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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


MAGIA SOMBRIA / Christine Feehan
MAGIA SOMBRIA / Christine Feehan

 

 

                                                                                                                                   

  

 

 

 

 

       A noite estava viva, pulsando com o sangue de incontáveis humanos. Caminhou entre eles, sem ser visto, movendo-se com a fluida graça de um predador da selva. A essência invadia seu nariz. Roupa perfumada. Doce. Xampu. Sabão. Álcool. Drogas. AIDS. O doce e insidioso aroma do sangue. Havia muita pessoas nesta cidade. Alimento, sustento, ovelhas, presas. A cidade era a reserva de caça perfeita.

       Mas se sentia bem esse dia, embora o sangue lhe sussurrasse, tentando-lhe com a promessa de força e de poder. O sedutor frenesi da excitação. Absteve-se de satisfazer seus desejos. Após tantos séculos de caminhar pela terra, sabia que as promessas sussurradas eram vazias. Já possuía força e poder, enormes, e sabia que o frenesi, embora podia ser aditivo era a mesma ilusão que proporcionavam as drogas, nos humanos.

       O estádio da moderna cidade era enorme, com milhares de pessoas aglomeradas em seu interior. Passou tranqüilo pelos guardas sem duvidas. Caminhou com a segurança de que não poderiam detectar sua presença.

       O espetáculo de magia estava quase finalizando e um silêncio de antecipação, fôlego contido, dominava a multidão. Sobre o cenário, uma coluna de névoa rosa surgiu do ponto onde, um momento antes, a maga estivera em pé.     Misturou-se entre as sombras, seu olhar cinza claro, percorreu o cenário. Então ela emergiu da névoa. A fantasia, o sonho de todo homem. Sonho de calidas e úmidas noites. De seda. Mística, misteriosa. Uma mistura de inocência e sedução, que movia-se com a graça de uma encantada. O espesso cabelo negro azulado caía em cascata formando ondas até seus quadris. Um vestido branco de estilo Vitoriano cobria seu corpo, moldando seus empinados e turgentes seios, seu fino tórax e a estreita e diminuta cintura. Pequenos botões de pérolas desciam pela parte dianteira do vestido, aberto a partir das coxas, revelando incitantes pernas bem formadas, meticulosamente torneadas. Óculos escuros, de fabricação especial ocultavam seus olhos, mas evidenciavam e atraíam a atenção para à luxuriosa boca, os dentes perfeitos e as maçãs clássicas do rosto.

 

 

 

 

       Savannah Dubrinsky, sem dúvidas, era uma das maiores magas do mundo.

       Ele havia suportado quase mil anos de vazio negro e sem alegria, sem raiva, sem desejo, sem emoção. Nada sentia, exceto a besta, a fera escondida, faminta, insaciável. Nada mais que a escuridão, a mancha que se estendia por sua alma. Seus olhos deslizaram sobre a pequena e perfeita figura e a necessidade lhe invadiu. Dura. Faminta. Dolorosa. Seu corpo se inflamou, enrijeceu-se. Cada músculo se distendeu, quente e doloroso. Seus dedos se fecharam lentamente no respaldo de um dos assentos do estádio, afundando-se profundamente, deixando no metal, as impressões visíveis dos dedos de um homem. A transpiração banhava sua testa. Permitiu que a dor passasse sobre ele, através dele. Saboreou-a. Sentiu-a.

       Seu corpo não só a queria. Exigia-a, ardia por ela. A fera elevou a cabeça e a olhou, marcando-a, reclamando-a. A fome surgiu brusca, perigosa, feroz. Sobre o cenário, dois assistentes começaram a encadeá-la, tocando com suas mãos a suave pele de Savannah, seus corpos a roçavam. Um grunhido baixo retumbou em sua garganta, seus olhos brilharam vermelhos. Nesse momento, mil anos de autocontrole explodiram, liberando um perigoso predador. Ninguém estava a salvo, mortal ou imortal e ele sabia.

       Sobre o cenário, a cabeça de Savannah se elevou e girou ao redor examinando o cenário como se estivesse farejando o perigo. Sentia-se como um pequeno cervo apanhado numa armadilha, correndo para a terra.

       Sentimentos. Desejo escuro. Crua luxúria. Uma profunda e primitiva necessidade o possuiu. Fechou os olhos e inalou bruscamente. Cheirou o medo dela e se agradou. Sendo considerado perdido, por toda a eternidade, não lhe importava mais que seus sentimentos fossem tão intensos que beiravam a violência. Eram genuínos e estava desfrutando da capacidade de sentir, sem importar o quão perigoso fosse. Não tinha importância tê-la marcado injustamente, que ela não lhe pertencesse legitimamente, que tivesse manipulado o resultado de sua união antes de seu nascimento, de ter quebrado as leis de sua gente para tê-la. Nada disso importava mais. Só que era seu o fim.

       Sentiu sua busca mental. Um roçar de asas, como de uma formosa mariposa. Mas ele era um dos anciões, poderoso e perito, além dos limites da Terra. Era o que sua gente falava aos sussurros, com temor, com medo, com terror. O Escuro.     Apesar de sua premonição do perigo, ela não tinha oportunidade de o encontrar, não até que ele a permitisse.

       Seus lábios se retorceram, com um silencioso grunhido, quando o assistente loiro passou uma mão pela face de Savannah e deixou um beijo em sua testa antes de encerrá-la, encadeada e maniatá-la dentro de uma abóbada de aço. As presas surgiram em sua boca, e a fera dirigiu ao homem, o frio olhar sem pestanejar de um assassino. Deliberadamente enfocou a garganta assistente atrevido, lhe permitindo sentir durante só um momento, a agonia do estrangulamento. O homem segurou a garganta e tropeçou, depois se recuperou, procurando ar para seus pulmões. Olhou rápido e nervoso a sua volta, tentando ver algo entre a audiência. Ainda sem fôlego e alarmado, retrocedeu para ajudar a baixar a abóbada a uma câmara cheia de água.

       O predador invisível grunhiu sua advertência brandamente, um som mortalmente ameaçador que só o assistente loiro poderia ouvir. O homem sobre o cenário empalideceu visivelmente e murmurou algo ao outro assistente, que sacudiu a cabeça rapidamente com o cenho ligeiramente franzido.

       Enquanto a volta de seus sentimentos, divertia o antigo, a perda de seu controle era perigosa até para ele. Voltou as costas à atuação e saiu do estádio. Cada passo que lhe afastava de Savannah era doloroso. Ainda assim, aceitava a dor, regozijando-se em sua capacidade de senti-la.

       Seus primeiros cem anos, tinham sido uma selvagem orgia de sentimentos, sensações, poder, desejos e inclusive bondade. Mas lenta e implacavelmente, a escuridão que ameaçava a alma de um homem dos Cárpatos sem companheira lhe havia reclamado. As emoções murcharam, as cores desapareceram até que simplesmente deixaram de existir. Experimentou, encontrou conhecimento e poder e pagou o preço por eles. Alimentou-se, caçou e matou quando julgou apropriado. E sempre a escuridão se espessava, ameaçando, corrompendo sua alma para sempre, lhe convertendo em um dos condenados, um vampiro, um não morto.

       Ela era inocente. Havia riso nela, havia compaixão e bondade. Era a luz para sua escuridão. Um amargo sorriso curvou sua boca sensual, marcada pela crueldade. Seus fortes e robustos músculos se estiraram. Colocou para trás, o espesso e negro cabelo que caía até seus ombros. Seu rosto se tornou duro e implacável, como ele era. Seus olhos, que facilmente controlavam os mortais, que os sustentava, enfeitiçava-os, converteram-se nos olhos da morte, o prateado reluziu como aço frio. Na distância sentiu o estrondoso aplauso que agitou a plateia, o rugido de aprovação que assinalava que Savannah havia saído da abóbada. Confundiu-se na noite, uma sombra sinistra impossível de detectar para os humanos ou para sua gente. Sua paciência era a da terra, sua impassibilidade a das montanhas. Permaneceu em pé sem mover-se em meio a loucura das pessoas ao redor do estádio e dentro de seus carros nos estacionamentos, criando o inevitável engarrafamento de tráfico. Sabia onde estava ela em cada momento, tinha assegurado seu vínculo quando era ainda uma menina. E nem sequer a morte poderia romper o laço que tinha forjado entre eles. Ela tinha colocado um oceano entre os dois, fugindo para longe. Para o país de nascimento de sua mãe, a América e em sua inocência, pensava que estava a salvo.

       O passar do tempo significava pouco para ele. Inalou profundamente, bebendo sua essência. Estirou-se como uma pantera aproximando-se furtivamente de sua presa. Podia ouvir sua suave risada, baixa, musical e inesquecível. Estava caminhando com o assistente loiro, vigiando como suas coisas eram embaladas e carregadas nos caminhões. Embora os dois estavam ainda no edifício e a grande distancia dele, podia ouvir sua conversa sem esforço.

- Me alegro de que a excursão tenha terminado finalmente. - Disse Savannah com voz fatigada, baixando as escadas e observando como os homens erguiam a abóbada de aço dentro do enorme caminhão.

- Ganhamos tanto dinheiro como pensou que ganharíamos? - Chateou gentilmente seu assistente. Ambos sabiam que a ela não importava o dinheiro e nunca prestava a mínima atenção no lado financeiro das coisas. Sem Peter Sander para encarregar-se dos detalhes, provavelmente teria falido.

- Mais do que pensei. Podemos dizer que foi um êxito.

- Peter sorriu abertamente para ela. - Suponho que São Francisco é uma cidade fabulosa. por que não passamos umas férias aqui? Podemos fazer todas as rotas turísticas de carro. Golden Gate, Alcatraz. Não podemos perder esta oportunidade, pode ser que nunca mais voltaremos aqui.

- Eu não. - Declinou Savannah, afastando-se um pouco quando Peter se aproximou um passo dela ela. - Estou me colocando ao descanso. Pode contar que é tudo.

- Savannah... - Suspirou Peter pesadamente. - Estou-te convidando para sair.

       Ela se sentou reta, tirando-as óculos escuros, e o olhando diretamente. Caprichosamente emoldurados por largos cílios negros, seus olhos eram de um profundo azul, quase violeta, com reflexos de prata irradiando através deles, como estrelas. Sempre, quando ela o olhava diretamente, Peter sentia uma estranha desorientação, como se estivesse caindo, afogando-se, perdendo-se no brilho das estrelas de seus olhos.

- Oh, Peter. - Sua voz era suave, musical, hipnotizadora. Era um dos motivos que a tinham conduzido ao estrelato tão rapidamente. Podia cativar uma audiência sem esforço só com sua voz. - Todo nosso sexapil e a paquera no show é só uma atuação. Somos amigos e trabalhamos juntos, isso é tudo para mim. Durante minha infância, o mais próximo que tive de um amigo, foi de um lobo. - Não adicionou que ainda pensava na pele emaranhada do lobo todo dia. - Não vou arriscar uma relação que valorizo, para tentar fazer dela algo mais.

       Peter pestanejou e sacudiu a cabeça. Ela sempre soava tão incrivelmente lógica, tão convincente. Sempre que o olhava, era impossível estar em desacordo com nada do que dizia. Podia lhe roubar a alma tão facilmente como roubou seu fôlego.

- Um lobo? Um de verdade?

       Ela assentiu.

- Quando era jovem, vivíamos em uma parte muito remota das Montanhas dos Cárpatos. Não havia crianças com os quem brincar. Um dia um pequeno filhote de lobo saiu fora do bosque próximo da nossa casa. Estava sempre comigo. Nunca estava sozinha. - Havia uma nota de dor em sua voz ante a lembrança de seu amigo animal. - Parecia saber quando precisava dele, quando estava triste ou solitária. Sempre era gentil. Quando saiu seus dentes, me mordia algumas vezes. - esfregou-se o braço recordando. Seus dedos desenharam as marcas, com uma carícia inconsciente. Quando cresceu, tornou-se meu companheiro constante. Éramos inseparáveis. Nunca tive medo dos bosques a noite, porque ele estava sempre ali para me proteger. Era enorme, de pele negra e espessa, e inteligentes olhos cinzas que me olhavam como se me entendesse. Algumas vezes, tinha um aspecto tão solene que parecia carregar o peso do mundo em suas costas. Quando tomei a decisão de vir para a América, foi duro deixar meus pais, mas me rompeu o coração deixar meu lobo. Antes de partir, chorei três noites seguidas, com meus braços ao redor de seu pescoço. Nunca se moveu, nem uma vez, como se entendesse e estivesse lamentando-se também. Se houvesse forma, teria trazido ele comigo. Mas ele precisava ser livre.

- Está me contando a verdade? Era um lobo de verdade? - Perguntou Peter incrédulo.- Embora poderia acreditar que Savannah pudesse domar um homem ou uma fera facilmente, estava assombrado pelo comportamento do animal. - Pensei que os lobos eram tímidos com as pessoas. Não é que tenha conhecido a muitos deles, ao menos da variedade de quatro patas.

       Ela sorriu fugazmente.

- Era grande e podia ser feroz, mas meu lobo não era tímido comigo. É obvio, não ficava nunca perto de ninguém mais, nem sequer de meus pais. Se refugiava nos bosques quando alguém se aproximava. Embora, permanecesse vigiando de longe até estar seguro de que eu estava a salvo. Podia ver seus olhos reluzindo no bosque, observando, e me fazendo sentir-se a salvo.

       Notando que ela tinha conseguido se distrair, Peter deliberadamente afastou o olhar dela, apertando os punhos com determinação.

- Não é natural a forma em que vive, Savannah. Você se asila de qualquer relação íntima.

- Nós somos íntimos. - assinalou ela gentilmente. – Gosto muito de voce, Peter. Como a um irmão. Sempre quis ter um irmão.

- Não sou seu irmão, Savannah. Nem sequer nos dá uma oportunidade. Tem alguém em sua vida? Eu a escolto às festas e entrevistas. Fiscalizo a contabilidade, acerto as entrevistas e me encarrego de pagar as contas. A única coisa que não faço é dormir com você.

       Um grunhido baixo retumbou ameaçador através da noite, enviando um calafrio pela espinho dorsal de Peter. A cabeça do Savannah se elevou, e olhou cautelosamente a seu redor. Peter ficou em pé, esquadrinhando os caminhões se de carga.

- Ouviu isso? – Ele estendeu uma mão, para ajudar Savannah se levantar, seus olhos procuravam freneticamente cada sombra. - Não lhe contei isso, mas ocorreu uma coisa estranha durante o show. – Ele estava sussurrando, como se a noite tivesse ouvidos. – Após ter colocado você na abóbada, me fechou a garganta. Foi como se algo tivesse suas mãos ao redor de minha garganta. Senti uma fúria assassina dirigida diretamente para mim. – Ele passou uma das mãos pelo cabelo e riu nervosamente. – É minha estúpida imaginação, sei. Mas ouvi exatamente, o mesmo grunhido, em minha cabeça. É uma loucura, Savannah, mas senti como se estivessem me advertindo que me afastasse de voce.

- Por que não me disse isso? - Exigiu ela, com medo nos olhos.

       Sem advertência, as luzes da zona de carga se apagaram, deixando-os em total escuridão. Os dedos de Savannah apertaram os de Peter e ele teve o claro pressentimento de que estavam sendo observados, caçados. Seu carro estava a uma grande distancia, o estacionamento estava tomado pela escuridão. Onde estavam os guardas de segurança?

- Peter, temos que sair daqui. Se eu te disser que corra, corra e não olhe atrás, aconteça o que acontecer. - Sua voz era baixa e exigente, o suficiente para que ele não pensasse em nada mais, do que em agradá-la. Mas seu pequeno corpo, tão próximo ao dele, estava tremendo e o cavalheirismo falou mais forte.

- Fica a meu lado, meu anjo. Estou com um mau pressentimento. - Advertiu Peter.    Como todas as celebridades, Savannah sofria sua cota de ameaças e perseguições. Ganhara alguns milhões e era a misteriosa e sexy imagem da bela mulher. Savannah tinha um efeito estranho e hipnotizador nos homens, como se sua lembrança os atormentasse por toda a eternidade.

       Savannah gritou uma advertência, um batimento de coração, antes de que algo golpeasse Peter com força no peito, tirando o ar de seus pulmões e arrancando sua mão da dela. Ele gemeu, seu peito doía, sentia-se como se uma tonelada de tijolos o tivesse esmagado. Seus olhos se encontraram com os de Savannah e pôde ver o terror neles. Algo enormemente forte lhe agarrou, atirando-o para trás, tirando seu braço do lugar, rompendo os ossos. Gritou, ao sentir um ar quente no pescoço.

       Savannah sussurrou seu nome e cobriu a distância entre eles de um só pulo, e se lançou sobre o atacante. Golpeou-a tão forte no rosto que ele saiu voando como uma boneca de trapo pelo asfalto do estacionamento. Embora se retorcesse agilmente no ar e aterrisasse sobre os pés, como uma gata, sua cabeça estava aturdida e pontos brancos dançavam em sua mente. Antes de que pudesse se recuperar, a fera atacou Peter afundando as presas em sua garganta, rasgando-a e depois engoliu o rico sangue que brotava da terrível ferida. Peter voltou a cabeça, esperando ver um lobo ou ao menos um enorme cão. Os olhos vermelhos reluziam para ele, malignamente ,de um branco e esquelético rosto. Peter morreu com agonia e terror. Com o temor e a culpa de que falhara ao proteger Savannah.

       Com um baixo e venenoso assobio, a criatura atirou descuidadamente para um lado, o corpo do Peter, que aterrissou a poucos pés de Savannah. O sangue formava uma espessa poça, estendendo-se lentamente através do asfalto. A besta levantou a cabeça e voltou-se para ela, sorrindo horrivelmente, revelando triunfantemente seus afiados dentes.

       Ela retrocedeu, seu coração pulsava de medo. Capturada pela dor tão brusca, que durante um momento não pôde respirar. Peter. Seu primeiro amigo humano em seus vinte e três anos de vida. Morto por sua culpa. Observou o estranho que o tinha matado.

       O sangue do Peter manchava seu rosto e seus dentes. Obscenamente, sua língua se estendeu para a fora e lambeu as manchas vermelhas de seus lábios. Seus olhos arderam para ela, desdenhosos.

- Encontrei-te primeiro. Sabia que o faria.

- Por que o mataste? - Havia horror em sua voz.

       Ele riu, lançando-se pelo ar e aterrissando a poucos metros dela.

- Todo esse medo fluindo pela veia sangüínea, com a adrenalina. Não há nada como isso. Eu gosto que me olhe, sabendo o que vai acontecer.

- O que quer? – Ela nunca afastava seus olhos ou sua mente dele. Seu corpo permanecia imóvel e preparado, perfeitamente equilibrado.

- Serei seu marido. Seu companheiro. - Havia ameaça em sua voz. - Seu pai, o grande Mickhail Dubrinsky, terá que revogar a sentença de morte que pronunciou contra mi. O comprido braço de sua justiça não o é o bastante para alcançar São Francisco, certo?

       Ela elevou o queixo.

- E se eu disser não?

- Então te tirarei da forma dura. Poderia ser uma mudança divertida depois de todas essas mulheres humanas, marionetes que suplicam por me agradar.

       Sua depravação a adoecia.

- Não lhe suplicam. Eles estorvam sua liberdade. É a única forma que em que poderia conseguir uma mulher. - Pôs todo o aborrecimento e desprezo de que era capaz em sua voz.

       O asqueroso sorriso se murchou em seus traços, deixando uma feia caricatura de homem, uma criatura saída das vísceras do inferno. Seu fôlego escapou em um comprido assobio.

- Pagará por essa falta de respeito. – Ele arremeteu-se contra ela.

       Uma sombra escura se moveu, surgindo da noite, músculos esticando-se como aço sob uma elegante camisa de seda. A sombra deslizou diante de Savannah como um escudo, obrigando-a a permanecer atrás. Uma mão lhe roçou o rosto onde seu atacante a tinha golpeado. O toque foi breve embora incrivelmente terno, e o contato momentâneo pareceu levar a dor com ele quando os dedos do recém-chegado escorregaram longe de sua pele. Seus olhos prateados se fixaram na esquelética criatura.

- Boa noite, Roberto. Vejo que jantaste bem. - Sua voz era agradável, culta, suave, hipnótica.

       Savannah conteve um soluço estrangulado. Instantaneamente sentiu uma revoada em sua mente, um fluxo de calidez, o sentimento de braços sustentando-a.

- Gregori. - Grunhiu Roberto, Seus olhos brilhavam com ânsias de sangue. - Ouvi rumores sobre o perigoso Gregory, o Escuro, o homem morcego dos Cárpatos. Mas não temo voce. - Era uma bravata, e eles sabiam. Sua mente corria procurando freneticamente uma saída.

       Gregori sorriu, uma pequena careta sem humor, que trouxe um indistinto brilho cruel em seus olhos. - Obviamente nunca aprendeste boas maneiras na mesa. Em todos seus longos anos, Roberto o que mais falhaste em aprender?

       O fôlego de Roberto escapou em um comprido e lento assobio. Sua cabeça começou a ondular lentamente de um lado para outro. Suas unhas se alongaram, convertendo-se em garras como afiadas navalhas.

       - Quando ela atacar, Savannah, saia deste lugar. - Foi uma imperiosa ordem para sua mente.

       - Foi meu amigo quem ele matou, eu a que fui ameaçada.- Ia contra seus princípios permitir que outro lutasse suas batalhas e possivelmente fosse ferido ou morto em seu lutar. Não deixava de pensar por que era tão fácil e natural falar com Gregori, o mais temível dos ancestrais Cárpatos, por um caminho mental que não era o caminho comum de comunicação de sua gente.

- Fará o que digo, ma petite. - A ordem foi dada em sua mente com o mesmo tom calmo e impregnado de autoridade. Savannah conteve o fôlego, temendo o desafiar. Roberto podia pensar que estava preparado para enfrentar um Cárpato tão frio como Gregori mas ela sabia que ela não estava. Era jovem, uma noviça nas artes de sua gente.

- Não tem nenhum direito de interferir, Gregori. - Exclamou Roberto, soando como um mimada e petulante menino. - Ela não foi reclamada ainda, por ninguem.

       Os olhos de Gregori semicerraram, reluziam a prata fria.

- Ela é minha, Roberto. Reclamei-a faz muitos anos. É minha companheira.

       Roberto deu um cauteloso passo à esquerda.

- Sua união não foi oficialmente aceita. Matarei você e ela me pertencerá.

- O que tem feito é um crime contra a humanidade. O que teria feito a minha mulher é um crime contra nossa gente, nossas apreciadas mulheres e contra mim, pessoalmente. A justiça te seguiu até São Francisco e a sentença que nosso Príncipe Mikhail pronunciou sobre voce será executada. O golpe que deu em minha companheira, faria ganhar seu destino. - Gregori nunca elevou a voz, Não perdeu seu zombador sorriso. Vá, Savannah.

- Não permitirei que ele te faça mal quando é a mim que busca.

       A suave risada de Gregori ressonou em sua cabeça. - Não há possibilidade de que isso ocorra, ma petite. Agora faz o que digo, vá. – Ele queria que ela saísse, antes de presenciar a destruição de uma abominação, que se atreveu a golpear a uma mulher. Sua mulher. Savannah já lhe temia o bastante.

- Vou matar voce. - Disse Roberto em voz alta, fanfarroneando para reunir coragem.

- Então não posso fazer mais nada, que permitir deixar você tentar. - Replicou Gregori complacentemente. Sua voz baixou, fazendo-se hipnótica. - É lento, Roberto, lento e torpe, muito incompetente para alguém com minhas habilidades. - Seu sorriso era cruel e levemente zombador.

       Era impossível evitar escutar a cadência de voz do Gregori. Encontrava o caminho até o interior do cérebro e nublava a mente. Imóvel, alto e poderoso com uma morte recente, cheio de luxúria e de necessidade de conquistar, Roberto se lançou para Gregori.

       Gregori já não estava ali. Havia empurrado Savannah tão longe deles, o possível, e como uma mancha imprecisa, marcou a cara de Roberto com quatro profundos sulcos. Marcando o ponto exato onde ele havia machucado o rosto de Savannah.

       A suave e zombadora risada de Gregori enviou calafrios para a coluna de Savannah. Podia ouvir os sons da batalha, os gemidos de dor enquanto Gregori fria, implacavelmente e sem piedade cortava Roberto em pedaços. A perda de sangue debilitava à criatura. Comparado com o Gregori, era torpe e lento.

       Savannah apertou os dedos contra a boca e retrocedeu vários passos, mas não podia afastar os olhos do rosto pétreo de Gregori. Era uma máscara implacável, com seu sorriso e zombador e os olhos da morte. Nunca trocava de expressão. Seu assalto era a coisa mais fria e implacável que ela já havia presenciado. Cada navalhada deliberada contribuía à debilidade de Roberto até que ele esteve literalmente coberto por milhares de cortes. Nenhuma só vez, Roberto conseguiu colocar a garra sobre Gregori. Estava claro que não tinha nenhuma possibilidade, que Gregori podia dar o golpe mortal a qualquer momento.

       Ela olhou para Peter, sem vida sobre o asfalto. Tinha sido um grande amigo para ela. Tinha-lhe amado como um irmão e agora jazia insensatamente morto. Savannah finalmente fugiu horrorizada cruzando o estacionamento, refugiando-se nas árvores que o rodeavam. Sentou-se no chão.

       Era culpa dela. Tinha pensado que tinha deixado o mundo dos vampiros e dos Cárpatos para trás. Inclinou a cabeça, seu estômago se revolveu em protesto pela fria brutalidade deste mundo. Ela não era como essas criaturas. As lágrimas se enredaram e desceram por seu rosto.

       Repentinamente um relâmpago estalou e dançou, um látego branco azulado cruzou o céu. Uma luz alaranjada acompanhou o rangido de chamas. Savannah cobriu o rosto com as mãos, sabendo que Gregori tinha destruído o corpo de Roberto completamente. Seu coração e seu corrompido sangue tinham que ser reduzidos a cinzas para assegurar que o vampiro não pudesse levantar-se de novo. E nenhum Cárpato, nem sequer um convertido em vampiro, devia ser exposto a uma autópsia realizada por um médico humano.

       As provas físicas de sua existência em mãos humanas seriam perigosas para toda a raça. Apertou os olhos fechados e tentou isolar o cheiro da carne queimada. Peter, também, teria que ser incinerado para esconder a terrível ferida aberto em sua garganta, evidência da presença do vampiro.

       Houve uma leve revoada do ar a seu lado. Então os dedos de Gregori se curvaram ao redor de seu braço e a levantou. Desde perto, ele parecia mais poderoso, completamente invencível. Seu braço lhe rodeou os ombros e a puxou contra a sólida parede de seu peito. Com o polegar tocou as lágrimas sobre sua face. com o queixo, acariciou a parte alta de sua cabeça.

- Sinto muito. Cheguei muito tarde para salvar seu amigo. Quando fui consciente da presença do vampiro, ele já havia atacado. - Não acrescentou que estivera muito ocupado redescobrindo suas emoções e as mantendo sob controle, para sentir Roberto imediatamente. Era seu primeiro deslize em mil anos e não estava preparado para examinar a razão muito de perto. Culpa, possivelmente, pela química manipulada que tinha com Savannah?

       A mente do Savannah tocou brandamente a sua e encontrou genuíno pesar por sua dor.

- Como me encontrou?

- Sempre sei onde está em cada momento. Há cinco anos, você me disse que precisava de tempo, e lhe o dei. Mas nunca te deixei.

- Não faça isto, Gregori. Sabe como me sinto. Criei uma nova vida para mim.

       Sua mão, gentil sobre o cabelo dela, a fazia sentir sensações que não conhecia.

- Não pode trocar o que é. É minha companheira e é hora de vir comigo. Sua voz manteve a suavidade, quando sussurrou companheira, reforçando seu indevido toque com naturalidade. Por mais que o dissesse, por mais que Savannah não acreditasse, via em cores e sentia emoções porque tinha encontrado a sua companheira. Mas também sabia que tinha programado sua química para que fossem compatíveis antes de que ela nascesse. Ela nunca havia tido nenhuma possibilidade de escolha.

       Os dentes dela mordiam o lábio inferior por causa da agitação.

- Não pode me tomar contra minha vontade, Gregori. Vai contra nossas leis.

       Ele inclinou sua escura cabeça, seu hálito quente enviou calor que se envolveu em todo seu corpo.

- Savannah, me acompanhará agora.

       Ela levantou a cabeça, o cabelo negro azulado caiu em todas direções.

- Não. Sou o mais próximo de uma família que Peter tem. Encarregarei-me dos acertos para ele primeiro, depois discutiremos. – Ela estava retorcendo as mãos, traindo seu nervosismo, sem notar.

       A mão de Gregori cobriu as dela e imobilizou o desesperado retorcer de dedos.

- Não está pensando com claridade, ma petite. Não pode ser encontrada na cena. Não teria forma racional de explicar o ocorrido aqui. Prepararei as coisas para que quando seu corpo for encontrado e identificado, nenhuma suspeita caia sobre ti ou nenhum dos nossos.

       Ela respirou profundamente, odiando que ele tivesse razão. Não poderia atrair nenhuma atenção sobre sua carreira. Mas não era obrigada a aceitar as ordens de Gregori

- Não irei contigo.

       Dentes brancos reluziram para ela, o sorriso de um predador.

- Pode tentar me desafiar, Savannah, se sentir que deve.

       Ela tocou com sua mente a dele. Diversão masculina, implacável resolução, calma absoluta. Nada afetava Gregori. Nem a morte. Nem certamente seu desafio.

- Chamarei a segurança. - Ameaçou ela desesperadamente.

       Os dentes imaculadamente brancos brilharam novamente. Os olhos prateados reluziram.

- Deseja que os libere das ordens que lhes deu, antes que o faça?

       Ela fechou os olhos, ainda tremendo a causa do choque e do medo.

- Não, não o faça. - Sussurrou derrotada.

       Gregori estudou a tristeza tão transparente em seu rosto.

       Algo se arrastou para seu coração, algo irreconhecível para ele mas não obstante forte.

- A alvorada estará sobre nós em poucas horas. Precisamos sair deste lugar.

- Não irei contigo. - Insistiu ela obstinadamente.

- Se seu orgulho ditar que deve lutar comigo, pode tentar. - Sua voz, com sua cadência e a formalidade do Velho Mundo, foi quase uma oferta.

       Os olhos dela passaram para um profundo vermelho.

- Deixa de me dar ordens! Sou a filha de Mikhaul e Raven, uma Cárpato como voces e não sem poderes próprios. Tenho direito de tomar minhas próprias decisões!

- Se te agrada pensar assim. - Seus dedos se fecharam facilmente ao redor da fina mão, mas ela podia sentir seu enorme força. Savannah empurrou com força, pondo a prova sua resolução. Gregori aparentemente não notou sua resistência.

- Desejas que eu torne isto mais fácil para voce? Teme-me desnecessariamente. - Sua hipnotizadora voz era incrivelmente tentadora.

- Não! - O coração lhe fechou, de repente, dolorosamente no peito. - Não controle minha mente. Não me converta em uma marionete. - Sabia que ele era o suficientemente arrogante para fazer e isso a aterrorizava.

       Dois dedos capturaram seu queixo firmemente e o levantou para que seu olhar fosse apanhado pelo d dele.

- Não há perigo de que ocorra tal atrocidade. Não sou um vampiro. Sou um Cárpato, e você é minha companheira. Protegerei-te com minha vida. Sempre procurarei sua felicidade.

       Ela inspirou profundamente para se controlar, depois o deixou escapar lentamente.

- Não somos companheiros. Eu não escolhi. - agarrou-se a este fato, sua única esperança.

- Podemos discutir isto em um momento mais oportuno.

       Ela assentiu fracamente.

- Encontraremo-nos amanhã então.

       A silenciosa risada dele encheu sua mente. Baixa. Divertida. Frustrantemente masculina.

- Virá comigo agora. - Sua voz mudou o tom, voltando-se calidamente doce, acolhedora, hipnótica, tão hipnotizadora que era impossível lutar.

       Savannah apoiou a testa contra os músculos do peito dele. As lágrimas estavam ardendo em seus olhos e garganta.

- Tenho medo de voce, Gregori. - Admitiu dolorosamente. - Não posso viver a vida de um Cárpato. Sou como minha mãe. Sou muito independente e necessito ter minha própria vida.

- Conheço seus medos, ma petite. Conheço cada um de seus pensamentos. O vínculo entre nós é bastante forte para cruzar oceanos. Ocuparemo-nos de seus medos juntos.

- Não posso fazer isto. Não quero! –

       Savannah se abaixou sob seu braço, rabiscou sua imagem e se lançou a uma velocidade deslumbrante. Não importava de que forma se retorcesse ou girasse, não importava quão rápido corresse, Gregori estava com ela a cada passado do caminho. Quando finalmente se deteve, estava no extremo do estádio, as lágrimas caim desenfreadamente por seu rosto. Gregori estava a seu lado, sólido, quente, invencível, como se realmente conhecesse cada um de seus pensamentos, cada um de seus movimentos antes de que ela os fizesse.

       Seus braços de enroscaram ao redor de sua cintura, levantando-a completamente, capturando-a.

- Por permitir sua liberdade, deixei voce exposta ao perigo de renegados como Roberto. - Por um momento deixou sua cabeça para enterrar-se na espessa massa de seu sedoso cabelo. Então, sem advertência, lançou-se no ar, tornando-se um pássaro com enorme força. O pequeno corpo de Savannah pressionado firmemente contra ele.

       Ela fechou os olhos e permitiu que o pesar por Peter a consumisse, afastando todo o conhecimento da criatura que atravessava o céu com ela, levando-a para sua toca. Seus punhos se apertaram ao redor dos músculos fortes como o aço. O vento levava o som de seus soluços para as estrelas. Suas lágrimas brilhavam como jóias na noite.

       Gregori podia sentir sua dor como se fosse sua. Suas lágrimas lhe comoviam. Sua mente se estendeu até o caos da dela, encontrando o pesar e o terrível medo que ela sentia dele. Deliberadamente a envolveu com calidez e conforto. Acariciou sua mente, aliviando seus nervos.

       Savannah abriu as olhos para encontrar-se fora da cidade, sobre as montanhas. Gregori a colocou gentilmente nos degraus de uma enorme e casa. Adiantou-se a ela para abrir a porta, depois retrocedeu cortesmente para lhe permitir entrar.

       Savannah se sentiu pequena e perdida, sabendo que se desse um passo para entrar em sua casa, estaria colocando sua vida nas mãos dele. Seus olhos se acenderam com um fogo branco azulado, como se tivesse capturado uma estrela e a guardasse para sempre em suas profundidades. Elevando seu queixo, desafiadoramente, caminhou para trás até que o corrimão do alpendre a deteve.

- Nego-me a entrar em sua casa.

       A risada de Gregori foi baixa, divertida e enloquecedoramente masculina.

- Seu corpo e o meu escolheram por nós. Não há outro homem para voce, Savannah. Nem agora, nem nunca. Posso sentir suas emoções quando os homens, humanos ou Cárpatos, a tocam. Repulsa-te. Não consegur suportar seu toque. - Sua voz se fez mais baixa ainda, uma escura carícia mágica que pareceu enviar calor que se estendia através dela como lava fundida. - Não como meu toque, ma petite. Ambos sabemos. Não negue, ou me verei forçado a provar minhas palavras.

- Só tenho vinte e três anos. - Assinalou ela desesperadamente. - Você tem séculos. Não tive vida nenhuma.

       Ele encolheu os ombros casualmente, seus olhos prateados sobre o formoso e ansioso rosto dela.

- Então desfrutará dos benefícios de minha experiência.

- Gregori, por favor, entenda. Você não me ama. Não me conhece. Não sou como as outras mulheres dos Cárpatos. Não quero ser uma égua de cria para minha raça. Não posso ser sua prisioneira, não importa o quanto seja amoroso e indulgente.

       Ele riu brandamente e ondeou uma mão displicente no espaço entre eles.

- É jovem, menina, se crê no que está dizendo. - Havia uma gentiliza em sua voz que tocou seu coração, apesar de todos seus medos. - É sua mãe uma prisioneira?

- Meus pais são diferentes. Meu pai ama a minha mãe. Ainda assim, algumas vezes pisotearia seus direitos se pudesse. Uma jaula dourada segue sendo uma jaula, Gregori.

       Ele estava com aquele ar divertido novamente, que esquentava o frio aço de seus olhos. Savannah sentiu que seu temperamento se elevava. Teve o impulso ingovernável de lhe esbofetear o rosto.

       Seu sorriso se alargou, um desafio sutil. Assinalou a porta aberta.

       Ela lançou uma risada forçada.

- Podemos ficar aqui fora até o amanhecer, Gregori. Estou desejando sabia?

       Ele apoiou o quadril contra a parede.

- Pensa me desafiar?

- Não pode me forçar sem violar nossas leis.

- Em todos os séculos que existi, crê que alguma vez, quebrei nossas leis? - Sua risada suave não estava desprovida de humor. - As coisas que tenho feito fariam parecer seu rapto tão insignificante como um comum crime humano.

- Não obstante fez justiça ao Roberto, embora São Francisco seja o território de caça de Aidan Savage. - Assinalou ela, sitando outro dos poderosos homens Cárpatos que seguia o rastro e destruía aqueles deles que se convertiam em vampiros. – Foi por mim?

- É minha companheira. A única coisa que se interpõe entre mim e a destruição de mortais e imortais por igual. – Ele estabeleceu calmamente, como uma verdade absoluta. - Ninguém a tocará ou tentará interpor-se entre nós e seguir com vida. Savannah retrucou.

- Meu pai poderia...

       Ele sacudiu a cabeça.

- Não tente colocar a seu pai nisto, chérie, embora Mickail é o Príncipe de nossa gente. Isto é entre você e eu. Não quer uma guerra. Roberto te machucou e foi razão suficiente para que morresse.

       Ela o tocou com a mente. Não havia raiva. Só resolução. Acreditava no que dizia. Não estava dissuadindo-a ou tentando assustá-la. Queria sinceridade entre eles. Savannah pressionou o dorso da mão contra a boca. Sempre soube que este momento chegaria.

- Sinto muito, Gregori. - Sussurrou desesperadamente. - Não posso ser o que você quer. Escolherei enfrentar o amanhecer.

       Os dedos dele acariciaram sua cara com incrível gentileza.

- Não tem nem idéia do que quero de voce. - Suas mãos lhe sustentaram o rosto, os polegares acariciaram a pele acetinada sobre a frenética pulsação de sua garganta. - Sabe que não posso permitir a você tal escolha, ma petite. Podemos falar de seus medos. Entre comigo.

       Sua mente estava invadindo-a, uma suave e doce sedução. Seus olhos, tão frios, esquentaram-se até assemelhar mercúrio fundido que parecia arder dentro da mente dela, ameaçando sua essência.

       Os dedos de Savannah cravaram no corrimão enquanto sentia se afogar em calor.

- Detenha, Gregori! - Gritou ela bruscamente, decidida a romper sua garra mental. Era uma doce tortura, acrescida de calor e sedução, tão perigosa, que se lançou para a entrada da casa para fugir de seu poder sobre ela.

       O braço de Gregori deteve o precipitado vôo. Sua boca se moveu com a dela. Seu corpo, agressivamente masculino, duro e ferozmente aceso, acariciou o dela. - Diga-o, Savannah. Dava as palavras.

       O sussurro em sua mente era macio e negro. Sua boca, perfeita e sensual, quente e úmida, vagava baixando por garganta. A realidade de sua carne era mais erótica que sua sedução mental. Seus dentes lhe roçavam ligeiramente a pele. O corpo de Gregori se estirou e ela pôde sentir o monstro despertando nele, faminto, ardendo com uma necessidade nada gentil, não como o amante ideal, mas como homem dos Cárpatos, completamente excitado.

       As palavras que ele lhe ordenava dizer quase estrangulavam sua garganta e as expulsou tão baixinho, que foi impossível dizer se estavam falando em voz alta ou se eram um eco em sua mente.

- Vou contigo por minha própria vontade.

       Ele soltou-a instantaneamente, lhe permitindo tropeçar para cruzar a soleira. Depois dela, sua enorme forma encheu a porta. Permanecia em pé elevando-se sobre ela, com os olhos prateados irradiando calor, poder, intensa satisfação.   Gregori fechou a porta com o pé e a alcançou.

       Savannah gritou e tentou fugir de seu toque, mas ele a alcançou e com sua força casual, embalou seu corpo que lutava contra seu peito. Seu queixo acariciou o cabelo sedoso.

- Fica aquieta, pequena ou terminará machucando-se. Não há forma de lutar contra mim, e não posso permitir que se fira.

- Odeio você.

- Não me odeia, Savannah. Tem medo de mim, mas acima de tudo, teme o que é. - Replicou ele com calma. Estava se movendo pela, a largos passos, levando-a ao porão. Depois, desceu até a câmara cuidadosamente oculta nas profundezas da terra.

       Seu corpo ardia por ele e, tão perto de seu calor, não havia alívio. A fome aumentou bruscamente, e algo selvagem nela elevou sua cabeça.

 

No momento em que Gregori a deixou sobre seus pés, Savannah, correu para longe dele. De um só salto pôs a distância do aposento entre eles. O medo era uma entidade viva e crescente, misturando-se com sua selvagem natureza.

Gregori podia sentir seu coração pulsar e o seu próprio se sintonizou ao latente ritmo do dela. Seu sangue o chamava. Tomou a essência em seus pulmões, em suas veias, em seu próprio sangue ardente, com um feroz e ardente desejo. Tomou fôlego pelos dois, lutando por controlar o demônio nele, lutando pela calma que necessitava para evitar lhe fazer mal, para evitar que ela fizesse mal a si mesma.

Parecia o que era, jovem, selvagem, formosa, seus olhos profundamente violetas pareciam estrelas, enormes pelo medo.

Ela parou no lugar mais afastado dele, seus pensamentos eram tão caóticos que levou alguns momentos ordenar suas confusas emoções. Pesar e culpa por seu amigo perdido. Desgosto e humilhação por seu corpo trai-la, por que não fora forte o suficiente para enfrentar-lo. Temia que ele pudesse conseguir sua meta, fazê-la sua companheira e controlar sua vida. Temor que ele lhe fizesse mal com sua força, com seu desejo ardente. Ante a necessidade de escapar dessa visão, estava disposta a lutar até a morte.

Gregori a enfrentou sem expressão, sem mover um músculo. Procurou uma forma de relaxar a situação. Nunca permitiria que Savannah morresse. Havia arriscado tudo por ela. Tinha arriscado sua própria prudência, sua alma. Não perderia tudo agora por sua própria estupidez.

- Lamento verdadeiramente a perda de seu amigo, Savannah. - Disse Gregori. Tranqüila e amavelmente, sua voz baixa era um sussurro de música hipnótica.

Os cílios dela tremeram. Piscou. As palavras dele eram claramente inesperadas.

- Deveria ter chegado a tempo de o salvar. - Admitiu ele brandamente. - Não te decepcionarei novamente.

Ela umedeceu os lábios e tomou ar. Gregori parecia invencível, implacável. Parecia um feiticeiro, exalando tentação por cada poro. Sua sexualidade era assustadora. Sua voz amável e em perfeita calma, contestava o toque de sensual crueldade de sua boca, o intenso ardor de seus olhos e a implacável máscara que era seu rosto, sua marca.

- Não sou um monstro que a atacaria enquanto seu pesar e seu temor são tão profundos. Relaxe, pequena. Seu companheiro pode ser um demônio para os outros, mas você está a salvo. Só desejo te confortar. - Sentiu o toque dela em sua mente, procurando a verdade em suas palavras. Raramente permitia a alguém, a intimidade de um vínculo mental. Com ela, a mistura acrescentava profundidade a sua dor física, o redemoinho das poucas e familiares emocões. Mas lhe deu prazer. Intenso prazer.

Tudo o que Savannah podia detectar era a necessidade dele em lhe oferecer conforto. Sua mente parecia serena, uma clara, fresca e plácida piscina. Sentiu que seu corpo relaxava, a mente dele acalmava o caos da sua. Como ele havia dito, o toque de qualquer outro homem a fazia sentir repulsa. Era ele quem devia estar perto dela. Sua mente e corpo gritavam por ele.

Esfregou a cabeça. Pequenos martelos pareciam estar batendo em seu crânio. Gregori se moveu fácil e casualmente para o criado junto à cama. O olhar dela, fixo nele, seu rosto pálido, com sombras em seus olhos. Ele esmagou ervas em uma terrina de cristal e a fragrância aliviadora instantaneamente encheu o aposento.

- Venha aqui, ma chérie. - Sua voz foi baixa. O som a lavou como água cristalina. - Quase amanhece.

O olhar dela se afastou incômodo da cama quando notou seus contornos pela primeira vez. A antecâmara era grande, espaçosa, antiga. As velas iluminavam o interior, fazendo-a brilhar brandamente. A cama era grande, pesada de quatro colunas, esculpida elaboradamente com rosas e retorcidos ramos de folhas. Era formosa, gótica... E aterradora. Limpou a garganta e franziu o cenho incertamente. - Eu gostaria de dispor de minha própria antecâmara.

Os prateados olhos flutuaram sobre ela possessivamente.

- Não se afastará de meu lado.

- Não?

De repente, ela sentiu-se desesperadamente cansada. Doía-lhe a cabeça, suas pernas tremiam. Sentou bruscamente no chão. Uma mão deslizou através de seu espesso cabelo negro azulado, empurrando-os para longe de seu rosto, num gesto inconscientemente feminino. Piscou, e com rapidez Gregori esteva de pé perto dela. Fechou os olhos quando ele estendeu uma mão para ela.

Ele era forte, enormemente forte, elevando-a como se não fosse mais que uma menina. Enterrou a face contra seu peito, incapaz de reunir forças para lutar com ele.

Gregori saboreou a sensação de Savannah entre seus braços. Sua suavidade embalada contra seus músculos, a seda de seu cabelo roçando eróticamente sua pele. A dor correu através dele como lava fundida; a fome se elevou. Deixou-a sobre sua cama, onde     ela pertencia. Sua primitiva natureza, o caçador, o predador exigiu que a tomasse imediatamente, unindo-a irrevogavelmente a ele para sempre. Ela pertencia-lhe. Ele sabia exatamente o que era. Um demônio sem coração. Sem Savannah, estava sentenciado a uma interminável e solitária existência. Havia caminhado sobre a terra durante séculos, era um poderoso e respeitado curador, ninguém era maior que ele, mas completamente morto por dentro. Vivia sozinho. Sempre sozinho, Interminavelmente só. Mas agora, tinha Savannah. E destruiria qualquer hum que tentasse afastá-la dele, qualquer um que a ameaçasse.

Sua mão voltou a lhe acariciar o cabelo, uma massagem calma em seu couro cabeludo. Sua hipnótica voz assumiu um canto de cura, afastando a dor de suas têmporas, substituindo-a por paz. Estirou-se a seu lado, sua enorme e pesada forma, diminuindo a dela. Instantaneamente seu corpo reagiu a sua cercania.   Estava ardendo, o desejo ardia em seu sangue, seus músculos, cada fibra de seu corpo. Aceitou a dor, agradecido de poder senti-la. Enquanto a tomava entre seus braços, maravilhou-se da perfeição de alguém tão pequeno e frágil. Ela estava tremendo tanto que podia ouvir o bater de seus dentes.

- Sei o que sou, Savannah. Sei que sou um monstro, tal que o mundo humano não pode conceber. Mas sempre tive honra, integridade e um talento para curar. Posso te fazer duas promessas. Nunca haverá falsidade entre nós, e a protegerei com minha vida. Tenho que dizer que não tomarei o que é meu esta noite. Temos tempo para acalmar seus temores.

Ela enterrou o rosto em sua camisa de seda, onde podia sentir o firme pulsar de seu coração, o calor de sua pele. Era impossível para ele esconder sua feroz excitação, e não se incomodou em tentar, em troca fixou o corpo dela na dura longitude do dele. Savannah estava muito esgotada pelos acontecimentos da noite para continuar lutando. Estava entre seus braços, exausta, mas hvia encontrou paz no mesmo ser que a ameaçava.

- Crê que sou como as outras mulheres dos Cárpatos, Gregori, mas não sou. - Disse ela brandamente, sem estar segura de que estava oferecendo uma desculpa ou uma explicação.

A boca dele roçou a parte alta de sua cabeça, a mais leve das carícias. Seu polegar acariciou o ponto onde Roberto a tinha golpeado.

- Sabe o que acontece aos homens de nossa especie, Savannah. Seu pai não terá sido negligente ao te educar sobre algo tão importante. Não pode correr por aí sem ser reclamada. Há outros como Roberto. Selvagens, perigosos, conduzidos à loucura pela falta de uma companheira.

- Ele tinha a metade de sua idade. Por que se converteu em um renegado e você não? - Girou a cabeça para encontrar os olhos de Gregori. Um calafrio a percorreu ante a falta de piedade que viu ali, ante a severa posse que ardia nas geladas profundezas prateadas.

- Alguma vez, se perguntaste por que há tão poucos de nós?

- É obvio. Só porque não escolhi me emparelha,r não significa que não pense nos problemas que enfrenta nossa gente. Gegori, não desejo ser a companheira de ninguém. Não há razão para tomá-lo como algo pessoal.

Gregori sorriu, sua perfeita boca era sensual e convidativa.

- Sei que tem medo por mim, Savannah.

Disposta a não propor uma discussão que não pudesse ganhar, ela voltou para um tópico seguro.

- A razão de que haja tão poucos Cárpatos é porque há poucas mulheres e nenhuma menina. Inclusive os meninos raramente sobrevivem a seus primeiros anos. - Savannah involuntariamente se moveu mais perto da calidez dele. Parecia tão forte, fazendo-a sentir extranhamente a salvo e cômoda, na pior noite de sua vida.

- E que se passa com os homens? Já se perguntou realmente, porque tão poucos sobrevivem sem converter-se em vampiro? - Suas mãos acariciaram o cabelo dela. - Alguma vez já se sentiu sozinha, Savannah? Realmente sozinha?

Quando era menina, havia vivido em isolamento, exceto por seus pais, consagrados como estavam um pelo outro, ainda a mimavam e adoravam. Seu lobo, também, tinha sido extraordinário, enchendo cada lugar vazio em sua vida. Nunca havia se sentido só até que pôs um oceano entre ela e o chão curador de sua terra natal. Afastar-se de seus pais, do lobo e inclusive de suas opressivas obrigações como mulher dos Cárpatos, a tinha deixado com um buraco aberto no coração. Estar rodeada de pessoas, inclusive pelo afeto que sentia por Peter e os membros de sua equipe, não aliviava o crescente vazio que a consumia. Sem querer compartilhar seus segredos com Gregori, entretanto, não respondeu.

- Nós os homens, não podemos sobreviver a crescente escuridão sem nossa companheira, Savannah. Nossa natureza é agressiva, predadora, possessiva, inclusive entre os de nossa raça. Somos destrutivos e poderosos, famintos de sangue. Necessitamos um contrapeso. A maioria dos homens começam a declinar depois de vários séculos, quando já não vêem mais as cores, não experimentam mais verdadeiros sentimentos, e só podem confiar na força de sua vontade para manter nossas leis. Alguns escolhem terminar sua existência antes de que seja muito tarde, caminhando no amanhecer, à luz do dia e permitindo à terra reclamá-los. Outros, escolhem abraçar a escuridão, entregando suas almas, caçando à raça humana. Abusam de mulheres e crianças, caçam e matam pelo prazer momentâneo, pelo poder e o anseia. Não pode permitir-se.

- Meu pai e você são os mais velhos. Como sobreviveu?

- Seu pai e eu passamos nossos anos de luxúria de sangue em meio das guerras que percorreram a Europa. Podíamos canalizar nossas energias em salvar a outros, de exércitos assoladores. A caça de vampiros precisava de mais oponentes. Entre nós fizemos um pacto para procurar o amanhecer antes de nos converter completamente. Seu pai tinha a responsabilidade de nossa gente para lhe manter cordato e mais tarde encontrou a sua mãe, uma humana com um extraordinário talento psíquico e tanto coragem e compaixão que era capaz de aceitar nossa vida.

- O que tem você?

- O melhor que posso dizer de meu é que nunca abusei de uma mulher ou uma criança, e que passei séculos aprendendo as artes curadoras. Mas tenho a natureza de um predador, Savannah, assim como todos os homens de nossa raça. Porque tenho séculos de antigüidade, a fera selvagem, a besta é forte em mim. - Suspirou. - Os cinco anos de liberdade, que te permiti, foram um inferno para mim e perigosos para todos o que entravam em contato comigo. Estou muito perto de me converter e é muito tarde para que procure o amanhecer. É necessário, para a segurança de todos, por você agora. - Suas mãos se enredaram na seda de seus cabelos, apertando as mechas onde enterrava o rosto, inalando sua essência. - Não posso esperar mais.

A admissão rasgou sua alma. Não poderia permitir o luxo de lhe dar a única coisa que ela lhe pedia... Sua liberdade. Embora era Gregori, o Escuro, o mais frio entre os Cárpatos, não era suficientemente forte para deixá-la ir. Ela devia converter-se na companheira do único Cárpato que todos os outros temia. E era muito jovem.

- Alguma vez, já se perguntou como é para as mulheres de nossa raça, Gregori? Saber que em nosso décimo oitavo aniversário devemos deixar o amparo de nossos pais para nos entregar a um estranho? - Desta vez, ela abriu sua mente a ele, completamente, convocando a lembrança dos cinco anos de ambos.

Como qualquer menina-mulher em idade de casar-se, Savannah tinha encontrado uma excitação temerária em saber que era formosa e tinha poder sobre os homens de sua espécie. Ficou feliz quando seu pai convocou todos os homens disponíveis para conhecê-la. Ignorando a preocupação de sua mãe, tinha paquerado entre eles, inocente dos estragos que estava causando. Entretanto, em algum momento durante a reunião, tornou-se consciente da perigosa atmosfera, a pressão dos corpos masculinos contra ela, a fome em seus olhos, o aroma de sua excitação. Nenhum deles, notou, conhecia-a ou se importava em sabercomo ela se sentia ou pensava. Desejavam-na, embora não era realmente a ela que desejavam. Sentiu-se sufocada, enojada, temerosa. Nenhum deles a fazia sentir as coisas que, supõe-se, devia sentir.

Savannah havia escapado de sua casa e foi molhar o rosto com água fresca, sentindo-se doente e de alguma forma suja. Quando voltou, Gregori, o Escuro, estava a sua espera. Seu poder emanava de cada poro de seu corpo. Levava-o de forma casual, da mesma forma que levava sua força.

Era totalmente diferente dos outros... Muito mais aterrador, muito mais poderoso. Os outros pareciam jovens cachorrinhos em comparação. Seus prateados olhos moveram-se sobre ela possessivamente e ela sentiu apele arder ante o simples roçar de seu olhar. Roubava-lhe o fôlego convertendo seu corpo em fogo líquido, fazendo-a desejar, sentir coisas que nunca antes havia sonhado.

O medo se fechou de repente, entre o conhecimento de que ele podia facilmente lhe roubar sua vontade, fazê-la sua tão irrevogavelmente, que faria tudo para estar com ele.

- Pertence-me. Nenhum outro te encostará. - As palavras estavam em sua cabeça, o vínculo eram tão familiar e forte, era assustador. O caminho mental não era a linguagem comum dos Cárpatos, a não ser, a de um vínculo prívado e íntimo. Ele se moveu, um simples ondear de seus músculos e o coração dela pulsou com antecipação. Os dedos dele rodearam a parte superior de seu braço, de forma que ela foi totalmente consciente de seu enorme força. Era quase impossível respirar. Os dedos dele se deslizaram ao longo de seu braço para rodear sua frágil mão, como um bracelete. O contato agiu como uma língua de fogo deslizando-se por sua pele. Cada célula de seu corpo, súbitamente imobilizada,conteve o fôlego, esperando. Só esperando. Arrastou-a para ele, tão perto, que seu corpo esteve impresso para toda a eternidade, no dele. Muito gentilmente, ele lhe elevou o queixo e sua boca se fechou sobre a dela.

Nesse instante sua vida inteira, sua mesma existência mudou. A terra se moveu, o ar chiou e seu corpo já não lhe pertenceu. Sentia-se necessitada, ardente, dolorida por ele. Corpo e mente, pele, tudo se uniu a dele. Não havia Savannah sem Gregori nem Gregori sem Savannah. Necessitava sentir suas mãos sobre ela, necessitava-o dentro dela, de seu coração, sua mente, sua alma.

Quando ele a soltou, sentiu-se abandonada. Pela primeira vez, experimentou um terrível vazio, como se ele lhe tivesse roubado uma enorme parte dela e a deixado convertida em uma simples sombra. A idéia a atemorizou. Um estranho, alguém que não amava ou conhecia, era capaz de levar sua vida. Subitamente, lhe pareceu pior do se que entregar a um dos outros. Nenhum deles a controlaria nunca ou arrebataria sua vida inteira. Se nenhum deles podia nunca amá-la, ao menos não a possuiriam de corpo e alma. Aterrorizada, suplicara a Gregori que a deixasse partir, que a deixasse viver sua própria vida. Os olhos dele se escureceram de pena e esquentaram com algo mais. Ele a soltara, estava de acordo. Gregori estava lhe dando mais tempo. Savannah, entretanto, tinha planejado fugir de seu poder para sempre.

O pior era, que depois de voar para os Estados Unidos, Savannah nunca mais havia se sentido completa. Gregori havia arrancado uma parte dela com um pequeno beijo. Nunca mais saíra de sua cabeça. Quando fechava os olhos, a noite, tudo o que podia ver era a ele. Algumas vezes, concentrava-se e podia cheirar sua selvagem e indomável essência. Ele rondava seus sonhos, a chamava em seus sonhos. Claramente, o risco de que ele possuísse sua mesma alma era muito grande para lhe permitir o que estava exigindo agora.

A mão de Gregori embalou a parte de trás de sua cabeça, depois deslizou até sua nuca.

- Podemos fazer frente a seus medos, MA petite. Não são insuperáveis. - Sua voz, como sempre, foi calma e monótona.

O coração de Savannah se entristeceu. Nada lhe comovia, nem sequer compartilhando uma de suas mais privados e aterradoras lembranças.

- Não quero isto. - Sussurrou ela, as lágrimas ardiam em sua garganta. Estava humilhada por ter admitido tanto e que significasse tão pouco para ele.

- Descansa agora, pequena.

Ela se calou, parecendo aceitar sua ordem tranqüilamente. Mas Savannah tinha uns poucos truques sob a manga. Era considerada uma das melhoras magas do mundo. Gregori podia lhe oferecer um indulto temporário, mas quando despertassem, seu apetite seria feroz. Duvidava de que nem seu enorme autodomínio a salvasse. Teria que fazer sua mais atrevida e mais importante fuga.

- Savannah? - Os braços de Gregori a apertaram firme contra ele. - Não tente me deixar. Lute comigo, discuta, mas não tente me deixar. Caminho no limite do autocontrole. Não sinto nada por ninguém exceto por voce. Seria muito perigoso.

- Então, tenho que dar minha vida para que a tua possa continuar. - Suas lágrimas caíram sobre o dorso de sua própria mão.

- Não pode existir sem mim, de todas formas, Savannah. É só uma questão de tempo antes de que cresçer o vazio que te consome. – Ele levou a mão dela à boca e tocou com sua língua as lágrimas, saboreando-a. Então sua voz baixou. - Não negue. Sinto-o crescendo em você a terrível e dolorosa solidão.

O coração de Savannah saltou ante o áspero veludo da língua dele em seus dedos nus. Não permitiria que a natural sensualidade dele, a seduzisse, não importava como seu corpo respondesse à chamada proibida.

- Quanto tempo tenho até então, Gregori? Um século ou dois? Cinco? Mais? Não sabe, verdade? Porque a nenhuma de nossas mulheres foi permitido escolher seu próprio destino. Eu não deveria ser responsável por sua vida mais do que você deveria ser responsável pela minha.

- Somos Cárpatos, ma petite, não humanos, apesar da formar em que sua mãe te criou. Sou responsável por sua vida, como você é da minha. É o costume de nossa gente e a única coisa que protege os humanos de nossa escuridão. Nossas mulheres são apreciadas, protegidas, tratadas com respeito, guardadas como o tesouro que sabemos que são. - A sombra escura sobre seu queixo esfregava a parte alta da cabeça dela num gesto curiosamente consolador. Pequenas mechas de cabelo se recolheram em uma mecha, ondeando juntos. - Sua mãe tem muito o que responder, por encher sua cabeça com tolices humanas quando deveria te haver preparado para seu verdadeiro destino.

- Por que chama tolices? Por construir meu próprio destino? Por saborear a liberdade? Não quero ser propriedade de ninguém.

- Nenhum de nós pode escolher, Savannah. - Seus braços se esticaram brevemente, e seu quente fôlego encontrou a orelha dela. - Os companheiros nascem o um para o outro. E liberdade é uma palavra que pode significar muitas coisas diferentes. - Sua voz era tão formosa e gentil, chocando-se com suas palavras de consumado. – Durma e escape de seu medo durante um momento.

Ela fechou os outros enquanto sentia seus lábios acariciando sua orelha, depois se deslizaram para o pescoço. Saboreou seu toque, tomou-o em seu corpo e se odiou por isso.

- Durma você, Gregori. Quero pensar.

Os dentes dele, alisaram sua pele, sobre seu pulso latente. Depois, a língua o acariciou, aliviando a aguda sensação.

- Não quero que pense mais, ma petite. Faz o que digo ou te farei dormir.   Ela empalideceu.

- Não! - Como qualquer Cárpato, Savannah sabia quão vulnerável seria quando o sol se elevasse e o sono tomasse seu corpo. Se Gregori lhe ordenava entrar no profundo sono dos Cárpatos, estaria completamente em seu poder. - Dormirei. – Deliberadamente, diminuiu sua respiração, diminuiu as batidas de seu coração.

A seu lado, Gregori se concentrou nas entradas de sua casa, selando-as com feitiços ancestrais. Depois, se concentrou nas grades dos canis dos lobos. Elas se abriram, soltando os lobos híbridos para que vagassem e guardassem as estadias altas e os terrenos da casa. Savannah ainda pensava escapar dele. Mas ela não tinha nem idéia do quão poderoso ele realmente era. E porque prometeu a si mesmo, que sempre lhe diria a verdade, não podia dizer as palavras bonitas e vazias que podiam aliviar seus temores. A aquisição de conhecimento, haviam ajudado a manter seu corpo e sua mente, fortes, nos intermináveis anos de vazia escuridão. Tinha esperado por Savannah, sua companheira, desde antes que nascesse. Desde momento em que havia auxiliado à mulher de Mikhail, Raven, curando as terríveis feridas que havia sofrido nas mãos de desajustados assassinos de vampiros. Dando-lhe seu sangue puro e poderoso para ajudá-la a salvar sua vida, soubera que ela proporcionaria a sua companheira. Essa menina crescendo em seu interior seria dele. E tinha feito tudo o que podia para assegurar esse resultado.

Quando os caçadores humanos tentaram matar Raven Dubrinsky, Gregori a salvara. Ela e à menina em seu interior, selando o vínculo entre ele e a mulher recém concebida, com seu próprio sangue poderoso. Ele assegurou-se de que ela não pudesse escapar dele, lhe sussurrando, aliviando-a, incitando-a a permanecer em seu mundo apesar das feridas em seu frágil e pequeno corpo. Tendo chegado a tais extremos para ligar sua companheira a ele, antes inclusive de ter nascido, nunca permitiria ir-se agora. Trouxe o corpo de Savannah para perto dele o quanto foi possível, fixando seu corpo ao redor do dela de forma protetora. Roberto viajava com um grupo de renegados Cárpatos, agora vampiros, matando, rasgando, criando marionetes humanas sem cérebro, para servi-los. Se haviam seguido Savannah até São Francisco, a cidade se converteria logo em seu campo de matança. Gregori tinha que manter Savannah a salvo, e sabia que não deixaria os humanos da cidade enfrentar à ameaça sozinhos. Aidan Savage, um respeitado Cárpato, morava na região. Ele caçaria os renegados e os destruiria. Aidan era um caçador capaz, temido pelos não-mortos.

Gregori acariciou o cabelo de Savannah gentilmente. Por ela, desejava poder lhe dar a liberdade que tanto desejava, mas era impossível. Em troca, estaria encadeada a seu lado por toda a eternidade. Suspirou, depois raleou seu coração e seus pulmões preparando-se para dormir. Como antigo, havia com freqüência levado a justiça dos Cárpatos, os renegados, do mesmo modo que teria esperado que Mikhail a levasse até ele. Havia esperado muito para reclamar Savannah e salvar-se de sua própria escuridão. Mas seriamente duvidava de que ninguém, nem sequer Mikhail, o Principe de sua gente, pudesse lhe superar. Não podia se converter em um vampiro. Não podia confrontar o risco. Savannah devia seguir sendo dele. Tomou um último fôlego, tomando a essência dela em seu corpo e mantendo-a ali enquanto seu coração cessava de pulsar.

O sol se elevou sobre as montanhas, raios de luz ardiam através das janelas da enorme e solitária casa. A madeira de carvalho polida reluzia. Os azulejos de mármore brilhavam. O único som que se podia ouvir eram os suaves passos ocasionais dos lobos enquanto patrulhavam o primeiro, segundo andar e o porão. Fora, mais lobos se moviam impacientemente atravessando os terrenos, ao longo da alta extensa área que os encerrava na propriedade. A cerca era mais para o amparo de qualquer humano vagabundo que para evitar que os animais rondassem pelo campo. Seu vínculo com o Gregori era forte, seu trabalho era afiançar e preservar o imóvel. Os lobos nunca lhe deixariam por própria vontade.

O sol batalhava com uma espessa capa de nuvens e, corajosamente estendia raios dourados através da tarde. O vento começou a recolher e formar redemoinhos folhas em pequenos montículos sobre o chão. Clandestinamente, a enorme câmara estava em silêncio. Depois, nesse silêncio, um coração começou a pulsar. Uma rajada de ar encheu pulmões. Savannah explorou os arredores, provando a natureza da prisão de amparo de Gregori. A seu lado, Gregori estava tão imóvel como se estivesse morto, um braço se enroscava possessivamente ao redor de sua cintura.

Savannah permitiu que o alívio tomasse seu corpo. Ela tinha um segredo que ninguém mais, a não ser seu lobo, sabia. A maior parte das crianças dos Cárpatos não sobreviviam a seu primeiro ano. Durante o período crítico quando seus corpos exigiam mais que leite e rechaçavam toda comida e sangue, sua mãe, que havia sido uma vez, completamente humana e incapaz de alimentar-se de sua própria gente, tinha-lhe dado sangue de animal, diluído. Embora Savannah fosse pequena e frágil, comparada com a maioria dos Cárpatos, havia crescido com a mistura de sua mãe. E, decidida a viver uma vida o mais normal possível, Savannah tinha seguido sua incomum dieta durante seus anos de crescimento, esperando poder aumentar sua diferença do outros Cárpatos e ser capaz de esquecer seu próprio futuro.

Aos dezesseis, Savannah começara a experimentar a possibilidade de sair ao sol. Sua mãe havia lhe contando muitas histórias da vida ao sol, cruzando o oceano, histórias de liberdade e viagens. Savannah, em troca, esperançosamente, contava cada uma delas a seu companheiro, o lobo.

Ousadamente, começou a despertar mais e mais cedo, lentamente colocava sua pele ao sol, esperando construir a imunidade que os Cárpatos não tinham, que os obrigava a ir à terra à luz do sol e voltar para a vida durante a noite. Algumas vezes a dor era muito para que a suportasse, e detinha suas incursões durante uns poucos dias. Mas Savannah era tenaz quando colocava algo na mente, e queria caminhar ao sol.

Embora nunca foi capaz de tolerar a luz do sol além das onze da manhã ou antes das cinco da tarde nos meses do verão, sua pele se ajustou aos raios do sol. Tinha que usar os óculos de sol, com lentes muito escuras durante o dia e sob as brilhantes luzes do cenário, mas por outro lado parecia escapar da terrível letargia que a dieta do sangue humano causava aos Cárpatos. Havia sacrificado algo da velocidade e força de sua raça, mas tinha a liberdade de caminhar à luz, como sua mãe havia descrito.

Savannah fechou os olhos, recordando a vez que havia saído às escondidas enquanto seus pais dormiam profundamente em sua câmara subterrânea. O sol estava ainda alto, e, sentindo-se particularmente feliz consigo mesma, Savannah abriu passo através do profundo bosque sobre os escarpados.

Começou a escalar, tentando melhorar sua velocidade e força. Mas, vacilara quase no topo, escorregou e torceu o pé. Segurou-se na rocha, subindo em busca de um cabo, escavando ranhuras profundas no precipício com as unhas encurvadas como garras. Caiu, mas deu a volta no meio do ar com toda a agilidade de um gato, esperando aterrissar sobre seus pés. Mas falhou ao notar uma raiz de árvore sobressaindo-se do precipício, como uma estaca afiada. Seus óculos escuros caíram de seu nariz até o bosque, lá embaixo. Savannah gritou de dor, o sangue emanava de sua ferida. Durante um momento se sustentou, depois a raiz cedeu sob seu peso e aterrissou com força no chão da rocha.

A princípio, não pôde respirar, o ar golpeou seus pulmões. Mantendo seus olhos firmemente fechados contra a terrível luz, apertou os dentes, pressionou ambas as mãos sobre sua ferida e enviou uma angustiosa e desesperada chamada a seu lobo. Depois, perguntou-se por que não tinha duvidado em lhe chamar, não havia pensado em chamar seus pais.

Ele respondeu imediatamente. O lobo estava longe mas estava chegando rapidamente em sua ajuda.

Enquanto esperava, Savannah cavou com os dedos a rica terra, misturando-a com saliva, de sua boca, e cobrindo a ferida. Estava lhe fazendo mal, a luz do sol que entrava como agulhas de cristal em seu corpo e cravavam em seu crânio através de seus desprotegidos olhos. Depressa! – chamou, fraca pela perda de sangue.

O lobo surgiu no bosque, com seus olhos quase fechados, em finas aberturas. Deu dois incríveis saltos para chegar a seu lado, avaliando a situação e trotou para seus óculos. Recolheu-os cuidadosamente na boca e o atirou em seu colo. Depois sua língua lambeu a ferida, num gesto curiosamente consolador. O braço de Savannah deslizou ao redor do lustroso pescoço do animal, seu rosto espesso pelo suave, procurando forças.

Pela primeira e única vez em sua vida, pediu para alimentar-se, sabendo que não sobreviveria sem sangue. Estava agradecida pelo forte vínculo que tinha com o lobo, que a capacitava para explicar sua necessidade sem palavras. O lobo expôs sua garganta sem duvidar. Tão gentil e reverentemente como foi capaz, Savannah tinha colocado seus dentes profundamente no lobo, enquanto sua mente se esforçava por lhe acalmar. Seu esforço demonstrou ser desnecessário. Em todo caso, o lobo tinha acalmado a ela, entregando-se livremente, sem reservas. Estava atônita de não sentir repulsão de alimentar-se diretamente do animal em lugar da taça que sua mãe oferecia. Depois, estendeu os braços ao redor do lobo, enquanto ele continuava lambendo gentilmente sua ferida. Podia ter jurado que o lobo tinha entrado de alguma forma em seu corpo, junto com seu sangue, e de algum modo aliviou a terrível ferida em sua perna. Sentiu calor, luz e energia estendendo-se através dela, curando-a. Não sentiu medo, rodeada pelo protetor e incondicional cuidado do lobo.

Sua ferida tinha sarado milagrosamente rápido e nunca mencionara o incidente a seus pais porque sabia que ficariam furiosos por seus experimentos, com sua intenção de sair ao sol e teriam se espantado, perante os riscos que estava correndo. Mas ela nunca lamentara sua decisão de evitar tomar sangue humano ou expor sua pele aos raios de sol. Conduzia-se à liberdade, a liberdade que estava lhe permitindo escapar agora.

- Sinto muito, Gregori. - Sussurrou brandamente. - Não posso pôr minha vida em suas mãos. É muito arrogante, para que alguém como eu, tente viver contigo. Por favor encontre alguém e seja feliz. - Sabia que ela nunca o seria, mas não tinha escolha. Se não quizesse que este frio e arrogante Cárpato tomasse conta de sua vida. Seus dentes mordiscaram o lábio inferior. Apesar de sua resolução, encontrou-se extranhamente relutante em lhe deixar. Se não fugisse, ele tomaria o controle de sua vida, não podia evitar. Era verdade que permaneceria sozinha. Não podia voltar para casa ou nem sequer procurar seu lobo. Estaria condenada a caminhar pela terra sozinha. Mas algo nela, forte e orgulhoso, não permitiria que este homem a dominasse, elegia viver por ela, dirigir ela. Ele estava com razão. Sabia o que era o vazio, estar totalmente só em meio a uma multidão. Ela era diferente. Não importava quanto tentasse, Savannah nunca seria humana e nunca seria uma mulher dos Cárpatos. Sabia, embora nunca o admitisse a ninguém mais que a seu lobo... Ela contara a verdade ao animal... Nunca poderia estar com nenhum homem, exceto Gregori. Mas estaria sozinha durante uma eternidade antes de pertencer a ele. Entendia que nunca desejaria outro homem como desejava Gregori. Sua alma estava em seu poder. E queria lhe explicar as coisas, lhe fazer entender. Mas Gregori não era homem que considerasse outra lógica, que a sua própria.

Gregori era um dos antigos, o mais poderoso, o mais sábio. O Escuro. Era um assassino mortal, um verdadeiro homem selvagem dos Cárpatos. Os séculos não tinham suavizado suas atitudes de macho ou trocado suas crenças. Acreditava absolutamente em seu direito sobre ela, acreditava que ela lhe pertencia. Protegeria-a com sua própria vida de todo dano, velaria por cada uma de suas necessidades e conforto. Mas a controlaria, absolutamente.

- Sinto muito. - Sussurrou de novo e tentou sentar-se.

Um enorme peso no meio de seu peito evitou que se movesse. Seu coração cambaleou incomodamente. Aterrada, de que tivesse perturbado a letargia de Gregori, Savannah o olhou. Ele permanecia imóvel e silencioso, sem dar sinais de vida. Savannah inspirou profundamente e deixou o ar escapar lentamente para acalmar-se. Desta vez, deslizou cautelosamente para sair de lado. Instantaneamente, uma atadura apertou-a, em volta de cada tornozelo. Quando Savannah olhou para seus pés, não havia nada ali, nada segurava-a, embora não pudesse se mover. Algo a prendia em seu lugar.

Durante um breve momento considerou que algum outro homem dos Cárpatos... Ou vampiro... Tivesse os rastreado até a guarida. Mas nenhum Cárpato se atreveria a perturbar Gregori. De algum modo, em seu profundo sono, Gregori estava controlando-a. Facilmente. Casualmente. Tão seguro de seu próprio poder, tão pouco preocupado por seu desafio, que poderia dormir sem problemas. Não havia duvidas em sua mente, de que era Gregori, que lhe impedia de escapar. Ficou imóvel e permitiu que sua mente se concentrasse sobre seus tornozelos, procurando um atalho, algo que lhe desse uma pista de como funcionavam os cabos invisíveis e como podia escapar deles.

- Durma. - A ordem encheu sua mente, baixo, compelindo, macia.

Instantaneamente sua mente se nublou, e seu coração se enfraqueceu. Savannah lutou, alarmada. Lutou contra o desejo de obedecer a ordem. Era humilhante que ele pudesse controlá-la enquanto dormia. Se era de verdade, que fosse tão poderoso, como seria viver com ele quando estava completamente acordado e consciente?

Uma baixa e zombadora risada encheu sua mente. - Dorme, ma petite. É perigoso que me ponha a prova desta maneira.

Ela girou a cabeça. Gregori estava imóvel como morto. Como podia ser tão forte? Nem sequer seu pai, Mikhail, o Principe da Escuridão, possuía tal poder. A voz de Gregori era hipnótica, magnetizadora.

Savannah fechou os olhos, exausta depois de lutar com ele. Estava curvada pelo desespero. - De acordo, Gregori, você ganha... esta vez.

- Todas as vezes, ma petite. - Não havia presunção, nem triunfo, só amável calma.  

Foi sua calma o que a fez acreditar que Gregori era muito mais perigoso do que havia nunca imaginado. Não a ameaçou, ou chamou sua atenção. Parece ter achado tudo bastante monótono ou, pior, parecia divertido. Um aroma familiar encheu seus pulmões quando inalou o último fôlego. O lobo, o seu lobo, encheu sua mente com amabilidade, seu suave pelo esfregando-se contra seu braço, sua face. Savannah manteve os olhos firmemente apertados, temendo destruir a ilusão.

- Senti falta de voce. – ela uniu sua mente com a do lobo. - Desejaria que estivesse realmente aqui justo agora.

- Eu sempre estou contigo.

A mente do lobo a aceitou, envolveu-a, abraçando-a com calidez. A mente era tão familiar, como se estivesse caminhado com ela, mil vezes. - Desejaria que fosse real, que estivesse aqui comigo, realmente. - A selvagem essência era forte em suas fossas nasais. Durante um momento, Savannah conteve o fôlego, não atrevendo-se a respirar. Depois, lentamente, abriu os olhos. A seu lado, o lobo se estirou, o pelo negro e lustroso se esfregou contra sua pele. O lobo voltou a cabeça, revelando seus incomuns e inteligentes olhos cinzas. O coração de Savannah se fechou de repente em seu peito. Um gemido de negação escapou de seus lábios. Isto não era uma ilusão. Era algo real.

Gregori com todos seus poderes, podia trocar de forma. Ele era seu lobo. Que arrogante havia sido, ao assumir que era a única que havia aperfeiçoado a arte de caminhar sob o sol. Tinha pensado que era capaz de resistir aos raios porque se alimentava só de sangue animal. Se tivesse consultado a seus pais. Por que mantera o lobo como seu segredo?            

Era tudo inocente e divertido, ter um maravilhoso segredo e não contar a seus pais. Deveria ter reconhecido os olhos. Não eram cinzas, mas sim de prata brilhante. E ao lobo, havia contado todos seus medos, todos seus desejos, todos seus sonhos. Ele conhecia seus pensamentos mais secretos e profundos. Pior ainda, tinham intercambiado sangue, ela havia alimentado-a, tinha curado suas feridas. O intercâmbio não foi, possivelmente, como exigia o ritual marital dos Cárpatos, mas seu vínculo mental era forte, inquebrável.

Fora tão estúpida! Um lobo ordinário nunca teria sido tão inteligente, tão capaz de transmitir calidez e segurança, capaz de confortá-la. Gregori tinha forjado um vínculo entre eles desde sua tenra infância.

Estava sozinha.

- Não tive nenhuma oportunidade, não é? Nem sequer quando era uma menina.

- Não do momento em que foi concebida.

Sem remorso, essa só era a calma e implacável resolução.

Afastou a incômoda e pesada cabeleirao, sabendo que deveria reconhecer o sacrifício desses longos anos. Desejava estar zangada com ele, furiosa. Não desejava sentir preocupação e instintos protetores por seu carcereiro. Não desejava que lhe acelerasse o pulso, a deliciosa calidez que se estendia através dela ante a idéia que ele havia estado com ela todos esses anos, para assegurar um vínculo, sua segurança e felicidade. Sua explicação era tão seca e o fato consumado. Estava sozinha. Era simples para ele. Ela precisava, ele a provia. O código dos homens dos Cárpatos.

- Lamento que te fizesse mal por minha culpa.

Escondeu seus pensamentos cuidadosamente, não desejando que ele lesse suas confusas emoções. Imediatamente sentiu a sensação de uma mão roçando por baixo de seu cabelo, a gentileza de uma carícia.

- Temos uma longa noite pela frente. Precisa do sono reparador. - Desta vez sua ordem mergulhou no profundo sono que os Cárpatos necessitavam para rejuvenescer.

Gregori tinha enviado uma afiada e eficiente ordem, não uma amável sugestão. Uma que ela não podia rechaçar. Ela deslizou veloz, sem pensar, sem medo ou conhecimento do que ele tinha feito. Até agora seu pesar por seu amigo humano e seu terror a ele e a sua raça tinha passado da conta. Não podia acreditar que ele houvesse lhe tivesse permitido rebelar-se contra seu autêntico destino. Havia simplesmente algo nele que se fundia quando estava na mente dela, em sua presença. Teve o terrível pressentimento de quando o corpo dele se unisseao dela, perderia todo seu bom julgamento.

 

       O Sol deslizou-se mais e mais no céu antes de desaparecer depois das montanhas sendo engolido pelo mar. Vermelho e laranja cruzaram o céu, substituindo dramaticamente seu azul pela cor do sangue. Longe sob a terra, o coração de Gregori e seus pulmões começaram a funcionar.

      Automaticamente explorou os arredores para assegurar-se de que todas as salvaguardas estavam em seu lugar e sua guarida não houvesse sido perturbada. Sentiu fome em seus lobos, mas não alarme. A seu lado, Savannah ainda descansava. Enroscou um braço, protetoramente, ao redor de sua cintura. Sua perna estava cruzando a coxa dela, cortando todo possibilidade de escapatória. A fome cresceu, voraz, raivosa, tão afiada que estava perto da luxúria. Gregori flutuou até o nível do porão, precisava distanciar-se da tentação.

       Savannah estava finalmente com ele, em sua guarida. Podia estar lutando com ele e consigo mesma a cada centímetro do caminho, mas ele estava em sua mente, lendo-a facilmente. Boa parte de seu temor para com ele, provinha de sua atração por ele.

       O desejo dos Carpatos que a tudo consumia, ligando totalmente, dando somente um único companheiro. Um raramente sobrevivia sem o outro. Mente, corpo, coração e alma estavam unidos juntos por toda a eternidade.

       Os lobos convergiram para ele ansiosa e jubilosamente. Saudou cada um deles com o paciente e moderado entusiasmo. Não sentia favoritismos. De fato, havia sentido só vazio até que Savannah chegara. Enquanto alimentava os lobos, Gregori se permitiu recordar o negro momento nas Montanhas dos Cárpatos quando Savannah tinha contado a seu lobo que tinha que fugir do Escuro, fugir para a América, a terra natal de sua mãe, escapar de Gregori e da intensidade de seus sentimentos para ele. Tinha utilizado cada grama do autodomínio que possuía para permitir deixar. Havia se retirado para a mais alta e remota montanha que conhecia. Tinha viajado pelos bosques da Europa como um lobo solitário, enterrou-se nas profundas vísceras da terra durante compridos períodos, saindo sozinho para comer. A escuridão nele tinha crescido até que Gregori não pôde enganar-se mais. Duas vezes tinha estado perto de assassinar sua presa, e embora isso devia haver lhe sacudido, pois havia lhe causado uma onda de preocupação. Foi quando soube que já não tinha escolha. Tinha que reclamá-la, que possui-la. Tinha vindo para América e esperado sua chegada a São Francisco.

