Criar um Site Grátis Fantástico
Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


MACRIEVE / Kresley Cole
MACRIEVE / Kresley Cole

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

Uilleam MacRieve acreditava que tinha enterrado os fantasmas de sua juventude. Mas quando uma tortura brutal revive aquelas antigas agonias e destrói seu instinto Lykae, o orgulhoso escocês anseia pelo esquecimento da morte. Até encontra-la — uma jovem humana tão cheia de vida e coragem que o tira da beira do abismo.

Capturada para o leilão, Chloe Todd é forçada a entrar no novo mundo aterrorizante de monstros do Lore como uma escrava vinculada. Quando oferecida às criaturas das trevas, teme que não vá resistir durante a noite. Até ser reivindicada por ele — um cruel imortal com olhos devastadores, cujo toque deixa seu sangue em chamas.

Com inimigos circulando, MacRieve leva secretamente Chloe para a isolada Highland de sua juventude. Mas assim que a leva pra cama, sua sensual companheira torna-se algo mais que humana, evocando seu passado selvagem e testando sua sanidade. No ápice da lua cheia, ele poderia dominar seu pior pesadelo para salvar Chloe... de si mesmo?

“... E aquelas criaturas sensíveis que não são humanas devem ser unidas em uma só classe, coexistindo — ainda que em segredo — com os homens.”

A maioria é imortal e pode se regenerar de ferimentos, e só podem ser mortos por fogo místico ou decapitados.

Seus olhos mudam para uma cor específica da raça quando estão sob forte emoção.

"Um orgulhoso, robusto guerreiro do povo Keltoi (ou Pessoas Ocultas, mais tarde conhecidas como Celtas) foi atacado quando jovem por um lobo enlouquecido. O guerreiro ascende da morte agora um imortal, com o espírito da besta latente em seu interior. Mostrava as características do lobo: necessidade de toque, lealdade intensa aos de sua classe, um animal que deseja as delícias da carne. Às vezes, a besta surge…”

Cada Lykae possui um instinto, uma força interna que os guia, como uma voz sussurrando em sua mente.

Companheiros para a vida. Ao longo de toda a eternidade, eles buscam suas predestinadas acima de tudo, reverenciando suas companheiras como deusas de outras espécies.

O trono real é em Kinevane, nas Highlands escocesas.

“Descendentes de demônios, ceifeiros do prazer. Três vezes nos braços, para sempre escravizados. A separação gera doença grave, mas apenas através da morte o envenenado pode ser liberado.”

Eles se nutrem através do prazer sexual dos outros.

Possuem a capacidade de enlouquecer sexualmente suas vítimas. Uma Súcubo exala um aroma; um Íncubo semeia.

Depois de um terceiro acasalamento formam um vínculo com suas conquistas, um laço místico chamado veneno.

“E um tempo há de acontecer quando todos os seres imortais no Lore, desde Valkyrias, Vampiros, Lykae e facções de demônios até os espectros, Metamorfos, Fey e Sereias... devem lutar e destruir uns aos outros.”

Uma espécie de balança mística para uma população cada vez maior de imortais.

Duas principais alianças: A Regra de Pravus e a Liga das Vertas[1].

Ocorrem a cada quinhentos anos. Ou neste exato momento...

“O fogo chega com toda intensidade. Uma língua flamejante de fogo devora outra. Certamente a mais flamejante pode queimar um homem limpo.”

Uilleam Andriu MacRieve, Comandante da Colônia Nova Escócia do Clã MacRieve

 

 

 

 

Bosque de Murk, Escócia

Séculos atrás

Em uma floresta escura numa terra sombria havia uma cabana encantada. No seu interior, Uilleam MacRieve estava prestes a brigar com sua companheira, Lady Ruelle.

Mais uma vez.

À medida que a tempestade lá fora ficava mais forte, Will sentava-se na beirada da cama cansado, preparando-se pra batalha.

— Só mais uma vez, meu amor. — Ruelle suspirou, deixando cair a capa de seda para revelar seus seios nus.

No passado teria olhado fixa e ansiosamente para aquela carne generosa; agora franziu as sobrancelhas ante a atitude excêntrica dela.

— Você sabe que não posso ficar.

Sempre com essas atitudes. Será que ela não percebia o quanto já havia drenado dele nessa tarde?

— Até que amanheça. — Ela se pôs de joelhos para ronronar em sua orelha. — Não preciso mantê-lo em riste. — Suas palavras foram pronunciadas com o sotaque de um reino distante.

Nessas terras do norte dos Lykae, Ruelle era uma raridade, uma fêmea estrangeira que vestia rendas e sedas, sem habilidade alguma com espadas. Vivia sozinha aqui no Bosque de Murk — um lugar de anéis de fada e maldições com portais para diferentes planos e com criaturas antigas temidas até pelos Lykae.

Somente um desafio dos outros meninos persuadira os pés de Will a entrarem naquela misteriosa floresta pela primeira vez.

— Mais uma vez? — Ele levantou para se banhar, duvidando que tivesse outro turno disso. Não, sem outro turno, isso implicaria em dois participantes. — Depois você ainda exigirá mais. — Mesmo que estivesse fisicamente capaz, precisava voltar para Conall Keep antes de sua família perceber que saiu. — Já me rendi aos seus desejos.

No lavatório dela, olhou para o enorme espelho — sua Ruelle podia ser um pouquinho vaidosa — e espiou-a atrás dele. À luz do fogo, seu cabelo parecia brilhante, suas bochechas rosadas como os lábios, as cores incidiam contra sua pele de um branco leitoso e olhos cinza.

Lindamente ela fez beicinho. Tudo o que fazia era bonito, até amor — diferente das prostitutas que seus primos mais velhos habitualmente derrubavam no celeiro.

Depois aquelas moças ficavam com as pálpebras pesadas de satisfação, mesmo que parecessem ter entrado em guerra no feno: rostos e seios corados pelo esforço, cabelos e roupas bagunçadas.

Ruelle nunca ficava assim. Com um aperto no peito, admitiu pra si mesmo que ela nunca ficava completamente... satisfeita, quando a deixava.

Frequentemente o persuadia para se acasalarem repetidas vezes até que ele ficasse exausto. “Olhe pra você, quem pode me culpar?” Ela perguntava, explicando que ele era como um vício para ela, só de olhar o rosto dele, suspirava. Uma vez ele brincou dizendo que ela tentando matá-lo, levando-a a fazer o sinal da cruz.

Às vezes estar com ela era como nadar em águas geladas — inspirando fundo até a ameaça de perigo te fazer subir à tona. Em uma ocasião, ele lutou para respirar quando esteve embaixo dela, era como se seus pulmões estivessem murchando.

O que era uma fraqueza vergonhosa. Ruelle era bonita e sensual — qualquer rapaz ficaria agradecido por estar em sua cama. E ela era sua predestinada. Ambos estavam certos disto.

— Você podia comer de novo. — Acenou em direção ao banquete que preparou para ele, doces e guloseimas eram raramente permitidos na casa dele. Ele negou com a cabeça, já tinha comido demais.

No início conseguia que ele comesse em demasia por conta própria. Com uma risada, apertou os dedos esbeltos dele e declarou-o abaixo do peso.

Agora ele disse.

— Ruelle, não. Estou indo embora.

— A culpa é sua por ser tão atormentando. — Ela o cobiçou enquanto ele se banhava meticulosamente. Logo no início ela o advertiu que sua família poderia cheirá-la nele.

— Você é quem está insistindo para mantermos isso em segredo. Se eu pudesse contar ao meu pa....

— Não! Isto não é possível. — Ela empalideceu naquelas bochechas rosadas. — Nunca aceitarão o que existe entre nós.

— Então devo estar lá para as tarefas. — Ele tinha trabalho a fazer ao amanhecer e seu irmão gêmeo, Munro, já estava suspeitando das escapadelas de Will sempre tarde da noite.

— Você vem de uma das famílias mais ricas na Terra — Os Sentinelas, pelo amor de Deus —, e ainda sim seu pai o faz trabalhar como um servo?

— Meu pai acredita que isso ajuda a construir um bom caráter. — Will disse, passando sua túnica pela cabeça. O traje era apertado, abraçando seu tórax e braços. Ele e seu gêmeo estavam crescendo como ervas daninhas, muito rápido para as sofridas costureiras de Conall.

Ele olhou para seu próprio reflexo no espelho, passando a mão por seu rosto liso. Nenhuma barba ainda?

— Ah, Dùghlas MacRieve, o grande Lorde de Conall, diz que isso constrói o caráter? Seu pai está enganado... seu caráter já está construído! E muito finamente. Você já é um homem.

— Sei que sou um homem. — ele declarou enquanto pensava, talvez ainda não seja um homem.

Não, claro que era. Independente da discussão entre Will e Ruelle, ele compreendia que estava verdadeiramente amadurecendo — um Lykae crescido. Adultos brigavam; tinham assuntos e preocupações que os jovens não tinham.

Mas se era crescido por que não conseguia satisfazê-la? Uma labareda de raiva tomou-o repentinamente.

— Se quiser continuar a criticar meu pai, deveria fazer no modo Lykae: de frente pra ele. — Assim que as palavras deixaram sua boca, ele lamentou. A espécie dela era feita para amar, nunca para lutar.

A ideia de Ruelle criticando abertamente alguém bem mais forte era cômica.

Como se em sugestão, seus olhos cinza encheram-se de lágrimas. Até chorar, ela fazia lindamente.

— Você sabe que não posso fazer isto, nunca poderei mostrar meu rosto para eles. Eles me matarão, só por ser quem sou.

Seus pais não necessariamente dariam a ela boas-vindas ao bando de braços abertos, mas certamente Ruelle reagia de forma exagerada.

— Nenhum Lykae jamais prejudicaria o companheiro de outro. Nós reverenciamos nossas predestinadas acima de tudo.

— E se não acreditarem no que sabemos ser a verdade? — Ela puxou as cobertas de seda acima de seus seios defensivamente. — Por que continua a discutir comigo?

— Porque manter isso em sigilo por tanto tempo me deixa mal. — Ultimamente isso tem pesado para ele cada vez mais, mas esperaria pelo menos até depois de sua mãe dar à luz para revelar seu segredo. Faltava alguns meses para a barriga dela começar a aparecer. Seus “três rapazes corajosos” — como chamava seu marido, Will e Munro — pressentiam que carregava uma menina e estavam em êxtase por conta disso. Ela queria chamá-la de Isla.

Uma pequenina para mimarem? Inclusive nesse momento seus lábios esticavam em um sorriso de antecipação. Ele e Munro mal podiam esperar para que ela fosse velha o suficiente para aprender a caçar e pescar.

Sim, sua família não precisava de um tumulto agora. Melhor recuar. Rapidamente calçou suas botas.

— Falaremos sobre isso no futuro.

— Não, não falaremos. — Seus olhos cinza mudaram para verde jade, esse normalmente era o único sinal que mostrava suas emoções se exaltando. — Se não consegue respeitar meus desejos em algo tão importante, não retorne por quatro noites.

Will congelou. O fogo crepitou na lareira. O vento chicoteou neve contra as janelas.

— Você não quis dizer isso.

— Quis.

— Quatro! — ele proferiu em descrença. — Você me castigaria deste modo? — O castigo mais longo foi de três, no qual mal sobreviveu à náusea.

— Preferia que não tivesse me forçado a isso.

— Eu te forcei? — Tudo era sempre culpa dele. Quando se apavorou durante sua primeira vez fazendo amor e quis esperar, ela não aceitou sua negação — e era sua culpa ser tão “irresistível” para ela. Ele quis levar para casa todos os presentes que ganhou dela — principalmente para se gabar para seu irmão — mas ela disse não: “Seus pais suspeitarão; não é minha culpa você ter nascido em uma família de mente fechada”.

E agora teria que ficar boa parte da semana sem retornar. Ao pensar na agonia que logo experimentaria sua besta Lykae se revolveu. Apesar de seu pai, tios e primos mais velhos estarem treinando-o para domar aquela força selvagem dentro dele, Will a soltava cada vez que acasalava com Ruelle.

— Um dia, Ruelle, você me afastará para muito longe.

— Oh? E então o que fará? — Ela perguntou com um olhar triunfante, os dois sabiam a verdade.

Estavam ligados pela eternidade. Duplamente — não só por ela ser sua predestinada Lykae, mas por causa do vínculo que ele deliberadamente formou com ela depois de três visitas à sua cama.

Ele estava acorrentado a ela para o resto de sua vida. Ou pelo cumprimento da dela.

— Mas antes de ir, meu amor, realmente preciso mais uma vez.

Com uma onda dolorosa, seu corpo exausto reagiu contra sua vontade, pronto para que ela o tomasse. Ele contorceu o rosto em sinal de pânico, sua respiração já difícil.

— Você me disse que não usaria o exalar de sua essência novamente! — Foi assim que conseguiu que ele acasalasse com ela no início. Ele estremeceu ao lembrar aqueles tempos. Um sentimento doentio percorreu suas entranhas enquanto lutava para resistir, mesmo sabendo o quão inútil era.

— Por que lutar contra mim? — Com os olhos verdes reluzindo, ela soltou o lençol. — Qualquer macho mataria para estar comigo. — Passou por cima dele e abraçou Will, pressionando o rosto dele contra seus seios, contra sua carne branca cheirosa.

Ele não conseguia respirar direito.

— Não posso, Ruelle, não! —Sua besta já estava ascendendo protetoramente.

Ela o puxou de volta, pegando forte em seu queixo.

— Seus olhos estão azuis. — disse a ele com um sorriso satisfeito. — Sua besta e eu cuidaremos de tudo. Como sempre fazemos.

— Você me prometeu!

Ela o empurrou para a cama e montou nele, a posição que escolhia sem falhar.

— Olhe para você, meu amor. Quem poderia me culpar?

E as profundezas o arrastaram para o fundo...

 

Conall Keep, Lado norte do Bosque de Murk

Três noites mais tarde

Sua náusea aumentou durante o dia até o corpo de Will virar uma massa de dor. À meia-noite parecia que seus ossos estavam se quebrando. Lá fora a tempestade soprava uma rajada de ventos, mas a grande Conall Keep era indiferente a eles.

Ele embrulhou seus braços ao seu redor, desfazendo-se dos lençóis úmidos, rezando para que não começasse a ter alucinações nesse momento.

Não lutaria contra isso. Iria até Ruelle hoje à noite.

A ideia de correr por léguas debaixo de um temporal nessas condições o fez tremer. Sem mencionar que estaria entrando no Bosque sozinho e fraco no meio da noite.

Criaturas fantásticas proliferavam naquela floresta, seres sanguinários de outros reinos.

Munro se mexeu na cama ao lado, como se, até dormindo, sentisse a angústia de seu gêmeo. Will invejava Munro, que poderia permanecer aquecido em sua cama quente e segura dentro da impenetrável terra de seus antepassados.

Este lugar fora construído por eles para os futuros Sentinelas do Bosque, os guerreiros encarregados de assegurarem que as criaturas de Murk nunca ultrapassassem as fronteiras — fato que Lykae algum se aventurou de fazer.

Quando Will levantou para se vestir, apunhalando suas calças com as pernas, Munro despertou e se sentou.

—Está indo para onde? — e acendeu uma vela, iluminando o quarto que compartilhavam.

— Isso não é da sua conta.

Um flash de dor lampejou nos olhos dourados de Munro — olhos iguais aos seus, que só eram... mais sombrios. Apesar de serem gêmeos idênticos, ele e Munro tinham personalidades opostas. Will era chamado de impetuoso como a mãe deles, Munro solene como o pai.

— Você costumava contar tudo para mim, Will.

Ruelle o advertiu sobre isso. Ela o ajudou a ver a natureza ciumenta de Munro. Munro era o gêmeo invejoso, que chiava de ódio em direção ao seu irmão ligeiramente mais velho, o herdeiro.

Sou bem maduro para minha idade e Munro sabe isto, pode entender isso.

De fato, ela ajudou Will a enxergar as falhas de todos os seus amigos.

— Você está indo para o Bosque? — Munro perguntou, vestindo seus próprios calções. — Para ver aquela fêmea na cabana estranha?

Um forte contraste para o lúgubre bosque, a casa de Ruelle era brilhantemente pintada com intrincados beirais e hastes, como se viesse de um sonho fey. E Munro nem sequer vira como era por dentro! Não era só fantástico, mas místico — ela dizia que a cabana podia durar por séculos, imune a decadência.

— O que sabe sobre ela? — Will perguntou, lutando para enfocar a vista quando veio outro golpe de dor. A túnica que ele tinha acabado de vestir já estava úmida de suor.

— Conheço os contos que a mencionam.

— Em que ela é uma velha horrorosa que atrai jovens para destruí-los? Que ela os engorda para depois se alimentar da carne deles? Os rumores são falsos. — O fato de Ruelle cozinhar banquetes para ele e então usar seu corpo para se nutrir não era algo que Will desconsiderava. — Você vai dizer ao nosso pai? — Ou, que os deuses o protegessem, a mãe deles. Não, ela como lobo podia ser mais feroz que como Ailis MacRieve.

Uma coisa era Will ter achado sua predestinada em uma espécie diferente; outra era ter mentido para todos eles.

— Não precisa. — Munro disse serenamente. — Nossos pais já suspeitam das suas escapadas sorrateiras.

— Porque contou a eles!

Novamente veio aquele flash de dor, como uma criatura chutada no quadril.

— Você devia saber que não faria isso, irmão.

Will... acreditou nele. Nessas horas quando Munro continuava a provar ser leal a ele, Will não conseguia conciliar todas as coisas que Ruelle lhe dizia.

Sua besta era um pedaço da mesma alma que a de Munro; correria ao lado de seu irmão para sempre. Certamente Munro se sentia da mesma forma?

— O que aconteceu com você, Will? Por que não conversa mais comigo? Por que nunca mais toca ou sorri? — Munro parecia cauteloso e vulnerável — um mero garoto.

Pareço tão jovem?

— É complicado. Deixe-me apenas lidar com isso como preciso e logo voltarei. — Will terminou de se vestir. — Então talvez a gente converse.

Sem olhar para trás saiu apressado de seu quarto, descendo os degraus da escada para sair na noite tempestuosa. Só teve tempo de sentir o primeiro ruído de neve embaixo de suas botas quando ouviu:

— E para onde acha que vai, Uilleam Andriu MacRieve?

Mãe. Oh, merda! Ele girou para encará-la, tentando disfarçar quanto seus tremores estavam piores.

Ela emergiu das sombras juntando-se a ele debaixo da neve caindo. Suas bochechas estavam rosadas, seus olhos marrons de corça estreitados.

— Mal desceu para comer hoje ou fazer suas tarefas, e agora vejo você saindo às escondidas no meio da noite?

Ele esperou muito, devia ter feito uma corrida para Ruelle ontem à noite. Se sua mãe o mantivesse afastado dela essa noite... Mais tempo e ele enlouqueceria. Uma alucinação dançava nas extremidades de sua vista, a escuridão fechando o cerco. Ele trocou seu peso de uma perna para outra; parecia que ambas cederiam a qualquer segundo.

Ela balançou sua cabeça.

— Você vai encontrar uma moça, sem dúvida. Treze anos é muito cedo, filho. Seu pai dirá o mesmo pra você.

— Eu sei, mãe. Sinto muito. — Ah, deuses, meus ossos.

Ela colocou suas mãos em forma de concha em seu rosto frio e úmido, seus olhos se arregalando.

— Ouch, meu Uilleam, você está queimando de febre!

— Tenho que ir! — Ele quase podia sentir o perfume de Ruelle. Quase podia saborear o ruge que adornava a pele dela.

Ele quase podia sentir seus braços leitosos ao redor ele.

— Você não pode confiar em mim, mãe?

— Você está doente, não pensa claramente. Não pode sair nessa neve, precisa deitar.

— Por favor, só volte pra dentro e não se preocupe com isso. Voltarei em breve.

Ela pegou seu braço e gritou por cima do ombro.

— Dugh! Venha aqui! Agora.

Will ouviu passos descendo os degraus e se dirigindo ao corredor principal. Seu pai e Munro. Desespero ferveu dentro dele.

— Preciso ir! — Ele levantou seu braço livre empurrando sua mãe.

Ela tropeçou e caiu na neve dura compactada, ficando boquiaberta e com olhos lacrimejantes.

— Will?

Ele ficou horrorizado, preferia morrer a prejudicá-la.

— Sinto muito, machuquei você? O bebê?

As mãos dela foram para sua barriga como se protegesse a menininha. Proteger Isla de mim?

Entretanto as lágrimas dela secaram. Sua besta interna começou a ascender, seus olhos transformando-se em azul gelo. Nunca, nunca, um bom sinal. Merda!

— Você não me machucou, menino. — ela rosnou, suas presas sobressaindo. — É melhor se preocupar em se esconder.

Assim que seu pai e Munro chegaram à entrada, ela estalou para Will.

— Esconda seu rabo dentro de casa. Agora!

Seu pai a ajudou a se levantar, olhando dela para seu filho com sua mandíbula menos rígida.

— Ficou maluco, Will?

Sim! Will olhou por cima do ombro do seu pai mirando o Bosque de Murk, imaginando o alívio, o fim de sua dor. Ele choramingou...

A mão pesada do seu pai foi ao seu pescoço.

— Você vai para dentro! — Conduziu Will para uma cadeira diante do grande fogo de Conall. Depois de conseguir olhar melhor para o rosto de seu filho, adicionou outro tronco pra queimar na lareira.

Com sua alta estatura esboçada pelo chamejar do fogo, seu pai parecia mais intimidante do que o habitual. Will engoliu em seco, arremessando um olhar para o gêmeo.

Munro assentiu e seu olhar parecia dizer, Vamos passar por isso. Mantenha a calma. Isso ajuda.

Sua mãe foi se sentar perto de seu companheiro. Estavam sempre próximos um do outro, como se suas bestas estivessem amarradas com invisíveis nós.

A ira dela ia claramente se desvanecendo enquanto olhava fixamente para o rosto suado de Will.

— Dugh, precisamos mandar buscar um curandeiro.

— Temo saber o que está de errado com ele. — seu pai se voltou. — Onde estava indo, filho? — Ele pareceu prender a respiração.

Will não poderia mentir na sua frente. E mais, tinha que confiar no que sabia ser o caráter de seu pai — e no que sabia ser a Lei Lykae — acima das exaustivas predições de Ruelle. Nenhum Lykae prejudicará o companheiro de outro.

— Ia ver minha fêmea, uma mulher que vive no Bosque.

O silêncio reinou. Suas palavras pareceram ficar paradas no ar.

Quando seu pai exalou uma respiração atordoada e sua mãe pareceu arrasada, um mal estar marcou Will.

Ruelle predisse que eles não entenderiam; mas nunca mencionou que poderiam ficar enojados.

Virando para seu pai, sua mãe murmurou.

— Muito jovem, ah deuses, ele é muito jovem. — Ela levantou instavelmente para pegar um cobertor. Embrulhando-o ao redor dos ombros de Will, ela disse. — Esquente-se, rapaz. Você tem uma noite longa à sua frente. — Ele notou com medo que seus olhos se transformaram mais uma vez.

— Por que sou muito jovem? Os humanos casam não muito mais velhos que eu. — Claro, ele já tinha preparado esses argumentos, adaptando aqueles que ouviu Ruelle dizer.

— Humanos precisam! — Seu pai começou a andar. — Nessas terras austeras, eles raramente vivem mais do que a idade que você tem! Mas você, Will, pode potencialmente viver para sempre. Em todo caso, você é extremamente jovem para estar nas garras de alguém como ela.

Eles estavam falando de sua companheira! Com certeza ela era.

— Você não sabe o que ela é? — seu pai cuspiu as palavras — Ela é uma Súcubo.

— Ruelle me contou imediatamente.

— Sim, mas você entende o que a palavra quer dizer? O que a espécie dela faz?

Os olhos de Will cintilaram.

— Significa que estamos tão conectados que sofreremos um sem o outro. — Depois de três noites acasalando com uma Súcubo, um macho empreenderia sua essência, seu veneno místico, ligando-o a ela até a morte.

Sua mãe disse.

— Isso significa que ela é uma parasita. — As lágrimas caíram. — Uma que afundou suas garras no meu rapaz. — Ele nunca viu sua mãe chorar até esse momento. — Ela te envenenou. É por isso que está doente.

— Então preciso encontrá-la, já se passaram três dias. Se estou me sentindo assim, então ela também está.

Seu pai negou com a cabeça.

— Ao contrário de você, ela pode tomar outros. Ficaria chocado se não tiver seu estoque de amantes. Mesmo no bosque, ela pode atrair outros.

Impossível. Ruelle só amava Will.

Finalmente, afundando ao lado de sua mãe, ele perguntou.

— Há quanto tempo você a vê?

Will hesitou.

Em um tom que demandava obediência, seu pai estalou.

— Quanto... tempo?

Forçando seus ombros pra trás, respondeu.

— Fui à sua cabana pela primeira vez há quatro anos.

Seu pai voltou a se levantar. Sua mãe pressionou a mão contra sua boca para abafar um som de ânsia de vômito. Tinha um vislumbre de ira nos olhos de seu pai? Um vislumbre de sua besta? Ele nunca a liberou antes.

Deveriam negar a Will sua companheira só porque ele e Ruelle nasceram em épocas diferentes? Como seus pais poderiam reagir tão violentamente para algo que era natural? Normalmente não eram de julgar.

Will puxou mais o cobertor, lutando para esconder seus tremores. A dor era como um tambor dentro dele, batendo, quebrando. Seus ossos...

— Meu querido rapaz — sua mãe disse, levantando —, isso é uma perversão vil. — disse ao seu pai. — Não entendo como ele sobreviveu às fomes dela sendo tão jovem! Ele está longe de sua imortalidade.

Sobreviveu? Podia ter morrido? Tudo que Will fez foi dormir com uma linda mulher.

— Sua besta é uma das mais fortes, um puro alfa. — seu pai disse. — Como a de Munro. Falei sobre isso antes.

Will lembrou. Seu pai soou orgulhoso e temeroso ao mesmo tempo. A besta podia ser uma bênção e uma maldição, emprestando força, mas roubando a razão.

— Sua besta ascendeu quando esteve com ela?

Will assentiu.

— Caso contrário, ela teria te matado, um fato que ela bem sabia, filho.

Não, isso não era verdade. Nada o faria acreditar que Ruelle podia prejudicar sua vida. Ela podia ser exigente e empurrar seus limites, mas só porque ele era forte e podia suportar isso. Era forte para sua idade. Ela repetidamente falava isso.

— Olhe para como nosso filho se agita até agora. O veneno dela está funcionando. Isso precisa de uma resposta! — Sua mãe declarou.

— Ela será dada, amor. Vou partir para o Bosque ao amanhecer. Vou pedir para entrar. Os Anciões permitirão antes de deixar um filhote sofrer.

Resposta? Will ainda não compreendeu o crime deles. Seus primos mais velhos estavam sempre se deitando com fêmeas e eles começaram quando não eram muito mais velhos que Will agora.

Mas eu comecei cedo. Ele olhou para Munro, buscando um aliado. Munro lançou-lhe um olhar confuso.

— Não, Dùghlas! — A própria besta de sua mãe estava ascendendo mais uma vez. — Conheço a espécie dela! Será encantadora e manipuladora e dobrará você também. Os homens desse bando disseram por eras que a colocariam pra fora e não houve resultado disso.

— Esse bosque não é nosso para patrulhar! — Seu pai correu os dedos por seu rosto. — E ela nunca mirou em nossos jovens antes! Nunca envenenou um de nossos machos. Nosso menino estará livre disso amanhã ao entardecer. Ou em um dia depois disso. Prometo.

— Livre disso? — A única saída era a morte de Ruelle. — Pre... preciso vê-la. Só hoje. — Ele e sua companheira poderiam fugir.

Deixar minha família para trás?

Uma vida toda me afogando...?

— Não! — Sua mãe mostrou suas presas. — Por cima do meu cadáver! Você nunca mais a verá!

O pai de Will embrulhou os braços ao redor dos ombros dela.

— Acalme-se, amor. Só... fique calma. Pense no bebê.

— Se não consigo proteger os filhos que tenho, não mereço que os deuses me dêem mais uma!

— Ei, amor! Conversarei com ele e amanhã nós acabaremos com isso. Vá tomar seu chá e se tranquilize.

Ela caminhou pela sala, lançando um olhar por cima do ombro. A ira em sua expressão mudou para algo parecido com... pena ao encontrar os olhos de Will.

— Nunca alguém como ela... meu Uilleam. — E então ela se foi.

Pena? A compreensão daquilo o atingiu. Eu errei, magoei minha mãe.

Antes queria contar sobre Ruelle pra todo mundo; agora sentia vergonha, embora não entendesse muito bem o porquê disso. Tinha se acasalado com uma fêmea bonita, sua fêmea, então por que sua pele parecia que estava formigando?

Seu nariz queimado, sua vista obscurecendo. Lágrimas? Estava de saco cheio de lágrimas — que derramou bastante no primeiro ano que esteve com ela. Sua voz enfraqueceu quando falou:

—Não quis fazer nada de errado, pai. Você está com raiva por causa da minha idade ou pelo que Ruelle fez? Quantos anos eu deveria ter?

— Você ainda não chegou lá, filho. E, como sua mãe disse, nunca alguém como ela.

— Mas ela é minha companheira.

As presas do seu pai saíram, como se Will tivesse blasfemado.

— Não, ela-não-é!

Will nunca viu seu pai tão bravo assim. Ainda sim, perguntou:

— Como você sabe?

— Porque ela é doente da cabeça! — Ele passou exasperado os dedos por seu farto cabelo preto. — Se fosse sua, seu Instinto soaria alto e claro dizendo a você quem ela era. Isso aconteceu?

O Instinto de Will, o guia interno que todo Lykae possuía, ficava normalmente quieto com ela. Mas não ficou no início quando o advertiu a não entrar na cabana, sussurrando que ali tinha perigo.

Perigo vindo de uma frágil beleza como Ruelle? Achou a ideia simplesmente ridícula.

— Pense, filho. Se ela fosse verdadeiramente sua companheira, você teria sentido a necessidade opressiva de marcar o pescoço dela. Teria conseguido um bebê dela à essa altura. Mas sei que não fez nada disso.

Will negou, murmurando.

— Ruelle deve ser minha para eu me sentir desse jeito.

— Não, ela encantou você, é seu modo de agir. Machos adultos ficam balançados por elas, presos em seus ardis e no exalar de sua essência; na sua idade, você não teve nenhuma chance.

Seu pai a fazia parecer como uma feiticeira ou pior, uma bruxa. Como os rumores...

— Você tem dúvidas, vejo em seus olhos. Não tem, filho? Quando achar sua companheira, será como se as mãos dos deuses alcançassem você e o tocassem, como se sua alma fosse marcada com ferro. Não haverá dúvidas. E não existe a possibilidade de ser parte dela voluntariamente, como você obviamente fez com a Súcubo por anos. Will, ouça minhas palavras: para onde sua companheira for, você vai.

Will contorceu o rosto quando sentiu uma onda mais afiada de dor. Seu pai continuou a falar, claramente visando distrai-lo. Contou a Will e Munro tudo sobre o primeiro encontro que teve com a mãe deles, um conto que já ouviram antes. Porém, hoje à noite se contrapôs aos aspectos do encontro entre Will e Ruelle.

Ela o atraiu docemente para sua cabana. Ele foi relutante, meio apavorado, meio fascinado. Quando tentou entrar, ela esbanjou presentes para ele, elogiando-o como se estivesse... domesticando-o.

Ou enganando-o?

A fogueira tinha acabado de escurecer o ambiente quando o Instinto de Will de repente comandou

SALVE-A!

Seu pai e Munro devem ter recebido a mesma advertência, ambos ficaram em pé.

— Ailis? — Seu pai cruzou o corredor com passos largos. — Venha se juntar a nós.

Nenhuma resposta.

— Amor? — Seu pai ficou tenso, erguendo o rosto para sentir o ar. Will e Munro fizeram a mesma coisa.

Sua mãe se foi. Will não sentiu seu cheiro de onde estavam.

Só havia uma razão para fazer com que ela saísse de casa nessa tempestade.

Como rapidez seu pai derrubou a porta da frente. Will e Munro o seguiram para fora no temporal, correndo pela neve enquanto ele localizava o odor e as pegadas de sua mãe em direção à floresta.

A cada passo seu pai estava se transformando, sua besta Lykae vindo à tona. Suas presas e garras pretas se alongaram, seu rosto angulando para uma forma mais lupina. Seus músculos se arrebentando, a sombra de seu lobo interno ascendendo: uma criatura maligna com olhos azuis e brancos enlouquecidos.

Will conseguia ver seu pai mantendo sua fera bestial à distância para pensar claramente, para raciocinar.

Para proteger melhor sua companheira.

Will e Munro começaram a ficar para trás do passo desesperado de seu pai. Dois Lykae jovens no bosque à noite. Ainda não tinham alcançado a imortalidade, não podiam se regenerar de qualquer ferimento.

Com a forte tempestade sombras se fechavam sobre eles, a neve caía e as árvores estremeciam. Os ventos uivavam, perturbando a audição e o olfato de Will. As rajadas de vento traziam confusas essências do mar que ainda não vira.

Seus dentes trincaram. A dor transpassou seu corpo até que não pôde mais distinguir uma área de agonia da outra, seus ossos doloridos da divisão de sua cabeça...

Will mantinha os olhos entrecerrados enquanto corriam, mal alcançando seu pai ao aproximar-se da cabana de Ruelle. Entre as venezianas pintadas, as janelas brilhavam, ardiam suavemente iluminadas e enevoadas.

Seu pai mal atravessou a porta. Acima dos ventos, Will ouviu seu rugido.

De angústia.

Não! Ruelle não podia ter machucado sua mãe. A mãe de Will era uma loba, feroz como essa tempestade. Ruelle era fraca e impotente.

Os irmãos estouram pela entrada lascada da porta e congelaram ante a visão que tiveram. Com um lençol ao seu redor, Ruelle estava trêmula atrás de um rapaz apavorado que não parecia muito mais velho que Will.

Vampiro.

Seu inimigo natural. Aqui, tão longe no Norte? Will nunca viu um, só sabia que precisava matar a criatura.

O sanguessuga estava brandindo uma espada ensanguentada para proteger Ruelle de seu pai — cuja besta estava completamente visível agora, sombreando-o, monstruoso e chocando inclusive Will.

Sem dúvida, o vampiro estava apavorado. Mas por que o macho estava meio vestido? O sangue de quem cobria sua espada? Onde estava sua mãe?

Will olhou para o fundo da cabana. Atrás de um sofá... ele a viu.

Parte dela.

O choque roubou sua respiração e emudeceu seus pensamentos. Vagamente se perguntou, onde está a cabeça da minha mãe?

Seu pai rugiu, sacudindo a cabana até a poeira soltar das vigas.

O vampiro poderia ter ido embora, riscado com segurança em um instante. Mas parecia disposto a proteger Ruelle — como se a amasse. Com um grito fraco atacou o pai de Will, aterrissando golpes onde o imortal nem parecia sentir.

O sanguessuga desaparecia repetidamente até seu pai prever onde apareceria a seguir. Com a batida de uma garra, o vampiro não existia mais.

Quando seu pai se voltou para Ruelle, ela recuou. Como se viesse de uma bomba d’água, suas lágrimas caíram mais uma vez.

— Não tivemos n-nenhuma escolha. Ela nos atacou, veio para me destruir.

Enquanto seu pai perseguia-a com um olhar assassino em seus olhos azuis glaciais, Ruelle olhou para a espada do vampiro, poderia pegá-la; ao invés disso levou suas mãos ao peito, implorando a Will.

— Meu amor, ajude-me! Ele vai me matar!

Ela renunciaria a uma arma para implorar?

Will percebeu que ela ainda possuía uma arma mais poderosa: sua malícia. Parecia frágil, indefesa e tão malditamente linda. Inclusive agora, a urgência de protegê-la manteve-o cativo.

— Meu amor, eu imploro! Faça alguma coisa! — Seus olhos arderam verdes.

Ele ficou horrorizado ao perceber que estava tropeçando no corpo de sua mãe para alcançar Ruelle. Tenho agido errado. Embora soubesse que não era páreo para seu pai, Will se colocou na frente de sua fêmea.

Seu pai projetou suas presas e tirou Will do caminho, trincando sua mandíbula. Enquanto Will rolava no chão, seu pai levantou a mão mais uma vez. Com outro golpe de suas garras, decapitou Ruelle.

Com sua visão borrada, Will viu como a cabeça dela tombou e seu corpo desmoronou lentamente. Até nisso, era graciosa.

Com a morte dela, os ossos de Will imediatamente cessaram de doer, a febre deixou-o. Seu corpo estava livre. Mas sua mente...

Arrependimento, culpa, horror, ódio — tudo isso brigava dentro dele.

Seu pai caiu de joelhos ao lado do corpo de sua mãe. Munro deve ter colocado um cobertor sobre ela.

Will estava entorpecido e incapaz de se mover. Errado. Tudo errado. Tudo culpa minha.

De alguma maneira encontrou forças para se levantar. Com os olhos cheios de lágrimas, lançou um olhar para sua família arruinada.

Munro ajoelhado ao lado do pai, apertando o ombro dele e chorando abertamente. Seu pai bateu desajeitada e levemente na mão inerte de sua mãe, sua besta retrocedendo um pouco. Em seu estado parcial, seu pai era desajeitado, suas mãos muito grandes, suas garras muito longas. Lágrimas fluíam em seu rosto de lobo. Seus olhos azuis estavam vazios.

Ele ergueu a mão de sua mãe para o rosto dele. Quando a mão não fez amorosamente o carinho que sempre fazia em sua bochecha, seu pai rugiu mais uma vez, então choramingou com pesar.

Sua mãe veio para esse lugar amaldiçoado por causa de Will, para salvar seu filho. Ele não sabia o que o repugnava mais, sua parte em tudo isso ou o fato de lamentar a morte de Ruelle quase tanto quanto lamentava a de sua mãe.

Ao pensar nisso, bateu seus punhos na sua cabeça, o rosto se contorcendo. O que tem de errado comigo? Seu doente, doente! Sua besta continuava tentando ascender para proteger Will da dor. Mas Will queria a agonia, precisava disso.

Por causa dele, tudo se perdeu. Sua família acabou.

Ah, não, o bebezinho. A pequena Isla. Ele puxou seu próprio cabelo caindo de joelhos ao lado de Munro. Tudo minha culpa.

Ele pediu para todos os deuses do céu que o deixassem morrer, morrer naquele mesmo lugar, que pudesse negociar sua vida pela de sua mãe.

Munro se voltou para ele — mas em vez do ódio que Will esperava ver, os olhos marejados de Munro piscavam com o que parecia ser pena. Não mereço piedade! Desejou que seu pai o tivesse atingido mais forte e mais vezes. Desejou que Munro o golpeasse.

Enquanto as lágrimas de Will caíam, ele e Munro se olharam. Odeie-me, irmão! Como odeio a mim mesmo!

Depois do que pareceram horas, o pai se voltou aos seus filhos, emoção queimando em seus olhos. Mas não era a o pesar que Will esperava

Era resignação.

E Will sabia que seu pai estaria morto dentro de uma semana. Para onde sua companheira for, você vai...

 

Estádio de Starfire, Seattle, Final da Liga de Futebol das Mulheres

Dias atuais

— Puxe minha camiseta novamente, Todd, e enfiarei minha chuteira na sua vagina. — número onze disse.

Com olhos arregalados, Chloe ofegou.

— Quem te disse que gosto disso? — Chloe e suas companheiras de time do Seattle Reign chamavam esta jogadora de Handbagger[2] porque ela batia como uma velha. — Quem dera sua chuteira fosse tão sortuda, Handbagger. — Para garantir, Chloe puxou a camiseta da número onze novamente enquanto corria pra posição contra a menina muito maior.

Falar bobagens e jogo duro era tudo parte do futebol profissional. Chloe tinha as cicatrizes e a boca suja pra provar isto.

No outro lado do campo, a bola saiu quicando. Ela descansou um pouco, puxando a bainha de sua camiseta para enxugar o rosto, revirando os olhos quando flashs de câmeras fotográficas se multiplicaram. Ela olhou acima das arquibancadas, viu a linha de fãs homens sem camisa pintados com as cores do Reign: azul royal e preto meia-noite. No intervalo, eles cantaram “You’ve Lost That Lovin’ Feeling” para ela, e gritaram “Case-se comigo, T-Rex”, seu apelido no futebol.

Apesar de ser a menor centroavante da liga, tradicionalmente a posição para uma jogadora alta e forte, Chloe era discutivelmente a melhor e a favorita da multidão. Os fãs gostavam que ela fosse feroz no campo, gostavam ainda mais que ela ainda tinha atitude fora dele.

Ela correu seus dedos por seu cabelo curto, analisando jogadas anteriores. Hoje à noite foi imbatível, vendo as aberturas e corredores como se outras jogadoras estivessem se movendo em câmera lenta. Ela já tinha marcado um brace[3] — dois gols — contra as Boston Beakers, empatando o jogo. Mais um gol daria a Chloe um hat-trick[4], nada mal para campeonatos.

Em algum lugar das arquibancadas, o treinador assistente para o time Olímpico assistia entusiasmadamente este jogo tenso. Até o pai de Chloe arrumou tempo em suas constantes viagens de negócios para estar aqui. Ele permanecia sozinho no corredor ao lado dos assentos VIP, dando a ela sinais com as mãos. Seu treinador de meio período e maior fã.

Sim, ela estava a todo vapor neste jogo. Mas também estava seriamente no limite. Durante os últimos dias, ela passou por algumas... mudanças, como se todos os seus sentidos estivessem ficando sobrecarregados.

Ou estava ficando louca.

Ela via projéteis em sua visão e ouvia sons de muito longe. Inclusive agora ela jurava que podia cheirar o pãozinho da Tums no bolso do treinador.

E o protetor labial de cereja que um dos fãs usava.

Toda noite ela acordava encharcada em suor, recém saída dos sonhos estranhos que a deixavam abalada...

O árbitro soprou o apito. Bola em jogo. Intranquilidade esquecida. Ela e Handbagger correram.

— Aqui vem a explosão, cadela. — Chloe disse enquanto virava, esquivando-se dela. Garantiu um passe pelo ar, deu uma virada interna de gancho e preparou a bola para o lançamento.

De repente, tropeçou. Acima de todo o barulho no estádio ouviu um único toque de celular, um zunido tão alto que ela estremeceu. Handbagger capitalizou, quase capturando a bola, mas Chloe passou por trás dela com um pontapé; felizmente uma companheira de time estava bem ali para pegar. Isso tudo pareceria planejado.

Só seu time saberia que algo estava errado. Sempre que Chloe conseguia a bola dentro desta proximidade da área era letal, e egoísta. Como centroavante, ela foi treinada para enfiar a bola na área de marcação.

Como seu pai gostava de dizer “Você não faz passes para uma jogadora mais fraca, e são todas mais fracas. Elas passam a bola para você.”

Então por que arruinou sua chance? Por que ela ouviu um telefone acima de todo o resto dos sons? Olhou para seu pai, viu que ele tinha atendido um telefonema, marchando no corredor. Que diabo era mais importante que o jogo de final campeonato da sua única filha? Certo, ele frequentemente tinha preocupações de trabalho, mas se conseguiu chegar a um jogo, ele estava aqui.

Do outro lado do campo, a lateral direita dos Breakers impediu a bola com uma abordagem limpa. Chloe podia apenas esperar e pedir enquanto a jogadora corria campo abaixo. A multidão estava agora ensurdecedora, o impulso do outro time aumentando.

Ainda assim Chloe podia de alguma maneira ouvir a voz do seu pai como se estivesse bem ao lado dela.

— A captura do Lykae está completa? — Ele perguntou.

Lykae? Captura? Muito mais estranho que ouvir seu pai era que podia ouvir os comentários de quem tinha ligado. Ela detectou um monte de barulhos ao fundo, como você ouviria de uma zona de guerra na CNN, e uma voz de homem: “Está em progresso, senhor... não será sem briga... nós demos tranquilizante... é apenas uma questão de tempo agora, Comandante.”

Ele tinha acabado de chamar seu pai de “Comandante”? Mas que diabos?

— Quanto dano? — Seu pai perguntou.

— ... Jogou nosso próprio tanque em nós, senhor.

Seu pai esfregou a mão em seu cabelo raspado.

— Avisei você a respeito de tomar como alvo um lobo sem o Magistrado Chase presente.

Magistrado. Lobo. Lykae. Jogando tanque. Que diabos?

Seu pai era ex-militar, agora vendia sistemas de computação para instalações militares. Dustin Todd era, em essência, um técnico. O mais seco e menos extravagante homem que já existiu. Ele simplesmente não falava sobre coisa paranormal, muito menos com um sujeito como se fossem fanáticos por “Caverna do Dragão”.

Sua cabeça ficou mais leve, o momento surreal. Como isto podia ser possível?

— Eu ainda não entendo a insistência da oráculo com este aqui. — seu pai disse. — Qual é o valor tático de um lobisomem? Ela disse?

Deus Querido, seu pai estava falando sobre um monstro mitológico e uma psíquica.

— Não, senhor... partiu assim que colocamos o... o lobo está caindo, enfim. Estão entrando... confirmarei a captura.

Aparentemente seu pai estava tendo algum tipo de surto psicótico.

Talvez ela estivesse também. Não podia realmente estar ouvindo-o. Estava perdendo sua sanidade e, igualmente importante, este jogo.

— T-Rex!

Chloe girou a cabeça ao redor. Ela perdera um passe, a dinâmica toda do jogo mudando. E agora Handbagger tinha a bola carregando pelo meio do campo, a ponto de passar para sua própria atacante...

Com olhos estreitados, Chloe deteve a mulher, dando-lhe uma rasteira e agarrando-a por trás.

— Sua vadia! — Handbagger gritou, ao mesmo tempo em que o árbitro soprou o apito.

Passe sujo. Cartão amarelo. Merda!

O treinador enlouqueceu na lateral do campo; Handbagger conseguiu um pênalti na linha de marcação.

Quando a mulher posicionou a bola, Chloe disse a si mesma que não podia consertar o surto de seu pai neste momento, tudo que podia fazer era terminar os poucos minutos restantes deste jogo fazedor de futuro.

Seu pai foi quem a ensinou a focar, manter os pés no chão e ver através quando as coisas ficavam difíceis.

A goleira impediu o lance da Handbagger — ahh, que pena! — então chutou para território das Breakers.

Uma de suas meio de campo enviou a Chloe uma bola carregada, um passe que provavelmente resultaria em dano.

De qualquer maneira ela avançou, com Handbagger fungando em seu cangote. A cadela deslizou, jogando Chloe fora do passe e de bunda no chão. O tornozelo de Chloe torceu. Handbagger não podia resistir à um golpe final, um cotovelo bem na garganta.

Nenhum apito? Enquanto Chloe se erguia, levantou a mão em um gesto “que merda é essa”. Jogo empatado, dois minutos restantes em regulamento, não tinha tempo para esta merda. A multidão vaiou, mas o árbitro continuou olhando duramente.

Tentando ignorar, Chloe trotou até sua posição, estremecendo quando seu tornozelo começou a inchar como um balão.

Ela ignorou a dor, repetindo para si mesma, Esfregue alguma sujeira nisto.

Por toda a vida de Chloe, treinadores lhe disseram isto em resposta pra tudo: de um joelho esfolado até uma concussão. Era a linguagem de treinador para “Sorria e aguente”, ou “Vou te enviar para o banco”.

A declaração tornou-se sua expectativa de vida. Prática ruim? Esfregue alguma sujeira nisto. Arranhãozinho? Esfregue alguma sujeira nisto. Transformou-se em uma frase otimista que permitia que rangesse os dentes diante de qualquer obstáculo, e pronunciasse um sorriso estou feliz só por estar aqui, treinador. Fazia-a caçar duramente por um lado bom.

Seu enlouquecido pai estava pairando do lado de fora do reino de esfregar sujeira. Não havia nenhum lado bom. Ele era toda a família que ela tinha no mundo.

Concentre-se, Chlo. Mantenha o foco.

Porém, bem quando ela finalmente adaptou-se e conseguiu voltar com sua cabeça para o jogo, do outro lado do telefone de seu pai veio um... rugido — o mais apavorante rugido animal que ela já tinha imaginado. Calafrios passaram por sua pele suada, girou sua cabeça na direção de seu pai.

Então ficou lá parada, no meio do campo com milhares de espectadores, boquiaberta em choque.

Porque quando seu pai ouviu aquele som, ele sorriu...

Uma bola chutada com o dedão atingiu-a bem na cara como um tiro de canhão. Seu corpo foi enviado pelo ar. Lançada de costas, ficou lá deitada atordoada, assistindo as luzes do estádio girarem acima dela enquanto a multidão ficava cada vez mais quieta.

Esfregue alguma sujeira nisto. Lado bom? Ela agora tinha a total atenção de seu pai, seu telefonema desconectado e o rugido apavorante do lobo não se ouvia mais.

 

Distrito de Orleans, Louisiana

Uma hora mais cedo

— Nunca deixe de dizer que você não sabe dirigir como um ás — Will disse para a Valkyria louca de três mil anos de idade no banco do motorista ao lado dele —, mas se estivermos com pressa, talvez dirigir de ré não seria a melhor solução?

Nïx, a Sabe-Tudo, estava fazendo mais ou menos 50 km por hora na pista da esquerda da ponte da I-10 sobre o Lago Pontchartrain. De ré.

Ela estava se esquivando junto com o fluxo do tráfego, mas os faróis de seu maltratado Bentley estavam irradiando no motorista que estava seguindo-os.

Para trafegar, ela usava o espelho retrovisor — e a sangrenta previsão, pelo que sabia.

Apesar dos veículos estarem dando marcha a ré por quilômetros atrás dela, ela parecia inconsciente. Os carros passavam, seus motoristas escandalosos mostravam o dedo, até que conseguiam um vislumbre da bagunça que era Nïx Porra Louca.

Ela era extraordinariamente bonita, mas de olhos vagos, com uma juba selvagem embaraçada de cabelo negro. Vestia uma camiseta rosa neon com palavras corajosas escritas em letras enormes: VADIA

Abaixo um texto menor: VADIA DESINIBIDA SEXUALMENTE LIBERADA.

Em cima do seu ombro? Um morcego vivo.

A oráculo era bastante louca, perdendo a noção do tempo, da realidade. Compreensível, já que via o futuro há milênios.

Com um pulso jogado por cima do volante e Jay-Z no rádio, ela disse.

— É ridículo que um carro tão caro não tenha controle de tráfego quando se dá a ré.

— Quer que eu dirija então?

Ela ligou para seu número privado, predizendo os dígitos que supunha, querendo encontrá-lo sozinho. Ela o fez jurar não contar a ninguém sobre seu “encontro”, nem mesmo a Munro. Will já tinha perguntado a ela por que queria encontrá-lo (resposta: olhar fixo inexpressivo) e se poderia fazer qualquer coisa por ela (resposta: olhar fixo mais inexpressivo ainda).

— Talvez eu devesse chamar uma de suas irmãs? Você está parecendo um pouquinho cansada, Valkyria.

— Estou bem. — ela disse distraidamente. — Eu tenho Bertil comigo.

Oh. O morcego. Will decidiu que se Nïx Porra Louca queria dirigir de ré e não responder nenhuma de suas perguntas, à merda com isto.

Ele não tinha nada melhor para fazer que apreciar o passeio, então relaxou no banco de couro, orgulhoso de sua indiferença. Apesar de não gostar de surpresas e abominar quando mulheres o pressionavam a manter segredos, estava administrando sua inquietação esta noite.

Talvez ele finalmente, finalmente, começaria a virar a página.

Só então Nïx olhou para Will, piscando surpresa, sua expressão dizendo: Bem, como você chegou aqui, colega?

Seu rosto se iluminou.

— Gêmeo Gostoso dos Gêmeos Gostoso e Gostosão! — Ela disse em saudação. — Ou você é o Gostosão? Nunca posso diferenciá-los, ambos com estes ardentes olhos dourados e feições sonhadoras. Talvez um de vocês tenha o cabelo ligeiramente mais longo?

Ele e Munro odiavam quando as mulheres os chamavam de Gostoso e Gostosão, como se fossem peças substituíveis em uma piada.

— Nïx. É bom vê-la. — ele disse pela segunda vez esta noite.

Pelo menos ela era interessante de estar perto. E a maioria consideraria uma reunião com ela inestimável. Ela podia ajudar uma criatura do Lore a sair de qualquer apuro que se encontrasse.

Nenhum apuro presente para Will. A menos que Nïx pudesse mandá-lo de volta no tempo ou fazê-lo esquecer do passado, ele se manteria desocupado.

Pelos últimos séculos, ele e Munro viveram em Bheinnrose, uma colônia que fundaram na Nova Escócia. Will era o líder daquele braço do Clã MacRieve, mas pelo amor de Deus, quem não faria este trabalho? Tudo que fazia era assinar um monte de formulários. Normalmente depois que Munro os tivesse lido.

Sem uma boa guerra terrível para ocupá-los ou missões do seu rei, os irmãos foram em direção ao sul, para a Louisiana, buscando uma mudança de rotina. Durante uma Ascensão, algo sempre estava acontecendo perto de um lugar badalado do Lore como Nova Orleans. Assim como uma reunião com Nïx.

Além do mais, Will esgotara todas as ninfas disponíveis no Norte, já que nunca dormia com a mesma mulher duas vezes.

Normalmente por acordo mútuo.

Um motorista de um enorme caminhão ficou lado a lado do Bentley e buzinou tão alto que o carro vibrou.

— Mortais. — Nïx suspirou. — E aí, sobre o que queria conversar comigo, Oolay fofinho?

Ele fez uma carranca com a pronunciação massacrada de seu primeiro nome, mas pensou ter vislumbrado uma faísca no olho dela.

— Me chame apenas de MacRieve. Quanto à reunião, você me chamou, lembra? Assumi que queria conversar sobre Munro.

— Hmm, não.

Silêncio embaraçoso. Bem, desde que ele tivesse uma oráculo aqui...

— Talvez queira me dar as informações de onde achar a companheira dele. — Um dos incentivos mais persuasivos dos Lykae era achar seu par predestinado, e Nïx ajudara três membros do clã a localizar e ganhar os seus, contra todas as probabilidades, somente durante esta Ascensão.

— Você pergunta sobre isto antes mesmo da sua?

— Munro anseia pela dele. — Ele precisava daquela mulher para conseguir os filhos que estava ansioso para ter. Ansiava a descendência mais que uma galinha choca. Seu irmão já estava criando dois garotos Lykae em sua casa.

Ainda assim era melhor que Munro tivesse cuidado com o que desejava; uma velha vidente uma vez predisse que ele seria amaldiçoado com uma “megera” como companheira.

— E você não anseia pela sua? Conte pra Nïxie. Não direi nada a ninguém. Esta noite será nosso segredinho.

Como se aquelas palavras não fossem perturbadoras o bastante para Will, o morcego de Nïx escolheu aquele momento para descer à sua frente, desfraldando suas asas para girar suas clavículas, suas pequeninas garras embutidas em sua camisa.

— É complicado. — Ele uma vez pensou que possuía uma companheira. Que grande tolo fora.

— Não me faça dar meia volta neste carro, lobo.

Ele levantou uma sobrancelha.

— Muito bem. Eu invejei outros machos que acharam as suas. Mas não estou em uma boa fase no momento. — Ele puxou seu colarinho. Isso era pouco. Olá aí, sou MacRieve e esta é minha besta Lykae. Se acostume com ele, pois o verá muito.

Mesmo assim, não pôde se impedir de perguntar.

— Você previu a minha, então?

— Oh! Aí está minha saída! — Com precisão de especialista, Nïx cortou a segunda pista do tráfego pra fora da rampa. Eles fizeram a curva, ainda de ré, para uma pequena estrada rural.

Antes que ele pudesse repetir sua pergunta, Nïx perguntou.

— Então, o que vai vestir para o apocalipse? Estou pensando em algo brilhante e perfurado.

— Apocalipse?

— Todos nós devemos nos juntar, inimigos e aliados, deuses e homens. Ou eles ganharão.

— E quem seriam eles, Valkyria?

— Os Møriør. Mensageiros da Destruição. Quando os prevejo, já é tarde demais.

Palavras ameaçadoras.

— Você não pode soltar uma frase assim sem explicar.

— Acabo de fazê-lo, Seu Chato!

— É MacRieve!

— Onde? — Ela ofegou, desviando um olhar em direção ao lado da estrada. Ela desviou nitidamente antes de endireitar o carro. Eles ganharam outra buzinada.

— Nïx, me responda.

Ela o encarou novamente, acenando.

— Vamos colocar desta forma: faça o que quiser, se tiver os meios.

Will tentou reunir a preocupação apocalíptica apropriada. Mas se você tivesse vivido tanto — e tão mal — quanto ele, cenários de iminente fim do mundo perdiam a graça.

A expressão de Nïx se iluminou.

— É aqui que viramos.

Ele finalmente se virou no assento para olhar por cima do ombro. Era uma estrada de terra com bananeiras e kudzu. Enquanto entravam cada vez mais fundo no pântano sombrio e carregado de névoa, Will novamente se lamentou pelo Bentley.

Depois de sair — de ré — pela quarta vez, Nïx desviou para uma pequena clareira e estacionou.

— Oh. Acabamos chegando cedo.

— Para que? — Ela queria mostrar algo a ele aqui? — Onde estamos?

— Nosso destino final. Considere isto uma coordenada.

— Por quê? Estou indo para outro lugar? — Ele perguntou, o cabelo em sua nuca se eriçando. Havia uma ameaça? Ele não cheirava nada e seu Instinto permanecia quieto.

Entretanto, ultimamente ficou geralmente tranquilo.

Em todo caso, Nïx teria previsto qualquer problema e ela tinha dirigido especificamente até este lugar.

Ela girou para encará-lo, dando a ele a visão completa de sua loucura. A posição do morcego em sua camiseta parecia como se Bertil fosse legendado com VADIA DESINIBIDA SEXUALMENTE LIBERADA.

Nïx era tão adorável e tão... danificada.

— Vamos conversar um segundo, só você e eu. Relaxe, não confia em mim? — Ela perguntou em um tom brincalhão.

— Encare isto, Valkyria. Existem poucos no Lore em quem confio, e você é um deles. — Ela era uma aliada testada e verdadeira do clã.

— Que doce, Ahllomeam[5]...

— MacRieve, Nïx. — Só porque era de confiança não significava que não podia ser um pé no saco. — Poderia me chamar de MacRieve? Ou lobo, ou imbecil, ou qualquer coisa menos meu nome de origem? Agora, de volta à minha companheira. Quando a acharei?

— Antes de Munro achar a dele.

— Isso não me diz nada. Estamos falando em décadas, séculos?

— Que grosseiro de minha parte divulgando tudo enquanto você não está divulgando nada. — Ela se debruçou mais perto dele. — Olhe nos meus olhos. Deixe-me ver sua história.

História? Não era só uma Previsão?

— Eu não sei sobre isto...

— Ruelle te feriu profundamente. — ela disse suavemente. — Mas eu já sabia disso.

Ele recuou a cabeça.

— E o que você ouviu, então? — Boatos sobre seu tempo vergonhoso com a Súcubo tinha passado entre os Lykae mais velhos do clã.

Outras facções souberam daquilo?

— Não ouvi, lobo. Vi...

Ele engoliu em seco. Nïx podia ver que ele eliminara a maior parte de sua família sucumbindo àquela parasita? Esta Valkyria podia ver que Ruelle ainda parecia controlar sua mente e corpo inclusive além do sepulcro?

Quando ainda não tinha nem mesmo dois dígitos de idade, aquela cadela cravara suas garras nele. E eu as carreguei de uma forma ou de outra desde então.

Ela arruinara o garoto que ele fora e perverteu o homem que se tornaria.

Nïx olhou para ele com piedade, e sabia que ela podia ver. Deuses, desprezava os olhares piedosos. Recebera-os durante toda sua miserável vida! Ele era mesmo tão lastimável? Só porque me odeio e não tenho controle sobra a minha besta?

— Sim, lobo, vejo tudo. E por tudo, quero dizer alguma coisa.

Suor pontilhou seu lábio superior.

— O que as ninfas dizem sobre você? Eu me lembro! Você é todo “bom e fodido”, “obscuro e distorcido”. Mas elas não sabem por quê.

Elas o chamavam de Lista de Desejos, um a ter antes de morrer, porque sabiam que não conseguiriam sexo baunilha.

Ele não tinha nada a oferecer a não ser obscuro e distorcido.

De repente, teve dificuldade de tomar fôlego, como se um peso pressionasse seu tórax. Como se Ruelle pressionasse seu tórax.

Ele queria ir para longe da oráculo, deste carro, deste pântano, deste maldito estado. Sua antiga indiferença tinha desaparecido. Talvez fosse hora de retornar para o Norte...

— E então, como se Ruelle não fosse ruim o suficiente — Nïx disse tristemente —, você teve que suportar as torturas da Dra. Dixon.

Will congelou. Ele não conhecia esta pessoa.

— Nunca ouvi falar de uma Dra. Dixon.

— A cientista psicótica mortal? Da prisão da ilha da Ordem? — Ao notar seu olhar confuso, ela disse. — Certamente deve lembrar todas aquelas experiências que ela fez em você quando foi capturado por humanos? Eletrocussões, espancamentos, testando armas, vivissecção? Como pode esquecer quando ela abriu seu peito com um afastador de costela e arrancou seu coração ainda batendo? Ela ficou toda orgulhosa quando o mostrou a você. Claro, ela estava somente seguindo as ordens de Webb, mas pareceu ter um interesse doentio por você.

O cabelo na nuca dele levantou.

— Nïx, estas coisas não aconteceram comigo. Nunca encontrei esta mulher Dixon ou ninguém chamado Webb.

A Valkyria pareceu perplexa.

— Você não se lembra de ser eletrocutado, então preso como um animal por semanas? Depois da prisão ser destruída, quando tudo era pandemônio e morte, você organizou os Metamorfos Vertas, salvando-os de um massacre! Esta é uma das razões que uma sábia despachou você para lá.

— Você está me irritando pra caralho, Valkyria.

— Oh. — Ela franziu a testa, acariciando seu morcego irrequieto. — Eu devo ter interpretado mal o futuro pelo passado. — Ela deu de ombros. — Acontece.

— O futuro? — Ele engoliu em seco. — Está dizendo que estas coisas vão acontecer comigo?

— Sim, lobo. — O rosto de Nïx ficou abruptamente frio. — E tudo porque foi traído por uma oráculo.

Refletores iluminaram ao redor do carro, temporariamente ofuscando-o. Eles de repente estavam cercados por mortais com armas.

— Como? Não senti cheiro de nada! Que porra é essa, Nïx?

— Você precisa quebrar novamente este osso. — Ela casualmente gesticulou em todo o corpo dele. — Não os consertei certo...

 

Hora de botar pra fora alguma loucura.

Não muito depois do fim do jogo, Chloe estava de volta em casa no casarão que compartilhava com seu pai fora de Seattle.

Esperando conseguir encontrá-lo antes que fosse para a estrada novamente, ela se desvencilhou cedo da celebração do time. Seu próximo treino com Reign não aconteceria até alguns meses. O que faria sem suas colegas por tanto tempo?

Oh, sim, descobrir o que estava acontecendo com ela, curar-se, e quem sabe fazer audições para as Olimpíadas.

Depois de tomar banho e ajeitar seu tornozelo em uma tala muito usada, mancou de seu quarto, passeando por um conjunto de equipamento esportivo: uma prancha de snowboard, uma bola de basquete, um bastão de softball — todos símbolos de esportes que nunca tirariam sua devoção pelo futebol.

No patamar passou pela parede de uniformes emoldurados que seu pai orgulhosamente tinha pendurado, então subiu as escadas.

Dentro do escritório dele, uma luminária estava ligada, o resto do aposento na escuridão. Ele estava enchendo arquivos de um gabinete em sua bolsa de viagem.

— Saindo da cidade? — Ela perguntou enquanto se largava em uma cadeira. Seu calendário de viagem era uma das razões por que ainda vivia em casa com vinte e quatro anos. Eles se davam muito bem, e existia muita casa entre eles. Além disso, não era como se ela namorasse ou nada desse tipo.

Seu pai acenou.

— Estou trinta minutos atrasado.

Para outra captura? Ela desviou o olhar, inspecionando a parede de ego do escritório — coberta com seus diplomas do colegial e faculdade e suas muitas medalhas de honra.

— Você tem alguma explicação para o que aconteceu lá fora hoje à noite, Chlo?

Ela se voltou para ele. Como colocar isto? Ou você é louco...

Ou eu sou.

Pelo menos sua estranheza talvez pudesse ser explicada. Percebeu que já que sua habilidade de super sentidos era física, devia haver uma razão fisiológica atrás disto. Talvez tivesse um tumor cerebral que estava exarcebando tudo! Como naquele filme do Travolta.

Sua mãe morreu de câncer logo após o nascimento de Chloe. O grande C não era genético? Seu pai devia acreditar nisso; insistia que Chloe fizesse exame de sangue frequentemente.

Dos poucos retratos que vira de sua mãe, sabia que foi favorecida pela aparência de Fiore Todd. Quais eram as chances de Chloe herdar mais do que o cabelo castanho e olhos avelã estranhos de Fiore?

— Converse comigo, Chlo. — Apesar de seu pai não aparentar a idade, era mais em forma que a maioria dos homens de trinta anos, hoje à noite parecia exausto, estampando cada um dos seus cinquenta e cinco anos. Apesar de sua idade e cabelos grisalhos, todas as suas colegas de time pensavam que ele era atraente, com suas feições planas e estrutura muscular. Era muito nojento até pensar nisso.

— É duro de explicar, papai. — Ela observou o Pêndulo de Newton em sua escrivaninha, perguntando a si mesma se alguma vez viu as bolas de prata em movimento.

— O que aconteceu com seu foco? Você tem sido cem por cento focada no jogo desde que driblou sua primeira bola. Inferno, desde que viu sua primeira bola.

Chloe tinha cinco anos quando assistiu a primeira partida de futebol Olímpico de mulheres na televisão, e o curso inteiro de sua vida mudara. Mais tarde seu pai contou rindo aos seus amigos que ela ficou grudada na tela como um cachorro assistindo comerciais de bacon na televisão.

Em vez de dizer a ele, “eu gostaria de jogar isto”, ou até “é isso que vou fazer quando eu crescer” ela informou, “Este é o meu esporte”.

Infelizmente ela não tinha nenhuma aptidão natural para o jogo, tropeçando em seus próprios pés. Mas não deixou isso entrar no seu caminho.

Seu pai a ajudou a treinar, driblar a bola repetidas vezes até que aprendeu a fazer um passe, correndo com ela para aumentar sua velocidade e resistência fraca. Ela tinha declarado o esporte como seu, então correu atrás por quase duas décadas de trabalho duro para reivindicá-lo.

Quando seu pai espalhou todos os panfletos para todas as melhores faculdades com programas de futebol, ela assinalou Stanford: “Esta é minha faculdade”. Quando um time profissional feminino veio para Seattle, ela dissera: “Este é o meu time...”

Seu pai pegou outro arquivo.

— Muitos olhos estavam naquele jogo. Seu jogo hoje à noite, e seu machucado, podem ter afetado seu convite para testes.

Só para ter uma chance na lista Olímpica, um jogador potencial tinha que ser convidado para o treinamento cansativo de duas semanas na Flórida.

— Estarei curada até lá. — Era no próximo mês; tinha tempo para entrar em forma.

— Nunca vi que você engasgar assim. Nunca.

Ela ergueu o queixo.

— Eu me virei no fim. — Ainda não sabia como, mas nos últimos sete segundos do jogo, deu um chute com o calcanhar para marcar o gol da vitória, aterrissando de costas bem quando a bola voou pelas pontas dos dedos da goleira. Ela foi ofuscada pelos flashs das câmeras fotográficas. — Tudo que vão pensar será naquele último gol hat-trick.

Baixou nela um assustador Pelé para fazer aquele lance. Esse foi um momento que valia a capa da Sports Illustrated.

— Vou conseguir meu convite, e então reivindicarei meu lugar. — Uma das vinte e duas jogadoras que se dirigiriam à Madrid.

— Bem, gosto de sua confiança, pelo menos. — O telefone do seu pai tocou. — Você pensaria que eles poderiam se arrumar sem mim por um dia. — Sim, você pensaria. Ele verificou o ID, recusou o telefonema. Imediatamente seu telefone tocou novamente, mas ele ignorou. — Olhe, sei que algo está havendo com você. Antes de partir preciso que me diga o que é. Não mantemos segredos um do outro. Não é, Comandante? Quando ele pegou sua pistola na escrivaninha e colocou-a no coldre, ela se perguntou se o trabalho dele como consultor era sempre perigoso.

Espere! Uma coisa explicaria aquela conversa misteriosa dele. Com a compreensão surgindo, ela suspirou.

— Você é um espião. — Ele usou palavras em código! Lykae significaria insurgente ou algo assim.

— Por que pensaria isto? — Ele perguntou, soando divertido.

Merda. Ela realmente estava esperando que ele fosse um espião!

— Suas horas, suas viagens, seu modo evasivo a respeito do seu trabalho. Realmente não sei o que você faz. E sempre anda com uma arma.

— Não, Chlo. Não sou espião. Sou apenas um ex-militar. Você tem se preocupado com isso? Foi isso que afetou seu jogo?

— Ouvi uma conversa sua. Não fez nenhum sentido.

Ele parou sua arrumação.

— E quando foi isto?

— Sei que vai parecer loucura, mas eu... ouvi você ao telefone. Durante o jogo. Não sei como, mas ouvi.

Em vez de assinalar como isso era ridículo, ele ajustou a foto emoldurada em sua escrivaninha com movimentos precisos. Ela não sabia por que ele mantinha aquela fotografia de sua mãe lá. Sempre que olhava para ela, seus lábios ficavam mais finos de raiva. Chloe achava que alguma parte dele devia irracionalmente sentir como se Fiore o tivesse abandonado.

— E o que ouviu? — Ele disse.

— Você estava conversando com um sujeito, e o tópico da discussão era um lobisomem. Ele chamou você de “Comandante”.

Seu pai estreitou os olhos. Ele agora diria que era louca, que tinha imaginado tudo aquilo. Chlo, você deu muitas cabeçadas.

Ele pigarreou.

— Mas alguma outra coisa aconteceu fisicamente?

Ela movimentou relutantemente a cabeça, não tendo nenhuma intenção de contar sobre suas mudanças mais embaraçosas.

— Notei que não tem comido tanto.

— Meu apetite está totalmente fora do normal. Tenho que me forçar a comer. Não estou dormindo mais do que algumas horas por noite, mas nunca estou cansada.

— E-entendo. — Com uma expressão assombrada no rosto, ele se levantou e cruzou até o cofre na parede, colocando seu polegar no sensor para destrancar. — Tenho que viajar por uma semana, talvez duas, para reparar algumas... contas internacionais. — Pegou um livro envelhecido lá dentro. — Enquanto estou fora, quero que leia isto. Assim que terminar conversaremos novamente.

Quando ela ficara menstruada aos treze, ele lhe dera uma cópia de “Seus Cuidados e Manutenção”. Ele tinha ficado com o rosto vermelho, roucamente dizendo “Aqui. Eu estou certo que organizará tudo.”.

Então que tipo de transição na vida ela estava atravessando agora? Em vez de estar vermelho, ele estava pálido.

Ele deu a brochura para ela; um arrepio percorreu-a e os minúsculos cabelos em sua nuca se levantaram. O Livro Vivo do Lore?

— O que é isto? — Um pedaço de papel sobressaía de sua extremidade, então abriu o livro lá. As páginas estavam cheias com texto arcaico, mas o papel marcando o lugar estavaa grifado com a caligrafia de seu pai nele:

A Ordem irá deter as abominações que caminham no meio de humanos, o Detrus — aquelas criaturas imortais cheias de malícia contra a humanidade. Detrus são uma perversão da ordem natural, espalhando seus números imortais incontrolavelmente, uma pestilência suja contra o homem que deve ser erradicada por qualquer meio necessário. Capture-os, estude-os, extermine-os...

— Papai, e-eu não estou entendendo. Você é parte desta Ordem? Acredita que criaturas da escuridão existem? — Como lobisomens? Um deles fez aquele animal rugir? Isto era tão insano! Ela correu os olhos pelo livro vislumbrando entradas incontáveis, todas de bicho-papão e mitos. Alguns ela reconhecia, a maioria não.

Quando seu telefone tocou mais uma vez seu pai pegou a bolsa ainda parecendo desnorteado. Ex-militar e antiquado, seu pai era normalmente um mestre no autocontrole. De inabalável determinação. Seu pai simplesmente não demonstrava emoções cruas, ainda agora ele parecia frio.

— Por vinte e quatro anos debati comigo mesmo se você veria ou não este livro. Você é uma moleca, bem, eu realmente pensava que estávamos seguros. —Ele colocou a palma da mão na cabeça dela. Mas quando olhou para cima, ele não encontrou seus olhos. — Cada exame de sangue que voltava, eu prendia minha respiração. Por tanto tempo, eu... acreditei.

— Meu sangue era testado para câncer. Era isso que você me dizia!

Como se ele não estivesse ouvindo, disse.

— Só sei que você é minha filha. Não importa o que seja, sempre a amarei e protegerei. — Então girou em direção à porta.

— Espere! Você não pode partir assim! — Com o livro na mão, ela mancou atrás dele, mas ele continuou caminhando. — O que sou? O que está acontecendo comigo? Eu sou uma... Detrus?

— Não estou preparado para discutir isso esta noite. — Sua voz estava trêmula. Ela nunca o ouviu falar desta forma, nunca viu Dustin Todd perdendo o controle. — Não faça nada até eu retornar.

— Se você pensa que sou uma Detrus, então o que isso faz de você? Você é mesmo meu pai de verdade? — Ela exigiu, apesar de terem muito em comum para ele não ser.

Por cima do ombro, ele disse.

— Você sabe que sou, Chlo.

Seus olhos se arregalaram.

— Então você acha que mamãe era uma daquelas coisas?

Seu passo hesitou ligeiramente?

— Não haverá mais mudanças em você sem... o evento desencadeante. Apenas segure firme. Continue sua rotina normal. Voltarei logo. — Ele abriu a porta da frente. Um sedan de vidros escuros o aguardava no acostamento. — Se por algum motivo não estiver de volta em duas semanas, não vá até as autoridades.

— O que é isto? — Ela gritou. — O que está acontecendo?

— É segredo. E você deve mantê-lo deste modo.

Ela agarrou seu braço.

— Papai, estou prestes a surtar aqui.

Suas sobrancelhas se juntaram.

— Está assustada?

Com todas suas viagens de sobrevivência no deserto, lições de tiro e acampamentos de autodefesa, sua resposta ao medo fora anestesiada. Encarando jogadoras maiores do que ela por quase duas décadas quase o eliminou. De fato, ela só tinha um medo irracional: namorar.

— Não. Só preciso saber, mas não estou assustada.

— Depois de ler esse livro, espero que esteja.

Ele realmente estava indo embora assim, deixando-a dentro dessa bagunça.

— Papai, por favor.

Finalmente ele encontrou seu olhar, olhando fixamente para ela como se estivesse memorizando seu rosto.

— Ah, Chlo, realmente pensei que estivéssemos seguros...

 

Glenrial, o Complexo Lykae fora de Nova Orleans

Várias semanas mais tarde

Will estava adormecido, sabia que estava, mas sonhava com cenas naturais, todos os seus sentidos comprometidos. Os sons de gritos na prisão da Ordem, o odor da morte, a visão de gelar o sangue de cinco Súcubos famintas perseguindo-o por alas repletas de fogo e corpos desmembrados...

Ele vestia uma coleira mística que enfraquecia sua força e velocidade para a de um mero mortal, e ainda estava fraco das experiências de Dixon, mas as Súcubos estavam desesperadas para se alimentar.

Se elas o pegassem não poderia se defender assim. Enquanto corria pelos corredores sinuosos, ele puxou a coleira, mesmo sabendo que era indestrutível.

Rezou para seu Instinto guiá-lo. Mas desde sua captura, aquela força confortadora foi de quieta a silenciosa.

Perder o Instinto era como perder a alma.

As cinco se aproximaram, necessidade tornando-as mais rápidas. Ele decolou em uma corrida, sentiu como se estivesse correndo em lama, tão lento. Tão humano.

E ainda estava surpreso que o pegaram, atordoado quando numerosas mãos agarraram seus membros. Com suas forças não afetadas, elas o lançaram contra a parede, trazendo-o até o chão. Elas facilmente escaparam de seus socos, logo aprisionando-o.

Em seu frenesi para arranhar suas roupas, elas rasgaram sua carne, bombardeando-o com suas exalações de essência. Elas subiram em cima dele, seus membros misturados, seus vestidos sufocando-o como uma mortalha.

Ele estava sufocando, como se não existisse ar na Terra porque só o odor delas permanecia. Lutou com elas amargamente, mas eram muito frenéticas, muito fortes.

Súcubos persuadiam e envenenavam, nunca atacando, ainda que estas estavam descuidadas, com fome. Apesar de seus olhos brilharem verde jade, seus olhares estavam vagos.

E naquele momento quando soube que elas ganhariam, a mais forte parecia exatamente com...

Ruelle.

Ela agarrou seu rosto, murmurando para ele.

— Olhe pra você. Pode nos culpar, meu amor?

Seus olhos se arregalaram; ele se empurrou sentado de um lugar no chão do quarto e prontamente vomitou o whisky que tomou antes de desmaiar.

Algumas doses. Que desperdício.

Lá estava ele, sentado no chão de madeira frio, coberto de suor, estremecendo próximo a uma poça de seu próprio vômito.

Isto devia repugná-lo, a esqualidez de seu quarto, mas ele foi longe demais para se importar. Esfregou sua palma sobre o peito nu, ainda podia sentir as garras delas rasgando sua pele. Seu odor continuava em sua consciência.

Isto era seu pior pesadelo — e durante as semanas desde que escapou da Ordem, ele o tinha sempre que dormia.

Outra garrafa meio vazia em sua escrivaninha o chamava. Ele se levantou cambaleante, mexendo nas camadas de roupas e lixo cobrindo o chão e alcançou-a.

Também chamando por ele? Na gaveta superior estava sua passagem só de ida para a Hungria. Lá, em um buraco escondido na floresta estava a toca do Fyre Dragán, uma cova de chamas antinaturais quentes o suficiente para matar até um Lorean.

Também conhecido no Lore como “Aonde os Imortais Vão para Morrer”. Para Will, nenhuma outra opção era tão tentadora.

Quando o Instinto de um Lykae ficava mudo, estava na hora dele sair de cena. Um bando era tão forte quanto seu membro mais fraco.

Eu.

Will sabia que seu irmão sentia que ele não ficaria muito tempo neste mundo. Munro estava fora, teimosamente perseguindo antigos prisioneiros da Ordem — capturados ao mesmo tempo em que Will fora levado — para aprender mais sobre a provação de seu irmão e ajudá-lo a “se curar”. Maldito reparador.

Will tinha se recusado a conversar sobre o que aconteceu com ele, dizendo somente, “As últimas três semanas rasgaram a crosta de uma ferida”. Por todos estes séculos, ele fora saturado com culpa e ódio de si mesmo. Agora ele compreendeu que só as chamas mais quentes podiam esfregá-lo até ficar limpo.

Eles brigaram sobre a partida de Munro, vindo a socos tão frequentemente como faziam. Eles eram dois alfas que nunca se separaram em nove séculos; eles brigavam frequentemente.

— Deixe-me lidar com isto! — Will rugiu. — Terei minha vingança, e então colocaremos uma pedra em cima disso!

Munro rugiu de volta.

— Vejo você bebendo todo dia, olhando fixamente pro nada, demorando em sua forma de besta cada vez por mais tempo. Meu Instinto me diz que você está morrendo. Nós não somos apenas gêmeos, somos da mesma besta, e vivemos juntos por toda as nossas vidas. Se sente algo, eu também sinto. E isto é extremamente agonizante!

Como Will poderia contar ao seu gêmeo que a única razão pela qual lutara para sobreviver naquela ilha era para que pudesse se vingar e então morrer?

Ainda hoje Will aceitara que não haveria nenhuma vingança. Seus inimigos estavam todos fora de alcance de uma forma ou de outra.

Olhou para a passagem para a Hungria, imaginando a pureza esfoliante de tal fogo. Se não podia ter uma vida limpa, podia almejar uma morte limpa. Isso estava ao alcance.

Suicídio. Assim como papai...

Ele se lançou em direção ao banheiro. Depois de enxaguar a boca, bebeu água da torneira, então olhou no espelho o mesmo reflexo que viu por quase um milênio.

Seu cabelo era mais preto que marrom, e quando se tornou imortal, estava na altura do queixo. Ele podia cortá-lo, mas sempre cresceria de novo naquele exato comprimento, mas nunca mais longo. A barba incipiente cobrindo sua mandíbula larga nunca cresceria em uma barba.

Este rosto é a minha ruína. Ruelle dissera que suas feições pareciam como se tivessem sido esculpidas por um escultor, seus olhos dourados pintados por um pintor criativo.

Como desejava que pudesse ver a evidência de suas contínuas farras e vida tumultuada. Qualquer coisa para alterar sua aparência. Para não parecer com o Uilleam MacRieve que conseguiu que sua família fosse morta.

Will odiava seu próprio rosto. O que significava que às vezes odiava o de Munro.

Sentiu o cheiro do retorno de seu irmão neste momento. Falando do diabo.

Will tinha intenção de ter ido embora quando Munro retornasse. Rastejou para porta de carvalho grossa de seu quarto. Inclusive fora do seu quarto, o chalé emitia um cheiro forte. Pizza estragada e cerveja velha.

Este lar longe de casa era um orgulhoso chalé de caça de oito quartos, complementando a principal residência do Príncipe Garreth, em Glenrial. No interior se assemelhava a uma casa de fraternidade no domingo cedo.

Ele ouviu Munro conversando com eles.

— Você dois já ouviram falar de uma vassoura? Talvez um saco de lixo?

Rónan, o mais jovem aos quinze anos, bocejou como se tivesse acabado de acordar; era dez da noite.

— Eu não vou limpar se os outros não vão levantar um dedo. Encare isso, primo, o Cabeça Oca não é exatamente um modelo exemplar.

Cabeça Oca? O rapaz que falava o que lhe vinha à cabeça era um regular pé no saco de Will.

— O que aconteceu com o pessoal da limpeza que eu contratei? — Munro perguntou.

— Ele os assustou.

Will se lembrou de que esteve menos que sóbrio, sua besta bem no limite.

Ele ouviu a porta de geladeira abrir... e prontamente fechar. Pouca oferta?

Rónan continuou.

— Uma das meninas tentou jogar fora uma garrafa quase vazia de whisky. Ele rugiu, alternando sua besta lá fora para todos verem. Nem mesmo tentou oprimi-la.

Eu tentei. Pelo menos um pouco.

O irmão mais velho do menino, Benneit, disse.

— Ele está ficando pior. — Benneit, de vinte e três anos, também era conhecido como Grande Ben, um gigante até no meio dos Lykae. Era tão quieto e discreto quanto Rónan era atrevido e bocudo.

Os dois rapazes eram adotados — Rónan por causa de sua idade, e Ben porque ainda não tinha dominado a besta Lykae dentro dele. Quando os meninos perderam o resto de sua família há seis meses, Ben perdeu praticamente todo controle que uma vez tinha reunido.

Will entendia. Às vezes era simplesmente mais fácil deixar a besta assumir o comando. Como uma droga. Qualquer hora que ele estava sob compulsão, ela subia à superfície, abrindo-se para tomar a dor por ele.

Ele lançou outro olhar para sua passagem aérea. Era só de ida, é claro.

— Onde está ele? — Munro perguntou.

— Onde normalmente está estes dias... desmaiado de bêbado. — Rónan pareceu se encantar em dizer. — Ele não deixou o chalé a semana toda.

Ou Complexo Glenrial, nem uma única vez desde seu retorno do inferno.

— Não que esteja reclamando sobre o Cabeça Oca. — Rónan disse. — Eu gosto desta casa adotiva. O nível de supervisão aqui claramente beneficia a nós todos.

Ben perguntou.

— O que você aprendeu em sua viagem?

Aye, Munro, quais são as notícias? Ele teria aprendido tudo sobre a notória fuga sangrenta da prisão? Tudo sobre as coisas indizíveis que os mortais fizeram aos seus cativos?

— É tão ruim quanto os rumores que estão correndo.

Rónan disse.

— Ele foi... vivissectado?

Vivissecado enquanto ainda estava consciente. A mão de Will foi ao peito, suas garras entrando em sua pele.

