pequena palavra. Ela aceitou seu modo de vida e confiava nele para ensinar-lhe as coisas necessárias para sobreviver. Ele sabia que isso era um grande marco para ela.
— Depois disso, preciso ver Francesca.
Ele a queria para si mesmo. Passaram várias elevações curando na terra. Sim, ele chegou a abraçá-la, e até mesmo trocar sangue com ela, mas todo o resto do tempo, ambos estiveram embaixo, dormindo o sono rejuvenescedor dos Cárpatos.
O tempo gasto no chão era necessário, os dois estavam em mau estado quando chegaram nas montanhas dos Cárpatos. Skyler teve tempo apenas suficiente para abraçar sua mãe adotiva antes de entrar em colapso. Infelizmente, esse tempo essencial passado no solo significava que não seriam capazes de realmente começar sua vida juntos.
Ele a segurou enquanto dormiam, entrelaçados, pele com pele. Ele deu seu sangue e certamente não havia intimidade em ambos, mas ele se sentia quase como se estivesse perdendo terreno com ela, que ela dava um passo atrás com ele. Falava pouco e parecia preferir gastar o tempo na terra, ao invés de enfrentar sua vida juntos.
— Tem essa careta em seu rosto de novo. — Disse Skyler, e estendeu a mão para esfregar os lábios dele, como se ela pudesse removê-la. — O que há de errado? Não quer que eu vá com você?
Suas mãos se curvaram em sua cintura quando ele a ajudou ficar numa posição sentada.
— Claro que quero que vá comigo. Ambos necessitávamos de cura, mas em algum momento temos que reconstruir nossa força. Quero te mostrar muitas coisas.
— E quero aprender. Especificamente, metamorfose. — Disse Skyler. — E voar. E correr com os lobos.
Ele não pôde deixar de rir.
— Em outras palavras, tudo.
Ela assentiu com a cabeça, aproximando-se de joelhos para inspecionar as queimaduras em torno de sua garganta e testa. Seu coração deu um pulo. Ela não tinha se inclinado para ele fisicamente ou tocado suas cicatrizes intimamente desde que chegaram nas montanhas dos Cárpatos. Ela definitivamente trabalhou na cura delas, mas usou mais um toque profissional. O roçar dos dedos era muito íntimo para ele poder considerar profissional e tanto seu corpo e coração responderam a essas carícias.
Ela murmurou as palavras que repetia cada vez que, cuidadosamente, traçava cada volta da corrente em torno de seu corpo.
Eu a chamo, Mãe, traga o vosso poder,
Como selei esses caminhos que trazem dor e praga.
Eu chamo o aloé, tão verde e fresco,
Produza o sangue de sua vida novamente para curar.
Cada linha que traço, pode desaparecer no dia a dia,
Levando tudo que causa dor.
Ele se permitiu inalar o cheiro dela, levar suas mãos até suas costas e abraçá-la, os dedos abertos largamente para tomar o máximo possível de sua pele nua.
— Você tem escondido as coisas de mim. — Disse Skyler, inclinando-se tão perto dele que as pontas de seus seios roçaram seu peito enquanto ela corria os dedos suaves nas reentrâncias profundas em torno de sua garganta. — Está preocupado com alguma coisa. Esperei você me dizer, mas prefiro, em vez de fundir minha mente com a sua e me intrometer, apenas perguntar.
Dimitri respirou fundo e soltou o ar. Seus dedos acariciavam sua pele, seu toque enviando chamas cintilando através de sua corrente sanguínea. Ele sonhou com isso, queria isso, mas sabendo que não poderia agir com o desejo inundando seu corpo fez o momento agridoce. Ela precisava de tempo, e ele estava determinado a dar isso a ela.
— Você se afastou de mim. — Admitiu duramente. — Nunca fez isso antes. Sei que tudo que aconteceu nas últimas semanas aconteceu rápido e você precisava de tempo para assimilar tudo, especialmente se tornar totalmente Cárpata.
Era mais do que isso — ela acabaria por se tornar como ele — Hän ku pesäk kaikak. Não havia como fugir disto, não quando eram companheiros e nunca seriam capazes de resistir à tentação de trocar sangue.
Skyler ficou em silêncio por um momento, girando suas palavras uma e outra vez em sua mente. Teve que admitir para si mesma que ficava nervosa a cada elevação. Sentia-se segura, na terra, no seu pequeno casulo, envolvida nos braços de Dimitri.
Antes, quando ele vinha para ela, às vezes várias noites seguidas apenas para falar, eles fundiram as mentes para fazê-lo e pensou que ela o conhecia. Ele não escondeu nada dela, mas ela nunca se fundiu tão profundo com ele para que visse além da escuridão nele. Isso havia crescido como um câncer, espalhando-se sobre sua alma, sempre à procura de uma maneira de entrar.
Para salvá-lo, ela se empurrou além da escuridão amontoada. Ela viu cada memória, cada ação. Sabia dos perigos que ele enfrentou sem titubear, os séculos de solidão que suportou sem desonra, e como foi paciente, mesmo quando a escuridão empurrava sua alma. Então, ele a salvou, possuindo o corpo dela, assumindo o controle de sua mente, fundindo os dois tão profundamente que revivia essas memórias com ele, não apenas as observava.
Cada morte levou alguma coisa com ele, deixando atrás as lágrimas no tecido da mente e da alma, mesmo depois de perder as emoções. Levar, mesmo o pior dos criminosos à justiça, não vinha sem um preço que ele pagou muitas vezes. As fissuras e rachaduras se aprofundaram, e a escuridão havia se insinuado, aproveitando-se a cada passo.
Ela viu os milhares de ferimentos físicos. Ele esteve sozinho, ou com Fen, e às vezes, raramente, outro caçador que não conhecia. Principalmente, esteve sozinho. Viveu vidas, através da história, e sempre foi honrado, não importa as circunstâncias. Salvou vidas e nunca pediu nada para si, exceto ela. Sua companheira. Ele aguardou, esperando que um dia a encontrasse.
— Quando estava tentando encontrá-lo, Dimitri, eu me senti fortalecida. Senti como se fosse uma parceira pra você, alguém que poderia te dar todas as coisas que você precisava e merecia. Sabia que precisava de mim e sabia que eu poderia ser exatamente o que você precisava. — Ela suspirou. — Mas então, viemos aqui para as montanhas dos Cárpatos e comecei a ter dúvidas.
As pontas dos dedos passeavam ainda, mantendo-se ao longo das queimaduras em seu pescoço. Ele achou incrível que nessas reentrâncias brutais, podia sentir o poder concentrado da sua capacidade de cura, e ainda assim ela estava expressando suas reservas sobre se podia ou não ser uma parceira para ele.
Mil argumentos subiram em sua mente, mas permaneceu em silêncio. Ela precisava ser capaz de falar com ele, sem duvidar que ele realmente podia ouvi-la. Por mais que quisesse tranquilizá-la, este era seu momento, não o dele.
— Eu ficava pensando, o que realmente espera de uma companheira? Eu vivi apenas 19 anos. Não espero saber as coisas que você sabe. Como poderia combinar com você intelectualmente? Sou inteligente, sei que sou. Tenho apenas dezenove anos, mas já tenho várias graduações. Ainda assim, o que sei sobre qualquer assunto é uma gota no oceano em comparação com seu conhecimento.
Dimitri sentiu os dedos em movimento novamente, alisando sobre as queimaduras em torno de sua garganta. Ela se recostou sobre os calcanhares e seguiu os elos da corrente envolvidos em torno de seus ombros.
— Eu ficava me perguntando, o que exatamente tenho para oferecer? — Seu olhar saltou para o dele e a cor liberou sob a pele antes de seus olhos voltarem ao seu trabalho. — Tenho medo de contato físico... intimidade... você sabe disso. Não é novidade para você, mas continuo pensando que não vou te dar nada. Não só não sei a principal coisa sobre agradar um parceiro, acho toda a ideia repugnante. — Ela fez uma pausa. Respirou. — Ou achei.
Ele estava grato por sua pequena admissão. Ele sabia, melhor do que ela, que estava começando a responder a ele. Ela o amava, e seu corpo começava a responder ao seu toque. Sentia isso a cada toque, cada olhar. Como passaram um tempo juntos, sabia, que se fosse paciente e cuidadoso, permitindo-lhe assumir a liderança, ela viria a querer seu corpo tanto quanto ele queria o dela. Era mais uma expressão de amor, ela só tinha que perceber por ela mesma.
— Não sei sobre agradar você, Dimitri, e isso me incomoda. Não sei como vou reagir quando fizer amor comigo. E se eu surtar?
Ele queria garantir que não teria importância. Parariam até que estivesse pronta, mas mais uma vez ele permaneceu em silêncio, esperando ela contar tudo.
— Nem sequer tenho minha virgindade... que foi perdida há muito tempo. — Acrescentou ela, com tristeza.
Isso foi demais para ele. Teve que responder, mas quando abriu a boca, ela apertou a mão dela e colocou um dedo sobre os lábios.
— Isso é difícil para mim. Uma das coisas que mais valorizava em nossa relação era que poderíamos falar sobre qualquer coisa. Meu passado, seu, sexo, tudo isso. Mas não estávamos cara a cara. Não estávamos pele a pele. Quero estar tão confortável como estava em todas as vezes que conversamos por telepatia. — Explicou. — Então preciso te dizer isso.
Ela entrelaçou os braços ao redor de seu pescoço e se aproximou novamente, usando a saliva, a cura de sua língua para banhar a pior das queimaduras em todo o peito. Ele fechou os olhos e se deixou sentir a pele dela movendo-se sobre a dele e a intimidade de sua boca contra ele. Seus seios o tentavam, balançando contra ele. Seu corpo já estava duro, como quase a cada momento ao seu redor, mas ter a capacidade de não sentir nada seria um milagre, e muito menos esse desejo intenso.
Seu amor por era abrangente, e se isso significava dar-lhe tempo, ele daria todo o tempo do mundo agora que estavam unidos. Tudo o que ela precisava ele daria, e se fosse tempo, era um pequeno preço a pagar, em sua mente, para que ela estivesse verdadeiramente confortável com ele.
Skyler passou a mão em seu peito, bem de leve, apenas um roçar realmente, mas transformou seu sangue em chamas. A palma da mão roçou seu pau grosso. Mais uma vez, foi o mais leve dos toques, mas enviou uma onda de choque através dele.
— Sei que você me quer. Como não poderia? A coisa louca é, Dimitri, preciso que você me deseje. Eu preciso. Preciso saber que acha que sou bonita e desejável e até mesmo sexy. Sonho com o momento que eu possa tocar em você, e te amar sem reservas ou hesitação.
Mais uma vez ela caiu sobre os calcanhares e olhou para ele com lágrimas nadando em seus olhos. Ele ergueu o queixo dela com o polegar e o dedo, esperou até que ela erguesse os cílios longos antes de se inclinar para beber suas lágrimas. Muito gentilmente ele pegou sua mão e a fechou em torno de sua ereção pesada. Sem dúvida, seu tamanho era intimidante quando ele estava completamente excitado, mas ela o viu várias vezes nu, agora.
Sua palma estava quente quando ela a enrolou em torno de sua circunferência, os dedos, um por um inclinando-se para fazer um punho, tentando fechar. Ele manteve sua mão sobre a dela, levemente, para que ela pudesse se afastar no momento que precisasse. Seu coração batia tão forte no peito, quase podia vê-lo sob sua pele pálida.
Ele bateu no peito.
— Sinta meu coração. Escute-o. Siga o ritmo do meu.
A ponta da língua umedeceu os lábios, enviando outra onda de afluência de calor através de suas veias, diretamente para sua virilha. Seu pênis estremeceu em reação, ficou mais quente, inchando ainda mais em sua mão. Seu polegar deslizou sobre a cabeça sensível, espalhando a pérola de líquido. Ele sabia que ela não estava tentando provocá-lo, estava tentando começar a conhecer seu corpo, para se sentir confortável com isso, mas seu toque o estava matando.
Sua respiração se tornou irregular — pequenos arquejos, como se ela não pudesse ter ar suficiente. Seu corpo corou com rubor. Ele gentilmente colocou a mão livre sobre seu coração, sentindo-o disparado sob sua palma.
— Para mim, você sempre vai ser sexy e desejável. Conhecimento de técnica ou arte praticada nunca será sexy para mim. O desejo de me dar prazer, me agradar, da mesma forma que quero agradá-la é o que faz você sexy para mim, csitri. Posso sentir o desejo em você a cada toque da sua mão. Mesmo agora, os dedos alisando sobre meu eixo em vez de se afastar.
Ele conteve um gemido de necessidade. Seus dedos alisando para trás e para a frente, mas dessa forma lenta, sem pressa, como se de alguma forma estivesse imprimindo a forma e a sensação dele em seus próprios ossos. Ela era naturalmente sensual. Dadas as circunstâncias certas, a confiança em si mesma e a confiança nele iria aumentar, permitindo libertar sua parte sensual.
Ele observou-a respirar, a ação levantando os seios tentadores. Ela não percebeu o quão íntimo, como possessivo seu toque era. Há muito tempo ela se tornou sua, seu coração, sua alma e sua mente. Amava-o com todas as fibras do seu ser. Ele pertencia a ela, corpo e alma, e estava muito confortável com ele, mesmo pele a pele, soubesse ou não.
Ele desenrolou seus dedos um a um, em torno do grosso comprimento de seu eixo, puxou a mão muito suavemente de volta ao seu peito, e colocou os dedos nas bandas das correntes. Ele precisava de uma pausa, quase tanto como ela. Seu corpo estava em chamas. Ele precisava de apenas alguns momentos para respirar seu caminho através da zona de perigo.
— Você não pode me decepcionar. Você não pode. É uma impossibilidade.
— Como sabe? — Perguntou Skyler. — Eu me sinto como uma covarde. Há mais do que apenas a relação física, Dimitri. Conhecer os caminhos dos Cárpatos e vivê-los são duas coisas distintas. Quando acordo debaixo da terra, me sinto como se estivesse enterrada viva. Intelectualmente, sei que não é. Sei que é natural para nós, mas não posso controlar minha reação, esse momento horrível quando sinto que não posso respirar e estou sendo sufocada.
— Isso é facilmente resolvido, Skyler. Posso acordar e abrir primeiro a terra...
— Não. Não. Não quero que faça tudo para mim. Recuso-me a ser um fardo para você. Quero ser sua parceira. Preciso entrar em acordo com tudo isso.
Ele puxou sua trança muito suavemente.
— Sivamet, tem menos de uma semana desde sua conversão. Foi baleada várias vezes e morreu, foi trazida de volta à vida. Não espero que saiba tudo e esteja confortável com isso. Isso não é pedir muito, mesmo de uma mulher tão poderosa quanto você?
— Não, não quando sei que você passou, o que sacrificou.
Dimitri espalhou beijos ao longo de sua têmpora, seu coração quase derretendo dessa forma ridícula que acontecia quando ela estava preocupada com ele.
— Não fiz nada de especial, Skyler, embora seja grato por pensar que fiz. Pare de se preocupar tanto sobre ser jovem, ou achar coisas novas difíceis. A idade dos Cárpatos é de forma diferente da dos humanos. Aos cinquenta eu poderia ser considerado na sua idade humana ou na idade humana de Paul. Nós não amadurecemos totalmente até que vivemos dois séculos. Depois disso, não há nenhum envelhecimento real. O tempo passa, mas a idade não é marcada. Quando se tem tal longevidade, a idade deixa de significar algo. Os seres humanos marcam o tempo, porque têm um ciclo de vida e se vêem obrigados a medir todas as coisas por ele.
— Não pensei sobre isso. — Skyler admitiu. — Francesca tentou explicar isso para mim quando perguntei por que Josef era tratado como criança quando ele é tão brilhante. Ninguém o leva a sério, mas na verdade é um verdadeiro trunfo para a comunidade dos Cárpatos se simplesmente o ouvissem e utilizassem seus talentos.
— Acho que Josef será visto sob uma luz diferente após o ousado resgate. Sem vocês três, Skyler, sabe que eu estaria morto. Você provou a si mesma muito bem.
Ela suspirou.
— Não sei por que de repente comecei a me sentir tão inadequada, Dimitri. Bastou saber das coisas que você teve que enfrentar em sua vida... — Ela parou de novo, balançando a cabeça.
Ele encolheu os ombros. Seus dedos já estavam trabalhando sua magia noturna, alisando a pele queimada, deslizando nas faixas apertadas em torno de seu peito. O lembrete da agonia da prata enrolada em seu corpo, como uma jiboia sempre estaria presente fisicamente. Skyler e a Mãe Terra fizeram seu melhor, e estava certo que nenhum curador hábil poderia fazer mais, mas as cicatrizes eram muito profundas.
Às vezes, quando ele acordava, podia sentir a picada da prata queimando em sua pele, numa centena de lugares, em torno de seu corpo, lentamente, como uma cobra, penetrando sua pele e deslizando dentro dele, queimando longos buracos de minhoca através de todos os órgãos. Sabia que a memória ficaria com ele, século após século, junto com as cicatrizes.
— Eu disse tudo, meu amor — disse ela. — O que está escondendo de mim?
Seus dedos traçaram as queimaduras ao redor das suas costelas. Seu lado esquerdo, em particular, estava extremamente doloroso, cavando profundamente até que estava certo que a corrente tinha enrolado em torno do osso, deixando a sua marca lá.
Ele foi marcado para sempre pelos Lycans. Era sangue misturado, parte do mundo Lycan, mas metade lobo e metade Cárpato. Como Skyler com seu sangue mago, ele teria que entrar em acordo com o que os Lycans fizeram com ele e como se sentia sobre eles.
— Mikhail quer que eu vá perante o conselho Lycan e mostre o que foi feito comigo.
Skyler fez uma careta. Dimitri soou como sempre — fazia questão, de fato, de estar muito estável e calmo. Mas ela sentiu uma onda abaixo da superfície. Estava sempre atenta a ele. Ele se tornou seu mundo e sabia bastante o número de respirações que ele tomava, às vezes.
Ela abriu os dedos sobre sua barriga, sentindo a tensão nele, não sexual, como apenas momentos antes. Ela sentiu a humilhação e raiva. Não raiva. Fúria. Ela respirou fundo, inalando o cheiro dele, envolvendo-se nele por um momento enquanto considerava a melhor forma de ir em seu auxílio. Ela entendeu a maneira como Ivory tocava Razvan ou estava perto dele nos momentos de aflição. Ela queria aliviar qualquer encargo, mas não tinha certeza de como.
— Não quer que vejam essas cicatrizes? — Ela perguntou. Seria fácil o suficiente deslizar dentro de sua mente e ver por si mesma qual a batalha que o envolvia, mas como Dimitri fez antes com ela, queria que ele mesmo dissesse — confiando na sua companheira.
Ela adorava tocá-lo. Era tão simples. Cada deslizar de seus dedos ao longo daquelas terríveis queimaduras a fazia sentir-se mais perto dele. Ela tentou não ser intimista em seu toque, mas não podia deixar o sentimento possessivo que tinha quando seus dedos se moviam sobre seu corpo. Dimitri pertencia somente a ela, assim como seu corpo magnífico.
Cada vez que ela se via pele a pele com ele, as pernas entrelaçadas, a palma da mão algumas em concha sobre o seio dela enquanto dormiam, seu corpo reagia, voltando à vida, quando pensava que essa parte dela estaria sempre morta. Não sabia que podia querer um homem. Nunca sentiu a tensão crescendo nela, o choque elétrico que ia do peito para as coxas como dedos de desejo pulsando através dela, até Dimitri. Às vezes, apenas o cheiro dele desencadeava a reação de seu corpo.
Ela estava apavorada, e ainda assim também estava igualmente fascinada por ele. Quando ela colocou os dedos em torno de seu eixo grosso, sua primeira reação foi de pânico, mas Dimitri nunca forçou nada sobre ela, certamente não a intimidade. Sentia-se segura com ele, segura para fazer algumas das coisas que queria fazer — como explorar todo seu corpo. Não queria ser uma provocadora — sabia que era difícil para ele, que teve sorte por ele ter tal controle, mas tinha que saber como ela reagiria a ele.
O sentia tão suave, como veludo sobre aço. Tão quente. Seu corpo tinha se tornado líquido, igualando seu calor, uma necessidade urgente espiralando que queimava através de seu corpo como um incêndio. Ela se assustou com uma fome terrível que parecia vir do nada. Mas Dimitri a estabilizou. Sempre podia contar com ele.
— Não quero ter nada a ver com eles. — Dimitri admitiu. — Talvez eles não soubessem o que estava acontecendo. Talvez realmente não foram aqueles a me sentenciar a uma morte tão horrível, mas acredite em mim, Skyler, quando digo que planejei cada uma de suas mortes com muito cuidado enquanto estava pendurado em ganchos naquela árvore.
Ela sentiu o tremor passar por seu corpo sob a palma da sua mão. Não temor — definitivamente raiva. Ela se ajoelhou de novo e colocou os braços em volta do pescoço dele, unindo os dedos em sua nuca. Sabia que ele nunca se afastaria dela, nunca recuaria. Havia tanta liberdade nesse conhecimento. Ela queria o mesmo para ele. Queria dar-lhe esse presente.
— Dimitri, os membros do conselho Lycan não são nada para nós. Nada. Você sobreviveu a pior coisa que eles tinham. Eles não podem derrotá-lo. Estar na frente deles é um tapa na cara deles e seu horrível método medieval de tortura. Tal coisa deve ser abolida. — Ela se inclinou para trilhar suaves beijos de borboleta em seu rosto até chegar em sua boca.
Suas mãos subiram, deslizando por suas costas. Seus braços a apertando enquanto sua boca descia sobre a dela possessivamente. Ela sentiu a agressão em seu corpo e esperou o pânico familiar, mas seu beijo era muito sedutor, varrendo-a como uma avalanche de puros sentimentos, puro êxtase. Ela amava sua boca e a maneira como ele beijava. Estava aprendendo a responder, como dar-lhe as mesmas cambalhotas no estômago e enviar corridas de fogo em suas veias.
Ele se afastou apenas o suficiente para descansar a testa na dela.
— Não há palavras adequadas em qualquer idioma para dizer o quanto eu te amo, Skyler.
— Eu me sinto da mesma maneira. — Ela acariciou o cabelo dele, os dedos massageando o couro cabeludo. — Você não tem que ir, mas se fizer isso, quero estar lá também, ao seu lado.
— Eu vou. Está certa sobre minha presença ser um tapa na cara para eles. Mikhail sabe o que está fazendo. Ele tem a vantagem agora. Ele quer que proíbam a caça aos Guardiões, que reconheçam a diferença entre Sange rau e Hän ku pesäk kaikak. Asseguraram a ele que eu estava a salvo. Quando Mikhail me levar àquela sala, vai saber quais deles — se alguém — estão envolvidos neste plano para jogar Lycans e Cárpatos uns contra os outros.
— O que mais? O que mais está te incomodando?
Ele suspirou e endireitou-se, deixando cair os braços.
— Você é tão sintonizada comigo que às vezes é assustador, sívamet. Em questões de sua segurança, prefiro agir em vez de falar.
Skyler soltou uma gargalhada.
— Conheço bem essa sensação.
Ele pegou a mão dela, dando-lhe uma careta escura.
— Nada mais de jogar seu corpo na frente do meu para afastar as balas ou qualquer outra coisa.
Ela conseguiu parecer inocente.
— Não é o que você entende por ação, não palavras? Por que você está preocupado com minha segurança quando estamos aqui, cercados por Cárpatos?
— Porque você deixou atrás um rastro de sangue. — Disse ele. — Qualquer lobo que se preze poderia segui-lo facilmente.
— Isso é verdade. — Ela admitiu. — Acha que alguém vai nos seguir aqui? — Ela tentou não tremer, mas não porque estava preocupada com um Lycan a caçando. Ficar parada nua ao lado dele era muito mais difícil que deitados juntos ou sentados. Sentia-se vulnerável. — Me ensine a vestir roupas.
— Sim, acho que alguém vai nos seguir até aqui. Gosto de você nua. Tem certeza que tem que vestir roupa? — Houve uma pequena nota de dor em sua voz.
Risos borbulharam e ela encontrou-se relaxando novamente.
— Acho que eu poderia desfilar na frente de todos aquelas Lycans e Cárpatos como estou, mas pode haver um pouco de protesto chocado dos meus pais... ambos. E — ela acrescentou —, se vou ficar com o traseiro nu, você tem que ficar assim também.
Sua risada se juntou à dela, e estava feliz por ouvir como ele parecia despreocupado.
— Acho que está certa. Infelizmente. Gosto de olhar para você. E se eu andasse assim, assustaria as crianças.
Ela imediatamente colocou a mão em seu peito, passando a palma da mão para baixo até sua barriga lisa.
— Não faça isso, Dimitri. Não há nada de errado com a maneira como você parece. Nunca vi homem mais bonito. Estas queimaduras — ela traçou um longo elo com as pontas dos seus dedos — são os emblemas da sua coragem e da minha. Superamos probabilidades impossíveis.
Ele pegou a ponta dos dedos dela e os trouxe ao calor de sua boca, seus dentes raspando suavemente para trás e para frente.
— Você tem um jeito de me fazer sentir como um herói, csitri, um cavaleiro branco de séculos passados.
— Isso é o que você será sempre para mim, Dimitri. — disse Skyler. — É assim que sempre vi você, e nada mudou desde que nós estamos juntos.
Ele balançou a cabeça e beijou-lhe os dedos.
— Desde que a roupa é tão importante para você, vamos começar com sua primeira lição. Tudo começa em sua mente, construir a imagem de estar limpo e revigorado, como se acabasse de sair do banho.
Skyler estava habituada a usar sua mente. Já era mais do que capaz e, aparentemente, muito boa no que fazia. Ela ficou de pé na frente dele toda molhada. Pequenas gotas de água caíam ao seu redor.
Rindo, ela ficou sob as gotas quentes.
— Dimitri, está chovendo aqui, em sua casa de pedra grande e subterrânea. — Ela pegou-o pelo braço e puxou até que ele estava de pé debaixo do chuveiro também.
— Você tem a concepção. — Disse ele, a diversão envolvendo-o como melaço quente. Ela mudou seu mundo apenas por estar nele. Não conseguia entender como ela podia duvidar de si mesma. Ela trouxe alegria e felicidade. Ela o fazia sentir vivo. Ele adorava assistir tudo através de seus olhos. — Tente outra vez.
— Oh, você quer mais?
A nota de brincadeira de desafio deveria tê-lo avisado. O chuveiro aumentou, absorvendo-o em uma torrente, enquanto ela ficou quente e seca num pequeno casulo onde se envolveu.
Ele se encontrou realmente rindo, gargalhadas profundas, algo que nunca fez em sua vida. Brincar era uma experiência nova como adulto. A casa trouxe de volta memórias de sua infância, mas não havia nenhuma dessas travessuras até Skyler.
Ele a pegou em seus braços, embalando-a perto de seu peito por um momento antes de levantá-la direto sobre sua cabeça como se fosse seu próprio guarda-chuva pessoal. Seu pequeno casulo caiu em pedaços sob o ataque e sua alegria.
Skyler soltou um grito quando a água passou de morna para gélida frieza.
— Ok, ok, eu me rendo.
Instantaneamente, a água parou, e ele a colocou no chão. Skyler deu-lhe um olhar altivo e percorreu a mão pelo corpo dela, secando-se quase tão habilmente como qualquer um dos Cárpatos, com um ou dois séculos sobre eles poderiam fazer.
— Acho que sabe como fazer isso. — disse ele.
— Uma vez que você me disse o que fazer, percebi que era bastante fácil. São os detalhes que podem se misturar. Tem que prestar muita atenção ao mais ínfimo detalhe.
— Isso é certo. Depois de algumas vezes, isso vai se tornar uma segunda natureza para você. Vocês é tanto Caçadora de Dragão como maga...
— E me tornando sangue misturado como você. — Ela afirmou.
Ele balançou a cabeça, franzindo a testa um pouco.
— Eventualmente, sim. Sua mente já está totalmente preparada para usar as imagens para se vestir, mudando ou criando ilusões, como comer ou beber em torno de outros não Cárpatos.
Ela se inclinou para ele, roçando na carranca em seus lábios.
— Sangue misturado é simplesmente um realce, Dimitri. Estive em sua mente, curando seu corpo, e sei o que ele está fazendo com você.
— Mas não sabemos o que vai fazer para você ou nossos filhos quando tivermos. — Dimitri apontou. — Quero encontrar algumas respostas antes de você estar muito afundada.
Skyler fechou os olhos por um momento, escolhendo uma roupa confortável, desta vez, certificando-se de se lembrar de cada detalhe, do topo da cabeça aos pés.
— Já estou no fundo, meu amor. Pare de se preocupar com coisas que não tem controle. Uma companheira muito sábia me disse isso há vários anos.
Ela se virou num círculo, mostrando as calças jeans slims, botas e camisa de flanela macia. Seu cabelo estava numa trança complexa, pendurado pelas costas.
— O que acha? Pronta para enfrentar a caça pela minha própria comida? Mudar? Ficar em pé diante do conselho Lycan? Ver minha mãe e meu pai? Ficar de frente com o príncipe?
Ele tomou sua mão enquanto vestia suas próprias roupas, ficando tão casual quanto ela. Eles não precisavam ir perante o conselho Lycan com roupas formais. Seria condenado se fosse se vestir para eles. Evidentemente, sua companheira sentia da mesma maneira.
— Está linda, Skyler. Vamos caçar primeiro. — Ele sentiu o tremor e a puxou para perto, debaixo de seu ombro largo. Ele sabia que tomar sangue de um estranho seria difícil para ela. — Você sabe que não tem que fazer isso. Não estou completamente certo que ainda quero que faça. Acho que dar sangue e tomar o seu é... erótico.
O tom baixo e sensual a fez corar.
— Eu também. — Ela admitiu. — É muito sexy e o prazer é como nada que já experimentei. — Havia uma pergunta em seu tom.
