Determinado a resolver uma série de assassinatos brutais em Londres, o guerreiro vampiro Mathias Rowan é forçado a buscar a ajuda de Nova, uma impetuosa tatuadora que acende uma paixão inesperada, mas inegável, no sombrio executor da Ordem.
Conexões e talentos obscuros de Nova podem ser a melhor esperança de desmascarar um inimigo traiçoeiro de Mathias... mas, se apaixonar por uma mulher com seu perigoso passado, colocará em risco os corações e as vidas de ambos.
O céu noturno sobre Londres estava espesso e sinistro, carregado com nuvens escuras ainda remanescentes da chuva torrencial da noite. O aguaceiro durou por horas, levando em busca de abrigo a maioria dos moradores da cidade.
Era uma vantagem que Mathias Rowan e os três outros guerreiros da Ordem que o acompanhavam na patrulha hoje à noite tiveram pleno uso, conhecendo o covil de vampiros que localizaram em Southwark na semana anterior, era quase certo estar ocupado em meio à tempestade.
Enquanto Mathias nunca achou uma coisa fácil matar sua própria espécie, o ninho de renegados viciados em sangue ocupando o edifício de tijolos abandonado teve que ser exterminado. A coleção de ossos humanos jogados em uma pilha na sala de trás do covil nauseabundo tinha sido justificativa mais do que suficiente para as execuções dos renegados.
Rory Callahan, o guerreiro atrás do assento do passageiro no Ranger Rover preto da Ordem que Mathias ocupava, soltou um uivo. — Porra, aqueles foram alguns doentes, fodidos sedentos de sangue.
Ainda verde e principalmente estúpido sobre a vida, Callahan se inclinou para frente, sorrindo, as pontas de suas presas ainda visíveis por trás de seus lábios, evidência da fúria na batalha que os dominou durante o ataque. Como mais jovem na equipe, ele não viu suficiente morte ou violência ainda para entender como cada macho da Raça estava a um passo da loucura que eles encontraram hoje à noite.
Do lado de Callahan, no banco de trás, Deacon, o terceiro membro da equipe exalou um solene palavrão baixo.
— Eles estavam matando por um tempo. Ainda bem que nós os incineramos antes que ficassem cansados de drenar as pessoas desabrigadas e se mudassem para o bairro residencial onde as pessoas são hábeis em notar a diminuição do seu rebanho.
Mathias grunhiu em acordo.
Apenas Liam Thane, o guerreiro da Raça ao volante do veículo em alta velocidade, não disse uma palavra desde que eles fizeram seus negócios e deixaram o covil.
Mathias conhecia o macho há mais de duas décadas, quando ambos eram parte de uma diferente, e desde então dissolvida, organização de policiamento para a Raça. Mathias tinha servido como diretor em Boston, em seguida, e Thane tinha trabalhado em operações principalmente secretas em toda a Europa e Reino Unido.
Embora ninguém jamais fosse chamar o corpulento vampiro de cabelo preto, jovial, essa noite Thane parecia mais pensativo do que o habitual. Mathias olhou para ele do assento do passageiro. O cabelo comprido de Thane estava recolhido em um rabo na nuca, acentuando o corte severo de suas maçãs do rosto e mandíbula dura. Ele olhava para frente, sem piscar, com foco na estrada que seguia escorregadia pela chuva, à margem do Tâmisa.
— Eu conhecia um deles, — seu olhar sem piscar, nunca deixando a estrada, — ele era um bom homem uma vez... meu primo, Jacob.
O veículo ficou em silencio com a admissão de Thane, nada além do ruído do motor do Rover e do vento noturno que soprava do rio golpeando as janelas.
Mathias não ofereceu desculpa ou simpatia. Thane não procuraria por isso mais do que ele mesmo. Eles eram guerreiros. Eles tiveram um trabalho para fazer e o fizeram, não importando o quão desagradável.
Não importando o quão pessoal.
Mesmo em circunstâncias normais, a justiça da Ordem era rápida e final, quando se tratava de lidar com os assassinos doentes entre a Raça. Afinal de contas, tinha passado apenas vinte anos desde que a Raça foi exposta para a humanidade ao redor do mundo em um ataque maciço de renegados. Dizer que as relações homem/raça eram tênues, no tempo que se seguiu era dizer pouco.
E agora, há poucos dias, em Washington, D.C., a Ordem foi tratada mais como motivo de preocupação. Um atentado tentando interromper uma reunião de cúpula pela paz mundial, usando uma arma alimentada pela luz ultravioleta para matar a Raça, foi frustrado pelo fundador da Ordem, Lucan Thorne, com apenas alguns segundos de sobra.
Tinha sido difundido que o ataque fora concebido para incitar a guerra entre os vampiros e a população humana, seu principal arquiteto morto, mas a ameaça continuava muito real.
A Ordem tinha poderosos inimigos ocultos. Eles eliminaram um em D.C., mas saíram da batalha percebendo que havia um número incontável ainda operando nas sombras, tramando a destruição e à espera de sua chance de atacar novamente.
Comparado àquilo, Londres era afortunada que aparte de um problema com renegados que acabou de ser neutralizado, a única guerra ocorrendo na cidade era uma recente onda de violência de gangues que tinha alimentado as águas escuras do rio Tâmisa com meia dúzia de corpos, na semana passada.
À medida que o Rover seguia por Bankside, em Southwark, Mathias notou um grupo de veículos da policia descendo a beira do rio.
— Cristo, — ele murmurou. — Pareça que a JUSTIS está pescando outro corpo na água.
— Você quer ir até lá e dar uma olhada? — Thane perguntou.
Ao seu aceno de cabeça, o grande guerreiro saiu da estrada e dirigiu em direção ao pequeno grupo de oficiais humanos e da Raça que serviam ao Esquadrão de Força Tarefa, iniciativa da Junta de Segurança Urbana.
Eles estacionaram na periferia da ação e caminharam até a cena do crime. Feixes de luz triangulares perfuravam a escuridão da linha da costa, brilhando sobre a água onde um pequeno barco a motor estava se aproximando. Um par de oficiais com equipamentos de mergulho sentado na popa, um objeto grande, imóvel, envolto em uma lona clara em seus pés.
Mesmo a partir de vários metros de distância, os sentidos da Raça aguçados de Mathias lhe permitiram ver e cheirar, o ser humano morto que haviam retirado da água.
— Eu teria pensado que a Ordem tem coisas melhores para fazer do que percorrer os bairros pobres em Southwark.
Mathias virou sua cabeça na direção da estrondosa voz de barítono britânica do oficial da JUSTIS no comando.
Gavin Sloane era da Raça, um macho imponente, de ombros largos, com cabelo loiro escuro e penetrantes olhos azuis. Ele se aproximou para cumprimentar Mathias e sua equipe com um aceno de cabeça e um sorriso pronto.
— Se não fôssemos amigos de longa data, eu poderia ter que lembrar a você que nós chegamos aqui primeiro, então a festa é nossa.
Embora a relação entre a Ordem e a JUSTIS ao redor do globo era vigiada, na melhor das hipóteses, Sloane parecia entender, como Mathias, o valor de se ter aliados através das fronteiras territoriais. Eles tinham compartilhado informações de casos, de tempos em tempos, ao longo da última década ou assim, e tinham desenvolvido respeito um pelo outro que ia além de seus empregos.
No ano passado, quando Sloane finalmente aceitou sossegar e tomar uma companheira, ele convidou Mathias para a recepção familiar que aconteceu em Darkhaven. Mathias não sabia quem estava mais nervoso com a presença de um membro da Ordem na celebração, se a Companheira da Raça de Sloane, Katherine, ou seus irmãos oficiais da JUSTIS.
O sorriso largo de Sloane não vacilou quando ele bateu no ombro de Mathias em saudação e olhou para o conjunto de lâminas de titânio e armas de fogo semiautomáticas nos coldres dos guerreiros para o ataque noturno.
— Alguma coisa sobre a qual a JUSTIS precisa se preocupar?
— Não mais, — Mathias disse. Ele gesticulou para o corpo sendo descarregado na margem do rio. — Alguma coisa sobre a qual a Ordem precisa se preocupar?
Sloane balançou a cabeça. — Só outro escaravelho morto.
A observação se referia à tatuagem que cada uma das recentes vítimas da guerra de gangues tinha em comum. Essa morte trouxe a contagem de corpos para sete. Embora não fosse incomum achar um cadáver nos 342 quilômetros de rio que os cuspia em uma média impressionante de um por semana, o Tâmisa estava subitamente engasgando com membros de uma desconhecida, mas aparentemente letal, nova gangue.
Mathias e sua equipe seguiram Sloane até a recuperação em processo. Três oficiais da JUSTIS içaram o corpo envolto em lona até a beira de concreto do rio. À medida que o cadáver foi colocado na terra, o plástico caiu, revelando um grande macho humano.
— Corpo sem identificação, — Sloane disse. — Vamos verificar suas impressões, mas se esse caso seguir os outros seis que estamos processando, esse cara provavelmente não tem uma ficha criminal também. Além da tatuagem comum em todas as vítimas, não temos muito para seguir em frente.
O homem morto estava vestido com roupas escuras, encharcadas, seu rosto severo, feio, pálido até a morte, contrastando fortemente contra a cor avermelhada de sua barba e o cabelo ruivo desgrenhado. Em seus bíceps, sob as mangas curtas de sua camiseta manchada de sangue, uma série de tatuagens percorria o comprimento de seus braços musculosos. O escaravelho feito nas costas de sua mão direita, a mesma marca e posição como nos outros seis homens assassinados.
Sloane dispensou seus oficiais da JUSTIS com um aceno curto quando Mathias se aproximou do cadáver, estudando suas lesões. Os ferimentos múltiplos salpicaram o pescoço grosso e o tórax de barril, perfurações profundas, muitos delas concentradas em grupos próximos.
Ele franziu o cenho. — As outras vítimas foram puxadas para fora do rio com balas em suas cabeças. Esse cara foi apunhalado com alguma coisa. Repetidamente, e com uma força infernal. Ou paixão.
— Morto é morto, — Callahan murmurou ao lado de Mathias e do resto da equipe. — Talvez sua morte fosse para enviar uma mensagem mais convincente do que as outras.
Sloane deu ombros. — É possível.
— O último corpo surgiu há dois dias, — Mathias recordou. Apesar da óbvia conexão com os outros, algo não parecia certo sobre essa vítima. Ele olhou para a água escura do rio Tâmisa, ainda revolta pela tempestade anterior. A corrente estava puxando forte na escassa luz da lua, que mal penetrava a densa cobertura de nuvens pesadas. — Para onde a maré está correndo?
— Fora, — Deacon respondeu.
Fora de Londres, então, em direção ao Mar do Norte.
O olhar pensativo de Thane disse que também estava seguindo a linha de raciocínio de Mathias. — Algumas voltas a mais e a maré teria levado esse cadáver para o mar aberto. Ele não foi jogado no rio, enquanto os outros foram.
— Com base na condição do corpo, — Sloane interrompeu, — nós não esperamos que esse pobre coitado encontra-se morto à vinte e quatro horas. — Ele encontrou o olhar de Mathias com um olhar de preocupação. — Você sente alguma coisa fora do comum aqui?
Seu amigo não estava falando de palpites de investigador ou provas forenses. Sloane estava familiarizado com a capacidade extrassensorial de Mathias.
Todo vampiro da Raça e toda fêmea companheira meio humana nasceu com um dom único de percepção extrassensorial ou telecinese, alguns deles mais úteis do que outros. Alguns desses dons eram muito obscuros, mais uma maldição.
Mathias estava em algum lugar no meio, embora dada a sua escolha de profissão, a habilidade de captar os traços psíquicos de violência deixados para trás em uma cena em que o dano foi feito em alguém, lhe deu uma vantagem sobre a maioria dos outros agentes da lei.
Ainda assim, ele não tinha certeza do que fazer com o corpo de hoje à noite. — Eu não sinto nada de anormal aqui, mas isso só significa que o assassinato não ocorreu nas proximidades.