— Alguns prisioneiros acreditam que foi.

Dra. Dixon, a cirurgiã chefe/pesquisadora/psicopata da Ordem, habitualmente abria sua vítima de escolha, então removia todos os órgãos. Enquanto o ser estava consciente.

Um suor frio e úmido pontilhou sua pele.

Ben disse.

— Como humanos podem tê-lo capturado em primeiro lugar?

— Eles avançaram nas técnicas de cobertura e armamento. Ele provavelmente foi eletrocutado, então colocaram uma coleira com uma faixa que controlava sua força.

Correto e correto. Os humanos foram inteligentes, forçando em cada preso aquela coleira mística, um “torque” para neutralizar as habilidades imortais.

— A besta dele não podia dominar isto? — Rónan perguntou.

Minha besta não podia ascender. A coleira impossibilitou isto pelas semanas em que Will ficou encarcerado, o tempo mais longo que passou desde Ruelle.

Munro deve ter balançado sua cabeça em resposta, porque Ben disse.

— Existe mais que você não está nos dizendo?

Munro hesitou.

— A fuga da prisão... deixou nossos aliados lá em desvantagem. — ele disse, contido. Oh, aye, Munro sabe muito.

Na rixa que seguiu a fuga, no meio do caos e lutas e explosões, alguns imortais foram capazes de remover seus torques — os mais maléficos.

Como as Súcubos.

O maior pesadelo de Will realmente era correr por um labirinto infernal de fogo e sangue enquanto um grupo de vorazes devoradoras de sêmen caçava-o.

Só que acontecera. Exceto pelo aparecimento de Ruelle, isso tudo tinha acontecido.

A garrafa de whisky se agitou quando ele a virou para cima. Quão duro ele tinha lutado para não ser estuprado pela gangue na completa visão de uma multidão de Loreans...

Munro finalmente respondeu.

— Vamos dizer simplesmente que Will tem todo o direito de estar em seu estado atual. Não significa que vamos permitir que isso aconteça por mais tempo.

Permitir? Você não devia nem saber sobre isso, seu canalha intrometido e moralista!

Ben disse.

— Se ele pudesse apenas conseguir sua vingança, poderia passar por isso.

— Aqueles que são os responsáveis estão fora de nosso alcance. — Munro disse.

Totalmente fora de alcance. Já cuidara de Dixon. O Comandante Webb, o mortal liderando a Ordem, não podia ser localizado, nem mesmo pelas bruxas mais poderosas, magos, oráculos ou Sorceri. O Magistrado Chase, conhecido como Magistrado, que gerenciava a prisão, tinha mudado de lado, agora era protegido pelos poderosos Loreans.

Nïx era intocável.

Quando Will foi falar com ela a respeito de traí-lo, ela serenamente o lembrou que ele tinha jurado não contar a ninguém sobre seu encontro. Quando ele a acusou de trabalhar com Webb, ela respondeu friamente, “Eu uso qualquer forma à minha disposição para formar o destino. A Ordem é uma poderosa ferramenta de formação”.

E então dissera por que ele não podia requerer a vingança contra Magistrado. Uma razão muito perturbadora.

— Vou confrontá-lo com o que descobri. — Munro disse. — Se nós viermos a socos, não se metam, não importa o que aconteça. — Os rapazes ainda estavam vulneráveis para machucados. — Por que não vão dar uma corrida?

Logo que Will ouviu Munro nos degraus, Rónan chamou.

— Provavelmente é o pior momento possível, mas queria te dar um recado sobre o Cabeça Oca. Enquanto você não estava, tive alguns gastos que passei no cartão de crédito dele. Devolvi na carteira dele.

Aquele pivete entrou no meu quarto e roubou meu cartão. Ao pensar em Rónan vendo-o assim desmaiado, a parte de trás do seu pescoço esquentou. O que poderia ter sido um resquício de... vergonha.

Munro chamou.

— Não podia me importar menos, Rónan.

— Beleza!

A cada passo de seu irmão, Will ficava mais furioso. Confrontar-me, Munro? Sua besta estava ascendendo. Suas garras afundaram em suas palmas. Se Munro lhe lançasse uma expressão cheia de pena, ele esfolaria seu irmão. Ele chicotearia seu traseiro...

Munro entrou. Eles compartilharam um olhar entre eles.

Com um “Oh, seu canalha hipócrita!” Will atacou.

 

Os olhos de Chloe se abriram abruptamente. Ela tinha acabado de acordar em sua cama com a sensação de que não estava sozinha.

Sua audição tinha se estabilizado por fim — ainda estava acelerada, mas não loucamente — ela ainda não descobrira nada incomum. Apenas a tempestade de vento lá fora.

Paranoia? O livro estava afetando-a?

Se alguém tivesse conseguido entrar... ela suspirou. Depois das últimas semanas que teve, quase podia lamentar pelo assaltante.

Seu pai não retornou, não entrou em contato ou atendeu suas inúmeras ligações em mais de um mês. Ontem seu número foi desconectado.

Ainda assim, não achava que ele estava realmente em perigo. Ele era capaz, esperto e, com uma arma ao seu lado, letal. Além disso, ele lhe dera instruções no caso de não retornar logo por uma razão, porque tinha esperado, até planejado não voltar.

Ela sentia em seus ossos que ele estava vivo. O que significava que suas emoções vacilaram por medo de que ele estivesse em alguma cilada, vacilaram de medo que estivesse em algum tipo de dificuldade, pela tristeza de que pudesse tê-la abandonado, pela raiva por ele ter partido depois de deixá-la com tantas perguntas.

Estava irritada que ele não pôde reservar uma única ligação para sua única filha. Ei, pai, não só sobrevivi ao acampamento de treinamento na Flórida, vou ser uma jogadora olímpica! Obrigada por ligar para uma atualização...

Medo, tristeza, raiva. Enxágue e repita. Suas emoções giravam tão selvagens quanto uma roda de roleta.

Há algum tempo ela fizera um inventário de sua situação, tentando conseguir achar sentido em sua vida, em sua posição no campo geral. Ela chegara a três verdades.

Primeira: seu pai era quase certamente parte da Ordem.

Segunda: ela disse a ele que estava mudando, e ele lhe deu aquele Livro Vivo do Lore, uma enciclopédia de mitos, por uma razão. Devia acreditar que ela era um daqueles Detrus que não deviam ter permissão para viver.

Terceira: ele ainda a amava...

Ela lera obedientemente cada página daquele livro, lendo milhares de entradas de amazonas e kobolds até bruxas e Valkyrias. Chloe acreditaria que aqueles gnomos de jardim, fadas, Shreks e Edwards vagavam pela Terra?

Hum, não exatamente. Acreditar naquelas criaturas significava que tinha que acreditar em sua própria transição iminente, você não podia ter uma sem a outra. Se elas existissem, então seu pai não seria louco. Se seu pai não era louco, então ela seria uma Detrus não detonada.

Assim decidiu segurar sua aceitação de um mundo completamente novo o máximo possível. Ainda assim, por brincadeira, tentou combinar seus novos sintomas com uma espécie.

Nenhum apetite? Talvez Valkyria. Sentidos sobre-humanos? A maior parte deles.

Sobrecarga de desejo sexual? Todos eles.

No passado sua libido esteve tão dormente que até horas incontáveis assistindo o RedTube.com não conseguia fazê-la se excitar. Mas agora, seguia sonhando com um homem sem rosto fazendo coisas com ela, coisas perversas.

Às vezes ele esfregava o pênis ereto pelos seus lábios, fazendo-a gemer com satisfação enquanto começava a chupar. Outras vezes sentia o peso do corpo dele pressionando por cima do seu, seu pau deslizando dentro e fora dela até que a tratasse com a queimação de seu sêmen.

Ela acordava pulsando com luxúria.

Chloe tinha se levado ao orgasmo antes, é claro, mas seus orgasmos foram tão fracos, tão... bem... decepcionantes, que ela se perguntou o porquê de todo o rebuliço. Havia uma razão pela qual não fizera mais do que beijar um garoto; nunca acreditou que superar seu medo de namorar até mesmo compensava.

Agora? Estava tendo uma ideia sobre todo o rebuliço.

Parecia estar desenvolvendo uma nova sensibilidade com relação aos homens, uma apreciação por eles. Quando passava por um cara na rua, um pomo de Adão proeminente ou uma mandíbula larga ou um peito desenvolvido chamavam sua atenção. Ela se pegava checando traseiros e dotes.

Era como se seu próprio desejo sexual estivesse vindo à superfície pela primeira vez, um processo que veio a pensar como um despertar.

Tudo que sabia com certeza era que a próxima chance que tivesse de ter um encontro com um cara meio decente, encestaria.

Seu despertar não era a única mudança nela. Não podia dormir mais de três ou quatro horas por noite. Apesar de não ter apetite e quase nem estar comendo, não perdeu nem um grama de peso. De fato, sua calça jeans estava mais apertada.

O que era mais estranho? Sempre que conseguia engolir uma refeição, a comida parecia protelar seu despertar, tirando seu desejo sexual.

Toda sua vida ela controlara seu treinamento, seus batimentos cardíacos, a forma e condição de seu corpo — agora tudo estava além dela, e a transformação parecia estar ascendendo...

Ao longo das últimas semanas desde que retornou da Flórida, olhava fixamente para o retrato de sua mãe, tentando decidir se Fiore parecia imortal. Ela tinha agonizado sobre aquele gatilho do qual seu pai tinha falado. Como evitar algo se nem sabia o que era?

Em duas semanas deveria voar para Madri para um último acampamento de treinamento com o time finalizado antes do começo dos Jogos. Se não pudesse compreender o que estava acontecendo com ela, temia ter que desistir de sua vaga.

Sentia como se fosse ficar louca se não conseguisse conversar com seu pai. Jogava no ataque — não na defesa — e estava em algum tipo de contagem de tempo aqui. Então tinha procurado no escritório dele por pistas, ficou surpresa com a quantidade de gavetas trancadas.

Não achando nada, Chloe passou a dirigir pelas ruas de seu bairro, passando pelos seus lugares frequentes. Cruzava pelos chuviscos, hipnotizada pelo para-brisas, sentindo-se mais só do que nunca antes.

A princípio ela atribuíra aquele aperto no peito à sua transição, apenas outro dos seus sintomas. Mas realmente sua solidão surgiu da circunstância. Estava acostumada a estar perto de um time de mulheres, jogando diante de fãs, conversando com seu pai pelo menos a cada dois dias. Esta solidão era de doer suas entranhas...

Lá. Finalmente um som. Estava vindo do escritório do seu pai.

Seus olhos se arregalaram. Ele tinha voltado!

Voando pra fora da cama, apressou-se para sua cômoda. Puxou uma calça de moletom por cima da calcinha e uma camiseta folgada sobre um sutiã estilo camiseta. Na entrada, parou. Só por via das dúvidas, no caso de não ser seu pai, pegou seu bastão de alumínio de softball. Silenciosamente deslizou degraus abaixo.

Na porta do escritório dele respirou fundo, sentindo-se tola a respeito do bastão. Mas não o soltou conforme entrava.

Uma criatura estava em pé diante da escrivaninha, fuçando os pertences do seu pai. Tinha que ter dois metros e meio, vestindo um casaco. Chifres sobressaíam por cima do tecido do capuz.

Chifres?

Apesar de não fazer nenhum som, ele olhou pra cima, seu rosto nas sombras. Tudo o que pôde ver foram dois olhos — que eram pretos como a noite, e ainda assim pareciam brilhar.

Uma criatura do livro. O livro era real. Ou isto era algum tipo de brincadeira. Sim! Uma brincadeira. Até diante desta visão resistia em acreditar no sobrenatural. Levaria tempo para qualquer um dizer, Ei, apague tudo o que sabe, o mundo realmente era plano desde o princípio.

A coisa se moveu em torno da escrivaninha com passos pesados, as garras dos seus pés nus arranhando o piso de taco.

O estômago de Chloe se apertou. O mundo é plano. Merda! Ela levantou o bastão.

— N-não chegue mais perto, idiota.

— Mortal? — ele disse numa voz áspera, ainda seguindo em direção a ela. Soou como um animal imitando a fala humana.

Ela sentiu que não devia correr, temendo que só provocasse a criatura.

— Eu d-disse não chegue mais perto.

Quando continuou vindo ela pegou seu bastão, balançando para as benditas estrelas.

Atingiu o ombro dele. Como se batesse em uma árvore, o bastão reverberou em suas mãos, mandando dor pelos seus braços.

Com um silvo, a coisa agarrou o bastão, esmagando-o como uma lata de refrigerante com suas mãos carnudas.

Ela gritou, correndo até a porta da frente. Vá pra fora, pro bairro. Evacue a casa, evacue...

Quase na porta, do lado de fora, segurança.

Ela alcançou a porta da frente e se atrapalhou com o ferrolho. Aquela coisa estava vindo; ouvia aquelas garras. Ela deu um grito, amaldiçoando sua falta de jeito.

Finalmente, abriu! Considere a porra desta casa evacuada. Ela deu um passo. O tapete de “bem-vindo” se foi, o degrau se foi.

Ela afundou em um abismo.

 

Will olhou uma vez para a expressão cheia de pena de Munro e pulou em seu irmão, chovendo socos.

Ira fervia. Odeio esta merda de piedade!

— Que diabo está errado com você? — Munro berrou enquanto bloqueava os murros.

— Você não podia deixar isso quieto! Tinha que cavar e fuçar. — Toda sua vergonha revelada. — Se eu quisesse que soubesse, teria dito! — Sua besta estava subindo para castigar e Will estava a ponto de soltá-la da jaula.

— Acalme-se, não quero lutar com você!

— Mas você irá! — Surrar o traseiro do seu irmão era tudo o que lhe restava a fazer. Presas à mostra, pegou o pescoço de Munro em um aperto sufocante, batendo seu punho no rosto dele.

— Porra, Will! Por que sempre vai na cara? — Quando Munro se debateu contra ele lutando para se livrar, eles tropeçaram em recusa. Botas, recipientes de comida, garrafas.

— Por que sempre tem que se intrometer?

— Eu precisava saber a verdade! — Munro se torceu livre, lançando um punho como uma marreta conectando com o nariz de Will.

Osso quebrado; sangue espalhado. Eles se enfrentaram.

Em uma voz espessa, Will disse.

— A verdade? — Experimente isto: sou distorcido. Sou bom e fodido. Seu Instinto, quieto antes de sua captura, agora estava mudo. Sua besta esteve incontrolável durante o sexo; agora constantemente rondava dentro dele, bem na borda de ascender, um perigo para todo mundo ao redor.

Will podia tolerar tortura “normal”. De fato, ao longo dos séculos, ele o fizera bravamente.

Mas aquelas experiências doentes e o ataque Súcubo... tudo aquilo o trouxe a um círculo completo. Sempre de volta à Ruelle. Aquela cadela pairava sobre ele, colhendo sua semente; Dixon permanecera em pé sobre ele, colhendo suas entranhas.

Oh, aye, Nïx, ela me mostrou meu coração batendo.

Com um rugido ele se jogou em Munro, mandando-os estalando pela entrada, atravessando o corredor e acima do corrimão. Caíram no salão abaixo, aterrissando sobre a mesa de café, demolindo-a. Madeira explodiu do impacto.

Os irmãos se ergueram e continuaram lutando.

— Eles testaram armas em você? — Soco.

Contra mim. Suas sirenes em inimagináveis decibéis...

— Oh, aye, coisas projetadas para tirar minha audição, meus sentidos. — Havia uma razão por que aqueles mortais estiveram indetectáveis bem antes da captura. — Malditos bons tempos!

Com um afiado ataque, Munro acertou-o no rim, um lugar particularmente doloroso para ambos.

Só havia um problema em lutar com seu gêmeo: os dois compartilhavam as mesmas fraquezas.

— Você foi vivissecado?

A palavra fez Will vacilar mais do que o soco dado. Então ele lançou outro punho.

— O peito cortado aberto, órgãos arrancados, então grampeados de volta? Os prisioneiros chamavam de zíper no peito — um grande Y percorrendo da barriga até a clavícula —, algo no lado de fora para manter você ocupado enquanto regenera suas entranhas.

— Isto foi feito com você, brathair? — Irmão. Agora Munro ferveu.

— E não consigo me vingar! — Nenhuma saída para desabafar esta ira.

Will não podia decidir qual dos seus quatro inimigos odiava mais: a oráculo que o traiu, o Magistrado que o colocara em uma jaula, a cientista que o atormentara ou a pessoa que deixou isso tudo acontecer: Preston Webb.

Ele atacou Munro novamente, esmurrando seu irmão, puto porque sabia que Munro estava contendo-se. Seus olhos faiscavam escassamente, sua besta firmemente controlada como sempre.

Para o inferno com isto. As juntas de Will ardiam, seu rosto latejava. Em certo ponto nos últimos dez minutos, ele começou a desejar whisky mais do que bater em Munro. Com um soco indiferente final, Will o soltou. Tão depressa quanto a briga começou, ela acabou. Estavam ambos respirando fortemente, ambos sangrando.

No mesmo instante em que Munro limpou com a manga sua testa dilacerada, Will fez o mesmo com seu nariz quebrado.

Então girou em direção ao armário de bebidas para entornar uma dose. Ah, Macallan. Whisky bom, caro. Ele engoliu como água. O líquido ardeu em seus lábios, girando por dentes temporariamente soltos. Não podia saborear bem com seu nariz cheio de sangue.

Mas Munro não ia deixar isso passar.

— E sobre a doutora que ouvi?

Will apertou a garrafa tão forte que quebrou, cacos entraram em sua palma enquanto a metade inferior caiu e quebrou por toda parte do chão.

— Ela desenvolveu um interesse especial em mim. — Seus olhos grandes atrás de óculos enormes, ela suavemente perguntava:” Por que Chase deveria ser o único com um brinquedo imortal?”

Will a fizera pagar, mas muito tarde. As experiências e tortura trouxeram à tona todas as suas memórias. Pensei que eu estava indo tão bem.

— Você sabe onde Dixon está? — Munro perguntou. — Ninguém no Lore pode achá-la.

— Eu me assegurei de que estava consciente quando a rasguei membro a membro. — E ele pedia aos deuses que pudesse fazer isto novamente, vagarosamente. Desafiava seu irmão a dizer um “a” sobre isto.

Munro não o fez.

— Alguém viu as Súcubos seguindo-o pela prisão.

Para evitar o olhar de Munro, Will abriu outra garrafa.

— Elas queriam um Lykae para jantar. Como sempre. — Ruelle esteve certa. Lobisomens eram malditos brinquedos para aquelas parasitas.

Nova garrafa nas mãos, Will cambaleou de volta contra a parede, subjugado pelas memórias. Seu ódio pelas Súcubos queimou de novo, até que sufocou sua respiração, ameaçando sufocá-lo.

Se um homem odiava por todo este tempo, haveria alguma coisa para ele?

Talvez fosse por isso que o Instinto o deixara. Porque já estava a meio caminho do túmulo.

— E elas... se alimentaram? — Munro parecia estar se preparando para o pior.

— Não. — Mas estiveram tão perto. — Elas teriam se não fosse pela Valkyria Regin, a Radiante, e seu companheiro de cela. — Com a ajuda deles pôde decapitar todas as cinco Súcubos. Ele frequentemente revia aquela memória, os gritos das devoradoras de sêmen, sua surpresa.

— Regin é mulher do Magistrado e ajudou a salvá-lo de um destino infernal. — Munro disse. — É por isso que não tem o macho dela como alvo?

O homem vigiara a segurança na ilha e pegou Will em uma tentativa de fuga. Apesar de que, para um humano, o Magistrado era realmente frenético.

— Esta é uma razão. — A outra? Nïx disse a ele que suas linhas futuras entrelaçariam. Não se eu estiver morto, Nïx!

Munro estalou seus dedos para o whisky.

— Dê-me.

Will embalou sua garrafa na curva do cotovelo, dando a Munro outra.

— Acabamos agora? Podemos nunca falar disso novamente?

Munro levantou suas sobrancelhas, o golpe em sua testa fazendo-o estremecer.

— Nós temos que fazer alguma coisa.

Will tomou outro longo gole.

— Não posso tomar Chase como alvo. Não posso achar Webb. — Não posso tomar Nïx como alvo. — Não há nada a ser feito. — Nunca seu futuro pareceu tão desesperado. Nem mesmo quando sem querer tinha matado seus pais e sua irmã por nascer. Pelo menos então ele tinha pensado inocentemente que o tempo curava todas as feridas, que um dia sua dor diminuiria.

Que monte de merda. O tempo multiplicava todos os ferimentos.

— E se eu vir mais um olhar cheio de pena, darei a você uma surra adequada, juro pelos deuses.

— Eu sei sobre a passagem aérea. — Munro disse simplesmente, mas tanto estava se passando atrás daqueles olhos.

O tempo de Will naquela prisão o fizera perceber como era ridículo continuar lutando, continuar vivendo como se tivesse razão. Mais de novecentos anos era bastante. E só um idiota continuaria a construir numa fundação tão remendada.

— Queria uma mudança de ares.

— Não minta para mim! Você acha que não sei o que está pensando? Você interrogou Bowen sobre a Caverna do Fyre Dragán.

No ano passado seu primo Bowen foi preso naquela caverna antes de escapar. Quando Will ouviu falar do lugar, tinha se animado. Estava tudo bem e bom ser suicida, mas um imortal tinha praticidades com as quais lidar. Isto é: a menos que pudesse cortar sua própria cabeça, você não podia matar a si mesmo.

Como meu pai sabia...

Então Will tinha planejado dar um mergulho no abismo.

— E então — Munro continuou —, você comprou uma passagem só de ida para um lugar chamado “Aonde os Imortais Vão para Morrer”.

O whisky estava soltando a língua de Will, persuadindo-o a admitir a verdade.

— Quando eu era jovem, fiquei... distorcido. Agora não estou bem. Aí está, não há nada a ser feito. — Ele deu de ombros. — Se existisse, teria acontecido até agora.

Os olhos de Munro estavam arregalados como se estivesse congelado pelo comportamento casual de Will.

— Homem de deuses, tive tantos séculos. — Will disse. — Eu vivi o bastante. — Nïx estava certa sobre uma coisa, o osso não tinha se fixado direito. Agora estava espalhado, nunca se arrumaria. — A prisão era só uma sugestão, irmão.

— Você nunca considerou como eu me sentiria por perder o último da minha família?

— Oh, aye. — Ele debateu sobre isto, decidindo que Munro ficaria bem. Já que estava revelando tudo, Will poderia também completar a história. — Meu Instinto estava quieto antes da prisão. Agora ele se foi.

O queixo de Munro caiu, como se mal pudesse imaginar esta perda. O Instinto era parte do que fazia um Lykae quem ele era.

Will deu um gole profundo, então disse.

— Inferno, isso significa que já estou meio morto. Não tenho nenhum Instinto e pouco controle da minha besta. Sou uma vulnerabilidade. Não serei um fardo para este bando. — Para você.

Munro disse que não tinha pena de Will. Mas tenho pena dele. Em uma virada, Munro perdeu pais incríveis e uma irmãzinha, e ganhou um fardo por toda a vida.

Will esperara séculos para Munro acordar e perceber que odiava seu irmão.

— A única razão pela qual já não estou morto é porque desejei vingança primeiro.

— Nós acharemos sua companheira. Ela pode te curar. Chamaremos Nïx e pediremos para procurar...

— Não diga o nome daquela Valkyria para mim novamente!

Munro levantou suas sobrancelhas.

— Outro segredo?

Rónan e Ben entraram repentinamente no chalé então, olharam toda a destruição, o sangue. Rónan pareceu impressionado, mas os olhos de Ben começaram a faiscar azul, sua besta ativa apenas com a evidência de violência.

Gatilho leve. Eu já estive lá. Estou lá.

— Bem, calma. — Munro disse. — Controle-se.

Ben inalou profundamente, apertando e relaxando os punhos.

Uma vez que os olhos de Ben finalmente clarearam, Rónan acenou uma impressão de computador.

— Nós temos um presente para você, Cabeça Oca.

Will fez uma carranca para ele.

— Não quero nada que você tem. — ele disse, ainda inseguro de como os dois acabaram aqui. O que o clã estava pensando, empurrando rapazes aos gêmeos? Aye, sua situação de órfão era semelhante à de Will e Munro — e suas linhagens eram próximas e relacionadas, com mais ou menos quarenta ou tantas gerações entre eles. Mas pelo amor de Deus, se os meninos precisavam aprender como controlar suas bestas, você não os mandava ao Tio Will Cabeça Oca.

Ele suspeitava que o conciliador Munro tivesse feito propaganda para levá-los.

— O clã acabou de receber uma mensagem na guarida. — Rónan disse. — Um alerta para todo o Lore. Vai haver um leilão nas encruzilhadas de demônio à meia-noite, organizado pela Casa das Bruxas.

Bruxas. Criaturas traiçoeiras.

Rónan leu do papel:

— “Os membros da Regra de Pravus e da Liga de Vertas estão ambos convidados a fazer uma oferta nesta captura, uma mulher que terá valor tático contra um inimigo comum.”

Os olhos de Will se arregalaram.

— Alguém foi capturado? Não brinca? Eu me pergunto quem é!

Munro perguntou.

— Quem é a mulher?

Rónan levantou suas sobrancelhas.

— “A mais alta transferência em dinheiro ganhará o que todo o Lore deseja...”

 

— “Chillin’ by the fire while we eatin’ fondue.” — Justin Bieber sussurrava. — “I dunno about me but I know about you…”

Mais ou menos uma hora atrás Chloe acordou no chão de um furgão com as melodias de J.B. Com uma tira de pano amordaçando sua boca e algemas ao redor de seus pulsos e tornozelos. O furgão era enfeitado com contas de Mardi Gras e o ar de fora cheirava a pântano e jasmim. Ela definitivamente não estava mais em Seattle.

Porque sua porta de entrada foi substituída por um alçapão para o inferno.

Três garotas adolescentes estavam dentro do furgão com ela escutando a música, fazendo sua maquiagem, andando sobre Chloe com pouca consideração. Na maior parte, pareciam humanas. Uma era loira com aparência escandinava, a outra uma morena pálida, e a outra uma asiática esbelta — todas bonitas, como “As Panteras” pós-modernas.

Mas Chloe sentiu que algo estava estranho neste trio. Havia uma graça tímida em seus movimentos e seus olhos pareciam faiscar sob luzes diferentes.

Assim que despertou, duas compreensões atingiram Chloe: Detrus era totalmente real. E estava para sofrer em suas mãos. Ela começou a lutar contra as amarras, tentando apertar sua mão contorcida pelas algemas.

Mais cedo as três abriram coolers de vinho para celebrar sua captura.

— Nós somos a tanda de dois mil e treze! — A morena disse.

Tanda?

— Este é nosso ano! — A beleza asiática disse. — Nosso leilão será comentado pela eternidade!

Chloe estava para ser... leiloada?

— Que a Casa das Bruxas viva muito! — Elas todas brindaram.

Bruxas. Ia vomitar. O Livro do Lore disse que Wiccae eram mercenárias místicas, obcecadas em acumular riqueza. Elas vendiam seus feitiços e tônicos — e aparentemente, não estavam longe do tráfico humano.

Entretanto, Chloe não era humana o bastante, não é?

Esfregue alguma sujeira nisto, esfregue alguma sujeira nisto. Ela percebeu que seu otimismo tinha conseguido ir para a arquibancada hoje à noite, e poderia nunca mais voltar ao jogo.

Só podia concluir que a Ordem era real, a missão do seu pai era real e que ele fizera alguns inimigos imortais administrando isso. Tendo encontrado alguns destes Detrus, Chloe desejava ao pai todo o sucesso no mundo com seu empenho de exterminação.

Exceto que ela era uma. Aquele castelo de cartas veio ruindo abaixo. Hora de enfrentar os fatos, Chlo. Se Detrus existiam, então estava se transformando em um deles.

Porque sua mãe foi uma. Os olhos de Chloe se arregalaram. Sua mãe não deve ter morrido de câncer! Isso foi só uma história de cobertura. Então como ela morreu?

Preciso de respostas! Cheia de frustração impotente, ela gritou contra sua mordaça.

— Ei! Jude a irar! Ire iss agoa!

As bruxas a ignoraram, aumentando o som. Ela estremeceu quando outra canção de Bieber tocou alto. Ótimo, ela foi capturada por malditas Biebetes.

Planejavam vendê-la em leilão? Quando “Beauty and the Beat” tocou pela quinta vez, Chloe decidiu que estava pronta para o bloqueio.

Com um xingamento, ela renovou a luta. Se pudesse ficar livre, poderia arrancar a mesa removível — aquela com todos os chumaços velhos de peruca de bruxa adolescente, com chiclete grudado embaixo — e usá-la como arma.

A porta do furgão abriu revelando uma jovem de cabelo preto com luminosos olhos castanhos. Definitivamente não era humana. O cabelo de ninguém seria brilhante daquele jeito sem Photoshop.

Ela tinha uma prancheta na mão, um walkie-talkie preso ao cinto, e uma mochila jogada por cima dos ombros. As outras a saudaram com um coro de — Belee!

Ao lado do cooler de vinhos, os ombros de Belee enrijeceram e uma eletricidade misteriosa começou a preencher o ar.

— Bebendo no trabalho? — o furgão sacudiu brevemente quando as outras meninas se levantaram para esvaziar suas bebidas.

Alerta de Alpha-Puta. Se isto era um time, Chloe acabou de encontrar a capitã.

O Walkie-talkie de Belee silvou.

— Bee, você disse que poderia haver umas cem pessoas aqui hoje à noite. — outra voz de garota disse. Um engolir em seco audível soou da linha. — Nós temos mais ou menos cinco mil e continuam chegando. O que vamos fazer?

Cinco. Mil.

— Alôôô, então comece com as admissões. — Belee estalou. — Você está agindo como se esse fosse seu primeiro rodeio.

— É. Nós estamos preocupadas. Se Mari e Carrow descobrirem, trarão o calor. — ela adicionou em um tom “Mamãe e Papai vão acabar com a festa”. — Talvez eu não devesse ter adicionado aquela última parte para o anúncio de leilão.

— Que última parte? — Belee perguntou.

— Que eles tinham que repassar a mensagem para dez outras pessoas ou algo ruim aconteceria com eles.

Chloe revirou os olhos. Você está de brincadeira.

Belee apertou os lábios.

— Mari e Carrow estão no meio do mato, longe de tudo que conhecemos. Elas descobrirão depois que executarmos este golpe súbito! Belee desliga.

O walkie-talkie continuou a transmitir. Duas meninas falaram:

— Belee me assusta.

— Todos os estudantes transferidos de Blåkulla o fazem. Como você acha que aquele pessoal deve ser?

Blåkulla? Chloe nunca leu sobre isto.

Belee falou pelo rádio:

— Seu transmissor ainda está ligado, idiota! — Depois de olhar para o teto pedindo paciência, ela girou para Chloe, dizendo a ninguém em particular. — O pacote não está parecendo tão bem quanto poderia.

Eu sou o pacote? Mate-a!

De sua mochila a bruxa retirou uma camisola branca, quase transparente.

Chloe preferia vestir camisetas soltas, calças mais soltas. Agora deveria vestir um vestido transparente?

Belee a avaliou com um olho crítico.

— Bonito rosto.

Chloe queria cuspir no dela.

— Vergonha cobrir isto, mas... — De sua mochila, Belee também tirou uma bolsa de seda preta. — Nós precisamos lembrar a todo mundo por que estamos aqui, Filha de Webb.

— Não é me no!

— É seu nome. Você apenas não sabia disso. Seu pai, Dustin Todd, também é conhecido como Preston Webb. O chefe da Ordem. Você é a filha do homem mais odiado em todo o Lore...

 

— Não senti o cheiro dele. — Will murmurou com um aceno do queixo na direção de um Centauro à distância, passando fila após fila de carros na encruzilhada do demônio. Centauros se alinhavam com o Pravus, o lado mal do Lore.

— Provavelmente porque desloquei seu nariz. — Munro disse, seu humor melhor. Esta noite eles receberam uma pista de Webb, uma filha sua estaria à venda. O que significava que havia possibilidade, depois de semanas de nada.

Munro tinha uma fonte sangrenta em seu passo.

O Centauro em questão tinha uma ninfa encostada na lateral de um carro esportivo e estava investindo nela como se estivesse no cio com investidas de zero a sessenta.

O carro era um Mustang. Apropriado.

— Nós não vamos brigar com eles. — Munro disse. — Ao que parece, há uma trégua honesta acontecendo esta noite. — Não muito longe, ouviram pontuações de imortais interagindo pacificamente.

Enquanto andavam a passos largos pelo casal, Munro murmurou em gaélico.

— Nós, ou ambos, pegamos aquela ninfa?

— Há possibilidades. — Will disse casualmente, entretanto fazia questão de lembrar, para que nunca fosse para a cama com a mesma de novo.

Duas vezes era muito perto de três vezes, e até este dia, ele tinha uma fobia a respeito disso.

A pergunta de Munro foi respondida quando a ninfa acenou toda contente aos irmãos; o Centauro atirou neles um olhar mortífero e deu investidas mais agressivas nela. Entre seus empurrões bravos, ela ofegou:

— Oi, rapazes... uh, vejo vocês... uh, mais tarde?

— Ah, claro, docinho. — Munro disse.

Ninfas eram um esporte da cama fácil e agradável, buscando nada além de prazer mútuo. Diferente das Súcubos devoradoras de sêmen.

Munro disse a Will.

— Talvez uma ninfa graciosa seja exatamente o que você precisa para voltar a se estabilizar? Eu sei que faz semanas para você.

Tente meses.

— Você podia queimar alguma... agressão?

Munro também sabia tudo sobre as muitas peculiaridades e manias sexuais de Will. Apesar de Will ter há muito tempo reconhecido sua “relação” com Ruelle pelo que era — uma violação de um corpo e mente jovem, um pesadelo — as cicatrizes permaneciam.

— Não tenho tempo pra isso. Vamos, estamos atrasados. — Will tomou meros segundos para se trocar, arrancando as roupas do chão, um monte de roupas que pareciam menos usadas/sujas que outras. — É quase meia-noite.

Munro tinha dirigido seu Range Rover turbo novo em folha até aqui, correndo com a coisa pelas estradas do interior da velha Louisiana.

— Não importa se estamos atrasados. — ele disse. — Duvido que possamos ganhar este leilão. Pude apenas solicitar a transferência de um milhão em um tempo tão curto. E o valor mais baixo no aplicativo de licitação das bruxas — merda você sabe — era de um milhão.

— De que adianta ser rico se não podemos pegar o dinheiro para comprar uma prisioneira política em um capricho?

Passada uma linha de árvores noz-pecã estava um campo aberto cheio de Loreans. Compreensível. Webb tinha derrubado incontáveis vidas, e esta captura foi a primeira pista dele desde a fuga da prisão.

Enquanto Will e Munro andavam pela multidão, viram toda forma de espécie imortal, até alguns humanos ciganos e mais frenéticos que viviam no limite do Lore.

A maioria dos imortais aqui pertencia a uma das duas alianças importantes, Pravus e Vertas. Incrivelmente, a trégua temporária entre eles estava se mantendo. Entretanto, tinham um inimigo comum: A Ordem.

Os irmãos passaram por um grupo de Metamorfos Vertas jovens — raposa, wolverine e chita — que Will reconhecia da ilha. Enquanto os Metamorfos Pravus eram predominantemente répteis, os Vertas eram mais frequentemente mamíferos.

Um desses filhotes gritou.

— Sr. MacRieve! — E todos giraram e olharam para Will como se ele fosse um maldito herói. Ele fez uma cara feia para eles e se virou. Podia tê-los organizado e salvado suas vidas — como Nïx predisse — mas só para salvar seu próprio rabo.

Ele lutara para viver somente por vingança.

Aparte das alianças existia as facções neutras como as ninfas, que provavelmente só estavam presentes para arranjar novos companheiros de cama — de ambos os lados. Um grasnar delas soou.

— Gostoso e Gostosão! — Para Will e Munro, tentando chamar sua atenção.

Will murmurou.

— Eu realmente odeio esta merda. — Ele cruzou os braços na altura do peito e achou um novo buraco em sua camisa.

Munro movimentou a cabeça.

— Odeio isto, além das palavras. Mas sabe que sou o Gostosão, certo?

— Nem mesmo em seu melhor dia, bràthair.

Eles avistaram mais alguns aliados Vertas: Os fey, Furies, Valkyrias e membros com chifres de algumas das sólidas demonarquias.

Havia pelo menos o mesmo número de Pravus: soldados de demonarquias obscuras, Sorceri, quase duas dúzias de Centauros e Cerunnos incontáveis — gigantes humanoides parecidos com cobras que eram tão rápidos e mortais quanto um raio. Crocodilos e víboras metamorfas abundavam.

Will seguiu Munro, inspecionando o mar de Loreans por Súcubos. E se elas estivessem aqui esta noite? As devoradoras de sêmen eram Pravus também.

Então estarei arriscando esta trégua diretamente. Porque nada o impediria de matar qualquer uma com quem encontrasse. Da mesma maneira que ele fizera toda sua vida. Até hoje ele tinha acabado com vinte e quatro.

Quando uma bruxa passou perto dele, sua pele se arrepiou. Havia várias andando por lá com fones de ouvido, como se estivessem em uma loja.

— Licitantes de telefones? — Will olhou feio na direção de uma. Se seu Instinto estivesse intacto, advertiria:” Guarde-se”.

Seu primo Bowe pode ter se casado com Mariketa, a Esperada, líder da grande mercenária Casa das Bruxas; mas não significava que o resto do clã superara as precauções constantes do Instinto contra as Bruxas.

Will avistou Malkom Slaine, um vemônio que conheciam, andando na direção do palco. O vampiro/demônio esteve na mesma prisão que Will.

Eles saudaram Malkom, caminhando ao lado dele.

Munro disse.

— Demônio, você não é frequentemente visto sem Carrow. — Outra bruxa local, também uma antiga captura.

Apesar de Malkom ter nascido demônio em alguma demonarquia longe e arcaica, ele foi transformado em parte vampiro — um raro vemônio, uma criatura muito mais forte que um Lykae. Mas ele ainda se identificava como um demônio, odiando sanguessugas.

Como a maior parte de nós. Só no ano passado, Will e Munro foram ordenados a atacar uma casa de vampiros para procurar pela companheira do Rei Lachlain — não para espiar, mas realmente atacar. Bem antes de atingirem o perímetro, quando Will estivera tremendo de antecipação, já imaginando o tumulto que causaria, eles tinham cancelado.

Como as coisas poderiam ter sido diferentes para Will — tão melhores — se simplesmente uma maldita guerra tivesse aparecido.

Em um inglês com forte sotaque, Malkom disse.

— Carrow, Mariket, e algumas Valkyrias estão fora para coletar órfãos da Ordem, a descendência de imortais que morreram na ilha.

Will entendeu por que Malkom não foi convidado. Ele era um homem intimidante, mais alto até que a altura imponente de Will, com chifres de aparência letal. Ele matariam os bebês de susto.

— Então se Carrow e Mariketa não estão aqui, quem está comandando este show?

— Algumas bruxas adolescentes. Elas pensam que Carrow e Mari não sabem. Eu deveria cuidar delas e me assegurar que não sejam mortas pelos Pravus.

— As bruxas são Vertas. — Munro assinalou. — Por que não manter o prêmio do nosso lado?

Talvez porque sejam todos movidos pelo dólar, cada um deles? Malditas bruxas estranhas...

Malkom simplesmente deu de ombros.

— Então o que sabe sobre esta prisioneira? — Munro perguntou. — Como foi pega?

— As bruxas lançaram algum tipo de vigilância e feitiço de captura.

— A filha está com a Ordem? — Will perguntou.

— Nós achamos que não. — Malkom disse. — Pelo que sabemos Webb desapareceu depois da fuga da prisão. Sua filha não tinha nenhuma ideia de onde ele estava, esteve procurando por ele. Minha suposição é que Webb manteve a Ordem parte de sua vida secreta. Faz sentido. Não direi a minha filha muitas das coisas que fiz.

— Espere. — Will disse mal humorado. — Se ela esteve procurando por Webb, então não conhece seu paradeiro. Qual seu valor tático se não sabe nada sobre o Lore e não tem nem vinte em seu querido pai?

— Isca. — Malkom disse. — Certamente ela atrairá Webb.

Will imaginou possuir a mulher, usando-a para prender o bastardo. Deuses, a satisfação...

— Os Vertas não a ganharão, entretanto. — Malkom continuou. — Enquanto os Pravus têm oferecido seu dinheiro e bens místicos, a maior parte de nossas facções vai ofertar um contra o outro. Nós devemos estar aliados com os fey? Seu rei está licitando por telefone através daquela bruxa novinha bem ali. Milhões em ouro Draik. A bruxa ao lado dela está licitando por Nereus, o deus do mar. Tudo que vamos fazer é aumentar o preço.

Will virou para Munro.

— Então ela verdadeiramente não pode ser ganha por nós?

Munro agitou sua cabeça.

— Olhe, seguiremos quem quer que a obtenha. Estaremos à espera de Webb. Isto não está acabado.

Por que Will não conseguia um tempo? Tudo o que queria era um momento de vingança sangrento e coberto de vísceras. Então encontraria paz na morte.

Cheio de frustração ele comprimiu seu nariz, não gentilmente manipulando o osso de volta ao lugar. Ah, aquilo era melhor. Ele inalou profundamente, repentinamente bombardeado de novos cheiros, dez mil deles.

Um destacando-se.

Algo tão sublime que ele foi tomado, quase colocado de joelhos.

Não acreditando no cheiro que sentia, Will tentou levantar sua cabeça por outro golpe daquela linda ameaça. Pela primeira vez em meses, ouviu seu Instinto. E, Deuses, soava em alto e bom som.

Sua.

Ele engoliu em seco, teve que pigarrear antes de poder murmurar.

— Aconteceu.

— Nos dê licença, Malkom. — Munro disse enquanto arrastava Will para longe.

— Meu Instinto... disse... — Will mal podia formar palavras.

— Eu a senti também. — Munro disse, excitação enchendo sua expressão.

Excitação? Uma ira cega encheu Will. Antes que pudesse atacar, Munro estalou.

— Enquanto seu Instinto está clamando a respeito dela dizendo sua, o meu está dizendo irmã.

— Oh. — Will olhou ao redor, desesperado para ver, saber que tipo de criatura possivelmente podia cheirar tão deliciosamente. Ele esteve cauteloso de encontrá-la antes, mas agora...

— É como papai disse? — Munro perguntou.

Will fechou brevemente seus olhos, inalando profundamente.

— As mãos de deuses. — ele respirou. — Aye.

— Então vamos achá-la.

Dúvida súbita martelou em Will, e ele hesitou.

Munro disse.

— Olhe, sei que está com dor, mas você esperou anos por sua companheira. Nunca conseguirá outra.

Ele sacudiu sua cabeça.

— Não sou bom pra ninguém.

— Ela pode te ajudar a se curar se você deixá-la. Além disso, tomou o cheiro dela em si. Não pode deixá-la ir agora. Não sem tentar primeiro.

— Eu ainda posso ir embora. — ele disse, inclusive enquanto o odor dela acenava.

— Não vai morrer de curiosidade, cara? Eu estou, e ela nem é minha!

Não, não fique muito excitado. Will tentou abrandar.

— E se eu não estiver pronto para isto? — Bom e distorcido. — Não posso ver o que ela é, mas sinto que não é Lykae. — Havia uma chance de 50 por cento dela ser Pravus. Com a sorte de Will, podiam ir em frente e reunir aquilo com certeza absoluta.

— Will, você não entende, aconteceu. Depois de 900 anos. O que eu não daria... — Munro agarrou seus ombros. — Aconteceu.

Um olhar chocado entre eles.

— Irmão, dê uma chance à moça.

Com intenção sinistra, Will foi em direção ao cheiro, Munro seguindo-o. Onde quer que ela estivesse, permanecia imóvel.

Menos seres deram uma olhada no rosto de Will — um Lykae principalmente disposto ao inferno por algo — e encolhiam-se dele.

Antes, ele fora ambivalente sobre sua companheira. Agora ele tinha que experimentar seu cheiro só por mais um minuto. Ele tinha que ver seu rosto. Ela seria alta ou delicada? Seus cabelos longos ou curtos? Sua personalidade alegre ou séria?

E já que não era uma Lykae, iria querê-lo de volta? Talvez seus olhares amaldiçoados finalmente seriam úteis. Esfregou uma mão pelo rosto, surpreso por achar uma sombra de barba espessa e pele machucada.

— Eu deveria ter me barbeado hoje, heim?

— Deveria. — Munro arrancou sua camisa limpa e boa por cima da cabeça, fazendo um gesto para Will trocar com a sua gasta e desbotada. Sem perder um passo eles trocaram de camiseta, ninfas guincharam para os irmãos de peitos nus passando por elas.

Uma vez que se trocaram, Munro gesticulou para Will todo.

— É o que é.

Nïx fez aquele mesmo gesto na noite em que o traiu. Enquanto Will deu um passo sem hesitação na direção de sua companheira, a percepção bateu nele. Isto era tudo de acordo com o plano. Se não estivesse na ilha, nunca teria vindo até o leilão esta noite. Nïx colocara isto em movimento.

Para que fim, oráculo?

— Nós a acharemos. — Munro assegurou enquanto passavam pelas multidões de imortais.

— E aí?

— Aí a natureza assume o comando.

A multidão ao redor deles começou a gritar para o palco. Assobios e zombarias se seguiram. Eles deviam ter levado a filha de Webb para fora.

O som de alguém soprando em um microfone quente alfinetou os ouvidos sensíveis de Will, trazendo à tona memórias de tortura. O que não o lembrava da ilha? Deixe passar.

— Bem-vindos ao leilão da Casa das Bruxas desta noite. — uma anunciadora disse no microfone. — Meu nome é Belee e estarei apresentando esta noite. À disposição para ser tomada está Chloe Todd, a filha verificada de Webb. Idade de vinte e quatro anos. Saúde excelente. Hoje à noite é a sua primeira vez vendo imortais. Então vamos dar a ela grandes boas-vindas ao Lore.

A multidão gritou mais alto.

Apesar de Will estar curioso para ver a cria de seu inimigo, estava escravizado pelo cheiro de sua nova companheira.

Dormir flutuando nele? Despertar com ele? Resistir ao chamado parecia impossível.

— A licitação começará com um milhão de dólares americanos ou equivalente. — Como Munro predisse. — Quem gostaria de abrir?

— Um milhão em barras de ouro Draik do rei de Draiksulia.

— 1.5 do Acordo das Valkyrias e Furiae — mais a corrente do Colar de Freya feito pelas fadas.

Mais ofertas entraram, e os irmãos ainda não a alcançaram. Uma linha de Centauros bloqueava sua passagem; no momento em que Will arreganhou os dentes a ponto de saltar neles, Munro puxou-o.

— Mantenha sua cabeça.

O Instinto de Will estava agora gritando SUA!

Ao fundo, o leilão continuava em um passo furioso.

— O último dos escravos dourados do Banemen oferta um dieumort, um assassino de deus.

— A Regra de Pravus oferta dois milhões como também um talismã Bridefinder quase nem usado.

— Rodrigo Gamboa oferta dois navios-tanques cheios de pó Colombiano.

Will vagamente se perguntou se aquele último era uma piada.

A licitação alcançou oito dígitos, ele e Munro não ainda a acharam. Seguiram seu cheiro na direção à frente, agora empurrando criaturas pra fora do caminho.

Will inalou profundamente mais uma vez e quase tropeçou.

— Munro, você pegou esse cheiro? Ela é...

— Humana. — Munro terminou, a palavra como uma sentença de morte.

— Se eu não puder controlar minha besta... —Lista de Desejos do Will. Seria melhor para ela não me conhecer. Deixá-la ir — eu mataria uma mortal.

— Vamos dar um jeito. Will, eu te ajudarei nessa. Prometo. Mas por enquanto, só precisamos encontrá-la.

Eles estavam se aproximando do palco quando uma última leva de ofertas passou. Logo todos partiriam — e então como iria achá-la? Will esfregou o rosto com a mão, dando um olhar confuso para Munro.

— Onde diabos ela está? — Então ele girou, franzindo o cenho para a pequena mulher que apareceu em sua vista.

Aquela no palco. Aquela presa contra o poste — com um saco preto por cima da sua cabeça. Ela vestia um vestido transparente por cima de um sutiã rosa e calcinha preta. Ela era delicada, com pele bronzeada e as pernas mais incríveis que já tinha visto em uma fêmea. Seu coração estava acelerado.

A Filha de Webb. Eles dois pararam de repente.

O cheiro sublime estava vindo... dela.

Isto não podia ser possível. Depois de esperar vidas por ela, achava sua companheira na família de um homem tão vil que Will não podia nem dizer seu nome sem ódio borbulhar dentro dele.

— Aquela filha do demônio é minha companheira eterna?

Munro articulou seus pensamentos, palavras que Will sabia que lamentaria no segundo em que deixassem sua língua:

— Isto é tão fodido.

Will não podia nem mesmo processar todo aquele sentimento. Nojo estava lá, junto do mais profundo poço de desapontamento que já tinha experimentado.

— Por que colocaram um saco preto nela? — Munro mordeu em gaélico, soando ultrajado.

— Porque foi o que foi feito aos prisioneiros da Ordem. A mim! — Quando a brisa soprou pela túnica branca dela sobre seus joelhos, Will notou mais de suas coxas bem formadas, seu olhar predador se fechando nelas. Ele reagiu, odiando-se.

— Will, não importa quem ela é — você não tem nada a perder com ela. Eu deixarei isto simples: ela não pode ser pior que uma caverna de chamas místicas. E esta é a única outra opção na mesa.

A bruxa anunciou.

— A licitação está concluída! Parabéns Regra de Pravus, vocês compraram a Filha de Webb. Obrigada a todo mundo por frequentar esta Casa das Bruxas e fiquem atentos esta semana para nosso questionário de serviço. Pravus, por favor reivindique seu prêmio.

Nisto o coração da mortal acelerou ainda mais. Ela gritou, mas soou amordaçada debaixo daquele saco. Ele pensou que ela gritou: “Deixe-me ir, seus imbecis doentios!” E então começou a lutar.

Forte. Seus pulsos estavam presos, laçados a uma viga sobre sua cabeça. Ela se debateu para se soltar.

— Eu devia deixar seu rabo para o Pravus. — Mesmo enquanto Will dizia isto, seu corpo se preparou para lutar por ela. Seu Instinto estava clamando para que a salvasse, cuidasse dela. Sua besta rondava dentro dele, frenética para protegê-la. As garras de Will se alongaram com suas presas, seus músculos aumentando em tamanho. — SUA!

Dois Centauros saltaram sobre o palco. Um disse.

— Eu sou Lorde Velees dos Centaureans, e a reivindico para o Pravus.

Reivindica? O caralho que isso aconteceria!

Um Cerunno escorregou até o poste.

— Entendi que a teríamossss primeiro.

— Então entendeu errado. — Velees desenganchou seus pulsos presos na viga. Imediatamente ela debateu-se contra ele, chutando o Centauro. O sangue começou a gotejar sob as correntes no seu pulso.

— Proteja!

Quando olhou para sua pequena forma mortal, lutando tão corajosamente — até em face de seu medo — ele se achou meio... assombrado.

— Will, sua mulher é uma garota aterrorizada nem a seis metros de você. Seu nome é Chloe. Deuses, homem, ela é tão jovem.

Chloe.

— Nesse exato momento irmão, ela está perdendo uma briga que é sua para ganhar por ela.

Não por muito tempo. A besta de Will era incontrolável nos melhores dias; agora, pela primeira vez na existência de Will, ele tinha uma companheira para proteger. Ela se rebelaria como horror encarnado contra alguém ou algo que o afastasse de sua mulher.

Munro bateu no seu ombro.

— Assumo que vai roubá-la do Pravus primeiro e fazer perguntas mais tarde?

Ele não podia responder, já se transformando. Quando sua besta arranhou em sua prisão, Will ficou feliz em soltá-la.

 

Quando Chloe ouviu a palavra “comprada” algo dentro dela estalou.

Aquele cara Velees agarrou-a pela cintura, tirando-a do chão e dobrando-a contra seu peito nu. Ainda que ela lutasse e chutasse.

— Nã m toe! — Ela gritou por trás da mordaça, debatendo-se contra ele com tudo o que podia. — Me deie i!

Gritando, debatendo-se...

Seu pé atingiu o que parecia um peito de um cavalo de barril. Sua mente negou isto, o homem que a segurava estava simplesmente cavalgando um cavalo, como um caubói. Um caubói sem camisa, é claro.

Inclusive acima de sua luta frenética, ouviu as pessoas perto do palco arfar. Murmúrios surgiram, gritos. Ela não podia ver nada.

Então veio o rugido demoníaco de alguma besta.

Um rugido familiar. Ela ouvira um parecido na noite do campeonato. Assim como antes, calafrios a percorreram.

Silêncio caiu na multidão. Depois de um momento estendido, estourou o que soou como caos.

— Corra! O Lykae está se transformando!

— Ah Deuses, não fique entre eles!

— Ela é Companheira de MacRieve!

Companheira? Lykae? O que ela tinha lido sobre eles? Cada um tinha uma besta alojada dentro — e cada um buscava sua companheira predestinada acima de tudo. E ela era a mulher deste aqui? Riso histérico ameaçou, até que ouviu um rosnado baixo e feroz.

O chão tremia enquanto as pessoas fugiam. Que diabo estava acontecendo?

Velees estalou para alguma pessoa fora de vista.

— Não estou nem aí pra você, lobo. — Mas estava se afastando com Chloe presa firmemente contra seu corpo. Cascos martelaram o palco.

— Vou quebrar o pescoço desta mortal. — Velees continuou sua retirada estável. — Outro passo mais perto e ela está morta!

Em uma voz bestial e rouca, o Lykae respondeu:

— Minha.

Aquela única palavra fez Velees puxá-la para o lado saindo pelos fundos do palco para cair no chão correndo, como se correndo por sua vida. Ele gritou.

— Me dê cobertura do lobo!

Nisso ela ouviu barulho de cascos, um rebanho deles. O que soou como uma briga brutal se iniciou, um homem gritou atrás.

— Cerunnos atacando do sul!

Estes seres agora estavam brigando por ela? O Lykae uivou como se estivesse lutando para chegar mais perto.

Velees abruptamente girou na outra direção, lançando-a com ele. Ela se debateu para tirar o saco da cabeça, mas estava amarrado. Não posso ver... não posso ver!

Algum ser estava bem ao lado deles; ouvia sua respiração. Então veio o som de um silvar, um som irregular de respiração e de repente ela e Velees estavam caindo, caindo...

Com outro som irregular Velees a levantou, lançando seu corpo no ar, como um passe de efeito...

Alguém pegou-a no ar, envolvendo uma palma ao redor de seu braço direito e arrastando-a contra a parte superior do seu corpo. Outro caubói? Merda, não podia mais negar, um Centauro a tinha!

Ele a segurou como se não pesasse nada, gritando para os outros.

— O lobo vem por ela! Mate-o!

Vindo por ela. Porque eu sou sua... companheira. Oh, cara, isso não podia ser bom. Ela queria que este Centauro a levasse para longe daquele lobo! Ela gritou contra sua mordaça.

— Mea se traeio! Vá!

— Silêncio. — O Centauro deu uma sacudida nela, deslocando seu ombro com um estalo. A dor flamejou e ela não conseguiu conter um grito.

O lobo deu um uivo enfurecido de uma distância atrás deles.

Ela choramingou. Ele estava ganhando. Cada galope fazia a dor fresca fisgar em seu braço e ombro.

Quando alguma criatura silvou ao lado deles, o Centauro gritou.

— Nãoo!

Não? Não o que...

Ela ouviu uma pancada sólida, sentiu um impacto de bater os dentes, um osso estalar. O Centauro foi lançado de lado. Enquanto aquele lobo rugia em fúria ainda se aproximando, ela e o Centauro colidiram no chão. Seu aperto diminuiu; ele apalpou-a, mas ela já tinha se inclinado junto ao corpo do cavalo, acima de seu flanco. Saltou acima de algo metálico e afiado — uma espada? — e dor fatiou dentro dela.

Ela bateu no chão com uma pancada, o ar torcendo em seus pulmões. Sua lateral estava cortada, derramando sangue. Mal inalou seu primeiro arquejo apressado quando foi levantada como um goleiro salvo por algum ser que serpenteava pelo chão.

Sua mente lutou com reconhecimento de seu novo captor, até enquanto calafrios passavam pela sua pele. Algum conhecimento inconsciente gritava: Serpente!

Com um silvo molhado para o céu, a criatura aumentou sua velocidade insondável. Soava como se outros de seu tipo estivessem flanqueando-os. Estavam voando através do chão tão rápido que insetos batiam no saco preto de Chloe como em um para-brisa. Então o ser começou a ziguezaguear ao redor de árvores, membros esmagando suas pernas.

Certamente nada podia pegar esta criatura? Nem mesmo um lobo...

Assim que o pensamento surgiu, ela ouviu algo colidindo pelo bosque perto, comparando-se até mesmo com a velocidade fantástica desta coisa.

 

Eles têm minha companheira.

Os pensamentos de Will eram sombrios, sua besta no controle, o Instinto governando-o.

A necessidade de protegê-la... nunca sentira um instinto mais primitivo.

Ao longe ouviu uma zona de guerra, o lobo do seu irmão rugindo, lutando para alcançá-lo; mais perto ouviu sua mulher.

Seu coração parecia parar cada vez que ela gritava. Quanto ela podia resistir? Seu cheiro era tão alto para ele. Seu medo. Seu sangue.

Ele deixou Centauros mortos e com espasmos em seu encalço, ainda podia saborear suas gargantas, podia sentir sua carne embutida debaixo de suas garras.

Agora Cerunnos. Tantos deles, seus corpos escamosos chicoteando ao redor das árvores. Quando o terreno tornou-se um campo aberto, ele ganhou. Mas outra floresta assomava.

Ouviu os gritos dela, os batimentos frenéticos de seu coração. Bum, bum, bum.

Galhos quebrados de cipreste. De alguma maneira correu mais rápido, seus pulmões ardendo. Ele estava em cima deles! Mate todos.

Liberando as garras, estalando mandíbulas. Sangue morno choveu.

Um permanecia, o captor dela. Derrubá-lo sem machucá-la? Afundou suas garras no rabo dele, puxando-o. O impulso enviou a menina voando. Will deslizou pelo ar.

Peguei-a. Ele embalou-a protetoramente, seus braços fechando ao redor de sua companheira trêmula pela primeira vez.

O último Cerunno se enrolou para atacar. Will rugiu, mostrando suas presas ensanguentadas. Tente tirá-la de mim!

Medindo-o com os olhos, ele hesitou. Will lambeu as presas; com um silvo, a cobra sabiamente começou a deslizar em retirada.

Will jogou a cabeça para o ar e uivou em triunfo.

Agora era colocar a besta de volta na jaula...

 

Posição de campo? A vida de Chloe nunca esteve tão fora de lugar antes. Ainda não podia enxergar e duvidava que acreditasse em seus olhos de qualquer forma.

Estava seriamente machucada, com uma criatura mitológica mantendo-a segura em seus braços musculosos.

Apesar de explosões estarem soando à distância, tremendo o chão, na imediata área tudo o que ouvia era a respiração profunda masculina. Inalando, exalando.

Até por baixo de seu capuz podia detectar seu cheiro: verde, cobre e... homem. Seus braços estavam inflexíveis ao redor dela, mas ainda gentis. Pensou que eles finalmente parariam de correr.

Ele uivou mais uma vez como um animal, ferindo seus ouvidos. Quando um uivo de resposta soou, o ser pareceu relaxar um pouco.

— Ei. — Chloe murmurou fracamente contra sua mordaça. — Qm é vcê?

Em vez de tirar o capuz, ele alcançou sua mordaça por baixo. Sentiu-se muito privado, como se ele estivesse colocando a mão sob sua blusa. Ele tirou a mordaça.

Ela passou a língua nos lábios secos, então mexeu a mandíbula para cima e para baixo. Não tinha reserva de força restante, estava congelando, tremendo pela perda de sangue. E o corpo dele se sentia tão quente contra o dela. Ainda…

— Preciso que me solte. — Só me dê um segundo.

— Não posso fazer isso. — A voz dele era profunda, bestial e com sotaque. Parecia ser escocês.

De acordo com o livro, as Highlands eram território Lykae.

— Você vai me machucar?

Silêncio. Ele estava hesitando em responder?

— Você mata imortais como seu pai? Ou a bruxa dizia a verdade?

— Nunca vi imortais antes de hoje à noite. Nem achava que existiam.

— Se não está entre a Ordem, então o que é?

— Centroavante.

— Não entendo.

— Jogo futebol. É o que faço. E... não sei como me meteram em tudo isso. Eu só... corro atrás de uma bola para viver.

— Corre atrás de uma bola.

Aquilo devia ter sido exatamente a coisa certa a dizer a um lobisomem, porque ele soltou seu fôlego preso.

— Não vou te machucar. Vou cuidar para que esteja bem.

Ela teve sorte que esta criatura não a machucaria? Claro, a multidão de Detrus gritara à visão deste, tinha se dispersado pois Chloe era sua companheira.

Ele assustou até os outros monstros. E estava totalmente sob seu poder. Apesar de Chloe ser antes de mais nada uma lutadora, não estava acima de fazer aliados. Seu cérebro nebuloso tentou lembrar mais partes do livro sobre os Lykae.

O vínculo entre companheiros era irrevogável para eles, reverenciado por eles como outros faziam com deuses. Cada Lykae só tinha um, então eles lutariam contra qualquer coisa que tentasse separá-los. Como leiloeiros e licitantes?

— Sou mesmo sua... companheira?

Outra hesitação.

— Aye.

Ela relaxou levemente. Não sabia como isso era possível, mas contanto que ele acreditasse nisso, não a machucaria.

— O-obrigada por me salvar lá.

Ele endureceu contra ela.

— Não tinha escolha. — Ele podia pensar que ela era dele, mas não significava que estava feliz por isso. Devia odiá-la porque era humana e a filha de Webb.

Dustin Todd era o Comandante Preston Webb. Não só um membro da Ordem, mas o líder.

Ela exalou confusa, o movimento fazendo seu machucado arder. Ficou ainda mais desorientada, provavelmente porque estava sem alguns litros de sangue.

— Estou te libertando. — Ele cortou as correntes prendendo seus pulsos.

Ela engoliu em seco. Cortou as correntes com o que?

— Não lute comigo.

Com esforço levantou uma mão para o saco para retirá-lo, mas ele segurou seu braço.

— Ainda não.

— Por que não? — Chuva começou a cair sobre eles.

— Você já… se assustou o bastante por uma noite.

Exatamente o quão horrível ele era?

Ele começou a sentir a cabeça dela pelo capuz de seda. Checando atrás de machucados? Não encontrando nenhum na cabeça dela, gentilmente passou as mãos pelos seus tornozelos, pernas, até as coxas. Ela ficou tensa, mas estava muito fraca para resistir a ele.

Ele soltou uma maldição quando chegou ao seu ombro esquerdo. Deslocado. Ele envolveu sua mão na parte de cima do braço dela. Então, parecendo pensar melhor sobre aquilo, ajustou seu aperto para o que parecia seu polegar e indicador. Com apenas dois dedos e o mínimo movimento, ele torceu. Ela rangeu os dentes quando seu ombro foi colocado de volta no lugar.

Quando a dor afiada diminuiu para um latejar, exalou em alívio, suas pálpebras ficando pesadas.

— O-obrigada. — Aquela voz mole era sua? Quanto sangue perdeu? Por que não podia pensar?

— Corajosa. — ele disse numa voz áspera.

Quando levantou a saia de seu vestido encharcado de sangue, ela não podia lutar com ele, tinha que acreditar que só estava checando seu ferimento. Era profundo e lancinante.

Ele estremeceu contra ela. À visão dele? Ela podia somente imaginar como deveria estar.

Pensou que ele estava tirando sua camiseta. Um som de rasgo soou. Depois de um segundo percebeu que estava segurando sua camiseta embolada contra seu ferimento com a manga amarrada fortemente em sua cintura. Inteligente.

Mas não já era um pouco tarde demais? Sem um hospital e uma transfusão...

— Acha que vou comer poeira? Seja honesto.

Ele congelou.

— O que?

O chuvisco se tornou chuva torrencial, ensopando-a.

— Com certeza... estou sangrando até a morte.

— Morrendo? Nay. Nay. — Sem aviso ele pegou a parte de trás de sua cabeça com uma mão enorme e seu traseiro com a outra. Tentou reunir força para resistir, mas então este homem começou a niná-la, como se fosse a coisa mais natural do mundo. — Tenho você. — ele disse. — Não vai morrer.

Ela podia estar incerta sobre ele; seu corpo não estava. Derreteu contra o dele.

— Isso, minha garota. — Ele a puxou para mais perto.

— Você é tão quente. — Apesar de sua agitação e medo, sabia que estava a ponto de desmaiar no abraço deste estranho.

Quando ele disse.

— Descanse, Chloe, tudo vai ficar bem. — ela estava exausta demais para duvidar dele.

A escuridão estava tomando-a.

— Você me manterá segura?

A última coisa que ouviu antes de desmaiar:

— Ninguém nunca mais a machucará.

 

Will tentou, realmente tentou, odiá-la só pelo que ela era.

Nada feito. Quando o SUV do seu irmão parou apenas alguns metros dele, Will estava ninando a garota inconsciente como se fosse a coisa mais preciosa do universo.

Ela foi tão corajosa, nem mesmo gemeu quando forçou seu braço de volta no lugar. Ela tinha agradecido.

E então ela disse as palavras mais paralisantes que já tinha ouvido: acho que estou sangrando até a morte.

— Ela está muito mal? — Munro perguntou enquanto dirigia para longe, acelerando na direção da cidade.

— Muito mal! — Will deteve a perda de sangue, mas estava pálida e fria. Alcançou o controle do aquecedor, jogando ar quente sobre a pele úmida dela. — Tive que passar por doze Centauros e dez Cerunnos para pegá-la. Eles não foram exatamente gentis com ela!

Ela foi passada entre Centauros e então Cerunnos como uma maldita bola de rúgbi. Cada vez que mudava de mãos, ele experimentara um medo como nunca antes.

Ele inalou, ainda lutando para domar sua besta. Sempre ouvira que nada fazia ascendê-la mais rápido do que uma companheira em perigo.

Se acordasse e o visse assim, a mortal provavelmente teria um enfarte antes de até mesmo chegar a um curador. Seus inimigos imortais se acovardavam diante da besta. Uma jovem humana nunca se recuperaria da visão.

Ele deixaria o capuz por enquanto.

— E onde diabos você estava? — Will disse áspero ao seu irmão. Bem antes de Will ter saído atrás de sua companheira, Munro dissera para encontrá-lo na floresta se fossem separados.

— Lutando para sair da guerra para resgatá-lo! — Foi só então que Will percebeu que Munro estava coberto de sangue e ferimentos também. — Está um pandemônio lá. Você foi a gota d’água. Quando os Vertas perceberam que estava roubando a garota, levantaram e lutaram com os Pravus. Meio que uma aliança real — quem diria que teríamos isso? No mais, lembre-me de nunca me meter com Malkom Slaine. — Ele assobiou baixo.

Chloe começou a tremer ainda mais forte.

— Precisamos chegar à bruxa curadora. Dirija até Andoain. — Will não podia acreditar que estava pedindo a seu irmão para levá-los ao infame grupo da Louisiana, o maldito H.O.W.

— Só lhes custamos uma perda séria de rosto. Vão nos enfeitiçar à primeira vista.

Ambos estremeceram.

— Além do mais, outros estarão nos esperando lá. Irmão, sabe que esta garota é o bem mais valioso do Lore neste momento? Não vão simplesmente se esquecer dela.

Porque era filha de Webb. A besta dentro dele não parecia ligar para isso. O Instinto recentemente recuperado de Will não.

Munro perguntou.

— Que tal um hospital mortal?

— Estão esperando que a gente vá para lá. Além disso não confio nos idiotas mortais. Imprestáveis, todos eles.

— Chegaram longe desde o século passado, Will.

— Pode ser que esteja além dos poderes deles. Por mais que odeie dizer isso, ela precisa de cuidados místicos. Vamos até Loa. — Loa era uma sacerdotisa vodu com uma loja de curiosidades no bairro. — Ela vende poções. Pode ter um tônico curador.

Munro suspirou.

— Música para meus ouvidos. — Loa era uma beleza com curvas abundantes e pele cor de café com leite. Ela tendia a se mostrar em roupas reveladoras. Ele deu a Will um olhar de esguelha. — Você teve uma mudança de opinião sobre sua companheira?

— Quando soube quem era seu pai, imaginei que era como ele, mas acho que ela é... boa. Ela falou a respeito de ser jogadora de futebol.

— Futebol, hein? É assim que sua mulher conseguiu estas cicatrizes? — Ela tinha cicatrizes cirúrgicas em um pulso, um tornozelo e seu joelho esquerdo.

— Não fique olhando para as pernas dela! — Will puxou seu vestido para baixo, acidentalmente rasgando a parte de baixo, deixando-a somente com a parte de cima do vestido, uma bandagem arranjada, e suas roupas íntimas pretas. Ele tomou longos fôlegos para controlar sua besta. Inspire. Expire. Momentos precários se passaram.

— Bom homem. Tomou controle, voltando ao normal. Bem, relativamente. Acho que pode arriscar tirar o capuz dela. Deve estar morrendo para ver como ela é.

Verei o rosto de minha companheira pela primeira vez. Ele nervosamente agarrou as amarras do capuz.

Com uma mão trêmula, ele começou a tirar o material... revelando o rosto dela.

Enquanto Will trabalhava para recuperar o fôlego, Munro deu uma espiada.

— Ouch, e aí está ela. Seu maldito sortudo.

O cabelo úmido dela tinha mechas clareadas pelo sol, cortado bem próximo à sua cabeça. Seus lábios eram carnudos, tinha sardas espalhadas pelo nariz e bochechas. As maçãs do rosto eram proeminentes, como as de uma modelo seriam, mas com seu queixo pontudo, boca carnuda e cabelos curtos, ela parecia uma fadinha.

Ele sentiu o canto do lábio enrolar.

Sua. Seus braços se fecharam fortemente ao redor dela?

Munro disse.

— O timing dela é impecável. Ela é sua moeda da sorte.

O aperto de Will afrouxou, sua excitação diminuindo.

— Olhe para ela. Ela é muito... muito... — Muito tudo o que podia sonhar. — Sabe que há algo inerentemente errado com ela. Deve ser superficial, vaidosa, mimada. Webb deve ter deixado sua marca nela.

— Ela também é jovem, Will. Qualquer dano que Webb possa ter feito pode ser arrumado se for paciente com ela.

— Por que o destino me daria uma humana para proteger? Especialmente esta humana? — Quando estava cru de ódio do pai dela?

— Porque, irmão, você pode aguentar.

O Instinto de Will estava empurrando, sua besta se esticando por ela; resistir à atração era mais difícil do que as torturas que recentemente tinha suportado. Ele olhou para ela, passando o polegar por seu lábio inferior. Era carnudo como um travesseirinho. A parte de baixo projetava-se antes de se curvar nos cantos. Deuses, era uma coisa linda.

— Sua.

Talvez ela seja minha recompensa? Para me ajudar a superar a tortura, ajudar a entender meu passado.

— Parece que terei que aguentar.

— Para onde a levamos depois de Loa? — Munro perguntou. — Meu primeiro pensamento é Bheinnrose. Estaríamos isolados na Nova Escócia, longe de toda a confusão.

— Digo que fiquemos na Louisiana, em Glenrial. Estrategicamente, é mais fácil de defender. — Apesar do complexo consistir em centenas de alqueires, era totalmente murado, com vigilância treinada postada em intervalos. O lugar era simplesmente muito perto dos lares de miríades de outras facções para não ser guardado como um cofre.

— Aye, então farei uma ligação. — Munro falou brevemente com Madadh, chefe da vigilância de Glenrial, explicando tudo que tinha acontecido, dizendo-lhe para preparar o clã para qualquer coisa. Munro desligou assim que chegaram ao bairro, concentrado em dirigir.

O labirinto de ruas de mão única estava cheio de turistas bêbados, polícia a postos e estandes de Lucky Dog[6].

Will abaixou os olhos para Chloe. Sua respiração estava diminuindo? Proteja! Outro flash de medo o atingiu. Não posso perdê-la, justamente quando mal a encontrei.

— Mais rápido, Munro.

Com os lábios apertados Munro fez uma curva fechada à esquerda, indo pela contramão em uma rua de mão única.

— Vou levar a gente até lá, só deixe seu cartão de crédito à mão. Loa ficará puta por não estarmos lá para paquerar com ela.

 

Velas, taxidermia, incenso, maconha.

Como sempre os sentidos de Will estavam sobrecarregados pela cacofonia de aromas dentro da loja de Loa.

O sino acima da porta ainda estava tocando quando ele e Munro invadiram o interior à luz de velas, Will com Chloe envolta firmemente em seus braços. Ele chamou — Loa! — O piso de madeira arranhado rangeu embaixo dos seus pés, mas não houve resposta.

Considerando que a parte da frente da loja era um negócio para turistas — com falsos encantos vodu e bonecas, prateleiras com cartas e velas negras — o fundo era um autêntico estabelecimento do Lore, cheio de mercadorias místicas. Um mercado Lore.

Munro entrou na porta escondida primeiro, Will bem atrás dele.

Loa estava sentada no balcão, lendo alguns livros antigos com Geopolítico no título. Seu sorriso era largo quando disse.

— Gostoso e Gostosão? — Isto esmaeceu quando avistou a aparência de cansaço de batalha deles — e a fêmea de Will sangrando. — Era disso que os espíritos estavam falando “ataque”. — ela disse com seu sotaque ilhéu. — O prêmio do leilão?

— Sim, e está ferida. — disse Will.

— Por que isto seria problema meu? — ela disse, acrescentando sarcasticamente. — Você está comprando de uma bruxa uma poção de cura?

Will bateu o cartão de crédito no balcão.

— É.

Ela ergueu as sobrancelhas.

— Um Lykae procurando um feitiço. O apocalipse é realmente aqui.

— Nós não temos tempo para isso!

Com um dar de ombros, ela disse.

— Corredor cinco. Mas só curam ferimentos não letais.

Outro choque de medo. Não poderia ser um ferimento letal. Enquanto caminhavam em direção ao cinco, Will lia as placas suspensas: CONTRACEPÇÃO, SEDUÇÃO, ENCANTOS, PREPARAÇÃO PARA O APOCALIPSE... então ARTES DA CURA.

Até que enfim! Mas a prateleira estava abarrotada de confusos frascos e jarros.

— Qual, Munro?

Munro gritou por cima do ombro.

— Uma pequena ajuda, Loa?

— Olhem para os preços. — ela gritou de volta. — Vocês querem o mais caro.

Will viu um frasco tampado com um líquido verde limão por 350 mil. Certamente que este custava mais?

Não custava. Este era o mais barato.

Munro vasculhou o resto, pegando um frasco na parte de cima cheio de uma pasta escura como piche, pelo dobro disso.

— Vem com instruções? — Will perguntou quando caminhavam até o balcão.

Loa arqueou uma sobrancelha para ele.

— Seu cartão de crédito não tem saldo.

— O que significa isso? É ilimitado.

— Métodos alternativos de pagamento solicitado. E estou acrescentando uma taxa de higienização, ela está pingando sangue.

Munro já estava pegando a carteira.

— Droga, Loa, sabe que somos bons nisso. — Para Will, ele disse. — Você pode falar com Rónan, ele mencionou fazer algumas despesas. Não tinha ideia de que estava falando sobre compras com cartão no vermelho.

Poderia dar uma merda agora.

— Loa, como vamos administrar isso?

— Rapidamente, se quer que ela viva. Consultou a tabela de vendas ali? O que vai querer fazer é usar um braço para varrer todos os itens para o chão. A um custo. Então quando deitá-la limpe suas feridas com o estojo da Nascente da Montanha da Perdição, depois besunte com a pasta. Ah, e deve mantê-la aquecida com um tipo de colcha de seda de dragão. — Ela entregou-lhe um cobertor branco macio, ludibriando-o completamente.

Indiferente, ele se lançou para a mesa, varrendo a mercadoria para o chão. Conforme os cofrinhos basílicos, globos de neve de Rothkalina e Chifre da Fama quebravam em pedaços, a caixa registradora de Loa cantava ka-ching.

Deitando Chloe, cobriu-a da cintura para baixo com um cobertor. Munro já tinha obtido a água e uma toalha de praia.

— O que mais posso fazer? — Perguntou Munro.

Will respondeu.

— Vigie a porta. Outros podem suspeitar que viemos aqui.

Quando Munro moveu-se Loa passeou, estudando o rosto de Chloe. Ela balançou a cabeça como se Will tivesse dito algo, então se virou para acender velas pretas em um círculo ao redor da mesa.

— Ah, agora você está tentando ajudar? — Ele derramou água sobre a ferida de Chloe, então a avaliou: mais vermelha, mais inflamada do que antes e muito mais profunda do que achava.

Deuses, ela era tão pequena e pálida. Tão... humana.

— Os espíritos gostam dela. Não são muitos os puros de coração que passam pelas nossas portas.

Puros de coração?

— Você sabe quem ela é. Por que eles pensam isto dela?

— Ela é de Webb. Não seguiu o caminho dele.

— Como eles podem saber? — Will que já acreditava nisso, sentiu em seu âmago que era boa.

— A violência e o ódio deixam marcas que os espíritos podem ver. Você está cheio disso.

Você não tem nem ideia.

— Esta aqui não. Além disso, não tem profundos e escuros segredos como você e Munro. — Quando começou a entoar o “Li Grand Zombie”, Will arrepiou-se. Certa vez ouviu a sacerdotisa explicar a diferença entre sua magia e a magia de uma típica bruxa: — A minha é mais escura. Enquanto a delas é baseada na vida, a minha está mergulhada na morte.

Loa deu um meio sorriso, como se alguém tivesse dito algo engraçado. Arrepiante, besteira mística — Lykae odiava isto!

Então, em uma voz ritmada, ela chamou:

— Aqui, Boa! Vem, meu amor!

Convocando um animal de estimação?

— Loa e Boa? Você quer foder comigo?

— Não estou brincando, se é isso que quer dizer.

As luzes começaram a piscar, as velas tremularam. Um ar sinistro sufocou o quarto.

— Aí está você. — ela murmurou, uma jiboia escorregou de um buraco no chão.

Um grande buraco no chão.

— Ah, caralho. — Isto devia pesar uns setenta quilos. Seu instinto estava gritando para que levasse Chloe para longe da serpente, e de Loa. — Ponha essa coisa de volta na porra do buraco, Loa!

Como se Chloe sentisse a cobra, virou seu rosto para a mão de Will.

Imperturbável, Loa disse:

— Boa mantém a morte distante. E sua mulher perdeu muito sangue. Quer que nós a salvemos ou não?

Impassível, ele deu um breve aceno de cabeça. Mas quando a jiboia começou a subir pela perna de Loa como uma trepadeira, quase perdeu a coragem.

Do seu bolso, a sacerdotisa retirou uma pitada de pó, soprando-a sobre o rosto de Chloe. Novamente as luzes piscaram, a vela dançou chamejando.

— Que diabos foi isso?

— Um narcótico. Algo pra dor. — Para o olhar dele, ela disse. — Relaxe. Sua nova companheira está apenas um pouco embriagada.

— O quê?

— Tonta.

Chloe então gemeu, e suas pálpebras se abriram para revelar olhos cor de avelã, os mais lindos que já tinha visto.

— Oi. — ela murmurou, piscando para ele. Ela levantou uma mão, evidentemente, para pressioná-la na testa, mas acabou falhando.

Ele engoliu em seco, a voz rouca enquanto respondia:

— Oi pra você também. — Você é minha companheira. Estou olhando para minha fêmea, para os olhos hipnotizantes dela. Suas íris pareciam ter todas as cores, como quando o sol queima através do mar: ouro, bronze, verde, azul.

Em um momento começou a sentir-se surreal, como se fosse acordar a qualquer momento, de ressaca e engasgando com raiva como de costume.

— Sinto-me engraçada. Hum, estou chapada. Eu acho.

— Estamos tentando remendá-la, docinho. — Ele escovou seu cabelo castanho claro de sua testa. Seus cabelos que secaram com cachos listrados amarelados pelo sol, macios como teias de aranha.

Ela suspirou.

— Você parece diferente do que eu imaginava.

Um jorro obrigatório acompanharia: Você é tão quente, você é lindo, você é sexy...

— Você tem olhos bondosos.

Eu tenho, então? Mais uma vez, sua voz estava rouca.

— Chloe, preciso que fique firme e fique bem.

— Porque sou sua, hum, companheira?

— E por ventura, porque desejo você. Quero conhecê-la melhor.

Ela apontou a esmo para seu lado.

— Passe um pouco de sujeira nisso. Ficarei bem.

— Passar um pouco de sujeira, hein? — Ele repetiu, incapaz de manter a diversão fora de seu tom. — Gosto de sua atitude, moça.

Quando ela sorriu torto, seu coração disparou. Acho que estou explodindo de amor.

Deuses, estava tão ansioso por isso, muito ansioso, correndo apressadamente. A experiência lhe dizia para abrandar, mas essa garota estava despertando sentimentos que nunca experimentou antes. Eram tão diferentes de qualquer coisa que jamais imaginou, que queria aproveitar esses sentimentos com dez garras.

— Não se preocupe, vou cuidar de você. — Ele segurou a mão dela. — Vai ficar bem.

O olhar de Chloe derivou para Loa.

— Aquilo é uma cobra?

Loa disse.

— Ela mantém a morte à distância.

Chloe piscou os grandes olhos para ele e sussurrou:

— Acho que foi a coisa mais estranha... que já ouvi esta noite.

Loa abriu o jarro medicinal e lhe entregou. Ele cheirou. Alcaçuz? Com uma careta enfiou dois dedos na pasta enfeitiçada, puxando uma quantidade generosa. Ele murmurou para a sacerdotisa.

— Será que isso vai funcionar?

Ela assentiu com a cabeça.

— Entre isso, eu e Boa, você está em boas mãos.

Ele disse a Chloe.

— Vou colocar um remédio em sua ferida. — Enquanto Loa cantarolava, ele espalhava o material sobre o corte. Este borbulhou como peróxido de hidrogênio, fazendo Chloe estremecer. Suor pontilhou sua testa enquanto ela apertava sua mandíbula contra a dor, sem fazer barulho. Coisinha feroz.

— Essa é minha garota corajosa.

Loa murmurou.

— Mantenha-a distraída, lobo.

— Ah, sim. Uh, para que time de futebol você joga?

Ela chiou.

— Está olhando... para a centroavante do... Seattle Reign.

Ele quase sorriu para seu tom arrogante. Sua companheira era uma jogadora de futebol profissional. Quem teria pensado nisso?

Em seguida as sobrancelhas dele se juntaram. Ela disse que era uma centroavante? Sem dúvida era uma posição muito perigosa, sujeita a ficar com cicatrizes. Iria chutar o traseiro dela para fora do campo.

— Você não é pequena demais para jogar futebol nas grandes ligas?

Imediatamente seus olhos se estreitaram, seu queixo teimoso saliente.

— Isto é futebol. E fiz parte da equipe Olímpica, idiota.

Explodindo — de — amor. Ele solenemente levantou a palma da mão.

— Minhas desculpas.

Ela murmurou.

— Uh-huh. Não se esqueça disso.

Deuses, ela não poderia parecer mais atraente para ele.

Quando as pálpebras dela começaram a se fechar e ficou mole, mais uma vez, ele disse.

— Espere, Chloe, fique comigo!

A sacerdotisa disse:

— Não, deixe-a dormir.

— Não posso perdê-la, Loa. — Porque precisava dela. No curto período desde que a encontrara, as mudanças estavam ocorrendo dentro dele, as coisas estalando de volta ao lugar.

Ele agora tinha um propósito. Era seu protetor. Não haveria mais inatividade. Não haveria mais bebedeiras.

Todo mundo no clã falou de quão gratificante era a sensação de proteger uma companheira, mas nunca imaginou que seria... uma mudança de vida.

Munro abaixou-se para ficar de frente com Will apertando a mão de Chloe, em ambas as dele. Will olhou rapidamente para cima, sem se preocupar em esconder o que estava sentindo.

As sobrancelhas de Munro se juntaram. Com um aceno de compreensão, virou-se para guardar a entrada.

— Apenas deixe o remédio fazer seu trabalho. — Loa disse. — E lembre-se, Boa está aqui.

