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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


MAIS QUE UMA NOITE / Penny Jordan
MAIS QUE UMA NOITE / Penny Jordan

 

 

                                                                                                                                   

 

 

 

 

 

 

Ben Crightom Orgulhoso patriarca da família, um homem de personalidade forte e que, com mais de oitenta anos. continua determinado a ver sua família crescer e prosperar.

Ruth Reynolds: irmã de Ben, uma mulher vibrante que voltou a viver com Grant, seu marido, de quem fora tragicamente separada durante a Segunda Guerra Mundial.

Maddy e Max Crighton: Maddy desabrochou desde que re­conciliou-se com seu marido, Max, que finalmente descobriu em si mesmo um adorável homem de família.

Jon e Jenny Crighton: Um casal estável e preocupado com a família, Jon cuida do escritório de advocacia dos Crighton junto com sua sobrinha, Olívia Crighton.

Chrissie e Guy Cooke: Guy, que no passado fora sócio de Jenny em uma loja de antiguidades, possui uma personalidade totalmente diferente da de sua gentil esposa, Chrissie. Mas o casamento dos dois dá todas as provas de ser feliz e cheio de amor. A família Cooke era tão conhecida em Haslewick como a dos Crighton. Como seus ancestrais ciganos, os homens Cooke têm a reputação de serem sedutores implacáveis.

Louise e Gareth Sinimonds: Desde seu casamento, Louise vira sua relação com a irmã gêmea, Katie, deteriorar-se. Mas Louise está desesperada para reatar os laços entre elas.

Katie Crighton: Quando sua irmã gêmea se casou com o homem que Katie amara por anos em segredo, ela ficou envergonhada demais para permanecer no convivio familiar. Mas agora está retornando para casa, e será confrontada com um homem que lhe despertará emoções muito intensas.

Sebastian Cooke: Primo de Guy, sente-se incomodado com a aura escandalosa que sempre envolveu sua família. Determi­nado, transformou-se num bem-sucedido pesquisador. Mas ele possui todos os genes dos Cooke para tornar-se um desafio potencial e sexualmente perigoso para Katie Crighton.

 

 

 

 

                                               CAPITULO I

Quando Seb atravessou a placa com os dizeres "Haslewich — Por favor, dirija com cuidado", estava envolto por uma desanimadora nuvem de autocrítica e desapontamento, ainda que o retorno a seu local de nascimento pudesse ser considerado triunfal.

Aos trinta e oito anos, estava no auge de sua carreira, e acabara de ser contratado por um laboratório farmacêutico in­ternacional, o Aarlston-Becker, para chefiar seu departamento de pesquisas. Nada que amedrontasse o homem que, quando menino, fora menosprezado pelos professores como sendo "ape­nas mais um subproduto sem futuro do clã dos Cooke".

Seb acumulara sua fortuna trabalhando arduamente e in­vestindo-a com inteligência. E possuía uma família que, ape­sar de não encontrá-lo havia muitos anos, estava ansiosa para bem recepcioná-lo em sua volta ao lar. Tudo aquilo certamente contaria preciosos pontos positivos na vida de qualquer pessoa.

Mas Seb considerava que ainda precisava de muitos outros para contrabalançar com os aspectos negativos de sua vida.

— Que aspectos negativos? — seu primo Guy Cooke havia perguntado quando os dois discutiram os motivos que o impe­diam de voltar.

— Que tal um casamento equivocado seguido de um mais do que previsível divórcio?

Guy ergueu as sobrancelhas numa expressão de menosprezo.

— O divórcio não é mais considerado um pecado social, Seb, e pelo que nos disse, sua ex-mulher está feliz ao lado do novo marido, e vocês dois até que se entendem bem.

— Claro, o divórcio foi a melhor coisa que aconteceu tanto para mim como para Sandra. Não, não é o fato de termos nos casado muito cedo, e pelos motivos errados, que faz com que eu me sinta mal.

Depois de uma breve pausa, ele fez uma careta antes de continuar:

— Sandy sempre dizia que eu não passava de um bastardo egoísta, incapaz de ser um bom marido, ou bom pai, por estar muito envolvido com minha carreira. Naquele tempo achava sem sentido aquela maneira de pensar. Afinal de contas, eu estava trabalhando para lhe proporcionar um bom nível de vida. Pelo menos era isso que costumava dizer para ela, e para mim mesmo. Mas é claro que isso era só uma desculpa para não admitir que ela estava certa. Eu era egoísta, e a ânsia com que me entregava à descoberta de novas drogas era uma forma de me sentir mais importante. Assim, obtinha muito mais prazer no trabalho do que ficando ao lado de minha esposa.

Guy e sua esposa, Chrissie, que segurava o pequeno filho no colo carinhosamente, eram o retrato de uma família feliz. Mas os dois não conseguiam enganar Seb. Era claro que tam­bém deviam considerá-lo um homem egoísta. Como poderiam pensar de outra forma? Seb via todo o comprometimento de Guy com sua própria família.

— Mas ao menos você poderá se aproximar mais de sua filha agora — Chrissie relembrou-o com gentileza.

— Sim, graças à maturidade de Charlotte, e não a qualquer boa ação da minha parte — Seb retrucou. Em seguida, acres­centou: — Afinal de contas, ela poderia muito bem ter se re­cusado a me ver quando lhe escrevi perguntando se poderia fazer parte de sua vida novamente. O segundo marido de San­dra, George, é um pai muito melhor do que eu para ela.

— Talvez seja assim do ponto de vista prático — Guy ob­servou. — Mas você é seu pai biológico, e a semelhança entre vocês é imensa. Qualquer um pode perceber isso.

— Oh, sim, ela tem todos os meus genes, a começar pela aparência — ele concordou.

— E segundo dizem, também herdou sua inteligência — Chrissie comentou rindo.

— Bem, conheci Sandra na universidade, então acredito que a inteligência de Charlotte é fruto de nós dois. Mas confesso que fiquei surpreso quando ela me disse que pretende seguir a mesma carreira que eu.

— E agora que ela vai estudar num colégio perto de Manchester, você poderá vê-la mais constantemente.

— Espero que sim — Seb murmurou. — Mas ela está com dezesseis anos. Já é quase uma adulta, e agora tem sua própria vida e seus amigos. Sandra disse que Charlotte ficou mais aliviada ao saber que estarei por perto para passar os fins de semana com ela, especialmente agora que eles pretendem viajar para o exterior.

— Bem, nós vamos adorar encontrar Charlotte — Chrissie assegurou com gentileza. — Ainda que eu suspeite que ela vá se sentir intimidada pela curiosidade que o clã dos Cooke ainda desperta por aqui.

O clã dos Cooke. Como Seb havia odiado e lutado contra o peso da reputação de sua família quando era mais novo. Na­quela época, ele não sabia que o próprio Guy também estava travando uma guerra pessoal entre seus próprios sonhos e as expectativas da cidade. Mas então Guy havia conhecido Chris­sie, que o ajudara a fazer as pazes com a história de sua família e com as tristes recordações da infância.

Seb tinha consciência de que sem o incentivo de ter Charlotte em um colégio nas cercanias de Manchester ele jamais voltaria para sua cidade natal. A pequena Haslewich onde, conforme dizia a lenda, sua família havia se originado depois que um membro de um bando de ciganos romenos seduzira uma das garotas locais.

Todos os descendentes daquela primeira união haviam her­dado a reputação de foras-da-lei o baderneiros. Durante muito tempo, esse estigma foi bastante conveniente para a população local, que costumava atribuir aos Cooke todos os pequenos crimes que aconteciam na cidade.

Mas esses dias faziam parte de um passado distante, e com o passar dos anos as inevitáveis relações entre as famílias e o crescimento da cidade haviam sepultado a crença de que os Cooke não passavam de um clã de baderneiros, de quem todos tinham medo e desconfiavam.

Entretanto, o sensual estilo de vida dos ancestrais da família Cooke deixara sua marca no inconsciente coletivo da cidade. Com isso, todos os homens da família possuíam em seus olhos escuros um tipo de brilho que tanto as mães como as jovens impressionáveis consideravam perigoso.

Desde criança, Seb desejou escapar das restrições da vida em uma cidade pequena, onde todos se conheciam. Planejava quebrar o telhado de vidro de expectativas e reservas colocado sobre ele apenas por causa do sobrenome que carregava. O profundo in­teresse e fascinação pelos problemas genéticos nas plantações da família haviam-no ajudado a escolher sua carreira, no que fora entusiasticamente apoiado e encorajado pelo avô.

A universidade o libertara das restrições impostas pela ci­dade pequena, mas o levara a concentrar-se cada vez mais em sua carreira, em detrimento de suas relações pessoais.

Mas recentemente, Seb ouvira sem querer um comentário de uma de suas colegas de trabalho, que o fizera perceber os erros que cometera.

— Ele não vê a filha há mais de dez anos. Você acredita nisso?

— Isso acontece — a outra mulher argumentara. — Homens divorciados costumam perder contato com seus filhos,

— Eu sei, mas Seb nem mesmo parece se importar. Será que ele não tem sentimentos?

Naquela noite, sozinho em seu apartamento vazio, Seb não conseguira esquecer-se do diálogo, e começara a fazer-se a mes­ma pergunta.

E a resposta o deixara chocado.

Sim, ele se importara, mais do que poderia pensar, e se im­portara ainda mais depois daquele fatídico primeiro encontro com Charlotte, quando constatara que, não só por sua aparência, mas também por sua personalidade, a filha era muito parecida com ele. Naquele dia, sentira seu coração partir-se pelo remorso.

Não havia sido uma tarefa fácil construir uma ponte para aproximar-se dela, conseguindo derrubar a barreira que a me­nina naturalmente erguera em torno de si. Charlotte se com­portara de forma superficial e amigável, mas Seb não tinha dúvida de que, no fundo, estava extremamente desconfiada dele. E quem poderia culpá-la? Aquilo acontecera três anos antes, e agora Seb já fazia parte da vida da filha. O que não o impedia de sentir medo de que nada poderia reparar total­mente o erro que cometera no passado.

Sandra, sua ex-mulher, tivera outros dois filhos com seu segundo marido, e então Charlotte passara a fazer parte de uma família feliz. Mas ela também era filha de Seb e, como ele, uma Cooke.

— Todos esses parentes! — ela havia exclamado maravi­lhada ao visitar a cidade com o pai. — Não acredito nisso. Parece que somos parentes de metade da população...

— É o que dizem — Seb concordou com frieza. Mas diferente dele, Charlotte parecia deliciada com a herança da família.

— As coisas mudaram nos últimos tempos — Guy havia argumentado. — Muitas famílias novas chegaram na cidade, fazendo-a crescer bastante com a abertura de diferentes tipos de empresas.

— Mas as mulheres da família Cooke são exemplos locais de independência e participação — Guy continuou. — Algumas participam da Câmara Municipal, enquanto outras gerenciam seus próprios negócios. Desde cedo, todas ensinam os filhos a se orgulharem da dinastia Cooke. É claro que existem muitas "crianças Cooke" na Casa Ruth Crighton de Amparo à Mãe e à Criança, mas elas estão ligadas à família pelos pais, e não pelas mães. As mulheres Cooke são exemplos de determinação e força, além de trabalhadoras natas.

Seb conhecia toda a história dos Crighton. Quem era capaz de viver em Haslewich e não saber? O nome dos Crighton servia de referência para toda a cidade, mesmo que eles pu­dessem ser considerados relativamente novos em Haslewich, pois haviam chegado apenas na virada do século.

Chrissie também vinha da família Crighton, apesar de só haver descoberto isso depois de envolver-se com Guy.

Jon Crighton era o sócio majoritário da empresa de advocacia da família. Olívia, sua sobrinha, filha de seu irmão gêmeo David, também participava da sociedade. David era um homem cercado de mistérios, e havia desaparecido da cidade em cir­cunstâncias muito estranhas. O pai de Jon e David vivia em uma grande casa em estilo elisabetano nas cercanias da cidade junto com Max Crighton, o filho mais velho de Jon e Jenny, sua mulher e as crianças.

Max era a menina dos olhos de seu avô e, para maior orgulho de Ben Crighton, trabalhava como advogado na corte de Chester, junto com Luke e James Crighton, filhos do primo de Ben, chamado Henry.

Os Crighton eram originários de Chester, mas um desen­tendimento familiar levara Josiah, o pai de Ben, a sair de Chester para estabelecer seu escritório de advocacia em Haslewich. Uma certa rivalidade entre as duas ramificações da família continuava a existir mesmo depois de tanto tempo.

Jenny Crighton, a mulher de Jon, havia sido sócia de Guy durante algum tempo em uma loja de antiguidades em Haslewích. Mas os compromissos familiares a fizeram desistir de sua parte na empresa, e Guy prontamente a adquirira, tor­nando-se o único proprietário.

Na verdade, Guy havia recomendado que Seb procurasse Jon Crighton para ajudá-lo a encontrar uma casa na cidade. O homem seria capaz de cuidar de todos os aspectos legais da compra.

— Os imóveis custam muito caro em Haslewich — Guy o avisou. — Devemos agradecer a Aarlston-Becker por isso. Não que possamos reclamar, pois a indústria trouxe prosperidade e desenvolvimento para a região. Ainda que algumas pessoas insistam que sua presença é uma ameaça para a cidade.

"Seb engatou a marcha assim que o trânsito começou a mo­ver-se lentamente, e entrou na zona urbana de Haslewich. Ele acreditara que o fato de tentar reconstruir seu relacionamento com Charlotte seria suficiente para apagar o resto de culpa que ainda sentia pelos desentendimentos com o próprio pai, mas retornar àquela cidade trouxera à tona uma série de me­mórias dolorosas.

— O que você precisa, papai, é se apaixonar — Charlotte havia dito a ele alguns meses antes. E ainda que fizesse o comentário rindo, Seb pudera perceber pelos seus olhos que a garota falava seriamente.

— Paixão é uma coisa para pessoas de sua idade — Seb argumentara friamente.

— Por que o senhor nunca se casou de novo? — ela perguntou com suavidade.

— Será que preciso responder? — Seb retrucou com sarcas­mo. — Afinal de contas, você foi testemunha ocular das bes­teiras que fiz da primeira vez. — Ele balançou a cabeça ne­gativamente. — Não Lottie, sou muito egoísta e muito centrado um minha própria vida. O amor não foi feito para mim.

— Você não é egoísta, papai, apenas pensa que é! — Char­lotte corrigiu-o, acrescentando em seguida, com surpreendente maturidade: — O senhor apenas está se punindo porque se sente culpado em relação a mim. Bem, não se culpe. Eu não tinha nem dois anos quando você e mamãe se separaram, e ela já havia se casado com George quando completei três anos. Não experimentei o trauma de separar-me de meus pais, e mamãe me disse que ficou muito grata por você ter-se afastado, permitindo que George cuidasse de mim.

— Então você está me dizendo... que lhe fiz um bem ao ignorar minhas responsabilidades de pai? — Seb perguntou chocado. — Que meu egoísmo foi muito bem-vindo?

— Não, claro que não. Mas ao menos ultimamente temos conseguido nos comportar como pai e filha. Agora eu sei que o senhor me ama — ela acrescentou com um suspiro suave.

Sim, ele a amava muito. Mas Seb admitiu honestamente para si mesmo que por muitos anos ficara tão centrado na própria vida que fora incapaz de preocupar-se com a própria filha, ou mesmo de sentir-se culpado por seu egoísmo. Casar-se de novo? Apaixonar-se?

Ele praguejou irritado quando uma jovem começou a atra­vessar a rua a sua frente sem olhar para os lados, obrigando-o a frear o carro bruscamente. Quando os pneus guincharam e o carro parou a poucos passos de distância, a moça virou a cabeça e encarou Seb com uma expressão aterrorizada.

Seb ficou impressionado com a beleza dela. Seus olhos sel­vagens conferiam um toque picante à face delicada, e os cabelos levemente despenteados pela brisa conferia mais graça ao con­junto. Pequena e delgada, ela usava uma saia marrom de mo­delo envelope e um top de seda na cor creme,

A roupa elegante e feminina dava um toque de luminosidade a seus braços e pernas descobertos. Mas assim que a mente de Seb digeriu todas aquelas informações, o único sentimento que ele conseguiu distinguir foi uma ansiedade muito próxima da raiva.

No que aquela mulher estava pensando para atravessar a rua daquela forma? Será que não percebera o que poderia cau­sar? A avenida principal da cidade ficava lotada de pedestres, e se os freios do carro de Seb tivessem falhado o acidente poderia ter sido bem grave.

         Ainda que a moça parecesse chocada, não havia nem um pingo de culpa em seus olhos. Ao invés disso, um brilho acu­satório no olhar, como se Seb fosse o culpado pela tolice que cometera.

Por um segundo, parecera até que ela pretendia continuar seu trajeto, terminando de atravessar a rua como se nada ti­vesse acontecido. Mas o motorista do carro que vinha atrás de Seb buzinou com impaciência, e então ela hesitou por um momento, terminando por voltar para a calçada. Não sem antes dirigir a Seb um olhar desafiador.

Tão enfurecido pelo comportamento da moça como ela pa­recia estar com o seu, Seb lançou um olhar fulminante em sua direção antes de colocar seu carro novamente em movimento.

Enquanto caminhava pela avenida principal de Haslewich, Katie sentia sobre si uma grande nuvem de infelicidade, que servia para obscurecer o que deveria ser uma feliz e esperan­çosa volta ao lar.

Estava com vinte e quatro anos de idade, gozava de excelente saúde e tinha uma promissora carreira de advogada pela frente. Recentemente, seu pai e sua prima não haviam apenas convidado, mas sim implorado para que ela ingressasse no escritório de advocacia da família. E ainda tivera a satisfação de voltar a encontrar com seu irmão mais velho, que soubera como ninguém mais na família usar argumentos para persuadi-la a voltar.

— Papai precisa de você, Katie. — Max havia observado.

— Eles estão sobrecarregados de trabalho, e todos nós sabemos como o vovô reagiria se papai sugerisse que oferecessem so­ciedade a alguém que não é da família Crighton. Além disso, você também sabe, tão bem quanto eu, o quanto é difícil con­seguir um advogado de talento que aceite trabalhar numa firma sem ter alguma garantia de que poderá tornar-se sócio no fu­turo. É por isso que se você for trabalhar na firma estará resolvendo um grande problema. Sabemos que você ainda é jovem e inexperiente, Katie, mas se voltar para Haslewich terá uma participação na sociedade num futuro bem próximo.

— Sei de tudo isso, Max— Kate havia concordado calmamente.

— Mas você parece esquecer que eu já tenho um trabalho.

— Eu sei que tem — Max retrucou. — Mas não sou cego, e sei que algo não vai bem em sua vida, Katie. Veja bem, não quero me intrometer, nem posar de irmão protetor, depois de ter praticamente ignorado você e Louise quando estavam cres­cendo. O que estou querendo dizer é que algumas pessoas gos­tam de ficar sozinhas e levar uma vida independente, e outras precisam ter o conforto e o carinho da família sempre por perto. E nós dois sabemos que é nesse último tipo que você se encaixa. Aquilo era verdade. Louise, a irmã gêmea de Katie, era do tipo que sempre preferira a independência. Mas mal a havia conquistado quando ficara completamente apaixonada por Gareth.

Louise e Gareth.

Katie fechou os olhos, agradecida por ninguém conhecer seu vergonhoso segredo. Não fazia a menor diferença se ela se apaixonara por Gareth muito tempo antes de Louise. E a razão para isso não fazer diferença não era apenas o fato de sua querida irmã amar o marido desesperadamente, mas também porque Gareth nunca amara Katie... Gareth amava sua esposa. Katie aceitara estoicamente o sofrimento que a vida lhe impusera, e usava o grande volume de trabalho para justificar as visitas cada vez menos frequentes que fazia à família, e os ainda mais escassos encontros com a própria irmã. E assim agira até que outro golpe do destino a atingisse.

E o responsável por esse novo golpe fora seu chefe, para quem ela sempre trabalhara desde que ingressara na defensoria pública, depois de haver concluído a universidade.

Katie fechou os olhos sem interromper sua caminhada. Des­de a primeira vez em que haviam se encontrado considerara Jeremy Stafford um homem charmoso e inacessível. Era por isso que não conseguia entender o que acontecera. ,

Quando ele começara a pedir para que ela ficasse traba­lhando até mais tarde Katie sentira-se até mesmo lisonjeada, julgando que ele a considerava capaz de ajudá-lo no importante trabalho de auxílio às comunidades mais carentes.

Da primeira vez que Jeremy sugerira um jantar a dois como "recompensa" pelo trabalho duro, Katie aceitara o con­vite com alegria, incapaz de desconfiar de qualquer coisa. Agora sabia que havia sido muito tola, mas pela forma como o chefe sempre falava da mulher e dos filhos pequenos, julgava que ele era muito feliz no casamento, incapaz de sequer pensar em traição...

No entanto, Jeremy não só fora capaz de pensar, como par­tira para a ação.

Depois de um de seus jantares "de recompensa" ele a abraçara, quando estavam deixando o restaurante, e tentara bei­já-la. Katie o rejeitara imediatamente, mas percebera estupefata que em vez de desculpar-se ele passara a acusá-la de fugir depois de havê-lo provocado.

Naturalmente, depois disso não aconteceram mais jantares íntimos, ou mesmo serões de trabalho. Em consequência, ela passou a ser hostilizada, e até prejudicada no escritório. Jeremy passou a reclamar do desaparecimento de relatórios que Katie tinha certeza de haver arquivado, acusando-a de erros que ela sabia que não cometera.

Katie não tinha intenção de contar nada daquilo a Max. Seu irmão mudara muito depois do princípio de infarto que sofrera em uma praia da Jamaica, para onde fora à procura de David Crighton, seu tio desaparecido. O incidente o trans­formara não só em um apaixonado marido e dedicado pai de família, como também num surpreendentemente preocupado e protetor irmão mais velho. Se Max soubesse do que lhe acon­tecera provavelmente procuraria Jeremy Stafford para tirar satisfações de seu comportamento.

Se Katie fosse uma criança envolvida em briguinhas no jardim-de-infância esse tipo de comportamento seria aceitável, mas todos eles eram adultos. Ela devia saber cuidar da própria vida, como se esperava da mulher moderna e independente que sempre fizera questão de parecer. O triste de toda aquela situação era que Katie adorava seu trabalho, e sentia-se bem por saber que com ele conseguia ajudar muitas pessoas.

As mulheres da família Crighton eram conhecidas por seu forte senso de responsabilidade e participação em obras assistenciais. A tia-avó de Katie, Ruth Crighton, chegara até mesmo a criar uma instituição de amparo para mães solteiras e seus filhos. Jenny, a mãe de Katie, nunca perdera qualquer opor­tunidade de ajudar a qualquer pessoa necessitada. E a irmã de Katie estava envolvida em um programa para auxiliar jovens viciados em Bruxelas, onde ela e Gareth viviam.

Katie paralisou-se quando o seco e cortante ruído dos freios de um carro a trouxe de volta à realidade.

Sem perceber o que fazia, ela começara a atravessar a rua sem olhar... Mas aquilo não era desculpa para o modo perigoso como aquele maníaco dirigia, tão rápido que fora necessária uma freada brusca e ruidosa para conseguir parar o carro. E o pior de tudo era que o homem lhe dirigia um olhar furioso, parecendo disposto a saltar do carro a qualquer momento para avançar sobre ela com ferocidade.

Para seu total espanto, Katie percebeu que mais do que a fúria, o que mais lhe chamava a atenção no homem era o fato de ele ser extremamente atraente, com seus cabelos negros e curtos, olhos cinzentos e frios e uma boca que mesmo cerrada numa expressão ameaçadora deixava clara toda sua máscula sensualidade.

Mas nada daquilo apagava o fato de ele quase tê-la atropelado. Determinada e desafiadora, Katie fez menção de continuar a atra­vessar a rua, mas o motorista do carro que estava logo atrás começou a buzinar impaciente. E por mais que ela quisesse dar uma lição ao "sr. Boca Sexy", realmente não tinha tempo. Já estava dez minutos atrasada, e não seria de bom tom chegar tarde jus­tamente em seu primeiro dia de trabalho com o pai e Olívia.

Fora bastante penoso deixar seu trabalho em Londres, ape­sar dos problemas que enfrentara com Jeremy. Além disso, Katie não se sentia totalmente convencida de que estava fa­zendo a coisa certa ao ingressar na firma da família. Tanto seu pai quanto Olívia, e mesmo Max, haviam deixado claro que ela poderia tornar-se sócia em breve, ainda que por en­quanto fosse apenas uma simples funcionária, recebendo um salário modesto. Mas o dinheiro nunca fora a principal preo­cupação para Katie, e ela sabia que essa também não era a preocupação de seu pai ou de Olívia.

No início, ela tomaria conta do departamento que cuidava da transferência legal de propriedades, um trabalho atrelado ao serviço de compra e venda de imóveis. Quando soubera daquilo, Katie fizera uma careta de desânimo.

— Bem, pelo menos vou adquirir alguma prática para quan­do for comprar minha própria casa — comentara finalmente, mais para convencer a si mesma.

Ainda que seus pais tivessem sugerido que ela voltasse a morar permanentemente na casa da família, Katie sabia que, após levar uma vida independente durante os anos de univer­sidade e depois ao trabalhar em Londres, preferia ter seu pró­prio lar. Mesmo assim, ao voltar para Haslewich ela aceitou o convite de morar temporariamente com os pais até encontrar uma casa que lhe interessasse.

Katie sentira-se estranha ao voltar para o quarto que divi­dira durante muito tempo com a irmã gêmea.

Louise parecia mais animada do que a própria Katie com seu retorno à casa dos pais. Tentara inutilmente convencê-la a tirar alguns dias de folga para viajar até Bruxelas antes de assumir seu novo trabalho.

— Por que você não vai? — seu pai perguntou quando soube pela esposa que a filha recusara o convite.

Não havia nenhuma explicação lógica que pudesse dar a eles, e Katie inventou algo como estar ansiosa para voltar para casa.

Dez minutos mais tarde, Katie entrou no escritório do pai depois de bater na porta levemente.

— Desculpê-me, estou atrasada... — começou. — Havia me esquecido de como é difícil encontrar um lugar para parar o carro aqui nas redondezas...

— Bem... se você achou difícil hoje, espere até o dia da feira — seu pai avisou-a bem-humorado. — Olívia só chegará depois das dez — ele acrescentou. — De manhã ela precisa levar as crianças para a escola. Caspar cuida de apanhá-los à tarde.

O marido americano de Olívia, Caspar, trabalhava como professor de Legislação Corporativa em uma universidade das redondezas. Fora ali que conhecera Olívia, e onde os dois ha­viam se apaixonado.

— Não deve ser fácil para ela trabalhar em período integral com duas crianças para cuidar — Katie comentou.

— Não é mesmo — seu pai concordou, mudando de assunto em seguida. — Nós já preparamos a sala que você vai usar, e preparei alguns relatórios preliminares para você ler. Vamos começar com algumas transferências bem simples.

— Está bem — Katie concordou com ar ausente.

— Há algo errado? — ele perguntou, parecendo preocupado.

— Não... a não ser o fato de quase ter sido atropelada por um maníaco minutos atrás — Katie respondeu, explicando ra­pidamente o que acontecera.

— Todos nós sabemos que as ruas centrais da cidade não suportam mais todo esse tráfego — o pai comentou pensativo.

A cidade fora fundada antes do Império Romano, e era óbvio que suas estreitas ruas não estavam preparadas para o trânsito moderno.

— E por isso que existe um projeto para a construção de um anel viário — ele continuou. — Mas você nem imagina quanto ele iria custar.

— Bem... se isso for manter motoristas como o "sr. Boca Sexy" longe das ruas...,

— Como... quem? — o pai perguntou confuso.

Katie sentiu-se enrubescer. O que estava pensando ao pro­nunciar em voz alta o apelido que, dera àquele homem?

— É... nada — ela cortou embaraçada, e rapidamente co­meçou a examinar os relatórios que o pai lhe entregara.

 

                                                       CAPITULO II

Jenny Crighton vai dar um jantar in­formal nas próximas semanas — Guy comentou — e você foi convidado, Seb. Vamos lá, tenho certeza de que você vai gostar — ele encorajou ao ver o primo franzir as sobrancelhas.

— Vou? — Seb provocou-o.

— O que me relembra — Guy acrescentou, sem dar tempo para Seb continuar —, Chrissie pediu para lhe dizer que você é mais do que bem-vindo para jantar conosco sempre que quiser.

— Obrigado pela gentileza, mas atualmente estou traba­lhando tanto...

Seb interrompeu-se e meneou a cabeça. Apesar de sua re­lutância inicial em voltar para a cidade onde nascera, tinha que admitir que o trabalho na Aarlston-Becker estava lhe tra­zendo enorme satisfação.

