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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


LUA AZUL / Laurell K. Hamilton
LUA AZUL / Laurell K. Hamilton

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Eu nunca esqueci o meu ex-noivo. E quando me ligaram às três da manhã, pensei por um momento que era ele. Não era. Era seu irmão e não tinha uma boa notícia. Aparentemente o antigo amor da minha vida tinha se jogado na prisão por agredir uma mulher.
Sendo uma perita do sobrenatural, posso acreditar que quase qualquer coisa é possível. Mas, embora ele seja um dos monstros, Richard nunca machucaria uma mulher. Então aqui estou nos confins do Tennessee, eu Anita Blake para o resgate. Tenho poucos dias e preciso descobrir por que Richard foi preso. Está chegando o dia da lua azul, e se o meu amor lobisomem ainda estiver atrás das grades quando ela aparecer, ele enfrentará algo muito pior do que uma acusação de agressão.

 

 

 

 

1

Eu estava sonhando com carne fresca e lençóis cor de sangue. O telefone interrompeu o sonho deixando apenas fragmentos, um vislumbre dos olhos azuis meia-noite, mãos deslizando pelo meu corpo, seus cabelos arremessados em meu rosto em uma nuvem com um doce aroma. Acordei em minha própria casa a milhas de Jean-Claude com a sensação de seu corpo agarrado ao meu. Atendi o telefone da mesa de cabeceira e murmurei:

- Alô.

- Anita, é você?- Era Daniel Zeeman, o irmão caçula de Richard. Daniel tinha vinte e quatro anos, era bonito como a orelha de um inseto. Richard tinha sido o meu noivo uma vez, até que escolhi Jean-Claude. Dormir com um outro homem colocou um friso real nos nossos planos sociais. Não que eu culpasse Richard. Não, eu posso me culpar. Foi uma das poucas coisas que Richard e eu tínhamos compartilhado.

Apertei o botão do relógio de cabeceira, 03h10min da manhã.

- Daniel, o que aconteceu? - Ninguém que liga depois das dez tem uma boa notícia.

Ele respirou fundo como se estivesse se preparando para a próxima parte.

- Richard está na cadeia.

Sentei-me atordoada.

- O que você disse?- De repente eu estava bem acordada, o coração batendo rápido, adrenalina alta.

- Richard está na cadeia. - ele repetiu.

Eu não o fiz dizer outra vez, embora quisesse.

- Porquê? - Eu perguntei.

- Tentativa de estupro. - disse ele.

- O que?

Daniel repetiu. Não fazia sentido dizer a segunda vez já que eu tinha ouvido.

- Richard é como um escoteiro. - eu disse - Eu acreditaria em assassinato antes de acreditar em estupro.

- Acho que é um elogio. - disse ele.

- Você sabe o que eu quis dizer Daniel. Richard não faria algo assim.

- Eu concordo.

- Ele está em Saint Louis?

- Não, ele ainda está no Tennessee. Terminou as suas pesquisas para o mestrado e foi preso naquela noite.

- Diga-me o que aconteceu.

- Não sei exatamente. - disse ele.

- O que você quer dizer?

- Eles não me deixam vê-lo.

- Por que não?

- Nossa mãe entrou para vê-lo, mas não deixaram todos nós entrarmos.

- Ele tem um advogado?

- Ele diz que não precisa de um. Diz que não fez isso.

- A prisão está cheia de pessoas que não fizeram nada Daniel. Ele precisa de um advogado. É a sua palavra contra a da mulher. Se ela é local e ele não, estará em apuros.

- Ele está com problemas. - disse Daniel.

- Merda.

- Há mais notícias ruins.

Joguei as cobertas para trás segurando o telefone.

- Diga-me.

- Há uma lua azul este mês. - Ele disse muito calmamente, sem explicação, mas eu entendi.

Richard era um lobisomem alfa, ele era o chefe do bando local. Era sua única falha grave. Nós tínhamos terminado depois que eu o tinha visto comer alguém. O que eu tinha visto me mandou correndo para os braços de Jean-Claude. Eu gostaria de trocar o lobisomem pelo vampiro. Jean-Claude era o Mestre da cidade de Saint Louis, definitivamente ele não era o mais humano dos dois. Sei que não há muito que escolher entre um sanguessuga e um comedor de carne, mas pelo menos depois que Jean-Claude termina de se alimentar, não há pedaços entre seus dentes. Uma diferença pequena, mas real.

A lua azul significa uma segunda lua cheia este mês. A lua na verdade não fica azul na maioria das vezes, mas é como diz o velho ditado "uma vez em uma lua azul". Isso acontece a cada três anos. Era Agosto e a segunda lua cheia tinha apenas cinco dias pra começar. O controle de Richard era muito bom, mas nunca ouvi falar de nenhum lobisomem, mesmo um Ulfric, um líder do bando, que pudesse lutar contra a mudança na noite de lua azul. Não importa o tipo de animal que te transformou em um licantropo, você é um deles e pronto. A lua azul decide isso.

- Nós temos que tirá-lo da prisão antes da lua azul. - disse Daniel.

- Sim. - eu disse. O que Richard estava escondendo? Ele ensinava ciências para o ginásio. Se descobrissem que era um lobisomem perderia o emprego. Era ilegal discriminar com base em uma doença, especialmente uma tão difícil de apanhar como a licantropia, mas iriam fazê-lo. Ninguém queria um monstro ensinando crianças, sem mencionar que a única pessoa da família de Richard que conhecia seu segredo era Daniel. A mãe e o pai Zeeman não sabiam.

- Dê-me um número para entrar em contato com você. - eu disse.

Ele deu.

- Você está vindo para cá? - disse ele.

- Sim.

Ele suspirou.

- Obrigado. Mamãe está levantando o inferno, mas não está ajudando. Precisamos de alguém aqui que compreenda o sistema jurídico.

- Eu tenho um amigo que pode me dizer o nome de um bom advogado local antes que eu chegue aí. Você pode organizar a fiança quando eu chegar.

- Isso se ele concordar em ver o advogado. - disse Daniel.

- Ele está sendo idiota?- perguntei.

- Ele acha que ter a verdade do seu lado é o suficiente.

Parecia algo que Richard diria. Havia mais do que uma razão pela qual nós tínhamos terminado. Ele se agarrou a ideais que ainda não tinha trabalhado quando estavam em voga. Verdade, justiça e o modo americano certamente não trabalham dentro do sistema legal. Dinheiro, poder e sorte era o que funcionava. Ou ter alguém do seu lado que fosse parte do sistema.

Eu era uma executora de vampiros. Estava licenciada para caçar e matar vampiros uma vez que o tribunal de justiça emitisse uma ordem de execução e me entregasse. Eu era licenciada em três estados, o Tennessee não era um deles. Mas policiais como regra geral, tratarão um executor melhor do que um civil. Arriscamos nossas vidas e geralmente temos uma contagem a mais por matar como eles fazem. Claro que matar vampiros nem sempre conta como matar alguém. Tinha de ser humano para eles contarem.

- Quando você pode chegar aqui? - Daniel perguntou.

- Tenho algumas coisas para esclarecer aqui, mas te vejo hoje antes do meio-dia.

- Espero que você possa falar com Richard.

Eu encontrei a mãe dele uma vez, então eu disse:

- Estou surpresa que Charlotte não o tenha convencido.

- Onde você acha que ele conseguiu essa grande teimosia? - Daniel perguntou. - Grande. - disse eu. - Logo estarei aí Daniel.

- Eu tenho que ir. - Ele desligou de repente, como se tivesse medo de ser apanhado. Sua mãe provavelmente estava entrando na sala. Os Zeemans tinham quatro filhos e uma filha. Os filhos eram altos, a filha também. Todos tinham mais de vinte e um, e todos tinham medo de sua mãe. Não literalmente medo, mas Charlotte Zeeman usava as calças na família. Um jantar em família e eu sabia disso.

Desliguei o telefone, acendi a luz, e comecei a fazer as malas. Ocorreu-me enquanto eu estava jogando as coisas em uma mala, saber por que diabos estava fazendo isso. Poderia dizer que era porque Richard era o outro terço de um triunvirato de poder que Jean-Claude havia forjado entre nós três. Um vampiro-mestre, um Ulfric, ou rei dos lobos, e uma necromante. Eu era a necromante. Estávamos ligados tão firmemente que às vezes invadíamos os sonhos um do outro por acaso. Às vezes não tão acidentalmente.

Mas eu não estava indo ao resgate porque Richard era o nosso terceiro. Tinha que admitir a mim mesmo, e não a ninguém, que ainda o amava. Não da mesma maneira que amava Jean-Claude, mas era real. Ele estava com problemas e gostaria de poder ajudá-lo se pudesse. Simples. Complicado. Doloroso.

Fiquei imaginando o que Jean-Claude pensaria comigo largando tudo para resgatar Richard. Realmente não me importava. Estava indo, e era isso. Mas me sentia culpada como se pode sentir uma amante de vampiro. Seu coração nem sempre vence, mas ainda pode se quebrar.

Amor. Às vezes é bom. Às vezes é apenas outra maneira de sangrar.


2

Dei alguns telefonemas, minha amiga Catherine Maison-Gillette era uma advogada. Ela esteve comigo em mais de uma ocasião quando eu tive que fazer uma declaração à polícia sobre um corpo que me ajudaram a tornar inoperante. Até agora, nenhum tempo na prisão. Sem julgamento. Como é que eu consegui isso? Eu menti.

Bob, o marido de Catherine atendeu no quinto toque, a voz tão pesada de sono que era quase ininteligível. Apenas o rosnado baixo me deixou saber qual deles era. Nenhum deles acordou normalmente.

- Bob, é Anita. Preciso falar com Catherine. É sobre negócios.

- Você está em uma delegacia de polícia?- ele perguntou. Veja, Bob me conhecia.

- Não, eu não preciso de um advogado para mim neste momento.

Ele não fez perguntas, apenas disse:

- Catherine está aqui. Se você acha que eu não tenho nenhuma curiosidade está errada, Catherine vai me contar tudo depois que desligar.

- Obrigada Bob. - disse eu.

- Anita, o que aconteceu?- A voz de Catherine soou normal. Ela era uma advogada criminal em uma empresa privada. Foi acordada muito antes da hora. Não gostou, mas iria se recuperar.

Eu disse-lhe a má notícia. Ela conhecia Richard gostava muito dele. Não entendia porque diabos eu escolhi Jean-Claude. Como não podia contar para ela que Richard era um lobisomem, era algo difícil de explicar. Droga, mesmo se eu pudesse ter mencionado a parte do lobisomem seria difícil de explicar.

- Carl Belizário. - disse ela quando acabei de falar. - Ele é um dos melhores advogados criminais naquele estado. Eu o conheço pessoalmente, ele não é tão cuidadoso com seus clientes como eu. Tem alguns clientes que são meramente figuras penais, mas ele é bom.

- Você pode contatá-lo e levá-lo até Richard?- Eu perguntei.

- Você precisa da permissão de Richard para isto Anita.

- Não posso falar com Richard e assumir um novo procurador até que possa vê-lo. O tempo é sempre precioso em um crime Catherine. É possível que Belizário pelo menos inicie os contatos?

- Você sabe se Richard tem um advogado agora?

- Daniel mencionou algo sobre ele se recusar a ver o seu advogado, por isso eu estou assumindo isso.

- Dê-me o número de Daniel e vou ver o que posso fazer. - disse ela.

- Obrigada Catherine, realmente obrigada.

Ela suspirou.

- Sei que você ajuda seus amigos com problemas, é justa e leal. Mas tem certeza de que seus motivos são apenas amigáveis?

- O que você está me perguntando?

- Você ainda o ama, não é?

- Sem comentários. - disse eu.

Catherine deu uma risada macia.

- Sem comentários. Você não é a única sob suspeita aqui.

- Ligue para Belizário. - eu disse.

- Tudo bem, eu farei o que puder sobre isso. Avise-me quando você chegar lá.

- Pode deixar.

Desliguei e liguei para o meu principal trabalho. Executora de vampiros era apenas uma atividade complementar. Eu levantava os mortos para Animadores Inc., a primeira empresa de animação no país. Nós também éramos os mais rentáveis. Parte era devido ao nosso patrão Bert Vaughn. Ele poderia fazer uma nota de um dólar sentar e cantar. Ele não gostava quando eu ajudava a polícia nos crimes sobrenaturais, pois isso estava tomando mais e mais do meu tempo. Ele não gostaria que eu saísse da cidade por um período indefinido de tempo para resolver assuntos pessoais. Fiquei contente, era madrugada e ele não estaria lá para gritar pessoalmente comigo.

Se Bert continuasse me pressionando, teria que pará-lo e eu não queria. Eu tinha que levantar zumbis. Não era como um músculo que ficaria murcho se você não o usasse, era uma capacidade inata para mim. Se eu não o usasse, o poder acabaria por conta própria. Na faculdade havia um professor que cometeu suicídio, ninguém encontrou o corpo por três dias, geralmente é o tempo que a alma leva para deixar a área. Uma noite, o cadáver ambulante veio para o meu quarto, minha colega de quarto se mudou no dia seguinte para outro alojamento. Ela não tinha espírito de aventura.

Eu tinha de ressuscitar os mortos de uma forma ou de outra, não tinha escolha. Mas eu tinha prestígio suficiente para que pudesse ser free-lance. Precisaria de um gerente de negócios, mas que trabalhasse. O problema é que eu não queria sair. Algumas pessoas que trabalham na Animadores Inc.são meus melhores amigos. Além disso, eu tinha dinheiro suficiente para me segurar por um ano. Eu, Anita Blake, flagelo dos mortos-vivos, a humana que mata mais vampiros do que qualquer outro executor no país estava namorando um vampiro. Era quase poeticamente irônico.

A campainha tocou, o som fez o meu coração chegar à garganta. Era um som comum, mas não às 03h45min da manhã. Deixei minha mala parcialmente fechada na cama desfeita e entrei na sala. Minha mobília branca em cima de um tapete oriental era brilhante. Almofadas com cores brilhantes foram colocadas casualmente no sofá e em uma cadeira. A mobília era minha, o tapete e as almofadas foram presentes de Jean-Claude, seu senso de estilo seria sempre melhor que o meu. Por que discutir?

A campainha tocou novamente, isso me fez saltar sem nenhuma boa razão, exceto que era insistente e fora de hora e eu já estava tensa das notícias sobre Richard. Fui até a porta com a minha arma favorita, uma Browning Hi-Power 9 milímetros na mão, a trava de segurança desligada, apontei para o chão. Eu estava quase na porta quando percebi que não estava vestindo nada além da minha camisola. Armada, mas não vestida. Eu tinha minhas prioridades em ordem.

Fiquei ali com os pés descalços no tapete elegante, debatendo se voltava para colocar um roupão ou um jeans. Se estivesse usando uma das minhas habituais camisetas grandes, teria apenas atendido a porta. Mas eu estava vestindo uma camisola de cetim preto com tiras de espaguete. Cobria tudo, mas não era exatamente um traje para atender a porta. Que se lixe.

Perguntei:

- Quem é?- Os caras maus geralmente não tocam a campainha.

- É Jean-Claude, ma petite.

Fiquei de boa aberta, não poderia ter ficado mais surpresa se ele fosse um bandido. O que estava fazendo aqui?

Acionei a segurança na arma e abri a porta. A camisola de cetim tinha sido um presente de Jean-Claude, ele tinha me visto em trajes menores, não precisaria do roupão.

Abri a porta e lá estava ele. Era como se eu fosse um mágico e tivesse jogado a cortina para mostrar o meu assistente adorável. A visão dele me fez perder o fôlego.

Sua camisa tinha um corte conservador com algemas presas e um colar simples. Era vermelha com gola e punhos de um cetim quase escarlate. O resto da camisa era transparente, para que seus braços e peito ficassem nus da cintura para cima no pano vermelho. Seu cabelo ondulado e preto abaixo dos ombros estava mais escuro e mais rico de alguma forma contra o vermelho da camisa. Mesmo seus olhos azuis meia-noite, pareciam ainda mais azuis emoldurados pelo vermelho. Era uma das minhas cores favoritas e ele sabia disso. Entrelaçou um cordão vermelho através dos laços do cinto da calça jeans preta, ele caia em nós de um lado de seu quadril. As botas pretas quase chegavam ao topo das suas pernas, que encerra suas pernas longas e delgadas em couro do dedo do pé a quase na virilha.

Quando eu ficava longe de Jean-Claude, longe de seu corpo, de sua voz, poderia ficar constrangida e acanhada com o desconforto de namorar um vampiro. Quando eu estava longe dele poderia lhe dar um fora ou quase. Mas nunca quando eu estava com ele. Quando estávamos juntos meu estômago se apertava e eu tinha que lutar muito duro para não dizer como ele era esplêndido.

- Você parece espetacular como sempre. O que está fazendo aqui em uma noite que eu lhe disse para não vir? - O que eu queria fazer era me atirar em seus braços como um casaco, e que ele me levasse acima do limite agarrada a ele. Mas eu não faria isso. Faltou certa dignidade, além do mais havia uma espécie de medo do quando eu o queria. Ele era como uma nova droga. Não eram seus poderes de vampiros, era luxúria. Mas ainda era assustador, então eu tive que aplicar alguns parâmetros. Regras. Ele seguia a maior a parte do tempo.

Ele sorriu, e era o sorriso que me deixava com tanto amor e temor. O sorriso dizia que estava com maus pensamentos, coisas que dois ou mais poderiam fazer em um quarto escuro, onde lençóis com cheiro de perfume caro se misturavam com suor e outros fluidos corporais. O sorriso nunca me fez corar até que começamos a ter relações sexuais. Às vezes, tudo o que ele tinha que fazer era sorrir, e um calor corria por minha pele como eu se eu tivesse treze anos e ele fosse minha primeira paixão. Ele pensava que isso era encantador, isso me embaraçava.

- Filho da puta. - eu disse suavemente.

O sorriso aumentou.

- Nosso sonho foi interrompido, ma petite.

- Eu sabia que não era um acidente você estar em meus sonhos. - eu disse. Isso saiu hostil, e fiquei satisfeita porque o vento quente do verão soprava o cheiro da sua colônia contra o meu rosto. Exótico, com uma corrente de flores e especiarias. Quase odiava lavar meus lençóis por medo de perder o cheiro dele às vezes.

- Eu lhe pedi permissão para usar o meu dom para que eu pudesse sonhar com você. E você sabia o que eu queria fazer. Se disser que não estará mentindo. Posso entrar?

Ele tinha sido convidado muitas vezes, o suficiente para cruzar o limite sem convite, mas tornou-se um jogo para ele. Um reconhecimento formal toda vez que atravessava a porta, ele sabia o que eu queria. Isso me irritava e me agradava, eu gostava muito de Jean-Claude.

- Você pode muito bem entrar.

Ele passou por mim, notei que as botas pretas eram presas atrás do calcanhar. A parte de trás da calça jeans preta estava apertada e justa, não havia necessidade de adivinhar o que ele não estava usando debaixo delas.

Ele falou sem se virar.

- Você parece tão mal humorada, ma petite. Tem a capacidade de me impedir de invadir seus sonhos. - Ele virou-se então, e seus olhos estavam cheios de uma luz escura que não tinha nada a ver com os poderes de vampiros. - Você já me acolheu de braços abertos em outras ocasiões.

Corei pela segunda vez em menos de cinco minutos.

- Richard está na cadeia, no Tennessee.

- Eu sei. - disse ele.

- Você sabe?- Eu disse. - Como?

- O mestre da cidade me ligou para contar, ele estava com muito medo de que eu pensasse que era sua culpa. Sua maneira de destruir o nosso triunvirato.

- Se Richard fosse para lá para destruir alguma coisa, seria uma acusação de assassinato, e não tentativa de estupro. - disse eu.

- Verdade. - disse Jean-Claude e então riu. O riso passou sobre a minha pele nua como um vento. - Quem fez isso com nosso Richard não o conhecia bem. Eu acreditaria em assassinato antes de estupro.

Era quase exatamente o que eu disse. Por que era irritante?

- Você vai para o Tennessee?

- O mestre Colin me proibiu de entrar em suas terras. Fazê-lo agora seria um ato de agressão, se não a guerra definitiva.

- Por que ele proibiu? - Eu perguntei.

- Ele teme o meu poder, ma petite. Teme o nosso poder, razão pela qual ele lhe fez "persona non grata" em seu território, assim como eu.

Olhei para ele.

- Você está brincando eu espero. É proibido a qualquer um de nós ajudar Richard?

Jean-Claude assentiu.

- E ele espera que nós acreditemos que não é ele que está fazendo isso?

- Acredito nele, ma petite.

- Você poderia dizer que ele não estava mentindo no telefone?

- Alguns vampiros mestres podem mentir para dominar outros vampiros, apesar de eu não achar que Colin tenha tal poder. Mas não é por isso que acredito nele.

- Por que, então?

- A última vez que você e eu viajamos para terras de outro vampiro, você a matou.

- Ela estava tentando nos matar. - disse eu.

- Tecnicamente. - disse ele - ela tinha nos libertado para salvar você. Ela queria torná-la uma vampira.

- Como eu disse, ela estava tentando me matar.

Ele sorriu.

- Oh, ma petite, assim você me fere.

- Pare com isso. Este Colin, não acredito que não podemos ir até sua cidade e temos que deixar Richard apodrecer na cadeia.

- Ele tem o direito de nos negar passagem segura.

- Porque nós matamos outro mestre em seu próprio território?

- Ele não precisa de motivos para a sua recusa, ma petite. Ele apenas tem que recusar.

- Como vocês vampiros recebem esse tipo de notícia?

- Devagar. - Jean-Claude disse. - Mas lembre-se ma petite, temos o tempo para ser paciente.

- Bem, eu não e Richard também não.

- Você poderia ter a eternidade se quisesse aceitar a quarta marca. - disse ele, a voz calma, neutra.

Eu balancei minha cabeça.

- Richard e eu valorizamos o pouco que resta de nossa humanidade. Além disso, a eternidade é uma merda, a quarta marca não nos tornaria imortais. Significa apenas que viveremos enquanto você viver. Você é mais difícil de matar do que nós somos, mas não é impossível.

Ele se sentou no sofá com as pernas debaixo dele. Não era uma posição fácil, vestindo aquela roupa. Talvez as botas fossem mais macias do que pareciam.

Ele apoiou os cotovelos no braço do sofá inclinando o peito para fora. O pano vermelho cobria completamente seu peito não deixando nada para a imaginação. Seus mamilos pressionavam contra o tecido fino. A neblina vermelha do pano tornava a cicatriz em forma de cruz quase sangrenta.

Ele levantou-se com as mãos encostadas no braço do sofá como uma sereia em uma pedra. Eu esperava que ele fizesse ou dissesse algo sexual. Em vez disso ele disse:

- Eu vim aqui para contar sobre a prisão de Richard pessoalmente. - Ele viu meu rosto de muito perto. - Pensei que pudesse perturbar você.

- Claro que me irrita. Esse tal de Colin, vampiro ou o que diabos ele for, é louco se acha que vai nos impedir de ajudar Richard.

Jean-Claude sorriu.

- Asher está negociando, está tentando permissão para que você entre no território de Colin.

Asher era o segundo em comando, uma espécie de tenente-vampiro. Eu fiz uma careta.

- Por que eu e não você?

- Porque você é muito melhor com questões policiais do que eu. - Ele se deitou por longo tempo, colocando os pés e pernas no braço do sofá. Era como assistir a uma dança sem música. Pelo que eu sabia, Jean-Claude nunca tinha desfilado no Prazeres Malditos, o clube de strip vampiro que possuía, mas ele poderia. Tinha uma maneira de fazer o menor movimento se tornar algo sexual e vagamente obsceno. Você sempre se sentia como se estivesse tendo maus pensamentos, coisas que não poderia dizer a qualquer um.

- Por que você não me ligou e me disse tudo isso?

Eu sabia a resposta, ou pelo menos parte dela. Ele parecia ser tão enamorado do meu corpo como eu era do dele. O sexo era bom nos dois sentidos. O sedutor pode tornar-se seduzido com a vítima certa.

Ele deslizou para mim.

- Eu pensei que isso fosse novidade e queria dizer pessoalmente. - Ele parou na minha frente, tão perto que a barra da minha camisola esbarrou em suas coxas. Ele fez um pequeno movimento de seu corpo e na borda de cetim da camisola movendo suavemente contra as minhas pernas nuas. A maioria dos homens teria que usar as mãos para obter esse tipo de movimento. Claro, Jean-Claude teve quatrocentos anos para aperfeiçoar sua técnica, a prática faz a perfeição.

- Por que pessoalmente? - Eu perguntei, minha voz estava rouca.

Um sorriso torceu seus lábios.

- Você sabe Porquê. - disse ele.

- Eu quero ouvir você dizer isso.

Seu rosto bonito ficou em branco, apenas seus olhos mostravam o calor como um fogo se espalhando.

- Eu não podia deixá-la sair sem tocá-la uma última vez. Quero fazer a dança ímpios antes que você se vá.

Eu ri, mas foi um riso tenso, nervoso. Minha boca estava seca de repente. Eu estava tendo problemas em não olhar para seu peito. A dança ímpios era o seu eufemismo para o sexo. Eu queria tocá-lo, mas se o fizesse não tinha certeza de poder parar. Richard estava em apuros, eu o traí uma vez com Jean-Claude; não iria decepcioná-lo novamente.

- Preciso fazer as malas. - eu disse. Virei-me abruptamente e comecei a caminhar em direção ao quarto.

Ele me seguiu.

Coloquei minha arma na mesa de cabeceira ao lado do telefone, tinha meias na gaveta e comecei a jogá-las na mala tentando ignorar Jean-Claude. Ele não é ignorado facilmente, estava deitado na cama ao lado da mala apoiado no cotovelo, pernas longas esticadas no comprimento da cama. Ele me olhou com medo contra os meus lençóis brancos. Ele me viu me mover em torno do quarto, movendo apenas os olhos. Lembrou-me um gato: vigilante, perfeitamente à vontade.

Fui até o banheiro para pegar artigos de higiene pessoal.

Jean-Claude estava deitado de costas, seu cabelo preto se derramava como um sonho escuro em meu travesseiro branco. Ele deu um leve sorriso quanto entrei no quarto. Ele ofereceu uma mão para mim.

- Join me, ma petite.

Balancei minha cabeça.

- Se eu me juntar a você vamos ficar distraídos. Vou fazer as malas e me vestir. Não temos tempo para mais nada.

Ele se arrastou até mim sobre a cama, movendo-se como se tivesse músculos em lugares que não devia ter.

- Eu sou tão pouco atraente ma petite? Ou é a sua preocupação com Richard tão avassaladora?

- Você sabe exatamente como você é atraente para mim. E sim, eu estou preocupada com Richard.

Ele saiu da cama, seguindo nos meus calcanhares. Deslizou em uma espécie de movimento vagaroso e gracioso enquanto eu corria para lá e para cá, ele passou por mim, medindo cada um dos meus passos rápidos com seus. Era como ser perseguida por um predador muito lento que tinha todo o tempo do mundo, mas sabia que no final iria pegá-la.

Na segunda vez que passei por ele finalmente disse:

- Qual é o seu problema? Pare de me seguir, você está me deixando nervosa.

A verdade é que seu corpo estava tão perto do meu que arrepiava minha pele.

Ele se sentou na beira da cama e suspirou,

- Eu não quero que você vá.

Isso me fez parar. Virei-me e olhei para ele.

- Por que, pelo amor de Deus?

- Por séculos eu sonhei em ter energia suficiente para estar seguro. Suficiente para manter minhas terras e finalmente ter alguma sensação de paz. Agora eu temo muito o homem que pode fazer minhas ambições se tornarem realidade.

- Do que você está falando?- Eu fiquei na frente dele, os braços cheios de camisetas e cabides.

- Richard, eu temo Richard. - Havia algo em seus olhos que raramente eu tinha visto. Ele estava inseguro de si mesmo. Era uma expressão muito normal em humanos. Parecia totalmente em desacordo com o homem elegante em sua camisa Peekaboo.

- Por que você tem medo de Richard?

- Se você ama Richard mais do que me ama, eu temo que vá me deixar por ele.

- Se você não notou Richard me odeia agora. Ele fala mais com você do que comigo.

- Ele não te odeia, ma petite. Ele odeia que você esteja comigo. Existe uma grande diferença entre os dois ódios. - Jean-Claude olhou para mim quase melancolicamente.

Suspirei.

- Você está com ciúmes de Richard?

Ele olhou para suas botas.

- Eu seria um tolo se não estivesse.

Eu transferi as blusas para um braço e toquei seu rosto. Virei seu rosto até o meu.

- Estou dormindo com você e não com Richard, lembra?

- No entanto aqui estou eu ma petite. Estou vestido como em seus sonhos e você nem sequer me ofereceu um beijo.

Sua reação me surpreendeu. E eu pensei que o conhecia.

- Você quer um beijo de olá?

- Talvez. - ele disse bem baixinho.

Eu balancei a cabeça e joguei as blusas na direção da mala, descruzei seus joelhos com as pernas até que ele me deixou entrar pressionando meu corpo no seu. Coloquei minhas mãos em seus ombros. O pano vermelho era pura textura, mais áspera do que parecia.

- Como pode alguém tão lindo como você ficar inseguro?

Ele passou os braços em volta da minha cintura aconchegando-me contra ele, apertou as pernas contra mim. O couro das botas era mais suave do que parecia mais maleável. Com seus braços em volta de mim e apertando suas pernas, eu estava efetivamente presa. Mas eu queria um cativeiro, por isso estava bem.

- O que eu quero fazer é ficar de joelhos e lamber a frente desta camisa. Quero saber o quanto de você eu posso chupar através do pano. - Levantei minhas sobrancelhas para ele.

Ele riu macio e baixo, o som arrepiou meu corpo de cima a baixo, apertando meus mamilos e outros lugares. Seu riso era uma coisa palpável, intrusiva. Ele podia fazer coisas com a voz que a maioria dos homens não podiam fazer com suas mãos. No entanto, ele tinha medo de me deixar com Richard.

Ele descansou seu rosto no meu peito embalado entre meus seios. Esfregou seu rosto suavemente para trás e para frente contra mim, fazendo deslizar o cetim até que minha respiração se tornou mais rápida.

Suspirei e me inclinei sobre ele dobrando nossos corpos juntos.

- Eu não pretendo deixá-lo por causa de Richard. Mas ele está em apuros, e isso vem antes do sexo.

Jean-Claude levantou o rosto para mim, nossos braços tão emaranhados que ele quase não conseguia se mexer.

- Beije-me ma petite, isso é tudo. Apenas um beijo para me dizer que você me ama.

Eu coloquei meus lábios contra sua testa.

- Eu pensei que você fosse mais seguro do que isto.

- Eu sou com todos. - disse ele - menos com você.

Fui para trás o suficiente para estudar seu rosto.

- O amor deve fazer você se sentir mais seguro e não menos.

- Sim, deveria. - ele disse calmamente - Mas você ama Richard também. Você tenta não amá-lo, e ele tenta não te amar. Mas o amor não é tão facilmente morto, ou tão facilmente despertado.

Debrucei-me sobre ele, o primeiro beijo foi um simples roçar de lábios como cetim esfregando contra a minha boca. O segundo beijo foi mais difícil, mordi levemente seu lábio superior e ele fez um pequeno som. Ele beijou-me me empurrando para trás, as mãos deslizando para os lados do meu rosto. Ele beijou-me como se estivesse bebendo-me, tentando lamber as últimas gotas da garrafa de um vinho fino, macio, ansioso, com fome. Caí contra ele, deslizando as mãos sobre ele, como se minhas mãos estivessem com fome dele.

Senti suas presas furando meus lábios e língua. Houve uma dor rápida e o acentuado sabor doce de cobre do sangue. Ele fez um pequeno som inarticulado e rolou em cima de mim. De repente eu estava na cama com ele em cima de mim. Seus olhos eram um azul sólido, incandescente, cheios de desejo.

Ele tentou virar a cabeça para um lado, aninhando-se no meu pescoço. Virei o rosto bloqueando-o.

- Sem sangue Jean-Claude.

Ele enterrou o rosto nos lençóis amarrotados.

- Por favor, ma petite.

Empurrei seu ombro.

- Saia de cima de mim.

Ele virou-se para trás olhando para o teto com cuidado, não olhando para mim.

- Eu posso entrar em cada orifício de seu corpo com cada parte de mim, mas você me recusa o último pedaço de si mesma.

Saltei da cama com cuidado, não tinha certeza se meus joelhos me sustentariam. - Eu não sou comida. - disse eu.

- É muito mais do que simples alimentação, ma petite. Se você me permitisse apenas mostrar como é muito mais...

Peguei a pilha de blusas e comecei a tirá-las dos cabides e dobrá-las na mala.

- Sem sangue, essa é a regra.

Ele rolou para o lado.

- Eu te ofereci tudo o que sou ma petite, você ainda se recusa a se dar para mim. Como não posso ter ciúmes de Richard?

- Você está recebendo sexo, ele não está recebendo nada.

- Você é minha, mas ainda não é, não completamente.

- Não sou um animal de estimação Jean-Claude. As pessoas não deveriam pertencer a outras pessoas.

- Se você pudesse encontrar uma forma de amar a besta de Richard, você não o teria deixado e se daria a ele completamente.

Dobrei a blusa.

- Pô Jean-Claude isso é estúpido, eu escolhi você. Tudo bem? É um negócio feito, por que está tão preocupado?

- Porque no momento em que ele ficou em apuros você largou tudo para correr ao seu lado.

- Eu faria o mesmo por você. - disse eu.

- Exatamente, não tenho dúvidas de que você me ama a sua maneira, mas você o ama também.

Eu fechei a mala.

- Isto não é um bom argumento, estou dormindo com você. Não vou doar sangue apenas para fazer você se sentir mais seguro.

O telefone tocou. Era a voz culta de Asher, assim como a de Jean-Claude:

- Anita, como você está nesta noite de verão, bem?

- Estou bem Asher. O que há?

- Posso falar com Jean-Claude? - ele perguntou.

Jean-Claude estendeu a mão e dei o telefone para ele.

Ele falou em francês, era o que ele e Asher tinham o hábito de fazer. Fiquei contente que tivesse alguém com quem falar sua língua nativa, mas meu francês não conseguiu acompanhar a conversa. Eu suspeitava fortemente que às vezes os vampiros falavam na minha frente como se conversassem na frente de uma criança que não era crescida o bastante para entender. Isso era rude e condescendente, mas eram vampiros com séculos de idade, e às vezes eles apenas não podiam ajudar a si próprios.

Ele mudou para o inglês, falando diretamente para mim.

- Colin recusou-lhe a entrada no seu território. Ele recusou a entrada de qualquer um do meu povo.

- Ele pode fazer isso?- Eu perguntei.

Jean-Claude assentiu.

- Oui.

- Eu vou até lá ajudar Richard. Ou você me ajuda, ou eu vou sem nenhum acordo.

- Mesmo que comece uma guerra? - ele perguntou.

- Merda. - disse eu. - Chame o pequeno filho da puta e me deixe falar com ele.

Jean-Claude ergueu as sobrancelhas, mas concordou. Ele desligou e em seguida discou outro número e disse:

- Colin, é Jean-Claude. Sim, Asher me contou o que você decidiu. Minha serva humana Anita Blake quer falar com você. - Ele escutou por um momento. - Não, eu não sei o que ela quer lhe dizer. - Ele me passou o telefone e se recostou contra a cabeceira da cama como se estivesse assistindo a um show.

- Olá, Colin?

- Este sou eu. - Seu sotaque era puro americano da idade média. Ele soava menos exótico do que alguns deles.

- Meu nome é Anita Blake.

- Sei quem você é. - disse ele. - Você é a executora.

- Sim, mas eu não vou até aí para uma execução. Meu amigo está em apuros, eu só quero ajudá-lo.

- Ele é o seu terceiro, se você entrar em minhas terras, dois de seu triunvirato estarão dentro do meu território, será muito poderosa para que permitida a sua entrada.

- Asher disse que também negou o acesso a qualquer um de nosso povo, é verdade?

- Sim. - disse ele.

- Por que, pelo amor de Deus?

- O Conselho, os governantes de todos os tipos de vampiros temem Jean-Claude. Eu não quero você em minhas terras.

- Colin olha, eu não quero a sua base de poder, não quero suas terras. Não tenho projetos em cima de você, em absoluto. Você é um vampiro mestre, você pode provar a verdade em minhas palavras.

- Isso é o que você diz, mas você é a serva. Jean-Claude é o mestre.

- Não me leve a mal Colin, mas por que Jean-Claude ia querer suas terras? Mesmo que ele estivesse planejando algum tipo de invasão de Gengis Kahn, suas terras estão a três territórios longe de nós. Se ele fosse conquistar alguma coisa, pegaria o território ao nosso lado.

- Talvez haja aqui algo que ele queira. - disse Colin e eu podia ouvir o medo em sua voz, isso era raro com um vampiro-mestre. Geralmente eles eram muito bons em esconder suas emoções.

- Colin, eu juro por qualquer juramento que você queira que nós não queremos nada de você. Preciso apenas tirar Richard da cadeia. Razoável?

- Não. - disse ele. - Se você vier aqui sem ser convidada será guerra entre nós, e eu vou te matar.

- Olha Colin, eu sei que você está com medo. - Assim que disse isso sabia que não deveria ter feito.

- Como você sabe o que eu sinto?- O medo aumentou um pouco, mas a raiva aumentou mais rapidamente. - Uma serva humana que pode provar o medo de um vampiro-mestre, e você quer saber por que eu não quero você nas minhas terras.

- Eu não posso provar o seu medo Colin, ouví em sua voz.

- Mentirosa!

Meus ombros estavam começando a doer, eu não costumo demorar muito para me irritar, e ele estava trabalhando nisso.

- Como vamos ajudar Richard se você não nos deixa enviar alguém até aí? Minha voz estava calma, mas eu podia sentir um aperto na garganta, minha voz um pouco mais baixa com o esforço de não gritar.

- O que acontece ao seu terceiro não é do meu interesse. Proteger a minha terra e minha gente sim.

- Se alguma coisa acontecer com Richard por causa deste atraso, eu posso fazer isso se tornar do seu interesse. - eu disse, a voz mansa e tranquila.

- Veja, já começam as ameaças.

O aperto nos meus ombros chegou até meu pescoço e saiu pela minha boca.

- Escuta, pare de chiar um pouco, eu vou até aí. Não vou deixar a sua paranóia ferir Richard.

- Nós vamos matar você então. - disse ele.

- Olha Colin, fique fora do meu caminho, e eu vou ficar de fora do seu. Se você me foder eu vou destruí-lo, está me entendendo? Será uma guerra somente se você começar, mas se você começar alguma coisa, por Deus, eu vou terminar. Jean-Claude fez sinal para o telefone desesperadamente. Lutamos pelo aparelho por alguns segundos enquanto eu chamava Colin de um político antiquado e coisa pior.

Jean-Claude ia pedir desculpas pelo telefone, mas estava mudo. Ele desligou e olhou para mim, seu olhar era eloquente.

- Eu diria que estou sem palavras ma petite, ou que não acredito que você fez isso, mas acredito. A pergunta é: Você entende o que acabou de fazer?

- Eu vou resgatar Richard, eu posso ir ao redor de Colin ou sobre ele. A escolha é sua.

Jean-Claude suspirou.

- Está dentro de seus direitos vê-la como o início de uma guerra. Mas Colin é muito cauteloso. Ele vai fazer uma das duas coisas. Vai esperar para ver se você vai iniciar as hostilidades, ou vai tentar matá-la logo que por os pés em suas terras.

Balancei minha cabeça.

- O que eu deveria fazer?

- Isso não importa agora. O que está feito está feito, mas não muda o regime de viagens. Você pode levar o meu jato particular, mas vai ter companhia.

- Você vem?- Eu perguntei.

- Não. Se eu for com você Colin vai achar que vamos tentar matá-lo. Não, eu vou ficar aqui, mas você vai ter um séquio de guardas.

- Agora, espere um minuto. - eu disse.

Ele levantou a mão.

- Não ma petite. Você tem sido muito imprudente. Lembre-se, se você morrer, Richard e eu podemos morrer também. A ligação que nos faz um triunvirato dá poder, mas não vem sem um preço. Não é apenas sua vida que está arriscando.

Isso me fez parar.

- Eu não tinha pensado nisso dessa maneira.

- Você vai precisar de uma comitiva agora que é minha serva humana, e uma comitiva forte o suficiente para lutar contra as criaturas de Colin se for necessário. - Quem você tem em mente?- Eu perguntei, e de repente suspeitei.

- Deixe isso comigo.

- Acho que não. - disse eu.

Ele se levantou, e sua raiva se arrastava pela sala como um vento escaldante.

- Você nos colocou em perigo. Colocou em perigo tudo o que temos ou a esperança de ter com o seu temperamento.

- Você teria feito à mesma coisa Jean-Claude, teria discutido e negociado por um dia ou dois, mas no final, teria ido lá também.

- Você tem tanta certeza?- ele perguntou.

- Sim, eu ouvi o medo na voz de Colin. Ele está apavorado, com medo de você. Ele nunca concordaria em nos receber.

- Não é só a mim que ele teme ma petite, você é a executora. Vampiros jovens são tolos, acham que você vai chegar e matá-los em seus caixões.

- Você está fazendo isso. - disse eu.

Ele balançou a cabeça.

- Não ma petite, você é o bicho-papão do reino dos vampiros.

- Se eu me encontrar com Colin, vou tentar não assustá-lo mais do que já o fiz.

- Você vai encontrá-lo ma petite, de uma forma ou de outra. Ele vai querer marcar um encontro, quando ver que você quer machucá-lo, ele vai estar lá esperando para o ataque.

- Temos que encontrar Richard antes da lua cheia, temos apenas cinco dias. Não temos tempo para fazer isto lentamente.

- Quem você está tentando convencer ma petite, eu ou você mesma?

Eu tinha perdido minha paciência. Isso foi estúpido. Indesculpável. Eu tinha um péssimo temperamento, mas geralmente me controlava melhor do que isso.

- Sinto muito. - disse eu.

Jean-Claude deu um ronco muito deselegante.

- Agora ela está triste. - Ele pegou o telefone. - Vou avisar a Asher e os outros.

- Asher? - Eu disse. - Ele não vai comigo.

- Sim, ele vai.

Abri a boca para protestar, ele apontou um dedo muito pálido para mim.

- Eu conheço Colin e seu povo. Você precisa de uma comitiva que impressione sem ser muito assustador, e se o pior acontecer, eles devem ser capazes de defendê-la e a si mesmos. Vou escolher quem vai e quem fica.

- Isso não é justo.

- Não há tempo para discussão ma petite. Seu precioso Richard está atrás das grades e a lua cheia se aproxima. - Ele deixou cair a mão no colo. - Se você desejar levar alguns de seus homens-leopardo com você, seriam bem-vindos. Asher e Damian vão precisar de alimento enquanto estiverem fora. Eles não podem caçar dentro do território de Colin, isso seria visto como um ato de hostilidade.

- Você quer que eu leve homens-leopardo voluntários para alimentá-los?

- Vou fornecer alguns lobisomens também. - disse ele.

- Eu sou a lupa do bando, bem como Nimir-ra para os leopardos. Você precisa enviar os lobos para mim também.

Richard tinha me tornado a lupa dos lobisomens quando estávamos namorando. Lupa muitas vezes é apenas uma outra palavra para a namorada do lobo chefe, embora geralmente também fosse lobisomem e não uma humana. Os homens-leopardo vieram até mim por proteção, eu matei seu último líder e descobri que todo mundo estava fazendo o que bem queria com eles. Mudar de forma sem um líder dominante para protegê-lo pode acabar como carne de alguém. A culpa foi minha, sorte que estavam sendo prejudicados, por isso minha proteção se estendida sobre eles. Minha proteção, já que eu não era uma mulher-leopardo, ganhei através de ameaça. Eu ameaçava matar qualquer um que mexesse com eles. Os monstros na cidade devem ter acreditado, porque deixaram os leopardos em paz. Use bastante bala de prata em monstros, e você terá uma reputação.

Jean-Claude levou o telefone até sua orelha.

- Você tem essa posição porque uma pessoa não pode insultar um monstro em Saint Louis sem responder a você ma petite.

Se eu não o conhecesse melhor, diria que Jean-Claude estava zangado comigo.

Eu acho que, desta vez, eu não poderia culpá-lo.


3

O jato particular era como um ovo branco longo com barbatanas. Ok, era mais do que um ovo e mais pontiagudo nas extremidades, mas parecia muito frágil. Eu mencionei que tenho fobia de voar? Sentei-me na minha, confortável, totalmente articulada, totalmente reclinável poltrona muito reta, com cinto no banco, unhas cravadas nos braços almofadados. Eu propositadamente tinha virado a poltrona me afastando de uma das janelas redondas. Infelizmente, o avião era muito estreito e vislumbrei as janelas do lado oposto com nuvens fofas e céu azul claro. Difícil de esquecer que está a milhares de metros acima do solo com apenas uma folha fina de metal entre você e a eternidade quando a nuvem se mantém flutuando pela janela.

Jason se sentou ao meu lado e soltou um grande "Yup". Ele riu.

- Não posso acreditar que você esta com medo de voar. - Ele empurrou sua poltrona com os pés fazendo-a girar lentamente como uma criança com a cadeira do papai no escritório. Seu cabelo loiro fino foi cortado um pouco acima dos ombros, sem franja. Seus olhos eram o mesmo azul pálido como o céu que estávamos voando. Era exatamente da minha altura, o que o tornava um baixinho, especialmente para um homem. Ele nunca pareceu se importar, usava uma camiseta grande e um jeans tão desbotado que parecia quase branco. Usava sapatos de corrida de duzentos dólares, embora eu soubesse que ele nunca corria.

Ele ia completar vinte e um anos este verão, e me informou que se tornaria maior de idade e agora ficaria tudo bem. Poderia comprar um lote de terreno e ter sua própria casa. Ele era um lobisomem, mas atualmente morava com Jean-Claude, ele era aperitivo, lanche, café da manhã ou da noite para o vampiro. O sangue de um metamorfo tem muita energia e pode lhe dar mais poder. Você pode beber menos do que o sangue humano e se sentir melhor.

Ele atirou-se da poltrona e caiu de joelhos diante de mim.

- Vamos, Anita. O que te preocupa?

- Me deixe sozinha Jason. É uma fobia, não tem lógica. Se quer me ajudar, basta ir embora.

Ele ergueu-se tão rápido que era quase mágico.

- Estamos perfeitamente seguros. - Ele começou a saltar para cima e para baixo no chão no avião. - Veja, é muito sólido.

Eu gritei,

- Zane!

Zane apareceu ao meu lado. Ele tinha cerca de dois metros de altura, muito esticado e fino, como se não tivesse carne suficiente para cobrir seus ossos. Seus cabelos eram tingidos de um amarelo chocante como flores de néon, raspado nos lados e gel em pequenas espigas dura em cima. Usava calça de vinil preta, como uma segunda pele e um colete correspondente sem camisa. Botas pretas brilhantes completavam o equipamento.

- Você chamou? - ele perguntou com uma voz que era quase dolorosamente profunda. Se um metamorfo fica muito tempo na forma animal, algumas das mudanças físicas podem ser permanentes. Zane tinha a voz grave e os lábios superiores e inferiores com caninos salientes em sua boca humana, disse que passou muito tempo como leopardo. A voz poderia passar por humano, mas os dentes o manteriam afastado.

- Mantenha Jason longe de mim, por favor. - eu disse rangendo os dentes.

Zane olhou para o homem menor. Jason manteve sua posição.

Zane deu dois passos para diminuir a distância entre eles. Ficaram ali se pressionando, olhos fechados. De repente pude sentir a energia se arrastando por minha pele, energia suficiente para que você soubesse que os homens não eram o que pareciam.

Merda. Eu não tinha a intenção de começar uma briga.

Zane abaixou o rosto para o homem menor, um rosnado baixo escorrendo de sua boca fechada.

- Sem brigas rapazes. - eu disse.

Zane plantou um grande beijo molhado na boca de Jason.

Jason o empurrou para trás rindo.

- Você é um bicha, seu filho da puta.

- Olha se não é o roto falando do esfarrapado. - disse Zane.

Jason apenas sorriu e se afastou, mas não havia muito espaço para passear em qualquer lugar. Eu também tenho um pouco de claustrofobia, ganhei em um acidente de mergulho, mas notei que ficou pior quando acordei uma manhã presa em um caixão com um vampiro que eu não gostava. Consegui sair, mas eu gosto de espaços fechados cada vez menos.

Zane deslizou no banco ao meu lado. O colete preto brilhante escancarado sobre o peito magro e pálido, dando um vislumbre de um anel de prata do bico do peito.

Zane pôs sua mão no meu joelho e eu deixei. Ele sempre tocava as pessoas, nada pessoal. A maioria dos metamorfos são melosos, como se fossem animais em vez de pessoas e tivessem menos fronteiras físicas, mas Zane transformou seu toque casual em uma forma de arte. Finalmente percebi que ele tocava os outros como uma espécie de cobertor de segurança. Ele tentou ser o predador dominante, mas não conseguiu. Debaixo do show de provocações e confiança ele sabia disso, ficava muito tenso quando estava em uma situação social onde tinha que ficar sozinho, literalmente, sem o toque de outra carne. Assim eu o deixava me tocar quando não tinha mais ninguém.

- Nós estaremos em terra em breve. - disse ele. A mão esquerda no meu joelho. Ele entendeu as regras, deixo que me toque quando não tem nada que fazer, mas não por muito tempo, nem carícias prolongadas. Eu era a sua pedra de toque quando ele estava nervoso, e não sua namorada.

- Eu sei.

Ele sorriu.

- Mas você não acredita em mim.

- Vamos dizer apenas que eu vou relaxar quando estivermos realmente em terra.

Cherry se juntou a nós, era alta e esbelta, cabelos naturalmente loiros cortados muito retos com um rosto forte e triangular. A sombra que usava nos olhos era cinzenta, o delineador tão negro que parecia crayon. O batom era negro. O conjunto de cores não era o que escolheria para ela, mas combinavam com suas roupas, meias pretas, minissaia de vinil, botas pretas e um sutiã de renda preta por baixo uma camiseta de fishnet. Ela acrescentou o sutiã para meu benefício. Deixei o estilo por sua conta, quando não estava trabalhando como enfermeira ficava muito bonita de topless. Ela era enfermeira, até que descobriram que era uma mulher-leopardo, depois foi vítima de cortes orçamentários. Talvez fosse realmente corte no orçamento, talvez não. Era ilegal discriminar alguém porque tinha uma doença, mas ninguém quer uma mulher-leopardo tratando dos doentes. As pessoas parecem pensar que licantropos não podem se controlar em torno de sangue recém derramado. Alguns metamorfos recentes estariam em apuros, mas Cherry não era nova. Ela tinha sido uma boa enfermeira, e agora nunca mais poderia exercer a profissão. Ela era amarga sobre isto e tornou-se a noiva desmazelada do Planeta X, como se mesmo na forma humana quisesse que as pessoas soubessem o que ela era agora: diferente, outra coisa. O problema é que ela parecia mais uma dos milhares de outros adolescentes de vinte e poucos anos que também queriam ser diferentes e se destacar.

- O que acontece quando o avião pousar? - Cherry perguntou, sua voz ronronando um contralto. Pensei que sua voz fosse produto do longo tempo que ficou em sua forma animal como os dentes Zane, mas não, Cherry tinha essa voz maravilhosa, profunda e sexy. Ela teria feito sexo por telefone muito bem. Ela se sentou no chão aos nossos pés, joelhos para fora, os pés cruzados, fazendo a saia curta mostrar a calcinha, mas ainda conseguia cobrir o resto. Embora com uma saia tão curta, eu esperava que ela estivesse usando calcinha. Nunca fui capaz de usar algo curto.

- Vamos entrar em contato com o irmão de Richard e ir até a cadeia. - eu disse.

- O que quer que a gente faça?- Zane perguntou.

- Jean-Claude disse que arranjou alguns quartos, assim vocês podem ficar lá.

Eles trocaram um olhar, era mais do que um olhar comum.

- O que foi?- Eu perguntei.

- Um de nós terá de ir com você. - disse Zane.

- Não, eu vou entrar lá mostrando minha licença de executora. Estarei melhor sozinha.

- E se o mestre desta cidade estiver com o seu povo à nossa espera? - Zane perguntou. - Ele vai saber que você está indo até a cadeia.

Cherry assentiu.

- Poderia ser uma emboscada.

Eles tinham um ponto, mas ...

- Olha, nada pessoal amigos, mas vocês parecem a metade de cima de um bolo de casamento de um filme pornô. Tiras não gostam de olhar para pessoas de outras espécie ...- Eu não sabia como dizer isso sem ser insultuoso. Policiais eram pessoas de carne e osso, eles não ficam impressionados com o exótico. Eles tinham visto de tudo e limpado a bagunça. A maioria das pessoas exóticas que eles viram eram ruins. Depois de um tempo, os policiais parecem pensar que qualquer coisa exótica é ruim, apenas poupa tempo.

Se eu entrasse na delegacia com um cara vestido de punk e uma mulher vestida como uma puta, levantaria as suspeitas do policial. Eles saberiam que eu não era exatamente o que estava dizendo ser, e isso complicaria as coisas. Nós precisávamos tornar as coisas mais fáceis.

Eu estava vestida de executora de vampiro. Jeans novo preto, camisa de mangas compridas, paletó preto, Nikes preto, cinto preto com as alças do meu coldre de ombro. A Browning Hi-Power sentou debaixo do braço esquerdo, uma tensão familiar. Estava levando três facas. Uma faca de prata em uma bainha de pulso em cada braço e uma faca em uma bainha na minha espinha. A alça presa alto o suficiente para que meu cabelo pudesse escondê-lo, mas ele era grosso e escuro o suficiente para fazer o trabalho. A faca era como uma pequena espada. Eu a usei apenas uma vez para atravessar o coração de um homem-leopardo. A ponta havia saído em suas costas, usava também uma cruz de prata sob a blusa para as verdadeiras emergências, e eu estava pronta para derrubar um urso, ou quase isso. Eu tinha um clipe de reposição de balas normais na minha pochete para o caso de encontrar uma fada desonesta. Prata não serve contra elas.

- Eu vou com você. - Nathaniel deslizou por trás de Cherry pressionando-se contra a parede do avião e as minhas pernas. Um ombro largo descansando contra o meu jeans em um peso agradável, sólido. Não havia realmente nenhuma maneira de se sentar lá e não me tocar. Ele estava sempre tentando me tocar, e era bom o suficiente para que eu não pudesse escapar, como agora.

- Acho que não, Nathaniel. - eu disse.

Ele abraçou os joelhos ao peito e perguntou:

- Por que não?- Ele normalmente usava jeans e uma camisa dobrada nas mangas, mas o resto dele ... Seu cabelo era de um ruivo profundo, quase mogno. Ele o amarrou para trás em um rabo de cavalo solto, mas este caia como água de seda em seus joelhos.

Nathaniel olhou para mim com seus pálidos olhos cor de púrpura. Mesmo que cortasse o cabelo, seus olhos teriam lhe causado problemas. Ele era pequeno para um homem e também o mais novo de todos nós, apenas dezenove anos. Suspeito fortemente que estava no meio de um surto de crescimento. Algum dia, seu corpo pequeno coincidiria com os ombros, os quais eram amplos e muito masculino Ele era um stripper no Prazeres Malditos, um homem-leopardo, e uma vez tinha sido um prostituto. Eu coloquei um fim a isso, para ser rainha dos leopardos e governar, a primeira regra seria que nenhum dos leopardos trabalhasse como prostituto. Gabriel, seu antigo Alpha, os tinha adestrado. Metamorfos podem se machucar muito e sobreviver. Gabriel tinha descoberto uma maneira de fazer-los pagar. Ele adestrou seus gatinhos para se ajustar no set de filmes pornôs. As pessoas que gostavam de provocar dor pagaram uma nota por Nathaniel. A primeira vez que o vi, ele estava no hospital depois que um cliente o estuprou e quase o matou. Evidentemente, isso foi depois que Gabriel tinha morrido. Os homens-leopardo haviam tentado manter a lista de clientes sem ninguém para protegê-los dos clientes.

Zane tinha tentado ficar no lugar de Gabriel como cafetão e gatinho mau, mas ele não era forte o suficiente para dar conta. Ele quase deixou Nathaniel morrer e não tinha sido capaz de protegê-lo.

Nathaniel pode levantar um grande piano de cauda, mas ele era uma vítima, ele gostava de dor e queria alguém para ser responsável por ele, queria um mestre e estava tentando duramente que eu aceitasse o cargo. Poderíamos pensar em alguma coisa, mas sendo a sua mestre ou amante, parecia incluir sexo e isso não me agradava.

- Eu vou. - disse Jason. Ele se sentou ao lado de Cherry e deitou sua cabeça no ombro dela aconchegando-se. Cherry afastou-se dele abraçando Nathaniel. Não era sexo exatamente, é que os leopardos tendiam a ficar perto de sua própria espécie. Isso poderia ser considerado uma gafe social, se afastar de uma espécie diferente de animal. Mas Jason não se importou. Cherry era do sexo feminino, e ele flertava com tudo o que fosse do sexo feminino. Nada pessoal, apenas hábito.

Jason forçou até que Cherry ficou pressionada entre ele e Nathaniel.

- Eu tenho um terno na minha bagagem, um terno azul e normal. Vou até usar uma gravata.

Cherry rosnou para ele e parecia errado vindo dessa cara bonita. Eu não sou uma daquelas mulheres que quer refazer as outras. Não me importo muito com maquiagem ou roupa, mas Cherry me fez querer dar-lhe algumas dicas. Se ela era bonita maquiada como a Noiva de Frankenstein, seria um nocaute com algo que combinasse com seu tom de pele.

Eu sorri.

- Obrigada Jason. Agora dê a Cherry algum espaço para respirar.

Ele apertou-se ainda mais no espaço estreito.

- Zane me deu um beijo para me fazer sair.

- Mova-se ou vou morder o seu nariz. - Ela tinha uma expressão que era meio rosnar e meio sorriso, uma breve ameaça de dentes.

- Eu acho que ela quis dizer isso. - eu disse.

Jason riu e fez um movimento rápido que todos eles eram capazes de fazer. Ele foi para trás de meu assento, apoiando seus braços sobre ela.

- Vou me esconder atrás de você até que seja seguro. - disse ele.

- Saia de trás do meu assento. - disse eu.

Ele se afastou, mas ficou de pé atrás de mim.

- Jean-Claude achou que você tinha que nos incluir em algumas de suas situações policiais. Não podemos nos comportar como se todos nós fossemos estudantes universitários ou estrelas pornôs.

O comentário sobre estrelas pornô, infelizmente cabia para todos os três homens leopardos. Outra boa idéia de Gabriel tinha sido transformar seu povo em estrelas de filmes pornôs. Gabriel cumpria sua própria quota de papéis como protagonista. Ele nunca pedia a um dos seus gatinhos o que ele estava interessado, ou melhor, ansioso para fazer a si mesmo. Ele tinha sido um doente mental, e tinha certeza que seus homens-leopardos eram tão doentes como ele.

Nathaniel tinha me dado uma caixa com três seus filmes de presente. Ele sugeriu vê-los juntos. Eu agradeci, mas recusei. Guardei as fitas principalmente porque não sabia ao certo o que fazer com elas. Quero dizer, ele tinha me dado um presente. Eu era muito educada para ser rude, eu os guardei no fundo do meu gabinete de vídeo, escondido atrás de uma pilha de fitas da Disney. E não, eu não eu não vi nenhum deles quando estava sozinha.

O ar bateu contra o avião fazendo-o estremecer. Turbulência, é só uma turbulência.

- Você está realmente pálida. - disse Cherry.

- Sim. - eu disse.

Jason beijou o topo da minha cabeça.

- Você sabe que fica realmente bonita quando está com medo?

Virei-me lentamente no assento e olhei para ele. Eu teria gostado de olhar até seu sorriso desaparecer, mas não tínhamos esse tipo de tempo. Jason sorriria em seu caminho para o inferno.

- Não me toque.

O sorriso se alargou. Seus olhos brilhavam com ele.

- Quem, eu?

Suspirei e me endireitei no banco. Seriam dias muito longos.


4

O aeródromo de Portaby era pequeno. Acho que é por isso que é chamado de aeródromo em vez de aeroporto. Havia duas pistas pequenas e um conjunto de edifícios de três prédios que poderiam ser chamados de conjunto. Mas era limpo e arrumado como um alfinete, a definição de um perfeito cartão postal. O aeródromo ficava no meio de um vale cercado por três lados pelas encostas suaves das montanhas de Smokey. No quarto lado, atrás dos prédios, ficava o resto do vale. É acentuadamente inclinado para baixo, deixando-nos saber que ainda era parte da montanha. A cidade de Myerton, Tennessee, se estendia abaixo de nós com ar tão limpo que brilhava como se alguém tivesse espanado as nuvens. A palavra me veio à mente como puro cristal.

Essa era a principal razão para que um dos últimos remanescentes da vida selvagens estivesse na pequena Smokey Mountain. Os Trolls viviam na área. Richard estava terminando o mestrado em biologia, ele vinha estudando os trolls a cada verão durante quatro anos entre o ensino em tempo integral. Leva mais tempo para obter o mestrado de graduação.

Respirei profundamente o ar limpo, eu podia ver porque Richard gostava de passar seus verões aqui. Ele sempre estava ao ar livre de uma maneira grande. Escaladas, caminhadas, pesca, camping, canoagem, observação de aves, praticamente qualquer coisa que pudesse fazer fora era a sua idéia de diversão. Oh, espeleologia, também. Embora eu ache que, tecnicamente, se você estiver em uma caverna não está ao ar livre.

Quando eu disse que Richard era um escoteiro, não me referia apenas a sua fibra moral.

Um homem vinha em nossa direção, ele era quase perfeitamente redondo no meio, usando um macacão com óleo sobre os joelhos. Cabelo branco preso para fora debaixo de um boné, óculos de aros negros e quadrado. Ele limpou as mãos em um pano enquanto andava, o olhar em seu rosto era educado, curioso. Seus olhos se desviaram de mim para o resto do grupo conforme saiam do avião. Então desviou os olhos para os caixões que estavam sendo descarregadas no compartimento de armazenagem. Asher estava em um e Damian em outro.

Asher era o mais poderoso dos dois, mas era centenas de anos mais jovem. Damian tinha sido um Viking quando estava vivo, e não me refiro a equipe de futebol. Tinha sido um soldado manejando a espada, invadindo e saqueando. Uma noite, ele invadiu o castelo errado e ela o pegou. Se ela tinha um nome, eu nunca soube. Ela era um vampiro mestre e regente de suas terras, o equivalente a mestre da cidade, quando não há nenhuma cidade em uma centena de quilômetros. Ela transformou Damian em uma noite de verão, mais de mil anos atrás, e o aguardava. Mil anos, e ele não era mais poderoso na minha cabeça do que um vampiro com a metade de sua idade. Eu tinha subestimado sua idade por centenas de anos, porque parte de mim simplesmente não podia aceitar que alguém pudesse existir por tanto tempo e não ser mais poderoso ou mais assustador. Damian era assustador, mas não tanto para sua idade. Ele nunca será mais do que era, um terceiro ou quarto no comando por toda a eternidade. Jean-Claude negociou a liberdade de Damian quando se tornou o mestre da Cidade, ele o resgatou. Eu nunca soube o que custou a Jean-Claude, mas sabia que não tinha sido pouco. Ela não queria desistir de seu filho favorito.

O homem se aproximou, eu apertei a sua mão, e ele disse:

- O Sr.Niley está esperando por vocês no prédio.

Eu fiz uma careta.

- Sr. Niley?

Ele franziu a testa em seguida.

- Não são as pessoas que o Sr. Niley está esperando? Milo disse que viriam hoje. - Ele olhou para trás e um homem alto saiu do edifício. Sua pele era da cor de café. Seu cabelo era cortado em cunha, deixando seu rosto esculpido nu e sem adornos. Usava um terno que custava mais caro que a maioria dos carros. Ele olhou para mim, e mesmo de longe eu senti o peso morto dos seus olhos. Tudo o que ele precisava era de um sinal afirmativo com a cabeça.

- Não, nós não somos as pessoas que o Sr. Niley espera. - Se ele cometeu o erro, me fez pensar quem era o Sr. Niley.

Uma voz chamou:

- Estas são as pessoas que eu estava esperando Ed. - Era Jamil, um dos responsáveis pelo bando de Richard. Os executores eram Skoll e Hati, após os lobos perseguirem o sol e a lua na mitologia nórdica. Quando pegá-los será o fim do mundo. Isso diz algo sobre a sociedade dos lobisomens, seus executores foram nomeados após as criaturas trazerem o fim de tudo. Jamil era o Skoll para o bando de Richard, o que significava que ele era o comandante do chefe. Ele era alto e magro, do jeito que um dançarino seria, músculos e ombros aplanados como uma máquina, a carne suave e graciosa. Ele vestia uma camiseta branca sem mangas, masculina e solta, calça branca acentuada na cintura e nos tornozelos. Um suspensório preto enfeitava a parte de cima de seu corpo combinando seus sapatos pretos altamente polidos. Um paletó de linho branco estava jogado sobre um ombro. Sua pele escura brilhou contra a brancura de suas roupas. Seu cabelo estava quase na cintura, comprido com contas brancas tecidas através das tranças. A última vez que o vi, as contas eram multicoloridas.

Ed lançou um olhar para trás, para Jamil.

- Se você diz. - disse ele. Ele voltou para o prédio principal, deixando-nos.

- Eu não sabia que você estava aqui Jamil. - eu disse.

- Eu sou o guarda-costas de Richard, onde mais eu estaria?

Ele tinha um ponto.

- Onde você estava na noite que ele supostamente atacou essa mulher?

- O nome dela é Betty Schaffer.

- Você já falou com ela?

Seus olhos se arregalaram.

- Ela já chorou muito dizendo ter sido estuprada por um rapaz branco. Não, eu não falei com ela.

- Você pode tentar se misturar um pouco.

- Eu sou um dos dois únicos homens negros num raio de 50 quilômetros. - disse ele - Não há nenhuma maneira de me misturar Anita, e eu não vou tentar. Havia um resíduo de raiva lá, gostaria de saber se Jamil estava tendo problemas com os habitantes locais. Parecia provável, ele era americano e não apenas africano, era alto, bonito e atlético. Só isso seria o suficiente para chamar a atenção dos locais. O cabelo longo e trançado, o senso de moda assassina levantou a questão de que ele possa violar os últimos bastões brancos do sexo masculino de homofobia. Eu sabia que Jamil gostava de meninas, mas estava quase disposta a apostar que alguns moradores acreditavam que não.

- Suponho que ele é o outro afro-americano. - Eu tive o cuidado de não apontar para Milo. Ele estava olhando para nós, o rosto inexpressivo, mas muito intenso. Ele estava se perguntando sobre Jamil, tal como nós estávamos querendo saber sobre ele. Qual seria a principal profissão por aqui?

Jamil assentiu.

- Sim, esse é o outro.

- Ele não se mistura também. - eu disse. - Quem é ele?

- Seu nome é Milo Hart, ele trabalha para um cara chamado Frank Niley que supostamente vai chegar hoje.

- Você e ele se sentaram e tiveram uma conversa?

- Não, mas o Ed está cheio de notícias.

- Por que Frank Niley precisa de um guarda-costas?

- Ele é rico. - disse Jamil, como se explicasse tudo. - Ele está aqui fazendo alguma especulação imobiliária.

- Ed o mecânico lhe disse tudo isso?

Jamil assentiu.

- Ele gosta de falar, mesmo para mim.

- Puxa, e eu pensei que você era apenas mais um rostinho bonito.

Jamil sorriu.

- Vou fazer o meu trabalho quando Richard deixar.

- O que isso quer dizer?

- Isso significa que se ele me deixasse vigiá-lo como um bom Skoll, esta acusação de estupro nunca teria acontecido. Eu teria sido uma testemunha, e não seria apenas a palavra dela contra a dele.

- Talvez eu devesse falar com Schaffer. - eu disse.

- Querida, você acabou de ler minha mente.

- Sabe Jamil, você é a única pessoa que me chama de querida. Há uma razão para isso.

Seu sorriso aumentou.

- Vou tentar me lembrar disso.

- O que aconteceu com Richard, Jamil?

- Você quer saber se ele fez isso?

Eu balancei minha cabeça.

- Não, eu sei que ele não fez.

- O que ele fez foi sair com ela. - disse Jamil.

Olhei para ele.

- O que você está dizendo?

- Richard está tentando encontrar uma substituta para você.

- Então?

- Então, ele tem saído para namorar.

- Só namoro?- Eu perguntei.

Jamil rodou o paletó de seu ombro para um braço, alisando o tecido e não olhando para mim.

- Responda a pergunta, Jamil.

Ele olhou para mim quase sorrindo, depois suspirou.

- Não, não é só namoro.

Eu tive que perguntar.

- Ele estava dormindo com elas?

Jamil assentiu.

Fiquei ali, pensando sobre isso por um segundo ou dois. Richard e eu tínhamos optado pelo celibato há anos, decisões distintas. Eu certamente mudei a minha vida. Eu realmente achei que ele continuaria casto enquanto eu mudei de idéia? Era da minha conta o que ele fazia? Não, não, não era.

Eu finalmente dei de ombros.

- Ele não é mais o meu namorado, Jamil. E já está crescido.

Eu dei de ombros de novo, realmente não tinha certeza de como me sentia sobre Richard dormir com outras. Tentei duramente não sentir nada porque não importa como eu me sentia. Richard tinha sua própria vida para viver, e isso não me incluía, não dessa forma. - Eu não estou aqui para policiar a vida sexual de Richard.

Jamil assentiu com a cabeça quase para si mesmo.

- Bom, eu estava preocupado.

- O quê? Você pensou que eu ia ter um ataque e fazer uma tempestade por causa disso?

- Algo como isso. - disse ele.

- Ele teve relações sexuais com a mulher que fez a acusação?

- Se você quer dizer relação sexual, não. Ela é humana. - disse ele. - Richard não faria isso, ele tem medo porque elas são muito frágeis.

- Eu pensei que você havia dito que ele estava dormindo com Schaffer.

- Ter relações sexuais, não fazer um ato sujo.

Eu não era virgem, sabia que havia alternativas, mas ...

- Por que os métodos alternativos com os seres humanos? Porque não basta ... fazer isso?

- Fazer a coisa selvagem pode liberar nossa besta mais cedo. Você não quer saber o que acontece quando está com um homem e ele se transforma em cima de você, dentro de você. - Uma sombra cruzou sua face, e ele desviou o olhar.

- Você parece à voz da experiência. - disse eu.

Ele olhou lentamente de volta para mim e havia algo em seu rosto que era assustador, de repente, era como olhar para cima e perceber que as barras entre você e os leões no zoológico não estavam mais lá.

- Isso não é da sua conta.

Concordei.

- Desculpe você está certo, está absolutamente certo. É muito pessoal.

Mas eram informações interessantes. Uma vez eu praticamente implorei á Richard para passar a noite comigo e fazermos sexo. Ele disse que não, porque não seria justo até ver a mudança na forma de lobisomem, e eu precisava ser capaz de aceitar o pacote inteiro. Não fui capaz de fazer isso uma vez que o pacote sangrou e se contorceu todo sobre mim, mas agora eu queria saber se essa parte de sua hesitação tinha sido simplesmente medo de me magoar. Talvez.

Balancei minha cabeça. Não importa. Era apenas negócio. Se eu me concentrasse muito, talvez pudesse permanecer na linha. Nós estávamos aqui para tirá-lo da prisão, e não para saber por que terminamos.

- Vocês poderiam me ajudar com a bagagem. - disse Jason.

Ele tinha duas malas em cada braço. Zane e Cherry estavam carregando um caixão, pareciam entretidos. Nathaniel estava deitado de costas sobre o outro caixão, ele tinha tirado a camisa e soltado seu cabelo. Suas mãos estavam cruzadas sobre o estômago, olhos fechados. Eu não sabia se ele estava brincando de morto ou tentando pegar um bronzeado.

- Um pouco de ajuda aqui. - disse Jason chutando o resto da bagagem com o pé. Duas malas e um enorme malão ainda precisavam ser levados.

Eu andei para eles.

- Jesus, só uma dessas malas é minha. De quem é o restante da bagagem?

Zane e Cherry colocaram o caixão suavemente na pista.

- Apenas uma mala é minha. - disse Zane.

- Três delas são minhas. - disse Cherry, ela parecia vagamente embaraçada.

- Quem trouxe essa mala enorme?

- Jean-Claude a enviou. - Jason disse. - Apenas para o caso do mestre local não cumprir a sua parte, ele quer fazer um bom show com ela.

Eu fiz uma careta.

- Por favor, diga-me que não há nada ali que esteja nos planos de Jean-Claude para me constranger.

Jason sorriu.

Eu balancei minha cabeça.

- Eu não quero ver.

- Talvez você tenha sorte. - disse Jason. - Talvez eles tentem matá-lo em seu lugar.

- Você está cheio de pensamentos felizes.

- É a minha especialidade. - disse ele.

Nathaniel virou a cabeça e olhou para mim, as mãos cruzadas sobre o estômago nu.

- Eu posso levantar o caixão sozinho, mas não vou conseguir me equilibrar corretamente. Preciso de ajuda.

- Você certamente pode fazer isso. - disse eu.

Ele piscou para mim, uma mão levantada para bloquear o sol. Aproximei-me até meu corpo bloqueou o sol e ele pudesse me olhar sem estrabismo, ele sorriu.

- Por que está tomando banho de sol em cima do caixão?- Eu perguntei.

Seu sorriso murchou, e depois desapareceu completamente.

- É a cena na cripta. - ele disse como se isso explicasse tudo. Não o fez.

- Eu não sei do que você está falando.

Ele apenas levantou os ombros e a cabeça para fora do caixão, como se estivesse fazendo flexões com o estômago.

- Você realmente não assistiu a meus filmes, não é?

- Desculpe. - eu disse.

Ele sentou jogando o cabelo para trás com as duas mãos em um gesto praticado, passou um fecho de prata em torno do cabelo e jogou o rabo de cavalo ruivo atrás das costas.

- Eu pensei que jóias de prata queimassem quando tocassem a pele de um licantropo. - eu disse.

Ele balançou seu cabelo apertando o fecho de prata firmemente contra seu pescoço.

- Exatamente. - disse ele.

- Um pouco de dor faz o mundo girar, eu acho. - eu disse.

Ele só olhou para mim com seus olhos estranhos, tinha apenas dezenove anos mas seu olhar era mais velho, muito mais velho. Não havia linhas em sua pele lisa, mas as sombras em seus olhos jamais se apagariam. Cirurgia cosmética para a alma era o que ele precisava. Algo deixou um terrível fardo e sabedoria, transformando-o no que ele era.

Jason chegou mancando para nós carregando as malas.

- Um de seus filmes é sobre um vampiro que se apaixona por um homem inocente.

- Você viu isso? - eu perguntei.

Ele confirmou, eu balancei a cabeça e peguei uma mala.

- Você tem um carro para nós? - Perguntei a Jamil.

- A van está logo ali. - disse ele.

- Ótimo, pegue uma mala e me mostre o caminho.

- Eu não carrego bagagens.

- Se todos nós ajudarmos, podemos carregar a van na metade do tempo. Quero ver Richard assim que possível para saber alguma coisa e deixar de ser como uma prima donna esquisita.

Jamil olhou para mim por um longo tempo, então disse:

- Quando Richard substituí-la como lupa, não terei que ouvir merda de você.

- Ótimo, mas até lá é obrigado a ouvir. Além disso, eu ainda não disse nenhuma merda Jamil. Quando eu falar alguma merda, você saberá.

Ele deu uma risada baixa, vestiu o paletó e pegou a mala. Precisaria de dois homens fortes para levantá-la e fez isso como se não pesasse nada. Saiu sem olhar para trás, deixando-me com a última maleta. Zane e Cherry pegaram o caixão e caminharam atrás dele, Jason os seguiu.

- E eu?- Nathaniel perguntou.

- Coloque sua camisa novamente e fique com o caixão. Alguém poderia fugir com Damian.

- Eu conheço mulheres que pagariam para ter a minha camisa. - disse ele.

- Pena que eu não sou uma delas. - disse eu.

- Sim. - disse ele - muito ruim. - Ele pegou sua camisa do chão.

Deixei-o sentado em cima do caixão no meio do asfalto, a camisa embolada em suas mãos, ele me olhou de uma forma estranha e macabra. Eu sentia muito por Nathaniel, ele teve uma vida difícil mas não era minha culpa . Eu pagava o aluguel de seu apartamento para que ele não precisasse fazer milagres para pagar as despesas, embora soubesse de outros strippers no Prazeres Malditos que conseguiam pagar às despesas com seu salário. Talvez Nathaniel não fosse bom com dinheiro, grande surpresa.

A van era grande, preta e parecia sinistra. O tipo usado por um serial killer nos filmes para TV. Serial killers usam vans na vida real, mas tendem a ser de cores pálidas com manchas de ferrugem.

Jamil dirigia, Cherry e eu sentamos na frente com ele. A bagagem e todos os outros iam atrás. Eu esperava que Cherry me pedisse para sentar no meio, porque eu estava pelo menos a cinco centímetros do chão do veículo, mas ela não pediu. Ela só se arrastou para dentro da van, no meio, com suas longas pernas encolhidas na frente do painel.

A estrada era bem pavimentada e quase sem buracos e se você prendesse a respiração, dois carros podiam passar um pelo outro sem raspar tinta. Árvores abraçavam a estrada em ambos os lados, de um lado você avistava uma queda brutal e do outro apenas terra rochosa, eu preferia a sujeira. As árvores eram grossas o suficiente para que a ilusão de segurança estivesse lá, mas as árvores caíram para fora como uma cortina muito verde, e de repente podia-se ver por milhas. A ilusão se foi e percebi o quão alto estávamos. Ok, não era como Rocky Mountain High, mas a van poderia subir até o topo. Cair de lugares altos é uma das minhas coisas favoritas a fazer, pelo menos. Eu não me agarrei ao banco como no avião, mas sou acrofóbica e estaria feliz se estivesse na parte inferior do vale.

- Você quer que eu os deixe na delegacia ou leve-os para as cabanas primeiro?

- A polícia. Você disse "cabanas"?

Ele balançou a cabeça.

- Pousada.

- Rústica?- Eu perguntei.

- Não, graças a Deus. - disse ele. - Encanamento interno, camas, eletricidade, se você não for muito exigente com a decoração.

- Não é um lugar moderno?

- Não muito. - disse ele.

Cherry estava sentada entre nós com as mãos postas no colo. Percebi que ela não usava cinto de segurança. Minha mãe ainda estaria viva se tivesse usado o dela, assim eu sou exigente com isso.

- Você não está usando o cinto de segurança. - disse eu.

Cherry olhou para mim.

- Eu me sinto muito apertada com o cinto. - disse ela.

- Eu sei que você poderia sobreviver a uma viagem através do pára-brisa. - disse eu - mas ver você se curar desse ferimento levantaria suspeitas.

- Eu deveria bancar a humana? - perguntou ela.

Era uma boa pergunta.

- Para os habitantes desta cidade, sim.

Ela fixou seu cinto sem mais nenhum argumento. Os homens-leopardo tinham me levado a sério como a sua Nimir-ra, eles estavam tão contentes de ter alguém como protetor, mesmo que fosse apenas um ser humano, que não reclamavam.

- Você deveria ter me dito que precisávamos nos misturar, eu teria me vestido de maneira diferente.

- Você tem razão, eu deveria ter dito alguma coisa. - Sinceramente, não me tinha ocorrido até aquele momento.

A estrada começou a melhorar aqui para quem é acrofóbica, as árvores eram tão densas que davam uma sensação de claustrofobia. Havia ainda uma ondulação suave na terra, deixando-nos saber que estávamos dirigindo ao longo dos dedos dos pés das montanhas.

- Quer que a gente te espere fora da delegacia? - Jamil perguntou.

- Não, vocês se classificariam com indivíduos de grande destaque.

- Como é que você vai chegar à cabana? - ele perguntou.

Eu balancei a cabeça.

- Eu não sei, de táxi?

Ele olhou para mim, o olhar era eloqüente.

- Em Myerton, acho que não.

- Droga. - eu disse. - Nos leve até a pousada, eu levo a van de volta para a cidade.

- Com Jason? - Jamil perguntou.

Concordei.

- Com Jason. - Olhei para ele. - Por que estão sendo tão solícitos comigo? Quer dizer, eu sei que pode haver problemas, mas vocês estão sendo terrivelmente cautelosos. - Me sentei ereta no banco e olhei para Jamil. Ele estava olhando a estrada como se sua vida dependesse disso.

- O que vocês não estão me dizendo?

Ele parou e esperou uma caminhonete passar, então virou à esquerda entre mais árvores.

- Vai demorar para chegar na pousada.

- Jamil, o que está acontecendo?

Cherry tentou de tudo para afundar no assento, mas quando você é alta e está sentada no meio, é difícil ficar invisível. Esse movimento de corpo me disse que ela sabia também, que ambos sabiam algo que eu não sabia.

Olhei para ela.

- Cherry, me diga o que está acontecendo.

Ela suspirou e sentou-se um pouco mais reta.

- Se alguma coisa acontecer com você, Jean-Claude vai nos matar.

Eu fiz uma careta para ela.

- Eu não entendo.

- Jean-Claude não poderia vir aqui. - disse Jamil. - Seria visto como um ato de guerra, mas ele está preocupado com você. Ele nos disse que se você morrer e ele sobreviver a sua morte, vai matar todos nós. - Ele olhava a estrada enquanto falava, pegou uma estrada de cascalho que era tão estreita que as árvores raspavam na van.

- Defina todos. - disse eu.

- Todos nós. - disse Jamil. - Nós somos os seus guarda-costas.

- Eu pensei que você era guarda-costas de Richard?

- E você é a sua lupa, sua companheira.

- Se você é um guarda-costas de verdade, não pode guardar duas pessoas. Só pode guardar um de cada vez.

- Porquê?- Cherry perguntou.

Olhei para Jamil, ele não respondeu, então eu fiz.

- Porque você não pode levar uma bala por mais de uma pessoa, e é isso o que um guarda-costas faz.

Jamil assentiu.

- Sim, é isso que faz um guarda-costas.

- Você acha mesmo que alguém vai atirar em Anita?

- A bala é uma metáfora. - disse Jamil. - Mas isso não importa, bala, faca, garras, seja o que for eu levo. - Ele virou o volante na estrada de cascalho e uma clareira enorme apareceu. Havia cabanas pequenas e brancas espalhadas ao redor da clareira como o Motel 6, que tinha sido cortado em pedaços. Havia um sinal em néon pálido à luz do sol que dizia Pousada Blue Moon.

- Anita é a nossa Nimir-ra, ela deveria nos proteger e não o contrário.

Eu concordei com ela, escolhi Zane e não Cherry como guarda-costas não por sua capacidade, mas porque ele não se importava de partilhar seu sangue com os vampiros. Mesmo entre os homens-leopardo a maioria deles não gostava de doar. Pareciam pensar ser um coquetel de sangue para os vampiros era pior do que sexo por dinheiro. Eu não tinha certeza se concordava com eles, mas não os forçaria se não quisessem. Eu também não doava sangue, e estava dormindo com um dos mortos-vivos.

- Não, eu não concordo com isso, posso me cuidar, muito obrigada. - Abri a porta e Jamil estendeu a mão e agarrou meu braço, sua mão parecia muito escura contra a palidez do meu braço, me virei lentamente e olhei para ele. Não era um olhar amigável.

- Me solte.

- Anita, por favor, você é um dos maiores seres humanos que já conheci. Você é o homem mais perigoso do sexo feminino que eu já vi. - Sua mão apertou apenas o suficiente para me deixar sentir sua imensa força. Ele provavelmente poderia matar um elefante sem se mexer muito, certamente poderia esmagar o meu braço. - Mas você é humana, e as coisas estão contra você.

Olhei para ele, Cherry ainda estava entre nós, apertada pelo braço de Jamil.

- Me solte Jamil.

Sua mão me apertava, eu ficaria com uma bela contusão.

- Só desta vez Anita, fique em segundo plano ou você vai acabar nos matando.

O corpo de Jamil ocupava todo o banco através de Cherry, eu estava na borda do assento, meia bunda no ar, nem ele nem eu estávamos muito equilibrados.

- O que você esquece é que a força não é suficiente. O poder é apenas um ingresso.

Ele franziu a testa para mim obviamente perplexo, sua mão apertou um pouco mais.

- Você não pode lutar contra isso Anita.

- O que você quer que eu diga? Que eu amarelei? Que devo me acovardar?

Jamil sorriu.

- Amarelar, tudo bem, sim, diga isso. Admita só desta vez você não pode cuidar de si mesmo.

Afastei-me para fora da van dobrando as pernas para manter o meu peso de corpo e soltar as mãos do meu antebraço. Meu braço escorregou por entre os dedos de Jamil. Deixei-me cair no chão tentando pegar a faca nas minhas costas, não me preocupando em tentar ficar em pé. Minha mão direita foi para a Browning, mas eu sabia que não a pegaria a tempo. Eu estava confiante de que Jamil não ia me matar, isso era arrogância. Se eu estivesse errada sobre isso, estava prestes a morrer.

Jamil se jogou sobre o assento, braços abertos para mim confiando em sua própria maneira que eu não iria explodir sua cabeça, ele sabia que eu tinha a arma. Estava me tratando como um Metamorfo que conhecia as regras. Você não mata coisas pequenas, apenas sangra o outro, mas não mata.

Eu cortei o braço dele em uma posição quase de bruços. Houve um momento de grande surpresa em seu rosto, ele não sabia sobre a terceira faca e de seu comprimento e comecei cortando, a primeira ferida é sempre um choque. Ele se jogou para trás fora da vista como se alguém o tivesse puxado, mas eu sabia que não, era extremamente rápido.

Tive tempo para ficar de joelhos antes que ele ficasse sobre o capô do carro agachado como um predador. Eu estava com a Browning apontada para ele e fiquei de pé, não tinha uma posição melhor. Mas de alguma forma eu queria-o na minha mira.

Jamil me olhava más não fez nenhum movimento para me deter, talvez ele estivesse com medo de tentar, não da arma, mas de si mesmo. Eu ia machucá-lo e o sangue espirraria por toda aquela roupa muito branca. Seu corpo inteiro vibrou com o desejo de diminuir a distância entre nós, ele estava chateado e faltavam quatro noites para a lua cheia, provavelmente não me mataria mas eu não testaria essa teoria. Ele poderia quebrar o meu pescoço com um golpe. Inferno, ele poderia explodir meu crânio como um ovo e eu não teria nenhuma chance.

Apontei a Browning para ele com uma mão, a faca na outra.

- Não faça isso Jamil, eu odiaria perdê-lo por algo tão estúpido como isso.

Um rosnado baixo escorria de seus lábios, o som arrepiou o cabelo de trás do meu pescoço.

Os outros começaram a sair da van. Eu tive uma sensação de movimento.

- Todo mundo para trás. - disse eu.

- Anita. - Jason disse, sua voz estava muito calma, sem provocações, sem piadas. - Anita, o que está acontecendo?

- Pergunte ao Sr Macho.

Cherry falou do seu lugar dentro da van, ela não se moveu.

- Jamil estava tentando explicar a Anita porque ela não podia lutar contra todos os licantropos e vampiros. - Ela deslizou lentamente para a borda do assento. Eu mantive o meu olhar em Jamil, mas minha visão periférica era boa o suficiente para captar os pontos de sangue que se movimentavam por toda parte.

- Fique na van, Cherry. Não me pressionem.

Ela parou junto do banco e sentou-se.

- Jamil queria levá-la para o banco traseiro quando tudo começou.

- Ela ainda é humana - Jamil rosnou. - Ela ainda é fraca.

Cherry disse com a voz macia:

- Ela poderia ter aberto a sua garganta em vez do seu braço. Ela poderia ter baleado sua cabeça quando chegou perto dela.

- Eu ainda posso. - eu disse - se você não descer do carro.

Jamil estava no capô com os dedos abertos. Seu corpo todo tremia de tensão. Algo que se escondia por trás do corpo humano, nadando através de seus olhos. Sua besta empurrando contra sua carne, assim você tinha um vislumbre de algo escuro, enorme e extremamente estranho. Eu girei meu corpo e minha mão esquerda tocou a faca nas minhas costas, minha mão repousando levemente na parte de cima da minha bunda. Eu mudei a postura desde o inicio da briga quando estava fixando metas. A arma estava apontada para sua cabeça agora porque ele se abaixou e se transformou em um alvo maior. Eu salvei a vida de Jamil uma vez, era um bom homem para ficar ao lado de Richard, mesmo que nem sempre gostasse de mim, eu também não gostava sempre dele, nós éramos assim mesmo. Mas eu sempre o respeitei e até agora pensava que ele me respeitava. Seu pequeno show na van disse que ainda pensava em mim como uma menina.

Uma vez eu tinha me atormentado por matar as pessoas. Talvez fossem anos matando vampiros, eles pareciam humanos. Mas em algum lugar ao longo do caminho, simplesmente não me incomodava mais puxar o gatilho. Olhei para a cara de Jamil, direto em seus olhos, e senti a imobilidade me encher. Era como estar no meio de um campo fervente de ruído branco. Eu ainda podia ouvir e ver, mas tudo caiu por terra e não havia nada, somente a arma, Jamil e o vazio. Meu corpo estava leve e pronto. Nos meus momentos de maior lucidez me preocupava que estava me tornando uma sociopata. Mas agora, não havia nada além de um conhecimento muito calmo do que eu faria, puxaria o gatilho, o veria morrer em meus pés, e não sentiria nada.

Jamil viu meu rosto e eu vi a tensão começar a vazar para fora dele. Ele ainda tinha muita energia vibrando, mas a presença ameaçadora de sua terrível besta caiu por terra mais uma vez. Então ele muito lentamente sentou-se sobre os joelhos ainda observando o meu rosto.

Eu mantive a arma apontada, sabia como eles se moviam rápido, rápido como um lobo, talvez mais rápido. Como nada deste lado do inferno.

- Você realmente faria isso. - disse ele. - Você poderia me matar.

- Pode apostar.

Ele respirou fundo e estremeceu seu corpo lembrando-me estranhamente um pássaro sacudindo suas penas.

- Está certo. - disse ele. - Você é a lupa e é superior a mim.

Eu abaixei a arma com cuidado ainda olhando para ele, ainda tentando manter uma idéia de onde todo mundo estava.

- Por favor, me diga que isso não era algum tipo de porcaria dominante?

Jamil deu um sorriso quase envergonhado.

- Eu pensei que eu estava fazer um ponto, mas não consegui. Passei o último mês aqui tentando explicar para o bando local como acabamos com uma lupa humana, como eu devo obediência a um ser humano, uma mulher.

Eu balancei a cabeça e apontou a arma para o chão.

- Isso foi estúpido, seu filho da puta. Seu orgulho está ferido porque eu estou mais no bando que você.

Ele balançou a cabeça.

- Sim.

- Você só conseguiu me irritar. - eu disse e estava quase gritando. - Não temos tempo para besteira machista.

Zane encostou-se na van perto de Cherry. Ele foi muito cuidadoso em manter as mãos para baixo e mover-se lentamente sem movimentos bruscos.

- Você não poderia enfrentar Jamil sem a faca ou o revólver. Suas armas não estarão sempre com você.

- Isso é uma ameaça? - Eu perguntei.

Ele levantou as mãos para cima.

- Apenas uma observação.

- Ei, pessoal. - Um homem saiu de um dos quartos. Ele era alto, magro, com cabelos grisalhos que chegavam ao ombro e um bigode escuro. O cabelo e as linhas em seu rosto diziam que tinha mais de cinquenta anos.

O corpo que mostrava na camiseta e no jeans parecia magro e mais jovem.

Ele havia congelado na porta, as mãos sobre as bordas de madeira do batente.

- Alto lá, pequena dama.

Eu apontei a arma para ele porque na calma exterior havia poder suficiente para arrepiar minha pele, e ele nem sequer tentou.

- Este é Verne. - disse Jamil. - Ele é o dono da pousada.

Eu abaixei a arma.

- Ele é o Ulfric local ou está escondendo algo assustador no bosque?

Verne riu e começou a caminhar em nossa direção. Ele moveu-se quase desajeitadamente, como se seus braços e pernas fossem muito longos para seu corpo, mas foi decepcionante. Ele estava bancando o humano para mim. Eu não estava enganada.

- Você suspeita de mim me condenando tão rapidamente, mocinha.

Eu guardei a Browning até porque mantê-la fora seria rude. Estava aqui como convidada em mais de uma maneira. Além disso, eu tinha que confiar em alguém o suficiente para manter a arma guardada. Eu não poderia mantê-la na minha mão por toda a viagem. Ainda tinha a faca com sangue, ela precisava ser limpa antes que eu pudesse guardá-la.

- Prazer em conhecê-lo Verne, mas não me chame de mocinha. - Comecei a limpar o sangue na borda da jaqueta preta, preto é bom por isso, e pedi a camisa de Jamil.

- Você já não tem a sua? Jamil perguntou.

Olhei para ele, havia sangue por toda a sua bela roupa branca.

- Não, eu a pedi para mim.

Ele franziu a testa.

- O que?

- Eu quero usar a sua camisa para limpar o sangue na lâmina da faca.

Ele só olhou para mim.

- Vamos Jamil, esta camisa já está arruinada.

Jamil puxou a camisa sobre a cabeça em um movimento suave. Ele jogou a camisa para mim, e eu a peguei com uma mão. Comecei a limpeza da lâmina com a parte imaculada do tecido.

Verne riu, ele tinha um daqueles risos profundos que correspondia à sua voz grave.

- Não admira que Richard ache tão difícil encontrar uma substituta, você é dura na queda.

Olhei para seu rosto sorridente, acho que foi um elogio. Além disso, verdade é verdade. Eu não estava aqui para ganhar o título de Miss Simpatia. Estava aqui para salvar Richard e para permanecer viva.


5

As cabanas eram brancas e simples por fora, por dentro não tinham nada de especial, mas eram surpreendentemente espaçosas. Havia uma cama queen size em um canto. Uma mesa de encontro a uma parede com uma lâmpada de leitura. Uma poltrona extra na frente de uma janela para apreciar a paisagem, era de tecido azul e confortável, havia também um pequeno tapete em tons de azul. As paredes de madeira eram polidas com um brilho de melado. A cama tinha uma colcha azul, uma mesa de cabeceira completa com uma lâmpada e um telefone. As paredes eram de cor azul pálido. Havia até uma pintura sobre a cama. Era uma reprodução de Van Gogh chamada Starry Night, uma boa escolha para uma sala azul. Pelo que me disseram, as outras cabanas eram decoradas em veludo, mas esta estava boa.

O banheiro era o branco padrão com uma pequena janela alta sobre a banheira. Parecia um banheiro de motel, exceto pela tigela azul do pot-pourri que cheirava a gardênia e almíscar.

Verne me informou que esta era a maior das cabanas e eu precisava disso. Dois caixões ocupavam muito espaço. Eu não tinha certeza se queria ter Asher e Damian no meu quarto permanentemente, mas eu não tinha tempo para discutir, queria ver Richard assim que possível. Poderíamos discutir sobre quem ficaria com os vampiros como colegas de quarto depois de encontrar Richard.

Eu dei três telefonemas antes de irmos para a delegacia, o primeiro foi para o número que Daniel tinha me dado, para que ele soubesse que estávamos na cidade. Ninguém respondeu. O segundo foi para Catarina para que ela soubesse que eu tinha chegado em segurança. A terceira ligação foi para o advogado que Catherine havia recomendado Carl Belizário. Uma mulher com uma voz de telefonista atendeu, quando ela descobriu quem eu era ficou muito animada, o que me deixou perplexa. Ela me deu o número do celular de Belizário. Alguma coisa estava acontecendo, o que provavelmente seria ruim.

Uma voz profunda e rica, uma voz masculina respondeu:

- Aqui é Belizário.

- Anita Blake. Presumo que Catherine Maison-Gillette lhe disse quem eu sou.

- Só um momento Miss Blake. - Ele apertou um botão e houve silêncio. Eu fiquei na espera, quando ele voltou ao telefone pude ouvir o vento e o tráfego.

- Estou muito contente de ouvir você, Senhora Blake. Que diabos está acontecendo?

- Como é?- Eu disse num tom menos simpático.

- Ele não quer me ver, Catherine deu a impressão de que ele precisava de um advogado. Viajei para este pedaço ateu de imóveis, e ele não quer me ver. Ele diz que não quer me contratar.

- Merda. - eu disse suavemente. - Me desculpe Sr. Belizário. - Eu tive um pensamento. - Você poderia dizer a ele que eu te contratei em seu nome?

- Será que faz diferença?

- Sinceramente eu não sei, ou vai ajudar ou ele vai te dizer para ir para o inferno. - Ele já fez isso e eu não sou barato Senhora Blake. Mesmo se ele recusar meus serviços, alguém tem que pagar pelo meu dia.

- Não se preocupe Sr. Belizário, eu vou cuidar disso.

- Você tem esse dinheiro?

- De quanto estamos falando? - Eu perguntei.

Ele mencionou um valor, eu fiz o melhor para não gritar no ouvido dele. Contei lentamente até cinco e disse calmamente:

- Você receberá seu dinheiro.

- Você tem todo esse dinheiro? Eu acreditei na palavra de Catherine que isso não seria problema, perdoe-me se eu estou começando a suspeitar.

- Não, eu compreendo. Richard está passando por um momento difícil e precisamos da sua ajuda.

Ele deu uma risada áspera.

- Tudo bem Senhora Blake, tudo bem. Vou tentar não passar a bola, mas quero algumas garantias, você pode pagar meus honorários?

- Eu ressuscito os mortos Sr. Belizário. É um talento raro. Eu posso pagar por seus serviços. - Eu poderia, mas machucaria faze-lo. Nunca fui pobre, mas fui criada para apreciar o valor de um dólar, e o valor dos serviços de Belizário era um pouco ultrajante.

- Diga a Richard que eu te contratei. Ligue-me de volta se não fizer diferença, ele pode se recusar a ver qualquer um de nós.

- Você está pagando uma grande quantia Miss Blake, especialmente se eu levar o caso adiante. Assumir a dívida do Sr. Zeeman deveria mantê-lo mais perto de alguma forma.

- É uma longa história. - eu disse. - Nós nos odiamos, isso é tudo.

- É muito dinheiro para alguém que você odeia. - disse ele.

- Você não me conhece. - eu disse.

Ele riu de novo, sua risada era mais normal do que seu discurso, quase um zurro. Talvez ele não praticasse sua risada no tribunal. Eu sabia que ele praticava aquela voz, rica e circulante.

- Vou enviar a mensagem Miss Blake, se tudo der certo te ligo de volta.

- Me ligue mesmo que ele diga não. Pelo menos vou saber o que esperar quando for à cadeia.

- Você vai até lá mesmo que ele se recuse a vê-la? - Belizário perguntou.

- Sim.

- Estou ansioso por conhecê-la Miss Blake, você me intriga.

- Aposto que você diz isso para todas as garotas.

- Para muito poucas Miss Blake. - Ele desligou.

Jason saiu do banheiro, ele usava um terno. Eu nunca o tinha visto com outra coisa além de camisetas e calças de couro ou menos. Era estranho vê-lo parado em um terno azul marinho, camisa branca e uma gravata branca e fina, com um design de muito bom gosto. Quando olhei o resultado, percebi que a gravata era de seda com pequenas flores de lis.

Ele abotoou o primeiro botão do paletó e passou suas mãos pelos cabelos loiros.

- Como eu estou?

Eu balancei minha cabeça.

- Como uma pessoa.

Ele sorriu.

- Você parece surpresa.

Eu sorri.

- Eu apenas nunca te vi como um adulto.

Ele amuou falso para mim, lábios empurrados para fora.

- Você me viu quase nu e nunca me olhou como um adulto?

Balancei a cabeça e sorri, a despeito de mim mesmo. Mudei de roupa no quarto quando ele se trocava no banheiro. Encontrei algumas manchas escuras de sangue na blusa vermelha. Quando as manchas secam ficam pretas ou coisa pior, foi por isso que lavei a blusa na pia. A cor vermelha sempre mostra o sangue, não importa o que as pessoas dizem.

O jeans preto escapou sem mácula, tanto quanto eu poderia dizer. Algumas manchas de sangue são difíceis de encontrar no preto. Preto ou azul marinho esconde melhor o sangue. Acho que realmente um castanho escuro iria funcionar, mas eu não possuo nada castanho, então não sei ao certo.

A blusa estava fresca e quase gelada, tinha sido um presente da minha madrasta, Judith. Quando abri a caixa no Natal e vi a blusa clara, supus que ela tivesse comprado uma outra peça de roupa que ficaria melhor em seu corpo de princesa loira de gelo, do que no meu mais escuro. Mas a cor clara na verdade parecia bastante vistosa. Eu tinha mesmo sido graciosa o suficiente para dizer a Judith que eu a estava usando. Acho que foi o primeiro presente em dez anos que eu não tinha trocado. Eu ainda estava no 8 a 0, no departamento de presente para ela. Oh, bem.

Eu usava uma calça preta com um cinto largo o suficiente para a Browning e mais ampla do que estava na moda, e estava pronta. Tinha acrescentado apenas um toque de maquiagem: sombra, rímel, um toque de blush e batom. Tentei não pensar no porque estava me vestindo. Com certeza não era para a polícia local. Jason e eu estávamos provavelmente super vestidos para ambos os locais. Claro que, se tivéssemos aparecido em calças jeans e camisetas, estaríamos mal vestidos. A única coisa realmente boa para a polícia é um uniforme e um crachá. Qualquer outra coisa e você não está no clube.

Havia uma lei que estava sendo discutida em Washington, DC, que daria aos executores de vampiros um crachá federal. Ela estava sendo empurrada duramente pelo senador Brewster, cuja filha tinha sido mordida por um vampiro. Claro, também foi empurrada para revogar os direitos dos vampiros como cidadãos legais. Status de executor federal, talvez. Revogar os direitos de legalidade dos vampiros não seria uma boa idéia. Alguns vampiros teriam que fazer algo muito horrível para que isso acontecesse.

Em Março os executores de vampiros tinham sido oficialmente aprovados. Era uma licença especial do estado porque o assassinato era um crime estadual, não um crime federal.

Mas eu entendi a necessidade de estatuto federal para executores de vampiros. Nós não apenas matávamos, nós os caçávamos. Mas uma vez que estivessem fora da nossa área licenciada estávamos em ateia movediça. A ordem judicial era válida enquanto o Estado concordasse com uma ordem de extradição. A ordem de extradição era então usada para validar a ordem original da execução. Minha preferência era conseguir uma segunda ordem de execução cada vez que eu cruzasse a linha do estado, mas isso leva tempo e às vezes você perde o vampiro e tem que começar tudo de novo.

Um vampiro empreendedor cruzou dezessete estados antes de ser finalmente capturado e morto. A corrida geral, se funcionar, é talvez dois ou três. É por isso que a maioria dos executores de vampiro é licenciada em mais de um Estado. À nossa maneira, temos territórios, como uma espécie de vampiro. Dentro desse território nós matamos. Fora dele, é trabalho de outra pessoa, mas há apenas dez de nós, e isso não é muito para um país com uma das maiores populações de vampiros do mundo. Não somos constantemente solicitados, a maioria de nós trabalha em outras atividades. Eu acho que se os vampiros fossem ruins o suficiente para nos manter esperando, eles nunca teriam conseguido um estatuto legal. Mas quanto mais vampiros você consegue dentro de uma área, maior será a taxa de criminalidade. Assim como os humanos.

Ter que parar cada vez que você deixa sua área licenciada torna mais difícil fazer o nosso trabalho. Não sabendo realmente o que aconteceu pelas informações da polícia, e é impossível se inserir num inquérito, a menos que seja convidado. Às vezes não éramos chamados até que a contagem de corpos fosse malditamente alta, a minha maior contagem de corpos atacados por um vampiro tinha sido vinte e três. Vinte e três mortos antes que nós o pegássemos. Houve uma contagem maior de corpos uma década atrás, Gerald Mallory, uma espécie de avô do negócio, matou mais de uma centena de vampiros. Um beijo de vampiro é como um bando de gansos é o nome do grupo. Poético, não é?

O telefone tocou. Eu atendi, era Belizário.

- Ele vai nos ver juntos, verei se consigo algum acordo enquanto você chega aqui. - Ele desligou.

Respirei profundamente e soltei o ar bem devagar.

- O que foi? - Jason perguntou.

- Nada.

- Você está nervosa por ver Richard. - disse ele.

- Não seja tão inteligente.

Ele sorriu.

- Desculpe.

- Como o inferno. - disse eu. - Vamos embora.

Fomos.


6

Levou mais tempo do que devia, porque eu estava dirigindo uma van desconhecida em estradas muito estreitas. Isso me deixou nervosa, Jason finalmente disse:

- Posso dirigir, por favor? Vamos chegar lá antes do anoitecer.

- Cale a boca. - eu disse.

Ele calou-se sorrindo.

Chegamos finalmente em Myerton, a cidade consistia em uma rua principal pavimentada e pessoas olhando com desconfiança, uma estrada de duas pistas com prédios abraçando as bordas. Não havia um semáforo, só o mesmo cascalho da estrada derramando poeira e barro vermelho em todo o asfalto. No único semáforo da cidade vimos dois restaurantes fast-food e um restaurante pop que realmente tinha uma multidão maior do que a Dairy Queen. Ou a comida era boa ou a Dairy Queen não era.

Jamil me tinha dado indicações para chegar à delegacia. Ele disse que assim que entrasse na rua principal virasse à direita. Você não pode se perder. Sempre que alguém diz isso significa duas coisas. Ou eles estão certos e é óbvio, ou ele está escondido e você nunca vai encontrá-lo sem um mapa detalhado onde o X marca o local.

Eu virei à direita no sinal de trânsito, a van bateu num buraco e rolou como uma grande besta patinando na água. Gostaria de ter o meu jipe. A estrada de cascalho na rua era a verdadeira rua principal da cidade. Edifícios com uma calçada de madeira na frente alinhados um a um do lado da rua. Avistei uma mercearia e uma loja de marceneiro de venda de móveis artesanais. Eles tinham uma cadeira de balanço em frente que ainda tinha casca cinza áspera em partes da moldura de madeira. Muito rústico. Muito bom. Uma outra loja vendia ervas e geléias caseiras, embora esta não fosse à época do ano para isso. Casas alinhadas no outro lado da rua, as casas eram na sua maioria feitas em blocos de cimento ou bases de pedra vermelha, eram cobertas com telhas correndo fortemente para fora, branca e cinza. Um quintal tinha um rebanho de cervos de cerâmica e gnomos em quantidade tão grande, que pareciam estar à venda.

A montanha estava no final da rua e as árvores imitavam uma cortina grossa e verde. Estávamos prestes a voltar para a floresta e eu não tinha visto nada parecido com uma delegacia de polícia. Ótimo.

- Tem que ser aqui mesmo. - disse Jason.

Eu verifiquei meu espelho retrovisor, sem tráfego, e parei.

- O que você vê que eu não vejo? - Eu perguntei.

- Shang-Da. - disse ele.

Olhei para ele.

- O que?

- Na varanda, no final da rua.

Olhei para onde ele estava olhando. Um homem alto estava sentado em uma cadeira de jardim, usava uma camiseta branca e calça jeans, sem sapatos e um boné de aba puxada para baixo. Seu bronzeado destacava-se fortemente contra a brancura da camiseta, mãos grandes seguravam uma lata de refrigerante ou cerveja talvez. Basta escolher uma de manhã cedo..

- Esse é Shang-Da, ele é o segundo em comando no bando. Ele é um Hati, assim com Jamil é nosso Skoll.

- Ah.

- Ele está guardando Richard, assim à delegacia tem que estar perto.

Jason assentiu.

Olhei para a figura sentada, ele particularmente não chamava a atenção à primeira vista. Ele quase não roubava a cena até você perceber que a camiseta estava impecável e nova, o jeans tinha vincos, que ele era bronzeado, e a coloração da pele não era apenas do sol. Mas bastou ele mexer a cabeça muito lentamente e olhar para nós e percebi o quanto ele era bom. Mesmo à distância, havia uma intensidade em seu olhar que era quase enervante. De repente eu sabia que tinha a sua atenção e tudo o que ele fez foi mover a cabeça.

- Merda. - disse eu.

- Sim. - disse Jason. - Shang-Da é novo, ele se transferiu do bando da Baía de San Francisco, ninguém lutou quando ele entrou como Hati. Ninguém queria que trabalho ruim.

Jason apontou para o outro lado da rua.

- É isso?

Era baixo, um prédio feito de blocos brancos pintados de cinza. Havia um pequeno estacionamento de cascalho na frente, mas sem carros. A van pegou a maior parte do estacionamento, eu parei o mais próximo que podia, ouvindo o suave farfalhar de galhos de árvores ao longo da parte superior da van. Havia provavelmente um carro de polícia lá fora em algum lugar junto de mim. Eu acho que eles tinham espaço.

Tinha uma pequena placa de madeira elegantemente esculpida pendurada ao lado da porta escrito "Delegacia de Polícia". Era isso. Não podia perdê-la.