Enquanto a pasta continuava a efervescer, Will molhou a toalha e lavou a maior parte do sangue cobrindo sua companheira.

Loa trouxe uma camiseta Saints para que ela vestisse. Um cavalheiro não teria olhado para Chloe em suas roupas de baixo. Então, não há problema para mim.

Tirando o que restava do vestido dela, descobriu que sua figura era tão bela quanto o rosto dela. Usava um minúsculo sutiã, cheio com os seios grandes. A calcinha cobria muito, mas também destacava quão estreita era sua cintura, quão tonificadas eram suas pernas. Ele poderia dizer que ela era uma atleta, mas ainda tinha curvas em todos os lugares certos.

O futebol feminino — desculpe, as jogadoras de futebol — era oficialmente seu esporte favorito.

No momento em que estava pronto para aplicar um curativo, a pasta sobre sua ferida tinha secado em uma casca dura. E podia jurar que a cor de Chloe já estava melhor.

— Está coisa é normal? — perguntou, começando a fazer um curativo nela.

Loa assentiu.

— Ela vai ficar bem. — Parecia confiante, mas cansada. Isto deve tê-la esgotado.

— Obrigado, sacerdotisa. Estou em dívida com você.

— Espere até ver sua fatura. Você verá que estamos quites.

Enquanto ele empacotava Chloe no cobertor, Loa disse:

— Você cuidou bem dela e confiou nos espíritos. Eles acabaram gostando de você. Querem que faça um pedido.

Ele pegou Chloe em seus braços, já pensando em levá-la para casa.

— Isso é fácil. Desejo que esta moça seja imortal.

 

— Vamos ver a Filha de Webb! — Rónan exclamou quando Will e Munro invadiram a pousada, cobertos de sangue seco e com companhia.

— Suponho que todos sabem? — Will disse, ajustando sua companheira empacotada em seus braços.

— Nós reunimos forças para protegê-la. — Ben disse calmamente. — Temos Madadh para nos dizer o que está acontecendo.

Um telefonema mobilizou centenas de Lykae nos muros e fora de seu alojamento. Não era todo dia que um membro do clã encontrava uma companheira, especialmente uma em perigo.

Começando que o punhado de inimigos que estavam reunidos do outro lado do muro não se provou muito desafiador. O Centauro tentou derrubá-los, o que só resultou em uma decoração na grade do Range Rover por preciosos segundos emocionantes.

Mas Will sabia que eles continuariam chegando, aumentando seus números.

Rónan disse:

— Pensei que chegariam em casa horas mais tarde cheirando a perfume de ninfa e cobertos de manchas de grama. Agora traz uma companheira? É a filha do bêbado Webb? — Em um tom inexpressivo, ele acrescentou. — Semelhante procura semelhante, hein? Mas não sou ninguém pra julgar.

Espertinho.

Will olhou para o rosto bonito de Chloe mais uma vez, pensando que sua cor estava voltando. Ela poderia se recuperar da perda de sangue assim tão rapidamente?

— Ela não está bêbada. Feriu-se esta noite. E ela tem um nome, Chloe MacRieve. — Seus ombros foram para trás? Maldição, foram.

— Bem, é seu dia de sorte, senhores. — disse Rónan. — Porque acabei de instalar um feitiço de proteção no alojamento. Ninguém que queira nos prejudicar pode entrar.

Munro foi até a janela, erguendo a mão contra ela.

— Sinto algo aqui.

— O quê? — Will abraçou Chloe mais apertado. — Nós não usamos feitiços e magia. — ele retrucou, bem consciente de que tinha usado exatamente feitiços e magia.

Mas não aqui. E nunca mais. Terreno escorregadio e era tudo.

Munro disse.

— O feitiço pode nos ajudar. Pelo menos os Pravus não serão capazes de simplesmente riscar para dentro e roubá-la.

— Comprei isto daquela jovem, bruxa lindona. — Rónan suspirou. — Ouch, você também iria, se a visse. Metros de pernas, atende pelo nome de Belee. Vende magias de porta em porta, como biscoitos de bandeirantes. Uma quedinha por cinco mil caixas dos de menta, você sabe o que quero dizer?

Munro estreitou os olhos.

— Foi no feitiço que usou o cartão de crédito de Will?

Quando Chloe agitou-se contra ele, Will virou para as escadas, interessado em colocá-la na sua cama pela primeira vez. Munro o seguiu, os garotos correndo pelas escadas atrás deles.

No caminho Will lembrou-se dos materiais perigosos acondicionados em seu quarto. A imundície. Pela segunda vez esta noite, seu pescoço esquentou.

Não podia suportar a ideia dela naqueles lençóis. Para onde a levaria? Os quartos de hóspedes ficavam diretamente ao lado do dos garotos, o que não funcionaria. Ele poderia trocar de quarto com Munro, como faziam com as camisas, ou usar o quarto menor adjacente a este, mas o lobo nele queria sua companheira na sua cama.

Quando se aproximaram da espessa porta de carvalho, Will preparou-se...

Seu quarto estava... impecável? Ele balançou a cabeça para seu irmão.

— O quê? — Munro encostou-se à porta, parecendo com um Padrinho. — Fiz uma ligação lá da Loa. Ainda tem que fazer Chloe gostar de você. Não vi nenhuma razão para carregar os dados contra você desde o início.

Sempre mantendo suas costas.

— Gostei disso. — Will colocou Chloe na cama, cobrindo-a com um cobertor.

— Agora limpe-se também. — disse Munro. — Vou vigiá-la.

Will hesitou em deixá-la por um segundo sequer, mas tinha sangue nele todo.

— Sim, então... — correu para o chuveiro, arrancou as calças, então espirrou água fria sobre si mesmo até que o pior fosse removido. Menos de dois minutos depois voltou enrolado em uma toalha.

Munro acenou para armário de Will.

— Roupas limpas lá dentro.

Will foi para o armário. Nunca se importou em parecer bem; todas as suas roupas eram usadas. Escolheu o seu jeans menos gasto e sua camisa mais agradável.

Rónan perguntou.

— Então, isto é uma situação tal pai, tal filha? Ela também está nessa de cortar e fatiar um Lykae?

De dentro do armário, Will respondeu.

— Ela não sabe sobre o Lore, nunca prejudicou os imortais.

— Beleza.

Uma vez vestido — isto é o que é — voltou para a cama e sentou-se ao lado dela.

— Quando ela acordar, precisamos pegar leve sobre isso. — Will olhou para os dois garotos. — Se eu sequer notar uma pista da besta de vocês... — Ele parou, a ameaça clara.

— Você está preocupado com nosso animal-sábio? Boa, Cabeça Oca. — Rónan sentou-se no lado oposto da cama para estudar Chloe. — Tenho que dizer, muito bem, chefe. Se beleza fosse crime, ela estaria presa. Será que vai cozinhar e limpar? Cara, espero que saiba cozinhar.

Ben deu um tapa na parte de trás de sua cabeça.

— Talvez devesse estar mais preocupado se ela vai se recuperar ou não?

— Ela vai ficar bem. — Will disse rapidamente. — Está se recuperando. — Sim, sua cor estava melhor. Na verdade sua pele agora parecia beijada pelo sol. De dias passados ​​no campo?

Agora que o pior da sua preocupação tinha desaparecido, tinha novas para enfrentar, ou seja, aquela ressaca sexual dele. A mais inusitada? Will soltava seu animal sempre que fodia — algo que nenhum Lykae fazia fora da cama de sua companheira na noite de lua cheia.

Se qualquer fêmea Lorean alguma vez perguntasse o que era ser uma predestinada de um lobo, para ser tomada pela besta sob a luz da lua, Will mostrava-lhes. A experiência namorada? Tente a experiência companheira.

Ou, pelo menos, mostrava-lhes uma brutal e debochada versão disso.

Ruelle moldara Will para ter sexo de certa forma, e em 900 anos nunca foi capaz de remodelar a si mesmo. Para Will, toda noite era noite de lua cheia.

Se tomasse Chloe naquele estado, ela não sobreviveria ao tamanho e a força do corpo dele, sua besta ascendendo. Não sobreviveria à sua mordida Lykae de reivindicação. Muito menos tudo isso junto...

Ele olhou para Munro, que devia ter percebido sua inquietação. Seu irmão acenou lentamente e olhando firme disse.

— Vamos passar por isso. Mantenha a cabeça no lugar.

Como sempre, isso ajudou.

Rónan inclinou-se até que estivesse quase nariz com nariz com Chloe.

— Eu até mesmo chegaria a dizer que ela é tão bonita quanto Belee. Embora seja mais do tipo “Eu como testículos no café da manhã, tipo uma estrela do rock”. Ei, falando de bunda gostosa, agora que você tem uma mulher, posso herdar a pornocópia que encontrei escondida aqui...

Chloe deu uma cabeçada em Rónan, que uivou de dor.

Antes que Will pudesse registrar surpresa, ela se lançou em pé e correu para longe deles.

 

Chloe correu em direção à porta, esforçando-se para manter o equilíbrio. Seu equilíbrio estava baqueado. Arma, ela precisava de uma arma...

Ela correu para o banheiro. Presa. Merda!

Ouviu homens conversando em uma língua estrangeira, palavras ressaltadas com urgência. A porta se abriu... e fechou.

Quando saiu do banheiro com cautela, um homem estava em pé sozinho no centro do quarto com as mãos levantadas.

— Calma, moça.

Ela recuou para um canto. O quarto era amplo e decorado com bom gosto, mas definitivamente o domínio de um homem. Este homem.

O homem mais bonito que já tinha visto.

Olhos de ouro derretido e feições cinzeladas. Cabelos escuros espessos que não conseguia decidir se eram castanhos ou pretos. Ombros largos numa estrutura musculosa. Ele devia ter mais de 1,98 metros de altura.

— Quem é você? Onde estou?

— Não se lembra de mim, de antes?

Como se recordando de um sonho. Memórias obscuras surgiram dele acariciando seus cabelos, murmurando quão valente ela era. Lembrou-se de abrir os olhos, ver luzes piscando ao redor dela. O rosto dele estava sombreado, mas se lembrou de seus brilhantes olhos coloridos. E sua voz.

Sua sexy, sexy voz. Era profunda e grave, induzindo a arrepios.

Esse sentimento de despertar multiplicou-se até que praticamente estremeceu.

Ignore-o, avalie sua posição em campo! Embora sua cabeça doesse e estivesse tonta pelo movimento repentino, avaliou todos os detalhes em seu entorno, explorando saídas, armas, recursos.

— Você está segura, moça. — ele disse. Quando não relaxou a guarda, ele acrescentou. — Nenhum de nós jamais a machucaria.

Ela engoliu em seco.

— Quem é você?

— Meu nome é Uilleam MacRieve, mas pode me chamar MacRieve.

Seu sotaque escocês era quente, de derreter os ossos. Senhor, me ajude. Como disse que era seu nome? Parecia Ooh-lum. Quando tentou pronunciar, ele a cortou.

— Disse para me chamar de MacRieve.

Podia jurar que estava desapontado com isso. O escocês lindo com olhos ambarinos estava decepcionado com ela.

— E você é Chloe. Você se parece com uma Chloe.

— O que é isso de se parece?

Os cantos de seus lábios se curvaram.

— Bonitinha.

Apenas olhar para o sorriso dele fazia seu coração baquear. Ele olhou para o peito dela como se pudesse ouvi-lo e seu sorriso se aprofundou.

Como todos os imortais, os Lykae tinham sentidos sobre-humanos. Ele podia ouvir isto! Com a face flamejando, ela desviou o olhar.

— O que quer comigo? O que aconteceu enquanto eu estava inconsciente?

Ele se sentou na beirada da cama e apoiou os cotovelos nos joelhos. Ela percebeu, então, que usava um jeans surrado, mas usava uma fina camisa preta.

— Depois que a salvei das bruxas, Centauros e Cerunnos, tratei de você, então a trouxe de volta para a casa que compartilho com meu irmão e dois jovens punks que não entendem o conceito de alugar.

Seu tom soava tão normal.

Espere.

— Tratou? — Ela foi ferida na confusão. Então por que não sentia dor em seu flanco? Oh Deus, e se ficou apagada por dias? E como isto poderia, possivelmente, coçar tanto?

— Isso aconteceu hoje à noite?

— Sim. Levei-a para um tipo de curandeira.

Memórias começaram a filtrar em sua consciência: a admissão dele de que era sua companheira, o sangue escorrendo de seu flanco enquanto a chuva caía, o... vodu? Apertou a testa, lembrando vagamente uma mulher sexy com uma jiboia de estimação.

— Você me levou para uma mulher vodu?

— Uma sacerdotisa. — Ele sorriu com os dentes brancos e perfeitos, acrescentando. — Nós esfregamos um pouco de sujeira sobre isto.

Aquele sorriso. Mais uma vez reagiu fisicamente, seu coração acelerando. Alguma vez viu lábios tão beijáveis? Embora pudesse contar em uma mão o número de caras que tinha beijado, podia imaginar em detalhes lambendo aqueles lábios, chupando a parte inferior dele.

Agitação interna.

— Por... por que estou com roupas diferentes? — Alguém trocou sua roupa por uma camiseta Saints que ia até os joelhos.

— Porque sua túnica torrou.

Túnica?

— Não era minha. Puseram-me naquilo. — Deus, seu lado coçava. Quando deu um arranhão encontrou algo duro debaixo de um curativo, algo que queria desesperadamente tirar.

— Tinha sangue por toda parte em você de seu ferimento.

— Então resolveu me lavar e trocar?

— Mal olhei para baixo da cintura. — ele respondeu com uma piscadela sem vergonha.

Um homem olhou para ela sem roupas. O primeiro. E nem ao menos se desculpou. Chloe não tinha tempo para isso. Precisava descobrir o que ela era, o que seria em breve. Precisava encontrar seu pai antes que o Lore o fizesse.

— Aprecio tudo que fez, mas tenho que seguir meu caminho. Você tem roupas para me emprestar?

Seu rosto enfureceu.

— Você quer... me deixar?

Ela não imaginava que isso acontecesse com o cara com muita frequência. Lindo nem começava a descrevê-lo.

— Você está segura aqui, Chloe. Basta ficar por uma noite. Pode ir embora assim que se recupere mais.

Ela se sentia segura com ele, provavelmente porque MacRieve a salvou várias vezes. Ele a curou, assim como tinha prometido. Vou fazê-la ficar bem.

Partir amanhã quando estivesse descansada fazia mais sentido. Mas esta situação estava cheia de muitas incógnitas.

— Você tem alguma, bem, expectativa sobre mim? Já que sou sua... companheira?

— Espero que me deixe protegê-la. — ele disse. — Nada mais do que isso.

Ele estava sendo sincero? Esse cara era bom demais pra ser verdade.

— Você não pode ir embora sem um plano de partida. Aquelas criaturas estarão procurando por você.

— Criaturas. — Sua vida estava uma tempestade de merda. E essa coceira a estava deixando louca!

Talvez MacRieve pudesse responder todas as suas perguntas.

— Ok, ficarei esta noite. — Talvez ele pudesse descobrir o que estava acontecendo com ela.

— Chloe, precisamos falar sobre o que está acontecendo para que eu possa protegê-la melhor. Mas primeiro, está com fome, sede, frio? Está com dor?

Ela não tinha dor em seu flanco, só coceira. Não comera nada durante o dia todo, não estava com fome, nem um pouco. Você está mudando, Chloe.

— Estou com um pouco de frio. — ela admitiu.

Ele se apressou a pegar um cobertor da cama, correndo de volta para colocá-lo sobre seus ombros. Então fez um gesto para um par de cadeiras em frente a uma lareira.

— Vou acender o fogo.

Quando se sentou, ele começou a trabalhar; chamas logo estavam aquecendo o que restava de sua frieza.

Quando se juntou a ela, ele perguntou.

— Sabe onde Webb está?

Ela não divulgaria nada desnecessariamente sobre seu pai, mas admitir que não entendia nada disso tudo parecia razoável.

— Não tenho ideia. Está desaparecido há semanas.

— Ele não fez nenhuma tentativa de entrar em contato com você?

Estava com vergonha de admitir a verdade.

— Nem um pio. Tem alguma ideia de onde ele está?

— Não tenho. Rumores dizem que estava se escondendo. Ninguém no Lore pôde encontrá-lo.

Escondendo? Então por que não a levara com ele? Talvez não quisesse interromper a vida dela.

E talvez não devesse ter deixado a bunda dela tão vulnerável!

A roda da roleta de suas emoções girava descontroladamente. Raiva, medo, tristeza, raiva, medo, tristeza...

Como se lesse sua mente, MacRieve disse.

— Ele a deixou em casa pronta para ser atacada? Você tem sorte de estar viva.

— Como é que o Lore descobriu sobre mim de repente? Duas espécies diferentes estavam atrás de mim em uma noite. E isso foi antes do leilão.

— O que quer dizer com duas?

— Mais cedo naquela noite, de volta à minha casa, pensei ter ouvido alguma coisa lá embaixo. Achei que meu pai finalmente tinha retornado. Em vez disso, lá estava um cara de dois metros e meio de altura com chifres.

— Um demônio, então.

— Bem, quando acertei-o com meu taco de softball, esse demônio esmagou-o como uma latinha.

MacRieve ergueu as sobrancelhas como se estivesse impressionado.

— Você atacou um demônio de dois metros e meio de altura? Tem alguma lutadora dentro de você, não?

Ela deu de ombros.

— Por todo bem que isto faz. Quando corri dele caí por um alçapão e acordei com as bruxas ao meu redor.

— Detesto bruxas. — Seus olhos cor de âmbar cintilaram com um azul-gelo de outro mundo. — Elas devem ter descoberto sobre sua existência e usaram a vidência até você. Talvez o demônio tenha atrapalhado os planos delas. Essas bruxas são criaturas detestáveis​​. Você sabe o que elas eram?

Ela assentiu com a cabeça.

— Eu me lembro. São mercenárias místicas.

O olhar dele se estreitou.

— Pensei que não soubesse sobre o Lore.

— Sei tudo sobre ele. Apenas nunca imaginei que fosse real. — Para a cara feia dele, ela disse. — Li o “Livro Vivo do Lore”. Antes desta noite, pensei que fosse ficção.

— Quem te deu o livro?

— Meu pai. Mas nunca tive a chance de falar sobre isso antes dele desaparecer. Ainda tenho dificuldade em acreditar que Detrus são reais.

—Cuidado com a língua, moça. — Mais uma vez os olhos de MacRieve faiscaram. — Ninguém gosta de ser chamado de uma vil abominação.

— Eu... pensei que fosse um genérico para, uh, criaturas mitológicas.

— Loreans. Fique com essa palavra.

— Hum, tudo bem. — Ótimo. Ela insultou a única pessoa neste mundo inteiro do Lore que foi decente com ela.

— Você leu sobre os Lykae?

— Li. Mas ainda tenho dúvidas. — Dezenas delas. Quando ele acenou, ela perguntou. — Você tem um bando? Quantos de vocês estão lá? — Será que passava por eles na rua todos os dias? — Há alfas e betas?

— Nós temos um bando, mas a maioria deles pertence de alguma forma ao clã MacRieve. É um reino, afinal.

— Kinevane é a sede real.

Ele acenou com a cabeça.

— E sim, há alfas e betas. Você está olhando para um dos primeiros. Lykae é um número na casa de centenas de milhares.

Seus lábios se entreabriram. Tantos?

— Então você é um... lobisomem. — E um alfa, pra começar.

— Não nos transformamos em lobos. Não como nos filmes. Cada um tem o espírito de um lobo dentro de si. Chamamos isso de nossa besta, às vezes ela ascende e assume o controle. A leigeil a'mhadaidh fa sgaoil.

— O que significa isso?

— Deixando a besta fora de sua jaula. Uma vez que é totalmente ressuscitada, então pode vê-la.

— Com que você, isso, se parece?

— Quando um Lykae se transforma, ele o ofusca ou a ela. Também cresce presas e garras, e seu rosto muda um pouquinho. Ele fica... maior.

Maior? Ele já lhe sobressaía em vários centímetros de altura.

— Isto não parece tão ruim. Então por que os outros Loreans gritaram ao vê-lo?

Ele esfregou a palma da mão sobre o rosto, parecendo desconfortável.

— Leva algum tempo para se acostumar.

— O que a faz ascender?

Os olhos dele afastaram-se dos dela, quanto disse.

— Para a maioria, é uma ocorrência frequente. O Lykae acasalado ascende a cada lua cheia. Caso contrário ela permanece dormente, a menos que uma companheira ou filhote esteja em perigo. Algo nesse sentido.

— Como sabe que sou sua companheira? — Mais uma vez acreditava que ele acreditava nisso. Não queria dizer que isso fosse um fato. Se fosse... eu estaria pirando agora.

— Os Lykae têm um Instinto, uma força orientadora, uma vontade mais desenvolvida, mais do que em outros metamorfos. Quando senti seu cheiro o Instinto me disse que você era minha. — ele disse, mas teve a impressão de que estava simplificando sua resposta ou retendo muitas. — Esperei minha vida inteira para sentir esse perfume.

— Exatamente quantos anos você tem?

Seu desconforto pareceu se aprofundar.

— Tenho alguns anos. Algumas vidas. Mas parei de envelhecer aos trinta e dois anos, não muito mais velho que seus 24 anos.

Ela se perguntou como sabia a idade dela, então se lembrou de que foi anunciada no leilão.

— O que essas criaturas teriam feito comigo se não tivesse me salvado?

Ele hesitou como se pesando os prós e os contras do que estava prestes a dizer.

— Por favor. Preciso saber.

— Estupro e tortura. Uma vez que encontrassem Webb, eles a teriam matado.

A náusea agitou.

— Por causa do envolvimento de meu pai com imortais?

— Sim. Ele é um comandante na Ordem, uma organização mortal que procura capturar e estudar imortais para que possam se superar em nos exterminar. Acreditamos que ele tem ligações com os militares.

— Exterminar. — Assim como a anotação naquele livro. Seu pai a deixou porque estava se tornando uma imortal? Uma abominação vil?

Raiva, medo, tristeza, raiva, medo, tristeza...

— Chloe, seu pai é um assassino.

— Ele tem sido um pai adorável pra mim. Solidário e amoroso. — Ela beliscou a ponte de seu nariz. — Então ele mata criaturas serpentes e Centauros que estuprariam sua filha? Mata bruxas que a leiloaram? Sem ofensa, mas não estou vendo um problema.

— Seu pai tenta nos aniquilar, apesar dos Lykae não prejudicarem os humanos. Nem os membros de minha aliança. Não como os imortais Pravus fazem. Já ouviu falar deles?

— Sim. Eles ganharam a licitação.

— Eles são os monstros dos mitos. Infelizmente a Ordem não faz distinção entre nós e eles.

Isso lhe deu uma pausa.

— Meu pai não é intolerante ou preconceituoso com os humanos, por que seria com imortais? — Agarrou-se à ideia de que tudo isso era um mal entendido.

— Não sei. Mas seus capangas fizeram coisas que não podem ser perdoadas. Famílias foram dilaceradas. Crianças órfãs, algumas capturadas. — Os olhos de MacRieve brilharam mais uma vez e suor escorria de seu lábio superior. — Os cientistas torturam prisioneiros de maneira doentia, vivissecando-os enquanto ainda estão conscientes.

— Você está dizendo que meu pai era responsável por tudo isso?

— Ele ainda é. Havia cinco prisões. Ainda restam quatro. Juro pelo Lore que o que estou dizendo é verdade, e isso é uma promessa que poucos Loreans podem quebrar.

Podia acreditar nesse estranho? Quando se lembrou daquele pedaço de papel no Livro do Lore, Chloe percebeu que não podia descartar o que este Lykae estava dizendo.

Mas também não podia aceitar que seu pai machucasse crianças, não importando sua espécie.

— As pessoas no leilão queriam usá-la para atrair seu pai. — disse MacRieve. — Você é a única conduzida ao Lore, parece. Ninguém pode encontrá-lo e assim muitos anseiam vingança. Sem mencionar a localização das outras prisões. Eles querem seus filhos e companheiras de volta, seus irmãos e amigos.

Ela olhou para cima.

— Então por que você estava no leilão?

Ele entreabriu os lábios, mas não disse nada.

— Oh. Oh, não! Você perdeu um familiar? Filhos? — Diga não, diga não.

— Não posso ter nenhuma criança, exceto com minha companheira. — Seu olhar dourado a alfinetou. — Com você.

Ela engoliu em seco. Essa coisa toda de companheira era enervante.

— Você não respondeu à pergunta.

— Não perdi ninguém, mas não vou mentir para você, estava entre aqueles em busca de vingança. Tenho tanto a reclamar disso como qualquer um deles.

— O que aconteceu com você? Ficou em uma daquelas prisões?

A tristeza na expressão dele balançou-a.

— Essa é uma discussão para outra noite.

Ele esteve! Querido Deus, ela já devia ter ouvido de sua captura. Pensou que seu rugido furioso soava familiar. Se ele não perdeu alguém e queria vingança, então foi torturado. Seu pai poderia ser responsável pela tortura deste macho.

O único que tinha salvado sua vida.

Se havia uma coisa em que Chloe acreditava era que havia exceções para cada regra. Ela mesma era uma exceção. Enquanto o resto de suas companheiras de equipe tinha pernas longas como gazelas, Chloe era um pequeno texugo, não tinha exatamente o físico de um craque. Mas trabalhava dez vezes tão duro quanto elas, e prevaleceu.

Se outros Lykae eram maus o suficiente para serem... exterminados, então ela só descobriu a exceção em MacRieve. E por falar nisso, Chloe não era má, mas seu pai havia lhe mostrado o livro — tinha lhe mostrado as palavras manuscritas como uma praga suja e abominável.

Obviamente, a Ordem era falha.

— Você não sabia nada sobre o que seu pai estava fazendo?

— Deus, não! E se tivesse nunca teria aguentado isso!

Com as palavras dela, ele exalou uma respiração reprimida.

— Então você... não nos odeia apenas porque Webb o faz?

— Posso pensar sozinha.

A expressão dele aliviou.

— Bom saber que não vai querer minha cabeça em uma bandeja apenas pelo que sou.

— E como está lidando com o fato de que sou Filha de Webb? Parece que queria minha cabeça em uma bandeja justamente pelo que sou.

— Isso pode ter sido verdade uma vez. Não mais.

— Vai me machucar em retribuição a ele?

— Não! — Ele deu-lhe um olhar como se a própria ideia fosse ridícula. — Nunca te machucaria.

— E a ele?

— Chloe, é complicado. — Ele transpassou os dedos pelos cabelos grossos. —As coisas mudaram, sei disso, mas preciso pensar nisso por mais algumas horas. Por enquanto deixe-me desfrutar de estar com você. — Ele levantou-se, em seguida, aproximou-se dela. — Estive esperando há muito tempo por você.

Ela levantou-se também. Podia sentir o calor saindo do corpo dele, podia deleitar-se com seu perfume másculo.

— Vamos resolver tudo isso pela manhã. — Ele chegou ainda mais perto. — Tenho outras coisas na minha cabeça agora.

O deus Escocês estava flertando com ela? Sentia-se perturbada pela primeira vez na sua vida. Despertando!

Antes, sempre que se sentia atraída por um cara e pensava em agir a respeito disso, ficava cheia de medo. Nunca falou com outros, nunca foi capaz de compreender isto, mas só a ideia de falar com um garoto gostoso deixava-a apavorada, como se estivesse prestes a embarcar em uma viagem da qual não houvesse retorno. Como se devesse haver um sinal de neon piscando sobre a cabeça de cada homem “AQUI EXISTE DRAGÕES!”

Ela nunca tinha namorado, apavorava-se como uma covarde. Mas agora não sentia pavor, mais antecipação, como se talvez seus sonhos pudessem se tornar realidade.

— Outras coisas na cabeça?

— Como te beijar pela primeira vez. Ah, Chloe, seu coração acelera quando olha para meus lábios.

Seu rosto corou de vergonha.

Bem quando estava prestes a fazer uma observação esperta, ele disse.

— Meu coração não desacelerou desde que a vi pela primeira vez.

Ela encontrou-se molhando os lábios. Mas, depois de tantos anos celibatários e tanta cautela com os homens, essa fácil aceitação era tão desconcertante quanto o medo.

— Eu... preciso de um banho. — ela deixou escapar, esquivando-se para longe dele.

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Estou precisando de um também. E gostamos de economizar água por aqui.

 

MacRieve perseguiu seus calcanhares enquanto ela caminhava em direção ao banheiro. Após seu comentário, tudo o que podia pensar era em tomar banho com ele. Ensaboar seu grande corpo...

Na porta, ela o encarou.

— Posso ter um pouco de privacidade?

Ele piscou e ela teve a sensação de que pediu por algo que ele considerou estranho.

— Fora, MacRieve! Xôo.

Ele se recusou a ceder.

— Você perdeu litros de sangue hoje. E se ficar tonta e escorregar? — Então deu um olhar de compreensão. — Isso poderia realmente matá-la. Porra. Você pode morrer de uma queda no chuveiro!

Apesar de muitas vezes xingar como se estivesse perdendo a elegância — de que outra forma poderia insultar o adversários? Ela não estava acostumada a homens fazendo isso perto dela.

— Deve manter a porta aberta, Chloe.

Ela ousaria se arriscar? O box era tão grande como um quarto, com um vidro de pelo menos dois metros de altura. Ele não seria capaz de vê-la. A ferida estava coçando como louca e seu cabelo estava sujo, com verdadeiras partículas de sujeira.

— Tudo bem. Desde que não entre.

— Não vou. — Ele apoiou as costas contra o batente da porta e cruzou os braços na altura do peito enorme.

Quando conseguiu parar de olhar para ele, virou-se para o chuveiro. No box tirou a camiseta, a roupa íntima e o curativo, franzindo a testa ao encontrar uma concha preta dura sobre seu flanco.

Quando entrou debaixo da água, ela gemeu de prazer.

— Moça? — Ele chamou.

— Nada.

Quando o vapor encheu o banheiro, a concha sarnenta sobre seu flanco soltou até que foi capaz de descascá-la como papel maché. Ela ficou boquiaberta com o que foi revelado, apoiando-se contra a parede.

— Ai, meu Deus.

— O que foi? — Sua voz estava em pânico e ele estava entrando no banheiro.

— Saia daqui!

Ele não chegou mais perto, mas não quis sair.

— Não até que me conte.

— Minha ferida está completamente curada. — Com uma nova cicatriz legal.

— Huh. Não achei que fosse se curar tão rápido. E seus outros ferimentos?

Ela revirou os ombros. Sem dor. Procurando por contusões, não encontrando nenhuma.

— Estão todos excelentes.

— Então cuidei bem de você, exatamente como prometi. Então, por ventura, pode começar a confiar em mim um pouco?

— Não é que necessariamente não confie em você. Apenas não quero que me olhe.

— Minha companheira é do tipo tímida, heim? — Suas palavras roucas foram acompanhadas de um jato de água sobre seus seios.

Tímida? Dificilmente. Mas Deus, o jeito como ele disse minha companheira fez seu coração acelerar de novo.

— Você está cem por cento certo de que sou... sua? Quero dizer, quando sente meu cheiro, não é apenas o cheiro de um mero humano?

— Sim, você é mortal.

Resultou de que permaneceria assim, transformando-se apenas até certo ponto, diretamente até seu gatilho.

— É normal que um Lykae tenha uma companheira mortal? Ou será que isso significa que tenho um Lykae em algum lugar na minha linhagem?

— Você não tem que ser um Lykae para ser acasalada com um. Meu primo casou-se com uma bruxa. Nossa rainha é uma vampira.

Então tem uma gama completa de companheiras Lykae? Talvez ela fosse realmente a dele. Não significando que ele seria o dela.

— Algum companheiro Pravus? Ou você matou cada um deles com quem se deparou? — ela disse suavemente.

Ele não correspondeu ao seu tom.

— Eu me esforcei. — ele disse com toda a seriedade.

— Ah. — Se estava se transformando em um daqueles, ele iria matá-la também? Autopreservação, Chlo. Ok, ela não perguntaria sobre seus sintomas. — Então quão frequentemente mortais e imortais se vinculam?

— Não frequentemente. Mas não é desconhecido. — ele acrescentou rapidamente.

— Entendo que sinta uma ligação comigo, mas se não sou uma Lykae... não deveria estar esperando algum tipo de compulsão para gostar de você também? — Embora não se sentisse compelida, este súbito desaparecimento de seu pavor habitual a intrigava.

— Não. Vou conquistá-la com meus próprios encantos.

Dos quais havia bastante. Ei, não prometeu a si mesma que se ficasse perto da rede, ela marcaria?

Não, má ideia! No que estava pensando? Mal conhecia esse cara.

— É isso mesmo?

— Ah sim, e vou ganhar, minha Chloe. Não é todo dia que uma sexy atleta olímpica cai no meu colo.

Olímpica. Hoje à noite ela tinha tudo, mas aceitou que tivesse algum tipo de sangue imortal. Os jogos estariam fora de seu alcance para sempre? O sabão escorregou de sua mão amolecida quando ficou claro para ela o quanto perderia.

Família, uma medalha em potencial, amigos.

Ela tinha seu futuro planejado. Estava conseguindo seis dígitos com patrocínios Olímpicos em seu horizonte. Papai deveria estar lá torcendo na primeira fila quando sua equipe ganhasse o ouro.

Ela se encolheu, lembrando de todo aquele punitivo treinamento que sofreu na Flórida. Cabeçada após cabeçada, até sua testa inchar. O gelo anestesiando suas articulações enquanto queimava sua pele. O suor ardendo seus olhos. Escondendo sua falta de apetite de uma equipe de mulheres, de treinadores mais atentos e médicos.

Tudo por nada.

Passe um pouco de sujeira nela. Apesar de sua situação parecer sombria, havia um lado positivo. Pensou que morreria hoje cedo, agora estava completamente curada. Na verdade, além de estar com sono, sentia-se bem fisicamente. Fora tão miseravelmente solitária antes, agora um deus escocês não conseguia chegar perto o suficiente dela.

Ele salvou sua vida, lutou contra monstros por ela.

— Vou buscar uma camiseta. Não se mate enquanto eu estiver fora, mortal.

Ela quase sorriu. Ele estava falando sério ou brincando com ela? Sentiu a jovialidade dentro dele. Supôs que iria descobrir em breve.

Dois segundos depois, ele disse.

— Como vamos fazer enquanto eu estiver fora?

— Algumas ligações próximas.

Ele riu.

— Estou começando a achar que pode ser muito sabidinha. Mas gosto disso.

A água jorrava sobre ela. A voz dele vertia sobre ela. Como poderia chamar sua simples voz à mente, naqueles sonhos maus tão facilmente? E se saísse e ele a beijasse com seus lindos lábios?

Não pense sobre o homem sem rosto... não acho...

Tarde demais. Seu desejo aumentou. Ela colocou as mãos contra a parede, seus dedos curvando. Talvez ele fosse o macho sem rosto que faria coisas deliciosas para ela.

— Ei, Chloe, está tudo bem? — ele perguntou, sua voz retumbante.

— É c-claro! — Oh, Deus, ele podia ser capaz de sentir o cheiro dela! Ela despejou meio frasco de xampu na cabeça, deixando-o cobri-la por todo o caminho abaixo.

 

Quando Will sentiu sua excitação, seu corpo disparou enrijecendo com a tensão, seu eixo preparando-se para ela.

Ela devia estar se sentindo melhor. E, Deuses, devia ser vigorosa.

Ele gemeu interiormente. Mas não posso fazer nada a respeito disso. Não sem sua besta ascender. O mais difícil ele conseguiu, no mais teria garra dentro dele, com os dois eternamente vinculados. Esfregou a palma da mão no rosto. No momento em que estivesse pronto para o cio, estaria totalmente na dianteira.

Sua besta já estava se agitando, despertada pelo aroma dela. Se Will perdesse o controle por um segundo poderia matá-la.

Inspire, expire. Controle-se, Will. Uma vez que adquiriu algum controle mais uma vez, a peculiaridade da situação acertou-o. Ele estava lambendo os beiços sobre a filha de um homem que desprezava, que desejava destruir. Mas sem Webb não haveria Chloe.

Will nunca teria recebido sua companheira.

Chloe tinha perguntado antes se ele machucaria Webb. Seus olhos se estreitaram. Se Will pudesse tomá-la, teria conseguido vingar-se. Nada poderia destruir Webb como o conhecimento de que sua amada filha estava comprometida com um Detrus. Will odiava pensar nesse sentido, mas lá estava.

Fechando a água Chloe tateou através do vapor pela toalha. Ele avançou para entregá-la a ela.

— MacRieve! — Ela já tinha virado de costas puxando a toalha para seu corpo, de forma rápida envolvendo-a em torno de si mesma.

— Estou apenas ajudando. — E dando uma olhada na minha mulher.

Ele só pegou o mero vislumbre da bunda dela: atrevida, generosa, o tipo de bunda que ainda estaria se movendo por uma empolgante fração de segundo depois que ela se acalmasse. Ou depois que fosse espancada.

Ele quase gemeu com o pensamento. Deuses, o futebol a tinha deixado adequada.

Viu o suficiente para torná-lo chocado e duro como pedra. O que significava que sua besta já estava espreitando dentro dele.

Não, Will não foi capaz de se refazer depois de Ruelle. Olhou para sua companheira. Mas então eu nunca tive um motivo real até agora.

— Vamos, Chloe, você é sempre tão tímida? — Ela ainda estava em pé no chuveiro.

— Não, não sou. Sou a garota que anda por aí nua no vestiário.

Um bufar de lobo escapou de seus lábios enquanto imaginava isso. Se não tivesse surgido antes... Em uma voz estrangulada, ele disse.

— Em seguida você vai dizer que gosta de luta de travesseiros nua.

Como se ele não tivesse falado nada, ela continuou.

— No entanto, só porque não sou tímida, isso não significa que vou correr na sua frente.

— Ainda não. — Seus lábios se curvaram. — Vai ficar aí a noite toda?

— Depende de quais são seus planos.

— Você não quer uma camiseta limpa? — Ele balançou-a sedutoramente.

Com os lábios apertados, cautelosa como uma presa, ela saiu de toalha.

Sim, sua cor tinha retornado. Sua pele estava bronzeada, com pequenas finas linhas sexys sobre os ombros. Ele queria provar sua pele. Apenas um gosto fugaz dela. E então vou ser bom.

Uma gota escorreu pelo pescoço dela e ele a seguiu com os olhos. Ela notou, tremendo em reação. Tão sensível, sua companheira.

Antes que pudesse se deter, mergulhou e apertou os lábios abertos pela queda, lambendo-a. No ouvido dela, ele disse.

— Você não precisa de toalha, não enquanto me tiver por perto. Vou cuidar de cada centímetro seu.

Quando se afastou ela estava respirando ofegante, as pupilas dilatadas. O cheiro melado de sua excitação encheu os sentidos dele.

Ela estava prestes a sair, e ele não poderia fazer porra nenhuma sobre isso sem correr o risco de um desastre.

Então ela pareceu acordar. Seus vívidos olhos brilharam constrangidos. A pele suave do seu rosto corou.

Estava extremamente adorável, isto o machucava. Inclinou a cabeça para ela. Talvez sua Chloe fosse virgem?

Uma delicada virgem mortal? Ele recuou um passo.

— Você me tenta, docinho. Deuses, você me seduz. Mas está ferida. Precisa ficar deitada.

— E se eu não estivesse ferida?

— Então estaríamos deitados agora mesmo. — ele mentiu, entregando a camisa. Quando ela levantou as sobrancelhas, ele se virou para que se trocasse.

Mesmo vestida ele a levou para a cama, ainda parecia um pouco atordoada. Quando puxou as cobertas e os lençóis limpos — abençoado seja, irmão — ela perguntou.

— Como está lidando com isso, MacRieve?

— Como assim?

Ela rastejou para debaixo das cobertas, com a aparição de coxas tonificadas. Misericórdia.

— Isto deve ser um choque pra você também. Estava apenas cuidando do que era de sua conta, e de repente — zás! — você tem uma companheira.

Ela estava preocupada sobre como ele estava levando isso?

— Você é o que nós consideramos Outro. E acho que pode ser a primeira Outra fêmea que já perguntou como um Lykae macho está levando tudo isso.

Ele se lembrou de seus primos que tinham companheiras não Lykae. Cada uma dessas mulheres tinha entrado em pânico com a simples ideia. Garreth até mesmo havia atirado nele.

— Estou lidando com isso muito bem. — ele disse, surpreso ao descobrir que era verdade.

Porque você é a minha tábua de salvação. Podia ver isto tão claramente agora. Ela era sua moeda da sorte, encontrada no momento que mais precisava dela.

Tudo estava se encaixando. Seu instinto tinha retornado. Havia esperança.

Mas se Chloe era a sua cura, Nïx era a causa. No leilão ele reconheceu o que a Valkyria fez por ele. Agora percebeu o que ela fez por Chloe.

Se não fosse por Nïx, Centauros teriam estuprado Chloe. E usariam seus próprios curandeiros nela, para que pudessem fazer isso repetidas vezes. Com este pensamento a bile subiu em sua garganta.

Uma vez que tivessem capturado Webb, poderiam permitir que ela morresse.

Uma rajada de ar o deixou. Nïx, sua linda cadela.

Ele queria agarrar essa Valkyria e beijá-la, em seguida perguntar por que não podia ter apenas mandado uma mensagem para ele estar lá.

Não importa, teria passado por essa tortura mil vezes para poupar Chloe de um destino como aquele.

— MacRieve, aprecio tudo que fez por mim. Você salvou minha vida.

E você salvou a minha. Não podia esperar para rasgar sua passagem de avião. Quando olhou para o rosto adorável dela, sentiu vergonha de tê-la comprado.

— Mas se eu ficar aqui estarei trazendo essas criaturas Pravus sobre sua cabeça. E as outras pessoas que vivem aqui?

Preocupada por eles? Não podia acreditar que temia que essa garota fosse como seu pai.

Ela merecia alguém melhor do que Will, alguém não tão cansado, alguém que pudesse fazer amor com ela. Alguém... mortal. Ninguém apto. Ele teve o pensamento passageiro de que deveria deixá-la ir.

No entanto, quem poderia protegê-la mais intensamente do que Will?

Nem uma maldita alma.

— Shhh, Chloe. Meu clã está pronto para qualquer coisa. Está segura aqui. Agora as minhas mínimas necessidades mortais de dormir para terminar a cura.

Ele deitou-a, prestes a uivar da retidão ao vê-la em sua cama. Diabos não, não desistirei dela. Finalmente uma relação que poderia ser motivo de orgulho.

— Durma, moça. Cure-se. Vamos trabalhar tudo isso amanhã. — Ele se inclinou para pressionar suavemente seus lábios nos dela, e ela deixou, mesmo suspirando.

Seu primeiro beijo em séculos. Em gaélico, ele disse.

— Nosso último primeiro beijo.

Suas pálpebras se fecharam e sua respiração se aprofundou. Pouco antes de ela deslizar para o sono, ela murmurou.

— Eu poderia me acostumar com você.

 

Quando Chloe acordou, encontrou MacRieve sentado em uma cadeira ao lado da cama com os cotovelos sobre os joelhos.

Olhando para ela.

— Estava esperando você acordar. Sempre dorme tanto assim? — Ele lhe deu aquele sorriso. Parecia descansado e estava bem barbeado, vestido com outra calça jeans, uma camiseta de manga comprida preta que abraçava seus músculos peitorais e botas de aparência cara.

Em outras palavras, estava ainda mais lindo do que na noite passada.

Ela sentou-se, passou os dedos pelos cabelos, descobriu uma bagunça.

— Quanto tempo estive apagada? — Pra começar percebeu o quão duro seus mamilos estavam sob a camiseta branca e levantou o lençol para escondê-los.

Ela foi tragada por esses sonhos maus. Só que agora o homem tinha uma face — MacRieve. Nessas cenas, ela explorou o que poderia ter acontecido se o deixasse tirar a toalha, e deixar seu corpo à mostra. Se o deixasse lamber a água de sua pele...

Pense em outra coisa ou ele vai saber!

— Você dormiu a manhã toda. Imóvel como morta.

— E você ficou apenas sentado aí me observando? Isso não é nem um pouco assustador.

— O que mais poderia fazer? — Ele perguntou genuinamente intrigado. — É claro, você me fez marchar sempre que seus sonhos se alteravam. — Ele se levantou e fez isso agora. — Fiz tudo o que podia para não cair em cima de você na cama.

Ela engoliu em seco.

— Como sabia que eu estava sonhando?

— Seu ritmo cardíaco e respiração.

Ela ergueu o queixo.

— Poderia ser um pesadelo.

Ele parou para encará-la, suas pálpebras ficando pesadas.

— E seu cheiro.

Suas bochechas queimaram de vergonha.

— Preciso me vestir. Pode me emprestar mais algumas roupas?

— Nós angariamos algumas no clã. Coloquei tudo naquele guarda-roupa. — Ele apontou para um pedaço de carvalho imenso, o qual não se lembrava de ter visto na noite passada. — Só até que eu possa comprar novas para você, naturalmente.

Comprar novas?

— MacRieve, agradeço sua... hospitalidade, mas não posso ficar aqui por mais tempo.

Ele olhou para ela com um meio sorriso, como se estivesse brincando.

— Estou falando sério. E se meu pai aparecer aqui? Você o mataria. Não vou ficar sentada aqui e agir como isca.

— É essa a sua única objeção?

— Tenho coisas que preciso fazer. — ela disse. — Tenho minha própria vida. E não quero pôr em perigo a de ninguém.

— Deve se vestir para que eu possa te mostrar uma coisa.

— O quê?

— Os obstáculos para que você parta.

Ao lado da cama ela hesitou. Ele parecia estar esperando intensamente por uma visão de suas pernas, os olhos fixos sobre a beirada do edredom.

— Hmm, privacidade?

Ele levantou a cabeça.

— Você quer? — Ante seu olhar exasperado, ele suspirou. — Tudo bem então. Privacidade. De mim. — Aproximou-se dela e deu um beijo em sua cabeça, inalando o perfume de seus cabelos. — Você é adorável, sabe disso? Encontre-me na cozinha para o café da manhã.

Assim que ele saiu, o quarto pareceu maior. E muito mais... chato.

Mais escuro.

Se não tivesse cuidado poderia ficar encantada com ele. O que era uma má ideia em muitos níveis. Primeiro, ele e seu pai matariam um ao outro assim que se vissem. Em segundo lugar, ele era um Lorean. E, terceiro, ela não sabia o que era.

Arrastou-se até o guarda-roupa encontrando roupas caras, muitas delas claramente nunca usadas. Havia vários pares de sapatos e alguns produtos de higiene pessoal também.

Calcinhas rendadas ainda com as etiquetas preenchendo uma gaveta forrada de seda. Muito longe de seus sutiãs esportivos e calcinhas Under Armour.

Espere. Foi ele quem encheu o guarda-roupa? O pensamento dele lidando com as calcinhas que pretendia que usasse fez o rosto de Chloe corar. Com vergonha? Ou aquele despertar estranho...?

Depois de tomar banho novamente e escovar os dentes, arrastou-se em um jeans que se ajustava um pouco firmemente sobre sua bunda e uma blusa de camponesa, que mostrava mais decote do que estava acostumada. Deslizando em sandálias que completavam o conjunto.

Em frente ao espelho, ela correu os dedos pelos cabelos molhados — o mais próximo que chegou a modelá-lo — e avaliou sua aparência.

A roupa parecia elegante, mas muito mais feminina do que seu vestuário habitual. Pela maior parte do ano usava chuteiras, calções de futebol e camisetas de treino.

Uma roupa como esta parecia exigir maquiagem, da qual não se incomodaria. Em concessão apertou as bochechas, testando um sorriso.

Embora se considerasse bonita, assim como MacRieve a tinha chamado ontem à noite, ele estava mais para a liga de supermodelos de pernas longas que viveriam para sempre com ele. No entanto este homem não conseguia tirar os olhos de Chloe, apelidada de Bebê T-Rex, uma jogadora de futebol nanica sem artifícios femininos.

Sabia quão atado com ela estava: foi obrigado a querê-la por seus instintos. O interesse acentuado de MacRieve nela estava alimentando a paixão de Chloe?

Quando desceu as escadas e entrou na cozinha o rosto dele se iluminou como se ela fosse uma rainha da beleza desfilando em um vestido de noite.

— O que gosta de comer?

Antes de seu recente declínio de apetite, era uma grande comilona. Abriu a boca para listar todos os seus alimentos favoritos de treinamento, apenas para lembrar que nunca mais poderia treinar de novo. Se não retornasse para Madri em tempo... se sua imortalidade fosse acionada...

MacRieve havia pronunciado sua humanidade na noite anterior. A questão era: como ficar desse jeito? Seria possível encontrar seu pai e saber qual era seu gatilho antes dos Jogos?

— Vou apenas tomar uma xícara de café.

— ela murmurou embora raramente bebesse bebidas cafeinadas. A voz dela vacilou, então projetou o queixo.

— Ei, ei, moça. Venha cá. O que a incomoda?

Quando ele estendeu a mão e ela percebeu o quanto queria ser envolvida nesses braços, obrigou-se a recuar um passo.

Naquele momento dois caras mais jovens entraram na cozinha.

— Este é Rónan e Benneit. — disse MacRieve. — Eles vivem aqui. Rapazes, esta é Chloe.

Ben era ainda mais alto do que MacRieve, tão alto que teria que se abaixar para passar pelo batente. Ele também era bonito com cabelos pretos e grossos que pairavam sobre um olho. O rosto dele aqueceu quando lhe deu um aceno, e percebeu que era muito tímido.

O mais jovem, um bonito loiro esguio, não tinha esse problema.

— Então o que teremos para o café da manhã, docinho?

Odiava quando as pessoas achavam que ela deveria cozinhar só porque tinha uma vagina.

— Qualquer coisa que seu rabo feliz fizer pra si mesmo.

Ben abriu um sorriso. Rónan lançou-lhe um olhar avaliador.

MacRieve riu.

— Ah, moça, vai se arranjar muito bem aqui.

— O que eu perdi? — Perguntou outro homem da porta.

Chloe piscou. E de novo.

— Você não me disse que tinha um irmão gêmeo. — Um insuportavelmente bonitão.

— Sou Munro e estou feliz por ter você aqui, Chloe. — Ele parecia que estava prestes a dizer mais, apenas conteve-se.

— Obrigada, Munro. — Percebeu que ainda estava encarando-o e corou. —Uau, vocês realmente se parecem. — Quando ele ficou ao lado de MacRieve, pôde dizer que não eram idênticos. MacRieve parecia um pouco mais... desgastado, seu cabelo mais longo. Também notou que nenhum deles tinha linhas de riso.

Rónan disse.

— As fêmeas Loreans os chamam de Gostoso e Gostosão. Eu não vejo isso.

Aposto que eles veem. Um surto de ciúme a pegou de surpresa. Pela maior parte de sua vida não estava interessada nos homens, muito menos tinha ciúme deles.

MacRieve brincou com algo em gaélico fazendo com que seu irmão sorrisse, em seguida entregou-lhe uma caneca.

— Vamos lá, tenho muito para te mostrar. — Quando escoltou-a através de um conjunto de portas francesas, o sol da tarde iluminou o rosto dele.

Seus olhos eram da cor de uma medalha de ouro atingida pela luz solar. Disse a si mesma que era a animação da cafeína que causava agitação em sua cabeça, não a visão de seu olhar brilhante. Era de cair o queixo e, aparentemente, ele era informado disso o tempo todo. Tendo fãs fanáticos, jurou nunca ser uma fanática. Não começaria agora.

Ela afastou seu olhar, fazendo um estudo do lado de fora da casa dele. A pousada era construída de tijolo com vigas de madeira expostas. O teto abobadado estava coberto de telhas de ardósia.

— É lindo. — Depois de crescer em uma casa que parecia exatamente como todas as outras mansões do bairro, sempre quis morar em uma casa com personalidade, algo único.

Quando MacRieve sorriu, a pele dela corou. Não gostou do efeito que ele tinha sobre ela ou a rapidez com que tudo isso estava acontecendo. Ele a mantinha fora de equilíbrio, como se estivesse correndo com um grampo em um pé e uma bota de escalada no outro.

Ela procurou alguma coisa para falar.

— Então, se você e Munro são gêmeos, como esta coisa toda de alfa funciona?

— O lobo que criou nossa linha era um alfa, então a maioria dos machos Lykae têm tendências alfa, apenas esperando para sair. No meu caso e de Munro, sua besta é talhada da mesma alma que a minha, então somos ambos definitivamente alfas. Vamos apenas colocar desta forma: nós brigamos. Muito. — Ele guiou-a para outro caminho.

— Para onde estamos indo?

— A casa principal do complexo.

Ela revirou os olhos.

— É claro que estou em um complexo. Ótimo. Se vir alguém de quatorze anos de idade, devo parabenizá-los por suas núpcias?

— Não este tipo de complexo. Você vai se divertir aqui. É como uma grande equipe. E essa propriedade é como um vestiário.

— Você espera que eu assine?

— Nossas instalações são de alto nível e somos todos iniciantes.

— Preciso voltar para o time ao qual pertenço. Tenho minha própria vida. — E as perguntas que precisavam ser respondidas. Não apenas sobre o pai dela.

Agora que confirmou que imortais existiam, ficou imaginando que espécie a mãe dela poderia ter sido e qual seria seu destino final. O pai disse a Chloe que sua mãe não tinha relações. E se essa declaração fosse tão falsa quanto a mentira do câncer terminal?

— Para o que você tem que voltar? — perguntou MacRieve. — Sua temporada com sua equipe acabou, não é? Seu pai não está mais lá. É sobre os Jogos Olímpicos? Eles não estão fora de alcance, Chloe. Vou mover céus e terra para que chegue lá.

Parte dela queria tanto confiar nele sobre seus sintomas. Novamente aquela sensação de autopreservação segurou sua língua.

— Não quero falar sobre isso.

— Ouch, você deve saber que a curiosidade de um Lykae é uma coisa poderosa. — Ele disse isso como se fosse um eufemismo. De repente, seu olhar se estreitou. — Você tem um namorado lá, então? — Seu tom era indiferente, mas seus olhos estavam azuis cintilantes. — Algum cara em Seattle?

— Estou cem por cento empenhada nos esportes. — No passado ela tentou se convencer de que não tinha namorado por causa das exigências dos treinamentos. Mas outras jogadoras conseguiram equilibrar a vida amorosa e uma carreira. Ouvira conversas no vestiário. — Não tive tempo pra namorar. — Ou para o pavor que inevitavelmente isto acompanhava.

Sua resposta pareceu agradá-lo. Ela pôde perceber que ele relaxou.

Na verdade estava muito sintonizada com ele, seus sentidos aparentemente agravados por ele. Estava abundantemente consciente dele, a cada segundo. Simplesmente andando ao lado dele podia sentir o calor irradiando da pele dele.

E se ela se apaixonasse por um lobisomem como MacRieve? Papai iria odiá-la. Ele já deveria.

Não, ela se recusava a acreditar nisso.

— Aqui é a casa principal. — MacRieve disse, apontando para o que parecia ser uma cabana de caça de um milionário decorada por um homem viril. — Nós chamamos de covil. É bem popular, muitas marcas de garras. E uma Valkyria lançou um carro no telhado não faz muito tempo.

— Elas são tão fortes assim? — Que legal! Talvez Fiore fosse uma Valkyria?

— Sim. Mas isso é uma gota no oceano em comparação com a força de um Lykae. — Ele abriu uma pesada porta de madeira para ela, pegando sua mão para levá-la para dentro.

A mão dele era quente e áspera contra a sua, mas o contato foi eletrizante. Chloe estremeceu e olhou em confusão para o local onde a pele deles se tocava. Ele também parecia afetado, as sobrancelhas dele se juntaram.

Isso foi algum tipo de conexão — o tipo que ela leu nos livros, do tipo que decidiu ser apenas um mito estúpido.

Aparentemente todos os mitos eram reais.

Com o sotaque mais espesso que já tinha ouvido-o falar, ele disse.

— Ah, Chloe, moça, preciso apenas, merda... — Ele se inclinou procurando por todo mundo, quando estava prestes a beijá-la.

Encontrou-se cativada pela perspectiva. Despertando! Ela beijou muito pouco em sua vida.

Mas então ouviu o murmúrio de uma conversa em uma sala nas proximidades. Será que alguém poderia surpreender MacRieve e ela?

— V-você disse algo sobre obstáculos? — Sua voz estava tão ofegante como uma estrela pornô.

Parecendo de repente preocupado, ele se endireitou.

— Sim, então. Este caminho é nossa área de segurança. — Eles se dirigiram para uma sala escura.

Havia uma tela de computador gigante, como um cenário de filme, com dezenas de câmera de transmissão, empilhadas e rotuladas: MURO 1, MURO 2, MURO 3... por todo o caminho até o MURO 50.

Um Lykae tripulava a mesa.

— Este é Madadh, nosso Mestre de Vigilância. Madadh, esta é minha companheira, Chloe.

Um homem colossal ergueu-se, elevando-se sobre ela, tão alto quanto MacRieve, com músculos mais volumosos. Ele tinha uma cicatriz em linha reta que atravessava da sobrancelha até a parte de baixo do rosto, fazendo-o parecer perigoso. Ele parecia estar fervendo com agressividade. Mas sua expressão era neutra.

— Enorme muro que você tem aqui. — ela disse.

— Sim. Isto envolve centenas de acres. — Com um aceno educado, Madadh disse. — Vou deixar você com isto, MacRieve.

Assim que saiu da sala ela deu uma boa olhada nas transmissões, e seu queixo caiu. Criaturas de pesadelos fervilhavam fora o muro, centenas delas, com mais chegando em massa.

Todas aqui por minha causa?

 

Chloe não tirou seus olhos das telas; Will não tirou seus olhos dela.

Ouch, ela era uma coisa bonitinha. Agora que seu cabelo estava secando enrolava em uma desordem atraente, pequenas pontas espetadas brilhantes emoldurando suas feições de duende. Seus olhos mutáveis cintilavam com inteligência.

Linda e corajosa. Apesar de seu coração bater com medo, você não podia dizer pelo seu comportamento estoico.

— Foi disso que você me salvou? — Ela perguntou com sua voz quase trêmula. — O que eu vi ontem à noite? Estou muito feliz agora. Aquelas coisas podem quebrar o muro?

— Não muitos têm bolas para invadir uma fortaleza Lykae quando estamos todos por um fio de nos transformarmos. Protegemos os nossos, moça. Entenda, massacrarei qualquer um que chegar perto de você.

— Você deve ter uma saída secreta.

Por que estava tão ansiosa para ir? As fêmeas geralmente tropeçavam em si mesmas para se aproximarem dele. Por que esta não estava colando nele?

— Você não pode partir. Chloe, como eu disse, estas criaturas não te matarão a princípio. Você não teria tanta sorte assim.

Ela mordeu seu lábio inferior.

— Eu posso me esconder... — Ela deteve-se quando ele sacudiu a cabeça.

— Você perdeu muito sangue na encruzilhada ontem à noite. Eles podem usá-lo para rastreá-la. Juro pelo Lore que eles te encontrariam em poucos minutos, e que torturariam e abusariam de você. — Pelo modo como ela olhava estatelada para seus olhos, ele sabia que estavam faiscando azul. — Não posso deixar você ser ferida.

— Quanto tempo vai durar este cerco?

— Provavelmente até que seu pai seja encontrado.

— Por que eles não podem localizá-lo?

— Sem sangue. E provavelmente ele está camuflando sua localização por meios místicos, de qualquer maneira. Ele usa aspectos do Lore quando lhe convêm. — Durante décadas a antiga prisão de Will foi ocultada através da magia; as outras prisões ainda estavam. Os torques da Ordem foram misticamente reforçados e fortalecidos. Webb tinha usado até a ajuda de uma oráculo, embora Nïx claramente tenha promovido seus próprios fins.

— Talvez eu possa conseguir alguns meios místicos?

— Tão desesperada para partir? — Seu rosto se esticou. — Você poderia comprar um talismã de ocultação das bruxas por centenas de milhares de dólares... oh, espere, são elas que sequestraram e venderam você!

Seus lábios apertaram.

— Se meu pai aparecesse aqui, o que aconteceria com ele? MacRieve, não posso deixá-lo ser ferido. Minha mãe morreu quando eu era bebê, e ele era tudo que eu tinha. Tem sido um grande pai, gentil e encorajador. Minha maior queixa é que sempre viaja demais.

— Imagino o que ele esteve fazendo nessas viagens. — disse, odiando o olhar ferido no rosto dela, odiando ser a causa disso.

Em um tom mais suave, ela perguntou.

— O que meu pai fez com você?

Will evitou seus olhos.

— Não posso falar disso. Não ainda.

Ele podia ver que ela queria pressionar, mas para seu crédito, não fez.

— Vai me dizer quando estiver pronto, eu acho.

— Em todo caso, você está mais segura aqui.

Ela começou a andar de um lado para o outro.

— Então estou aqui para ficar?

— Você poderia soar mais pé no chão? Não é tão ruim aqui. Não sou tão ruim. Por que está tão avessa a mim? Eu sei que está atraída por mim. — Talvez essa fosse a maneira de conseguir vinculá-la, usando sua luxúria contra ela. Os Lykae eram guerreiros notoriamente brutais, mas também podiam ser trapaceiros astutos, capazes de persuadir e manobrar sua presa tão habilmente enquanto se aproveitavam dela.

Ela se endireitou.

— Você não pode saber disso.

— Senti seu cheiro no chuveiro na noite passada. E depois existe a questão dos seus sonhos. Talvez eles me incluíssem?

O rubor dela disse bingo. Ele se encheu de satisfação.

Ela apertou os lábios.

— A atração é involuntária. Mas se eu tivesse controle nisso, não estaria atraída por você.

— Por que não? — Ele perguntou, ficando mal humorado em um estalar de dedos.

— Não tenho tempo. Preciso encontrar meu pai, MacRieve. Deixamos coisas não ditas entre nós. Sem mencionar que você quer assassiná-lo. Além do mais, se quer saber, sou esperada no campo de treinamento olímpico na Europa em menos de duas semanas.

Tão cedo? Ainda assim, estava determinado a levá-la até lá. Descobriria como mais tarde. No momento, precisava de algum tipo de vínculo com ela para acalmar esta inquietação feroz que sentia. Enquanto ele esteve se metendo de cabeça em sua direção, ela procurava pela saída.

— Não vou falar de nada disso hoje.

— Por quê?

— Hoje é meu dia de convencê-la a me aceitar como seu. Você vai me dar isto. — Quando ele se moveu ainda mais perto, ela recuou até seu traseiro encontrar a escrivaninha.

Antes que pudesse dizer uma palavra, ele ergueu-a em cima da escrivaninha, metendo os quadris entre seus joelhos. Ele deu uma olhada abaixo em sua blusa, ficou excitado ao espiar o sutiã preto que ele tinha colocado no guarda-roupa na noite passada, o que tinha imaginado moldado em cima de seus seios roliços.

Ela umedeceu os lábios, sua respiração irregular, seu corpo já trêmulo de desejo.

A maneira de uni-la a ele era obviamente através do sexo; sexo era impossível. Deuses, eu gostaria de ser... correto.

Mas aí, ele não tinha que levá-los até o fim, somente ela. Tudo o que tinha a fazer era dar a Chloe um orgasmo de fundir os miolos enquanto mantinha sua besta em cheque.

Dois problemas. Aquela desgraçada poderia deslizar da coleira. E Will nunca se propôs a dar prazer a uma fêmea.

Durante todos estes séculos, sua besta não se desviou do sexo superficial em uma posição animalesca. Obtinha uma liberação, a ninfa fazia sua conquista, tudo ficava bem. Nunca ouviu qualquer reclamação. É claro, ele não ficava exatamente ao redor depois.

Beijar, sexo oral, preliminares, estas coisas eram estranhas para ele.

Vou descobrir essa porra.

Quando imaginou mergulhando a língua entre as coxas de Chloe, ficou duro como aço no mesmo instante e sua besta se mexeu. Ele friccionou os dentes, lutando para mantê-la enjaulada.

Chloe balançou a cabeça.

— E por que eu te daria este dia?

— Vamos fazer uma aposta, você e eu. No fim do dia, se ainda quiser me deixar, vou tentar obter um talismã de ocultação das bruxas para você.

— Sério?

— Sim. — Ele era um mentiroso que usava de golpes baixos. Mas sua tática estava funcionando. Ela começou a relaxar porque pensou que estaria caindo fora amanhã em sua busca condenada para encontrar seu pai.

Pelo menos ela era leal. Junto com toque, sexo e comida, os Lykae veneravam a lealdade.

— Se me der uma oportunidade justa de conquistá-la e eu falhar, então vou ajudá-la a ir embora.

O olhar fixo dela estava em seus lábios quando murmurou.

— Um dia poderia doer? — Então piscou para ele como se suas próprias palavras a tivessem chocado.

— Bem, veremos. — Assim de perto, ele podia ver que suas longas pestanas tinham na ponta uma minúscula franja loira. — Vamos começar agora.

— Faça um daqueles votos para o Lore primeiro.

Ele congelou. Como sabia disso?

— Se realmente se entregar neste dia, desfrutando de tudo que tenho para te dar — orgasmos — e ainda quiser partir, eu te ajudarei. — por um total de dois minutos antes de jogá-la por cima do meu ombro e arrastá-la de volta.

 

Tendo jogado futebol durante toda sua vida, Chloe podia reconhecer quando outro jogador estava visando pontuar. MacRieve estava planejando atraí-la para ficar com sexo! E poderia funcionar!

Não, não, não.

Sim. Sim. Sim. Ela prometeu a si mesma. E quem melhor para perder sua virgindade do que um macho como este? Só podia imaginar quanta experiência um imortal teria. Ela manteria seu coração fechado, saciaria alguns desses impulsos urgentes, então seguiria seu caminho amanhã.

— Certo, negócio fechado.

— Bom. — Ele recuou, permitindo que ela pulasse da escrivaninha. — Tenho outra coisa para mostrar a você. Meu local favorito na propriedade inteira. — Bem, seu humor certamente melhorou. Seu sorriso era a coisa mais sexy que ela já tinha visto.

Na entrada da frente, quando ele abriu a porta, ela disse.

— Por que suas unhas são pretas? — Ela notou ontem à noite.

— Elas são garras.

Quando ele mostrou-as rapidamente, ela engoliu em seco.

— Alguma outra diferença anatômica entre você e um humano normal?

Ele mordeu em cheio o lábio inferior.

— Aye, existe uma importante. É definitivamente algo que você nunca viu antes.

— Oh, Deus, o quê?

— Melhor se eu apenas te mostrar. — Com um olhar sério, ele colocou a mão no botão superior de sua calça jeans.

Bem quando estava prestes a gritar/desmaiar/sorrir deleitada, percebeu que ele estava sacaneando.

— MacRieve! — Ela deu um tapa no quadril dele, e ele gargalhou.

Agora ele teve senso de humor acima de todo o resto?

— Nenhuma outra diferença anatômica. Porém você poderia achar o que vai encontrar dentro da minha calça super-humano.

Ela sabia que tinha que estar brincando, mas agora ele conseguiu fazê-la pensar nisso.

Eles começaram a descer por um novo caminho.

— Conforme os termos do nosso acordo — ele continuou —, você tem que se entregar por um dia, o que significa que deve agir como minha companheira.

— O que os companheiros fazem?

— Segure minha mão. — Ele tomou a dela na sua. — Olhe para mim com adoração.

Isso não era um problema.

Apesar de mal terem passado por alguém antes, agora mais pessoas estavam fora. Ele inicialmente tentou evitá-los, entretanto MacRieve parecia ter sido apanhado, apresentando-a como sua companheira com os ombros para trás e o queixo erguido.

Sua arrogância era de tirar o fôlego.

Todos que encontrou foram amáveis com ela, parecendo exatamente com pessoas normais. Bem, exceto pelo fato que eles eram uniformemente bem apessoados. Todas as mulheres pareciam da mesma idade e possuíam um tipo de sensualidade terrena. Os machos? Ela ainda estava para ver aquele seu time não assobiar do ônibus delas.

Eles devem ser mais corajosos do que o normal também. Se algum deles ficou assustado por um exército de imortais do lado de fora do seu portão, não demonstraram.

Depois de um tempo Chloe se acostumou com MacRieve chamando-a de sua. Ela poderia até gostar disto. Que garota poderia resistir ao olhar de orgulho absoluto em seus olhos?

Ela percebeu que estava sentindo excitação — e otimismo — pela primeira vez desde que este pesadelo começou. Sua solidão diminuiu até quase desaparecer. Ela não estava em perigo imediato, não estava machucada, e seu abatimento que durava semanas por causa de sua transição estava sumindo.

Pelo menos existiam alguns pontos altos para o Lore. O highlander sexy era um dos pontos mais altos...

Quando ele apertou sua mão inesperadamente, ela encontrou-se sorrindo para ele. E ele já estava sorrindo para ela, como se fossem conspiradores que escaparam de algum golpe.

Depois que encontraram outro casal que derramou o quanto estavam felizes que ela havia chegado, Chloe perguntou.

— Por que eles são tão simpáticos comigo? É de se esperar que me odeiem como todos os outros lá fora.

Ele começou a levá-la em direção a uma floresta de ciprestes, carvalhos e pinheiros.

— Você agora é parte deste bando. Este é seu clã também, Chloe. E qualquer um aqui protegeria você com sua vida.

— Meu clã? Então já sou parte do time?

— Oh, aye, estamos sempre recrutando centroavantes. — Apesar das nuvens estarem chegando, não voltaram em direção ao chalé, apenas continuaram a entrar no bosque. — Então como você começou a jogar futebol?

— Vi uma partida olímpica quando tinha cinco anos. Depois disso, o jogo era tudo em que eu podia pensar. Quando estava na faculdade ostentei o primeiro lugar no futebol. — Sim, ela ganhou seu diploma, mas por pouco. — Você tem uma carreira? — Os olhos dela se arregalaram. — Nem sequer pensei em perguntar se está faltando ao trabalho por causa disso tudo!

Aquilo claramente o divertiu.

— Nada das nove às cinco para mim, moça. Sou o chefe do ramo do clã da Nova Escócia e sirvo ao meu rei de qualquer forma que ele precise. Mas, principalmente, sou um soldado. Não houve guerras há algum tempo, então acho que poderia dizer que estive esperando uma nova temporada começar.

— Você já esteve em um monte de guerras?

— Oh, aye. Eu costumava procurar por elas, especialmente contra vampiros. Eles são nossos inimigos naturais. Mas não vou mais procurar conflito.

— Não?

— Tenho uma companheira agora. Isso muda tudo.

Ela parou.

— Você parece muito confiante sobre me conquistar hoje. E se eu resistir aos seus encantos?

Ele curvou seu dedo debaixo do queixo dela.

— Se você estiver sentindo uma fração do que estou sentindo, então seu belo traseiro é meu. — Seus olhos estreitaram com intenção. Com possessão.

Ela engoliu em seco. Ainda sem medo? Somente antecipação. Pela primeira vez, permitiu-se entreter um pensamento surpreendente: e se ela e MacRieve estavam predestinados?

E se ela temeu estar com outro — porque estava esperando por este Lykae entrar na sua vida?

Tomando a mão dela de volta na sua, ele começou a aprofundar no bosque. Quando chegaram a um rio, ele disse.

— Quase lá. É logo após a margem oposta.

Ela olhou ao redor procurando uma ponte...

Ele puxou-a em seus braços e saltou por cima da água.

No ar, ela berrou.

— O que você está fazendo?

Quando ele aterrissou, tão facilmente como se tivesse pulado de um degrau para o outro em vez de seis metros do outro lado da água, ele manteve o braço debaixo do seu traseiro, seus rostos próximos.

— Ouch, até suas sardas são sexy.

Seu coração saltou uma batida.

Depois de longos momentos, ele a soltou.

— Chegamos.

Ela se afastou dele para se orientar e encontrou uma cena idílica. Em uma clareira, um pequeno riacho atravessava balançando a grama. No topo de uma pequena elevação à esquerda, uma árvore majestosa derramava flores brancas por cima de um campo de trevos. O céu estava opaco. Uma garoa quente tinha começado a cair.

— Nós chamamos este lugar de clareira. Décadas atrás, quando o primeiro Lykae se estabeleceu aqui, aquela árvore foi plantada de sementes. É uma cerejeira de soro, de um reino diferente. Elas vivem por milhares de anos.

— Existem de verdade outros reinos?

Ele acenou com a cabeça.

— Na maior parte do tempo são apenas cubículos em nossa paisagem. Você alcança-os através de portais.

Quanto ela poderia aprender com ele. Pena que tinha que deixá-lo.

— É lindo, MacRieve. Obrigada por me trazer aqui.

Ele franziu o cenho.

— Não precisa me agradecer nunca mais.

— Por que não?

— Porque me agrada fazer coisas boas para você. Faz eu me sentir... bem. — Enquanto ele segurava seu cotovelo e começava a cobri-la, pensou tê-lo ouvido murmurar “pela primeira vez”.

Sob os galhos da cerejeira, ela perguntou.

— Então, fora segurar sua mão e olhar com adoração para você, o que mais implica a condição de companheira? — Algum estranho ritual de acasalamento?

Ele escovou os dedos por cima de sua bochecha.

— Quer dizer que vou proteger e cuidar de você. Vou te dar tudo que você sempre quis. Eu não tenho uma carreira, mas tenho dinheiro para mimá-la. Eu desejo fazer.

Suas palavras estavam repletas com sua típica confiança. Mesmo assim ela sentiu um subjacente... nervosismo?

Ele a atraiu ainda mais perto, mais uma vez parecendo que ia beijá-la. A mera ideia fez com que despertasse na ultrapassagem. Seu rosto corou, os mamilos endureceram. Ela olhou fixamente para seus lábios, imaginando como sentiriam nos dela, como seria seu gosto. De perto, ela podia ver que a parte inferior tinha um leve vinco no meio. Ela quis lambê-lo.

— Você apontou uma série de prós. — ela disse distraidamente — E aí, quais são os contras?

 

Contras? Eu não posso ir para cama contigo, mesmo você carinhosamente precisando de mim.

Quando Chloe ficou suave com desejo na segurança do quarto, levou cada gota do autocontrole de Will para não tomá-la na escrivaninha. Até agora o deleitável odor de sua excitação enchia os seus sentidos.

— Preciso me controlar com você. Se minha besta ascender, poderia te machucar. — O que seriam umas dentadinhas apressadas para uma fêmea Lorean, poderia ser destroçante para Chloe. — Você é muito... mortal.

— O que poderia fazê-la ascender?

— Se você estivesse em perigo. Ou se me deitasse com você. É por isso que não posso tomá-la hoje. Apesar de achar que você me receberia.

Suas bochechas floresceram com cor e seu olhar arremessou para longe: bingo. Ele quase grunhiu com a perda. Por que eu não posso estar certo?

Mais cedo, quando Chloe disse que estava completamente comprometida com os esportes, ele ficou mais convencido que ela era inocente. Quis uivar de satisfação que seria introduzida por ele a fazer amor.

Então lembrou a si mesmo, você não pode fazer amor. Não até saber como.

Agora, até este momento, pressentimentos o inundavam. Seu plano para dar a ela um clímax, enquanto permanecia destacado e no controle, parecia impossível.

— Eu não entendo. — ela disse.

— Se eu ficar muito excitado, isso vem à superfície. Isso me domina completamente.

— Como é isso?

Uma muleta.

— Ainda estou ali, embora sinta tudo alterado. É como uma droga. Apesar de experimentar prazer e me lembrar de tudo que venha a acontecer entre nós, eu não teria controle nenhum nas suas ações.

— Ações?

— A besta iria querer tomar você duro, Chloe.

Sua respiração ficou ofegante, mas ela não desviou o olhar. De fato, ele viu interesse em seu vívido olhar. Isso pareceu aquecer o seu sangue, endurecendo seu pau até que pulsou, despertando a besta da qual estava advertindo-a.

Will inclinou-se até dizer na sua orelha.

— Ela iria querer você de quatro enquanto te fode por trás.

Ela mordeu os lábios, quase engolindo um choramingo suave.

O som fez seu pau pulsar. Ela estava ficando excitada por sua conversa?

— Ah, moça, você está necessitada, não está? — O vento começou a balançar a árvore, soltando pétalas como neve caindo.

Ela não pareceu notá-las.

— Sim... necessitada.

Ele deitou a mão em sua bochecha. Ela tremia enquanto colocava seu rosto entre as mãos.

— Você não sabe o quanto quero te dar prazer. — Esta era sua companheira, e pelo seu cheiro, ele a encontraria suave e molhada. Mas estava tão apavorado até para vê-la?

O olhar dele estreitou quando percebeu. Sua besta devia estar perto de ascender agora. Rugia dentro dele; fervia.

E permanecia enjaulada.

Seu Instinto falou, alfinetando sua mente, sacudindo seu corpo...

Sua fêmea está doendo por dentro. Atenda-a.

Seu Instinto era infalível. E estava dizendo a ele para tocar em Chloe.

— Você está doendo por dentro?

Ela levantou o olhar para ele, acenando com a cabeça sem poder evitar.

— Meus olhos estão de que cor? Azuis?

Ela sacudiu a cabeça.

— Faiscando um pouco.

Ele sabia que não poderia reivindicá-la, mas talvez fosse possível atendê-la.

— Se eu dissesse que aliviaria sua dor, você me deixaria? Só isso e nada mais? — Ele capturou sua mão, levantando o pulso até seus lábios. O beijo arrastado no ponto de sua pulsação fez com que ela ofegasse. Então usou seu braço para atraí-la para mais perto, assim poderia subir correndo os lábios até seu pescoço.

Ela suspirou.

— Sim.

 

Isto provavelmente era uma má ideia, mas naquele momento Chloe não podia recordar uma razão única do por que. Se ele parasse com isso, ela tinha quase certeza que o agarraria.

Ele não parou. Seus lábios eram quentes nela, abrasando uma linha acima por seu pescoço.

A excitação martelou nela, seu medo completamente ausente, seus sentidos sobrecarregados. Ela sentiu cheiro de chuva, de flores, de seu aroma arrojado. Como ele podia ter um cheiro tão bom?

Quando sua língua esperta sacudiu a chuva de sua pele úmida, ela se perguntou, Por que lutar contra isto?

Estava tão ávida quanto esteve durante sua primeira partida de futebol. Ela não deixou nada em pé no seu caminho naquele dia, simplesmente rendeu-se completamente à excitação, adrenalina, fazendo-a precisar experimentar tudo.

Ela faria o mesmo com isso. Não seja covarde. Veja onde este caminho te leva.

Até agora este caminho estava fazendo-a questionar como viveu sem MacRieve sua vida inteira.

Não vivendo. Simplesmente existindo de um jogo até o próximo.

Ele enlaçou um braço ao redor dela, arrastando seu corpo apertado contra o dele, então gentilmente tomou seu lóbulo da orelha entre os dentes. Seus joelhos ficaram fracos.

Justamente quando ela se perguntou se poderia sentir seus mamilos pressionando contra seu torso, ele murmurou na sua orelha.

— Se é assim que você reage a um beijo no pescoço, imagino o que acontecerá quando eu colocar minha boca nesses belos mamilos.

Ela ofegou, tanto pelas palavras quanto pela explosão de luxúria que elas causaram. Não podia pensar. Como se respondia a uma declaração assim? Sua mente gritou: Com um beijo!

Ele leu seus pensamentos, beijando sua bochecha, o canto de seus lábios, então em cheio na boca. Quando ela separou seus lábios com surpresa, ainda tão nova em tudo isso, ele aproveitou a oportunidade para enfiar sua língua entre eles.

Suas mãos voaram para os ombros dele, apertando deleitada. Aqueles músculos moviam-se sinuosamente sob as pontas dos seus dedos, dando-lhe uma prévia do que veria se ele tirasse a camisa.

Com sua palma embalando ternamente toda a parte de trás da cabeça dela, ele meteu a língua em sua boca, varrendo-a carnalmente contra a dela. Quando ela gemeu, ele fez novamente. E mais uma vez. Ele estava brincando com ela para distraí-la.

No entanto ele recuou, olhando-a com um olhar... comprido?

— Por que v-você parou? — Se seu desejo sexual esteve crescendo por semanas, agora de repente estava explodindo.

Por que ele não estava mais fazendo movimentos? Não deveria estar tentando apalpar seus seios ou algo assim? As meninas no vestiário muitas vezes descreviam os caras com mãos de polvo.

Ela queria MacRieve tocando-a em oito lugares ao mesmo tempo!

Ele disse que aliviaria sua dor. Ela preferia que fizesse isso neste século. Como dar início a isso? Lutou para dizer alguma coisa. Preciso te lamber. Não. Minha mão seria mais feliz dentro de suas calças. Não!

Talvez ele hesitasse porque ainda estava com medo de machucá-la.

— Eu sou, uh, mais dura do que pareço.

Ele engoliu em seco audivelmente.

— Ah, minha moça, é bom saber disso.

Minha moça. Naquele sotaque. Sufocou um estremecimento. Um orgasmo estava próximo.

Quase desejou que se tivesse estado com outros caras quando teve chance, saberia o que fazer nesta situação. Havia fã clubes de times de futebol, caras entusiasmados e vibradores que davam presentes às garotas e realizavam festas para elas. Tinham alguns caras bem bonitos também.

— Nunca fiz nada parecido antes.

Ele deu aquele sorriso de derreter ossos. Guloso e satisfeito.

— Minha Chloe é virgem?

Suas bochechas pareciam como se estivessem em chamas.

— Sim. O que significa que realmente não sei as regras deste jogo.

Ele roçou a parte de trás dos dedos no seu rosto corado.

— A única regra que precisa saber é que nada está fora dos limites entre nós. Nada.

— Então por que está hesitando?

— Estou saboreando. Estive esperando minha vida inteira...

Ela enterrou o rosto no pescoço dele e deu uma lambida na sua pele.

Ele disse com os dentes cerrados.

— Muito bem, saboreei o suficiente. — Ele agarrou a bainha da camisa, arrancando-a pela cabeça para desnudar uma visão gloriosa.

Ombros largos, peitorais duros como uma pedra, um pacote de oito gomos abdominais digno de babar. Pele úmida e bronzeada. Uma trilha preta desaparecendo em sua calça jeans.

Sua protuberante calça jeans. Podia ver o contorno de sua ereção grossa alongando-se para seu quadril direito.

Tinham pôsteres sensuais no vestiário; mas este cara fazia aqueles modelos parecerem aspirantes.

E ele a desejava. Estava estampado em seu rosto, em cada linha de seu corpo magnífico.

Chloe sabia muito bem o que era necessário para um homem ter músculos assim, e queria mostrar a ele o quanto apreciava esta visão de perfeição. Mas não sabia como.

Felizmente ele assumiu o comando. Estendeu sua camisa na colina coberta de trevos debaixo da cerejeira.

— Para baixo, baby. — Ele facilmente se abateu em cima e deitou-a sobre ela.

— Alguém pode nos ver?

Ele ajoelhou ao lado dela.

— Eu sentiria o cheiro de qualquer um que se aproximasse. Somos somente nós. — Com uma expressão de dor, ele ajeitou seu membro até que este apontava para cima, a cabeça a poucos centímetros de emergir pelo cós da calça jeans.

Ela respirou fundo com a visão, juntando as coxas apertadas. Sua mente por um instante apagou para só um pensamento: grande, muito grande.

Sobre-humano? Oh, sim. A coroa era larga e rígida, a umidade saindo de sua fenda. Veias inchadas logo abaixo da cabeça em expansão. Estava desesperada para ver mais, para tocá-lo. Para prová-lo.

Queria girar sua língua ao redor dele como em um pirulito.

— Tire isto. — Ele puxou a camisa dela, lançando-a longe. — Estou desejando ver esses seus seios.

Ela arqueou as costas quando ele agarrou o gancho do seu sutiã.

Assim que a desnudou, olhou fixamente com tanta fome que seus seios pareceram inchar para ele, doendo para que suas grandes mãos ásperas os cobrissem. Ante aquele pensamento ela choramingou, empurrando-os para fora.

Ele soltou algo em gaélico que soou como uma maldição. Seu membro pulsava, mais umidade perolando a cabeça. Com a voz rouca, ele disse.

— Você é uma visão, amor.

Ela teve a impressão que ele estava fazendo um esforço para se lembrar de conversar com ela. O que ele costumava fazer nesse tipo de situação? Mais uma vez, sentiu que ele estava nervoso, como se estivesse tentando lembrar mil coisas enquanto estava nisso.

Ele retirou a calça jeans úmida dela, erguendo-a para dar um puxão para passar pela sua bunda, deixando-a de calcinha de renda preta.

Mais olhar fixo.