       Savannah não entendia que se não o tivesse feito, se houvesse procurado a alvorada, ou sua natureza escura prevalecesse e se tornasse um renegado, convertendo-se no temido vampiro, estaria-a condenando a uma existência insofrível e erma, na mais absoluta solidão e vazio. Não sobreviveria. A mãe de Savannah não tinha captado completamente a complexa relação entre o homem e a mulher da espécie dos Cárpatos. Nascida como humana, nem sequer compreendia o perigo que um homem dos Cárpatos, tão poderoso como Gregori, representava. A mãe de Savannah queria que sua filha fosse independente, não compreendia que um Cárpato não tinha mais escolha que encontrar a sua outra metade. Raven Dubrinsky não tinha feito a sua filha nenhum favor ao lhe dar a ilusão de independência.

       Mas, pela primeira vez em sua vida, Gregori estava indeciso. Até que oficialmente a reclamasse, qualquer homem dos Cárpatos, incluídos os vampiros, estariam alterados, pensando que podiam usurpar sua posição e reclamá-la para eles mesmos. Para protegê-la, precisava completar o ritual unindo-os por toda a eternidade. Para proteger a mortais e imortais por igual, tinha que reclamar o que por direito era dele. Tinha esperado um tempo perigosamente longo. Embora, odiava forçar Savannah, quando era tão remissa. Gregori deslizou uma mão através de seu espesso cabelo, e rondou pela casa como uma pantera enjaulada. A fome lhe corroía, elevando-se bruscamente com cada passo.

       Passeou cruzando o piso do balcão e elevou a cabeça para inalar a noite. O vento levava a essência da caça. Coelhos cervos, uma raposa e, fracamente, muito mais longe, humanos. Enviou sua chamada de noite, conduzindo sua presa para ele com a facilidade casual de um professor. Era às vezes, tão difícil recordar que estes humanos eram seres com intelecto e emoções quando era tão simples controlá-los.

       Gregori saltou do balcão do segundo piso, aterrissando brandamente sobre a ponta de seus pés. Moveu-se facilmente, sem apressar-se, seus músculos se moviam com a sutil indiferença do imenso poder e força que era uma parte dele. Nenhuma pedra rolou sob seus pés, nenhuma simples raíz se rompeu. Podia sentir os sons da terra, os insetos e as criaturas da noite, a água correndo como sangue sob o chão. A seiva nas árvores lhe chamando, os morcegos lançando-se em picada e chiando em reconhecimento.

       Gregori se deteve na cerca da grade. Inclinando seus joelhos ligeiramente, saltou com facilidade os oito pés. Aterrissou do outro lado, agachando-se. Já não era um homem elegante e bem formado. Era a perigosa fera despertando-se. Os olhos prateados começaram a brilhar grosseiramente. A fome apanhou e arranhou suas vísceras. O instinto o possuiu, os velhos instintos de um predador que precisava sobreviver.

       Farejou o vento, então se girou na direção de sua presa. Sua chamada tinha atraído a um jovem casal. Podia ouvir seus corações pulsar, o correr do sangue em suas veias. Seu corpo ardeu procurando alívio. O perigoso e insidioso sussurro do vazio de sua alma se estendeu sobre ele. Uma mulher. Tão fácil. O homem, quase jogado a um lado pela besta, lutando na escuridão. Em seu presente estado, podia facilmente assassiná-la.

       A garota era jovem, o homem não muito mais. Esperavam por ele, com as fisionomias ansiosas, como se esperassem a um amante. Enquanto Gregori se aproximava, a garota estendeu os braços para ele, sorrindo alegremente. A fome queimou vermelho e cru em seu corpo, que gritava de necessidade. Com um grunhido baixo, Gregori se aproximou dela, incapaz de lutar contra o poder da fera.

       Enquanto arrastava à mulher para ele, ouviu um som sussurrante. Luminoso. Rítmico. Rápido. Com um grunhido gutural, deixou à mulher a salvo afastando-a. Ela esperava uma criança. Gregori estendeu os dedos pela ligeira protuberância de seu estômago. Era um menino. Tão pequeno, tão necessitado de amparo. Abruptamente, deslizou e sujeitou o homem. Lutou por controlar-se, por manter o jovem companheiro tranqüilo e desejoso. Escutou durante um momento a vazante e fluxo de sangue, de vida, então inclinou a cabeça e bebeu.

       Em seu estado de excitação, o anseia lhe golpeou forte. O sabor do poder lhe voltou para a vida, lhe enchendo. Necessitava, queimava, suplicava. Alimentou-se faminta e vorazmente, desesperado por encher o terrível vazio. Os joelhos do homem se dobraram, trazendo Gregori de volta à realidade. Durante um momento, lutara com a besta, feliz de consumir uma rica vida, quase corrompendo-se com o poder da vida e da morte. Teve que esforçar-se por recuperar alguma resquicio de controle antes de esgotar o homem. Era tentador, atraente. Chamando, insistindo.

       Na vermelha neblina que o consumia e crescia, seu corpo ardia, um só pensamento deslizou em seu interior. Savannah. No momento, estava cheirando o ar noturno de novo, cheirando sua fresca essência. Podia sentir a brisa em sua pele quente como o toque dos dedos dela. Podia ver os ramos das árvores deslizando-se gentilmente, viu seus formosos e conhecedores olhos olhando fixamente o interior de sua negra alma.

       Com um juramento, Gregori fechou a ferida na garganta do homem e o deixou no chão, apoiando-o contra o largo tronco de uma árvore. Agachando-se, Gregori saltou com um impulso. Não iria para Savannach com morte em suas mãos. Tinha pensado lhe dar tempo para ajustar-se a ele, a sua relação, mas era muito perigoso e imprevisível no estado em que se encontrava. Precisava dela em sua mente, o conduzindo de volta, dos limites da loucura.

       O homem se sentou com a pele cinzentada e a respiração difícil. Com descanso e cuidados, entretanto, estaria bem. Plantando um acidente acreditável na cabeça do casal que explicasse a debilidade do homem, ele deixou-os tão rapidamente como viera, correndo como um relâmpago através das espessas árvores, esquivando facilmente lenhos cansados e estreitos fios de água. Uma vez recuperada a compostura, diminuiu o passo a um passeio preguiçoso e uma vez mais enviou uma chamada na noite. O casal necessitaria de ajuda, assim conduziu uma família para que fossem passear-se por ali. Ouviu seus gritos de alarme e embora o separavam, milhas de distância deles, e sua boca se curvou com satisfação.

       Só quando Gregori saltou o balcão, sentiu a primeira pontada de intranqüilidade, de advertência. Seus olhos deslizaram-se de volta ao céu noturno enquanto se confundia com as sombras. Este lugar, remoto, inóspito, ainda selvagem era ainda um lugar de poder, atraía a atenção de qualquer renegado Cárpato. Os vampiros seriam incapazes de resistir a chamada da terra, o influxo dos lobos. Poderiam inclusive sentir sua terrível resistência, um dos caçadores tão perto de converter-se, tão perto de voltar-se um de sua classe, condenado por toda a eternidade. Tinha sido alcançado no momento de alimentar-se, tinha escondido sua presença a qualquer dos de sua raça que pudessem estar perto, sem outro signo do perto que tinha estado de perder sua alma.

       Gregori tocou as mentes de seus lobos para tranqüilizá-los e prepará-los para um sondagem. Já podia sentir aos vampiros aproximando-se em fechada formação, como enormes morcegos. Estavam procurando tocar as mentes dos humanos e animais por igual. Dentro da casa, os lobos deram voltas, pacíficos, suportando a busca mental, mas Gregori se afirmou neles, sua calma os tranqüilizava. Os vampiros recolheriam sozinho os instintos de animais selvagens vagando e procurando comida. Os dentes brancos de Gregori reluziram. Se fosse ele, que procuravam, ninguém sentiria sua presença, a menos que o permitisse. E nenhum bloqueio erao bastante forte para resistir sua sonda.

       Savannah. Os renegados provavelmente a buscavam, certamente Roberto a tinha encontrado e secretamente a tinha afastado deles. O pícaro não tinha tido tempo ou forças, no final, para enviar uma advertência a suas cortes. Procurariam em todas as áreas remotas.

       Gregori sacudiu a cabeça antes tanta estupidez. Savannah era a filha de Mikhail. Mikhail era o Principe de sua gente, um ancião, seu sangue era poderoso. Savannah poderia ter diminuído sua força rechaçando o sangue humano, mas quando escolhesse alimentar-se, seria perigosa. Bem mais do que imaginavam. Voltou-se com outro sorriso sem humor, cruel e zombador, para o céu. Os que procuravam estavam dirigindo-se ao sul, para a cidade transbordante de vida. Gregori não se deteve para pensar nos estragos que os vampiros podiam causar, nas vítimas que poderiam tomar antes de que Aidan Savage, o caçador da zona, rastreasse-os. Confiava no trabalho de Aidan e se sentiu justificado deixando a outro Cárpato a tarefa de encarregar-se dos vampiros na área da Baía, a seu devido tempo.

       O tempo não significava nada e o significava tudo para Gregori. Estava no limite, um interminável estiramento de erma solidão. Durante séculos, tinha suportado o isolamento severo e horroroso do homem de sua espécie. Suas emoções haviam morrido, lhe deixando frio, capaz de incomensuráveis crueldades. Mas depois de anos de estar sozinho, de ser quase um não morto, estava despertando uma vez mais, aos aromas, as cores, a luz e a escuridão. A forma em que seu corpo ardia, a sensível percepção de seu cabelo, de seu corpo contra o dele, só sua visão. Era isso suficiente, ou era muito tarde? Sobreviveria ao assalto, ao dilúvio de poderosas emoções, ou o levariam mais à frente do limite, ao mundo da loucura?

       Gregori tinha sobrevivido durante séculos porque, como Mikhail, tinha sido meticuloso em seus planos, nunca esquecia os detalhes minúsculos. Seu primeiro engano durante centenas de anos tinha sido falhar ao manter-se alerta a possível presença de outros Cárpatos ou não-mortos no estacionamento do estádio durante o show mágico. Tudo porque estava distraído, necessitando de Savannah e havendo-a esperado por tanto tempo.

       Voltou a entrar em sua casa e desceu as escadas com os pés nus. Uma vez dentro da câmara, acendeu velas e preparou um banho quente na enorme tina incrustrada no mármore. Depois, deu a Savannah, a ordem de despertar. Seu corpo se sentia pesado, incomodo pela urgente necessidade, mas sua gulodice em alimentar-se, havia ajudado a pôr limites em sua luxúria de sangue. Observou seu rosto enquanto seu coração começava a pulsar e seus pulmões começavam a expandir-se pelo ar. Soube o momento preciso em que ela explorou mentalmente os arredores e sentiu a ameaça, o perigo imediato, sentiu sua presença. Savannah o surpreendeu sentando-se lentamente, afastando o cabelo sedoso de seu rosto. Seus olhos se fixaram sobre os dele, enormes, formosos. Sua língua saiu, tocando seus lábios com apreensão. Se era possível mais , o corpo de Gregori enrijeceu.

       Ele tinha o aspecto poderoso e intimidante, seu rosto severamente sensual, Savannah estava consciente de sua excitação. Seus olhos ardiam de fúria, tocando-a, devorando-a. E apesar de sua resolução, apesar de seus medos, podia sentir como seu corpo se voltava para a vida. O calor se estendia vagarosamente por ela, através dela, trazendo-a uma dor tortuosa e uma fome raivosa. Podia cheirar a essência masculina. O bosque selvagem se colara a ele, lhe deixando segredos. Seus olhos brilharam como estrelas faiscantes no meio do violeta.

- Como te atreve a vir a mim, com o perfume de outra mulher grudado em voce?

       Um sorriso fraco apareceu em seus lábios, aliviando a dureza de seu rosto.

- Só me alimentei, ma petite.

       Savannah era a mulher mais formosa e sensual que conhecia. Podia pensar que estava com medo dele, mas certamente não tinha problemas para lhe repreender.

       Olhava-o fixamente, seu fino talhe, selvagem. Seus pequenos punhos apertados.

- Chame como quizer, Gregori, mas mantenha-se longe de mim enquanto cheirar a ela. – Ela estava furiosa com ele. Insistia em que era seu companheiro, tentava forçá-la a aceitar uma eternidade no inferno com ele, e se atrevia a vir cheirando a outra mulher? - Me deixe em paz. - Por alguma inexplicável razão, ela se sentia quase a beira das lágrimas ante a idéia de que ele a traísse.

       Os olhos prateados se esquentaram até tornarem-se mercúrio, se aproximando de sua magra figura.

- Esta fraca, Savannah. Posso sentir quando nossas mentes se fundem.

- Mantenha-se fora de minha mente. Certamente não foste convidado. - Suas mãos voaram até os quadris. - E só para constar, sua mente precisar ser lavada com sabão! A metade das coisas que pensa que vamos fazer nunca vão passar. Poderia não ver voce nunca mais.

       Ele riu. Em voz alta. Na realidade, uma risada autêntica. Surgiu inesperadamente e emergiu baixa e cascata, com genuína diversão. Gregori quase pulou a distância entre eles e a arrastou aos braços, agradecido.

       Ela atirou um travesseiro em sua cabeça.

- Você ri, arrogante presunçoso. – ela desejou ter o dobro de sua habilidade.

       As sobrancelhas dele se crisparam. Outra nova experiência. Já haviam lhe chamado de muitas coisas, mas presunçoso não era uma delas. Sua preocupação pelo bem-estar dela se sobrepôs a sua intriga, entretanto. Impôs-se ante a fera escondida dentro dele, preparada para possui-la.

- Por que está tão fraca, ma petite? Isto não é aceitável.

       Ela deixou sua preocupação a um lado.

- É aceitável que saia por aí com outras mulheres? – Savannah não parou para pensar porque estavaenfurecida, mas estava. - Estive cuidando de mim mesma durante cinco anos, Gregori, sem sua ajuda. Não preciso de você e não te quero.

       Elevando-se, veloz e aguda, a fera em seu interior rugiu procurando alívio. Cinco anos. Tinha-lhe dado esses cinco anos. Que Deus ajudasse aos dois. Havia tinha esperado muito.

- O banho está preparado. Pode me falar dessas regras enquanto nos relaxamos.

       Ela abriu desmesuradamente, os olhos.

- Nós? Não acredito. Pode ser que para voce seja um hábito se banhar com mulheres, mas posso te assegurar que eu não me banho com homens.

- Isso alivia minha mente. - Replicou ele secamente, com um sorriso divertido em sua mente, mas a urgência de sua necessidade crescia. - Nunca me banhei com uma mulher, Savannah, assim será uma nova experiência para os dois.

- Nem em seus mais selvagens sonhos

- Não há necessidade de ser tímida. Ambos pertencemos à terra.

- Economize esse lixo, Gregori. Não vou tomar banho com você e ponto final.

       Suas sobrancelhas se elevaram. De repente, a olhou como o predador que era. Sem a preguiçosa diversão, sem indulgência, mas sim como um caçador com os olhos fixos sem pestanejar, sobre sua presa.

       O coração de Savannah se deteve alarmado, começou a apertar-se incomodamente em seu peito. O pior de tudo era que ele podia ouvi-lo. Sabia que a tinha assustado. Isso a enfureceu ainda mais. Tinha que ser tão intimidante? Os homens dos Cárpatos eram todos fortes, mas não precisavam aparentá-lo. Não haviam necessidade de mostraro o enorme peito e os braços musculosos e grandes como carvalhos. Tinha começado com valentia, decidida a não ser intimidada, mas ele era o poder personificado.

- Estou lendo sua mente. - Mencionou ele brandamente.

       Ela odiou seu corpo traidor, a forma em que se dissolvia ante sua visão e o som de sua acariciante e aveludada voz.

- Disse que se mantivesse fora de minha mente.

- É um hábito, ma petite?

       Lançou outro travesseiro para ele.

- Não se atreva a trazer o lobo. Estou segura que de nossas leis proíbe algo assim. É um descarado, Gregori, nem sequer se lamenta.

- Ttire a roupa, Savannah.

       A suave ordem fez com que seu olhar corresse a encontrar o dele. Retrocedeu, cambaleou, teria caído se ele não se movesse com surpreendente velocidade para cobrir a distância entre eles. Seus braços se deslizaram ao redor dela e a apertaram contra ele, seus olhos prateados, cravados sobre ela.

-Por que está tão fraca?

       Ela empurrou seu peito, num vão intento de escapar de seu interrogatório mental. Ele seria capaz de extrair qualquer informação que desejasse bastante facil.

- Sabe que nunca toco o sangue humano. Quando era uma menina parecia não importar muito, mas nos últimos anos, houve... - Procurou a palavra. - ... Repercussões.

       Ele permaneceu em silêncio, seu olhar fixo imóvel, compelindo-a a explicar-se. E era uma compulsão. Não podia resistir à ordem de seus firmes olhos.

       Savannah suspirou.

- Vivo fraca a maior parte do tempo. Não posso trocar de forma sem que pague um alto preço. Por isso meu show se tornou tão escasso. Dificilmente, posso conseguir convocar névoa para escapar e depois me materializar novamente. - Não acrescentou que já não podia colocar salvaguardas adequadas enquanto dormia, mas podia dizer pelo súbito brilho de aço de seus olhos que tinha captado o eco de seu apressado pensamento proibido.

       Seu olhar prateado se tornou aço e seus braços se esticaram, ameaçando esmagando o corpo dela contra o dele.

- Por que não remediou a situação? - Sua voz, uma suave ameaça, enviou calafrios através dela. Ela estava muito consciente de sua força.

- Tentei com o Peter uma vez, quando estava realmente em baixa. Ele era dócil, mas não pude a penas me obrigar a tomar seu sangue. - Não quis admitir que a razão real era que pensava que sua incomum dieta a capacitava para caminhar sob o sol.

- Isto se acabará. Proíbo que continue esta estupidez. – Ele deu-lhe uma pequena sacudida, enquanto seus dentes branquísimos se apertavam com irritação. - Se for necessário, Savannah, obrigarei-te a obedecer. – Ele não estava fanfarroneando. Em sua voz não havia brincadeira ou desafio. Simplesmente estabelecia um fato.

Ela sabia que ele a estava ameaçando, não com força física, mas com compulsão mental.

- Gregori –Savannah se esforçava para que sua voz soasse calma e razoável. - Seria um equívoco que me imponha sua vontade.

       Ele colocou-a em pé, segurando-a cuidadosamente com uma mão, enquanto com a outra ia para os botões de sua blusa.

       Savannah reteve o fôlego em sua garganta. Com suas duas mãos se apressou a apanhar as dele.

- O que está fazendo?

- Tirando sua roupa. – Ele não parecia ser consciente de que as mãos dela lutavam por controlar as dele. Os botões de sua blusa abriram-se, revelando seu torso, o suave inchaço de seus seios, num soutien quase transparente.

       A fera saiu à superfície durante um momento, querendo rasgar, comer, reclamar. Era quase impossível controlá-la e pela primeira vez , ele realmente temeupor ter esperado muito para vir por ela. Ela podia estar em autêntico perigo, se ele deslizava as raias da loucura. A necessidade se fechou de repente sobre ele, dura e poderosa, mas tomou um profundo fôlego, lutou, e venceu. Sua mão foi firme quando tirou o rendado soutiem, deixando seus seios cheios à vista. Seus dedos acariciaram a sedosa pele sem que pudesse deter-se, seu polegar acariciou seus mamilos, deixando duros e doloridos.

       Ele murmurou algo, Savannah não entendeu o que era, antes de baixar sua boca para saborear a cremosa oferenda.

       Ao primeiro toque, ao roçar de seus dentes, as pernas quase lhe faltaram. Seu corpo se tornou líquido de desejo. O úmido calor de sua boca, fazendo arder os dois.

       Os dedos de Savannah se enredaram no cabelo espesso e negro como a meia-noite com a intenção de afastar sua cabeça para trás, mas as chamas lambiam sua pele, prendendo o fogo em seu interior. - Só uma vez, saboreie o proibido. Só uma vez.- Era tanto o seu prazer, que ela não sabia se era o seu pensamento ou o dele, que a tentava.

       Sua mão lhe desceu pelo estômago, encontrando o ziper de seu jeans. Em torno deles, as cores giravam e dançavam, o ar rangia, a terra se movia sob seus pés. Um gemido de desespero, de desejo, escapou de sua garganta. O som de seus corações, o rugido de seu sangue, era música em seus ouvidos. Chamando o lado selvagem dela.

       O aroma dele, masculino e selvagem, o aroma de seu sangue, provocando sua fome, aguda e exigente.

- Não! Não farei isto! - Savannah, desesperada-se para escapar de seu mágico e escuro desejo, tornou-se para trás.

       Queria-lhe mais que nenhuma outra coisa, mais que sua alma, e a intensidade de seu corpo, a assustava mortalmente.

       Os braços de Gregori a apertaram tanto que caíram juntos, flutuando até o chão, seu imenso corpo cobrindo o dela. A cabeça apoiada contra seu peito, o aroma do sangue dele era forte, seu pulso pulsava e pulsava ante sua resistência. As mãos dele se engancharam na cintura dos jeans e os arrancaram de seu corpo com facilidade, a calcinha de renda, tomando o mesmo destino. Suas mãos a acariciavam por toda parte, encontrando cada cavidade e gravando-a em sua memória, deixando uma esteira de fogo em seu lugar.

       Savannah encontrou a pele quente e salgada sob seus lábios. Sua língua encontrou a pulsação tocando-o com uma carícia. Ele se estremeceu de prazer, seus braços cresceram ao redor dela. Seu fôlego era quente contra o pescoço dela, contra sua orelha.

- Tira de mim o que necessita, Savannah. - Sussurrou brandamente, uma negra sedução. - Ofereço-me livremente como no passado Lembra-se como? - Era pura tentação, o diabo incitando-a. Recorda? Deixou a palavra em sua mente.

       Savannah fechou os olhos. A essência do sangue era poderosa, chamando-a, sussurrando seu feitiço. Estava tão fraca. Alimentaria só uma vez e seria forte de novo... Poderia durar muito tempo. Seria tão fácil permitir-se, o saborear. Seu corpo se estirou, ante a idéia. Todos os seus instintos clamavam pela sobrevivência.

       Ele deslizou a mão sobre sua coxa, enviando um calafrio através de seu sangue. Sua língua deslizou fora de novo, atacando, amolesvendo-a. Os dedos de Gregori encontraram o calor úmido e acariciou-a demoradamente. Seus dentes lhe roçaram a pele.

       Ele controlou a urgência de impulsionar seus quadris e possui-la. Ela estava meio perdida, com a mente confusa, raivosamente faminta e seu corpo ardia de desejo. Ele alimentou esse calor, seus dedos se introduziram mais profundamente, explorando, sentindo seus músculos estirar-se, seus quadris empurrando contra ele, procurando alívio. Fome. Ele alimentou-o, permitiu que o consumisse. O corpo dele estava dolorido, desejoso, quente e duro. A mente dela procurou a sua, misturando-se até que foi impossível separar uma da outra. - Fome. Lembre-se. O sabor. Só uma vez mais, seu sabor.

       Savannah não podia pensar claramente. Havia tanto desejo, tanta fome. Uma parte dela podia sentir sua pele nua contra a dela, seu corpo agressivamente masculino, mas o que a conduzia à loucura era o firme e forte batimento de seu coração. Os dedos de Gregori se introduziram profundamente em seu interior, e as chamas saltaram em uma resposta de fogo, calor branco, relâmpago azul. A vontade dela se dissolveu e seus dentes se afundaram profundamente, em seu pescoço.

       Gregori gemeu roucamente e explodiu num prazer tão intenso que ficou estático. Era puro erotismo, sua boca movendo-se, alimentando-se, tomando sua vida no interior de seu corpo. Tinha esperado tanto tempo. Sua mente se nublou, convertendo-se em uma névoa vermelha de penetrante necessidade, e aproximou seus magros quadris com força, mantendo-a imóvel durante sua invasão.

       Ela era fogo aveludado e ele se enterrou tão profundamente como pôde, rasgando a magra barreira de sua inocência, ardendo, desejando, decidido a marcá-la por toda a eternidade. Seu grito de dor ficou perdido contra o peito dele, embaixo ele. Era pequena, firme e ardente e ele estava perdido em pura sensação. Sentimento. Puro sentimento. Sentimentos reais. Não fantasias que ele mesmo havia criado para suportar a escuridão, a solidão. Eram verdadeiros sentimentos. O doce e acobreado aroma do sangue estava lhe ultrapassando, lhe chamando com sua sedução implacável. O aroma do sangue dela, misturado com a combinação de essências, alimentava a neblina vermelha, lhe fazendo perder o controle, e ativando cada um de seus instintos predadores, agressivos, brutais.        Savannah automaticamente fechou a ferida em seu peito com uma carícia de sua língua, já lutando. Ele estava lhe fazendo mal, com seu enorme força, seu corpo forçava o dela, rasgando sua inocência brutalmente. Suas mãos estavam por toda parte. Baixos grunhidos de advertência retumbaram em sua garganta enquanto ela lutava contra ele.

       Gregori levantou a cabeça, seus olhos brilhavam vermelhos, perigosos, fora de controle, desumanos, perdidos no limite da loucura. Quanto mais Savannah lutava, mais brutal ele se tornava. Um animal selvagem procurando dominar, procurando seu próprio prazer. Uma ardente dor branca deslizou por ela quando seus dentes furaram o vulnerável seio. Ela chorou em protesto, mas ele a sujeitou facilmente sob o peso de seu corpo, mantendo-a presa e vulnerável enquanto tomava seu prazer. Enquanto seu sangue entrava nele, seu corpo se enterrava no dela uma e outra vez, mais profundo e mais duro.

       O sangue quente entrava em torrentes em sua boca. Nunca provara sabor igual, possivelmente não poderia ter o bastante. Fluía em seu corpo como néctar, ardente embora calmante. Nunca havia sentido tal êxtase como o que ela lhe proporcionava. Quis que durasse para sempre. O poder se deslizava por ele, através dele, lhe arrebatando totalmente. Seu corpo era selvagem, procurando mais e mais, marcando o frenético alimentar-se de sua boca.

       Gregori já não existia. O animal raivoso que ocupava seu lugar estava esgotando o sangue da vida de Savannah, utilizando seu corpo sem o cuidado de um terno companheiro. Savannah aceitou sua morte iminente mas se preocupava com seu pai, que estaria despreparado contra este, contra o que Gregori se transformara, contra o mais hábil e mais forte de todos os Cárpatos.

       Gregori sentiu uma débil revoada em sua mente. Não eram frases, mas impressões. Estava lutando para voltar da loucura, a fim de ajudá-la. Seu único pensamento agora era para ela. Sentiu um profundo pesar por ter esperado muito, por tê-la colocado em tal perigo.

- Mate-me, chérie. Quando esta fera que te está tomando terminar, estará fragilizada, preguiçosa, saciada. Mate-a então. Farei tudo o que posso, para te ajudar.

       A culpa a dominou. Gregori sentenciara-se a cinco anos de inferno para lhe dar a liberdade que tinha desejado. Durante esse tempo, caminhara muito perto da loucura, embora houvesse suportado por ela. Suas mentes estavam fundidas e

Ela podia tocar o sofrimento que ele havia suportado em seu benefício. Agora estava disposto a morrer para salvá-la. Savannah fechou os olhos e obrigou seu corpo a relaxar, a tornar-se suave e disposto.

       Gregori. Ele pensava que sua alma estava perdida, que havia se convertido em um autêntico vampiro sem que lhe importasse, o bem ou o mal. Uma besta selvagem sem credo, com enorme poder e intensamente perigoso. Tinha resistido tanto contra o esmagador vazio negro, que agora estava perdido, apanhado em um vórtice de violência e paixão, poder e prazer. Ela o tinha levado a este maldito final. Seu temor, sua juventude, eram os responsáveis por ter reduzido sua grandeza, a estúpida selvageria.

       Os dedos de Savannah encontraram a nuca dele, e obrigou a afastar a dor de sua mente, tentando não sentir a brutal ameaça que pendia sobre ela. Gregori. O Escuro. Selvagem. Sem lei. Sempre sozinho. Sempre intocável, completamente isolado. Temido. Nenhum Cárpato se sentia cômodo em sua presença, embora tinha curado a muitos de sua raça, caçado a seus assassinos, repartindo justiça quando duro era o dever, mantendo a sua gente a salvo.

       A quem importaria agora esta besta selvagem? Quem sentiria gratidão pelo curador, que havia se sacrificado por todos eles? Quem inclusive se atreveria a aproximar-se o suficiente para localizar o homem do interior? A compaixão cresceu em Savannah, e algo mais que não se atreveu a examinar mais atentamente. Não podia permitir que tal destino caísse sobre um grande Cárpato. Não permitiria. Sua determinação estava além de qualquer outra coisa ou sentimento que houvesse sentido antes.

       Suas mãos acariciaram a cabeleira selvagem e embalou a cabeça contra seu seio, entregando-se livremente, seus pensamentos acalmados no olho da tormenta, oferecendo sua vida, sem reservas. – Tome-me livremente, Gregori. Minha vida por sua vida. - Era o que menos podia fazer. E não menos do que ele tinha feito por ela, por todos os de sua raça. - Estou aqui para voce, Gregori. Ofereço-te o que necessita, livremente. – Ele falavava a sério. Não permitiria que ele se convertesse em um não-morto. Não o deixaria neste mundo desalmado.

       - Savannah!

       Parecia um pouco mais forte ou ela simplesmente tinha a esperança de que o homem estivesse vencendo à fera, a besta.

       - Deve sobreviver. Mate-me. - Sua voz era um feroz e suplicante grunhido em sua cabeça.

       Sua mente respondeu. - Sinta, meu corpo está unido ao teu. Pertenço-te e você a mim. Sinta-me a seu lado. Volta para mim, Gregori. Não deixarei que se vá. Onde quer que esteja, eu estou contigo. Onde quer que vá, seguirei-te. Ofereço minha vida livremente pela tua. Não pode tomar a força o que estou lhe oferecendo. Não fez nada de mau ao tomá-lo.

       Os quadris dele continuavam inundando-se nela, mas já com cuidado, como se ele estivesse lentamente voltando para a consciência. Animada, Savannah moveu seu corpo para encontrar-se com ele, marcando seu furioso ritmo, seu coração, seus pulmões, até que estiveram em perfeita sincronia. Um corpo, um coração, uma mente. Ela tentou reduzir a velocidade, lhe chamar a um ritmo mais lento, ao ritmo gentil dela.

       - Savannah.

       Seu nome foi uma súplica desta vez, ainda longe, mas mais decidido. Saiu dos lábios que trabalhavam tão ferozmente em seu seio.

       - Salve a ti mesma.

       Gregori estava lutando por ela como ela estava lutando por ele.

       - Só há um nós.

       Ela estava tranqüila agora, suas mãos se moviam meigamente sobre os tensos e rígidos músculos das costas dele. - Nem eu, nem você. – Ela estava fraca, vazia, uma estranha letargia a invadia. - Só nós. - Sua voz tinha tremido um pouco?- Não te deixarei, não permitirei que a escuridão te afaste de mim.

       Savannah estava sob ele, quase no mundo dos sonos. Repentinamente, como se se desse conta de que ela estava afastando-se dele, a fera elevou a cabeça. Seus olhos vermelhos, chapeados, olhando-a fixamente, em um momento feroz, no seguinte ternos.

      O sangue quente gotejava para baixo do seio dela. Pestanejou para lhe enfocar novamente. O corpo dele estava estremecendo-se, derramando sua semente profundamente em seu interior. Uma alongada carícia de sua língua fechou a ferida no seio dela e seguiu as gotas de sangue para seu estômago.

- Reclamo-te como minha companheira. As palavras estavam apagadas em sua mente. Sua voz seguiu, rouca. Oo terrível conflito por sua alma lhe cobrava o preço.

- Pertenço-te. Ofereço-te minha vida. - A voz se fez mais forte, como a de Gregori, uma formosa carícia aveludada, enquanto recitava o antigo ritual Cárpato que os uniria por toda a eternidade. - Dou-te meu amparo, minha lealdade, meu coração, minha alma, e meu corpo. Tomo os teus, da mesma forma, para guardá-los. – Ele segurou a parte de trás da cabeça dela na palma de sua mão, abrindo uma ferida perto da garganta e pressionou sua boca contra o corte. Ela estava terrivelmente fraca para beber sob sua compulsão. - Beba, mon amour, por nossa vida. - Obrigou-a a obedecer sem remorso. Sem seu sangue, ela não sobreviveria mais que uma hora. Depois de tudo o que ela havia sofrido para lhe salvar não seria para nada. Porque sem ela não teria razão para sobreviver.

       Acariciou seu cabelo meigamente, seu corpo se moveu gentilmente dentro do dela. O ritual se completou acautelando que este terrível perigo se repetisse para ela. Precisava-a residindo em seu interior, iluminando a escuridão com sua luz. Seria um longo caminho de volta, mas ela era forte, o arrastara de volta do negro vazio de sua natureza animal, com sua confiança. Terminou o ritual brandamente. - Sua vida, sua felicidade e seu bem-estar estará acima de minha própria vontade. É minha companheira. Está unida a mim por toda a eternidade e sempre a meus cuidados.

       Seu corpo podia sentir o êxtase da combinação do ritual, de que se alimentasse com o quente sexo feminino. Empurrou de um lado o prazer, sabendo que ela não estava sentindo como ele. No momento em que esteve seguro de que tinha suficiente sangue para sobreviver, permitiu-se a si mesmo, um segundo de tranquilidade.

       A cabeça dela caiu para trás sobre seu frágil pescoço, como uma flor em seu caule. Estava tão pálida que sua pele parecia quase translúcida. Gregori tomou a mão e a levou a boca, seus olhos prateados se moveram sobre seu rosto, notando as sombras que não estavam ali antes. Enquanto a olhava, algo em seu interior se tornou suave, terno.

       Acomodou-se saindo de seu corpo, olhando abaixo, para o corpo frágil, e ficou imóvel, assustado, horrorizado, quase incrédulo. Cortes, arranhões, e marcas de dentes, marcavam sua pele. O sangue e o sêmen gotejavam por suas pernas, e ele teve de voltar em seu interior, para recordar como tomara sua inocência.

       Um sonoro e cru gemido, rasgou sua garganta. Como podia ter feito algo tão brutal e imperdoável? Como pudera fazer algo tão abominável?Como poderia ser alguma vez perdoado? Savannah havia lhe trazido de volta do negro vazio que estava condenado. Tudo o que sabia, tudo o que acreditava, dizia-lhe que isto era um milagre. Mas ela havia pago um terrível preço.

       Savannah estava imóvel, pálida e necessitada. Gregori jogou para trás seu cabelo de ébano, seu coração sentia mais dor de que se houvessem arrancando o coração de seu peito. A crua verdade era que a mentira seria para si mesmo, e não merecia. A valentia dela o havia trazido de volta. Se podia fazer frente ao demônio nele, ele não podia fazer menos.

- E se tiver que te ter a minha volta, vamos ter umas regras que deverão ser seguidas, fera insana.

       Sua boca se calou, mas suas vísceras se esticaram ardentemente, seu corpo estava tão duro que doía. Fome. Acreditava absolutamente em seu direito sobre ela, acreditava que lhe pertencia. Protegeria-a com sua vida de todo mal, olharia por cada uma de suas necessidades e seu conforto.

 

Savannah despertou lentamente de seu sono. O conhecimento chegou primeiro quando tentou se mover. O dom Cárpato da deliciosa sensibilidade, a habilidade de ver, cheirar, ouvir e saborear tão vividamente, a fenomenal e apaixonada natureza de corpo e mente que lhes permitia encaixar tão intimamente, era uma maldição quando chegava a dor. Os Cárpatos sentiam dor tão aguda e claramente como viam e ouviam, sem agentes químicos que entorpecessem a sensação. Um gemido escapou antes de que pudesse evitar.

Instantaneamente uma mão consoladora descansou em sua frente, acariciando seu cabelo para trás.

- Não se mova, ma petite.

Um débil sorriso curvou a boca dela.

- Tem que fazer de tudo o que diz, uma ordem? – Seus cílios se ergueram, para revelar seus olhos azul violáceos.

Gregori esperava censura, raiva e desgosto. Seus olhos estavam nublados de dor, mas nada mais. Ele era uma sombra em sua mente, assim não podia ocultar seus pensamentos. Estava interessada principalmente por ele, mas a terrível luta que tinha mantido por sua própria prudência, pelas cicatrizes em sua alma. Ele sentia-se culpado e com uma assustadora sensação de tristeza por que sua juventude e inexperiência lhe tivessem forçado a tais escolhas. Não notou que estava franzindo o cenho até que os dedos dela alisaram seus lábios. Seu toque o sacudiu. A forma em que ela o olhava fazia com que seu coração saltasse com violência em seu peito.

- Arriscou-se terrivelmente, Savannah. Poderia ter matado voce. A próxima vez que lhe de uma ordem, segue-a.

Ele estava lívido, depois apressadamente se serenou quando ela umedeceu os lábios inchados. Estava terrivelmente fraca, precisando de sangue. O aroma subiu para chateá-la com lembranças que necessitava desesperadamente evitar justo agora.

- Não sou muito boa seguindo ordens. Suponho que simplesmente terá que se acostumar a isso. - Savannah tentou sentar-se, mas ele tornou impossível, com sua grande mão estendida sobre seu coração.

Ele captou o nervosismo e o medo. Ela era muito, muito consciente da palma de sua mão descansando sobre o fino lençol sobre o seio inchado. Savannah estava tentando ignorar a tensão sexual que se arqueava entre eles.

Ele se inclinou, roçando meigamente seus lábios ao longo da testa dela.

- Agradeço-te sua intervenção. Salvou minha vida. E o mais importante, salvou minha alma. - Nossas vidas. - Não tente me esconder seus temores, ma petite. Não há necessidade.

Um suspiro escapou, e as cílios velaram os olhos dela.

- Pode ser extremamente irritante, Gregori. Estou tentando compreender tudo isso, e poderia ter um pouco de ajuda. Para ser honesta, estou assustada demais, de morte. Não quero pensar nisso agora mesmo. – ela mordeu o lábio, depois fez uma careta de dor quando lhe doeu a boca. Fez um sutil movimento de retirada, esperando que ele moveria sua mão. Era tão consciente do seu toque, de seu coração. O conhecimento compassou ambos, a dor de seu corpo que o toque induzia e o terrível medo em sua mente que não tinha esperança de superar.

Gregori não moveu nem um músculo, permanecendo tão imóvel como uma estátua esculpida em granito.

- Empurrou-me fora da escuridão, das portas do inferno. Com todo os direitos, por cada lei que tem nosso povo, deveria me ter destruído pelo que te fiz. - Sua voz era baixa e afiada pela pena. - Com toda honestidade, não tenho nem idéia de que semelhante auto sacrifício, e semelhante resgate, fosse possível.

Savannah não desejava voltar a repetir a experiência nunca mais em sua vida. Mas de algum modo, tão assustada como estava, tão ferido como estava seu corpo, sabia que Gregori estava muito mais atormentado que ela.

- Suponho que não estas tão agradecido para considerar viver longe de mim durante um tempo não? - Perguntou esperançada, fechando os olhos durante um momento para bloquear a lembrança da luta pela alma dele. Não poderia enfrentar a lembrança, a realidade e a pessoa intimidante ao mesmo tempo. Durante um momento algo flutuou nos olhos dele, sacudindo sua mente, a mente dela, depois se desvaneceu. Dor. Havia ela lhe feito mal? Savannah não estava segura de que queria saber.

- O ritual está completado, ma petite. É muito tarde. Nenhum de nós sobreviveria a uma separação. - Seus dedos se enredaram no cabelo dela, esmagando as mechas sedosas como se não pudesse conseguir tocá-la-o suficiente.

Savannah recordou ter ouvido que os companheiros não podiam viver separados. Mas isso significava que tinha que encontrar uma forma de resolver seus conflitos internos e o medo a sua relação em seguida. Era isso sequer possível?

- E isso que significa? - Desafiou ela. – Ouvi meu pai e você dizer. Ouvi-o toda minha vida Que significa?

- Precisará tocar minha mente, meu corpo, o intercâmbio de nosso sangue, e eu necessitarei dos teus. Ocorrerá com freqüência e a necessidade é tão poderosa, que um de nós não pode existir sem o outro. - Manteve sua voz neutra, baixa, uma cadência consoladora. Se era possível para ela ficar mais pálida, ela ficou. O coração dela saltou no peito, seus olhos se abriram com medo. Nunca! Nunca poderia, jamais, sob nenhuma circunstância, passar por isso de novo. O sexo era um pesadelo, o intercâmbio de sangue dolorosamente sobre valorizado. Virou o rosto para longe dele, no intuito de esconder seu medo. Sua mente estava trabalhando furiosamente, tentando encontrar uma solução. Ela o tinha procurado. Se só... Mas se tivesse feito algo diferente, Gregori poderia estar morto... Ou pior, ser um vampiro completo, e de algum modo, com a ameaça de repetir a experiência, Savannah não podia suportar essa idéia.

Seu umedeceu os lábios com a ponta da língua, sentiu o inchaço, dando evidência do assalto dele.

- Mas já não há possibilidade de que se converta num vampiro, certo?

O coração do Gregori notou a pequena dúvida em sua voz.

- Não há possibilidade de que entregue minha alma à escuridão, Savannah, a menos que deva te perder. Não te mentirei, ma petite. Nossa vida será difícil no princípio. Não tenho nem idéia das profundas emoções que é capaz de criar em mim. Levará algum tempo para se ajustar. Se está perguntado se te farei mal de novo fisicamente, a resposta é não.

- Está seguro? - Desta vez havia um tremor evidente em sua voz, e sua mão tremeu quando a elevou para jogar o cabelo para trás.

O movimento causou dor, e Gregori sentiu essa dor, esse tremor, através de seu corpo inteiro, como navalhas em sua carne.

- Estou, Savannah. Você é uma luz para me guiar através da escuridão dos tempos. - Quis envolvê-la na segurança de seus braços, albergá-la por toda a eternidade contra seu coração. Mas estava dizendo a verdade? Sentia que em sua alma que o fazia, mas havia, há muito tempo manipulado a natureza. Agüentariam as salvaguardas contra sua violência?

- Necessito de tempo. - Ela odiava a nota de súplica em sua voz. Mas sua vida tinha mudado da noite para o dia. E Peter. Que Deus a ajudasse, nunca se perdoaria pela morte do Peter.

- Roberto não estava sozinho. - Era fácil ler seus pensamentos.

Savannah provou com cautela sua habilidade para mover-se. Cada músculo pareceu chiar em protesto.

- Que quer dizer?

A mão dele se moveu sobre seu ombro, seu toque foi possessivo. Uma sacudida de medo a golpeou com força. Estava nua sob o lençol. Instantaneamente se sentiu vulnerável, seu olhar azul violácea saltou para ele como se esperasse que lhe crescessem chifres.

Gregori suspirou brandamente e moveu seu peso sobre a cama.

- Não te farei mal, mon petit amour. Não posso com o ritual completado.

- Então por que diz que nossa vida será difícil? - Os dedos dela estava firmes no lençol até que seus dedos ficaram brancos. A mão dele se colocou gentilmente sobre a sua, percorrendo com a ponta de um dedo cada nódulo tenso. Cada roçar de seus dedos enviava uma inesperada sacudida de eletricidade através dela.

- Não posso te perder depois de esperar durante séculos. Sei que sou um homem difícil e não será fácil conviver comigo. Ambos precisaremos fazer certos ajustes.

- Se, perder essa atitude de macho. - Murmurou ela baixo. Disse em alto. - Quero me sentar, Gregori. - sentia-se em uma desvantagem evidente, ele sobre suas costas e nua sob o lençol. - Se formos discutir nosso futuro, eu gostaria de participar.

Durante um longo momento os olhos prateados moveram-se sobre a pálida e machucada face dela, estudando-a atentamente, claramente debatendo-se entre permitir ou não. Uma tormenta começou a formar-se nos olhos dela, e com relutância, ela se tornou para trás lhe deixando espaço.

- Fácil, pequena. - Disse brandamente, deslizando um braço ao redor dela, com seu quente fôlego sobre seu pescoço.

A sensação do cabelo áspero dele, de seu braço de ferro envolvendo-se ao redor de sua pele nua enviava um calafrio que descia por sua espinha e provocava quente sensações em seu corpo. Detestava essa calidez, a forma em que se corpo se ajustava ao dele, a forma em que sua mente lutava por ignorar sua firme resolução e procurava lhe tocar. Era o ritual. Como podia seu corpo desejar um toque tão brutal? Era uma espécie de masoquista?

O tremor começou profundamente em seu interior, avançou progressivamente através de seus músculos até que cada dente começou a bater. Savannah se segurou ao lençol e se sentou rigidamente contra o apoio do braço dele.

- Acredito que isto iria muito melhor se você se sentasse ali. - Apontou a uma cadeira do outro lado da câmara.

As mãos de Gregori emolduraram seu rosto, os polegares acariciaram a delicada linha de seu queixo.

- Olhe-me olhe, Savannah. - Sua voz era veludo negro mas uma ordem, não obstante.

O olhar dela saltou para ele, mas apressadamente afastou os olhos. Sob seu dedo polegar, o pulso dela corria. - Vais lutar comigo a cada passo? Estou-te pedindo algo muito pequeno, me olhe, a seu companheiro.

- É? Quer dizer, pode dirigir a qualquer um com um olhar.

A risada dele foi suave, jogando sobre a pele dela como o toque de dedos.

- Posso fazê-lo só com a voz, chérie. Savannah, necessita que me olhe.

Relutante ela fixou seu olhar no dele. por que havia pensado que seus olhos eram frios? Eram poças de mercúrio fundido, esquentando-a, acalmando-a para que o tremor se aliviasse e algo de seu temor se dissipasse o suficiente para começar a relaxar seus músculos.

- Não te farei mal novamente. A forma em que te tomei não foi por escolha, e carregarei a vergonha e a culpa por minha falta de controle todo o tempo. Suas mãos encontraram o cabelo dela e levou uma sedosa mecha aos lábios. - Sei que tem medo de mim, Savannah, e te dei boas razões para tanto, mas te ofereço minha mente livremente para que possa ver que digo a verdade.

Estava arriscando tudo. Seu passado era escuro, às vezes negro. Em sua tenra idade, ela era incapaz de entender semelhante historia, a frieza da existência que tinha levado até esse momento. Mas conheceria cada feito, cada implacável ato. Também saberia o longe que tinha chegado para assegurar-se de tê-la como sua companheira. Era a única forma que conhecia de lhe assegurar que dizia de coração o que disse. Se abrisse sua mente completamente, ela saberia que dizia a verdade. Nunca poderia lhe amar, mas ele não esperava seu amor.

Savannah estudou seu rosto durante um longo momento.

- É suficiente que tenha me feito a oferta, Gregori. Meus medos não se acabarão, sabendo que é incapaz de me fazer mal. O medo não funciona dessa forma. - Era desnecessário que ele sacrificasse seu orgulho, que confessasse cada escuro e feio feito. Sua vida tinha sido difícil e tinha feito o melhor que podia. Ela não tinha direito a julgar seus atos. - Possivelmente possamos reduzir a velocidade de tudo esta e trabalhar em nos conhecer o um ao outro.

Ele soltou o fôlego lentamente, consciente que de estava contendo-o.

- Está segura? - Ante seu assentimento, soltou-a.

- Que quis dizer com que Roberto não estava sozinho? - Deliberadamente ela trocou de tema, tentando aliviar a tensão entre eles.

- Viajava com um grupo. Converteram a Europa em um matadouro. Seu pai foi duro cobrindo a evidência e protegendo a nossa gente. Não aconteceu muito desde que os assassinos percorreram nossa terra natal e mataram a nossa gente.

- Quantos há neste grupo?

- Quatro mais.

A mão dela foi para a garganta. Parecia tão jovem e indefesa, desejava arrastá-la ao amparo de seus braços. Estava fazendo coisas que não entendia, mas nenhum preço era muito alto para pagar por ela.

- Vieram aqui por mim? Roberto disse que me encontrou primeiro. Pensei que queria dizer antes que você. Conduzi-os aqui?

Desejava lhe mentir... Não ljá havia causado dor suficiente?... Mas não pôde obrigar-se a fazê-lo, assim não disse nada.

Savannah sacudiu a cabeça tristemente.

- Eu sei. – Ela ainda estava fraca e aturdida pela perda de sangue devido à voracidade dele ao alimentar-se. - Onde está minha roupa? Estou muito fraca para fazer alguma coisa.

As sobrancelhas dele se arquearam.

- Aonde pensa que vai?

- Tenho que fazer os acertos para o funeral de Peter. Provavelmente todo mundo me estará procurando, e o pessoal deve estar devastado pela morte dele e preocupados comigo. Depois de me ocupar com todas essas coisas, tenho intenção de me unir a voce na caça desses renegados.

- Crie que permitirei coisas tão perigosas?

Os olhos dela cresceram tormentosos.

- Não pode me dar ordens, Gregori... Deixemos isso bem claro agora mesmo.

Gregori tirou seu corpo da cama e se estirou como um preguiçoso gato da selva. Savannah se encontrou com os olhos pegos nele. Ele deslizava-se silenciosamente, músculos ondeando sob sua elegante camisa de seda. Esmagou ervas de doce aroma em várias terrinas pequenas com água, acendeu velas sob cada contêiner. Instantemente a câmara se encheu de uma consoladora e sedutora essência que pareceu abrir caminho no corpo dela, em sua corrente sangüínea. Recolhendo uma escova do criado de noite, Gregori rodeou a cama e voltou ao lado dela.

- É obvio que te darei ordens, Savannah. Mas por favor não se preocupe. Posso te assegurar, que sou bastante bom nisso.

Ela estava surpreendida. Gregori, o Escuro, brincando com ela?

Ele sentou-se atrás dela, tomando cuidado com seus machucados, e começou a alisar seus cabelo. Sentia-se bem, a escova movendo-se sobre seu couro cabeludo, descendo pela longitude de seu cabelo, suas mãos lhes deslizando em longas carícias, uma espécie de magia.

- Muito gracioso. Não nasci no século quatorze ou nesses estúpidos e atrasados tempos que nasceu você. Sou uma mulher moderna você goste ou não. Foi sua escolha se prender a mim. Me dar ordens, não importa o quanto seja bom nisso, está descartado. - Havia feitiçaria, sedução, no toque de suas mãos, no calor de sua voz, a pequena nota zombadora que ela sabia agora que igualava à sua própria.

Os dedos dele roçaram sua nuca, enviando calor através de seu sangue.

- Sou do Velho Mundo, pequena. - A calidez de seu fôlego contra seu ouvido. - Não posso fazer outra coisa que proteger minha mulher.

- Supere-se. - Sugeriu-lhe docemente. – Nos acertaremos melhor desse modo.

- Esplendidamente, ma petite, se nunca opuser a minha vontade. - Sua voz, cada vez mais baixa, era uma tentação. O ar da câmara estava carregado com a essência das ervas, invadindo seus sentidos, sua voz a hipnotizava.

Girou a cabeça para o olhar sobre o ombro nu, seus olhos violetas ardendo em chamas. Os olhos prateados a olhavam, com diversão.

- Controle-se, Gregori. Está perdendo a cabeça. Não te ocorreu que eu precisaria de roupa? - Tentou soar dura. Não lhe faria nenhum bem permitir que ele a seduzisse quando tinha a guarda baixa. Mas estava muito sonolenta, sua cabeça dava voltas com a essência das ervas e a sensação das mãos dele em seu cabelo.

- Não é difícil conseguir tais artigos. - Recordou-lhe ele, inclinando a cabeça para acariciar com sua língua consoladoramente um corte particularmente feio na parte baixa de suas costas. A saliva curadora trabalharia mais rápido misturada com sua terra natal, mas era tudo o que tinha.

Savannah saltou quando a aveludada aspereza de sua língua se moveu eróticamente ao longo de seu quadril. Pesada, a essência das ervas a invadiu, induzindo-a a um lânguido adormecimento. Os dedos de Gregori jogaram seu cabelo para o lado, lhe colocando os cabelos sobre o ombro para expor suas costas. Inclinou a cabeça lentamente para ela, seu próprio comprido e escuro cabelo deslizou sobre a pele sensível dela.

Ela pronunciou um som de protesto e tentou mover-se para longe dele, mas aterrissou sobre seu estômago, com as mãos apanhadas embaixo ela.

- Fica aquieta, Savannah. - Sua boca estava nos quadris dela, na pior parte dos cortes.

O medo cravou suas garras nela, formando redemoinhos-se em seu cérebro. A fazia sentir completamente vulnerável, necessitada. Ia ocorrer de novo, sua brutal posse. As lágrimas arderam sob suas pálpebras, e um gemido surgiu de sua garganta.

Ele encontrou seu medo intolerável. Não deveria se importar. Sabia que não ia fazer mal a ela... Justamente o contrário, estava curando-a... Mas seu medo lhe devorava, lhe deixava louco. Ele, que pensava que não existisse amabilidade nele, tocava-a com extraordinária ternura.

- Se trouxesse seu lobo, Savannah, aceitaria seus cuidados? - Ofereceu amavelmente. O lustroso pelo negra ondeou ao longo de seus braços, e os ossos rangeram e se estiraram para acomodar-se a sua mudança de forma.

A pele de Savannah era tão sensível, que o roçar da pele foi doloroso. Através de seu medo captou um brilho de dor, como se incomodasse Gregori que ela preferisse o animal ao homem.

- Não, por favor não o faça, Gregori. Não me traga o lobo. Me deixe curar naturalmente. - Suplicou, incapaz de suportar a dor. Fechou os olhos enquanto os músculos tensos ondeavam uma vez mais sob sua pele.

A língua dele encontrou a marca escura de seus dedos sobre seu arredondado traseiro, riscando cada linha púrpura.

- Não é mortal, ma petite. Isto é natural para nossa gente. - Sentiu prazer por sua escolha, embora se perguntasse, porque sentia.

As mãos de Gregori percorreram seu corpo, encontrando cada arranhão, cada corte. Sua boca era cálida, úmida, deixando carícias ao longo de suas costelas, sua cintura, seus quadris e seu traseiro. Savannah ofegou quando ele inseriu uma mão entre suas pernas, obrigando-a a lhe dar acesso a suas terríveis e arranhadas coxa. A ferida estava na parte interior de sua perna. Áspera, veludo negro, a lingua acariciou gentilmente, insistentemente, uma ferida raivosamente vermelha, em um íntimo e erótico toque.

Savannah apenas podia respirar. Seu toque era como uma droga, invadindo seu corpo, esquentando sua corrente sanguínea, aliviando cada dor. Era tão fácil para ele controlar sua mente, seu corpo, como se não houvesse Savannah sem ele. Necessitava tão completamente de seu toque, que o odiava. O ar da câmara o favorecia, as insidiosas ervas consoladoras, deixavam-na sonolenta.

Gregori lhe deu a volta gentilmente, seu fôlego ficou preso em sua garganta. Nunca tinha notado quão formoso era realmente o corpo feminino. Orgulho e posse ardiam em seus olhos enquanto seu olhar se deslizava pela pele nua dela, então se moveu paraa sua delicada face. As lágrimas brilhavam como jóias, apanhadas em seus cílios.

Ele murmurou algo que não pôde captar, seus dedos roçaram as lágrimas, na forma que as gotas caíram na palma de sua mão. Fechou a mão ao redor delas, soltando seu quente fôlego através dos dedos, e abrindo a mão. Três diamantes perfeitos descansavam em sua palma aberta.

Embora ela fosse uma professora da ilusão, os olhos de Savannah se abriram, maravilhando-se da façanha de Gregori. Seus dedos se enroscaram ao redor da mão dele. O coração de Gregori deu um salto ante o toque dos dedos dela. Era uma mistura do temor reverencial de uma menina ante sua magia e o medo severo que seu toque íntimo estava fazendo a seu corpo. Todo Cárpato com algum mérito poderia realizar a ilusão de lágrimas que pareciam diamantes, mas as gemas de Gregori eram reais, sólidas. Tinha usado sua força e o tremendo poder de sua mente para fazer o impossível para ela, para converter a ilusão em realidade.

Tomando sua mão, seus olhos fixos nos dela, Gregori permitiu que os diamantes caíssem em sua palma, numa chuva de gemas. Muito cuidadosamente fechou seus dedos ao redor do presente. Seus olhos ainda sustentavam os dela, sua língua acariciou seu punho machucado. Uma vez, duas, três.

Dardos de fogo percorreram sua corrente sanguínea. Seu corpo estremeceu e esquentou-se no fresco ar noturno. Um pequeno ruído escapou de seus lábios, quando ele inclinou a cabeça para encontrar uma mancha escura no canto de sua boca. Em sua cabeça, débil e longínquo, podia ouvir um canto na suave e consoladora voz dele, a linguagem de séculos de antigüidade. Seus cílios baixaram. Fogo e gelo. Dor e prazer. Áspero veludo acariciando sua maltratada pele, levando a ardência e o desejo.

Savannah fechou os olhos contra a tortura da beleza masculina, a ternura esculpida em seus sensuais traços. A língua se movia sobre seus quadris, depois deslizava para o corte em sua boca. Ela sentia-se bem.

E ele se inclinou sobre seu pescoço, sua garganta, sua língua teve grande cuidado sobre a carne atormentada. As marcas dos dentes sobre o ombro por onde a tinha prendido sob ele, requereram um lento e preguiçoso cuidado. Sua língua e suas suaves carícias, tiravam a dor e substituía com um tortuoso calor.

O corpo de Gregori respondia a cada centímetro da acetinada pele, o sabor e a sensação, a vista e o aroma dela. Desta vez, seria tudo para ela. Não teria oportunidade de lhe fazer mal. Estava decidido a substituir cada corte, cada arranhão, cada má lembrança pelo prazer reparador.

- Está bom, Gregori. - Sua mente unida a ele encontrou sua fome e seu despertar, que igualava ao dele, sem medo que a turvasse. A respiração lhe chegava em curtos ofegos. em algum lugar entre o prazer e o terror.

- Cada corte, mon petit amor, não importa quão pequeno seja. – Deliberadamente, ele sussurrou as palavras. Seu fôlego contra a pele acetinada do seio rijo, tomou seu tempo. Desfrutou seu trabalho, percorrendo a suave plenitude, acariciando, chateando, e curando. Nunca teria suficiente dela, nunca superaria a sensação e perfeição dela. Tampouco o fato de que ela se negou a lhe condenar, que tinha tentado lhe proteger do terrível crime que tinha cometido contra ela.

Depois do que lhe havia inflingido, e ela se importara em lhe seguir até as profundezas do inferno, para lhe arrastar de volta. Sua atenção, toda e total, seriam dela, para ela.

Gemeu, só em pensar no que havia feito, doía por dentro. Chorou, silenciosamente por ter cometido semelhante, horrível ato, contra sua mulher, a única mulher com coragem suficiente para lhe seguir e arrastar sua alma do inferno, à luz da dela.

Os dedos de Savannah se enredaram nos cabelos dele, tecendo sua própria magia. – Deixe de se atormentar, Gregori. Conhecia o risco, e mesmo assim ,me deu minha liberdade. Esses cinco anos de liberdade foram preciosos para mim. Agradeço-os.

Gregori fechou os olhos. Ela estava-lhe colocando seu mundo ao reverso, fundindo suas vísceras, sua frígida existência, com a beleza de sua natureza. Ela era tudo o que ele não era. Savannah era compaixão, perdão, luz e bondade. Agora casada com um demônio que não conhecia as coisas que a faziam ser o que era. Se era amor por ela, o que estava crescendo nele, era uma exigente e perigosa emoção. Agora, ela estava com medo. Sua tortura estava em sua mente.

Ela se moveu ligeiramente para que ele pudesse atender a parte inferior de seus seios. Ele sentiu o estremecimento de resposta ante o gentil toque de sua língua, e calor que se apressava através do corpo dela, a pressão que crescia lentamente.

- Sempre te temerei, Gregori. Temo seu poder sobre mim, temo o que representa, a perda de minha liberdade. Temo a um ser tão poderoso e como me faz sentir. Se não houvesse acontecido, ainda te temeria.

A boca dele se moveu mais abaixo, sobre seu estreito abdomem, e sua cintura. Atrasou os cuidados, sobre os quatro longos arranhões que atravessavam o estômago dela. Seu corpo doía, mas enquanto desfrutava de seu trabalho, não se importava. - Agora teme se unir a mim.

O fôlego dela ficou preso na garganta e ela ficou imóvel sob ele. Mas o canto consolador continuou e a pesada essência das ervas, combinada com seu toque gentil, prevaleceu. Ela relaxou sob ele. Não queria ferir seu ego... O dos homens é tão frágil... Mas o sexo está definitivamente valorizado. Podemos refrear esse aspecto das coisas.

Gregori sentiu o toque de diversão nos pensamentos dela. Sabia que estava levando o próprio fogo através do sangue dela, a onda de calor a estava provocando. Podia facilmente cheirar sua essência, que o chamava. Ela estava pronta novamente. Mas ela não ia cair em sua armadilha. Era muito grande para sua pequena forma, e fora muito rude.

Seus lábios arrastou o fogo ao longo de seu estômago até o sedoso triângulo na conjunção de suas pernas. Ela saltou, seus dedos retorceram-se no cabelo dele.

- Não, Gregori.

Sua voz estava temerosa e suas pequenas mãos estavam tremendo novamente, a sensação contra seu couro cabeludo, invadiu sua alma, seu coração. As Palmas das mãos dele se moveram gentilmente acariciando suas coxas, e sua língua encontrou a dobra de seu quadril. - Conheço a única forma de te curar. – Ele acariciou o centro de seu corpo, sua intimidade, com infinita ternura.

Ela gritou. Seus quadris se elevaram, tentando se retorcer para afastar do revolto mar de chamas que ele estava criando. Seus músculos se estenderam. Os tremores começaram em seu estômago, depois a pressão cresceu. Havia tanta urgência agrupando-se, sensaçãos incandescentes, dançavam em suas profundezas.

- Gregori!

Foi uma necessitada súplica de desejo, de temor, de confusão.

A conexão psíquica entre eles era forte. Era tão fácil para ele ler cada uma de suas conflitivas emoções e ver seu ardente desejo. Seu canto consolador não vacilou e cuidadosamente manteve seu corpo enrijecido sob controle, junto com seus selvagens e apaixonados pensamentos. Por ela ele se uniu, criou prazer sem medo. Uma cura para substituir a brutal invasão de seu corpo, de sua inocência.

Em algum nível, Savannah sabia que ele estava em sua cabeça, dirigindo suas emoções para longe do medo, elevando seu prazer, que pensou que podia morrer por sua intensidade. Seu toque era gentil e aliviava a terrível amargura, até que a pressão que crescia em seu interior se voltou quase insana.

- Entregue-se a mim, ma petite. Estou aqui para te agradar.

A voz foi um feitiço que compelia sua obediência. Desejava obedecer, entregar-se a seu cuidado. Desejava que ele extinguisse as ondas de desejo e as chamas que a escalavam.

Um suave, ansioso e pequeno gemido saiu da garganta dela, quase acabando com ele. Seu alívio estava chegando, sacudindo-a enquanto seu corpo se fragmentou se dissolveu, enquanto a terra se movia e vibraram cores a sua volta, cores que nasciam nela, atrvéz dela.

Gregori a sustentou enquanto seu corpo estremecia de prazer, enquanto os espasmos a sacudiam. Arrastou-a mais para perto, colocando-a no resguardo de seu corpo, necessitando desesperadamente estar junto dela. Estava suado, seus músculos tensos e rígidos pela própria necessidade de alívio.

Ela podia sentir a urgência da necessidade pulsando nele, rasgando sua alma.

- Sinto muito, Gregori. - A voz do Savannah foi suave, cheia de culpa, um simples fio de voz. Ela escondeu a face contra as costelas dele.

Ele elevou as mechas de seu cabelo ébano até os lábios, inalando sua fragrância.

- Não tem razões para lamentar nada, ma petite.

O punho apertado dela estava sobre o coração dele, com os três diamantes em sua palma.

- Acredita que não posso ler em seu corpo? Sentir em sua mente enquanto tenta me proteger? Não posso trocar quem sou, mais do que pode você. Sei que estou falhando, causando seu desconforto.

Um pequeno sorriso curvou a boca dele. Desconforto. Agora tinha uma palavra para isso. Sua mão lisou o cabelo dela, que correu entre seus dedos.

- Não te pedi troca, não desejaria que o fizesse. Parece se esquecer, que a conheço melhor que ninguém. Posso te dirigir.

Ela voltou a cabeça para que ele pudesse ver as estrelas prateadas brilhando em seus olhos azuis, numa ardente advertência.

- Você é arrogante demais, Gregori, Faz com que eu deseje te atirar coisas. Ouviste-te? Me dirigir? Eu tento dizer que lamento falhar com você e o senhor atua como o poderoso senhor do feudo. Ter nascido há séculos quando as mulheres eram só peças decorativas, não te dá uma desculpa.

- As mulheres dos Cárpatos nunca foram consideradas peças decorativas, ma petite. - Corrigiu ele brandamente.- A nossa, é uma raça minguante. Nossas crianças raramente sobrevivem e há tão poucas mulheres para companheiras, que a maioria dos homens estão perdidos em sua escuridão interior depois de séculos sozinhos. Nossas mulheres são nosso mais precioso tesouro, guardado e protegido.

- Gregori. - Savannah manteve o punho apertado, guardando os diamantes de suas lágrimas dentro, como se fossem um símbolo. – Vamos tentar chegar a algum entendimento, para que possamos viver juntos e em paz. - Seu corpo estava ainda sacudindo-se com os espasmos e o olhar dele mantinha o calor enroscando-se nela. Ele teve o surpreendente desejo de tocar suas escuras sobrancelhas com a ponta de um dedo.

Os lábios dele encontrou a sedosa fragrância do cabelo dela, e suas mãos percorreram suas costas, encontrado prazer na forma em que sua diminuta cintura emoldurava os esbeltos quadris.

- Que classe de entendimento? - Murmurou quase ausente, sua mente claramente em outras coisas mais provocadoras.

O rastro de diversão em sua voz a irritava, como se ele estivesse simplesmente agradando-a. Savannah empurrou seu peito para colocar alguns poucos centímetros entre eles. Sua grande forma não se moveu e estava encerrada entre seus braços. Empurrou-lhe de novo.

- Esquece.

Ele inclinou a cabeça para saborear a vulnerável linha de seu pescoço, para sentir sua pulsação, na cálida e úmida maciez da própria boca. Seu sangue emergiu acesso. Pequenos sinos, pulsavam em seu crânio.

- Estou escutando cada palavra que diz, ma petite. - Murmurou, perdido em sua suavidade, em sua essência. Desejava-a com cada fibra de seu ser, com cada célula de seu corpo. - Poderia repetir cada palavra que diz, se desejar.

Logo o fogo começaria, e não haveria escolha para nenhum deles. Seu sangue chamaria o dela com tal urgência que ela não poderia ignorar sua chamada. Sua mente se deslizaria facilmente, dentro e fora da dela, o vínculo psíquico era forte mantendo-os juntos, mesmo a grandes distancia. Ela presisava dele, como ele dela.

Gregori a inalou dentro de seu corpo, sua essência era tão feminina, tão sedutora. Ela revolvia profundos sentimentos, após uma existência erma e isso o aterrorizava. Estava acostumado a uma vida sem emoções. Podia lhe fazer bem, mas seu potencial para a maldade era enorme. Ele era lei. Inclusive as leis de sua gente, as mesmas leis que defendia, nunca haviam sido aplicadas a ele.

Podia ler os sentimentos dela facilmente. Savannah tinha uma natureza aberta e direta. Ela estava lhe atraindo, preparada para o proteger de si mesmo se fosse necessário. Mas não tinha intenção de lhe permitir fazer o amor novamente. Cortou seu coração, saber que havia sido ele, quem lhe fizera mal, que provocara-lhe o medo de uma união natural.

- Não está me escutando. - Savannah se retorceu, tentando sair dele. - Está tentando me seduzir. - Disse indignada.

Ele levantou a cabeça, seus olhos vagaram possessivamente sobre os formosos traços dela.

- Estou fazendo? Funciona? - Sua voz era uma baixa e zombadora carícia.Desarmou-a quando o rechaço não o faria. A mão dele se estendeu aberta por sua garganta, seu polegar roçou meigamente seu pescoço, enviando chamas que lambiam sua pele.

Savannah estava sorrindo apesar de todos os esforços para não fazê-lo.

- Não. Não está funcionando, absolutamente. - Mentiu. Não podia o olhar, sem o desejar. Soa pulsação estava sob o polegar dele.

Sua pele ardentemente acetinada, convidando seu toque, convidando a continuar explorando. Havia um conflito em sua mente, o medo estava em primeiro lugar, mas também o desejo.

Gregori se concentrou nisso, alimentando essa faísca de desejo com a sua própria.

Tocou seus lábios, roçando com um suave sussurro aveludado seus lábios, e sentiu seu coração saltar em resposta.

- Esta segura? Aprendi muito ao longo dos séculos. Fazer o amor é uma arte. - Agora era uma feitiçaria audível, sedução extrema.

Ele estava tecendo magia em seus lábios. Aplicando toques, numa mistura de ternura e posse, seu coração deu um salto. Seus dedos se enredaram nos espessos cabelos dele. Os largos cílios deslizaram até sua face, depois elevou seus olhos azuis, brilhando provocadores, em risos.

- Uma arte? É assim como o chama? Penso que poderia propor um nome melhor.

Ele levantou a cabeça, seus prateados olhos brilhavam, como mercúrio líquido.

- E você, o que sabe? Sua primeira vez foi uma abominação. Esse não era eu, Savannah, por Deus, era a fera de meu interior. Definitivamente não foi amor. Não pode contar esse episódio, como fazer o amor. - Sua voz refletiu a profunda pena,enquanto seus olhos eram sensuais, famintos e intensos com um calor que enviava chamas para dentro dela.

Ela elevou o queixo, odiando a pena e a culpa dele. Querendo que a mente dele se distraísse com outras coisas, deliberadamente desafiando sua declaração.

- Não sabe muito sobre mim, Gregori. Houve um homem uma vez. Estava louco por mim. - Tentou parecer mundana. - Absolutamente louco por mim.

Sua risada em resposta, foi macia contra o pescoço dela, contra sua garganta. Os lábios tocaram a pele sobre sua pulsação, deslizando-se levemente sobre sua orelha.

- Está por acaso, referindo-se a aquele estúpido moço de cabelo laranja e colar de pregos? Dragão ou algo assim?

Ela ofegou e empurrou-o, afastando-se para o fitar.

- Como é possível que você o conheça? Fiquei com... Faz um ano.

Gregori esfregou o nariz contra seu pescoço, inalando sua fragrância enquanto sua mão deslizou sobre o ombro, movendo-se gentilmente sobre sua pele acetinada para tomar posse de seu seio.

- Usava botas e montava uma Harley. - Seu fôlego se acelerou, quando a palma de sua mão embalou o suave peso, seu polegar roçou o mamilo.

A sensação da mão de Gregori... Tão forte, tão cálida e possessiva sobre ela... Enviava calor que se enroscava em seu corpo. O desejo se elevou afinado. Ele estava seduzindo-a com ternura. Savannah não queria que acontecesse. Seu corpo se sentia melhor, mas a amargura a lembrava, como poderia terminar...O medo foi uma coisa horrenda e não pôde sair-se. Sua mão agarrou a dele.

- Como averiguou o de Dragão? - Perguntou, desesperada-se por lhe distrair, por distrair-se a si mesma. Como podia ele fazer seu corpo arder quando tinha tanto medo dele, de ter sexo com ele?

- Fazer amor. – Ele a corrigiu, sua voz amorosa, traindo a facilidade com que sua mente se movia como uma sombra através da dela. - E para responder a sua pergunta, vivo em voce, posso te tocar sempre que deseje. Conhecia todos eles. Cada maldito tipo. – Ele mais grunhiu, que disse as palavras, a respiração dela ficou parada em sua garganta. - Ele foi o único em que pensou beijar. - Sua boca tocou a dela. Gentilmente. Ligeiramente. Voltando por mais. Tentando, chateando, até que ela a abriu para ele.

Ele roubou-lhe o fôlego, a razão, fazendo-a dar voltas em um mundo novo de sentimentos. Cores brilhantes e calor branco ardente, a câmara desapareceu até que estivesse só, em seus amplos ombros, seus fortes braços, no corpo duro, e em seus perfeitos lábios.

Quando ele elevou a cabeça, Savannah quase o puxou de volta.

Ele estudou seu rosto, seus olhos nublados pelo desejo, seus lábios tão formosos, privados dos seus.

- Tem alguma idéia do quanto é formosa, Savannah? Há tanta beleza em sua alma, posso vê-la brilhando em seus olhos.

Ela tocou sua face, a palma de sua mão moldou-lhe o queixo. Por que não podia resistir a seus famintos olhos?

- Acredito que lançou um feitiço em mim. Não posso recordar do que estávamos falando.

Gregori sorriu.

- De beijar. - Seus dentes mordiscaram gentilmente seu queixo. - Especificamente, de você querendo beijar aquele imbecil de cabelos laranja.

- Quis beijar todos eles. - Mentiu ela indignada.

- Não, não queria. Esperava que esse estúpido apagasse meu sabor de sua boca para toda a eternidade. - Sua mão acariciou novamente, os cabelos em volta do rosto de Savannah. Deixou beijos ligeiros ao longo da delicada linha de sua mandíbula. - Não teria funcionado, sabe. Lembra-se que ele parecia ter problemas toda vez que estava perto de você?.

Os olhos dela brilharam perigosamente.

- Você não teve nada a ver com suas alergias, teve? - Ela havia desejado que alguém, qualquer pessoa, apagasse o sabor de Gregori de sua boca, de sua alma.

Ele alterou a voz.

- Oh, Savannah, tenho que saborear seus lábios. - Imitou ele. - Depois lhe entrou um ataque de espirros. – Ainda não montaste uma Harley, neném? – Gregori, espirrou, tossiu e se engasgou, numa perfeita imitação.

Savannah lhe golpeou o braço, esquecendo durante um momento seu punho machucado. Quando doeu, reclamou e o olhou acusadoramente.

- Fez-lhe tudo isso! O pobre homem... O coitado... Você danificou seu ego para toda a vida, Gregori. Cada vez que ele me tocava, tinha um ataque de espirros.

Gregori arqueou uma sobrancelha, nada arrependido.

- Tecnicamente, ele não pôs a mão sobre voce. Espirrava antes de poder chegar tão perto.

Ela voltou a deitar a cabeça sobre o travesseiro, seu cabelo de ébano se enroscou no braço dele, depois no seu, enredando-os juntos. Os lábios dele encontraram sua garganta, depois se moveram mais para abaixo e encontrou a mancha sobre seu peito que ardia com desejo, com convite. Savannah capturou sua cabeça firmemente entre as mãos, levantando-a decidida a lhe afastar antes de que seu traiçoeiro corpo sucumbisse completamente a sua magia.

- E o episódio do cão?

Ele tentou parecer inocente, mas sua risada ressonava em sua mente.

- O que quer dizer?

- Sabe muito bem o que quero dizer. – Ela insistiu. - Quando Dragão correu com eme de casa.

- Ah, parece-me que recordo. O grande lobo mau embelezado com corentes, temendo um pequeno cão.

- Pequeno? Uma mistura de Rottweiler de cento e vinte libras? Soltando espuma pela boca. Grunhindo. Correndo atrás dele !

- Ele correu como um coelho. - A suave e acariciante voz de Gregori ecoou de satisfação. Tinha sentido o grande prazer de fazer fugir aquele asno, em particular. Como ele se atrevia a tentar pôr uma mão sobre o Savannah?

- Não me assombra que não pudesse tocar a mente do cão e lhe chamar de volta. Descarado!

- Depois que Dragão te deixou, perseguiu-o durante duas quadras e o fez subir numa árvore. Mantive-lhe ali por várias horas, só para deixar claro. Parecia um galo com sua crista alaranjada.

Ela riu, apesar de não desejar.

- Nunca voltou a se aproximar de mim, de novo.

- É obvio que não. Era inaceitável. - Disse ele complacentemente, com completa satisfação, sua respiração golpeava o sangue dela. Sua boca tocava, atormentava e se movia sobre seu mamilo, marcando-a com fogo e calor. Savannah fechou os olhos contra o desejo tão intenso que a agitou. Como podia desejar algo que trouxesse tanta dor?

- Nada de dor, ma petite, só prazer. - Sua língua criou um doloroso desejo nela. – Prometo. Por minha vida. Sua boca era ardente, fechando-se sobre seu seio. Fogo dançando sobre sua pele, invadindo seu corpo, fundindo suas vísceras até que tornassem lavas incandescentes. Pulsando de desejo por ele, só por ele.

 

       O medo de Savannah foi jogado para um lado pela ardorosa ternura dos lábios de Gregori, por sua gentileza ao acariciá-la. Cuidadosamente, ele empurrou o lençol para baixo, expondo seus seios nus a seu faminto olhar. Ardente. Era tão ardente que Savannah não podia deixar de sentir o fino lençol sobre seus quadris, enredando-se ao redor de suas pernas. Suas mãos estavam entrelaçadas, no espesso cabelo de Gregori, que segurava entre seus dedos, como seda. A camisa dele estava aberta até a estreita cintura, seus músculos duros pressionavam contra os seios dela. O pêlo áspero do peito dele raspava eróticamente seus mamilos.

O calor precedeu a uma tormenta de fogo, através dele, através dela. As mãos de Savannah, por sua conta, arrancaram a camisa dele de seus ombros. Estudou-lhe com seus enormes olhos enquanto ele lentamente a tirava, seu olhar mantinha o azul dela, cativo. Ela estava se afogando nesses prateados e hipnotizantes olhos. Olhos cheios de tanta intensidade, de tanta fome por uma mulher. Por ela. Só por ela.

       Temendo aquilo, com o que estava se comprometendo, Savannah fez uma tentativa. De forma cautelosa, tocou sua mente com a de Gregori. Encontrou uma fome tão profunda, tão selvagem e tão urgente, que instantaneamente sentiu-se perdida. Como podia negar-se ante feroz necessidade? Embora Gregori, ela sabia, era um homem sem ternura, com o instinto tão selvagem e desinibido, sua intenção era ser gentil com ela, assegurar seu prazer. Todos os seus pensamentos eram para ela, para agradá-la, para render culto a seu corpo com o dele.

- Sei que tem medo, mon amour. - Sussurrou brandamente, suas mãos deslizavam sobre seu tórax e seus seios. - Mas já não sou uma fera. Prendeste o demônio. Só estou eu aqui, um homem que deseja demais, fazer o amor com sua companheira. - Ela sentiu seu hálito contra seu mamilo. – Deixe-me te mostrar como deve ser. Formoso. Prazeroso. Posso-te dar muito prazer, ma petite.

       Sua boca se fechou sobre o seio dela, quente e úmida. O som de sua voz era hipnotizador, incitante. Poderia sustentar-se eternamente meramente com seu som. Não havia nenhum pensamento na mente dele para seu próprio corpo ardente, para com suas próprias demandas. Ele queria lhe mostrar a beleza e o prazer de uma verdadeira união.

       Labaredas ardentes correram através de seu sangue e lamberam sua pele com a intensidade do erotismo, do desejo que os lábios dele tinha criado em seu seio. Gemeu, baixo e suave, e a nota acariciou a alma de Gregori. Suas mãos deslizaram sobre as costas dele, riscando cada músculo bem definido com a ponta de seus dedos, gravando-os em sua memória. Seus olhos se encheram de lágrimas. Como podia um homem ser tão sensual, tão perfeito? Ele estava lhe roubando o coração tão facilmente como estava roubando seu corpo.

- Deseje-me, Savannah. - Sussurrou ele brandamente. - Me deseje da mesma forma em que eu te desejo. - Sua língua acariciou a pele dela, percorrendo a parte baixa de seus seios, enquanto suas mãos exploravam seus quadris e coxas. Os dedos dele encontraram sua meta, a ardente e úmida entrada, quente e preparada, esperando que seu corpo se misturasse ao o seu.

       Ela arqueou-se sob as palmas de suas mãos, seu corpo reclamava alívio.

- Sinto-me como se fosse a arder, Gregori! - Ofegou, surpreendida com a intensidade de sua fome por ele. Precisava dele.

- Eu sou o único que queima, ma petite. Ardo em chamas. - Seus dedos a penetraram doce, mas profundamente, assegurando sua rendição, saboreando o prazer de sua reação. Suas mãos macias, sobre a pele nua dele estavam o levando a loucura, mas sobre tudo, era a confiança que ela estava depositando, que o comovia tão profundamente.

       Gregori não podia conceber tal confiança, de uma mulher que tinha utilizado tão brutalmente. Humilhava-o, a forma em que ela o perdoava. Talvez, ela não pudesse nunca, amar a um monstro como ele, mas com sua compreensão, sua compaixão, ela estava decidida a fazer algo com a sentença imposta sobre sua vida juntos..

       As roupas que confinavam seu corpo, apertavam, incomodavam. Assim, as afastou deles com um simples pensamento. Ouviu o gemido dela quando sua ardente língua pressionava sua coxa

       Ela tinha pensado que estaria a salvo enquanto ele estivesse vestido. Tinha pensado que haveria tempo de tomar uma decisão, escolher por si mesmo, mas seu corpo estava fazendo a escolha por ela. E ele estava perdido no calor dela, em seus lugares secretos.

       O corpo de Savannah repentinamente ficou rígido. Segurou-lhe o rosto entre as mãos, exercendo pressão para que ele elevasse a cabeça deixando suas deliciosas explorações. Seus olhos se fundiram quando posaram sobre o rosto dela. Respirou profundamente.

- Não posso fazer isto, Gregori? – Ela estava perto das lágrimas.

- Ninguém está te obrigando a fazer nada, ma petite. - Replicou ele, gentilmente, beijando seu estômago. - Só estamos explorando possibilidades.

- Mas, Gregori. - Tentou protestar ela, fazendo com que ele voltasse a levantar a cabeça para que pudesse ver a realidade de seus temores. Por ele e por suas vidas juntos.

- Se não puder te persuadir, mon amour, não seria muito bom companheiro, não é verdade? - As palavras desapareceram nos sedosos pelos, no intrigante e pequeno triângulo de Savannah.

- Não entende, Greori. - Savannah fechou os olhos contra as onda de fogo que corriam através dela. - Sou eu que não sou umacompanheira ideal. Não sei como te agradar e tenho tanto medo disto.

- Relaxe, pequena. – Sua respiração, inalou sua essência. - Agrada-me muito mais do que sabe. - Seus dentes lhe beliscaram a coxa, sua língua acariciou suas sombras e cavidades, seguindo o caminho que seus dedos tinham tomado.

       Ela gritou ante os sentimentos que a atravessaram, tumultuosos, turbulentos, selvagens e indomáveis. Já não estava sobre a terra , estava voando livre, dando voltas eróticas, fora de controle.

       O corpo de Gregori se moveu sobre o dela, duro e quente, sua força era enorme, mas suas mãos eram ternas quando embalou nelas, sua cabeça. O joelho dele se inseriu gentilmente entre suas para pernas, para ter um maior acesso a ela. Savannah, ainda estremecendo-se com seu clímax, estava apenas consciente do peso dele. Uma vez mais colocando-se em uma posição vulnerável e aberta para ele.