A companhia desenvolvia pesquisas de ponta para uma nova geração de medicamentos, o que era um desafio estimulante para um homem como ele.

— Tinha planejado ir até Manchester no final de semana para ver Charlotte — Seb informou. — Mas parece que ela vai sair com alguns amigos, o que significa...

— Significa que você está livre para aceitar o convite de Jenny — Guy completou com firmeza. — Você vai gostar. Saulo estará lá. Já o encontrou por aí? Ele é chefe no Departamento Jurídico na Aarlston e...

— Sim... Fui apresentado a ele há alguns dias. Parece ser ótima pessoa...

— Você já encontrou uma casa para comprar? — Guy perguntou.

— Ainda não. Quero um lugar confortável o bastante para mim e Charlotte, o que significa uma casa com pelo menos dois quartos e dois banheiros. Mas não quero nada muito grande.

— Deixe-me ver... Nos arredores da cidade há uma grande propriedade do período eduardiano que foi transformada em um prédio de apartamentos luxuosos, e tenho a impressão de que a maioria deles já está vendida. Mas me parece exatamente o que você está procurando.

— Você sabe quem é o corretor? Acho que vale a pena dar uma olhada — Seb considerou, interessado.

O pequeno sobrado que Seb alugara provisoriamente ficava a apenas duas ruas de distância do local onde ele crescera, o que estava lhe parecendo um tanto claustrofóbico. Sua mãe se mudara para viver com uma irmã viúva depois da morte do marido, e Seb não possuía nenhum parente mais próximo na cidade. Mesmo assim, cada vez que saía encontrava alguém com o sobrenome Cooke e com os traços fisionómicos da família. Batalhões e batalhões de tias, tios e primos.

E agora ainda havia o jantar de Jenny Crighton, que ele certamente não gostaria de ir. Mas tinha certeza de que Guy não o deixaria declinar o convite.

Algo no tom da voz de Guy quando mencionou Jenny Crigh­ton fez Seb perguntar-se se havia um fundo de verdade nos rumores sobre os sentimentos de seu primo por Jenny antes de que tivesse encontrado Chrissie. Em todos os casos, Seb não tinha nenhuma dúvida de que Guy era completamente apaixonado pela mulher.

— Essa parece bem interessante — Olívia comentou ao olhar para os prospectos que Katie pegara com um corretor de imó­veis. — Quem está interessado em comprar? — perguntou cu­riosa enquanto estudava as fotos da elegante propriedade eduardiana que fora convertida em prédio de apartamentos.

— Com alguma sorte, eu mesma — Katie informou, acres­centando consternada: — Embora ache o preço que eles estão pedindo muito alto.

— Já tentou fazer uma contraproposta? — Qlívia sugeriu com praticidade.

Katie fez um meneio de cabeça, desanimada.

— Duvido que aceitem, restam apenas dois apartamentos.

— É fácil descobrir porque venderam tudo tão rápido... Duas suítes, cada uma com seu próprio closet, uma grande sala de estar, sala de jantar e cozinha de bom tamanho, e tudo com essa vista maravilhosa...

— Sim, e por ficar no último andar esse apartamento ainda possui sua própria varanda — Katie acrescentou. — Fui até lá ontem à noite, e adorei o lugar. Ainda que esteja caro, papai e mamãe se ofereceram para me ajudar a comprá-lo, me em­prestando algum dinheiro.

— Se é assim, você não pode deixar esse negócio passar, Katie — Olívia encorajou-a. — O valor dos imóveis está au­mentando cada vez mais na cidade, e logo você não poderá encontrar um lugar tão bom pelo mesmo preço.

Assim que Olívia saiu, Katie pegou o telefone e discou o número do telefone do corretor. Ela estava certa, e não fazia sentido deixar aquele negócio passar. O apartamento era ab­solutamente perfeito, e com o desenvolvimento crescente da região logo estaria valendo ainda mais.

Enquanto falava com o corretor, decidiu visitar o lugar mais uma vez para tirar algumas medidas. Sua mãe dissera que a ajudaria cedendo parte da mobília, algumas lindas peças clás­sicas que combinariam perfeitamente com o estilo do prédio. Mesmo assim, Katie precisaria comprar novos tapetes e corti­nas para sua casa, e não queria perder tempo.

Seb examinou atentamente os prospectos sobre o aparta­mento que vira na noite anterior. Ficava na cobertura de uma residência de estilo eduardiano, e era uma das duas únicas unidades do prédio que ainda não estavam vendidas. Guy es­tava certo quando dissera que o lugar seria perfeito para ele, e ainda que considerasse o preço um pouco alto não estava disposto a perder o negócio.

Telefonou para Charlotte para contar-lhe a respeito do lugar, e ela concordou em pegar um táxi para Haslewich naquela mesma noite para conhecer o apartamento. Seb deu-lhe o en­dereço, e os dois combinaram que jantariam juntos.

Depois de falar com a filha, Seb ligou para o corretor e marcou a visita para o começo da noite.

O próximo passo seria procurar um advogado para cuidar da transferência do imóvel, mas Seb considerava que seria mais sábio aceitar o conselho de Guy e contratar os serviços de Jon Crighton para isso.

Katie olhou de relance para seu relógio. Precisava partir se pretendia chegar na hora ao encontro com o corretor. Levan­tando-se da mesa, ela apanhou seu telefone celular e colocou-o dentro da bolsa.

Sentia-se feliz por ter aceitado o conselho da mãe e ido até Manchester para comprar algumas roupas novas. O calor dos últimos dias não combinava com as roupas recatadas e formais que costumava usar. A roupa que vestia naquele dia servia tanto para o escritório como para algum compromisso informal. O vestido de linho negro abotoado nas costas caía suavemente sobre seu corpo, fazendo-a sentir-se confortável e elegante.

Passara muito tempo sem comprar roupas novas. Dizia a si mesma que não gostava de ostentar riqueza para as pessoas necessitadas com quem trabalhava. Além disso...

Ela sentiu um aperto na garganta. Para que parecer atraente e feminina se sabia que o homem que amava nunca seria seu? Talvez seu amor por Gareth fosse alguma daquelas situações estranhas que sempre envolviam irmãos gêmeos. Afinal de contas, a própria Louise se apaixonara uma vez por um homem casado. Mas então encontrara o amor verdadeiro com Gareth, e deixara tudo para trás. Ainda que achasse impossível amar outro homem como amava Gareth, Katie sabia que precisava levar sua vida da melhor forma possível, esquecendo aquele amor proibido.

Katie caminhou até a janela, olhando para a movimentada rua que tantas vezes percorrera a pé, junto com a irmã. Como gêmeas, as duas sempre haviam sido muito próximas, ainda que seus temperamentos fossem diferentes. Juntas haviam ido para a universidade, onde conheceram Gareth Simmonds, um dos professores do curso que faziam.

Gareth, por quem Katie se apaixonara platónica e idealisticamente...

Gareth reunia todas as qualidades que ela sempre procurara em um homem... Era agradável, calmo, gentil e atencioso... Mas Gareth, por sua vez, apaixonara-se por Louise... E nunca seria seu.

As lágrimas turvaram momentaneamente a visão de Katie, mas ela secou-as rapidamente. Havia prometido a si mesma que encontraria uma forma de sufocar aquele amor, passando a enxergar Gareth apenas como seu cunhado. Mas cada vez que se encontrava com a irmã gêmea e seu amado marido sentia a dor da solidão ao vê-los juntos e felizes. Sabia que estava magoando Louise com seu afastamento repentino e a recusa em visitá-los. Também sabia que seu comportamento preocupava seus pais, especialmente sua mãe. Mas o que po­deria fazer ou dizer? Jamais revelaria o real motivo para agir daquela forma. E agora ainda havia a dor adicional de ver Louise e Gareth felizes com seu bebê.

Do outro lado da rua, o relógio da igreja anunciou a hora cheia, retirando Katie de seus pensamentos dolorosos. Se não partisse imediatamente chegaria atrasada.

Pegando sua jaqueta ela saiu da sala, fechando a porta atrás de si.

Cerca de meia hora mais tarde, Katie parou seu carro no estacionamento para visitantes do prédio, onde uma garota ob­viamente impaciente esperava por alguém. Alta e magra, com longos cabelos negros e olhos cinzentos, a adolescente usava jeans e camiseta branca, e sorriu amistosamente para Katie assim que ela desceu do carro. Instintivamente, ela sorriu de volta, pergun­tando a si mesma por que a garota parecia tão familiar.

— Oi! Estou esperando por meu pai — a garota anunciou. — Posso ver por que ele se interessou por esse apartamento... Mamãe vai adorar o lugar. Não sei onde papai está — ela acrescentou, olhando para o relógio. — Ele me pediu para en­contrá-lo aqui às quatro e meia. Por um acaso ele lhe telefonou para avisar que iria se atrasar?

Ao ouvir aquilo, Katie compreendeu que a garota a estava confundindo com o corretor de imóveis, mas antes que pudesse esclarecer o equívoco a menina continuou:

— Acho que meu pai já lhe disse que trabalha na Aarlston-Becker. Ele é chefe do Departamento de Pesquisas — con­fidenciou, com um toque do mais genuíno orgulho filial.   — Estudo em um colégio em Manchester, e temos família aqui em Haslewich, então...

— Ah, ele chegou! — a garota exclamou quando um Mercedes adentrou na área de estacionamento.

Atrás dele vinha o pequeno carro que Katie reconheceu como sendo o do corretor, mas ela não conseguiu prestar nenhuma atenção no homem, por estar totalmente concentrada no Mer­cedes... e em seu motorista. Agora ela sabia por que os cabelos e olhos da menina haviam lhe parecido tão familiares. O homem que desceu do carro não era ninguém menos do que aquele que quase a atropelara em seu primeiro dia de trabalho.

Pela expressão em seu rosto, ficava claro que o homem tam­bém a reconhecera. Mas antes que qualquer um dos dois pu­desse dizer qualquer coisa o corretor se aproximou.

— Espero que vocês não se importem, mas como ambos me ligaram e pediram para ver os apartamentos na mesma hora, marquei uma visita conjunta.

— Você está comprando um desses apartamentos? — as palavras saíram da boca de Katie antes que ela pudesse evitar.

O frio olhar que o homem lhe dirigiu como resposta indicou que a ideia de tê-la como vizinha também não o agradava nem um pouco. Mas sua filha correu em sua direção para abraçá-lo, o que temporariamente desviou sua atenção, e Katie ficou ali­viada ao perceber que ele não iria responder verbalmente ao seu comentário impetuoso.

— Muito bem, então vocês podem me acompanhar — o cor­retor sugeriu.

— Você está interessada em comprar o apartamento nove, srta. Crighton — o homem comentou na porta de entrada do prédio, checando a informação em uma ficha que segurava nas mãos. — E o senhor quer adquirir o apartamento dez, certo, sr. Cooke?

Cooke... Aquele homem que parecia ser jovem demais para ser pai de uma adolescente era um Cooke, Katie refletiu. Com curiosidade, Katie olhou discretamente em sua direção, mas arrependeu-se logo em seguida quando foi flagrada por ele enquanto o estudava.

Katie desviou o olhar o mais rápido que pôde, não sem antes confirmar que ele possuía todos os traços belos e sensuais que distinguiam os Cooke. A mesma aura de masculinidade e perigo que todos os homens daquela família pareciam herdar de seus ancestrais ciganos.

— Na verdade — o corretor continuou, enquanto se dirigia para o elevador —, vendo que vocês dois serão vizinhos e só há dois apartamentos na cobertura, talvez eu deva apresen­tá-los um ao outro. — Virando-se para Katie, ele anunciou: — Srta. Katie Crighton... Sr. Seb Cooke...

"Então ela é uma Crighton, mas exatamente de qual ramifi­cação da família?", Seb perguntou-se com curiosidade, enquanto examinava Katie com o canto do olho. De perto, pôde perceber que ela era mais bonita do que parecera no outro dia, na rua. Ainda que seus olhos demonstrassem claramente o quanto aquela situação lhe desagradava, possuiam um brilho intenso. Os cabelos balançavam suavemente com a brisa, e caiam em uma onda sobre seus ombros. O vestido negro que usava, embora discreto e elegante, ressaltava toda sua feminilidade. Para ser sincero consigo mesmo, tinha de admitir que ela possuía um corpo surpreendentemente voluptuoso para alguém tão magra. Sem perceber que seu gesto podia ser mal-interpretado, Seb franziu as sobrancelhas. Por que estava reparando na voluptuosidade do corpo de uma jovem desconhecida? Ainda que seu trabalho o mantivesse afastado por anos de sua família ou de qualquer ligação mais séria com as mulheres, ele jamais se comportara como um homem das cavernas.

Ao vê-lo franzir as sobrancelhas, Katie imediatamente in­terpretou o gesto como um sinal de desagrado. Atingida em sua auto-estima, disse a si mesma que um homem tão sensual e rude jamais poderia sentir-se atraído por alguém como ela. Não que ela quisesse ser atraente para ele.

Examinando-o mais de perto, convencera-se de que ele de­finitivamente não era seu tipo. Muito agressivo, muito arro­gante e muito, muito sexy. Oh, sim, sexy demais, isso ela pre­cisava admitir...

— Se você é uma Crighton, posso lhe perguntar se... você tem uma irmã gémea?

A pergunta um tanto quanto envergonhada de Charlotte interrompeu os pensamentos de Katie, que imediatamente con­centrou-se na garota. Provavelmente Charlotte ouvira as his­tórias sobre a família Crighton, e sobre como regularmente ela produzia gerações de gémeos.

— Charlotte... — Seb começou, interrompendo-se quando Katie balançou a cabeça com um sorriso.

Diferente do que sentira sobre seu pai, Katie simpatizara imediatamente com Charlotte. Sabia que a pergunta impulsiva da garota era a simples expressão de uma curiosidade natural e justificável.

— Bem, para dizer a verdade, tenho uma irmã gémea sim — explicou continuando a sorrir.

— E ela vive aqui em Haslewich também? Vocês duas vão dividir esse apartamento? — Charlotte perguntou interessada.

Katie meneou a cabeça negativamente.

— Não. — Por um instante, sua expressão tornou-se um pouco sombria, fato que não passou despercebido para Seb, ainda que Charlotte o tivesse ignorado completamente. — Louise, minha irmã, é casada e vive em Bruxelas com... Gareth, seu marido...

Por que ela hesitara para mencionar o nome de seu cunhado? Seb poderia jurar que percebera até mesmo um tom desolado na voz de Katie. Será que as duas tinham se desentendido? Talvez o casamento da outra houvesse causado um afastamento entre as irmãs...

Franzindo as sobrancelhas novamente, Seb parou para es­perar que Katie e Charlotte entrassem no elevador antes dele. Por que estava perdendo tempo se preocupando com uma mu­lher que não tinha a menor intenção de conhecer?

Inconscientemente, Seb admirou a boca de Katie por um momento. Era ao mesmo tempo delicada e carnuda... como que feita para ser beijada. Ele podia até mesmo imaginar-se fazendo aquilo... como se sentiria... e como ela se sentiria...

— Aqui estamos... Este andar, naturalmente, é de uso ex­clusivo de vocês, que receberão uma chave especial.

Seb forçou-se a voltar rapidamente para a realidade.

Enquanto isso, Katie saía do elevador para o hall exclusivo do líltimo andar sentindo-se bastante perturbada. O que estava acontecendo com ela? Por que estava experimentando aquelas sensações tão estranhas, como se... como se...

Instintivamente, ela levou os dedos aos próprios lábios. O único homem que se imaginara beijando antes fora Gareth. O único homem que desejara beijar era Gareth, e não...

Afastou aquele pensamento rapidamente, recusando-se a per­guntar-se por que fantasiara que estava sendo beijada de forma íntima e apaixonada por aquele homem que nem conhecia direito.

Lembrou a si mesma que Gareth era a completa antítese de Seb Cooke. Gareth era gentil, agradável e controlado, enquanto Seb era agressivo e possuía uma espécie de aura sensual que...

Katie estremeceu. O que poderia querer com um homem tão rude e perigosamente sensual?

— Este é seu apartamento — o corretor anunciou para ela, abrindo a porta. — Como sabe, por estar no último andar ele possui uma varanda particular, enquanto o seu... — ele con­tinuou, virando-se para Seb —, tem a vantagem de um quarto extra, que pode ser usado como escritório. — Sempre sorrindo, o homem atravessou o hall e abriu a outra porta.

Aproveitando-se da distração dos homens, Katie entrou em seu apartamento.

Cinco minutos depois havia completado sua visita, e era forçada a admitir que o lugar lhe parecia ainda melhor do que da primeira vez. Além de ser muito bem dimensionado, possuía uma atmosfera acolhedora, e de suas janelas se descortinava uma vista maravilhosa.

O corretor deixou Seb sozinho com Charlotte no outro apar­tamento, enquanto foi verificar se Katie tinha alguma pergun­ta. Seb olhou para a filha com olhar inquisidor e começou:

— Bem...

— É muito legal! — Charlotte declarou sorrindo. — Adorei os banheiros... No do seu quarto você pode até mesmo colocar uma banheira de hidromassagem, se quiser.

— Se eu quiser — Seb concordou, para adicionar em seguida: — Mas eu não quero...

Sua expressão séria não resistiu ao gesto seguinte da garota, que aproximou-se abraçando-o e beijando-o com carinho.

— Adorei esse lugar... E gostei de Katie Crighton... O senhor também não gostou?

Seb franziu as sobrancelhas enquanto Charlotte lhe dirigia um olhar da mais absoluta inocência. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa o corretor de imóveis retornou.

Dez minutos depois Seb saía da propriedade, logo em seguida dos carros de Katie e do corretor. Mentalmente, enumerava as providências que deveria tomar, entrando em contato com Jon Crighton para cuidar da compra do apartamento. Agora que estava decidido a comprá-lo precisava tratar das formali­dades para se mudar o mais depressa possível.

Enquanto dirigia seu carro pela estrada, sendo seguida de perto pelo corretor e por Seb Cooke, Katie dizia a si mesma que aquele homem era a última pessoa que desejaria para ser seu vizinho. Ainda assim, tentou reconfortar-se com o pensa­mento de que provavelmente o veria muito pouco, já que pelo que Charlotte dissera o homem devia trabalhar muito. Além disso, ele também não parecera nem um pouco entusiasmado com a ideia de tê-la como vizinha.

Como seria sua esposa? Muito glamourosa e sexy, sem ne­nhuma dúvida. Seb era o tipo de homem que exalava sexua­lidade... Tão diferente de Gareth. Gareth era do tipo com quem se poderia passar horas aninhada em frente a uma lareira... Gareth exalava conforto, proteção, segurança e...

Nenhuma mulher jamais poderia ver tais qualidades em Seb Cooke, especialmente a segurança. Bastava lembrar-se da reputação de sua família. Além disso, ele transmitia uma ener­gia sexual que despertara nela emoções fortes e desconhecidas.

A forma como ele a olhara. Katie ficou tensa ao lembrar-se do que sentira quando apenas imaginara a boca de Seb sobre a sua. Aquilo havia sido um erro, um acidente ridículo causado por sua solidão, e pela proximidade daquele corpo másculo. O próprio Seb poderia explicar aquilo muito bem, uma vez que era um cientista e devia estar acostumado com as reações quí­micas e involuntárias do corpo humano.

Aliviada, Katie viu pelo espelho retrovisor que o carro de Seb virava na direção contrária a sua quando chegaram a um cruzamento, e tentou afastar aqueles pensamentos da cabeça enquanto se encaminhava para a casa de seus pais.

 

                                                   CAPÍTULO III

Humm... Mas que cheiro maravilho­so! — Katie elogiou quando entrou na cozinha, onde sua mãe preparava o jantar.

— Você não se esqueceu de que vamos receber alguns con­vidados para um jantar informal, não é? — Jenny perguntou, sem desviar o olhar da torta que acabava de montar.

— Ai, meu Deus! Para dizer a verdade, esqueci sim — Katie admitiu, acrescentando à guisa de explicação: — Foi uma se­mana tão atarefada, ainda mais por Olívia ter precisado se afastar por alguns dias.

— Bem, pelo menos o médico confirmou que a febre das crianças é apenas um resfriado, e nada mais sério, como Olívia temia. Você vai jantar conosco, não?

— Quando os convidados vão começar a chegar?

— Em cerca de uma hora — sua mãe informou.

— Certo, vou subir para tomar um banho e trocar de roupa e então desço para lhe dar uma ajuda. Papai já voltou? — Katie perguntou, enquanto tentava pegar um pedaço da massa da torta que sua mãe preparava.

— Acabou de chegar... Isso vai lhe dar indigestão — Jenny avisou, dando um tapinha amistoso na mão da filha. — Ah, quase ia esquecendo! Liguei para Louise hoje de manhã...

Katie ficou subitamente tensa. Qualquer menção ao nome da irmã a relembrava do vazio de sua vida quando comparada à felicidade que Louise experimentava ao lado de Gareth.

— Como você sabe, vamos fazer uma grande festa para comemorar o aniversário de seu avô em breve — sua mãe continuou. — Bem, tanto eu quanto Maddy estamos empenhadas em reunir o maior número possível de parentes. Ter a família por perto vai significar muito para Ben agora que ele está tão frágil...

Katie olhou-a inquisitoriamente.

— Será que ele realmente se importa? Bem, ele certamente nunca demonstrou isso — ela comentou secamente. — Com exceção de Max e do tio David, vovô nunca pareceu se importar com ninguém.

— Oh, é apenas o jeito dele — Jenny contemporizou. — Você não acreditaria se soubesse como ele sente orgulho de você e Louise.

— Tem razão, não acreditaria — Katie retrucou com tristeza.

— Quando soube que nós duas estávamos indo para a faculdade para estudar Direito, nos disse que mulheres e leis simples­mente não combinavam. Que nós, mulheres, somos muito emo­cionais para sermos boas advogadas...

— Concordo que ele é um pouco antiquado — Jenny admitiu.

— E depois que David partiu... — ela silenciou com um suspiro.

— A senhora acredita que o tio David vai voltar algum dia?

— Katie perguntou com curiosidade. — Quero dizer, depois de ter desaparecido daquele jeito... Sei que Olívia gostaria que o pai voltasse, mas Jack...

Katie ficou em silêncio por um momento, enquanto ela e a mãe recordavam que o desaparecimento do pai fizera Jack sentir-se rejeitado, não importava quanto amor ele havia re­cebido posteriormente de seus tios Jon e Jenny.

— Não sei se David vai voltar — Jenny comentou. — Nem mesmo sabemos onde ele está. Mas para Ben... — Ela fez uma pausa e mordeu o lábio. Katie sabia no que a mãe estava pensando.

— O vovô está muito frágil — Katie observou pensativa. — E se o tio David pretende voltar, espero que ele não demore muito tempo... ou então será tarde demais...

— Não creio que será fácil para David voltar. Além disso, não estou bem certa de que ele possui a coragem necessária para... — Jenny interrompeu-se.

— Ele era muito parecido com Max, não? — Katie perguntou. — Mas Max mudou, então...

— Max realmente mudou — sua mãe concordou, mudando de assunto rapidamente. — O que me faz lembrar que ele e Maddy estarão aqui hoje, e ela me disse que precisa falar com você. Eles estão planejando comprar mais uma casa para au­mentar as instalações da Casa de Amparo, e querem que você cuide da parte legal.

— Está bem, falo com ela mais tarde — Katie concordou, pensativa. — Quem mais vem?

— Deixe-me ver... Olívia e Caspar, Tullah e Saulo... e mais algumas pessoas. Ah, Chrissie e Guy também virão...

— Guy Cooke? — Katie perguntou tão rapidamente que sua mãe olhou-a atentamente, estranhando principalmente o acento com que a filha falara o sobrenome Cooke.

— Sim, por quê?

Pela surpreendente reação de Katie, Jenny achou melhor não comentar que Guy levaria seu primo, Seb, para o jantar. Se a filha ficara daquela forma à simples menção do nome Cooke, o que faria se soubesse que seriam dois os represen­tantes da família naquela noite?

Jenny nunca encontrara Seb Cooke, mas havia ouvido Guy e Chrissie falarem dele. Maternal e generosa, insistira para que os dois trouxessem o primo ao jantar, principalmente ao saber que ele ainda se sentia deslocado na cidade.

— Ele não é muito fácil — Guy avisou-a. — Na verdade, algumas pessoas sentem-se intimidadas em sua presença. Seb é um cientista, e naturalmente é muito reservado e observador. Além disso, também sentiu na pele, como eu, o que é tentar ser um homem normal vindo de uma família com a reputação da nossa.

Katie subiu a escada para se aprontar com uma expressão preocupada no rosto. Naquela mesma tarde seu pai pedira que assumisse alguns casos de que não estava dando conta, e um deles era de um novo cliente.

— E um bom sujeito. Você vai gostar dele — Jon havia assegurado com um sorriso. — Seb Cooke... Ele...

— Seb Cooke! Você quer que eu trabalhe para ele?

Seu pai ergueu uma sobrancelha ao ouvir o tom de anta­gonismo na voz de Katie.

— Qual o problema? Eu pensei...

— Não há nenhum problema... — Katie desconversou, recuperando a compostura. Como poderia explicar todas as sensacões que aquele homem lhe provocara em seu último encon­tro? Tudo por causa daquela sensualidade explicita... Daquele magnetismo poderoso e intimidante. — É que ele está com­prando o apartamento ao lado do meu — ela continuou, em tom de explicação.

—Sim, eu sei — Jon informou, começando a passar-lhe as instruções sobre o caso em seguida.

Marcara uma reunião com Seb para a segunda-feira, um compromisso ao qual ela deveria comparecer. Felizmente, o trabalho não seria nem um pouco complicado, bastava que ele assinasse alguns formulários. E então, com alguma sorte, em uma semana tudo estaria acabado. Era óbvio que depois teria que conviver com a perspectiva de encontrá-lo a qualquer mo­mento no prédio onde iriam morar, mas Katie estava conven­cida de que conseguiria manter-se distante daquele homem perturbador.

E que tipo de homem ele era, afinal? Estava comprando o apartamento apenas em seu nome, o que lhe parecia um chau­vinismo incompatível com os dias atuais. E como seria sua mulher? Será que ela concordara com aquilo?

Debaixo do chuveiro, Katie perguntava-se que tipo de relação os dois teriam. Imaginava se Seb era capaz de sorrir com um brilho afetuoso nos olhos cinzentos ao encarar a mulher.

Ela meneou a cabeça, preocupada. Se não tomasse cuidado, logo se tornaria uma mulher amarga, solitária, e sem vida própria. Aquele tipo de mulher cujo principal passatempo era imaginar como seria a vida dos outros.

Enrolando-se na toalha ao sair do chuveiro, Katie voltou para o quarto, caminhando até a janela. O sol ainda brilhava, e certamente teriam uma noite agradável. Abrindo o guarda-roupa, procurou por algo apropriado para vestir. A saia de cambraia que escolheu era prática e bonita, com um caimento perfeito. Além disso, formava um belo conjunto com a camiseta que fora presente de Louise.

Katie sorriu ao lembrar-se do dia em que ganhara aquela camiseta. A considerara muito apertada e sexy, e fora pron­tamente repreendida pela irmã.

— Não há motivo para você se vestir de maneira tão séria, Katie — Louise havia dito. — Tem um corpo lindo, mais bonito do que o meu.

Katie desceu a escada cinco minutos depois, e tirou sua mãe da cozinha, para que ela fosse preparar-se para receber os convidados.

— Não se preocupe, mamãe, eu acabo tudo por aqui...

— Você faz mesmo isso? Oh, Katie querida, muito obrigada... Mas já que está sendo um amor será que também não pode arrumar as flores que coloquei na lavanderia? Você parece ter herdado o talento da tia Ruth para fazer arranjos lindos...

— Sei... Fico me perguntando de que parente a senhora herdou esse talento para mentir....— Katie brincou com a mãe enquanto se dirigia para a lavanderia.

 

                                             CAPITULO IV

Você vai adorar Jenny e Jon — Chrissie garantiu a Seb quando ele entrou no carro. — Oh, esqueci-me de que você já deve ter conhecido Jon, já que ele vai cuidar da comprando apartamento para você.

— Na verdade, não o conheci — Seb informou. — Marcamos uma reunião na segunda-feira para assinar o contrato, mas parece que ele está muito ocupado e deixou o meu caso aos cuidados de sua filha.

— Sua filha... — Guy franziu as sobrancelhas pensativo, e finalmente sorriu. — É claro! Havia esquecido que Katie agora está trabalhando com Jon e Olívia.

— Katie... Katie Crighton? — Seb perguntou com incredulidade. Guy trocou um olhar de cumplicidade com a mulher antes de responder.