— Mas você saberia se fosse, — Sloane instou.
Mathias assentiu. — A violência deixa uma marca psíquica em um lugar, da mesma forma que um golpe físico deixa uma contusão. O truque é encontrá-la antes que ela desapareça.
Um dos homens de Sloane chamou por ele do outro lado do caminho. Ele levantou a mão em reconhecimento, mas manteve o olhar treinado em Mathias. Balançando a cabeça, ele soltou uma risada. — Eu te digo, Rowan, a vida não é justa. Meu melhor truque de magia é a capacidade de amarrar um nó de marinheiro decente sem usar as mãos. Um dom como o seu, eu teria conseguido ser promovido a Comissário da JUSTIS agora. Em vez disso, estou preso ensacando e etiquetando a escória na merda desse lado da cidade.
Outro veículo entrou em cena, e o oficial parceiro de Sloane gritou por ele novamente. — Já era sem tempo, o médico legista apareceu, — ele murmurou. — Eu tenho que ir lidar com isso. Quanto a você e sua equipe, sei que não preciso dizer-lhe que a presença da Ordem aqui vai deixar algumas pessoas desconfortáveis e inquietas.
Olhares ansiosos estavam vindo da unidade de oficiais humanos, da Raça e do legista recém-chegado. Mathias resmungou. — Eu pensei que desconfortável e inquieto eram um procedimento operacional padrão para vocês JUSTIS.
Sloane sorriu. — Se virem qualquer coisa, me avisem, sim?
— Claro, — Mathias concordou. — Deus sabe que você precisa de toda a ajuda que puder conseguir.
Com uma risada baixa e a saudação de um dedo, Sloane se virou e saiu para se juntar aos seus colegas.
— Você vê toda a tinta sobre esse cara? — disse Deacon, quando os guerreiros estavam sozinhos com o corpo. — Ele está ostentando algumas tatuagens extremamente elaboradas.
Mathias olhou para a obra de arte elaborada, palavras frias e símbolos enigmáticos. Os significados de algumas eram bastante fáceis de compreender, indicadores sinistros da contagem de morte e carnificina, exaltações, descrições sangrentas de violência e morte.
Ele pegou seu comunicador e tirou algumas fotos rápidas do morto e sua coleção de arte corporal.
Perscrutando mais perto, Mathias notou algo interessante sobre uma de suas tatuagens.
— Olhe para a cruz celta em seu antebraço esquerdo. A estrela de seis pontas por trás está fresca.
— E só pela metade, — Thane acrescentou, olhando para a pele avermelhada e com tinta preta.
Mesmo incompleta, a estrela era complicada, executada por uma mão altamente qualificada e por um olho artístico para o detalhe.
— Espero que o estúpido fodido não tenha pagado tudo pela metade de um trabalho, — Callahan brincou sem jeito.
Nenhum dos guerreiros riu junto com ele. Thane e Deacon estavam olhando para Mathias com o mesmo lampejo de possibilidade.
— Algo não está certo sobre toda essa situação, — disse Mathias, pensando em voz alta. — Seis membros mortos de uma gangue que ninguém nunca ouviu falar, agora um sétimo corpo aparece dias depois. Por quê?
Callahan deu de ombros. — Gangues matam uns aos outros o tempo todo. Se você me perguntar, devemos deixá-los seguir em frente e agradecer-lhes por nos poupar do problema.
O garoto tinha razão, ainda que errônea. E perigoso, além disso. Se uma gangue tinha ideias sobre trazer sua guerra na cidade de Mathias, sob vigilância da Ordem, eles precisam pensar de novo.
E algo o estava incomodando sobre os assassinatos, antes mesmo de esse último corpo ser retirado do rio Tâmisa. Algo que ele não conseguia colocar o dedo na ferida ainda. Ele precisava de mais informações. Parecia para ele, que o melhor lugar para começar essa busca era o lugar onde o corpo de hoje pode ter passado algumas das suas horas finais.
— Onde quer que ele tenha esse trabalho iniciado foi provavelmente um dos últimos lugares que alguém o viu vivo, — Mathias disse. — Eu quero achar essa loja de tatuagem. Como em, hoje à noite.
Deacon lançou um olhar cético em sua direção. — Londres está cheia de lojas de tatuagem. Nós estaremos procurando pela proverbial agulha em um palheiro.
— Podemos eliminar as armadilhas para turistas e estúdios de caçadores de celebridades logo de cara, — Thane disse. — Esse cara foi para o verdadeiro negócio. Em algum lugar que ninguém iria levantar uma sobrancelha, se um bandido como ele entrasse.
Mathias concordou. — Callahan, leve o Rover de volta à base. Thane e Deacon, nós vamos cobrir mais terreno se nos separarmos, cada um de nós vasculhando a cidade uma área de cada vez.
Ele virou a cabeça rio acima, contra a corrente que teria levado o corpo para o mar antes do tempo. A área menos próspera da cidade de Southwark pairava à sua volta, os edifícios escuros em contraste com um céu noturno ainda mais escuro.
Ele supunha que era um lugar tão bom para começar como qualquer outro.
O zumbido da máquina de tatuagem vibrou através dos dedos enluvados de Nova enquanto ela fechava a linha delicada de uma teia de aranha no peitoral esquerdo do seu último cliente da noite.
O desenho é um dos favoritos de muitos que vinham ao Estúdio de Ozzy, em Southwark, homens e mulheres que conheceram nada além de lutas e momentos difíceis, até mesmo uma longa temporada na prisão, como o homem de meia idade sentado na agora cadeira de Nova.
As pessoas que frequentavam a loja, um lugar pequeno e simples, não iriam ganhar prêmios humanitários ou as chaves da cidade, mas a maioria deles eram pessoas de bom coração.
Roupas extravagantes e grandes mansões, brilhantes, não tornam ninguém bom. Nova sabia disso desde muito jovem. Levou mais tempo para reconhecer que havia um monte de gente boa andando por ai com tatuagem por toda sua pele e quilômetros de caminhada dura em seus olhos cansados.
Ozzy tinha ajudado nesse aspecto.
Nova olhou para ele, assoprando para afastar o cabelo com um corte assimétrico, tingido de preto e azul que caia em seu rosto à medida que ela trabalhava. O velho tatuador, magro e grisalho, que era dono da loja, estava curvado sobre sua mais recente criação, sua mão ossuda manchada pela idade tão firme como uma rocha.
Oz estava concentrado no desenho por mais de três horas agora, um artista de setenta e dois anos de idade trabalhando meticulosamente, com reverência, como Michelangelo na Capela Sistina. O desenho de Ozzy hoje à noite foi concebido magistralmente, tatuagem no braço de um ex-presidiário que perdeu o seu único neto para o câncer no fim de semana retrasado.
À mão, Oz meticulosamente reproduziu o rosto sorridente da criança, colocando as feições dela na imagem terna de um duende alado, brincando alegremente na floresta gótica proibida, que já existia no braço do homem.
Enquanto Ozzy limpava a tinta escorrida e o sangue dos últimos detalhes, o jovem aprendiz da loja aproveitou a oportunidade para parar de limpar os equipamentos e dar uma olhada. O rosto sardento de nove anos de idade de Eddie se iluminou quando ele viu o projeto acabado.
— Que porra incrível, Oz! — O esperto menino de rua exclamou. Ozzy pegou o ex-delinquente juvenil no ano passado, da mesma maneira que pegou Nova há uma década. Eddie sorriu com os dentes tortos e um lábio ferido de uma briga recente na escola. — Cara, eu não posso esperar até que você me deixe ter minha própria cadeira e ferro.
— E eu não posso esperar até que você limpe o depósito e o vaso sanitário, — Oz disse, sem perder o ritmo. — Cuidado com a porra do palavrão, enquanto isso.
Ozzy era mais pai do que patrão, um papel que o velho tinha de alguma forma entrado direto, mesmo que não tivesse filhos ou familiares.
Como qualquer filho mal-humorado, Eddie resmungou sobre a lembrança de suas tarefas. Enquanto ele se arrastava para o fundo da loja para fazer o que lhe foi dito, Nova parou seu próprio trabalho, olhando por cima para admirar a homenagem mais tocante de seu mentor.
— Lindo trabalho, — ela disse, dando um sorriso de aprovação para o velho.
Ozzy sorriu com orgulho, uma raridade, então voltou para terminar a limpeza e colocar a tinta fresca.
Nova voltou sua atenção para seu cliente, e também para um homem moreno, musculoso com uniforme preto que caminhou até a vitrine de vidro fumê da entrada do estúdio.
Não, não é simplesmente um homem, ela percebeu no mesmo instante.
Um macho da Raça.
Um vampiro.
Pior ainda, um dos membros da Ordem.
Ele entrou, grande e ameaçador, mesmo sem dizer uma palavra. Nova não se assustou, mas o cliente humano em sua cadeira estremeceu, assim que o seu olhar caiu sobre o grande guerreiro, fortemente armado.
Dadas as origens da maioria dos frequentadores de Ozzy, ainda que tivessem mantido seus narizes limpos, nenhum deles estaria ansioso para cruzar com o letal grupo das Forças de Paz da Ordem. Nova não deu exatamente as boas vindas à intrusão também.
Antes que ela pudesse dizer ao macho da Raça que ele estava obviamente perdido, Ozzy deu um estreito olhar sobre o guerreiro do outro lado do pequeno estúdio. — Somente com hora marcada. Sem hora marcada. Não tenho nada para você, amigo.
O vampiro inclinou a cabeça, imperturbável, na direção da saudação grosseira. Cabelo castanho espesso ondulado, marcantes olhos verdes pálidos em um rosto muito bonito e aristocrático para a sua profissão difícil. Aquele olhar enervante pairou sobre Nova, em seguida, passou por ela, fixando-se em Oz. — Eu tenho algumas perguntas para você e para os outros artistas que trabalham aqui.
O sotaque não era Inglês como o dela, mas americano. Boston, se ela tivesse que adivinhar. Sua voz era culta e profunda, tão firme quanto os músculos que ela podia ver ondulando sob sua camisa de combate preta e calça justa enquanto ele andava a passos largos mais para dentro do estúdio, recusando-se a aceitar a dica de que ele não era bem-vindo.
Os pelos do pescoço de Nova se arrepiaram em advertência. Ela enviou um olhar em direção à Ozzy, cujo olhar fixo desafiador estava furioso agora.
— Para fazer perguntas também precisa de hora marcada, — ele disse ao guerreiro. — Neste momento, estamos agendados para depois que o inferno congelar.
Enquanto Ozzy enfrentava o guerreiro, o seu cliente fez uma casual, e apressada, saída pela porta dos fundos da loja. O cara na cadeira de Nova parecia não querer nada mais do que fugir também, e provavelmente teria se ela já não tivesse voltado a trabalhar com ele.
Ozzy se levantou, cruzou os braços tatuados sobre o peito. — A menos que você esteja aqui pela tatuagem, você está no lugar errado, amigo. Inclusive então, você está no lugar errado.
O guerreiro grunhiu, diversão profunda no som. — Não é muito prestativo.
— Prestativo não é minha linha de negócios, — Ozzy rosnou.
— E quanto a você?
Demorou um momento para Nova perceber que ele estava falando com ela. Ela levantou a cabeça e foi atingida pelo seu olhar verde astuto. Aqueles olhos penetraram nos dela, tanto quanto qualquer agulha.
Ela o observou olhar para seu cabelo em dois tons, e as dezenas de piercings que cravejavam as bordas e os lóbulos das orelhas. Ela não piscou quando seu olhar se moveu para baixo, sobre os ombros tatuados e mangas coloridas que continuaram até suas mãos enluvadas, sua extensa arte corporal acentuada pelo colete de couro preto que ela usava para trabalhar naquela noite. Ele olhou o zíper do centro, mostrando ainda mais tatuagens, que cavalgavam os suaves cumes de seus seios.