- Jamil tem muito senso de humor ou talvez ainda esteja chateado por tê-lo cortado. Infantil.

Nós saímos, senti Shang-Da olhar para mim a alguns metros de distância, o poder de sua atenção rastejou para baixo da minha pele arrepiando o cabelo de meus braços. Olhei para ele, e por um segundo, nossos olhos se encontraram. O arrepio em meu pescoço chamava a atenção.

Jason veio para ficar ao meu lado.

- Vamos para dentro.

Concordei e fomos até a porta.

- Se eu não soubesse melhor, diria que Shang-Da não gosta de mim.

- Ele é leal a Richard, e você o machucou.

Olhei para ele.

- Você não parece louco de raiva comigo, você não é leal a ele?

- Eu estava lá na noite que Richard lutou com Marcus, Shang-Da não estava.

- Você está dizendo que eu estava certa ao deixar Richard?

- Não, estou dizendo que entendo por que você não poderia lidar com isso.

- Obrigada, Jason.

Ele sorriu.

- Além disso, talvez eu tenha sonhado com o seu corpo.

- Jean-Claude o mataria.

Ele deu de ombros.

- O que é a vida sem um pouco de perigo?

Eu balancei a cabeça.

Jason abriu a porta, mas não tentou abri-la para mim, ele me conhecia muito bem.

Abri as portas de vidro, acho que as portas eram uma pista também. Todo o resto na rua tinha portas como você veria em uma casa. As portas de vidro eram modernas portas de negócios. O interior era pintado de branco, incluindo o balcão em frente à porta. Havia alguns cartazes anexados a um quadro de avisos do lado esquerdo da porta e um sistema de rádio atrás da mesa, poderia ser a sala de recepção de um dentista.

O cara sentado atrás da mesa era grande. Mesmo sentado, você tinha uma sensação de tamanho, seus ombros eram quase tão grandes como eu era alta. Seu cabelo era curto e enrolado em cachos apertados. Ele tinha que raspar a cabeça para se livrar dos cachos.

Minha licença de executora está em uma agradável carteira imitação de couro, tinha uma foto, mas não era um emblema. Não era uma licença que valia neste estado, mas era tudo que eu tinha a mostrar. Entrei com a licença na frente, porque eu estava levando uma arma em uma delegacia de polícia. Policiais tendiam a não gostar dessas coisas.

- Sou Anita Blake, executora de vampiros.

O policial moveu apenas seus olhos, suas mãos estavam escondidas atrás da mesa.

- Nós não pedimos um executor.

- Eu não estou aqui em missão oficial. - eu disse. Fiquei na frente da mesa e comecei a guardar a licença, mas ele segurou minha mão e eu entreguei a ele.

Ele estudou a licença quando perguntou:

- Por que você está aqui?

- Eu sou uma amiga de Richard Zeeman.

Seus olhos cinzentos moveram-se rapidamente, não era um olhar amigável. Ele jogou a licença de volta em cima da mesa.

Eu a peguei.

- Algum problema oficial...- Eu li a sua placa de identificação, - ... Maiden?

Ele balançou a cabeça.

- Não tem problema, exceto que seu amigo é um estuprador condenado. Eu nunca entendi porque os piores filhos da puta do mundo parecem sempre ter uma namorada.

- Eu não sou sua namorada. - eu disse. - Sou exatamente o que disse que era: sua amiga.

Maiden parou e olhei para cada centímetro de seu corpo enorme, ele não era apenas de alto; era volumoso. Provavelmente foi um lutador ou jogador de futebol no colégio. Os músculos começaram a derreter em um volume geral, e tinha cerca de vinte quilos em torno da cintura que não precisava, mas eu não estava enganada, ele era grande e forte. A arma em sua cintura correspondia ao resto do corpo. Era um cromado Colt Python cano longo com pesados punhos personalizados em preto. Bom para caçar elefantes, um pouco demais para assustar bêbados em um sábado à noite.

- Quem é você?- Ele apontou um dedo para Jason.

- Apenas um amigo. - disse Jason, ele sorriu tentando parecer inofensivo. Ele não era tão bom em parecer inofensivo como eu, mas estava próximo. Ao lado do oficial Maiden nós dois pareceríamos muito frágeis.

- Seu amigo ou de Zeeman?

Jason deu um grande sorriso bem humorado.

- Eu sou amigo de todos.

Maiden não sorriu, apenas olhou para Jason dando-lhe um olhar frio e duro de seus olhos cinza escuro. Jason apenas continuou sorrindo e Maiden ficou olhando.

Eu finalmente toquei o braço de Jason levemente, foi o suficiente. Ele baixou os olhos, pestanejou, mas o sorriso nunca vacilou, foi o suficiente para Maiden sentir que ele ganhou a competição de encarar.

O policial moveu-se pesadamente por detrás da mesa, ele estava ciente de que era grande, como em seus próprios ouvidos, a terra tremeu quando se moveu.

Um segundo homem saiu de uma pequena porta à direita da mesa, usava um terno castanho-claro que o deixava muito elegante e uma camisa branca com nervuras na parte da frente, tinha também um desses laços de corda com um pedaço de ouro em sua garganta. Seus olhos eram grandes, pretos e surpresos quando me viu, seu cabelo era curto, mas elegante. Estendeu a mão para mim e vi a luz de um anel de diamante tremer no dedo mindinho, um anel de faculdade.

- Será que essa visão de beleza é a infame Miss Blake?

Eu sorri antes que pudesse parar.

- Você deve ser Belizário.

Ele balançou a cabeça.

- Me chame de Carl.

- Eu sou Anita, e esse é Jason.

Ele apertou a mão de Jason ainda sorrindo, ainda agradável e virou-se para Maiden.

- Podemos ver meu cliente agora?

- Vocês dois podem ir, mas ele não. - Maiden apontou o polegar para Jason. - O xerife disse para deixar apenas dois entrarem, ninguém disse nada sobre ele.

Jason abriu a boca, toquei seu braço.

- Isso é ótimo.

- E a arma fica daqui. - disse ele. Eu não queria desistir da arma, mas isso me fez pensar melhor quando Maiden olhou para mim.

- Claro. - eu disse. Puxei a Browning debaixo do casaco, tirei o pente e deixei a arma aberta para mostrar a câmara vazia, entreguei o jogo inteiro para Maiden.

- Não confia em mim para descarregá-la para você?

- Descobri que a Browning pode ser pequena demais para suas mãos. Exige finas habilidades motoras.

- Você está tirando um sarro da minha cara? - disse ele.

Concordei.

- Sim, estou.

Ele sorriu então. Olhou para a Browning antes de colocá-la em uma gaveta da mesa.

- Não é uma arma ruim se você não consegue lidar com algo maior. - Ele a trancou na gaveta.

- Não é o tamanho que conta, e sim o desempenho Maiden.

Seu sorriso aumentou.

- Seu amigo ainda tem que esperar aqui fora.

- Quando eu disse que estava bem, quis dizer exatamente isso.

Maiden concordou e entrou pela mesma porta que Belizário tinha saído. Havia duas portas no meio do corredor.

- Eu pensei que ver você saindo por essa porta significava que estava visitando Richard.

- Eu não estou com medo. O Sr. Zeeman não cedeu.

- Cedeu. - disse Maiden - Agora, essa é uma palavra agradável.

- A leitura melhora o vocabulário Oficial Maiden. Você deveria tentar isso algum dia, embora eu pense que você fique apenas olhando as fotos.

- Ooh, eu estou mais afiada do que nunca. - disse Maiden.

- Se você nos cortar, nós não sangramos? - Belizário perguntou.

Maiden me chocou dando a fala seguinte:

- Se nos fizerem cócegas, não rimos?

Belizário rebateu suavemente.

- Touché, Oficial Maiden.

- Além de grande, sabe ler muito bem. - eu disse. - Estou impressionada.

Ele puxou uma corrente do bolso com chaves no final do mesmo.

- Não conte para os outros polícias, vão achar que eu sou um maricas.

Eu olhei para ele.

- Não é a leitura de Shakespeare que faz de você um maricas, Maiden. É essa maldita arma. Para ser um maricas, precisa da ferramenta certa.

Ele abriu a porta no final do corredor.

- Tenho que realizar algo grande Miss Blake. Equilibra-me para fora quando corro. Isso me fez rir, ele abriu a porta e nos deixou passar, trancou a porta atrás de nós e desceu um longo corredor com duas portas fechadas em ambos os lados.

- Esperem aqui, vou ver se seu namorado está pronto para vê-la.

- Ele não é meu namorado. - eu disse. Tornava-se automático como um reflexo involuntário.

Maiden sorriu e abriu a porta na extremidade. Ele desapareceu por ele.

- Você e o Oficial Maiden parecem ter chegado a um acordo Miss Blake.

- Tiras falam um monte de merda, o truque é não levá-los a sério.

- Vou me lembrar disso da próxima vez.

Eu olhei para Belizário.

- Não se pode trabalhar para você, é advogado e é rico.

- E eu não sou uma mulher atraente. - disse ele.

- Isso também, no entanto pode trabalhar contra mim com os policiais.

Belizário assentiu.

Maiden recuou através da porta distante. Ele sorria como se algo o divertisse como o inferno, eu aposto que não acharia nada engraçado.

- Eu disse a Zeeman que ele era um pervertido do caralho, e que ele tem uma namorada bonitinha.

- Aposto que não foi o que você disse. - eu disse.

Ele balançou a cabeça.

- Perguntei a ele por que com um pedaço de mau caminho como você, ele tinha que estuprar outra mulher.

- O que ele disse? - Eu perguntei com o rosto em branco.

- Ele disse que você não é sua namorada.

Concordei.

- Eu disse isso a você.

Maiden abriu a porta e acenou nos deixando passar.

- Toque a campainha quando quiser sair, desfrute de nossa hospitalidade. - ele disse e trancou a porta.

Eles devem ter chegado a um acordo sobre a pintura branca, porque toda a cela era branca, até o chão. Era como estar no meio de uma nevasca, dois beliches, um em cima do outro, as barras em uma pequena janela, até o banheiro e pia eram brancos. A cor das barras formavam uma dos três lados da cela. Richard estava sentado do outro lado sem olhar para nós.

Ele estava sentado na parte inferior do beliche, seu cabelo caía em ondas grossas quase escondendo seu rosto. Na brancura crua das luzes do teto, o cabelo parecia mais escuro do que o mel castanho, quase castanho. Ele usava uma camisa verde pálido por fora da calça, mangas arregaçadas para trás sobre os antebraços musculosos. Sua calça castanho escura estava enrugada por dormir com ela. Ele era um pouco mais alto que o beliche, a camisa estava esticada sobre os ombros e braços. Ele cresceu um pouco desde a última vez que o vi, tinha os músculos bem definidos para começar. Uma vez eu senti prazer em vê-lo sem camisa, e queria deslizar as mãos sobre aquele peito lindo e aqueles braços fortes. Mas isso era um jogo totalmente novo, um que eu realmente não poderia ganhar.

Richard chegou perto das grades, suas mãos envolvendo em torno delas.

- O que você está fazendo aqui, Anita? - Ele não estava tão irritado como eu temia que estivesse. Parecia quase normal, e algum aperto no centro do meu corpo relaxou.

Belizário se afastou de nós, ele sentou-se na mesa fora da cela e começou a espalhar papéis de sua pasta. Tentou parecer muito ocupado e nos dar tanta privacidade quanto possível, foi um gesto bonito.

- Soube que estava em apuros.

- Então você veio para me salvar? - ele fez uma pergunta. Seus sólidos olhos castanhos olharam para mim buscando meu rosto, seu cabelo tinha caído em seus olhos, ele o jogou de volta em um gesto dolorosamente familiar.

- Eu vim para ajudar.

- Não preciso de sua ajuda, eu não fiz isso.

Belizário interrompeu.

- Você foi acusado de estupro Sr. Zeeman.

Virei-me e olhei para Belizário.

- Eu pensei que fosse tentativa de estupro.

- Li o arquivo enquanto estava esperando, quando eu tiver a permissão do Sr. Zeeman para atuar como seu advogado, terei acesso aos registros. O kit de estupro deu negativo para o sêmen, não havia evidência de penetração. Penetração é suficiente para constituir violação.

- Nunca tive relações sexuais com ela. - disse Richard. - Nunca chegamos a esse ponto.

- Mas você saiu com ela. - disse eu.

Ele olhou para mim.

- Sim, eu saí. - Havia um pouco de raiva na voz dele agora.

Eu provavelmente estaria irritada também se estivesse na prisão por falsas acusações. Inferno, eu estaria muito mal humorada, mesmo se tivesse feito isso.

- O problema Sr. Zeeman, é que sem amostras de sêmen você não pode provar que não violou a Srta. Schaffer. Você saiu com a mulher mais de uma vez. Ela saiu com você e voltou para casa espancada. - Ele folheou um dos arquivos. - Houve contusões na vagina e algum lacrimejamento. Se ela não foi estuprada, chegou bem perto.

- Ela disse que gostava de brutalidade. - Richard disse calmamente.

- Quando vocês conversavam, surgia algum assunto sobre sexo selvagem? Eu perguntei.

Ele encontrou meus olhos sem pestanejar, pronto para ficar zangado se eu estivesse com raiva.

- Só quando tentava me levar para a cama com ela.

- O que exatamente ela disse? - Belizário perguntou.

Richard balançou a cabeça.

- Não me lembro exatamente, mas eu lhe disse que tinha medo de machucá-la. Ela disse que se eu gostasse de brutalidade, ela seria minha namorada.

Eu fiquei olhando para a porta fechada, não vim aqui para isso, virei e ele já estava me olhando, então ele disse:

- É por isso que você queria me ver? Para saber de todos os detalhes?

Sua voz era áspera, quase como um riso, mas amargo. Um olhar estranho passou sobre seu rosto. Uma vez eu conseguia ler todos os seus pensamentos apenas olhando para seu rosto, seus olhos. Agora eu não o conhecia. Às vezes eu penso que nunca o conheci de verdade, que tinha sido um engano.

- Se você quiser mais detalhes, eu posso lhe dar. Não apenas sobre Betty, posso falar sobre Lucy, Carrie e Mira. Especialmente sobre Lucy e Mira, posso lhe dar detalhes sobre elas.

- Ouvi dizer que você estava ocupado. - disse eu. Minha voz foi mais suave do que eu queria que fosse, mas normal. Eu não ia chorar.

- Quem lhe disse para vir aqui, Anita? Quem me desobedeceu?- Essa primeira picada de energia rastejou através da cela. Às vezes você pode esquecer o que Richard é realmente. Ele era melhor em esconder isso do que qualquer outro licantropo que eu conhecia. Olhei para Belizário. Ele pareceu não perceber. Bom, ele não era sensível a isso. Mas eu sim. O poder penetrou na minha pele como um vento quente.

- Ninguém te desobedeceu, Richard.

- Alguém lhe disse. - Suas mãos flexionaram nas barras, esfregando mais e mais. Eu sabia que ele podia arrancá-la do chão. Ele poderia abrir um buraco na parede de trás se quisesse. O fato de que ainda estava preso era só porque não queria sair e estragar seu disfarce. Um professor de ciências de escola secundária não poderia dobrar barras de aço.

Debrucei-me próximo as barras, baixando minha voz. Sua energia sobrenatural passando ao longo de minha pele.

- Você realmente quer discutir isso agora na frente de um estranho?

Richard inclinou-se até encostar a testa contra as barras.

- Ele é meu advogado, será que não precisa saber?

Debrucei-me tão perto que poderia tê-lo tocado através das grades. Eu queria tocá-lo. Ele não parecia muito real dessa forma.

- Você realmente é um bebê perdido no bosque, não?

- Eu nunca fui preso antes. - disse ele.

- Não, isso foi sempre o meu trabalho.

Ele quase sorriu. Alguma energia escapou a distância. Sua besta deslizando, afastado dentro daquela camuflagem perfeita.

Toquei a fria barra de metal, deslizando minhas mãos abaixo da dele.

- Aposto que você pensou que poderia estar me visitando um dia nesta mesma situação, mas não o contrário.

Ele deu um pequeno sorriso.

- Sim, e eu ia fazer um bolo com uma serra nele.

Eu sorri.

- Você não precisa de uma serra, Richard. - Enfiei minhas mãos sobre a sua. Ele apertou meus dedos gentilmente. - Você precisa de um bom advogado, e eu lhe trouxe um.

Ele afastou-se das barras.

- Por que eu preciso de um advogado quando sou inocente?

Belizário respondeu:

- Você foi acusado de estupro, o juiz recusou-lhe a fiança. Filho, se não pode contar a sua história, você pode pegar de dois a cinco anos se tivermos sorte. As fotos estão no arquivo. Ela tomou uma bela surra, é uma loira muito bonita. Ela vai entrar no tribunal vestida como a professora favorita do segundo grau. - Ele se levantou e começou a caminhar em nossa direção enquanto falava. - Vamos cortar o cabelo.

- Cortar o cabelo? - Exclamei.

Belizário olhou com a cara amarrada para mim.

- Cortar o cabelo, vestir-se agradavelmente. Ajuda que você seja bonito e branco, mas ainda é um homem grande e forte. - Ele balançou a cabeça. - Não temos que provar que você é inocente Sr. Zeeman. É Schaffer que tem que provar sua culpa.

Richard franziu a testa.

- O que você quer dizer?

- Temos que mostrá-la como a prostituta da Babilônia. Mas primeiro, vou apresentar uma moção que nenhuma fiança é excessiva para uma primeira ofensa. Diabos, você não tem sequer uma multa de trânsito, vou tirar você sob fiança.

- Quanto tempo vai demorar? - Eu perguntei.

Belizário olhou-me um pouco demais.

- Existe um limite de tempo para sair daqui e eu não estou sabendo?

Richard e eu olhamos um para o outro como a sugestão. Então ele disse:

- Sim. - eu disse

- Não. - disse Richard

- Bem, qual é meninos e meninas, sim ou não? Existe algo que eu precise saber aqui?

Richard olhou para mim, então disse:

- Não, eu acho que não.

Belizário não gostou, mas deixou passar.

- Ok crianças. Vou confiar na sua palavra, más se este pedaço de informação que eu não preciso saber chegar a bater na minha bunda, eu não vou achar divertido.

- Não vai. - eu disse.

Ele balançou a cabeça.

- Se isso acontecer vou deixar o Sr. Zeeman sozinho. Você terá que encontrar outro advogado mais rápido do que possa dizer a palavra penitenciária.

- Eu não fiz nada errado. - disse Richard. - Como isso pode estar acontecendo?

- Por que ela te acusou de estupro? - Eu perguntei.

- Alguém fez isto - disse Belizário. - Se não foi você, então quem foi?

Richard balançou a cabeça.

- Betty sai com outros, sei de pelo menos três outros homens.

- Vamos precisar de seus nomes.

- Porquê?- ele perguntou.

- Filho, se você discutir comigo a cada passo do caminho, isso não vai funcionar. - Eu só não quero arrastar ninguém para isso.

- Richard - disse eu - você está com problemas aqui. Vamos deixá-lo fazer o seu trabalho, por favor.

Richard olhou para mim.

- Você largou tudo para vir em meu socorro, hein?

Eu sorri.

- Praticamente.

Ele balançou a cabeça.

- Como Jean-Claude se sente sobre isso?

Olhei para fora, não para seus olhos.

- Ele não estava excitado, mas quer que você saia da cadeia.

- Eu posso apostar que sim.

- Crianças, não temos muito tempo. Se vocês dois não podem se conter, talvez Anita deva sair daqui.

Concordei.

- Eu concordo, você tem que dizer detalhes sobre Schaffer e eu não quero ouvir. Precisa ser capaz de falar livremente sobre ela.

- Você está com ciúmes? - Richard perguntou.

Eu respirei profundamente. Eu teria gostado de ter dito que não, mas ele podia sentir o cheiro de uma mentira. Eu estava indo bem até que ele tinha feito aquele comentário sobre Betty ser sua namorada.- Eu não tenho direito de estar com ciúmes de você, Richard.

- Mas você está não é? - ele perguntou. Viu meu rosto quando perguntou.

Eu tinha de me obrigar a encarar os seus olhos enquanto respondia, queria esconder minha cabeça, não poderia impedir o rubor.

- Sim, eu estou com ciúmes. Feliz?

Ele balançou a cabeça.

- Sim.

- Eu vou dar o fora daqui. - Escrevi o número de telefone da cabana no caderno de Belizário e apertei a campainha.

- Estou feliz que você veio, Anita. - disse Richard.

Eu mantive minhas costas na porta, esperando por Maiden.

- Eu gostaria de poder dizer o mesmo, Richard.

A porta se abriu e eu escapei.


7

- Divertiu-se visitando seu namorado? - Maiden perguntou enquanto me seguia pelo corredor.

Eu esperei na segunda porta trancada.

- Ele não é meu namorado.

- Todo mundo continua dizendo isso. - Maiden destrancou a porta e a segurou aberta. - Talvez seja porque a Senhora protesta demais.

- Tire o seu cartão de biblioteca e enfie no rabo Maiden.

- Ooh - disse ele - isso foi desagradável, sabe que eu posso dar meia volta e te deixar aqui, não é?

- Devolva minha arma, Maiden.

Ele trancou a porta atrás de nós. Jason estava sentado na fileira de cadeiras em frente à mesa. Ele olhou para cima.

- Podemos ir para casa agora?

- Não foi divertido ficar com Maiden? - Eu perguntei.

- Ele não me deixou brincar com as algemas. - disse Jason.

Maiden correu atrás do balcão e abriu a gaveta, pegou a Browning, colocou o pente carregado, verificou a trava de segurança e entregou-a para mim pelo cabo primeiro.

- Você acha que a cidade de Myerton é perigosa o suficiente para necessitar de uma bala na câmara da arma? - Eu perguntei.

Maiden olhou para mim. Foi um longo olhar, como se estivesse tentando me dizer algo.

- Nunca se sabe. - disse ele finalmente.

Ficamos olhando um para o outro por alguns momentos congelados, então eu coloquei a Browning no coldre com a bala pronta para sair, mas chequei a segurança duas vezes. Não costumava sair por aí com a arma pronta. Deixava-me nervosa. Me deixou mais nervosa o que Maiden estava tentando me avisar. Claro, ele poderia estar apenas zombando de mim. Alguns policiais, especialmente aqueles de cidade pequena, tendiam a me dar dor de cabeça. Sendo uma executora de vampiros faz com que alguns deles queiram bancar o macho comigo.

- Tenha um bom dia, Blake.

- Você também, Maiden. - disse eu.

Eu tinha a porta aberta e Jason nas minhas costas quando Maiden disse:

- Tenha cuidado lá fora.

Seus olhos estavam obscuros. Não havia nada para ler em seu rosto. Eu não sou uma pessoa sutil, grande surpresa.

- Você tem algo a dizer, Maiden? - Eu perguntei.

- É hora do meu intervalo para o almoço.

Olhei para ele.

- São dez horas da manhã, um pouco cedo para o almoço, você não acha?

- Achei que você gostaria de saber que eu não estarei aqui.

- Vou tentar esmagar a minha decepção. - eu disse.

Ele deu um sorriso rápido, então falou:

- Tenho que fechar a porta atrás de você, pois estou deixando a mesa.

- Você vai deixar Belizário preso com Richard?

- Eu não vou ficar fora por muito tempo. - disse ele, abriu a porta para nós, esperando que saíssemos.

- Eu não gosto de jogos Maiden. Que porra está acontecendo aqui?

Ele não estava sorrindo quando disse:

- Se o advogado conseguir fiança para o seu namorado, saiam da cidade o mais rápido possível.

- Não estamos sugerindo que ele saia sob fiança, você é mesmo policial?

- A família dele esteve aqui desde a primeira noite quando foi levado em custódia. Eu sei que ele é um cientista que está trabalhando. Muito agradável, cidadão honrado é o que dizem as testemunhas. Mas os bons cidadãos desta cidade não vão estar aqui para sempre.

Maiden e eu olhamos um para o outro. Fiquei lá por um minuto, me perguntando se ele estava insinuando alguma coisa ou se me diria o que diabos estava acontecendo. Ele não o fez.

Concordei com ele.

- Obrigada Maiden.

- Não me agradeça. - ele disse e trancou a porta atrás de nós.

Minha mão não estava no cabo da Browning, mas estava perto. Sentia-me idiota por pegar a arma em uma manhã de Agosto, em uma cidade com uma população menor do que a maioria dos dormitórios da faculdade.

- O que foi que aconteceu? - Jason perguntou.

- Se não tirarmos Richard daqui, ele vai se machucar. A única razão para isso não ter acontecido ainda é que tem muitas testemunhas. Muitas pessoas fazendo perguntas.

- Se os policiais estão envolvidos, por que Maiden nos avisou?

- Talvez ele não esteja feliz por estar envolvido. Oh, diabos, eu não sei. Mas isso significa que alguém queria Richard na cadeia por uma razão.

Uma picup parou do outro lado da rua em frente à casa cinzenta que Shang-Da estava. Quatro homens saltaram para fora pelo banco de trás. Havia pelo menos mais um no volante. Ele ficou fora de vista, os outros formaram um semicírculo na base do pórtico. Um deles tinha um taco de beisebol.

- Bem, bem, - disse Jason. - Você acha que se a gente bater na porta e gritar por ajuda da polícia, eles virão nos ajudar?

Eu balancei minha cabeça.

- Maiden tentou nos ajudar, ele nos avisou.

- Eu estou agradecido pelo esforço. - disse Jason.

- Sim.

Comecei a andar pela rua, Jason seguia meus passos logo trás, eu estava tão séria quanto poderia. Eu tinha uma arma e eles não.

Mas se eu matasse alguém, seria presa como Richard. O sistema jurídico de Myerton parece não gostar muito de estranhos.

Shang-Da estava na varanda olhando para os homens. Ele havia retirado o boné e seu cabelo preto era muito curto nos lados e em cima. O cabelo tinha gel e ficou amassado em cima. Ele ficou equilibrado sobre os pés descalços, braços longos e soltos ao seu lado. Não estava em posição de combate, mas eu conhecia os sinais.

Ele não olhou para nós, más eu sabia que tinha nos visto. Os bandidos ainda não. Bandidos amadores. Não significa que não eram perigosos, significava apenas que você é capaz de blefar com eles. Os profissionais tendem a blefar.

Uma mulher pequena e idosa saiu pela porta de tela para ficar ao lado de Shang-Da. Ela inclinava-se pesadamente em uma bengala com as costas curvadas. Seu cabelo cinza era muito curto e tinha um daqueles penteados que as mulheres idosas parecem tão afeiçoadas. Ela usava um avental sobre um vestido rosa e sacudiu o punho para os homens.

- Saiam da minha propriedade.

O homem com o bastão de baseball, disse:

- Entre agora Millie, isso não tem nada a ver com você.

- É o meu neto que estão ameaçando. - disse ela.

- Ele não é seu neto. - disse um outro homem. Ele usava uma camisa de flanela desbotada.

- Você está me chamando de mentirosa, Mel Cooper? - perguntou a mulher.

- Eu não disse isso. - disse Mel.

Se estivéssemos em um lugar privado, eu teria ferido apenas um deles. Teria chamado a sua atenção e o chamado para lutar. Mas eu apostaria qualquer valor que se eu desse um tiro em um deles o xerife misterioso correria em seu socorro. Talvez o plano fosse colocar mais de nós na cadeia. Ainda era muito cedo para dar um palpite.

Jason e eu andávamos sobre a grama, Mel era o mais próximo de nós. Ele virou-se mostrando uma camiseta manchada e uma barriga de cerveja debaixo da camisa de flanela. Ooh, encantador.

- Quem diabos é você? - ele perguntou.

- Bem, você não é muito educado Senhor Simpatia.

Ele deu um passo ameaçador em minha direção, eu sorri e ele franziu a testa para mim.

- Responda o caralho da pergunta garotinha, quem é você?

- Não importa quem ela é. - disse o cara com o bastão de baseball. - Isto não é assunto seu. Deixe-nos sozinho, ou você vai ganhar o mesmo que ele. - Acenou com a cabeça para Shang-Da.

- Você vai bater em mim com essa merda também?- Eu perguntei. - Oh, Deus.

O cara com o bastão de baseball franziu o cenho para mim também. Eu tinha dois deles intrigado. A confusão de meus inimigos.

A mulher sacudiu o punho novamente.

- Você fique longe da minha propriedade ou chamarei o Xerife Wilkes.

Um dos homens riu e outro disse:

- Quando Wilkes chegar aqui, já teremos acabado.

O cara do bastão de baseball disse:

- Desce dessa varanda menino, ou nós vamos buscar você.

Eles estavam me ignorando, estavam ignorando Jason. Não eram apenas amadores, eram estúpidos.

A voz de Shang-Da era surpreendentemente profunda, muito calma. Não havia medo ou surpresa, havia apenas uma tendência de ânsia, como se sob essa calma ele estivesse louco para machucá-los.

- Se eu descer dessa varanda, vocês não vão gostar.

O homem com o bastão de baseball começou a balançar o taco como um profissional. Ele usou-o como se soubesse. Talvez jogasse bola na escola.

- Oh, eu vou gostar, menino China.

- Menino da China. - disse Jason.

Eu não olhei para o rosto de Jason para saber que ele estava sorrindo.

- Não é muito original, não é? - Eu comentei.

- Não.

Mel se voltou para nós e um outro homem veio com ele.

- Você está tirando sarro de nós?

Concordei.

- Oh, sim.

- Você pensa que eu não vou bater em você porque é uma mulher?- Mel perguntou.

Era tentador dizer: - Não, acho que você não vai me bater porque eu tenho uma arma. - mas não disse isso. Uma vez que você mostra uma arma em uma luta, você empurra o nível de violência a uma altura em que a morte é uma possibilidade muito real. Eu não quero ninguém morto com a polícia esperando para prender o resto de nós. Não quero ir para a cadeia. Sou faixa preta no judô. Mas o companheiro de Mel era quase tão grande quanto o Oficial Maiden, e não tão bonito. Ambos compensavam eu e Jason por cem quilos cada um, ou mais. Tinham sido grandes na maioria de suas vidas, pensavam que eram durões. Até este momento provavelmente estavam certos. Eu não ia ficar lá e trocar socos com eles. Tudo o que tinha que fazer é ser rápida e acabar com o meu adversário imediatamente, nada menos, eu tinha uma boa chance de ficar seriamente ferida.

Eu apostava em mim contra qualquer bandido do meu tamanho. O problema é como de costume, nenhum dos bandidos tinha a minha altura. Havia um aperto no meu estomago, um tremor nervoso. Percebi com algo perto do choque que estava com mais medo agora do que quando estava com Jamil na van. Este não era um jogo de dominância com regras. Ninguém ia dizer que estava "amarelando" quando alguém estivesse sangrando. Assustada? Quem, eu? Passou-se um longo tempo desde a ultima vez que eu briguei sem puxar uma arma. Estava ficando muito dependente das armas? Talvez.

Jason e eu demos um passo para trás deslizando um pouco longe um do outro. Você precisa de espaço para lutar. Ocorreu-me o pensamento de que nunca tinha visto Jason lutar. Ele poderia ter lançado a caminhonete do outro lado da rua, mas eu não sabia se ele sabia como lutar. Se ele jogasse os seres humanos como brinquedos, algumas pessoas poderiam sair gravemente feridas. Eu não queria Jason na prisão tampouco.

- Não mate ninguém. - disse eu.

Jason sorriu, mas era apenas um mostrar de dentes.

- Pô, você não é divertido. - Senti a primeira picada de energia do Metamorfo.

Mel avançou de surpresa num movimento não treinado, nas artes marciais ou no boxe não adianta ser apenas grande. O outro cara estava em posição. Ele sabia o que estava fazendo. Jason poderia curar uma mandíbula quebrada em menos de um dia, eu não podia. Eu queria Mel, mas ele parou de se mover para frente. Houve arrepios em seus braços peludos.

- Que diabos foi isso?

Ele era grande e estúpido, mas era psíquico suficiente para sentir um Metamorfo. Interessante.

- Quem somos nós? Que diabos foi isso? Mel, você precisa de melhores perguntas. - disse eu.

- Foda-se. - disse ele.

Eu sorri e acenei com ambas as mãos.

- Venha e consiga Mel, se você achar que é homem o suficiente.

Ele soltou um grito e correu para mim, literalmente correu com seus braços musculosos como se fosse me dar um abraço de urso. Eu tive uma sensação de movimento e sabia que Shang-Da não estava mais na varanda. Não houve tempo para medo, sem tempo para pensar, só para me mover. Para fazer o que eu tinha feito mil vezes na prática, no dojo, mas nunca na vida real.

Eu abaixei os braços estendidos de Mel e fiz duas coisas quase simultaneamente: Peguei o seu braço esquerdo e lhe dei uma rasteira, ele caiu pesadamente de joelhos. Eu dei um bloqueio comum em seu braço, realmente não tinha decidido quebrá-lo, um bloqueio hiper-estendido sobre um cotovelo dói o suficiente para que as pessoas negociem depois de provar o quanto dói. Mel não me deu tempo, eu tive um vislumbre de uma faca e então quebrei seu braço, fez um som grosso e úmido, como uma asa de frango dobrado para trás.

Ele gritou, a faca estava em sua mão e ele parecia ter esquecido no momento.

- Largue a faca, Mel. - eu disse.

Ele tentou levantar-se, um joelho para o lado, chutei seu joelho e ouvi um estalo profundo e baixo. A fratura do osso fez um som nítido, a articulação não se quebra tão rápido, mas quebra mais fácil.

Ele caiu no chão contorcendo-se e gritando.

- Solte a faca, Mel! - Eu estava gritando com ele.

A faca girou no ar caindo no quintal próximo. Eu fiquei longe de Mel apenas para o caso dele ter outra surpresa. Todos estavam ocupados também.

O cara grande que tinha atacado Jason estava deitado em uma pilha perto do caminhão de lixo. Havia um dente recém extraído na lateral do caminhão, como se tivesse sido atirado para o lado. Provavelmente.

Um terceiro homem estava amassado no pé dos degraus da varanda. Ele não estava se movendo. Outro homem estava tentando rastejar para longe, uma perna pendurada atrás dele como uma cauda quebrada, ele estava chorando.

Shang-Da estava tentando romper as defesas do homem com o bastão de baseball, Jason lutava contra um homem alto e magro, com músculos finos ao longo de seus braços nus. Ele estava em uma posição de combate, Tae Kwon Do ou jiu-jitsu.

Shang-Da deu dois golpes em cada braço com o bastão de baseball, então ele pegou o bastão, quebrou em duas grandes partes. O homem virou-se para correr. Shang-Da começou a dar facadas nas costas dele com a ponta quebrada da madeira.

Eu gritei:

- Não o mate.

Shang-Da virou a madeira quebrada em sua mão e bateu contra o crânio do homem, ele caiu de joelhos de repente, foi surpreendente.

O homem alto que lutava com Jason rastejou para frente em um movimento rápido de caranguejo, parecia um tipo de bobagem, más o seu pé o atacou e Jason teve de se atirar de volta para o chão. Jason o chutou, mas o homem alto pulou sobre o chute tão alto e tão graciosamente que parecia flutuar no ar por um momento.

Sirenes gemiam chegando rapidamente.

O cara do bastão de baseball caiu de cara no chão, estava fora de combate.

O único dos bandidos que estava de pé era o homem alto, Jason ficou de pé rapidamente, o suficiente para evitar os socos e chutes, mas não o suficiente para ferí-lo de volta. Super força não significa super habilidade.

Shang-Da começou a mover-se para ajudar.

Jason olhou para Shang-Da, e isso foi tudo o que o homem alto precisava. Ele chutou o lado da cabeça de Jason que, pego de surpresa caiu de joelhos no chão. O homem virou-se e eu vi um chute vindo, era um chute que poderia quebrar o pescoço de alguém num piscar de olhos. Eu estava mais perto do que Shang-Da. Nem sequer pensei nisso, me movi para frente, mas sabia que não chegaria a tempo. O homem alto viu o movimento, ele mudou sua atenção de Jason para mim.

De repente eu estava em uma posição defensiva. Ele inverteu o chute, e eu consegui evitá-lo porque ele estava sem equilíbrio. Havia dois carros da polícia derrapando no fim da rua em nossa direção. Shang-Da parou de avançar, acho que nós dois pensamos que a luta havia acabado, o homem alto, pensou o contrário.

O chute era apenas um borrão de movimento, eu coloquei um braço em um bloqueio parcial, meu braço ficou dormente e a próxima coisa que vi era que estava de costas olhando para o céu.

Ele poderia ter me matado porque por um segundo eu não conseguia me mexer. Não havia nenhum som no segundo congelado, eu estava na grama olhando para cima. Então pude ouvir meu sangue batendo nos meus ouvidos, respirei profundamente e pude ouvir vozes humanas novamente.

Uma voz de homem gritou:

- Parado, seu filho da puta!

Eu tentei dizer, "até que enfim", mas não saiu nenhum som, senti gosto de sangue na boca. Meu rosto não doía muito ainda, estava numa espécie de dormência. Abri a boca só para ver se eu podia. Sim, eu poderia. Meu queixo não foi quebrado. Ótimo. Levantei um braço para cima e conseguiu dizer:

- Me ajude.

Jason disse:

- Eles têm armas apontadas para nós.

Millie desceu da varanda com a bengala, ela estava engraçada do meu ângulo de visão, como um palhaço de pés gigantes.

- Não aponte essa arma para o meu neto e seus amigos. Estes homens os atacaram.

- Atacaram?- disse uma voz de homem. - Parece que seu neto e seus amigos é que os atacaram.

Eu peguei minha identificação no meu bolso e a segurei no ar, provavelmente eu poderia ter me sentado sozinha, mas como tinha apanhado poderia usar isso contra eles. Fiquei magoada, e quanto mais ferida os policiais pensassem que eu estava, menos seria a possibilidade de irmos para a cadeia. Se apenas os bandidos tivessem sido feridos, então todos nós acabaríamos na prisão sob a acusação de assalto ou coisa pior. Eu não tinha verificado o pulso dos dois homens caídos, eles continuavam terrivelmente deitados e imóveis. Desta forma, todos nós poderíamos prestar queixa do assalto. Eles poderiam colocar todos na cadeia, ou nenhum. Será que era esse o plano? Tive sorte que meu maxilar não estava quebrado.

- Anita Blake, executora de vampiros. - eu disse. O anúncio deveria ter um pouco de mais potência se eu não estivesse de costas, mas hey, você faz o que pode. Eu rolei para um lado, minha boca se encheu de sangue o suficiente para que eu tivesse que cuspir ou engolir. Eu cuspi na grama, mesmo virando de lado fez o mundo girar. Por um segundo eu me perguntei se estava cuspindo apenas sangue. A náusea passou deixando-me preocupada com uma concussão, tive outras antes, e geralmente fazia mal ao meu estômago.

Eu não podia ver Millie, mas poderia ouvi-lo.

- Guarde essa arma Billy Wilkes, ou vou tirar o seu bronzeado com minha bengala.

- Ok Sra. Millie. - a voz masculina disse.

Repeti quem eu era e disse:

- Preciso de ajuda para levantar. Meus amigos podem me ajudar, por favor?

A voz masculina do Xerife Wilkes eu presumo, soou um pouco incerta, mas disse:

- Eles podem se mover.

Jason agarrou o braço que estava segurando minha identificação no ar. Ele olhou para mim e ajudou-me a ficar de pé. Foi muito rápido e eu não tive que fingir que o mundo estava girando. Quando meus joelhos dobraram, eu não lutei contra. Eu deslizei de joelhos e Shang-Da pegou meu outro braço. Entre os dois, eles me deixaram de pé e na frente da polícia.

O Xerife Wilkes tinha cerca de 1,70m, usava um chapéu azul pálido e um uniforme correspondente e pelo visto levava seu trabalho a sério. A arma ao seu lado era uma Beretta dez mil. Ele olhava para mim com seus olhos escuros e sólidos, um castanho confiável. Pegou o chapéu e limpou o suor da testa, seu cabelo era um castanho pálido e me fez calcular sua idade em mais de quarenta anos.

- Anita Blake, eu ouvi falar de você. O que está fazendo em nossa cidade?

Cuspi um bocado de sangue na grama e conseguiu ficar inclinada entre Shang-Da e Jason. A verdade é que eu poderia ter ficado em pé, mas todos os bandidos estavam no chão, mesmo aquele que tinha me chutado estava caído. Shang-Da deve tê-lo pisado depois que eu caí, sabia que Jason não poderia ter atacado o homem alto.

- Eu vim para ver um amigo em sua prisão, Richard Zeeman.

- Amigo?

- Sim, amigo.

Havia dois ajudantes atrás de Wilkes, ambos eram altos. Um deles tinha uma cicatriz que ia da sobrancelha a um lado da mandíbula. Pelo visto, foi uma garrafa quebrada. O outro ajudante tinha uma espingarda nas mãos, não estava apontada para nós, mas estava lá. Cicatriz riu de mim, o outro com a espingarda apenas me olhou com seus olhos vazios e impiedosos, como uma boneca.

Maiden estava de pé, mãos cruzadas na frente do corpo. Seu rosto estava em branco, más havia uma borda ao redor de sua boca que dizia que não estava tentando sorrir.

- Vamos todos para a delegacia abrir inquérito. - disse Wilkes.

- Grande. - eu disse - Não posso esperar por um inquérito Xerife.

Ele olhou para mim, os olhos levemente arregalados.

- Vocês são os únicos de pé Miss Blake. Acho que não tem motivos para dar queixa.

Debrucei-me um pouco mais contra Jason, um fio de sangue escorria pelo canto da minha boca. Eu podia sentir meu olho começando a inchar, sempre sangrei muito fácil se alguém batia no meu rosto, eu sabia que parecia lamentável.

- Eles nos atacaram e fomos obrigados a nos defender. - Deixei meus joelhos deslizarem para baixo. Shang-Da me pegou e me levantou facilmente em seus braços, fechei os olhos enrolada em seu peito.

- Merda - Wilkes disse.

- Olhe essa pobre menina, Billy Wilkes. - disse Millie. - Você vai levá-la perante o juiz Henry. O que você acha que ele vai fazer com o resto destes safados? Ele tem uma filha da idade dela.

- Merda. - Wilkes disse outra vez com mais força. - Vamos todos para o hospital, vamos resolver isso lá.

- A ambulância está a caminho. - disse Maiden.

- Não será suficiente. - disse Wilkes.

Maiden riu baixo e profundo.

- Não há ambulâncias suficientes no município para esses corpos.

- É o suficiente para três. - disse Wilkes.

Eu fiquei tensa nos braços de Shang-Da. Ele me apertou, uma mão encostada ao lado da minha cabeça com firmeza suficiente para machucar meu rosto. Deixei a respiração sair facilmente do meu corpo e me concentrei assim, mas eu me lembrava do que Wilkes tinha dito. Veríamos quem começaria a viagem de ambulância da próxima vez.


8

Estávamos em fila, uma ambulância, um caminhão, dois carros de patrulha, o trenó do Papai Noel, e eu na van para que todos pudéssemos chegar ao hospital. Ok, o trenó do Papai Noel não, mas parecia um desfile. Quase seis horas depois, estávamos de volta em Myerton na sala de interrogatório que eles tinham. Eu tinha sido a única dos feridos a deixar o hospital.

O cara que Jason tinha jogado dentro do caminhão de lixo pode ter danos permanentes na coluna, vão saber quando o inchaço diminuir. Dois dos três que Shang-Da deixou inconsciente tinham acordado, eles estavam abalados más iam se recuperar. O terceiro ainda estava apagado e os médicos estavam falando sobre o inchaço do cérebro e fraturas de crânio, Shang-Da havia feito essas fraturas. Eu só tinha Mel para o meu crédito, mas ele estava em pior forma do que a fratura. É preciso um inferno de muito trabalho para curar uma lesão na junta. Às vezes você não recupera plenamente a utilização do membro, eu me senti mal com isso, mas ele puxou a faca.

Belizário era um advogado ocupado, ele não só tinha conseguido fiança para Richard, mas também nos representou. Richard era um homem livre, temporariamente. Belizário poderia manter o resto de nós fora da prisão, ele fez pelo dinheiro.

Wilkes não queria nos prender, mas queria tirar nossas impressões digitais, eu não tinha problema com isso, mas Shang-Da sim. Ele realmente não queria que tirassem suas digitais, tanto que Wilkes e eu começamos a suspeitar. Mas se Shang-Da não fizesse isso, então nenhum de nós faria. Eu disse a Wilkes que se quisesse nossas digitais, teria de nos dar alguma coisa, ele parecia relutante em fazer isso.

Talvez tenha sido porque usei o meu direito a um telefonema e liguei para um policial que conhecia que por sua vez entrou em contato com um agente do FBI.

Ligar para a polícia federal deixou Wilkes nervoso como o inferno, os bandidos tinham-nos emboscado em frente à delegacia. Você não faz um ataque bem planejado na frente da delegacia a menos que tenha quase certeza que os policiais não vão estragar a diversão. Os bandidos sabiam que a polícia não iria nos ajudar, eles disseram isso durante a luta desafiando a Sra. Millie a chamar Wilkes, como se soubessem que não iriam ajudar. Mas a reação de Wilkes para minha ligação aos federais fechou para mim. Os policiais são muito territoriais, nenhuma lei federal havia sido quebrada. O FBI não tinha acesso a um simples caso de assalto, Wilkes deveria ter ficado chateado, mas ele não estava. Oh, ele fez barulho como se estivesse com raiva, mas deveria ter feito o inferno, e não fez. Sua reação foi menos convincente do que deveria ter sido.

Eu apostaria que ele estava sujo, só não podia provar ainda. Claro, não era o meu trabalho provar esse tipo de coisa. Eu vim aqui para tirar Richard da cadeia, e nós tínhamos feito isso.

Wilkes finalmente pediu para falar comigo sozinho, Belizário não gostou e saiu com os outros, sentei-me na pequena mesa e olhei para ele.

Era a sala de interrogatório mais limpa que eu já tinha visto. A mesa de pinho parecia feita à mão. As paredes eram brancas e limpas, mesmo o linóleo no chão do hospital era brilhante. Acho que a cidade de Myerton não usa muito essa sala. Provavelmente devia ter sido um quarto de armazenamento, era muito pequeno para caber cinco de nós.

Wilkes puxou uma cadeira e sentou perto de mim, cruzou as mãos na frente do corpo e ficou me olhando. Um lado de seu cabelo estava amassado onde o cabelo tinha sido pressionado contra o chapéu, uma aliança de ouro na mão esquerda e um daqueles relógios com pulseira grande. Como eu usava a versão feminina do mesmo relógio no meu pulso esquerdo, era difícil criticar.

- O que? - Eu disse. - Você vai me dar o tratamento do silêncio até que eu grite por misericórdia?

Ele deu um sorriso muito pequeno.

- Eu fiz algumas ligações para saber de você, Blake. Há muita conversa que você pode dobrar a lei se precisar das pessoas, talvez até um assassinado.

Eu olhei para ele, podia sentir meu rosto em branco. Há muito tempo atrás, toda a emoção que sentia passava pelo meu rosto, aperfeiçoei meu olhar policial vazio, e ele não viu nada.

- Há um motivo para essa conversa?- perguntei.

O sorriso desta vez foi maior.

- Eu só gostaria de saber com quem estou lidando Blake, isso é tudo.

- É bom estar informado. - disse eu.

Ele balançou a cabeça.

- Recebi um telefonema de um policial de Saint Louis, e de um policial do estado. O policial diz que você é um pé no saco para o Estado e vai dobrar a lei se puder.

- Aposto que foi Freemount. - disse eu. - Ele ainda está chateado sobre um caso em que trabalhamos juntos.

Ele acenou sorrindo agradavelmente.

- Ele queria saber se você foi detida, ele queria encontrar uma boa razão para vir dar uma olhada.

Eu sorri.

- Aposto que você realmente gostaria disso.

Seus olhos castanhos estavam duros e escuros.

- Eu não quero ninguém aqui mexendo nos meus assuntos.

- Aposto que você não quer Wilkes.

Seu rosto ficou apertado, deixando-me ver o quão furioso ele estava.

- Que porra é essa que você se importa?

Debrucei-me sobre a mesa no meu cotovelo.

- Você deveria ser mais cuidadoso em seu trabalho Wilkes.

- Ele é um professor de ciências de uma escola secundária. Como eu poderia saber que ele trepava com a merda de uma executora?

- Nós não estamos trepando. - eu disse automaticamente. Sentei-me no meu lugar. - O que você quer Wilkes? Porque a conversa em particular?

Ele correu a mão pelos cabelos, e pela primeira vez percebi como estava nervoso. Ele estava assustado, Porquê? Que diabos estava acontecendo nessa cidade pequena?

- Se a acusação de estupro desaparecer, Zeeman é livre para deixar a cidade. Você e todos os seus amigos podem ir com ele. Nenhum dano, sem falta.

- Não vim até aqui para farejar sua bagunça, Wilkes. Eu não sou uma policial. Vim aqui para acabar com o problema de Richard.

- Ele deixará de ter problemas quando sair daqui.

- Eu não sou advogada de Richard, Wilkes. Não posso prometer o que ele vai fazer.

- Por que um professor tem guarda-costas? - Wilkes perguntou.

Eu dei de ombros.

- Por que você quer o professor fora do caminho o bastante para enquadrá-lo por estupro?

- Todos nós temos nossos segredos Blake. Certifique-se que ele vai sair da cidade e leve seus amigos com ele, e todos nós podemos manter os nossos segredos.

Eu olhei para minhas mãos espalhadas sobre a mesa lisa, olhei para cima encontrando seus olhos.

- Vou conversar com Richard ver o que posso fazer, mas não posso prometer nada além disso.

- Faça com que ele te escute Blake. Zeeman é tão limpo que chega a brilhar, mas você e eu sabemos o resultado.

Eu balancei a cabeça.

- Sim, eu sei o cartaz, e sei o que as pessoas dizem sobre mim. - Levantei-me.

Ele se levantou, olhamos um para o outro.

- Eu nem sempre presto atenção à lei, isso é verdade. Uma das razões que Richard e eu não namoramos mais é que ele faz um puto escândalo por isso que faz doer os dentes. Mas nós temos uma coisa em comum.

- O que é?- Wilkes perguntou.

- Nós brigamos. Richard geralmente por razões morais, porque é a coisa certa a fazer. E eu, porque sou apenas desagradável.

- Desagradáveis. - disse Wilkes. - Mel Cooper nunca mais poderá andar direito novamente ou ter pleno uso do seu braço esquerdo.

- Ele não devia ter puxado uma faca para mim. - eu disse.

- Se não tivessem testemunhas, você o teria matado?

Eu sorri, e até para mim parecia um estranho sorriso, não humorístico, talvez desagradável.

- Vou falar com Richard. Esperançosamente, nós estaremos longe do seu caminho antes de amanhã à noite.

- Eu não fui sempre um policial de cidade pequena, Blake. Não deixe que o ambiente a engane, não vou deixar você e seu povo me foder.

- Engraçado, eu estava pensando a mesma coisa.

- Bem - Wilkes disse, - nós sabemos onde estamos.

- Eu acho que sabemos. - disse eu.

- Espero que amanhã à noite você e seus amigos estejam fora da cidade.

Olhei em seus olhos castanhos, em seus olhos assustadores, inexpressivos e mortos. Ele não tinha os olhos de um assassino profissional, nem sequer tinha olhos de bom policial. Eu podia ver o medo brilhante e quase em pânico ao redor das bordas. Não, eu já tinha visto olhos mais assustadores, mas isso não significa que ele não me mataria se tivesse a chance. Assuste de verdade um homem e você nunca vai saber o que ele vai fazer. Deixe um homem mau com medo, e você estará em apuros. Wilkes provavelmente não havia matado ninguém ainda ou não teria enquadrado Richard por estupro, eles o teriam acusado por assassinato ou apenas o teriam matado. Assim Wilkes ainda não tinha deslizado completamente para o abismo, mas depois de abraçar a escuridão, eventualmente você mata. Talvez Wilkes não saiba ainda, mas se nós o empurrássemos forte o suficiente, ele descobriria.


9

Voltei para a cabana sete horas depois, estávamos em Agosto, então ainda era dia, mas você poderia dizer que estava atrasado. Havia uma suavidade na luz, um cansaço com o calor como se o próprio dia estivesse ansioso para a chegada da noite, ou talvez eu que estivesse cansada.

Meu rosto estava ferido, pelo menos eu não tive que levar pontos na boca. O enfermeiro da ambulância tinha dito que eu precisaria de dois pontos, quando cheguei ao hospital o médico disse que não precisava. Fiquei de bunda pra Lua, tenho uma espécie de fobia de agulhas, mas tomei minha injeção com analgésicos, o que não é divertido.

Jamil estava parado na frente da cabana, ele havia trocado a roupa branca por um jeans preto e uma camiseta com um rosto sorridente sobre ele. A camiseta era cortada na frente deixando seu tórax a mostra. Apesar de meu cartão de dança estar cheio de homens atraentes, Jamil tinha um dos mais bonitos estômagos que eu já vi. Os músculos se destacaram no âmbito da lisura apertada de sua pele como telhas de um telhado e nem sequer pareciam reais. De alguma forma acho que ninguém precisa de músculos para ser um bom guarda-costas. Mas, hey, todo mundo precisa de um hobby.

- Sinto que perdi a diversão. - ele disse e tocou meu lábio ferido levemente, mesmo assim ainda me fez estremecer. - Estou surpreso que você deixe qualquer um te bater.

- Ela fez isso de propósito. - disse Shang-Da.

Jamil olhou para ele.

- Anita fingiu desmaiar. - disse Jason. - Ela parecia realmente lamentável.

Jamil olhou para mim.

- Eu não deixo ninguém chutar a minha cara de propósito, mas como já estava no chão, fingi que estava muito ferida. Desta forma podemos processar os nossos rivais por agressão.

- Acho que você não mente muito bem. - disse Jamil.

- Vivendo e aprendendo. - disse eu. - Onde está Richard? Preciso falar com ele.

Jamil olhou para um dos chalés, em seguida, de volta para mim. Havia uma expressão em seu rosto que eu não conseguia ler.

- Ele está se limpando, ficou com a mesma roupa por dois dias.

Olhei para seu rosto cuidadosamente tentando descobrir o que ele não estava me dizendo.

- O que está acontecendo Jamil?

Ele balançou a cabeça.

- Nada.

- Não me entristeça Jamil. Preciso falar com Richard agora.

- Ele está no chuveiro.

Eu balancei a cabeça, e isso doeu.

- Dane-se. Em qual cabana ele está?

Jamil balançou a cabeça.

- Dê a ele alguns minutos.

- Algumas horas. - Shang-Da disse com a voz muito branda.

Jason olhou de um para o outro.

- O que está acontecendo?- Eu perguntei.

A porta da cabana trás de Jamil se abriu, uma mulher apareceu na porta. Richard parecia estar tentando empurrá-la delicadamente mas com firmeza para fora.

A mulher se virou e me viu, ela tinha cabelo castanho claro, um penteado que parecia ingênuo e simples, mas que realmente deve ter levado horas para fazer. Ela afastou-se de Richard e veio em nossa direção, seus olhos escuros estavam focados em mim.

- Lucy, não. - disse Richard.

- Eu só quero sentir o cheiro dela. - disse Lucy.

Era o tipo de comentário que um cão faria se pudesse falar. Me cheirar, e não me ver. Nós primatas tendemos a esquecer que outros mamíferos consideram o cheiro mais importante do que a visão.

Lucy e eu tivemos tempo para estudar uma à outra enquanto ela andava na minha direção. Era apenas um pouco mais alta que eu, talvez cinco centímetros. Seu andar era uma oscilação exagerada, saia curta cor de ameixa ao redor do quadril, e você conseguia ver o que ela usava por baixo. Ela usava saltos pretos, mas veio em nossa direção graciosamente, quase na ponta dos pés. A blusa era de um púrpura pálido e estava desabotoado para que você visse o suficiente para saber que o sutiã era negro e combinava com o resto da roupa intima. O sutiã nem era tão bonito assim. Ela usava mais maquiagem do que eu jamais usei, mas era bem aplicado e deixava sua pele perfeita. O batom escuro estava manchado.

Olhei para trás, para Richard, ele vestia uma calça jeans azul e nada mais. A água ainda frisada em seu peito nu. Seus cabelos grossos agarrados em seu rosto, ombros e costas molhadas, uma mancha de batom escuro em sua boca como uma contusão.

Olhamos um para o outro, e acho que nenhum de nós sabia o que dizer, a mulher sabia.

- Então você é cadela humana de Richard.

Era tão hostil que me fez sorrir. Ela não gostou do sorriso, num piscar de olhos estava na minha frente, eu teria que dar um passo atrás para manter a ponta da saia longe de mim. Não tive dúvida alguma do que ela era, seu poder dançou sobre a minha pele como insetos fervilhando sobre meu corpo, era poderosa.

Balancei minha cabeça.

- Olha, antes de entrarmos em qualquer merda de regras de lobisomem ou pior, eu preciso falar com Richard sobre a sua prisão e por que a polícia se deu ao trabalho de enquadrá-lo por estupro.

Ela piscou para mim.

- Meu nome é Lucy Winston, lembre-se.

Olhei em seus pálidos olhos castanhos a centímetros de distância. Eu estava perto o suficiente para ver as pequenas imperfeições em seu delineador. Richard tinha mencionado Lucy na cadeia. Ele não poderia estar saindo com as duas, poderia?

- Lucy...Richard me falou de você. - eu disse.

Ela piscou de novo, mas desta vez estava perplexa. Deu um passo para trás para olhar para ele.

- Você falou de mim para ela?

Richard assentiu.

Ela apoiou-se e olhou para ele à beira das lágrimas.

- Então porque ...

Olhei de um para o outro. "Porquê" é o que eu queria perguntar. Mas não disse nada. Estava apreciando o fato de Lucy não gostar, se ela chorasse poderia estragar meu divertimento.

Levantei minhas mãos como se estivesse me rendendo e andei em torno dela. Eu caminhava em direção a Richard porque tínhamos que conversar, mas vendo Lucy vestida daquele jeito, minha diversão tinha-se desviado.

Não era da minha conta com quem ele ficava, eu estava dormindo com Jean-Claude. Não tinha pedras para atirar. Então, por que eu estava ficando chateada? Talvez seja melhor deixar esta questão sem resposta.

Richard se afastou da porta para que eu pudesse entrar. Ele fechou a porta atrás de mim, inclinando-se contra ela. Estávamos sozinhos, de repente, muito sozinhos, e eu não sabia o que dizer.

Ele encostou as mãos atrás das costas, a água escorrendo em seu tórax. Ele sempre teve um peito bonito. A parte superior do seu corpo estava quase agressivamente masculino encostado contra a porta. Houve uma época que eu poderia ajudá-lo a se secar. Seu cabelo estava começando a secar em uma massa ondulada, se ele não fizesse algo teria que molhar e começar de novo.

- Lucy te arrastou do banho sem toalha?- No momento em que disse isso, desejei ter ficado calada. Levantei minha mão e disse: - Eu sinto muito, isso não é da minha conta, não tenho o direito de ser maliciosa com você.

Ele sorriu quase com tristeza.

- Acho que essa é a segunda vez que eu ouço você admitir que está errada.

- Oh, eu estou muito errada e não vou admitir em voz alta.

Isso o fez sorrir de novo, e era quase o seu sorriso normal. Esse flash brilhante de dentes perfeitos no bronzeado permanente de seu rosto.

Richard se afastou da porta, andou na minha direção descalço. Eu estava muito consciente da água escorrendo do cabelo para o centro de seu abdômen.

Eu me virei e disse:

- Por que eles querem você na cadeia?

Negócios, concentre-se nos negócios, eu pensava desesperadamente.

- Não tenho certeza, posso pegar uma toalha e terminar de me secar enquanto falamos?

- A cabana é sua, sirva-se.

Ele desapareceu no banheiro e fiquei olhando ao redor. A cabana era quase idêntica à minha, exceto que era amarela e mais viva por dentro. Os lençóis brancos estavam amassados. Richard era quase fanático sobre como fazer a cama. De alguma forma Lucy não me parecia o tipo angelical, eu apostaria que foi ela que fez isso. Claro, havia uma mancha molhada de um lado, talvez ela tenha tido ajuda.

Passei minha mão sobre o lençol úmido e até mesmo o travesseiro estava molhado como se alguém com o cabelo molhado tivesse se deitado nele. Minha garganta se apertou, e se eu não me conhecesse melhor, diria que havia lágrimas nos meus olhos. Não, certamente não. Quer dizer, eu dispensei Richard, por que deveria chorar?

O quadro em cima da cama era outro Van Gogh, Girassóis neste momento. Gostaria de saber se cada cabana tinha um Van Gogh em uma cor que combinava com a decoração. Sim, talvez se eu me concentrasse na mobília do quarto não ficasse me perguntando se Lucy tinha olhado para os girassóis enquanto Richard ...

Cortei esse pensamento, não precisava ver isso, nunca. Realmente acreditava que Richard continuaria casto enquanto transo com Jean-Claude? Eu realmente esperava que ele se guardasse? Talvez sim. Estúpido, mas talvez fosse verdade.

A porta do banheiro ainda estava fechada. Eu podia ouvir a água correndo, ele foi tomar outro banho? Talvez estivesse apenas molhando o cabelo. Talvez. Ou talvez ele estivesse se limpando. O sexo nunca é tão limpo como se mostra nos filmes. Sexo de verdade é bagunçado. Sexo bom é uma sujeira.

Três meses com Jean-Claude e eu era uma especialista no assunto. Era quase engraçado, eu tinha sido casta até ficar com ele. Não virginal. Meu noivo na faculdade tinha tomado cuidado com isso. Eu tinha caído nos braços de meu noivo com a confiança que só o primeiro amor pode lhe dar. Foi uma das últimas coisas ingênuas que fiz.

Richard e eu tínhamos chegado perto, mas nunca fizemos sexo. Nós dois éramos casto desde a nossa primeira experiência na faculdade com outras pessoas. Apenas uma escolha pessoal que compartilhávamos. Talvez se tivéssemos nos dado à luxúria não haveria tanto calor entre nós. Claro que, ultimamente, estávamos na maior luta.

Richard tinha sido muito bondoso, muito terno, muito enjoado para governar a matilha de lobos. Ele teve a chance de matar o antigo Ulfric Marcus, duas vezes, e por duas vezes Richard se recusou a matar.

Ele não queria matar, não queria ser o novo Chefe dos lobos. Pedi a ele que matasse Marcus e depois que fez isso eu o deixei. Desleal não foi? Claro, eu não disse para comer Marcus, apenas para matá-lo, o que é um canibalismo entre amigos?

A água ainda estava correndo no banheiro. Se eu não tivesse medo de que ele abrisse a porta e saísse ensopado com nada além de uma toalha, teria batido e pedido para se apressar. Mas eu tinha visto o suficiente do Sr. Zeeman por um dia. Menos era definitivamente mais.

Havia fotos em cima da mesa e fui até elas. Por um semestre estudei sobre os Primatas da América do Norte, uma classe de troll. E Smokey Mountain tinha uma das menores espécies de trolls norte-americano. Eles tem em média de três e meio a cinco metros de altura, são principalmente vegetarianos, mas completam sua dieta com carniça e insetos.

Deixei todas as estatísticas correrem pela minha cabeça enquanto olhava as fotos, eles eram cobertos de peles pretas da cabeça aos pés. Agachados nas árvores e amontoados pareciam gorilas, chimpanzés altos ou magros, mas não havia fotos deles andando. Eram completamente bípedes, o único primata além do homem que andava ereto.

Os closes de rostos eram surpreendentes, eram mais peludos do que os grandes macacos e mais másculos. Algumas teorias diziam que os trolls eram o elo perdido entre o homem e o macaco. Havia pelo menos dois casos famosos de circos no início de 1900 que excursionou com trolls, mas os anunciavam como homens selvagens. Colonos americanos haviam matando trolls por séculos, até o início de 1900 eram raros o suficiente para serem esquisitos.

Aconteceu duas coisas em 1910 que salvou os trolls da destruição total. Primeiro: um artigo científico publicado dizia que os trolls utilizavam ferramentas e enterravam seus mortos com flores e artigos de uso pessoal. O cientista tomou muito cuidado, não disse nada além dos resultados do projeto básico, mas os jornais fizeram. Eles declararam que os trolls acreditavam em uma vida após a morte, que acreditavam em Deus.

Segundo: um pastor evangélico chamado Simão Barkley sentiu que Deus falou com ele. Saiu e capturou um troll e tentou convertê-lo ao cristianismo, ele escreveu um livro sobre suas experiências com Peter (o troll), e tornou-se um best-seller. De repente os trolls eram uma causa célebre.

Um dos meus professores de biologia tinha mantido uma foto em preto e branco de Peter, o Troll, em seu escritório. Peter tinha a cabeça baixa e mãos cruzadas, estava mesmo vestindo roupas, embora o Ministro Barkley estivesse sempre angustiado porque sem a sua supervisão constante Peter tirava tudo.

Eu não tinha certeza se foi bom Peter ficar com Barkley, mas ele salvou a espécie da extinção quase certa. Peter tinha sido um Troll de caverna norte-americano, a única espécie no continente menor do que os de Smokey Mountain. Barkley era movido pelo Espírito de Deus, mas não tinha sido estúpido. Naquela época existiam trolls que mediam de oito a doze metros de altura e eram carnívoros. Barkley não tentou salvar um deles, provavelmente foi bom. Teria sido um verdadeiro infortúnio se o troll tivesse comido Barkley em vez de rezar para ele.

Os Trolls foram às primeiras espécies protegidas na América. O Grande Troll de Smokey Mountain não foi protegido, foi caçado à extinção porque arrancava grandes árvores e com elas batia nos turistas até a morte, depois aspirava a medula de seus ossos, difícil conseguir uma boa impressão dessa forma.

Havia ainda uma sociedade amante dos trolls chamada "Amigos de Peter", mesmo que fosse ilegal matá-los, por alguma razão ainda acontecia, os caçadores os encontravam, embora ao olhar para aquele rosto demasiadamente humano, não sei como faziam isso, não apenas por um troféu.

Richard saiu do banheiro em uma corrente de ar quente. Ainda usava a calça jeans, mas agora havia uma toalha na cabeça e um secador de cabelos na mão. Ele tinha lavado novamente seu cabelo, felizmente tinha secado o peito e o braço. Seus braços pareciam incrivelmente fortes, eu sabia que ele poderia levantar um pequeno elefante independentemente da forma muscular, mas os músculos ajudavam a me lembrar. Fisicamente era um prazer contempla-lo, mas me fez querer saber por que ele estava gastando o tempo extra em seu corpo. Richard normalmente não fazia esse tipo de coisa.

Apontei para as fotos.

- Esses são grandes. - Eu sorri.

Uma vez sonhei em dedicar minha vida no campo fazendo este tipo de trabalho, uma espécie de Jane Goodall sobrenatural. Embora na verdade os primatas não fossem minha principal área de interesse, dragões talvez, ou monstros do lago. Nada que não fosse me comer se tivesse a chance. Isso foi há muito tempo antes de Bert, o meu patrão, me recrutar para encontrar e matar vampiros. Às vezes, apesar de Richard ser três anos mais velho que eu, me fazia me sentir mais velha. Ele ainda tentava ter uma vida em meio a toda essa merda estranha, eu teria desistido de tudo.

- Eu posso levá-la até eles, se você quiser. - disse ele.

- Eu adoraria se isso não perturbasse os trolls.

- Eles estão acostumados a visitantes. Carrie, a Dra. Onslow começou a permitir que pequenos grupos de turistas entrassem para tirar fotos.

Ele mencionou Carrie no mesmo fôlego que Lucy, esta mulher era a mesma coisa?

- Você está ganhando dinheiro com esse tipo de trabalho? - Eu perguntei.

Ele se sentou ao lado da cama com o secador de cabelos.

- Você está sempre alem do dinheiro em um projeto como este, mas não é do dinheiro que precisamos, é de uma boa matéria.

Eu fiz uma careta para ele.

- Por que você precisa de uma boa matéria?

- Leu o jornal ultimamente?- ele perguntou tirando a toalha da cabeça. Seu cabelo era castanho escuro, úmido, pesado, como se ainda houvesse água a ser retirado dele.

- Você sabe que não leio jornal.

- Ainda não comprou uma televisão?

Encostei a bunda contra a borda da mesa o mais longe possível dele. Eu tinha comprado uma televisão para assistir filmes e vídeos antigos.

- Eu não assisto muita televisão.

- Jean-Claude não é fã de musicais? - Richard perguntou, e não havia margem em sua voz para que eu soubesse se ele estava com raiva, inveja, mágoa ou fosse cruel.

Seria quase um alívio ouvir isso, sua raiva tornaria tudo mais fácil.

- Jean-Claude não é muito observador, ele é mais um fazedor.

- Lucy não é muito observadora também. - ele disse com a voz baixa e cuidadosa.

Eu ri, e não era um som feliz.

- Obrigada por tornar isso mais fácil Richard.

Ele olhou para o chão, seu cabelo molhado jogado para o lado para que seu rosto mostrasse um perfil completo.

- Eu não quero brigar Anita. Eu realmente não sei.

- Poderia ter me enganado. - disse eu.

Ele olhou para cima com seus olhos castanhos cor de chocolate.

- Se eu quisesse uma luta, poderia falar sobre Lucy.

- Você não me pertence mais Richard, por que deveria me incomodar com o que diabos você faz?

- Essa é a questão não é? - Ele se levantou e começou a caminhar em minha direção.

- Por que armaram contra você? - Eu perguntei. - Por que querem você na cadeia?

- É você Anita, o negócios, todos.

- E você se deixa distrair Richard, não precisa ficar de olho na bola.

Nossa, uma metáfora esportiva. Talvez fosse contagiosa.

- Tudo bem. - ele disse de uma forma tão dura que quase chegou a machucar. - Os trolls que estamos estudando foram divididos em dois grupos. A taxa de natalidade é tão baixa que eles não fazem isso com muita frequência. É a primeira ramificação gravada de um troll das tropas norte-americanas neste século.

- Isto tudo é fascinante, mas o que isso tem a ver com alguma coisa?

- Fique calada e ouça. - e pela primeira vez obedeci. - O grupo menor foi movido para fora do parque. Eles foram para um terreno particular a pouco mais de um ano, o fazendeiro dono da terra estava bem com isso. Na verdade, ele tinha uma espécie de prazer. Carrie o levou para ver o primeiro bebê nascido em suas terras, e ele carregava a foto em sua carteira.

Olhei para ele.

- Parece ótimo.

- O agricultor, Ivan Greene, morreu cerca de seis meses atrás, seu filho não era um amante da natureza.

- Ah. - eu disse.

- Mas os trolls são uma espécie seriamente ameaçada, não é como o caracol Darter, ou o sapo de costa-veludo. São animais grandes, vistosos. O filho tentou vender a terra e nós o impedimos legalmente.

- E o filho não ficou feliz com isso. - eu disse.

Richard sorriu.

- Não é difícil imaginar.

- Então ele levou o caso para o tribunal? - eu perguntei.

- Não exatamente, nós esperávamos que ele fizesse isso. Na verdade deveríamos ter percebido que algo estava errado quando ele não nos processou.

- O que ele fez?

Richard tentava controlar a raiva quando falou, ele sempre teve que se esforçar para ficar irritado. Quanto a mim, era uma das minhas melhores qualidades. Ele pegou a toalha da cama e começou a secar o cabelo enquanto falava.

- Caprinos começaram a desaparecer de uma fazenda próxima.

- Caprinos?

Richard olhou para mim através de uma cortina de cabelo molhado.

- Cabras.

- Alguém leu muito 'Billy Goat Gruff'. - eu disse.

Richard enrolou a toalha com mais firmeza em torno da cabeça e sentou-se na cama.

- Ninguém que não soubesse realmente nada sobre trolls teria levado as cabras. Mesmo os Trolls da Europa pegariam o seu cão antes de levar sua cabra.

- Então só pode ter sido armação?

- Sim, mas os jornais se aproveitaram disso, estávamos bem até os cães e os gatos começaram a desaparecer.

- Eles ficaram mais espertos. - disse eu.

- Eles ouviram as entrevistas de Carrie onde se discutia as preferências alimentares dos trolls. - disse ele.

Eu fiquei ao pé da cama.

- Por que a polícia local se interessaria por alguma disputa de terra?

- Espere, fica pior. - disse ele.

Eu peguei o travesseiro e me sentei na beira da cama com ele no meu colo.

- Como pior?

- O corpo de um homem foi encontrado há duas semanas. Era apenas um desses acidentes horríveis que acontecem com quem faz trilha. Ele caiu da montanha, acontece. - disse Richard.

- Tendo visto algumas das montanhas, não estou surpresa.

- Mas de alguma forma o corpo foi dado como se um troll o tivesse matado.

Eu fiz uma careta para ele.

- Não é como matar um tubarão Richard. Como é que eles provaram que um troll fez isso?

- Um troll não fez isso. - disse Richard.

Concordei.

- Claro que não, mas como conseguiram provar?

- Carrie tentou obter o relatório do legista, mas isso vazou para os jornais. O homem foi espancado até a morte e tinha mordidas por todo o corpo. Mordidas de troll.

Eu balancei a cabeça.

- Qualquer pessoa que morrer nessas montanhas vai ter mordidas de animais sobre o corpo, os trolls são conhecidos como carniceiros.

- Não de acordo com o Xerife Wilkes. - disse Richard.

- O que o Xerife fez para entrar nisso?

- Dinheiro. - disse Richard.

- Vocês tem certeza? - Eu perguntei.

- Quer dizer, se podemos provar?

Concordei.

- Não, Carrie está vendo se há algum papel perdido, mas até agora nada. Ela foi perseguida tentando me tirar da prisão nos últimos dias.

- Ela é a mesma Carrie que você mencionou como uma de suas namoradas na prisão? - Eu perguntei.

Richard assentiu.

- Ah. - eu disse.

- Você acabou de dizer, ah? - ele perguntou.

- Sim, e peço desculpas por isso, mas qual a melhor maneira de evitar que Carrie investigue este mistério do que colocar seu namorado na cadeia?

- Não estamos mais namorando. - disse ele.

- E todos sabem disso?

- Não exatamente.

- Depois que explicarem por que queriam você na cadeia, eles vão enquadrá-lo por estupro, por enquanto Wilkes não está disposto a matar.

- Você pensa que essa situação vai mudar? - Richard perguntou.

Toquei meus lábios inchados.

- Ele já começou a aumentar o nível de violência.

Richard inclinou-se sobre a cama até que a ponta de seu dedo tocou o machucado em meu rosto. Era um toque experimental, como uma asa de borboleta.

- Wilkes fez isto?

De repente meu coração estava batendo mais rápido.

- Não. - eu disse - Wilkes teve muito cuidado de aparecer somente depois que todos os bandidos precisavam de uma ambulância.

Richard sorriu, os dedos seguindo a borda do meu rosto logo após as contusões. - Você machucou todos eles?

Meu pulso estava batendo forte, eu tinha medo que ele pudesse vê-lo pular na minha garganta.

- Apenas um.

Richard chegou apenas um pouco mais perto de mim, sua mão direita subindo e descendo em minha bochecha.

- O que você fez com ele?

Eu não sabia se me afastava ou esfregava meu rosto contra o calor fresco de sua mão.

- Quebrei o braço e a articulação da perna dele.

- Por que fez isso? - Richard perguntou.

- Ele estava ameaçando Shang-Da, e puxou uma faca para mim. - Minha voz soou rouca.

Richard inclinou-se mais perto, puxou a toalha ridícula de sua cabeça e seus cabelos caíram, fios molhados em torno de seu rosto contra a minha pele. Seus lábios estavam tão perto de minha boca que pude sentir sua respiração.

Comecei a recuar, o travesseiro ainda em meus braços. Eu o deixei cair no chão, e olhei para o outro lado.

- Por que não, Anita? Você me quer, eu posso sentir, cheirar, saborear o seu pulso na minha língua.

- Obrigada por esse visual Richard.

- Depois de meses você ainda me quer em sua cama. Você ainda me quer.

- Isso não está certo.

- Leal a Jean-Claude agora? - ele perguntou.

- Apenas não tentando estragar o que tenho Richard. Isso é tudo.

- Lamentando a sua escolha? - ele perguntou.

Eu balancei a cabeça.

- Sem comentários.

Ele se levantou e veio para mim, levantei a mão e ele parou. O peso do seu olhar era quase palpável, como se eu pudesse sentir o que ele estava pensando, e fosse pessoal e íntimo, sobre coisas que nunca tínhamos feito antes.

- O Xerife Wilkes disse que se sairmos da cidade amanhã até o anoitecer e levarmos os nossos guarda-costas com a gente, ele simplesmente vai esquecer tudo. A acusação de estupro vai desaparecer e você poderá voltar à sua vida normal.

- Eu não posso fazer isso Anita. Estão falando sobre caçar os trolls com armas e cães. Não vou embora até que saiba que estão seguros.

Suspirei.

- As aulas começam em menos de duas semanas. Você vai ficar aqui e perder o emprego?

- Você realmente acha Wilkes vai deixá-los livres por muito tempo? - Richard perguntou.

- Não, acho que ele ou algum de seus homens vão começar a matar pessoas primeiro. Temos de descobrir por que essa terra é tão valiosa.

- Se for mineral, Greene não apresentou o relatório, o que significa que ele não precisa de permissão do governo e não precisa de parceiros.

- O que quer dizer permissão e parceiros?

- Por exemplo, se ele encontrar esmeraldas em suas terras próximo ao parque nacional, ele teria que apresentar uma reclamação e obter autorização para abrir uma mina próxima ao parque. Se encontrasse algo que precisasse explodir, de difícil mineração ou algo assim, então precisaria de parceiros para ajudá-lo a financiar o negócio. Então, ele precisa apresentar uma avaliação para mostrar seus parceiros potenciais.

- Quando você começou a estudar geologia? - Eu perguntei.

Ele sorriu.

- Temos tentado descobrir o que tem em suas terras que vale todo este trabalho. Mineral parecia ser a escolha lógica.

Concordei.

- Mineral ou não ele não tem que compartilhar essa informação, certo?

- Exatamente.

- Preciso falar com Carrie e os outros biólogos. - eu disse.

- Amanhã. - ele disse.

- Por que não esta noite?

- Porque existe a influência dos lobisomens ao luar.

- O que isso quer dizer? - Eu perguntei.

- Significa que estamos a quatro noites da lua cheia, e você é minha lupa.

- Ouvi dizer que você está levando as candidatas para o trabalho.

Ele sorriu e não estava envergonhado o suficiente.

- Você pode achar estranho, mas muitas mulheres me acham atraente.

- Você sabe que eu não acho isso estranho.

- Mas você ainda está com Jean-Claude. - disse ele.

Eu balancei a cabeça.

- Eu estou aqui Richard, tentarei evitar que você ou qualquer um do bando seja morto, mas vamos deixar as coisas pessoais de lado.

Ele acabou com a distância entre nós, eu levantei minhas mãos para evitar que ele me tocasse, minhas mãos acabaram pressionando seu peito nu. Seu coração batia contra elas como um animal encurralado.

- Não faça isso Richard.

- Eu tentei odiar você, mas não consegui.- Ele colocou as mãos sobre as minhas segurando-as contra a lisura rígida de seu peito.

- Tente com mais força. - eu disse em um sussurro.

Ele se inclinou e me puxou.

- Se você não secar o cabelo vai ter que molhá-lo novamente.

- Eu vou arriscar. - Ele continuou se aproximando com os lábios entreabertos.

Eu dei um passo para trás puxando as mãos para longe dele. Ele era forte o suficiente para não me soltar e isso ainda me incomodava.

Apoiei meu corpo na porta.

- Pare de tentar me amar Richard.

- Eu tentei.

- Então pare de tentar e apenas faça. - A porta estava encostada em minhas costas, agarrei a maçaneta sem me virar.

- Você fugiu de mim naquela noite, fugiu de mim e correu para Jean-Claude. Levantou um escudo em volta de seu corpo para me manter afastado.

Eu abri a porta, mas de repente ele estava ali segurando-a semi aberta. Comecei a puxar a porta e era como puxar uma parede. Sua mão pressionou a porta contra a força do meu corpo inteiro e eu não conseguia movê-la. Eu odiava a fraqueza.

- Deixe-me ir Richard.

- Acho que você tem medo de amar mais a mim do que a Jean-Claude. Pelo menos com ele você sabe que não é amor.

Coloquei meu corpo na porta o suficiente para que ele não pudesse fechá-la, mas parei de puxar. Olhei para ele, em cada centímetro de seu lindo rosto.

- Não posso amar Jean-Claude da mesma forma que amo você.

Ele sorriu.

- Não seja arrogante. - eu disse - Eu amo Jean-Claude, mas o amor não é suficiente Richard. Se fosse, eu não estaria com ele agora, estaria com você, mas eu não estou, e o amor não é suficiente. Agora abra esta maldita porta.

Ele deu um passo para trás.

- O amor pode ser o suficiente Anita.

Eu balancei a cabeça e saí na escada, a escuridão era espessa e palpável, mas não era sólida.

- Da última vez que você me ouviu, matou pela primeira vez e não se recuperou disso. Eu deveria ter atirado em Marcus para você.

- Eu nunca a perdoaria por isso. - disse ele.

Eu fiz um som áspero que era quase uma risada.

- Pelo menos você não estaria se odiando. Eu seria o monstro, não você.

Seu rosto bonito ficou muito solene, toda a luz fugiu dele.

- Tudo o que eu faço, onde quer que eu vá Anita, eu sou o monstro. Você me deixou por causa do que sou.

Desci os degraus olhando para ele. Não havia luz dentro da cabana, e Richard estava em uma sombra mais escura do que a noite.

- Eu pensei que você tinha dito que te deixei porque tinha medo de amar.

Ele parecia confuso por um segundo, sem saber como lidar com sua própria lógica jogada em seu rosto. Ele finalmente olhou para mim.

- Você sabe por que me deixou?

Eu queria dizer: - Porque você comeu Marcus, - mas não disse. Não poderia dizer olhando para seu rosto, tão pronto a acreditar no pior de si mesmo. Ele não era mais problema meu, então, por que me importava como o seu ego ferido? Boa pergunta. Eu estava sem as respostas. Além disso, talvez houvesse alguma verdade no que Richard estava dizendo. Eu não sei mais de nada.

- Vou para meu quarto agora Richard, não quero falar sobre isso.

- Medo? - ele perguntou.

Respondi sem me virar.

- Cansada.

Continuei a andar sabendo que ele estava me olhando. A área do estacionamento estava vazia, eu não sabia onde Jamil e os outros tinham ido, e não me importei, precisava de algum tempo sozinha.

Andei com a suave escuridão de verão. Havia uma sobrecarga de estrelas brilhantes entre a escuridão das folhas, seria uma bela noite. Em algum lugar ao longe, um grito alto e claro dava as boas vindas a escuridão. Richard tinha dito algo sobre a influência dos lobisomens ao luar. Nós íamos nos encontrar com o bando local. Deus, eu odiava festas.


10

Encostei-me na porta da minha cabana, olhos fechados, respirando o ar fresco. Eu tinha ligado o ar-condicionado para os meus dois convidados. Os caixões estavam no chão entre a mesa e a cama. Sob as profundezas do Circo dos Malditos, Damian e Asher só dormiam na escuridão total, não tinha certeza se aconteceria ou não na superfície. Na verdade eu tinha sido parcialmente egoísta. Vampiros em lugares fechado tendiam a cheirar bem. Eles não tinham cheiro de cadáveres, era como o cheiro das cobras ou algo parecido, um cheiro de pescoço transformado, espesso, almiscarado, mais répteis do que mamíferos, por isso liguei o ar. Como eu poderia dormir com um deles? Abri os olhos, estava escuro na cabana, mas havia um raio fraco de iluminação através das duas janelas. Um leve toque de luz brilhava contra os pés dos caixões. Um pequeno toque de luz natural era suficiente para manter os dois vampiros em estado de coma, mortos em seus caixões, esperando a verdadeira escuridão. Eu sabia que eles ainda estavam à espera, me concentrei um pouco e soube que ainda estavam mortos para o mundo.

Caminhei entre os caixões até o banheiro, fechei e tranquei a porta. A escuridão parecia muito sólida. Acendi a luz, era branca e dura após a escuridão. Fiquei piscando na luminosidade.

Me surpreendi ao me olhar no espelho. Eu realmente não tinha visto os hematomas ainda. O canto do meu olho esquerdo era uma sombra maravilhosa de preto e roxo. Só de olhar parecia doer mais.

Meu rosto do lado esquerdo era uma sombra maravilhosa de castanho esverdeado. Um verde doentio que normalmente leva dias para sarar. Meu lábio estava inchado, ainda podia ver a borda de pele escura onde tinha sangrado. Passei minha língua dentro da boca e pude sentir o cume onde minha bochecha tinha sido forçada contra os dentes, mas estava curada. Olhei para o espelho e percebi que deveria doer muito, más não estava tão ruim quanto deveria.

Levei alguns momentos para descobrir isso. Quando finalmente percebi o que estava acontecendo uma onda de medo me percorreu dos pés a cabeça. Senti-me quase desmaiar.

Eu estava me curando, estava curando uma lesão de dias em apenas algumas horas. Neste ritmo as contusões desapareceriam pela manhã. Eu deveria ficar com as marcas de luta por dia, uma semana pelo menos. Que diabos estava acontecendo comigo?

Senti Damian acordar em seu caixão. Eu sentia como uma facada no meu corpo. Me encostei contra a pia, sabia que ele estava com fome, e que ele me sentia por perto. Eu era a serva humana de Jean-Claude, obrigada pelas marcas que só a morte poderia romper, mas Damian era meu. Eu ressuscitei ele e outro vampiro, Willie McCoy, mais de uma vez. Eu os chamei de seus caixões durante o dia abrigados no subsolo, mas o sol estava queimando brilhante quando fiz isso. Um necromante havia dito que fazia muito sentido. Nós só podíamos levantar zumbis após as almas fugirem dos corpos, então eu só podia levantar os vampiros quando suas almas fugiam para o dia.

Eu não ia debater o tema vampiros e almas, minha vida já era complicada o bastante sem discussões religiosas. Eu sei, eu sei, estava apenas adiando o inevitável. Se eu ficasse com Jean-Claude teria que enfrentar todas as questões. Mas não esta noite.

Levantar Damian tinha forjado algum tipo de ligação entre nós. Eu não entendia e não tinha ninguém para pedir conselhos. Eu era a primeira necromante em centenas de anos que poderia levantar tanto os vampiros como os zumbis. Isso me assustou e Damian me assustava mais. Francamente, eu não o culpo.

Asher acordou também? Concentrei-me sobre ele, mandei o poder, a magia, o que diabos fosse, para fora. Ele me sentia, estava acordado e consciente de mim.

Asher era um vampiro mestre, não tão poderoso como Jean-Claude, mas um mestre. Isso lhe deu certas habilidades que Damian, muito mais velho dos dois, nunca teria. Sem o vínculo entre nós, Damian não teria me sentido procurar por ele.

Eu queria alguns minutos para ficar sozinha e pensar, e não estava conseguindo. Não queria que chamassem por mim. Abri a porta piscando na escuridão.

Os vampiros eram pálidas sombras na escuridão, acendi a luz do quarto. Asher colocou a mão para proteger os olhos da luz, mas Damian apenas piscou. Eu queria que eles se acovardassem na luz, queria que me olhassem monstruosamente, mas não fizeram isso.

Damian era ruivo de olhos verdes, seu cabelo caia como uma cortina vermelha em torno de seu peito, o cabelo tão vermelho que parecia sangue derramado contra a seda verde da camisa. A camisa era de um verde mais pálido do que seus olhos. Eles eram como fogo líquido, se o fogo pudesse queimar verde. Não era o poder de vampiro que fazia seus olhos brilharem, era a cor natural, como os de um gato. Asher era loiro de olhos azuis, mas novamente a descrição não lhe fazia justiça. As ondas de seus cabelos compridos eram cor de ouro. Não quero dizer loiro, quero dizer ouro. Seu cabelo era quase metálico em seu brilho cintilante, olhos de um azul tão pálido que eram quase brancos, como os olhos de um husky siberiano.

Ele usava uma camisa branca, calça castanho e sapatos de couro sem meias. Eu passei muito tempo em torno de Jean-Claude para chamá-lo de excêntrico.

Se você fosse comparar, Asher era o mais bonito dos dois. Damian era bonito mas tinha pequenas imperfeições que poderiam passar despercebidos se não tivesse Asher para comparar, ele era maravilhosamente bonito como um querubim medieval, metade dele pelo menos.

A beleza na metade da face de Asher atraiu um vampiro mestre a ele séculos atrás. A outra metade estava coberta de cicatrizes feitas por água benta. As cicatrizes começaram cerca de um centímetro da linha média do seu rosto no centro de seus olhos, nariz e os bochechas, um lado permaneceu intocado e perfeito, mas o resto era como cera derretida. Seu pescoço era pálido e perfeito, mas eu sabia que as cicatrizes continuaram em seus ombros. A parte superior do corpo era pior do que o rosto, cicatrizes ásperas e sem caroço. Mas como o rosto, apenas a metade do seu corpo estava marcado, a outra metade ainda era encantadora.

As cicatrizes chegavam até sua coxa, mas nunca o tinha visto completamente nu. Eu aceitei sua palavra de que elas cobriam o espaço entre as pernas. Ele nunca afirmou se ainda era capaz de fazer sexo, mas foi marcado. Eu não sabia ao certo, e não queria saber.

- Onde estão os seus guarda-costas? - Asher perguntou.

- Meus guarda-costas? Você quer dizer Jason e os outros peludos?

Asher assentiu, seu cabelo dourado caiu para a frente sobre as cicatrizes de seu rosto, era um velho hábito. O cabelo as escondiam ou quase. Ele poderia usar as sombras da mesma maneira, sempre parecia saber exatamente onde a luz batia-lhe. Séculos de prática.

- Não sei onde estão. - eu disse - Acabei de falar com Richard, acho que pensaram que precisávamos de privacidade.

- Você precisa de privacidade? - Asher perguntou, ele olhou para mim usando as cicatrizes e a beleza para um duplo efeito. Ele não parecia feliz por algum motivo.

- Não é da sua maldita conta. - disse eu.

Damian sentou-se ao pé da cama com cuidado, alisou a colcha azul com suas mãos de dedos longos e pálidos.

- Não, nesta cama você não fez nada. - disse ele.

Eu fui para o lado da cama e olhei para ele.

- Se um vampiro me disser que pode sentir o cheiro de sexo eu vou gritar.

Damian não sorriu, ele nunca foi um verdadeiro campista feliz, mas recentemente estava mais sério que o habitual, ficou ali sentado olhando para mim. Jean-Claude ou até Asher teriam sorrido, provocado. Damian apenas olhou para mim com os olhos tristes.

Estendi a mão para tocar seu ombro e tive que tirar uma mecha de seu cabelo para alcançá-lo. Ele se afastou do meu toque como se estivesse machucado. Ficou de pé e foi para perto da porta, fiquei com minha mão no ar, perplexa.

- O que há de errado com você, Damian?

Asher veio para o meu lado, descansou as mãos levemente em meus ombros.

- Tem toda a razão Anita. O que você faz com Monsieur Zeeman não é da minha conta.

Enfiei a minha mão sobre a sua, entrelaçando nossos dedos. Lembrei-me da sensação de sua pele fria contra a minha. Debrucei minhas costas contra ele puxando seus braços em volta de mim, e eu não era alta o suficiente. Não era minha memória, era de Jean-Claude. Asher e ele tinham sido companheiros há muitos anos.

Suspirei e comecei a me afastar.

Asher apoiou o queixo no topo da minha cabeça.

- Você precisa dos braços de alguém onde não se sinta ameaçada.

Debrucei-me contra ele, olhos fechados, e o deixei me segurar por alguns momentos

- A única razão disso ser tão bom é que estou me lembrando de alguém com prazer.

Asher beijou o topo da minha cabeça suavemente.

- Isso porque você me vê através da nostalgia das memórias de Jean-Claude, você é a única mulher em mais de duzentos anos que não me trata como uma aberração de circo.

Debrucei meu rosto na curva de seu braço.

- Vocês são devastadoramente belos Asher.

Ele alisou meu rosto machucado.

- Para você, talvez. - Inclinou-se sobre mim e colocou o mais suave dos beijos na minha bochecha.

Eu me afastei delicadamente, quase relutante, me lembrei que Asher era mais simples do que qualquer coisa que eu tinha visto nesta vida, ele não tentou me segurar.

- Se você já não estivesse apaixonada por dois outros homens, a forma como olha para mim poderia ser o suficiente.

Suspirei.

- Sinto muito Asher, não deveria gostar de tocar em você, não é justo. - Eu não sabia como colocar em palavras.

- Você me trata como um velho amante. - disse Asher. - Esquece e me toca como se já tivesse me tocado antes. Não peça desculpas por isso Anita, eu gosto. Ninguém me tocaria tão livremente.

- Jean-Claude tem vontade. - eu disse - Estas são as suas memórias.

Asher sorriu e era quase doloroso.

- Ele é leal a você e ao Sr. Zeeman.

- Ele disse isso a você?- Eu perguntei e desejei não tê-lo feito.

O sorriso de Asher se iluminou.

- Se você não o divide com outra mulher, realmente o dividiria com outro homem?

Pensei sobre isso por um segundo ou dois.

- Bem, não. - Fiz uma careta para ele. - Por que eu sinto que devo me desculpar por isso?

- Porque você compartilha as memórias dele quando dividíamos Juliana entre nós. Fomos um ménage à trois muito feliz por muito tempo.

Juliana tinha sido a serva humana de Asher, ela acabou queimada como bruxa pelas mesmas pessoas que o tinham marcado. Jean-Claude não conseguiu salvar os dois. Eu não tinha certeza se ele tinha verdadeiramente perdoado Jean-Claude por isso.

Damian disse:

- Sem querer interromper, eu preciso me alimentar. - Ele estava em pé ao lado da porta abraçando-se como se estivesse com frio.

- Você quer que eu abra a porta e grite pelo jantar? - Eu perguntei.

- Quero permissão para ir me alimentar. - disse ele.

Eu fiz uma careta e disse:

- Vá encontrar um de nossos doadores, caminhe e ajude a si mesmo. Apenas o nosso povo, não podemos caçar aqui.

Damian assentiu levantando-se como se tivesse curvado em si mesmo. Eu podia sentir que ele estava com fome, mas não era a fome que o deixava tão mal-humorado.

- Eu não vou caçar.

- Bom. - eu disse.

Ele hesitou com a mão na maçaneta, voltou-se para mim com a voz baixa.

- Posso caçar um animal?

Olhei para Asher.

- Ele está falando com você?

Asher balançou a cabeça.

- Acho que não.

- Claro, se isso ajudar.

Damian abriu a porta e saiu deixando a porta entreaberta.

- Qual é o problema dele ultimamente? - perguntei.

- Acho que ele deve responder a essa pergunta. - disse Asher.

Virei-me e olhei para ele.

- Isso significa que você não pode ou não quer responder?

Asher sorriu e mostrou seu rosto livremente, mesmo a pele marcada. Ele estava se consultando com um cirurgião plástico em Saint Louis. Ninguém jamais tentou reparar ferimentos causados por água benta em vampiros, por isso ninguém sabia se poderia ser feito, mas os médicos estavam esperançosos. Esperançosos e cautelosos. A primeira operação estava muito longe ainda.

- Significa Anita, que alguns medos são muito pessoais.

- Você está dizendo que Damian tem medo de mim?

- Estou dizendo que você deve falar diretamente com ele se quiser respostas.

Suspirei.

- Ótimo, era só o que eu precisava, outro macho complicado na minha vida.

Asher riu e seu riso deslizou ao longo dos meus braços nus como um toque, dando um toque de prazer. O único outro vampiro que poderia fazer isso era Jean-Claude.

- Pare com isso. - eu disse.

Ele fez uma reverencia.

- As minhas desculpas mais sinceras.

- Besteira, vá jantar. Acho que os lobisomens estão planejando algum tipo de festa ou cerimônia.

- Você precisa de um de nós com você em todos os momentos Anita. Jean-Claude nos deu um ultimato.

Olhei para ele e não consegui esconder a surpresa do meu rosto.

- Você acha realmente que ele o mataria se acontecesse alguma coisa comigo?

Asher apenas olhou para mim com os seus pálidos olhos claros.

- Sua vida significa mais para ele do que a minha Anita. Se não fosse assim, ele estaria na minha cama e não na sua.

Ele tinha um ponto, mas ...

- Seria preciso matar algo dentro dele para que te matasse.

- Mas ele faria isso.

- Porquê? Por que ele disse que faria isso?

- Não, porque ele sempre me pergunta se eu permitiria que você morresse como vingança por sua incapacidade de proteger Juliana.

- Ah. - Abri a boca para dizer mais e o telefone tocou. Era a voz de Daniel baixo e em pânico, apoiado pela música country.

- Anita, estamos no Cowboy Feliz na estrada principal. Pode vir para cá?

- O que aconteceu Daniel?

- Mamãe rastreou a mulher que acusou Richard. Ela está determinada a fazê-la parar de mentir.

- Elas ainda estão brigando? - Eu perguntei.

- Gritando.

- Você supera sua mãe por mais de cem quilos Daniel. Basta atirá-la sobre seu ombro e tirá-la de daí. Ela só vai piorar as coisas.

- Ela é minha mãe, não posso fazer isso.

- Merda. - disse eu.

Asher perguntou:

- O que aconteceu?

Eu balancei a cabeça.

- Eu vou até aí, Daniel, mas você está sendo um covarde.

- Prefiro bater em cada homem no bar do que na minha mãe. - disse ele.

- Se ela realmente fizer uma cena, você pode ter sua chance.- desliguei. - Não posso acreditar nisso.

- O que aconteceu? - Asher perguntou novamente.

Expliquei o mais rápido que pude. Daniel e Sra. Zeeman estavam hospedados em um motel próximo. Richard não os queria nas cabanas com tantos lincantropos correndo. Agora eu queria que estivéssemos perto de casa.

Teria sido agradável trocar a blusa salpicada de sangue, mas estávamos sem tempo. Não há descanso para os bons.

O verdadeiro truque era o que fazer com Richard. Ele queria vir junto e eu não o queria perto da Srta. Betty Schaffer.

Legalmente ele poderia entrar no bar e se sentar ao lado dela. Não havia ordem judicial para ficar longe, mas se o delegado percebesse que não estávamos saindo da cidade, usaria qualquer desculpa para colocar Richard atrás das grades. Acho que Richard teria uma visita desagradável se fosse preso uma segunda vez, a emboscada tinha saído pela culatra, eles estariam frustrados e com medo, não tinham ferido Richard desta vez. Inferno, poderiam machucar a sua mãe. Charlotte Zeeman e eu teríamos uma pequena conversa, eu vinha pensando nisso. Eu preferia enfrentar uma briga de bar pesada do que ter uma conversa com ela. Pelo menos ela não era a minha mãe e isso era quase reconfortante.


11

Richard e eu fizemos um acordo, ele viria comigo e ficaria no carro. Eu trouxe Shang-Da, Jamil, e Jason para ter certeza que ele ficaria no carro, mas se a situação ficasse crítica não tinha certeza se me ouviria, nem mesmo se fosse para seu próprio bem. Foi o melhor que pude fazer. Algumas noites que tem de ser suficiente, porque isso é tudo que você tem.

O Cowboy Feliz era um dos piores nomes para um bar que eu já tinha ouvido falar, ficava na estrada principal. Era um prédio de dois andares que supostamente foi construído para ser uma cabana. Talvez fosse o cavalo com seu cavaleiro néon, as luzes davam a ilusão de que o cavalo estava pulando para cima e para baixo, junto com o braço e chapéu de cowboy. Ele não parecia particularmente feliz montando o cavalo de neon, talvez fosse só a minha opinião. Eu certamente não estava feliz por estar aqui.

Richard dirigia o seu 4X4, ele finalmente conseguiu secar seu cabelo e parecia uma espuma espessa ondulada em torno de seu rosto e ombros. Parecia tão suave que eu queria mergulhar as mãos nele. Ele usava uma camiseta verde aninhada em seus jeans e sapatos de corrida branco.

Jamil e Shang-Da estavam com a espingarda no banco de trás. Jamil ainda usava a camiseta cortada, mas Shang-Da havia mudado de roupa. Ele estava todo de preto, dos seus sapatos de couro macio a calça com cinto, camisa de seda e casaco de corte de alfaiataria. O cabelo curto para trás parecia uma colheita de espigas em cima de sua cabeça, ele parecia relaxado com a roupa e os cabelo, também parecia totalmente fora do lugar no Cowboy Feliz. Claro que, sendo alto e negro ele não poderia se misturar. Talvez ele, como Jamil, estivesse cansado de tentar.

Era por isso que Jason, ainda em seu terno azul, estava com a gente. Nathaniel queria vir, mas não tinha idade suficiente para entrar em um bar. Eu ainda não sabia o quanto Zane era bom em uma situação de estresse, com Cherry sempre tive uma vaga sensação de proteção, assim como Jason.

- Se você não voltar em quinze minutos, nós vamos atrás de você. - disse Richard.

- Trinta minutos. - Eu disse. Não queria Richard perto da Srta. Betty Schaffer.

- Quinze. - disse ele, a voz muito calma, muito baixa, muito grave. Eu conhecia esse tom de voz.

- Tudo bem mas lembre-se, se você for preso novamente sua mãe pode ir com você.

Seus olhos se arregalaram.

- Do que você está falando?

- O que Charlotte vai fazer se vir seu filho sendo arrastado para a prisão?

Ele pensou nisso por um segundo, em seguida abaixou a cabeça. Colocou a testa no volante.

- Ela lutaria por mim.

- Exatamente. - eu disse

Ele levantou o rosto e olhou para mim.

- Vou ficar aqui por causa dela.

Eu sorri.

- Eu sabia que não era por minha causa. - Saí do carro antes que ele pudesse responder.

Jason acertou o passo ao meu lado, ajeitou a gravata e abotoou o primeiro botão do paletó. Ele também tentou colocar seu cabelo fino de bebê para trás, mas ele escapou de todos os esforços em pequenas mechas.

Fomos parados na porta por um cara musculoso em uma camiseta azul escura. A platéia foi dividida quase ao meio. Havia o pessoal que usava jeans apertados e botas de cowboy, e outros com saias curtas e jaquetas. Algumas das mulheres usavam botas de cowboy e saias curtas, outras usavam jaquetas jeans. Era o único bar num raio de vinte milhas, e servia comida. Onde mais você iria em uma noite de sexta-feira? Eu teria dado um passeio ao luar, mas não beberia. Vinha pensando sobre isso, eu não sabia dançar e não bebia, no entanto Jean-Claude estava trabalhando em ambos. Corrupção em cada encontro. Uma banda ao vivo tocava música country tão alta que poderia muito bem ser rock pesado. Uma névoa de fumaça de cigarro flutuava sobre tudo como um nevoeiro da madrugada. A entrada era em uma pequena plataforma levantada para que você pudesse olhar ao redor antes de mergulhar no mar de corpos. Charlotte é na verdade uma ou duas polegadas mais baixa do que eu, assim não me incomodei em procurar por ela, procurei por Daniel. Quantos caras altos, rostos ovais, cabelos compridos nos ombros poderia haver? Mais do que você pensa.

Eu finalmente o avistei perto do bar porque ele estava acenando para mim. Ele também amarrou seu cabelo para trás em um rabo de cavalo muito apertado, razão pela qual não o localizei pelo cabelo. Seu cabelo era quase idêntico ao de Richard, exceto que era de um castanho sólido, um castanho rico. Sua pele era da mesma tonalidade bronzeada como seu irmão. A mesma altura, maçãs do rosto esculpido, olhos castanhos sólido, até a mesma covinha no queixo. Richard era um pouco mais largo, com ombros e peito musculosos, apenas fisicamente mais imponente. Todos os irmãos se pareciam, o mais velho tinha cortado seu cabelo, um deles era quase loiro, e o do pai estava um pouco cinzento, mas os cinco homens Zeeman eram um tratamento de testosterona.

A matriarca desta pilha de beleza masculina estava à dois metros de seu filho. Charlotte Zeeman tinha o cabelo curto e loiro que emoldurava um rosto que parecia ter pelo menos dez anos a menos. Usava um paletó amarelo-manteiga sobre um vestido folgado. Ela estava enfiando o dedo no peito de uma loira alta.

A segunda mulher tinha uma juba de cabelos loiros ondulados, mas eu apostava que nem a cor nem as ondas eram naturais. Tinha de ser Betty Schaffer, o nome não combinava com ela, parecia alguém chamada Farrah ou Tiffany.

Eu ataquei a multidão com Jason atrás de mim. A multidão era grossa o suficiente para que eu parasse de pedir desculpas e começasse a empurrar.

Um homem alto de camisa xadrez me parou com uma mão no meu ombro.

- Posso te pagar uma bebida mocinha?

Olhei em volta e peguei a mão de Jason, levantei-a onde era visível.

- Obrigada e desculpe. - Havia mais de uma razão para ter trazido Jason a um bar em uma noite de sexta-feira.

Ele olhou para Jason fazendo uma demonstração de como era mais alto.

- Você não quer alguém um pouco maior?

- Eu gosto deles pequenos. - disse eu, a minha cara muito séria. - Torna o sexo oral mais fácil.

Deixamos ele sem fala. Jason estava rindo tanto que mal conseguia mover seus pés. Puxei-o no meio da multidão segurando sua mão para que todos os outros homens vissem.

A multidão estava abrindo espaço ao redor do bar. As pessoas haviam formado um semicírculo em torno de Charlotte, Betty, e Daniel. Ele estava atrás de sua mãe colocando a mão em seu ombro ou tentando puxá-la de volta. Ela se encolheu e o ignorou.

Charlotte levantou o dedo no rosto da mulher. Eu estava perto o suficiente para pegar uma ou outra palavra acima do barulho da banda.

- Filha de uma puta ... ... o meu filho ... estuprador ...- Charlotte estava gritando com a mulher.

Betty era alta, mas as botas de salto a deixava ainda maior. Jeans pintado, blusa quadriculada, e não havia nenhum sutiã. Ela tinha seios pequenos o suficiente para não precisar de um, mas ainda era visível. Parecia uma prostituta de cowboy, era difícil acreditar que Richard estava saindo com ela. Isso me fez pensar o pior dele.

Dois caras grandes usando camisetas que combinavam com o cara da porta estavam à beira da multidão. Acho que estavam perplexos com Charlotte. Ela era pequena e feminina, e não havia atingido ninguém ainda, também parecia mais velha do que o público geral, mas realmente não se parecia com a mãe de ninguém.

Betty finalmente teve o bastante. Ela estava gritando de volta palavras como:

- Ele fez, estuprador, bastardo.

Deixei Jason ao lado dos seguranças e ambos olharam para mim. Charlotte foi quem mais se assustou, seus grandes olhos castanhos se arregalaram. Ela disse, - Anita! - como se ninguém lhe tivesse dito que eu estava na cidade.

Eu sorri.

- Oi Charlotte, podemos conversar lá fora? - Tive que colocar meu rosto quase ao lado dela para ser ouvida.

Ela balançou a cabeça.

- Esta é a prostituta que mentiu sobre Richard.

Concordei.

- Eu sei, vamos embora.

Charlotte balançou a cabeça novamente.

- Eu não vou sair até que ela diga a verdade. Richard não a violentou.

Estávamos gritando com nossos rostos quase se tocando para ser ouvido.

- Claro que ele não fez isso. - eu disse - A água é molhada, o céu é azul, e Richard não é um estuprador.

Charlotte olhou para mim.

- Você acredita nele?

Concordei.

- Consegui soltá-lo sob fiança, ele está esperando por você lá fora.

Os olhos dela ficaram mais amplos, então ela sorriu e foi lindo. Era um daqueles sorrisos que faz você se sentir quente até os dedos do pé, Charlotte era assim. Quando ela estava feliz, todos em torno dela ficavam felizes. Quando não estava ... bem, isso transbordava também.

Ela gritou no meu ouvido:

- Vamos ver Richard.

Virei-me para a multidão e ouvi um suspiro. Virei-me para ver Betty Schaffer ensopada com o resto de uma cerveja. Betty bateu em Charlotte, e Charlotte devolveu o favor com um punho fechado.

Betty subitamente caiu de bunda no chão piscando para nós.

Os seguranças se mexeram assim como Charlotte que foi para cima para terminar o trabalho. Eu joguei Charlotte em cima do meu ombro, ela pesava mais do que parecia e estava lutando. Ao contrário da maioria das mulheres, ela era boa na luta. Eu não queria magoar Charlotte, mas ela não estava retornando o favor. Ela me chutou no joelho e a joguei no chão duro.

Ela ficou lá por um segundo respirando rapidamente, olhando para mim. Daniel avançou para ajudá-la e eu o impedi com a mão em seu peito.

- Não.

A banda havia caído em silêncio com uma corda de violão twangy passado. No silêncio repentino, minha voz soou alta:

- Você pode sair daqui sobre seus próprios pés, ou pode ser carregada inconsciente Charlotte. A escolha é sua, mas você está saindo.

Eu me abaixei em um joelho com cuidado porque Charlotte não luta como uma menina. Abaixei minha voz e disse em seu ouvido.