— Sim, você a conhece?

— Já nos encontramos — Seb informou brevemente. E então, percebendo que a curiosidade dos primos não estava saciada, continuou. — Parece que ela está comprando o apartamento ao lado do meu.

— É mesmo? — Chrissie perguntou interessada. — Da úl­tima vez que conversamos Jenny havia me dito que a filha estava procurando uma casa.

— Além disso, é óbvio que conheço a família — Seb adicionou com cinismo. — Assim como os Cooke, os Crighton também são muito famosos em Haslewich, ainda que por motivos di­ferentes. Pelo que sei, são considerados "cidadãos honoráveis", sempre envolvidos com caridade... Lembro-me até de ter ido a uma festa deles quando era criança, um típico exemplo de que água e óleo não se misturam. Os ricos distribuindo algumas migalhas para as pobres crianças necessitadas...

— Sim... me lembro dessa época — Guy confirmou. — Mas as coisas são completamente diferentes agora. Jon não tem nada a ver com seu pai, e a geração mais nova dos Crighton é feita por pessoas talentosas e interessantes, e tenho certeza de que você apreciará sua companhia.

Seb achou inútil comentar com seu primo que os dois en­contros que tivera com Katie Crighton não o deixavam muito entusiasmado com a perspectiva de conhecer outros membros da família. Aliás, se soubesse antes que aquela mulher parti­ciparia do jantar teria feito qualquer coisa para recusar o con­vite. Mas agora era tarde.

Ele franziu as sobrancelhas quando a imagem de Katie, da forma como a vira da primeira vez, teimou em insinuar-se em sua mente. Seb sentiu os músculos de seu estômago retorce­rem-se, como que protestando pelas emoções que aquela me­mória evocava. Com trinta e oito anos, não era nenhum garoto inexperiente para ter aquele tipo de reação diante de uma bela mulher, e sempre pensara que era hábil o bastante para se controlar. Só que seu corpo estava provando que se enganara.

Irritado, Seb tentou recuperar-se do impacto que a lembran­ça de Katie lhe provocara enquanto Guy atravessava os portões da confortável casa de Jon e Jenny.

A noite agradável e quente foi um motivo perfeito para Jenny organizar uma mesa de coquetéis no jardim, sob as árvores de um pequeno e simpático pomar. Enquanto Seb seguia Guy e Chrissie, atravessando a trilha de arbustos que separava o pomar do resto do jardim, a primeira pessoa que viu foi Katie.

Ela estava de costas, conversando com Saulo Crighton, que Seb conhecera no trabalho. Nas mãos, segurava um copo com um ilíquido semelhante a vinho.

Seb tinha que admifir que a cena não poderia ser mais idílica. A mesa estava decorada com flores do campo, a brisa da noite acentuava o odor das rosas e o ar cálido era preenchido por vozes agradáveis. Até mesmo a meia dúzia de crianças reunidas em um dos cantos do pomar era harmoniosa, brincando sem fazer aquele costumeiro barulho insuportável.

— Venha, quero lhe apresentar para Jenny e Jon — Guy avisou, tocando levemente em seu braço para conduzi-lo até um casal que estava parado alguns passos à frente.

Cinco minutos depois, Seb sentia-se forçado a admitir que Chrissie estava certa quando dissera que ele iria gostar de Jenny e Jon. Jenny, em especial, era atenciosa e acolhedora. E antes que soubesse direito o que fazia, Seb viu-se confiden­ciando a ela que a principal razão para voltar para Haslewich era o fato de ficar mais próximo da filha.

— Fui um pai muito ausente nos primeiros anos de vida de Charlotte — ele admitiu. — Tive muita sorte por ela me perdoar. Ela, por sua vez, teve a sorte de encontrar no segundo marido de minha ex-mulher todo o amor e apoio que eu falhei em lhe dar.

— Não devemos nos culpar pelos erros da juventude — Jenny considerou com gentileza. — E você devia ser bem novo quando sua filha nasceu.

Do outro lado do pomar, Katie se dirigia para a mesa das bebidas para pegar mais um pouco de cooler para a esposa de Saulo, Tullah, quando a mulher a alcançou e sussurrou admirada:

— Quem é aquele homem que está com sua mãe? Quando Katie virou-se para olhar, seus olhos estreitaram-se de espanto e descrença.

— Ele... é Seb Cooke — informou brevemente.

— Você o conhece? — a outra mulher perguntou.

— Vagamente — Katie admitiu com relutância. — Ele está comprando o apartamento ao lado do meu...

— É mesmo? Nossa! Sorte sua... — acrescentou com um sus­piro, sorrindo logo em seguida, quando seu marido se aproximou.

— O que foi?

— Nada demais — Tullah respondeu, pegando carinhosa­mente no braço de Saulo antes de continuar. — Ele é bem bonito, e agora que sei que é um Cooke posso ver como é parecido com Guy.

Saulo virou-se para olhar de relance para Seb.

— Sim... ele causou um verdadeiro furor quando chegou nos laboratórios de pesquisa — admitiu. — Parecia até que as garotas iriam organizar uma fila para ver quem sairia primeiro com ele.

— Ele é um homem casado — Katie protestou com uma expressão desaprovadora.

— Você quer dizer que ele era um homem casado — Saulo a corrigiu. — De acordo com minhas fontes na Aarlston-Becker, está divorciado há muitos anos.

Seb Cooke era divorciado. Inexplicavelmente, Katie sentiu suas pernas fraquejarem, e por um breve momento desejou estar sentada. A revelação de que a mulher glamourosa e sexy que imaginara não existia causou-lhe uma reação inexplica­velmente forte.

— Por que você não vai até lá e oferece uma bebida para ele? — Tullah sugeriu, piscando para Katie.

— Estou certa de que se ele quiser um drinque vai pedir... Além disso, acabei de me lembrar de que deixei uma coisa no meu quarto — ela mentiu, um tanto ruborizada, e então virou-se com a intenção de voltar para casa e ficar o mais distante possível de Seb.

Infelizmente, seu pai a viu, e chamou-a no mesmo instante. Relutante, ela caminhou até o grupo que também reunia, além de seus pais e Seb, Guy e Chrissie.

— Katie, estava explicando para Seb as providências que você vai tomar no caso dele — Jon comentou quando ela se aproximou.

— Sua filha e eu já nos conhecemos — Seb informou quando o homem preparava-se para apresentá-los.

Enquanto respondia ao cumprimento nitidamente forçado, Katie perguntava-se se só ela notara o tom distante na voz daquele homem ao dizer "sua filha".

— É uma grande coincidência que vocês dois vão ser vizinhos de apartamento — Chrissie comentou com leveza.

Seb fez um muxoxo antes de responder.

— Aqueles apartamentos são ideais para quem mora sozi­nho. Os comodos! têm um bom tamanho, são fáceis de limpar, e além disso a vista é muito bonita.

— Bem... Tomara que a incorporadora tenha reformado as quadras de tênis, assim os moradores vão poder desfrutar de mais esse benefício.

— Você joga ténis, Seb? — Jenny perguntou com simpatia.

— Costumava jogar — Seb informou. — Se bem que...

— Katie joga — Chrissie interrompeu-o. Sentindo-se enrubescer, Katie negou rapidamente.

— Não jogo mais... Não tenho tempo, e desde que Louise casou...

— Louise é a irmã gêmea de Katie — Chrissie explicou para Seb. — Ela vive com o marido em Bruxelas.

— Quando ela virá visitá-los novamente, Jenny? — ela per­guntou para a mãe de Katie.

— Estamos planejando uma festa para Ben, e tenho certeza de que ela virá — Jenny respondeu, virando-se em seguida para a filha. — Agora, Katie, por que você não acompanha Guy, Chrissie e Seb até a casa para que eles peguem algo para comer? Gosto de ter certeza de que minhas vítimas es­tejam bem alimentadas antes de atacá-las — ela acrescentou, sorrindo para Seb.

— Antes de atacá-las? — Seb não conseguiu deixar de per­guntar quando Katie fez um sinal para que fossem até a casa.

— Bem... — Guy ia começar a explicar, mas Katie o interrompeu,

— Minha mãe faz uma série de trabalhos de caridade. E está sempre tentando levantar fundos para manter uma casa de caridade da família, fundada pela minha tia Ruth.

— Todos nós fazemos o possível para ajudar — Chrissie acrescentou entusiasticamente. — Mas o trabalho mais pesado acaba ficando para Jenny e Maddy.

— Graças a Saulo, por exemplo — ela continuou —, a Aarlston-Becker promove todos os anos um "Dia Especial" para as crianças. Aliás, ele já está chegando, não é mesmo, Katie?

— Parece que sim... E nesse ano a Aarlston planeja fazer uma festa conjunta com todos os seus funcionários, o que sig­nifica que toda sua gerência vai estar envolvida no evento.

— Sim, estive em uma reunião nessa semana — Guy confirmou. — E devo avisá-lo de que todos esperam que você participe, Seb,

— O trabalho de Guy consiste em organizar as tendas e contratar as atrações — Chrissie explicou.

Guy encolheu os ombros com modéstia.

— Não é nada demais. Montamos tudo no Fitzburgh Place, que tem uma boa infra-estrutura. E você ficaria surpreso com o número de pessoas talentosas que trabalham na Aarlston.

— E não esqueça as da sua família. — Chrissie relembrou-o. — No ano passado uma vidente foi a grande atração. Quem é ela? Você nunca me disse...

— E vou continuar sem dizer — Guy brincou. — Sua iden­tidade é um segredo profissional.

— Hummm... Bem, pelo menos sei que ela é uma Cooke.

— Isso é claro. O que mais se poderia esperar de nossos genes ciganos? — Guy comentou divertido.

O grupo chegou à casa, e Katie conduziu-os até a sala onde estava o buffet principal. Assim que os deixou à vontade, ela considerou que já havia cumprido sua obrigação, e que em breve poderia escapar. Precisava sair dali o quanto antes, pois a presença de Seb realmente perturbava seus sentidos.

Quando eles começavam a se servir, Saulo, Tullah e seus filhos chegaram com outro grupo de pessoas. Logo Saulo e Seb começaram a conversar sobre algum assunto de trabalho, e inexplicavelmente, em vez de voltar ao jardim, Katie continuou ali, observando a cena.

Saulo disse algo que fez Seb rir. Foi a primeira vez que Katie o viu relaxado, e sentiu-se ainda mais confusa pelas emoções conflitantes que cada atitude daquele homem lhe des­pertava. Não estava atraída por ele, disse a si mesma com ferocidade. Não podia estar, pois amava Gareth.

A filha de Saulo aproximou-se dos dois e abraçou o pai. Katie pôde perceber instantaneamente uma sombra turvar os olhos de Seb.

Ele invejava Saulo. Mas por quê? Katie havia visto como ele e Charlotte eram próximos, e o quanto se amavam.

Como se adivinhasse o que Katie estava pensando, Chrissie aproximou-se e comentou em voz baixa:

— Seb sente-se culpado por ter sido um pai ausente quando Charlotte era criança.

— Ele abandonou a mulher e a menina? — Katie indagou com voz cortante.

Ela havia virado as costas para os dois homens, e não per­cebera o quão alto sua voz soara. Na verdade, só percebeu o que fizera quando ouviu a voz máscula atrás de si.

— Não, eu não as abandonei.

O rosto de Katie começou a queimar enquanto Chrissie se afastava discretamente, deixando-a enfrentar Seb sozinha.

Katie sabia que precisava pedir desculpas. Mas por algum motivo inexplicável, uma insubordinação que jamais se mani­festara nela, sentiu-se impelida a atacá-lo. Sem pensar no que fazia, ela virou-se para sair da sala, não sem antes declarar por sobre o ombro:

— Mas você as deixou, as desprezou...

Rapidamente Katie dirigiu-se para a estreita passagem que ligava a sala em que estava à lavanderia, de onde pretendia escapar para o jardim. Mas para seu desgosto percebeu que Seb a seguia, e foi mais rápido para interpôr-se entre ela e a porta.

— Por que você...

Katie interrompeu-se ao olhar para Seb e ver o quanto ele estava irritado. Um arrepio de medo percorreu sua espinha, mas ela recusou-se a parecer intimidada.

A proximidade daquele corpo másculo tornava a passagem um tanto quanto claustrofóbica. Mas quando ela tentou con­tinuar seu caminho ficou chocada ao sentir que Seb segurava seu braço com firmeza.

— Ali, não, você não vai a lugar nenhum... O que lhe dá o direito de me julgar? — ele perguntou com raiva. — Você já foi casada? Já teve um filho? Claro que não, você...

"Você não passa de uma garota mimada, que sempre teve tudo o que quis", Seb ia dizer, mas interrompeu-se ao ver uma palidez quase mortal tomar conta do rosto de Katie.

Ela permaneceu encarando-o em silêncio. Como Seb podia co­nhecer seu humilhante segredo? Sentia o coração disparado dentro do peito. Ele não podia ter adivinhado como ela se sentia, podia?

Desde o momento em que Gareth e Louise haviam lhe in­formado que estavam apaixonados, Katie prometera a si mesma que encontraria uma forma de levar sua vida sem atrapalhar a felicidade da irmã.

Vinha conseguindo fazer isso em quase todos os aspectos, com exceção de um: negligenciara completamente sua vida amo­rosa, pois sabia que jamais encontraria um substituto para Gareth em seu coração.

Na verdade, o amor pelo cunhado surgira em sua vida antes que tivesse experimentado qualquer relacionamento sério cora uni homem. Mas ela sentia-se incapaz de entregar-se a alguém movida apenas pela curiosidade, ou para livrar-se daquele "problema" chamado virgindade. E a situação só contribuía para que se sentisse ainda mais insegura quanto à própria feminilidade.

Entretanto, a última coisa que desejava naquele momento era ver Seb Cooke tripudiando sobre sua vida incompleta, e por isso tentou livrar-se com impaciência.

— Deixe-me ir...

Deixá-la ir... Só então Seb percebeu que ainda segurava seu braço. Mas já que estava ali... já que ela chamara atenção para o fato de ser sua prisioneira. Ela que o havia acusado... criticado e condenado...

— Pare com isso... o que você está fazendo? — Katie protestou em pânico quando sentiu a pressão do corpo másculo contra o seu. Seb colocou uma das mãos em seu ombro, e a outra desceu lentamente até sua cintura, puxando-a ainda mais para si.

No instante seguinte, ele cobriu os lábios entreabertos de Katie com os seus. E ela percebeu, assustada, que o contato lhe provocava sensações ainda mais intensas do que todas as que já experimentara desde que conhecera Seb.

Rapidamente ela se esqueceu de todas suas preocupações, e começou a retribuir o beijo com paixão. As carícias experientes de Seb contribuíam para deixá-la ainda mais enlevada, sem tempo para analisar o que estava acontecendo.

Seb levou a mão da cintura de Katie até a tentadora curva, de seus seios. Através do fino tecido da blusa, podia sentir sob seus dedos o delicado mamilo, que ficou instantaneamente in­tumescido com o toque. Katie notou, assustada, que o corpo de Seb também passou a reagir ao dela, e quase engasgou ao perceber todo o poder de sua masculinidade.

Quando uma das crianças gritou o nome de Katie do outro lado da porta, Seb voltou à realidade, afastando-se imediata­mente. Ela aproveitou a oportunidade para atravessar a pas­sagem, correndo para a segurança de seu quarto.

Pela janela, podia ouvir as risadas dos convidados, mas sentia-se muito confusa para voltar à reunião. Todo seu corpo continuava a tremer, completamente revolvido pelo que aca­bara de acontecer.

A forma como Seb Cooke a havia tratado, tocado, era im­perdoável... inesquecível... um insulto... uma violência contra suas emoções, e mais importante, contra seus princípios morais. Não o havia encorajado, nem mesmo o havia desejado.

Com o rosto ruborizado e os olhos fechados, Katie disse a si mesma, em voz baixa, que precisava ser honesta.

Apertando ainda mais os olhos, ela suspirou profundamente.

— Tudo bem, eu... correspondi, mas isso foi apenas físico... sentiria o mesmo por qualquer homem... — Mordendo o lábio inferior ela abriu os olhos. Será que aquilo era verdade?

Determinada, Katie cerrou os dentes. O que havia acontecido com Seb Cooke era apenas uma expressão muito natural de sensualidade. Um tanto perigosa, era verdade, mas uma ex­pressão de sensualidade. O amor por Gareth, sufocado por tanto tempo dentro de seu peito, combinado com o ódio que sentia por Seb, havia provocado aquela explosão.

A conclusão deixou-a aliviada por encontrar uma explicação plausível para a forma como correspondera ao beijo de Seb. Bem, não só correspondera, como também deixara aquilo bem claro para ele.

No andar inferior, Seb estava se despedindo dos anfitriões. Afortunadamente precisavam partir, pois Chrissie pretendia visitar os pais no dia seguinte.

Ele continuava sem entender o que acontecera para agir daquela forma com Katie Crighton. Conhecera muitas mulheres que usavam de todos os artifícios para levá-lo para a cama, mas com nenhuma delas se comportara de forma tão selvagem como com Katie.

Raiva e desejo Seb sabia que, sexualmente, não podia existir combinação mais perigosa. Sua experiência lhe dizia que para um homem, aquelas podiam ser apenas reações físicas... Talvez. Mas ele também sabia que o que sentira quando Katie cor­respondera às suas carícias possuía uma energia poderosa e incontrolável, O mesmo tipo de energia liberada por um fura­cão, ou um terremoto...

Maldita mulher! Ela era a última complicação de que pre­cisava em sua vida naquele momento, ou em qualquer outro. Mesmo assim, Seb deu-se ao luxo de fechar os olhos para relembrar do instante em que Katie abrira os seus, totalmente subjugada, expressando neles o mais absoluto prazer. Será que ela também perscrutara os olhos de Seb? Teria sentido... an­siado pela mesma coisa que ele?

Como ele desejara estar deitado ao lado dela, os dois completamente nus. Imaginara fazer carícias intermináveis, até vê-la tremer em um orgasmo poderoso e inesquecível.

Seb podia ter sido um mau pai e um mau marido, mas Sandra sempre deixara claro que ele era um amante passional e fora de série.

Um cientista sensual. Ele era uma contradição ambulante. Duas metades que, quando reunidas, só podiam causar dor e decepção.

Já no carro, Chrissie comentou com Guy, pensativa:

— Katie não me pareceu muito bem. Não a vejo mais feliz como era desde que Louise se casou... Acho que deve ser difícil para ela viver longe da irmã gêmea...

— Talvez... — Guy concordou. — Ela sempre foi a mais quieta das duas. Bem, ao menos deve ficar feliz em breve, quando Louise visitar a família para a festa de Ben.

— O que você achou dela, Seb? — Guy perguntou, soltando uma risada em seguida. — Ou não deveria perguntar isso? Acho que vi algumas faíscas saindo de vocês dois quando es­tavam juntos.

— Acho que ela é muito idealista e sentimental — Seb res­pondeu brevemente. — De qualquer forma, não é o meu tipo.

Guy e Chrissie permaneceram em silêncio, depois de se en­treolharem por um momento. Aquela não era a melhor forma de se começar um relacionamento entre futuros vizinhos.

 

                                             CAPITULO V

Pela enésima vez desde que chegara ao trabalho, Katie puxou para baixo a saia de seu taileur preto e formal. Jamais se vestira para o trabalho com tamanho cuidado ou ansiedade. Mas aquele conjunto, comprado por Loui­se em Londres, daria a Seb Cooke a exata impressão do que ela representava em sua vida: a advogada que cuidaria da transferência de seu apartamento, e nada mais do que isso.

— Meu Deus, você está linda! — Olívia comentou quando passou pela sala de Katie para cumprimentá-la. — Muito elegante.

— É um Armani — Katie sentiu-se obrigada a responder, admitindo em seguida: — Foi Louise quem me deu...

— Humm... É o tipo de roupa que os homens costumam fantasiar que as mulheres usam sem nada por baixo — Olívia murmurou maliciosa. — Ou pelo menos foi isso o que Caspar me disse quando comprei uma parecida.

Em qualquer, outra ocasião Katie riria da piada, mas par­ticularmente naquele dia, quando estava a apenas alguns mi­nutos de receber Seb Cooke em seu escritório, não achou a menor graça.

— Espero que você não esteja falando sério.

— Os homens nunca são sérios quando falam sobre sexo — Olívia brincou. — Só sei que quando Caspar me viu usando um conjunto que eu inocentemente achara perfeito e respeitável para uma audiência na corte, ele me garantiu que nenhum homem conseguiria se concentrar no processo.

A recepcionista bateu na porta levemente.

— Seb Cooke já chegou:— avisou.

— Humm... Seb Cooke — Olívia revirou os olhos, divertida. — Bem, devo dizer que, no seu lugar, suspeito que se tivesse Seb Cooke sentado a minha frente seria eu que não me con­centraria em nada, e ficaria só imaginando o que ele estaria usando por baixo...

— Olívia! — Katie protestou. — Eu não... ele não...

Mas Olívia já partira, deixando Katie sozinha. Logo depois a recepcionista voltou, acompanhada de Seb.

Não o encontrara desde o incidente na casa de seus pais. Depois de convidá-lo a sentar-se, Katie percebeu que ele parecia frio e controlado, ao contrário dela, que estava com os nervos à flor da pele.

— Isso não vai demorar muito — ela avisou no tom mais profissional que pôde encontrar, sentando-se em sua cadeira. — Os contratos estão prontos, basta você ler e assinar, e então vou tomar todas as providências necessárias.

— Otimo. Tenho que participar de uma conferência de ne­gócios, e gostaria de me mudar para o apartamento antes dela.

Katie não disse nada. Também estava ocupada fazendo os preparativos para se mudar o quanto antes, e quase se esque­cera do fato de que seriam vizinhos.

Teria ela mudado de ideia se o incidente ha casa de seus pais tivesse acontecido antes de comprar o apartamento?

Seb notou que, apesar da distância entre os dois, Katie não parecia totalmente confortável.

O que pensava que ele era? Alguma espécie de maníaco sexual, que pularia sobre ela sem aceitar uma recusa? Mas não podia dizer nada. Como poderia dar uma explicação ra­zoável para o que acontecera... e para o que continuava a acon­tecer enquanto ela lhe entregava os contratos para que assi­nasse? O estômago de Seb retraíra-se quando sentira o aroma suave que os cabelos de Katie exalavam, em reação ao desejo selvagem que se instalara em seu corpo.

Ao perceber que Seb virtualmente recuava cada vez que ela esticava o braço para lhe passar um contrato, Katie sentiu seu rosto começar a queimar. O que ele pensava que iria fazer... flertar com ele? Atacá-lo? A vontade de dizer-lhe que estava enganado era quase insuportável.

Deliberadamente mantendo seus olhos fixos nos papéis para evitar encará-lo, observou enquanto ele assinava os contratos.

Seb possuía dedos grandes e fortes, com unhas bem cuidadas. Suas mãos, ainda que grandes, tinham uma aparente flexibi­lidade que por alguma razão inexplicável fazia o coração de Katie bater mais rápido.

Ela fechou os olhos por um momento, desejando que o homem não percebesse que estava fraquejando. Sua mente foi instanta­neamente inundada por imagens eróticas daquelas mãos tocando sua pele nua, acariciando com suavidade os bicos de seus seios...

Em sua imaginação, podia perceber claramente o contraste entre a pele morena de Seb e sua própria palidez. Podia sentir o calor daquele toque, e todas as sensações que ele lhe provocava...

O escritório ficara quase tão claustrofóbico como a passagem na casa de seus pais, e ela percebeu que estava sendo dominada pelo mesmo pânico e ansiedade que experimentara antes. Sen­tia-se quente... fraca... e queria tanto...

Seb terminou de ler e assinar os contratos, devolvendo-os para ela, Katie forçou-se a voltar à realidade e tentou agir da forma mais profissional possível.

Nesse meio tempo, Seb já estava de pé, claramente ansioso para partir. E agora que tudo estava quase acabando, por que Katie sentia aquela inexplicável vontade de chorar?

Tremendo, ela empurrou a própria cadeira e se levantou.

— Entraremos em contato assim que os contratos tenham sido registrados, e então você poderá pegar as chaves do apar­tamento — disse em tom profissional.

— Você vai mesmo comprar o apartamento ao lado do meu? — Seb perguntou.

Katie ficou tensa. O que ele estava tentando dizer? Que esperava que ela desistisse da compra? Que não a queria como sua vizinha?

Levantando a cabeça, encarou-o fixamente pela primeira vez desde que entrara no escritório.

— Existe alguma razão para que eu desista? — perguntou desafiadora.

Mas para seu alívio, ele não aceitou seu desafio, encolhendo os ombros e fazendo uma breve pausa antes de falar.

— Não, só estava curioso. Vou ligar para o corretor e já pedir as chaves, para poder tirar as medidas para os tapetes e cortinas.

— Isso você pode arranjar com o corretor — Katie comentou com frieza. — Como sua advogada, devo dizer que ele tem todo o direito de recusar-se a lhe entregar as chaves antes que os papéis estejam prontos.

— Na verdade — Seb retrucou no mesmo tom frio —, não estava pedindo um conselho profissional, simplesmente avisei, para você não estranhar se vir outras pessoas transitando pelo andar. Contratei uma decoradora para cuidar de tudo para mim.

Uma decoradora. Katie digeriu a informação em silêncio. No seu caso, pretendia aceitar a ajuda de sua mãe e de outras parentes para a decoração do apartamento.

Por um momento, sentiu-se tentada a dizer que a única presença que a deixaria alarmada no prédio onde iria morar seria a dele.

Depois que Seb foi embora ela abriu a janela do escritório e respirou profundamente o ar da manhã. Mas mesmo com a janela aberta ainda era capaz de sentir o perfume que ele deixara. Finalmente, achou melhor trabalhar um pouco na sala de reuniões, para escapar dos efeitos que aquele aroma másculo continuavam provocando em seu corpo.

— Oh, papai, por favor! Eu adoraria ir!

Seb sorriu ao ver o entusiasmo da filha com algo em que estava envolvido.

— É um dia muito especial — Chrissie acrescentou, corro­borando com gentileza para o entusiasmo de Charlotte.

— Humm... Como membro da diretoria da Aarlston aqui em Haslewich suspeito que você vai ser obrigado a comparecer

— Guy provocou-o.

Estavam falando sobre o "Dia Especial" que a Aarlston pro­moveria no fim de semana seguinte para ajudar a Casa Ruth Crighton de Amparo. Todos os funcionários da companhia ti­nham o direito de levar suas famílias ao evento.

— Então, o senhor vai me levar ao "Dia Especial", não vai?— Charlotte insistiu. — Vai ser divertido.

Olhando para o sorriso esperançoso da filha, Seb decidiu que não teria mesmo outra opção.

— Ficara preocupado quando a filha telefonara avisando que iria passar o fim de semana com ele. Para garantir que teria o maior tempo disponível para ficar com a filha, trabalhara até mais tarde durante toda a semana. E aceitara a sugestão de Chrissie para jantarem todos juntos na noite de sexta-feira no restaurante de Frances, a irmã de Guy.

Charlotte rapidamente se tornara querida por todos os mem­bros da família Cooke. Sua alegria e vivacidade conquistavam qualquer pessoa que conhecesse.

— Está decidido, então. A que horas nós vamos? — Charlotte perguntou excitada.

— Sugiro que seja bem cedo — Guy opinou, para em seguida franzir as sobrancelhas. — Você não me disse que tinha que ver algo em seu apartamento amanhã de manhã?

— Marquei de encontrar a decoradora que você me indicou pela manhã — Seb informou. — A conferência está chegando, então eu...

— Sim, claro. Bem, Jamie é muito profissional. Assim que você lhe der uma idéia do que pretende pode deixar que ela cuidará de tudo.

— E Katie Crighton, já se mudou para o apartamento dela? — Charlotte perguntou interessada. — Ela é simpática. Eu...

— Ela vai se mudar na próxima semana — Chrissie comen­tou, adicionando com um sorriso. — Estava me dizendo que graças à ajuda de Maddy, sua cunhada, encontrou tecidos ma­ravilhosos para suas cortinas, com preços ótimos.

A chegada de Frances interrompeu a conversa, o que deixou Seb extremamente agradecido. Não havia encontrado Katie desde que estivera em seu escritório, e suspeitava que ela es­tava evitando-o deliberadamente. Dizia a si mesmo que aquilo era bom, e que a última coisa que precisava era envolver-se com uma mulher.

Mas teria de encontrá-la no dia seguinte, com certeza. Pelo que ouvira, a família Crighton comparecia em peso ao "Dia Especial" da Aarlston. Aparentemente, até mesmo Ruth Crigh­ton viria da América acompanhada de seu marido, Grant, para o evento.

— Vamos embora, já está na hora.