— Eu sou... — ela engoliu em seco — sou o que você estava esperando? Depois de todo este tempo?

As sobrancelhas se juntaram. Ele teve que pigarrear antes de poder dizer.

— Muito mais. E minhas esperanças eram fodidamente altas. — Seu olhar estava tão fixo nos seus mamilos duros que podia quase senti-lo. Queria pedir para lambê-la ali, chupá-la.

— Isto é, hmm, diferente do que normalmente faz com as mulheres? — Ela poderia ter esperado um tom mais... suave.

— Muito diferente. Poderia se dizer como a noite do dia. — Então ele enrijeceu. — Por que está perguntando isso? Não gosta de como sou com você? — Tanta coisa estava acontecendo por trás de sua expressão fechada, mas ela não podia decifrar nada.

— Você parece um pouco nervoso.

Sua tensão aliviou.

— Tenho apenas um dia para convencê-la a ficar, lembra?

— É mesmo? — Ela arqueou as costas com impaciência. — O cronômetro está marcando, MacRieve.

Com um gemido, ele escarranchou os braços de cada lado da cintura dela e abaixou a cabeça. Ele pressionou beijos por cima dos montes dos seus seios, circulando com lambidas até seus mamilos duros.

A respiração dela ficou superficial. Isto era muito melhor do que sonhos! Quando sua língua finalmente arrastou sobre um mamilo, ela gritou, tremendo de felicidade. Entrelaçou os dedos pelo cabelo dele, arrastando sua cabeça mais perto, ganhando um grunhido áspero em torno de um bico.

Contudo, quando a mão dele deslizou em sua calcinha, ela ficou tensa. Não porque não queria seu toque — seu corpo estava gritando por ele — mas porque isso era desconhecido para ela.

— Relaxa, baby. — Esfregou o nariz em um seio. — Não vou te machucar. — Ele acariciou os pelos lá de baixo. — Alguma vez teve um homem beijando você aqui...?

 

— Não. Estou prestes a ter? — Chloe perguntou, seus olhos faiscando de excitação.

— Oh, aye. — disse Will, beliscando seu peito. Com a cabeça ligeiramente levantada contra a encosta da colina, ela podia baixar o olhar para ele, vendo tudo. — Vou te lamber entre suas belas coxas até você gritar por mim.

A mão dele tremia dentro de sua minúscula calcinha enquanto ele avançava com seus dedos mais abaixo. Minha companheira, bem diante de mim, minha boca em seus seios. Mais para baixo. Mal podia acreditar nisto. Mais para baixo. A tarde tinha tomado a qualidade de sonho.

Seus dedos descobriram as dobras molhadas e carnudas. Sua bocetinha estava chorando por ele.

— Deuses todo poderoso, mulher. — Ele cobriu seu sexo possessivamente. Encharcando sua mão com umidade, fazendo seu pau pulsar. Pré-sêmen reuniu-se na cabeça, atraindo o olhar dela com pálpebras pesadas.

Quando começou a afagá-la, ela gemeu, os olhos presos em seu pau.

— Ah, moça, você está olhando para o meu pau como se quisesse dar uma chupada.

Outro rubor foi a resposta. Ela era muito boa! Estremeceu ao imaginar seus lábios avermelhados embrulhados ao redor do seu comprimento.

Controle! Deve manter o controle... Por ela, ele podia fazer isso. No futuro eles descobririam alguma coisa; no momento só queria dar prazer a ela. Ter esta tarde entre eles.

— Eu adoraria sentir isto! E logo deixarei você ser preenchida por ele. Mas minha besta e eu estamos dançando no fio da navalha hoje.

— Você não vai tirar sua roupa?

Mantenha a besta em cheque.

— Não posso me empolgar demais, amor. — Ele enganchou seus dedos indicadores nas laterais da sua calcinha, arrastando-a abaixo... Revelando um recorte elegante de cachos castanhos claros que encheram sua boca d’água.

Quando ele a teve completamente nua, contemplou-a com incredulidade. Ele a chamou de bonitinha?

Tente primorosa.

Sua pele era macia e dourada, uma sombra fascinante contra seus olhos de um colorido incomum e cabelos clareados pelo sol. Flores de cerejeira caindo beijavam sua barriga plana, seus seios, seus lábios.

Ela suspirou.

— Posso senti-los. — disse enquanto suas pálpebras fechavam.

Ele observou com admiração enquanto as pétalas brancas e lisas deslizaram por seu corpo abaixo. Uma abraçou a curva de seu seio esquerdo.

Seu mamilo direito foi coberto por uma pétala frágil e branca contra o vermelho túrgido com a necessidade.

Mas o cheiro dela o chamava. Virou-se para as pétalas sedosas entre suas coxas, o queixo caindo à visão de sua carne brilhando.

— Você não poderia ser mais adorável, moça. As coisas que planejo fazer com você... — Conforme se movia entre os joelhos dela, ele lambeu os lábios, sentindo-se como uma besta babando prestes a violar uma beleza.

A beleza somente disse.

— Por favor.

Ele abaixou a cabeça e entrou no jogo. Com sua primeira lambida, ela gemeu baixinho; e ele quase ejaculou nas calças. Seu gosto era o mais delicioso que ele já teve na sua língua.

— Chloe! Deuses, você é como mel para mim. — Como seda embebida em mel, então derretendo em sua língua preparada.

Perfeição. Ele lambeu-a até em cima.

— Estive esperando eternamente por isto.

Quando esfregou a língua sobre seu incipiente pequeno clitóris, ela gritou.

— Oh, Deus! Por favor, não pare.

Nenhuma chance disso. Seu pau forçava o cós de sua calça jeans, a ponto de rasgá-la. A besta arranhava-o. Para ficar presente nisto, Will teria que arranhar de volta. Ele espalhou suas coxas mais ainda, cobrindo seu clitóris com a boca, rolando a língua em cima dele novamente.

Percebeu que estava rosnando quando ela disse.

— O que está fazendo comigo?

Ele se afastou.

— Você não gostou?

— Eu adorei! — Contudo ela mordiscava seu lábio inferior. — Você e-está bem? Seus olhos estão azuis.

Olhar dentro dos olhos dela fez com que centrasse neles, focasse neles. Sem romper seu olhar fixo, lambeu mais abaixo, mergulhando em sua entrada doce como mel. Para seu assombro, a besta estava em pé olhando para baixo, satisfeita com isso, como se alimentada por algo particularmente saboroso. Nisso, besta, nós estamos de acordo. Contra sua carne, Will disse.

— Não estou indo a lugar algum.

— Você tem certeza, MacRieve?

— E perder minha Chloe gozando pela primeira vez comigo?

Ela disse timidamente.

— Primeira vez com qualquer um. — E seu coração bateu forte.

— Vou fazer isto ser bom para você. Eu juro. — queria atormentá-la com prazer, fazê-la nunca mais querer largar a fonte.

Ela correu os dedos por seu cabelo, observando cada lambida.

— Pequena companheira lasciva. — Estava descobrindo tanta coisa a respeito dela, que aquilo empurrava seus botões. Aprendeu que ela gostava da conversa suja dele. Aprendeu que tinha tanta luta nela, mas não quando necessária — e não contra ele. Para Will, ela entregava seu fogo muito docemente. — Gosta da minha língua em você, moça?

— Sim!

— Dentro de você? — Ele a separou com os polegares e a fodeu com sua língua endurecida; ela derreteu, dando um grito estrangulado. — Você quer mais?

— Eu preciso de mais! Eu quero... — Quando ela gemeu, ondulando selvagem na sua língua, seu pau pulsou com tanta força que arrancou o botão superior da sua calça jeans, abrindo-a. Seu zíper não era páreo para seu comprimento. Então empurrou as calças até os joelhos.

Mas mesmo quando sua mão encontrou seu pau latejante e começou a se masturbar, a besta não ascendeu. Will estava gotejando com pré-sêmen, mais duro do que já estava, contudo a besta estava vibrando de alegria dentro dele.

Will compreendeu plenamente que estava no controle. E mais, era bom nisso. Ela estava enlouquecendo. Sua cabeça se debatia acima da beirada da camisa dele, suas brilhantes madeixas castanhas aloiradas contra os trevos.

Tudo que tinha que fazer era banquetear-se nela como ele e a besta precisavam, e ela gozaria na sua boca.

Ele estava descobrindo muita coisa sobre ela sexualmente — mas também sobre ele. Will poderia satisfazê-la, até mesmo provocá-la. O que significava que ela estava à sua mercê.

De repente, sentiu-se muito poderoso.

Ele sorriu contra sua carne úmida. E muito, muito mau.

 

Arrepios dançavam por toda a pele nua de Chloe. Nunca sentiu tal desejo, sabia que estava a segundos de ter um orgasmo com um homem que só conheceu há um dia.

Ele liberou sua ereção de sua calça jeans e estava se acariciando. Quando viu aquele comprimento espesso ela ficou mais molhada em um fluxo, e ele lambeu sofregamente, rosnando contra ela. Deus, seu pênis era incrível, pulsando e rígido — maior do que qualquer coisa que já tinha visto em sites pornôs. E é todo meu.

Ele era dela. Tudo que tinha que fazer era dizer sim a ele.

Sentiu que ele estava na borda daquela natureza selvagem da besta dentro dele, e isso a excitou. Quando olhou para baixo ao seu olhar predatório e feroz, seu coração bateu de forma irregular.

— Não vamos mais falar sobre ir embora. — ele disse com voz áspera. — Você precisa disso, não é? Está queimando por dentro; sabe que precisa da minha merda para atender seu fogo. — Ele correu a língua junto às suas dobras com um golpe longo, lento e sensual.

— E-eu não posso pensar. Apenas continue fazendo isso.

— Fazendo o quê? — Ele passou a língua na sua abertura.

Ela arqueou bruscamente.

— L-lambendo!

— E se eu quiser fazer isto? — Ele deu uma leve chupada em seu clitóris.

— Ah, meu Deus, ah meu Deus...

— Você quer mais?

— Sim! Ah, sim...

— Então, em troca vai me dar uma semana para convencê-la que você é minha. — Seu sotaque era tão denso. — Todos os dias farei isso em você.

— O quê? — Ela não podia pensar, sentia-se drogada. Todo dia, sério? — Eu não... você está barganhando comigo?

— Aye. E, baby, neste exato momento estou com todas as cartas na mão. — Outra breve e doce chupada.

Desesperada para gozar, ela agarrou sua cabeça e balançou os quadris para conseguir ter sua boca de volta nela. Ele rosnou, soltando a respiração contra sua carne gotejante, mas não se moveu.

— Renda-se a mim, Chloe. Nós dois sabemos que você quer.

O que era uma semana?

— O-ok. Sete dias. E você tem que fazer isto em cada um deles.

Ele deu uma meia risada, meio gemido contra ela.

— Considere feito. — Uma última leve chupada antes de ele puxar sua boca para trás. — Jure que vai ficar comigo.

Ela bateu o pé com frustração.

— Tudo bem! Eu juro.

Quando ele abaixou sua cabeça mais uma vez, ela o sentiu sorrindo contra ela, um sorriso matreiro. Então gozou na sua língua pecaminosa novamente — e ela sabia que fez o melhor negócio.

No entanto, justamente quando ela estava prestes a saltar pela borda, ele disse em voz crua.

— Leamsa.

— O-o que isso significa?

— Significa minha. Diga-me a quem você pertence.

Temendo que ele a provocasse de novo, ela disse apressadamente.

— Você!

— Então diga. — Ele sugou seu clitóris novamente, sacudindo a língua ao mesmo tempo...

Tão perto. Ela queimava, doía. Longe descaradamente com luxúria, arqueou as costas, cobrindo seus seios. Quando seu orgasmo a varreu, ela gritou.

— Eu pertenço a você!

O êxtase foi escaldante.

O malvado dos sonhos.

Viciante.

Quando isso finalmente acalmou, ela teve que afastar sua cabeça, tremendo quando ele rosnou.

— Eu saboreio isto, baby. Sinto a porra do seu gosto.

Estava deitada aturdida, vagamente ciente de que estava nua no bosque com um deus do sexo escocês — um que ainda precisava gozar.

Ele levantou-se de joelhos, a calça jeans empurrada lá para baixo de suas coxas flexionadas. Sua mão grande apertava seu comprimento duro à medida que ele se masturbava. Ela nunca imaginou que a ereção de um homem pudesse ser tão deliciosa de se ver — grossa, quente, pulsante. Novamente veio aquele impulso irresistível de tomá-lo em sua boca.

Ela contemplou de seu punho indo pra cima e pra baixo aos músculos do seu torso ondulando e bíceps protuberantes. Os tendões esticados de seu pescoço estavam salientes. Sua expressão estava agonizante com a necessidade de gozar — mas ainda era MacRieve.

— Você não me machucou. Permaneceu comigo.

Ele se acariciava cada vez mais rápido.

— Queria ver você gozar para mim. — Ele lambeu os lábios gemendo... do seu gosto? — Logo vou te acompanhar. Como você quer isto, amor?

Ela não entendeu.

— Hmm, de que jeito que você prefere?

Ele se debruçou adiante, colocando a mão no pescoço dela — não apertando, fazendo apenas uma gaiola com os dedos por cima da sua garganta. Uma gaiola que dizia: deite-se e fique de costas.

— Quero minha semente marcando sua carne macia. — ele soltou com os dentes cerrados. — Quero minha semente em você, meu cheiro em você. Quero que ninguém se engane que você pertence a mim.

Ao ouvir suas palavras ela arqueou-se impotente para ser marcada por ele. Em seus olhos ela viu anseio, uma sobrancelha levantada com vulnerabilidade. Seja o que for que ele precisava, estava pronta para dar.

Sua rendição? Por esta breve janela no tempo, ele tinha. Ela viu suas presas crescendo ainda mais, mas ele só pareceu mais selvagem. Barbaramente sedutor.

Ele rosnou.

— Sinta-me. Tome em cima de sua carne.

Ela se contorceu em antecipação.

Ele deu um berro de prazer quando o primeiro jato irrompeu da coroa, jorrando em um peito e mamilo dolorido. Ele apontou outro jato para tomar seu outro peito.

Ela ofegou, atordoada com o quanto seu sêmen era quente. No quanto aquelas tiras cremosas pousaram fortemente nela. Como se sentiu marcada.

Corcoveando violentamente em seu punho, ele jogou a cabeça para trás e rugiu.

— Chloe! — Continuou sem parar enquanto gritava para o céu, seu quadril empurrando para cima dela...

Quando finalmente acabou, ele inspecionou-a. Ela sentiu uma feroz satisfação masculina nele quando ele disse.

— Parece que você participou de uma guerra no trevo. Como minha garota deveria parecer.

Ela arrancou as plantas do seu cabelo, dando de ombros com um sorriso.

Antes de ele desmoronar ao lado dela e puxá-la para seu tórax, ela pensou que viu seus olhos nublados de umidade.

 

— Comida.

Com uma palavra de MacRieve, seu interlúdio mais cedo esta tarde foi desviado.

Antes disto, ele vagarosa — e orgulhosamente? — enxugou-a com sua camisa para que ela pudesse se vestir. Então deitou-se de costas com um braço dobrado atrás da cabeça, seu comportamento todo rei-do-castelo e dominante enquanto observava o corpo dela se movendo.

Ela até poderia estar envergonhada por estar nua e lutando para se vestir, mas seu olhar de satisfação absoluta fez com que ela quisesse prolongar o processo.

Ele só faltou grunhir “Leamsa” novamente e a ficha caiu que ela era dele — por pelo menos uma semana.

Ainda assim ele surgiria de repente como um animal à beira de um ataque.

— Sinto cheiro de prêmio. Na guarida. Comida chiando, carne chiando. — Ele agarrou-a com aquele sorriso matreiro, arrastando-a para mais perto. — E, deuses, pela primeira vez que me lembro, tenho um apetite que não pode ser negado. — ele disse com uma palmada de brincadeira na sua bunda, uma palmada que fez com que ela prendesse a respiração por alguma razão.

Quando eles chegaram à guarida, a chuva fina tinha terminado e o sol começava a brilhar. Era quase certo que os outros membros do clã estivessem preparando um banquete, no estilo dos Lykae. Em uma impressionante cozinha ao ar livre, pessoas estavam grelhando costelas e filés com ossos do tamanho de bolas de futebol.

— Esta é uma celebração de boas-vindas para você do clã. — MacRieve disse a ela.

Então ela tomou banho e trocou de roupa colocando uma blusa limpa, uma saia e sapatos de salto alto, vestindo-se melhor um pouco, fazendo um esforço para mostrar sua apreciação. Só para que ficasse registrado, saias e sapatos de salto a incomodavam.

Uma vez que ela e MacRieve retornaram ao grupo, teve a impressão que a festividade também era o modo dos Lykae de debocharem das criaturas sitiando o complexo. As coisas ainda estavam uivando, silvando e pisando com força do lado de fora do muro...

Os oferecimentos de Chloe para ajudar com a preparação foram declinados por todos. Os membros do clã só queriam que ela relaxasse, apreciasse e comesse. No decorrer da refeição, iria pelo menos administrar os dois primeiros.

Assim que terminaram, MacRieve arrastou-a para cima do seu colo, na frente de todo mundo na mesa do banquete. Ninguém piscou um olho.

Ela notou que todos os casais acasalados estavam constantemente em contato, tocando-se, alimentando um ao outro. De acordo com o Livro Vivo do Lore, os Lykae precisavam — realmente precisavam — tocar.

Na última hora, MacRieve só removeu o braço dos seus ombros tempo suficiente para cortar seu bife.

— Mal pude persuadi-la a comer alguma coisa. — MacRieve disse a ela, acrescentando em um murmúrio. — Uma bunda como a sua não se mantém sozinha, Chloe.

Ele parecia obcecado com seu traseiro. Realmente, com todas as partes dela. Debaixo da cerejeira, ele saiu beijando seu nariz, suas sardas, dizendo a ela — Vou contar cada uma...

— Acho que me enchi de cevada e lúpulo. — ela respondeu. Quando admitiu mais cedo que nunca bebeu álcool, MacRieve ficou espantado.

— Nem sequer provou? — ele disse. — Isto é um crime, moça. — Enquanto quase todos os adultos beberam whisky, MacRieve providenciou cerveja para si mesmo e para ela.

Ela olhou para o rótulo.

— Cerveja vodu?

— Em honra à Loa e à jiboia por afugentar a morte.

— Era uma grande serpente, não era?

— Era uma serpente realmente grande...

Apesar de sua falta de apetite, o jantar fora agradável de verdade. Todos no clã deram as boas vindas e foram divertidos. De jeito nenhum Chloe poderia sentar de volta e aceitar que estas pessoas bondosas eram todas do mal e precisavam ser destruídas por alguma Ordem.

— Posso fazer você comer mais? — MacRieve perguntou com a expressão preocupada.

— Estou bem. — Para mudar de assunto, ela disse. — Então, quantas vezes eu violei a etiqueta Lykae? — Ela aprendeu que era esperado que os casais compartilhassem um grande aparato. Ela procurou o seu, ganhando um sorriso de MacRieve.

— Só algumas vezes. O mais importante é que você tem os melhores pontos para baixar a virilidade. — No seu ouvido, ele disse. — Você me satisfez completamente. E durante todo o jantar olhou para mim com adoração.

Ela deu um tapinha no queixo dele.

— Engraçado, eu ia dizer a mesma coisa sobre você.

Ele deu uma risada. De repente sentiu todos os olhos neles. Sentar no colo dele não ganhou uma sobrancelha levantada, mas MacRieve rindo fez?

Ele inclinou-se novamente para dizer na sua orelha.

— Gosto do seu fogo, moça. Gosto que renda-se a mim para atendê-la quando for necessário. E só então. Você foi enviada do céu para mim. — Ele beliscou o lóbulo da sua orelha, e ela prendeu o fôlego. — Toda aquela bela luta se tornará minha.

Alguns dos machos levantaram-se da mesa então, fazendo estardalhaço sobre uma partida de rúgbi. MacRieve enrijeceu, mas não se juntou a eles.

Quando dois homens disseram coisas para ele em gaélico, seus tons provocadores, ela perguntou.

— Eles estão falando merda para você?

— Oh, aye. De acordo com eles, sou o maior babacão. Já sou um companheiro na coleira.

— Você precisa acabar com eles. Agora.

Ele riu novamente.

— Criaturinha feroz. Você vai me meter em rixas por toda a eternidade.

Ele claramente não queria deixar o seu lado, mas ela estava sentindo-se um pouco subjugada por tudo. Realmente prometeu sete dias da sua vida para este homem? Foi a pior decisão que tomou? A melhor? Não se importaria com um pouco de espaço para classificar o dia.

Além disso, queria ver se ele tinha alguns movimentos. Com um brilho provocante nos olhos, ela disse.

— Lembre-se, atualmente estou medindo. Mostre-me o que você tem.

Ele transferiu-a de seu colo de volta para o banco, então se levantou.

— Prepare-se para ser aterrorizada.

Porque ele fez isto, ela deu um tapa na bunda dele. Ele lançou-lhe um olhar ardente por cima do ombro com seus olhos dizendo: Você vai pagar por isto.

Enquanto ele saía do campo, puxava a camisa por cima da cabeça; estava no time sem camisa — aleluia por isto. Seu irmão Munro estava no mesmo time — aleluia em dobro.

Dois espécimes viris musculosos, exalando força e vitalidade.

Uma das fêmeas do clã, uma beleza alta chamada Cassandra, estalou os dedos diante dos olhos fascinados da Chloe. Com um sorriso, ela disse.

— Você tem uma coisinha aqui, — ela bateu levemente com as costas da mão contra sua própria boca —, talvez baba? Munro e MacRieve causam este efeito nas fêmeas.

— Eles conseguem essa reação o tempo todo? — Gostoso e Gostosão. Imaginou MacRieve beijando uma Lorean sobrenaturalmente bonita, e seus punhos cerraram.

— Oh, aye. Desde que eles eram apenas garotos. — Ela mordeu o lábio, como se tivesse dito algo que não deveria.

— Por que MacRieve é chamado pelo sobrenome?

— Ele é o chefe dos Lykae da Nova Escócia, então isso é um título. Ele é considerado MacRieve lá. Além disso, Sassenach[7] foram abatidos por este nome por séculos. — Ela soletrou isto para Chloe. — Suponho que acabou ficando. Só seu gêmeo chama-o de Will. Para o resto de nós, é MacRieve.

A própria Chloe abateu-se por seu nome.

— Tem certeza que não posso ajudá-la a limpar?

Cassandra disse.

— Só aprecie o show.

O jogo começou com um arremesso impressionante. Chloe realmente nunca prestou atenção ao rúgbi — se um determinado esporte não tinha liga das mulheres, então não era muito fã. Contudo, após algumas jogadas, notou similaridades tanto com o futebol quanto o futebol americano.

Todos os machos eram rápidos, mas a velocidade do MacRieve em campo era alucinante. Uma coisa boa. Considerando o modo como estes homens agarravam, ela teria feito qualquer coisa possível para não ser pega com a bola.

O tórax dele estava brilhando de suor, seus olhos focados, ele e Munro passavam a bola para trás e para frente, iludindo a defensa, parecendo saber exatamente onde o outro irmão estaria.

Uma coisa de gêmeos? Ou apenas muita prática?

Oh, sim, MacRieve movimentava-se bem em campo. E fora dele. Sempre que recordava o que ele fez com ela, seu rosto ficava vermelho.

Ele era tão dominante. E falava sujo. Aparentemente, ela gostou de ambos. Muito.

Ele disse que ela se entregou a ele, e supôs que tinha. Mas na sua cabeça, sexo era um novo esporte que ela nunca jogaria, enquanto ele era um profissional experiente. Claro que o deixaria assumir a liderança submetendo-se ao que ele queria, porque sexo era seu domínio.

Era de se admirar que ela tivesse prometido ficar com ele? Mesmo tendo sido sob coação, como poderia ter explodido para fora tentando deixar este complexo, para encontrar seu pai?

Está certo, ela não tinha nenhuma ideia de onde começar a procurar — ou como atravessar o assustador cerco. Mas ela jogava no ataque. Então qual o problema?

Alguma parte sombria dela estava convencida de que já tinha perdido os Jogos por ter uma mãe imortal? Uma parte mais sombria sua estava aliviada?

Se ela fosse ativada e se tornasse imortal, então esta preocupação teria ido. Teria mais força para se defender de todos os Loreans que quisessem sequestrá-la e torturá-la. Ela nunca ficaria doente ou morreria.

E conseguiria ficar com MacRieve.

Quanto mais gostava dele, mais fora da realidade se sentia. Sua antiga existência estava escapando. Seus sonhos, metas, treinamentos — tudo indo embora. Mas quando estava com ele, não sentia a angústia da perda.

Não deveria? Talvez porque suspeitasse há semanas que sua vida como ela conhecia estava acabada?

Você não é humana.

Em vez de devastação, naquele momento experimentou uma sensação de mau pressentimento, como se o outro sapato estivesse prestes a cair. Isso não poderia ser pior do que aquela quando a merda foi chutada na sua vida. Entre os inimigos no portão e não saber o que estava acontecendo com seu próprio corpo, como poderia não sentir um mau pressentimento?

Rónan deslizou na cadeira ao lado da sua, batendo levemente na barriga dele.

— Ok, moça, decidi perdoá-la por não fazer o café da manhã. Contanto que isso nunca mais aconteça.

— Sorte minha. — Já que provavelmente dividiria a casa com o rapaz pela próxima semana, imaginou que deveria chegar a conhecê-lo. Ele parecia ter em torno de quinze anos, então ela disse. — Você tem dezenove anos, certo?

Com os ombros para trás, ele disse.

— Acabei de fazer quinze. Mas dizem isto o tempo todo.

Ela deu uma conferida com um sorriso.

— Então em que série você está?

— Não temos aulas. — Ele revirou seus olhos cinza claros. — Não vamos para a escola humana. Aprendemos com os pais, então pegamos tudo que precisamos.

— Pegam?

— Os Lykae avistam detalhes que outros não podem ver, e então nossa curiosidade nos leva a investigá-los. Nossos intelectos superiores significam que retemos a maior parte do que aprendemos.

Este garoto tinha atitude. Mas então, Chloe sempre gostou de atitude.

Ele lhe deu uma nova cerveja — porque ela terminou a sua.

— Obrigada. Por que nunca descobri a cerveja antes? — Então ela franziu a testa ao ver uma garrafa nas patas de um Rónan menor de idade. — Eles deixam você beber?

— Não é como se eu fosse um humano de peso leve que não pode lidar com a bebida.

— Ooh, humilha mesmo. — Para ser justa, ela já estava tonta.

Ele gargalhou, e ela se juntou a ele — até que um grito estridente particularmente alto soou por cima do muro.

— Não te apavoram que aquelas coisas estejam lá fora? — ela disse.

— Você nunca viu um Lykae transformado. Existe uma razão pela qual essas criaturas não tenham conduzido um ataque.

Foi o que ela ouviu. O que a fez imaginar o quanto um Lykae transformado realmente era aterrorizante.

MacRieve marcou justamente naquele instante, fazendo uma reverência debochada para seus adversários. Ele correu o braço por cima da testa, e todos os músculos suados em seu torso se contraíram. Seu corpo estava muito maior pelo esforço, suas coxas bem marcadas e avultadas pressionando as pernas de sua calça jeans.

Quando não transformado, MacRieve era mais quente que as chamas. Como se sentisse que os olhos dela estavam grudados nele, ele virou para piscar para ela. Resistiu ao desejo de abanar seu rosto. Lançando sobre um assunto, ela disse para Rónan.

— Este deve ser um lugar divertido para crescer. — Menor de idade bebendo e sem escola.

— Eu acho. Sou novo aqui. Para a maior parte das pessoas, Glenrial é o depósito de lixo.

— O que?

— Nosso clã origina-se de Kinevane, Escócia. Então temos uma colônia oficial na Nova Escócia chamada Bheinnrose. Os gêmeos o fundaram, talhando aquele lugar do nada nos confins lá em cima. Mas aqui? Este é o lugar aonde os fodidos vêm, quem não se encaixa em outro lugar.

— Como quem?

— Nosso príncipe, Garreth — mais conhecido como Príncipe das Trevas — viveu aqui antes dele encontrar sua companheira. E vê a Cassandra ali? — Ele apontou sutilmente com sua cerveja. — É apaixonada pelo nosso rei, mas Lachlain está bem acasalado, então ela está passando um tempo em Kinevane. E Madadh? Eles o chamam de Cachorro Louco, porque uma vez que perde a cabeça, ele quase enlouquece.

Apesar de ter encontrado Madadh na área de segurança, olhou para o homem novamente. Aquela cicatriz em seu rosto fazia com que parecesse não só perigoso, mas delinquente, como se ele listasse seus “passatempos” como prostitutas e boquetes.

Como ele era um Lykae, isso só significava que ele parecia com um bandido perigoso e sexy. Ainda assim, ela nunca, jamais queria vê-lo perder a cabeça.

Ela perguntou a Rónan.

— E aí, por que você está aqui?

— Ben e eu somos órfãos. Não é não exatamente comum perder pais imortais na nossa idade, então ninguém sabe o que fazer conosco.

— O que aconteceu?

— Ataque de Ghoul. Os desgraçados pegaram dois membros da nossa família.

— Eu sinto muito, Rónan.

Claramente desconfortável, ele acenou com a cabeça em direção a MacRieve.

— Os gêmeos eram órfãos também. Perderam seus pais aos treze.

Oh, Deus, isso deve ter sido terrível.

— Como seus pais morreram?

— A mãe deles foi morta por um vampiro. — Não é à toa que MacRieve odiasse tanto vampiros. — Seu pai a seguiu.

— Seguiu?

— A maior parte dos machos Lykae não vive sem suas companheiras. Vamos colocar deste modo: só nossa mãe e irmã morreram no ataque dos Ghouls. Nosso pai se matou diretamente.

Para um lugar cheio de imortalidade, o Lore parecia estar repleto de perdas.

E se Chloe nunca fosse ativada? MacRieve acabaria consigo mesmo quando a vida mortal dela chegasse ao fim?

Ela concordou com a semana que ele pediu, mas agora hesitava. Esta situação era intensa.

— Se este lugar é para aqueles que não se encaixam, então por que os gêmeos estão aqui? — Eles eram magníficos e poderosos. — Não deveriam estar na Nova Escócia?

— Eles estão vagando, ansiando uma guerra. Guerreiros lendários, os dois. Além do mais, ouvi dizer que eles queimaram todas as ninfas lá em cima. Vieram para o sul renovar a guarnição.

Ninfas. Chloe se lembrou de ler sobre aquela espécie. Elas eram extraordinariamente deslumbrantes, com uma necessidade intrínseca de dar e receber prazer sexual.

Ela enxergou vermelho com o pensamento de MacRieve fazer sexo com uma daquelas criaturas — não, não uma. Evidentemente ele pegou uma população Canuck[8] inteira delas.

Ela o contemplou. MacRieve estava descalço, sem camisa, magnífico, rindo de algo que Munro disse.

Nada mais de ninfa para ele. Este é meu homem.

Tão logo o pensamento surgiu, sua respiração a deixou. No passado, sempre que ela tinha uma determinação em um piscar de olhos — esse é meu esporte, minha escola, meu time — ela nunca vacilava.

MacRieve era dela também? Não, não, a intensidade da situação estava contagiando-a. Isso era tudo. Ela bebeu a cerveja, abafando um arroto.

Outra garrafa deslizou na frente dela. Ela olhou para Rónan, que lhe deu um olhar inocente.

— Então você realmente vai jogar nas Olimpíadas?

MacRieve ficou se gabando para todo mundo que ela era uma atleta olímpica, a esmagando um pouco por dentro.

— Fui escolhida para representar os Estados Unidos. — Ela disse e tomou outro gole da cerveja. Talvez com ajuda de MacRieve, ainda fosse possível.

Poderia revelar sua transição para ele? Depois do dia que ela teve, estava tão tentada.

Hoje à noite, ela decidiu. Revelaria tudo que sabia...

Um coro de gritos no campo interrompeu seus pensamentos.

— Por que você não está jogando? — Ela perguntou a Rónan. Embora apreciasse assistir MacRieve, em geral ficar sem chance de jogar enchia o saco. Sentiu como se estivessem no banco de reservas como substitutos.

— Não jogo com adultos. Eles passariam por cima de mim como rolo compressor. Não até que eu seja imortal e possa me regenerar.

— Como isso funciona?

— Quando eu alcançar a idade em que estarei mais forte, congelarei lá e nunca mais envelhecerei. Normalmente acontece em nossos trinta anos.

— Quando MacRieve fez seu congelamento?

— Nove séculos atrás.

Ela engasgou com a cerveja.

— Novecentos anos. — Como a porra de uma cripta podia se manter tão gostoso?

— Aproximadamente. — Seu olhar disparou. — Cabeça Oca não te contou? Ele vai surrar minha bunda por isso.

— Não vou contar a ele. Bem, não se me disser por que você o chama de Cabeça Oca.

Ele pegou o rótulo da sua cerveja.

— Uh, ele não estava muito bem depois que voltou da prisão.

— O que aconteceu com ele lá?

Rónan se debruçou, sussurrando.

— A Ordem torturou-o por semanas. Voltou para casa com todos os tipos de coisas erradas.

Ela olhou para cima para ver MacRieve correndo pelo campo, alegremente agarrando outro jogador. Aquele macho orgulhoso foi torturado pelos subordinados do seu pai. E de alguma maneira, de alguma forma, não a odiava. Outro profundo gole da cerveja.

Justo naquele momento MacRieve captou seu olhar e deu uma leve erguida sexy do queixo, como se só estivesse checando-a. Ela levantou sua garrafa em sua direção, e ele sorriu.

Assim que ele se virou, ela disse a Rónan.

— Derrame. Tudo que sabe.

— Merda, Chloe, não posso.

— Comece a falar ou eu faço. Para MacRieve.

De maneira grosseira, Rónan disse.

— Eles o vivissecaram, okay? Tiraram seus órgãos enquanto ele era forçado a assistir.

Foi sacudida pelas náuseas. Não é de admirar que MacRieve não pudesse falar sobre isto. Ele foi torturado de formas inimagináveis.

— Quando eles o capturaram? — Ela recitou a data do jogo do seu campeonato, perguntando. — Essa soa certa?

— Aye, é exatamente esta. Lembro porque foi a noite que encontrei esta bruxa nocauteante que logo será minha namorada.

Chloe ouviu MacRieve ser capturado. Ela viu o sorriso do seu pai. Sentindo-se violentamente protetora de MacRieve, apertou sua garrafa. Como seu pai pode ter aprovado isso?

— A Ordem rapta Loreans da minha idade, e mais jovens também. Crianças em todos os lugares estão assustadas. Não eu, claro. — Rónan disse, seus olhos disparando novamente. — Existem outros que têm pesadelos. Mas não eu.

Meu pai é o bicho-papão para estas pessoas.

Papai deve ter um ódio cego pelos imortais. Suficiente para cegar um pai para sua filha? Conflito chacoalhou dentro dela. Por um lado, lembrou-se de um pai pacientemente buscando bolas de futebol para ela. Por outro, recordou sua reação para ela na noite passada.

Quando disse que a amava, não importa o que ela era, ele não foi capaz de encontrar seus olhos.

No entanto, ele memorizou seu rosto. A roda da roleta girando, girando...

 

— Olhe para você, irmão! — Munro bateu nas costas de Will durante uma pausa. — Abrindo um sorriso pela primeira vez em anos. É só isso que você precisa.

— Bem, isso não doeu. — Hoje foi o melhor dia da vida de Will. E Chloe nem sabia disso. Seu Instinto foi forte, sua besta se comportou e o clã a recebeu de braços abertos.

No cooler, garrafas de whisky gelado para todos os jogadores: cura Lykae. Mas Will tomou uma cerveja ao invés disso. Planejava repetir seu encontro de mais cedo com Chloe e precisava ficar afiado.

Mantendo-a em seu campo de visão, ele e Munro serpentearam se afastando dos outros.

— Estou vendo coisas em você que não via na memória. — disse Munro.

— Como o que?

— Você está rindo. — Munro respondeu. — Você brincou antes.

— Diz isso como se fosse extraordinário.

— É. — Com a expressão ficando séria, Munro disse — Quando éramos jovens você era tão divertido e jovial, sempre brincando e provocando. Então, da noite para o dia você pareceu crescer em um rapaz de lábios fechados e olhos mal humorados. Foi quando eu soube que algo estava errado.

Porque Ruelle cortou a infância de Will. Lembrava-se pouco de como era ser criança. Sabia que deve ter brincado com Munro antes de conhecer Ruelle, mas não conseguia recordar nenhum evento.

Estranho, conseguia lembrar-se de cada exato detalhe do que aconteceu naquela cabana. Como ela repetidamente alfinetava-o abaixo e o usava, ignorando suas tendências de alfa enquanto forçava-o a liberar sua besta.

E pior, até o fim, ele se convenceu que era sua responsabilidade alimentá-la. Não é à toa que esteve tão fodido.

Aquela cabana ainda permanecia hoje nos Bosques de Murk, uma lembrança constante de sua fraqueza.

— Ruelle tomou muito mais de mim. — ele disse, o eufemismo óbvio.

— Mas agora você tem um futuro pela frente. — disse Munro. — Todo mundo gosta de sua companheira. Ela se encaixa, até com os lobos. Isto não é algo que qualquer mortal possa se gabar.

— Tudo parece diferente agora que ela está na minha vida. Munro, acho que posso ir para cama com Chloe. — Ele mantinha sua besta na coleira, não queria perder — ou apressar — um único segundo do primeiro orgasmo dela.

Ele estava lá, consciente. Ganhou o dia. Se Will puder tomar Chloe como um homem normal, Ruelle finalmente perderia.

— Acha que pode dormir com ela? — Munro pareceu desconfortável. — É melhor ter certeza. Se sua besta ascender... seria um modo horrível para uma mortal morrer.

— Nós ficamos — Will deu uma olhada ao redor — íntimos. E mantive a besta enjaulada. Com ela eu posso.

— Mas e o risco!

Ele exalou uma rajada de ar.

— Aye, eu sei. Você está certo. Pensamento positivo da minha parte. Eu nunca a colocaria em risco. — Ele tomou um gole da sua cerveja. — Ei, Garreth não conseguiu um talismã das bruxas para conter sua besta?

Munro assentiu.

— Não sei todos os detalhes. Só sei que ele não recomendaria o COMO na questão da besta.

— Não posso acreditar que estou prestes a dizer isto, mas queria ter a porra do meu torque. — Assim que Will tiver se livrado disto, ele o lançaria no oceano.

Apesar de odiar, aquele colar ensinou-o muito sobre si mesmo. Percebeu quanto dependia da sua besta, quanto ela o definia.

— Você o usaria mais uma vez?

— Por ela? Oh, aye. — Depois do dia que ele teve com Chloe, Will estava envergonhado por ter confundido o que sentiu por Ruelle com vínculo de companheiro. Já estava experimentando uma necessidade no fundo da alma por Chloe, mais forte do que jamais imaginou. Seu peito estufou e disse. — Ela é perfeita para mim, irmão. Fora sua família, eu amo tudo nela.

Novamente Munro pareceu bastante desconfortável.

— Isto está indo muito rápido. Até mesmo pelos padrões dos companheiros.

Chloe arrancou-o de volta da beira do abismo. Fazia sentido que ele agora estivesse se apaixonando de novo, apaixonando-se por ela. Will deu de ombros.

— Quando você sabe, sabe.

Quanto mais ele aprendia sobre ela, mais fascinado ficava. Ela nunca tocou em álcool porque levava a sério seu treinamento. Era uma espertinha com um humor inteligente, e uma moleca desconfortável nas roupas de garota que o clã trouxe para ela. Ficava constantemente mexendo na saia, e quando ela o pegou descendo o olhar por sua blusa decotada ficou surpresa, como se esquecesse de que estava mostrando a pele. Will percebeu que sua garota estava mais acostumada a uma camiseta e chuteiras.

Na primeira oportunidade, ele a levaria além dos muros e compraria um novo guarda-roupa com tudo que ela quisesse. Não dava a mínima para o que ela vestia — desde que viesse nua para sua cama.

Estas descobertas vinham na esteira do que ele aprendeu na clareira hoje. Apesar de inocente, sua companheira era cheia de luxúria e sexualmente curiosa. O modo faminto como ela olhou fixamente para seu pau... Ele esfregou a mão pelo rosto, sufocando um gemido. Sua Chloe quis chupá-lo.

Não conseguia lembrar-se do último boquete que recebeu. Eles foram de curta duração porque sua besta ascendia sem falta. E a besta não tinha nenhuma paciência para isso, sempre colocava a fêmea de quatro para um cio cru e brutal.

Se pudesse assumir o controle de sua besta, poderia olhar adiante por mil novas experiências com Chloe.

Um novo começo com ela, em todos os sentidos.

— Então me conte como é amar tudo nela. — Munro bebeu seu whisky. — E não é assim? A atração por um companheiro?

— Não, descobri uma coisa. Sempre pensei que você era compelido a gostar de coisas na sua fêmea porque era sua companheira. A verdade é que ela é minha companheira porque gosto de tudo nela.

Munro fez uma cara cética.

Will não podia dizer o quanto eles se deram bem sexualmente, não sem admitir o quanto precisava de uma mulher para olhar dentro de seus olhos e ver que confiava que a levaria onde ela precisava ir. Então ele disse.

— Ela é feroz como um Lykae pequenino. E nem um pouco como Webb. Ficou indignada com as coisas que eu disse a ela sobre seu pai. Ela realmente queria saber como eu estava depois de encontrar minha companheira.

— Você está de sacanagem.

— Não! E ela gosta de mim também. Concordou em ficar comigo por uma semana, dar uma chance para nós.

— Mesmo você planejando matar o pai dela?

Will estava em conflito com isso, sabendo que provavelmente deveria não matar o pai da sua companheira, não importando as circunstâncias.

— Inferno, provavelmente outra pessoa consiga chegar até ele antes de mim.

— O que vai fazer a respeito da mortalidade dela?

— Tenho que encontrar um modo de transformá-la. — Durante o dia todo, quanto mais reconhecia o quanto era perfeita para ele, mais temia sua morte.

Teoricamente Chloe podia ser transformada em uma Lorean, mas o catalisador para a transformação era a morte.

Se Will tentasse transformá-la em uma da sua espécie, teria que mordê-la, então matá-la. Se conseguisse sobreviver, a besta nela se ascenderia tão forte que não poderia controlá-la por anos. Se é que alguma vez conseguiria. Os vampiros tinham muito mais sucesso em transformar humanos do que os Lykae.

Transformá-la no tipo de criatura que matou sua mãe?

Até estas opções sinistras tinham que ser consideradas. Deu uma olhada para ela bebericando cerveja amigavelmente com Rónan. Will suspirou quando ela ajeitou sua saia minúscula.

— E as Olimpíadas? — Munro perguntou.

Mais uma vez, Will sentiu uma onda de orgulho por sua companheira surpreendentemente forte. Orgulho não era uma emoção que estava se acostumado ultimamente.

— Não vou transformá-la até depois dos Jogos. Não sei como isso vai funcionar, mas vou descobrir um jeito de conseguir. — O único modo de fazer com que a deixassem de lado seria achar Webb e entregá-lo aos Pravus. O que ele não pôde fazer antes — e havia pouco tempo antes dela ser esperada na Europa.

— Falando por experiência, sugiro transformá-la logo. Mortais... eles perecem com muita facilidade. — Munro disse enquanto um flash de dor cruzou sua expressão. Ele teve suas próprias tragédias no passado também. — Que espécie você estava considerando? Vampiro? Demônio? — Ele tomou um gole de whisky. — Nïx saberia.

Will já tinha feito um telefonema para a oráculo.

— Entrei em contato com ela.

Munro assentiu.

— Nesse meio tempo, a lua estará cheia em oito dias. Podemos fazer como fizemos com Garreth.

Sabendo que nenhuma gaiola ou corrente poderia impedi-lo de ir para sua companheira quando a lua estivesse cheia, Garreth ordenou a eles para quebrar suas pernas repetidamente — para que não pudesse alcançar sua fêmea assustada.

— Aye. — Will disse facilmente. — Qualquer coisa para mantê-la a salvo. — Chloe tinha acabado de esfregar a testa? Will se afastou sem dizer mais nada, apressando-se em sua direção. Provavelmente ela estava com dor de cabeça. A julgar pelos comerciais de TV, mortais tinham enxaquecas intensas a porra do tempo inteiro.

— O que está errado? — Ele perguntou quando parou diante dela. — Rónan está te incomodando? Está com enxaqueca?

— Não, nada disso. — Suas palavras estavam enroladas. — Sinto-me ótima.

O olhar dele cintilou em seu rosto, e seus lábios curvaram-se para cima.

— Aye, porque você está bêbada.

Ela piscou para ele.

— Estou?

— Você bebeu demais. Não deveria ter deixado você beber isto logo após ser ferida. Mas pareceu tão saudável, sua cor tão boa, que esqueci. — Ele virou-a em seus braços e ela riu. Ouch, esse som! — Minha mortal precisa dormir. Pra cama, amor.

Ela olhou para ele como se já estivesse meio apaixonada. O sentimento é mútuo, companheirinha. Como uma mulher podia ser tão adorável e sensual ao mesmo tempo?

Conforme ele a carregava para dentro, ela disse.

— Então, sobre seu primeiro nome...

— É um assunto delicado. — ele respondeu em tom seco.

Ela sorriu.

— É William em gaélico?

— Aye. Como Uilleam Uallas.

— Posso te chamar de Will?

Will era como sua família o chamava. Sim, Chloe era sua companheira, mas o nome lembrava-o do seu passado.

Inferno, descobriria tudo isso amanhã.

— Talvez. — Ele subiu os degraus de três em três, fazendo-a rir novamente. — Se você for muito boa.

Em seu quarto, ele a deitou na cama. Qualquer esperança de fazer mais alguma coisa com ela desfez-se quando a viu bocejando.

— Você precisa descansar. — Ele tirou os sapatos deslizando de seus pés pequeninos, então estendeu a mão para sua saia. Ela engoliu em seco, virando aqueles grandes olhos castanhos em direção a ele.

— Só estou te deixando pronta para deitar. — Ele não podia dizer se ela estava contente com isso ou não. Assim que a cobriu, ele disse. — Preciso tomar um banho.

Este banho foi um pouco mais lento do que o que ele tomou correndo na noite anterior. Com a toalha embrulhada ao redor da cintura, ele rapidamente caçou uma calça jeans e outra camiseta.

Quando retornou, o humor dela tinha se tornado mais sombrio.

— O que acontece com você se eu morrer?

Ele se sentou ao lado dela na cama, tirando seu cabelo carinhosamente da testa.

— Vou encontrar um modo de tornar você imortal, moça.

— Você quer isso?

— Tenho que fazer.

— MacRieve, eu... — a voz dela foi diminuindo, como se tivesse muitas coisas para dizer a ele de uma vez. — Há algo que você precisa saber.

— O que? Pode me dizer qualquer coisa.

Ela mordeu os lábios.

— Hmm, eu realmente aprecio tudo que você fez por mim.

Claramente não era o que ela estava prestes a dizer, mas ele não pressionou. Eles tinham tempo.

— Eu me diverti muito com você hoje. — Ela riscou o lençol com o dedo indicador. — Houve algumas vezes... quando me encontrei sorrindo para você, e já estava sorrindo para mim. E pareceu como se nós fôssemos arrancados de lá por algum tipo de golpe. Apenas nós dois.

— Nós fomos. Simplesmente por encontrar um ao outro. E fico feliz por ouvir você dizer que gostou do dia, já que foi o melhor que jamais tive.

Ela franziu o cenho.

— Você não tem que dizer isto.

— Você me perguntou quantos anos eu tenho. Nasci aproximadamente nove séculos atrás. Vivi por mais de trezentos mil dias. E você tornou este aqui o meu dia favorito.

— Sério?

— Oh, aye. E eu juro a você, Chloe, de alguma maneira, de alguma forma, teremos mais uma eternidade deles.

Naquele exato momento, uma das criaturas além dos muros deu um grito estridente particularmente alto.

— Falando em futuro? — Ela desviou o olhar. — O meu é um pouco duvidoso. — Ela pareceu estar sóbria. — Você disse que moveria céus e terra para conseguir me levar às Olimpíadas, mas mesmo que você consiga um talismã, eu ainda estaria em público. Aquelas coisas me achariam.

Quando ele não disse nada, ela perguntou.

— Você já trabalhou por algo — dando tudo, sacrificando tudo que podia — só para tê-lo arrebatado?

Ele ajudou na busca pelo seu rei quando Lachlain foi capturado pelos vampiros. Por décadas, eles procuraram somente para falhar.

Lachlain escapou sozinho.

— Quero muito dar a você a oportunidade de jogar. — Will disse finalmente. — Mas só existe uma maneira de garantir sua segurança.

Ela leu sua expressão esticada.

— Entregando-lhes meu pai.

— Apagaria todos os nossos problemas.

Ela sacudiu a cabeça, os cachos castanhos alaranjados saltando.

— Eu nunca deixaria isso acontecer.

Ele suspirou.

— O que posso fazer para que acredite que ele é um vilão?

— Nada. Não há nada que você possa fazer. Eu te conheço há apenas 24 horas. Eu o conheço há 24 anos. Só preciso falar com ele.

— Aposto que está dizendo a si mesma que isto é tudo um grande mal-entendido. Não é. Pessoas foram feridas. — Sua voz ficou áspera quando recordou dele sendo amarrado na mesa de cirurgia de Dixon, um afastador de tórax posicionado acima dele. Ele nunca quis nada mais do que se livrar. Para negar o que ela procurava...

O olhar de Chloe caiu. Só então ele notou que a mão dele estava apertada em cima do seu tórax, como se guardando seu coração, suas garras cravando em sua pele.

Pelo olhar em seu rosto, ela compreendeu sua reação. Então Rónan contou a ela. Era apenas questão de tempo antes dela descobrir no complexo.

— Eu fiquei ferido. — ele disse bruscamente, deixando-a saber que não discutiria mais isso.

Ela sentou-se, deitando sua mãozinha no seu antebraço.

— Eu sinto tanto, MacRieve. Queria que você não tivesse sido. Mas por toda minha vida meu pai foi o cara que me levantou quando caí, quem me ensinou a ser forte. Se não fosse por ele, eu provavelmente teria desistido naquele leilão. Não posso esquecer tudo que ele fez por mim. Eu simplesmente não posso. No meu lugar, você também não seria capaz.

E acima de tudo, ela era leal. Só que pelo homem errado.

— Não, não seria. Mas temo por você, moça. Um dia saberá o que ele fez; um dia você vai sofrer.

— Se eu apenas pudesse vê-lo.

— Como eu disse, ninguém no Lore pode encontrá-lo.

— Talvez se você me ajudasse a passar pelo muro, ele entraria em contato comigo.

Will segurou sua nuca com a mão aberta.

— Você prometeu sete dias comigo, Chloe. Poderia me deixar assim tão fácil? Mesmo depois de hoje?

— Não vou mentir para você, eu sinto algum tipo de conexão por você que é diferente de qualquer coisa que já senti por outra pessoa. Isto é... assombroso para mim. — Ela apertou as têmporas, claramente confusa. — Durante semanas estive tão confusa e sozinha. E algo sobre você parece certo. — Virando os olhos lacrimejantes para ele, ela agarrou sua mão livre e apertou com força. — Você é a única coisa na minha vida que faz sentido agora.

— Você é a única coisa que faz sentido para mim. — Você vai me trazer paz. Finalmente, depois de tanto tempo sem sentir nada, além de culpa e ódio por mim mesmo.

— Isto é realmente intenso, — seu olhar disparou. — Sinto que deveria observar a mim mesma. — Ela parecia absolutamente assustada.

Como Munro disse, isto estava indo rápido demais, inclusive até para os padrões de companheiros. Ela deve estar se sentindo subjugada.

— Vamos descobrir isso pela manhã. Contudo, vou te ajudar no que você precisar de mim. Tudo vai ficar bem. Por enquanto, deite-se comigo.

Se qualquer parte do seu corpo abaixo da cintura tocasse qualquer parte dela, ele perderia o controle. Então se deitou ao lado dela por cima da coberta. Mas aí ela olhou avidamente para seus braços, como se quisesse estar dentro deles. Ele arrancou a camisa e a agarrou. Embalando sua cabeça nele, ele reclinou-se para trás.

Ela colocou a palma da mão no meio do seu peito, então enrijeceu e puxou-a para longe. Oh, aye, ela soube o que aconteceu com ele. Será que pensava que ele ainda estava ferido? Ou que não ia querer que ela o tocasse lá? Ele desejava demais que o tocasse ali...

Ela inclinou a cabeça no seu tórax. Sentiu a respiração dela oscilar; ele prendeu o fôlego.

Ela deu um beijo suave em cima do seu coração, não tendo nenhuma ideia que ele tinha acabado de dá-lo a ela.

 

Chloe estava à deriva nessa fase entre a vigília e o sono, quando um perfume fez cócegas em seu nariz.

Que cheiro é esse? Masculino, fresco, inebriante. Seu coração começou a bater mais rápido, sua pele aqueceu.

Ela virou-se em direção à fonte, e encontrou-se com a cabeça apoiada no peito nu de um homem. Seu homem. Ela sorriu preguiçosamente.

Ele estava dormindo ao lado dela no quarto escuro. O pálido sol tentou esquivar-se através de uma fresta entre as cortinas pesadas. Manhã?

Embora estivesse escondida debaixo das cobertas, ele estava em cima delas — sem dúvida, para manter o controle. Porque era generoso e protetor.

E atlético, sexy, divertido, inteligente, sexy, arrogante e sexy. A compreensão a golpeou. Ela poderia procurar a vida inteira e nunca encontraria alguém que se encaixasse tão bem com ela.

Ela o observou dormindo. Seus lábios firmes estavam entreabertos, a barba por fazer sombreando sua mandíbula áspera e o queixo teimoso. Seu olhar varreu mais abaixo pelo peito musculoso e os recortes dos músculos de seu estômago.

Aquela linha de cabelos descendo por seu umbigo até o jeans de cintura baixa.

Do lado de fora, ele era a perfeição física. Mas por dentro... estava ferido e ainda tinha as cicatrizes mentais. Ontem à noite, inconscientemente ele protegeu seu coração ao pensar na sua tortura, confirmando o que Rónan dissera.

MacRieve percebeu que ela sabia. Ele aceitou isso. E depois que beijou o peito dele, segurou-a em seus braços com tanta força que temeu que fosse quebrá-la.

Então, como se estivesse esperado por muito tempo para dormir, ele pareceu desmaiar. Ela perdeu a oportunidade de dizer sobre seus temores, pedir sua ajuda para descobrir o que era.

Hoje, ela decidiu. Falaria com ele hoje. Porque não queria que essa coisa ficasse entre eles.

Por enquanto, deliciava-se com o cheiro e o calor dele. Sim, ela percebeu que poderia se acostumar com ele. Acordar com ele assim a fez se perguntar novamente se estava exatamente onde estava destinada a estar.

Destinada a este homem.

Ele disse que vivia por mais de trezentos mil dias. No entanto, ontem foi seu favorito dentre todos eles?

Ela decidiu que hoje seria seu novo recorde pessoal.

Sem mais covardia. Corajosamente exploraria essa coisa entre eles. Quando o acariciou, seus lábios deslizando em um de seus mamilos, ele acordou.

— Chloe? — Ele aspirou, os músculos tensos. — Está precisando de mim, moça? — perguntou com aquele sotaque estrondoso.

— Mhm-humm.

Ela observou seu pênis começar a endurecer, preso dentro de sua esticada calça jeans. Com um gemido, ele se ajustou e seu comprimento distendeu mais uma vez, saliente à vista.

Os dedos dela se enroscaram quando o desejo de se apoderar dele surgiu. Quanto mais olhava, mais queria beijá-lo. Ela lambeu os lábios para aquilo.

— Ontem, pensei sobre algo. — Seu quadril começou a balançar contra sua vontade. Literalmente.

— Sobre o que?

Seus dedos desceram pelo torso dele para a protuberância entre suas pernas, acariciando-o lá.

— Sobre beijar você.

A voz rouca dele rompeu mais baixa, quando disse.

— Você estava, não?

— Beijar você — ela esfregou seu polegar sobre a cabeça... — aqui.

As mãos dele voaram para suas calças, arrancando-as pelo seu corpo abaixo para que pudesse chutá-las com um rosnado.

— Bem, então, se você precisa...

O corpo dele foi colocado para fora como uma recompensa à sua frente. Os ombros largos, o quadril estreito. E aquele glorioso eixo continuando a endurecer.

— Nunca fiz isso antes. — ela disse, distraída enquanto se movia entre as pernas dele.

Ele espalhou-as, convidando-a, aquela grande vara pulsando para cima e para baixo.

— Estou honrado que esteja começando — e terminando — comigo. Mas faça de forma que eu possa ver esse seu corpinho.

Ela deu-lhe um metódico aceno, como se ele tivesse acabado de dizer para se abaixar e fazer vinte flexões. No entanto, uma vez que tirou sua camisa, hesitou em seu sutiã.

— Mostre-me esses bonitos seios, Chloe.

A própria casa dele. Ela poderia ser tímida na frente deste homem, mas expor-se a ele a fazia sentir tão... adequada. Então o fez, continuando com sua calcinha.

Quando seu olhar passou sobre ela, ele lhe falou em gaélico, palavras que sabia que eram elogios. Lembrando-se, acrescentou em Inglês.

— Ouch, isto não vai durar muito tempo pra mim.

— Como faço?

— O que tem vontade de fazer?

Encarar a ereção dele encheu sua boca d’água, ela murmurou.

— Lamber como um pirulito.

— Deus tenha misericórdia. — ele silvou quando mais umidade cobriu a cabeça. Pegou seu eixo na mão, segurando-o para ela como uma oferenda. — Venha saborear.

Isso foi natural para ela, como se devesse estar aqui com ele, a ponto de fazer... isto. Então, inclinou-se e deu uma longa lambida na cabeça. Quando olhou para avaliar sua reação — felicidade absoluta — provou o delicioso gostinho de seu sêmen. Uma sensação quase elétrica de prazer inundou-a. Ela gemeu.

— Acho que vou adorar isto. — Um pensamento se repetiu: Preciso de mais.

Outra lambida fez seu eixo pulsar novamente, umidificando mais, proporcionando outra batida de sensação. Se sugestões de sêmen a faziam se sentir assim, não podia imaginar o que o orgasmo dele faria com ela. Lambeu avidamente cada nova gota, como se estivesse percorrendo uma casquinha de sorvete derretendo.

Um grunhido retumbou pelo peito dele.

— Preciso... preciso que olhe nos meus olhos.

Para que mantivesse o controle. Encarando-o, ela desceu mais uma vez, circulando a coroa com a língua. Enquanto amava-o com a língua e lábios, reconheceu que algo estava estalando em algum lugar dentro dela, como se uma espécie de intuição feminina estivesse emergindo. Ela beijou ao lado de seu comprimento para que ele movesse sua mão e a deixasse conduzir.

— Aí, minha moça — ele murmurou —, aí mesmo.

Esta intuição guiou-a até que parecia saber exatamente como beijá-lo. Sabia que precisava dela para levá-lo mais profundamente no calor de sua boca. Sabia que ansiava que sua mão apertasse ao redor da base de seu pênis, bombeando-o ao mesmo tempo. Sabia que suas bolas estariam doloridas para que as acariciasse enrolando seus dedos.

Seus ouvidos se contraíam a cada gemido ou grunhido dele, a forma como o timbre de sua voz mudou quando ele se aproximava de seu auge.

De acordo com sua nova intuição, ela precisava levá-lo até o limite. E então, talvez deixá-lo permanecer lá...

 

Duas noites atrás, Will pensou, acho que estou sangrando de amor.

Quando Chloe pegou seu pau entre aqueles carnudos lábios avermelhados, ele pensou, eu sei que estou.

Ela gemeu e o aroma de sua excitação se aprofundou. O mais doce, mais sedutor perfume. Ela estava gostando disso.

Homem de sorte, Will! Ele estava duro como pedra e turbulento como um rapaz, animado como um.

Podia dizer que Chloe era inexperiente nisso — ela hesitou antes de tentar algo novo. No entanto, estava descobrindo isto habilmente.

Ele relaxou acariciando seus cabelos, enquanto ela explorava-o com seus lábios macios e buscando com a língua. Mas então sua besta começou a se mexer com mais agressividade. Arranhando dentro dele e novamente, Will se recuperou.

Esta era Chloe dando seu primeiro boquete. Se não conseguisse o controle, poderia arruinar isso para sempre. Ela era tão jovem, tão ansiosa fazendo isso. Não estrague isso. Soltou-a, travando na cabeceira da cama. Se tivesse que agarrar seu sentido através disso, ele o faria.

Quando ela gemeu e puxou seu comprimento, ele arqueou as costas. Isto é meu para desfrutar, besta. Estava mais duro do que já esteve sem que isto crescesse, suando com prazer.

No entanto, um mal estar subjacente surgiu. Estava preocupado com sua besta, mas também sobre o quão perfeito isto parecia. Ele tinha acordado com ela aninhando-o depois que dormiu com insignificante pesadelo. Will MacRieve simplesmente não tinha manhãs como esta. “Cabeça Oca” assumiu um significado totalmente diferente.

Quando ela começou a usar a mão para bombeá-lo enquanto o chupava mais fundo, sabia que era apenas uma questão de tempo.

— Você está sugando-o tão bem, moça. Pode sentir meu sêmen subindo pelo meu pau?

Ela apertou a mão em torno do anel inchado, fazendo-o reverter para livrar-se daquele sêmen.

Exatamente quando estava prestes a gozar, e estava abrindo a boca para dizer-lhe, ela abrandou, deixando-o pendurado no limite. Suas garras cravaram mais fundo na madeira. A intensidade era entorpecedora. Reprimindo uma maldição, lembrou a si mesmo que ela estava explorando-o. Deixe-a brincar.

Quando sua pequena língua quente dobrou-se contra seus testículos sensíveis, ele deu um grito.

— Chloe!

Ela colocou com a mão e a boca mais uma vez, até que ele estava tremendo com a necessidade de ejacular — somente para aliviar-se novamente.

— Faça-me gozar. — ele chiou entre as aspirações.

Ela lambeu a fenda de seu pau, em seguida apertou os lábios para soprar.

— Ah! Mulher impiedosa!

Trabalhou-o com firmeza até que a pressão ficou insuportável, até que chegou ao ponto sem retorno.

Tenho que avisá-la.

— Você me pegou de mau jeito! Vou gozar como a porra de um rio.

Ela recuou, olhando por baixo dos longos cílios.

— Tudo bem. — Brincando com seus testículos carregados, roçando as unhas por trás deles.

Ele tentou falar. Não conseguiu. Tentou novamente

— Tudo bem? Como quer isto, então? Tenha cuidado ou vou gozar diretamente na sua língua.

Ela esfregou carinhosamente seu eixo contra sua bochecha... tal gesto doce no meio de toda a quente e suja sucção — sua mente ficou tão completamente deslumbrada quanto seu pau.

— Quero isso agora. — Ela voltou para seu beijo, levando-o ainda mais fundo, bombeando-o mais rápido.

Ele abriu os joelhos ao lado dela, empurrando duro pelos lábios dela. Suas garras escavando na cabeceira da cama, enquanto seus olhos reviravam em sua cabeça.

 

A cabeça de MacRieve açoitou, suor deslizava por todos seus músculos tensos. Suas pernas tremeram em torno das orelhas dela quando o sêmen dentro de seu eixo subiu todo o caminho até o topo.

Ela retribuiu desta forma. Isto foi obra dela. Orgulho e excitação guerreavam dentro dela, junto com uma ternura por este homem que a chocou com sua força. Ele é meu.

Quando o quadril dele corcoveou tão descontroladamente, as unhas de Chloe afundaram nele, segurando-o imóvel.

— Porra, caralho! Você quer que eu goze mais forte do que já estou? — Seu sotaque estava tão espesso. — Então não pare, baby, apenas não... ahhh! — Suas costas arquearam.

Calor esguichou em sua boca quando ele rugiu seu nome. Ela estremeceu com seu primeiro gosto, como se um raio a tivesse atingido. Como poderia alguma coisa ser tão deliciosa? Sentia como se tivesse esperado uma eternidade para saboreá-lo. Quando engoliu seu sêmen a energia parecia enchê-la, como um curso percorrendo pelas suas veias.

Arfando em torno da cabeça, quase delirante, ela sugou ainda mais profundo. Meu homem, meu homem... meu.

Seu couro cabeludo começou a formigar. Viu marcas em sua visão. Arrepios dançaram sobre sua pele úmida.

Seu coração trovejava como terremotos em seus ouvidos sensíveis.

E quando ficou exausto, ele colocou a mão sobre sua cabeça para contê-la. Mas estava relutante em encerrar uma experiência como essa, e manteve-se lambendo-o.

Embora ele estremecesse violentamente com cada uma de suas lambidas remanescentes, não a impediu.

— Acho que estou sonhando. — Ele estendeu os braços esticados, segurando seu rosto. — Mal gozei até meus olhos reverterem em minha cabeça, e minha companheira está me lambendo como uma gatinha lambendo leite.

Ele estava sorrindo. O coração dela contorceu-se no peito. Ele era o macho mais lindo que já tinha visto. Um deus escocês do sexo de olhos dourados. E a queria. Para sempre.

Ela sorriu de volta, a emoção apossou-se dela. Porque suspeitava que fosse querê-lo por muito tempo.

Mais uma vez estavam sorrindo um para o outro como se tivessem feito algum tipo de jogada.

Naquele momento, ela pensou, Por que eu iria deixá-lo ir?

 

Will estendia-se estupefato, as pernas esparramadas ao redor de seu corpo.

Chloe tinha acabado de chupá-lo até que tivesse visto estrelas e agora sua bela companheira estava limpando-o com lambidas. Quando olhou para baixo com admiração, ela continuava a beijar e acariciar até que estava endurecendo novamente.

Nunca foi tão profundamente agradado. O que era algo para se reconhecer em novecentos anos. Ele estava orgulhoso de seu controle — e completamente encantado com sua companheira.

— Parece que encontramos algo que Chloe realmente gosta.

— Eu adorei.

— Eu te amo, mo Chridhe.

— Do que você me chamou?

— Meu coração. Agora é sua vez.

— Hmm. — ela murmurou contra a ponta, sua respiração fazendo cócegas nele. Quando a afastou para longe, ela gritou. — Ei, não tinha terminado.

— Isto não vai a qualquer lugar, amor. — Ele virou-a de costas, abrindo suas pernas. Encontrando-a encarando a boca dele. — Ah, Chloe, seu coração acelera quando olha para minha boca. Porque sabe que estou prestes a fazer merda com ela. — Ela é minha. E vou tomá-la. Apenas não completamente. Mantenha a besta sob controle.

— Vou fazê-la gozar até que cavalgue minha língua como uma devassa. Porque é isso que você é.

— O que significa isso? — Ela perguntou com uma voz gutural que enviou o sangue correndo para seu eixo novamente.

— Isso significa que foi feita para mim. — Ele começou a beijar o pescoço dela com a intenção de abrir uma trilha por todo o caminho até os dedos de seus pés e de volta.

De repente, ele parou.

— MacRieve? Isso é uma mais provocação sua? Já estou prestes a morrer!

Outro perfume agora estava correndo através de sua consciência. Ele deu a si mesmo uma sacudida interior. Recapitulação? A lembrança de um pesadelo?

Chloe estava balançando os quadris contra seu tronco quando ele sentiu um cheiro que não esperava nunca mais sentir novamente.

Súcubos. Perto. Ele respirou fundo, o cheiro cada vez mais forte. Deuses, estavam dentro dos muros! Estavam aqui para se vingar? Ou roubar Chloe para os Pravus?

Com uma maldição amarga, mergulhou em suas calças, arrebatando-a de cima do seu pau.

— Vista-se agora! — Jogou sua camisa para ela.

— O quê? — Ela colocou-a sobre a cabeça. — O que está acontecendo, MacRieve?

Vestida o suficiente! Ele agarrou-a, prendendo-a em seus braços quando pulou para a porta do banheiro...

Ele congelou, todos os seus músculos tensos. Lentamente se afastou para olhar para baixo encarando os olhos dela. Eles... brilhavam esverdeados. Seu cabelo estava alongando a cada segundo. Garras apontavam em cada um de seus dedos.

— Não, não. Isto não está acontecendo.

— Por que está me olhando desse jeito?

Esta não era uma mortal em seus braços, era uma Súcubo. Minha companheira... minha companheira é uma da laia delas.

A bílis subiu em sua garganta. Ela tinha acabado de se alimentar. Dele!

Embora tivesse prometido aos deuses que preferia morrer a alimentar uma daquelas criaturas vis novamente, permitiu que esta parasita brincasse com ele, seduzisse-o, em seguida, colhesse sua semente.

Não podia fazer isso, não podia lidar com isto...

A besta ascendeu, rugindo livre.

 

— MacRieve, você está me assustando! — Chloe gritou. Ele estava olhando-a com repulsa inconfundível, o rosto contorcido. Quando ele começou a tremer, ela gritou. — Solte-me!

Seus punhos se apertaram ao redor de seus braços com tanta força que pensou que fosse quebrar. Seus olhos estavam azuis gélidos e brilhavam. Presas saíam de sua boca. Garras negras alongadas nas pontas de seus dedos.

— Não você, não você. — Ele ergueu-a até que seus pés estavam balançando, então puxou-a para perto, aquelas enormes presas a centímetros de seus lábios. Seu olhar feroz perfurando-a.

Ela virou a cabeça, gemendo de medo. Com um rugido, ele atirou-a para a cama. Ela arrastou-se para o chão com uma velocidade surpreendente. A confusão irritou-a quando se apoiou em um canto.

Ele virou-se para bater as palmas das mãos contra os painéis de madeira da parede, então cortou com as garras até embaixo. Farpas voaram através do quarto.

Quando olhou para ela mais uma vez, não era ele. Não era humano, a mente dela vagamente lembrou-se. Ele não é humano. Estava olhando para sua... besta. Um monstro. Em seu olhar branco azulado, ela viu a loucura — e a astúcia animal.

Ela balançou com muita força a cabeça negando.

Ele cortou a parede novamente, rugindo para o teto.

— Eu desisto! VOCÊ GANHOU!

Munro invadiu o quarto. A aparência dele como MacRieve estava poucos momentos atrás.

Antes e depois.

— Will? O que descontrolou você?

MacRieve rosnou.

— Tire-a da minha frente!

— O que há de errado com você? — Munro olhou para Chloe encolhida no canto, tremendo. — Quer que ela morra de medo?

Ele gritou de volta.

— SIM!

Os olhos de Munro começaram a cintilar azulados também.

— Essa é a minha deirfiúr. Não posso deixá-lo machucá-la.

— Ela é uma maldita Súcubo! Uma devoradora de sêmen!

Chloe suspirou.

— Súcubo? — Leu sobre elas. Elas retiravam a alimentação de... sexo.

O gêmeo de MacRieve aspirou o ar e ficou imóvel. Ele olhou para ela com as sobrancelhas erguidas.

— Querido deuses.

Chloe era uma imortal? Uma Lorean?

Ela deve ter sido acionada.

Munro se recuperou rapidamente, empurrando um MacRieve rosnando em direção à porta.

— Fora! — Por cima do ombro, Munro disse. — Se valoriza sua vida, não saia deste quarto. — A porta bateu.

Ela sentou-se atordoada. Não sabia o que mais a apavorava: o verdadeiro eu de MacRieve ou a revelação dela.

Súcubo.

Pela forma como estes dois homens reagiram, entendeu que uma Súcubo não era exatamente amada por todos. E a mãe dela foi uma?

De certa forma Chloe conseguiu erguer-se, então tropeçou para o banheiro. Seu reflexo atordoou-a. Seu rosto estava mais suave, o cabelo enrolado agora passando dos ombros e continuando a crescer.

Suas íris estavam brilhando com um verde rico. Leu que todas as criaturas do Lore tinham olhos que mudavam com a emoção. Eu, uma criatura do Lore. Então quando eles voltariam ao normal?

Ela levantou a bainha da camiseta de MacRieve refletindo no espelho, e encontrou seu quadril arredondado, com os seios mais fartos. Ela largou a bainha segurando a pia como apoio, observando suas novas garras. Eram rosa como unhas, mas tinham pontas afiladas e bordas afiadas.

Garras assustadoras.

E ainda mais angustiante do que ela tinha ganhado, era o que tinha perdido.

Todas as suas cicatrizes sumiram.

Ela supôs que a maioria das meninas estariam encantadas; Chloe estava chateada. Mereceu essas marcas, cada uma delas, como medalhas de honra.

Aquela em seu tornozelo lembrava-a da grande meio-campista Brasileira que tinha chutado Chloe direto para o hospital — e como, na próxima temporada, a garota tinha pago.

Agora Chloe viu que seus joelhos eram suaves, a cicatriz artroscópica direita desaparecido. Esse tipo de cirurgia era como um rito de passagem. Mesmo a cicatriz da noite passada, aquela que a teria lembrado tudo o que tinha sobrevivido, estava faltando.

Seus emblemas. Foram-se.

Com um grito ela arremessou o punho, quebrando o espelho. Ficou boquiaberta para a mão dilacerada. Estúpida, estúpida. Precisava descobrir uma maneira de escapar deste lugar antes que MacRieve voltasse pra acabar com ela. O ódio em seus olhos...

Como pôde tratá-la assim? Depois do que tinham acabado de compartilhar?

Todas aquelas promessas que fizera, tudo mentira! Estava furiosa que ele tivesse escondido a parte animal de si mesmo. Sim, ele mencionou algo na clareira, mas pensou que estava falando metaforicamente.

Não sabia o que ela era, mas ele sabia perfeitamente o que era. Havia uma parte dele tão monstruosa que a chocava apenas lembrar isso. Estava feliz que o viu bem antes, antes que estivesse completamente apaixonada por ele.

As ninfas poderiam ficar com ele! Ante este pensamento, uma pontada de perda batalhou com sua fúria.

Essa desconcertante angústia doía mais do que sua nova ferida.

Ela abriu a torneira, fazendo uma careta quando colocou a mão embaixo. Com o sangue lavado, viu que sua pele já tinha começado a regenerar. Porque sou imortal. Pegou uma toalhinha e deu um nó em torno de sua mão.

Sabia que algo estava acontecendo. Pouco a pouco, estava mudando. Isso não deveria ser um choque, Chloe. Não como o choque que bateu nela com sua primeira olhada no MacRieve de verdade. Ele estava desgostoso com ela? Mútuo. Ele tinha ficado repulsivo. Seu belo Escocês mascarava um monstro.

Decidindo que as criaturas no muro não eram tão ruins quanto a que tinha acabado de estar na cama com ela, pegou um caco do espelho, enrolando uma toalha em torno dele.

Se deparasse com o lobo-monstro novamente — tal como em seu caminho para fora — ela o extirparia. Sabia que era matar ou ser morta.

E não seria uma vítima.

Vestiu-se às pressas, colocando o caco no seu bolso de trás, escondendo-o com um longo suéter. Não ouvia ninguém do lado de fora, então virou a maçaneta, mas estava trancada. Frustrada, ela puxou-a.

Ela quebrou em sua mão.

Olhou para isto com espanto. Exatamente o quão forte ela era?

Desesperada para escapar, usou suas garras para forçar a porta a abrir, em seguida foi para o patamar. Lá embaixo, na grande sala, Rónan e Ben sentavam-se rígidos no sofá.

Rónan lançou-lhe um olhar confuso.

Ben balançou a cabeça lentamente em aviso claro.

— Chloe, você precisa esperar lá em cima por Munro. Não deve ficar perto de Will.

Ela desapareceu de volta para o quarto. Parece que vou ter que sair pela janela.

 

Se você matá-la, nunca mais poderá tê-la de volta...

Após uma troca inevitável de golpes com Munro, Will atravessou a floresta, as palavras de despedida de seu irmão se repetindo na mente perturbada de Will.

Munro parecia pensar que Will não deveria matar a parasita que tinha vermifugado seu caminho para sua casa e suas vidas. Ela teve sorte que sua besta tivesse ascendido. Caso contrário, provavelmente estaria morta.

Will ficou enlouquecido de raiva — mas sua besta aceitou Chloe como dele, tinha acalmado as ações de Will. Mesmo que Will tivesse desejado matá-la, seu Instinto ordenou — Proteja, forneça...

Ele se perguntou se seu Instinto entendia que fornecer significava colocar em risco toda sua existência e arriscar o vínculo venenoso dela.

Somente uma Súcubo se alimentou de meu corpo. Ódio fervia dentro dele, tão espesso que pensou que sufocaria com isto. Isso não pode estar acontecendo. Ele gostava de Chloe, saboreou sua paixão, seu espírito. Pensou que sua vida finalmente mudaria.

Pensei que pudesse me refazer. Agora, impossível.

Embora pudesse normalmente correr léguas sem ficar sem fôlego, não conseguia recuperar o fôlego. Tropeçou, então se inclinou, as palmas das mãos sobre os joelhos, sugando o ar.

Sufocando. A escuridão puxando-o para baixo. Chloe tinha se alimentado dele. Assim como Ruelle.

Suas garras se cravaram em seus quadris quando ela o chupou, alimentando-se, então começou com outra rodada. Para outra alimentação. Porque nunca ficaria satisfeita.

Por que isso continua acontecendo com ele? Estava de volta na Hungria.

Não, primeiro puniria Webb. Agora, não teria nenhum escrúpulo em usar Chloe...

A percepção atingiu-o. Webb tinha que saber o que ela era. Ele descobriu que estava mudando e lavou suas mãos. Chloe estava procurando por seu pai porque o homem a tinha abandonado. Claro.

Ele se acalmou. Ela teria que se reorganizar no momento. Estava arrasada com a traição? Atingida? Ela tinha chorado?

Ele rugiu, cortando uma árvore. A necessidade de protegê-la ainda o assaltava.

Sua vida inteira foi abalada. Ele a imaginou como estava em seu quarto antes, atônita, indefesa. Sim, estava indefesa. Assim como Ruelle. Will se perguntou se passaria por cima do cadáver de sua mãe para proteger esta Súcubo também. Ao pensar nisso bateu a cabeça contra um pinheiro robusto, rachando-o, sangrando.

Sinto-me bem. Necessário. Como aquele golpe que seu pai tinha entregado. Então Will bateu com a cabeça repetidamente.

Acreditava que tinha uma verdadeira conexão com Chloe, que ela estava tão excitada por ele como estava por ela. Em vez disso, ela se serviu friamente dele.

Ruelle deve estar rindo em seu túmulo.

— Ahhh! — Ele gritou, balançando o braço, rasgando suas deflagradas garras por outra árvore.

Ele observou-a cair. Abatida.

Assim como eu.

 

Pela segunda vez em três dias Munro subiu as escadas até o quarto de seu irmão com o coração pesado. Eu vou perdê-lo.

Quando ele e Will lutaram momentos atrás, Munro chegou a muitas conclusões por que não deveria matar Chloe. Mas antecipando cada refutação de Will, não expressou nenhum delas.

Por exemplo, se Munro tivesse apontado que Will poderia apenas ter filhos com Chloe, Will teria compreendido que sua descendência seria parte Íncubos ou Súcubos.

Acumulando ainda outra preocupação nessa situação, então fervendo em fogo brando.

Munro também começara a odiar a espécie de Chloe. Ele perdeu o pai e a mãe, e em alguns dias sombrios, temia que tivesse perdido seu irmão naquela noite também.

Mas o instinto de Munro estava dizendo-lhe para proteger Chloe, sua deifiúr, sua irmã. De acordo com o destino, de acordo com o que todos os Lykae acreditavam, essa mulher era o futuro de Will. Era da família de Munro.

Não tome decisões. Falaria com ela, descobriria mais sobre ela. Decidiu que um dos dois irmãos teriam que abordar isto racionalmente. Endireitando os ombros, ele bateu na porta.

Ela não respondeu. Depois de uma hesitação, ele entrou.

Ela estava sentada na janela, olhando para fora. E o guarda que Munro tinha colocado embaixo?

Seu olhar estava alterado. Seu cabelo estava ondulado e maior, brilhando na luz da manhã. Suas curvas estavam mais acentuadas. Sua necessidade biológica era de se alimentar dos homens, em um ímpeto de transformação, ela se tornou ainda mais atraente para eles.

Ele franziu o cenho para a toalha ensanguentada em volta de sua mão.

— O que aconteceu? — Ele perguntou, mesmo quando deduziu a resposta. — Você não gostou de seu novo reflexo.

Ela permaneceu em silêncio, atenta. Provavelmente temendo todos os Lykae depois que Will revelou sua besta.

Mesmo Munro ficou chocado com a visão. Com a íris azul gélida dele brilhando na sala escura, Will pareceu muito como seu pai esteve naquelas últimas horas...

— Não vou machucá-la, Chloe. Você me entende?

— Por que deveria confiar em você? Você é gêmeo daquela coisa lá fora. Você parece com aquilo também?

— Bem, quase que exatamente.

— Sabe o que quero dizer. Um monstro.

— Quando perco o controle sobre as minhas emoções ou a minha agressividade, pareço daquele jeito.

Ela estremeceu novamente.

— E o que ele disse é verdade? Sou uma Súcubo?

— Aye. Esse é o seu cheiro. Não sei por que se alterou. Era humana até a noite passada. Talvez tenha chegado a certa idade e se transformou. Não posso dizer.

Ela finalmente olhou para ele.

— Sou imortal?

— Posso ver sua mão?

Ela desembrulhou a toalha. As lacerações já estavam curando.

Ele suspirou com alívio.

— Está regenerando. Rapidamente. Você é imortal. Isso é uma preocupação a menos, pelo menos. — Ele bem sabia o que era temer a fragilidade de um ser humano.

Ela olhou debaixo de uma mecha de seu cabelo fluindo agora.

— Por que está sendo bom para mim? Vi o olhar em seu rosto quando sentiu o cheiro do que sou.

— Will explicou como é nosso instinto? — Quando ela assentiu, ele disse. — o instinto dele diz que você é sua companheira. O meu está me dizendo que você é minha irmã. Isto não mudou para mim, não importando o que você é.

— Aí está essa frase, não importando o que você é.

— Mais alguém disse isso? — Quando ela permaneceu em silêncio, ele disse. — Pode confiar em mim. Vou ajudá-la com isso.

— Como posso confiar em você? Obviamente, sua espécie odeia... a minha.

— Minha família tem uma história amarga com Súcubos. Uma história trágica.

— Como qual?

— Não é minha história para contar. — ele disse com cautela. — É complicado. Sei apenas que isso é difícil para todos os envolvidos.

— Difícil. — Ela deu uma risada dura. — Você quase morreu nas mãos de um monstro? Porque isso é difícil. — Ela ficou em pé. — Tenho que evaporar deste lugar. Prefiro me arriscar com os homens-cobra do que ver aquela besta de novo.

— A besta de Will não vai machucá-la.

— Não? Você não o viu, ele estava gritando comigo, me chacoalhando.

— Infelizmente, isso era todo Will. Sua besta ascendeu para protegê-la. — Quando apareceu incrédula, ele disse. — Posso me aproximar de você, Chloe? Esses seres além do muro iriam estuprá-la sem cessar, e rezaria para que ainda fosse mortal, para que pudesse morrer. Aqui ninguém vai tocá-la.

— Nem mesmo seu irmão?

— Especialmente ele. Venha dar uma volta comigo e vou contar o que sei sobre sua espécie. — Quando ele acenou para a porta, ela hesitou. — Você não está curiosa?

Com um olhar rancoroso, ela obedeceu.

Lá embaixo eles passaram pelos meninos. Rónan, nunca tímido, disse.

— Você realmente é uma devoradora de sêmen?

Munro repreendeu.

— As palavras, Rónan!

O menino não podia usar essa palavra, mas MacRieve poderia chamá-la disso em sua cara?

— Aparentemente sou.

— O que significa isso?

— Masturbação pra caramba, garoto.

Munro abriu uma porta francesa para ela, dizendo por cima do ombro.

— Se Will voltar, diga-lhe que saímos para uma conversa.

Lá fora, eles caminharam em silêncio, passando por um casal de mãos dadas. Quando o par se virou para olhar para Chloe, Munro se perguntou se Rónan já fez a ronda dizendo a todos que a companheira de Will era uma Súcubo.

Chloe deu uma risada sem graça.

— Ontem eles eram apenas sorrisos e acenos. Agora tenho um V escarlate no meu peito. Isso coloca as coisas em perspectiva, não é mesmo? Eles aceitariam a filha de alguém que odeiam, como Webb, mas não uma Súcubo?

— Eles não sabem como reagir. Lykae não insultam naturalmente Súcubos, não a menos que sejam insultados.