       Gregori tomou a vantagem, pressionando-se intimamente contra sua entrada. Ela estava disposta e desejosa, ardente, tensa e suavemente aveludada. Sentiu que ela ofegava ante sua invasão e deteve-se para permitir a seu corpo, uma oportunidade de se ajustar a seu tamanho. Ela retinha o fôlego, esperando a terrível dor do impulso. A ponta de seus dedos se afundaram nas costas dele, e deixou escapar um ruído de protesto contra o peso sobre seu seio. Mas sentiu só as ondas de fogo, um temporal de intenso prazer alagando-a e consumindo-a.

- Relaxe, Savannah. Relaxe, para mim. Foi feita feita para mim, ma petite. Criada para mim. E eu fui criado para voce. – Ele beijava sua têmpora e sua garganta. Seus quadris se moveram num ritmo suave e tranqüilizador.

       Ela podia sentir a transpiração em suas costas, evidência do tremendo esforço que ele estava fazendo para conter-se. Cada toque, cada movimento, era terno e gentil.

       Gregori moveu-se dentro dela com delicioso cuidado, assombrado do quanto ela era perfeita, apertada e ferozmente ardente. Seu polegar acariciou o lábio inferior dela, o pequeno corte descolorido junto a sua boca.

       Em seguida seu lábio formigou com suavidade, aliviado como se ele houvesse colocado um bálsamo místico sobre ele. Seu coração martelou fortemente contra suas costelas. Ele estava fazendo coisas a seu corpo, não só com o corpo, não só com as mãos, mas também com a mente.

       Apesar de seus medos, apesar da lembrança de seu anterior ataque, Savannah estava cativa em seu fogo, em sua ternura. Seu corpo relaxou lentamente, e o aceitou. Gregori a penetrou profundamente, Um longo e seguro impulso que a fez gemer de desejo, enterrar as unhas em seus braços, apertar-se tensa para evitar voar para longe, para o interior da noite.

       Ele sussurrou brandamente numa mistura de francês e de sua ancestral língua. Ela sabia bem pouco de ambas as línguas, não tinha nem idéia do que ele estava dizendo, mas as palavras a excitaram e a confortaram. Sentiu que era importante para ele. Não só seu corpo. Era ela, Savannah.

- Como pudeste duvidar, chérie? - Sussurrou ele contra seu seio, seus lábios movendo-se em um ritmo sutil que seguia o cadenciar longo e lento de seus quadris.

       O corpo dela, por própria conta, seguiu o dele. Moveram-se juntos, como companheiros que eram, seus corações pulsavam em uníssono. As mãos de Gregori deslizavam sobre sua pele, seus suaves murmúrios de estímulo, acrescentavam beleza a sua união.

       Ele era incrivelmente gentil, iniciando-a como tinha que ter feito sua primeira vez, com carinho e ternura.

       Savannah queria gritar.

       Era incrível, a forma em que ele fazia o amor. Como se ela fosse a mulher mais preciosa, e formosa do mundo. Segurou-se a ele, sujeitando-se à única realidade de que estava segura enquanto seu corpo se estendia. A pressão crescia até que ela gritou pelo desejo de alívio. Só então, ele se permitiu o luxo de enterrar-se profunda e duramente nela, misturando-se com ela completamente. Hábil, ele sustentou-os os dois no auge do extase, na crista da onda, até que ela gemeu, gritou, choramingou ante o ardoroso desejo de seu corpo. Gregori havia a conduzido ao limite. Levou-a com ele, para o precipício.

       A voz de Savannah ficou sufocada contra seu peito. Estava caindo, ardiam luzes, explorando ao redor dela, mas Gregori estava ali, em todas partes, sujeitando-a muito perto com seus fortes braços, lhe assegurando que estava a salvo. Estavam juntos, entrelaçados e Savannah era incapaz de assumir tudo. Incapaz de acreditarn nas sensações que sentia. As mãos dele estavam enredadas em seu cabelo, sua boca acariciava suas têmporas.

       Gregori sabia que nunca teria o suficiente dela. Seus dedos estavam retorcendo-se ausentemente entre seus cabelos, e o toque enviava um novo estremecimento ardente através de seu sangue.

       Então, algo invadiu sua paz e serenidade. Repentinamente, farejando o perigo, Gregori levantou a cabeça. Nos limites de sua própria vigilância chegou uma advertência procedente dos lobos. Chamavam-lhe, suas vozes se elevavam em tom excitado. Baixou a cabeça e colocou um breve e duro beijo na boca de Savannah. Ela parecia sonolenta, sensual, completamente amada.

       Nesse momento chegou a chamada. Uma suave, surda, mas insistente voz, sussurrando a Savannah.

       - Querida. Estou perto. Onde está?

       Essa era sua mãe? Savannah tentou incorporar-se. Um imensa alegria a atravessou. Não via sua mãe há cinco anos. Agora, quando a precisava, quando necessitava que ela fosse seu guia e conforto, sua mãe tinha aparecido inesperadamente.

       - Não responda.

       Foi a imperiosa ordem, e Gregori esperava ser obedecido. Estava já afastando-se dela, seu rosto convertida na implacável máscara,. Seus olhos como frestas de aço.

       Savannah estava já procurando o familiar vínculo mental com sua mãe. Mas em seguida, antes de que pudesse enviar uma mensagem, seu corpo foi retido, e sua mente não pôde comunicar-se. O terror a apanhou, não podia entender. Desamparadamente olhou para Gregori, e quando viu sua máscara de granito, soube que ele havia feito algo.

       Seus olhos foram eloqüentes, suplicando, aterrorizada com sua frieza, de seus traços carentes de expressão. Havia algo nele. Algo duro e tenaz. Implacável. Como tinha pensado alguma vez que ele era gentil, terno? Ele era tão cruel como um vampiro.

- Não pode chamar sua mãe. Não é Raven. Está sendo caçada, Savannah. - Disse ele brandamente, sua formosa voz não mostrava inflexão. - Será capaz de falar só comigo por nosso vínculo exclusivo. Quero sua promessa de que fará o que digo.

       Savannah estava furiosa. Ferida. Mais ferida que furiosa, e isso a enfurecia mais, por haver-se permitido confiar nele o suficiente paraele feri-la em primeiro lugar. - Não tem direito de me fazer isto. Me liberte agora, Gregori! Conheço minha própria mãe quando a ouço.

       Ele ficou em pé e se estirou. Um preguiçoso estiramento de músculos que a fazia desejar lhe arrancar os olhos.

- Não é sua mãe, ma petite. Estão te caçando e você é minha, Savannah. É meu dever te proteger, da forma que achar apropriado. Estes vampiros, amigos do Roberto, estão atrás de algo, e acredito que não estão sozinhos. Acredito que trouxeram humanos açougueiros. Aidan Sabage está aqui na cidade, e é um bom caçador, mas acredito que estes renegados estão seguindo a voce. – ele vestiu-se com fluída eficiência e graça casual. - Não estou habituado a dar explicações. Fiz uma concessão contigo. Escolha agora como procederá.

       - Rechaço sua reclamação sobre a minha – ela respondeu da única forma em que ele lhe permitia comunicar-se. - Levarei minha negativa a nossa gente e suplicarei a clemência que você evidentemente não tem. Não me prenderei a voce!

       Ele se inclinou sobre ela, uma escura e imponente figura que emanava poder. Seus olhos prateados reluziram para ela.

- Me ouça, Savannah. Se não crê em nada mais sobre mim, creia nisto. Pertence-me, a mim. Ninguém tentará afastá-la de mim e continuar vivendo. Ninguém. - Sua vez era baixa, formosa, e mais mortal que nenhuma outra.

       O olhar violeta estava cativo nos dele. Acreditava-lhe. Nem sequer seu pai, o Príncipe de sua gente, tinha oportunidade de o destruir. Sua mente afastou esse pensamento. Destruir Gregori? Não queria isso. Simplesmente não poderia.

- Deixe eu me levantar, Gregori. - Exigiu. A paralisia estava começando a deixá-la louca. Sentia-se como se não pudesse respirar. Sentia-se sufocada, estrangulada.

- Me obedecerá. – Ele estava vestido, elegante como sempre. Sua mente já não estava completamente sobre ela. Estava captando as vibrações do ar, cada nota que os lobos cantavam para ele.

       Savannah sabia que esta gritando. Seu corpo inteiro estava gritando, mas não surgia nenhum som. Seu corpo não aceitava suas ordens. Sua mente gritava ultrajada, mas Gregori a controlava habilmente para que não enviasse um grito de socorro.

       - Deixe de lutar contra mim. - Sua voz foi um suave som na mente de Savannah.

       - Libere-me - respondeu ela. Seu coração estava pulsando tão fortemente que temia que pudesse explodir. Isto não podia estar acontecendo. Alguns momentos antes, Gregori estava deitado a seu lado, sujeitando-a entre seus braços. Fazendo amor gentilmente. Ou havia pensado. O que sabia ela de fazer o amor? Gregori podia fazer que sentisse algo. Não precisava sentir algo por ela para lhe fazer acreditar que sentia. Como podia ter tomado seu corpo tão meigamente, depois afastar-se como um monstro sem sentimentos e destruir seu livre-arbítrio, controlá-lo como se não fosse mais que uma marionete para ele? Que classe de pessoa faria tal coisa?

- Savannah, deixará de lutar comigo agora. Estamos em perigo. Obedecerá-me se desejas voltar a controlar a si mesma..

- Conheço minha mãe. Não quer ninguém mais perto de mim. Por isso, não me permite reconhecê-la - acusou-o ela.

- Então assim será. É sua escolha. - Sua voz foi tão ausente, como sempre. Nada parecia perturbar Gregori. Nem sua hostilidade, nem sua confusão ou desilusão.

       Seu corpo se acomodou sentado. Depois, se encontrou em pé, desamparadamente ao lado da cama. Estava nua, totalmente vulnerável, incapaz de falar ou de se mover. A cabeça pulsava enquanto tentava desesperadamente lutar por controlar-se. Não submeteria sua mente à vontade dele, não voluntariamente. Podia ter seu corpo, mas teria que lutar até morte, pela posse de sua mente.

       Uma risada zombadora ressoou em sua cabeça. - Luta comigo tudo o que queira, pequena. Só está judiando de si mesma. Obedecerá-me, Savannah.

       O desespero a invadiu. Era verdade. Estava esmagada contra seu poder e força superior. Odiou-lhe por fazê-la ser tão consciente disso, por forçá-la a ver que não importava o muito que tentasse ser ela mesma, por manter uma imagem de orgulho e dignidade. Ele tinha-a despojado de tudo exceto dos pensamentos de sua cabeça. Fragmentos de vidro pareceram furar sua cabeça. Quanto mais resistia, pior era a dor.

       Uma camisa de algodão e calça jeans, repentinamente cobriram seu corpo. Suaves sapatos de couro, envolveram seus pés. Gregori trançou seu cabelo com rapidez e eficiência. Ela detestou a facilidade e a competência na forma em que ele fazia tudo.

- Última oportunidade, Savannah. Obedecerá-me? inclinou-se sobre ela. Seus traços duros, embora ainda sensuais, contrastavam com o semblante impassível, a máscara impenetrável. Seus prateados olhos eram frios como gelo. Disse com intenção cada palavra, e era óbvio que não se importava o que ela escolhesse. Não havia piedade nele, nem gentileza, nem remorso.

       Interiormente, Savannah estremeceu. Estava apanhada por este homem implacável para toda a eternidade. Não havia forma alguma de desfazer o ritual. Inclusive a morte era melhor que a atormentadora escravidão. Engoliu seu orgulho, incapaz de manter o peso de seu corpo e mente. Incapaz de lhe permitir tão completo controle.

- Obedecerei. Não o olhou. Não podia.

       Ele relaxou seu controle lentamente, observando-a muito de perto, sua mente ainda na dela. Savannah permaneceu em pé ante ele, tremendo de raiva contida. Tremendo pela humilhação e pelos sonhos perdidos. Levantou seu punho fechado até que esteve ao nível do peito dele, então o abriu e sua palma revelou os três diamantes em forma de lágrima. Deliberadamente abriu a mão, permitindo que as gemas caíssem no chão e se pulverizassem. Não olhou seu rosto, nem olhou os diamantes no chão, que agora simbolizavam sua disposição para sua relação. Olhando diretamente para frente, esperou suas instruções.

- É capaz de trocar de forma? - Sua voz foi baixa, sem entonação e calma. Odiou-lhe também por isso.

- Sabe que não posso.

- Necessita de sangue. Compartilhará minha mente todo o tempo. Se sentir uma compulsão para enviar uma chamada, una sua mente a minha. Vou levar você para longe deste lugar, para outro mais inacessível e longínquo, mais fácil de defender. Não cometa o engano de tentar me desafiar, Savannah. Com sua vida em perigo, não tolerarei uma rebelião.

       Se ele esperava que ela respondesse, esperaria por toda a eternidade. Isto era uma ordem, o ditador a controlava com sua dura autoridade. Não requeria resposta, e se negou a dignificá-lo com uma.

       Os dedos dele se fecharam como grilhões sobre sua mão e a empurraram para ele. Seu corpo estava duro, como o tronco de uma árvore, completamente imóvel. Não podia encontrar ternura ou a gentileza em nenhuma parte, nem em seu corpo, nem em sua mente. Tinha sido sua ternura anterior, uma ilusão total, como seu truque com os diamantes? Queria chorar de vergonha, mas se negou a lhe dar a satisfação, de lhe dar a conhecer sua vulnerabilidade.

       Gregori voou pelo ar, levando-a com ele, que não parecia pesar mais que uma pluma. Elevaram-se da câmara de descanso e continuaram a subir através da casa até os níveis mais altos. Uma ordem liberou os lobos pelos terrenos, no interior da imensa reserva. Podiam caçar se por acaso se era necessário. Sua única obrigação, sua única preocupação, era salvar a vida de Savannah. Podia enviar aviso a Aidan Savage para cuidar dos animais no momento em que ela estivesse a salvo. O inimigo era mais forte, estava mais organizado do que Gregori esperava, e Savannah era seu objetivo. Tinham um plano, um esquema que obviamente haviam planejado de antemão antes de que ela chegasse à cidade. Gregori faria de tudo para protegê-la. Tudo.

       Ela estava tranqüilamente entre seus braços, fechando sua mente deliberadamente para ele. Não importava, é óbvio. Havia sido capaz de deslizar-se dentro e fora de sua mente, a vontade desde que era uma menina. Sempre soubera que ela nunca poderia lhe amar realmente, que nunca poderia aceitar seu domínio sobre ela. Como poderia, se realmente soubesse quem ele era? Não havia esperado a terrível dor, como se uma faca entrasse em seu coração, direto em sua alma.

       A noite estava chegando a seu fim. Faltavam duas horas, possivelmente, antes de que o sol saísse. Os vampiros necessitariam de um santuário e se eram tão arrogantes como pensava, sua casa os proveria, levariam-se uma horrorosa surpresa. Gregori grunhiu silenciosamente quando voou a céu aberto com Savannah.

       Gregori tentou bloquear a ferida em sua alma, que lhe provocara, o rechaço de Savannah. Necessitava de tempo para a entender. E tinham todo uma eternidade. Ela pensava que estava sentenciada a ter como companheiro, um demônio. E não acreditava que pudesse estivesse equivocada. Estava fraca por sua negativa em tomar sangue porque equivocadamente acreditava que tal privação lhe permitiria acesso ao sol. Sua saúde era de suprema importância.

       Enviou para frente uma chamada. Instantaneamente, dois homens e uma mulher saíram de uma cabana junto ao rio e se moveram a sua ordem para encontrar-se com ele no resguardo de um pequeno bosque de pinheiros e carvalhos. Os pés dele tocaram terra, levando Savannah em seus braços. Para o trio.

- Alimenta-te. - Disse-lhe sedosamente, esperando seu desafio.

- Sou sua marionete também, Gregori? - Perguntou ela brandamente. - Assim vai ser nossa vida juntos? Por que me quer como companheira quando pode conseguir que qualquer mulher humana faça o que deseja sem lutar?

       O desprezo na voz dela, o encheu de dor. A emoção foi totalmente estranha para ele.

- Não tenho nem o tempo nem inclinação para brigar contigo agora, Savannah. Alimente-se. Ele a colocou sobre seus pés.

- Crê que o farei só sob compulsão? – Ela inclinou o queixo para ele, um claro desafio. - Não necessito de sua ajuda.

       Sem lhe olhar de novo, voltou-se para mais alto dos dois homens.

       Gregori retrocedeu, precavido ante a reação dela. Seus olhos reluziram. Ela estava provocando um tigre.

       Savannah se moveu para frente, com uma curva sensual em sua boca. Seus enormes olhos eram escuros, violetas, misteriosos e sensuais. Seu olhar estava sobre o outro homem. Insinuante. Incitante. O humano sorriu, inteiramente concentrado nela enquanto caminhava. Ela levantou seus braços para ele, seu corpo se moveu sedutoramente sob as roupas.

       Um grunhido de advertência retumbou profundamente na garganta de Gregori. Inesperadamente, seus brancos dentes reluziram perigosamente. Foi rápido, sua sólida forma se inseriu entre sua companheira e a presa. Foi instintivo, sem pensar. Esse homem não podia tocar Savannah, nem sequer para lhe proporcionar alimento.

       Ela levantou seus formosos olhos, hipnotizantes e risonhos, para os prateados dele.

- Não é isto o que quer por mim? - Sua voz, soou baixa, deslizando-se pela pele dele como caricia. - Que use minha voz e meu corpo para conduzir a minha presa até mim e me alimente?

- Não comece algo que não tem esperanças de ganhar, Savannah. - Advertiu Gregori com uma ameaça. Pegou o homem para ele e inclinou sua cabeça para expor o pescoço. Os olhos dela não se separaram dele enquanto bebia até encher-se. Quando levantou a cabeça, deixou cair ao homem ao chão, onde ficou estendido entre eles.

       - Vêem aqui, venha a mim. - Ordenou-lhe brandamente.

       Inesperadamente o coração dela deu um salto e a sensação a tomou. Nunca devia ter provocado ele. Por que bancara a tola? Gregori não se incomodou em fingir ser civilizado. O colocar ciumento, não fora uma idéia inteligente. Estendeu uma mão aplacadora.

- Gregori.

- Vêem aqui, Savannah. - Sua voz era pura caricia, suavidade e pureza. Impossível de ignorar.

       Cautelosamente, moveu-se ao redor do homem no chão e se aproximou. A mão de Gregori lhe rodeou a parte superior do braço e a empurrou contra sua forte figura. Inclinou sua cabeça para a dela,

- Tomará o que precisa, de seu companheiro. - Sussurrou a ordem, mas a enganosa suavidade de sua voz só incrementou o impacto. Tentou afastar-se dele, assustada do quanto exigente ele era. Ele a segurou firmemente. Podia sentir a impressão do corpo dele contra o seu, duro e aceso. - Fará o que digo. - Seu polegar acariciava de um lado a outro seu pulso causando estragos em seus sentidos. Como sempre, quando ela a tocava, convertia-a em líquido. Nesse momento não desejava o calor e a excitação de seu toque.

       Sua boca estava pressionada contra o peito dele, mas se inclinou mais perto para que ela pudesse colocar o rosto em seu ombro, em seu pescoço.

       Ele cheirava a bosque e especiarias. Sua pele estava quente, e sob sua boca em movimento estava sua pulsação, forte. O polegar de lhe acariciou novamente, insistente e provocativamente. Savannah gemeu, sua respiração começou a acelerar-se.

- Por que me está obrigando a isto, Gregori.

- Você precisa, eu providencio. - Sua mão embalou a parte de trás de sua cabeça, sustentando-a contra ele.

       Ela não conseguiu evitar, não pôde se conter em acariciar com sua língua, a pulsação quente uma vez, duas vezes, uma pequena carícia. Era a forma de seu corpo contra o dela, uma vez mais protetor e acolhedor, embora agressivo e exigente. A combinação era uma tentação. Como podia resistir a ele? Era tão poderoso. Savannah suspirou e fechou os olhos, depois mordeu seu pescoço.

       Sentiu o estremecimento de prazer e de dor. O golpe do erótico relâmpago através de sua corrente sangüínea. O corpo dele se moveu contra o dela, duro e urgente, somente suas roupas os separavam. O calor se enroscou e agrupou na feminilidade dela e a essência da vida dele entrou em torrentes nela, enchendo-a, fortalecendo-a como devia ser.

       Os braços de Gregori se esticaram ao redor de Savannah, e rilhou os dentes. A sensação de sua sedosa boca alimentando-se era tão erótica, que quase não podia conter-se. Queria deitá-la ali mesmo, na terra, e tomar o que era dele. Desejava-a tanto que seu corpo estava ardendo. Era o céu e o inferno sujeitá-la contra ele, prazerosa e tão doloroso. E, maldita fosse, ela nunca iria tocar outro homem enquanto ambos vivessem. Nunca.

       Inclinou sua cabeça e acariciou seu sedoso cabelo com a boca, saboreando a sensação contra sua mandíbula, sua pele. Ela era pequena e delicada, suave. Toda rosa acetinada e sedosa. Fechou os olhos e fingiu que a amava. Que podia lhe amar. Mesmo um monstro. Mesmo, Gregori, o Escuro.

       Savannah ouviu o eco de seus pensamentos, a brincadeira de todos as crianças Cárpatos a seus amigos. Quem sairia na noite e os converteria em pedra? Gregori. O Escuro. O único com o poder de curar ou destruir. Nesse eco captou a profunda pena de Gregori, o que pensava das cruéis acusações contra ele. Não havia amargura, só aceitação.

       Sentiu uma pedra em seu coração, pesada e opressiva.

       Cuidadosamente, fechou as feridas em sua garganta e descansou a cabeça contra seu peito. Podia ouvir seu coração, forte e firme. Confiável. Misterioso. Sensual. Aterrador. Este era Gregori.

       A mão em seu cabelo se fechou durante um momento, apertando as mechas em seu punho, então, afastou-se bruscamente, afastou-se dela. Sem olhá-la, Gregori arrastou o segundo humano para ele, inclinou sua cabeça e se alimentou com voracidade. Quando esteve repleto, permitiu que o homem se sentasse relva Inclinou à mulher para que se unisse a seus companheiros.

       Savannah retrocedeu indecisa. Gregori se abaixou para verificar cada humano. Olhou os olhos, suas mãos foram gentis enquanto os deitava no chão cuidadosamente para que se recuperassem.

- Estarão bem. - Disse, tomado por surpresa por sua voz. endireitou-se, girou lentamente a cabeça e a olhou com seus olhos cor prata. - Não tocará a outro homem. De nenhuma espécie. - Cada palavra foi clara e pronunciado em um tom baixo.

- Não crê que está sobreatuando, Gregori? – Aventurou-se ela.

       Ele se aproximou e se encostou sobre ela, que o calor de seu corpo a envolveu.

- Seria incapaz de evitar lhes fazer mal. - A admissão foi feita em sua usual maneira calma.

- Pensei que sua reclamação sobre mim, afugentava todas as ameaças.

- Evidentemente provocou outras novas. Até que seja capaz de avaliar e controlar tudo o que acontece, o que me faz sentir, será melhor que não desafie minha vontade.

       Os olhos azuis dela se escureceram até o violeta e arderam quando o olhou.

- Sua vontade? Não deveria desafiar sua vontade? Não é como se fosse livre estando a seu lado, Gregori. Não dita sempre, o que deveria pensar e sentir? Só vivo para te agradar. - Reverenciou ela.

       Um grunhido retumbou na garganta dele. Estendeu-se e a atraiu mais perto de seu corpo.

- Como desejo que fosse verdade. Acredito que vive para me deixar louco.

- Isso poderia ajeitar-se. - Disse ela docemente. - Tenho coisas das quais me ocupar, Gregori. São importantes para mim.

- Como que? - Esses olhos lhe queimavam o rosto, que estava elevada para ele.

- Peter. Tenho que me ocupar de Peter. Sou sua única família. Não tinha ninguém mais. E por minha culpa, está morto. Estava tentando me proteger. - Esmagou a necessidade de soluçar, gritar, e golpear Gregori.

       Ele ficou em silêncio um momento.

- A polícia irá querer falar contigo. A história provavelmente já esteja nos jornais. Está realmente preparada para as repercussões disto?

       Ela elevou o queixo para ele.

- Amei Peter como a um irmão. Devo a ele. - Sua mão deslizou pelo cabelo com agitação. - Tenho que fazer isto. Por favor, Gregori. Peço-te apoio nisto. Sei que não posso lutar contigo e ganhar. Preciso fazer isso.

       Gregori amaldiçoou eloqüente e repentinamente em quatro linguagens. O que Savannah precisava era estar encerrada a salvo, fora do país. Todo o assunto de Peter Sanders ia ser um circo. A polícia já estaria penteando a cidade procurando-a. Maldita seja.

       Sem lhe responder, Gregori envolveu um braço ao redor de sua cintura e a embalou, elevando-a. Voou para o céu, seus pensamentos normalmente tranqüilos eram um caos, uma mistura de emoções pouco familiares e areias movediças de indecisão. Sempre estava totalmente controlado. Com seu imenso poder, não tinha escolha. Mas Savannah estava colocando seu mundo ao reverso. Não podia permitir.

       Não o faria. Não importaria se ela chorasse. Se seus enormes e magníficos olhos estavam tristes e embaçados. Se sua formosa e perfeita boca mostrava um traço triste. Ela não estava dominando-o através de seu vínculo. Estava a salvo e era responsável por ela. A salvo em princípio, mas não de seus olhos ou de sua suave e acetinada boca. Ou de sua terrível pena.

       Levou-a através do céu noturno, seus pensamentos revoltos e vulcânicos, dando voltas e mais voltas em sua cabeça até que pensou que ficaria louco. Sabia o que tinha que fazer. Que havia de errado, que permitisse a si mesmo, considerar tal estupidez? Era muito perigoso, muito atrevido. Se o vampiro que conduzia a caça persistisse ainda em seu plano, que melhor ocasião de fazer uma armadilha, quando ela voltasse para preparar o funeral de Peter?

       Savannah estava concentrada nas copas das árvores embaixo eles. Por toda parte podia detectar evidências de uma moradia. Sentia-se vazia e fria em seu interior. Gregori era tudo o que chamou a si mesmo. Insensível. Duro. Frio. Sem emoções. Sua vida ia ser um inferno interminável. Possivelmente não poderia aprender a amá-la. Nunca a amaria realmente. Só queria alguém a quem controlar. Alguém com quem praticar sexo. Engoliu a bílis que subia para sua garganta. Certamente ela era essa pessoa.

       Cada vez que a tocava ou olhava com seus hipnotizantes olhos prateados, seu corpo ficava frenético.

- OH, Peter. – Ela havia falhado ao lhe manter a salvo. Havia conduzido um vampiro, o açoite de sua raça, diretamente para ele. Agora, sem o consentimento de Gregori, não poderia nem sequer lhe proporcionar um enterro decente. Queria sentir ódio raivoso, o que fosse, mas tudo o que podia sentir era vazio. Sabia, sentia, durante todos esses anos, que quando volrou e encontrou Gregori em sua casa, estava perdida por toda a eternidade.

 

       Na realidade, Savannah nunca havia visto o exterior da guarida. Em um momento estavam voando pelo do céu, e no seguinte, estavam na terra. Fechou os olhos quando seu estômago se revolveu e por um momento pôde espionar por entre as pálpebras. Gregori estava entrando em em uma moradia de rocha. As paredes interiores eram grossas e úmidas ao tato como se tivessem sido polidas. O teto era alto e da mesma rocha polida que as paredes e o chão. Ele havia escavado a casa na montanha, um milagre de construção. Havia três ambientes pelo que podia notar e Savannah estava segura de que havia uma câmara clandestinamente, um buraco fechado em caso de que estivessem em perigo mortal.

       No momento em que Gregori a pôs de pé sobre o chão de pedra, afastou-se dele, em uma rápida e feminina retirada. Negou-se a o olhar, mantendo a cabeça inclinada para não ter que encontrar seu olhar. Caminhou lentamente através da incomum estrutura. Os móveis pareciam confortáveis, inclusive cômodos.

- Assim é minha prisão? - Disse desapaixonadamente.

       Gregori não respondeu. Não havia nenhuma expressão em seu rosto, embora as linhas ao redor de seus olhos e boca pareceram esculpir-se algo mais que o normal. Seus olhos estavam pálidos, refletindo as imagens a sua volta, não os pensamentos em seu interior. Sua mão pousou sobre a parte de trás de seu pescoço para massagear os músculos doloridos cansadamente. Então saiu do salão com passo silencioso. Deslizando-se. Como uma pantera. Apesar de sua decisão de não fazê-lo, Savannah se encontrou lhe observando às escondidas.

       Havia algo de hipnotizador em sua forma de se mover. Músculos, poderosos, sensuais. Não podia impedir seus olhos, que pareciam ter vontade própria, de seguir cada um de seus movimentos. Ou impedir seu coração perder um batimento, quando via como sua mão massageava o pescoço.

       Gregori se sentou na beirada da cama, seguro de que ela não lhe prestava atenção. Ela queria estar tão longe dele como fosse possível. A uma grande distancia, ele era uma sombra em sua mente. Podia ouvir cada pensamento sobre ele. Nenhum era bom, e não podia culpá-la. Enterrou o rosto entre as mãos. Era mesmo, o monstro que ela havia o chamado. Temia-lhe. Sempre odiaria seu destino, sempre desejaria que o destino tivesse sido mais amável com ela. E quem sabia? Possivelmente poderia que fosse. Depois de tudo, ele havia tinha manipulado seu futuro, no momento de sua concepção. Ela era luz para sua escuridão, compaixão para sua crueldade. Nunca poderia amar a uma besta brutal como ele. Tinha tomado o que não era dele, tinha manipulado a natureza e a tinha tomado para si mesmo.

       O coração de Savannah bateu forte, quando o viu sentado no leito. Ele era a imagem de absoluto abatimento. Gregori. Era a confiança em si mesmo. Completa autoridade. Um robô sem emoções que deu procuração de sua vida para sempre. O que ela pensasse ou sentisse não lhe importava. Havia o chamado de monstro, sem coração. Um bárbaro brutal. Todos os epítetos que podia pensar, haviam passado por sua cabeça enquanto voavam pelo ar até seu destino. Havia, deliberadamente pensado, para que ele pudesse ler em sua mente, o que pensava dele, para que ele não soubesse que desejava seu toque, quando desprezava suas maneiras.

       Mas isto a rasgava, a forma em que ele se isolou. Gregori, que sempre tinha estado sozinho. Retrocedeu até a frieza da parede de rocha que estava a suas costas, seus olhos azuis pensativos enquanto lhe observava. Ele estava dando-lhe privacidade, se podia chamar-se assim, inclusive retirando-se de sua mente. Mordeu-se o lábio superior, depois fez uma careta ante o ligeiro desconforto e a lembrança que lhe trouxe. Compreendeu que estava acostumada ao toque gentil da mente dele. A primeira vez tinha vindo a ela como o lobo, e depois, nos terríveis momentos em que sua solidão tinha sido tão dolorosa. Era o toque de Gregori que a havia aliviado. Que estranho, nunca tinha considerado isso, nem uma vez tinha pensado por que se sentia tão confortada.

       Gregori lhe havia devotado, liberdade absoluta para explorar sua mente. Sabia que era capaz de proteger-se, cobrir suas emoções e lembranças com capas e capas se assim o escolhesse, para que pudesse ver só as partes que desejava compartilhar com ela. Duvidava de que muitos Cárpatos pudessem fazer tal coisa com sua companheira, mas Gregori podia. Gregori poderia fazer tudo. Mas ela era Savannah Dubrinsky. Filha de Mikhail e Raven. O sangue deles fluía por suas veias, assim como o de Gregori. Ela tinha seu próprio poder, certo? Até agora, havia sido uma garotinha fugindo de si mesma, de sua vida com um homem tão poderoso. Mas se sua vida estava entrelaçava com a dele, seria melhor que crescesse rápido e enfrentasse a isso. Mikhail e Raven a tinham educado para que acreditasse em si mesma.

       Respirou profundamente e permitiu que sua mente se misturasse completamente com a de Gregori. Seu toque foi ligeiro como uma pluma, delicado, uma simples sombra, suave na mente dele. Assim, se ele não tivesse estado tão preocupado com seus próprios pensamentos, sentiria sua presença. Manteve-se calada e simplesmente se converteu em uma esponja.

       Ele se acreditava um demônio. Acreditava que sua alma era negra, além de toda redenção. Seguia absolutamente em sua crença, que havia tinha conseguido através de suas próprias manipulações, em vez da verdadeira química. Tinha estado tão perto de converter-se em vampiro que tinha apostado sua alma ao manipular o que não era dele como tinha feito. Havia curado à menina no útero de Raven, suprindo seu sangue, convertendo-a com isso. Savannah tinha uma vaga lembrança de sua luz acariciando-a quando estava doente e dolorida, desejando ir-para longe com o sangue que corria pelo corpo de sua mãe. Gregori a tinha impedido de morrer.

       Viu claramente. Sua vida inteira. Ele encontrando sua mãe e pai, com estacas cravadas em seus corações, suas cabeças cortadas. Os terríveis anos das matanças de vampiros na Europa. Tantas mulheres e crianças perdidos nas estacas. Depois as caças. As guerras. Tantos amigos convertidos. Gregori caçando-os e destruindo seu maligno poder sobre humanos e Cárpatos por igual. Século atrás de século. Interminável. Tanto sangue, tantos mortos por suas mãos. Cada morte, levara uma parte dele até que foi impossível olhar à face dos outros Cárpatos, até que não se atreveu a travar amizade com eles. Ele sentenciou-se a uma eternidade de isolamento. Tão sozinho. Sempre sozinho. O mundo ermo e vazio de sua existência quase a curvou de pena, enchendo seus olhos de lágrimas. Como foi possível viver, ano após ano, de semelhante vazio e sobreviver com a alma intacta? Era impossível.

       O conhecimento era seu único amigo. Tinha sido sempre um rebelde. Nenhuma autoridade podia esperar lhe prender, só a lealdade a Mikhail havia conseguido. Tinha seu próprio e rígido código de honra, que seguia firmemente. A honra era sua vida. Embora sentia que tinha comprometido até isso, pela forma em que tinha conseguido Savannah.

       Quando Savannah se negou a examinar sua mente, para que pudesse lhe demonstrar que o havia resgatado de volta, do outro lado, para que não tivesse medo, para que soubesse que era incapaz de feri-la de novo, tinha-lhe negado o respeito a si mesmo. Pensou que lhe tinha rechaçado. Acreditava que ela nunca poderia perdoar realmente as coisas que tinha escolhido fazer ao longo de sua vida. Não podia perdoar-se a si mesmo.

       E ela viu tudo. Cada sucesso escuro e perigoso. Cada escura e horrível morte. Cada lei que tinha quebrado. Mas, acima de tudo, viu sua grandeza. Uma vez ou outra, dera tudo de si, para curar a outros, esgotando sua enorme força, ficando mesmo em perigo para que outros pudessem viver. Toda uma vida de generoso serviço, as pessoas que temia o mesmo poder em que confiavam. Enquanto nada da fealdade da caça, nenhum perigo, tocou os outros, ele vivia em constante alerta. Aceitava a necessidade de sua solitária existência, de seu estrito isolamento. Tinha chegado a acreditar que os Cárpatos tinham direito a lhe temer. E Savannah viu que tinham razão. Era muito poder para um só indivíduo, Ele levava muito peso sobre seus ombros.

       Durante séculos, Gregori não tinha tido em seu mundo nenhuma âncora real, nenhuma emoção que evitasse sua conversão. Era só sua força e sua determinação. Sua vontade de ferro. Seu estrito código da honra. Sua lealdade a Mikhail e sua crença de que sua raça tinha um lugar no mundo. Sua resolução em evitar que as crianças de sua raça morressem, uma forma de encontrar verdadeiras companheiras para os homens que evitassem que se convertessem em vampiros. Que Mikhail encontrasse Raven, havia dado um enorme alívio em forma de esperança. Então, uma vez que Savannah tinha sido concebida, o mundo se tornou um longo e interminável inferno para ele. Cada minuto se converteu em uma hora, cada hora em um dia, até que esteve perto da loucura, esperando-a.

       Da negativa de Savannah a sua união, prometeu-se a si mesmo lhe dar cinco anos de liberdade. Sentia que ela se uniria para sempre a alguém que governaria absolutamente sua vida, devia-lhe ao menos esse pouco de tempo. Para Gregori, cada momento era uma agonia de manter-se contra a escuridão tão profundamente entrincheirada nele. Tinha esperado até que soube que sucumbiria, quando sentiu que não teria a sabedoria ou a vontade para escolher a destruição do amanhecer, a única opção honorável para um Cárpato antes de converter-se em vampiro. Havia cumprido sua promessa de liberdade para ela e fazendo-o, quase tinha perdido sua alma. Depois de todos esses séculos de resistência, arriscou-se à condenação de sua alma por esses cinco anos de liberdade para ela.

       Savannah sentada muito quieta, absorvia as lembranças dele. A única beleza em sua árida e solitária existência tinham sido os anos nos que ela crescia, quando era livre de compartilhar a vida com ela, como o lobo. Ela não temia o lobo, entregara-lhe seu amor total e incondicional, cada confidência, sua aceitação. Nunca conhecera isso antes. Ansiava, necessitava, e acreditava que ela nunca o daria de novo.

       Aceitava o fato de que ela nunca o amaria, de que sempre o olharia com medo. Era como se acreditasse que não merecia ser amado porque estava seguro de havê-la conseguido injustamente. Não estava preparado para a dor que isto lhe causava, ou para as violentas emoções que se retorciam em seu interior.

       Savannah permaneceu muito, muito quieta, no bordo de um grande descobrimento.

       Não havia nenhuma mulher que o desejasse, como ela havia acreditado. E certamente, ele não desejava uma marionete, como lhe tinha acusado. Ele desejava a Savannah, com seu senso de humor, seu orgulho e compaixão, e seu horrível temperamento. Nenhuma outra mulher demonstrou o mínimo interesse por ele. Nunca haveria nenhuma outra mulher para ele.

       Ele estava sofrendo. Uma terrível dor. Sentia a culpa dela pela perda de Peter. Sentia seu temor para com ele. Sentia a dor de sua própria solidão e o eterno isolamento, que irradiava de sua alma. Resignou-se a suportar a dor todo o tempo. E nunca mostraria a ela.

       Savannah saiu da mente dele enquanto ainda não havia sido detectada. Ele estava terrivelmente sozinho, tanto que queria chorar por ele. E não tinha a mínima idéia de como amar a alguém, rir com alguém ou compartilhar sua vida. Só sabia que tinha que mantê-la a salvo a todo preço. Tinha-lhe chamado monstro, e ele acreditava que ela tinha o direito.

       Ela olhava para fora, pela janela, para o bosque. Gregori era muitas coisas. Tinha quebrado todas as leis sem sentir nenhum remorso. Tinha matado incontáveis vezes. Tinha mais poder em seus dedos que a maioria dos membros de sua raça, juntos. Mas não era um monstro. Isso nunca.

       Seus pés batiam com um ligeiro ritmo sobre o chão de pedra. Os ramos das árvores oscilavam ligeiramente em sincronia. Ela tinha poder, muito mais de que tinha esperado. Gregori a desejava. Mais que isso, precisava dela. Essa particular revelação, mudou tudo. Voltou a pôr o controle de sua vida de volta em suas mãos. Quadrou os ombros. Já não era uma menina fugindo de um medo anônimo. Era sua companheira, escolhida Por Deus para caminhar junto a um homem de poder e honra. Um homem forte e sensual, que necessitava dela, mais que a qualquer outra coisa, na terra.

       Savannah tomou um profundo fôlego e o deixou escapar cuidadosamente.

- Gregori? - Manteve sua voz baixa e neutra.

       Ele levantou a cabeça lentamente, mas ela sentiu sua mente acariciar a dela. A invasão não lhe inspirou medo desta vez. Aceitou sua união sem afastar-se. - Este é um lugar muito bonito. É assombroso que seja capaz de fazer isto. - Notou um movimento ligeiro atrás dela, mas não se voltou. - É quase um artista.

       Podia lhe cheirar, sua essência de bosque e especiarias. Masculino, quente, excitante. Tocou a parede de pedra e sorriu para si mesma, pensando que o tato da rocha era quase como o do duro corpo de Gregori sob seus dedos.

- Levou-me uns poucos meses, chérie, os meses que passei aqui sozinho, esperando que seu show chegasse a São Francisco.

       Sua voz era tão formosa. Savannah permitiu-se ouví-lo, sentir sua pureza, permitir que o veludo negro acariciasse sua mente. - É realmente lindo, Gregori. Poderemos veranear por aqui quando estivermos neste país.

       Ele tocou-lhe o cabelo porque não pôde evitar e se surpreendeu quando ela não retrocedeu, afastando-se dele. Agradava-lhe ouvi-la falar como se aceitasse que estariam juntos no futuro. Não respondeu, entretanto, temeroso de que algo que dissesse, romperia sua frágil trégua.

       Ela se voltou, procurando seu braço com a palma da mão, e o tocou. Sentiu o pulso dele saltar sob a ponta de seus dedos e se reservou um sorriso.

- Agora, vai me explicar, como o vampiro é capaz de usar a voz de minha mãe para me atrair? Presumo que era um vampiro. E como senti a compulsão de responder? Sou uma mulher dos Cárpatos. Uma compulsão deveria funcionar tão rápida e facilmente sobre mim?

       Ele continuou olhando pela janela. As chamas lambiam seu braço onde a mão dela descansava. Savannah lhe tinha afetado de tal modo que ele mesmo pensava que sua segurança estava comprometida.

- O vampiro é um ilusionista, como voce mesma. Ele praticou imitando vozes durante séculos. Agora usa seu talento para chamar os outros para ele. Reconheci a compulsão no tom, e, é obvio, sua mãe teria escolhido, usar seu canal privado de comunicação, não o padrão. - Sua voz não mostrava emoção, nem forma alguma de condenação pelo equívoco dela.

       Entretanto ela se ruborizou. Por que não havia notado? Estúpido, estúpido engano. Um engano como esse poderia ter feito com que ela, possivelmente ambos, morressem. Voltou-se para o examinar. Os sensuais traços de Gregori estavam cuidadosamente impassíveis. Seus olhos simplesmente refletiam a imagem dela.

- Suponho que te devo uma desculpa por te chamar de... Por todas essas coisas. Atuei como uma menina. Sinto muito.

       Ele piscou. Ela havia surpreendido-o. Savannah sentiu seu coração esquentar, uma curiosa e candente sensação. - Quero que faça algo por mim. Compreendo que não tenho muita experiência com vampiros, mas é bastante arbitrário me exigir obediência, possivelmente poderia me dizer o que está acontecendo. Vou confiar em seu julgamento, Gregori. Não tentarei te desafiar. É que tenho um problema quando me dizem o que tenho que fazer. Quando era menina, passava mal com isso, recorda? – Deliberadamente, se referiu a sua infância, a única ponte feliz entre eles.

       A boca dele não sorriu, mas uma suavidade, irrompeu o vazio de seus olhos.

- Lembro-me. Fazia todo o possível para fazer exatamente o contrário, cada coisa que lhe mandavam.

       O sorriso dela era intrigante. Gregori não podia deixar de olhar sua boca.

- Acreditaria que tinha melhorado nisso, mas não. Tenta trabalhar comigo nisto. - Seus enormes olhos azuis lhe suplicaram. Ele se sentiu como se caísse em suas profundezas. - Por favor.

       Ele envolveu uma parte do cabelo dela em torno de sua mão.

- Tentarei, pequena, mas primeiro está sua segurança. Sempre.

       Ela riu brandamente.

- Gregori, sei que nunca permitirá que nada me aconreça. Não é algo pelo que me preocupe.

- Está acima de minha mente. - Ele soou muito severo.

       Ela elevou o queixo para ele.

- Já te ocorreu, que me cuidei sozinha, nestes cinco últimos anos e não me aconteceu nada?

       Gregori sorriu então, pondo sensualidade à curva de sua boca.

- Nunca estiveste realmente sozinha, chérie. Nunca, em nenhum momento. Quando foi muito perigoso para mim ficar perto de voce, fiz com que outros estivessem perto.

       O temperamento dela se arreliou, apesar de sua resolução em não permitir. Seus olhos azuis soltavam faíscas. – Colocaste alguém para me vigiar?

       Houve algo na forma em que a cor surgiu em sua face, o brilho de seus olhos, a elevação de seus seios quando estava zangada, que o fazia desejar mantê-la assim. - Não era o único, ma petite. Seu pai nunca teria permitido que estivesse desprotegida. Deveria -saber.

- Meu próprio pai? - Como podia não ter percebido? Seria tão dele. Tão de Gregori. Ela pensando que tinha adquirido tanta independência, que tinha angariado uma pausa para todas as mulheres dos Cárpatos, e todo o tempo eles estavam vigiando-a. - Contratei uma companhia de segurança para minhas excursões. - Disse, esperando que ele reconhecesse que não tinha descuidado de sua segurança.

- Humanos. - Seu tom de voz, disse tudo. - Necessitava de um de nós.

- Quem? Em quem confia o suficiente, Gregori? - Perguntou, curiosa. Confiar era tão alheio a sua natureza. A que outro homem teria creditado a segurança de sua companheira? Parecia tão fora de seu caráter.

       Gregori colocou a mão através dos cabelo que caía sobre seus ombros. Seu pescoço doía. Ausentemente, tentou outra massagem.

- Algumas situações exigem medidas extremas. Escolhi o homem mais forte e poderoso que conheço, um com um inquebrável código de honra. Seu nome é Julian. Julian Savage.

- O irmão gêmeo de Aidan Savage. Ele está aqui, na cidade? - Nunca tinha conhecido Aidan Savage, mas havia ouvido o pai falar dele. Recentemente, ele havia encontrado a sua companheira. Savannah esperava visitá-los enquanto estivesse na cidade. Estavam provavelmente tão desejosos de ver alguém de sua terra natal como estava ela. - Aidan sabe que seu irmão está aqui me protegendo?

- Estou seguro que Aidan sentirá sua presença na área. Como poderia não fazê-lo? São gêmeos. Se Julian escolherá lhe ver, não sei. Está lutando contra a escuridão.

Savannah se voltou afastando-se desses vazios e reluzentes olhos. Tão frio e tão perdido. Gregori, o Escuro. Seu Escuro, seu Gregori. A penas podia suportar sua dor. Não demonstrava, não nessa face inexpressiva, essa face esculpida em puro granito, como a guarida da rocha. Não estava em seus prateados olhos, tão frios que lhe recordavam a morte. Não estava em nenhuma parte de sua mente que compartilhasse com ela. Sentiu tudo ao mesmo tempo. O coração dele, o dela. A alma dele, a dela. Eram um. Duas metades do mesmo todo. Ele não sabia ainda, realmente não acreditava. Depois de tudo, pensava que não havia a verdadeira química que tinha manipulado sua união. Ela sabia melhor.

Ela soubera, quando compartilhava sua vida com o lobo. Possivelmente não em sua cabeça, mas em seu coração e sua alma. Soube, quando se introduziu no negro vazio, na escuridão dele , e o trouxe de volta com ela. E, finalmente, quando compartilhou seu corpo com ele, inocente como era, inibida como se sentia. Temia-lhe, mas sabia que era o único. Seu coração e sua alma o reconheceram.

- O amanhecer se aproxima, chérie. - Disse ele brandamente. - Será melhor que fôssemos dormir.

       Seria o melhor para ele. Seu corpo estava dançando, desejando a sensação da pele dela junto à sua. Precisava sustentá-la entre seus braços e albergá-la perto de seu coração. Por um breve momento poderia fingir que não estaria sempre sozinho. Ela manteria a escuridão afastada dele, o suficiente para lhe permitir ver outro dia.

       A mão dela escorregou para baixo, por seu braço, até sua mão. Seus dedos acariciaram os contornos de seus músculos. Só uma sensação superficial, mas seu corpo inteiro se acendeu, com ardente desejo. Entrou em torrentes nele, dançando com ele, lava fundida surgindo através de seu sangue e enchendo seu corpo de calor. Em sua inocência, ela não notava o que estava fazendo.

- O que pensa do funeral de Peter? O que pensa, que deveríamos fazer para minimizar o risco? Porque, voce tem razão. A imprensa vai me fazer passar um mau momento. Seguem-me a todas as partes, esses tablóides de imprensa marron. - Seus enormes olhos estavam olhando diretamente os prateados dele.

       Ele não podia afastar o olhar. Não podia soltar sua mão. Não teria se movido, nem que sua vida dependesse disso. Estava perdido nos olhos azul violáceos, em algum lugar de suas misteriosas e sensuais profundezas. O que era mesmo, que havia decidido? Decretado? Que não ia permitir ela se aproximar do funeral de Peter. Por que estava decaindo em sua resolução? Tinha razões, boas razões. Estava seguro disso. Embora agora, afogando-se em seus enormes olhos, seus pensamentos estavam na longitude de seus cílios, na curva de sua face, a sensação de sua pele. Não podia pensar em lhe negar nada. Depois, ela não havia tentado lhe desafiar, não sabia que tinha tomado a decisão de afastá-la do funeral. Ela estava lohe incluindo em seus planos, como se fossem uma unidade, uma equipe. Estava pedindo seu conselho. Seria tão ruim agradá-la? Era importante para ela.

       Piscou para evitar cair em seu olhar e se encontrou olhando sua boca. A forma em que seus lábios se abriam, era espetacular. A forma em que a ponta de sua língua saía para umedecer o lábio superior. Quase uma carícia. Gemeu. Um convite. Conteve-se para não se inclinar e percorrer o exato trajeto, com sua própria língua. Estava sendo torturado. Atormentado.

       Os lábios perfeitos dela, se franziram levemente. Desejava beijá-los. - O que está acontecendo, Gregori? – Ela estendeu a mão para tocar seus lábios com a ponta dos dedos.

       O coração dele quase saltou fora do peito. Capturou a mão dela e a pôs contra seu coração latente.

- Savannah. - Sussurrou.

       Uma dor. Um batimento do coração. Dor. Ele soube. Ela soube.

       Deus! Desejava-a com cada célula de seu corpo. Indomável. Selvagem. Louco. Desejava enterrar-se tão profundamente em seu corpo, para nunca mais conseguir sair.

       A mão dela tremeu em resposta, um ligeiro movimento como as asas de uma mariposa. Sentiu todo o caminho através de seu corpo.

- Tudo está bem, mon amour. - Disse ele brandamente. - Não te estou pedindo nada.

- Sei que não faz. Eu não estou te negando nada. Sei que necessitamos de tempo para nos converter em amigos, mas não vou negar o que estou sentindo. Quando está junto a mim, a temperatura de meu corpo aumenta milhares de graus. - Seus olhos azuis estavam escuros , firmes sobre ele.

       Ele tocou sua mente muito gentilmente, quase meigamente, deslizando-se cruzando suas barreiras e sabendo o custo que foi para ela, fazer essa admissão. Estava nervosa, assustada, mas decidida a encontrar-se com ele a meio caminho. A compreensão quase o fez cair de joelhos. Um músculo saltou em sua mandíbula, e os olhos prateados arderam como mercúrio fundido, mas sua face estava impassível como sempre.

- Acredito que é uma bruxa, Savannah e está lançando um feitiço sobre mim. - Uma mão acariciou a face dela. Seu polegar deslizou sobre as delicadas maçãs de seu rosto.

       Ela se aproximou, e sentiu que ele precisava de consolo e confiança. Os braços dela envolveram sua cintura. Sua cabeça descansou sobre seu peito. Gregori a abraçou firmemente. Simplesmente a abraçou, esperando que seus tremores cessassem. Esperando que a calidez de seu corpo se vertesse no dela.

       A mão de Gregori se elevou para acariciar o espesso e sedoso cabelo de ébano, encontrando prazer no simples ato. Trouxe paz entre eles. Nunca teria acreditado que o gesto, tão íntimo, como abraçar a uma mulher pudesse dar tanto prazer a um homem. Estava mudando sua vida. Em seu coração, emoções pouco familiares surgiram rapidamente e causaram estragos em sua bem ordenada vida. Em seus braços, tão perto de sua força, sentia-a frágil, delicada, como uma flor exótica que podia romper-se facilmente.

- Não se preocupe pelo Peter, ma petite. - Sussurrou entre as mechas sedosas do cabelo dela. - Ocuparemo-nos para que ele descanse em paz, amanhã.

- Obrigado, Gregori. - Disse Savannah. - É muito importante para mim.

       Ele levantou-a facilmente entre seus braços.

- Eu sei. Seria mais fácil se não soubesse. Vamos para minha cama, chérie, aonde pertence.

       Seus braços eram fortes e a urgência nele estava chamando-a. Enroscou os braços ao redor de seu pescoço. Afastou-lhe o cabelo para poder acessar melhor, sua pele.

- E se vier um vampiro? - Seus lábios flutuaram contra sua orelha, depois baixando, sua língua a acariciou em um pequeno mergulho explorador. - O que planeja fazer comigo se os renegados vierem de novo?

       Seu hálito era ardente seda, sua boca calor acetinado. Seus dentes morderam gentilmente. Não havia nenhum pensamento na mente dele, só um rugido faminto por seu corpo. Estúpida fome abrasadora. Os pequenos dentes lhe beliscaram a clavícula, enquanto sua mão escorregava sob a camisa dele. Os dedos se enredaram no cabelo negro que se estendia por seu peito, encontrando cada definido músculo e traçando-o. O rugido se estendeu através do corpo dele até que a fez tremer.

       Ele chegou até a cama, porque estava muito perto.

       Ela levantou a cabeça quando ela a colocou em pé sobre o chão de pedra, um pequeno sorriso curvou sua suave boca.

       Misteriosa. Sensual. Seu pequena inocente, estava lhe seduzindo, e fazendo um trabalho endemoniadamente bom. Cada músculo de seu corpo estava dolorido. Estava queimando, ardendo de desejo. Seu sorriso.

       A pequena e sensual boca o chamava. Gregori inclinou a cabeça e tomou posse dos lábios cheios e suaves. Estavam quentes, acetinados e lisos. Sua língua explorou a suave curva, seus dentes mordiscaram insistentemente, exigindo entrar. Ela agradou sua silenciosa ordem, sua boca úmida, de seda ardente. O mundo pareceu desaparecer. Ele se alimentou vorazmente, com longos, ardentes e embriagadores beijos, devorando sua doçura, alimentando-se sensualmente.

       Suas mãos emolduraram o rosto dela, sustentando-a imóvel para sua exigente boca. As cores exploraram ao redor dele, brilharam e dançaram. O grito em sua mente se desenvolveu. Encontrou a garganta dela, suave e vulnerável. Suas mãos rasgaram a roupa dela, precisava chegar a sua cremosa pele, precisava senti-la suave sob a palmas das mãos. O tecido caiu em farrapos ao redor deles, uma frenética chuva de roupa.

       A respiração de Savannah, prendeu-se em sua garganta. Ela havia liberado algo que estava além de seu controle, e apesar de suas boas intenções, atemorizava-a. Gregori estava em todas partes, com seu corpo duro e inflexível e seus braços de aço. Ssua força era intimidante. Mas a sensação de sua boca, ardente e masculina, exigindo seu consentimento era hipnotizadora. Seu corpo, com vontade própria, parecia derreter-se com o ardor.

       Ele desnudou-a, expondo a pele nua a seu faminto olhar. Ela o ouviu conter o fôlego. Seus olhos se moveram pelo rosto dela, por sua boca, a linha de sua garganta. Em cada lugar que seus olhos tocavam, ela sentia dançar uma chama. Demoradamente, sedutoramente, ele a encheu de desejo. Seu corpo inteiro sem imperfeições estava sob seu faminto olhar. Savannah tomou ciência que sua pele era cremosamente lisa, seus seios firmes e redondos, seu torso estreito acentuava sua perfeição.

       Ele tomou-a pela cintura e a arrastou até ele, inclinando-a para trás para atrair os seios até seus lábios.

       Ela fez um suave ruido, como um gatinho, seu corpo se moveu inquieto contra o dele. Seus braços embalaram a cabeça dele, abraçando-o a ela. A boca dele sobre seu seio era ardente e faminta, insistente. Cada toque a derretia. Ela gemia e se pressionava contra ele, adorando a sensação de sua boca.

       As mãos dele se moveram por suas costas, encontrando seus quadris instigando-a a se aproximar. Ele estava pronto, duro e grosso, cheio de desejo por ela. Quando levantou a cabeça, seu olhar fundido a chamuscou, Savannah se apoiou contra ele saboreando a ligeira transpiração que descia pelo peito dele. Ela o seguiu, sem nunca ter o bastante. Quando sua língua acariciou seu estômago liso, sentiu-o estremecer-se de antecipação. A pequena gota correu ainda mais baixo. Seus braços lhe rodearam os quadris, encontrando os firmes músculos de suas nádegas. O aproximou mais. Quando inclinou a cabeça mais perto, tentando capturar a brincalhona gota, seu cabelo acariciou o sexo enrijecido dele. Gregori gemeu. O som escapou de sua garganta, rouco e dolorido. Suas mãos a seguraram pelos cabelos.

- Está brincando com fogo, ma petite. - As palavras foram quase incapazes de escapar de sua estrangulada garganta.

       Savannah levantou o olhar para ele, só uma vez. Sem consciência do quanto estava tentadora. Sexy.

       Sua erótica, inocente e provocadora, companheira. Tentadora.

- Não pensei que estivesse brincando com você.

       E sua atenção voltou para a feroz excitação dele. Seu hálito o acariciou e o banhou de calor, de tentação.

       Ele jogou a cabeça para atras, suas mãos ainda seguravam o cabelo dela. Seu pescoço estava arqueado, os olhos fechados.

- Acredito que pode dizer que é a mesma coisa. –

       A língua dela apanhou a pequena gota travessa.

- Foi voce que começou tudo. – Ela murmurou ausente. Sua atenção concentrada no sexo rijo, denso.

       Ele estava quente e duro e teve de conteve-se, quando ela insistiu mais perto, sua boca era lava quente.

- Mon Dieu, Savannha. - Respirou entrecortadamente deixando escapar o ar de seus pulmões. - Não poderei sobreviver a isto.

       A língua dela o tocou suavemente, a princípio. Depois, testou sua densidade, sugou-o.

       Era deliciosa a pressão da pequena boca, a fricção era mais do que podia suportar. Seus quadris, como se tivessem vontade própria, se moveram, um ritmo sobre o qual não tinha controle. O mundo inteiro se desvanecia e existia só o intenso prazer e as luzes coloridas, explorando sua cabeça. Durante preciosos momentos, estando fora de sua interminável e vazia existência, ele pode acreditar que importava a alguém. Que alguém o amava, o suficiente, para lhe tirar da escuridão. Para a luz. Ao êxtase.

       Segurou-a carinhosamente, levantou-a e a colocou de costas sobre a cama. Ela era tão pequena, que durante um momento teve medo de feri-la com sua força, mas ela estava se movendo sem descanso, chamando-lhe, o desejo em sua mente, aumentando violentamente, tanto que se igualava ao dele. Sujeitou seus quadris e a arrastou para a beirada da cama, para poder explorá-la como queria.

       Ela era exclusivamente dele. Seu corpo era sua distração e ele estava decidido a conhecer cada centímetro dela, intimamente. Sabia que era sua força que a atemorizava, não o que estava fazendo.

       Ela se estirou. Seu corpo ficou rígido quando ele a colocou sobre a cama, inclinou a cabeça e seus lábios mordiscaram o interior de suas coxas.

- Confia em mim, ma petite. – Seus lábios eram quentes, enquanto a saboreavam. - É parte de mim. Não posso mais te fazer mal. Toque minha mente com a tua. Desejo-te mais do que toda minha existência.

       Sua língua a acariciou, brincando, explorando-a intimamente.

       Ela se estirou sob ele, respirando rapidamente. Já não dava ciência de nada, nada exceto Gregori.

       Suas mãos se moviam sobre o corpo dela, explorando, memorizando, possuindo, enquanto seus lábios possuíam, levando-a ao limite, até que ela se rompeu em um milhares de fragmentos e voltou a reconstruir-se, a tempo de repetir o processo. O êxtase provocado por ele era interminável, eterno.

       Segurou-lhe do cabelo e afastou-o de si, desejando seu corpo. Precisando que ele a preenchesse, que se fundisse completamente a ela. Gregori, triunfante a agradou, cobrindo seu corpo, com toda a sensualidade e urgência do dele. Pressionou-se contra a pequena intimidade dela e sentiu seu úmido calor. Sua companheira estava preparada e lhe incitando, lhe desejando. Inclinou-se para encontrar sua garganta. Beliscando-a, sua língua a acariciou. Seus quadris se moveram afastando-se dela. Ele puxou-o de volta. Ele empurrou-se para frente, enterrando-se profundamente, ao mesmo tempo em que seus dentes se afundaram na vulnerável garganta.

       Savannah pensou que podia morrer de tanto prazer. Entregou-se, ardente. A fricção, da carne rija e firme, quando a invadiu com longas e profundas estocadas, quase a conduziram à loucura. Abraçou-se a seu homem, suas unhas afundaram-se nos costas largas, profundamente, para evitar que ele voasse para longe. Podia sentir a boca dele sobre sua garganta devorando a essência de sua vida, sua mente entrando na dela, compartilhando o prazer, elevando-a. Podia sentir seu corpo inflamado, endurecido. A urgência tormenta de fogo que a ameaçava consumir, consumia ele.

       Ele estava em todas partes, em sua mente, em seu corpo, em seu coração, em sua alma. O fogo ardente nele, nela. Seu corpo tomava ao dela agressivamente, dominantemente, sua boca frenética de fome. Parecia insaciável, como ela. Savannah não podia dizer onde terminava ele ou onde começava ela. Ele tomou-a, duro, possessivo e mais rápido, até que seu corpo ondeou de vida e se convulsionou de prazer. Prazer que não era mais suficiente aos dois. Não era suficiente, nunca seria suficiente.

       A língua de Gregori deslizou através da garganta dela, fechando os cortes, mas sua boca deliberadamente deixou sua marca nela.

- Se alimente, Savannah. Está faminta de mim. - Sua aveludada e hipnotizadora voz, estava áspera pelo desejo

       Ele não precisava pedir-lhe Ela desejava. Luxúria, era a única palavra que podia pensar, que se aproximava para descrever a intensidade de sua necessidade. Tinha que lhe saborear, tinha que lhe ter todo dentro dela, não só de seu corpo ou de seu coração e mente mas sim de suas veias. Suplicava lhe saborear, era viciada nele, estava faminta dele.

- Não me deseja? - Perguntou ele, seus quadris marcavam lentamente longas e rítmicas estocadas.

       Savannah sorriu contra a pele nua.

- Sabe que sim. Sente o que eu sinto. - Deliberadamente lhe mordeu o pescoço, sua língua encontrou a pulsação forte. - Como poderia não te desejar?

       O corpo dele enrijeceu-se de antecipação. Esperando. Deixou de respirar. Seu coração parou. Ela deliberadamente prolongou o momento, mordiscando gentilmente sua carne, fechando os olhos enquanto o corpo dele reagia. Ele se inflamava, grosso dentro dela. Quando seus dentes o morderam, ele quase perdeu o controle. O prazer era tão intenso que podia sentir seu corpo acumulando, mergulhando mais profundamente até alcançar sua alma. A seu redor, ela se entregava, seguranbdo-o com ardor, agarrando-se e rebolando até que não teve mais escolha, que responder a sua chamada. Explodiram juntos. Com tanta intensidade, que jamais esqueceriam.

       Era sua completa rendição, a generosidade com que ela lhe entregava seu corpo e sua mente.

       Gregori deixou cair sua cabeça ao lado dela, fechou os olhos comforça, a fim de evitar que ela visse a umidade neles. Ela se alimentava gentilmente. Sua boca era suave e sensual sobre o pescoço dele, seu corpo estremecia. Abraçou-a firmemente, decidido a nunca deixá-la partir. Decidiu encontrar a forma de fazer com que ela desejasse ficar com ele.

       Savannah fechou os dois pontos de entrada na pele dele e ficou silenciosa som ele. Ele era pesado, seu corpo envolvia completamente o dela, quase lhe esmagando contra as mantas sobre o leito. Sua imobilidade, a dura posse na força de seus braços, advertiram-lhe que ficasse calada. Gregori lutando contra seus demônios novamente.

- Gregori? - Saboreou seu nome. - Sou sua companheira. Não há nenhum outro para mim. Seus medos não têm fundamento.

       Os braços dele apertaram-na, quase estrangulando-a.

- Sou perigoso, Savannah. Tanto que nunca saberá. Não confio em minhas emoções. São novas e intensas para mim. Matei com freqüência, e as partes de minha alma foram destruídas faz muito tempo.

       As mãos dela encontraram seu cabelo, penteando-o e acariciando-o, tentando lhe aliviar.

- Minha alma é sua outra metade. Encaixam-se perfeitamente, e não falta nenhuma peça. Só se sente assim porque depois de tantos séculos de insensibilidade, de vazio, pode sentir novamente. Tudo isto está te abatendo.

       Ele a aliviou de seu peso mas não a deixou sair. Não podia. Tinha que tocá-la, permanecer em seu interior, seu corpo unido ao dela.

- Desejaria que fosse verdade, mon amour. Realmente, desejaria.

- O amanhecer chegou, Gregori. - Recordou-lhe brandamente, de repente consciente de que estavam entrelaçados, ainda unidos como um só ser.

- Tem frio?

- Não

       Como poderia ter? O corpo dele estava dentro do dela, sobre o seu, seus quadris se moviam gentil mas insistentemente.

       Gregori ondeou uma mão para fechar as entradas, colocando salvaguardas dentro e fora da guarida. Todo o tempo sua atenção estava centrada em seu corpo que se deslizava dentro e fora do dela. A beleza. O mistério. O prazer.

- Dormiremos logo, chérie, prometo. Mas agora não. Não durante um milagre. - Murmurou as palavras contra seu seio, depois se aproximou mais, a boca dele se alimentando gentilmente de sua suavidade.

       Ele queria ficar ali, no santuário daquele corpo, para sempre.                        

 

       O Detetive David Johnson escoltou o casal através de seu escritório. As cabeças se voltaram e um estranho silêncio pareceu seguir o processo. Realmente não podia culpar o homem. Em todos seus anos na polícia, não havia visto uma mulher tão formosa ou irreal. Era a única palavra que descrevia sua beleza. Irreal. Ela movia-se como uma canção, um sussurro, como a água movendo-se através do espaço. Flutuando. Entretanto, era embaraçosa a forma em que policiais estavam atuando, como cachorrinhos apaixonados.

       Ela era uma celebridade, a causa da multidão de jornalistas que acamparam na frente da Delegacia, mas ele sabia que ela era mais que isso. Savannah Dubrinsky era a classe de mulher que permanecia na mente de um homem todo o tempo. Era a mulher dos sonhos. Ardentes sonhos noturnos, lençóis de seda, e de sexo úmido. Uma fantasia viva..

       Johnson arriscou um olhar para o homem que caminhava tão facilmente ao lado dela. Um companheiro perigoso. Escuro. Ameaçador. Movia-se tão silenciosamente, que possivelmente ninguém poderia lhe detectar a menos que o desejasse. Nem sequer suas roupas atritavam. Seu cabelo era comprido e espesso, preso na nuca com uma tira de couro. Parecia elegante, do Velho Mundo, como um pirata ou um conde. Sua face era impressionante. Dura, de ângulos planos, com incomuns olhos prateados. Um resplendor de prata que não dava de presente nada. Este era um homem com quem se podia contar. Estava na posição de seus ombros, no ar de completa autoridade. Johnson tinha visto homens poderosos antes, homens que tomavam decisões de vida ou morte, a cada dia. Este homem, a sua frente, era talhado por esse patrão. O homem vestia poder como se fosse sua própria pele. O homem era poder. Johnson sentia o bater de seu coração no peito cada vez que esses peculiares olhos como os de um gato, descansavam nele. Olhos que não pestanejavam, lhe perturbando.

       A postura do homem dizia tudo. Que Deus ajudasse à pessoa, suficientemente estúpida, que colocasse um dedo sobre Savannah Dubrinsky. Johnson estava preocupado, por que um desequilibrado de São Francisco, estivera tentando agarrar à famosa maga enquanto estava na cidade, mas agora que tinha conhecido seu marido, figurava-se que qualquer que tentasse tocá-la, teria que ser um suicida.

       Retrocedeu e permitiu que Savannah entrasse em seu escritório e não se surpreendeu, quando seu marido de algum modo, colocou sua sólida presença entre seu corpo e o de Savannah. Johnson fechou a porta firmemente e refreou o impulso de fechar as persianas. O quadro inteiro da polícia, estava olhando fixamente através do cristal escurecido, paquerando ela.

       Johnson nunca havia notado, o quanto estava sujo seu escritório, as capas cobertas de pó e sujeira, as gordurentas caixas vazias de comida chineza e pizza. A pálida mulher com sua irreal beleza, o fazia ser consciente da austeridade de seu ambiente. Quis varrer os restos de seu escritório dentro do cesto de papéis e tirá-lo da vista dela. Para seu horror, sentiu que a cor subia por seu pescoço. Era conhecido pelos arredores como um policial casado com o departamento, completamente cínico e sem sentimentos de nenhuma classe. Mas seus hormônios tinham dado um salto e pareciam estar trabalhando em horas extras.

       Johnson clareceu sua garganta duas vezes, tentando não parecer um asno.

- Apreciamos que tenha vindo nos ajudar. Obrigado por identificar o corpo, sei que deve ter sido difícil para você. - Esperou, mas quando nenhum deles falou, continuou. - Nós gostaríamos de esclarecer umas poucas coisas concernentes a esta noite. Já temos as declarações dos de segurança e os condutores que carregaram o caminhão. Todos parecem ter um álibi, Senhorita Dubrinsky. O segurança a viu sair e viu o Peter serviço de carga. Peter nunca saiu. Quando foi a última vez que viu Peter Sanders vivo?

       Savannah soube que Gregori tinha plantado a cena nas mentes do pessoal de segurança quando tinham deixado o estádio naquela horrível noite.

- Detetive Johnson. - Começou ela. Sua voz era um pouco mais formosa do que ela.

- Chama-me deDavid. - encontrou-se dizendo para sua absoluta surpresa.

       Seu marido se revolveu, um ligeiro movimento de músculos, uma sugestão de perigo. Esses brilhantes e reluzentes olhos se fixaram sobre a face de Johnson, lhe tocando com um ar frio. Com a visão de uma tumba vazia, de morte arrepiante. Engoliu nervosamente, repentinamente agradecido de que nenhum de seus novos detetives tivesse sido atribuído a este estranho caso. Johnson podia acreditar sem dificuldades, que este homem era perfeitamente capaz de matar alguém. O que estava fazendo uma mulher, como Savannah Dubrinsky, com um homem deste?

- Recolhi Savannah uma hora mais ou menos depois de sua atuação. - Informou-lhe Gregori brandamente. - enquanto Savannah se sentava com a cabeça encurvada, retorcendo-os dedos. Irradiava angústia, convertendo o coração de Gregori em uma pedra. Era plenamente consciente dos pensamentos do detetive e de propósito baixou sua voz. Qualquer humano, com o meio cérebro, poderia notar que era perigoso. Não era fácil esconder essa classe de coisas e a Gregori não interessava particularmente fazer.

- O material tinha sido carregado nos caminhões, e a maior parte dos trabalhadores estavam já saindo. - Disse ele brandamente.

       Johnson se encontrou segurando-se a cada palavra, escutando a cadência de sua voz. Era como a corrente de um riacho. Este homem, Gregori, era honesto, tinha integridade. Johnson trocou de posição, inclinando-se sobre o escritório para o homem. Não podia evitar. Era como se estivesse hipnotizado.

- Peter estava vivo e bem nesse momento. - Seguiu Gregori com tranquilidade. - Falamos por alguns poucos minutos, possivelmente uma meia hora. O caminhão com o material se afastava justo quando decidimos sair. Peter caminhou para seu carro mas voltou nos dizendo que havia deixou as chaves no departamento de carga.

       Savannah baixou a cabeça, sentindo um tremor atravessando-a. Estava pálida, mas composta. Em seu interior, podia ouvir-se gritando ultrajada, com dor. Gregori aparentemente não se moveu, embora seu corpo estava tocando o dela, de forma que sua calma, pudesse espalhar pela pele dela. Assombrava-lhe, a perfeita e aceitável historia que tecia com sua formosa voz. Ninguém lhe questionaria alguma vez. Como poderiam, quando ele controlava a todos com o som de sua voz?

- Essa foi a última vez que o viram com vida? - Perguntou Johnson.

       Savannah assentiu. Gregori entrelaçou seus dedos com os dela.

- Peter era nosso amigo, assim como um sócio de negócios. Dirigia- tudo por Savannah. Sem Peter, não há show. Eu tenho muitos negócios que me mantêm extremamente ocupado. Peter cuidava de cada detalhe do show mágico por nós. E como pode imaginar, isto é devastador para minha esposa. Para ambos. Deveríamos ter esperado até que estivesse a salvo em seu carro, mas tinha estado longe do Savannah durante algum tempo, e estávamos ansiosos por estar juntos. O pessoal de segurança estava ainda à vista, assim não pensamos que pudesse acontecer alguma coisa.

- Não foram ao hotel. - Johnson fez uma afirmação.

       De novo foi Gregori quem respondeu concisamente, sua voz suave e hipnótica.

- Não, fomos a uma propriedade que temos nos subúrbios da cidade. Só esta tarde, que ouvimos as notícias.

- Por que não deixou o hotel, Savannah? - Perguntou-lhe Johnson diretamente. Era difícil não olhar fixamente sua deliciosa beleza.

- Pensamos que nos encontraríamos outra vez com o Peter em alguns dias quando voltássemos para a cidade, assim mantivemos a casa. - Sua voz foi tão baixa que Johnson apenas pôde captar suas palavras. Soava tão triste, sentiu o peso de uma pedra em seu peito.

       Gregori se moveu ligeiramente, acariciando a cabelo e o pescoço de Savannah, seus dedos se moveram em uma massagem consoladora. Estava transmitindo sua dor interna e o detetive estava começando a sentir-se afetado.      - Respira profundamente, mon amour. Não podemos nos permitir o luxo de ter um policial com um ataque cardíaco em nossa presença. É muito suscetível a voce. Não posso fazer nada. Havia lágrimas na voz dela, em sua mente. Estava firmando-se na mente de Gregori como a uma rocha, e isso o fazia sentir que a conexão ele com ela era real e sólida. Possivelmente, inquebrável.

- Peter merecia o melhor.

- Assim é, pequena, mas não podemos dizer a este homem a verdade. Encarceraria nós dois, como a loucos. - Gregori se inclinou para frente e olhou diretamente aos olhos de Johnson. - Prestará atenção a seu problema de coração depois de que deixarmos este lugar. Agora, deixe de interrogar Savannah e dirigirá suas perguntas somente a mim.

       Johanson piscou, seus olhos ligeiramente frágeis. Não se estava sentindo muito bem. Limpou-se a transpiração da testa. Possivelmente faria uma viagem rápida ao hospital e faria os exames que estava postergando.

       Enquanto isso, Savannah se fixou em Gregori. Havia algo na voz desse homem que a escravizava. Poderia escutá-lo para sempre.

- Ninguém sabe de seu matrimônio. Não encontramos nenhum registro dele. – o homem aventurou.

       Gregori assentiu.

- A carreira de Savannah exigia que parecesse... Como poderia dizer... Hum, disponível. Uma mulher solteira é muito mais atrativa que uma mulher casada. Somos marido e mulher há quase cinco anos. O matrimônio teve lugar em nosso país. A mãe de Savannah é dos Estados Unidos, mas a terra natal de seu pai está nas Montanhas dos Cárpatos. Casamo-nos ali.

       Johnson se conteve de dizer que ela parecia muito jovem e inocente para um homem tão poderoso como Gregori. Era quase impossível dizer sua idade.

- O senhor Sanders estava de acordo com o matrimônio?

       Os olhos reluziram como a prata.

- É obvio que o estava. - Gregori pôde ver que a pergunta desgostava ainda mais a Savannah. Inclinou-se mais perto do detetive, novamente. - Cessará este interrogatório.

       Johnson sacudiu a cabeça.

- Estamos saindo da questão. Sabe de algum inimigo que o Senhor Sanders pudesse ter?

       Gregori demorou a responder, com aspecto muito pensativo. Inclusive sacudiu a cabeça.

- Desejaria poder lhe ajudar mais, Detetive, mas todo mundo gostava de Peter. Bom, com exceção dos repórteres.... Ele era muito bom protegendo a privacidade de Savannah e preservando a mística do show. Não acredito que encontre a ninguém que fale mal de Peter.

- Ele cuidava das finanças do show, verdade? - Perguntou Johnson astutamente.

- Cuidava. - Respondeu Gregori facilmente. - Peter era um sócio pleno para Savannah. E tinha lucros também.

- Houve algum problema com os livros? - Johnson deslizou a pergunta, observando suas faces.

       Savannah parecia tão pálida e cheia de pena, como se estivesse senso atormentada. Nenhuma emoção se mostrava na face de Gregori, e Johnson soube que nada que dissesse ou fizesse mudaria isso.

- Sou tremendamente rico, Detetive, com mais dinheiro do que possivelmente possa gastar em toda minha vida. Savannah nem sequer necessita dos ganhos de seu show. Se houvesse alguma discrepância, e certamente não sei de nenhuma, estou seguro, igual a Savannah, de que seria honesta. Peter fez um bom dinheiro com os shows e não havia necessidade de comprovar os livros. Estou seguro de que posso comprovar facilmente as contas do banco e nossos registros. Certamente está convidado a fazê-lo. Peter Sanders não era um ladrão.

       Savannah elevou o queixo.

- Peter nunca teria roubado nada. E se houvesse precisado de dinheiro, tudo o que teria que fazer era dizer. Ele sabia.

-Era só uma idéia. Não há evidência que aponte nessa direção, mas temos que cobrir todas as possibilidades. - Johnson passou uma mão pelo cabelo. Odiava perturbar à mulher. - Sanders estava a cargo de suas medidas de segurança?

- Tínhamos um homem para isso. - Disse Gregori sinceramente. - Peter lhe dava ordens e lhe mantinha informado do horário para que o homem pudesse fazer seu trabalho.

- Podia ter sido a senhorita Dubrinsky o objetivo de algum fã psicopata?

       Savannah fez um ruído afogado, rasgando o coração de Gregori. Sob seus dedos massajeadores, ela estava começando a tremer.

- Sempre há a possibilidade, Detetive. Às vezes, recebe algumas mensagens de fãs mais perversos. Peter e Roland, o homem de segurança, protegiam-na da maior parte desses indesejáveis. Mas se houvesse alguma mensagem ameaçadora nesta excursão, Peter teria me informado imediatamente.

       Johnson não duvidava de que Gregori fosse o tipo de homem que estaria envolto em cada aspecto da vida de sua mulher.

- Recorda qualquer incidente estranho que lhe chamasse a atenção?

       Savannah sacudiu a cabeça.

- Possivelmente algum ruído estranho ou inesperado essa noite?

       Instantaneamente Savannah recordou a horrorosa risada do vampiro. Gregori interveio imediatamente.

- Minha esposa está muito agitada, Detetive, e ainda não levamos a cabo os acertos para o funeral Peter. Seu pessoal está nos esperando também.

- Assim como os repórteres.

       Os olhos de Gregori brilharam com uma advertência.

- Ainda não falou com os repórteres. Isto é bastante difícil para ela.

       Johnson assentiu.

- Tentaremos fazer ela sair às escondidas, pela porta de atrás. Mas essa turma esteve acampada em nossas escadas desde que identificamos o corpo.

       Savannah fez uma careta de dor visível.

- Piranhas. - Observou Gregori.

- São como vampiros. - Esteve de acordo Johnson. Não viu o tremor de Savannah. - Uma vez que fincam os dentes em uma história, nunca param. Um em particular, de fora da cidade, esteve nos colocando loucos. Já lhe pegamos tentando olhar em nossos arquivos, com a intenção de ler as informações. Também tentou subornar alguém no escritório forense, para que lhe desse informação. - O detetive era consciente de que estava proporcionando informação que não deveria dar, mas parecia incapaz de deter-se. Fluía para fora como água.

       Gregori elevou a cabeça, o cabelo escuro caiu sobre sua testa. De repente, parecia um predador, escuro e perigoso. O coração de Johnson deu outro forte batimento, e por um instante pôde ter jurado que viu os mesmos olhos, arder de um feroz vermelho. Gregori dava a impressão de ser uma fera de garras afiadas, espectante, aproximando-se furtivamente de sua presa. Johnson estremeceu, depois piscou. Quando olhou de novo, o homem estava tão impassível como sempre, os olhos sua própria imagem. Havia certa beleza nessa face áspera e cruel. Johnson sacudiu a cabeça para dispersar a imagem de um lobo aproximando-se furtivamente de sua mente.

- Que repórter é esse, Detetive?

- Na verdade, não posso divulgar essa informação. - Disse Johnson cautelosamente. Havia algo que não podia concretizar, mas não ia ser responsável por algum repórter terminasse no hospital. Não duvidada de que qualquer um que se metesse com Gregori, não ficasse sem castigo.

       Gregori sorriu para ele, um relâmpago de dentes brancos. O olhar prateado se fixou sobre os cansados olhos de David Johnson. Esse olhar de prata, de repente ,quente como mercúrio fundido. Johnson se sentiu cair para frente, incapaz de afastar o olhar. Gregori empurrou a mente do homem, passou a fina barreira de proteção e procurou as lembranças ali. Satisfeito, ao ter o que necessitava, separou-se da memória do homem qualquer conversação com o repórter e implantou o convencimento de que Savannah e Gregori tinham cooperado plenamente e não tinham nada que ver com a morte de Peter Sanders.

Johnson piscou e se encontrou de pé, estreitando a mão de Gregori e sorrindo simpaticamente a Savannah.

       A forma musculosa de Gregori diminuiu a ante a de Savannah, quando seu marido deslizou a mão protetora sob seu ombro. Ela ofereceu a Johnson um pálido sorriso.

- Desejaria que tivéssemos nos conhecido em outras circunstâncias, Detetive.

- David. - Corrigiu ele gentilmente, fazendo todo o possível para não olhá-la fixamente.

       Gregori a conduziu pelo cotovelo, para fora do escritório.

- Obrigado por ser tão cuidadoso com os sentimentos de Savannah.

       Johnson lhes abriu caminho através do labirinto de salas, até as escadas da parte de trás do edifício.

- Se acreditar que seja necessário. Poderia ter homens vigiando à senhorita Dubrinsky durante alguns dias.

- Obrigado, Detetive, mas não será necessário. - Declinou Gregori brandamente, com um sotaque de ameaça em sua aveludada voz. Suas mãos encontraram as pequenas costas de Savannah. - Eu protejo o que é meu.