- Richard virá até aqui para saber o que está acontecendo, se ele chegar perto dela novamente a polícia local vai revogar a sua fiança e prendê-lo de novo. Era parcialmente verdade. Legalmente, ele tinha todo o direito de entrar no bar, mas eu apostava que Charlotte não sabia disso. A maioria dos cidadãos cumpridores da lei não sabe.

Charlotte me olhou por um segundo a mais, então ofereceu-me uma mão. Ajudei-a a se levantar ainda cautelosa. Ela tinha um temperamento infernal uma vez que ficasse zangada.

Passamos através da multidão com Daniel e Jason se arrastando atrás de nós. Ninguém nos barrou quando chegamos na porta, eles olharam, mas não fizeram nada.

O segurança na porta disse:

- Ela não volta mais aqui.

Charlotte abriu a boca para dizer alguma coisa, e agarrei seu ombro.

- Não se preocupe, ela não vai voltar.

Ele olhou para Charlotte e concordou.

Deixei-a dar três bons passos à minha frente, até que chegamos ao estacionamento. Chame de instinto. Ela rodopiou e acho que teria me batido, mas eu estava fora de alcance. Ela olhou para mim com aqueles grandes olhos castanhos.

- Nunca mais coloque as mãos em mim. - disse ela.

- Comporte-se como a mãe de Richard e não como sua namorada indignada, e com certeza eu não farei isso de novo.

- Como você ousa! - Ela se aproximou e eu me fastei. Realmente não queria uma briga no estacionamento de um bar com a mãe dele.

- Se alguém deveria brigar com a merda da Sra. Loira Óxigenada, esse alguém deveria ser eu.

Ela parou e olhou para mim, eu quase podia ver a sua sanidade retornar.

- Mas você não está namorando mais com ele. Por que se importa?

- Essa é uma questão de sessenta e quatro mil dólares, não é?- Eu disse.

Charlotte sorriu de repente.

- Eu sabia que você não resistiria ao meu menino, ninguém pode.

- Se ele mantivesse o namoro à vista, eu poderia.

Ela franziu a testa.

- Não posso acreditar que ele se encontrava com aquela coisa. - disse ela.

Nós duas nos viramos e assistimos Richard caminhar em nossa direção. Havia uma expressão quase idêntica em nossos rostos, desaprovávamos Betty Schaffer, e muito.

Suas primeiras palavras foram:

- Não posso acreditar que você saiu com essa mulher, ela é uma prostituta.

Richard parecia constrangido, mais do que eu o tinha visto na vida.

- Eu sei que é.

- Você teve relações sexuais com ela?

- Mãe!

- Não me chame de mãe, Richard Alarico Zeeman.

- Alarico?! - disse eu.

Richard poupou-me uma careta, então voltou para sua mãe.

- Não, eu nunca dormi com Betty.

Ele estava dizendo que nunca teve relações sexuais com ela. Charlotte o obrigaria a dizer tudo o que tinha acontecido, assim como eu. Lembrei-me do que Jamil tinha dito sobre alternativas, mas me mantive calma. Não queria perturbar Charlotte, e não queria saber.

- Bem, pelo menos isso mostra que você ainda pensa. - disse Charlotte. Ela caminhou até ele e alisou a frente da sua camiseta, em seguida abaixou a cabeça, e percebi que estava chorando.

Eu não poderia ficar mais surpresa se ela o tivesse mordido, talvez menos.

Richard se mostrava desamparado, ele olhou para mim como se pedisse ajuda. Balancei a cabeça, eu não era melhor que ele em consolar mulheres nesta situação.

Ele a abraçou. Ouvi-a murmurar:

- Eu estava tão preocupada com você nessa prisão terrível.

Me afastei e Daniel se juntou a mim, ele não parecia ansioso para se juntar a eles também. Claro, Charlotte não tem que chorar para abater Daniel.

- Obrigado, Anita. - ele disse.

Eu olhei para ele, usava uma camiseta vermelha que era quase idêntica a que Richard tinha, acho que era a mesma. Ele parecia bronzeado e bonito e muito crescido.

- Você é enérgico com todos, menos com seus pais. Por que?

Ele deu de ombros.

- Não é todo mundo assim?

Eu balancei a cabeça.

- Não.

Jason chegou ao nosso lado e então riu.

- Minha mãe nunca teria se metido em uma briga de bar, não importa o que eu fizesse. Ela é muito ... decente.

- Decente? - eu perguntei.

- Meu último companheiro de quarto tinha um palavrão no calendário. - disse Jason.

- Você tem lido novamente? - perguntei.

Ele abaixou a cabeça, olhar envergonhado, então encarou meus olhos e sorriu. Era uma mistura total de vergonha e delicadeza, eu ri.

- Eu não posso doar sangue e fazer sexo vinte e quatro horas por dia. Não há nenhuma televisão no Circo dos Malditos.

- E então?- Eu perguntei.

- Eu ainda leio, mas não diga a ninguém.

Coloquei um braço sobre seus ombros.

- Seu segredo está seguro comigo.

Daniel pôs o braço em volta de Jason do outro lado e disse:

- Minha boca é um túmulo.

Caminhamos para o carro de braços dado.

- Se Anita estivesse no meio, isso seria perfeito. - disse Jason.

Daniel parou olhando para Jason. Eu me afastei de ambos.

- Você não sabe quando parar, não é Jason?

Ele balançou a cabeça.

- Não.

Richard caminhou até nós. Mandou Daniel ficar com sua mãe, e ele não discutiu a ordem. Enviou Jason para o carro, e ele também não discutiu. Fiquei olhando para seu rosto sério, aposto que eu discutiria com ele.

- O que foi agora?- Eu perguntei.

- Vou ter que ir com Daniel e minha mãe para acalmá-la.

- Certo, mas aí tem coisa. - disse eu.

Ele sorriu.

- Hoje haverá uma cerimônia que deve ser cumprida pela lupa. É o habitual quando dois bandos se encontram na lua cheia, serão formalmente apresentados. - Como formalmente?- perguntei. - Não sabia que os bandos eram formais.

Ele deu um sorriso maravilhoso igual ao de sua mãe. Seu humor era contagioso. - Quando eu digo formal Anita, quero dizer que haverá ritos a serem observados. - Ritos, como o quê? - Eu perguntei, parecia suspeito até para mim.

Ele me abraçou de forma espontânea, não como namorado, apenas um abraço de felicidade.

- Eu perdi você, Anita.

Eu o empurrei para longe.

- Eu faço um comentário suspeito e você diz que me perdeu. Eu não acredito Richard.

- Eu amo tudo em você Anita, até mesmo as partes suspeitas.

Eu balancei a cabeça.

- Faro para os negócios, Richard. Que tipo de ritos?

O sorriso desvaneceu-se, o bom humor morreu em seus olhos. Ele parecia triste e de repente eu queria voltar atrás para vê-lo sorrir novamente. Nós não éramos mais um par, ele tinha saído com a pequena Srta. Schaffer, a prostituta cowboy. Eu não entendia nada disso, ela me confundia ainda mais que Lucy.

- Tenho que ficar com minha mãe por um tempo. Jamil e Shang-Da podem explicar o que você tem que fazer como minha lupa.

Eu balancei a cabeça.

- Um dos guarda-costas permanece com você Richard. Não me importa quem, você não pode ficar sozinho.

- Mamãe não vai entender um acompanhante que não seja da família.- disse Richard.

- Não vou levar todos comigo, Richard. Eu já tive o suficiente por uma noite. Explique como quiser mas você não vai sair por aí sem um segurança.

Ele olhou para mim, e seu belo rosto estava sério e arrogante.

- Eu sou o Ulfric, Anita. Não você.

- Sim, você é o Ulfric Richard. Você está no comando, tudo bem, então faça um bom trabalho.

- O que isso quer dizer?

- Significa que se encontarem você sozinho à noite, não vão esperar para saber se você vai embora amanhã. Um deles pode ficar um pouco ansioso e tentar machucá-lo.

- Se não usarem balas de prata não podem me matar.

- E como você vai explicar para sua mãe que sobreviveu a um tiro de espingarda no peito?- Eu perguntei.

Ele olhou para ela.

- Você corta direto no osso. - disse ele.

- Isso economiza tempo.

Ele se voltou para mim, a irritação estava em seus olhos escuros, devastando seu rosto.

- Eu te amo Anita, mas às vezes não gosto muito de você.

- Não é de mim que você não gosta Richard,é desta situação. Você está com medo de que sua "Querida Mamãe" descubra que é um metamorfo, ela vai pensar que você é um monstro.

- Não me chame assim.

- Desculpe, mas ainda é a verdade. Acho que você está menosprezando Charlotte. Você é o filho dela, e ela te ama.

Ele balançou a cabeça.

- Não quero que ela saiba.

- Tudo bem, mas escolha um guarda-costas. Porque não conta para sua mãe que ele é uma segurança no caso da polícia tentar criar problemas? É a verdade.

- Não, não é. - disse Richard.

- As melhores mentiras são sempre parcialmente verdadeiras Richard.

- Você é muito melhor do que eu em mentiras. - ele disse. Olhei para a raiva nas palavras, mas não havia nada. Era apenas uma constatação de fato que deixou o seu olhar vazio e triste.

Eu estava cansada de desculpas, então não sabia o que dizer.

- Você pode levar o meu carro e eu levo o seu 4X4 de volta para a pousada.

Ele balançou a cabeça.

- Vou levar Shang-Da comigo, ele não gosta muito de você.

- Pensei que isso havia mudado depois da luta desta tarde. - eu disse.

- Ele ainda pensa que você me traiu.

Eu nem sequer tentei levar o assunto adiante.

- Tudo bem, vou levar Jason e Jamil comigo. Podem me dar lições de etiqueta dos lobisomens.

- Jason não vai ser de grande ajuda, ele nunca foi de um bando saudável.

- O que isso quer dizer?

- Isso significa que, como a nossa velha lupa era uma puta sádica, tínhamos medo uns dos outros. Um bando normal é muito mais sensível ao toque, mais casual com os outros.

- Um bando de medrosos? Eu perguntei.

Ele sorriu quase com tristeza.

- Fale com Jamil, ele vai ensiná-la e a Jason também. - Ele parecia pensar sobre isso.

- O que faço com os homens-leopardo e os vampiros?

- Eu já falei com Verne, eles serão nossos convidados esta noite.

- Uma grande família feliz. - eu disse.

Richard olhou para mim, era um olhar longo, pesquisando. Demorou muito para satisfazer seus olhos e não recuou.

- Poderia ser Anita, realmente poderia ser. - Com isso ele se virou e caminhou até sua mãe e irmão.

Eles se foram, e eu não sabia o que fazer com seu último comentário. Eu costumava perguntar por que ele me aturava, mas depois de conhecer sua mãe, eu sabia. Ele tinha me levado a três jantares de domingo e percebi por que Charlotte e eu nunca estávamos em desacordo ou em extremos opostos em qualquer discussão. Nós éramos muito parecidas. A família só poderia ter um alpha, os outros se mantinham distantes. Apenas o irmão de Richard, Glenn, é casado atualmente e sua esposa bate de frente com Charlotte constantemente. Aaron é viúvo, me contaram que as brigas entre Charlotte e a falecida esposa de Aaron eram notórias. A esposa de Glenn, embora cheia de sangue Navajo, era pequena e resistente. Os homens Zeeman pareciam ter uma fraqueza pelas mulheres pequenas e fortes.

Beverly como única menina e a mais velha era maravilhosamente dominante. Ela e Charlotte quase não sobreviveram a sua adolescência, de acordo com Glenn e Aaron. Bev tinha se acalmado, ido para a faculdade, se casado e estava grávida de seu quinto filho. Tinha quatro meninos e estavam tentando uma última vez uma menina.

Prestei atenção à família de Richard porque pensei que ia me juntar a eles. Não parece provável que isso aconteça agora. Oh, bem. Eu tinha problemas suficientes com a minha própria família. Quem precisava de outra?


12

Todos estavam no meu quarto recebendo lições de etiqueta lobisomem. Sentei-me no pé da cama com Cherry deitada do meu lado. Ela tinha tirado a maquiagem preta e seu rosto estava pálido e jovem com várias sardas douradas. Eu sabia que ela tinha a minha idade, vinte e cinco anos, mas sem maquiagem parecia mais jovem. Como se fosse à irmã mais nova e mais inocente, a roupa nova adicionada à ilusão. Ela usava jeans desbotado e uma camiseta desproporcional. Roupas que você não se importaria em estragar na mudança de forma. A lua cheia estava perto, algumas vezes você muda cedo, eu sei, já vi acontecer.

Zane estava encostado na parede oposta, usava apenas um par de jeans com os joelhos desgastados e furados. Ele mantinha o anel no bico do peito, parecia muito perceptível contra seu peito nu.

Jason usava um shorts que começou a vida como uma calça jeans. As arestas eram ásperas com as cordas que ele tinha escolhido. A única outra coisa que ele usava era um velho par de tênis de corrida sem meias. Estava deitado de bruços, a cabeça virada para nós com um dos meus travesseiros sob o queixo, joelhos dobrados, os pés chutando lentamente no ar enquanto ouvia Jamil.

Jamil andava pelo quarto descalço, mesmo de pé dava para sentir sua energia. A lua estava quase cheia, e era fácil perceber a mudança.

Tentamos incluir Nathaniel na palestra, mas não conseguimos encontrá-lo. Eu não estava gostando, estava pronta para uma busca em grande escala quando Zane disse que o tinha visto sair com um lobisomem do sexo feminino. Assim não tínhamos motivo para ir atrás, mas eu não estava feliz com isso, não tinha certeza do porque, mas não estava feliz.

Nathaniel precisava conhecer algumas saudações rudimentares porque ele era meu. Ninguém jamais conheceu uma lupa que também fosse Nimir-ra de um bando de leopardos, mas Verne tinha decidido que os leopardos seriam incluídos porque me pertenciam, então eles precisavam participar da pequena palestra. Enviei Damian e Asher a procura de Nathaniel, ninguém do bando de Verne esperava que os vampiros fizessem parte da saudação oficial. Na verdade, ele havia solicitado que não tocassem em nenhum dos seus lobisomens, isso foi fortemente solicitado.

Eramos só nós quatro assistindo a palestra de Jamil, ele finalmente parou diante de mim.

- Levante-se.

Soou muito como uma ordem para o meu gosto, mas eu me levantei olhando para ele.

- Richard disse que você é formada em biologia.

Não era o que eu esperava, mas confirmei com a cabeça.

- Biologia Sobrenatural, sim.

- Como você sabe tanto sobre o lobo natural?

- Li alguns livros específicos.

Os olhos de Jamil se arregalaram um pouco.

- L. David Mech?

- Sim, você parece surpreso. Ele é uma das maiores autoridades sobre o comportamento dos lobos.

- Por que estava lendo sobre o lobo natural? - Jamil perguntou.

Eu dei de ombros.

- Sou a lupa de um bando de lobisomens, mas não sou uma de vocês. Não existem bons livros sobre lobisomens, por isso o melhor que pude fazer foi investigar sobre os lobos.

- O que mais você leu? - ele perguntou.

- O Lobo e o Homem de Barry Holstun Lopez e alguns outros livros, mas esses foram os dois melhores que encontrei.

Jamil sorriu, um riso rápido mostrando os dentes.

- Você acaba de tornar o meu trabalho muito mais fácil.

Eu fiz uma careta para ele.

- A saudação formal é como um lobo amigável saudando o outro. O ponto é fazer com que o seu nariz toque aqui. - ele tocou o cabelo atrás da minha orelha, delicadamente.

- Você esfrega a bochecha em outra pessoa como um lobo de verdade faria? Do mesmo jeito que os humanos? Eu não possuo glândulas na bochecha que ajude a marcar outro lobo com meu perfume.

Ele olhou para mim quase solene balançando a cabeça.

- Sim, você encosta o rosto do mesmo jeito da forma humana. Então você enterra seu nariz no cabelo atrás da orelha.

- O bando de Verne é muito grande?

- Cinquenta e dois lobos. - disse Jamil.

Eu levantei as sobrancelhas para ele.

- Por favor, me diga que eu não tenho que esfregar o rosto em cada um deles.

Jamil sorriu, mas deixou seus olhos sérios. Ele estava pensando em algo, eu queria saber o que era.

- Não em todos eles, apenas os alfas.

- Quantos?

- Nove. - disse ele.

- Possível, eu acho. - Olhei em seu rosto pensativo e perguntei: - O que você está pensando tão seriamente Jamil?

Ele piscou para mim.

- Nada.

- Não me diga que não é nada, você estava todo solene e pensativo cerca de cinco minutos atrás, o que é?

Ele olhou para mim. A concentração em seus olhos negros era quase palpável.

- Estou impressionado por você ter se dado ao trabalho de investigar sobre o lobo natural.

- Essa é a terceira vez que usou o termo lobo natural, nunca ouvi isso antes.

Jason saiu da cama e ficou em pé.

- Nós somos parte do lobo real do tempo, não somos apenas natural.

Eu olhei para Jamil e ele concordou.

- Então, chamar vocês de lobo real é um insulto?

- Sim. - disse Jamil.

- Mais alguma coisa a se observar? - Eu perguntei.

Jamil olhou para Jason, eles trocaram um olhar que me fez sentir excluída. Havia alguma surpresa desagradável vindo e ninguém estava me dizendo.

- O quê? - Eu disse.

- Vamos fazer a saudação. - disse Jamil.

- O que vocês estão escondendo de mim?

Jason riu.

- Diga a ela.

Um rosnado baixo escorria da garganta humana de Jamil. O som levantou o pelos em meus braços.

- Eu sou o Skoll e você não tem nome entre os lukoi. Sua voz é apenas como o vento fora de nossa caverna.

Jason deu alguns passos mais perto.

- As árvores se curvam diante do vento. - disse ele. Soou muito formal para Jason.

- Bom. - Jamil disse - você sabe algumas frases lukoi.

- Estávamos com medo de tocar e falar uns com os outros. - Jason disse.

Zane desencostou da parede movendo-se entre eles, ficou de pé perto de mim.

- A lua está subindo, o tempo está passando.

Eu fiz uma careta para todos eles.

- Eu me sinto como se você estivesse falando em código e eu não pudesse decodificar.

- Aparentemente temos algumas frases em comum - disse Jamil - entre os lukoi e os leopardos.

- Ótimo, os lobos e os leopardos tem alguns pontos em comum, e agora?

- Me cumprimente. - disse Jamil.

- Uh-uh. - eu disse - Eu sou a lupa, você é apenas o Skoll, o músculo. Sendo assim você tem que me oferecer o seu rosto e pescoço primeiro.

- Ela é a sua lupa e nossa Nimir-ra, o que é um nível equivalente ao seu Ulfric, ela tem o direito de pedir. - disse Zane.

Jamil rosnou para ele.

Zane se moveu atrás de mim como se me usasse como escudo. Teria funcionado melhor se ele não fosse quase dez centímetros mais alto do que eu.

- Ela o recusou. - disse Jamil. - Fique sozinho diante de mim.

- De jeito nenhum. - eu disse. - Zane é meu, você não vai usá-lo para alguma porcaria de macho dominante.

Jamil balançou a cabeça.

- Ele foi até você, mas você não o tocou.

Eu fiz uma careta para ele.

- Então?

Jamil suspirou.

- Eu te disse que tudo tem a sua leitura para nós.

- Então explique isso para mim. - disse eu.

Jason disse,

- Quando Zane chegou perto de você ele estava pedindo a sua proteção, mas você não o tocou. Isso é visto como uma rejeição do seu pedido de proteção.

Cherry ainda estava na cama, as mãos cruzadas no colo.

- É uma das regras que funciona da mesma maneira para os lobos e para nós.

Olhei para eles.

- Como vocês dois sabem tudo isso?

- Aprendemos com Raina e Marcus, tivemos que fazer várias coisas para conseguir sua proteção. - disse Jason.

- Gabriel passou muito tempo com Raina. - disse Cherry - Nós os homens-leopardo gastamos muito tempo com os lobos.

- Então, quando Zane ficou perto de mim o que eu deveria fazer?

- Você quer protegê-lo contra mim? - Jamil perguntou.

Eu olhava para aquele corpo alto e musculoso. Mesmo se ele não tivesse sido um licantropo teria me assustado em uma luta justa. Evidentemente a natureza tinha certeza que não haveria uma luta justa. Jamil me compensava por uma centena de quilos ou mais, ele era muito mais rápido. Sua força ... bem, dizia o suficiente. Não haveria nenhuma luta justa entre os dois nós, era por isso que eu me sentia perfeitamente confortável usando armas.

- Sim, eu quero proteger Zane contra você, o que eu faço?

- Toque-o. - disse Jamil.

Eu fiz uma careta de novo.

- Pode ser um pouco mais específico?

- O toque é importante. - disse Jamil - não onde ou como.

Zane estava de pé às minhas costas. Fui para trás até minhas costas tocar seu corpo. Nossos corpos eram uma bela linha sólida.

- Basta? - Eu perguntei.

Jamil balançou a cabeça.

- Pelo amor de Deus, basta tocá-lo.- Ele acenou para Jason. - Peça por minha proteção.

Jason veio a seu lado com um sorriso, ele ficou muito perto mas não o tocou. Jamil colocou um braço sobre seus ombros, obviamente protetor, quase um abraço.

- É isso.

- Tem que ser assim mesmo ou posso tocá-lo em qualquer lugar que seja perceptível?

Jamil fez um pequeno som entre um umph e um rosnado.

- Você está tornando isso muito complicado.

- Não. - eu disse - você é que está, basta responder a pergunta.

- Não, não tem que ser exatamente deste jeito, mas é melhor que você comece a se habituar em fazer a oferta normalmente na frente das pessoas.

- Porquê?- Eu perguntei.

- E se Zane estivesse fugindo de mim em público? Ele a vê no meio da multidão, vem até você. Tudo que tem a fazer é fingir que o abraça ou que o beija. Sei que você lhe deu a sua proteção e nenhum dos seres humanos em torno de nós saberá que tem algo errado.

Eu não tinha certeza de como me sentia por não ser incluída com os outros humanos, mas deixei passar. Coloquei a mão na cintura de Zane. Teria sido mais confortável se ele estivesse usando uma camisa, mas hey, esse era o meu treinamento não o dele. Eu o abracei com meu braço esquerdo, deixando o direito livre. Também me voltei o suficiente para que minha arma não pressionasse seu corpo. Ter o meu braço em volta da cintura de Zane deixava a arma muito óbvia. Havia maneiras diferentes de fazer ameaças.

- Feliz? - Eu perguntei.

Jamil acenou uma vez bruscamente. Jason saiu de perto dele e ficou perto de mim e de Zane.

- Jamil está louco porque Zane disse que ele tinha de fazer uma saudação submissa.

- E você o lembrou. - disse Jamil.

- Ooh. - Jason disse - Eu estou tão assustado.

A força de seu poder correu através do quarto. Eu vi os olhos marrons de Jamil sangrar até um amarelo rico, ele olhou para Jason com olhos de lobo.

- Você vai ver.

Cherry deslizou para fora da cama ajoelhada atrás de mim. Ela estendeu uma mão e eu a peguei, lambeu rapidamente minha mão, uma saudação que apenas os leopardos usam, a outra foi até minha perna segurando minhas calças como uma criança pequena e tímida, parecia que algo ruim iria acontecer.

Eu meio que esperava que Jason viesse a mim como os leopardos tinham feito, mas ele não o fez. Andou mais para dentro do quarto, longe de Jamil, mas não pediu ajuda.

- Qual é o problema? - Eu perguntei. - agora Jamil apenas me oferece sua bochecha, certo?

- Oh, não. - Jason disse - é muito mais divertido do que isso.

Fiz uma careta, porque eu sabia qual era a idéia de diversão de Jason.

- Talvez eu tenha pedido alguma coisa, só não entendi o que.

- Mas você pediu. - disse Jamil - e como nossa lupa, é seu direito.

Eu estava começando a suspeitar que tinha cometido uma gafe, que tinha pedido algo que Jamil não queria dar, e eu provavelmente não gostaria de receber.

- Se não tivesse sido um idiota quando cheguei aqui Jamil, eu provavelmente deixaria isso pra lá.

- Mas ...- disse ele.

- Mas eu não desisto, não para você.

- Não é para qualquer um. - Jason disse suavemente.

- Se eu me recusar, será um desafio entre nós. - disse Jamil.

- Tudo bem mas lembre-se, você teve sua última passagem livre para o fim de semana, Jamil.

Ele balançou a cabeça.

- Eu estou vendo a arma.

- Então, nós nos entendemos. - eu disse.

- Nós nos entendemos. - ele disse e diminuiu a distância entre nós, os olhos ainda uma sombra sinistra de amarelo.

- Não consigo, Jamil.

Ele deu uma volta rápida mostrando os dentes.

- Estou fazendo o que você pediu Anita.

Zane se moveu por trás de mim, as mãos em meus ombros, mas me dando espaço para me movimentar. Cherry se amontoou contra as minhas pernas. Nenhum deles se afastou. Encarei isso como um bom sinal, esperava que estivesse certa.

Jamil tocou meu rosto levemente com as pontas dos dedos.

- Se estivéssemos em público, seria assim. - Ele inclinou-se para baixo e parecia que ia me beijar.

E o fez, um toque macio de lábios, os dedos ainda segurando meu rosto. Ele afastou-se de mim e quando abriu os olhos ainda estavam amarelo ouro. Era uma cor surpreendente contra a escuridão de sua pele.

Eu fiquei ali parada, muito surpresa para saber o que fazer. Nem os leopardos nem Jason se mexeram, então Jamil estava fazendo o que eu o tinha forçado a fazer. Provavelmente se fosse Jason, eu suspeitaria de algum tipo de estratagema para roubar um beijo, mas Jamil não fazia esses tipos de jogos.

Suas mãos ainda seguravam meu rosto.

- Mas hoje não vai ser em público, será apenas entre nós, sem ninguém ver ...- Ele não terminou a frase e inclinou-se sobre mim novamente. Sua língua correu pelo meu lábio inferior e eu dei um passo para trás.

Ele deixou cair ás mãos para os lados.

- Você leu os livros sobre o lobo Anita, eu sou um lobo submisso pedindo atenção a uma loba dominante.

- É como filhotes implorando por alimento. - eu disse. - Em lobos adultos é um ritual de lamber e morder suavemente a boca do lobo dominante por parte do subordinado.

Jamil assentiu.

- Você fez o seu ponto. - disse eu.

- A saudação, estou tentando te ensinar como é a nossa versão de um aperto de mão, oferecer o rosto ao mesmo tempo é mais como um beijo.

- Mostre-me. - eu disse.

Ele inclinou-se para mim novamente, mas desta vez não tentou tocar minha boca. Esfregou o rosto junto ao meu ouvido até que seu rosto estava enterrado no meu cabelo atrás da orelha. Seu movimento colocou meu rosto contra o seu cabelo e as trancinhas tinham uma textura áspera e suave ao mesmo tempo.

Jamil falou com a boca contra o meu cabelo:

- Você tem que enterrar o seu rosto no meu cabelo e cheirar a pele.

Ele enfiou seu rosto no meu cabelo até tocar a pele. Eu o ouvi respirar no ar, sua respiração era quase quente contra a minha pele.

Tentei retribuir o favor, mas tive que me levantar na ponta dos pés, uma mão contra seu peito para me equilibrar. Zane deslizou para longe de mim e coloquei a minha outra mão em seu ombro. O apoio tornou mais fácil colocar o meu rosto ao lado da pele de seu couro cabeludo. As tranças se movimentavam em meu rosto como pequenas cordas finas.

Eu podia sentir o cheiro de seu cabelo, sua colônia e tudo o que era ele. No momento em que seu cheiro me abateu, senti uma onda de energia, e não era dele. De repente eu sabia que Richard estava sentado em uma cama segurando sua mãe. Senti seu olhar como se ele estivesse me vendo ao pé da cama. Mas eu estava a quilômetros de distância, ao pé de uma cama diferente. Nós extraímos o cheiro rico e quente da pele de Jamil e o poder de Richard caiu em cima de mim como um arrepio.

Jamil se afastou, as mãos ainda sobre os meus ombros. Suas narinas estavam dilatadas enquanto sentia o aroma.

- Richard. Você me cheira como o nosso Ulfric, como você faz isso?

Zane se pressionou contra minhas costas esfregando o rosto contra o meu cabelo. Cherry tinha se enrolado em volta da minha perna como um feto.

- Ela é sua lupa, vinculada ao seu Ulfric.

Jamil deu um passo para atrás com algo muito próximo do medo em seu rosto.

- Ela não pode estar ligada a Richard. Ela não é lukoi.

Virei-me para ele e Zane ficou de joelhos atrás de mim. Cherry me soltou, as mãos deslizando e se afastando com relutância, eles ficaram abraçados.

Olhei para eles e perguntei:

- Vocês estão bem?

Zane assentiu.

- Eu vi você chamar o poder das marcas uma vez, mas nunca toquei em você quando chama o poder do Ulfric. É incrível.

Cherry apenas olhou para mim, olhos grandes em um rosto pálido.

- Eu não sei. - disse Jason.

Ele ainda andava pelo quarto abraçando o peito nu, esfregando as mãos para cima e para baixo como se estivesse com frio.

Voltei-me para Jamil.

- Eu estou ligada a Richard, não é o mesmo tipo de ligação que ele teria com um outro licantropo, mas é um vínculo.

- Vocês são servos de Jean-Claude. - disse Jamil.

Eu odiava o termo, mas ele estava certo.

- Sim eu sou, assim como Richard é o lobo que atende ao chamado de Jean-Claude.

- Ele não pode chamar nosso Ulfric como um cão. Richard não atende aos caprichos de um vampiro.

- Eu, ele e qualquer um. - eu disse. - Às vezes acho que Jean-Claude pode ter abocanhado mais do que pode beber com nós dois.

A porta da cabana se abriu sem bater, sem aviso. Asher segurava Nathaniel em seus braços, ele estava nu e coberto apenas pelo terno de Asher, pude ver que suas pernas estavam pálidas e que estava descalço. Corri até eles.

- O que aconteceu?

Asher colocou Nathaniel de costas na cama prendendo o paletó em seu corpo. Nathaniel tentou virar de lado em uma bola, mas Asher o deteve prendendo suas pernas.

- Isso dói! - Sua voz era estrangulada, torcida, apertada pela dor.

Ajoelhei-me ao lado da cama tocando seu rosto. Ele olhou para mim, os olhos tão grandes que passavam em branco. Ele abriu a boca e um pequeno gemido escapou, sua mão agarrou a colcha como se ele precisasse segurar alguma coisa, qualquer coisa. Eu dei a minha mão e ele apertou tão forte que tive que lembra-lo para não esmagá-la.

Ele murmurou,

- Desculpe. - Então sua coluna se curvou torcendo o corpo, normalmente ver Nathaniel completamente nu teria me deixado embaraçada. Agora eu estava com muito medo para ter vergonha. Havia cortes sangrentos no peito, mas pareciam rasos. Nada parecia suficientemente errado para este tipo de dor.

Cherry desapareceu no banheiro, acho que uma enfermeira não ficaria enjoada.

- Quem fez isso? - Eu perguntei.

- Ele é a nossa mensagem dos vampiros locais. - disse Asher.

- Que mensagem?

Nathaniel se torcia na cama, a outra mão agarrando meu braço. Duas lágrimas se arrastavam lentamente por seu rosto.

- Eles ficaram me perguntando por que nós viemos para cá. - Ele jogava a cabeça para trás e para frente e eu vi algo em seu pescoço. Passei a mão livre em seus longos cabelos ruivos para ver seu pescoço. Havia uma mordida de vampiro na carne macia. A mordida estava limpa, mas a pele estava um pouco mais escura do que deveria estar.

- Será que um de vocês fez isto? - Eu perguntei.

- Eu tomei o sangue da curva do braço dele. - disse Asher. - Colin fez isso.

O corpo de Nathaniel relaxou contra a cama, o espasmo ou o que que fosse passou.

- Eu disse a eles que estávamos aqui para resgatar Richard. Eu disse a verdade, mais e mais. - Sua mão convulsionava em torno da minha, ele fechou os olhos como se estivesse passando por uma onda de dor, após alguns segundos abriu. - Eles não acreditaram em mim.

Cherry saiu do banheiro, ela tentou me empurrar delicadamente mas com firmeza para fora do caminho, Nathaniel agarrou a minha mão. Cherry se ajoelhou na cabeceira da cama. Ele ainda poderia segurar minha mão, mas eu estava fora do caminho. Ela começou a explorar as feridas em seu peito, estava muito submissa, quase suspeita assim, mas deixar alguém ferido era uma coisa diferente, ela era a enfermeira Cherry novamente.

- Você tem um kit de primeiros socorros aqui? - ela perguntou.

- Não. - eu disse.

- Eu tenho uma na minha mala na outra cabana. - disse Cherry.

- Eu vou buscá-la. - Jason se ofereceu e foi para a porta.

- Espere. - eu disse. - Jamil, vá com ele. Não quero mais ninguém sozinho esta noite.

Ninguém discutiu comigo, foi á primeira vez. Os dois lobisomens saíram pela porta. Damian teve que sair do caminho para que eles passassem. Ele fechou a porta atrás deles e inclinou-se contra ela. Seus olhos eram um verde sólido, como o fogo esmeralda. Sua pele pálida estava toda assim, quase translúcida e brilhante. As emoções fortes fazem isso com os vampiros menores: medo, luxúria, ira. Olhei para Asher, ele estava ... normal. Estava parado ao lado da cama, um rosto bonito e trágico, um rosto branco e vazio, era essa expressão que Jean-Claude usava quando escondia algo.

- Eu pensei que Colin supostamente fosse nos atacar diretamente ou nos deixar em paz. - eu disse. - Ninguém disse nada sobre esse tipo de merda.

- Foi inesperado ...- disse Asher.

- Bem, explique isso para mim.

Damian se afastou da porta espreitando o quarto, cada movimento apertado com raiva.

- Eles o torturaram porque ele gozava. São vampiros, mas se alimentam de algo mais do que apenas sangue.

- Do que você está falando Damian?

- Eles se alimentavam de seu medo.

Eu olhei de seu rosto brilhante para Asher, em seguida de volta para Damian.

- Você quer dizer literalmente, não é?

Damian assentiu.

- A vampira que o trouxe era assim, ela se alimenta de medo como se fosse sangue. Ela se alimenta do terror, então, de repente tira seu sangue, ela não apenas se alimenta de um animal, os abate. Ela ia voltar para a câmara coberta de sangue, manchada com ele. Então, ela me viu ... - Sua voz sumiu, ele olhou para mim, seus olhos estavam começando a brilhar como uma chama verde, como se seu poder estivesse comendo os ossos de suas órbitas. - Eu senti quando conhecemos Colin, senti o seu cheiro, ele é como ela. Ela é uma bruxa da noite mora.

- Que diabos é uma bruxa ou uma noite mora? Você se encontrou com Colin? Eu pensei que salvou Nathaniel.

- Não, eles o deram de volta para nós. - disse Asher. - Se não o víssemos, a mensagem não estaria completa.

Cherry nos interrompeu.

- O pulso está instável, sua pele está úmida. Ele está entrando em choque, os cortes no peito são rasos. Mesmo duas mordidas de vampiro em uma noite não devia deixá-lo em choque. Nós nos curamos melhor do que isso.

- Há uma terceira mordida. - disse Asher, mesmo com tudo isso sua voz era totalmente calma, como se nada o tocasse.

Cherry olhou para o corpo de Nathaniel, em seguida tocou-lhe a coxa. Ela afastou suas pernas.

- Claro, a artéria femoral. Por que a pele está descorada em ambas as mordidas? - Ela tocou a pele de sua coxa. - A pele está quase fria.

Nathaniel se contorcia na cama, soltou minha mão agarrando-me como se quisesse um abraço. Ele agarrou um braço, e um punhado de minha blusa. Seus olhos eram selvagens.

- Dói.

- O que dói? - Eu perguntei.

- As mordidas estão contaminadas. - disse Asher.

- Como assim contaminada?

- Pense nisso como um veneno.

- Ele é um metamorfo, são imunes a venenos. - disse eu.

- Não é um presente. - disse Asher.

- Que tipo de veneno? - Cherry perguntou.

Houve uma batida na porta. Jason disse:

- Somos nós.

Damian olhou para mim, seus olhos tinham se acalmado em um brilho suave, sua pele estava quase de volta à perfeição leitosa.

Concordei.

Ele abriu a porta. Jason entrou com um kit de primeiros socorros maior do que um saco de dormir. Cherry talvez tivesse sido uma escoteira em outra vida. Jamil seguia atrás de Jason como uma sombra escura, solene.

- O tipo de veneno que nada nesse saquinho vai impedir. - disse Asher.

De repente olhei para ele percebendo o que tinha acabado de dizer.

- Você quer dizer que ele vai ...- Eu não poderia dizer.

- Morrer. - disse Asher absolutamente calmo, sua voz estava suave, quase divertida.

As mãos de Nathaniel estavam agarradas em mim, olhei para Cherry e me virei para dar espaço a ela. Eu queria dizer coisas para Asher que Nathaniel não poderia ouvir. Zane se arrastou para a cama do outro lado, Nathaniel agarrou a sua mão e segurou, outro espasmo o deixou se contorcendo na cama. Zane e Cherry deixaram que ele usasse essa força de esmagamento em suas mãos. Os dois homens-leopardo olharam para mim enquanto Nathaniel se contorcia, olhos revirados para trás. Zane e Cherry ficaram me olhando, eu era sua Nimir-ra, sua rainha leopardo, supostamente deveria protegê-los e não arrastá-los para merdas como esta.

Me afastei de seus olhos expectantes e fui com Asher até a porta.

- O que quer dizer que com ele vai morrer?

- Você viu o tipo de vampiros que apodrecem e se regeneram?

- Sim, e?

- Um deles mordeu Nathaniel.

- Eu já fui mordida por um deles e Jason também. Nada como isto aconteceu connosco. - Olhei para trás e encontrei Jason segurando a mão de Nathaniel. Cherry começou a limpar os ferimentos em seu peito, de alguma forma acho que as bandagens nos cortes não ajudariam.

Jamil e Damian se juntaram a nós. Ficamos em um pequeno círculo conversando, quando Nathaniel gritou. Asher disse:

- É um talento raro, eu pensei que só Morte d'Amour, Morte do Amor, ou um membro do Conselho pudesse fazer isso. Colin escolheu cuidadosamente sua mensagem. Os ferimentos à distância são apenas uma amostra do seu poder.

- Jean-Claude não pode causar dano à distância. - disse eu.

- Não, e ninguém mais pode espalhar a corrupção de sua mordida, ninguém mais neste país.

- Você continua dizendo corrupção. - disse Jamil. - O que isso significa exatamente?

Cherry veio até nós com as compressas de gaze branca nas mãos, suas sardas pálidas se destacavam como tinta. Havia pus amarelo e verde sobre a gaze.

- Isso saiu dos ferimentos no peito. - disse ela calmamente. - Que diabos é isso?

Todos nós olhamos para Asher, até mesmo Damian. Mas eu fui a pessoa que disse isso em voz alta:

- Ele está apodrecendo, está em decomposição enquanto ainda está vivo.

Asher assentiu.

- A corrupção está em seu sangue, vai se espalhar e então ele vai apodrecer.

Eu olhei de novo para a cama, Jason falava baixinho e suavemente com Nathaniel acariciando sua cabeça como se confortasse uma criança doente. Zane estava olhando para mim.

- Tem que haver algo que possamos fazer. - eu disse.

O rosto de Asher estava tão fechado e cuidadoso como eu nunca tinha visto antes. Uma das memórias de Jean-Claude com Asher passou por mim com tanta força que meus dedos vibraram. Não era uma memória de um único evento. Reconheci o conjunto de ombros de Asher, conhecia sua linguagem corporal com um conhecimento acumulado de anos de observação, mais do que eu já vivi.

- O que você está escondendo Asher? - Eu perguntei.

Ele olhou para mim, seu rosto pálido, olhos claros em branco, vazio, alinhado com cílios incríveis de ouro brilhando como rendas. Ele sorriu, o sorriso era tudo o que deveria ter sido: alegre, sensual, acolhedor. Aquele sorriso atravessou o meu coração como uma faca, lembrei-me de quando seu rosto era perfeito, do quanto esse sorriso me fazia perder o fôlego.

Eu balancei a cabeça, o movimento físico ajudou sacudindo as memórias. Elas desbotaram, mas não mudavam o que eu tinha visto, o que eu sabia.

- Você sabe como salvá-lo, não é?

- O quanto você quer salva-lo Anita? - Sua voz não era neutra agora, estava quase irritado.

- Eu o trouxe até aqui Asher, e o coloquei em perigo, eu deveria protegê-lo.

- Pensei que ele fosse supostamente seu guarda-costas. - disse Asher.

- Ele está aqui para alimentá-lo Asher e você sabe disso. Nathaniel não pode se cuidar sozinho.

Asher soltou um suspiro longo.

- Nathaniel é um pomme de sang.

- Do que diabos você está falando?

- Isso significa maçã de sangue, é um apelido entre o Conselho para aqueles que estão dispostos a alimentá-los.

Damian terminou o pensamento.

- O vampiro que se alimenta de um de pomme de sag tem o dever de protegê-los como um pastor que cuida de suas ovelhas. - Damian olhou para Asher quando disse isso, e não era um olhar amigável. Eles estavam lutando por alguma coisa, mas não havia tempo.

Toquei o braço de Asher, parecia duro, de madeira, não vivo. Ele estava se afastando de mim, longe do ambiente, longe do que estava acontecendo. Ele deixaria Nathaniel morrer sem sequer tentar, inaceitável.

Agarrei seu braço de madeira sem vida, eu odiava quando sentia Jean-Claude assim. Era um lembrete do que ele era, e do que não era.

- Não o deixe morrer, não assim. Por favor, chardonneret mon.

Ele pulou como eu tivesse batido nele quando usei o apelido que Jean-Claude usava há muitos anos. Significava literalmente "meu pintassilgo", soava bobo em Inglês, mas o olhar no rosto de Asher não era bobo, era quase chocado.

- Ninguém me chamou assim em mais de duzentos anos. - Seu braço relaxou em minhas mãos, uma sensação de calor, vivo novamente.

- Eu não peço muito, mas preciso de sua ajuda.

- Ele significa muito para você?- Asher perguntou.

- Ele é vítima de todos Asher. Alguém tem que cuidar dele. Por favor, mon...

Ele colocou seus dedos sobre meus lábios.

- Não diga isso Anita, nunca mais diga isso a menos que queira dizer mesmo. Vou salvá-lo Anita, para você.

Eu senti como se estivesse faltando alguma coisa, eu poderia me lembrar do apelido de Asher, mas não conseguia me lembrar por que ele estava com medo de tentar curar Nathaniel. Ao observá-lo ao pé da cama, arrastando o cabelo dourado como um véu brilhante sobre os ombros, a memória me faltando parecia muito importante.

Asher estendeu a mão para Damian.

- Venha meu irmão, ou a famosa coragem dos vikings te deixou agora?

- Eu já abatia seus ancestrais antes que você tivesse esse brilho em seus grandes olhos de avô.

- Merda, isso é perigoso, não é? - Eu perguntei.

Asher se ajoelhou ao lado da cama e olhou para mim, o cabelo dourado deslizando sobre as cicatrizes do lado do rosto escondendo-o. Ele se ajoelhou em toda a sua perfeição dourada e sorriu, mas era amargo.

- Podemos pegar a corrupção para dentro de nós mesmos, mas se não formos poderosos o suficiente ela entrará e morreremos, mas o seu precioso homem-leopardo estará salvo de uma maneira ou de outra.

Damian foi para o outro lado da cama, Zane arrastou os móveis para longe da cabeceira de Nathaniel. Ele tinha parado de gritar e estava muito quieto, a pele pálida brilhante de suor. Sua respiração vinha em fôlegos rasos. Escorria pus da feridas em seu peito. Havia um cheiro no quarto agora, fraco, mas crescente. A mordida em seu pescoço ainda parecia sólida, mas a pele era um verde escuro, profundo como uma ferida mortal.

- Asher. - eu disse.

Ele olhou para mim passando a mão ao longo da coxa nua de Nathaniel.

- Damian não é um vampiro-mestre.

- Eu não posso salvar o seu leopardo sozinho Anita. Quem vai salvar? Quem você vai sacrificar?

Olhei para Damian, seus olhos verdes eram humanos novamente. Ele parecia muito mortal enrolado ao lado de Nathaniel.

- Não me faça escolher.

- Mas é uma escolha, Anita. É uma escolha.

Eu balancei minha cabeça.

- Você quer salva-lo? - Damian perguntou.

Eu conhecia aquele olhar e não sabia o que dizer.

- O pulso está muito fraco. - disse Cherry. - Se vão fazer alguma coisa, é melhor que seja rápido.

- Você quer salvá-lo? - Damian perguntou novamente.

A respiração rápida e ofegante de Nathaniel era o único som no silêncio repentino. Todos olharam para mim, esperavam que eu decidisse. E eu não podia decidir. Senti meu aceno de cabeça quase como se não estivesse fazendo isso. Concordei.

Os vampiros começaram a se alimentar.


13

A alimentação demora mais tempo na vida real do que nos filmes. Ou ele é muito rápido ou eles mostram uma extinta cena de sexo 1950. Ficamos ao redor do quarto assistindo, estava silencioso o suficiente para que você pudesse ouvir os vampiros fazendo pequenos barulhos molhados.

Cherry ajoelhou-se na cabeceira da cama, ela conferia o pulso de Nathaniel periodicamente, o restante se mantinha afastado. Acabei do outro lado encostando a minha bunda sobre a mesa. Eu tentava duramente não olhar para a cama. Todos se moviam pelo quarto, agitados e envergonhados.

Jason ficou ao meu lado, apoiando-se sobre a mesa.

- Se eu não soubesse que sua vida está em jogo, ficaria com ciúmes.

Olhei para ele tentando saber se estava brincando. Havia um olhar em seus olhos, um calor que dizia que não estava, me fez olhar o que estava acontecendo.

Damian pegou o corpo de Nathaniel em seus braços, em seu colo, de modo que embalava o homem menor em seu corpo. Partes do corpo Damian se perdiam de vista por trás do corpo nu de Nathaniel, seu braço embalou o peito do homem menor contra a camisa de seda verde. O pus manchava sua camisa, o rosto de Nathaniel era pressionado por uma mão pálida no ombro do vampiro. Damian veio por trás para pegar no pescoço, você podia ver o início de seu cabelo vermelho-sangue com a boca presa sobre a ferida, mesmo de onde eu estava podia ver as mandíbulas de Damian.

Asher ainda estava ajoelhado no chão, um dos pés pálidos de Nathaniel foi arremessado para fora para que seu pé ficasse pendurado no ar vazio. O rosto de Asher se enterrou no interior da coxa do homem tão perto da virilha que a genitália de Nathaniel tocava o lado de seu rosto. Asher moveu ligeiramente a cabeça e um jorro de cabelos dourados caiu sobre a virilha de Nathaniel, eu corei tão rapidamente que cheguei a ficar tonta, virei as costas e tive um vislumbre de mim mesmo no espelho do quarto. Meu rosto estava pegando fogo, meus olhos pareciam arregalados e surpresos. Era secundário, mais de uma vez tropecei em alguns casais sob a arquibancada, suas risadas me perseguem a noite.

Olhei-me no espelho e vi a ardência, eu não tinha mais quatorze anos, não era uma criança, não era virgem, eu poderia fazer isso com um pouco de graça não é?

Jamil ficou no canto mais distante do quarto, ele estava sentado lá, os braços dobrados em torno de seus joelhos, a face de linhas duras, irritado, ele não estava gostando do show também.

Zane voltou para a parede de braços cruzados, ele estava olhando para o chão como se houvesse algo muito interessante sobre isso.

Jason ainda estava sentado contra a mesa assistindo, olhei para ele sem me virar.

- Você percebe que é o único que parece estar apreciando a vista.

Ele deu de ombros sorrindo.

- É uma bela vista.

Eu levantei minhas sobrancelhas.

- Não me diga que você é gay.

- Não me diga que você se importa. - ele respondeu.

Minhas sobrancelhas subiram um pouco mais.

- Meu coração está partido, vou ter que queimar todas as minhas lingerie.

Fiquei observando seu rosto. Ele sorria, mas não como se fosse uma piada.

- Você está dizendo que todas as provocações é apenas teatro? Eu perguntei.

- Oh não, eu gosto de mulheres. Mas quase nenhum dos vampiros do círculo de Jean-Claude são mulheres. Eu tenho agido como um pomme durante dois anos. É uma grande quantidade de presas mergulhando em seu corpo.

- É realmente tão perto do sexo? - Eu perguntei.

O humor deixou seu rosto e ele apenas olhou para mim.

- Você nunca foi completamente mordida por um vampiro, não é? Quer dizer, eu sei que você tem imunidade parcial, mesmo antes das marcas, mas pensei que alguém em algum lugar tinha chegado a você.

- Não. - eu disse.

- Às vezes não tenho certeza, mas pode ser melhor do que sexo e quase todos que se alimentam de mim são homens.

- Então você é bissexual?

- Se o que eles estão fazendo agora conta como sexo, sim. Se não contar, então ...- ele riu e o som foi tão abrupto no silêncio que eu vi Zane e Jamil saltarem. - Se isso não conta como sexo vamos dizer apenas que "onde nenhum homem jamais esteve" não se aplica mais.

Dane-se, eu não queria perguntar com quem tinha sido. Talvez tivesse perguntado, mas Cherry falou e o momento se foi.

- O pulso dele está mais forte, está perdendo muito sangue, ele deveria ficar mais fraco, mas não é isso o que está acontecendo.

Asher recuou da ferida.

- Não estamos bebendo tanto sangue quanto o desenho da corrupção.

Ele ficou com uma mão debaixo da coxa de Nathaniel, moveu sua perna para cima da cama, ajeitando seus membros como se fosse uma criança dormindo. Um momento antes havia sido totalmente sexual, mas agora havia algo na maneira de Asher agir que era quase cuidadoso.

Damian afastou-se da ferida, havia uma mancha no lábio, não era vermelho, mas preto. Eu me perguntava se tinha um gosto ruim, ele limpou o local com as costas da mão. Se fosse sangue puro teria lambido, não tinha sido agradável. Ele se afastou de Nathaniel e colocou-o cuidadosamente na cama.

Cherry tinha seu kit de primeiros socorros aberto, ela tratou as feridas no peito com anti-séptico. Os primeiros panos estéreis saíram com pus. Fomos nos aproximando da cama sem perceber, o cheiro era mais forte aqui, desagradável, mas estava se desvanecendo. Quando o sangue da pele e feridas ficaram completamente limpos a carne estava inteira, o vermelho brilhante jorrava das bordas.

Cherry deu um sorriso tão caloroso e brilhante que você tinha que sorrir de volta. - Vai dar tudo certo. - Ela parecia surpresa e eu quis saber como acalmá-la.

Alguém soltou uma respiração sibilante, virei-me para o som. Damian estava recuando, ele estava olhando para suas mãos pálidas, sua pele leitosa foi ficando escura, uma negritude que fluía sob a pele. A carne de suas mãos começaram a descascar enquanto olhávamos.


14

- Merda. - eu disse.

Damian mostrou suas mãos para mim como se fosse uma criança que as tinha queimado. Eu não sabia o que era pior, o terror em seu rosto ou a quase resignação em seus olhos.

Eu balancei a cabeça.

- Não. - eu disse, mas minha voz era suave. - Não. - eu disse mais uma vez, mais alto, mais forte.

- Você não pode detê-lo. - disse Asher.

Damian olhou para a carne escura de suas mãos com um horror suave no rosto. - Ajude-me. - ele disse e olhou para mim.

Fiquei olhando para ele e não tinha a menor idéia de como salvá-lo.

- O que podemos fazer? - Eu perguntei.

- Eu sei que você está acostumada a montar em seu cavalo branco e salvar o dia Anita, mas algumas batalhas não podem ser vencidas. - disse Asher.

Damian estava de joelhos olhando para suas mãos, ele rasgou sua camisa em pedaços deixando os restos das mangas em seus braços. A carne podre estava no meio de seus cotovelos, algo caiu de seus dedos com uma explosão de algo escuro e fétido, o cheiro estava de volta, doce e enjoativo.

- Uma vez eu curei Damian de um corte facial. - eu disse.

Damian fez um som entre uma risada e algo mais amargo.

- Não foi um corte ao me barbear, Anita. - Ele deslocou o olhar da carne podre de suas mãos para mim. - Mesmo você não pode curar isto.

Eu caí de joelhos na frente dele chegando a tocá-lo com as mãos. Damian se afastou.

- Não me toque!

Coloquei minhas mãos sobre as dele, senti a pele quase quente ao toque como se a corrupção estivesse cozinhando-o de dentro para fora. A pele era suave e parecia que ao ser pressionada explodiria como uma maçã podre.

Minha garganta estava apertada.

- Damian eu sinto muito ...- Meu Deus, era uma palavra inadequada. Mil anos de existência e ele tinha desistido por mim. Ele nunca teria se arriscado se eu não tivesse perguntado, a culpa era minha.

Seu olhar era grato e cheio de dor, ele puxou as mãos suavemente para fora das minhas, acho que nós dois estávamos com medo que meus dedos afundassem através de sua pele e dentro de sua carne.

Seu rosto se contorcia de dor e um pequeno som escapou de seus lábios. Lembrei-me dos gritos de Nathaniel quando ele tinha se machucado.

As extremidades dos dedos estouraram como fruta madura, alguma coisa preta e esverdeada escorria no chão e salpicava em meu braço. O cheiro crescia em ondas.

- Eu tenho que pelo menos tentar curá-lo.

- Como?- Asher perguntou. - Como você pode curar isto?

Damian fez um som baixo choramingando, seu corpo estremeceu, a face ficou dura, seu pescoço endureceu e ele finalmente gritou. Sem palavras, sem esperança.

- Como?- Asher perguntou novamente.

- Não sei. - eu estava gritando também.

- Só o seu mestre original, o que o salvou da sepultura, teria alguma chance de curá-lo.

Olhei para Asher.

- Eu chamei Damian de seu caixão, foi acidental, mas ele respondeu ao meu apelo. Mantive sua alma ... que estava fugindo de seu corpo uma vez. Estamos ligados, um pouco.

- Como você o chamou de seu túmulo?- Asher perguntou.

- Necromância. - eu disse: - Eu sou uma necromante Asher.

- Não sei nada de necromancia. - disse ele.

O cheiro forte aumentou, eu respirei pela boca mas o odor já estava na parte de trás da minha língua. Eu estava quase com medo de olhar para Damian. Virei-me lentamente como uma personagem de um filme de terror onde você sabe que o monstro está bem atrás de você, e você demora olhando porque sabe que sua sanidade mental vai explodir para sempre. Mas algumas coisas são piores do que qualquer pesadelo, a podridão tinha passado dos cotovelos. Parte dos ossos apareciam, o cheiro tinha feito todos irem para trás. Eu fiquei de joelhos no fluido do corpo apodrecido de Damian. Asher permaneceu perto, mas só eu ainda estava a curta distância.

- Se eu fosse seu mestre, o que eu faria?

- Você beberia seu sangue, tomaria a corrupção para si mesma, como fizemos com Nathaniel.

- Acho que vampiros não se alimentam uns dos outros.

- Não é para se alimentar. - Asher disse - Há muitas razões para se partilhar o sangue. Alimentar é apenas uma delas.

Olhei para Damian observando a expansão da negritude embaixo de sua pele como tinta, eu realmente podia vê-la nadar debaixo de sua carne.

- Eu não posso beber a corrupção a distância. - eu disse.

- Mas eu poderia. - Disse Damian, sua voz estava cheia de dor.

- Não! - Asher disse, ele deu um passo ameaçador em nossa direção. Eu podia sentir o seu poder saindo como um chicote.

Damian vacilou, olhei para o outro vampiro, ele estendeu as mãos para a Asher.

- O que está acontecendo?- Eu perguntei, olhando de um para o outro.

Asher balançou a cabeça, o rosto com raiva, mas de outra forma ilegível. Eu vi seu rosto liso ficar em branco. Ele estava escondendo algo.

- Não. - eu disse chegando a seus pés. - Me diga o que isso significa Damian. - Nenhum dos dois falou. - Diga-me! - Eu gritei no rosto calmo de Asher.

Ele só olhou para mim, a cara fechada e impassível como um boneco.

- Droga, um de vocês diga o que isso significa. Como ele poderia beber sua própria corrupção?

- Se ...- Damian começou.

- Não. - disse Asher apontando o dedo para ele.

- Você não é meu mestre. - disse Damian. - Eu tenho que responder.

- Cale-se Asher. - eu disse. - Cale a boca e deixe-o falar.

- Será que você tem que assumir todo risco?- Asher perguntou.

- Não tem que ser ela, só alguém com mais sangue humano. - disse Damian.

- Diga-me agora.

Damian falou apressado em um sussurro, a voz cortante pela dor.

- Se eu bebesse o sangue de uma pessoa poderosa o suficiente .... Eu poderia ser capaz ...- Ele estremeceu esforçando-se em seguida, continuou com uma voz que era mais fraca do que apenas um momento antes. - Seria capaz de obter poder suficiente para me curar ...

- Mas se o doador não for suficientemente forte misticamente para pegar a corrupção para si mesmo, então vai morrer como Damian está morrendo agora. - disse Asher.

- Eu sinto muito, contem comigo. - Jason disse.

- Comigo também. - disse Zane.

Jamil estava do outro lado do quarto, ele apenas balançou a cabeça.

Cherry ajoelhou ao lado da cama, ela não disse nada, olhos grandes, rosto apavorado.

Eu finalmente me voltei para Asher

- Tem que ser eu. Não posso pedir a mais ninguém que assuma o risco.

Asher agarrou a parte de trás do meu cabelo em um movimento tão rápido que eu não o tinha visto chegando. Ele torceu o meu rosto para trás para olhar para Damian.

- É assim que você quer morrer Anita? É? Desse jeito?

Eu falei entre os dentes.

- Me solte Asher. Agora!

Ele me soltou lentamente.

- Não faça isso Anita. Por favor, não. O risco é muito grande.

- Ele está certo. - a voz de Damian veio em um sussurro tão baixo que eu fiquei surpresa em poder ouvir. - Você poderia me curar, mas isso mataria você.

A podridão tinha se espalhado pelos braços e foi deslizando como uma força maligna debaixo de sua clavícula. Seu peito era como o marfim brilhante, e eu podia sentir seu coração batendo. Podia sentir isso como uma segunda pulsação na minha própria cabeça, o coração de um vampiro nem sempre bate, mas ele estava batendo agora.

Eu estava tão assustada que sentia um gosto metálico na boca. Meus dedos vibravam com o desejo de sair dali. Eu não poderia permanecer nesta sala e assistir Damian derreter em uma poça de água fétida, mas parte do meu cérebro estava gritando para correr, ir a algum lugar distante onde não teria que assistir e certamente não teria que deixar suas mãos apodrecidas me tocar.

Eu balancei a cabeça, olhei para Damian, não na carne podre, mas o seu rosto, seus olhos. Olhei para os olhos verdes brilhando como pedaços de fogo esmeralda. Era irônico que as partes que restaram se tornassem a parte mais bonitas, sua pele de marfim brilhava com uma profundidade de luz como uma jóia branca, seu cabelo parecia brilhar como rubis polidos, e aqueles olhos, aqueles olhos esmeralda. Olhei para ele.

Coloquei meu cabelo para um lado, expondo meu pescoço.

- Faça. - Soltei minha mão e o cabelo voltou a esconder pelo meu pescoço.

- Anita. - disse ele.

- Faça Damian. Agora por favor, antes que eu perca a coragem.

Ele se arrastou para mim, tirou o cabelo de lado com uma mão enegrecida em carne e osso deixando um rastro de algo pesado e grosso no meu ombro. Eu podia sentir aquilo escorregando pela minha camisa como um caracol. Concentrei-me no brilho suave de sua pele, a inclinação do nariz imperfeito onde séculos atrás alguém tinha quebrado esse perfil perfeito.

Mas não foi o bastante, virei a cabeça para o lado para que ele não tivesse que me tocar mais que o necessário. Vi sua cabeça tensa se aproximar e fechei os olhos. Dentes afiados como agulhas não ajudavam muito. Damian não era forte o suficiente para me encantar com os olhos, não haveria nenhuma mágica para tirar a dor.

Sua boca travou contra a ferida e ele começou a se alimentar. Eu pensei que teria que tentar forçá-lo com meu poder ou levantar um escudo e deixá-lo dentro dele. Momentos depois que seus dentes perfuraram minha pele, algo se deflagrou entre nós. Poder, vínculo, magia, isso arrepiou todos os pêlos do meu corpo.

Damian me abraçou de frente pressionando nossos corações e o poder estourou sobre nós em uma corrida que encheu o quarto com um suspiro. Distante, percebi que havia um vento e ele estava vindo de nós, um vento forjado do toque fresco do vampiro e do controle frio da necromancia, um vento forjado por nós.

Damian era como uma coisa alimentando a minha garganta. O poder tirou a dor, transformou-o em algo mais, senti sua boca na minha garganta, eu o senti engolir o meu sangue, minha vida, meu poder. Juntei tudo em nós e empurrei de volta para Damian. Eu o alimentei com meu sangue.

Visualizei sua pele inteira e perfeita, senti o derramamento desligar o seu corpo. Senti o poder empurrá-lo para fora, eu podia sentir que fluía para fora de nós, não para o chão, mas no chão, passando para a terra abaixo. Estávamos exorcizando-o, nos livrando dela.

Ajoelhamos banhados no poder, um vento jogou o cabelo de Damian no meu rosto e eu soube que o vento estava connosco. Foi Damian quem recuou, ficando atrás do poder entre nós como pedaços quebrados de um sonho.

Ele se ajoelhou na minha frente levantando as mãos para o meu rosto. Elas estavam curadas sob os restos do preto que se esvaia, as mãos foram curadas. Seus braços sararam. Ele embalou meu rosto nas mãos e me beijou. O poder ainda estava lá. Ela fluiu sobre nós através de sua boca em uma linha de energia que queimou.

Recuei do beijo de Damian e consegui me sentar.

- Anita.

Olhei para ele.

- Obrigado. - disse ele.

Concordei.

- Você é bem-vindo.

- Agora - disse Asher: - Acho que é hora de todos nós tomarmos um banho.

Ele levantou-se, a calça e as mãos cobertas com uma gosma preta, eu não conseguia me lembrar se foi quando ele tocou em Damian ou no chão.

Podia sentir essa mesma substância agarrada a minha pele nua onde Damian tinha me tocado. Minhas calças estavam encharcadas com ela dos joelhos para baixo. As roupas teriam que ser queimadas ou pelo menos jogada fora. Esta era uma das razões pelas quais eu mantinha meu macacão no Jeep, para colocar sobre as minhas roupas em cenas de crime e levantar alguns zumbis. Claro, eu não esperava começar esta bagunça antes de deixar esse maldito quarto.

- Um banho seria bom. - eu disse. - Você primeiro.

- Gostaria de sugerir que você vá primeiro. Um chuveiro quente é um luxo maravilhoso, mas para mim e Damian é um luxo não uma necessidade.

- Bem lembrado. - disse eu.

Meu cabelo e o couro cabeludo estavam cheios dessa coisa nojenta e fétida. Eu ficava dizendo "isto", tentava esquecer do fato de que aquilo era parte do corpo de Damian. As vezes quando você vê algo realmente horrível tem que se distanciar dele, a linguagem é uma boa maneira de fazer isso. Quando você está segurando pedaços de alguém amado em suas mãos tem que ficar longe, ou você corre gritando.

Lavei bem as mãos o suficiente para que pudesse vasculhar minha mala sem contaminar a roupa, escolhi uma calça jeans e camiseta pólo. Asher apareceu atrás de mim. Eu olhei para ele.

- O que é? - Eu perguntei. Parecia rude até para mim. - Quero dizer, o que foi agora?

Asher me recompensou com um sorriso.

- Vamos nos encontrar com Colin hoje à noite.

Concordei.

- Oh, sim. Ele está definitivamente no meu cartão de dança esta noite.

Ele sorriu e balançou a cabeça.

- Nós não podemos matá-lo Anita.

Olhei para ele.

- Você quer dizer que não podemos porque é muito difícil, ou não podemos porque não devemos fazer?

- Talvez os dois, mas certamente o último.

Eu estava ficando com muita raiva.

- Ele enviou Nathaniel para que o víssemos morrer. - Olhei para a mala, não para ele, apenas não queria olhar para cima. Havia um aro de negritude na base das minhas unhas que mesmo esfregando na pia não tinha saído. Houve um momento em que o poder se quebrou entre nós, era muito difícil não pensar nisso. Foi só depois que fui ao banheiro limpar as mãos que comecei a tremer, fiquei lá até voltarem ao normal. O medo estava sob controle, tudo o que restava era a raiva.

- Acho que ele não queria matar ninguém Anita. Acho que foi um teste.

- Um teste de quê?- Eu perguntei.

- Para saber quanta energia você realmente tem. De certa forma foi um elogio. Ele nunca teria contaminado Nathaniel se achasse que não tinha qualquer esperança de salvá-lo.

- Como você pode ter tanta certeza?

- Porque matar um pomme de outro vampiro-mestre é um insulto mortal, algumas guerras começaram por menos que isso.

- Mas ele sabe que não podemos entrar em guerra contra ele sem que o Conselho venha atrás de nós.

- É por isso que não podemos matá-lo. - Asher levantou a mão, o que me fez parar com a boca aberta. Fechei-a. - O último mestre que você matou estava ameaçando a sua vida diretamente. Você o matou para se proteger, autodefesa é permitida. Colin não nos ofereceu violência pessoal.

- Isso é cortar o mal pela raiz, Asher.

Ele deu um aceno gracioso.

- Oui.

- Então se nós o matarmos, o Conselho volta à cidade e zera o nosso relógio?

Linhas franzidas se mostravam de leve entre os olhos, acho que ele não entendeu a gíria.

- Eles vão nos matar. - disse ele.

Eu conheci alguns membros do Conselho e sabia que ele estava certo. Jean-Claude tinha inimigos entre eles e agora eu também, não queria dar ao pesadelo de todos os vampiros uma desculpa para que voltassem a Saint Louis e nos exterminassem.

- O que podemos fazer? O que podemos fazer Asher, eles vão pagar pelo que fizeram a Nathaniel.

- Concordo, se não fizermos nada para vingar o insulto será visto como um sinal de fraqueza, e Colin pode vir contra nós e nos matar.

- Por que tudo é tão complicado com vocês?- Eu perguntei. - Por que Colin não acredita que viemos somente para resgatar Richard?

- Porque nós não deixamos a cidade. - A voz Nathaniel estava fina, mas constante da cama. Ele piscou os olhos lilases para mim. Cherry havia enfaixado o peito e a ferida no pescoço estava coberta com um grande pedaço de gaze. A ferida na coxa foi igualmente enfaixada, mas a colcha o cobria da cintura para baixo.

- Quando Richard saiu da cadeia, Colin esperava que saíssemos da cidade. Quando não fizemos isso ele pensou que você pretendia assumir o seu território.

Fui ao lado da cama.

- Zane disse que você saiu com uma das fêmeas de Verne. Como os vampiros se apossaram de você?

- Mira. - disse ele.

- Como é?- Eu disse.

- O nome dela é Mira. - Ele olhou para longe como se não quisesse me olhar enquanto falava. - Ela me levou para casa e tivemos relações sexuais, então ela saiu da sala, quando voltou os vampiros estavam com ela. - Ele olhou para mim e vi uma necessidade tão crua que me fez recuar.

- Havia muitos deles para que você pudesse lutar Nathaniel, está tudo bem.

- Lutar?- Ele riu e o som foi tão amargo que doía só de ouvir. - Não houve luta, eu já estava acorrentado.

Eu fiz uma careta.

- Porquê?

Ele soltou um longo suspiro.

- Anita, Anita, Deus. - Ele colocou um braço sobre os olhos.

Zane veio em seu socorro.

- Você sabe que Nathaniel é submisso, não é?

Concordei.

- Sei que ele gosta de ser amarrado e ...- A luz raiou. - Ah, ok. Eu entendi. Mira convidou-o para sua casa para algum sexo tipo S e M.

- D e S, dominação e submissão, sim - Zane disse.

Eu respirei fundo, a sala ainda cheirava a fluidos corporais, do tipo desagradável.

- Então ela o embrulhou como um presente e deu a eles?

- Sim. - disse ele baixinho. - O sexo tinha sido bom, ela foi boa no início.

- Boa? - Eu perguntei.

- Dominante. - disse Zane.

- Ah.

Nathaniel virou para o lado puxando a colcha em torno dele.

- O mestre Colin pagou para que levassem um de nós a ele. Qualquer um, não importa quem. Poderia ter sido Jason, Zane, ou Cherry, um de seus animais.

Ele se enrolou no cobertor e ficou abrindo e fechando os olhos, olhei para Cherry.

- Ele está bem?

- Eu lhe dei algo para dormir, não vai durar muito. Nosso metabolismo é muito rápido, ele terá talvez meia hora, uma no máximo, se tivermos sorte.

- Se você não vai tomar banho agora, eu gostaria de ir. - disse Damian.

- Não, já estou indo.

- Mas você não pode vestir as roupas que escolheu. - disse Asher.

Eu fiz uma careta para ele.

- Do que você está falando?

- Jean-Claude enviou uma mala de roupas para esta ocasião. - ele disse.

- Oh não, não vou usar nenhuma merda de laço de couro.

- Eu concordo com você, Anita. - disse Asher. - Se formos lá simplesmente para matá-lo não importa o que usa, mas estamos dando um show e isso Importa. - Merda. Tudo bem, vou me vestir para a ocasião, não vou matar ninguém, mas é melhor que você pense em algo que possamos fazer a eles. Não podem abusar da nossa gente e simplesmente ficar por isso mesmo.

- Eles vão esperar retribuição Anita, estão esperando por isso.

Olhei para Nathaniel que dormia profundamente enrolado no cobertor, apenas a parte superior da cabeça se mostrava.

- Espero que esse castigo seja bom, Asher.

- Eu farei o meu melhor.

Eu balancei a cabeça.

- Faça isso.

Entrei no banheiro sem roupa para vestir porque a mala estava na outra cabana. Achei que com dois caixões no meu quarto eu não precisava da mala. Realmente esperava não precisar abrir a maldita coisa. Odiava vestir roupas chamativas em condições normais. Era sempre um terror quando Jean-Claude resolvia me vestir.


15

Passei xampu três vezes para conseguir limpar meu cabelo. As coisas grudadas no meu corpo pareciam não querer sair a menos que eu limpasse. Há um ponto no meio das costas que você simplesmente não pode limpar sozinho, é uma das poucas áreas em que as pessoas casadas têm uma vantagem sobre nós solteiros. Eu finalmente tive que ligar o chuveiro no jato mais forte e a coisa finalmente desgrudou e saiu pelo ralo.

O material grudava como nenhuma coisa que eu tivesse visto antes, isso incluía cadáveres apodrecendo e zumbis. Nenhum deles era tão difícil de limpar como os fluidos de Damian.

Cherry bateu na porta e trouxe um monte de roupas, não gostei de nenhuma delas, muito couro para o meu gosto. Dei duas viagens de ida e volta envolvida em uma toalha para encontrar a roupa que eu estava disposta a vestir. Havia um corpete de couro vermelho que parecia ser nada além de tiras. Pode ser interessante em um encontro íntimo entre eu e Jean-Claude, mas usá-lo em público estava definitivamente fora de questão.

Escolhi uma camisa de mangas curtas, top de veludo preto com decote, e um sutiã especial. Jean-Claude tinha gentilmente se lembrado do sutiã, se havia uma coisa que meu peito não precisava era ficar mais alto, pelo menos ele não aparecia através da camisa. Tinha um vestido de veludo que necessitaria do sutiã para cobrir o seu decote. Jean-Claude não era um vampiro muito ocupado.

Peguei uma saia de couro como o menor dos males, havia um par de botas altas, roxa e preta que fechava nas coxas. As botas tinham que ter sido feitas sob encomenda para mim. Eu não me lembrava de ter informado a Jean-Claude o número dos meus sapatos, ele praticamente conhecia cada pedaço de mim, aparentemente isso tinha sido o suficiente.

A saia de couro tinha presilhas para o meu coldre de ombro, a camisa era o suficientes para que a arma não ficasse a mostra. Senti as alças laterais um pouco estranhas contra minha pele conforme me mexia.

Adicionei a bainha nas minhas costas com a faca grande e duas bainhas de pulso. Francamente eu queria uma segunda arma comigo. Uma das coisas boas sobre o jato particular de Jean-Claude é que diferente de outras companhias aéreas eu poderia levar várias armas..

Eu tinha uma mini-Uzi presa em uma alça de ombro. Ele tinha um clip que fechava na parte de trás da saia de modo que não girava enquanto eu andava, mas você poderia puxá-la para fora com uma só mão. Quando eu a coloquei, Asher apenas comentou,

- Nós não podemos matá-los, Anita.

Olhei para as armas que tinha colocado no chão, um Derringer americano, uma segunda Browning Hi-Power cano curto, e uma espingarda.

Eu olhei para ele.

- Eu não trouxe tudo o que tenho.

- Que bom ouvir isso. - disse ele. - Mas a metralhadora é uma arma de matar, nada mais.

- O motivo de eu estar com esse equipamento é porque você disse que nós precisamos fazer um bom show. Bem, você não pode causar ferimentos à distância, não pode espalhar a corrupção com qualquer uma das suas mordidas. O que diabos podemos fazer, Asher? O que podemos fazer para impressioná-los? - Eu balancei a Uzi na minha mão esquerda, apontando para o teto. - Se tiver alguém com ele que eu possa matar, vou matá-lo com isso.

- E você acha que vai impressionar ou assustar Colin?

- Você já viu um vampiro cortado pela metade por um desses? - Eu perguntei.

Asher parecia pensar por alguns segundos como se tivesse visto tantas coisas horríveis que não tinha certeza. Finalmente ele balançou a cabeça.

- Não, nunca vi.

- Bem, eu já.- Deixei a arma escorregar de volta em minhas costas. - Isso me impressionou.

- Você fez isso?- ele perguntou com sua voz macia.

Eu balancei minha cabeça.

- Não, só vi o feito.

Jamil ajoelhou-se ao meu lado, ele usava uma coisa que começou a vida como uma camiseta preta, mas tinha sido cortada tão brutalmente no pescoço, braços e barriga que mais parecia um pensamento desejoso de uma camiseta. Cobria apenas seus mamilos. Mas a parte superior de seu corpo quase nu era musculoso e impressionante, esta seria uma noite impressionante. Ele continuava usando sua calça jeans preta e eu estava com ciúmes. Jamil não pertencia a Jean-Claude, portanto, não havia tempo para fabricar algum tipo de roupa de couro para ele. Sinceramente eu não tinha certeza se Jamil viria com a gente, ele veio e trouxe Richard também. Surpresa, surpresa. Jamil pegou algumas roupas para Richard escolher. Shang-Da precisava se trocar, embora como Jamil, ele nunca pertenceria a Jean-Claude o suficiente para ter roupas feitas especialmente para ele. Por isso, tudo o que podia fazer era encontrar algo na mala. Feliz caçada.


16

Damian tinha se recusado a partilhar o banheiro com Asher, embora ambos estivessem sujos e precisassem de alguém para ajudar a raspar o material dos lugares difíceis de alcançar. Eu tinha sugerido que partilhassem um banho porque ambos eram homens. Eu sabia que Asher era bissexual, mas eu ainda enfrentava duramente minha formação do meio-oeste e tentava não me importar com quem Asher fazia sexo ou compartilhava o chuveiro, ele via os dois objetos como algo sexual, eu sabia, e isso realmente não me incomoda, mas de vez em quando lembrar disso me surpreendia, não sei Porquê.

Asher saiu do chuveiro apenas com uma toalha presa à cintura, Damian entrou, o último da noite. Jason ajudou Asher a limpar os lugares mais difíceis de alcançar e não provocou o vampiro, simplesmente entrou e o ajudou a se limpar, depois saiu. Eu realmente queria saber pouco depois da confissão de Jason, se ele provocava os homens da mesma forma que provocava as mulheres, aparentemente não.

As cicatrizes no peito Asher eram muito visíveis. Enquanto caminhava, as cicatrizes em sua coxa direita apareciam entre a toalha, o resto dele era uma perfeição em ouro pálido. Uma vez ele soube o que era andar em qualquer lugar e ter pessoas suspirando por sua beleza. As pessoas ainda ofegavam, mas não pelas mesmas razões.

Zane e Cherry estavam sendo muito cuidadosos em não olhar para ele, mantiveram seus rostos em branco, mas o seu desconforto gritava como se sentissem. O rosto de Asher era suave como se ele não percebesse, mas eu sabia que não era verdade.

Jason não desviou o olhar. Ele usava uma calça de couro, esperou para colocar a camisa e as botas porque ainda tinha que ajudar Damian a tirar o lamaçal de sua pele. Ele se sentou em um dos caixões balançando os pés descalços e olhando para mim. Os olhos dele iam para o vampiro, em seguida, de volta para mim.

Oh inferno, quem morreu e me fez adotá-los? Você acha que andar com criaturas sobrenaturais significa que há muito sexo, e que a tensão sexual é grande, mas a dor é maior. Não sei se era por ser mulher ou outra coisa, mas fazia qualquer coisa para ajudar um dos rapazes. Talvez fosse uma coisa inocente, eu particularmente não me achava inocente. Então, por que fui andando para o vampiro?

Asher estava ajoelhado em frente a mala. Sua volta foi suave e quase perfeita, apenas algumas cicatrizes à direita onde a água benta escorreu de lado. Seu cabelo dourado e grosso estava molhado, a água escorria em linhas de prata pelas costas. Não tinha toalhas suficiente, por isso os rapazes tinham que secar o cabelo com uma toalha usada.

Peguei a toalha que usei em meu cabelo, fui até ele e coloquei a mão em seu ombro. Ele esquivou-se abaixando a cabeça, tentando jogar o cabelo molhado para cobrir o rosto marcado. O gesto era automático, sem pensar, e vê-lo fazer isso fez doer meu coração.

Se fossemos amantes eu teria lambido a água de seu peito, minha língua acariciando as cicatrizes profundas, talvez até mesmo deslizado a mão sob a toalha. Mas não éramos namorados, e eu nunca o tinha visto nu. Não sabia o que estava sob a toalha. Ele me disse uma vez que ainda estava totalmente funcional, mas não me disse o que tinha sob a toalha. E eu ficava tão confortável com ele que não queria saber. Se era tão ruim como as cicatrizes no peito, estava quase certa que não queria ver. Sim, eu admito que havia uma pequena parte de mim que queria saber por mera curiosidade.

Eu fiz o melhor que pude, coloquei o meu rosto contra a aspereza da sua bochecha direita.

- O que você vai vestir?

Ele suspirou e inclinou seu rosto para mim, uma mão tocando a minha, deslizando o meu braço sobre o peito úmido.

- Acho que precisamos chocá-los. Vou usar pouca coisa.

Virei o suficiente para ver seu rosto. Ele manteve a minha mão apertada contra seu peito, descansando sobre a perfeição harmoniosa do seu lado esquerdo.

- Você tem certeza?

Ele sorriu mas hesitou ao mesmo tempo e eu não podia ler seus olhos. Ele acariciou minha mão e me soltou.

- Estou acostumado com o efeito que tenho sobre as pessoas ma chérie. Tive séculos para utilizá-lo em minha vantagem.

Levantei-me e envolvi a toalha sobre seus ombros.

- Vai precisar dela em seus cabelos.

Ele agarrou as extremidades da toalha como um xale pressionando o pano em seu nariz e boca.

- Tem cheiro do perfume doce de sua pele.

Toquei um fio dourado de seu cabelo.

- Você diz as melhores coisas.

Olhei para baixo no azul fosco dos seus olhos e senti algo em meu corpo se apertar. A súbita flexão da luxúria me fez recuperar o fôlego, as vezes acontece. Às vezes é apenas um gesto, um movimento de cabeça e você prende a respiração, seu corpo reage a um nível que não pode controlar. Quando isso acontece você finge que não, você esconde. Deus nos livre que o objeto de desejo saiba o que você está pensando. Mas esta noite eu deixei aparecer em meus olhos, deixei que ele visse como eu me sentia.

Ele pegou minha mão e colocou um beijo na minha pele.

- Ma Cherie.

Jason veio para perto de nós.

- Droga. - ele disse.

- O que? - Eu perguntei.

- Você me viu nu ou quase. Estivemos perto e muito íntimos. - Ele suspirou. - E você não olhou para mim assim.

- Com ciúmes? - Eu perguntei.

Ele parecia pensar por um segundo, depois assentiu.

- Sim, acho que estou.

Asher riu e o som era palpável, suave como uma pena sendo passada em sua pele por uma mão experiente.

- Nesse corpo liso, perfeito, em plena flor de sua juventude, vivo e respirando, e você está com ciúmes de mim. Que amor.

Uma batida na porta nos salvou de uma discussão mais aprofundada, peguei a Browning e fiquei de costas para a parede perto da porta.

- Quem é?

- É Verne.

Eu apartei a cortina e olhei para fora, ele parecia estar sozinho. Abri a porta e o conduzi para dentro. No momento em que ele estava de costas para mim pressionei o cano da arma em suas costas e chutei a porta fechada.

Ele congelou.

- O que é isso?- ele perguntou.

- Você nos diz. - eu disse.

- Anita. - disse Asher.

- Não, ele é o Ulfric. Ele supostamente tem o seu sólido bando sob controle.

Eu sentia suas costelas expandir através do cano da arma.

- Eu posso cheirar a merda no tapete, nos lençóis. Colin veio nos visitar?

Enfiei o cano forte o suficiente em suas costas para deixar uma contusão.

- Ele deixou um presente. - eu disse.

- Ele nos deu um dos seus presentes uma vez. - disse Verne. - Sei o que estou cheirando aqui porque segurei a mão de Erin enquanto ele apodrecia na morte.

- Por que eu deveria acreditar em você?

- Se você tem problemas com os homens de Colin, por que está apontando uma arma para mim?

- Um de seus lobos atraiu Nathaniel para fora e entregou-o aos vampiros.

Novamente senti o movimento através do cano da arma quando ele virou a cabeça para olhar para a cama.

- Por que ele não está morto?

- Isso é problema nosso.

Ele balançou a cabeça.

- Qual dos meus lobos entregou o seu gato para Colin?

- Mira. - eu disse.

- Merda, eu sabia que estava chateada porque Richard parou de se encontrar com ela, mas nunca pensei que passaria para o lado dos vampiros.

Asher caminhou para nós.

- Pelas regras da hospitalidade você pode ser responsabilizado pelas ações de seu bando.

- O que posso fazer para compensar esta quebra do protocolo?

As palavras soavam demasiado formal para Verne.

Debrucei-me para ele porque a arma não poderia chegar mais perto sem entrar em seu corpo. Tinha que fazer o meu ponto de alguma forma.

- Como vou saber que você não disse a ela para fazer isso?

- Eu lhe disse o que ele fez com Erin. Colin disse que estávamos ficando acima de nós mesmos, esquecendo que os vampiros são mais poderosos do que qualquer outro animal. Como diabos você curou seu leopardo?

- Seu nome é Nathaniel. - eu disse.

Verne respirou fundo deixando o ar sair lentamente.

- Como você curou Nathaniel?

Deixei meus olhos passear pelo corpo de Verne e depois para Asher. Ele confirmou com a cabeça e me afastei o bastante para ficar fora de seu alcance no caso de Verne se virar sobre a arma. Mantive a arma apontada para ele porque eu ainda estava muito perto. Mesmo um homem normal e armado apenas com uma faca poderia atacar a essa distância.

- É um grande risco para nós mesmos. - disse Asher.

- Como?- Verne perguntou, ele se voltou para a cama como se eu não tivesse nenhuma importância. Asher disse-lhe como curamos Nathaniel.

- E nenhum de vocês foi envenenado por isso? - Verne perguntou.

- Damian foi afetado. - Asher disse.

Verne procurou pelo quarto.

- O vampiro de cabelos vermelhos?

Asher assentiu.

- Eu posso ouví-lo no banheiro, ele deveria estar morto.

- Sim, deveria.

Verne se virou e me olhou então.

- Nosso Vargamor disse que sentiu o seu poder esta noite. Disse que você conjurou uma espécie de magia.

- Eu não sei o que é um Vargamor. - eu disse.

- A mulher sábia do bando, geralmente uma bruxa, mas nem sempre. Às vezes apenas um psíquico. A maioria do bando não se incomoda com eles. Como você salvou o vampiro quando ele começou a apodrecer?

Eu guardei a Browning. Primeiro: Não conseguiria manter a arma em minhas mãos para sempre; segundo: eu estava começando a acreditar em Verne.

- Eu sou uma necromante,Verne. Isso ajudou a curar Damian.

Seus olhos se estreitaram.

- Só isso?

Eu ri.

- Não, não foi só isso. Estivemos malditamente perto de não salvá-lo, mas conseguimos.

- Você pode curar alguém do meu bando?

- Será que Colin fez isso com alguém do seu povo?- Eu perguntei.

Ele balançou a cabeça.

- Não, mas se ficarmos com você ele fará.

- Por que você está com a gente nisso?- Eu perguntei.

- Porque odeio aquele filho da puta sanguessuga.

- Se isso for verdade, então Mira quebrou a lei do bando. - Jason disse.

Verne assentiu.

- Normalmente eu chutaria seu rabo. Ela desobedeceu a mim e feriu um dos seus. Sua raiva tem procedência.- Ele olhou para Asher, então para mim, como se não estivesse cem por cento certo de pedir permissão. - O que meu bando pode fazer para que haja paz entre nós?

Olhei para ele, a cabeça para um lado. Eu não gostava da idéia de que um de seus lobos tinha traído Nathaniel, fez-me não confiar nele, mas entendi por que Mira estava puta. Richard a tinha rejeitado e uma mulher desprezada era capaz de tudo.

- Primeiro, atrase a cerimônia de saudação. - eu disse. - Nós vamos nos encontrar com os vampiros, não haverá tempo para mais nada esta noite.

Verne assentiu.

- Feito.

- E eu quero a cabeça de Mira em uma cesta. - eu disse.

- Precisamos de um lugar para nos encontrarmos com Colin. - disse Asher.

- Nosso Lupanar está pronto para o encontro. - disse Verne.

- Isso é muito generoso. - disse Asher.

Era generoso até demais.

- Você entende que não vamos matar Colin por isso? Que o que acontecer hoje à noite, a menos que ele nos ataque e nos obrigue a nos defender, iremos embora em poucos dias e Colin ainda será o mestre da cidade?

- Quer dizer que se eu ajudar você a machucá-lo, ele pode guardar rancor? Concordei.

- Sim.

- Erin era um bom garoto, ele não era um dos jovens que foram contra os vampiros. Escolheram-no porque era um dos meus lobos.

- Nathaniel disse que Mira foi paga para levar um dos nossos animais para Colim. - eu disse

- Parece coisa ele. - As mãos de Verne se fecharam em punhos, seu poder corria através da cabana como uma linha de calor. - Eu queria que ele pagasse pelo que aconteceu com Erin, mas não tenho poder para lutar contra ele.

- Você não quer vê-lo morto?- Eu perguntei e parecia surpresa.

- Colin na maior parte das vezes nos deixa sozinhos. Mas o melhor é que ele não pode chamar os lobos. Se o matássemos, um novo mestre tomaria seu lugar, talvez um que controlasse os lobos. Talvez um mais forte e mais filho da puta que ele. Mata-lo seria ótimo, mas eu não sei o quanto isso custaria ao bando.

- O diabo que você conhece ou o diabo que ainda vai conhecer. - eu disse.

Verne me olhou por um segundo depois assentiu.

- Sim.

- Ótimo. - eu disse - Vamos aumentar o fogo sob este demônio em particular e assar suas bolas.

Em uma das poucas vezes nesta viagem todos pareciam estar de acordo. Eu estava acostumada a matar vampiros, não puní-los, porque aprendi há muito tempo que ou você mata os monstros ou os deixa se foder sozinho. Uma vez que você puxa a sua cauda, metaforicamente falando, nunca se sabe como vão reagir. Desculpe, cancele isso. Eu sabia exatamente como Colin reagiria. A pergunta era; quanto sangue seria derramado e se poderíamos sair disso sem matar alguns dos nossos. Eu não dou a mínima se vou matar os vampiros de Colin, na verdade eu pensava lá na frente.


17

Eu andei por um mundo de sombras da lua prateada e os contornos pretos das árvores. Os saltos das botas eram baixos e não eram realmente ruins para andar pela floresta. Não era o conforto de qualquer roupa que tornava desconfortável estar na floresta, era o calor e o ruído. Havia suor na curva dos meus joelhos debaixo do nylon e do couro. Eu tinha adicionado uma jaqueta de couro que peguei emprestado de Jason. A jaqueta escondia a mini-Uzi e a bolsa de couro grande que eu tinha atirado sobre um ombro. A bolsa era de Cherry e tinha uma lata de spray aerosol nele. Eu tinha um isqueiro de ouro no bolso do casaco. O isqueiro pertencia a Asher. Estava quente demais para usar a jaqueta.

O couro suspirava cada vez que eu me mexia. Sob outras circunstâncias poderia ser interessante, mas no momento era irritante. Dica de segurança Importante: Não tente se deslocar entre as pessoas usando roupa de couro nova, pelo menos não de pessoas com audição sobrenatural. Claro, não íamos aprontar com ninguém hoje à noite, os vampiros sabiam que estávamos chegando.

Os lobos de Verne tinham entregado a mensagem. Uma vez que Richard entrou em cena, a minha natureza desconfiada foi ignorada. Se Verne disse aos vampiros onde nos encontrar, então, naturalmente Richard acreditou nele. Sinceramente, eu também, mas ainda não acredito como Richard aceita facilmente a palavra Verne.

Claro, Richard visitava o bando de Verne à vários anos no verão, ele os tinha como amigos. Eu respeitava a amizade, só não confiar sempre nela. Ok, eu não confio em amigos de outras pessoas. Confiava nos meus porque eu sempre confiei em meu próprio julgamento. O que significava, eu acho, que ainda não confiava no julgamento de Richard. Não, eu não confio.

Pensar nele era suficiente. Eu podia senti-lo a minha esquerda como uma presença calorosa em movimento durante a noite de verão. Eu parei por um momento, podia sentir o ritmo do seu corpo conforme ele se movia. Eu estava quase tonta, tropeçando, quando a imagem se afastou.

Zane segurou meu braço.

- Você está bem?

Concordei e me afastei dele, não o conhecia muito bem ainda. Eu não era tão sentimental com pessoas que eu não conhecia, mas no momento em que me afastei senti que ele recuava. Eu sabia, sem qualquer tipo de magia que tinha ferido seus sentimentos, eu era a sua Nimir-ra, sua rainha leopardo e deveria gostar dele, ou pelo menos não desgostar. Não sabia se me desculpar deixaria a coisa pior ou melhor, por isso não disse nada.

Zane afastou-se através do bosque deixando-me sozinha. Ele usava calça de couro, colete, e botas, a mesma roupa que usou no avião. Engraçado como ter Zane como guarda-costas era muito bom esta noite.

Richard parou de se mexer e olhou-me através da distância que nos separava. Ele estava todo vestido de preto: calças de couro e uma camisa de seda que se agarrava ao seu novo e melhorado musculoso superior. Ele levantava peso desde que Jean-Claude fez uma última observação sobre suas camisas. O luar era forte o suficiente para que eu pudesse ver seu rosto em destaques em negrito, só os olhos estavam perdidos na sombra, como se ele fosse cego. Mesmo daqui, eu podia senti-lo como uma linha de calor no meu corpo.

Anteriormente Asher tinha deixado meu corpo em brasa, mas agora em pé na floresta quente, em pleno verão, vendo o brilho do luar refletindo a seda e o couro no corpo de Richard, vendo seu cabelo brilhar como uma nuvem suave em torno de seus ombros, isso fez meu peito se apertar, eu estava mais próxima às lágrimas do que a luxúria porque ele não era meu namorado. Se eu gostasse ou não, se eu quisesse ou não, sempre lamentaria não ter ficado com Richard. Eu tive oportunidade de ficar com outros rapazes intimamente no passado, mas nunca me lamentei por dizer "não" antes. Na verdade, sempre senti como se tivesse evitado uma bala. Apenas Richard me fazia lamentar.

Ele começou a andar em minha direção. Isso me fez desviar o olhar como se tivesse em um restaurante ou algo assim, e seria pega olhando para o meu ex. Lembrei-me de uma noite depois da faculdade, quando eu estava em um restaurante com uns amigos e vi meu ex-noivo com sua nova namorada. Ele caminhou para nós como se fosse me apresentar a ela. Eu fugi para o banheiro feminino e me escondi até que uma das minhas amigas veio e me disse que a barra estava limpa. Quatro anos atrás, eu sairia correndo para me esconder porque eu o tinha abandonado e não nos falávamos mais. Agora eu estava ali parada não porque o tinha abandonado, fiquei parada porque meu orgulho não me deixaria correr entre as árvores e fingir que eu não estava fugindo.

Fiquei lá no escuro prateado com meu coração batendo na garganta e esperei ele vir para mim.

Jamil e Shang-Da estavam juntos no escuro observando, não o seguiram, como se ele os tivesse ordenado para ficarem parados. Mesmo daqui eu poderia dizer que Shang-Da não gostou. Tanto quanto eu podia ver, Shang-Da não tinha mudado de roupa, ainda estava todo de preto, com seu terno, camisa e acessórios.

Richard chegou a ficar cerca de dois metros na minha frente. Olhou para mim e não disse nada. Eu não podia ler sua expressão, não queria ler sua mente novamente.

Eu falei primeiro balbuciando.

- Eu sinto muito por isso Richard, não queria invadir seus pensamentos. Não sou muito boa em controlar as marcas ainda.

- Você está totalmente certa. - disse ele.

Por que será que as vozes no escuro parecem soar mais íntima?

- Está tudo bem com o plano de Asher para hoje à noite? - Eu perguntei somente para dizer alguma coisa quando ele olhou para mim.

Verne soube através de Mira que Colin acreditava que Asher era seu substituto. Ambos os mestres eram de uma idade equivalente, Colin era mais poderoso, mas muito de sua energia extra pode ter sido adquirida através dos laços que fez como mestre da Cidade. Foi a primeira vez que ouvi falar de um mestre que poderia adquirir energia extra. Vivendo e aprendendo.

- Eu entendo que Asher precisa convencer Colin de que não veio pegar seu lugar. - disse Richard.

Asher decidiu que a maneira de fazer isso era convencendo Colin que estava apaixonado por mim e por Jean-Claude. Na verdade eu não tinha certeza de como me sentia sobre o plano, mas estávamos todos de acordo, até mesmo Richard, que os vampiros locais poderiam não acreditar que os laços de amizade e nostalgia feitas por Asher deixava-o feliz onde estava. Os vampiros são como as pessoas em um aspecto, eles acreditam em uma explicação sexual antes de algo inocente. Mesmo a morte não muda a característica humana de estar dispostos a acreditar no pior de uma pessoa e não o melhor.

- Não é da minha conta o que você faz ou com quem você faz, lembra?

Minha voz era muito mais neutra do que as palavras.

- Fiquei envergonhado no banheiro, você me pegou desprevenido.

- Eu me lembro. - disse eu.

Ele balançou a cabeça.

- Se supostamente vamos exibir nosso poder esta noite, significa que precisamos usar as marcas.

- Mira disse a eles que você estava entrevistando candidatas a lupa. Eles sabem que nós não estamos juntos. - eu disse.

- Nós não temos que mostrar a felicidade doméstica Anita, apenas o poder.

Ele estendeu a mão para mim.

Olhei para ela, a última vez que ele me conduziu através da mata no verão foi na noite em que matou Marcus, a noite em que tudo tinha dado errado.

- Eu acho que não posso dar outro passeio pelo bosque Richard.

Sua mão se fechou em um punho.

- Eu sei que te tratei mal aquela noite Anita. Você nunca me viu transformado e fiquei em cima de você quando não podia fugir. Eu pensei sobre isso, não poderia ter escolhido uma maneira pior de apresentá-la ao que eu era. Sei disso agora e sinto muito medo em você.

O medo não descrevia completamente como eu me senti, mas não disse isso em voz alta. Ele estava pedindo desculpas e eu aceitaria.

- Obrigada Richard, eu não queria machucá-lo. Eu só ...

- Não foi possível lidar com isso. - disse.

Suspirei.

- Não foi possível lidar com isso.

Ele estendeu a mão para mim.

- Sinto muito Anita.

- Eu também Richard.

Ele deu um pequeno sorriso.

- Nenhuma mágica Anita, apenas a sua mão na minha.

Eu balancei a cabeça.

- Não.

- Medo? - ele perguntou.

Eu olhei para ele.

- Quando não precisarmos das marcas poderemos nos tocar, mas não aqui, não agora.

Ele chegou a tocar meu rosto e ouvi sua camisa de seda se rasgar. Ele abaixou o braço e colocou três dedos na costura rasgada.

- Essa é a terceira vez que acontece. - Ele verificou a costura no outro braço, pondo a mão inteira na mesma. Ele virou-se e mostrou-me as costas, as costuras nos ombros se separaram dos dois lados, como bocas.

Eu ri, e eu não faço isso com frequência.

- Você parece o Incrível Hulk.

Ele forçava os braços e ombros como um fisiculturista. O olhar de concentração irônico em seu rosto me fez rir. A seda rasgou com um som quase molhado. A seda quando se rasga parece carne, só couro soa mais vivo sob uma lâmina.

Sua carne bronzeada se mostrava pálida através do pano preto como se uma faca invisível a cortasse. Ele se endireitou, uma manga tinha rasgado tanto no ombro que agitou em torno de seu braço. As costuras na parte superior do peito eram como sorrisos gêmeos.

- Sinto-me um projeto. - ele disse e se virou mostrando as costas, a camisa tinha rasgado ficando em farrapos.

- Agora é apenas lixo. - eu disse.

- Levantei muito peso desde coloquei essa camisa.

- Você está perigosamente perto de ficar muito musculoso. - eu disse.

- Você acha que eu não consigo?

- Sim, eu sei que consegue.

- Você não gosta?

Ele pegou a frente da camisa e puxou, a seda rasgou como um grito suave. Ele jogou a seda para mim, eu a peguei por reflexo, sem pensar.

Ele pegou o que restou da camisa sobre os ombros e puxou sobre sua cabeça, expondo cada centímetro do seu peito e ombros. Forçou os braços para cima, fazendo os músculos se moldarem contra a pele do estômago ao ombro.

Ele não só me fez prender o fôlego, me fez esquecer de respirar por alguns segundos de modo que quando eu me lembrei, minha respiração saiu em um suspiro trêmulo. Muito esforço para ser fria e sofisticada.

Ele baixou os braços e tudo o que restava eram as mangas, puxou como um stripper tirando as luvas longas e deixando os pedaços de seda cair ao chão. Ele ficou me olhando, nu da cintura para cima.

- Devo aplaudir ou dizer: "Sr. Zeeman, que ombros grandes você tem". Estou ciente que você tem um corpo grande Richard, não tem que esfregar meu rosto nele. Ele se virou para mim e estava tão perto que um pensamento teria feito contato.

- O que é uma boa idéia. - disse ele.

Eu fiz uma careta para ele porque não tinha entendido.

- O que é uma boa idéia?

- Esfregar seu rosto no meu corpo. - disse ele, a voz tão baixa que era quase um sussurro.

Corei e esperei que ele não pudesse ver no escuro.

- É uma expressão Richard, você sabe que eu não queria dizer isso.

- Eu sei, mas ainda é uma boa idéia.

Eu recuei.

- Vá embora, Richard.

- Você não sabe o caminho para o Lupanar. - disse ele.

- Vou encontrar de qualquer maneira.

Ele começou a estender a mão para tocar o meu rosto e eu quase tropecei. Ele deu um sorriso rápido e foi embora correndo por entre as árvores. Eu podia sentir sua energia como o vento em uma vela. Eu via a energia da floresta, da noite, a sobrecarga da lua, e se eu quisesse poderia correr com ele. Cruzei os braços me concentrando no bloqueio, precisava cortar a energia entre nós.

Quando me senti sozinha e trancada dentro de minha própria pele novamente, abri os olhos. Jason estava tão perto que me fez pular, ele também me fez perceber como eu tinha sido negligente.

- Droga Jason, você me assustou.

- Desculpe, pensei que alguém deveria ficar para trás e ter certeza que os vampiros fugiriam de você.

- Obrigada.

- Você está bem? - ele perguntou.

Eu balancei a cabeça.

- Estou bem.

Ele sorriu e o riso não chegou a seus olhos.

- Ele está cada vez melhor. - disse Jason.

- Cada vez melhor em que?- Eu perguntei. - Em ser um Ulfric?

- Em te seduzir. - Jason disse.

Olhei para ele.

- Você se lembra como eu estava com ciúmes do jeito que você olhou para Asher?

Concordei.

- O modo como você olha para Richard ...- Ele apenas balançou a cabeça. - É alguma coisa.

Eu respirei fundo e soltei o ar lentamente.

- Não importa.

- Não importa. - disse ele. - Isso não te faz feliz, mas é importante.

E para isso não havia absolutamente nada que eu pudesse dizer. Começamos a andar pela floresta na direção que os outros tinham ido, não precisamos usar o faro.


18

Encontramos o Lupanar e nós não precisamos de uma direção, tínhamos o nariz de Jason e minha capacidade de sentir os mortos. Eu supunha que todos os lupanars eram os mesmos, mas poucos metros adiante eu sabia que estava errada. O que quer que fosse que estivesse na frente, a morte havia se misturado a ele: a morte antiga. Eu me sentia quase inquieta, ás vezes você está na floresta e encontra um. Um antigo cemitério onde alguém foi enterrado sem ritos, apenas um buraco raso no solo. Os mortos não gostam muito de buracos rasos. Ele precisa ser profundo e amplo ou eles ficam inquietos. A cremação cuida de tudo isso na verdade. Eu nunca conheci o fantasma de alguém que tivesse sido cremado.

Podíamos ver o brilho suave dos faróis por entre as árvores quando Jason parou tocando o meu braço.

- Eu não gosto do que estou cheirando. - disse ele.

- O que você quer dizer? - Eu perguntei.

- Um corpo na superfície por um longo tempo.

- Um zumbi? - Eu fiz uma pergunta.

Ele balançou a cabeça.

- Não, mais seco, mais do que isso.

Nós dois nos olhamos, eu tinha certeza que estávamos pensando a mesma coisa; um vampiro que podia apodrecer. Percebi que eu estava segurando seu braço e ele estava segurando o meu. Ficamos no escuro como crianças se perguntando se o ruído era realmente um monstro ou somente o vento. Nenhum de nós deu o próximo passo para descobrir.

Se tivéssemos lá apenas para matá-los, tudo daria certo, derrubar e queimar era meu estilo ultimamente. Cada vez que nos aproximamos dos vampiros no seu próprio território e por suas próprias regras, eles se machucavam. De repente percebi o quanto eu não queria entrar nesse lugar e negociar com os monstros. Eu queria pressionar uma arma debaixo do queixo de Colin e puxar o gatilho, queria fazer isso com ele. Eu não queria entrar lá e dar-lhe poder sobre mim através de algumas antigas regras de hospitalidade.

Damian veio deslizando por entre as árvores, ele estava vestido com o uniforme padrão, calça de couro preta tão apertada que você sabia que não usava nada por baixo, uma camisa preta de seda com decote no pescoço, parecia quase uma camisa de mulher. Seu cabelo comprido ajudava na ilusão de feminilidade, mas o peito e o ombro que apareciam fora da camisa arruinavam o efeito: masculino, definitivamente masculino.

Jason usava um traje quase idêntico, exceto a camisa e as calças que eram de cetim, embora as botas até o joelho fossem idênticas. Pela primeira vez percebi que Jason era mais largo nos ombros do que Damian. O que aconteceu recentemente? Olhei do lobisomem para o vampiro e balancei a cabeça. Eles crescem tão rápido.

O que eu disse em voz alta foi:

- Vocês parecem cantores de apoio de uma banda gótica.

- Todo mundo está esperando por você. - disse Damian.

Eu percebi que ainda não queria ir, senti Jason sacudir a cabeça.

- Não. - disse ele.

- Você está com medo? - disse Damian.

Jason assentiu e eu fiz uma careta. Jason e eu geralmente éramos mais corajosos do que isso, não importa o quanto as coisas fossem desagradáveis.

- O que foi Damian? O que está acontecendo?

- Eu lhe disse o que Colin era.

- Você o chamou de bruxa noite. Ele pode se alimentar do medo, isso deveria ser uma pista? - Eu perguntei.

- Ele também pode causar medo nos outros. - disse Damian.

Respirei profundamente e me obriguei a relaxar o aperto no braço de Jason.

- Isso faz sentido. - disse eu. - Dessa maneira eles podem garantir uma refeição, certo?

Damian assentiu.

- Ele gosta disso, o medo é como uma droga para uma bruxa noite. Minha velha mestra dizia que era melhor do que sangue porque ela podia caminhar por um mundo de medo. Se desejasse, poderia se mover através de um mundo que tremia, mesmo que levemente em sua passagem.

- E isso é o que Colin está fazendo esta noite? - Eu perguntei.

Jason deixou cair a mão do meu braço. Ele ficou perto o suficiente para que nossos braços se encostassem, mas não ficamos amontoados no escuro como coelhos.

- Eu normalmente posso dizer quando um vampiro está fazendo coisas com espíritos, ele é bom. Isso é diferente do nível de poder dos outros mestres Anita. Minha senhora primeiro disse que era como respirar um ser humano, algo que você faz sem pensar. Ela poderia intensificá-lo, mas ela nunca poderia realmente parar. Um baixo nível de terror o tempo todo.

- Ela era assustadora na cama?- Jason perguntou, acho que ele quis dizer isso como uma brincadeira.

O olhar no rosto de Damian mesmo à luz da lua não era engraçado.

- Sim. - disse ele. - Sim, ela era. - Ele olhou para mim e havia uma intensidade em seu rosto que eu não gostei. Na verdade, ele estendeu a mão e eu a peguei.

Ele disse finalmente.

- Alguns mestres podem alimentar-se de outras coisas, não apenas do medo.

- O que mais? - Eu perguntei.

Asher suspirou através de minha mente, e deve ter feito o mesmo com Damian porque nós dois saltamos. Sua voz veio como um sussurro em uma sala próxima, quase como se fosse um som sem palavras.

- Rápido.

Não houve mais conversa. Tínhamos pressa.

A lanterna brilhou através das árvores como pequenas luas amarelas. Damian deslizou através dessa última linha de árvores para a clareira. Eu não planeio, tropecei ao longo da borda externa da clareira. Havia um círculo de poder nesta terra, tão antiga, e andei tantas vezes que era como uma cortina à espera de ser desenhada em torno do Lupanar. Não precisaria de quase nenhum poder para levantar o que estava enterrado aqui.

Quando parei de ver com minha visão interna e olhei para dentro da clareira, parei de andar. Eu estava olhando fixamente, Jason ficou ao meu lado e encarou comigo. Valeu a pena olhar um pouco o Lupanar do Clã Oak Tree.

Era uma clareira enorme com uma árvore de carvalho no centro, mas isso era como dizer que o Empire State é alto. A árvore era como um gigante de cem metros de altura, e subindo. Havia um corpo pendurado em um dos ramos mais baixos, um esqueleto com pedaços secos de tendões segurando um braço para fora, o outro braço tinha se desintegrado ou caindo ao chão. Havia ossos por toda parte debaixo da árvore. Ossos brancos, amarelados, ossos tão antigos que eram cinza. Um tapete de ossos se estendia enchendo o lugar.

O vento aumentou correndo pela floresta, ele enviou as folhas no sussurro de carvalho. O esqueleto rangeu quando balançou no vento. E com o rangido meus olhos se voltaram para a árvore porque havia dezenas de cordas rangendo. A maioria delas estava vazia agora, quebrada ou comida, mas os cabos estalavam e se mexiam com o vento, para cima e para baixo. Eu segui as cordas até o alto da árvore, tanto quanto eu podia ver no escuro ao luar. A árvore tinha que ter mais de cem anos, havia pedaços de corda na parte superior. Eles haviam pendurado corpos nesta árvore por um tempo muito longo.

O esqueleto de repente rodou no vento crescente, mandíbula aberta, globo ocular vazio, refletindo a luz da lanterna por um segundo. O tendão no maxilar cedeu e ficou pendurado balançando como uma dobradiça quebrada. Eu tinha uma vontade terrível de atravessar esse cemitério e arrancar a mandíbula solta ou fixa-la em algo para parar de balançar.

- Meu Deus. - Jason sussurrou.

Tudo que eu podia fazer era balançar a cabeça. Eu não estava sem fala, muitas vezes eu não tinha palavras para isso.

Damian tinha parado e voltado para esperar por nós. Ele parecia estar esperando como se fosse nossa escolta. Finalmente desviei meu olhar para longe da árvore e sua carga terrível, havia bancos em três lados formando um triângulo desconectado. Não havia espaço suficiente entre eles, mas não estava excessivamente apertado, senti a clareira cheia quase como se o próprio ar estivesse cheio de coisas invisíveis correndo para lá e para cá, senti uma onda de arrepios.