— E seu irmão? Vamos lá, posso reconhecer o ódio absoluto quando vejo.

— Você sabia que isso aconteceria? — ele perguntou, desviando o assunto.

Ela estreitou os olhos, mas concedeu.

— Sabia que algo estava errado dentro de mim. Meus sentidos se descontrolaram algumas semanas atrás.

— Isso é comum na transição de humanoides.

— Contei ao meu pai sobre isso. Ele disse que eu precisava evitar um gatilho, mas não me disse qual era. Deu a entender que minha mãe era uma imortal, mas novamente não me disse qual tipo.

— Um gatilho? Deve ter sido quando você e Will fizeram sexo.

Ela virou a cabeça.

— Nós não fizemos. Não totalmente. Nós apenas brincamos.

Diferente do que tiveram ontem? Ah. Munro poderia deduzir qual gatilho fora. Ela tinha... se alimentado pela primeira vez.

A julgar pelo rubor de Chloe, ela deduziu isto também.

— Seu pai não disse que não poderia ficar com os homens... desta maneira? Achei que ele faria qualquer coisa para impedi-la de se transformar.

— Ele provavelmente não pensou que tinha alguma coisa com que se preocupar. Nunca tive muito interesse em rapazes.

— Entendo. Isto não é desconhecido para os poderes de um humanoide ou... os apetites estarem dormentes até que algo catalise. Já ouvi falar de uma meio humana se tornar uma Valkyria após um relâmpago.

— Não tinha ideia sobre nada disso. Papai apenas estatelou o Livro Vivo do Lore no meu colo e saiu em uma viagem de negócios. Ele me disse que conversaria quando voltasse. Ele... ele nunca o fez. Seu telefone foi desligado. — Sua voz vacilou, o que claramente exasperava-a. — A próxima coisa que percebi foram criaturas do Lore na minha casa, e estava sendo sequestrada.

— Sinto muito, Chloe. — Munro não podia sequer imaginar a confusão e o medo dela. Novamente aquele protecionismo surgiu dentro dele. — Considerando o ódio dele pelos imortais, seu pai provavelmente acreditava que suas ações eram misericordiosas.

Ela deu de ombros, fingindo indiferença.

— Então me explique sobre uma Súcubo. Desembuche. Sou crescidinha.

Ele só tinha relatos vagos de outras pessoas para retirar e do amargo relacionamento de seu irmão com Ruelle.

— Você é uma Cambion — meio humana e meio Súcubo, que faz de você parte do Povo de Ubus. Eles são oriundos do Reino Ubus, localizado em um plano oculto. Os machos são Íncubos, as fêmeas são Súcubos. Não se sabe muito sobre sua espécie. Alguns dizem que os machos podem voar e as fêmeas podem ficar invisíveis. Tudo que sabemos com certeza é que sua espécie alimenta-se do esperma do parceiro.

— Então quando MacRieve me chamou de devoradora de sêmen, isso foi... literalmente?

Munro puxou o colarinho como se desconfortável com isso, quando ela claramente estava. Era como explicar sobre os pássaros e as abelhas — para a companheira de seu irmão.

— Alguns dizem que há uma energia mística com o esperma, e sua espécie pode converter isto em uma força de vida. — Como isto poderia ser mais estranho? — Nesse caso, o sêmen pode ser apenas um atrativo do tipo, uma espécie de cereja no topo do... — Ele parou. — Qualquer metáfora que diga neste momento vai apenas soar pervertida.

Suas bochechas ruborizaram ainda mais vermelhas.

— Entendo.

— Outros dizem também que é físico, uh, o resultado é o que se converte. — Ele tossiu em seu punho. — Sei que pode ser de relações sexuais e sexo oral. — Will uma vez revelou que Ruelle poderia alimentar-se em ambos os sentidos, ela nunca se dignou a fazer sexo oral e nunca teve nenhum interesse nisso.

— Quantas vezes eu tenho que fazer isso? Meses? Semanas?

— Uma vez que é jovem, vai precisar disto mais vezes. Acho que a cada dia. Possivelmente em todos os outros.

Seu rosto empalideceu.

— É muito. — ela gritou. — O que acontece se não fizer?

— Para uma Cambion, não sei exatamente. Mas para uma Súcubo, quanto mais velha ela fica, mais intenso seu desejo por um homem cresce. Em certo ponto, ela se torna irracional e animalesca com a necessidade. — Como uma Súcubo que perseguiu Will com a intenção de estuprá-lo.

Deuses, possivelmente isso era demais para perguntar.

— Ótimo. Mais alguma coisa?

— Se você tem relações sexuais com o mesmo homem mais de três vezes, poderá prendê-lo a você, envenenando-o...

— Como veneno de presas? — Ela estava horrorizada.

— Não, não, é um vínculo místico. Uma vez que o vinculo é formado, ele vai adoecer sem você. — Ele lembrou-se de Will tremendo em sua cama, coberto de suor. — Entendo que é como a retirada de heroína, mas nunca fica melhor.

Ela lhe deu um olhar incrédulo.

— Então por que alguém teria relações sexuais com uma Súcubo, em primeiro lugar?

— Você é bonita. E pode emitir substâncias químicas que tornam os homens enlouquecidos. Chama-se exalar.

— Como faço para emiti-las?

— Pelo que entendo, trata-se de sua exalação. É inodoro, por isso é impossível de detectar até que o resultado seja sentido. Mesmo para um homem sem vontade seria difícil de resistir, se não impossível. Machos acasalados são considerados imunes.

Ela parou.

— Assim, meu novo “modus operantis” de alimentação é uma droga para os homens, assim eles ficam viciados em mim como heroína, então vão se manter perto do traficante? Isso é muito confuso.

Ele não podia discordar. Permaneceu em silêncio, dando-lhe tempo para lidar com todos os ângulos.

— Vou ser dependente dos caras, muito dependente deles, para o resto da minha vida? — Parecia que estava prestes a ficar doente. Mais para si mesma, ela disse. — Estava tendo uma excelente vida. Tinha meu futuro planejado. — Outro grupo passou por eles, lançando-lhe olhares hesitantes. — O que estão olhando estupidamente? — ela retrucou.

Munro disse a ela.

— Notícias espalham-se rapidamente por aqui, receio.

— Bem, eles precisam manter os olhos nas suas cabeças.

Antes ela parecia fraca. A cada segundo que se acostumava a todas essas surpresas, sua expressão tornava-se mais rebelde.

Súcubos eram conhecidas por serem bajuladoras. Elas persuadiam e enganavam os homens onde quer que fosse. Chloe parecia que estava no limite de dar cabeçadas nos espectadores desavisados.

Munro inclinou a cabeça, um clarão de esperança subindo. Esta fêmea agia como uma nanica briguenta. Ganhava a vida como atleta profissional, na carreira menos provável que Munro podia imaginar para uma Súcubo.

Sua própria desconfiança inata em direção a ela estava desaparecendo. Só porque era uma Súcubo humanoide não queria dizer que seria parecida com Ruelle.

Havia um brilho nos olhos de Chloe, uma resistência em seu comportamento que era tão radicalmente diferente das memórias de Munro daquela outra criatura, tão diferentes de qualquer Súcubo que encontrou ao longo de sua longa vida.

O que significava que Munro ainda acreditava que ela seria uma apropriada combinação para Will.

— E sobre gravidez. — ela perguntou.

— Uma Súcubo plena tem alguns ciclos de fertilidade em um ano. Não sei o que vai acontecer com você. Há uma oráculo que podemos entrar em contato para esclarecer melhor, mas isto provavelmente vai levar algum tempo.

— Vou acordar e tudo isso vai ser um pesadelo. — Ela esfregou as têmporas. — Existe alguma coisa aqui em cima?

— Você é imortal agora. Pode viver para sempre.

— Viver para sempre como uma desempregada, vadia traficante e distribuidora de drogas? Se essa é a minha cobertura...

— Você vai estar mais forte. Vai se regenerar de qualquer ferimento. Além da decapitação, é claro.

Ela se animou.

— Forte?

— De uma tacada em mim. — Ele deu um tapinha em seu braço.

Ela deu de ombros, em seguida lançou seu punho bom.

Ele cerrou os dentes, dizendo.

— Aye. Mais forte. — A dor era agradável para ele. Isso significava que sua irmã recém descoberta poderia sobreviver no Lore.

Ela franziu o cenho para a outra mão.

— Isto cura muito rápido.

Ele esfregou a nuca.

— Você e Will, uh, suas manhãs juntos ajudaria que isto prolongasse.

Sua pele corou novamente.

— O que aconteceria se nunca mais fizesse isso de novo? Eu sou uma humanoide. Talvez ainda possa viver de alimentos. Usar isto para evitar o pior dos meus sintomas.

— Pode ser possível.

Ela estreitou seu olhar.

— Se isto for remotamente possível, vou fazer com que isto funcione. — Seus olhos castanhos piscaram, então brilharam esverdeados com determinação. — Se eu desejar muito algo o suficiente, isso vai acontecer.

Chloe era como uma anti-Ruelle. De repente, isso não se parecia como uma tragédia em andamento. Isso poderia ser... viável.

Naquele momento eles ouviram um rugido de agonia na floresta. Árvores desabando.

Will. Solucionando seus problemas

 

Chloe olhou para o gêmeo de MacRieve.

— É ele, não é? — Como se pudesse esquecer aquele som horrível.

— Sim. — disse Munro, surpreendendo-a, dizendo a verdade.

Ela sentiu que ele estava bem intencionado. E pelo menos não estava violento. Uma grande melhoria sobre o outro.

Ela ainda não podia acreditar que a direção desta manhã tinha ido para o inferno. Antes de esse monstro aparecer — falando com ela como se fosse a porra das Fábulas de Esopo — ela era feliz, sentiu desejo e foi desejada. Ela gostava de MacRieve, tinha o encontrado para ser um sexy e excitante amante.

Perdi tudo hoje. O pai dela se assustou com a possibilidade de sua transição. Como se sentiria sobre sua filha Detrus agora? As Olimpíadas? Para sempre fora de alcance. Ela esteve paranoica sobre seus testes de drogas na Flórida, agora podia apenas imaginar como isto seria instável. Sem mencionar sua força recém-descoberta e os olhos brilhantes.

Ela queria culpar MacRieve por tudo isso — ele não merecia nada menos, mas agora percebeu o quão inevitável sua mudança fora. Considerando a natureza de seus sonhos e sua percepção dos homens, mais cedo ou mais tarde teria encontrado um cara e seria desencadeada — com ou sem MacRieve.

— Há alguma Súcubo com a qual posso falar a respeito de tudo isso? — Para dizer que isto seria uma responsabilidade muito grande...

Pelo menos agora sabia por que sentiu aquela sensação de medo cada vez que sequer considerava embarcar em um flerte. Porque, evidentemente, seu primeiro namorado poderia ter desencadeado-a com seu sêmen.

Talvez sua metade humana tentasse impedi-la de ir por esse caminho? Chloe era corajosa, pelo menos fisicamente. Mas foi muito covarde para explorar o seu medo, para tentar superá-lo. Tinha sido mais fácil dar desculpas.

Muito ocupada. Muito impulsionada. Muito comprometida.

Então por que não sentiu medo com MacRieve?

— Chloe, qualquer Súcubo que já encontrei provou ser má e mal intencionada. — disse Munro. — Eu não recomendo chegar perto delas.

Ela franziu a testa.

— Assim a minha mãe era má?

Se possível, Munro parecia ainda mais desconfortável com a pergunta do que estava prestes a falar de sexo.

— Não posso dizer.

Se o pai odiava os Loreans, por que alguma vez esteve com uma?

— Talvez meu pai odiasse imortais porque foi ferido por minha mãe? — Ela se lembrou de como ele olhava para a foto de Fiore. Será que a mãe de Chloe obrigou-o a amá-la?

— É possível. Embora seja mais provável que ele já fosse um membro da Ordem. Pelo que entendemos, seu pai tem sido há décadas.

E se a mãe dela fora uma prisioneira? Como de costume, seus sentimentos em relação ao seu pai estavam em tumulto. Ontem à noite estava indignada que alguém fosse querer machucar as pessoas como MacRieve, Rónan e outras crianças do Lore.

Esta manhã percebeu por que MacRieve era um perigo para a sociedade. Será que sua mãe foi um também?

Caçada ao contrário, Chlo. Após exames de sangue ao longo da vida, ela já não tinha de se preocupar com o grande C. Não, poderia viver para sempre.

Ela fez uma careta. Era uma mulher independente, mas já estava prevista a depender de homens para sobreviver — e não apenas por uma vida, mas pela eternidade.

Outro pensamento a atingiu. Esses “instintos femininos” que experimentou antes... eram os instintos Súcubos, instruindo-a a conseguir o melhor resultado. Arre!

A ideia de viver para sempre desse jeito não a atraía nem um pouco.

— Devemos voltar. — disse Munro. — Meu irmão não vai gostar que você tenha saído.

— Ele vai estar com raiva? Pergunto-me como vai estar!

— Mais uma vez, ele não vai machucá-la. — Munro passou os dedos pelos cabelos escuros, lembrando-lhe o quão bonito eram os gêmeos. E o que se escondia por baixo.

— O que te faz estar tão certo?

— Ele já estava propenso. Não me lembro de tê-lo visto tão fora de controle. Acho que é muito pior por causa do tempo, que veio seguido de sua tortura em uma prisão da Ordem. Ele não estava racional desde que voltou.

— Ele teve uma vivissecção, certo? — Ela se lembrou de ontem à noite quando a mão trêmula de MacRieve cobriu seu coração. Quando ela beijou seu peito prometeu a si mesma que nunca deixaria ninguém machucá-lo novamente. Como tanta coisa mudou tão rapidamente. — Ele foi torturado pelo pessoal do meu pai?

Com os olhos dourados piscando, Munro admitiu.

— Uma médica mostrou-lhe o seu coração batendo.

Ela pressionou as costas da mão na boca. Mesmo depois de tudo, sentia simpatia por MacRieve. Deus, nunca esteve tão confusa em sua vida. Depois de ver a besta de MacRieve, entendeu por que a Ordem temia os Lykae. Mas então olhou para Munro — o sério, grave Munro — e não poderia imaginar alguém machucando-o.

— Portanto, seu irmão poderia passar por isso para ficar comigo, mas minha transição fez com que ele quisesse me matar? Precisa me dizer por que isso aconteceu.

A expressão de Munro era gritante.

— Chloe, é...

— Complicado. Entendi. — Ela suspirou, moderando seu tom. Nada disso era culpa de Munro. Ele só estava tentando ser útil. — Olha, não posso ficar aqui. Tem que haver uma maneira de me passar por essas criaturas no muro.

— Sinto muito. Isso não é possível no momento.

— Ok, posso estar presa neste complexo, mas isso não significa que preciso ficar na sua casa. Não viverei com ele!

— Ninguém mais a levaria para dentro.

— Porque sou uma Súcubo?

— Porque é companheira de Will. O instinto dele vai exigir que a mantenha perto. Mesmo que odeie isso no momento.

Ela estava tão bem quando foi raptada novamente. Das garras das bruxas para as do Lykae.

Como sua situação afundou, Chloe repetiu para si mesma, esfregue um pouco de terra sobre isto, esfregue um pouco de terra sobre isto. Mas isso estava muito além do reino do estou feliz de estar aqui.

Alguma coisa ela sabia com certeza?

Não podia mudar o que era, mas ser punida por isso por aquele lobisomem não aconteceria.

Ela planejaria escapar o mais rápido possível. Entretanto, não tinha que viver de acordo com as regras dele de hospedagem no complexo.

Ela se recusou a ter medo de MacRieve. Toda sua vida enfrentou adversárias maiores. Quando elas atacavam, correndo soltas sobre ela em um campo, treinou-se para ficar firme. Uma vez que dominou isso, treinou-se para contra-atacar. Marchou em inumeráveis estádios em todo o mundo, transformando-se em uma porra de um gladiadora. Mesmo sabendo que o horror agitava dentro MacRieve, Chloe não vacilaria.

E, finalmente, passaria fome até morrer antes que alguma vez se alimentasse dele novamente.

— Munro, você foi decente comigo, então serei no mesmo nível com você. Não estou planejando enfrentar o muro sozinha. — Ainda. — E entendo que minhas opções de hospedagem são limitadas. Mas também não penso em me colocar com mais besteiras de lobisomem de seu irmão. Se ele fizer quaisquer manobras como esta manhã, irei cortá-lo com o caco de espelho que estou carregando.

Ele olhou assustado, então... animado?

— Não estou brincando. — ela insistiu. — De alguma forma, de alguma maneira, vou pregar suas bolas na parede.

Os olhos dourados de Munro se arregalaram.

— Acho que é uma ótima ideia, não há nenhuma razão para conter qualquer ferocidade agora, não é?

Hum, tudo bem.

— E outra coisa. Quero o divórcio de acasalamento. Não quero me amarrar ao seu irmão.

O olhar encantado de Munro desapareceu.

— Ele vai fazê-la mudar de ideia uma vez que se recuperar do choque.

Não levaria isso para o apostador, Munro...

Ela olhou para cima, as nuvens estavam mudando, assim como estiveram ontem à tarde. Elas a lembram do tempo idílico gasto com MacRieve. O que fez a amargura agitar dentro dela.

Quando se aproximaram da cabana viu MacRieve na entrada, segurando o batente da porta com os braços estendidos. Suas garras afundadas na madeira, o corpo parecendo ocupar toda a largura da porta.

Seus olhos estavam ainda com aquele azul gélido, mas não havia nenhuma sombra de sua besta. Ele parecia no limite incerto do controle.

Seu peito nu estava salpicado com lama, arfando de suas respirações profundas. Seu rosto estava manchado de sangue.

Ela notou transeuntes desacelerando perto da cabana. Demorando-se para ver o show? Se MacRieve ferrasse com ela, daria um espetáculo digno de um estádio.

Sem olhar para ela, MacRieve avançou em direção a seu irmão.

— Onde estava? — Ele estalou, curvando-se até Munro. — Você a levou daqui?

Assim como Munro dissera. Chloe revirou os olhos e continuou em direção à casa passando por Rónan e Benneit, que lhe deram um amplo espaço.

Enquanto todos estavam do lado de fora putos uns com os outros pelo domínio ou o que faziam em tempos como estes, ela mudaria as coisas dela para fora do quarto de MacRieve, em seguida invadiria a cozinha. Como disse a Munro, pretendia comer exatamente como uma humana.

Tinha que acreditar que fosse possível.

Munro disse.

— Apenas a levei para fora da casa para um passeio.

— Não a leve sem minha permissão!

Chloe parou em seu caminho, retornando para eles.

— Uou, espere! Eu sou Chloe, não tenho que pedir ao papai para andar de moto. Ninguém está dando permissão ou recebendo permissão para fazer qualquer coisa comigo!

Seus quatros novos companheiros de quarto franziram a testa como se surpresos que se endereçasse a eles. Estavam muito surpresos.

Cada palavra expandindo mais alto, MacRieve disse.

— Você faria bem em dar o fora da porra da minha vista, Súcubo!

— E você faria bem calar a porra da sua boca!

Ele avançou, como o maior e mais malvado zagueiro que ela já tinha imaginado. Retratando-o assim foi o que lhe permitiu manter-se firme.

Os olhos dele se estreitaram, sua voz vibrando com raiva.

— Eu decapitei as últimas cinco Súcubos que encontrei. Continue falando merda, e vai ser a sexta!

VINTE E CINCO

 

— Eu, a sexta? — A cadela inquiriu com uma sobrancelha levantada. — Vou ter que dizer não a esse plano, babaca. O que mais você tem?

Will agarrou seu braço.

— Você me irrita em perigo...

— Foda-se o perigo! Bata os pés, MacRieve. — ela gritou com toda força de seus pulmões, puxando o braço, o que o surpreendeu o suficiente para libertá-la. — Saia da minha frente!

— Você não tem ideia do que provoca! Não se esqueça do seu medo quando viu minha besta ascendida.

Lembrando-se daquele horror, ela baixou os olhos, tentar acalmá-lo...

Seu queixo elevou-se e os ombros firmaram.

— Para constar, idiota, eu não estava com medo. Estava assustada. Há uma diferença. E agora que sei o que está escondido dentro de você, não vou ser surpreendida novamente. — Ela virou-se para a casa.

Cheio de fúria, ele invadiu atrás dela. Quando pegou o braço dela novamente, ela deu a volta, chutando a lateral de seu joelho.

Ela definitivamente ficou mais forte. Porque era uma maldita Súcubo.

Talvez todo o Lore precisasse saber o que ela realmente era. Ele virou para o muro, seu aperto comprimindo-a até que ela gritou.

— Para onde está me levando?

— Você estava tão interessada em partir, por ventura vou jogar sua bunda por cima do muro.

Seu coração batia de medo, como se um tambor soasse dentro dele. Ele deveria ser o primeiro Lykae a assustar propositadamente sua companheira, o seu Instinto não o alcançava.

— Você prejudicaria o que lhe foi dado?

PROTEJA.

Munro perseguiu-os. Em gaélico, ele disse.

— Está louco? Tratá-la assim? Acabei de assegurar que você nunca a machucaria.

Will respondeu na mesma língua.

— Então você é uma porra de um mentiroso! — Ele lançou-a para frente, enquanto ela se debatia contra seu aperto.

— O que vai fazer com ela? — Munro perseguiu seus calcanhares. — Ela não é como pensa que é.

— Nós iremos dar uma olhada no muro. Talvez eu vá arremessá-la para o outro lado, para onde ela pertence!

— Você perdeu o juízo? Ela é sua companheira, irmão.

Por cima do ombro, Will disse.

— Não a reconheço como tal! Você se lembra quais as últimas palavras de mamãe para mim? Nunca ninguém como ela, meu Uilleam.

Chloe debateu-se mais.

— Mas essa garota não é totalmente uma Súcubo. — Munro disse. — Ela é uma humanoide.

— Aye — Will rangeu — e sua outra metade é WEBB!

— Pensei que você tivesse superado isso.

— Não posso. Não agora. Apenas mais um exemplo do quanto ela é incorreta.

— Ouvi o seu desejo para Loa. Queria que sua companheira se tornasse imortal. Teve seu desejo concedido — as feridas regeneraram. Eu as vi. Você pode reclamá-la, cara!

— Prefiro que ela seja mortal com um dia para viver!

— Fala tão facilmente de uma morte humana? Para mim? — Munro estalou, a dor do passado tingindo suas palavras. — Não vou deixá-lo machucar minha irmã. Você pode não querê-la, mas eu quero. — Então, em um movimento claramente desesperado, Munro disse. — Dê-a para mim.

Will mostrou suas presas para o irmão.

— Você apresenta isto agora? Aqui?

Munro estava decidido.

— Esperei muito tempo por isto também, Will. E gosto dela, acho que daria uma bela companheira se apenas lhe desse uma chance.

Will olhou-a lutando para manter-se com os passos dele. Seus olhos Súcubos brilhavam esverdeados.

— Nunca. Acontecerá.

Munro parou. Apenas quando Will pensou que ele tinha desistido, Munro disse.

— Ela foi descartada como lixo por seu pai. É por isso que estava procurando por ele. Ela disse que algo estava errado, mas o desgraçado não revelou nada, deixando-a na miséria por semanas — sem nenhuma ideia de como viver como uma imortal. Sua jovem companheira foi abandonada por sua única família.

A besta de Will gritava com raiva. Ela esteve indefesa, vulnerável a todo o Lore. Raptada por bruxas! Aquilo tinha acontecido com sua companheira...

Não, não, devo fazer pior com ela! Ela não merecia nada menos.

Ele abrandou, a percepção ocorrendo. Não haveria vingança. Webb não ligaria para merda nenhuma, sobre quem estava contaminando a filha dele — porque ele não estava nem aí sobre sua prole Súcubo.

Chloe aproveitou a oportunidade para retomar a chutá-lo. Quando ela bateu seu sapato diretamente sobre o pé descalço dele, ele lhe deu uma sacudida.

Com um — Seu puto! — Ela chutou mais forte.

— Olhe para ela! — Munro correu até eles, ainda falando em gaélico. — Ela não é como qualquer Súcubo que já tenha visto. Ela não mudou. Como você disse, é feroz como um Lykae.

Ela parecia feroz. Mas também parecia humana.

Quando Chloe afundou os dentes em seu braço, Will rosnou.

— Ela não se estabeleceu em sua nova função. — Ele deu-lhe outra sacudida, soltando-se de sua mordida. — Dê-lhe tempo e ela vai se tornar a Súcubo desonesta e egoísta que nasceu para ser.

— Você não está pensando com clareza.

— Não, você é que não está. Realmente quer me ver acasalado a uma mulher que vai tomar conta do meu corpo e me envenenar? Que se alimentou de mim esta manhã mesmo. — Ele puxou os lábios para trás de suas presas. — Ela pode estar relacionada à Ruelle, pode ser sua neta ou sobrinha ou prima! Não há muitos deles neste plano. Você pensou nessa possibilidade?

Isto calou Munro.

Will não conseguia recuperar o fôlego. Ruelle rindo do além.

Quando eles se aproximaram do muro, Chloe lutou ainda mais forte.

— Não, MacRieve! Estou avisando!

Voltando para Inglês, ele zombou.

— Você não queria ver seus novos aliados...

De repente, uma dor aguda perfurou o flanco dele.

Ele olhou para baixo boquiaberto para um caco de vidro saindo de seu flanco. Os olhos verdes de Chloe estavam entreabertos, seus dentes arreganhados.

— Você me apunhalou? — Ele puxou o fragmento para fora, jogando-o longe. — Deveria devolver isso para você na mesma moeda! Talvez seja mais parecida com seu pai do que com sua mãe.

Munro atirou em gaélico.

— Se ela for machucada, você e eu não retornaremos atrás com isto! Você quer meu ódio?

— Irmão, estive esperando por isto por séculos. — Will segurou a parte de trás do pescoço dela, forçando-a a subir as escadas em direção à torre de vigia.

Ela torceu-se para trás para lançar um olhar para Munro. Buscando a maldita proteção de Munro? O irmão dele disse-lhe em Inglês.

— Ele não a machucará. Acredito nisso.

Então Munro estava muito mais confiante do que Will.

No topo da torre, ele e Chloe passaram por um chocado Madadh.

— O que vai fazer, MacRieve?

— Saia do meu caminho! — Will a arrastou para uma plataforma com vista para o muro. Seres fervilhavam diretamente abaixo deles, como um fosso.

Eles ficaram em silêncio ao ver Chloe. Ela parou de se debater, arremessando um olhar sobre a multidão. Embora seu coração pulasse de medo, colocou os ombros para trás, tão ousada como uma rainha.

Tanto fogo. Quanto ele chegou a almejar isso. Quão fora do lugar em uma tímida Súcubo.

Sua aparência já tinha sido alterada, sua personalidade se transformou também.

Aquele fogo nela logo vazaria para cinzas.

 

— Vocês todos estão esperando aqui — MacRieve abordou a massa de criaturas — para ter a chance de tirar esta fêmea de mim. No entanto, ela não sabe nada sobre o Lore. Não tem ideia de como encontrar seu pai ou a outras prisões da Ordem.

Seu aperto na nuca de Chloe era como um vício. Estava presa aqui na frente desses seres. Munro poderia confiar em MacRieve, mas ela não.

Um Centauro falou.

— Não dou à mínima. Ela vai ser uma boa isca.

MacRieve lançou-lhe um sorriso cruel, mostrando as presas brancas.

— Vocês assumiram que Webb vai querer sua querida filha de volta. Ele pode ter. Exceto pelo fato de que ela se transformou em uma Súcubo.

Isso fez a multidão tagarelar. Em seguida, uma mulher com olhos frios e chifres dourados gritou.

— Vocês procuram iludir os enganadores? Seu cheiro era humano no leilão!

— Mas agora não é mais. Parece que o Comandante engravidou uma Súcubo. Sua filha parecia humana, de modo que Webb aceitou-a. Até o instante em que começou a se transformar. Então ele a descartou como lixo.

Chloe estava prestes a gritar que não era verdade. Certamente que não. Mas sabia que seria mais seguro se estas criaturas acreditassem.

MacRieve estava dizendo isso para se livrar desta reunião — ou simplesmente para humilhá-la?

— Ele não quer o lixo que descartou, muito menos arriscar-se a ser capturado para resgatá-la. Fiquem felizes que salvaram uma Bridefinder.

Assobios e murmúrios soaram quando os monstros discutiam este novo rumo dos acontecimentos.

— Por que deveríamos acreditar em você? — Perguntou uma mulher que parecia humana, embora estivesse vestida com uma roupa escassa, feita principalmente de peças de metal e uma máscara elaborada.

— Juro pelo Lore que ela foi traída por seu próprio pai. Juro a vocês que ela é inútil em relação a ele. E juro que não podem estar mais decepcionados do que eu.

Chloe endureceu contra ele, murmurando.

— E eu não posso odiá-lo mais.

A mulher mascarada colocou a mão plana contra a parede. Uma fumaça subiu quando ela queimou sua marca nela.

— Se a Filha de Webb ultrapassar esse limite, saberemos disto.

MacRieve ignorou-a, dizendo à multidão.

— Vão embora, vocês foram enganados. Realmente acham que ele vai lutar para recuperar uma criatura da qual está envergonhado?

Com isso, alguns deles começaram a afastar-se. Outros permaneceram, não convencidos ou talvez por despeito.

Duas fêmeas ao fundo da multidão chamaram a atenção de Chloe. Elas estavam na sombra de uma árvore distante. Uma tinha o cabelo preto e a outra castanho, ambas estavam vestidas com roupas esvoaçantes, a aparência delas reluzia primorosamente estilosa. A morena falou pouco acima de um sussurro, mas Chloe pode ouvi-la dizer.

— Ela é de nossa espécie, Lykae. Você não tem nenhuma reinvidicação por ela. Envie-a pelo muro.

Sua espécie! Chloe estava sendo atraída pelas mulheres, querendo ir até elas, querendo estar em qualquer lugar, menos aqui. Elas não pareciam mal intencionadas ou más. Pareciam preocupadas com ela. Ela se debatia contra MacRieve, tentando estender a mão na direção das duas. Será que elas conheciam Fiore?

Ele rugiu em seu ouvido.

— Olhe para elas o quanto quiser. Longamente para elas. Mas você nunca, nunca estará com elas.

 

A Súcubo estava andando de um lado para o outro dentro do quarto de hóspedes adjacente. Will podia ouvi-la, sentir sua raiva. Ela estava com raiva dele?

Seu aroma ainda era tão delicioso, um cheiro tão etéreo, mas agora sublinhado com o fraco cheiro de sua espécie, os outros machos achavam irresistível.

Will imediatamente foi atraído pelo seu cheiro — e atormentado por ele.

Mais cedo, quando ele a trouxe do muro, empurrou-a naquele quarto.

— Suas novas acomodações.

— Por que tenho que ficar tão perto de você? — Ela perguntou. — É evidente que te causo repugnância e você me causa repulsa. Então por que me mantém perto?

Ele não tinha uma resposta pronta, ainda chocado pelo seu ataque com o caco de vidro — e chocado pelo aparecimento daquelas Súcubos, as duas primeiras que encontrou e não matou. Vinte e quatro morreram pela sua mão — o mesmo número da idade de Chloe.

— Não te causei repulsa esta manhã quando você estava chupando meu pau sem se importar com mais nada. — Ele disse a ela.

Com o rosto vermelho, ela respondeu.

— Isso foi antes de eu ver o que você realmente é.

Agora perguntas surgiam dentro de Will, uma depois da outra. Ela sabia no estava se transformando? O que estava pensando enquanto andava de um lado para o outro? Tramando uma fuga, sem dúvida.

Quando ela teria fome novamente? Um dia ou dois? Alguma parte distorcida dele mal podia esperar. Ele a faria implorar para ser alimentada.

Estaria à sua mercê.

A menos que o cheiro dela se espalhasse. Então ele estaria nela. O autocontrole que comemorou ontem seria arrancado dele mais uma vez.

Ele respondeu quase violentamente ao aroma de sua excitação; podia apenas imaginar o que seu cheiro se espalhando faria com ele...

Munro tentou falar com ele a tarde toda. As leves batidas na sua porta tornaram-se golpes com as palmas abertas. Em gaélico, ele disse.

— Talvez as Súcubos sejam ensinadas a comportarem-se do modo que fazem. Talvez seja inato ou não. Lembro-me daquela noite também, Will. Lembro-me de Ruelle olhando aquela espada, pensando em se apropriar dela, então pedindo sua ajuda ao invés disso. Chloe teria mergulhado para a espada e a exibido junto com seus dentes. Ela te apunhalou hoje. O que significa que não é como as outras.

As palavras de Munro fizeram Will ficar vagando pelo quarto, ansiando para que fosse verdade, como um náufrago que pensava ter vislumbrado terra. Mas só porque Chloe estava assim agora não significava que ela não se transformaria, tornando-se mais como seu tipo.

Bajuladora, insinuante, sedutora.

Fraco.

No andar de baixo podia ouvir Munro e os rapazes assistindo TV, o que soou como um jogo de bola. Como a vida devia ser legal para eles, bebendo cerveja e assistindo esportes sem nenhuma preocupação.

Então ele franziu o cenho. Podia jurar que acabou de ouvir os espectadores gritando: “Chloe!”

Ele desceu correndo as escadas até a sala enorme, detendo-se em seco quando viu sua companheira em um clipe salpicada em uma grande TV de tela plana. Ela estava em uma camiseta azul, correndo pelo campo diante de uma audiência de milhares de pessoas.

— Que diabo é isto?

— Clipes de Chloe no Seattle Reign. — disse Munro. — Rónan achou-os em um site administrado por alguns fãs obcecados.

Fãs obcecados?

O papel de parede do site era uma colagem de fotos dela tiradas em ação. As estatísticas dela estavam listadas na lateral da tela, junto com uma seção de “Trivialidades sobre Chloe Todd”. Apelido: Bebê T-Rex. Estilo no futebol: drible e pura ferocidade. Faculdade: Stanford. Gostos: música do anos 80 e cinema. Não gosta: fãs agressivos.

Ferocidade? E eles nem sequer a viram com um objeto contundente! Virou em direção ao armário de bebidas e agarrou uma garrafa. Não estava nem aí para ela. A última coisa que faria era assistir seus jogos.

Mas por que não contou a ele que foi para Stanford? Não que ele se importasse...

Rónan, Ben e Munro gemeram simultaneamente, como se todos tivessem levado uma joelhada nas bolas.

Sem querer, Will voltou-se para a televisão. Chloe tinha acabado de ser atropelada por uma jogadora de mais de um metro e oitenta de altura.

Ele desprezava a Súcubo; deveria estar gostando disso.

— Se uma nanica joga com garotas grandes, ela vai se machucar.

Em um tom puto, Rónan disse.

— Nós estamos tentando assistir aqui.

Quando Chloe levantou-se e passou as mãos por si mesma para se limpar, a amazona muito maior empurrou-a novamente. Chloe empurrou-a de volta, não cedendo um milímetro.

Quando a amazona puxou o rabo-de-cavalo de Chloe com tanta força que pareceu que seu pescoço estalou, Will se viu rosnando. Os outros olharam para ele.

Não é à toa que ela tosquiou seu cabelo. No entanto, agora tinha crescido com a mudança.

Ele bebeu o whisky, mas puta que pariu se podia tirar seus olhos da tela. O site tinha um clipe atrás do outro explorando sua fraca cobertura e pontuando com jogadas inteligentes e inesperadas.

Afundou-se casualmente em um dos sofás.

— Jogando contra humanos? Onde está o esporte nisso? — Ele perguntou, mesmo sabendo que ela era mortal durante aqueles jogos. Tinham clipes dela mancando enquanto corria para dar um chute de pênalti ou cuspindo sangue depois de levar uma joelhada na boca.

O que significava que ela era tão boa por causa do treinamento — não porque esteve na iminência da imortalidade. Parecia ter ganhado por sua habilidade.

Quando estava com a bola, era como uma parte dela; seu corpo estava em constante movimento, como se em uma dança para driblar.

Usava seus braços para fingir que ia para a direita, só que metia a bola para a esquerda, deslizando por uma jogadora embasbacada. Nunca podia prever se ela empurraria a bola com o interior do pé esquerdo ou a parte de fora do direito, ou vice-versa. Sempre algo diferente.

Ela era vertiginosa — de cair o queixo. Quando ele esquecia momentaneamente o que era, ela o fascinava.

Em um jogo no frio, seus seios estavam pressionados contra sua camiseta suada, seus mamilos duros contra o tecido. Os outros notaram? Recordou o gosto daqueles pontos firmes — de chuva e cerejas.

Tomou um longo gole de sua garrafa, buscando entorpecimento.

Um clipe mostrou-a tomando a bola pelo campo, percorrendo-o todo deixando sua marcação para trás — até que outra jogadora varreu-a com um golpe, enviando Chloe de costas no chão.

Will disparou de pé.

PROTEJA.

Será que um Lykae algum dia ficou sentado e assistiu sua companheira apanhar desse jeito? Seu Instinto não sabia a diferença entre uma gravação na televisão e o presente.

Mas Chloe não precisava de nenhuma proteção. Esperou até mais tarde no jogo, localizando sua chance. A pessoa que a varreu foi colocada no banco. Rónan aplaudiu.

— Acho que estou apaixonado!

Will sentou-se de volta. Ela era como um rato com um rugido de leão, uma pequenina guerreira.

Munro lançou-lhe um olhar de “eu te disse”.

Uma guerreira Súcubo? Não havia tal coisa. Mesmo aquelas que o atacaram na prisão comportaram-se fora de suas características usando a força.

Chloe não parecia se comunicar em qualquer linguagem além da força. Mas agora começaria a mudar, fazendo a transição para uma boa pequena Súcubo. Aquelas que encontrou antes dela foram todas fisicamente perfeitas, possuindo talentos inatos para atrair machos para suas garras. Cantando, dançando, cozinhando, e assim por diante.

Chloe já tinha se tornado fisicamente perfeita. Olhando para trás, percebeu que as cicatrizes em seu tornozelo e joelho desapareceram. Sua nova cabeleira de um castanho alaranjado atrairia olhares masculinos como uma chama no meio de traças.

Logo estaria usando seu arsenal de habilidades recém adquiridas. As fêmeas nestes jogos iam embora para sempre...

Suas garras afundaram nas palmas das mãos quando percebeu que em alguns dos clipes ela nem mesmo estava jogando. Em um, ela não fazia nada além de enxugar o rosto com a camiseta, expondo o estômago plano e a parte inferior do sutiã. Quem eram estes idiotas que se reuniam neste site?

Machos desejando sua companheira não marcada.

Como se tivesse sido conjurada, ouviu-a sair do seu quarto. Ela apareceu no topo da escada, endireitou os ombros, os olhos estreitados e alertas.

Will agora reconhecia aquele olhar. Era o mesmo que ela tinha nos segundos antes do apito inicial.

Conforme ela descia a escada, seu olhar predador prendeu-se ao dela. Ela ficaria para sempre desta forma. Permitiu a si mesmo olhar fixamente, avaliar as mudanças nela.

Ela já tinha cortado seu cabelo, deixando ondas desalinhadas sobressaindo do seu rosto. Pelo seu aspecto, usou uma faca ou até outro caco do espelho. Ele se perguntou se ela sabia que voltaria a crescer em um dia.

Porém suas cicatrizes desapareceram, sua pele permanecia bronzeada e ainda tinha aquelas sardas no nariz. Sua figura era um tanto mais curvilínea, mas manteve sua forma atlética. Quem a visse saberia que ela foi moldada pelos esportes.

Para Will, ela era uma fantasia que se tornou carne — e um pesadelo.

Munro levantou, como se uma dama tivesse entrado.

— Precisa de alguma coisa, Chloe?

— Só vou fazer um jantar para mim.

Will deu uma risada dura.

— Não recebeu o memorando, devoradora de homens? O que seu tipo janta não pode ser encontrado em uma cozinha.

Ela ignorou-o. Entrando na cozinha percorreu as escassas ofertas da geladeira, então tirou pão, manteiga e queijo.

Em pouco tempo, Chloe derreteu a manteiga, tostou o sanduíche, em seguida jogou o tijolo resultante sobre um prato.

— Alguém mais quer um? — Ela perguntou docemente.

Ela podia não ser capaz de cozinhar, mas isso não a impediria de se insinuar com os machos no modus operandi de uma Súcubo.

Rónan levantou a mão.

— Eu quero. — Ao ver a cara feia de Will, ele disse. — O que? Gosto deles queimados.

— Okay. — ela disse em um tom brilhante. — Então não vou limpar. Tudo estará bem aqui quando você precisar.

Desanimado, Rónan murmurou.

— Este é o meu truque.

Com o prato na mão, ela começou a voltar em direção ao seu quarto. Teria que passar por Will novamente. Já tinha se desviado para mais perto dele. Ela era incapaz de não me querer. Irresistível.

Logo aquelas garras sairiam e finalmente todos entenderiam com o que estavam lidando. Estranho que ela não estava olhando para ele — Ruelle mal tirava os olhos dele.

Nunca perdendo um passo, Chloe alcançou a mesinha ao lado dele e roubou sua garrafa de whisky.

Will ficou de queixo caído enquanto observava-a subir correndo as escadas. Quando ela entrou no quarto, ele virou-se para os outros. Os rapazes estavam boquiabertos. Munro abafou um sorriso.

Ben disse.

— Ela não está nem um pouco com medo de você. Mesmo depois que viu sua besta.

Eu poderia mostrá-la novamente para ela. Ela era imortal, poderia resistir até mesmo à foda dura da besta. Ante o pensamento de tomá-la, o desejo golpeou Will como um soco no estômago, fazendo-o rosnar mais uma vez. Eu poderia estar dentro dela agora.

Seu fascínio Súcubo já estava trabalhando nele.

— Ele está rosnando para ela? — Rónan perguntou. — Sua companheira passou ao seu lado e ele não a tocou? Ou puxou-a para seu colo? Isso não é natural! E está começando a me assustar.

— Não posso ficar com ela como eu ficaria com uma companheira apropriada. — disse Will. — Ela vem de uma espécie diabólica. Você tem que estar constantemente em guarda.

— Alguém, por favor, pode me dizer por que as Súcubos são tão ruins? — disse Rónan, acrescentando depressa. — Ben também não entende isso.

Munro respondeu.

— Elas têm poderes sobre os homens. As más — fez uma cara feia para Will — podem emitir substâncias químicas para fazer você querê-las contra sua vontade.

— Ela é companheira do Cabeça Oca; ele vai querê-la de qualquer maneira. Além do mais, não é como se ela precisasse de qualquer substância química. Ela é fodidamente gostosa.

Outro rosnado de Will. Um olhar desafiante de Rónan.

— Súcubos formam uma conexão mística com seus parceiros de cama, chamada de vínculo de veneno. — disse Munro. — Uma vez que o macho toma-o dentro dele, está vinculado até que ela morra.

— Bom, mas ela é sua companheira. Eles já estão vinculados.

Munro levantou as palmas das mãos: não tenho nada a ver com isso.

Will abraçou a causa.

— Eles se alimentam de você, garoto.

— Assim como os vampiros, mas isso não impediu nosso rei de fazer um deles sua rainha. — Rónan assinalou. — Isso dói?

— Se você fizer isto o suficiente, vai doer. — Como se fosse ontem, podia lembrar como seus ossos doeram como se estivessem quebrando, inúmeras vezes.

— Então me deixe ver se entendi. Sua companheira, fodidamente quente, pode usar substâncias químicas para fazer você querê-la. Só que você já a quer, então as substâncias químicas são desperdiçadas. Aí quando você começa a fazer sexo com ela, vai continuar querendo mantê-la, o que provavelmente teria acontecido de qualquer maneira, porque como eu disse, ela é totalmente gostosa.

— E como eu disse, há dor envolvida se você não fizer.

— E não há sempre? É chamado de bolas azuis. Talvez tenha esquecido como era na sua adolescência...

— Aquela fêmea tem o poder de escravizar homens. — Will estava ficando exasperado.

Rónan parecia ainda mais.

— Não estamos todos?

Novamente Munro levantou suas mãos: o filhote tinha um ponto.

— Isso é uma violação!

Ben lançou um olhar cauteloso a Will.

— Deixa disso, Rónan. Não é para entendermos. — Ele levantou-se, servindo de escudo para seu irmão afastando-o.

Mas o rapaz não tinha acabado com Will.

— Eu nunca entenderei isto. Você deveria caçar e cuidar de sua companheira. Tudo que faz é se irritar com ela? O que está errado com você? — Enquanto caminhavam para fora Rónan disse a Ben. — Se não fosse companheira dele então eu poderia vê-la, mas ela é. E ela nunca fez nada para nós, exceto se recusar a cozinhar, e ele está ameaçando decapitá-la e outras merdas. — E em um tom confuso ainda mais baixo, ele perguntou. — Será que todos os antigos são preconceituosos?

— Bastante, aye.

Quando eles foram embora Will sentou-se de volta cheio de fúria.

— Ela já está começando a trabalhar no filhote imbecil. Ele logo estará apaixonado.

Munro disse com calma.

— Eu me sinto do mesmo modo.

— Ela chegou a você também!

— Não! Concordo com todos os seus pontos.

— Você sabe que elas são simpáticas, fazem você sentir pena delas, querer protegê-las. Enfrentei meu próprio pai para proteger Ruelle. — Por que ele não me bateu mais forte? Eu tinha acabado de fazer sua amada companheira ser morta.

Terminada a discussão, Will ficou em pé.

— Aonde você vai? — Munro perguntou.

— Garantir que nossa nova hóspede entenda as regras...

 

É como exercícios repetidos, Chlo.

Ela deduziu que teria de dar cerca de uma dúzia de mordidas no sanduíche para terminar. Então poderia se recompensar com whisky, talvez se embriagando como ontem à noite e desmaiar.

Qualquer coisa para acabar com este dia.

Primeira mordida. Ela costumava amar queijo quente grelhado. Segunda mordida. Tinha gosto de papelão. Terceira. Ela podia fazer isto!

Não era só sua absoluta falta de apetite que estava enlouquecendo-a. Se MacRieve a odiava tanto — e ele tinha acabado de deixar isso bem claro mais uma vez — então por que mantê-la aqui? Este complexo era enorme, mas ele ordenou que ela ficasse aqui com uma parede entre eles. Ela trancou a porta o lado, apesar de não adiantar muito.

Ele deveria tê-la deixado ir com aquelas duas Súcubos no muro. Chloe queria tanto conversar com alguém de sua própria... espécie. Para descobrir como controlar seus poderes e sua nova força. Para determinar um jeito de contornar ter que se alimentar.

Para saber mais a respeito de sua mãe e antepassados.

Até que Chloe pudesse escapar deste lugar, ela não teria nenhuma resposta. Colocou o prato de lado e inclinou a cabeça para a televisão de seu quarto. Se estivesse conectada à internet poderia conseguir enviar uma mensagem?

Para quem? Seus amigos do time? Ela nunca os envolveria nisso. Com um sobressalto, percebeu que nunca poderia vê-los novamente...

A porta adjacente que dava para o quarto do MacRieve abriu de golpe, a fechadura quebrada.

— Nunca mais tranque uma porta para mim. — Sua expressão era enfurecida. — Entendeu? E por que diabos você tomou meu whisky?

Ela estava enfrentando o pior dia da sua vida; não precisava mais de sua merda!

— Porque quero me embebedar e agir como se os últimos dois dias nunca tivessem acontecido.

Ele pareceu confuso que ela estivesse olhando para ele.

— Que motivo você tem para me olhar desse jeito? Foi você quem escondeu o que era!

— Eu não sabia o que era!

— Como podia não sentir que algo estava errado?

— Acreditei que havia uma chance de que estivesse me tornando imortal, mas não sabia de que tipo. No entanto, você sabia que tinha um maldito monstro aí dentro apenas esperando para vir à superfície.

— Eu te disse isso.

— Você disse que poderia ficar um pouquinho maior ou alguma outra bobagem. Tudo que diz é mentira! — E ela tinha engolido cada linha, acreditando-se a meio caminho de se apaixonar por ele. — Eu posso ser uma Súcubo, mas pelo menos não sou mentirosa.

MacRieve ficou eriçado.

— De que diabo você está falando?

— Você me disse que eu era parte do clã, que era uma de vocês. Você me disse que me protegeria, me guardaria como um tesouro e que ninguém nunca mais me machucaria. Você disse que teríamos a eternidade juntos, como a porra de um cartão da Hallmark! E na primeira oportunidade estava arrastando meu traseiro para o muro, ameaçando cortar minha cabeça.

— Eu teria mantido aquelas promessas, se você não se transformasse.

— É por isso que promessas são feitas, babaca! Para serem mantidas não importando a situação.

— Não para as do seu tipo. — ele disse simplesmente, como se explicasse uma nova verdade para ela.

— Não, normalmente você mata as do meu tipo. Exatamente como mata todas as criaturas Pravus com que se depara. — Ela disse, sua voz levantando a cada palavra. — Oh, e vampiros também! Exatamente o quanto isto é diferente do que você está acusando meu pai?

— Você ousa me comparar a ele?

— Sim, acabei de fazer. Depois do modo como me tratou, estou começando a ver o lado dele das coisas. Você está me ensinando a ver as coisas do seu modo! — Ela estava a um decibel de berrar.

— Eu entro em guerra com criaturas do mal. Aquelas que gostam de assassinar, estuprar e torturar...

— Eu sou uma Súcubo, e não sou do mal!

— Talvez não ainda. Ainda está brincando de ser humana. — Ele lançou um sorriso cruel ao seu sanduíche meio comido. — Tentando enfiar isto abaixo?

— Não tenho escolha, porque me recuso a me alimentar de outro. A ideia está me horrorizando.

Ela pensou que viu um flash de surpresa em seu rosto antes de ele disfarçar.

— Você vai chegar a ansiar por isto em breve. Seu tipo aprecia nada mais do que se alimentar. Parasitas, todas vocês. E não me esqueço dos seus olhos rolando nas órbitas esta manhã quando você bebeu de mim.

Ela estremeceu.

— Isto tudo está no passado. Agora que sei contra o que estou lutando, vou prevalecer.

— Você não pode mudar o que é. Você é muito jovem, começará a espalhar seu cheiro logo, emitindo suas substâncias químicas. Você é uma bomba-relógio.

— Eu não vou. Descobrirei um modo de controlar isto.

— Quando estiver faminta o suficiente, não haverá controle. Ficará tão excitada que a razão deixará seu cérebro. Suas garras emergirão e vai querer afundá-las em qualquer infeliz desgraçado que por acaso passar por perto. Esta é sua vida agora; melhor aceitar a realidade.

Uma vida sem futebol ou amigos ou um pai.

MacRieve pareceu ter grande satisfação em lembrá-la.

— Não haverá nenhuma Olimpíada para você. Duvido que passe no teste de urina. Já que você não pode urinar.

Seus lábios se separaram.

— Aye, está correto. Como os vampiros, você não tem funções corporais. Só outro exemplo do quanto você é errada. Não é à toa que seu pai te abandonou.

MacRieve estava apreciando isto, rasgando-a pouco a pouco. Como se estivesse conseguindo se vingar dela — quando ela nunca fez nada com ele. Chega.

— Bom saber, Cabeça Oca. — Como dizia Rónan. — Agora, tanto quanto você claramente está sofrendo por me fazer sofrer, eu me recuso a aceitar. Encontre outra pessoa para bater, porque a única coisa que fiz de errado com você foi confiar em toda essa besteira sua de companheira. — Ela agarrou o controle remoto da televisão, ignorando MacRieve como se ele fosse um fã agressivo.

— Você não vai procurar cair nas minhas graças? Sua vida está em minhas mãos e já está desafiante?

Acostume-se a isto, babaca.

Mas MacRieve não era alguém para ser ignorado.

— Olhe para mim. — Antes que ela pudesse piscar, ele saltou sobre ela, imobilizando seus braços acima da cabeça. — Eu disse olhe para mim.

O peso de seu corpo era esmagador, sua ereção como uma barra de aço pressionada nela. Apesar de seu ódio por ele, ela se sentiu respondendo.

Por que não podia desligar esta excitação? Era uma coisa Súcubo? Ou uma coisa MacRieve? Afinal de contas, as características que a atraíram antes permaneciam inalteradas — seu corpo digno de suspiros, seus olhos dourados, seus lábios firmes... sua língua talentosa.

Um flash de memória de sua boca entre as pernas dela fez seu coração sofrer um baque e seus mamilos ficarem duros. Não pense nisso!

— Quando você ficar faminta o suficiente, virá rastejando para mim.

Ela se recusou a desviar o olhar.

— Nunca. Você me dá nojo. — Seu tratamento por ela dava.

Ele inalou profundamente.

— Não, não é nojo o que você está sentindo. Posso cheirar o quanto você me quer dentro de você.

Suas bochechas incendiaram, porque era verdade. Ela estava doendo para algo enchê-la.

— Qual a diferença entre este aroma e exalar?

Ele pareceu surpreso com a pergunta.

— A excitação de uma companheira deixaria um Lykae desesperado para conseguir levá-la para algum lugar sozinho para foder. Exalar faria um macho arrancar as roupas da Súcubo para reivindicá-la naquele mesmo lugar. Sem importar se o clã inteiro estivesse assistindo.

Ele faria aquilo se ela exalasse seu cheiro?

— Como eu disse, vou comer comida regular. Então não haverá necessidade de exalar nada. Nunca mais teremos que nos tocar novamente.

Com um empurrão irritado, ele apertou sua ereção contra ela novamente.

— Você acha que será capaz de manter suas mãos longe de mim?

Ela não podia negar sua reação física a ele. Mas se certificaria que ele entendesse exatamente o que estava acontecendo.

— Digamos que fui ativada por você, apesar de desprezá-lo. Qual a diferença entre o que você está fazendo comigo e o que acha que eu farei com você?

Ele fez uma careta.

— Sobre o que você está falando?

— Se você me fizer te querer contra minha vontade então quem é a Súcubo? Sua aparência não exala. Explique para mim a diferença.

Uma expressão perturbada passou pelo seu rosto antes do ódio explodir mais uma vez.

— Eu nunca usaria minha aparência para estuprar os outros.

Ela o empurrou. Até mesmo com sua nova força, ela não conseguia movê-lo.

— Você não tem que temer isso de mim, MacRieve. Prefiro morrer de fome. Prefiro isso a me alimentar de você.

Ele soltou-a e se levantou, dando-lhe um olhar fulminante.

— Vou me lembrar disso quando estiver me implorando para te foder. E quando eu negar a você novamente e novamente...

 

— Passe a bola, Ben! — Chloe berrou.

Ela estava jogando uma partida de futebol só por diversão com ele, Rónan, Madadh e seis outros. Fazia quatro dias desde que viu a besta de MacRieve, mas ainda achava estranho que todos os Lykae ao redor dela tinham uma coisa semelhante a lobo dentro deles.

Rónan estava guardando-a, e ela estava equipando-o com sua nova força e velocidade imortal. Como Diretora Atlética autoproclamada de seu clã, ela começou a trabalhar nos exercícios com ele. Aliás, movimentos como os seus levavam tempo para aperfeiçoar.

Ela decidiu se colocar ali como Diretora Atlética e membro do clã porque precisava de algo para ocupar seu tempo ou enlouqueceria — e porque precisava da ajuda do Rónan para escapar...

MacRieve sentou-se ao lado em um carvalho na lateral, como normalmente fazia. Para alguém que a odiava tanto, ele estava sempre a observando, silencioso e pensativo, como se apenas estivesse esperando que ela entrasse em ação e “implorasse por isto”.

Felizmente para ela, era mestiça o suficiente para não sofrer esses impulsos. Muito. Quase nada, se ela se mantivesse ocupada e seu estômago cheio de comida.

Ela o ignorava na maior parte do tempo. Ok, ele era bastante impossível de ignorar. Sentia sua presença se estivesse perto, sentia seu olhar sobre ela do outro lado do campo. Perguntava-se se ele estaria recordando o dia deles juntos. “O melhor dia da minha vida”, ele disse. Ela deve ser masoquista, porque sempre que reproduzia na sua mente aquele dia, ainda sentia uma pontada no coração...

Surpreendentemente, a façanha de MacRieve no muro funcionou. As criaturas partiram, mas ele ainda não a liberou. Até mesmo Munro era contra ela deixar o complexo, insistindo que poderia ser rastreada sem as devidas precauções.

Como um talismã de camuflagem.

Ela avaliou sua posição no campo e concluiu que não queria estar próxima a MacRieve; nem ser sequestrada por Centauros novamente. Chloe se lembrou daquela marca de mão queimada no muro. Será que os Pravus receberiam um alerta por e-mail se ela cruzasse o limite? Um talismã era a única solução, o que significava que isso se tornou o troféu de campeonato na sua cabeça.

Rónan contou a ela de sua amizade com certas bruxas — inclusive aquelas que a sequestraram — então pediu a ele para ajudá-la a fazer uma compra.

— Desculpe, T-Rex. — o garoto dissera. — A Casa de Bruxas sempre exige pagamento adiantado.

— Nenhum contrato com opção de compra? — Ela perguntou. — Parcelado?

— Não há tal coisa como crédito Wicca. — Ele riu da ideia. — Se você conhecesse alguma bruxa, entenderia por que suas perguntas são tão engraçadas.

Ela pensava constantemente naquele talismã. Ficava deitada na cama imaginando maneiras de conseguir centenas de milhares de dólares.

Até que isso aconteça, ela estava presa. Para ser justa, não era tão ruim agora que estava começando a pegar o jeito deste negócio imortal.

Na tarde da sua mudança, Rónan bateu na porta do seu quarto. Ela estava olhado fixamente para o teto, ainda agitada de sua última interação com MacRieve.

— Vá embora, garoto. Estou ocupada.

— Você não pode ficar aí para sempre. Quer jogar futebol?

Ela levantou-se de um salto da cama. Ela podia ouvir... Sim, ele estava dando joelhadas em uma bola no ar.

Em campo naquele primeiro dia, Chloe descobriu que era mais rápida e mais dura. Ou então os filhotes Lykae eram maricas.

Sua melhora era agridoce. Sim, voar campo abaixo em velocidade acelerada era incrível; mas também reconheceu que provavelmente estava superalimentada por causa de MacRieve. E seu sustento.

O que a fez querer estrangular algo...

Rónan era uma grande ajuda, mantendo sua mente ocupada. Em troca de treinamento, ele deu a ela seu velho iPod e todas as camisetas e shorts de futebol que ela pudesse vestir. Ele até passou para ela um velho par de chuteiras. Eram muito grandes, mas ela se arranjou com elas.

O garoto também mostrou o que ela podia fazer como imortal.

— Suba no telhado da torre e salte. — ele disse, apontando para uma torre de vigia que tinha facilmente quase dois metros de altura.

Recordando a rapidez com que sua mão curou, ela finalmente sucumbiu aos seus dois filhotes atrevidos. A segunda vez que ela pulou estava rindo enquanto saltava.

Munro também estava ajudando-a a se adaptar. Ele não falava muito, mas perguntava se ela precisava de qualquer coisa. Deu-lhe um laptop, e suspeitava que fosse ele quem estivesse garantindo que sempre houvesse comida na casa, silenciosamente apoiando seus esforços.

O clã estava em guerra por ela mais uma vez, como se para mostrar o quanto MacRieve não estava sendo razoável.

Quando pudesse bloquear esse show de merda fora da sua vida, ela realmente começaria a apreciar algumas partes. Ela entrou em uma rotina. A cada manhã, acordava e tosava seu cabelo, tomando o comprimento da metade das costas para o corte de um menino. Então forçava goela abaixo um mínimo de calorias. Depois do café da manhã, ela, Rónan e Ben corriam pelo complexo de um muro a outro, o que devia ser algumas dezenas de quilômetros. Ela jamais perdia seu fôlego. Durante a tarde eles praticavam esportes. À noite, ela e Rónan bebiam cerveja.

Levantar e repetir. Até hoje.

Ela acordou nauseada, sofrendo ondas de enjoo a manhã toda. Quando ela ficou cada vez mais fraca, seu primeiro pensamento foi que tinha um vírus estomacal. Mas segundo Munro, ela era imune a tais doenças.

O que significava que ela estava perdendo a batalha para permanecer com a comida. Isso fazia sentido. O que mais podia explicar como ela ainda podia desejar MacRieve, inclusive quando o odiava? Sua metade Súcubo deveria estar clamando para jantar. Argh!

Se ela jogasse novamente com seus encontros, sua libido alcançaria picos, enviando-a correndo atrás de bolachas ou uma banana, qualquer coisa para anular isto...

Seu estômago se revoltava agora, outra onda de náusea tomando-a. Então o que aconteceria se seu café da manhã não ficasse ali embaixo? Tudo que sabia era que se ela tivesse que se alimentar — furtivamente olhou de relance para MacRieve — faria qualquer coisa possível para evitar um Big Mac.

Fuja, ela pensou pela centésima vez. Preciso sair de fininho.

 

Ela não estava se tornando a Súcubo que deveria ser, Will pensou enquanto assistia Chloe jogando futebol.

Era de se supor que estivesse obcecada com sua aparência, sempre se colocando na luz mais desejável; Chloe vestia o short de Rónan, uma camiseta usada da esposa de alguém e chuteiras emprestadas. Elas eram muito grandes, então ela encheu de fita adesiva para que se ajustasse em seus pequeninos pés.

Ela deveria ser uma cantora talentosa, dançarina, cozinheira; ele descobriu que a voz de Chloe era pavorosa — e ela usava-a para açoitar os oitenta minutos de jogadas enquanto corria pelo terreno com os rapazes.

Ela deveria estar atraindo Will irresistivelmente; por quatro dias o evitou, nunca olhando para ele se estivesse próximo a ela.

Como agora. Nem mesmo um olhar de relance. Podia jurar que quase... sentia falta dela, já acostumado a tê-la ao seu lado. Ou talvez ela simplesmente fosse uma Súcubo que podia fazê-lo sentir coisas que não queria.

Inferno, até mesmo Webb não pôde resistir à sua mãe. Que esperança eu tenho?

Então Will estava ali sentado bebendo whisky, perigosamente perto de agarrá-la, inclusive enquanto aplaudia a si mesmo pelo seu controle. Minha vontade é minha.

Estava tão entretido assistindo seu jogo que mal notou Munro juntando-se a ele debaixo do carvalho.

— Porra. Você parece mal.

— Não dormi muito. — Depois daquela noite pacífica com Chloe, seus pesadelos retornaram com ímpeto, alternando entre Ruelle e sua tortura.

O período que passou naquela prisão ainda assombrava-o. O que fazia sentido. Will foi de uma das criaturas mais poderosas do Lore — um guerreiro forjado pela batalha — a uma vítima que não podia fazer nada além de aceitar seus tormentos.

Assim como foi incapaz de fazer qualquer coisa além de aceitar alimentar Ruelle.

Em cada pesadelo, ele impotentemente perdia algo — sua semente, sua alma, até a porra do seu coração. E sempre seu orgulho. Acordava incapaz de respirar, experimentando aquele sentimento inconfundível de sufocação.

As profundezas estavam arrastando-o para baixo.

Então raramente fechava seus olhos. Ficava acordado assistindo aqueles clipes de Chloe, castigando-se imaginando o que poderia ter sido. Quando ele a viu no campo, sua companheira perfeita, ele ansiou por ela. Ele... velou-a, como se aqueles clipes estivessem remetendo para um velório.

Logo ela mudaria; mas podia fantasiar que esta garota de antes era sua. Em vez de se render e ceder, imaginou conquistando e reivindicando-a.

— Chloe está se adaptando bem. — disse Munro.

Ela jogava no campo como uma profissional; e fora do campo como uma criança, ousando e dando a eles, explorando a combinação do papo furado de Ben e Rónan.

— Não estou nem aí como ela está se adaptando.

— Então por que sempre está observando-a?

— Porque ela é perigosa, uma bomba relógio. Mesmo que não consiga fazer ninguém acreditar, eu sei disso. — Apesar de ninguém no clã saber o bastante sobre o que fazer nesta situação, estava claro que todos gostavam dela. Claro, não tinham ideia do que ela realmente era capaz.

Não como eu.

Munro disse.

— Chloe ainda está tentando comer comida. Talvez ela possa continuar.

— Se não puder, as bruxas retornaram suas ligações? — Ele conseguiu que Munro pedisse uma poção para torná-los imunes ao exalar.

Voltando-se para as bruxas? Obviamente Will estava desesperado. Mas esta era uma de suas últimas esperanças. A outra era que Chloe pudesse continuar a comer normalmente, que sua metade humana pudesse decidir nisto.

Will também perguntou se as bruxas podiam localizar Webb usando o sangue da Chloe.

Munro disse.

— Acabei de ouvir sobre a volta de Mariketa, a Esperada.

Se Will conseguisse confiar em uma bruxa, supôs que seria aquela.

— Ela não tem muita esperança em uma poção de imunidade. Disse que tentaria quando voltasse para cidade — mas no mínimo, precisa de uma amostra para se basear.

— Uma amostra? Até lá será muito tarde. — Lá se foi aquela esperança.

— As bruxas já usaram o sangue de Chloe para espionar Webb. — Munro continuou. — Elas disseram que os resultados foram “intrigantes”. Em suma, não conseguiram localizá-lo. O Lore voltou à estaca zero com isto.

Por que nada dava certo para Will? O que fez para merecer seu destino? A filha de Webb e uma Súcubo. Quem diabos Will deixou puto?

Munro desviou o olhar para o campo, escrutinando outra jogada sendo orquestrada.

— Não quero dizer que Chloe não é uma dama, mas ela não me lembra a Senhora Ruelle nem um pouco.

— Elas são mais parecidas do que você sabe. — Will insistiu, apesar de não poder apresentar uma prova. — Confie em mim nisto.

Naquele momento Rónan acidentalmente deu uma cotovelada no rosto de Chloe, então pareceu horrorizado por ter atropelado a garota.

— Chloe, eu sinto muito!

Ruelle teria chorado lindamente, arrancando simpatia de todos por tudo que estivesse sofrendo.

Chloe simplesmente deu de ombros, apesar de seu lábio agora estar sangrando.

— Estamos no meio do jogo, Rónan. — Conforme sinalizava para a bola com uma mão, ela distraidamente cuspiu sangue, então se esquivou de Madadh com um movimento de rotação inteligente. Ela correu pelo campo e aumentou o placar.

Rónan correu até ela.

— Seus lábios e bochecha realmente parecem ruins.

Ela revirou os olhos.

— Rónan, estou bem. Agora, por que você não enfia o rabo entre as pernas, ajeita a calcinha que está enfiada e JOGA FUTEBOL?

— Oh, aye. — Munro começou em um tom zombeteiro. — Ela é exatamente como Ruelle. Podiam ser irmãs.

Will franziu o cenho.

— Chloe é feroz, uma lutadora que não dá uma merda sobre sua aparência. — Munro persistiu.

Ruelle era fraca e covardemente obcecada com sua própria beleza. Nunca teve um fio de cabelo fora de lugar, nem mesmo quando estava se alimentando.

A atitude de Chloe quanto a sua própria aparência podia ser mais bem descrita como me olhe, me ame, filho da puta. Até mesmo agora seu cabelo parecia que foi cortado com uma faca. E ainda parecia fodidamente boa.

Você nunca saberia que aquela fêmea tinha uma bunda divina porque estava sempre escondida por shorts masculinos soltos, e ele poderia jurar que ela usava mais de um sutiã, só para esconder o tamanho de seus seios perfeitos.

Não, as duas Súcubos não eram iguais. Mas se Will algum dia permitisse a si mesmo acreditar que Chloe não se transformaria em uma cópia de Ruelle, e então ela fizesse...

Eu não me recuperaria.

Munro continuou.

— Sem falar que Chloe não molesta crianças.

Will olhou ao redor selvagem.

— Não diga isto outra vez! — Ele cuspiu as palavras, entretanto aquilo era justamente o que Ruelle fora.

Ela envenenou-o fazendo coisas que sua jovem mente não podia entender — e seu corpo não estava preparado — como se ele fosse uma marionete. Aquilo foi terrível para ele. Lembrou-se de como ela subia em cima dele, seus olhos verdes acesos, sufocando-o com carne branca perfumada.

Até quando sua besta ascendeu, Ruelle — uma imortal plenamente desenvolvida — ainda podia dominá-lo, uma criança.

— Estou cansado disso, bràthair. — Munro esfregou sua mão no queixo. — Estivemos andando nas pontas dos pés ao redor deste assunto por séculos. Precisamos conversar sobre isto se quisermos superar.

Um flash de memória de Nïx surgiu. Você precisa quebrar novamente este osso. Isso não foi corrigido. Era tudo parte do plano dela? Estava tentando conseguir que Will se endireitasse?

Quanto mais pensava sobre como chegou a possuir Chloe, mais detectava a interferência de Nïx. Percebeu que a oráculo o levou até o leilão; agora suspeitava que ela levou Chloe até lá também.

Depois de vinte e quatro anos, duas facções encontraram a Filha de Webb na mesma noite? Delatou para as bruxas a respeito de sua existência, não é, oráculo?

Munro disse.

   — Continuo pensando de volta naquela noite, Will. Havia duas fêmeas na cabana da Ruelle, e Chloe é mais como a mamãe do que jamais será como Súcubo.

— Não ouse compará-la com a nossa mãe!

Eles caíram em silêncio, ambos contemplando Chloe. O sol brilhou por entre as nuvens, prismas de luz cascateando sobre ela. Sua pele estava começando a formar um hematoma no canto do lábio arrebentado passando pela sua bochecha. Parecendo pálida, ela correu abruptamente para o bosque. Will ficou tenso, desconfortável quando ela saiu da sua vista. Então a ouviu vomitando.

Retornou momentos mais tarde, mais pálida ainda, indo diretamente para o cooler. Ela bochechou cerveja em sua boca, então cuspiu.

Munro exalou.

— Ela perdeu seu café da manhã.

— Aye. Lá se foi minha segunda esperança.

Ao final do jogo, sua contusão enegreceu seu olho também. E ela machucou o tornozelo. Quando colocava peso nele ela estremecia, então enviou a Munro um olhar interrogativo.

Ele lhe deu um olhar grave como resposta.

Virava-se para Munro ao invés de mim. Minha companheira. Minha!

Munro disse.

— Ela parou de se curar. Vai precisar se alimentar logo.

— O que espera que eu faça a respeito disso? — O olho preto de Chloe era tão gritante quanto uma acusação; ele poderia muito bem ter dado isto a ela. — Não estou ansioso para assumir seu vínculo venenoso. Ser amarrado a ela para sempre. — Para descobrir que não posso satisfazê-la também. Nunca foi capaz de alimentar Ruelle o bastante. E se ela gozava durante o sexo, ele não tinha nenhuma lembrança disso. Não é à toa que ela arrumou um amante vampiro além de Will.

Munro ficou boquiaberto com ele.

— Você poderia curar sua companheira eterna com uma transa. Quer que eu me envergonhe de você? Suas escolhas são muito simples. Ou você se deita com ela ou permite que outro a alimente.

— Matarei qualquer um que tocá-la!

Munro levantou as sobrancelhas ao ouvir a explosão de Will.

— Então você se deita com ela ou observe-a morrer.

Ou eu morrer. Tão logo o pensamento ocorreu, soube que aquele caminho estava fechado para ele. Seu Instinto recentemente retornado nunca permitiria que prejudicasse a si mesmo, não enquanto tinha uma companheira que seria deixada sozinha no mundo, desprotegida.

Munro puxou um talo da grama, girando-o entre os dedos.

   — Quando você estava maltratando Chloe no muro, repetiu as últimas palavras que mamãe disse a você. Ao que você acha que ela e papai reagiriam mais: o fato que sua companheira é uma entre uma das espécies mais odiadas? Ou que você não está protegendo ou cuidando dela? O destino tomou uma decisão, e agora você tem que aguentar. Eles nos criaram para acreditarmos em destino como nossa fé, Will. Eles nos criaram para sermos melhores do que isto.

Will enfiou os dedos pelo cabelo, em seguida admitiu a vergonhosa verdade.

— Não sei se posso foder com ela. Fisicamente. Mesmo se eu quisesse. — Sexo com uma Súcubo era diferente de sexo com outras fêmeas; mesmo depois que seu companheiro gozasse, esvaziando-se, uma Súcubo podia puxar um último espasmo entorpecedor.

Quando era jovem, sempre pensou que aquele último puxão o mataria. Chloe seria tão gananciosa?

Só de imaginar fazia sua respiração superficial.

— Provavelmente ela teria que usar o lance da exalação em mim.

— E se ela fizer, como os outros aqui resistiriam? Quanto tempo temos antes de ela começar?

Os rapazes estavam seguindo Chloe com seus olhares? Eles tinham acabado o jogo e estavam organizando exercícios. Ben estava a ajudando, colocando cones, bolas de posicionamento, sendo solícito demais.

O Instinto de Will esteve advertindo-o há dias. “Outros machos, próximos à sua companheira sem marca.”

Ben mal conseguia controlar sua besta na melhor das condições. Adicione substâncias químicas de Súcubo no mix...

Munro pressionou.

— Temos que pensar nos rapazes, no bando inteiro. Sua besta matará qualquer um que tentar dormir com ela. Deve leva-la do complexo. Especialmente com a lua cheia para subir daqui a três noites.

Por fim, Will disse.

— Muito bem. Estarei pronto para partir. Volte para as bruxas. Peça um talismã para escondê-la.

— Bem fácil, com os recursos certos. Elas falaram de uma simples pulseira que faria o truque. Mas para onde você vai? Deve ser escondido do Lore.

Ao olhar pensativo do seu irmão, Will disse.

— Oh, não, não! Não a levarei lá.

— Ela ainda é o alvo número um. — disse Munro. — Se tivermos que pedir um lugar emprestado outros saberão. Informações como estas se estendem como fogo incontrolável. No entanto, ninguém mais sabe de Conall. Os bosques foram limpos. É uma terra esquecida.

Will não voltou lá desde o final da Idade Média, mas sabia que continuava impenetrável e permanecia forte, seria para sempre. As cinzas de seus antepassados foram assadas nos tijolos, defendendo do tempo — bem como todos os inimigos.

— O bosque não foi completamente limpo. — Apesar de Will, Munro e seus homens terem queimados todas as outras estruturas — os ninhos de Cerunnos, os salões de Centauros — Will ordenou que a cabana de Ruelle ficasse intocada. Ainda recordava o olhar questionador de Munro e sua própria explicação: precisava disso para lembrar.

Munro perguntou.

— Você poderia realmente esquecer?

Aparentemente sim. Porque Will estava considerando alimentar uma do tipo de Ruelle.

Munro disse.

— Continuei modernizando-a alguns anos atrás. Trouxe ovelhas para dentro novamente.

— Por que eu não soube disso?

Ele deu de ombros.

— Não é exatamente seu assunto favorito. Tem um caseiro cuidando dela. Deixarei tudo pronto para você.

— Se eu levar Chloe para lá, estaria consentindo em me deitar com ela. Ela estaria consentindo em me aceitar. — Viajar para a Escócia seria como marchar para a forca atravessando o mundo.

Munro deu a ele um olhar perplexo.

— Irmão, você já está entregue.

Entregue. Era outra maneira de dizer que eu não tenho escolha. Portanto, o negócio já estava fechado, então? Ele iria reivindicar Chloe.

Uma parte traiçoeira dele acelerou com a ideia. Palavras deixaram seus lábios — Eu farei isto.

— Cuidarei da pulseira e do transporte imediatamente. Dê-me uma hora. Seria melhor avisar a Chloe que ela está prestes a partir. Não que ela vá precisar de muito tempo empacotando suas coisas.

Uma sutil espetada para Will — que não forneceu joias, luxos ou até mesmo roupas adicionais para ela, como um companheiro devia.

Will levantou-se.

— Tenho uma última coisa a pedir às bruxas. Um segundo feitiço para essa pulseira.

Quando Will disse isso, Munro lançou-lhe um olhar desapontado — mas não de todo surpreso.

 

MacRieve andou a passos largos diretamente através da pista de obstáculo da Chloe, ignorando os equipamentos do Rónan.

— Empacote suas roupas masculinas, Súcubo. — disse a ela. — Estamos partindo.

Chloe acenou para o garoto diante dela.

— Você precisa limpar isto em menos de um minuto.

Rónan acenou com a cabeça, dando uma olhada de esguelha para MacRieve, em seguida continuou sua prática.

— Partindo? Deixe-me adivinhar, uma transferência de prisão? — Ela não estava indo a lugar algum com o Cabeça Oca. — Vou ter que dizer não a este plano, guardião da cripta. O que mais?

Franziu o cenho ao novo apelido que ela lhe deu.

Ela podia tirar sarro da sua idade o quanto quisesse, mas isso não mudaria o quanto ele era fisicamente atraente. Ainda que o odiasse, podia admirar sua aparência. Ele se erguia tão alto, ainda digno de babar. Ainda obviamente um idiota.

Depois de uma literal surra, Chloe geralmente se espreguiçava e espanava suas calças. Mas, ela nunca foi tão esmagada quanto com ele — então por que ela ainda sentia aquela conexão com ele?

Embora cheirasse a whisky, ela podia detectar aquele odor masculino viciante dele. Com seu estômago agora vazio, ela estava sentindo um tipo completamente diferente de fome. Suas garras brotaram. Escondeu-as atrás dela. Suor escorria de sua testa. Precisava ir para longe dele e cair dentro de outra rodada de comida.

— Partimos dentro de uma hora para a Escócia.

Um dos poucos países europeus em que ela nunca jogou. Por mais que ela quisesse partir antes, agora ficou desconfiada.

— Não posso fazer isso, MacRieve. Veja, estou atualmente empregada como DA do clã...

— DA?

— Diretora Atlética. Alguns de nós realmente temos um trabalho a fazer. Além do mais, por que eu iria a qualquer lugar com você?

— Porque seu plano de visão curta para comer como uma pessoa normal não funcionou. Eu sei que você vomitou.

Ela jogou o braço por cima da testa.

— Acabei de me esforçar muito correndo. Isto não é nada definitivo. Estou prestes a ir comer de novo.

Ele correu o olhar sobre seu rosto e olho, então franziu o cenho. Rónan disse a ela que estava formando um hematoma. E pior ainda, seu tornozelo machucado estava matando-a. Tanta coisa para a imortalidade.

— Você não vai regenerar assim.

Ela afastou o olhar, então olhou de volta.

— Continuarei a piorar? — Até o que? Ela morrer?

Um curto aceno com a cabeça.

— Você precisa se alimentar. Resigne-se a este fato.

Toda vez que ele usava a palavra alimentar, sua mente era lançada de volta ao seu último encontro — quando suas garras afundaram no quadril esguio enquanto o engolia. O gosto mais delicioso que ela jamais imaginou.

Suas garras agora estavam doendo para perfurar sua pele. Seus mamilos duros debaixo da camisa, nem mesmo dois sutiãs esportivos podiam esconder os pontos tensos.

— Deuses, mulher, posso cheirar sua excitação. — ele disse com a voz rouca. — Outros sentirão em breve.

Que vergonha! Seu olhar disparou para o chalé. Preciso de uma maçã. E um chuveiro. E talvez dar um orgasmo a si mesma para liberar um pouco a pressão.

— Posso lidar com isto. Comer comida soca isso abaixo.

Ele balançou a cabeça.

— É apenas questão de tempo antes de você começar a exalar. E se eu não levá-la para algum lugar isolado, cada macho ao redor vai lutar para se acasalar com você.

— Se eu disser não para eles...

— Então eles lutarão para te violentar.

— Cada macho? — Ela protegeu os olhos contra o sol, observando Rónan driblando ao redor dos cones. Ben estava praticando arremessos. Atualmente ele podia chutar a bola mais ou menos três metros. Com sua ajuda, ele podia alcançar quase cinco.

MacRieve seguiu seu olhar.

— Ben seria o primeiro na fila. — A voz severa chamou sua atenção. Ela notou que seus punhos estavam fechados firmemente. — Provavelmente depois de matar seu irmão mais novo para o prazer.

— Não quero emitir substâncias químicas. Tem que haver uma maneira para que eu possa controlar isto. Se apenas me deixasse falar com alguém da minha espécie! Poderíamos encontrar aquelas duas que estavam do lado de fora do muro...

— Nunca. Esta é minha decisão. Você vai cumpri-la.

Tão arrogante! Ela queria jogá-lo no chão com uma rasteira até que ele comesse grama.

— Pensei que eu não podia deixar o complexo. Que os Pravus me achariam através da impressão da marca da mão ou o que quer que seja.

— Estamos adquirindo um talismã. Lembra-se dos meios místicos que falei?

Ele estava oferecendo um... talismã? Puta merda! Esta seria sua chance de escapar! Sabia que ele podia detectar quaisquer mudanças em sua voz, podia ouvir seu coração...

— Oh? É mesmo? — Ela disse em um tom entediado. — Uau, você vai gastar tanto dinheiro comigo — e pretende fazer negócios com minhas sequestradoras. Eu odeio seu mundo.

— E ele odeia você.

— Seu clã gosta de mim o suficiente.

Com confiança absoluta, ele disse.

— Porque eles não te conhecem.

Morda a língua.

— Não tenho meu passaporte comigo.

— Nós viajaremos por aeroportos particulares do Lore.

Tudo que ela ouviu foi escaportos particulares.  

— Então quando receberei esta suposta coisinha sobrenatural de camuflagem?

Ele estreitou o olhar.

— Ah, olha para a pequenina Súcubo fazendo planos de fugir. Seu coração está disparado. Realmente acha que pode escapar de mim? Lykae caçam. E nem seria caça esportiva.

— Não tenho nada a perder tentando. — Ela lhe deu um longo olhar. — Exceto por um lobisomem peso morto.

— Eu deveria apenas deixar você sair daqui com sua trouxa de roupa masculina.

— Sim. Você deveria.

— Disse a você que os machos Pravus te estuprariam e ainda quer partir. Quem sabe deseje isto deles? — Ele virou e afastou-se a passos largos.

— Imbecil! — Ela alinhou duas bolas. Mirando, ela recuou e chutou a primeira o mais forte que pôde. A segunda seguiu em sucessão rápida.

Conforme planejado, a primeira acertou atrás da cabeça. Quando ele deu meia volta, a segunda cravou nos seus testículos.

— Que... porra... é essa? — Ele apertou os dentes, mas permaneceu de pé.

Enquanto os outros tentaram esconder o riso, ela deu de ombros.

— Penalidade.

Ele mostrou os dentes para ela, saindo indignado ao som de Rónan cantando o hino de futebol.

— Oleeeê, olê, olê, oleeeê...

 

Highlands, Escócia

A cada quilômetro de floresta e estrada de terra mais perto de Conall, o isolamento pesava sobre Will. Ele tamborilou seus dedos no volante de sua nova caminhonete.

A cada quilômetro mais perto, seu futuro tornava-se mais claro. Não haveria nenhum outro para Chloe. Era só ele. E estava alternadamente enojado e excitado com ideia de reivindicá-la. Nunca sentiu tal conflito dentro de si.

Ela estava alheia à sua agitação, no momento profundamente adormecida no banco do passageiro. A menos que seriamente debilitado, a maioria dos imortais precisava somente de algumas horas de sono por dia. A comida que ela estava tentado engolir podia temporariamente extinguir sua excitação, mas não fazia nada para sustentar sua energia ou curar seus ferimentos.

Ele tentou concentrar-se na estrada, na paisagem. Apesar de visitar Kinevane, ele não chegou perto de Conall por séculos. Não tinha nenhuma razão para retornar, fazendo seu lar na Nova Escócia. Tinha quase esquecido a beleza desta região. Sombras de nuvens vagavam acima das montanhas de bronze e lagos lisos como um espelho como fantasmas gigantes. Era de tirar o fôlego.

Ele franziu o cenho para Chloe. Ela estava perdendo tudo. Mas daí, ele se importava?

Talvez? Deveria despertá-la? Decidiu que não. Sua longa jornada de um dia inteiro cansou-a demais...

Depois de dar a Chloe uma pulseira talismã de prata simples, Munro levou-os ao Loreporto, onde um jato aguardava. Contrataram um piloto demônio que já tinha uma companheira, só para o caso de Chloe começar a exalar a 40 mil pés de altura.

Munro levou cada um deles para um lado em troca de algumas palavras em privado.

— Tenha cuidado com minha deirfiúr. — ele disse a Will. — E sugiro que você a informe do que mais seu talismã faz.

Chloe estava parada a uma pequena distância, claramente pesando suas chances de escapar. Ela brincou com sua nova pulseira, sem ter ideia que tinha uma segunda função crítica.

As palavras de despedida do Munro para Will foram — Inclusive agora, sua companheira sofre porque você a nega. Você foi usado no passado, mas se jogar isto em cima dela, então se tornará o slaoightear. O vilão.