Ao ouvir o chamado de sua mãe, Katie sorveu o último gole de seu café e levantou-se, refletindo que o "Dia Especial" mais parecia uma operação de guerra para sua família. Estavam todos reunidos na casa de Maddy, de onde partiriam para Fitz-burgh Place, onde o evento seria realizado.

— Estou tão feliz que Louise e Gareth tenham podido vir — Jenny comentou entusiasmada. — Não acredito como Nick cresceu.

Katie forçou-se a sorrir ao ouvir o comentário sobre o filho de sua irmã.

— Santo Deus, olhe a hora! — Jenny exclamou. — Katie, suba correndo e avise Louise que temos de partir em dez minutos.

Quando Seb e Charlotte chegaram a Fitzburgh Place, o "Dia Especial" já estava a todo vapor. Os dois haviam parado no novo apartamento de Seb para encontrar a decoradora que, como Guy havia prometido, era extremamente profissional e confiável.

— Queremos algo confortável e acolhedor — Charlotte in­formou à mulher. — Nada hightec ou moderno...

— Quero algo compatível com o período de construção da casa — Seb considerou calmamente. — E o escritório você pode deixar por minha conta... Pretendo encomendar uma mesa sob medida para acomodar meu computador e os arquivos. Oh, e preciso de uma cama apropriada para a suíte principal. Por favor, certifique-se de que seja grande e confortável.

— O que você está planejando fazer nela? — Charlotte pro­vocou-o. — Promover orgias?

— Acredite você ou não... pretendo dormir — corrigiu-a com seriedade.

Charlotte tinha as próprias preferências para seu quarto e, depois de explicá-las à decoradora, perguntou se Seb as aprovava.

— Tudo bem, contanto que você não o transforme no quarto cor-de-rosa da Barbie... — ele brincou.

Charlotte dirigiu-lhe um olhar indignado.

— Já passei dessa fase há muitos anos, papai.

Assim que estacionaram o carro, os dois caminharam entre as pessoas animadas. Seb concluiu que o agradável e tépido dia de verão era perfeito para um evento como aquele.

— Olhe ali, papai! Aquela deve ser a irmã gêmea de Katie, acompanhada do marido — Charlotte anunciou, segurando-o pelo braço.

Sim, aquela era definitivamente a irmã gêmea de Katie, Seb reconheceu. A não ser pelo corte de cabelo diferente, as duas eram idênticas.

— Onde será que Katie está? — Charlotte murmurou. — Talvez possamos perguntar para sua irmã.

Seb ergueu as sobrancelhas.

— Não creio que seja uma boa ideia. Katie deve estar muito ocupada — ele opinou.

Dez minutos depois, quando passavam por um berçário es­pecialmente organizado para acomodar melhor as crianças me­nores, Seb descobriu que acertara.

Katie estava lendo uma história no meio de um grande cír­culo de crianças, e só notou a presença dos dois quando Char­lotte acenou-lhe amistosamente.

Ainda que sua voz tivesse falhado e seu rosto enrubescesse instantaneamente, ela continuou a leitura. Vendo aquilo, Seb sugeriu a Charlotte que os dois a deixassem em paz.

— Não, ela está quase terminando. Mas você não precisa ficar se não quiser. Nos encontramos dentro de algum tempo — Charlotte combinou.

Erguendo os ombros, Seb saiu do berçário e começou a andar pela festa até encontrar-se com Saulo, parando para conversar.

— Charlotte — Katie cumprimentou-a sorrindo, quando ter­minou a história.

A adolescente caminhou até ela com um sorriso encantador nos lábios.

— Acabei de ver sua irmã gémea — anunciou amistosa. — Estava perto do pula-pula com o marido e um lindo menino.

— É Nick, o filho deles — Katie informou.

— Acho maravilhoso isso que vocês todos estão fazendo — Charlotte elogiou. — E esse lugar está cheio de garotos bonitos...

Ela riu, assumindo um tom confidencial.

— Papai acha que todo garoto que se aproxima de mim vai me seduzir, mas para dizer a verdade, ainda não estou pre­parada para nenhuma relação mais séria. Acho que ele age assim por ter sofrido muito com a reputação de sedutores que os Cooke sempre tiveram. Ele nunca fala a respeito disso, mas acho que ele insistiu em se casar com mamãe só porque havia ido para a cama com ela, e não queria ser confundido com seus ancestrais. Sei que aa coisas deviam ser diferentes quando eles eram jovens, mas não vejo nada de errado em uma pessoa querer explorar sua sexualidade, não é mesmo?

Fazendo uma pausa para recuperar o fôlego, a garota continuou:

— Quando eu me comprometer com algum homem, quero ter certeza de amá-lo realmente antes de fazermos amor pela primeira vez. Acho que a perda da virgindade é um verdadeiro rito de passagem para os dois sexos, e é lógico que quero fazê-lo com a pessoa certa. Espero que você tenha se sentido assim também quando perdeu a sua... — ela acrescentou em tom questionador.

Katie sentiu-se enrubescer, perdida num redemoinho de emoções e pensamentos conflitantes. Será que Charlotte espe­rava alguma resposta, ou estava apenas desabafando? A dife­rença de idade entre as duas não era muito grande, mas levara Charlotte concluir que obviamente Katie já fizera seu "rito de passagem". Ah, se ela soubesse a verdade...

Pelo que a adolescente dissera, possuía uma atitude muito mais madura do que a da própria Katie com respeito ao sexo. Mas Charlotte jamais se apaixonara por um homem que jamais poderia ter.

Os comentários de Charlotte sobre seu pai eram bastante es­clarecedores. Mesmo assim, Katie achava difícil conciliar aquela imagem de homem moralista, tanto que se casara com uma mu­lher que não amava apenas porque haviam dormido juntos, com a daquele que a beijara de forma sensual e agressiva.

— Oi... Vim ficar no seu lugar.

Katie sorriu para Tullah, a esposa de Saulo, que se aproximava.

— Que bom! Isso quer dizer que você pode me ajudar a encontrar papai — Charlotte comemorou, rapidamente colo­cando seu braço no de Katie.

Encontrar Seb! Aquela era a última coisa que pretendia fazer, mas Charlotte obviamente não aceitaria um "não" como resposta. E então Katie se viu relutantemente andando no meio da multidão ao lado de Charlotte, ajudando-a a encontrar seu pai.

 

                                             CAPITULO VI

Veja quem eu trouxe comigo — Char­lotte disse para Seb enquanto ser­penteava jovialmente através da multidão ao seu encontro, arrastando Katie consigo.

De repente, o ambiente ficou tenso.

— Aposto que está louca para beber alguma coisa depois de toda aquela história — ela provocou Katie enquanto segurava com a mão que estava livre o braço do pai, ficando assim entre os dois. — Papai... — a menina começou, mas Katie, adivinhando o que estava por vir e sabendo que Seb não gostava de sua com­panhia tanto quanto ela não gostava da dele, disse rapidamente:

— Não, Charlotte, está tudo bem. Minha mãe trouxe a fa­mília para um piquenique, e espera que eu fique com eles.

Estava a ponto de desvencilhar-se de Charlotte quando um menino pequeno subitamente correu em sua direção carregando um graveto pontiagudo. Subitamente o garoto tropeçou, e Katie correu em sua direção para pegá-lo, evitando assim que o gra­veto o ferisse.

Enquanto ela o apanhava, o menino soltou um barulhento grito de protesto, que tornou-se um grande e brilhante sorriso quando Katie o distraiu com um abraço e perguntou quem ele era.

— Joey — ele disse com o sorriso travesso e malicioso dos Cooke, tão parecido com o do Seb que seu coração começou a bater forte e a fez perder o fôlego.

— Joey... Você está aqui...

Katie virou-se enquanto uma mulher de estatura pequena e cabelos escuros aproximava-se deles correndo. Imediatamen­te, Joey esticou os braços gritando:

— Mãe...

— Ele ia cair — Katie disse para a jovem mulher, enquanto o entregava para ela, não querendo ser mal-interpretada.

— Eu sei... vi vocês — a outra mulher falou.

Enquanto ela aninhava o filho nos braços, seus olhos estu­davam Katie. O olhar escuro e aveludado era tão intenso e hipnótico que Katie não conseguia desviar os olhos.

— Sabe — a mulher contou enquanto passava a mão na testa —, eu senti que Joey estava em perigo e então vi você se aproximando dele... — Seus olhos brilharam com orgulho e altivez ao ver a expressão da Katie.

— Se você não acredita em mim, pergunte a ele — ela desafiou, fazendo um pequeno meneio de cabeça na direção de Seb. — Ele é de nossa família, e sabe que alguns de nós têm o dom da visão...

Katie também sabia disso. A habilidade de algumas mulhe­res do clã dos Cooke para predizer eventos futuros era um fato conhecido no local, mas aquela era a primeira vez que ela pessoalmente testemunhava tal acontecimento.

— Eu não estava duvidando de você — Katie assegurou, esticando a mão para acariciar com suavidade os cachos des­penteados do menino. Os cabelos dele eram escuros como os da mãe... e como os de Seb. Maravilhosamente macios ao toque.

O filho de Seb... O filho de Seb teria os cabelos assim. Por um momento ela pensou que estivesse sob um extraordinário feitiço que a cigana lhe havia colocado. Sem nenhuma explicação, teve uma imagem mental do filho de Seb, tão real que parecia mesmo existir. Mas quase imediatamente, seu bom senso voltou a funcionar e disse-lhe que ela estava sendo muito imaginativa.

Mas então, quando eles estavam saindo, a cigana pegou no braço de Katie e disse-lhe com suavidade, acenando na direção de Charlotte;

— Ela não é uma filha feita por vocês dois, mas haverá um, e muito em breve.

Soltando Katie, ela virou-se para Seb, que havia escutado a declaração em silêncio.

— Você não acredita em mim, mas é a verdade — a mulher falou em tom ameaçador. — Dê-me sua mão — pediu a Katie, pegando-a com firmeza antes que ela pudesse evitar.

Era ridículo sentir que estava na presença de um poder místico tão espantoso e antigo quanto à própria vida, mas foi assim que Katie se sentiu enquanto a moça lia cuidadosamente sua mão, para em seguida pronunciar com firmeza:

— Está escrito bem claramente aqui. Vocês estão destinados um para o outro, embora nenhum dos dois ainda tenha reco­nhecido isso. Mas antes de poderem fazê-lo, você — ela disse virando-se para Seb e dirigindo-se a ele com certa aspereza —, deve fechar a porta daquilo que está usando para negar um futuro a si mesmo. Não há necessidade nem lugar para isso. E você — ela virou-se para Katie com um pouco mais de suavidade —, deve fechar a porta para aquilo que sabe que nunca lhe pertencerá legitimamente...   .

Por um momento ninguém falou nada. A imobilidade e o si­lêncio parecia envolvê-los como um manto invisível. Foi então que uma excitada Charlotte esticou a mão para a moça suplicando:

— E eu? O que pode ver na minha mão?

A expressão da moça clareou enquanto ela soltava a mão de Katie e pegava a de Charlotte.

— Vejo que ainda terá uma longa jornada a caminho do conhecimento antes de iniciar o trabalho da sua vida. E vejo também... — Com delicadeza ela fechou os dedos de Charlotte sobre a palma da mão e continuou devagar. — Vejo que está entre aqueles que darão ao mundo coisas muito boas.

E então abruptamente soltou a mão de Charlotte e se foi, desaparecendo em meio ao turbilhão de pessoas e deixando os três parados em silêncio enquanto digeriam as predições.

— Bem... — Charlotte suspirou. — Isso foi extraordinário... Vocês viram os olhos dela? Eu senti quase como se ela estivesse me hipnotizando.

— Provavelmente estava, ou pelo menos tentava — Seb falou de modo conciso. Depois de alguns momentos, concluiu com severidade: — É tudo bobagem, claro.

— Preciso ir agora — Katie avisou aos dois.

Não havia possibilidade alguma de olhar para Seb naquele momento, não depois do que a moça havia dito.

Ele estava certo, tudo aquilo era tolice, um trabalho ineficaz de adivinhação por parte da outra mulher, baseado no fato de eles estarem juntos. Ela provavelmente pressupôs que já eram um casal e que Katie, que obviamente não poderia ser a mãe da Charlotte, devia querer ter um filho com Seb.

Foi fácil para ela captar com sua hipersensibilidade a ima­gem daquele menino pequeno e de cabelos pretos, tão parecido com Seb. Havia sido uma simples coincidência, e só.

— Ela com certeza pensou que vocês dois eram um casal — Charlotte comentou com um largo sorriso.

— Não.

— De jeito nenhum..,

Charlotte passeou o olhar do pai para Katie, e depois de novo para ele, enquanto os dois negavam ao mesmo tempo.

— Oh, mas vocês ouviram o que ela disse — ela provocou.

— É inevitável... o destino já decidiu por vocês...

— Eu diria que a explicação está mais numa imaginação muito grande do que em qualquer influência sobrenatural — Seb ponderou secamente.

— Katie, você está aí! Mamãe nos mandou procurar você para podermos almoçar.

Com a aparição súbita de Louise, acompanhada de Gareth e com o filho deles nos braços, Katie ficou tentada a dizer para Seb que ele estava errado, e que uma força invisível, nociva e mesmo maligna, parecia ter acabado de liberar uma onda para acabar com sua tranquilidade. Mas Katie sabia que não podia fazer tal coisa, não sem revelar por que a simples chegada de sua irmã gémea com o marido e o filho a deixara tão incomodada.

Era um costume comum na família Crighton, e mais especial­mente nos de sua geração, que tanto os homens como as mulheres se abraçassem e beijassem quando se cumprimentavam, mas ela sentira uma grande angústia na primeira vez que Gareth tentara abraçá-la, depois que ele e Louise haviam se casado.

A partir de então, Gareth mantivera-se a distância, o que deixara Katie profundamente agradecida. Mas naquele dia, diante dos olhos penetrantes de Seb e dos olhos curiosos de Charlotte, ela quase desejou que ele se aproximasse e lhe desse um abraço fraterno.

É claro que foi preciso fazer as apresentações, e enquanto Charlotte brincava entusiasmada com Nick, Gareth e Seb tro­caram cumprimentos masculinos, cada um examinando o outro calmamente.

— Vocês não vão adivinhar o que acabou de acontecer — Charlotte começou a contar para Louise com animação, en­quanto o coração de Katie ficava apertado.

Quando sua irmã gémea ficasse sabendo do que a moça havia previsto...

Para alívio de Katie, em vez de provocá-los por causa das previsões, Louise fugiu de suas características habituais e foi cuidadosa, silenciando sobre o assunto. Em seguida, reiterou que os pais estavam esperando para começar a almoçar.

— Humm... Almoço, parece uma boa ideia, papai — Char­lotte falou para o pai animada. — Estou morrendo de fome...

Vendo o olhar pesaroso que Seb estava dirigindo para as lanchonetes de fast food ao redor, Louise sugeriu prontamente:

— Por que vocês não se juntam a nós? Tenho certeza de que mamãe trouxe mais do que o suficiente...

— Oh, não...

— Obrigado, mas não...

Como os dois falaram ao mesmo tempo, Louise levantou um pouco as sobrancelhas, com sua atenção focada principalmente na expressão de Katie.

Mas antes que ela ou Seb pudessem reiterar a negativa para a sugestão de Louise, Guy e Chrissie vieram ao seu encontro.

— Eu acabei de convidar Sebastian e Charlotte para se juntarem a nós para o almoço — Louise explicou imediatamente para o ex-sócio de sua mãe.

— Você convidou... Que bom, pois acabei de encontrar Jenny e aceitei seu convite para que nós cinco nos juntássemos a vocês...

Com o coração ainda mais apertado, Katie virou-se para ir em direção à irmã, mas neste meio tempo Guy pediu-lhe, já se desculpando:

— Katie, você se importaria de ir até o carro do seu pai para pegar uns talheres que sua mãe me pediu? As chaves estão aqui. Anthony precisa ser trocado antes do almoço e nosso carro está estacionado do outro lado do parque, então...

Feliz por ter uma oportunidade de afastar-se de Sebastian Cooke, Katie imediatamente meneou a cabeça de forma afir­mativa e pegou as chaves do carro do pai da mão do Guy.

— Estamos no mesmo lugar de sempre — Louise avisou a irmã alegremente, enquanto partia ao lado de Chrissie, para trocar histórias de mãe e filhos.

Katie havia andado alguns metros quando ouviu subitamen­te Seb chamar seu nome. Virou-se e olhou curiosa enquanto ele corria para alcançá-la.

— Eu só queria dizer-lhe uma coisa antes de nos reunirmos com a sua família para o almoço — ele disse de forma direta. — Toda aquela besteira que a quiromante de mentira revelou não teve nada a ver comigo — informou desnecessariamente.

Logo Katie começou a perder a paciência.

— Bem, eu com certeza não tive nada a ver com as previsões dela — retrucou. — Só a ideia já é ridícula. Para começar, nós teríamos que...

Ela parou, e seu rosto começou a ficar avermelhado com as imagens inesperadas e explícitas que surgiram em sua mente do que eles precisariam fazer para que as previsões da mulher pudessem se realizar.

— Teríamos que o quê? — Seb olhou-a com malícia. — Que ir para a cama juntos? Era isso que você ia dizer?

Primeiro Katie desviou o olhar e depois respondeu com voz embargada:

— Na verdade não. O que eu ia dizer é que precisaríamos... ter um relacionamento bem diferente do que temos hoje...

— Como eu disse precisaríamos ir para a cama juntos — Seb falou sucintamente. — E isso não é possível de jeito nenhum.

Katie não conseguiu se controlar, e soltou um suspiro hu­milhado por aquela demonstração de rejeição inequívoca.

— Você está certo — concordou rápida e decisivamente. — Não acontecerá. O tipo de homem que quero... que eu acho atraente — ela esclareceu —, ...seria...

— Seria qual? — Seb desafiou-a incisivo.

Os sentimentos de Katie haviam sido muito feridos para que ela tivesse tato ou tomasse algum cuidado.

— Ele não seria nada parecido com você — disse asperamente. — Ele seria gentil... amoroso... cuidadoso... — Sua voz ficou mais suave, traindo-a, seus olhos estavam como que sonhando, e ela continuou um pouco rouca: — Ele seria inteligente e... e com­preensivo e nunca, nunca... — Parou por um instante e então completou, furiosa: — Ele seria totalmente diferente de você,

— Ainda bem, pois o homem que você está descrevendo me parece não ter nenhum sangue nas veias. — Seb concordou, resoluto. — Ele parece mais com um ser mítico, assexuado, recortado de uma revista, em vez de alguém real — afirmou com sarcasmo. — Um herói de ficção, que traz tanta simila­ridade com um homem real quanto...

— Você só está dizendo isso porque não é assim — Katie interrompeu desafiadoramente. — Existem homens assim... ho­mens que..,

— Homens que... o quê? — Seb desafiou-a imediatamente, colocando-se atrás de Katie, temendo que por ela estar perdendo terreno na discussão pudesse girar sobre os calcanhares e correr para o local onde estava estacionado o carro de seus pais.

— Deixe isso pra lá — ela pediu, enquanto Seb pegava-lhe o braço com firmeza.

— Não até que você responda minha pergunta — ele disse com severidade. — Diga-me exatamente o que tem este homem perfeito que você diz ser tão desejável, pois com certeza não é a sexualidade.

— Seb! — Katie virou-se para olha-lo imediatamente. — Existe mais num relacionamento... no amor... do que...

— Existe mesmo, mas acho que descobrirá que a maioria dos homens, e das mulheres, querem o prazer de despertar e fazer parte dos desejos sexuais dos parceiros que escolheram. Você mesma já deve ter experimentado isso — ele continuou, enquanto Katie não respondia nada além de ficar cada vez mais tensa.

E então ficaram um de frente para o outro. A expressão do rosto másculo mudou subitamente quando olhou para os olhos desconfiados dela.

— Você já experimentou isso, não é, Katie? — ele perguntou delicadamente.

— O que eu já experimentei não é da sua conta — Katie defendeu-se valente.

— Talvez não — Seb concordou, mas em vez de soltá-la e partir como ela esperava, aproximou-se ainda mais, fazendo com que o estômago dela se contraísse em um protesto de ansiedade. — Ou talvez a cigana realmente saiba algo que você e eu não sabemos... Podemos descobrir se ela está certa...

— Não... — Katie começou a protestar, mas era tarde demais. Com os dois encobertos pelas sombras das árvores daquela parte do parque, foi muito fácil para Seb arrebatá-la totalmente em seus braços, aprisionando-a enquanto curvava-se até ficar com seus lábios sensuais sobre os dela, sem lhe dar chance de escapar.

Foi um beijo mais de raiva e vingança do que de qualquer outra coisa, e Katie não era tão inocente para não reconhecer aquele fato. Ele estava indignado com a previsão da quiromante e encontrara aquele modo de puni-la.

— Não... — ela conseguiu protestar incisivamente contra a boca máscula, e logo conseguiu libertar-se. Por acidente, seus dentes arranharam o lábio inferior de Seb enquanto se libertava.

— Mas que diabos...

Quando o ouviu praguejando, Katie gelou. Podia sentir o sabor levemente salgado do sangue dele na própria língua; e estava horrorizada pelo que havia feito, mesmo que tivesse sido provocada.

— E você ainda diz que quer um amante gentil e passivo? — Seb indagou de maneira selvagem. —Você é uma mentirosa, Katie. Você quer um homem que tenha a mesma paixão que a sua, um homem que...

— O que eu não quero é você — Katie disse com franqueza.

— E eu não quero você — Seb assegurou com brutalidade. Mas subjugando-a, completou com frieza: — Mas eu quero isso...

Katie suspirou em protesto enquanto a boca máscula possuía novamente a sua. Possuía... seduzia... arrebatava... A pressão da boca de Seb fazia com que os lábios dela ficassem tão sen­síveis que todo seu corpo tremia com as emoções que estava experimentando.

Através dos espaços entre as folhas das árvores, podia sentir o sol aquecendo seu rosto, mas aquilo não era nada comparado ao calor que Seb estava gerando dentro dela.

Tentou soltar-se. Ela sabia que precisava. Mas então por que seus braços estavam em torno do pescoço de Seb, por que seu corpo estava tão pressionado contra o dele, por que sua boca estava se abrindo sob a pressão da dele... por quê?

— Viu, eu disse que você era apaixonada — Seb disse com voz rouca. — A única razão para você querer um homem dócil e manso é para poder destruí-lo, como faria um louva-a-deus...

— Oh...

A crueldade daquelas palavras fizeram-na voltar à realidade, e Katie afastou-se de Seb.

— Foi você que... eu não fiz nada — ela acusou rapidamente, incapaz de encará-lo.

— Nada...

Ela tentou fugir, mas Seb alcançou-a, cobrindo sua boca com a mão e levantando seu rosto para que pudesse olhá-la de frente.

— Então, o que é isto? — ele perguntou, levando a mão dela até a própria boca e fazendo-a tocar na parte arranhada de seu lábio inferior.

Com um pequeno e rápido protesto, Katie libertou-se. Seus olhos começaram a encher-se de lágrimas. Estava tonta e de­lirante, e em algum lugar dentro de si havia uma dor pequena mas incisiva, que a assustava e amedrontava.

Mas antes que ela pudesse dizer ou fazer qualquer coisa ouviu a voz familiar de Guy chamando-os.

— Aí estão os dois! Jenny achou que vocês haviam se perdido...

Mais tarde, Katie congratulou a si mesma por haver dito e feito tudo o que esperavam dela durante o almoço. Com certeza ninguém parecia ter considerado seu comportamento estranho, mas durante todo o almoço familiar estivera consciente da pre­sença intensa e desconfortável de Sebastian Cooke.

Enquanto os outros conversavam e faziam brincadeiras, ca­çoando uns dos outros, ela tivera dificuldade para engolir até mesmo uma garfada das delícias que sua mãe havia preparado.

Na verdade, em um certo momento percebeu com um pouco de amargura que Seb parecia mais à vontade e relaxado do que ela, e que Charlotte...

Estava claro que a garota estava se divertindo muito. Katie ouviu-a contar para Jenny com entusiasmo o quanto estava adorando o colegial.

— Morar na escola é ainda melhor — ela completou. — As outras meninas são ótimas, e eu fiz muitas amigas novas.

— Deve ter sido uma decisão muito difícil para vocês — Jenny comentou com Seb.

— Foi — ele concordou. — Sandra, George e eu sentamos juntos com Charlotte para discutir o assunto. Sei que aos dezesseis anos ela pensa que é uma adulta. Mas mesmo que aceitemos que é madura o suficiente para tomar a maioria das decisões referentes a sua educação, o fato é que este mundo em que vivemos nem sempre é muito seguro para uma mocinha. No entanto, a escola apresentou uma política excelente, que permite que as garotas tenham uma certa liberdade, mas com segurança.

— Sim, podemos sair à noite e até ir a clubes, contanto que estejamos num grupo de no mínimo oito garotas, e que todas voltemos juntas no microônibus da escola.

— Foi preciso convencer mamãe, George e papai para que me deixassem vir, mas é o melhor colégio do país no curso que escolhi. E já que pretendo conseguir uma vaga na Uni­versidade de Manchester, mudar para cá é o ideal.

Como tinham um primo no mesmo nível de escola, Katie não ficou surpresa com o interesse da mãe nos estudos de Charlotte. Mesmo assim, gostaria que ela não fosse tão aco­lhedora e calorosa com Sebastian Cooke.

De forma não planejada, os adultos presentes no piquenique haviam se separado em grupos, de modo que de uma hora para outra ela estava sentada mais próxima de Seb do que de qualquer outra pessoa. Infelizmente, a outra pessoa mais pró­xima era Gareth, e Katie estava determinada a eliminar qual­quer resquício dele em sua vida, mantendo a maior distância possível do cunhado.

Mesmo assim, estava aliviada por Louise não haver contado para o resto da família sobre as previsões da quiromante. Espe­rava com fervor que a irmã nunca se referisse àquilo novamente.

Mais tarde, naquele mesmo dia, Katie descobriu que seu alívio havia sido prematuro.

Louise insistiu para que Katie a levasse para ver seu apar­tamento novo enquanto Gareth dava banho e alimentava Nick.

— É fabuloso — Louise declarou logo que acabaram de ver todos os ambientes. — Quando pretende se mudar?

— Bem, se possível no final da semana. O carpete já deve ter sido instalado até lá, embora eu não saiba se as cortinas estarão prontas. Mas a mamãe disse que me emprestaria algumas...

— Nossa! É um apartamento de solteira muito sofisticado — Louise aprovou. — Porém... — com uma piscadela, ela continuou. — Porém, se o que a sua amiga cigana disse for verdade...

— Seb e eu... — Katie interrompeu-a rapidamente. —Nós... Mas antes que pudesse acabar de negar Louise foi ao seu encontro e tocou suavemente em seu braço, pedindo com seriedade:

— Podemos conversar? Eu quero dizer, de verdade...

O coração de Katie ficou apertado. Aquele era o momento que temera desde que Gareth e Louise haviam anunciado que estavam apaixonados.

— Claro... — respondeu, tentando esconder os sentimentos. — Sobre o que quer falar? Nós...

— Katie, o que é isso... somos nós... você e eu... Olha, eu sei... Katie gelou. Louise sabia do quê? Que ela, Katie, amava seu marido?

Antes de continuar, Louise balançou a cabeça. Em seguida, falou com voz rouca:

— Nós costumávamos ser tão amigas... Contávamos tudo uma para a outra... Mas desde que eu e Gareth nos casamos... Você é minha irmã gêmea, Katie... Eu ainda preciso de você... Sempre precisarei, e odeio sentir que existe esta distância, uma barreira entre nós. Se eu fiz ou disse alguma coisa que a magoou...

— Não! É claro que não. — Katie negou de imediato, ater­rorizada com a possibilidade de Louise continuar a perguntar e de algum modo descobrir a verdade.

Não era sua culpa se Katie amava Gareth. Não era culpa de ninguém a não ser dela mesma, e a última coisa que queria era aumentar a distância entre ela e a irmã ao contar-lhe o que realmente sentia. Tudo o que a confissão dos seus senti­mentos podia fazer além de fazê-la humilhar-se era deixar Loui­se e Gareth embaraçados.

— É que... — ela parou, procurando uma explicação satis­fatória para acabar com as perguntas da irmã. — É claro que as coisas são diferentes agora que você e Gareth estão casados, e que vocês têm Nick.

— Bem, é claro — Louise concordou, abrindo um largo sor­riso. — Mas, pelo que se pode ver, não vai demorar muito para você e Seb terem um filho... Ele é extremamente sexy, Katie. Sexy de verdade — enfatizou, girando os olhos para mostrar sua aprovação. — E se eu não estivesse tão apaixonada pelo Gareth...