- Você sentiu isso? - Eu perguntei.

Jason olhou para mim.

- Sentir o quê?

Acho que não. Isso significava que o que estava tão perto no ar não era algo que pegaria um Metamorfo. Então, o que era?

Um vampiro estava me olhando sentado em um banco próximo. Seu cabelo era castanho, corte curto, seu pescoço pálido e nu. Seus olhos pareciam muito escuro, castanho, talvez, ou preto. Ele sorriu e senti seu poder sobre mim. Ele estava tentando capturar-me com os olhos. Normalmente eu teria olhado para ele, mas não gostei do que estava sentindo naquele lugar. Poder, e não era dos vampiros. Olhei para longe de seus olhos estudando a curva do seu rosto pálido. Seus lábios estavam cheios com um lábio superior definido em um arco perfeito, muito feminino, o queixo pontudo, o nariz muito longo. Era um rosto comum exceto pela boca e os olhos de longos cílios escuros e profundos.

Eu não olhei muito para os olhos, estava me sentindo insegura, como se o chão sob meus pés não fosse muito sólido. Richard deveria ter me dito sobre o Lupanar. Alguém deveria ter me preparado. Mais tarde eu estaria irritada por ninguém ter me dito, agora eu estava apenas tentando descobrir o que fazer sobre isso. Se o clã de Verne praticava sacrifícios humanos ele tinha que ser interrompido.

Damian ficou na minha frente bloqueando a minha visão.

- O que foi agora Anita?

Olhei para ele, a única coisa que me impediu de perder o juízo na frente dos outros vampiros era Richard. Ele nunca tolerou sacrifício humano. Ah, ele poderia ter vindo até aqui uma vez e depois nunca mais voltar e não chamar a polícia, mas ele nunca teria retornado ano após ano. Ele simplesmente não teria aprovado.

Talvez seja esta a maneira do clã de Verne tratar seus mortos. Se fosse qualquer outra coisa eu chamaria a polícia estadual, mas não esta noite. Não, a menos que arrastassem uma vítima gritando. Se fizessem isso, então todas as apostas seriam canceladas.

Eu balancei a cabeça.

- O que poderia estar errado? - Eu disse.

Entrei na clareira indo para o nosso próprio grupo. Era como se os três grupos tivessem a mesma quantidade de pessoas. Isso era típico em um encontro entre grupos sobrenatural. Você sempre negocia com sua comitiva.

Richard levantou-se e veio ao meu encontro, ele ofereceu sua mão e eu aceitei, mas estranhamente naquele momento não me importei se ele estava vestindo camisa ou não, eu estava com raiva dele por não me preparar para este lugar. Talvez ele pensasse que nada mais me chocasse, ou talvez ... Oh, diabos, eu não sei, mas era tudo novo.

Eu o deixei segurar minha mão e o toque de sua pele não significou nada. Eu estava muito confusa e trabalhando muito duro para entender meu temperamento e não ser seduzida.

- Tire o casaco criança, vamos dar uma olhada no que você tem. - disse uma voz.

Virei-me lentamente para olhar o dono daquela voz.

O vampiro tinha cabelos que eu chamaria de ouro se não tivesse o cabelo de Asher para comparar. Os olhos dele poderiam ser azuis ou cinza. Seu rosto tinha congelado antes que completasse vinte anos, jovem o suficiente para que seu rosto fosse fino e liso, como se tivesse morrido antes que sua barba tivesse crescido decentemente.

Ele tinha o rosto de uma criança em um homem alto, esguio, como se tivesse sido inábil na vida. Ele se movia tão suavemente que parecia dançar. Ele se levantou e um vampiro de olhos escuros veio com ele chegando ao seu lado em um movimento de longa prática como se fossem duas partes de um todo.

Havia uma mulher humana entre os oito vampiros, ela parecia uma nativa americana, seu cabelo chegava na cintura e era tão negro quanto o meu na verdade, o dela era reto e grosso. Sua pele era de um castanho escuro, rosto quase quadrado com grandes olhos castanhos e pestanas tão espessa que mesmo à distância eram visíveis.

Se ela usava qualquer maquiagem eu não poderia dizer, era uma daquelas mulheres surpreendentes ao invés de bonita, características muito forte pela beleza convencional, você não esqueceria seu rosto se a visse uma vez.

- Venha menina, tire o casaco. - disse o homem mais jovem.

Eu ficaria decepcionada se não conseguisse ver as armas deles também.

O rosto da mulher ficou maravilhosamente branco, mas havia uma tensão nos ombros fortes. Ela não parecia estar gostando do show.

Richard apertava a minha mão. Pensei que ele estivesse tentando me avisar para não ficar louca, mas ao olhar para seu rosto descobri que era o contrário. Ele estava ficando chateado. A noite estava chegando infernalmente rápido e eu tinha que manter a calma.

- Vocês sempre tratam os visitantes assim ou estou recebendo um tratamento especial? - Eu perguntei.

Ele riu, mas era apenas um riso, ordinário, humano. Ele não podia fazer os truques de voz que Jean-Claude e Asher faziam. Claro, Colin tinha outros talentos. Eu tinha visto seus talentos esculpidos no peito de Nathaniel.

Asher começou a noite vestindo cetim azul pálido, apenas dois tons mais escuro do que seus olhos azuis. O casaco azul escuro era bordado nas mangas e gola, fixado com um desses laços de pano sobre um botão grande. A calça combinava com a jaqueta perfeitamente, seu peito estava muito visível. As cicatrizes pareciam mais duras contra o pano azul. Ele se olhou no espelho do quarto por um longo tempo. Finalmente colocou uma camisa de seda branca embaixo do casaco.

Agora sua camisa branca estava em frangalhos, parecia que garras gigantescas tinham rasgado o tecido. Seu peito se mostrava claramente através do pano arruinado. Não havia sangue. Eu só vi três vampiros que podiam causar danos à distância. Um deles tinha sido um membro do Conselho, mas nenhum deles tinha a delicadeza e o controle de rasgar o tecido tão perto da carne e não tirar sangue. Fomos fundo na competição. Até agora, Colin estava vencendo.

Olhei para Shang-Da e Jamil, eles estavam atrás do banco intactos e ilesos.

- Alguns seguranças. - eu disse.

- Não estamos aqui para guardar os vampiros. - Shang-Da disse.

Olhei para Jamil, ele deu de ombros.

Ótimo, muito bom. Zane estava ainda mais atrás dos lobos. Ele não me olhou com raiva, mas também não deu sinal que me ajudaria, parecia perdido, como um abstêmio solitário em uma degustação de vinhos.

- Eu deveria impedi-lo? - ele perguntou.

Eu balancei a cabeça.

- Não Zane, não você. - Olhei para Richard me perguntando por que ele mantinha todos parados. Asher eu entendia, pedir ajuda é um sinal de fraqueza.

- Retire o casaco ou eu vou retirá-lo para você. - disse Colin.

- Colin, você fez o seu ponto. - A voz da mulher era surpreendentemente profunda,alta e grave.

Colin acariciou a mão dela e sorriu, mas suas palavras não foram gentis.

- Eu digo quando faço meu ponto, Nikki. - Ele afastou-se em seguida rejeitando-a, e a dor da rejeição se mostrou.

Por um momento a raiva queimou naqueles olhos escuros e eu senti o seu poder. Seu poder, não o dele. Ela era uma bruxa, uma vidente ou algo que eu não tinha palavras para definir. Humana da mesma forma que eu: isso é mau.

A raiva desapareceu por trás dessa face escura, estóica, mas eu sabia o que tinha visto. Ela não o amava, nem ele também. Ela era sua serva humana, obrigada a segui-lo por toda a eternidade para o melhor ou para o pior.

- Você quer ver o que está sob o casaco? - eu disse: - Venha aqui e me ajude com isso. Seria a coisa mais cavalheiresca a fazer.

- Anita. - disse Richard.

Acariciei seu braço.

- Tudo bem Richard. Fica calmo.

O olhar em seu rosto era suficiente. Ele não confiava que eu fosse me comportar. Engraçado, a nossa própria maneira, nenhum de nós confiava no outro.

Olhei para Asher, não compartilhamos nenhuma marca, não podíamos ler o pensamento um do outro, mas não precisávamos. Estávamos com nossos traseiros expostos porque os lobisomens não estavam nos ajudando.

Olhei para os oito lobisomens locais. Verne estava sentado no banco com seus lobos prontos em torno dele. Dois deles estavam em forma de lobo do tamanho de pôneis, maior do que qualquer lobo cinzento normal. Verne ainda usava sua camiseta e jeans. Ninguém estava vestido como nós. Mesmo os outros vampiros usavam apenas ternos e vestidos.

Eu nunca tinha visto vampiros vestidos assim ... ordinariamente. A maioria deles tinha um senso de estilo ou pelo menos de teatro. Eles se colocavam em um bom show. Claro que na presença de ossos cobrindo uma árvore, quem precisaria de um show melhor? Evidentemente o Lupanar era um local de animação dos lobos e não de Colin. Novamente eu me perguntava se podia confiar em Verne tanto quanto Richard confiava.

Andei um pouco no centro do triângulo formado pelos três bancos. Esperei que Colin se juntasse a mim.

Ele ficou parado ao lado do vampiro de olhos escuros, sorrindo.

- Agora, por que eu desperdiçaria energia para andar, mesmo poucos metros, quando posso despi-la daqui?

Eu sorri e zombei dele.

- Com medo de chegar muito perto?

- Eu admito que você é uma coisa delicada, mas muitas vezes as aparências enganam. Usei esse meu rosto jovem de menino mais de uma vez para enganar os incautos. Eu não sou um deles Anita Blake.

Ele estendeu uma mão pálida e eu senti a emoção do poder sobre a minha pele antes que cortasse a frente do top de veludo. A cruz saiu do veludo como uma estrela libertada de um cativeiro. A cruz branca queimava e tive o cuidado de olhar para o outro lado. Ela queimava como magnésio, tão brilhante que era quase doloroso. As cruzes brilham em torno dos vampiros, mas não brilham como uma pequena supernova a menos que você esteja em sérios apuros. Eu nunca tinha visto um fulgor como este, quando eu não estava com medo ainda. Sempre acreditei que a cruz reagia ao meu nível de medo como um anel de humor santo. Hoje à noite, pela primeira vez, percebi que pode ter sido a minha fé que lhe permitia brilhar, mas uma vez que a fé estava no lugar, outra coisa tomou conta. Não a minha vontade, mas a dela.

Os vampiros de Colin reagiram exatamente como era esperado. Eles se encolheram jogando seus braços, suas jaquetas ou em um caso, uma saia, na frente de seus olhos. Escondendo-se da luz.

Exceto Colin e o vampiro de olhos escuros. Por que eu não estava surpresa que os dois fossem velhos o bastante e suficientemente poderosos para enfrentar a cruz? Eles não estavam felizes com isso. Estavam protegendo seus olhos contra a luz, mas não estavam agachados.

- Me corte outra vez dentucinho e veja o que mais vai aparecer.

Ele fez o que eu pedi, realmente não esperava que ele fizesse de novo. Cortou-me através do ar, mas o poder caiu longe como o divisor de água em torno de uma rocha.

- Se você quer me machucar Colin, vai ter que se levantar e vir pessoalmente.

- Eu poderia mandar Nikki rasgar sua garganta.

- Eu pensei que você fosse mais do que essa merda, Colin. Ou será que só tem coragem quando pega jovens amarrados e indefesos? É o que você precisa para se sentir como um grande vampiro mau? Alguém amarrado e impotente ou é ele que faz isso para você?

Colin disse uma palavra:

- Barnaby.

O vampiro de olhos escuros ficou na frente de Colin, mais perto da cruz, ele parou incapaz de se aproximar. Então sobre o brilho da cruz eu assisti o rosto de Barnaby começar a apodrecer. A carne suave deslizava para longe, deslizando pelo rosto até que os tendões e os ossos molhados apareceram quando seu nariz caiu mostrando sua cara como um crânio coberto por coisas podres.

Ele se arrastava para mim com uma mão estendida, lembrou-me das mãos de Damian no início da noite. A carne rompida e apodrecida. Exceto que não havia cheiro. O último vampiro que eu tinha visto que poderia apodrecer à vontade, também tinha sido capaz de controlar o cheiro como um desodorante mágico.

Se fosse uma luta eu teria apontado uma arma e o jogado para longe antes que ele pegasse a cruz, mas este era um concurso de vontades, mais nada. Se ele fosse vampiro suficiente para tocar a minha cruz, então eu tinha que ter coragem o suficiente para deixá-lo fazer isso. Eu esperava que ele não pressionasse nossos corpos. Uma vez uma vampira fez isso, e uma queimadura de segundo grau no meu peito não era a minha idéia de diversão.

A cruz queimava e brilhava ainda mais conforme ele vinha para mim. Tive que virar a cabeça porque ela brilhava tanto que doía olhar. Eu sabia que feria ainda mais o vampiro.

Senti sua mão apodrecida deslizar em meu peito deixando algo úmido e semi-sólido deslizar entre os meus seios. Ele pegou a corrente e não a cruz, vampiro inteligente, puxou a corrente e ela quebrou. A cruz tocou em seu braço, e a prata queimava como uma chama tão branca e pura como a luz havia sido.

O vampiro gritou e a jogou girando em um arco brilhante como um pequeno cometa até ser engolida pela escuridão.

Quando meus olhos se ajustaram à penumbra da lanterna mais uma vez eu disse:

- Não se preocupe com isso Barnaby, eu tenho extras.

Ele havia caído de joelhos segurando seu braço. Ainda era um pesadelo apodrecido, mas a carne de sua mão tinha escurecido.

- Mas nem todos têm a sua fé. - disse Colin.

Novamente, assim como na floresta, eu não senti os seus poderes de vampiro chegando, de repente eu estava com medo. Agora eu sabia o que era, não era tão ruim, mas era diferente de qualquer outra habilidade que eu já tivesse visto. Silencioso de algum modo, e mais assustador por causa disso.

- Barnaby, o jovem lobisomem loiro tem muito medo de você. Ele provou o seu tipo antes.

Barnaby levantou-se e tentou se mover, eu fiquei na frente dele.

- Jason está sob minha proteção.

- Barnaby não vai machucá-lo, vai apenas brincar um pouco com ele.

Eu balancei a cabeça.

- Eu dei minha palavra a Jason que não deixaria nenhum vampiro tocá-lo como fizeram a Nathaniel.

- Sua palavra? - Colin disse. - Você é uma americana moderna. Sua palavra não significa nada.

- Minha palavra significa algo para mim. - eu disse. - Eu não lhe dou autorização.

- Eu posso provar a verdade de suas palavras, mas digo que Barnaby tocará em seu jovem amigo e você não pode impedi-lo sem quebrar a trégua. Quem romper a trégua primeiro terá que responder ao Conselho.

Eu me movi com Barnaby continuando em seu caminho.

- Colin, você pode sentir o medo. Você pode sentir como ele está com muito medo de seu amigo aqui.

- Oh sim, teremos um grande festa hoje à noite.

- Você pode quebrar a sua mente. - disse eu.

Alguém tocou minhas costas e eu pulei, era Asher, eu tinha os lobos de Richard ao redor do banco.

Richard e seus guarda-costas tinham se movido em torno de Jason. Eles podem não proteger Asher, mas protegeriam Jason. Barnaby moveu-se para um lado tentando passar em torno de mim. Fui forçada a saltar sobre o banco para me colocar em seu caminho novamente.

Coloquei minha mão esquerda contra seu peito deteriorado, a direita foi para o cabo da Browning. Eu fiz isso e ele viu.

Colin falou. Embora o corpo Barnaby devesse ter bloqueado sua visão, era quase como se pudesse ver através dos olhos do outro vampiro.

- Trégua, se você atirar um dos meus vampiros, então terá problemas.

- Você mandou Nathaniel de volta para nós quase morrendo. Asher disse que era um elogio, que você realmente pensou que eu poderia curá-lo.

- E foi o que você fez, não foi? - Colin disse.

- Sim. - eu disse. - Bem, deixe-me pagar o elogio do mesmo jeito. Acho que se eu atirar em Barnaby à queima-roupa ele vai sobreviver. Já atirei em vampiros apodrecendo antes, isso causou mais danos em suas roupas do que neles.

- Você pode provar a verdade em suas palavras. - disse Asher. - Ela acredita que ele vai viver, o que significa que não é uma violação da trégua.

- Ela acredita, mas espera que ele morra. - disse Colin.

- Quebrando a mente de um dos nossos entourage. - disse Asher - vai quebrar a trégua, também.

- Eu não concordo. - disse Colin.

- Então, temos um impasse. - disse eu.

- Acho que não. - disse Colin. Ele virou-se para Verne. - Verne, ganhe o seu sustento. Tire um dos jovens de seus protetores.

Verne se levantou e seus lobos ficaram em torno dele. Eles se moveram emitindo um raio de energia tão grande que fez minha nuca se arrepiar e minha mão ir para a uma das armas.

Richard disse:

- Verne.

Mas Verne não estava olhando para Richard, estava olhando para mim. Ele estava carregando um pequeno cesto coberto em suas mãos, não esperei para descobrir o que havia na cesta, apontei a arma em seu peito.


19

- Aponte a arma para baixo menina. - disse Verne. - Isso é um presente. Eu mantive a arma apontada agradável e firme no centro do seu corpo.

- Sim, claro.

- Quando ver o que é, vai saber que estamos do seu lado.

- Não escolha o lado errado, cachorro. - disse Colin. - Ou vou deixá-lo muito, muito triste.

Verne olhou para o vampiro. Vi seus olhos sangrar do lobo ao homem enquanto ele estendia o cesto para mim, ele manteve os olhos irritados, olhos assustadores sobre Colin.

- Nós não somos os animais que atendem ao seu chamado. - disse Verne, com uma voz áspera, saiu rosnando baixo. - Você se atreve a ficar no nosso lugar de poder e nos ameaçar. É como o vento fora de nossa caverna, você não é nada aqui.

- Ela não é uma de vocês tampouco. - disse Colin.

- Ela é lupa do Clã Roke Thronnus.

- Ela é humana.

- Ela fica entre você e um lobisomem. Lupa, isso é suficiente para mim.

Barnaby tinha recuado, não sei se ele pensou que eu ia puxar a arma e atirar ou se Colin tinha sussurrado um novo plano em seu crânio apodrecido. Eu não tinha certeza se ainda me importava. Senti algo pesado e molhado escorregando para o sutiã. Era como sentir uma lágrima deslizar por sua bochecha, mas pior, muito pior. Resisti a vontade de limpar-la com Barnaby me olhando. Tão logo ele se rastejou para trás de Colin, usei minha mão esquerda para tirar aquilo e joga-lo no chão.

- Qual é o problema Anita? Isso é muito pessoal para você?

Limpei minha mão na saia de couro e sorri.

- Foda-se Colin.

Verne entrou no centro do triângulo sozinho. Seus lobos ficaram amontoados na frente do banco. Ele chegou a ficar alguns metros na frente da nossa bancada com o cesto nas mãos.

Olhei para Asher, ele deu de ombros. Richard assentiu com a cabeça como se eu tivesse que encontrá-lo. Verne disse que era um presente.

Eu fui ao seu encontro, a configuração da cesta no terreno entre nós. Ele ficou de joelhos. Ajoelhei-me também porque ele parecia esperar por isso. Ele apenas ficou olhando para mim com aqueles olhos de lobo. Ainda parecia um anjo do inferno envelhecido, mas aqueles olhos ... Eu me perguntava se um dia me acostumaria a ver os olhos de lobo em um rosto humano, provavelmente não.

Levantei a tampa articulada da cesta pequena. Um rosto, uma cabeça olhou para mim. Eu me virei. A Browning apareceu na minha mão, apontei para Verne, em seguida para o chão e então pressionei a arma em minha testa.

Finalmente encontrei minha voz.

- O que é isso?

- Você disse que queria a cabeça de Mira em uma cesta. Que, se lhe desse isso haveria paz entre os nossos dois clãs.

Respirei profundamente e olhei para dentro do cesto, ainda de pé, ainda segurando a arma. A boca estava aberta num grito silencioso, os olhos semicerrados como se ela estivesse dormindo, mas eu sabia que não estava. Alguém tinha simplesmente fechado seus olhos depois que arrancaram sua cabeça. Mesmo morta como estava os ossos da face eram delicados, e você sabia pelo menos que era bonita de rosto.

Forcei-me a guardar a arma, ela não poderia me ajudar agora. A deixei atrás dos meus joelhos e fiquei olhando para aquilo. Eu finalmente olhei para Verne e balancei a cabeça repetidamente, olhei em seu rosto e tentei ler alguma coisa nele que eu pudesse gritar ou falar. A expressão era estranha, e não eram apenas os olhos.

Você acha que depois deste tempo todo eu me esqueceria que eles não eram humanos? Eu tinha me esquecido, estava chateada, e falei como se estivesse falando com outro ser humano. Eu estava falando com lobisomens e tinha me esquecido isso.

Ouvi alguém sussurrar e esse alguém era eu. Eu estava sussurrando:

- A culpa é minha. A culpa é minha. - Comecei a colocar a mão esquerda na frente do meu rosto e senti o cheiro da carne podre de Barnaby, foi o suficiente.

Me arrastei para um lado e vomitei. Ajoelhei-me esperando passar. Quando consegui falar, eu disse:

- Vocês não entendem que o termo é apenas uma expressão de merda!

Richard estava lá de joelhos perto de mim. Ele tocou minhas costas suavemente. - Você disse a ele o que você queria Anita. Ela tinha traído a honra do bando. Pode acabar com uma pena de morte. Tudo que você fez foi ajudar a escolher o tipo de execução.

Olhei para ele, eu tinha uma vontade terrível de chorar.

- Eu não quis dizer isso. - sussurrei.

Ele balançou a cabeça.

- Eu sei. - Havia um brilho de tristeza em seus olhos, um conhecimento compartilhado de quantas vezes você não quis dizer aquilo mas disse, os monstros estavam ouvindo, e sempre levam a sério a sua palavra.


20

- Pensei que você fosse mais forte Miss Blake.

Richard me ajudou a ficar de pé e eu deixei. Debrucei-me contra ele por um segundo, minha testa contra a pele macia de seu braço. Afastei-me e fiquei sozinha. Encontrei os olhos de Colin, eles eram definitivamente cinzento, não azuis.

- Suponho que devemos passar pelo protocolo e dançar a valsa por um tempo Colin, mas a última gota da minha paciência está dentro dessa cesta. Portanto pare de reclamar e vamos todos dar o fora daqui.

Ele sorriu.

- Tão compassiva, talvez a sua reputação seja somente falar depois de tudo.

Eu sorri e então balancei a cabeça.

- Talvez seja, mas desde que não devemos matar hoje Colin, isso não importa.

Colin andou para longe de mim e ficou mais perto de seu próprio povo, mas enfrentou Asher. Ele tinha sido rejeitado por sua própria serva humana.

- Eu não serei substituído Asher.

- Eu não vim para substituí-lo. - disse Asher, a voz vazia e neutra.

- Por que Jean-Claude enviaria um mestre quase exatamente da minha idade para minhas terras, contra a minha ordem expressa?

- Eu poderia ter me escondido. - disse Asher. - Mas Jean-Claude pensou que você ia desvirtuar isso. Cheguei sem esconder nada.

- Mas ainda assim você veio. - disse Colin.

- Eu não posso mudar o que aconteceu. - disse Asher. - O que poderia satisfazer a todos?

- Sua morte. - disse Colin.

Todo mundo ficou muito quieto como se todos prendessem a respiração. Comecei a dizer alguma coisa e Richard tocou meu ombro. Fechei a boca e deixar Asher falar, mas era difícil.

Asher riu, aquela risada maravilhosa, palpável.

- Quebrando a trégua Colin?

- Não se eu matar um rival enviado para suplantar-me. Então, estarei apenas me protegendo e dando um exemplo para outros vampiros ambiciosos.

- Você sabe que eu não vim substituir você. - disse Asher.

- Não sei nada do tipo.

- Eu estou contente onde estou.

- Porquê? - Colin perguntou. - Você pode ser o mestre de uma cidade em algum lugar longe do seu triunvirato. Por que você se contentaria com menos?

Asher deu um sorriso muito pequeno.

- Eu prefiro convicções sobre o poder.

Colin balançou a cabeça.

- Me disseram que você está apaixonado por ela e por Jean-Claude. Disseram que está na cama dos dois e é por isso que o Ulfric procura uma nova lupa.

- Se ele cooperar, podemos ser um quarteto feliz. - disse Asher.

Richard se assustou ao meu lado e enrijeceu, foi a minha vez de tocar seu braço e mantê-lo calado.

- Eu tenho ouvido muitas coisas. - disse Colin. - Mesmo estando tão longe. Nós acreditamos que você esteja apaixonado pela menina e por Jean-Claude, estamos conscientes de sua história juntos. Pensamos mesmo que um amante de homens como você faria o seu Ulfric deixá-los. O que não acreditamos é que você esteja na cama de nenhum deles. Acreditamos que esta é uma história patética para salvar a si mesmo.

Eu comecei a andar para Asher, o plano era fazer um show suave de carícias. Eu tentei avisar a ele que seria melhor que fosse leve, mas nunca tive a chance.

Não houve movimento no escuro. Dezenas de vampiros apareceram na escuridão, cercando a clareira. Colin tinha nos distraído enquanto os vampiros passaram para o nosso flanco e nem Asher, nem eu, nenhum dos metamorfos tinham percebido.

- Vamos ficar com Asher, o resto de vocês podem ir embora.

- Você está quebrando a trégua agora. - disse Asher. Ele parecia calmo, vazio, como se Colin não tivesse exigido sua morte.

Verne deu alguns passos para frente.

- Este é o nosso Lupanar.

- Não é sem o seu vargamor. Você deixou seu cofre em casa para o caso das coisas darem errado. Tão protetor de seu animal de estimação humano.

Ele levantou um braço como se convocando o seu povo. - Ninguém que esteja com você é bruxa o suficiente para invocar o círculo.

- Se você matar Asher quebrará a trégua.

- Não vou prejudicar o triunvirato de Jean-Claude, eu simplesmente vou eliminar um rival.

Os vampiros se deslocavam por cima, através das árvores. Eles não tinham pressa, moviam-se como sombras sólida, lenta, como se tivessem toda a noite para apertar o círculo e nos levar.

- Asher? - Eu perguntei sem tirar os olhos daquelas figuras lentas e ameaçadoras.

- Oui.

- Será que essa trégua vai acabar?

- Oui.

- Grande. - disse eu.

Ele avançou para mim, mas eu só tinha olhos para a escuridão exterior e o círculo que ficava cada vez menor. Escolhi um vampiro masculino, delgado, jovem na aparência. Ele não usava camisa, seu peito era de uma brancura pálida, quase brilhando na escuridão.

- O que é isso, ma chérie? - Asher estava muito perto de mim agora. Eu o movi para um lado com o meu braço esquerdo e levantei a mini-Uzi com a direita balançando meu corpo, atirei antes de realmente apontar para as pernas do vampiro fazendo-o ir para trás. Agarrei a arma com as duas mãos e pulverizei em seu corpo. Eu estava gritando enquanto atirava, sem palavras, para não soar ameaçador. Você não pode ouvir os gritos durante o disparo de uma metralhadora. Eu gritava porque ninguém poderia me ajudar, porque a tensão, o horror, algo que vinha até a minha mão na arma e na minha boca.

O sangue que saiu de seu corpo era preto, parecia que seu corpo foi rasgado ao meio por alguma mão gigante. A parte superior do corpo caiu lentamente para um lado e a parte inferior do corpo desabou de joelhos.

O círculo de vampiros havia congelado ou tinha mergulhado na penumbra. O silêncio era ensurdecedor. Minha própria respiração laboriosa parecia dolorosamente alta. Minha voz veio soprosa, mas clara.

- Ninguém se mexe!

Ninguém se moveu.

A voz de Asher quebrou o silêncio.

- Todos nós podemos ir embora daqui esta noite Colin.

- Impressionantemente violentos. - disse Colin - Mas eu acho que você está enganado, o pobre Archie não vai a lugar nenhum.

- Minhas desculpas a Archie. - eu disse.

- Eu devo ter o pagamento por ele Miss Blake.

- Você pode cobrar de mim.

- Ah, eu pretendo Miss Blake. Tenho a intenção de tirá-lo de sua pele.

- Quantos do seu povo você quer que eu mate hoje à noite, Colin? Eu tenho muitas balas.

- Você não pode matar todos.

- Sim, mas eu posso matar meia dúzia e ferir muitos outros. Não os vejo alinhados a você Colin.

Eu queria muito ver a cara dele, mas mantive minha atenção nos vampiros nas árvores, eles não tinham se movido. Os vampiros que já estavam dentro do Lupanar eram problema de outra pessoa. Meu trabalho era manter os outros à distância. Acho que Asher conhecia a divisão do trabalho, eu só esperava que Richard também soubesse.

- Não sei como funciona no território de Jean-Claude, mas sei como funciona no meu. O que você não entende Miss Blake, é que eles não temem nada além de mim.

- A morte é a maior ameaça Colin, eu não blefo.

- Nem eu.

Senti algo sair por entre as árvores. O poder passou de Colin para as figuras á espera. Eu comecei a virar a arma da escuridão para Colin, mas Asher tocou meu braço.

- Ele é meu, veja os outros.

Voltei com a arma para a posição anterior.

- Você fica com o Mestre da Cidade e eu fico com todo o resto. Soa justo.

Richard subiu ao meu lado.

- Você não estará sozinha. - disse ele.

Eu queria perguntar se ele os mataria, se usaria essa força sobrenatural para quebrar espinhas, agarrar e rasgar seus corpos com as mãos como eu tinha feito com a metralhadora, mas não perguntei. Como ameaça Richard era bom, era uma luta entre ele e sua consciência. A única coisa que a consciência de Richard me incomodava era que eu não podia contar com ele para matar. Ele tinha machucado as pessoas e atirado-as de lado, mas se ele não matasse, isso significava que não poderia contar com nenhum deles. Havia mais de uma centena de vampiros e apenas oito de nós. Eu poderia contar dezesseis com o grupo de Verne, mas não sabia se podia contar com ele. Seria bom confiar às minhas costas a Richard, mas eu não confiava nele.

Os vampiros no escuro começaram a apodrecer. Nem todos eles, mas malditamente perto da metade. Eu nunca tinha visto tantos deles apodrecendo. Para um vampiro apodrecer, significa que o vampiro que o fez era o mesmo tipo de criatura, isso quer dizer que Barnaby tinha feito metade deles. Um Mestre da Cidade não permite tal poder a qualquer subordinado. A prova estava olhando para mim com as órbitas em ruína.

- Você foi muito corajoso de compartilhar seu poder com o seu segundo a este grau, Colin. - disse Asher.

- Barnaby é minha mão direita, meu terceiro olho. Juntos somos mais fortes do que qualquer um de nós seria separado.

- Como Jean-Claude e eu. - disse Asher.

- Mas Barnaby é um corruptor, ele traz força a união. - disse Colin. - O que você acrescenta a união com Jean-Claude, Asher? - O medo respirava através do Lupanar. Eu tremia com ferrões na minha pele, meu peito se apertou e tentou impedir a respiração em minha garganta.

- Bruxa Noite. - Damian falou, sua voz como um assobio. Ele cuspiu no chão na direção de Colin, mas não chegou mais perto.

- Sinto o cheiro do seu medo Damian, eu posso prová-lo como cerveja, rico na parte de trás da minha língua. - disse Colin. - O comandante deve ter sido um belo trabalho.

Damian deu um passo para trás, depois parou.

- Você pergunta por que Asher se contenta em permanecer com Jean-Claude quando poderia ir para outro lugar e ser seu próprio mestre. Talvez ele esteja cansado como estou da luta, a luta interna, a política de merda. Jean-Claude me resgatou do meu mestre. Eu não sou um vampiro mestre e nunca serei, não tenho poderes especiais, no entanto Jean-Claude negociou por mim, eu o sirvo não por medo, mas por gratidão.

- Você faz Jean-Claude parecer um fraco. O Conselho não tem medo dos fracos, mas temem seu mestre. - disse Colin.

- Compaixão não é fraqueza. - disse Richard. - Somente aqueles sem compaixão pensam o contrário.

Olhei para ele, mas ele estava olhando para os vampiros, não para mim. O fato de achar que era um observação pessoal mostrava o quanto eu estava sensível.

- Compaixão. - Colin balançou a cabeça.

Ele jogou a cabeça para trás e riu, era um som irritante, mantive minha atenção nas trevas e nos vampiros a espera, mas não era difícil ver o vampiro rindo. Difícil é não se perguntar o que era tão engraçado.

- Compaixão. - disse Colin novamente. - Não é uma palavra que eu teria usado para Jean-Claude, ele caiu de amor por sua serva humana? Acho que o amor não é o caminho para o coração de Jean-Claude. Trata-se de sexo?- Ele levantou a voz e me chamou. - É isso Miss Blake? O sedutor finalmente foi seduzido? Você é tão boa de cama assim?

Dei de ombros e mantive minha atenção sobre os outros vampiros, a metralhadora segura em ambas as mãos.

- Meninas não beijam e saem contando por aí, Colin.

Isso o fez rir novamente.

- Jean-Claude nunca me perdoaria se eu matasse a melhor bunda que ele encontrou em séculos. Repito, me dê Asher e o lobo loiro. Vou colocar a vida de Asher e o medo do lobo nas mãos de Barnaby, esse é o preço da passagem segura através de minhas terras.

Foi a minha vez de rir, um som suave e duro.

- Foda-se.

- Vou entender isso como um não. - disse ele.

- Não. - eu disse.

Eu vi os vampiros no escuro, eles não haviam se mexido, mas de certa forma houve uma sensação de movimento, um aumento da energia. Não era nada que eu pudesse começar a disparar, mas eu não gostei disso.

- A Miss Blake fala por todos vocês? - Colin perguntou.

- Você não pode torturar Jason. - disse Richard.

- Eu não vou desistir de bom grado da minha vida. - disse Asher.

- A serva humana falou por todos, isso é muito estranho. Mas se a resposta é não, então que seja.

Asher gritou,

- Anita!

Comecei a girar a arma em direção a eles, mas algo bateu no meu rosto machucando um olho. Isso me fez hesitar, uma mão veio por cima do meu olho, segurando-o. Eu tive tempo para pensar, estúpida, e comecei a levantar a arma para cima e um vampiro bateu em mim levando-nos ao chão.

Eu estava de costas com uma mulher em cima de mim, boca e dentes agarrando o meu rosto como um cão. Puxei o gatilho com o cano pressionando seu corpo, as balas explodiram suas costas em uma chuva de sangue e pedaços mais grossos. Seu corpo dançava em cima do meu em contrações musculares e espasmos. Eu tive que empurrar seu corpo para longe e quando pude me sentar já era tarde demais. Os vampiros estavam dentro do Lupanar e a luta começou.

Eu não podia enxergar com meu olho direito, estava cheio de sangue que continuava a escorrer para baixo. Uma figura apareceu na minha frente, apertei o gatilho novamente até que as balas explodiram sua cabeça em uma chuva de sangue. Fechei o olho direito e fiz o meu melhor para ignorá-lo.

Olhei em volta para os outros. Verne arrancou a cabeça de um vampiro e jogou-a na escuridão. Richard estava no centro de uma multidão quase perdido de vista com corpos pendurados em cima dele. Asher estava coberto de sangue enfrentando Colin. Alguns estavam transformados em lobisomens outros em forma de homens-lobo. Dois vampiros vieram para mim e o passeio acabou.

Um deles estava podre até os ossos o outro era sólido. Atirei no sólido primeiro porque eu poderia matá-lo. Vampiros apodrecidos não morrem a balas, ele caiu de joelhos em um spray de sangue, seu rosto partindo ao meio como um melão maduro.

O vampiro apodrecido saltou sobre mim em um borrão de velocidade e caímos no chão enquanto eu tentava pôr a arma para cima. Sua boca estava acima do meu rosto, tendões nus se esticavam entre os ossos de seu rosto, as presas vinham em direção ao meu rosto. Atirei no corpo, mas a arma estava em um ângulo ruim e não acertou em nenhum órgão vital. E para aumentar meus problemas, ouvi o grito de um lobo e soube que tinha atirado em alguém que estava do nosso lado. Merda.

Ele virou a cabeça e afundou as presas através da roupa de couro no meu ombro. Eu gritei, coloquei minha mão no casaco e peguei minha cruz. Uma mão apodrecida acariciou meu rosto deslizando sobre a ferida acima do meu olho. A jaqueta de couro agiu como uma espécie de armadura evitando que as presas se fechassem por completo. Sua boca prendia meu ombro como um cão com um osso, tentando cavar através do couro grosso até a carne. Doeu, mas não tanto como deveria doer se eu não fizesse algo.

A cruz criou vida como uma estrela em cativeiro, mas o vampiro tinha o rosto enterrado no couro e não podia ver a cruz. Eu balancei a cruz pela corrente em seu crânio nu. A fumaça subiu do osso e o vampiro empurrou o rosto trás de mim, a boca aberta em um grito. Enfiei a cruz em seu rosto e aqueles dentes agarrados a ele como um cão dizendo-lhe para ficar longe, ele mordeu a corrente. Houve um momento em que mesmo sem a maior parte da carne em sua cabeça eu podia ver surpresa no seu rosto. Coloquei os braços em meu rosto e ouvi a explosão maçante e respingos de detritos. Senti uma dor muito forte em minha mão e quando pude ver, tinha um pedaço de osso na mão esquerda. Tirei o estilhaço para fora e só então comecei a sangrar.

O vampiro era uma bagunça dispersa em torno de mim. A cruz estava no chão ainda brilhando, havia fumaça em sua superfície como se o metal tivesse derretido recentemente e esfriado no sangue do vampiro. Comecei a pegá-lo pela corrente e de repente Nikki, a serva humana de Colin, estava em pé em cima de mim. Ela tentou me acertar com a faca e eu evitei o ataque com um joelho pegando a Browning em uma mão. Ela estava acima de mim à espera de uma luta desleal, mas eu não, e ela não teve tempo para mudar sua tática. Comecei a puxar o gatilho e um lobisomem pulou em cima dela levando os dois para a escuridão. Merda. O que eu deveria fazer, gritar "esse é meu"como em um jogo de vôlei?

Ouvi Jason gritar, ele estava a apenas um metro de distância com os dois braços atravessando o peito de uma vampira apodrecida. Estava puxando desesperadamente os braços, mas eles pareciam presos, capturados nas costelas. A vampira não parecia se importar, ela lambeu seu rosto e ele gritou. Outra vampira estava em suas costas cavalgando-o,eu voltei para a luta. Apontei para sua cabeça e disparei, a cabeça foi jogada para trás, parte do cérebro escorria de um buraco do outro lado, mas a vampira virou a cabeça lentamente e olhou para mim. Atirei em seu rosto calmo, três vezes antes da cabeça desabar sobre si mesmo como uma casca vazia e ela caiu longe de Jason.

Eu andei para ele e a outra vampira. Agora era ela que estava lutando para se livrar de Jason, mas eles estavam entrelaçados como para-choques após um acidente de carro. Coloquei o cano da arma sob seu queixo, minha outra mão sobre os olhos de Jason para protegê-los e atirei. Precisei dar três tiros para que seu cérebro fosse destruído e o corpo amolecer.

Tirei minha mão de seus olhos e ele olhou por mim arregalando-os. Eu já estava me virando antes que ele pudesse gritar:

- Atrás de você!

O golpe veio antes que eu terminasse de me virar, meu ombro e braço ficaram dormentes. Minha mão se abriu soltando a Browning enquanto eu ainda estava tentando ver o que tinha me abatido. Mergulhei no chão rolando no meu ombro bom e fiquei de joelhos para ver Nikki segurando uma vara muito grande. Eu tive sorte, ela tinha perdido a faca em algum lugar.

Comecei a tirar a faca grande das minhas costas, mas eu estava usando minha mão esquerda porque a direita ainda não estava funcionando. Como canhota eu era mais lenta e Nikki era incrivelmente rápida. Ela virou-se em um borrão de movimento que estava além do humano. Estava em cima de mim cortando o ar como faca e eu desisti de tentar pegar a minha, me concentrei apenas em não ser atingida. O ataque foi tão rápido, tão selvagem, que não tive tempo para descansar. Tudo que eu podia fazer era rolar no chão pouco antes de cada golpe.

No fim de várias tentativas ela afundou a vara no chão ao lado do meu rosto. Lutou por um segundo para libertá-la e eu acertei seu joelho. Ela cambaleou, mas a rótula não se deslocou ou teria gritado. Ela forçou sua volta a luta me agarrando e me levantando sobre a cabeça como se eu não fosse nada. A próxima coisa que soube é que estava voando no ar. Caí no chão a poucos metros de um carvalho, sobre os ossos embaixo da árvore, forte o suficiente para que alguns deles se quebrassem. O abalo de poder correu de minhas mãos para os joelhos, o que levou o ar que restava no meu corpo. Fiquei ali meio atordoada, não apenas por ser jogada através da clareira, mas do poder que rugia dos ossos. Era a magia da morte e apesar de diferente da minha, ela me reconheceu, reconheceu meu poder. Eu sabia o que estava nos ossos, eu poderia fazer o círculo da vida? O que aconteceria quando este bando adorado de Odin voltasse a viver? Se eu definir o círculo de poder ele conta como um lugar santo? Será que de repente é como estar dentro de uma igreja? Tinha possibilidades de avisar Asher e Damian?

Fiquei dolorosamente de joelhos e descobri que estávamos perdendo. Em toda parte via o nosso povo sepultado sob pilhas de vampiros. Asher e Damian ainda estavam de pé, mas ambos estavam sangrando, Colin e Barnaby estavam pressionando no ataque. Eu tinha perdido Richard completamente de vista, exceto por um braço com garras. Verne estava com outro homem-lobo em forma humana. Era uma mulher pequena de cabelos escuros e curtos que chegava nos ombros, usava uma camiseta comprida e calças. Ela parecia muito pequena ao lado de Verne, mas era a única de seu povo que continua de pé. Os outros estavam mortos ou moribundos no chão.

Minha mão direita estava funcionando de novo. Eu peguei uma faca em uma das bainhas de pulso, não era uma lâmina consagrada ao ritual, mas teria que servir.

Queria sussurrar para Asher e Damian que voassem dali, mas estavam muito longe para sussurrar e eu não sabia como falar diretamente com suas mentes. Fiz a única coisa que pude pensar, gritei.

- Asher, Damian!

Eles viraram os rostos assustados para mim.

Levantei a faca para que pudessem vê-la e gritei:

- Voem droga, como moscas!

Nikki estava quase no círculo de ossos. Eu gritei,

- Voem!- Asher agarrou o pulso de Damian e eu tive que esperar até vê-los seguros. Eu tinha alguns momentos para tentar fazer este trabalho e Nikki tinha um poder semelhante ao meu. Se ela descobrisse o que eu estava tentando fazer, tentaria me impedir.

Apertei minhas mãos no tronco da árvore e seu poder respirou através de mim. Era magia feita com a morte, minha especialidade. No momento em que toquei a árvore soube que não era um lugar de sacrifício humano, mas o lugar onde recolhiam seus Munin. Os espíritos de seus mortos estavam nos ossos, na árvore, no chão. Eles encheram o ar com um sussurro, risonhos, um ruído que só eu podia ouvir.

O lukoi consumia os seus mortos, pelo menos parte deles, e comiam a sua carne em uma espécie de memória ancestral. Eles chamavam de Munin, depois Corvo de Odin, sua memória. Eles não são fantasmas, são os espíritos dos mortos, e eu era uma necromante. O Munin gostava de mim, eles ficavam a minha volta como uma carícia de vento frio, entrelaçados como gatos fantasmas. Eu poderia canalizar o Munin como uma espécie de sessão espírita, mas era mais, e pior. O único Munin que eu já tinha canalizado foi Raina, a Cadela Má do Leste, mas quando ela chegou, foi como um aríete. Estando lá no meio de centenas, milhares de Munins, eu sabia que poderia me abrir para eles. Seria como abrir uma porta, um convite. Poderia chafurdar no passado, viver outras vidas, era um sussurro de sedução. Raina veio como um estuprador, uma força esmagadora.

No entanto eles prendiam seus Munins neste lugar para que fosse magia do sangue, a magia de morte. Cortei a palma da mão e apertei contra a árvore. Rezei e apertei o sangue sobre os ossos aos meus pés, o círculo de poder se encaixou com uma pressa que levantou a minha pele como se fosse rastejar fora da minha carne. Invoquei o círculo, eu o adorava, era o suficiente.

Gritos, gritos encheram a noite. Os vampiros pegaram fogo, eles corriam em chamas para a borda do círculo e todos que cruzaram explodiram em uma chuva de pedaços e fogo.

Senti Damian e Asher acima de mim, nenhum dos outros vampiros tentou fazer nada além de correr. A maioria caiu em montes queimados no chão sem dar mais um passo. Qualquer pessoa morreria sob uma faísca de onde estavam.

A índia ficou na borda do círculo de ossos, ela olhou para mim enquanto os vampiros gritavam e morriam, o cheiro de carne e cabelo queimado era grosso o suficiente para sufocar. Seu rosto não mostrava nada, a luta tinha acabado.

Finalmente ela disse:

- Eu deveria te matar.

Concordei.

- Sim deveria, mas seus aliados estão mortos e seu mestre saiu voando. Eu sairia daqui se fosse você.

Ela balançou a cabeça e jogou a arma no chão.

- Colin e Barnaby estão vivos e vamos nos ver novamente Anita.

- Estou ansiosa por isso.

Eu esperava que ela não percebesse que eu estava escorada contra a árvore porque não tinha certeza se poderia ficar de pé sozinha.

Nikki assentiu com a cabeça e começou a se afastar para o escuro passando pela árvore e os ossos. Ela falou alguma coisa e então entrou na mata, quando ela se foi completamente a magia estava saciada e de volta á terra.

Ela olhou para mim da escuridão do outro lado do círculo, olhamos uma para a outra por um longo momento e eu soube que se nos encontrássemos novamente ela me mataria se pudesse. Ela era a serva humana de Colin, era o seu trabalho.

Escorreguei pela árvore até ficar sentada nos ossos, minhas pernas estavam fracas demais para me segurar e um fino tremor teve início em minhas mãos. Olhei para fora no Lupanar, olhei para minha obra. Alguns dos corpos ainda queimavam, nenhum se mexeu dentro do círculo. Os vampiros estavam mortos, todos eles.


21

Outra luta, outro banho. A podridão de um vampiro não era um odor que você quisesse levar para cama. Meu cabelo ainda estava úmido quando liguei para Jean-Claude para contar sobre o que tínhamos feito. Ok, o que eu tinha feito.

Eu disse a versão mais curta possível. Sua resposta:

- Você fez o quê?

Eu repeti.

Silêncio do outro lado do telefone. Eu não podia sequer ouví-lo respirar.

- Jean-Claude, você ainda está aí?

- Estou aqui ma petite. - Ele suspirou. - Você me surpreendeu mais uma vez. - Você não parece feliz, sabe que a notícia poderia ser pior. Poderíamos estar todos mortos.

- Acho que Colin não seria tão tolo.

- Vivendo e aprendendo. - eu disse.

- Colin tinha razão de temer você, ma petite.

- Eu disse a ele o que aconteceria se procurasse confusão com a gente. Ele apertou o botão, não eu.

- Quem você está tentando convencer ma petite, eu ou você mesma?

Pensei sobre isso por um momento.

- Eu não sei.

- Você está admitindo que estava errada?- Sua voz tinha uma ligeira diversão.

- Não. - Tentei pensar em como dizer a ele, finalmente disse: - Nós estávamos perdendo, Jean-Claude. Eles iam nos matar, eu tinha que fazer alguma coisa, não tinha certeza se funcionaria. - Segurei o telefone e desejei que ele estivesse ali para me abraçar. Odiava a idéia de querê-lo desse jeito, odiava o fato de querer alguém assim, odiava as pessoas dependentes. Todos eles tinham uma tendência a morrer para mim, mas eu daria tudo para estar em seus braços reconfortantes naquele momento.

- Ma petite, ma petite, o que está errado?

Fiz um gesto para Asher pegar o telefone.

- Converse com o seu segundo em comando. Pergunte a Asher se havia outras opções, se tinha outras, eu não consegui vê-los.

- Há algo na sua voz, ma petite, algo frágil. - Ele sussurrou a última palavra.

Eu balancei a cabeça e entreguei o telefone para Asher. Fui para longe dele e me abracei apertado. "Frágil" ele disse, a palavra correta seria "Medo". Eu tinha me assustado hoje à noite, algo no poder que eu tinha lançado apagou as tochas em torno do Lupanar. Aqueles de nós que ainda estavam de pé, tinham se movido pela luz de cadáveres queimando. Tinha sido uma cena do Inferno de Dante, e eu tinha feito isso. O poder dentro de mim fez tal coisa. Sim, o medo me cobriu.

Damian veio até mim, ele sussurrou:

- Jason está chorando no chuveiro.

Suspirei. Ótimo, justamente o que eu precisava, uma outra crise. Eu não queria fazer perguntas, só bati na porta do banheiro.

- Jason, você está bem?

Ele não me respondeu.

- Jason?

- Eu estou bem Anita. - Sua voz, mesmo sobre o chuveiro parecia tensa. Eu nunca o tinha visto chorar, e soou como uma voz grossa com lágrimas.

Encostei minha cabeça na porta e suspirei, não precisava disso esta noite, mas Jason era meu amigo e quem mais eu enviaria para consolá-lo? Damian tinha chegado a mim através dele, Zane não parece o tipo consolador e Cherry, bem ... se eu enviasse outra mulher para confortá-lo pareceria covarde. Asher? Não.

Bati na porta novamente.

- Jason, posso entrar um minuto?

Silêncio, se ele tivesse se sentindo bem teria feito algum tipo de piada sobre eu finalmente vê-lo nu no chuveiro. Ele não estar me provocando, era um mau sinal.

- Jason, posso entrar ... por favor?

- Entre. - ele disse finalmente.

Abri a porta e o ar quente e enevoado ficou em torno de mim. Fechei a porta, o banheiro estava aconchegante com o calor. Estava quente, a umidade penetrava em cada superfície como se tivesse deixado o chuveiro tão quente como queria, quente o bastante para escaldar a carne de seus ossos se fosse humano.

A luz deixou a sua sombra sobre o branco da cortina do chuveiro, ele estava sentado no chão do banheiro encolhido.

Tirei a toalha do banquinho e me sentei com ela no meu colo.

- O que está acontecendo?

Ele respirou profundamente e mesmo sobre o chuveiro pude ouvi-lo chorando.

Eu queria vê-lo enquanto falava com ele, mas não queria vê-lo nu. Escolhas, escolhas.

- Fale comigo Jason, o que está acontecendo?

- Eu não posso tirá-lo de mim, não consigo me limpar.

- Você quer dizer literalmente ou metaforicamente falando?

- Eu não consigo me limpar.

Eu estava sendo covarde e puritana. Levantei a cortina lentamente até olhar para ele sem molhar todo o banheiro.

Jason tinha os joelhos apertados no peito, braços fechados em torno deles. O calor da água foi suficiente para me fazer recuar. Sua pele tinha virado uma bela cereja-rosa, ele tinha bolhas ou coisa pior agora.

Havia manchas de gosma negra em suas costas. Um dos braços tinha uma mancha. Ele tentou ficar limpo, mas não conseguiu.

Ele olhava para a frente balançando a cabeça ligeiramente.

- Eu estava bem até entrar no chuveiro e não conseguir me limpar. Então eu me lembrei daquelas duas vampiras em Branson. Pensei em Yvette, observando-a apodrecer e nas duas vampiras de Branson, eu ainda posso sentir suas mãos em mim Anita. Às vezes eu ainda acordo no meio do dia suando frio, lembrando.

Em Branson, Missouri, tínhamos matado a Mestra local da Cidade, ela tinha duas jovens mulheres que seriam torturadas, a menos que lhe déssemos um de nós em seu lugar. Eles sugeriram que se Jason fizesse amor com as duas vampiras deixariam uma das meninas ir. Acho que ele gostou a princípio, mas depois elas começaram a apodrecer.

Jason tentou lutar contra elas rastejando contra a parede. Seu peito nu estava coberto de pedaços de carne. Uma delas vertia algo denso e pesado que deslizava lentamente pelo pescoço e o peito. Ele bateu nela como se fosse uma aranha que se arrasta pela pele. Ele foi pressionado contra a parede preta com as calças quase às suas coxas.

A vampira loira rolou para trás e se arrastou em sua direção levantando uma mão que era apenas ossos com pedaços de carne seca. Ela parecia estar em decomposição no solo seco. A morena estava molhada, ela se deitou no chão e um líquido escuro fazia poças debaixo de seu corpo, tirou sua própria camisa de couro e seus seios eram como sacos pesados de fluidos.

- Eu estou pronta para você. - disse a morena. Sua voz ainda estava clara e sólida. Nenhuma voz humana deveria ter saído dos lábios podres.

A loira agarrou o braço de Jason e ele gritou.

Eu balancei a cabeça tentando limpar a memória. Tinha meus sonhos assombrados por um tempo por apenas testemunhar isso, mas para Jason isso se tornou sua fobia particular. Um dos lacaios do Conselho tinha sido um dos mais podres, ela torturava também, gostava muito da idéia dele pertencer a ela. O tormento de Yvette aconteceu cerca de dois meses atrás. As brincadeiras noturnas e os jogos aconteceram muito perto de casa.

Tirei as bainhas de pulso e coloquei atrás do banco. O fato de que eu estava usando as bainhas de pulso quando deveria estar me preparando para dormir, dizia algo sobre minha própria paranóia. A temperatura da água era quase assustadora. Eu sabia que o fogo matava metamorfos, mas aparentemente o calor não. Virei a torneira até que a temperatura fosse algo que eu pudesse tocar.

Jason começou a tremer tão logo a água começou a esfriar. Sinceramente fiquei espantada que o aquecedor de água ficasse tanto tempo assim. O chão estava molhado e molhou as pernas da minha calça, eu tinha um outro par que eu poderia trocar.

Achei a barra de sabão, mas a esponja estava negra. Eu a joguei na pia e peguei uma outra limpa, teria que lembrar de pedir toalhas extra. Deveria ter feito isso de qualquer maneira.

Jason finalmente olhou para mim, um giro lento de cabeça. Seus olhos azuis pareciam quase vítreos como se estivesse deslizando em sua própria versão de choque.

- Eu não posso passar por isso novamente Anita, não posso.

Ensaboei a esponja limpa até que saiu uma espuma branca, toquei em suas costas e ele se retraiu. Eu daria quase tudo nesse momento se ele tivesse me agarrado ou me provocado, ou mesmo me jogado na água. Qualquer coisa que pudesse me dizer que estava bem. Em vez disso ele ficou lá, nu, molhado e miserável. Isso apertou minha garganta, mas porra, se eu chorasse era quase certeza que não conseguiria parar. Eu estava aqui para confortar Jason não fazê-lo me consolar.

Pior ainda, eu não podia tirar aquilo de suas costas. Consegui tirar da minha pele, mas enquanto Jason ficava sentado esperando que eu terminasse meu banho, o fluído tinha se transformado em cola. Finalmente recorri ao uso de minhas unhas, contente que tivesse recusado a oferta de usar a unha polonesa. Raspei sua pele por um bom tempo com meus dedos enquanto a água quente corria e Jason estremecia, mas não era o frio que o fazia tremer. Eu estava muito quente no calor úmido e não me sentia bem.

Limpei tudo, mas um pedaço ficou preso em suas costas, muito lá embaixo. Era como se o líquido tivesse encharcado a borda de sua calça, baixo o suficiente para que a curva das nádegas começasse logo abaixo do cós. Eu estava enjoada porque apesar de Jason não perceber que estava nu, eu estava muito consciente disso.

Eu também estava tendo problemas em manter a camiseta grande que usava longe do jato d'água. Normalmente não teria me importado, mas eu tinha esquecido de colocar uma camisola na mala. Finalmente desliguei o chuveiro e ajustei a temperatura sem ter que me esquivar do jato.

Me virei para Jason e comecei a descascar esse pedaço preso em sua pele, comecei a falar para manter minha mente longe do local onde estavam as minhas mãos.

- Nós matamos todos os vampiros, Jason. Está tudo bem.

Ele balançou a cabeça.

- Não matamos Barnaby. Perdemos ele e seu criador, não posso suportar a idéia dele me tocar Anita. Eu não posso fazer isso de novo.

- Então vá para casa Jason. Leve o jato e saia daqui.

- Eu não vou te abandonar. - disse ele. Seu olhar ficou no meu rosto por um momento. - E não é só porque Jean-Claude não iria gostar.

- Eu sei, mas tudo o que posso fazer é jurar que vou fazer tudo para protegê-lo de Barnaby.

Eu estava encostada muito próxima a ele, meu braço abaixo de suas costas. Finalmente entre o constrangimento e a concentração absoluta consegui tirar os pedaços grudados de seu corpo. Foi como dissecar sapo no ensino médio. Era cruel até a professora me dizer para cortar o cérebro, fiquei tão interessada em arrancar a cabeça cuidadosamente, de modo a não danificar o cérebro, que me esqueci do cheiro. Pobres sapos miseráveis, apenas nos concentrávamos em tirar o cérebro, meu parceiro de laboratório e eu éramos os únicos a conseguir tal feito

Jason virou a cabeça para mim esfregando seu rosto no meu cabelo.

- Você tem cheiro de maquiagem, parece a base de Cherry.

Eu falei sem olhar para cima.

- Nossa pele é muito diferente, a dela é muito mais clara , pensei que tinha tirado toda a maquiagem.

- Hmm - disse ele. Sua boca estava muito perto do meu ouvido.

Eu gelei, meu corpo estava pressionado contra suas costas, minha mão tocando a pele lisa ligeiramente acima de suas nádegas. Havia uma tensão agora que não estava lá. Meu pulso acelerou com a consciência de seu corpo, porque de repente eu sabia que ele tinha consciência de mim. Eu tirei o último pedaço de gosma seca de sua pele e ele respirou fundo. Comecei a me inclinar para trás e sabia que ele tentaria alguma coisa. Parte de mim estava nervosa sobre o assunto e a outra parte estava aliviada. Era o mesmo Jason depois de tudo, e ele estava nu, e eu estava perto, e era Jason. Se ele deixasse passar a oportunidade, eu saberia que foi ferido além de qualquer coisa que eu pudesse consertar.

Seu braço caiu em torno de minha cintura com a incrível velocidade que eles eram capazes. Eu o senti se levantar e de repente estávamos no chão com ele por cima, suas pernas me prendendo. Ele usou os braços para manter seu corpo levantado o suficiente para que sua virilha não me pressionasse, o que evidentemente significava que a minha visão de seu corpo estava desobstruída. Uma faca de dois gumes, ele começou a inclinar o rosto para baixo, para um beijo. Coloquei a mão em seu peito e parei o movimento.

- Pare com isso, Jason.

- A última vez que fiz isso, você enfiou uma arma nas minhas costelas e disse que atiraria em mim se eu roubasse um beijo.

- Eu quis dizer exatamente isso.

- Você está armada. - disse ele - Eu não estou segurando suas mãos.

Suspirei.

- Você conhece a minha regra. Eu não aponto uma arma para ninguém a menos que planeje matar. Você é meu amigo agora Jason, não vou atirar em você por roubar um beijo, você sabe, eu sei.

Ele sorriu e inclinou-se mais perto. Minha mão estava em seu peito, mas estava chegando perto do meu próprio peito.

- Mas eu também não quero que você me beije, se for realmente meu amigo não vai fazer isso, apenas me deixe levantar.

Seu rosto estava um pouco acima do meu, tão perto que era difícil se concentrar em seus olhos.

- E se eu tentasse mais que um beijo? - Seu rosto estava pairando sobre o meu peito, eu podia sentir a respiração um pouco acima da linha flexível em que os meus seios começaram.

- Não abuse Jason. Se eu atirar em você no lugar certo, não vai te matar, só vai te machucar, mas vai doer um bocado.

Ele ergueu o rosto para mim e sorriu, e começou a sair. A porta se abriu e de repente Richard estava ali de pé olhando para nós. Perfeito, perfeito.


22

- Você acreditaria se eu falasse que escorreguei? - Jason perguntou.

- Não. - disse Richard friamente.

- Saia de perto de mim, Jason.

Ele rolou para o lado, mas não fez nenhum movimento para pegar uma toalha. Richard jogou a toalha para ele. Jason pegou e seus olhos brilhavam com o esforço para não sorrir. Ele gostava de mexer a panela e ver o que acontecia. Um dia desses ele ia fazer isso com a pessoa errada, e ia se machucar. Mas não esta noite.

- Saia Jason, eu preciso falar com Anita.

Jason ficou de pé enrolando a toalha na cintura. Eu me sentei mas não me levantei. Jason me ofereceu sua mão. Eu quase nunca deixava um homem me ajudar a levantar, sentar, ou fazer muita coisa. Peguei sua mão e ele me puxou com tanta força que me fez topar com ele.

- Você quer que eu vá? - ele perguntou.

Dei um passo para trás, mas deixei que segurasse minha mão.

- Vai dar tudo certo. - eu disse.

Jason sorriu para Richard quando saiu pela porta. Richard a fechou inclinando-se contra ela. Eu estava efetivamente presa, e ele estava com raiva o bastante para que o banheiro se enchesse de energia.

- O que foi isso? - ele perguntou.

- Não é da sua conta, é?- Eu perguntei.

- Hoje cedo eu pensei que você me recusou porque estava sendo leal a Jean-Claude.

Olhei para baixo porque era a coisa certa a fazer, fui até a pia e comecei a tentar limpar os pedaços de gosma preta sob minhas unhas.

- Se Jean-Claude descobrir o que você está fazendo com Jason, ele vai machucá-lo, talvez até matá-lo.

- Você vai contar sobre nós? Vai correr para casa e contar ao nosso mestre?

Eu olhei no espelho quando disse isso. Minha recompensa foi que ele se retraiu. Um pouco demasiado perto de casa, que comentário.

- Por que Jason?

- Você realmente acredita que estou fazendo sexo com ele?

Eu me virei e usei a toalha levemente úmida para secar minhas mãos.

Richard apenas olhou para mim.

- Jesus, Richard, só porque você acredita em tudo o que vê, não significa que seja assim. - Sentei-me no banco e tentei secar o meu jeans com a toalha.

- Então, você não está dormindo com ele?

A toalha não estava ajudando o jeans.

- Não, não estou. - Joguei a toalha no canto. - Não posso acreditar que você me perguntou.

- Se você me encontrasse no chão com uma mulher nua em cima de mim, teria pensado a mesma coisa. - disse ele.

- Hmm, sim. Porra Richard, todas as mulheres que eu pensei que você fosse ignorar querem sair com você. O que você viu no chão foi apenas Jason sendo ele mesmo, sabe como ele é.

- Eu vou matá-lo se ele tocar em você.

Eu estava ficando com muita raiva.

- Você realmente quer matá-lo porque ele me deu uma cantada? Pensei que um dos nossos principais problemas fosse que você sempre pensou que eu atiro primeiro e faço perguntas depois. Acho que você me chamou de sanguinária.

Eu o empurrei e onde a nossa pele se tocou pude sentir o poder como uma chama invisível.

Ele se afastou para trás segurando o braço como se eu o tivesse machucado. Eu sabia que ele não estava ferido, eu me sentia maravilhosa, uma corrida de poder que deixava meu cabelo em pé. Eram pequenos toques como esse que nos faziam imaginar o que poderia ser entre nós.

Não havia poder entre nós, portanto não havia calor e daí? Isso não mudava o fato de que eu estava dormindo com Jean-Claude, não mudava o fato de que Richard estava dormindo com outras garotas, o fato de que eu estava com ciúmes de suas namoradas e ele estava com ciúmes de qualquer homem que pensasse que eu estava tendo relações sexuais, era apenas uma brincadeira cósmica desagradável. Nós conseguimos isso.


23

Havia três pessoas na minha cama, nenhum deles era eu. Cherry e Zane tinham se enrolado em torno de Nathaniel como cobertores. Eu tinha sido informada que a proximidade física de seu grupo, seja qual for o tipo de animal, era a cura física e emocional. Richard tinha apoiado essa tradição. Os homens-leopardo estavam na minha cama porque Nathaniel estava histérico com a idéia de estar sem mim.

Consegui um cobertor e um travesseiro e fui me deitar no tapete. Estávamos em uma nova cabana, Verne estava tentando limpar a outra, mas a cama e o tapete eram provavelmente uma causa perdida.

Pedi desculpas por isso e Verne parecia pensar que eu não poderia fazer nada de errado. Ele achou que eu fritei os vampiros de Colin, mas eu não estava tão feliz, a vingança pode ser uma coisa muito assustadora. Se alguém tivesse feito aos vampiros de Jean-Claude o que eu fiz com os vampiros de Colin, eu ... nós os teríamos matado.

A porta do banheiro se abriu e fechou em silêncio.

Sentei-me abraçando o cobertor. Jason seguiu seu caminho entre os dois caixões. Ele estava usando uma cueca boxer de seda, colocou na noite passada no banheiro e saiu sem dizer uma palavra. Eu ainda estava tentando convencer os homens-leopardo que não podiam dormir todos nus.

Jason queria dormir com eles acrescentando sua energia sobrenatural para ajuda-los, mas eles negaram. Não porque fosse um lobo, mas porque Cherry não confiava nele para manter as mãos longe dela.

Jason parou na frente da cama olhando para a pilha de leopardos sobre ela. Ele passou as mãos pelo rosto com o cabelo desgrenhado. Seu cabelo era fino demais para ficar no lugar. Ele ficou perto do pé da cama olhando para baixo.

Eu finalmente me enrolei no cobertor e levantei usando uma grande camiseta de dormir que chegava quase nos meus joelhos, não era grande coisa mas servia para me cobrir. No fundo sou uma puritana. Fui para o lado de Jason com os ombros cobertos. Não é que não confiasse nele, é que todos eles me incomodavam.

Cherry estava deitada de costas, lençóis emaranhados ao redor de seus joelhos. Ela usava somente a parte de baixo de um biquini vermelho esticado através de seus quadris estreitos. Sua cintura era muito longa para que a peça cobrisse algo mais, bem como aquelas pernas compridas. Seus seios eram pequenos e firmes. Ela suspirou e rolou fazendo com que parte de um seio ficasse exposto próximo a beirada da cama. O mamilo enrijecido como se tivesse em movimento ou o sonho estivesse emocionante, ou talvez ela só estivesse com frio.

Olhei para Jason. Ele estava olhando para ela como se estivesse memorizando cada curva, a forma como o seio se derramava para o lado. Seus olhos estavam quase suaves quando olhou para ela. Luxúria talvez? Ou seria apenas como olhar uma obra de arte, admirá-la, porque você não está autorizado a tocar.

Nenhum dos outros estavam dando um show tão bom. Nathaniel estava envolto em uma bola apertando a cabeça na cintura de Cherry. Ele estava tão enrolado que você só podia ver sua cabeça. Ele choramingou durante o sono e Cherry tocou no topo de sua cabeça, seu outro braço foi arremessando para o espaço, os olhos ainda fechados, ainda dormindo. Mesmo em seu sono, ela chegou perto dele confortando-o.

Zane estava do outro lado de Nathaniel escorando seu corpo contra o homem menor, o lençol estava fora dele mostrando a cueca azul que usava. Jason só tinha olhos para a forma esguia de Cherry. Fiquei surpresa que ela não pudesse sentir o peso de seu olhar, mesmo em seu sono.

Segurei o cobertor no lugar com uma mão e o toquei no pulso com a outra. Arrastei Jason para o canto da sala, tão longe da cama quanto possível.

Debrucei-me contra a parede ao lado da janela. Jason encostou na parede perto o suficiente para que seu ombro tocasse a borda da coberta. Eu não protestei porque estávamos cochichando, além disso, depois de algum tempo, reclamar de tudo o que ele faz começava a cansar. Realmente não era pessoal, ele tentava a sorte com todas.

- Você tem noção de que horas são?

Ele balançou a cabeça inclinando-se tão perto que eu podia sentir sua respiração contra meu rosto.

- Eles estão com medo de você depois de ontem à noite.

Eu me virei para olhar para ele e tive que levantar um pouco a cabeça para poder me concentrar em seus olhos.

- Com medo de mim?

Seu rosto estava muito sério.

- Não seja tímida Anita. O que você fez na noite passada foi impressionante e você sabe disso.

Apertei o cobertor em torno de meus ombros e olhei para o chão. Após a corrida de poder desaparecer na noite passada, eu tinha ficado fria. Fiquei fria durante toda a noite, a temperatura chegava quase a noventa graus lá fora. O ar condicionado estava zumbindo e eu estava com frio. Infelizmente não era o tipo de frio que cobertores ou calor, ou mesmo outro corpo quente pode afugentar. Eu tinha me assustado na noite passada. Ultimamente isso acontecia com frequencia. Eu tinha visto os vampiros queimando em meus sonhos, eles me perseguiram como um brasão coberto de chamas. As bocas abertas em gritos, presas escapando do fogo como hálito de dragão. Os vampiros queimados tinham me oferecido a cabeça de Mira. A cabeça tinha falado em sua cesta, perguntando:

- Porquê? - Porque eu era descuidada, não parecia ser uma resposta boa o suficiente. Fugi dos vampiros moribundos por toda a noite, um sonho atrás do outro, ou talvez tenha sido apenas um sonho longo, quebrado. Quem sabe? De qualquer maneira, não foi uma boa noite de sono.

Na noite passada Richard me contou que os corpos dos vampiros continuavam brilhando como fogo. Ele olhou para mim e eu pude sentir sua repulsa, o horror do que eu tinha feito, como uma faca no meu coração. Se fosse o contrário, se eu fosse o lobisomem e ele o ser humano, ele teria ficado tão chocado após o show com Marcus como eu. Não assim. A única razão de Richard andar com os monstros era o fato de que ele era um deles.

Richard tinha ido para sua cabana com Jamil e Shang-Da. Eles não ficaram horrorizados, ficaram impressionados apesar de Shang-Da dizer:

- Eles vão matar todos nós por isto.

Asher tinha discordado.

- Colin é um mestre menor do que Jean-Claude, ele exigiu a vida do segundo em comando de Jean-Claude, e a sanidade de um de seus lobos. Ele ultrapassou seus limites, Anita meramente o lembrou isso.

Shang-Da tinha olhado para os cadáveres enegrecidos lentamente, voltando-se para os montes de cinzas.

- Você acha que um vampiro-mestre permitiria que isto ficasse sem resposta?

Asher encolheu os ombros.

- Não é nenhuma vergonha perder contra alguém que se reuniu ao Conselho e sobreviveu.

- Além disso, ele vai ficar com medo agora, não vai querer encarar Anita novamente. - disse Jamil

Asher assentiu.

- Exatamente, ele tem medo dela agora.

- Sua serva humana, Nikki, poderia ter feito o que eu fiz. - eu disse.

- Acredito que se Nikki tivesse poder semelhante ao seu, não o teria apenas alertado. - disse Asher.

- Ela teria impedido a criação da magia livre. - eu disse.

- Sim. - disse Asher.

- Ela mentiu. - eu disse.

Asher sorriu e tocou meu rosto.

- Como você pode ser tão cínica e se surpreender quando as pessoas mentem?

Para isso não havia resposta, somente agora eu estava pensando na gravidade do que tinha feito. Agora, na luz do meio-dia, e não de manhã quando consegui dormir um pouco. Eu estava com frio, com o conhecimento do que tinha feito na noite passada, eu não havia usado o poder de Richard ou de Jean-Claude. O que eu tinha feito saiu de mim. Fui capaz de fazer sem uma única marca de vampiro ou uma gota de energia extra.

Eu odiava quando fazia algo tão desumano e não podia culpar ninguém por isso. Fazia-me sentir como uma aberração.

Jason tocou meu ombro e olhei para ele. Ele deve ter visto alguma coisa em meu rosto porque não estava sorrindo. Seus olhos estavam cansados e um mundo de tristeza aparecia de vez em quando.

- O que há de errado?- ele perguntou.

Eu balancei a cabeça.

- Você viu o que eu fiz ontem à noite. Eu fiz, não foi Jean-Claude ou Richard, fui eu, apenas eu,

Ele colocou as mãos em meus ombros e me virou.

- Você me salvou noite passada Anita. Você se colocou entre eu e aquelas coisas. Eu nunca vou esquecer isso, vou me lembrar para sempre.

Tentei desviar o olhar e ele apertou-me suavemente até que olhei para ele novamente, nós tínhamos exatamente a mesma altura, por isso eu conseguia olhar para ele, só para ele. Não havia provocação, eu olhava para alguém mais sério, menos Jason.

- Você matou para nos salvar, nenhum de nós vai esquecer. Verne e seus lobos não vão esquecer.

- Colin não vai esquecer também, ele virá atrás de nós.

Jason balançou a cabeça.

- Asher e Jamil estão certos, ele tem pavor de você agora e não vai chegar perto. Agarrei seus braços deixando o cobertor cair no chão.

- Mas ele vai prejudicar o resto de vocês. Ele vai tentar levá-lo Jason. Ele o dará a Barnaby, e ele vai quebrá-lo apenas para me machucar.

- Ou ele vai matar Asher, eu sei. - Ele sorriu, era quase o riso de sempre. - Por que você acha que nós dois ficamos aqui com você na noite passada? Eu por exemplo, queria a sua proteção.

- Você sabe que tem isso.

O sorriso suavizou.

- Eu sei. - Ele tocou o meu rosto suavemente. - O que está errado? Quero dizer realmente errado? Por que você está assim ...tão atormentada?

- O que eu fiz noite passada não foi muito humano, Jason. Senti o horror de Richard, sinto que ele pensa em mim como um monstro e está certo.

Jason me abraçou, eu endureci no início e ele começou a me soltar, então eu relaxei contra ele, deixei-o me abraçar, envolvi meus braços em torno de sua cintura. Enterrei o meu rosto contra seu pescoço e tive uma vontade horrível de chorar.

Ouvi um som suave atrás de nós, levantei a cabeça para olhar. Os homens-leopardo estavam saindo da cama, deslizando para nós com seus pés humanos, mas se movendo como se não houvesse músculos em suas pernas, quadris e torsos. Zane e Cherry deslizavam quase nus, em relação a nós. Cherry segurou a mão de Nathaniel levando-o como uma criança, ele não parecia uma criança nua indefesa para nós. Uma cueca teria ferido a coxa machucada. Agora que ele veio para nós, ficou claro que não estava completamente infeliz ao me ver, ou talvez quisesse ficar ao lado de Cherry, ou talvez fosse apenas algo dele. De qualquer maneira eu não gostava disso.

Empurrei Jason levemente e ele não lutou contra isso, apenas recuou. Viu os homens-leopardo se aproximando, acho que não estava preocupado. Na verdade, eu podia sentir seu ferrão de energia ao longo da minha pele. Emoções fortes como a luxúria, faz subir a energia de um metamorfo. No momento em que pensei, olhei para ele sem me dar conta. Jason estava feliz em ver Cherry, muito feliz.

Olhei para fora, corando. Virei as costas a todos eles.

Alguém tocou meu ombro. Eu vacilei.

- Sou eu, Anita. - Jason disse.

Eu balancei a cabeça, ele me abraçou por trás com muito cuidado.

- Eu não sinto que você matou, Anita. Você ainda não matou Barnaby.

- Alguém vai pagar pela minha bravata Jason, como Mira na noite passada. Eu faço coisas, digo coisas em torno de vocês e tudo dá errado.

Zane ficou na minha frente, olhei para ele com os braços de Jason ainda em torno de meus ombros como um colar volumoso. O olhos castanhos de Zane estavam tão sérios como eu nunca tinha visto.

Ele estendeu a mão para tocar meu rosto, e somente os braços de Jason me impediram de me afastar ou dizer "Não". O toque não significa a mesma coisa para os licantropos como para o resto da sociedade americana. Eu ia dizer humanos, mas vários países usavam muito mais o toque casual do que o nosso.

Os dedos de Zane desciam pela minha bochecha enquanto ele estudava o meu rosto, a testa franzida.

- Gabriel era o nosso mundo, ele e Isabel nos fizeram, nos escolheram. Tão ruim quanto você acha que ele foi, Gabriel salvou a maioria de nós. Eu era um drogado, mas ele não permitiu o uso de drogas em seu bando.

Ele se inclinou para mim farejando ao longo de minha pele, esfregando o rosto para que eu pudesse sentir a barba fina ao longo de sua mandíbula.

- Nathaniel era uma prostituta de rua e Gabriel um cafetão, mas não para todos.

Cherry estava de joelhos, ela pegou a minha mão esfregando seu rosto contra a minha pele.

- Eu perdi uma perna em um terrível acidente. Gabriel ofereceu-me minha perna de volta. Ele cortou acima do tronco e a perna cresceu novamente.

Zane deu um beijo na minha testa.

- Ele ligava para nós, mas do seu próprio jeito.

- Mas ele nunca arriscou sua vida por nós. - disse Cherry.

Ela começou a lamber a minha mão como um gato, parou de me lamber segundos antes que eu lhe pedisse para parar. Talvez tenha percebido a minha tensão.

- Você arriscou sua vida para salvar Nathaniel, arriscou a vida de seus vampiros por ele.

Zane pegou meu rosto com as mãos, inclinando-me para trás para que pudesse ver meu rosto.

- Você ama Asher. Por que colocou a vida dele em risco para salvar Nathaniel?

Eu recuei levemente até ficar perto da porta. Eu não ia fazer uma pausa para ele, só precisava de algum espaço.

Nathaniel se agachou no meio da sala. Ele foi o único que não tinha me tocado.

- Eu não amo Asher.

- Nós podemos cheirar o seu desejo por ele. - disse Zane.

Ah, ótimo.

- Eu não disse que não o acho bonitinho, disse apenas que não o amava.- Meus olhos deslizaram para o caixão. Eu sabia que ele não podia me ouvir, mas ...

Jason estava encostado na parede sorrindo para mim, braços cruzados sobre o peito. O olhar em seu rosto era suficiente.

- Eu não o amo.

Cherry e Zane olharam para mim usando expressões quase idênticas, além do que eu podia ler.

- Você se importa com ele. - disse Cherry.

Pensei sobre isso e depois assenti.

- Ok, eu me importo com ele.

- Por que você o deixou correr o risco por Nathaniel? - ela perguntou.

Ela ainda estava de joelhos movendo-se de quatro enquanto falava. Seus seios pendurados para baixo enquanto se arrastava em minha direção. Eu nunca tive uma mulher se arrastando nua para mim, nunca. Homens nus, mas não mulheres nuas. Isso me incomodou. Homofóbica? Quem, eu?

- Nathaniel é meu protegido. Eu sou a sua Nimir-ra, certo?

Cherry continuava se rastejando para mim, Zane caiu de quatro e foi se juntar ela. Os músculos sob a pele de seus ombros se moviam, os braços, músculos que não deveriam estar lá. Eles avançaram em uma onda de graça e musculatura em potencial, com a violência contida dentro da pele. Com exceção de Nathaniel, ele ficou agachado e imóvel, como se estivesse esperando por algum sinal.

Olhei para Jason e os leopardos que se aproximam.

- O que está acontecendo?

- Eles querem entender você.

- Não há nada para entender. - eu disse - Colin feriu Nathaniel porque ele podia, assim como fez com você, abusou de vocês e vocês não gostaram. Ninguém abusa de meus amigos. Não é permitido.

Cherry esperou por Zane para que chegassem juntos perto de mim, quase um par combinado. Eles estavam quase sob mim, e eu não queria que me tocassem. Alguma coisa estava acontecendo, e eu não gostei.

- Nathaniel não é seu amigo. - disse Jason. -Não foi a amizade que colocou a vida de Asher em risco.

Eu fiz uma careta para ele.

- Pare de me ajudar.

Zane e Cherry olhavam para mim, acho que eles teriam me tocado, mas não tinham certeza do meu consentimento.

- Gabriel dizia que se importava connosco. - Zane disse - mas nunca arriscou nada, nunca sacrificou nada. - Ele ficou de joelhos, perto o suficiente para que sua energia sobrenatural pressionasse como um vento quente nas minhas pernas nuas. - Você arriscou sua vida por um de nós na noite passada. Porquê?

Cherry ficou de joelhos e novamente era como um eco. O seu poder contra mim era como uma mão, grande e morna. Sua intensidade, sua necessidade encheu seus olhos. Me dei conta pela primeira vez que não era apenas Nathaniel que era carente. Eram todos eles. Eles não tinham casa, amor ou cuidado.

- Não era amizade. - disse Zane. - O lobo está certo.

- Você não está fazendo sexo com Nathaniel. - disse Cherry.

Olhei para eles, para aqueles rostos ansiosos.

- As vezes você faz as coisas apenas porque é a coisa certa a fazer. - eu disse. - Você arriscou a vida de Asher e Damian, e a sua também. - Zane disse. -Porquê? Porquê?

- Por que você me protegeu noite passada?- Jason perguntou. - Por que você ficou entre eu e Barnaby?

- Você é meu amigo. - disse eu.

Jason sorriu.

- Agora eu sou, mas não foi por isso que você me protegeu. Você teria feito o mesmo por Zane.

Eu fiz uma careta para Jason.

- O que você quer que eu diga Jason?

- A verdadeira razão do por que você me protegeu. A mesma razão que você arriscou tanto por Nathaniel. Sem amizade, sexo ou amor.

- Então, porquê?- Eu perguntei.

- Você sabe a resposta Anita.

Olhei dele para os dois leopardos abaixados. Eu odiava pôr em palavras, mas ele estava certo.

- Nathaniel é meu agora. Ele está na lista das pessoas que eu vou proteger. Ele é meu, e ninguém pode machucá-lo sem responder a mim. Jason, você é meu e ninguém machuca o que é meu. Isso não é permitido.

Soou tão arrogante dizer isso em voz alta. Soou medieval, mas ainda assim era verdadeiro. Algumas coisas são verdadeiras, você não tem a voz deles, eles apenas são. E em algum lugar ao longo do caminho, eu comecei a colecionar as pessoas. Meu povo. Costumava dizer amigos, mas ultimamente, isso significava mais do que isso, ou menos. Assim como Nathaniel, nós certamente não eramos amigos mas ele era meu, da mesma forma.

Olhei fixamente para Zane e enfrentei Cherry, era como se eu pudesse ver todas as desilusões, as traições, o egoísmo, a mesquinhez, a crueldade. Vi encher seus olhos. Eles tinham visto tanto disso que simplesmente não conseguiam entender a bondade ou a honra, ou pior, eles simplesmente não confiavam nela.

- Você quer dizer que somos seu. Você pode ter tudo de nós. - Disse Zane.

- Já?- Eu fiz uma pergunta.

- Eles querem dizer, sexo. - disse Jason.

Ele não estava sorrindo agora. Eu não tinha certeza do porquê. Ele estava apreciando o show um momento antes.

- Eu não quero fazer sexo com qualquer um de vocês, com nenhum de vocês. Acrescentei apressadamente. Não queria ter qualquer mal-entendido.

- Por favor. - disse Cherry - Por favor, escolha um de nós.

Eu olhei para eles.

- Por que você quer que eu tenha relações sexuais com um de vocês?

- Você ama alguns dos lobos. - disse Zane. - Sente a verdadeira amizade por eles, mas não sente nada disso por nós.

- Mas você sente luxúria. - disse Cherry. - Nathaniel te perturba, você o acha atraente.

- Pessoal, eu não durmo com as pessoas só porque eu os acho atraentes.

- Por que não?- Zane perguntou.

Suspirei.

- Eu não faço sexo casual, não tenho certeza se posso explicar para vocês.

- Como podemos confiar em você se não quer nada de nós? - Cherry disse.

Eu não tinha uma resposta para isso, olhei para Jason.

- Você pode me ajudar aqui?

Ele se afastou da parede.

- Acho que sim, mas você pode não gostar.

- Explique. - disse eu.

- O problema é que eles nunca tiveram realmente uma Nimir-ra, não realmente. Gabriel era um alfa, e era poderoso, mas ele não era um Nimir-ra tampouco. Um dos lobisomens de Gabriel o descreveu como um passant-leão, um leopardo passivo, aquele que tinha o poder, mas que não protegia.

- O bando me chamou de lionne léoparde, aquela que protege, antes de me promover a Nimir-ra.

- Nós chamamos Gabriel de lionne léoparde - Zane disse - porque ele era tudo o que conhecíamos, mas os lobos estavam certo, ele era um passant-leão.

- Grande. - disse eu - Então está tudo resolvido.

- Não. - disse Cherry. - Se Gabriel nos ensinou alguma coisa, foi que você não pode confiar em ninguém a menos que ele queira algo de você. Você não tem que nos amar, mas escolha um de nós para seu amante.

Eu balancei a cabeça.

- Não, quero dizer, obrigada pelo convite, mas não, obrigada.

- Então como podemos confiar em você?- Cherry perguntou, a voz quase um sussurro.

- Você pode confiar nela. - disse Jason. - Era em Gabriel que não podiam confiar. Ele foi o único que convenceu vocês de que o sexo era tão importante. Anita não dorme com o nosso Ulfric, mas Zane viu noite passada o que ela fez para me proteger.

- Ela fez isso para proteger o vampiro que ela cuida. - Zane disse.

- Eu não sinto por Damian o que sinto por Asher, mas arrisquei minha vida por ele na noite passada. - eu disse.

Os leopardos ficaram com a cara amarrada para mim.

- Eu sei, e eu não entendo isso. Por que você não os deixou morrer? - Zane disse

- Eu pedi a eles que arriscassem suas vidas para salvar Nathaniel. Nunca tente pedir a outros o que você não está disposto a fazer. Damian estava disposto a arriscar sua vida, então eu não poderia fazer menos.

Os leopardos estavam perdidos, mostravam isso em seus rostos. A tensão fluiu através de seu poder e passou ao longo de minha pele.

- Eu sou seu? - Nathaniel perguntou. Sua voz soou pequena e perdida.

Olhei para ele, ainda estava agachado, encolhido no chão, encolhido em torno de si. Seu longo cabelo comprido tinha se derramado em suas costas e através de seu rosto. Seus olhos de pétala de flor olhavam para mim por essa cortina de cabelos como se estivesse olhando através de sua pele. Eu tinha visto outros licantropos que faziam isso, se escondiam atrás de seus cabelos e olhavam. Agachado lá, ele parecia subitamente selvagem e vagamente irreal. Jogou os cabelos para trás de um lado, revelando uma linha do braço e tórax. Seu rosto era jovem, e de repente eu vi a necessidade em seus olhos.

- Eu não vou deixar ninguém te machucar Nathaniel. - eu disse.

Uma única lágrima deslizou pelo rosto.

- Eu estou tão cansado de não pertencer a ninguém, Anita. Tão cansado de ser carne de qualquer um que me queria. Tão cansado de estar com medo.

- Você não tem que ficar mais assustado Nathaniel. Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para mantê-lo seguro.

- Eu pertenço a você agora?

Eu não gostei da frase, mas ele começou a chorar, uma lágrima cristalina neste momento, eu sabia que não era o momento de discutir. Eu esperava que não precisasse de mais detalhes de sua vida, mas eu não tinha escolha.

- Sim Nathaniel, você pertence a mim. - As palavras raramente impressionam os metamorfos. Era como se parte deles não as entendessem.

Estendi a mão para ele.

- Venha Nathaniel, venha para mim.

Ele arrastou-se com graça selvagem, musculoso, mas de cabeça baixa, chorando, o rosto escondido pelo cabelo. Ele estava chorando quando me alcançou, segurou uma de minhas mãos, não olhando para mim.

Zane e Cherry se afastaram para os lados deixando-o chegar mais perto de mim.

Peguei a mão de Nathaniel e questionei o que fazer com ele. Sacudir sua mão não bastaria, beija-lo parecia errado. Quebrei minha cabeça pensando sobre o que fazer com os leopardos e simplesmente não consegui nada. A única coisa que os leopardos faziam na maioria das vezes era lamber uns aos outros. Eu não conseguia pensar em mais nada.

Levantei a mão de Nathaniel e pressionei a minha boca nas costas da sua mão. Eu lambia sua pele, um movimento rápido, e o gosto me era familiar. Eu soube naquele momento que Raina tinha lambido esta pele, passado seus lábios, a língua e dentes neste corpo.

O Munin brotou dentro de mim e eu lutei. O Munin queria morder a mão dele para tirar sangue e lambe-lo como um gato. A imagem era muito repugnante para mim. Meu próprio horror me ajudou a manter Raina a distância. Eu a empurrei para baixo, para dentro de mim e percebi que ela realmente tinha me deixado. Foi por isso que ela veio tão rápido e facilmente. Senti seu poder se escondendo dentro de mim como um câncer à espera para se espalhar.

Fiquei ali com o gosto da pele de Nathaniel na minha boca e fiz o que Raina nunca tinha feito: dar conforto.

Levantei a cabeça de Nathaniel suavemente até pegar seu rosto entre as mãos. Eu beijei sua testa, beijei o gosto salgado das lágrimas de suas faces.

Ele se jogou sobre mim com um soluço, braços fechados em torno de minhas pernas. Houve um momento em que Raina tentou incendiar a vida na virilha de Nathaniel me pressionando contra suas pernas nuas.

Fiz contato com Richard aproveitando a marca entre nós. Seu poder chegou ao meu chamado, ele ajudou a afastar essa presença, uma presença de terrível ardor.

Ofereci minhas mãos para os outros leopardos. Eles apertaram seus rostos na minha pele marcando-me como os gatos, lambendo-me como se eu fosse um gatinho. Fiquei lá com os três homens-leopardo pressionados em mim, pedindo ao poder de Richard que mantivesse Raina longe, mas era mais do que isso. O poder de Richard me completou, levado por mim aos leopardos.

Eu era como a madeira no centro de um incêndio. Richard era a chama e os homens-leopardo se aqueciam contra o calor. Tomando para si, banhados por ela, envolvidos em torno de si como uma promessa.

Ficamos lá travados entre o poder de Richard, as necessidades do leopardos, e o toque terrível de Raina, como um perfume sujo, eu orei: Meu Deus, não me deixe falhar com eles.


24

A cerimônia de saudação que havia sido interrompida ontem estava de volta esta noite. Uma coisa sobre os monstros: Você tem que observar as regras. A regra diz que precisávamos de uma cerimônia de saudação, bem, pelo amor de Deus, nós teríamos uma. Vampiros vingativos, policiais corruptos, ou o congelar do inferno acabou, se havia um ritual a ser cumprido ou uma cerimônia a ser feita, você seguia em frente com ela. Os vampiros eram os piores, enquanto eles rasgavam sua garganta, os lobisomens não estavam muito atrás.

Eu teria ordenado e dito: - Ao inferno com isso, vamos tentar resolver o mistério. - Mas eu não estava no comando. Mesmo transformando em croquete mais de vinte vampiros na noite passada, não me fazia um cão superior ou qualquer outra coisa, embora o convite de Verne tinha sido muito, muito educado. Colin não era o único que estava com medo de mim agora.

Executar quase todos os vampiros de Colin significou que o bando de Verne estava no comando. Eles estavam em número maior agora. Aparentemente, se houvesse empate entre vampiros e lobisomens em uma área, quem tivesse mais força poderia governar sobre os demais. Até a noite passada Colin tinha mantido os lobos na linha e agora o sapato estava em outro pé, e ao olhar nos olhos de Verne percebia-se que o sapato estava apertado.

Era uma daquelas noites quentes de Agosto em que o vento está totalmente parado, a escuridão quente como se estivesse segurando a respiração, esperando por uma brisa fresca que nunca vinha.

Mas havia movimento sob as árvores, sem vento, mas havia movimento. Tinha pessoas entre as árvores. Pessoas não, lobisomens. Todos ainda estava em sua forma humana, mas você não teria se enganado com eles. Deslizavam através das árvores como sombras, movendo-se através dos arbustos espalhados quase silenciosos. Se houvesse a menor brisa agitando as árvores, eles não seriam vistos, mas um roçar de galho, um aperto de folha, um farfalhar de folhas verdes, e você ouvia. Em uma noite como esta mesmo os pequenos sons eram ouvidos.

Um galho foi arrancado à minha esquerda, e eu pulei. Jamil tocou meu braço e eu pulei de novo.

- Droga, baby você está nervosa esta noite.

- Não me chame de baby.

Seu sorriso brilhou nas trevas.

- Desculpe.

Esfreguei minhas mãos ao longo dos braços.

- Você não pode estar com frio. - ele disse.

- Eu não estou. - Não era o frio que estava se arrastando sob minha pele como insetos em marcha.

- O que há de errado?- Jason perguntou.

Parei na floresta escura, balancei a cabeça buscando a escuridão. Sim, dúzias, havia vários lobisomens furtivamente ao redor, mas eles não estavam me enlouquecendo. Eram ... Era como ouvir vozes em uma sala distante. Eu não conseguia entender o que diziam, mas podia ouví-los na minha cabeça. Eu sabia o que era, era o Munin. O Munin no Lupanar. O Munin chamava por mim, sussurrava em toda a minha pele. Eles estavam ansiosos para que eu viesse, esperavam por mim. Merda.

Zane olhava fixamente para fora no escuro. Ele estava em pé perto o suficiente para que eu o ouvisse respirar e sabia que ele estava farejando o vento. Eles estavam todos voltados para a noite, até mesmo Nathaniel. Ele parecia mais confiante do que eu já tinha visto, mais confortável em sua própria pele, sem trocadilhos. Nossa pequena cerimônia desta tarde queria dizer algo para os três leopardos. Eu ainda não tinha certeza o que exatamente ela significava para mim.

Estavam todos vestindo jeans velhos, camisetas, coisas que você não se importa em estragar porque uma noite mais perto da lua cheia acidentes aconteceram. Não, não seria um acidente. Gostaria de prestar atenção em alguns deles quando perdessem a forma humana, mas percebi que realmente não queria vê-los. Não realmente.

Asher e Damian não estavam aqui. Eles tinham ido espionar ou negociar com Colin e o resto de seus vampiros. Eu achava isso uma péssima idéia, mas Asher tinha me garantido que era esperado. Que ele, como o segundo de Jean-Claude levaria a mensagem que eu, que nós, tínhamos poupado Colin e Barnaby. Tivemos que permitir que sua serva humana ficasse em pé no círculo. Nós tínhamos sido generosos e não tínhamos que ser. Pelas suas leis, Colin havia excedido seus limites. Ele era o menor dos vampiros e nós poderíamos ter tudo dele.

Evidentemente, a verdade é que Colin e Barnaby haviam escapado. A única pessoa que permitiu a fuga foi sua serva humana. Asher me garantiu que ele poderia mentir para Colin e que o Mestre desta cidade nunca perceberia.

Senti um aperto no peito com o pensamento de que Damian e Asher iriam sozinhos se encontrar com Colin e companhia. Os vampiros tinham regras para tudo, mas eles tinham uma tendência a dobrar as regras até que fosse apenas este lado da ruptura. Dobrar o suficiente para que Asher e Damian fossem feridos. Asher estava confiante e hoje eu estava bancando a lupa. Um monstro por vez, eu acho.

Outra coisa que estava me deixando nervosa é que eu não estava com as minhas armas. Facas tudo bem, elas substituíam as garras, mas sem armas. Com Marcus foi da mesma maneira. No vale do Ulfric não se podia trazer uma arma em seu santuário. Eu entendia, mas não tinha que gostar disso. Depois do que eu tinha feito para Verne noite passada, pensei que poderia ficar com as armas.

Richard me informou que assassinar os vampiros de Colin dentro do Lupanar seria o nosso dom, o dom que o Ulfric visitante e a lupa davam ao bando residente.

O dom era geralmente um animal morto recentemente, a jóia da lupa, ou algo místico. Morte, jóias, ou magia, soava como Dia dos Namorados.

Coloquei uma calça para proteger as pernas do mato, mas estava quente o suficiente para que meus joelhos suassem. O único de nós usando shorts era Jason. Se suas pernas estavam ficando arranhadas ele não parecia se importar. Ele também era o único que não estava usando uma camisa. Eu coloquei um top azul Royal, pelo menos eu estava mais confortável assim, ele deixava as facas visíveis.

A grande faca na minha espinha ainda era invisível a menos que parecesse realmente duro em minhas costas. O top era de material fino e você podia ver a parte superior da bainha, embora não no escuro. Eu usava minha bainha com lâminas de prata em meus braços. Eles eram muito visíveis contra a minha pele, tinha uma faca nova no meu bolso, era um canivete de quatro polegadas com uma trava de segurança. Não quis me sentar e me apunhalar. Esta é uma daquelas lâminas que vem em linha reta para fora. Sim, é ilegal. Tinha sido um presente de um amigo que não usava muitas coisas legalizadas. Então, por que tem um mandato se era ilegal na maioria dos estados? Porque em seis centímetros, não era confortável me sentar com ele no meu bolso. É tão bom ter amigos que sabem o seu tamanho.

Eu também usava um crucifixo de prata, eu não planejava me encontrar com os vampiros esta noite, mas eu não confiava que Colin não tentaria algo. Se ele sabia sobre a cerimônia de saudação e que não seria permitida o uso de armas, ele poderia tentar alguma coisa.

Havia sombras cinzentas sob as árvores. A lua e as estrelas eram brilhantes em alguns lugares acima, mas onde estávamos, as árvores eram uma escuridão contínua entre nós e o céu. Me sentia quase claustrofóbica lá no escuro.

- Não sinto cheiro de nada, só de outro lukoi. - disse Jason.

Todos concordaram, eles não sentiram cheiro de nada, só de outros metamorfos. Ninguém mais parecia ser capaz de sentir os sussurros ecoando, eu era a única necromante no grupo, assim os espíritos dos mortos gostavam mais de mim.

- Precisamos estar no local de encontro antes que a cerimônia vá mais longe.- disse Jamil.

Olhei para ele.

- Você quer dizer que já começaram a cerimônia?

- A chamada foi dada. - disse Jason.

Ele disse como se usasse letras maiúsculas.

- O que quer dizer com a chamada foi dada?

- Eles sacrificaram um animal e mancharam a árvore de sangue, o mesmo que você fez noite passada. - disse Jason.

Esfreguei meus braços.

- Eu me pergunto se é por isso que estou sentindo o Munin.

- Quando o sangue mancha o trono de pedra, o símbolo de nosso espírito, não chama o Munin. - disse Jason.

Eu balancei a cabeça.

- Eu estive no seu Lupanar Jason; este é diferente. Essa magia é diferente da sua.

Senti algo rastejar por entre as árvores, um raio de energia fez meu coração saltar uma batida e depois bater mais rápido como se eu tivesse sido executada.

- Jesus, o que foi aquilo?

- Ela está sentindo a chamada. - Jason disse.

- Isso é impossível. - disse Jamil - Ela não é lukoi. - Ele apontou um dedo a Cherry, Zane, e Nathaniel. - Eles não sentem, são metamorfos e não sentem a chamada para o Lupanar.

Cherry olhou para nós, então balançou a cabeça.

- Ele tem razão. Sinto algo parecido com um zumbido vagando pela floresta, mas não é nada grande.

Nathaniel e Zane concordaram com ela.

Minha pele se arrepiou em todo meu corpo como se estivesse tentando rastrear sob seu próprio poder, era assustador como o inferno.

- O que está acontecendo comigo?

- Ela está sentindo a chamada. - Jason disse.

- Isso não é possível. - disse Jamil.

- Você continua dizendo isso sobre ela Jamil, e continua errado. - disse Jason.

Um rosnado baixo escorreu da boca de Jamil.

- Parem com isso. - eu disse.

Olhei para trás, mais para dentro das árvores até que não havia nada além de um muro de escuridão. Jason estava certo, eu podia sentir a magia. Era magia ritual, magia de morte. Licantropos tem o poder da vida, eles são as criaturas sobrenaturais mais vivas que eu conhecia, mais como fadas do que seres humanos às vezes. Mas este Lupanar correu sobre a morte, assim como a vida, ela me chamou por duas vezes. Uma vez com as marcas de Richard e no segundo através da minha necromancia. Eu queria que Richard estivesse aqui.

Ele tinha ido jantar com sua família. Shang-Da tinha ido com ele por minha insistência. O Xerife Wilkes sabia que não tínhamos saido da cidade até agora. Os vampiros não eram a única coisa que nos preocupava. Richard tinha ligado dizendo que estavam atrasados, para começar sem ele. Sua mãe só não tinha entendido por que ele não poderia ficar mais tempo. Todos os homens Zeeman eram gatinhos adestrados, ah, dominado pela mulher, desculpe.

Comecei a andar por entre as árvores e eles me seguiram. Subi em cima de um tronco caído. Você nunca passa diretamente sobre um tronco, nunca se sabe se há uma cobra do outro lado. Pise no tronco e então verifique. Esta noite não era com as cobras que eu estava preocupada. Andei lentamente escolhendo o meu caminho por entre as árvores. Minha visão noturna é excelente para um ser humano, e eu poderia andar mais rápido, eu queria ir mais rápido, eu queria me aventurar por entre as árvores e correr. Eu não sabia, mas era só a minha força de vontade que me mantinha caminhando.

Não era apenas a morte que eu estava sentindo, era a energia pura dos licantropos. Eu sabia que podia sentir a mesma coisa segurando a mão de Richard. Nós tínhamos feito isso antes da uma lua cheia, mas nunca sozinha. Nunca me movi através da escuridão tentando respirar o poder, sentindo o meu coração e a pressa de alguém.

Sussurrei:

- Richard, o que você fez comigo? - Talvez tenha sido o seu nome, talvez fosse só de pensar nele, mas de repente o senti sentado no carro. Por um momento eu vi Daniel dirigindo, eu podia sentir o seu cheiro. Eu podia sentir o aperto no peito morno de Richard. Eu me afastei e tudo girou, se não tivesse uma árvore para abraçar eu teria caído de joelhos. Se nesse momento de partilha o coração de Richard batesse tão rápido como o meu, eu estava feliz por ele não estar dirigindo. - Anita, você está bem?

Jason tocou meu ombro e o poder fluiu entre nós em um jato quente, um rastejar abaixo da pele. Virei-me para ele e senti como se estivesse me movendo em câmera lenta. Eu não conseguia respirar, o poder e as sensações enchiam minha mente. Imagens, flashes, como estar em um quarto com luz estroboscópica. Uma cama, lençóis brancos, o cheiro de sexo era tão fresco, quente, almiscarado. Minhas mãos descansando em um peito. O peito de um homem. Esse poder quente, circulante e puro, um animal de sangue puro, cheio de meu corpo, como o homem debaixo de mim. Nítido, agradável, emocionante. O poder se derramava em meus dedos puxando as garras das minhas mãos como facas desembainhadas. A besta empurrou a pele lisa do meu corpo, tentou escapar e me sufocar, mas eu a segurei, apertei meu corpo em torno dele e deixei apenas as minhas mãos monstruosas. Minhas garras cortavam seu peito, o sangue quente e doce em nossas línguas.

Jason olhou para mim da cama ainda preso ao meu corpo, nosso corpo, e gritou. Ele queria isso. Escolheu. E ainda gritou. Senti sua carne sob as minhas garras. Aquelas mãos golpearam várias vezes, até que os lençóis brancos ficaram manchados com sangue e ele estava deitado e imóvel debaixo de nós. Se ele sobrevivesse, seria um de nós. Lembrei-me que não me importava se estava vivo ou morto, não realmente. Era o sexo, a dor, a alegria, era tudo o que importava.

Quando pude sentir meu corpo novamente, Jason e eu estávamos ajoelhados nas folhas. Suas mãos ainda estavam nos meus braços. Alguém estava gritando e descobri que era eu, Jason me olhou com uma cara quase branca de horror. Ele dividiu o passeio, mas não era sua memória.

Não era a memória de Richard ou a minha, era de Raina. Ela estava morta, mas não esquecida. Era por isso que eu temia o Munin. Eu era uma necromante com laços com os lobos. O Munin gostava de mim. O Munin de Raina gostava de mim, o melhor de todos.

- O que aconteceu? - Cherry perguntou.

Ela me tocou e abriu algo dentro de mim novamente. Congratulou-se com Raina de volta com uma corrida que me deixou gritando, mas eu lutei desta vez. Lutei porque não queria ver a maneira de Cherry e Raina fazerem sexo. Jason não se importaria. Cherry não gostaria, eu deveria tomar cuidado.

Houve uma corrida de sensações: a pele úmida de suor, mãos com longas unhas pintadas no meu peito, olhos cinzentos olhando para mim, a boca aberta, um cabelo longo e amarelo contra um travesseiro. Raina por cima novamente.

Gritei e me afastei de ambos. As imagens de morte, como se uma ficha tivesse sido puxada. Eu me mexia através das folhas, fiquei de quatro com os olhos fechados. Acabei sentada abraçando meus joelhos, o rosto enterrado nas minhas pernas. Apertei tanto meus olhos que comecei a ver cobras brancas contra minhas pálpebras.

Ouvi alguém se mover através da trituração de folhas. Eu o senti pairar sobre mim.

- Não me toque. - eu disse. Era quase um grito.

Ouvi alguém se ajoelhar nas folhas secas antes de ouvir a voz de Jamil.

- Eu não vou tocar em você, ainda está recebendo as memórias?

Ele não perguntou se eu estava vendo as memórias. Achei a frase estranha, balancei a cabeça sem olhar para cima.

- Então é isto, Anita. O Munin depois das férias, foi chamado de novo.

- Eu não o chamei. - Levantei meu rosto lentamente e abri meus olhos, a noite de verão parecia mais negra de alguma forma.

- Foi Raina de novo? - ele fez uma pergunta.

- Sim.

Ele se aproximou o máximo que pode sem me tocar.

- É comum as memórias com Jason e com Cherry.

Eu não tinha certeza se era uma pergunta ou uma afirmação, mas respondi:

- Sim.

- Foi um visual completo. - disse Jason. Ele estava sentado com as costas nuas contra uma árvore.

Cherry tinha as mãos pressionadas em seu rosto, ela falou com o rosto escondido.

- Eu cortei o meu cabelo depois daquela noite, após o que ela fez para mim. Uma noite com ela era o preço por não ter que fazer um de seus filmes pornos.- Ela tirou as mãos de seu rosto chorando. - Deus, eu posso sentir o cheiro de Raina.

Ela esfregou as mãos contra o seu jeans, mais e mais, como se tivesse tocado alguma coisa ruim e estivesse tentando acabar com isso.

- Que diabos foi isso?- perguntei. - Eu já canalizei Raina antes, mas nunca assim. Tive lampejos de memórias, mas não é um filme completo. Nada disso, nunca.

- Você está tentando aprender a controlar o Munin?- Jamil perguntou.

- Apenas para me livrar dela, deles, o que quer que seja.

Jamil se aproximou estudando meu rosto como se estivesse procurando algo.

- Se você fosse lukoi eu diria que não pode simplesmente tirar o Munin para fora. Se tem o poder de chamá-los, então deve aprender a controlá-los, não apenas tirá-los de você porque não pode excluí-los. Eles buscam um caminho para você, através de você.

- Como você sabe tanto?- Eu perguntei.

- Eu conheci um lobisomem que podia chamar o Munin. Ela odiava isso, tentou tirá-los para fora, não funcionou.

- Só porque ela não conseguiu, não significa que eu não possa fazer isso.- Eu podia sentir seu hálito quente contra o meu rosto. - Afaste-se Jamil.

Ele se afastou, mas ainda estava muito perto do que eu gostaria que estivesse. Ele sentou-se nas folhas.

- Ela enlouqueceu Anita, o bando teve que executá-la.

Seus olhos passaram de mim para a escuridão. Virei-me para ver o que ele estava olhando. Duas figuras estavam lá. Um deles era uma mulher com cabelo longo, pálido e um longo vestido branco como algo saído de um filme de terror de 1950, como se estivesse brincando de ser vítima. Ela simplesmente estava lá, muito certa, como se estivesse presa ao chão como uma árvore. Havia algo quase assustadoramente confiante nela.

O homem com ela era alto, magro e bronzeado o suficiente para ter olhos castanho escuros, seu cabelo era curto. Se a mulher parecia calma, ele parecia nervoso. Ele espalhou sua energia para fora em um banho que soprou ao longo de minha pele e fez a noite parecer mais quente.

- Você está bem? - perguntou a mulher.

- Ela compartilhou o Munin com dois de nós. - disse Jamil.

- Por acaso eu pude sentir.- disse a mulher. Ela parecia ligeiramente divertida.

Eu não estava achando graça, senti meus pés um pouco instáveis, mas consegui me manter.

- Quem é você?

- Meu nome é Marianne, sou a Vargamor deste clã.

Lembrei-me de Verne e Colin falando vagamente sobre isso.

- Verne mencionou você na noite passada. Colin disse que ele tinha deixado você em casa para mantê-la segura.

- É difícil encontrar uma boa bruxa. - disse ela sorrindo.

Olhei para ela.

- Você não se parece com uma Wicca.

Mais uma vez eu soube que ela sorria para mim, sua condescendência pacífica abalava meus nervos.

- Um psíquico então, se você prefere o termo.

- Eu nunca tinha ouvido o termo Vargamor até a noite passada. - eu disse.

- É raro - disse ela.- A maioria dos bandos não têm uma anymore, consideram muito antiquado.

- Você não está lukoi. - eu disse

Sua cabeça inclinou para um lado e o sorriso se foi como se eu tivesse finalmente feito algo de valor.