Seja o que for que Munro disse a Chloe, deixou-a igualmente abalada.

No avião, ela se arrastou para dentro, para a parte de trás da cabine e caiu na cama, dormindo a maior parte da viagem. Ele rastejou na cabine, esticando seu corpo ao lado dela. Mais uma vez ele pensou, estou olhando para minha companheira. Tão adorável. Enganosamente delicada. Sua.

Parte dele ainda a odiava por se tornar uma Súcubo, por puxá-lo da beira só para empurrá-lo de volta. Mas agora era tarde demais. Ele sabia disso como também conhecia seu reflexo.

Minha alma foi marcada. Que era ainda outro modo de dizer, eu não tenho escolha.

— Reivindique-a. Proteja. Forneça.

Esteve tentado a fornecer ali mesmo no avião. Quando sentiu o cheiro de sua excitação renovada e espiou seus mamilos endurecidos, arrastou sua mão abaixo pelo corpo dela para colocá-la de forma côncava entre as pernas, afagando-a por cima de sua calça jeans. Ela acordou com um ofego.

Suas coxas se espalharam de forma tão obediente, e ela balançou seu sexo na palma da mão dele como uma boa companheira faria. Já estava consentindo?

Então ela pareceu despertar completamente. Seus joelhos se fecharam bruscamente.

— Afaste-se de mim, idiota.

Amaldiçoando, ele obrigou-se a andar de um lado a outro no avião por horas. Inquieto e miserável.

Ainda que quisesse reivindica-la — mesmo que pudesse — ela não o receberia. Como ela deixou bem claro, sentia repulsa de ver sua besta.

Isolada em Conall, ela não teria muitas escolhas. Começaria a exalar e sua besta seria impotente para não tomá-la, querendo ela ou não. Se tivesse que transar com raiva para manter sua companheira alimentada, então que assim fosse.

Eles desembarcaram em um local privado nas Highlands com uma viagem de três horas até Conall diante deles. Quando Will pegou seu novo SUV, ela franziu a testa.

— Eu não sei quanto a você dirigir. E se sua besta sair? Não acho que ela tenha carteira de motorista. — Em uma voz estranha, ela disse. — “Ele nem sequer tem carteira, Lisa”.

— Quem é Lisa?

Ela pestanejou para ele.

— Mulher nota mil? Não importa, guardião da cripta. Vou te apresentar ao YouTube algum dia através desta coisa que nós jovens chamamos de “e-mail”.

Agora atravessavam uma ponte sobre o rio que marcava o limite ao leste da propriedade de Conall. Estou na terra da minha família. Ao pensar naquilo, sua inquietação aumentou.

Estava retornando ao lugar de suas origens com sua companheira a reboque. Uma companheira que dormia profundamente de exaustão, apoiando-se em uma perna, ostentando um rosto contundido, e sofrendo os efeitos da desnutrição. Ela trouxe uma das velhas sacolas de ginástica de Rónan e todos os pertences que tinha no mundo não a encheram.

Seu irmão deu a única joia que ela possuía.

A nuca de Will esquentou. Ele não deveria dar a mínima. Lembrou a si mesmo que ela tinha sorte de estar com ele, afortunada por estar preparado para fazer sacrifícios por ela.

Ele estava prestes a trazer uma da sua espécie para dentro das paredes sagradas de Conall, sujando sua casa. Estava prestes a alimentá-la, curá-la.

Mas aqueles eram seus limites. Seu olhar caiu sobre a pulseira. Conforme suas ordens, aquele talismã a manteria escondida — e a impediria de conceber. Só de pensar em desovar Ubus fazia suas bolas murcharem. Se ele e Chloe tivessem filhos Íncubos e filhas Súcubos, ele teria que retirar sua prole do clã, nunca deixaria sua linhagem fazer os outros de vítima.

Mais uma vez tamborilou impacientemente no volante, cada quilômetro colocava em marcha a tensão dentro dele. E quanto mais ansioso se tornava, mais seu Instinto lhe dizia para se consolar com sua companheira.

Justamente quando sua mão estava alcançando-a por vontade própria ela despertou, piscando para seus arredores. Agora que ele diminuiu a velocidade em uma estrada de terra, ela abriu a janela, colocando a cabeça para fora.

Os aromas das Highlands o varreram, aliviando um pouco sua tensão. Ele deu uma olhada para ela. O sol de fim de tarde cintilando entre as árvores, refletiu no bracelete de prata no pulso dela e banhou a pele suave de sua bochecha intacta. Ao longo de sua jornada, seu cabelo cresceu quase até a altura do ombro, ondas brilhantes fluindo ao vento.

Ela é tão linda.

Conforme ele observava seus olhos com pálpebras pesadas e sorriso sonolento, o desejo de acariciar seu rosto era quase inegável.

Precisava dizer a ela que a achava bonita, que daria qualquer coisa que ela desejasse. Deuses, sentiu como se ele fosse morrer se não a beijasse...

Compreensão.

Enquanto a fortaleza surgiu à vista, parecia que não era cedo demais.

Porque Chloe estava começando seu primeiro exalar.

 

— O estilo de vida dos ricos e famosos recebe o Medieval Times. — Chloe disse casualmente quando saiu do SUV, fazendo um esforço para disfarçar seu espanto ao ver o lugar à sua frente. Ela não daria a MacRieve a satisfação, não quando ele tinha apenas rangido. — Fora, agora.

Conall Keep era de cair o queixo, como se pertencesse a um cartão postal. A parte principal do edifício era uma estrutura quadrada de três andares, construída em pedra de cor creme. Aletas esparramavam-se em ambos os lados, cada uma moldada com árvores altas. Plumas de fumaça espiralando de duas chaminés, calor promissor, uma visão bem vinda com o crepúsculo se aproximando e uma sensação de frio chegando.

O balbucio da vida real do riacho que corria nas proximidades com sua própria roda d'água e tudo mais. O jardim da frente consistia de quilômetros de colinas verdejantes pontilhadas com macias ovelhas brancas. Além disso, jazia uma floresta distante.

Quando MacRieve arremessou-se para fora do SUV, ela se perguntou o que havia arrastado a bunda dele. Desde que chegaram perto deste lugar, ele ficou ainda mais mal humorado, ainda no avião, o desgraçado tinha feito um movimento em cima dela.

Ela acordou para encontrar a palma da mão áspera cobrindo sua virilha completamente, o calor de sua pele se infiltrando através de seus jeans. Ela quase não conseguiu rejeitá-lo, quase chamando-o de volta. Então descobriu os lanches no avião, sufocando-se de amendoim e uma coca.

Sim, a comida podia entorpecer sua excitação, mas fornecia zero energia. Embora ela estivesse animada por estar na Escócia pela primeira vez e ansiosa para escapar, seu corpo não tinha colaborado. Cochilou no caminho para cá.

Bela maneira de prestar atenção para que possa fugir, Chloe. E mais? Ela poderia matar por uma soneca agora. Planejava tomar banho, dormir, forçar-se a comer o que estivesse disponível — então traçar sua estratégia de fuga.

Enquanto ela e MacRieve se aproximavam da larga porta da frente, a ficha caiu completamente, que estava sozinha com um homem em um local remoto. Nunca esteve em um encontro antes com MacRieve, então tudo isto parecia importante. Tentou preencher o silêncio.

— Eu, hmm, gostei do seu lar.

Ele parou com a chave na porta da frente, estreitando os olhos para ela. Suor pontilhava seu lábio superior. Sua voz estava tensa quando disse.

— Esta é a minha casa ancestral. Não dou a mínima se uma Súcubo gosta dela.

Antes que deixasse Glenrial, Munro explicara que Conall era onde cresceram, e que MacRieve mantinha isto sagrado. O fato de que ele estava levando-a lá era importante.

Talvez, mas ele estivesse flagrantemente infeliz.

— Como é que este lugar ainda está de pé?

Em um tom apagado MacRieve respondeu.

— Os tijolos foram feitos com as cinzas daqueles que vieram antes de nós. Eles protegeram ao longo do tempo... qualquer um que nos fizesse mal.

— Seus antepassados ​​cremados são parte dos tijolos? Odeio o Lore. — disse ela, mesmo quando seu olhar foi atraído para sua nova pulseira de prata, imbuída com um camuflado amuleto Lorean.

Quando ele abriu uma das portas da frente, ela corajosamente se arrastou para dentro.

O hall de entrada era imponente com uma impressionante escadaria curva, que parecia ter sido esculpida da própria fundação. O piso frio brilhava. O ar cheirava levemente a cera de abelha.

Em uma biblioteca contígua, prateleiras cheias de livro cobriam as paredes do chão ao teto. Os móveis antigos eram finamente trabalhados. Pinturas a óleo e tapeçarias acentuavam a decoração. No entanto, quando passou para uma segunda sala, uma luxuriante harmoniosa área, notou que não havia nenhum indício de que crianças tivessem vivido uma vez aqui, não havia indício de que este lugar pertencia a uma família.

Também, não era como se houvesse fotos de formaturas para pendurar — porque seu companheiro de viagem era realmente assustadoramente velho. Como chamam no rock’n-roll aquele barulho infernal de idade. Como quando os dinossauros governavam a terra antiga. Deus, isso era tão confuso.

Ela virou-se quando percebeu que ele não estava atrás dela. Ele estava no limite, hesitando em entrar, sua grande estrutura esboçando na porta.

Um antigo imortal retornou para sua casa de infância. Então, por que essa hesitação?

Algo estava muito errado aqui. Suas sobrancelhas estavam apertadas, seus músculos tensos.

Mesmo depois de tudo, ela teve o impulso de aliviar o que estava machucando-o, para suavizar sua expressão perdida.

Ela encontrou-se caminhando de volta para aquele homem...

 

Will passou pela primeira onda do exalar dela sem sacar seu pau e cair sobre ela. Bom para você, cara.

Sua autocongratulação foi de curta duração quando confrontado com Conall. Cada detalhe deste lugar fez com que memórias irrompessem na mente de Will, mantendo-o no limite.

Embora Munro tivesse trazido para dentro água encanada e eletricidade, os móveis e tapeçarias permaneciam praticamente os mesmos. Como uma cápsula do tempo.

Quando Chloe se virou com um olhar interrogativo no rosto, ele bruscamente impulsionou-se passando por ela, aquele ligeiro contato fazendo com que ardesse por ela.

Mas permaneceu no controle. Talvez estivesse fraca depois que exalou, já que era apenas uma Cambion. Talvez isto fosse ficar mais forte, edificando-se com o uso, como um músculo. Se assim fosse, ele estava ferrado. Assim como ela estaria.

Ela seguiu em silêncio enquanto ele caminhava pela grande sala, além da lareira. O zelador acendeu um fogo lá.

Tantas lembranças...

Ele apressou-se em direção à cozinha, encontrando-a bem abastecida com alimentos e bebidas. Pela segunda vez em menos de uma semana, Will pensou, Deus te abençoe, irmão.

Embora estivesse tentado a beber da garrafa de whisky, encontrou um copo alto e despejou várias doses.

Ela pegou um copo para si mesma, erguendo-o para que ele preenchesse.

Depois que fez isto a contragosto, ela tomou um gole.

— Onde é que vou dormir? Preciso de uma soneca.

Ela dormiu durante a maior parte da viagem e ansiava por mais? Quantas das 24 horas ela poderia dormir? E se adormecesse e nunca mais acordasse?

O pensamento enviou uma onda de pânico através dele e engoliu sua bebida. A garrafa tilintando contra o vidro quando recarregou.

Proteja. Forneça.

Atravessando a grande sala, ele disse.

— Seu quarto é no segundo andar. — Com pés de chumbo, ele subiu as escadas de pedra.

O que descobriu fê-lo ranger os dentes com frustração. Nenhum dos quartos foi arejado. Nem o quarto de infância dos irmãos. Lençóis ainda envolviam todos os móveis, as janelas fechadas.

Sombriamente ele subiu mais um lance de escadas até a suíte máster. É claro, que tinha sido preparada. Munro, seu puto. Tratar Will como se ele fosse o dono do castelo?

Chloe alegremente entrou, em seguida, virou-se no lugar.

— É lindo. — ela suspirou.

Ele compreendeu a sua apreciação. Suavemente iluminada por outra lareira, a suíte arejada se esticava de um lado para o outro, e era elegantemente decorada, embora de forma diferente dos dias anteriores. A cama trenó de seus pais tinha sido substituída por uma enorme, de dossel e todos os móveis foram trocados por peças mais modernas. As cortinas tecidas a mão de sua mãe foram substituídas por janelas ornamentadas, e os revestimentos da cama se foram, substituídos por tecidos mais leves. A colcha tinha uma borda estreita xadrez, o tartan MacRieve.

Chloe atravessou para um banco curvo na janela.

— Como aquela floresta se chama?

— Bosques de Murk. — ele rangeu, os punhos fechados. Os bosques onde sua mãe morreu. A cabana de Ruelle estava dentro daquela floresta. Lembre-se, Will. Lembre-se de como você foi fraco.

Seja o que for que Chloe detectou em sua voz atraiu o olhar dela. Ela parecia estar observando a reação dele.

— É um lugar que você nunca irá.

Com um olhar, ela se virou para a parede oposta, para outro banco na janela. De lá, podia ver a floresta ao norte e o pátio abaixo. No centro havia uma cerejeira em plena floração — como a da Louisiana, exceto que esta era muito maior. Ela estava lá desde que ele era uma criança.

Quando ela olhou para isso, deu um pequeno suspiro. Como se estimulado por uma força invisível, ele se juntou a ela. Não, não era uma força invisível — isto tinha que ser do exalar dela. Estaria ficando mais forte?

Eles ficaram em silêncio, observando as pétalas vibrando na brisa. Ele sabia que os dois estavam pensando sobre aquele dia perfeito.

Ainda olhando para baixo, ela disse.

— Você realmente se ferrou, MacRieve. Todo dia poderia ter sido assim. Uma eternidade deles, assim como me prometeu. Acho que eu deveria apenas ser grata que você não tenha me decapitado ainda. — Com um dar de ombros, ela caminhou em direção ao closet. — Oh, meu Deus, está cheio de roupas novas! E são as que realmente uso.

Apoiando o copo ele olhou para o armário, viu jeans, camisetas de manga comprida, nenhuma de babados com botões e blazers. Tinha tênis e até mesmo pequenas chuteiras. Um novo conjunto de bagagem estava ali. Como se Chloe fosse viajar?

Ela virou-se para ele, olhando-o com olhos que piscavam esverdeados com emoção.

— Obrigada. Não estava esperando por isso.

Súcubo verde. Um choque de raiva martelou nele.

— Não fiz isso por você. É melhor agradecer a Munro. — Aquele desgraçado forneceu as coisas que Will não tinha.

Ela murmurou.

— Babaca. — então começou a investigar as roupas.

Seu irmão escolheu a lingerie que ela estava vasculhando agora? As sedas vermelhas que acelerariam o sangue de qualquer lobo?

Havia um pedaço de papel colado na porta do armário. Ela entregou a ele.

— Não posso ler isso. Está em gaélico ou lobo.

Um e-mail impresso de Munro: Calma aí, maldito idiota. Cassandra escolheu todas as roupas. Considere-as presentes seus — para a nova senhora do castelo.

Senhora? Então isto o faria o Lorde. Isso o confundiu poderosamente. Conall pertencia aos dois irmãos. No entanto, Munro continuava dando dicas que Will deveria viver aqui com Chloe.

Provavelmente, para proteger o clã. Will já foi arrastado para a margem.

Chloe virou-se para seu novo guarda-roupa, murmurando.

— Não é a primeira vez que me pergunto por que não posso ser a companheira do Munro. Vocês parecem o mesmo...

Will se lançou para frente, agarrando seu braço para puxá-la do closet.

— Você força demais, mulher! — Nunca ficou com ciúmes de Munro. Agora Will sentiu o suficiente por nove séculos. Ele resmungou. — É ele que você quer?

— Por que não deveria? Pelo menos foi decente comigo.

Quando a pressão de Will aumentou, ele se perguntou por que estava tão surpreso com isso. Era só uma questão de tempo antes que Chloe desviasse. Munro nunca a tocaria, mas qualquer outro macho de sangue vermelho...

— Solte-me, MacRieve. — Quando não conseguiu mover sua mão, ela chutou a perna dele. — Não me toque!

— Melhor se acostumar que eu te toque. Em breve não serei capaz de me controlar. Você começou a exalar. Está pontuando o ar no momento.

— O quê? — Seu rosto empalideceu ainda mais, destacando sua contusão. — Não. De jeito nenhum.

— Oh, sim. Mal conseguia me concentrar na estrada, na vinda para cá. Minha mente estava um nevoeiro.

— Mas você disse que isto iria enlouquecê-lo.

— Está ficando cada vez mais forte. — ele disse a verdade, ainda que não fosse tão simples assim. O exalar dela estava afetando-o de forma diferente de Ruelle. Talvez porque Chloe fosse sua companheira.

Ruelle o controlou fisicamente, Chloe estava controlando-o física e mentalmente, uma questão ainda mais assustadora. Era forçado não só a acasalar com ela, mas também a abraçá-la contra seu peito, fazê-la sorrir, qualquer coisa para afastar o olhar desesperado que estava em seu rosto agora.

Ele resistiu a isto com tudo nele. Minha vontade é minha.

— Gostaria de poder parar. — ela disse. — Não faço isto conscientemente.

— Isso é tudo que tem a dizer? Tem alguma ideia de como é não ter controle de sua mente? Seu corpo?

Um lampejo de irritação cruzou o rosto dela.

— Você me sequestrou e me aterrorizou. Eu tenho uma ideia.

— Sequestrou? Tentei salvar seu rabo. Trouxe-a para um local isolado para sua própria segurança.

Ela beliscou a ponte de seu nariz.

— Você não parece surpreso que comecei com isso.

— Sabia que era só uma questão de tempo.

— Se isso é verdade, e você acredita que não poderei escapar, então está totalmente destinado a estar comigo... sexualmente?

— Havia dois cenários para que eu escolhesse: deixar que outro homem ficasse com minha companheira ou pegá-la eu mesmo. Meu Instinto Lykae e minha besta nunca permitiriam que outro te fodesse, o que significa que realmente não havia escolha. Sou forçado a reclamá-la.

Ela sentou-se no assento da janela, como se a mera ideia a exaurisse.

— Forçado? Você é o homem mais detestável que já conheci. Eu te pergunto novamente, que diabos fiz pra você?

Ele não tinha uma resposta pronta. Sim, ela o puxou de volta da beira do precipício, então empurrou-o de volta para a borda. Mas isso não era culpa dela.

Ela era a fêmea de seus sonhos, até que se tornou uma entre seus pesadelos. Novamente, não era culpa dela.

— Não pode ter as duas coisas, não pode encher o ar com sua química, em seguida chorar quando o resultado é o que precisa. Você tem as minhas mãos atadas.

— E isto está bem para você? Ter relações sexuais com alguém que não o deseja verdadeiramente como pessoa? Quem quer apenas não sentir mais dor?

— Exatamente meu dilema. — ele mentiu. Nunca desejara outra tão ferozmente. — Vai acontecer hoje à noite, Chloe. Prepare-se. E que os deuses nos ajudem.

 

Eca, Eca.

Chloe trouxe a lixeira em sua direção, em seguida, cuspiu um bocado de salgadinhos como se fossem radioativos.

Em torno dela no chão estava um monte de embalagens de biscoito e migalhas.

Lembrou-se de quando um de seus amigos do ensino médio alimentou sua beagle com alguns brócolis cobertos de queijo. O cão ficou feliz saboreando — até que chegou ao centro duro do brócolis.

Sinto-me como você, cachorro. Eca.

Comida realmente não é uma opção, não é? Com as mãos trêmulas, ela desembrulhou outro pacote, mordendo dois biscoitos. Qualquer coisa para não exalar. Chomp, chomp... será que este pedaço vai descer? Por favor, desça...

Lixeira! Ela esvaziou a boca, enganchando um dedo em torno de suas gengivas, para tirar todas as partículas ofensivas. Em seguida testou o resto de sua bebida. Claro, o whisky caiu como seda. Mas sabia que não seria suficiente para sustentá-la.

Posição em campo? Seu corpo estava fraco. Fez tudo o que podia para manter o curso, mas talvez fosse hora de admitir a derrota.

A cada minuto que sofria com o estômago vazio, seu desejo desabrochava. Despertando? Oh, sim. Como se sua libido tivesse uma manivela injetada.

E mantinha-se fixada em MacRieve.

Será que isso significa que todas as previsões dele estavam prestes a se tornar realidade? Será que ela rastejaria até ele? Ou suplicaria quando ele a rejeitasse repetidas vezes?

Sempre soube que se lembraria de sua primeira vez para sempre. Ela não queria se lembrar de rastejar até o pau dele — especialmente desde que sempre, no seu caso, poderia ser literal.

A ideia disso fez mais mal a ela do que os biscoitos.

Seria uma daquelas mulheres que começava com crueldade? Algum boneco de mola dojo, perpetuamente saltando para cima para outro golpe?

Não, recusava-se a acreditar nisso. Ele era simplesmente o alvo de puro desespero. Quando era jovem tinha se perdido na floresta sem água, lembrava-se de estar tão sedenta que olhou para uma poça estagnada com sérias considerações.

MacRieve era simplesmente uma grande poça em forma de Lykae.

Talvez ela devesse fazer isto. Ele deu-lhe a felicidade uma vez antes, e se o sexo fosse para ser o ato mais agradável de todos... Uma vez que estivesse mais forte, poderia escapar dele. Seria tão ruim se alimentar e curar?

Sua metade Súcubo avidamente recordou a energia que recebeu daquele boquete. Se ela se sentisse daquele jeito novamente, poderia correr diretamente para fora deste lugar, deste país, longe dele pra sempre.

Esta seria a última noite que teria que ver o sorriso detestável dele.

Apesar de estar tão desesperada, recusou que “rastejar para ele” fosse parte do programa de hoje à noite. Poderia lidar com qualquer coisa, menos suplicar.

Ou sua besta.

Tanta confusão. E tentar ignorar seu crescente desejo não estava funcionando. Sua calcinha estava molhada, seu sexo dolorido.

Poderia liberar alguma tensão? Ou até mesmo retardar o exalar?

Ela se levantou, indo para o chuveiro. Enquanto se despia, olhou para o espelho. Estava mais magra da fome, mas sua contusão não parecia tão ruim.

Seu cabelo tinha quase crescido. No início pensou em encontrar uma tesoura, mas estava cansada demais para se incomodar. Puxá-lo para cima em um rabo de cavalo seria mais rápido e mais fácil do que cortar aquela juba espessa a cada dia.

Será que MacRieve acharia o comprimento mais atraente? Será que ela se importava?

Ligou o chuveiro, impressionada com a variedade de produtos de higiene pessoal. Deu um passo sob o vapor da água, em seguida ensaboou um pano começando com os seios, depois deixando as mãos permanecerem sobre cada curva sua. Seu quadril, seu traseiro.

Quando se tocou imaginou MacRieve lá embaixo na frente do fogo, seus olhos dourados iluminados pelas chamas. Fantasiou que as mãos dele percorriam seu corpo. Ela segurou seu sexo como ele fez no avião, massageando-se assim.

Estava prestes a gozar sussurrando seu nome quando um ponto de preocupação de que ele sentisse seu cheiro interrompeu sua concentração. Visualizando a cabeça dele entre suas pernas, sua língua trabalhando forte sua carne, trouxe-a de volta em um alcance impressionante — mas, em seguida ela pulou com um ruído, que acabou por não ser ele afinal.

No fim das contas, estava muito fraca. Tudo o que fez foi ficar ainda mais excitada.

Ela soltou a mão, encostando a testa contra a parede. Com um gemido de frustração, estapeou o azulejo com a mão plana — e ele nem sequer rachou.

MacRieve tinha razão. Se subisse pronto para ter relações sexuais com ela, isso aconteceria. Deuses ajudassem a ambos?

E se ele não viesse até ela em breve, iria mancando através do castelo correndo atrás dele?

Com uma maldição ela se enxugou, estremecendo quando o pano áspero esfregou seus mamilos inchados.

Examinando suas roupas novas, viu que havia realmente apenas uma escolha para uma noite como esta...

 

Embora o clima estivesse ameno para os padrões das montanhas, Will alimentou o fogo na grande lareira do castelo, obrigando-se a sentar junto dele, bebendo por coragem.

Isso aconteceria. Estava prestes a deitar-se com uma Súcubo. O que significava que precisava ficar tão insensível quanto possível antes de reviver seus pesadelos.

Não. Era um homem crescido. Se fosse acasalar com uma Súcubo novamente, não tinha que ser algo como da última vez. Nem sequer tinha que foder Chloe — uma chupada caprichada iria nutri-la. Ele não tinha que tomá-la, não tinha que marcá-la como sua companheira.

Com uma mistura perfeita de miséria e ansiedade, sabia que estaria dentro dela esta noite. Cairia sobre essa espada, deixando-a usar seu corpo.

Porque era isso que uma Súcubo fazia.

Ele ouviu a água correndo no banheiro incapaz de resistir a imaginá-la no chuveiro, fluxos cascateando sobre seu corpo nu. Tinha imaginado-a ensaboando seus gloriosos seios, deslizando os dedos sobre os mamilos sensíveis.

Ele engoliu em seco, olhando para seu pau enrijecido. Ah, sim, ela estava exalando seu cheiro mais potente. Decidiu que aguentaria o máximo de tempo que pudesse, testando sua vontade contra a força de sua necessidade.

Abalado tanto quanto esteve na noite em que sua família foi dilacerada, olhou para as chamas. A menos de três metros dele estava o local onde sua mãe esteve pela última vez. Will a viu viva. Nunca ninguém como ela, meu Uilleam.

Seu pai estava sentado diante desta mesma lareira, contando a seus filhos sobre como conheceu sua mãe, a adoração em seu tom.

Quando Will previra que seu pai não duraria até o fim da semana, ele estava errado. Seu não passara do próximo sol. Ninguém no clã ficou surpreso quando ele suplicara a um camarada confiável para tratar de seu golpe mortal.

Nada que Will ou Munro pudessem ter dito mudaria a cabeça do seu pai. Ele perdera o juízo de tristeza, impassível pelo apelo deles, já tomado pela sua metade besta. Will e Munro acabaram de perder sua mãe e irmã, e depois a seu pai também.

Tudo isto devido a uma Súcubo. E agora havia uma em nossa casa.

A vergonha disso! E em meio a sua confusão, ele precisava de Chloe. Precisava da mão dela em sua testa, um afago amoroso na sua face.

Precisava estar dentro dela, porque era o único lugar no mundo que ainda não tentara encontrar paz.

Ele terminou a garrafa, colocando-a tão perto do limite da bandeja que caiu no chão. Nada derramando. Coletou outra dose, em seguida começou a coroar seu copo alto repetidamente, perseguindo aquela dormência.

Até o final da segunda garrafa, tudo o que conseguiu foi embriaguez.

Quando a ouviu fechar a água, seu pulso acelerou. Agora podia detectar o mais leve aroma de sua excitação, fazendo-o tremer como um cão enlouquecido pelo cheiro do cio.

Reivindicação! Não havia nada que o impedisse de estar dentro de sua companheira — nada, além de sua teimosia. Seu orgulho agredido.

Precisava aceitar que era seu destino se render e ceder. Disse a si mesmo que pelos 900 anos entre a Súcubo, sua vida e sua vontade eram dele.

Ele deveria ser grato por esses séculos, pelo menos.

Grato? Com um grito, ele atirou-se em pé, jogando o copo no fogo. Antes de se quebrar ele já corria pelo meio da escada, sem ter ideia se a estrangularia, foderia ou simplesmente a apertaria com força contra ele.

Ele aguentou tudo isso por duas horas até agora, antes de sucumbir ao chamado dela.

Por que sempre perdia, quando tanto precisava vencer...?

 

Chloe virou-se quando MacRieve entrou no quarto, em seguida levantou as sobrancelhas surpresa. Ele parecia perdido.

Ele teve que ficar bêbado antes que pudesse dormir com ela? E o boneco dojo levou um golpe!

— Você parece surpresa em me ver. — Ele coçou a cabeça, despenteando seus cabelos espessos. — Por que isso? Sabe que estou em seu encalço. Sabe que nada poderia parar meus pés de me trazer aqui.

Além de estar um lixo, ele parecia cheio de raiva. Ela sentia como se estivesse no quarto com uma bomba prestes a detonar.

Seus olhos brilhavam sinistramente, quando passou seu olhar sobre ela.

— Um robe vermelho. — ele rangeu com um riso amargo. — Interessada em me seduzir? Não há necessidade! Estou completamente apanhado em sua essência — nunca poderia escapar de suas garras.

— Este era o único dentro do closet. — ela disse defensivamente, mas ele não estava escutando.

— Venha então, Súcubo. — Ele abriu os braços, sua expressão inescrutável. — O jantar chegou, esperando nada que apenas seu consumo.

Como deveria responder a isso? Supôs que deveria ficar feliz que não estivesse fazendo-a implorar.

Quando não respondeu, ele deu de ombros e começou a se despir. Cambaleando tirou as botas, arrastando a camisa por cima da cabeça.

Embora estivesse desconfiada de seu estado atual, a visão de seu peito musculoso provocou uma reação física imediata nela. Seus seios ficaram ainda mais pesados, seus batimentos cardíacos acelerando.

— Diga-me como prefere sua refeição. — ele disse, seu sotaque tão forte que ela mal reconheceu sua voz. E suas palavras com fúria metálica soaram... antiquadas.

Ele fez uma pausa com os dedos sobre o botão da calça jeans, inalando profundamente.

— Ah Chloe, acho que está ansiando muito o que está aqui dentro.

Que Deus a ajudasse, ela estava. Sua metade Súcubo estava clamando para se alimentar. Não vá até ele...

Quando ele soltou seu jeans e sua ereção balançou livre, seu olhar travou em seus movimentos. Um sentimento como alegria encheu-a quando a cabeça ficou úmida, como se estivesse implorando por sua língua.

Uma vez que MacRieve ficou diante dela nu, magnífico à luz do fogo, abriu os braços novamente, como se esperasse que ela caísse em cima dele.

Parte dela seriamente queria cair em cima dele.

Seu peito amplo arfava com a respiração. No meio do quadril estreito seu eixo se projetava com orgulho. Seus testículos pesados pendurados em baixo.

— Não é isto o que você quer? — Quando ele agarrou-se com uma mão grande e começou a acariciar-se, cada fibra do corpo dela apertou com luxúria.

Ela deveria estar fazendo o afago. Isso é meu. Ela cerrou os punhos, tremendo com o esforço para não apressá-lo.

Observar isto era ao mesmo tempo erótico e errado, como... uma punição.

— Como é que minha companheira Súcubo deseja ser deflorada? Eu poderia me deitar na cama para você ficar em cima do meu pau. Mínimo de contato dessa maneira. E você não bagunçaria seu cabelo.

Huh? Como se ela se importasse com isso.

— Nada de beijos, naturalmente. — ele continuou. — Não vai querer manchar seus lábios vermelhos.

Lábios vermelhos?

— Sério, MacRieve? Não entendo o que está falando. — simplesmente não sabia o suficiente sobre sexo para determinar qual era o jogo dele. Será que realmente pretendia algum tipo de punição? Esta dominação? Algum tipo de fantasia sexual?

No passado ela o deixaria liderar, guiando-a, mas agora não entendia aonde ele queria levá-los.

Com o olhar vazio dela, ele parou de se acariciar.

— Estou aqui pelo seu comando. — Seu olhar se estreitou em um olhar malévolo. — Diga-me como prefere — ele sussurrou entre os dentes cerrados — ou prometo, Súcubo, não vai gostar do que receberá. Estou a um passo de liberar minha besta.

Ela puxou o robe mais apertado, protegendo-se.

— Mas você disse que ele me pegaria de quatro. Que me pegaria mais forte.

— Oh, ele o faria.

Ela estremeceu.

— Você esqueceu que sou virgem? Não quero ver essa coisa de novo!

— Não quer? — Ele atravessou em direção a ela com um olhar negro. — Eu te dei uma chance para me dizer o que queria! Você rejeitou.

Ela rapidamente disse.

— Então prefiro não fazer sexo, afinal. Podemos ficar como estávamos antes.

— Não é uma opção. — Quando estava diante dela, ele disse. — Eu me sacrifico neste altar. Estou pronto para ser colhido completamente — e mais perto do caralho de ser envenenado. Você vai se alimentar, Súcubo, e se alimentar bem.

Ela mordeu o lábio, perguntando a si mesma se havia algum jogo em tudo que tinha que fazer.

— Então me diga o que quer.

 

Controle.

Will necessitava que isso fosse diferente do sexo que conheceu com Ruelle e ansiava para que fosse diferente do sexo que tinha como uma besta.

— A Súcubo gostaria de saber como quero isso? — Ele zombou, ainda surpreso que ela não tivesse afundado suas garras nele ainda. — Por quê? Assim pode me negar o que realmente quero?

Ele estava perto o suficiente para observar o intumescimento de seus seios sob esse maldito robe vermelho. Perto o suficiente para que a respiração dela soprasse sobre o peito dele.

Reclame-a. Forneça.

Ele estava prestes a isto!

Ela o olhou com aqueles grandes olhos castanhos.

— Apenas me diga.

Por que não? Ele estava bêbado o suficiente para ser honesto.

— Quero te beijar até seus lábios contundirem sob os meus. Quero golpear seu rabo roliço, simplesmente porque você me pertence e eu posso.

Ela engoliu em seco e seus mamilos endureceram ainda mais contra seu robe.

Ele olhou duro para eles, dando uma risada áspera.

— E porque sei que vai gozar com isso. Quero que goze uma dúzia de vezes, mas só quando eu permitir. — Ele estendeu a mão para apertar sua nuca. — Quando olhar para baixo, para você, quando montar seu corpinho, quero saber que está tão desesperada para receber meu pau como estou para dá-lo a você.

Seus lábios se separaram, suas pálpebras ficando pesadas.

— Quero dizer palavras sujas em seu ouvido, porque isso me deixa duro — ele apertou-a —, e porque é uma ferramenta para que eu use, como uma droga para o animal de estimação.

Ela começou a respirar ofegante, os seios subindo e descendo tão tentadoramente. Seus mamilos agora tensos contra a seda. No entanto, suas mãos ainda permaneciam de lado.

Isto poderia ser diferente de antes? Porque Chloe era diferente? Ele balançou a cabeça com força, agora desejando clareza.

— Quero o controle total da situação, dominação total sobre você, até que minha besta arranque isto de minhas garras. — E, em troca, vou te dar um terço da minha alma. — Quero você na cama à espera do meu toque. — Agora que descreveu seus desejos imaginando cada um, não havia mais nada que fazer. Ele a alimentaria em seus próprios termos. — Estamos entendidos?

Ela balançou a cabeça.

Negando! Ele deixou cair sua mão com um rosnado. Por que deveria ficar surpreso?

— Não gostaria de meus lábios machucados por seus beijos — ela começou —, e quero que você goze quantas vezes eu gozar. Porque isso é justo. Agora, por alguma razão, a ideia de você me espancar me excita, tanto quanto a ideia pré-histórica de te pertencer. Então adoraria que demonstrasse que diabos é isso tudo. E estou pedindo para que use cada palavra suja que puder pensar, mas pare de me chamar de Súcubo.

Ela subiu na cama — aguardando seu toque?

— Chloe? — Sua voz um sussurro.

Ela tirou o robe. Deuses, o corpo dela tirou seu fôlego. Estava mais magra, mas ainda assim tão linda. Toda curvas e suaves depressões.

Sim, talvez ele encontrasse paz dentro dela.

Quando estava completamente nua diante dele, ela ergueu o queixo como se o estivesse desafiando a pegar seu fogo.

— Estou esperando. — Então ela deitou-se, estendendo os braços para ele.

Seu coração pareceu parar. E é por isso que ela é minha companheira. Em transe ele se juntou a ela, passando do ponto de retorno.

Reclame-a. Forneça.

Nada poderia impedi-lo de fazer as duas coisas. O destino deles estava selado.

 

Deitado ao seu lado, MacRieve enterrou os dedos nos cabelos dela segurando-a firme, o olhar na sua boca.

Quando a beijou, ele rosnou contra seus lábios.

— Esta é minha Chloe. Esta é você.

Ele parecia um pouco menos bêbado — e aliviado.

Chloe estava tão bem. Ele não a fez se ajoelhar e estavam juntos na cama. Ondas de energia começaram a varrê-la como a ponta do dedo ondulando uma imóvel piscina de água. Embora ela não tivesse perdoado ou esquecido, estava feliz em devolver seu beijo.

Então ele precisava dela para ter mais controle e deixá-lo jogar? Lidere o caminho, Treinador. Tudo o que prometera a excitava.

Eles teriam sexo, aparentemente sexo cruel, mas isto não significaria nada.

Suas línguas entrelaçavam-se cada vez mais forte, até que ela estava gemendo contra a boca dele. O beijo dele quebrou. Ele colocou os braços fortes ao seu redor, mantendo seu corpo cativo contra o dele, peito com peito, enquanto violava sua boca.

Ele não interromperia o beijo até que ela estivesse tonta — e seus lábios ficassem satisfeitos e machucados.

— MacRieve?

Com a voz rouca, ele disse.

— É você, Chloe. É você que eu anseio. — Ele deu outro aperto de corpo inteiro, como se quisesse sentir tudo dela ao mesmo tempo. Com ela deitada ao seu lado, suas mãos mergulharam até amassar a bunda dela, esfregando seu monte contra seu eixo.

Ela podia sentir o sangue cheio de calor dele, escaldando-a.

— Ah, Deus, ah, Deus. — Ela jogou a perna sobre o quadril dele, desejando que a colocasse debaixo dele, precisando de seu peso em cima dela.

— Vou tomá-la hoje à noite. — ele disse, seu sotaque pronunciado.

— Sim, sim! — Apenas continue esfregando.

— E vou fazer isto como preciso.

Então ela ficou confusa sobre suas palavras, sentiu sua grande palma aterrando em sua bunda.

Slap!

Sua reação a chocou. Um som que não reconheceu saiu de seus lábios. Ela se contorceu mais, resistindo contra ele. Um esboço de ar fresco transmitido através da pele quente de seu traseiro, fazendo-a tremer.

Ele rangeu.

— Agora entende que diabos é tudo isto?

De alguma forma, ela encontrou presença de espírito para gritar.

— Não!

Slap!

Ela revirou os olhos. Estava quase levitando, vagamente consciente de que começou a chupar o pescoço dele. Apertou a perna sobre seu quadril, seu pé estimulando-o.

Mas ele estava soltando-a.

Ela piscou para ele.

— O quê? Por quê?

— Deite-se de costas. Mantenha os braços sobre a cabeça.

Ela assentiu, mordendo o lábio, imaginando o que ele faria agora.

Ele ficou de joelhos, inclinando-se sobre ela. Seus lábios chamuscando um caminho de seu pescoço em direção a um mamilo, fechando em torno dele. Quando chupou com força, as costas dela arquearam bruscamente. Ele moveu-se para outro mamilo, atormentando o bico com outra chupada dura, mas ela adorou, agarrando sua cabeça para mantê-lo ali.

Ele mordiscou seu peito.

— Braços.

Ela estremeceu com a mordida dele, um lembrete sexy de quem estava no comando esta noite. Os braços dela desabaram sobre sua cabeça.

— Agora, abra as pernas.

Ela puxou os joelhos para cima e espalhou-os, acolhendo-o.

Ele rangeu.

— Bom, moça. — e ajoelhou-se entre elas. Beijou abaixo de sua barriga, cada roçada minuciosa de seus lábios fazendo o quadril dela balançar. Assim que a parte de trás de suas coxas descansaram sobre os ombros dele, abaixou a cabeça para acariciar sua penugem.

— MacRieve! — Ela se inundou com umidade quando percebeu que ele estava inalando seu cheiro.

Seus olhos estavam com as pálpebras pesadas, quando ele finalmente se afastou.

— Abra suas coxas mais amplas. Deixe-me ver o que é meu.

Ela dobrou os joelhos, deixando as pernas bem afastadas.

O olhar dele era quase palpável quando olhou para o sexo dela. E em seguida...

Ele lambeu os lindos lábios com tamanha possessão — predatório — que olhar aquilo quase a fez ter um orgasmo ao mesmo tempo.

 

Quando ela espalhou-se em completa submissão, a boca de Will encheu d’água por seu mel. Ficou sem ela por alguns dias.

Apertou o quadril dela e lambeu sua extensão. Seu afiado grunhido de prazer abafou seus gritos.

— Mulher, seu gosto! — Com sua segunda incursão, encontrou-a ainda mais molhada. Ele estaria alimentando-a em breve, mas agora ela estava alimentando-o com o mais doce hidromel que já provou. Não conseguia engolir isso com rapidez suficiente.

Entre golpes de sua língua, ele disse.

— Você sentiu falta que eu lambesse sua boceta molhada? Lambê-la assim? — Ele mergulhou fundo.

— Oh, oh Deus... não é justo... — Ela estava à beira do abismo.

Will queria provocá-la ainda mais, mas seu Instinto estava soando em sua cabeça como um sino:

Reivindique sua companheira...

Sua besta já estava se mexendo. E Will tinha certeza que seu pau estava prestes a explodir.

— Estou deixando-a pronta para mim, para o sêmen que quero te dar. — Deslizou um dedo dentro dela, gemendo quando o invólucro intocado apertou em torno dele. O momento parecia irreal. Ele ia entrar em sua companheira virgem. Podia sentir sua virgindade delicada pronta para ele reivindicar.

Ele pressionou a boca aberta sobre seu clitóris para sugá-lo, até que pulsasse entre seus lábios.

O quadril dela tentou saltar da cama, mas manteve-a ​​presa. A cabeça dela se debatia, seus cabelos fluindo sobre o travesseiro.

Enfiou um segundo dedo dentro dela. Roçando beijos contra seu clitóris inchado, ele disse.

— Calma, meu amor, e abra-se para mim. — Quando penetrou seus dedos, o núcleo dela se esticou ao seu redor, suas dobras inchando em boas vindas.

Sua besta não ficaria controlada por muito mais tempo, estava latindo dentro dele para possuir sua fêmea.

— Chloe, olhe para mim.

Ela abriu os olhos.

— Vou tentar permanecer no controle enquanto puder. — Ele sentou-se sobre os joelhos, posicionando-se. — Se eu olhar em seus olhos, poderei ser capaz de ficar com você por mais tempo. — Ele queria estar em cima dela assim, observando suas expressões, dominando-a, tomando-a como um homem.

— E se não, estarei olhando para seus olhos quando você se transformar. — Sua voz estava infeliz.

Ele tinha sua companheira em sua cama depois de esperar nove séculos por ela, e ela estava muito infeliz. Por que não estaria? Estava prestes a perder a virgindade com o que acreditava ser um monstro.

Com a mão livre ele desajeitadamente escovou o cabelo da testa dela, tentando acaricia-la, sem ter ideia de como lidar com isto.

— Vou te dizer quando fechar os olhos. Você precisa relaxar novamente. — Ele tocou sua entrada mais forte com toques superficiais, umedecendo-a. — Assim. Isso mesmo, baby. Dê mais do que isso.

Seu rosto estava relaxando. Seus mamilos apertaram em rijos pequenos frutos. Ele se inclinou para saborear cada um, ganhando um gemido e mais de seu mel. Isto brilhava em seus dedos enquanto empurrava-os dentro dela.

Quando tirou os dedos dela, ela deu um grito, contorcendo-se na cama, ondulando para ser preenchida. Seu coração soava enquanto mantinha os braços acima da cabeça.

— Você está pronta, Chloe.

Ele estava?

 

Com a mão trêmula, MacRieve agarrou seu grande eixo, apontando-o entre as pernas dela.

Quando ele esfregou a coroa para cima e para baixo pelo seu sexo dela, ela estava sobrecarregada com o desejo de agarrar a bunda dele e atraí-lo para ela. De alguma forma, impediu a si mesma.

Em vez disso, travou o olhar com o dele, precisando que visse que ela não queria nada mais do que isso. Poderia jurar que os olhos dele estavam dizendo a mesma coisa.

Ela sentiu a pressão em sua abertura, a coroa penetrando-a, não sendo negada.

— Apertada, tão apertada. — ele gemeu.

Em seguida a cabeça estava dentro, pulsando, esticando-a. Mas essas pontadas eram necessárias, certo. Já não é mais virgem, Chloe.

— Bom? — ele soltou. Os tendões de seu pescoço e todos os músculos de seu torso estavam esticados. Ele tinha começado a suar, a pele brilhando à luz do fogo. Com muita necessidade de empurrar.

— Bom. — Ela sentia como se tivesse esperado a vida inteira por esta plenitude quente. Esse sentimento de peças de quebra-cabeças juntando-se. Olhou para ele com surpresa. — Muito bom.

— Mais? — ele murmurou, a vulnerabilidade em seu olhar.

Ela assentiu com a cabeça. Apenas para se arrepender imediatamente quando uma sensação de beliscar queimou dentro dela. Mais era um pouco demais.

— Dói.

As sobrancelhas dele se juntaram.

— Vai passar, prometo.

Quando ele pressionou mais profundo, ela tentou se concentrar em qualquer coisa, menos a dor. Estudou a expressão dele. Ele parecia angustiado. Tanta coisa estava acontecendo dentro da cabeça dele, que ela nem mesmo conseguia compreender.

No entanto, ela também viu seus olhos piscando azulados.

Quanto tempo teria até que devesse fechar os olhos, e deixar que a besta a tomasse?

 

Will estava lutando para não entrar na boceta incrivelmente apertada dela — e lutando contra a besta, que queria sua vez com a companheira virgem deles.

Não, ainda não! Will nem estava totalmente dentro. Mais rapidamente, balançou o quadril, empurrando mais para dentro.

Ela cerrou os dentes, mas não disse nada.

Tensão. Em todos os lugares. De sua besta ascendendo. Do escaldante engate do invólucro dela. De sua consumidora necessidade de não machucá-la.

A pressão aumentava com cada centímetro mais profundo. Suor escorria de sua pele, correndo por sua espinha.

Finalmente, foi tão longe quanto poderia ir. Olhando para ela com orgulho, ele soltou.

— Você me recebeu. — Ele estendeu a mão para acariciar seus cabelos novamente. — Boa menina. — Puxou o quadril para trás para que pudesse afundar-se novamente naquele paraíso úmido. Sua cabeça caiu para trás quando o prazer bombardeou-o. — Ah, porra, como você está gostosa!

Não houve resposta. Ele olhou para baixo.

— Chloe?

Suas bochechas estavam coradas, seus lábios apertados.

— Não dói mais. Mas não é... agradável.

De alguma forma ele resistiu ao puxão apertado do sexo dela, para retirar quase tudo fora. Mantendo-se na ponta, ele colocou as mãos em suas costas, pegando-a e chupando seus seios sensíveis. Seus lábios prenderam em um mamilo, seus braços cruzando nas costas dela, segurando-a para o acesso.

— Ahhh! — O som de seu deleite quase foi a ruína dele. — Melhor! — ela agarrou os lençóis ao lado de seu quadril.

Will se manteve de empurrar até que ela estivesse se contorcendo na ponta de seu pau, molhando a cabeça para mais.

— Quer isso dentro de você?

— Profundamente!

Deitando-a de costas, ele levantou-se acima dela sobre os braços esticados. O suor escorria de sua testa, para os seios trêmulos dela quando elevou o quadril para frente entre as coxas dela. Seu núcleo apertou cada polegada dele, arrancando um gemido abafado de seu peito.

— Ah! Mais profundo ainda?

— Deus, sim! — O êxtase no grito dela...

Quando ele balançou seu eixo para dentro de novo e mais uma vez, ela tentou encontrar seus impulsos.

— MacRieve, estou quase! Mais!

— Pegue o que você precisa! — Ele estava satisfazendo-a, tomando-a como um homem normal. Experimentando o prazer como nunca havia conhecido. Nisto, ele se sentia tão virgem quanto ela.

Ele ficou impressionado com o quão perfeita ela era. Esperei toda minha vida para estar dentro dela.

— Não pare, por favor!

Este foi o apelo que ele desejava!

— Diga isso de novo.

— Por favor. É tão bom!

Quando ele aumentou o ritmo nela, sua besta rugiu dentro dele, quase frenética por possuí-la.

Will olhou para baixo, buscando uma âncora no olhar dela.

A visão enviou um calafrio por ele. Seus olhos brilhavam com sua excitação.

— Verde Súcubo. — ele silvou.

Assim como Ruelle. Porque Chloe estava ávida para alimentar-se de seu corpo. Quando viu as garras dela alargando, calafrios percorreram sua pele úmida. Sua respiração começou a silvar.

Como se sufocado sob a carne pálida.

Não consigo ar suficiente! Seu peito arfava, seus pulmões queimavam por ar.

Ah, deuses, ele estava perdendo sua ereção. Não, não, precisava para cumprir, para fornecer. Esta era sua companheira, e estava com fome.

No entanto, assim como temia, não podia ficar duro — como se seu corpo estivesse se recusando a fornecer o que o dela exigia.

— O que há de errado? O que está acontecendo? — Ela se mexeu nele. Claro que podia sentir a ereção dele diminuindo.

E, assim como antes, ele deixaria sua besta ascender para fazer o trabalho sujo por ele.

— Chloe, feche os olhos. — Suas próprias garras começaram a alongar. Para perfurar sua pele, para manter sua companheira parada para o esperma. Suas presas cresceram em sua boca. Para marcar a carne dela.

— Já? — Ela apertou os olhos bem fechados. Seu corpo tremia contra o dele. — Será que isso vai me machucar?

— Não de propósito. — Sua voz estava ficando distorcida, os impulsos não mais os seus próprios. A besta inalou fundo o cheiro de sua companheira e seu pau respondeu, inchando semelhante a uma vara dentro dela.

— MacRieve, estou com medo.

— Saiba que a besta... arde por você. — ele engasgou logo antes disso ascender.

Will observou com horror quando ele manobrou Chloe de quatro. Cravou as garras no quadril dela, enganchando-a de volta em seu eixo, mais profundo do que Will fora.

Empalada, ela gritou quando a besta assentou-se profundamente, posicionando-a para melhor receber seus impulsos selvagens. Com a besta na dianteira, Will empinou dentro dela novamente... e novamente... até que estava montando sua companheira forte, rosnando sobre ela com prazer.

Ela estava recebendo-o, gemendo. Estava ficando mais úmida? Seria uma ilusão?

Logo ele esgotaria, em breve estaria acabado, este ato feito.

Quanto mais se aproximava de gozar, mais suas presas doíam para marcar o pescoço dela, para reclamá-la para sempre — porque a vontade não era dele. Um fio de ressentimento cresceu, distanciando outro sentimento, que estava crescendo.

Obsessão.

Seu sêmen subiu, prestes a entrar em erupção de forma incontrolável. A besta reforçou seu domínio sobre ela para entregar isto melhor em seu ventre, e depois se inclinou para marcar seu pescoço.

De alguma forma, pouco antes de ejacular, Will exerceu controle apenas o tempo suficiente para evitar aquela reivindicação...

Um rugido explodiu de seus pulmões quando seu sêmen jorrou de seu pau, torrentes tão poderosas que até mesmo a besta estremeceu de receio.

Entre as respirações ofegantes, rugiu para o teto quando a encheu, mais e mais, mergulhando em sua própria quente ejaculação.

Então veio aquela última extração. A extração adicional de uma Súcubo. Tantos anos distantes, mas tão familiar. Ele tremia violentamente, impotente quando o último de seu sêmen foi arrancado dele.

Com um gemido caiu em cima do corpo dela tremendo. Ela estava ofegante, presa em seu comprimento, contorcendo-se.

Ele estava perto de satisfazê-la. No entanto, no final, ela não encontrou nenhuma satisfação.

Não como ele tinha. Essa última indescritível extração...

A besta recuou com relutância, Will conduziu-o de volta. Era normal para uma besta Lykae elogiar sua companheira depois do sexo, lambendo e beijando-a com abandono sob a luz da lua cheia. Sou anormal, escuro e distorcido. Ele sentiu-se mal.

Ele alimentou uma Súcubo — estava endurecido dentro dela até agora. Não, de novo não. Duas vezes estava muito perto de três. Um terço de sua alma foi suficiente por esta noite.

Sem dizer uma palavra, retirou-se do corpo dela, em seguida levantou-se. Enfiou-se em sua calça jeans, respirando profundamente para enjaular sua besta completamente. O aroma doce de Súcubo dela encheu seus sentidos até que estava se afogando nele.

Arrastando-me para baixo...

Ele correu para o banheiro para vomitar.

 

Isso não tinha acabado de acontecer.

Chloe não sabia o que esperar da sua primeira vez. Porem nunca imaginou que seria abusada pelas costas por um lobisomem — ou que seu primeiro amante sairia correndo para o banheiro para vomitar logo depois.

Ela ficou deitada atordoada na cama, tentando processar tudo que acabou de ocorrer. Tudo que sabia com certeza era que ele estava doente por ter feito sexo com ela, e que não repetiria isto nunca mais.

A princípio pensou que gostaria de tê-lo dentro dela. Inclusive esteve perto do orgasmo, até que ele começou a... broxar.

Ele sabia disso, ela sabia também. E então o viu rangendo os dentes, esforçando-se para passar por isto, como se o sexo com ela fosse a última etapa a ser concluída.

Quando isso não funcionou, ele liberou a besta, deixando-a terminar algo que ele estava muito enojado para fazer.

O medo a assaltara. Mas quando a besta virou-a de quatro e a tomou, não foi tão ruim quanto pensou que seria.

Ela até arriscou uma olhada para trás ao rosto de aparência de lobo do MacRieve. Não foi tão apavorante quanto a última vez. E percebeu por que: a única vez que viu a sombra da besta antes, ela esteve oscilando acima da máscara de ódio do MacRieve.

Hoje à noite a besta olhou para ela com posse, com desejo — como se ela tivesse acabado de se tornar seu mundo inteiro. Ansiava por ela, exatamente como MacRieve disse.

Chloe tinha respondido, deleitando-se com sua ferocidade porque sabia que ela provocou aquela intensidade. Adorou a forma como suas garras seguraram seu quadril, sabendo que estava desesperado por ela.

Tão frenética quanto ela.

Assim que ela relaxou novamente, o prazer retornou, ainda mais duro, mais chocante. Estava sorrindo com o rosto enterrado no travesseiro, porque a besta que temia esteve transando com ela bem em direção ao orgasmo mais intenso que jamais imaginou. Justamente quando sentiu que estava à beira da liberação, sentiu onda após onda do seu sêmen disparando dentro dela. Ela não gozou, mas sua semente foi como um bálsamo contra todas as suas dores — dor nenhuma em lugar nenhum, nem seu tornozelo nem seu rosto estavam machucados. Sua energia foi renovada. Realmente sentia-se imortal. Então ele acabou. E aí MacRieve retornou.

Ele tinha acabado de vomitar. Ouviu que estava enchendo um copo de água na pia.

Ela sempre se considerou casca grossa. Esfregar alguma sujeira nisto, certo? Mas com isso...

Não havia nada de positivo.

***

Will cambaleou do banheiro, tentando não notar como Chloe olhou inexpressivamente para a parede, o lençol agarrado até sua garganta.

Aliviar, confortar.

Como ele podia consolá-la quando ainda se sentia como se estivesse sufocando?

Ele desceu as escadas, indo direto para o armário de bebidas. À medida que abria outra garrafa e tomava um gole generoso, ele compreendeu a desesperança da sua situação. Ela sempre seria Súcubo; ele sempre odiaria sua espécie.

Uma parte dele se ressentiria de sua companheira por toda a eternidade, culpando-a por coisas que ela não participou, culpando-a sempre que ela precisasse se alimentar.

Minha vontade é que não fosse minha.

Ouviu-a correndo para o chuveiro. Soou como se estivesse se esfregando freneticamente. Não era um bom sinal. E ele pensou... pensou que a ouviu chorando, o som ecoando no chuveiro.

Da mesma maneira que Ruelle o fez chorar durante sua primeira vez, assim Will fez com Chloe.

Ela nunca derramou uma lágrima em todos aqueles clipes de futebol, nunca chorou de seus muitos insultos. Eu sou o vilão. Slaoightear. Como Munro tinha advertido.

Como deve ter sido terrível para ela ser tomada pela besta. Enquanto Will tinha experimentado prazer inigualável. Outro marco notável para um antigo imortal.

Ainda não estou saciado. Já a queria novamente. A disseminação do seu cheiro não deveria demorar.

Outro gole queimou sua garganta. Ele afundou em uma das cadeiras diante do fogo que estava minguando, olhando fixamente para as brasas. Ele não queria odiá-la; ela não merecia isto.

Então que porra fazer? Talvez precisasse conversar com alguém. Naturalmente, seu primeiro impulso foi chamar seu gêmeo, mas Munro apenas iria para cima de Will a respeito do tratamento dado à sua deirfiúr. Então pegou seu telefone da sacola que deixou no grande salão e discou para Nïx, não tendo nenhuma expectativa que ela responderia.

Ela atendeu quase imediatamente:

— Você está chamando a respeito do anúncio?

— Sobre?

— Para o Bentley pouco usado à venda. É zero quilômetro!

Bem, isso explicava ela ter atendido.

— Sou eu, MacRieve.

— Seu chato! Como é bom saber notícias suas! A Escócia deve estar bonita. No momento estou fora com Mariketa, Regin e Carrow. Estamos fazendo um resgate.

Ele bebeu um gole, nem mesmo surpreso que ela soubesse sua localização.

— Aye, colecionando órfãos da Ordem. Malkom Slaine me contou. — No fundo Will ouviu o que soou como uma multidão de bebês berrando — gemidos demoníacos, rugidos de bebê e silvos — e o que achou que poderia ser um balançar de van com seus amortecedores.

Nïx disse — Estou concordando com a cabeça. Recolhemos demoninhos, pirralhos que mordem tornozelos e um par de potros centauros, só para citar alguns.

— Preciso de sua ajuda, oráculo. Você e eu — nós definitivamente rompemos relação, aye? — Ele disse, sua amargura indisfarçada. — Ainda que isso não esteja certo. Eu fiz a maior confusão com a minha companheira.

— Eu sei. — Ela disse tristemente.

— Eu não quero tratá-la desta maneira. — Ele começou a andar de um lado pro outro. — Como faço para me impedir de odiá-la só por ser quem ela é?

— Por que não trabalha no ódio dela por você? — Nïx perguntou. — Conquiste-a e talvez você possa ser conquistado.

— Como?

— Lykae podem ser malandros tão suaves e encantadores que convencem quem quiserem. Conquiste-a, lobo.

— Não acredito que ela possa ser conquistada por mim. — Só de dizer aquelas palavras causou uma onda de desespero.

— Você não está tornando as coisas exatamente fáceis para ela.

A parte de trás de seu pescoço esquentou. Então Nïx viu o que ele fez com Chloe?

— Sim, eu vejo tudo, lobo. E por tudo...

— Você quer dizer algumas coisas. Se você viu o suficiente, então sabe por que ela não vai me querer novamente. Minha besta saiu em plena força. Não foi gentil.

— Você precisa conversar com ela, confiar nela. Diga o que aconteceu com você.

— Nunca. — Para Will, que era um macho Lykae de um clã de guerreiros e uma linhagem de Sentinelas, a única coisa pior que ser... molestado por Ruelle durante quatro anos seria admitir isto para sua companheira.

Como ele poderia até mesmo introduzir o tema? Nós precisamos conversar sobre por que eu subconscientemente te desprezo. Quando gozei, você vê, seu último puxão voraz chamou a atenção de volta para um tempo quando minha semente foi tomada por uma de sua laia.

Porque meu desgosto me governou esta noite, retive minha mordida reivindicando você.

Os sons das brigas dos bebês ficaram mais altos, os balanços da van mais pronunciados.

Nïx disse a Will.

— Que adorável. Chifres dos demoninhos acabaram de perfurar o teto do nosso veículo de aluguel. Espere, por favor. — Então para as crianças ela disse. — Eu disse a você que Bertil te morderia se puxasse suas pernas. Agora, corte essa gritaria ou tia Nïxie vai estripar você.

Will pensou que ouviu a bruxa Mariketa dizendo brilhantemente.

— Ha-ha. Tia Nïxie quis dizer nada de sorvete. 

Então Mariketa bufou.

— Você poderia ter se encarregado dos filhotes, Regin.

A Valkyria Regin respondeu.

— Cara. Não me julgue. E onde está a porra do extintor de incêndio?

— Voltei. — disse Nïx em um tom seco. — Você tem muita coisa a resolver sozinho, lobo. Não me faça lamentar colocar Chloe aos seus cuidados.

— Por que você fez? Foi você quem disse que as bruxas estavam em cima dela, não é? Para levarem-na para o leilão? Se puder encontrá-la, então encontrará Webb. — Pelo menos ele conseguiu se vingar um pouco na filha do homem — a filha de Webb foi profanada por uma besta Lykae.

Ele estremeceu com seus pensamentos. Seu idiota doente, é da sua companheira que você está se regozijando! Ele apertou a testa, pressionando até que pensou que seu crânio afundasse.

— Webb tem um papel a desempenhar com os Mensageiros da Destruição; não pode ser tocado. — disse Nïx. — E eu te ajudei porque confiei que você se encontraria com isso.

— E se eu não puder?

— Sabe o que é mais estranho, Uilleam? — Ela perguntou, dizendo seu nome perfeitamente. — Você nunca, em toda a sua vida, fez algo pelo qual pudesse se envergonhar. Você acha que fez, mas não fez. Não até que machucou sua própria companheira, culpando a pobre menina por coisas que ela não pode controlar.

Sua boca ficou seca.

— Será que ela vai mudar? — Quando Nïx não respondeu, ele disse. — Ela tem espírito e coragem. Vai mudar se tornando como Ruelle?

— Não. Mas você não saberá isso porque ela terá ido embora.

Suas pernas ficaram fracas.

— Nïx? Não! — Ele afundou suas costas contra a parede.

— Marque minhas palavras, lobo: enterre seu passado ou ele enterrará você. — Clique.

 

Uma hora depois de seu telefonema para Nïx, Will encontrou Chloe sentada no chão da despensa tentando empurrar uma maçã garganta abaixo.

Segurando a garrafa de whisky na mão, ele sentou-se ao lado dela, arrancando a maçã de sua mão.

— Esse tempo passou para você, moça. Para nunca mais voltar.

Os olhos dela estavam inchados de tanto chorar, seu nariz vermelho, mas felizmente, mais nenhuma lágrima caía. A mera ideia dela chorando o destruía. Ver suas lágrimas...

Eu não poderia suportar.

— Eu ainda posso beber. — Ela estendeu a mão para sua garrafa, bebeu um gole com vontade e engasgou.

— Aye, mas não pode comer comida.

— Posso fazer uma dieta líquida. Ou que tal um soro na veia? Algo cirúrgico? — Com uma expressão de eureka! Ela gritou. — Inseminação artificial!

O pânico dela deixou-o no limite. Ela estava tão desesperada porque odiou sexo com ele. Mais uma Súcubo insatisfeita.

— Ou quem sabe possa fazer o que a natureza espera de você. Seu rosto está curado, sua cor retornou.

Quando ele agarrou a garrafa, ela entregou distraidamente.

— A natureza não pretendia que o sexo fosse tão humilhante assim. Algumas partes foram insuportáveis.

Insuportáveis? Suas palavras lhe deram arrepios. Qualquer macho em uma relação potencialmente eterna reagiria deste modo. Minha companheira odeia sexo. Ele não esperava nada diferente, mas ainda disse — Não foi tão ruim. Você precisa se alimentar. E eu não quis te humilhar. — Certamente que não quis. Slaoightear, sua consciência sussurrou. — Você não sentirá dor da próxima vez. As coisas ficarão melhor entre nós.

— Da próxima vez? Você está realmente me escutando?

Provavelmente não era o momento ideal para lembrá-la sobre a lua cheia daqui a duas noites. Sua besta estaria ainda mais poderosa. Se Will não construísse a força dela até lá...

— T-tem que haver uma maneira que eu possa abrir mão do sexo. Se aquelas bruxas podem me camuflar, talvez possam me consertar.

Consertar? Ela se sentia quebrada. Por minha causa.

Ruelle costumava colocar a culpa de todos os seus fracassos em cima dele; ele fez o mesmo com Chloe? Pigarreou.

— Talvez não seja você quem esteja quebrada. — Outros machos achariam fácil amá-la. Se ele não tivesse sido distorcido por uma Súcubo, teria perdido seu coração para a moça ao lado dele.

— Não estou quebrada? — Ela gritou. — Agora você quer me sacanear? Para sobreviver no Lore, eu deveria drogar e estuprar homens? Acha que eu não sei o quanto isso é errado?

Ele nunca tinha esperado que ela concordasse com ele sobre a natureza das Súcubos.

— Quando eu comecei a mudar meu pai me abandonou. Lembra? Você foi rápido em me lembrar disto. Adorou contar a todo o Lore como ele me descartou como lixo. — Seus olhos encheram de lágrimas. — Sem mencionar como você reagiu à minha mudança.

— Chloe...

— Perdi tudo naquele dia. Minha carreira, o que restava da minha família, meus amigos, meu time. Você era a única constante na minha vida louca. Mas você mudou completamente, me tiranizando e insultando. Você teve que ficar bêbado como um gambá esta noite para me levar para cama. — Olhando para o teto, ela murmurou. — Não posso acreditar que meu primeiro amante vomitou depois de estar comigo.

Will esfregou a mão por cima do rosto, o embaraço escaldando-o.

— Seu primeiro e último amante. E ele não fará isso da próxima vez.

Ela o encarou com uma expressão incrédula.

— Você não pode controlar sua reação a mim, não mais do que sua besta pode.

— Você se acostumará a esta parte minha. Vai ter que se acostumar. Isto é inseparável de quem eu sou, como uma alma. Posso entender por que você odiaria minha besta, mas não deveria culpá-la, pois não tem razão para isso.

— Você acha que este é o problema? Pelo menos a besta olhou para mim com ânsia, com desejo. É você que é o problema.

— O que isso quer dizer?

— Sua besta me aceitou; você nunca aceitará, e infelizmente você volta. Se eu algum dia fizer sexo novamente, não quero abrir meus olhos para ver suas costas enquanto você sai correndo para o banheiro.

Isto poderia ficar ainda mais humilhante?

— E eu posso não ter qualquer experiência, mas sei o que é impotência causada pela bebida.

— Sobre que diabo você está falando?

— MacRieve júnior teve oh, ele broxou, bem antes da besta substituí-lo.

Aye, isso poderia ficar mais humilhante. Ele deu um longo gole na bebida.

— Chloe, saiba apenas disso. Sexo para mim é... complicado.

Ela virou para ele com olhos como os de uma coruja.

— Nãããão.

— Aye, espertinha. Isso nem sempre foi agradável ou gratificante. Por ventura eu pensei sobre isso um tempo atrás. Talvez isso tenha me afetado.

— Então me conte sobre o que passou.

— Tudo que precisa saber é que estou trabalhando nisso. Isto não será um fator determinante no futuro.

— Você está certo a respeito disso. — Quando ela estalou os dedos para a garrafa, ele a entregou e observou-a tomar um gole saudável. — Porque eu nunca mais farei sexo com você!

Ele meteu os dedos pelo cabelo.

— Droga, moça, você é uma Cambion. Se recusar a se alimentar, não sei o que acontecerá contigo.

Encostada na boca da garrafa, ela murmurou.

— Talvez eu morra e você será livre.

Quando Nïx disse que Chloe iria embora a oráculo quis dizer embora, no sentido de partir? Ou foi no sentido de... perda? Seu peito apertou, estrangulando sua respiração por uma razão completamente diferente.

— O whisky. — ele disse com os dentes cerrados.

Franzindo o cenho, ela entregou a ele. Lá estavam eles sentados, passando a garrafa um para o outro, enfurnados juntos no chão da porra da despensa.

— Você acha que eu poderia ser livre se minha companheira morresse? — Ele repetiu suas palavras — Você está realmente me escutando?

— Ah, sim, porque você acha que tem que me seguir. Mas não tema, tenho certeza que só se aplica a companheiros amados. Já que você me odeia, deve conseguir um passe.

— Seu lugar é comigo. — Ele disse simplesmente.

— Explique por que eu deveria ficar. Por que não deveria correr, agora que estou curada?

Seus lábios se separaram para mostrar suas presas.

— Porque eu vou te capturar.

— Ugh... você conseguiu piorar a merda toda! — Ela tremia ao lado dele, seu corpo cheio de fúria.

Errado. Está tudo errado. Ele puxou a gola de sua camiseta larga, perplexo pela forma como a sentiu apertada ao redor do seu pescoço. Tudo culpa minha.

— Sabe, às vezes faço essa coisa de avaliar minha posição no campo da vida, situando-me de onde estou, — ela disse. — Estive nesta despensa, avaliando minha posição em campo, a mais importante da minha vida.

— E o que você determinou?

— Que nós nunca seremos felizes juntos. Portanto, é melhor para você cortar os laços comigo. — Ele abriu a boca para dizer que isso não aconteceria, mas ela continuou. — Não se preocupe, não espero que me deixe ir embora. Porque você não é um homem justo.

Não, ele não era. Então por que suas palavras faziam tanto mal?

— Neste caso, o que você pretende fazer comigo? Manter-me aqui isolada até que eu fique louca? — Ela encontrou seu olhar. — Você pode me manter aqui por séculos, e na primeira oportunidade fugirei em um piscar de olhos. Você me entendeu? Sempre irei procurar por uma saída, porque você nunca vai mudar.

— Você fala de mudança como se fosse fácil! Tenho nove séculos de idade! Não altero meu curso tão facilmente quanto você.

— Pelo menos é possível para você, eu não posso mudar. Nunca. Posso aceitar sua besta, mas você não pode aceitar coisas em mim que não posso controlar? — Ela apertou suas têmporas. — E não é só isto, constantemente está me tratando com desprezo, fazendo-me sentir como merda a respeito de mim mesma! — Suas íris ardiam verdes com angústia. — Não posso me sentar aqui e deixar você me convencer que não sou nada além de uma má e desprezível Súcubo. Não vou fazer isso.

Quando seus olhos se encheram de lágrimas, os dele se arregalaram.

— Você está... chorando? — Ele olhou para ela com surpresa. Ela era sempre tão forte, parecendo invencível. Ela agiu como se não fosse afetada pelas suas farpas. — Esta é a segunda vez. — ele disse estupidamente.

Ele nunca teve uma companheira; nunca teve uma companheira chorando. Ele e sua besta estavam agitados.

— Chloe, olhe para mim.

Quando ela enterrou a cabeça nas mãos e começou a soluçar, seu estômago ficou dilacerado, como se ele fosse apunhalado e a faca continuamente estivesse girando em suas entranhas.

Torcendo sem fim, como o ponteiro de segundos de um relógio. Tic-tac-tic-tac.

 

— Acostume-se a me v-ver chorando. Ou me deixe ir embora.

MacRieve puxou suas mãos do rosto. Parecia como se suas lágrimas estivessem destruindo-o — e ainda assim, depois de tudo, alguma parte dela lamentava estar lhe causando dor.

— Eu não posso, Chloe.

Ela passou a manga da camiseta por cima de suas bochechas úmidas.

— Então pelo menos me d-diga por que me odeia. Descobrirei um modo de tornar esta situação melhor para nós dois. Mas não posso me atirar em uma rede que não posso ver.

Os olhos dele estavam desolados. Claramente havia muita coisa acontecendo em sua cabeça. No entanto, ele preferia deixa-la oscilando no escuro do que em qualquer parte disso.

— Maldição, responda, o que fiz para você?

Quando ele não disse nada, ela arrebatou a garrafa dele e arremessou-a para fora da despensa. Quebrou na sala ao lado.

— O-que-eu-fiz?

— NADA! — Ele rugiu.

— Então pelo amor de Deus, por que está me tratando assim?

Ele olhou para longe.

— Não, não desvie o olhar! — Ajoelhando-se ela cravou as mãos no cabelo dele, puxando seu rosto de volta para enfrentá-la. Eles olharam fixamente dentro dos olhos um do outro, ambos sem fôlego. — Diga!

— Eu sinto raiva em relação à sua espécie. Eu sei que estive descontando em você. Mas não sei como parar!

Isso significava que ele queria parar? A mais ínfima faísca de esperança começou a queimar dentro dela. Ela soltou-o, suas lágrimas secando.

— O que aconteceu com você? Diga.

Com um aceno de cabeça cauteloso, ele entreabriu os lábios. Parecia estar tentando responder, mas somente sua respiração assobiava para fora.

— MacRieve? — O que estava acontecendo aqui? Ele era um imortal poderoso e corajoso. No entanto, ele se tornou mudo seja pelo que for que o feriu no passado.

Ele puxou sua gola.

— Eu não posso... respirar. — Sua voz foi abaixando até se quebrar. — Eu... não posso.

Com crescente insegurança, ela murmurou.

— Eu tenho que ter uma rede para pular, MacRieve.

Ele não disse nada.

Aquela faísca escoou-se gradualmente até acabar. Com um último olhar, ela deixou-o sentado sozinho.

* * *

Eu quero minha companheira.

Enquanto Will caminhava pelos corredores de Conall de madrugada, andando de cá para lá como um fantasma residente, aquele pensamento mantinha-se na superfície.

Ele não queria dormir sozinho, acordar sozinho. Chloe foi para cama horas atrás, praticamente desmaiando por causa do whisky. Quando ele foi se juntar a ela, esta balançou a cabeça em advertência, como se dissesse: Faça isto e morra.

Esteve tão ocupado pensando sobre como ele foi ferido que não considerou — ou se importou — com o quanto ela estava vulnerável e ferida.

Todos aqueles anos atrás, ele classificou as lágrimas de Ruelle como artimanhas. Na verdade, elas foram táticas.

As lágrimas de Chloe foram cruas e reais. E ela disse a ele para que se acostumasse a elas.

Ele avaliou sua própria “posição em campo”.

Assistir Chloe chorar machucou-o de uma forma pior que suas recentes torturas, tomaram mais dele do que Dixon.

Ele preferia morrer a causar mais dor em Chloe. Se seus olhos cintilassem verdes novamente, deveria ser devido ao prazer. Será que ele veria isto?

Ele retornou para a lareira, mexendo nas brasas. Longe de se sentir aquecido pelas chamas, como poderia acertar? Nïx disse: “Enterre seu passado, ou ele vai enterrá-lo”. Ele sabia que enterrar seu passado não era possível. Era uma grande parte dele. Mas podia esconder a pior parte, se isto significasse que Chloe poderia aceitar uma vida com ele.

Nunca seria capaz de se entregar todo. Mas e se por ventura pudesse se entregar o suficiente?

Seu telefone tocou em seguida. Munro. Preparando-se, Will respondeu.

— Eu estava prestes a levar os rapazes para o Erol’s. — Munro disse em um tom medido. — Pensei em checar você primeiro.

Temendo o pior?

— Chegamos sem incidentes. Ela está dormindo agora ou eu o deixaria conversar com ela. Ela adorou as novas roupas e ficou agradecida por elas. — Ele esfregou a mão pelo rosto. — Li sua mensagem. Você acha que eu deveria permanecer aqui? — E para onde diabos iria? O recente encarceramento de Will foi o período mais longo que estiveram separados.

— Posso não gostar de viver separado de você — somos dois — mas quem sabe este seja o caminho, agora que você tem sua fêmea? Além do mais, um de nós deve administrar as terras da nossa família. Tenho pensado sobre isso há anos, imaginando que aquele que encontrasse sua companheira primeiro deveria viver aí. Esta é sua chance de recuperar seu lar — e seu passado.

Meu passado?

Munro perguntou.

— Will, você fez...?

— Aye. — Quando Munro deixou escapar um suspiro de alívio, Will admitiu. — Isso não saiu bem. Houve, hmm, alguns problemas. Mas quero deixá-los para trás.

— Você está preparado para aceitar seu vínculo de veneno?

Engoliu em seco audivelmente, esperando que o som não ultrapassasse a chamada transatlântica.

— Aceitei que não tenho escolha a não ser fazer isso. Não posso perdê-la. Droga, preciso de sua opinião a respeito disso.

— Diga-me o que aconteceu.

Will estava tão desesperado por ajuda que relatou tudo que aconteceu, restringindo alguns detalhes. Contou a seu irmão o que Nïx disse.

— Você tem muito para compensar, Will. Concordo com Nïx que você precisa ganhar Chloe.

— Como? — Ele perdeu um sério terreno esta noite.

— É muito simples. — Munro começou. — Pela manhã...

Ao final da ligação quinze minutos mais tarde, Will sentiu-se um pouco animado. Pelo menos ele tinha um plano. Fez seu caminho até a suíte principal, de volta à sua companheira.

Parando na porta, viu o fluxo da lua através das janelas, banhando seu belo rosto com uma luz prateada.

Seu nariz não estava mais vermelho de chorar. Seus olhos não estavam inchados. Ao contrário de Ruelle, sua Chloe não chorava lindamente — porque sua dor era sincera.

Ele cruzou até a cama, sentando ao lado dela. Quando afastou os cachos de sua testa, ela entreabriu os olhos.

— O que você está fazendo? — Ela perguntou, enrolando as palavras. — Não está na hora da minha dose especial ainda.

Não era um início promissor.

— Chloe, o que seria preciso para começar de novo com você?

A desesperança caiu sobre ele quando ela murmurou.

— Mais do que você tem.

Mas aí ele lembrou a si mesmo, Ela não viu tudo que tenho.

 

Eu me sinto incrível, Chloe pensou amargamente enquanto descia as escadas naquela manhã. Ela tinha energia novamente, não estava nem dolorida da noite anterior. Por causa dele.

Canalha.

Depois que ela desabafou na despensa e voltou para cama, o whisky bateu nela como um tsunami. Antes de desmaiar teria jurado que o mundo inteiro estava girando.

Tarde da noite, MacRieve a acordou. Mal se lembrava sobre o que eles conversaram, mas achava que ele mencionou “começar de novo”. Então ele acariciou seu cabelo e aconchegou-se a ela, tal como fez naquelas duas primeiras noites no complexo. Sentiu falta disso.

Sentiu falta do lado de MacRieve que ela conheceu primeiro.

O que encontraria quando o enfrentasse hoje? Mal humorado e abusivo ou encantador e sexy?

Ela entrou a passos largos na cozinha, então parou de supetão.

MacRieve estava sem camisa com uma bermuda cortada de uma calça jeans de cintura baixa, bebendo suco de laranja direto da jarra. Os lábios dela entreabriram, seu olhar percorrendo amorosamente todos os músculos rígidos dele, então correndo mais abaixo para aquela trilha preta de gostosura. Ela queria se aninhar ali como ele fez entre suas pernas ontem à noite...

Não, não pense nisso!

Ele terminou sua bebida e passou o antebraço pela boca.

— Nós temos planejado um dia bastante ocupado.

Ela piscou para prestar atenção.

— Fazendo o quê?

— Você vai correr comigo.

Ela arqueou uma sobrancelha.

— Correr? — Explorar a zona rural escocesa? Seu novo equipamento lá em cima estava justamente esperando por ela.

Então ela se lembrou de sua situação. Seu próximo jogo não era correr com ele; era correr dele.

— Por que não vai sozinho? Eu podia ficar e assistir televisão. — Fugir. — Aí poderíamos nos encontrar mais tarde. — Nunca mais olhar a cara um do outro novamente.

O pensamento causou outra angústia. Será que sua Vagina Estúpida ainda o queria?

— E deixar você fugir? Não é provável. — Ele baixou a jarra, movendo-se mais perto para encosta-la na pia, até que ela pôde sentir o calor emanando de seu peito nu e se aquecer em seu aroma tentador. A voz dele era rouca quando disse. — Nunca deixarei você partir, moça.

A proximidade dele despertou seu desejo, um que não tinha nada a ver com fome.

— Lembra o que eu disse mais cedo esta manhã? — Ele perguntou.

— Sim. — A maior parte.

— Eu quero tentar novamente com você. Estou oferecendo uma trégua. Você aceitaria?

Ela balançou a cabeça, dizendo — Você me fez de boba uma vez. MacRieve, você era tudo que eu tinha e se virou contra mim. E se encontrar qualquer outra coisa que odeia em mim?

— Eu estava errado. Estou pedindo desculpas. Quero uma chance de ganhar minha companheira de volta.

— Dê uma boa razão por que eu deveria confiar nisto. — Mais uma vez ela sentiu como se estivesse correndo com uma trava e uma bota de alpinismo. Alguma vez se sentiu centrada com ele?

Ele se inclinou para falar no seu ouvido.

— Porque durante um tempo na noite passada, você gostou muito de me ter movendo dentro de você.

Suas bochechas esquentaram.

— Certo. Agora, se apenas você tivesse gostado disso, seu bêbado broxa.

Ele se afastou com uma careta.

— Pare de dizer isto, mulher! Eu não sou... nunca me aconteceu essa porra. — Ele apertou o balcão de cada lado dela, prendendo-a, perseguindo-a com atentos olhos dourados. — Não se engane com o que aconteceu. Estar dentro de você foi incrível. E a besta estando na frente ou não eu ainda gozei tanto que minhas bolas imploraram por misericórdia.

— Deve ter sido bom. Para você. Não tanto para mim. Tirando aquelas dúzias de orgasmos que prometeu, você teve doze pequenos.

Um rubor estendeu-se sobre suas maçãs cinzeladas do rosto dele.

— Estou ansioso por uma revanche hoje à noite.

— Ha! Sua última tentativa de fazer gol passou longe. Nem sequer perto. Para falar a verdade, você recebeu cartão vermelho, está fora do jogo.

Com seu olhar ardente perfurando dentro do dela, ele disse com voz áspera.

— Eu-quero-voltar-para-dentro.

Os lábios dela se entreabriram pelo duplo sentido. Os dele estavam prometendo uma tomada quente e completa.

Ela temia implorar por isto. Ela arremessou seu olhar para longe.

Ele prendeu o cabelo dela atrás da orelha.

— Fiquei acordado a noite toda pensando em nós.

— Existe um nós?

— Quero que exista.

— MacRieve, nem sequer concordei em correr com você, muito menos ser meio abusada verbalmente pelo seu nós.

— Juro pelo Lore que nunca mais falarei com você daquele jeito. — Ele disse tão solenemente quanto um noivo faria um voto de casamento.

Por fim, ela disse.

— Vou com você, mas só porque estou querendo uma corrida. — Ela passou por debaixo do braço dele, então foi em direção às escadas, murmurando por cima do ombro. — Preciso me trocar.

Enquanto corria até seu quarto, ela se perguntou se poderia confiar na sinceridade dele. Em um minuto ele a odiava, no próximo estava oferecendo um ramo de oliveira com orgasmos por cima.

Por que ele mudou tão drasticamente? Ela desejou poder ler as dicas melhor. Ele era como um oponente habilidoso enviando jogadas falsas para mantê-la correndo em círculos. Sentiu que qualquer coisa que ele dissesse a ela sobre si mesmo era sublinhado com inúmeras coisas que ele não diria.

Ela franziu o cenho, lembrando um pouco do que ele revelou na noite passada, quando ela estava bêbada demais para analisar isto. Sexo para ele era complicado, e nem sempre foi “agradável ou gratificante”. Que sujeito não achava o sexo agradável?

Logo antes de ele perder a ereção ontem à noite, ele disse “Súcubo verde”, a respeito dos seus olhos. Mais tarde, ele confessou que o motivo pelo qual tinha sinalizado era porque tinha pensado no passado. Porque os olhos Súcubos de Chloe lembraram a ele...

Oh, querido Deus.

Munro contou a ela que sua família foi prejudicada por uma Súcubo, então Chloe descobriu que alguém que eles amavam foi seduzido por uma. Ela agora suspeitava que a vítima fosse MacRieve — e que não houve nenhuma “sedução”.

Você tem alguma ideia de como é não ter nenhum controle sobre sua mente? Ele perguntou. Seu corpo? E então disse que talvez não fosse ela quem estivesse quebrada.

Isto não era um grande salto para conectar tudo.

Não era à toa que ele odiava Chloe. Não era à toa que vomitou depois do sexo com ela. Para um homem tão grande e forte ter reagido tão violentamente... seus olhos lacrimejaram com simpatia.

Ele ainda não tinha sido capaz de falar sobre o assunto, sua respiração engatando inúmeras vezes. Ela sentou-se na cama. MacRieve esteve tentando dizer a ela!

E fisicamente não podia.

Tudo em Chloe deve ter lembrado a ele de quem quer que tenha sido a cadela que o estuprou. Diante disso, ficou surpresa que não foi ainda mais odioso com relação a ela. Ah, e adicionado a isto: meu pai recentemente o torturou.