— Louise, Seb e eu... — Katie começou com franqueza, des­contente com a direção que a conversa estava tomando e com as conclusões erradas de Louise.

— É uma pena que vocês dois não tenham descoberto que estavam apaixonados antes que você adquirisse este aparta­mento. Ainda assim, é obvio que conseguirá um bom lucro quando vendê-lo. Vocês já fizeram planos, ou...

— Louise, nós mal nos conhecemos — Katie protestou. — Eu nem mesmo... — Gosto dele, quem dirá amá-lo, estava prestes a dizer, mas, como de costume, Louise não lhe dava tempo para terminar suas frases. Ouviu a irmã continuar com entusiasmo:

— Eu pude ver como Charlotte lhe aceitou tão bem. É ma­ravilhoso. Também, você é tão gentil e amável que seria capaz de se dar bem com a mais difícil das enteadas, e qualquer um pode ver que Charlotte não é nada assim. E, é claro, não poderia ser melhor, você e Seb vivendo tão juntos.

— Louise... — Katie tentou falar desesperadamente, e então parou quando Louise olhou pela janela e exclamou:

— Oh, aí vem Gareth! Ele deve ter ficado preocupado com a nossa demora. Katie, estou tão feliz por você — Louise afir­mou entusiasmada e virou-se para abraçar sua irmã gêmea com amor. — Posso dizer agora que houve um momento em que tive medo... Bem, você sempre foi tão determinada em defender Gareth no passado, quando eu não o suportava, que imaginei que por sermos gêmeas, e porque eu o amo tanto... Me preocupei, pois pensava que você poderia...

A cada palavra que Louise pronunciava, Katie sentia crescer dentro de si a ansiedade e a angústia, sentimentos que pare­ciam ter parado como uma pedra de gelo em seu coração, tor­nando o peso em sua consciência ainda maior. Era como se seus maiores temores se tornassem realidade. Louise havia intuído o que estava acontecendo com ela, apesar de tudo o que havia feito para evitar aquilo.

Louise era sua irmã gêmea, sua outra metade, e havia entre elas uma ligação que gerava em Katie não apenas uma lealdade cega, mas também uma necessidade de colocar o bem de Louise em primeiro lugar, de protegê-la da dor que certamente sentiria ao saber que ela, Katie, amava Gareth.

Lutou com sua consciência para não enganar a irmã mas, como já sabia, seria quase impossível deter Louise uma vez que ela já havia enfiado aquela ideia na cabeça.

Mas a verdade logo viria à tona, já que era óbvio que ela e Seb se detestavam.

— E não se esqueça da festa do seu avô, está bem? — Jenny Crighton relembrou Louise enquanto se despediam com um beijo.

Louise e Gareth haviam vindo da Bélgica no próprio carro, e agora estavam partindo para ver a família dele na Escócia antes de retornarem para Bruxelas. Abraçando a mãe, Louise prometeu:

— Nós estaremos lá. Como poderíamos perder esta ocasião, quando será a primeira oportunidade formal de Katie apre­sentar Seb para a família?

— Seb? — Jenny questionou surpresa. — Mas...

— Logo no começo eu percebi que existia alguma coisa entre eles — Louise continuou contente. — E estou tão feliz por Katie, mãe. Ultimamente, ela andava tão diferente. Isso estava me preo­cupando. É engraçado como as coisas se resolvem, não? — per­guntou. — Se ela não tivesse que sair do último emprego por causa daquele chefe horroroso, que estava infernizando sua vida, não teria voltado para casa e não teria encontrado Seb.

Jenny não teve tempo para falar nada, pois o lado intem­pestivo de Louise a fez continuar falando:

— Você devia ter visto a cara dela quando Charlotte nos contou o que uma moça previu para ela e Seb no nosso "Dia Especial".

Louise deu uma risada.

— Nada menos que um filho! — esclareceu para a mãe estupefata. — E pelo que o Guy me contou, o divórcio de Seb e sua ex-esposa foi em comum acordo, e eles se dão relativa­mente bem. Pelo menos Katie não viverá nenhuma situação desagradável. Ela é tão sensível... sensível até demais, e às vezes isso não é bom para ela. Sempre coloca os sentimentos e as necessidades dos outros em primeiro lugar.

— É verdade — Jenny concordou com seriedade.

Era novidade para ela que Katie estivesse envolvida roman­ticamente com Seb Cooke, mas Louise estava correta quando afirmara que Katie estivera diferente no último ano. Sempre quieta, aos olhos da mãe estava retraída demais, o que lhe causava grande preocupação. Fora por isso que havia sugerido a Jon que persuadisse a filha a voltar para casa e juntar-se aos negócios da família.

Não que Jenny tivesse alguma objeção quanto a Seb ser um possível genro, longe disso. Gostara dele de imediato, e achava Charlotte um doce. Não. O que a surpreendia de ver­dade era que a filha, quase sempre hesitante e reticente, tivesse se comprometido tão rapidamente.

— Oh, sim, Guy, estou certa de que Katie vai adorá-la — Jenny dizia entusiasmada enquanto examinava a pequena e linda es­crivaninha que Guy a havia convidado para ver. A loja de anti­guidades que eles haviam começado juntos agora era gerenciada por um dos parentes de Guy, Didi Fowler, enquanto Guy se con­centrava em outros aspectos de seu pequeno império financeiro.

— Eu me lembro do quanto ela adorou a que encontrei para a minha filha Laura — Guy comentou. — E quando Didi disse que esta havia chegado, pensei logo em Katie e em seu novo apartamento. A propósito, quando ela vai se mudar? Eu soube que Seb encerrou o contrato da sua propriedade alugada e que pretende começar uma vida nova em seu apartamento assim que retornar da conferência.

— Katie disse que quer mudar assim que possível. E claro que, agora que ela e Seb estão juntos, acredito que vai querer mudar assim que ele o fizer.

— Katie e Seb? — Guy assobiou baixinho — Eu não percebi... — ele começou, meneando a cabeça em seguida.

— Nem eu — Jenny admitiu. — Mas Katie confidenciou a Louise, e Louise mencionou o assunto sem perceber que Katie ainda não havia contado nada para ninguém.

— Um Cooke e uma Crighton... Isso vai causar um certo re­buliço. Ben não vai gostar muito... Por falar nisso, como vai ele?

— Não muito bem — Jenny informou preocupada. — Maddy diz que ele está cada vez mais angustiado com a ausência de David. Nós não usamos a palavra "desaparecimento" perto do Ben, pois isso o deixa muito triste. Você sabe o quanto ele sempre adorou David. Sempre foi seu filho favorito.

— Bem... Se você me perguntasse, eu diria que esta foi a causa dos problemas de David. Não tanto porque Ben deposi­tava tantas expectativas nele, mas porque David esperava que o mundo todo o colocasse em um pedestal, como seu pai fazia. Bem, pessoalmente, não acredito que volte.

— Não seria fácil — Jenny admitiu. — Para nenhum de nós. Mas não posso deixar de desejar isso, para a felicidade do Ben. Se não voltar, que ao menos entre em contato conosco... Na verdade, Guy, temo que se David demorar muito, será tarde demais — ela confidenciou com ar sombrio. — Os médicos dizem que não há uma razão plausível para que Ben não se recupere da última cirurgia. Em teoria, ele tem tudo para se recuperar.

Sem notar que não estava dando chance para Guy argu­mentar, Jenny continuou falando:

— Maddy, sempre dedicada, está cuidando dele da melhor forma possível, e todos esperamos que as coisas melhorem agora que Max fixou moradia em Queensmead. Você sabe que, dos netos de Ben, Max sempre foi seu favorito.

— Mas o Max não é a mesma pessoa que era antes, é? Tenho a impressão de que agora Max é muito mais filho de Jon do que sobrinho do David.

— Sim. Como o próprio Max diria, o que ele passou na Jamaica foi como uma conversão do tipo "Saulo a caminho de Damasco".

O ar sério deixou os olhos de Jenny e ela riu, explicando a piada a Guy.

— O pequeno Leo deve ter ouvido errado quando o pai usou a expressão, confundindo Paulo com Saulo, pois perguntou a Max o que o tio Saulo estava fazendo na estrada para Damasco.

Quando os dois pararam de rir, Guy aproximou-se e deu um tapinha na escrivaninha que estavam admirando, e con­siderou para Jenny:

— Talvez eu deva guardá-la para dar a Katie como presente de casamento. Seb é um bom homem — ele continuou. — Um homem de princípios, que será muito bom para Katie.

Depois de confirmar para Jenny que guardaria a escriva­ninha para Katie, Guy foi para casa contar à esposa que logo celebrariam outro casamento na família.

— Seb e Katie... Oh, isso é maravilhoso! — Chrissie exclamou com entusiasmo. — Charlotte vai vibrar. Ela gosta muito de Katie — completou.

Enquanto isso, totalmente desavisados de que seu futuro estava sendo traçado, os dois supostos amantes estavam tra­tando cada um de seus próprios negócios.

Katie teria um dia cheio, com compromissos durante toda a manhã e uma visita ao tribunal à tarde, enquanto Seb estava a caminho de uma grande conferência sobre as implicações morais resultantes dos gigantescos progressos que a ciência estava fazendo no campo da genética.

O último telefonema de Seb antes de sair foi para a deco­radora, para dar andamento ao projeto que ela lhe havia apre­sentado. Ficaria fora menos de uma semana, mas ela havia assegurado que, com os contatos que tinha, grande parte do trabalho estaria pronta rapidamente, possibilitando sua mu­dança para o apartamento assim que voltasse da viagem.

A conferência era na Flórida. Não era o lugar ideal, na opinião de Seb, devido ao vôo ser longo. Já no avião, ele fechou os olhos e recostou-se na poltrona, pronto para dormir, usando uma técnica de relaxamento que havia aperfeiçoado durante os anos. Mas daquela vez nem sua mente nem seu corpo es­tavam preparados para responder aos comandos que enviava. Em vez disso, em sua mente formou-se a imagem da pessoa na qual ele menos queria pensar.

Ficava enfurecido ao perceber que sua mente era assolada pelas imagens de Katie Crighton, numa série de figuras íntimas e sensuais. A mais desconcertante de todas, no entanto, era aquela em que os olhos, os cabelos e a boca da Katie apareciam em um menino pequeno, descabelado e de expressão solene.

— Oh, não! De jeito nenhum!

Seb não havia percebido que murmurara a negativa,em voz alta, até que viu o homem na poltrona do lado encarando-o com curiosidade.

Cientificamente, ele sabia que era totalmente impossível para qualquer pessoa ver o futuro. A verdade era que eles podiam fazer suposições, baseadas em evidências de fatos reais.

Assim, seria previsível que a cigana considerasse que ele e Katie eram um casal e que, portanto, ela no futuro seria mãe de seu filho. Mas alguma coisa havia acontecido, não tanto por causa da previsão, mas por causa da mulher que havia tocado num ponto quase primitivo do seu ser.

Ele se mexeu na poltrona, sentindo-se desconfortável. Tudo bem, por que não admitir que desejava Katie? Sexualmente fa­lando, ela conseguira despertar sensações que Seb havia se es­quecido que existiam, se é que realmente as conhecera um dia.

Embora considerasse o sexo uma experiência muito prazerosa, nunca sentira-se conduzido, obcecado ou possuído por ele, como costumava acontecer com alguns homens.

Sabendo como as pessoas viam os homens da família Cooke e sua suposta sexualidade incontrolada, ele inconscientemente de­cidira que não seguiria as expectativas já estabelecidas para a família, e tentaria apagar aquela mancha de libertinagem sexual.

Fora por isso que insistira em concentrar seu jovem desejo sexual por Sandra dentro dos limites aceitos e respeitáveis do casamento. O tempo e a experiência haviam lhe mostrado que aquilo era uma bobagem, mas ele nunca mais deixou que seu desejo sexual ficasse fora de controle, ou que tivesse qualquer influência em sua vida.

Depois dos trinta anos, começou a se considerar um homem com maturidade e habilidade para tratar o lado sexual de sua natureza como algo menos importante do que a satisfação men­tal, a fim de que pudesse distanciar-se de qualquer poder que o sexo pudesse vir a exercer sobre si.

Agora, de modo irritante e ridículo, ali estava ele aos trinta e oito anos descobrindo que, longe de ser uma faceta sem im­portância da sua natureza, aquela se tornara um monstro de sete cabeças.

Naquele momento, por exemplo, já não estava visualizando Katie, mas lembrando-se do gosto de seu beijo, do calor e da maciez de sua pele, dos seus seios... de como seus mamilos haviam ficado intumescidos e sua respiração acelerada...

A forma como ela evitara seu olhar enquanto a cigana fazia a previsão. Oh sim, ela o sentira física e intimamente, como ele a havia sentido, embora Seb duvidasse de que aquilo tivesse mexido tanto com ela quanto acontecera com ele.

Charlotte havia sido concebida por acidente, como resultado do esquecimento de uma pílula anticoncepcional, e ele e Sandra só souberam da concepção semanas mais tarde. Mas se fosse ter um filho agora, Seb gostaria de saber, sentir, compartilhar com Katie o fato de que o calor da paixão deles resultaria numa nova vida.

Mas o que estava pensando?

Olhando para a aeromoça, que passava, pediu o drinque que havia recusado antes. Devia estar sofrendo de algum tipo de problema causado pela altitude. Ou então aquela maldita cigana lhe havia colocado algum encanto.

Sem acreditar, fechou os olhos. Definitivamente, estava per­dendo o controle. Ele era um cientista, e sabia que encantos e previsões eram coisas do passado.

 

                                           CAPITULO VII

Está começando a se parecer com um lar.

Depois de dar um giro, Katie abraçou a mãe, agradecida. Jenny acabara de passar boa parte da tarde pendurando as cortinas que ela e Maddy haviam feito para a sala de Katie.

— Esse tom de damasco está maravilhoso — Jenny mur­murou. — Sabe, foi bastante difícil costurá-lo... Estou tentando convencer seu pai de que o escritório precisa de uma renovação, e este tecido seria perfeito.

— Parece igual àqueles tecidos de antigamente... — Katie falou com entusiasmo. — E adoro este tom dourado-claro.

— Sim... Maddy tem ótimos olhos. Ele combina perfeita­mente com o carpete.

O carpete que havia sido instalado em todo o apartamento parecia-se com o tecido da cortina, um negócio de ocasião con­seguido por Maddy. Originalmente encomendado por uma clien­te e tingido de acordo com suas especificações, o pedido havia sido cancelado no último minuto, pois ela acabara se decidindo por uma cor diferente.

Aquela desistência havia se tornado a sorte de Katie, uma pechincha. A lã macia e de cor dourada bera clara não devia ser do gosto de todo mundo. Também não era particularmente prática, mas como Maddy e Jenny haviam argumentado, ela dificilmente teria muita sujeira no último andar.

Fora Maddy quem a persuadira a gastar uma soma extra de dinheiro em uma faixa de papel de parede creme e dourada, que deixou a sala mais elegante e combinava perfeitamente com o carpete e as cortinas.

Um velho sofá desenterrado também por Maddy dos sótãos de Queensmead estava sendo revestido, e as peças de mobília que haviam sido doadas por seus pais já estavam em seus lugares, juntamente com a cama de casal que ela havia comprado.

— Eu pendurei as velhas cortinas do nosso quarto de hós­pedes no seu quarto, por enquanto — Jenny anunciou. — Elas vão funcionar até que você encontre um tecido de que goste. Venha e dê uma olhada nelas.

Katie acompanhou a mãe até seu quarto, e quando chegaram lã Jenny olhou diretamente para a cama.

— Não seria melhor ter comprado uma cama king-size? — perguntou com praticidade. — Seu pai sempre reclamou que nossa antiga cama era muito pequena, e Seb é alguns centí­metros mais alto que ele.

Sem fala, Katie encarou a mãe sentindo a cor desaparecer de seu rosto.

— Louise me contou — Jenny disse com gentileza.

— Louise contou-lhe — Katie repetiu em choque. — Louise contou-lhe sobre...

— Sobre você e Seb — a mãe confirmou.

Jenny foi ao encontro de Katie, colocando seus braços ao redor dela e abraçando-a carinhosamente.

— Estou tão contente por você, querida. Eu não queria dizer nada mas... bem, sei que os últimos dois anos não foram muitos felizes para você. É claro que seu pai não está exatamente emocionado porque Seb é um Cooke, mas com o tempo estou certa de que seu namorado será um páreo duro para Ben. Nem preciso dizer que vocês dois foram convocados para apre­sentar-se a ele na sua festa.

Katie teve que sentar-se. Por quê? Por que não preveniu Louise para não dizer nada a ninguém? Por que não imaginou o que aconteceria? Aquilo era terrível. Desastroso. Pior do que qualquer pesadelo que pudesse imaginar.

Pior do que Louise descobrir que você ama Gareth?", uma voz interna perguntou objetivamente. Não, não pior do que isso. Na confusão que estava vivendo, a única pessoa que se machucaria seria ela mesma. Mas o que iria fazer? Sentia-se aliviada por Seb estar seguro e fora do caminho, fora do país.

De algum modo, ela precisava contar à mãe que Louise não havia entendido corretamente. E precisava fazer aquilo antes que Seb voltasse.

Katie respirou profundamente, fechou os olhos e então co­meçou nervosa:

— Mãe...

Mas era tarde demais, sua mãe já estava falando novamente. — Quando contei a Guy, ele não sabia se devia ou não guardar a escrivaninha como presente de casamento, mas...

— Guy sabe... — Katie a interrompeu de súbito. A mãe acenou com a cabeça que sim.

— Bem... Parece que Chrissie não ficou tão surpresa... Silenciosa, Katie olhava para a mãe, totalmente incapaz de achar as palavras para expressar a grande confusão em que estava metida.

Guy sabia! Chrissie sabia!

Aparentemente, todo mundo sabia que Katie havia contado à irmã gêmea que ela e Seb estavam apaixonados. Eram aman­tes, na verdade, a julgar pelo comentário franco da mãe sobre a cama de casal...

Todos... menos Seb. Um sentimento de pânico a invadiu. O que iria fazer? Mesmo que dissesse a verdade para a mãe, era tarde demais para evitar que todas aquelas conversas chegas­sem aos ouvidos de Seb. Mesmo se admitisse seu erro, se re-tratasse e tudo mais, ele provavelmente ficaria sabendo de alguma coisa. Sabe lã quantas pessoas já estavam envolvidas.

Podia implorar para que a família ficasse em silêncio, che­gando a apelar até mesmo para Guy e Chrissie, mas os dois mantinham contato diário com a família de Guy que, como Seb, eram Cookes.

Katie já podia ver a notícia sobre o relacionamento dos dois se espalhando de tal forma que um parente Cooke distante, trabalhando no aeroporto, poderia até mesmo cumprimentar Seb em sua chegada ao país com a notícia do futuro casamento com uma Crighton.

Katie estava começando a se sentir extremamente doente, e podia entender muito bem por que as mulheres vitorianas definhavam. Se ao menos existisse um convento conveniente, de preferência da ordem das que fazem voto de silêncio, para que pudesse desaparecer...

— Minha nossa, já é tão tarde? Preciso ir — Jenny anunciou apressada. — Seu pai deve estar preocupado com a minha ausência.

Sentindo-se fraca, Katie levantou-se e acompanhou a mãe até a porta. Assim que ela partiu, foi até a cozinha imaculada, cuja pintura fora recentemente concluída. Nunca gostara de beber, mas naquele momento precisava muito de algo restau­rador e encorajador. No entanto, as únicas bebidas alcoólicas que possuía eram o presente de mudança de seu pai: uma dúzia de garrafas de vinho.

Tudo era culpa daquela mulher. Se ela não tivesse feito a previsão... Relutante, Katie forçou-se a reconhecer que não es­tava sendo justa. A culpa era somente dela, primeiro por ter envolvido Seb naquilo, e segundo por não ter corrigido Louise. Agora só lhe restava esperar pela fúria de Seb.

Naquele meio tempo, poderia se ocupar de desempacotar e colocar suas coisas no lugar.

Horas mais tarde, Katie estava fechando a última gaveta do quarto quando o perfume dos saches de lavanda que havia colocado entre suas coisas a fez sorrir com melancolia.

A lavanda era do quintal de sua mãe, e o simples fato de sentir aquele odor lhe trazia memórias de sua infância junto com Louise. Era muito difícil ficar distante da irmã.

Nos últimos tempos sempre sentira dor ao encontrar Gareth mas, estranhamente, daquela vez a dor havia sido menos intensa. Era mais uma dor suave do que uma agonia profunda. As fan­tasias que tinha com ele como seu amante de algum modo haviam ficado ofuscadas pela paixão sensual que havia sentido por Seb. Mas com Seb era apenas sexo, e ela amava Gareth... Ama­va... no passado... Katie franziu a testa.

A conferência foi bastante desgastante. Elas sempre eram, mas normalmente Seb considerava tais encontros desafiadores e libertadores de adrenalina. Daquela vez, concentrar-se nas palestras havia sido uma tarefa árdua, e mesmo assim ele não conseguira ficar totalmente atento, pois seus pensamentos com frequência o levavam onde ele não queria ir.

Katie Crighton!

Aquela altura, ela já devia ter se mudado. Seria sua vizinha, e iriam viver com tanta intimidade como...

De modo abrupto, Seb cortou seus pensamentos. Seu humor já destruído pelo que considerava sua fraqueza não havia me­lhorado nem um pouco durante o longo vôo, nem com o atraso das malas em Manchester.

Guy, que se oferecera para pegá-lo no aeroporto, avistou-o no fundo do corredor de chegada. Indo ao seu encontro, exclamou:

— Alegre-se! Já sei, você preferia que Katie tivesse vindo para lhe pegar.

Parando abruptamente, tão abruptamente que o homem que andava atrás dele quase o atropelou, Seb encarou o primo.

— Katie! Por quê? — perguntou incisivo.

— Humm... Vocês dois... juntos... vão criar um rebuliço. Um Cooke casando-se com uma Crighton... Chrissie também tem o sangue deles, é claro, mas não é uma "Crighton Crighton". Ado­raria ter visto a cara do velho Ben quando lhe deram a notícia, Jenny disse que ele exigiu que vocês estejam em sua festa.

Logo Seb assimilou o que Guy estava dizendo, murmurando com voz sinistra:

— Você está dizendo que a cidade toda...

— Se todos sabem que você e Katie estão juntos? Sim, creio que sim — Guy lamentou. — É isso que dá ser de uma família tão grande. Eu nem tentaria negar se fosse você — Guy o consolou com um sorriso. — As mulheres da família estão até planejando uma excursão para Chester, para comprar o enxoval.

— É uma pena que vocês dois tenham comprado os apar­tamentos antes de declararem o que sentiam um para o outro. Vai ser difícil para Katie carregar para cima e para baixo um filho, principalmente se a nossa parente cigana estiver errada e ela acabar tendo "gêmeos" — Guy brincou com um largo sorriso nos lábios. — Afinal, alguém deve ser o primeiro a trazer para os Crighton uma nova geração de gêmeos.

— Gêmeos? — Seb franziu a testa.

— Sim, gêmeos, sabe, dois bebês idênticos — Guy falou bem pronunciado. — Gêmeos como sua Katie e Louise. Jenny disse que foi Louise que arrancou a verdade de Katie sobre vocês dois... Olha, eu não posso dizer nada a esse respeito — Guy confessou. — Chrissie e eu nos apaixonamos à primeira vista.

— Você já contou para Charlotte?

— Er... Não... Ela está num acampamento agora — Seb

informou.

O que estava acontecendo... Que tipo de jogo Katie estaria jogando? Será que era um esquema louco para puni-lo por tê-la beijado, tocado...

Será que pretendia alardear que formavam um casal para depois desprezá-lo em público? Afinal, ela era uma Crighton, membro de uma família que, historicamente, considerava-se melhor que todas, e ele era um Cooke, membro da família que, historicamente, era considerada a pior das piores.

Uma hora mais tarde, quando Guy deixou-o na porta da casa que ainda estava alugando, já era tarde da noite. Abriu a porta e pegou a pilha de cartas que estavam sobre o tapete.

Estava cansado e irritado. Precisava de um banho, mas mais do que isso...

Subiu a escada de dois em dois degraus, abriu a porta do quarto e rapidamente tirou as roupas.

A Flórida estava quente e úmida, e ele havia ficado bastante tempo dentro dos hotéis com ar-condicionado, mas mesmo assim a cor da sua pele estava um pouco mais escura. Enquanto ensa­boava o corpo, os músculos de seus braços e costas ressaltaram-se.

Enquanto se enxugava, ouviu as mensagens na secretária eletrônica. Havia uma da decoradora, avisando que o aparta­mento estava pronto e que ele poderia mudar-se conforme ha­viam combinado.

Seb franziu as sobrancelhas quando desligou o carro. O certo, se ele tivesse juízo, seria jantar algo leve e ir direto para cama. Ele não estava com disposição para agir com calma e lógica, então por que, se sabia disso, por que estava parado em frente ao prédio sabendo que Katie já devia ter se mudado?

Mas tinha todo o direito de pedir uma explicação, justificou-se.

Katie tivera um dia muito difícil. Um dos seus clientes havia se atrasado tanto para uma reunião que não lhe sobrara tempo de almoçar ou mesmo para tomar uma xícara de café. Mais tarde, quando chegou no fórum, descobriu que estavam faltando alguns papéis em seu processo, e então teve que enfrentar o embaraço de pedir um adiamento para o juiz, o que não havia sido nem um pouco agradável.

Além disso, o escapamento do carro havia quebrado quando estava voltando de Chester. Justo quando Katie apenas dese­java paz, silêncio e ir para a cama cedo.

Na banheira, estava ensaboando os ombros e tentando re­laxar quando ouviu o interfone tocar.

Levantou-se xingando, pegou a toalha e enrolou-se nela en­quanto ia até o interfone.

— Sim. Quem é?

— Seb Cooke.

Seb! Seb estava de volta. O pânico tomou conta de sua res­piração, deixando-a incapaz de dar qualquer resposta verbal.

— Katie — A voz do Seb estava ameaçadora.

— Eu já estava indo para a cama — ela disse, o que não era uma mentira, embora sua consciência lhe lembrasse que estava sendo uma covarde, e que a coisa mais responsável e razoável a fazer era vê-lo e explicar-lhe o que havia acontecido... Explicar! Se fosse tão fácil assim...

Ela fechou os olhos e só os abriu quando ouviu o comentário malicioso de Seb:

— Indo para a cama. Bem, parece bastante apropriado... visto que agora temos... um relacionamento...

         Então ele já sabia. Não que ela duvidasse disso.

Katie respirou fundo. Não havia mais nada a fazer. Tinha que encarar o problema.

— Eu posso explicar — ela sussurrou no interfone. — Mas não agora... amanhã...

— Agora! — Seb respondeu implacável. — A menos que queira que eu telefone para os seus pais e diga que a filha deles é...

— Não... Não... Agora, então... — Katie concordou. Esquecen­do-se momentaneamente de que estava apenas enrolada numa toalha, ela apertou o botão e abriu a porta da frente do prédio.

Katie gelou quando Seb entrou em seu apartamento. Havia uma sombra em seu rosto e ele parecia tão irritado quanto sua voz deixara transparecer. Mas, quando a viu, em vez de fazer uma lista de perguntas, como ela esperava, examinou-a de alto a baixo.

Ela sentiu seu rosto enrubescer quando deu-se conta de como ele a estava vendo: os cabelos presos no alto da cabeça, o corpo ainda úmido do banho, e coberta apenas com uma toalha na cor creme.

— Eu... eu só vou me vestir — ela se ouviu pronunciar, enquanto seu corpo reagia instantânea e incontroladamente àquele olhar faminto, da mesma forma que havia acontecido quando ele a beijara.

Sem reação, olhou dentro dos olhos dele e engoliu em seco. Sentiu o sangue correr mais depressa em suas veias. Devia ser a ansiedade dos últimos dias que estava causando tais efeitos, disse a si mesma. Devia ser por isso que estava expe­rimentando aquela reação extraordinária em relação a Seb...

Um pouco tonta, Katie piscou várias vezes, mas não foi capaz de quebrar a intensidade do olhar flamejante. O que estava acon­tecendo com ela? Por que estava sentindo todo seu corpo tremer, doer com uma necessidade que parecia ter surgido do nada, como um tornado ou um furacão, pronto para destruí-la?

— Eu... eu posso explicar — ela disse com voz rouca. Não sabia se podia explicar o porquê de todos acharem que eles estavam juntos, ou se podia explicar por que estava sentido aquilo tudo, mas em vez de concordar em ouvir o que ela tinha a dizer, Seb simplesmente foi ao seu encontro, murmurando com voz macia:

— Não interessa. Eu mudei de ideia. Não é uma explicação o que eu quero...