       O corredor das escadas era estreito e poeirento, o tapete puído em vários lugares. O casal se moveu baixando juntos em perfeita sincronização, como um par de bailarinos. Gregori a deteve antes de que ela pudesse abrir a porta.

- Há alguém aí fora.

       Savannah olhou a linha cruel de sua boca.

- Não sabemos quem é, Gregori. - Advertiu brandamente.

- Explorar é bastante fácil. - Respondeu Gregori. - Esse repórter é perigoso, Savannah. É mais que um simples jornalista.

- Leste a mente do detetive, suas lembranças? - Seus dedos se enroscaram ao redor da mão dele, seus enormes olhos azuis se fixaram firmemente sobre sua face.

       Gregori não retrocedeu ante a acusação. Não fingiu arrependimento.

- É obvio que o fiz.

- Gregori. - Disse ela. – Está com um olhar...

       Ele arqueou as sobrancelhas.

- Que olhar?

- Como se estivesse faminto e acabou de descobrir o almoço.

       Ele sorriu em resposta, mas não havia suavidade em seus olhos.

- Tenha muito cuidado com este, Savannah. Ele não vai te deixar sair sem que o atenda.

       Ela encolheu de ombros cuidadosamente.

- Daremos o que quer e possivelmente vá embora. - Tinha medo do que Gregori tinha em mente. Se o repórter não podia ser controlado, se tornasse uma ameaça para sua raça e Gregori não teria escolha a não ser o destruir. Não podia suportar a idéia de mais derramamento de sangue desnecessário. Desejava uma existência pacífica com a raça humana.

- Tentaremos a seu modo. - Concedeu Gregori, com o estômago contraido. Por que cedia ante seus rogos sem sentido? Os olhos dela, grandes e tristes, derrotavam seu sentido comum outra vez.

       Savannah pressionou a ponta de um dedo contra o lábio dele, traçando o duro rictus, até que se suavizou, e ele tomou seu dedo com a boca em uma lenta e erótica carícia. Precisava dessa conexão com ela sempre. Ela era jovem, a fealdade de sua vida era alheia a ela. Como podia ela entender sua necessidade de assegurar-se de que essa fealdade nunca a tocasse?

       Sorriu, um pequeno e secreto sorriso que sentia que nunca poderia entender. Ele sabia da terra, do vento, das mudanças das águas, do fogo e do ar, até mesmo do espaço. Podia dominá-los, todos eles, mas Savannah lhe evitava. Evitava-lhe completamente. Por que importava tanto que ela o entendesse? Não era sua segurança a coisa mais importante do mundo?

       Savannah estremeceu ante o calor inesperado que ardeu através de seu corpo. Gregori tinha tanto poder sobre ela. Quando liberou seu dedo da ardente e úmida carícia de sua boca, apoiou-se nele, suas mãos deslizaram por sua garganta para descansar em seu seio.

- Acredito que deveria ser proibido, Gregori. Você é perigoso para as mulheres. - Sua voz acariciou a pele dele como o toque de seus dedos.

- Só para uma mulher. - Respondeu ele, seus olhos eram mercúrio fundido.

       Ele tomou posse da mão dela. Teve que tomar-lo, antes que seu corpo o prendesse em chamas. Levando os pequenos dedos à boca, gemeu e pressionou um beijo contra o dorso da mão, seus dedos, e a palma aberta.

- Saiamos daqui, ma petite, antes que eu troque de idéia e converta a esse repórter em pedra.

       Ela conteve o fôlego, seus olhos azuis se abriram de par em par.

- Não pode o tornar pedra, pode?

       Ela olhava-o com uma mistura de respeito e temor e com um pingo de orgulho.

       A face de Gregori estava completamente impassível, o olhar prateado, reflexivo.

- Posso fazer. Pensava que era um fato bem conhecido entre nossa gente.

       Ela estudou seu rosto, tentando decidir se ele estava ou não divertindo-se com ela. Como não podia decidir-se por nenhuma das possibilidades, voltou-se e empurrou a porta.

       Quase em seguida, um homem se colocou solidamente diante dela, e um flash disparou. Piscando ante a súbita e insuportável dor produzida pela luz brilhante em seus sensíveis olhos, Savannah instintivamente levantou uma mão para cobrie o rosto. Gregori a virou para seu peito.

- Você insistiu nisto.

- Não se atreva a dizer isso!

       A suave risada dele aliviou o ardor de seus olhos, mas sua face era dura e perigosa quando encarou ao repórter e sua câmara.

- Saiam de nosso caminho. - Advertiu.

       A expressão do repórter era precavida. Retrocedeu, o fôlego saindo fora de seus pulmões.

- Wade Carter, repórter livre. Estive seguindo à senhorita Dubrinsky durante algum tempo. Queria uma entrevista.

- Terá que ir a seu secretário de imprensa. - Gregori continuou andando, rodeando com um braço protetor, os ombros do Savannah.

       O repórter teve que mudar de tática. Não se atreveu a desafiar o outro homem. Gregori parecia um predador escuro. Uma máquina de matar. Ameaçador. Estava mostrando sua verdadeira natureza ao repórter. Carter se amaldiçoou, mas a excitação, foi evidente em sua face.

- Corre o rumor de que você é marido de nossa mais famosa maga. É verdade?

- Não vejo razão para negar. - Gregori seguiu caminhando, seu braço, largo e de músculos marcados, protegendo a cabeça de Savannah, escondendo-a com êxito do escrutínio do outro homem. Olhou para o câmara, que o repórter estava arrumando para tirar outra foto. – Já conseguiu sua foto. Tire outra e lhe tomarei a câmara. À força. E não a devolverei. Entendeu-me?

       O homem instantaneamente baixou a câmara, sua face empalideceu. A voz de Gregori era baixa e suave, inclusive amável, mas encerrava tanta ameaça, que como veterano de muitas brigas, o homem optou atendê-lo.

- Senhor. – Carter mMurmurou, evitando o olhar.

- Não negam seu matrimônio. É verdade que os dois provêm da Montanhas dos Cárpatos? - Carter soava ansioso.

- É uma região grande. - Disse Gregori vagamente e fez gestos a seu motorista, para que abrisse a porta da limusine.

       Carter se impulsionou para frente.

- Conhecia Peter Sanders, os segredos que havia por trás de sua magia, Savannah? - Havia acusação em sua voz, beligerânte. - Nenhum outro membro de seu pessoal os conhece. O que poderia fazer a morte do Sanders ser bastante conveniente. Setem algo a esconder.

       A pesar do braço de Gregori a refrear, Savannah levantou a cabeça para enfrentar o repórter. Seus olhos azuis fumegavam perigosamente.

- Como se atreve? Peter Sanders era meu amigo.

       Carter se aproximou mais.

- Tem muitos segredos, não é Savannah? Segredos que não têm nada a ver com seu show de magia.

- O que significa isso?

       Os olhos chapeados de Gregori relampearam - Sua mente está protegida dealguma forma. Poderia passar sua barreira, mas é complicado, ele notaria, e quem quer que lhe tenha ajudado a obter essa informação, é muito perigoso para ti, mon amour. Não cruze espadas com ele. Saiamos deste lugar. Farei uma visita a Wade Carter em outra hora.

- Ele não me assusta.

- Deveria. É um dos açougueiros humanos, e você é seu objetivo. Essa maldita neblina em que se dissolve. Julian sempre sentiu incômodo com isso.

- Acredito que você sabe muito bem o que quero dizer. Peter Sanders descobriu como você realizava suas ilusões, e você o matou.

       Savannah sacudiu a cabeça.

- Lamento-o por você, senhor Carter. Deve ter uma horrível forma de vida, acusar às pessoas de crímees para conseguir uma história sensacionalista. Não pode ter muitos amigos. – Ela baixou-se um pouco, para entrar na limusine e a segurança do sombreado interior.

- Não será a última vez que me vê. - Soltou Carter, inclinando-se para tentar captar um último olhar dela.

       Gregori se aproximou. Sua forma imponente exalava poder. Sorriu ao repórter, um relâmpago de reluzentes dentes brancos. Os olhos chapeados refletiam claramente, vividamente, com grande detalhe, a própria imagem de Carter. Mas era uma imagem de morte, de um corpo enfraquecido e caído como um boneco de trapo no chão. Gregori segurou o homem com seu olhar mortífero.

- Nem será a última vez que você me vê, senhor Carter. - Disse maciamente, uma ameaça negra, aveludada.

       Wade Carter estava repentinamente debilitado pelo medo. Apesar de confiar em si mesmo, sua mão direita encontrou a cruz de prata em seu pescoço. Uma gargalhada baixa e zombadora ressonou em sua cabeça. Pareceu não poder livrar-se dela, nem sequer quando o alto e elegante homem se deslizou com graça, para o assento junto a Savannah. Carter sacudiu a cabeça repetidamente, tentando dissolver o riso, a ameaça de sua mente

       Olhou a limusine que desaparecia, então apertou ambas as mãos contra os ouvidos. Não tinha provas que Savannah Dubrinsky era um vampiro, só um pressentimento. As coisas que fazia sobre o cenário eram impossíveis. Nenhum outro mago tinha obtido os truques que ela fazia perfeitamente. Era muito jovem, como podia ter aprendido o que fazia, se ninguém mais em seu campo podia fazer igual? Havia a seguido por toda a excursão, tentando sem êxito subornar os que trabalhavam para ela. Ninguem admitiu saber nada.

       Cada vez que tinha tentado entrar nas coxias, para ver suas coisas, para estudar o que fazia, algo havia saia errado. Era estranho. Não acreditava nas coincidências. Poderia ter falhado uma vez ou duas, mas não em cada esmerada tentativa. Era um profissional, sua gente era profissional. Nenhum do pessoal de segurança era tão bom. Algo acontecia e ele chegaria ao fundo disso. Possivelmente os policiais acreditassem na história, mas a morte de Peter Sanders era um enigma. Todos os caminhoneiros e carregadores contavam exatamente a mesma história. Nunca duas testemunhas contavam exatamente a mesma história. Os detalhes sempre diferiam. E não podia ser uma conspiração. Os interrogados não onheciam uns aos outros. Agiam, como se as lembranças fossem implantadas em suas mentes. Coisas que um vampiro podia fazer.

       Savannah repentinamente tinha um marido que ninguém conhecia. E não era um homem qualquer, um que não podia passar despercebido. O marido de Savannah era perigoso. Um assassino. Wade Carter estava seguro de que era um vampiro. Ele sentou-se nos degraus, seu coração pulsava descontroladamente. Por fim, havia encontrado algo real. E essa coisa real o assustava endemoniadamente. Teria que chamar os outros. E foi o primeiro a encontrá-los. Ou eles a ele. Não sabia honestamente se Savannah Dubrinsky era um vampiro, mas sua investigação lhe dizia que era uma possibilidade. Ficaria famoso. Muito famoso e rico. Muito, muito rico.

- Ele sabe de nós. - Disse Gregori brandamente. - Esse repórter não é um repórter. É um deles.

- Quem é eles? - Savannah afastou o cabelo do rosto, repentinamente fraca e próxima às lágrimas. Peter. Foi todo minha culpa. Nunca devia haver permitido ficar tão perto dela. Nunca deveria tê-lo colocado em perigo. Havia sido muito ingênua. Seu mundo tinha sido sempre um mundo de amor sem limites. Seus pais a protegeram, mimaram-na. Seu lobo, seu companheiro... Não havia mostrado nada mais que amor durante seus anos de infância. Nenhum dos detalhes feios de suas vidas, nenhum dos perigos, ele permitiu que a tocassem.

       Olhou para Gregori, a impassível expressão, as linhas esculpidas profundamente em sua formosa face. Seus olhos eram tão frios e reservados. Tinha visto muito horror no transcurso de sua vida, soube tudo o que poderia passar. Ele havia visto com seus próprios olhos.

- Quem é eles, Gregori? - Perguntou novamente.

       Seus olhos se moveram sobre sua face e acariciaram sua suave boca, deixando um rastro carinho atrávéz deles.

- Há um perigoso grupo de humanos que acreditam em vampiros e praticamente fazem carreira ao caçá-los. Apesar de sua obsessão pelos não-mortos, durante séculos, com freqüência formaram sociedades secretas para perseguir suas depravadas paixões... Não conhecem ou reconhecem a diferença entre o Cárpatos e vampiros. Para eles, somos a mesma coisa e devemos ser exterminados. Possivelmente não compreendem que estão tratando com duas entidades separadas.

- O que impulsiona estas pessoas? Elas tem provas da existência de vampiros? -Era quase impossível de acreditar, pois os caçadores Cárpatos eram tão cuidadosos que destruíam toda a evidência dos traidores.

- Nada concreto. Mas as persistentes lendas, histórias e mistos mantêm os humanos em alerta. E alguns dos vampiros mais inteligentes, passaram pela sociedade antes que fôssemos capazes de caçá-los.

- Certo. - Disse Savannah. Conhecia sua história. Na Idade Média e justo depois, os não-mortes viviam em campo aberto, vivendo abertamente entre os humanos que matavam. Tinha sido necessário um enorme esforço coletivo para livrar-se deles antes que destruíssem qualquer oportunidade de existência pacífica entre as duas espécies. Cárpatos e humanos. Depois de que os mais famosos caçadores de vampiros Cárpatos, tais como Gabriel e Lucien, desapareceram, foram Mikhail, Gregori, Aidan e outros anciões como eles, que davam caça a quem se convertia em vampiro. Juntos, tinham protegido às restantes das mulheres e tinham tomado medidas para assegurar que Cárpatos e vampiros permanecessem como fantasias da imaginação humana, material de lendas, novelas e filmes. Sua campanha de limpeza de toda lembrança, todo conhecimento seguro de sua raça, havia sido longa e bem-sucedida, mas evidentemente ocorreram alguns lapsos.

- Faz poucos anos, antes que você nascesse, uma sociedade de humanos, uma organização secreta, foi formada para investigar e exterminar vampiros... A classe de vampiros descritos nas novelas. Acreditávamos que esses humanos eram uma pequena ameaça real. Nenhum de nós esperava que se repetisse a caça de vampiros que se estendeu pela Europa há séculos.

       Não havia pena na voz inexpressiva dele, nada que traísse que estava recordando-se ter encontrado o corpo de sua mãe, mas Savannah sabia que ele estava, sabia com tanta segurança, como se ele tivesse confessado.

- A primeira vez que saíram à superfície, assassinaram sua tia Noelle. Teriam matado a outra mulher, mas sua mãe, ainda humana, teve a coragem de salvá-la. A sociedade secreta então fixou seu objetivo em sua mãe e seu pai. Raven e o Principe de nossa gente. Uma vez mais pensamos que tínhamos acabado com a ameaça, mas apareceram novamente, alguns poucos anos depois. Mataram vários dos nossos e a alguns poucos humanos. O filho do Noelle foi assassinado e seu tio Jacques foi torturado até a beira da loucura. De novo Raven foi atacada, quando estava grávida de você, quase te perdeu.

       Savannah estendeu uma mão até o braço dele, mas tomou cuidado de guardar sua simpatia para si mesma, sem esperar que ele notasse que deslizou em sua mente e guardado suas lembranças no interior de seu coração. Estava convertendo-se numa adepta a ler a mente dele.

       Gregori segurou sua mão, maravilhando-se de que um gesto tão pequeno pudesse lhe dar tanto prazer. Só o simples fato dela tocar sua mão, dos dedos dela fechando-se ao redor de sua mão, podia derreter seu íntimo, lhe proporcionar um enorme conforto, segurança. Assombrava-lhe. Onde certas lembranças sempre esperavam para lhe deixar em branco, para isolar-se e poder enfrentar-se sem retroceder, sem a fera rugindo de raiva, essa pequena mão agora moderava seu fogo e sua fúria. Ausentemente, riscou uma salvaguarda na palma da mão dela, pouco consciente do que estava fazendo. Seu subconsciente queria assegurar-se de que ela estaria sempre a salvo.

       O toque dos dedos de Gregori enviava dardos de fogo através do sangue de Savannah. Ela mordeu nervosamente, o lábio inferior.

- Estava dizendo sobre esse repórter... O que poderia ele saber com total segurança? - Incitou ela brandamente. Não queria que ele deixasse de segurar sua mão ou deixasse de fazer esse estranho e consolador desenho em sua palma. Desejava que as terríveis lembranças que o mantinham em suas garras, o liberassem, levassem-lhe de volta a ela. Savannah sorriu para ele, seus olhos azuis claros e firmes.

- Não sabe nada com segurança. - Um brilho ligeiramente malicioso apareceu em seus olhos. - Ao menos não sobre voce.

- O que fez? - Perguntou ela brandamente. - Gregori, não tem que me proteger chamando a atenção sobre voce. Somos uma equipe, verdade? Se algo acontecer a você, acontecerá a mim.

       Ele afastou o olhar dela, para fora da janela. Os dedos se fecharam possessivamente ao redor de suas mãos.

- Isso pode não ser assim em todos os casos. – Respondeu ele cuidadosamente.

- O que está dizendo, Gregori? Somo companheiros. A gente não pode sobreviver só. Posso não saber muito sobre companheiros, mas sei isso.

- É certo, ma petite, normalmente. E normalmente, um caçador que encontra a sua companheira abandona a caça. Embora Aidan Savage deve continuar porque está em uma terra onde há poucos caçadores. Os caçadores estão em mais perigo por causa dos não-mortos que a maioria dos Cárpatos. Então, se guardam de pôr sua companheira em risco, os caçadores normalmente permitem que outros homens façam cargo da tarefa. Aidan Savage não teve esse luxo. Nem eu.

- E você? Pensa em deixar a caça? - Perguntou ela, já sabendo a resposta, na mente dele.

- Sabe que não posso. - Disse ele amavelmente, com voz suave.

- Sou sua companheira, Gregori. - Sua voz tremeu um pouco. - Pode ser que tenha que caçar porque é o melhor que temos, e nossa gente precisa de voce. Mas se algo te acontecer, seguiria-te.

       O polegar de Gregori cruzou de um lado a outro a parte interna de sua mão, atrasando-se em seu pulso. Foi rápido.

- Seria desonesto de minha parte, permitir pensar que tenho uma nobre motivação. Cacei durante muitos séculos, não conheço outra forma de vida. - Sua face era impassível, mas em seu interior, estava contendo o fôlego.

       Um pequeno sorriso, flertou na perfeita boca de Savannah.

- Se te agrada pensar assim, Gregori, por mim está bem. É arrogante como vários homens, não necessita que o alimente. Mas possivelmente, possa fazer algo para te ensinar outra forma de vida. Enquanto isso, sugiro que me eduque nos costumes dos vampiros, já que parece que os caçaremos. E poderia também recordar que é o maior médico, curador, entre os nossos. E isso, ninguém pode negar.

- Sou o maior assassino, tampouco se pode negar. – Ele tentou lhe mostrar a verdade novamente.

       Ela tocou sua dura boca.

- Caçarei contigo então, companheiro.

       O coração dele bateu loucamente no peito. O sorriso dela era misterioso, secreto e ela muito formosa. Rompeu-lhe o coração.

       Estava familiarizada com o toque dele em sua mente. Sabia que ele tentava manter sua invasão ao mínimo. Permitia-lhe pôr seus limites e nunca penetrava atrás de nenhuma das barreiras que ela erguia, embora poderia fazê-lo facilmente. Os dois necessitavam da íntima união de suas mentes, misturando-se. Savannah e Gregori. E seu recém conhecimento dele, estava seguro depois que erguera uma miníscula barricada para protegê-lo. Com os olhos abertos e inocente, olhou-o

       O polegar dele pressionava seu lábio inferior, meio hipnotizado por sua acetinada perfeição.

- Você nunca caçará vampiros, ma chérie, nunca. E se alguma vez te pegar tentando tal coisa, teria que pagar muito caro.

       Ela não parecia assustada. Mas, a diversão dançava no profundo azul de seus olhos.

- Certamente não está me ameaçando, Escuro homem morcego dos Cárpatos. – Ela riu. Um som que acariciou sua espinha e o incitou, de algum modo o afastou da amargura dos passados anos de resignação. - Deixe de parecer tão sério. Gregori.. Não perderá sua reputação. Todo mundo ainda está aterrorizado pelo grande lobo mau.

       As sobrancelhas dele se elevaram. Ela estava divertindo-se com ele. De sua escura reputação, de tudo. Seu olhar era claro e faiscante, insinuando travessura. Savannah não estava sendo arrastada para o destino de estar presa a ele, um mostro. Estava cheia de vida e de risos, de diversão. Sentia na mente dela, em seu coração, em sua alma. Desejou que pudesse de algum modo, se limpar, se tornar um companheiro mais compatível para ela.

- Você é a única a preocupar-se com o grande lobo mau, mon amour. - Ameaçou ele com simulada gravidade.

       Ela se abaixou para olhar para cima, nos olhos dele, com um sorriso curvando sua boca.

- Fez uma brincadeira, Gregori. Estamos fazendo progressos. Porque, somos praticamente amigos.

- Praticamente? - Ecoou ele amavelmente.

- Anda rápido. - Disse-lhe ela firmemente elevando o queixo, lhe desafiando a contradizê-la.

- Pode um ser amiga de um monstro? - Disse ele casualmente, como se simplesmente estivesse meditando em voz alta, mas havia uma sombra em seus olhos prateados.

- Estava sendo infantil, Gregori, quando fiz essa acusação. - Disse ela brandamente, seus olhos encontraram diretamente os dele. - Desejava minha própria vida, com ninguém a quem responder. Foi irrefletido e equivocado de minha parte. E tinha medo. Mas agora não e te peço perdão...

- Não faça! - Ordenou ele bruscamente. - Mon Dieu, chérie, não se desculpe perante mim, por seu medo. Não o mereço e ambos sabemos. - Seu polegar pressionou o calor acetinado de seu lábio. - E não tente ser tão valente. Sou seu companheiro. Não pode me ocultar algo tão aterrorizante, como o medo.

- Trepidação. - Corrigiu ela, mordiscando e seu polegar.

- Há uma diferença? - Seus pálidos olhos se esquentaram como mercúrio fundido.       Rapidamente, o corpo dela se tornou líquido, em resposta.

- Sabe muito bem que a há. - Riu ela de novo, e o som viajou descendo pelo coração dele até recolher-se em suas virilhas. Uma dor pesada e familiar. - Leve, mas muito importante.

- Tentarei te fazer feliz, Savannah. - Prometeu ele, com gravidade.

       Os dedos dela subiram para acariciar os cabelos negros que caíam em volta de seu rosto.

- É meu companheiro, Gregori. Não tenho dúvidas de que me fará feliz.

       Ele teve que afastar o olhar, para fora da janela na noite. Savannah era boa, cheia de beleza, enquanto ele era escuro. Sua bondade, havia derramado sobre a terra, com o sangue de todas as vítimas que havia tomado enquanto a esperava. Mas agora, enfrentado com a realidade dela, Gregori não podia suportar que ela fosse testemunha da escuridão que havia nele, da horrorosa mancha que se estendia por sua alma.

       Mais além das mortes e as leis que rompeu, tinha cometido o crime mais grave de todos. E merecia a última pena, pagar com sua vida. Havia deliberadamente manipulado a natureza. Sabia que era poderoso, sabia que seu conhecimento excedia os limites das leis dos Cárpatos. Tinha tomado o livre-arbítrio de Savannah, manipulado a química entre eles para que ela acreditasse que era sua autêntica companheira. E assim ela estava com ele... Com menos de um quarto de século de inocência, enfrentado séculos de duro estudo. Possivelmente esse era seu castigo, sentenciado a uma eternidade sabendo que Savannah nunca poderia o amar realmente, nunca aceitaria realmente sua alma negra. Ela estaria sempre tão perto e tão longe.

       Se alguma vez, ela averiguasse a magnitude de sua manipulação, desprezaria-lhe. Mesmo assim, nunca poderia deixá-la partir. Ninguém, mortal ou imortal estaria a salvo. Seu queixo endureceu e olhou fixamente para fora da janela, colocando-se ligeiramente longe dela. Sua mente firmemente deixou a dela, não desejando alertá-la do grave crime que tinha cometido. Podia suportar a tortura e séculos de isolamento, podia suportar seus próprios e enormes pecados, mas não poderia suportar que a aborrecessem. Inconscientemente, tomou a mão dela entre as suas e apertou, até que ameaçou romper seus frágeis ossos.

       Savannah o olhou, deixando escapar lentamente sua respiração para conter uma careta de dor, e manteve sua mão passivamente entre as dele. Ele pensava que sua mente estava fechada a ela. Não acreditava que ela fosse sua autêntica companheira. Realmente acreditava que tinha manipulado o resultado de sua união injustamente e que em algun lugar, havia outro homem dos Cárpatos, com uma química que se igualava a dela, podia estar esperando. Embora houvesse devotado livre acesso a sua mente, tinha-lhe dado o poder, de unir sua mente a dele, ambos como seu lobo e seu curador antes que tivesse nascido. Não pensava provavelmente, que uma mulher, uma que que havia maturado, uma que não era sua autêntica companheira, pudesse ter a habilidade de ler seus segredos mais profundos. Mas Savannah podia. E completando o ancestral ritual dos companheiros, só havia fortalecido o vínculo.

 

       As cinzas de Peter Sanders foram pulverizadas pelos terrenos da mansão que Gregori havia construído para Savannah enquanto esperava que ela chegasse a São Francisco. O pessoal de Savannah e o Detetive David Johnson chegaram para o serviço em sua memória, mas foram incapazes de manter a localização atual, bem afastada da cidade, em segredo para a maioria da imprensa. Só Wade Carter apareceu, tendo seguido um dos membros do pessoal, mas não foi lhe permitido transpassar as grades. Seu fotógrafo havia se negado a vir, algo no marido deavannah Dubrinsky lhe assustava endemoniadamente. Ele deixou Wade com a pesada câmara em volta do pescoço e um pressentimento muito intranqüilo. Os terrenos estavam cercados, onde corriam lobos. Com o apoio do braço de Gregori em volta dela, Savannah falava tranqüilamente com seu pessoal, lhes agradecendo seus serviços, e anunciando sua retirada do mundo artístico. A cada um deles, entregou um envelope que continha uma quantia extraordinária quando saíram. Gregori passou alguns minutos falando com Johnson. O detetive satisfeito de que não houvesse mais informação que solicitar, deixou a residência.

       Savannah se atrasou no lugar comemorativo, olhando à formosa placa de mármore que Gregori tinha desenhado para Peter. As lágrimas em seus olhos eram em parte pela perda de tão bom amigo, e em parte pela atenção de Gregori. Tinha mantido Peter perto deles, e tinha feito o dia tão confortável como podia ter sido nessas circunstâncias. Estavam se preparando para voltar para a casa, quando os lobos levantaram as cabeças e uivaram. Gregori se voltou e pegou em seu braço, arrastando-a mais perto dele.

- Acredito que é Aidan Savage. - Disse brandamente. - Devemos ir para dentro, onde Carter não tenho oportunidade de vê-lo. Não queremos conduzir os assassinos à porta de Aidan. – Ele enviou uma ordem a seus lobos e apressou Savannah para a mansão.

- Pensava que este lugar estava protegido. - Disse ela.

- Com seus empregados e a polícia assistindo ao serviço, era muito perigoso. Alguém poderia haver-se afastado do lugar e acabar ferido. - Sua mão acariciou o cabelo dela meigamente. - Sei que está cansada. Deveria se deitar.

       Ela se apoiou contra sua força e leu o remorso em sua mente.

- Isto nunca foi tua culpa, Gregori, nunca. Nunca te culpei por Peter.

       Sua mão acariciou seu cabelo.

- Sei que não o fez. - Sua atenção estava nos redemoinhos de vento, que anunciava a um dos seus. - Mas se não tivesse arrasado com sentimentos de luxúria física. - condenou-se a se mesmo. - Teria sentido que o vampiro estava te rondando naquela noite. Tinha livrado Julian, de sua responsabilidade. Você estava a meu cuidado.

- Tem que ser tão duro contigo mesmo? - Perguntou ela com um suspiro. - Não é responsável por todos os Cárpatos, nem por todos os humanos. Se alguém tem a culpa, sou eu por insistir com minha liberdade. Fui irrefletida, não notei o que estava te fazendo, nem aos homens sem companheiras, de nossa raça. Não dediquei nem um pensamento, que estava sofrendo enquanto eu estava fugindo de mim mesma e de nossa vida. E certamente não pensei que Peter podia estar em perigo. Deveria ter pensado. Deveria saber que seria caçada.

       O braço dele deslizou em torno dela, um firme circulo de conforto.

- Não fez nada mau, chérie. - Disse ferozmente. Ele estava se movendo, levando-a firmemente para o amparo da casa.

       Os prismas do arco íris repentinamente dançaram e faiscaram através das árvores. Gregori agitou a cabeça quando a luz começou a brilhar fracamente tomando substância.

- Sempre foi em exibicionista, Aidan. - Saudou seu visitante. Sua voz era inexpressiva como sempre. - Vamos para dentro.

       Savannah, tocando sua mente, sentiu seu afeto pelo outro homem. Tinha ouvido falar de Aidan Savage, um caçador de vampiros. Ele havia deixado sua terra natal um século e médio antes de que ela nascesse para estabelecer sua residência nos Estados Unidos. Era um dos poucos de sua classe tão alto como Gregori, como todos os homens dos Cárpatos, mas mais largo, com músculos definidos e robustos. Em vez do cabelo escuro de sua raça, entretanto, tinha uma longa e espessa juba leonada e seus olhos eram de um peculiar âmbar, reluzindo como brilhante e reluzente ouro.

       O gêmeo idêntico deste homem a tinha guardado nos últimos cinco anos. Aidan era uma figura imponente, tal como devia ser seu irmão também, embora Savannah nunca i havia visto. Nem sequer tinha detectado sua presença. Havia mantido Julian oculto, com a confiança de que todos os homens de sua raça exsudavam, o poder e a autoridade, que vinham com séculos de caça, com a aquisição de conhecimento.

       O braço de Gregori se moveu de sua cintura para rodear seu pescoço, um gesto masculino de propriedade. Savannah sorriu. Os homens dos Cárpatos não estavam longe das árvores.

- Captei isso, mon amour. A voz de Gregori acariciou sua mente. Uma baixa carícia que trazia suavidade a seu corpo. Soava quase envergonhado, mas ela notou que ele não deixou cair o braço de seu pescoço.

- Aidan, não lhe esperávamos tão cedo. O sol ainda não abandonou o céu, e é incômodo viajar na luz do entardecer. - Disse Gregori em voz alta, logo que entraram .

- Devo me desculpar por me perder o serviço. - Replicou Aidan brandamente. - Mas não podia me arriscar. Entretanto, desejo que saiba que não estão completamente só neste país. - Acrescentou para Savannah.

- Savannah, este é Aidan Savage. Ele é leal a seu pai e um bom meu amigo. - Apresentou-lhes, Gregori. - Aidan, minha companheira, Savannah.

- Parece-te com sua mãe. - Observou Aidan.

- Obrigado. Tomarei como um grande elogio. - Disse ela, repentinamente desejando que sua mãe estivesse ali. Sentia falta de Raven e Mikhail. - Honra-me, ao vir, neste momento da noite, compartilhar minha pena. Sei o difícil que é para todos nós, mas tive que escolher uma hora que fosse cômoda para os amigos humanos de Peter.

- Há perigo em seus cercanias, Aidan. - Advertiu Gregori. - Eu manteria a sua família a salvo desses açougueiros. São humano, da mesma sociedade secreta que caçou em nossas terras há vários anos.

       Uma sombra cruzou a face de Aidan. Havia humanos a proteger em sua família, assim como uma companheira. Os olhos ambarinos brilharam de um ouro profundo.

- O repórter. - Um suave tom de ameaça, retumbou profundamente em sua garganta.

Gregori assentiu.

- Averiguarei o que posso, esta noite, do senhor Wade Carter. Pretendo me levar ao Savannah e lhe conduzir a ele e suas coortes longe desta cidade, assim não haverá perigo para ti e os teus. - Estavam na casa, livres de olhos curiosos, mas Gregori podia sentir a maligna presença do repórter penetrando seu território. - Enviei-te uma clara advertência, Aidan.

       Havia um tom de censura em suas palavras, embora sua voz era suave.

       Havia um traço duro na boca de Aidan.

- Recebi sua advertência. Mas esta é minha cidade, Gregori, e minha família. Cuido do que é meu.

       Savannah se pôs em alerta.

- Poderiam simplesmente lhes golpear o peito, sabem? Provavelmente funcionaria bem.

- Mostrará um pouco de respeito, ordenou Gregori.

       Savannah explodiu em gargalhadas, então estendeu a mão para acariciar sua mandíbula sombreada.

- Continue esperando, meu amor, e possivelmente algum dia te obedecerei.

       A boca de Aidan se abriu, os olhos dourados deslizaram sobre Gregori com diversão.

- Herdou algo mais de sua mãe que a beleza, verdade?

       Gregori suspirou gravemente.

- É impossível.

       Aidan riu, ignorando o brilho de advertência dos prateados olhos de Gregori.

- Acredito que o são todas.

       Savannah se abaixou, escapando do braço de Gregori, encontrou uma cadeira e se enroscou nela.

- É obvio que somos impossíveis. É a única forma de permanecer ativas.

- Teria trazido Alexandra para que a conhecesse, mas a advertência de Gregori ditava prudência. - Aidan soava, como se tivesse sido capaz de impor lei a sua mulher quando Gregori era incapaz de colocar.

       Savannah fez uma careta travessa para o homem.

- O que fez? Deixou-a dormindo enquanto corria a bancar o herói? Pensando que terá uma ou outra desculpas, para lhe dar quando a despertar.

       Aidan teve a decência de parecer culpado. Depois se voltou para Gregori.

- Sua companheira é uma mulher malvada, curador. Não te invejo.

       Savannah riu, impertinente.

- Está louco por mim. Não deixe que o engane.

- Acredito. - Esteve de acordo, Aidan.

- Não a anime em sua rebelião. - Gregori tentou soar severo, mas ela estava colocando tudo ao reverso. Ela era tudo para ele, inclusive com suas tolices. De onde havia tirado esse ultrajante senso de humor? Como podia ser feliz com alguém que não sabia o que era sorrir em séculos? Ela fundia-lhe. Tomou cuidado de manter sua face inexpressiva. Já era bastante ruim que Savannah soubesse que o tinha o enrolado em volta de seu dedo mindinho. Aidan não precisava saber também.

- Seriamente, Gregori, não há necessidade de conduzir estes açougueiros fora de minha cidade. Juntos podemos lidar com eles. - Disse Aidan. - Julian está em algum lugar aqui perto. Sinto-lhe, embora não responderá a minha chamada.

- Julian está perto a se converter. Não desejaria sua ajuda. Quanto maior o número de mortes, mais se incrementa o perigo. Julian se ocupará de seu destino, Aidan. E se tornar necessário lhe caçar, se não vir a voce antes da mudança, deve me chamar. Julian cresceu em poder. Tornou-se muito perigoso. Não mudará nada, você ser seu irmão. Um dos irmãos de Mikhail se converteu, e quando a justiça o reclamou, tentou, como qualquer outro vampiro, destruir a todo mundo. Não teria perdoado nem sequer a Mikhail. - Gregori não acrescentou que tinha sido ele a repartir justiça ao irmão de Mikhail. Havia sido extremamente difícil, que havia se decidido a não estar perto de outro Cárpato, como tinha estado de Mikhail e sua família. Gregori olhou para Savannah, encontrou seus incríveis olhos azuis sobre ele, e de algum modo a dolorosa lembrança foi aliviada. - Julian foi sempre um homem perigoso e conhecedor. - Concluiu Gregori.

- Como você, curador. - Aidan não pôde evitar de fazer a acusação. Odiava falar de seu irmão gêmeo convertendo-se em vampiro.

       Gregori não retrocedeu.

- Exatamente como eu. Esse é o ponto. Pedirá-me ajuda como deve, se houver necessidade. - Estava olhando diretamente no olhar dourado do outro homem. Sua voz era baixa e compelida, formosa e irreal.

       Aidan afastou o olhar dos olhos prateados. Olhos que podiam ver dentro da alma de um homem.

- Virei até você, Gregori. Sei que diz a verdade, embora não desejo acreditar que Julian possa converter-se.

- Todo mundo pode converter-se, Aidan. Qualquer um de nós que não tenha companheira. - Gregori deslizou pela sala, porque não podia suportar a distância física que Savannah tinha colocado entre eles. Os olhos dela estavam outra vez sombreados e cheios de fantasmas. O funeral de seu amigo a tinha enchido de culpa. Deslizou-se para trás de sua cadeira. Suas mãos baixaram até os ombros dela para começar uma massagem gentil. Necessitava do contato ele, do que necessitava ela.

       Aidan escondeu sua surpresa. Tinha conhecido Gregori durante séculos, tinha aprendido as artes curadoras dele, tinha aprendido a rastrear e matar vampiros com ele. Nada, nada afetava Gregori. Nada. Nem ninguém. Mas esses frios olhos, quando se colocavam sobre Savannah, eram mercúrio fundido, a postura do homem claramente protetora, possessiva, e o toque sobre os ombros dela era francamente terno.

- Está tudo bem, chérie? Possivelmente deveria se deitar um momento.

       Savannah lhe sorriu fracamente. Estava mais pálida do que gostaria. Havia caçado a noite apesar da hora, tomando sangue, suficiente para alimentar a ambos. Mas ela se negou a se alimentar, como se denegar sua fome fosse alguma penitência por seus pecados. A mão dele foi até sua nuca e a massageou amavelmente. Sua fome pulsava nele, e sabia que Aidan podia senti-la também.

       O homem dos Cárpatos estava o observando, com óbvia censura mas com uma expressão confusa ao mesmo tempo em seu profundo olhar dourado. Gregori o sentiu como uma faca. Ele não estava cuidando de sua companheira como deveria.

- Não seja tolo, Gregori.

       A suave voz de Savannah formou redemoinhos em sua mente. – Você cuida muito bem de mim. O que importa, o que os Aidan pensa?

- Curador. - Disse Aidan. – Já sabe aonde deseja levar estes açougueiros?

       Savannah se revolveu e voltou o olhar para trás, para Gregori, seus olhos azuis repentinamente vivos.

- Há algum lugar em particular que queira ir?

- Tem um lugar em mente? - Perguntou ele. Sabia que era um engano olhá-la nos olhos. Podia afogar-se em seus olhos. Era como cair num precipício.

- Nova Orleans. O festival de jazz do Bairro Francês é esta semana. Queria ir a muito tempo. Agora podemos ir juntos. Você gosta de jazz? - Lançou um amplo sorriso para ele. - Fazia planos para ir antes... Que acontecesse tudo isto. De fato, tenho uma casa lá.

       Realmente, ela queria ir. Estava em seus olhos, em sua mente. Isto era importante para ela. Gregori podia sentir um terrível temor crescendo. Era quase impossível negar alguma coisa para Savannah. Embora não podia levá-la a Nova Orleans, a capital dos vampiros do mundo, a cidade de pecado. Os açougueiros provavelmente tinham seu quartel geral ali. Afogou um gemido.

- Tem uma residência em Nova Orleans?

- Não soe tão tenebroso, Gregori. Quer ir a algum lugar, conduzir à sociedade longe dos Savage, então que melhor lugar? Está em minha agenda. Ninguém pensará que nosso movimento é estranho ou suspeito. - Assinalou ela. - Já que estava em minha agenda.

       Gregori olhou para o Aidan e sacudiu a cabeça.

- Vê alguma lógica nisso? Nunca estive no Bairro Francês de Nova Orleans, mas alguém pode pensar que é estranho que de repente tenha uma casa ali.

- Muito lógico. - Acordou Aidan. - Posso ver que tem as mãos ocupadas e devo retornar para Alexandria. Entretanto, eu gostaria de muito ir visitar repórter contigo. - Por um momento seu rosto foi dura, com um traço cruel em sua boca. - Recordo o que tem feito a nossa gente, essa sociedade.

- Esta luta não pode ser tua, Aidan. - Disse Gregori. – Colocaria a você e sua família humana em perigo.

       Aidan inclinou a cabeça.

- Ele está rondando aí fora. Posso lhe sentir espreitando em volta dos terrenos. - Havia uma avidez, uma necessidade dele em se apresentar a batalha.

       Savannah sabia instintivamente, a natureza predadora de um indomável homem dos Cárpatos.

- Vá agora, Aidan. - Disse Gregori firmemente.

- Foi agradável te conhecer finalmente, Aidan. - Acrescentou Savannah. - Espero conhecer Alexandria logo. Possivelmente, quando Gregori e eu acabarmos com a ameaça dos açougueiros humanos, possamos nos reunir.

- Quando Gregori acabar com a ameaça. - Corrigiu-a Gregori, usando seu tom implacável, com a voz ditadora de “não pense em desafiar minha autoridade”.

       Aidan acenou em despedida. Quando sua sólida forma vacilou, começou a brilhar fracamente e desapareceu pela janela aberta em um caleidoscópio de cores, levadas pela brisa noturna.

       Savannah estendeu a mão atrás dela e tomou a ddeo Gregori.

- Nova Orleans. Que te parece?

       Houve um pequeno silêncio.

- É perigoso. - Disse ele, cuidadosamente.

- Certo, mas será perigoso qualquer lugar aonde formos não? - Assinalou ela razoavelmente. - Assim que diferença há, onde vamos? Podíamos ter também um pouco de diversão.

- Prefiro as montanhas. - Disse ele suave e neutro.

       Repentinamente, ela lhe sorriu, o travesso e brincalhão sorriso que ele não podia resistir.

- Quando um idoso se casa com uma jovenzinha, tem que voltar a aprender a descobrir as coisas, Gregori. Festas. Vida noturna. Ou aconteceu há muito tempo? - Atormentou-lhe ela.

       Gregori pegou seu cabelo em sua mão e a segurou.

- Mostre um pouco de respeito, pequena, ou poderia colocá-la sobre meus joelhos.

- Desmancha-prazeres. - Um delicado ombro se elevou num movimento sexy. – Me agradará te atentar, algumas vezes.

       Ele se inclinou e a beijou. Tinha que beijá-la, não havia outra escolha. Uma vez mais sua boca desceu sobre a dela. Estava com problemas. Ela era calor e luz, especiarias e cetim, rendas e luz de velas. E ele estava perdido. Absolutamente, completamente perdido. Gregori se separou dela bruscamente, jurando em sua língua ancestral.

       Os olhos do Savannah estavam nublados, sonhadores, seus lábios úmidos e ligeiramente separados. Sua boca se curvou nesse sensual e misterioso sorriso, que ele nunca podia superar.

- Tenho uma grande ideia, Gregori. - Disse-lhe perversamente. - Tomemos um vôo comercial.

- O que? - Ele estava olhando fixamente sua boca. Ela tinha uma boca perfeita. Uma boca sexy. - Mon Deiu desejava sua boca.

- Não soa divertido um vôo comercial? Poderíamos tomar um vôo noturno, nos misturando as pessoas. Poderia inclusive, despistar o repórter.

- Nada vai despistar o repórter. Ele é tenaz. E não haverá vôo comercial. Não haverá discussão nisto. Nenhuma. Se formos a Nova Orleáns, e não estou dizendo que o faremos, os vôos comerciais estão descartados.

- Oh, Gregori. Eu só estava brincando. Naturalmente faremos as coisas a sua maneira. - Acrescentou ela recatadamente.

       Ele sacudiu a cabeça, exasperado consigo mesmo. É obvio que ela estava o chateando. Não costumava tratar a ninguém, como tratava Savannah. Mulher ultrajante.

- Preciso sair e falar com Wade Carter.

       Ela ficou em pé instantaneamente, espectadora. Seus olhos azuis, totalmente abertos com antecipação.

- Diga-me, o que desejas que eu faça. Provavelmente posso me converter em névoa. Estou mais forte agora que uso seu sangue. Posso te apoiar.

       A diversão cruzou o frio prateado dos olhos dele.

- Mon Dieu, Savannah! Pensa que estamos num filme policial. Você não me apoiará. Não vai falar com o Carter. Ficará aqui, a salvo, onde sei que ele não pode te tocar. Fui claro como o cristal, pequena? Não vai deixar esta casa.

- Mas, Gregori. - Disse ela moderadamente. - Sou sua companheira agora. Eu te ajudo. Se insistir em pegar o Wade Carter, tenho que te ajudar. Sou sua companheira.

 

- Não há nenhuma possibilidade de que eu permita tal coisa. Pode tentar me desafiar, mas lhe asseguro isso, está gastando suas energias. - Falou ele gentilmente, com o ar de masculina superioridade que a fazia rilhar os dentes. - Sou seu companheiro, chérie, e darei qualquer ordem que considere necessária para sua segurança.

       Ela golpeou seu peito com os pequenos punhos apertados.

- Você me deixa louca, Gregori! Estou encontrando muito dificuldades em me acertar contigo e suas arrogantes ordens. Nem sequer muda sua expressão! Parece que estamos falando do tempo em vez de uma briga.

       As sobrancelhas dele se arquearam.

- Isto não é uma briga, ma petite. Uma briga é quando ambos estão zangados e há uma luta de vontades, uma batalha. Não pode haver tal coisa entre nós. Não posso sentir fúria quando a olho, só a necessidade de cuidar de você e de te proteger. Sou responsável por sua saúde e segurança, Savannah. Não posso fazer outra coisa, além de te proteger, inclusive de sua própria estupidez. Não pode esperar ganhar. Absolutamente, não há razão para agitar-se pelo assunto

       Ela o golpeou novamente. Ele pareceu sobressaltado, então pegou ainda no alto, seu punho em sua mão e gentilmente lhe abriu os dedos. Muito cuidadosamente pressionou um beijo no centro da palma de sua mão.

- Savannah? Está tentando me acertar?

- Golpeei-te duas vezes, presumo. Nem sequer notou a primeira vez. – Ela estava muito zangada com ele.

       Por alguma razão isto lhe fez sorrir.

- Lamento-o, mon amour. A próxima vez, prometo que o notarei quando me pegar. - O traço firme de sua boca se suavizou, em algo semelhante a um sorriso. – Inclusive, iria o bastante longe para fingir que me dói, se quiser.

       Os olhos azuis chamejaram para ele.

- Pensa que é divertido, Gregori. Deixa de ser tão dono de si mesmo.

- Não sou dono de mim mesmo, conhecedor de meu próprio poder, chérie. Estou tentando cuidar de você, o melhor que sei. Você não me facilita as coisas. Encontro-me   tomando decisões ruins, só para ver seu sorriso. - Admitiu ele a contra gosto.

       Savannah apoiou sua cabeça sobre o peito dele.

- Sinto muito. Estou te dando muitos problemas, Gregori. – Ela não estava segura de se era a estrita verdade. Mas, bem que gostava de lhe provocar. - Só quero que sejamos companheiros, sócios. Isso seria como se estivesse sempre cega em minha relação com meu companheiro. Não desejo ser uma espécie de violeta trêmula, protegida do mundo real e usada como égua de cria para a continuação da raça dos Cárpatos. Desejo ser a melhor amiga e confidente de meu companheiro. Está isso errado? – Ela estava lhe suplicando que a entendesse. - São humanos. Podemos dirigi-los. - Disse mais confiada do que se sentia. Se Gregori tivesse interessado, seria uma boa razão. Ainda estava decidida a ir com ele, a compartilhar cada aspecto de sua existência. Sabia que a caça seria sempre uma grande parte de sua vida.

       Seu braço deslizou em volta dela. Abraçou-a perto dele. Suas mãos acariciaram seu cabelo.

- Os humanos se arrumaram para matar os nossos durante séculos. Temos grandes poderes, mas não somos invencíveis. Não desejo que esta gente a toque. Verei o que Wade Carter e seus amigos, que realmente têm, e quem está em perigo. Então discutiremos onde iremos e como permitirei que entre nesta situação.

       Ela se encolheu visivelmente ante a palavra permitir, e o desejou poder retirá-la.

       Ele apertou seu abraço possessivamente e deixou um breve beijo na parte alta de sua cabeça.

- Ficará dentro destas paredes, Savannah, não importa o que aconteça.

       Ela se prendeu a ele por um momento.

- Não permita que nada te ocorra, Gregori. Quero dizer... Zangaria-me muito contigo.

       Um pequeno sorriso tocou a boca dele mas não iluminou seus olhos.

- Estarei em sua mente, chérie, e saberá que estou bem. - Duvidou um momento. - Pode ser que você não goste de meus métodos. - Era uma advertência. Havia uma sombra nas profundezas de seus olhos prateados e ele não tentou esconder dela.

       Ela elevou o queixo.

- Pode ser que aja como uma menina, Gregori, mas não sou. A preservação de nossa raça sempre está primeiro, tem que estar primeiro lugar.

- Espero que saiba, Savannah. Espero que esteja preparada para a realidade de minha forma de vida. Não posso fazer outra coisa que proteger nossa gente. Nem sempre é bonito ou limpo. – Ele falava asperamente, sua bonita voz o escravizava. Caminhou afastando-se dela bruscamente, embora seu dedo mindinho permanecessefirme em sua mão. - Ficará aqui dentro, ma petite. Colocarei salvaguardas para ti. Não tente me desafiar.

       Ela esfregou o dorso da mão dele contra sua face.

- Farei o que pede.

       Ele segurou seu queixo firmemente, inclinou seu rosto para cima, e cobriu sua boca. Em seguida, a eletricidade se arqueou e chiou entre eles. Desejo, calor ardente se produziu entre eles. Então, Gregori a separou dele e simplesmente desapareceu.

       Moveu-se através do espaço, invisível, com a facilidade da longa prática, um suave vento soprando através das árvores. Wade Carter estava tentando escalar a parede oeste. Três dos lobos estava passeando embaixo dele, as presas reluziam no entardecer. As calças de Carter se engancharam numa rocha saliente, momentaneamente lhe mantendo prisioneiro. Gregori brilhou fracamente, mantendo-se no vento, insubstancial, então se solidificou a uns poucos matros do repórter.

       O fôlego de Carter saiu fora de seus pulmões.

- Por Deus, é realmente um vampiro! Sabia! Eu sabia que tinha razão!

       Gregori podia cheirar o medo do homem, sua agitação. Apoiou-se casualmente na parede junto a Carter, com sua fácil e preguiçosa graça.

- Disse-lhe que nos encontraríamos novamente. Sempre cumpro minhas promessas. - Replicou brandamente.

       Gregori deslizou-se através da mente do repórter. Wade esfregou suas têmporas latentes. Nunca havia estado tão assustado, nem tão excitado. Essa coisa era real, estava sentado a seu lado. Rebuscou seu bolso procurando segurança, sentindo a arma de dardos.

- Por que decidiu mostrar-se a mim? - Tentou manter sua voz firme.

       Gregori lhe sorriu. Não havia humor nesse sorriso, só um relâmpago de reluzente ameaça. Os frios olhos prateados não piscavam, como um grande felino da selva. Carter se encontrava nervoso.

- Perturbou minha esposa. - Respondeu Gregori moderadamente. Sua voz era formosa e hipnótica.

       Carter sacudiu a cabeça, a fim de desvanecer a debilidade de seu cérebro.

- Realmente acredita que é tão poderoso, que pode escapar me matando?

       Os músculos de Gregori ondearam, numa amostra de sua enorme força.

- Realmente pensa que não?

- Nunca o teria enfrentado sem apoio. Não estou só. - gabou-se Carter. Estava lutando para tirar a arma de dardos de seu bolso, estava difícil.

- Não há ninguém mais aqui, senhor Carter. - Corrigiu-lhe Gregori. - Só nós dois. Acredito que teria que olhar dentro de sua cabeça. - Seu tom de voz havia baixado. Era suave e persuasiva, impossível de resistir.

       O suor surgiu como uma camada grossa no corpo de Carter.

- Não permitirei. - Objetou, mas se encontrou inclinando-se para olhar os olhos de prata fundida. Acreditava que estava protegido contra uma invasão mental!

      Todos na sociedade estavam protegidos. As vozes dos vampiros não podiam lhes afetar, seus olhos não podiam colocá-los em transe. Nenhum deles podia ler suas mentes ou apagar suas lembranças. Todos na sociedade, haviam sofrido extensas hipnose para resistir a tal abominação. E haviam trabalhado numa fórmula durante mais de trinta anos. Cientistas, bons cientistas, que tinham o benefício do sangue de vampiro com que trabalhar.

       Gregori empurrou através de sua surpreendente barreira, para inspecionar a mente do homem. Podia ver a culminação da investigação da sociedade, sua ânsia por encontrar um novo espécime. Tinham extraído sangue de várias vítimas que haviam torturado e mutilado quase trinta anos atrás. Gregori inalou bruscamente. Possuíam uma droga e estavam seguros que poderia usar para incapacitar suas vítimas, para que pudessem apanhar o que eles acreditavam ser vampiros e estudá-los. Dissecá-los a seu gosto. A sociedade era maior do que qualquer um de sua raça podia acreditar.

       Soltou a mente de repórter, deliberadamente permitiu ao homem saber que havia extraindo a informação. Carter jurou obscenamente e tirou a arma de dardos. A agulha penetrou na pele de Gregori justo sobre seu coração. Ele sentiu sua penetração, sentiu a instantânea liberação do veneno em seu sangue.

       Gregori! O lamento de Savannah, de causar pena, estava em sua mente. – Deixe-me ir contigo. – Ela estava tentando liberar-se da parede invisível que ele havia erguido em torno dela, lutando com seus proteger.

- Calma, pequena. Não acredita que permiti deliberadamente que este imbecil me injetasse o veneno? Sou o curador de nossa gente. Se houver algo que possa nos fazer mal, devo encontrar o antídoto.

       Savannah golpeou a barreira invisível para chegar a Gregori. Podia sentir as lágrimas quentes que se acumulavam em seus olhos, o terrível medo que ameaçava curvando-a com sua própria impotência. O veneno era doloroso, arrastava-se através do sistema de Gregori, lhe paralisando. Cãibras e suores, músculos esticando-se e paralisando-se. Sentia com ele e se zangava de sua incapacidade de chegar a ele. De ser incapaz de lhe ajudar, como era seu direito.

       Gregori permanecia calmo e impassível como sempre, estudando a química do composto, tão interessado como qualquer cientista. Era apenas consciente do júbilo do repórter. Havia ido procurar dentro de seu próprio corpo, flutuando através de sua própria veia sangüínea para seguir o atalho do veneno que se estendia.

       Carter estava dando pulos de alegria. É óbvio que não tinha idéia de como ia conseguir colocar um homem tão grande dentro do carro e voltar ao laboratório. Teria que pedir ajuda. Mas por outro lado tinha sido muito fácil. Os técnicos de laboratório tinham razão. O veneno era perfeito! Todos esses anos de desenvolvimento haviam finalmente dado seu fruto. E ele era o único que conseguiria a glória!

       Golpeou o peito de Gregori com uma faca e provocou uma mancha de sangue.

- Não parece tão duro agora, vampiro. - escarneceu. - Não tão impressionante. Está se sentindo um pouco doente? - Riu com gosto. - Ouvi dizer que o vampiro mais velho, é mais sensível à dor. – Ele golpeou novamente, fatiando e estendendo-se para baixo para abrir um corte profundo. - Espero que leve muito tempo morrer quando os técnicos o pegarem. Enquanto isso, só terá que lembrar de quem estará jogando com a Savannah. Tenho planos para essa pequena puta. - inclinou-se para esquadrinhar nos olhos empanados de Gregori. - Não é nada pessoal, entende? É tudo em nome da ciência.

       Savannah estalou com força, alimentou sua raiva com o repórter que se divertia com a dor de Gregori lançando-se contra a parede invisível. Os alicerces não se moveram. O que Gregori havia construídos para contê-la era mais forte do que pensara. Golpeou até que seus punhos sangraram e as lágrimas desciam por seu rosto. Sentia cada corte, cada navalhada que o repórter infringia. Podia ouvir suas brincadeiras e ameaças. Implorou a seu companheiro que a permitisse ir com ele, mas o silêncio foi sua única resposta.

       Nada parecia afetar Gregori. Sentia a dor mas simplesmente a colocou de lado durante seu auto exame. O veneno era espesso, movia-se lenta e dolorosamente através de seu sistema. Começou a separar os elementos químicos para analisá-los para que sua gente pudesse desenvolver seu próprio antídoto. A maior parte dos membros de sua raça, não poderiam fazer o que ele estava fazendo. Mas ele era o curador, conhecedor das ervas e dos elementos químicos, dos venenos naturais fabricados pelo homem. Esta era uma mistura interessante, rápida e poderosa. Tinham usado sangue das vítimas como base. A dor se transformou numa de uma dor embotada a uma agonia em poucos minutos, suficiente para incapacitar a todos, exceto aos anciões e aos curadores mais sábios. Logo que tivesse os componentes separados, transmitiria-os a Aidan Savage. O caçador tinha estudado as artes de cura com ele e seria capaz de utilizar a informação.

       Dentro do próprio corpo, Gregori começou o processo de cura, desfez cada elemento químico em sua natural e separada forma e dispôs dele ou o absorveu. Só quando o processo estava completo voltou para o que o rodeava. Tinha sido consciente de que o repórter o golpeava e o cortava com uma faca, presumivelmente para lhe enfraquecer pela perda de sangue. Estava sangrando por vários cortes diferentes. Podia sentir o odor deles, quando o vento se arrastava por sua roupa rasgada. Seus olhos descansaram sobre o rosto do repórter.

- Acabou, Carter, ou há algo mais que queria tentar antes de voltar a seu laboratório? - Perguntou gentilmente.

       O homem ofegou, notando que a droga já não afetava mais o vampiro. Tentou, brutalmente, apunhalar o coração de Gregori. No meio do ar a faca se deteve abruptamente, como se fosse capturada por uma força maior. Lentamente, inexoravelmente, a ponta se moveu, apontando diretamente para a garganta de Carter.

- Não, por Deus, não! Não o faça. Posso-te contar muitas coisas. Não o faça! Me torne como você. Posso te servir. - Wade Carter suplicava enquanto a faca se aproximava pouco a pouco de sua jugular.

       Repentinamente, a faca caiu inofensiva no chão e instantaneamente Wade tentou recuperar a arma de dardos. Mas em sua mão, ela se converteu em uma horrorosa forma escamosa que começou a enroscar-se o ao redor de seu braço. Wade gritou. O som encheu o ar noturno e fez com que os lobos uivassem em resposta.

       Gregori o estudava, impassível. Com os olhos da morte.

- Este é meu mundo, Carter, meu domínio. Você entrou nele e deliberadamente me desafiou. Tentou danificar o que é meu. Não posso permitir tal coisa. - Inclinou sua cabeça para que seus olhos que não pestanejassem e pudessem sustentar os do outro homem, mantê-lo prisioneiro. - E entende isto, Carter... É muito pessoal.

       Ele jogou o outro homem ao chão facilmente, sem preocupar-se de que a queda fora perigosamente alta. A serpente enroscada em volta do braço do repórter, prendia-o eficazmente. Era impossível ele se mover. Gregori flutuou até o chão, pegou o homem pela camisa e o arrastou através do pó até seu carro.

- Acredito que precisamos fazer uma visita a esse pequeno laboratório não acha, senhor Carter? Parecia bastante ansioso em desfrutar minha presença por lá, e não posso fazer outra coisa, senão agradar a você e seus amigos.

       - Não, Gregori. - Suplicou Savannah. - Saiamos daqui. Deixe-o. Vamos embora daqui.

       - Separe-se de mim, pequena. - Ordenou ele, separando sua mente da dela.

       Savannah podia sentir sua implacável resolução. Tinha em mente destruir o laboratório, onde estava a droga que haviam usado nele, e todos os dados. Também pretendia destruir a qualquer pessoa ligada a sociedade, que encontrasse. Não podia encontrar nele a raiva que ela mesma sentia. Nem a necessidade de vingança. Estava frio e sereno. Uma máquina realizando uma brutal tarefa pelo bem-estar de sua raça. Gregori havia afastado toda a emoção e era um robô anônimo colocado em destruição. Era firme, implacável. Nada poderia lhe deter.

Savannah, presa em seu cubo de amparo, deslizou-se para o chão e ficou de joelhos. Esta era sua vida. Isto era o que era ele, no que ele se convertera durante longos séculos. Um escuro anjo da morte para aqueles que declaravam a guerra a sua raça.

       Gregori, o Escuro. Acreditava-se, que ele era mesmo, um monstro sem igual. Savannah cobriu o rosto com as mãos. Não havia forma de o deter. Nenhuma, absolutamente. Mikhail, seu próprio pai, o Príncipe de sua gente, o único que Gregori guardava lealdade, não podia evitar que Gregori fizesse o que acreditava que era justo ou necessário.

       Seus dentes morderam o lábio inferior. Gregori tinha muito poder. Não havia nenhum outro Cárpato, que pudesse agüentar o veneno mortal em seu sangue. Nenhum outro haveria deliberadamente se lançado em uma armadilha, usando o próprio corpo, da forma em que tinha feito Gregori. Sabia o preço que ele pagava. Compartilhava intimamente sua mente do mesmo modo que seu corpo.

       Realmente ele podia desconectar seus sentimentos, deixar-se como uma máquina sem emoções, para fazer o fosse necessário para proteger sua gente. Mas dentro, profundamente em sua alma, acreditava-se um monstro irredimível. As coisas que tinha que fazer para a preservação de sua raça, requeriam enormes partes de sua alma.

       A noite estava escura e sem lua. As nuvens cobriam as estrelas e acrescentavam um ar de mistério e ameaça na noite. O carro parou diante do que parecia um armazém deserto, na baía. Não havia ninguém a vista. A água parecia espessa, quase oleosa. Gregori saiu do carro e escutou as ondas se rompendo contra o paredão de pedras. Explorou a área com a facilidade de longa prática.

Dentro do enorme edifício, três homens falavam em voz baixa. Gregori ondeou uma mão para o repórter, e Wade Carter saltou para trás, junto à roda do carro, com olhos frágeis. O vento formou redemoinhos. Um redemoinho de folhas e ramos, giraram juntos em uma estranha dança, onde a forma sólida de Gregori havia estado. Depois, a noite ficou em silêncio novamente. Gregori entrou no edifício através da fresta de uma janela amarelada. Abriu caminho através de uma coleção de queimadores e recipientes cheios de variados produtos químicos. No extremo mais afastado da do aposento, haviam três mesas. Parafusos de aço sujeitavam correias para pés e mãos. Havia três mesas de dissecação, onde os "cientistas" da sociedade podiam entreter-se levando a cabo suas experiencias sobre suas vítimas. Havia uma mancha de sangue em uma das mesas. Gregori flutuou sobre ela para examinar sua composição. Para seu alívio, não era de um dos seus.

       A um canto, havia um banco de computadores impressionante, de alta tecnologia, e filas de armários de arquivos. Três escritórios formavam um semicírculo fechando a área.

       Os três homens estavam jogando pôquer, obviamente esperando por alguém. Ele soprou pela mesa, uma corrente de vento, que fez voar cartas em todas direções. Os homens se agachavam procurando-as, olhando em volta, em busca da fonte inesperada da perturbação. Inquietamente, olharam-se uns aos outros, e novamente, em torno do enorme armazém.

       Gregori chamou Wade Carter para a porta. O repórter a empurrou e entrou, caminhando com o familiar andar de um zombi. A marionete humana de um vampiro, com passos pesados e deliberados, a cabeça baixa. Um pé diante do outro. Deteve-se bruscamente diante da mesa de cartas, exatamente como tivesse feito uma marionete. Uma marionete com fios.

- Como está, Wade? - Exigiu o homem maior, com uma bata branca. - Será melhor que tenha algo importante para afastar o Morrison de sua festa esta noite. É um grande acontecimento... Ele está arrecadando recursos para sua obra de caridade favorita.

       Os outros riram.

- Se... nós. - Acrescentou um técnico de cabelo negro. - Demônios, Wade! Espero que tenha nos trazido uma mulher. Estou de humor para um pouco de diversão esta noite. - encurvou-se ele, cruamente. - Estive esperando para colocar as mãos sobre essa maga que você assegura que é um vampiro. Ela é ardente? Realmente ardente.

       O homem da bata branca examinou ao repórter.

- E onde está o vampiro?

- Justo detrás de voce. - Disse Gregori suave e gentilmente.

       Eles se viraram.

       Gregori fez sua forma brilhar fracamente, primeiro como a de um homem, sólido e real, depois os contornos tremeram, ossos e nervos estalaram e seu rosto se alargou, formando um focinho. Enormes presas famintas, formaram-se em sua boca. Os músculos e a pele se ondearam e a besta se atirou para frente, diretamente para a garganta do homem de bata branca.

       O homem gritou, mas não teve oportunidade de correr, antes que o lobo negro estivesse sobre ele, rasgando sua garganta. As gotas vermelhas, de sangue, espalharam-se pelo aposento. Os outros dois homens permaneciam de pé, horrorizados, congelados no lugar, incapazes de afastar o olhar da ferida aberta onde uma vez, havia uma garganta.

       Então, sob a visão do espesso rio vermelho de sangue, voltaram-se e correram para a porta. O lobo saltou, cruzando a distância facilmente, e derrubou o técnico de cabelo escuro. As garras rasgaram seu estômago, buscando seu intestino, mas o selvagem focinho seguiu rasgando deliberadamente, para o prêmio. O sangue brotou, erupcionando. O homem uivou horrivelmente, afastando-se muito tarde para salvar sua vida, deixando para trás, sua virilidade, já não poderia se divertir com a maga.

       A última vítima havia alcançado a porta quando o lobo saltou sobre suas costas. Um rápido estalo da poderosa mandíbula e o pescoço havia se quebrado.     O lobo retrocedeu e inspecionou o corpo morto e imóvel. Então trotou sobre o banco de terminais de computadores e lentamente recuperou sua própria forma.

       A fome de Gregori tinha vida própria, lhe enchendo de necessidade. A escura compulsão da morte estava com ele. Besta ou homem, não importava, estava em sua natureza, seu destino. Mas lutou por conter a fome, inclusive com o aroma de sangue a sua volta. Os computadores tinham que ser destruídos. Cada disco, cada HD, cada documento.

       Gregori se conteve para começou a convocar a energia necessária para enviar ondas de eletricidade através das máquinas. Não demorou e elas explodiram, ardendo em seus estruturas, fundindo-se aos dos escritórios que estavam conectados. Atrás dele, os recipientes de vidro estalaram, salpicando seus conteúdos sobre o chão. As chamas começaram a lamber rapidamente, a madeira seca. Ele ondeou uma mão e os armários de arquivos se voltaram, os papéis esparramaram alimentando o fogo até que dançou alto e se estendeu pelo aposento. Wade Carter permaneceu em pé imóvel junto à mesa de cartas. Não pareceu notar a queda de seus companheiros ou o fogo que rapidamente consumia todo o conteúdo do armazém. Gregori se assegurou de ter destruído todo o laboratório antes de voltar sua atenção ao repórter. A fumaça espessa estava retorcendo-se ao redor deles, quando sujeitou o homem e o arrastou para mais perto dele.

       A fome se estendeu, convertendo-se em algo vivo, que respirava. Gregori inclinou sua cabeça e encontrou a pulsação da garganta de Carter.

- Tentaste condenar minha raça à morte. Deliberadamente, tentou trazer minha companheira para este lugar de horror. Por isso e por todos os crímes contra a gente, contra os Cárpatos, sentencio-te a morte. - Murmurou as palavras rituais enquanto seus dentes alcançavam a pele e se afundavam profundamente na artéria do homem.

       O sangue quente entrou em torrentes nas células encolhidas. Seu corpo, faminto, sua energia e força esgotadas pelo grande esforço e seu encontro com o veneno, abraçou o escuro líquido da vida. Bebeu vorazmente, insaciavelmente. Sua presa permaneceu imóvel sob suas mãos enquanto esgotava sua vida.

- Gregori, detenha-se! - Implorou Savannah. - Não pode tomar sua vida assim. Por favor, por mi, pare.

       Gregori reclamou, seus olhos prateados, brilhavam vermelhos, refletindo as chamas do fogo. Relutantemente, levantou a cabeça, observando impassível como o sangue gotejava da ferida de Carter e o homem caía no chão. Soltou a camisa dele, seu olhar ainda estava fixo na firme destilação de sangue, derramando-se sobre o chão do armazém.

- Volta para casa comigo. Sal desse horrível lugar.

       Ele podia ouvir o distante uivo de sereias, o murmúrio de uma multidão que se reunia. Imóvel, ficou até assegurar-se de que a força vital havia abandonado completamente, a cada um dos que estavam no laboratório.

       Tinha um nome agora, algo para começar sua caça. Morrison. Alguém que podia arrecadar recursos. Alguém que vivia na sociedade.

- Gregori! Venha para casa comigo, agora. - Savannah era insistente. Podia sentir o medo em sua voz. Haviam-na ensinado desde seu nascimento, que só um vampiro mataria no ato de alimentar-se. Aterrorizava-a pensar que Gregori podia romper essa sagrada regra. Algo que já havia feito no passado. Mais de uma vez.

- Seu monstro retornou – ele respondeu-lhe de volta com voz impassível. Que quase sempre usava. Converteu-se em fumaça e o escuro redemoinho de vento voou através do laboratório ardendo e se apressou a sair para o ar noturno. Permitiu-se flutuar por cima, observando como os humanos, no carro vermelho, corriam com mangueiras para apagar o fogo. Uma limusine chegou e estacionou a pouca distância do armazém. A porta traseira se abriu, mas o ocupante permaneceu em seu interior. Morrison.

       Gregori flutuou mais alto. Estava voltando para Savannah como verdadeiro, não a fraude que tinha permitido ela acreditar que era. Depois de séculos de caça, depois de dispensar justiça durante tantos anos intermináveis, ela realmente acreditava que ele podia sentir emoção quando matava? Remorços? Vingança? Piedade? Não sentia nada, e nunca o faria. Era simplesmente um trabalho, um trabalho que fazia muito bem, sem orgulho ou temor.

       Não queria ver o medo nos olhos dela. A condenação. Mas não podia fingir durante o resto da eternidade. Ela o conhecia como o brutal monstro que era. Seu monstro. Tinha que entender, que ele era mais perigoso que pensava, que não seria prudente fazer certas coisas. Mas não queria ver o medo uma vez mais em seus olhos. Com um suave suspiro começou a viagem de volta para às montanhas. Viajou lentamente, fumaça no vento, dispersando uniformemente o ar que se movia, para não alertar os vampiros de sua presença. Sentiu o peso de seus anos, as mortes, o sangue em suas mãos. Savannah o olharia e finalmente veria seu terrível destino.

       Uma vez dentro de seus domínios, ondeou uma mão para dispersar as proteções, liberando Savannah de sua invisível prisão. Ela estava sentada, com as pernas encolhidas contra o peito, o queixo descansando no alto dos joelhos. Seus grandes olhos azuis fixos na nuvem de fumaça, enquanto ele se aproximava. Gregori tomou forma a seus pés, sua alta e masculina forma abatendo-se sobre ela.

       Ela ficou em pé lentamente, seus enormes olhos nunca abandonavam sua face. Foi Savannah quem percorreu os metros que os separavam, quem rodeou sua cintura que seus braços. Apoiou sua cabeça contra o peito dele, sobre o firme pulsar de seu coração.

- Estava tão assustada, Gregori. - Havia dor em sua voz e lágrimas em seu rosto. - Nunca me deixe sozinha de novo. É melhor estar com voce, mesmo se estiver em perigo. - Suas mãos estavam se movendo sobre ele, deslizando-se sob sua camisa para explorar sua pele assegurando-se de que estava ileso. - Podia sentir quanto dor havia em voce, como o veneno que aquele homem usou, te fazia mal.

       Suas mãos lhe tocaram a garganta. Acariciou seu cabelo espesso. Tocou-lhe em todas partes. Tinha que lhe tocar. Não podia evitar. Encontrou cada corte que a faca de Carter fez. Conteve o fôlego, e baixou a cabeça para gentilmente aliviar cada corte com sua saliva curativa.

       Gregori, segurou suas mãos e a afastou alguns centímetros dele.

- Olhe-me, ma chérie. Olhe-me, realmente. Vê como sou. - Deu-lhe uma ligeira sacudida. – Olhe-me, realmente, Savannah.

       Os olhos azul violeta dela procuraram os prateados dele.

- O que acredita que vejo, companheiro? Não é o monstro que te chamei. Nem o monstro que você mesmo o chamou. É um grande homem dos Cárpatos, um grande médico, um grande curador de nossa gente. É minha outra metade. - Seus olhos brilhavam para ele. - Não acredita que vai se liberar com essa tolice. Deixou-me presa, esperando sozinha, entre estas paredes. Nunca mais faça isto. Ouviu-me, Gregori? De agora em diante, eu vou com voce.

       A mão de Gregori, acariciou seu cabelo,firmemente. Trouxe-a para mais perto.

- Nunca ao perigo, Savannah. Nunca. – Ele baixou a cabeça para encontrar sua boca, para reclamar o que era dele. O coração explodia em seu peito.

       Os olhos dela estavam claramente tomados pela preocupação... Mas, livres de medo. Sustentou-lhe a cabeça perfeitamente imóvel enquanto seus lábios se movia sobre os dela. Enquanto devorava sua doçura e fazia suas demandas. Savannah não o deteve, aceitava sua dominação, lhe devolvendo o beijo com a mesma fome que a estava comunicando. Apertando seu corpo contra o dele.

- Nunca, Savannah. Nunca permitirei que esteja em perigo.

- Como acredita que me sinto? - Exigiu ela. - Olhe em minha mente, olhe o que tive que passar quando foi envenenado. - Tocou suas feridas com dedos gentis. - Quando estava... Fazendo isto.

- O veneno a teria consumido, Savannah, se houvesse sido injetado em voce. Revelei os elementos da toxina ao Aidan. Assegurará-se que em nossa terra natal, sejam conscientes deste novo perigo. Podemos desenvolver um antídoto com o que sabemos agora. - Suas mãos estavam movendo-se pelas costas dela, sobre seus quadris, embalando seu traseiro, pressionando-a mais perto. Seu corpo estava dolorido e cheio, e as cuidadosas mãos dela o inflamavam mais.

- Poderia ter sido letal pelo que soube, Gregori. - Disse ela. - Não tinha nem idéia do que era esse veneno. - Arrancou-lhe a roupa, rasgando sua camisa ao abri-la para chegar até seu peito, inspecionando cada centímetro dele, saboreando, as ofensivas feridas que Carter havia deixado.

- Sou um curador, Savannah. Posso neutralizar o veneno. - As mãos dela estava lhe inflamando, enchendo seu corpo de correntes de fogo.

       Ela arrancou sua calça, ansiosamente, as mãos deslizando por sua pesada plenitude. A fera, de sua natureza, que estava já perto da superfície, liberou-se e a colocou no chão, arrancando as roupas de seu corpo como ela havia feito com ele.

       Segurou-a sob ele, com um joelho entre as pernas dela para conseguir acesso.

       Mas foram os olhos prateados de Gregori, que capturaram e sustentaram seu olhar. Era Gregori, quem capturou seus cotovelos com mãos gentis e Gregori quem provou sua disposição com seus dedos, sondando.

- É minha, Savannah. Você é só minha. - Disse ele maciamente, enquanto a penetrava, enchendo-a. Desejava dizer que a amava, mas não conseguia dizer as palavras, então, disse com seu corpo. Pressentindo seu estado, enterrou-se profundamente nela. Duro e rápido. Devagar e terno. Tomou seu tempo, desejando que durasse para sempre, escondendo seu rosto para que ela não pudesse ver a inesperada umidade de seus olhos.

       Seu corpo era feito para ele. Apertado, ardente. Sedoso. Sua pele era acetinada, sua boca faminta. Desejava que ela afastasse os longos e intermináveis séculos de solidão. Desejava que ela enchesse o vazio sem emoções de sua alma. O vazio poço negro, absolutamente ermo e desesperado. E ela o fez. De algum modo, com um milagre total, a aceitação incondicional, ela fez. Entregou-se a ele, livremente, sem reservas, aceitando sua dominação, seu corpo tomando o dela.

       Sentiu seus estremecimentos de prazer, com calor branco, com seu sexo de veludo que o apertava firmemente. Finalmente, o levou ao limite, para voar no espaço com ela. Ela segurou-se a ele, suas unhas se afundaram nas costas dele, sua boca pressionou contra seu ombro, seu pequeno grito de satisfação ficou preso contra os firmes músculos de seu peito.

       Gregori abraçou-a firmemente, quase esmagando-a. Ainda não podia acreditar que ela estivesse realmente com ele. Não podia acreditar que ela pudesse lhe aceitar.

       Havia matado muitas vezes, inflingido suas leis. Sem sentir remorsos. Sem sentir nada, absolutamente, nada. Ela era compassiva. Tão jovem, cheia de beleza e vida. Enterrou a face contra seu pescoço.

- Deve te alimentar, pequena. - recordou-se com voz neutra.

       O estômago dela se revolveu. Havia estado com ele, em sua mente, quando ele se alimentava do repórter. O sangue era uma necessidade, aceitava. Aceitava que Wade Carter tinha que morrer para preservar sua raça. Mas não queria seu sangue. Sua língua tocou o lábio inferior cuidadosamente, seu coração pulsou. Muito cuidadosamente, moveu-se, e imediatamente sentiu a dureza do chão de mármore. Não o havia notado antes. O piso reforçara o ato de fazer amor, permitido Gregori entrar mais profundamente nela. Agora se sentia machucada e dolorida, seus quadris doíam.

- Isto é incômodo, Gregori. - Aventurou.

       Ele se levantou com um fluido movimento e a levou com ele, embalando-a em seus braços.

- Sinto muito, ma petite. Deveria ter tido mais cuidado com voce.

       Ela tocou sua face com dedos gentis.

- Me prometa, que nunca me deixará assim de novo. A próxima vez permitirá que eu vá contigo.

       Seus olhos eram eloqüentes, suplicantes, tanto que ele teve que afastar o olhar.

- Não me peça o que não posso te dar, ma petite. Daria-te a lua se me pedisse, chérie, mas não posso permitir que se coloque em perigo. Por nenhuma razão. Nem sequer para me ajudar.

       Os braços dela se enroscaram ao redor de seu pescoço. Seu corpo se pressionou firmemente contra o dele.

- Não sei se poderei sobreviver de novo. - Disse brandamente contra sua garganta. - Foi tão terrível para voce.

- Sua fome me golpeia. Quero que se alimente.

- Não posso. - Admitiu ela relutante, temerosa de sua reação. - Esse homem...

       Ele estava quieto, levando-a pelo vestíbulo, para um dos dormitórios.

- Pode e o fará porque eu desejo. – Ele baixou-a à cama.

       Ela levantou o olhar para seus olhos. Olhos que a mantinham cativa, lhe ordenando, enquanto percorriam possessivamente seu corpo. Acariciou um seio, enchendo a palma de sua mão com a suavidade dela, seu polegar acariciando a ponta rosada.

- Gregori. - Sua voz foi uma suave súplica.

- Fará o que desejo, Savannah. – Ele era implacável. Seus traços estavam firmes, quase cruéis.

       Ela tentou afastar o olhar dele, mas ele segurou seu queixo com a mão e a manteve imóvel.

- Agora, Savannah. Se alimente agora. Não o fez esta manhã e temos a noite pela frente. Se alimente.

       Ela engoliu com força, seu estômago se revoltava.

- Não posso, Gregori. Ele está morto. Simplesmente não posso.

- Quer dizer que o matei. – Gregori disse as palavras, gentilmente.

- Não. Sei que era uma ameaça para nossa gente. Sei que tentou te matar. Sei que não havia escolha. Mas não posso. - Tentou afastar-se dele. Repentinamente desejou ter colocado uma roupa. Ela estava consciente de sua nudez.

- Alimente-se. - Disse ele novamente. Desta vez, sua voz era um sussurro, tão incitante, hipnótico. Savannah, se encontrou inclinando-se para ele. Podia sentir o calor de seu corpo, sentir seu fôlego. – Se alimente, Savannah. Ele trouxe-a para mais perto dele e a pressionou contra seu peito. - Sou seu companheiro. Não posso fazer mais do que velar por suas necessidades.

       Savannah podia saborear o sal de sua pele. A fome dele, a dela... Não podia dizer onde terminava um e começava o outro. Ele estava sussurrando em sua mente, palavras impossíveis de entender. Sua música ressonava através de seu corpo. Sua garra era impossível de romper, a mão sobre sua nuca a pressionava para ele. Não havia como escapar de sua vontade de ferro. Nem sequer desejava mais. Sua boca já se movia sobre a pele dele.

       Gregori fechou os olhos enquanto os dentes dela cravavam profundamente. O prazer e a dor eram sensuais, seu corpo nu era irresistível, mas controlou sua insaciável fome. Já tinha sido egoísta, tomando-a no chão, impaciente e necessitando-a em meio de sua própria incerteza. Agora, embalou sua cabeça para ele, alimentando-a até que sua pálida pele estivesse reluzente e saudável. Então lenta e relutantemente, permitiu-a escapar da compulsão.

       Seus olhos azuis piscaram, com o conhecimento repentinamente, em suas profundidades. Ela tornou-se para trás, abruptamente. Saindo para longe dele e pegando sua roupa.

- Realmente, você é escória, Gregori. Não tem direito a me forçar quando digo que não.

       Ele a observou olhar em volta, procurando sua roupa. Afundou-se na cama com um suspiro cansado.

- Parece que não tenho roupa de novo.

- Arruma-se facilmente, Savannah. - Disse ele tranqüilamente, erguendo a mçao no ar e formou uma roupa. Elementos de um truque tão velho como o tempo, tão fácil como tudo o que sempre fazia. Ela parecia desgostar, desejava pegá-la entre os braços e sustentá-la, confortá-la. Estava ainda perturbada porque ele havia ingerido o veneno de boa vontade. Porque tinha quebrado suas leis matando enquanto se alimentava. Mas principalmente estava desgostosa, porque ele a tinha obrigado a lhe esperar enquanto se aventurava no perigo em vez de permitir-lhe ajudar. E também, porque a tinha obrigado a alimentar-se sob compulsão.

       Gregori lhe entregou uma calça jeans e uma camiseta de algodão, seus olhos a observavam estreitamente.

- Sou o que tenho feito nestes intermináveis séculos, Savannah. - Disse cuidadosamente.

       Ela colocou o cabelo para trás. Tudo estava acontecendo tão rápido. Seu mundo estava mudando, virando-se do avesso, pouco familiar e fora de seu controle. Peter. O vampiro. O caçador humano. O veneno. Ser capturada por seu próprio companheiro. Mordeu-se o lábio inferior agitada, recolhendo a camisa para cobrir os seios.

- Pode escolher ser diferente, Gregori. Todo mundo pode.

       Ele tocou sua mente, uma ligeira carícia, e soube que estava perto das lágrimas. Acariciou um lado de sua face com o polegar.

- Não escolho pôr em perigo sua vida, mon amour. É algo que nunca mudará.

- Mas eu tenho que conviver com que você se colocando em perigo. - opôs-se ela, seus olhos azuis chamejaram para ele.

       Os dentes brancos dele reluziram, um sorriso sagaz.

- Nunca estive em perigo, ma petite. Wade Carter pensou que estava protegido, mas os homens dos Cárpatos têm amparos mais fortes contra os predadores.