— Não vai ser assim com os outros. — disse ele. — E se for, eu a proíbo de tomar o sangue de alguém.
Ela riu baixinho, mas Dimitri poderia dizer que ela sabia que ele estava falando sério.
Eles subiram para o porão da casa, flutuando juntos. Tinha o braço em torno da cintura dela, mas ela subiu com seu próprio poder e estava imensamente orgulhoso de sua concentração. Quando iam para o piso acima do porão, pararam.
— Pense em névoa. Do jeito que parece, a sensação e o cheiro dela. Cada componente. — Ele colocou a imagem em sua mente, e observou-a cuidadosamente quando ela examinou todos os aspectos dela. — Névoa é mais difícil do que um monte de outras formas, porque parece tão fácil, mas na verdade, tem uma configuração distinta. Névoa e nevoeiro são ambos gotas de água, nuvens ao longo do chão, por assim dizer. Nevoeiro é mais denso. Névoa viaja como via de regra junto ao solo. Lembre-se sempre que tem que se encaixar com seu entorno. Se precisar de neblina ou nevoeiro, tem que criar o ambiente para ele se já não estiver lá.
Skyler assentiu. Sentia a primeira mudança estranha em seu corpo, como se estivesse caindo aos pedaços, quebrando em pequenas moléculas. Ela imediatamente mergulhou na mente de Dimitri — sua rede de segurança — mas ela continuou, confiando que ele parasse se ela fizesse qualquer coisa errada.
Triunfante, ela se encontrou movendo através das rachaduras como aparentemente nada mais que pequenas gotas de água, névoa subindo do chão para o porão da casa.
Lembre-se de visualizar todos os detalhes de sua forma humana, incluindo as roupas que usava. Não pode deixar de fora qualquer coisa, por isso leve seu tempo. Estou aqui com você.
Ela sabia que Dimitri estava com ela. Era o único a acreditar nela, recuando para deixá-la fazer isso por conta própria. Amava-o ainda mais por compreender que precisava aprender e que queria fazer cada coisa por si mesma, se possível.
Seu coração batia forte. Ela podia sentir isso. Ela ouviu o rugido de seu sangue em seus ouvidos, como o som de um trovão ou uma grande cachoeira, mas não tinha corpo. Era estranho e emocionante. Não podia deixar a maravilha desviar seu foco. Precisava se colocar novamente junta sem perder nenhuma parte de si mesma.
Estava determinada a se aprofundar, invocando a memória de suas aulas de anatomia até que ela sentiu a risada de Dimitri.
Se eu tivesse minhas botas agora, eu te chutaria. O que estou fazendo de errado? Você disse completa.
Deveria saber que me entenderia literalmente. Seu corpo está lá esperando por você, inteiro e intacto. Coloque essa imagem em sua mente. Você vai vir inteira, prometo. Só quis dizer, não se esqueça do seu cabelo ou unhas.
Estava pensando em partes do corpo mais importantes, como ovários.
Sei que estava.
A risada de Dimitri se derramou em sua mente. Tudo nela respondeu à sua alegria. Estava se divertindo, e ele também. Ele não achou uma tarefa tediosa ensinar-lhe coisas que conhecia há séculos. Ele estava aproveitando os momentos, assim como ela.
Ela respirou fundo com os pulmões que não estavam lá e mudou. Ela encontrou-se em pé sobre o piso do porão com Dimitri olhando para ela como se ela fosse a coisa mais importante em todo o mundo. Ele a pegou e girou, deixando-a sem fôlego.
— Você é incrível, sívamet. Perfeitamente incrível. Tenho certeza que não terá nenhum problema em caçar.
Caça. Apenas a palavra já se imaginava sangue e morte. Skyler foi uma conservacionista e defensora da vida selvagem pela maior parte de sua vida. Não comia carne. Não acreditava em caça a menos que realmente se comesse o que matasse. O mesmo com a pesca. Matar por esporte era detestável para ela. Caçar soava tão... predatório.
Cárpatos e Lycans, no que diz respeito a esse assunto, são predadores, Dimitri informou-lhe.
Ele não lhe deu tempo para explorar a casa, algo que estava muito ansiosa para fazer. Ao invés disso, a levou rapidamente pela floresta para a extremidade da aldeia. Esperaram nas sombras, muito quietos, não se movendo ou falando, apenas absorvendo o ritmo da aldeia à noite.
Ela podia ouvir os passos, sentir a vibração pelas solas de suas botas — tinha se tornado tão sensível. Podia ouvir o murmúrio das conversas em várias casas e bares. Se realmente sintonizasse em qualquer um deles, podia ouvir exatamente o que diziam.
Agora a fome atingia os dois. Ela podia sentir a necessidade profunda pulsando em suas veias. O odor dos animais e dos humanos enchendo seus pulmões em todas as respirações que puxava. Sabia onde cada pessoa na rua estava em relação a ela. Seu corpo tinha uma quietude que nunca teve, e o coração dela batia em antecipação ao que estava por vir.
Havia uma espécie de excitação e júbilo em caçar que não antecipou. Realmente podia ouvir o fluxo e refluxo do sangue nas veias daqueles mais próximos a ela. Sem pensar, focou em uma batida particularmente forte. Um macho. Sabia quem era, já sintonizada nele sem pensar conscientemente, como se seu corpo soubesse exatamente o que fazer. Seus passos eram fixos. Ele não tinha bebido. Não queria sangue misturado com álcool.
O que está acontecendo comigo? Ela estendeu-se para Dimitri, ambos assustados e excitados com as mudanças dela.
Você é Cárpato. Você é a luz da minha escuridão, mas ainda é uma predadora. Não pode viver sem sustentar a si mesma. Você andará até ele, sorrirá, dirá oi, se empenhará numa pequena conversa com ele, enquanto sintoniza sua mente com a dele. Quando sentir o exato ritmo dele, você o tranquilizará, nublará a mente dele apenas tempo suficiente para tomar o que precisa dele.
Skyler franziu o cenho. Como todos fizeram comigo. Mas eu consenti. Tinha conhecimento.
Eles não podem saber. Não é seguro. Nossa espécie não passa de mitos e lendas.
Skyler sabia que ele estava certo. Cárpatos e até mesmo Lycans que integravam a sociedade humana, permaneciam em segredo. Havia sociedades humanas que caçavam “vampiros”, incapazes de distinguir entre Cárpatos e vampiros, então indiscriminadamente matavam todos, da mesma maneira que os Lycans faziam com o Sange rau e o Hän ku pesäk kaikak.
Ela respirou fundo. Concordando com isto, e uma parte enorme dela queria fazer isto sozinha, mas tomar sangue de uma pessoa desavisada a fazia se sentir como se estivesse fazendo do homem sua vítima, e isso não assentou bem nela.
Sabe que não tem que fazer isto.
Ela disparou um olhar repressor para Dimitri. Era difícil o suficiente forçar-se a se tornar uma predadora, e mais ainda lutar com o impulso de “cair fora” que ele lhe oferecia.
Uma vez que esteja absolutamente certa que o tem longe das vistas de qualquer pessoa, e escravizado sob seu controle completo, seu corpo saberá o que fazer. Tome apenas o que precisar para sobreviver e florescer. Não há necessidade de mais, embora o impulso esteja lá, apenas porque seu corpo almeja sangue. Use a disciplina. Se não puder parar, me alcance.
Ele estaria a monitorando não para assegurar que nada desse errado, mas queria dar-lhe a oportunidade para lidar com todos os aspectos por si mesma. As crianças aprendiam estas lições na infância. Ela foi humana e podia ser mais difícil.
Skyler umedeceu os lábios e correu sua língua por cima de seus já afiados dentes. Assentiu e se forçou a dar aquele primeiro passo das sombras. Uma vez que administrou isso, começou a passear em direção a sua presa.
Estava chocada com quão silenciosamente caminhava, como estava tão sintonizada com cada batida de coração, cada sussurro soando ao seu redor. O calor marcante, mudando sua visão, para que pudesse ver todas as artéria e veias, o coração do homem que abordava.
Skyler sinalizou um sorriso. A cabeça dele sacudiu e ele parou no caminho. Um grunhido baixo veio de fora da noite, chocando-a, chocando-o. Instintivamente aproximou-se protetoramente dela.
— Boa noite. — Ela saudou, virando a cabeça em direção ao som.
Dois olhos vermelhos olhavam fixamente por trás dela. Seu coração tropeçou por um momento. Dimitri, você disse que isto era necessário para eu aprender.
Não sabia como me sentiria.
Fique em minha mente assim você saberá como me sinto, não ele. As mulheres Cárpatos pareciam hipnotizar os homens muito facilmente. Ele não estava interessado à mínima, até que sorri para ele. Em todo caso, ele se sente protetor, não sensual.
Não engane a si mesma, e não o deixe tocá-la. Sou disciplinado, mas acho que talvez precise trabalhar o controle quando outros homens a desejarem.
Sua reação inesperada a ajudou a superar seus próprios nervos. Ela amava que Dimitri pudesse ter uma mínima debilidade. Era muito humano. As borboletas realmente voavam em seu estômago, asas tremulando contra seu abdômen. Seus seios formigaram e sentiu um calor subindo entre suas pernas, sinalizando sua necessidade de seu companheiro. Estava começando a se divertir com sua habilidade de querê-lo. Cada vez que isto acontecia, ela sentia mais esperança de que pudesse atender todas as necessidades dele.
Pare! Pare de pensar sobre sexo quando estiver abordando outro homem, e estiver prestes a morder o pescoço dele e tomar seu sangue.
A urgência na voz de Dimitri a deixou em curto. Ela tocou na mente dele e encontrou — caos — uma vermelha, quase ofuscante raiva que não tinha nada a ver com inimigos e tudo a ver com o pobre homem inocente que selecionou como seu primeiro objetivo.
Ela afastou-se dele imediatamente e ergueu a mão.
— Tenha uma boa noite.
— Espere. Não é seguro caminhar sozinha há esta hora. — O homem advertiu.
— Meu marido está esperando por mim. — Indicou exatamente à frente dela. — Obrigado por sua preocupação, entretanto. — Ela manteve a caminhada, movendo-se para as sombras, sabendo que Dimitri se movia para interceptá-la.
Ela andou direito para ele, fundindo sua mente mais profundamente com a dele. Fique calmo meu amor, isto não vai doer nem um pouquinho.
Ela deslizou os botões das casas, um por um, deliberadamente lenta e sensual. Quando a camisa dele estava aberta, correu as palmas das mãos pelo alto de sua barriga até seu peito.
Não há nada a temer. Você está seguro comigo.
Ela curvou a cabeça e seguiu o caminho de suas mãos com a língua, parando por um momento para circular seu umbigo e localizar os vincos de algumas das correntes, como se tivesse ficado um pouco distraída pelo corpo dele. Encontrou a batida tranquilizadora de seu coração e o ritmo de seu sangue, surgindo tão ardentemente nas veias dele, acenando-lhe.
Os dentes dela prolongaram. Deixou a necessidade subir — a fome terrível e, doce — até que a sensação a envolveu completamente. Ali estava mais do que apenas o desejo de se alimentar. Seu coração combinou com o dele, e ela arrastou beijos sobre a veia em seu peito, acima daqueles músculos pesados que sempre a intrigaram. Sua língua rodou e dançou, acariciando e então mordeu fundo, achando a veia infalivelmente.
Ele ofegou e jogou a cabeça atrás, uma mão apertando-a mais perto dele. Não havia nenhum horror no que estava fazendo, apenas uma urgência crescente que não tinha nada a ver com alimentar-se. Ela o queria com cada respiração que tomava — queria o corpo dele. Ela o queria dentro dela, possuindo-a, completando-a.
A essência dele era viciante e assim também era a sensação aumentando tão nitidamente, tão terrível e tão doce. Alimentar-se de Dimitri era completamente erótico. Ela queria enrolar seu corpo ao redor do dele, esfregar-se contra ele como um gato de rua. Queria as mãos dele em seus seios e os dedos dele pressionando dentro de seu corpo.
Você deve parar sívamet. Ele advertiu.
A voz dele veio de longe, mal dava para ouvir pelo rugir em seus ouvidos. Conseguiu obedecer, mas apenas porque era Dimitri que a comandava. Afastar-se deste erotismo foi bem difícil, mas forçou-se a se controlar, correndo a língua instintivamente sobre o pequeno ferimento no peito dele.
Ergueu a cabeça para olhá-lo, sabendo que seu desejo estava lá nos olhos dela. Ele deve ter sentido a maneira como seus mamilos cresceram, cutucando contra ele. Tinha que sentir o cheiro acolhedor de especiaria quente derramando entre suas pernas.
Ele emoldurou o rosto dela e curvou-se para beijar sua boca. Você tem certeza, csitri? Certeza absoluta?
Esta parece ser uma noite perfeita para ensinamentos. Temos esta noite para nós. Deixe todos esperando. Nunca pedimos nada para nós mesmos, temos direito a uma noite. Ela mal podia respirar pela necessidade. Ensine-me o que é fazer amor. Quero saber tudo.
Espere um momento. Dimitri disse. Eu me alimentarei rapidamente e retornaremos para nossa casa.
E uma cama. Eu quero uma cama.
Os olhos dele brilhavam na escuridão, movendo-se sobre ela possessivamente. Em vez de se assustar, ela se sentiu excitada. Se fosse completamente honesta consigo mesma, havia um pouco de receio, mas isto aumentava a excitação.
Você terá sua cama, avio päläfertiil.
Dimitri afastou-se dela. Era tão hábil que ela não pôde realmente afastar-se da imagem dele, quando alcançou o homem que marcou como sua primeira presa. Ela piscou. Dimitri estava sobre o homem em meio segundo, envolvendo a ambos na escuridão, curvando a cabeça dele para o pescoço do comerciante, mesmo enquanto os protegia de todos os olhares.
Ele voltou para ela quase que imediatamente, em silêncio completo. Pegou-a em seus braços e a levou pelo ar, de volta para a floresta, movendo-se rapidamente em direção à casa de pedra deles. Enquanto caminhavam por ela, a casa foi limpa, mas principalmente estava destituída de mobília. Ele removeu a umidade, o cheiro bolorento substituído por um frescor e um cheiro de limpeza, mas não teve tempo para fazer muito mais.
Agora se focava no quarto principal, que estava diretamente situado acima do porão. Havia numerosas maneiras de sair do quarto para a segurança sempre que houvesse necessidade. Ele colocou a cama no lugar com um colchão espesso e lençóis macios. Velas surgiram das prateleiras e nas arandelas, fornecendo iluminação suave.
Enquanto ele a levava pela casa para chegar ao quarto, ela olhou à sua volta, os olhos arregalados.
— Realmente precisamos trabalhar na decoração antes de convidar os vizinhos. — Ela disse.
— Não estava contando em convidar ninguém durante algum tempo. — Ele confidenciou, e chutou a porta do quarto. Levando-a para a cama. — Você tem certeza, Skyler? — Ele perguntou novamente. — Não tem que fazer isto por mim.
— Estou fazendo isto por nós dois. — Skyler disse. — Você já deveria me conhecer agora Dimitri. Estou pronta. Una-se comigo. Mostre-me o caminho que tenho certeza neste momento. Soube quando tomei seu sangue que este era o momento para nós, e não quero esperar. Não quero olhar atrás e perceber que perdemos nosso momento perfeito.
Skyler lançou seus braços ao redor do pescoço dele e se esticou para beijá-lo. Não apenas o beijou, o devorou, determinada a mostrar suas exigências. Amou a boca dele. Amou o modo como ele despejou sua paixão nela e ela pegou fogo.
Ele a abaixou na cama e ela pegou a camisa aberta dele em ambas as mãos e o puxou na direção dela.
— Antes de fazer qualquer outra coisa — ela sussurrou —, há algo que preciso fazer, mas não tive coragem. Deite-se para mim e remova suas roupas.
Dimitri fez como ela instruiu, seus olhos tão intensamente azuis que pareciam pedras preciosas. Ele não desviou seu olhar dela.
— Vou remover suas roupas também. — Ele disse a ela. Sua voz era baixa e rouca, a necessidade começando a dirigi-lo. — O que quer que esteja para fazer comigo, pode fazer isto nua. Posso precisar de uma distração.
— Você é tão chorão às vezes. — Ela provocou.
Skyler esperou até Dimitri se acomodar na cama. Ele era um homem grande e tomava muito espaço, quase o colchão inteiro. Estudou o corpo dele por um longo momento. Seus músculos eram extremamente definidos, enredados e fluidos. Seu peito era profundo, sua cintura estreita e a barriga lisa. Já sua ereção estava pesada e cheia, longa e espessa, com desejo por ela. Suas pernas longas eram muito musculosas.
Do pescoço aos tornozelos dele, os laços das correntes prateadas tinham queimado seu corpo. Estavam completamente ao seu redor, na frente e atrás. Ela tinha, sobretudo, tentado diminuir o choque das cicatrizes em sua testa e pescoço, mas queria tentar algo completamente diferente.
Lentamente ela jogou uma perna por cima dos quadris dele e se escarranchou nele, colocando o calor entre suas pernas diretamente sobre a ereção dele. Ele ofegou, mas não se moveu, permitindo-lhe continuar.
— Pensei sobre isto nas últimas cinco noites. — Ela suavemente confidenciou. — Sou Cárpato, uma Caçadora de Dragão e filha da Mãe Terra. Sou filha de Razvan, o mago está em meu sangue. Aprendi com Francesca, uma de nossas maiores curandeiras. Não deixarei a prata me derrotar. O que é isto? Um metal da terra. As propriedades que queimaram você podem ser desfeitas.
Dimitri abriu a boca, pensando em protestar, querendo completar a cerimônia de companheiros, mas ela se debruçou sobre ele, o suave calor molhado dela friccionando sobre seu pau, roubando-lhe a respiração, a habilidade de pensar, deixando-o sem fala.
A língua dela lambeu as correntes queimadas em cima de seu peito com a saliva curativa dela. Ouviu o canto dela em sua mente, uma suave litania de palavras evocando as minúsculas partículas da prata embutidas nas queimaduras a saírem e levarem com elas os danos que causaram.
Sou Skyler, filha dos Caçadores de Dragão.
Tataraneta do grande mago.
Sou Skyler, filha da Mãe Terra.
Clamo por ti prata, vamos tirá-lo desta gaiola.
A voz dela soava com poder, inchando com força, não volume. Ela se tornou dominante, uma verdadeira filha tanto de Caçadores de Dragão como de mago, como também uma filha da terra. Dimitri maravilhou-se com o porte e a confiança dela, mesmo enquanto tentava ficar imóvel sob seus cuidados.
Você é prata, meu lindo irmão.
Mas sua beleza foi manchada por outro.
Você foi enganado, foi desencaminhado,
Estou clamando por você, pleiteando, ajude-me a lutar com isto.
O canto estava na mente dela. Sua boca movendo-se sobre sua pele, lambendo suavemente, completamente, os dedos dela rastreando a frente de sua língua. Isto era além de sensual, além de qualquer coisa que jamais imaginou. Skyler se concentrava em curá-lo, mas seu corpo se movia em cima dele com tanta intimidade, que cada toque dela misturava-se com a paixão e seu amor por ele.
Adoração, ela murmurou e golpeou com a língua mais abaixo.
Seu pau empurrou, quando ela afastou dele aquela parte mais íntima, escarranchada em suas coxas. Os seios dela pressionaram sua virilha. Podia sentir os montículos suaves e os mamilos duros apertando em seu centro para que sua ereção pesada se aconchegasse no calor entre eles.
Adorei você quase desde o momento que nos encontramos. Você entrou em minha vida e não houve nenhum outro para encher aqueles escuros lugares vazios. Apenas você, ela sussurrou na mente dele.
A língua dela continuava a correr por suas queimaduras, seguindo as correntes mais abaixo e mais abaixo com aquelas suaves lambidas aveludadas, golpeando até que seu coração quase parou de bater com antecipação.
Evoco por meu irmão prateado, liberte-se,
Livre-se desta alma santificada.
Leve adiante com você o dano na pele e no osso,
Meu irmão, ajude-me, não posso curá-lo sozinha.
Desejo e amor entrelaçaram-se até não haver mais nada os separando. Ela usou sua devoção por Dimitri, assim como sua crescente ânsia pelo corpo dele, para acorrentar a prata nele, tirando as minúsculas partículas, clamando para ela o pior das queimaduras aderindo ao metal.
Sua boca se moveu mais abaixo, e um gemido escapou dele, quando a língua dela lambeu os elos das corentes através de seu eixo. A língua o banhou com um calor reconfortante, seus lábios roçando beijos sobre ele, entre aquelas suaves caricias.
Seus pulmões queimavam por ar, mas ela não parou, movendo-se mais abaixo, pelas marcas das correntes ao redor de seus quadris e coxas. Estava matando-o com sua cura, um lento e deliberado assalto aos seus sentidos.
Sabia que queria curar suas cicatrizes, aliviar aquela tensão de seu corpo que se recusava a ir embora, mas ela podia explorar, podia saboreá-lo, conhecer o corpo dele intimamente, reivindicar cada centímetro quadrado dele para si própria, se perdendo nas sensações que subiam entre eles — e não se sentir ameaçada. Estava em seu elemento curando-o. Ela estava no controle.
Dimitri sabia que ela estava fazendo seu caminho até ele do único modo que conhecia, e para ele, a determinação dela não era apenas bonita, mas sensual além da descrição. Movia-se sobre ele com cuidado, cada toque amoroso. Sentiu o amor entrelaçar com os poderes dela para remover as rígidas cicatrizes e tirar as partículas minúsculas de prata deixadas atrás na pele e no osso.
A boca se movia em cima dele numa espécie de adoração que o deixou louco de desejo, e trêmulo de um amor tão terrível por ela que sentiu as lágrimas queimando em seus olhos.
Venha para mim prata, ofereço minha pele,
Leve todas as cicatrizes para longe dele.
Junte-se a mim irmão e expulse a dor dele,
De forma que apenas meu guerreiro, meu amado, permanece.
Para absoluto choque dele, as correntes ao seu redor se soltaram notoriamente. Não percebeu que empurrou a dor para o fundo de sua mente, aceitando que estaria lá por toda eternidade. Devia saber que ela encontraria isto lá quando se fundisse a ele. Era impossível esconder qualquer coisa dela. A dor aliviou e então lentamente desapareceu, deixando-o deitado sob ela, livre de toda a prata, as correntes apenas débeis memórias em seu corpo.
Skyler se sentou lentamente, e de imediatamente ele pôde ver as queimaduras cobrindo a pele dela como uma armadura. O coração dele estremeceu, as mãos dele se erguendo para agarrar os braços dela.
— O que fez?
Ela encolheu os ombros, e o casaco oscilou para o chão e se desintegrou.
— Eu o amei da melhor maneira que conheço. — Ela sorriu para ele e roçou a mão no estômago plano dele.
Ele a rolou.
— Então é minha vez, não é?
Skyler deitou-se se espreguiçando debaixo dele, mas ele foi muito cuidadoso para não prendê-la, ou fazê-la se sentir presa. Enjaulou-a com seus braços, mas certificou-se que tivesse liberdade de movimentos. Ela não vacilou, mas o olhou, o amor nos olhos dela causando estragos em seu coração.
— Tenho grandes expectativas, meu amor. — Ela sussurrou suavemente, traçando os lábios dele com a ponta do dedo.
Um sorriso curvou lentamente a boca dele. A diversão rastejou em seus olhos azuis glaciais.
— Farei o possível para não desapontá-la.
Ele curvou a cabeça para firmar a boca na dela. Provando-a. Saboreando-a. Amando-a. Ela era um milagre de calor e fogo despejando dentro dele, limpando-o até que se sentiu novo. Ele saboreou sua paixão e soube que estava viciado por toda vida.
Beijou o caminho da boca dela até o queixo, e então abaixo pela garganta. Ele esfregou um dedo pelo seio dela e sentiu sua resposta imediata, um calafrio de prazer. Os quadris dela se moveram sutilmente, uma chamada e uma necessidade.
Ele segurou o seio dela, seu dedo polegar correndo por seu mamilo, roçando suavemente a princípio, em seguida puxando de leve e rodando, o tempo todo observando a reação dela. Ela estremeceu novamente, não se afastando, mas sim se pressionando na mão dele. Seus seios eram definitivamente sensíveis. Cada toque enviava uma pequena corrida de fogo líquido umedecendo entre suas pernas.
— Você percebe que tem uma fixação. — Ela gracejou, a voz dela rouca e um pouco desigual.
— Uma obsessão. — Ele corrigiu e abaixou a boca.
Enquanto chupava, nivelou a língua, golpeando e provocando, até usando as pontas dos dentes. Seus dedos puxando e rolando o mamilo de seu outro seio. Foi muito cuidadoso para não deixar seu próprio desejo sair do controle. No primeiro momento em que a viu — a tocou — inalou — estava perdido e soube disso.
Ele a quis para si a cada passo do caminho, a paixão dela crescendo até combinar com a dele — até que ela se encontrasse naquela euforia de pura sensação e se deixasse ir completamente. Skyler precisava estar confortável com ele e confiar nele. Não importa o quão excitada estivesse, haveria momentos em que entraria em pânico, e ela tinha que saber que ele era capaz de ouvir, até mesmo perceber aqueles momentos antes dela e parar imediatamente se necessário.
Ele ergueu a cabeça da doce tentação de suas curvas e a beijou novamente, longa e lentamente. O mundo deles era sobre amor e queria envolvê-la nisto. Tinha suficiente amor por ela para mantê-la pela eternidade e queria que sentisse isto sempre.
Abaixou a cabeça novamente para a doce curva de seus seios, lambendo sobre a pulsação tentadora exatamente ao longo do inchaço que conduzia para o vale, usando a extremidade de seus dentes, deixando-a sentir a sensação. O coração dela acelerou. Seus quadris moveram-se novamente, a urgência começando a crescer nela. Ele mordeu fundo. Ela ofegou. Curvou-se. A mordida dolorida estourou por ela. Fundido como estava com ela, sentiu aquela erótica expansão da mordida como uma tempestade através do corpo dela.
Os braços dela se ergueram para circular a cabeça dele, os dedos enroscando em seu cabelo. Choramingou quando ele começou a sugar o sangue da vida do corpo dela, fundindo-os mais, as mãos dele mais uma vez em seus seios. Ela era dele, este corpo bonito, suave e morno e tão responsivo. Assim que ela restaurou sua mente, deu-se livremente, pondo se nas mãos dele, confiando nele. A confiança dela o humilhou.
Ergueu a cabeça, observando as gêmeas gotas rubi começarem a fluir sobre o declive dos seios dela. Ele as perseguiu, sugando para sua boca e então fechou aqueles pequenos ferimentos. Deixou sua marca nela, e isto o agradou.
Beijou seu caminho pelo estômago plano, lentamente, traçando cada costela com a língua, as mãos explorando e modelando. A respiração dela saía em pequenos suspiros e fazia um som suave que soou como o nome dele, um cântico que mal ouviu, mas, no entanto música. Sua língua mergulhou no umbigo dela e suas mãos deslizaram mais abaixo para agarrar a bunda dela.
As mãos de Skyler foram para os cabelos dele, apertando lá. Seu corpo se contorcendo sob o dele agora. Sua pele estava quente, ardente.
— Dimitri? — A voz dela tremeu, e em sua mente podia sentir o deslizar do medo. Mas desta vez, não tinha medo de sua própria reação, ou de que ele pudesse machucá-la; o prazer a engolfava, ameaçando seu controle e não esperava por isto.
— Tenho você. Apenas deixe-se sentir. Está segura comigo.
Os olhos dela encontraram os deles, procurando. Ele a olhou com firmeza, deixando-a ver que estaria sempre lá para pegá-la. Ela deixou escapar o fôlego e assentiu, deitando-se novamente, mas seus punhos permaneceram nos cabelos dele como se ancorando lá.
Ele beijou seu umbigo e continuou a explorando vagarosamente, correndo sua língua junto ao quadril dela, em seguida acima do dragão, a marca dos Caçadores de Dragão, muito parecida com uma tatuagem, bem fraca, exatamente acima de seu ovário. Ele passou um tempo lá, lambendo, traçando, acariciando-a repetidas vezes. Sua mão foi para a coxa dela, separando suas pernas, deixando-a sentir o ar fresco em sua entrada quente e molhada.
Tão quente. Ele foi atraído para lá, sua boca se movendo mais abaixo até que conseguiu pegar as gotas de néctar. O gosto dela era viciante e achou que não poderia parar. Ergueu os quadris dela até sua boca, pressionando profundamente, sua língua empurrando para dentro daquela pequena flor apertada, tirando tanto líquido quanto podia. Ela ofegou e clamou, debatendo-se novamente.
Dimitri ergueu a cabeça para olhar para ela. Sabia que seus olhos ardiam com o calor de um predador. Não havia como esconder o que era dela, mas estava segura com ele.
— Permita-me. — Ele disse suavemente. — Entregue-se para mim. Toda você. Você me pertence, csitri, sabe que me pertence. Deixe-me tê-la.
Ela assentiu, mas parecia assustada.
— Isto é demais. A sensação. Como se pudesse voar para além e nunca mais ser eu mesma novamente.
Deliberadamente, observando os olhos dela, roçou a língua pelas dobras suaves, circulado seu broto mais sensível e então apunhalou fundo novamente. Tremores assolaram o corpo dela, mas o olhar dela não hesitou. Ele viu o medo, mas viu confiança. Seu coração saltou e seu pau empurrou. Já estava preso entre a intensidade do amor e a necessidade urgente pelo corpo dela. O dois estavam tecidos com firmeza juntos, nada poderia separá-los.
Ele começou a devorá-la, levando-a até aquele alto penhasco e parando pouco antes dela tombar. Mais e mais. Precisava ouvir os suaves gritinhos dela. Queria sentir os dedos dela agarrando seu cabelo, ou suas unhas cavando os ombros dele. Os gritos dela eram música para ele, uma sinfonia de desejo, as notas tão doces que estava perto de viciar naquilo, como estava com o gosto dela.