— Não... não é?

Com os olhos arregalados, Katie o observou, sabendo instintivamente o que estava para acontecer, mas sentindo-se in­capaz de responder do modo que sabia ser o certo. No entanto, em vez de medo, raiva ou espanto, o que estava realmente sentindo era uma onda de verdadeira excitação.

— Não, não é... — Seb confirmou.

Ele estava a um palmo de distância, e quando Katie cami­nhava para trás, procurando se afastar ainda que mantendo os olhos fixos nos dele, ele avançava mais um pouco, até que ela acabou encostando na parede.

— Seb — ela protestou tremendo.

Seb colocou a palma das mãos na parede, uma de cada lado dela, aprisionando-a.

— Aparentemente, todos em Haslewich sabem que você e eu estamos... juntos — ele disse baixinho, pronunciando cada palavra devagar, de modo que ela sentisse na pele o calor de sua respiração. — Que nós somos... amantes...

— Não — Katie protestou. — Não!

— Sim — Seb insistiu. — E já que supostamente é o que somos...

Então ele abaixou a cabeça e beijou-a com uma mistura de paixão, desejo e raiva, que a deixou muda e sem ação. A boca máscula queimava a sua, pois ele se recusava a terminar o beijo, punindo-a, maltratando-a com o calor da ira.

Mesmo assim, sob toda aquela fúria, a sabedoria feminina de Katie avisou-lhe de que havia algo mais, e como que inde­pendente do seu cérebro, seus sentidos sabiam exatamente o que fazer, como usar as emoções de Seb para aplacar aquela raiva, deixando no lugar uma paixão pura e quase insuportável. Katie percebeu aturdida, enquanto seus lábios se abriam ao toque da língua de Seb, que haviam chegado a um ponto em que a necessidade dele era incontrolável, e estava tentada a atender àquela necessidade sem nenhuma inibição. Afinal de contas, era humana, como toda mulher.

Era capaz de experimentar o desejo sexual, e sentia a ne­cessidade de satisfazer aquele desejo que rapidamente se trans­formava em um força arrebatadora e sem controle. A lógica e a razão continuavam a avisá-la de que aquilo que estava por acontecer não deveria se consumar.

Mas por que ela estava relutando? Por que estava negando a si mesma a satisfação sexual a que as outras mulheres da sua idade tinham direito? Por que estava se isolando numa ilha de inexperiência e ignorância? Porque amava Gareth? En­tão ficaria assim para o resto da vida? Intocada, incompleta... sem ser conhecida por qualquer homem e sem conhecer sua própria sexualidade?

Naquela noite, com Seb, poderia experimentar tudo de que havia se privado. Naquela noite, com Seb, se tornaria uma mulher completa e cumpriria o seu destino. Com Seb poderia... Quando seu cérebro registrou o perigo de seus pensamentos, Katie rejeitou-os instantânea e totalmente. Mas seu corpo pa­recia ter se divorciado do seu cérebro por completo, fazendo sua própria escolha. Sua língua tocou a de Seb, acariciando-a delicadamente. Ela pôde sentir um tremor por todo o corpo.

Seb logo respondeu ao seu encorajamento silencioso. Suas mãos deixaram a parede, abraçando-a, e seu corpo passou a pressioná-la. Estavam tão intimamente colados que Katie podia sentir tanto as batidas do coração de Seb como o pulsar mais íntimo de seu corpo.

Como se seus movimentos estivessem sendo dirigidos por alguém, ela o abraçou enquanto Seb deslizava as mãos por seu corpo até chegar em suas ancas. Puxando-a da parede, ele aproximou-a ainda mais de si, num abraço muito íntimo.

Os dois estavam calados. Não era preciso falar. Ambos sa­biam o que estava acontecendo, o que iria acontecer e onde os passeios das mãos de Seb pelo corpo de Katie iriam chegar.

Quando Seb ergueu um pouco o corpo dela em seus braços, o beijo intensificou-se, fazendo-o sentir com profundidade a boca de Katie.

Com os olhos abertos, ela acompanhava cada toque de suas mãos, a boca máscula sobre seu corpo, e sua expressão regis­trando cada nuance ou resposta ao que estava sentindo.

Houve um momento em que Seb, olhando profundamente em seus olhos, afastou-se para tirar-lhe a toalha.

Alarmada, pensou que precisava detê-lo, pois estava ciente de como a sua primeira vez seria diferente da de sua irmã gémea com Gareth. Louise experimentara um momento cheio de carinho e delicadeza.

Mas uma força interna levou-a a ultrapassar aquela bar­reira. Ela não era Louise, e Gareth nunca a amaria. Nunca experimentaria o calor, a gentileza e o carinho de ser possuída por Gareth, por isso devia tomar um caminho para a satisfação sexual mais obscuro, profundo, e muito mais perigoso.

Seb continuava a observá-la, como se esperasse que ela fizesse ou dissesse alguma coisa. Katie fitou-o decidida. Em gestos lentos, soltou a toalha e deixou-a cair, com o olhar fixo no de Seb.

Esperava que ele imediatamente olhasse para baixo, mas Seb manteve os olhos nos seus. Então ela teve coragem de descer os olhos deliberadamente do rosto dele para seu corpo, e observou que o tecido perto do zíper da calça estava esticado.

Eletrificado por aquele olhar, Seb a pegou no colo e levou-a para o quarto, onde só as lâmpadas acesas dos abajures davam ao ambiente a aparência de um ninho. Katie esperava que ele a deitasse na cama, mas em vez disso, Seb colocou-a em pé e beijou-a com paixão. Mais chocante do que a reação de Seb, era a sua própria.

Tempos atrás, haveria uma Katie que ficaria totalmente chocada com aquela mulher nua que se insinuava contra o corpo ainda vestido de Seb. Os dois trocavam beijos profundos e carinhosos com um ritmo cada mais acelerado. Katie disse a si mesma que havia nascido para aquilo. Era tudo tão forte, elementar... Não sabia como havia sobrevivido sem aquelas emoções até aquele momento.

Seb começou a acariciar seu corpo. As mãos experientes passeavam dos ombros até as nádegas, para finalmente con­centrarem-se sobre seus mamilos.

Todo o corpo de Katie parecia vibrar. O simples fato de ter os polegares de Seb sobre seus mamilos intumescidos fez com que sentisse uma força de vida incontrolável e necessária...

As sensações explodiam dentro do seu ventre e Katie estava totalmente entregue. O que havia acontecido com aquela mu­lher que esperava por um amante gentil, amoroso, que a tra­tasse como uma boneca de porcelana çom toques cuidadosos? Que reservava para si um papel sexual passivo?

Fechou os olhos numa reação intensa quando Seb, sem que ela precisasse dizer o que queria, abaixou o rosto na direção de seus seios.

Só o calor da respiração dele a fazia tremer, mas então ele abriu a boca e começou a circundar seus mamilos com a língua. Katie pensou que iria desmaiar, tamanha a força dos seus sentimentos. Então ela passou os dedos por entre os cabelos de Seb, segurando-o mais perto de seu seio e murmurando, pedindo que ele sugasse vagarosamente os mamilos para que a dor do desejo fosse amenizada.

E quando ele o fez, aquela fome não foi satisfeita. Pelo con­trário, aquilo deixou-a ainda mais desejosa, e ela começou a abrir sua camisa, quase que arrancando os botões, para que pudesse sentir o calor de sua pele.

Meio entorpecida, Katie percebeu que Seb a estava ajudando a tirar suas roupas ao mesmo tempo que continuava a acari­ciá-la. O corpo másculo era um banquete para todos os seus sentidos: visão, tato, olfato... paladar...

As reações e sentimentos que estava experimentando eram totalmente novos para ela. Mas aquela era a verdadeira Katie, e não havia motivo para recriminar-se. Sentia-se como uma flor a desabrochar.

Seb deitou-a na cama, e Katie começou a explorar o corpo dele com os lábios.

— Você é tão gostoso... Seu cheiro é tão bom... Seu gosto...

Aquelas palavras acabaram com o autocontrole de Seb. Po­sicionou o corpo dela sob o seu de modo que estivesse aberto para seus carinhos e beijos. E ela agora queria ser totalmente possuída. Não havia tempo para hesitação ou apreensão, o único som que ouvia eram as batidas do coração de Seb en­quanto ele a penetrava.

Não houve choque ou dor, pois eles se encaixaram perfei­tamente. Seb se movia e Katie movia-se com ele, seus corpos em perfeita harmonia, criando um ritmo que ecoava a própria força do universo. Todo o corpo de Katie havia entrado em outra dimensão, e a última barreira estava sendo transposta... e então ela chegou a um lugar calmo e feliz.

Tocou o pescoço de Seb e sorriu, mas ele não respondeu ao seu sorriso. Seus olhos estavam escuros e indecifráveis, e sua voz parecia nervosa e contida quando ele perguntou:

— Por que você não me disse.... não me avisou?

Katie virou o rosto a euforia desaparecendo diante da de­saprovação na voz dele.

— Foi sua primeira vez, não foi? — Seb queria a confirmação, enquanto Katie continuava a fugir de seu olhar.

Não havia por que negar a realidade, mesmo porque era óbvio que ele já havia percebido,

— Sim, foi — Katie concordou calmamente. Ela ouviu-o xingar baixinho.

— Você devia ter me contado, e...

— E o quê? Você teria parado?

Seb sabia o que ela queria dizer. Ele não seria capaz de parar como ela não fora capaz de falar sobre sua virgindade.

— Por que eu devia ter contado? Foi maravilhoso... Seb praguejou novamente.

— Você era virgem — ele a lembrou furioso. — E eu...

— Você fez amor comigo como se eu fosse uma mulher, e não uma menina — Katie completou. O orgulho estava escurecendo sua vista, e ela mantinha a cabeça levantada enquanto falava.

— Talvez eu não tenha lhe contado porque queria ser tratada como um mulher...

— Não, você está mentindo — Seb negou ríspido. — Ne­nhuma mulher inteligente e da sua idade espera tanto se não for por um motivo, e com certeza uma mulher como você... devia estar esperando por alguma coisa ou alguém...

Ele estava perto da verdade e Katie teve medo de que ele descobrisse... Descobrisse o quê? Que durante anos ela alimen­tara uma ideia totalmente errada de sua própria sexualidade? Que a distância entre o que acreditava ser e o que o seu corpo lhe havia pedido naquela noite era tão grande que nem ela mesma podia acreditar?

Qual seria a reação de Louise se lhe contasse que havia sido totalmente arrebatada por sua própria sexualidade e qué prati­camente implorara a Seb que a tomasse, possuísse e satisfizesse?

— Por quê? — Seb perguntou diretamente. — Por que agora? Por que comigo?

Tomou-a nos braços e virou-a para que pudesse fitá-la nos olhos.

— O que está acontecendo, Katie? Eu chego em casa e descubro que você e eu estamos supostamente tendo um relacionamento, que já somos efetivamente um casal, embora nós dois saibamos que não é nada disso... ou não era — ele se corrigiu.

— Foi um acidente — Katie respondeu imediatamente — Eu nunca... — Ela parou, ainda sentindo ò gosto dele em sua boca.

— Um acidente?

— Sim — ela insistiu. — Louise tirou conclusões erradas sobre... sobre nós... — Parou abruptamente. Como poderia ex­plicar que não havia corrigido a irmã imediatamente? — Eu tentei lhe dizer, mas... não foi fácil... — Ela levantou a cabeça.

— Algumas vezes Louise se sente meio culpada porque ela é... porque tem Gareth e a vida deles, e é difícil fazê-la entender que sou feliz como sou.

— Ela quer que você seja como ela, tenha um companheiro. — Seb interrompeu, completando intuitivamente. — E foi mais fácil deixar que ela pensasse que suas suspeitas eram reais.

— Sim, foi — Katie concordo|a. — Eu não imaginava que ela fosse contar para alguém... ou que... — interrompendo-se novamente, ela meneou a cabeça. — Eu não pude acreditar quando minha mãe começou a falar de você... de nós, como se... Eu devia ter revelado a verdade naquela hora, eu queria... Eu sabia que você não iria gostar quando soubesse.

— Eu estava com raiva — Seb admitiu bruscamente. — Mas não é desculpa para o que eu fiz... Por que você não me deteve... me diga?

— Talvez porque eu também quisesse — Katie admitiu com honestidade. — Fitou-o direto nos olhos, e continuou a falar com suavidade e um esboço de sorriso nos lábios. — Talvez eu tivesse decidido que meus dias de virgindade precisavam chegar ao fim. Mas eu queria você, Seb... Não sei por que ou como, nem estava pensando sobre a minha virgindade. E, tam­bém, não estava conseguindo ter este tipo de lógica, ou qualquer tipo de pensamento razoável... Eu só... —- Katie parou, seus olhos encheram-se de lágrimas antes de ela continuar:

— Sim, talvez eu devesse ter lhe avisado... contado... ou impedido você, mas...

— Mas... — Seb estimulou-a quando ela parou e abaixou totalmente a cabeça.

— Mas eu não queria — Katie repetiu diretamente, levan­tando a cabeça para encará-lo. — Eu não sabia que o sexo podia ser tão... tão...

— Tão perigoso? — Seb sugeriu com sarcasmo.

— Tão total — Katie corrigiu e acrescentou com bravur: — Não vou me sentir culpada ou envergonhada pelo que acon­teceu ou o que senti. Seb. Eu... foi... foi maravilhoso — ela disse baixinho, nada mais do que um sussurro, ficando rubo­rizada antes de olhar para o outro lado.

— Maravilhoso! — Seb repetiu de forma explosiva. — Você tem ideia? Nada disso devia ter acontecido. Nada disso. Você e eu...

— Nem mesmo, gostamos um do outro. Eu sei... — Katie concordou com tristeza. — Talvez a paixão seja assim, eu não sei. Quem sabe você possa explicar isso melhor do que eu.

— Você acha? — Seb balançou a cabeça. — O que acabou de acontecer entre nós foi como uma "primeira vez" para mim também. Eu não tenho o hábito de perder o controle desse jeito, e com certeza não gosto de saber que...

Ele parou, balançando a cabeça enquanto Katie fazia um gesto vago com a mão.

— Bem, ao menos ninguém além de nós dois precisa saber o que aconteceu — ela comentou com praticidade. — Ama­nhã explicarei para minha mãe que Louise entendeu tudo errado e...

Katie ficou tensa quando Seb afastou-se dela de modo abrupto, puxando os lençóis desarrumados sobre a parte infe­rior de seu corpo.

A rejeição e a clara falta de interesse no que ela estava falando magoou-a mais do que esperava, e o calor e felicidade que haviam seguido aqueles momentos de amor estavam sendo rapidamente substituídos pelo sentimento de perda e solidão.

— Se você quiser... — ela começou inflexível, mas então viu o jeito com que Seb olhava para seu corpo. Percebeu de imediato o que ele queria, e seu rosto queimou com uma mistura de choque e excitação.

Excitação porque Seb ainda a desejava, e fora por esse mo­tivo que se afastara e se cobrira. Porque o corpo másculo estava reagindo à proximidade do dela, e porque... Sem perceber o que fazia, ela sussurrou:

— Seb, por favor, fique comigo esta noite... a noite toda...

— Ficar com você...

— Sim, eu quero que fique — Katie assegurou. — Eu te quero... — E encarando-o com o olhar cheio de sabedoria fe­minina, fez questão de lembrar: — Afinal de contas, não sou mais virgem.

Ela podia ver o fogo flamejando nos olhos de Seb como se ela tivesse atirado um fósforo aceso no petróleo. Quando ele se aproximou, sua pele estava ardendo, e quando Katie o tocou ele gritou, sofrendo com a exploração desejosa das mãos femi­ninas sobre seu corpo.

'"Fique comigo", Katie havia pedido. E ele atendera, atordoado pelo tumulto causado por seu desejo incontrolável. E depois que a paixão de ambos fora aplacada, Seb permanecera na cama de Katie, abraçando-a por toda a noite, enquanto ela dormia.

"Que diabos está acontecendo comigo?", Seb perguntou-se derrotado. Chegara ali naquela noite com a única intenção de pedir um explicação para Katie, furioso com ela, e agora... Admirou-a enquanto ela dormia calmamente em seus braços, e soube que, por mais ridículo ou ilógico que aquilo parecesse, não queria deixá-la.

"Fique comigo", ela dissera. E ao ficar Seb, de alguma forma, estava redefinindo todas as regras que havia estipulado para sua vida.

 

                                             CAPITULO VIII

Ainda com sono, Katie abriu os olhos e sentou-se na cama, admirando Seb em pé junto à porta do quarto, todo vestido e segurando a caneca de café que exalava um aroma delicioso.

Já bem desperta, observou-o vindo em sua direção sem es­perar por uma resposta.

Poucas horas antes, quando a luz do sol começava a clarear o céu, ela o havia acordado sussurrando que o queria. Ficou instantaneamente vermelha ao lembrar-se do quanto havia sido persuasiva. Não que ele precisasse de muita persuasão. Quando tentou andar, Katie cambaleou, sentindo todo o corpo dolorido devido às longas horas fazendo amor com Seb.

— Você não precisa ficar — ela disse sem rodeios, enquanto pegava a caneca da mão dele evitando encará-lo diretamente.

— Você deve querer voltar para a sua casa... deve ter coisas para fazer...

— Bem, sim — ele concordou, continuando de forma lacónica.— Tenho mesmo que fazer alguns telefonemas e com certeza preciso trocar de roupa antes de irmos encontrar seus pais para o almoço. Sua mãe telefonou.

— O quê? — Katie sentou-se ao pé da cama.

— Ela ligou cedo, enquanto você estava dormindo. E eu atendi o telefone — Seb acrescentou com simplicidade.

Katie encarou-o como se não acreditasse no que estava ouvindo.

— Minha mãe ligou e você atendeu o telefone?

— Sim... — Seb concordou.

— O que ela disse? O que você disse? — Katie começou a perguntar de modo desenfreado. — Oh, mas isso é terrível! Agora ela não vai mais acreditar que você e eu não somos...

— Que você e eu não somos o quê? — Seb perguntou com ironia. — Que você e eu não somos amantes? Mas nós somos!

Katie, perplexa, fitou-o.

— Mas era um segredo — ela murmurou assim que conse­guiu recuperar a voz. — Era... — Ela parou.

— Era o quê? — Seb indagou, mas Katie meneou a cabeça. Como poderia explicar que o que eles haviam compartilhado, o que ela havia experimentado havia sido para ela algo muito especial... místico até? E que, mesmo que pudesse, não teria mudado nem uma batida de coração?

Cada pensamento e imagem que ela havia sonhado com Gareth havia sido eliminado completamente pelo calor da pai­xão de Seb.

— Nada disso devia estar acontecendo — Katie falou desa­nimada. — Você não devia... Você não... Meus pais pensam que nós somos um casal, mas nós não somos...

— Não — Seb concordou. — Mas não dava para falar isso para sua mãe quando ela telefonou e descobriu que eu estava aqui, dava? O que eu devia ter dito? Sim, eu passei a noite na cama com a Katie, mas foi só isso.,, só uma noite...

Katie empalideceu enquanto ouvia Seb. Se soubessem a ver­dade, seus pais ficariam chocados, envergonhados com o seu comportamento.

Conforme observava as emoções passando pelo rosto de Ka­tie, Seb refletiu que teria problemas se ela descobrisse que fora ele quem sugerira à mãe dela que deveriam almoçar juntos, e que fora ele quem, com o tom de voz e as palavras cuida­dosamente escolhidas, deixara claro que os dois haviam passado a noite juntos, e não que ela havia presumido.

A tradição dizia que a mulher é quem prende o homem em relação ao sexo e não o contrário, mas a noite anterior servira de prova para ele de que a tradição não é nada confiável.

Katie podia ser virgem, mas não se comportara com hesitação, medo ou apreensão. Nem houvera qualquer arrependimento no modo como ela reagira a ele, no modo que se entregara.

Naquela manhã bem cedo, enquanto ela dormia, havia saído para uma caminhada solitária ao longo do rio, pois precisava de algum tempo para organizar seus pensamentos e emoções.

Enquanto caminhava, teve que admitir que seria um tolo se fingisse que não sabia, mesmo antes daquela noite, como seus sentimentos por ela eram realmente fortes e perigosos. Ninguém ficava tão irritado e nervoso com alguém que não significava nada para ele, e Seb certamente não teria a mesma reação física da noite anterior sem que...

Fora forçado a reconhecer a verdade que estava escondendo de si mesmo o tempo todo.

Desde o começo, da primeira vez que a vira, Katie havia exer­cido nele um efeito profundo. A raiva, a intensidade que havia experimentado naquela primeira vez que haviam se encontrado fora forte demais, muito diferente dos padrões normais.

O que ele estava tentando dizer a si mesmo é que havia se apaixonado por ela e que imediatamente começara a negar o fato?

Bem, na noite passada não havia negado nada. Mas tinha quase certeza de que Katie não o amava.

Não, mas o queria. Seu corpo enrijeceu somente com aquele pensamento, e sua necessidade de voltar a tê-la em seus braços era tão grande que ao tentar controlar-se soltou um gemido de dor.

Enquanto voltava para o apartamento, Seb ironicamen­te reconheceu como sua vida havia dado uma guinada. Ele e Sandra haviam se casado por confundir desejo físico com amor.

Mas agora que realmente conhecia o amor podia ver quanta diferença existia entre o que havia sentido antes e o que sentia agora. Era por isso que não assumiria um novo relacionamento baseado apenas em desejo físico. Katie merecia mais. Merecia não só ser amada, como ele com certeza a amava, mas merecia conhecer o amor, sentir, experimentar e compartilhar.

Chegou ao apartamento decidido a dizer a Katie que não tinha expectativas, e que o que acontecera fora um incidente isolado, acabado, quando o telefone tocou e ele atendeu. Sem saber o que fazer, Seb subitamente confirmou para a mãe dela que eles eram amantes, prendendo Katie às expectativas da família e ao seu amor. E convenceu-se de que já tinha idade suficiente para fazer mais pelo seu amor e pela própria Katie.

— Isto não pode estar acontecendo — Katie soltou um mur­múrio dolorido, enquanto olhava para a caneca do café agora gelado que ele lhe trouxera. Talvez não devesse, mas estava definitivamente acontecendo, e ao contrário de suas expecta­tivas, em vez de acusá-la de transformar a vida dos dois numa confusão, Seb parecia totalmente relaxado com toda a situação.

— Não fui eu quem começou tudo — Seb relembrou-a. Katie franziu a sobrancelha. Realmente não tinha sido ele, e só podia culpar a si mesma pela situação em que se encontrava.

— Vou ligar para a minha mãe e cancelar o almoço — disse para Seb. Mas em vez de aprovar sua sugestão, ele encarou-a com uma expressão indecifrável.

— Se você quiser...

Dez minutos mais tarde, quando Seb já havia ido embora, Katie decidiu que não conseguia entender aquele homem. Bem, nem mesmo podia entender a si mesma! Na noite anterior seu comportamento fora totalmente anormal. Tanto que mesmo sozinha ainda ficava corada ao lembrar-se de algumas das coi­sas que havia dito... e feito!

Telefonou para a mãe assim que saiu do banho, explicando com os dedos cruzados que Seb não iria conseguir chegar a tempo para o almoço, pois percebera que teria um trabalho para fazer com urgência.

— Na verdade — ela começou, disposta a não terminar aque­la ligação sem ter contado toda a verdade para a mãe, mas antes que pudesse continuar sua mãe foi dizendo:

— Tem alguém na porta. Quanto ao almoço, não tem im­portância, vamos marcar um outro dia, e além do mais — ela riu alegre —, tenho certeza de que você e Seb preferem ficar sozinhos...

Katie admitiu que realmente preferia ficar sozinha, mas completa e totalmente sozinha. Vestiu-se rapidamente e pegou a mala e as chaves do carro. Precisava de tempo para pensar, tempo para se conscientizar de tudo que havia acontecido.

Quando Katie estava descendo para pegar seu carro, Seb estava saindo do banho. Enquanto circulava nu pelo quarto, viu a foto de Charlotte. Ela vinha lhe dizendo com certa insistencia que já era hora de ele se apaixonar e casar de novo. E tinha gostado de Katie logo de início. Era só lembrar da forma como ela reagira diante da ridícula previsão da cigana.

Seb franziu a testa e fechou os olhos, murmurando uma oração com a respiração entrecortada. De repente lembrou-se do que, no calor da paixão da noite anterior, havia esquecido de forma imprudente.

Sabia que estava saudável, então o que tinham feito, mesmo que irresponsável, não havia sido perigoso. Mas do ponto de vista de uma possível concepção...

No entanto, haviam métodos novos. Salvadores... Quando ele estava correndo para a porta, após vestir-se apressada­mente, o telefone tocou. Seb hesitou e parou, e então logo al­cançou o aparelho. Seu coração começou a bater mais forte quando o líder do acampamento em que Charlotte estava ex­plicou que havia acontecido um pequeno acidente e que ela havia caído.

— Eles a manterão no hospital para observação — o homem explicara a Seb. — Mas posso assegurar que não é preciso se preocupar,

— Onde ela está? Em que hospital? — foi a pergunta in­flexível do Seb.

Antes de sair, ele telefonou para o apartamento de Katie, esperando por alguns minutos para que ela atendesse. Sem obter resposta, desligou impaciente. Não podia esperar mais, não com Charlotte no hospital. Ligaria para Katie mais tarde do celular, e a alertaria para o perigo que estava correndo.

Mais tarde, Katie estava na estrada, incapaz de explicar para si mesma o que a levara a fazer o que estava fazendo, e por que estava a caminho de Bruxelas. Havia telefonado para a irmã gêmea para avisá-la de sua visita, ligando em seguida para a mãe, avisando que estava a caminho do aero­porto e da casa da irmã, e que não sabia quanto tempo ficaria fora.

— Vai ser por alguns dias apenas — ela assegurou para Jenny. — Peça para papai e para Livy que me desculpem por deixá-los na mão, mas...

Do outro lado da linha, Jenny apenas escutava. Não era do feitio de Katie ser impulsiva daquele jeito, mas não podia fazer nada além de ficar feliz pelo fato da distância que havia se criado entre as duas irmãs estar diminuindo novamente.

Se Katie precisava da irmã a ponto de largar tudo para ir vê-la, então Jenny sabia que Louise estaria lá para apoiá-la.

— Ela foi para onde? — Jon perguntou espantado quando Jenny deu a notícia da viagem não planejada de Katie.

— Será só por alguns dias. Um curto período de descanso — Jenny acalmou-o, enquanto o marido a encarava desconfiado.

— Eu com certeza espero que sim. Estamos muito ocupados no momento. O que foi que aconteceu?

Jenny simplesmente olhou para ele, que fez uma melancólica expressão paternal, adivinhando o que acontecera.

— Problemas de amor!

— Uma pequena crise de confiança, acho — Jenny opinou.

— Em Seb? — Jon franziu as sobrancelhas. Ele talvez não fosse um pai muito possessivo, mas certamente era superprotetor.

— Se este é o caso, é melhor que se separe dele.

— Não, não em Seb — Jenny esclareceu com gentileza. — Acho que ela não tem confiança em si mesma... Percebi isso especialmente quando ela estava na faculdade e desenvolveu o hábito de ficar nas sombras, de aceitar o segundo lugar... o segundo melhor...

— Tal pai, tal filha — Jon lamentou, enquanto trocava com Jenny olhares de compreensão e amor. O próprio Jon havia ficado na sombra de seu irmão gêmeo, tanto que a falta de auto-estima afetara todos os aspectos de sua vida. A ponto de ele e Jenny decidirem que suas filhas gêmeas não passariam por aquilo. Os dois sempre encorajaram suas meninas a de­senvolverem habilidades e ficarem orgulhosas tanto das dife­renças como das similaridades entre si.

— Seb vai ser bom para ela. Não vai permitir que ela fique no banco de trás da vida. Como um Cooke, sabe como é ter que lutar pelo respeito das pessoas e, ainda mais importante, para manter o respeito próprio. Ele vai entender os pontos vulneráveis de Katie.

— Bem... tudo isso parece positivo e esperançoso.

— Posso ver um futuro muito feliz para os dois.

— E eu posso ver um muito caro — Jon complementou. — Por que o destino não fez com que eles se encontrassem um pouco antes? Assim, ela e Louise poderiam ter se casado juntas, duas com o custo de uma, por assim dizer.

O aeroporto estava excepcionalmente cheio. Depois de passar pelo balcão de passagens, Katie estava abrindo caminho até a lanchonete quando viu com o canto do olho um homem alto e de cabelos negros passando ao seu lado.

De imediato sentiu uma onda de alegria e excitação dentro de si.

— Seb.