Ela não poderia se importar menos com o que ele pensava dela ou de toda a sua tatuagem e metal. Ela não se intimidou com o seu olhar ou sua certa desaprovação.
— E quanto a mim? — Ela lançou de volta zangada, enquanto sua avaliação visual prolongada continuava.
Finalmente, seus olhos voltaram para os dela. — Estou à procura de um artista que fez um trabalho específico sobre alguém recentemente. Talvez você saiba algo sobre ele que poderia me ajudar.
Ele manteve a expressão neutra, muito cuidadosamente, mas a profunda força em seu olhar era inconfundível. Este homem, este um guerreiro da Raça, não tinha que recorrer a berros ou a força bruta para conseguir o que queria.
Não, ele era ainda mais perigoso pela maneira como seu comportamento calmo persuadiu o interesse e a confiança dela.
E só porque ele era atraente e cabeça fria não significa que não era um monstro à espreita por trás de sua boa aparência de cavaleiro em armadura brilhante.
Ela foi contra piores do que ele e saiu ilesa.
Bem, na maioria das vezes.
— Nova está ocupada com um cliente, como você pode ver, — Ozzy interrompeu. — Ela não tem tempo para as suas perguntas.
A suspeita iluminou os olhos do macho da Raça. Ele era inteligente, com certeza, mas no momento, Nova viu uma nota de desconfiança em seu olhar perspicaz. — Se a Ordem fechasse essa loja hoje à noite, vocês dois não teriam nada além de tempo em suas mãos.
Ozzy rosnou baixinho, mas deixou o guerreiro continuar. Sem esperar pela autorização, o vampiro pegou seu comunicador no bolso de seu uniforme preto e mostrou uma foto no visor do dispositivo. — Esse parece familiar para alguém?
Era o close de uma tatuagem, um desenho incompleto. A parte da cruz Celta era mais velha, um trabalho terminado, mas a estrela atrás da cruz era apenas um esboço com coloração parcial aplicada.
— Não tem certeza? Aqui está uma foto diferente.
O guerreiro clicou em outra foto, essa tirada ligeiramente mais distante. Angulo suficiente para mostrar todo o comprimento do braço nu de um homem, abaixo da manga curta de uma camiseta escura encharcada, com as pontas de seus dedos grossos. Contra a tatuagem colorida e linhas pretas de suas muitas tatuagens, a pele do homem estava estranhamente pálida e cerosa.
Branco cadáver.
O pulso de Nova disparou.
— Esse corpo foi retirado do rio Tâmisa cerca de uma hora atrás, — o guerreiro confirmou. — Sem identificação. A JUSTIS está verificando antecedentes criminais para ver se eles podem identifica-lo dessa forma, mas duvido que vá achar alguma coisa. Tudo o que sabemos com certeza agora é que quem desenhou a estrela nele foi provavelmente uma das últimas pessoas a ver esse cara vivo. Se não a última.
Nova largou sua máquina de tatuagem e borrou a tatuagem no peito do seu cliente. — Vamos fazer uma pausa, — ela murmurou para ele. — Vá para a parte de trás. Eu irei buscá-lo em alguns minutos.
— Nova. — A voz de Ozzy vibrou com advertência.
— Está tudo bem, — ela garantiu para seu superprotetor chefe e mentor. — Eu posso lidar com isso.
O macho da Raça estava determinado a obter algumas respostas, e bem intencionado como Ozzy era, sua falta de cooperação seria responsável por levá-los presos. Ou pior.
Depois que seu cliente tinha se arrastado para a sala de descanso e somente Oz estava a sua esquerda para lidar com o visitante indesejado na sua frente, Nova caminhou até o balcão, onde o guerreiro estava. — A estrela é um trabalho meu.
Ele não parecia nem mesmo surpreso em ouvi-la, nem sequer piscou pela admissão.
De perto, seu rosto era ainda mais fascinante do que ela pensava. Maçãs do rosto salientes, fortes, linha da mandíbula protuberante. Olhos verdes pálidos da cor da sálvia. — Diga-me o que você sabe sobre o homem morto, Nova.
O nome dela em seus lábios enviou um arrepio sensível através dela que teve que lutar muito para ignorar. Ela deu ombros. — Eu não posso dizer muito, exceto que ele era um verdadeiro idiota. Veio aqui ontem à noite, bêbado, agressivo. — Uma mexa errante de seu cabelo na altura do queixo caiu de trás da orelha e no rosto dela, mas ela ignorou isso, com as mãos para baixo em seus lados, envoltas em luvas manchadas de tinta. — Como dissemos, não aceitamos sem hora marcada. Isso vale em dobro para bêbados sem hora marcada. Mas esse cara era insistente. Não importou o que nós dissemos, ele não iria embora.
— Parece ser um padrão, ultimamente, — Ozzy murmurou, ainda olhando para o guerreiro.
— Como eu disse, — Nova continuou, — o cara chegou tarde, quase na hora que estávamos fechando a noite. Ele se recusou a sair sem ter uma tatuagem nova, algo sobre celebrar os amigos que morreram recentemente.
Agora, o guerreiro parecia surpreso. Uma de suas sobrancelhas se curvou em reação. — Ele tinha um monte de tatuagens, pelo que vi. Eu não sou nenhum perito, mas me parece que ele tinha uma arte extremamente elaborada nele. Cenas de morte. Contas de matança. Algum tipo de marca de afiliação...
Do outro lado do estúdio, Ozzy pigarreou.
— Eu não estava olhando para ele de perto, — Nova disse. — Eu não saberia que outra tatuagem o cara tinha em seu corpo. Mesmo que eu visse, não faço questão de reparar. Isso é o que fazemos nessa linha de trabalho, especialmente com o tipo de clientes que entram por aquela porta.
O guerreiro deu-lhe um leve aceno de cabeça. — Por que você não terminou a tatuagem?
— Eu não tive a chance. Eu não gostei de trabalhar nele. Quando disse a ele o preço, ele ficou chateado. Realmente chateado. Ele saiu em um acesso de raiva, e não voltou.
— O filho da puta saiu sem pagar também, — Ozzy resmungou.
Aqueles penetrantes olhos verdes não se desviaram dela por um instante. Eles a estudaram, fazendo sua pele parecer muito quente, muito retesada sob seu olhar.
— Além de exigir uma tatuagem para lembrar seus amigos mortos, e sair antes que você pudesse terminar o trabalho, a vítima disse mais alguma coisa para você, Nova?
Ele fez de novo, falou o nome dela naquela profunda voz suave como veludo que a fez esquecer por um segundo que ele não era apenas um da Raça, mas da Ordem também. Uma combinação perigosa que ela não podia se dar ao luxo de ficar muito perto, por uma centena de razões diferentes.
— Olha, eu não sei o que mais posso dizer, — ela disse, impaciente por acabar com a conversa e voltar para o trabalho. Para sua vida. — Eu não passei muito tempo falando com o cara, ou olhando para ele. Eu não queria. Só queria fazer o que fosse preciso para me livrar dele.
— Como você está fazendo comigo? — O vampiro arrastou as palavras conscientemente.
Nova olhou para ele, recusando-se a morder a sua isca. Ozzy não lhe deu a chance de qualquer maneira.
Ele andou até se juntar a ela no balcão. — Eu tenho um negócio funcionando aqui, e Nova tem um cliente esperando o seu retorno. Como eu disse, nós não aceitamos sem hora marcada e não temos tempo para perguntas. E menos ainda, as perguntas sobre a nossa clientela. Se a Ordem quer realizar algum tipo de investigação, vou agradecer-lhe de fazê-lo em seu próprio território, em seu próprio tempo.
Demorou um momento antes de o guerreiro aceitar com um gesto firme. —Muito bem.
Ele pegou uma caneta que estava em cima do balcão, e anotou algo em um pedaço de papel. Ele empurrou a nota em direção à Nova. — No caso de você mudar de ideia e quiser conversar mais. Você pode me procurar a qualquer hora.
Ela manteve os braços ao lado do corpo, os olhos firmes no olhar perspicaz que parecia mais desconfiado do que ele estava mostrando.
Finalmente, o guerreiro se virou e saiu da loja.
Nova ficou imóvel quando ele saiu pela porta e para a noite. Então ela esperou mais um pouco, até que tivesse certeza de que ele tinha ido embora e não voltaria.
Só então ela conseguiu estender a mão para recuperar o papel que escreveu eficiente em negrito.
Ele escreveu um número de telefone e seu nome.
Mathias Rowan.
Nova olhou para a nota por um longo momento.
Em seguida, ela esmagou o papel em sua mão enluvada, e deixou-o cair no lixo sob o balcão. Ela não tinha nenhuma intenção de chamar o número.
Se ela tivesse sorte, nunca encontraria o guerreiro novamente.
Ela olhou para Ozzy, sua voz calma enquanto falava. — Você acha que ele acreditou em mim?
Ela mentiu para ele.
Mathias soube disto antes mesmo de ele deixar a loja de tatuagem umas horas atrás.
Inferno, ele sabia disto quase no momento que a delicada, perfurada, obra de arte ambulante, abriu sua dura e pequena boca.
Os sentidos de Raça de Mathias iluminaram cerca de um quarteirão do estúdio de Ozzy, e a impressão de violência só ficou mais forte quanto mais perto chegou da porta.
Algo ruim aconteceu dentro daquela loja ontem à noite.
Algo mais volátil que uma confrontação simples entre Nova e a bravo bêbado tirado mais tarde do Tâmisa pela unidade de Gavin Sloane.
Se fora o assassinato do homem ou um evento preparando o caminho para isto, Mathias não podia estar certo. Sua habilidade não traduziu em termos branco e preto. Mas depois de conversar com Nova e seu velho chefe grosseiro na loja de tatuagem, Mathias estava certo que o par estava escondendo algo.
Ele pretendia saber a verdade.
Para chegar a isso, ele precisava conversar com Nova novamente, de preferência sem o velho lá para pairar acima dela como um cão de guarda raivoso. Era óbvio que a relação do par era mais profunda que colegas ou amigos, e baseado na idade do dono da loja, Mathias duvidou que uma jovem ardente de vinte-e-poucos-anos como Nova estaria compartilhando a cama do homem.
Não, era um tipo de laço protetor, familiar entre eles, não físico. Por que mexia até mesmo uma pequena sensação de satisfação nele, ele não quis considerar.
E existia mais na mulher jovem que o olho podia ver também.
Muito mais, Mathias estava certo.
Ela era jovem, mas dura na queda, difícil de compreender. As miríades de tatuagens e piercings eram mais intrigantes para ele do que ofensivas, lhe dando uma beleza incomum que ele achou difícil de ignorar.
Existia algo sobre ela, aquelas camadas de segredos em seus olhos e em sua pele, isso fez o investigador nele curioso o suficiente por saber mais, ainda que seus gostos corressem tipicamente em direção a fêmeas mais convencionais. O tipo que era atraente o suficiente para estar em seu braço ou em sua cama, mas fácil suficiente para esquecer uma vez que seu trabalho o chamasse de volta para a única paixão verdadeira que conhecia.
Quanto à Nova, em primeiro lugar ela era uma pessoa de interesse em sua investigação para saber mais sobre o homem morto.
Se ele achasse que ela era uma pessoa de interesse em qualquer outro sentido, não estava disposto a deixar isso no caminho do cumprimento do seu dever.
A ruela estreita e escura onde Mathias estava agora escondido da visão, lhe dava uma visão limpa para a loja de Ozzy do outro lado da rua principal. Ele estava observando o lugar todo esse tempo, esperando pela oportunidade de encontrar Nova só.
O cliente que ela tinha trabalhado quando Mathias estava na loja saiu vinte minutos antes. O último compromisso da noite tinha chegado cinco minutos atrás, exceto que o musculoso estivador experimentou uma súbita mudança de intenção a poucos passos de distância da porta e fugiu sem se preocupar em cancelar.
Embora humanos tivessem mais ou menos se acostumado à ideia que compartilhavam o planeta com vampiros, era ainda surpreendente o que a visão de presas afiadas e ardentes olhos âmbar poderiam fazer para até o mais durão dos membros de sua população.