Skyler colocou um punho na boca quando a necessidade ardente lambeu sobre a pele dela. Esperava dor e degradação, não a adoração dele em seu corpo, como tinha pelo dele. Sua respiração vinha em ofegos fortes, e não conseguia parar de se retorcer, não importa o quanto tentasse. Sentiu como se a paixão e o amor de Dimitri estivessem destruindo-a, derrubando o medo e a vergonha, e forjando-a em uma mulher forte e sensual.
Se ouviu cantando o nome dele e não conseguiu parar. Ele era seu talismã, sua âncora, sua força. Ele lambeu o néctar quente derramando de seu corpo, a língua dele lambendo e apunhalando fundo, movendo-se em tortuosos círculos lentos, deixando-a enlouquecida enquanto a tensão se formava e crescia, a estirando num acúmulo de prazer.
Sua cabeça golpeava de um lado a outro. Os tremores corriam por suas coxas. Seus seios queimavam e doíam por ele. Bem no fundo, espiralava mais e mais apertada, desesperada para gozar. Ela choramingou. Soluçou. Implorando. Precisava dele dentro dela para saciar a fome abrangente. Sentia como se estivesse subindo, fora de controle. Estava patinando à beira do pânico, apenas sua confiança nele a impedindo de lutar. Tinha medo de se queimar totalmente de dentro para fora, fragmentando em pedaços minúsculos, ou enlouquecendo de puro prazer.
Ele ergueu a cabeça enquanto ela choramingava, seus quadris resistindo, como se implorasse por ele. Ajoelhou-se lentamente entre suas coxas. Ele parecia... intimidante. Era um homem grande e o pensamento dele encaixando-se dentro dela a estava amedrontando, mas estava muito longe para se importar. Necessitava dele. Desesperadamente. Ela o queria. Mais do que qualquer coisa queria ser completamente dele.
Você é meu.
Os olhos dela encontraram os dele. Os dele estavam quase que totalmente lobo, o brilho predatório, o olhar focado que deveria apavorá-la, mas a manteve firme e sã. Ela se apavorava de si mesma, nunca de Dimitri. Não importa o que o rosto dele mostrasse, ele era dela. Umedeceu os lábios, o coração disparado.
As mãos dele eram grandes enquanto percorriam suas coxas, e então lentamente de volta na direção de seu centro aquecido. A cabeça de seu pau alojando em sua entrada, pressionando ardentemente nela. Seu coração batia tão alto que temia que explodisse de seu peito.
— Escolho manter seu corpo. — A voz dele estava áspera com a tensão.
Sua expressão era o próprio pecado, tão sensual que o corpo dela inundou com um calor mais acolhedor. Ele avançou para dentro dela, estirando-a incrivelmente. O olhar dela saltou para a junção onde seus corpos se encontravam. O corpo dela lutava contra a invasão, relutantemente cedendo lugar para o dele, estrangulando sua seta espessa, enquanto esta se movia mais fundo dentro dela.
Ele estava em todos os lugares, cercando-a. Em sua mente. Seu coração. Sua alma. E agora, finalmente estava em seu corpo, tonando-os verdadeiramente um. Outro soluço escapou. As lágrimas escorrendo por seu rosto. Ele estava em sua mente, então sabia que o queria exatamente assim. Era tudo tão perfeito, muito opressivo e muito bom.
— Respire. — Ele ordenou bruscamente. — Relaxe para mim.
Ela estava acostumada a fazer o ele dizia e fez as duas coisas. Ele entrou fundo, se enterrando até o talo, tão fundo que pensou que poderia ter entrado até seu estômago. Ouviu seu próprio grito quando seus músculos internos o apertaram quase ao ponto do estrangulamento. A mordida de dor quando ele a estirou apenas aumentou o prazer erótico que pulsava por seu corpo, entrando em ondas agora, das coxas até os seios.
Dimitri cobriu o corpo dela com o seu, apoiando os braços na altura de seus ombros. Seus quadris começaram a assumir um ritmo rápido e duro, que mantinha a respiração rasgando por seus pulmões em chamas. Movia-se nela com fortes golpes profundos que a levaram mais e mais alto, sempre acima na direção daquele precipício impossível. O ritmo estava furioso, o corpo dele um pistão, movendo-se mais duro e mais fundo, repetidas vezes, de forma que choques de prazer a percorriam.
Dimitri era incansável, seus quadris entrando nela novamente, sua fome quase insaciável. Sentia como se chamas o lambessem em cada parte de seu corpo. Seu pau parecia como se estivesse preso firmemente num punho de seda ardente e vivo. Estava se afogando nela. Queria que isto nunca acabasse. Sabia que estavam designados um ao outro, mas o corpo dela era primoroso, feito para ele, o ajuste perfeito.
Ela era pequena e macia, sua pele derretia debaixo dele. Sua respiração áspera e cânticos sussurrados intermeados por soluços e pleiteando, apenas se adicionaram ao puro prazer correndo em suas veias. Ela o transformou para sempre. Ela o mudou, levou-o para lugares que nunca pensou que pudesse ir.
A fome era um monstro que arranhava e se alastrava. Esteve com ele desde que pôs os olhos em sua companheira, ouviu-a falar e soube que era a única. Isto rasgava por ele a cada elevação, mesmo em seu momento mais selvagem, o amor suavizava seu toque. Mantinha sua mente na dela, querendo o prazer dela acima de tudo mais, acima do seu próprio.
Ela se entregou a ele de corpo e alma, colocando sua confiança absoluta nele, um presente inestimável que guardaria acima de tudo. O corpo dela estava corado, seus olhos vítreos, seus quadris resistindo sob os ataques dele, mas a cada ondulação de seus quadris, a cada ofego que ela puxava, havia prazer atravessando por ela — e por ele.
Ele estabeleceu um ritmo selvagem, e ela o seguiu. Sabia que iria. Sentiu a paixão elevando-se nela, e não importa o quão frágil fosse, tinha um núcleo de aço sólido. Estava determinada a igualar-se a ele. O controle dele deslizou ainda mais.
Diga-me que quer isto, sívamet. Diga-me que posso me perder em você.
Seu amor por ela era feroz, consumindo a ambos, e a disciplina dele estava rapidamente dissolvendo-se diante da urgência de sua necessidade.
Sempre, meu amor. Qualquer coisa.
Ele fechou os olhos brevemente por um momento, escutando a voz dela. Não havia nenhuma vacilação, mas havia aquela pequena ponta de ansiedade. Não tinha medo dele, apenas do prazer ascendendo, rolando por ela em ondas agora e a comoção da tensão em seu corpo, implorando para gozar. Queria dizer o que disse, entregando-se generosamente, querendo — não — necessitando ser o que ele precisava.
Ele penetrou fundo, permitindo que o fogo despejasse nele para levá-lo a outro lugar. A respiração silvou dele quando recuou e mergulhou fundo. Com cada golpe furioso, o corpo dela cercava o dele, apertado e quente, acariciando e apertando. Seus gemidos estrangulados e o ofegante cântico aumentou seu prazer, e o encheu com os mais protetores dos instintos.
A cabeça balançava de um lado para outro, seu corpo esvaziado, seus seios balançando tentadoramente enquanto os quadris subiam para encontrar os dele. Estava linda, com seus olhos ligeiramente vítreos e o choque em seu rosto. Os pequenos sons que fazia ressoavam diretamente em seu pau, adicionados ao fogo que apenas parecia crescer cada vez mais quente.
Ele estava perto, o poder em seu corpo enrolando mais e mais apertado, pronto para gozar, mas recusou-se a permitir que o prazer terminasse. Juntou os quadris dela firmemente, mantendo-a imóvel, empurrando ambos em outro reino onde o prazer primoroso patinava perto da dor.
Skyler podia sentir a espessura e comprimento dele conduzindo dentro dela, estirando-a, forçando seu corpo apertado a permitir a invasão dele. Estava tão quente e escorregadia, cercando-o com fogo. A tensão erótica tão apertado nela recusando-se a gozar, recusando-se a dar-lhe tempo para recuperar o fôlego.
Skyler sentiu seu corpo derretendo ao redor do dele, e ela gritou o nome dele, agarrando seus ombros enquanto a tensão enrolava tão apertada nas extremidades da mente, que começou a se confundir, ficar escuro. Era demais para ela, tão perfeitamente belo e tão terrivelmente assustador. Estava se perdendo nele, no prazer, na reunião de seus corpos num frenesi de calor e fogo.
— Fique comigo, sívamet. — Ele sussurrou asperamente, sua boca movendo-se sobre seu pescoço, os dentes beliscando e raspando. — Voe comigo.
Como sempre, apenas o som da voz dele a acalmou, e ela se soltou, sabendo que ele a pegaria, que a manteria segura. Seu corpo agarrou o dele com tanta força que ouviu seu rugido de liberação, e sentiu os jatos quentes de sêmen a enchendo. Onda após onda balançou seu corpo, mas os braços dele estavam ao redor dela, segurando-a firme. Ela sentiu as ondulações em seu estômago, abaixo nas coxas dela, até seus seios. Um trovão rugia em seus ouvidos. O corpo dela prendia-se com força, como um torno ao redor dele, enquanto onda após onda de prazer a rasgava.
Skyler enterrou o rosto no ombro dele tentando recuperar o fôlego, tremores balançando-a quase tão forte quanto o orgasmo que a levou. Ele os rolou para que ficassem de lado, ainda presos juntos. Ela podia sentir sua luta por cada respiração. Uma fina camada de suor umedecia o corpo dele. Até seus longos cabelos estavam úmidos.
Ela acariciou o ombro dele, pressionando beijos ao longo da clavícula dele. Estavam enredados das pernas até as coxas, e não queria desenredar. Ele pulsava e pulsava dentro dela. Quando conseguiu se mover, foi em direção ao seu seio, e ela mudou de posição ligeiramente para dar-lhe melhor acesso. O movimento causou outra onda traiçoeira explodindo pelo corpo dela.
Ele lambeu seu mamilo e então o pegou suavemente entre os dentes, puxando e sugando fortemente, trazendo-a completamente para o calor de sua boca. O braço dele veio em torno dela, a mão deslizando por suas costas até sua bunda. Nunca tinha percebido o quão sensíveis os nervos eram lá. Cada toque dele enviando outro espasmo de prazer por seu núcleo.
Ficaram deitados em silêncio, enquanto seus corações abrandavam e seus corpos esfriavam — um pouco. Ela tinha que admitir para si mesma que amava as mãos e a boca dele nela.
Quando ele finalmente ergueu a cabeça para olhar para ela, o corpo dele lenta e relutantemente deixou o dela, e ela teve o desejo de pará-lo. Os olhos dele estavam tão azuis, tão brilhantes, e olhava para ela com tanto amor que quis chorar. Ele era um verdadeiro milagre, não importa o que pensasse, e estava determinada a fazê-lo feliz, sendo sua companheira.
— Csitri, duvido que possa te mostrar seu verdadeiro valor. — Disse a ela suavemente. — Você não entende o que significa para mim.
Não havia nenhuma palavra para explicar o milagre que era ele. Deu a ela o presente de fazer amor, algo que estava absolutamente certa de que nunca faria em sua vida. E mais, que poderia deitar-se próximo a ele, completamente nua e vulnerável, e sentir-se como se fosse a mulher mais segura do mundo. Queria ficar nua ao lado dele. Queria que a tocasse sempre que necessitasse — ou simplesmente desejasse. Adorava acariciar seus dedos por seu eixo, apenas para senti-lo estremecer ao toque dela. Quem teria imaginado que teria um homem como Dimitri a amando?
— Entenderei o quanto significo para você algum dia, provavelmente muito tempo daqui para frente. — Ela disse. — Mas isto realmente não importa neste exato momento. Tudo que importa para mim é que me deu este presente incrível. Eu o amo ainda mais por isto.
— Os membros do conselho estão lá dentro. — Fen os saudou. — Esperando. — Ele alfinetou seu irmão com um olhar avaliador.
— Eles estiveram esperando nas últimas seis noites. — Zev acrescentou. — pensamos que com certeza você estaria aqui ontem à noite.
Skyler corou e olhou apressadamente para o rosto impassível de Dimitri. Claramente, ele não estava nem aí que manteve o conselho esperando. Eles não deixaram a cama na noite anterior. Dimitri a ensinou todos os tipos de coisas intrigantes que ela estaria muito melhor fazendo do que ficar de pé diante do conselho Lycan com o príncipe assistindo.
Ela se certificou que Dimitri parecesse exatamente como estava antes dela curá-lo na noite passada. Queria que os Lycans vissem a evidência de suas torturas medievais. Deslizou sua mão na de Dimitri para confortá-lo. Ela não queria ver especialmente nenhuma destas pessoas.
No mesmo instante ela teve sua completa atenção. O que é, csitri?
Uma palavra dela e dariam meia volta e iriam embora. Dimitri não ligava para o que os outros pensavam dele. Nunca ligou. Era um homem que seguia seu próprio caminho. Era tentador usar aquele poder que ela sabia que tinha, mas era errado. Esta reunião era importante. Ela respirou fundo e soltou o ar.
Estou somente me preparando para encontrar o príncipe novamente. Bem, porque ela não mentiria para ele, vendo estes Lycans.
Zev é Lycan e ele é um bom homem.
Ela deu uma fungadinha indelicada cheia de desdém. Talvez seja, mas ele não te salvou quando devia ter feito.
O divertimento do Dimitri encheu sua mente. Por que, Skyler Rose, você carrega rancor.
É verdade. Ela olhou fixamente para a árvore mais próxima ao caçador de elite.
Acima da cabeça dele, uma colmeia balançou e abelhas foram se despejando ali de dentro.
Eu acredito em vingança, ela acrescentou complacentemente.
Fen lançou suas mãos para o ar, construindo uma proteção rapidamente para impedir que todos fossem picados pelas abelhas furiosas. Ele levou uns instantes para notar que nenhuma uma única abelha chegou perto de algum deles, exceto de Zev. Ele olhou para seu irmão.
— Eu não fiz isto. — Dimitri proclamou.
Skyler fez sua cara mais inocente.
— A natureza é tão imprevisível.
— Não, é? — Fen disse ironicamente. — É seguro deixar você entrar?
Skyler deu de ombros, nem um pouco arrependida.
— Só se os que estão ali dentro não emitiram uma ordem de morte ao meu companheiro.
Zev soltou uma gargalhada.
— Senhor, Dimitri, você tem as mãos cheias.
Dimitri apertou seus dedos ao redor dos de Skyler, trazendo a mão dela ao seu tórax, bem acima de seu coração.
— Estou bem ciente disso. Ela é Caçadora de Dragão. Eu não esperaria nada menos.
— Tem parentesco com Tatijana e Branislava? — Zev perguntou, interesse rastejando em seu tom.
Fen gemeu.
— Desista, Zev. Sério, você é como um lobo com um osso.
— Eu só perguntei se ela é parente. — Zev assinalou. — E se você continuar, nós vamos cruzar espadas.
Fen riu.
— Eu não vou puxar minha espada perto de você. Nós podíamos usar raios.
A sobrancelha do Zev disparou para cima.
— Não dominei isso ainda, mas posso pedir a Skyler lições em apicultura.
— Eu ainda estou com raiva de você. — Skyler disse. — Então qualquer feitiço que eu te der pode sair pela culatra.
— Bem, pelo menos você me avisou. — disse Zev. — Entendo por que você está com raiva de mim. Eu estou com raiva de mim neste exato momento. Não entendo completamente ainda o que está acontecendo com meu povo. Nenhum de nós entende. Os membros do conselho juram que não emitiram a ordem para Moarta de argint, na verdade afirmam justamente o contrário — que era para Dimitri ser mantido seguro o tempo todo.
— Por que você não estava com ele? — Skyler perguntou. — Se você é a pessoa de confiança do conselho, por que eles não o colocaram guardando um prisioneiro tão importante?
— Fui levado pelas costas dele. — Dimitri explicou, sua voz gentil. — Fen e eu estávamos lutando com o Sange rau. Zev e seus caçadores estavam com o príncipe, lutando contra o bando de renegados. Os dois homens que me agarraram eram do bando de Zev, mas estavam com aqueles protegendo Mikhail.
— Dimitri e eu saímos sozinhos sem deixar Zev saber o que estávamos fazendo. — Fen esclareceu. — Na época ele não estava ciente que nós dois éramos de sangue misturado, e queríamos manter isto assim por razões óbvias.
— Fen também descobriu que éramos a melhor chance de derrotar o Sange rau. — Dimitri acrescentou. — Com nosso sangue misturado éramos ambos mais rápidos e melhores equipados para lidar com um. Fen tinha mais experiência do que qualquer outra pessoa.
— Como é que aqueles dois caçadores acabaram no mesmo lugar? — Skyler perguntou. — Se ninguém sabia o que você era, como eles souberam? Coincidência?
— Não acredito em coincidência. — Zev disse.
Pela primeira vez, sua voz fez Skyler tremer. O olhar dela saltou para seu rosto. Ele era um homem que viu muitas batalhas. Ela podia ver o perigo estampado nele, o predador perto da superfície, mas também experimentara sua bondade.
— Nem eu. — Dimitri concordou. — Se tivesse tempo, eu saberia que algo estava errado, mas tudo aconteceu tão rápido. Fen estava em apuros e os dois caçadores também. Não parei para pensar, só reagi. Se eu tivesse me feito essa pergunta de como eles nos acharam, não seria derrubado com um golpe na cabeça e feito prisioneiro.
Fen ergueu uma sobrancelha.
— E então sua dama não teria vindo correndo para tirar seu traseiro dos problemas.
Dimitri pressionou sua mão mais forte ainda contra seu coração. Você vale cada elo daquelas correntes de prata queimando em minha carne noite e dia, ele sussurrou em sua mente, falando sério.
Skyler deu um passo mais perto dele, deslizando embaixo de seu ombro. Você está um pouco louco pensando assim, devo pedir ao curandeiro para dar uma olhada em você.
Ela não podia evitar a pequena chama de excitação ao seu elogio. Ele tinha um jeito de sempre fazê-la se sentir especial.
— Gabriel e Francesca estão lá dentro? — Ela perguntou em voz alta.
— Não ainda. — Fen respondeu. — Gabriel e seu tio Lucian estão lá fora com alguns outros patrulhando, certificando-se que não teremos convidados indesejados.
O olhar de Dimitri encontrou o do seu irmão acima da cabeça da Skyler. Você sabe que se os assassinos vierem atrás de nós, eles muito provavelmente passarão despercebidos por qualquer patrulha.
Fen inclinou sua cabeça. É verdade, mas ainda estamos procurando. Gabriel e Lucian são muito bons em sentir o inimigo, e têm uma chance melhor do que a maioria. Zev e eu estamos revezando espreitando por aí. Ele é realmente hábil em encontrar pistas, muito melhor até do que eu. Estou aprendendo bastante com ele.
Já se passaram seis dias, quase uma semana, muito tempo para um assassino seguir uma trilha de sangue, Dimitri assinalou.
Skyler pigarreou.
— Realmente, não é necessário tentar me proteger de seus medos por mim, nenhum de vocês. Todos estão em perigo tanto quanto eu.
— Talvez. — Dimitri concedeu, trazendo seus dedos à boca. — Mas eles te consideraram algum tipo de feiticeira, talvez uma fêmea Sange rau capaz de povoar a terra com seus filhos. Acho que você e Zev estão em maior perigo.
Zev sorriu para ela.
— Você não é a única que me despreza.
Ela suspirou, dando a ele um olhar triste.
— Bem, isso simplesmente muda as coisas. — ela disse com falso desgosto. — Agora tenho que ficar do seu lado.
— É melhor entrarmos antes que Gregori venha até aqui fora. — Fen disse. — E se está se perguntando de onde veio essa ameaça, ele acabou de me mandar um juramento solene que estará aqui fora em dois segundos se não entrarmos.
Zev e Dimitri trocaram um longo olhar e deram de ombros como se a ameaça de Gregori pouco importasse para eles — e provavelmente não importava. Mesmo assim, Dimitri colocou sua mão nas costas de Skyler ligeiramente, guiando-a, mantendo contato com ela o tempo inteiro. Eles seguiram Fen pra dentro com Zev na retaguarda. Ela percebeu que com Fen na frente deles e Zev atrás, sua escolta estava realmente protegendo-os de qualquer problema imprevisto.
A sala de reunião era espaçosa, com muitos lugares pra sentar e mesas com comida e bebida dispostos ao longo das paredes para os Lycans. Cada membro do Conselho tinha seu próprio bando e, portanto, sua própria guarda de elite. Acima de todos os guardas de elite estava Zev e seu bando. Ele respondia ao conselho inteiro e quando existia dificuldade dentro de um bando de elite, era o enviado para endireitar as coisas. Se aparecesse, a situação era considerada medonha — e isso seria consertado de um jeito ou de outro.
Skyler não sabia que Zev era tão respeitado, mas até os membros do Conselho o tratavam com deferência, muito parecido com o respeito oferecido à Gregori. Os membros do Conselho desviaram os olhos de Dimitri enquanto ele caminhava com Skyler direto para o príncipe. Ele não olhou para mais ninguém na sala, mas ela sim, querendo ver as reações.
A maioria dos Lycans na sala pareceu horrorizada pela visão do sobrevivente da Moarta de argint. Ela notou dois homens que pareciam fascinados pelas cicatrizes e mais do que um pouco satisfeitos. Várias outros acenaram com a cabeça, como se concordassem com a tortura. Mas...
O membro do conselho logo à esquerda do homem no centro, ela enviou a Dimitri, incluindo Fen em sua observação. Verifique-o.
O homem não tinha sequer olhado para cima. Parecia estar olhando para as mensagens de texto no seu celular, em vez de estar interessado no prisioneiro Cárpato, cujo tratamento nas mãos dos Lycans, quase começaram uma guerra.
Pode ver o que ele está fazendo? Ela perguntou.
Brincando com seu telefone, disse Fen. Algumas pessoas não podem lidar com cicatrizes e queimaduras. Deixa-os desconfortáveis.
Dimitri cumprimentou o príncipe com um aperto de antebraço de guerreiro enquanto Mikhail fazia o mesmo com ele. Exceto que, Fen, ele não parece desconfortável. Parece satisfeito consigo mesmo.
— É bom ver você, Mikhail. — Ele disse em voz alta. — Espero que Raven e seu filho estejam bem.
— Muito bem, obrigado. — Mikhail respondeu e virou para olhar para Skyler com seus escuros olhos penetrantes. — Devemos a você, Paul e Josef uma dívida de gratidão. Fen me disse que se não tivesse encontrado Dimitri, ele não teria sobrevivido. Nossa equipe de resgate teria chegado tarde demais.
Tão perto de Mikhail, seu poder e presença eram intimidantes, embora pudesse ver generosidade em seu rosto.
— Sou afortunada por termos um vínculo forte e poder achá-lo.
— Ela pôs um dispositivo de rastreamento no meu bolso. — disse Zev. — Ela é uma mulher inteligente.
Havia admiração em sua voz, surpreendendo Skyler. Não esperava aquilo de Zev. Ele claramente não mantinha rancor.
A sobrancelha de Mikhail disparou para cima.
— Ela fez isso?
Zev assentiu.
— Nunca suspeitei de nada. Ela foi suave, tão suave que tenho certeza que podia viver facilmente como batedora de carteira se quisesse. Ela tem esse rosto inocente, e ninguém jamais suspeitaria dela.
Skyler sorriu para ele.
— Este era o plano.
— Tão simples. — Mikhail meditou. — É uma boa lição para todos nós. Às vezes o plano mais simples é muito melhor que toda a intriga do mundo. — Seus olhos encontraram os de Dimitri. — Eu gostaria de te apresentar aos membros do Conselho Lycan. Se não se importar em responder suas perguntas, isso talvez nos ajudasse a montar os pedaços do quebra-cabeça juntos. Você ficou no acampamento Lycan duas semanas.
— Durante duas semanas. — Skyler esclareceu. Ela não pode suprimir uma pequena mordida m sua voz. Não se importava se estava falando com o príncipe. Dimitri sofreu nas mãos dos Lycans, e estaria morto se tivesse que esperar que os Cárpatos o salvassem.
Dimitri tomou sua mão, entrelaçando seus dedos suavemente com os dela. Isto não é culpa dele, sívamet. Talvez não seja culpa destes homens no Conselho também. Fen e os outros foram enviados para me rastrear, mas não puderam achar pistas. Ele roçou a boca nos nós dos seus dedos. Só você conseguiu me alcançar, apesar da prata me cortar por todos os outros.
Amolecendo, Skyler assentiu para que ele soubesse que ela compreendia. Ela ia dar um passo atrás puxando sua mão, mas Dimitri se recusou a soltá-la.
Dimitri deslizou com o príncipe para o outro lado da sala até a mesa do Conselho Lycan, levando-a com ele. Dimitri se moveu em silêncio absoluto, seu corpo fluído, ombros retos e cabeça alta. As cicatrizes enegrecidas eram vívidas, circulando sua testa e garganta. Usava uma camisa branca aberta até a cintura, permitindo que todos vissem as faixas de cicatrizes enegrecidas ao redor do seu corpo.
Um silêncio caiu na sala à medida que abordava a mesa dos membros do Conselho. Três dos quatro homens se colocaram de pé quando se aproximou deles, e o último o fez um pouco relutantemente e só porque outro membro do Conselho olhou para ele.
— Rolf, Lyall, Randall, Arno, este é Dimitri. Ele pode ser capaz de nos dizer muito mais sobre o que aconteceu no acampamento Lycan. — Mikhail os apresentou.
Skyler nunca esteve mais orgulhosa de Dimitri. Ele fez uma reverência elegante aos membros do Conselho. Parecia muito do velho mundo e elegante, um homem de grande cortesia e coragem. Existia uma aura sutil emitida por ele, e a julgar pela forma que os guardas do conselho prestaram atenção, não foi a única a sentir. Não sabia se era o modo fluído que se movia, o deslizar silencioso que dizia a todo mundo que o observava que era perigoso, ou o aroma esquivo do predador agarrado a ele que deixava todo mundo alerta.
Ela observou Rolf, o mais velho do grupo, estender sua mão para Dimitri se desculpando em nome do povo Lycan pelo que o guerreiro Cárpato sofreu em suas mãos. Ele prometeu a Dimitri que achariam os responsáveis e os puniriam. O anel de honestidade estava em sua voz, e Skyler se viu acreditando nele.
Randall era um urso assustador de homem. Se o tivesse encontrado na floresta em vez de Zev, correria pela sua vida. Ele tinha um vozeirão que ecoava pela sala quando falava, adicionando suas desculpas às de Rolf. Ela estava só um pouco atrás de Dimitri, seu corpo parcialmente protegendo-a dos Lycans, mas para desespero dos seus guarda-costas, Randall saiu detrás da mesa e deu a volta para estar diante de Dimitri.
— Esta é a jovem que salvou sua vida? — Ele não esperou que Dimitri respondesse, mas se inclinou para tomar a mão dela.
A mão de Dimitri chegou lá primeiro, desviando o Lycan pra longe de Skyler, seu corpo de repente solidamente entre os dois. Os guarda-costas de Randall pularam adiante no momento que Dimitri tocou em Randall. Quando os Lycans puseram as mãos em suas armas, Fen e vários outros Cárpatos se moveram em posição para proteger o casal. Gregori deslizou muito sutilmente, posicionando-se um pouco na frente do príncipe.
A tensão na sala subiu a ponto de gritar. Zev deu um passo entre as duas espécies com a mão para cima. Skyler nem sequer o viu se movendo, mas sua presença pareceu acalmar a todos.
— Na cultura dos Cárpato, outros homens raramente tocam sua companheira. — ele explicou em voz baixa, dirigindo-se a Randall como se os outros não estivessem chacoalhando suas armas. Ele soou como se meramente estivesse repassando informações, não detendo uma batalha. — Skyler é a companheira de Dimitri. Como sabe, ela quase morreu, e você pode entender que ele é bastante protetor com ela.
Skyler admirou sua voz, baixa, suave, calmante. Era um dom, um raro, mas poderoso. Ele podia acalmar uma multidão com aquela voz e o fazia muito facilmente.
— Peço desculpas. — Randall disse para Dimitri. — Não tinha ideia. É proibido falar com ela também?
Sua voz potente ecoou pela sala, fazendo Skyler estremecer. Ela se sentiu como se fosse reduzida a uma estudante, uma criancinha que precisava da permissão dos pais antes de falar com um adulto importante.
O que está fazendo? Ela sussurrou a pergunta entre os dentes para Dimitri, um pouco chocada com seu comportamento. Pensei que viríamos aqui para deter uma guerra, não começar uma.
Foi uma reação automática. Não gosto de homens que não conheço ou confio tão próximos a você.
Então não devia ter vindo. Você deveria ter me contado.
Sua zombaria divertida de si mesmo deslizou na mente dela. Não tinha nenhuma ideia que teria tal reação. Aparentemente, existem coisas que tenho que aprender sobre mim mesmo.
Era impossível para Skyler ficar zangada com Dimitri. Ele tinha um forte instinto protetor e uma língua afiada que sempre o tirava de problemas com ela.
Ela deu um passo ao redor de Dimitri.
— Claro que não é proibido falar comigo ou com qualquer outra mulher, só para esclarecer. Acho que todo mundo está um pouco nervoso depois do que aconteceu. — Ela sorriu para o Lycan desgrenhado e muito grande e estendeu sua mão.
Randall deu uma olhada para Dimitri, que permanecia impassível. Ele parecia relaxado, mas Skyler, tão em sintonia com seu companheiro, sentiu seu corpo ficar tenso, pronto pra atacar.
O Lycan tomou a mão dela na sua enorme, a engolindo completamente.
— Ouvimos muito ao seu respeito. — disse Randall. — Você já é totalmente uma lenda. Já está recuperada de seus ferimentos?
Skyler assentiu.
— Dimitri tomou grande cuidado com minha recuperação. Sentimos muito por termos mantido vocês esperando, mas os ferimentos foram... graves.
Para ela, tudo sobre Randall soava verdadeiro — o que se via era o que se tinha. Ela olhou para seu companheiro.