- Você tem certeza?

Tentei ter uma noção do que me fazia tão certa que ela era humana, ou pelo menos não lukoi. Ela tinha sua própria energia, era psíquica o suficiente para que eu sentisse. Teríamos nos reconhecido sem introduções. Podemos não ter o conhecimento exato de outras habilidades, mas reconhecemos uma alma gêmea ou rival. Seja qual for seu poder, não era licantropia.

- Sim, tenho certeza que você não está lukoi. - eu disse.

- Porquê? - perguntou ela.

- Não acho que você seja um metamorfo.

Ela riu então, e era um som rico e musical que conseguiu ser saudável e ter o sabor da terra, tudo ao mesmo tempo.

- Eu gosto de sua escolha dos sentidos. A maioria dos seres humanos teria dito que não sente. Sentir é uma palavra tão imprecisa, não acha?

Eu dei de ombros.

- Talvez.

- Este é Roland, ele é o meu guarda-costas esta noite. Nós pobres seres humanos devemos ser vigiados por medo de que algum metamorfo por excesso de zelo possa perder o controle e nos machucar.

- De alguma forma acho que você não é uma presa fácil Marianne.

Ela riu de novo.

- Isso graças a você, venha filho.

Ouvi-la chama-lo de filho me fez acrescentar cerca de dez anos para sua idade. Ela não olhou para ele, estava escuro, mas ela ainda não olhou para ele.

- Venha Anita, vamos acompanhá-los ao Lupanar.- Ela estendeu a mão para mim como se eu devesse ser levada como uma criança.

Olhei para Jamil, esperava que alguém soubesse o que estava acontecendo porque eu estava perdida.

- Tudo bem Anita, a Vargamor é neutra, ela nunca entra em uma briga ou toma partido em desafios. Isso é como ser humana e correr com o bando.

- Estamos envolvidos em um desafio ou uma luta que eu não sei?- Eu perguntei.

- Não. - disse Jamil, mas ele parecia incerto.

Marianne respondeu:.

- Apresentar dois dominantes em um bando pode levar a uma luta. Ter alguém tão poderoso quanto Richard é levantar a ira em nossos lobos mais jovens. Ele ter dormido com duas fêmeas dominantes do bando, torna tudo ainda pior.

- Você quer dizer que podemos entrar em guerra? - eu perguntei.

- Uma frase colorida, mas suficientemente precisa. - disse ela.

- Ok e agora? - Eu perguntei.

- Agora Roland vai escoltá-la ao Lupanar, o resto vocês podem ir em frente. Você sabe o caminho, Jamil.

- Eu acho que não. - eu disse.

- Não o quê? - Marianne perguntou.

- Parece que tenho um cabresto vermelho? - eu disse - Não vou dar um passeio na floresta com dois estranhos. Um deles um lobisomem e a outra uma ... Eu não sei o que você é Marianne, mas não quero ficar sozinha com vocês dois.

- Muito bem. - disse ela. - Alguns ou todos podem ficar, eu pensei que você gostaria de privacidade para falar com outro ser humano ligada ao lukoi. Talvez eu esteja errada

- Amanhã á luz do dia podemos conversar, essa noite vamos com calma.

- Como quiser. - ela disse e estendeu a mão para mim. - Venha, vamos falar com o grupo do Lupanar como uma família grande e feliz.

- Você está tirando sarro de mim agora. - eu disse.- Isso não vai colocá-la na minha lista dos preferidos.

- Eu faço o divertimento de todos por aqui. - disse ela.- Quero dizer, nenhum dano por isso.- Ela balançou a mão para mim.- Venha criança, a lua passa acima de nós. Estamos desperdiçando tempo.

Eu caminhava em direção a ela com meus cinco guarda-costas à minha volta, no entanto não peguei em sua mão.

Eu estava perto o suficiente para ver o sorriso condescendente claramente agora. Anita Blake, a famosa caçadora de vampiros com medo de uma bruxa local.

Eu sorri.

- Sou cautelosa por natureza e paranóica por profissão. Você me ofereceu sua mão duas vezes em apenas alguns minutos, não me parece alguém que faz alguma coisa sem uma razão. O que está acontecendo?

Ela colocou as mãos nos quadris e olhou para mim.

- Ela sempre torna tudo tão difícil?

- Pior. - disse Jason.

Eu fiz uma careta, mesmo que ele não pudesse ver no escuro me fez sentir melhor.

- Tudo que eu quero criança, é tocar sua mão e ter uma noção do quanto é poderosa antes de deixá-la dentro dos limites do nosso Lupanar novamente. Depois do que você fez noite passada, alguns do nosso bando tem medo. Eles parecem pensar que você pode roubar o nosso poder.

- Eu posso bater neles, mas não posso roubar nenhum poder.

- Mas o Munin chegou até você. Eu sinto que você pode chamá-lo, ele viajou através do poder que chamamos hoje a noite no Lupanar. Perturba-lo é como arrancar um fio de uma teia de aranha. Nós viemos ver o que ele tinha capturado, e se fosse grande demais para comer, seria cortado e levado para casa.

- A metáfora da aranha pode trabalhar em duas frases, e você não me pegou.- eu disse.

- O Lupanar é o nosso lugar de poder Anita, preciso ter uma noção de sua força antes de inseri-la esta noite. - O riso se foi de sua voz. De repente ela ficou muito séria. - Não é só na nossa defesa que eu estou pensando criança, é na sua. Pense criança, o que lhe aconteceria se o Munin dentro do nosso círculo chegasse para você um após o outro? Eu preciso ter certeza que você pode pelo menos se controlar.

Bastou ouvi-la dizer isso e meu estômago se apertou de medo.

- Ok. - Estendi a mão para ela como se fossemos apertar as mãos, mas dei-lhe a mão esquerda, se ela não gostasse poderia recusá-la.

- Oferecer a mão esquerda é um insulto. - disse ela.

- É pegar ou largar Vargamor, não temos a noite toda.

- Isso é mais verdadeiro do que você imagina.- Ela pôs a mão como se fosse tocar a minha, mas parou um pouco acima. Estendeu a mão sobre minha pele. Eu fiz o mesmo que ela. Ela estava tentando ter uma idéia da minha aura. Dois podiam jogar aquele jogo.

Quando levantei a minha mão na frente do meu corpo ela me imitou. Ficamos frente a frente, as mãos abertas, não muito comovente. Ela era alta, acho que não estava usando saltos sob o vestido longo.

Sua aura era quente contra a minha pele. Tinha um peso para ele, como se eu pudesse enrolar sua aura em minhas mãos, como massa de pão. Nunca conheci ninguém com esse peso para sua aura. Ele confirmou a minha primeira sensação dela. Solido.

De repente ela envolveu seus dedos em torno da minha mão, forçou minha aura de volta como um golpe de faca, me fez suspirar, mas novamente eu sabia o que estava acontecendo. Puxei para trás e a senti vacilar.

Ela sorriu, mas não era condescendente agora, era quase como se estivesse satisfeita.

Senti todos os pelos do corpo arrepiar.

- Poderosa. - disse ela - Forte.

Falei sentindo um aperto na garganta.

- Você também.

- Obrigada - disse ela.

Senti seu poder, sua magia, mover-se sobre mim, por mim, como uma arremetida do vento. Ela afastou-se de forma tão abrupta que nós duas cambaleamos.

Estávamos de pé a pouca distância uma da outra, respirando com dificuldade. Meu coração bateu na minha garganta como uma coisa presa. E eu poderia provar-lhe o pulso na parte de trás da minha língua. Não, eu podia ouví-lo. Podia ouví-lo como um pequeno relógio tique-taque, mas não era o seu pulso. Senti o cheiro da loção pós-barba de Richard como uma nuvem que eu tinha visto passar. Quando as marcas estão trabalhando através de Richard, muitas vezes era o perfume que me deixava saber o que estava acontecendo. Eu não sabia o que tinha causado isso. Talvez o poder dos outros licantropos ou a proximidade da lua cheia. Quem sabe? Mas algo me conectou a ele. Eu estava canalizando mais do que o cheiro doce do seu corpo.

- O que é esse som?- Eu perguntei.

- Descreva-o. - disse Marianne.

- Como um clique, suave, quase mecânico.

- Eu tenho uma válvula artificial no meu coração. - disse ela.

- Não pode ser isso.

- Por que não? Quando eu me inclino para a frente para o espelho para aplicar o delineador, posso ouví-lo através da minha boca aberta ecoando contra o espelho.

- Mas eu não deveria ouvi-lo.

- Mas você está ouvindo.

Eu balancei a cabeça, estava perdendo o sentido disso. Ela estava se afastando de mim, colocando escudos, não podia culpá-la porque por apenas um segundo eu podia sentir seu coração batendo, mancando. O som não me fez ter muita empatia. O som me animou. Eu senti puxar coisas profundas dentro do meu corpo. Era quase sexual. Ela seria lenta, uma morte fácil. Olhei para aquela mulher alta e confiante e por uma fração de segundos tudo o que vi foi comida.

Foda-se.


25

Seguimos Marianne e seu protetor Roland entre as árvores escuras. Eu teria rasgado aquele maldito vestido em cada galho, Marianne flutuava através da floresta como se as árvores a deixassem passar suavemente. Ela estava com Roland preso em seu braço deslizando pela floresta como a água em um poço de canais usados. Jamil, Nathaniel e Zane moviam-se graciosamente, o resto de nós estava tendo problemas.

Minha desculpa é que eu era humana, não sabia qual era a desculpa de Jason e Cherry. Tentei pisar em um tronco e não consegui, acabei raspando a barriga e os braços na casca áspera. Eu andava como um cavalo e não conseguia ver minhas pernas no meio de tanto mato. Cherry tropeçou em algo nas folhas e caiu de joelhos.

Jason caiu em um emaranhado de raízes de árvore seca no final do tronco que eu estava sentada, ele caiu de cara amaldiçoando tudo. Quando ficou de pé, havia arranhões profundos em seu peito, o suficiente para mostrar o sangue preto no luar. Me fez lembrar o que Raina tinha feito com ele, ela cortou seu peito e não havia nenhuma cicatriz.

Fechei os olhos e me inclinei sobre os joelhos descansando meus braços sobre eles. Levantei lentamente e olhei meus braços, eu os tinha raspado e o sangue foi lentamente escorrendo das feridas. Ótimo.

Jason encostou-se no final do tronco, longe o suficiente para não me tocar. Acho que estávamos todos ainda com medo disso. Não quero que se repita.

- O que foi agora? - Jason perguntou.

Eu balancei a cabeça.

- Eu não sei.

De repente Marianne estava ao meu lado, eu não a ouvi se aproximar. Eu estava ficando lenta? Estava fora de mim?

- Você expulsou o Munin antes que ele estivesse pronto para libertá-la.

- Então? - Eu disse.

- Então isso leva a sua energia. - disse ela.

- Ótimo, isso explica porque estou tropeçando, mas e eles? Por que estão se sentindo como uma merda?

Ela deu um sorriso muito pequeno.

- Você não é o única que lutou contra o Munin, Anita. Foi você que a chamou, e se você não estava disposta a lutar, então os outros dois seriam impotentes diante dela, mas eles lutaram bem. Lutaram contra as memórias e isso tem um preço.

- Parece que você sabe como é. - eu disse.

- Eu posso chamar o Munin. Estes flashes são caóticos, isso acontece quando o Munin te procura e você não quer abraçá-lo.

- Como você sabia que era caótico?- Eu perguntei.

- Eu tive um vislumbre ou dois do que você viu. Um mero toque. - disse ela.

- Por que você não está se sentindo horrível?

- Eu não lutei. Se você simplesmente permitir que o Munin entre em você, ele passa muito mais rápido e relativamente indolor.

Eu ri dela.

- Isso soa como o velho conselho; minta, feche os olhos e passará logo.

Ela virou a cabeça para um lado, seus longos cabelos deslizando sobre os ombros como um fantasma pálido.

- Abraçar o Munin pode ser agradável ou não, mas este Munin caça você Anita. Na maioria das vezes, um Munin tenta se ligar a um membro do bando por amor ou tristeza compartilhada.

Eu olhei para ela.

- Não é o amor que motiva este.

- Não. - ela disse - Eu senti tanto a força de sua personalidade como o seu ódio por você. Ela a persegue por despeito.

Eu balancei a cabeça.

- Não somente despeito. O pouco que restou dela se diverte com o jogo, ela sempre fica bem quando nos conectamos.

Marianne concordou.

- Sim, mas se você abraçá-la em vez de lutar, pode escolher as memórias. As mais fortes se tornarão mais fáceis e você poderá controlar a intensidade com que chegam. Se você realmente conectar-se com ela, então as imagens serão mais como um filme, é mais...como vestir uma luva.

- Só que eu sou a luva e sua personalidade me oprime. Não, obrigada.

- Se você continuar a lutar contra este Munin, vai piorar. Se você parar de lutar e reconhecê-lo mesmo que parcialmente, o Munin vai perder um pouco da sua força. Alguns se alimentam de amor, este alimenta-se do medo e do ódio. Você matou a antiga Lupa do seu bando?

- Sim. - eu disse.

Marianne estremeceu.

- Eu nunca conheci Raina, mas esse pequeno toque dela me deixou feliz por já estar morta. Ela era má.

- Ela não via a si mesma dessa forma, se via mais como algo neutro do que mau.

Eu disse o que eu sabia, e sabia porque tinha usado sua essência como um vestido mais de uma vez.

- Poucas pessoas vêem seus próprios atos como algo realmente ruim.- disse Marianne. - Cabe as suas vítimas decidir o que é mau e o que não é.

Jason levantou a mão.

- Mau.

Cherry ecoou ele.

- Mau.

Natanael, Zane e até mesmo Jamil, levantaram as mãos.

Eu levantei a minha mão também.

- É unânime. - disse eu.

Marianne riu, e novamente era um som como se estivesse em casa, na cozinha ou no quarto. Como ela conseguia ser ao mesmo tempo saudável e sugestiva na mesma frase me intrigava. Claro, muitas coisas sobre ela me intrigava.

- Nós chegaremos tarde. - disse Roland.

Sua voz era mais profunda do que eu pensava que seria, baixa e cuidadosa, quase muito velho para seu corpo. Ele parecia bastante calmo, mas eu podia olhar para ele com outras coisas além dos meus olhos. Você não pode ver, mas pode sentir. Ele era uma massa de energia nervosa dançado ao longo de sua pele, respirando para fora no escuro como uma nuvem invisível, quente, quase palpável como o vapor.

- Eu sei Roland. - ela disse. - Eu sei.

- Nós poderíamos carregá-los. - disse Jamil.

A emoção de poder fluía por entre as árvores, tocou meu coração como se uma mão invisível me tocasse.

- Temos que ir. - disse Roland.

- Qual é o seu problema?- Eu perguntei.

Roland me olhou com seus olhos escuros e sólidos.

- Você. - disse ele, falou em voz baixa e isso soou como uma ameaça.

Jamil se moveu entre nós para que minha visão de Roland foi quase completamente bloqueada.

- Agora crianças, devemos nos apressar. - disse Marianne.

- Vamos perder a cerimônia inteira se não se apressar. - disse Roland.

- Se você fosse uma lupa de verdade, poderia extrair energia dos seus lobos e devolver como uma grande bateria de reciclagem.- Disse Marianne.

Parecia que ela tinha dado esta palestra antes. Acho que cada bando precisa de um professor, eu sei que o nosso necessitava de um dolorosamente. Estava começando a perceber que éramos como crianças que haviam sido criados por pais negligentes. Estávamos crescidos, mas não sabíamos como nos comportar.

- Você é psíquica o suficiente para fazer isso sem ser lukoi. - disse Marianne.

- Acho que ser necromante não e a mesma coisa que ser psíquica. - disse Jamil.

Marianne encolheu os ombros.

- É tudo muito mais parecido do que a maioria das pessoas querem reconhecer. Muitos grupos religiosos estão confortáveis com a capacidade psíquica, mas não com mágica. Você deve invocar o poder, ou nós chamaremos alguns lobos a mais para levá-los nos ombros.

O verdadeiro problema era que eu só conhecia duas maneiras para chamar o poder. Um deles era o ritual, o outro era o sexo. Percebi há alguns meses que o sexo poderia tomar o lugar do ritual para mim, nem sempre, e eu tinha que ser atraída para a pessoa envolvida. Eu realmente não quero admitir a estranhos que a energia sexual é uma das maneiras que eu executava a mágica. Mesmo sem sexo de verdade, estava envolvido, e ainda era embaraçoso. Além disso, fazer qualquer coisa sexual parecia colocar para fora o tapete de boas-vindas para o Munin de Raina.

Como eu poderia explicar tudo isso para Marianne sem soar como uma vagabunda? Eu não conseguia pensar em uma maneira de explicar que não soasse tão ruim, então eu não ia tentar.

- Vá em frente sem nós Marianne, chegaremos lá sozinhos. Obrigada de qualquer maneira.

- Por que está tão relutante em experimentar, Anita?

Eu balancei minha cabeça.

- Nós podemos discutir a metafísica mágica amanhã. Agora por que você não leva o seu lobo e vai embora. Vamos chegar lá, lentos mas seguros.

- Vamos. - disse Roland.

Marianne olhou para ele, então de volta para mim.

- Disseram-me para ver se você era um perigo para nós, você não é, mas eu não gosto de deixá-los aqui desse jeito. Vocês três estão fracos.

- Nós vamos superar isso. - eu disse.

Ela inclinou a cabeça para um lado mais uma vez, o cabelo como um véu branco enquadrando seu rosto.

- Você está planejando algum tipo de mágica que não quer que eu veja?

- Talvez. - eu disse.

Na verdade não. De jeito nenhum eu deixaria Jason ou Cherry me tocar voluntariamente novamente, pelo menos não esta noite, mas se Marianne pensasse que faríamos algo místico ela poderia ir embora. Eu queria que ela fosse.

Ela ficou me olhando por quase um minuto inteiro, então finalmente sorriu na luz ofuscante do luar.

- Muito bem, mas se apresse. Os outros estão impacientes para cumprimentar a lupa humana de Richard. Você tem despertado a curiosidade de todos.

- Fico feliz em ouvir isso. Quanto mais cedo você for, mais cedo poderemos começar.

Ela virou-se sem uma palavra e começou a andar por entre as árvores, Roland assumiu a liderança. Ficamos à espera de ver o vestido branco de Marianne sumir através da floresta.

Finalmente Jason disse:

- O que você vai fazer?

- Nada, eu só queria que eles fossem embora.

- Porquê?- Jamil perguntou.

Eu dei de ombros.

- Eu não quero parecer um saco de batatas.- Comecei a andar lenta, mas segura para o Lupanar.

Jamil ficou ao meu lado.

- Por que não experimenta o que ela sugeriu?

Andei com cuidado prestando muito mais atenção nos meus pés do que costumava fazer.

- Porque alem de ressuscitar os mortos, eu ainda sou uma amadora. Vai levar menos tempo andar para o Lupanar do que fazer algo místico.

Jason concordou comigo. Eu era como alguém com uma arma carregada que não sabia atirar. Eu estaria lutando para descobrir como desfazer a trava de segurança, enquanto os bandidos atiravam em mim um milhão de vezes. Cerca de dois meses atrás outro necromante que eu conheci se ofereceu para me ensinar a necromancia real, não voodoo, isto eu estava fazendo. Ele acabou morto antes que pudesse me ensinar muita coisa. Engraçado como muitas pessoas acabaram mortas depois que me conheciam. Não, eu não o matei.

Cherry tropeçou e caiu novamente. Zane e Nathaniel ficaram um de cada lado ajudando-a a ficar de pé, ficaram abraçados por um momento. Cherry colocou a mão em torno da cintura dos homens, inclinando a cabeça por um segundo sobre o ombro de Zane. Andaram através da escuridão traiçoeira com Cherry se apoiando em seus companheiros. Havia uma camaradagem entre eles que não havia antes. Eu fiz isso? O fato de protegê-los havia forjado algum tipo de ligação? Ou era a energia de Richard? Eu tinha um monte de perguntas e nem sabia se havia alguém que saberia me responder. Talvez Marianne soubesse, se eu decidisse confiar nela.

Jamil ofereceu-me o braço. Eu não aceitei, sabia que Raina tinha dormido com ele, e não queria sua memória.

- Ajude Jason. - eu disse.

Jamil me olhou por um segundo e depois passou e ofereceu seu braço para Jason, que recusou a oferta.

- Se Anita não precisa de ajuda, eu também não preciso.

- Não banque o difícil. - eu disse.

- Esse é o roto falando do esfarrapado. - disse Jason.

- Se eu oferecesse meu braço, você aceitaria. - eu disse.

- Uma desculpa para ficar perto de uma menina bonita? Claro.- Em seguida, ele parecia pensar nisso. - Talvez outro dia, eu não posso chamar o Munin, há algo no ar hoje à noite.- Ele tremia esfregando as mãos ao longo de seus braços nus. - De todas as lembranças que Raina tinha de mim, por que essa?

Nós dois estávamos caminhando lentamente enquanto conversávamos.

- As três coisas que Raina mais gostava eram: sexo, violência e aterrorizar as pessoas. Fazendo você invocar o lukoi apertou todos os seus botões.

Jason tropeçou e caiu de joelhos, ficou assim durante um ou dois segundos. Eu esperei por ele me perguntando se deveria oferecer ajuda.

- Eu sei que você se pergunta por que eu nunca fiz nenhum dos seus filmes pornô.

- Eu tinha um palpite, quer dizer, você não é exatamente tímido.

Ele olhou para mim e mesmo à luz do luar havia uma tristeza em seu rosto que era mais profunda e mais ampla do que a maioria das pessoas. Ele era jovem demais para ter aquele olhar. Inocência perdida.

- Eu sempre me lembrarei do olhar de Raina quando ela me matou.

- Ela não te matou Jason.

- Ela tentou. Não importava para ela se eu fosse viver ou morrer, realmente não. Era uma memória compartilhada e eu não podia discutir com ele. O prazer tinha sido mais importante para ela do que a sua vida. Como um serial killer.

Jason curvou sobre si mesmo.

- Ela era minha madrinha e eu tinha que ficar ao seu lado até o meu período de estágio acabar, assim que possível eu tentaria fugir.

- É por isso que você ficou com Jean-Claude como seu protetor? Para escapar de Raina?

Jason assentiu.

- Parcialmente. - Ele olhou para cima de repente e sorriu. - Claro, Jean-Claude de certa forma é legal.

Eu balancei a cabeça e ofereci minha mão.

- Acha que podemos arriscar? - ele perguntou.

- Eu acho que sim, não estou sentindo o Munin agora.

Ele pegou minha mão e eu o ajudei a ficar de pé, ele cambaleou um pouco, o que me fez vacilar. Nos agarramos um ao outro por um segundo como dois bêbados saindo de uma festa. Eu o abracei e ele me abraçou de volta, foi rápido. Ele afastou-se primeiro e parecia quase envergonhado.

- Não diga a ninguém que eu não aproveitei a chance de te agarrar, a ideia foi sua.

Eu dava-lhe tapinhas nas costas.

- Nem uma palavra.

Ele me deu seu sorriso habitual e começamos a andar pela floresta, andando perto o suficiente para nos amparar se fosse necessário. Uma brisa soprava entre as árvores. A madeira subitamente estava viva com o som. Virei o rosto para o vento na esperança de me refrescar, mas era quente como o ar em um forno.

O cabelo de Jason se movia suavemente na brisa. Eu o ouví respirar profundamente, então ele tocou meu braço e falou baixo.

- Sinto o cheiro do homem que joguei no caminhão ontem.

Continuamos andando como se nada estivesse errado.

- Você tem certeza? - Eu perguntei.

Vi suas narinas quando ele testou o ar.

- Ele cheirava a hortelã e cigarros.

- Muita gente cheira a menta e cigarros. - eu disse.

Continuamos em movimento, ele colocou a mão no meu braço agora.

- Eu também sinto cheiro de óleo de arma.

Ótimo.

Jamil estava esperando por nós logo à frente. Os três homens-leopardo esperavam entre as árvores. Jamil se voltou para nós sorrindo e nos envolvendo em um grande abraço.

- Vocês estão miseravelmente lentos hoje à noite.- Ele nos abraçou e sussurrou: - Estou cheirando dois, talvez três, à nossa esquerda.

- Um deles é o cara que eu bati ontem. - Jason disse sorrindo como se estivéssemos falando de algo totalmente diferente.

- Vingança talvez? - Ele fez uma pergunta.

- Eles estão muito longe?- Eu perguntei.

Jamil deu um grande sorriso e sussurrou:

- A poucos metros, eu posso cheirar as armas.

Passei o braço em sua cintura delgada e sussurrei em seu peito.

- Nós não temos quaisquer armas, alguma sugestão?

Jason inclinou-se rindo e disse:

- Eu não me sinto bem o suficiente para escapar deles.

Acariciei seu braço.

- Nem eu.

- Se eles estão aqui por vingança, então talvez se contentem com apenas dois de vocês. - disse Jamil.

Me afastei dele, não tinha certeza se gostei de seu raciocínio.

- Então?

- Você fica aqui servindo de isca, eles vem até você e eu os pego. Eles estão armados, você não. Vou enviar Zane e Cherry até os outros para trazer reforços. Não podemos deixar que nos sigam até o Lupanar. Não podemos colocá-los em perigo.

- Regras de lobisomem?- Eu perguntei.

- Sim. - disse ele.

- Tudo bem, mas não deixe que me matem, ok?

- E eu? - Jason perguntou.

- Desculpe, ele também.

Jamil pegou nós dois.

- Sugiro que fiquem mais confortáveis e rápido ou eles vão suspeitar.

Abracei a cintura de Jason e disse:

- Quanto tempo eles têm que nos ver?

- Faça-os pensar que estão bêbados no caso de começarem a gritar. Tentem ganhar terreno o mais rapidamente possível no caso de resolverem atirar.

Com esse pensamento reconfortante Jamil se voltou para os outros. Afastou-se no escuro com os homens-leopardo. Zane me olhou enquanto se afastaram e acenou com a cabeça uma vez, parecia satisfeito. Ele virou-se e deixou Jamil levá-lo embora. Eu estava tentando encontrar um alfa entre os homens-leopardo, eles eram malditamente submissos.

Jason me empurrou contra uma árvore.

- O que foi?

Ele sorriu para mim.

- Queremos que pareça real, não é mesmo?

- Eu pensei que tínhamos tido um momento de amizade verdadeira lá atrás.

Jason inclinou-se para mim como se fosse me beijar.

- Só porque somos amigos não significa que não quero dormir com você.- Ele me beijou, um toque macio de lábios.

Eu fiz uma careta para ele, não o beijei de volta.

- Por favor, me diga que você não quer dormir com todas as suas amigas.

Ele colocou uma mão em cada lado da minha cabeça, apoiando-se contra a árvore.

- O que posso dizer? Eu sou homem.

Eu balancei a cabeça.

- Isso não é uma desculpa.

Ele inclinou todo o seu corpo para mim como se estivesse se escorando. Os músculos em seus braços incharam com o esforço.

- Para mim é.

Eu sorri.

- Isso nós vamos ver.

Coloquei minhas mãos em sua cintura, ele estava encostado em mim, mas não muito forte. Ele poderia ter se aproveitado da situação, percebi que estava sendo um cavalheiro. Houve um tempo, não muito tempo atrás, que Jason não teria feito o esforço. Éramos amigos, precisávamos deitar no chão e isso não estava nos meus planos.

Olhei tão casualmente como podia para os outros, ainda podia ver Zane e os cabelos de Cherry brilhando entre as árvores. Tinha a sensação de que Jamil e Nathaniel ainda estavam com eles, mas tudo o que via eram seus cabelos loiros. Se os bandidos tinham um rifle de alta potência, poderiam atirar em nós através da árvore. Uma vez que os outros saíram de vista, eles podem fazer isso.

Enfiei minhas mãos no peito de Jason. A pele era suave, mas por baixo era muito firme. Eu sabia o que era sentir a carne macia se retalhando sob as garras. Não era o Munin voltando. Era só uma visão. Fechei minhas mãos em punhos e me forcei a pegar seu rosto. Não queria fazer nada que pudesse lembrar o que nós compartilhamos. Havia sempre o perigo extra de trazer Raina de volta. Não, eu não queria estar canalizando Raina com capangas armados na mata.

Segurei o rosto de Jason movendo apenas a cabeça para ele. De repente eu estava muito consciente de seu corpo pressionando o meu. Isso me fez hesitar, mas quando seus lábios roçaram os meus, eu o beijei. Passei a mão em seu cabelo até pegar um punhado deles.

Sussurrei em sua boca,

- Precisamos ficar no chão o mais rápido possível.

Ele me beijou novamente levando as mãos para o meu cinto. Deslizou as pontas dos dedos dentro do cinto e ajoelhou-se diante de mim me puxando para baixo com ele. Eu o deixei fazer isso. Ele caiu nas folhas e me puxou para baixo em cima dele. Apoiei meus braços contra seu peito numa espécie de susto. Eu só não era uma atriz boa o suficiente para isso.

Eu podia sentir seu coração batendo em minhas mãos. De repente ele me rolou e eu fui pega de surpresa. Ele terminou muito firme em cima e eu não gostei.

- Eu quero ficar em cima. - eu disse.

Ele colocou seus lábios próximos ao meu rosto.

- Se eles atirarem eu posso levar uma bala melhor do que você.- Ele esfregou o rosto junto ao meu rosto e percebi que estava fazendo a saudação lobisomem. Talvez tenha sido a sua versão de um aperto de mão.

Eu sussurrei em seu ouvido, que estava muito próximo de minha boca:

- Você consegue ouví-los?

- Sim. - Ele ergueu o rosto o bastante para me beijar.

- Muito próximos? - Eu o beijei de volta, nós dois estávamos ouvindo ou nos esforçando para ouvir. Ele estava deitado em cima de mim, corpos perfeitamente alinhados e perto o bastante para que eu sentisse todos os músculos de seu corpo.

- A poucos metros, eles são bons. - Ele descansou sua face contra a minha. - Eles se movimentam em silêncio.

- Não é muito tranquilizador.

- Você pode ouví-los? - ele perguntou.

- Não.

Estávamos olhando um para o outro. Nenhum de nós estava fazendo muito esforço para um beijo ou qualquer outra coisa. Eu podia sentir que seu corpo estava feliz por estar pressionado contra o meu, mas tudo era secundário. Homens com armas estavam vindo, homens que não gostavam muito de nós.

Olhei em seus olhos a centímetros de distância, sabia que eram azul pálido, mas na luz da lua pareciam quase prata.

- Você não vai fazer nada estúpido como usar o seu corpo como escudo não é?

Ele me apertou um pouco com o quadril e sorriu.

- Por que você acha que estou por cima? - O sorriso e o movimento avançado foram para me distrair da forma muito séria de seus olhos.

- Saia de cima de mim Jason.

- Não. - disse ele.

Ele se apoiou em seus braços pressionando-me, inclinando-se como se estivéssemos nos beijando.

- Eles estão quase aqui.

Peguei uma faca em cada mão.

Ele sussurrou contra a minha boca.

- Temos que parecer impotentes, lembra? Iscas não andam armados.

Eu podia sentir seu rosto macio, o cheiro de seu perfume. Olhei por cima de seu cabelo pálido.

- Confiamos que Jamil e os outros vão nos salvar, é isso?

Ele lambeu meu queixo e então a minha boca. Percebi que estava fazendo a saudação submissa. Ele me pedia para colaborar, sua língua estava muito molhada e muito quente.

- Pare de me lamber, e eu vou fazer isso. - eu disse.

Ele riu, mas sua voz mostrava a tensão. Peguei novamente as facas e as coloquei nas folhas, mantive minhas mãos sobre elas e tentei relaxar. Com Jason pressionando e beijando meu pescoço, era fácil olhar de forma impotente. A parte descontraída não ia acontecer.

Eu os ouvia agora, movendo-se através das folhas secas, eles ficaram quietos. Se eu não estivesse esperando, poderia ter pensado que era o vento ou um animal que se deslocava pela vegetação rasteira, mas não era. Os homens que se deslocavam através da floresta tinham um passo pesado. Caça. Eles estavam caçando. Estavam caçando Jason e eu.

Vi o primeiro movimento perto da árvore, eu não era uma boa atriz suficiente para mostrar surpresa, eu apenas olhava para ele com Jason em cima de mim ainda beijando meu pescoço.

O homem me olhou firmemente, ele era enorme como uma árvore de duas pernas. A espingarda na mão parecia longa, preta e hostil. Ele não apontava para nós, apenas a segurou na curva de um braço. Um grande sorriso dividia seu rosto pálido.

Eu ouvi o segundo homem antes que ele tocasse no ombro de Jason com a ponta de uma espingarda de cano duplo. No momento que vi a arma sabia que tinham vindo para nos matar. Não se vai atrás de pessoas com espingardas se você só quer assustá-las.

Se fosse balas de prata ele poderia matar nós dois. Eu não estava assustada ainda, estava chateada. Onde diabos estavam os nossos seguranças?

Jason levantou o rosto devagar. A espingarda quase bateu em seu rosto suavemente.

- Meu irmão Mel manda lembranças.

Revirei os olhos para olhar além da espingarda. O homem usava uma camiseta preta com um logotipo Harley sobre ela. Sua barriga estava pendurada sobre o cinto. Havia uma semelhança de família.

Eu disse calmamente cada palavra com cuidado, mas não estava com medo.

- O que você quer?

O irmão de Mel riu, o primeiro homem se juntou a ele.

Eles ficaram mais próximos de nós rindo com as armas nas mãos, não é um bom sinal, onde diabos estava Jamil?

- Saia de cima dela lentamente. - disse o primeiro homem.

A espingarda estava em seu ombro agora, aninhado contra seu queixo como se ele soubesse o que estava fazendo.

Jason se inclinou sob meu corpo tentando me esconder. Sendo do mesmo tamanho que eu, ficava difícil para ele me proteger completamente.

Eu disse a ele.

- Saia de cima de mim.

- Não.

Ele tinha visto a arma também, percebi que entendeu o que significava. Eu não ia deixá-lo morrer como um herói e certamente não ia deixar que salpicassem seus miolos em cima de mim. De algumas coisas você se recupera, de outras não. Jogar o cérebro de Jason no meu rosto com certeza não me faria bem.

Deixei a faca na minha mão direita escondida entre as folhas. Tentei manter minha mão imóvel dentro das folhas. No escuro eles podiam não perceber, não tinham visto até agora.

- Saia de cima dela - o homem repetiu: - ou vou atirar em você.

- Saia Jason. - eu disse suavemente.

Ele se afastou o suficiente para que pudéssemos olhar nos olhos um do outro. Olhei para o homem armado do meu lado direito, então toquei o seu peito e olhei para o irmão de Mel. Eu estava tentando dizer que o homem com a espingarda era problema meu e o outro dele. Esperava que entendesse, ou talvez ele já tivesse seu próprio plano porque levantou-se lentamente e ficou de joelhos. Me sentei não muito rápido, não muito lenta, mantive a mão esquerda nas folhas segurando a faca com firmeza.

O atirador disse:

- Mãos na cabeça rapaz.

Jason não discutiu, apertou as mãos sobre a cabeça como se tivesse feito isso antes.

Ninguém me disse para colocar minhas mãos sobre a cabeça, então eu não sabia. Se tivéssemos sorte eles me tratariam como uma menina. O atirador estava inconsciente quando eu feri Mel. Aquele com a espingarda não tinha estado lá. O que Mel disse a eles?

O atirador disse:

- Lembra-se de mim babaca?

- Ele está falando comigo ou com você? - Eu perguntei.

- Não banque a engraçadinha, sua galinha. - disse o atirador. - Viemos aqui para matar vocês dois, eu quero a minha parte dele primeiro.

Jason desviou os olhos para mim.

- Você deve estar perdendo um pouco do seu encanto, Anita. Ele quer um pedaço de mim em vez de você.

O atirador bateu com a espingarda firmemente no peito de Jason. Se a munição fosse de prata, ele morreria.

- Chuck. - disse o atirador.

Chuck, aquele com a espingarda pegou meu braço esquerdo. Abri a mão e deixei a faca cair nas folhas antes de levantar. A espingarda estava muito perto de Jason para que eu tentasse esfaquear Chuck. Se tivesse sorte teria outra chance, se não tivesse, voltaria para assombrar Jamil.

As mãos de Chuck eram grandes e carnudas, dedos grossos afundaram no meu braço, forte o bastante para deixar marcas.

- Se você não fizer exatamente o que eu digo, sua namorada vai morrer.

Eu queria dizer: - Quem escreve o diálogo?- mas não disse. A espingarda pairou a uma polegada da minha bochecha. Ficou muito claro suas intenções, eu podia sentir o cheiro de óleo na arma, ela tinha sido limpa recentemente. Bom saber de Chuck tinha cuidado de sua arma.

O atirador fez duas coisas quase ao mesmo tempo: Ele se adiantou e inverteu a sua arma. A coronha colidiu com o queixo de Jason, ele balançou mas não caiu.

O rifle acertou-o novamente pegando no topo de um osso da face. O sangue escorria livremente.

Eu devo ter me movido porque de repente a arma estava pressionada contra a minha bochecha.

- Não faça isso, puta.

Engoli em seco e falei com cuidado com o metal frio contra a minha cara.

- Fazer o quê?

- Qualquer coisa. - ele disse empurrando meu braço para dar ênfase com a arma no meu rosto.

O atirador disse:

- O médico disse que você poderia ter quebrado a minha espinha. Disse que eu tive sorte. Vou te machucar, idiota, vou matar você. Se você foder com esse cara eu vou deixar a menina ir embora ou podemos acabar com os dois.

Ele esmagou a espingarda na boca de Jason. Sangue e algo mais pesado voou brilhando à luz do luar. A surra começou a sério.

Eu vi pessoas feridas no tatame de judô, tinha ido a torneios de artes marciais. Eu tinha sido nocauteada umas duas vezes para valer por bandidos, mas nunca tinha visto uma surra de verdade, não como esta. Era metódico, meticuloso, profissional.

Jason não fez nenhum movimento para se proteger. Ele nunca gritou, apenas se ajoelhou nas folhas e tombou. Seu rosto estava coberto de sangue, seus olhos fora de foco, eu sabia que ele estava perto de desmaiar, eu tinha que fazer alguma coisa.

Durante tudo isso, Chuck manteve a espingarda pressionada em meu rosto tão forte que eu sabia que deixaria a pele marcada. Ele nunca hesitou, nunca me deu qualquer chance de fazer nada. Eu estava começando a pensar que Chuck não era um amador. Eu tinha desistido de Jamil ou de qualquer outra pessoa. Éramos só nós quatro na floresta escura. Apenas o som do rifle batendo na carne. O som do grunhido do atirador se esforçando para fazer Jason gritar.

Jason finalmente caiu de lado, ele tentou levantar as mãos mas não conseguiu. Houve um movimento visível da parte superior de seu corpo. Ele estava lutando para ficar em pé.

- Implore para que eu pare, - disse o atirador. - implore para mim e talvez eu atire em você. Implore para parar ou essa merda vai bater em você até que morra. Eu acreditei nele, acho que Jason também porque ele só balançou a cabeça. Ele sabia que se desse ao homem o que queria, ele o mataria.

Eu senti algo, uma picada de calor, era Richard. Ele estava lá fora em algum lugar. Ele abriu a marca dentro do meu corpo, ela fluiu sobre minha pele e em toda a mão de Chuck.

- Que diabos foi isso? - ele perguntou.

Eu não me mexi ou disse qualquer coisa.

- Responda-me sua puta, você tentou alguma merda mágica em mim? - Ele empurrou a espingarda ainda mais forte. Se continuasse, acabaria enfiando a arma na minha bochecha.

- Não fui eu.

Ele empurrou-me de joelhos, a arma não foi pressionada. Ele olhou na escuridão por apenas um segundo. Foi um desses momentos. Tudo abrandou, como se eu tivesse todo o tempo do mundo para tirar a faca das minhas costas. A faca saiu da bainha. A espingarda e Chuck voltaram para mim. Usei a dinâmica do desenho da lâmina para balançar para baixo e transversalmente, senti a ponta da faca pegar na garganta de Chuck, e sabia que não era um golpe mortal. Algo caiu das árvores em cima de nós. Uma sombra um pouco mais sólida do que o resto. A espingarda era como dois túneis escuros apontada para minha cara.

Ouvi o fuzil atrás de mim, mas não houve tempo para olhar para Jason. Havia apenas a arma apontada para minha cara, a sombra que eu não tive tempo de olhar e ver.

A sombra caiu entre nós e tinha pele. A espingarda explodiu no outro lado da sombra de pêlo. O licantropo cambaleou para trás, mas não caiu. A espingarda explodiu novamente. Antes que os ecos morressem eu estava lutando através das folhas em torno do licantropo. Os olhos de Chuck eram selvagens, mostrando o branco, ele tinha a espingarda em seu braço esquerdo. Os dois reservatórios tinham desaparecido e dois outros foram sendo empurrados para a culatra. Ele era bom.

Enfiei a lâmina sob a fivela grande e brilhante. Um arrepio percorreu-o, mas ele deslizou as balas dentro da culatra. Enfiei a lâmina até que raspou no osso da espinha ou cintura pélvica. Ele bateu a culatra fechada contra o braço. Puxei a lâmina de seu corpo sem uma gota de sangue.

Ele caiu em câmera lenta em linha reta até os joelhos. Levantei a arma recém carregada de suas mãos, ele não queria lutar comigo. Ajoelhou-se nas folhas e piscou para a escuridão. Ele não parecia estar me vendo agora.

Alguém estava gritando alto e selvagemente, olhei atrás de mim, era o atirador. Ele estava sentado no chão com um braço apontado para à luz do luar, não tinha nada do cotovelo para baixo. Jason continuava caído nas folhas, Zane estava sentado do lado dele com sangue na parte de trás de sua camiseta amarela.

Levantei-me e me afastei de Chuck, ele caiu nas folhas, estava vivo o suficiente para colocar seu rosto de lado, mas não para me pegar com as mãos. O lobisomem que me salvou estava deitado de costas arquejando em busca de ar.

Havia um buraco em sua barriga maior do que os meus dois punhos. Havia um cheiro amargo quase como vômito, rançoso. Seu intestino havia sido perfurado, o cheiro me disse isso. A ferida no intestino não o mataria. Mesmo baleado, era a prata, ele não morreria imediatamente.

A segunda ferida na parte superior do tórax era profunda e larga, sua pele negra estava molhada ao toque, encharcado de sangue. Eu poderia ter colocado as minhas mãos no buraco escuro e molhado, mas não conseguia ver nada. Eu não podia ver se o coração estava danificado.

Sua respiração estava molhada, desleixada, quase estrangulada. Eu podia ouvir o borbulhar vindo do ferimento. Pelo menos um pulmão havia sido comprometido, o que eu estava ouvindo. Ele ainda estava lutando para respirar, era assim que seu coração tinha que estar trabalhando, não é?

Lobisomens de verdade são como nos filmes, mas nos filmes ninguém nunca é bom o bastante para capturá-los. Deitado de costas, ofegante, era como ver um sonho respirar, só que este sonho estava morrendo. Pensei que era um dos lobos de Verne, então vi os restos de uma camiseta branca pendurada em um ombro como um pedaço de pele esquecida. Puxei delicadamente o pano e vi o rosto sorridente sobre ele, olhei nos olhos amarelos do lobo, olhei para Jamil. Ele havia feito o que um guarda-costas tem que fazer. Ele havia tomado um tiro por mim. Tirei a camisa e coloquei no buraco em seu peito, levei as duas mãos para cobrir a ferida, para tentar fazer um selo para que pudesse respirar novamente. Assim, ele não sangraria até a morte.

Sussurrei,

- Não morra por mim, porra. - então comecei a gritar por ajuda.


26

Minhas mãos estavam molhadas de sangue, a camisa,o jeans e meus braços estavam encharcados. Ele me olhou com olhos amarelos, boca aberta, tentando desesperadamente manter a respiração. Suas mãos faziam pequenos movimentos convulsivos nas folhas. Eu sentia o calor e as picadas de poder em minhas mãos. Sua pele tocava minhas mãos como água morna e peluda.

Formas apareceram fora da escuridão. Pareciam pessoas, mas eu sabia que era uma mentira. Lobisomens. Eu estava no fundo do globo ocular dos lobisomens.

- Ele precisa de um médico. - eu disse.

Um homem de cabelos escuros e curtos com óculos redondos se ajoelhou do outro lado do Jamil. Ele abriu uma grande sacola castanho e tirou um estetoscópio. Eu não o questionei, a maioria dos bandos tinha um médico. Nunca se sabe quando se vai precisar de cuidados médicos.

Ele tirou minhas mãos da ferida.

- É a cura, a bala não era de prata. - Ele iluminou a ferida com uma lanterna. -O que diabos tem lá dentro?

- Minha camisa.

- Tire-a antes que a pele cicatrize em torno dela.

A ferida estava se curando. Coloquei minha mão na abertura e puxei a camisa molhada de sangue. Ela saiu em uma confusão molhada e desleixada. Sangue escorria da camisa eu a deixei cair nas folhas, não a usaria esta noite. Me lembrei que não estava vestindo nada da cintura para cima, exceto um sutiã preto. Eu não me importava.

- Será que ele vai viver? - Eu perguntei.

- Ele vai viver.

- Prometa. - eu disse.

Ele olhou para mim e assentiu. O luar refletido nos óculos parecia com prata em espelhos brancos.

- Eu prometo.

Olhei para o rosto de lobo de Jamil e acariciei a pele da testa. A pele era áspera, grossa e macia.

- Eu voltarei, ok?

Havia outras pessoas com Jason e Zane. Cherry embalava Zane, Nathaniel estava ajoelhado entre eles, mas seus olhos estavam voltados para mim. Havia até um homem debruçado sobre o atirador. Ele amarrou um cinto largo sobre o coto de seu braço. Bom. Eu o queria vivo, tinha perguntas para ele, mas ainda não.

Me ajoelhei ao lado de Jason, ele estava deitado de lado nas folhas. Uma mulher estava cuidando de suas feridas. Ela usava shorts curto e o cabelo escuro preso em um rabo de cavalo frouxo. Quando ela virou a cabeça percebi que era Lucy. Ela segurava uma lanterna entre os dentes e estava verificando as feridas de Jason com as mãos como se soubesse o que estava fazendo.

Ela respondeu a minha pergunta antes que eu falasse.

- Ele vai se curar, mas vai levar um par de dias. - O que significava que se Jason fosse humano, a surra teria sido fatal.

Ela olhou para mim então, nossos olhos se encontraram à centímetros de distância. A composição era um pouco menos grave, mas o rosto ainda estava bonito ao luar.

Afastei-me primeiro, eu não queria ver o que estava em seus olhos, não queria saber. Me ajoelhei sobre Jason e comecei a tocar seu rosto, em seguida parei porque o sangue ainda estava molhado em minhas mãos.

Ele disse algo muito baixo, tive que me inclinar sobre ele para ouví-lo.

- Deixe-me lamber o sangue. - ele disse.

Fiquei olhando para ele, olhos um pouco arregalados.

- Você não está morrendo Jason. - eu disse. - Não banque o engraçadinho.

Verne disse:

- É sangue fresco Anita, é o sangue do bando, vai ajudá-lo a se curar.

Olhei para ele. O Ulfric local ficou de lado, alto, reto e delgado, deixando seu médico fazer o seu trabalho. Comecei a lhe perguntar onde diabos estava naquela hora, mas Zane fez um som.

Ele parecia estar se curando de uma explosão de espingarda que teria custado um braço humano, fazia pequenos sons enquanto o médico cuidava de seus ferimentos.

- O sangue vai ajudar a cicatrizar. - disse Verne. - Especialmente o sangue de alguém tão poderoso como Jamil. Marianne alimenta o bando às vezes.

Lucy disse

- Isso realmente vai ajudá-lo. - Seu rosto estava neutro.

Olhei para Jason. Seu rosto era uma máscara de sangue. Um olho estava inchado e completamente fechado. Ele tentou sorrir para mim, mas seus lábios estavam tão inchados que o sorriso não funcionou. Era como se parte de seu rosto simplesmente não funcionasse.

Toquei seus lábios feridos com os meus dedos, passei o sangue fresco em seu lábio inferior. Ele lambeu o lábio saboreando o sangue, mas o movimento o fez estremecer. Doeu.

Coloquei dois dedos contra seus lábios e deslizei suavemente em sua boca. Ele tentou chupá-los, mas sua boca não funcionava direito, lambeu o sangue, engolindo quase convulsivamente. Eu puxei os dedos para fora e sua mão agarrou meu pulso. Deixei-o guiar meus dedos de novo em sua boca.

Richard estava na clareira de joelhos nas folhas, Shang-Da estava a sua volta como um bom guarda-costas. Nossos olhos se encontraram e apenas isso abriu as marcas um pouco mais. Sem Jean-Claude para agir como um amortecedor, as marcas entre nós ficavam mais fortes. Ele ficou ajoelhado ali, ouvi sua respiração ofegante quase dolorosa. Eu podia sentir seu peito subindo e descendo quase como se estivesse respirando por ele. Eu o senti olhar para a mulher ao meu lado. Eu vi Lucy no segundo em que ele a viu, vi o aumento dos seios inchando sob a parte superior.

A linha de seu rosto em meia-sombra, em meia lua. Ela levantou o rosto para encontrar meus olhos, como se sentisse que eu estava olhando.

- Ele ainda quer você. - eu disse.

Ela deu um sorriso muito pequeno.

- Mas não tanto quanto quer você.

As marcas entre nós se acalmaram. Eu não conseguia sentí-lo respirar ou saber o que ele estava pensando. Ele me cortou. Medo do que eu veria, talvez?

- O que aconteceu, Verne? Eles deveriam andar seguros em suas terras. - disse Richard.

Cherry respondeu:

- Jamil enviou três de nós para ajudar.- Ela apontou para uma figura sombria do outro lado da clareira. - Não conseguimos entrar no Lupanar. Ele não levaria nosso pedido de auxílio para Verne.

O homem deu um passo adiante, o luar o mostrou: alto, musculoso, cabelo escuro e pálido.

- Eles não são do bando, não têm direito de exigir passagem.

De repente Verne estava ao seu lado e o lobisomem alto foi ao chão. Eu não tinha visto o movimento, uma velocidade que era quase um sonho impossível, mas quase vi.

- Eu sou o Ulfric, eu decido quem é digno e quem não é Eric. Você é apenas o Freki, o terceiro no bando. Você tem mais uma batalha antes que possa me desafiar.

Eric levou a mão no rosto e tirou algo escuro e líquido.

- Não estou desafiando você.

Houve movimento atrás de mim nas folhas. Zane estava engatinhando em minha direção, o braço ferido colocado junto ao peito com uma tipóia improvisada.

- Eu voltei para ajudar enquanto Cherry e Nathaniel discutiam com seus lobos.- Eu podia sentir a intensidade de seu olhar mesmo no escuro. - O sangue vai secar antes que ele receba tudo.

Ele ficou parado a uma pequena distância. Sua camisa tinha sido arrancada de um lado do peito delgado. Ele pendurou os trapos em um ombro, olhou para mim e mesmo na luz do luar pude ver sua necessidade e não somente em seu rosto, mas em seu corpo, a maneira como ele próprio declarou. Ele estava pedindo mais do que a cura do seu corpo. Se ele não estivesse lá, Jason estaria morto agora. Mesmo um licantropo tem um limite para os danos que pode receber. Jason estava com a palma da minha mão na boca, lambendo com longos e lentos movimentos.

- Você precisa do outro lado? - Eu perguntei.

- Vai secar antes que ele possa lamber. - disse Lucy.

Olhei para ela e a odiei um pouco. Eu a odiava por ter estado na cama de Richard. Odiava por fazer coisas com ele que eu nunca faria.

- O homem-leopardo não precisa do sangue. - disse Richard. - Ele vai se curar sem ele.

Eu olhei para ele e ofereci minha mão para Zane. Ele se arrastou de joelhos, olhei para Richard, enquanto Zane levava meus dedos em sua boca. Ele chupou como uma criança com fome lambendo o último pedaço de bolo com uma colher.

- Ele é meu Richard, meu, tanto quanto Jason. Sou Nimir-ra e lupa.

Richard se levantou.

- Eu sei o que você é, Anita.

Eu balancei a cabeça.

- Você não tem idéia do que eu sou.- No momento em que disse isso senti uma presença quente e crescente. O Munin crescia dentro de mim como uma piscina de água quente derramando. A marca de Richard parecia traze-la algumas vezes ou talvez tenha sido apenas a forma como ele me fazia sentir. Luxúria, raiva ou ambos. Eu não lutei contra o Munin.

Marianne disse que se eu não lutasse ele perderia parte de seu controle sobre mim. Eu não tinha certeza se poderia combatê-la completamente. O melhor que podia fazer era controlá-la. Deixei fluir sobre mim.

Jason lambia o meu pulso, a língua se movia sobre as veias. Ele estava hesitante sobre o cheiro de sangue fresco muito perto da superfície. Agora o olho bom olhou para mim arregalado e um pouco assustado.

Eu sorri para ele e sabia que não era apenas o meu sorriso. Eu ainda estava aqui, mas não estava exatamente sozinha. Os pensamentos de Raina jaziam sobre mim como um véu. Eu podia ver e sentir. Seu corpo, nosso corpo, queriam coisas, coisas que me fariam correr gritando, mas se eu fosse cuidadosa poderia usá-la como ela me usava. Era como subir um lance de escadas estreitas com uma xícara de café fervente cheio até a borda. Com cuidado, oh, tão cuidadoso ou vai derramar pela borda e você vai se queimar.

A alternativa para deixar o Munin ter um pouco de diversão era o que aconteceu mais cedo. Eu não quero outro show de memórias com Jason e Zane pendurados em mim. Não hoje, nem nunca. Jason não pôde segurá-lo e nem eu poderia.

Olhei para Jason.

- Faça isso direito Jason, aproveite o sangue enquanto dura. Acho que você não terá essa oferta duas vezes.

Ele passou a língua até o meu braço, trabalhando duro contra a pele como um gato que limpa sua própria pele. Zane chupou meus dedos e levou minha mão na frente do seu rosto embalada em sua mão boa. Ele estava lambendo lentamente, cuidadosamente a minha palma.

Houve um som atrás de nós. Virei-me para ver o atirador. Ele estava consciente e com dor. O médico com os óculos redondos estava prestes a dar-lhe um tiro.

Eu o chamei.

-Traga-o para mim.

O médico e o lobisomem que estavam com ele olharam para Verne e Richard aguardando seu consentimento. Richard conversava com o outro Ulfric, eles estavam discutindo como tudo tinha dado errado. Poderiam discutir a noite toda. Eu queria respostas.

- Não olhe para eles, olhe para mim e traga-o agora! - O Munin de Raina inchou e estourou em cima de mim, sobre Jason e Zane. Ele derramou sobre Lucy e trouxe um suspiro a sua garganta. Todos tem desejos ou uma amostra de que você gosta. Estava ficando mais difícil trabalhar em conjunto, mais difícil de pensar.

Eles arrastaram o atirador para mim e eu sabia o que parecia. Eu estava usando um sutiã preto "tomara que caia" que escondia mais do que a maioria dos trajes de banho, mas ainda era um sutiã. Eu ainda estava coberta de sangue. Jason e Zane estavam lambendo o sangue da minha pele nua, era estranho e macabro e funcionava muito bem como uma ameaça.

O médico e o lobisomem jogaram o atirador na minha frente. Jason e Zane o ignoraram, bocas na minha pele. Zane deslizou sua boca ao longo da minha pele, dentes raspando delicadamente. Seus olhos deslizaram para o atirador e eu sabia que daria um show para ele.

Senti o Munin de Raina como um brilho especial. Ela, ou o que quer que seja, quis cobrir a boca de Zane com o nosso sangue e o gosto de Jamil. Eu queria rasgar o curativo de seu ombro e lamber as feridas. Com o pensamento veio o conhecimento de que lambendo a ferida ele se curaria mais rapidamente. Certamente que não.

O atirador olhou para mim, olhos arregalados. Eu podia sentir sua respiração, cheirar seu medo. Podia sentir o cheiro do medo como um almiscar de suor. Poderia provar em seu perfume como ele estava ferido. Eu sabia que sua pele seria fria ao toque pela perda de sangue. Tudo isso a partir de um cheiro. Merda.

- Qual é o seu nome?

A questão parecia muito difícil para ele.

- Podemos pegar sua carteira. Como você se chama?

Ele fez um movimento involuntário para pegar algo no bolso de trás com a mão que não tinha mais.

- Se chegarmos a um hospital em breve, - disse o médico - eles podem recolocar o braço.

- Se ele responder minhas perguntas com sinceridade, você poderá levá-lo ao hospital.

- Qual é o seu nome? - Eu perguntei.

- Terry. Terry Fletcher.

- Ok Terry. Quem o mandou para nos matar?

- Eu queria apenas me vingar pelo que fizeram connosco. Ninguém deveria morrer.

Jason tinha limpado o meu braço até o cotovelo. Eu podia sentir sua língua como uma linha fria correndo mais e mais a minha pele. Quente onde ele ainda me tocava, fria onde ele acabava.

- Mentiras não vão levá-lo a um hospital Terry. Só a verdade salvará o seu braço. Quem te pagou para nos machucar? - Eu perguntei.

- Ele vai me matar.

Olhei para ele e ri. O riso era rico e grosso o suficiente para segurar. Ele rolou para fora da minha boca e não era o meu riso. O som gerado fez os cabelos na parte de trás do meu pescoço se arrepiar e fez Jason hesitar, a boca ainda pressionada em meu braço.

- Você realmente acha que eu não vou te matar?

Uma brisa finalmente veio quente e sem graça, a boca de Jason estava mais fresca. Sua boca estava curada o suficiente para sugar minha pele, mas não havia um limite para sua boca. Eu queria beijar a ferida, lambê-la e ver se realmente estava certa. Eu realmente poderia curá-lo?

Olhei para Terry.

- Diga-me quem pagou para você nos machucar. Diga-me quem o enviou para nos matar. Diga-me tudo o que quero saber e o bom médico vai levá-lo para um hospital onde poderão salvar o seu braço. Minta para mim e você morrerá esta noite, aqui, nesta clareira. Você acha que acabou Terry, eu tenho a noite toda.

Debrucei-me sobre Jason tirando sua boca do meu braço. Nós nos beijamos e eu pudesse sentir o gosto do sangue de Jamil, a minha pele, o resto fraco do perfume no meu pulso e o sangue de Jason. Sua boca tinha sangrado e pude provar isso também, mas não estava sangrando agora. Ele estava se curando e eu poderia fazê-lo se curar mais rápido. Eu queria pressionar a minha boca contra a dele com força e senti o seu calor, pressionar o corpo ferido de Jason nas folhas e ficar sobre ele.

Me afastei de olhos fechados, abri os olhos e olhei para o homem. Jason estava lambendo minha barriga ao longo do jeans. A calça estava encharcada de sangue. Zane estava curvado em minhas costas lambendo minha espinha. Não havia sangue ali e ele teve que parar na coluna, mas parecia bom para o nosso público cativo.

- Fale comigo Terry. Quando eu começo uma merda dessas, realmente não quero ser interrompida.- Debrucei-me um pouco para ele, e ele recuou. Me afastei para longe de Jason e Zane e rastejei para Terry. Fiz todo o movimento que deveria: fluido, perigoso, sexual. Mesmo agora, seus olhos passavam rapidamente por meus peitos brancos contra a escuridão da lingerie. Mesmo agora, ele ainda era um homem. Senti o desprezo absoluto de Raina pelos homens, todo o sexo e principalmente o ódio, como algo terrivelmente estranho.

Ela estava curtindo aterrorizar o homem. Seus olhos arregalados, a respiração rápida, o bater do seu coração. Eu podia ouví-lo. Inferno, eu quase podia provar sua pele na minha língua. Aquele cheiro me lembrava comida.

- Quem te mandou, Terry? - Sussurrei, íntimo, apenas para seus ouvidos. Estendi a mão para ele e quando passei meu dedo em seu rosto ele choramingou. Eu me inclinei e lambi seu rosto. - Você tem gosto de comida Terry.

Eu podia sentir os outros a nossa volta. O bando de Verne respondeu ao apelo de Raina, ao meu apelo. Através de Richard eu era mais lupa do que queria ser, mas agora, esta noite, não tinha possibilidade. Eles vinham de todos os lados movendo-se como sombras. Rastejando para mais perto, mais perto, elaborado pelo meu desejo e o terror do homem.

Ele olhou para eles assistindo a aproximação com os olhos arregalados, beijei sua bochecha enquanto não estava olhando e ele gritou.

- Oh Deus, por favor, não.

O riso de Raina caiu de meus lábios.

- Nomes Terry, eu quero os nomes.

- Niley, Franklin Niley. Ele nos pagou para pegar vocês, disse que a polícia não seria um problema. Então ele disse para matá-los, você especialmente. Ele disse para matar a puta dos lobos antes que ela descobrisse seu negócio.

- Que negócio?- Sussurrei. Frank Niley era o empregador da Muscleman Milo Hart, eu não o tinha visto desde então. Ele estava aqui fazendo especulação imobiliária. Era o comprador das terras de Greene?

Terry desviou os olhos para os lobisomens que esperavam.

- Eu não sei, juro por Deus. Eu não sei. Ele pagou quinhentos dólares para cada lobo que a gente machucasse e cinco mil para te matar.

- Cinco mil para cada um?

Ele balançou a cabeça confirmando.

- Não é o suficiente. - eu disse.

- Eu não sabia que você era um lobisomem. Nós não sabíamos o que estava acontecendo. - A multidão sombria foi farejando para sua perna. A voz de Terry subiu mais um pouco com cada palavra. - Eu não sabia! - Foi quase um grito.

O munin de Raina era como um pulso quente por trás de meus olhos. Debrucei-me para o homem como se fosse beija-lo. Ele recuou, mas esbarrou no bom médico. Minha boca pairava sobre ele, mas não era um beijo que eu queria. Fiquei ali pairando sobre sua boca, congelada, lutando para não baixar a minha boca em seu pescoço. Lutando para não afundar os dentes em sua garganta. Lutando para não tirar sangue primeiro e deixar o bando atacá-lo.

Comecei a engatinhar para trás como se eu fosse a única que estava com medo. - Levem-no para o hospital.

- Você não pode deixá-lo viver. - disse Zane.

- Eu prometi que seria levado se ele falasse.- Acariciei o rosto de Zane, ficamos de joelhos nas folhas perto o suficiente para um abraço. - Leve-o e pegue o braço. E Terry... - O homem não estava olhando para mim, estava olhando para os lobos à espera. - Terry? - eu disse de novo ainda acariciando Zane, uma mão enterrada em seu cabelo curto e branco.

O homem olhou para mim, os olhos passando rapidamente para frente e para trás loucamente como se estivesse tentando manter todos nós á vista de uma vez.

- O quê? O que você quer? Você disse que eu poderia ir para o hospital.

- Se você disser a Niley sobre esta noite, sobre o que eu sou e o que aconteceu eu vou te matar. - Abaixei o rosto de Zane até dar um beijo em sua testa.

- Eu não vou dizer nada, não vou contar a ninguém. Niley me mataria se soubesse que falei com você. Que se foda, ele ia me matar.

- Bom.- eu disse.

Eu embalava Zane contra meu corpo, ele começou a lamber meu pescoço, passou por cima do meu ombro lambendo uma pequena linha abaixo da minha clavícula. Ele foi mais baixo e eu o empurrei, áspera o suficiente para que ele caísse sobre o ombro ferido. O mundo estava ficando estreito e eu estava perdendo a luta com Raina.

- Tirem-no daqui agora! - Senti que estava ficando cega. Eu podia ver, mas era tudo diferente. Eu estava lutando e ela não gostou. Ela pediu por violência e eu recusei. Ela pediu por sexo e eu recusei. Mesmo morta, era uma senhora difícil de dizer não.

Cobri meus olhos com as mãos e ouvi alguém caminhando para mim.

- Não me toque.

- É Marianne filha, diga-me o que está acontecendo.

Eu abaixei as mãos até que pude vê-la. Ela ainda estava de vestido branco, com seu cabelo longo e pálido.

- Você nunca conheceu Raina, não é?

- Não, criança.

Peguei sua mão, não havia memória ligada a ela no horror que o Munin poderia compartilhar.

- Ajude-me.

Ela apertou minha mão na dela.

- É tarde demais para forçar o Munin a sair. Ela vai sair quando quiser.

Eu balancei minha cabeça.

- Ela não vai sair.

- Ela a deixou antes.

Eu balancei a cabeça.

- Você não sabe o que ela quer, não entende o que ela quer. Eu não posso, eu não vou.

Richard estava lá, ele começou a tocar o meu ombro e caí de volta nas folhas, uma mão erguida como se fosse repelir um golpe. Eu não queria saber o que Raina tinha feito com ele. Essa era uma imagem que eu não precisava.

- O que está acontecendo

- O Munin de Raina não vai sair até que Anita faça o que ela quer.

- Você conhecia Raina. - eu disse - Diga a ela o tipo de coisa que apreciava.

Algo foi subindo dentro de mim e eu não podia parar. Subiu mais e mais até que o poder se derramou para fora da minha boca em um grito.

Ele começou a me tocar e me arrastei para longe dele.

- Não, não, não, não.

Marianne prendeu-me contra ela. Ela cheirava a sabão e lilases. Eu sabia que poderia ter quebrado sua espera, mas eu não queria. Eu queria ser realizada. Eu queria ajudar. Eu precisava de ajuda.

Ela alisou meu cabelo balançando-me como se eu fosse uma criança.

- Anita, você deve ceder ao Munin. Você já fez isso antes. Richard discutiu eventos passados comigo. Quando o Munin te deixar vamos trabalhar juntos para garantir que isso nunca mais aconteça.

Eu levantei o suficiente para ver seu rosto.

- Você pode realmente parar isto?

- Eu posso ensiná-la a parar.

Olhei em seus olhos claros e podia ouvir o clique estranho de sua válvula cardíaca artificial. O Munin estava insinuando que a comida iria fazer tão bem como o sexo. Não tão bem, mas faria.

Me afastei suavemente de Marianne.

- Você é apenas alimento para ela.- Me arrastei para longe lentamente.

Marianne apenas me olhava ajoelhada nas folhas em seu vestido branco. Ela era a única em que o desmatamento era mais do que uma sombra. Toda brancura me chamava para a brilhante luz da lua. Ela parecia um alvo.

Senti minha respiração ofegante e irregular, podia sentir meu coração na garganta como uma bola que eu poderia tocar e jogar. Olhei ao redor da clareira desesperada por uma saída. Raina se contentaria com algo que eu poderia viver.

Zane estava olhando para mim. Raina o queria, mas tinha pouco a ver com sexo, fui até ele e olhei para seus grandes olhos prateados pelo luar.

Caí de joelhos na frente dele e rasguei o resto da camiseta em seu ombro. Ele fez um pequeno grunhido de dor e Raina gostou. O problema em fazer algo para obter o Munin é que ele tinha que estar no controle, e eu estar disposta a fazer o que ele queria. Dar o controle a Raina parecia uma má idéia. O que ela queria era colocar a boca sobre a ferida no ombro e eu não faria isso por vontade própria. Não havia Raina suficiente em mim para colocar minha língua em uma ferida aberta.

Me arrastei para longe de Zane e encontrei Jason. Olhei para ele. Ele era quase uma zona de segurança quando o Munin me tinha. Ela gostava dele e eu não tinha medo.

Fui até ele me arrastando nas folhas, mas sabia que se o tocasse e ainda estivesse lutando contra o Munin, teríamos uma outra onda de horror. Se eu fosse até ele tinha que ser para valer. Eu tinha que estar disposta a ceder, pelo menos um pouco.

Sua boca estava quase completamente curada, o inchaço no olho estava melhor. O sangue ou o Munin realmente estava funcionando. Isso era a cura. Eu sabia que o Munin poderia ser utilizado para a cura em licantropos. Eu tinha feito isso antes, mas não deste jeito. Isso foi quando Raina fez sua primeira aparição e eu não tinha percebido o problema. Agora eu sabia e estava com medo. Raina achava tudo isso divertido, morta ela me assustava mais do que quando estava viva.

Eu podia sentir o prazer como uma linha de calor pelo meu corpo. O eco do seu riso perseguia minha mente e fez os pelos dos meus braços se arrepiarem. Ser possuída por qualquer um teria me causado medo, mas ser possuída por uma sadomasoquista, ninfomaníaca e sociopata que eu mesma tinha matado pessoalmente era assustador e irônico demais para por em palavras.

Jason deitou nas folhas, tive muito cuidado para não tocá-lo quando rastejei sobre seu corpo. Eu me ajoelhei ali, mãos nos joelhos e olhei para ele para que não o tocasse acidentalmente.

Sua voz era rouca, áspera, como se algo em sua garganta estivesse doendo:

- Você tem um plano?

- Se eu não lutar contra o Munin, Marianne diz que não haverá lembranças, apenas o poder.

Ele olhou para mim.

- Você vai me beijar e deixar tudo melhor?

Concordei, meu cabelo deslizou sobre seu rosto.

- Tudo melhor.

Debrucei-me sobre seu rosto, nossos lábios se tocando em uma linha trêmula, o que uma hora antes tinha sido casto e um pouco desconfortável de repente mudou. Parei o beijo e mantive meu corpo fora de seu alcance com os dedos, meu corpo acima do dele. Eu podia sentir a energia da aura tremer debaixo de mim, empurrando contra o poder da minha aura, a energia que era o Munin, fiquei em cima dele, não tocando, apenas olhando para seu rosto. Quando nos beijamos novamente o poder derramou da minha boca na dele em um bafo quente que queimou através de nossos corpos.

Deixei cair o meu corpo contra o seu em um movimento repentino e violento que trouxe um grito de dor em Jason. O som caiu em minha boca e foi engolido por uma onda de calor e energia. Coloquei o Munin nele. Coloquei-me dentro ele. Coloquei para dentro através de sua boca, para baixo através de meus poros. Em toda parte em que as peles se tocavam, infiltrando-se nele. Senti como se eu fosse escorrer em seu corpo.

Ele portou-se num primeiro momento mantendo as mãos ao lado do corpo, mas o poder montou em nós dois. De repente seus braços estavam em minhas costas, sua boca procurando a minha como se estivesse tentando entrar em mim. Eu me sentei em seu corpo e o senti duro e pronto, mesmo através de nossos jeans.

Ele rolou sobre mim e de repente estava em cima. Meu corpo não fez nada para se proteger, travei minhas pernas em volta de sua cintura e o senti bombeando contra mim.

Eu nadei para cima através do poder e comecei a empurrar o seu peito. Não faríamos isso de novo. Eu não estava fazendo isso.

- Saia de cima de mim. - Minha voz era estrangulada, rouca. Engoli o Munin o suficiente para lutar pelo controle.

Jason congelou em cima de mim e em seguida caiu para o lado. Seu coração batia freneticamente contra meu peito. Sua respiração estava apressada. Ele engoliu e conseguiu dizer:

- Se eu disser que é tarde demais para parar, você acreditaria?

Comecei a engatinhar para longe dele.

- Não. - eu disse.

Ele rolou de costas e ficou de pé. As contusões foram embora. Seu rosto estava limpo e inocente. Eu precisava controlar essa merda sem o sexo.

- É a minha vez? - Zane perguntou.

Eu me virei e ele estava ajoelhado nas folhas sem a camiseta. Eu realmente nunca pensei em Zane como um indivíduo, não como isso. Agora ele estava ajoelho e iluminado pelo luar, as sombras e a luz mostravam os músculos do peito e estômago. Seus braços estavam perdidos na escuridão. Seu rosto era um padrão de carne forte, limpa, brilhante e pálida. Seu pirsing reluzia no mamilo, como um piscar de olhos, um convite.

Eu estava na frente dele olhando para baixo e o Munin fez o que quis. Agarrei o braço ferido e puxei para cima forçando o ombro em toda a sua extensão. Ele gritou de dor. A pele tinha fechado sobre a ferida, mas estava lá abaixo da superfície. Passei a minha boca sobre a ferida e senti os músculos rasgados. O osso estava quebrado. Eu o mordi afundando os dentes o suficiente para deixar uma marca e o poder explodiu em sua pele. Raina o estava curando, mas queria ter um pedaço de sua pele. Uma espécie de brincadeira, curá-lo e ferí-lo ao mesmo tempo.

Me afastei para longe dele antes que pudesse machucá-lo novamente e percebi que cada vez que usava o poder ele crescia. Foi enchendo-me como uma outra pessoa, algo crescendo dentro de mim, empurrando a minha pele.

Caí de joelhos ao lado de Jamil, ele tinha voltado a forma humana, o que significava que havia sido muito ferido. Fiquei olhando para o seu corpo nu e lutei com Raina para não tocá-lo, não fazer o que ela queria ou não fazer tudo o que ela queria.

Passei minhas mãos sobre o peito de Jamil até que toquei na ferida. A pele estava fechada e macia. Eu sabia que poderia forçar meus dedos dentro dele, sabia que podia chegar e arrebatar seu coração. Em vez disso abaixei meu rosto em seu peito e beijei a ferida levemente, suavemente. Fechei os olhos e senti o cheiro dele, o toque de sua pele macia. A cura da pele sempre era suave, como a carne de um bebê, macia e suave. Coloquei minhas mãos sobre a ferida e impulsionei o poder como uma espada.

Os olhos de Jamil se arregalaram e sua coluna se curvou. Ele tentou gritar e eu roubei um beijo. Rastejei sobre seu corpo procurando não a virilha, mas a ferida mais baixo. Tirei meus lábios e forcei minha mão em seu corpo. Ela o estava curando. Senti o poder passar pelo meu corpo em uma corrida morna. Minhas mãos deslizavam mais para baixo. Eu avançava e ele estava começando a endurecer. Saí de cima dele, estava curado. Raina sentiu que alguém lhe devia algo pela cura.

Lutei até que caí de volta nas folhas e gritei. Meu corpo se contorcia como se o meu lado esquerdo não estivesse em contato com o direito. Como se algo estivesse se quebrando dentro de mim, como se uma presença grande e quente estivesse tentando subir à superfície, tentando quebrar a superfície. Raina estava tentando sair, tentando me fazer uma lupa na verdade, mas meu corpo não podia segurá-la. Não era possível dar-lhe um lar. Eu era humana, e não importa quanto poder você coloque em mim, isso não vai mudar.

Richard gritou.

- O que está acontecendo com ela?

- Ela está lutando contra o Munin.- Era a voz de Marianne, eu ouvia sua voz perto do meu rosto, mas não podia vê-la. Era como se o mundo fosse desaparecendo na escuridão. - Não lute Anita. Aconteça o que acontecer esta noite não lute, amanhã eu posso te ajudar. Ceder e viver, ou o Munin vai te matar.

- Anita por favor, por favor! - Era a voz de Richard novamente.

- Ela vai te matar se puder. Ela vai matá-la da própria sepultura Anita. Pare de lutar. Abrace-a ou ela vai te destruir.

Eu gritei:

- Não!

Então, de repente eu poderia ver novamente. Olhei em cima da árvore alinhada na escuridão. Havia um brilho de luar através das folhas. Parecia brilhante como a luz solar, apenas mais suave. Fiquei deitava piscando para eles. Richard segurava meus ombros, Verne segurava minhas pernas, Shang-Da segurava meu braço direito e Lucy o esquerdo. Eu estava tendo convulsões. Lembrei-me disso.

Marianne estava ajoelhada ao meu lado mantendo o meu rosto entre as mãos.

- Anita? - ela fez uma pergunta.

- Eu estou aqui.- Minha voz era tranquila e mais clara. Me sentia leve e vazia mas não sozinha. Eu não estava enganada, o Munin não tinha me deixado. Não tinha acabado.

- O Munin se foi? - Richard perguntou.

Marianne balançou a cabeça.

- Ainda está aqui.

Isso me fez pensar melhor se ela não estava enganada.

- Não podemos soltá-la?- Verne perguntou.

- Anita? - Marianne me perguntou.

- Soltem-me.

Eles me soltaram lentamente como se estivessem com medo. Medo de mim ou por mim, eu não tinha certeza. Eles se afastaram e apenas Richard permaneceu ajoelhado. Debrucei-me de costas contra ele ficando em seus braços. Fechei os olhos por um instante. Ninguém mais me fazia sentir tão segura quanto ele. Ninguém.

Minha perna encostou em algo nas folhas. Eu me afastei dele o suficiente para encontrar minha faca e guardá-la na bainha.

Do outro lado da pequena clareira, Jason disse:

- Aqui está a outra.- Ele segurou-a pela lâmina.

Fui até ele tirando a faca da sua mão. Eu podia sentir todos me olhando como se eu fosse algo novo e incerto que acabara de aparecer. Guardei a segunda faca.

Jason sorriu para mim.

- Não leve a mal Anita, mas algum dia gostaria de fazer isso de verdade.

- Por que não esta noite?

Jason olhou para mim.

- O que você disse?

Olhei em volta na clareira. Senti os olhos em mim como se eu tivesse mudado. Senti o cheiro de sangue, de poder e de carne, e não havia nada melhor do que isso para atrair os lobisomens.

Richard estava ali em sua calça jeans e camiseta. Seus cabelos ao redor dos ombros, um pano macio, castanho rico ao luar.

Agarrei um punhado de sua camiseta e forcei seu rosto para baixo o suficiente para me beijar. O beijo foi longo e cheio e ele provou todo o sangue que eu tinha. Puxei a camisa para fora da calça em um movimento longo, passando minhas mãos em sua barriga nua, toda a dureza suave do seu peito.

Ele agarrou meus braços e tirou minhas mãos de sua pele.

- O que há de errado com você?

- Ela não é boa o suficiente para você?- Lucy caminhou em nossa direção. Seus seios impressionantes se apertavam contra a camiseta. Ou ela tinha os mamilos muito grandes ou estava com frio, porque o contorno de seus mamilos eram visíveis mesmo sob essa luz ofuscante.

Olhei para Richard. Eu estava dormindo com Jean-Claude, ele estava dormindo com Lucy e Cherry, não devemos esquecer de Mira. Era justo que ele tivesse outras amantes. Realmente eu odiava isso e me odiava. Odiava-me por querê-lo, odiava-me por estar com Jean-Claude e não ser feliz com ele, odiava-me por saber que mesmo se eu estivesse com Richard sentiria falta de Jean-Claude. Eu estava fodida, não importa o que eu fizesse.

Eu sabia que estava olhando para ela, que as mãos que seguravam meus braços com força já tinham pego aqueles seios grandes e redondos. Eu sabia que ela o tinha tocado, que ela o segurou dentro dela e eu sabia que o ciúmes que sentia era tão forte que a única palavra para isso era ódio.

Afastei-me de Richard e desembainhei uma das facas.

Shang-Da avançou para nós para me segurar, mas Richard o impediu e o fez dar um passo atrás. Ele só olhou para Shang-Da, mas você poderia dizer pelo seu rosto que ele realmente estava infeliz com isso, eu não o culpo. Richard virou-se para mim e me olhou mas não fez nenhum movimento para se proteger. Eu não sei se ele não acreditou que eu ia machucá-lo ou se tinha certeza que eu não podia. Eu tinha certeza que poderia.

Minha mão já estava em curso para baixo antes que eu pudesse parar, cortei sua camisa e o fiz sangrar.

Ele estremeceu, os olhos perdidos, machucado. Foda-se.

Shang-Da estava lá e foi Richard quem lutou com ele. Richard que o impediu de me agarrar, me desarmar, me machucar.

Coloquei a ponta da lâmina contra o meu peito e forcei para baixo sobre o meu coração. A dor era forte e imediata, mas era superficial. Eu não estava ferida, o sangue escorria entre os meus seios como dedos em cócegas. O sangue era muito escuro contra a brancura da minha pele.

Richard tentou me impedir e Verne disse:

- É a escolha dela. - disse Verne.

- Não é ela, é Raina. - disse Richard.

De certa maneira ele estava errado. Raina tinha finalmente encontrado algo que chamou a atenção de nós duas. Nós queríamos que ele sofresse, nós nos sentíamos traídas e nenhuma de nós tinha direito a ele. Nós duas o traímos á nossa própria maneira.

Palavras que eu não conhecia se derramaram de meus lábios.

- Seu coração é meu, e o meu coração é seu. Eu sou a sua Lupa e você o meu Ulfric, mas não estou na sua cama e nem você na minha. - Joguei a faca no chão assim que terminei de me cortar. Eu podia sentir a faca na terra como se eu tivesse perturbado algum animal grande e adormecido. O poder estourou sobre mim como um líquido quente. Eu estava tonta e de joelhos sem querer cair.

Olhei para Richard ainda lutando e disse:

- Ajude-me.

Mas era tarde demais, senti o golpe do Munin como um vento e todo homem que me tocou sentiu o perfume. Eu quase podia sentir seus corpos reagir. Eu sabia o que Raina tinha feito e se fosse a sua última noite no comando, ela não poderia ter escolhido melhor. Ela adoraria me matar, era a vingança perfeita.

Caí de joelhos lutando para não terminar o ritual, mas eu podia sentí-los no escuro, ansiosos. Eu estava emanando perfume e não era apenas o sangue, as palavras foram retiradas da minha garganta. Cada palavra espremida até doer ao falar.

- Acredite em mim de novo se puder meu Ulfric.

Olhei para ele e vi seu olhar selvagem e parte de mim estava satisfeita. Deus me ajude. Meu próprio ciúme tinha lhe dado as chaves para me controlar. Olhei em volta para as formas no escuro. Eu podia sentir-los como uma crescente tensão no ar. Era como o ar antes de uma tempestade, tão pesado que era difícil respirar com o poder crescente. Você poderia sentir o raio crescente no ar se aproximando, mas a tempestade estava esperando por mim. Esperando que eu me movesse.

Marianne estava ao meu lado.

- Levante-se. - Eu me esforcei e ela me ajudou. - Agora corra.

Olhei para ela.

- Do que você está falando?

- Você se declarou Frejya, agora corra antes que percam a paciência e a levem daqui.

Eu sabia o que ela queria dizer, mas tinha que ouvi-la dizer em voz alta.

- Me levar?

- Se você não deixar o Munin sair será estuprada e isso vai acontecer. Agora, vá!

Ela me empurrou para a escuridão, eu tropecei e olhei ao redor da clareira uma última vez. O rosto de Richard estava atormentado, horrorizado. Shang-Da estava segurando seu ombro e ele estava furioso, com raiva de mim. O rosto de Jason estava neutro como se ele estivesse com medo de me mostrar o que estava sentindo. Olhei para Roland, eu o conheci uma ou duas horas antes, mas seu rosto não era neutro, seu rosto estava com fome, antecipando. Eu sabia que eles fariam isso, que alguém, em algum lugar tentaria me matar. Duas facas de prata e um bando inteiro de lobisomens não é uma boa chance. Richard faria tudo o que pudesse para me salvar, tudo.

- Shang-Da. - eu disse.

O guarda-costas me encarou, eu podia sentir o peso de seu olhar no escuro iluminado pela lua.

- A vida de Richard significa mais para mim do que minha própria segurança. Não o deixe morrer. - eu disse.

Ele olhou para mim e em seguida confirmou com a cabeça.

Marianne agarrou meu braço e disse:

- Vá!

Eu fui. Atirei-me para as árvores, para além do escuro e corri. Corri como se eu pudesse ver na escuridão. Atirando-me entre as aberturas das árvores, confiante que a floresta d e alguma maneira vai te proteger, sabendo que sem dúvida você será parte dela. Me entreguei a floresta como uma menina. Você não corre no escuro da floresta com seus olhos. Você corre com a mesma parte de seu cérebro que faz seu pescoço formigar. Eu corri, pulei e me esquivei, e sabia que não seria suficiente.


27

Um uivo muito triste cortou a noite. Houvi um rosnado e um grito. Eu sabia que alguém estava ferido, talvez morto. Será que eles realmente matariam uns aos outros pelo privilégio? Lobos Reais não fazem essa merda.

Escorreguei em um tronco de árvore maior que um carro pequeno. Fiquei ali por um momento no chão prendendo a respiração sem ter a menor idéia do que fazer. Eu não só ouvia os lobisomens como os sentia no chão com as mãos, podia senti-los mesmo antes do Munin me invadir. Apertei-me contra o tronco enorme, minhas mãos encontraram uma abertura parcialmente oca. Rastejei na abertura escura com a mão que segurava a faca na minha frente, meio que esperando encontrar um guaxinim ou uma cobra, mas não havia nada, só a sensação do frio, da madeira apodrecida no meu estômago vazio e do peso da grande árvore caída acima de mim.

Eu sabia que iriam me encontrar, aquele não era o ponto, levaria um pouco de tempo para me tirarem do buraco. Eu estava tentando ganhar tempo, não estava certa do porque precisava desse tempo. Eu precisava de um plano e não tinha um. O Munin pensou que Richard poderia nos salvar, esse pensamento me assustou, Richard tinha uma espécie de escrúpulo quando se tratava de assassinato. O pensamento de que ele poderia se matar tentando me salvar era quase pior do que eu ser pega, provavelmente eu sobreviveria a um estupro. Eu não tinha certeza se sobreviveria à morte de Richard. Claro, nunca tinha sido estuprada, talvez estivesse tirando conclusões precipitadas. Talvez eu não sobrevivesse.

Ouvi um movimento ao redor do tronco, mais do que um, dois, três, quatro? Merda.

Garras arranhavam o tronco apodrecido e eu gritei, parecia uma menininha. Ouvi um deles rolando no chão, senti a onda de energia que passou em forma de lobo e só assim percebi que ele estava fora da corrida. Se você perdesse a forma humana antes da lupa que estava perseguindo, não poderia matá-la. Se você estivesse peludo, estaria fora. As regras sobre pegar uma Frejya não foi escrito para um ser humano.

Algo pesado atingiu o lado do tronco e eu não consegui gritar. Pelo menos era uma melhora, ouvi o som de briga entre eles. Pelo menos dois deles estavam lutando, mas eu tinha quase certeza de que havia um terceiro.

Os combates pararam e houve um estalo como se algo frágil e molhado tivesse quebrado. O silêncio era pesado, meu coração fazia um barulho estrondoso.

Começaram a se mover, eu gelei como se apenas ficando parada fosse me salvar. O tronco onde eu estava escondida começou a levantar lentamente no ar. Uma árvore foi jogada a pelo menos seis metros longe de mim. Eu não sabia o quanto ela pesava, mas era muito. Um homem alto e barbudo começou a levantar o tronco, ele empurrou-o para cima, palmas contra a madeira, sorriu para mim, os dentes brancos contra a barba.

Sua voz era mais um rosnar do que palavras.

- Venha um pouco para fora.

Um pouco? Arrastei-me com muito cuidado para fora do tronco enorme. Era um peso esmagador. Um tremor percorreu seu corpo da cabeça aos pés. Não era fácil segurar o tronco gigante. Fiquei apenas agachada ao lado de sua perna. Ele tinha que colocar o tronco para baixo antes que pudesse me tocar. Seu sorriso aumentou como se ao não me afastar dele, fosse um bom sinal.

Enfiei a faca em sua barriga e rolei para longe passando a faca em seu estômago conforme rolava. Ele pareceu surpreso quando caiu de joelhos e a árvore caiu em cima dele, e eu não queria esperar para ver se poderia sair de debaixo dela. Havia dois corpos no chão. O crânio de um homem estava esmagado e aberto, e coisas mais espessas do que sangue estavam espalhados no chão. No escuro tudo era cinza e preto. O segundo homem poderia estar vivo, mas eu não verifiquei. Corri.

Senti o ar passando por mim e olhei a tempo de ver um borrão de movimento. Um homem me bateu em um vôo de ataque. Eu estava no chão com ele em cima de mim, um braço preso entre nós. Tive um segundo para reconhecer Roland, então cortei-o com a faca. Ele recuou muito rápido para que eu visse seu punho se conectar com meu queixo.

Não desmaiei, mas meu corpo ficou mole. A faca caiu de meus dedos e eu não consegui impedir. Parte de mim estava gritando silenciosamente. A outra parte estava dizendo: - Oh, que árvores bonitas.- Quando voltei a mim, meu jeans tinha sido abaixado até a metade de minhas coxas. A única coisa que o impedia de tirá-la é que o jeans apertado estava molhado com sangue. Jeans molhado sai lentamente.

- Roland, não faça isso.

Ele continuou puxando a calça como se eu não tivesse dito nada. Eu não queria que ele me batesse novamente, se desmaiasse tudo estaria acabado. Ele estava tendo problemas com meu jeans por causa do meu tênis, você tem que tirar o tênis antes da calça.

Levantei-me sobre os cotovelos e tentei ser amigável, razoável, me perguntando onde diabos estava a minha faca.

- Roland, Roland, o tênis tem que sair primeiro.- Talvez se eu fosse útil, ganhasse um bolo. Ao menos, talvez eu pudesse para-lo. Onde estava Richard?

Roland segurou meu jeans em uma das mãos machucando meus pés.

- Por que você quer me ajudar? - ele perguntou.

Sua voz era muito profunda para o peito magro. A energia nervosa ainda se arrastava ao longo de sua pele, vibrando, como o calor de verão em uma estrada. Ele não estava diferente, mas tudo tinha mudado.

- Talvez eu apenas não queira que você me bata de novo. - eu disse.

- E eu não quero ser esfaqueado. - ele disse.

- É justo.

Ficamos assim, olhando um para o outro, eu apoiada nos cotovelos e ele ajoelhado aos meus pés. Era quase como se ele não soubesse o que fazer em seguida, acho que não esperava me ver tão calma. Choro, raiva, ansiedade, talvez, ele estava pronto para isso, mas eu não lhe dei nada. Eu era amigável, útil, como se estivesse dando indicações de um bom restaurante que conhecia. Eu me sentia estranhamente calma. Tudo tinha um ar levemente surrealista, como se nada daquilo estivesse realmente acontecendo. Se ele me tocasse, tudo pareceria real, mas enquanto estivesse parada, eu estaria bem.

Ele prendeu o meu jeans com o joelho e começou a tirar a camisa. Tirar a camisa tudo bem, eu estava preparada para isso. Ele tinha um peito bonito, agradável ao olhos. Enquanto ele permanecesse com suas calças, eu estaria bem. Onde diabos estava Richard?

Ele abaixou o zíper e comecei a ficar nervosa. Eu não queria tentar um contato com Richard caso ele estivesse lutando, utilizar as marcas era uma distração, mas eu queria alguma ajuda, apostaria tudo que Roland não usava cueca, ganhei a aposta.

Fiz contato com Richard e ele estava lutando. Vi através dos seus olhos por um segundo vertiginoso, ele estava lutando contra Eric. Ótimo. Quebrei o contato o mais rápido que pude, mas sabia que isso lhe custou um segundo de concentração. Eu tinha meus próprios problemas.

Roland tirou seu jeans até os joelhos e parecia pensar que era suficiente porque começou a rastejar até meus pés. Oh, isto era romântico.

Não foi Richard que veio para o resgate, era um homem que eu não conhecia. Ele abordou Roland e os dois rolaram até uma pequena inclinação. Comecei a puxar minhas calças o mais rápido que pude.

Ouvi um movimento atrás de mim e me virei, as calças um pouco acima dos joelhos e nenhuma arma à vista. Era Zane, um braço apertado contra o peito. Nathaniel saiu da obscuridade trás dele. Zane estendeu a mão uma boa para mim. - Rápido.

Corri. Nathaniel pegou minha mão e me puxou para as árvores. Tentei ficar para trás confiando que se o seu corpo podia passar pelas aberturas, o meu também poderia. Pulava quando ele pulava mesmo não vendo os obstáculos. Sua visão noturna era melhor do que a minha e eu não ia questioná-lo. Eu sentia Zane atrás de nós.

Um coro de gritos soou à nossa direita. Nathaniel puxou-me mais rápido por entre as árvores até que eu caí de cabeça e ganhei alguns ferimentos irregulares em meu rosto. Não perdi meu olho por pouco.

- Merda Nathaniel.

- Eles estão vindo. - ele disse.

- Eu sei. - Levei minha mão ao rosto e saiu com sangue. - Porra.

- Não vou deixar que peguem você.

Olhei para ele, era apenas três centímetros mais alto do que eu. Ele não poderia ter me superado por trinta quilos. Era musculoso, mas era pequeno. O tamanho conta se todos que lutam contra você levantam grandes árvores.

- Eles vão matar você, Nathaniel.

Ele não olhava para mim, apenas ficou olhando para o escuro como se pudesse ouvir coisas que eu não podia.

Zane inclinou-se contra uma árvore, sua mão boa estava massageando o braço machucado.

- Se eles te levarem, você vai lutar e eles vão te matar. - Fechou os olhos. - Este é um momento em que você não pode proteger a si mesma, mas talvez nós possamos.

- Você quer morrer? - disse eu.

Zane encolheu os ombros casualmente como se isso não importasse.

De repente percebi que tudo isso acabaria se houvesse sexo. Raina voltou com força total derramando-se através de mim. Ela queria Nathaniel e não poderia te-lo, não com o meu corpo. Foder com Nathaniel seria como molestar crianças, eu não faria isso, mas com Zane era diferente. Raina sempre foi inconstante, tive uma súbita visão tão forte que me fez corar. Havia alguém que não tivesse dormido com Raina? Eu não faria nada com qualquer um deles, de jeito nenhum.

Eles morreriam, eu não tinha certeza se era o meu pensamento ou o Munin. De qualquer maneira estávamos no caminho certo.

Jason apareceu mancando ao longe, eu o reconheci apenas pela forma de seus ombros e seus cabelos, ou eu não o tinha curado completamente, ou ele estava em uma luta. Talvez os dois. Eu tinha quebrado o contato antes de terminar. O Munin estava transformando a cura em sexo. Para ela era o pedágio a ser pago por serviços prestados. Sem pagamento, sem cura. Como um traficante de drogas que dá apenas um gosto.

Jason me deu um sorriso muito estranho quando chegou perto de Nathaniel e Zane. Ele deslizou até ficar sentado com as costas contra o tronco de uma árvore de pequeno porte e soltou um suspiro.

Todos olhamos para ele. Um grito rasgou a noite levando nosso olhar de volta para a floresta. Lá fora em algum lugar, eles estavam lutando. Outro uivo atravessou o ar quente, o som estava perto o suficiente para me deixar arrepiada.

As árvores em uma colina pareciam familiares.

- São as cabanas lá em cima?

- Sim. - disse Zane.

- Se você for para sua cabana, eles a seguirão.- disse Jason.- Os turistas não podem vê-los.

- Foda-se. - eu disse - Alguns deles não vão me seguir até lá por causa dos turistas. Nós vamos e ponto final.

- Não vai acabar até que alguém ganhe.- Jason disse. Ele parecia cansado ou talvez desanimado.

- Lá eu tenho dois vampiros que estão do meu lado.- Comecei a subir a colina. Nathaniel e Zane seguiam nos meus calcanhares, Jason ficou sentado. Estávamos a um quarto do caminho quando ele resolveu nos seguir. Quando toda essa merda acabasse, eu perguntaria o que estava acontecendo. Neste momento, não havia tempo.

Sombras apareceram por entre as árvores. Zane deu um pequeno empurrão nas minhas costas.

- Corra. - disse ele - eu vou atrasá-los.

Nathaniel ficou com ele virado para baixo para a escuridão e o perigo.

- Não. - disse Zane - Você vai com ela Nathaniel.- Ele olhou para mim. -Estou aprendendo o que significa ser um alfa, ele não sabe lutar.

Nathaniel olhou para nós e finalmente perguntou.

- O que você quer que eu faça?

Pensei sobre isso por um segundo, Zane me estudava com cuidado.

- Eu diria para vir comigo, mas não estou feliz em deixar Zane para trás.

Olhei em volta e toquei a mão de Zane.

- Eu não vou deixar você morrer.

- Pô Anita, se você não estiver aqui, eles não vão nos matar. Vão apenas nos ferir e ir atrás de você. - disse Zane.

- Eu sou uma espécie de isca. - disse eu.

- Sim.

- Não morra por mim, ok?

- Vou fazer o meu melhor. - disse Zane.

Apertei a mão dele.

- Não faça o seu melhor, apenas não morra.

Eu me virei para Jason, ele balançou a cabeça.

- Eu tenho que ficar com você, ordens de Richard.

- Porquê?

Ele balançou a cabeça e olhou para as figuras escuras se movendo entre as árvores, mais perto, cada vez mais perto.

- Mais tarde. Agora temos que correr.

Ele tinha um ponto. Corremos e deixamos Zane sozinho no escuro com pelo menos cinco lobisomens deslizando entre as árvores. Eles se moviam em uma explosão de velocidade à medida que se aproximavam da crista do morro. Continuei correndo e chegamos em frente ao estacionamento de cascalho.

Eu pensei em Damian e ele abriu a porta como se eu tivesse falado, estava parado com um olhar surpreso no rosto. É raro ver um vampiro de mil anos de idade chocado. Eu tive um momento para pensar no que ele estava vendo. Eu estava suja de sangue, apenas com o sutiã preto e o jeans encharcado. Jason correndo e mancando visivelmente. Nathaniel completamente exausto atrás de nós.

Passamos pela porta e Damian fechou-a sem dizer nada. Vampiro inteligente.

- O que... -- ele começou a dizer.

- Bloqueie as janelas e a porta. - eu disse.

Asher pegou a pesada mesa de madeira como se não pesasse nada e empurrou-a sobre a janela. Alguma coisa bateu na janela estilhaçando o vidro ao redor da borda da mesa como chuva brilhante. Asher voltou e Damian se juntou a ele empurrando a mesa de encontro á janela. A porta estremeceu como se algo pesado se atirasse contra ela.

- A porta não vai aguentar muito tempo. - disse Jason.

Nathaniel ficou no centro da sala como se estivesse perdido.

- E agora?

A porta estremeceu novamente e Jason foi até ela inclinando-se.

- Nathaniel me ajude! - Nathaniel se juntou a ele colocando seus ombros contra a madeira trêmula.

Uma mão empurrou a ponta da mesa, Asher a pegou e quebrou o pulso como se partisse um pedaço de madeira. Houve um grito e a mão foi puxada para trás.

Ele falou como se não estivesse usando quase toda a sua força para manter a mesa contra a janela quebrada.

- Posso perguntar por que o bando de lobisomens local está tentando nos matar?

- Eles não estão tentando nos matar. - disse Jason. -Estão tentando fodê-la. Ele inclinou as costas contra a porta. O que quer que estivesse do outro lado a soltou abruptamente e Jason quase caiu. De repente, silêncio.

A janela estava livre também, tudo estava terrivelmente quieto, muito quieto, como diz o velho ditado.

- O que está acontecendo? - Damian perguntou.

- Mais tarde. - disse Jason, seus olhos pareciam quase selvagem. - Pergunte depois, Richard me disse para ficar com você.

Olhei para ele.

- Tudo bem, por que Richard disse para ficar comigo?

- Isso só vai acabar quando você fizer sexo com qualquer um dos lukoi.

Olhei para ele.

- Vamos começar de novo.

- Se parecer que alguém vai chegar primeiro, ele me disse para fazer isso.

- Como é? - Eu disse. - Quer dizer, você deve fazer sexo comigo?

Jason teve a graça de olhar para baixo, ele balançou a cabeça confirmando.

Abri a gaveta e tirei a Firestar, coloquei-a na frente do meu jeans. Peguei a Browning e tirei a trave de segurança.

- Nada pessoal Jason, mas eu tenho um plano diferente.

- Eu não disse que gostei do plano. - disse Jason.- Eu posso brincar com isso, e adoraria estar com você, mas Jean-Claude é meu mestre também. Ele me mataria.

Olhei para Asher, ele deu um aceno de cabeça muito pequeno.

- Provavelmente.

- E se você deixar alguém chegar perto de mim...porque estava tão nervoso?- Eu perguntei.

- Richard não mata facilmente. - Jason disse - mas se eu deixar alguém estuprá-la ele vai fazer uma exceção.

Sacudi a arma no ar, o cano apontado para o teto.

- Sorte sua que estou armada.

Jason assentiu.

A janela do banheiro se quebrou.

- Merda! Nós somos estúpidos, fiquem na porta. - eu disse.

Chutei a porta do banheiro e tive um vislumbre de um homem tentando espremer um grande corpo através da janela pequena. Bati na porta fazendo-a balançar descontroladamente e disparei contra o homem. Ele gritou e caiu para trás através da abertura.

Eu gritei:

- Eu tenho essa janela coberta.

Sons de luta vieram do lado de fora. Gritos viraram rosnados, senti a energia subindo e sabia que as pessoas estavam perdendo a forma humana. Eu podia senti-los escapulindo, esgueirando por entre as árvores, quase podia cheirar o almíscar de suas peles. O poder do Munin voltou tão de repente e de forma tão pura que me escorei contra a porta para não cair.

Afastei-me da janela para olhar para Jason. Raina estava bem com isso. Ela não se importava com quem. Se isso causasse aflição em Jean-Claude e custasse a vida de Jason, que se dane. Fechei a porta devagar, olhos fechados, apertando o cano da arma contra a minha testa.

- Alguém precisa cuidar dessa janela. - eu disse.

Eu esperava que tivesse falado em voz alta, estava tendo problemas para me concentrar.

Jason deve ter contado porque ninguém perguntou o que estava acontecendo. Senti Damian encostar em minhas pernas quando ele entrou no banheiro. A sensação de seu falecimento causou um aperto no meu estomago. Olhei para ele, e ele estava congelado na porta como se tivesse sentido a reação do meu corpo.

Ele olhou para mim com seus olhos verdes de gato, e eu sabia, certa que se eu pedisse para vir a mim, ele teria feito isso. Eu só não sabia o porquê.

- Damian, a janela. - Disse Asher.

Damian ficou onde estava me olhando.

- Eu não posso.

- Ordene que ele venha para a janela Anita. - disse Asher.

Fiquei de joelhos, a mão livre deslizamento pela perna da calça de Damian. Enfiei a mão até sua coxa. Agarrei um punhado de sua camisa de seda verde e o puxei para mim. Ele ficou com os joelhos em ambos os lados do meu corpo, eu o beijei. Enfiei a minha língua entre os pontos delicados de suas presas. Eu aperfeiçoei a arte francesa de beijar um vampiro. Prática, prática.

Ele não tentou me beijar de volta, recuou o suficiente para sussurrar:

- Você tem gosto de sangue, o sangue de outras pessoas.- Em seguida ele fechou a boca na minha. Suas longas mãos em concha no meu rosto pálido, deslizou por trás de minha cabeça no calor do meu cabelo.

Apertei meu corpo contra ele. A Firestar ainda estava na frente da minha calça. A arma pressionado sua virilha, ela se perdeu no chão.

Houve um som na janela do banheiro. Recuei do beijo e Damian começou a correr seus lábios no meu pescoço. Eu vi um homem rastejar através da janela como se passasse num longo túnel cristalino.

Puxei a Firestar da minha calça e apontei no centro de sua testa. Seus olhos se arregalaram e de repente ele se jogou para trás na noite. Ele sobreviveria, a questão era, como estava agora?

A boca de Damian pairou sobre a grande veia em minha garganta. Ele passava sua língua enrolada sobre ela, acariciando. Estava pedindo permissão, mas não era esse tipo de sangue que eu queria doar. Raina não tinha nenhum interesse em apenas abrir uma veia.

Enrolei a mão livre em seu longo cabelo vermelho-sangue e puxei seu rosto para mim.

- Não me sangre, me foda.

Asher gritou:

- Jean-Claude vai matá-lo.

- Eu não me importo.- eu disse.

No momento em que me ouvi dizer isso me afastei dele. Era como se afastar de uma cortina úmida que se agarrava ao meu rosto, sufocando, tentando moldar-se ao meu corpo e me prender, me afogar.

Rastejei para longe de Damian no quarto e disse,

- Veja a droga da janela Damian, e fique longe de mim.

Ele ficou na porta incerto.

Asher disse:

- Você ouviu a sua amante, faça o que ela disse.

Ouvi-o entrar no banheiro. Ouviu suas botas triturando o vidro quebrado. Fiquei de quatro, minha cabeça pendendo para baixo, minha respiração ofegante. A Firestar ainda estava presa em uma mão. Apertei-a firmemente até que minha mão doeu. Eu sentia a coronha da arma na minha pele. Isto era real. Raina estava morta. Ela era apenas outra espécie de fantasma, isso tudo era uma grande merda.

Ouvi alguém rastejar para mim, levantei a cabeça para encontrar Nathaniel olhando para mim com os olhos lilás. Eu gritei e o mandei voltar. Ele era uma das vítimas que Raina gostava. Eu segurava minha mão como para repelir um golpe.

Acabei de costas contra a cama, arma apertada com ambas as mãos, balançando para frente e para trás.

Nathaniel rastejou para mim, ele se arrastou como se tivesse músculos em lugares que não deveria ter, em um rolo gracioso como uma cobra, como se sua coluna tivesse muitas partes. Ele colocou seu rosto tão perto do meu que quando falou eu podia sentir sua respiração na minha cara.

- Eu sou seu Anita. Você é minha Nimir-ra. Minha rainha.

Ele tinha muito cuidado para não me tocar, ficou a uma polegada de distância de modo que a decisão era minha, mas não era.

Tentei dizer-lhe para ficar longe de mim, mas minha voz não funcionava. Eu não podia falar, não conseguia me mexer. Tudo que podia fazer era agarrar a última borda irregular de controle e não deixar minha boca se aproximar da dele. Lutei com tudo que eu tinha para não beijá-lo porque eu seria a próxima a cair. O Munin me puxava para baixo. Mesmo o meu auto-controle não era ilimitado. Eu não queria que fosse com Nathaniel. Isso me ajudou a segurar. Alguem bateu na porta, foi tão inesperado que eu gritei. Meu grito mandou Nathaniel de volta para os meus joelhos, um pouco mais fora do alcance, mas ainda muito perto.

Asher perguntou:

- Você quer que eu abra a porta?

Eu balancei a cabeça como um não, mas não poderia dizer. Eu não conseguia pensar, estava lutando muito duro para não tirar a minha roupa e fazer sexo com alguém. Isso tomava toda a minha concentração.

Talvez Asher tenha percebido por si mesmo, porque ele disse:

- Quem está do outro lado da porta? - Muito civilizado.

A resposta chocou a todos nós, eu acho.

- Richard.

Jason estava a seu lado abrindo a porta antes que alguém pudesse dizer-lhe para fazê-lo. A superfície externa da porta foi agarrada e quebrada. Richard ficou lá na porta. Sua camiseta estava em farrapos, continuava agarrada à seus ombros, mas estava tão rasgada que você podia ver as feridas sangrentas em sua pele bronzeada. Ele entrou pela porta um pouco instável. Zane e Shang-Da vinham atrás dele.

Zane parecia ileso, mas o rosto de Shang- Da tinha sido aberto da testa ao queixo. Seus olhos eram uma máscara de sangue, ele fechou a porta e olhou para mim.

Fiquei contente de ver todos eles, mas eu não podia me mover. Se me movesse tudo estaria terminado. Eu estava colocando tudo o que tinha apenas para ficar onde estava. Se eu me movesse o controle acabaria. Uma lágrima quente rolou pelo meu rosto. Olhei para Richard e queria dizer tantas coisas e não podia dizer nenhuma delas. Palavras que me quebravam em um milhão de pedaços brilhantes.

Richard caminhou ao meu encontro, ficou em pé olhando para baixo. Eu não olhei para cima. Ele caiu de joelhos diante de mim.

Eu coloquei a mão para firmá-lo e o Munin se derramou em toda a minha pele como uma chama. A Firestar caiu no chão, agarrei um punhado da camisa rasgada enrolei em ambos os punhos, acabei com os últimos centímetros em um beijo.

Seus lábios estavam secos, eu lambia a sua boca correndo minha língua sobre os lábios até que eles ficaram molhados, esfregando minha boca em seus lábios de veludo. Coloquei minha mão no corte que eu tinha feito sobre o seu coração.

Sua respiração saiu em um silvo afiado como se o machucasse. Ele agarrou meu pulso. Coloquei a minha outra mão dentro da outra ferida. Ele agarrou os meus pulsos. Você esquece o quanto Richard é grande. Ele não parece intimidar fisicamente, mas poderia segurar meus dois pulsos em uma mão. Ele forçou meus braços de volta, tentei libertar minhas mãos, e seu punho se apertou. Ele se inclinou sobre mim, mas não para um beijo.

Ele lambeu a borda da ferida da faca no meu peito, eu engasguei em meio a dor e o prazer.

Ele passou a boca na ferida até que alcançou a parte superior e macia do meu peito. Mordeu delicadamente minha carne, não para machucar, o suficiente para que eu sentisse seus dentes. Eu dei um pequeno gemido.

Ele levantou o rosto para olhar para mim, soltou meus pulsos e colocou uma mão em cada lado do meu rosto. Prendeu meu rosto com força e me obrigando a olhar para o castanho-chocolate perfeito de seus olhos.

- Anita, você pode me ouvir?

Tentei beijá-lo, mas ele me segurou com as mãos. Minhas mãos encontraram seu peito explorando a carne macia, as feridas rasgadas. Tentei pressionar o meu corpo para a frente contra o seu, mas suas mãos seguravam o meu rosto e eu não poderia chegar mais perto.

- Anita, Anita, fale comigo. Você está aí?- O aperto no meu rosto era quase doloroso.