Mathias sorriu quando se afastou da parede de tijolo em que tinha se apoiado e saiu para a rua principal. Ele deveria chamar seu amigo na JUSTIS para a pista que ele encontrou mais cedo aquela noite. No mínimo, ele deveria ter alertado seus companheiros guerreiros para a situação.
Ao invés, ele abordou a loja de tatuagem com propósito silencioso, se preparou para fazer o que precisasse para que Nova conversasse com ele, confiasse nele sobre o que realmente aconteceu entre ela e o homem encontrado esfaqueado e flutuando no rio.
Mathias precisava ganhar sua confiança se pudesse.
Ou extrair a verdade de algum outro modo, se sua confiança se provasse enganosa.
Ele entrou, contente por achá-la só na loja. Ela estava de costas para ele enquanto enchia um punhado de garrafas e bandagens em sua estação. Nenhum sinal de Ozzy. Sua estação estava nitidamente fechada, seu tamborete empurrado debaixo da mesa de trabalho.
— Já estarei com você, — Nova falou por cima de seu ombro colorido.
— Não se apresse. Eu esperarei.
Ela surpreendeu-se ao som de sua voz, mas no pequeno momento que levou para girar, ela deu-lhe uma carranca ameaçadora. — O que você quer agora?
Uma dúzia de respostas pulou em sua mente sem convite, nenhuma das quais estava disposto a falar. — Eu tenho algumas perguntas a mais para você sobre o desentendimento que aconteceu aqui ontem à noite.
Sua carranca aprofundou. — Eu não disse nada sobre um desentendimento.
— Você não disse?
— Não. Eu não disse. — Seu acento inglês era frio com desafio, ainda que seu olhar fosse cauteloso quando ele andou a passos largos pelo estúdio, acima de sua estação. Mathias não notou a cor de seus olhos claros eram mais cedo; agora ele olhou fixamente em suas íris azuis claras rodeadas de índigo. Ela cruzou seus braços acima de seus peitos. — Se isto é tudo que você veio perguntar, então sinto muito que se deu ao trabalho de voltar.
Ele encontrou seu olhar plano com um sorriso fácil. — Nenhum trabalho mesmo. — Sentou-se na cadeira do cliente na frente dela.
— Você não pode se sentar aí. Não pode ficar.
— Por que não?
Ela ergueu seu queixo. — Porque estou trabalhando aqui. Porque este é o estúdio do Ozzy, não a sala de interrogatório da Ordem.
— Nós não temos uma sala de interrogatório, realmente. É raro nós termos que recorrer a isto. As pessoas tendem a confessar longo antes de sentirmos a necessidade de arrastá-los para um interrogatório formal.
Ele estava brincando, muito. Mas ela não fez tanto quanto sorrir. Não, ela estava tomando tudo isto muito seriamente.
Mortalmente sério.
Mathias olhou em torno da loja vazia. — De qualquer maneira, eu não vejo Ozzy agora. Parece que é só você e eu, Nova.
— Ele está aqui, — ela disse. — Está em cima, no seu apartamento. E no caso de você não ouvir da primeira vez, nós não apreciamos ninguém entrando aqui e fazendo perguntas sobre nosso trabalho ou nossos clientes.
— Eu ouvi. Imaginei apenas se Ozzy tinha algo para esconder.
— Ele não tem, — ela respondeu firmemente.
— Não?
— Não.
Mathias teve que dar-lhe crédito. A mentira deslizou de sua língua sem uma sugestão de vacilo. Nenhuma dúvida nisto, esta era uma mulher que aprendeu a manter suas cartas perto. Mas ela aprendeu isto de uma ausência fria de consciência, ou instinto de sobrevivência cru?
Contra todo julgamento, Mathias quis saber a resposta para aquilo, quase tanto quanto quis saber por que suas terminações nervosas estavam formigando com os tremores psíquicos de violência.
A leitura que ele estava obtendo pareceu ter seu pico mais forte justo onde ele estava sentando agora.
Na cadeira de cliente de Nova.
Ela olhou fixamente para ele enquanto ele correu suas mãos pelos gastos braços de vinil preto. Seus olhos azuis revelavam nada, sua posição tão treinada e cuidadosa, que ele quase começou a duvidar de sua habilidade de farejar a cena de um crime.
Mas não, a impressão estava lá.
Forte, súbita, inconfundível.
— Nós precisamos conversar, Nova.
Ela não fez mais que vacilar. — Eu achei que nós já tínhamos conversado.
Ele grunhiu, inseguro se devia estar divertido ou enfurecido pelo descuido aparente da fêmea por sua autopreservação. Ele não tentou esconder o que era. Ela tinha que saber que provocar um de sua espécie era uma má ideia.
Inferno, se ele quisesse, podia hipnotizá-la e arrastá-la para algum lugar imensamente mais privado que isto, em vez de deixá-la tentar seu melhor para bloqueá-lo e evadir suas perguntas.
A ideia teve uma atração antinatural, especialmente quando ela obstinadamente afastou-se, seus braços ainda cruzados como se para bloqueá-lo de fisicamente de extrair qualquer coisa dela. — Eu tenho seu número de telefone. Se tiver qualquer outra coisa para dizer, eu não deixarei de informar.
— Eu duvido disto. Aposto que você despedaçou aquela nota no minuto que eu me fui.
Ela ficou muda, e ele soube que provavelmente acertou, ou chegou malditamente perto disto.
Mathias a estudou naquele momento, imerso na imagem completa agora: todas as tatuagens e metal em sua pele lisa, o corte afiado de seu cabelo e a cor atrevida que saturou os fios sedosos. Ele não teve nenhuma pista de qual sua cor natural poderia ser, mas achou-se fascinado e determinado para ter esta resposta e mais cem outras onde envolvia esta fêmea.
Quanto à sua tatuagem, cada obra de arte tinha sido graciosamente, meticulosamente feita. Ozzy, ele supôs, tendo reconhecido uma arte que rivalizava com a de Nova no trabalho do velho em seu nervoso cliente mais cedo àquela noite.
A maior parte da arte era abstrata, bonitos esboços de flores e elementos de desenho criativos. A flora e fauna coloridas embrulharam seus magros bíceps musculosos, tatuagens cobrindo-a dos topos dos ombros às costas de suas mãos, que estavam dobradas em baixo de seus braços cruzados. Em um de seus antebraços, uma vinha de pequenas rosas vermelhas subia o lado de uma parede parecendo medieval na forma vaga de uma lápide, seu cume arredondado coroou com uma janela circular segmentada por batentes e delicados arabescos.
O que as tatuagens de Nova significavam para ela?
Ele olhou agora para o projeto que estava apenas abaixo da clavícula. Através do inchaço atrevido de seus pequenos peitos firmes, uma feroz Fênix surgia de um floreado de chamas brilhantes. Suas asas desdobradas através do tórax de Nova, cada pena tão realista que Mathias podia imaginar o pássaro indomável erguendo-se de sua pele aveludada para subir rapidamente para o céu, livre e imparável.
E existia qualquer outra coisa sobre a Fênix que roubou sua atenção agora.
— O que... — Mathias teve que olhar novamente para certificar-se do que estava vendo.
Aconchegado dentro do peito da ascendente Fênix estava uma marca que não era nenhuma tatuagem. O símbolo da pequena lua crescente e da lágrima vermelha era inconfundível.
Uma marca de nascença que só uma rara classe de fêmea trazia em algum lugar em seu corpo. — Você é um Companheira da Raça.
Nova piscou, a primeira vez que notou sua compostura deslizar desde que ele chegou. — Importa se eu for?
Inferno sim, importava. Para ele, pelo menos. Ele levantou da cadeira com uma baixa maldição. — Você sabe o que é e escolheu viver no meio de humanos em vez da Raça?
— Está certo.
— É uma escolha arriscada. Especialmente quando escolhe viver aqui, no meio de pessoas como o bêbado que entrou aqui ontem à noite e tentou machucá-la.
— Eu nunca disse isto.
Mathias segurou seu olhar perturbado. — Você não precisou. Eu posso sentir que algo violento aconteceu nesta loja. Ainda que eu não pudesse sentir isto, saberia que algo mais aconteceu do que o que você descreveu. — Ele se moveu para mais perto dela, então. Varreu um pouco de seu cabelo preto-e-azul longe de seus olhos quando ela não fez nenhum movimento para fazer isso. — Cuidar das pessoas que precisam de minha ajuda é meu trabalho, Nova. Eu passei a melhor parte da minha vida tirando monstros da rua: Raça e humano.
Ela escarneceu ligeiramente e afastou-se dele, empurrando suas mãos nos bolsos da calça jeans preta. — Um simples Galahad[1], não é? Cavalo branco e espada cintilante?
Ele ignorou sua espetada. Ela não era a primeira mulher a acusa-lo de ter um complexo de herói. Normalmente a acusação acompanhou lágrimas de raiva de uma amante abandonada que não quis acreditar que seu trabalho, bem como o dever, vinha em primeiro lugar. Acima de tudo.
Com Nova, ele soube que a dúvida dela em relação a ele vinha de em algum lugar mais fundo. Um lugar de dor real. Um lugar de segredos escuros que ainda tinham o poder de assombrar.
— Se você estiver em apuros, Nova, eu posso ajudá-la. Se você me deixar.
— Eu não preciso de sua ajuda. — Sua resposta foi rápida, automática. Defensiva. — Eu posso muito bem cuidar de mim mesma.
Naquele mesmo momento, passos leves soaram de uma escadaria próxima à parte de trás da loja. Um menino ruivo veio ao meio do caminho em calça de pijamas amarrotada e nada mais. Seu tórax era esquelético, arruinado com cicatrizes velhas de abuso que ele deve ter sofrido em uma idade muito jovem.
— O que está acontecendo, Nova? — A expressão sonolenta da criança tencionou quando ele viu Mathias em pé no estúdio. — Quem é ele?
— Está tudo bem, Eddie, — Nova disse depressa. Sua voz era morna, toda sua frieza pareceu ser reservada para Mathias. — Ele é apenas um... cliente. E sairá logo. Volte para a cama agora. Está tudo bem.
Quando o menino se foi, Mathias olhou para ela. — Irmão?
— Perto o suficiente. Oz o pegou no ano passado quando achou Eddie comendo fora do Dumpsters, vivendo na rua, sozinho no meio do inverno. Agora Eddie vive em cima com Ozzy.
— Você vive com eles também? — Mathias perguntou.
Ela deu uma débil sacudida de sua cabeça, o corte afiado de seu escuro cabelo bicolor açoitando contra sua delicada bochecha. — Eu tenho meu próprio apartamento no piso acima deles. Ozzy alugou isto para mim uma vez que fiz dezessete.
— Você tem estado com Ozzy durante algum tempo, então.
— Sim, eu tenho.
Quando ela não voluntariou qualquer coisa a mais, Mathias a estudou, procurando por rachaduras em seu exterior duro. — Ele parece muito protetor com você. Ele sabe sobre sua marca, e o que isso faz de você?
— Ele sabe tudo sobre mim.
— Ele gosta de você.
Ela acenou. — Ele gosta. E eu gosto dele também. — Ela olhou para ele em silêncio por um longo momento, como se debatendo quanto dela mesma precisou revelar a fim de satisfazer sua curiosidade. Quando ela finalmente falou, sua voz era mais suave que nunca. — Não que seja seu negócio, mas Oz é família para mim. Eddie também. Eles são a única família verdadeira que tenho.
Mathias sentiu que foi a coisa mais honesta que ela lhe disse a noite toda.
— Olhe, — ela disse abruptamente, — se você quiser conversar, então converse. Mas faça isto rápido. Meu último cliente da noite é esperado a qualquer momento. — Ela pensou por um momento, e suas finas sobrancelhas pretas enrugaram. — Ele está atrasado, de fato.
Mathias sabia perfeitamente que o sujeito não iria mostrar-se a qualquer hora hoje à noite. Ele encolheu os ombros. — Então, eu ficarei até que ele chegue.