Ele não é um homem enganador e duvido que mentiria sobre ordenar a morte por prata. Se tivesse feito isso, teria confessado. Se acredita em alguma coisa, não é o tipo de homem de esconder sua opinião.
Conseguiu tudo isso só segurando sua mão?
Skyler apertou os lábios com força para não rir. Você está de mau humor.
Você tem um lobo babando na sua mão toda. Estes homens lobo são encantadores e não confio em nenhum deles, ainda mais que posso jogá-los longe, especialmente o que está segurando sua mão.
A sobrancelha dela se ergueu. Dimitri estava brincando, mas existia um pouco de verdade em seu tom também. Isso seria bem longe. Vi você em ação.
Um segundo membro do conselho deu a volta na mesa para se juntar a eles. Era Lyall, o homem que não pareceu muito interessado em ver o que os Lycans fizeram ao seu prisioneiro. Ela ficou surpresa que viesse até eles, apresentando-se a Dimitri e reiterando o quanto lamentava por tudo que aconteceu.
Ela deu um passo atrás de novo, só um pouco, sabendo que deixaria Dimitri mais confortável. No momento que o fez, tanto Zev quanto Fen se moveram sutilmente, vindo de ambos os lados, de forma que ela estava cercada, embora realmente não visse dessa forma.
Ela manteve o cenho franzido fora do seu rosto e viu Dimitri conversando com Lyall e o último dos membros do conselho, um homem com nome de Arno. Ele era amigável, mas abertamente desconfiado de Dimitri. No final, depois que Dimitri contou sua história para eles, foi Arno quem fez a maioria das perguntas, e a maior parte delas parecia ser sobre ter sangue misturado em vez de quem foi o pior algoz do Dimitri.
Ele quer aliança com os Cárpatos, mas não acredita na distinção entre Sange rau e o Hän ku pesäk kaikak, Skyler assinalou a Dimitri.
Rolf parecia ficar cada vez mais impaciente com as perguntas de Arno.
— Isto está ficando entediante, Arno. — Ele interrompeu. — É importante descobrir quem está por trás desta traição. Caso tenha esquecido, não foi apenas Dimitri quem foi alvejado para morrer; nós fomos também. — Ele olhou ao redor da sala. — Mikhail, se não se importar que eu diga isso, acho que devíamos limpar esta sala. Os ânimos parecem estar mais quentes do que nós.
— Concordo. — Mikhail disse.
Skyler sentiu seu alívio em vez de ouvi-lo em sua voz. Ela estava mais do que feliz em sair da sala e encontrar sua mãe adotiva, mas quando se virou para ir com Dimitri, tanto Mikhail quanto Rolf os detiveram.
— Se não se importa — Mikhail disse — preferíamos que você dois, como também Fen e Zev, ficassem apenas mais um pouco para nos ajudar.
Dimitri respirou fundo. Os olhos deles se encontraram. Ele inclinou a cabeça. Você não tem que ficar, csitri. Posso fazer isto sozinho e você pode visitar Francesca. Ele falou com ela na via comum dos Cárpatos, não a sua privada, indicando a Mikhail que se ela quisesse partir, Dimitri insistiria nisto.
Ela enviou à Dimitri um sorriso tranquilizador. Não me importaria em ouvir o que eles têm a dizer. Às vezes sei quando alguém está mentindo. Poderia pegar essa impressão e saberemos se alguém aqui realmente está por trás desta conspiração.
Não estou certo que seja uma conspiração, não do modo que você quer dizer, Zev entrou na conversa pensativamente, chocando Skyler.
Ela não tinha percebido que ele podia falar telepaticamente com todos os Cárpatos, mas devia ter. Ele esteve dentro do abrigo que ela criou, e só aqueles com sangue Cárpato poderiam passar pelo escudo. Para ele cruzar aquela barreira, tinha que estar bastante avançado como um sangue misturado.
— Nós ficaremos. — Dimitri disse em voz alta.
Eles esperaram até que a maior parte dos guardas Lycans e Cárpatos deixaram a sala. Dimitri deu um cuidadoso olhar pela sala. Parecia estar quase vazia. Os quatro membros do Conselho permaneceram, cada um com dois guardas. Ele reconheceu Daciana e Makoce do bando de elite de Zev. Ambos ficaram atrás com Rolf. Cada um dos outros membros do Conselho também mantiveram dois guardas.
Mikhail tinha Gregori e seu irmão Jacques com ele. Dimitri não acreditou nem por um instante. Gregori nunca permitiria que o príncipe ficasse bum local onde a outra facção tinha mais homens. Ele mesmo se encontrou inquieto, mas não podia descobrir a razão.
Rolf e os outros membros do Conselho pareciam sinceros em querer falar sobre a questão do Sange rau e se qualquer sangue misturado devia ser caçado e morto ou não, independentemente se fizeram mal ou não para alguém.
Fen. Desta vez ele usou a conexão privada que tinha com seu irmão.
Estou me sentindo inquieto há algum tempo.
No entanto, ninguém mais está, Dimitri assinalou. Nem mesmo Mikhail.
Se há perigo por perto, sem dúvida é algum dos Lycans que acabaram de sair ou temos um Sange rau perto.
Eles usam rifles de precisão, Fen. Estes são assassinos treinados vindo atrás de nós.
Gregori fez um gesto com a mão e uma grande mesa redonda apareceu no centro da sala.
— Sugiro que todos se sentem, cavalheiros.
Eles não conseguirão atirar através das janelas, disse Fen. Gregori já pensou sobre quase qualquer tipo de ataque que poderia acontecer. Esta sala está selada. Até os Lycans que saíram não podem voltar sem Gregori permitir.
Dimitri puxou uma cadeira com o pé, sentando-se ao contrário, escarranchado, sem se importar com o que os Lycans pensassem sobre suas ações. Puxou a cadeira de Skyler mais perto dele. Sabendo que podia protegê-la de qualquer problema o fez se sentir um pouco melhor, embora ainda estivesse muito inquieto. Fen puxou a cadeira com o pé do outro lado de Skyler e montou nela também. Ambos estavam numa posição para se mover rápido se precisassem.
Os membros do Conselho e Mikhail tomaram seus lugares. Só Zev se sentou à mesa, enquanto os Lycans guardando o Conselho se alinharam com suas costas nas paredes.
Mais uma vez Dimitri deu uma longa e lenta olhada pela sala. Gregori estava de pé a pouca distância de Mikhail, mas existiam outros. Achou-se focando na parede onde todos os Lycans se encostaram. É claro que aquela parede foi deixada tentadoramente vazia, perfeita para que os guardas do Conselho esperassem por seus membros.
Havia pelo menos quatro guerreiros Cárpatos em algum lugar naquela parede, numa parte dela, nós na madeira, talvez um minúsculo inseto, e cada um já teria escolhido seu alvo.
Lojos, Tomas e Mataias, ele achou. E o fantasma. Andre está aqui também, não é?
Fen enviou um sorrisinho e inclinou sua cabeça muito sutilmente. Eles não perderiam a festa.
— Correndo o risco de ofender Dimitri — Arno começou, — acredito veementemente que as coisas que fomos ensinados desde praticamente o início de nossa existência, que o sangue misturado é extremamente perigoso para ser tolerado, são sagrados. Não podemos abandonar o próprio código em que vivemos porque alguns dos Sange rau ainda não se tornaram renegados.
Mikhail se debruçou adiante, seus olhos encontrando os de Arno.
— Nós nos reunimos para discutir este assunto e queremos ouvir todas as opiniões. Este código sagrado é algo que tem estado em sua cultura há séculos e não deve ser tão facilmente descartado. Temos que analisar o que sabemos agora, contra o que aqueles que fizeram o código em existência sabiam, em sua época. Conhecimento é poder, e espero que, ao longo dos séculos, tenhamos conseguido ganhar mais consciência, entendimento, compreensão e informação.
— Nossa experiência com este assunto claramente tem sido diferente da sua. — Rolf disse. — Nossos bandos foram destruídos. Ninguém foi poupado. Nós quase fomos extintos graças ao Sange rau.
Mikhail assentiu.
— É fácil entender por que seus antepassados estabeleceram tais regras extremas, mas está sentado nesta mesa com um de nossos caçadores mais antigos e habilidosos. Dimitri defendeu Lycans, Cárpatos e humanos da mesma forma por séculos. Ele caçou e matou ambos, vampiro e lobos renegados, e o fez com honra por séculos. Claramente, não é uma ameaça para os Lycans, e de fato, é um trunfo.
Arno balançou a cabeça.
— Não existe nenhuma garantia que ele continuará a ser assim. Mais uma vez, Dimitri, devo me desculpar por falar como se você não estivesse sentando bem aqui, mas estas coisas devem ser ditas.
Embaixo da mesa, Skyler pôs a mão em sua coxa. Ele sentiu seu tremor. Mantendo seu rosto inexpressivo, colocou sua mão gentilmente sobre a dela. As coisas que ele está dizendo não tem nenhum impacto sobre mim de um jeito ou de outro, ele a assegurou. Fen e Zev também são como eu, de sangue misturado. Este membro do Conselho não é estúpido. Ele sabe que porque somos companheiros nós trocamos sangue, e eventualmente você se tornará como eu.
Ele poderia não saber disso.
Ele sabe. Assim como Randall sabia que não devia tocar você mais cedo. Zev deve ter dado a eles cada detalhe sobre nossa cultura, talvez antes mesmo deles virem aqui. Eles devem ter pesquisado cuidadosamente e consultado com aqueles que conheceram os Cárpatos. Estes membros do Conselho estiveram por aí muito tempo, Skyler. Acredite em mim, agem como embaixadores e não cometem equívocos em protocolo. Zev assumiu a culpa fingindo que não passou as informações sobre companheiros, mas Randall sabia.
— Não tenho nenhum problema com você falando o que está em sua mente, senhor. — Dimitri disse educadamente. — Ouvir a verdade é sempre preferível à mentira.
Está dizendo que esse velho urso desgrenhado Lycan deliberadamente fez eu me sentir como uma colegial na frente de todos os Lycans?
Dimitri não se atreveu a responder a isto, não quando Skyler tinha um temperamento um tanto explosivo. Ele deu outra olhada pela sala só para se assegurar que não existia nenhuma colmeia agarrada nas vigas.
Randall agarrou seu copo de água e o levou à boca. Sem aviso, o copo escorregou de suas mãos, derramando a água na frente dele. A quantidade de líquido derramando em seu colo parecia exceder o tamanho do copo.
Imediatamente os guarda-costas de Randall pularam para ajudar, dando-lhe guardanapos e toalhinhas da mesa. Os membros do Conselho não foram tão educados, rindo e provocando Randall de forma bem humorada sobre suas grandes mãos e como não podia nem segurar um copo de água. Randall levou tudo na esportiva, sorrindo para seus amigos e dando de ombros.
Lycans podem detectar energia quando Cárpatos usam feitiços, Zev advertiu, franzindo o cenho para Skyler. Estes homens estão acostumados à deferência.
Skyler levantou a sobrancelha, parecendo mais inocente do que nunca. Dimitri manteve seu rosto impassível, controlando sua diversão.
Está me acusando de causar um acidente? Sentiu energia vindo de mim? Ela conseguiu soar tão inocente quanto parecia.
Dimitri esperou a diversão se aquietar.
— Eu tenho uma companheira. É impossível para mim virar vampiro. Para eu me tornar o Sange rau que você teme, teria que escolher desistir da minha alma. Não há nenhum modo de que isso aconteça.
Mikhail assentiu.
— Os machos Cárpatos que viveram muito tempo e não acharam uma companheira estão em perigo de se tornar vampiros, mas nenhum homem com uma companheira poderia fazer isto. — Ele reiterou. — Existe uma diferença entre um Hän ku pesäk kaikak e o Sange rau. Nem todo Lycan se torna renegado. Nem todo Cárpato se torna vampiro. Nem todos os sangues misturados se tornam Sange rau.
Arno franziu o cenho para eles.
— Caçadores Cárpatos podem matar o vampiro. Caçadores de elite podem matar bandos de renegados. Nenhum deles pode matar o Sange rau. Melhor exterminá-los do que arriscar que acabem com todos nós.
As unhas de Skyler cravaram em sua coxa, mas ela não falou ou retaliou. Isso foi a primeira coisa realmente insultante que Arno disse. Até aquele ponto foi cortês e até mesmo amigável. Dimitri suspeitava que suas convicções corriam tão fundo quanto seu preconceito.
— Eu preferiria não ser exterminado. — Dimitri disse. — Sou um homem, não um inseto.
— Um homem muito perigoso. — Arno assinalou. — Sua companheira quase morreu. Eu sei porque nós estávamos nesta sala quando seu príncipe e sua mãe acreditaram em sua morte. Isso quase começou uma guerra aqui mesmo. Suponhamos que ela tivesse morrido? — Ele desafiou. — Sem uma companheira, você poderia se tornar, não é correto?
Dimitri deu de ombros.
— Companheiros seguem o outro na próxima vida.
— Em todos os casos? Sempre? — Arno continuou a empurrar seu ponto.
— Nem sempre — Dimitri admitiu —, mas é raro não acontecer.
— Nós estudamos sua cultura. — Lyall assumiu o argumento. — Sabemos que quando uma companheira morre, a loucura agarra o macho. Como isso afetaria o sangue misturado? Ele não seria mais propenso a escolher o caminho do vampiro em vez de perder sua vida?
— Não se trata de perder uma vida. — Dimitri respondeu. — Como Cárpato, como companheiro, nosso primeiro dever é ver a saúde e felicidade de nossa companheira. Ela não morreria de doença. Isso seria impossível. Não morreria num acidente. Ela teria que ser um alvo — assassinada. — Seus olhos encontraram os de Lyall. — Então escolher a vida acima da morte seria sobre vingança.
A palavra vingança pendurou no ar entre eles.
Mikhail suspirou. Podia ter escolhido suas palavras mais cuidadosamente, Dimitri.
Não sou político, Mikhail. Se tivessem estudado nossa cultura, saberiam que me condenando à morte, também estariam condenando minha companheira. Eles se sentam na frente de Skyler e calmamente discutem a respeito de nos exterminar. Nós dois. Acha que vou permitir que qualquer um destes homens prejudique minha companheira?
Pela primeira vez ele sentiu o impacto da ira de Mikhail. Isso o atingiu como um golpe de um corpo sólido, significativo e mau. Acha que eu permitiria? Que algum Cárpato o faria? Não existe nenhuma chance que sequer concordaríamos com o que estão propondo. Existe, porém, uma pequena chance que eles vejam as coisas do nosso modo.
Dimitri respirou fundo. Mikhail estava certo. Não que Dimitri não pudesse ser objetivo, só pensava que sentar ali era perda de tempo. Tentar mudar séculos de preconceito parecia impossível para ele. Arno tinha um fervor quase religioso para que esquecesse de ser um membro do Conselho educado e começasse a esquentar sobre um assunto que claramente se sentia apaixonado.
Perdoe-me, Mikhail. Vejo que tem que trilhar um caminho delicado, apesar do que gostaria de dizer a estas pessoas.
Foi Rolf quem interrompeu o silêncio.
— Posso entender como alguém iria querer vingança, Dimitri. Se minha esposa fosse assassinada, eu caçaria quem a matou e, Deus me perdoe, estou certo que o mataria. Sou Lycan, não humano, e meus instintos como predador provavelmente superariam toda civilização.
Dimitri assentiu com a cabeça.
— Ver Skyler morta, ou pelo menos acreditar que estava, foi um momento de muita escuridão para mim, mas não deixaria ela entrar em outra vida sem estar ao seu lado. Deixaria a caça para seu pai e seu tio. — Ele olhou para Arno. — Sou Hän ku pesäk kaikak e nunca falhei com meu povo ou desonrei a mim mesmo ou minha família. Dever e honra foram impregnados em mim desde que era uma criança, séculos atrás. Só posso dizer a você, sirvo como um Guardião, não um predador das pessoas que protejo.
— É fácil suficiente julgar o Sange rau místico quando poucos em nossa vida já viram sua destruição. — Randall disse. — É uma coisa completamente diferente quando temos Dimitri e sua companheira sentados do outro lado da nossa mesa. Claramente ele não representa nenhuma ameaça para nós.
— Agora. — Arno disse. — Agora ele não representa nenhuma ameaça. Nós não sabemos o que fará no futuro, e se reproduzirem?
A palavra reproduzirem foi dita com tal repugnância e aversão que Dimitri agarrou a mão de Skyler firmemente, alertando-a para não falar. Isto era território de Mikhail, não dela. Fen e Zev estavam ambos em silêncio, mas trocaram um longo olhar.
Dimitri estava grato que os membros do Conselho não estavam cientes que tanto Fen quanto Zev eram sangue misturado. Eles se tornaram alvos de assassinos, não por seu sangue, mas porque, quem queria a guerra entre as duas espécies os viam como ameaças aos seus planos.
— Isso foi rude, Arno. — Rolf disse calmamente. — Extremamente rude. Skyler, por favor, aceite minhas desculpas em nome de todos os Lycans. — Ele alfinetou o membro do Conselho com uma cara feia. — Juramos pôr de lado todos os preconceitos e julgar de forma justa. Você jurou que embora fosse um membro do Círculo Sagrado, podia aceitar as mudanças que a sociedade moderna traz. — Rolf indicou Daciana. — Ela é uma das nossas melhores caçadoras de elite, mas suas habilidades seriam negadas para nós se os membros do Círculo Sagrado fizessem as coisas do seu jeito. Você ajudou a aprovar a lei permitindo que ela servisse. Viemos aqui com as mentes abertas, preparados para mudar nossa lei se isso fosse justificado.
— Eu sei. Eu sei. — Arno empurrou ambas as mãos pelo cabelo espesso em sua cabeça. — As mulheres caçavam antes do código sagrado ser posto em prática. Um precedente já tinha sido criado. — Ele se defendeu. — O código sagrado foi escrito depois que o Sange rau dizimou nosso povo. Precisávamos das mulheres em casa. Agora, isso não é tão crucial.
— Isto é compreensível. — Mikhail procurou diminuir a tensão. — Perdemos nossas mulheres também, e a maior parte delas não caçam. Preferimos que permaneçam seguras. Algumas saem com seus companheiros, mas ainda estamos reconstruindo e debatemos o assunto frequentemente.
Arno lhe enviou um olhar agradecido.
— Perdoe-me, Skyler e Dimitri. Luto com minhas crenças. Às vezes elas não fazem sentido e luto ainda mais por elas.
Ele soou genuinamente chateado, um homem que definitivamente queria fazer a coisa certa, mas estava numa guerra entre passado e presente.
Suas crenças são fortes, ancoradas em séculos de reforço. Ele acredita firmemente que todo sangue misturado representa uma ameaça para sua espécie e não deve — não, não pode ser tolerado, Dimitri observou, usando o caminho comum dos Cárpatos.
Ele não está sozinho nessa crença, Zev disse. Todos os membros do Círculo Sagrado acreditam nas mesmas coisas que ele, e não são apenas grandes em número, mas falam alto sobre isto. Arno é um dos seus membros mais graduados e fala regularmente sobre a santidade do seu código. Ele provavelmente é um de seus maiores recrutadores. É um bom orador e sente-se apaixonado sobre o assunto.
Ele pode ser o homem visando que os membros do Conselho morram em nossa terra? Mikhail perguntou.
Zev suspirou. Nunca teria acreditado em tal coisa dele. Sempre foi um bom homem, mas agora... ele parou de falar. Gunnolf e Convel eram ambos membros do Círculo Sagrado, mas nunca pensei que nos trairiam ou trairiam nosso bando.
Rolf balançou a cabeça.
— Estamos todos cansados. Talvez devêssemos adiar até amanhã à noite. Dimitri nos deu muito o que pensar.
Lyall olhou de relance ao seu relógio.
— Está tarde. — ele concordou.
Arno verificou seu celular.
— Mais tarde do que pensei. Acredito que seria melhor adiar também. Preciso colocar as coisas em perspectiva.
Os membros do Conselho se levantaram, assim como os Cárpatos.
— Antes de partirem — disse Zev, — precisamos estar absolutamente certos que todos estão seguros.
Fen, Zev e Dimitri andavam do lado de fora para esquadrinhar a área ao redor deles. Ambos ainda tinham uma sensação de intranquilidade que sinalizava perigo — e era muito mais forte ao ar livre — ainda assim não podiam encontrar uma direção ou cheiro.
Fen praguejou suavemente.
— Parece que estamos indo de uma situação ruim para outra. — Disse. — Tenho um pressentimento realmente ruim.
Zev deu uma lenta e cuidadosa olhada ao redor.
— O que quer fazer? Manter todos dentro enquanto saímos em busca?
O primeiro impulso de Dimitri foi dizer que sim, mas algo o fez hesitar. Suas vísceras agitavam e nós se formavam em sua barriga.
— Estamos sentados como patos aqui se eles tiverem rifles de mira. — Zev assinalou.
— Dimitri? — Fen disse. Seu irmão o conhecia e esperava por uma avaliação de Dimitri.
— Isto é exatamente o que esperariam que fizéssemos. — Dimitri disse. —Todos os pelos do meu corpo estão arrepiados. Penso que temos atiradores olhando para nós por miras neste momento, mas estão esperando para puxar o gatilho. Por quê?
— Por que não lançou um escudo? — Zev perguntou. — Não gosto da ideia de levar um tiro na cabeça.
— No momento em que fizermos algo assim, isto irá avisá-los que estamos sobre eles. — Fen explicou.
Enquanto Fen articulava as palavras, uma voz explodiu pela mente deles. Mikhail. Gabriel e Lucian estão sob ataque. Lycans estão vertendo na aldeia. São necessários todos os guerreiros. Todas as mulheres que puderem lutar devem fazê-lo. Defendam os humanos na aldeia e mantenham nossas crianças seguras.
Um frio desceu pela espinha de Dimitri. Isto era um sério ataque coordenado sobre os Cárpatos e o conselho.
— Fen, levante um escudo. Se atirarem em nós, com certeza, Mikhail e Gregori manterão o conselho naquela sala a fim de protegê-los, mas acho que a armadilha está lá.
Uma bala zumbiu pelo ar mesmo enquanto ele falava. Colidiu em uma parede transparente, de forma que uma rachadura apareceu primeiro e então uma teia de aranha, revelando o escudo que Fen levantou imediatamente. Mais duas balas foram disparadas numa sucessão rápida, ambas batendo no lugar exato da primeira. Uma terceira bala quase simultaneamente bateu a uns sessenta centímetro do buraco.
— Ele é bom. — Fen comentou. — E deve ter estado esperando que os Lycans atacassem a aldeia.
— Há dois deles. — Zev disse. — Um, com certeza é Hemming. Ele esteve no exército toda sua vida como atirador de elite. O conselho o usa quando necessário. Ninguém pode atirar como ele. Ele também é um membro do Círculo Sagrado.
Dimitri praguejou quando uma quarta bala bateu no pequeno buraco, justamente no lugar das outras duas balas. Desta vez, a bala quase penetrou o escudo.
— Para dentro. Deve haver um traidor do lado de dentro, um dos guardas de elite. — Ele virou-se e correu de volta para o lado de dentro.
Fen praguejou também.
— Ele está certo, caso contrário eles teriam atirado em nós no momento que saímos. Os atiradores deram tempo a eles para chegarem perto dos membros do conselho, quando todos se levantaram para as despedidas. — Ele seguiu seu irmão. — Estavam apenas esperando que os Lycans atacassem também.
Zev decolou atrás deles, exatamente quando outra bala passou por sua orelha. Ele mergulhou enquanto corria para o abrigo do edifício.
Dimitri entrou repentinamente na sala, seu olhar indo para Skyler como um imã. Ela estava conversando com Rolf e Daciana, rindo de algo que o caçador de elite dizia. Seus olhos saltaram para o rosto dele, o sorriso desvanecendo imediatamente quando reconheceu que algo estava errado. Daciana o fez também, rapidamente agarrando o braço de Rolf e o empurrando de costas contra a parede. Seu companheiro, Makoce, estava lá, usando seu corpo como um escudo.
Dimitri apressadamente esquadrinhou a sala, procurando por um traidor que pudesse dar-lhe uma pista de onde o perigo viria. Gregori, leve o príncipe para fora daqui. Não me importo o quanto proteste, mas se transforme em vapor e saía rápido. Ele não está seguro aqui. Acima de tudo, seu príncipe tinha que sobreviver.
Gregori não hesitou ou discutiu com Mikhail. Ele se transformou, sua mão sobre o braço de Mikhail, impelindo uma imagem de névoa em sua mente para que seu corpo começasse a se transformar quase antes dele estar ciente.
Estamos saindo agora, Gregori informou sua carga.
Mikhail completou a transformação, embora o olhar em seu rosto dissesse a Dimitri que Gregori estava em maus bocados, uma vez que estivessem sozinhos. Gregori podia lidar com isto; ele era o principal guardião do príncipe quase desde o momento em que os dois nasceram.
Exatamente quando Dimitri se elevou para o ar para chegar ao lado de Skyler, um dos guardas de elite de Arno se aproximou dela, de modo que ela tropeçou atrás com um gritinho, as mãos dela subindo para se proteger do punhal na mão dele. Antes que o guarda pudesse empurrar a lâmina profundamente, algo pegou seu pulso.
Um fantasma. André estava lá antes de Dimitri, deslocando fora da visão, transformando-se no último instante, emergindo entre Skyler e o guarda, o punho dele circulando o pulso do guarda. Virou o punhal de prata para o guarda, empurrando-o fundo bem sob o coração do Lycan.
Dimitri pegou Skyler e a puxou para longe dos Lycans. Não havia nenhum lugar que sentisse que ela estava segura, não dentro daquela sala, ou fora dela.
— Eles têm atiradores do lado de fora. — Zev informou seus caçadores. — Pelo menos dois, e um deles é Hemming.
Fen inalou bruscamente. Dimitri seguiu o exemplo. Se fosse possível para um sangue misturado ficar pálido, os dois estariam. O distinto odor de C-4 moveu-se por eles.
Fen acenou com a mão e abriu o chão, rasgando facilmente pelo chão até a terra sob eles.
— Entrem todos. — Zev, há uma bomba. Usou o caminho comum dos Cárpatos, advertindo todos os guerreiros para saírem depressa ou usarem o chão para se abrigar.
— Daciana, mova-se. — Zev chamou. Apressou-se para Lyall, agarrando seu braço, arrastando-o para longe dos seus guardas. — Vá para o subterrâneo agora.
Daciana e Makoce, ambos, agarraram Rolf entre eles e mergulharam pela abertura. Zev conseguiu empurrar Lyall abaixo também. Randall assumiu suas próprias responsabilidades, enquanto seus guardas debatiam se isto era ou não uma armadilha dos Cárpatos. Saltou para dentro do buraco também. Zev voltou-se para Arno.
Dimitri praticamente jogou Skyler no chão, seu corpo sobre o dela enquanto o mundo acima deles explodia. Ele cobriu a cabeça, murmurando palavras tranquilizadoras quando o chão chacoalhou. Ela parecia pequena e vulnerável embaixo dele, transformando todo o instinto protetor que tinha em raiva. Já tinha brincado o suficiente de política. Mais que suficiente. Era um caçador antigo dos Cárpatos, e estava na hora de caçar.
Levantou a cabeça. Vários dos caçadores de elite seguiram os membros de conselho para o chão. Fen levantou um escudo protetor sobre suas cabeças e os escombros da sala, a terra e as pedras cobriam aquele escudo acima de suas cabeças. Na sala de reunião, o pó rodopiava no ar, tão denso que era impossível ver muita coisa acima de suas cabeças.
Sentiu um movimento e virou em torno, ficando de pé, um tornado furioso, pronto para a batalha. O segundo Lycan que Arno defendeu estava no abrigo, embora o companheiro dele não estivesse. Ele ficou de pé, sua mão deslizando para dentro de sua jaqueta. Retirou uma arma e num movimento suave, virou e apontou para a cabeça de Lyall.
Os olhos do membro do conselho arregalaram em choque. O guarda deu outro passo adiante, erguendo a mira passando pela cabeça de Lyall e centrando em Rolf. Daciana colocou-se na frente do membro do conselho quando o guarda apertou o gatilho. Dimitri estava sobre o guarda assim que disparou, saltando sobre todo mundo para agarrá-lo, derrubando-o com força.
O guarda empurrou a arma no estômago de Dimitri e puxou o gatilho rapidamente, mas nada aconteceu, apenas o som do lobo desesperado tentando disparar uma saraivada de tiros.
Dimitri empurrou a arma. Deixou seu lobo ondular para a superfície, Lycan contra Lycan. Eles rolaram juntos, um ciclone de corpos debatendo, dentes, garras, grunhidos e rosnados. Dimitri era imensamente forte, e sempre que o Lycan tentava pegar a arma, Dimitri golpeava seu pulso repetidas vezes no chão.
O Lycan uivou quando seus ossos estalaram, então fragmentaram e pulverizaram. Dimitri era implacável, determinado a não matá-lo, mas mantê-lo vivo para interrogatório. Se não fosse condenado à morte pela prata, não podia imaginar que destino um traidor tentando assassinar os membros do conselho poderia receber.
Makoce e Rolf estavam curvados sobre Daciana, tentando deter o fluxo de sangue.
— Não aconselharia um movimento. — Fen advertiu o outro guarda Lycan. — Estou certo que a maior parte de vocês genuinamente está aqui para proteger seus membros do conselho, mas neste momento, qualquer um de vocês que fizer um movimento súbito vai ser tratado severamente. Apenas sentem-se devagar e mantenham as mãos longe de suas armas.
A maioria obedeceu, mas os guardas de elite olharam para Lyall como se estivessem desafiando-o.
— No caso de acreditarem que são mais rápidos do que eu os advertirei agora mesmo, não são, e não estou com humor para joguinhos. Acabarei com vocês duro e rápido.
Lyall olhou para seus guardas.
— Não sejam ridículos. Querem morrer? Sentem-se e façam o que ele diz.