- O assunto é, que eu não sabia disso, Gregori. Você saiu daqui e o permitiu te ferir com aquele dardo, sem saber sequer o que era. E se assegurou, de que eu não pudesse te ajudar.

       Gregori tirou a camiseta de suas mãos e a deslizou por sua cabeça.

- Nunca estive em perigo, Savannah. - Disse tranqüila e pacientemente, sua voz.

       Ela inclinou a cabeça, seu comprido cabelo, ocultando sua expressão. Não importava. Gregori estava em sua mente, lendo facilmente seus pensamentos. Estava confusa, temerosa e triste. Pressionava ela como um terrível peso em seu peito.

       Gregori a levantou como se fosse um bebê e lhe colocou os jeans, cobrindo suas nuas pernas. Sentou-se sobre a cama e a embalou em seu colo. Suavemente, a embalou.

- Sinto haver te assustado, ma petite. Não o faria por nada do mundo. Mas tem que compreender que está presa a um homem poderoso. Muitas coisas que poderiam colocar em perigo nossa raça, não funcionam comigo. Sou capaz de muitas coisas que nunca fizeram, nenhum outro de nossa raça. Conheço minhas próprias capacidades. - Acariciou-lhe o cabelo, numa carícia mansa e consoladora.

       Ela escondeu a face em sua garganta, lágrimas derramaram sobre ele.

- Não conheço suas capacidades. - Sua voz foi afogada, as lágrimas estrangulavam sua garganta. Apertou os dedos em seus cabelos, sustentando-se a ele quase desesperadamente.

       Ele colocou sua cabeça protetora sobre a dela.

- Precisa ter mais fé em minha força, Savannah. Tenha fé em mim. Não vou tirar minha vida agora que te encontrei. Acredita em mim, em meu poder e em minhashabilidades.

       Ela se apertou mais a ele, como se tentasse entrar nele.

       Gregori apertou seus braços, abraçando-a muito perto.

- Sei o que posso e não posso fazer, mon petit amour. Não correrei nenhum risco desnecessário. - Sujeitou-a, inalando suas essências combinadas, sentindo-se afortunado de que ela temesse por sua segurança. - Sinto muito haver te assustado. - Repetiu entre as sedosas mechas de seu cabelo.

- Não faça de novo. - Ordenou ela, esfregando o rosto contra sua garganta. Sua boca se movia pela pele dele e deixava rastro de fogo.

       O corpo de Gregori reagiu, voltando para a vida. Podia sentir o desconforto dela, os penosos machucados em seus quadris e costas por causa de seu descuido. Colocou a palma da mão sobre seu quadril e se enviou a aprocurar fora de seu corpo. Em seguida, Savannah pôde sentir o calor consolador aliviando seus músculos, acelerando a cura dos machucados. Podia ouvir o ancestral canto curativo em sua mente, a formosa voz de Gregori flutuava em seu interior.

       Estendeu-se passivamente entre seus braços, olhando para aos sensuais traços esculpidos pelo tempo, para a beleza masculina dos Cárpatos. Era poder e força. Era seu companheiro. Estudou-lhe, examinando cada centímetro de sua face.

       Gregori repentinamente lhe sorriu, um sorriso genuíno que esquentou o frio aço de seus olhos.

- O que está vendo?

       Ele tocou o pequeno queixo com a ponta de um dedo. Era agradável. Teimosa. Definida. Agradável em todos os sentidos.

- Estou vendo meu companheiro, Gregori. Não quero que te aconteça nada. - Suas mãos lhe emolduraram o rosto. Lentamente, ela ergueu os lábios para ele. Beijou-o lentamente. Completamente. Sua língua deslizou na boca dele, explorando, , tentando. Quando elevou a cabeça, descansou a testa contra a dele.

- Não faça isso, nunca mais. Não me deixe sozinha e indefesa sem voce.

       Ele já sentia o toque em seu coração. Estava-lhe virando do avesso. Não estava o condenando como deveria fazer, ela estava ficando doente de preocupação. Encontrou seu pescoço e o encheu de beijos.

       Seus dentes tocaram o homem dela.

- Então que você gosta de jazz.

       Savannah levantou a cabeça, seus olhos azuis procuraram os dele.

- Adoro jazz. - Disse brandamente.

       Ele podia ver a ansiedade dela, a repentina esperança.

- Então, suponho que não podemos o famoso festival de Nova Orleáns. – ele se encontrou dizendo, só para afastar as sombras de seus olhos.

       Ela ficou em silêncio um momento, seus dedos se retorceram na manta sobre a cama.

- O que quer dizer, Gregori? Podemos ir?

- Sabe o quanto adoro as multidões de humanos. - Disse ele, olhando-a diretamente.

       Ela riu dele.

- Não remoem.

- Eu sim. - Disse ele, as palavras baixas e suaves, seu olhar prateado, possessivo. O calor do sorriso dela causou estragos em seu corpo. A poucos poucos minutos estivera dentro dela, entretanto estava faminto novamente. Ferozmente faminto. Seu corpo reagiu urgente e, abrupto e ele não fez nenhum esforço por ocultar sua necessidade.

       Savannah conteve o fôlego ante sua excitação. Este poder, ao menos ela tinha sobre ele e a profundidade do mesmo, a assombrava. Seus dedos acariciaram a pele dele deliberadamente. Ele tremeu sob seu ligeiro toque. Passou a mão ao longo de seu estômago plano, e lhe sentiu contendo o fôlego. Os dedos dela se fecharam ao redor da dura masculinidade dele, e o sentiu estremecer-se de prazer.

       Ele segurou a cabeça dela entre suas mãos, aproximando-a. Estava cheio de necessidade, dolorido.

- Vou odiar Nova Orleáns. - Sussurrou contra seu sedoso cabelo antes de que ela começasse a inclinar a cabeça.

       Seu hálito, esquentou a pele dele, enviando fogo através de seu sangue.

- Possivelmente possamos pensar em algo interessante para se tornar mais agradável para voce. - Aventurou ela. Sua boca era sedosamente suave, úmida e quente.

       Gregori empurrou suavemente, seus quadris para frente, obrigando-a a ficar de costas sobre a cama, seus joelhos sobre a manta. Ela era formosa. Sua pele cremosa e imaculada, seu espesso cabelo esparramado ao redor de seus ombros.   Sentando-se, lentamente ela tirou a camiseta de algodão, despindo os seios cheios para o olhar prateado. Parecia luxuriosa e sexy na escuridão da noite, um presente misterioso e erótico para ele.

- Crie que poderá fazer Nova Orleáns mais suportável para mim, então? - Seus olhos estavam dizendo mais que sua boca, tocando-a aqui e ali, atrasando-se em cada curva de seu corpo.

       A mão dela acariciou o estômago plano dele e descansou ali.

- Estou segura de que posso ter criatividade para fazer você se esquecer seu temor das multidões. Tire meu jeans.

- Seu jeans? - Repetiu ele.

- Você o colocou sobre mim, e estão me estorvando. - Sua mão estava vagando para baixo, seus dedos percorrendo ligeiramente seus músculos tensos, uma deliberada persuasão.

       Suas mãos fizeram rápido o trabalho de desabotoar-lhe os jeans e baixá-los por suas pernas. Ela os chutou para um lado e se inclinou para pressionar um beijo sobre o estômago dele. Seu cabelo deslizou sobre sua pesada plenitude, um enredo de seda que quase lhe conduziu à loucura.

- Algumas vezes suas ordens são muito fáceis de seguir, ma chérie. – Murmurou ele, seus olhos se fecharam quando a boca dela desceu para baixo.

       Segurou seios seios nas palmas de suas mãos, seus polegares acariciaram as pontas de seus duros e insinuantes mamilos. Seus quadris se lançaram para frente contra sua própria vontade, seu corpo estava voltando para a vida. Os dedos dela se enterraram em suas nádegas, lhe urgindo a entrar mais profundamente nela.   Suas unhas arranharam a pele dele gentilmente quando arqueou seu corpo para lhe permitir um melhor acesso a seus seios doloridos.

       Gregori ardia por ela, seu corpo e sua mente. Havia um toque em sua cabeça, um apressado prazer que lhe alongou e arrebatou todo vestígio de sanidade. Fora, o vento começou a soprar. Cantava nas janelas e acariciava as grossas paredes, anunciando uma tormenta.

       Ninguém ouviu ou se importou. A tormenta estava rugindo dentro deles, quando sua boca procurando cada centímetro do corpo dela, cada sombra, acariciando e inflamando. Criando fogo. Criando uma tormenta. Gregori se moveu sobre ela, sua pele contra as palmas de suas mãos, a boca quente sobre sua pele. Ela afastou os demônios dele, as terríveis visões e as horrorosas mortes. Afastou a solidão e a substituiu com tanto prazer, que ele não estava seguro de sobreviver.

       O inarticulado grito dela foi sufocado por sua boca quando entrou nela, enterrando-se profundamente. Ela era suave veludo, calor feroz, muito apertada em volta dele, lhe prendendo em calor. Murmurou-lhe no ancestral idioma, palavras que ela não podia entender, mas quis dizer cada uma delas. Palavras que não havia dito antes, que nunca havia sentido antes. Nunca poderia lhe conhecer realmente, mas estava marcado a fogo pelo resto de sua vida. Ela era exclusivamente dele. Rendia culto a ela. E a única forma que tinha de demonstrar, era com seu corpo, sua força, seu conhecimento, sua experiência.

       Seu corpo tomou o dela, uma posse exigente que continuou sem parar. Um raio de luz dançou cruzando o céu. A terra se moveu embaixo eles. Nenhum deles lhe importou. Ele tomou seu tempo, uma e outra vez, assegurando o prazer dela primeiro e acima de tudo. Ela estava presa a ele, com ele, quando finalmente se permitiu o alívio. Não queria parar, temia que se a deixasse ir, de algum modo partiria para sempre.

       Gregori amaldiçoou brandamente e girou para obrigar seu corpo a afastar-se dela. Ela estava o colocando louco. Desesperado. Ia fazer com morressem com seu insaciável apetite. Seus dedos estavam já enredando-se no cabelo dela, reunindo mechas de cabelo.

       Savannah ouviu as palavras fluindo da boca dele, e seu coração parou. Ele acabava de sacudir seu mundo inteiro, convertê-lo em fogo, e agora estava zangado. Deu-lhe as costas para que ele não pudesse ver que se sentia ferida.

- O que tenho feito de mal? - Perguntou.

       Gregori afastou seu cabelo, para obrigá-la a voltar-se para ele.

- Faz-me sentir vivo, Savannah.

- Seriamente? É por isso que amaldiçoa? – ela levanmtou o tronco, apoiando-se sobre os cotovelos.

       Ele se apoiou nela e acariciou com sua boca a plenitude de seus seios.

- Está conseguindo me prender. Leva todo meu bom julgamento.

       Um ligeiro sorriso curvou a boca dela.

- Nunca notei que tivesse um julgamento particularmente bom para começar.

       Seus dentes brancos reluziram, um sorriso predador, então os afundou na suave pele nua. Ela reclamou, mas se aproximou mais a ele, quando sua língua a acariciou.

- Sempre tive bom julgamento. - Disse-lhe ele firmemente, seus dentes mordiscaram de um lado a outro, o vale entre os seios dela.

- Se você diz. Mas isso não está certo. Permitiu que esses malvados idiotas lhe disparassem os dardos venenosos. Meteu-se num laboratório cheio de inimigos. Preciso continuar? - Seus olhos azuis estavam rindo dele.

       O firme e arredondado traseiro dela era muito tentador para resistir. Gregori deixou cair sua palma aberta, num castigo zombador. Savannah saltou, mas antes de que pudesse afastar-se, a palma da mão começou a acariciar e produzir um efeito totalmente diferente.

- Considerando nossa posição, ma chérie, diria que meu julgamento parece melhor que o teu.

       Ela riu.

- De acordo, vou deixar que ganhe esta vez.

- Quer tomar um banho? - Perguntou ele, solícito.

       Quando ela assentiu, Gregoryi saltou correndo da cama, levantou-a nos braços e a embalou contra seu peito. O semblante dele era pura inocência. Ela o olhou cautelosamente. Mas num instante, estavam deslizando para a porta do balcão, que abrindo-se a seu desejo, ele a levou, nua ao frio e reluzente aguaceiro.

       Savannah tentou se afastar, se retorcendo-se e golpeando o peito dele, rindo apesar da cascata de água gelada que caía sobre ela.

- Gregori! Você é mau. Não posso acreditar que tenha feito isto.

- Bom, tenho pouco julgamento. – Ele estava sorrindo - Não é o que disse?

- Retiro o que disse! - Gemeu ela, firmando-se a ele, enterrando o rosto em seu ombro enquanto a chuva fria golpeava seus seios nus,

- Corra comigo esta noite. - Sussurrou Gregori contra seu pescoço. Uma proposta. Uma tentação. Atraindo-a para ele, outro laço para seu escuro mundo.

       Ela levantou a cabeça, olhou dentro dos olhos prateados e se sentiu perdida. A chuva caía sobre ela, molhando-a, mas quando Gregori deslizou com ela lentamente para a manta de agulhas de pinheiro sob o balcão, não pôde afastar o olhar desses famintos olhos. Assentiu, aceitando sua vontade para eles esta noite.

       Seguindo o desejo na mente dele, concentrou-se em visualizar a imagem necessária. E se corpo começou retorcer-se. Foi um curioso empuxo, uma estranha e desorientadora sensação, depois sua pele se ondulou em um lustraso pele negro azulado, enquanto seu corpo mudava rapidamente. Logo, um pequeno lobo de olhos azuis estava de pé, sob a chuva, observando o enorme lobo negro que a tocava. Com sua língua, ele estava fazendo uma carícia áspera ao longo de seu focinho.

       Savannah se voltou e trotou através da densa vegetação, exaltada ante a liberdade do corpo de loba. Gregori deslizou a seu lado, próximo e protetor. O vento cantava, as árvores sussurraram. Podia ouvir tudo, sentir tudo, a noite a chamava. Começou a correr como seu corpo pedia, com largas e galopantes passadas, seu pescoço se estirou para frente. Sentia-se selvagem. Já não era mais, humana. Livre. Correu rápido, desviando-se das árvores. Gregori manteve o passo tocando ocasionalmente o magro corpo com seu focinho ou tocando ligeiramente seu flanco ou ombro para que girasse na direção que ele desejava ir. Savannah perseguiu um coelho, depois o caçou pela simples diversão de caçar, antes de voltar-se para um caminho um pouco usado, através da espessa vegetação.

       Ela sentiu a essência de outros de sua espécie. Lobos correndo livres. Vários deles. Machos e fêmeas. O enorme lobo a seu lado mostrou as presas e a empurrou longe do aroma. Savannah resistiu seus esforços e trotou ao redor dele, atraída pela selvagem chamada. Gregori grunhiu, expôs as presas, seu grande corpo empurrando, depois bloqueando o dela, detendo-a efetivamente. Empurrou-a para a casa.

       Ele lançou um olhar que disse tudo. Havia proposto correr, a mudança de forma, agora ela estava exigindo que ele a deixasse continuar a diversão. Ele começou a empurrá-la mais forte. Estaria exausta pelas atividades da noite. Desejava que começasse a voltar.

       Quando ela se negou, ele mordiscou-a ligeiramente no pequeno focinho branco, um pequeno aviso de quem estava no comando. Ela reclamou, mas finalmente obedeceu e galoparam de volta juntos através do bosque. Uma vez em casa, brilharam fracamente voltando para a forma humana, e Gregori a segurou pela mão e a empurrou para dentro. A água jorrava pelo corpo nu dela e gotejava de seu cabelo. Eleolhava.

- Tem que ser um mandão não importa o que faça, não é?

       Ele enrolou-a numa toalha e a secou até que sua pele ficou rosada.

- Temo por sua saúde e segurança seriamente, Savannah. – Ele era claramente impenitente.

       Savannah tremeu um pouco e tirou a toalha, repentinamente nervosa por todas as mudanças que produzia nela. Tinha só vinte e três anos, nem sequer um quarto de século. Tinha passado os últimos cinco anos vivendo exclusivamente no mundo humano. Agora, sua natureza selvagem estava chamando-a. Gregori estava tocando algo indomável nela, algo que se proibiu acessar. Algo selvagem, desinibido e incrivelmente sensual. Ela olhava para a formosa face dele. Ele era incrivelmente masculino. Carnal. O poderoso, Gregori. O Escuro. Só em olhá-lo, ficava fraca de desejo. Um olhar de seus brilhantes e misteriosos olhos prateados, podia enchê-la de calor, fogo puro correndo por suas veias. Tornava-a suave e flexível. Fazia dela o que quizesse.

       A palma da mão de Gregori, acariciou sua face.

- Seja o que for que está pensando, me faz temer, Savannah. - Disse ele fitando-a. - Deixe-o.Está-me convertendo em algo que não sou. - Sussurrou ela.

- É uma mulher dos Cárpatos, minha companheira. É Savannah Dubrinsky. Não posso te tirar essas coisas. Não desejo uma marionete ou uma mulher diferente. Desejo-te tal e como é. - Sua voz foi suave. Elevou-a nos seus braços, levando-a para sua cama e envolvendo-a entre as mantas.

       A tempestade açoitou as janelas e assobiou contra as paredes. Gregori teceu as salvaguardas, preparando-as para seu sono. Savannah estava exausta, seus olhos já estavam se fechando. Depois, ele deslizou para a cama e a recolheu entre seus braços.

- Nunca trocaria nada de ti, ma petite, nem sequer seu horrível temperamento.

       Ela se acomodou contra seu corpo como se tivesse sido criada para isso. Ele sentiu a carícia dos lábios dela contra seu peito e o último suspiro de ar quando escapou de seus pulmões.

       Gregori permaneceu acordado durante um momento, observando como o amanhecer se aproximava, afastando a noite. Um movimento de sua mão fechou e trancou as pesadas venezianas sobre as janelas. Ainda acordado, abraçou Savannah e a trouxe para mais perto.

       Sempre soubera que era perigoso, que era temido por mortais e imortais, por igual. Mas de algum modo, possivelmente ingenuamente, havia pensado que, uma vez que se unisse a sua companheira, tornaria-se mais manso, mais domesticado. Seus dedos se enredaram entre os cabelos dela. Mas Savannah se tornava selvagem e o deixava mais perigoso do que era, antes dela. Antes deSavannah, não conhecia emoções. Havia matando quando era necessário. Não temia nada, porque não amava nada e não tinha nada a perder. Agora, tinha tudo o que perder. Assim, se tornava mais perigoso. Ninguém, nada, ameaçaria Savannah e continuaria com vida.                                                      

 

Gregori olhou com seriedade, o pequeno edifício de dois andares, intercalado entre duas pequenas propriedades bastante separadas, no Bairro Francês de Nova Orleáns. Inseriu a chave na fechadura e se voltou para olhar o rosto de Savannah. Estava iluminada pela espera, seus olhos azuis brilhavam.

- Definitivamente perdi a razão. - Murmurou ele, enquanto empurrava a porta.

O interior era escuro, mas podia ver tudo facilmente. A casa estava coberta de pó, os móveis cobertos com lençóis velhos e o papel das paredes, estava cortando em pequenos pedaços nas paredes.

- Não é formosa? - Savannah estendeu as mãos e deu voltas. Saltando para os braços de Gregori, abraçou-o firmemente. - É tão perfeita!

Ele não pôde evitar. Beijou seus lábios.

- Perfeita para uma fogueira. Savannah , você olhou bem esta casa, antes de comprá-la?

Ela riu e acariciou os cabelos dele.

- Não seja pessimista, Gregori. Não pode ver o potencial dela?

- É uma armadilha de fogo. - queixou-se ele, mas estava estudando os corredores estreitos das escadas que conduzia ao andar de cima e ao porão.

- Venha comigo. - Savannah já estava apressando-se em subir a escada. - me Deixe eu te mostrar a grande surpresa, Gregori. Esta é a razão pela qual a comprei. Não é só uma casa fantástica com um grande jardim.

- Jardim? - Repetiu ele. Mas a seguiu. Como poderia não seguí-la? Ela estava radiantemente divertida. Encontrou-se observando-a. Cada movimento que ela fazia, a forma em que voltava sua cabeça, a forma em que seus olhos brilhavam. Ela era formosa. Se desejava ter uma casinha claustrofóbica, no meio do Bairro Francês, se isso a fazia feliz, não a negaria.

As escadas, muito estreitas e altas, afundavam-se para baixo em espiral até um inesperado porão que ocupava toda a longitude da casa. Nova Orleans estava construída sobre chão pantanoso ao nível do mar. Nem protegia sequer os mortos enterrados clandestinamente. Nova Orleans deixava qualquer um nervoso. Não havia terra para cavar em caso de emergência. Nenhuma via de saída fácil e natural. Nova Orleáns apresentava problemas que não queria, com sua localização.

Gregori esquadrinhou as paredes de cimento do porão, seu sólido chão. Passeou pela área, rodeando o perímetro, movendo-se para o centro, e fechou os olhos. Inalou profundamente e sentiu. Havia sombras de outros habitantes, no porão, pelo que via.

- Sente? - Perguntou Savannah baixinho. Colocou uma mão no braço dele, seus dedos seguraram sua mão. Ele olhou para a pequena mão. Poderia sentir o toque, em seu corpo inteiro. Embora seus dedos não podiam sequer, abraçar toda sua mão, encontrou-se notando que era algo que ela fazia com bastante freqüência. Envolver seus finos dedos em suas mãos, conectando-os. E esse pequeno gesto pareceu fundir seu coração.

Gregori se obrigou a voltar a atenção ao presente. Savannah sentia a presença também. Um deles, havia estado ali, antes deles. Julian. Julian Savage tinha vivido nesta casa. Por que? Que classe de segurança havia estabelecido ali? Porque Julian havia dirigido Savannah para esta casa, quando soube do desejo dela de vir a Nova Orleans?

Gregori deslizou um braço ao redor de seus ombros.

- O que sabe sobre o proprietário anterior?

- Só que não parava aqui durante longos períodos de tempo. O agente imobiliário me disse que a casa havia estado na família do homem durante quase duzentos anos, que era na realidade, uma das casas mais velhas do Bairro.

- Alguma vez o viu realmente? - Incitou Gregori.

- Não. - Replicou Savannah.

- Julian Savage foi o proprietário anterior, embora seja difícil imaginar ele vivendo aqui. É um solitário, tão indomável como o vento. – ele passeou pelo porão novamente. - Se Julian te entregou este santuário, um de quase duzentos anos, só pode significar uma coisa. Ele está escolhendo o amanhecer. - Disse as palavras desapaixonadamente, sem expressão, mas por dentro sentia esse curioso traço que estava se tornando familiar. Emoção. Pena. Tantos de sua raça se foram para sempre. Julian era mais forte que a maioria, tinha mais conhecimentos. Odiava perder Julian Savage.

Savannah sacudiu seu braço.

- Não sabemos disso, Gregori. Possivelmente só queria nos dar um presente de bodas. Não pense o pior.

Gregori tentou sacudie a melancolia, mas se sentia incapaz de respirar nessa estreita vizinhança.

- As casas de outras pessoas estão justo em cima desta. - Disse. - Acredito que poderiam dar um passo e estar em nosso sala.

- Não viu o pátio ainda, Gregori. A casa está aberta para cima, em um pátio na parte traseira. É imenso e está em boa forma. - Savannah começou a conduzi-los escada acima, ignorando sua queixa.

- Odeio pensar o que chamariam má forma. - Murmurou ele enquanto a seguia escada acima.

- Pergunto-me por que está tudo tão poeirento. - Disse Savannah. – Eu havia encarregado o agente imobiliário para que viesse gente limpar e o ter tudo preparado para nossa chegada.

- Não toque em nada. - Avisou Gregori, e gentilmente segurou seus ombros para colocá-la atrás dele.

- O que é? - Instintivamente ela baixou a voz e olhou ao redor, tentando ver se havia algo perigoso que ela tivesse sido incapaz de sentir.

- Se tivesse vindo alguém para fazer as camas e preparar a casa para nossa chegada, teriam tirado o pó também.

- Possivelmente são incompetentes. - Sugeriu ela esperançada.

Gregori a olhou e os cantos duros de sua boca suavizavam. Ela estava lhe fazendo desejar sorrir todo o tempo, inclusive nas situações mais sérias.

- Estou seguro de que qualquer companhia trabalharia horas extras tentando te fazer feliz, ma petite. Sei que eu o faria.

Ela se ruborizou ante a lembrança de como ele faria.

- Então por que todo este pó? - Perguntou ela, lhe distraindo deliberadamente.

- Acredito que Julian nos deixou uma mensagem. Permaneceste entre humanos muito tempo, Savannah, que vê só com os olhos.

Savannah revirou os olhos, ante a reprimenda.

- E você viveu nas colinas muito tempo. Esqueceste de como se divertir.

Os olhos prateados deslizaram sobre ela, envolvendo-a em calor.

- Tenho minhas próprias idéias de diversão, chérie. Estaria desejoso em lhe mostrar, se quiser. - Ofereceu ele, perversamente.

Ela elevou o queixo, os olhos azuis desafiavam.

- Se crê que me assusta com sua rotina de grande lobo-mau, não assusta. - Disse ela.

Ele podia ouvir o coração dela pulsar. Cheirar sua essência lhe chamando.

- Possivelmente pensarei em algo para mudar isso. – Ele advertiu-lhe. Gregori voltou sua atenção de novo para o ambiente. O pó era espesso nas paredes, na lareira e nas lajes do chão. Abaixou-se, tocando as diminutas partículas e estudando o esquema em todos os ângulos. Seus olhos brilhavam vermelhos no escuro interior.

Savannah caminhou para trás até que se viu pressionada contra a parede. Sua atenção estava no homem, não no que ele estava fazendo. Observava a forma em que seu corpo se movia, o ondear de seus músculos sob a fina camisa de seda, a forma fluídica em que parecia flutuar de um lado a outro. A forma em que inclinava a cabeça, como ele passava a mão impacientemente pelos cabelos. Era de outro mundo. Elegante. Perigoso e mortal. Entretanto, quando ele voltou a cabeça em sua direção, ele era seu homem.

Os perfeitos lábios lhe sorriram, pareceu-lhe sensual em vez de cruel. Seus olhos eram frios e letais, observando tudo, sem perder um detalhe, mas quando voltou o olhar para ela, ele era ardente. Excitante e sensual. Quase pecaminoso.

Ela piscou firme, para poder voltar a atenção no porão. Houve uma mudança sutil. O pó pareceu trocar de posição sob a mão de Gregori. Ele moveu o braço com graça, como se estivesse dirigindo uma orquestra, e pó começou a emergir sobre as paredes e o chão. Formaram linhas. As linhas brilharam formando letras e símbolos ancestrais. Os hieróglifos tomaram forma rapidamente, formados pelas partículas de pó.

- Formidável! É a linguagem ancestral, não é? - Disse Savannah com temor reverente. Moveu-se, formando um pequeno semicírculo, não desejando perturbar o ar. - Como soube trazê-lo para a vida?

- A forma em que o pó estava colocado era muito arrumada. Estava num desenho esperando por nós. É uma arte que muito poucos são capazes de realizar. Não tinha nem idéia de que Julian o conhecia. - Gregori mostrou seu agrado. - Seu pai é bastante bom nisto, mas só poucos o dominem.

- Meu pai é bom em tudo?

Gregori levantou o olhar ante a estranha nota em sua voz.

- É o Principe de nossa gente. O mais velho de nossa raça. Sim, ele é bom em tudo o que faz.

Savannah não se conteve.

- E você o conheceste toda sua vida.

Gregori voltou o poder seus olhos prateados, diretamente para ela.

- Seu pai e eu vivemos mil anos, pequena. Por que crê que deveria ter o conhecimento dos antigos? É formosa, uma novata inteligente, e aprende rápido.

- Possivelmente, nunca possa viver como você deseja. Nasci muito tarde. - Havia dor em sua voz, traindo sua falta de confiança em si mesma. As estrelas no centro de seus olhos escureceram o azul vívido violeta. Sua ansiedade era fácil de ler.

Gregori imediatamente, caminhou para ela e prendeu seu rosto entre as mãos.

- Tem toda uma vida para aprender as coisas que seu pai e eu aprendemos. Levará-nos toda uma vida. Nós não tivemos suas responsabilidades, com tão pouca idade. Fomos capazes de vagar pelo mundo, vivendo livremente. Não tínhamos um companheiro tirano e dominador com quem tivéssemos de viver. - Seus polegares acariciavam sua delicada mandíbula. – Não pense sequer, chérie, que não pode cobrir minhas expectativas.

- Você cansará de me ensinar coisas.

A mão dele percorreu a fina linha de sua garganta.

- Nunca acontecerá. E tenho muito que aprender com voce. Não havia risos em minha vida. Você me deu. Há muitas coisas que trouxeste para minha vida... Sentimentos e emoções que nunca poderia experimentar sem voce. – ele inclinou-se para acariciar sua boca com a dele. - Pode sentir que digo a verdade?

Savannah fechou os olhos enquanto seus lábios tomavam posse dela, enquanto sua mente se fundia firmemente com a dela. Gregori era tão intenso em sua fome e seu desejo. Não havia dúvidas nele, nenhuma vacilação. Sabia que sempre estariam juntos e não aceitaria que fosse de outro modo. Se alguma vez mudasse isso, escolheria segui-la ao amanhecer.

Gregori a soltou muito lentamente, quase relutante. Ela ficou em pé imóvel. Os olhos azuis estudando seu rosto.

- Podemos fazer tudo, Savannah. – Ele animou-a. - Não se assuste e tente fugir de seu destino. Fique comigo e lute.

Um pequeno sorriso tocou mudou os lábios dela.

- Destino. Interessante palavra. Faz com que soe como se estivesse sentenciada a uma prisão. – ela respirou forte e se obrigou a relaxar. - É ruim, mas não tão ruim. - Chateou-lhe.

Os dentes brancos dele reluziram. O sorriso era de um predador.

- Sou muito mau, ma petite. Não se esqueça, se quer estar a salvo.

Ela encolheu de ombros casualmente, mas seu coração saltou em resposta.

- A segurança não é um conceito que me anima estritamente. - Respondeu elevando o queixo.

- É uma espada dois gumes, para mim.

Savannah explodiu em gargalhadas, seu natural senso de humor borbulhava.

- Aposta que sim. Não penso em deixar as coisas mais fáceis para voce. Sempre fez tudo a sua maneira e durante muito tempo. Agora me ensine como fazer. É fascinante. - Ondeou um braço para abranger as brilhante letras.

Gregori segurou seu braço para deixá-la imóvel.

- Liberar o padrão a seus olhos é muito simples. Primeiro estude ele, depois simplesmente dê a volta. Os movimentos da mão, estendem as moléculas em primeiro lugar. Perturbando o ar para trás, leva os desenhos de volta aonde estão originalmente colocados.

- Quem te ensinou isto?

- Muitas artes se perderam através dos anos. Os monges budistas do Tibet, usavam este método, para comunicarem-se sem que outros soubessem. Nós somos um, com a terra, com o ar, com o espaço. Domá-los e movê-los não é tão difícil. - Suas mãos começaram a mover-se novamente e Savannah estava fascinada com a beleza e a graça de seu ritmo. - Conhece a antiga língua? Sabe decifrá-la? Escrevê-la? Falar? - Perguntou-lhe.

- Só umas poucas palavras. Minha mãe estava justamente tentando aprender com meu pai, quando parti para a América. Nunca tive a oportunidade de aprender.

- Uma coisa mais que terei que te ensinar, chérie, e desfrutaremos ambos com a experiência. - Seus olhos prateados foram eloqüentes.

- Posso entoar o canto curador. Acredito que nasci sabendo-o. Meu pai agradava a minha mãe com ele, todo o tempo.

Gregori estava se movendo cuidadosamente através do porão.

- O canto é tão velho como o tempo, tão velho como nossa raça, e muito efetivo. Está impresso em nós desde antes de nosso nascimento e salvou muitas vidas. Sua mãe teve que aprendê-lo rapidamente, quando cada voz era necessária. - Sua voz era um sussurro, como se sua respiração, pudesse perturbar a antiga mensagem que brilhava no ar.

Savannah amava o som de sua voz, o veludo negro que deslizava no interior de sua mente, no interior de seu coração.

- O que diz? - Sua voz foi tão suave como a dele.

- É de Julian. - Disse. - Administrei justiça a dois vampiros que recentemente fixaram residência nesta cidade, para que não houvesse nenhum perigo para voce.

- Vê? Não há nenhum perigo absolutamente. Podemos desfrutar do festival. - Sorriu ampliamente.

- Isso não é tudo o que diz. - Sua voz foi neutro.

O sorriso do Savannah murchou abruptamente.

- De algum modo sabia que diria isso. Parece dizer muito para ser só uma frase ou dois. Ali sobre a janela, parece que ele nos deixou um mapa.

- Tem vários lugares seguros ao redor da cidade, inclusive no bayou, para assegurar nossa segurança. Embaixo há a câmara subterrânea e é um lugar secreto, pelo qual poderemos escapar, se necessitarmos. Deixou-nos um presente.

Ela observou sua face.

- E? - Animou-lhe brandamente.

- Há membros da sociedade humana de caçadores de vampiros aqui. O nome de Morrison apareceu novamente. Aparentemente, Julian tropeçou com a evidência do grupo faz algum tempo. Estabeleceram uma base aqui em Nova Orleáns porque há muitos rumores de vampiros. Acreditam que deve haver atividade aqui para garantir seu interesse. Julian me deu alguns lugares para começar a procurar. Negócios. Um local de reuniões onde os membros tentam conseguir informação.

Savannah deixou escapar o fôlego lentamente.

- Mmuito para o festival de jazz. Queríamos que nos seguissem, mas de fato, nos colocamos na guarida do leão. Devo ter um dom para atrair tipos estranhos.

- Provavelmente tem. - Disse Gregori seriamente. - Pode ser um presente, tanto como uma maldição. Sua mãe era uma humana com habilidades psiquicas. Possivelmente te passou algo de seu dom.

Savannah estava em pé no centro de sua casa, seus longos cílios ocultando sua expressão. Gregori se voltou para ela. Parecia pequena e vulnerável junto a sua poderosa forma. Colocou-lhe uma mecha perdida de cabelo negro azulado atrás da orelha.

- Savannah, não fique desgostosa. Queríamos que viessem atrás de nós, não é? Isto não é o fim do mundo. Ainda podemos desfrutar do festival enquanto estamos aqui.

Savannah sacudiu a cabeça.

- Vamos embora, Gregori. Antes, eu queria estar aqui, mas agora eu não gosto da idéia.

Gregori considerou sua expressão durante um longo momento, examinando rosto pálido. Sua boca se suavizou. Os olhos prateados perderam sua remota frieza, esquentando-se como mercúrio fundido. Houve uma curiosa mudança em seu coração.

- Está tentando me proteger novamente, Savannah. – Ele sacudiu a cabeça. Não houve sorriso em sua face, mas ele esteve em seu coração todo o tempo. Ninguém nunca havia pensado em lhe proteger. Ninguém havia sequer considerado o perigo que corria como caçador. Agora, esta pequena e frágil mulher com seus enormes olhos, estava envolvendo-se firmemente em seu coração, porque genuinamente desejava sua segurança. - Não preciso do amparo desta gente. São eles que devem tomar cuidado. Se tiver que ser em seu terreno, que assim seja. Julian me deu suficiente informação para não entrar nisto às cegas.

- Já suspeitam de nós, Gregori, porque Wade Carter falou que lhes levaria um espécime. E passaram a informação a esse tal de Morrison. Estarão nos buscando. Te buscando.

- Então não podemos fazer outra coisa, que agradá-los. Trabalharei em um antídoto para seu veneno. Não quero pensar na possibilidade de que seja infectada sem te proteger primeiro.

- Nosso porão é o lugar perfeito para um laboratório tipo Boris Karloff. - Um rápido sorriso já estava iluminando seus olhos.

Ela podia lhe tirar o fôlego com esse sorriso.

Gregori levantou uma mão e fez um leve movimento para dispersar as partículas de pó. Uma brisa começou a soprar, lenta e ligeira, mas se converteu em um redemoinho que correu através do edifício. Quando o vento se acalmou, não ficou restou da brilhante mensagem que Julian havia deixado. O porão estava limpo e o esfolado papel das paredes estava liso novamente.

- Vêem comigo, Savannah. Veremos o que nos deixou Julian. – Ele estendeu uma mão para ela.

Ela entrelaçou seus dedos com os dele e lhe seguiu baixando as escadas em espiral. Não queria imaginar por que Julian teria lhe dado uma casa que possuíra durante duzentos anos. Não podia aceitar que ele estivesse abandonando sua vida. O que acontecia que seu próprio irmãogêmeo não podia falar com ele? Engoliu com força, recordando o quanto esteve perto de perder Gregori. Onde estava a companheira de Julian? Ela existia? Havia tão poucas mulheres para seus homens.

- Quero que fique aqui nas escadas enquanto estudo a casa. - Gregori ordenou. Estava envolta em sua hipnotizadora voz, mas era uma ordem de todas formas.

- Se Julian nos deixou um presente, Gregori, não há necessidade de se preocupar que possa haver alguma armadilha. - Assinalou ela, ligeiramente chateada.

Ele elevou a cabeça, os olhos brilharam firmes para ela.

- É muito confiada, pequena. Deveria ter aprendido e a muito, usar seus próprios sentidos, nunca confiar nos dos outros. Essa é a forma em que sobreviveu nossa raça.

- Temos que confiar os uns nos outros, Gregori. - Protestou ela.

- Vimo-nos obrigados com freqüência a caçar a nossos próprios irmãos. Por isso a maioria dos homens escolhem não compartilhar sangue, nem sequer para salvar vidas. Isso faz mais fácil rastreá-los quando se convertem em vampiros. Também, lembre-se que os vampiros são conhecidos como os melhores embusteiros do mundo. Não, chérie, não confio em nenhum outro homem sem companheira.

- De que terrível forma tiveste que viver. - Disse ela brandamente.

- Existir. - Corrigiu ele. - Não é vida viver isolado e fugir de sua própria raça, quando necessitam desesperadamente. Compartilhei meu sangue quando foi necessário, mas poucos estiveram desejosos de trocarem o deles comigo.

Como sempre, ela não pôde detectar autocompaixão, nem emoções de tipo algum. Gregori aceitava sua forma de vida. Nunca confiaria em ninguém de todas formas. Seus dentes mordiscaram o lábio inferior. Isso incluía a ela? Estaria uma parte de Gregori sempre separada dela? Era tão jovem e inexperiente. Desejava ser uma mulher mais antiga cheia de poder para poder unir-se a ele, como ele merecia.

Ele deslizou através da câmara subterrânea, sem tocar o chão. Gregori examinou cada centímetro das paredes. Havia duas entradas, uma conduzia a uma câmara separada oculta na espessura das paredes e a outra a um túnel construído com encanamentos e cimento para manter a água fora.

- O túnel provavelmente leva a exterior.

- Uma saída. - Disse ela. - Ao pátio?

Ele sacudiu a cabeça.

- Duvido, Savannah. Julian quiz afastar-se da propriedade e das pessoas. - Parecia-lhe inconcebível, que Julian queriam estar na cidade, para começar. O Julian Savage que conhecia era tão solitário como ele. Ele preferia os lugares altos, as montanhas. A solidão.

- É uma armadilha? - Perguntou-lhe ela com um sotaque de sarcasmo.

- Quase desejaria que fosse. - Disse ele, tentando manter a o rosto sério. - Não acredito que possa viver com o fato de que tenha razão neste caso. - Quando ela arqueou as sobrancelhas e as meneou para ele, deu-lhe satisfação. Não, não é. - Passou uma mão sobre a lisa parede próxima ao pátio.

Uma porta oculta se deslizou abrindo-se silenciosamente para revelar uma grande câmara, para que duas pessoas abrigarem-se ali. O interior estava ricamente esculpido com antigas inscrições. Julian Savage era claramente um artista, as gravuras aliviavam e atraíam a atenção. Savannah sabia pouco do idioma, mas podia dizer que tinha sido forjada como algum tipo de salvaguarda, com símbolos curativos, tecidos nele. O efeito completo era de paz e de santuário.

Gregori estava olhando-o fixamente, seu rosto estava impassível mas seus olhos eram quentes. A surpresa de verdade jazia sob um lençol branco. Gregori levantou uma mão e o lençol saiu para um lado

A respiração de Savannah parou, na garganta. Olhava fixamente e com assombro, a riqueza do tesouro. Terra viçosa e escura. A terra de seu país natal. A câmara estava cheia dela, uns bons seis ou sete pés de profundidade. Gregori afundou os dedos na terra. A frieza escorreu dele, deu-lhe boas vindas. As mãos de Savannah, também, afundaram-se profundamente na terra. Tinham passado cinco anos desde que havia sentido a riqueza de sua terra, sentiu suas propriedades curadoras.

Elas sussurraram-lhe, confortando, lhes dando paz.

- Como ele conseguiu isto? - Savannah sorriu paraa Gregori, feliz por sua casa e pelo segredo.

O braço dele rodeou seus ombros.

- Com grande paciência. - Um sorriso débil suavizou sua boca. – Lembra-se dos tonéis enviados da Europa quando Nova Orleáns estava apanhada pela febre amarela e a morte? |Houve rumores, durante anos, que continham vampiros, mas obviamente continham simplesmente terra de nosso país natal. Muito inteligente por parte do Julian.

- Pergunto-me, com quanta freqüência ele ficava aqui. - Aventurou Savannah brandamente, deixando que a terra deslizasse entre seus dedos. O que se perguntava realmente, era em quanto da história de Nova Orleáns estava envolto Julian Savage. Os humanos acreditavam há muito tempo nos legendários vampiros e sua imaginação era desenfreada em Nova Orleáns. Havia as atividades de Julian durante os dois séculos passados ali, que ver com esses rumores? - Crê que o quartel general da sociedade humana está aqui para o caçar? - Perguntou.

- Essa sociedade está se convertendo numa dor de cabeça. Preciso ter uma conversa com Mikhail. Preciso avisá-lo que não nos liberamos deles como pensamos que tínhamos feito. Parecem haver se tornado mais fortes que nunca. Cada trinta anos, eles retornam para nos dar problemas.

- Julian deve tê-los descoberto bastante recentemente ou te teria falado deles quando o informava sobre mim. - Havia amargura em sua voz. Ela ainda estava ressentida por Gregori ter colocado alguém para vigiá-la. Embora, estivesse ressentida com ela mesma, por não ter sentido outro de sua raça por perto.

- Julian nunca me informou exatamente. - Disse Gregori secamente. - Não é da classe de homens que responde ninguém. Julian é como o vento, como os lobos. Totalmente livre. Vai por seu próprio caminho. Vigiava-te, mas não enviava informação. Esse não é seu estilo.

- Soa interessante. - Murmurou Savannah.

Instantaneamente Gregori pôde sentir seus músculos em alerta Essa escura raiva sem nome, que o fazia tão perigoso, ferveu em seu íntimo. Sempre viveria com o medo de ter roubado Savannah de algum outro. Que algum outro homem dos Cárpatos guardava o segredo de seu coração. Que havia condenado outro homem à morte, ou pior, a converter-se em um não-morto, porque ele havia lhe roubado Savannah. Ele havia manipulado o resultado de sua união, possivelmente havia algum outro, cuja química encaixava perfeitamente com a dela. Seus olhos prateados se tornaram frios e letais, pequenas chamas vermelhas soltavam em suas profundezas.

- Não precisa achar Julian Savage interessante. Nunca renunciarei a voce, Savannah.

- Não seja idiota, Gregori. - Disse ela impacientemente. - Como se eu quisesse que alguma outra fera saísse da cova, agora que o tenho quase treinado. - Estendeu uma mão. - Vamos, tem que ver o pátio.

Ela sempre parecia saber que dizer ou fazer para aliviar o terrível peso que esmagava seu peito. Embora freqüentemente, desejava sacudi-la, beijá-la até a submissão, também desejava que fosse tão irreverente como nesse momento. Realmente, ela estava colocando seu mundo ao reverso.

Seguiu-a subindo as escadas, sem poder fazer nada mais. As espessas portas duplas se abriram para o pátio. Savannah tinha razão. Era impressionante. O jardim era maior que a casa. As plantas cresciam por toda parte, uma mistura selvagem de verde e luminosa flora. Azulejo espanhol cobria o chão em um mosaico. Bancos e cadeiras estavam entre e árvores, escondidos do sol.

Morcegos mergulhavam e davam voltas, caçando insetos no ar. A fragrância das flores, apagava a opressiva poluição das estreitas ruas, mas nada podia abafar o ruído. Soava como música em todas as direções, com o barulho de cascos de cavalos sobre a pedra, as buzinas dos carros e as gargalhadas, a alegria.

Gregori afastou os sons, escutando partes das conversas e conseguiu uma sensação do ritmo da vizinhança. Levaria alguns dias para sentir-se cômodo neste ambiente. Teria gostado de ter uma oportunidade de explorá-la de antemão, para a segurança de Savannah.

- Precisamos dar um passeio. - Disse bruscamente. - Quero ver todo todas as entradas e saídas, conhecer as pessoas e as vozes que pertencem a este lugar.

Savannah empurrou a grade de ferro e saiu caminhando à rua. Um casal jovem que estava de pé no alpendre próximo os olhou curiosamente. Savannah lhes enviou um sorriso e saudação. A mulher levantou um braço em resposta.

- Não seja tão amigavel, Savannah. É uma celebridade. Chamaremos a atenção.

- São nossos vizinhos. Tentei não assustá-los Savannah lhe segurou o braço, sorrindo travessamente. Você parece um feroz membro da Máfia. Não me assombra que nossos vizinhos estejam olhando. As pessoas tendem a serem curiosas. Você não seria, se alguém se mudasse para a casa ao lado?

- Não estudo aos vizinhos da casa ao lado. Quando os humanos consideram construir nas imediações de uma de minhas casas, a vizinhança repentinamente se enche de lobos. Funciona sempre.

Savannah riu dele.

- É como um bebê, Gregori. Assusta-se com um pouco de companhia.

- Você assusta a morte, mulher. Porque, por você, me encontro fazendo coisas que sei que são loucuras. Ficar numa casa construída um uma cidade enorme sob o nível do mar. Vizinhos sobre nós. Açougueiros humanos nos rodeando.

- Como ia supor que isto te assustaria. - Disse ela presumida, sabendo que a única preocupação dele era sua segurança, não a dele.

Viraram a esquina e se dirigiram à famosa Bourbon Street.

- Tenta parecer menos alegre. - Instruiu-a.

Um cão ladrou, esticando sua corrente até o final, mostrando seus dentes. Gregori voltou a cabeça expôs suas presas brancas. O cão deteve sua agressão instantaneamente, uivando de alarme e imediatamente se retirou choramingando.

- O que está fazendo? - Exigiu Savannah, ultrajada.

- Conseguindo uma percepção do lugar. - Disse ele ausente, sua mente estava claramente em outra coisa, seus sentidos sintonizados com o mundo a seu redor. - Todo mundo está louco aqui, Savannah. Vai dar certo. – ele acariciou-lhe o cabelo.

Ela deteve-se bruscamente, seu sorriso murchou e sua mão deslizou pelo braço dele. A cabeça de Gregori se elevou em alerta, automaticamente explorando a área em busca de inimigos.

- O que é?

Savannah deu meio volta e virou a esquina, caminhando lentamente subindo pela rua.

- Savannah, responda-me. O que está sentindo que eu não sinto? - Gregori a segurou, detendo-a fisicamente. Seus dedos como grilhões em sua mão, seu corpo se aproximou em seguida e a protegeu. - Me responda, ou te obrigarei a voltar para a casa.

- Shh. Estou tentando me concentrar. Nunca fiz isto antes.

Em sua mente, ela estava muito distraída. Gregori se fundiu com ela para poder sentir seus pensamentos, saber algo que estivesse sentindo. Era algum tipo de compulsão, nenhuma que sua raça usasse normalmente, uma chamada para algum lugar. De poder? Tentou sintonizar. Não era poder. Era um chamado mau.

Uma vez mais, sua mão se fixou sobre a dela e a deteve. Havia várias casas na rua, mas além dos blocos de residências havia armazéns. Havia uma loja de vodu. Concentrou-se, escutou intensamente a conversa entre um turista e alguém que trabalhava no local. Havia uma sugestão de poder, de magia, mas certamente não a mancha do mal.

- Dois edifícios além da loja de vodu. - A voz de Savannah acariciou sua mente.

- Não está na lista de Julian - respondeu Gregori, mas acreditava. Sentia através dela. Raven Dubrinsky havia obviamente passado seus talentos psíquicos para sua filha.

De mãos dadas, passearam casualmente ao longo da rua, aparentemente desfrutando o ar noturno, misturando-se com aos turistas e as pessoas que possuíam suas casas ali. A maioria boêmios, estavam no coração do Bairro, ao longo do Bourbon Street, mais embaixo, dirigindo-se no Preservation Hall. Savannah e Gregori andaram pela estreita calçada, detendo-se para permitir passar a uma carruagem de cavalos. Os ocupantes estavam rindo e ouvindo o cantarolar de seu guia descrevendo pontos de interesse salpicados por uns quantos mitos locais.

Dois homens jovens bebiam cerveja nos degraus de uma livraria do outro lado da rua e fixaram seus olhos em Savannah. Mesmo a distancia, Gregori podia ver a instantânea fascinação, a obsessão que ela tão facilmente produzia nos homens. Estava na forma em que se movia, em seu cabelo fluido e seus enormes olhos, em sua aura inocente e sensual. Não havia esperança de que eles não a reconhecessem. Ela encarnava a magia e a fantasia.

Gregori suspirou pesadamente, suas emoções se revoltaram. Iria acabar ficando louco oi possivelmente conseguir que morresse algum bêbado inocente. Os dois homens estavam levantando-se, sussurrando excitadamente, reunindo coragem para aproximar-se dela. Podia ouvi-los, incitando um ao outro. Fixou seus olhos neles e se concentrou brevemente. Limpou seus pensamentos e plantou neles a urgência de sair da zona imediatamente.

- Me faça um favor, chérie. Tente parecer insípida e pouco interessante.

Savannah riu brandamente apesar de sua crescente sensação de temor.

- Supere-o já. - Sugeriu ela.

- É desrespeitosa, mulher. Não posso recordar uma só vez em toda minha existência em que alguém me falasse como faz você.

Ela esfregou sua face pelo ombro dele, numa pequena carícia. A respiração de Gregori pareceu imobilizar-se em sua garganta.

- Por isso o faço. Você precisa de alguém que lhe de um pouco de problema. - Seu tom zombador deslizou sobre ele, dentro dele, os diminutos fios que os atavam juntos se multiplicavam por momentos.

- Não me importaria um pequeno problema. Mas você é um grande problema.

Estavam diante do edifício que Savannah tinha falado mentalmente como a fonte das perturbantes emanações. Estava fechado, as janelas escuras. Gregori podia sentir movimento dentro, sentir a presença de vários homens entre as paredes.

Savannah se abraçou a ele, seus olhos estava cheios de lágrimas.

- Algo horrível está ocorrendo ali, Gregori. Há... – Ela se interrompeu quando as mãos dele se fecharam como grilhões na parte superior de seus braços.

Gregori lhe deu uma pequena sacudida.

- Um momento, ma petite. Sei exatamente o que está passando. Ela não é um dos nossos

- Eu sei. Não sou completamente incompetente. - Havia uma mistura de raiva e lágrimas em sua voz. - É uma humana, mas eles pensam que é uma vampireza. Gregori, é só uma menina. Não pode lhes permitir que lhe façam mal. Posso sentir sua dor.

- É mais velha que você, pequena, e desfila por aí com um casaco negro e os dentes incisivos, com cosmética alterada. Está nas mãos destes loucos por causa de sua própria estupidez. - Gregori estava aborrecido.

- Mas não se merece ser torturada porque gosta de bancar um vampiro. Tire-a de lá. - Os olhos azuis de Savannah refletiram fogo para ele. - Nós sabemos que vai salvá-la. Deixe então de se queixar e salve-a.

- Não permitirei, Savannah. - Disse Gregori brandamente. Sua voz era uma formosa mistura. - Não tente minha paciência, ma petite. Asseguro-lhe isso, não tem oportunidade de ganhar uma batalha entre nós.

- Cale-se. - Exclamou ela rudemente, exasperada por suas maneiras dominantes. - Sei que não vai deixar à garota ali. Posso sentir seu terror, Gregori, e está me pondo doente.

- Sabia que ia me dar problemas do momento em que posei meus olhos em voce. - Disse ele brandamente. - Não arriscarei sua segurança por uma mulher que se disfarça de vampiro. Escolheu fingir que era como eles. Tentarei ajudá-la, mas não contigo sozinha na rua.

Ela soltou o fôlego, rilhando os dentes.

- Estou cheia de força, Gregori. Posso ser invisível se devo escolher caminhar entre os humanos sem ser vista. Não preciso me grudar em você, porque tem medo por mim. – Ela elevou o queixo beligerante. - Sou a filha do Príncipe Mikhail. Posso fazer coisas que outros de nossa raça não podem.

A mão dele segurou e acariciou sua garganta.

- Faria algo por ti, Savannah, mas completar esta tarefa é desagradável. – Gregori encontrou-se se explicando, quando todo seus agressivos instintos masculinos diziam que simplesmente a obrigasse a fazer sua vontade. Não podia suportar que ela acreditasse que ele confiava tão pouco em suas habilidades. - Não desejo que presencie a depravação das mentes destes homens, nem desejo que presencie o vento de morte retorcendo-se através deles. Não pode ter tudo. Desejas que salve a esta mulher. Salvarei-a. Mas não diante de voce. Vá a casa e me espere.

Savannah sacudiu a cabeça.

- Quando entrará em seu duro cérebro que sou sua autêntica companheira? Eu. Savannah Dubrinsky, filha do Príncipe Mikhail. Compartilhamos nossas mentes desde antes de meu nascimento. Não pode esconder de mim o que é, quem é. Nem sequer em meio de sangue e a morte, nem sequer quando a fera trabalha, sempre verei sua verdadeira essência.

- Faz o que te ordeno. E compreende isto. Se por qualquer razão escolher desobedecer minhas ordens, estará pondo a vida da mulher em perigo. Sempre colocarei a sua em primeiro. Isso significa que se me distrair com seu desafio, terei que te obrigar a obedecer.

- É o homem dos Cárpatos mais teimoso que existe. - Disse ela, exasperada, mas lhe segurou a cabeça entre as mãos e o trouxe para si, para capturar seus lábios com os seus. – Cuide-se, companheiro. Essa é minha ordem para voce. Assegure-se de não desobedecer você, a minha ordem.

Ela voltou-se e deslizou de volta pelo caminho que tinham vindo, sem um olhar sobre seu ombro. Seus quadris oscilavam brandamente, eróticamente. O vento crescente brincava com seus compridos cabelos. Gregori a observou, incapaz de afastar o olhar.

Finalmente Gregori girou a cabeça e caminhou determinadamente para o estreito beco ao lado do edifício. Grama marrom, seca e exausta pelo esforço de florescer, ficou esmagado sob seus pés, mas não houve som que delatasse sua presença, nem sequer ao soltar o ar. Uma vez escondido, explorou a área para determinar a convocação exata de todos no edifício e de qualquer outro humano na vizinhança.

Dissolveu-se instantaneamente. Num momento sólido e ao seguinte, invisível. Comprovou o edifício. Todas as janelas e portas estavam fechadas. A mulher dentro gritava, com agonia e terror em sua voz. O som acariciou sua mente, mas ele o bloqueou, explorando os três pontos de entrada no interior. Escolheu um sob o edifício, através de algumas frestas e pranchas podres.

Durante um breve momento, sua imagem brilhou na noite, comprimindo-se, encolhendo-se até se transformar num pequeno camundongo na grama seca. Sentou-se sobre as patas traseiras um momento, com os bigodes crispados no ar. Depois se apressou a cruzar a sujeira e a grama e correu precipitadamente para uma pequena fresta sob as escadas. A abertura era estreita, mas a pequena criatura era capaz de invadir o espaço no interior das paredes.

O encanamento era velho, a maior parte havia desaparecido com o tempo, e o camundongo correu rapidamente através da parede até encontrar o filete de água que conduzia à casa escura. O aroma do sangue e do medo, fez que seu coração pulsar, mas o predador que se ocultava no diminuto corpo grunhiu, expôs as presas com um propósito escuro e mortal. O camundongo parou antes de cruzar o linóleo amarelado, suas orelhas se retorceram, os bigodes em alto, farejando o perigo.

Não havia ninguém na primeira sala, que parecia ser uma área de armazenamento sem uso. Cheirava a umidade e mofo. A forma de Gregori cresceu, solidificou-se, depois brilhou. Podia ouvir a conversa da sala ao lado, claramente. Três homens estavam discutindo e claramente aborrecido pelo que estavam fazendo.

- Esta garota não é mais vampiro que eu, Rodney. – Um deles exclamou. – Simplesmente, você gosta de fazer este doentio trabalho. Esta é uma dessas criaturas que gostam de aparecer com seus amigos fingindo ter presas.

- Não estamos seguros. - Protestou Rodney. - E já que temos que matá-la de todo modo, não vejo porque não podemos passar uns bons momento com ela.

- Esquece-a. - Havia desgosto na voz do primeiro homem. - De maneira nenhuma vou deixar que mate esta garota. Pensava que éramos cististas. Se ela fosse realmente um vampiro, não deveríamos tratá-la assim. Vou sair daqui e levá-la a um hospital.

- Morrison te matará. - Grunhiu Rodney, cada vez mais zangado. - Não vai levar-lhe daqui. Estamos todos comprometidos. Você também... Não se esqueça. É parte disto, Gary, você é uma grande parte disto.

- Não, não sou. E se houver conseqüências por isso... Matar uma garota inocente ou ir para a cadeia... Prefiro a cadeia.

Gregori podia sentir a iminente violência, não proveniente de Rodney, mas do terceiro homem, o silencioso, na sala. Estava aproximando-se furtivamente por trás de Gary enquanto Rodney mantinha sua atenção. A garota tentava desesperadamente advertir Gary, que era sua única esperança, de que estava em perigo.

Gregori sentia o poder na habitação. Manipulação. Compulsão. Estavam trabalhando em algo mais que a sociedade de açougueiros humanos. Deslizou-se pelo quarto, dispersando o ar frio a seu passo. O terceiro homem sustentava uma faca manchada de sangre na mão direita enquanto se colocava atrás de Gary. Gregori inseriu seu corpo invisível entre os dois homens. Quando a faca se levantou para os rins de Gary, Gregori capturou a mão do atacante em uma garra inquebrável e a retorceu, esmagando seus ossos.

O atacante gritou, a faca caiu no chão. Gary virou para trás para encarar o terceiro homem. Rodney se lançou para a faca. A garota estava tão histérica, que Gregori podia sentir seu coração martelando, ouvia-o bater num ritmo muito rápido. Distraiu rápido sua atenção, defendendo a de qualquer outro pensamento. A colocou em estado inconsciente, deixando seus olhos abertos.

Rodney recolheu a faca.

- Olhe vamos ter que te matar também né, Gary?

Gregori suspirou. Por que os humanos tinham sempre que estabelecer o óbvio?

Gary estava retrocedendo, tentando manter um olho no terceiro homem, que estava caído de joelhos, segurando seu braço destroçado, e o rosto branco como um lençol. Estava gritando.

Gary tirou o jaleco branco, do laboratório dos ombros, e enrolou defensivamente ao redor do braço erguido.

- Não vou deixar lhe fazer mais mal, Rodney. Já disse. Isto aqui, se supunha que ser um estudo legítimo. Dissecar alguém vivo, vampiro ou humano, é tortura, nada menos. Não nasci para fazer mal a ninguém.

- Para que acreditava que era, o veneno que desenvolveste? - Exclamou Rodney, ondeando a faca.

- Não desenvolvi nenhum veneno. Desenvolvi um tranqüilizador muito potente, desenhado para sedar a qualquer criatura poderosa. Morrison fez sua gente corromper a fórmula original. Vim aqui para falar com ele sobre isso. Isto é assassinato, Rodney. Olhe-o como vejo. É um assassinato.

Gregori deslizou atrás de Rodney. A mente do homem estava sob à influência de um vampiro. Acreditava-se protegido dos vampiros pela hipnose a que todos os membros da sociedade estavam sujeitos, de algum modo, a um vampiro que se infiltrou em suas filas e tinha poluído a sociedade. Era a classe de coisas que os vampiros estavam fazendo durante séculos, por diversão. Esconder sua verdadeira natureza, fazer amizade com os humanos e lentamente provocar sua decadência moral. Com freqüência utilizavam às mulheres dos humanos com os que travavam amizade para seu próprio prazer, depois as matavam. Algumas vezes usavam os humanos para que se matassem os uns aos outros. Claramente, um professor vampiro estava trabalhando ali. Um que havia escapado à rede de caçadores várias vezes, provavelmente centenas.

Gregori tocou a mente do Gary. Encontrou honestidade, integridade. Nunca havia tido contato com o vampiro e estava decidido a morrer para salvar à garota. Tinha interrompido os outros dois homens enquanto trabalhavam e estava enojado por suas ações. Mas Gregori sabia que Gary não teria nenhuma oportunidade contra a compulsão de matar que o vampiro tinha induzido no outro homem. Rodney ganharia a batalha. Durante um momento Gregori duvidou. Se intervinha, permitiria que Gary vivesse, mas teria que destruir Rodney. Se permitisse que as coisas seguissem seu curso, Rodney poderia o conduzir a guarida do vampiro.

- Sei que não está sequer pensando nisso. - O sussurro ultrajado de Savannah foi suave em sua mente.

Suspirou pesadamente. - Mulher, me deixe em paz. Tenho que fazer o melhor para nossa gente. - Mas sabia que não o faria. Sabia que não podia permitir que Gary morresse. Havia algo que gostava na coragem e na integridade do homem, mas, demônios, Savannah não teria que saber que tinha algum ponto fraco. Nunca havia tido até que chegou ela.

A risada de Savannah roçou sua espinha dorsal como o toque de seus dedos.

Gregori inseriu sua forma sólida entre os dois homens, brilhando no ar, ondeando um momento antes de materializar-se. Houve um silêncio instantâneo. O terceiro homem deixou de gritar, todos eles ficaram congelados em seus lugares. Gregori sorriu agradavelmente, uma amostra de reluzentes presas brancas.

- Boa noite, cavalheiros. Ouvi dizer, que estavam procurando alguém de minha raça. Seria melhor para voce, Rodney, que baixasse a faca. - A sugestão foi pronunciada em voz macia. Negra.

Gary retrocedeu afastando do recém-chegado, instintivamente movendo-se para a imaculada mesa de aço. Suas mãos se levantaram em um sinal tão velho como o tempo, de rendição.

- Olhe, não sei quem ou que é, mas esta garota não tem nada que ver com nada. Não lhe faça mal. Faz o que queira conosco, mas lhe consiga uma ambulância.

Gregori manteve seu olhar prateado, enfocada sobre Rodney. O homem parecia selvagem, a escura compulsão de matar estava sobre ele. Gregori podia ver claramente. Agora , Gary também podia notar que Rodney precisava matar. Era tão necessário para ele como inalar seu próximo fôlego.

- Cuidado. - Advertiu Gary, quando lhe ocorreu que esse vampiro, não importava quão perigoso fosse, havia-se interposto entre Rodney e ele para lhe salvar. Olhou para o terceiro homem. Estava claro que o vampiro o havia salvado de Todd Davis também. Aproximando-se, moveu-se ao redor para conseguir uma melhor posição para ajudar à criatura.

- Não o faça. - Ordenou Gregori ondeando uma mão e Gary foi incapaz de mover-se, apanhado em numa espécie da prisão invisível. - Volte a cabeça a outro lado.

O relâmpago na habitação foi brilhante, como uma nuvem de iluminação em forma de cogumelo. O som fez ranger as paredes de ambos os lados da estrutura, trovejando nos ouvidos de Gary tanto que durante um momento esteve surdo e cego. A casa se agitou, as janelas se sacudiram como com uma explosão. Quando a fumaça clareou, Rodney e Davis estavam no chão, sem vida.

Gary olhou fixamente com horror aos dois corpos enegrecidos, estendeu uma mão, na tentativa para tocar a invisível barricada que de alguma forma lhe tinha protegido. Para sua surpresa, ela se desvaneceu. Imediatamente foi para a garota. Ela ainda estava respirando, mas seu pulso era superficial e ligeiro. Tentou em vão soltar as ataduras que a fixavam à mesa.

- Está deixando impressões digitais. - Informou-lhe Gregori brandamente. Olhou as largas bandas de aço durante um momento, e simplesmente elas caíram das mãos e dos tornozelos da garota. - Vá agora, se afaste deste lugar. Encontrarei você no final do bloco. - Os olhos prateados olharam diretamente os de Gary. - Será melhor que esteja ali. Posso te encontrar no momento em que desejar.

- Ela precisa de ajuda. - O humano estava decidido a defender seu terreno.

- Uma multidão está se reunindo enquanto você esbanja o tempo. Posso te defender se for agora. Depois, haverá muitos. A garota estará bem. Faz o que digo. - Gregori já estava voltando sua atenção para encontrar as impressões dos outros homens, tirando toda lembrança deles da garota, e assegurando-se de que os que estavam fora da casa não recordassem do homem baixo, magro vestido de cinza que saía pela porta de atrás.

Gary Jansen andou lentamente através das pessoas que se apressavam para a casa. Nenhuma o via, passavam por ele, sem que fossem conscientes disso. Na distância, já se ouvia o o uivo das sirenes do Departamento de Bombeiros. Polícia. Ambulância. Estava surpreso, sua mente quase intumescida. Quem fosse a criatura que havia salvo sua vida tinha mais poder do que ele nunca concebera ser possível. Seu cérebro revivia cada momento, cada palavra. Não podia acreditar que ele o tivesse permitido sair. A criatura, sequer havia tomado seu sangue. Na verdade, não sabia se a criatura bebia sangue.

Chegou ao final do bloco, e a debilidade o golpeou. Seus joelhos se dobraram e teve que sentar-se bruscamente no meio-fio.

Uma mão envolveu sua nuca e manteve baixa sua cabeça.

- Respire. - Foi uma ordem dada no mesmo tom de voz que ele usara no armazém.

Gary respirou grandes lufadas de ar, lutando para afastar a vertigem. Com uma leve tirada de humor, puxou conversa com a criatura.

- Sinto muito, mas não são todos os dias conheço alguém como você. - Quando a mão se retirou lentamente de seu pescoço, endireitou-se para levantar o olhar para a alta e poderosa figura que se abatia sobre ele. Nunca tinha visto um indivíduo de aspecto mais perigoso. Engoliu a salina, tomado de medo. - Vai matar me? - As palavras saíram, involuntariamente.

- Deixa de parecer o grande, lobo mau, Gregori. - sugeriu Savannah. Vai provocar um ataque do coração no pobre homem.

Gregori suspirou, exasperado.

- Se fosse te matar, já estaria morto. Que razão teria para tomar sua vida?

Gary encolheu de ombros.

- Nenhuma, espero. – ele ficou em pé com cuidado e deixou escapar o fôlego lentamente. De acima, o homem parecia mais perigoso. Como um faminto gato da selva.

- Já me alimentei esta noite. - Disse Gregori secamente.

- Está lendo meus pensamentos? - Gary tentou que ele não se notasse a excitação em sua voz. Sempre quiz conhecer a coisa real. Sempre. Desde que tinha visto o primeiro filme de vampiros era fascinado. Estava assustado, não havia dúvida, mas esta era a oportunidade de sua vida. – Eu o vi. Significa que tem que me matar? Deixou que a garota se fosse, porque nunca o viu.

Gregori saiu para a rua e ambos começaram a caminhar lentamente, deixando a caótica cena atrás deles.

- Ninguém acreditaria se contasse. Em qualquer caso, posso facilmente apagar sua lembrança de nossa reunião. A garota não recordará.

- Posso acreditar isto. Tem razão. Se contasse a meus próprios pais, eles me internariam. Isto é aterrador, completamente aterrador. - Deu uma volta em torno dele mesmo, com os punhos apertados em sinal de vitória. – Deus! Isto é grande.

- Traga ele traga para casa, Gregori. - sugeriu Savannah.

- Nem pensar, Savannah. Este homem, está louco também. Não necessito dos dois para me colocarem louco. Por que alguém com pouco cérebro, iria querer conhecer um de nós?

- Uni-me à sociedade, para ver se havia alguma evidência real da existência de... - Gary duvidou. - Vampiros. É um vampiro não?

- Poderia pensar isso. - Disse Gregori evasivo.

- Disseram que tinham sangue de um vampiro. A princípio, pensei que podia ser uma brincadeira, mas era um material de momento, realmente interessante. Nunca tinha visto algo assim. Sou bioquímico e isto era uma oportunidade, o sangue fez de mim um crente. - Suas palavras se atropelavam umas nas outras, no esforço de sair. - Todo mundo pensou que eu estava louco, inclusive os membros da sociedade, mas pensei que seria realmente genial estabelecer contato com um vampiro real. Infelizmente, eles só queriam capturá-los e fatiá-los.

Gregori sacudiu a cabeça ante a ingenuidade dos seres humanos.

- Te ocorreu pensar, que um vampiro seria uma criatura muito perigosa? Que atrair um a campo aberto, causaria sua própria morte? Possivelmente a morte de sua família? De qualquer pessoa a quem amasse ou te importasse?

- Por que? Por que um vampiro iria fazer isso? - Desafiou Gary. Estava claro que era um homem que pensava o melhor de todo o mundo.

- Está vendo porque evito os humanos, ma chérie? São umas criaturas tolas e exasperantes.

- Você gosta. Não pode me esconder isso e tente esconder de você mesmo.- o convide para vir em casa.

- Nem por tudas as árvores desta terra.

- Quero o conhecer.

- Savannah. - Não era nada bom, ele estava seguro disso. A mão de Gregori foi para sua nuca, massageando profundamente.

- Assim que é? - Perguntou Gary.

- É o que? - Gregori estava distraído. Por que estava falando com este tolo, em primeiro lugar? Porque Savannah estava o colocando louco. Savannah o havia feito fazer algo estúpido. Ela havia lido a mente de Gary e visto que ele seria uma pessoa interessante e agradável.

- Não me culpe . – Ela soava inocente.

- É um frio bebedor de sangue? Matará minha família e amigos? - Persistiu Gary.

- Sim para à primeira pergunta. - Respondeu Gregori honestamente. - E um verdadeiro vampiro é um grande embusteiro. Certamente, voce tem lido lendas de vampiros que atraem freqüentemente os humanos com seu poder? Um verdadeiro vampiro destruiria você e tudo o que você ama. Esse é seu único entretenimento. Nunca deseje um encontro com um vampiro. A respeito de matar a sua família, se ameaçasse à minha, não o duvidaria.

Gary deixou de caminhar e levantou o olhar para o homem a seu lado. Gregori se moveu através do tempo e o espaço silencioso. Seus incomuns olhos prateados eram hipnotizadores, assim como sua formosa voz. Ele movia-se como um predador, com olhos inquietos e sem piscar. Tudo nele gritava perigo, embora Gary se sentia inexplicavelmente atraído para ele. Podia continuar escutando para sempre o som de sua voz. - Não está brincando comigo, está? Mas, você disse que não é um vampiro?

- Sou um caçador dos não-mortos, um destruidor de vampiros. Há, entretanto, um verdadeiro vampiro entre os membros da sociedade que estas ligado. Destruirá a todos voces. - A voz foi suave e desapaixonada, sem expressão.

Gary passou uma mão no cabelo.

- Está me dizendo isto porque está planejando apagar a lembrança de voce, verdade?

Os olhos prateados se fixaram no rosto de Gary com pesar.

- Não posso fazer outra coisa. Não deveria me haver revelado para voce, mas você tem um grande valor, e seu único desejo era permitir conhecer algo que procurava.

- Você é tão doce, Gregori - ronronou Savannah, sua voz era forte em sua mente.

- Não sou doce. - Objetou ele vigorosamente.

- Não que tenho feito para merecer isto. - Disse Gary. - Mas estou realmente agradecido.

- Tentou nos salvar. A garota e a mim. Não acreditava que um membro de sua raça, de sua sociedade, tentasse prestar ajuda a um de minha classe. - Gregori foi sincero porque sentia que o humano o merecia.

- Pode confiar em mim, sabe. Não vou divulgar seu segredo. Não há nenhum humano que saiba a verdade?

- Estará em constante perigo. Não desejaria isso para voce.

- É o homem mais doce, que conheço. - inseriu Savannah brandamente, sua voz o acariciou. Ecoando em sua mente.

Gregori franziu o cenho. Eco? Perto. Perto? Girou o corpo, amaldiçoando em francês, numa eloqüente dissertação, que fez que Gary se encolher.

Savannah, entretanto, simplesmente tomou o braço de Gregori e lhe sorriu. As estrelas em seus olhos dançavam. Ela era assim. lhe distraindo e depois deslizando-se para seu lado com um sorriso. Com seus olhos azul violeta. Com seus malditos centros de estrela. Nem sequer tinha a decência de parecer arrependida.

-Não se zangue, Gregori. Sentia-me sozinha com toda a casa para mim. Está realmente, zangado? Ou só um pouco zangado? - Seu tom era suave. O sussurro de uma sereia, feito de lençóis de seda e luz de velas. Seus cílios eram espessos e pesados, um berço de magia que capturava seus olhos e os sustentavam ali.

- É impossível para você se sentir só, quando está sempre dando voltas por minha cabeça.

- É Savannah Dubrinsky. - Gary sussurrou seu nome reverentemente. - Meu Deus, devia supor.

A conduta inteira de Gregori mudou, convertendo-se de repente em ameaçador e perigoso. Sua face estava esculpida em pedra, sua boca ligeiramente cruel. O cabelo da nuca de Gary literalmente em pé. Ele engoliu com dificuldade e instintivamente se moveu, afastando-se da mulher.

Não que culpasse o homem, a criatura, mas sua reação foi a de uma fera selvagem, não de um homem civilizado.

Gary estava arriscando-se.

Savannah riu maciamente. Inclinou-se para o homem, apesar do braço de Gregori a refrear.

- Ele pode ler sua mente. – Ele lembrou Gary brandamente. Seu hálito, se atormentando o pescoço do homem.

Ele saltou para trás, como se houvesse se queimado, seu rosto ardia, tomado de cor vermelha. Virou-se com olhos culpados, para Gregori.

Os traços de Gregori relaxaram. A linha endurecida de sua boca se suavizou.

- Não se preocupe, Gary, ela é incorrigível. Também tenho problemas com ela. Não posso te culpar do que não está sob seu controle. - Seu braço deslizou em volta da pequena cintura de Savannah, e a trouxe até seu corpo

- Está zangado? - O sorriso estava murchando-se nos olhos dela, em sua boca.

Gregori apertou seu abraço sobre ela quando seu passo vacilou. - Podemos discutir isto em casa, chérie. Já que está aqui, pode bem dar ao rapaz, alguma alegria. Mas advirto, não uma alegria muito grande.

Ela relaxou o corpo contra o dele. Tão rápido. Tão fácil. Como se ele lhe pertencess. Ele era sua outra metade. Estava começando a acreditar que podia ser possível.

Seu sorriso enviou uma seta de luz em Gary.

- Vocês gostariam de ir ao Cafe du Pode? - Perguntou ela. - Está ainda aberto. Podemos nos sentar ali e conversarmos.

Gary olhou a face impassível de Gregori. Quem podia negar alguma coisa a ela? Ela era como algo misterioso e mágico, de outro mundo.

Gregori parecia tão implacável e rude como sempre, seus perigosos traços de granito, seus olhos prateados e frios, reluzindo com ameaça. Mas sua postura era protetora, o braço que rodeava a cintura dela, terno. Gary voltou o rosto para esconder um sorriso. Os vampiros pareciam ter problemas com mulheres, também.

- Você gostaria de te unir a nós no Cafe du Pode? - Perguntou-lhe Gregori tranqüilamente, já mudando de direção. Voltaram-se descendo a rua Saint Ann Street para o Decatur and Jackson Square.

Quando passaram a famosa Catedral do St. Louis, Gary limpou a garganta.

- Sempre quis saber, se é certo que um verdadeiro vampiro não pode pisar em solo sagrado, é verdade? Uma cruz ajuda a proteger uma pessoa, ou é uma lenda?

- Os vampiros não podem pisar em solo sagrado. Sua alma está perdida para sempre. É sua escolha. Ele tomou a decisão de converter-se em vampiro. - Gregori respondeu tranquilamente. - Não cometa o engano de sentir pena dos vampiros, Gary. São realmente malvados.

- Está acabando com todas minhas teorias. - Disse Gary tristemente.

- Quais são suas teorias? - Perguntou Savannah, seus olhos azuis estavam fixos em seu rosto. Isso o fazia sentir-se como se fosse o único homem no mundo, como se fosse terrivelmente importante para ela.

Gregori se moveu inquieto. Os frios olhos, sem piedade, observaram Gary, deixando um sabor amargo na boca do homem. Desejava dizer à criatura que não podia se controlar. Que Savannah era muito sexy. Mas tinha o claro pressentimento, de que admitir tão fato, não ganharia nenhum favor. Em troca, Gary manteve o olhar com firmeza, para longe de seu irreal beleza e seus pensamentos centrados na excitação de estar com tão místicas criaturas da noite. O sonho de toda sua vida.

- Estava a nos contar suas teorias. - Incitou Gregori.

Cruzaram a rua, entre uma multidão de turistas. Gregori foi consciente de que a maioria deles olhavam fixamente sua companheira. As cabeças se voltaram quando ela se deteve na calçada em frente ao Café, onde as mesas estava colocadas muito juntas.

Um dos garçons, os conduziu a uma mesa vazia, então reconheceu Savannah, deteve-se durante um breve momento, e depois se apressou a tomar nota.

Gregori se sentou com as costas voltadas para um grosso poste, parcialmente escondido nas sombras, seus olhos inquietos, todos os sentidos alerta. Não podia permitir o luxo de baixar a guarda. Em algum lugar desta cidade, havia um poderoso vampiro com uma legião de marionetes humanas para fazer sua vontade.

Savannah deu vários autógrafos, conversou brevemente com cada pessoa que foi a sua mesa. A mão de Gregori estava sobre sua nuca, seus dedos movendo-se suavemente, meigamente, contra a pele nua. Se encontrou sentindo-se muito orgulhoso dela. Mas assim que seus três cafés e as baguettes chegaram, até Gary desejou se ver livre dos fãs entusiastas.

Gregori convocou o garçom, para que se inclinasse mais perto, com sua voz hipnótica.

- Savannah esteve encantada de dar autógrafos para seus clientes, mas precisa desfrutar de seu extraordinário café. - A sugestão foi uma clara ordem, os olhos prateados capturaram os do garçom e não lhe deram oportunidade de fazer mais que consentir.

Savannah sorriu em agradecimento quando o garçom lhe proporcionou amparo, dos turistas que pululavam a seu redor.

- É assim em todas partes às que vai? - Perguntou Gary.

- É. - Savannah encolheu de ombros tranqüilamente. - Não me importo. Peter sempre... - interrompeu-se bruscamente e levou a xícara fumegante à boca.

Gregori podia sentir o sofrimento pulsando nela. Uma pesada pedra que esmagava seu coração. Sua mão deslizou pelo braço dela, entrelaçando os dedos com os seus. Em seguida, insuflou conforto na mente dela, a sensação de seus braços ao redor de seu corpo, abraçando-a.

- Peter Sanders sempre cuidava dos detalhes que rodeavam o show de Savannah. Era muito bom protegendo-a. Foi assassinado depois de sua última atuação em São Francisco. - Proporcionou a informação tranqüilamente a Gary.

- Sinto muito. - Disse Gary instantaneamente.

A dor era evidente nos grandes olhos azuis. Brilhavam. Gregori levou a mão de Savannah a boca, seu hálito esquentou a pulsaçãp de sua mão. - A noite está especialmente formosa, mon petit amour. Sua interferência salvou à garota, agora caminha entre os humanos e conversas com um tolo. Isso deveria trazer um belo sorriso em seu rosto. Não se lamente pelo que não pode mudar. Temos que nos assegurar, de que este humano não nos trará nenhum prejuízo.

- Você é meu herói. - Havia lágrimas em sua voz, em sua mente, como um prisma iridescente. Precisava dele, de seu conforto, seu apoio sob o terrível peso da culpa, o amor e a perda.

- Sempre, por toda a eternidade. - Respondeu ele instantaneamente, sem duvidar, seus olhos mercúrio ardente. Ele ergueu-lhe o queixo para que ela visse olhar. - Sempre, mon amour. - O olhar dele prendeu o dela e a sustentou escravizada. - Seu coração vai se aliviar. O ardor de sua dor se converte em mim.      Ele manteve seu olhar cativo alguns momentos, para assegurar-se de que ela estava livre da culpa que a esmagava.

Savannah piscou e se moveu um pouco, afastando-se dele. Prguntava-se em que estava pensando. O que estavam falando?

- Gary. - Gregorio pronunciou o nome lentamente e se sentou para trás em sua cadeira, totalmente relaxado. Parecia um tigre perigoso e indomável, saciado. – Conte-nos algo sobre voce.

- Trabalho muito. Não sou casado. Na verdade, não sou pessoa sociável. Sou basicamente um fraco.

Gregori se moveu. Um movimento sutil de músculo que sugeriam grande poder. - Não estou familiarizado com esse termo.

- Você não seria. - Disse Gary. - Quero dizer que tenho muito cérebro mas nenhuma força bruta. Não sou do tipo atlético. Gosto de computadores, de xadrez e as coisas que requerem intelecto. As mulheres me acham um fraco, fraco e aborrecido. Não sou do tipo que gostam. - Não havia amargura em sua voz, só uma tranqüila aceitação de si mesmo e de sua vida.

Os dentes brancos de Gregori brilharam.

- Só há uma mulher que me importa, Gary, e acha difícil viver comigo. Não posso imaginar por que e você?

- Possivelmente porque é ciumento, possessivo, mandando em cada pequeno detalhe de sua vida? - Gary tomou a pergunta literalmente, oferecendo suas observações sem julgar. - Provavelmente é dominador também. Posso ver..

Savannah estalou em gargalhadas, o som musical rivalizou com os músicos das ruas. As pessoas a sua volta, viraram a cabeça e conteram o fôlego, esperando mais.

- Muito ardiloso, Gary. Muito ardiloso. É certo que tem um enorme coeficiente intelectual.

Gregori se moveu novamente, o movimento de uma onda de poder, de perigo. Estava repentinamente inclinado para Gary.

- Crê que está preparado? Provocar um animal selvagem não é muito inteligente.

A risada de Gary se uniu a de Savannah.

- Está lendo minha mente! Isto é tão genial. Como faz? Podem os humanos fazer o mesmo? - Durante um instante, ele havia se intimidado, mas o riso, ainda nos olhos do Savannah, relaxaram sua tensão.

Savannah e Gregori trocaram um sorriso. Foi Gregori quem respondeu.