— Não, você não irá, — ela disse. — Eu ainda estou no relógio, e tenho bastante trabalho para fazer antes de fechar. Você tem dez minutos.
— Você é desatenciosa assim com todos os seus clientes?
Ela dirigiu um impaciente olhar para ele. — Você não é meu cliente.
— E se eu fosse?
Ela riu. Uma risada real, desenfreada e genuína.
— Por que isto é engraçado?
— Você é dificilmente o tipo para querer uma tatuagem.
Ele encolheu os ombros.
— Será minha primeira.
— Oh, eu não duvido disto, — ela disse, seus olhos azuis iluminados com humor.
Mathias gostou de seus olhos. Gostou de sua risada, e tinha a leve consciência que ele estava apreciando sua companhia mais do que devia. — O que você sugeriria?
Ela inclinou a cabeça para ele. — Você nem mesmo sabe o que quer?
— Não importa. Surpreenda-me.
— Surpreender você? — Seu bonito rosto franziu, incrédulo. — É permanente, sabe.
— Então, faça algo que eu não lamentarei pelos próximos cem anos.
O fantasma de um sorriso tocou ao longo da curva de sua boca. Maldição, ela tinha uma boca fantástica. A virilha de Mathias apertou quando a assistiu mastigar seu lábio em contemplação. — Qualquer coisa que eu quiser? Em qualquer lugar que eu decidir?
Sua escolha de palavras só fez seu desejo chamejar muito mais quente. — Qualquer coisa. Em qualquer lugar. Eu estou completamente em suas mãos.
Ele observou seus olhos azuis claros, sabendo muito bem que existiam segredos em suas profundidades pálidas. Segredos escuros que ele ainda estava determinado a descobrir.
— Eu posso confiar você, Nova?
Ela olhou fixamente para ele por um longo momento. — Eu acho que você terá que esperar para descobrir. Tire sua camisa.
Ela ficou louca?
Ela devia ter ficado, porque essa era a única explicação para como se achou empoleirada em seu tamborete umas horas mais tarde, pondo os últimos retoques em uma tatuagem à mão livre que fez nas costas de Mathias Rowan.
Suas poderosamente musculosas, totalmente desconcertantes, costas.
Nova não quis notar como firme e forte ele se sentiu debaixo de seus dedos enluvados. Não quis reconhecer o calor de sua pele nua, ou a beleza dos dermaglifos da Raça; elaboradas marcas na pele que fez todos seus trabalhos pálidos em comparação.
Ela podia ter feito um desenho menor, colocado em algum lugar menos íntimo, menos demorado. Deus sabia, ela teria, se tivesse pensado claramente.
Mas conversar com ele pôs uma imagem em sua cabeça que não desapareceria. Quando ele tirou sua camisa e ela viu os floreados gêmeos de glifos em suas omoplatas, soube que achou o local perfeito.
E ela tinha que admitir, teve mais que um pouco de satisfação no pensamento de fazer a tatuagem na espinha do macho persistente, em vez de algum lugar com menos terminações nervosas debaixo da pele.
Dado quanto tempo o trabalho tomou, ela também era grata que não gastou o tempo inteiro debaixo de seu intenso e inquietante olhar. Abaixando o rosto, confortavelmente relaxado na cadeira de trabalho reclinada, o fez quase parecer como qualquer outro cliente.
Não que ela já teve um da Raça debaixo de seu equipamento.
E não que qualquer cliente humano que entrou ou saiu de Ozzy ao longo dos anos já a fez sutilmente autoconsciente como mulher do jeito que Mathias Rowan fez.
Pensamento perigoso.
Ela aprendeu muito tempo atrás o quão monstruoso sua espécie podia ser. Até aqueles em que você mais confiara.
Especialmente eles, porque têm o poder de machucar você mais profundo. Para violar tudo em que acreditou, tudo que era.
Destruir você.
— Algo errado, Nova? — A voz profunda de Mathias levou-a para fora das escuras espirais de seus pensamentos. — Você não adormeceu na direção aí atrás, não é?
— Não. Só terminando.
Ela tentou soar casual, calma. Mas sua garganta estava seca e suas mãos estavam tremendo.
Ela não gostou de viajar de volta a seu passado. Era algo que ela deliberadamente evitou, ferimentos que cicatrizaram, mas ainda tinham o poder de cortá-la em tiras se ela parasse para recordá-los.
Apenas o pensamento do que ela suportou pôs um nó frio de terror em sua barriga. Bílis queimou em sua garganta, suas orelhas encheram com os sons de gritos de uma jovem menina.
Seus gritos.
— Eu estou quase terminando, — ela murmurou, afastando o tremor de seus dedos quando colocou a máquina de tatuagem acima da pele de Mathias novamente. Ela completou a coloração, sombra e sutil matização para trazer realismo ao desenho.
Quando foi terminado, ela limpou o desenho, então começou a cobri-lo. A pele de Raça de Mathias já estava curando sozinha, mas ela ainda tirou suas luvas e agarrou pomada e bandagens.
Quando ela aplicou a primeira, ele ergueu sua cabeça, volumosos ombros saindo da mesa. — Você não vai deixar-me ver isto antes de cobrir?
Ela o empurrou de volta. — Eu pensei que você quisesse ser surpreendido.
Ele soltou uma risada baixa. — Provavelmente não uma de minhas decisões mais prudentes, considerando tudo.
— Foi o primeiro. — Ela pôs o último par de bandagens acima da tinta fresca, cuidadosamente batendo levemente no lugar. — Se você me perguntar, só um idiota ou um lunático deixaria um artista desconhecido ir livre neles por duas horas completas.
Ele grunhiu. — Então, qual você pensa que eu sou?
Nova sorriu apesar. — Eu não decidi ainda.
— Talvez eu apenas seja um excelente juiz de caráter. — Com isto, ele levantou e girou ao redor para uma posição acomodada na extremidade da cadeira.
Bom senhor, era desconcertante assisti-lo se movimentar. Ele era musculoso e com membros longos, braços poderosos e ombros espessos emoldurando um tórax esculpido e abdômen definido.
Mathias se debruçou adiante ligeiramente, cotovelos apoiados em seus joelhos. O olhar que ele lhe deu mandou seu pulso saltando em suas veias. — Talvez nós dois precisássemos confiar um no outro um pouco aqui, Nova. O que você diz?
Aqueles olhos penetrantes que ela evitou o tempo todo enquanto estava trabalhando nele agora perfuraram nela com a intensidade de lasers gêmeos. O calor a cauterizou, e ela não podia entender isto como qualquer coisa diferente do que era.
Curiosidade.
Consciência.
Desejo.
Quanto tempo desde que ela sentiu algo como isto? Deus, ela alguma vez, realmente alguma vez, sentiu tal imediato e inegável atração em direção a um homem?
Ela não ousou se deixar sentir até agora.
Não com ele.
Seria um engano que ela não poderia desfazer.
Deixando-se chegar perto de um dos guerreiros da Ordem, particularmente um cuja investigação o trouxe para sua porta em primeiro lugar, era um engano que ela recusou fazer.
Girando para longe dele, ela começou a limpar sua estação de trabalho. — Você quererá remover as bandagens depois de umas horas. Eu posso dar a você um pouco de pomada para usar pelos próximos dias, mas o jeito que sua espécie cura, duvido que precisará disto.
— Minha espécie, — ele murmurou atrás dela.
Ela o atirou um olhar por cima do ombro. — Eu não acho que tenha que lembrá-lo para ficar longe do sol.
Ele estava olhando fixamente para ela, e não pareceu contente. — Você está me despedindo. Sempre tão ávida para livrar-se de mim. Eu tenho que perguntar-me por que isto.
Ela encolheu os ombros. — Você pediu uma tatuagem e eu dei a você uma. Então, a menos que exista qualquer outra coisa...
— Existe, Nova. — Ele a segurou em um penetrante olhar fixo estreitado. — O que você teme que eu vá descobrir? Você e eu, ambos sabemos que o homem que entrou aqui ontem à noite não saiu do modo que você explicou para mim.
Ansiosa agora, ela empurrou suas mãos em seus bolsos e enfrentou o guerreiro da Raça. — Se você quiser me acusar de algo, faça.
Ele exalou uma respiração forte. — Eu não estou pronto para dizer que você teve algo com sua morte, mas sei que você não está me dizendo a verdade. O que você sabe sobre os outros?
Confusão derramou-se pelo seu medo. — Que outros?
— Os seis outros homens retirados do Tâmisa na última semana, Nova.
— Eu não tenho nenhuma ideia do que você está falando. — E ela não sabia. Mas ele não estava blefando, pelo que ela soube, apenas pela inabalável seriedade de sua expressão. — Por que você pensaria que eu sei qualquer coisa sobre outros?
— Porque todos os homens, inclusive a pessoa que veio aqui ontem à noite, tinham uma marca semelhante na parte de trás de suas mãos direitas. — Ele tirou seu comunicador e mostrou uma fotografia na tela. — Esta tatuagem, Nova.
Ela não quis olhar, mas não havia como evitar isto. Olhando abaixo, ela viu a forma preta pesada de uma tatuagem que ela imediatamente reconheceu. — Parece um besouro. Um escaravelho.
— Sim, — Mathias disse severamente. — Já viu isto antes?
Ela negou, preferindo o olhar suspeito dele na visão da pele desbotada do homem morto e sua feia marca. — Eu disse a você mais cedo hoje à noite, em meu ramo de trabalho, é melhor não prestar muita atenção para o que as pessoas têm sobre si.
Ele fez um som duvidoso atrás de sua garganta. — Eu sei o que você me disse. Eu também sei que haviam seis corpos não identificados gelando no necrotério com balas em suas cabeças antes de nós encontrarmos seu amigo hoje à noite. Se você pode nos dar alguma luz em de onde eles vieram, ou quem são...
— Eu não posso, — ela revelou.
Muito rápido, porque seu olhar astuto ficou um pouco mais frio então.
— Eu confiei em você hoje à noite, Nova, — ele disse depois de seu silêncio esticar entre eles. — Eu quero que saiba que você pode confiar em mim também.
Ela engoliu e voltou a arrumar sua estação de trabalho. — É sobre o que isto era; algum tipo de exercício para ganhar minha confiança? Você não tem suficiente tempo ou pele para isto, vampiro.
Ele moveu-se tão rápido, ela não estava nem ciente que ele estava em pé antes de suas mãos fortes pegarem seus ombros.
Suavemente, tão ternamente que isto a chocou, ele a girou para enfrentá-lo. Seus olhos verdes pálidos relampejaram com faíscas âmbar enquanto seu temperamento afiou. — Se eu quisesse forçá-la a ser sincera comigo sobre qualquer coisa, tenho métodos muito mais efetivos que deixá-la me furar com agulhas e tinta nas últimas duas horas.
Ela levantou seu queixo, desafio surgindo por ela, quase tão poderoso quanto o pânico que a agarrou em sua ameaça. Mas ele nunca veria seu medo. Ela nunca mais mostraria medo para alguém novamente. — Eu não tenho medo de qualquer coisa que você possa fazer para mim. Acredite-me, isso já terá sido feito.
Ela correu para longe, trabalhado muito duro para andar. Ela deixou toda a dor e horror para trás, recusando deixar os demônios que mal escaparam terem a chance de pegá-la novamente.
Mas eles pegaram.
Eles pegaram-na ontem à noite, quando um assassino bêbedo vagou pela loja e ameaçou abrir a abóbada de segredos terríveis que ela trancou dentro de si pela maior parte de sua vida.
E ela tinha que lembrar que alguém como Mathias Rowan podia quebrar aquela porta de formas que nenhum outro homem podia. Por tudo que soube, ele podia estar tocando-a agora, tentando fazê-la confiar nele, só assim ele podia traí-la quando já tivesse servido.
Se ele descobrisse a verdade, podia enviá-la de volta para aquele lugar. De volta para o monstro que tomou tanto dela, tudo, de fato.