Empurrei o Munin de lado, ela caiu para trás. Senti Raina me deixar o suficiente para responder.

- Eu estou aqui.- Era um sussurro.

- Você quer fazer isso? - ele perguntou.

Comecei a chorar; enormes lágrimas silenciosas deslizaram pelo meu rosto.

- Você me quer agora, desse jeito? - Ele apertou meu rosto entre as mãos, como se pudesse me fazer voltar a mim.

Apertei minhas mãos na sua enquanto chorava. Eu o queria?

- Sim. - era um sussurro.

- Agora?

A pergunta era muito difícil para mim. Enrolei meus dedos contra suas mãos tentando movê-los em meu rosto. Comecei a puxá-lo.

- Beije-me, por favor, beije-me. Por favor Richard, por favor!- Eu estava chorando de novo e não sabia dizer o porquê.

Ele se inclinou, as mãos ainda no meu rosto. Ele me beijou, seus lábios pressionados contra os meus, como o calor. Sua língua separou meus lábios e eu tentei novamente avançar mas suas mãos me seguravam. Ele se inclinou para mim pressionando sua boca contra a minha. Ele me beijou como se quisesse provar de mim, como se chegasse na minha boca com a língua e os lábios e me puxasse de dentro para fora.

Estremeci com a sensação de sua boca, olhos fechados, mãos na minha pele, deixei-o fazer tudo. Suas mãos deslizavam lentamente no meu rosto. Ele nunca parou de me beijar, a ponta dos dedos deslizaram em meus ombros nus. Suas mãos hesitavam sobre as alças do sutiã como se não soubesse o que fazer com ele.

Abri os olhos, comecei a levantar minhas mãos para ajudá-lo, ele as agarrou e prendeu-as de lado.

- Eu faço isso. - ele disse suavemente.

Olhei para ele e mal podia respirar, queria sua pele nua pressionada contra a minha. Peguei uma das pontas da camisa e a rasguei mais.

- Tire.

Ele balançou a cabeça.

- Ainda não.

Eu queria cair sobre ele como um lobo devorador, e ele era tão controlado. Eu podia sentir a sua necessidade, sentia a sua necessidade tão grande como a minha, e ainda assim ele poderia se ajoelhar ali, tão perto, tão perto.

- Todo mundo para fora. - disse Richard.

Eu tinha esquecido que tínhamos uma plateia, encostei minha testa contra seu peito, minhas mãos deslizaram pelas suas costas tentando pressionar-me contra ele.

Asher disse:

- E quanto aos outros lobos?

- Eu fiz um pacto com Verne.

Olhei por cima dos ombros largos de Richard para o rosto marcado de Asher. Seu rosto estava cuidadosamente em branco, vazio, ilegível. Eu tinha um pensamento: O que ele estava escondendo? A maioria dos meus pensamentos eram sobre o cheiro da pele de Richard, o cheiro de sangue fresco, o cheiro da terra, dos pinheiros e folhas. A luz, o orvalho salgado de suor em seu corpo. Não havia espaço para arrependimentos. Havia apenas o calor do seu corpo pressionado contra o meu.

- Se você fizer sexo com ela assim, será muito parecido com estupro. - disse Asher.

- Eu tentarei fazer do melhor jeito. - disse Richard.

Asher fez um pequeno som que poderia ter sido uma risada.

- Bonheur - disse ele e saiu. Boa sorte, ele tinha dito. Falou em francês, e isso me fez pensar em Jean-Claude.

Eu estava tão perto do calor do corpo de Richard que podia senti-lo duro e pronto, e pensei em Jean-Claude. Eu queria me enrolar em Richard, queria puxá-lo em torno de mim como um cobertor, mas o que diriam sobre meu outro amante? Esse pensamento levou o Munin para longe.

Meses na cama de Jean-Claude e eu ainda queria Richard. Eu queria Richard, não Raina, não o Munin. Eu o queria e não conseguia pensar em nada alem da sensação dele em meus braços, mas não era justo, não desse jeito, não com Raina dentro de mim.

Ela se derramou sobre mim como um banho morno, este era o seu preço. O fato dela estar aqui connosco pela primeira vez, seria sempre parte dela. Minha pele doía ao ser tocada. Meu corpo doía com uma necessidade que eu nunca tinha conhecido.

Quando a porta se fechou atrás deles, Richard me afastou para longe de seu corpo. Ele me segurou longe dele com as mãos no meu antebraço, enquanto eu lutava para me aproximar. Eu precisava dele.

Cheguei para ele, gritando:

- Richard por favor, por favor.

Ele girou em torno de mim até que caí contra o pé da cama. Ele colocou uma mão no meio das minhas costas, mantendo-me afastada dele. Ele deslizou as alças do sutiã para baixo, deslizando-os pelos meus braços. Então inclinou-se sobre mim, uma mão de cada lado da cama. Inclinou o rosto até seu cabelo encostar em meu rosto. Ele moldou seu corpo contra o meu, os braços envolvendo meus braços no meu peito, me segurou com seu corpo e seus braços, pressionando-nos tão perto que eu podia sentir seu coração batendo.

Ele sussurrou contra a minha bochecha.

- Se em algum momento você quiser parar, diga e eu paro.

Fiz um pequeno som parecido com um gemido e disse:

- Foda-me Richard, foda-me por favor.

Um arrepio percorreu seu corpo dos pés à cabeça, e sua respiração saiu em um longo suspiro. Ele soltou o meu sutiã e o deslizou lentamente dos meus ombros e o jogou no chão. Suas mãos quentes deslizavam sobre minha cintura e voltaram para cima lentamente, tão lentamente que eu quis gritar. Suas mãos pegaram meus seios massageando-os. Seus dedos prenderam meus mamilos e eu não gritei.

Ele me virou de frente quase me jogando contra a cama. Seus braços fechados em minhas nádegas e ele me levantou ainda de joelhos. Sua boca encontrou meus seios. Sua língua em meu mamilo, rápida e molhada.

Debrucei-me para ele, e sua boca deslizou sobre meu peito, sugando-o. A sensação de sua boca sobre mim era intensa, me deu vontade de gritar, me contorcer, de pedir para parar, e nunca parar. Fiz um pequeno som como um soluço quando ele prendeu meu mamilo entre os dentes, virou para o outro peito mais duro desta vez, usando mais os dentes. Mordeu suavemente ao redor do tecido mole do meu peito, depois lambeu o mamilo. Ele deu uma mordida rápida e de repente eu estava no chão olhando para cima.

Ele ajoelhou-se sobre mim e colocou as mãos em sua camiseta e rasgou-a inteira, expondo a dureza do seu peito, seus braços. Havia duas feridas de garra, uma alta e uma baixa. A alta estava sobre o seu mamilo, e havia sangue seco na ponta do mesmo.

Sentei-me e cheguei perto dele. Ele não me impediu, passei minha língua por seu peito sobre as feridas, e ele engasgou. Passei a língua em seu mamilo sangrento e quando ele não me impediu colei minha boca em torno dele e suguei. Eu suguei a ferida limpa até reabri-la.

Era a sua vez de gritar. Ele me empurrou de volta ao chão, suavemente e tirou meus sapatos e as meias. Meu coração batia tão rápido que o sentia na minha garganta como uma coisa presa.

Suas mãos foram para o topo do meu jeans. Quando o botão se abriu, ele apertou o meu estômago. Desabotoou a minha calça e começou a puxar para baixo até os quadris. Eu o ajudei a empurrar o pano seco em minhas pernas. Ele tirou o jeans em um movimento rápido e eu fiquei deitada apenas com a calcinha preta que tinha combinado com o sutiã.

Ele estava de joelhos olhando para mim. Suas mãos foram para suas próprias calças, abrindo-a. Ele hesitou.

- Eu quis isso por tanto tempo Anita. Eu queria que você gostasse disso, mas não ...

Ele odiava a essência de Raina tanto quanto eu, e tive um momento de perfeito entendimento. Fui até ele ajoelhada.

- Oh não, não, você não. Não vá dar um de escoteiro agora.- Minhas mãos acabaram entrando em suas calças.

Ele pegou minhas mãos, os olhos buscando meu rosto.

- É você de novo.

- Sim, sou eu.- Puxei minhas mãos para fora e ele deixou. - Dispa-se para mim Richard; deixe-me vê-lo nu.

- Você me viu nu antes. - ele disse suavemente.

- Não assim, sem parar, sem perguntas.

Ele se levantou.

- Isso vai mudar tudo para mim Anita. Tem que mudar alguma coisa para você também.

Eu cobri os olhos com as mãos e dei um gritinho.

- Ah, pelo amor de Deus Richard, pare de falar. Eu quero suas mãos no meu corpo, quero você dentro de mim, eu não posso pensar. Como você pode pensar em ser razoável?

Algo caiu em minhas mãos e rosto. Era o seu jeans e a cueca. Sentei-me e encontrei Richard nu, olhei para ele. O perfeito castanho dourado de sua pele era ininterrupta desde a curva de seus quadris estreitos, o inchaço da virilha, a dureza de seu peito e seus ombros. Seu cabelo caiu sobre um lado do rosto em uma massa castanho dourado, deixando metade de seu rosto na sombra.

Eu fui ao encontro dele, eu estava com medo, nervosa, assustada e ansiosa. Pus as mãos em seu peito e me levantei na ponta dos pés para lhe oferecer os meus lábios. Nós nos beijamos e joguei meu corpo contra o seu. A sensação dele duro e nu, sem nada entre nós além da calcinha de renda preta, me fez estremecer e me separar dele.

Suas mãos me pegaram pela cintura e nos manteve pressionados juntos. Então de repente ele estava de joelhos, as mãos puxando minha calcinha para baixo em um movimento rápido e violento. De repente eu estava nua, com ele ajoelhado na minha frente olhando para cima. Ele me olhou de um jeito que fez todo o meu corpo se apertar.

Ele colocou as mãos grandes no meio das minhas coxas e separou minhas pernas, deslizou as mãos em concha até as minhas nádegas, levando minha virilha contra seu rosto. Ele colocou seu rosto contra mim, lambendo uma linha rápida ao longo do meu quadril. Meu coração estava batendo muito rápido, mas eu podia falar.

- Por favor Richard, por favor. Por favor.

Ele passou uma mão entre minhas coxas. Um dedo deslizou dentro de mim. Estremeci, a cabeça para trás, olhos fechados.

- Você está molhada. - disse ele.

Abri os olhos e olhei para ele.

- Eu sei. - Minha voz soou rouca.

- Raina era assim.

- Ela ainda é, faça-a ir embora.

Ele lambeu o interior da minha coxa, obrigando-me a separar as pernas, aninhando sua boca contra a minha pele. O primeiro toque de sua língua entre minhas pernas me fez soltar um suspiro.

Ele beijou-me lá como se beijasse minha boca, a língua explorando tudo. Lambeu-me e em seguida encontrou um ponto à direita e sugou. Eu podia ver seus olhos olhando para mim quando fazia isso. Havia uma luz escura em seus olhos, algo mais primitivo do que temos palavras para descrever. Não tinha nada a ver com ser um lobisomem e tudo a ver com ser um homem. Ondas pulsavam ao longo do meu corpo. As sensações eram avassaladoras. Foi tão bom que era quase demais, um prazer tão grande que era quase dolorido. Ele me puxou para dentro da boca até que o calor se espalhou da minha virilha para cima em uma corrida dourada que deixou o mundo nebuloso, como se eu estivesse vendo através de uma névoa. Com a última gota de prazer senti Raina sair. O Munin tinha ido embora quando ele abaixou-me para o chão.

Sua boca estava brilhando. Ele utilizou os restos de sua camisa para limpar a boca e disse:

- Eu posso escovar os dentes depois.

Eu apenas balancei a cabeça.

- Não se atreva.

- Ela se foi?- ele perguntou.

Concordei.

- Só eu, só nós dois.

- Bom. - disse ele.

Ele se virou e colocou seu corpo nu e duro sobre o meu. Era alto demais para a posição papai-mamãe. Eu seria sufocada contra o seu peito. Ele se apoiou em seus braços e abaixou seu quadril, estava duro e úmido, e eu podia sentir cada centímetro dele abrindo caminho dentro de mim. Quando ele estava quase lá olhou para mim. Seus olhos estavam surpreendentemente âmbar, olhos de lobo. Eles eram de ouro quase laranja no bronzeado do rosto.

Ele começou a empurrar para dentro e para fora, uma, duas, três vezes, suavemente. Então peguei o ritmo, levei minhas mãos para suas nádegas e empurrei-o dentro de mim. Cravei minhas unhas na dureza suave de sua carne. Ele bombeava mais rápido, ainda segurando a maioria de seu peso nos braços e ombros.

Levantei meu quadril ao encontro de seu corpo. Um ritmo começou entre nós, uma onda de movimento e calor, músculos em movimento em conjunto.

Algo se abriu dentro de mim, dentro dele. Senti a marca que nos unia como o abrir de uma porta. O que saiu por aquela porta era morno e cheio de poder. Isso se derramou sobre mim, em mim, arrepiando todos os pêlos do meu corpo como se fosse uma corrente elétrica.

Richard levantou-me em seus braços ainda dentro de mim e fomos para a cama. Ele caiu em cima de mim, e eu estava perdida sob o calor da sua pele e o peso do seu peito. Era como se seu poder cavalgasse sobre minha pele, cada impulso enviando uma linha de calor. Era como se eu fosse tomar banho no calor de seu corpo dourado por dentro e por fora. O poder cresceu em pulsos de ouro a cada estocada. Os pulsos transformaram-se em ondas que fez meu corpo se apertar em torno dele.

Ele gritou mas não gozou. Levantou-se em seus braços, apenas seus quadris e pernas fixando-me na cama. Seus olhos ainda eram âmbar, ainda não eram humanos e eu não me importei. Vi sua besta pegar carona naqueles olhos alienígenas. Ele olhava para mim através do rosto de Richard, vi seus pensamentos através de slides em seu belo rosto, que tinha mais a ver com comida do que sexo, e nada a ver com amor.

Suas mãos flexionadas na cama. Ouvi o pano rasgar, virei a cabeça e vi as mãos se alongando, transformando-se em garras. Essas garras rasgaram o colchão.

Olhei para Richard e não podia esconder o medo em meu rosto.

- Richard.

- Eu nunca iria machucá-la. - Ele sussurrou, e quando suas mãos convulsionaram na cama pedaços de tecido branco saltaram no ar.

- Richard! - Minha voz era alta, não entrei em pânico, mas estava perto.

As garras cortaram parte da cama, ele rolou de cima de mim para o lado em uma bola apertada. Suas mãos, suas garras eram longas e finas com unhas transformadas em algo monstruoso, perigoso.

Merda.

Passei minhas mãos pelas suas costas.

- Sinto muito Richard, me desculpe.

- Eu não vou mudar durante o sexo Anita, mas perto da lua cheia é difícil.- Ele virou a cabeça para olhar para mim e seus olhos ainda estavam âmbar. Suas mãos começaram a voltar a forma humana. Eu via a mudança, senti a adrenalina de energia como uma onda de insetos em minha pele.

Eu sabia que se o deixasse assim ele nunca se recuperaria. Não era minha perda, não realmente. Isso confirmaria seus mais profundos medos: que ele era um monstro e que servia apenas para estar com outros monstros. Richard não era um monstro, eu acreditava nisso. Confiei que ele não me machucaria. Eu confiava nele mais do que confiava em mim mesma às vezes.

- Vire-se. - eu disse.

Ele só olhou para mim.

Eu virei seu quadril e ele deixou. Ele não estava completamente duro agora. Nada como ter sua amante gritando por ajuda para tirar o prazer. Eu o toquei e ele estremeceu fechando os olhos. Eu o segurei em minhas mãos e o acariciei até que ele cresceu quente e duro.

Deslizei sobre ele, e era quase muito grande nesse ângulo, quase grande demais. Um pequeno gemido escapou-lhe.

- Eu amo você Richard. Eu amo você. - Virei-me sobre ele de forma que seu sexo se encaixou dentro de mim.

Suas mãos deslizavam em torno de minha cintura, em seguida em meus seios. A sensação de suas mãos em mim enquanto eu cavalgava seu corpo era demais. Mexi meus quadris suavemente a princípio, depois mais rápido. Eu o forcei dentro de mim, duro, rápido e profundamente, até que eu não tinha certeza se era bom ou ruim.

Senti o orgasmo crescer, senti que enchia-me como a água quente em um copo, de baixo para cima. Eu senti pequenos espasmos.

A respiração de Richard mudou, acelerou, e eu sabia que ele estava perto.

- Ainda não. - sussurrei.

Ele enfiou as mãos na cama. As garras rasgaram a cama como pregos. Ouvi o colchão fazer aquele som de coisa rasgada, e era tarde demais.

O orgasmo me pegou em uma explosão que inclinou minha coluna e me fez gritar. Ele tomou conta de mim como uma mudança de pele, nervoso, pulando, dançando em cada parte de mim, estava tentando deixar todos os outros para trás. Por um segundo me senti sem pele, desossada, nada, sentia somente o rolo quente de prazer e seu corpo debaixo do meu. Apenas seu corpo ancorado em mim. Só quando o senti libertando seu gozo me lembrei onde estava e quem eu era.

Abri os olhos e encontrei os olhos castanhos e humanos. Ele levantou as mãos e eu caí contra seu corpo, coloquei minha cabeça em seu peito e senti seu coração batendo contra a minha bochecha. Fiquei ali sentindo seu corpo pulsar debaixo do meu, seus braços me segurando.

Ele riu feliz, levantou meu rosto para me dar um beijo leve e cuidadoso.

- Eu também te amo. - disse ele.


28

Quente, ele estava tão quente. Ele? Meus olhos estavam abertos e o sono se foi como vidro quebrado. Fiquei deitada na cama com meu coração batendo e um braço bronzeado lançado através de meu estômago. Olhei para o braço de Richard, seu cabelo sobre o rosto como uma cortina. Eu estava deitada de costas, o lençol abaixo da minha cintura, presa debaixo do braço dele.

Olhei para trás e encontrei os Girassóis de Van Gogh em cima da cama. A cabana de Richard, nós tínhamos destruído o meu quarto.

Eu tinha um desejo muito forte de puxar os lençóis para cima e cobrir meus seios. Ok, ok, Richard tinha visto todo o show noite passada, mas esta manhã eu queria me cobrir. Eu estava envergonhada, não era uma grande e terrível vergonha, mas eu estava um pouco confusa e envergonhada.

Percebi que estava deitada com os braços dobrados sobre o peito como se estivesse me escondendo, o braço de Richard parecia muito escuro contra a pele pálida e branca do meu estômago. Jean-Claude havia comentado que a minha pele era quase tão pálida quanto a dele. Eu tinha muitos problemas morais com sexo antes do casamento. Meu conforto é que eu era monogâmica, agora não tinha nem mesmo isso. A prostituição finalmente tinha chegado como a minha avó Blake sempre tinha avisado. De certa forma, ela estava certa. Depois de fazer sexo com alguém, se torna mais uma possibilidade com os outros. As cortinas da cabana não estavam abertas completamente, a luz solar matutina caia através do forro branco e se derramava sobre a cama. Eu nunca tinha visto o corpo de um homem na luz da manhã, nunca tinha dormido com um homem e acordado ao lado dele. Oh, uma vez com Stephen, mas completamente vestido com armas e bandidos prestes a entrar pela porta não é bem a mesma coisa.

Estendi a mão para o braço de Richard hesitante. Você pode achar que depois do que fizemos na noite passada eu ficaria brava, mas eu estava quase com medo de tocá-lo. Eu tinha fantasias sexuais com Richard, mas isto foi mais do que eu esperava. Acordar ao lado dele, quente e vivo, Deus me perdoe, eu valorizava isso.

Toquei seu braço levemente de modo que tudo o que toquei eram os pequenos pêlos dourados, sem pele. Ansiei para tocar a pele mais acima, mas não havia nada, somente a pele nua do braço e ombro. Passei meus dedos sobre o calor da sua pele, era incrivelmente quente, quase febril.

Eu o senti acordar, uma tensão em seus ombros e costas que não havia antes. Virei a cabeça e os olhos castanhos estavam olhando para mim através da espessa cortina de seus cabelos.

Ele levantou-se sobre um cotovelo e jogou o cabelo para trás de seu rosto. Sorriu, e era o mesmo sorriso que me fazia derreter uma centena de vezes.

- Bom dia.

- Bom dia. - eu disse puxando o lençol sobre meus seios sem pensar.

Ele se mexeu fazendo com que o lençol em sua cintura fosse para baixo revelando a extensão suave de suas nádegas. Ele me beijou e em seguida esfregou o rosto ao longo de minha bochecha até que senti sua respiração quente contra o meu ouvido, depois mais para trás no meu cabelo. Ele estava me dando uma saudação de lobo. Beijou levemente o meu pescoço e parou em meu ombro descoberto.

- Você parece tensa. - disse ele.

- Você não.

Ele riu, e o som me fez estremecer e sorrir ao mesmo tempo. Era uma risada que eu nunca tinha ouvido de Richard, muito masculino, muito ... algo: possessivo, satisfeito, talvez.

Senti meu rosto aquecer, sabia que era bobagem me sentir envergonhada.

- Ah, inferno.

- O que?- ele perguntou acariciando meu rosto.

- Você comigo Richard. Sexo é ótimo, mas quando pensei neste momento, pensei em você me segurando, me apoiando.

Seu sorriso era amável, contente. Ele virou-se de lado com o lençol sobre a sua cintura e ergueu o braço.

Virei de lado e aninhei minhas costas contra seu corpo quente. Ele era muito grande para essa posição, depois de muitos risos e comentários estúpidos encontramos uma posição que parecia certa. Passei o braço em volta dele afundando o rosto na curva morna de seu peito e soltei um suspiro. A sensação de sua virilha nua pressionada contra mim era emocionante, eu me sentia bem. Me senti a dona de seu corpo. Eu queria abraçá-lo assim para sempre.

Sua pele era quente.

- Você parece que está com febre.

- É a lua cheia, até amanhã à noite quando a lua estará completamente cheia, minha temperatura vai aumentar mais.

Ele empurrou meu cabelo de lado e acariciou a parte de trás do meu pescoço. Isso me fez irromper em risos. Eu me contorcia.

- Isso faz cócegas.

- Sim, eu sei que faz.

Eu podia senti-lo cada vez maior contra o meu corpo. Eu ri e rolei de costas.

- Sr. Zeeman, você parece feliz em me ver.

Ele inclinou-se para um beijo.

- Sempre.

O beijo cresceu tornando-se mais. Virei meu corpo contra o dele e coloquei uma perna em torno de suas nádegas, ele se afastou para trás ficando de joelhos.

- O que foi? - eu perguntei.

Já tínhamos passado dos limites na noite passada, agora era muito tarde, eu precisava tomar a pílula. Ele ficou horrorizado quando pensou nisso. Como lobisomem ele não podia transmitir a doença, a gravidez não seria problema, eu estava segura. Isso também explicou por que eu não estava preocupada em lamber o sangue dos licantropos noite passada. Era nojento, mas não era perigoso.

- Eu não posso. - disse Richard.

Olhei para seu corpo.

- Oh, eu diria que você está pronto.

Ele corou.

- Você me viu ontem à noite, Anita. Um dia mais perto da lua cheia e meu controle será pior e não melhor.

Deitei-me na cama.

- Oh. - Fiquei decepcionada. Minutos antes estava preocupada que tínhamos libertado nosso desejo e agora fiquei triste por não fazer novamente. Nunca confie em mim para ser lógica sobre os meus homens.

- Estou feliz que esteja desapontada também, por um minuto eu pensei que você ia levantar da cama dizendo que tudo tinha sido um erro terrível e que voltaria para Jean-Claude.

Cobri os olhos com as mãos, em seguida olhei para Richard quando disse isso, eu não poderia deixar passar. Se ele estava pensando que isso significava que eu dispensaria Jean-Claude, eu não poderia deixar passar, mas eu queria.

- O que você acha que a noite passada significou Richard?

O sorriso diminuiu, mas não desapareceu completamente.

- Significou muito para mim, Anita. Eu pensei que significaria algo para você.

- Sim, mas ...

- Mas o que aconteceu com você e Jean-Claude também. - Richard disse baixinho, tinha de ser dito por alguém.

Concordei agarrando o lençol em meu peito.

- Sim.

- Você conseguiria sair com ele depois da noite passada?

Sentei e peguei sua mão.

- Eu tenho tanta saudade de você Richard. O sexo foi bom, mas ...

Ele levantou as sobrancelhas.

- Bom, apenas agradável?

Eu sorri.

- Foi maravilhoso e você sabe disso, sabe que não era isso o que eu quis dizer.

Ele balançou a cabeça, o cabelo balançando em seus olhos.

- Eu sei. Eu perdi você também, estou perdido nos fins de semana sem você.

Levei sua mão ao meu rosto.

- Eu também.

Ele suspirou.

- Então, você vai ficar com nós dois?

Deixei sua mão cair no meu colo ainda segurando-a.

- Você iria em frente com isso?

- Talvez.- Ele se inclinou e beijou minha testa, sempre muito gentil. - Repare que eu não te pedi para desistir dele e ficar comigo.

Toquei seu rosto.

- Eu sei, estou aliviada e surpresa, obrigada.

Ele me olhou muito sério.

- Você não gosta de ultimatos Anita. Se eu obrigar você, vou perde-la.

- Por que você quer ganhar Richard? Por que não me dispensa?

Ele sorriu.

- Agora ela me dá a escolha.

- Eu te dei uma escolha antes, quero dizer, eu sei por que Jean-Claude fica comigo. Eu o ajudo em sua base de poder. Você ficaria melhor se escolhesse um lobisomem, seria seguro para a sua lupa. Eu estou ferindo a sua base de poder.

- Eu estou apaixonado por você. - ele disse simplesmente.

- Por que sinto como se devesse me desculpar por isso?

- Eu não consigo odiar você, não posso deixa-la ir.

- E?- Puxei o lençol a minha volta como um ninho. Se ele fosse me mandar embora de sua vida, eu não queria ficar nua. Bobo mas é verdade.

A nudez parecia não incomodar Richard. Francamente, era uma distração para mim.

- Eu preciso de uma namorada humana, preciso de alguém que não seja um monstro.

- Várias garotas ficariam felizes em ser sua namorada Richard.

- Eu encontrei várias, mas não tive relações sexuais com todas elas.

- Por que não?

- Quanto mais longe da lua cheia, maior é meu controle. Os olhos não mudam de cor, muito menos as mãos. Eu posso passar por humano, mas eu não sou. Você sabe o que sou, e mesmo você quase não pode aceitar isso.

Não havia nada que eu pudesse dizer para desmentir.

Ele olhou para a cama, os dedos tocando a borda do lençol. Sua voz ficou muito macia.

- No meu primeiro ano no bando, um lobo mais novo tinha uma namorada humana. Ele esmagou sua pélvis enquanto faziam amor.

Meus olhos se arregalaram.

- Isso foi um pouco bruto. - eu disse.

Richard balançou a cabeça. Ele deixou o cabelo cair desta vez, escondendo mais o seu rosto.

- Você não entende Anita. É a força, podemos levantar carros pequenos e jogá-los. Se você não percebe sua própria força, não pode controlá-la. - Ele olhou para mim através de seu cabelo. Era um gesto que Gabriel usava como amante, como se os cabelos fossem reconfortantes ou lembrassem peles.

- Você é a primeira não-licantropo que eu tive relações sexuais desde que me tornei um.

- Estou lisonjeada, eu acho.

- Eu ainda estava com medo de ferí-la como meu amigo fez com a namorada ou de milhares de outras maneiras. Durante o sexo você perder o controle. Essa é parte da diversão. Eu nunca posso perder o controle, não completamente, a menos que esteja com outro licantropo.

Olhei para ele.

- O que você está tentando dizer Richard?

- Estou dizendo para você ficar com nós dois. Que tenha relações sexuais com nós dois. Eu odeio isso, mas ...

Olhei para ele. Eu não gostei dele não terminar a frase, me deixou nervosa.

- O que Richard?

Ele jogou os cabelos para trás com as duas mãos até que seu rosto estava livre. - Se você ficar com os dois, eu vou continuar me encontrando com outros licantropos.

Eu simplesmente continuei olhando para ele.

- Diga alguma coisa. - disse ele.

Abri a boca, fechei-a, tentei novamente.

- Você quer dizer que vai continuar fazendo sexo com Lucy?

- Não com Lucy, ela é ... Você à conheceu. Ela nunca poderia ser a lupa do nosso bando.

- Então você está procurando outras candidatas?

- Eu não sei se estou ou não, mas sei que se você dormir com Jean-Claude, eu tenho o direito de dormir com outras pessoas.

Eu poderia não discutir com ele, mas eu queria.

- Você ainda está tentando me fazer desistir de Jean-Claude.

- Não. - disse ele. - Estou apenas dizendo que se você não é monogâmica para mim, então por que eu deveria ser monogâmico para você?

- Eu tinha razão. Exceto ... eu pensei que nos amávamos.

- Nós nos amamos. Eu te amo.- Ele se levantou e pegou a calça no chão. - Mas você não me ama o suficiente para desistir dele. Por que eu te amaria o suficiente para desistir de todas as outras?

Olhei para ele e senti as lágrimas começarem a encher meus olhos.

- Desgraçado.

Ele balançou a cabeça, colocou a calça sem a roupa de baixo, fechando com cuidado.

- A verdade é que eu te amo o suficiente para desistir de todas as outras. Só não sei se posso compartilhar você com Jean-Claude, só não sei se posso suportar a idéia de ver você na cama dele. A idéia de vê-lo com você me deixa assim ... - Ele balançou a cabeça. - Vou tomar um banho, ainda tenho trolls para estudar.

Eu não poderia mesmo começar a pensar sobre o que ele acabou de dizer. Era muita coisa de uma vez. Quando estou confusa, fica difícil me concentrar.

- Eu preciso ir com você e conversar com os biólogos. Precisamos descobrir se Franklin Niley é o comprador daquelas terras. O cara que perdeu o braço na noite passada tinha medo dele. Deve ser alguém muito assustador para fazer um homem hesitar quando está cercado por lobisomens. Os corretores de imóveis normais não tem esse tipo de comportamento.

Richard caminhou de volta para a cama, me pegou pela cintura e me beijou. Esmagou-me contra ele como se tivesse me marcando com a boca e me tornando dele. Eu estava ofegante quando me colocou de volta na cama.

- Eu quero tocar em você Anita, quero segurar sua mão e fazer bobagem, sorrir como um pateta, quero parecer uma pessoa apaixonada.

- Estamos apaixonados. - eu disse.

- Então, por hoje vamos jogar fora todas as dúvidas. Basta estar comigo do jeito que eu sempre quis que você estivesse. Se eu quiser tocar em você hoje, não quero ter medo. Eu quero o que aconteceu ontem à noite.

Concordei.

- Tudo bem.

- Você não parece ter certeza.

- Eu adoraria sair segurando sua mão Richard. Estou percebendo que ... Oh, inferno, o que vou dizer a Jean-Claude?

- Eu perguntei a ele sobre as marcas caso você se ferisse fisicamente, mas estava na cara o que eu estava pedindo. Acabei contando toda a história triste do meu amigo e sua namorada morta.

Olhei para ele.

- O que ele disse?

- Ele disse: Confie em si mesmo, mon ami. Você não é seu amigo com sua história tão triste e Anita não é humana. Através de nós, ela é mais do que isso. Nós dois nos aconchegamos ao redor de sua humanidade como se ela fosse a última vela acesa em um mundo de trevas, mas o nosso amor pode fazê-la menos humana e mais poderosa.

Minhas sobrancelhas subiram.

- Você se lembrou de tudo isso?

Richard olhou para mim longamente. Ele balançou a cabeça.

- Lembrei-me porque ele tem razão, nós dois te amamos por razões semelhantes. Não é apenas o poder que o atrai para você. Você o viu como um monstro, o fato de não temê-lo mais não o torna diferente.

- Parece que vocês têm conversado muito.

- Sim, foi uma experiência da ligação real do sexo masculino.- Ele parecia amargo, cansado.

- E também soa como se você discutisse com Jean-Claude se faríamos amor antes de discutir o assunto comigo.

- Nunca diretamente. - ele disse. - Nunca palavra por palavra.

- Ainda soa terrivelmente como se pedisse permissão.

Richard voltou da porta do banheiro.

- O que você teria feito se tivéssemos feito amor e Jean-Claude tentasse me matar depois? Você o mataria para me proteger?

Eu olhei para ele.

- Eu não sei. Eu ... eu não deixaria ele te matar.

Richard assentiu.

- Exatamente. Se Jean-Claude me matasse ou eu o matasse ou se você matasse um de nós, mesmo que sobrevivêssemos à morte com as marcas nos arrastando até o túmulo, mesmo se você e eu sobrevivêssemos, você nunca perdoaria a si mesma por matá-lo. Você nunca se recuperaria. Nós nunca teríamos uma vida juntos. Mesmo morto e enterrado Jean-Claude iria nos perseguir.

- Então, você tentou a sorte? - eu perguntei.

Richard assentiu.

- Sim.

- Você pediu permissão a ele?

Ele balançou a cabeça outra vez.

- Eu pedi a sua permissão.

- E ele deu.

- Acho que Jean-Claude sabe que se ele me matasse você o mataria. Que você sacrificaria todos nós por causa de um de nós.

Era verdade. Parecia estúpido colocar dessa maneira, mas ainda era verdade.

- Eu acho que faria exatamente isso.

- Então se eu aguentar e você quiser fazer isso, pode ficar com os dois partilhando sua cama. - Suas mãos se fecharam em punho. - Mas se eu não posso ter a monogamia de você, você não pode tê-la de mim. Justo?

Olhei para ele e assenti de qualquer maneira.

- É justo, mas odeio tudo isso. Odeio muito.

Richard olhou para mim.

- Bom. - ele disse, entrou no banheiro e fechou a porta. Um momento depois ouvi a água correr. Fui deixada nua em sua cama com tudo que sempre quis oferecido em numa bandeja de prata. Então por que eu estava ali sentada abraçando os meus joelhos e lutando para não chorar?


29

Eu queria me vestir, trouxe minha mala mas precisava de um banho. Eu tinha lutado muito, suado muito, sangrado muito, feito muito sexo na noite passada sem tomar banho. Me sentei encolhida em sua cama que cheirava a colônia de Richard, meu perfume, o cheiro doce de sua pele e de sexo. Eu não tinha conseguido chorar. Na verdade, se Richard tivesse prometido monogamia eterna, eu estaria com ele no chuveiro, mas ele não tinha, e eu estava confusa.

Bateram na porta, isso me assustou e eu quase ignorei. Quase fingi que ainda estávamos dormindo ou ocupados, mas a segunda batida foi mais insistente, a terceira foi tão firme que a porta tremeu.

- Polícia, abra a porta.

Polícia?

- Eu não estou vestida, só um minuto.

Eu realmente não tinha um roupão, mas tive uma súbita sensação ruim. Se ele queria que saíssemos da cidade por que vir tão cedo? Por que não nos dar tempo para recolher a bagagem e sair? A não ser que ele não se importe se saímos ou não. Talvez ele saiba sobre o que aconteceu noite passada e queria nos matar. Eu tinha tratado com policiais desonestos antes, uma vez. Eles tornavam tudo mais difícil. Se eu abrisse a porta com uma arma na mão, daria uma desculpa para que atirassem em mim. Se não me protegesse atirariam de qualquer maneira, eu estava ficando chateada.

- Abra a porta Blake.

Eu não peguei a arma, peguei o telefone. Não liguei para um advogado, Carl Belisário era bom, mas não o suficiente para evitar que eu levasse uma bala. Liguei para Dolph. O que eu queria era uma outra testemunha que não poderia ser fuzilada. Um policial de outro estado parecia uma boa aposta.

O telefone estava perto do meu travesseiro, a Browning estava sobre ele, mas se eu a pegasse estaria morta.

Dolph respondeu:

- Storr.

- Oi Dolph, é Anita. Wilkes e seus homens estão prestes a quebrar minha porta. - Porquê?

- Não sabemos ainda.

- Estou ligando de uma outra linha para os policiais deste estado.

- Porquê? Por que a polícia quebrou minha porta quando eu não abri?

- Se você não quer ajudar, por que ligou para mim Anita?

- Eu quero estar ao telefone com outro policial quando eles abrirem a porta.-

Eu podia ouvir Dolph respirar por um segundo ou dois.

- Não segure a arma em sua mão, não lhes dê uma desculpa.

E a porta se abriu, Maiden entrou primeiro por ela. Ele verificou se não tinha ninguém atrás. O policial alto com a cicatriz entrou em seguida. Ambas as armas apontadas para mim.

Eu fiquei ali, uma mão segurando o lençol branco no peito, o telefone na outra mão. Tomei muito cuidado para não me mover. Eu estava congelada com meu coração batendo tão forte que encheu minha garganta como o ar.

- Anita?- Era a voz de Dolph no meu ouvido:

- Estou aqui Sargento Storr. - Eu não gritei, mas minha voz estava alta.

O Xerife Wilkes entrou com os seus guardas, ele colocou a arma no coldre.

- Desligue o telefone Blake.

- Xerife Wilkes, por que estamos nos reunindo na cabana de Richard em uma manhã tão linda?

Ele atravessou a sala, arrancou o telefone da minha mão, e eu não queria lutar com ele. Acho que ele não estava aqui para matar ninguém e sim para machucar. Eu tentaria arduamente não dar a ele uma desculpa para fazê-lo. Eu não tornaria mais fácil para ele.

Ele colocou o telefone no ouvido apenas o tempo suficiente para ouvir Dolph, e em seguida desligou.

- Um telefonema não vai te salvar desta vez Blake.

Olhei para ele, para seus grandes olhos castanhos.

- Eu preciso me salvar Xerife Wilkes?

O telefone tocou. Ficamos ali, sete toques e Wilkes pegou e desligou-o novamente sem atende-lo. Ele estava tão irritado que estava tremendo. Um tremor fino percorria suas mãos e braços. Seu rosto estava vermelho com o esforço para não fazer algo violento ou lamentável.

Eu estava lá me esforçando para parecer neutra e controlada, procurando parecer inofensiva com os meus longos cabelos despenteados, vestindo apenas um lençol, não era difícil parecer assim.

A porta do banheiro foi aberta e Richard saiu de lá sem nada além de uma toalha. A arma virou e apontou para ele. Richard congelou na porta com o vapor ondulando em torno dele saindo do banheiro como nuvens.

Houve muita gritaria. Policiais gritando: - Mãos ao alto! Deite no chão!

Richard atou os dedos em cima de sua cabeça e fez tudo calmamente. Ele ouviu quando entraram, saiu do banheiro sabendo que estavam aqui fora. Ele poderia ter pulado a janela, mas preferiu ficar.

Claro, se eles realmente pensassem que Richard era perigoso teriam ido atrás dele. Os policiais não estavam nos tratando como criminosos, estavam agindo como criminosos.

Richard estava de pé com arma de Maiden pressionando suas costas enquanto era algemado. O policial da cicatriz o deixou de joelhos com seus longos cabelos molhados. A toalha ficou no lugar.

O telefone tocou três vezes, cada toque parecia mais alto que o último.

Wilkes pegou o telefone e arrancou-o da parede, atirando-o contra a parede oposta. Ele olhou para mim respirando tão forte que parecia doloroso.

Ele falou com muito cuidado, como se tivesse medo de gritar, com medo de que, se perdesse o controle da voz, perderia tudo.

- Eu disse para você sair da minha cidade.

Eu mantive a minha voz muito suave, muito tranquila.

- Você me deu até o anoitecer de hoje Wilkes. São nove horas da manhã. Qual é a pressa?

- Você vai embora hoje?

Abri a boca para mentir mas Richard respondeu:

- Não.

Merda.

Wilkes me agarrou pelo braço e me empurrou para Richard, eu tropecei no lençol e ele me arrastou os últimos metros. Me esforcei muito para manter o lençol cobrindo o meu corpo. Hematomas tudo bem; ficar nua na frente deles definitivamente não era algo que eu aceitasse.

Wilkes me jogou no chão ao lado de Richard, ele tentou chegar perto de mim e o Sr Cicatriz bateu em seu ombro com a coronha da espingarda.

Eu toquei o braço de Richard.

- Está tudo bem Richard. Só mantenha a calma.

O policial com a cicatriz disse:

- Deus, você é uma puta fria.

Eu olhei para Wilkes, ele era o único responsável. Ele era o único que ditaria o quão ruim isso poderia ser. Se ele ficasse calmo poderia controlar os outros. Se perdesse a calma, nós estaríamos na merda.

Wilkes apenas olhou para mim. Sua respiração havia diminuído, mas seus olhos ainda eram selvagens.

- Deixe a cidade Sr. Zeeman, deixe a cidade hoje.

Richard abriu a boca e eu apertei seu braço. Ele diria a verdade se eu não o fizesse se calar. A verdade não era o que precisávamos agora.

- Nós vamos sair Wilkes. Você fez o seu ponto. - eu disse.

Wilkes balançou a cabeça.

- Acho que você está mentindo Blake. Acho que Richard está planejando ficar. Acho que você diria qualquer coisa para nos tirar deste quarto agora.

Era a verdade, e tornava difícil argumentar.

- Seríamos tolos se ficássemos Wilkes.

- Eu acho que Richard é um tolo, um coração mole, literalmente um amante de árvores. Não é com você que temos que convencer Anita, é com seu namorado.

Eu não discuti a parte "namorado", não podia mais. Debrucei-me um pouco sobre Richard.

- Como você pretende convencê-lo?

Wilkes afirmou,

- Thompson.

O policial veio até nós, Maiden parecia incerto como se as coisas estivessem rápidas demais para ele, mas manteve o revólver na mão.

- Thompson nunca bateu em uma mulher com uma arma, Miss Blake.

Thompson sorriu, um grande sorriso bem humorado.

- Não Xerife, nunca bati.

Ele pegou dois pedaços do tecido e amarrou meus pés. Apertou o bastante para eu tropeçar nele. Puxou meu braço para trás me segurando contra ele. Seu cinto castanho pressionado no meu estômago, mas manteve o resto de seu corpo longe de mim.

Senti mais do que ouvi Richard atrás de mim e olhei para ele. Maiden tinha trocado a arma pelo bastão. Ele tinha o bastão debaixo do queixo de Richard pressionado contra seu pescoço acima do pomo de Adão para que não esmagasse acidentalmente sua traquéia.

Thompson disse:

- Seu amante não pode lutar ainda, nós ainda não fizemos nada para deixá-lo animado.

Eu não gostei do comentário, ele pegou o lençol e tentou arrancá-lo das minhas mãos. Lutei contra ele e ele se afastou de mim segurando a ponta do tecido, mas eu continuei com o lençol.

- Thompson. - Wilkes disse - pare de brincar com esse maldito cabo-de -guerra e acabe logo com isso.

Thompson deslizou seus dedos para baixo na frente do lençol e puxou com toda a força. Ele deixou-me de joelhos em uma posição deselegante, mas eu ganhei. Mantive o lençol. Eu estava engolindo as palavras, não tinha uma idéia melhor, eu não sou boa de briga quando estou nua, me sinto indefesa.

Ele agarrou a parte de trás da minha cabeça e usou o meu cabelo para me jogar contra a cama. Eu poderia ter resistido, se eu quisesse deixar um punhado de cabelo e sangue em suas mãos não faria mal, e se eu estivesse disposta a começar a matar pessoas, isso ia acontecer. Quanto mais eu lutasse, pior seria.

Enquanto eu apanhasse um pouco em benefício de Richard, poderia lidar com isso, era o que eu dizia a mim mesma enquanto Thompson arrancava metade do meu cabelo.

Ele segurou minha cabeça colocando bastante peso em seu braço quase me machucando. O lençol escorregou de minhas costas para a cintura. Ele puxou mais expondo a minha bunda.

Lutei um pouco depois. Ele apertou minha cabeça com tanta força que meu rosto ficou pressionado na cama e tornava difícil respirar. O colchão não era firme o suficiente para esta merda. Eu fiquei quieta lá, não queria que ele empurrasse o meu rosto no colchão até me sufocar. A coisa já estava ruim, se continuasse eu nunca mais acordaria.

- Fique quieta ou vou colocar algemas em você. - disse Thompson.

Fiz o que ele disse, Richard poderia quebrar um par de algemas, eu não podia. Tanto quanto eu o amava, não queria que ele fosse a única pessoa livre em uma sala cheia de policiais ruins. Se ele realmente fosse lutar teria que matar alguem. A meu conhecimento, Richard nunca tinha matado um ser humano, ele estava bastante enjoado de matar outros metamorfos.

Thompson puxou meus braços para longe do meu peito e espalhou minhas armas na cama. Ele deslizou as mãos sobre as minhas, em meus braços, como se a pele nua pudesse esconder outras armas. Suas mãos deslizaram pelas minhas costas nuas, indo ao longo da minha cintura, deslizando sobre minhas nádegas e entre as minhas coxas, separando as minhas pernas. Isso me lembrou da noite passada com Richard, muito íntimo.

Levantei-me.

- O que é isso, uma simulação de estupro?

Thompson me deu um tapa na parte de trás da cabeça.

- Fique quieta, ou vou fazer você ficar parada.- Mas suas mãos não estavam brincando com minhas coxas. Ele podia me bater mais e mais se as suas mãos não estivessem lá embaixo.

- Isso tudo pode parar Richard. - disse Wilkes. - Ou podemos fazer mais. Basta deixar a cidade.

- Você vai matar os trolls. - disse Richard.

Eu me virei para olhar para Richard, queria gritar para ele: - Apenas minta!- Nós poderíamos investigar mais tarde, eu queria que ele apenas os enganasse agora. Eu não podia dizer isso em voz alta. Olhei para ele e fiz algo que raramente tinha tentado, tentei abrir o vínculo entre nós. Eu não estendi minhas mãos ou os meus braços. Me virei para ele com coisas que eu não podia ver, mas podia sentir. Eu abri alguma coisa dentro dele e senti que estava dando certo. Eu vi a ampliação de seus olhos, senti a batida do seu coração.

Thompson agarrou meu ombro e me empurrou de volta para a cama. Isso quebrou a minha concentração.

Houve outra batida na porta, o outro policial que estava com Thompson no primeiro dia entrou pela porta. Ele deu uma olhada no quarto parando na cama, seu rosto ficou neutro.

- Há uma multidão reunida, Xerife.

- Uma multidão? - Wilkes perguntou. - Pesquisadores de árvores e seus preciosos trolls. Se for apenas seus guarda-costas, foda-os.

O policial abanou a cabeça.

- É uma enxurrada de pessoas, Xerife.

Wilkes suspirou. Ele olhou para Richard.

- Este é o último aviso Zeeman. - Ele andou até onde eu estava e Thompson recuou. Agachou-se, assim estaríamos olho a olho. Eu peguei o lençol de volta e sustentei seu olhar.

- Onde estão Chuck e Terry?- ele perguntou.

Pisquei e mantive meu rosto neutro. Uma vez, não muito tempo atrás, não seria capaz de fazer isso. Agora meu rosto não mostrava nada. Eu estava em branco e vazia como o lençol em torno do meu corpo.

- Quem?

- Thompson. - Wilkes disse.

Senti Thompson se mover atrás de mim.

- Será que ele faz todo o trabalho sujo Wilkes? Você não é homem o suficiente para abusar de uma mulher desarmada?

Wilkes me deu uma bofetada com as costas da mão que me jogou contra a cama. Senti o sangue em minha boca. Eu provavelmente poderia ter bloqueado o tapa, mas o segundo golpe seria mais forte, além disso eu o provoquei. Não quero dizer que merecia, quero dizer que preferia que Wilkes abusasse de mim e não Thompson. Não queria estar à mercê de Thompson sem Wilkes lá para controlá-lo, Thompson não era um policial, era um valentão com um distintivo.

O segundo golpe foi um tapa, o terceiro também. Os golpes eram rápidos e fortes. Eu via pontos de luz e estrelas, e ele ainda não tinha fechado o punho.

Wilkes ficou em cima de mim, a respiração ofegante, mãos em punho do lado do corpo. A tremedeira estava de volta como se ele não estivesse lutando para fechar os punhos. Nós dois sabíamos que ele não conseguiria parar. Se ele me batesse uma vez com o punho, ia querer mais. Ele me bateu até que alguém o puxou para longe. Eu não tinha cem por cento de certeza se alguem no quarto conseguiria tirá-lo de cima de mim.

Olhei para ele com um fio de sangue no canto da minha boca, lambi o sangue com a língua e olhei em seus olhos castanhos. Vi o abismo no final do seu olhar. O monstro estava ali, mal enjaulado. Eu tinha subestimado o quão perto da borda Wilkes estava, soube naquele momento que este último aviso era exatamente isso: uma última advertência. A última chance, não apenas para nós, mas para Wilkes. A última chance dele ir embora sem sangue nas mãos.

O policial na porta disse:

- Xerife, temos mais de vinte pessoas aqui fora.

- Não podemos fazer isso com uma platéia. - disse Maiden.

Wilkes ficou olhando para mim e eu sustentei seu olhar. Era quase como se estivéssemos com medo de olhar para longe, como se um pequeno movimento libertasse o monstro da gaiola. Talvez não seja de Thompson que eu devesse ter medo.

- Xerife. - Maiden disse suavemente.

- Você tem vinte e quatro horas. - disse Wilkes, a voz tão grave que era quase doloroso de ouvir - Nós vamos fazer um relatório do desaparecimento de Chuck e Terry. Então voltaremos Miss Blake, voltaremos e vamos levá-la para interrogatório.

- O que você vai anotar no relatório a respeito do porque pensou que eu poderia saber onde estão?

Ele voltou a olhar para mim, pelo menos o tremor tinha parado.

Eu mantive a minha voz neutra, mas disse:

- Eu tenho certeza que algum amante de árvores chamou a polícia noite passada, mas ninguém veio. Vocês são a lei nesta cidade Wilkes. Você era tudo o que essas pessoas tinham, você não veio porque sabia o que estava acontecendo. Você pensou que Chuck e Terry tinham conseguido me matar, então passou por aqui esta manhã para pegar os corpos, mas não há corpos.

- Você os matou. - ele disse, sua voz era suave e firme.

Eu balancei a cabeça.

- Não, eu não fiz isso. - Era tecnicamente verdade, eu não os tinha matado. Eu gostaria, mas não os matei.

- Você está dizendo que não os viu?

- Eu não disse isso, só disse que não os matei.

Wilkes olhou para trás, para Richard.

- Os escoteiros não fariam isso.

- Nunca disse que fizeram.

- Aquele cara que estava com você, Jason? Ele não poderia ter matado os dois.

- Não. - eu disse.

- Você está me provocando Blake. Você não quer me ver irritado.

- Não, eu não Xerife Wilkes. Eu realmente não quero você bravo, mas não estou mentindo, eu não os matei. Não sei onde estão. - Isso pelo menos era totalmente verdade. Estava começando a me perguntar se Terry tinha chegado ao hospital, acho que ele provavelmente não tinha. O bando de Verne quis matá-lo depois que prometi que estaria seguro.

- Eu já era policial antes de você nascer Blake. Você fez muita besteira para ficar fora disso, está mentindo para mim e é boa no que faz.

- Eu não matei seus dois amigos, Xerife. Não sei onde eles estão. Essa é a verdade.

Ele voltou ao meu lado

- Este é o último aviso Blake. Vá embora da minha cidade, ou eu vou jogá-la no próximo buraco. Eu vivo aqui há muito tempo, se eu esconder um corpo ele nunca mais será encontrado.

- Muitas pessoas sumiram por aqui? - Eu perguntei.

- Pessoas desaparecidas são ruins para o turismo. - disse Wilkes, ele se levantou. - Mas isso acontece, não deixe que aconteça com você. Saia agora, hoje. Se não for embora por bem, irá por mal.

Olhei para ele e sabia que falava sério.

Concordei.

- Nós somos a história.

Wilkes voltou-se para Richard.

- O que foi escoteiro? Você concorda? Isto é suficiente? Ou será que tem que ficar pior?

Olhei para Richard e pedi para mentir. Maiden ainda tinha um bastão esticado em sua garganta. A toalha tinha caído e ele estava nu, com os pulsos ainda atrás das costas.

Richard engoliu e então disse:

- É o suficiente.

- Vai cair fora?- Wilkes fez uma pergunta.

- Sim. - disse Richard.

Wilkes assentiu.

- Eu não posso te dizer como estou feliz em ouvir isso Sr. Zeeman. Vamos meninos.

Maiden muito lentamente tirou o bastão da garganta de Richard e recuou.

- Eu vou tirar as algemas se você prometer se comportar.

- Pode tirar não é Richard?- Wilkes afirmou. - Tire as algemas, eles não vão causar mais problemas.

Maiden não parecia tão convicto quanto Wilkes, mas fez o que foi dito. Tirou as algemas.

Richard esfregou os pulsos e não se incomodou em pegar a toalha caída. Ele parecia estar confortável sem roupas. A maioria dos licantropos ficava.

Maiden e Wilkes foram até a porta, mas mantiveram os olhos em nós dois, como se ainda esperassem problemas. Um bom policial nunca vira as costas completamente.

Thompson foi o último a se mover em direção à porta. Ele disse,

- Você é realmente uma coisinha adorável.

Nada mais tinha me feito corar, eu odiava aquilo, mas não consegui detê-lo.

Ele riu.

- Espero que você não saia da cidade, espero que fique porque realmente quero outra chance de ficar a sós com você.

- Meu objetivo na vida Thompson, é nunca estar sozinha com você.

Ele riu de novo enquanto caminhava para fora. Apenas Maiden esperou na porta por Wilkes.

O xerife disse:

- Eu espero nunca mais te encontrar Blake.

- Concordo Xerife. - eu disse.

- Sr. Zeeman.- Ele deu um aceno de cabeça como se tivesse apenas nos dando um aviso. Sua linguagem corporal mudou inteiramente quando passou pela porta. Apenas um bom policial conversando com alguns estranhos sobre distúrbios na noite passada.

Quando a porta se fechou atrás deles, Richard veio para mim. Ele começou a tocar meu rosto, depois parou, os dedos pairando impotentes ao redor do meu rosto.

- Você se machucou?

- Um pouco.

Ele me abraçou puxando-me suavemente contra seu corpo.

- Vá para casa Anita, volte para Saint Louis.

Me afastei o suficiente para ver seus olhos.

- Oh, não. Se você ficar, eu fico.

Ele embalava meu rosto em suas mãos.

- Eles vão machucá-la.

- Não se acharem que fomos embora. O bando de Verne pode nos esconder?

- Quem você acha que está lá fora no meio da multidão?

Eu olhei em seu rosto.

- Será que mataram o outro homem? Será que o bando de Verne matou Terry depois que saímos?

- Eu não sei Anita.- Ele me abraçou novamente. - Eu não sei.

- Prometi a ele que viveria se nos contasse o que sabia.

Ele segurou meu rosto com as mãos.

- Você poderia matá-lo durante a luta na noite passada e nem pestanejar, mas está chateada porque prometeu segurança a ele?

Me afastei de Richard puxando o lençol sobre os joelhos.

- Eu dei minha palavra, e isso significa algo. Eu dei minha palavra que ele viveria. Se estiver morto, quero saber o porquê.

- Os policiais estão do outro lado. Não intime Verne lá fora, Anita. Eles estão nos ajudando.

Ajoelhei-me perto da mala do outro lado da cama e comecei a escolher algumas roupas.

- Não Richard, sei que temos um ao outro e temos Shang-Da, Jason, Asher e todos os outros que trouxemos connosco. Se o bando de Verne matou Terry, não temos que engolir isso. Não podem fazer o que querem só porque estão nos ajudando e eles sabem disso.

Peguei algumas roupas e fui para o banheiro com o lençol ainda em torno de mim. Por alguma razão, eu não queria ficar nua na frente de ninguém agora, nem mesmo de Richard. Fiz uma parada no caminho, peguei a Browning sob meu travesseiro e empilhei em cima da roupa. Não ficaria mais desarmada pelo resto da viagem. Se alguém não gostasse, poderia me enfrentar. Isso incluiu todos os que estão próximos de mim. Embora, para crédito de Richard, ele não disse uma única palavra sobre a arma ou qualquer outra coisa.


30

Eu queria um tempo e um banho quente. Liguei novamente para Dolph para que soubesse que eu não estava morta, mas tudo que consegui fazer foi deixar uma mensagem. Eu queria dar o nome de Franklin Niley e ver se havia alguma conexão criminosa. Geralmente Dolph não compartilhava informações da polícia comigo a não ser que estivessem envolvidos em um caso, mas eu esperava que ele fizesse uma exceção. Policiais sujos são as coisas menos favoritas de Dolph. Ele poderia me ajudar a respeito de Wilkes.

Coloquei meias brancas, calça jeans e uma blusa azul royal. Eu ia colocar um vestido curto e uma camisa de mangas compridas por cima para camuflar a Browning. O coldre irritava um pouco nas bordas, mas quando se trata de usar roupas no verão para ocultar as armas as opções são ilimitadas. Eu poderia usar um short se não tivesse planejado vagar pela floresta com biólogos e trolls. Eu teria que me proteger da vegetação rasteira.

Lavei e prendi meus cabelos enquanto ainda estavam úmidos, como eu não me incomodei em usar maquiagem, foi uma ducha rápida. Olhei o espelho oval e limpei o vapor com a toalha. As contusões do espancamento tinham desaparecido como se nunca tivessem estado lá. A minha boca estava ligeiramente inchada de um lado com uma mancha vermelha como uma ferida. Nesse ritmo eu poderia me curar em um dia.

Ouvi vozes do outro lado da porta. Uma das vozes era de Richard a outra tinha um tom baixo como um resmungo, parecia a voz de Verne. Bom, eu precisava falar com ele, havia mais vozes. Ouvi a voz de Nathaniel, alto e claro:

- Eu não sabia mais o que fazer.

O bando estava todo aqui. Fiquei imaginando qual era o tema da conversa, tinha algumas idéias.

Coloquei a Browning na frente da calça jeans. Enquanto eu não me sentasse ficaria bem. O cano era longo demais para me deixar confortável. Abri a porta e a conversa parou como se eu tivesse puxado um interruptor. Acho que eu era o tema da conversa.

Nathaniel estava mais próximo de mim, ele usava um shorts de corrida de seda e uma blusa combinando. Seus longos cabelos estava em uma trança grossa em suas costas, ele parecia um anúncio de ginásio.

- Eu estava de guarda Anita, mas eles são policiais, eu não sabia o que fazer. - Ele desviou o olhar e se virou, tive que pegar o seu braço para puxá-lo de volta. Ele virou os olhos para mim.

- Da próxima vez dê apenas um grito de alerta. Isso é tudo o que você poderia ter feito de diferente.

- Sou uma droga como guarda-costas. - ele disse.

Esta era uma espécie de verdade, mas eu não queria dizer na sua cara, realmente não havia muito o que ele pudesse ter feito.

Olhei para Shang-Da. Ele estava sentado de costas para a parede, usava calça preta e camisa de mangas curtas. As marcas de garras no rosto se transformaram em vergões vermelhos. O que deveria ter sido cicatrizes que levaria para o resto de sua vida estava se curando.

- Se você estivesse de plantão Shang-Da, teria feito diferente?- Mantive o braço em Nathaniel quando perguntei.

- Eles não teriam conseguido passar por mim sem a sua permissão.

- Você teria lutado se eles tentassem algemá-lo?

Ele parecia pensar por um ou dois segundos, então olhou para mim.

- Eu não gosto de ser algemado.

Puxei Nathaniel em um meio-abraço.

- Veja Natanael, nem mesmo nosso guarda-costas teria encontrado uma boa desculpa. Não se preocupe com isso.

Secretamente eu planejava que Nathaniel nunca mais ficasse de guarda sozinho. Eu também queria o mesmo para Shang-Da, mas por motivos muito diferentes, eu não confiava em qualquer um deles sozinho.

Verne sentou-se na grande cadeira perto da janela. Exceto pela camiseta diferente, ele estava vestido como eu o tinha visto na primeira vez. Talvez isso fosse tudo que ele tinha. Jeans e uma fonte infinita de camisetas diferentes. Ele amarrou seu cabelo longo e envelhecido em um rabo de cavalo frouxo.

Richard havia colocado jeans e secado o cabelo. Ele passaria o dia inteiro usando apenas jeans ou shorts, andando descalço dentro de casa. A camiseta só apareceria quando ele fosse para fora, ele estava confortável com seu corpo. Claro, quando você tem um corpo como o dele, por que não?

- Você está bem? - Verne perguntou.

Eu dei de ombros.

- Vou sobreviver. E por falar em vida, como está Terry? Será que o hospital conseguiu recolocar seu braço?

Richard estendeu a mão para mim, hesitei, depois peguei sua mão. Deixei-o me colocar de joelhos ao lado dele. Tirei a Browning para fora da calça para que pudesse me sentar mais confortável. Encostei contra o seu peito nu, seus braços eram quentes e muito sólido, coloquei minha cabeça contra seu peito. Eu mantive contato visual com Verne o tempo todo.

Não doeu manter a Browning nua na minha mão.

Richard beijou meu cabelo úmido, ele estava tentando me lembrar de ser uma boa menina e não começar uma outra luta. Ele estava certo de alguma maneira. Nós certamente já tivemos muitas lutas em pouco tempo, não seria necessário iniciar outra.

- Responda-me Verne.

- A maior parte do bando se passa por humano Anita. Você realmente acha que aquele idiota teria mantido a boca fechada? - Ele inclinou-se na cadeira, mãos juntas. Sr. Sinceridade.

- Ele era a nossa única ligação com os outros, Verne. O único que estava disposto a falar com a gente.

Os braços de Richard me apertaram um pouco mais. Percebi que se ele me apertasse, eu não seria capaz de apontar a arma.

- Eu não vou matá-lo Richard. Fica frio ok?

- Não posso apenas abraçar você? - ele perguntou, a voz tão perto do meu ouvido que eu podia sentir sua respiração.

- Não. - eu disse.

Seus braços deslizaram frouxamente em torno da minha cintura quase colocando as mãos no meu colo. Sob outras circunstâncias, teria sido uma posição interessante, mas quando tenho um ponto para fazer não me distraio.

- O bando é a minha prioridade Anita. Tem que ser.

- Eu nunca faria nada para prejudicar o seu bando Verne, mas dei minha palavra que, se ele nos contasse o que sabia, nós o levaríamos ao hospital para ser tratado. Eu dei a minha palavra, Verne.

- Você leva a sério a sua palavra. - ele disse.

- Sim.

- Eu respeito isso.

- Você o matou não foi?- Eu perguntei.

- Não pessoalmente, mas dei a ordem.

Os braços de Richard voltaram a me apertar. Eu o senti lutando para me fazer relaxar. Ele esfregou o queixo contra o meu cabelo molhado, esfregando as mãos para cima e para baixo nos meus braços nus como se desejasse acalmar um cachorro que estava com medo e poderia morder alguém.

- E eu dei a minha palavra. - eu disse.

- O que posso fazer para reparar esse erro entre nós?- Verne perguntou.

Eu queria dizer: - Nada -, mas Richard estava certo, precisávamos deles. Ou precisávamos de alguém, e eles eram tudo que tínhamos. O que ele poderia fazer para reparar o erro? Ressuscitar os mortos era o meu departamento, e trazê-lo de volta como zumbi não seria a mesma coisa de qualquer maneira.

- Na verdade Verne, eu não sei, mas vou pensar em alguma coisa.

- Quer dizer que eu lhe devo um favor?

- Um homem está morto Verne. Teria que ser um grande favor.

Ele me olhou por um longo momento, confirmando em seguida com a cabeça.

- Acho que sim.

- Tudo bem. - eu disse - Vamos deixá-lo lá por enquanto, mas se eu pedir alguma coisa a você, mais uma vez, não é uma boa ideia me decepcionar.

Ele deu um rápido sorriso.

- Não sei se eu estou ansioso ou com medo de reunir você com Roxanne.

- Quem é Roxanne? - Eu perguntei.

- Sua lupa. - disse Richard.

Verne disse.

- Richard disse que você e Roxanne podem se gostar ou se matar. Agora entendi o que ele quis dizer.

Ele caminhou em nossa direção e esticou a mão como se oferecendo para me ajudar a levantar do chão, chame de palpite, eu pensei que era mais do que isso.

Richard abriu os braços e pegou a mão de Verne. Ele não tentou me puxar, apenas segurou a minha mão, a outra ainda segurava a Browning.

- Se você fizer alguma coisa que prejudique o meu bando não posso prometer, mas fora isso, tem a minha palavra. Pergunte a ele sobre mim.- Ele sorriu de repente, olhou de mim para Richard. - Deus, ela é uma coisinha.

Richard sabiamente não se pronunciou.

Verne ajoelhou-se diante de mim.

- Para selar a minha palavra vou oferecer-lhe o meu pescoço, você entende o simbolismo?

Concordei.

- Se eu fosse um lobo poderia rasgar sua garganta. É um ato de confiança.

Ele balançou a cabeça e a inclinou para um lado de modo que a grande veia em seu pescoço ficasse esticada sob a pele de sua garganta, segurou a minha mão o tempo todo.

Olhei para trás, para Richard.

- O que eu devo fazer?

- Beije a veia em seu pescoço ou morda suavemente sobre ela. Quanto mais você morder, menos você confia na pessoa, ou se mostra mais dominante que ela.

Fiquei olhando para Verne, ele estava sendo muito bom. Um fio de poder lhe escapava, e eu estava segurando sua mão, pele sobre pele. Senti o quão poderoso ele era, ele poderia ter feito a minha pele se arrepiar se quisesse.

Apertei a mão dele e fiquei em suas costas. Joguei a Browning na cama e passei a mão ao longo de seu pescoço encontrando a grande veia com a ponta dos dedos.

Olhei para Richard. Eu quase podia ver o "não" em seu rosto, o quase aviso para não fazer o que eu estava pensando. De certa forma ficou ainda mais tentador.

Verne me puxou para ele, puxando minha mão para seu peito como se eu estivesse abraçando-o. Levei minha boca até seu pescoço como se tivesse feito isso antes.

Ele tinha um cheiro quente como se tivesse sido expostos ao sol. O cheiro das árvores e do chão agarrado à sua própria pele. Corri meu nariz um pouco acima de sua pele. Eu podia sentir o cheiro do sangue, era como se a pele de seu pescoço estivesse se tornando mais fina, até que não houvesse nada entre o cheiro de sangue doce, um calor flexível, como se a pele em si quase não existisse.

Minha boca pairou sobre aquele calor pulsante. Eu estava me afogando no cheiro do seu corpo. A necessidade de colocar a minha boca sobre aquela veia pulsante era quase irresistível. Eu não confiava em mim para fazê-lo, ou melhor, não confiava em mim para muitas coisas. Richard me fez passar por provas de vida de sangue de outras pessoas? Será que ele sentia a sua vida como algo frágil e palpável?

Talvez eu tenha hesitado por muito tempo, talvez Verne sentisse o poder que estava tentando me oprimir. Ele quebrou o seu poder sobre o meu corpo em uma corrida que me fez tremer e suspirar. Era muito. Era tentador como oferecer uma bebida para um homem morrendo de sede.

Meus dentes se fecharam naquele calor. A carne do pescoço dele encheu minha boca, minha língua encontrou seu pulso, e eu fui um pouco mais para baixo, tentando sugar, tentando ir além da carne.

Seu poder rugiu sobre mim e algo lá dentro se derramou como duas ondas agitadas e destruidoras. E muito longe, havia uma praia, e tudo era levado no quebrar das ondas.

Senti meus olhos abertos, e não eram meus olhos. Jean-Claude abriu os olhos a milhas de distância, surpreendido de um sono que deveria durar mais uma hora ainda. Chocado e acordado por sua fome, a fome que precisava ser saciada.

Minhas mãos foram tiradas desse calor pulsante. Voltei a mim com Richard me puxando para trás completamente indefesa. Verne ainda segurava a minha mão. Ele estava segurando, tentando me afastar, seu pescoço estava sangrando. A impressão quase perfeita dos meus dentes em sua carne. Sua mão caiu quando Richard me puxou para longe dele.

Os olhos de Verne pareciam pesados, ele respirou profundamente e riu. A risada baixa fez meu corpo reagir.

- Deus, Jesus, menina, o que diabos foi isso?

Eu não lutei para tentar agarrá-lo, não lutei para terminar o que havia começado. Fiquei passiva nos braços de Richard piscando para a luz da manhã, olhando para o que eu tinha feito no pescoço de Verne e não entendendo.

Quando consegui falar perguntei:

- Que diabos foi isso?

Richard embalou-me em seus braços como se eu fosse uma criança. Desde que eu não tinha certeza do que estava acontecendo, não reclamei sobre isso. Sentia-me distante e horrível.

Ele abraçou-me contra ele beijando minha testa.

- Ficarmos juntos reforçou as marcas, Jean-Claude disse que isso poderia acontecer.

Olhei para ele, eu ainda estava tendo problemas em focar alguma coisa.

- Você está dizendo que o sexo fortaleceu seu poder sobre nós dois?

Richard parecia pensar sobre isso por um segundo ou dois.

- Ele reforçou a nossa posição sobre ele.

- Me solte.

Ele fez o que pedi. Deslizei de joelhos incapaz de me sustentar e empurrei suas mãos para longe quando ele tentou me ajudar.

- Você sabia e não me contou.

- Teria feito diferença noite passada? - ele perguntou.

Eu olhei para ele, as lágrimas ameaçando cair, eu queria dizer que sim mas menti.

- Não. - eu disse.

Na noite passada seria preciso mais do que o conhecimento das marcas para me manter longe da cama de Richard. Claro, na noite passada eu não tinha entendido o que significava e agora tentei abrir a garganta de um homem.

Eu caí pela segunda vez. Não era falta de energia, era quase como estar bêbada.

- O que está acontecendo comigo?

Shang-Da respondeu:

- Vampiros, eu já vi isso acontecer. Se eles bebem de alguém poderoso ou bebem demais ... ganham poder.

- Merda.

- Estou me sentindo muito bem mesmo. - disse Verne. Ele tocou a mordida em seu pescoço. - Nunca deixei um vampiro me morder antes. Se ela se sentir bem, talvez eu faça novamente.

- Melhor. - afirmou Nathaniel. - Ela pode se sentir muito melhor do que isso.

- Não o vampiro... o poder. - disse Richard - Potência, Verne, entre eu, Anita e Jean-Claude.

- É uma espécie de coquetel de suicídio sobrenatural. - eu disse e ri.

Eu estava deitada no chão escondendo o rosto nas mãos e lutando contra um desejo arrebatador. Eu queria sentir aquele calor novamente no meu corpo como um cobertor, e embaixo do calor brilhante sentir a escuridão. Senti Jean-Claude como um buraco negro sugando todo o nosso calor, toda a nossa vida. E nesse momento, eu soube de duas coisas. Primeiro: ele soube quando Richard e eu fizemos amor, ele sentiu. Segundo: ele se alimentou de nossas vidas, assim como nós nos alimentamos da sua escuridão. Bebemos de sua morte e de seu frio, tão certo como ele provou a carne aquecida pelo sol de nossos corpos. E todos nós chamamos isso de poder. A luz e a escuridão. O frio e o quente, a vida e a morte. As marcas nos aproximavam, a linha entre a vida e a morte era um borrão. Senti o coração de Jean-Claude bater mais forte do que jamais bateu em mais de quatrocentos anos, senti a sua alegria. E naquele momento, eu o odiei.


31

Duas horas mais tarde Richard, Shang-Da e eu estávamos vagando pela floresta em busca de biólogos e trolls. Tínhamos até o anoitecer para sair da cidade, e como não estávamos saindo, poderíamos continuar com nossos planos originais. Corremos atrás deles como formigas numa embalagem de doce. Gostaríamos de fazer as malas e sair. Na verdade deveríamos chamar o Xerife quando estivéssemos prontos para sair. Wilkes tinha gentilmente nos oferecido uma escolta para fora da cidade antes de escurecer. Depois de escurecer acho que a oferta seria uma bala e um buraco em algum lugar.

Segui Richard através da floresta, ele se movimentava entre as árvores como se pudesse ver as aberturas ou como se elas se movessem em torno dele. Eu sabia que não era verdade, senti a presença de muita energia sobrenatural, mas Richard fazia parecer fácil. Não era o lobisomem, ele estava sendo o "Sr. Naturalista" . Botas de caminhada, camiseta verde e azul com a foto de um peixe-boi, eu tinha uma camiseta idêntica em casa, um presente de Richard. Ele estava decepcionado por eu não ter trazido a minha. Mesmo se eu tivesse, não teria usado. Eu não estava muito certa da moda para casais, além disso ainda estava zangada com ele por ter me escondido as coisas, eu não deveria ter sido a única dos três a não saber o que significava ter relações sexuais com Richard, eu deveria saber que nos tornaria mais próximos.

Claro, era difícil ficar brava com ele quando sua camiseta se agarrava ao seu corpo como uma segunda pele. Seu cabelo grosso estava preso em um rabo de cavalo frouxo. Toda vez que ele passava por um raio de luz do sol, seu cabelo brilhava com estrias de cobre e ouro. Era difícil ficar zangada quando essa visão fazia meu peito se apertar.

Richard se movia suavemente a nossa frente. Eu o seguia com meu tênis Nike, consigo andar bem no mato, não sou tão boa como Richard, mas também não sou tão ruim.

Shang-Da por outro lado não era um lenhador. Movia-se através do bosque quase delicadamente, como se tivesse medo de pisar em alguma coisa. Sua calça preta e camisa branca pareciam grudar em coisas que não incomodavam nem a Richard, nem a mim. Os sapatos de Shang-Da tinham começado a viagem num preto brilhante e polido, agora não estavam mais assim. Mesmo os sapatos masculinos não foram feitos para andar no mato.

Havia uma brisa hoje. As folhas das árvores farfalhavam e silenciavam com o vento. Era um som fresco no alto, mas o vento nunca chegava perto do chão. Nós andávamos através de um mundo de calor verde e sólidos troncos de árvores. A luz do sol brilhava nas folhas e no chão, deixando manchas amarelas antes de entrarmos nas sombras mais pesadas. A sombra era alguns graus mais fria,e ainda mais pesada que o calor. Tudo ficava quase morto até o meio-dia, até mesmo os insetos se calavam com o calor.

Richard parou logo à nossa frente.

- Você ouviu isso? - perguntou baixinho.

Shang-Da disse,

- Alguém chorando, uma mulher.

- Não ouvi coisa alguma. - eu disse.

Richard assentiu.

- Talvez uma mulher.

Ele andou através das árvores agachado com as mãos quase tocando o chão. Seu poder se derramando como o despertar de um navio.

Eu o segui, tentei olhar para onde estava indo, mas tropecei e cai. Shang-Da me ajudou a ficar de pé, se afastou e correu. Eu parei de olhar para os meus pés ou as árvores, olhei apenas para as costas de Richard. Eu imitava seus movimentos confiando que, se ele podia passar entre as árvores eu também podia, saltei sobre troncos que não via até que ele se virou sobre eles, era quase hipnótico. O mundo reduzia para acelerar o seu corpo através das árvores. Uma e outra vez eu quase bati nas árvores me movendo rápido demais. Estava me movendo mais rápido do que a minha mente poderia funcionar. Se Richard saltasse de um penhasco eu o teria seguido porque eu só estava me movendo. Era como se eu tivesse desistido de todo o meu corpo. Eu estava apenas movimentando os músculos. O mundo era um borrão de verde e luz, sombra e o corpo de Richard deslizando, correndo por entre as árvores.

Ele parou como se tivesse desligado um interruptor, eu parei também. Foi como se uma parte do meu cérebro não conseguisse processar e eu sabia que ele iria parar.

Shang-Da estava atrás de mim, ele se aproximou o suficiente para que eu sentisse o cheiro de sua loção pós-barba fraca e cara. Ele sussurrou:

- Como você fez isso, humana?

Olhei para ele.

- O que?

- Correr deste jeito.

Eu sabia que correr era muito importante para o lukoi. Eu estava lá coberta de suor, mal respirando, e sabia que tinha acontecido alguma coisa que não tinha acontecido antes. Richard e eu tínhamos tentado correr juntos antes e não funcionou. Ele era muito mais alto do que eu. Sua velocidade na corrida era maior que a minha e mesmo assim eu pude acompanhá-lo. Adicione o fato de que ele era um licantropo e muito rápido para mim. A única vez que eu tinha conseguido acompanhá-lo foi quando ele segurou a minha mão, com ele me puxando junto com as marcas e seu poder.

Eu me virei para olhar para Shang-Da. Deve ter havido alguma coisa no meu rosto, algum espanto suave, porque a sua expressão suavizou a algo quase como pena.

Richard correu para longe e voltamos a segui-lo. Com o meu pulso lento eu podia ouvir o que tinham ouvido há séculos: choro, mas era uma palavra muito suave para isso. Alguém estava soluçando como se seu coração estivesse quebrando.

Richard se moveu na direção do som e o seguimos. Havia uma enorme árvore no meio de uma clareira, do outro lado estava uma mulher encolhida. Ela era pequena e estava encolhida, os braços abraçando os joelhos. O sol cintilante batia em seu rosto, olhos apertados, fechados e cegos.

Ela tinha cabelos castanhos tão escuros que poderia ter passado por preto, corte muito curto. Era branca com uma franja de cílios escuro colado ao seu rosto pálido. Seu rosto era pequeno e triangular e o rosto estava manchado de lágrimas, os olhos inchados, a pele avermelhada. Ela usava shorts cáqui, meias grossas, botas e uma camiseta.

Richard ajoelhou-se nas folhas ao lado dela, ele tocou seu braço antes de dizer qualquer coisa e ela gritou. Houve um momento de pânico total em seu rosto, então ela se atirou contra seu peito colocando os braços ao redor dele e caiu em um novo ataque de choro.

Ele acariciava seus cabelos, murmurando:

- Carrie, está tudo bem. Está tudo bem.

Carrie. Poderia ser a Dra. Carrie Onslow? Parecia provável, mas por que uma bióloga trabalhando em um projeto sobre trolls estaria histérica no mato?

Richard se sentou nas folhas e a puxou para seu colo como se ela fosse uma criança. Era difícil julgar, ela parecia minúscula, menor do que eu.

O choro diminuiu, ela se deitou abraçada em seu colo. Eu tentei sentir ciúmes, mas não consegui, sua angústia era muito grande.

Richard acariciou seu rosto.

- O que aconteceu Carrie?

Ela respirou profundamente, estremeceu como se algo escapasse de sua boca, acenou com a cabeça e olhou de Shang-Da para mim.

- Shang-Da. - Seus olhos se voltaram para mim, parecia constrangida de ser vista perdendo o controle. - Eu não sei quem é você.

- Anita Blake. - eu disse.

Seu rosto descansou contra o peito de Richard, assim tudo o que tinha a fazer era virar os olhos para cima a olhar para ele.

- É a sua Anita? - Ela fez uma pergunta.

Ele olhou para mim.

- Quando não estamos com raiva um do outro, sim.

Eu a vi se recompor, juntando a sua personalidade de volta em torno dela como camadas de roupas contra as intempéries de inverno. Seus olhos se encheram de vida enquanto eu assistia seu rosto queimando com inteligência, com força, empenho, e uma determinação tão grande que brilhava intensamente e aparecia através de sua pele. Eu a vi e soube imediatamente porque Richard tinha ficado com ela. Olhando-a, eu estava contente por ela ser humana, feliz por ele não ter feito sexo com ela porque poucos instantes em sua presença, e eu sabia que este poderia ser um problema. Esse era o perigo real de não ser monogâmico, não era realmente o sexo, apesar de que me aborrecia muito. Era o fato de que ele queria dizer a outra pessoa que não estava satisfeito, que eles ainda estavam procurando, que você ainda está procurando, e às vezes você encontra, seja lá quem for.

Não gostei de olhar para esta mulher, obviamente já tinha meus próprios problemas, não gostei do fato de sentir um pouco de medo dela. Quer dizer, eu era humana, e ele fez sexo comigo. Eu odiava pensar nisso antes de qualquer coisa, odiava muito.

Ela saiu dos braços de Richard.

Eu disse:

- Não se mexa por minha causa.- A frase saiu seca e sarcástica. Bom, melhor do que ferida e confusa.

Richard olhou para mim, eu não podia ler sua expressão, e deixei meu rosto agradável e vazio.

A Dra. Carrrie Onslow olhou para Richard, franziu a testa e em seguida terminou de se afastar. Ela saiu de seu colo para encostar em um tronco da árvore. Pequenas linhas de expressão se formavam entre seus olhos, e ela olhava de Richard para mim como se estivesse confusa e não gostando da situação.

- O que aconteceu Carrie? - Richard perguntou novamente.

- Saímos pouco antes do amanhecer como de costume. - Ela parou de falar, olhando para seu colo, então respirou profundamente três vezes e parecia melhor. - Nós encontramos um corpo.

- Outro alpinista? - Eu perguntei.

Os olhos dela voltaram-se para mim, depois de volta para seu colo como se não quisesse nenhum contato com a história.

- Talvez, era impossível dizer. Era o corpo de uma mulher, além de que ...- Sua voz falhou. Ela olhou para nós, seus pequenos olhos brilhantes cheios de lágrimas frescas. - Eu nunca vi nada tão horrível na minha vida. A polícia está dizendo que os nossos trolls fizeram isso, que esta é a prova exata que temos um troll assassino.

- Os pequenos trolls da Montanha Smokey não caçam e nem matam seres humanos. - eu disse.

Ela olhou para mim.

- Bem, algo fez isso, a polícia estadual queria a minha opinião de especialista sobre o que poderia ter feito isso se não fosse os trolls. - Ela escondeu o rosto nas mãos, em seguida levantou o rosto como alguém que sai de águas profundas. - Eu vi as mordidas, elas foram feitas por algo com a mandíbula de um primata.

- Homem?- Eu perguntei.

Ela balançou a cabeça.

- Eu não sei, acho que não. Acho que nenhuma boca humana poderia fazer esse tipo de ferimento. - Ela se abraçou tremendo no calor. - Eles usarão isso para autorizar caçadores de recompensa e matar nossos trolls se puderem provar que eles fizeram isso. Não sei como podemos impedir que os matem ou os enviem para zológicos.

- Nosso trolls não matam humanos. - Richard disse. Ele tocou seu ombro quando disse isso.

- Alguma coisa fez Richard, aquilo não foi feito por um lobo ou um urso ou qualquer outro grande predador que eu já tenha visto.

- Você disse que a polícia estadual está investigando?- Eu perguntei.

Ela olhou para mim.

- Sim.

- Você os chamou?

Ela balançou a cabeça.

- Eles chegaram pouco depois da polícia local.

Adorei saber que ela os chamou, mas se a polícia local suspeitasse que era um homicídio ou um assassino sobrenatural teriam que usar a operação padrão, chamar a polícia estadual ou um caçador de vampiros, embora reconhecidamente apenas se suspeitassem que as mortes aconteceram por alguma forma de morto-vivo.

- O corpo foi encontrado perto de um cemitério? - Eu perguntei.

A Dra. Onslow balançou a cabeça.

- Porquê? - Richard perguntou.

- Poderia ter sido os sarcófagos, eles são covardes, mas se ela caiu, se bateu a cabeça e ficou inconsciente os ghouls teriam se alimentado dela. Eles são carniceiros de ativos.

Os ghouls são como zumbis, habitam e residem em cemitérios e outros locais inacessíveis.

- O que significa carniceiros de ativos? - A Dra. Onslow perguntou.

- Significa que se você está ferida e só pode engatinhar, não quer estar em um cemitério infestado deles.

Ela olhou para mim, então finalmente balançou a cabeça.

- Sem túmulos, apenas no meio da nossa terra. No meio do território dos trolls.

Concordei.

- Preciso ver o corpo.

- Você acha que é uma boa idéia? - Richard perguntou, ele manteve a voz tão neutra quanto podia.

- Eles estão esperando por ela. - disse a Dra. Onslow.

Isso surpreendeu a todos nós.

- O que você quer dizer? - Eu perguntei.

- A polícia estadual descobriu que você está na área. Evidentemente sua reputação é boa o suficiente para que eles queiram que veja o corpo. Eles estavam tentando chegar até sua cabana quando saí.

Que conveniente e estranho. Quem tinha chamado a polícia estadual? Quem colocou meu nome na frente deles? Quem, quem, quem?

- Eu vou olhar o corpo.

- Leve Shang-Da com você. - disse Richard.

Eu olhei para a cara do homem alto, as marcas de garras ainda estavam vermelhas e horríveis em seu rosto, balancei a cabeça.

- Acho que não.

- Eu não quero que vá sozinha. - disse Richard.

Engraçado como ele não estava se oferecendo para vir comigo. Ele ficaria para confortar a Dra. Onslow. Agradável. Eu era uma menina grande.

- Eu vou ficar bem Richard, você fica aqui com a boa médica e Shang-Da.

Richard se levantou.

- Você está sendo infantil.

Revirei os olhos e fui para longe da Dra. Onslow. Quando tinha certeza que ela não podia nos ouvir eu disse:

- Olhe para o rosto de Shang-Da.

Ele não olhou para trás, sabia o que parecia.

- Qual o problema?

Eu olhei para ele.

- Richard, você deve saber muito bem que quando alguém morte por uma criatura misteriosa, os lobisomens estão sempre no topo da lista de suspeitos.

- Eles sempre tentam nos culpar por qualquer coisa. - ele disse.

- Até agora Wilkes e seus homens não sabem o que você é. Se aparecer com Shang-Da rasgado como está e em seguida ele aparecer curado, eles vão descobrir. Com um corpo no chão, você não quer que eles descubram.

- Shang-Da não estará curado até o anoitecer. - disse Richard.

- Mas ele vai estar melhor do que está agora. Ele não é humano para se curar tão rápido. Se Wilkes descobrir que não deixamos a cidade, vai usar tudo o que tem, ele vai para cima de você com este crime.

- O que poderia ter matado essa mulher?

- Não posso saber até ver o corpo.

- Eu não quero que vá lá sozinha, vou com você.

- A polícia não gosta quando levamos namorados civís a cenas de crime Richard, fique aqui e conforte a Dra. Onslow.

Ele franziu a testa para mim.

- Não estou sendo maliciosa Richard. - Eu ri. - Tudo bem, não muito maliciosa. - Ele tremeu e segurei a sua mão.- Eu vou estar bem.

Ele tocou o meu rosto suavemente.

- Você não precisa de ajuda, não é?

Suspirei.

- Uma noite com você e eu quase comi o pescoço de Verne. Outra noite, e eu corri pela floresta como ... como um lobisomem. Apenas uma noite de amor e você diz que sabia que era uma possibilidade aumentar o poder de Jean-Claude. Você devia ter pelo menos tentado me dizer na noite passada Richard.

Ele balançou a cabeça.

- Você tem razão, eu deveria ter dito, não tenho nenhuma desculpa para isso, eu sinto muito Anita.

Olhando para seu rosto tão sincero era difícil ficar zangada, mas não era difícil ficar desconfiada. Talvez Richard tivesse aprendido mais com Jean-Claude do que apenas a forma de controlar as marcas. Talvez mentir por omissão fosse contagiante.

- Eu preciso ver um corpo.

A Dra. Onslow me apontou a direção certa. Entrei na floresta e Richard foi atrás de mim.

- Eu vou levá-la.

- Estou armada Richard, vou ficar bem.

- Eu quero ir com você.

Parei e olhei para ele.

- Não quero você comigo. Neste exato momento preciso que você esteja em outro lugar.

- Não tive a intenção de esconder as coisas de você. Tudo aconteceu tão rápido noite passada, eu simplesmente não tive tempo.

- Diga isso para alguém que se preocupa Richard, diga para alguém que se importa.

Saí para as árvores e ele permaneceu onde eu o tinha deixado. Eu o sentia me observando enquanto andava, podia sentir o peso de seu olhar como uma mão nas minhas costas. Se olhasse para trás, ele estaria acenando? Eu não olhei, amava Richard e ele me amava. Eu tinha certeza dessas duas coisas. A única coisa que não tinha certeza era se esse amor seria o suficiente. Se ele dormiu com outras mulheres, não seria. Justo ou não, eu não sobreviveria.

Richard disse que não me pediu para desistir de Jean-Claude. Ele não pediu, mas enquanto eu compartilhasse minha cama com o vampiro, ele dormiria com outras mulheres. Contanto que eu não fosse monogâmica, ele também não seria. Ele apenas sabia que eu não seria feliz em qualquer cama. Eu poderia ter os dois, ou poderia ter Richard só para mim se desistisse de Jean-Claude. Eu não estava pronta para fazer a segunda escolha, e não poderia viver com a primeira, a não ser que houvesse uma terceira opção. Eu estava em apuros.


32

A cena do crime estava no meio do mato. Cinco milhas da costa mais próxima estava a melhor estrada para se andar de carro, de acordo com a Dra. Onslow. Era um ótimo lugar para trolls, mas não para conduzir uma investigação policial. Eles tinham que caminhar todo o trajeto e quando chegasse a hora teriam que carregar o corpo. Não era agradável, não era rápido. Uma coisa boa sobre ser um local isolado é que não havia curiosos. Eu estive em várias cenas de assassinato, mas os únicos lugares sem público eram realmente nas horas mais estranhas ou no meio do nada. Horários estranhos não bastavam, havia pessoas nas proximidades. As pessoas saiam da cama de madrugada para ver um cadáver.

Mesmo aqui havia uma multidão. Avistei os uniformes de Wilkes e de um de seus homens. Eu estava realmente ansiosa para vê-los novamente hoje. Os policiais estavam espalhados no terreno, juntamente com alguns detetives estaduais à paisana. Eu saiba que eram policiais porque moviam-se ao redor da cena do crime com luvas, ficavam de cócoras ou na ponta dos pés, em vez de joelhos sobre as provas.

A fita amarela na cena do crime envolvia tudo ao redor como uma fita de presente. Não havia uniforme neste lado da fita porque ninguém esperava companhia do sentido oposto da estrada. Eu estava usando a Browning, a Firestar e a faca nas minhas costas, por isso mostrava minha licença e a segurava no ar quando passei sob a fita. Eventualmente alguém me veria e algum policial começaria a gritar por atravessar o perímetro sem ser notada.

Um policial estadual me viu antes que eu pudesse descer o morro. Ele tinha cabelo castanho, olhos escuros e algumas sardas em seu rosto pálido, caminhou em minha direção.

- Sinto muito Senhora, mas não pode ficar aqui.

Eu sacudi a licença para ele.

- Sou Anita Blake, ouvi dizer que estavam me procurando. Algo sobre um corpo que querem que eu dê uma olhada.

- Uma espiada, você quer dar uma espiada no corpo.

Ele disse isso suavemente, não como se me provocasse. Seus olhos escuros olharam pra mim por um segundo, ele pareceu se lembrar onde estava. Estendeu a mão e pegou a minha licença.

Eu o deixei pegar, ele olhou duas vezes e me devolveu. Olhou para um grupo de pessoas e apontou.

- O homem de terno preto, cabelos loiros é o Capitão Henderson, ele está no comando.

Eu olhei para ele, deveria ter me levado para o homem no comando. Nenhum policial me deixaria andar pela cena do crime desacompanhada. Executores de vampiros não são civis, e não somos detetives tampouco. Eu era uma das poucas a lidar intimamente com a polícia. Em Saint Louis, onde a maioria dos policiais me conhecia de reputação ou de vista, eu poderia poderia fazer isso, mas aqui onde ninguém me conhecia, de jeito nenhum.

Eu li a placa de identificação do policial.

- Michael, não é?

Ele acenou com a cabeça e novamente seus olhos não estavam olhando para mim, ele não estava agindo como um policial. Parecia estar com medo, policiais não se assustavam facilmente. Dê-lhes alguns anos no trabalho e a perfeita indiferença aparece, eles não se impressionam, não se incomodam. Michael tinha listras de sargento em seu uniforme. Você não consegue listras de sargento do estado se assustando a cada cena do crime.

- Sargento Michael. - ele disse. - Existe algo que eu possa fazer por você Miss Blake?

Ele parecia estar reconstruindo-se diante de meus olhos. Lembrou-me da forma como a Dra. Carne Onslow tinha se recuperado. Seus olhos perderam aquele olhar vago e vítreo, ele me olhou de frente, mas ainda havia uma tensão ao redor dos olhos quase como se estivesse magoado. Que diabos estava acontecendo lá embaixo? O que poderia deixar um policial experiente com um olhar como este?

- Nada sargento, nada. Obrigada.

Mantive minha licença porque tinha quase certeza que seria parada mais uma vez sem uma escolta policial. Uma mulher estava apoiada em um pequeno pinheiro, ela e o homem que segurava sua testa usavam uniformes do serviço médico de emergência. É um mau sinal quando os médicos estão assim. Um sinal muito ruim.

Foi Maiden que me parou, ficamos lá por um segundo ou dois olhando um para o outro. Eu estava de pé olhando para cima, olhando para ele.

- Miss Blake. - disse ele.

- Maiden. - eu disse.

Não o chamei de oficial de propósito porque até onde eu sei, ele não era um policial. Deixou de ser um quando se tornou um cara mau.

Ele deu um pequeno e estranho sorriso.

- Vou levá-la até o Capitão Henderson. Ele está no comando.

- Legal.

- Você pode querer se preparar Blake. Está ... ruim.

- Vou ficar bem.

Ele balançou a cabeça e olhou para o chão. Quando olhou para cima, seus olhos estavam vazios, frios, olhos de policial.

- Talvez você Blake, talvez você, mas eu não vou ficar.

- O que isso quer dizer?

- Quem diabos é ela? - Era o capitão Henderson, ele nos viu. Subiu a encosta de sapatos escorregando um pouco. Ele estava determinado e sabia como andar entre as folhas mesmo no lugar errado, tinha cerca de cinquenta e oito anos, cabelo curto e loiro. Ele tinha olhos estranhos que mudavam de cor quando estava na luz do sol, era verde-claro e em seguida cinza. Ele ficou entre nós e olhou para Maiden.

- Quem é ela e por que está dentro do meu perímetro?

- Anita Blake, Capitão Henderson. - Maiden disse.

Ele olhou para mim e seus olhos eram frios e cinzentos. Ele tinha uma beleza comum mas poderia ser mais do que isso se não fosse a dureza em seu rosto, um azedume que não o deixava simpático ou agradável.

Não importa qual era a cor dos olhos dele quando olhou para mim, os olhos estavam distantes como a dos outros tiras.

- Então você é Anita Blake?- Sua voz estava quase irritada.

Concordei.

- Sim. - Eu não deixei sua ira chegar até mim, ele não estava zangado comigo. Algo estava errado, algo além do próprio crime. Gostaria de saber o quê.

Ele me olhou de cima a baixo, não de forma sexual, mas como se estivesse me medindo. Eu estava acostumada com isso, embora normalmente fosse um pouco menos gritante.

- Quão forte é o seu estômago Blake?

Levantei as sobrancelhas e em seguida sorri.

- O que diabos é engraçado?- Henderson pergunto.

- Olha, já me disseram que a coisa é ruim, o sargento no topo do morro está tão assustado que não virá uma segunda vez. Maiden aqui já me disse que é terrível. Apenas me leve ao corpo.

Henderson intensificou o olhar, invadindo meu espaço pessoal.

- Tem certeza que pode aguentar Blake?

Suspirei.

- Não.

Isso não pareceu acalmá-lo, ele piscou e deu um passo para trás.

- Não? - disse ele.

- Eu não sei se posso aguentar Capitão Henderson. Há sempre a possibilidade de que o horror seja tão horrível, que eu nunca recupere alguma coisa. Manchas na minha mente vão me mandar gritar. Então leve-me para ver os restos horríveis, as preliminares estão ficando cansativas.

Assisti o jogo de emoções em seu rosto: diversão e raiva, e finalmente a diversão ganhou. Olhou para mim.

- Os restos horrível. Tem certeza que não é uma repórter?

Isso me fez sorrir.

- Eu sou culpada de muitos pecados, mas isso não é um deles.

Ele sorriu e quando fez isso parecia dez anos mais novo e era mais do que ordinariamente bonito.

- Ok Miss Blake, siga-me. Vou levá-la para ver os restos horríveis. - Ele riu suavemente. - Espero que você continue tão divertida depois do show.

- Eu também. - eu disse.

Ele me deu um olhar estranho e liderou o caminho para baixo do morro, o segui porque era o meu trabalho. Uma hora atrás eu teria dito que o dia não podia ficar pior. Algo me dizia que estava prestes a ficar muito pior.


33

O corpo estava em uma pequena clareira, eu sabia que era humano porque eles me disseram que era. Não é que o corpo não parecesse humano exatamente. A forma estava lá o suficiente para que eu pudesse dizer que estava deitado de costas. Era mais do que minha mente se recusava a reconhecer. Meus olhos viam, mas minha mente continuava se recusando a juntar os pedaços, era como olhar para uma daquelas fotos onde você olha e olha até que as formas ocultas girem em relevo 3-D. Era como se tivesse havido uma explosão de sangue e carne e o corpo estivesse no centro. Havia sangue seco espalhado para fora do corpo em todas as direções, como se quando o corpo foi removido houvesse um outro corpo no local moldado como uma mancha de tinta.

Eu podia ver tudo isso, mas para meus olhos não fazia sentido. Minha mente estava tentando me proteger. Isso já havia acontecido antes uma ou duas vezes. A única coisa inteligente a fazer seria dar a volta e ir embora. Deixe minha mente em confusão porque a verdade era um daqueles momentos onde a mente explode. Eu brinquei quando disse a Henderson no topo da colina sobre algumas manchas na mente. Não era engraçado agora.

Forcei-me a olhar para ela, forcei-me a não desviar o olhar, mas o calor do verão oscilou em torno de mim com pressa enjoada. Eu queria cobrir meus olhos com as mãos, mas afastei a idéia. Cobrir meus olhos seria bobo e infantil como fazer isso vendo um filme de terror.

Henderson se virou quando eu me virei. Se eu não queria olhar para o corpo, ele também não queria.

- Você está bem?

O mundo parou de girar como uma bola.

- Eu vou ficar. - Minha voz soou estranha.

- Bom. - disse ele.

Ficamos assim por mais alguns segundos, então eu respirei levemente. Eu sabia que seria melhor assim porque estava perto do corpo, tive que fazer isso. Trolls não fizeram isso, nenhum animal fez isso. Virei-me lentamente para enfrentar o corpo. Não ficou melhor.

Henderson se voltou comigo, ele era o homem responsável, poderia ser se eu pudesse.

Peguei emprestado um par de luvas cirúrgicas, alguém tinha me oferecido luvas de plástico. Aids, você sabe. Recusei por três motivos,primeiro: minhas mãos suavam. Segundo: se precisasse sentir o corpo em busca de pistas, eu não seria capaz de sentir merda nenhuma. Terceiro: com três marcas de vampiro, eu não pegaria AIDS, eu estava livre de doenças transmitidas pelo sangue, por isso tinha recusado. Eu acreditava em Jean-Claude sobre isso porque ele não queria me perder, eu era um terço do seu triunvirato, ele me queria segura. Na parte de trás de minha cabeça uma voz dizia, "Ele te ama". A voz na frente da minha cabeça disse: "Sim, claro".

- Posso acompanhar o padrão de sangue? - Eu perguntei.

- Você não pode chegar perto do corpo a menos que pise no sangue. - disse Henderson.

Concordei.

- É verdade, então você gravou isso, conseguiu todas as imagens?

- Sabemos como fazer o nosso trabalho Miss Blake.

- Eu não estou questionando isso Capitão, preciso saber se posso mover o corpo, isso é tudo. Não quero estragar as provas.

- Quando você terminar poderemos ensacá-lo.

Concordei.

- Ok.

Fiquei olhando para o corpo e de repente pude vê-lo. Todo ele. Apertei meus braços na barriga para evitar de cobrir meus olhos. O nariz da vítima tinha sido mordido de forma que era apenas um buraco sangrento. Os lábios foram arrancados até os dentes e os ossos da mandíbula ficaram visíveis sob o sangue seco. Faltava os músculos da mandíbula de um lado. O que quer que tivesse feito isso não tomou um lanche rápido. Ele sentou-se e se alimentou.

Havia muitas mordidas, faltava muita carne, mas a maioria dos ferimentos eram muito rasos para matar. Eu fiz uma oração curta torcendo para que a maioria das mordidas tivessem sido feitas após a morte. Mesmo rezando eu tinha certeza que não conseguiria uma boa resposta, não havia muito sangue. Ela tinha sido torturada viva. Os Intestinos caiam para fora do jeans rasgado em um ninho seco coberto de coisas mais espessas que o sangue. O cheiro de seu intestino delgado rasgado desvaneceu. Um cheiro de morte, mas há sempre outro, o corpo dela começou a apodrecer no verão forte. É um cheiro difícil de descrever, esmagadoramente doce e amargo. Respirei superficialmente e pisei no sangue espalhado.

Algo mudou em mim como o golpe de um fantasma. Os pelos do meu pescoço se arrepiaram. Meu cérebro dizia que não tinha nada a ver com carros ou água encanada e tudo a ver com correr e gritar e não pensar em nada, ele estava sussurrando agora, estava cochichando que algo estava errado. Que algo muito perigoso tinha acontecido aqui, perigoso e mau.

Esperei para ver se o sentimento cresceria mais forte, mas desapareceu. Desvaneceu-se como uma memória ruim, o que provavelmente significava que eu andei através da borda de algum tipo de mágica, ou melhor, os restos de algo desagradável.

Você não invoca algo ruim sem um círculo de proteção, tanto para o feiticeiro ou para as feras serem colocadas dentro dele. Procurei no chão, mas não havia nada além do sangue. O sangue não estava formando um círculo de proteção, estava apenas espalhado, bagunçado, sem um padrão.

Eu deveria saber que não haveria nada tão óbvio. A polícia não era praticante da arte da magia, no entanto, isto estava começando a mudar, você não pode ser um policial e não olhar os sinais de magia quando a merda é estranha.

A cena parecia imperturbável, mas não significava que estava intacta. Se alguém fosse realmente bom em magia poderia fazer com que você não visse nada. Invisibilidade não é verdade. Os seres humanos não fazem isso. Física é física. A luz atinge um objeto sólido e a rejeita, mas eles podem fazer o olho relutar em ver, para que você continue procurando algo e sua mente não registre. É como olhar para um molho de chaves de carro que está à vista e que você perdeu a dois dias. Eu me agachei ao lado do corpo, não usava o macacão que geralmente usava em cenas de assassinato e não queria o sangue em meu jeans. Eu ainda estava me abraçando. Havia muitas coisas aqui que alguém não queria que víssemos, mas o quê?

Henderson me chamou.

- Nós encontramos a carteira. Precisa da identificação?

- Não. - eu disse.

Eu não estava sendo inteligente, só não queria um nome, uma identidade para a coisa aos meus pés. Eu tinha feito o truque de transformar o corpo em objeto. Não era real, era apenas algo a ser estudado, analisado. Ela nunca tinha sido real. Para pensar qualquer outra coisa naquele momento teria que vomitar em toda a prova. Eu fiz isso apenas uma vez anos atrás, Dolph e a turma nunca me deixaram esquecer.

Os olhos tinham sido arrancados para fora e deixados em nódulos enegrecidos nas bochechas. O cabelo comprido foi jogado em um lado da face, preso a um ombro. Talvez seus cabelos fossem loiros, era difícil dizer encharcado com todo o sangue. Os longos cabelos me faziam pensar em uma mulher. Meus olhos percorreram e encontraram os restos das roupas. A blusa tinha sido reduzida a um pedaço de pano embaixo do braço. O peito estava nu. Um peito completamente rasgado, o outro deflacionado como um balão, como se algo tivesse comido a carne do meio, como uma criança chupando a geléia de um donut.

Era uma escolha infeliz de metáforas, mesmo na minha própria cabeça. Eu tinha que ficar de pé, tinha que ir embora, estava hiperventilando. Fiquei ao lado de uma árvore e respirei profundamente, mas isso tornou o odor mais forte. Aquele cheiro doce deslizou ao longo de minha língua e parou no fundo da minha garganta até que eu não podia suportar a idéia de engolir, mas não sabia mais o que fazer. Engoli e o cheiro deslizou para baixo e meu café da manhã subiu.

Eu tinha dois confortos. Um deles é que eu consegui sair de perto das provas para vomitar, o outro, eu não tinha muita coisa no estômago, talvez seja por isso que parei de almoçar. Recebo várias chamadas para verificar corpos pela manhã.

Ajoelhei-me nas folhas secas e me senti melhor, eu não vomitava em uma cena de crime há um longo tempo, pelo menos Zerbrowski não estava aqui para ver isso. Eu nem estava envergonhada, era um sinal de maturidade?

Vozes masculinas estavam atrás de mim, ouvi o Xerife Wilkes dizendo, quase gritando:

- Ela é apenas uma civil, não deveria estar aqui. Ela nem sequer é licenciada neste estado.

- Eu estou no comando aqui Xerife, eu digo quem fica e quem sai.- Henderson não estava gritando, mas sua voz era potente.

Agarrei o tronco da árvore e me levantei, meu braço se arrepiou tão fortemente que quase ficou dormente. Eu estava me afastando da árvore, quase caindo, mas me mantive de pé, olhei para o tronco liso. Cerca de oito metros acima tinha um pentagrama esculpido na casca da árvore. O corte havia sido escurecido com sangue, sangue seco esfregado nele, era quase invisível contra a casca cinza escura. Ninguém tinha olhado, nem mesmo eu, só quando toquei a árvore foi que senti. Como todas as ilusões, uma vez que você vê, sabe que está lá.

Olhei para as outras árvores e encontrei um pentagrama sangrento esculpido em cada uma. Era um círculo de poder, de proteção. Um círculo formado do sangue e da própria terra. Wiccas - bruxas - podem usar seu poder para o mal se estiverem dispostas a pagar o preço em karma. Faça o que fizer, bem ou mal, volta para você três vezes. Mas mesmo uma wicca ruim não esculpe em uma árvore. As árvores e a terra também foram invocados? Isso poderia significar algo elementar. Eles podem ser desagradáveis, mas não são maus. Eles deixavam tudo confuso, mas não são maus e sim neutros. Eu sentira o aroma do mal, mas não eram muitas criaturas sobrenaturais que tinham essa habilidade.

- Capitão Henderson. - eu disse.

Tive que dizer isso duas vezes antes que parassem de discutir e olhassem para mim.

Ambos olharam, não pareciam amigáveis, mas pelo menos eu sabia que não gostavam um do outro. A polícia local não gosta de ninguém dentro de seu território. Era normal a polícia se ressentir por alguém de fora, mas eu sabia que Wilkes protegia demais seu território. Ele devia estar desesperado com os policiais aqui. Essa não era a hora de chutar o balde, eu não tinha nenhuma prova. Acusar um policial de corrupção tende a perturbar os outros policiais.

- Você viu os pentagramas nas árvores?

A questão era estranha o suficiente para que os dois deixassem de brigar e prestassem atenção. Apontei os pentagramas no alto e como todo boa ilusão, uma vez que mostrei a eles, poderiam vê-los. O imperador não tem roupas.

- Então? - Wilkes perguntou.

- Então, esse era um círculo de proteção, de poder. Algo foi chamado aqui para matá-la.

- As marcas nas árvores podem estar aí a mais de um dia. - disse Wilkes.

- Teste o sangue sobre os pentagramas. - eu disse. - Não é dela, mas é novo. - Por que não é da vítima? - Henderson perguntou.

- Porque eles usaram o sangue para selar o círculo. Eles tinham que ter o sangue antes da morte.

- Foi um sacrifício humano então. - disse Henderson.

- Não exatamente. - eu disse.

- Foi um troll que a matou. - disse Wilkes, ele não parecia certo, parecia desesperado.

Henderson se voltou para ele.

- Você continua dizendo isso Wilkes. Continua dizendo que foi os trolls.

- A bióloga disse que as mordidas pareciam ser de primatas. É certo como o inferno que não foi uma pessoa. Não há muitos primatas correndo ao redor das colinas do Tennessee.

- Ela disse humanóide. - eu disse.

Os dois olharam para mim de novo.

- A Dra. Onslow disse humanóide. Muita gente confunde humanóides e primatas, mas existem outras opções.

- Como o quê?- Wilkes perguntou, seu bip disparou, ele verificou o número então olhou para mim. - Desculpe-me Capitão Henderson.

Henderson também olhou para mim.

- Você e o delegado têm algum tipo de história Miss Blake?

Eu fiz uma careta.

- História como?

- Ele estava muito certo de que você não devia estar presente perto do corpo. Ele também estava muito certo de que foi um troll que a matou. Muito certo.

- Quem chamou vocês então? - eu perguntei.

- Uma ligação anônima.

Olhamos um para o outro.

- Quem sugeriu que eu me juntasse a diversão?

- Um dos atendentes da ambulância, um homem que você conheceu noite passada.

Eu balancei a cabeça.

- Eu não o conheço

- Sua parceira é uma menina. Lucy alguma coisa.

Isso explicava o conhecimento médico de Lucy e porque ela não estava trabalhando na noite de lua cheia. Ela não queria ficar perto de sangue fresco com a lua quase cheia. Muito tentador, muito perigoso.

- Eu me lembro vagamente, eu acho.