- Sei de seguro que há alguns poucos humanos que possuem tal talento.

- Desejaria poder fazer o mesmo. Que mais podem fazer?

- Pensei que estávamos falando de voce. - Disse Gregori macio, de algum forma, sem querer deixar no humano, sua própria percepção pouco aduladora de si mesmo. - Nunca havia conhecido um humano com tanto valor e visão como o que mostrou esta noite, e vivi muito tempo. Não se menospreze tanto. Possivelmente, se enterra no trabalho para evitar a dor de uma relação mal resolvida.

As pálpebras de Savannah desceram sobre sua face, enquanto ocultava sua expressão. Estava diante de um homem que se achava um monstro. Que reclamava não sentir nada por ninguém.

Gary tomo um gole do famoso café e deu uma rápida mordida no baguette do Cafe du Pode que era tão famoso. Estava delicioso. Notou que o casal, do outro lado da mesa, pareciam estar comendo, mas não estava seguro de que realmente o fizessem. Quem eram? Por que se sentia tão a vontade com eles? Gostava de sua companhia. Sentia-se vigorizado com ela. Aliviado. Interessante observação, quando o homem era quase tão perigoso como um animal encurralado. Letal, ante a menor provocação. Havia sido testemunha do poder que o homem possuía.

O que aconteceria se o homem havia dito a verdade? Os vampiros eram grandes embusteiros? Que aconteceria se o homem sentado, casualmente diante dele, estava lhe enganando? Gary estudou o rosto impassível. Era impossível dizer sua idade. Possuía uma áspera beleza, com um toque de crueldade, embora era incrivelmente de aparência agradável. Passou uma mão pelo rosto. Como podia saber?

- Esse é o problema com os vampiros, Gary. - Aconselhou Gregori baixo. - Não há forma humana de notar a diferença entre o que é um caçador e o que é um vampiro.

Gary notou que ele havia usado a palavra o que em vez de quem. O que era ele?

- Entrar em nosso mundo é muito perigoso. - Acrescentou amavelmente Savannah. Ela ia colocar uma mão sobre o braço de Gary, com sua maneira simpática, mas um baixo e feroz aviso, procedente da garganta de Gregori a deteve. Ela colocou a mão sobre o colo. Gregori percorreu com seu dedo, sua mão, numa espécie de desculpa por seu fracasso em superar suas maneiras possessivos.

Gary respirou fundo.

- Possivelmente isso está certo, mas já estou comprometido. Não era para mim estar no armazém esta noite, mas me apresentei. Minha fórmula não parecia correta, assim levei a cabo uma pequena investigação. Executei uma prova da composição química. Estava tão zangado, que fui a uma das poucas direções da sociedade que havia. Quando encontrei a pobre garota ali, fiquei frenético e chamei o chefe... Morrison... Em seu número privado. Ele não estava disponível, mas lhe deixei dito que abandonava a sociedade, que ia contar tudo para os jornais e para a polícia. Não acredito que Rodney estivesse tão interessado em te matar como estava em matar a mim. Tenho o pressentimento de que alguém o ordenou me matar.

- Estava sob a compulsão de um vampiro. Nada o teria parado.- Admitiu Gregori.

- Então já sou um objetivo não? - Assinalou Gary triunfante.

Gregori suspirou de novo.

- Tente não soar tão feliz com isso. Há limites para nosso amparo. E você coloca em perigo, Savannah. - Só por isso, eu já te arrancaria o coração.

As palavras pareceram brilhar no ar, não pronunciadas mas ouvidas. Gary pareceu sobressaltado.

- Sinto muito. Não pensei nisso. Suponho que ela seria o objetivo se a vissem comigo. – Ele estava evidentemente aborrecido. – Sinto-me terrível por não ter considerado o fato.

- Mantenha baixa a voz. - Recordou-lhe Gregori. - Precisamos saber mais sobre os que formam esta sociedade, do que sabemos. Tem uma lista de nomes?

- Só dos que trabalham no laboratório. O laboratório legítimo, quero dizer. Não esse doentio que viu esta noite. - Gary passou uma mão pelo cabelo com agitação. - Quero chamar o hospital, me assegurar de que a garota está bem. Sabem, ainda não posso acreditar que ele fossem despedaçá-la viva.

- Eu disse-lhe isso. - Reiterou Gregori. - A única fonte de entretenimento do vampiro é a miséria daqueles que o rodeiam. Corromperá deliberadamente aos que acreditam que são menos propensos a sucumbir a seus poderes. É um jogo para ele. É um bom homem, Gary, mas não é rival para um vampiro. Ele poderia fazer você matar a sua própria mãe. Algo detestável para você é o que ele te obrigaria a fazer.

- Não quero que apague minhas lembranças. - Suplicou Gary. - Esperei toda minha vida por este momento. Sei que diz que não posso notar a diferença entre um vampiro e um caçador, mas acredito que está equivocado. Por exemplo, você me assusta demais. Parece perigoso e atua como se fosse. Nem sequer tenta esconder. É um homem que assusta, mas sinto que é um amigo. Confiaria-te minha vida. Sei que algo malvado pareceria agradável, mas eu perceberia a sujeira.

Os reluzentes olhos de Gregori, fixaram em sua face, com um brilho quente neles, um brilho de humor.

- Já está confiando em mim, com sua vida.

Savannah se inclinou sobre Gregori.

- Estou muito orgulhosa de voce. Está dominando isto com humor. - Olhou através da mesa para Gary, com o riso dançando em seus enormes olhos azuis. – Ele tem um pequeno problema com o conceito de humor.

Gary se encontrou rindo com ela.

- Não posso acreditar.

- Cuide-se, menino. Não há necessidade de ser desrespeitoso. Não cometa o engano de acreditar que pode escapar da mesmaforma que ela faz. - Gregori alisou o comprido cabelo de ébano de Savannah. Ele descia até sua cintura, numa queda de seda negro azulada que se movia com vida própria. Que tentava, convidando aos homens a tocá-lo.

- Oque vais fazer comigo? - Aventurou Gary dolorosamente.

Savannah resistiu a urgência de lhe tocar simpaticamente. Era de natureza expansiva, naturalmente afetuosa. Quando alguém estava aborrecido, precisava fazer com que se sentisse melhor. Gregori inibia sua tendência natural de confortar as pessoas.

- Não posso mudar o que sou, ma petite. - sussurrou ele em sua mente, uma lenta e consoladora frase aveludada. - Só posso te prometer te manter a salvo e tentar a fazer feliz como posso, apesar de minhas deficiências.

- Não lhe disse que tinha deficiências. – respondeu ela com brandura. Sua voz uma carícia, e seus dedos finos, traçando uma carícia nas costas máscula, até seu pescoço.

O desejo o pegou de repente, baixo e perverso. Sua pele queimou. Seus olhos prateados deslizaram lenta e possessivamente sobre ela, tocando seu corpo com línguas de fogo. Tocando. Acariciando. Seu urgente desejo explodiu como um vulcão. Em sua mente desejou que Gary desaparecesse. Que o café desaparecesse. Que o mundo desaparecesse. Não estava totalmente seguro de poder esperar até chegar em casa com ela. Ela estava perigosamente sedutora.

 

Gary levantou a mão, pronto para a prova. Havia um profundo pesar em seus olhos. Estava voltando para sua vida normal. Não que fosse uma vida tão má, mas se sentia conectado a estas duas pessoas. Tinha vivido isolado toda sua vida. Sempre fora de sincronia. - Bom, estou pronto. Só me prometam que me visitarão de vez em quando.

A mão de Gregori se moveu sobre o pescoço de Savannah, repentinamente imóvel. Inalou bruscamente. Savannah?

- Eu sinto também.

Gregori se inclinou sobre a mesa para olhar fixamente aos olhos de Gary. - Fará o que Savannah te falar sem perguntas, sem pensar. Obediência instantânea.

- Gary quero que vá com o Savannah agora. Estamos sendo caçados. Ela defenderá dois de todos os olhos, e eu conduzirei os predadores em outra direção. Savannah, caminharemos juntos nas sombras. Pode conseguir manter os dois fora da vista sem minha ajuda? Preciso manter uma imagem de voces dois comigo durante um momento, e eu gostaria de proporcionar uma inesperada tempestade. As nuvens serão uma ajuda extra para voce.

- Sem problemas. - Respondeu ela sem duvidar. Nada em sua face traía sua repentina apreensão. Este era o modo de vida de Gregori, não o seu. Ele era o professor.

Gregori colocou dinheiro sobre a mesa e sorriu. Depois, fitou os olhos do garçom. - Ajudará-nos a deixar este lugar sem incidentes. –lhe disse - Seus olhos prateados sustentaram o garçom prisioneiro durante um breve momento. Quando soltou o homem da sujeição hipnótica, o garçom chamou os outros, e formaram um semicírculo entre a mesa e o resto dos ocupantes.

Gregori acrescentou uma generosa gorjeta, acenou para Savannah e Gary e saiu. Savannah se moveu com graça, caminhando diretamente para cruzar a rua escurecida, conduzindo-se para as sombras da praça. Estava muito consciente de Gregori ainda perto dela, seu corpo protetor. Durante um momento, pensou que ele lhe acariciava o ombro com a mão. A sensação foi real, mas quando girou a cabeça, ele estava a vários metros atrás.

- Vamos, ma petite. Leve Gary para casa. Não permita que os vizinhos os vejam, nenhum dos dois. Coloque as salvaguardas cuidadosamente.

- E voce?

- Não há salvaguarda que eu não possa desfazer. Vá agora.

Desta vez, não houve engano. Ele estava a quatro metros de distância, já afastando-se dela, mas ela ainda sentiu sua boca tomando possessivamente a dela, atrasando-a um momento, sua língua traçando a curva de seu lábio. Não podia acreditar, que ele ainda pudesse fazê-la arder de desejo, quando estava entrando na noite para lutar com seus inimigos.

- A noite foi sempre minha, Savannah. Não esbanje tempo preocupando-se por mim.

A suave e hipnotizadora voz exalava confiança. Gregori se afastou a passos largos, caminhando da praça, e a seu lado pareciam estar Gary e Savannah, movendo-se ao mesmo passo casual. Ociosamente. Turistas passeando.

As nuvens começaram a formar redemoinhos no céu, movendo-se rápidas e escuras, trazendo uma inesperada neblina fina, elevando vapor do calor da noite. Savannah se concentrou em sua tarefa. Era relativamente fácil fazer-se a si mesma invisível daqueles que desejava evitar, mas nunca tinha tentado defender outro, de olhos entrometidos. Tirando firmemente sua mente do problema da segurança de Gregori, do conhecimento seguro que ele teria que matar ainda uma vez mais, segurou Gary pelo ombro e se voltou para a linha de lojas que conduziam à parte alta da praça.

- Siga caminhando não importa o que aconteça, embora pareça que alguém vai tropeçar diretamente contigo.

Gary não pronunciou nenhuma palavra, mas podia sentir seu coração martelando no ar noturno. A névoa se elevou fora do rio, uma névoa espessa de vapor que flutuou com o vento até a praça e moveu rapidamente para cobrir as ruas. As pessoas riam em voz alta para ocultar seu súbito nervosismo. A manta de névoa enchia-os de apreensão, de sensação de perigo. Moviam-se na neblina, criaturas malvados, criaturas da noite.

Gregori continuou a ilusão de que Savannah e Gary passeavam com ele ao longo da ribeira. Pareciam mover-se como uma unidade, serpenteando, falando tranqüilamente os uns com os outros. Gregori queria pôr distância entre os humanos inocentes e a ilusão que estava criando. Podia senti-los o seguir, sabia que viam só o que ele queria que vissem. Eram ghouls. Marionetes macabras enviadas pela vontade de seu amo. Um som lhe escapou, quando sentiu o demônio interior elevar a cabeça e tirar suas garras, lutando por liberar-se.

Seu corpo se estirou, os músculos se ondearam, dando as boas vindas ao familiar poder que surgia através dele. Riu brandamente, um riso baixo, enviado para fora como um desafio. Sua mente tocou a de Savannah, assegurando-se de que ela estava perto de casa. Estava fazendo um bom trabalho em ocultar-se e ao humano. Savannah era só uma menina, uma novata, com pouco treinamento em seus hábitos. Estava orgulhoso dela, ondeando dentro e fora da multidão de turistas que saíam fora do Preservation Hall. Era uma tarefa difícil, e ela agia como uma profissional.

Permitiu que as duas ilusões que havia criado brilhassem sobre a água, e depois lentamente se dissolvessem na névoa. Só ele continuou cruzando a extensão de água para o embarcadouro Algiers. Estava seguro de que o não-morto podia ver seu desafio. A escura compulsão de matar estava sobre eles, a favorita do vampiro. Um lento sorriso sem humor aprofundou a linha cruel de sua boca. O vampiro, que estava procurando Savannah, não tinha idéia de que se encontraria com o Gregori, o Escuro, em Nova Orleans.

Julian Savage era um grande caçador, possivelmente o segundo melhor depois dele mesmo. Se Julian havia mantido uma residência na cidade e não tinha destruído o professor vampiro, isso podia significar que o vampiro não saía nunca quando Julian voltava para a cidade. O professor vampiro obviamente sacrificava outros de sua própria classe sem que lhe revolvesse o estômago. Os vampiros com freqüência corriam juntos para ganhar força contra o caçador, mas não havia vínculo de lealdade que os mantinham juntos.

Gregori esperou entre as árvores. Podia ouvir o embotado grunhido como de um zumbi, dos dois atacantes enquanto abriam passo através da água atrás dele. Sua embarcação era potente impulsionado por um motor que cuspia e choramingava ruidosamente, mas não tentavam esconder sua presença. Era típico dos ghoul, a firme dedicação em levar a cabo as ordens do vampiro. Não tinham outro propósito na vida, nem outra vida. Eram ghouls, serventes, marionetes.Uma vez humanos, mas agora precisavam do sangue corrompido do vampiro para continuar existindo, dormiam em esgotos e tumbas pouco profundas para escapar do sol mortal. Os vampiros normalmente matavam suas vítimas quando se alimentavam, mas algumas vezes, quando necessitavam de serventes para realizar tarefas para eles à luz do sol, compartilhavam seu sangue corrompido, unindo às vítimas a eles, roubando suas mentes e suas almas.

Mas estas marionetes eram perigosas. Tinham uma enorme força, inteligência e eram difíceis de matar para um homem dos Cárpatos normal. Quase impossível para os humanos. Seu rosto se contraiu, imaginando Savannah nas mãos dessas duas abominações. Era uma novata, incapaz de matar as criaturas. Possivelmente, matá-los a distância... Gregori havia aprendido cada forma de matar de seu mundo e dos humanos... Mas queria assegurar-se de que nenhum outro se visse apanhado em sua batalha. E queria o vampiro que tinha os enviado para que entendesse quem estava recolhendo sua luva. Gregori. O Escuro.

A embarcação estava bloqueada por algumas raízes de árvore que surgiram das escuras águas oleosas. Gregori não fez nenhum esforço para ocultar-se dos zumbis. Esperou, com o corpo relaxado e a névoa enroscando-se ao redor de suas pernas. A ligeira neblina tomou sua face e se estendeu como uma fina manta através da noite.

As duas marionetes saíram da embarcação, salpicando água em todas as direções. Gregori inalou, sentiu a repentina perturbação do ar. O vampiro pensava que sua armadilha havia dado certo. Todos os Cárpatos podiam detectar uns aos outros quanto estavam dentro de certo raio de ação. O vampiro devia ter conhecido o momento exato em que Savannah entrou em seus domínios, mas não havia detectado a presença de Gregori. Gregori caminhava entre sua própria gente sem ser visto quando assim o desejava. Cobrir a si mesmo, era natural para ele como respirar. O vampiro, que tinha fugido de Julian, claramente pensava que estava tratando com um Carpato de menos poder. Uma noviça.

Os dois enormes ghouls estavam caminhando pelo aterro. Duas vezes o homem ruivo caiu à água, enviando gotas que se pulverizavam enquanto tentava levantar-se.

Os dois zombis se separaram, movendo-se para lados diferentes.

- Compreende isto, malvado.

Gregori enviou uma forte chamada mental. Sentiu a súbita dúvida no ar quando o vampiro deu conta de que a pesada névoa, a incomum garoa e as nuvens que se formavam redemoinhos não eram um fenômeno natural. O vampiro retrocedeu, preocupado. Os elementos estavam perfeitamente recreados e poucos poderia produzir tal obra de arte.

- Lançaste-me seu desafio, e eu aceito. Venha a mim.

A voz de Gregori foi baixa e hipnotizadora. Formosa. Não havia outra assim. Ninguém podia resistir quando decidia utilizar seu poder mortal.

O vampiro lutou contra a compulsão, a hipnótica ordem, mas sua forma vacilou fora da névoa sobre a água. Sua face estava retorcida, uma malvada máscara, olhos que brilhavam vermelhos, gengivas que retrocediam revelando dentes agudos. As garras se fechavam nas mãos, como navalhas. Destilava veneno, assustado e furioso de que alguém pudesse o chamar, que se visse forçado contra sua vontade, a obedecer. Não havia onde esconder-se da voz que sussurrava, e se viu obrigado a emergir totalmente a uma forma sólida, incapaz de continuar a ilusão.

Durante séculos, havia sido uma aranha glutona, tecendo sua pestilenta teia, mantendo a cabeça encurvada e fugindo quando era necessário.

- Não posso acreditar que alguém como você, escolhesse caçar a um oponente tão deficiente como eu. – Ele disse rilhando os dentes e sorrindo estupidamente como se fossem velhos amigos.

- Chama a si mesmo Morrison? - Os olhos pálidos de Gregori passaram do zumbi a sua esquerda, que se moveu um pouco mais para perto, cada um de seus movimentos cuidadosamente orquestrados pelo vampiro. - Quando era jovem, se chamava Rafael. Desapareceu faz uns quatrocentos anos.

Os dentes afiados, cheios de manchas escuras, adquiridos em séculos de consumir sangue humano apoiado na adrenalina, reluziram em uma grotesca paródia de sorriso.

- Estive na terra durante quase um século. Quando me elevei, o mundo tinha mudado muito. Você foi o assassino sancionador do Príncipe, se alimentando de nossa raça. Deixei nossa terra natal, dirigida por sua febre e sua luxúria de nosso sangue. Este é meu santuário agora, minha casa. Não peço nada de mais. Por que vem aqui sem convite , me incomodar?

Gregori começou a enfocar o próprio ar, para construir a mudança que precisava, reunindo uma bola de rangente e feroz energia, fora de vista, no redemoinho de nuvens.

- Não possui esta cidade, Rafael. Não pode me ditar onde posso ou não estar. Puseste seus serventes sobre a pista de Savannah. Sabia que era minha companheira, ainda assim a buscou deliberadamente. Não posso pensar em nenhuma outra razão exceto seu desejo, durante séculos de depravação. Estava procurando a justiça escura de nossa gente.

O primeiro ghoul arremessou-se contra ele, bramando furiosamente, com movimentos enfraquecidos. Gregori simplesmente se desvaneceu, uma unha afiada arranhou o pescoço corrupto, seccionando a jugular. O ghoul uivou e girou em círculos, orvalhando gotas vermelhas brilhantes, no negro da noite. O ruído continuou, agudo, ressonando através da água. Longe, no bayou, os jacarés deslizaram para baixo, para escorregar silenciosamente nas escuras profundezas. Os gritos continuaram, enquanto a marionete do vampiro dava voltas, procurando sua vítima.

Gregori observou desapaixonadamente, de onde estava, a umas poucas jardas da patética criatura.

- Termine, Rafael. Você o criou. Pode lhe permitir a dignidade de morrer.

O vampiro estava com os olhos sobre o reguero de sangue, a saliva gotejava de seu queixo pela antecipação. Casualmente estendeu a mão e agarrou um pouco do sangue que jorrava, na palma de sua mão e a lambeu. A criatura se arrastou para ele, rogando e suplicando, implorando ao vampiro que acabasse com sua vida. Rafael chutou à criatura para longe. O corpo, ainda movendo-se desesperadamente, aterrissou nas águas profundas e começou a afundar-se.

Amaldiçoando-se a si mesmo, Gregori levantou a mão e diretamente a bola de fogo atravessou o corpo do homem. Um ghoul podia levantar-se uma e outra vez, se seu criador não dispunha apropiadamente de sua vida. Ele podia aterrorizar as que viviam do rio se Gregorí não o tivesse incinerado, deixando-o imprestável para o vampiro.

Rafael saltou para trás, horrorizado ante a vista da bola laranja que havia passado diretamente através de sua obra e instantaneamente tinha feito explodir o corpo em uma ardente conflagração. Sibilou, sua cabeça ondulou como a do réptil que era. Gregori o considerou fríamente.

- Equivoquei-me. Não é o professor. É um de seus subordinados sacrificados, um escravo dos mais baixos que se arrasta de joelhos e pede favores. Não pode ser Morrison.

Os olhos do vampiro brilharam, de ardente vermelho, seus lábios se moveram num grunhido.

- Pensa em me ridicularizar? Crê que esse chamado Morrison é mais poderoso que eu? Eu fiz Morrison. Ele é meu servente.

Gregori riu.

- Não tente se fazer passar por um dos antigos, Rafael. Como pinjente, como estudante não pôs suficiente empenho em aprender os amparos para te manter a salvo. – Ele inclinou a cabeça para lado. - Isto é tua idéia, não de Morrison, correto? Provocou-me enviando essa ridícula imitação de vampiro, Roberto, atrás de Savannah, e colocou Wade Carter sobre sua pista. Quem eles chamam agora de Morrison é muito preparado para isto. Não queira de nenhuma forma me desafiar.

Os olhos do vampiro arderam de fúria. Seu gemido foi venenoso, sua cabeça ondulou mais rápido, ritmo usado para hipnotizar uma vítima.

- Morrison é um néscio. Não é um professor. - Era difícil entender as palavras com o vampiro grunhindo e vaiando enquanto as pronunciava. Saliva, manchada por seu sangue corrupto, vomitava de sua boca e gotejava para baixo, sobre o peitilho de sua camisa uma vez elegante, de seda branca.

Gregori sacudiu a cabeça lentamente.

- Queria que eu caçasse Morrison. Estava usando Savannah para me conduzir a te liberar de seu amo.

O segundo ghoul atacou por atrás, arrastando-se de forma furtiva para Gregori, depois balançou um enorme ramo de árvore por trás de sua cabeça. No segundo último, Gregori girou. Seu braço se chocou contra o grosso galho, destroçando-o e fazendo que chovessem várias lascas sobre os barrosos bancos do rio. Continuou com seu fluidico movimento, um poderoso balé. Fluídico, mas forte, suas garras rasgaram a garganta exposta, quase decapitando o servente do vampiro com sua força casual.

O vampiro uivou de raiva, que foi levada através da névoa, como um raio. A garoa era densa, os fios de névoa se enrolavam mais e mais ao redor de suas pernas e cintura, movendo-se mais alto para arrastar em uma cauda perdida ao redor de seu peito. Parecia quase vivo, vivendo e respirando como uma besta escondida, ganhando força enquanto se movia.

Gregori sorriu agradavelmente ao vampiro, cuidando em caminhar longe do corpo, agora flutuando no barro.

- É como um pavão, Rafael, elevando suas plumas e andando com passo arrogante. Deve ter levado séculos para reunir tanto ódio contra Morrison. - Sua voz era formosa, entrando no corpo do vampiro, devolvendo a força, construída com as mortes de tantos outros, às águas. Essa voz sussurrava poder. Poder real. Invencível. Sem piedade. Implacável. – Morrison, é que te permitiu sobreviver aos caçadores, te enviando à cidade. É a forma em que ele sobreviveu aos caçadores, deixando-o quando eles chegam à vizinhança que ocupa.

- Fugindo. - Disse Rafael desdenhosamente. - Foge inclusive quando somos fortes. Deveríamos possuir esta cidade. Juntos deveríamos nos pôr em ação e matar qualquer caçador que se atreve a vir aqui. Mas ele foge como o coelho que é. Desprezo sua fraqueza.

Gregori apontou ao ghoul, e um golpe de relâmpago, se produziu das nuvens para o chão, conduzindo-se através do coração das marionetes e deixando só cinzas enegrecidas e inúteis.

- Crê que é tão poderoso. - Riu dissimuladamente Rafael. - Matei a muitos, não é nada. Nada comparado com alguém como eu.

Os olhos prateados de Gregori reluziram frios na negra noite. Chamas vermelhas flutuaram através do prateado. Ele cresceu em poder e estatura.

- Sou o vento que anuncia morte, o instrumento de justiça enviado por nosso Príncipe para levar a sentença pronunciado sobre você, por nossa gente por seus crímes contra mortais e imortais por igual - Sua voz era pura, formosa. O tom doeu no vampiro, como puas que se conduziam através de sua cabeça. Embora não tivesse escolha, contra sua vontade, se moveu para mais perto, precisando ouvir o som de tanta pureza e beleza, novamente.

Quando o vampiro deu um passo involuntário para frente, algo se apertou ao redor de suas pernas, suas coxas, depois se estendeu enrolando-se ao redor de seu peito, apertando devagar. A pressão era firme, implacável. Com horror, o vampiro baixou o olhar para ver as caudas de névoa movendo-se, com vida, como uma enorme e grosa serpente, deslizando-se como um firme anel que aprisionava seu corpo.

- Lute comigo! - Gritou Rafael, salpicando sangue e saliva no barro e na água. - Tem medo de lutar comigo.

- Eu sou a justiça. - Disse Gregori brandamente. Sua voz era implacável e resolvida. - Não pode haver luta, nem batalha, quando pode haver um só resultado. Um ataque mental ou físico, ou um simples enfrentamento de nossos engenhos, pode haver um único final. Sou a justiça. Isso é tudo.

Uma rajada de vento e o vampiro não viu o Escuro se mover. A velocidade foi incrível, o vampiro não pôde seguir o borrão de movimento. Mas sentiu o impacto. Forte. O estalo continuado sacudiu seu corpo inteiro. Estava em pé ali, encerrado no estranho abraço da névoa, olhou para a mão estendida do caçador. Em sua palma, estava seu coração, ainda pulsando. O vampiro jogou a cabeça para trás e uivou de raiva e horror. O negro vazio que era sua alma, longamente perdida, se foi. Subindo com seu sujo mau cheiro no ar noturno como fumaça. Seus dentes se mostraram e rilharam ante o impassível caçador.

Gregori permaneceu em terra, sua mente cuidadosamente em branco. Esta era sua vida. Sua razão para existir. Era a escura justiça necessária para que sua gente sobrevivesse, para continuar sua existência em segredo.

Permaneceu ali , na noite, absoluta e completamente sozinho.

- Gregori, eu estou contigo sempre. Nunca estará mais sozinho. Olhe-me em seu coração, em sua mente, em sua alma.

- Olhe seu herói agora, Savannah. Olhe o que sou realmente. Mato sem pensar. Sem esforço. Sem remorsos. Sem piedade. Sou o monstro que me chamou, e o sou a propósito. Algum dia pagarei o último preço.

A suave risada de Savannah sussurrou sobre sua pele. Era uma brisa gentil, flutuando através de sua mente. - E quem é mais forte que meu companheiro? Ninguém pode te matar.

- Crê que a morte é o último preço? Não é, Savannah. Algum dia saberá o que sou e me olhará com horror e repulsão. Quando esse dia chegar, deixarei de existir.

Gregori observou o vampiro que começou a cair. Moveu-se então, para completar a desagradável tarefa de assegurar que o nosferatu não pudesse levantar-se novamente. Faíscas ferozes choveram do céu, do tamanho de bolas de golfe, golpeando o vampiro, cobrindo o de chamas. Sobre o banco de barro, a distância do corpo ardente, Gregori incinerou o malvado coração.

- Companheiro. Vêm para casa comigo. - A voz de Savannah foi baixa, compelindo, suave e sedutora, não havia mínimo rastro nela, de que era um assassino. De que seria sempre um assassino. - Aqui é onde você pertence. Não é só, nunca estará sozinho. Não pode sentir, eu me estendendo para voce? Me sinta, Gregori. Sente como me aproximo de você. Sinta-me te desejando.

E ela podia sentir, em sua mente, em seu coração. A voz lhe tocava profundo, onde ele mantinha fechado seus mais secretos segredos.

Ela era o belo e que Deus os ajudasse, não podia obrigar-se a deixá-la.

- Preciso de você, Gregori. - O sussurro chegou de novo.

Desta vez, havia uma nova urgência nele. Ela o inundou com seu desejo, com crescente ardor e súbito medo de que a deixasse sozinha.

- Gregori? - me responda. - Não me deixe.

Não poderia suportar que o fizesse.

- Não há possibilidade de que isso ocorra, ma petite. Estou voltando para casa. Era a única casa que conhecia, o único santuário que possuía, Savannah.    Um sonho para ele tão longamente desejado que ela era uma parte de sua alma. Sussurrou-lhe sua incondicional e total aceitação. Lançou-se pelo céu, seu corpo dissolvendo-se na neblina, para tornar-se parte da névoa em movimento, que havia fabricado.

Ainda estava numa espécie de fúria, que estava lhe consumindo. Ele havia criado sua impossível situação com Savannah, com sua manipulação da natureza. Sabia que não podia continuar. Era mais que instável em seu estado. Ela tinha que saber a verdade. No que estava pensando? Que podia esconder dela e do resto dos Cárpatos, durante séculos? Ela se fazia mais forte cada dia. Precisava a cercania de fundir sua mente com a dele, e ele nãopodia fazer outra coisa que permitir.

Gregori havia estado tão seguro de que podia manter uma parte de si longe dela, para seus propósitos egoístas, mas sua felicidade era agora, o mais importante para ele. Ela precisava saber a verdade. Savannah precisava saber que ele não era seu verdadeiro companheiro. Limparia a sociedade de açougueiros humanos, caçaria o professor vampiro, e depois escolheria encontrar o amanhecer. Não tinha escolha. Savannah merecia estar completa.

Explorando automaticamente, a alguma distância da casa. Gregori sentiu a presença de Gary, num dos dormitórios do piso superior. O homem estava sob a sugestão hipnótica de Savannah para dormir. Gregori podia ver que ela o havia assegurado para a noite, mas reforçou a ordem com uma própria. Suas salvaguardas eram mortais. Se Gary despertasse antes deles se levantar e saísse para buscá-los por curiosidade, morreria. Estendeu-se através das ondas de sonho e penetrou na mente do homem. - Permanecerá como está até que eu desperte. Se algo acontecer e despertar antes da hora, não tente nos encontrar. Você pode morrer. Eu seria incapaz de te salvar.

Isto não era estritamente a verdade... Podia ser capaz de proteger o humano... Mas, desejava imprimir o perigo no subconsciente de Gary. Qualquer pessoa sentiria curiosidade em saber onde eles estariam dormindo, e Gary mais que a maioria.

Pesada névoa branca ocultou a casa. Ele deteve-se para examinar as salvaguardas de Savannah. Cuidadosamente afastou cada uma para trás, até que foi seguro entrar na casa. A neblina se compilou na entrada até que mais uma vez ele foi real e sólido. A casa estava suave e lhe deu as boas vindas. Estava brilhante e de algum modo chamando-o. Os lençóis haviam desaparecido dos móveis, e um fogo estava agonizando na lareira, com brasas tão vermelhas e dançando baixas, lançando sombras na parede longínqua.

Gregori se dirigiu imediatamente para a escada em espiral. Podia senti-la, sabia infalivelmente, o ponto exato onde ela estava lhe esperando. Não precisava sair procurando Savannah. Seu corpo sempre a encontraria, sua mente sempre sabia sua localização. Seguiu baixando as escadas lentamente, temendo enfrentá-la.

O porão estava totalmente transformado. Havia velas por toda parte, flutuando em todos os níveis, iluminando a escuridão interior da câmara. As sombras se entrelaçavam intimamente em cada canto da habitação. Uma variedade de ervas esmagadas, algumas acesas, enchendo o ar com a essência de madeiras e flores. Uma enorme banheira antiga estava em pé no centro. Era ampla e profunda, com seus pés em formato de aranha. A água brilhava incitante, com o vapor surgindo da superfície.

Savannah veio a ele instantaneamente, sua face estava iluminada com alguma emoção que não se atrevia a nomear. Estava com uma camisa de seda, sua camisa e nada mais. Os botões estavam abertos de forma que ela revelava seus seios altos e cheios, e seu estreito torso. Outro passo e sua diminuta cintura, seu estômago plano, o triangulo de firmes cachos de ébano, mostrou-se durante um intrigante momento antes que as largas caudas da camisa voltassem para seu lugar. Seu cabelo caía em cascata e se movia em torno dela, como vivo, respirando seda. Cada passo que ela dava, captava suas olhadas .

Em seguida, o calor explodiu em seu sangue. Seu corpo se enrijeceu com alarmante urgência. Cada boa e nobre intenção que tinha, pareceu consumir-se em chamas.

Ela sorriu-lhe, seus braços deslizaram ao redor de seu pescoço.

- Estou encantada de que esteja em casa. - Sussurrou ela brandamente, sua boca encontrou a pulsação, na garganta dele.

Podia sentir o calor de seu corpo, seus suaves seios apertados contra ele.

Gregori fechou os olhos, convocou sua vontade de ferro, e pôs grilhões em suas mãos, com uma inquebrável garra. Asfastou os braços dela e a manteve longe de seu raivoso corpo.

- Não, Savannah, não posso manter esta decepção por mais tempo. Não posso.

As pálpebras dela velaram seus olhos azul violeta durante um momento, ocultando seus segredos em suas profundezas.

- Não pode me decepcionar, Gregori. É impossível. Você, entre todos os Cárpatos deveria saber. - Ela retorceu suas mãos, num pequeno movimento feminino que conseguiu que ele a soltasse instantaneamente.

Gregori examinou sua pele procurando manchas, temendo que em seu desespero, houvesse usado força física.

Savannah o ignorou, suas mãos foram aos botões da camisa dele.

- Se desejas discutir este assunto comigo, bem, mas será no calor desta banheira. - A amável diversão de sua voz foi tão efetiva como seus dedos acariciando a pele nua de seu peito.

Ela tirou a camisa de seus ombros e fez com ela flutuasse até o chão.

- Savannah. - Seu nome foi um gemido que suplicava misericórdia. - Tem que me escutar, desta vez. Nunca encontrarei força para fazer esta confissão novamente.

- Hmm. - Murmurou ela, claramente distraída. Seus dedos estavam trabalhando nos botões de suas calças. - É obvio que o escutarei, mas te quero na banheira. Por mim, Gregori. Depois de todos os problemas que passei por voce.

Gregori fechou os olhos, teimando contra as chamas que lambiam sua pele. Seu corpo estava furiosamente acordado. As mãos dela sussurravam sobre seus quadris enquanto deslizava as calças por suas pernas, as unhas arranhavam suas coxas. Deu um passo fora dela, muito consciente de que não podia ocultar as demandas de seu corpo, por ela.

Savannah sorriu com e pegou suas mãos para o conduzir à banheira. Entrou e se sentou entre as águas vaporosas. A sensação de cor sobre sua pele incrementou sua sensibilidade ao prazer. Ela permaneceu em pé atrás dele, suas mãos soltaram a tira de pele que prendia seus cabelos a nuca. O ligeiro e prolongado toque das mãos dela, estava enviando ondas de fogo em sua pele.

Savannah verteu a água cálida sobre sua cabeça, molhando completamente seu cabelo. Esfregou xampu entre as mãos e começou um lento e aliviador massagem em seu couro cabeludo. Com os dedos ocupados em seu cabelo, inclinou-se sobre ele, a suavidade de seu seio, tocou suas costas.

- E agora, companheiro, qual é o terrível segredo que te machuca?

Era mais fácil dizer com ela fora de sua vista, com o conforto de suas mãos sobre seu couro cabeludo.

- Você não é minha verdadeira companheira. Manipulei o resultado, com o conhecimento que adquiri durante séculos.

- Já sabia que acreditava nisso, Gregori. - Reconheceu ela com suavidade. - Mas também sei que está equivocado. - Havia pureza e honestidade em sua voz.

A garganta dele estava em carne viva, ardendo.

- Nem sequer pode ver o que sou, Savannah. Nunca poderia esconder o que sou, de minha verdadeira companheira. Tento te mostrar, mas você não quer ver a realidade. Tem uma ilusão em sua mente, e nada pode substitui-la.

As pontas dos dedos dela aprofundaram a massagem, nunca vacilando em seu propósito.

- E se supõe que é o mais sábio dos antigos. Meu amor, voce é o único que tem ilusão de voce mesmo. E, devo acrescentar, de mim. Se, sou jovem... Comparada contigo, uma menina... Mas sou primeiro uma mulher dos Cárpatos. E sou sua verdadeira companheira. - Suas mãos se afastaram e ele foi instantaneamente abandonado. Água cálida tomou seu lugar, levando o xampu.

- Lembro-me de antes de nascer, de uma terrível dor, de minha mãe e da minha... Você veio a mim quando tinha escolhido me liberar da dor e me envolveu em seu conforto.

- Savannah. – Ele gemeu seu nome novamente, cobrindo o rosto com as mãos. - Com minha vontade, uni-te a mim.

- Meu deu seu sangue para salvar minha vida, curou minhas feridas e me falou das maravilhas da noite, de nosso mundo. Quando estava começando a engatinhar, veio para mim com a forma de um lobo. Compartilhamos nossas mentes constantemente, cada noite. Quando cresci, alcançamo-nos e compartilhamos tudo o que fomos.

- Aceita-me só porque fiz essas coisas.

- Essa é a ilusão, Gregori. Estive em sua mente. Vejo o que é, e melhor que você. Levei um pouco de tempo para unir todas as peças, porque tinha medo de nosso laço, do quão forte era. Tinha medo de perder o que era, ante uma forte personalidade. - Suas mãos começaram a lhe ensaboar as costas. Fazia pequenos e preguiçosos círculos com a espuma. - Não os considere juntos a princípio. Minhas lembranças de antes de meu nascimentose minhas lembranças de meu formoso lobo, meu companheiro que me fazia sentir tão completa. Não pensei no quanto era fácil e natural unirmos nossas mentes. Não pensei no porque nunca necessitei ou quis outra pessoa. Não veio a mim até que notei o quanto e tão completamente, que me fundia contigo, me deslizando dentro e fora de sua mente. Nenhum dos dois notou. Você nunca notou. Falhou ao notar que em todos esses anos de minha infância, havia tido uma semelhança de paz no tempo que passava comigo. Mas o senti. Vi em sua mente. Está aí agora, para que examine suas lembranças. Por isso, foi tão duro quando deixei o Continente e fugi longe como a menina que era. Você vê em cores, Gregori. Não as via em séculos. Vi o quanto são vívidas e brilhantes para voce. Só sua verdadeira companheira poderia te proporcionar tal coisa. Sua estúpida culpa está te cegando à realidade.

A água morna desceu para baixo, por suas costas. Savannah se moveu, para ficar de joelhos diante dele ao lado da banheira. Quando se inclinou para frente, seu cabelo sedoso emoldurou a perfeição de sua face. A camisa se abriu para revelar a incitante vista de suas curvas. A rosada ponta de um mamilo o tentou. Encontrava-se lutando duro controlar a direção de seu olhar. Ela ensaboou seu peito.

- Estou contigo na caça. Contigo na morte. Estou em sua mente, compartilhando seus pensamentos. Nenhuma outra poderia fazer o que faço, porque sou a única companheira que tem. Sou uma sombra em sua mente, tão familiar, que você não sabe que estou aí.

Ela colocou água sobre seu peito, depois esfregou o sabonete entre sua palmas novamente. Inclinando a cabeça para um lado, ela olhou amorosamente o rosto severo.

- Você fica em em branco quando caça. Sei isto, não porque você me tenha contado, mas sim porque estou ali contigo, em sua mente. O que quer sentir? Tristeza? Remorsos? Caçou durante quase cem anos, Gregori. Viu-se obrigado a matar amigos e parentes. Esteve isolado e só durante anos, sem sua companheira. Era impossível nesse mundo ermo. Só seu código e sentido da honra e sua lealdade a meu pai, o manteve.

As mãos de Savannah procuraram sob a superfície da água e encontraram, o sexo intumescido, seu grosso e enrijecido membro. Começou uma lenta, erótica e intima massagem. Seus dedos eram mágicos, enviando sensações de prazer.

- Não desejaria que pensasse em nada enquanto caça, especialmente em mim. Espero que não se distraia muito. - Seu sorriso foi francamente sexy, suas mãos se moveram com uma recentemente adquirida habilidade. - Não pode sentir nada ,nessas ocasiões, Gregori. Reduziria sua velocidade e você poderia cometer um engano. Realmente, pensa que pode trocar mil anos de treinamento? Programou-se há séculos.

Seu corpo a sentia. A fera interior se retorcia de desejo. Seus olhos prateados, totalmente abertos, a olhavam. Ardente e faminto. Selvagem e indomável.

Ela sorriu-lhe e se colocou de joelhos. Seu sorriso se tornou erótico. Depois, Savannah ficou em pé e permitiu que sua camisa deslizasse por seus ombros até o chão.

- Estou contigo em sua mente, e sequer você sabia, porque sou sua outra metade e ali pertenço. Quem mais poderia ir com voce à caça, quando todos seus sentidos estão em alerta completa e sem que fosse consciente disso?

A respiração dele era audível na quietude. Ela retrocedeu, seu corpo era um sensual convite, o cabelo negro-azulado acariciava a cremosa pele. Gregori ficou em pé ignorando a água que se descia por seu corpo. Desejava-a e ela lhe pertencia.

Quando saiu da banheira, ela retrocedeu pouco a pouco. Seus olhos estavam semicerrados, o desejo em sua mente, seu pequeno e belo corpo, chamando o dele.

Ela moveu-se inquieta, uma das mãos foi para os sedosos pêlos do peito masculino, sensibilizando seus mamilos.

Savannah sacudiu a cabeça lentamente. Sua língua, deliberadamente umedeceu o lábio inferior.

- Só quero meu verdadeiro companheiro, Gregori. Estou faminta esta noite. Meu corpo está faminto por ele. - Sua mão deslizou, lenta e incitante, pela pele molhada e os olhos dele seguiram o movimento cheio de graça enquanto seu corpo rugia.

Gregori cobriu a distância entre eles, com urgência. Levantando-a, recostou-a na parede. Manteve-a prisioneira ali, Seus lábios se fecharam sobre os dela, exigindo resposta, alimentando-se, devorando. Suas mãos, reclamavam seu corpo para ele.

- Ninguém nunca a tocará e continuará vivo, Savannah. - Exclamou ele, sua boca deixou um caminho de fogo pela garganta dela até o seio. Alimentou-se sedutoramente. Seus dentes roçaram a cremosa plenitude. - Nenhum outro, Savannah.

- Por que, Gregori? Por que não pode nenhum outro tocar meu corpo assim? - Murmurou ela, com sua boca sobre a pele dele, sua língua sobre a pulsação dele. – Diga-me por que meu corpo é só teu e seu corpo só meu.

As mãos dele se curvaram sobre traseiro dela, atraindo-a contra ele.

- Você sabe por que, Savannah.

- Diga, Gregori. Diga se acredita. Não haverá mentiras entre nós. Tem que sentir em seu coração, como eu. Tem que sentir em sua mente. Seu corpo está ardendo por mim. Mas acima de tudo, tem que saber que sou sua outra metade.

Ele elevou-a, colocando-a no alto da margem da câmara de dormir, suas mãos separaram suas pernas.

- Sei que ardo por voce. Em meus sonhos, no sonho de nossa gente onde não pode haver outros pensamentos, ardo por voce. – Ele inclinou a cabeça para saboreá-la, seu cabelo molhado molhou o interior das coxas dela enquanto ele trazia o corpo nu para mais perto dele.

Savannah gemeu alto ao primeiro toque de sua boca. A ânsia do desejo ardente a converteu em líquido, em chama ardente. Apertou os cabelos dele nas mãos eo prendeu a ela.

- Diga, Gregori. - Exclamou ela entre os dentes apertados. - Preciso ouvir voce dizer isso.

- Estou dizendo-o, companheira. Não pode me ouvir?

Ele não levantou a cabeça, esperando sentir o corpo dela suplicar pelo seu, desejando sentir seu apertado sexo, fazendo pressão nele. Savannah possuía o sabor do mel selvagem e de especiarias. Era aditiva. Sua resposta era aditiva, a forma em que gemia e se retorcia, tomada de sensações ante seu assalto. Ela estava trêmula de vida, de fogo, e ele a levou para o ápice das sensações, até ela suplicar, cheia de dengos, por piedade. Só então, ele a elevou em seus braços.

- Coloque suas pernas ao redor de minha cintura.

Ele deslizou-a para baixo de seu corpo ardente até que a penetrou-a cadenciadamente. A sensação que a recepção do sexo dela, úmida, ardente e preparada, estava produzindo orgias em sua cabeça e seu corpo se endurecia de desejo. Ainda a sustentava, acariciando-a sua ardente e vulnerável entrada.

- Coloque sua boca em meu pescoço, Savannah. - Ordenou. - Beba de mim enquanto a possuo.

- Depressa. - Suplicou ela, com voz alta, exigente.

Quase cegamente, ele a obedeceu, sua língua acariciou a pulsação latente. Jogou para um lado, o cabelo úmido e quando empurrou-se para frente, entrando novamente no interior aveludado vagem.

Os dentes dela atravessaram a pele máscula e brilhante, para que ele fluísse nela, seu corpo, sua alma e suamente.

Gregori gritou roucamente, em pleno êxtase, quando ela, tomando de seu companheiro, como sempre ele quis. Sem reservas, sem se refrear, sem barreiras alguma entre eles.

A mente dela estava cheia de imagens selvagens, e a dele, emparelhada e inflamada como a dela.

Gregori se permitiu sentir o intenso prazer. Chamas, formando pequenos raios de eletricidade, relâmpagos ardentemente brancos, a fricção crescendo mais.

Ela sempre estivera em sua alma.

Desta vez, a tomou, precisando da liberdade de sua total aceitação. De sua rendição incondicional, de sua completa confiança nele.

Savannah deslizou sua língua pelo pescoço dele, fechando as pequenas feridas. Arqueou-se afastando-se dele, oferecendo os perfeitos seios a seus lábios.

- Agora você. Se alimente em meu corpo da mesma forma em que eu me alimento.

Era pequena e ligeira mulher, em seus braços, o enlouquecia. Ela pequena, comparada com o tamanho de seu corpo, mesmo assim, quando entrou em seu interior, enterrando-se profundamente, conduzindo-se tão perto de sua alma como podia, o corpo dela se ajustou ao dele. Primeiro, tomou sua boca, saboreando o poder de seu próprio sangue em seus lábios. Depois, seus dentes acariciaram a suave garganta e desceu em busca do vale entre seus seios. Girou o corpo.

Savannah estava sobre ele, e seu corpo dançava num ritmo perfeito com o dele, urgente, frenético. Suas pequenas e suaves mãos, capturaram sua cabeça para o obrigar a unir seus lábios aos dela.

- Preciso de você.

Era uma suplica dolorida, que ecoava em sua mente, ele não esperou. Sentiu seus afiados incisivos, alongando-se, enquanto entrava profundamente no seio dela.

Ela gritou. Seu corpo se enrolou ao dele, tremendo com tal intensidade, com uma tormenta de fogo e prazer, que ele sentia como se explodisse em mil pedaços. Savannah cravou as unhas nas costas dele procurando uma âncora enquanto os quadris masculinos erguiam-se e se empurravam em seu interior, selvagens, indomáveis, desinibidos. Então, explodiram juntos. Gregori levantou a cabeça acompanhou os gritos dela, incapaz de conter o selvagem prazer que ardia em seu interior.

Savannah se apertou a ele, com a cabeça sobre seu homem. Ele esperou seu coração se acalmar, para estar seguro de que estava ainda sobre a terra.

Algo se moveu entre eles, e ele viu o fino veio de sangue correndo pelo estômago dela, para gotejar sobre seu próprio corpo. Inclinou a cabeça e fechou as feridas no peito dela.

- Amo voce, Gregori. - Sussurrou ela brandamente contra sua garganta. – amo demais voce. Ao Gregori real. Entende?

Ele ondeou uma mão para apagar as velas, inundando a câmara na mais completa escuridão. Com o corpo de Savannah fechado sobre o dele, entregaram-se ao abraço da terra que os esperava. A riqueza de sua terra natal.    Instantaneamente, a paz entrou em seus corações acelerados, na inquietação de suas mentes.

- É minha por toda a eternidade, Savannah. Até que estejamos cansados desta existência e escolhamos ir juntos para a próxima.

Triunfante, liberou seu corpo do dela, inclinando a cabeça para limpar o rastro vermelho que danificava a pele dela. Gregori se colocou de forma que sua cabeça descansasse junto ao seio dela.

Os braços de Savannah passearam pelo cabelo úmido, trazendo-o para ela. O sono de sua gente a chamava. Ele moveu seu corpo de forma que pudesse cobrir com uma das pernas, as coxas dela. Para que suas mãos pudessem percorrer o corpo dela a vontade, sabendo que ficaria impresso ali, na terra embaixo dele.

A porta da câmara deslizou silenciosamente para selá-los no interior, só com o pensamento dele. As salvaguardas eram muitas e todas elas mortais. Qualquer um que perturbasse seu descanso, estaria em perigo mortal.

Gregori acariciou seu comprido cabelo, contente.

Em paz.

- É muito pequena e apertadinha, ma petite, para dar tanto prazer a um homem. - O fôlego dele, acariciava os mamilos dela, e sua língua o seguiu numa lenta e ociosa carícia. - Faço-te o amor cada vez que a tenho em meus braços. Não posso haver nenhum outro entre nós, Savannah.

Ela se moveu, sonolência e feliz. O ligeiro movimento, levou seu seio contra os lábios dele. Suas mãos acariciaram o cabelo dele gentilmente.

- Não sou eu que estava preocupada, companheiro. Sei que não há outro. Tenho certeza.

A língua dele realizou outra preguiçosa carícia, em sua cremosa pele.

- Para alguém que passa séculos, na mais absoluta escuridão, leva bastante tempo para acreditar que não perderá a luz. Durma, Savannah. Durma a salvo em meus braços. Deixe que a terra cure nós dois e nos traga paz. Como Julian sabia que aconteceria.

Ela ficou em silêncio um momento, mas a ele se alimentava em seu seios, causando-lhe pequenos espasmos. Era o desejo novamente.

- Quero que se comporte. - Havia um toque de riso em sua voz, uma aceitação. Era algo que desejava.

Ele desejava que ela dormisse e silenciosamente se empurrou para sua mente, ajudando-a a sentir-se mais cansada, mas não podia deixar seu corpo ainda. Passou uns poucos minutos acariciando meigamente seu seio.

A abraçou enquanto se entregava a um nebuloso e erótico sono

- Durma, agora. - Ordenou ele brandamente e enviou a ambos à terra curadora.

 

Gary tentou não notar a palidez de Savannah, quando se uniu a ela, para uma xícara de café. Sua pele estava quase translúcida. Ele ainda estava aturdido pelo transe induzido, que ela o colocara para dormir e havia passado mal para despertar, inclusive depois de uma longa ducha. Não tinha nem idéia de onde vinha a roupa que usava, mas elas estavam aos pés da cama quando despertou.

Savannah era formosa, movendo-se através da casa como a água que flui, como música no ar. Estava vestida com um velho jeans e uma camisa turquesa pálida que se moldava a suas curvas e enfatizava seu estreito torax e a pequena cintura. Seu cabelo comprido, estava jogado para trás numa formosa trança que descia até seu traseiro. Gary tentou manter seus olhos afastados. Não havia nenhuma evidência de Gregori esta noite, mas ele não queria se arriscar. Tinha o pressentimento de que a única coisa que poderia mudar essa remota expressão rapidamente era ter outro homem fascinado por Savannah.

- Logo que Gregori voltar, podemos sair e conseguir um jantar para voce. - Disse Savannah, quando ele aceitou a fumegante xícara de café.Estava forte.

Gary não fazia idéia, de como havia chegado à casa na noite anterior. Limpou a garganta nervosamente.

- O que aconteceu, exatamente, ontem à noite? Tudo o que lembro é de chegar à casa com voce e depois despertar, a uma hora atrás. Assumo que dormi todo o dia todo. - Havia cautela em sua voz, em sua mente, que não estava ali antes. Era uma singular experiência, tomar consciência que alguém havia tomado o controle por ele.

- Não o despertei, até que não assegurássemos de que era seguro. Ontem à noite, Gregori teve um encontro com dois dos serventes do não-morto e um vampiro de menos importância. Derrotou-os, é obvio, e os destruiu para que não pudessem voltar novamente. Era mais seguro para você, permanecer aqui. Não estamos te mantendo prisioneiro. Simplesmente desejamos te manter a salvo. - A diversão foi evidente na voz dela - Não acredito que Gregori saiba realmente, o que fazer contigo.

O coração do Gary saltou. Limpou a garganta novamente.

- Espero que diga positivamente.

Os olhos do Savannah sorriram para ele.

- Crê realmente que ele te fará mal? Ele pode ler sua mente. Se fosse um inimigo, o teria matado no armazém. – Maliciosamente, ela se inclinou sobre a mesa. - É obvio, que é realmente imprevisível, nunca saber o que ele pode fazer ou onde está... – ele interrompeu-se, sorrindo, mais uma vez, enquanto seu braço flutuava no ar como se algo tivesse apanhado sua mão e a atirasse para trás. Savannah foi induzida, por algo invisível, até a cozinha. Ela estava rindo. Seus olhos azuis dançavam peraltas.

Gregori a arrastou pela mão, lebando-a para o pátio com sua densa e anormal vegetação. As flores davam voltas nas árvores e dançavam sobre suas cabeças, caíam pelos ombros dele, enquanto emergia completamente na noite.

- Estas deliberadamente assustando a esse jovem. - Acusou-a.

Ela elevou a cabeça para ele, com estrelas do céu noturno, dentro de seus olhos.

- Bem, na realidade, como poderia alguém duvidar de voce? - Enquanto a palma de sua mão acariciava a dura linha de seu queixo, a ponta de um dedo tocou seus perfeitos lábios.

- Deixe de pensar que tem que me proteger, Savannah. É bastante com que tenho a voce. Não necessito de ninguém mais. – Ele inclinou a cabeça para encontrar sua boca. Tinha-a tomado duas vezes com seu insaciável apetite, mas seu corpo estava novamente voltando para a vida, ante a idéia de que ela sairia em sua defesa.

No momento em que sua boca reclamou a dela, sentiu a terra mover-se a a rápida labareda de fogo, apressando-se em de sua corrente sangüínea. Seu corpo se tornou líquido. Seus ossos, fundindo-se instantaneamente com ele. Seus braços a esmagaram mais perto.

- Alimente-se, ma petite. Alimente-se em mim.

Os lábios macios tocaram a garganta dele em obediência. Sua língua acariciou a pulsação. Sensualmente. Erótica.

O corpo dele se enrijeceu com uma alarmante onda de desejo. Sua pulsação saltou sob a carícia exploradora. Gregori segurou-a firme contra ele, encerrando-a entre seus braços protetores.

Savannah tomou seu tempo, incitando, tentando-o deliberadamente. Animada pela sensação do corpo masculino, forte e agressivo, pressionar o dela. Quando seus dentes se cravaram profundamente, ele fez um ruído, um lamento rouco e inarticulado, enquanto o relâmpago branco cintilava e dançava através de seu corpo como um látego de dor e êxtase, até que foi impossível dizer onde acabava uma sensação e começava a outra.

Nisso, Gregori sentiu a perturbação no ar noturno. Um sussurro de movimentos e soube que não estavam sozinhos. Segurando-a protetoramente, seu corpo a defendeu dos olhos alheios. Gregori levantou seus olhos prateados, para o homem que vagava pelo pátio. Gary não os havia descoberto ainda. Seus olhos estava cheios da maravilha e inesperada beleza do pátio. Gregori se entranhou nas sombras, formando uma capa de invisibilidade em torno deles. Sua mão encontrou a nuca dela, pressionando sua boca contra a pele.

Deixar que ela se alimentasse, estava retorcendo seu corpo com urgentes demandas. Não podia nem imaginar, observá-la alimentar-se de outro homem, quando ele ardia em fogo e desejo, pelo simples ato.

Lenta e relutante, Savannah acariciou com sua língua, as diminutas feridas e levantou a cabeça. Seus olhos estavam nublados, como se tivessem feito amor, seus lábios o tentavam. Um pequeno ponto vermelho marcava sua boca, e Gregori instantaneamente tomou-o com sua língua.

Sua boca se moveu para poder explorá-la, o princípio exigindo, logo um lento e cuidadoso beijo que a encheu de ternura. Savannah sorriu, com o coração em seus olhos.

- Não estamos sozinhos, mon amour. - Sussurrou ele em seu ouvido.

Ela riu, mas com pesar, jogou a cabeça para trás para que sua larga trança oscilasse.

- Não foi voce que o convidou a ficar?

- Acredito que foi você. – Ele corrigiu-a através dos dentes apertados. Ela era uma febre em seu sangue. Uma loucura que sabia, não ter esperança de curar-se. Não queria curar-se. Ele inclinou-se para tocar seu seio, através da camisa.

O ar noturno era suave e frio contra sua pele. Os morcegos se lançavam e davam voltas sobre eles. A essência das flores os rodeava enquanto seus corpos se abraçavam.

Savannah riu dele, o som da alegria, ressonou em seu coração.

- Cuide-se, Gregori. Não queremos que perca sua imagem de grande homem morcego mau. - Seus dedos se entrelaçaram no pescoço dele.

- Estas sendo uma pequena provocadora. – ele acusou-a, mordiscando o lóbulo da pequena orelha, tentando-a com a ponta da língua.

O aroma do café estava aproximando-se. O som dos passos de Gary vibravam nos azulejos do pátio. Suas roupas sussurravam contra as folhagens das enormes samambaias quando se aproximou das sombras, onde estavam escondidos.

Gregori se encontrou engolindo um gemido. Savannah lhe baixou a cabeça rodeando seu pescoço com os braços e encontrando seus lábios. Desfrutando, o sabor tentador de seu corpo e do fogo que ameaçava os consumir, ameaçando seu controle.

- Está brincando com fogo, ma chérie.

- Mmm, você é tão delicioso - murmurou ela, perdendo-se no puro prazer de sua boca dominante.

Gary já estava do outro lado da árvore, perto de uma pesada treliça de madressilva e videiras, entre eles. Gregori tomou o comando da situação. Relutante, elevou a cabeça.

Gary havia pensado que estava completamente sozinho. Jogou um olhar ao redor do pátio cautelosamente, seus dedos apertaram a xicara de café. Podia ouvir a suave risada de Savannah. Sexy. Tentadora. Sacudiu a cabeça. Essa mulher era uma ameaça. Odiaria-se, se fosse dela. Só um homem muito forte e capaz, sem muitos amigos masculinos, poderia ter uma sereia como ela. Ela era demais. Era um desastre esperando por acontecer.

- Está lendo os pensamentos do humano, ma petite femme?

A voz satisfeita de Gregori sussurrou em sua mente.

- Até alguém como ele, sabe que é selvagem como o vento. - Com grande relutância, ele soltou seu abraço. – Vá para dentro da casa

Os olhos dela se abriram, com simulada surpresa.

- Quer dizer que ele poderia pensar que estávamos fazendo amor? E teríamos feito, se ele não estivesse vagado aí fora e nos tivesse interrompido.

- Posso fazer algo que você não gostaria, chérie.

Ela riu em voz alta, sem nenhum medo enquanto se deslizava através do pátio. Quando passou junto a Gary, se inclinou sobre ele e soprou ar quente em sua orelha.

- Savannah!

Gregori invadiu sua mente e gritou seu nome, numa clara ameaça.

- Já vou - disse ela, impertinente.

Gregori esperou até que ela estivesse a salvo entre os limites das paredes antes de surgir das sombras.

O coração de Gary estava trovejando ruidosamente nos ouvidos de Gregori. Ele sorriu, um sorriso de predador.

- Apesar de todo o tempo que passamos juntos ontem, acredito que ainda não fomos apresentados apropriadamente. Sou Gregori, companheiro de Savannah.

- Gary, Gary Janson. Você... Bemmm... Sua esposa, Savannah, disse que eu poderia vagar pelos arredores.

- Savannah é minha esposa. - Confirmou Gregori, soando severo e ameaçador a pesar do fato de que sua voz foi aveludada.

- Sim. - Disse Gary, tão nervoso que estava começando a suar.

- Voltemos para a casa e decidiremos que fazer.

Gregori estava já deslizando em frente a ele, com a forma silenciosa que tinha.

Gary o seguiu. Savannah estava junto a lareira. Agora, sua pele tinha um aspecto saudável. Algo ardeu em seus olhos violeta, quando ele pousaram sobre a impassível face de Gregori. Gary viu os olhos prateados sobre o rosto de Savannah. Já não eram frios. Estavam como mercúrio fundido, ternos e ferozmente protetores.

Quando Gregori a olhava assim, era impossível lhe temer.

- Considerei várias alternativas sobre nosso problema, Gary. - Disse Gregori, tranquilamente. – Vou expô-las para você e escolherá com qual delas se sente mais cômodo.

Gary relaxou visivelmente.

- Está bem.

- Você vai ser caçado por vampiros e por esses humanos envolvidos na sociedade, por igual. - Contou-lhe Gregori. - Qualquer lugar que freqüentava normalmente, deve serevitado. Isso inclui sua família, sua casa, e seu trabalho. São os lugares em que eles estarão o esperando.

- Tenho que trabalhar, Gregori. Não tenho uma enorme conta no banco.

- Pode trabalhar para mim. Tenho muitos negócios e poderia utilizar alguém em quem confio. Podem fazer alguns acertos para que se mude para qualquer cidade aqui nos Estados Unidos, onde tenho escritórios, ou, uma alternativa mais segura... É na Europa. A oferta está em pé, se decidir manter suas lembranças sobre nós.

Savannah se apoiou contra a parede, surpreendida ante a proposta de Gregori.

Suave... Ligeira, tocou sua mente. Instantaneamente, a atenção de Gregori se voltou para ela.

- Fique em silêncio, Savannah.

Era claramente uma ordem. Embora sua face estava impassível como sempre, ela podia sentir o imperativo ardor em sua mente, e por sua vez, ficou em silêncio, o observando atentamente.

- Não quero que apague minhas lembranças. - Disse Gary. – Já lhe disse isto. Por outro lado, acredito que tenho direito a te ajudar com esta confusão em vez de ser enviado para algum país estrangeiro, como um menino.

- Não conhece os perigos, Gary. Mas, isso é bom. Se insistir em manter suas lembranças, não posso fazer outra coisa, que proteger Savannah e nossa gente. Não teria outra escolha, que tomar seu sangue. Assim, posso te fiscalizar a vontade.

Gary empalideceu visivelmente. Lentamente baixou a xicara de café, sua mão tremia.

- Não entendo.

- Quando estou perto, posso ler seus pensamentos, mas tenho que estar perto. Se tomo seu sangue, sempre saberei onde estas, posso te seguir o rastro facilmente em qualquer lugar desta terra e conheceria seus pensamentos. Se alguma vez nos trair, eu saberia. - Gregori se inclinou para frente, seus brilhantes olhos, mantinham cativo Gary. - Entende isto, Gary. Se tiver que fazer, vai ser ruim. Eu o encontraria e te mataria. - Havia absoluta convicção em sua voz, em seus olhos.

Gary não podia afastar o olhar. Sentia que esse penetrante olhar podia ver diretamente o interior de sua alma.

- É algo sobre o que deveria pensar. - Continuou Gregori quase amavelmente. - Tem que ser sua decisão, exclusivamente. O que vocês nos disser, respeitaremos e faremos o possível para te proteger. Tem minha palavra.

- Uma vez me disse que o vampiro é o maior embusteiro de todos. Como sei que está me dizendo a verdade?

- Não posso. Só pode sentir o que está bem e o que está mau. Por isso é necessário que pense antes de decidir. Uma vez que a decisão esteja tomada, todos teremos que viver com ela.

- Dói? - Perguntou Gary curioso, seu cérebro de cientista estava já procurando dados.

Savannah detectou um leve sorriso na mente de Gregori, a súbita admiração pelo humano que ficou em pé e começou a passear pela sala.

- Não tem que sentir nada. - Disse Gregori tranqüilamente, sua voz foi estritamente neutra. Não queria influenciar o humano, de nenhuma maneira.

- Suponho que seria muito pedir que permitisse que Savannah mordesse meu pescoço. - Gary tentou o humor. Estava esfregando o pescoço. Todos os filmes de Drácula, que tinha visto, estavam passando por sua mente.

Um grunhido baixo na garganta de Gregori, foi sua resposta. Savannah explodiu em gargalhadas. Podia sentir a crescente agitação de Gary. Ele, constantemente, passava a mão pelo cabelo.

- Tenho que responder agora?

- Antes de que deixemos esta casa. - Replicou Gregori brandamente.

- E me dá, realmente, um montão de tempo para pensar. – Gary resmungou. - Então, se apagar minhas lembranças de voces, eu voltaria para minha vida normal e não teria nem idéia de que estou em perigo. É uma forma amável e conveniente de se livrarem de mim, verdade? - O sarcasmo gotejava em sua voz.

Gregori se moveu. O predador soltou suas garras. Savannah pôs uma mão sobre seu braço, contendo-lhe. Seu polegar acariciou ligeiramente de um lado a outro seu antebraço. Quase em seguida a tensão na sala se aliviou. Mas os olhos do predador, permaneceram sem piscar sobre a face de Gary.

- Se o quisesse morto, Jansen, creia, já seria história.

- Não quis te ofender, Gregori. - Disse Gary. - Isto não é fácil. Nunca me ocorreu nada assim. Pelo menos, acredito que não. Não nos conhecemos antes, certo?

- Não. - Respondeu Savannah gravemente. – O teríamos contado. Na verdade, estamos tentando ser tão honestos o quanto podemos. Esta é uma tremenda oferta, Gary. Uma que nunca pensei sequer que se consideraria. Não tem nem idéia da honra que...

- Silêncio, Savannha. Ele deve tomar sua própria decisão sem persuasão. É só decisão dele. – Repreendeu-a, Gregori.

- Ele não compreende a honra que lhe concede - argumentou ela. - Se soubesse, estaria menos agitado.

- S'IL vous plait, Savannah. Deixe ele decidir.

Gary levantou uma mão.

- Não façam isso. Sei que estão falando entre vós. E estou o suficientemente nervoso. De acordo. De acordo. Faça-o-o. Ande logo com isso. Pode me morder o pescoço. Mas lhe advirto, nunca fiz isto antes. Posso não ser bom para voce. -

- Assegure-se se é o que quer, realmente, Gary. Não pode haver dúvidas. Deve saber que confia em mim. Não poderá trocar de lado em meio da luta. - Advertiu Gregori.

Gary umideceu os lábios.

- Posso perguntar algumas coisas?

- Naturalmente. - Gregori foi evasivo.

- Há alguns outros humanos, que saibam de sua gente e continuam vivos?

- É obvio. Há uma família que vive com um dos nossos, há vários séculos. Eles passam de mãe a filha, de pai a filho. Um dos humanos mais próximos ao pai de Savannah era um sacerdote humano. Foram bons amigos durante quase cinqüenta anos. Um casal nosso, está criando um menino humano.

- Então eu não seria o único em saber. Porque é uma grande responsabilidade ter este conhecimento. Não são vampiros, são?

- Somos Cárpatos. Uma raça de pessoas tão velha como o tempo. Temos poderes especiais, alguns dos quais, voce viu. Precisamos de sangue para sobreviver, mas não matamos ou escravizamos aqueles dos quais nos alimentamos. Caminhamos na noite e devemos evitar o sol. - De novo a voz de Gregori carecia de expressão.

- Qual é a diferença entre um vampiro e um Cárpato? - Perguntou Gary, excitado, interessado, sentindo um estranho júbilo.

- Todos os vampiros foram Cárpatos uma vez. O vampiro é um homem de nossa raça que escolheu a loucura do falso poder, acima das leis de nosso povo. Quando um Cárpato existe muito tempo sem uma companheira, perde as emoções. As cores se desvanecem de sua visão. Sua escuridão interna prevalece, e faz presa de humanos e Cárpatos, por igual, não só pelo sangue mas também pela emoção da morte. Escolhe este malvado caminho em lugar de enfrentar o amanhecer e a autodestruição. Por isso temos caçadores. Os caçadores liberam o mundo dos vampiros e se asseguram de que a existência de nossa raça permaneça em segredo para aqueles que não o entenderiam. Para aqueles que nos receberiam a todos, como vampiros e procurariam nossa destruição.

A mão de Savannah escorregou da mão de Gregori. Tomou a xícara de café da mão de Gary e a voltou a encher.

- Parece-se bastante a um filme de série B, verdade?

Gary encontrou sorrindo. Havia algo no travesso, no sorriso de Savannah que fazia qualquer um que estivesse perto, se sentisse feliz. Era contagioso.

- E o que acontece se permito tomar meu sangue e se converta em um vampiro?

- É impossível que me converta agora. - Disse Gregori, sua formosa voz estabelecia a simples verdade. - Savannah é minha âncora na luz.

Gary ficou ali de pé uns momentos, tomou um gole de café, e se voltou para Gregori.

- Pode fazer. – Ele acreditava que Savannha fosse luz.

Gregori deslizou através da mente do homem. Um toque lento e gentil que Gary não pôde detectar. Estava decidido. Convencido. E ia ajuda-los se pudesse.

- Virá para mim, sem temor, ileso, sem que fique logo nenhum rastro de enfermidade. – Ele inundou o humano num conforto consolador.

Gary caminhou para ele, com os olhos ligeiramente de alguém em transe.

Gregori inclinou a cabeça para a proeminente veia no pescoço de Gary e bebeu. Tomou cuidado de não tomar muito, cuidado de lhe passar o agente coagulante que assegurasse a rápida cura. Antes que Gregori liberasse Gary de sua sugestão hipnótica, moveu-se retrocedendo entre as sombras.

Gary sacudiu a cabeça uma vez, duas. Cambaleou ligeiramente e se segurou à mesa. Não viu Gregori se mover, mas o grande homem estava a seu lado, o sustentando, levamdo-o cuidadosamente até uma cadeira.

- Em alguns minutos, devemos conseguir algo substancial para comer. Chegamos a noite passada e não tivemos tempo de encher a geladeira. - Gregori olhou para o Savannah. - Dê-lhe dê um copo de água, para substituir seus fluidos perdidos, chérie.

Savannah alcançou o copo a Gregori, com olhos ansiosos. Gary tocou o pescoço. Sentia-se um pouco enjoado, e tinha uma ardente sensação em um lado do pescoço, mas quando tocou sua pulsação, sua mão estava livre de sangue. Olhou para Gregori.

- Já o fez?

- Beba-lhe tudo. - Gregori sustentou o copo em seus lábios. - Não vi razão para prolongar sua incerteza. Sua mente já se ocupava disso.

- Bem-vindo a meu mundo, Gary. - Savannah estava radiante com seu travesso sorriso. - Considera-te parte da família e sob seu amparo agora, agora que Gregori ficará impossivelmente mandão.

Gary gemeu.

- Não considerei isso. Demônios. Tem razão. Não pode evitar, é sua natureza.

- Não comecem, os dois. Eu não pensei no que aconteceria, ao ter os dois me colocando louco. - Gregori estava aborrecido, mas Gary estava começando a lhe entender. Ele nunca mudava sua expressão, e seus olhos nunca demonstravam nada, mas quase podia sentir a risada silenciosa de Gregori.

- Tem senso de humor. - Acusou-lhe.

- Bom, não me culpe . É culpa de Savannah. - Replicou Gregori com desgosto. - Vamos, consigamos algo decente para que você possa comer.

- Vou pedir um bife cru e sangrando ou algo parecido? - Perguntou Gary, sério.

- Bom, na realidade... - Começou Savannah.

- Não tenho a raiva. - Silenciou-a Gregori com um olhar. - Não sou contagioso.

- Todos os livros dizem que se beber meu sangue, eu bebo o seu, torno-me como você. - Gary soava ligeiramente decepcionado.

- Em algumas pessoas, crescem asas de morcego. - Admitiu Savannah, mordendo o lábio inferior. - Desde aí vem o Batman. E as capas, toda essa confusão de capas. Uma epidemia normal. É por nosso sangue, uma espécie de reação alérgica. Mas não se preocupe, teria mostrado sinais, se tivesse problemas.

- Ela é sempre assim? - Perguntou Gary a Gregori.

- As vezes, fica pior. - Disse Gregori, sinceramente.

O popular restaurante estava cheio, inclusive o longo terraço, mas Gregori conseguiu uma mesa instantaneamente, com um suave sussurro na orelha do maitre. Gary se sentou com graça em uma cadeira e imediatamente bebeu três copos de água que lhes serviram. Nunca tinha estado tão sedento em sua vida.

- Por onde vamos começar com esta confusão? - Perguntou.

- A sociedade a que pertence... Quem te introduziu nela? - Perguntou Gregori.

Em volta deles, havia um redemoinho de conversas, algumas suaves e intimas, outras ruidosas e molestas. Gregori e Savannah, ouviam tudo. Não demoraria muito, e alguém notaria à famosa maga em meio deles, mas Gregori conseguira uma mesa um pouco afastada e colocou Savannah na parte mais escura.

- Todo mundo no trabalho conhecia minha obsessão por vampiros. Era uma brincadeira no laboratório. Faz uns anos, um homem chamado Dennis Crocket me aproximou. Era amigo de alguém que trabalhava no laboratório. Convidou-me a uma reunião. Pensei que era bastante tolo, mas ao menos havia outros interessados no mesmo tema. - Gary estava olhando em volta, procurando o garçom, precisava de mais líquido. Os garçons estavam em todos direções, exceto na sua. Soltou um pequeno suspiro. - Ao menos, pensei que poderia encontrar algum dado interessante. Tenho uma ampla coleção.

Gregori olhou para um moço que passava atrás de um vaso de barro, e o menino instantaneamente, pegou uma jarra de água e se apressou a encher os três copos.

- Onde aconteceu a reunião?

- Nos Anjos. Aí é onde trabalho.

- Que pensou dos outros na reunião? Eram fanáticos? Pervertidos como os do armazém? - Gregori interrogou, sua voz era tão baixa que Gary tinha que inclinar-se para ele para captar as palavras.

Sacudiu a cabeça.

- Não, absolutamente. Alguns estavam ali por diversão. Não eram verdadeiros crentes, esperançados possivelmente. Eram pessoas interessada no estudo dos vampiros. A princípio, a conversa era sempre ligeira... Era genial. Que classe de poderes teriam? Seriam amistosos? Então, depois fui algumas vezes, um casal de homens de outra sucursal se apresentaram.

O queixo do Savannah descansava na palma de sua mão. Olhava-o fixamente, sem pestanejar. Ela mantinha-se nas sombras para proteger-se de olhos alheios. Estava usando uma técnica de rabiscar para ajudar a sua camuflagem. Não estava invisível aos olhos humanos, mas causava uma estranha energia no ar em torno dela, que a nublava aos que a olhavam fixamente.

- Onde está localizado essa sucursal?

Gary franziu a testa, pensativo.

- Têm várias sucursais. Na Europa, a maioria é na da Transilvania. Rumania. Lugares como esses. Estes homens eram sulinos... Da Florida, possivelmente. Acredito que seja da Florida. E havia cientistas. Queriam que cada um de nós, lhes desse qualquer informação sobre qualquer que pessoa que pudesse ser um vampiro. Pessoas que sabíamos que estavam sempre pálidas, que só saísse a noite. Esses que eram extremamente inteligentes, que pareciam estar hipnotizados, que eram sempre reservados com suas vidas e atividades.

- Surgiu algum nome? - Perguntou Gregori.

- Alguns poucos, mas nenhum que parecesse real. Nenhum de nós sabia de ninguém remotamente parecido ao que estavam descrevendo. Estávamos fazendo brincadeiras e nomeando amigos até que notamos que eles falavam a sério.

O garçom chegou. Quando estava ordenando o servissem, lhe ocorreu que Savannah e Gregori provavelmente não se importariam em compartilhar sua comida. Levantando os olhos, notou que Savannah lhe sorria abertamente. O sorriso travesso, de olhos brilhantes que o fazia sentir-se parte de uma família. Como se lhes pertencesse. Já não era um proscrito, entremetendo-se na diversão dos que o rodeavam.

Ela estendeu a mão para ele, que duvidou e a deixou cair em seu colo.

- Pegaste rápido. – Elogiou ela.

Ele sentiu a onda de aceitação procedente de ambos. Era interessante que pudesse dizer que era de ambos. Gregori estendeu a mão, tomou a palma de Savannah, e deixou um beijo no centro.

- Je regrette, mon amour, mas parece que não posso superar certos fracassos.

- Não há necessidade de desculpar-se, companheiro. Ambos estamos aprendendo a viver no mundo do outro. Não encontro necessidade de tocar outros para ser feliz.

Gregori levou a mão a seus lábios e pela segunda vez, seus olhos a acariciou intimamente.

Gary limpou a garganta.

- Já chega disso.

Um breve sorriso suavizou os lábios de Gregori.

- Que mais podia dizer desses homens?

- Pensei que podia ler minha mente. - Aventurou Gary.

Gregori assentiu.

- Se examinasse suas lembranças, conheceria a todos. Mas por cortesia, por respeito a voce, não faço. Todos nós, temos coisas que preferimos manter para nós mesmos. Momentos dolorosos ou embaraçosos que não precisamos compartilhar.

- Inclusive entre voces dois? - Gary estavam começando a gostar dos Cárpatos. Também compreendeu que, o que eles compartilhavam era único.

- É diferente com os companheiros. - Respondeu Savannah por ele. - Somos duas metades de um mesmo todo. O que um sente, o outro também. Só pode haver verdade entre nós.

- Sobre os homens da Florida.

Gregori os levou de volta à discussão. Manter uma névoa ondulante entre ela e o resto dos comensais do restaurante estava subtraindo energia de Savannah, mas cada vez que se tentava fazer-se ajudar, ela resistia. Podia ver que seu orgulho estava em jogo. Por alguma estúpida razão, ele queria lhe provar que era uma mulher dos Cárpatos, capaz. Não agüentaria muito mais essa tolice. Cuidar dela estava primeiro lugar. Savannah lhe lançou um olhar agastado e retirou sua mão, quando o garçom chegou com seus jantares.

Gary esperou que ele os deixasse antes de continuar em voz baixa.

- Dois deles nos disseram, que procurássemos certos tipos de pessoas. Aqueles cuja família procedessem do leste da Europa com ancestrais que se remontassem de centenas de anos, com uma propriedade que tivesse pertencido à mesma família durante muito tempo. Essa classe de coisas. Nosderam vários nomes e ocupações. Um dos nomes era uma cantora com muitos fãs e que só aparecia em público a noite e não assinava contratos para gravar em estúdio. Disseram que sua voz era hipnotizadora, fantástica. Disseram que, quem a ouvia cantar, nunca mais esquecia a experiência. Pareciam muito interessados nela.

- Essa mulher poderia estar em perigo. Quem é?

Gregori sacudiu a cabeça ante a pergunta de Savannah. A nenhuma mulher dos Cárpatos era permitido correr o mundo, sem o amparo dos homens de sua raça. Ela devia ser humana, com costume excêntricos e que havia captado a atenção da sociedade.

- Ela usa duas variantes diferentes do mesmo nome. Desari ou Desse. Acredito que Desse é um diminutivo e supõe-se que significa escura ou algo assim. Provavelmente necessitava de um nome artístico e seu nome real seja Suzy.

- O que queriam, em especial, os membros da Sociedade com ela?

Perguntou Savannah, ainda temerosa pela mulher desconhecida. Em seguida Gregori lhe enviou uma onda de segurança. - Enviaremos aviso a todos de nossa raça, de que ela está em perigo. Vigiarão-a quando estiver perto.

- Há tão poucos de nós neste país. Na maioria das vezes, estará desprotegida. - Savannah passou uma mão pela testa, súbitamente cansada. Havia-se visto envolvida no sórdido assunto de vampiros e dos "vampiros" humanos há pouco, e já estava cansada de sua perversão aparentemente interminável.

- Possivelmente é o que necessitamos para manter Julian entre nós. Pedirei-lhe que viaje com esta cantora até que o perigo tenha passado para ela. Não se preocupe pela mulher humana. Julian nunca permitiria que fora ferida se a tomar sob seu amparo. - Gregori examinou a debilidade na mente dela. - Farei-me cargo do escudo agora, ma petiti, e não discuta com seu companheiro.

Gregori não teve mais paciência com seus costumes teimosos. Empurrou sua vontade, decididamente, no interior dela, bloqueando qualquer intenção dela tomar o controle novamente. Ela estava cansada.

Savannah sorriu, terna, amorosa, aceitando. Gregori deslizou seu braço no respaldo da cadeira dela, protetoramente.

Evitando o intercâmbio entre os dois Cárpatos, Gary continuou a conversação.

- Queriam que a vigiássemos. Que a investigássemos e averiguássemos o que pudéssemos dela. E não era a única. Havia um homem que parecia muito interessante. Um italiano, acredito. Julian Selvaggio ou algo assim.

- Selvaggio é em italiano Savge. Aidan e Julian nasceram Selvaggio. Também significa pessoa pouco sociável. - a voz de Gregori sussurrou na mente de Savannah.

Ela sentiu que seu coração se fechava dolorosamente contra suas costelas. Julian. Era Julian Savage. Levantou o olhar para Gregori. A sociedade estava enviando seus membros contra Julian. Não conhecia pessoalmente, mas de repente, tudo parecia muito próximo a casa.

- Enviaremos-lhe uma advertência, ma petite. Quem melhor para guardar à mulher que aquele a quem também desejam a morte? Julian é um caçador muito perigoso. Um dos melhores. depois de seu pai. É possivelmente, o homem dos Cárpatos mais poderoso e frio, com vida.

- Não estamos tendo você em conta. - disse Savannah leal e verídica.

Gregori voltou sua atenção para Gary.

- Então, os membros da sociedade da Florida são diferentes do resto de voces. São sérios, e lhes deram nomes específicos para conseguir informação. Há mais?

Gary assentiu.

- Tenho um computador no quarto de meu hotel. A lista de todos os nomes e as atividades que consideram suspeitas.

Gregori se permitiu um pequeno sorriso. Seus dentes brilharam brancos, como os de um predador que ronda.

- Acredito que tenho uma visita a seu hotel, em minha agenda esta noite.

Savannah jogou a trança sobre o ombro e se permitiu olhar ao redor. Surgiam risadas de todas as mesas próximas. A maioria dos ocupantes eram turistas. Se divertiu, ouvindo os variados dialetos e conversas. Um grupo de pessoas da localidade estavam quatro mesas mais à frente. Ela ouvia sua mistura de francês cajun, fascinante. Três deles, haviam crescido juntos e estavam contando ao quarto, o mais jovem deles, algumas de suas histórias de juventude. Não demorou e ela encontrou-se prestando atenção quando o homem jovem riu.