Nova morreria antes de deixar-se cair nas mãos do seu atormentador.
Ela mataria antes de deixar que isso acontecesse.
O corpo recuperado do rio ontem à noite era prova suficiente disto.
— Cristo, — Mathias murmurou suavemente, como se sentindo o fardo que ela levou. — Quem machucou você? Diga-me, e farei eles pagarem.
Ele estendeu a mão para ela, suas pontas do dedo ligeiramente passando em sua bochecha. Ela afastou-se de uma vez. — Eu penso que você devia ir agora, Mathias.
Ele não falou por um longo momento. Não se moveu.
Então estourou uma áspera maldição. — Sim, será melhor se eu for agora.
Ele afastou-se e colocou a camisa de volta. Enquanto ele se vestiu, Nova caminhou para a porta da frente da loja e abriu. Se ele não saísse logo, ela não estava certa de que podia confiar em si para deixá-lo ir.
Ele cruzou o estúdio, pausando na frente dela. Sua boca sensual estava tensa, luz âmbar ainda ardendo em sua íris.
Ele a quis, possivelmente tanto quanto queria a verdade.
O conhecimento deveria tê-la apavorado. Ao invés, deixou seu coração batendo freneticamente em seu peito, todo o ar no estúdio carregado com uma corrente de antecipação. De quente compreensão.
Quando Mathias falou, sua voz profunda era espessa, mais como um grunhido. — O que eu te devo pelo seu trabalho?
— Nada. — Ela agitou sua cabeça, forçando-se a segurar seu olhar. — Eu não quero nada de você.
Por um longo tempo, ele ficou lá, avaliando-a. Olhando direto por ela. Deus a ajudasse se ele visse a verdade.
— Quando você estiver pronta, eu quero que me diga o que aconteceu aqui, Nova. Tudo. Pelo resto... — Sua voz profunda diminuiu, e ele deu uma sacudida cansada de sua cabeça. — Você sabe como me contatar.
Ela afastou-se da porta aberta. — Adeus, Mathias.
Ele saiu.
Assim que ele saiu, ela fechou a porta atrás dele e trancou.
Então ela caiu de volta contra o aço preto danificado e lançou uma respiração trêmula que tinha estado queimando em seus pulmões.
Às cinco da manhã seguinte, Nova estava do lado de fora das portas verdes do escritório dos forenses de Southwark em uma blusa de moletom, jeans cinza folgado e o cabelo escondido sob um gorro de lã. Golpeou duas vezes, sua respiração fumegante enquanto esperava no frio da madrugada.
A porta se abriu, revelando um homem magro envolto em um jaleco branco de laboratório. Seu cabelo loiro envolto por uma touca que deixava à mostra o pescoço e as pontas de algumas tatuagens que não estavam escondidas pela gola de sua blusa de frio.
—Obrigada por fazer isto Stan.
— Não se preocupe. — Disse seu cliente de muito tempo. — Sou o único no turno neste momento, assim, venha e entre.
Ela ligou para ele a noite, imediatamente depois que Mathias Rowan saiu da loja. Stan não fez nenhuma pergunta sobre o porquê de ela estar interessada nos cadáveres recém-chegados ao necrotério. Que ela quisesse descer e dar uma olhada foi explicação suficiente para um dos fãs de Ozzy.
Ainda melhor, Stan não iria exigir que mostrasse uma identificação e assinasse nada, assim poderia sua visita passar encoberta.
— Por aqui. — Disse levando-a para dentro de uma câmara frigorífica de azulejo branco e aço inoxidável. O lugar cheirava a antisséptico e morte. — Todos os João Ninguéns estão nestes refrigeradores portáteis na parede do fundo, Nova. Leve o tempo que precisar.
Ela fez uma inclinação de cabeça e logo esperou ficar sozinha na sala.
Aproximou-se de um dos compartimentos e abriu-o. A porta fez um clique enquanto a puxava, o único som no lugar, já que havia ali apenas ela e os mortos.
O corpo no refrigerador de aço mostrou primeiro os pés, uma etiqueta no dedão declarando-o como um não identificado homem caucasiano. Nova puxou a maca para fora todo o resto do caminho e por uns momentos ficou olhando para o rosto do homem da noite anterior no Ozzy.
Orin Doyle.
O nome deixou um sabor ácido em sua boca, a lembrança de sua feia careta e ameaças horríveis, a deixavam mais fria que o ar frio do necrotério.
Ela não estava interessada nele agora. Ele não era a razão pela qual não pôde dormir na noite anterior. Ele não era o motivo pelo qual foi ao escritório dos forenses em uma missão de investigação por sua conta.
Tinha que saber mais sobre os outros.
Porque os homens com tatuagens de escaravelho repentinamente apareceram em Londres?
Sabiam que estava ali?
Doyle tropeçou com ela por acidente, mas e se houvesse outras pessoas também na cidade? Outros que poderiam procurá-la se já não estivessem...
Nova tinha mil perguntas, mas apenas uma poderia se resolver ali.
Era um lugar para começar, pelo menos. Se tivesse sorte, poderia descobrir se seu segredo estava a salvo ou se teria que fugir novamente.
Mal podia suportar a ideia de deixar Ozzy, depois de tudo o que fez por ela. O velho foi sua única família por metade de sua vida. E Eddie, o irmão mais novo que nunca teve.
O coração doía por lembrar-se de outro de seus irmãos, um que conhecia há muito tempo. Mas velho que ela ao parecer, Aedan foi a única bondade em um antigo lar resplandecente cheio de uma brutalidade horrível e um abuso inqualificável.
Um varão da Raça nascido do monstro que adotou Nova quando era uma criança, Aedan nunca soube o que estava acontecendo. Ela se via obrigada a sorrir e atuar, para manter os segredos tóxicos guardados dentro dela. E logo Aedan deixou sua casa em Darkhaven para não voltar nunca mais e desde então esteve realmente sozinha.
Ozzy e Eddie eram a família que adotou para si mesma desde então e depois da noite anterior, arrastou Ozzy para a violência e feiura de seu passado também.
Não que ele não soubesse sobre o pior desta época.
Olhou para as tatuagens que fez com facilidade no dorso de suas mãos quando fez dezessete anos. Implorou para que fizesse a primeira e ele aceitou de má vontade, apenas porque entendeu o que significava para ela.
A marca na parte posterior de sua mão direita, a tatuagem que ela implorou a Oz para esconder, quase não era visível já, escurecida por sua bela arte.
Nova esfregou seu polegar sobre as flores e artes egípcias exóticas que foram uma vez uma imagem completamente diferente: uma que odiava com cada fibra de seu ser.
Um escaravelho negro, idêntico ao que estava na mão direita de Orin Doyle.
O mesmo que ela sabia que iria encontrar nas mãos dos outros homens mortos que estavam neste lugar.
Nova empurrou o corpo de Doyle novamente para o armário e fechou a porta. Abriu o compartimento ao lado dele e puxou a maca. O rosto do homem era desconhecido, mas ele tinha a marca de escaravelho na mão, como Mathias disse.
Nova abriu dois refrigeradores mais e encontrou duas tatuagens mais de escaravelho. Todos os capangas estavam a serviço de seu pai adotivo.
Um arrepio percorreu sua espinha. Não queria saber mais, mas não podia parar agora. Por sua própria segurança, tinha que entender o que estava acontecendo.
E para isto, teria que recorrer à capacidade sombria com a qual nasceu como uma Companheira da Raça.
Estabilizando-se para o que estava por vir, estendeu a mão direita e tocou os dedos frios do morto mais perto dela.
Uma sacudida em sua lembrança a golpeou no instante que o tocou.
Não eram lembranças suas, mas as dele.
O talento terrível que desprezava não perdeu nada de seu poder. Levantou-se rapidamente, vividamente, dando-lhe uma imagem cristalina dos momentos finais do morto.
Imagens inundaram sua mente, como se as vivesse: viu coisas escuras nas águas do Tâmisa, sob o céu da noite, um grande contêiner de aço que descarregavam no cais.
Alguém falou com ela, com o homem que morreu há pouco tempo, palavras em russo que não podia compreender. Mais homens estavam perto, falando com urgência, o que parecia um tipo de acordo, pelo que podia discernir de sua linguagem corporal e gestos.
Então houve uma forte rajada de disparos perto.
Gritos ansiosos e a linha de visão de Nova deu a volta bruscamente quando o homem cujo olhar estava vendo através, de repente voltou a cabeça. Orin Doyle estava ali, uma pistola prateada na frente dos olhos de Nova.
Doyle sorriu e logo disparou.
A conexão de Nova foi interrompida quando o homem caiu no chão morto a tiros a queima roupa por alguém que conhecia e confiava.
— Que demônios?
Doente por causa de seu dom e pelo que lhe mostrou, soltou-se e foi para os outros corpos para repetir o processo. Doyle o matou também, outro disparo soando em outro lugar, ao mesmo tempo, deixando cair um dos russos justo antes da conexão de Nova com a vítima de Doyle ser cortada.
Ela gemeu incapaz de continuar.
Usar sua habilidade sempre lhe deixava com náuseas e fraca. Depois de tantos anos de distância e depois das visões que acabou de presenciar, tudo que Nova poderia fazer era devolver os mortos para seus refrigeradores e fechar tudo.
Ela cambaleou até um banheiro vazio no corredor com a cabeça latejando ferozmente, o estômago se rebelava a cada passo.
Entrou e na primeira curva sobre o vaso sanitário, vomitou.
Enquanto caia contra a parede metálica fria, sua mente girava com ainda mais perguntas que quando chegou ao necrotério.
O que Doyle e os outros homens estavam fazendo no cais?
Porque voltaram-se uns contra os outros?
E o mais preocupante de tudo, como poderia Nova responder qualquer de suas perguntas sem colocar em risco a si mesma e todos que amava?
Recém saído da ducha Mathias girou a cabeça sobre seu ombro para dar outra olhada no espelho para a obra de Nova em suas costas.
Uma espada, pelo amor de Deus.
Uma reluzente e perfeita lâmina, de aspecto realista se estendia com a ponta para baixo ao longo de sua coluna vertebral.
A espécie de espada que um cavaleiro usaria.
Mathias riu ironicamente de si mesmo. Ela o chamou de Galahad, depois de tudo. Ao parecer, a brincadeira era sobre ele, literalmente.
Fosse qual fosse sua intenção, na realidade gostava da tatuagem.
E dela também e isto era um fato que o esteve consumindo desde que voltou à sede da Ordem na noite anterior.
Seu interesse nela era um problema que não queria reconhecer, mas era muito difícil negar a forma como ela agitou-o a noite. Sentir o calor dela, inclinada sobre ele durante duas horas enquanto trabalhava foi uma tortura.
Suas mãos enluvadas por todas suas costas nuas, seguras e estáveis, já que ela criou uma obra de arte em sua pele e conseguiu sentir por todos os lugares.
O sutil toque fugaz de seus lindos e pequenos seios tão precariamente contidos dentro do zíper da jaqueta de couro negra, lhe deu uma ereção que quase não conseguiu conter.
Ele quis beijá-la e sem dúvida o teria feito, se fosse qualquer coisa menos espinhosa e evasiva com ele. Ele poderia ter feito algo mais que beijá-la, se ela não fosse a mais sabia entre eles, lançando-o sobre seu traseiro e fechando a porta atrás de si.
Assim que, em troca, foi para a base com uma inusual má atitude e uma necessidade de ficar sozinho para lamber seu orgulho masculino ferido e assegurar-se de que a quente e enigmática Nova era um problema que ele com certeza não queria.
Ainda estava tentando se convencer. Não caminhou muito, considerando que somente pensar nela fazia seu pau chamar atenção novamente.
O que seus velhos amigos de Boston poderiam dizer a respeito de Nova?
Tinha quase decidido ligar e averiguar.
Por outra parte, poderia predizer a maioria de suas reações sem consulta.
Deixe a mulher em paz.
Mente no trabalho, não em seu pau.
Encontre outra distração; uma que não seja uma pessoa com envolvimento em homicídios.