Um pouco relutantes, os guardas restantes afundaram no chão. Fen confiou em Andre para observá-los. Ele tinha a reputação de ser rápido e tão impiedoso quanto qualquer Cárpato poderia ser.
— Precisamos ajudar aqueles que foram pegos pela explosão. — Rolf disse, olhando para Fen sobre seu ombro. — E Daciana precisa de ajuda. Este ferimento é... grave.
Skyler deslizou passando pela mão restritiva de Andre, embora ele andasse ao lado dela, mantendo seu corpo entre ela e o resto dos guardas sentados. Ela abaixou-se ao lado de Rolf.
— Vejamos. — Muito suavemente ergueu a mão de Rolf. Instantaneamente o sangue jorrou. — Mantenha a mão aqui, aperte forte. Verei o que posso fazer.
— Vou cuidar de você, irmãzinha. — Andre assegurou.
Skyler verteu seu corpo e tornou-se incandescente energia curativa. Tinha que deter o fluxo de sangue ou não haveria nenhuma regeneração para Daciana.
— Não quero me mover muito rápido até que saibamos exatamente o que está acontecendo sobre nós. — Fen disse aos membros do conselho. — Temos dois atiradores de elite, ambos qualificados e treinados pelo exército. Zev, Dimitri e eu acreditamos que sejam Sange rau. Você e eu sabemos que qualquer caçador, atirador de elite ou antigo, indo contra eles não vencerá a luta.
O guarda Lycan que lutou com Dimitri tentou transformar-se para sua metade homem, metade lobo, mas Dimitri foi mais rápido, usando a velocidade do Hän ku pesäk kaikak. Golpeou com o cotovelo repetidas vezes o rosto do Lycan. A cabeça do lobo recuou, os olhos revirando em sua cabeça.
— Pegue. — Makoce lançou um par de algemas pelo ar.
Dimitri se lembrou de cobrir suas mãos no último instante, percebendo que as algemas eram de prata. Indiferente ao fato de que o braço e o pulso do traidor estavam quebrados, o conteve com um joelho pressionando firmemente no final das costas dele.
O Lycan rosnou e se enfureceu, uivando de dor e lutando para se libertar. Dimitri puxou ambos os braços dele para trás, fechando as algemas firmemente em torno do pulso do lobo. O assassino soltou um grito alto.
Fen alcançou Zev, com medo que o tivessem perdido na explosão. Você está vivo? Vamos, homem, dê-me algo.
Houve um momento de silêncio. Fen contou suas próprias pulsações, esperando que Zev respondesse. Sentiu uma lânguida atividade em sua mente e o alívio o inundou.
Estou numa pequena dificuldade Fen, Zev admitiu. Tenho um pedaço de mesa atravessado em mim e não vou mentir, dói como o inferno. Se puxar isto, sangrarei antes que possa me alcançar.
Bem, acho que seria melhor não ser tolo o suficiente para puxar isto então, porque eu ficaria regiamente puto se você morresse. O que estava fazendo? Fen cautelosamente moveu a parte de cima do escudo sobre suas cabeças. Os escombros caíram no buraco. Brincando de herói novamente? Lançou seu corpo sobre algum membro do conselho enquanto seus guarda-costas ficavam aqui tentando nos matar?
Algo assim. Não posso dizer se Arno está vivo ou não. Ele não está se movendo. Não posso nem senti-lo respirando. Entretanto não posso sair de cima dele também. Estou provavelmente sufocando-o. Havia uma débil nota de humor na voz de Zev, apesar da dor.
— Skyler, vou precisar de suas habilidades como curandeira. — Fen anunciou. — Pode estar feio lá em cima, mas não tenho nenhuma escolha. Zev está em apuros.
Skyler voltou para seu próprio corpo, balançando de fraqueza, respondendo ao chamado urgente na voz de Fen. Conseguiu consertar a maior parte dos danos no corpo de Daciana.
— Ela precisa de sangue. — Ela anunciou.
Andre a ajudou a ficar de pé. Você precisa de sangue também, irmãzinha, ele disse. Permita-me protegê-la enquanto toma o que precisa.
Skyler sabia que não conseguiria ajudar Zev se não estivesse forte o suficiente. Curar tomava uma quantia tremenda de energia, mas nunca se alimentou sozinha antes, não a menos que fosse de Dimitri, e ele reagia firmemente com ela tomando sangue de outro macho.
Ele está certo, sívamet, ele pediu minha permissão e eu lhe dei. Precisarei de toda minha energia para lutar com o Sange rau, Dimitri encorajou. Se sentir que não consegue, eu a ajudarei.
Skyler estava ainda relutante em se alimentar, especialmente dadas as circunstâncias. Sentiu a urgência do pedido de Fen. Ele nunca a poria em perigo, a menos, que a situação fosse terrível. Pior, ela gostava realmente de Zev. Poderia ainda estar um pouco brava com ele, mas era impossível não respeitá-lo.
Isto é dado livremente. Andre a protegeu da visão dos Lycans enquanto oferecia seu pulso.
Obrigado Andre. Aceito seu oferecimento. Ela pegou a mão dele e afundou os dentes em sua veia.
Fen olhou através do pequeno escudo para seu irmão.
— Você terá que mantê-los fora de nossas costas. Juntarei-me a você tão rápido quanto puder. Eles virão para inspecionar os danos.
— Por eles — Randall disse —, você quer dizer os atiradores de elite, os Sange rau. — Ele fez disso uma declaração.
— Irei com você. — Makoce voluntariou-se. — Não pode enfrentar dois deles sozinho.
Dimitri balançou a cabeça.
— Você é um dos poucos que confiamos. Precisamos de você aqui, protegendo o resto dos membros do conselho.
— Você está pronta, Skyler? — Fen exigiu.
Ela fechou o pequeno ferimento no pulso de Andre.
— Sim.
— Andre, precisarei de você aqui para certificar-se de que ninguém mais decida aniquilar os membros do conselho, enquanto estamos fora do caminho. — Fen disse. — Posso enviar um par de outros para baixo para ajudá-lo.
Andre levantou uma sobrancelha, mas não respondeu.
Dimitri passou pelo assassino algemado, e seguiu Fen e Skyler pelo chão acima deles. A sala de reuniões era sobretudo escombros. Dois corpos jaziam rasgados separadamente alguns metros da entrada do abrigo, como se tivessem corrido para a segurança. Skyler tossiu e cobriu a boca e o nariz. Partículas flutuantes de madeira, poeira e pedra espiralavam no ar pelo que restou da sala em cinzas escuras.
Fen apressou-se em torno dos corpos em direção à parede distante, onde a perna de Zev se esticava por baixo do que parecia ser um pedaço de madeira. A mesa estava cortada em tiras, grandes lascas dentadas de madeira, tão espessa quanto o braço de um homem apontando para o teto como lanças.
O coração acelerado de Skyler martelava contra seu peito, quando viu Fen parado, as mãos dele ao redor de uma das lanças. Disparando em uma corrida, lançou-se pelos cadáveres sem olhar para eles e ajoelhou-se ao lado de Zev, empurrando um punho na boca para impedir-se de soluçar.
Ela era uma curandeira e tudo o que eles tinham, mas não era nenhuma milagreira. O corpo de Zev jazia espalhado por cima de Arno. O caçador de elite enrolou seus braços em torno do membro de conselho, protegendo-o da madeira voadora. Ele deve ter tentado usar as mesas como proteção, derrubando-as sobre os lados deles, ambos os homens mergulhando por trás delas.
Arno virou a cabeça cautelosamente em direção a eles, quando Skyler ajoelhou-se ao lado deles.
— Ele está vivo? Não posso dizer, mas tenho medo de me mover, com receio de que possa piorar isto.
O sangue do ferimento de Zev cobria as costas de Arno, mas fora isso, ele parecia ileso. Skyler olhou para o rosto horrorizado de Fen.
— Por pouco. — Ela respondeu.
— Vou deslizar você debaixo dele. — Fen disse a Arno. — Deslize lateralmente e tente não chacoalhá-lo.
Não posso fazer isto sozinho. Precisarei de ajuda, Skyler disse. Estou chamando Tatijana e Branislava. Eu as adverti sobre o perigo dos dois atiradores. Elas sabem que devem entrar sem forma.
Ela olhou em torno da sala. Fen teria que ajudar Dimitri. Ele possivelmente não podia lutar com dois Sange rau sozinho. O príncipe tinha que ser defendido, e alguém tinha que levar os membros restantes do conselho e Daciana para a segurança. Entretanto...
— Sei que precisa dos guerreiros Fen, mas precisarei de um par para dar sangue. Você pode trazer de volta Lucian e Gabriel do que estão fazendo?
— Duvido muito, mas tentarei.
— Posso dar-lhe sangue. — Arno voluntariou-se. — Que diabo está acontecendo?
— Lycans nos atacaram de quase todas as direções. — Fen lhe disse. — Com eles estão atiradores de elite que acreditamos serem Sange rau. Ambos os seus guardas de elite tentaram matar os membros do conselho.
— Fen, se apresse. — Skyler silvou. Eles não podiam se preocupar sobre o que estava acontecendo politicamente ou fora das paredes destruídas do edifício, não se iam salvar a vida de Zev.
Fen assentiu secamente e enviou uma almofada de ar entre Zev e Arno, erguendo o corpo do membro do conselho sem chacoalhá-lo. Arno moveu seu peso cuidadosamente, deslizando sob o flutuante e ferido caçador de elite. Assim que ficou livre, ficou de quatro, seu rosto uma máscara de preocupação.
No momento que viu a grande estaca atravessando o corpo de Zev, ficou pálido, seus olhos arregalando em choque.
— Não é possível que ele esteja vivo. — Ele disse.
Os cílios de Zev tremularam, mas não se ergueram.
— Estou vivo. — Ele sussurrou, sua voz rouca de dor. — Só não estou certo de que quero estar.
Tatijana e Branislava materializaram-se de ambos os lados de Skyler. Tatijana suavemente tocou em Skyler em solidariedade enquanto avaliavam a situação.
— Um de nós terá que segurá-lo. — Tatijana disse.
— Posso tentar. — Skyler relutantemente concordou. — Tenho uma conexão com ele.
— Eu farei isto. — Branislava anunciou. Ela se debruçou sobre Zev e pegou a mão dele suavemente. Você se lembra de mim, certo, Zev? Dançamos junto. Foi um lindo momento de minha vida e eu o valorizarei sempre. Compartilhamos sangue para nos vincular e poder falar telepaticamente. Permita-me ligar seu espírito ao meu. Eu o manterei seguro enquanto minha irmã e Skyler o curam.
Eu me lembro de você. O espírito de Zev já estava desvanecendo, escapando deles, como seu sangue vital drenava pelo chão. O choque em seu corpo era tremendo. Minha linda dama dos sonhos.
Branislava agarrou o espírito dele, aquela luz desvanecendo, e cercou-o com o seu próprio. Seu espírito era forte e brilhante e ela encurralou o oscilante espírito insubstancial de Zev que permanecia, para que os dois espíritos se fundissem. Ela teceu sua luz através dele para ligá-lo a ela.
Podemos fazer nosso próprio sonho aqui mesmo, juntos, enquanto elas trabalham em seu corpo. Não terá que sentir isto ou pensar no que estão fazendo, apenas fique aqui comigo. Fique comigo.
Skyler olhou para Fen, seu coração batendo quase fora de controle, sua boca seca. Tinha Tatijana ao lado dela e isso lhe deu coragem, mas sabia que todos acreditavam que era uma grande curandeira. Não tinha experiência, ou treinamento. Estavam por conta própria. Um ataque coordenado sobre os Cárpatos exigia que todos os guerreiro e mulheres defendessem sua pátria.
Respirou fundo e acenou com a cabeça.
— Faça isto. — Ela disse.
Fen puxou a estaca do corpo de Zev. O sangue esguichou. Tatijana estava de prontidão com as mãos, apertando-as profundamente no ferimento, uma luz irrompendo sob suas palmas. Skyler verteu seu corpo e entrou no de Zev, trabalhando rapidamente para consertar o dano.
A estaca rasgou por camadas de músculos e órgãos. Havia lascas ao longo do ferimento e a ponta realmente penetrou pelo abdômen de Zev, como também colidindo com duas costelas. Como ele conseguiu ficar vivo, não tinha ideia. Por um momento hesitou, não sabendo por onde começar. Seu corpo estava uma bagunça.
Dimitri. Ele esteve com ela desde o princípio, fundido profundamente, uma grande parte dela. Sua convicção nela sempre lhe deu confiança e ela precisava disto agora.
Salve a vida dele, Dimitri disse. É o que você nasceu para fazer. Salve-o, csitri. Ele é necessário neste mundo.
Apenas o som da voz dele a acalmou, endireitando seu mundo, e ela começou, escolhendo as extremidades do grande buraco para começar a fechar aquela terrível abertura.
Dimitri soltou a fusão que esteve segurado com sua companheira. Ela tinha trabalho a fazer e ele tinha o dele. Não podia pensar sobre qualquer outra coisa, apenas em encontrar e destruir os dois atiradores de elite com sua longa lista de alvos para assassinar. Não seria inteligente dividir-se quando estava caçando alguma coisa tão mortal quanto o Sange rau.
Ficando na forma de partículas de poeira, começou sua procura no buraco de bala no escudo quebrado que Fen colocou para protegê-los. Calmamente, usando a paciência de um caçador Cárpato, localizou a trajetória da bala através de um espaço aberto de quinze metros atrás, na direção da aldeia.
Ele não ficou feliz com a direção. O pensamento do Sange rau solto na aldeia com humanos desavisados era assustador. Os soldados dos Lycans atacaram os Cárpatos onde os encontraram, mas pareciam estar evitando matar os humanos na aldeia até onde ele podia dizer.
Era óbvio para ele que os Cárpatos aprenderam com o encontro anterior deles com o bando de renegados, que lutar um a um não seria nada bom com os Lycans. Os guerreiros formaram seus próprios bandos, Lucian e Gabriel os dirigiam, e estavam encontrando os lobos em condições iguais.
O céu estava turvo com nuvens. Um trovão agitou e expandiu. Raios relampejavam pelo chão até o céu e de volta para baixo. O som de disparos e gritos de dor enchiam a noite. O cheiro de sangue era pesado no ar. Guerra.
Dimitri sentiu uma tristeza opressiva mover-se sobre ele. Viu mortes demais. Muitas vidas destroçadas. Para que? O sangue que corria em suas veias? Este tipo de violência, a deslealdade envolvida em conspirar para assassinar os membros do conselho, que vieram para tentar formar uma aliança com outra espécie, era detestável para ele.
Continuou movendo-se pelas casas e lojas, até que chegou ao teto da igreja. Havia uma espécie de ironia no fato de que o atirador de elite tenha escolhido um lugar de paz, de adoração, para tentar cometer um assassinato.
Não havia cápsulas no telhado, mas Dimitri era um Hän ku pesäk kaikak, e embora o atirador fosse Sange rau, ele foi recentemente transformado. O lobo em seu agressor era muito forte e Dimitri pegou o cheiro marcado no telhado. Uma vez que tinha o verdadeiro cheiro marcado do atirador, podia seguir a trilha muito mais fácil.
Este tinha deslizado pelo lado do edifício e se misturou com as pessoas correndo e se entrincheirando em suas casas ou lojas. Ele evitou os Lycans como também os Cárpatos, usando os edifícios como cobertura. Apenas isto já dizia a Dimitri que o Sange rau foi recentemente transformado. Não tinha a menor ideia sobre o que os Cárpatos podiam fazer ou não. Estava usando seus sentidos de Lycan e o treinamento militar para levá-lo pela aldeia sem ser visto.
Ele tinha outro objetivo. Isso era a única resposta porque o atirador estava circulando de volta em direção aos escombros do edifício. Não tentou se juntar a luta, ou ajudar outro Lycan de qualquer forma. Eles provavelmente nem sabiam que ele estava lá.
Fen, ele está voltando em sua direção. Acho que este é aquele que Zev chamou de Hemming. É muito bom, mas não tem nenhuma ideia do que um Cárpato é ou o que pode fazer. Todo seu treinamento é militar ou Lycan. Se for um verdadeiro sangue misturado, como isto pode ser possível?
Esta é uma boa pergunta. Tem alguma ideia de onde o segundo atirador está?
Localizei um rastro de bala pelo teto da igreja, mas apenas um esteve lá. Terá que usar o mesmo método que usei. Este aqui deve ter um alvo ou alvos ainda dentro do edifício. Está absolutamente implacável e determinado. Nada o está retardando ou intimidando, Dimitri respondeu.
Fen praguejou. Zev está em mau estado. Não movemos os membros do conselho porque não temos nenhuma ideia se quaisquer dos outros guardas planejam fazer um movimento contra eles. Skyler, Tatijana e Branislava não podem partir, não até que percam a batalha pela vida de Zev, ou o curem o suficiente para colocá-lo no solo. Isso deixa um segundo atirador em algum lugar, capaz de fazer dano para alguém.
Dimitri silvou sua irritação. Teremos que confiar que Gregori possa fazer seu trabalho, se o príncipe for o alvo principal. Temos que seguir este aqui. Ele está muito perto das nossas mulheres e do conselho.
Advertirei os que estão lá. Continue aproximando-se deste.
Eu estou. Fen, é possível para Zev ir para a terra?
Houve um longo silêncio. Fen suspirou. Não sei, Dimitri. Neste momento, não acho que algum de nós saiba o que realmente é possível ou o que não é.
Dimitri aumentou sua velocidade, seguindo o cheiro do Sange rau. Duvidava que o rastro de vapor em velocidade pelo ar chamasse atenção, não quando aqueles no chão estavam tentando salvar a si mesmos. A luta estava mais esporádica agora. Os corpos estavam caídos pelo chão, a maioria com cabeças decepadas e estacas no coração. Se havia algum guerreiro Cárpato morto ou agonizando, Dimitri não o viu.
Lucian e Gabriel eram hábeis na guerra. Tomaram parte em mil batalhas ao longo dos séculos e poucos eram estrategistas melhores. No momento que souberam que os Lycans pegaram Dimitri, e depois mais tarde, quando acreditaram que Skyler estava morta, adquiriram cada pequena informações possível sobre como os Lycans conduziam uma guerra, do inicio dos séculos até os tempos modernos. Estavam mais do que preparados para enfrentá-los na batalha.
Telepatia ajudava também. O Cárpatos podiam falar uns com os outros através das mentes. Mantinham-se em comunicação constante, veiculando informações de uma parte da aldeia à outra. Até agora, Dimitri não ouviu que a casa do príncipe foi atacada.
Dimitri deslizou em torno do canto do edifício mais próximo da sala de reuniões destruída. O atirador estava exatamente à frente dele, rastejando furtivamente pelos escombros para chegar à parede que estava parcialmente derrubada. A parede tinha buracos explodidos. O telhado desmoronou e uma boa parte da parede, propriamente, desintegrou pela força da explosão.
Hemming não foi por um dos buracos para perscrutar como Dimitri esperava que fizesse. Ao invés disso, o atirador saltou até um dos maiores pedaços restantes da parede propriamente. Ele abaixou-se, o estojo com seu equipamento em sua mão. Um salto suave sobre uma estrutura tão precária advertiu Dimitri para não subestimar o lobo.
O murmúrio baixo de vozes cantando o ritual de cura dos Cárpatos o alcançou. Podia ouvir até os guerreiros no meio da batalha, cantando com as mulheres e crianças. Eles se uniram para tentar salvar Zev, um guerreiro que todos respeitavam. Eles o consideraram um deles, e perder um único Cárpato, sendo sangue misturado ou não, era inaceitável.
Aqueles dentro estavam ocupados tentando salvar uma vida, enquanto o atirador do lado de fora estava preparando-se para assassiná-los. Hemming abaixou-se e saltou uma vez mais, aterrissando agilmente no telhado. Por um momento pareceu que o telhado poderia desmoronar sob seu peso, mas os escombros mantiveram-se unidos, apesar do dano.
Dimitri deslizou por trás do atirador quando ele se curvou para abrir seu estojo. Quando se materializou diretamente atrás do Sange rau, colocou um pé embaixo para se ancorar enquanto pegava a cabeça do lobo em suas mãos, virando para puxar a cabeça sobre o ombro dele numa posição impossível.
O telhado deslocou debaixo dele, desequilibrando-o, exatamente quando um tiro ecoou. O coração de Dimitri saltou em seu peito. Este homem não era Hemming. Deveria saber que o recém transformado Sange rau era uma isca para atraí-lo. Foi extremamente fácil localizá-lo.
Dimitri saltou no ar, ainda segurando o lobo num bloqueio inquebrável, deliberadamente batendo no telhado duro quando aterrissou, estalando o pescoço do atirador e indo direto pelo telhado frágil. Caiu no chão, no meio dos escombros e pedregulhos, o atirador amortecendo sua queda. Pegando uma estaca de prata, ele golpeou no peito do assassino e saltou para longe do corpo.
Assim que fez isto, uma segunda bala passou lamentando por sua orelha e alojou-se na parede oposta.
— Fiquem abaixados. — Ele advertiu.
As três mulheres e Arno não prestaram atenção nele, toda a concentração deles no homem deitado na frente deles.
Fen, ele está comigo e as mulheres estão aqui com Zev. Vou sair daqui, me mostrar por um momento e certificar-me que eu e não eles sejam o alvo. Este deve ser o verdadeiro Hemming, aquele que Zev falou que era um tremendo atirador. O outro era a isca.
E agora está se fazendo de isca.
É um plano decente. Você está sobre ele já?
Não até que dispare novamente.
Dimitri silvou uma maldição entre os dentes cerrados. Arriscou outra corrida, passando pelo atirador caído, cortando com sua espada de prata para separar a cabeça do corpo à medida que corria. Chegou ao buraco na parede, e em vez de ir por ele, como o assassino esperava, saltou de volta pelo buraco no telhado e correu para o outro lado.
Uma sucessão de balas o seguiu, uma estalou no tronco de árvore do outro lado da sala de reuniões, no nível de sua cabeça. Ele ziguezagueou, e então saltou abaixo, transformando-se enquanto fazia isso. Se Fen não pudesse encontrar o bastardo depois disto, teria que fazê-lo sozinho.
A luta aquietou-se nas ruas. Viu alguns corpos quando acelerou para longe da sala de reuniões, tentando rastrear a última bala que foi disparada. Não usou o vapor — o Sange rau estaria esperando por isto.
Ele não é vampiro Dimitri, Fen informou. Como pode ser Sange rau e basicamente cometer um assassinato, se não for renegado ou vampiro?
Quem está por trás disto construiu ele mesmo um exército e são fanáticos. Hemming ou é um mercenário ou acredita que o que está fazendo é certo. Estou voltando a favor do vento até ele. Está preparando seu rifle para continuar com isto. Não estou próximo o suficiente para pará-lo ainda.
Deliberadamente, Dimitri se transformou, movendo-se furtivamente pelos edifícios, dando ao atirador apenas um vislumbre ou dois dele, o suficiente para fazê-lo hesitar. Se tivesse uma missão a cumprir e fosse treinado pelo exército, não pararia até que conseguisse matar seu objetivo.
Ele está comprando isto, Dimitri, tenha cuidado. Ele é inteligente. Se exagerar na mão, saberá que estamos em cima dele.
Vou dar-lhe uma sombra para se fixar e então darei a volta e entrarei pelo outro lado.
Dimitri projetou sua sombra na loja mais próxima por onde se revelou para o atirador. A sombra abaixou-se, mantendo-se dentro das sombras mais escuras, tanto quanto possível, enquanto ele ziguezagueava pelos edifícios, movendo-se na direção da igreja. Uma vez que soube que sua sombra clone parecia realista, mas estava onde o atirador pudesse apenas pegar um vislumbre disso, começou a circular ao redor para se aproximar de Hemming do lado oposto de Fen.
Ele recostou-se no telhado e está caçando você, Fen reportou. Estou em posição e parando. Não quero assustá-lo.
Um bando caçando era novidade para a maioria dos Cárpatos, mas Dimitri e Fen usaram as táticas dos Lycans frequentemente ao longo dos últimos séculos. Trabalhavam bem juntos. Havia pouca diferença entre caçar o vampiro e caçar o Sange rau — não agora, quando estavam empatados em velocidade, inteligência e habilidade.
Dimitri aproximou-se do outro lado e sinalizou que estava pronto. Tinham que ser rápidos, despojar Hemming de seu rifle e qualquer outra arma rapidamente. Ele sem dúvida nenhuma era tão mortal como eles.
Fen atacou pela esquerda, riscando rápido, mantendo sua energia contida, batendo em Hemming, rolando-o para fora da árvore e jogando o corpo dele abaixo, para que quando batessem no chão, pudesse enfiar a estaca no coração do assassino.
Hemming foi atingido com tanta força que soltou o rifle, mas quando caíram e as pernas de Fen engancharam ao redor dele, ele puxou seu próprio punhal e apunhalou a coxa de Fen. Ele foi rápido, perfurando carne e músculos três vezes antes de baterem no chão. Fen não vacilou, ignorando os ferimentos, esperando seu momento. Golpeou a estaca no peito de Hemming enquanto aterrissavam na terra, usando o impulso da queda e o chão implacável para assegurar que atingiu fundo o suficiente. Hemming estava se debatendo muito, a estaca cortou a extremidade de seu coração, mas falhou em perfurar o centro.
A respiração foi expulsa do pulmão deles, mas Hemming reteve a posse de seu punhal. Rolou e esfaqueou o peito e a garganta de Fen em desespero, tentando puxar a estaca de prata de seu corpo enquanto fazia isto. Antes que pudesse erguer-se, Dimitri estava lá, a espada de prata relampejando. Ele separou a cabeça e Fen puxou a estaca e golpeou-o novamente, desta vez penetrando o coração por completo.
Os dois sentaram no chão ao lado do corpo, tentando recuperar o fôlego.
— Estamos melhorando nisto. — Fen disse.
Dimitri inspecionou o dano em seu irmão.
— Posso ver isto. — Passou a mão pelo cabelo antes de se ajoelhar para deter o fluxo de sangue que vazava dos ferimentos na coxa de Fen. — Ele tinha treinamento militar Fen, mas não era como nós. Não tinha séculos de crescimento como um sangue misturado. De onde estão vindo?
Fen suspirou.
— Temos um deles vivos. Os membros do conselho e Mikhail o questionarão. Notei que ele tinha uma pequena tatuagem em seu pulso, um tipo complicado de desenho tribal, num círculo. Arno tem essa mesma tatuagem.
Dimitri puxou as mangas do atirador.
— Ele tem isto também. Assim como a maioria dos Lycans mortos que encontrei na rua.
— Então se alguém quer matar todos os sangues misturados, por que os estão usando para ajudar a causa deles? — Fen perguntou. — Quanto mais fundo entramos neste quebra-cabeça, menos sentido isto faz.
— Estou louco por uma explicação. — Dimitri admitiu. — Mas aquele símbolo que todos usam significa algo.
— Teremos que perguntar a Zev o que significa. — Fen respirou fundo. — Se ele viver. Estão ainda lutando por ele.
— Vamos ajudar. — Dimitri disse. — Fiz contato com Gabriel e Lucian, e eles têm tudo sob controle e não somos necessários agora. Farão a limpeza e queimarão quaisquer corpos.
Fen assentiu e aceitou a ajuda de seu irmão para erguer-se.
— Andre, Tomas, Lojos e Mataias levaram os restantes dos membros do conselho para a pousada. Mikhail e Gregori estão separando tudo isto. Temos apenas que nos certificar que Zev sobreviva.
Dimitri e Fen fizeram seu caminho de volta pelos entulhos na sala de reunião. Skyler e Tatijana estavam alternando os turnos de trabalho dentro do corpo de Zev. Arno deu sangue mais de uma vez e claramente estava atordoado, deitado ao lado do corpo de Zev.
Skyler parecia tão pálida que Dimitri apressou-se para o lado dela, envolvendo os braços ao redor dela e imediatamente oferecendo-lhe sangue. A energia que tomava para curar um ferimento tão severo exigia um tremendo fornecimento de sangue vital.
Zev precisa de sangue muito mais do que eu. Arno não pode continuar e tanto Tatijana quanto eu, tivemos que trabalhar para limpar e fechar este buraco terrível em seu corpo. A estaca atravessou vários órgãos, Skyler reportou para os dois.
Fen imediatamente abaixou-se ao lado de sua companheira.
— Posso dar-lhe sangue.
Tatijana olhou para ele, dando uma olhada nos ferimentos dele. Ela suspirou, mas não disse nada quando ele rasgou uma laceração em seu pulso e segurou-a sobre os lábios de Zev, gotejando o sangue antigo na boca dele. Zev não reagiu e as gotas correram abaixo pelo queixo dele.
Zev, você deve tomar este oferecimento de sangue, Branislava chamou por ele. Permita a Fen, seu irmão de sangue, dar-lhe o que você precisa.
Zev ouvia aquela voz angelical, mas não podia responder. Ouviu o chamado e os cânticos, o aumento no volume de vozes, tanto de guerreiros como mulheres, e até mesmo crianças, tentando trazê-lo de volta.
Sim, volte.
Aquela voz era uma melodia, uma doce e suave melodia tocando sua mente, tão enganosa quanto o vento. Sabia que deveria reconhecer isto, mas estava cansado e tentando resolver o quebra-cabeça que era tão difícil. Estou cansado desta vida. Vivi um tempo muito longo. A guerra e as mortes se tornaram tudo que resta para mim. Partir seria muito mais fácil do que enfrentar a dor dos seus ferimentos horrendos e a solidão infinita que se seguiria. Fez seu dever um milhão de vezes. O que realmente sobrou para um homem como ele?
Fique. Estamos vinculados, você e eu. Nossos espíritos estão tecidos juntos. Não havia outro jeito de salvar sua vida. Se você for, me levará com você.
Isso não fazia sentido para ele. Não estava vinculado a ninguém, para sempre sozinho. O sangue que gotejava em sua boca tornou-se um incomodo. Lambeu as gotas para removê-las. O gosto explodiu por seu sistema, uma descarga de adrenalina. Fen. Fen estava lá. Claro.