- Histórias do velho homem jacaré estiveram dando voltas desde os tempos de meu avô. É só uma lenda. Um velho conto para assustar as crianças e mantê-los longe do pântano, nada mais. Minha mãe estava acostumada me contar essa mesma história.

Um argumento surgiu instantaneamente entre os homens. O mais velho, com um pesado dialeto, interrompeu em francês, não o elegante francês que falava Gregori, o dialeto local. De todas formas, Savannah estevasegura de que estava amaldiçoando em uma enxurrada.

Havia uma cadência tão consoladora na voz do velho, um ritmo único de Nova Orleans.

Enquanto escutava o velho. o jacaré cresceu em estatura. Era enorme, como o grande crocodilo do Nilo. Comeu a centenas de cães de caça, esperava ao longo de um atalho e os engolia quando vinham correndo para ele. Pegava as crianças pequenas dos bancos diante das casas de seus pais. Um grupo inteiro de adolescentes que celebravam uma festa desapareceram em seus domínios. As histórias cresciam com cada anedota.

Ao princípio, Savannah estava sorrindo, desfrutando da fascinante e velha lenda, mas um lento temor estava começando a tomá-la. Olhou para Gregori. Ele estava falando tranqüilamente com Gary, extraindo informação com hábeis perguntas, que passavam a impressão de estar tendo uma conversa agradável. Sabia que ele estava automaticamente explorando a área, monitorando as outras conversas, embora parecia tranquilo, sem ser consciente da escuridão a que se recolhia.

Ela esfregou as têmporas latentes, massageando seu tenso pescoço. Pequenas gotas de suor irromperam sobre sua testa. Savannah tentou concentrar-se na divertida história, nas façanhas crescentes do jacaré, mas a cada movimento, podia sentir a negra pressão crescendo como se alguma enfermidade terrível tentava entrar em sua mente e prender-se a ela.

Gregori voltou a cabeça, os olhos deslizaram por sua face. - Ma petite, o que está acontecendo? - Sua mente estava alcançando a dela, fundindo-se totalmente para poder sentir a acumulação da sensação de escuridão crescente.

- É possível, que haja aqui alguém muito mau aqui. – Disse ela. Seu estômago estava revirando.

Gregori estudou o espaço do restaurante. Havia sempre a possibilidade de que um dos não-mortos, tivesse aprendido a mascarar-se dos outros Cárpatos. Ele podia fazê-lo. Seria egocêntrico pensar, que nenhum outro podia aprender o truque. O professor vampiro era muito velho. Havia sobrevivido aos caçadores porque era inteligente e perfeitamente disposto a abandonar a vizinhança e deixá-la para o caçador até que era seguro voltar. Mesmo assim, Gregori duvidava que ele fosse deliberadamente ao mesmo restaurante que um caçador. Principalmente, se o caçador era Gregori. O Escuro. Só aqueles que se cansavam de sua existência, o desafiavam abertamente.

Gary estava olhando-os, com sinal de alarme nos olhos.

- O que é?

- Mantenha a calma. Savannah é muito sensível ao mal. Pode senti-lo, e eu posso tocá-lo através dela, mas não posso detectá-lo, aqui, por mim mesmo.

- Estamos em perigo? - Gary achou a idéia mais excitante, que ameaçadora. Estava esperando ação. – Use o Rambo.

Savannah e Gregori trocaram um súbito sorriso.

- Gary. - Savannah não pôde se conter. – Você viu muitos filmes.

- Se... Bom, não sabem o que é isto para mim. Toda minha vida, meus companheiros de classe e meus amigos me colocavam para correr. Os valentões me empurravam contra as paredes e me atiravam em latas de lixo. E tudo porque sempre fiz meus deveres e tirava Sobrexcelentes notas em todos os exames. Isto é excitante para mim.

- Para mim também. - Mentiu Savannah. Não queria tomar parte. Nem ela, Gary ou Gregori. Desejava que todos eles estivessem a salvo. A coisa horrível que estava esperando-os, espreitando-os, carregava com a suja essência do mal. Permanecia em sua mente, deixando-a doente e enjoada.

- Tenho que sair daqui, Gregori.

- Está bem, mon amour. Sairemos deste lugar imediatamente. Parece que sua mãe te passou seu dom.

Uma vez mais, ele inspecionou o restaurante. Não havia nada além das risada dos turistas e as conversas amáveis. Gregori convocou o garçom, pagou a conta, e tomou Savannah pelo braço enquanto abriam caminho entre as mesas.

 

Caminhando pelo Bairro Francês, o ar noturno ajudou a limpar a mente de Savannah da presença do mal. O que os espreitavam, não os havia seguido para fora do restaurante. Em uns poucos minutos, ela sentiu-se melhor. Gregori a manteve sob seu ombro, permanecendo em silêncio, mas sua mente estava completamente fundida com a dela, observando a rapidez com que rapidamente ela se tranquilizava.

Gregori os guiou sem dizer uma palavra para o hotel onde Gary estava hospedando. Queria a lista de nomes. Queria ver até onde havia se estendido a putrefação da Sociedade. Gary acreditava que a maioria dos membros, eram como ele, esperando que pudesse ser verdade que os vampiros existiam e que eram os personagens românticos pintados nos filmes e livros recentes.

Mas Gregori conhecia, sabia o que a depravação da mente humana podia fazer. Tinha visto o trabalho da sociedade em outras vezes. Mulheres degoladas e assassinadas, inocentes e crianças. Entrelaçou os dedos entre os de Savannah, encontrando certa paz e distração. O vento levou as lembranças escuras e horrendas da noite.

Os dedos de Savannah, apertaram os dele.

- Sabe que era?

- Não, mas era real, chérie. Estava em sua cabeça. Não imaginou. – Caminhavam. Um silêncio cômodo caiu entre eles.

A uma quadra de seu hotel, Gary se pronunciou.

- Pensei que havia dito que voltar para meu hotel, podia ser perigoso.

- A vida é perigosa, Gary. - Disse Gregori, suave. - É Rambo, lembra?

A risada de Savannah ressonou, rivalizando com o quarteto de jazz da esquina. As cabeças viraram ao ouví-la. Os homens a observavam, roubando a atenção do público agrupado em um semicírculo ao redor da esquina. Ela movia-se no mundo humano, completamente a vontade nele, era parte dele. Gregori estava caminhando sem ver visto era como preferia. Ela o estava arrastando para seu mundo. Podia acreditar, que estivesse caminhando por uma rua cheia de gente, como um simples mortal, enquanto a metade dos homens os olhava abertamente.

- Não sabia que você soubesse quem era Rambo. - Disse Savannah, tentando não rir tolamente. Não podia imaginar Gregori, em um cinema vendo um filme do Rambo.

- Viu algun filme do Rambo? - Gary não podia acreditar.

Gregori se pronunciou, num som entre o desprezo e mofa.

- Li as lembranças de Gary sobre o assunto. Interessante. Tolo, mas interessante. – Ele olhou para Gary. - Esse é seu herói?

A careta de Gary foi tão travessa como a de Savannah.

- Até que te conheci, Gregori.

Gregori grunhiu em tom de ameaça. Os dois, riam dele, sem se intimidarem.

- Vai ver, ele é um fã secreto do Rambo. - Sussurrou Savannah confidencialmente.

Gary assentiu.

- Provavelmente bisbilhota nos cinemas, em suas passagens por aí.

Savannah estava gargalhando novamente, as suaves nota dançaram no ar, contagiosas, tentando a todos que as ouvia, para que se unisse a ela.

Gregori sacudiu a cabeça, fingindo ignorar os dois e suas brincadeiras. Mas não pôde se conter, sentiu seu coração aliviar-se, enquanto explorava a entrada do hotel e soube que teriam logo outra encontro com os escuros membros dirigidos pela compulsiva Sociedade. Deteve-os bruscamente, conduzindo-os às sombras do edifício.

- Alguém está em seu quarto, te esperando, Gary.

- Nem sequer sabe qual é o meu quarto. - Protestou Gary. - Há um muitas pessoas aqui. Não vamos nos enganar.

- Eu não cometo enganos, Gary. - Disse Gregori brandamente. Sua voz era baixa, mas evidente. - Importaria-se de subir só?

- Isto é desnecessário, companheiro. - repreendeu-lhe Savannah. - E você está por cima disso. Você gosta deste mortal, e se incomoda que possa estar em perigo.

- Possivelmente, é sua facilidade para lidar col ele, que me Incômoda. - sugeriu ele sedosamente. Sua mão envolveu sua trança em volta do punho e a trouxe para perto.

- Você gostaria que eu pensasse isso, mas estou em sua cabeça, vendo seu crescente afeto por este homem.

Gregori não queria admitir que ela tinha razão. Savannah estava lhe atraindo tanto para seu mundo, que estava lhe fazendo sentir emoções incômodas para ele. Mikhail havia tido amizade com um humano. Gregori sabia que sentia grande afeto pelo homem, embora não entendia. Respeitava, mas não entendia. E Savannah, havia se importado genuinamente com Peter. Agora, com Gary. Gregori já admirava o mortal e não queria que nada lhe acontecesse.

- Me diga o que quer que eu faça. - Disse Gary, ansiosamente. Estava farto dos valentões que lhe empurravam por toda parte.

- Vá ao encontro deles e tente captar tanta informação que puder conseguir antes que tentem te matar. - Respondeu Gregori.

- Tentarei. Espero que essa seja a palavra chave. - Disse Gary nervosamente. - Tentar me matar.

- Não terá que se preocupar. - Informou-lhe Gregori, sua voz absolutamente segura. - Mas é necessário que a polícia não venha te buscar. Isso significa que, nada de cadáveres em seu quarto, certo?

- Correto. Já tenho o vampiro e a esses estúpidos da sociedade me caçando, não necessitamos também aos policiais. - Admitiu Gary. Estava suando, as palmas de suas mãos tão úmidas que ele teve de esfregá-las no jeans.

- Não se preocupe tanto. - Gregori lhe lançou um sorriso tranqüilizador. - Estarei com você, a cada passado do caminho. Poderia se divertir, bancando o Rambo.

- Você tem uma arma grande. - Assinalou Gary. – Eu, vou subir com minhas mãos nuas. Acredito que poderia ser pertinente dizer, que nunca ganhei uma só briga nos murros. Colocaram-me em latas de lixo, privadas e me esfregaram a cara no chão. Não sou bom numa luta.

- Eu sou. - Disse Gregory brandamente, sua mão súbitamente sobre o ombro de Gary. Era a primeira vez que Gary podia se lembrar, que o Cárpato voluntariamente lhe havia tratado com camaradagem. - Gary está dizendo todas estas coisas, chérie, embora tentou enfrentar um homem que o atacava com uma faca, só com seu jaleco do laboratório.

Gary ruborizou-se, de um vermelho vivo.

- Sabe porque eu estava no laboratório. - Recordou ele a Gregori, envergonhado. - Fabriquei um tranqüilizador que trabalha no sangue, e eles o converteram em veneno. Temos que fazer alguma coisa. Se algo sair errado esta noite, e ele me oegam, todas as minhas anotações sobre a fórmula estão em meu computador.

- Isto está começando a parecer mais com um mau filme. - Suspirou Gregori. - Vamos, aficionados. – Ele continuava com a face impassível, mas não podia conter o riso em seu interior. - Não se preocupe com a fórmula. Permiti a um dos membros da Sociedade injetar em mim, para que pudesse conhecemos os componente e já estamos trabalhando em um antídoto.

- Não funcionou? - Gary estava espantado. Tinha passado uma tremenda quantidade de tempo nessa fórmula. Embora Morrison e sua turma a tenham mudado, estava ainda defraudado.

- Não pode ter tudo, Gary. - Exasperado, Gregori lhe deu um pequeno empurrão para a entrada do hotel. - Não deveria querer que a maldita coisa funcionasse.

-Minha reputação está em jogo.

- Assim como a minha. Neutralizei o veneno. - Gregori o acotovelou de novo. – Mecha-se.

Gary concentrou em lembrar o código da porta do pequeno hotel, que ficava fechado a chave, quando nenhum empregado estava na recepção. Quando o seguro abriu, voltou-se para sorrir triunfante, mas os dois Cárpatos estavam se dissolvendo-se no fino ar. Ficou estático por um momento. Seu coração pulsava rápido, metade de seu corpo estava dentro do quarto e metade fora da porta, esperando que a recepção não estivesse deserta. Rambo. O nome formou redemoinhos em sua cabeça como um talismã. Decidido, partiu pelo vestíbulo, para o seu quarto e inseriu a chave na fechadura.

Quando Gary empurrou a porta, sentiu o toque de algo frio em sua pele. Tinha que ser Gregori, empurrando-o para passar, de forma que seu corpo estivesse protegendo o dele... Bem, ele esperava que fosse.

Dois homens se voltaram para o enfrentar. O quarto era uma confusão. Gavetas abertas, sua roupa rasgada, seus livros feitos estraçalhados. Gary parou no umbral da porta. Um dos homens sacou a arma.

- Entre e fecha a porta. - Ordenou concisamente.

Depois de enfrentar Gregori, ninguém podia parecer ameaçador. Gary decidiu que não estava com tanto medo, como teria normalmente. Fechou a porta cuidadosamente e enfrentou os dois estranhos. Eles trocaram um olhar um rápido, claramente intranqüilos, porque Gary não estava visivelmente perturbado. Haviam feito eles acreditarem, que seria um trabalho fácil.

- É Gary Jansen? - Perguntou o que segurava a arma.

- Esta é meu quarto. Possivelmente, vocês deveriam apresentar-se. - Gary olhou ao redor, à confusão. - São ladrões ou estão procurando algo em particular?

- Estamos aqui para fazer perguntas. Você chamou o número privado de Morrison, disse alguma coisa sobre ir ao armazém. Quando chegamos lá, o lugar estava ardendo em chamas, dois dos nossos estavam mortos e uma vampiresa havia sido levada a um hospital.

- Então, terão notado que ela não era realmente uma vampiresa. Era uma dessas pobres criaturas que saem a noite e gostam de bancar os vampiros, porque gostam de serem góticos. É um jogo para eles. Um meio de chamar atenção. Não é algo real. Deveriam saber a diferença entre uma pessoa assim e algo real. - Brigou Gary.

- Conhece você a diferença? - Perguntou o que tinha a arma, súbitamente vendo algo que lhe fez suspeitar.

Gary olhou ao redor e baixou a voz a um sussurro conspirador.

- Me digam quem são vocês, primeiro.

- Eu sou Evans, Derek Evans. Sei que já ouviu falar de mim. Trabalho para o Morrison. E este é Dão Martin. Com quem você falou por telefone no outro dia.

- Deveria haver me escutado. – Repreendeu-os Gary que passou uma mão pelo cabelo e se sentou em uma cadeira. - Essa garota não era um vampiro e aqueles dois idiotas estavam loucos. Aqueles dois não reconheceriam um vampiro de verdade, nem que lhes mordesse o pescoço.

- Verdade? - Disse Martin. - Você viu um. - Havia respeito em sua voz.

- Tentei dizer isso mas não me ouviu. - Disse Gary, sacudindo a cabeça. – Disse a você que trouxesse o Morrison ao armazém. Onde ele está?

- Enviou-nos para te buscar, Gary. Pensou que você nos tinha traído. - Evans baixou a arma. - Que aconteceu no armazém?

- Antes de contar o que aconteceu, tenho que saber se Morrison e a sociedade ordenaram matar a garota. - Disse Gary, mantendo seu tom muito baixo.

Martin arriscou um rápido olhar para Evan.

- É obvio que não, Gary. Morrison nunca quiz que um inocente fosse ferido.

- E minha fórmula? Desenvolvi um tranqüilizando para ajudar os membros de nossa Sociedade para que pudéssemos controlar um vampiro. Para o capturar, e lhe estudar, não o cortar em pedacinhos. Quando uni-me a voces, disseram-me que era o único objetivo da sociedade. Mas minha fórmula foi transformada, corrompida com veneno. Morrison deve tê-lo ordenado.

- Morrison é o perito em vampiros. Notou que o tranqüilizador nunca submeteria a um vampiro forte. - Justificou Martin rapidamente.

- Não é só qualquer veneno. - Soltou Gary. - Está desenhado para ser doloroso. Morrison queria matar os vampiros, não só estudá-los. O veneno é de ação rápida, extremamente virulenta e agônica.

- Ele quer falar com voce. Vêm conosco e explique tudo isto. - Acrescentou Martin. – Ele nos enviou para te proteger. Estava muito preocupado depois do que aconteceu nesse armazém.

- É por isso que destroçaram meu quarto? - Perguntou Gary.

- Não voltou para casa ontem à noite. Esperamos todo o dia antes de nos decidir a procurar pistas de seu desaparecimento. - Disse Evans razoavelmente.

- E a arma? - Empurrou Gary.

- Estamos preocupados com nossa própria segurança. Morrison pensa que possivelmente, um vampiro de verdade, foi ao armazém. Temia que o vampiro o tivesse convertido, e que por isso não estava por aí durante o dia. Não teríamos tido nenhuma oportunidade.

- Vocês há viram alguma vez, Morrison durante o dia? - Perguntou Gary de repente.

Houve um silêncio surpreso.

- Bom... - Gaguejou Evans, franzindo o cenho, tentando recordar. Esfregou-se as têmporas que pulsavam. - Você o viu, não é, Martin?

Martin grunhiu, com a face retorcida e perversa.

- É obvio. Todo o tempo, Evans. Você também, Evans. Lembre-se.

- Ele está mentindo. - disse Gregori na mente de Savannah. - É um servente do professor vampiro. Tenta levar Gary a algum lugar, no bayou.

- Não pode os deter, sem atrair a polícia para Gary?

- Devemos os seguir até Morrison. É o que está atrás de provas da existência de nossa gente. Esta usando à sociedade com a intenção de destruir nossa raça. Não podemos fazer outra coisa que o deter. - Gregori pôs uma mão gentil sobre o ombro de Gary e ficou satisfeito quando o mortal não se afastou de um salto. – Vá com eles. Deixe eles nos conduzir.

Era um pouco desconcertante ter a voz de Gregori formando redemoinhos em sua cabeça, mas Gary assentiu lentamente.

- Não acredito que Morrison tivesse algo a ver com esses idiotas do armazém. Por isso o chamei. Pensei que pudesse controlar a situação. De acordo, vamos vê-lo. Tenho algumas historia que lhe contar. Demônios, ninguém vai acreditar no que vi. - Com graça estudada e casual, Gary estendeu a mão entre a massa de papéis sobre o chão e agarrou seu computador portáril. Entre os dois homens, saiu do quarto, desceu ao vestíbulo, e saiu para a noite.

- O que vamos fazer?

Savannah estava temerosa por Gary. Ele tinha que viver no mundo humano. Isso significava que nenhuma suspeita podia cair sobre ele, se os dois homens que o acompanhavam, fossem eram encontrados mortos.

- Ninguém verá Gary com as duas marionetes. - disse Gregori. - Eestive fazendo isto durante mil anos, chérie. Este é o mundo em que vivo. Conheço-o bem. Provavelmente não serei tão afortunado esta noite para apanhar a nossa presa, mas vale a pena provar.

- Planejam matar Gary.

Savannah era tão adepta, como Gregori, em ler os pensamentos dos que a rodeavam, e podia ver a malevolência fervendo sob a superfície dos dois homens, particularmente do chamado Martin. Havia estado perto dele durante algum tempo, e o cheiro do mal era forte nele.

- Não. Eles esperam mais informações. Morrison quer extrai-la ele mesmo, provavelmente porque não confia em ninguém. E gosta de ver a dor e o terror. - O pensamento chegou sem querer antes que ele pudesse censurar. - Vá a casa agora, Savannah.

- Não me envie para casa ainda. Pode precisar de mim para tirar Gary deles. Não me murcharei à primeiro sinal de perigo, prometo.

Os dois homens estavam conduzindo Gray para o rio. Um bote estava esperando, Gary o tomou sem duvidar. A água estava agitada, o vento soprava forte. Gregori se moveu sobre Gary, para assegurar-se que a compulsão da morte não alcançasse nenhum dos homens até que chegassem a seu destino. O passeio pareceu durar uma eternidade e Gary estava tão pálido que era quase cinza. O passeio o havia enjoado. Quando saiu do bote, em uma pequena enseada do bayou, ele cambaleou.

Gregori o sustentou, seu braço foi firme em volta de seus ombros durante um breve momento para tranqüilizá-lo. Era evidente que Gary era consciente de que havia algo ruim nos dois homens.

Gregori sentiu como o mortal, inalou com profundidade e o soltou lentamente. Gary estava bem. Confiava em Gregori.

Gary notou imediatamente que Evans e Martin o colocavam entre eles, enquanto caminhavam ao longo da borda pantanosa. Surgiam ciprestes da água, e uma rede de raízes formava uma macabra prisão de estacas e ramos pendentes. Na escuridão, parecia sinistro. Fiapos de névoa, começaram a flutuar na direção deles, da superfície da água. Rastros de branco que amortalhava os pântanos, com uma iridiscencia estranha.

Havia o cheiro peculiar, que surgia do aterro, e permanecia no ar. Parecia haver insetos noturnos em grande abundância. Insetos que picavam. Gary se encontrou estapeando-os, cuidando para que eles não entrassem em seu nariz. O aroma era putrefato, como carne deteriorada apodrecendo ao sol. Seus sapatos se afundavam no pântano. Em algum luga, havia ouvido que um homem podia se afundar sob o pântano e se perder entre os canos e o barro. Gary tossiu e se engasgou, seu corpo se rebelava.

Quase em seguida pôde sentir o cheiro de uma fragrância, num golpe de fresco de ar, uma sugestão de flores selvagem e bosque. Quase acreditou que podia ouvir o som da água correndo sobre as rochas. Savannah. Sabia que era seu toque, lhe ajudando a seguir através do podre pântano.

O ar estava súbitamente carregado, difícil de respirar. Os dois homens que escoltavam Gary se detiveram, voltaram as cabeças para o pântano e esperaram. Fora, na escuridão, algo se moveu.

Algo perverso e inteligente. Uma sombra estendendo-se sobre eles, engolindo-os. Derepente, houve uma repentina quietude, como se a sombra tivesse duvidado antes de mover-se a campo aberto. Um rugido de raiva e desafio encheu o vazio do silêncio como o estrondo de um trem de carga.

Em algum lugar na distância, as serpentes caíram com uma série de salpicaduras na água. Os jacarés deslizaram no barro, o som ressonou no silêncio, antes que deslizassem na água e desaparecessem sob as escuras profundezas. Martin empurrou Gary inesperadamente por trás, lhe atirando no barro. Seus joelhos se afundaram, quase até as coxas. Gary engoliu seu medo e ficou em pé lentamente, encarando aos dois assassinos.

- O que aconteceu? Pensava que ia encontrar me com Morrison. - Falava com calma.

- Morrison decidiu que não precisava falar com voce. - Disse Martin.

- Morrison sente nossa presença - disse Gregori a Savannah. – Ele está perto. Posso o sentir, mas não posso situar sua localização exata. Este é poderoso, Savannah, aprendeu muito nos séculos de sua existência.

- Ele advertiu seus serventes - disse ela, temendo por Gary. – Ela já estava colocando seu corpo diante do mortal. – ele deu a ordem de matar Gary. Se ocupe do vampiro. Eu protegerei Gary.

Gregori a colocou de um lado, reforçando uma ordem silenciosa com um forte impulso na mente dela. Não ia correr nenhum risco com sua segurança. - Isso não vai acontecer, Savannah. - exclamou Gregori, suas presas já surgindo em sua boca.

A raiva assassina estava sobre Matin, a escuridão se estendia como uma mancha através da noite. Ele apontou o pequeno revólver para o coração de Gary.

- Gary, entre no rio. Estou seguro de que os jacarés estão famintos esta noite.

Gary sacudiu a cabeça tristemente.

- Lamento-o por voce, Matin. Você é o peão que o rei sacrificou enquanto escapa. Nem sequer saberá que todo este tempo que estiveste caçando o vampiro, ela ele que dirigia cada um dos movimentos que você fazia.

- Acredito que te matarei lentamente, Jansen. Eu não gosto de voce. - Disse Martin.

- Vê como se retorceu? Converteste na mesma coisa que despreza. Há seis meses, sequer pensaria em matar alguém? Isso é o que tem feito Morrison a voce. - Persistiu Gary, tentando salvar a vida do homem.

Martin estendeu o braço, baixando o canhão da arma. Repentinamente, sua expressão mudou. A perversa máscara desapareceu completamente e olhou com horror sua própria mão. A arma estava retorcendo-se para voltar para trás. Lutou com a coisa, tentando deixá-la cair, mas estava grudada em sua mão.

- Evans! me ajude! - Gritou Martin, o ruído ressonou cruzando as águas.

Gary retrocedeu, tentando afastar seu olhar do homem hipnotizado, que momentos antes, tinha tentado lhe matar. O braço de Martin estava levantando-se lentamente para sua própria cabeça. - Evans! – Ele estava gritando.

Evans arremeteu-se contra Gary, empurrando-o para baixo no barro no pântano. Empurrava o rosto de Gary com força na lama, Evans tentava afogá-lo, enchendo de sujeira sua boca. Evans nem sequer levantou o olhar para ver os resultados, decidido a matar Gary Jansen e deixar seu corpo aos jacarés.

Gary se retorceu violentamente, quase se afastando, mas Evans o segurou firmemente. Suas mãos encontraram e se apertaram em volta da garganta exposta. Um baixo grunhido o advertiu. Ele voltou a cabeça, para ver dois ferozes olhos vermelhos olhando-o sem piscar e a poucos centímetros de seu rosto. Sobressaltado, Evans soltou Gary e caiu para trás, sobre seus pés. Em seguida, pôde ver a enorme cabeça de um lobo. Espessa pele negra, músculos robustos. O focinho. Presas brancas.

Ele gritou e se lançou de costas para no rio, arrastando-se para colocar distância entre ele e a fera.

Gary estava ofegando em busca de ar, com lama nos olhos e na boca, incapaz de ver alguma coisa. Podia ouvir o grito horroroso e repetitivo, os grunhidos não terrestres, que arrepiavam seus cabelos na nuca, mas estava cego, o barro negro, mantinha selados suas pálpebras. Algo enorme, passou roçando sua pele. Cheirava a selvagem e perigoso. Houve uma tremenda golpe na água. O grito se calou, se cortou abruptamente, em meio ao alarido. O braço de Savanah se colocou em volta de seus ombros, e limpava o barro com um tecido suave, tentando limpar sua visão enquanto usava seus dedos para retirar o material de sua boca.

- Esta esteve perto. - Murmurou. - Sinto muito. Gregori não me permitiu ajudar.

Gary cuspiu mais barro da boca.

- Não me surpreende. - As palavras foram apagados pelo barro, mas ela as entendeu.

Savannah não podia olhar ao redor e ver a morte. O mundo de Gregori era ermo e feio, cheio de violência e destruição. Se condoeu por ele, pelo terrível vazio que tinha que ser parte de sua vida. Sabia que ele a mantinha longe , por algo mais que a questão de sua segurança. Gregori podia não dizer-lhe, mas em seu interior, em seu coração, em sua alma, não queria que a violência a tocasse. A questão para ele, era protege-la de tal destino. Estava decidido que ela nunca tivesse a morte de outro em sua consciência.

Gary se arrumou. Savannah estava o inspecionando, ansiosamente, lhe tirando o barro so rosto. Olhou para onde Marin havia estado em pé e viu o corpo do homem no chão, a água do pântano gotejava a seu redor. A arma estava ainda em sua mão e o sangue se estendia como uma piscina sob sua cabeça, unindo-se às águas do pântano. Os insetos já pululavam em volta do do festim.

Gary afastou o olhar rapidamente, seu estômago se revoltou. Não havia nascido para ser Rambo.

- Onde está Gregori? - Perguntou, soltando as palavras entre os dentes apertados.

Savannah limpou mais barro de sua boca.

- Deixe-o só uns minutos. - Advertiu ela brandamente.

- Onde está Evans? - De repente, Gary olhou ansiosamente de um lado a outro, preocupado de que não pudesse proteger Savannah.

- Ele está morto. - Disse ela bruscamente. - Gregori o matou para salvar sua vida. – ela ficou em pé e limpou ineficazmente seu jeans salpicados de barro. - Odeio este lugar. Desejaria que não tivéssemos nunca vindo aqui.

- Savannah. - Gary se colocou ao lado dela. Havia uma nota em sua voz que nunca havia ouvido antes. Savannah sempre estava cheia de vida e risadas, parecia súbitamente cheia de tristeza, perdida. – Você está bem? Gregori tem razão. Não deveria estar aqui.

Ela sacudiu a cabeça, lutando por dominar sua raiva.

- O que nenhum de voces parece entender é que eu estou aqui. Estar fisicamente aqui ou não, sempre estou com ele. Sinto o que ele sente, exatamente o que ele sente. Não me pode proteger entre bolas de algodão e me pôr em uma redoma. - afastou-se dele caminhou para o rio.

Gregori se materializou atrás dela, sua forma longa, diminuiu a dela. Ele nclinou-se protetoramente sobre ela.

Gary observou como ela se sacudiu, sem deixar-se intimidar por seu tamanho e poder.

- Não se zangue, mon amour, só procurava a proteger. Se Martin tivesse disparado a arma, a bala teria te acertado. Não podia permitir tal coisa. - Disse Gregori amavelmente. Podia sentir o raivoso conflito nela. Ela nunca havia estado tão perto da morte e da violência, até que Gregori tinha escolhido forçar sua reclamação sobre ela. Desde seus primeiros dias juntos como companheiros, não tinha conhecido nada mais.

- Não havia nenhuma possibilidade de que o tivesse permitido disparar. Porque me bloqueou com alguma antiga ordem, Gary quase foi assassinado diante de meus olhos. - Os punhos de Savannah estavam firmemente apertados. Queria golpear algo, e Gregori parecia bastante sólido.

- Não correrei nenhum risco com sua vida, ma petite. – Ele enfatizou. Seus braços rodearam a cintura dela. Quando ela tentou se afastar dele, abraçou-a com firmeza. - Não, Savannah. Nunca deveria estar aqui.

- Perdeu sua oportunidade com o vampiro por mim, certo? – disse ela, com lágrimas em sua voz, e brilhando em seus olhos. - Não podia sentir sua presença... É capaz de fazer algo para mascará-la... Mas sabia que eu estava aqui, embora invisível.

Era a verdade. Não queria que fosse, especialmente com ela tão confusa e desgostosa. Gregori não podia suportar quando ela estava infeliz. Mas não havia forma de mentir, e não o teria feito nem que pudesse. Permaneceu em silêncio, permitindo ela ler a resposta em sua mente.

Savannah sacudiu a cabeça e golpeou os músculos de seu peito.

- Eo te odeio, Gregori. Sinto-me inútil. Sinto-me como se estivesse te pondo em perigo. Somos companheiros. Pedi-te que se encontrasse comigo, a meio caminho em meu mundo, e o fez. Fez tudo o que o que te pedi. Como tem feito para mim viver em seu mundo?

Gregori inclinou sua cabeça para a coluna branca de seu pescoço.

- Seu mundo é meu mundo, ma petite, minha mesma existência. É minha luz, e o ar que respiro. - Sua boca acariciou a pulsação dela, o lóbulo de sua orelha. - Não sabe o que significa caminhar entre a morte. Nunca o fez.

Ela girou, seus olhos azuis se escureceram.

- Se seu caminhar entre a morte, Gregori, então é onde me encontrará. Justo a seu lado. Meu lugar está onde você está. Sou sua companheira. - Estendeu uma mão, furiosa com a situação. - Não haverá mais discussão sobre isto. Não pode fazer nada mais que velar por minha felicidade, e a única coisa que me fará feliz será aprender a esconder minha presença a vampiros, humanos, e Cárpatos por igual.

Savannah saiu, deixando-o em pé ao bordo da água enquanto retornava para Gary.

- Vamos, saiamos daqui.

- Que acontecerá quando os corpos serem encontrados? Os policiais vão procurar à última pessoa vista com eles enquanto estavam vivos. - Disse Gary, relutante retornando ao bote. Ainda estava cuspindo barro pelo nariz e pela boca.

- Ninguém te viu com eles. - Respondeu Gregori tranqüilamente. - Viram dois homens sair do hotel, dois homens caminhando pelo Bairro e dois homens entrando no bote. Por isso não podemos pegar o bote de volta.

Gary piscou.

- Como voltaremos? Voando? - Perguntou sarcásticamente.

- Exatamente. - Respondeu Gregori complacente.

Gary sacudiu a cabeça.

- Isto é muito estranho para mim.

- Quer que te bloqueie a mente nesta experiência? - Perguntou Gregori cortesmente, com seus pensamentos claramente sobre Savannah.

- Não. - Disse Gary decisivamente, pegando seu computador do assento do bote. - Mas por que não vou para outro hotel? Você e Savannah podem querer algum momento a sós. E para ser honesto, há muito em que pensar.

Gregori se encontrou pensando que gostava do mortal cada vez mais. Não tinha nem idéia de que um humano pudesse ser tão sensível aos sentimentos dos outros. Raven, a mãe de Savannah, era assim, mas ela era um caso especial, uma verdadeira psíquica. Suas experiências com mortais tinham sido sempre com aqueles que o caçavam, despedaçando e assassinando a sua gente. Preferia manter-se a distância dos mortais. Não estava preparado para que gostasse de Gary Jansen.

Savannah estava se dissolvendo numa neblina, movendo-se cruzando a água. Gregori levantou Gary e lançando-se pelo céu, voou como um raio atrás dela. Gary chiou, um som tão agudo que soou como o de um leitão. Não podia evitar, segurou-se nos amplos ombros de Gregori. Seus dedos seguravam à camisa de Gregori, com força. O vento estava assobiando ao passar por seu corpo, tão rápido, que tinha que manter os olhos firmemente fechados, incapazes de olhar para baixo.

- Espere por mim, Savannah. - ordenou Gregori.

Ela sequer duvidou. Continuou movendo-se rapidamente através do rio para o Bairro Francês.

- Savannah!

A ordem era imperiosa. Uma ordem cortante. - Fará o que digo.

- Não, não farei.

Havia desafio em sua voz, uma mistura de beligerância e pesar. Ele podia sentir as lágrimas ardendo em sua garganta, em seu peito. Ela estava fugindo dela e dele.

Gregori amaldiçoou em várias linguas. - Não me faça te forçar a obedecer, chérie. Não é seguro para voce.

- Talvez, não queira estar a salvo. – respondeu ela, diante na noite. Talvez queira fazer algo louco pelo menos uma vez. isto é ódio, Gregori. Odeio-o.

- Mon amour, não fuja do que temos juntos. Sei que nossa vida não começou como um paraíso, que o mundo em que devemos viver é feio e perigoso, mas o faremos juntos.

- Você caça. – Ela estava chorando. – Coloco você em perigo.

Gregori lhe enviou ondas de conforto, mas sabia que não era suficiente. O mortal se segurava sua camisa retorcendo-a.

- Gregori?

O vento levou as palavras de sua boca e voaram através da água.

A réplica de Gregori foi mais de um gemido. Seu corpo estava sobre a neblina agora, uma manta protetora.

- Diga o que tem para dizer.

- Acredito que Savannah está desgostosa.

Não houve resposta. Gregori continuou seguindo Savannah.

- Não se importe que eu diga isso, às vezes, as mulheres precisam chorar. - Aventurou Gary.

Savannah foi diretamente para casa. Quando a sentiu, na segurança das quatro paredes, Gregori se interrompeu, para levar Gary para um novo hotel.

- Sabe que não pode sair daí, até que venhamos manhã. – Advertiu Gregori.

Era uma sombra na mente Savannah. Podia vê-la claramente, correndo através da sala, para a escada em espiral, para o precioso tesouro que Julian tinha deixado para eles.

Savannah abriu de repente a porta do porão, então ondeou a mão através da escura câmara. arrastou-se na terra curativa e se afundou. Depois, chorou como se seu coração estivesse partindo. Tantas mortes. Peter. E se tivessem perdido Gary esta noite? Podiam o haver perdido, e tinha sido impossível o ajudar, porque Gregori não permitira.

Depois de deixar Gary, Gregori veio a ela com gentileza, com ternura. Suas mãos eram cuidadosas enquanto despiam seu corpo sem resistência. Não quiz de despertá-la, persuadi-la a unir-se a ele. Em troca, amassou ervas consoladoras e curativas, com as essências de sua terra natal. Uniu-se a ela na câmara do sono, na sólida terra, tomando o corpo magro entre seus braços, aproximando-a.

Savannah acomodou a cabeça sobre seu ombro, com os olhos firmemente fechados. Um punho fechado estava em sua boca, e ele podia sentir os soluços estremecendo seu corpo. Gregori confortou em francês, acariciou seu cabelo, seus braços eram protetores enquanto esperava que chorasse, limpando a sensação de aflição.

Sabia como caçar a mais viciosa e inteligente de todas as criaturas, o vampiro. Podia criar tempestades e atrair relâmpagos do céu. Podia fazer a terra se mover, entretanto não tinha absolutamente idéia de como parar um dilúvio de lágrimas. Sustentou-a entre os braços, e quando não pôde resistir mais, emitiu uma ordem e os enviou a dormir.

 

A tempestade mudou do mar na escuridão crescente, soprando rápida e furiosa sobre o canal e Nova Orleáns. Era selvagem e indomável. A chuva, de repente, veio para as as ruas com tal força, que encharcou o chão imediatamente, as bocas-de-lobo da cidade eram incapazes de suportar tanta carga. Os relâmpagos raiavam e troavam pelo céu, dançavam no ar, mostrando a crua magnificência da natureza. O trovão estalou ruidosamente, tambores enchendo o céu, liberando-se para sacudir os alicerces dos edifícios.

Gregori percorreu a casa descalço, preocupado com Savannah. Ela estava no pátio, sozinha, calada, sem compartilhar seus pensamentos com ele. Tinha fundido sua mente com a dela duas vezes desde que se levantaram, e ambas as vezes, ela estava confusa, triste, caótica. Retirou-se para lhe dar espaço. Ela desejava algo que ele sabia nunca ser capaz de lhe dar. A liberdade de unir-se a ele em suas batalhas. A idéia do Savannah em qualquer tipo de perigo, roubava o ar que respirava. Gregori estava perdido. Todo seus conhecimentos, todo seu poder e era incapaz de lhe dizer como fazer o melhor por ela.

Savannah tinha vagado silenciosamente no pátio quando o vento se levantou. Observando as nuvens escuras, formando redemoinhos contra o céu noturno, anunciando o vendaval. O céu se abriu, orvalhando a terra. Savannah simplesmente se encolheu numa cadeira e observou com olhos sombrios.

Gregori se deteve na soleira da porta, seus olhos prateados, vigilante e cuidadoso. Ela estava olhando o céu, para os dançantes látegos de luz, sem se preocupar com os três centímetros de água do já alagado pátio. Sem se preocupar que seu cabelo estivesse molhado e a fina camisa que vestia, grudada nela como uma segunda pele. Estava formosa, tão bela, que lhe roubou o fôlego. Em torno dela, a natureza estava em erupção, selvagem e indomável. Em meio a tudo, ela estava sentada como se pertencesse ao lugar. A seda branca da camisa, empapada pela chuva, mostrava seus seios altos e firmes, fazendo com que parecessem uma oferenda pagã.

Estava com seus pensamentos longe. Gregori tocou sua mente porque necessitava do contato. Ela parecia tão distante e ele não podia suportar mais a separação. Apesar de sua aparência exterior de serenidade, a mente dela era tão selvagem como a tormenta. Estava sobrevoando a terra, já não ancorada pela pele e ossos. A fúria do vendaval estava nela, turbulenta, indomável.

Não podia encontrar condenação nela, por suas falhas, nem recriminações de dor. Havia só a feroz necessidade de encontrar uma forma de entender e aceitar as coisas que não podia mudar. Sentia as limitações de sua própria juventude e falta de experiência. Estava de causar pena, por o ter colocado, inadvertidamente, em perigo. Por não ter o conhecimento certo para defender sua presença de seus inimigos.

Gregori quase gemeu em alto. Não a merecia.

Savannah virou a cabeça lentamente para ele. Seus olhos azuis eram escuros pela ferocidade da tormenta que fervia em seu interior. Ele pôde sentir o calor e o desejo dela. A rugente tormenta que movia-se através de seu sangue, do mesmo modo que se movia através do céu noturno. Clamava por algo primitivo e selvagem nele. Sentiu à fera rugir, o desejo que o tomar. Os olhos prateados, luziram vermelhos na escura noite. Ferozes, mais animal que homem.

Gregori nunca esqueceria esse momento. Nem em um século, nem em toda a eternidade.

A noite lhes pertencia.

Apesar do que acontecera entre eles, não havia nada que pudesse mantê-los separados. Pertencia-se. Precisavam o um do outro. Corações e mentes, corpos e almas. As árvores balançavam com o vento, seus galhos se inclinavam pela sob o assalto. A umidade era alta, o ar estava carregado de eletricidade arqueando-se e estalando. Raios de calor branco golpearam o chão, sacudindo a terra. Um relâmpago golpeou a lateral de um edifício, a poucos quarteirões, carbonizando as paredes e enviando tijolos pela calçada e pela rua. Explodiu uma cabine Telefónica próxima, em uma chuva de ferozes faíscas.

Savannah em pé no pátio, o relâmpago arqueou cruzando o céu sobre ela, o vento lhe enrolou os cabelos em volta de seu rosto. A chuva molhou seu corpo. Ela levantou os braços para abraçar o poder cru da natureza. Sua pele era cremosa, perfeita. A camisa de seda, grudada em seu corpo, enfatizou a rosa escura de seus mamilos eretos e incitantes. Suas pernas estavam nuas e o triângulo escuro que protegia seu sexo, fazia gestos, lhe convocando misteriosamente.

Gregori foi para ela porque tinha que ir, não havia escolha. Nada, nenhum obstáculo podia mantê-lo afastado de seu lado. Seus braços se estenderam e a arrastaram para ele, sua boca encontrou a dela com a feroz intensidade da tormenta. Não podia encontrar as palavras, só sua feroz necessidade de lhe mostrar o que era. De entregar-se a ela. Entregar a ele sua vida.

Desejava-a, assim. Úmida e selvagem, com o relâmpago estalando no céu e chamuscando seu sangue. Sua boca tomou a dela, alimentando-se vorazmente, devorando, reclamando-a, marcando-a com fogo, sua boca e sua pele.

O fogo correu através do pescoço dela enquanto ele a beijava, acariciava-a com sua língua, enquanto seus dentes se afundavam profundamente. O prazer e a dor a sacudiu, reduzindo-a a um selvagem êxtase, pedindo. Sempre pedindo mais. Ele tomou seu sangue, o doce e ardente fluido, enquanto se saciava, enquanto saboreava sua essência.

Enquanto se alimentava de sua especiaria, suas mãos afastaram a camisa de seda, para poder tocar a plenitude de seus seios, revelando seu corpo, sua suavidade. Savannah era perfeita. Podia sentir o que ela desejava, em sua mente... O desejo selvagem, a necessidade de se igualar a fúria da tormenta, a necessidade de sentir-se viva em meio a violência que os rodeava.

O desejo dela era o seu desejo. Acariciou com sua língua, os pequenos furos, selando-os, para que sua boca pudesse vagar por sua garganta, deixando uma esteira de fogo a sua passagem. Encontrou seus seios e os sugou, um frenético frenesi de luxúria e amor. Suas mãos encontraram o traseiro nu dela e a arrastou contra seu raivoso corpo. A necessidade superou seu sentido comum. Suas presas surgiram e cravaram na cremosa pele de seu seio, fazendo-a fluir nele como néctar.

Savannah embalou sua cabeça com um braço, com a outra explorou seu corpo, deliberadamente, num ritmo febril. A tempestade estalava ao redor deles, através deles, acumulando-se em seus corpos, exigindo alívio.

Ele alimentou-se como era seu direito, suas mãos a reclamavam, deslizando-se para seu úmido e ardente sexo. Seus dedos sondaram, acariciaram, torturaram.    A combinação de sua boca alimentando-se e os dedos acariciando-a, a conduziram à loucura, ela se moveu contra sua mão, desesperada procurando alívio.

Os gritos roucos de Savannah se perderam entre o rangido do trovão, enquanto seu corpo ondeava de vida e exigia mais dele. Gregori elevou a cabeça e observou com olhos famintos, o fino atalho do vermelho que se misturava a chuva, no corpo dela. Acariciou com sua língua seu seio, depois seguiu o atalho rubi, gotejante, até seu estômago. Ate até que a encontrou úmida e preparada para ele, gemendo enquanto se fragmentava sob seu ataque.

Um relâmpago cintilou e estalou, um látego de calor que pareceu açoitá-los com sua fúria, parecia dançar através de seus corpos, alimentando a tortura neles, em volta deles. Gregori a empurrou para trás até que ela encostou-se contra a grade de ferro. Suas mãos a giraram, e ela tinha o metal como suporte, seus punhos se apertaram quando ele elevou seus quadris. As palmas das mãos dele a percorreram e a acariciaram. A suavidade dela, sua aceitação, o deixava louco de desejo. Pressionou-se contra seu traseiro, seu sexo rijo se inflamando cada vez.     Savannah fez um ruído, um pequeno lamento em sua garganta. A suave súplica acabou com seu pouco controle e se inundou no pequeno e apertado sexo. Ouviu-se gemer de prazer, o vento tomou o som, arrancando-o das profundezas de seu ser e enviando-o para à turbulenta noite. Suas mãos sustentavam os quadris dela enquanto se enterrava fundo, duro e rápido, tão selvagem como o vento latente.

Suas costas, tão perfeitas, estirou-se diante dele, e ele inclinou a cabeça para beber ali, as gotas de água. Ela era sua pequena e delicada mulher, embora forte e tão selvagem como natureza. O insaciável calor do ritual Cárpato estava neles, no corpo selvagem deles, mas seu coração estava preso para sempre. Selvagem como ela, igualava sua ternura.

Ele sentiu a debilidade dela, uma vertigem momentânea. Soube instantaneamente que ela estava mal, embora tentasse ocultá-lo. Tinha tomado muito de seu sangue. Sem consentimento, sem comentários, havia-a drenado. Seu pequeno lamento desamparado, satisfez seu ego masculino. Tomou-a nos braços e a levou cruzando o pátio. Colocou-se sobre as almofadas úmidas, pô-la sobre ele, para que o montasse.

Savannah gritou enquanto baixava seu corpo, ferozmente acordado, sobre ele. Ele enchia-a completamente, numa fricção ardentemente, firme e erótica. Gregori a agarrou pela nuca, lhe empurrando a cabeça para seu peito. – Alimente-se agora.

Ela era selvagem, seu corpo se movia freneticamente sobre o dele, tomando seu controle de ferro e reduzindo-o a cinzas. Suas mãos mediram a cintura dela, e se permitiu a luxúria dos lençóis de seda. O relâmpago estalou através de seu corpo, as chamas o consumiram. Suas mãos se moveram para cima pela perfeita linha de suas costas, encontrando seu cabelo, e empurrando sua cabeça para ele. - Preciso de voce. Necessito que me tome em seu corpo. – Ele apertou os dentes contra o prazer que ameaçava o deixar louco.

Sua ordem, foi na realidade, uma súplica e Savannah se inclinou para frente, seu corpo montando o dele, sua língua bebendo as gotas de água sobre o peito dele. O corpo de Gregori se distendeu, enquanto o fogo dançava através dele. Dor e prazer, na mesma sensação. Os dentes dela os uniram como fazia seu corpo. Corpo e alma. - Deus, amava-a. - Sentia inteiro, completo com ela. O terrível vazio, o negro abismo era empurrado para o lado, todo o tempo, pela beleza de seu espírito, de sua alma.

Sussurrou palavras ancestrais de amor, entre os dentes apertados, alagando-a, enchendo seu coração como enchia seu corpo. Quando chegou ao êxtase, ela foi turbulenta como os relâmpagos, ruidosa como o estrondo do trovão, selvagem como os ventos que atravessavam a noite.

Grudaram-se um no outro, exaustos, saciados, intimidados pela beleza do ato, a beleza da tempestade.

Quando a cabeça dela pousou sobre seu coração, seus braços apertados em volta dela, o vento começou a morrer, a natureza aliviou sua frenética força e seus corações lentamente voltavam ao normal.

Gregori beijou suas têmporas, a linha de sua face, acariciando com seus lábios, sua boca, mordiscando seu queixo.

- Você é meu mundo, Savannah. Deve saber.

Ela se abraçou a ele, surpreendida pela intensidade e força do desejo de um pelo outro.

- Se isso entre nós crescer, tornar-se mais forte ao longo dos anos, nenhum de nós viverá muito.

Gregori riu brandamente.

-Tem razão, chérie. É uma mulher perigosa.

Gregori levantou-se do meio das almofadas molhadas, ainda segurando-a apertado contra ele e deslizou pelo pátio, para o interior da casa. Entraram no banheiro e sob a ducha quente que acariciava seus corpos depois da chuva fria. Permaneceram ali algum tempo, cansados até para se mover.

Savannah agradeceu que ele a segurasse entre seus braços, temerosa de que suas pernas nunca pudessem sustentá-la de novo.

Gregori secou seu corpo com uma toalha antes de ondear uma mão para vestir-se a si mesmo. Savannah estava vagando pela casa de volta à cozinha, com apenas outra das camisas dele cobrindo-a. Sua pele nua mostrava marcas que não estavam ali antes. Ele a seguiu, amaldiçoando sua própria rudeza. Tinha deixado sua marca deliberadamente no seio dela. Era a marca de sua posse, mas as débeis marcas em outra parte precisavam ser curadas.

Savannah riu brandamente.

- Não estou ferida em nenhuma parte, companheiro. Adoro-o, e você sabe.

- Posso te fazer o amor sem te deixar marcas. - Corrigiu ele.

Ela recolheu um pilha de papéis e os examinou, depois os deixou cair sobre a mesa.

- Se alguma vez me fizer mal, Gregori, prometo-lhe, direi-lhe imediatamente.

Ele sentiu o retorno de sua inquietação.

- O que é?

- Vamos fazer alguma coisa, Gregori. Algo que não tenha nada que ver com a caça. Algo diferente. Algo turístico.

- As ruas estarão alagadas esta noite. - Assinalou ele.

Ela encolheu de ombros.

- Eu sei. Estive olhando alguns folhetos antes, sobre todas as atrações turísticas daqui. - Disse Savannah indiferentemente.

Gregori levantou o olhar alerta, ante o cuidadoso e calculado desinteresse de sua voz.

- Nenhum deles te pareceu atraente?

Ela encolheu de ombros muito casualmente.

- A maioria dos mais interessantes, são de excursões diurnas. Como os do bayou. – ela encolheu os ombros. - Eu gostaria de aprender história local. Gostaria de aprender a história do bayou. Não me importaria fazer um tour pelo bayou com alguém que cresceu ali.

- Tem um folheto na mão? - Perguntou.

- Não é importante. - Disse Savannah com um pequeno suspiro. Atirando o punhado de panfletos sobre a mesa e recolhendo sua escova para o cabelo.

Gregori a tirou de sua mão.

- Se quiser um tour pelo bayou, Savannah, então iremos.

- Eu gostaria de fazê-lo. - Admitiu Savannah com um liguera sorriso. - É a diversão para fazer perguntas e aprender coisas novas.

- E voce é muito boa nisso. - Respondeu-lhe ele e lentamente passou a escova pela negra azulada cabeleira. Eles moviam-se com vida própria, negando-se a ser domado. Recolheu uma mecha entre as mãos só para sentir o quanto era suave e sedoso. Sobre o ombro dela, seu olhar descansou no folheto que ela tinha posto de lado. Se Savannah queria um tour, moveria céus e terra para conseguir um.

- Não vamos estar sempre caçando vampiros e assassinos mortais que perseguem a nossa gente. - Começou diplomáticamente.

- Sei. Ele o seguem aonde quer que vamos. – Ela concordou.

- Quando propôs vir a Nova Orleáns, tínhamos a esperança de que os membros da sociedade nos seguissem e deixassem Aidan e sua gente em paz. Não era isso o que queria?

- Não particularmente. - Admitiu ela, com um brilho em seus olhos azuis. - Estava tentando conseguir que vivêssemos aqui. Já sabe, a clássica lua de mel. Uma doce e suavem jovem, ensinando ao velho e antigo marido, como se divertir. Essa classe de coisas.

- Velho e antigo marido? - Repetiu ele atônito. - A parte de antigo posso aceitar. Mas definitivamente, não estou velho. - Como castigo, ele puxou-lhe o cabelo.

- Ai! - virou-se Savannah e o olhou indignada. - Velho parece se encaixar. Sabe, mago, velho.

Gregori escondeu o rosto entre seus cabelos, para esconder a súbita emoção que o sobressaltava. A fragrância de flores e o ar fresco o tomou. Ela era o que havia procurado todos esses longos séculos. Diversão. A sensação de pertencer a alguém. Alguém com quem compartilhar o riso, brincar, até nos momentos difíceis da vida. Ela era parte dele. Não podia voltar novamente, para uma existência erma, solitária. Nunca escolheria permanecer no mundo, sem ela.

- Crê que sou muito velho, Savannah? - Perguntou maciamente, tocando mechas de seu cabelo, com a boca. Ela era suave como a seda.

- Não velho, Gregori. – Corrigiu ela, gentilmente. - Só defasado. Tem tendência a acreditar que as mulheres deveriam sempre fazer o que lhes diz.

Ele encontrou-se a se render.

- Não é o que faz você.

Ela inclinou a cabeça para trás, uma indireta nada sutil, para que ele seguisse escovando seu cabelo.

- Desejaria que entendesse que não posso ficar e olhar como alguém se faz mal por minha causa.

Ele suspirou e permaneceu em silêncio por vários segundos, antes de replicar.

- Nunca devia ter levado você comigo, a colocando em semelhante posição, ma chérie.

- Quero discutir isso. - Insistiu ela, apertando os punhos.

Ele baixou para um lado, a camisa que ela vestia. Inclinou a cabeça, e tocou com a boca, a pele nua. A sensação foi tão intima como o pecado.

- Não pode haver discussão. Deixamos claro ontem à noite. Não o farei, nem sequer por voce. Deve entender quem sou. Está em mim, como eu estou em ti. Sabe como me sinto. Não posso fazer outra coisa que a proteger. Isso é o que sou.

- Tem que ser tão inflexível sobre isto, Gregori? - queixou-se Savannah. Mas ele tinha razão. Ela sabia a resposta. Era impossível estar em sua cabeça e não sentir sua implacável resolução.

- A tormenta está passando. Quer ir ao bayou esta noite? - Perguntou ele, separando seu cabelo e começando a penteá-lo em uma trança.

Amava a sensação das mãos dele em seu cabelo, seus dedos lhe massageando o couro cabeludo, apertando gentilmente a trança. Estendeu uma mão para colocar a palma sobre seu ombro nu. O ponto exato onde os lábios dele a haviam beijado.

- Eu adoraria ir ao bayou contigo.

Ele sorriu, seus olhos prateados pareciam mercúrio fundido.

- Podemos observar a fauna selvagem para variar. Nada de vampiros.

- Nada de tipos estranhos de nenhuma sociedade. - Acrescentou ela.

- Nem mortais que precisem ser resgatados. - Disse Gregori com intensa satisfação. – Vista-se.

- Está sempre me tirando a roupa e depois, me diz para vestir-me novamente. - queixou-se Savannah, com seu exaspetante sorriso.

Essa pequena e sexy mulher, o enlouquecia.

Deu a volta para que ficasse de frente para ela, agarrou o peitilho da sua camisa, e cobriu seu corpo tentador.

- Não pode esperar que eu lhe vista, verdade? - Perguntou, inclinando-se para lhe acariciar os lábios com os seus. Já sentia o coraçãozinho dela, saltar em resposta. Ou era o coração dele. Era quase impossível dizer a diferença.

Caminharam pelo pátio, com as mãos unidas. A chuva não era agora, mais que uma garoa fina, mas a água ainda estava a uns bons centímetros de profundidade sobre os azulejos. Gregori levou a mão dela a sua boca.

- Nunca verei este lugar do mesmo modo, ma petite. - Disse. Sua voz sussurrou sobre a pele dela, sedução negra que deslizava sobre seu corpo e gotejava em sua mente. Sua voz era pureza, tão formosa que ninguém podia resistir, e muito menos, ela. Savannah ruborizando-se, a cor selvagem se arrastou por todo o seu rosto.

A risada dele foi suave e rouca. Seu corpo já estava começando a mudar de forma enquanto se lançava pelo céu. Savannah observou com orgulho, como seu corpo encolhia e plumas iridescentes cobriam a forma de predador. Gregori era formoso, com agudos olhos e um corpo poderoso. Ela não tinha tanta experiência para mudar no meio do ar, mas manteve a imagem que tinha em sua mente e sentiu o peculiar estiramento de ossos e músculos que anunciavam a mudança.

As sensações eram completamente diferentes. Como a noite que haviam se deslocado, livres com o lobo.

Savannah agora, tinha as sensações de um pássaro. Sua visão era aguda e clara, seus olhos enormemente abertos. Desdobrou suas asas experimentando-as, depois as bateu na ligeira garoa. Eram muito maiores do que esperava. Deleitava-a, e as bateu com mais força para poder criar vento, causando ondas na água estancada do pátio.

- Diverte-a? - A voz de Gregori, continha um tom de riso.

- Isto é genial, companheiro. - respondeu ela. Rapidamente batendo as asas e elevando-se no ar. A luminosa neblina estava passando por cima. O ar era quente e pesado com a promessa de umidade, mas se elevou, revelando sua habilidade.

O corpo forte e arrojado, se deixou cair sobre o dela, próximo e protetor, guiando-a em direção ao bayou. Embora voavam alto, os agudos olhos do raptor podiam distinguir os mais pequenos movimentos de abaixo. Os detalhes eram vívidos e claros. As cores eram diferentes. Visão de infravermelhos, censores de calor... Savannah não estava segura que era exatamente, mas a forma em que percebia o mundo era uma experiência única e diferente.

Mergulhou sob Gregori e voou longe dele, girando de lado e dando voltas sobre ele. Em sua mente podia o ouvir excomungar. Como sempre, soava arrogante, elegante, do Velho Mundo, completamente ditador. Sorrindo, ela pegou uma rajada de ar quente sobrevoou o rio. O macho se deixou cair, para cobri-la com suas enormes asas.

- Desmancha-prazeres! - acusou-o ela, seu toque na mente dele um sussurro de luminosidade, um convite a unir-se em sua diversão.

- Está numa grande confusão, ma femme.

Ele sabia que a ameaça estava vazia quando a fez. Daria-lhe o mundo. Mas por que ela tinha que fazer semelhantes diabruras todo o tempo?

- Alguém que escolhe viver contigo teria que ter sentido da aventura, não crê?

Sua suave risada, pairou sobre a pele dele como música, como a gentil brisa soprando das montanhas de sua terra natal.

Mesmo dentro do corpo de pássaro, voltou para a vida, para o desejo e a fome surgindo para converter-la parte dele. Implacável. Exigente. Selvagem em sua intensidade. Era mais que simples luxúria. Mais que fome. Mais que desejo. Era tudo misturado, junto com uma ternura que nunca havia pensado em sentir. Quando mais rebelde era ela, quando mais desafiante, seu coração se derretia. - O que acredito, é que seria melhor que fizesse as coisas da forma em que eu quero que faça. Trocar de forma não é coisa tão simples.

- Todo mundo o faz. - objetou ela, lançando-se para longe, embaixo ele.

O macho raptor se lançou atrás dela, chegando rápido e direto como uma flecha, caindo para ela do céu noturno.

Savannah, dentro do corpo da fêmea, deu um pequeno grito de medo e seu coração bateu forte, ante o inesperado ataque. Saiu um grasnido estranho, sobressaltando-a tanto que por um momento, esqueceu o que estava fazendo, quase voltando a trocar de forma.

- Savannah!

O tom foi uma suave ordem, hipnótica, impossível de ignorar ou desafiar. Manteve a visão do pássaro na mente dela, fundindo sua mente completamente com a dela para que fossem uma. O pássaro macho, voou, cobrindo o pequeno corpo da fêmea, guiando-a sobre a cidade, para o canal escuro, o bayou.

- É tua culpa por me assustar. - proclamou ela.

Embaixo deles, quase tudo estava coberto por ciprestes que surgiam da água. Densos canos se elevavam do pântano. O bayou fervia de vida, com o som de insetos, pássaros e rãs. As tartarugas compartilhavam os troncos cansados e podres com jovens jacarés e as serpentes deslizavam, saciadas e sonolentas, ao longo dos ramos. O pássaro macho instigou à fêmea e voaram sobre a formosa noite, observando a cena viva abaixo deles.

Gregori enviou uma chamada de noite, procurando o único humano que cumpriria o desejo de Savannah. Queria um guia. Um que houvesse nascido e se criou na zona e que pudesse responder a todas suas perguntas. Um bote se moveu através das águas, em resposta a sua convocação. Havia sido firme em sua ordem, urgindo o homem a responder imediatamente.

- Aterrissa na rocha abaixo, Savannah e troca de forma. Manterei a imagem com voce.

Durante um momento ela teve medo. A rocha não era particularmente grande e o pântano era traiçoeiro.

- Confia em meu, ma petite. Nunca permitiria que nada te acontecesse – Gregori, tranqüilizou-a.

Ela podia sentir seu conforto e seus braços em volta dela, mesmo na forma de um pássaro.

A extensão dos poderes de Gregori sempre a deixava atônita. Certamente era legendário. Todos os Cárpatos falavam dele aos sussurros. Sabiam que era poderoso, mas não podiam conceber as coisas de que era capaz. Ela sentia orgulho por ele e assombro de que ele pudesse desejar alguém tão inexperiente, como ela, nos costumes dos Cárpatos, no essencial de seu treinamento, como era ela.

- Ensinarei tudo o que precisa saber, chérie, e desfrutarei te ensinando. – sussurrou ele em sua cabeça.

Ela pode sentir o fogo instantâneo, movendo-se através de seu sangue, ante o sussurro de sua voz.

As garras do pequeno pássaro, apontaram para baixo e procuraram segurança, enquanto sua esbelta forma brilhava no ar úmido.

Enquanto ela se solidificava, o pássaro macho encontrou um pequeno mancha de terra que estava perto, para aterrissar. Ele deslizou-se facilmente sobre os pés, sua forma musculosa diminuindo a de Savannah. Podia ouvir o firme zumbido do motor de um bote, que se aproximava para eles. Rindo, Savannah saltou de sua precária posição, para à segurança dos braços de Gregori.

Ele a segurou, esmagando-a contra o peito, com júbilo e alegria. Sentir de novo, estava além de sua compressão, mas sentir-se assim, com tanta alegria, era totalmente incrível. Sussurrou-lhe na língua ancestral, palavras de amor e de compromisso que não encontrava forma de expressar em nenhuma outra língua. Ela era mais do que um dia saberia, para ele. Savannah era sua vida.

- Você se preocupa pelas coisas mais ridículas. - disse-lhe, enterrando o rosto contra seu pescoço, inalando sua essência.

- Verdade? - Perguntou ela em voz alta, os olhos dançavam para ele. - Você é o que sempre se preocupa, de que eu vá fazer algo selvagem.

- Você faz coisas selvagens. - Respondeu ele, complacentemente. - Nunca sei o que vais fazer no momento seguinte. É bom que eu resida em sua mente, ma petite, ou teria que ser preso e acorrentado no manicômio mais próximo.

Seus lábios acariciavam seu queixo, seus olhos, e o canto de seus lábios.

- Acredito que deveria estar preso sim. É positivamente letal para as mulheres.

- Não para todas as mulheres, ma petite, só para voce.

Gregori deteve sua boca provocadora com a sua, tomando posse dela a pesar do fato de que o bote estava quase junto a eles. Estava preso na rede de seu feitiço. Era mágica, formosa, fascinante.

Sua risada borbulhou de novo, seus punhos se apertaram na camisa dele.

- Temos companhia, companheiro. Presumo que enviou ele.

- Você e suas idéias. – Gregori retrucou, deslizando-se pela esponjosa superfície para o bote.

O capitão do navio não pareceu notar que os pés de Gregori não tocavam o pântano. Seus olhos estavam sobre Savannah, com genuíno espanto.

- É a maga, Savannah Dubrinsky. – ele disse - Estive em três de seus shows. Voei todo o caminho até Nova Iorque para vê-la, no ano passado. Em Denver faz uns poucos meses, e em São Francisco este mês. Não posso acreditar que seja realmente você.

- Isso é completo. - Savannah lançou seu famoso sorriso, a que fazia que aparecessem essas curiosas estrelas no centro de seus olhos. - Percorreu todo esse caminho só para me ver? Está me adulando.

- Como você faz isso? Desaparecer como em meio a névoa? Estava tão perto do cenário como podia,e ainda não posso imaginar como o faz. – Disse o homem, inclinando-se para frente, estendendo sua mão. - Sou Beau LaRue. Nasci e me criei aqui no bayou. É um privilégio conhecê-la, Senhorita Dubrinsky.

Savannah deslizou sua mão pela do capitão. Um breve toque, enquanto Gregori punha os pés firmemente sobre o assoalho do bote. Estava empurrando-a de volta, para seus braços, tirando-a com êxito das garras do capitão.

- Sou Gregori. - Disse ele, a sua maneira suave e gentil, com a voz que escravizava e cativava. A que ronronava em ameaça. - Sou o marido de Savannah.

Beau LaRue tinha conhecido só a outro homem tão perigoso como este em sua vida. Por coincidência, tinha sido a noite, no bayou. O poder e o perigo se juntavam em Gregori como uma segunda pele. Seus incomuns olhos prateados eram hipnotizadores, sua voz era hipnótica. Beau sorriu. Tinha passado a maior parte de sua vida nestas águas, tinha encontrado de tudo desde jacarés até contrabandistas. A vida era sempre boa no bayou, imprevisível e estimulante.

- Escolheram uma noite interessante para sua visita. - Disse alegremente. A tormenta já tinha passado, mas o humor da água era perigoso a noite. Sobre os bancos em volta deles, os jacarés, normalmente calmos e tranqüilos, tomando o sol à luz do dia, estavam bramando com desafio ou deslizavam silenciosamente na água, para caçar uma presa.

Os brancos dentes de Gregori, brilharam em resposta. Era parte da noite. As criaturas o conheciam. A inquieta e indomável terra, igualava a sua faminta alma. Beau o olhou, observando sob a quietude absoluta, que lhe marcava como um perigoso predador. Os olhos implacáveis movendo-se constantemente, sem perder nada. O corpo poderoso e bem musculoso estava enganosamente tranquilo, mas preparado para tudo. A face áspera e sensual, belamente cruel, estava esculpida por penalidades e conhecimentos. Riscos e perigo.

Gregori permaneceu nas sombra, mas a ameaça de seu olhar, brilhou com estranha luz, iridescente, na escura noite. Beau tomou a oportunidade de estudar Savannah. Etérea, misteriosa e sexy. O mesmo material que pareciam as fantasias dos homens. Sua face era perfeita, iluminada pela alegria. Seus olhos claros, como formosas estrela azuis de safira. Seu riso era musical e contagioso. Era pequena e inocente ao lado do predador em seu bote. Ele tocava o braço de Gregori, mostrando alguma coisa no aterro, seu corpo roçava o dele ligeiramente, e cada vez que ocorria, os olhos prateados esquentavam até parecer mercúrio fundido e acariciavam a face dela, íntimos e famintos.

Beau começou a responder as perguntas dela, explicando tudo sobre sua juventude, seu pai colocando armadilhas por comida e peles. Como ele e seu irmão recolhiam musgo das árvores para sua mãe e irmãs que o secavam e colocavam como enchimento em seus colchões. Encontrou-se contando toda classe de lembranças de sua infância, coisas que não sabia sequer que recordava. Ela esperava por cada uma de suas palavras, o fazendo sentir como se fosse o único homem sobre o planeta... Até que Gregori revolveu, numa simples sugestão, mas o suficiente para lembrar a Beau, que ela estava bem protegida.

Ele levou- a todos seus lugares favoritos. Aos mais formosos e exóticos lugares que conhecia. Gregori também fez perguntas, sobre ervas e artes de cura naturais do bayou.

Beau se encontrou, impossibilitado de resistir a voz aveludada dele, com um mágico poder negro, poderia escutá-la para sempre.

- Ouvi alguns homens em um restaurante falando de uma lenda do bayou. - Disse Savannah repentinamente, inclinando-se sobre a lateral do bote, oferecendo uma intrigante visão de seu corpo, no apertado jeans. Eles colavam-se adoravelmente a cada curva.

Gregori se moveu, com fluidez em seu corpo, deslizando silenciosamente, e sua grande forma estava cobrindo o corpo de Savannah, bloqueando a incitante vista do capitão. Ele se inclinou para ela, seus braços baixando dos dois lados do corrimão para protegê-la contra o corpo.

- Está tentando-o.

Suas palavras, roçaram a mente dela, assim como seu hálito acariciou as mechas de cabelos em sua nuca.

Savannah se inclinou para trás contra ele, fixando seu traseiro nos seus quadris. Estava feliz, era feliz e livre do opressivo peso da caça, da morte e da violência. Estavam só eles dois.

- Três. - Recordou-lhe ele. Seus dentes tocaram a sensível pulsação dela. Podia sentir a resposta no sangue dela. A lava fundida, estendendo-se a dele.

- Minha mãe pensa que meu pai é um homem das cavernas. Estou começando a pensar que você poderia ser seu professor.

- Pequena desrespeitosa.

- Que lenda? Há tantas. - Disse Beau.

- Sobre um velho jacaré que finge esperar para comer cães de caça e crianças pequenas. - Disse Savannah.

Gregori afastou a larga trança, para que ela inclinasse a cabeça para trás. Sua boca roçou a linha da garganta dela. - Eu poderia ser um jacaré faminto - ofereceu-se.

- O velho. - Disse Beau. - Todo mundo adora essa história. Ela deve ter, cem anos ou mais e cresce cada vez que é contada para alguem. – ele deteve-se durante um momento, manobrando com destreza, ao longo de um nó no canal.

Os ciprestes se inclinavam para baixo, parecendo macabras figuras de pau vestidos com largas cordas de musgo pendente. Ocasionalmente, podiam ouviro barulho de alguma serpente caindo na água.

- Dizem que o velho homem jacaré é eterno. É enorme agora e mais gordo a cada morte. Mais matreiro e inteligente, que nenhum outro no bayou. Reclama seu território, e os outros jacarés lhe obedecem. Dizem que ele mata a qualquer jacaré estúpido, para vagar por seu território, Jovem ou velho, macho ou fêmea, desaparecem de quando em quando e o velho homem jacaré consegue a fama.

Beau deixou que o bote parasse, para que se balançassem gentilmente na água.

- É divertido que tenha perguntado por essa historia em particular. O homem que me deu as entradas para suas apresentações, estava muito interessado nesse jacaré. Estávamos acostumados a andar por aqui a noite, recolhendo ervas e cascas de árvore e pinçávamos pelos arredores procurando o monstro. Nunca o encontramos.

- Quem lhe deu entradas para o show de Savannah? - Perguntou Gregori, já conhecendo a resposta.

- Um homem chamado Selvaggio, Julian Selvaggio. Sua família esteve em Nova Orleáns quase desde a primeira fundação. Conheci-lhe há alguns anos. Somos bons amigos. – O capitão sorriu. - Apesar de que, ele seja italiano.

Gregori arqueou as sobrancelhas. Julian tinha nascido e se criado, nas Montanhas dos Cárpatos. Não era mais italiano do que Gregori era francês. Julian tinha passado um tempo considerável na Itália, como Gregori na França, mas ambos eram Cárpatos apesar de tudo.

- Conheço Julian. - Disse Gregori. Seus dentes brancos, reluziram na escuridão.

A água golpeou o bote, produzindo um peculiar ruído de aplauso. O balanço era mais calmante e pacífico, que perturbador.

- Pensei que o conheceria. Ambos têm conexão com Savannah. Os dois, fazem as mesmas perguntas sobre medicina natural, e parecem malditamente intimidantes.

- Eu sou mais agradável que ele. - Disse Gregori, sério.

A cabeça de Savannah roçou seu peito. Seu riso foi música, no sufocante calor do pântano.

- Então nunca encontraram o jacaré. É verdade que ele come cães grandes?

- Bom... De fato, um grande número de cães de caça se perderam no bayou ao longo de um atalho. É no suposto território do velho homem jacaré. Vários caçadores disseram que o viram à espera dos cães. Não puderam apanhá-lo, entretanto. Nenhum pode. Ele vive nos arredores por tanto tempo, que conhece todos os caminhos do bayou. - O capitão franziu a testa, como se ela estivesse dando voltas.

- Está falando como se acreditasse que é real. - Assinalou Gregori gentilmente. - Embora diga que você e Julian não o encontraram. Julian é um caçador sem igual. Se existisse tal criatura, ele encontraria-a. – Ele já estava lendo a mente do capitão. A seu lado, Savannah se revolveu para contradizer sua declaração, mas Gregori a silenciou levantando a palma de uma mão.

- Julian sabia que ele estava aqui. Sentia-o.

- Mas você o viu. - Gregori empurrou a mente do homem, um pouco mais forte, repentinamente interessado nesta besta que podia sobreviver, quando muitos outros não podiam.

Beau olhou ao redor do canal, incomodado pela escuridão da noite. Era supersticioso e já havia visto muitas coisas. Coisas inexplicáveis, não gostava de falar delas sem a luz do sol.

- Possivelmente, alguém já deve ter visto o homem velho. - Admitiu ele em voz baixa. - Mas fora daqui, se admitir tal coisa, acreditam que está louco.

- Conte-nos sobre isso. - Urgiu-lhe Gregori, com sua voz hipnotizadora, impossível de resistir.

 

Durante um momento o vento deixou de soprar e os insetos no bayou ficaram em silêncio. Uma sombra escura pareceu rondar acima de suas cabeças. Gregori olhou para Savannah. Beau tirou uma lata de cerveja de uma geladeira portátil, oferecendo bebidas ao casal. Quando declinaram, ele esvaziou uma terceira parte do conteúdo da sua, de um só gole.

- Meu pai era pescador. - Disse-lhes Beau. - Passei muito tempo no bayou com ele, colocando armadilhas. Quando tinha dezessete anos, acampávamos na velha cabana, a que lhes mostrei antes. Havia alguns meninos celebrando uma festa em um bote, garotinhos de cidade. Tinham um bote realmente bonito, não como essa coisa velha que tomávamos para ir à escola. As garotas eram bonitas, e os meninos bem vestidos. Quando nos viram, mim e a meu pai, riram e nos apontaram em nosso velho esquife. Senti-me envergonhado.

Savannah fez um suave som de simpatia, em sua inclinação natural de conformar. Gregori entrelaçou seus dedos com os dela, sujeitando-a, a seu lado.      Ela era tão compassiva, e tecia tal encantamento nos homens, sem sequer notar ou notá-los. Ele levou-se seus finos dedinhos até sua boca, admirando seu caráter. Beau tomou um gole de cerveja, e limpou a boca com o dorso da mão.

- Eles observaram-nos partir para baixo, nos interrando no pântano. O barco deles era grande e não deveriam ir longe, pois os canos e as raízes eram espessas ali, surgindo da água a cada passo. Os insetos pululavam ao redor, picando até que cobrisse a gente de sangue. Era impossível para o barco deles, embora de algum modo, vieram, como se o caminho fosse aberto para eles. Um convite a morrer.

Savannah sentiu um frio estremecimento, um escuro e incubado temor que trouxe uma sombra em seu coração.

- Por que iria alguém, a um lugar assim? - Perguntou ela com um calafrio.

O braço de Gregori rodeou seus ombros e a trouxe para o amparo de seu corpo.

- Não há nada que temer, ma petite. Estou contigo. Nada pode te fazer mal, quando está comigo.

Beau acreditou na promessa sussurrada a Savannah. Acreditou- absolutamente. Já havia notado a falta de mosquitos. Tinha sido igual com Julian Selvaggio, também. Um estranho fenômeno, mas muito bom. Ele havia presenciado, muitas coisas estranhas no bayou.

A voz do capitão baixou mais, como se a água sob o bote pudesse levar sua história ao mundo exterior.

- Muitos, gostam de verificar se a lenda é verdade. Pescadores, caçadores furtivos em busca de um troféu. Desses famintos, com necessidade de comida e dinheiro. Desses que pensam que todo isso de vodu é uma tolice. Não entendem o poder da magia ou do bayou mesmo. Então, procuram o que não podem entender. Julian respeitava a natureza, respeitava nossos costumes e a magia daqui. Por isso contei a ele. Porque fui caçar com ele.

- Por que todos querem matá-lo? - As simpatias de Savannah, se voltaram para o jacaré. - Só quer sobreviver.

Beau sacudiu a cabeça sombriamente e estendeu uma mão para pôr em marcha o motor. O bote começou a se movimentar devagar, sobre da água.

- Não, Savannah, não esbanje sua compaixão. Ele não é um lagarto ordinário. O velho é malvado. Ele espera e, faminto ou não, mata a tudo o que se aproxima. Homem ou fera, dá no mesmo para ele. Mete-os na água e os devora.

- Pensei que gostava dos jacarés. - Protestou Savannah. - São parte da natureza, parte do bayou. Pertencem a este lugar. Nós somos que usurpamos seu território. Este pobre jacaré não pediu a ninguém que viesse lhe caçar. Provavelmente quer que o deixem em paz.

- Conte o que aconteceu aos jovens. - Incitou Gregori gentilmente.

- Não retornaram. Meu pai estava muito intranqüilo, muito preocupado. Conhecia a reputação do lagarto, e não gostava que forasteiros entrassem tanto no pântano. O velho jacaré matava por diversão. Sabíamos que era um malvado, perverso. Finalmente, meu pai insistiu em que fôssemos buscá-los. Disse-me que ficasse bem quieto. Pegou várias lanternas de azeite e fósforos, armas e um gancho de ferro... Tudo o que tínhamos no acampamento, para nos proteger.

O sufocante ar pareceu ficar rígido, esperando em suspense, pelo resto da história. Savannah se apertava contra a sólida forma de Gregori. Subitamente, não esteve tão segura em querer ouvir o resto. Podia sentir, ouvir e cheirar a imagem que Beau estava descrevendo.

- Tudo está bem, chérie.

A voz do Gregori, trouxe alivio e nforto à sua mente e e uma sensação de amparo. Um isolamento entre a sensibilidade de Savannah e algo que pudesse ouvir a seguir.

- Havia um mau cheiro terrível. O ar era espesso, tanto que, quase não podíamos respirar. Lembro-me que o suor fluía de nós, em rios. Nós sabíamos que se continuávamos entrando no território do velho, ele teria-nos para o jantar. Queríamos voltar. Diminuímos a marcha do bote. Meu coração estava batendo tão rápido que podia o ouvir. E os insetos desciam sobre nós. Meu pai estava enegrecido por eles. Picavam-nos e mordiam, entrando em nossos olhos e narizes, inclusive, enchendo nossas bocas.

Beau estava agitando-se.

Gregori instintivamente, se estendeu para acalmar sua mente. Cuidou a respiração do homem, colocou-a sob controle, depois diminuiu o ritmo de seu coração, baixou-o ao ritmo normal. Sussurrou o consolador canto curativo de sua gente e ondeou sua mão gentilmente para criar uma brisa que afastasse o mormaço e esfriasse a transpiração do corpo de Beau. Em seguida, a terrível pressão que crescia no peito do capitão se aliviou.

Beau sorriu fracamente.

- Só contei esta historia a outra pessoa. Prometi a mim mesmo que nunca o faria, mas de algum modo me senti compelido a compartilhá-la com Julian, e agora com vocês. Sinto muito. Ainda é como se tivesse acontecido ontem.

- Algumas vezes, ajuda-nos, falar de uma má experiência. - Disse Savannah amavelmente, com seus olhos luminosos, na noite. Brilhavam como os de um gato, estranhos e formosos.

O capitão sacudiu a cabeça.

- Enquanto não falo nisso, posso fingir que não aconteceu realmente. Meu pai nunca falou disso, nem sequer comigo. Acredito, que ambos quisemos que não fosse nada mais que um pesadelo.

- Os jovens estavam bebendo. - Gregori tirou a informação de sua cabeça.

Beau assentiu.

- Encontramos garrafas vazias flutuando na água, sobre o banco. Depois os ouvimos gritar. Não qualquer classe de grito, mas daquela tipo que permanece contigo para sempre. Que o desperta na noite, com um suor frio. Meu pai permaneceu bêbado um mês, depois disso, tentando esquecer os gritos. Sei que não funcionou. – Ele limpou a boca novamente. – Para mim, nunca funcionou.

- Não quero ouvir isto, Gregori. Faz-lhe muito mal recordar. - Protestou Savannah, seus dedos se retorcendo na camisa de Gregori.

Gregori acariciou seu cabelo.

- Aliviarei-lhe a dor depois. Isto é interessante. Em sua mente, posso sentir a presença do Julian. Por que o jacaré matar humanos desgostaria a seu pai? Por que o terror que se atrasaria nele depois de tantos anos? Neste lugar houve muitas mortes. É necessário ouvirmos esta história.

- Estávamos coberto de insetos, como uma manta, arrastando-se sobre nós. E era quase impossível respirar. - Beau tocou a garganta, recordando a sensação de sufoco. - Embora não podíamos lhes deixar. Seguimos avançando através dos canais e raízes. Para nós, a ida foi muito difícil, embora tínhamos um bote muito mais pequeno. A água era negra e oleosa perto do banco e estava estancada. O mau cheiro era horrível. Como um matadouro de cadáveres, deixados para apodrecerem ao sol. Meu pai quis me deixar no bote ao bordo do charco, dizendo que iria a pé, mas eu sabia que se o deixasse, morreria.

- OH, Beau. - Disse Savannah simpaticamente. Estava quase como o capitão.

Automaticamente, Gregori a aliviou e a confortou, provendo a de um isolante mais forte. Ela era como uma esponja, enchendo-se do terrível trauma.

- Acredito que ambos aceitamos que provavelmente não sairíamos dali. - Continuou Beau. Habilmente guiou o bote rodeando um toco. - Mas fomos. Estava tudo negro. Não como a noite, mas era negro. Meu pai acendeu a lanterna e então pudemos vê-los. O navio estava estilhaçado, com partes arrancadas. Destroçadas, como se algo enorme o tivesse atacado. E estava afundando sob a água. Um jovem estava preso a ele, mas seu sangue estava salpicando tudo. Não podíamos pegá-lo. Algo veio da água. Algo pré-histórico. Seus olhos eram perversos e sua boca totalmente aberta. Não era um jacaré e se estava divertindo, brincando com os jovens moribundos.

Beau passou uma mão pelo cabelo agitado, olhando através da água familiar.

Gregori se moveu, atraindo a atenção do capitão. Os peculiares olhos prateados, captaram seu olhar e o sustentaram. Instantaneamente, Beau se sentiu calmo, centrado, protegido e desligado. A história que estava contando se tornou só uma história que tinha acontecido a outra pessoa.