Lembrei-me dela mais do que vagamente, mas a última vez que a tinha visto foi depois que matei alguém, os detalhes estavam um pouco distorcidos. Por um momento terrível eu queria saber se Henderson estava tentando me enganar e o corpo era realmente de Lucy, mas a altura estava errada, a mulher era alta e não do meu tamanho. As mulheres que estavam saindo com Richard tinham o corpo parecido com o meu. Acho que quando você gosta de um estilo, procura pessoas parecidas para se relacionar.

- Por que eles precisam de um círculo de poder Sra Blake?- Henderson perguntou.

- Para invocar alguma coisa.

Ele franziu a testa.

- Como você disse antes, as preliminares estão ficando cansativas. Apenas me diga o que diabos você acha que era.

- Acho que invocaram um demônio.

Seus olhos se arregalaram.

- Um o quê?

- Demônio. - eu disse.

Henderson apenas olhou para mim.

- Porquê?

- Quando cruzei o círculo tive uma sensação de maldade. Não importa quão monstruoso seja o bicho, ele não sente o mesmo como algo dedicado ao mal e nenhuma outra finalidade.

- Você via muitos demônios enquanto matava vampiros, Sra Blake?

- Uma vez capitão, apenas uma vez. Era ...- eu pisei fora do círculo de poder e me senti melhor. Eles haviam feito seu melhor para esconder os vestígios, mas essas coisas têm uma tendência a se apegar. - Eu fui chamada em um caso que pensava que era um vampiro, mas era possessão demoníaca. A mulher ...- Eu parei de novo porque não tinha palavras para isso, ou há palavras que parecem tolas, melodramática, tentei contar a história aderindo aos fatos. - A mulher era uma dona de casa comum, mãe de dois filhos. Tinha sido diagnosticada como esquizofrênica, era quase um distúrbio de personalidade múltipla, mas não tão clara. Ela era como a menina com uma onda no meio da testa. Quando ela era boa, era muito, muito boa. Uma paroquiana modelo, professora de escola dominical. Ela plantava seus próprios legumes, fazia roupas de boneca para as meninas. Mas quando ela era má, transformava o mundo ao redor, as crianças eram abusadas, pendurava o cão da família em uma árvore.

Henderson levantou uma sobrancelha para isso. Para um policial era o mesmo que estar em choque.

- Por que ela não estava em um hospital?

- Porque quando ela tomava os remédios era uma boa mãe, boa esposa. Falei com ela quando estava 'bem', e era uma pessoa muito agradável. Eu vi o porque do marido tentar ficar com ela, era trágico no verdadeiro sentido da palavra que a sua própria química do cérebro estivesse destruindo sua vida.

- É triste, mas não é demoníaco. - disse Henderson.

- Animais de estimação da vizinhança começaram a desaparecer, eram encontrados sem uma gota de sangue. Isso me levou até a mulher. Sua história de doença mental tinha levantado a bandeira com a polícia. Até agora era apenas triste, né. - Olhei para o morro com os policiais e os técnicos espalhados. Eles não estavam olhando para baixo. Ninguém queria passar perto do corpo. Mesmo se você não fosse sensível ou psíquico, temos instintos de sobrevivência que funcionam melhor para todos nós. Todos estavam relutantes e não sabiam o porquê.

- Você ainda está comigo Blake? - Henderson perguntou.

- Desculpe. Na noite em que a prenderam, dois policiais tiveram que arrastá-la para fora da cama de outro homem algemada. Eles não tinham uma policial no local naquela noite, assim que eu tive que ficar com ela. Era forte e violenta, flertava com os homens sendo arrogante comigo. Eu nem me lembro o que ela disse, mas lembro o olhar no seu rosto quando se virou para mim. Estávamos no carro da polícia, ela virou a cabeça para me olhar, os pelos do meu corpo se arrepiaram. Não houve olhos brilhantes, nem cheiro de enxofre Capitão Henderson, mas eu me senti mal, fora de lugar como um perfume perturbador. - Olhei para ele, e ele estava examinando meu rosto como se estivesse tentando memorizá-lo. - Não me assusto fácil Capitão, mas naquele instante eu estava com medo. Ela viu isso no meu rosto e riu e o momento se foi.

- O que você fez?

- Recomendei que fizessem um exorcismo.

- Eles fizeram?- ele perguntou.

- Não a polícia, mas seu marido assinou os papéis.

- E?

- E funcionou, ela permanece tomando sua medicação, a doença mental está sob controle. A possessão não causou esquizofrenia.

Henderson assentiu.

- Aprendemos na palestra de formação sobrenatural que a doença mental pode levar uma pessoa até a possessão demoníaca Sra Blake. É como o PCP, mas estranho.

- Sim, mas o PCP não faz as pessoas levitarem.

Ele franziu a testa para mim.

- Você quis presenciar o exorcismo?

Eu balancei a cabeça.

- Não vou falar sobre isso. Eu particularmente não vou falar sobre isso aqui e agora. Palavras têm poder Capitão, memorias têm poder. Eu não vou brincar com isso.

Ele balançou a cabeça.

- Algum humano poderia fazer isso?

Eu balancei minha cabeça.

- Eles a comeram até a morte. Uma pessoa pode ser capaz de morder a garganta e fazer alguns destes ferimentos, mas não tudo isso.

- Se você me disser isso foi um caso de possessão, vou chamar minha cadeia de comando e começar a procurar um sacerdote, mas Blake, sabe como é raro provar ataques demoníacos?

- Provavelmente melhor do que você Capitão. Já fui chamada em todos os tipos de coisas estranhas.

- Você já viu um demônio matar uma pessoa em um ataque direto?

- Não.

- Então, como pode ter tanta certeza? - ele perguntou.

- Eu disse a você porque eu tenho certeza Capitão. Quando você fica na presença de coisas demoníacas não esquece o que sente.- Eu balancei a cabeça e lutei contra o desejo de dar mais um passo para longe do corpo. - Mas eu não sou uma especialista em demônios Capitão Henderson. Sugiro que entre em contato com um padre. Eu também não sou uma especialista neste tipo de magia. Chame uma bruxa local para dar uma olhada, podem ser capazes de lhe dar mais informações. O melhor que posso fazer é dar uma idéia geral.

- Você poderia chamar o demônio que a matou?

Eu fiz uma careta para ele.

- Do que você está falando?

- Basta responder a pergunta Sra Blake.

- Eu ressuscito os mortos Capitão, não invoco demônios.

- Muita gente não vê diferença entre os dois.

- Ótimo, vocês me chamaram até aqui. Eu digo que é magia negra, e agora você vai me culpar. Espero que não seja uma caça às bruxas Capitão Henderson.

Ele sorriu.

- Basta responder a pergunta, você poderia fazer isso?

- Não, eu não poderia. Invocar demônios mancha a alma. Posso não ser uma cristã perfeita mas estou tentando.

- Foder a alma dos vampiros também, Blake.

Eu olhei para ele. Olhei para ele durante vários segundos porque o que eu queria fazer era bater nele ou gritar. Não, bater. Mas eu não podia fazer isso, comecei a dar um daqueles sorrisos quando quer ferir alguém.

- Certo Capitão. Esta foi uma mágica poderosa e eu tenho a reputação de ter magia poderosa. Não é sua culpa que você não entenda a grande diferença entre as duas escolas de magia. Falta de educação não pode ser usada contra você. - Minha voz disse claramente o que eu queria. - Mas se eu fosse matar alguém, provavelmente só atiraria nele. Isso no mínimo me colocaria no meio de sua lista de suspeitos e não no topo.

- Ouvi dizer que você era uma atiradora.

Olhei para ele.

- Ouviu de quem?

- Tiras falam uns com os outros Sra Blake. Se ela tivesse aparecido com uma bala na cabeça, eu poderia acreditar que você fez isso.

- Por que eu mataria uma mulher desconhecida?

- Ela não é desconhecida Sra Blake.- Ele estava me observando muito de perto.

Olhei para o corpo. Não havia nada que eu reconhecesse. De todas as mulheres que conheci desde que cheguei aqui, nenhuma era alta o suficiente para se encaixar neste corpo. Exceto uma.

Eu virei para ele e senti o sangue fugir do meu rosto.

- Quem é ela?

- Betty Schaffer, a mulher que acusou o seu amante de estupro.

Ficou tudo escuro. Alguém estava segurando o meu cotovelo e me mantive de pé. Quando minha visão clareou vi que Henderson segurava o meu braço, e Wilkes estava de volta.

- Está tudo bem Sra Blake? - Wilkes perguntou.

Eu o olhei nos olhos e não sabia o que dizer. Betty Schaffer tinha sido mais do que assassinada. Se o ritual foi bem feito e a pessoa que foi sacrificada não era pura, como um traidor, um mentiroso ou lascivo, então a alma poderia ser tomada com a vida. Eu só vi um caso de morte em um ritual de demônio, nada tinha sido assim. O sacrifício foi feito com uma faca, mas a alma havia sido tomada. E eu não consegui levantar o corpo. Se um demônio estava envolvido com a morte, então o corpo era só barro. Eu não tinha poder aqui.

Wilkes não poderia ter chamado um demônio. Nenhum de seus homens tinha o poder. Quem poderia ter feito isso? Ninguém que eu conheci desde que cheguei tinha esse tipo de poder.

Antes que pudesse pensar em algo para dizer Wilkes falou primeiro.

- Ligação para você, acho que deve atender.

Ele tinha medo de falar. O problema era que eu não tinha prova de nada. Inferno, eu nem sabia o que estava acontecendo. O que tinha nessa terra de tão especial que valia a pena matar? Por que queriam se livrar dos trolls? Era apenas para que a terra pudesse ser vendida? Ou havia algo mais escuro? Alguém tinha invocado um demônio para fazer parecer que um troll a tivesse matado. Eu sabia o porque tinham feito isso, mas não quem. Eu nem sabia que era Betty. Ela se comprometeu, se colocou em risco nesse tipo de cerimônia.

Havia filmes tentando nos mostrar sobre a necessidade de virgens e da pureza para o sacrifício, mas o verdadeiro mal não requer pureza. O verdadeiro mal quer um bom corrupto, e uma vez que os bons são mortos, eles estão além do alcance do diabo. Os impuros para sacrificá-los ou matá-los, bem, o Diabo recebe de braços abertos.

Wilkes me pegou pelo braço, como se para me ajudar.

- Não me toque, Wilkes. Nunca mais me toque.

Ele deixou cair sua mão. Henderson nos observava como se estivesse vendo mais do que estávamos dizendo. Policiais são bons nisso. Dê-lhes qualquer coisa suspeita, e vão juntar dois e dois e fazer quatro.

Wilkes olhou para mim.

- Poderia ser um lobisomem?- Sua voz era calma.

Eu não conseguia esconder o choque no meu rosto, lutei para recuperar a calma, em branco, mas foi o suficiente. Wilkes sabia sobre Richard, de alguma forma ele sabia e tentaria culpa-lo pela morte de Betty. Lobisomens eram um bom bode expiatório e muito mais divertido do que acreditar em demônios.

Ele tirou um celular do bolso e discou um número.

- Ela está bem aqui.- Ele passou o telefone para mim.

Henderson estava olhando para nós como se fôssemos engraçados. Peguei o telefone. A voz do outro lado era de um homem que eu não conhecia.

- Eu sou Franklin Niley, Sra Blake. Acho que é tempo de nos encontrarmos cara-a-cara.

- Acho que não. - eu disse.

- Wilkes me disse que você estragou um pouco o nosso plano de culpar os trolls pela morte da garota, mas não é tarde demais para culpar seu amante. Quantas pessoas vão acreditar na sua inocência depois de descobrir que ele é um lobisomem?

- Eu não sei do que você está falando. - eu disse.

Eu tive que virar as costas para os olhos atentos de Henderson. Sua atenção era um pouco intensa demais. Wilkes não estava me observando, estava olhando para Henderson. Infelizmente me virando de costas tinha que olhar para o cadáver. Virei-me para o outro lado e fiquei olhando para as árvores.

A voz ao telefone era culta e bem educada.

- Venha Miss Blake, nós dois vamos brincar. Eu sei o que o Sr. Zeeman é, e uma vez que seja acusado, um simples exame de sangue na cadeia pode provar que estou certo. Ele vai perder seu emprego, sua carreira e talvez ser executado. Você contratou um advogado excelente, meus parabéns, mas se ele for condenado será uma sentença de morte automática. O Júri têm uma forte tendência à condenar os monstros.

- Estou ouvindo.

- Podemos nos encontrar na cidade, num local público, de modo que você vai se sentir segura.

- Por que você quer me encontrar? - Minha voz foi baixando progressivamente, sussurrando.

- Para te pedir uma última vez que saia da cidade Sra Blake. Não tenho nada contra você, os espíritos dizem que lutar contra você é a morte.

- Espíritos? - Sussurrei.

- Encontre-se comigo Miss Blake, você e o Sr. Zeeman, e eu prometo que tudo vai acabar. Você vai sair da cidade e tudo ficará bem.

- Eu não confio em você.

- E nem deveria. - Niley disse e riu. - Me encontre no restaurante Sra Blake. Eu vou responder suas perguntas, vou dizer porque quero a terra. Quando meus homens tiverem certeza que você não está usando um gravador, vou responder a quaisquer perguntas que tiver.

- Você parece um homem que sabe muito sobre tentação Sr. Niley.

Ele riu de novo.

- Dinheiro tenta muitas pessoas Miss Blake, e eu tenho muito.

Eu estava andando devagar para longe de Henderson.

- Você vai me oferecer dinheiro?

- Não Miss Blake, isso é o que ganhou um certo oficial da lei e seus homens. Eu acho que dinheiro não é a chave para a sua alma.

Eu não gostei do jeito que ele disse isso.

- O que você quer, Niley?

- No momento isso é tudo. Eu posso garantir a sua segurança, mas acho que você não vai acreditar em mim.

- Você tem esse direito.

- Venha a mim Miss Blake e falaremos. Depois que eu responder as suas perguntas você poderá decidir se quer sair ou ficar. Agora faça a gentileza de colocar o Xerife de volta no telefone.

Voltei para os homens e estendi o telefone.

- Ele quer falar com você de novo.

Wilkes pegou o telefone, quando tentou tirá-lo de mim eu segurei, debrucei-me perto dele e disse:

- Dinheiro não vale nada no inferno Wilkes. O diabo trabalha com uma moeda diferente.

Ele puxou o telefone da minha mão e se afastou para as árvores. A voz havia lhe oferecido dinheiro para vender tudo o que ele era ou poderia ter sido. Eu entendi menos ainda o motivo do assassinato, traição e ganância. Mas dane-se se era um motivo popular para ambos.


34

Richard não tinha dito uma palavra desde que começamos a nos arrumar para o jantar. Ele puxou o elástico do cabelo e brincou com ele esticando e soltando, abrindo e fechando, abrindo e fechando. Ele não costuma ter tiques nervosos. Não era um bom sinal. Levei o carro ao estacionamento e desliguei o motor. Richard estava sentado no meio com suas longas pernas esticadas. Ele queria que eu dirigisse, algo sobre se distrair facilmente tão perto da lua cheia. Shang-Da estava sentado do outro lado calmamente. Toda vez que eu olhava para ele, as terríveis marcas de garras pareciam estar suavizando. Ao amanhecer teriam desaparecido. Era impressionante, mas quem olhasse para aqueles olhos saberia o que ele era: um Licantropo. Ficamos ali um momento ouvindo o tique do motor.

- Você não vai fazer nada estúpido, não é?- Perguntei a Richard.

- O que faz você pensar nisso?

Toquei seu braço e ele olhou para mim. Seus olhos eram de um perfeito castanho chocolate, olhos humanos, mas havia algo no fundo de seus olhos humanos que era outra coisa. Sua besta rastejava atrás daqueles olhos castanhos.

- Você pode segurar sua besta? - Eu perguntei.

- Eu posso.

- Tem certeza?

Ele me deu um sorriso apertado e eu não gostei do olhar em seu rosto.

- Se eu ficar com muita raiva em frente ao público com a proximidade da lua, eu posso mudar. Não se preocupe Anita, sei como lidar com minha raiva.- Ele pareceu muito auto-suficiente, como se tivesse construído um muro de proteção contra ele mesmo, mas por trás daquelas paredes tinha uma coisa vibrando, ameaçador. Se o feiticeiro de Niley estivesse lá dentro, ele ou ela poderia reconhecer que algo estava errado. Claro, eles sabiam o que Richard era, assim estava tudo bem, eu acho.

Shang-Da entregou a Richard um par de óculos escuros. Ele o pegou e passou as mãos pelos cabelos ajeitando ao redor de seus ombros. Outro gesto nervoso.

- Eu nunca vi você usar óculos. - eu disse.

- Meus olhos estão mudando de cor. - disse Richard.

Olhei para Shang-Da e seus olhos nus.

- O que foi? - ele perguntou.

- Ah, ótimo, vamos embora.

Os homens caminharam em minha volta como guarda-costas. Sua energia rodava atrás de mim como uma espécie de parede psíquica, fazendo minha pele se arrepiar. Empurrei as portas de vidro do restaurante e fiquei lá por um momento procurando Niley.

A área de jantar era um retrocesso dos anos 50, longo e estreito na frente com uma área maior para o lado que parecia ser uma adição posterior. Havia um longo balcão com poucas cadeiras. O lugar estava cheio de moradores e famílias de outros estado, percebia-se isso pelas placas dos veículos no estacionamento.

As garçonetes usavam uniformes rosa e aventais. Uma garçonete loira veio até nós sorrindo.

- Richard, Shang-Da, não vi vocês esta semana. Sabia que não podiam ficar longe do guisado de Albert.

Richard piscou e deu um sorriso conhecido por derreter as mulheres. O fato dele ignorar o efeito o tornava ainda mais devastador.

Shang-Da acenou para ela, o que para ele era estimulante

- Olá.

- Aggie. - disse Richard. - Estamos esperando alguém. Niley Frank.

Ela franziu a testa depois assentiu.

- Eles estão na grande mesa perto do canto, você sabe o caminho. Vou levar água e os menus em um segundo.

Richard abriu caminho entre as mesas lotadas. Nós o seguimos até uma mesa perto das janelas onde podíamos ver uma montanha muito bonita, era uma festa para os olhos.

O guarda costas afro-americano, Milo, era um dos três homens na mesa. Ele se levantou quando nos viu. Era alto, musculoso, com cabelos cortados quadrado, bonito de maneira fria. Usava um casaco longo, estava muito quente para casacos.

Eu agarrei o braço de Richard, ele abrandou.

- Por favor. - eu disse.

Richard olhou para mim por trás das lentes pretas com os olhos perdidos. Eu nunca percebi o quanto de sua expressão estava em seus olhos. Eu não conseguia ler o que ele estava pensando. Com algum esforço poderia encontrar alguma coisa, mas a última coisa que eu queria fazer era ativar a marca na frente dos homens de Niley.

Richard me deixou andar um pouco à frente dele. Shang-Da colocou um paletó esporte sobre a camisa branca e calça preta. Ele me surpreendeu por ter uma arma calibre trinta e oito cromado. Ele tinha um coldre em suas costas que não deixava aparecer com a jaqueta. Quando eu o questionei sobre a arma ele disse:

- Eles não são polícias.

A lógica era boa e ele verificou a arma para ver se estava carregada. Segurou a arma como se já tivesse o hábito, era o primeiro licantropo que eu conhecia que carregava uma arma e parecia confortável com ela.

Era realmente agradável não ser a única pessoa do nosso grupo a usar uma arma.

Havia dois homens sentados, um deles tinha menos de vinte e cinco anos, cabelos castanhos encaracolados, corte curto e largo, o rosto quase surpreendente, não era Niley. O outro tinha 1,83 m e pesava cerca de 132 kg. Ele deu a impressão de ser exatamente musculoso, sem gordura. Seu cabelo era preto e estava começando a ficar calvo. Ele não fazia nada para esconder esse fato, em vez disso, o resto de seu cabelo foi cortado rente ao couro cabeludo. A falta de cabelo fazia seu rosto parecer pequeno demais para seus ombros largos.

O terno escuro era listrado combinando com a camisa branca, macia e cara. Ele usava um colete, mas sem gravata. A gola branca e larga mostrava uma onda de embranquecimento dos pelos do peito. Ele sorriu enquanto nos observava andando através das mesas cheias de turistas e crianças gritando.

Seus olhos eram agradáveis e vazios como uma serpente divertida. Ele acenou com as mãos, anéis de ouro brilhavam de cada dedo.

- Miss Blake, que bom que você veio. - Ele não se levantou, o que me fez pensar no que estava em seu colo. Um cano curto talvez? Ou talvez como seu discurso foi extremamente educado ele não achava necessário levantar-se por educação. Talvez ele não me considerasse uma Senhora. Talvez.

Shang-Da havia se virado para um lado de modo que ele e Milo estavam se enfrentando. Estreitei meu foco para Niley e o homem mais jovem. Ele me olhou como se devêssemos ter nos sentado em uma outra mesa cercado por pessoas normais fazendo coisas normais.

Niley me ofereceu sua mão e eu a peguei. Seu aperto era muito rápido, quase não nos tocamos.

- Este é Howard.

Howard não me ofereceu a mão, mas eu ofereci a minha para ele. Seus grandes olhos castanhos ficaram ainda maiores. Percebi que Howard tinha medo de mim. Interessante.

- Howard não aperta mãos. - disse Niley. - Ele é um poderoso clarividente. Tenho certeza que você entende.

Concordei.

- Eu nunca conheci um clarividente que gostasse do toque de um estranho.

Niley concordou balançando a cabeça pequena em seus ombros largos.

- Exatamente Miss Blake, exatamente.

Sentei-me e Richard deslizou na cadeira ao meu lado. Os olhos de Niley moveram-se de mim para Richard.

- Bem Sr. Zeeman, já nos encontramos no passado.

Richard olhou para ele por trás dos óculos escuros.

- Por que você a matou?

A aspereza em sua voz me fez estremecer .

Eu devo ter feito algum movimento porque Richard disse:

- Eu não vim aqui para brincar.

- Nem eu. - disse Niley. - Se você me acompanhar na sala ao lado, meus homens vão verificar se tem alguma escuta. Milo vai revistar o seu guarda costas. - Shang-Da. - disse Richard. - O nome dele é Shang-Da.

Niley ampliou ainda mais seu sorriso. Se conseguisse sorrir mais do que isso seu rosto dividiria ao meio.

- Claro.

- Quem vai me revistar?- Eu perguntei. - Howard?

Niley balançou a cabeça.

- Meu outro associado chegará mais tarde. - Ele levantou-se e não havia nada em seu colo. Paranóia? - Vamos Sr. Zeeman? Posso chamá-lo de Richard?

- Não. - disse Richard, a voz dele era grave e baixa como se quisesse dizer mais.

Toquei seu braço quando ele passou por mim, olhei para seu rosto tentando dizer para não fazer nada estúpido.

Niley pegou o outro braço de Richard como se fosse andar de braço dado com seu amante. Ele acariciou o braço de Richard.

- Ele é um sujeito bonito.

Richard me deu um olhar profundo e Niley o levou. Eu teria dado qualquer coisa para ver os seus olhos naquele momento. Normalmente os bandidos focam meus movimentos. Shang-Da voltou-se para Milo, eles se afastaram juntos sem se tocar, a tensão entre eles era grossa o suficiente para balançar.

Fiquei com Howard e de costas para a porta. Troquei de cadeira me sentando no lugar de Milo para que pudesse ver a entrada. Isso me deixou mais perto de Howard, e ele não gostou muito. Senti o cheiro de um elo mais fraco.

- O quanto você é bom?- Eu perguntei.

- Bom o suficiente para ter medo de vocês.

Eu fiz uma careta para ele.

- Eu não sou um dos caras maus Howard.

- Eu posso ver sua aura. - ele disse numa voz que eu mal podia ouvir acima do murmúrio das vozes e talheres.

A garçonete veio com copos de água e menus. Garanti a ela que os outros voltariam para a mesa, mas não tinha certeza se todos nós faríamos o pedido. Ela saiu com um sorriso.

Voltei-me para Howard.

- Então você pode ver a minha aura. Como?

- Eu sei o quanto é poderosa Anita, apenas sinto.

- Eu não posso ver sua aura Howard. Eu posso sentir um pouco do seu poder, mas não muito. Eu sinto. Mostre-me o que pode fazer.

- Porquê?

- Talvez porque eu esteja entediada.

Ele lambeu os lábios.

- Me dê algo benigno. Nenhuma arma, magia, nada.

Isso reduziu as minhas opções. Finalmente peguei a cruz no meu pescoço e entreguei a ele colocando na palma de sua mão.

- Não toque a minha pele. - ele disse.

Entreguei a cruz com cuidado para não tocá-lo. Ele fechou a mão sobre ela, não fechou os olhos, mas não estava vendo o restaurante. Olhou para tudo, e eu senti a ondulação de poder sobre mim como uma corrente elétrica minúscula.

- Eu vejo uma mulher mais velha, sua avó.- Ele piscou e olhou para mim. - Ela te deu isso quando você se formou no colegial.

Concordei.

- Impressionante.

Comecei a usar esta cruz recentemente. Eu a valorizava e tiraram de mim várias outras ao longo dos anos, mas ultimamente senti a necessidade de algo especial. Vovó Blake me deu com uma nota que dizia: "Que sua fé seja tão forte como esta cruz e tão pura como esta prata". Ultimamente eu precisava de toda a pureza que pudesse receber.

Olhos de Howard passaram por mim olhando para algo no final da sala. Sua respiração parou por um segundo como um suspiro inaudível.

Virei-me para ver o que havia capturado sua atenção tão completamente. O homem tinha perto de 2,13 metros de altura e pesava mais de 200 quilos. Seu rosto estava totalmente pelado e não apenas barbeado. Ele não tinha pestanas, nada, liso e irreal. Seus olhos eram um cinza quase incolor muito pequenos para o rosto grande. Ele usava uma camisa preta sobre calças pretas e sapatos pretos. A pele dos braços e rosto eram inacreditavelmente brancas, como se o sol nunca o tocasse.

O homem não fez minha pele rastejar com seu poder. Na verdade ele estava vazio, caminhando em nossa direção como se estivesse protegendo a si mesmo.

Me levantei. Em parte por seu tamanho e também por todo esse nada, como se ele não estivesse lá. Eu não gosto quando alguém trabalha duro para se proteger. Geralmente significava que tem algo a esconder, se este era o feiticeiro que matou Betty, eu sabia exatamente o que ele estava escondendo.

O homem parou na nossa frente. Howard fez as apresentações.

- Linus, esta é Anita Blake. Anita, este é Linus Beck.

A voz de Howard era mais alta do que deveria, como se estivesse com medo. Ele parecia temer muita gente.

Linus Beck sorriu para mim. Sua voz quando falou era chocante, uma soprano delicado de voz.

- Prazer em conhece-la Anita. É raro encontrar um companheiro praticante das artes.

- Nós não praticamos o mesmo tipo de magia, Linus.

- Você tem certeza?- ele perguntou.

- Positivo. - Mesmo de pé tive que virar meu pescoço para cima para ver seu rosto. - Por que Niley precisa de um vidente de primeira linha e um feiticeiro?

Linus Beck sorriu e parecia genuíno.

- Você sabe o termo correto, isso me agrada.

- Fico feliz em ouvir isso. Agora responda à pergunta.

- Depois que eu verificar se tem alguma escuta, todas as perguntas serão respondidas.

Olhei para suas grandes mãos brancas e não queria que ele me tocasse. Não havia quase nenhum pêlo, mesmo em seus braços. Era como o braço de uma criança pequena. Algo estalou na minha cabeça e eu olhei para ele. Talvez ele tenha visto no meu rosto, talvez tenha lido minha mente.

- A minha masculinidade foi sacrificada há muitos anos para que eu servisse melhor ao meu mestre.

Pisquei para ele.

- Você é um eunuco?

Ele confirmou com a cabeça pequena.

Eu queria perguntar porquê, mas fiquei calada. Nenhuma resposta faria sentido, então por que se preocupar?

- Que tipo de pessoa você é, sociopata, psicopata ou esquizofrênico?

Ele piscou os olhos pequenos, o sorriso desaparecendo.

- Várias pessoas me disseram que eu era louco. Eu ouço vozes, a voz de meu senhor.

- Sim, mas era a voz de seu mestre ou apenas a química do cérebro ruim?

Seu olhar severo se aprofundou.

- Eu não sei o que você quer dizer.

Suspirei, ele provavelmente não sabia. Feiticeiros eram pessoas que tem magia através de demônios; ou pior; poder. Negociam sua alma por dinheiro, conforto, luxúria e poder, mas alguns eram possuídos. Pessoas enfraquecidas por alguma falha: doença mental ou até mesmo falha de caráter. O tipo certo de falha pode atrair o mal.

Niley voltou com os outros homens. Ele e Richard não estavam mais de mãos dadas. O rosto de Richard estava tenso e irritado. Shang-Da encarava Milo de longe como se nada tivesse acontecido, Niley parecia feliz e satisfeito consigo mesmo. Ele bateu nas costas de Linus e o eunuco levou a mão do outro homem a boca e beijou-a.

Talvez eu não soubesse muito sobre eunucos como pensava, achei que fossem assexuados. Talvez eu estivesse errada.

- Linus vai procurar por alguma escuta, depois então nós conversaremos.

- Eu não quero que ele me toque. Nada pessoal Linus.

- Você tem medo do meu senhor. - ele disse.

Concordei.

- Pode apostar.

- Eu insisto que Linus te reviste caso tenha alguma magia ou outra coisa que possa nos perturbar.

Eu fiz uma careta para ele.

- Como o quê? Uma granada de mão sagrada?

Niley confirmou o comentário a distância.

- Linus deve verificar, mas se quiser, um de seus homens pode acompanhá-los. Eu não gostei disso, mas provavelmente era a melhor oferta que conseguiria. A garçonete veio e anotou nossos pedidos, eu percebi que estava com fome. Você aprende que é capaz de comer no meio de uma catástrofe, ou pode ter outro tipo de problema. Serviam almoço todos os dias, pedi panquecas com xarope de bordo e bacon.

Richard me olhou chocado.

- Como você pode comer?

- Você tem que aprender a comer no meio de uma catástrofe, ou arranja outro tipo de problema Richard.

- Muito prática Sra Blake. - Niley disse.

Olhei para ele e senti uma pequena curva de sorriso desagradável em meus lábios.

- Apenas recentemente Sr. Niley, me tornei muito, muito prática.

- Bom. - disse ele - muito bom. Então entendemos uns aos outros.

Eu balancei minha cabeça.

- Não Sr. Niley, eu não entendo você, sei o que você é e o que vai fazer, mas não entendo porquê.

- E o que eu sou Miss Blake?

O sorriso cresceu.

- Um cara mau, Sr. Niley; você é um cara mau.

Ele balançou a cabeça.

- Sim, eu sou um cara muito mau.

- Acho que isso nos torna os mocinhos. - eu disse.

Niley sorriu.

- Eu sei o que sou Miss Blake, e estou contente com isso. E você, está contente com o que é?

Olhamos um para o outro por um longo momento.

- Meu estado de espírito realmente não tem nada a ver com seus negócios.

- Você entende o suficiente. - disse ele.

- Vamos logo com isso. - eu disse.

Finalmente todos nós nos mexemos, até mesmo Richard. Quando a garçonete se afastou, Linus, Richard e eu fomos para a sala de descanso para que ele pudesse procurar dispositivos de escuta ou armadilhas mágicas.

Eu só tinha uma pergunta.

- Qual banheiro vamos usar?


35

Usamos o banheiro dos homens. Senti as mãos de Linus estranhamente suaves como se não houvesse músculos sob a pele, apenas ossos e carne. Talvez ele tivesse desistido de outras coisas para servir ao seu mestre, era assustador, mas estava completo. Ele passou os dedos pelos meus cabelos, o que a maioria das pessoas esquece de fazer. Se comportou mesmo quando suas mãos estavam em áreas delicadas, não deu nenhum motivo para Richard brigar com ele. Nem eu.

Marchamos de volta para a mesa. A comida não tinha chegado ainda, mas tinha o meu café. Tudo fica melhor com café.

Eu estava novamente na cadeira de costas para a porta. Se tivéssemos chegado ali primeiro, eles estariam nessas cadeiras. Linus sentou-se a direita de Niley, percebi o porque de não estarmos em uma área mais reservada. Linus não caberia.

- Você queria falar comigo Niley, então fale. - Eu bebia o café, estava amargo e tinha ficado em banho-maria por muito tempo, mas não há nada como uma xícara de café, espero que a comida seja melhor.

- Quero que você saia da cidade, Anita.

- Wilkes e seus homens já nos expulsaram. Dissemos a eles que deixaríamos a cidade ao por do sol. - eu disse.

- Eu sei o que você disse ao bom Xerife. - disse Niley.

Ele não estava sorrindo agora, seus olhos eram frios, o humor morrendo em seu rosto como o sol poente, deixando o mundo na escuridão.

- Acho que ele não acredita que vamos embora, Richard. - eu disse.

- Eu não me importo com o que ele acredita. - disse Richard.

Olhei para Richard, ele estava sentado com os braços cruzados olhando para Niley.

- Por que é tão importante que eu saia da cidade Niley?

- Eu lhe disse, os espíritos dizem que lutar com você é a morte.

Eu balancei a cabeça.

- Que espíritos?

- Howard utiliza o tabuleiro Ouija bem como seus outros pertences. Os espíritos alertaram para uma Senhora Morte. Uma mulher que seria a minha ruína, fomos avisados com relação a esta compra. Quando ouvi o seu nome, soube que a Sra. Morte era você. Os espíritos dizem que se eu lutar, você me matará.

- Assim, você enviou Wilkes e seus valentões para me assustar.

- Sim, e contratei dois capangas locais para matá-la. Estão mortos?

Eu sorri.

- Eu não procurei escutas em vocês, não é?

Ele parecia achar divertido.

- Acho que não, mas eu acho que os dois homens não voltarão para pegar a segunda parte do pagamento.

- Pode-se supor que não. - eu disse.

A garçonete veio com a nossa comida. Ficamos em silêncio enquanto nos servia. Ela colocou o xarope de bordo na minha frente e perguntou se queríamos mais alguma coisa. Todos nós balançamos a cabeça, e ela se foi.

Olhei para minhas panquecas e desejei não ter pedido. Eu não estava mais com vontade.

- Se você não está querendo me confrontar diretamente, então por que a mudança de planos? Porquê esta reunião?

Ele sorriu e cortou um pedaço do seu omelete.

- Anita, não seja tímida. Acho que nós dois sabemos que Wilkes não tem estômago para este trabalho. Ele pode até mesmo atirar em você, mas não está verdadeiramente à altura de te assustar. Sua ameaça, digamos, carece de um determinado fator medo. - Levou sua omelete a boca e mastigou.

- E como será a próxima ameaça?- Eu perguntei, derramando calda nas minhas panquecas.

Ele sorriu, limpou a boca com um guardanapo e balançou a cabeça.

- Vamos deixar isso por último. Agora faça suas perguntas.

- Por que você quer esse pedaço de terra?

Richard deslocou-se na cadeira inclinando-se para a frente. Ele estava pensando sobre essa questão mais do que eu.

- Existe uma relíquia naquela terra em algum lugar, preciso possuir a terra para rasgá-la e procurar a relíquia.

- Que relíquia?- Eu perguntei.

Ele sorriu.

- A lança que trespassou Cristo.

Olhei para ele por mais tempo. Ele não parecia estar brincando.

- Isso é um mito Niley.

- Você não acredita em Cristo?

- Claro que sim, mas uma lança romana não dura milhares de anos. Ela se perdeu há muito tempo.

- Você acredita no Graal? - ele perguntou.

- O Graal é um fato histórico, foi encontrado e se perdeu duas vezes na história. A lança nunca foi autenticada. Ela passou pelos ossos de algum Santo, mas é apenas uma isca para os ingênuos.

- Você é uma incrédula Anita?

- Não. - eu disse. - Como ela foi parar nas montanhas do Tennessee?

- A lança foi dada como um dom particular do presidente James Madison.

Eu fiz uma careta para ele.

- Eu não me lembro disso nas aulas de história.

- Está listado entre os presentes de um certo principado no Leste do Mediterrâneo. Uma lança romana. Infelizmente foi um dos itens que desapareceu depois que os britânicos queimaram e saquearam Washington, DC em 1815.

- Eu me lembro de ler sobre o incêndio da Casa Branca durante a Guerra de 1812. Coisas valorosas desapareceram, digamos que você esteja certo, como foi parar aqui?- Eu perguntei.

- Howard o perseguiu até aqui através de seus dons psíquicos. Os espíritos nos trouxeram a este lugar. Contratamos um adivinho e ele traçou uma linha fora dos limites da nossa área de pesquisa. Essa área fica dentro da terra de Greene.

- Pesquise a terra. - disse Richard. - Você não tem que comprá-la para fazer isso, não tem que perturbar os trolls em busca de uma lança.

- Poderia estar enterrado em qualquer lugar Richard. Acho que Greene não gostaria de nos ver cavando a sua propriedade, a menos que fosse minha.

- Estou impressionado que Greene ainda esteja vivo. - eu disse.

- Nós sabemos da vontade do seu pai. Você sabia que se o filho do homem morrer, a terra se tornará uma reserva animal? Ele era apaixonado por seus trolls Sr. Zeeman, o falecido Farmer Greene.

- Eu não sabia disso. - disse Richard.

- John Greene, o filho de Farmer tentou vender a terra para nós. Ele nos falou sobre o testamento de seu pai e estava reclamando disso, mas ele salvou sua vida. Portanto temos que comprar a terra e os trolls devem ser eliminados, a menos que você simplesmente pare de combater a venda no tribunal. - Niley sorriu para Richard. - Você faria isso por mim Richard? Só compraremos o terreno, eu prometo que vamos perturbar os seus trolls o mínimo possível.

Richard inclinou-se para mim e sussurrou:

- Você está passando o seu pé para cima e para baixo na minha perna?

Olhei para ele.

- Não.

Richard afastou a cadeira para trás com um ranger alto, se aproximou de mim, um braço ao redor da parte traseira de minha cadeira.

- Uma vez que você possua a terra Niley, você poderá arrasá-la e nós não poderemos impedi-lo. A única coisa que podemos fazer é evitar a compra.

- Richard você me decepcionou. Depois do nosso pequeno tête à tête no banheiro, pensei que éramos amigos.

Richard corou até a raiz do cabelo.

- Por que você matou Betty?

- Para acusar os trolls pela morte de uma pessoa. Eu pensei que você estivesse preso agora.

- Pela morte de Betty?

Linus respondeu com sua voz alta e musical.

- Ela era uma mentirosa, traiçoeira, e uma coisa arbitrária. Abriu-se para o mal.

O poder saiu de Richard a minha volta. Uma aura quase visível de calor pairou em torno dele, isso acessou algo dentro de mim. Eu coloquei a mão em sua coxa. Ele saltou até que percebeu que era eu então se acomodou. Pensei em acalmar os pensamentos dele, mas ele estava pensando em Betty e o pensamento era forte o suficiente para que me desse um flash. Eu tive um visual rápido dos seus seios rasgados, ele se levantou tão abruptamente que sua cadeira caiu no chão. Suas mãos estavam sobre a mesa, ele balançava suavemente, pensei que fosse desmaiar.

Comecei a tocá-lo, mas tinha medo de ver mais coisas, Shang-Da segurou seu braço.

As vozes em torno de nós tinham se acalmado, silenciado. Todos estavam nos olhando.

- Por favor Richard, sente-se. - eu sussurrei.

Shang-Da o ajudou a se sentar, todos esperamos calmamente observando os outros até que as vozes no restaurante voltaram e todos voltaram a comer. Howard sussurrou:

- Sua aura mudou por um momento. O que existe entre vocês?

A voz de Richard saiu espremida.

- Betty não era perfeita, mas não merecia morrer assim. - Ele inclinou seu rosto em direção à mesa e percebi que estava chorando.

Toquei suas costas esfregando em pequenos círculos.

- Seu plano de culpar os trolls pela morte dela fracassou. E agora?

- Não importa o que vamos fazer a seguir Anita. Você estará fora da cidade.

- Nós dissemos a Wilkes que estávamos saindo. - eu disse.

Richard tirou os óculos e enxugou os olhos com as palmas das mãos.

- Olhe para mim, por favor Richard. - Niley disse.

Talvez tenha sido o "por favor", Richard olhou para a mesa. Por um instante Niley viu seus olhos.

- Esses lindos olhos castanhos. Você é uma mulher de sorte, Anita.

Richard começou a empurrar a cadeira com os pés. Eu coloquei a mão em seu braço, seus músculos estavam duros e tão tensos que zumbia com eles, eu podia sentir seu desejo de saltar por cima da mesa e machucar Niley.

- Eu quero ter certeza de que você também vai embora. Ultimamente os espíritos de Howard dizem que uma besta vai ajudar a moça. Acho que estou olhado para a besta.

- Como você soube?- Eu perguntei.

Richard colocou os óculos de volta no lugar e deslizou sua cadeira para trás da mesa. Seus ombros estavam curvados, a camiseta esticada pelas costuras.

- Os vampiros locais não gostam muito de você. - disse Niley. - Eu me aproximei deles tentando reunir informações sobre a lança. Alguns deles estão nesta área tempo suficiente para ter assistido ao evento. Infelizmente eles não sabem, mas me disseram coisas interessantes sobre você, Richard e o Mestre da cidade de Saint Louis. Disseram que era um ménage à trois, embora Richard pareça relutante em admitir seu interesse por homens.

- Não acredite em tudo o que ouve Niley, especialmente de pessoas que não gostam de nós. Seus inimigos sempre compõem rumores melhores do que seus amigos.

Niley amuou.

- Oh. Então meus avanços não foram muito desejados de fato.- Ele riu. O sorriso desapareceu. - Acho que é hora da ameaça.

- Divirta-se. - eu disse.

- Acho que vou atirar um dardo tranquilizante a distância em Richard, quando ele acordar estará preso por correntes de prata e de bruços, nu. Eu vou estuprá-lo e vou desfrutá-lo, então deixarei que Linus corte sua garganta, Linus vai gostar disso. - Ele virou os olhos frios para mim. - Quanto a você Anita, vou dar Linus para o seu mestre.

Linus se virou para mim, ele parecia o mesmo, mas a pele nas minhas costas tentou se desprender, rastejar e se esconder. Todos os pêlos do meu braço se levantaram. Howard engasgou e se abraçou.

Olhei para Linus e não tentei esconder, eu estava com medo dele e do que estava dentro dele.

Niley riu, um som profundo e agradável.

- Acho que finalmente estamos nos entendendo Anita.

Richard virou-se e olhou para Linus. Os pêlos de seus braços estavam arrepiados também. Ele falou olhando diretamente para o feiticeiro.

- Como caíste do céu, ó estrela do dia, filho da Aurora!

No primeiro momento o poder terrível recuou, a pele rastejou um pouco menos, o rosto de Linus não era mais agradável.

Richard disse:

- Como você é cortado por terra, tu que lançou as nações de baixo! Você disse em seu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus, eu o meu trono em alta. - Isaías. - Com a última linha, o cheiro do mal recuou. Ele permaneceu como o perfume em uma sala vazia, mas foi fechado por agora.

- Impressionante Richard. - Niley disse. - Então você é um verdadeiro crente.

Richard levantou-se lentamente de sua cadeira, colocou a mão na mesa e inclinou-se através dela. Senti a pressa das picadas de energia como um fio quente puxando minha pele. Ele baixou os óculos escuros para Niley apenas o suficiente para ver seus olhos, e eu sabia o que ele estava fazendo, sabia o que estava mostrando a Niley, seus olhos castanhos mudando para lobo âmbar.

Richard falou baixo e com cuidado.

- E a luz resplandeceu nas trevas, e as trevas não a compreenderam.- Ele arrumou o óculos sobre os olhos, levantou e se afastou da mesa. Estendeu a mão para mim, eu a peguei e o deixei me levar para fora do restaurante. Shang-Da seguia as nossas costas.

Arrisquei uma olhada para trás, não virei uma estátua de sal, mas vi o rosto de Niley. E eu sabia sem dúvida, que ele nos queria mortos.


36

Eu nem sequer perguntei a Richard se estávamos saindo mesmo da cidade. Eu sabia a resposta e sinceramente eu estava com ele. Se existisse a mínima chance de Niley estar certo sobre a lança estar aqui, não poderíamos deixar que ele a tivesse. Mas era mais do que isso, Richard tinha desenhado uma linha na areia; o bem contra o mal. Bom, não se pode enfiar o rabo entre as pernas e correr, é contra as regras.

Demorou cerca de três horas para deixarmos a cidade. Colocamos Jamil na parte de trás do furgão com um caixão de cada lado. Nathaniel conseguiu fazer sua parte, feriu as costas defendendo a minha honra. Embora tenha admitido que não tinha lutado como um lobisomem ansioso. No entanto se machucou, ele ficou atrás com os feridos, provavelmente para se esticar em cima de um caixão. Cherry estava com eles, acho que para agir como uma agente da paz. Jamil não parece gostar muito de Nathaniel. Eu dirigia o carro e Richard nos seguia em seu 4X4 com Shang-Da e todo o equipamento que ele trouxe para um verão inteiro de camping para estudar os grandes primatas. Todos estavam comigo.

O Xerife Wilkes enviou Maiden e Thompson para nos escoltar para fora da cidade em preto e branco, ou neste caso, azul e branco, mas o efeito era o mesmo. Thompson acenou alegremente quando passamos por eles no limite da cidade. Teria sido infantil mostrar-lhe o dedo, assim eu não fiz isso. Zane fez isso por mim. Jason soprou-lhes um beijo.

Rodamos por mais de uma hora para um encontro prévio com Verne. Não poderíamos ficar todos em uma casa. Muita gente nova poderia levantar suspeitas, então nos dividimos. Eu não gostei disso, mas tinha que concordar que todos juntos fazíamos um show muito bom.

Eu acabei indo para a casa de Marianne. Eu montei na parte traseira de seu caminhão com Zane, Cherry, e os caixões. Nathaniel começou a andar para a cabine do caminhão por causa das feridas abertas pelas garras. A ferida de bala de Zane parecia estar se curando muito mais rápido do que as marcas de garras. Eu não tinha certeza se era porque Nathaniel era um curandeiro lento, ou se ferimentos de bala se curavam mais rápido do que garras.

Ficar na carroceria aberta do caminhão não foi uma boa idéia. Eu estava no canto perto da cabine com o caixão de Damian pressionando minhas costelas.

Se eu pressionasse a cabeça contra o caminhão para apoiar meu pescoço, os dentes sacudiam. Se me sentasse mais, meu pescoço sacudia a cada buraco. Era como uma batida sem fim, até que meus ossos zumbiam como se eu tivesse uma dor de cabeça do tamanho de Idaho, no meio da testa. O sol era como uma mancha de fogo amarelo no céu. Ele queimava sem pestanejar, implacável, até o suor escorrer pelo meu rosto e braços.

Zane estava no canto oposto ao meu encostado contra o caixão de Asher. Sua camiseta preta tinha se moldado a ele como uma segunda pele suada. Cherry tinha escolhido uma camiseta branca. A poeira vermelha da estrada se agarrou ao tecido branco e misturou com o suor, parecia sangue seco.

Meu cabelo tinha se transformado em uma massa de cachos suados. Não aqueles cachos bonitos tipo Shirley Temple, apenas uma bagunça. Os cabelos de Zane e Cherry eram lisos e estavam colados contra suas cabeças.

Nós três não fazíamos nenhum esforço para falar, estávamos liquidados pelo calor e o sacolejar da carroceria, algo a ser suportado e não compartilhado.

A estrada de terra acabou e foi substituída pelo asfalto, e a suavidade súbita era quase surpreendente. Eu podia ouvir novamente.

- Graças a Deus. - disse Cherry.

Marianne gritou para nós

- Escondam-se, está vindo um carro.

Entramos sob a lona que cobria os caixões. Havia uma segunda lona e cordas embaixo de mim. A lona cheirava a mofo, eu não sabia se estava mais fria por causa da sombra ou mais quente por causa da falta de ar. Pensei ter ouvido um carro passar sobre o cascalho, Marianne não nos disse para levantar, então eu não sabia. Eu podia ver Zane através da penumbra quente, olhamos um para o outro com olhos baços, então eu sorri. Ele sorriu. Tudo começou a ser engraçado. Você acaba de atingir um nível de desconforto onde quer gritar ou rir.

O caminhão balançou como chocalho. No silêncio repentino, eu podia ouvir Zane rindo. A voz de Cherry veio claramente:

- Que diabos é tão engraçado?

- Estamos em casa, meninos e meninas. - disse Marianne. - Vocês podem sair agora.

Zane me arrastou para fora, para o ar livre ainda rindo. Cherry franziu o cenho para nós dois.

- O que é tão engraçado?

Nós balançamos a cabeça, ou você entende a piada ou não entende. Não poderia ser explicada, nem mesmo para nós mesmos.

Marianne veio para perto de mim.

- Estou contente de ver que você está com um estado de espírito melhor .

Corri minhas mãos em meus cabelos e quase podia espremer o suor para fora dele.

- Poderia muito bem estar de bom humor. O dia não vai melhorar.

Marianne franziu a testa.

- O pessimismo é inapropriado em alguém tão jovem.

Ela ficou lá olhando e analisando, vestindo uma camisa branca sem mangas, amarrada na cintura. Não era uma barriga, mas dava a ilusão de uma. Um par de shorts azul pálido e liso, tênis branco completaram as vestes. Seu cabelo estava preso em um coque. O cabelo era todo estrias: cinza prateado, louro e branco. O dia mostrava as linhas finas em seus olhos e boca que não tinha sido visível na noite passada. Mais de cinquenta anos, mas o corpo ainda era magro e firme. Ela estava confortável e muito calma.

- Preciso de um banho. - eu disse.

- Eu sou a próxima. - disse Cherry.

Zane apenas balançou a cabeça.

- Bem-vindos a minha casa. - disse Marianne.

O caminhão estava estacionado no cascalho. A casa tinha janelas e uma rosa amarela levantou-se em um dos lados do alpendre. Havia duas parreiras de gerânio branco e rosa na parte inferior dos degraus da varanda ampla. As flores eram exuberantes e bem regadas. O quintal era castanho e morria no calor do verão. Na verdade eu aprovava. Um pequeno bando de galinhas bicavam o chão seco do estaleiro.

- Gostei. - eu disse.

Ela sorriu.

- Obrigada, o celeiro está mais para lá, escondido pelas árvores. Eu tenho algumas vacas e cavalos. Tenho um jardim atrás da casa, você poderá vê-lo de seu quarto.

- Ótimo, obrigada.

Ela sorriu.

- Por que eu acho que você não se importa com a minha plantação de tomate?

- Deixe-me tomar um banho e poderei ver tudo isso.

- Nós podemos descarregar os caixões, em seguida, os dois homens-leopardo podem tomar um banho. Eu espero que haja bastante água quente para três banhos. Se dois de vocês pudessem compartilhar o chuveiro poderiam conservar a água.

- Eu não compartilho meu banho. - eu disse e olhei para Cherry.

Ela encolheu os ombros,

- Zane e eu podemos compartilhar.

Deve ter aparecido algo em meu rosto porque ela acrescentou:

- Nós não somos amantes, Anita. Apesar de ter sido. ... Será um conforto nos tocar. Isto não é sexual. É como ...- Ela olhou para Marianne como se pedisse ajudar.

Marianne sorriu.

- Uma das coisas que liga um bando é o toque. Eles se tocam constantemente. Não precisam ter um relacionamento, apenas se importam uns com os outros.

Eu balancei minha cabeça.

- Não vou compartilhar o meu banho.

- Ninguém está pedindo isso para você. - disse Marianne. - Há muitas maneiras de forjar um vínculo no bando, Anita.

- Eu não sou parte do bando. - eu disse.

- Há muitas maneiras de ser parte do bando, Anita. Eu encontrei o meu lugar entre eles, e não sou lukoi. - Ela nos deixou descarregando os caixões enquanto levava Nathaniel para se deitar. Cherry e Zane ajudaram a arrumar os caixões no porão, em seguida foram tomar seu banho.

A entrada para o porão era do lado de fora como um modelo de adega antiga. A porta traseira era toda de tela e madeira. Marianne entrou em silêncio e parou na porta bloqueando o meu caminho.

Ela estava sorrindo e parecia calma e em paz no centro do seu universo. Bastou olhar para seu rosto e me deu um comichão desconfortável. Deu vontade de gritar e correr, seu universo era tão confuso quanto o meu. Como ela ousava ficar contente quando eu estava tão confusa?

- O que foi agora, filha? Eu posso ouvir sua confusão como abelhas zumbindo nas paredes.

Havia vários pinheiros perto da parte de trás da casa, como uma linha de soldados. O ar cheirava a um Natal perpétuo. Normalmente gosto do cheiro de pinho, mas não hoje. Eu apenas não estava em um estado de espírito do Natal. Debrucei-me contra as tábuas da casa enquanto ela ficava na pequena varanda olhando para mim.

A Firestar estava nas minhas costas, puxei-a e a coloquei na frente do meu jeans. Foda-se se alguém viu.

- Você viu Verne? - eu perguntei.

Ela olhou para mim com seus olhos cinzentos, calmos e ilegíveis.

- Eu vi o que você fez no pescoço dele se é isso o que quer dizer.

- Sim, é isso o que eu quero dizer.

- Sua marca no pescoço prova duas coisas para todos nós. Que você se considera igual a ele, mas não dispõem de pequenos dentes, e que você não está feliz com a sua hospitalidade. É isso mesmo?

Pensei sobre isso por um momento, então disse:

- Eu não reconheço ninguém como dominante para mim. Talvez eles possam me vencer ou me matar, mas não são melhores do que eu. Força não significa ser o melhor ou o mais dominante.

- Há aqueles que querem discutir com você Anita, mas eu não sou um deles.

- E não, eu não estou feliz com sua hospitalidade. Destrui a maioria dos vampiros de Colin para vocês. Verne ficou feliz da vida, mas ele ainda não me viu com minhas armas. Se eu estivesse armada, os bandidos não teriam quase matado Jamil, Jason ou Zane, isso foi o inferno para mim.

- Verne lamentou a noite de ontem, ou ele não teria se oferecido para você.

- Ele foi muito educado, mas eu não quis marcá-lo. Eu não queria fazer aquilo. Você consegue entender Marianne? Eu não fiz de propósito. Assim como na noite passada com o Munin, esta manhã eu não estava no controle, fui seduzida pelo cheiro de carne e sangue quente. ... Foi assustador.

Ela riu.

- Assustador? Será que é a melhor palavra que pode dizer Anita? Assustador. Você é o carrasco e uma força a ser temida, mas ainda é muito jovem ....

Eu olhei para ela.

- Quer dizer... ingênua?

- Você não é ingênua no sentido da palavra. Tenho certeza que já viu mais sangue e morte do que eu. A violência mancha o seu poder. Você quer atraí-lo e persegui-lo. Mas há algo em você que permanece fresco e de alguma forma perpetuamente infantil. Não importa o quão cansada você cresça, haverá sempre uma parte de você que será ingenua e não maldita.

Eu queria mexer com a intensidade do seu olhar ou correr.

- Estou perdendo o controle da minha vida Marianne, e o controle é muito importante para mim.

- Eu diria que esse controle é uma das coisas mais importantes para você.

Concordei, meu cabelo pegando na pintura descascada da casa. Eu empurrei longe os conselhos para ficar na frente dela no quintal empoeirado.

- Como posso retomar o controle Marianne? Você parece ter todas as respostas. Ela riu de novo, um som saudável.

- Não tenho todas as respostas, mas as respostas que você procura talvez. Sei que o Munin virá para você de novo. Pode ser quando você menos esperar ou quando você precisar mais do seu precioso controle. Isso pode dominá-la e o custo será a vida de pessoas queridas como poderia ter acontecido ontem à noite. Tudo o que Richard tentou matar para chegar até você foi feito com a intercessão de Verne.

- Raina adoraria arrastar um de nós até o túmulo.

- Senti o prazer do Munin em destruir. Você é atraída para a violência, mas apenas enquanto ela serve a um propósito maior. É uma ferramenta que ele utiliza bem. Sua velha lupa foi atraída para a violência em si, como uma coisa destrutiva. Destruir tudo o que toca. É bem irônico que alguém tão dedicada a negatividade pudesse curar.

- A vida é cheia de ironias. - eu disse e não tentei manter o sarcasmo da minha voz.

- Você tem uma chance de transformar seu Munin, sua essência, em algo positivo. De certa forma, você pode ajudá-la a trabalhar com algum espírito de seu carma.

Eu fiz uma careta e ela acenou com as mãos.

- Minhas desculpas, vou manter a filosofia ao mínimo. Acredito que posso ajudá-la a chamar e a domar o Munin. Acredito que juntas podemos começar a explorar todos os diferentes tipos de energia que está sendo oferecido agora. Eu posso ensinar você não apenas a domar o Munin, mas este vampiro mestre de vocês, e até mesmo seu Ulfric. Essa é a chave Anita, a ponte. Os sentimentos deles por você são parte da ligação que tem sido feito entre os três. Eu e você podemos torna-la o cavaleiro e não o cavalo.

Houve um ardor no rosto, uma força que fez a minha pele reagir. Ela sabia o que dizer e acreditava nisso. E estranhamente eu também

- Eu quero controlar tudo isso Marianne, quero mais do que quase qualquer outra coisa agora. Se eu não posso pará-la, quero controlá-la.

Ela sorriu e fez seu olhos brilharem.

- Bom, então vamos começar com a nossa primeira lição.

Eu fiz uma careta para ela.

- Que lição?

- Venha para casa, Anita. A primeira lição está esperando por você se o seu coração e mente estiverem abertos para ele. - Ela entrou sem esperar por mim.

Fiquei ali por um momento no calor do verão. Se o meu coração e mente estivessem abertos para ele. O que diabos isso significa? Bem, como diz o clichê, só há uma maneira de descobrir, abri a porta de tela e caminhei para dentro. A lição número um estava esperando por mim.


37

Marianne me levou para o quarto onde estava Nathaniel. Era um quarto grande no andar de baixo. Horas antes, o quarto teria sido preenchido com a luz da manhã, mas agora, quase três horas da tarde, estava escuro, quase negro. A janela estava aberta e uma brisa tinha finalmente nos encontrado movimentando a cortina rendada. Um pequeno ventilador oscilava em uma cadeira para que o ar pudesse esfriar a cama. O papel de parede era branco com uma linha fina de flores rosa. Havia uma grande mancha castanho de água no canto do teto, como uma mancha gigante de tinta de Rorschach.

A cama era de latão e tinha sido pintada de branco. Havia um acolchoado com várias rosas bordadas a mão. Marianne a tinha dobrado e a colocado no topo de uma grande caixa de cedro que estava debaixo da janela. - Muito quente para colchas. - ela disse.

Nathaniel estava nu sobre os lençóis cor de rosa. Marianne dobrou os lençóis em suas coxas acariciando seu ombro em uma espécie de carinho de mãe. Eu teria protestado sobre a sua nudez, mas pude ver claramente as feridas pela primeira vez.

Algo com garras o acertou ampla e profundamente, começando no meio das costas até o lado direito de suas nádegas. O ferimento era profundo e estava cicatrizando em suas costas. A roupa sobre o ferimento devia doer muito.

Fiquei surpresa de que Nathaniel não tivesse me mostrado suas feridas mais cedo, ele geralmente se esforça ao máximo para me mostrar o seu corpo. O que mudou?

Marianne apontou para o telefone ao lado da cama.

- No caso do seu amigo precisar chamar a polícia. Eu tenho um telefone sem fio para as chamadas normais, mas uso o telefone da cabeceira para assuntos do bando.

- Assim, ninguém pode acidentalmente monitorar o telefone sem fio. - eu disse.

Marianne concordou. Ela caminhou para a penteadeira que tinha um espelho oval pesado em mármore e puxadores nas gavetas.

- Quando eu era uma menina e estava ferida ou solitária, especialmente quando estava muito quente, minha mãe escovava o meu cabelo. Ela o escovava até ficar como seda em minhas costas.- Ela virou-se com uma escova de cabelos nas mãos. - Mesmo agora quando estou triste, um dos meus maiores prazeres é que algum amigo escove meus cabelos.

Olhei para ela.

- Você está sugerindo que eu escove o cabelo?

Ela sorriu e foi brilhante e encantador, e eu não confiei nesse sorriso.

- Não, estou sugerindo que você escove o cabelo de Nathaniel.

Fiquei olhando para ela.

- Como é?

Ela caminhou em minha direção me oferecendo a escova com o mesmo sorriso alegre no rosto.

- Parte do que a torna vulnerável a Raina é o seu próprio escrúpulo.

- Eu não tenho escrúpulos.

- Puritanismo então. - disse ela.

Eu fiz uma careta.

- E o que isso quer dizer?

- Isso significa que cada vez que um dos licantropos despe-se, você se sente envergonhada. Toda vez que um deles a toca, você leva pelo lado sexual. Isso nem sempre é o que significa. Um bando saudável é construído de mil toques suaves, um milhão de pequenos confortos. É como construir um relacionamento com um namorado, cada toque constrói e fortalece.

Minha carranca se aprofundou.

- Eu pensei que você disse que não era sexual.

- Vamos usar uma metáfora diferente então. É como construir o seu relacionamento com um bebê recém-nascido. Cada toque, cada vez que você o alimenta quando ele está com fome, troca-o quando está molhado, confortá-o quando está com medo, a intimidade cotidiana forja um vínculo entre vocês. A paternidade verdadeira é construída ao longo de anos de interdependência. A ligação entre o bando é construída da mesma maneira.

Olhei para a cama, Nathaniel ainda estava deitado e nu, exceto pelos lençóis em seus pés. Voltei para Marianne.

- Se ele fosse um bebê recém-nascido eu estaria bem por ele estar nu, poderia estar com medo de deixá-lo cair, mas não ficaria envergonhada.

- E isso é precisamente o meu ponto. - ela disse e estendeu a escova para mim. - Se você pudesse controlar o Munin, poderia curar suas feridas. Você poderia acabar com a sua dor.

- Você está sugerindo que eu propositadamente tente chamar Raina?

- Não Anita. Esta é a primeira lição e não um exercício de graduação. Hoje eu simplesmente quero que você tente ficar mais confortável em torno de sua nudez. Acredito que se puder ficar menos sensível nessas situações, Raina não vai se segurar tanto em você. Anita, você evita situações como esta e deixa um vazio, um lugar onde não vai de bom grado. Então Raina se aproveita desse vazio e a obriga a ir muito mais longe do que você teria ido sozinha.

- E que bem fará escovar o cabelo de Nathaniel?

Ela segurou a escova a centímetros de mim de braços cruzados.

- É uma coisa pequena Anita. Uma coisa para confortá-lo enquanto esperamos o Dr. Patrick chegar, ele vai aplicar um remédio para a dor, mas antes que termine de costurar Nathaniel o efeito terá passado. Seu metabolismo é muito rápido e aplicar uma dose maior pode ser complicado. Pode ser mortal para uma aura de baixo poder como ele.

Eu olhava para ela respeitando sua calma e seus sérios olhos cinzentos.

- Você está dizendo que ele será costurado sem analgésico?

Ela apenas olhou para mim.

- E isso é minha culpa porque eu poderia curá-lo se pudesse controlar o Munin?

Marianne balançou a cabeça.

- Não é sua culpa, ainda não. Mas o Munin é uma ferramenta como suas armas ou a necromancia. Depois que aprender a controlá-lo, ele poderá fazer coisas maravilhosas. Você tem que aprender a chamar o Munin não como uma maldição, e sim como um dom.

Eu balancei a cabeça.

- Acho que você excedeu a lição do dia Marianne.

Ela sorriu.

- Talvez, mas a escova pode fazer uma coisa pequena. Não para mim. Não para Nathaniel, para si mesma. Leve de volta essa parte de você que olha longe de seu corpo. Dê a Raina menos espaço no seu coração.

- E se eu não puder deixar de ficar constrangida ou ter pensamentos sexuais e Raina aparecer e tentar me comer?

Marianne sorriu.

- Então eu vou te ajudar criança, vamos todos ajudá-la. Isso é o que significa fazer parte do bando.

- Nathaniel não é mais lukoi do que eu.

- Lukoi ou pard não faz diferença para você Anita. Você é a rainha dos dois castelos.

Ela colocou a escova de cabelo na minha mão e fechou os dedos sobre ela.

- Fique com ele e espere o seu telefonema. Atenda apenas o telefone de cabeceira. Só o bando chamará nesse número. Você pode eventualmente não atender o telefone, pois está em outro estado. Não atenda a porta também.

- Parece que você está indo para algum lugar.

- Você deve aprender a se sentir confortável em torno de seu povo Anita. Isso significa, sem me olhar sobre seu ombro.

Ela me puxou para a cama pelo braço, tentou me sentar na cama, mas eu simplesmente não me dobrei, ela teve que me deixar de pé.

- Fique e não faça nada, a escolha é sua criança, mas pelo menos está aqui. - Então saiu.

Fiquei em pé no meio do quarto como uma criança que não queria ser deixada sozinha no primeiro dia de aula. A escova ainda estava na minha mão, ela parecia tão antiga quanto o resto do quarto. Era de madeira pintada de branco, mas com um brilho de verniz. O verniz tinha uma teia de rachaduras, mas ainda esta inteira. Passei as pálidas cerdas sobre a palma da mão. Elas eram tão suaves que pareciam uma escova de bebê. Eu não tinha idéia do que eram feitas.

Olhei para Nathaniel, ele estava me olhando também, seu rosto era neutro como se isso não importasse, mas seus olhos desmentiam. Eles estavam apertados, esperando a rejeição, esperando que eu o deixasse sozinho no quarto estranho, nu e à espera de um médico que viria costurá-lo. Ele tinha dezenove anos e estava ali com aquele olhar perdido para mim. Inferno, ele parecia mais jovem, o corpo era grande. Quando você é um stripper, tem que cuidar de si mesmo, mas seu rosto ... era um rosto jovem com um olhar velho. Nathaniel tinha os olhos mais cansados que eu já vi em alguém tão jovem. Não, não velho, perdido.

Andei até a cama e coloquei a escova sobre o travesseiro vazio.

Nathaniel moveu apenas a cabeça voltando a olhar para mim. Ele ficou olhando como se cada movimento fosse importante. Era um nível de controle que me fez querer me contorcer, fugir ou correr. Não era exatamente sexual, mas também não era exatamente não sexual.

Não importa as metáforas usadas por Marianne, isso não era a mesma coisa que cuidar de um bebê. Nathaniel era jovem, mas definitivamente não era uma criança. Pelo menos não uma criança que me deixaria confortável.

Eu tirei a camisa de mangas curtas, não havia ninguém para ver o coldre de ombro e seria mais fresco. Claro, seria realmente mais fresco se eu tirasse todas as armas e a bainha da coluna, mas eu não estava com tanto calor. Eu poderia deixar a Firestar debaixo do travesseiro, seu cano era curto o suficiente para que eu me sentasse ou me deitasse com ela, mas não existe uma forma de usar uma arma de um jeito confortável. Armas não foram projetadas para isso.

Fiquei de joelhos na cama ainda mantendo uma certa distância. Ele se magoava tão facilmente que eu tive que dizer em voz alta.

- Não estou chateada com você Nathaniel, só não gosto de bancar a aluna.

- Você gosta de Marianne, mas se ressente com ela.

Isso me fez piscar algumas vezes e olhar para ele. Ele estava certo e era mais perspicaz do que eu jamais esperaria de Nathaniel. Ouvi-lo dizer algo inteligente me fez sentir melhor. Se houvesse um cérebro naquele corpo, então ele não seria apenas uma confusão submissa. E talvez, só talvez, ele tivesse certeza do salvamento, sendo mais positivo do que eu pensei durante todo o dia.

Me arrastei para o lado dele com a escova na mão. Fiquei olhando para ele esticado na cama, seus olhos me observando. Era muito intenso.

Talvez ele tenha percebido porque virou a cabeça para trás de modo que eu não pudesse ver seu rosto. Tudo que eu podia ver era seus longos cabelos ruivos. Mesmo na penumbra era uma cor incrivelmente rica. O ruivo mais escuro que eu já vi, verdadeiramente castanho avermelhado e não castanho.

Passei a mão em seus cabelos, e era como seda pesada, quente ao toque. Claro, que só poderia ter sido o quarto. O ventilador varreu a cama sacudindo os lençóis, passando como uma mão fria sobre minhas costas. Os cabelos longos de Nathaniel mexeram na carícia do ventilador, balançando como se uma mão os movesse. Ele se mexeu quando o ventilador passou sobre seu corpo nu, então se acalmou. Seu cabelo, o lençol, absolutamente tudo ficou imóvel enquanto o ventilador fazia o seu circuito. O aparelho jogou tudo para trás quando passou no sentido inverso, os lençóis, os cabelos de Nathaniel. O ventilador bagunçou meu próprio cabelo jogando-o no meu rosto, então o ar quente caiu sobre nós como uma mão sufocante.

A brisa da janela havia morrido. As cortinas brancas pareciam como uma pintura até que o pequeno ventilador passasse sobre elas.

Passei a escova em seu cabelo e o ventilador terminou seu curso muito antes que eu chegasse ao final. Eu tive o cabelo até minha bunda uma vez quando tinha uns catorze anos. O cabelo de Nathaniel chegava até os joelhos. Se ele fosse uma mulher, eu diria que seu cabelo caía como um vestido em torno dele. O cabelo estava em uma pilha suave de seda ao lado de seu corpo para que não encostasse na ferida. Ergui os cabelos em meus braços e era como segurar algo vivo. Eles se derramavam pelas minhas mãos com um som seco, como água, um estrondo.

Eu tive bastante dificuldade em cuidar do comprimento do cabelo, não poderia imaginar o esforço de lavar e escovar algo tão grande. Eu ia e vinha dividindo o o cabelo para cada lado e movia de um lado para outro, tentei jogar o cabelo para trás e derramei-o sobre a cama.

Puxei o cabelo dele atrás das costas e joguei atrás de sua cabeça. Ele moveu a cabeça como se estivesse se aconchegando no travesseiro, mas não fez nenhum movimento e não disse nada.

- Como está se sentindo?- Eu perguntei.

- Estou bem. - ele disse. Sua voz era suave, neutra, quase vazia.

- Fale comigo Nathaniel.

- Você não gosta quando falo com você.

Debrucei-me sobre ele alisando seu cabelo para trás, assim eu tinha uma visão clara de seu rosto.

- Isso não é verdade.

Ele virou o rosto o bastante para olhar para mim.

- Não é?

- Não é você falar que me incomoda Nathaniel. É a sua escolha dos temas.

- Diga-me o assunto que você gosta e vamos conversar.

- Posso te dizer aos assuntos que não gosto. - eu disse.

- O quê? - ele perguntou.

- Não fale sobre filmes pornográficos, sadomasoquismo, sexo em geral. - Eu pensei nisso por um segundo ou dois. - Essas coisas me chateiam.

Ele riu.

- Eu não sei mais o que falar.

Comecei a pentear seu cabelo.

- Fale sobre qualquer coisa Nathaniel. Fale sobre você mesmo.

- Eu não gosto de falar sobre mim.

- Por que não?

Ele levantou o suficiente para me olhar.

- Você fala sobre si mesma?

- Ok. - Então eu não sabia o que dizer de repente não podia pensar por onde começar. Eu sorri. - Ponto para você, esqueça o que eu disse.

O telefone tocou e eu dei um pulo. Nervosa? Quem, eu? Era Dolph.

- Anita?

- Sim, sou eu.

- Franklin Niley, a menos que seja um cara diferente com o mesmo nome, é um negociante de arte. Ele é especialista em artefatos místicos. Ele não é exigente sobre como consegui-los.

- Como não é exigente?- Eu perguntei.

- Está registrado fora de Miami. Os policiais gostariam de amarrá-lo a pelo menos meia dúzia de homicídios, mas não têm prova suficiente. Toda as empresas que ele visita na cidade, as pessoas desaparecem ou aparecem mortas. A cidade de Chicago quase o pegou pela morte de uma alta-sacerdotisa wicca ano passado, mas a testemunha entrou em coma misteriosamente e não melhorou ainda.

- Um coma misterioso?- Eu fiz uma pergunta.

- Os médicos acham que foi algum tipo de magia, mas você sabe como é difícil provar.

- O que você sabe sobre seus companheiros?

- Um está com ele á muito tempo, um vidente jovem chamado Howard Grant, sem antecedentes criminais. Há um guarda negro, Milo Hart, ele é faixa preta em caratê e foi acusado por tentativa de homicídio. Ele bate nas pessoas para Niley desde que saiu da prisão há cinco anos. O terceiro é Linus Beck, ele esteve preso duas vezes. Uma vez por assalto e a segunda por assassinato.

- Maravilha. - eu disse.

- E fica melhor. - disse Dolph.

- Melhor? O quanto pode ficar melhor?

- Beck tem certeza que o assassinato foi um sacrifício humano.

Eu pensei por um segundo ou dois.

- Como a vítima morreu?

- A facadas. - Dolph disse.

Contei-lhe sobre o corpo que eu tinha acabado de ver.

- Ataques por demônios saíram de moda desde a Idade Média, Anita.

- Eles queriam fazer com que parecesse um ataque de troll.

- Você falou com eles?

- Sim.

- Porquê?

- Eles queriam me ameaçar.

Eu ouvi barulho de papel do outro lado.

- Por que ameaçaram você?

Eu disse quase tudo a Dolph, também disse a ele que não podia provar coisa alguma.

- Eu conversei com um policial em Miami, ele disse que Niley admitiu dois assassinatos e contou os pormenores, mas não pode ser utilizado em um tribunal. Ele gosta de sarcasmo.

- Ele pensa que é intocável. - eu disse.

- Mas os espíritos dizem que você vai matá-lo.

- Assim disse seu animal de estimação psíquico.

- Pedi informações a polícia de todo o país, eles estão dispostos a me dar qualquer coisa se pudermos pegar esse cara. - Dolph disse.

- Um cara ruim, um cara mau. - eu disse.

- Ele não está acima da lei, Anita. A polícia de Miami acha que Frank Niley matou pessoalmente duas pessoas. Veja se consegue pegar o rabo daquele filho da puta. Se conseguir alguma coisa que possa ser usada como prova de um crime, me chame.

- Você não tem qualquer jurisdição aqui. - eu disse.

- Confie em mim, Anita. Se você aparecer com alguma prova, eu posso enviar alguém competente, pronto e disposto a colocar esse cara atrás das grades.

- Niley vendo o sol nascer quadrado?

- Ele fez sua carreira violando a lei e nunca viu o interior de uma cela por mais de vinte e quatro horas. Muita gente gostaria de vê-lo fora de área.

- Vou ver o que posso fazer.

- Eu não o quero morto, Anita. Quero dizer preso.

- Eu sei o que você quis dizer, Dolph.

Ele ficou quieto por um segundo.

- Eu sei que você sabia o que eu quis dizer, mas achei melhor dizer de qualquer maneira. Não mate ninguém.

- Eu faria algo tão ilegal?

- Não comece, Anita.

- Desculpe. Obrigada por todas as informações, é mais do que eu esperava. Depois de conhecê-lo, não estou exatamente surpresa com nada disso. Ele é um cara muito assustador.

- Assustador Anita, ele é muito mais que assustador.

- Você parece preocupado Dolph.

- Você está lá sem uma rede de segurança. Os policiais não são seus amigos.

- Isso é um eufemismo.- eu disse. - A polícia estadual está aqui investigando o assassinato agora.

- Eu não posso ir até você. - disse Dolph.

- Eu nunca te pediria isso.

Ele ficou em silêncio por tanto tempo que eu disse,

- Dolph, você ainda está aí?

- Estou aqui.- Ele não parecia feliz. - Lembra quando eu lhe disse para não matar ninguém?

- Sim.

- Vou negar isso no tribunal, mas não hesite Anita. Se tudo se resumir a ele ou a você, faça a escolha certa.

Minha boca estava aberta.

- Dolph, você está me dizendo para matá-lo se tiver uma chance?

Dolph ficou quieto novamente, finalmente ele disse:

- Não, estou dizendo para não deixá-lo cair em cima de você. Você não vai querer ficar à mercê desse homem Anita. Alguns dos corpos que encontraram foram torturados. Eles tem muita criatividade com isso.

- O que tem nesse arquivo que você não me contou, Dolph?

- Eles encontraram a cabeça de um homem flutuando no rio. Não havia marcas de armas quando a cabeça foi tirada da água, nunca encontraram o corpo. Tudo se lê assim, merda Anita. Não é apenas violento, é estranho.

- Você vai pagar a fiança se eu for presa por matá-lo?

- Se você foi presa, nós nunca tivemos essa conversa.

- Nem uma palavra. - eu disse.

- Eu quero você de volta. Niley não tem quaisquer limites. Isso é o que significa toda a papelada. Ele é um maldito sociopata Anita, e Beck e Hart são a mesma coisa.

- Eu terei cuidado Dolph, prometo.

- Seja mais que cuidadosa,ele é cruel. Eu não quero ter que identificar o que sobrou de seu corpo depois que ele te pegar.

- Você está tentando me assustar, Dolph?

- Sim. - ele disse e então desligou.

Desliguei o telefone e me sentei na cama, o quarto estava quente e eu estava com medo. De repente eu estava com mais medo do que quando chegamos aqui. Dolph não se assusta facilmente, eu nunca o ouvi falar assim, não sobre nada nem ninguém.

Nathaniel tocou minha perna.

- O que aconteceu?

Eu balancei a cabeça, não podia evitar a sensação ruim. Dolph, o Sr. Lei e Ordem me encorajou a matar alguém. Sem precedentes. A polícia estava me dizendo para quebrar a lei, muito estranho. Mesmo admirada do medo que me foi passado eu tremi de inquietação. Demônios, eu não gostava de demônios, eles não dão a mínima para balas de prata ou qualquer outra coisa. Richard sentia-se forte em sua fé, eu invejava isso. Eu estava tendo uma crise de fé agora, quer dizer, estava dormindo com um morto-vivo e tinha traído um amante com outro. Eu também matei muita gente, mais para meus créditos do que qualquer outra coisa, fui tocada pelo demônio. Eu não estava me sentindo particularmente pura e santa agora, e isso é necessário contra os demônios. Você precisa de garantias.

Nathaniel deitou sua cabeça na minha coxa.

- Parece que você viu um fantasma.

Fiquei olhando para o homem nu com a cabeça no meu colo. Não, eu não poderia lutar contra um demônio agora, minha casa era de vidro, e não se joga pedras no demônio. Eles sabem exatamente onde bater para que a maldita coisa desabe em torno de sua cabeça. Não estou a fim de descobrir se a merda toda realmente cairá.


38

Cherry entrou no quarto, ela usava shorts jeans e um top branco. Seus seios pequenos estavam prensados contra o tecido fino. Eu era um pouco bem-dotada para sonhar em ficar sem sutiã, mas pequenos ou não, ela precisava de um. Eu era muito puritana.

Seu cabelo curto e amarelo ainda estava úmido. Ela andava pelo quarto com suas pernas longas, olhando para nós com sacanagem e não de forma natural e graciosa.

Só de vê-la me fez querer tirar a cabeça de Nathaniel do meu colo, a força de vontade foi a única coisa que me impediu de ficar longe dele. Nós não estávamos fazendo nada errado, mas me incomodou.

- É a sua vez. - disse Cherry. - Eu fico com Nathaniel.

- Zane já terminou?

Eu vi um movimento no corredor, era Zane. Ele usava shorts jeans também, e nada mais. O sempre presente anel no mamilo era a única coisa em seu peito pálido e magro.

- Você nunca tira essa coisa do peito?- Eu perguntei.

Ele sorriu.

- Se eu tirar o anel o buraco se fecha e vou ter que furar novamente. Eu poderia colocar outro piercing, mas não quero ter que refazer o primeiro.

- Eu pensei que você gostasse de dor. - eu disse.

Ele deu de ombros.

- Em algumas situações com mulheres nuas, sim.- Ele tocou o anel puxando-o até que o mamilo se estendeu um pouco. - O piercing verdadeiro dói pra cacete.

Olhei para o delgado peito magro, especialmente a parte direita ao lado de seu braço direito. Havia uma área escura do ombro ao peito, mas isso era tudo.

- É tudo o que resta da bala?- perguntei.

Zane assentiu com a cabeça e sentou-se ao pé da cama arrastando-se até ficar ao lado de Nathaniel e muito perto de mim.

- Você pode tocar na ferida se quiser.

Eu fiz uma careta.

- Não, obrigada.- Comecei a sair da cama, coloquei a cabeça de Nathaniel suavemente sobre o travesseiro. Marianne disse que Raina se alimentava do meu embaraço, do meu pudor, e que se eu pudesse ficar mais confortável em torno das coisas pequenas, Raina perderia alguns de seus poderes sobre mim. Seria verdade?

Eu não me sentia atraída por Zane. Na noite passada Raina parecia ter sido atraída por alguma coisa que pulsava e algumas coisas que não fiz. Eu cerrei os dentes e estendi a mão para Zane.

Ele ficou parado, o rosto sério de repente, como se soubesse o quanto me custava chegar até ele. Passei meus dedos sobre a ferida, a pele era lisa, brilhante como uma cicatriz, só que mais suave e mais flexível, passei a minha mão sobre a ferida explorando-a. Parecia estranhamente como plástico, e ao mesmo tempo suave como a pele do bebê.

- Isso faz cócegas.- Zane riu.

Isso me lembrou de Jason e um pensamento simples fez meus ombros ficarem tensos sem que eu entendesse o porque. Cherry veio por trás dele e deslizou as mãos sobre seus ombros massageando-os.

- Eu sempre vou me espantar com a forma como se curam. - eu disse.

Eu queria tirar a minha mão só porque Cherry o havia tocado também. Forcei-me a manter a mão sobre a ferida, mas parei de explorá-lo, tocá-lo era tudo o que eu podia controlar.

- Os músculos podem ficar endurecidos quando se curam. - disse Cherry. -Você tem espasmos em torno deles, só que não se curam tão rápido como o resto do corpo.

Tirei a mão lentamente, sentei-me na cama vendo Cherry massagear os ombros de Zane. Nathaniel se encostou em minha perna virando os olhos para mim, eu não me afastei, ele parecia pedir permissão para colocar a cabeça sobre minha coxa e se aninhou contra mim com um suspiro satisfeito.

Zane ficou do outro lado não me tocando, me observando. Seus olhos estavam cuidadosos.

Cherry ficou ajoelhada aos pés da cama olhando para o meu rosto. Todos eles me olhavam como se eu fosse o centro de seu mundo. Eu tinha visto cães adestrados observarem seus donos dessa forma, em cães era uma coisa boa, em pessoas era irritante. Eu nunca tive um cachorro porque não me sentia responsável o suficiente para cuidar de um. Agora, de repente eu tinha três homens-leopardo e sabia que não era responsável o suficiente para eles.

Coloquei minha mão no cabelo de Nathaniel. Zane esticou sua espinha como um gato grande, eu ri.

- O que eu devo fazer, esfregar sua barriga?

Todos riram, até mesmo Nathaniel. Percebi com choque que era a primeira vez que o ouvia rir. O riso era jovem, alto e infantil. Deitado nu no meu colo, com marcas de garras que iam até a sua bunda ele estava rindo, uma faixa de som, uma gargalhada feliz.

Fiquei feliz e nervosa ao ouvi-los, eles estavam tentando fazer de mim a sua casa porque era isso o que um Ulfric supostamente era, e uma Nimir-ra, ou Nimir-raj, era o equivalente. Estranhamente ser um lobisomem não parecia o equivalente a uma loba rainha. Sexismo ou alguma outra merda que eu não entendi ainda? Eu perguntaria a Richard mais tarde.

- Eu tenho que tomar meu banho, rapazes.

- Nós poderíamos ajudar. - disse Zane, ele lambeu meu braço e fez uma careta. - Eu gosto do sabor de suor, mas o pó de brita ...

Nathaniel ergueu o rosto o bastante para lamber meu outro braço, sua língua desceu lentamente ao longo dele.

- Eu não me importo com a poeira. - ele disse com a voz baixa e suave.

Eu saí da cama calma e lentamente. Não briguei ou gritei, estava muito calma e muito aliviada por estar de pé. A cama de repente parecia lotada.

- Obrigada, mas eu preciso do banho, não atendam o outro telefone, só este ao lado da cama e não abram a porta para ninguém, só para o Dr. Patrick.

- Sim Senhor, Capitão. - Zane disse.

Enfiei a Firestar na frente da minha calça e peguei a minha mala encostada na parede. Olhei para trás, Zane estava deitado ao lado de Nathaniel apoiado no cotovelo, uma mão tocando-o, Cherry estava enrolada ao pé da cama. Ela passava a mão para cima e para baixo na coxa dele. Ou o lençol tinha escorregado ou ela o tinha tirado para que pudesse tocá-lo. Não havia nada de sexual em seus rostos, nada evidente.

Parecia uma cena de abertura de um filme porno para mim, eu tinha certeza de que quando saísse do quarto nada aconteceria. Não havia expectativa entre eles, nenhuma vontade de me ver saindo para que pudessem estar sozinhos. Seus olhos ainda me seguiam, eles tocavam uns aos outros por conforto, não pelo sexo. O desconforto era meu, não deles.

- Me desculpe por ter saído com Mira. - disse Nathaniel de repente.

Isso me parou na porta.

- Você é um grande garoto, Nathaniel. Você tinha todo o direito de encontrar alguém. Apenas a sua escolha de parceiro é que foi ruim.

Zane começou a passar a mão para cima e para baixo em Nathaniel como você faz em um cão de companhia. Nathaniel abaixou a cabeça para que seu cabelo caísse em torno dele como um véu, escondendo seu rosto.

- Eu pensei que você ia ser minha amante, meu top. Pensei por um tempo que você entendesse o Jogo, que você estava me pedindo para não ter relações sexuais com ninguém. Eu era tão bom, eu nem sequer me toquei.

Abri a boca, fechei, abri e não tinha absolutamente nada a dizer.

- Quando finalmente me desse permissão para fazer sexo com você, poderia ter sido baunilha ininterrupta. Foi um tempo de espera, construção, provocando o que teria sido o suficiente.

Eu encontrei a minha voz.

- Eu não sei o que significa baunilha, Nathaniel.

- Sexo em linha reta. - Zane disse - coisa normal.

Eu balancei a cabeça.

- Seja o que for não estou brincando com você. Eu nunca faria isso.

Ele olhou para mim de lado como se tivesse medo de me olhar de frente.

- Eu sei disso agora. Foi nessa viagem que percebi que você nem sabia que nós estávamos jogando um jogo, você não está me provocando, você não pensa em mim desse jeito.

O seu passado parecia lamentável, mas não podia ajudá-lo com isso.

- Eu continuo a te de pedir desculpas Nathaniel, e metade do tempo nem sei porquê continuo fazendo isso.

- Eu não entendo como você pode ser minha Nimir-ra e não ser o meu top, mas agora sei que você vê como duas coisas separadas. Gabriel não.

- O que é um top? - Eu perguntei.

Zane respondeu por ele novamente.

- A posição dominante, a submissa é chamada de fundo.

- Ah, eu não sou Gabriel.

Nathaniel riu, mas não era um som feliz.

- Você ficaria zangada se eu dissesse que às vezes eu gostaria que fosse?

Eu pisquei para ele.

- Eu não sou louca nem desorientada Nathaniel. Sei que deveria estar cuidando de você, mas não sei como fazê-lo. - Ele era como um animal de estimação exótico que me foi dado, mas sem as instruções na caixa.

Ele colocou a cabeça no travesseiro.

- Eu saí com Mira quando percebi que você não estava disponível para mim.

- Estou disponível para você Nathaniel, mas não dessa forma.

- É aqui que você me diz que ainda podemos ser amigos?- Ele riu e foi duro.

- Você não precisa de um amigo Nathaniel, você precisa de um goleiro.

- Eu pensei que você ia ser o meu goleiro.

Olhei para Cherry e Zane.

- Como vocês?

- Nathaniel é mais ...- Cherry hesitou. - fraco que a maioria de nós. Raina e Gabriel tinham certeza que éramos inferiores, foi assim que fomos treinados. Eles sempre foram os tops, mas ... Nathaniel ... - Ela finalmente deu de ombros.

Eu sabia o que ela queria dizer, Nathaniel era o mais fraco deles, o único que precisava de mais cuidados.

Pus a mala no chão e fiquei de joelhos ao lado da cama, tirei seus cabelos de seu rosto para que pudesse ver seus olhos.

- Sempre estaremos com você Nathaniel. Nós somos o seu pard, o seu povo. Vamos cuidar de você, eu vou cuidar de você.

Lágrimas encheram seus olhos.

- Mas você não vai foder comigo.

Eu respirei fundo e me levantei.

- Não Nathaniel, eu não vou foder com você.- Balancei a cabeça e peguei minha mala. Eu tinha feito tudo o que podia por uma tarde. Se Marianne não estava feliz com esta pequena lição, então ela transaria com ele. Talvez não fosse sexual, mas graças à forma como Gabriel e Raina tinham tratado os homens leopardos, o sexo não desapareceu. Eu estava quase com medo de ouvir qual seria a solução de Marianne.


39

Fechei a torneira de água quente antes que enchesse a banheira e não me importei. O pequeno banheiro de azulejos brancos estava quente o suficiente para que um banho quente fosse uma má idéia. A única janela estava aberta e eu não seria pega de surpresa. Então mantive a janela aberta, mesmo as cortinas, esperando por uma brisa de rua, afundei na água morna sem uma bolha a vista. Não havia nada além do sabonete e uma vela branca parcialmente queimada na beirada perto da torneira. Coloquei a Firestar no canto ao lado da minha cabeça. Eu tentei colocar a Browning lá, mas era muito grande e ficava deslizando na água.

Eu estava completamente debaixo d'água lavando meu cabelo quando ouvi a porta sendo aberta. Vim a tona engasgando, tateando para a Firestar. Eu tinha a arma apontada antes mesmo que visse o que estava na porta. Mesmo quando pude ver, não fez qualquer sentido.

Havia uma mulher na porta, fisicamente ela era pequena, quase do meu tamanho, mas ela parecia encher o banheiro como se tomasse mais espaço do que os olhos podiam ver. Seu cabelo era longo e castanho, a franja crescia até se misturar aos cabelos e cobriam parte do rosto como um véu sobre o nariz. O cabelo foi pintado levemente de azul. Ela usava uma jaqueta jeans sem mangas. Um braço tatuado, nu e musculoso segurava a porta para que a força de seu poder não voasse de volta para seu rosto. Sob outras circunstâncias eu a teria olhado com uma espécie de desprezo, exceto para o roil de poder que se derramava dela. Parecia que ela tinha se perdido em seu caminho para um bar de motoqueiros punk. Psiquicamente parecia como um vento da boca do inferno, quente e hostil.

Havia tanto poder no pequeno banheiro que quase senti a água do banho começar a ferver. Fiquei com a arma firmemente apontada para seu peito. Acho que foi a única coisa que a manteve na porta, seu olhar era pura ira.

A água escorria pelo meu rosto entrando nos meus olhos. Pisquei resistindo à vontade de limpar com as minhas mãos.

- Um passo, apenas um, e vou puxar o gatilho. - eu disse.

Roland apareceu atrás dela na porta, isto estava ficando cada vez melhor. Ele ainda era alto e bronzeado com seus cabelos curtos e encaracolados. Seus olhos castanhos varreram o banheiro e se fixaram em mim, agachada e nua na banheira. Eu mantive a arma apontada para a mulher, mas era tentador.

Ele tocou os ombros dela e falou com a voz baixa:.

- Confie em mim Roxanne, ela vai te matar.

Isso me fez não querer matá-lo depois de tudo.

Um segundo homem apareceu, ele era mais alto do que Roland. Eu vi o suficiente para saber que era nativo americano e tinha cabelos longos e negros. Então, ele recuou, os olhos se afastando, um cavalheiro. Ele disse,

- Roxanne, isto não é apropriado.

Roxanne se soltou das mãos de Roland e começou a caminhar mais para dentro do banheiro.

Eu disparei o revólver a centímetros de sua cabeça, o som foi estrondoso. A bala passou pela porta e ficou enterrada na parede atrás dela. Eu não tinha medo que atravessasse o muro.

Meus ouvidos doeram com o tiro no ambiente minúsculo e azulejado. Por um segundo, se alguém falasse eu não conseguiria ouvir, mantive meus olhos em Roxanne. Ela parou de se mover. Eu tinha o cano da arma apontado no meio de sua cara bonita. Demorou um ou dois segundos para perceber que apesar de todas as tatuagens, o cabelo funky e o poder, ela era bonita. Era uma garota tradicional e bonita próxima a porta. Talvez tenha sido a tatuagem e o cabelo que não me deixou perceber a beleza dela, existem maneiras de se enganar.

- Vamos Roxanne. - disse Roland - recue.

Ela ficou lá, seu poder em torno de mim como uma nuvem quente, era contínuo e quase sufocante. Eu nunca soube de qualquer Metamorfo que tivesse esse tipo de poder bruto ou que nunca quisesse se passar por um humano. Roxanne não vibrava com o poder, ela era o poder, e eu estava cerca de dois segundos de distância.

- Você realmente me mataria. - disse ela.

- Num piscar de olhos.

Eu estava ficando cansada de ficar agachada na água, tornava difícil bancar a durona. Claro, estar nua não ajuda também.

- Por que você não me mata agora?

- Você é a lupa do bando de Verne, matar você me causaria muitos problemas. Mas vou fazê-lo Roxanne. Agora saia, feche a porta e deixe eu me vestir. Se você ainda quiser falar comigo tudo bem, se não, vou puxar esta merda outra vez.

- Sem essa arma você não estaria tão confiante.

- Sim, é um impulsionador da verdadeira confiança. Agora saia da porra do banheiro ou vou atirar em você.

De repente Marianne apareceu na porta.

- Roxanne, vamos tomar um chá e deixar Anita se vestir.- Eu não sei o que Marianne fez, mas me senti mais calma. Era como se ela projetasse calma e paz no ambiente.

Roxanne deixou Marianne e Roland arrastá-la pela porta, ela apontou um dedo para mim.

- Você insultou meu Ulfric e vai pagar por isso, com ou sem arma.

- Tudo bem. - eu disse.

A porta se fechou atrás deles. O bloqueio tinha se quebrado em uma pilha de lascas. A voz de Cherry veio através da porta.

- Eu vou ficar na porta até que você saia, posso te avisar se aparecer mais alguma menina má.

Menina má. Roxanne era um dos bandidos ou uma psicopata? Eu estava apostando no último.


40

Eu me vesti num tempo recorde, shorts jeans preto, camiseta vermelha de mangas compridas, meias brancas e Nikes preto. Normalmente teria deixado o coldre de ombro por fora da camiseta, mas estava muito visível. Coloquei a Firestar no coldre na frente do shorts, a ponta do Mike's Sidekick que normalmente ficava escondido saiu para fora da bainha. O couro estava começando a cheirar a suor, eu teria que deixa-lo secar antes de usá-lo novamente.

Prendi o cabelo e o deixei secar por conta própria. Chame de palpite, mas acho que Roxanne não era do tipo paciente. Se eu fosse me maquiar ou secar o cabelo ela poderia me procurar, de qualquer maneira eu nunca demoro mesmo. Na verdade a única razão para querer caprichar é que Richard estava chegando com a Dra. Carrie Onslow, e eu estava me sentindo insegura. Eu insegura, como é triste.

Richard passou grande parte do dia com a Dra.Carrie Onslow, eu estava com inveja e a odiava.

Naturalmente primeiro eu precisava enfrentar a ira da lobisomem e poderia descobrir o que diabos faria com Richard depois que falasse com Roxanne. De uma coisa que eu tinha certeza, se eu a matasse seria guerra entre os dois bandos e eu não queria trazer isso a nosso povo, não se pudesse evitar. Anita, a política, isso realmente era triste.

Abri a porta e Cherry estava no chão olhando para mim, havia algo em seu rosto, uma hesitação que me fez dizer:

- O que foi?

Ela ficou de pé.

- Você está ... agressiva.

- Quer dizer as armas?

- As armas, o vermelho, o preto. É tudo muito austero para as pessoas lá fora.

- Você acha que eu deveria estar vestindo rosa e babados para cobrir as armas? Cherry sorriu.

- Acho que Roxanne é quase psicoticamente dominante, e se você for lá vestida assim ela vai levar como um sinal de que tem de ser agressiva.

- Você a conhece mesmo, não é? - eu disse.

Ela disse simplesmente,

- Acha que estou errada?

- Coloque dessa maneira ... eu não tenho nada rosa e com babados na minha mala.

- Tem algo que não seja preto ou vermelho?

Eu fiz uma careta para ela.

- Será que roxo faz alguma diferença?

- Seria melhor.

Entrei e troquei a roupa por um top de malha de algodão idêntico ao que estava usando porém esse era púrpura. Eu tinha de admitir que o roxo era mais suave, mantive o coldre no ombro, mas transferi a Firestar para as minhas costas. Teoricamente eu poderia pegá-la, mas não era minha posição favorita. A camisa que eu poderia encontrar para combinar com a cor roxa e cobrir o coldre de ombro era fina de nylon e preta, o qual também foi derrotado pela camisa de algodão, tive que admitir que parecia melhor. Ela ainda era preta e não alegre, mas não era tão agressiva. Você não podia ver as armas. Eu poderia ter andado em qualquer shopping no país e não ser observada. Claro que, se eu andasse rápido a camisa iria estourar, mas hey, eu não estava planejando ir para um passeio.

Abri a porta pela segunda vez e disse:

- Melhor?

Cherry acenou sorrindo.

- Muito melhor, obrigada por me escutar, sei que não é fácil para você.

- Eu não posso arrastar o bando de Richard em uma guerra porque escolhi errado minhas roupas.

O sorriso se alargou em algo suave e quase comovente.

- Você é uma boa lupa Anita, uma boa Nimir-ra. Para um ser humano você é positivamente excelente.

- Sim, mas a parte humana ainda é verdade.

Ela tocou meu ombro.

- Mas nós não usamos isso contra você.

Olhei para ela para ver se estava brincando comigo, mas simplesmente não podia saber.

- Eu acho que Roxanne vai usar isso contra mim.

Cherry assentiu.

- Provavelmente, estão todos esperando na cozinha.

A cozinha era de azulejos em preto e branco com algumas rachaduras. O azulejo brilhava suavemente à luz indireta que tocava as janelas como no quarto de Nathaniel. Roxanne estava sentada de costas para a porta, as bordas da toalha branca tocavam seu colo. Havia uma rigidez na maneira como ela estava que dizia que sabia que eu estava lá, mas ela não se virou.

Marianne estava sentada de frente a ela com uma xícara na mão, ela me olhou como se estivesse tentando me dizer alguma coisa com os olhos, mas eu não conseguia entender.

Roland estava próximo da bandeja que combinava com a xícara, ele tinha os braços cruzados e parecia um guarda costas.

O outro homem que eu estava vislumbrado no canto oposto era muito parecido com ele.

Essa era a única coisa semelhante. Ok, um outro: Ambos eram grandes. Mas eu suspeitava, como Richard, que a cara nova não era apenas bronzeada. Sua pele era de um rico castanho, olhos castanhos amendoados quase perfeitos. Eram quase demasiados pequenos para o resto do rosto. Era de todos o ângulo, salientes maçãs do rosto, testa larga, nariz adunco. Todo recurso que ele tinha era agressivamente masculino e étnico. Seu cabelo era longo e preto, uma escuridão sólida como o meu, tão preto que ficava quase azul ao sol.

Ele era alto com ombros enormes, inclinou-se contra a parede exalando um tipo de energia física como alguém que conhecia o seu potencial e não precisava suar para prova-lo.

- Esse é Ben, ele é o seu substituto de Skoll até que Jamil esteja curado.

Eu queria recusar a oferta de colocar minha vida nas mãos de um estranho, mas tinha quase certeza de que seria considerado um insulto, concordei.

- Oi.

Ele acenou com a cabeça.

- Olá.

Roxanne virou-se na cadeira deslizando as pernas até ficar de lado.

- Verne acha que deve pedir desculpa para o seu bando por ser lesado em nossas terras. - Ela olhou para mim com olhos não amigáveis. - Eu acho que é você quem nos deve um pedido de desculpas.

- Desculpas para quê? - Eu perguntei.

Ela estava de pé e essa energia se derramava pela sala como a água girando em torno dos tornozelos, subindo para os joelhos. Seu poder subia e descia como se ela enchesse a cozinha com sua presença.

Ela era tão poderosa que fez minha garganta se apertar apenas por estar tão próxima.

- Merda. - sussurrei.

- Você marcou Verne como se ele fosse o menor de nós e não o maior.

- Você quer dizer a mordida no pescoço? - eu disse.

Ela arrastou a cadeira para trás que caiu com um estrondo, eu não peguei a arma, mas foi um esforço.

Roxanne ficou ali respirando muito rápido, emoções fortes faz com que a energia emane mais fortemente, e sua raiva fez o poder bater e dançar sobre a minha pele como uma dança elétrica.

Cherry se aproximou atrás de mim, Zane apareceu na porta ao lado dela. Ficaram um de cada lado e um pouco para trás como guarda-costas. Eles faziam o seu melhor, mas eu não queria testá-los contra Roland e Ben. Eu tinha certeza de quem venceria, e não seríamos nós.

- Lamento ter marcado Verne. - eu disse.

- Mentira. - disse Roxanne.

- Eu realmente não queria fazer aquilo.

Ela deu um passo tremendo para a frente, eu não fui para trás, mas talvez devesse ter ido. Ela estava malditamente perto. Nesse intervalo eu poderia pegar a Browning, mas se a pegasse teria que utilizá-la porque ela estaria em cima de mim em segundos.

- Alguém pode me explicar por que ela está tão chateada, e o que podemos fazer para que um de nós não acabe morto?

Marianne se levantou lentamente, a cabeça de Roxanne acompanhou o movimento, seu poder era tão intenso que fez minha pele se arrepiar. Marianne levantou as mãos mostrando as palmas para fora e avançou lentamente ao redor da mesa para a lupa.

- Roxanne vê a marca como um insulto a Verne e ao bando inteiro. - disse ela.

- Eu não quis fazer isso. - eu disse. - Eu não sabia que seria um insulto. Eu não queria fazer isso.

Roxanne virou a cabeça lentamente até que estava olhando para mim. Seus olhos sangraram de castanho a um rico e surpreendente amarelo enquanto eu observava. Pus a mão no cabo da Browning.

- Muita calma agora, garota-lobo.

Um resmungo baixo se arrastou para fora da garganta delgada.

Marianne disse:

- Se você realmente não quis ser ofensiva, então estaria disposta a fazer as pazes?

Eu mantive o olhar sobre Roxanne, mas respondi:

- Como poderíamos fazer as pazes?

- Nós poderíamos lutar. - disse Roxanne.

Olhei em seus quase brilhantes olhos amarelos.

- Eu acho que não.

Marianne estava em pé entre nós.

- Você poderia oferecer o seu pescoço para Roxanne em uma cerimônia pública. Meus olhos deslizaram para Marianne, em seguida, voltaram para Roxanne.

- Eu nunca a deixaria perto do meu pescoço em nenhuma cerimônia pública ou particular, não de propósito.

- Você não confia em mim? - disse Roxanne.

- Não.

Ela deu mais um passo em frente dolorosamente lento, Marianne ficou entre nós então. Se Roxanne avançasse mais um centímetro seus ombros colidiriam.

- Há uma outra cerimônia. - Marianne disse.

- Eu não vou oferecer meu pescoço a Roxanne. - eu disse.

- Não precisa oferecer o pescoço, podem trocar golpes.

Senti meus olhos se ampliarem, olhei para a mulher quase rosnando para mim.

- Você deve estar brincando, ela me mataria.

- Vou deixar que você me bata primeiro. - disse Roxanne.

- Eu li essa história, não obrigada.

Roxanne franziu a testa.

- História?

- Sir Gawain e o Cavaleiro Verde. - eu disse, ela ainda parecia confusa. - O Cavaleiro Verde deixa Sir Gawain dar o primeiro golpe. Gawain corta a cabeça dele, o Cavaleiro Verde pega a cabeça debaixo do braço e diz: "minha vez agora!"

- Eu nunca li essa história. - ela disse.

- Está na lista de livros infanto-juvenil eu acho. Enfim, o ponto é o mesmo. Posso te bater o mais forte que puder e não vai machucá-la. Você pode apontar seus dedos em minha direção e quebrar meu pescoço.

- Então nós brigamos. - disse ela.

Minha mão ainda estava descansando na Browning.

- Eu vou te matar Roxanne, mas não vou brigar com você.

- Covarde!

- Pode apostar. - eu disse.

Senti o poder de Richard sobre mim como o vento. Ele reconheceu o carro de Roxanne e deixou-me entender que estava trazendo um ser humano para a reunião. Um ser humano que não sabia quem eram os monstros.

Olhei para fora da porta da cozinha e não deveria ter feito isso. Eu não vi o punho de Roxanne fazendo o movimento. Minha mão já estava na Browning, há apenas alguns segundos para puxá-la, mas aquele borrão de movimento me pegou no queixo. Tive a sensação de queda, mas não me lembro de bater no chão ou não o senti.

Eu estava no chão olhando para o teto branco, Marianne estava ao meu lado. Seus lábios se moviam, mas nenhum som saiu. O som finalmente veio através de um pop quase audível como um pequeno boom sônico.

Gritos, todo mundo estava gritando. Ouvi a voz de Richard, de Roxanne e dos outros. Eu tentei me sentar e não consegui, Marianne tocou meu ombro.

- Tente não se mover.

Eu queria ver o que estava acontecendo, mas não podia fazer o meu corpo se mover, era como se um grande peso estivesse sobre mim, como se eu quisesse dormir.

Flexionei minha mão direita e estava vazia. Eu tinha deixado cair a Browning em algum lugar. Francamente estava feliz por ser capaz de mover a mão. Eu não estava brincando quando disse que Roxanne poderia quebrar o meu pescoço sem se esforçar.

Comecei a me mexer à espera de ser capaz de me levantar, finalmente fui capaz de mover a cabeça o suficiente para ver o resto da cozinha. Richard segurava Roxanne pela cintura, os pés completamente fora do chão. Roland e Ben estavam tentando tirar Richard de perto dela. Shang-Da tentava tirar a Dra. Carrie Onslow para fora da cozinha.

Roxanne se contorceu nos braços de Richard e caminhou até onde eu estava, Zane e Cherry se moveram como uma parede entre nós, ela se enfiou entre os dois gritando:

- Sua vez, cadela! É a tua vez!

Ela estava ali, de lado, com os dois homens-leopardo tentando segurá-la sem machucá-la. Sua perna direita estava flexionada para a frente, acho que só Marianne me ouviu dizer:

- Com todo prazer.

Chutei a perna de Roxanne logo abaixo da rótula visando um ponto acima. A rótula saiu do lugar e ela caiu no chão gritando. Dei-lhe duas vezes na cara até que o sangue floresceu de seu nariz e boca.

Eu fiquei lá de pé, ninguém tentou me ajudar. De repente tudo ficou muito quieto, tão quieto que você podia ouvir a respiração de Roxanne muito alta, muito rápida. Ela cuspiu sangue no chão, eu andei em torno dela e dos homens-leopardo até chegar perto da mesa. Bem, Richard e Roland estavam parados como se tivessem esquecido por que estavam fazendo isso. Shang-Da pegou a Dra. Carrie Onslow e levou-a para fora da porta com ela gritando - Richard!

Era um daqueles momentos em que o tempo parece lento e muito longo e que as coisas acontecem muito rápido, tudo ao mesmo tempo. Ouvi Roxanne dizer,

- Vou matar você por isso! - Mas sinceramente não lembro se peguei a cadeira antes ou depois dela dizer isso, só me lembro de ter a cadeira na mão e quando ela pulou em mim acertei a cadeira nela como um bastão de baseball. O choque do golpe deixou meus dedos e mãos formigando, mas eu mantive o controle sobre a cadeira.

Roxanne ficou de quatro no chão, mas não estava derrotada. Levantei a cadeira para um novo golpe e seu poder fluiu sobre mim como um vento escaldante. Eu joguei a cadeira com tudo o que eu tinha. Ela pegou e tirou fora das minhas mãos. Eu puxei a Firestar.

Roland gritou:

- Sem armas!

Olhei para Richard e ele disse:

- Nada de armas.- O olhar em seu rosto era suficiente, ele estava com medo por mim. Assim como eu.

Nada de armas, eles estavam brincando? Roxanne tentava ficar de pé, mas o joelho não ajudava. Ela caiu no chão, gritou e jogou a cadeira em mim. Eu tive que mergulhar para o chão para evitar o ataque.

Ela veio com as mãos e uma perna em um movimento quase rápido demais para seguir. Eu tive muito tempo para atirar nela, mas não podia. Andei para trás como caranguejo tentando ficar longe, a Firestar ainda estava na minha mão. Eu gritei,

- Richard!

As marcas de repente se abriram entre nós como uma comporta. Eu estava banhada pelo cheiro almiscarado de sua pele.

Roxanne hesitou rastreando o cheiro, seu rosto bonito começou a se esticar para fora como se uma mão estivesse empurrando de dentro. Um focinho floresceu no meio daquele rosto humano coberto de pele humana, com uma linha de batom onde costumava ser seus lábios.

A linha de poder ficou entre eu e Richard, sentia o cheiro dele, a sensação dele, o jogo agitado de energia. De repente senti a lua no céu de verão e sabia em cada célula do meu corpo que amanhã à noite eu seria livre. E por um instante, eu não tinha certeza se o pensamento era de Richard ou de sua besta.