A adrenalina permitiu que identificasse aquela suave voz melódica. Branislava, a mulher que não saía de sua mente. Jamais se envolveu com uma mulher. Seu estilo de vida proibia tal coisa. Ninguém jamais o intrigou ou atraiu do modo como ela fez. Ela estava fora dos limites e ainda assim, não conseguia tirá-la de sua cabeça.
Estou sonhando. Esta era a única resposta, e homens como ele não sonhavam com belas mulheres tecendo o espírito delas com o dele, a fim de lutar por sua vida. Ninguém faria isto. Ninguém. O risco era extremamente grande.
Fique comigo. Tome o sangue que Fen oferece. É sangue dos antigos Cárpatos. É sangue Lycan. Iremos juntos ao solo, permitindo que a terra o cure. Você não estará sozinho. Amarrei meu destino ao seu.
Ela tornou a revelação tão simples como se o que fez não fosse nada. Sabia disso. Zev empurrou de lado o cansaço e forçou seu corpo a responder à oferta de Fen. Não podia fazer nada menos por uma mulher que oferecia sua vida pela dele. Não era um covarde e não tinha medo da dor. Não permitiria a uma inocente morrer simplesmente porque era uma estrada difícil regressar à vida.
Toda a sua vida foi uma luta. Não perderia esta aqui.
Skyler correu para os braços de sua mãe, a abraçando com força.
— Senti tanto sua falta, Francesca. Me desculpe por causar tanta preocupação.
— Você nos matou de susto. — Francesca admitiu, com lágrimas brotando dos olhos. — Se não fosse por Gabriel, eu teria... — Ela parou e balançou a cabeça. — Nunca mais quero passar por isso novamente. Graças a Deus sua ligação com Dimitri era tão forte que ele foi capaz de trazê-la de volta. Percebe o quão longe você foi? Nem Gabriel nem eu pudemos chegar até você.
Skyler a abraçou forte novamente.
— Tentei me segurar quando percebi que estava indo embora muito rápido, mas sabia que ele viria por mim. Eu me agarrei o melhor que pude, mas estava tão frio e eu estava tão perdida, apavorada por pensar que talvez não conseguisse me segurar tempo suficiente.
Foi sua crença absoluta que Dimitri a encontraria que permitiu que ela, assim como seu espírito fugindo de seu corpo moribundo, suportasse o frio gelado e o escuro. Ela ficou aterrorizada nesse outro lugar, o lampejo de sua vida atraindo a atenção daqueles agachados na escuridão, à espera de uma nova alma para roubar.
Francesca se afastou para olhá-la com cuidado. — Eu a examinei quando voaram de volta para cá, embora você provavelmente não se lembre de muita coisa. Estava exausta, precisava de sangue, descanso e cura. Como está se sentindo?
— Sinto-me bem. — Skyler assegurou. — Totalmente curada. Não podia esperar para vê-la, mas Mikhail queria que Dimitri falasse com os membros do conselho primeiro.
— Eu ouvi. — Francesca deu um leve sorriso. — Foi capaz de manter a calma enquanto eles conversavam como se Dimitri fosse um inseto a ser esmagado?
— Quer dizer exterminado. — Skyler corrigiu com um leve sorriso. — Não quis explodir o lugar, foi outra pessoa.
Caminharam juntas para o prado, atravessando um campo de flores silvestres.
— Ele é bom para você. — Francesca observou. — Está confiante e feliz.
— Estou tão apaixonada por ele. — confessou Skyler. — Mais até do que pensava ser possível.
— Devíamos ter visto que estava crescida. — Francesca admitiu. — Nenhum de nós podia suportar a ideia de que iria para longe de nós tão cedo. Foi egoísta, mas você é nossa primeira e sempre fomos um pouco superprotetores.
— Eu entendo. Odiei mentir para você. Foi realmente o pior sentimento do mundo, mas ninguém me dava nenhuma informação sobre onde ele estava ou o que estavam fazendo para salvá-lo.
— Isso foi errado também. Sabíamos que era sua companheira. — disse Francesca.
Alcançaram o centro do prado, onde as flores cresciam em abundância. Francesca se sentou no meio das perfumadas flores silvestres. — Por ser sua companheira, deveria ter sido informada a todo o momento.
— Ainda assim — Skyler sentou ao lado de sua mãe adotiva — não poderia ter ido sozinha resgatá-lo, e ele não teria vivido. O destino parece ter um jeito engraçado de fazer as coisas certas.
Francesca sorriu para ela.
— Você veio até nós e encheu nossa vida, Skyler. Nunca pense que não sinto um amor tão feroz por você como sinto por Tamara. Nós escolhemos você. Acho que você sempre quis ser nossa.
— Também acho que sim. — disse Skyler. Ela ficou em silêncio por um momento e, em seguida, pegou a mão de Francesca. — Sabe que Dimitri tem o sangue misto, a mesma coisa que fez toda esta luta.
— O Hän ku pesäk kaikak. — disse Francesca com firmeza. — Ele pode ter sido o catalisador, mas não foi a causa. Este tipo de guerra teve de ser planejada com muito tempo de antecedência. Nossos inimigos não tinham como saber que Dimitri era Hän ku pesäk kaikak, muito menos que cairia em suas mãos. Usaram-no como desculpa para iniciar a guerra.
Skyler assentiu.
— O problema é que não sabemos o que esse sangue misto pode fazer com uma criança. Manolito não engravidou MaryAnn. Tatijana está como eu, ainda não chegamos lá, mas um dia chegaremos. Pode ser que não possamos ter filhos.
Francesca ficou pensativa como sempre. Não saltaria para tranquilizar Skyler, mas meditaria.
— Há duas maneiras para você e Tatijana encararem isso. Podem tentar engravidar agora, antes que tenham sangue Lycan suficiente para transformá-las completamente, ou podem esperar para ver. Não há nenhum sentido em se preocupar sobre algo que não se tem controle.
— Apenas pensei... — Skyler parou e estendeu a mão para agarrar a haste de uma flor, puxando-a para que pudesse sentir o cheiro do centro perfumado.
— O quê?
— As flores no alto das montanhas, Estrelas da Noite, você acha que a cerimônia ajudaria na fertilidade? Acha que realmente impede o aborto?
— Sei que ela aumenta sua dependência, por falta de uma palavra melhor, do gosto e cheiro de seu companheiro. O ritual da flor parece criar um apertado vínculo sexual entre os companheiros, mas saber se ajuda ou não a manter a criança viva, ninguém honestamente sabe ainda.
— Mas Gregori e Savannah, Mikhail e Raven não fizeram a cerimônia, e seus bebês sobreviveram.
— Como o menino de Shea e Jacques. Tamara sobreviveu. E a pequena Jennifer de Corrine e Dayan está indo bem e ela teve um começo muito assustador, — disse Francesca. — Nenhum deles sequer sabia sobre a cerimônia da fertilidade.
— Você sabia sobre isso? — perguntou Skyler.
— Eu ouvi falar da cerimônia, mas é claro que nunca a testemunhei. — admitiu Francesca. — Por que está tão preocupada em ter um filho, Skyler? Você e Dimitri mal começaram suas vidas. Você saberá, eventualmente, porque na verdade tem todo o tempo do mundo. Não há relógio biológico para você. Você é um Cárpato.
Skyler puxou a bainha de sua jaqueta.
— Talvez seja verdade, mas e se o relógio estiver correndo? E se não puder ter filhos, porque serei uma sangue misto? Josef teve de me converter. — confessou com um pouco de pressa.
— Porque Dimitri tinha de prendê-la à terra.
Skyler sacudiu a cabeça.
— Não apenas isso. Ele estava com medo de me converter. Nenhuma mulher atravessou a conversão como uma sangue misto.
— MaryAnn...
— Já era Lycan. — concluiu Skyler. — O corpo dela se recusou à conversão total. Ela manteve seu lobo. As duas linhagens convivem nela, tal como acontece com Fen e Dimitri. — Ela mordeu o lábio e olhou para a mãe. — Eu sabia de tudo, cada preocupação de Dimitri, quando pedi que me convertesse. E aceito se não puder ter filhos, realmente o faço. Dimitri é meu tudo, mas sempre me imaginei com filhos.
Francesca acariciou o cabelo de Skyler.
— Não desista da ideia. E precisa conversar com Dimitri sobre seus medos.
— Não quero fazê-lo se sentir mal, não quando ele não pode fazer nada sobre isso. Essa coisa de sangue misto não é culpa de ninguém. Tudo começou há séculos atrás, quando ele lutava contra vampiros, precisava de sangue e pronto. Ele é o que é, e eu serei o mesmo. — Ela balançou a cabeça. — Acho que eu tinha todas essas fantasias na minha cabeça sobre minha casinha e meus filhos e você e Gabriel vindo nos ver. É bobagem.
— Não é bobagem. Você tem uma casa que você e Dimitri transformarão em um belo lar. — Francesca apontou. — Se tiver filhos ou não, vamos vê-la. Skyler, não há problema em ficar preocupada ou chateada, mesmo quando tem um companheiro. É uma parte natural da vida. Dimitri está lá para você conversar. Se as crianças são importantes para você, ele vai encontrar uma maneira de fazer isso acontecer.
Skyler assentiu.
— Sei que ele vai. Só precisava da minha mãe por um minuto para me dizer que tudo vai ficar bem.
— Ficará. — Francesca assegurou. Ela olhou ao redor do prado. — Olhe como a noite é bela, querida. Quem pensaria que apenas dois dias atrás, os homens estavam matando uns aos outros?
— Alguém já sabe por quê?
Francesca sacudiu a cabeça.
— Tenho certeza de que todos pensavam que tinham um bom motivo. O conselho Lycan tenta trabalhar uma aliança com Mikhail. Enviaram suas próprias matilhas, as que acreditam que podem confiar. — Ela abraçou Skyler novamente. — Você salvou a vida de Zev, Sky. Era uma ferida impossível de curar, mas você salvou a vida dele.
Skyler sacudiu a cabeça.
— Tive muita ajuda. Tatijana e eu trabalhamos em equipe. Quando uma estava esgotada, a outra entrava. Os Cárpatos vieram por nós, apesar da batalha acontecendo, e Branislava — ela balançou a cabeça —, nem sei o que ela fez.
— Ela está com ele agora, na terra? — perguntou Francesca.
Skyler assentiu.
— Acho que todo mundo teme que se Zev acordar, vai pensar que nós o enterramos vivo. Ele é mais Lycan que Cárpato, pelo menos em sua mente. Conheço a sensação de pensar estar enterrada sob a terra e não poder sair. — Ela estremeceu e colocou os braços em torno de si mesma.
— Talvez seu pai e eu tenhamos prestdo um desserviço permitindo que continuasse humana.
Skyler enviou à sua mãe um sorriso.
— Não, acho que me criou exatamente certo. Dimitri está me ensinando tudo que preciso saber, e Ivory está me ajudando também. Ela e Razvan nos ofereceram filhotes de lobos. Nós dois estamos muito animados em sermos capazes de tê-los e nos tornar uma matilha com eles.
Os olhos de Francesca se arregalaram.
— Isso é incrível. Ivory e Razvan são muito... indescritíveis. Fico feliz que ele está estendendo a mão para você e compartilhando sua vida um pouco mais.
— Fui mais eu do que ele que manteve distância. — Skyler admitiu. — A ideia de ter sangue mago era repugnante para mim, até que precisei. De repente estava mais do que grata por tê-lo. Percebi que o sangue e a linhagem não têm relação com o fato de eu escolher ou não usar meus dons para o bem ou o mal. Essa é minha escolha e minha responsabilidade.
Francesca sorriu para ela.
— Estou muito orgulhosa de você. As coisas que conseguiu já estão muito além de sua idade. Dimitri tem sorte por ter você.
— Tenho sorte por tê-lo. É tão bom e paciente comigo. Nunca me forçou a nada. É apenas esta constante em minha vida. Uma rocha. Sempre lá, sem esperar nada de mim. Como poderia não me apaixonar por ele?
Francesca pegou a mão dela.
— Acho que a cerimônia da flor seria bom para você, Skyler. É capaz de ficar com ele intimamente sem entrar em pânico?
Skyler assentiu. Havia se acostumado com a forma de comunicação aberta dos Cárpatos e até mesmo com sua mãe, ou talvez porque sempre falava sobre as coisas com Francesca, falar sobre fazer amor com Dimitri não a envergonhava.
— Até agora, tudo bem. Ele é muito gentil e paciente comigo. Eu o amo ainda mais por isso.
Francesca assentiu.
— Estou grata que seja seu companheiro. É um bom homem e um guerreiro feroz. Vai te proteger sempre. É bom saber que é tão capaz. Gabriel me contou sobre sua última elevação. — de repente, ela levantou a cabeça. — Oh, querida. Acredito que seus amigos estão chegando, Skyler. Eu os amo muito, mas esta noite a exuberância deles será um pouco demais para mim.
Skyler agarrou sua mão, de repente compreendendo. Francesca estava muito pálida, e não ajudou a salvar Zev, embora fosse uma tremenda curadora.
— Está grávida, não é? Não quer me dizer por causa dessa minha preocupação boba.
Francesca se inclinou para beijá-la no rosto.
— Sim, estou grávida. Com tudo isso acontecendo, a luta, o susto com você, estou um pouco esgotada. Gabriel quer que a gente vá para casa para que eu possa descansar, mas ele é necessário aqui, e não quero partir até saber que você está segura.
— Mãe, deveria ter me dito de imediato em vez de me deixar falando sobre se posso ou não ter um bebê. Tem que saber que estou muito animada e feliz por você e Gabriel, por todos nós. Amo bebês. Tamara é a irmã mais bonita e melhor do mundo. Já contou a ela?
Francesca sacudiu a cabeça.
— Pensamos que é melhor esperar para ver se a gravidez continua. Sabe que é sempre muito assustador durante a gravidez.
Skyler fez uma careta.
— Já teve problemas?
— Só um pouco, enquanto estava viajando. Tenho passado a maior parte do meu tempo com Sara. Ela está em repouso, assim mantemos as coisas tão silenciosas quanto possível, com tudo que está acontecendo. Ela está no final, enquanto estou apenas começando.
Skyler deixou escapar o fôlego. Ela podia ouvir Josef e Paul correndo pelo campo em direção a elas, Paul gritando com entusiasmo e Josef saltando sobre ele.
— Francesca, deixe Gabriel te levar para casa. Chame Darius e Julian. — Darius era o irmão mais novo de Gabriel. — Eles virão. Sabe que virão. Podem tomar seu lugar. Vou ficar bem. Tenho toneladas de proteção. Não posso me virar sem tropeçar em homens Cárpatos observando se nenhum assassino se arrasta para fora da toca para me pegar.
Francesca suspirou, os dedos mais uma vez passando carinhosamente pelos cabelos de Skyler.
— Se formos, sabe que Lucian e Jaxon irão conosco. Lucian ainda cuida de Gabriel como um falcão. Gabriel acha que é engraçado.
— Vá, mãe. — incentivou Skyler. — Mikhail faria tudo para mandá-la para casa. — Ela se inclinou e beijou sua mãe.
— Você está em uma espécie de lista negra.
— Vá. Realmente. Estarei nessa lista você esteja aqui ou não. Prefiro saber que você e o bebê estão fora de perigo e que você tem uma boa chance de levar adiante esta pequena vida. Quanto a não ser capaz de ter um bebê, terei meus irmãos e irmãs. — Ela abraçou Francesca apertado. — Vá para casa por mim, mãe.
Passos pesados anunciaram a chegada de Paul e Josef.
Francesca sorriu para Skyler.
— Essa é minha chance. Vou falar com Gabriel. Sei que Ivory e Razvan estarão perto para cuidar de você.
— Ahhh, Sra. D.! — Josef derrapou até parar e se curvou, tirando um vistoso chapéu preto da cabeça. — Não se preocupe com a jovem Skyler Rose. Estou aqui para salvar o dia.
— Obrigada, Josef. Agora que sei que ela está segura, vou encontrar meu companheiro. Oi, Paul. É tão bom ver você de novo. Os dois cuidem bem da minha menina.
Paul jogou o braço em volta do pescoço de Skyler e fingiu estrangulá-la. — Ela está segura com a gente. — ele rosnou de maneira ameaçadora, piscando pra Francesca.
Skyler abaixou o ombro e o jogou em um movimento suave de rolamento. Paul deu uma cambalhota e caiu de pé.
— Vejo que os meninos têm tudo sob controle. — disse Francesca. Ela jogou um beijo para a filha e foi embora, deslocando-se em vapor e deslizando longe.
— Bom movimento, espertinha. — disse Paul com admiração. — Deixei você se mostrar pra sua mãe.
Skyler riu.
— Você foi quem me ensinou esse movimento, por isso não faça beicinho. — Ela jogou os braços ao redor dele e beijou sua bochecha. — Como está se sentindo? Você foi o único de nós que não pôde ir para a terra se curar corretamente.
Josef bufou.
— Não lhe dê qualquer simpatia. Está relaxando desde que chegou aqui. Tem a irmã e quatro tias para mimá-lo, assim como seus tios, que não ousaram lhe dar o sermão que ele tanto merecia, porque vão enfrentar a ira de suas companheiras. Elas o estão paparicando.
O sorriso de Paul ficou um pouco envergonhado.
— Pode haver alguma verdade nisso. É melhor tê-las babando sobre mim que Zacarias e Rafael me esbofeteando ou algo igualmente desagradável.
— Agora ele tem um ponto. — disse Skyler. — Prefiro a simpatia daqueles dois, ou de qualquer um dos irmãos Da Cruz, neste assunto do que a sua censura.
— E você não se saiu tão mal, querida. — Paul cutucou as costelas de Josef. — Não pense que não percebi você relaxando também.
Josef sorriu.
— Minha mãe e minha tia ficaram um pouco agitadas, admito. E Byron e Vlad foram quase tão intensos quanto Zacarias e Rafael. Foi bom ser mimado depois que pensei que poderia ser esfolado vivo por causa da nossa pequena aventura.
— Fizemos a coisa certa. — disse Skyler, sóbria. — Obrigada a ambos. Sem vocês, Dimitri teria morrido. Não há dúvida sobre isso. Eu não poderia ir atrás de Dimitri sozinha, e vocês vieram por mim quando mais precisei. Nunca vou esquecer isso.
— Fizemos um pacto há muito tempo, ficar juntos. — disse Josef. — Isso é para sempre para mim.
Paul acenou com a cabeça.
— Estou dentro. Posso não ter o para sempre como vocês dois, mas...
— Vou convertê-lo eu mesmo. — disse Josef. — É claro que você tem que ser convertido. Por que não? Você tem sangue cárpato suficiente em você para ser Cárpato.
Paul deu de ombros.
— Não estou certo se meus dons psíquicos são fortes o suficiente para me permitir sobreviver à conversão. Ginny talvez, mas não sabemos. Eu nunca arriscaria com ela, e nem Colby, por isso apenas vamos esperar para ver o que acontece no futuro.
— Você é psíquico o suficiente. — declarou Josef.
— Como foi, Skyler? Atravessar a conversão? Parecia horrível. Fiquei aterrorizado por você.
— Ela estava morta. — disse Josef. — Provavelmente não se lembra disso.
Nós se formaram no estômago de Skyler. Lembrava-se de todas as convulsões, daquela onda interminável de dor que atravessou seu corpo, destruindo tudo que era humano e a remodelando para dar à luz a um Cárpato.
— Eu me lembro. — admitiu, em voz baixa.
Ela estremeceu, seu corpo esfriou reagindo à memória. Ela não conseguia imaginar como alguém passaria por isso sem ajuda. Dimitri tomou o peso da conversão, tomando seu corpo e deixando-a fora, protegendo-a tanto quanto possível da dor arruinando seu corpo físico.
Precisa de mim?
Dimitri.
No momento que ele se derramava em sua mente, a enchendo de carinho e amor, ela se sentia diferente. Sem medo.
Paul me perguntou sobre a conversão. Lembro da dor. E de você. Você me protegendo. O que fez foi extraordinário.
O que fiz foi tomar seu corpo. É proibido.
Eu te dei permissão, o que o torna diferente. Acho que nunca te agradeci. O que fez foi salvar minha vida e tirar a dor. Te amo mais do que tudo, Dimitri.
Naquele momento, queria se aproximar e tocá-lo, acariciar sua face amada com os dedos e traçar cada linha e cicatriz.
Deixo esse encontro com o príncipe e os outros, se quiser que eu vá com você.
Skyler se encontrou sorrindo. Ele faria isso mesmo. Simplesmente sairia de uma reunião importante com o príncipe para atender cada necessidade ou desejo dela. Ela colocou os braços em volta de si e se abraçou forte. Às vezes, não podia acreditar que tinha tanta sorte.
Posso conversar com Josef e Paul enquanto você trabalha. Sei que essa reunião é importante.
Temos que elaborar um plano para proteger os membros do conselho durante o dia, enquanto estamos no subsolo. Neste momento, ninguém sabe ao certo quais Lycans podem ser confiáveis. Dois membros do conselho e um bom terço dos Lycans restantes têm a mesma pequena tatuagem que estava sobre os assassinos.
Será que o guarda de Arno disse alguma coisa? ela perguntou, esperançosa. Dimitri se assegurou que ele permanecesse vivo para que pudessem interrogá-lo.
Houve um pequeno silêncio. O coração de Skyler disparou. Apenas me diga.
Ele foi assassinado. No início, acreditamos que tinha cometido suicídio, mas descobrimos uma pequena marca de agulha no pescoço dele. Alguém o envenenou.
Skyler fechou os olhos por alguns instantes. Então sabe com certeza que pelo menos mais um dos guardas de elite é perigoso para todos nós.
Ou um membro do conselho. Não podemos descartá-los. Arno foi muito franco contra qualquer pessoa com sangue misto. Na verdade, é apaixonado por suas crenças.
Ele se esforçou muito para ajudar a salvar a vida de Zev.
Ele não sabe que Zev é sangue misto. Dimitri a inundou com calor novamente. Divirta-se com Paul e Josef. Vou encontrá-la em casa em breve.
O baixo tom sensual se moveu através de seu corpo como melaço grosso. O homem podia fazê-la querê-lo apenas olhando para ela e mais ainda falando com aquela voz suave, sexy.
Josef gemeu em voz alta.
— Pare de falar com esse seu homem e nos ignorar. Está com cara de pateta.
Rindo, ela o cutucou com a ponta da bota.
— Não estou com cara de pateta.
— Está toda distraída e sonhadora. — Josef acusou. — Está doente.
— É uma doença boa. — brincou Paul. Ele apertou as mãos contra o peito sobre o coração e caiu de costas na grama. — Oh, Dimitri, você me faz desmaiar.
— Vou contar que você disse isso, Paul. — Skyler deu-lhe um soco forte na coxa, na esperança de deixar sua perna dormente. — Ele vai ficar encantado ao saber que você desmaia por ele.
— Ele é tão viril e tudo. — acrescentou Josef.
— Ai! — Paul esfregou a coxa, olhando para ela. — Levei um tiro, mulher. Tenha um pouco de respeito por minhas feridas ainda se curando.
Josef revirou os olhos.
— Lá vai ele procurando por simpatia feminina, lembrando a todos muito sutilmente que é um herói.
Skyler deu um pequeno bufo zombador.
— Ele está latindo para a árvore errada se espera simpatia de mim. Eu estava lá, lembra, Paul? Não levou um tiro na bunda?
Josef e Skyler explodiram numa gargalhada.
Paul olhou para eles.
— Não levei um tiro na bunda como você bem sabe. Vocês são dois inúteis. Tenho que aproveitar enquanto puder. Ter vocês dois uivando como hienas não vai ajudar minha causa nem um pouco.
— Ele tem um ponto. — disse Josef. — Somos seus melhores amigos. Realmente deveríamos ajudá-lo. Zacarias e Rafael estão na sua cola o tempo todo.
— E Colby realmente supervisiona uma dieta “saudável” para mim. — Paul deu um pequeno gemido. — Sou um homem crescido e ela acha que, só porque levei um tiro, voltei a ser uma criança aos seus olhos. Realmente tive que fugir para encontrá-la, Skyler. Essa é a próxima vigilância que têm sobre mim.
— Pobre Paul! Ter que aturar todas aquelas pessoas te amando e cuidando de você. — Skyler brincou. — Fico tão triste por você.
Paul fez uma careta para ela.
— Tudo bem, eu desisto. — Ele ergueu as mãos em sinal de rendição. — Não estou recebendo nenhuma simpatia dessa multidão.
— Poderíamos comparar as cicatrizes. — Josef ofereceu. — Isso pode fazer você se sentir melhor. Só tenho algumas. — Ele parecia desapontado.
— Não. Skyler ganharia essa rodada. — disse Paul. — Foi crivada de balas. Só me acertaram seis vezes.
Skyler estremeceu.
— Não diga “crivada”. Vocês dois estão um pouco loucos, sabiam disso? Quem quer levar um tiro e comparar cicatrizes?
As sobrancelhas de Josef subiram.
— Sabe, mulher, você simplesmente não entende. Razão número um: garotas. Elas adoram caras com cicatrizes heroicas.
Paul acenou com a cabeça em concordância.
— Totalmente.
Skyler sacudiu a cabeça.
— Vocês dois são tristes, tristes, tristes. Não deviam precisar de truques para conseguir garotas.
— Está brincando, Skyler? — Disse Paul. — Usamos tudo que podemos. Olhe para Dimitri. Sofreu a morte por prata, valentemente permanecendo vivo, e como funcionou para ele? No final, ficou com a garota.
Risos borbulhavam.
— Ele já tinha a garota. Não precisava ficar pendurado em ganchos sinuosos de prata através de seu corpo só para me impressionar. Eu já estava impressionada. E isso devia lhes dizer algo.
Josef e Paul olharam um para o outro.
— Que você é fácil. — respondeu Josef.
Skyler bateu na sua nuca.
— Essas balas não são nada comparadas com o que vou fazer com você.
— Se acalme, irmãzinha. — disse Josef. — E derrame seu segredo, porque você tem um e queremos saber tudo sobre ele.
Skyler tentou seu rosto mais inocente, arregalando os olhos e parecendo muito séria.
— Do que está falando?
— Do que é a palavra. — disse Paul. — Eu sabia. Está escondendo alguma coisa. Esteve saindo com Ivory e Razvan por horas nas últimas duas noites.
— Ele é meu pai biológico. Estou começando a conhecê-lo. — Skyler se defendeu.
— Naquela fantasia de caçadora? — perguntou Josef.
— Tem me espionado. — Skyler acusou.
— Tenho tentado espionar. — Paul a corrigiu sem nem mesmo uma pequena pitada de remorso. — Sério, os dois estavam em nós em um segundo, e até Dimitri parecia intimidante quando nos mandaram para casa.
Skyler fez uma careta.
— Claramente tenho muito a aprender se todos os três sabiam que estavam nos seguindo e os pegaram, mandaram embora e nunca deixaram transparecer. Eu nem desconfiei. — Ela olhou para eles. — Mas deveria. Vocês dois são terríveis.
— Extremamente bons. — brincou Paul. — Vamos lá, qual o segredo?
— Estamos ganhando nossa própria matilha. — disse Skyler. — Quer dizer, se eu puder dominar as técnicas e conseguir o papel de perseguidora. Dimitri não tem nenhum problema, mas estou sempre atrapalhando.
Josef assobiou.
— Totalmente legal. Uma matilha de lobos. Sempre pensei que Ivory fosse a mais legal do legal, mas agora você está simplesmente além.
Vindo de Josef era um grande elogio. Skyler riu.
— No meio dessa coisa horrível acontecendo ao nosso redor e para nós, ainda me sinto a garota mais sortuda do mundo. Tenho Dimitri, os dois melhores amigos do mundo e agora Ivory e Razvan estão nos dando os lobos para cuidar.
— É um compromisso de vida, não é? — Disse Paul. — Os lobos não têm que fazer parte de sua família?
Skyler assentiu.
— Temos que estar tão comprometidos e dedicados a eles como estarão para nós.
— Tenho que concordar com Josef — disse Paul —, você está simplesmente além.
Dimitri surgiu do nada, assustando todos os três.
— Os dois cavalheiros estão sendo bons para minha senhora?
— Quer dizer me estrangulando, me dando chaves de braço e me provocando sem piedade? Se assim for, então sim, estão sendo ultrabons para mim. — disse Skyler, jogando-se em seus braços. Apenas encostar seu corpo contra o dele a fazia se sentir protegida e segura. — Senti sua falta.
Josef gemeu.
— Lá vem. Ela tem aquela cara de pateta novamente. Essa é nossa deixa pra sair.
— Corra como um coelho agora que Dimitri está aqui. — Ela começou a cantarolar uma música antiga que Francesca sempre cantava quando Skyler era mais jovem. — Meu namorado voltou...
— Estou saindo graciosamente. — disse Josef. — É a única coisa cavalheiresca a fazer quando você tem esse olhar bobo.
— Tenho que concordar com meu irmão. — disse Paul. — Você parece um pouco apaixonada.
Cada um deles acenou e começou a trotar de volta para a aldeia. Skyler os deixou quase chegar à segurança e, em seguida retaliou mandando uma rajada de vento soprando num mini tornado de folhas e detritos ao seu redor. Galhos e musgo os cobriram, até mesmo furando os espinhos no cabelo de Josef.
— Você tinha que se mostrar, não é? — Josef disse. Ele cuspiu musgo de sua boca.
— Você acredita na vingança. — Dimitri a acusou e a virou em seus braços para que pudesse olhar para o rosto dela. — Bela, mas estou começando a pensar que o título de "anjo" pode ter que ser alterado.
— Já que nunca realmente me chamou de anjo — disse Skyler —, não estou ofendida.
— Vamos torcer para que eu nunca te ofenda. — disse Dimitri. — Aqueles que o fazem não terminam muito bem.
Ela alisou as linhas em seu rosto com o dedo.
— Já ouviu falar sobre o que Zev e Branislava estão fazendo?