Ela caiu de costas atravessada na cama, lançando o braço por cima do rosto, batendo em sua testa com sua nova pulseira.

Apesar de tudo isso, MacRieve ofereceu a ela uma trégua. Então o que ela deveria fazer com esta nova compreensão?

Confrontá-lo? Ele poderia vir para guerra novamente.

Começar de novo? Ele poderia machucá-la novamente.

Este é meu homem, seu coração parecia chorar. E agora aquela maldita faísca de esperança estava de volta.

Futebol não tinha sido fácil, Stanford definitivamente não foi, mas nunca desistiu de nenhum deles.

Talvez não devesse com MacRieve.

Ela sentou-se. Ainda tinha sentimentos por ele, ainda experimentava aquela sensação de conexão com ele. Ela gostava de seu clã, realmente sentia falta deles. Precisava de sexo para viver; sexo com MacRieve detinha tal promessa.

Quais eram suas outras opções? Se escapasse, aonde iria e como viveria? Será que sairia todas as noites procurando por alimento, alimentando-se de sujeitos aleatórios? O pensamento fez sua pele arrepiar.

Comparado a isso, uma vida com MacRieve era o troféu do campeonato. Por que não lutar por isto?

Porque ele detesta minha espécie inteira? Ah, sim.

Então como fazê-lo esquecer do que ela era? Antes de embarcar no avião, Munro disse a Chloe que ela era como uma antissúcubo. Sua personalidade era completamente diferente daquelas bajuladoras e enganadoras que ele tinha conhecido. Ele disse “Seja simplesmente você mesma com Will. Se sentir necessidade de dizer a ele que está sendo um canalha, então fale. Se sentir necessidade de chutar a bunda dele, não se contenha. Ele precisa que você seja... você. Com toda sua atitude.”.

Chloe não entendeu naquele momento, e mais, não deu a mínima para o que MacRieve necessitava. Agora estava começando a ler nas entrelinhas. Munro queria que Chloe continuasse a ser uma antissúcubo para mostrar a MacRieve o quanto ela era diferente.

Enquanto vestia seus novos trajes — shorts, um sutiã de corrida, tênis de corrida —, ela decidiu que jogaria este dia por instinto, lendo as dicas de MacRieve como se ele fosse um zagueiro traiçoeiro, enquanto mantinha o troféu à vista. Prendeu o cabelo em um rabo-de-cavalo, em seguida se apressou escada abaixo.

Quando ele percorreu seu olhar sobre ela, suas íris cintilaram.

— O quê? O que está errado?

Ele rosnou.

— Vermelho.

Sim, seu shorts e sutiã eram vermelhos.

— E daí?

Parecendo dar a si mesmo uma sacudida, ele disse.

— Todas as coisas serviram em você? — Mas sua voz era mais áspera.

— Como uma luva. É bom ter minhas próprias coisas novamente.

Ele fez uma careta, esfregando sua palma na nuca.

— Você terá mais. Iremos para a cidade em breve. Vamos fazer compras de novo para você. Qualquer coisa que quiser.

Ela piscou para ele.

— Não viu a quantidade de coisas lá em cima? Tenho tudo que preciso.

A cara feia se aprofundou.

Modo de pegar dicas, Chlo. Então o cara precisava comprar suas coisas.

— Entretanto, eu poderia usar um relógio.

— Aye. — ele disse depressa.

— E um iPad e uma bola de futebol.

— Feito. — Com o humor obviamente melhorado, ele disse. — Se você jurar que não vai transformá-la em arma mais tarde. Minhas bolas ficaram cantando por horas depois de seu último arremesso.

— Então não diga coisas que me fazem querer chutá-la na sua cara. — Agora ela entendia por que ele fez; não significava que algum dia o deixaria cair fora com essa conversa de merda.

— Um destino a ser evitado. Vi você chutar alguém no rosto, e isso foi antes de se tornar imortal. — Ele apontou aos seus tênis. — Você não vai precisar deles.

— A importância do suporte do arco do pé não pode ser exagerada. E se eu me cortar?

— Você não é humana, Chloe. Não há necessidade de nenhum suporte. Inferno, você podia ficar sem seu sutiã.

Ela arqueou uma sobrancelha.

— Então isso é um sólido “não” para a remoção do sutiã? — Ele suspirou como se tivesse acabado de perder um gol. — Muito bem. Caso corte seu pé, vai se curar quase instantaneamente. — Ele agarrou um dos quadris dela, arrastando-a para perto. — Hoje planejo te mostrar nossas terras, e do que você é capaz.

Sugestão tomada, MacRieve. Ela levantou o olhar para ele. Então se segure. Porque Chloe está prestes a nocauteá-lo.

 

— Seu ritmo é impressionante. — Will disse a ela. Eles correram cerca de um quilômetro e meio da fortaleza, tomando um caminho em direção ao Monte Conall, uma das vistas mais altas da região. De lá podiam ver uma boa parte da propriedade.

Importante, já que Will sentia agora a necessidade de impressioná-la. Para familiarizá-la com tudo que tenho.

— Eu me contive. — Ela correu mais rápido pela trilha sinuosa, lançando por cima do ombro — Por respeito à sua idade avançada.

Ele levantou as sobrancelhas, contemplado por uma visão de sua bunda rebolando naquele minúsculo short vermelho. Ele esfregou a palma da mão por cima da boca. Sua bunda em movimento era como captar um vislumbre do seu próprio futuro.

E estava brincando com ele para começar de novo? Não sabia o que aconteceu com ela durante o tempo em que subiu para trocar de roupa e retornou, mas tinha acontecido algo drástico.

Sua atitude inteira mudou, de puta para travessa. Talvez ela estivesse em um humor mais alegre só por ter a energia renovada.

Oh, aye, ele estaria voltando para dentro daquele jogo. Como Munro assinalou na noite anterior, era realmente possível para Will conquistá-la, porque ele já tinha feito aquilo uma vez.

O plano? Will refaria o que quer que tenha feito naquele dia que ele e Chloe compartilharam.

Então ele pretendia cortejar, paquerar, beijar e tocar, tudo enquanto enchia seus ouvidos com palavras sujas. E uma vez que ele a tivesse seduzido lentamente ao longo do dia, planejava levá-la para sua cama novamente hoje à noite.

No entanto, enquanto o olhar do seu lobo seguia o balançar da bunda dela de um lado para o outro, ele temeu...

Eu nunca conseguirei de volta para manter...

Quando se estabeleceu ao lado dela, encontrou-a correndo com o rosto erguido para o sol, seus lábios curvados para cima de prazer, e uma onda de luxúria acertou-o como um soco no estômago. A pele dela estava começando a umedecer.

Em um tom casual, ele observou.

— Seus olhos estão luminosos e sua pele brilhante. O sexo comigo faz bem a você.

Seus pequeninos pés descalços tropeçaram, mas ela se endireitou.

— Você também não parece muito arrasado. Para um guardião da cripta. Estava querendo te perguntar, como se mantinha quente antes do fogo?

Era assim que ela ia jogar isto?

— Se ficar com fome, é só me avisar. — Seu olhar caiu sobre seus seios saltitantes. —Podemos parar para um lanche.

— Não faço refeições rápidas. Não gosto muito de engolir minhas refeições.

Ouch, ele gostou de seu atrevimento.

— Não, esta refeição terá muitos cursos, uma transbordante recompensa. Você pode se deleitar até que esteja... empanturrada.

Suas bochechas ficaram vermelhas novamente. Ela deu a ele um olhar de esguelha, como se estivesse vendo algo nele pela primeira vez.

— Então, MacRieve, quanto tempo passou desde que esteve aqui pela última vez?

Ele deixou-a guiar a conversa de volta para um terreno mais doméstico.

— Centenas de anos. — Ele adorava ver o mundo e seus muitos planos, e construir uma colônia foi gratificante. Mas agora que estava de volta aqui, a terra o chamava.

— Então esta é realmente uma corrida pela estrada do passado.

Ele assentiu. As memórias foram surgindo, surpreendendo-o. Aye, ele tinha umas memórias trágicas, mas também recordou piqueniques com sua família — ele e Munro pescando no rio enquanto seus pais relaxavam ao sol, olhando seus filhos com absoluto orgulho. Lembrou-se de seu pai ensinando-os a montar, sua mãe tentando ensinar etiqueta a eles. Houve lutas de neve com eles e inúmeros contos ao redor do fogo.

Houve tanto riso.

Antes, Will não se lembrava de brincar quando era um menino. Agora relembrava tempos idílicos com Munro — fortes, caças, perseguições. Ele entendeu as palavras de Munro “recupere seu passado”.

Quando Will e Chloe cruzaram um riacho, um ramo do Rio Conall, encontrou-se dizendo a ela — Munro e eu instalamos um pedágio nesta ponte quando tínhamos sete anos. Os membros do clã nos pagavam com conchas, dizendo que eram similares a ouro. Estávamos convencidos que nos tornaríamos grandes comerciantes.

Ela sorriu.

— Isso foi antes ou depois que a roda foi inventada?

Seus lábios estavam se curvando em um sorriso.

— Pouco mais de um ano depois.

Quando passaram por um rebanho de ovelhas, ela arrulhou para os cordeiros saltitantes.

— Os lobos mantêm ovelhas? Isso não é contrário às leis da natureza ou algo assim? Em seguida vai me dizer que metamorfos de raposa criam galinhas.

— Qualquer coisa acontece no Lore. Olhe para nós. — ele disse, ganhando outro olhar avaliador dela. Estava ganhando algum terreno com ela?

Assim que alcançaram a base do Monte Conall, ela disse.

— Vamos apostar uma corrida até o topo? — Antes que ele pudesse dizer uma palavra, ela partiu para cima.

Ele esteve tão obcecado com sua bunda que temeu que tivesse negligenciado a devida atenção a suas pernas e cintura fina. Ou seus ombros esbeltos e braços graciosos. Ou ainda aqueles seios impecáveis, no momento destacados por um sutiã vermelho brilhante.

Enquanto observava seu corpo em movimento, tão em forma e certo, ele estava abundantemente ciente que lhe deu a energia que ela queimava hoje. Ela era o retrato da saúde, invulnerável à danos — porque ele ajudou a torná-la forte.

Havia alguma diferença real entre a forma como os outros machos forneciam a suas companheiras, e como Will faria? Comida versus sexo?

Seu Instinto não diferenciou ontem à noite, ordenando que acasalasse imediatamente com ela — e fornecesse.

Com Ruelle entregou sua semente, plenamente ciente que ela a teria, ele querendo dar ou não.

Com Chloe, ele só faltou forçá-la a se alimentar. Poderia conseguir que ela tomasse novamente hoje?

Munro perguntou se Will poderia lidar com o vínculo do veneno. Se a outra opção era perdê-la, então assumiria seu vínculo como um golpe de espada no peito — com pesar, mas corajosamente...

Depois de lhe dar uma generosa vantagem, seguiu-a, seus passos largos facilmente devorando a distância entre eles. Mas no último instante, ele deixou-a ganhar.

Quando ela lançou um sorriso triunfante para ele, as coisas se tornaram muito simples.

Eu a alimento; consigo dias como esse.

No cume ele arrastou-a de volta ao seu peito, jogando os braços sobre seus ombros. Ela permitiu, eventualmente relaxando contra ele enquanto observavam a vista.

Ele inalou profundamente o ar fresco, sentindo o cheiro de terra e de sua companheira. Assim, estava centrado como nunca antes desde que se lembrava.

Talvez ele nunca estivera tão centrado, desde que se tornou um homem.

Ela protegeu seus olhos do sol.

— Por que ficou afastado tanto tempo? É evidente que você gosta daqui.

— Eu não lembrava o quanto gostava disso. — Munro pensou que Will e Chloe pertenciam a este lugar, e quando Will se afastou, suspeitou que seu irmão pudesse estar certo. — Quando eu era jovem, uma aldeia floresceu nas proximidades e permaneceu ali. — Ele apontou para oeste. — Minha família era Sentinela aqui.

— O que isso quer dizer?

— Tínhamos o dever de proteger as fronteiras do Bosque de Murk. — Ele indicou a floresta ao Sul. Só de contemplá-lo fazia o maxilar dele se apertar.

— Contra o que vocês guardavam a fronteira?

— Uma vez foi povoado com todos os tipos de criaturas. Do mal. — Eufemismo. — Nós mantivemos aqueles seres dentro, e nossa espécie fora.

— Então por que você ficou tenso ontem quando olhou ali para fora? Eles ainda estão lá?

— Não. — Centenas de anos atrás, com sua raiva pela Ruelle ainda queimando, ele ansiou fazer guerra com os habitantes do Bosque. Logo ele não foi o único. — Quando aqueles seres saíam de controle, quando Cerunnos deslizavam para dentro de nossas terras para roubar ovelhas e donzelas, ganhamos a permissão de nosso rei para nos aventurarmos no Bosque e caçá-los.

Se Will fora moldado no início de sua vida, Munro fora influenciado por aquelas batalhas horríveis.

Influenciado pelo que achou em uma cabana no bosque.

— Todos aqueles seres mortos na última Ascensão. — ele disse. — Você sabe o que é isto?

— Li sobre isto. A cada quinhentos anos ou mais, o destino obriga diferentes espécies a guerrear. Muitas mortes. Uma coisa assustadora. E está acontecendo agora, certo? Isso me faz desejar que tivesse começado a estudar esgrima, arremesso de facas ou algo assim.

Ela não tinha defesa alguma, nenhum instinto assassino de Fúria ou velocidade de Fadas. Não podia riscar como um vampiro ou lançar feitiços de bruxa. Tudo que tinha era o lance de exalar, que ela nunca usaria em outro.

— Não se preocupe. Você tem um protetor. — Um implacável. Mas na possibilidade remota que algo acontecesse com ele, precisava começar a ensiná-la a se defender. Além do mais, o treinamento intensivo forneceria uma distração, poderia atenuar o pior de seu pesar por causa das Olimpíadas.

— Bom saber, protetor. — Ela disse de maneira leve, quase como se duvidasse que ele pudesse protegê-la.

Ou será que duvidava que ele o faria?

— Então o que você fez assim que sua atuação como Sentinela acabou? — Ela perguntou.

— Quando os Bosques ficaram leves mais uma vez, Munro e eu fomos liberados para partir, ver o mundo.

— E você viu?

— Oh, aye. Cada continente, muitas vezes. — Nem tudo foi viagem e exploração. Eles serviram lealmente o Rei Lachlain por séculos. Quando Lachlain foi perdido para os vampiros, eles passaram inutilmente o pente fino na Rússia procurando por ele.

Com a perda de seu rei, muitos membros do clã quiseram deixar a Escócia. Will e Munro os ajudaram, trazendo o desenvolvimento à Bheinnrose.

— E agora você está de volta. — ela disse.

Ele descansou o queixo na cabeça dela.

— Munro espera que a gente viva aqui.

— Você não é o chefe do clã da Nova Escócia?

— Ele é muito mais adequado para esse trabalho. Eu poderia renunciar. Então este poderia ser nosso lar. — Ele disse em um tom áspero, inseguro. Nunca sequer pediu a uma mulher para ter um encontro, muito menos viver com ele. — Poderíamos ser felizes aqui.

Ela ficou tensa contra ele.

— MacRieve, você não tem que dizer isto. Nós não temos que falar sobre o futuro. Vamos apenas aproveitar o dia. Não quero que diga algo que possa se arrepender mais tarde.

— Em outras palavras, você não quer que eu faça promessas que não manterei.

— Você pode entender por que estou cautelosa aqui?

Ela o acusou de ser um mentiroso. Provavelmente porque ele foi um babaca mentiroso com ela. O que significava que não acreditou nele quando disse que seria seu protetor ou que viveriam aqui juntos.

— Entendo sua hesitação. — E pela primeira vez hoje, ele começou a suar.

Parecendo determinada a evitar qualquer discussão mais profunda, ela perguntou.

— E quanto ao bosque ao norte? Eles estão vazios também?

— A lenda diz que os Antigos vivem lá — os Lykae originais.

— O que eles são?

— Se Lykae são homens que se tornaram mais lobos, os originais são lobos que se tornam mais humanos. Eles nunca feriram nossa espécie. Na verdade, existem relatos deles vindo em nossa ajuda. Mas não senti o cheiro deles aqui desde que chegamos, — ele disse com um toque de remorso. — Eles podem ter morrido.

Ela apontou para um lago distante com uma cachoeira.

— Isto é parte de Conall também?

— Aye. Munro e eu costumávamos nadar lá.

— Nós podemos ir vê-lo?

— Não seria bom. Não quero te cansar.

— Lobo, por favor. — ela ridicularizou. — Não sou eu quem tem oito mil anos. — Ela passou por debaixo de seus braços, em seguida decolou colina abaixo com ele logo atrás dela.

Quando chegaram ao lago, ela esticou a cabeça para olhar para o topo da cachoeira.

— Nós pulamos dali uma vez. — Ele esperava que ela expressasse descrença porque era extremamente alto.

Ao invés disso, ela disse.

— Quero ver a vista lá de cima.

Ele ergueu as sobrancelhas.

— É uma escalada traiçoeira.

— Para um mortal, certo? Pensei que fosse me mostrar do que sou capaz.

Ele acenou adiante.

— Então vamos lá. Primeiro as damas.

— Oh, você é um lobo cavalheiro agora? — O sol estava começando a beijar sua pele com cor. — Ou quem sabe só quer secar minha bunda?

— Sugerido somente para meu prazer cobiçoso. Temos que ir. — Ele lhe deu uma palmada, e a bunda dela realmente se movimentou uma fração de segundo depois, de forma a tirar seu fôlego.

Ela estremeceu em reação, porque seu companheiro sensual gostava de uma boa palmada. Ela quase subiu pelas paredes ontem à noite. Depois de pigarrear, ela disse.

— Comporte-se.

E então o show começou quando ela deu início à subida íngreme bem na frente dele — naquele shorts minúsculo. O tecido exterior era pouco mais que uma malha vibrante, oferecendo amplos vislumbres de sua bunda, mas o forro interno era como uma calcinha conectada, zombando dele já que cobria seu sexo.

Lá no alto a névoa da cachoeira umedecia suas roupas. Aquele forro agora estava mais agarrado à sua fenda.

Deuses todo-poderosos. Ele a seguiu, a ereção apontada em direção ao norte não dando nenhum sinal de baixar.

Quando o pé dela escorregou em uma pedra lisa, ele aproveitou a oportunidade para apalpá-la. Sob o pretexto de lhe dar um impulso, ele mudou seu aperto. Com um puxão do seu polegar e um deslizar rápido de sua garra, ele descosturou aquele forro interno.

Misericórdia.

— MacRieve! Por que eu senti um rasgão? Você cortou meu shorts?

Ele grunhiu em resposta.

— Você acha que é muito astuto, não é?

De alguma maneira ele reuniu as palavras:

— Recompensado com esta visão, sei que sou o mais astuto dos lobos.

— Você pode me soltar agora!

— Não pense que vou. Não é sempre que um homem consegue um aperto do paraíso quente e roliço na palma da mão. — Ele apertou a carne em suas mãos, encantado quando sentiu o aroma de sua excitação. — Ah, e lá vem ela. Você gosta quando toco na sua bunda.

Em um tom estrangulado, ela disse — Eu gostaria de não cair.

— Quando eu te espanquei ontem à noite, seus olhos reviraram.

— Ah, sim, e você não se divertiu nem um pouco.

— Eu não nego isto... — As palavras o deixaram quando ela levantou o joelho e ele captou um vislumbre do mergulho em sua entrada. De queixo caído, ele começou lentamente a avançar um dedo em direção a este lugar, esfregando naquele ponto enlouquecedor.

— Pare com isto! Estou no topo. Estou falando sério.

Com um suspiro, ele soltou-a, colocando-a no alto e sobre a borda em seus próprios pés. Ele juntou-se a ela, encontrando-a enrubescida.

— Você se aproveitou de mim.

— Foi mais da situação. — ele respondeu descaradamente.

Ela lhe lançou um olhar que prometia um merecido castigo, então deu meia volta para apreciar a vista. Ele sabia que ela veria a fortaleza à distância, as duas florestas, o rio sinuoso através dos campos verdejantes. Estava olhando fixamente só para ela.

— Isto é tão incrível. — Sua expressão era extasiada. — Okay, você está perdoado. Pelo meu short.

Quando ele ficou em pé atrás dela e descansou as mãos no quadril dela, o coração dela acelerou.

— Está contente por ter vindo comigo?

Ela virou para ele, surpreendendo-o ao dizer.

— Eu me diverti. Quando você não estava estragando minhas roupas para me apalpar.

— Ainda não está com fome? Se precisar, você só tem que me dizer. — Ante sua expressão severa, ele levantou as palmas das mãos. — Não? Então talvez depois de descer?

— Descer?

— É muito alto para você pular, moça.

— Pensei que você disse que sou indestrutível e tudo mais.

— Não estou preocupado com seu corpo. Estou preocupado sobre como vai reagir quando vir o lago abaixo de você. É como mergulhar do alto de um circo.

Ela pôs a mão no quadril.

— Eu não sou uma Patricinha deslumbrada, MacRieve. Vou saltar.

— Uh-huh. Veremos.

— E vou saltar fazendo topless. — Diante de seu olhar atônito, ela arrancou seu sutiã esportivo, atirando-o no rosto dele. — Isto é um sólido “aye” sobre a remoção do sutiã.

Aqueles seios beijados pelo sol...

— Mulher! Minha boca encheu d’água...

Mas ela já estava dando meia volta indo em direção à beirada, em seguida saltando com um grito excitado.

Ele colocou seu sutiã entre os dentes e mergulhou atrás dela, correndo o mais rápido que podia para alcançá-la.

 

Chloe bateu na água com força cortando seu ar, mas recuperou-se facilmente, batendo as pernas em direção à superfície com uma risada.

Ela já se sentiu tão viva? Forçou seu corpo esta manhã, cobrindo quilômetros de terreno desafiador. Só isso já era felicidade. Adicione um MacRieve... brincalhão.

Ele estava se abrindo para ela, mostrando seu lado encantador — e o outro dominante. Era oficial: gostava tanto de um quanto do outro.

Quando alcançou a superfície ele estava esperando por ela.

— Você deixou cair isto. — Ele levantou seu top com uma expressão fechada.

Chocá-lo pareceu uma boa ideia na hora. Agora estava de topless com um macho imortal que parecia como se quisesse comê-la no jantar.

De fato, era isso o que ela estaria fazendo quando eles fizessem sexo novamente.

Quando?

Ela estendeu a mão.

— Me dá isso aqui, MacRieve.

Ele lançou seu sutiã na margem.

— Oh, acho que não. — Havia um tom ameaçador em sua voz, uma mensagem subliminar de Seu traseiro é meu.

Ela engoliu em seco. Não, não se assustava facilmente na maioria das situações. Mas esta era uma situação sexual; sexo era uma mistura de coisas para ela. Então começou a nadar de costas para longe dele. Ele continuou perseguindo-a. Não pensou que a machucaria, entretanto nunca teve um lobo mau olhando para ela como se estivesse prestes a atropelá-la até a próxima semana. Ao pensar naquilo, seus mamilos ficaram ainda mais duros.

O olhar dele baixou. Ele podia vê-los! Ela mergulhou para longe dele, começando a nadar de verdade.

No entanto ele estava logo atrás dela.

— Nado de peito? — Ele disse em uma voz retumbante. — Parece uma grande ideia.

Para falar a verdade não. A água fluía passando por seus mamilos, girando cada vez mais. Seu cabelo deve ter se soltado porque fios faziam cócegas em seus seios. Ela arriscou uma olhada por cima do ombro. Pela forma como seu olhar fundido se estreitou, teve a sensação que ele gostou da perseguição.

Acho que eu poderia gostar também.

Chegando ao declive, ela subiu até a margem. Parecia que ele estava prestes a investir nela, então ela mergulhou, fazendo um arco por cima da cabeça dele para nadar para a margem oposta.

Quando veio à tona, ele ainda estava gemendo.

— Essa imagem ficará comigo pelos próximos novecentos anos.

Ela estava se atirando em direção à terra quando ele agarrou seu tornozelo, puxando suas costas para ele. Quando estavam cara a cara, ele informou.

— Acabou a hora da brincadeira, companheira. Significa que quero estar dentro de você. — Então enlaçou seu braço ao redor das coxas dela, erguendo-a até que foi forçada a se curvar sobre um ombro musculoso.

— Que diabos você está...

Plaft! A palma dele desceu em sua parte inferior molhada.

— MacRieve! — Ela ziguezagueou por cima de seu ombro, não mais surpresa de como isso a excitava. Seus mamilos duros roçavam as costas dele a cada passo que ele dava em direção à margem.

— É isso que acontece se você me fizer ir atrás de você. — Outro plaft! — E é isso que acontecerá se você não me fizer ir atrás de você.

Quando ele começou a amassá-la ali, ela mordeu o lábio inferior para se impedir de gemer.

Ele chapinhou pela água até um gramado que desembocava para o lago.

— Pode descer. — Ele acomodou-a para que ficasse sentada com os pés ainda na água e com ele entre seus joelhos. Seus rostos estavam no mesmo nível, o que significava que seus seios estavam a curta distância de sua boca.

Ele inalou profundamente.

— Tenho que jogar duro com você novamente? Como vou adorar descobrir quais botões apertar.

Pega em flagrante. Ela ergueu o queixo.

— E os seus?

Ele estendeu a mão por baixo da superfície, arrancou a sunga, então a lançou na margem.

— Simples. Jogadoras de futebol de cabelos castanhos claros que gostam de apanhar na bunda. Você me tem o tempo todo.

Seus lábios entreabriram para suas respirações entrecortadas.

Ele limpou uma gota de água dos seus lábios.

— Você está toda molhada. Eu disse que você nunca precisaria de uma toalha quando eu estivesse perto. — Ele disse, levantando ambas as mãos para segurar seus seios. Ele curvou a cabeça escura acima deles, abaixando a boca para um.

Ele alternava aninhar beijos em seus mamilos. Quando esfregou sua barba incipiente sobre as pontas, ela suspirou de prazer.

Então ele deu uma chupada forte em um bico, deixando-o inchado e vermelho. Moveu-se para o outro, repetindo o processo.

Quando soprou neles, ela gritou.

— MacRieve!

— Você me torturou deste modo quando chupou meu pau — ele disse com voz áspera em seu ouvido —, eu farei o mesmo com seu pequenino clitóris, sugando-o até que esteja latejante, então soprarei nele.

Ela choramingou. Não era juto, e ele sabia disso! Seu sotaque mais palavras sujas era igual a Chloe perto do orgasmo.

Ele continuou em seus seios até que ela estava murmurando “Por favor” repetidas vezes.

— Devo fazer você gozar só chupando seus doces peitos?

Que tal só falar? Ele podia fazê-la gozar apenas com sua voz. Ela bateu nas costas dele, mas ele só riu contra sua pele.

No entanto, quando ele enganchou os dedos em seu short, ela deu a si mesma uma sacudida mental e ficou com as mãos quietas. Ela tinha uma agenda — e um troféu de campeonato em jogo.

— Hmm, espere. Eu não sei sobre sexo.

Ele se afastou para encará-la.

— O que está errado?

— MacRieve, duas vezes é realmente muito perto de três vezes. — Ela deu uma risada nervosa. — O truque do chapéu de uma Súcubo? — Ela queria conquistá-lo; eles não deviam estar apressando nada.

E se ela ficasse grávida desta vez? Munro disse que as Súcubos tinham ciclos ao longo do ano, mas não sabia quando ou como uma Cambion poderia ficar grávida. Considerando o passado do MacRieve, como ele reagiria à crianças parte Ubus?

— Estou só dizendo que é um grande passo, e não quero que você se arrependa.

— Nós já estamos vinculados pelo destino, Chloe. E se eu fizesse qualquer coisa para ter você? Até algo que... que eu não teria imaginado?

Claro que ele não teria imaginado um vínculo com uma Súcubo. Mas sua admissão parecia carregar uma riqueza de sentimento.

— Não podemos apenas levar isto mais devagar? — Hoje ela tinha vislumbrado como a vida com ele poderia ser, e ela queria isto.

— Eu adoraria tomar você quando não estivesse faminta. Quando você não exalasse seu aroma. Quando eu pudesse ter controle de minhas próprias ações. — Apesar de seu tom ser o mesmo, sua postura dizia que ele estava doendo por isso.

Sua resistência estava derretendo.

— Eu não queria te deixar nervosa, mas amanhã à noite será lua cheia.

— O que isso quer dizer?

— Minha besta ascenderá. Vai procurar se acasalar com você a noite toda, com muito mais poder. Não terei nenhum controle sobre isso.

— Lembre-se que eu não tenho nenhum problema com sua besta. Nós nos demos muito bem.

A expressão do MacRieve era incrédula, como um lobo detectando uma armadilha — porque a isca era muito boa para ser verdade.

— Então você me receberá sob o luar? Se eu te alimentar até lá, você será forte o suficiente para me levar.

O vínculo definitivamente seria completado amanhã; hoje não faria nenhuma diferença. Ela estava pronta para isto?

— Você tem que se alimentar, mo Chridhe.

Meu coração. Ele não a chamou assim desde o dia em que ela se transformou.

Ele tirou uma mecha de cabelo de sua bochecha.

— Não posso ficar calmo até que você tenha se alimentado pelo menos uma vez por dia. Além disso, não vai querer perder o que tenho reservado para você.

O olhar pecaminoso em seus olhos a fez gaguejar.

— N-não?

Ele beijou seu pescoço, a linha de seu queixo, sua orelha, dizendo a ela — Pretendo lamber sua doce bocetinha até que ela esteja tremendo, até que esteja gozando direto na minha língua. Então vou encaixar meu pau grosso dentro de você, te fodendo até que goze em cima de mim.

Ela gemeu.

— Você não está jogando limpo. — Ela estava perdendo esta batalha — perdendo e toda feliz. Então por que ainda estava hesitando?

— Jogo justo? — Ele deu uma risada rouca. — Se entendesse o quanto eu quero você, então nem mesmo esperaria que eu...

 

O membro de Will pulsava, suas bolas estavam cheias para ela. Ele adorava que Chloe respondia à palavras sujas; agora que ele aprendeu o poder delas, sabia que só pioraria.

Sexo como um homem era infinitamente mais excitante do que sexo como uma besta.

Então fique aí embaixo, criatura. Como se em resposta, sua besta começou a rondar.

Quando Will estendeu a mão para o short dela, desta vez ela ergueu-se para ajudá-lo a removê-lo. Assim que ela estava despida, ele saboreou a visão.

Seus olhos vívidos estavam com as pálpebras pesadas, e a luz do sol refletia nas gotas de água por seu corpo flexível inteiro. Ele nunca se cansaria de ver seus seios inchando pelo olhar guloso dele, seus mamilos fazendo beicinho para sua boca. Nunca se cansaria de ver suas pernas bem torneadas tremendo com antecipação. O modo como aquele trecho de cabelos castanhos claros entre suas coxas brilhava ao sol...

Leamsa. Minha. Naquele momento ele não se sentiu amaldiçoado — completamente o oposto.

Determinado a fazê-la gozar durante o sexo, ele decidiu que a levaria até a borda. Ela pagaria por toda sua conversa de pau brocha e pontuações desiguais.

— Abra bem suas pernas para meu beijo.

Quando ela o fez obedientemente, seu coração acelerou.

— Minha companheira lasciva adora ser lambida. — Enquanto ele se inclinava até seu sexo, os deliciosos lábios dela estavam rosa e brilhando. Ele usou os polegares para abrir bem suas dobras úmidas, em seguida enfiou sua língua dentro dela.

Ela miou, arqueando as costas e puxando os joelhos para cima ao redor de sua cabeça.

— Deuses, você esquenta meu sangue! — Ele gemeu encostado nela. Sentiu como se uma corrida tivesse começado para levá-la até a borda antes de ele perder a batalha com sua besta. E com seu pau. Este latejava para substituir sua língua, estava derramando pré-sêmen dentro da água. Ele disse com voz áspera. — Brinque com seus seios para mim. — Então ele voltou para dentro, enterrando sua língua nela.

Com um grito ela ergueu as mãos, amassando aqueles montes cheios. Quando ela beliscou seus mamilos, ele rosnou elogios contra sua carne.

Entre lambidas profundas em sua entrada, ele disse.

— Minha semente está indo direito para lá. Bem onde você precisa dela. Você anseia por ela, quente e espessa dentro de você?

— S-sim! — Ela arqueou. As coxas dela estavam apertando em volta das orelhas dele, suas mãos apertando seus seios.

Já estava perto. Ele subiu até beijar seu clitóris, esfregando-o com a língua.

— Oh Deus, MacRieve, oh Deus, estou quase...

De alguma forma ele recuou.

— Não! Por quê? — As pernas ainda bem abertas, ela ondulou para ele com uma lascívia de tirar o fôlego. Então ele lancetou-a ali com um dedo grosso. Carne escorregadia apertando ao redor dele.

— Ahhh!

Ele retirou seu dedo.

— Sente-se vazia?

Quando ela pôde apenas gemer baixinho, soube que Chloe se entregou a ele para que cuidasse do seu fogo mais uma vez. Ele estava dirigindo este encontro, guiando-os. A vontade de sua companheira casava com a dele.

Agora, se ele apenas pudesse governar sua besta tão bem.

Will arrastou-a para mais perto para que sua bunda ficasse na extremidade do declive. Com ela ainda mais aberta diante dele, ele colocou a mão sobre seu sexo possessivamente.

— É tão... leamsa.

Ela inconscientemente balançou o quadril na sua palma.

— Isto é meu. Olhe para mim e diga isso.

Ela abriu os olhos. Eles estavam verdes — dizendo a ele que estava para ter um orgasmo para ele.

— É s-seu.

— E o que você é?

— Eu sou sua também.

— Boa menina. — Ele entrou nela com uma punhalada rápida de seu pau.

Ela gozou imediatamente, liberando-o, relaxando seus nervos. Quando sua cavidade apertou o comprimento dele e a umidade revestiu-o, ele disse com voz áspera.

— Tapadh leat, aingeal. — Obrigado, anjo. Então mergulhou dentro dela gozando, gritando ao sentir isto. — Seu mel está todo sobre mim.

A cabeça dela tombou, sua boca aberta em um grito silencioso.

Mantenha sua besta abaixo. Isto era poderoso demais para compartilhar; Will a queria toda para si mesmo. Ele rodeou sua bunda com um braço, outro ao redor do seu pescoço e ergueu-a para ele.

A cada punhalada, uma necessidade indescritível parecia despertar cada vez mais, uma que não tinha nenhuma relação com sua besta ou seu Instinto. Sentiu como se não pudesse chegar perto dela o suficiente — embora ele apertasse o corpo dela perfeitamente ao seu.

Ele sentiu como se não pudesse fodê-la duro o suficiente — apesar de estar pistoneando seu quadril entre as coxas dela.

Ele estava dentro de sua companheira, e mesmo assim estava desesperado por ela. A loucura parecia dançar na borda de sua consciência. Como ele podia querê-la tão... violentamente?

Seu coração trovejava em seus ouvidos; seu tórax parecia marcado por dentro. Enlouquecido, ele dirigia dentro e fora dela. Apenas uma coisa podia deixá-lo assim frenético por ela!

— O exalar, está acontecendo.

— Como v-você pode dizer?

Ele apertou sua nuca para encontrar seu olhar.

— Porque eu estou... — punhalada — ...voraz por você... — punhalada — ...pra caralho! — Seu rugido ecoou para fora das pedras, mais alto que a cachoeira.

Quando ela sussurrou.

— Eu sinto o mesmo. — Emoções que ele não entendia o dominaram. Sentimentos perigosos. Dementes. Sombrios.

Eu vou morrer sem ela. Eu morrerei sangrando! Ele se agitou em confusão, seus pensamentos emaranhados. Em algum momento em seu frenesi, ela gozou novamente. Agora ela estava mole em seus braços gemendo com êxtase, simplesmente tomando seus movimentos maníacos. Ele apertou seu rosto bonito, mergulhando seu polegar entre seus lábios. Ela chupou com felicidade, os olhos revirando para trás da cabeça.

Minha moça, minha moça. Amor.

Quando sua besta ascendeu com força redobrada, Will estava atordoado demais para lutar por mais tempo. Ele recuou. Atenda-a bem, besta, ela é sua.

Por enquanto.

Jamais se retirando, a besta manobrou o corpo dela, lançando-a de frente para que ficasse deitada na grama.

Pressionando sua cabeça para baixo e erguendo sua bunda, bateu nela por trás como o animal que era.

Ele moveu sua juba espessa de cabelo para deixar seu pescoço nu, olhando para sua carne com desejo, uivando para marcá-la lá.

Dê a ela o suficiente, mas não tudo... Will freou sua besta de volta, negando sua mordida — permitindo somente a ejaculação mais forte que jamais tiveram.

 

— Isto é assim para as outras pessoas? — Chloe perguntou. Ela e MacRieve estavam deitados no banco juntos, reclinados nus, deitados de lado, no final da tarde de sol. A úmida pele lisa dele estava corada pelo esforço, os músculos ainda salientes. Os olhos dele estavam com as pálpebras pesadas e acolhedoramente dourados, sua besta em repouso.

MacRieve deu uma risada curta.

— Sei que eu nunca senti nada parecido.

Com um sorriso, ela disse.

— Suas bolas estão implorando por misericórdia?

— Elas ainda estão.

Ela riu.

— Eu costumava perguntar por que todo mundo estava sempre pensando em sexo. Não conseguia entender. Agora entendo.

E mais, foi lembrada hoje do quão bom isto poderia ser entre eles, uma centelha de esperança a queimava sem controle. Pensar que poderia ter perdido isto se não tivesse lhe dado uma segunda chance!

— Ei, você não deveria marcar meu pescoço?

— Com o tempo. — O olhar dele dardejou?

— Se vamos continuar fazendo isso, preciso arrumar um controle de natalidade. Munro disse que não sabia como meus ciclos seriam.

— Você não precisa se preocupar com isso.

— Como pode ter certeza? MacRieve, e se eu engravidar? O que você faria?

Lá estava. Um lampejo de angústia antes que ele disfarçasse.

Seu coração abateu. Perguntou-se como ele se sentiria sobre ter filhos com ela. Agora sabia. Poderia até mesmo entendê-lo, considerando seu passado. Isso não queria dizer que não ficou magoada.

Ela levantou-se para se vestir.

— Mensagem recebida. — Então ela respirou fundo. — Será que algo estaria errado com eles? Seriam monstruosos?

Ele sentou-se com uma exalação cansada.

— Monstruosos? Nay. Mas poderiam ser Íncubos ou Súcubos.

Ela se acalmou.

— Você diz muita coisa, quando diz, eles não seriam monstruosos, no entanto, poderiam ser como você.

— Isso não foi o que quis dizer. — Ele correu os dedos pelo cabelo molhado. — Você é a única que quer pegar leve. A ideia de filhos é muito para envolver minha cabeça.

Ela puxou os shorts molhados, em busca de seu sutiã.

— E se já aconteceu? Isto pode ter acontecido!

— Fique tranquila, Chloe. O talismã que você usa foi imbuído duas vezes. Uma vez para mantê-la escondida, e novamente para impedi-la de ficar grávida.

— O quê? — Ela virou-se para ele, cruzando os braços sobre seus seios. — Você me colocou sob controle de natalidade sem sequer discutir isto comigo?

Seus olhos estão brilhando com raiva? — Você quer que eu te engravide?

— Não, mas odeio que tenha tomado uma decisão como essa por mim! Essa merda poderia funcionar no século XI, mas não hoje.

Ele levantou-se também, vestindo-se com óbvia irritação.

— Nós não estávamos exatamente conversando muito, quando requisitei o talismã.

— Isso foi apenas há dois dias. No entanto, você está agindo como se tudo já estivesse resolvido com a gente.

— E está! Temos a intenção de começar de novo, lembra? Aceito que precisa de mim para se alimentar. Vou reivindicá-la mais uma vez, e então você será minha para sempre.

— Não prometi nada, e está esclarecendo isto porque foi uma jogada inteligente da minha parte. Você se esforça para me machucar? Ou é apenas um talento? Porque me deixe te dizer, você me acertou com alguns comentários afiados ao longo da última semana. Ei, pelo menos não vomitou hoje. Progresso!

Entre os dentes cerrados, ele disse.

— Isto está ficando fora de proporção.

— Você espera que use esta pulseira pela eternidade? O que acontecerá quando finalmente eu quiser ter filhos? Inferno, provavelmente cortará a cabeça deles, não é?

— Não seja ridícula. — ele disse, com uma carranca. — Se tivermos filhos teremos que ficar longe do meu clã, por medo que nossa prole possa atacar os outros.

— Talvez eles sejam inativos como eu era. Poderíamos descobrir se você me deixasse falar com a minha espécie!

— Nunca!

Ela o viu cravar suas garras nas mãos, mas estava muito furiosa para se importar.

— Nunca? Porque todos eles — até o último macho, fêmea e criança — são maus? — Ela avançou na direção de seu sutiã. — Tenho certeza que já conheceu todos eles!

Ele seguiu.

— Você está fazendo uma tempestade em um copo d’água!

— Eu estou? Então é minha culpa que esteja com raiva, porque estou exagerando. — Mais uma vez, estava a um decibel de guinchar.

Os olhos dele se arregalaram.

— Eu não quero atribuir culpa. Isso não é o que quis dizer.

Ela encontrou seu sutiã, puxando-o.

— Pensei que tinha uma chance, pensei que poderia fazer você ver que não sou como a Súcubo que enfrentou antes. Isso nunca será possível, não é?

Ela não era uma vítima, mas era assim que estava agindo — como uma bobalhona, recompensando a hostilidade dele com suavidade.

Essa era uma perda de estratégia no futebol — e na vida.

Ele estava começando a parecer alarmado.

— Se você quiser filhos, mesmo depois que eu tenha expressado preocupações, vou dá-los a você!

— Você não está entendo o ponto. Até que possa aceitar o que sou, até que possa imaginar ter filhos comigo, não há nenhuma esperança para nós! O pensamento de ter uma menina como eu deveria fazê-lo feliz, não enchê-lo de aversão. Seja lá como isto for — ela acenou dele para si mesma e de volta — está condenado.

— Não diga isso, caralho!

— Você está cego pelo ódio, e não vou tolerar ser tratada como merda mais, logo, condenado! Meu Deus, MacRieve. Até eu admito a derrota quando estou abaixo de vinte pontos com dois minutos no relógio. Todo o resto é apenas uma ilusão.

 

Enquanto Will a observava caminhando para longe, ele bufou com desagrado.

Sua companheira estava se afastando dele — logo após dizer-lhe que pensou que estavam condenados. Isto traria as presas de qualquer Lykae ao limite.

Sua besta uivou por dentro, com vontade de trotar atrás dela.

Em uma tentativa de dar-lhe espaço, Will arrastou-se atrás dela a uma distância, mantendo-a a vista. Maldição, ele estava fora de si, já a querendo ao seu lado. Não era surpreendente, considerando que tinha acabado de experimentar algum tipo de exalação induzida, um transcendente frenesi sexual com ela.

Quando as ovelhas ficaram em seu caminho enquanto atravessava o campo, ele deu um grunhido indiferente, enviando-as correndo.

Ontem, quando sentiu o puxão Súcubo, ficou enjoado. Hoje? Ele perdeu a capacidade de aguentar, caindo sobre as costas dela. Quando finalmente abriu os olhos, inclinou-se para beijar o canto dos lábios dela — porque eles estavam enrolados com um sorriso satisfeito.

Satisfeito! Deuses, ela o agradava.

Sexo com ela não tinha apenas embaçado sua mente, mexeu com sua massa cinzenta para sempre. O que sabia sobre a felicidade estava alterado agora, o limite superior intensificado para recordes de altura.

Durante este dia, ele teve três percepções.

Em primeiro lugar, possuir Chloe como dele, iria deixá-la alimentar-se de seu corpo pela eternidade, concedendo-lhe, sendo forçado com a exalação por muito tempo. Poderia não estar feliz com isso, mas a queria tanto, que faria qualquer coisa para ficar com ela. Cada homem tinha suas próprias mágoas secretas. Então, ele teria.

Em segundo lugar, não sabia quando — ou se — ele poderia reclamá-la com sua mordida. Reter isto o fazia se sentir mais no controle. Manter alguma coisa lhe permitia racionalizar tudo o que estava cedendo.

E por último: Embora não temesse aceitar seu veneno, tanto quanto no passado — isto a ligaria a ele — e não gostava da ideia. Lamentavelmente, mas valentemente.

Toda sua vida ele tinha uma fobia sobre três vezes. Agora parecia que sua companheira também fazia.

Não importa. Isto aconteceria com eles todas as próximas vezes.

Quando Chloe entrou no castelo, ela bateu a porta atrás dela. Tudo bem, talvez ele devesse ter lhe dito tudo o que o talismã fazia, quando pôs isto antes. No entanto, naquele momento não sentia consideração por ela. E sim, isso foi apenas há dois dias, mas algo tinha se deslocado dentro dele. Estava ajustando-se a espécie dela, fazendo concessões.

Porque hoje, ele tinha começado a acreditar que tinham um futuro.

Justo quando ela se convenceu que eles terminariam? Precisava fazer algum tipo de gesto. Algo para convencê-la de que iria tentar.

Will lembrou-se de quando estava com oito anos, e tinha quebrado o vaso favorito de sua mãe. Cheio de culpa, ele investiu para fora, para colher as flores dela, a única coisa que poderia lhe dar. Com seu olhar cintilante, Mamãe tinha bagunçado seu cabelo. — Ah Will, agora isto não importa, já que não tenho nada para colocá-las dentro...

Então o que dar a Chloe? Seus olhos se arregalaram. O sótão deste lugar estava cheio de tesouros.

 

Uma maneira de diminuir a explosão dele, Chloe pensou quando se arrastou para o banheiro, ligando o chuveiro no box gigante.

Ela pretendia agir como seu antigo eu, deixando as coisas rolar de suas costas, esfregando a sujeira sobre ela, rolando com os golpes.

Em vez disso, ela atacou MacRieve. Ela nem sequer queria ter filhos no momento, em um futuro próximo! Mas quando resolvesse tê-los, não queria que o pai deles os olhasse com aquela expressão angustiada.

Do jeito que meu pai olhou para mim naquela última noite.

Será que MacRieve a olhava assim quando não estava olhando? Desejou que pudesse falar com sua besta — e dizer-lhe para chicotear a estrutura de MacRieve.

Ela tirou sua maltratada roupa, olhando para sua pulseira. Aquele desgraçado a tinha colocado no controle de natalidade, como se ela fosse alienada! Se tivesse que fazer uma viagem de negócios, ele a prenderia em um cinto de castidade também?

Sob a água fumegante, ela estremeceu com os músculos doloridos. Poderia ter se alimentado, mas ainda estava sentindo o dia. Sua cabeça doía e seu estômago estava estranho. Ela supôs que muito corrida — e muito sexo áspero no lago — a tinha desgastado.

Um dos seus seios tinha uma mancha de grama por todo ele, e marcas de garras espalhavam-se em seus quadris. Ei, não é muito diferente de um jogo de futebol, Chloe!

Quando terminou o banho, a cama parecia muito convidativa para resistir. Ela colocou seus novos pijamas, jogou uma tora sobre as brasas da lareira, então rastejou para debaixo das cobertas.

Olhou para o teto, feliz por ter este tempo sozinha. Todos esses novos aspectos de sua vida tinham lhe acertado tão rápido, que ela mal teve um momento de raciocinar através deles. Por exemplo, agora era hora do jantar, nunca mais iria comer um jantar novamente. Levaria algum tempo para se acostumar.

Além disso, provavelmente deveria aceitar sua situação familiar — tal como, não ter mais uma. Dizendo a si mesma que, enquanto continuasse a comer, poderia não ser totalmente — Detrus — para seu pai. Ele ainda poderia aceitá-la.

Agora? As chances pareciam sombrias.

Com o tempo, talvez ela pudesse rastrear a família de Fiore — mas, MacRieve nunca permitiria que os visse.

Ruídos soaram acima dela, como se ele estivesse remexendo no sótão. Por que exatamente? Não era como se houvesse scrapbooks ou álbuns antigos. Nem vídeos dos primeiros passos dos MacRieve...

Ela apenas fechou os olhos quando ele abriu a porta e entrou.

— Por que está descansando? — Ele usava uma camiseta preta e calça jeans surrada, e tinha uma mancha de poeira em seu rosto que o fazia parecer menos intimidante, quase infantil.

Ela deu de ombros.

— Estou cansada. Acho que me desgastei muito hoje.

Ele inclinou a cabeça, examinando seu rosto.

— Isso não vai demorar muito. Então a deixarei descansar. — Ele se sentou ao lado dela na cama. — Escute, Chloe. Sei que deveria ter te contado sobre a pulseira.

Exalando com irritação, ela disse.

— Não, você deveria ter me perguntado sobre a pulseira antes que eu a colocasse no pulso!

— Sim, foi o que eu quis dizer. — ele disse rapidamente. — Lamento não te perguntar.

Ela sentou-se, quase fazendo uma careta quando a dor de cabeça se intensificou.

— Preciso de mais, MacRieve. Preciso que confie em mim. Preciso saber por que odeia tanto minha espécie. Por que mesmo a ideia de ter filhos comigo o deixa doente.

Ele começou a andar de um lado para o outro.

— Vai demorar mais do que alguns dias para que eu trabalhe as minhas... questões. Você pode ser paciente comigo?

— Diga-me por que decapitou as últimas cinco Súcubos que encontrou.

Suas narinas alargaram, juntamente com suas garras. Apenas com a simples menção?

— Durante minha vida matei qualquer uma com quem cruzei.

Um pensamento horrível surgiu.

— Você matou uma a pouco mais de duas décadas atrás? O nome dela era Fiore, e ela parecia muito comigo.

— Não assassinei sua mãe. Temos obstáculos entre nós, admito isso, mas não este em particular. Juro ao Lore que não tive nada a ver com a morte dela. — Ele se sentou ao lado dela mais uma vez. — Aqui, moça. — ele disse, puxando uma caixa de madeira polida do bolso de trás. — Tenho uma oferta de paz.

— O que é isso? — Ela abriu a caixa para encontrar pentes de cabelo verde-jade, primorosamente gravado com desenhos Celtas.

— Minha avó passou estes para minha mãe. Achei que poderia gostar deles, agora que passou a usar seu cabelo comprido.

— Você quer que eu fique com isto?

Ele passou a mão sobre a parte de trás de seu pescoço.

— Não soe tão chocada, Chloe. Eles pertencem à dona deste castelo.

Se ele estava dando-lhe sua herança, então certamente estava começando a trabalhar seu passado de ódio. Ela roçou os dedos sobre as gravuras.

— São adoráveis. — Ela colocou-os sobre a mesa de cabeceira, mantendo-os perto.

— Paciência, Chloe. — Ele correu os dedos ao longo do queixo dela. — Sou um cachorro velho, e tudo isso é um truque muito novo para mim. Não estou dizendo que não posso mudar, apenas me dê tempo. Pode fazer isso?

Quanto tempo? Talvez com o suficiente disso, ele pudesse se apaixonar por ela. Talvez se ele a amasse mais profundamente do que odiava a outra Súcubo, pudesse ver uma maneira de ter filhos.

Neste tempo, ele possa extinguir o que ela estava sentindo por ele. Precisava apenas pensar sobre tudo isso.

— Estou cansada. — Ela deitou-se. — Gostaria de ir para a cama.

As sobrancelhas dele elevaram. Podia ver que ele esperava que ela reagisse de forma diferente.

Quando ele arrancou sua camisa e se juntou a ela, não teve energia para rejeitá-lo.

— Venha, mo Chridhe. — Ele estendeu-lhe a mão, apertando-a contra seu peito quente. — Deite e descanse. Tudo vai ficar melhor amanhã.

O calor da pele dele aumentou sua sonolência. Antes que adormecesse, ela murmurou.

— Tenho que ser honesta. Este relógio talvez tenha zerado, MacRieve.

O corpo inteiro dele ficou tenso contra o dela. Ela não se importava porque o doce sono estava envolvendo-a...

 

No meio da noite, Chloe acordou com uma dor na barriga e na cabeça.

Ela encontrou MacRieve dormindo inquieto ao lado dela, seu peito escorregadio de suor. Esta era a primeira vez que ele tinha dormido desde que chegaram? Desde que se transformou, em primeiro lugar?

Seus olhos corriam atrás de suas pálpebras, e ele gemia, obviamente nas garras de um pesadelo. Enquanto ela o observava, suas presas e garras começaram a se estender, seu rosto cada vez mais lobisomem. A besta estava ascendendo, até mesmo no torpor de MacRieve.

Enquanto ele bufava e gemia, Chloe imaginou que horrores ele estava revivendo esta noite. Estuprado por uma Súcubo? Batalhando nos escuros Bosques de Murk?

O choque da transformação de Chloe?

Então ele espalmou a mão sobre seu peito, suas garras cravando na pele ao redor do local que uma vez ela beijou, com toda a ternura que sentia por este homem.

Ele estava sonhando com a tortura que seu pai ordenara.

Isto está condenado entre nós. Aceitar isto a entristecia tão profundamente. Chloe seria punida por MacRieve se ela ficasse, e punida por seu coração se partisse.

Porque poderia estar se apaixonando por ele.

 

Will marchava ansioso. Já estava bem no final da tarde, no entanto Chloe ainda não tinha despertado.

A sala estava mal iluminada. A tempestade rugia lá fora, o sol obscurecido, as terras escuras. Ventos agrediam os tijolos de Conall, atirando destroços contra as janelas.

Ele se sentou ao lado dela na cama para acariciar seu cabelo.

— Chloe, amor? — Por que essa fadiga de novo? Ele devia tê-la machucado ontem em sua agonia. Ela precisa de descanso para se curar.

Chloe pode ser imortal, mas a força e resistência vinham com a idade, ela ainda era tão incrivelmente jovem.

Talvez ele devesse ter pensado nisso antes de tê-la esburacado com toda sua força.

No sono suas sobrancelhas se uniram. Com um bufo de irritação, ela livrou-se dele.

Queria falar com ela, para avaliar a raiva dela. Quanto mais pensava sobre ontem, mais reconhecia quão incisivo foi com ela.

Aye, Chloe, vou renegar minha ascendência por causa de sua espécie. Ele encolheu-se ao pensar que usara um maldito feitiço de bruxa para atar sua fertilidade — sem que ela soubesse.

Ela disse que estavam condenados, e quando refletiu sobre seu comportamento durante a semana passada, temia que estivesse certa. Uma parte dela devia odiá-lo. No lugar dela, certamente o faria.

Ele balançou os ombros de Chloe.

— Acorde moça, preciso falar com você.

Ela gemeu, puxando o travesseiro sobre o rosto.

— Jesus, MacRieve, não pode esperar? — Ela estalou.

Ele puxou a cabeça para trás.

— Aye, então.

Logo sua respiração estabilizou com o sono mais uma vez.

Nïx previra que seu passado iria enterrá-lo. Disse que ele perderia Chloe se não mudasse.

Não enterrou seu passado, não havia mudado e ainda esperava que Chloe o aceitasse. Esperava que uma infalível oráculo tivesse cometido um erro.

Will estava delirando.

Na mesa ao lado de Chloe estavam os pentes de cabelo que tinha dado a ela. Quando os encontrara em um baú no sótão, sabia que eram para ela. Ontem à noite, ela correu os dedos sobre eles como se tivesse presenteado-a com um tesouro inestimável. Eles eram tão pouco, comparados com o que ela lhe deu. Sem ela, teria queimado até a morte em um poço de fogo. Então, por que não a reivindicou plenamente?

Porque não posso. Porque não tenho direito.

Quando se levantou e passeou pelo quarto, lembrou-se de forma muito clara das últimas palavras de sua mãe. Ela não dissera “Nunca com uma Súcubo. Nunca como alguém como ela.”.

Como Ruelle. Uma doente, pedófila diabólica.

Sua respiração o abandonou em um ímpeto. Chloe não era nada como Ruelle, mas tratou-a como se fosse. Ele a maltratou, enchendo-a de insultos, mentindo para ela. E então ficou admirado quando ela ficou hesitante sobre um futuro com ele.

Will estava tentando se vingar de uma maldita mulher morta, ferindo sua companheira!

Como se em um filme, ele reproduziu novamente todo seu insulto. O dia no muro sozinho... que a chamou de devoradora de sêmen, dizendo que ela era um lixo. Ele aterrorizou-a com ameaças cruéis, humilhando-a na frente dos inimigos.

Os dias vindouros não trouxeram nenhuma melhoria. Will disse que ela provavelmente desejava ser estuprada por homens Pravus. Disse mais, que não era boa o suficiente para ter seus filhos. Conteve sua mordida de reivindicação, argumentando que o seu suficiente seria o bastante para ela — e não o seu todo, mas o suficiente.

Vomitou depois de tomar sua virgindade.

E ela suportou tudo, até mesmo dando-lhe o dia de ontem. Que ele então arruinou. Slaoightear. Vilão. Quando todas as suas ações caíram, ele ficou paralisado, incapaz de se mover.

Errado. Tudo está errado. Tudo culpa minha.

Tristeza, culpa, horror, ódio — tudo guerreou dentro dele. Os três primeiros de como ele tinha tratado Chloe, o último em direção a Ruelle.

E para si mesmo. Enquanto Will olhava para Chloe, sua visão embaçou.

Tratei minha companheira inocente como Ruelle me tratou. A este pensamento ele bateu os punhos contra sua cabeça, seu rosto retorcendo. O que há de errado comigo? Doente, doente!

Sua besta tentou ascender, para proteger Will da dor. No entanto Will queria a agonia, precisava disso.

Bebês com Chloe? Uma nova família entre eles? Eles resolveriam isso.

Tudo culpa minha. Ele bufou, puxando os cabelos. Desejou que Chloe acordasse para acertá-lo, queria que ela afundasse outro caco nele.

Acerte por ela. Chloe era uma lutadora, brigando por tudo o que já tinha conseguido na vida — Will não faria nada menos por ela.

Enterre seu passado ou ele vai enterrá-lo. Estava pronto para isto, apenas não sabia como.

Seu Instinto impeliu “Satisfaça sua vingança contra aqueles que merecem isto”.

Como? Ruelle estava morta há muito tempo. Vivia apenas em sua memória. E isto impelia um obstáculo entre ele e sua companheira. Deixando-o quase louco por centenas de anos.

Enterre, enterre, queime seu passado...

Uma ideia surgiu em seus pensamentos caóticos. Caminhou até a linha de janelas viradas para o sul, olhando para os tempestuosos Bosques de Murk.

Queime seu passado ou ele vai te queimar. Havia algo que poderia fazer para derrubar essa memória.

“Vá até lá!” Seu Instinto ordenou. De repente estava tão desesperado para violar aquela floresta como esteve em sua juventude. Deixaria Chloe confortável na sua cama quente e segura dentro do impermeável castelo de seus antepassados.

Ele viveu por mais de trezentos mil dias, e se sentia como se todo o seu futuro repousasse sobre o que os próximos minutos trariam.

“A resposta está dentro da floresta. VÁ!” Ele estremeceu pela intensidade do Instinto.

Ele pressionou um beijo contra os cabelos de Chloe, em seguida virou-se para sair. Na porta, olhou para trás para sua companheira.

Alguma emoção desconhecida ameaçou engoli-lo. Era primitivo e cru, inquietando-o tanto que sua besta agitou mais uma vez, de forma protetora.

Com um rosnado baixo Will correu para a tempestade. Correndo para um anexo, ele saqueou-o abastecendo-se, em seguida, correu em direção ao Bosque. O caminho para seu destino estava encoberto, mas nunca esqueceria o caminho.

Uma vez que Chloe acordasse queria cumprimentá-la como um novo homem. Aquele que a aceitaria, o exalar, o vínculo venenoso, tudo por ela. Enquanto corria identificou aquela emoção desconhecida, reconhecendo-a.

Imaginou-se curado, remodelado para uma companheira pela qual pudesse estimar totalmente, dando-lhe filhos e amor.

Sentia-se frenético com a necessidade de dar-lhe essas coisas. A cada passo mais perto de seu destino sua besta lutava para ascender. Will se esforçou para mantê-lo na coleira, para pensar com clareza, com raciocínio.

Enquanto a tempestade se fortalecia, sombras fechavam sobre ele, folhas rodopiavam, árvores tremiam. Os ventos uivavam, interrompendo a audição e o olfato de Will. Rajadas traziam aromas confusos por todo o caminho do mar.

Aromas que sempre lembravam Will daquela noite.

Sua preocupação de que tivesse perdido Chloe estava tão afiada, era como dor percorrendo seu corpo. Will olhou através da tempestade enquanto corria. Ele poderia decifrar o objeto de seu ódio, aquele que em breve destruiria...

 

Alguma coisa está errada comigo.

Quando Chloe acordou sentia-se fraca, como se estivesse com gripe, com náuseas, dores e calafrios.

Seus ossos pareciam que estavam quebrando. Profundamente em seu ventre sofria o que parecia uma dor menstrual dos infernos.

Ela acordou e abriu os olhos procurando ao redor do quarto por MacRieve, mas ele foi embora. Lembrou-se dele sentado ao lado dela mais cedo. Estava meio acordada, irritada que cada uma das palavras dele soasse como um gongo em seus ouvidos, piorando sua dor de cabeça.

Ele queria dizer alguma coisa? Lembrou que espreitou sobre a cama para vê-lo de pé na janela, seus ombros largos tensos. Ela queria perguntar o que estava errado, mas adormeceu novamente.

Chloe tinha sonhado que disse que o amava, mas ele se recusou a responder. Não olhou para o rosto dela durante tantos séculos que ela se tornou invisível...

Arrastando-se aos seus pés, cruzou para o mesmo local onde ele esteve, observando a mesma floresta ao sul. Quando eles chegaram aqui antes ele olhou naquela direção, cerrando os punhos, a tensão irradiando dele.

Agora um funil de fumaça subia das copas das árvores, na profundeza do Bosque de Murk.

Um incêndio? MacRieve estava lá? Os ventos sopravam carregando aquela fumaça, e até mesmo brasas contra as paredes indiferentes de Conall. Um pressentimento impregnou-a, uma sensação de que ele estava em perigo.

Sufocando suas náuseas, vestiu a calça jeans, uma camisa e sapatos, em seguida forçou-se a descer as escadas. Cada etapa abalava os ossos de suas pernas, enviando novas ondas de dor.

Mas tinha que chegar até ele. Pânico sobrecarregou sua indisposição, dando-lhe força suficiente para atravessar os extensos campos varridos pelo vento. O crepúsculo estava se intensificando quando ela chegou ao limite do bosque.

Caminhar para dentro dele? Com a noite se aproximando?

Essa sensação de mau agouro apenas fortaleceu, até que podia sentir isso em seus ossos doloridos. Temendo por MacRieve, arrastou-se, seguindo a fumaça.

Não tinha feito o comprimento de um campo de futebol antes que tivesse que se inclinar contra um tronco, descansando as pernas e recuperando o fôlego. Ela forçou-se, o cheiro de fumaça cada vez mais forte. O cheiro acre queimava seu nariz e garganta.

No momento em que ela estava perto o suficiente para ouvir o crepitar do fogo, as árvores tinham diluído. Havia uma clareira à frente? Ela diminuiu a velocidade, ainda mais cautelosa...

A cena a sua frente a deixou sem fôlego.

Uma estrutura estava queimando. MacRieve em pé à luz da fogueira, olhando para as chamas. Cinzas riscavam seu rosto. A seus pés havia uma lata laranja onde estava escrito GASOLINA. Ele começou o fogo?

Aparentemente, ele não a sentiu com as rajadas de vento diante dela.

Ela viu quando ele virou-se para talhar suas garras através de uma árvore próxima, e depois outra. Ele deu um rugido enlouquecido, arrancando os cabelos. Seus olhos estavam azuis — mas a besta não tinha ascendido. Este era apenas MacRieve, o homem, parecendo enlouquecido.

O que estava acontecendo? O que era esse lugar? Ela ficou atordoada, incapaz de reagir.

Quando ele voltou ao seu trabalho, a luz do fogo refletiu em seus olhos. A cor de gelo e fogo misturando. E ela pensou que eles... brilhavam com lágrimas.

Sim, faixas corriam para baixo através da fuligem sobre o rosto dele.

Antes que pudesse detê-lo, ele correu em direção à construção, demolindo uma parede ardente com os punhos — como se isso não estivesse queimando rápido o suficiente. Chamas enrolaram em torno de seus braços. Ele parecia não notá-las.

— MacRieve! — Ela correu pra frente. — Sua camisa está pegando fogo!

Ele sacudiu a cabeça.

— Por que veio aqui, Chloe? — Desinteressado, ele retirou a camisa de sua pele empolada, jogando-a longe. Então, sua expressão apertou. — Há quanto tempo está aí?

Tempo suficiente para ver sua agonia, para entender que esta era a raiz de sua dor — ela só não sabia por quê.

— Não muito.

— Não deveria estar aqui. Tenho que levá-la de volta. — Seu corpo estava tremendo.

Então era dela. Embora sentisse como se suas pernas não pudessem sustentá-la por muito tempo, ela disse.

— Não vou a lugar nenhum até que me diga o que é isso.

— Seu rosto está pálido. Deve voltar ao castelo.

— Eu estabeleço o limite aqui, MacRieve. Diga-me o que quero saber ou acabaremos o que seja isto entre nós.

Ele olhou na direção de Conall.

— Vou dizer lá em casa.

— O cacete. Vai me dizer agora.

— Se eu fizer isso, vai me deixar levá-la de volta?

Ela assentiu com a cabeça, sabendo que finalmente saberia os segredos dele. Ele estava pronto para contar, ela tinha forças para ouvir? Ela moveu-se para fora do caminho da fumaça, escolhendo seu caminho para uma das árvores recém-cortadas. Cada passo trazia estilhaços de dor.

Quando se sentou no tronco, ele começou a andar de um lado para o outro diante dela. Entreabriu os lábios para falar, em seguida fechou-os, repetindo isso várias vezes.

— Por favor, MacRieve. — ela murmurou.

Ele engoliu em seco, balançando o pomo de adão. Finalmente ele começou.

— Nós fomos proibidos de entrar nesses bosques. Mas entrei em desafio e chamei a atenção de uma Súcubo que vivia nesta casa. O nome dela era Ruelle. — Ele cuspiu a palavra, como se fosse sujeira em sua boca. — Ela me levou pra sua cama.

— Uma Súcubo... estuprou você?

Ele balançou o punho para a árvore mais próxima.

— Não coloque isto desse jeito!

Ela aspirou com a reação dele.

— Então, uma Súcubo usou sua química em você?

Um aceno curto.

— Eu sabia o que estava acontecendo, sabia o que ela era. Pensei que a amava. Quando me disse que era minha companheira, acreditei nela. — A respiração dele começou a silvar em seu peito de novo? —Eu era... ainda um menino.

— Qual sua idade?

Ele não encontrou o olhar dela quando murmurou a resposta.

Nove. Querido Deus. Nove?

— Ela usara seu exalar em mim. Na minha idade, isto foi tão... demais. Sentia-me como se estivesse sufocando, como se estivesse morrendo. — Seu peito começou a arfar como se estivesse sufocando inclusive agora. — Aprendi mais tarde que poderia ter me matado com uma extração mais profunda. Homens mortais mal sobreviveram à tomada e eu não era adulto. Mas minha besta ascendia para me proteger todas às vezes.

Chloe estava estupefata. Ele era apenas um garotinho.

Ainda assim evitando o olhar dela, ele disse.

— Chorei na primeira vez. E na segunda, e assim por diante... Mas os elogios e os presentes mantiveram-me voltando. Sem mencionar seu vínculo venenoso. Ela usava a dor para me punir às vezes.

Os olhos de Chloe ficaram úmidos, mas lutou para não derramar lágrimas por ele, sabendo que odiaria isso. O macho que eu amo foi abusado assim.

Entre respirações duras, ele continuou.

— Nessa idade os Lykae estão aprendendo a controlar sua besta. Minha família e membros de meu clã estavam me ensinando, mas ela ascendia toda vez que estava com Ruelle, qualquer progresso desfeito. Depois de quatro anos com ela não podia imaginar o sexo sem a minha besta. Era tudo o que conhecia. Quando isto terminou com Ruelle afinal, eu não estava... bem. Não me incomodei em me deitar com outras até que estava com quarenta anos. Então, o molde fora fixado, e sabia que seria para sempre distorcido.

Queria gritar que ele não era distorcido, que era dela, e que o queria muito. Esta era a rede que ela não foi capaz de ver!

Mas sabia que este era um momento precário para ele. No tom mais firme que conseguiu, ela perguntou.

— O que aconteceu com ela? Como foi libertado de seu veneno?

Como você pode sequer contemplar aceitar o meu? Ele fora punido com isto.

Quando ele vacilou de novo — como se o que estava prestes a dizer seria ainda pior — uma memória puxou a consciência de Chloe. Rónan não disse que os gêmeos ficaram órfãos aos treze anos? Quatro anos com Ruelle o colocaria nessa idade.

— Ruelle tinha me barrado deste lugar por dias, e seu veneno me bateu duro. Estava esgueirando-me para vir até ela quando minha mãe me pegou. Deuses, mamãe podia ser feroz. Ela e meu pai me escoltaram para dentro e confessei tudo. — Ele passou a mão pelo rosto, manchando-o com mais cinzas. — Como se fosse ontem, lembro como estava perplexo pela repugnância deles. Acreditava que Ruelle estava destinada a mim, que estava apenas fazendo como a natureza ditava. — Ele olhou para Chloe, então rapidamente, desviou.

MacRieve tinha vergonha disto até hoje.

— Quando meus pais falaram sobre matá-la, eu estava tão confuso. Meu pai planejava partir pela manhã para acabar com Ruelle. Mas como disse, minha mãe era feroz, impulsiva demais. Ela não podia suportar a dor que eu estava sentindo, então se esgueirou durante uma nevasca. Veio para cá.

Chloe podia dizer para onde isto estava indo.

— Munro, papai e eu a seguimos, mas chegamos tarde demais. Ruelle não estava sozinha. Para meu espanto, ela tinha outro amante. Um jovem vampiro. Ele matou minha mãe.

— Oh, Deus, MacRieve, eu sinto muito.

Olhando através dela, ele disse.

— Papai decapitou o vampiro e Ruelle. Um dia depois, meu pai seguiu sua companheira.

Ela levou uma mão trêmula até a testa. Quase desejou que tivesse comida em seu estômago para vomitar.

— Na última noite de suas vidas meus pais devem ter me achado um fraco, covarde. E eu era. Matei os dois. Minha mãe estava grávida de uma menina. — Outra gota escorreu pelo seu rosto. — Toda minha família foi destruída por causa da minha fraqueza.

— Você não era fraco! Você ainda era um menino! Culpe Ruelle, não você mesmo. Aquela vadia adestrou você. Gostaria que ainda estivesse viva, para que eu mesma pudesse decapitá-la! — Pelo jeito que ele estava olhando para os olhos dela, sabia que estavam brilhando de emoção. — MacRieve, você era tão jovem.

— Talvez naquele tempo. Mas nos anos que se seguiram eu sofri com a morte de Ruelle quase tanto quanto com a de minha mãe. — Ele olhou duro para o chão, quando murmurou. — Sabia que era errado fazer isso, desprezei-me por isto durante muitos anos. Odiando a mim mesmo como pode imaginar. Levei séculos, mas eventualmente, aceitei minha sina na vida. Nunca estive sexualmente bem. Nunca dormi com a mesma mulher duas vezes. Nunca conheci uma mulher sem a besta ascendendo. Então, apenas tolerei meu tempo, à espera de outra boa guerra. A guerra era confortável para mim. No campo de batalha, todo mundo estava feliz em ver a minha besta — todos, exceto o inimigo. Eu estava... no controle.

— Então você foi capturado pela Ordem. — ela disse em uma voz amortecida. — Vocês foram torturados. Vivissecção.

Ele não perguntou como ela sabia dessa última parte, nem parecia registrar isto.

— Na prisão, fomos obrigados a usar coleiras que nos roubavam nossa força. Mas, durante a fuga, todos os cativos de Pravus tiveram as suas removidas. Cinco Súcubos famintas me caçaram. Elas eram fodidamente fortes.

Os lábios de Chloe se separaram.

— Será que elas...? — Por favor, diga que não.

— Nay. Porque aliados me ajudaram. Mas naquela noite era como se uma lâmina cortasse através de uma cicatriz elevada, ressuscitando tudo o que Ruelle fizera comigo.

— Como é que não me matou naquela manhã? Quando sentiu o cheiro do que eu era?

Ele finalmente encontrou seu olhar.

— Minha besta nunca teria deixado. Ela aceitou você. Ela te adora. Porra, eu preciso adorar você!

— Como você pode?

— Estou tentando seguir em frente, parar de viver no passado. Mas você tem que entender, eu era como uma marionete para Ruelle. — Mais uma vez sua respiração diminuiu. — Quando senti o efeito do seu exalar isto me perturbou profundamente. Não há nenhum sentimento mais miserável do que ceder sua própria vontade.

Ela não conseguiu segurar as lágrimas quando disse.

— Então vou prejudicá-lo mais uma vez. Estou abrindo a cicatriz! — E eles tinham apenas mais uma vez antes que ele estivesse preso a ela para sempre. — MacRieve, não posso continuar a machucar você, não posso deixá-lo receber meu veneno. Vai ter que me deixar ir embora.

Ele caiu de joelhos diante dela, assustando-a.

— Não diga isso! — Envolvendo os braços ao redor da cintura dela, enterrou a cabeça no seu peito. Agarrou-a com força, enviando nova cascata de dor através dela. — Sei que estou mau da cabeça! Quero estar... bem. Para você. — Quando ele acariciou seu pescoço, ela sentiu mais de suas lágrimas quentes contra a pele dela. — Mantive esta casa de pé para que sempre me lembrasse do que foi feito com a minha família, pra mim. Agora quero apenas esquecer. Pensei que queimar isto fosse me consertar. — Ele estremeceu contra ela, o movimento como uma britadeira em sua cabeça dolorida. — Ajude-me a ser bom para você, Chloe.

A dor estava ficando muito intensa, sua visão escureceu.

— Como? — Ela disse. — Diga-me o que fazer.

— Tenho que ter o controle de minha própria mente e corpo. Você pode me libertar? Vou voltar pra você, mulher! Apenas me liberte. — Ele tomou-a em seus braços, agora pressionando seu rosto contra o peito dela. — Eu a quero para sempre. — Sua respiração agitou no peito dela. — Apenas deixe-me fazer isto do meu jeito.

— Não posso libertá-lo. Não sei como. Eu faria se soubesse! — Aquelas palavras apaixonadas drenaram as últimas reservas de energia dela. Pontos pretos giravam nas bordas de sua visão. — MacRieve?

Ele afastou-se para olhar para o rosto dela, os olhos arregalados.

— O que há de errado, Chloe? Você tem fome?

— Não, n-não sei o que está errado. Está doendo.

— Fui muito rude com você ontem. — Ele colocou a palma da mão na testa dela, seu queixo afrouxando. — Você está queimando? Será que qualquer outra coisa está te machucando?

— Minha cabeça. Deus, todo meu corpo dói. Meus... ossos doem.

Em voz baixa, ele disse.

— Eles parecem como se estivessem quebrando lentamente por dentro?

— Sim.

— Tudo te machuca tanto que não distingue as áreas de agonia. A dor em sua cabeça está cegando-a.

Ela assentiu com a cabeça, o leve movimento trazendo uma nova onda de tontura.

— Por favor... — Suas palavras falharam, ela ficou mole nos braços dele.

Pouco antes de suas pálpebras se fecharam, viu as paredes da construção ruírem em uma erupção de chamas. Uma rajada escaldante de ar disparou sobre eles.

A casa não existia mais.

 

Will saltou em pé, uma inconsciente Chloe em seus braços, e deu um grito agudo.

— Não, não! Chloe, fique comigo! — Nada.

Sua besta estava ascendendo, junto com o pânico de Will.

Proteja.

— Quero proteger. — ele gritou para ninguém. Também se lembrava dos sintomas do veneno. Por que diabos ela os tinha?

Tudo o que sabia era que isto era de alguma forma por culpa dele.

As bruxas poderiam ajudá-la. Certamente. Tinha apenas que levar Chloe até elas. Mas e se isto se agravasse no longo voo de volta? Sem mencionar que Lykae acasalados não voam sob a lua cheia. Porra!

Preocupação esfaqueou-o, ele virou-se, prestes a correr para o castelo...

Duas Súcubos estavam em pé a uns seis metros de distância. A dupla que viu do outro lado do muro em Glenrial.

— De onde diabos vocês vieram? — Uma parecia estar com uns vinte e poucos anos, a outra no final da adolescência. A mais nova usava uma espada no quadril.

Seu primeiro impulso foi o de afastar as duas de Chloe. Ele odiava Súcubos — mas estava desesperado para curar sua companheira.

A mais velha disse.

— Sou Gisela, a tia de Chloe. Sua mãe era minha irmã. Esta é minha filha, Nieve.

Chloe tinha família, além de Webb? Ela nunca falou muito sobre sua mãe. Não que ele tivesse perguntado sobre Fiore — porque Will não queria ser lembrado de que Chloe tinha sua essência Súcubo.

Tudo o que sabia era que Fiore morreu quando Chloe ainda era um bebê.

Virou-se para Gisela, que pelo menos parecia simpática. Sua filha foi logo cortando seu olhar em Will. Aquela Súcubo estava realmente carregando uma arma?

— Chloe está doente — Entre os dentes cerrados, ele disse —, você... você pode me ajudar?

Gisela disse.

— Ela está muito doente, MacRieve.

— Como sabe meu nome?

— Todos do povo Ubus conhecem você e seu irmão, dos Bosques de Murk. — Assim quando estava prestes a perguntar como, ela acrescentou. — E, tenho que admitir, ouvi o que você disse a Chloe. Não conhecia Ruelle, mas peço minhas sinceras desculpas, de qualquer modo.

E piedade — ele podia ver isso em seus olhos! Fúria assolou dentro dele.

— Não quero sua maldita piedade! — Com Chloe segura em um braço, ele atacou de forma incontrolável, arrasando uma árvore. — Quero que minha companheira fique bem!

Nieve murmurou para a mãe.

— Eu não disse que ele era louco?

Gisela disse a Will.

— Ela precisa vir com a gente, à família dela. Somos capazes de curá-la.

— Ir com você? Você deve ser uma porra de uma idiota! Nunca vou deixar essa criatura fora da minha vista. Você me entende? Nunca!

Nieve disse.

— Quer a nossa ajuda ou quer que ela morra em seus braços?

— Morra? — Não posso perdê-la! — Ela é imortal agora. Ela não pode.

Gisela disse com tristeza.

— Acredito que Chloe morrerá.

Ele bufou com medo. Minha pequena companheira...

— O que vai fazer?

— Levá-la para minha casa no Reino de Ubus. Sou uma curadora e tenho remédios lá. Nosso portal está logo ali. — Ela apontou para uma área que parecia ser o restante da floresta.

Mas agora ele podia sentir uma diferença. A porta para aquele plano estava na porra de sua floresta?

Fazia sentido — era de onde Ruelle viera.

E estas duas esperavam que ele permitisse que sua companheira viajasse através desse mesmo portal? Ouviu falar que os homens que foram para o Reino de Ubus não retornaram.

A menor de suas preocupações. Ele podia confiar Chloe a estas fêmeas?

— MacRieve, tenho uma boa ideia do que aconteceu com ela. — Gisela estendeu os braços. — Dê ela para mim e juro pelo Lore que vou fazer tudo ao meu alcance para salvá-la.

Um voto inquebrável.

— Não há muito tempo. — ela continuou. — Se eu estiver certa, então ela vai adoecer mais a cada momento que nos atrasarmos. Preciso de meus instrumentos para diagnosticá-la.

— Lykae são teimosos, criaturas ignorantes. — Nieve disse friamente. — Ele não vai fazer o que é necessário para salvá-la.

Will olhou para Chloe. Ela tinha a pequenina mão pressionada contra o peito dele. Diretamente sobre seu coração.

— Por que devo dá-la a você?

— Nossos guardiões do portal não vão deixá-lo passar na noite de lua cheia, especialmente na sua condição — sem camisa, queimado, de olhos arregalados, um batimento cardíaco de se transformar? —, a não ser que nós tivermos alguma garantia de que não vai prejudicar os outros. Chloe é essa garantia. Deve confiá-la a mim.

“Confie”. Seu Instinto aconselhou. Mas sua história disse que ele deveria estar fugindo com Chloe.

O Instinto ganhou. Will estremeceu quando a entregou, sons de lobo irromperam de sua garganta, enquanto ele e sua besta reagiam.

Gisela apertou Chloe com força, maternalmente. Com um olhar para Will, Nieve atravessou o portal, sua mãe atrás dela.

Embora nunca mais pudesse voltar para sua casa novamente, Will estava diretamente nos calcanhares delas, atravessando sem hesitação.

Onde sua companheira for, você segue...

 

Blocos de leilão de escravos, haréns, servos do sexo acorrentados...

Ao longo dos séculos, Will imaginara o Reino de Ubus com milhares de luzes sórdidas. Enquanto seguia a Súcubo através do portal, ele se preparou, esperando ver todas as suas piores imaginações.

Tal como acontecia com muitos planos, este era um cubículo escondido dentro de um mundo mais amplo, com a mesma temperatura das terras vizinhas, ao mesmo tempo.

O mesmo ciclo lunar.

Uma vez que eles transpassaram os guardiões do portal — e dois Íncubos impassíveis cujos pés não tocavam o chão — Will estalou os dedos para Chloe.

— Entregue-a para mim.

Gisela colocou um cacho atrás da orelha de Chloe, então relutantemente devolveu-a aos braços de Will.

— Minha casa é bem ali. — Ela apontou para uma fileira de grandes casas nas colinas no outro extremo de uma rua ladeada de lojas. Uma arquitetura que poderia ser encontrada em qualquer pitoresca aldeia das Highlands.

Eles caminharam em direção à colina. Não queria tirar os olhos de Chloe, mas obrigou-se a prestar atenção ao seu redor, no caso de precisar sair às pressas.

As lojas pelas quais passavam não eram diferentes das de qualquer cidade típica Europeia, uma rua como tantas ruas principais, só que sem carros ou luzes elétricas.

Ele sentiu o cheiro de espécies de todos os tipos, não apenas o povo Ubus. Ainda sentiu o cheiro de... outro Lykae? Um cheiro azedo que fez cócegas em seu nariz. Maçãs? O que deveria ser pomares disto. Por que diabos eles produziam comida?

Pouco antes da colina havia um campo gramado. Will deu um segundo olhar.

Um jogo de lacrosse estava em curso?

Garotos de aproximadamente doze anos estavam jogando um agressivo jogo de vale tudo. Will piscou quando viu algumas jovens Súcubos participando também. Os pais estavam torcendo do lado de fora.

Nieve notou sua perplexidade.

— O quê? Ubus não podem praticar esportes? Os humanos não dominam o mercado no lacrosse.

Durante os últimos nove séculos, se tivesse pensado sobre crianças Ubus, ele as imaginaria em alguma mal iluminada escola de treinamento em arruinar vidas e vítimas desavisadas...

Fontes alinhavam-se à beira do campo. Gargalhadas em um piquenique. Crianças empinando pipas.

Malditas pipas.

Nieve disse.

— Nós não somos muito diferentes dos Lykae.

— Tem uma grande diferença entre nossas espécies. Então por que aqueles Ubus estão estendendo banquetes de comida?

Nieve franziu o cenho.

— Por que não?

Gisela disse.

— Da mesma forma que vampiros jovens, nossos filhos comem comida da terra até que congelem em sua imortalidade; fêmeas geralmente em seus vinte anos, machos na casa dos trinta. Até então, essa necessidade está dormente.

Assim como Chloe esteve.

Nieve ainda estava franzindo a testa. Então seus olhos se arregalaram. Baixinho ela sussurrou.

— Ele é perverso, mãe. Quem pensa assim?

— Forasteiros raramente compreendem nossos costumes. — Gisela murmurou de volta. — Lembre-se, ele é um dos gêmeos.

O que isso significava? Ele moveu Chloe em seus braços, puxando-a mais perto de seu peito.

Nieve atirou por cima do ombro.

— Aposto que espera escravos acorrentados e conduzidos por mestres com chicotes? Orgias na rua?

Exatamente o que esperava. A julgar pelas bandeiras penduradas sobre a rua, a próxima reunião pública era... a Feira da Sidra.

Ele sentiu um pingo de vergonha que explodiu em raiva. Esta bruxa Nieve não precisava forçá-lo neste dia.