Claro, havia menos de dez membros na ordem mais experientes que não foram capazes de seguir seu próprio conselho sábio. Guerreiros acasalados, cada um com sua Companheira da Raça em condições de vínculo de sangue, a quem amavam mais que a própria vida. Alguns da Ordem, inclusive haviam gerados filhos nos vinte anos que Mathias lhes conhecia.
Todas as coisas que nunca aspirou, nunca considerou isto tempo suficiente para desejar.
Não que quisesse isto agora.
E não como uma difícil mulher, cheia de segredos como Nova.
Que tipo de nome era este de qualquer forma?
Quem era sua família?
Ela estava vivendo com Ozzy, pelo menos desde que tinha dezessete anos, de acordo com o pouco que falou. Mathias supôs que estava sob a asa do velho durante mais tempo que isto. Ele não sabia como e nem o porquê.
Do mesmo modo que não sabia quem foi o responsável pelo dano que lhe mostrou, ainda que brevemente, quando confessou que nada poderia ser feito com ela que já não tivesse sofrido.
Quem, pela merda, lhe feriu tão profundamente?
Cristo, cada vez que pensava nela, apareciam novas perguntas. Agitando mais sua curiosidade e incitando-o a que tirasse as infinitas capas de segredos e camuflagem na qual parecia se esconder.
Mathias não queria pensar no que teria que fazer se conseguisse tirar essas camadas e provasse a culpa dela no assassinato do homem que a confrontou na loja de Ozzy.
Seria seu dever renunciar a ela para a Junta de Segurança Urbana e deixar que o sistema decidisse seu destino.
De alguma maneira, ele não achava que haveria uma pausa ou esperava que isto acontecesse.
O olhar obstinado e desafiante de Nova no estúdio na noite anterior lhe disse muito. Não, ela iria embora antes que se deixasse prender. Mas iria fazer algo desesperado?
Mathias temia ter que averiguar.
Sua cabeça ainda dava voltas neste cenário preocupante quando seu telefone zumbiu com uma chamada. Tirou da parede, reconhecendo o número de Gavin Sloane.
— Não me diga que pescou outro escaravelho no Tâmisa. — Murmurou a modo de saudação.
— Não. — Disse Sloane. — Mas podemos ter uma pista sobre os sete congelados no necrotério.
Os sentidos de Mathias ficaram tensos em atenção. — Como é isto?
— Tiveram uma visita nesta manhã. O laboratório forense tem um vídeo de vigilância de uma mulher entrando no necrotério por um dos empregados do turno da noite. Ela parecia saber sobre algumas vítimas, pois depois saiu do lugar como se estivesse uma merda.
O sangue nas veias de Mathias começou a golpear forte em advertência. Algo que dizia que era Nova com os corpos no necrotério. Ela pareceu surpresa, inclusive com problemas. Mas poderia conhecer estes homens? Poder estar metida na matança, mas de sete deles?
Ah, caralho. Tudo em Mathias exigia que contasse suas suspeitas a seu amigo, ali e agora. No entanto, havia uma parte dele que queria proteger Nova deste tipo de problemas.
Queria ter certeza antes que a lançasse da fogueira.
— Tem alguma descrição da mulher? — Perguntou com voz estável, inclusive para seus próprios ouvidos.
— No arquivo não tem grande coisa, por desgraça. — Disse Sloane. — Usava um boné e roupa solta, sem dúvida para esconder sua aparência.
Mathias apertou o telefone como se fosse a linha de sua vida, desprezando-se pelo alívio que o percorria. — Maldição, isto é muito ruim. Poderia ser de ajuda encontrar esta mulher e trazê-la para um interrogatório, ver se poderia nos dar a identificação dos mortos.
Sloane riu entre dentes. — Encontraremos. O empregado que a deixou entrar não está cooperando, mas vimos a mão da mulher na porta. Ela tem tatuagens por todas as partes. Não se passará muito tempo para identificar a cadela apenas pelas marcas que recuperamos no vídeo. Já tenho alguns de meus homens trabalhando nisto. Me reunirei com eles tão logo o sol se ponha. Você e sua equipe podem dar uma mão esta noite?
— Não posso. — Respondeu. — Temos um... tenho uma pista sobre outro ninho de Renegados em Lambeth que preciso analisar. Uma vez que minha equipe concluir, posso lhes enviar.
— Nah, não se preocupe com isto. Temos tudo coberto. — Sloane riu entre dentes. — Não posso pensar em coisas piores que a realização de explorações do corpo das mulheres que trabalham em lojas de tatuagem pela área. Vá se divertir com sua caça a Renegados. Entro em contato se não juntarmos nada esta noite.
Sloane desligou e Mathias ficou ali por um longo tempo, olhando para o reflexo de seu rosto com o cenho franzido no espelho.
O rosto de um homem que acabava de mentir para seu velho amigo e que estava a ponto de desafiar sua promessa à Ordem ao enviar uma equipe de guerreiros em uma busca inútil em Lambeth, ainda que apenas para dar a Mathias tempo suficiente para advertir Nova que todos seus segredos estavam a ponto de serem descobertos.
Ele não desperdiçou tempo procurando-a.
Com missões diretivas dadas a sua equipe, nivelada em um armazém que sabia que não daria em nada, o próprio Mathias partiu para Southwark no momento em que o sol imergiu abaixo no horizonte.
Quando sua vigilância na lateral da rua da loja de Ozzy mostrou a ausência de Nova no estúdio aquela noite, Mathias teve uma chance de que poderia encontrá-la no apartamento em que ela vivia no terceiro andar.
Ele entrou pela parte de trás do edifício de tijolos velhos, mentalmente destrancando a fechadura com uma facilidade que toda a Raça possuía. Uma escada na parte de trás subia do nível do solo. Mathias subiu ao topo no tempo que levaria um mortal para piscar.
Uma vez que estava em pé na frente do que tinha que ser o apartamento de Nova, ele resfriou seus calcanhares e deixou suas juntas baterem contra a porta sem identificação. Ouviu um movimento fraco do lado de dentro, pés descalços sobre o piso de madeira.
A voz de Nova soou cansada do outro lado do painel de madeira quando ela destrancou a trava. — Eddie, esteve aqui há cinco minutos. Agora, eu disse a você, não estou me sentindo bem hoje à noite, então, por favor, apenas deixe-me...
Suas palavras interoperam no momento em que ela abriu a porta e viu Mathias em pé lá. A pouca cor que tinha em seu rosto naquele momento drenou. Ela estava vestida para uma noite calma, com um moletom preto folgado e uma camiseta regata preta. Mathias não sabia o que era mais atraente: seus seios rosados compactados no apertado colete de couro preto da noite passada, ou sem sutiã por baixo do pedaço de algodão que era tudo que o impedia agora de pegá-los em suas mãos.
Ele limpou a garganta, mas não pôde mascarar a presença emergente de suas presas. — Espero que você não se importe se eu entrar.
O queixo dela ergueu. — Sim, na verdade, eu realmente me importo. Ei!
Ele avançou, segurando seus antebraços enquanto caminhava a passos largos para dentro. Ele a guiou para a área da sala de estar, e fechou a porta atrás dele com um comando mental duro.
Quando a fechadura clicou de volta no lugar, os olhos azuis claros rodeados de índigo foram do choque à afronta. — Que diabo você pensa que está fazendo?
— É isso que vim perguntar a você, — ele rosnou de volta para ela. — Onde você estava esta manhã?
Ela encarou, mas havia um brilho de culpa refletido em seu olhar. — Não devo satisfações a você.
— Hoje à noite você deve Nova. Se for esperta, e sei que você é, vai me contar tudo agora. O que aconteceu na outra noite na loja de Ozzy, por que você foi até o necrotério esta manhã e por que... disso tudo.
Ela engoliu em seco. — Não sei do que está falando.
— Maldição, mulher. Não minta para mim. Não sou seu inimigo.
— Ainda, — ela terminou em voz baixa. — Eu nem ao menos o conheço.
Ele praguejou. — Sim, você conhece Nova. Acha que se eu quisesse machucá-la, ou se não me importasse com o que aconteceria com você, estaria em pé aqui agora mesmo, pedindo-lhe para confiar em mim?
— Por quê? — Sua voz era tão baixa, que ele mal ouviu sobre as batidas de sua pulsação.
— Por que, o quê?
— Por que você se importa Mathias?
Por um momento, ele não estava certo como responder a isto. Não podia apontar qualquer motivo que fizesse sentido para ele, e ainda havia uma centena de coisas sobre esta machucada, mas resistente mulher, que queria entender. Queira apenas que ela lhe desse esta chance.
— Eu me importo, porque vejo uma jovem mulher, bonita e forte que está machucada, muito, e quero levar um pouco desta dor para longe, se puder. Vejo uma assustada garotinha atrás de toda esta sua tinta, metal e garras, e quero que ela saiba que pode estar segura.
Ternura brilhou nos suaves azuis dos olhos dela. Ela respondeu com zombaria, porém, estava amarga. — Não preciso de nenhum maldito cavaleiro branco vindo para me salvar, Mathias. Achei que tínhamos resolvido isto.
— Sim, nós tínhamos, — ele disse. — E agora tenho a tatuagem para provar isto.
Ela abaixou a cabeça, não a tempo de esconder a ligeira curva repentina, de seus lábios. — Suponho que você odeia isto.
— Nem um pouco. — Ele ergueu o queixo dela com as pontas dos dedos. — Se não queria que eu bancasse o cavaleiro galante para sua obstinada senhorita, então não devia ter colocado a espada de Sir Galahad em minhas costas.
Ele esperou que ela sorrisse, talvez até risse. Mas, ao invés disso, um olhar de dor cruzou seu rosto adorável. — Não posso fazer isto.
Ela estendeu a mão para afastar a mão dele da dela, e foi quando ele viu, realmente vi, o desenho colorido que cobria as costas de sua mão direita. Os olhos azuis cercados por elaborados redemoinhos e floreios pareciam com algum tipo de símbolos hexagonais para ele a primeira vista. Então, ele viu algo mais escondido dentro da marca.
— Jesus Cristo. — Ele agarrou seu pulso para mantê-la estável, enquanto dava uma olhada mais de perto. — Você tem a mesma marca que os homens mortos. Posso ver o escaravelho. Puta merda, você tentou enterrar isto debaixo deste outro projeto, mas está aqui.
Fúria e confusão faiscaram nele como um fósforo jogado contra palha seca. Mathias sentiu seu olhar esquentar quando a luz âmbar de sua raiva acendeu no verde de suas íris. — Você é um deles, Nova?
Ela balançou a cabeça. — Não.
— Você os matou?
— Deus, não! — Ela gemeu então, um som apavorado. O som de um animal pego em uma armadilha. — Mathias, por favor...
Ele segurou rapidamente no pulso dela, recusando-se a deixá-la afastar-se dele agora. — Há um vídeo de você no escritório do legista esta manhã, Nova. Depois que lhe contei sobre os homens mortos com as tatuagens de escaravelho, você foi para o necrotério para vê-los. Tocou neles, segurou suas mãos. Sabia quem eles eram, ou de onde vieram? Estava lamentando algum deles?
— Não, — ela respondeu asperamente. Ela lutou contra seu aperto, mas ele não a largou. Neste momento, ele precisava da resposta para aquela última pergunta mais do que qualquer um do outros. — Não foi nada disso.
— Então como foi? Diga-me, Nova. Converse comigo. Não sou o único que vai fazer com que explique o que você fez.
Quando ela olhou para ele, questionando em pânico, ele disse, — O vídeo foi mostrado para oficiais da JUSTIS hoje. Eles não a identificaram ainda. Uma vez que o empregado que a deixou entrar não está falando, assumo que ele é um amigo. Tudo que ele tem feito é atrasar os policiais de encontrá-la. Mas eles irão, e você não apenas terá que responder pelos assassinatos que estou certo, aconteceram aqui no estúdio, mas pelas outras vítimas que parece ter alguma conexão também.