— Fen, Tatijana e eu temos nos revezado, dando-lhes sangue. Zev até agora só responde quando Bronnie o empurra a aceitar o sangue. Ele não recuperou realmente a consciência. Tatijana está preocupada com sua irmã. Para mantê-lo conosco, ela teceu seu espírito através do dele. Seja qual for seu destino, então será o dela.
— Por que ela faria isso? — perguntou Skyler. — Ele é virtualmente um estranho.
Dimitri deu de ombros.
— Curadores curam de qualquer maneira que possam. Todos vamos longe demais, às vezes, para salvar alguém, até mesmo estranhos. Olhe Ivory. Ela sabia que não deveria manter esses filhotes de lobos, mas não conseguiu evitar.
Ele apertou Skyler e a levou para o ar. Ela adorava voar, sozinha ou com ele, isso não importava. Apenas a maravilha de se mover através de um céu noturno, com nuvens e estrelas ou não, não importava. A sensação era a coisa mais incrível. O vento em seu rosto, as borboletas no estômago, e a vista era tão diferente de abaixo.
Enquanto se moviam através das árvores na floresta densa, ela começou a abrir os botões da camisa de Dimitri um por um, até que seu peito nu estava exposto. Rodeando o pescoço com os braços, ela se apoiou nele para traçar os músculos pesados com a língua. As cicatrizes estavam lá, mas não tão rígidas, brutas ou descoloridas. Os elos da corrente eram meras linhas brancas, desbotadas agora. Ela sabia que nunca seria capaz de fazê-las desaparecer por completo, mas ela continuou traçando os contornos ao longo do seu corpo, deliciando-se pela forma como recobrava a vida gloriosa sob seus cuidados.
— Leve-me para o campo da flor da fertilidade, Dimitri. — ela sussurrou. — Faça amor comigo lá. Não tanto para que eu possa ou não engravidar, mas ouvi que as flores realçam a necessidade sexual um pelo outro. Nunca quero te decepcionar. Nunca mais.
Ele mudou de direção.
— Nada que faça me decepciona. Quando fazemos amor, é sempre bonito. Se houver algum problema, vamos parar e conversar.
Skyler colocou a cabeça contra o peito dele, ouvindo a batida constante de seu coração.
— Eu quero mais para nós. Quero sexo selvagem e louco às vezes. Não só por você, Dimitri, mas por mim. Às vezes, quando estamos fazendo amor, vejo essas imagens em sua mente, ou talvez estejam na minha e quero isso para nós, assim como o que temos agora, mas honestamente, ao mesmo tempo tenho medo.
— Temos todo o tempo do mundo para sexo selvagem e louco, Skyler. — disse ele suavemente. Mais uma vez estavam fora, ao ar livre, indo até a montanha. — Dê tempo a si mesma. Sexo com a gente é tudo sobre confiança. Quanto mais confia em mim, quanto mais sabe que está absolutamente segura comigo, melhor será e mais coisas poderemos fazer juntos.
— Eu confio em você implicitamente. — disse ela. — Não posso imaginar uma situação em que não faria isso.
— E se eu vendasse você? Seria capaz de lidar com isso?
O campo de flores abaixo deles era bonito, como mil estrelas brilhantes olhando para eles, ao invés de olharem de baixo para elas. A respiração de Skyler ficou presa na garganta. Seu coração deu um salto selvagem e então se acalmou, seguindo o ritmo constante do dele. Um milhão de borboletas levantaram voo em seu estômago, mas os seios formigavam, seus mamilos endureceram e ela sentiu o familiar calor úmido entre as pernas.
— Não me importaria de tentar. — disse ela, o medo deslizando por sua coluna, mesmo enquanto cada terminação nervosa em seu corpo se tornava viva.
Ele a colocou no chão, no centro do campo, tirando a roupa dela com um simples aceno de mão. O ar da noite provocou sua pele, brincando sobre ela como um milhão de dedos, acariciando e afagando até que ela tremia de desejo.
— Adoro olhar para você. — Dimitri disse a ela. — Você é tão linda. — Ele virou o dedo em um pequeno círculo, e ela girou lentamente em torno dele. — Deixe seu cabelo solto, sívamet.
Obediente, Skyler levantou os braços, a ação levantando os seios. O frescor do ar da noite e esse simples ato de se esticar enviou uma pequena onda de calor líquido pulsando entre suas pernas. Ele não tinha que realmente tocá-la para fazer seu corpo querer o dele. A geleira azul de seus olhos se tornando cobalto com intenso desejo era suficiente.
Ela deixou a massa de seda grossa do cabelo cair pelas costas. Já estava cheio de listras coloridas, mostrando a fome gritante e necessidade por ele. Ele estava completamente vestido, seus olhos escuros uma mistura de amor e luxúria, um selo pecaminoso de pura sensualidade em seu rosto.
Em torno dela a fragrância das flores começou a assumir seu cheiro. O cheiro era inebriante e potente. Sua boca encheu d’água. A ponta da sua língua lambeu os lábios. Ela já podia sentir o gosto dele, viciante, masculino, de floresta. O sabor do guerreiro que ansiava. Estava estampado em sua pele, em seu beijo, seu sangue e na essência masculina de seu corpo.
Ele se inclinou e escolheu uma flor, oferecendo a ela com as duas palmas das mãos abertas. Enquanto o fazia, ele tirou suas roupas, em pé no meio do campo de bonitas flores. Parecia magnífico para ela, muito macho, já duro e grosso e ansioso por sua atenção.
— Às vezes meu sono é perturbado quando imagens me despertam, tomando conta do meu corpo, definindo minha imaginação e libertando a fome de todas as coisas que quero fazer com você, Skyler, todas as coisas que quero mostrar e que nos darão tanto prazer.
O som de sua voz, tão nebulosa e sensual, um instrumento de veludo que brincava sobre seu corpo como o toque de dedos, como o frio da noite, causou estragos em suas terminações nervosas. Levou um momento para afastar o olhar de sua impressionante ereção e inspecionar a flor. A flor Estrela da Noite parecia ter uma impressionante própria ereção.
Skyler se viu corar. O ovário era de um vermelho carmesim profundo, com dois filamentos listrados, mas o estigma tinha cor infundindo seu corpo inteiro, porque claramente foi moldado exatamente como a pesada ereção de Dimitri. Havia até mesmo faixas brancas finas como se o estigma fosse marcado como ele.
— Use sua língua, csitri, da forma como faria em mim. — A voz dele era baixa. Sexy. Hipnotizante.
Seu olhar saltou para o dele. Ela abaixou a cabeça para as pétalas abertas, ainda olhando para ele, sua língua acariciando ao longo da cabeça bulbosa longa e eixo grosso. Ela lambeu sob a cabeça e as laterais, enrolando a língua, fingindo que era ele. Querendo que fosse ele. Compartilhando com ele que queria que fosse ele e não uma flor.
O gosto era todo de Dimitri, sua boca, seu sangue, até mesmo sua pele. Era viciante, picante, o sabor intenso explodindo através de seu corpo e enviando seu sangue disparando em suas veias.
Seus olhos escureceram mais, a fome crescendo. Seu eixo engrossou, impossivelmente ampliando o perímetro, pequenas gotas de néctar vazando. Ela lambeu os lábios, desejando mais.
Dimitri estendeu a mão com a palma para cima, para a flor. Ela a entregou a ele, um pouco relutante. Ainda mantendo seu olhar, ele lambeu o líquido doce ao longo dos filamentos e ovários da flor.
O corpo inteiro de Skyler ficou quente, tensão bombeando forte. Ela quase gemeu de desejo por ele. Tudo nele era sexy, mas o ver devorar o néctar como se fosse seu creme feminino que estivesse consumindo a fez ficar um pouco fraca.
— Ajoelhe-se apoiando em seus calcanhares, sívamet, suas coxas abertas para mim. — Ele instruiu. Sua voz era um pouco áspera.
Seu coração deu um pulo e mais líquido se derramou entre as pernas. Mantendo seu olhar no dele, ela lentamente se ajoelhou na frente dele. O chão estava coberto de pétalas macias, amortecendo-a. Ele colocou a flor à direita no cruzamento entre as pernas dela, para que a pétala aberta pegasse qualquer líquido derramando de seu corpo.
Seu coração bateu forte quando seus dedos roçaram suas coxas. Quando ele se endireitou, de pé, muito perto dela, seu rosto estava quase no nível de sua ereção. Tudo que teria que fazer era ajoelhar-se. Sua boca encheu de água, desejava mais do seu gosto.
— Tied vagyok. Sou seu, csitri. — Disse ele em voz baixa, seu olhar ficando ainda mais quente. Ela não conseguia desviar o olhar dele. — Andam sivamet. Meu coração te dou. Te avio päläfertiilam. Você é minha companheira. — Ele colocou a mão em cima de sua cabeça. — Você entende, Skyler? Vou ser sempre seu. Este corpo, este coração, minha alma, pertence a você.
Ela assentiu com a cabeça. Ela sabia. Ele sempre a fez sentir-se como se fosse a mulher mais importante do mundo para ele e tudo que ele era, pertencia a ela.
— Traga a flor para meu pau, e a mantenha lá, enquanto você repete as mesmas palavras de volta para mim. — Sua voz caiu uma oitava e ela tremeu com antecipação.
Colocando a flor em suas mãos abertas, ela inalou seu aroma profundamente quando lentamente se ajoelhou. Mantendo os olhos nos dele, trouxe a flor sob o pesado saco, de modo que suas bolas descansavam dentro das pétalas abertas. Inclinando-se para a frente, ela deu uma longa lambida, lenta até o eixo, sobre a cabeça em busca de mais do seu gosto viciante.
As mãos dele pegaram a parte detrás de sua cabeça, apertando os dedos em punho em seu cabelo.
— Diga as palavras de volta para mim, sívamet.
Seu cheiro inebriava tudo ao seu redor, como se as centenas de flores no campo adquirissem seu aroma fresco e masculino.
—Tied vagyok. Sou sua. — ela sussurrou, e abriu a boca para atrair essa cabeça grande, brilhante em sua boca. Ela chupou forte, puxando mais néctar. Ele estremeceu, suas coxas fortes apertaram com a tensão. Ela lentamente se afastou, lambendo até o eixo. — Andam sivamet. Meu coração eu te dou. — Sua língua dançou sob a cabeça muito sensível e, em seguida, lambeu todo o caminho até a base, até que pudesse saborear o néctar da flor e passar a língua sobre a carne de veludo aninhada lá.
— Skyler. — Ele sussurrou o nome dela, sua voz afiada com um controle tenso.
Ela sorriu.
— Te avio päläfertiilam. Você é meu companheiro. — Ela manteve o olhar fixo no dele, querendo que visse que ela queria dizer cada palavra. — Pertenço a você, Dimitri, tudo de mim, o coração e a alma. Este corpo é seu também. Sei que estou segura com você.
Ele ganhou sua confiança ao longo de vários anos. Sabia com uma certeza absoluta que ela queria que sua relação progredisse. Se em algum momento estivesse com medo, ela sabia que ele pararia instantaneamente. Esse conhecimento deu-lhe mais liberdade do que qualquer outra coisa jamais poderia.
—Se já não fôssemos companheiros, eu trançaria seu cabelo com pequenos flores e ramos, mas porque você já é, você me alimentará com as pétalas e vou alimentá-la e o ritual estará completo. — Quando ela começou a se erguer, ele manteve a mão no ombro dela, segurando-a lá.
Skyler sorriu para ele, puxou a flor para ela e mais uma vez lambeu ao longo do estigma antes de puxar uma pétala livre. Ele abaixou-se para chegar em sua mão, tomando a pétala nos dentes. Quando fez isso ele a alimentou com uma. Ela não estava surpresa por ser aveludada e repleta do gosto dele.
Quando as pétalas foram consumidas ele deslizou uma venda nos olhos dela, de pétalas macias entrelaçadas em volta da cabeça, a fragrância inebriante de paixão. O mundo ficou completamente escuro. Seu coração deu um pulo, mas novamente ela sentiu um aperto enrolando, se construindo em seu âmago mais profundo. O vento acariciava seu corpo e provocava seu cabelo. Houve um pequeno silêncio e, em seguida, sua mão acariciou através de seu cabelo, até os ombros e abaixo, até que ele segurou seu seio. Privada da visão, cada terminação nervosa era intensificada. Seu corpo inteiro estremeceu pela necessidade.
— Quer tentar fazer isso? Não precisa.
Seu corpo pulsava por ele. Mal podia respirar com a fome por ele correndo por ela. Faria qualquer coisa por ele, tentaria qualquer coisa, mas mais, ela queria fazer isso por si mesma. Queria provar a si mesma que podia confiar nele, não importa o que e sentir apenas o prazer em tudo que fazia.
Ela assentiu com a cabeça. Para firmar-se, estendeu a mão e encontrou sua coxa. No momento que o tocou, o tremor diminuiu.
— Sinta o vento em você. Sinta a forma como seu cabelo cai tão suave e sensual abaixo em suas costas e desliza sobre a pele.
Sua voz era autoritária. Hipnotizante. Ela estremeceu de novo. Medo? Excitação? Antecipação? Seu núcleo estava em chamas, um calor líquido derretendo que exigia satisfação. Sua boca encheu de água por ele. Esteve tão perto de seu objetivo, querendo dar-lhe o mesmo tipo de prazer que ele lhe deu. Ele conhecia seu corpo, cada centímetro quadrado dela e foi muito tímida para fazer suas próprias exigências do dele.
Ela pegou algumas das imagens eróticas em sua cabeça e queria fazer todas essas coisas para ele. Agora, de joelhos sobre as pétalas macias, incapaz de ver, o ar fresco da noite tocando acima do corpo de modo que ela estava ciente de sua respiração, cada movimento dela, se viu ficando ainda mais macia e quente.
O silêncio se estendeu. Ela podia ouvir o ranger dos galhos das árvores em todo o prado quando o vento balançou as folhas. Ele sussurrou sobre as flores e os insetos zumbindo. Vários sapos chamaram à distância, e ela ainda pegou o som da água corrente. Não se moveu, esperando por ele. Sua respiração veio e se foi, mas ela permaneceu em silêncio, com o coração disparado.
Ela quase pulou de sua pele quando ele acariciou seu seio direito com uma mão grande. Seus dedos se estabeleceram em torno de seu mamilo, o puxão mais insistente que já tinha usado antes. Um choque elétrico correu direto de seu mamilo até seu núcleo. Ela ofegou, seus lábios se abriram, uma onda de ar escapou. Ela cheirou seu aroma picante e, em seguida, ele esfregou o néctar em seus lábios.
— Abra a boca para mim, sívamet.
Enfim. Ela realmente se sentia como se fosse dele. Como se ele pertencesse a ela. Ela sentiu o chicote de fogo contra sua boca e suas mãos subiram para seu saco.
— Coloque as duas mãos nas minhas coxas. — ele instruiu. Sua voz soou um pouco áspera, um pouco rouca.
Sua vagina se apertava, derretia, escorria mel silvestre, chamando por ele. Ele parecia tão sexy. Ela se sentiu sexy. Através de suas mãos, ela podia sentir o leve estremecimento de prazer que percorreu seu corpo quando ela lambeu as gotas peroladas de líquido, com esse viciante, raro gosto. Ela abriu a boca e permitiu-o empurrar para dentro. O gosto que desejava tão desesperadamente explodiu contra sua língua e explodiu através de sua boca. Sem pensar ela chupou, achatando sua língua, querendo sentir prazer florescendo em sua mente. Ela o rodeou com calor, envolveu-o com amor.
Ela se deliciava com seus gemidos, na forma como seus músculos da coxa contraíam e dançavam sob seus dedos. Ela se encontrou feliz, aproveitando o momento, sentindo-se sexy e forte, sua boca apertada e quente ao redor dele, adorando-o, mostrando-lhe seu amor, alegando que seu corpo era dela.
Ele começou a se mover com pequenos impulsos, mais profundos. Sua coragem recém-descoberta vacilou, uma pequena cisma de medo deslizando abaixo de sua coluna. Ela estava indefesa lá, cega e incapaz de detê-lo se ele a sufocasse. Um milhão de pesadelos subiu do nada, inundando sua mente, expulsando tudo ao seu redor, até que ela sentiu as grandes mãos ásperas e gritos, tapas e pontapés. Apenas rapidamente, seu mundo foi de felicidade para pânico.
Antes que ela pudesse reagir, mãos gentis se apoiaram sobre sua cabeça, os dedos massageando a tensão dela.
— Está segura aqui comigo, e nada, ninguém, jamais poderá prejudicá-la novamente. Não está completamente cega, csitri. Está em minha mente e pode ver e sentir o que eu faço. Veja o quanto parece bonita pra mim. Sinta o que faz para mim, o prazer que me traz.
Seu suave sussurro a acalmou como nada mais poderia. Por trás da máscara de pétalas, ela fechou os olhos e inalou seu cheiro. Essa fragrância masculina, tão familiar para ela, era tão reconfortante quanto sua voz. Seu coração continuou disparado, mas ela não levantou as mãos para remover a máscara de pétalas.
— Isso ainda está lá, Dimitri. — Ela sussurrou, querendo chorar. — Isso nunca vai desaparecer.
— Claro que não, sívamet. — Respondeu ele, sua voz tão suave, seus olhos queimando. Ele tirou a máscara de pétalas e gentilmente a levantou. — Seu passado, como o meu, deu forma ao que você é agora. Esse aço descendo por sua coluna, a incrível vontade e determinação que permite que faça coisas que ninguém espera — esses atributos vieram de seu passado. São parte de você.
— Um pesadelo. — Ela deitou a cabeça no peito dele para se confortar, sentindo ter falhado com os dois. — Minha infância foi um pesadelo.
Instantaneamente os braços dele se curvaram ao redor dela, segurando-a firme com ele, rodeando-a com sua força e amor.
— Nada no nosso futuro muda nosso passado. Sabe disso, Skyler. Sempre soube disso. Falamos desse momento acontecer. Não há certo ou errado. Nenhuma falha. Nós dois esperávamos que acontecesse. É isso. E isso é tudo.
Deixou-se permitir encontrar um pequeno sorriso.
— Falar sobre ele e tê-lo acontecendo são duas coisas diferentes, Dimitri. Eu queria agradá-lo.
— Você me agrada.
— Queria mostrar confiança. Como posso estar me sentindo feliz, desfrutando o que lhe dá prazer se meu passado tem influência em nosso momento particular? — Ela olhou para ele, incapaz de impedir que as lágrimas transbordassem em seus olhos. — Eu confio em você.
Essa era a pior parte. Ela deixou os dois decepcionados. Como podia pensar que Dimitri a machucaria alguma vez?
— Não acha que eu iria machucá-la, Skyler. — Disse Dimitri, apertando-a em seus braços. Levantou-a, embalando seu corpo trêmulo perto de seu peito. — Eu não estava lá naquele momento.
Seu coração deu um pulo. Ela deu um pequeno grito quebrado e enterrou o rosto contra o pescoço dele. Ele não estava com ela. Ela o perdeu e entrou em pânico. Foi um ato de agressão de sua parte, em vez de sentir sua forma familiar — em um campo de flores se apropriando do seu cheiro — seu passado ainda teve um aperto tão forte sobre ela que perdeu o homem que amava mais que tudo. Isso parecia muito pior.
— Quero ir para casa. — ela sussurrou, sentindo-se derrotada.
Era como se aqueles homens, aqueles terríveis monstros de sua infância, a tivessem derrotado. Eles venceram. Ela os deixou ficar entre ela e Dimitri.
Para seu espanto, Dimitri colocou seus pés de volta no chão.
— Está em casa, Skyler. Onde quer que eu estiver, é nosso lar. Não há mais conforto naquela casa do que há aqui comigo. Ninguém a derrotou ou a nós dois. É impossível, a menos que permita isso.
Havia aço em sua voz, e as borboletas no estômago dela levantaram voo. Ela enfiou os dedos nos dele para ganhar coragem.
— Me desculpe, não queria te machucar.
Ele suspirou.
—Csitri, está machucando a si mesma, não a mim. Por que está tão chateada com algo que sabíamos que aconteceria?
— Realmente não achei que aconteceria. — Ela confessou, mais para si mesma que para ele. — Não uma vez que me vinculei com você. Toda vez que fizemos amor foi tão perfeito. Sinceramente, pensei que poderia fazer qualquer coisa, porque confio em você, Dimitri.
— Pode fazer qualquer coisa — respondeu ele. — O que aconteceu aqui é nada. Isso vai acontecer de novo e de novo em momentos inesperados e está perfeitamente bem. Esta não é uma derrota. Não é uma falha. Ele simplesmente acontece.
Skyler engoliu em seco. Permitir que sua sabedoria afundasse a mágoa do passado foi difícil, mas sua lógica calma era difícil de ignorar. Ele não estava chateado com ela.
Ela se moveu em sua mente e tudo que pode encontrar foi seu amor por ela e as memórias que fizeram no campo. Ela podia ver a imagem de si mesma diante dele com as pétalas enroladas na cabeça, cobrindo os olhos, ajoelhando-se no campo de flores. Ela estava linda e sexy. Seu corpo estimulou-se todo de novo.
— Não sei por que o perdi. — Esse era o problema real. Como pode deixar ele sair de sua mente sequer por um momento? Isso foi tudo que interpretou, e ela permitiu que os monstros entrassem.
— Quando fazemos amor, a química é muito intensa e poderosa entre nós — disse ele. Ele acariciou um dedo sobre o seio e a viu estremecer. — O mais leve toque e nosso corpo responde. É assim que deve ser, Skyler. Às vezes, quando estamos gostando do que fazemos, nos perdemos no ato, no que fazemos. É uma sensação boa, então como não podemos?
— Então, eu estava pensando em mim, não é? — Ela tentou decifrar sua mente.
Durante meses, muito antes de se vincular a ele, pensou não ser capaz de fazer sexo oral quando a própria ideia a aterrorizava. Se ia gostar. Como fazer isso — poderia realmente agradá-lo.
Ela adorava dar-lhe tanto prazer. Ao mesmo tempo, trazia seu prazer. O campo de flores com o cheiro dele, a máscara de pétalas macias, mesmo de joelhos diante dele, com as mãos sobre as coxas, sentindo a pesada ereção contra seu rosto, sua boca. Tudo foi sexy e maravilhoso. Ela se perdeu no momento, seu próprio corpo em chamas.
Ele balançou a cabeça.
— Você estava definitivamente pensando em mim, sívamet. Se outro homem penetrasse em sua mente eu o teria banido imediatamente. Sempre te toquei suavemente. Reverentemente. Mesmo quando me tornei um pouco agressivo, você podia sentir meu amor no jeito de eu te tocar.
Ela franziu o cenho. Não pensou nisso, mas era verdade. Adorava quando ele era agressivo, mas ele estava lá em sua mente, prendendo-a a ele. Sempre se sentiu cercada, até mesmo protegida por seu amor.
— Mude, Skyler. Vamos voar para o céu. Podemos circular em torno juntos acima das árvores e ir para casa. Quero que sinta quem você é. O que é. Cárpato. Um ser formidável sem mim. Nunca precisou de mim para ser forte. Por direito próprio, tem mais poder do que a maioria. Você não é insignificante ou fraca. Você é Skyler. Caçadora de Dragões. Maga. E acima de tudo, sua mãe indescritível, de quem sabemos tão pouco a respeito, deu-lhe um espírito indomável. Esse é seu verdadeiro eu. Todos temos monstros em nosso passado. Podemos menosprezá-los como algo sem consequência porque nós nunca vamos permitir que eles nos devorem.
Lágrimas queimaram em seus olhos novamente. Ela se afastou dele e abriu os braços, chamando para que o pássaro em sua mente viesse à tona. A coruja da noite, que a levaria voando através do céu. Penas estouraram através de sua pele e por um momento o mundo ao seu redor brilhou em cores estranhas e, em seguida, ela estava no céu.
Ela teve sorte por ter Dimitri. Ele via seu valor quando ela não podia. Ele a mantinha por como a via, com o amor forte que sentia, dando a ela como presente se embrulhar em torno dela quando não conseguia encontrar seu próprio caminho.
Era impossível chorar, não de alegria ou por seu momento perdido, enquanto estava na forma de uma coruja. Em vez disso, voaram juntos sobre o prado de flores. Acima deles estava um dossel de estrelas brancas e abaixo deles havia essa mesma visão, centenas de estrelas olhando para eles. Era uma bela vista, e que alguns poucos conheciam.
Eu te amo, Dimitri. E amei o ritual que foi realizado esta noite. Adorei me ver através de seus olhos. E amei te dar prazer da forma que fiz.
Fui o único a receber, csitri, por isso vou admitir, foi uma noite maravilhosa para mim também.
Ela respirou fundo e deixou o fracasso ir. Se Dimitri não via dessa maneira, então ela não iria também. Ela entrou em pânico. Era simplesmente um fato, e que provavelmente aconteceria novamente. Sabia que ia demorar muito tempo para aceitar esses momentos da forma calma que Dimitri fazia, mas um dia, talvez um século ou dois depois, ela o faria.
Ela caiu no dossel da floresta, voando baixo por entre os galhos, brincando um pouco, quando teve que manobrar através das aberturas entre ramos.
Não se empolgue, advertiu a coruja macho sombreando seu voo.
Ela mudou de direção abruptamente, saindo debaixo do macho, mergulhando por uma abertura estreita para deslizar baixo sobre a grama que crescia no chão da floresta.
Ela era Cárpato. Abraçou o fato que podia voar assim, que pudesse ver o mundo através dos olhos de uma coruja.
Se estiver com os olhos vendados, csitri, ainda pode ver através dos olhos de quem você se fundir. Está bem dentro do seu poder.
Claro que foi uma lição o tempo todo. Dimitri disse a ela, mas estava muito chateada com si mesma para ouvi-lo. Ele encontrou outra maneira e simplesmente esperou até que ela percebesse o que deveria saber o tempo todo.
Ela estava fundida com Dimitri. Quando faziam amor, ele sempre se fundia com ela. Ela sabia que era não só pela sua maior consciência das próprias necessidades e prazer, mas para protegê-la. Tudo que tinha a fazer era chegar até ele e estaria no controle completo.
Vou lembrar. Ela fez o voto mais para si mesma que para ele.
Dimitri era... bem... Dimitri. Ele nunca parecia nervoso, aborrecido ou zangado com ela sobre qualquer coisa, muito menos amor. Ele não esperava que ela fosse até ele e se oferecesse, ele realmente interpretava tudo que fizeram juntos como um milagre.
Deixe-me mostrar o que me deu, este grande presente de amor que vou apreciar para sempre.
Ela voou logo abaixo dele, indo para sua casa. Podia ver a estrutura à distância, entre as árvores. Uma por uma, foram através das salas na antiga casa de pedra e as refizeram ao seu gosto. Havia um fogo já rugindo na lareira. Claro que haveria. Dimitri se ocupava dos detalhes.
Sempre estava lá para ela, sua rocha firme. Não importa o que acontecesse, ela podia contar com ele. Sentiu uma explosão de pura alegria. Pesadelos não tinham a menor chance contra um homem como Dimitri. Ele podia dizer tudo que quisesse, que ela era forte sem ele, e talvez fosse verdade, mas ela era melhor com ele. Sempre. Eternamente.
Mostre-me, meu amor.
As imagens deslizaram em sua mente, sem filtros. Com elas vieram seus sentimentos. O êxtase absoluto de sua boca quente apertada em torno dele como um punho de veludo, o envio da dança de fogo através de sua virilha, para baixo em suas coxas e até na sua barriga. Ela fez isso.
A visão dela, tão confiante, vendada pelas pétalas, com as mãos sobre as coxas, sua entrega total de si mesma, tudo combinado para fazê-lo perder seu controle e se perder no sentimento de felicidade que criou, aquele paraíso que ele entrou.
Sua confiança é seu presente absoluto para mim, Skyler. A maneira como me faz sentir. Você colocou uma venda nos olhos, no meio de um campo e deu-se a mim. Olhe o que tenho como lembranças. Vou amá-las para sempre.
Mostre-me o momento que entrei em pânico. Quero sentir o que você sentiu. Isso era muito importante. Ela precisava saber se arruinou aquela bela recordação para ele.
Dimitri não hesitou. A intensidade de sua fome por ela o dominava, essa necessidade crescente por suas veias, centrando-se em sua virilha, uma tempestade se construindo, rugindo quente e rápido. Ela se encontrou presa no calor, seu próprio corpo bombardeado pela tensão sexual, a fome dele passando para ela, mesmo profundamente no corpo da coruja.
Sentiu esse primeiro lampejo de incerteza que se deslocou através de sua mente. Skyler. Seu mundo. Instantaneamente, o foco passou do que ele estava sentindo para ela. Sua mente completamente e totalmente focada nela. Não havia nenhum pensamento para ele ou para o crescente desejo, sem remorso, sem raiva, nada mais que a necessidade da certeza de que ela estava bem.
Você é minha vida. Sua felicidade será sempre colocada acima da minha. Assim como confia em mim para fazer essas coisas para você, sei que você vai fazê-las para mim.
A pequena coruja foi descansar na ampla grade de pedra ao redor do terraço, abrindo suas asas e batendo-as antes que ela voltasse para sua forma humana. Ela ficou no trilho largo, de pedra, abrindo seus braços para a noite. Ela não se incomodou com a roupa, a casa estava longe de qualquer outra, e esquadrinhou a área ao seu redor, assim como Dimitri ensinou.
A coruja macho pousou no chão de pedra da varanda, mudando rápido, tão rápido que mal pegou a mudança quando se virou para encará-lo.
— Como faz isso? — Perguntou ela, girando para encará-lo. — Mudar é muito legal, mas realmente tenho que pensar sobre o que estou fazendo.
Suas mãos se fecharam ao redor de sua cintura e a levantaram para fora da grade para firmá-la de pé no piso de pedra da varanda.
— Tive séculos para praticar.
— Diz isso com tanta naturalidade. — Disse Skyler. — Séculos. Ainda estou pensando em termos de anos. Meu próximo aniversário.