— Como poderia esperar alguma coisa diferente? Meus encontros com sua laia formaram minhas opiniões!

Gisela lançou-lhe um olhar de desculpas.

— Sim, bem, qualquer Ubus em seu reino era mais como... exilados do nosso. Ou a descendência deles.

— O quê? — Ele não ouviu corretamente.

— Séculos atrás, alguns nobres foram condenados por um crime injusto e foram expulsos.

— Dentro das terras da minha família? — Inspire, expire. Não mate os parentes de sangue de Chloe.

Nieve disse.

— Não houve muitos.

— Bastou apenas uma! — Pessoas fazendo piquenique viraram-se para olhar para ele. Crianças olhavam para ele com olhos de coruja — e não pareciam diferentes de crianças Lykae.

Ele apertou sua companheira mais forte, olhando para ela. Chloe, eu fui uma porra de um estúpido.

— Vamos discutir isso lá dentro. — disse Gisela.

Ele segurou a língua enquanto subiam a colina até a casa dela.

Ele cruzou o limiar. A segunda casa súcubo na qual já pisou dentro.

Esta era muito diferente da de Ruelle. Nesta, ornamentos da óbvia opulência: cristais, um lustre dourado, tapetes macios, intricadas peças de madeira. As cores eram discretas. Esta era, estava relutante em admitir, uma casa na qual poderia viver.

Quando seguiu as duas fêmeas pelas escadas, aromas medicinais ficaram mais forte.

— Aqui é meu consultório. — Gisela conduziu-o a um quarto com uma cama de solteiro, cercado de prateleiras com frascos e garrafas que rivalizavam com a loja de qualquer antigo farmacêutico. Incensos queimavam, ainda assim não era enjoativo.

Gisela indicou que deveria colocar Chloe na cama. Will se sentou ao lado dela, lutando contra sua besta e seu próprio protecionismo, para permitir que uma Súcubo examinasse Chloe.

— Vou tirar sangue dela. — Os instrumentos de Gisela pareciam antiquados, mas limpos. Ela empurrou a pulseira de Chloe, em seguida fez uma pequena incisão no pulso dela, pingando sangue em um prato. — Sinto poder nesta pulseira. Preciso saber o que ela faz.

— Possibilita que esteja escondida dos inimigos. — Ele esfregou a mão sobre a nuca. Vá em frente então, Will. — E a impede de engravidar.

Gisela assentiu.

— Acredito que foi uma decisão sábia da parte dela. Pelo menos até que possa entender sua nova vida.

Não foi decisão de Chloe. Ele impingiu isto a ela. Slaoightear.

Nieve cruzou os braços sobre o peito.

— Eu digo. Ela provavelmente está mantendo suas opções em aberto. Não sabemos com certeza se você é o macho predestinado a ela.

— Predestinado. — ele engasgou. — Está dizendo que Ubus tem... companheiros? — Isto não ficaria no caminho de sua pesca por inúmeras vítimas para violar?

Nieve deu-lhe um olhar que dizia dãã.

— Ficamos tão comprometidos como Lykae acasalados. A maior parte daqueles pais que você viu no campo são casais de Íncubos e Súcubos.

— Isso não é nem mesmo possível. — Se ambos são sugadores de energia, precisam de uma fonte externa. — Dois negativos não faz algo positivo.

— Na verdade, isso não é bem verdade. — disse Gisela. — Se uma Súcubo e um Íncubo estão predestinados, tornam-se ainda mais fortes com sua união. Mas então, todos os Ubus recebem — e dão — resistência cada vez que se juntam com seu predestinado.

Will estava mais forte depois de tomar Chloe? A primeira vez tinha ficado bêbado. Na segunda vez, estava rosnando para ovelhas, sentindo-se como um imbecil por magoá-la.

Seus olhos dardejaram. E se ela fosse dele — e ele não fosse dela?

Nieve disse.

— Sei o que está esperando pela minha prima. — Em voz baixa, perguntou a sua mãe — Você pode imaginar o parto de uma ninhada de Lykae?

— Você acha que não posso ouvi-la. — ele retrucou, mais raiva de si mesmo do que dela. Estar aqui, aprendendo sobre essas pessoas não era... confortável. Sentia-se como se seu preconceito estivesse sendo desmantelado, com uma bola de demolição.

Ele lembrou-se de uma batalha muito tempo atrás quando sofreu um golpe de clava em sua couraça favorita, o metal amassado cortando sua pele através do tumulto. Depois observou o ferreiro martelar e martelar, trazendo-a de volta à sua forma original.

Aye, Will foi distorcido por Ruelle... mas talvez ele pudesse ser forjado de novo, uma martelada de cada vez?

Talvez eu esteja sob o martelo do ferreiro agora.

Depois de Gisela recolher algumas gotas de sangue da Chloe, acrescentou um pó branco nisso.

— Agora temos que esperar quinze minutos pelos resultados do teste. — Ela pegou a menor de cinco ampulhetas, em seguida virou-a de cabeça para baixo para iniciar a contagem.

— O que acha que há de errado com ela?

A mulher olhou para longe.

— Hesito em dizer. Vamos aguardar os resultados.

— Por que não veio até Chloe nos últimos anos?

— Nós não tínhamos ideia de que ela existia até que uma Súcubo escapou de uma prisão da Ordem, apenas algumas semanas atrás. Ela voltou falando sobre Chloe e Webb. Acredito que esteja familiarizado com a Ordem.

Ele lançou-lhe um sorriso cruel.

— Estou surpreso que alguma Súcubo daquela prisão viveu para contar histórias, já que decapitei cinco delas.

Nem Gisela nem Nieve pareceram chateadas por isso.

— Na verdade uma Súcubo chamado Dehlia fugiu com um guarda, um que foi plantado lá para espionar a Ordem. Você se lembra de Calder Vincente? Eles estão casados ​​agora.

De todos os guardas, Vincente foi o único que Will poderia ter considerado poupar.

— Espere, por que você falaria com aquela Súcubo? Ela não era uma pária? E por falar nisso, e a mãe de Chloe não era?

— Eu disse que os Ubus em seu reino eram na maioria prováveis ​exilados ​do nosso. Há também caçadores encarregados de executar os exilados. Dehlia era uma deles. Como também Fiore. Minhas três irmãs percorreram o mundo exterior até agora. Além de mim, a nossa família é composta por caçadores.

Confusão agitou-o. Ele acariciou a testa de Chloe para acalmá-la.

— Então está me dizendo que a mãe dela era uma caçadora de Súcubos más?

— Sim. Com muito sucesso. — Gisela estava inconfundivelmente orgulhosa de sua falecida irmã. — Ela foi a melhor de todas elas, agressiva e implacável.

Então foi a ela que minha companheira puxou.

— Mas por que expulsar os criminosos apenas para despachar caçadores atrás deles?

— Eras atrás tínhamos pouca noção de seu mundo. — disse Gisela. — Somos autossustentáveis aqui, não tínhamos nenhuma razão de um portal. Naquela época nossos líderes acreditavam que a fenda era apenas para dispor de quem queria prejudicar os outros. Mas depois da Guerra Murkian...

— Murkian? — Ele beliscou a ponte de seu nariz, tendo uma sensação de que não quereria ouvir o que estava por vir.

— As criaturas do Bosque de Murk aumentaram, descobrindo nosso portal. — Nieve respondeu, soando como se recitasse um livro didático. — Dobrando o número de fêmeas e recursos, eles atacaram, invadindo. Lutamos com eles de volta com maior número, mas tínhamos apenas alguns soldados treinados. Nossos inimigos eram perversos, continuaram vindo até acharmos que Ubus cairia.

— E? O que aconteceu então? — Ele perguntou, ainda desconcertado que Ubus não tivesse apenas guardiões, mas caçadores e soldados. E rapazes fortes e moças que gostavam de esportes.

Por alguma razão, Nieve franziu os lábios, então Gisela respondeu.

— Fomos salvos por você e seu irmão quando lideraram as forças para livrar o Bosque de Murk do mal.

Você está brincando comigo.

— Nós ajudamos vocês?

— Nosso reino estaria perdido. Uma vez salvo, percebemos o quão injusto o nosso sistema de exílio foi com sua família e sua gente. Ninguém tinha ideia que você foi... afetado pessoalmente.

Will repetiu.

— Nós ajudamos vocês?

— Você se arrepende de suas ações? — Gisela perguntou em tom severo. —Se não fosse por sua ajuda centenas de anos atrás, Fiore nunca teria nascido, muito menos enviada ao mundo para caçar. Ela nunca teria sido presa pelo comandante Webb, nunca teria dado à luz a sua companheira. E Chloe não existiria.

Will recostou-se, atordoado em seu âmago. Porque ele poderia assumir a cadeia de eventos no passado, um passo a mais. Will nunca teria sugerido invadir o bosque se não estivesse cheio de raiva — de Ruelle.

Aquela vadia tinha determinado o movimento do destino. Sem ela, não haveria Chloe.

Sem seu tormento, não haveria Chloe. O destino é a nossa crença.

Ele lembrou que os olhos dela tinham brilhado quando ele contou sobre Ruelle. Chloe estava assolada pela febre — e ainda em cada linha do corpo dela, viu a feroz necessidade de lutar.

Por mim, ele pensou em confusão. Ela queria lutar por mim. Isto o humilhou, e deu-lhe esperança. Agora que sabia que tudo estava predestinado, sofreria seu tormento de novo apenas para ver aquele olhar em sua companheira.

Como diabos sempre associou os expressivos olhos brilhantes de Chloe com o olhar malicioso de Ruelle?

— O que aconteceu com Fiore?

— Ela deve ter sido forçada a usar seu exalar em Webb para tentar escapar ou porque estava morrendo de fome. — disse Gisela. — Nós evitamos claramente o acasalamento com humanos por causa das fraquezas inerentes de Cambions.

— Quais pontos fracos?

— Uma Cambion pode morrer de fome. — Quando Will registrou isto com um novo pico de alarme, Gisela acrescentou. — E também ela não pode exalar.

— Esta pode. — Houve momentos em que estava descontrolado pelo desejo por Chloe. Ontem gritou com ela “Estou voraz por você pra caralho!” enquanto empurrava com toda força — tão feroz como a besta que o sucedeu.

Agora, ele disse.

— Não vai me convencer de nada diferente.

— Verifique os lábios dela. — disse Nieve. — Deve haver uma abertura lá. — Ela ergueu seu próprio lábio superior, apontando uma fenda dentro, um pouco acima da borda superior.

Will checou Chloe. Toda maciez.

E o martelo desceu mais uma vez. Ele deu uma risada enlouquecida. Quantas vezes abusou dela, em seguida culpou-a por exalar? Tomou sua virgindade como um monstro, então criticou quanto controle ela tinha... dele. Quando sentiu ternura por ela, quando queria abraçá-la... não foi o exalar.

Não, estava se apaixonando por ela. Tudo por conta própria.

Eu a amo. Eu amo Chloe MacRieve.

Nieve disse.

— Sem essa capacidade, ela é muito vulnerável.

Sua cabeça açoitou.

— Você considera o fato dela não poder estuprar algo negativo? A ausência deveria ser evitada a todo o custo?

O tom de Gisela estava indignado.

— Entenda-me lobo, a única vez que uma Ubus decente usaria o exalar seria se estivesse morrendo de fome. De preferência usaríamos isto apenas sobre quem estivesse nos matando de fome.

— Não entendo.

— Súcubos são sequestradas e mantidas em cativeiro, muito mais do que qualquer outra espécie. Não se esqueça de que a própria mãe de Chloe era uma cativa. Se raptassem Chloe de você e ela não pudesse atrair nutrição, então poderia morrer antes que você a encontrasse. Ponto.

Ele engoliu em seco.

— Como Fiore morreu?

— Vincente nos informou que ela tentou fugir com Chloe logo após o nascimento. Webb capturou-a e a matou. Ele ia matar Chloe também, mas os exames de sangue dela indicaram que era humana...

— Meu pai ia me matar? — Chloe disse fracamente, exatamente quando a ampulheta esvaziou.

 

— Chloe, moça, fique comigo! Fique acordada.

Ela estava em uma cama, parecia que tudo estava girando. Sua dor estava pior, a náusea insuportável. Mal podia processar o que acabara de ouvir.

MacRieve ajoelhou ao seu lado, apertando a mão dela entre as suas. Antes dela desmaiar mais cedo, ele pareceu enlouquecido. Embora parecesse mais controlado agora, por baixo ainda fervia com alguma coisa.

— Nós estamos com sua tia. No Reino de Ubus. Estamos quase conseguindo curar você.

Em uma voz turva, ela disse.

— Eu não tenho tia.

Ele deslizou uma mão por baixo da cabeça dela, erguendo-a suavemente para que pudesse ver duas mulheres ao pé da cama. Ela reconheceu-as do muro em Glenrial. Eram tão bonitas, ambas pareciam ter sua idade.

— Agora tem, amor. Esta é sua tia Gisela — ele assinalou a de cabelo preto —, e sua prima Nieve. — ele disse, indicando a morena.

— E-eu tenho família?

— Pelo que dizem é... extensa. — ele respondeu, mas ela não conseguiu ler seu tom. Ele não soou enojado. Depois do que disse a ela mais cedo, deveria odiar todas as Súcubos.

— Hmm, oi. — Chloe murmurou para elas. Tentou acenar, mas não podia erguer o braço.

— Descanse. — disse Gisela, e mais uma vez Chloe ficou impressionada pela forma carinhosa como essas duas olhavam para ela. Tão distantes de maliciosas e malvadas. — Você está segura aqui. Quando estiver melhor contaremos tudo a respeito de Fiore e Webb.

Ela realmente disse que Webb tinha considerado matar sua própria filha? Ainda mais vagamente, Chloe pensou ter ouvido que Fiore morreu pela sua mão.

Gisela deslizou para um balcão, espiando em um prato raso.

— Por enquanto, você deve se concentrar em melhorar.

— Eu me sinto até pior. O que está errado comigo?

— Boa pergunta. — MacRieve disse. — Nós estamos prestes a descobrir.

Gisela deu um olhar de canto em direção à sua filha.

— A maldição do ódio.

MacRieve engoliu em seco audivelmente, as mãos dele apertando as dela.

— O que isso quer dizer?

— Ela está gravemente doente. Como eu suspeitava, ela está... em um ponto crítico.

— P-ponto crítico. — Chloe disse através de outra onda de tremores. — Morrendo?

Quando Gisela não negou, MacRieve disse.

— Não, não entendo isso! Ela não está ferida. Não está definhando.

— Não, ela recebeu alimento. — Nieve disse brusca. Até mesmo na condição de Chloe, ela pôde ver que Nieve não gostava dele. — Na verdade, ela está envenenada.

Ele exalou um suspiro trêmulo.

— Sabia que fui eu quem causou isto, mas não sabia como.

Nieve disse simplesmente.

— Uma parte de você deve tê-la odiado.

Dada sua história, é claro que MacRieve me odiava.

Gisela fez uma cara feia para sua filha mais contundente, então disse.

— No Lore, a maior parte dos poderes são temperados com fraquezas. Sim, Súcubos — e até Cambion — têm a capacidade de vincular um macho a elas com veneno. Este é um dos nossos poderes. Mas o macho deve querer aquele vínculo também.

— Eu não entendo.

Então somos dois.

— O veneno se reverte para nós mesmos se uma de nós nos acasalarmos com um homem relutante mais de uma vez. Uma vez poderia ser perdoado, pode ser a diferença entre a vida e a morte. Mas depois disso, toda vez que ela tira dele, adoecerá da mesma forma que os machos fazem depois de tomar o veneno.

— É por isso que ela tem os sintomas que eu tive quando fui vinculado a Ruelle.

Estas mulheres sabiam que ele foi envenenado? Ouviram sua confissão de antes?

— Exatamente. Um macho adoece pela abstinência, uma Súcubo pelo excesso. A maldição do ódio impede que os machos sejam escravizados pelo exalar e envenenados contra sua vontade.

— Isso não aconteceu com Ruelle.

Gisela lançou-lhe um olhar triste.

— Porque naquela época você acreditava que a amava, não foi?

Um som estrangulado subiu do seu peito.

— Então eu envenenei Chloe. — Ele trouxe distraidamente a mão de Chloe ao seu rosto, esfregando-a em sua bochecha.

Ansiando o toque de sua companheira? Ela queria acariciar seu queixo, dizer que tudo ficaria bem. Mas estava muito fraca.

— Considerando o que sofreu, você foi compreensivelmente avesso à sua companheira. — Gisela disse. Então se virou para Chloe. — O bom é que você vai se recuperar completamente se agirmos depressa. Temos consortes aqui para ajudá-la, alguns que já se provaram bem potentes. Descanse, sobrinha, tudo que você precisa é alimento não contaminado.

— Consortes? — Chloe olhou para MacRieve. Ela não queria dormir com outro homem; certamente MacRieve deteria isto!

O queixo dele caiu quando entendeu as palavras da Gisela.

— Você quer que eu me sente e permita que outro macho tome minha mulher? — Sua cabeça de repente foi para trás como se tivesse tomado um tapa; provavelmente seu Instinto gritando com ele.

Ela podia imaginar o que estava dizendo nesse exato instante “Porra, não!”.

— Seria uma grande honra entre os consortes daqui se acasalarem com a filha da Fiore. Chloe poderia estar bem com sua primeira tomada. Se não, então certamente na segunda.

Duas vezes?

MacRieve se levantou de um salto, metendo-se entre eles e Chloe.

— Vocês enlouqueceram?

Nieve disse.

— Se a amasse faria isto por ela. Você conseguiu deixá-la doente e é muito egoísta para fazer o que é certo. Pense, lobo, se nada for mudado, você simplesmente a envenenará novamente. Ela não sobreviverá a isto.

Gisela disse.

— Provavelmente a mataria.

Isso fez Chloe refletir. Ela não queria morrer, em parte porque não queria que ele morresse. E depois do que ele disse a ela esta noite, não podia imaginá-lo de peito aberto, sem reservas, fazendo sexo com ela e tomando seu veneno. Em um tom melancólico, ela disse.

— MacRieve, não quero outro homem. Mas eu não... não posso tomar mais nenhum... veneno. E me sinto como... se restasse pouco tempo.

Ele voltou para a cama para aconchegar seu rosto suavemente na palma da mão dele.

— Vamos fazer você ficar bem. Se for deste modo que vou mantê-la viva, então nenhum homem poderia estar mais disposto. Farei qualquer coisa para manter você.

Nieve adicionou.

— Ainda que você neutralizasse o ódio, sua besta a mataria na noite de lua cheia. Ela está muito debilitada para resistir a isso.

Chloe afastou o olhar para longe. Seus ossos ainda pareciam como se estivessem destroçados; o que foi uma brincadeira agradável com sua besta seria tortura agora.

— Eu não posso... é demais.

— Chloe, minha besta não vai ascender. Sei que não tem nenhuma razão para confiar em mim nisso, mas estou pedindo a você para acreditar em mim de qualquer maneira.

Gisela sacudiu a cabeça.

— A lua está despontando nesse instante. Um Lykae acasalado não pode suprimir sua besta por pura vontade. Simplesmente não é possível.

Ele mostrou os dentes para ela.

— Só porque nunca foi feito antes? Esta noite farei o que for preciso.

— Você joga com a vida dela.

— Em primeiro lugar, é a nossa vida. Se ela morrer, eu a seguirei. Em segundo, você nunca viu um Lykae com mais motivos para ser gentil com sua companheira. — Conforme ele a recolhia carinhosamente em seus braços pareceu assombrado, com pesar.

O que tinha acontecido enquanto esteve desmaiada?

— Mãe, você está considerando isto? — A mão de Nieve pousou... no cabo da espada? — Seus irmãos ficarão furiosos. — Ela moveu-se para bloquear a porta.

— Acredito que sua gente me deve isso. — disse MacRieve. — Estou levando minha companheira para casa. Agora, saia da porra do caminho.

Destemida, Nieve disse.

— Chloe precisa decidir. — Em um movimento rápido, ela desembainhou sua espada, apontando-a para ele. — Esta é sua vida, sua decisão.

— Aye. É. — Ele atraiu Chloe para perto dele, seu peito quente e nu apertando-a contra seu coração. Quando baixou o olhar para ela, ele acelerou. Os olhos dele estavam dourados e cheios de uma emoção que ela nunca viu nele. — Não é minha responsabilidade alimentar você, é meu maldito privilégio. Deixe-me fazer isto.

— Mas e meu veneno? Você terá que aceitá-lo desta vez.

— Escute-me, mo Chridhe. Anseio qualquer vínculo com você, vasculharei esta Terra por mais. Quero meu corpo vinculado ao seu, minha alma acorrentada à sua. Com qualquer laço que eu puder encontrar, vou nos ligar ainda mais apertado. Teremos casamento, filhos, uma nova linhagem entre nós! — Com uma voz rouca, ele disse — Eu posso fazer isto. Por nós, eu posso. Estou te implorando, moça. Acredite em mim...

 

Will carregou sua companheira semiconsciente segura em seus braços enquanto passava pelos guardas Íncubos. Saltou pelo portal para cair no chão que atravessava o Bosque.

Chloe confiou nele, colocando a vida dela em suas mãos. Se não estivesse cercado pelo pânico, uivaria para o mundo inteiro sobre esta fêmea.

SALVE-A! Centenas de anos atrás, seu Instinto lhe ordenara deste modo. Mas não pôde salvar sua mãe. Olhou para baixo ao corpo inerte de Chloe.

— Aguente firme, amor!

Enquanto corria para Conall, a lua apareceu entre as nuvens dispersas, e sua luz começou a se filtrar pelas copas das árvores. Se ele seria o primeiro Lykae a negar sua besta na noite de lua cheia, precisava evitar sua luz sedutora. Ele se esquivaria dos feixes de luz quando conseguia, cada um deles como a sensação de um raio escaldante.

Só chegue à fortaleza. Gisela lhe deu uma poção que aliviaria Chloe do pior de sua dor, mas somente por uma breve janela. Leve-a para a fortaleza, use a poção.

Em seguida faça amor com ela. Gentilmente. Apesar dele nunca ter feito antes.

Quando ela gemeu de dor, duvidou de si mesmo, de sua decisão. Eu errei. Sabia que de alguma forma era o culpado por isso. Seu Instinto com toda certeza sabia. Esteve guiando-o para destruir a memória de Ruelle, antes que Will destruísse sua companheira com seu próprio veneno.

Inclusive agora ele sentia o cheiro da fumaça remanescente da cabana. A próxima chuva lavaria aquele mau cheiro para longe.

Logo antes de disparar no Bosque, ele pensou ter sentido o cheiro de outro perfume — uma leve sugestão de... dos Antigos, bem distante. Não morreram? Eles não seriam nenhuma ameaça para Will ou sua companheira — se ela fosse reivindicada e marcada com a mordida de Will.

Logo...

A fortaleza estava à vista. Teria que atravessar os campos sob o luar. Ele poderia se impedir de transformar e tomá-la na grama?

Algum destino benevolente sorriu para ele, encobrindo a lua com nuvens à deriva.

— Estamos quase lá, Chloe.

Ele se arremessou pela porta, subiu as escadas com um grande pulo. No quarto ele a deitou na cama, então correu para as janelas. Aqueles compartimentos foram posicionados para captar a subida da lua.

Enquanto esticava os braços para fechar as cortinas, a lua surgiu dentre as nuvens; a luz explodindo nele como um refletor.

Ele estremeceu, sua besta se agitou. Will fechou as cortinas com um arranco, balançando sua cabeça dura. Não, não esta noite! Fique na porra da sua gaiola!

Voltou para sua companheira. Ele removeu as roupas dela o mais suave que pôde, arrancando as suas, então agarrou o frasco com a poção.

Seus tremores estavam piorando, seus dentes começando a tiritar.

— MacRieve, dói tanto.

— Eu sei, baby, sei exatamente. Aqui. — ele abriu o frasco. — Você precisa tomar isto. — Ele segurou a parte de trás da cabeça dela, erguendo-a para que bebesse. Um pouco escorreu pelos seus lábios. O peito dele se apertou enquanto secava ternamente o líquido.

Agora, esperar.

— O que aconteceu enquanto eu estava desmaiada? — Ela perguntou com uma voz abafada. — Você está tão... diferente.

Ele afastou o cabelo dela da testa.

— Explicarei tudo amanhã. Por enquanto, só saiba que eu estava falando sério, quero tudo de você.

Os olhos dela ficaram um toque mais brilhantes.

— Mas como pode esquecer o que sou? Assim que eu me sentir melhor, certamente vou exalar e...

Ele a cortou com um beijo rápido.

— Você não tem essa capacidade. Uma Cambion pequenina como você não tem nenhum controle sobre mim. Você nunca teve.

— O quê?

— Imagine meu choque depois que te culpei por toda essa coisa. Ah, moça, tenho tanto para compensar. A começar por hoje à noite. — Apenas me deixe ser seu companheiro.

— Você pode realmente manter sua besta presa?

— Evitei a lua o máximo possível. Posso fazer isto por você, Chloe. Por nós.

— A dor está diminuindo. Eu me sinto um pouco mais forte. — O primeiro movimento que ela fez foi acariciar a bochecha dele. O paraíso.

Ele caiu de cabeça, começou a esperar que pudesse reivindicar seu coração também.

Se ele pudesse salvá-la. Lembrando-se do tempo, começou a beijar seu pescoço, arrastando-se para seus seios.

— Esta primeira vez deve ser rápida, antes de a poção dissipar. — Tudo que ele tinha a fazer era ser rápido, mas gentil, e manter sua besta à distância.

O que podia dar errado?

Enquanto tomava um mamilo entre os lábios e começava a chupar, mergulhou a mão entre suas coxas para afundar um dedo dentro dela. Deuses, sua cavidade sedosa era tão quente enquanto apertava seu dedo. Mesmo em pânico, seu pau estava duro como uma pedra por causa desse aperto, a umidade brotando na coroa.

No momento em que ele se moveu para o seio dela e cravou um segundo dedo em seu interior, ela estava balançando o quadril e montando seus dedos. Respondendo tão perfeitamente.

— Está melhor, moça?

Ela acenou com a cabeça.

— Estou pronta. Eu acho.

Ele teria gostado de prepará-la mais, levá-la até o limite. Eles não tinham tempo. Moveu-se entre as pernas dela, esfregando seu pau, apontando-o para sua abertura. Com um rolar sutil de seu quadril, ele começou a avançar lentamente seu comprimento dentro dela.

— Estou te machucando?

Seus olhos arregalaram.

— Não, mas alguma coisa está diferente... — Ela mordeu a parte inferior dos seus lábios. — Eu, uh, recebi uma escassa pista do que está por vir, por assim dizer.

Seu pré-sêmen.

— Imagino que essas pistas não são tão escassas. Mesmo agora, você me deixou louco por você.

Ela gemeu, contorcendo-se em sua vara para levá-lo ainda mais fundo.

— É pura energia, como adrenalina. Mais forte do que jamais conheci.

Porque não estava mais contaminado. Pressionando beijos molhados em seus seios inchados, ele balançou entre as coxas tensas dela. Quando Chloe agarrou seus ombros e foi ao seu encontro, a besta se glorificou com seu bem estar e quis sua vez dentro dela. Esta era a primeira lua cheia com sua companheira; a noite era da besta por direito.

E a besta queria o lhe era devido.

Will recusou. Deslizou os dedos pelo lado de Chloe, então alcançou entre eles para golpear seu clitóris. Ele gemeu ao encontrar aquele pequeno broto tão firme e sensível.

Ela gemeu, ondulando o quadril para mais toque, para mais de seu membro.

— Ah, seus olhos estão ardendo!

Ela prontamente os fechou.

— V-você odeia essa cor.

— Não mais, porque posso vê-los claramente agora. — Ele beijou uma pálpebra, depois a outra. — Eu os acho tão bonitos, Chloe. Preciso vê-los. Se seus olhos brilham, saberei que está melhorando.

Ela abriu uma fresta. O que quer que ela viu em sua expressão a fez relaxar, os cantos de seus lábios curvando.

Aye, ele precisava ver seus olhos e precisava sentir sua Súcubo puxar. Ele sabia o que sentia por ela, sabia que a nutriria bem. E quanto mais ela se alimentasse, mais forte seria. Só quando sentisse aquele último puxão dela é que relaxaria sua preocupação.

Deitou completamente em cima dela, testa com testa, suas mãos serpenteando atrás dela para apertar sua bunda com os dedos espalhados. Ele a segurou no lugar debaixo do seu corpo, de forma que os mamilos duros dela achatavam-se em seu peito suado, fazendo a base de sua ereção esfregar seu clitóris a cada punhalada.

Apesar dele mal saber como, estava controlando sua besta. Ainda que a necessidade de marcar o pescoço dela o atacou. Ela ainda estava muito fraca; podia derrotar essa urgência.

Por enquanto...

Um feixe de luz da lua que estava subindo deslizou por uma fresta nas cortinas e brilhou diretamente em seu rosto.

 

Luz iluminou os olhos azuis gélidos dele.

— MacRieve? — Embora Chloe já estivesse mais forte, cada vez que seu membro pulsava dentro dela, recebia um golpe de adrenalina, ela não estava pronta para a ferocidade da besta.

E o remédio para dor começou a perder o efeito.

— E-eu preciso que você fique comigo.

Ele prendeu os pulsos dela acima da cabeça, seu rosto bem acima do dela, seu olhar perfurando o dela.

— Vou te dar o que você precisa. Eu mantenho o controle, Chloe. — Com uma expressão atordoada, ele disse. — Estou no controle. Disto, de tudo.

Pela primeira vez em sua vida.

— Vou ser bom para você. — Ele se debruçou até tomar seus lábios.

Entre beijos, ela murmurou.

— Você é... você é.

Ele continuou subindo seu grande corpo sobre o dela, cobrindo-a completamente. A cada punhalada o quadril acariciava suas coxas. Embaixo dos tornozelos dela, a bunda musculosa flexionava para dirigir seu pau mais fundo, penetrando-a até o cabo. Seu peito esfregava acima dos seus seios, enquanto a base do seu membro inflexível batia em seu clitóris sensível.

Ela estava prestes a ser levada ao clímax por este macho quente e nervoso. E a intensidade vertiginosa de seu crescente orgasmo era... assustadora.

Com sua voz rouca e seu sotaque pronunciado, ele disse algo em gaélico.

— O que você disse?

— Você me deixou atender seu fogo, e hoje à noite está me queimando, fazendo com que me sinta limpo. Posso ser o que você precisa. — Na orelha dela, ele disse em uma voz áspera. — Vou te deixar bem alimentada, companheira. Darei a você tudo que tenho em mim. Sempre. — Ele mexeu o quadril em um movimento circular, moendo sua seta grossa contra ela. — Tudo para você.

— Oh, Deus, oh, Deus... — Mais punhaladas, mais remexidas. Mais MacRieve. Essa intensidade atordoante manteve-se crescendo até que ela estava choramingando, remexendo-se embaixo dele, dois corpos escorregadios se contorcendo.

Ela estava insensível, uma escrava do prazer para seja o que for que este homem quisesse dela.

O êxtase a atingiu.

— MacRieve! — Ondas batendo a agarraram conforme ela gritava. — Mais! — Em uma precipitação molhada, sua vagina se contraiu ao longo do comprimento dele, faminta pelo calor dele inundá-la.

— Chloe, ah, deuses! Você está me puxando tão forte...

Ela o apertou com tanta força que ele parou de empurrar...

As costas dele curvaram.

— Mulher! Isso é forte! — Ele berrou com descrença. — Tome de mim! — Ele rugiu enquanto um fluxo de semente quente atirava-se para dentro dela.

Ela ainda estava se contorcendo em seu próprio orgasmo quando o sêmen dele a encheu, uma pulsação escaldante após a outra.

No último instante, seu corpo inteiro empurrou.

— Este é o seu puxão, baby. É isso. — Com a boca aberta e os olhos revirando para trás da cabeça, ele disse com voz áspera. — Tome lá do fundo de mim. Tome minha semente bem fundo...

 

Quando o cérebro de Will pôde registrar pensamento mais uma vez, uma concretização era mais importante: eu sou seu companheiro.

Chloe o fortalecera. Na verdade, seu novo poder era tão impressionante que temia machucá-la. Ela ainda estava deitada com os olhos fechados. Quando ele começou a ficar duro novamente, forçou-se a se retirar e rolar seu peso fora dela.

— Você está melhor, moça? — Achou que foi gentil com ela. Esta noite controlou sua besta tão completamente que soube que poderia lidar com isto tal como qualquer Lykae. Melhor ainda! Mesmo assim, ele deve tê-la machucado. — Chloe, eu fiz...

De repente ela arqueou as costas com os braços caindo por cima de sua cabeça. Quando as palmas das mãos bateram na cabeceira da cama, a madeira sólida rachou.

Will deixou escapar um pequeno som chocado.

— Uau.

Ela se empinou com os olhos acesos.

— Você é meu companheiro?

— Oh, aye. — Ele bateu um punho em cima de seu peito. — Eu poderia parar uma locomotiva agora.

— Bom. Você vai precisar de toda a força que puder reunir.

— É mesmo? — Ele se levantou para abrir as cortinas. Quando a encarou, ela estava de quatro rastejando pela cama para ele.

— Eu tenho a lua nas minhas costas, minha besta submissa e o pedaço mais quente de traseiro Cambion me dando energia. Posso tomar qualquer coisa que você quiser. E seu pescoço está prestes a carregar minha mordida.

Quando ela estremeceu visivelmente, ele disse.

— Estou de volta ao jogo com minha bela companheira, não? Creio que acabei de marcar um hat-trick.

— Você está oficialmente fora do banco — ela suspirou —, liberado para o jogo. Com uma fã obcecada que se apaixonou por você...

Ele se lançou para ela que saltou para ele. Ele a pegou no ar, virando para prendê-la na parede enquanto enfiava seu pau em casa.

— Ahhh, Chloe!

Ela tomou sua boca com a dela tão forte que seus dentes chocaram-se antes de eles acharem os lábios um do outro. Ambas as línguas apunhalaram, ambos os quadris balançaram. Beijos profundos em uma transa dura.

Ela trancou as pernas ao redor da cintura dele, segurando-se por um fio porque ele estava cravando sua boceta como um pistão. A felicidade crescendo para outro recorde de altura.

Quando ela afundou as garras nas costas dele, ele uivou de satisfação, e fez a mesma coisa nela. Apesar de sua besta permanecer dormente, as presas de Will se alongaram para marcar sua companheira.

Ele e Chloe saltaram de uma parede a outra, sacudindo a estrutura inteira da casa.

Entre beijos, ela disse.

— Espero que sua fortaleza seja resistente!

— É nossa fortaleza, nosso covil de lobos, e estamos prestes a descobrir. — Ele tomou sua boca mais uma vez e ela lambeu sua língua, chupando-a.

Misericórdia.

Porem, neste momento ela se afastou com uma súplica ofegante.

— Marque-me duro, MacRieve.

— Você quer minha mordida?

— Eu amo você. Pertenço a você e quero que todos saibam.

Impedindo-se de rugir triunfante, ele agarrou o cabelo dela, arrastando-o até que seu pescoço estivesse nu para ele.

— É tão leamsa, Chloe MacRieve. E vou te marcar o mais forte que eu puder enquanto estiver te amando. — Com um grunhido ele afundou suas presas na pele tenra do pescoço dela, mordendo-a toda...

 

No início da manhã, muito tempo depois da lua se estabelecer, Will ainda não tinha conseguido o suficiente de Chloe, estava endurecendo dentro dela mais uma vez.

Porém as pálpebras de sua moça estavam pesadas. Depois de seus esforços, sua jovem companheira tinha inevitavelmente ficado sonolenta. Não da doença, mas sim de uma necessidade bem merecida de descanso.

— Estou sinalizando por um t-tempo, ah. — Sua voz estava rouca de seus gritos de prazer.

Ele esteve insaciável, tomando-a repetidamente, decidido a satisfazê-la em todos os sentidos. Ambos estavam muito mais fortes naquele ponto, ele estava de fato preocupado com Conall.

Sua nova casa provou-se tão duradoura quanto o tempo.

— Talvez quando você chegar à minha idade, não atingirá o pico tão cedo. — Ele colocou o cabelo dela atrás da orelha pequenina, maravilhado com sua fêmea. Adorável e sexy, tudo de uma vez. — Vou te conceder um indulto. Mas saiba que é relutante e muito temporário.

— Bom. — Ela estava sonhadoramente correndo as pontas dos dedos sobre o peito dele.

Ele buscou a paz com ela, e tinha encontrado. Will sentia-se em paz com o mundo pela primeira vez. Poderia reconhecer esse sentimento apenas em virtude de quanto tempo se sentiu mal.

Chloe tinha lhe dado isso. Ele havia conquistado e reivindicado. E, deuses, ela também.

— Ainda não posso acreditar que manteve sua besta na coleira.

Ele deu de ombros modestamente, embora estivesse muito orgulhoso de si mesmo.

— Você só vai vê-lo na noite de lua cheia, se esse for seu desejo.

— Ele pode me ouvir?

— Aye. — Ele deixou-o se mexer. — Experimente agora.

Ela segurou o rosto dele, olhando em seus olhos.

— Você foi muito bom esta noite. No prazo de um mês vou ter doces guloseimas para você.

Colocando sua besta na cama, Will disse.

— E que guloseimas são essas? A curiosidade de um Lykae é uma coisa poderosa.

— Eu sei. — ela murmurou com um sorriso tímido, assim como suas pálpebras estavam ficando mais pesadas. — Você vai ter que esperar para ver, MacRieve.

Ele enrolou um dedo sob o queixo dela.

— Will.

— Hmm?

— Quero que me chame de Will.

Com o nome dele em seus lábios e um sorriso em seu rosto, ela adormeceu, com ele ainda dentro dela.

 

Você está ficando habilidosa nisso. — MacRieve lhe disse enquanto praticavam ataques e defesas com espadas.

Nos últimos quatro dias, ele vinha treinando-a para usar várias armas, para que pudesse se proteger. Embora ele tivesse de admitir.

— Você está tão forte que poderia provavelmente apenas esmagar seus adversários.

Chloe nunca na vida se sentiu tão poderosa, ou tão ligada a outro ser. Se ela pensou que estava energizada pelo sexo antes, não viu nada. Evidentemente, agora que seu grande escocês estava apaixonado por ela, e estavam acasalados em ambos os sentidos, ele estava apenas fornecendo energia no mais alto grau. Se ainda estivesse praticando esportes, as coisas dele seriam proibidas.

E MacRieve — ou melhor, Will — estava mais forte do que nunca. Estava tentando se lembrar de chamá-lo de Will, mas isto demoraria um pouco.

Ele impulsionou sua espada com um golpe rápido.

Ela facilmente desviou. — Combate de espadas é como futebol. Leia o oponente, ajuste à tática, desoriente. Vou ficar foda nisso.

Ele coçou a cabeça com uma mão, enquanto girava sua espada com a outra.

— Você meio que já é.

— Então existem competições no Lore em que eu possa entrar? — Hoje teria sido o começo do treinamento de campo para as Olimpíadas. E apesar de que uma nova vida fascinante estava se abrindo para ela, tinha perdido aspectos de sua antiga.

— Há uma competição. Nós, antigos gostamos de chamá-la de sobrevivência.

Ela riu.

— Espertinho.

Ele sorriu.

— Não se preocupe. Se tiver alguma habilidade no Lore, haverá sempre alguém por perto para testá-la. Especialmente durante a Ascensão. Mas, tenho uma sensação de que você vai gostar da guerra. É como esporte, embora morte súbita signifique literalmente a morte. — Ele sutilmente gesticulou para a esquerda, em seguida golpeou para a direita.

Ela bloqueou e se esquivou com um golpe com as duas mãos para cima — apenas para mudar isto em pleno ar com um volteio de uma mão.

MacRieve mal bloqueou isto, erguendo as sobrancelhas novamente.

— Você jura que nunca segurou uma lâmina nas mãos?

— Está no meu sangue, lembra-se? — Com um sorriso atrevido ela limpou um ombro, depois o outro. — Talento nato. Rookie fenômeno. Pelo menos não vou me envergonhar com a nova espada de combate da família.

Ele relatou tudo o que havia ocorrido no Reino de Ubus. Ela ficou chocada com a revelação, convencida, assim como ele estava, que tudo estava predestinado.

Aquela pequenina centelha de esperança? Agora um inferno, nunca será extinta.

Na manhã após a lua cheia, ela queria que sua nova família soubesse que estava bem, mas não houve necessidade. Eles encontraram um bilhete de Nieve afixado na porta da frente:

A julgar pelas ondas de choque provenientes do castelo Conall durante toda a noite, supomos que teve uma recuperação completa — e que Uilleam MacRieve, Senhor de Conall, é de fato seu companheiro predestinado. Por favor, dê-nos a honra de se juntar a nós para nossa Feira da Cidra.

A feira seria naquele fim de semana, e MacRieve prontamente concordou em levá-la.

— Elas curaram minha companheira. Por isso vou até ser civilizado com Nieve.

Na verdade, ela estava um pouco envergonhada de vê-las novamente. Porque agora todos naquele reino sabiam que foi arrastada por um lobisomem faminto por sexo na escala Richter sob a lua cheia. Isto foi, provavelmente, escandaloso, mesmo para as Ubus.

Ela encolheu os ombros. Oh, bem, vou certificar-me de vestir vermelho.

Apenas algumas coisas frustraram sua lua de mel com MacRieve. Uma delas era o remorso implacável dele sobre a maneira como a tratou. Ela fez questão de desculpá-lo continuamente por todos os seus equívocos, o que parecia aliviar sua culpa.

Ontem ele a abraçou apertado, dizendo contra seu cabelo.

— Não posso ter o suficiente de você, Chloe. Deus me ajude, sei que nunca irei.

— Tenho certeza que é apenas o exalar, espere...

Ele mordeu seu pescoço, fazendo-a gritar de tanto rir.

Sua confusão sobre seu pai era outra fonte de preocupação. Quando ela e MacRieve conversaram até tarde da noite, discutiram a infância dele e Ruelle, seus pais e o pai dela.

Por apego a alguma tênue crença em sua bondade, ela estava sendo leal — ou deliberadamente cega? MacRieve foi gravemente machucado por ele. Imortais em todo o Lore foram. Os familiares dela acreditavam que Preston Webb tinha matado a própria mãe de Chloe. No entanto, ela não se sentia bem julgando até que tivesse ouvido o lado dele da história.

O que poderia nunca acontecer.

Pelo lado de MacRieve, ele abandonou seu desejo de vingança, explicando.

— Não posso matar o pai de minha companheira. Estou em grande dívida com ele. Sem ele, nada de Chloe.

Assim sendo MacRieve disse.

— Não entendo porque Munro não me ligou de volta.

Outra preocupação. Ele não podia entrar em contato com o irmão.

MacRieve deixou sua primeira mensagem para Munro um dia depois da lua cheia. Ela lembrou-se dele colocando seu telefone sobre o balcão do banheiro, pouco antes de tomarem seu primeiro banho juntos.

Ela estremeceu ao lembrar aquele banho. MacRieve tinha se ajoelhado diante dela, colocando uma mão sobre sua barriga.

— Quando estiver pronta, irei colocar um bebê aqui dentro. — Sua mão estava tão quente, mesmo na água. — Talvez até mesmo gêmeos. — Ele olhou para ela, seus olhos cintilando. — Me concederá esta honra?

Ofegante, ela foi apenas capaz de assentir.

—Tha gràdh agam ort, Chloe. Eu te amo. E estou prestes a te mostrar quanto. — Então ele vagarosamente — amorosamente — lavou-a da cabeça aos pés, ainda aprendendo sobre o corpo dela. Quando ela fez o mesmo com ele, uma coisa levou à outra.

No momento em que ele finalmente a soltou para que se vestisse, a água havia esfriado, e ela estava sorrindo de orelha a orelha como se tivesse acabado de ganhar uma medalha. Desde então, eles sempre compartilhavam banhos. Quando ele repetiu.

— Nós gostamos de conservar a água por aqui.

E assim foi com eles.

— Munro já passou tanto tempo sem ligar? — ela perguntou.

— Desde que os telefones foram inventados, Munro nunca deixou de retornar minhas ligações. Estou preocupado. — Em um tom mais rude, ele disse. — Sensação estranha estar longe dele novamente.

Ela não podia imaginar como deveria ser a sensação de estar separado de um gêmeo, perguntando se ele estava seguro e bem.

— Vamos dar-lhe até o final do dia. Se ninguém no complexo o tiver visto, então vamos voltar para Louisiana.

Ele abaixou sua espada.

— Você perderia a feira com sua família?

— Munro é a minha família também. — ela disse, fazendo com que as sobrancelhas de MacRieve juntassem com simpatia. — Por que não tenta ligar para ele de novo? Vou relaxar um pouco.

Ele acenou com a cabeça.

— Não deixe os limites do terreno, está bem? — Depois de lhe dar um suave beijo, deu uma corrida.

Sozinha, ela passeou pelo pátio, pisando em cima de pedras, onde inúmeros MacRieves caminharam muito antes de Will nascer.

Deus, este lugar era tão bonito. Durante esses quatro dias, ele enraizou na cabeça dela que esta era sua casa.

— Conall te pertence tanto quanto a mim. Você é Chloe MacRieve, senhora deste castelo. — Ela poderia convidar quem quisesse, poderia decorá-lo do jeito que quisesse.

Ela não tocaria em nada, já achava perfeito. Finalmente morava em uma casa com personalidade. Não em uma mega mansão!

Ela e MacRieve ainda falaram sobre a revitalização da área, trazer mais ovelhas, convidar os membros do clã para reassentar a antiga vila de Conall.

Enquanto caminhava, ela correu os dedos ao longo da parede de pedra fria. Podia sentir a história aqui, e isto a fundamentava. Já não se sentia como se seu mundo estivesse abalado. Ela caiu sobre seus pés.

Aqui. Com MacRieve.

Talvez os rapazes pudessem vir e ficar para o verão? Ela sentia falta deles. Mas, talvez fosse vê-los diretamente. Ela falou sério o que disse anteriormente: ela e MacRieve estariam em um avião hoje à noite, se ele não falasse com seu irmão.

— Chlo...

Ela virou-se ao ouvir a voz estranha. Parado a menos de três metros dela estava o mesmo enorme demônio encapuzado que estava no escritório de seu pai.

— Você! — Ela levantou sua espada. — O que quer de mim? — Ela não esperava uma resposta real; a última vez isto mal foi capaz de falar.

Ele a surpreendeu, dizendo.

— Você não me reconhece? — Suas palavras ainda eram ásperas, embora muito mais claras do que antes. Ele se aproximou.

Recordando a força dessa criatura, ela bloqueou com sua espada.

— Deveria? — Chloe era antes de tudo uma lutadora. Mas não estava acima de chamar por seu aliado. Ela respirou fundo para gritar um alerta para MacRieve...

A criatura puxou sua capa passando-a por seus chifres.

Seu grito morreu nos lábios dela. Sua mão com a espada amolecendo, o barulho da lâmina tilintando no chão.

— Pai? — Isto era ele, mas estava alterado.

Quando ela o viu antes, ele estava obscurecido na sombra, agora cada característica estava acentuada na flagrante luz do dia.

Ele tinha uma pele anormalmente pálida e sem falhas, atemporal. Caninos cônicos substituíam os dentes. Foscos chifres negros elevavam-se de sua cabeça, como um desenho do diabo exagerado. Suas íris eram tão escuras, que traziam à mente o fundo de um abismo.

No entanto, ele estava controlado, com o ar que todos os Loreans pareciam possuir.

— Pai? O q-que aconteceu com você? — Ela correu até ele, timidamente tocando seu rosto. — Era você aquele em nossa casa? Por que não fala comigo?

Com uma mão em garra afiada, ele tirou um cacho de cabelo do rosto dela.

— Estava tentando perguntar se você ainda era mortal, mas apenas recentemente fui transformado. Tive que reaprender a falar, como me mover, como pensar.

— Transformado em quê? Você precisa explicar isso antes que me desespere. — E antes que MacRieve sinta seu cheiro. Ela abaixou a mão, lembrando-se do que seu pai fizera para o homem que amava. — Desembuche.

Uma sugestão de sorriso de seu antigo pai apareceu.

— Vejo que você não mudou, mesmo com sua transformação.

Ela soltou.

— Fale.

Ele inclinou a cabeça.

— Estava sendo caçado por um dos mais temíveis vampiros do Lore, Lothaire, O Inimigo do Antigo. Sabia que mais cedo ou mais tarde ele encontraria meu esconderijo. Mas eu estava preparado. Pouco antes dele me drenar até a morte, detonei uma cápsula cheia de uma mistura de sangue imortal. Embora ele me matasse, eu ressuscitaria.

— Como o quê?

— O sangue continha uma mistura de várias criaturas. Meus poderes não terão fim, uma vez que todos eles se manifestem.

Ela escorregou abaixo pela parede do pátio, afundando nele.

— Por que não me avisou sobre o Lore e o que eu poderia ser? Por que não me contou sobre a Ordem?

— Pensei que pudesse mantê-la separada de tudo isso. Deus, queria isso! Sua vida era simples, tão focada. Nunca quis tirar isso de você.

— Poderia ter me dito no que estava me transformando antes de partir. Você não me deu nenhuma explicação. Apenas me deixou uma enciclopédia de criaturas que odiava.

— Naquela noite eu estava... estupefato. — Ele se sentou ao lado dela. — Seu sangue foi atestado como humano, incontáveis vezes por 24 anos. Mesmo nossas matrizes mais avançadas não pegavam nada.

— Eu estava tão sozinha, e você simplesmente desapareceu por semanas. — ela disse, odiando o quão fraca soava.

— Forcei-me a não contatá-la, temendo que fosse colocá-la na mira de Lothaire, um lugar que você nunca iria querer estar. Só depois que me transformei voltei para casa ao seu encontro, mas você desapareceu naquela noite.

— Sim, as bruxas me encontraram.

Irritação cintilou sobre sua sinistra face.

— Fui traído por um ex-aliado.

— Gostaria de saber o que se sente.

Ele estendeu lhe a mão, mas ela recuou.

— Chlo, por favor...

— Você fez todas as coisas que ouvi? Torturou Loreans, matando-os na frente de seus filhos?

Ele deixou sua mão cair.

— Fiz o que qualquer general em guerra faria com seu inimigo. Fiz o que foi preciso.

Admitindo isto tão facilmente? Mesmo... orgulhosamente? Os temores sobre seu pai, que ela mal se permitiu cogitar, tudo desabou sobre ela.

— Acreditei que essas criaturas eram subumanas, o que significava que precisavam ser destruídas.

Embora se sentisse ainda mais atordoada, forçou-se a ficar em pé.

— E agora? Você trocou de equipe? Você é um Detrus agora.

— Precisamente. Nós da Ordem sabíamos que precisávamos de soldados mais fortes para derrotar os imortais. Para lutar contra os monstros, teríamos que nos tornarmos como eles. Então fui um projeto destinado a misturar sangue Lorean para uso de humanos. Quando minha morte era iminente, decidi testá-lo em mim. — Ele esfregou a palma da mão sobre um chifre. — A transição tem sido... um desafio.

Ela poderia dizer isso. Suas presas cortavam seus lábios. O sangue escorria pelo canto de sua boca, mas ele não parecia notar.

— A cada dia que entro em contato com meu poder, reconheço que imortais sempre prevalecerão. Você já sentiu a força, deve entender que os humanos não têm nenhuma chance contra nós.

— Quem diabos está lutando contra os humanos?

— A guerra é inevitável, e estive do lado errado.

Ela sentiu uma crescente tensão dentro dele, como se seu verniz de calma estivesse rompendo.

— Depois de uma vida inteira de trabalho para defender a humanidade, depois de todos os sacrifícios que fiz, finalmente compreendi que estava protegendo os mais fracos, quando deveria ter defendido os fortes!

— Pai, não! Por que tem que ser um ou o outro?

Ele flutuou de pé com uma fluidez assustadora.

— Tornou-se claro para mim. — Seus olhos brilhavam com um abismo de luz enervante. — Eles têm que ser destruídos!

— Ouça o que está dizendo! Destruir a humanidade? Não pode ser assim, apenas... não.

Como se não a tivesse ouvido, ele disse.

— Há apenas duas pessoas no mundo que amo, e agora que ambas são imortais. Isso tudo era para acontecer!

Ela estava quase com medo de perguntar.

— Quem é o outro?

— Declan Chase, o Magistrado. Ele é como um filho para mim. Encontrei-o quando era apenas um adolescente com medo, sabia que tinha sangue Lorean nele. — Em um tom apaixonado, ele disse. — Eu o criei para odiar imortais, para combatê-los, mas ele viu a luz antes de mim. Agora é um campeão do Lore. Vou levá-la até ele. Quero que o conheça.

— Por que eu deveria?

— Com você ao meu lado, ele não pode me matar assim que me ver.

Quando ela olhou fixamente para ele, seu pai disse.

— Antes de minha epifânia, eu estudei... a fêmea dele. — Um sangrento, sorriso acanhado. — Ele ficou violentamente descontente.

— Você acha? — MacRieve também foi estudado.

— Mas isso foi antes que eu descobrisse o verdadeiro caminho! — Ele estava ficando excitado novamente. E ele revelou aquela coisa dura sobre seu lábio. — Com sua ajuda, podemos convencer Declan a se juntar a nós. Para iniciar uma Nova Ordem! Minha filha e meu filho serão os meus primeiros generais.

Quem é você?

— Não sei o que é mais assustador, seus planos insanos ou o fato de que acha que vou estar a bordo com isto.

— Vou convencê-la. Eu devo. — Ele esfregou a mão sobre a boca, o sangue manchando todo seu queixo. — Nós três vamos conduzir um ataque para limpar a Terra dos fracos!

Insano. Quando olhou para seu rosto meio-familiar, ela percebeu que seu pai morreu na última noite em que o viu como um homem, na noite em que ele lhe deu o livro.

Aquilo foi o presente dele no seu leito de morte.

Este ser não era o pai dela, não Dustin Todd, o pai devotado que tinha aplaudindo-a animadamente pelo quintal com uma bola de futebol em miniatura. Seus olhos lacrimejaram. Este era o Comandante Preston Webb.

Meu pai está morto.

— Com esses novos poderes, posso iniciar uma nova era. — ele disse com fervor maníaco. — Vou ter os sentidos de um Lykae, a força de um Vemônio e a velocidade de um Fey. Serei capaz de colher alimento de relâmpagos como uma Valkyria. Já tenho os pontos fortes de um vampiro. Posso ceifar poderes — e memórias de seres — do sangue, mas não tenho aversão ao sol. Posso riscar no mundo inteiro.

— Você deve estar muito orgulhoso. — ela retrucou, querendo saber como ficar longe dele. Mas primeiro tinha que saber uma coisa. — Você matou minha mãe?

Sua expressão não se alterou, mesmo quando balançou a cabeça.

— Eu adorava Fiore, mais do que qualquer coisa. No entanto ela me encheu de dúvidas, me fez questionar minha missão. — Em um tom ausente, ele murmurou. — Guardar aquelas monstruosidades foi relativamente fácil. Era muito mais difícil proteger aqueles rostos inocentes, as belas. Elas apelavam para nossa simpatia. — Ele balançou a cabeça. —E então ela tentou tirar você de mim.

— Provavelmente porque você teria me matado, se eu tivesse sido atestada como uma Lorean!

— Não! Não estava pronto para aceitar uma Lorean como ela — mas estaria por você. Parte da razão que escolhi tomar essa cápsula, foi porque sabia que você faria a transição.

Esse sangue sensacionalista. Mesmo com a nova força de MacRieve, ele não poderia ser capaz de corresponder a Webb. O que significava que ela precisava conseguir que este ser saísse dali antes que MacRieve retornasse.

— Você tem que ir. Sabe de é quem está casa?

— Pertence ao Lykae da minha prisão. Bebi alguém com esse conhecimento, não até a morte, claro. Vamos precisar de todos os nossos contingentes. — ele sorriu com os lábios devastados. — Como acha que te encontrei?

 

— Nós prometemos não dizer nada a você.

— Que diabos? — Will estalou, desejando poder estrangular Rónan por telefone. — Meu irmão está desaparecido?

O garoto disse.

— Munro ouviu falar sobre esses bruxos que estavam transformando humanos em Lykae e escravizando-os.

Will amaldiçoou. Havia uma razão para os Lykae não transformarem humanos em sua espécie. Lykae transformados ficavam criaturas violentas e irracionais.

— Os bruxos são chamados de “Aqueles Mais Esquecidos”, não é? — Ele estava familiarizado com essa seita. Em torno de cada Adesão, eles criavam exércitos de Lykae em sua casa no plano de Quondam.

— São eles! Alguns caras realmente maus. Sacrificam ninfas. Falando nisso, é um desperdício. Quero dizer, o que estão pensando...

— Garoto!

— Certo. De qualquer modo, Munro, Madadh e outros seis foram invadir o covil e libertar alguns novos lobos. Eles tinham uma informante ninfa que sabia de um ponto fraco por tempo limitado na defesa dos Esquecidos. Era noite de lua cheia, então deveria ter sido em um piscar de olhos. Antes de sair Munro e Ben me disseram que você já tinha mais no seu prato do que podia lidar. Para não contarmos para ninguém sobre isto, especialmente pra você, a menos que eles não retornassem até hoje.

Will sabia que algo estava errado com Munro, depois que não houve nenhuma resposta à sua última mensagem:

Munro, preciso falar com você. Onde diabos você está? Fui para o maldito Reino de Ubus! Porra, você pode acreditar nisso? Chloe têm parentes lá. Elas têm honra, e são fortes. Aye, irmão, você não vai acreditar nas coisas que vi e aprendi. Ligue-me de volta.

— Então, isto era uma armadilha.

— Para quê? Por que arriscar um ataque com oito Lykae?

Rónan disse:

— Lachlain, Garreth e Bowen, todos se reunirão aqui à meia-noite para organizar um ataque em grande escala. Nada menos do que uma centena. Feliz Adesão, você sabe o que quero dizer?

— Diga a Lachlain e os outros que estarei aí hoje à noite.

— Vai trazer Chloe? — Rónan perguntou.

— Se depender de mim, ela nunca vai sair do meu lado.

— Bom cara! Vejo você mais tarde.

Will desligou o telefone e gritou.

— Moça, precisamos sair. Agora! Munro está em uma confusão!

Nenhuma resposta.

— Chloe?

Ele inalou o cheiro dela, passando pela fragrância das árvores e a úmida e velha pedra...

Sentindo isto. Espere, aquilo não poderia estar certo. Will sentia o cheiro de inúmeros seres​​: Lykae, Vampiro, Demônio, até mesmo Valkyria.

Ele decolou em um arranque, disparando para sua companheira.

Agora, besta. Agora vamos ganhar nosso sustento.

 

Chloe deu um grito quando as portas duplas para o pátio explodiram, voando para fora de suas dobradiças.

MacRieve arrancando para fora, as presas arreganhadas, as garras deflagradas. Uma visão aterrorizante.

Com um rugido ensurdecedor, ele se lançou pelo ar até Webb. Impacto! MacRieve combateu com tanta força que os dois homens caíram sobre os seixos, arrancando-os como uma alavanca.

Pedras choveram em todas as direções.

Webb poderia estar se fortalecendo, mas MacRieve estava protegendo sua companheira. Ele prendeu Webb, uma mão esmagando sua traqueia, a outra mão levantada.

Webb cavou suas garras no braço de MacRieve, atacando, incapaz de se mover do agarre de um Lykae.

Exatamente quando MacRieve estava prestes a alavancar suas brilhantes garras negras através de sua presa, Chloe gritou.

— Este é ele, MacRieve! É... Webb.

MacRieve parou com sua mão no meio do ataque. Com uma sacudida de cabeça, ele começou a prender sua besta diante dos olhos dela. Com voz rouca, ele disse.

— Não estou entendendo isso.

Ela respondeu.

— Ele transformou a si mesmo em uma mistura de criaturas.

— Diga-me o que quer que eu faça. Isto será feito.

Ele disse que desistiria de sua busca por vingança contra Webb, mas vê-lo livrar-se do seu ódio e ferocidade deste jeito por ela...

Os olhos de Chloe lacrimejaram mais uma vez. MacRieve estava dando-lhe uma escolha.

Embora tivesse aceitado a morte de seu pai, e soubesse que isto não era o pai dela, não queria que MacRieve se arrependesse de matar seu “pai”.

— Deixe-o ir.

Com um empurrão, MacRieve soltou-o, então se apressou a ficar na frente dela, protegendo-a.

Webb elevou-se com aquela graça assustadora, esfregando sua garganta.

— Ele está partindo, para sempre. — ela disse. — Certo, Webb?

Ele estreitou os olhos para MacRieve.

— A misericórdia de um Lykae? E depois de tudo o que eu fiz pra você? Lembro-me de que você era um dos favoritos de Dixon. Ela gostava de falar sobre suas experiências durante o café com biscoitos.

Não é meu pai, não é meu pai.

MacRieve enrijeceu ainda mais, mas seu tom de voz era firme quando disse.

— Aye. Um pequeno preço a pagar. Se não fosse o meu tempo na prisão, não teria encontrado Chloe.

Ela se moveu para o lado de MacRieve, pegando sua mão.

— Você acha que é bom o suficiente para minha filha? — perguntou Webb.

— Acho que ela me escolheu. Agora dê o fora de nossas terras.

Webb ofereceu sua mão para Chloe.

— Venha comigo, filha. Podemos começar nosso próprio reino.

Com um grunhido, MacRieve trouxe-a para mais perto, pressionando-a contra seu lado.

— Vou ficar aqui. — ela disse. — Onde pertenço. E se alguma vez se importou comigo afinal, você irá embora e nunca mais voltará.

Como se ela não tivesse falado, Webb disse.

— Posso riscar, Lykae. Acha que pode me impedir de arrebatá-la se eu quiser?

— Ela pode pará-lo, velho. Você subestima sua filha a sua exposição ao perigo.

Com isso, Webb disse a ela.

— Eu irei. Mas saiba que você sempre terá a mim, filha. Estarei sempre nas sombras, observando-a. — Ele sorriu um sorriso macabro. — Com o tempo, mudará de ideia. Pode levar cem anos ou duzentos, mas você irá.

— Mantenha-se nessas sombras, Webb. — MacRieve grunhiu. — Saia delas e juro pelo Lore que arrancarei sua maldita cabeça.

— Bom, adeus por enquanto, Chloe. — Webb murmurou, pouco antes de desaparecer no ar.

Os joelhos dela cederam, mas MacRieve pegou-a, puxando-a para seu peito.

— Sinto muito, moça. Sei o quanto isso deve doer.

Ela esfregou os olhos lacrimejantes.

— Isto dói, mas não considero aquele homem meu pai. Isso era Webb. Dustin Todd morreu há dois meses.

— Aye, mo Chridhe, por favor, não chore.

MacRieve disse como se sentia ao ver suas lágrimas, então ela tentou detê-las.

— Vai levar um tempo para me acostumar com isso.

Ele pressionou um beijo no cabelo dela.

— Vou ajudá-la. Estarei aqui para você.

— Eu sei que vai. Mas, posso pôr em ordem meus sentimentos depois. Ouvi você gritando que Munro está em apuros?

— Aye. Posso dizer-lhe enquanto arruma uma mala?

Quando ela assentiu, ele pegou seu cotovelo para escoltá-la para dentro.

Enquanto ela enfiava as roupas em sua nova bagagem de mão, ele explicou tudo que Rónan lhe dissera, um conto de bruxos, e incursões e sacrifício de ninfas...

Ele terminou dizendo.

— Munro foi provavelmente capturado.

— Como está lidando com isso? — Ela perguntou. Os olhos dele estavam dourados. Nenhuma besta furiosa?

— Saberia se ele tivesse morrido. — MacRieve disse simplesmente. — Minha besta estaria em um frenesi uivando para seu irmão lobo. O que significa que provavelmente Munro está possivelmente em um calabouço bruxo, esguichando enlouquecido. Ou...

— Ou o quê?

— Chloe, eles escravizam nossa espécie, construindo exércitos de Lykae, tão irracionais como assombrações ou fantasmas. Os bruxos os chamam de vassalos. Nós não sabemos como eles controlam o nascimento Lykae. Agora transformar em Lykae? Isto eu posso entender.

— Por quê? Como eles são transformados? — Ela fechou o zíper da bagagem.

— Um ser humano deve ser mordido por um Lykae, cuja besta está totalmente ascendida. Com a mordida, o Lykae transfere parte de sua besta para o mortal.

Ela piscou para ele.

— Diferente de uma mordida de reivindicação?

— Aye. E mais, o catalisador para a transformação é a morte.

Os olhos dela se estreitaram.

— Assim, todos os humanos transformados terão que morrer primeiro?

— E só alguns vão ascender. Não há nenhuma garantia. Tudo que sabemos é que um Lykae transformado, o ex-mortal, não tem nenhum controle sobre a besta que foi empurrada dentro dele.

Como MacRieve outrora tinha pouco controle. Isto deve estar afetando-o.

— É preciso anos de trabalho para que consigam até mesmo o domínio da civilidade. Munro, sendo Munro, deve estar pronto para adotar uma legião de iniciantes Lykae. Não ficarei surpreso que de alguma forma ele liderou esse ataque.

Bagagem na mão, ela foi para a porta.

— Temos que ir e tirá-lo de lá.

— Nós? — Ele seguiu-a, coletando a bagagem dela. — Você acha que está pronta para a briga com bruxos?

No topo da escada, ela disse.

— Venho me preparando para isso toda a minha vida, simplesmente não sabia disso. Não vou me acovardar de uma incumbência, não entrarei em pânico sob pressão. Se onze deles vieram para cima de mim, posso correr em círculos ao redor deles. Pense nisso Will, eu daria uma lateral e tanto.

— Vou explorar o campo de jogo — ele roçou os dedos sobre o rosto dela —, mas o lugar de T-Rex na primeira sequência está em contínua procura. Tenho pena dos desavisados bruxos.

Ela inclinou a cabeça.

— Pensei que fosse reagir de forma diferente. — Mas, ela também pensou que fosse reagir de forma diferente ao ver seu pai.

— Esperando que eu perca minha merda? Consegui minha companheira, e ela é saudável e vigorosa. Meu irmão está em apuros, mas não estará por muito mais tempo. Você poderia dizer que estou tão perto de estar zen quanto um lobisomem pode estar.

E a calma dele alimentou a dela. Conectados.

— Esta não é a primeira vez que uma batalha foi necessária. E esta não será a última. Chloe, estou ansiando por isso.

Nessa altura, ela também estava. Excitação começou a enchê-la, antecipação.

— Gostosão está ansioso para livrar o Gostoso?

Os lábios dele se curvaram.

— Agora você pegou a ideia. Claro, vamos ter que nos recarregar em voo de novo.

— Se fizermos isso, então vamos ganhar feio contra estes bruxos.

— Esta é minha fêmea feroz me direcionando para diminuir a explosão?

— Ah, sim. — Ela sorriu para seu novo companheiro, e ele já estava sorrindo de volta.

Porque eles estavam prestes a fazer uma jogada...

 

Masmorra do Esquecido de Quondam, Reino daqueles Mais Esquecidos

O punho ensanguentado do Madadh bateu no rosto do Munro, o som de osso quebrando ecoou pela cela úmida.

Munro há muito tempo parou de tentar alcançar seu amigo irracional. O homem fora escravizado; a besta de Madadh estava completamente ascendida, seus olhos de um azul fantasmagórico — e vagos.

Já que o olho direito do Munro se recusava a abrir, ele estreitou o esquerdo para o bruxo controlando Madadh. Teria o outro Esquecido chamado este torturador de Jels?

Jels ordenou a Madadh que torturasse Munro quase continuamente, nenhum dos Lykae dormiu por dias com breves períodos de calmaria da violência. Os dedos do Madadh estavam quebrados de distribuir socos, a pele em cima de suas juntas rasgadas até o osso pelos dentes do Munro. Mas o Lykae parecia não sentir nada.

O bruxo não permitiria que Madadh parasse até que Munro liberasse sua própria besta.

Apesar de uma túnica púrpura cobrir Jels do pescoço até os pés, Munro podia dizer pela sua estrutura física que ele era magro. Ele era careca e seu rosto ovalado. Tão fácil de quebrar. Mesmo assim Munro não estava em posição para atacar — ou se defender.

Ele estava de joelhos com os braços esticados bem firme acima dele. Seus pulsos algemados estavam conectados à uma corrente que descia de uma alavanca no teto. Todo o metal era misticamente forjado, inquebrável até para alguém como ele.

— Desista, Jels. — Munro deixou escapar entre seus lábios ensanguentados. — Nada que você possa fazer... fará com que eu libere minha besta. Nada. — Sua cabeça foi espancada até virar uma polpa; seu cérebro parecia como se estivesse ralado dentro de seu crânio quebrado. Os pensamentos eram nebulosos, mas ele mantinha o conhecimento de um fato crítico que aprendeu: os bruxos não podiam escravizar um Lykae até que sua besta ascendesse. Uma vez que o fizesse, eles usavam sua magia negra para amarrá-lo. Mas eles não tinham nenhum poder místico para obrigar a besta a ascender.

Durante a invasão Lykae neste calabouço, Madadh não tinha conhecimento que não podia liberar sua besta e foi escravizado pelos bruxos. Então aqueles desgraçados usaram o corpanzil de Madadh para atacar Munro e o resto de sua equipe, pegando os outros de guarda baixa.

Os bruxos passaram os últimos dias tentando torturar a besta de Munro para que ela ascendesse — fazendo tudo que podiam para adicionar seus ferozes uivos àqueles soando constantemente de cima à baixo neste corredor de celas. Mesmo depois de viver com a besta volátil de Will por nove séculos, Munro tinha grandes dores para controlar a sua.

Resistiria a qualquer tormento, especialmente quando soube que outra invasão viria logo. O clã enviaria reforços poderosos — Garreth, Bowen, o próprio grande rei. Se Munro ficasse lúcido, poderia adverti-los a manter a besta aprisionada.

Will os acompanharia? Parte de Munro estava desesperada para que um guerreiro como seu irmão viesse; outra parte dele temia isto. A besta do seu irmão seria muito facilmente reivindicada.

Outro soco atravessou o queixo de Munro, quase o deslocando. Sua cabeça estalou ao redor, sangue e suor se espalhando pela bainha da túnica de Jels. Seus braços estavam praticamente torcidos de seus socos.

— Puta que pariu, Madadh!

O rosto cheio de cicatrizes do homem estava inexpressivo. Nenhuma reação.

O lendário Cachorro Louco das Highlands era agora um cachorro obediente. Munro estremeceu ante aquele pensamento. Não, eu não lhes darei minha besta.

Jels balançou a cabeça, parecendo genuinamente confuso.

— Por que você resiste à nossa escravidão tão completamente? Ser escravizado é estar em paz. Nunca esperei que isso levasse tanto tempo.

Se Jels finalmente queria conversar, Munro tinha perguntas.

— Por que simplesmente não me mata? — perguntou, mas temia que ele soubesse. As poucas vezes que Madadh foi mandado sair desta cela, ele sempre retornou com suas presas cobertas de sangue.

— Matar? — Jels piscou. — O propósito desta armadilha inteira era segurar um antigo como você. Nós asseguramos que um novo vassalo Lykae teria muita atenção em um evento público, sabendo que um cavaleiro branco como você viria nos invadir.

Foi exatamente por isso que Munro veio; ouviu que um Lykae recém-transformado foi decapitado, sacrificado por nenhuma outra razão que seguir cegamente os comandos dos bruxos.

— Então nós despachamos uma ninfa para guiá-lo até aqui. A pobre menina pensou que liberaríamos sua irmã se ela cooperasse.

Ele não teve nenhuma razão para não confiar na ninfa. Acima de toda a dor de Munro, o pressentimento atravessou-o sussurrando.

— Quantos obstáculos. Por que você me queria tanto?

— Poderíamos ter procurado em mil planos e dúzias de eras por uma besta tão forte quanto a sua.

Munro sabia que esta facção antiga podia se mover através do tempo, criando portais e até planos inteiros.

— Nós usaremos sua besta para formar toda a nossa nova linhagem de vassalos.

Eles queriam que Munro mordesse humanos? Para dar a inocentes mortais anos de loucura — ou morte?

— Foda-se, Jels! Nunca. — A perversão disto! — Você pode pegar sua “formação” bestial e enfiá-la no seu rabo bruxo.

— Um Lykae só pode produzir tantas novas linhagens. O Madadh aqui mordeu quatorze; dois ascenderam. Por acaso ouviu os gritos deles? — Jels perguntou, seu tom enganosamente agradável. — Ele teve sua cota de pescoços humanos, está perto da exaustão. Ele tem apenas alguns séculos de idade, mas você... nós acreditamos que você poderia transformar inclusive mais! Muitos mais!

A boca ensanguentada de Munro dividiu-se em um sorriso.

— Na próxima mordida arrancarei um pedaço da sua garganta.

— Você não tem nenhuma ideia do que está por vir, não é? — O olhar presunçoso de Jels hesitou brevemente. — Os Mensageiros da Destruição subirão logo, a ameaça que acabará com todos nós, se não pudermos lutar de volta. Os Esquecidos não vão parar até que tenhamos reunido um exército. Até que tenhamos sacrificado fêmeas bonitas o bastante para satisfazer o suficiente os deuses da escuridão. E no fim você estará contente por termos feito.

— Você é louco, homenzinho. Diga a si mesmo o que for que você precise.

Um aceno para Madadh fez o homem entrar em ação; suas garras cortaram o rosto do Munro abaixo, fazendo uma trilha por sua pele e destruindo seu olho direito.

Engolindo um grito de agonia, Munro disse a Jels.

— Está me fazendo cócegas? Você terá que fazer... melhor que isto.

Outro aceno e Madadh rasgou a coxa do Munro em dois lugares, fazendo estalar seu fêmur. Filho da puta!

Um segundo bruxo esquivou-se dentro da cela, gritando para Jels em seu idioma ininteligível. Seja qual for a notícia que o mensageiro trouxe deixou Jels contente. Ele virou para Munro.

— Fazer melhor que isto, você disse? Parece que fiz justamente isso. — Ele atravessou até a parede, desenganchando uma corrente ali.

Conforme a alavanca gemia, a tensão nos braços do Munro diminuiu até que pôde baixá-los na sua frente. A dor ofuscante do sangue percorrendo seus membros rivalizava com seu rosto e olho mutilados. Ele lutou para permanecer ajoelhado, mantendo Jels dentro de sua linha de visão.

Não havia como derrotar Madadh sem liberar sua própria besta. Mas pelo menos podia arrancar a cabeça de Jels do seu pescoço. Munro enrijeceu-se para atacar...

Dois seres apareceram a cerca de um metro e meio dele, outro bruxo e uma fêmea de cabelos pretos como um corvo que pareciam mal ter saído de sua adolescência. Ela parecia atordoada, tremendo ao lado de seu sequestrador. Mortal? Sim, e extremamente adorável com sua pele azeitonada e íris brilhantes da cor de bronze. Flores decoravam sua juba de cachos negros selvagens. Ela parecia uma pequenina viajante, uma cigana.

Ela estava vestida com um vestido branco ornamentado. Era de estilo antigo, ou um vestido de noiva. Ou ambos.

Diante de seu aroma etéreo, o corpo de Munro se enrijeceu instantaneamente, sua espinha se endireitando.

Sua.

O choque o assaltou.

— Não, não — ele disse numa voz rouca —, que artifício é esse? — Ela era como uma visão, um anjo vindo levá-lo, extremamente bonita para estar neste lugar fétido.

— Nenhum artifício. — Jels disse. — Conheça Kereny. Ren para os íntimos. Você não acreditaria onde, e quando, nós tivemos que ir para consegui-la. Basta dizer que a despesa mística para achar sua fêmea foi cara.

Minha fêmea? Sim. As mãos dos deuses.

Os olhos arregalados dela estavam vítreos, cegos. Ela cambaleou. Machucada? Munro não viu nenhum sangue arruinando a seda branca imaculada de seu vestido. Ainda assim ele sentiu o cheiro de alguma coisa como... veneno.

Munro berrou.

— Que porra você fez? — Ele correu para ela, mas Madadh esbarrou nele, jogando-o ao chão. O quanto seriamente ela estava ferida?

Enquanto Munro se debatia contra o homem, seu Instinto gritava “SUA FÊMEA MORRE”.

Morre?

Sua besta uivou dentro dele para lutar por ela, mas de alguma maneira Munro resistiu. Se fosse escravizado, ele não teria nenhuma esperança de escapar com ela, muito menos de salvar sua vida.

Quando o segundo bruxo afastou-o dela, ela caiu de joelhos, seus antebraços estendidos junto de suas coxas. Seus dedos frágeis estavam inertes.

Com alegria absoluta, Jels empurrou as mangas do seu vestido para cima, revelando veias pretas que se estendiam de seus pulsos até seus cotovelos.

— Veja. Sua força vital está se transformando em pedra. Espere até que alcance seu coração, fui informado que não existe agonia pior.

Eles a enfeitiçaram. A ira avermelhou a visão do Munro.

— Ela tem apenas alguns minutos antes de sucumbir, — disse Jels. — Uma coisa tão desagradável.

A expressão dela se contorceu em uma agonia absoluta e ela clamou, aqueles frágeis dedos se debatendo com sua dor.

— O que você quer, bruxo? Eu farei! — O medo apertou seu coração, um enorme punho glacial ao redor dele. Seu olho restante se encheu de lágrimas. — Qualquer coisa! — Sua besta clamava dentro dele, mas Munro lutou com ela.

Jels fez um som de tsc.

— Se você tivesse cooperado, então não teríamos que roubá-la de seu próprio casamento.

Casamento? Munro não podia se preocupar sobre isso agora!

— Diga que merda tenho que fazer para salvá-la!

— Você tem pouco tempo, Lykae. Ela enfraquece como a noite mergulha no sol. — Jels estalou os dedos para os outros partirem. — Estou certo que você compreende o que precisa ser feito. Mas se não... eu poderia sugerir morte por mordida acima do feitiço de sangue de pedra? É muito menos excruciante.

Ira. Névoa. Não, lute com isto! Pense! Antes da porta da cela fechar com um tinido, Munro correu para ela mais uma vez.

— Não se assuste comigo, Kereny. Meu nome é Munro MacRieve e não quero te machucar. — Ele podia apenas imaginar com o quê seu rosto mutilado se pareceria. Quando ele enlaçou seus braços algemados por cima do corpo trêmulo dela, ela olhou fixo inexpressivamente. Choque. — Apenas fique comigo! Estou indo te ajudar.

Quando outra onda de dor golpeou-a, ela estremeceu. Sua sobrancelha ficou úmida, sua respiração arquejante.

Tenho que tirá-la daqui! Ela era tão delicada e jovem, sua pele fria e úmida. Eu tenho que perder outra mortal? Os olhos dele dardejaram de modo selvagem. Eles perecem muito prontamente.

Não.

— Não deixarei você morrer! — Não havia tempo para escapar do calabouço com ela, tirá-la do plano para obter ajuda. Sua fêmea misteriosa morreria daqui a instantes.

Munro tinha somente uma esperança de salvá-la, como os bruxos sabiam bem. Ele atraiu-a mais perto, tentando desesperadamente aquecê-la.

Para prepará-la. E a si mesmo. Ele esfregou seu queixo acima do ombro magro dela, respirando profundamente seu aroma. Ajudou a acalmar a raiva e o pânico que sentia.

Ela finalmente falou em uma voz abafada.

— N-não faça isso comigo. — Suas palavras eram inglesas e com sotaque bem carregado. Com dificuldade ela girou sua cabeça em direção a ele, o movimento claramente agonizante para ela. — Desafie este mal. — Uma vez que ficaram cara a cara um com o outro, ela soltou um grito pelos ferimentos feitos a ele.

— Farei qualquer coisa para salvar você. — Até me tornar um escravo. — Você é minha companheira, pequena.

— Companheira? — Mesmo tão fraca, ela ainda soou espantada. — Então como pode sequer pensar em abusar de mim assim?

Ele começou a renunciar o controle para sua besta. Salve-a, besta, morda-a ferozmente.

— Eu sei o que você é. — ela sussurrou entre respirações entrecortadas. — Por favor, não me infecte... com essa coisa dentro de você.

Impassível diante de seu apelo, ele usou seu rosto arruinado para cutucar seu cabelo enrolado para fora do seu ombro. Ela tentou resistir a ele, mas não restou muita força.

— Eu cuidarei de você, ensinarei a controlar isto.

— Meu tipo venera a liberdade. — Ela começou a chorar. — Você transformaria sua companheira... em escrava do bruxo?

— Você não será uma escrava! Eu libertarei você.

— Deixe-me ter uma morte honrada.

Ele disse rouco — Eu não posso, Kereny. Você ressuscitará... está me entendendo? Você deve retornar para mim! — Só duas das vítimas do Madadh retornaram. Mas minha besta é forte; ela rugirá à vida dentro dela.

Tanto que esta jovem fêmea não teria nenhuma chance de controlá-la. Descubra mais tarde.

— Se fizer isso... odiarei você. Minha família te amaldiçoará... você ainda não terá nenhuma companheira.

— Então passarei a eternidade tentando ganhar seu perdão. — E castigando aqueles que fizeram isto para Kereny. Sua Kereny.

— Não mereço isso. Você me transformaria em um animal... tornando-me uma desterrada da minha gente... me escravizando para aqueles que há tanto tempo quero ver mortos? Não há perdão.

As garras e presas do Munro começaram a se alongar, seu corpo metamorfoseando contra o dela.

— Feche os olhos para mim, meu amor.

— E-eu estou começando... não. — Em vez de fechar os olhos, ela focou-os no rosto dele. Choramingou à visão de sua besta ascendendo.

Com sua voz ficando gutural, Munro disse com os dentes cerrados — Estou começando, retorne para mim, pequena.

Com um rugido primitivo, sua besta assumiu o comando completamente. Munro podia apenas existir no fundo, percebendo sua cabeça chicoteando adiante, afundando as presas na pele doce do seu pescoço. Percebendo ela se retorcer e soluçar com angústia.

Percebendo seus batimentos cardíacos diminuindo. Tum-tum... tum-tum...

A besta rosnou contra a carne fresca dela, injetando freneticamente sua essência, uma parte dele mesmo através de uma mordida maligna.

Quando Kereny estremeceu na agonia da morte, a besta dava patadas mais perto de seu corpo, balançando-a, derramando lágrimas e sangue por cima de seu vestido de noiva.

A besta recuou, mas só para afundar suas presas nela novamente. E novamente. Uivando entre cada mordida furiosa.

Vagamente Munro estava ciente da risada do Jels fora da cela, do poder dos bruxos enrolando ao redor dele, tomando-o.

Como posso proteger Kereny como um escravo irracional? E ele não seria o único sob seus desmandos. O que eles fariam para uma beleza como ela quando a controlassem totalmente?

Pensando no inferno que ele poderia tê-los condenado, Munro rezou para que seu gêmeo pudesse sentir sua confusão. Antes ele temeu que Will viesse a este lugar. Agora exijo essa porra!

Seja mais esperto que eu, Will. Seja mais forte.

Liberte-me, então poderia libertar minha companheira.

O corpo de Kereny caiu inerte. Tum... tum... silêncio. Quando o coração da sua companheira silenciou em seu tórax, Munro deixou sua cabeça cair para trás e rugiu até que a porra do calabouço inteiro tremeu, silenciando apenas quando os lábios dela abriram.

A respiração dela finalmente escapou, levando suas últimas palavras:

— Eu... odeio... você...

 

 

 

[1] Veritas. Na mitologia romana Veritas era a Deusa da Verdade, filha de Saturno e mãe da Virtude.

[2] Colocar fora de combate a golpe de bolsa, dar bolsada.

[3] Brace é um termo do futebol onde o jogador marca dois gols consecutivos em uma mesma partida.

[4] Hat-trick é um termo do futebol onde o jogador marca três gols consecutivos em uma mesma partida.

[5] Ahllomeam é termo derivado do escocês Allhallow-eve, que deu origem ao nome Halloween, Dia das Bruxas, e é um trocadilho que ela faz com o nome de Will.

[6] Lucky Dog é uma rede de cachorros quentes e fast food de Nova Orleans.

[7] O termo Sassenach na nova ortografia galesa e escocesa é sasannach, que quer dizer: Sas = um saxão; sen = um inglês; ach = um Lowlander, das terras baixas escocesas. sen= an Englishman

[8] Canuck é um termo depreciativo que os americanos fazem aos canadenses, tipo broncos.

 

 

                                                                  Kresley Cole

 

 

              Voltar à “Página do Autor"

 

 

                                                   

O melhor da literatura para todos os gostos e idades