O nome dele estava nos seus lábios, seu coração acelerado. Ele estava ali. Havia vindo procurá-la. Ele a amava tanto quan­to ela o amava. Ela o amava! Amava Seb. Durante alguns segundos ficou estática diante da revelação de seus sentimen­tos, como se estivesse se sentindo drogada. Ela amava Seb.

Katie fechou os olhos e disse seu nome devagar, saboreando cada letra, e então abriu os olhos e procurou-o. Mas quando examinou-o com atenção percebeu que aquele não era Seb. Nem mesmo se parecia com Seb. Seus traços nem se aproxi­mavam da nobreza dos de Seb. Sua estrutura óssea não era nem um pouco masculina, e seus olhos não se pareciam nem um pouco com os olhos acinzentados e frios de Seb.

Definitivamente, aquele não era Seb. E por que Seb estaria ali? Nem sabia que ela estava no aeroporto, e se soubesse com certeza não sairia correndo para encontrá-la e abraçá-la, nem para declarar seu amor por ela. Seb me ama?

Aquilo devia ser o que a intimidade do sexo trazia para a mulher. Deixá-la vulnerável. Fez com que ela amasse o homem que lhe mostrou... que lhe proporcionou tanto prazer. Katie balançou a cabeça devagar para expulsar da mente aqueles pensamentos.

Será que se apaixonara por Seb quando estavam fazendo amor ou talvez, sem saber, já estava atraída por ele antes? Não sabia, e não havia jeito de descobrir. Sabia apenas que o momento em que descobrira que o amava ficaria gravado em sua memória para sempre. E agora não havia mais volta.

Distraída, Katie olhou para o quadro de partidas e percebeu que o embarque do seu vôo estava acontecendo. Como um au­tómato, encaminhou-se ao portão apropriado. Sabia por que estava sendo levada a encontrar-se com Louise. Precisava en­contrar a única pessoa que poderia ajudá-la a entender o que estava acontecendo com ela.

Dentro do avião, Katie sentou-se em sua poltrona totalmente distraída. Seu pensamento e seu coração estavam repletos com imagens e pensamentos sobre Seb. Seb entrando furioso em seu apartamento, tocando seu corpo, beijando-a com uma pai­xão selvagem, encarando-a a raiva transformando-se em puro desejo. Seb... Aquilo era o amor?

— Katie... você aqui...

Katie virou-se imediatamente para a direção da voz da irmã, que a esperava do outro lado do portão de desembarque. Correu na direção de Louise e todas as desculpas e ideias lógicas que havia preparado para dar à irmã foram esquecidas durante o abraço.

As lágrimas enchiam seus olhos e caíram por seu rosto en­quanto ela contava chocada para a irmã:

— Lou, estou apaixonada... por Seb... Soltando-a, Louise observou Katie e perguntou gentil:

— Isso é um problema? Achei que vocês dois formavam um belo casal.

— O problema é que não somos um casal — Katie admitiu. — Mas antes disso... Onde está Nick? — ela perguntou, mu­dando de assunto e procurando ao redor pelo filho da irmã.

— Com Gareth — Louise explicou prontamente. — Gareth tinha uns dias de folga, então eu lhe disse que estava na hora de ele e Nick fazerem alguma coisa juntos. Ficarão com uns amigos durante alguns dias.

De modo algum Louise contaria à irmã que, até receber seu telefonema, também planejava viajar com eles. Gareth franzira as sobrancelhas, mas não contestara ao saber que os planos teriam que ser mudados.

— Katie nunca pede nada — Louise explicou para ele. — Das duas, eu sou a que sempre está solicitando alguma coisa. Ela precisa de mim, Gareth. Tenho que estar aqui a sua espera. Devo isso a minha irmã — terminou, decidida.

Agora, vendo o rosto pálido da irmã gêmea, Louise sabia que tinha feito a coisa certa.

— Vamos — ela anunciou, pegando a irmã pelo braço. — Vamos ter um almoço daqueles. Descobrimos um restaurante perto de casa...

Katie começou a protestar e balançar a cabeça. A última coisa que queria fazer era comer mas, como de costume, Louise não lhe dera oportunidade para colocar objeção, pegando-a pelo braço e levando-a para fora.

A caminho do hospital, uma parte da estrada estava par­cialmente interditada, o que o obrigou a diminuir a velocidade. Aquilo permitiria que ligasse para Katie. Rapidamente, digitou o número que havia memorizado naquela manhã enquanto con­versava com a mãe dela.

Esperou que ela atendesse deixando o telefone tocar vá­rias vezes, mas só lhe restou um sentimento de angústia e desapontamento.

Charlotte havia sido levada para um hospital perto do acam­pamento, e embora houvesse falado com a enfermeira encar­regada, assegurando-se de que Charlotte só estava em obser­vação, sabia que sua preocupação paterna só acabaria quando a visse.

Ele só esperava encontrar Katie a tempo. Porque se não conseguisse... "Você terá um filho", disse a cigana. Um filho... um menino... o filho de Katie... De modo algum ele abdicaria das responsabilidades paternas pela segunda vez. Não seria um pai ausente de jeito nenhum. De modo algum deixada de ser parte integrante da vida de seu filho...

Charlotte tivera sorte... Ele tivera sorte pois sua ausência não havia causado maiores danos a ela, mas Seb ainda car­regava o peso da culpa de não estar presente quando mais precisara dele. Ainda levava a culpa de saber que seu egoísmo poderia ter comprometido a felicidade e a vida da filha... Do mesmo modo que seu ato egoísta poderia ter resultado na con­cepção de outra criança.

Um filho não planejado, mas bem-vindo. A sensação que ele experimentava só em pensar em Katie carregando um filho seu era inexplicável. Charlotte era sua filha e a amava, mas nunca havia sentido por Sandra o que experimentava ago­ra com Katie.

Gostava de Sandra como pessoa, respeitava-a e a admirava como mãe e como esposa, mas não a amava, nunca a amara como amava Katie.

Mas Katie não o amava, e se estivesse grávida por causa da sua falta de controle...

Deus, que confusão ele armara...

— De verdade, Louise, não estou com fome — Katie pro­testou. — Tudo o que quero... — Uma lágrima caiu pelo rosto, o que fez com que Louise mudasse os planos e a direção em que estava dirigindo.

— O que está fazendo? — Katie protestou alarmada quando a irmã fez uma conversão ilegal numa avenida movimentada.

— Não se preocupe — Louise disse despreocupada. —Nin­guém estava olhando... Vamos para casa — ela explicou. — Podemos conversar melhor lá.

A casa que Louise e Gareth haviam alugado em Bruxelas ficava numa rua bonita e arborizada. Era espaçosa e possuía um belo jardim na parte de trás.

— Venha. — Louise sorriu para a irmã depois de estacionar o carro e sair.

—- Bem, vamos sentar no jardim — Louise anunciou, en­quanto puxava Katie até uma das cadeiras mais confortáveis, dizendo em seguida:

— Fique aqui. Vou pegar um vinho...

— Eu não... — Katie começou, mas Louise meneou a cabeça.

— Mas eu com certeza preciso. Só uma taça — ela sugeriu com a voz mais doce. — Vai fazer-lhe bem.

O vinho que Louise trouxe era branco e deliciosamente ge­lado. Estava uma delícia, Katie tinha que admitir, mas ainda assim recusou os sanduíches que Louise lhe ofereceu como acompanhamento.

— Então... conte-me tudo — Louise comandou. — Você está apaixonada por Seb. Bem, eu percebi. O que a está preocupando? É a ideia do compromisso? O casamento assusta, eu sei.

— Não. Não é nada disso — Katie interrompeu, respirando profundamente antes de continuar,

— O que eu deixei você pensar, o que eu lhe disse, sim­plesmente não era verdade. Não naquele momento... Seb e eu não éramos... não tínhamos... Não havia nada entre nós e...

— Mas existe agora — Louise resumiu. — Agora você está apaixonada por ele.

— Sim... — Katie olhou para sua taça de vinho quase vazia, sentindo o rosto ficar cada vez mais quente enquanto algumas lembranças retornavam a sua mente. Então sorveu o vinho que restava, olhou para Louise e falou com uma objetividade que não lhe era peculiar:

— Foi... eu... eu fui para a cama com ele. Fizemos sexo... e foi... — Ela sentiu o rosto ficando ainda mais quente, mas quando olhou para Louise e não viu nenhum traço de choque ou crítica, tomou fôlego e continuou: — Foi maravilhoso. Eu não tinha... Eu nunca pensei que... No começo ele estava furioso comigo quando descobriu o que todos estavam pensando sobre nós. Eu tentei explicar e pedir desculpas, mas... ele me agarrou e começou a me beijar e então, o que começou como... Eu não pude fazer nada... Eu queria tanto que ele continuasse... — Katie confessou com voz rouca.

Louise tomou um gole do vinho, incentivando-a com um gesto de cabeça a continuar.

— Nunca pensei que podia me sentir assim. Não eu. Os meus sentimentos simplesmente me arrebataram... Eu queria Seb desesperadamente. Sei que deve ser difícil para você en­tender — Katie disse para a irmã gémea, incapaz de encará-la.

— Você e o Gareth... vocês se amam e...

— Eu não o amava quando fizemos sexo pela primeira vez

— Louise interrompeu para mostrar-lhe a realidade. — Na verdade... — ela parou. — Talvez nós sejamos mais parecidas do que pensamos. Gareth estava muito nervoso comigo na pri­meira vez que fizemos amor, Katie, e eu senti exatamente o mesmo que você descreveu. Fui eu quem levou as coisas, quem insistiu... quem seduziu — ela completou.

Katie levantou os olhos e escutou interessada.

— Na primeira vez que fui para a cama com Gareth, estava convencida de que amava Saulo, e não ele. Estava furiosa com Gareth e comigo mesma, e ele também estava furioso comigo, mas de alguma forma, toda a fúria se transformou em algo mais.

Katie fechou os olhos e abriu-os de novo.

— Quando fui para a cama com Seb — ela confessou —, eu pensei... — Ela parou e mordeu o lábio e então, olhando direto nos olhos da irmã, confessou abertamente: — Eu pen­sava... achava... acreditava que amava Gareth.

Por um momento o silêncio entre as duas foi tão intenso, tão profundo, que Katie temeu ter ido longe demais, falado demais, violado a relação fraterna que sempre as unira. Mas então Louise empurrou sua cadeira para trás, caminhando em sua direção e abraçando-a tão forte que Katie quase não podia respirar.

— Oh, Katie, Katie... é tão estranho... A forma como nós duas experimentamos a mesma sensação, compartilhamos qua­se as mesmas situações... Você sabe o que isso significa, não é? — Louise perguntou com tom de presságio.

Katie olhou para ela com o coração batendo forte. O que Louise iria dizer? Que porque Katie havia admitido amar Ga­reth as coisas nunca mais poderiam ser as mesmas entre as duas? Que nunca mais confiaria nela?

— Não... o que isso significa?

— Significa que você e Seb foram definitivamente feitos um para o outro! — Louise pronunciou excitada. — Assim como Gareth e eu.

Katie odiava ter que desiludir a irmã, mas tinha que fazê-lo. Triste, ela balançou a cabeça.

— Não, Seb não me ama — afirmou convicta.

— Ele a levou para a cama, fez amor com você — Louise lembrou-a.

— Ele me queria — Katie concordou. — Mas não me ama — disse sofrendo. Hesitante, olhou para Louise.

— Você não vai dizer nada para Gareth sobre... sobre eu pensar que o amava, vai? — ela implorou. — Percebo agora que...

Mesmo que ainda não tivesse reconhecido como seu suposto amor por Gareth era irreal, ao ouvir Louise descrever a raiva dele quando haviam feito amor pela primeira vez percebera o quanto fantasiara sobre Gareth ser gentil e amável. Assim, a imagem romântica e frágil que criara em torno do cunhado havia sido destruída.

Achava que o amava pois não havia mais ninguém para amar em sua vida, percebeu com sabedoria. Amar Gareth era uma forma de proteger e salvaguardar suas emoções.

Se não ganhasse mais nada com tudo o que acontecera, pelo menos alcançara a maturidade e um conhecimento mais pro­fundo de si mesma. E, claro, havia conseguido resgatar a ligação especial com Louise, sua irmã gêmea.

Uma hora mais tarde as duas estavam passeando juntas no shopping de Bruxelas quando Katie parou para observar a vitrine de uma pequena butique.

O vestido, um modelo de tricô com muitas transparências, marcava cada curva do corpo do manequim. Era um tanto caro, e provocante demais.

— Ele ficará furioso com você se usar isso em público, onde outros homens poderão ver o que ele quer manter só para si — Louise murmurou. Em seguida, sugeriu de modo tentador:

— Por que você não compra?

— Claro que não! — Katie exclamou. — Você viu o preço? E além disso, onde eu o usaria? Na festa do vovô?

Louise fez uma careta provocativa e sorriu.

— Nem fale nisso! — E então, em tom sério, perguntou com carinho:

— O que vai fazer?

— Sobre Seb? — Katie retrucou. — Não sei. Talvez eu de­vesse procurar outro emprego... me mudar...

— Por que não se muda para cá? — Louise sugeriu pron­tamente. — Você conseguiria um emprego facilmente, e nós temos quartos a mais... Ou — ela completou, parando e vol­tando-se para Katie antes de continuar —, você também po­deria dizer a Seb como se sente, e então ele...

— Não! Isto é impossível — Katie negou imediatamente.

Dez minutos mais tarde, enquanto estavam sentadas to­mando um café, Louise de repente soltou uma exclamação e ficou em pé.

— Acabei de me lembrar que não comprei bilhetes suficientes para o estacionamento. Espere aqui enquanto vou comprar mais um. Eu não demoro...

— Não — ela insistiu quando Katie começou a se levantar.

— Você não precisa ir. Termine seu café e peça outro para nós duas... Não sabe como é bom poder me dar ao luxo de simplesmente sentar e tomar um café. Eu amo o Nick de todo o coração, mas às vezes é uma delícia ter algum tempo só para mim. Quando você e Seb tiverem aquele filho, vai entender o que digo — comentou sorrindo, antes de sair correndo até o carro.

— Pai! O que está fazendo aqui?

Charlotte estava caminhando pelo corredor do hospital quan­do viu Seb, que acabava de chegar.

— O que você acha? — ele retrucou com seriedade.

— Você veio por minha causa? — Charlotte meneou a cabeça. — Mas eu estou bem, acredite. Na verdade, acabo de receber alta. Só Deus sabe por que eles insistiram em me manter aqui.

— Você sofreu uma queda perigosa — Seb apontou de forma direta.

Charlotte girou os olhos em protesto.

— Eu levei um tombo — ela corrigiu. — Eu praticamente nem caí, e se não tivesse batido a cabeça duvido que ia haver todo esse pânico. Puxa, se eu houvesse sido levada para o hospital a cada tombo quando era pequena, nossa, passaria metade da minha vida lá. Mamãe sempre reclamava que devia ser o gene dos Cooke que me fazia tão desajeitada e tão apai­xonada pelo perigo. Ela sempre me garantiu que não sofreu nem um arranhão quando criança. Acho que eu era um pouco levada — Charlotte confessou sorridente, enquanto abraçava Seb. — Você vai ter que se acostumar com esse tipo de visita se você e Katie tiverem aquele filho. Não — ela corrigiu com firmeza. — Quando vocês o tiverem... A propósito, como está Katie, veio com você?

— Não, por que estaria? — Seb perguntou irritado.

— Por nada — Charlotte acalmou-o. — Eu só esperava.. Pensei... que seria bom vê-la.

Em geral ele se safava das brincadeiras de Charlotte com facilidade, mas daquela vez, depois da noite anterior, só ouvir o nome de Katie era suficiente para trazer à tona uma série de lembranças. Katie enrolada apenas na toalha. O gosto da boca de Katie. Katie tocando-o. A reação da Katie ao seu toque... Katie...

— Pai... Em que está pensando? Retornando, ele franziu as sobrancelhas.

— Tem certeza de que pode ter alta?

— Pergunte ao médico, se você não acredita em mim — ela contestou.

Uma hora mais tarde, depois de falar com o médico, com as enfermeiras e, ainda mais, de ter insistido em ver o espe­cialista encarregado, Seb reconheceu que Charlotte estava bem.

— Papai, você está sendo superprotetor. Parece um homem das cavernas — comentou quando eles finalmente saíram do hospital.

— Sou seu pai — Seb lembrou-lhe de forma sucinta, fitando-a com carinho.

— Eu sei — Charlotte concordou, abraçando-o com um sorriso nos lábios, — Mas quando eu encontrar um homem... o homem, pai — ela enfatizou com um olhar de canto de olho e um pouco corada. — Pode esquecer, pois não vou contar nada para você. Pelo menos, não no começo... Senão você vai aterrorizá-lo.

— Muito bom — Seb zombou, mas aquelas palavras de brin­cadeira desencadearam uma série de pensamentos sobre os quais eje não podia falar com a filha.

Ela estava falando do homem que seria seu primeiro amante. Charlotte e suas amigas olhavam o sexo como uma responsa­bilidade que deveria ser tratada com cuidado e respeito e que, é claro, era um legado deixado pelas gerações anteriores.

Ele fora o primeiro amante de Katie. O que Jon Crighton pensaria dele se soubesse? Jon amava menos sua filha do que ele amava Charlotte? Além disso, Jon Crighton pensava que ele e Katie formavam um casal.

Se Seb desaparecesse da vida da Katie agora, o que Jon Crighton pensaria dele? Pensaria que apenas usara Katie, que a traíra e abandonara? O condenaria por ser ainda pior do que os seus ancestrais Cooke? Seb teria os mesmos defeitos que eles, um homem totalmente sem moral, sem nenhum tipo de sentimento?

— Pai... pai — Assustado, percebeu que Charlotte estava falando com ele. — Pai, você está bem? — a garota perguntou preocupada. — Você estava longe de novo...

— Eu estava pensando numa... coisa — Seb respondeu rápido.

— Numa coisa ou em alguém? — Charlotte sugeriu, seus lábios se abrindo num largo sorriso quando ele não foi capaz de esconder sua reação.

— Eu sabia. É Katie, não? Você a ama de verdade, não é, pai? Oh, estou tão feliz! — Charlotte exclamou, abraçando-o novamente. — Mas não espere que eu seja a dama de honra e vista um vestido de tule cor-de-rosa, daqueles que parecem um suspiro — brincou. — Não se preocupe, eu sei que Katie tem muito bom gosto para querer que eu vista algo assim.

— Você está indo rápido demais — Seb advertiu-a gentil­mente, determinado a mudar de assunto. — Venha, vou levá-la de volta para Manchester.

— Manchester! De jeito nenhum! — Charlotte anunciou com firmeza. — Vou voltar para o acampamento.

Discutiram durante alguns minutos e no final, Seb foi for­çado a reconhecer que Charlotte estava certa por insistir em voltar para lá.

— Agora eu sou uma adulta, papai — ela o lembrou. — E mesmo que não fosse... Adoro que seja tão protetor, mas às vezes você precisa deixar que eu sinta a dor que você já conhece. Isso se chama viver.

— Não me diga... — Seb comentou pensativo.

— Então, o que vai fazer quando chegar em casa? — Louise perguntou à irmã. As duas estavam no aeroporto, esperando que o vôo de retorno de Katie fosse anunciado.

— Você quer dizer depois que eu convocar uma reunião na praça principal de Haslewich para explicar que Seb e eu não estamos juntos? — Katie retrucou infeliz.

— Me desculpe por isso — Louise pediu. — Se eu não tivesse dito nada...

— Não é culpa sua — Katie assegurou. — Eu deveria ter tido coragem de lhe dizer a verdade.

— E eu deveria ter percebido que você estava escondendo algo. Pelo menos uma coisa boa veio com tudo isso — Louise murmurou.

Katie nunca seria capaz de imaginar que a troca de confi­dências as aproximaria tanto. Com Gareth e Nick fora, haviam passado toda a noite juntas, trocando segredos e lembrando-se do que haviam compartilhado na infância, sempre voltando para as circunstâncias extraordinárias em que perceberam onde estavam seus verdadeiros sentimentos.

No último dia da visita de Katie, Gareth voltou para casa, e ela sentiu-se naturalmente impelida a aproximar-se dele para lhe dar um beijo e um abraço fraternal. Sabia agora que tudo havia sido uma fantasia, e Gareth não significava mais nada para ela além do fato de ser o marido da Louise.

— Ainda não está tudo acabado com Seb — Louise alertou-a.

— Está sim — Katie respondeu nervosa, — Eu sei que para o meu bem você adoraria que isso tivesse um final feliz, que Seb me amasse, mas não vai acontecer, Lou. Você mesma disse que Gareth lhe contou que a amou desde a primeira vez, mesmo que você não tivesse percebido. Mas Seb não me ama...

— Como você sabe disso?

— Porque senão ele teria me dito — Katie concluiu. — Gareth não podia dizer a você porque você achava que amava outra pessoa.

— Eu entendo o que você diz, mas ainda acho que está enganada — Louise insistiu com firmeza.

—Não, Lou — Katie implorou, com os olhos encobertos de tristeza. — Não me dê nenhuma esperança, isso só vai piorar as coisas.

Louise viu o sofrimento nos olhos da irmã e abraçou-a com firmeza antes de lembrá-la:

— Vamos nos encontrar em breve.

— Na festa do vovô, quando eu supostamente terei que levar Seb para a inspeção — Katie emendou desalentada.

Depois do abraço final, Louise fez uma oração, baixinho, pela felicidade da irmã, e esperou até o último minuto para dar-lhe um pacote lindamente embrulhado.

— O que é isso? — Katie perguntou surpresa.

— É o vestido que você viu na vitrine da butíque... Aquele "somente para os olhos de Seb". Lembra-se? — Louise indagou. — Voltei lá quando disse que ia comprar o bilhete para o estacionamento. Eu sabia que você não iria comprá-lo...

— Você estava certa — Katie disse emocionada e então, lembrando-se do preço da roupa, protestou: — Você não devia, Lou... Eu nunca vou poder usar isso.

— E claro que vai... Use-o na reunião de família — Louise sugeriu.

— O quê?

— Quero ver como você ficará. Depois de alguns momentos de silêncio, Louise falou: — É melhor você ir agora ou vai perder o vôo.

Sem dar chance para que Katie respondesse, empurrou-a devagar e ficou observando-a até que desaparecesse.

 

                                             CAPITULO IX

Então, por favor olhe para o júri e con­te a eles exatamente tudo o que viu dia noite de dezoito de outubro do ano passado...

Katie fechou os olhos e tentou se concentrar no que a tes­temunha estava dizendo.

O júri estava demorando para dar o veredicto num caso em que Olívia estava trabalhando e isso fez com que Katie tivesse que assumi-lo no último momento. Outro caso na Corte de Chester, embora aquilo até pudesse ser considerado bom, pois lhe dava uma desculpa para ficar alguns dias em Chester en­quanto o caso estivesse sendo julgado. Assim, não corria o risco de encontrar-se com Seb. Katie foi forçada a admitir que estava sendo difícil dar total atenção ao trabalho, apagar Seb de sua mente por completo.

— A Corte deve se levantar.

Automaticamente, Katie levantou-se. O juiz declarou um recesso. A sala do tribunal era quente e abafada, apesar dos ventiladores, e ela estava feliz por poder ir até lá fora e respirar ar puro.

Sua cabeça começou a doer. Havia uma farmácia perto, do tribunal, então ela atravessou a rua e começou a caminhar até lá.

Havia várias pessoas para serem atendidas junto ao balcão, e enquanto esperava sua vez olhou ao redor para a enorme quantidade de remédios à venda. Com o canto do olho, Katie viu um mostrador com camisinhas e produtos contraceptivos, além de jogos para testes de gravidez.

— Você não sabe — Louise disse-lhe na noite em que conversaram longamente —, mas já pode estar carregando o filho do Seb...

— Eu não estou — Katie negou veemente. — Não me pergunte como eu sei. Mas eu sei, e mesmo que estivesse... seria um espetáculo, não seria? — ela comentou com ironia. — Ter de contar para a família que estou grávida e que Seb não me ama. Não que fosse preciso muita explicação. Afinal, ficaria tudo óbvio se eu simplesmente chegasse na festa do vovô sem ele.

Ela chegou no caixa e pagou pelos comprimidos. Como podia ter tanta certeza de que não estava carregando o filho do Seb, ela não tinha a menor ideia, só sabia que a cigana estava errada, não havia um filho... Nenhum menino parecido com o pai... Pelo menos não com ela.

Era uma tarde perfeita e Katie estava dirigindo de volta para Haslewich, as colinas galesas ao longe, os ricos campos das planícies de Cheshire estendendo-se a sua frente. Os mer­cadores e soldados romanos um dia, vindo do porto de Chester, cruzaram aquela planície a caminho das minas de sal de North-wich, Nantwich, Middlewich e Haslewich. As salinas eram a principal indústria da área, juntamente com as fazendas, havia séculos. Até o surgimento dos pratos prontos e congelados, o sal era a única coisa que permitia que a carne fosse guardada e conservada. Agora, as velhas instalações haviam se trans­formado em museus e atrações turísticas. Diziam que, durante a Guerra Civil, quando a área foi atacada pelas forças rivais dos Cavalier e dos Roundhead, um fugitivo muito famoso da realeza, o príncipe Stuart, que mais tarde passara a chamar-se rei Charles II, refugiou-se nas minas de Haslewich, o que nunca fora provado.

Katie decidiu que, em vez de retornar para seu apartamento, iria para a casa dos pais, onde passaria a noite e ficaria dis­ponível logo cedo para ajudar a mãe e Maddy com os prepa­rativos da festa de Ben.

Quando entrou na cozinha da mãe, recebeu as boas-vindas com cheiro de assado e enquanto a envolvia em um abraço demorado, Jenny perguntou-lhe como havia sido no tribunal. Com aquilo, Katie conseguiu afastar de seu pensamento a imagem que a estava atormentando. De olhos abertos, sonhara que estava chegando em casa e encontraria Seb esperando-a de braços abertos.

Durante o jantar, conversou com os pais sobre sua visita a Louise e sobre o caso recém-encerrado no tribunal.

Havia encontrado Max enquanto estivera em Chester, e ele lhe havia confidenciado:

— Existe grande possibilidade de eu ser promovido para o Conselho da Rainha.

— Oh, Max! — Katie pronunciou com orgulho de irmã. — Que notícia maravilhosa.

— Bem, espero que isso alegre um pouco o vovô — Max concordou. — Falei sobre isso com Maddy e nós concordamos em contar a ele durante a festa.

— Assim, ele poderá gabar-se disso com todos que estiverem por lá! — Katie brincou, acrescentando com sinceridade: — Max, ele vai ficar tão contente, isso é tudo que sempre quis, ter um membro na família que trouxesse iniciais importantes depois do nome: Max Crighton, QC. Oh, Max... — Ela o abraçou feliz, e então tomaram uma garrafa de champanhe que Luke insistiu em abrir no escritório ao saber das boas novas.

— Você merece, Max — Luke assegurou, e os dois homens trocaram um olhar de respeito e consideração.

Na mesma hora, Katie sentiu os olhos encherem-se de lá­grimas de emoção.

— Eu já contei para o papai e para a mamãe — Max acres­centou quando Katie estava partindo.

— Eles devem estar emocionados — Katie opinou.

— Sim — Max concordou, e então com um olhar de canto de olho ele continuou: — Mas como eu, eles sentem que o que tenho com Maddy e as crianças é muito mais importante.

Katie abraçou-o sabendo como havia sido difícil e doloroso tanto para Max como para Maddy chegar à cumplicidade que compartilhavam agora no casamento.

Sentada à mesa, com os pais, Katie percebeu que a notícia de Max tiraria um pouco da pressão sobre ela. Com a promoção do neto, o avô provavelmente nem ligaria para seu relaciona­mento com Seb, ou para a inexistência do mesmo. Os membros femininos da família nunca mereceram muita importância aos olhos do avô como os masculinos, e daquela vez Katie estava contente com isso.

— Você viu o Seb depois que voltou? — sua mãe lhe per­guntou um pouco preocupada. — Vocês não devem ter se en­contrado na última semana...

— Eu... — Aquela era a chance para contar aos pais a verdade, Katie reconheceu, mas quando respirou fundo, pronta para fazê-lo, o telefone tocou e a mãe levantou-se e foi até a sala para atendê-lo.

Antes que voltasse, Maddy chegou com as frutas de que Jenny precisava para rechear as tortas que estava assando, e depois de uma hora, Maddy já estava voltando para Queensmead, onde vários membros da família ficariam hospedados durante o fim de semana.

Logo depois, Louise, Gareth e Nick chegaram, e foi-se a oportunidade de Katie poder falar a sós com os pais.