Ele deu um beijo no topo de sua cabeça, em seguida, enfiou os dedos nos dela, puxando-a para mais perto dele até que ela sentiu o calor que irradiava de seu corpo.
— Eventualmente a passagem do tempo não significa nada.
— Também acho. Acho que se eu pensasse em termos de anos, você estaria velho e decrépito. — Brincou ela.
— Felizmente para mim, não envelhecemos depois de um certo ponto. — Disse ele com um pequeno sorriso. Ele estendeu a mão e abriu a porta, como se fosse humano.
Mais uma vez ela percebeu que ele fazia pequenas coisas para deixá-la confortável, que não tinha sequer considerado. A casa em si era para alguém humano. Ele modernizou e incluiu ainda uma cozinha, para que qualquer pessoa que viesse visitá-los pensasse que eram exatamente como todos os outros. Ela sabia que seria sua explicação, mas realmente foi para a geladeira várias vezes e abriu-a, olhou e examinou a comida que ele modificava todas as noites nela. Era um hábito humano e que levaria tempo para superar.
— Do que sente mais sente falta? — Ele questionou.
— Quer dizer de comida? Chocolate. — Ela riu suavemente. — A maioria das mulheres adora chocolate, Dimitri, e tenho que admitir, sou uma delas.
— Como é o gosto? — Questionou.
Ela franziu o cenho. Nunca pensou nisso.
— É difícil explicar.
— Não explique, csitri, você é Cárpato. Traga a lembrança em sua mente e, em seguida, a transfira para mim.
Skyler assentiu, apertando a mão dele. Eram sempre as pequenas coisas que tinha que se lembrar de fazer. Sabia que se acostumaria a fazê-las, mas ainda assim, não havia tantos detalhes. Ela puxou sua melhor lembrança de chocolate. Estava na biblioteca da faculdade estudando por horas, esquecendo-se que estava com fome, e sua tia Jaxon, companheira de Lucian, veio vê-la.
A visita foi inesperada, mas bem-vinda. Ver um rosto familiar a deixou feliz. Jaxon, como Skyler, foi humana e sabia como as horas eram longas. Ela trouxe chocolate preto, uma barra inteira, com ela. Skyler ficou lá sentada, conversando com ela por um longo tempo, aproveitando cada momento, enquanto o chocolate derretia em sua boca.
Havia saboreado aquela barra, comendo um pequeno quadrado de cada vez ao longo da próxima semana. Cada vez que comia um dos pedaços, evocava a visita de Jaxon e ficava feliz de novo. Ela amava a faculdade, mas perdeu sua família e de alguma forma aquele pequeno presente a fez se sentir muito amada.
O gosto do chocolate deslizou em sua mente e em sua boca. Ela se virou para Dimitri, rodeando o pescoço dele com os braços e pressionando seu corpo firmemente contra o dele. Ela ergueu o rosto como um convite.
Dimitri inclinou a cabeça para a dela, seus olhos azuis ficando escuros, desencadeando as borboletas e fazendo com que sua vagina apertasse calorosamente. Ela roçou os lábios leves como plumas sobre os dele.
— Deixe derreter na boca. — Ela aconselhou baixinho.
Seus dedos se juntaram no cabelo da nuca, enquanto sentia o traçar de sua língua ao longo da junção de seus lábios. Ela abriu a boca para ele, permitindo que a língua dele varresse dentro. Junto com o sabor do chocolate preto, ela manteve a sensação que ficou dele, a alegria que a barra trouxe para ela em primeiro lugar em sua mente, compartilhando isso também.
Seus braços foram ao redor dela, puxando-a para perto, imprimindo seu corpo suave ao dele. Ela sentiu a agitação na virilha dele contra seu estômago, já cheio e duro. Sua boca estava quente, sua pele irradiando calor. Ele a beijou profundamente, mais e mais, roubando-lhe o fôlego primeiro, e, em seguida, sua capacidade de pensar.
Chocolate é muito saboroso, ele concordou.
Mmm, sim, disse ela. Mas você também. Vou levá-la para o quarto.
Deve estar lendo minha mente.
Ela manteve os olhos fechados, porque ele não terminou o beijo. Ela se sentiu flutuando, mas, em seguida, seus beijos a fizeram sentir-se como sempre. Seus dentes mordiscaram seu lábio.
Ele a colocou delicadamente no meio da cama sobre suas mãos e joelhos. Skyler abriu os olhos lentamente. A sala estava iluminada apenas com a luz suave de velas tremeluzentes. O cheiro era de canela picante. Espelhos os rodeavam, como se as paredes fossem construídas por eles, e o teto também.
— Você é tão linda. — Ele murmurou. — Queria olhar para seu rosto quando fizesse amor com você nesta posição.
Havia algo de muito decadente sobre se ajoelhar numa cama, totalmente nua, o cabelo caindo ao seu redor, seus seios balançando suavemente, seus quadris se movendo sedutoramente — e ela não podia impedi-los — num convite. Chamas pareciam queimar entre suas pernas, e até mesmo o ar fresco da noite não conseguia apagar o fogo.
Ele se ajoelhou atrás dela, seus dedos dançando até suas coxas, até o calor o esperando, deslizando dentro, testando sua disponibilidade. Agora, as imagens não eram apenas decadentes, eram eróticas. Seus olhos se encontraram no espelho.
A respiração vinha em suspiros irregulares enquanto a antecipação a fazia tremer. Ele pressionou os dedos mais fundo.
— Amo como fica tão molhada para mim, sívamet. Não importa quantas vezes a toco, está sempre pronta para mim.
— Porque você me deixa louca. — Admitiu ela em voz baixa. — Amo seu corpo. Basta olhar para você para me fazer te querer. E depois há o som de sua voz. Só de ouvi-lo posso desejá-lo, também. Se me tocar, ou me beijar, ou tomar meu sangue, fico completamente perdida.
Era verdade e ela não tinha a menor vergonha em admitir isso.
Ela sentiu a cabeça quente de sua ereção pressionando firmemente em sua entrada.
Inicialmente, ele sempre parecia muito grande para ela. Seu corpo parecia resistir à invasão, mesmo quando estava tão ansiosa para ele estar dentro dela. Suas mãos foram para os quadris, os dedos se ancorando lá. Seu coração batia mais forte que o esperado. Calor o envolveu. Sentiu sua maciez banhá-lo, seus músculos apertando, desesperada para atraí-lo para dentro.
Ele avançou, enchendo-a, conduzindo através do músculo apertado, mais e mais, até que pareceu se estabelecer em seu próprio ventre. Ela gritou quando um relâmpago a atravessou, incandescente, ardente, enviando chamas de suas coxas para sua barriga e até seus seios.
Dimitri afundou, observando seu rosto, observando seus olhos vidrados enquanto se conduzia nela de novo e de novo, estabelecendo um ritmo perverso. Era agressivo e áspero, querendo que ela visse que não estava com medo desse lado do seu amor. Qualquer coisa podia desencadear o pânico. Nunca teria importância. Iriam aceitá-lo e seguir em frente.
Seus olhos se encontraram no espelho. Ela era tão bonita, ele queria chorar de alegria. A cada impulso, seus seios balançavam e sua cabeça se agitava. Sua boca se abriu enquanto ela ofegava. Ela empurrou de volta para ele, levando-o mais fundo que podia, igualando seu ritmo e montando-o todo o caminho, não importa o quão forte ou duro cada impulso era.
Ele começou a se perder na beleza e fogo de sua paixão. O controle começou a escorregar. Havia sempre aquele momento de perigo, quando ela percebia que ele abandonava todas as restrições e apenas se permitia entregar-se ao prazer.
Ela o rodeava com calor escaldante. Seus músculos eram um torno apertado, um requintado atrito. Ela o levou para lugares que não sabia que existiam, sua vagina um punho de veludo, apertando e massageando até que ele sabia que não ia durar.
Cada músculo em seu corpo parecia se contrair. Ondulando com a tensão. Com antecipação. Ele viu a cor em seu corpo, o rubor vermelho, os gemidinhos reveladores escapando quando ela empurrava de volta freneticamente, sua própria excitação crescendo, subindo.
— Tão bonita. — ele sussurrou.
Ela ofegou enquanto seu corpo apertava forte o dele. Ele sentiu a primeira onda como um tsunami rasgando através dela, levando-o com ela. Ela gritou seu nome enquanto onda após onda seguia, seus músculos apertando o ordenhando até secá-lo.
Skyler desabou para a frente na cama, arquejando por ar. Dimitri cobriu seu corpo, caindo com ela, os braços prendendo-a dentro deles. Ainda estavam presos juntos, corações batendo e pulmões queimando. Quando ele conseguiu puxar um pouco de ar, deixou seu corpo desengatar do dela, e rolou para o lado para que não a esmagasse com seu peso.
Levou mais alguns minutos para acenar, se livrando dos espelhos, apagar a lareira e se livrar da maioria das velas.
— Acha que podemos simplesmente dormir aqui? — Perguntou Skyler. — Não quero me mover.
Ele riu suavemente.
— Nunca dormimos onde podemos ser encontrados. Sabe disso.
— Para que são as proteções?
Ele segurou seu seio na palma da mão e passou uma perna sobre a coxa dela.
— Nunca é seguro dormir onde podemos ser encontrados. — Repetiu ele. — Mesmo com as proteções.
Ela virou a cabeça para olhar para ele por cima do ombro.
— Sange rau pode sair durante o dia?
Ele franziu a testa, acariciando seu pescoço.
— Até agora não. Sange rau é lobo maldito e vampiro. Um lobo maldito pode andar à luz do dia, é claro, mas um vampiro não pode. Fen diz que pode se expor ao sol mais do que já conseguiu, mas ainda queima se ficar muito tempo. Eu estive no sol, quando estava pendurado nas árvores. Felizmente, o sol nunca penetrou na copa e caiu sobre meu corpo, mas ainda tive bolhas. Se fosse completamente Cárpato isso teria me matado. Não sei. Nosso sangue Cárpato será sempre sangue Cárpato e sangue Lycan será sempre Lycan. É nossa capacidade de utilizar os dons de ambas as espécies que parece crescer. Com isso pode vir a capacidade de andar no sol da tarde, mas é muito cedo para prever isso.
— Estava ouvindo a voz de Arno quando ele falou sobre mestiços? — Perguntou Skyler, virando para encará-lo.
Seus dedos traçaram sua careta.
— Sim.
— Não apenas suas palavras, mas a paixão e ódio em sua voz? Ele é um bom homem, Dimitri. Pensa em si mesmo como um homem bom. Tenta fazer seu melhor, tenta fazer a coisa certa, mas estava tão convencido que qualquer pessoa com sangue mestiço precisava ser exterminada. Ele acredita nisso, no fundo de seu coração e alma. Ele mesmo reconhece a diferença entre Sange rau e Han ku Pesak kaikak, mas quer que sejam todos mortos.
Sua angústia o comeu por dentro. Ele acariciou as costas e a bagunça selvagem do seu cabelo. Gostava de seu cabelo bagunçado. Parecia que simplesmente fez amor.
— Eu sei, csitri. Não deixe que isso chegue até você. Não temos controle sobre os outros. Se tivermos sorte, talvez no tempo em que ele estiver à nossa volta, vai se sentir de forma diferente. Os membros do conselho votaram para ficar e tentar chegar a um acordo. Acredito que um par de outros optaram por vir também, embora não saiba com certeza.
— Ele realmente trabalhou duro para salvar a vida de Zev. Sabia que Cárpatos estavam dando-lhe sangue, mas não se opôs ou tentou nos deter. — Skyler mordeu o lábio inferior. — Logo em seguida, ficou tão despedaçado. Zev salvou sua vida. Se não cobrisse o corpo de Arno com o dele, Arno estaria morto. Zev deveria estar. Felizmente tinha a mistura de sangue Cárpato o suficiente com seu sangue Lycan para resistir até a ajuda chegar.
Dimitri se inclinou e beijou a ponta de seu nariz.
— Na forma da minha companheira incrível e talentosa. Pelo que Fen e Tatijana me disseram, você foi incrível.
— Foram necessários todos nós, mas certamente me deixou curiosa para saber mais sobre minha mãe biológica. Eu a sinto, às vezes, me orientando quando perco meu caminho, curando alguém. Ela é uma força dentro de mim, inesperada e rara, mas às vezes ela vem a mim. Não me lembro dela curando pessoas, mas sonho com isso, às vezes. Acho que é possível, estava lá com ela quando ajudou outros. Eu devia ser muito jovem, talvez uma criança, e me mostrou o que estava fazendo.
— Eu poderia encontrar essas memórias para você. — Dimitri ofereceu.
Skyler se contorceu desconfortável. Ele sabia tudo sobre seu passado, o fato de que quando criança foi vendida para homens, mas teria que passar por essas memórias para encontrar as de sua mãe. Por mais que quisesse saber o máximo possível sobre sua mãe biológica, não estava pronta para ele reproduzir essas memórias monstruosas.
— Em algum momento. Quando as coisas não estiverem acontecendo tão rápido para mim. — Disse Skyler. — Houve muitas mudanças, e às vezes me sinto sobrecarregada. Sei que tudo poderá explodir a qualquer momento entre Lycans e Cárpatos e o pensamento me assusta. Ainda estou me acostumando a ser totalmente Cárpata e aprender tudo que acontece com isso. — Ela sorriu para ele. — E há você. O amor da minha vida. A intensidade entre nós é um pouco desconcertante, às vezes.
Ele se juntou a ela, acariciando o topo de sua cabeça.
— O amanhecer está raiando e você precisa dormir. Temos outro grande dia pela frente. Ivory e Razvan querem nos treinar duro o dia todo, todos os dias, para que os filhotes nos aceitem.
— Quando falaram filhotes, pensei que seriam coisas pequenas, mas são enormes. — disse Skyler.
— Eles a intimidam?
Ela balançou a cabeça.
— Não mais. Quando os vi pela primeira vez me intimidaram. Acho que me aceitaram porque devo ter algo de Razvan em mim. Certamente reconheceram o lobo alfa em você imediatamente.
Ele rosnou em seu ouvido enquanto abria o chão e flutuava até o porão.
— É claro que o fizeram.
— Muito engraçado. Não acho que você intimide qualquer um. — Ela fungou para dar ênfase.
Ele riu.
— Depois de assistir Ivory mostrar como usar a besta como ela, acho que estou ficando um pouco intimidado por você.
Ela sorriu para ele.
— Estou ficando boa nisso. Na verdade, adoro. Especialmente os lobos. Nos meus sonhos mais loucos nunca pensei que teria minha própria matilha de lobos como Ivory e Razvan têm.
Ambos se dissolveram e deslizaram através das rachaduras no piso de pedra até o chão abaixo. Dimitri abriu para eles também. Skyler estava muito animada com a perspectiva de renovar seu treinamento com os lobos na noite seguinte para ter seu breve momento costumeiro de medo, pois flutuava no rico, acolhedor solo.
Dimitri envolveu-a em seus braços, como fazia a cada amanhecer, abraçando-a, ordenando para dormir antes de acomodar a terra sobre eles e assegurar as proteções para o dia seguinte.
Névoa se espalhava, dedos brancos e compridos que se esticavam pela floresta e enroscavam em volta dos troncos grossos. O vapor denso abafava os ruídos e atribuía uma qualidade sombria à floresta. Do meio daquela neblina pesada saiu uma mulher. Estava quieta, quase se misturando ao pano de fundo. Bem lentamente ela se agachou para colocar a mão no solo da floresta, sentindo a pulsação da própria terra, buscando informações, sons ou vibrações de um inimigo.
Era baixa, o cabelo loiro e comprido trançado de maneira rebuscada alcançava sua cintura. Ela usava uma calça preta de cintura baixa por dentro de botas da mesma cor. Sua roupa sem mangas deixava sua barriga exposta. A vestimenta possuía três fivelas de aço com pequenas cruzes gravadas no metal, parecendo ornamentos.
Carregava um arco numa mão, uma espada de prata presa do lado esquerdo do seu quadril e uma faca do lado direito. Uma aljava cheia de flechas pendurava de um ombro, algumas com pontas de prata. Em ambas as pernas da sua calça havia amarras com várias armas brancas. Um coldre em seu quadril abrigava uma pistola, bem como fileiras de pontas de flechas retas, mas extremamente afiadas.
Ela era paciente, esperando o tempo necessário, a palma tocando o chão, absorvendo as notícias da noite. Estava gelado, mas ela não sentia o frio no ar ou a névoa que se aglomerava em volta dela. Ela fechou os olhos brevemente, permitindo que seus sentidos enxergassem por ela. Levantou bem devagar, virando-se para a esquerda. Ali, onde a neblina era mais densa, onde as árvores tinham troncos maiores, sua presa esperava para lhe fazer uma emboscada.
Ela parecia deslizar pelo chão da floresta. Até os arbustos se abriam para ela passar para que não houvesse nenhum ruído de movimento enquanto seguia com cuidado o caminho para aquela seção com mais árvores. Quando se aproximou, sentiu o primeiro arrepio em suas costas, um roçar mínimo de pelagem que a alertou.
Euforia invadiu Skyler. Ela continuou mais alguns metros e então se virou, os dedos já soltando as pontas de flecha e as atirando com tremenda força enquanto corria até o grotesco vampiro que saía de um tronco de um abeto retorcido e morto. Embora morta, a árvore estremeceu e sacudiu quando expeliu a asquerosa criatura de suas entranhas.
Seis pontas de flecha atingiram a perna dele com profundidade, a fórmula que as revestia impedindo que o vampiro se transformasse em outra coisa. Ela correu com a espada em punho. O torso e a cabeça dele, bem como os pés, desapareceram perdidos na névoa espessa. Apenas uma das pernas do vampiro permanecia visível, uma visão estranha, quase cômica.
Praguejando de forma bem pouco feminina, Skyler interrompeu o ataque.
— Não posso acreditar que cometi um erro tão idiota.
A perna desapareceu como se nunca tivesse existido. Ivory e Razvan se materializaram na frente dela. Dimitri a consolou passando um braço à sua volta.
— Ouviu seus lobos. — disse Ivory. — Mas as pontas das flechas precisam ir da barriga ao ombro se quiser ser capaz de atingir o coração.
Skyler não pôde evitar e sorriu.
— Geada me avisou. Fiquei tão orgulhosa dele. Soube de verdade que era ele e não Brilho da Lua. Posso diferenciar os dois agora.
Geada tinha uma bela pelagem prateada, espessa e incomum, com pitadas de branco de forma que ele parecia coberto de neve. A única fêmea era uma bela espécime, a pelagem tão prateada que brilhava como a lua. Ivory a batizou de Brilho da Lua, mas na maior parte do tempo a chamavam de Lua. Ambos estavam em suas costas na forma de tatuagens, então ela tinha olhos e ouvidos dos dois lados e atrás de si, auxiliando-a na caçada.
Ela ficou grata pelos quatro filhotes aceitarem Dimitri e ela como líderes do bando, os alfas a quem obedeciam. Ela sabia que era o comportamento calmo e decisivo de Dimitri, bem como sua firme liderança que havia capturado a atenção dos filhotes, mas ela melhorava a cada dia que passava.
Sombra era mais escuro, uma grossa pelagem quase negra, manchada de cinza de modo que ele podia andar no escuro sem ser detectado, e ele definitivamente era um alfa. Ele aderiu às costas de Dimitri juntamente com Soneto, o lobo com a voz mais surpreendente. Ele era enorme e um habilidoso caçador, agindo em conjunto com Sombra para que conseguissem o que queriam.
— Lua te deu alguma indicação da existência de uma ameaça? — perguntou Ivory.
Skyler suspirou.
— Se ela deu, não senti. Acho que ainda está com raiva porque tentei usá-la como um casaco de pele. Quando tirei o casaco e tentei atirá-lo do modo certo para que eles se soltassem, o casaco ao invés de voar pelo ar aberto se emaranhou e ela ficou presa. Ela me fez saber que não estava nada feliz.
Ivory sacudiu a cabeça, cobrindo o sorriso com a mão.
— Tive tanto trabalho com o casaco. — ela admitiu. — Não é fácil aprender todas as armas diferentes e também como caçar com os lobos. O movimento em sua pele tem que ser sutil. Nunca vai querer que saibam que seus lobos são de verdade.
Skyler assentiu. Ivory tinha tanto para ensinar.
A nos ensinar, corrigiu Dimitri. Também estou aprendendo.
Você é tão bom em tudo. Me sinto a burra da classe. Estou acostumada a ser a melhor aluna.
Dimitri explodiu numa risada. Tanto Ivory quanto Razvan ergueram as sobrancelhas.
— Estou chateada por não ser a melhor da sala. — Skyler confessou com um sorriso amargo. — Dimitri acha isso muito engraçado. Quero muito conseguir isso.
Ivory sorriu para ela, tocando brevemente seu braço.
— A tarefa mais difícil já foi completada. Os lobos precisavam aceitá-la. Terão que encontrar outra fêmea para Sombra. A pequena Lua é sua irmã e ela não tem sequer um osso alfa no corpo.
— Na verdade, Sombra a encontrará no tempo certo. — disse Razvan. — Quando isso acontecer, saberão e também terão que treiná-la.
— É preciso trabalhar com eles todos os dias. — alertou Ivory. — Um bando é coeso e tem sucesso contanto que tenha bons líderes. Precisam caçar com eles quando sentirem vontade. Guiem-nos e os ajudem. Isso faz parte de ser um alfa.
Skyler baixou a cabeça. Não se importava em caçar e matar vampiros, mas era difícil para ela caçar animais, mesmo sabendo que os lobos precisavam comer. Ela estava dando duro para superar aquela sensação de náusea no fundo do estômago toda vez que levavam os lobos para caçar.
Cada vez mais queria passar o tempo aprendendo a usar suas armas e os lobos para caçar vampiros, e não outra coisa. Estava determinada a ser útil à Dimitri. Se fosse preciso séculos de treinamento, faria de tudo para ser a melhor para que ele não tivesse que se preocupar.
— Sempre me preocuparei quando estiver correndo perigo. — Dimitri disse em voz alta.
— Não se eu ficar boa mesmo nisso.
— Mesmo assim. — ele garantiu a ela. — Mas estou muito orgulhoso de você, Skyler. Avançou muito na última semana.
— Ivory é uma das melhores caçadoras que temos — disse Razvan —, mas como companheiro dela, eu me preocupo. Isso não é uma coisa que passa. Você está melhorando a cada vez que treinamos.
Skyler deu um sorriso de agradecimento.
— Ainda não sou muito boa com o arco. — ela admitiu. — E precisarei ser, se pretendo ter alguma utilidade em uma caçada.
Dimitri fez uma leve careta. Ela planejava caçar vampiros com ele, do mesmo jeito que Ivory e Razvan faziam. A ideia ainda não caía bem a ele, embora ela aprendesse rápido e os lobos lhe dessem uma vantagem. Ele tinha que admitir que ela foi de grande utilidade quando o resgatou. Sem ela, estaria morto. Ela não entrou em pânico e agiu de maneira metódica.
Skyler o olhou com os olhos baixos. Ele conhecia aquele olhar. Ele se viu dando um sorriso tímido.
— Já me tem comendo na sua pequenina mão, sívamet, não posso te negar nada. Mas vai esperar para caçar até que todos nós concordemos que já está pronta. Nós três, não você.
Skyler resistiu à vontade de revirar os olhos. Razvan ficaria ao lado de Dimitri, dizendo que demoraria até que pudesse caçar com ele, mas Ivory… Ela sorriu para a mulher que rapidamente se transformava numa amiga próxima e uma aliada. Ivory advogaria em seu favor, mas só se ela se esforçasse muito e aprendesse as lições necessárias para que se tornasse um trunfo para Dimitri.
— Sei que não posso aprender a usar todas as armas em poucas semanas, mas isso eventualmente vai acontecer.
— Não pode apenas aprender a usá-las. — disse Ivory. — Elas tem que se transformar num hábito. Vampiros usam todos os tipos de truques, ilusões e venenos mortais, sem mencionar suas próprias armas, quando você os caça. Não pode hesitar quando for matá-los. Continuaremos trabalhando com seu treinamento até que tenhamos certeza que é capaz de destruir os mortos-vivos.
— Sei que não gosta de caçar alimento — Razvan acrescentou —, mas isso, mais do que tudo, vai te ajudar a se adaptar a caçar com os lobos. Sua velocidade, sutileza e habilidade de ler os animais vão melhorar rapidamente.
— Precisa criar um lar para os lobos para que eles fiquem com você o tempo todo. — adicionou Ivory. — Sua casa servirá muito bem, mas eles precisarão saber que podem se deitar na frente da lareira enquanto você está nos outros aposentos. Quando precisar se enterrar, eles vão querer acompanhá-la. Nunca esqueça que são Cárpatos e precisam do solo rejuvenescedor tanto quanto você.
Skyler estendeu a mão para Dimitri. Imediatamente, os dedos dele se fecharam nos dela e ela sentiu o calor do seu amor a cobrindo como um cobertor. Mais, os lobos também sentiram. Ela já estava bem sintonizada com eles, compartilhando a mente com eles, como Dimitri fazia com tanta naturalidade. Eles pareciam mais próximos dela, roçando em suas costas com afeição antes de se aquietarem.
Ela sabia que os tempos que estavam por vir seriam difíceis. Uma guerra contra um inimigo desconhecido estava em ebulição e seu povo tinha que ser protegido. Ela queria ser capaz de lutar, caso necessário, para proteger aqueles que amava. Os lobos lhe davam mais confiança.
— As tatuagens combinam com vocês dois. — disse Razvan. — Nunca teria pensado que aquelas cicatrizes fossem diminuir do jeito que fizeram, Dimitri. Mal posso ver a evidência delas, só círculos esbranquiçados quase descorados. Nas suas costas, a pelagem dos seus lobos se mistura de um jeito bem discreto.
Dimitri puxou Skyler sob a proteção do seu ombro.
— Skyler tem habilidades que vão além de tudo que já vi.
Um brilho de orgulho iluminou os olhos de Razvan.
— Todos ficamos impressionados por ela conseguir salvar Zev. Alguém tem notícias dele?
Dimitri sacudiu a cabeça.
— Ainda está vivo, ainda bem. Branislava teceu o espírito ao dele e o prende a este mundo. Fen diz que ainda não saíram da floresta, mas que ele tomou sangue todas as vezes que foram alimentar os dois.
Razvan chiou ao expulsar o ar preso dos pulmões e Ivory se aproximou mais dele, simplesmente tocando seu braço num gesto silencioso de conforto, lembrando a Dimitri que Tatijana e Branislava eram tias de Razvan. Todos os três foram mantidos prisioneiros na fortaleza de gelo onde Xavier mandava e executava suas terríveis experiências.
— Bronnie mal havia se recuperado antes de fazer isso. — disse Razvan. — Eu nem a vi. — Havia uma aceitação silenciosa na voz dele, aprendida sem dúvida em séculos de tortura e em ter que aceitar que coisas aconteciam fora de seu controle, não importava o quanto esses acontecimentos fossem angustiantes.
— Bronnie sabia o que estava fazendo. — Skyler explicou. — Não havia outra forma de salvá-lo. O ferimento dele era tão grave, fatal, se preferir. Foi preciso que nós três trabalhássemos pelo que pareceram horas para que conseguíssemos repará-lo de dentro para fora. Se Bronnie não tivesse atado seu espírito ao dele, e o prendido a ela, ele teria partido.
— Eu não entendo. — Razvan disse. — Um espírito pode ser contido e preso, por que ela teve que amarrar o destino dela ao dele?
Ivory pegou a mão dele.
— Ele teria escolhido nos deixar. — ela disse em voz baixa. — Mas os instintos de proteger os outros são muito fortes nele. Ela sabia disso, não sabia, Skyler?
Skyler assentiu.
— Todos vimos isso nele. Ele é mortal e assustador quando consegue se entrar na mente dele, mas depois você descobre que o primeiro instinto dele é defender e proteger os demais. Tecendo o espírito dela ao dele, Bronnie tirou a escolha que ele tinha de partir. Ele a levaria com ele se partisse, e isso é algo que vai quase além da capacidade de Zev.
— A menos que o ferimento o mate. — Razvan disse.
Skyler assentiu.
— Isso sempre é uma possibilidade. Mas vou todas as noites cuidar dele e a Mãe Terra o aceitou como seu filho. Ela trabalha com mais avidez do que eu para tentar salvá-lo. Acho que ele está melhorando. Um ferimento como o dele é um trauma imenso para o corpo. Leva tempo.
— Ele é Lycan. — acrescentou Dimitri. — Lycans regeneram mais rápido do que a maioria, e por agora ter sangue misturado, isso deve lhe dar mais força e rapidez na recuperação.
Razvan assentiu, o olhar no rosto da filha.
— Obrigado. Sei que o que fez foi extremamente difícil, não importa quantas vezes diga que teve ajuda. O preço que aquilo custou foi visível por muitos dias. Se Bronnie vive, é graças a você curando continuamente os ferimentos de Zev.
O rosto de Skyler ficou vermelho e ela se aproximou mais de Dimitri. Ela ficou muito feliz por finalmente ter um relacionamento com seu pai biológico e por poder fazer algo que o deixasse com orgulho dela.
— Está pronta para outro teste? — Ivory perguntou. — Dessa vez vocês devem caçar juntos e quando encontrarem a presa, libertem os lobos e coordenem o ataque ao vampiro com seu bando para dar a eles uma experiência de caça aos mortos-vivos.
O coração de Skyler pulou de pura alegria.
— Estou pronta. — Ela olhou para Dimitri.
Ele se abaixou, sem se importar com a plateia, e encontrou sua boca com a dele. Ele se demorou a beijando, permitindo se perder nela só por um momento. Ele levantou a cabeça, os olhos escuros de desejo. Bem devagar, ele sorriu.
— Vamos lá, então.
Skyler se colocou nas pontas dos pés e o beijou.
— Estou com você. — Ela sempre estaria. Bem ali, ao lado dele.
[1] Knitbone é o nome do Comfrey no folclore europeu por ajudar a restaurar problemas ósseos.
Christine Feehan
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