Gregori sentiu a estranha mudança na mente do capitão, como um véu nublado que produzia uma reação programada. Concentrou-se e seguiu o atalho, o patrão de maldade que lhe era tão familiar. Reconheceu o toque curador de Julian, as salvaguardas que ele havia colocado no mortal para acautelar, que a corrompida sombra se estendesse. Beau A Rue tinha sido atacado por um vampiro. Tinha escapado, mas não ileso.

Um suave toque de Savannah em sua mente, traiu sua presença. Encontrou-se achando graça . Ela já deslizava em sua mente, tão parte dele que não podia dizer onde começava ele e terminava ela. Ela tinha acessado suas lembranças e seus conhecimentos. A maior parte do tempo, que ela passava em sua mente, estava adquirindo as lições que os séculos lhe tinham ensinado.

Beau estava mais calmo, não o feliz capitão de antes, mas sua tensão havia definitivamente aliviada.

- Não havia nada que pudéssemos fazer por eles. Tínhamos entrado na área de jogos do monstro, e ele estava com humor para jogar. Não tentou afogar nenhum deles diretamente ou matá-los de uma vez. Lançou-os ao ar e os rasgou em pedaços. Partes dos corpos estavam flutuando na água. A cabeça de uma garota, ondulava na água perto do banco. Lembro-me da forma em que seu cabelo se estendia como um leque sobre a superfície da água.

Gregori tocou o ombro do homem. – É suficiente. Não há necessidade de que recordar os detalhes desta atrocidade.

Beau sacudiu a cabeça, a imagem vívida de sua mente repentinamente se obscureceu. - Quase não conseguimos sair. Veio para nós, tão grande como qualquer desses crocodilos do Nilo. Não queria comer, não estava protegendo seu território, só queria matar. Tínhamos penetrado em sua área, em seus domínios, enquanto ele estava se divertindo. Ficou zangado. Meu pai atirou a lanterna de azeite sobre a água e fez arder tudo. Não olhamos atrás.

- Foram muito afortunados. - Disse Gregori calmamente. Sua voz soando como uma fresca e fria brisa. Ela espalhou-se pela mente de La Rue, por seus poros, e dissipou a enfermidade que o tomava.

- Pode lhe curar. - disse Savannah.

- É um mortal.

- Pode curá-lo. - Insistiu ela. - Julian o protegeu, assegurando-se de que o veneno não se estenderia, mantendo longe o pesadelo, mas você pode arrancar tudo.

A dura linha da boca de Gregori, tornou-se quase um sorriso. Lá estava ele, fazendo as vontades dela novamente. Não havia forma de convencê-la, de que não podia fazer o que ela queria. Ela acreditava nele. Levou-se sua mão aos lábios, pressionando um beijo em sua palma.

- Je t'aime, Savannah. - sussurrou na mente dela, numa carícia.

Savannah se inclinou para ele.

- Eu também te amo, companheiro. Muito.

Gregori voltou sua atenção em limpar a mente do mortal, levando para longe, a lembrança do encontro com a terrível criatura, o não-morto. Não a tirou completamente porque estava firmemente entrincheirada na alma do capitão. O homem havia vivido com a experiência, por muitos anos. Mas Gregori a limpou, diminuindo a intensidade, extraindo os restos do corrupto toque do vampiro. O perverso castigo pela intrusão, pela habilidade para escapar da armadilha. Os pesadelos se acabariam, o vivido horror terminaria e o terrível medo, o temor com o que tinha vivido, Beau, sairia de sua vida para sempre.

Gregori suspirou e esfregou a nuca que estava tensa depois de semelhante excursão mental. Tirar a mancha de um vampiro de um mortal, de qualquer ser, era difícil. Requeria muita energia. Mas baixar o olhar, para os brilhantes olhos de Savannah fazia tudo valer a pena. Ela estava olhando-o como se fosse o único homem sobre a terra.

- É o único homem, pelo que me concerne. - Sussurrou ela. As palavras afastaram o cansaço de sua mente. O som do ancestral canto curador era calmante, enquanto sua voz, formosa e pura, levou para longe o feio toque da maldade do vampiro, de sua própria mente.

Ao caminhar pela mente de Beau e curá-la, teve que ver cada lembrança com vívidos detalhes. Ele teve que entrar na fealdade dos doentios feitiços do vampiro para desenredar-se e curar de dentro para fora.

Encontrou sua mão segurando a de Savannah, numa espécie de modéstia que se estendeu por dele.

Ninguém, jamais havia feito isso nunca, por ele... Olhar por ele, preocupar-se com seu bem-estar, lhe ajudar a curar.

Foi uma experiência única, para o professor curador de sua raça.

- Trouxe Julian a este lugar? - Perguntou Gregori ao capitão.

Beau assentiu.

- Viemos várias vezes ao longo dos anos. Nunca encontramos o velho de novo.

- Sentiu o mesmo? Seu território? Era ainda perverso?

Beau assentiu lentamente, com um débil encrespar de cenho, em sua face.

- Mas sabia que ele não estava aqui. Era mau, mas não completamente do mesmo modo. É obvio, que com o Julian, sempre me senti protegido, diferente. Tudo era diferente.

- Diferente? - Repetiu Savannah. - Como?

Beau se encolheu de ombros.

- É difícil de explicar, mas deveria saber. Ele é como esse aí. – O homem assinalou Gregori. - Invencível. Homem ou fera, natural ou sobrenatural, nada podia machucar Julian. Assim é como ele te faz sentir.

Savannah trocou um sorriso de completo entendimento com Beau. Sabia exatamente o que o homem queria dizer.

- Acredita que o jacaré vive ainda depois de todos estes anos? Certamente morreu de morte natural.

- Ainda está vivo. - Disse Beau. - Mas não acredito que esteja em seu charco todo o tempo. Acredito que agora tem um novo esconderijo. Julian já o rastreou. Passamos um montão de tempo nisso, mas nunca descobrimos sua outra guarida.

- Houve qualquer indício recente dele? - Perguntou Gregori. - Um rumor, um bêbado falando demais? Ou estranhos desaparecimentos?

Beau encolheu de ombros, a despreocupada forma do bayou de aceitar o dia a dia.

- Sempre há desaparecimentos nos pântanos, aromas inexplicáveis, e coisas estranhas. Nenhuma que se crê anormal. Ninguém acredita no velho, mais. Ele converteu-se numa lenda. Uma história de medo, para assustar aos turistas. Isso é tudo.

- Mas você sabe melhor. - Disse Gregori brandamente.

Beau suspirou.

- Sei melhor. Ele está aí fora, em algum lugar nessas milhas de pântano, e está faminto. Faminto todo o tempo. Não de comida, mas sim de morte. Disso, ele está faminto, isso é para o que vive, só para matar.

O bote foi cuidadosamente manobrado até seu atracadouro. Gregori agradeceu a Rue e tentou lhe pagar. Quando o guia não quis aceitar, Gregori momentaneamente, nublou sua memória por um momento e colocou uma quantidade de dinheiro na carteira do capitão.

Ele havia estado na mente do homem, conhecia seus problemas financeiros, sabia que ele estava preocupado pela saúde de sua esposa.

Savannah enganchou os dedos no bolso traseiro de Gregori enquanto vagavam para a estrada, de volta à civilização. A Rue os chamou.

- Onde está seu carro? Estas estradas não são seguras, depois de escurecer.

Gregori olhou sobre seu ombro, seus prateados olhos brilharam. Seus olhos pareceram os de um lobo caçando uma presa.

- Não se preocupe. Estaremos a salvo.

Beau A Rue riu alegremente.

- Não estava preocupado por você. Estava preocupado com quem tentasse lhe abordar e pudesse ser meu amigo. Não lhe faça muito mal, está bem? Possivelmente, só lhes dê, uma pequena lição de boas maneiras.

- Prometo. - Assegurou-lhe Gregori. Havia abraçado Savannah. - Interessante a história sobre esse jacaré.

- O vampiro está usando-o para lhe guardar quando está no pântano? - Aventurou Savannah.

- Possivelmente. - Murmurou Gregori, inalando com força. Um predador farejando sua presa. A fome estava o roendo, um fundo afiado que persistia, sempre presente, particularmente quando usava muita energia.

Os homens agrupados perto de uma grande árvore, próxima sobre a estrada, estavam bebendo cerveja e observando-os se aproximar. Ele podia sentir seus olhos sobre Savannah, podia cheirar seu súbito interesse.

Savannah retrocedeu um passo a seu lado para que seu corpo muito maior a escondesse de olhos alheios.

- E para que mais, o vampiro usaria o jacaré? Por que protegeria sua toca desta forma?

- Acredito que o acaba de dizer. Sua toca. O vampiro usa o pântano como sua toca. Se o jacaré vem tanto pelos arredores, há só uma explicação. O vampiro deve trocar de forma, deve converter-se no caiman. Simplesmente desaparece no pântano e vive aterrorizando à população enquanto espera que o caçador parta.

- Mas se Julian tiver vivido aqui tantos anos... - Começou ela a protestar.

Gregori sacudiu a cabeça.

- O tempo não significa nada para o não-morto. E há outros pântanos, além deste lugar, outras cidades para ele aterrorizar. Simplesmente vai de uma zona a outra, entretendo-se até que é seguro para ele voltar.

Os sentidos de Gregori estavam sobre o pequeno grupo de homens. Podia vê-los claramente. Podia ouvir seus sussurros, o assobio da cerveja nas latas, o fluxo e vazante do sangue em suas veias. As presas se alongaram. Ele passou a língua pelos afiados incisivos, a ancestral chamada para alimentar.

Savannah segurou seu bolso, fazendo-o parar.

- Eu não gosto disto, Gregori. Saiamos daqui.

- Fique aqui. – Ele deu-lhe a ordem bruscamente, seu olhar flutuou por cima dela, até sua presa.

- Querem brigar com voce. - Protestou ela. – Vamos deixá-los.

Suas mãos a seguraram e ele inclinou a cabeça para ela, seus olhos capturaram seu olhar azul.

- Sabe como sou, Savannah e eles pensam nos atacar. Se nos partirmos, outro casal passará e não estaremos aqui para lhes proteger. Querem provar sua força, intimidar e roubar. Não são conscientes disso ainda, mas a intenção está em suas mentes. Desejo me alimentar, a fome me judia. Isto é o que farei.

- Está bem. - Exclamou ela, afastando-se dele, com um safanão. - Mas eles me dão asco. Não quero o sangue de nenhum deles.

Ele voltou abraçá-la e encontrou sua garganta com a boca, seus dentes rasparam e atormentaram, a cremosa pele.

- É tão suave por dentro, ma petit, seu coração é tão amável.

Gregori a afastou e se virou de volta para o grupo de homens. Estavam sussurrando agora, formulando seu plano de ataque. Ele moveu-se para eles com seu andar fácil. Eles se dispersaram, pensando em superar a surpresa.

- Algum de voces conhece o Beau A Rue? - Perguntou, sobressaltando-os.

Um homem, a sua direita, limpou a garganta, antes de responder.

- Conheço-o. O que aconteceu? - Tentou soar beligerante. A Gregori soou jovem e assustado.

- É amigo dele? - Desta vez, a voz de Gregori suavisou-se, cativando-os, tecendo um feitiço mágico.

O homem se sentiu compelido a responder, a mover-se para frente, longe da segurança de seus amigos.

- Existe algum problema em ser amigo dele? - Exclamou, desafiador.

Gregori sorriu, uma amostra dos reluzentes dentes. Seus olhos brilharam ardentes e estranhos na noite.

- Venha aqui e permita me alimentar.

Ele enviou o chamado, envolvendo-os. Bebeu até encher-se, de quatro deles, saciando sua luxúria de sangue e a dolorosa fome que o roía. Não foi particularmente amável, e lhes permitiu cair ao chão sem ajuda e enjoados. Plantou em suas mentes, lembranças de uma briga. Um homem contra muitos. Todos doloridos e derrubados. O amigo de La Rue ficou por último, para Savannah. Quando ela se alimentou, ele foi mais cuidadoso, assegurando-se de que o homem sentiria a necessidade de agradecer a Beau A Rue. Agradeceria-lhe, de o salvar dos vários golpes, que os outros haviam recebido.

Não deu a Savannah a oportunidade de protestar. Ordenou-lhe obedecer, e ela estava pestanejando para ele, com olhos sonolentos, antes de ser consciente do que estava fazendo. Ele notou a chegada do conhecimento, a ardente chama que anunciava seu temperamento.

Ela empurrou-o longe.

- Imbecil.

Uma palavra. Deveria ter acabado com ele, mas ele queria gargalhar.

Gregori segurou sua cabeça entre as mãos e a abraçou com força, com a alegria explodindo nele. A vida estava por toda parte, em volta dele. A noite era dela. Levantou-a e segurando-a em seus braços, lançou-se pelo céu.

Gary quase desmaiou quando o casal se materializou no balcão, fora de seu quarto. Abriu a porta rapidamente.

- Estão loucos? Qualquer um pode ver vocês aí fora. Todas os quartos saem para o pátio.

Gregori passou a seu lado e atirou Savannah, sem cerimônias, sobre a cama. Ela olhou-o sem entusiasmo, depois girou o corpo, para olhar como ele passeava pelo tapete de Gary.

- Ninguém pode nos ver quando não o desejamos. - Explicou ele pacientemente, afastando seu olhar do perfeito traseiro de Savannah. - Recuperou a lista de nomes que precisamos? Os que estão sob a suspeita da sociedade?

- O gerente daqui me permitiu usar sua impressora. - Reconheceu Gary, alcançando a Gregori, a lista.

- Hey, Gary. - Disse Savannah. - Quer ir a uma caça de vampiros?

Gregori se voltou, para fixar nela seu brilhante olhar prateado.

- Nem sequer comece. Ele usou a beleza de sua voz como a arma que era, obrigando e hipnotizando.

Savannah piscou, depois lhe sorriu docemente.

- É verdade, Gary. Vi num desses tour dos folhetos. Não é o lugar perfeito para procurar esses tipos da sociedade? Devem viver pendurados nesses lugares.

- Uma caça de vampiros? - Repetiu Gary incrédulamente. - Uma caça real?

- Tenho o folheto em casa. - Ela evitou o furioso olhar de Gregori.

Ela estava com a fisionomia cheia de segredos, novamente. A que sempre o deixava louco, mas fundindo seu coração. Não era nada bom. Não tinha dúvidas. - Me ocorreu, ma petite, que precisa de uns bons açoites.

O sorriso dela, cresceu, presumida.- Eu estava desejando tentá-lo outra vez, companheiro, mas acredito que seria melhor, que esperássemos até estar a sós, não?

- Ela está brincando comigo? - Exigiu Gary, de Gregori. - Há realmente uma caça de vampiros para turistas?

- Se existisse tal coisa, ela saberia. - Admitiu Gregori. - Temo que vamos falar de algo que lamentaremos.

- Não lamentará. - Disse Savannah rapidamente, sentando-se.

Seus olhos azuis eram de um vívido violeta, com as misteriosas estrelas que brilhavam em seus centros. - Poderíamos ir amanhã a noite. Seria divertido. Começa no Lafitte's Blacksmith Shop às oito. Eles proporcionam as estacas e o alho. Vamos, Gregori. - Suas pálpebras baixaram, para cobrir sua expressão, e o pequeno sorriso, que o exasperava, atraiu sua atenção para seus lábios. - Poderiamos tomar algumas notas. Essas pessoas, provavelmente são profissionais.

Gregori sentiu o riso emanando de algum lugar em sua alma. Os olhos dele encheram-se de ternura.

- Crie que seriam capazes de me ajudar?

Savannah assentiu solenemente.

- Diz claramente no folheto, nada de bêbados. Isso significa que sabem o que estão fazendo, não acredita?

- Que mais diz? - Perguntou Gary, curioso.

Savannah sorriu ampliamente para ele, travessa.

- Na verdade, diz que é pura diversão. Os turistas caminha por lá e eles lhe contam histórias. História misturadas com mitos e lendas. Poderíamos realmente aprender algo, Gregori. Nunca se sabe. - Havia uma débil nota de esperança em sua voz, que ela tentava desesperadamente esconder.

Gregori, instantaneamente cruzou a distância entre eles e acariciou sua face, seu polegar deslizou numa pequena carícia ao longo de seu queixo. - Por que estaria insegura, Savannah? Posso sentir em voce, que imagina que a considerarei tola por desejar bancar a turista.

A risada do Savannah foi suave e de algum modo sexy. Pôs sua mão sobre a de Gregori.

- Sou sua companheira. - Disse gentilmente. - Leio-te tão facilmente, como você a mim. Pensa que noventa por cento das coisas que quero fazer são tolas.

- Penso é que te permitir fazer todas essas coisas, é tolo.

Ela fez uma careta.

- Precisamos discutir esse negócio de permitir. Por outro lado, deve-me uma noite fora de casa, sem problemas.

- Tiveram problemas esta noite? - Perguntou Gary.

- Não houve problemas. - Gregori estava claramente confundido.

- Está sempre se colocando em brigas. Em qualquer lugar aonde vamos, não pode evitar. - Acusou-lhe Savannah indignada. - Meteu-se em mais uma esta noite.

- Meteu-se numa briga? - Gary estava pasmo.

- Não me meti numa briga. - Negou Gregori. - Alguns homens estavam decididos a nos assaltar, assim que lhes proporcionei uma interessante experiência. Não houve luta. Se os tivesse golpeado fisicamente, estariam no hospital. - Seus brancos dentes reluziram, os olhos brilharam com algo mais que perigo, com diversão. – Foi só o que aconteceu. Não há nada mal em nenhum deles. Fui bastante amável por causa de Savannah. Embora note que ela não aprecia.

- Apreciaria que saíssemos e nos comportássemos normalmente.

- Eu estava me comportando de minha forma habitual, chérie. - Recordou-lhe Gregori, amavelmente.

- Então, vamos à caça de vampiros amanhã de noite. - Disse Gary, com riso em sua voz.

Gregori tomou a lista de nomes de Gary e a olhou, fixando o conteúdo em sua memória antes de devolver-lhe Durante um momento, seu olhar descansou na face de Gary, numa fria e erma reflexão de vazio. Quando Gary estremeceu, Gregori piscou, e a ilusão se desvaneceu. Gary se perguntou, qual era a ilusão... a calma que Gregori mostrava, nessas ocasiões ou o duro e desalmado vazio de seus olhos.

Savannah saltou com impaciência, para fora da cama, enviando uma labareda de olhos, profundamente azuis e envolveu sua mão na curva do braço de Gregori.

- Encontraremo-nos na loja do Blacksmith... No bar, amanhã às oito.

- Eu tenho que voltar ao trabalho. - Objetou Gary. - Perderei meu emprego.

- Não pode retornar. - Disse Gregori amavelmente. – Na hora em que disse ao Morrison, que ía chamar à polícia, o minuto em que reclamou da mudança de sua fórmula, selou seu destino. Ele enviará sua gente atrás de voce, e todos eles estarão controlados por uma compulsão em matar. Morrison é o professor vampiro... Agora sabemos... E você cruzaste com ele.

- Não mereço sua atenção.

- O poder é tudo para o vampiro. - Disse Savannah brandamente. - Irá atrás de você com tudo o que tem. Ele está completamente louco, porque conseguisse escapar. E sabe também, que eu estava com você, no pântano. Agora sabe que Gregori está aqui também. Ele não pode nos tocar, mas sentirá que se apanhar você, será melhor que Gregori.

Gregori assentiu, surpreso de que ela fosse tão hábil ao compreender a situação. Gary estava em muito mais perigo, do que poderia imaginar.

- Fez alguma chamada daqui? Deste seu endereço a alguém, mesmo alguém de sua família?

Gary sacudiu a cabeça.

- Não. Eu ia ligar para o aeroporto e ver se podia usar o mesmo bilhete para o próximo vôo. E tenho que chamar meu chefe amanhã. Vão me despedir, Gregori, e não quero que aconteça isso. Embora termine trabalhando para você, tenho uma reputação a manter. - A ponta de seu sapato se arrastou por uma mancha gasta no tapete. - Não quero acabar num trabalho que odeie, por causa de tudo isto.

Gregori pegou o computador de Gary e abriu o processador de textos com habilidade. Savannah observou com assombro, como seus dedos voavam sobre o teclado. Teclavam uma longa lista de lugares e negócios.

- Escolha, Gary. Sinto-me afortunado de poder contar com você. Enquanto isso, deixarei-te algo efetivo. Não quero que o rastreiem.

- Não viu meu currículo. - Objetou Gary. - Não procuro caridade.

Os olhos prateados, brilharam com um breve humor.

- Tive sua fórmula dentro de meu corpo, Gary. Essa era toda a prova de seu gênio, que precisava. A sociedade havia tido acesso a esse sangue, durante algum tempo, antes que você, mas nenhum deles foi capaz de criar algo que funcionasse em nós.

- Genial, consigo esse duvidoso prazer. Algum dia, me apresentará a um de seus amigos e vai dizer "a propósito, este é o homem que inventou o veneno que está matando a nossa gente".

Gregori sorriu, um som baixo e rouco tão puro que era formoso ouvir. Trouxe luminosidade ao coração de Gary, dispersou a escuridão que estivera reunindo.

- Nunca havia pensado nisso. Poderíamos conseguir alguns reajentes interessantes.

Gary se encontrou sorrindo timidamente.

- Si, como uma festa de linchamento comigo, como convidado de honra.

- Teremos um antídoto para nossa gente, bem logo. - Recordou-lhe Gregori amavelmente. - Não há necessidade de se preocupar.

- Se tivesse minha equipe, poderia ter um imediatamente. - Disse Gary. - Sempre me asseguro, em poder reverter qualquer reação que crio. Não será muito difícil encontrar onde perverteram a formula. Possivelmente, ainda tenha algum efeito prolongado em sua corrente sangüínea.

Parecia tão esperançado que Savannah explodiu em gargalhadas.

- O científico louco, vai rondar você, com uma agulha hipodérmica, Gregori. - Chateou-lhe.

Gregori arqueou uma sobrancelha, sua cara era uma máscara impenetrável, os olhos brilhavam com ameaça. Os dentes brancos brilharam, despindo as presas.

- Possivelmente não. – Gary se apressou em se defender. - Não é tão boa idéia.

Savannah levantou, movendo-se com sua sensual graça, para colocar-se sob o ombro de Gregori. Parecia impossivelmente pequena perto do grande Cárpato. Delicada, e frágil. Gregori não era homem de gorduras, era feito todo de músculos, seus braços, seu peito. Era o poder que emanava dele, que o engrandecia.

O rosto de Savannah se voltou para ele. Ssuave, curvada pela risada e nada intimidada por ele.

O braço de Gregori procurou a fina cintura e a trouxe para ele, quase envolvendo-a completamente.

- Pensa que vou levar você a essa ridícula caça de vampiros.

- Tem razão não? - Gary lhe sorriu.

- Infelizmente. - Admitiu Gregori. - Tem comida até manhã a noite? Teremos um plano de ação. – Gregori deixou cair vários bilhetes sobre a mesa, escondendo suas ações de Gary enquanto o fazia.

- Que plano de ação? Que pode fazer? Não podemos lutar com toda a sociedade?

- Estava pensando que poderíamos te usar como isca e conduzi-los a uma armadilha. - Disse Gregori, sério.

Os olhos de Gary se abriram, com alarme.

- Não estou seguro de que eu goste desse plano. Soa um pouco arriscado para mim. – Ele olhou para Savannah em busca de apoio.

Gregori encolheu seus ombros, num gesto casual.

- Não vejo o risco.

O pequeno punho de Savannah, o golpeou no estômago como vingança. Gregori baixou o olhar para ela, com surpresa.

- É agora quando supõe, que tenho que dizer ai?

Savannah e Gary trocaram um gemido, longo e fúnebre.

- Por que eu quis que ele tivesse senso de humor? - perguntou-se ela.

Gary sacudiu a cabeça.

- Não me pergunte . Voce criou o monstro.

- Sei que seria incapaz de resistir a pressão dos corpos humanos, no Preservation Hall. - Disse Gregori súbitamente. – Mas, poderíamos ouvir a música da rua. Tiraria voce daqui, durante algumas horas e, com a severidade da tespestade, tenho a esperança de que os turistas fiquem dentro.

Gary saltou ante a oportunidade de sair.

- Vamos, sim.

Savannah se deteve. Sua mão apertou firmemente o braço de Gregori. E ela entrou em sua mente.

- É seguro para ele?

- Pequena, não posso acreditar que duvide de minha habilidade para proteger voce e o mortal.

- O mortal? Ele tem um nome, Gregori. A ele, é fácil de matar, a nós não.

Os olhos prateados passearam por sua face. Sua mão acariciou-a.

- Não permitiria que Gary estivesse em perigo real. Ele não pode viver sua vida escondendo-se.

- Eu deveria ter protegido Peter. Estaria vivo agora, se não fosse por mim.

A voz do Savannah foi rouca pela culpa, as lágrimas não vertidas, inundavam sua mente.

- Só eu sou culpado da morte de Peter, ma petite. Era minha responsabilidade detectar a presença do vampiro. Não havia sentido nenhuma emoção durante tantos e tão longos séculos. Quando fui a seu show e a vi, as cores quase me cegaram. Os sentimentos me ultrapassaram. Estava ordenando-os e tentando me colocar sob controle. Em todos os séculos de minha existência, foi a única vez que falhei ao detectar a presença do não-morto. A morte de Peter é algo com o que terei de conviver.

Ela sentiu seu imediato rechaço. O rápido salto em sua defesa. E o abraçou, como se nada mais podia fazer.

Enquanto saíam do hotel, através das ruas úmidas pela chuva, misturando-se com a inesperada multidão, ela pensou na forma em que o fazia sentir. Ele estava sempre controlado... Era necessário para alguém com seu poder e natureza predadora... Embora ela pudesse lhe fazer sentir como se estivesse dando volta a terra.

Gregori olhou para à parte alta de sua sedosa cabeça e permitiu que a emoção o embargasse. Só observá-la, proporcionava-lhe um imenso prazer, um dilúvio de emoções. Descobriu, que podia desfrutar da alegre música, da loucura dos turistas que riam e apertavam-se nas ruas e nas calçadas. Fundindo-se com ela, pôde sentir que estava sentindo ela... A despreocupação, seu senso de humor, o rápido interesse que tinha por tudo e todos a sua volta. Ela falava com as pessoas, com facilidade, mantendo-os na palma da mão, como sustentava ele cativo.

Quando a levou para casa, depois de deixar Gary de volta em seu hotel, Gregori girou Savannah nos braços.

- É meu mundo. - Sussurrou brandamente, de coração.

Ela inclinou a cabeça em seu ombro, inalou sua essência masculina.

- Obrigado por sair esta noite. Sei que é duro para voce estar entre humanos, mas eu passei os últimos cinco anos vivendo entre eles. Passou muito tempo, desde que tive contato com alguém de nossa gente.

- Tenho feito passar um mau momento. – Admitiu ele. - Quero te dar o que precisa, Savannah. É difícil entender, a necessidade que você tem da companhia deles.

- Sempre foste solitário, Gregori. - Disse ela baixinho. – eu sempre tive humanos a minha volta, desde que deixei minha casa.

Sua boca encontrou as têmporas dela, depois percorreu face e baixou os lábios até sua boca. Elevou-a no ar, enquanto seus lábios atormentavam os dela, embalando-a entre seus braços. Levou-a escada acima, para um dos dormitórios.       Gregori lhe fez amo,r suave e meigamente, incrivelmente reverente, mostrando com seu corpo o que nunca havia sido capaz de expressar com palavras.

 

Lafitte's Blacksmith Shop era escuro e misterioso, o lugar perfeito para o começo de uma aventura divertida. Savannah sorriu quando um casal de residentes sacudiram as cabeças, ante o grupo de turistas apinhados no bar, para unir-se à caça aos vampiros. Podia sentir o interior de Gregori, o desejo de dissolver-se e se tornar invisível em sua mente, mas se manteve ali severamente. Ele fazia com que as pessoas o admirassem com sua impressionante estatura, com o poder que lhe assentava facilmente. Sua expressão era estoicamente impassível, mas seus olhos prateados, inquietos, implacáveis, sem perder nada.

No interior escurecido do bar, a peculiar visão noturna de sua espécie, lhes dava vantagem. Gary os flanqueava, assombrado de quantos turistas a estas caças.      Savannah lhe lançou um olhar.

- Estamos aqui para nos divertir, Gary. Não comece a atuar comigo como Gregori. Um resmungão a a meu lado é suficiente.

Gary se inclinou mais perto.

- Se não lesse os pensamentos da gente todo o tempo, curiosa, não poderia me pegar tão despreparado.

- Não estava lendo seus pensamentos. - Objetou Savannah com uma luxuriosa forma francamente sexy. - Está tudo escrito em seu rosto.

Gregori estava passando um mau momento. Os homens dos Cárpatos, raramente permitiam a outros homens, estarem perto de suas companheiras. Certamente, não a homens solteiros. Odiava a pressão dos corpos. Savannah atraía os homens como abelhas no mel. As cabeças se voltavam e os ardentes olhares, seguiam sua caminhada através da multidão, para atrás do edifício. Ela exsudava atração. Inclusive, num lugar, cheio de pessoas, tantas que não havia lugar onde se sentar. Savannah fazia aos homens sentir-se, como se fossem os únicos ali. Parcamente iluminado, com velas flutuantes, o ambiente mantinha um débil rastro de mistério e ela era parte disso.

Era inevitável que alguém a reconhecesse. Sempre acontecia, quando saíam em público. Gregori estava surpreso, que a imprensa ainda não houvesse cheirado o rastro dela, já que estavam em algum lugar da cidade e em cada ponto turístico estivessem esperando por ela. Soltou um pequeno suspiro quando a primeiro leva de fãs os rodeou, pressionando-se para perto de Savannah, esperando conseguir aproximar-se dela. Gregori instintivamente colocou sua sólida forma entre ela e a multidão.

- Vais começar um alvoroço.

Ela concedeu vários autógrafos, uma façanha bastante difícil, com Gregori atuando como seu guarda-costas. Gary a defendeu pelo outro lado, reconhecendo a ameaça que brilhava nos frios olhos de Gregori. Savannah não prestou atenção, em nenhum dos dois. Ela foi doce e amistosa, disposta a conversar com seus fãs.

Quando o guia entrou, o silêncio o seguiu. Era impressionante, sua longa e espessa trança, seu andar rígido, e sua dramática aparência. Gregori elevou uma sobrancelha para Savannah, mas seu fascinada olhar estava sobre o organizador.   Ele acendeu uma vela e manteve sua audiência durante um momento, numa pausa teatral, depois lhes deu uma advertência sobre a perigosa jornada que estavam empreendendo. Deixou claro que os bêbados não eram bem-vindos e enfatizou que não era recomendável que crianças pequenas fossem ao tour.

- É bom, este tipo. - sussurrou Savannah na mente do Gregori. - Apanha-os todos em e os mantém. Um bom showman.

- É um imitador.

- Isso não significa que não seja real, Gregori. É divertido. Todos estamos aqui para passar um bom momento. Se preferir não ir, posso me encontrar contigo mais tarde. Isto não é realmente perigoso. Não vamos encontrar com vampiros de verdade.

- Nem o sonhe. Não nos encontraremos mais tarde. Se eu sair de seu lado, cada homem aqui, estaria pululando a seu redor.

Gregori soube o momento em que dois membros da sociedade entraram o Lafitte's Blacksmith Shop. Sentiu a escura compulsão da morte, sabia que estavam procurando um humano, provável. Explorou o escurecido interior do bar. O vampiro estava vivo e bem,e seu exercito escuro estava se estendendo para cumprir sua vontade. Ninguém podia sabido que estaria ali. Suspirou. Não tinha notado até esse momento, o quão importante uma noite era para Savannah, era para ele. Uma só noite sem incidentes.

Seguiu o grupo através da porta e deixava cair dinheiro, da mão estendida, enquanto o fazia. Savannah estava perto dele, sua mão sobre o dorso pequeno da dela. Três rapazes, adolescentes, estava paquerando desaforadamente com ela, e sua risada fazia virar cabeças. Ela ganhou a atenção súbita de seu organizador e de dois membros da sociedade.

Gregori os observou trocar de posição, tentando abrir caminho através da multidão para seu lado, mas era impossível. Concentrou-se neles, entorpecendo a compulsão, nublando seus pensamentos para que se encontrassem entrando no espírito da caça. Savannah terminou com uma estaca afiada e uma careta conspirada de um companheiro showman.

Começaram a caminhar através das ruas a passos rápidos e enquanto o faziam, a multidão se estirou em uma longa fila. O guia se deteve em uma casa, e começou uma dramática história de amor e assassinato em seu interior. Teceu a história brilhantemente, pondo suficiente verdade misturada com drama para fazê-lo crédula.

Os olhos azuis de Savannah estavam brilhando.

Quando a multidão se movia para frente para seguir a revolta capa do organizador, inclinou-se para fixar a correia de seu sapato. Gregori a sentiu deslizar para longe dele e se voltou para esperá-la.

Savannah lhe sorriu, esse sexy e misterioso sorriso que endurecia seu corpo e entorpecia o bombeamento de sangue a sua cabeça. Os cabelos dela deslizavam pelos ombros e caía numa sedosa cascata. Uma olhada, e literalmente, o fazia perder o fôlego. Quando ela, colocou o sapato, os dois membros da sociedade estavam a seu lado. Savannah se endireitou, e um sorriso curvou sua boca.

- De onde são vocês dois? - Sua voz era formosa e pura, uma mustura de sedução e música. - Sou Savannah Dubrinsky Não é divertido?

Eles sentiram seu impacto imediatamente, a armadilha amenizadora. Gregori ouviu seus corações deter-se inesperadamente, e depois começar a bater. Os olhos azuis dela capturaram e mantiveram seus olhares, apanhando-os em suas estrelas.

- Randall Smith. - Respondeu o mais novo dos dois, ansiosamente. - Mudei-me para cá, a vários meses. Vim da Florida. Este é John Perkins. É natural da Florida também.

- Vieram para o Mardi Gras e ficaram pela diversão? - Interrogou Savannah.

- Que demônios pensa que está fazendo? Mon Dieu, ma femme, é suficiente para me colocar louco. Proíbo-o.

Savannah começou a caminhar entre os dois homens facilmente, seus enormes olhos abertos de interesse. Gregori sentiu à fera elevar a cabeça, rugir procurando alívio. A névoa vermelha se estendeu e a fome o golpeou.

- Viemos para ajudar nosso amigo. - Admitiu Randall. Ele começou a tratá-las têmporas súbitamente doloridas. Doía-lhe a cabeça e se sentia como se fosse explodir de dor.

Savannah se inclinou para mais perto, seus olhos o mantendo cativo. A multidão se deteve uma vez mais enquanto o organizador começava sua história de fantasmas e inexplicáveis mistérios. Sua voz lançava um feitiço sobre o grupo, acrescentando o atrativo da história, a irreal ilusão da noite.

Randall se sentiu como se estivesse afogando-se nos olhos dela, como se estivesse apanhado para sempre na luz das iluminadas estrelas. Desejava lhe dar tudo. Sua cabeça dizia não, mas seu coração, que pulsava loucamente e sua raivosa alma, precisavam confessar cada pensamento a ela.

- Pertencemos a uma sociedade secreta. – Sussurrou em baixo tom de voz. Só os dois Cárpatos puderam lhe ouvir. Não desejava que seu companheiro soubesse que estava traindo aos membros. Havia um curioso zumbido em sua cabeça, como um enxame de abelhas. Ele desandou a suar.

Savannah o tocou levemente, um roçar de dedos cruzando seu braço, Curiosamente, o gesto lhe trouxe uma brisa refrescante, que limpou sua cabeça por um momento, da opressiva dor que lhe embargava. O sorriso dela enviou um arrepio de excitação através dele. Um arrepio com desejo e necessidade de cair a seus pés.

- Que excitante. É perigoso? – Ela inclinou sua cabeça. Uma inocente sedutora que o atraía mais para perto.

Randal era consciente da estreiteza de sua cintura dela, da plenitude de seus seios, o balanço de seus quadris. Nunca havia desejado tanto em sua vida, e seus enormes olhos estava enfocados só nele, vendo só a ele. Engoliu com força.

- Muito perigoso. Caçamos vampiros. Reais, não esta tolice.

Ela tinha formosos lábios, suaves como pétalas de rosa, úmidos e cheios. Lábios para ser beijados.

- Savannah, detenha-se agora. É perigoso, crê você ou não. Sua mente presta serviços ao vampiro.

- Poderia averiguar onde está Morrison.

- Eu disse não, Savannah.

Gregori estendeu o braço e segurou firmemente sua mão, tirando ela de onde estava, entre os dois homens, para o amparo de seu corpo. - Não a utilizarei para encontrar ao não-morto. Ele pode rastrear o caminho até você. Não tenho outra opção, que destruir a este.

A face dela empalideceu visivelmente, suas largas pálpebras desceram para ocultar seus olhos.

- Por que não o cura, como fez com o capitão?

- Não posso curar o que é essencialmente perverso. Seu polegar roçou gentilmente a pulsação dela, no interior de sua mão. - É um servente do vampiro, e você sabe, Savannah. Sabia no momento em que tocou sua mente. Ele pode te encontrar e rastrear. E é mais hábil que você. Não posso permitir tal risco.

Randal se achegou mais perto, envolto na sujeição mental da compulsão. Percebia que o braço sobre a mão de Savannah era mau, uma serpente enrolada que a arrastava longe de seu lugar,que era a seu lado.

Gregori se concentrou no companheiro, John Perkins. A mente do homem era mais forte que a de Randall Smith. A sujeição do vampiro sobre ele era muito mais escura, como se Perkins houvesse estava em contato mais próximo e durante um período mais longo de tempo. Ele estava olhando para Savannah, fixamente. Gregori podia captar a escura luxúria, o ciúmes porque ele tivesse escolhido Randall para doar sua atenção em vez dele. Perkins era retorcido por dentro, a compulsão do vampiro trabalhava em sua já depravada mente.

Morrison sabia como escolher seus serventes. A viciosa e horrível natureza dos homens maliciosos, esses sem amigos ou relações, famintos de violência e depravação. Enviava-lhes entre os curiosos, como Gary, pessoas com mentes rápidas e inteligentes, abertas para a paranormalidade. Pessoas isoladas por sua grande inteligência e amplitude de metas. O vampiro era capaz de utilizar esses homens inteligentes, os atraindo com falsas esperança, falsas promessas. Usando-os para a investigação e o trabalho de rua necessário para sua legião de autênticos serventes.

Gregori suspirou. Ele era o que era. A culpa não poderia ser parte de sua existência. Era responsável pela continuação de sua raça e a segurança de Savannah. Empurrou-se para o interior da mente de John Perkins, passou o controle de vampiro, e plantou a semente da destruição. Sua mão, sobre a de Savannah se fechou e ele apertou o passo para pôr distância entre os membros da sociedade e sua companheira.

Uma vez mais, seu guia os deteve e teceu uma história de libertinagem e assassinato. A multidão estava em silêncio, cativada pela interessante historia da cidade. Gregori inseriu Savannah na multidão, seu corpo protegendo-a da iminente violência.

Fora na rua, John Perkins olhava malévolamente, para Randal Smith.

- Sempre tem que arruinar tudo, Smith. Sempre tem que ser o único que fala com Morrison. Eu estou mais perto dele, mas você simplesmente tem que provar que é o mais importante.

- De que demônios está falando? - Exigiu Randall, seu olhar procurava Savannah, freneticamente entre a multidão.

Gregori estava defendendo-a. A névoa que criou fazia impossível detectá-la na noite.

Randall estirou o pescoço, tentando rodear seu companheiro, chegando a lhe empurrar para fora de seu caminho. Seu coração pulsava freneticamente, seu único pensamento era encontrar Savannah.

- O que está fazendo, Gregori? - Exigiu ela brandamente.

Gary se moveu através da multidão de turistas, até que conseguiu abrir caminho até os Cárpatos. Estava tão embebido pelo narrador como o resto da multidão. Estudou o edifício com sua história de má conduta sexual, fogo e assassinado, com extasiada atenção.

Gregori inclinou sua cabeça para ela.

- Não posso fazer outra coisa que eliminar a ameaça para. O vampiro tem um caminho claro que conduz diretamente até você, na mente deste homem. É uma armadilha, ma petite, e não podemos nos permitir o luxo de cair nela.

- Não quer dizer nós. - Disse ela. - Quer dizer eu.

Perkins empurrou Randall, para que o outro homem caísse no meio da rua. Randall pulou, soltando obscenidades, perturbando o narrador. O organizador fez uma pausa para conseguir um melhor efeito dramático, soltou com esforço um suspiro, e se passeou por volta dos dois combatentes.

Gary havia notado, que um carro patrulha da polícia cruzava freqüentemente pela zona como se fosse uma cortesia ao guia turístico. Era possível que ele tivesse alguma forma de lhes chamar, se houvesse algum problema.

Antes de que o guia os alcançasse, Perkins sacou uma arma. Todo mundo se congelou ,instantaneamente.

- Traidor. Vais trair-nos a todos! – Ele gritou. Sua cara era uma retorcida máscara de fúria e ódio.

A escura compulsão de matar estava nele e em Randall, que se desforrou, sacando sua própria arma. A multidão correu em todas direções, procurando resguardo, ocultando-se atrás dos carros estacionados e saltando para o outro lado das cercas. Ouviram-se gritos selvagens e o ar se espessou com medo. Gregori empurrou Savannah e Gary para a guarda de uma parede de tijolos. Permaneceu de pé sobre a calçada, observando o drama que se desdobrava.

O guia claramente pendurado, entre a necessidade de segurança e a necessidade de proteger a seus turistas, duvidou. Gregori ondeou uma mão, erigindo uma barreira protetora, entre o homem e qualquer bala perdida. Os dois membros da sociedade estava rodeando um ao outro. Então Perkins disparou uma rajada de balas para responder as que Randall disparara contra ele.

Uma sombra escura passou cruzando o céu, cobrindo as estrelas, acalmando o vento. Ambos os homens caíram lentamente, com as camisas salpicados do que parecia pintura vermelha. Aterrissaram como bonecos de trapos no meio da rua, imóveis. Suas armas ressonaram sobre o pavimento, para parecerem brinquedos inofensivos. A sombra escura sobrevoou, tão alarmante como a súbita violência que tinha explodido.

Ninguém se moveu, ninguém falou, ninguém fez nem um só ruído. Era como se soubessem que a escura e sinistra sombra que nublava o céu era mais mortal que as armas caídas silenciosamente na rua.

A grande mancha se estendeu pelas estrelas, e depois começou a recolher-se em uma nuvem muito mais pequena, negra e pesada. Densa e compacta, ela movia-se lentamente, como se inspecionasse o grupo com um obsceno olho vermelho. Em seu centro uma veia dentada, raiava continuamente.

Alguém gemeu. Mais outro começou a rezar em voz baixa. Após alguns momentos, outros o seguiram. A sombra se escureceu até que cobriu toda a luz sobre suas cabeças. A abertura relampeava, ameaçadora, incrementou sua atividade.

Gregori notou que o vampiro os estava buscando. Sabia que seu inimigo estava perto, mas Gregori havia automaticamente ocultado sua presença, algo que havia feito sem pensar. O não-morto devia ser capaz de detectar a presença de Savannah, tendo seguido o rastro psíquico de seu servente, mas Savannah tinha estado muito ocupada também. Andando tanto pela mente de Gregori, havia utilizados as lições que tinha aprendido através da dura experiência, através de provas e enganos. Ela havia mascarado seu presenca tão destramente, como só Gregori era capaz de fazer.

- Não fará nenhuma diferença, companheiro. - Suas palavras roçaram a mente dele. Ele quer atacar e destruir a todos o que estão aqui, tentando nos pegar.

Gregori sentiu orgulho, ante sua habilidade dela em aprender tão rapidamente, avaliando a seu inimigo. Gregori caminhou afastando-se da agrupada massa de turistas e colocou distância entre ele e o guia. Caminhou completamente reto, com a cabeça em alto, seu comprido cabelo flutuando a sua volta. Suas mãos estavam soltas, de ambos os lados, e seu corpo relaxado, poderoso.

- Ouça-me agora, antigo. - Sua voz foi suave e musical, enchendo o silêncio com beleza e pureza. - Viveste muito tempo neste mundo e está cansado do vazio. Venho em resposta a sua chamada.

- Gregori. O Escuro.

A perversa voz grunhiu as palavras em resposta. A fealdade rasgou as sensíveis terminações nervosas, como unhas sobre o tijolo. Alguns dos turistas, cobriram os ouvidos. - Como te atreve a entrar em minha cidade e interferir onde não tem direito?

- Sou a justiça. Venho para te liberar dos laços que o prendem a este lugar. - A voz do Gregori era tão suave e hipnótica que aqueles que a ouviam saíam de seus santuários. Chamavam e empurravam, de forma que ninguém podia resistir a seu desejo.

A negra forma sobre suas cabeças se enrolou como o caldeirão de uma bruxa. Uma seta de relâmpago golpeou a terra diretamente para o grupo apinhado. Gregori levantou uma mão e redirigiu a força da energia, para longe dos turistas e Savannah. Um sorriso afiou a expressão cruel de sua boca.

- Brinca comigo com este desdobramento, antigo? Não tente encolerizar o que não entende. Você veio para mim. Não te cacei. Procurou ameaçar a minha companheira e a aqueles que conto como meus amigos. Não posso fazer outra coisa que te levar a justiça de nossa gente. - A voz de Gregori era tão perfeita e pura que conduzia à obediência até ao mais recalcitrante criminoso.

O guia fez um ruído, em algum lugar entre o cepticismo e o medo. Gregori o silenciou, com um ondeio de sua mão, não precisava de distrações. Mas o ruído havia sido suficiente para que o antigo rompesse o feitiço que a voz de Gregori tinha tecido em sua volta. A mancha escura sobre as cabeças fiando grosseiramente, como se estivesse cobrando vida... Reunindo forças antes de lançar uma série de relâmpagos contra os mortais no chão.

Gritos e gemidos acompanharam as orações sussurradas, mas Gregori permaneceu em pé em seu lugar, firme. Simplesmente redirigiu os látegos de energia e luz, os enviando de volta à negra massa.

Um horroroso grunhido, um chiado de desafio e ódio, foi a única advertência antes que ele granizasse. Enormes blocos de gelo vermelho brilhante do tamanho de bolas de golfe, caíram sobre eles. Era densa e horrível, uma chuva de sangue congelado caindo dos céus.

Mas, ela parou bruscamente, como se uma força invisível, a sustentasse a poucos centímetros de suas cabeças.

Gregori permaneceu imperturbável, impassível, sua face era uma máscara enquanto defendia os turistas e enviava o granizo arrojado de volta a seu atacante. Do cemitério, a poucas quadras deles, um exército de mortos se elevou. Os lobos uivaram e correram para os esqueletos, enquanto se moviam para interceptar o caçador Cárpato.

- Savannah. Ele pronunciou seu nome uma vez, um suave roçar em sua mente.

- Tenho-o. Ela respondeu instantaneamente.

Gregori tinha nas mãos as abominações que o vampiro estava lhe atirando, não precisava gastar sua energia protegendo o público, da aparição. Ela ficou o descoberto. Uma pequena e frágil figura, concentrando-se na ameaça que chegava.

As pessoas que viviam nas casas ao longo da quadra e os que dirigiam seus carros, mascarou os lobos como cães que corriam rua abaixo. Os esqueletos como palitos, grotescos e estranhos. Eram simplesmente, um grupo de pessoas que se movia rapidamente. Ela manteve a ilusão até que estivesse a poucos metros de Gregori. Deixando cair a ilusão, alimentou com cada grama de sua energia e poder, a Gregori, para que pudesse enfrentar o ataque.

O vento se levantou, formando redemoinhos-se para a sólida forma de Gregori, açoitando seu corpo, levantando onda de seu cabelo negro que se movimentavam em volta de seu rosto. Sua expressão era impassível, Os prateados olhos frios e sem piedade, sem piscar, fixados em sua presa. O ataque veio do céu e da terra simultaneamente. Afiadas lascas de madeira, dispararam através do ar no vento selvagem, apontando diretamente para Gregori. Os lobos saltaram sobre ele, seus olhos brilhavam ardentes, na noite. O exército de mortos se movia implacavelmente para frente, pressionando a solitária figura de Gregori.

Suas mãos se moveram num complicado gesto dirigido ao exercito que se aproximava. Depois se voltou, o fluido movimento do vento à vista, tão rápido como veio se foi, como um borrão. Grunhidos e uivos acompanharam os corpos que voaram pelo ar. Os lobos aterrissaram, para ficar imóveis a seus pés. Sua expressão não mudou. Não havia raiva ou emoção, nem rastro de medo, nada rompia sua concentração. Simplesmente, ele atuava quando a necessidade se apresentava. Os esqueletos estavam se revolvendo numa parede de chamas, uma conflagração alaranjada que se elevava no céu noturno e dançou furiosamente durante um breve momento. O exército tornou cinzas, deixando sozinho uma pilha de pó enegrecido que se pulverizou pela rua no feroz assalto do vento.

Savannah sentiu a dor de Gregori. A dor que o atacou antes que ele cortasse toda sensação. Ele voltou-se para o enfrentar e ela viu uma afiada estaca que se sobressaía de seu ombro direito. Enquanto o via, Gregori a segurou para soltá-la. O sangue jorrou e salpicou a área em volta dele. Rapidamente se deteve, como se cortasse uma corrente.

O vento se alterou para um ritmo estrondoso. Um vendaval que girava, arrastando restos sobre suas cabeças, como o funil de um tornado. A nuvem negra girou mais e mais rápido, ameaçando engolindo tudo e a todos, a seu centro, onde o malévolo olho vermelho os olhava com ódio. Os turistas gritaram de medo, e o guia se apegou a uma luz para segurar firmemente. Gregori permanecia em pé sozinho. As rajadas de vento o assaltavam, o alcançando, enquanto a coluna que girava, lhe ameaçava de acima, soando como o rugido infernal. Ele simplesmente bateu as mãos, depois as ondeou, enviando o golpe de volta ao interior da escura entidade. O vampiro gritou de raiva.

A espessa nuvem negra se engoliu com um som audível, sobrevoando no ar, esperando, observando, em silêncio.

Perverso. Ninguém se moveu. Ninguém se atreveu a respirar.

Súbitamente a negra entidade que se debatia-se envolveu-se e se saiu para o céu noturno, correndo para longe do caçador, sobre o Bairro Francês, até o pântano.

Gregori se lançou ao ar, mudando de forma enquanto o fazia, esquivando-se das setas das afiadas estacas que voavam no turbulento ar.

No chão se fez o silêncio, depois um coletivo suspiro de alívio. Alguém riu nervosamente.

- Que atuação!

Savannah se prendeu a essa reação.Alimentou-a rapidamente, construindo a idéia em suas mentes, e suavizando o impacto do que tinham visto.

- Grandiosos efeitos especiais. - Murmurou um adolescente.

Seu pai riu um pouco atemorizado.

- Como demônios, fizeram isso? O tipo simplesmente desapareceu no ar. - Olhou para os cadáveres tendidos um pouco mais longe e amaldiçoou brandamente. - Estes são reais. Não podem ser parte de nenhum espetáculo.

- Isto é uma loucura. - Um dos homens, estava de joelhos junto aos dois cadáveres estendidos na rua. O guia estava comprovando o pulso do outro. - Os dois estão mortos. Que demônios, o que aconteceu aqui?

Savannah saltou de novo, alimentando com respostas, à audiência coletiva. Construindo lembranças do que era real e o que era ilusão. Os dois turistas da Florida tinham discutido e lutaram antes de tirar as armas. Foi em meio a um espetáculo de magia improvisado que o guia tinha pedido a Savannah, que realizasse para seus clientes. O grupo de cães, havia saído de alguma parte, assustados pelo som das armas.

Era o melhor que podia fazer com tão pouco tempo. A polícia já estava em volta deles, tomando declarações. Tinha que trabalhar rápido, rabiscando as lembranças que as pessoas tinham de Gregori. Ao mesmo tempo estava mentalmente segura a ele, num vôo alto sobre a cidade e o bayou, dirigindo-se ao lugar mais perigoso de todos, a guarida do vampiro.

Gary permanecia perto, a seu lado, preocupado enquanto a face dela se tornava mais pálida a cada momento. A tensão de estar em dois lugares ao mesmo tempo, estava se mostrando a ela. O esforço de manter uma detalhada ilusão sobre tal número de testemunhas era tremenda. Pequenas gotas de transpiração se mostraram em sua testa, mas seu queixo estava elevado, e ela estava mais régia que nunca. Ela cativou o oficial de polícia que tomou declaração.

Gary estava seguro, de que ela havia tido êxito com os turistas. Tudo o que acontecera era muito estranho para compreender e as lembranças de Gregori tinham sido erradicados, assim que o tiroteio e os cães eram a realidade.

O guia turístico era o único que olhava para o céu com um débil cenho franzido e examinava as marcas de queimaduras a alguma distância deles. Várias vezes Gary o pilhou olhando fixamente para Savannah com desconcerto, mas o homem tinha muita experiência nas ruas para contar uma história tão selvagem quando ninguém mais parecia ter visto o mesmo que ele.

Savannah trabalhou mantendo-se concentrada na monumental tarefa que tinha nas mãos. Sua mente estava com o Gregori, uma parte de sua mente fundida profundamente, uma sombra irreal em um canto da mente dele.

Gregori podia sentir sua presença, sua preocupação por sua ferida, pela perda de seu sangue. Enviou-lhe tranqüilidade, enquanto se aproximava do coração do pântano. Pela descrição de La Rue, reconheceu a área. Os insetos pululavam, cumprindo a vontade do professor vampiro, formando nuvens negras que picavam e mordiam tudo o que entrava em seus limites para perturbá-lo. Gregori erigiu uma barreira de amparo e continuou descendo para os pântanos e o negro e oleoso charco. O aroma pútrido estava em suas fossas nasais, a decadência e a morte de séculos gotejando insidiosamente no ar, circundando.

Não havia vento que levasse para longe, o mau cheiro. Buracos pestilentos ferviam e esperavam que alguém desse um passo equivocado. Emplastros de vívida grama verde esmeralda, chamavam os imprudentes e incautos a sua armadilha mortal. Fauna e humanos por igual, seriam atraídos pelas manchas de verde brilhante, atraindo-os a uma morte lenta enquanto se afundavam, apanhados nas areias movediças que os penachos de verde escondiam tão exitosamente.

Gregori sobrevoou pelo ar sobre a oleosa piscina. Capas de pedra formavam uma cornija sob a superfície da água onde a grotesca besta espreitava suas vítimas para que apodrecesse a carne. A água era espessa pelo lodo, completamente diferente aos riachos que a conduziam. Não havia rastro do jacaré ou do vampiro.

Gregori explorou a área cuidadosa e cautelosamente. Este vampiro era inteligente e vicioso. Este era seu terreno, sua guarida. Não seria fácil o apanhar. Gregori sentia a presença do mal, sabia que o vampiro estava perto. Escolheu o terreno mais sólido que pôde encontrar, longe das águas mortas e escuras.

Usou sua poderosa voz. Suave. Insistente. Impossível de ignorar.

- Deve vir comigo. Esperaste muito para me enfrentar e vim por voce. Venha a mim.

Cada palavra era pura e musical, vibrando através do ar para alcançar a todos e cada um dos que estavam em seu raio de ação e conduzi-los para fora. Cada nota era magnetizadora, hipnótica. O enfeitiço de um feiticeiro.

Gregori permaneceu em pé, numa postura casual e preguiçosa. Sua sólida forma masculina invencível, apesar do sangue que manchava sua camisa no alto de seu ombro.

Começou a murmurar brandamente, em língua ancestral, repetindo sua ordem para que o vampiro se mostrasse. Os canos oscilaram com o passar do aterro, depois se inclinaram como uma onda o rodeava. Não havia vento que causasse o movimento. Pela extremidade do olho, Gregori podia ver uma segunda onda começando, e de um terceiro ponto, outra. Vinham a ele rodeando-o. O inimigo invisível se convergia de todos os lados. Esperou. Tão paciente como as montanhas. Tão imóvel como granito. Sem piedade. Implacavelmente.

Gregori. O Escuro. O caçador.

O assalto chegou de acima. O céu se encheu de tantos pássaros que o ar gemeu pela inesperada imigração. As garras se estenderam e os bicos afiados como navalhas estavam preparados. Os pássaros chegaram rápido, rastelando sua face e seu corpo. Gregori se fundiu numa névoa, mas as gotas de vermelho que manchavam o verde, davam evidência de que o vampiro havia conseguido afetar-lhe.

Gregori não teve oportunidade de se materializar para deter o sangue que fluía de seu corpo. Houve um grunhido de satisfação, um rangente e retumbante bramido de desafio. O chão sob os pés de Gregori estava esponjando, sugando seus sapatos com um ruído ávido. Enquanto investigava os canos que se moviam, o inimigo o atacou por baixo, erupcionando fora do barro, com as mandíbulas abertas e dente afiados.

O vicioso estalo o roçou a perna, enquanto saltava para trás para afundar-se até os joelhos, no barro. Deslizou um bloqueio entre ele e o jacaré, o melhor que pôde fazer enquanto se retorcia para liberar-se. Um pequeno réptil o atacou por trás, outro pela esquerda. O mais pequeno rasgou sua perna abrindo-a com uma viciosa navalhada de dentes.

Gregori descia no barro, com as pequenas criaturas apressando-se a alimentar-se de sua presa. Elas tentavam morder e rasgar, no frenesi da comida. O enxame de insetos descendeu sobre ele, mordendo e picando. Enquanto lutava por sair, houve um súbito silêncio assustadiço. Os insetos se afastaram, e os pequenos jacarés se deslizaram rapidamente para o pântano.

Gregori se sentou, o barro gotejava de sua roupa, o sangue gotejava firmemente por sua perna, braço e peito. Ouviu um som, no repentino silêncio do pântano. Um rugido, enquanto a enorme criatura se aproximava dele, foi sua única advertência. A besta se movia velozmente, rápida e eficiente, no barro empapado. A poderosa cauda virava de um lado a outro. Os olhos brilhavam vermelhos, malvados e frios. O focinho era uma armadura chapeada coberta de algas e pele que jorrava lama verde. Arremeteu contra Gregori, seu fétido hálito ardente, com a antecipação da morte.

Um raio de calor branco e de energia elétrica, descarregou-se do céu e se deslizou através das placas ósseas e a grosa pele e chamuscou os órgãos internos do animal. A estocada lançou à criatura para frente, apesar do golpe sólido do relâmpago. Saiu fumaça pelas mandíbulas totalmente abertas, levando o aroma de carne queimada. A besta se conduziu para frente, diretamente para o peito de Gregori, decidido a morder e rasgar, seu único pensamento era matar e devorar.

Gregori simplesmente desapareceu. As poderosas mandíbulas se fecharam no ar vazio. A besta, mortalmente ferida, rugiu e sacudiu sua enorme cabeça de um lado a outro, procurando desesperadamente seu inimigo. O vampiro abandonou o fumegante cadáver chamuscado, elevando-se no ar com um grito de desafio e ódio. Enquanto subia, preparando-se para voar, deixou o que tinha sido durante séculos seu santuário e correu por sua vida, encontrou uma barreira.

Foi golpeado com força, o golpe lhe enviou do céu até o chão.

O vampiro ficou sem fôlego durante um momento, surpreso da incrível força do golpe. Cautelosamente conseguiu ficar em pé, afundando-se um pouco no escuro barro do pântano.

Gregori. O Escuro. Tinha sido sempre, mais que uma lenda, mais que um mito. Agora o vampiro sabia que os sussurros os rumores, eram verdades. Não havia como escapar do Escuro. Gregori havia usado a si mesmo, como isca para atrair o vampiro a campo aberto. Que caçador faria tal coisa? Acreditar tanto em si mesmo que arriscaria sua vida? O vampiro podia sentir o golpe através do corpo inteiro. Agitou-o, nada mais podia fazer.

Em seguida trocou de tática. Sua áspera frieza trocou a um reptiliano calor moderado.

- Não desejo lutar contigo, Gregori. Reconheço que é um grande caçador. Não desejo continuar esta batalha. Me permita deixar este lugar e ir para minha guarida nos Everglades da Florida. Manterei-me oculto durante um século... Mais, se o desejar. - Sua voz foi enganadora, temerosa.

Gregori se materializou a poucos metros de distância. O sangue gotejava firmemente de várias feridas abertas. Sua face era impassível, implacável. Os prateados olhos pareciam aço.

- O Príncipe de nossa gente sentenciou sua morte. Não posso fazer outra coisa, que justiça.

O vampiro sacudiu a cabeça, com uma austera paródia de sorriso em sua face.

- O Príncipe não conhece minha existência. Não tem que aplicar uma sentença que não ordenou. Voltarei para a terra.

Gregori suspirou brandamente.

- Não pode haver discussão, vampiro. Conhece as leis de nossa gente. Sou um caçador, um portador de justiça e não posso fazer outra coisa que impor nossas leis. - Seus olhos nunca abandonaram o vampiro, não piscaram. O vento estava ficando forte e lançava mechas de seu cabelo negro ao redor de sua face. Ele parecia um guerreiro dos tempos ancestrais.

Os olhos do vampiro ficaram apagados e viciosos.

- Então é o começo. - Um relâmpago ziguezagueou no céu, saltando de nuvem em nuvem. O vento formou redemoinhos e rugiu.

Gregori se deslocou num movimento fluídico, preguiçoso, nada ameaçador. Sua cabeça se inclinou, o relâmpago se refletiu em seus lindos olhos prateados. O sangue gotejava de suas feridas. O vampiro captou a essência do sangue fresco e seu olhar descansou avidamente no poderoso e ancestral líquido de vida. Gregori o golpeou tão rápido, que o vampiro não o viu. Distraído pela visão do luxurioso festim de sangue ancestral, o vampiro compreendeu que estava em perigo mortal quando sentiu o impacto do tremendo golpe em seu peito.

Gregori já havia saído de perto. Estava em pé e imóvel a alguns metros de distância, observando o vampiro com olhos frios e vazios. Lentamente estendeu o braço, girou sua mão para cima, e abriu o punho.

O vampiro gritou. O som foi agudo e horrendo na noite. Viajou sobre os riachos e canais. O não-morto lentamente, relutante, olhou o objeto que pulsava na palma da mão do caçador e para baixo, em seu próprio peito. Havia um buraco aberto onde seu coração havia estado. Ferido, deu dois passos para frente antes que seu corpo se encurvasse e caísse de cara no barro, na lama.

A face de Gregori empalideceu visivelmente, e ele se sentou bruscamente. Permitindo que o venenoso e murcho coração caísse da palma de sua mão. Examinou as queimaduras e bolhas de sua pele onde havia sangue corrompido. Concentrou-se em reunir energias do céu, enfocando, e enviando uma ardente bola ao interior do corpo do vampiro. O segundo golpe incinerou o coração poluído. Gregori se afundou para trás, no barro e ficou olhando diretamente para o céu noturno. Uma estranha letargia se estendeu sobre ele, numa pesada e sonolenta sensação. Estava flutuando sobre o mar, desligado, observando o amanhecer que raiava o escuro céu cinza.

Suas pálpebras desceram, e ele relaxou no barro. Sentiu a perturbação no ar sobre ele. Cheirou a fresca essência dispersando o o mau cheiro do pântano. Savannah.

Reconheceria-a em qualquer lugar. Tentou avivar-se, adverti-la de que o amanhecer estava se aproximando e era perigoso estar tão longe de casa.

O gemido de Savannah foi audível.

- Oh, Gregori. – Ela tocou as feridas gotejavam que em seu peito. Podia ver seu cansaço em sua debilidade,. No dano de seu corpo, em que não pudesse encontrar energias para fechar as feridas. Fundiu-se a ele e tentou o obrigar a obedecer do mesmo modo, que com freqüência, ele fazia com ela.

Fecharia as lacerações, procuraria o sono curador de sua gente, e deixaria o resto para ela.

Procurou em sua mente, o atalho mental até o Gary. Procurando a seu amigo humano.

- Me ouça, Gary. Temos problemas. Encontre Beau A Rue. O capitão de um bote de excursões pelo bayou. Diga-lhe que vá ao charco do velho jacaré. Deve vir antes de que o sol esteja alto e nos levar para um lugar escuro. Mesmo se parecermos mortos, nos leve ali. Contamos contigo. Você é nossa única esperança.

Procurou a zona de extensão de terra mais estável. Trabalhando rapidamente e com dificuldade, Savannah foi capaz de levitar o corpo de Gregori até o pequeno monte de terra, mas não havia escapatória do sol. Quando se inclinou sobre Gregori, notou que ele não se induzira ao sono curador. Seu coração bateu com força em seu peito. Seu coração gaguejou. Gregori estava muito fraco pela perda de sangue para cumprir sua ordem, para curar-se. Rapidamente, selou as feridas ela mesma, utilizando as informações das lembranças de Gregori. Tirando sua jaqueta, deitou-se ao lado de seu companheiro, cobrindo a cabeças de ambos com o tecido. Cortando sua mão, Savannah colocou o braço sobre a boca de Gregori, lhe provendo de vida... Lhe dando substância, para que fluísse seu corpo vazio, acariciando sua garganta para insistir ele a engolir.

 

O bote cortava tão lentamente as águas do canal, que Gary queria gritar. Pela centésima vez olhou seu relógio. O sol estava subindo firmemente no céu. Nunca havia sido tão consciente do calor e da luz que irradiava do sol. Levou-lhe, um precioso tempo, localizar Beau A Rue e lhe convencer de que Savannah e Gregori estavam com terríveis problemas. A cada segundo que passava, estava seguro de que o sol os incineraria.

- Não pode fazeresta coisa ir mais rápido? - Exigiu por décima vez.

Beau sacudiu a cabeça.

- Estamos perto do charco do velho jacaré. Estas águas são traiçoeiras. Há troncos por toda parte, rochas afiadas. É perigoso. E se encontramos o velho, não sobreviveremos.

- Gregori o matou. - Disse Gary friamente, com fé absoluta no Cárpato. Estava seguro de que o homem não podia fracassar. Fossem quais fossem, as feridas que havia sofrido, não teria evitado de matar seu oponente.

- Rezo para que tenha razão. - Disse o capitão, sentindo-o de coração.

O bote rodeou a esquina no grosso leito do canal que conduzia ao charco. Gary ofegou quando viu as cinzas enegrecidas e os fumegantes restos a curta distância do aterro. Não podia ser muito tarde. Não podia ter lhes faltado.

- Mova esta coisa. - Exclamou, apressando-se à amurada do navio, preparado para saltar às escuras águas.

- Se o velho está morto. - Avisou A Rue. - Há outros jacarés nesta área.

- Pensava que havia dito que não havia nenhum aqui exceto o grande. - Protestou Gary.

- Acredito que tem razão. O velho está morto. - Os olhos murchos de La Rue esquadrinharam a paisagem. Inalou com força. - O fedor está acabando-se, e o ritmo regular do bayou esta já restaurando a si mesmo. Vê a forma em que esse lenho tendido se enterra no barro? Isso não é um lenho. Fique no bote.

Gary passeou impacientemente até que Beau as arrumou para manobrar com destreza o bote até o bordo do pântano, com grosas mantas em seus braços, saltou para chão e se afundou dois centímetros na lama. A Rue sacudiu a cabeça.

- A terra é instável aqui. Se afundar no pântano, está morto. - Muito cuidadosamente comprovou a terra e se conduziu até a terra firme.

Gary olhou os dois corpos estendidos sobre um montículo da pútrida vegetação. Amaldiçoando-se, sem cuidar de sua própria segurança, cruzou a distância. Uma jaqueta cobria seus rostos. Ambos pareciam mortos. Comprovou seus pulsos. Nenhum deles tinha mais. A roupa do Gregori estava rasgada e suja. A quantidade de sangue seca que manchava o tecido em vários lugares, o espantava. Antes de que A Rue pudesse vê-los claramente, Gary os cobriu da cabeça aos pés com uma grosa manta.

- Temos que levá-los a seu bote rapidamente. Há alguma casa escura, uma cova, algum lugar escuro em que possamos levá-los? - Perguntou Gary. Ele já estava elevando Savannah em seus braços. A Rue a observou levá-la a seu bote.

- Um hospital seria melhor. - Fez a sugestão um tom amável e razoável, como se temesse que Gary tivesse perdido a cabeça.

Gary se assegurou de que cada centímetro da pele de Savannah estivesse oculto sob a manta antes de apressar-se a voltar para Gregori.

- Necessitarei que me ajude com ele. Não deixe que deslize a manta. É muito alérgico ao sol.

- Está vivo? - A Rue se inclinou para tirar a manta poder comprovar. As ferida-las eram profundas e horríveis.

Gary o agarrou pela mão.

- Gregori disse que você era alguém em quem podia confiar. Me ajude a levá-la ao bote, e encontre um lugar escuro, onde possam descansar. Ficarei com eles. Sou médico, e trouxe tudo o que ele precisam. – Ele pegou Gregori pelos ombros e permaneceu em pé esperando que o outro homem tomasse uma iniciativa.

Beau duvidou, mas então levantou as pernas de Gregori e se esforçaram em silencio com o peso morto e moveram pouco a pouco abrindo-se caminho pelo terreno esponjoso e instável. Uma vez dentro do bote, Gary envolveu Gregori como uma múmia, em uma manta, colocando ambos os corpos sob o toldo da embarcação.

- Nos tire daqui e vamos a um lugar escuro, rápido. - Ordenou.

Beau sacudiu a cabeça, mas arrancou o navio. Teria gostado de examinar a pilha de fumegantes cinzas, as marcas de queimaduras sobre os canos e rochas. Algo terrível havia acontecido laquele lugar. Sabia que Gary tinha razão. O velho jacaré estava morto. O terror de bayou tinha sido finalmente reduzido à lenda que todo mundo acreditava que era.

Gary se ajoelhou entre os corpos, seu coração batia de medo. Não tivera tempo de examiná-los de perto. Não se atrevia ao sol ou com o capitão observando. - Por favor Deus, que eu não tenha falhado com eles. Que não tenha chegado muito tarde. Gregori havia perdido muita sangue. O que aconteceria? Por que não havia feito ao casal, mais perguntas, enquanto tivera oportunidade? Enterrou o rosto nas mãos e rezou.

- São bons amigos? - Aventurou Beua compasivamente.

- Muito bons amigos. Como uma família. Gregori salvou minha vida em mais de uma ocasião. - Gary respondeu cuidadosamente, não querendo revelar muito.

- Tenho um amigo assim. É como este. Tem um lugar não muito longe daqui , onde fica com freqüência, quando passamos muito tempo no pântano. Não gosta do sol também. Levarei-os lá. Gregori e Savannah o conhecem. Não acredito que Julian se importe.

O bote começou a ganhar velocidade agora que estavam fora do canal afogado de raízes e entraram em águas claras.

- Obrigado. - Disse Gary agradecido.

Beau A Rue conhecia o bayou como a palma de sua mão. Pôs o barco à máxima velocidade segura e encontrou cada atalho que conhecia. Se aproximaram da terra, uma pequena ilha com uma singela cabana de caça. Os ciprestes eram espessos, quase impenetráveis.

- A terra é muito firme aqui, no centro da ilha. Não parece, mas há um atalho de lajes de pedra que conduzem através do lodo. Podemos os levar ao lugar secreto de Julian. É o proprietário desta parte de terra e está sempre tranqüilo. É um homem com quem não se brinca.

Carregaram primeiro Gregori porque Beau tinha que abrir o caminho. Escolheu o caminho cuidadosamente, cada passo na pedra arredondada na lama. Era difícil avançar com Gregori que era grande e seu corpo um peso morto. Beau não podia distinguir como o peito do homem subia e baixava, mas se absteve de dizê-lo. Parecia uma loucura levar alguém tão mortalmente ferido, a uma escura e úmida caverna, mas tinha visto Julian ir a este lugar em mais de uma ocasião, quando o sol estava em seu ponto alto.

A caverna era artificial e muito pequena. Não havia quase, onde permanecer. Colocaram o corpo de Gregori totalmente estendido no chão sujo, na escuridão e retrocederam rapidamente, Gary estava ansioso por tirar Savannah da luz. Levantou Savannah em seus braços e enfrentou ao capitão.

- Obrigado por sua ajuda. Atenderei a estes dois. Deixe minha bolsa, sobre as pedras. Ocuparei-me de Savannah e a pegarei.

- Quer que fique? - Perguntou Beau, entre a curiosidade e sua inculcada crença na privacidade.

Gary sacudiu a cabeça, já se movendo pelas pedras.

Beau se afastou, acendendo o motor.

- Deverei ver, se precisar de mais alguma coisa, esta noite.

- Obrigado. - Gritou Gary sobre o ombro, apressando-se a tirar o corpo de Savannah do sol.

Deixou-se cair junto aos dois corpos imóveis, respirando com dificuldade, preocupado de que pudessem estar realmente mortos. Temia limpar as terríveis feridas de Gregori, sem estar seguro de que dano podia fazer. Passou o tempo solitário, bebendo de seu cantil, e dando voltas à cabeça, pensando se seus amigos estavam mortos e de que se levantaria quando caísse o sol.

O céu de bayou finalmente se tornou em cinza fumegante. Gary se arrastou até a entrada da cova e olhou para fora a crescente noite. Não podia ir o bastante rápido, para se satisfazer. Quando voltou a cabeça, viu baixar e descer, o peito de Gregori, sob a manta.

Gregori sentiu primeiro a fome, depois a dor. Bloqueou ambos e avaliou os danos feitos a seu corpo. Tinha perdido uma boa quantidade de sangue, mas Savannah a tinha substituído. Levou um curto tempo para se concentrar, ir entrar dentro de si mesmo e curar as feridas abertas. Mesmo com o sangue que Savannah havia lhe alimentado, estava desesperado por mais. Depois de ter fechado as lacerações, para que não houvesse mais perda de sangue, moveu-se, depois se sentou. Podia ouvir o batimento de em coração muito perto, o fluxo e vazante de uma vida que se apressava ardentemente, o chamando tanto, que suas presas começaram a alongar-se ante a necessidade.

Sua mente automaticamente alcançou a de Savannah. Ela o havia salvado. Estava se tornando um costume que o levasse de volta, a terra firme. Não havia falta de valor em Savannah. Encontrou-a viva... Uma luz escondida em um pequeno canto de sua mente. Ela levou-se a bordo da morte, para lhe dar a vida. Amaldiçoando, empurrou a manta para longe de seu corpo e se deitou-se a seu lado. Aproximou-a mais e examinou cada centímetro dela.

O ruidoso e insistente batimento do coração tão perto deles, tão cheio de vida, distraía sua atenção. Lentamente, Gregori girou a cabeça para ver Gary o observando, da entrada da caverna. Sabia que ele estaria ali. Que havia sido Gary quem os tinha levado do pântano e tinha encontrado um lugar escuro e seguro para dormir.

- Devo-te muito. - Agradeceu Gregori ao humano. A fome o roía novamente, e pôde sentir seus incisivos afiar-se em resposta. Sua companheira necessitava alimentar-se imediatamente. - Fique com ela enquanto caço.

Gary respirou profundamente, depois se permitiu soltar lentamente.

- Pode usar meu sangue. Sabia que despertaria faminto.

A dura linha da boca de Gregori se suavizou momentaneamente.

- Não estou simplesmente faminto, amigo. Estou necessitado. Savannah está necessitada. Posso ser perigoso neste estado. Nunca arriscaria sua vida.

- Confio em voce, Gregori. - Disse Gary sinceramente, surpreso de que fosse assim.

Gregori o rodeou.

- É um homem estranho, Gary Jansen. Sinto-me privilegiado em te conhecer e te contar entre meus amigos. Por favor cuida de minha companheira enquanto caço.

Gregori estava já passando por Gary. Um simples roçar e se foi, mas o contato enviou um calafrio pela espinha de Gary.

Gregori cheirava a selvagem e perigoso, sem piedade. Um animal, um predador.

Gary não sabia como notava a diferença, mas nesse momento, Gregori era mais fera, que homem. Só depois, que Gregori saiu, trocou de forma antes seus olhos, um pássaro caçador, que Gary notou que as terríveis feridas no corpo do homem Cárpato, estavam curadas. Observou o raptor elevar-se no vento até converter-se em um simples ponto no céu.

Gary percorreu o chão, inclinando-se para evitar roçar a cabeça no teto. Sentou-se junto a Savannah e esperou. Não demorou para que o pássaro voltasse. Gary não pôde afastar os olhos das brilhantes e iridescentes plumas que mudavam até se converter na sólida estrutura de um homem.

Gregori deslizou entre os ciprestes, alto, disposto e saudável. Inclusive suas roupas, estava imaculadas. Seu cabelo estava limpo e brilhante, preso na nuca com uma tira de couro. Seus olhos prateados estavam claros e uma vez mais, sua face era uma máscara de sensual beleza.

- Gary. - A voz, como sempre, foi pura e forte. - Por favor, deixe-nos, por alguns momentos.

- Ela está bem? - Perguntou Gary temerosamente. Apesar de ele ter comprovado seu pulso várias vezes.

- Deve estar de tudo bem. - Disse Gregori brandamente.

A voz era como veludo, mas havia algo nela que enviou um calafrio de apreensão através de Gary. Se algo ocorrece a Savannah, Gary sentiu que ninguém, nada no mundo, estaria a salvo do homem Cárpato. Não havia considerado antes, e não tinha nem idéia de onde tinha vindo o conhecimento, mas sabia. Arrastou-se do espaço, com cãibras e abriu caminho a uma pequena distância da caverna. Os sons da noite o incomodaram, eram estranhos e lhe amedrontaram um pouco.

Gregori pegou Savannah meigamente entre seus braços.- Vêem minha vida e meu fôlego. Acordada esteja comigo. – Ele deu a ordem, e enquanto sentia o coração dela bater, apertou-lhe a boca contra sua garganta.- Alimente-se, ma petite. Alimente-se e substitua o que desinteresadamente me deu.

Savannah voltou a cabeça. Seu primeiro fôlego, um suspiro calmo contra a garganta dele. Esfregou sua face contra ele mais perto, sonolenta e débil pela falta de sangue. Sua língua saboreou a pele, acariciando sua pulsação.

O corpo de Gregori se ascendeu alarmantemente, enquanto os dentes dela enviavam prazer ardente sobre ele. Lentamente a pele dela se esquentou, passando do branco cinzento, ao saudável rosado. Seus braços se deslizaram em volta do pescoço de Gregori e o abraçou mais perto. Seu corpo junto ao dele, com uma inquieta dor de desejo e fome.

Savannah fechou as feridas no pescoço de seu companheiro, deixou beijos por sua garganta até o queixo, depois encontrou seus lábios. Gregori agarrou sua cabeça e a sustentou imóvel, sua boca dominante, tomando a dela com uma necessidade tão elementar como o vento.

- Pensei que te perdia. - Sussurrou ela em seu coração, em sua alma. - Pensei que te perdia.

- Vai estar sempre me tirando de problemas? - Perguntou ele, Uma emoção forte e indomável o estrangulava, bloqueando sua garganta.

Um pequeno sorriso abriu os lábios dela.

- Te trazendo de volta, quer dizer.

Ele gemeu ante sua teimosia.

- Je t'aime, Savannah. É só o que posso expressar com palavras. - Seus braços a apertaram com firmeza, apertando-a contra seu coração. Ela era seu mundo. Seria sempre seu mundo. Era sua alegria, sua luz. Mostrava-lhe como deslizar-se facilmente entre os dois mundos. Dava-lhe fé nos humanos, que ele nunva havia tido antes.

Como se lesse sua mente, ela sorriu alegremente para ele.

- Gary realmente veio a nós, verdade?

- Veio, ma petite. E Baeu LaRue também. Não podemos deixar o pobre homem passeando pelo pântano. Pensará que estávamos entretidos em algo mais que conversa.

Perversamente Savannah moveu seu corpo contra o dele, suas mãos deslizando provocantemente, sobre o rígido sexo sob sua calça.

- Não estamos? - Perguntou com o sorriso sexy queele não podia resistir.

- Temos muita limpeza que fazer aqui, Savannah. – Disse ele severamente. - Precisamos conversar com nossa gente, estender a lista da sociedade entre nossas filas eadvertir aqueles que estão em perigo.

Os dedos dela estavam trabalhando nos botões de sua camisa para afastar o tecido para o lado e examinar seu peito e ombros, onde as piores feridas haviam estado. Tinha que ver seu corpo, ela mesma, para assegurar-se que ele estava completamente curado.

- Sugiro, que por hora, seu maior trabalho seja criar algo para Gary. Para que possamos ter um pouco de privacidade. - Com um simples movimento, tirou- a camisa pela cabeça para que seus seios cheios, brilhassem tentadoramente para ele.

Gregori fez um ruído, entre um suspiro e um gemido. Suas mãos se estenderam para embalar o peso dela em sua palmas. A sensação de sua suave e acetinada pele o aliviou depois da ardente tortura do sangue corrompido. Seus polegares acariciaram os mamilos até vê-los duros de desejo. Inclinou sua cabeça lentamente até a erótica tentação. Precisava fundir seus corpos depois da chamada íntima que ela havia feito. Podia sentir a onda de excitação dela, o pressa do calor através de seu corpo ante a sensação de sua boca no seio dela.

Gregori a trouxe para perto. Sua mão vagando sobre ela com uma sensação de urgência. O desejo dela alimentava o seu.

- Gary. - Sussurrou ela. - Não se esqueça de Gary.

Gregori amaldiçoou brandamente. Sua mão lhe elevou os quadris, para poder liberá-la das roupas que ofendiam seu corpo. Esbanjou alguns segundos de sua atenção, se dirigindo longe da cova. A suave risada de Savannah foi zombadora, atormentadora.

- Já lhe disse, companheiro, que esta sempre me tirando minha roupa.

- Então deixa de se levar por esses malditos panos. - Respondeu-lhe ele, completamente atento em suas mãos sobre a diminuta cintura, sua boca encontrando seu estômago plano. - Algum dia, meu filho estará crescendo aqui. – Ele disse suavemente, beijando sua barriga. Suas mãos elevaram as coxas dela para poder explora-la facilmente sem interrupção. - Uma formosa garotinha com seu aspecto e minha disposição.

Savannah sorriu, seus braços atraiam a cabeça dele, amorosamente.

- Essa seria uma boa combinação. O que tem que mau em minha disposição? – Ela estava retorcendo-se ante o assalto de suas mãos e lábios, arqueando seu corpo para completas explorações.

- É uma mulher perversa, ma petite. - Sussurrou ele. - Teria que matar a qualquer homem que tratasse minha filha, da forma em que eu estou tratando a mãe.

Ela gritou, seu corpo estremecendo de prazer.

- Acontece, que adoro a forma em que me trata, companheiro. - Respondeu Savannah, gritando novamente, quando ele fundiu seus corpos, seus corações e suas almas.

O futuro podia ser incerto, com a sociedade atrás dos passos de sua gente, mas suas forças combinadas eram mais que suficientes para vê-los chegar.

E juntos, podiam enfrentar a qualquer inimigo para assegurar a continuação de sua raça. 

 

                                                                                                    Christine Feehan

 

 

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