— Bem, esta é a ultima remessa de comida para ser levada para Queensmead, e está na hora de nos aprontarmos — Louise anunciou, removendo o chocolate que seu filho havia espalhado na sua roupa. — Mal posso esperar para ver você naquele vestido — disse entusiasmada para Katie, que imediatamente olhou para o chão.

Louise parou o que estava fazendo na mesma hora, pergun­tando-lhe com determinação:

— Você vai usá-lo, não vai, Katie?

— Não posso. Não é... É muito... De qualquer modo, ele não está aqui comigo, está no meu apartamento e não há tempo... Lou — Katie protestou enquanto a irmã gêmea caminhava para a bolsa de Katie e pegava as chaves, falando com uma voz que não permitia argumentação:

— Dá tempo sim. Farei com que dê tempo, e você, minha querida irmãzinha, vai usá-lo. Gareth! — ela chamou o marido por cima dos ombros de Katie. — Você vai ter que dar banho e vestir Nick, as coisas dele estão sobre a cama lá em cima...

— Louise — Katie protestou mais uma vez, mas era tarde demais, a irmã já estava na porta indo para o carro que ela e Gareth haviam alugado, levando consigo as chaves do carro da irmã também.

Seb franziu as sobrancelhas enquanto colocava o telefone no gancho. Era a quinta vez que ligava para Katie naquela manhã sem ter resposta.

Só quando ligara para Olívia no escritório conseguira des­cobrir que Katie havia retornado de uma viagem inesperada para Bruxelas e que fora direto para o tribunal em Chester.

Será que era apenas uma sequência de circunstâncias es­tranhas que estava impedindo uma conversa entre os dois, ou Katie o estava evitando deliberadamente? Aquele era o dia da festa do avô dela, um evento ao qual ele supostamente deveria levá-la, pelo menos de acordo com Guy.

Já havia suportado demais e tentado achar desculpas prá­ticas para ver Katie, mas não eram elas que lhe causavam dor e que estavam dominando suas emoções e pensamentos.

Ficava imaginando o que Katie estava pensando ou sen­tindo. Será que estava arrependida do que acontecera? Ela o culpava... odiava-o por aquilo? Estava evitando-o por estar sem graça ou furiosa? Ela... Será que precisava fazer tais perguntas? Seb só precisava se lembrar do que havia dito a ela antes de fazerem amor, as acusações que havia feito, a raiva que havia demonstrado. Mas depois que eles se tocaram, beijaram, abraçaram... Não havia motivo para ficar ali, ele decidiu que iria sair também.

Louise estava no hall de entrada do apartamento de Katie quando Seb abriu a porta do seu apartamento.

— Katie — ele começou, e então parou quando percebeu seu erro.

Louise, que notou a esperança brilhar por um breve momento em seus olhos, apagando-se quando a viu, prometeu-se que a irmã definitivamente iria usar o vestido novo, mesmo que tivesse que colocá-lo nela à força.

— Katie está em casa, ajudando minha a mãe a se aprontar para a festa do vovô — Louise contou-lhe.

— Sim. Sim, é claro. Eu... er... Como ela está? — Seb per­guntou, desajeitado.

Louise fitou-o longamente. Embora as duas fossem gêmeas idênticas, Seb sabia que nunca confundiria Louise com a irmã. Katie era especial, única, ela era...

— Se você realmente se importa, se preocupa... — Louise enfatizou — ...então talvez você devesse dizer isso a ela — sugeriu com firmeza.

Seb franziu a testa.

Será que Katie havia discutido o que acontecera entre eles com a irmã? Não parecia o tipo de coisa que ela fizesse. Por instinto, sabia que era uma pessoa muito reservada, mas as gêmeas compartilhavam um relacionamento e uma intimidade que ia muito além dos de irmãos não gêmeos.

Louise mexeu na elegante maleta que estava carregando.

— O vestido de Katie... para a festa... — ela disse displicente, acrescentando com mais objetividade, ainda que não falasse totalmente a verdade. — Ela comprou em Bruxelas para usar hoje. Para você...

Estava correndo um grande perigo, Louise sabia disso, e o pior era que o risco não era para ela. Se estivesse errada, e Seb realmente não se importasse... E se ele estivesse ape­nas sendo educado... Se o que acontecera entre ambos não passara de um impulso do momento, sem importância emo­cional para ele...

Mas não, não havia dúvida sobre aquele momento de incer­teza, quando perguntara sobre Katie, e o modo como estava lá, à sua espera.

— A festa começa às três — disse em voz baixa, e então, antes que ele pudesse dizer alguma coisa, correu em direçâo ao elevador.

De volta à casa dos pais, Louise não mencionou ter visto Seb, e muito menos ter falado com ele. Por outro lado, carregou Katie para o andar de cima, ignorando seus protestos de que o vestido era muito provocante para o tipo de evento, parando apenas para beijar Gareth quando ele saiu do quarto segurando o pequeno Nick.

— Huram.., Vocês dois estão muito cheirosos — ela disse, acrescentando com malícia: — Talco de bebe é tão sexy em um homem...

— Lou, eu não posso usar isso — Katie declarou. — Você pode ver tudo através dele.

— Não, não pode, ele tem um forro cor da pele, parece que pode...

— É isso que eu quero dizer — Katie disse em desespero — Parece que não tenho... é como se eu estivesse...

— E provocativo e sexy, e você ficou arrasadora nele — Louise disse com determinação.

Katie precisava concordar que estava realmente arrasando, foi o que pensou quando Louise virou-a de frente para o espelho e ordenou:

— Olhe... Sim, eu sei que se pode ver através dele, mas como eu disse, tudo o que se pode ver é o forro. Ele é da cor da pele, mas veja, não é como se você estivesse com fendas por todo o vestido, não com este decote careca e, na verdade, as únicas partes de você que estão realmente à mostra são seus braços e pernas...

— Pode ser, mas todos pensarão que eu estou toda...

— Deixe que pensem — Louise interrompeu e disse com sin­ceridade: — Katie, este vestido está maravilhoso em você. Deve usá-lo. Faz com que você pareça... pareça como deve parecer...

Dirigiu um olhar melancólico para Louise, que balançou a cabeça.

— Está bem, é sexy, mas também tem estilo, é elegante e sensual, não ténue como você está querendo parecer. Não, você não é assim...

— Vamos, está na hora de descermos, senão vamos nos atrasar. Oh, não — ela acrescentou quando Katie disse que precisava pegar as chaves de seu carro. — Você não pensa que eu vou deixar que você saia da minha vista, muito menos no seu carro para poder fugir para seu apartamento e trocar de roupa nas minhas costas. Você vem conosco... vamos...

Queensmead era uma casa grande com muitos quartos, o que era muito bom, Maddy disse para Jenny, pois serviriam para hospedar todos os membros da família que quisessem pernoitar lá.

— E se contarmos todas as crianças... ainda bem que a maioria delas ainda é pequena e fica no mesmo quarto que os pais.

Ao andar pela sala de estar de Queensmead, Katie podia ver o que Maddy dissera. Embora a sala fosse grande, estava lotada de pessoas.

Saulo e Tullah estavam com os filhos, conversando com os pais dele. Luke e Bobbie estavam era outro grupo que incluía James, o irmão de Luke, suas duas irmãs com as respectivas famílias e os pais.

— Parece que Chester expulsou todos os Crightons hoje — Louise comentou com Katie quando elas chegaram.

— Humm... Este vai ser o dia do vovô — começou, pensando como ele ia ficar feliz por poder se gabar para os dois primos, com quem ele sempre secretamente sentiu que precisava com­petir, das novidades que Max trazia. Mas Louise, que ainda não sabia de nada, deu-lhe um olhar intrigado.

Bobbie, a esposa americana de Luke, acenou para elas e, separando-se do grupo de sua família, aproximou-se trazendo os filhos com ela.

— Nossa... adorei seu vestido — ela aprovou, enquanto ob­servava Katie com atenção. — É tão sexy...

Katie ficou rosada, Louise gemeu e depois riu.

— Não diga isso a ela. Fiquei uma hora tentando convencê-la que não era...

— Eu não disse que tinha conseguido — Katie comentou com voz seca.

— Então... — Bobbie brincou gentil. — Onde está ele? Katie sabia perfeitamente bem a quem Bobbie se referia, e fechou os olhos sentindo uma dor percorrendo seu corpo. Louise cutucou-a, avisando:

— Katie... Katie...

Aquilo a fez abrir os olhos novamente, mas as palavras de protesto que estava pronta a proferir para a irmã perderam-se ao vislumbrar Seb parado na porta de entrada.

Mesmo em meio à força coletiva dos homens Crighton, todos altos, morenos e extremamente bonitos, Seb destacava-se. Ka­tie o observava e percebeu que seus sentidos estavam todos sendo satisfeitos. Foi quando Seb virou a cabeça e a viu.

Katie segurou a respiração. O modo como a observava fez com que sentisse... pensasse... acreditasse...

Seu coração estava batendo forte. Seb ainda estava olhando para ela, e em seus olhos ela podia ver... Viu os lábios másculos pronunciarem seu nome e então ele começou a caminhar em sua direção.

Ao seu lado, Louise deu-lhe um leve e firme empurrão na direção de Seb, e de algum modo ela estava indo pé ante pé na direção dele.

Seb estava acostumado com famílias numerosas. Sua família era grande, mas os Crighton formavam uma família diferente. Pelo menos Ben Crighton gostava de pensar assim, e enquanto observava a sala lotada, Seb podia ver o porquê. Mas só havia uma pessoa ali que ele queria ver. Rapidamente examinou a sala e encontrou-a, ao lado da irmã, usando um vestido que a fazia parecer etérea como uma fada da floresta, tão frágil e delicada...

Segurou a respiração quando viu o modo como ela o enca­rava, todos os sentimentos nos olhos.

— Katie... — Seb murmurou seu nome e a multidão que os separava pareceu abrir-lhe caminho como por magia.

— Katie...

Quando Seb a alcançou e disse seu nome, Katie fechou os olhos, incapaz de conter a onda de felicidade que percorreu todo seu corpo, e então estava nos braços dele, que a estava segurando, beijando.

Desejosa, correspondeu ao beijo, e os dois permaneceram com os lábios colados mesmo depois de se beijarem.

— Seb — sussurrou o nome dele.

— Senti sua falta — ele murmurou. — Por que não me ligou... não entrou em contato? Por que estou perdendo tempo com essa conversa? Por que estamos perdendo tem­po aqui? — ele resmungou com os lábios grudados aos dela. — E por que você está usando este vestido que me faz querer...

— Seb — Katie protestou afastando ligeiramente seu rosto vermelho, mas sorrindo e colocando o dedo nos lábios dele.

O braço másculo envolveu a cintura dela enquanto a beijava na ponta do dedo, mordiscando-o com delicadeza. Com os olhos mostrando desaprovação, ela lembrou-lhe:

— A casa está cheia de crianças e...

Crianças... Os olhos dele encobriram-se de preocupação. Pro­tegendo-a de todos com seu corpo, ele murmurou:

— Você pode estar carregando meu filho... nosso filho... Sentindo todo seu corpo reagir à intimidade do que ele estava dizendo, Katie falou com voz entrecortada e num tom um pouco alto:

— Não, acho que não — ela informou. — Não...

— Não desta vez — ele sugeriu.

Não desta vez. Katie sentia que poderia desmaiar. Estava radiante de felicidade e mal podia acreditar no que ouvia. Como aquilo podia estar acontecendo? Como o céu havia passado de um tom cinzento-escuro para um azul-brilhante com tanta ra­pidez, tudo por causa de um olhar especial?

— Nunca pensei que viria — ela sussurrou. — Eu ia dizer a todos que era tudo um mal-entendido, desculpar-me por não ter dito nada antes. Nunca sonhei...

— Não — Seb disse com um olhar triste. — Você pensou que o que compartilhamos foi uma coisa comum, mundana...

Katie negou com um gesto de cabeça, de maneira enfática.

— Oh, não... não... Foi... — Ela parou e encarou-o com um sorriso tímido nos lábios. — Foi maravilhoso, Seb... mágico... algo que nunca imaginei. Assustou-me um pouco reconhecer que toda a raiva e repulsa que sentia por você não passavam de uma barreira que construí, pois estava com medo de assumir o que realmente sentia.

— E o que você realmente sente? — Seb perguntou-lhe, Katie olhou para ele. Seu olhar dizia que podia confiar nele, dando-lhe coragem para ser totalmente honesta. Ela soltou um profundo suspiro.

— Eu... eu amo você — disse de forma direta.

Depois de dizer aquilo, sentiu os dedos dele pressionarem sua cintura.

— Vamos sair daqui — ele disse por entre os dentes. — O que eu quero dizer para você... O que eu quero fazer com você... — Katie ouviu-o gemer. — Este vestido... — ele sus­surrou com veemência. — Está me deixando louco... Você está me deixando louco, Katie Crighton, louco de saudade, louco de vontade, louco de amor...

— Não podemos ir ainda — Katie protestou em um tom não muito convincente. Os parentes haviam convenientemente se afastado, deixando os dois com privacidade, mas...

— Se você não parar de olhar para mim desse jeito, terei que fazer amor com você aqui mesmo e agora, que se danem as consequências — Seb gemeu. — Isso vai impressionar seu avô, não vai? Deve haver mais do sangue Cooke em mim do que eu imaginei, e há o bastante dele nas minhas veias para que eu não ligue a mínima para quem sabe ou vê o quanto eu te quero, Katie... E é o bastante para levá-la daqui, raptá-la, como é notório que meus ancestrais costumavam fazer com suas amadas.

— Seb — Katie repreendeu sem fôlego. — Deixe-me despedir do vovô e então iremos.

— Acho que vai precisar dizer mais do que apenas adeus para ele. — Seb comentou com ironia. — A menos que o olhar que ele está lançando em nossa direção durante os últimos minutos não signifique nada.

— Me dê alguns minutos para explicar a ele — Katie sugeriu. — E então vou apresentá-los.

Aceitando com a cabeça, Seb soltou-a devagar, mas quando ela estava prestes a deixá-lo aproximou-se novamente de forma possessiva, beijando-a breve mas apaixonadamente.

— Alguns minutos — ele a alertou — E só. Você e eu temos muito tempo a recuperar.

— Hum... uma semana inteira — Katie brincou antes de soltar-se e caminhar na direção do avô.

Seb observou-a com carinho. Ela era sua alegria, seu futuro, sua esperança e seu amor. Ele não se importava com quem sabia daquilo. Pretendia provar isso a ela assim que pudesse tê-la nos braços. Aquele vestido... Cerrou os olhos enquanto se imaginava tocando-a através dele, beijando-a, então abriu os olhos quando ouviu a voz de uma mulher dizendo baixinho:

— Meu Deus, como Katie mudou... quase não posso re­conhecê-la.

Alison Ford levantou um pouco, a sobrancelha enquanto ou­via a irmã Raquel. O pai delas, Henry Críghton, era primo de Ben, e o irmão delas, Luke, era casado cora Bobbie, a neta americana de Ruth Crighton. Quase duas décadas mais velhas do que Louise e Katie, ambas eram casadas e tinham filhos.

— Hum... Bem diferente do que estava no casamento de Louise — Alison concordou.

— É verdade. Ninguem disse nada, mas minha impressão é de que os sentimentos dela pelo Gareth não eram apenas os de uma cunhada...

— Você quer dizer que ela estava apaixonada por ele?

As mulheres começaram a afastar-se de Seb e ele não pôde mais ouvi-las, mas o estrago já estava feito. Furioso, ele pro­curou na sala até que encontrou quem queria. Gareth, o marido de Louise e lá, bem a seu lado, Katie, olhando para ele, sorrindo para ele, tão perto dele que podiam beijar-se com facilidade... Sua Katie...

Seb não costumava ser ciumento, mas a visão de Katie tão perto de Gareth depois do que acabara de ouvir, e justo quando seu amor por Katie havia sido recentemente declarado, dei­xando seu ego frágil e vulnerável, arrebataram toda sua lógica e autocontrole.

Como Gareth ousava ficar tão perto de sua amada? Como ele ousava conversar com ela com tanta intimidade? Como poderia resistir a ela, especialmente quando usava aquele ves­tido, um vestido que faria até um santo desejá-la?

Katie deu um risinho quando Gareth acabou a piada que estava contando. Estava impressionada com o quanto estava apreciando o novo relacionamento com o cunhado, o senso de camaradagem, a proximidade e o calor fraterno que era recí­proco da parte dele.

Não se sentia desconfortável ou com peso na consciência na presença dele agora. O Gareth que ela acreditava amar era apenas fruto da sua imaginação, um personagem inverossímil e virtualmente assexuado, que não se parecia nem um pouco com o Gareth real.

— Acho que você disse que queria se despedir do seu avô. Katie pulou ao ver Seb materializar-se de súbito ao seu lado, conseguindo, meio que a força, ficar entre ela e Gareth, com olhos duros e nervosos e a voz áspera.

— Sim. Eu disse... eu vou... mas...

— Mas você achou alguém mais... interessante para con­versar... — Seb sugeriu resoluto.

Katie o encarou.

— Eu...

— Oh, você não precisa explicar nada para mim — Seb disse com firmeza. — Acabei de escutar uma conversa bem esclarecedora.

Com o canto dos olhos, Katie podia ver os olhos curiosos dos que estavam ao redor. Gareth, que estava próximo do dois, começou a franzir a testa.

— Seb — ela protestou, mas ele a ignorou, puxando-a para a porta.

— Para quem você estava guardando a sua virgindade, Katie? — ele exigiu. — Não para mim. com certeza.

— Seb — Katie insistiu quando ficaram sozinhos no hall de entrada.

— Era para Gareth, não era? — ele interpelou, ignorando-a, — Gareth, seu cunhado! — enfatizou. — Você está apaixonada por ele. Não precisa negar. E por isso que está usando este vestido? Para ele... Esperando que ele...

— Você está com ciúme — Katie suspirou ao ver os olhos cinzentos ficarem obscuros — E... e você está errado... Eu não amo Gareth... ele...

— Gareth... o quê? — Seb proferiu rudemente. — Gareth não a quer porque é casada com a sua irmã gêmea... Bem, essa foi a impressão que tive agora mesmo. Ele estava olhando para você como se...

— Seb, você entendeu mal — Katie protestou de pronto.

— Não, você é que não entendeu nada. Se pensa que vou permitir que outro homem, que qualquer homem fique entre nós, está muito enganada. Eu te amo Katie, e estou certo de que você também me ama, não importa se você pensa que ama outro homem... Só me dê a chance de lhe provar como seria bom para nós dois, Katie, é tudo que peço, e eu prometo que... Parou quando percebeu o olhar solene que ela estava lhe dirigindo. E então, respirando profundamente, decidiu usar seu trunfo, o qual estava tão cheio de dinamite emocional que ele havia prometido a si mesmo que só usaria se estivesse louco ou desesperado... Ou talvez, os dois.

— Lembra-se do que a cigana falou? — ele perguntou com voz rascante. — Foi o meu filho que ela viu com você, Katie.

O filho dele... Katie olhou espantada para Seb... Todo aquele ciúme, aquela paixão, aquela determinação. Era tudo tão ines­perado que ela mal podia absorver tudo.

— Não — ela o corrigiu suavemente. — Não era o seu filho, Seb...

O olhar confuso fez com que ela o tocasse, de modo a tranquilizá-lo. Katie colocou seus dedos no braço dele, que estava tenso sob a jaqueta, como se todo seu corpo estivesse temendo ser rejeitado.

— Nosso filho, Seb... Nosso filho. Seu e meu.

Ao encará-lo novamente, ele estava engolindo em seco, e então o ouviu dizer com voz cheia de emoção:

— Venha, vamos sair daqui...

Na sala de estar, Max acabara de dar a Ben Crighton as notícias. Através da porta aberta, Katie pôde ver o rosto feliz do avô. As boas novas de Max haviam apagado qualquer coisa que ela pudesse dizer.

Agradecida ao irmão, olhou para o rosto do Seb.

— Sim — ela concordou carinhosa. — Vamos...

— Eu já disse o quanto te amo... o quanto você é maravilhosa, esplendorosa, adorável, sexy e...

— Humm... Mas você pode dizer de novo, se quiser — Katie disse feliz, enquanto se aproximava ainda mais dele.

O sol do fim da tarde, brilhando através da janela do apar­tamento de Seb, espalhava sobre seus corpos nus uma luz dourada.

A pele de Seb destacava-se ao lado de sua palidez, com pêlos escuros e sedosos. Devagar, passou os dedos por entre eles, e deitou-se sobre seu peito brincando, beijando-lhe um mamilo e depois o outro.

— Você sabe o que esta fazendo? — Seb resmungou, e sua voz tornou-se um gemido baixo ao sentir os dedos dela em seus mamilos enrijecidos, e a palma da mão feminina passeando pelo côncavo de seu abdómen.

— Eu nunca amei Gareth de verdade, sabe — Katie contou a ele com fala mansa alguns minutos depois, levantando o corpo apoiado num dos cotovelos e olhando apaixonada para seu rosto. — Eu só pensei que o amava, mas o Gareth que imaginei amar nunca existiu de verdade, ele era uma pessoa que eu havia criado na minha mente. Agora, você ter ciúme dele...

Fitou-o intensamente e depois continuou em voz baixa:

— Você foi casado, Seb. Deve ter amado Sandra um dia... e... Quieto, Seb meneou a cabeça.

— Nós pensamos que nos amávamos, mas era paixão, algo que acabaria depois de algumas noites de sexo, mas eu estava muito preso, preocupado com a minha herança Cooke para fazer experiências. Sandra e eu nunca deveríamos ter nos casado, e com certeza nunca deveríamos ter tido um filho. Eu me sinto realmente culpado por não estar lá quando Charlotte estava crescendo, mas quando Sandra me disse que ela achava que seria melhor para nossa filha que ela não tivesse nenhum tipo de contato comigo achei que estava correta, e então ela casou-se com George e ao final ele se tornou o pai da Charlotte.

— Deve ter sido difícil para você — Katie considerou com carinho. — Saber que outro homem tomou o seu lugar.

— No começo não foi fácil, mas depois acabei me acostu­mando à solidão — Seb murmurou. — Afinal de contas, era para o bem de Charlotte...

Depois de um silêncio significativo, Seb falou:

— Quando a encontrei pela primeira vez, estava com tanto medo que ela pudesse ficar decepcionada comigo, que eu não estivesse à altura de suas expectativas, e que eu a tivesse de algum modo prejudicado por não estar presente, mas ela é a pessoa mais equilibrada que já conheci...

— É mesmo... — Katie concordou, e então perguntou um pouco hesitante: — Como ela vai se sentir, você tem ideia, sobre nós?

Seb olhou para ela e balançou a cabeça sério.

— Vai ser um problema, eu acho — ele disse com ar solene. O coração de Katie disparou.

— Vai, vai ser?

— Sim... Ela disse para mim que não vai, de jeito nenhum...— Ele parou enquanto Katie o observava ansiosa. — Nunca...

— Fez outra breve pausa antes de continuar dramaticamente:

— Vai usar um vestido de dama de honra cor-de-rosa que a faça parecer com um suspiro...

— O quê? — Katie olhou para ele e então começou a rir.

— Ela acha você maravilhosa — Seb disse com voz macia — e mal pode esperar para lhe darmos um par de irmãos....

— Oh, Seb! — Katie sussurrou com os olhos cheios de lágrimas.

— Oh, Seb, o quê? — repetiu também emocionado.

Mas Katie não pôde responder nada, pois ele a estava beijando, pressionando-a contra os travesseiros, prendendo os braços dela num abraço cheio de carinho enquanto con­tinuava beijando-a, devagar e suave no início, e depois com uma paixão galopante e uma necessidade que se mostrava em seu corpo rijo.

Então Katie soltou um gemido baixo e feminino, que saiu do fundo da sua garganta. Quando ele beijou a curva do seu ventre, Katie arqueou o corpo sob o ele.

As mãos de Seb passaram então a acariciá-la íntima e ca­rinhosamente. Katie gemeu.

— Não deveríamos estar fazendo isso — Seb lembrou com um gemido quando ela se virou para ele — Não sem...

Mas Katie já o estava tocando, arrebatando-o. E a necessi­dade que ele sentiu de fundir-se àquele corpo era muito maior do que ele poderia resistir.

Mais tarde, deitada nos braços de Seb, Katie dirigiu-lhe um olhar jubiloso antes de dizer:

— Eu o vi... agora mesmo, quando... ele é tão lindo, Seb...

— Sim, eu sei — ele concordou calmamente. — Também o vi. Eles se olharam em silêncio por um momento, comparti­lhando admirados o que haviam acabado de experimentar.

— Ele se parecia tanto com você — Katie murmurou um pouco trémula.

Seb franziu as sobrancelhas.

— Não — ele corrigiu —, ele se parece com você. Katie arregalou os olhos.

— Gêmeos — ela sussurrou chocada. — Vamos ter gêmeos. Oh, Seb... Seb...

Ele suspirou profundamente enquanto Katie o beijava.

— Cuidado... podem ser trigêmeos... Katie riu.

— Não existem trigêmeos na família Crighton — ela o repreendeu.

— Nós temos que nos casar... e logo — Seb avisou-a. Katie apertou os lábios e fingiu franzir as sobrancelhas.

— Falo sério, Katie — Seb avisou ameaçador. — Você é a mulher que eu amo, e esse é um amor "para sempre".

— Para mim também — Katie confirmou alegremente.

— Um casamento bem simples — Seb continuou, parando somente quando Katie começou a rir.

— Não... Não podemos fazer isso de jeito nenhum — ela discordou contente. — Você é um Cooke e eu, uma Crighton, Seb, e a cidade toda vai querer nos ver casar. É por isso que Haslewich tem uma igreja tão grande.

— Humm... E também vai precisar de uma pia batismal bem grande — Seb murmurou antes de puxar Katie contra seu corpo, silenciando qualquer resposta que ela pudesse dar com um longo e sensual beijo.

 

                                               EPÍLOGO

É por isso que Haslewich tem uma igreja tão grande — Jenny Crighton disse para o marido, inconscientemente ecoando o comentário de Katie.

— Sei que estão apaixonados, mas tudo tem que ser tão depressa? — Jon protestou com pesar, parando quando viu o olhar que Jenny lhe lançara.

— Oh! — ele exclamou. — Entendo...

— Katie não disse nada — Jenny avisou-o. — Mas Louise tem quase certeza, e você sabe como tudo funciona entre elas, gêmeas... As duas parecem ter uma ligação especial e.., — Jenny parou quando viu a expressão do marido. Ca­rinhosamente, tocou em seu braço. O seu Jon era gêmeo, mesmo que não estivesse mais tendo contato com o irmão David.

— Seu pai ainda acredita que um dia David vai voltar para casa.

— Sim, eu sei — Jon concordou. — Você sabe que eu tive os piores pressentimentos quando fui para a Jamaica e que...

— Que o quê? — Jenny pressionou-o, mas ele já estava meneando a cabeça.

— Oh, nada... Então temos outro casamento para preparar. O que me lembra, nós vamos ao aniversário de casamento de Olívia e Caspar?

Jenny começou a fechar a cara.

— O que foi? — Jon perguntou.

— Não sei — Jenny murmurou. — É que Olívia parece estar um pouco nervosa ultimamente.

— Humm... bem, nós estamos sob muita pressão no escritório o que, com certeza, foi uma das razões porque fiquei feliz quan­do Katie se juntou a nós. O que me lembra — Jon brincou — de que nós definitivamente teremos que comprar aquela mesa de jantar de que você estava me falando!

— Aquela com extensão para sentarem dez pessoas? — Jenny perguntou. — Você disse que era muito grande...

— Isso foi antes de contar com os netos com que nossa família tem sido abençoada.

Jenny riu e concordou.

— Sim, Katie estava dizendo ontem à noite que ainda bem que a igreja tem um corredor bem longo... para todas as pe­quenas damas de honra que terá — ela explicou. — Na última contagem elas chegavam a doze.

— Doze! — Charlotte exclamou, olhando abismada quan­do Katie lhe contou os planos para o casamento naquela mesma noite.

— Sim... todas vestidas de cor-de-rosa, como suspiros — Katie disse solenemente, com ar de piada.

— Como o quê? — De repente, percebendo que estava sendo provocada, ela entrou na brincadeira. — Tudo bem, eu concordo em cuidar delas e dar suporte a você e ao papai, mas não vou usar cor-de-rosa ou tule de jeito nenhum.

— De jeito nenhum — Katie concordou, seus olhos dançando com alegria e amor.

— Oh, estou tão feliz que você e papai tenham se encontrado! — Charlotte exclamou contente.

Katie sorriu para ela, e então olhou para o outro lado da sala de onde Seb as observava, com seus olhos brilhando de felicidade e amor.

— Eu também... — ela murmurou para Charlotte com carinho.

 

                                                                                Penny Jordan 

 

 

                      

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