Deixei a Firestar no chão e fiquei de pé com a janela atrás de mim, eu sabia que Richard não deixaria que ela me matasse, mas eu também sabia que ela ia me machucar. Uma vez eu joguei um lobisomem através de uma janela e a luta tinha parado. Era tudo que eu podia imaginar. Claro, Roxanne tinha que colaborar e correr para mim como uma louca para que eu pudesse preparar o arremesso. Se ela viesse lentamente não iria funcionar.

Ela veio mancando e eu não tinha nenhuma outra idéia. Uma coisa eu sabia: Se ela me tocasse com as garras ou a boca, eu poderia ser uma lupa de verdade no próximo mês. O tempo corria lento e rápido ao mesmo tempo, lento e cintilantemente rápido. Pensei em várias coisas para fazer e não seria rápida o suficiente para fazer qualquer um deles, mas eu gostaria de tentar.

Richard estava gritando:

- Sem garras Roxanne, ela não têm garras.

Acho que Roxanne não ouviu. Ela golpeava com as garras monstruosas e mergulhou o braço oscilante, os golpes eram muito rápidos para ver ou evita-los, mas eu sabia onde ela estaria. Eram as marcas, Richard estava me ajudando, estava muito confuso, muito novo para que eu fosse capaz de lutar com ela. Eu poderia usá-lo para evitar alguns golpes, mas apenas por algum tempo.

Acabei de costas no chão apontando a Firestar, ela estava chegando com garras e dentes e eu estava sem opções.

A porta se abriu e Verne gritou,

- Roxanne, não!

Senti a queda de energia através da cozinha como a tampa de uma panela fervendo, algo jogado sobre o calor para prendê-lo, contê-lo, mas ela não parou.

Ben e Roland de repente agarraram Roxanne arrastando-a para trás. Se Verne tinha dado uma ordem a eles, eu não tinha ouvido. Roxanne estava se debatendo, cortando seus braços, querendo me pegar.

Verne ainda estava gritando:

- Eu menti Roxanne. Menti, ela não fez de propósito.

Roxanne correu para seus braços. Ela falou com a parte de uma boca humana.

- O que você está dizendo?

Lucy passou atrás de Verne, através da porta aberta. Ela fechou a porta e inclinou-se contra ela sorrindo e apreciando o show.

- Eu disse que menti. - disse Verne. - Sou um homem velho e você é linda e poderosa e trinta anos mais jovem do que eu. Eu disse que quando ela marcou o meu pescoço ela me queria. Ela não sabia.

Roxanne relaxou nas garras de seus guarda-costas sangrando. Você poderia sentir a tensão escoar para fora de sua carne, de seu rosto, mãos, até que ela se tornou humana novamente, o nariz continuava sangrando onde eu tinha acertado.

- Você pode me soltar. - disse ela. - Não vou machucá-la.

Eles não a soltaram, olharam para Verne.

- Se eu soltá-la querida, você vai me machucar? - Verne perguntou.

- Quando chegarmos em casa vou acabar com você, mas não aqui, não agora.

Verne sorriu e Roxanne também. E ambos os sorrisos eram os mesmos, era mais do que luxúria, era um olhar que os casais têm, como uma linguagem secreta, um olhar que excluía todos os outros e não pode ser explicado.

Olhei para Richard.

- Eles são mais loucos do que nós.

Ele sorriu para mim e o sorriso me aqueceu. Sorri de volta e senti um solavanco que vibrou em todo o meu corpo, tínhamos nosso próprio olhar secreto. Deus, eu o tinha perdido.

Lucy andou pela cozinha em um par de sapatos de plataforma, shorts roxo curto e aquilo que parecia um sutiã, mas que provavelmente não era. Ela chegou até Richard entrelaçando os braços nos dele.

- Ele me rejeitou por você querida. - ela disse numa voz que era muito agradável para a raiva nos olhos.

Olhei para Richard.

- Eu não acho que ele terminou com você por minha causa.

Ela se afastou de Richard para ficar na minha frente, eu tinha a arma na mão e achei que era seguro. As marcas com Richard enfraqueceram e recuaram, nos mostrou que éramos um casal novamente. Eu valorizada mais o inferno do que as marcas.

- Eu posso fazer coisas para ele na cama que o corpo humano nunca poderia fazer. Posso aguentar toda a sua força, todo seu impulso e me sentiria bem. Ele não tem que ser gentil comigo, não tem que tomar cuidado comigo.

O ciumes me atingiu, foi minha única desculpa para o que eu disse em seguida.

- Puxa Lucy, eu não sei. Ele passa uma noite comigo e você é descartada como notícia de ontem. Ou você não é boa, ou eu sou melhor.

Ela ficou parada com os olhos arregalados, por um segundo pensei que fosse chorar. Eu não queria que ela chorasse, isso estragaria tudo e me faria sentir como uma merda.

Lucy se afastou de mim cobrindo o rosto com as mãos. Maldição.

Olhei para Richard, seu olhar dizia que não estava feliz comigo. Eu não podia culpá-lo.

Eu não vi o movimento de Lucy, apenas senti. Senti o movimento do ar quando ela rodopiou, sua mão me pegou no rosto. Tive a sensação de queda, mas se cheguei a bater no chão, não me lembro.


41

Acordei sentindo o cheiro de lençóis limpos, olhei para a luz do luar entrando por uma janela estranha. Eu não reconheci o quarto, depois percebi que nunca tinha estado ali, a tensão encheu-me como a água. Ouvi alguém atrás de mim, o que me deixou ainda mais tensa. Tentei fingir que ainda dormia, mas eu sabia que minha respiração havia mudado. Se eles fossem humanos poderiam não ter percebido, mas eu sabia que era a única humana.

- Anita, é Damian.

Ele veio para o meu lado direito, meu braço direito foi enfaixado da palma da mão até a metade do meu antebraço, não doia muito, mas eu não conseguia me lembrar como me feri. O vampiro estava sentado em uma cadeira perto da porta, seu cabelo longo e vermelho parecia um estranho castanho pálido no escuro. Ele estava usando um terno muito bonito. Poderia ser preto ou azul-marinho ou mesmo castanho escuro. Sua pele pálida brilhava contra a escuridão do tecido.

- Que horas são? - Eu perguntei.

- Você é a única a usar relógio. - disse ele.

Levantei a mão esquerda na frente do meu rosto e apertei o pequeno botão, a luz parecia mais brilhante do que deveria por causa da escuridão.

- Deus, já passa das onze. - Deitei-me na cama. - Não ocorreu a ninguém me levar para um hospital?

- O sol se pôs a pouco mais de duas horas, Anita. Não sei que escolhas foram feitas. Quando Asher e eu acordamos estávamos no porão. Nos alimentamos e tomei o lugar de Richard ao lado de sua cama.

- Onde está Richard?

- Acho que ele está em seu Lupanar, mas não tenho certeza.

Olhei para ele e parecia de algum modo distante.

- Você não fez nenhuma pergunta?

- Disseram-me para ficar aqui e guardar o seu descanso. O que mais eu preciso saber?

- Você não é um escravo Damian, está autorizado a fazer perguntas.

- Eu tenho que sentar aqui no escuro e ver você dormir, o que mais seu vampiro de estimação pode pedir? - Ele disse com a voz amarga.

Sentei-me devagar porque ainda me sentia trémula.

- O que isso quer dizer?- Eu tentei aproximar minhas costas contra a cabeceira de madeira pesada, mas precisava de mais travesseiros embaixo de mim, tentei empurrá-los com a minha mão direita, senti uma dor agradável e acentuada.

- Me lembro de Lucy me bater, mas o que aconteceu com o meu braço?

Damian colocou um joelho na cama e me ajudou a sustentar os travesseiros sob minhas costas, ele ainda encontrou um extra para colocar sob meu braço direito. - Richard disse que Lucy tentou arrancar seu braço.

Saber disso me deixou fria e com medo.

- Jesus, uma mulher desprezada.

- Se eu pegar mais travesseiros vai se sentir melhor ?- ele perguntou.

- Sim, obrigada.

Ele se levantou e começou a andar, segurei sua mão.

- Não.

Ele apertou a minha mão, sua pele era quente ao toque. Havia um leve orvalho de suor na palma da mão, vampiros podem suar, mas não o fazem com frequência. Apertei a mão dele olhando para seu rosto, o luar estava forte para que eu pudesse vê-lo com clareza. Sua pele era pálida, quase luminosa, aqueles olhos verdes brilhantes eram apenas trevas líquidas ao luar. Pedi que se sentasse ao meu lado.

- Você se alimentou esta noite, mas sua pele está fria, porque o suor?

Ele puxou a mão para fora da minha virando o rosto.

- Você não quer saber.

- Sim, eu quero. - Toquei seu queixo com a ponta dos dedos virando o rosto para mim. - O que há de errado?

- Vocês não têm o suficiente para se preocupar, sem se preocupar comigo?

- Me diga o que está errado Damian.

Ele soltou um suspiro longo e agitado.

- Não, você fez isso. Uma ordem direta.

- Diga-me.

- Eu estava feliz de me sentar aqui no escuro e ver você dormir. Acho que se Richard soubesse o quanto, ele teria pedido para Asher ficar.

Eu fiz uma careta para ele.

- Eu não entendi.

- Você sente também Anita. Não tão forte como eu, mas você sente.

- Sinto o que Damian?

- Isto.

Ele colocou a mão contra o meu rosto, e eu queria esfregar meu rosto contra sua pele. Tinha um desejo momentâneo de puxá-lo na cama ao meu lado. Não para fazer sexo necessariamente, mas para tocá-lo. Para passar as minhas mãos sobre aquela pele pálida, banhar-me no poder que animava sua carne.

Engoli em seco e retirei sua mão.

- O que está acontecendo Damian?

- Você é uma necromante, e eu sou um morto-vivo. Você me levantou duas vezes dos mortos. Você me chamou uma vez do meu caixão e uma vez da beira da morte verdadeira, me curou com seus poderes. Eu sou sua criatura, fiz juras de lealdade para Jean-Claude como meu mestre, mas por você eu iria ao inferno, não por obrigação, mas por desejo. Não posso pensar em nada melhor do que estar ao seu lado, nada me agrada mais do que fazer o que você pedir. Quando estou perto de você acho muito difícil fazer quase qualquer coisa, como me alimentar ou deixar a sua presença sem pedir sua permissão.

Eu só olhava para ele, não sabia o que dizer, não é incomum para mim hoje. Mas com ele sentado tão perto no quarto escuro, eu tinha de dizer alguma coisa.

- Damian, eu ... eu não quis que isso acontecesse. Eu não quero que você seja algum tipo de servo-vivo.

- Eu sei. - disse ele. - Mas eu também entendo porque o Conselho tornou um hábito matar necromantes. Eu não te sirvo por medo, quero fazê-lo. Quando estou com você eu sou feliz. É como estar amando, mas ... muito mais assustador.

- Eu sabia que tínhamos uma ligação, só não sabia por que. Eu não tinha idéia que era tão forte para você.

- Eu não sabia que você se sentia atraída por mim como sou por você até a noite passada, você poderia ter escolhido Asher, ele te adora. Mas você me escolheu para o beijo, me prendeu. Eu acho que não foi um acidente.

Eu balancei a cabeça.

- Eu não sei, não me lembro de tudo claramente da noite passada. O Munin é como estar bêbado.

- Você se lembra o que me disse?

- Eu disse um monte de coisas.- Minha voz era suave, e eu estava com muito medo de me lembrar da frase que ele estava procurando.

- Você disse; não me sangre, foda-me.

Sim, essa era a frase. Bastou me lembrar e eu estava embaraçada, foi a minha vez de desviar o olhar.

- Foi o Munin que falou. - eu disse. - Você é um dos poucos homens que nunca teve relações sexuais com Raina. Talvez ela queria algo diferente.

Ele tocou o meu rosto, virou-me de volta para olhar os seus olhos.

- Não é isso, e você sabe.

Afastei sua mão do meu rosto.

- Olha, minha agenda está lotada agora. Estou lisonjeada, obrigada pela oferta, mas não obrigada.

- E você está feliz com os dois homens em sua cama agora?- ele perguntou. -Você já fez sexo com Richard e as marcas estão mais vinculativas do que nunca.

- Será que todos sabiam que era uma possibilidade, menos eu?

- Jean-Claude me proibiu de dizer. Eu achei que você tinha o direito de saber.

- Eu senti Jean-Claude acordar esta manhã antes das dez. Eu o senti acordar, Damian. Senti o ardor da sua alegria, seu triunfo. - Tentei cruzar meus braços sobre o peito e o direito não cooperou. - Maldição, vão todos para o inferno.

- Eu fui o servo de meu amante original por um tempo muito longo, Anita. O pensamento de ser o servo de alguém me apavora.- Ele tocou as faixas no meu braço direito. - Eu os vejo usando você, Anita. Vejo-os omitindo informações de você. - Ele pegou minha mão enfaixada na dele. - Eu fiz um juramento de lealdade a Jean-Claude, mas é o seu poder que faz meu coração bater, seu pulso tem gosto de cerejas na minha língua.

Puxei a minha mão.

- O que você está dizendo Damian?

- Estou dizendo que você não deve ser a única dos três que não sabe o que está acontecendo.

- E você pode me dizer?

Ele balançou a cabeça.

- Eu posso responder as suas perguntas. Na verdade, se você me der uma ordem, não posso recusar a respondê-las.

- Você está me entregando as chaves da sua alma Damian. Porquê?

Ele sorriu, seus dentes eram de uma brancura ofuscante em seu rosto.

- Porque eu vou servi-la e a mais ninguém, tentei lutar contra isso, mas não posso. Então não vou lutar, me dou de bom grado, mesmo ansiosamente.

- Se você quer dizer o que eu acho que quer dizer, Asher disse algo noite passada sobre eu ter sexo com você, se tivéssemos feito sexo Jean-Claude iria matá-lo?

- Sim. - disse ele.

Olhei para ele.

- Eu posso ser boa Damian, mas não vale a pena morrer por mim.

- Eu acho que ele não me mataria. Jean-Claude questionou-me sobre a ligação que tenho tenho com você.

- E o que ele disse?

- Ele está satisfeito, pensa que é outro sinal que pode aumentar os seus poderes como necromante. Ele está certo.

- Jean-Claude sabia que você tinha que me obedecer mesmo sem querer, e não me disse nada?

- Ele pensou que poderia incomodá-la.

- Quando ele informaria este fato para mim?

- Ele é o Mestre da Cidade, não responde a mim, não sei o que pretende dizer ou quando.

- Ok, que outros poderes posso esperar ganhar com as marcas?

Ele deitou-se no outro lado do travesseiro que tinha colocado sob o meu braço ferido. Ele se apoiou em um cotovelo, suas pernas longas estendidas no comprimento da cama.

- Sua força física, sua visão e audição. Você poderia ganhar quase todos os poderes que ele tem sem dar a sua humanidade. Embora provavelmente tenha de assumir a quarta marca para ganhar plenos poderes.

- Não, obrigada.

- A vida eterna sem ter que morrer por isso Anita. É tentador ao longo dos séculos.

- Tive muitas surpresas nos últimos dois dias Damian, não quero me amarrar mais a Jean-Claude.

- Você diz isso agora, mas deixe passar mais alguns anos e você pode mudar sua mente. Juventude eterna Anita, não é uma oferta pequena.

Eu balancei a cabeça.

- O que mais posso esperar das marcas?

- Teoricamente, qualquer tipo de poder.

- Isso não é típico de um servo humano, não é?

- Todos ganham algum tipo de força, resistência, cura, resistência à lesão, imunidade a doenças e veneno. Embora novamente, sem a quarta marca não tenho certeza do quanto você ganha. Eu não tenho certeza se Jean-Claude ou Richard sabem até você puxar outro coelho da cartola.

- O Munin foi uma surpresa para eles?

- Oh, sim. - disse Damian. Ele deitou a cabeça na borda do travesseiro que eu não estava usando. Ele virou-se de modo a olhar para mim.

- Jean-Claude sabia do Munin, mas realmente não tinha pensado que eram os espíritos dos mortos, e o que isso significa para você. Mesmo os necromantes das lendas não controlam o Munin.

- Os necromantes das lendas não tem um vínculo com um lobisomem alfa.

- Jean-Claude acha a mesma coisa.

Eu me acomodei mais no ninho de almofadas.

- Ele acha tanto que está falando de mim para todos.

- Eu sei o quanto você valoriza a honestidade, e sinceramente Jean-Claude não poderia saber que você ganharia esses poderes. O agente humano é uma ferramenta a ser usada, por isso é bom que ele seja uma ferramenta poderosa, mas você parece estar ganhando tal força que pode em algum momento ser questionada quem é o mestre e quem é o servo. Talvez seja porque você é uma necromante.

- Jean-Claude me disse antes de me dar as marcas que não tinha certeza de quem seria o senhor e quem seria o servo por causa da minha necromancia. Mas ele realmente não explicou. Acho que eu deveria ter perguntado.

- Se ele tivesse falado tudo isso antes de você aceitar as marcas, você as teria aceitado?

- Eu aceitei as marcas para salvar a vida dos dois, para não mencionar a minha própria.

- Mas se você soubesse, teria aceitado?- Ele rolou para o lado, o rosto tão perto do meu braço que eu podia sentir sua respiração na minha pele.

- Acho que sim, eu não podia deixá-los morrer. Um deles talvez, eu poderia perder um, mas não os dois. Não se seu pudesse salvá-los.

- Então, Jean-Claude escondeu tudo isso de você por nada. E você está indignada por nada.

- Sim, estou chateada.

- Faz com que você não confie nele. - Damian se aproximou uma polegada até que seu rosto estava descansando contra o meu braço.

- Sim, isso me faz não confiar nele. Pior ainda, me faz não confiar em Richard.- Eu balancei a cabeça. - Nunca pensei que ele esconderia alguma coisa de mim, quanto mais coisas desta importância.

- Ele faz você duvidar deles. - disse Damian.

Fiquei olhando para o vampiro, seu rosto descansava contra o meu braço, o resto do seu corpo estava esticado na cama sem me tocar.

- Isso não parece você Damian.

- O que? - ele perguntou, sua mão deslizou de onde estava para o lençol, a mão pálida ficou entre nossos corpos sem me tocar, apenas ... a espera.

- Isso tudo, não é você.

- Você não sabe nada sobre mim Anita. Você não sabe nada da minha vida, não realmente.

- O que você quer de mim Damian?

- Agora, apenas colocar a mão em torno de sua cintura.

- E se eu disser que sim?

- Isso é um sim? - ele perguntou.

O que Richard diria? O que Jean-Claude diria? Foda-se eles.

- Sim. - eu disse.

Ele deslizou sua mão sobre minha cintura até seu braço repousar em meu estômago. Teria sido natural aproximar seu corpo, mas ele não o fez. Manteve uma distância artificial entre nós.

Passei a mão esquerda para cima e para baixo, brincando com os pequenos pêlos do braço. Eu me senti terrivelmente no direito de tocá-lo como se estivesse querendo fazer isso por um tempo muito longo. Não queria que ele me segurasse, eu queria abraçá-lo. Era uma sensação muito diferente do que eu sentia por Richard ou Jean-Claude. Damian estava certo, era a necromancia, ela queria tocá-lo, explorar os limites do poder que nos unia, o poder que o animava.

Meu próprio poder pessoal está mais próximo de Jean-Claude do que de Richard. É um poder legal como um vento intocável que joga sobre o corpo e a mente. Eu deixei o poder passar através de minha mão, para o braço de Damian, empurrei-o como uma mão invisível e senti uma faísca de resposta dentro dele. Senti meu poder reconhecer o reflexo e um pedaço de si. Seja o que for que tenha animado Damian antes tinha ido embora. Eu o mantinha vivo agora. Ele era verdadeiramente meu, claro, era possível.

Ele juntou seu corpo ao meu, passou uma perna sobre as minhas pressionando-se contra mim.

- Você está tentando me seduzir. - eu disse, minha voz era muito suave, muito intima.

Ele deu um beijo suave no meu braço.

- Eu estou seduzindo você, ou você já me seduziu?

Eu balancei a cabeça.

- Levante-se e saia, Damian.

- Você me quer, eu posso sentir.

- O poder quer você, não eu. Não quero você do jeito que quero Richard ou Jean-Claude.

- Eu não estou pedindo que me ame Anita, só quero estar com você.

Eu queria passar as minhas mãos no seu corpo, sabia que poderia explorar aquele corpo, tocar em cada pedaço dele e ele não me impediria. Era tão convidativo, tão assustador.

Eu deslizei para fora da cama, deixando Damian ficar com ela. Percebi que não sentia tontura; ótimo.

- Nós não estamos fazendo isso Damian.

Damian se apoiou nos cotovelos, me olhando.

- Se você me der uma ordem direta devo obedece-la Anita, mesmo que isso contrarie uma ordem direta de Jean-Claude.

Eu fiz uma careta para ele.

- O que você está dizendo?

- Você não imagina o que mais ele me proibiu de lhe dizer?- Damian perguntou. - Seu pequeno bastardo.

Ele sentou-se balançando as pernas do lado da cama.

- Você não quer saber?

Fiquei olhando para ele por um instante.

- Sim, maldito, eu quero saber.

- Você tem que ordenar que eu lhe diga. Não posso fazer de outra forma.

Eu quase não fiz isso, estava com medo do que ele diria, com medo do que Jean-Claude estava escondendo de mim.

- Eu te ordeno Damian, diga-me todos os segredos que Jean-Claude te proibiu de me dizer.

Sua respiração saiu em um longo suspiro.

- Enfim livre. Jean-Claude, Asher e até mesmo meu mestre são todos descendentes da linha de Belle Morte, Bela Morte. Ela é a nossa Mestre do Conselho. Alguma vez você já se perguntou por que a centenas de anos atrás, a maioria dos vampiros eram monstros horríveis, cadáveres ambulantes?

- Não, e que isso tem a ver com o assunto?

- Eu esperei muito tempo para lhe dizer isto Anita. Deixe-me falar.

Suspirei.

- Tudo bem, diga-me.

- Ninguém pensou em um vampiro como objeto sexual por centenas de anos. Havia algumas histórias de vampiros bonitos, mas eram truques, não era real. Mas depois as coisas mudaram, falavam da beleza e da grande atração sexual. - Ele saiu da cama e eu me movi, não o queria muito perto. Eu não tinha certeza em quem confiava menos: nele ou em mim.

Quando parei, ele parou de se mover e ficou ali, apenas olhando para mim.

- O Conselho decidiu enviar os seus vampiros para fora e fazer mais vampiros. Por milhares de anos a Rainha dos Pesadelos, a nossa líder, ou Morte d'Amour, o Amante da Morte e do Dragão, cansaram dos jogos e recuaram para dentro das câmaras do Conselho. Você raramente os vê. Ela me levou ao tribunal mais de uma vez, foi onde conheci Jean-Claude. Belle Morte, Bela Morte, enviou o seu povo para povoar o mundo com seus vampiros. Jean-Claude, Asher, e eu descendemos de sua linhagem. Mesmo que seu sangue não pudesse transformar o feio em belo, tudo era melhorado por seus toques, mas era mais do que isso. Alguns na sua linhagem tem o poder do sexo. Eles vivem e respiram dele. Alimentam-se da mesma forma que Colin e meu velho mestre se alimentam do medo. Eles podem ganhar o poder através do sexo e usá-lo como uma segunda isca para os mortais. - Ele parou e olhou para mim.

- Conclua Damian.

- Jean-Claude é um deles. Em outro momento, ele seria considerado um Incubus. Asher e eu não temos esse poder. É uma energia rara mesmo entre aqueles que descendem mais diretamente de Belle Morte.

- Assim, Jean-Claude pode se alimentar do sexo como Colin pode se alimentar do medo, e daí?

Damian moveu-se para mim e eu o deixei tocar meu ombro.

- Você não entendeu? Jean-Claude ganha poder através do sexo, não apenas do ato sexual, mas da energia sexual, da luxúria. Isso significa que toda vez que tiver relações sexuais, é poder. Cada ato íntimo entre os três estreita as marcas e aumenta o seu poder.

Senti como se fosse desmaiar.

- Quando ele ia me dizer

- Em defesa de Jean-Claude, ele diz que não funcionou desta forma na primeira vez que marcou você. O sexo não era um foco forte de poder. Foi feita três marcas profundas em você antes de se separarem, e não funcionou. Ele acha que foi a adição de Richard que aumentou o poder.

- O que você ganha nessa Damian? O que você vai ganhar me dizendo tudo isso? - Olhei para ele no escuro.

- Minha mestre me controlou por séculos com seu medo e seu sexo. Você merece a verdade, toda ela.

Me afastei dele e virei as costas, tudo fazia sentido. Jean-Claude exalava sexo como as outras pessoas usavam colônia. Isso explicava porque seu primeiro negócio era um clube de stripper, muita energia sexual para se alimentar. Será que nada mudou? Eu não tinha certeza.

Olhei pela janela, a testa pressionada contra o vidro frio. As cortinas balançavam suavemente na brisa da noite.

- Richard sabe que Jean-Claude é algum tipo de incubus?

- Eu acho que não.

O poder soprou sobre o vento, eu quase podia sentir o cheiro como o ozônio no ar. Ele arrepiou os pelos do meu pescoço. Não era vampiro ou Metamorfo. Reconheci o que era: necromancia. Em algum lugar por perto, alguém estava usando um poder muito semelhante ao meu.

Virei-me para Damian.

- A serva humana de Colin é uma necromante?

Ele deu de ombros.

- Não sei.

- Merda. - Saí para fora à procura de Asher. Meu poder tocou e foi jogado para trás, para fora, para longe. Corri para a porta.

Damian me seguiu perguntando:

- O que é? O que está acontecendo?

Peguei a Browning na mão quando cheguei no celeiro. Damian os viu antes de mim e apontou para eles. A serva humana de Colin estava à beira das árvores, quase perdida nas sombras e escuridão. Asher estava a poucos metros à sua frente. Ele estava de joelhos.

Eu comecei a atirar e corri, os tiros quebraram sua concentração e pude sentir Asher novamente. Sua vida estava sendo puxada para fora dele como um peixe em um anzol. Eu podia sentir seu sangue trovejando contra a sua pele, seu coração pulando no peito como uma coisa lutando para sair da jaula, e era isso que ela tentava pegar, como se pudesse puxar seu coração do peito a distância.

Forcei-me a parar de correr. Eu parei e abaixei o meu braço. Senti um movimento de cima, olhei para cima a tempo de ver o rosto pálido de Barnaby chegando como um pássaro gigante de rapina, em seguida Damian estava fora do chão e os dois vampiros rolaram para o céu, lutando.

Eu estava perto o suficiente para ver o rosto de Asher agora, ele estava sangrando em cada abertura, olhos, boca, nariz. Ele era uma máscara de sangue, suas roupas estavam encharcadas, ele caiu para frente ficando de quatro.

Eu atirei na mulher, atirei duas vezes em seu peito. Ela caiu lentamente de joelhos olhando para mim.

- Nós servos humanos não estamos autorizados a matar uns aos outros.

- Se o Colin não sabia que eu te mataria, ele deveria ter vindo pessoalmente.

Isso a fez sorrir por algum motivo, ela disse:

- Espero que ele morra comigo. - Então ela caiu com o rosto na terra. Mesmo à luz do luar pude ver os orifícios de saída nas costas como grandes bocas escancaradas.

Asher ficou de quatro com sangue pingando da boca. Ajoelhei-me perto dele e toquei seu ombro, a camisa estava encharcada de sangue.

- Asher, você pode me ouvir?

- Eu pensei que era você. - ele disse numa voz grossa - Eu pensei que era você me chamando.- Ele tossiu sangue no chão.

Olhei para o céu e não vi Damian ou Barnaby. Gritei por socorro e ninguém respondeu.

Coloquei meus braços em torno de Asher e ele caiu no meu colo. Eu o embalava no meu colo o quanto podia, tive que me inclinar sobre ele para ouvir sua voz.

- Eu pensei que você tinha me chamado para um encontro, não é irônico?- Ele tossiu tanto que foi difícil segurá-lo. Coisas mais grossas do que o sangue saíram em sua boca. Segurei-o enquanto sua vida se esvaia pelo chão e gritei:

- Damian!

Eu ouvi um grito distante, mas isso foi tudo.

- Não morra, Asher, por favor não morra.

Ele tossiu até que algo escuro e preto saiu de sua boca. Sangue saia dele como um córrego, toquei sua pele e estava fria.

- Alimentar-se de um dos licantropos seria suficiente para salvá-lo?

- Talvez. - Sua voz era suave e espessa.

Toquei sua testa, ele estava suando frio.

- Você está gravemente ferido?

Ele me ignorou, falando baixinho,

- Sabe Anita, me ver através de seus olhos curou meu coração.

Minha garganta estava apertada de lágrimas.

- Por favor Asher, não.

Uma gota de sangue deslizou de seu olho.

- Seja feliz com seus dois galanteadores. Não cometa os mesmos erros que eu e Jean-Claude cometemos há muito tempo. - Ele tocou meu rosto com uma mão escorregadia de sangue. - Seja feliz em seus braços, ma chérie.

Seus olhos vibraram, se ele desmaiasse poderíamos perdê-lo. Não havia nada no meio da noite além do som da cigarra e do vento. Onde diabos estava todo mundo?

- Asher, não vá.

Seus olhos se abriram, mas ele estava tendo dificuldade de foco. Senti seu coração hesitar, saltar uma batida. Ele poderia viver sem o seu coração batendo, mas eu sabia que desta vez, quando o coração parasse tudo acabaria. Ele estava morrendo. Nikki o tinha destruído por dentro para que não pudesse se curar.

Coloquei meu pulso direito envolto em ataduras brancas na frente da sua boca.

- Tome meu sangue.

- Beber de você é dar-lhe poder sobre qualquer um de nós. Eu não quero ser seu escravo mais do que já sou.

Eu estava chorando, lágrimas tão quentes que queimavam.

- Não deixe Colin matá-lo. Por favor, por favor! - Eu o segurei contra mim e sussurrei - Não nos deixe Asher.

Senti Jean-Claude a milhas de distância, senti o pânico com a idéia de perde-lo . - Não nos deixe, agora não, não, agora que nos encontramos de novo. Tu es beau, mon amour. Tu me fais craquer.

Na verdade ele sorriu.

- Eu quebro o seu coração, hein?

Eu o beijei e chorei, as lágrimas caíam contra as cicatrizes duras do seu rosto.

- Partout Je t'embrasse. Eu beijarei você inteiro, mon amour.

Ele olhou para mim.

- Je te bois des yeux.

- Beba de mim com seus olhos, droga, beba com a tua boca.- Rasguei as ataduras do meu pulso direito com meus dentes e coloquei a minha carne nua quente contra seus lábios frios.

Ele sussurrou:

- Je t'adore. - E afundou os dentes no meu pulso, era nítido e profundo. Sua boca se fechou contra minha pele. Sua garganta convulsionando, degustando. Olhei em seus olhos claros e senti algo na minha cabeça como uma cortina se abrindo. Por um momento foi uma dor contínua quase nauseante, então não havia nada, só o calor se espalhando. Eu nem sequer tive tempo para pânico. Asher entrou em minha mente como um lábio quente do oceano, de prazer, acariciando. Ela estourou em cima de mim em um formigamento de pele, me deixou ofegante e molhada. Então Asher estava ajoelhado em cima de mim, me segurando suavemente no chão.

Fiquei deitada olhando para o nada, as sensações subiam e desciam pelo meu corpo. Eu nunca deixei qualquer vampiro fazer isso, nunca os deixei roubar minha mente enquanto roubaram o meu sangue. Eu nem sabia que ele podia fazer isso.

Ele me beijou na testa.

- Perdoe-me Anita. Eu não sabia que podia abraçar sua mente. Eu não sabia que qualquer vampiro poderia. - Ele olhou para meu rosto em busca de alguma reação. Eu não poderia dar-lhe uma ainda, ele recuou o suficiente para ver meu rosto claramente. - Eu temia que você me possuísse como possui Damian. Eu tentei escalar o seu escudo, romper suas barreiras, mas fiz isso para me proteger de seu poder, nunca sonhei que poderia violar tais paredes impenetráveis. - Ele começou a tocar meu rosto, depois parou, a mão caindo em seu colo. - As marcas que a ligam a Jean-Claude deveriam protegê-la da minha mente, mas ele nunca foi tão bom nisso quanto eu. Devia ter pensado nisso antes.

Eu apenas estava lá, meio flutuante. Nada era real ainda, eu não poderia pensar, não podia falar. Ele levantou minha mão e apertou-a contra o rosto marcado.

- Eu recuei logo que percebi o que tinha feito. Era apenas, como você diz, uma rapidinha. Foi só uma pequena amostra do que poderia ter sido Anita. Por favor, acredite em mim.- Ele se levantou e eu não conseguia acompanhar o movimento. Deitei no chão e tentei pensar.

Jason ajoelhou-se ao meu lado, eu estava consciente o suficiente para saber de onde diabos ele veio. Ele não estava hospedado com Marianne ou estava?

- É sua primeira vez?- ele perguntou.

Eu tentei, mas não conseguiu confirmar.

- Agora você sabe porque eu fico com eles. - ele disse.

- Não. - eu disse, mas minha voz era distante como se não fosse minha - Não, eu não sei.

- Você sentiu isso. Você montou nele, como pode não amá-lo?

Eu não poderia explicar, me sentia maravilhosa, mas quando o brilho começou a desaparecer, o medo brotou grande e negro o suficiente para engolir o mundo. Parecia incrível que tinha sido uma rapidinha, como ele disse. Eu nunca quis nada de Asher porque ele era muito melhor do que isso, eu poderia tentar o resto dos meus dias e Jean-Claude não poderia me dar a mesma coisa. As marcas impediam que abraçasse minha mente. Era uma das coisas que faziam a diferença entre servo e escravo. Eu nunca conseguiria isso com Jean-Claude, nunca. E eu queria, nunca tive interesse em Asher. Agora, eu não tinha tanta certeza.

Asher voltou a estar em cima de mim, olhamos um para o outro. Havia pessoas no escuro agora. Alguém tinha uma lanterna que queimava sobre mim. Eu fiquei olhando o brilho quase cega. A luz estava no rosto duro de Asher, destacando as faixas avermelhadas de lágrimas.

- Não me odeie Anita. Eu não poderei suportar se você me odiar.

- Eu não odeio você Asher. - Minha voz ainda soava grossa e pesada com o resíduo de prazer. -Tenho medo de você.

Ele apenas ficou lá, as lágrimas correndo pelo seu rosto. As lágrimas se perdiam nas cicatrizes do outro lado, e estavam começando a acumular-se em sua pele dura.

- Pior. - ele sussurrou - Isso é muito pior.


42

Mandei todos para fora exceto Jason, ele ficou porque começaram a discutir que eu não poderia ser deixada completamente sozinha. Eu tinha esquecido que as pessoas estavam tentando me matar? Eu tinha esquecido que Jean-Claude tinha dito que os mataria se eu morresse? Isso não me faria ganhar amigos nem influenciar as pessoas a meu favor. Meu comentário foi: - Se todos nós morressemos, acho que resolveria tudo. - Isso acabou com os argumentos.

Jason estava deitado na cama encostado nos travesseiros. Ele tentou virar de lado, em seguida parou com um pequeno som de dor. Ele virou com dificuldade como se estivesse machucado, ele tinha ficado na cama ao invés da cadeira.

Eu estava andando pelo quarto, do pé da cama, até a janelas e perto da porta.

- Sabia que você já passou pelo pé da cama vinte vezes, e isso é só desde que comecei a contar. - disse Jason.

- Cale a boca. - eu disse. Eu ia colocar todas as minhas armas novamente, não porque precisava delas, mas porque eram familiares. O aperto do coldre de ombro, a pressão da Firestar no coldre me fazia sentir mais como eu mesma. Eu era o única dos três que usava armas. Era uma coisa que eu sabia que não tinha obtido a partir de qualquer um deles, era meu. Armas, este tipo particular de violência era todo meu. Eu precisava de algo que fosse todo meu agora.

Jason se moveu para o lado lentamente, um centímetro de cada vez. Demorou até que eu tivesse feito o meu trajeto da janela ao pé da cama. Ele e Jamil tinham sido enviados para esta casa para que todos os feridos pudessem estar em um lugar. Roxanne estava no quarto ao lado com Ben fazendo a guarda. Aparentemente eu tinha canalização poder suficiente de Richard para provocar uma concussão. Eu não tinha certeza se Ben estava de guarda para protege-la de mim ou o inverso. O Dr. Patrick estava na cozinha mexendo o guisado que Marianne tinha nos deixado. Zane e Cherry estavam aqui, mas todos os outros tinham ido ao Lupanar. Eles tinham ido terminar a cerimônia que havia sido interrompida na noite passada. Melhor para eles.

Asher estava em algum lugar da casa, não sabia onde e não queria saber. Havia muita coisa acontecendo rápido demais. Eu precisava de algum tempo para me ajustar.

Houve uma batida na porta.

- Quem é? - Eu perguntei.

- É Damian.

- Vá embora.

- Há um vampiro aqui em baixo com um dos homens do Xerife Wilkes, querem falar com você ou com Richard, não é assunto policial.

Isso chamou a minha atenção. Andei até a porta e Damian estava lá ainda vestindo o colete que Barnaby tinha rasgado quando a serva humana de Colin morreu, ele tinha desistido da luta e voou para longe. O terno de Damian era preto na luz brilhante e tornava sua pele incrivelmente branca.

- O que eles falaram exatamente?- Eu perguntei.

- Só que tem uma mensagem para vocês dois de Frank Niley.

- Porra. - eu disse baixinho.

- Eles estão sentados na cozinha com o Dr. Patrick e Asher.

- Diga a Roxanne e Jamil que os bandidos estão aqui, vou descer e falar com eles.

- O homem tem uma arma. - disse Damian.

- Eu também. - Andei pelo corredor com Damian atrás de mim.

Jason chamou da porta.

- Esperem por mim.

- Vá no seu próprio ritmo Jason, não vou esperar por você.

- Não a deixe matar ninguém, Damian. - ele disse.

Eu falei por cima do meu ombro.

- Ele vai fazer o que eu disser para fazer. - Eu tive uma hora para pensar sobre tudo o que tinha aprendido e meu humor não tinha melhorado.

Desci as escadas ruidosamente, Damian me seguiu como uma sombra sem som nas minhas costas. Por que Wilkes e seus homens não invadiram o lugar? Eu realmente esperava que eles começassem a brigar se descobrissem que eu não havia deixado a cidade. Que mensagem poderiam ter de Niley? E onde é que o vampiro entra nisso tudo? Dolph não havia mencionado nada sobre Niley viajar com um vampiro. Dolph odiava vampiros o suficiente para ter mencionado. Tantas perguntas, e por uma vez, eu obteria todas as respostas.

A cozinha parecia normal. Eles tinham limpado o sangue do linóleo e colocado uma toalha de renda limpa sobre a mesa. O policial Thompson estava sentado em uma das cadeiras da cozinha, estava a paisana, sem uniforme. Um vampiro alto e magro que eu nunca tinha visto antes sentou na cadeira ao lado dele. O Dr. Patrick estava sentado na cadeira de frente para eles, de costas para o corredor. Nathaniel estava na ponta da mesa olhando para o vampiro.

Zane ficou com as costas contra a pia, Asher estava encostado no armário perto o suficiente de Thompson para impedí-lo de puxar a arma. A arma em questão era um Berretta 10 mil em um coldre de ombro, igual a arma de serviço, apenas em um coldre diferentes. Deixar Asher tão perto era negligencia, mas Thompson não parecia pensar assim.

Ele sorriu para mim, um sorriso confiante, arrogante, como se eu estivesse onde ele queria e não pudesse fazer nada sobre isso. O que estava acontecendo?

- Como você me encontrou? - Eu perguntei.

Ele apontou um dedo na direção do vampiro.

- Os vampiros locais nos disseram que ainda podiam senti-los na cidade. Eles nos ajudaram a caçá-los. Evidentemente você é mais fácil de encontrar do que o seu namorado. Algo sobre o seu poder atraí-los.

Olhei para o vampiro, seu rosto estava ilegível, pálido e vazio. Seus olhos eram cinza escuro, seu cabelo liso e preto. Ele foi cortado e suavizado para trás sobre a testa em um Pompadour, isso foi na década de cinquenta. O penteado combinava com a sensação dele na minha cabeça. Ele não estava morto a muito tempo.

- Qual é seu nome?

- Donald.

- Oi, Donald, faltou-lhe a salsicha assada.

A irritação apareceu no rosto do vampiro, ele não tinha idade suficiente para escondê-lo.

- Você disse ao meu mestre que estava aqui apenas para tirar o seu terceiro da cadeia e que depois iriam para casa. Você fingiu sair da cidade, se você tivesse simplesmente ido embora, teríamos aceitado a morte dos nossos. Permanecendo, você mostra que pretende possuir nossas terras e o poder de meu senhor.

- Você falou com o seu mestre ultimamente?- Eu perguntei. - Ou o mais importante, ele tem conversado com a sua serva humana ultimamente?

O vampiro olhou para mim, mas não havia nenhuma força nele.

- Colin está ferido mas ainda não morreu, o Conselho vai matá-la por isso.

Asher disse:

- Um servo humano dá o seu salvo-conduto se atacar outro vampiro diretamente. Esse Conselho é lei. Anita não fez nada para que o Conselho a mate, se Colin persistir na tentativa de nos prejudicar, ele é que será caçado e destruído pelo Conselho.

- Chega dessa porcaria de vampiro. - eu disse e me voltei para Thompson. -Então qual é a mensagem? Pensei que se ainda estivéssemos aqui depois de escurecer, Frank Niley viria nos pegar pessoalmente.

- O velho Frank parece ter muito medo de você, Howard continua a resmungar que os sinais são ruins e que precisam sair da cidade agora. Que se ficar, vai matar todos eles.

Eu levantei uma sobrancelha.

-Tendo-me reunido a Niley e sua tripulação, estou lisonjeada por ter sido o seu bicho-papão. Agora, o que diabos é a mensagem?

Thompson pegou uma pequena caixa branca de seu bolso, era uma caixa de colar barato que você compra por aí. Ele estendeu-a para mim com um sorriso que era tão desagradável que me fez ter medo de pegá-la.

- Não vai morder. - disse ele.

Olhei para Asher, ele deu de ombros.

Peguei a caixa. Era funda. Levantei-a para ver uma mancha acastanhada no cartão branco. A caixa não estava vazia.

- O que tem dentro da caixa?

- Não quero estragar a surpresa. - disse Thompson.

Eu respirei fundo e levantei a tampa, tinha uma mecha de cabelo enrolado sobre o algodão. O cabelo era longo, grosso e castanho escuro, amarrado com um pedaço de fita vermelha como um presente. Levantei a mecha de cabelo e ele caiu na palma da mão. O algodão estava manchado de sangue.

Eu lutei para manter meu rosto em branco.

- Então? - Eu disse.

- Você não reconhece? O irmãozinho de Zeeman doou isso.

- Cortar o cabelo de Daniel não tiraria sangue.

- Não. - ele sorriu contorcendo-se na cadeira como uma criança que não podia esperar o resto da piada: - Há outro pequeno presente na caixa, levante o algodão.

Coloquei o cabelo em cima da mesa, ele ficou ali enrolado e reluzente. Eu não queria levantar o algodão, não queria ver o que mais eles tinham cortado de Daniel. Meu único consolo é que pensei em possibilidades terríveis, mas a maioria deles eram grandes demais para caber dentro da caixa.

Levantei o algodão e cai de joelhos como se alguém tivesse me acertado. Eu fiquei ajoelhada olhando para a ponta de um dedo mindinho que era muito delicado para ser de Daniel. A unha polonesa ainda estava perfeita, suave e pálida, era da mãe de Richard.

O Dr. Patrick teve que deixar a mesa e vomitar na pia, o toque suave em um médico e um lobisomem.

- O que é isso? - Cherry perguntou.

Eu não podia falar.

Asher respondeu porque ele podia ver por cima do meu ombro dentro da caixa.

- É o dedo de uma mulher.

Jason tinha acabado de entrar na sala.

- O que você acabou de dizer?

O vampiro Donald, disse:

- O que você fez, humano?

- Temos o irmão de Richard e sua mãe. - disse Thompson. - Eu achei que mataríamos você, mas Niley é que está pagando o dinheiro. Ele quer dar-lhes uma saída além de matar. Ele parece pensar que se não tentar te matar, você não vai tentar matá-lo. Engraçado, não é?

Eu finalmente olhei para cima, para longe do dedo de Charlotte Zeeman.

- O que você quer?

- Que você saia da cidade esta noite, libertaremos a mãe de Richard e amanhã de manhã o irmão, quando tivermos certeza que você realmente se foi. Se não aceitar Niley continuará enviando pedaços da família Zeeman. Talvez o próximo pedaço seja uma orelha, talvez algo maior. - Ele estava sorrindo quando disse isso. Thompson era um bruto sádico, ele não entendeu a situação, ou não estaria sorrindo.

O olhar do vampiro Donald me dizia que ele entendia.

Levantei-me lentamente, coloquei a caixa em cima da mesa ao lado da mecha de cabelo. Minha voz era surpreendentemente calma, quase vazia.

- Onde eles estão?

- Deixamos eles sãos e salvos. - disse Thompson.

- Eu não sabia o que tinham feito. - disse o vampiro. - Não sabia que eles tinham mutilado o terceiro da família.

Eu balancei a cabeça.

- Veja bem, esse é o problema Donald. Quando você joga com bandidos, não pode controlar o quanto eles são maus. Vocês dois apenas deixaram Daniel e Charlotte lá.

- Sim. - disse Thompson. - A figura aqui me pegou em seu carro.

Eu estava olhando para o dedo, não conseguia não olhar para ele. Levantei meus olhos para Donald o vampiro.

- Eu quero saber onde eles estão. - eu disse.

Os olhos de Donald arregalaram, ele sussurrou:

- Eu não sei.

Asher avançou e colocou as mãos sobre os ombros de Thompson, ele não estava preocupado.

- Se acontecer alguma coisa connosco, vão fazer pior com ela. A mãe de Richard é uma mulher atraente, seria uma vergonha mudar isso.

Donald disse:

- Lamento o que eles fizeram, mas as minhas ordens são as mesmas. Tem de sair hoje à noite do nosso território.

- Use o telefone da cozinha, diga que concordamos. Diga-lhes para não machucá-los, e que vamos dar o fora daqui.

Thompson sorriu.

- Não, nada de telefonemas. Eles nos deram duas horas, se nós não estivermos de volta vão começar a cortar mais coisas.

Concordei e puxei a Browning. Mostrei a ele e atirei em um único movimento, não me lembro do objetivo. A cabeça do vampiro explodiu em uma nuvem de sangue e cérebro, o corpo balançou para trás e caiu levando a mesa com ele.

Asher manteve Thompson em seu lugar, o sangue tinha respingado em seu rosto. Algo mais espesso do que o sangue escorria de sua testa. Ele estava tentando tirar o pedaço de carne, mas Asher o prendeu.

Apontei a Browning para sua testa.

Thompson parou de lutar e olhou para mim, eu tive que dar-lhe crédito. Coberto de sangue e cérebro, pressionado por um vampiro, olhando para o cano de uma arma, e ele estava dando um show de coragem.

- Mate-me, não vai conseguir nada, eles serão cortados em pedaços.

- Diga-me onde estão Thompson, e eu vou buscá-los.

- Foda-se! Você vai me matar de qualquer maneira.

- Eu lhe dou minha palavra de que se você nos disser onde estão, e os resgatarmos vivos, você ficará vivo.

- Eu não acredito em você, cadela.

- O problema de ser um desgraçado, traidor e indigno de confiança Thompson, é que você começa a acreditar que todo mundo é do mesmo jeito.- Eu destravei a trava de segurança da Browning e apontei para ele. Ele me viu fazer isso perplexo. - Eu mantenho a minha palavra Thompson, você quer viver ou não?

- Niley e Linus Beck são muito mais assustadores do que você nunca vai ser, garota.

Ele me chamou de cadela e garota, ou ele era muito estúpido, ou ...

- Você está me forçando a matá-lo.

- Se eu falar minha vida não vale nada. Niley não vai apenas atirar em mim. Thompson olhou para mim e havia um conhecimento em seus olhos que dizia que ele já estava morto. Era apenas uma questão de como e quem. Ele preferiu me escolher agora do que Niley mais tarde.

- Ele não tem medo da morte. - Asher disse suavemente.

Eu balancei a cabeça.

- Não, ele não tem.

- Podemos chamar a polícia. - Jason se ofereceu.

- Se não tem medo de você, não vai ter medo da polícia estadual. - Fiquei olhando para Thompson. - Não sei o que vou fazer com você Thompson, mas eu vou lhe dizer o que não farei. Não vou ficar aqui por duas horas vendo o tempo passar e deixar Daniel e Charlotte morrerem.

- Então, deixe a cidade. - disse ele.

- Eu conheci Niley, Thompson. Você realmente espera que eu acredite que ele vai nos deixar ir embora?

- Ele disse que sim.

- Você acredita nele?- Eu perguntei.

Thompson apenas olhou para mim.

- Não.

Os dedos de Asher apertaram os ombros do homem quase como se estivesse massageando-os.

- Há outras coisas além do medo da morte, Anita. Se você tiver estômago para isso.

Olhei para aquele rosto bonito, trágico e não poderia lê-lo.

- O que você tem em mente?

- Olho por olho, eu penso. - disse o vampiro.

Olhei para seus olhos azuis cristalinos e deixei a idéia crescer na minha cabeça como uma flor horrível. Muitas pessoas poderiam enfrentar um tiro, a morte rápida, mas não a tortura, eu era um deles, é disso que estávamos falando.

- Acredito que o Sr Thompson vai nos dizer onde eles estão dentro da próxima meia hora se formos cruéis. - disse Asher. - Vou fazer o trabalho sujo, você só precisa mandar.

Thompson parecia preocupado.

- Que merda você está falando?

- Jason?- eu disse.

Ele ficou ao meu lado, olhou para o que estava sobre a mesa e não disse nada, as lágrimas deslizaram silenciosamente pelo seu rosto. Ele esteve na casa dos Zeeman em vários jantares de domingo.

- Ajude Asher a segurar Thompson. - eu disse.

Jason foi para o outro lado segurando um braço na mesa. Asher ainda segurava seus ombros.

Olhei para Asher e assenti.

- Faça.

- Damian, você teria a bondade de me buscar uma faca? Uma com a borda serrilhada seria melhor, ela passa mais fácil pelos ossos.

Damian apenas se virou e atravessou a cozinha, ele e Zane começaram a abrir as gavetas.

- O que você vai fazer?- Thompson perguntou.

- Adivinhe. - eu disse.

- Eu não cortei nada daquela puta. Eu não a toquei, foi a idéia estúpida de Niley. Linus Beck cortou o dedo, ele fez isso, eu não fiz nada.

- Não se preocupe Thompson. Nós vamos chegar até Linus. Mas agora, você é tudo o que temos.

Damian tinha uma faca grande serrilhada, ele estava chegando perto da mêsa com ela. Thompson estava lutando agora, era difícil mante-lo sentado.

- É melhor deitá-lo no chão. - eu disse.

Nathaniel ajudou, eles o colocaram no chão segurando em cada braço, Nathaniel pegou as pernas. Thompson era um homem grande e forte, mas não poderia lutar contra eles, eram muito fortes, fortes demais.

Thompson estava gritando.

- Foda-se!

Damian entregou a faca para Asher.

- Eu vou segurá-lo.

Toquei no braço de Damian e balancei a cabeça.

- Não, eu vou fazer isso.

Damian olhou para mim.

- A regra é nunca pedir a ninguém para fazer algo que você não vai fazer sozinho. Se eu não puder fazer isso, então não vamos fazer. Encontraremos uma outra maneira.

Jason olhou para o homem que continuava lutando.

- Não há outra maneira. - Eu nunca tinha visto tanta raiva em seus olhos.

- Você poderia fazer isso?- Eu perguntei. - Poderia cortá-lo?

Jason confirmou lentamente.

- Eu poderia morder os dedos desse merda, um por um, exatamente como está nessa caixa.- Ele parecia sério, e isso me fez pensar que eu não sabia tudo sobre ele.

- Nós podemos fazer isso, Anita. - Asher disse - Não vai nos custar nada.

- Deve custar a ele Asher. Se vamos fazer mal a alguém, deve incomodar quem o faz.

- Não é maldade. - disse Asher. - É o mesmo que justiça.

- É maldade e todos nós sabemos. Agora, me dê a faca. Ou eu posso fazer isso, ou vamos pensar em outra coisa.

Damian ficou ali segurando a faca.

- Deixe-me fazer isto por você Anita, por favor.

- Me dê a faca, droga.

Ele me deu porque não podia fazer mais nada. Eu me ajoelhei ao lado de Thompson.

- Onde eles estão, Thompson?

- Não, não, Niley me disse o que faria comigo se eu te ajudasse. Ele é louco.

- Espere. - disse Zane, ele tinha encontrado um cutelo pequeno. - Isso vai funcionar melhor.

- Obrigada. - Peguei o cutelo de Zane.

Eu não tinha certeza se poderia fazer, na verdade esperava não ser capaz, ou eu fazia ou encontraríamos uma outra maneira. O dedo de Charlotte Zeeman estava em uma caixa, em menos de duas horas eles cortariam alguma outra parte. Eu tinha matado o vampiro de Colin, Thompson estava salpicado de sangue e pedaços de cérebro, e não estava falando. Ele era um filho da puta, mas era difícil também. Charlotte e Daniel não tinham muito tempo. Nós teríamos que quebrá-lo e conseguir a informação. Eu me dei todas as razões. Eram razões reais, e mesmo assim não sabia se poderia fazer.

- Nós vamos começar com um dedo Thompson, assim como Linus fez.- eu disse.

Ele gritava:

- Não, por favor, não! Oh, Deus, não!

Asher estava quase com seu peso total na palma da mão do homem forçando seus dedos.

- Diga-me onde estão e isso não vai acontecer. - eu disse.

- Niley disse que me cortaria e me faria comer o meu próprio intestino. Ele disse que fez isso uma vez em Miami. Eu acredito nele.

- Eu acredito nele também Thompson. E você não acredita que nós vamos fazer isso, não é? Você não acredita que estamos tão loucos como ele.

- Ninguém é tão louco quanto Niley.

Eu levantei o cutelo para cima.

- Você está errado. - Fiquei congelada por um longo momento. Eu não poderia fazer, não poderia salvar Daniel e Charlotte.

- Niley já estuprou Daniel? - Eu perguntei com uma voz tão vazia, que era como se eu não estivesse lá.

Thompson parou de se debater, ele estava muito quieto, revirou os olhos para cima.

- Por favor, não.

Olhei em seus olhos e perguntei:

- Você estuprou Charlotte Zeeman? - Eu vi o medo em seus olhos, esse flash que dizia que tinha feito. Foi o suficiente, eu poderia fazer. Deus me perdoe. Eu cortei a ponta do dedo e o próximo porque ele se mexeu. Mas eles têm melhores posições para segurá-lo e fazer melhor o corte. Thompson nos disse onde estavam mantendo Daniel e Charlotte Zeeman. Em menos de quinze minutos, ele teria nos dito os ingredientes para o molho secreto ou qualquer outra coisa. Ele teria confessado o assassinato de Hoffa, ou que dançou com o diabo. Qualquer coisa, qualquer coisa para nos fazer parar.

Vomitei no canto até que não tinha mais nada nos estomago além de bile, minha cabeça parecia que ia explodir. Eu sabia que finalmente tinha feito algo que não me recuperaria. Nos primeiros golpes eu tinha quebrado algo dentro de mim que nunca iria se curar, e estava contente com isso. Se conseguíssemos resgatar Daniel e Charlotte, eu estaria satisfeita. Um nó duro e frio me encheu por dentro, era algo além do ódio. Gostaria de fazê-los pagar por aquilo que tinham feito, gostaria de matá-los. Eu mataria todos eles.

Me senti estranha e vazia, e me perguntei se estava ficando louca, não me senti muito mal. Mais tarde, quando o choque passasse, eu me sentiria pior. Mais tarde, eu me perguntaria se não havia outra maneira de fazer Thompson falar. Mais tarde, eu me lembraria que queria magoá-lo, queria que ele rastejasse e implorasse. Queria que ele sentisse na carne toda a mágoa que Charlotte e Daniel sentiram. Agora nós poderíamos salvá-los. Ah, uma última coisa, Thompson estava gritando alto e penosamente como um coelho ferido, atirei na cabeça dele e a gritaria parou.


43

Eu estava dirigindo a van na estrada estreita de cascalho no escuro. Insisti em dirigir porque queria algo para fazer, não queria apenas sentar e olhar pela janela. Eu estava começando a pensar se deveria ter deixado alguém dirigir porque nada parecia real ainda. Sentia-me leve e vazia, chocada, mas não culpada. Ainda não. Thompson tinha ganhado a sua morte, ele havia estuprado a mãe de Richard. Eles a tinham torturado, estupraram e torturaram Daniel. Todos eles mereciam morrer.

Jamil e Nathaniel estavam na parte de trás da van com Roxanne e Ben. A lupa não ficaria de fora da luta, mesmo trazendo seu guarda-costas. Eu não tinha tempo para lutar com ela, então a deixei vir.

Jason e o Dr. Patrick estavam na frente comigo. Zane e Cherry foram enviados para o Lupanar para chamar Richard e o resto do bando, eu não iria esperá-los. Eu não confiava que Niley não seria criativo, não confiava em Linus e seu mestre. Quanto controle Niley têm sobre seu psicopata animal de estimação? Eles já haviam estuprado a família de Richard. O que mais poderia acontecer agora? Niley não tinha regras, eu sabia disso.

Eu segurava o volante tão forte que minhas mãos doíam. Os faróis faziam um túnel de ouro através da escuridão. As árvores na estrada estreita raspavam no teto da van como grossos dedos agarrando. Os faróis brilhavam sobre a estrada de terra, mas não era o suficiente, nunca seria o suficiente. Não havia luz suficiente no mundo para afastar esta escuridão.

- Eu não posso acreditar que você fez isso. - disse o Dr. Patrick, ele estava do outro lado pressionado contra a porta de passageiro como se tivesse medo de ficar muito perto de mim.

Jason estava no meio.

- Vamos lá, Patrick. - ele disse.

- Ela o cortou como um animal, e então atirou nele.

Era a terceira vez que ele falava a mesma coisa.

- Chega. - disse Jason.

- Eu não vou parar, foi bárbaro.

- Eu não estou tendo uma boa noite Patrick, então pare. - eu disse.

- Foda-se. - ele disse.

- Thompson estava gritando de dor. - eu disse.

- E você o matou. - disse Patrick.

- Alguém tinha que terminar com isso.

- Que diabos você está falando? Terminar! - Sua voz foi subindo, e eu estava começando a pensar que seria uma ótima idéia atirar nele. Depois do que já tinha feito esta noite, não parecia ser grande coisa.

- Há quanto tempo você entrou no lukoi?- Jason perguntou.

A questão nos deu um momento de silêncio, surpresos.

- Dois anos. - disse Patrick

- E qual é a regra sobre a caça?- Jason perguntou.

- Qual?

- Não seja tímido Patrick, você sabe a resposta.

Ele ficou em silêncio por muito tempo, os únicos sons eram o zumbido do motor e as rodas na estrada. A van balançou suavemente sobre a estrada esburacada. Era apenas minha imaginação ou havia um som baixo diferente do ruído do motor, um nível elevado, lamentos, gritos? Não, era a minha imaginação, ela não seria minha amiga por um tempo.

Patrick finalmente disse:

- Nunca comece uma caça a menos que tenha a intenção de matar.

- É isto aí. - disse Jason.

- Mas isso não era uma caçada. - disse Patrick.

- Sim, era. - disse Jason. - Nós simplesmente não estávamos caçando Thompson.

- O que isso quer dizer?- ele perguntou.

Eu respondi:

- Significa que estávamos caçando algumas pessoas naquela casa.

Patrick virou um rosto pálido para mim no escuro.

- Mas isso não quer dizer que devemos matar todos eles. Apenas um homem cortou o dedo da mãe de Richard, só um homem é culpado.

- Eles assistiram e não fizeram nada para impedí-lo. Aos olhos da lei é o mesmo que fazer. - eu disse.

- Você não é a lei. - disse ele.

- Oh sim, eu sou.

- Não, você não é. Droga, você não é!

- Qualquer um que prejudique o bando sem justa causa é nosso inimigo.

- Não diga a lei do bando para mim, humana.

- Como lidamos com os nossos inimigos? - Eu perguntei.

Jason respondeu:

- Morte.

- A maioria dos bandos não possuem uma lei mais antiga, e você sabe disso. - disse Patrick.

- Olha Patrick, não tenho tempo para explicar tudo, então aqui está a versão do Reader's Digest. Niley e seus homens estupraram e torturaram a mãe e o irmão de Richard. Nós vamos matá-los por isso. Todos eles.

- E quanto ao Xerife Wilkes e seus homens?

- Se Thompson ajudou a violentar a mãe de Richard, então ele não foi o único. Qualquer um que tenha tocado neles está morto, vocês compreende Patrick? Morto!

- Eu não posso fazer isso. - ele disse.

- Então fique no carro, mas cale a boca ou vou atirar em você.

- A sua consciência está te incomodando.

Olhei para ele encolhido no escuro.

- Não, a minha consciência não está me incomodando, ainda não. Talvez mais tarde, talvez não. Agora, esta noite, eu não me sinto mal sobre o que fiz. Eu queria que Thompson sofresse, queria puní-lo pelo que fez. E sabe de uma coisa Patrick? Não foi suficiente. Nunca será suficiente porque eu o matei muito rápido. Lágrimas ameaçavam a escorrer pelo meu rosto, quando a dormência e raiva passassem, eu estaria em apuros. Eu tinha que manter a adrenalina e a raiva esta noite. Amanhã, bem, nós veríamos.

- Tem que haver outra maneira. - disse Patrick.

- Eu não te ouvi oferecendo sugestões no momento.

- O que está incomodando o bom doutor,- Jason disse, - é que ele não disse nada, não fez nada para nos impedir.

Olhei para ele.

- Nós o matamos.

- Eu não o segurei, não o toquei. - disse Patrick.

- Tudo o que tinha que fazer era dizer: 'Parem, não façam isso', mas você ficou quieto. Você nos deixou cortá-lo, você nos viu matá-lo e não disse uma maldita palavra. - disse Jason. - Sua consciência não estava te incomodando tanto enquanto ele ainda estava vivo.

Patrick não disse nada por um longo tempo. Nos concentramos ao longo da estrada evitando os galhos e os buracos. Não havia nada além da escuridão, o túnel de ouro dos faróis e o motor, o resto era apenas silêncio. Eu não tinha certeza se o silêncio era a minha coisa favorita agora, mas era melhor do que ouvir Patrick me dizer que eu era um monstro. Concordei com ele, o que tornava mais difícil de ouvir.

Então, algo que encheu o silêncio foi ainda mais difícil de ouvir. Patrick estava chorando, ele estava encolhido contra a porta tão longe de nós dois com poderia, e chorou baixinho. Finalmente ele disse:

- Você está certa. Eu não fiz nada, e isso vai me assombrar para o resto dos meus dias.

- Bem vindo ao clube. - eu disse.

Ele olhou para mim na escuridão.

- Então por que você fez isso?

- Alguém tinha que fazer.

- Eu nunca vou esquecer a visão de vê-la cortando-o. O olhar em seu rosto quando o matou. Deus, você olhou em branco, como se não estivesse lá. Por que tinha que ser você?

- Teria sido melhor se um dos rapazes tivesse feito?- Eu perguntei.

- Sim. - disse ele.

- Por favor, não me diga que isso é alguma merda de macho. Que você esta chateado porque uma menina fez isso?

Patrick suspirou.

- Eu acho que é. Quer dizer, acho que não pareceria tão horrível se um dos outros tivesse feito. Você é essa coisa bonita, não deve cortar os dedos das pessoas.

- Oh, por favor. - eu disse.

- Vou para o meu túmulo vendo o olhar no seu rosto.

- Guarde isso pra você, ou irá mais cedo do que imagina. - eu murmurei.

- O que você disse?- Patrick perguntou.

- Nada.

Jason fez um pequeno som que poderia ter sido uma risada. Se ele soubesse como o comentário tinha sido sem graça . Eu tinha problemas suficientes com o que tinha acabado de fazer, não precisava de um soluço do Grilo Falante para enfatizar o fato de que eu tinha caído no abismo. O monstro não estava respirando no meu pescoço, ele estava dentro da minha cabeça, gordo e bem alimentado. O que me fez tão certa que o monstro estava em casa foi o fato de que não me sentia culpada. Eu me senti mal porque deveria sentir alguma coisa. Eu achei que a tortura era algo pessoal e intransponível, mas eu estava errada.

Lágrimas apertavam minha garganta, que se dane se eu chorar. Estava feito, eu tinha que esquecer ou pelo menos empurrar para trás tempo suficiente para fazer o trabalho. O trabalho era salvar Daniel e Charlotte, se eu não conseguisse, então tudo tinha sido para nada, adicionei um novo pesadelo para nada. Mas era mais do que isso. Eu não poderia enfrentar Richard se os deixasse morrer. Eu estava zangada com ele, chateada, mas tudo havia mudado. Eu daria tudo para ele me abraçar agora. Claro, provavelmente ele teria concordado com Patrick. Richard seria um homem muito sábio se não falasse nada hoje à noite.

Mas não era apenas Richard, eu conhecia o clã Zeeman inteiro. Eles estavam tão perto da perfeição que me dava nos nervos. A família nunca se recuperaria de uma perda como esta. Eu estava contando que Daniel e Charlotte se recuperassem da tortura. Eu esperava que fossem fortes o suficiente para não deixar que isso os destruíssem. Esperava estar certa. Não. Eu rezava para estar certa.

Thompson tinha-nos dito em que quarto eles estavam. Paramos perto da mata e da estrada quanto possível. Não foi uma surpresa. A informação que Thompson passou que poderia ser útil. Talvez eu devesse ter usado menos tortura e mais ameaça. Talvez ele tivesse nos dado informações mais detalhadas. Talvez sim, talvez não. Eu era nova no interrogatório sob tortura, suponho que não tinha a técnica adequada. Em outros tempos eu teria dito que melhoraria com a prática, só que nunca mais faria isso. Eu poderia ter perdido a voz gritando muito por causa de um incidente como este, mas se eu fizer isso de novo, tudo estaria acabado. Eles teriam que me mandar embora. Eu me mantive piscando sentindo o pneu no chão. Lembrei-me que eu não senti quando cortei o osso. Eu apenas senti o cutelo raspar o chão. Eu vi os dedos lavados de sangue, mas não tanto sangue quanto você imagina.

- Anita, Anita, a estrada!

Pisquei no freio jogando todos para a frente. Eu era a única a usar um cinto de segurança. Normalmente lembraria a todos do cinto. Estava ficando negligente. Jason foi jogado para o painel e empurrado de volta para o banco, ele disse:

- Você está bem?

Acelerei a van lentamente.

- Estou bem.

- Mentirosa. - disse ele.

Continuei dirigindo até que vimos uma placa que dizia "Greene - Casa do Vale". Você não esperava encontrar uma casa com um nome no final de uma estrada de terra. Só porque a estrada não é pavimentada não significa que o povo não tenha estilo ou talvez pretensões. As vezes é terrivelmente difícil dizer a diferença.

Esta estrada era de cascalho, ele batia embaixo do carro mesmo em baixa velocidade, eu desacelerei ainda mais. Roxanne conhecia a casa, ela cresceu com o filho do Greenes, eles haviam sido os melhores amigos até os hormônios começaram a pular tentando jogar o menino para sua menina. Havia uma clareira no meio da estrada onde estacionamos o carro, puxei a van para as ervas daninhas. Elas batiam contra o metal chicoteando os pneus. A caminhonete preta era uma espécie de camuflagem, estacionado nas árvores. Não estávamos nos movendo rapidamente. Claro, eu não estava pensando em correr até eles. Minha prioridade era fazer com que Daniel e Charlotte saíssem o mais ilesos possível. Eu não tinha outra prioridade e isso tornava as coisas mais simples. Resgataríamos os reféns e mataríamos todos. Simples.

Uma parte de mim esperava que Richard chegasse aqui a tempo para o ataque, a outra parte não. Primeiro: eu não tinha certeza de como ele receberia a notícia sobre sua família. Segundo: eu não sabia como ele reagiria ao meu plano. Eu não queria discutir, paguei um preço para chegar aqui. Tínhamos que fazer do meu jeito.

Alguém tocou em meu braço e eu pulei tanto que não poderia falar por um segundo. Meu coração foi na garganta e eu não conseguia respirar.

- Anita, é Jason. Você está bem?

A porta de passageiro estava aberta e Patrick não estava à vista. Ouvi um movimento do lado da van. Era Nathaniel, ele bateu suavemente na janela e eu a abri.

- Estamos prontos. - disse ele.

Concordei.

- Dê-nos alguns minutos. - Jason disse.

Nathaniel voltou para o fundo da van sem outra palavra. Ele seguia as ordens muito bem.

- Fale comigo Anita.

- Não há nada para falar.

- Você fica olhando para o espaço por muito tempo. Você não está mesmo aqui. Precisamos de você para que isso funcione, Daniel e Sra. Zeeman precisam de você.

Minha cabeça virou lentamente por vontade própria e olhou para ele.

- Eu fiz o melhor por eles esta noite, fiz mais do que devia.

- Até que estejam seguros, não é suficiente.

- Eu sei disso. Você acha que eu não sei? Se eu não tirá-los vivos, então o que eu fiz foi por nada.

- E o que você acha que fez?- ele perguntou.

Eu balancei a cabeça.

- Vocês viram.

- Eu ajudei a segurá-lo.

- Eu sinto muito sobre isso.

Jason colocou as mãos nos meus ombros e apertou gentilmente.

- Pô, Anita. Não é como cair no horror. Você é um bom soldado, mata e continua como é de se esperar.

Eu o empurrei para longe de mim.

- Eu torturei um homem Jason. Eu o reduzi a algo que se contorcia no chão chorando de terror e dor. E eu quis fazer isso. Eu queria lhe fazer mal por causa do que tinham feito a Charlotte e Daniel. Eu quis machucá-lo. - balancei a cabeça. - Farei o melhor nesta noite, mas me perdoe se for mais difícil continuar do que o normal. Perdoe-me se eu não for uma super-mulher, depois de tudo.

- Você não é a Super-mulher? - ele exclamou colocando a mão em seu peito simulando surpresa. - Mentiu para mim todos esses anos!

Isso me fez sorrir.

- Pare.

- Parar com o quê? Por estar te torturando ou porque você fez algo horrível? Vou te dizer a terrível verdade Anita. Não importa o que você fez ou como se sente mal sobre isso, apenas continue. A vida não dá a mínima se você está triste, chateada, enlouquecida ou atormentada. A vida apenas continua e você tem que ir com ela, é isso ou você vai sentar no meio da estrada e sentir pena de si mesma. Não te vejo fazendo isso.

- Eu não estou sentindo pena de mim.

- Você não está assim por causa de Thompson. Está se torturando pela maneira que fez isso. Você não daria uma moeda por eles. Você está chorando e rangendo os dentes porque está se achando um monstro. Bem, eu entendo o suficiente por causa de Richard. Eu não preciso de você para aprender a agir em conjunto. Temos pessoas que precisam ser salvas.

Olhei para ele.

- Sabe o que realmente está me incomodando?

- Não, o quê?

- Eu não me sinto mal por ter cortado Thompson, acho que ele merecia.

- Ele merecia. - disse Jason.

- Ninguém merece ser torturado, Jason. Ninguém merece o que fizemos, o que eu fiz para ele. Isso é o que o meu cérebro continua me dizendo, que eu deveria sentir pena dele, deveria ficar horrorizada. E que isso deveria me destruir, mas quer saber de uma coisa?

- O que?- Jason perguntou.

- Não vai me destruir porque a única coisa que lamento é que não tive coragem suficiente para cortar o seu pinto e guardá-lo como lembrança para a mãe de Richard. Matá-lo, mesmo torturá-lo, não foi suficiente. Os Zeemans são como os Waltons, caralho. Pensar que qualquer um podia tirar isso deles para sempre me deixou com tanta raiva que tudo o que posso fazer é matá-los. Matar todos. - Olhei para ele no escuro. - Eu deveria me arrepender por alguma coisa Jason. Eu posso matar e não piscar, agora eu posso torturar e não me arrepender. Eu me tornei um dos monstros, e se isso me ajudar a salvar a família de Richard estou feliz por ser um deles.

- Sente-se melhor?

- Sim, eu sei. Sou um monstro, mas é por uma boa causa.

- Para salvar a mãe de Richard, eu faria muito pior do que cortar alguns dedos.

- Eu também.

- Então vamos fazer isso. - disse ele.

Descemos da van.


44

Todos tinham entrado na floresta como pedras atiradas na superfície de um lago escuro. Mesmo Ben, que estava carregando Roxanne, tinha desaparecido. Eu me movia entre as árvores em um ritmo mais lento, mais humano. Nathaniel ficou comigo como um cão bem treinado. Eu quase desejava que ele tivesse ido com os outros. Sua presença não era reconfortante porque ele era um homem-leopardo frágil e eu não tinha certeza se deveria levá-lo em uma luta.

Ele se agachou ao meu lado, mão no meu braço me puxando para baixo. Fiquei de joelhos ao lado dele, arma pronta. Ele apontou para o lado direito e eu ouví; alguém vinha através da vegetação rasteira e não era um dos nossos.

Coloquei minha boca perto de seu ouvido.

- Vá para trás de quem quer que seja e mande-o para mim.

Ele balançou a cabeça e sumiu no meio das árvores. Fiquei atrás de uma grande árvore utilizando-a como escudo. Meu plano era enfiar a Browning em quem quer que fosse e descobrir o que estava acontecendo na casa.

Alguém se surpreendeu, e agora eles estavam correndo em pleno desenvolvimento, senti o movimento nas árvores sem realmente vê-los. Os metamorfos estavam mandando-o para mim. Nathaniel tinha encontrado os outros e repassado a ordem. Se fosse algum andarilho inocente ... Eu não conseguia pensar em uma desculpa bastante forte. Oh, bem.

Uma figura caiu entre as árvores a minha direita. Eu tinha que pegar a arma e apontar ao redor da árvore para chamar sua atenção. Enfiei o cano da arma embaixo do seu queixo e só então ele me viu. Era Howard, o psíquico.

- Não me mate. - ele engasgou.

- Por que não? - perguntei.

- Eu posso ajudá-la.

- Comece a falar.

- Milo e o Xerife Wilkes estão lá em cima discutindo sobre quem consegue matar o homem.

Pressionei o cano da arma em seu pescoço até que ele ficou na ponta dos pés. Um som selvagem saiu de minha garganta.

- Será que você também se aproveitou de Charlotte Zeeman? Ela era uma boa presa?

Ele tentou falar mas não conseguia por causa do cano da arma. Pensei em empurrar o cano em sua garganta até que sufocasse em seu próprio sangue e morresse. Respirei profundamente e relaxei a arma o suficiente para que ele falasse.

- Querido Deus, eu não toquei na mulher, não toquei em nenhum deles. Eu sou um clarividente, pelo amor de Deus. Não poderia suportar tocar em alguém durante um estupro ou tortura. - disse Howard.

Eu acreditei nele, e sabia que se mais tarde descobrisse que estava mentindo, o mundo não seria suficientemente grande para escondê-lo. Eu sabia com uma certeza fria que se ele fosse culpado pagaria.

- Você disse que Daniel está na casa? Onde está Charlotte?

- Niley e Linus a levaram para usar seu sangue para chamar o seu demônio. Eles vão invocar o demônio para procurar a lança sob a terra, Niley tem planos de sair à noite.

- Você não pode enviar um demônio para encontrar uma relíquia sagrada.

- Linus acha que a blasfêmia vai cair sobre seu mestre.

- Por que você está fugindo, Howard?

- Não há lança, eu menti.

Eu aliviei a pressão da arma e pisquei para ele.

- Do que você está falando?

- Você sabe como é difícil ganhar a vida como um clarividente. Tantas lembranças horríveis, e você geralmente acaba trabalhando com a polícia por pouco ou nenhum dinheiro. Eu estava usando meus poderes para enganar pessoas ricas que não se importavam muito com a lei, eu lhes prometia algo que não era real. Então, eles ficavam com vergonha de ir à polícia ou não podiam dar queixa de algum objeto roubado. Funcionou, eu só enganava vigaristas.

- Até conhecer Niley. - eu disse.

- Ele é louco, se descobrir que o enganei vai me matar e Linus vai alimentar o demônio com a minha alma.

- Eles vão matar Charlotte tentando encontrar algo que não está aqui, seu imbecil.

- Eu sei, e eu sinto muito. Eu sinto de verdade, por favor me perdoe. Eu não sabia do que ele era capaz. Oh Deus, deixe-me ir. Permitam-me fugir.

- Você vai nos levar a casa, vai nos ajudar a salvar Daniel.

- Não há tempo para salvar os dois. - disse Howard. - Eles vão matar o homem e sacrificar a mulher agora. Se formos para a casa, a mulher estará morta antes que você possa chegar até ela.

Roxanne apareceu do outro lado da árvore como mágica. Howard engasgou.

- Eu acho que não. - ela disse, abriu a boca cheia de dentes e a fechou perto de seu rosto, Howard gritou.

Ela apertou as mãos em garras na casca da árvore, Howard desmaiou.

Deixei-o com Roxanne e Ben aguardando os vampiros. Quando eles chegassem entrariam na casa e salvariam Daniel. Eu levaria o resto e resgataria Charlotte. Não haveria nenhuma escolha. Gostaríamos de salvar os dois. Eu tinha que acreditar daria certo e me enfiei na floresta negra. Eu desencadeava poder dentro de mim e enviei-o para fora, lançando como uma rede para apanhar uma presa fácil do mal. Eles sabiam que eu estava chegando, mas não poderia ser ajudada. Corri como se eu estivesse com Richard. Corri como se o chão me dissesse para onde ir e as árvores abrissem o caminho com as mãos. Eu corri no escuro e não podia ver, eu não precisava. Senti Richard correndo em nossa direção. Senti a ponta dura de seu pânico e corri mais rápido.


45

Eles escolheram o topo de uma colina que outrora foi um prado, mas hoje eles destruíram toda a grama e as flores para que o morro estivesse vazio e quebrado sob o luar.

Nos filmes sempre havia um altar e talvez uma fogueira ou duas, no mínimo uma tocha. Mas não havia nada além de escuridão e a luz de prata do luar. E no meio da clareira estava Charlotte Zeeman. Ela foi amarrada nua nas estacas fincadas no chão. Pensei que ela estivesse inconsciente, mas suas mãos flexionavam e esticavam contra as cordas. Fiquei feliz de ver o quanto ela continuava lutando, e lamentei que ela não tivesse desmaiado.

Linus Beck estava vestindo o manto negro com capuz, acho que se ele me salvou de vê-lo nu, eu não poderia viver com isso.

Niley estava ao lado de Linus, ele usava a mesma roupa que eu tinha visto no dia anterior. Eles tinham desenhado um círculo no chão com algo escuro e oleoso. Charlotte estava dentro do círculo, ela era o alimento para o demônio, a isca.

Wilkes estava a menos de oito metros de mim, à minha direita. Ele tinha um rifle de alta potência e estava à procura na escuridão.

A voz de Linus subiu em um ritmo cantante que encheu a noite com ecos e movimento como se a própria escuridão tremesse com as palavras.

Eu e Nathaniel ficamos deitados no chão na linha das árvores observando. Jason e Jamil deveriam estar do outro lado da clareira. Um momento de concentração me disse onde eles estavam. As marcas com Richard estavam abertas, eu nunca estive tão consciente do cheiro e os sons de uma noite de verão. Era como se expandisse para fora da minha pele, tocando cada árvore e arbusto. Eu estava líquida e mal me continha dentro de minha pele.

Senti Richard e os outros se deslocarem por entre as árvores como um vento contínuo. O lukoi estava chegando, mas estavam a quilômetros de distância e a magia estava quase completa. Eu podia senti-la crescendo, inchando, como um nevoeiro úmido e invisível. O mal estava por vir.

Ouvi tiros vindo da casa ecoando até o morro. Wilkes se voltou para eles e eu me aproximei engatinhando. Estiquei o braço e o primeiro tiro acertou-o no meio das costas. O segundo tiro foi um pouco mais pra cima porque ele estava caindo de joelhos. Ele permaneceu imóvel, de joelhos num daqueles segundos que duravam uma eternidade. Tive tempo de colocar uma terceira bala nas costas.

Uma bala atingiu a árvore ao lado da minha cabeça e eu rolei de volta para o mato. Três tiros atingiram os arbustos onde eu tinha estado. Niley tinha uma arma, uma semi-automatica que poderia suportar balas maiores se ele tivesse modificado o clipe. Não é bom. Claro que poderia ter feito isso. Difícil dizer no escuro a dessa distância.

Eu me aproximei de uma árvore encostando o braço contra ela, olhei para seu vulto na escuridão brilhante. Atirei com cuidado e ele caiu, não tinha certeza se o tinha atingido, mas acertei em alguma coisa. Ele atirou de volta e eu caí no chão.

Nathaniel arrastou-se de barriga ao meu lado.

- O que vamos fazer?

Niley gritou:

- Você não pode atravessar o círculo Anita. Se você me matar, tudo que pode fazer é observar Charlotte morrer.

Arrisquei uma olhada, Niley tinha cobertura. Eu poderia disparar em Linus, mas não estava cem por cento certa do que aconteceria com Charlotte. Eu não sabia o tipo de feitiço que estavam fazendo. Eu não sabia muito sobre feitiçaria.

- O que você quer Niley?

- Jogue a arma fora.

- Jogue a sua também, ou eu atiro em Linus.

- O que acontece se a Charlotte e Linus morrerem no meio do feitiço?

- Eu vou me arriscar. Jogue fora a arma.

Ele se levantou e jogou a arma do lado do morro. Eu não pude ouvir o canto de Linus, mas ele fez isso. Me afastei das árvores e joguei a Browning longe, eu ainda tinha a Firestar.

- A outra arma também. - Niley disse. - Lembre-se que Linus te revistou hoje cedo.

Joguei a Firestar longe na grama seca. Tudo bem, isto não era mais sobre armas.

Eu senti a próxima etapa. A ultima palavra de Linus adentrou na noite como um grande sino de bronze que tinha sido atingido por fora por uma chave, mas ele repetiu a nota novamente. Ele repetiu e cresceu até que a pele do meu corpo tentou rastejar e se esconder, rastejando como se cada inseto do mundo estivesse sob minha pele. Por um segundo eu não consegui respirar ou me mover. Então a voz Niley veio,

- Você chegou muito tarde Anita. Tarde demais.

Charlotte estava gritando com a mordaça na boca. Ela gritou, uma e outra vez, tão rápido que não tinha tempo para respirar.

Olhei através da campina e constatei que havia algo mais dentro do círculo. Eu não tinha certeza porque a escuridão tornava difícil de ver, ou se era uma fumaça, não tinha exatamente uma forma. Parecia ter a altura de um homem, talvez dois metros, não mais. Era tão fina que parecia feita de varas. Suas pernas eram mais longas do que deveriam, de alguma forma estava dobrada errado. Percebi que quanto mais eu olhava para ele, mais sólido se tornava. O pescoço parecia uma longa serpentina curvada sobre os ombros como uma garça, e tinha um bico no lugar da boca. Se tinha olhos eu não consegui ver. A coisa parecia ser cega e ter apenas metade do formato.

- É tarde demais. - disse Niley novamente.

- Não, não é. - Eu me levantei e saí das árvores. Niley parecia extremamente confiante agora que o demônio estava aqui.

- Só Linus pode enviá-lo de volta de onde veio. Se você machucá-lo, ele certamente vai devorar Charlotte.

Eu o ignorei porque sabia que o plano era que a coisa comesse Charlotte. Eu os deixaria pensar que acreditava que eles queriam salvá-la. Deixaria-os pensar que ela ainda era útil como refém. Eu só queria chegar perto o suficiente para ver o tipo de círculo que haviam feito.

Charlotte tinha parado de gritar. Eu podia ouvir sua voz presa por trás da mordaça, ela estava falando agora, não gritando. Era uma mulher forte, uma mulher muito forte.

O demônio passeou pela borda do círculo rapidamente com uma cauda longa e fina como chicote. Tornava-se cada vez mais agitado movendo-se em torno do círculo como um prisioneiro tentando sair.

- O círculo está completo. - disse Linus. - Você está sobre meu comando.

O demônio assoviou para ele e o som fez doer minha cabeça, ele virou-se e olhou para mim, ainda não tinha olhos. Eu estava na borda do círculo agora, podia ver que Charlotte havia fechado os olhos, e eu sabia o que ela estava fazendo. Ela estava rezando.

Eu caí de joelhos ao lado do círculo, não senti nada. O que significava que não era para mim. Seja lá o que fosse para manter dentro ou fora, eu não era um deles.

- Ela é pura Linus, ela é pura de coração e alma. Ela não é um sacrifício apto para isso.

- Os puros são um deleite raro e muito bom para o meu mestre.

- Não, você não pode alimenta-lo com a alma dela Linus. A alma dela é sagrada e esta coisa não pode tocá-la.

O demônio se moveu mais longe de Charlotte, tanto quanto o círculo permitiria. Ele não estava feliz.

- Ordene a ele Linus. - Niley disse.

- Eu lhe ofereço um sacrifício de carne, osso e alma. Tome esta oferenda e realize meu desejo.

O demônio foi para perto de Charlotte, ele colocou o bico ao lado de seu rosto e ela gritou. As orações pararam e ele riu, um som como moagem de metal.

- É um círculo contra o mal não é Linus? Apenas o mal.

- Você é uma necromante. - Niley disse. - Você é do mal.

- Não deveria acreditar em tudo que ouve ou lê por aí Niley.

O demônio levantou os dedos para a luz da lua, seus dedos pareciam facas negras. Charlotte abriu os olhos e gritou, a Oração do Senhor teria sido razoável, mas eu não conseguia me lembrar. Tudo o que eu conseguia pensar era no Natal. - E os pastores estavam no mesmo país, permanecendo em campo, vigiando o rebanho durante a noite.- Pisei em cima do círculo e não aconteceu nada, foi concebido para impedir a entrada do mal e eu não era um deles.- E eis que o anjo do Senhor apareceu e a glória do Senhor os cercou de resplendor e eles ficaram com medo.

O demônio estava conversando, atirando suas garras de navalha em torno de mim como pás de um ventilador, mas não me tocou.

- E o anjo disse-lhes. Não temas porque eu vos trago novas de grande alegria que será para todo o povo. - Ajoelhei e comecei a desamarrar Charlotte. Quando puxei a mordaça ela começou a recitar comigo. - Nasceu hoje na cidade de David um Salvador, que é Cristo Nosso Senhor.

Eu embalava o corpo nu de Charlotte em meus braços. Ela me agarrou e chorou, e eu estava chorando também. Eu sabia que tinha que sair do círculo porque só me lembrava de mais três versos.

- E este será um sinal para vós; achareis o menino envolto em panos e deitado numa manjedoura. - Charlotte não conseguia andar, eu tinha que carregá-la. Nós tropeçamos perto da borda do círculo e o demônio correu para nós em uma onda de barulhos, estalos e horror. - E de repente lá estava o anjo em uma multidão do exército celeste, louvando a Deus, e dizendo ...- Fiquei olhando para o círculo enquanto rezava, e cuidadosamente o destruía. - Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. - Apaguei o círculo com a mão e deixei Linus sem a proteção do círculo.

O demônio jogou a cabeça para trás e gritou. O som foi como um corvo ou talvez um rosnado ou algo mais. Era como se mesmo ouvindo, eu não pudesse mantê-lo em minha mente.

Ele correu para fora do círculo e caiu sobre Linus. Era a sua vez de gritar e gritar tão rápido como se ele não precisasse respirar. O sangue voou como lava, polvilhando-nos como chuva.

E de repente havia lanternas e homens gritando,

- Não se mova, FBI

FBI? As lanternas encontraram o demônio, a luz brilhava sobre o bico e o sangue brilhava sobre ela como se estivesse banhado nele. Se não tivessem atirado nele, acho que ele não teria atacado. Os policiais dispararam, eu empurrei Charlotte na grama escondendo seu corpo sob o meu.

O demônio correu para os federais e eles começaram a morrer, eu gritei,

- Tiros não vai funcionar! Rezem. Rezem, droga, orem!

Eu tentei dar o exemplo e finalmente me lembrei da Oração do Senhor. Uma voz de homem ecoou na minha, depois outro. Ouvi alguém fazendo o "Abençoa-me, oh, Senhor, porque pequei", liturgia. Alguém estava rezando e não era cristão. Hindu penso eu, mas toda religião tem demônios. Toda religião tem orações. Tudo o que precisamos é ter fé. Nada como um demônio real, vivo, para lembrar de religiões dos velhos tempos.

O demônio estava com o corpo de um homem em sua boca. O pescoço foi cortado e ele lambia o sangue com sua língua longa e pegajosa, pelo menos não mataria mais ninguém.

Orações eram ouvidas na escuridão, aposto que nenhum deles jamais havia orado com tanto fervor na igreja ou fora dela. O demônio parou sobre suas pernas tortas e caminhou para mim. Charlotte estava murmurando uma nova oração, acho que era o Cântico dos Cânticos. Engraçado como a gente se lembra das coisas sob estresse.

Ele apontou um dedo longo para mim e falou com uma voz profunda e enferrujada, como se não fosse muito usada.

- Liberdade. - ele disse.

- Sim, você está livre.

O bico e a cara cega pareceu vacilar. Por apenas um instante pensei ter visto o rosto de um homem, puro e quase brilhante, mas nunca teria certeza. Ele disse,

- Obrigado. - e desapareceu.

Os federais estavam por toda parte, um deles deu seu casaco a Charlotte. Ele me ajudou a senta-la e cobri-la.

Às vezes era bom ser pequena. Um dos agentes do governo era Maiden, eu olhei para ele em choque.

Ele sorriu e ajoelhou-se ao nosso lado.

- Daniel está bem.

Charlotte agarrou a manga do casaco.

- O que eles fizeram com o meu menino?

Seu sorriso desapareceu.

- Eles iam espancá-lo até a morte. Eu telefonei pedindo apoio, mas ... Eles estão mortos Sra. Zeeman, não vão te machucar novamente. Sinto muito não estar lá para ajudá-los.

Ela concordou.

- Você salvou a vida do meu menino, não é?

Maiden olhou para o chão, depois assentiu.

- Então, não peça desculpas para mim. - disse ela.

- Por que um agente federal se passa por policial de cidade pequena?- Eu perguntei.

- Quando Niley veio bisbilhotar por aqui, eles me colocaram com Wilkes. Funcionou.

- Você chamou a polícia estadual. - eu disse.

Ele balançou a cabeça.

- Sim.

Outro agente se aproximou e Maiden pediu licença.

Senti Richard chegar. Eu o senti escorregar por entre as árvores e sabia que alguns deles, pelo menos, não estavam na forma humana.

Falei com o agente que tinha dado o casaco a Charlotte.

- Há alguns lobisomens na floresta, eles são amigos. Eles vieram ajudar. Não deixe ninguém atirar neles, ok?

Ele olhou para mim.

- Lobisomens?

Olhei para ele.

- Eu não sabia que o FBI ia aparecer, precisava de ajuda.

Isso o fez rir, e ele começou a dizer a todos para guardar as armas e não atirar nos lobisomens. Eu acho que nem todos estavam felizes com isso, mas fizeram o que foi ordenado.

Uma mulher do SGA se ajoelhou entre nós, ela começou a examinar Charlotte verificando seus olhos e fazendo perguntas tolas, tipo "que dia é hoje, você sabe onde esta?".

Richard de repente caminhava para nós usando apenas calça jeans e botas. Charlotte se atirou nos braços de seu filho chorando de novo. Levantei-me deixando Charlotte com seu filho e uma equipe médica.

Richard pegou minha mão antes que eu pudesse andar. Ele olhou para mim, as lágrimas brilhando à luz do luar.

- Obrigado por ajudar minha mãe.

Apertei sua mão e o deixei, ou eu ia chorar de novo.

Outra médica do EMS veio até mim.

- Você é Anita Blake?

- Sim, Porquê?

- Franklin Niley quer falar com você, ele está morrendo. Não há nada que possamos fazer por ele.

Fui com ela para conversar com Niley. Ele estava deitado de costas. Eles haviam feito um curativo para tentar parar o sangramento, mas o corte era profundo. Abaixei de modo que pudesse olhar para mim sem esforço.

Ele lambeu os lábios duas vezes antes de conseguir falar.

- Como você passou pelo círculo?

- Era uma armadilha para manter o mal dentro ou fora do círculo. Eu não sou má. - Você ressuscita os mortos. - disse ele.

- Eu sou uma necromante, é o tipo de dúvida em que me coloca na balança do bem e do mal, mas aparentemente Deus acha que está tudo bem.

- Você entrou no círculo sem saber se seria seguro?- Ele estava carrancudo e claramente confuso.

- Eu não poderia apenas me sentar lá e assistir Charlotte morrer.

- Você teria se sacrificado por ela?

Eu pensei sobre isso por um segundo ou dois.

- Eu não pensei sobre isso claramente, mas não poderia deixá-la morrer, não se pudesse salvá-la.

Ele estremeceu, fechou os olhos e depois olhou para mim.

- Você nem se importou com sua segurança ?

- Acho que não.

Ele olhou por mim, seus olhos começando a perder o foco.

- Extraordinário, extraordinário.- Ele suspirou e morreu, a equipe do EMS caiu sobre ele como abutres, mas ele se foi. Eles nunca o fariam respirar novamente.

De repente Jason estava ao meu lado.

- Anita, Nathaniel está morrendo.

- Do que você está falando?

- Ele levou dois tiros no peito quando os policiais estavam atirando no demônio. Os federais estavam usando bala de prata porque sabiam o que Linus era.

- Oh, Deus.- Peguei a mão de Jason. - Leve-me até ele.

Havia paramédicos ao lado dele. Haviam colocado uma intra-venosa em seu braço, e uma lanterna ao seu lado. A pele de Nathaniel estava pálida e brilhante na luz, o suor o cobria como orvalho. Quando eu me ajoelhei ao lado dele e tentei abrir caminho passando pelos paramédicos, os olhos pálidos não me viram.

Deixei os paramédicos me tirarem fora do caminho, me sentei no mato escutando Nathaniel tentar respirar através de dois buracos no peito. Os caras maus não haviam atirado nele, ele foi pego pelos mocinhos. Foi apenas um acidente estúpido. Ele ia morrer porque estava em pé no lugar errado na hora errada. Não, eu não deixaria um acidente levá-lo, não perderia outra pessoa Eu sabia que não tinha muito tempo.

Olhei para Jason.

- Marianne está aqui?

- Vou verificar.- Ele foi correndo para o caos.

As costas de Nathaniel se curvaram para cima, sua respiração estava ruim. Um dos paramédicos balançou a cabeça e se levantou, pegou seu equipamento e foi ajudar alguém.

Eu engatinhei para tomar seu lugar ao lado dele. Olhei para o outro paramédico, era uma mulher com um rabo de cavalo loiro.

- Existe alguma coisa que você possa fazer?

Ela olhou para mim.

- Você é amiga dele?

Concordei.

- Apenas segure sua mão.

Concordei.

- Sinto muito. - disse ela.

Eu balancei a cabeça.

- Não, eu não vou deixá-lo morrer. - Eu não era tão má. Depois de tudo o que eu tinha feito, minha fé ainda era pura. Quando falei as palavras elas foram reais para mim, quando tinha memorizado todos os anos para o desfile de Natal. As palavras ainda me comoviam. Nunca duvidei de Deus, nunca duvidei de mim. Mas talvez Deus fosse mais generoso do que eu e permitisse que ele se fosse. Jason estava lá com Marianne, agarrei a mão dela.

- Ajude-me a chamar o Munin.

Ela não discutiu, apenas se ajoelhou ao meu lado.

- Lembre-se da sensação de seu corpo. Lembre-se de seu sorriso. O cheiro do seu cabelo e pele.

Concordei.

- Ele tem cheiro de baunilha e de pele limpa.- Toquei sua pele, mas ela já estava fria ao toque, ele estava morrendo. Eu não me sentia sexy, no mínimo me sentia triste e assustada. Baixei a cabeça e orei. Eu rezei para estar aberta a Raina, rezei para abrir os olhos e olhar para Nathaniel e sentir luxúria. Era uma coisa estranha para se pedir, mas valia a pena tentar. Eu me sentia mais calma quando rezava. Isso não significa que você vai conseguir o que você pediu, não significa que alguém está escutando.

Abri os olhos lentamente e olhei para ele, havia folhas em seu longo cabelo. Puxei-os, segurei seus cabelos em minhas mãos e enterrei meu meu rosto nele. Ele ainda cheirava a baunilha, esfreguei meu rosto contra o seu, enterrando meu rosto atrás da orelha para a seda de seus cabelos. Coloquei a mão sobre as feridas com o meu rosto ainda enterrado em seu cabelo. Ele fez uma careta de dor quando toquei nele. Não sei se foi o som da dor, o cheiro familiar de seu corpo ou a oração, mas Raina se espalhou pelo meu corpo como fogo. O Munin estava comigo e eu me abri a ele sem luta. Abracei-o e seu riso rolou para fora de meus lábios. Fiquei de joelhos e olhei para Nathaniel.

Eu não estava mais horrorizada. Raina pensou que seria uma grande coisa, foder com ele antes dele morrer. Coloquei meus lábios contra os dele e estavam frescos e secos. Apertei a minha boca sobre ele e senti o fogo derramar de minha boca para a dele.

Meus dedos encontraram os ferimentos em seu peito e os acariciou enfiando os dedos na ferida. Os paramédicos tentaram me puxar para longe, Jason e alguém os levou embora. Cavei a ferida até que Nathaniel abriu os olhos e gemeu de dor. Seus olhos flutuavam, lilás, pálidos à luz artificial. Ele olhou para cima, mas não me viu, não viu nada.

Cobri seu rosto com beijos macios, e cada toque queimava. Voltei para sua boca e soprei. Quando olhei novamente, seus olhos estavam focados, ele respirava um pouco mais fácil e sussurrou:

- Anita.

Eu me joguei sobre seu corpo e coloquei as mãos sobre o peito nu, cobri as feridas com as minhas mãos, e toquei o interior do seu peito com algo diferente de minhas mãos. Eu podia sentir o ferimento, podia envolver o coração danificado no calor que saia de minhas mãos que afundava em sua pele, enchia a sua carne.

Eu estava queimando viva, tinha que alimentar o calor para ele, tinha que partilhar esta energia. Minha mão esquerda se atrapalhou com a minha camisa, ela saiu e desapareceu na grama, mas a parte de cima ficou preso sob o coldre de ombro. Eu tentei tirar o coldre dos meus ombros e fracassei. Abri o cinto e acho que foi Marianne que me ajudou a tirá-lo para fora. Eu sei que era Marianne porque pararam de tirar minhas calças, Raina rosnou em minha cabeça.

Acariciaram minhas costas nuas e eu sabia que era Richard. Ele se ajoelhou atrás de mim, as pernas entre as de Nathaniel, mas sem colocar peso sobre eles. Embalou-me contra o seu corpo. De repente eu estava ciente de que nós eramos o foco do bando. Cercaram-nos como uma parede de rostos e corpos.

A mão de Richard tirou a faca das minhas costas, ele encontrou o fecho de meu sutiã e o abriu. Eu comecei a protestar e tentei prendê-lo, ele beijou meus ombros, deslizando os lábios pelas minhas costas e jogando o sutiã para longe. Ele sussurrou:

- A pele exposta é para isso.

Assisti a corrida de energia encher o lukoi, encher e se espalhar em mim. A energia do Munin se alimentava desse poder, cresceu até que pensei que minha pele iria estourar com ele.

Richard guiou o meu corpo para Nathaniel, meus seios nus tocaram no peito de Nathaniel, um toque de veludo contra a carne dilacerada do seu peito liso. Estremeci contra ele e o calor se derramou em minha pele nua. No início era como se meu corpo nu nadasse acima de sua pele em uma piscina de suor, então senti sua carne. Meu corpo caiu contra o seu com um suspiro, e foi como se nosso corpo se tornasse de plástico, líquido. Nossos corpos se fundiram em uma só carne, um só corpo, como se eu estivesse afundando em seu peito. Senti nossos corações se tocando, batendo um contra o outro. Eu curei seu coração, fechei sua carne com o meu.

A boca de Nathaniel encontrou a minha e o poder fluíu entre nós como o ar até que ele arrepiou a pele do meu corpo, e não havia nada alem de seus braços em volta de mim, sua boca em mim, minhas mãos em seu corpo, e distante como uma âncora senti Richard, e além dele o resto do bando. Senti que ofereciam a sua energia, seu poder, e eu peguei. E além disso como um sonho distante, senti Jean-Claude, senti seu poder se juntar ao nosso e reforçar a vida sobre a morte. Peguei tudo e dei a Nathaniel até que um grito saiu de sua garganta. Eu sentia seu corpo sob o meu, seu prazer correndo sobre a minha pele, e joguei para o bando a espera. Levei a sua energia e lhes dei prazer.

O Munin me deixou surpreso, Raina nunca tinha sido capaz de tomar o poder dos outros, eu estava fazendo isso. Nem mesmo a cadela do ocidente nunca teve o prazer de muitas pessoas ao mesmo tempo.

Sentei-me ainda zonza perto de Nathaniel. Ele olhou para mim com os olhos lilases e sorriu, passei minhas mãos sobre seu peito e não havia nenhum ferimento, apenas uma cicatriz. Ele ainda estava pálido e horrível, mas estava vivo.

Richard me ofereceu a camisa que eu tinha tirado, eu a vesti e abotoei, não sabia o que tinha acontecido com o resto da roupa. Jason estava com meu coldre de ombro e a faca. Primeiro as coisas importantes.

Tentei ficar de pé e tropecei, Richard me ajudou a andar pela multidão, membros do bando me tocavam conforme andávamos passando suas mãos em mim. Eu não senti medo ou não me importava, coloquei meu braço em volta da cintura de Richard aceitando tudo esta noite. Amanhã eu me preocuparia com o significado de tudo isso.

Verne saiu da multidão.

- Maravilhosa, você é boa.

Roxanne estava a seu lado.

- Estou curada, como você fez isso?

Eu sorri.

- Pergunte a Marianne. - Eu continuei a andar.

Os paramédicos foram correndo para a frente, ouvi a mulher dizer:

- Puta merda! É um milagre. - E talvez fosse.

Richard disse:

- Não vou procurar outra lupa.

Eu o abracei.

- Nada de encontros?

- Você é minha lupa Anita. Juntos poderemos ser o par mais poderoso que já vi.

- Não é apenas dois de nós que nos tornam poderosos Richard. Existe Jean-Claude.

Ele me beijou na testa.

- Eu o senti quando você chamou o poder, senti ele dar seu poder sobre nós.

Paramos de andar, eu me virei para olhar para ele à luz do luar.

- Somos um trio Richard, gostemos ou não.

- Um ménage à trois. - disse ele.

Eu levantei minhas sobrancelhas.

- Não, a menos que você tenha feito mais do que apenas falar com Jean-Claude. Richard riu e me abraçou.

- Ele não me corrompeu tanto assim.

- Fico feliz em ouvir isso.- Descemos o morro abraçados, Charlotte estava no fundo da colina em uma maca.

Ela estendeu as mãos e sorriu, uma das mãos estava enfaixada.

- Por que você não me disse Richard?

- Eu pensei que tudo mudaria, pensei que você deixaria de me amar.

- Seu bobo. - disse ela.

- Foi isso que eu falei para ele. - eu disse.

Charlotte começou a chorar baixinho levando a mão de Richard aos lábios. Eu apenas sorri e segurei a outra mão. A vida não era perfeita, mas ali vendo Richard e sua mãe segurando sua mão, estava perto.


46

O nariz de Daniel estava quebrado, seu perfil não era mais tão perfeito. Ele diz que as mulheres adoraram, e o fazia parecer mau. Daniel nunca falou comigo sobre o que aconteceu, nem a Charlotte, mas no jantar do primeiro domingo depois que ambos saíram do hospital ela chorou. Eu fui a primeira a entrar na cozinha, ela me deixou abraça-la enquanto chorava dizendo que se sentia uma tola e que estava tudo bem. Por que ela deveria estar chorando?

Se eu pudesse fazer uma ressurreição de verdade, traria Niley e todo o resto de volta para matá-los mais lentamente.

A família de Richard acha que eu não faço nada errado, e não estão sendo sutis sobre seus planos. Casamento. Sob outras circunstâncias não seria uma má idéia. Mas nós não somos um casal, somos um trio. Difícil de explicar a família de Richard. Difícil de explicar a Richard.

Howard Grant, o psíquico, está na prisão por fraude. Ele confessou algumas coisas que tinha feito no passado. Eu disse a ele que se não ficasse algum tempo na cadeia eu o mataria, sua ganância começou tudo. Ele não tocou em Charlotte ou em Daniel, ficou horrorizado com Niley e com o que estava acontecendo, mas ele estava envolvido e não podia sair impune, livre. Eu apenas lhe dei uma escolha de punições.

A polícia acha que Thompson fugiu do Estado, ainda estão procurando por ele, e nenhum de nós falou nada. Não sei o que o bando de Verne fez com o corpo. Talvez o tenham pendurado em uma árvore à espera de um Natal que nunca virá, talvez o tenham comido. Eu não sei, e não quero saber.

O Conselho Vampiro não enviou ninguém para nos matar. Aparentemente Colin ultrapassou seus limites, estávamos no nosso direito de matá-lo, e seu povo. Ele não sobreviveu à morte de sua serva. Não existe um novo mestre da cidade ainda, Verne e seu bando não tem pressa que Colin seja substituído.

Eu acordei de sonhos que não eram meus. Pensamentos, sentimentos, que não eram meus. O amor é um sentimento enorme para ser confundido com o calor da luxúria, as marcas estão me sugando para dentro dos dois. Eles estão me engolindo e o sexo torna tudo pior. Então ... não fazemos mais sexo, tenho que obter o controle das marcas primeiro.

Quando eu estava dormindo com os dois, Richard se insinuava ao redor. Agora eu voltei ao celibato, ele também. Jean-Claude, penso eu, sabe que ainda estou procurando uma boa desculpa para dizer: - Ah veja, você não me ama de verdade.- Então ele está se comportando como um maldito anjo negro.

Eu fiquei um mês fora e voltei para o Tennessee para aprender com Marianne. Aprender a controlar o Munin está me ajudando a controlar as marcas. Jean-Claude como meu único professor não era uma boa idéia. Ela tem investido muito em mim, estou aprendendo a colocar barreiras, barreiras tão altas, tão grandes, tão sólidas, que estarei segura de ambos. Segura por trás de minhas paredes.

Mas o sexo destrói todos os obstáculos, é como se afogar. Acho que se permitíssemos, nos tornaríamos um organismo com três partes.

Richard parece não ver o perigo, ele ainda é ingênuo ou talvez eu simplesmente não o entenda. Eu o amo, mas mesmo pensando seus pensamentos, sentindo suas emoções, ele ainda é um mistério para mim.

Jean-Claude sabe do perigo, ele diz que pode evitar que isso aconteça, mas eu não confio nele. Eu o amo de alguma forma, mas não confio nele. Eu senti a sua alegria com o aumento do poder do triunvirato.

Ele me disse uma vez que me amava tanto quanto era capaz. Talvez seja verdade, mas ele ama o poder muito mais.

Assim, voltei ao celibato novamente condenando-o. Como ser casta com as duas maravilhas sobrenaturais de todos os tempos em meu encalço me chamando? Só estando fora da cidade. Nos últimos três meses aceitei todos os trabalhos de reanimar os mortos fora da cidade e passo os fins de semana com Marianne. Eu tenho um grande poder dentro de mim, não das marcas, meus. Evitei enfrentar esse poder tanto quanto possível, mas Jean-Claude me obrigou a enfrentá-lo, tenho que aprender a controlar a magia.

Parece bobo que alguém que ressuscita os mortos ignore que tem a magia dentro de si, mas eu tenho. Eu sempre soube o mínimo para sobreviver. É claro.

Marianne me disse que tenho as ferramentas para sobreviver no triunvirato. Até que me sinta confiante com essas ferramentas vou evitar os meninos. Três meses sem tocar em nenhum deles, sem partilhar a minha cama. Três meses sem ser a lupa do bando. Eu tive que deixar o bando para deixar Richard, mas não pude deixar os homens-leopardo. Eles não têm mais ninguém além de mim, então eu ainda sou a Nimir-ra. Marianne me ensinou como forjar os leopardos em uma unidade de saúde. Ela e Verne.

Abandonei ao máximo as coisas sobrenaturais, tenho que descobrir o que resta do que eu pensava que era.

Enfrentei um demônio com a minha fé e oração. Isso significa que Deus perdoou os meus pecados? Eu não sei. Se Ele me perdoou é mais generoso do que eu.

 

 

                                                    Laurell K. Hamilton         

 

 

 

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