Ela soltou a respiração, levando um pouco da luta dela junto com isto. — Não matei o homem que entrou aqui ontem à noite. Eu quis. Mas ele era mais forte do que eu. Ele fechou a mão ao redor da minha e fez... ameaças. Então agarrou meu cabelo com sua outra mão. Ele não me soltava. — Ela exalou um suspiro pesado. — Ozzy só quis me proteger. Fez o que qualquer um faria, o que eu não podia fazer naquele momento. Depois que estava morto, Oz e eu jogamos o corpo no rio. Tentamos colocar peso nele, mas houve uma tempestade durante a noite...
Mathias escutou-a em silêncio, observando-a confessar o que não tinha adivinhado por conta própria e havia um detalhe que ainda o perturbava. — Você disse que o homem fez ameaças. Que tipo de ameaças, Nova? — Quando ela não respondeu depois de um momento, ele soltou-a a fim de roçar os dedos ao longo da linha tensa de sua mandíbula. — Você o conhecia, não é.
Ela movimentou a cabeça uma vez. — De... antes. Não o via há dez anos, mas teria o reconhecido em qualquer lugar. Tentei fingir que não... é por isso que comecei a fazer a tatuagem que ele exigiu. Entretanto, depois que comecei a trabalhar nele, ele me reconheceu também, embora eu pareça muito diferente agora. Estou muito diferente agora.
— Foi ele a pessoa que a machucou... antes?
— Um deles, — ela disse. — Seu nome era Orin Doyle.
Mathias cavaria aquele nome na primeira chance que tivesse. Desejava apenas ter uma oportunidade de distribuir um pouco de dor para o bastardo pessoalmente, antes de Ozzy tê-lo esfaqueado. — E os outros no necrotério?
Nova balançou a cabeça. — Não os conhecia. Eles eram associados de Doyle, mas ele os traiu. Ele os executou a sangue frio sob uma doca no rio. Havia outros com eles. Estavam falando russo, acho, fazendo algum tipo de acordo com os homens de Doyle. Mas isso tudo pareceu dar errado. Pelo menos um deles foi atingido também, morto, mas não por Doyle.
Mathias franziu o cenho, cético. — Como você pode saber de tudo isso?
— Porque é isso o que vi quando toquei os corpos. Vi os últimos minutos de suas vidas. Vi como eles morreram. Vi quem fez isto.
A princípio, não estava certo do que ela estava falando, então uma percepção estalou. — Seu dom de Companheira da Raça é uma escuridão. Não deve ser fácil para você, ter este tipo de habilidade.
Ela encolheu os ombros, mas sua voz estava calma, assombrada. — Não penso sobre isto. Não uso isto. Não a menos que precise.
Ele assentiu solene com a compreensão. Por todas as vezes que amaldiçoou sua própria habilidade horrenda, não era nada comparada a que Nova experimentava, quando evocava a dela. E ainda assim ela carregou seu fardo, todos eles, com firme coragem. Uma mulher extraordinária, em todos os sentidos.
Quanto ao que ela tinha revelado agora, Mathias suspeitou de algum tipo de massacre, mas as notícias de russos fazendo parte de tudo o que aconteceu, era informação valiosa que a Ordem e a JUSTIS não tinham. Ainda assim, apenas levantou mais questões.
— Você conhece aquele que trouxe Doyle e aqueles outros homens para Londres? Disse que pareceu que algum tipo de negócio estava acontecendo, — ele disse, tentando juntar as peças. — Sabe que tipo de negócio era? Sabe por que as mortes aconteceram?
— Não. Isto não é algo que eu possa descobrir com meu dom. — Ela encontrou seu olhar solene. — Não sei nenhuma destas respostas, juro para você.
— E o escaravelho, Nova?
— O que tem isto?
— O que a marca significa? Não há nenhuma gangue conhecida pela aplicação da lei que use este símbolo, então a quem pertence?
Ela balançou a cabeça em silêncio, afastando-se dele alguns passos. — Não é uma gangue. É um símbolo de família. Minha família.
Ele caminhou em direção a ela. Suavemente descansando as mãos nos ombros dela. — Diga-me seu nome, Nova.
— Agora, você está perguntando demais, — ela murmurou. — Fugi deles muito tempo atrás, por uma boa razão. Não pronunciarei o nome e deixarei que o mal me toque novamente.
Mathias quis pressionar no assunto, convencê-la a desistir do resto de seus segredos. Mas ela estava tremendo sob seu leve toque. A mulher durona, de aparência firme estava tremendo como uma folha frágil.
Ele a persuadiu a enfrentá-lo. — Está certo. Nós resolveremos isto.
— Gostaria de acreditar nisto, — ela sussurrou. — Mas não vejo como.
Mathias roçou seu dedo polegar sobre os lábios dela, silenciando suas preocupações. Neste momento, pelo menos por um momento, não queria que ela tivesse medo. Ela olhou fixamente nos olhos dele, e ele reconheceu que não havia nada que não fizesse para manter esta mulher segura.
— Resolveremos isto, — ele lhe disse novamente, mais suave desta vez.
Então curvou a cabeça até a dela e a beijou.
Ela não resistiu a ele, não o afastou com palavras defensivas ou empurrando. Não, enrolou seus braços ao redor dele, quando ele a puxou mais para dentro de seu abraço. Ela o beijou de volta, com o mesmo calor e necessidade que estava correndo por suas próprias veias.
Mathias acariciou a tinta que cobria o braço dela, então agarrou a nuca dela com a mão, enquanto sua língua testava a fissura dos lábios dela. Ela os separou para ele, levou-o para dentro com um suspiro silencioso.
Ele não sabia como deixou o momento passar de uma confrontação e desconfiança, para um de desejo feroz, inegável.
O conforto que quis oferecer incinerou, derretendo para algo poderoso. Algo que ele não era nobre o suficiente para resistir.
Apenas sabia que a queria.
E se não encontrasse força de vontade para refrear logo, não haveria como retornar.
Ela queria afastá-lo.
Queira separar sua boca da dele, retroceder para o outro lado do quarto, fora de seus braços.
Ela queria gritar, mas não era terror ou pânico que fazia seus sentidos explodirem com a necessidade de escapar. Era desejo.
Desejo cru, faminto, impossível.
Algo que nunca conheceu, nunca esperou sentir tão poderosamente. Ela dificilmente poderia conter isto, o beijo mexia com a necessidade de ter Mathias dentro dela.
Ela verdadeiramente não conseguia respirar, dificilmente pensar direito, com o modo como ele se enrolava ao redor dela, arrancando suas defesas. Removendo cada tijolo cuidadosamente colocado na parede que construiu ao redor de si mesma, há muito tempo atrás.
Se ela deixasse isto ruir, não haveria como construir nenhuma destas paredes defensivas novamente, não com ele.
Ela estaria implorando por Mathias, e ele já sabia demais.
Ele viu demais.
Nova gemeu, forçando se a escapar do prazer dos beijos dele.
— Mathias, não posso... não posso, — ela gaguejou, nem mesmo certa do que estava tentando negar. Sabia apenas que se o deixasse continuar tocando-a, beijando-a, querendo-a, estaria completamente perdida por ele. — Não faça isto comigo.
— Não fazer o quê? — A profunda voz dele era um grunhido contra sua bochecha, então abaixo ao longo do lado de seu pescoço. — Não beijá-la? Não querer você? O que eu não deveria fazer, Nova?
— Tudo. — Ela afastou-se dele então, cruzando os braços sobre si mesma, quando o calor do corpo dele se foi, e um frio povoou por seus ossos. Ela colocou mais distância entre eles, precisando disto a fim de se convencer de que poderia fazer isto, que poderia afastá-lo, quando era a última coisa que queria naquele momento. — Estou assustada, Mathias.
Ele deu um passo em direção a ela. — Não fique. Não de mim.
Ela mordeu o lábio, tentando evocar as palavras que precisava para se salvar de ceder a ele, de cair ainda mais. Mas seu coração não cooperava com sua cabeça. Palavras alojavam-se em sua garganta.
Então um golpe na porta fez o trabalho difícil por ela. A voz de Eddie soou do outro lado. — Nova, você está aí? Deixe-me entrar, sim?
Deus, ela não podia deixar o garoto ver que ela tinha alguém em seu apartamento. Especialmente não um macho da Raça, cujos olhos âmbar e as presas brancas afiadas, estavam sujeitas a enviar Eddie gritando de volta para Ozzy no andar de baixo no escritório.
Ela implorou a troca da folga de hoje à noite, e cancelou todos os seus compromissos, reivindicando que estava doente. Aquela mentira magoaria ainda mais, se eles soubessem que estava aqui em cima pensando sobre ficar nua com Mathias.
O que não estava, ela disse a si mesma. Não estava pensando sobre isto, ou fazendo isto.
Ela fechou os olhos, exalando um forte suspiro. — Outra hora, Eddie, ok?
— Oz mandou que eu verificasse você, ter certeza de que não está vomitando seus intestinos para fora ou algo assim.
— Não estou, — ela disse, lançando a Mathias um olhar aguçado. — Vou ficar bem, prometo. Necessito apenas de algum tempo sozinha, isto é tudo. Diga a Oz que não se preocupe comigo.
— Certo, mas você sabe que ele vai se preocupar até que a veja por si mesmo. Ele disse que você não ficou doente nenhuma vez, Nova.
— Descerei mais tarde, prometo.
— Certo, então, — ele concordou depois de um momento. — Direi a ele.
Quando os passos de Eddie enfraqueceram, silenciando, Nova lançou a respiração contida. — Não posso fazer isto. Você deve partir, Mathias.
Ele moveu-se para mais perto. — Não quero partir.
— Você ouviu Eddie. Ele e Oz estão preocupados comigo. Vão se perguntar o que estou aprontando aqui. — Ela abaixou o olhar para evitar os olhos ardentes de Mathias. — Precisamos parar com isto agora. Você precisa partir, e eu devo ir...
— Você não quer ir. — Ele guiou o rosto dela de volta para o dele, recusando-se a deixá-la se esconder. Suas cintilantes íris brilhando com luz âmbar, as pupilas tão finas que quase foram engolidas pelo calor de seu desejo. As pontas de suas presas cintilavam por trás da linha sensual de seus lábios, à medida que falou. — Você não quer parar o que está acontecendo entre nós. Não pode negar isto, Nova. Não mais do que eu posso.
Ela olhou fixamente para ele, infeliz com a necessidade. Viu aquela mesma necessidade escrita na intensidade do olhar dele, na firmeza de seu queixo quadrado quando ele separou os lábios e desceu sobre ela mais uma vez.
Ele reivindicou sua boca desta vez, e ela afundou nisto de boa vontade, desenfreadamente.
Seu beijo era tanto tenro quanto faminto agora, persuadindo e exigindo. Sua língua encontrou a dela e ele gemeu, um som baixo, atormentado.
O gosto dele era tão bom. Quente, poderoso e primitivo. No entanto, seus braços eram protetores, cuidadosos quando embalaram ao redor dela e a abraçaram.
Nova se inclinou dentro da força dele, no calor que ele oferecia no círculo de seus braços.
Ela deveria ter medo. Todas as suas antigas defesas dispararam como tiros de advertência, acautelando-a de que esta paixão era uma coisa perigosa. Ele era um homem perigoso, do pior tipo, um macho da Raça, como a pessoa que a violou tão brutalmente há muito tempo atrás.
Mas seus instintos acalmaram sob o toque de Mathias. Seus medos não tinham lugar aqui, quando ele a estava beijando, acariciando-a, remexendo uma necessidade nela que nunca conheceu.
Ele pediu para dar-lhe sua confiança. Nova agarrou nele bem apertado, enquanto deixava seu passado e a vida que deixou para trás, agora, abrigada nos braços de Mathias, sob o poder das carícias de seus beijos inebriantes, ela conheceu apenas rendição.
Ela não resistiu quando ele a arrastou mais para dentro de seu abraço, apertando o corpo dele no dela. A excitação dele era óbvia, espessa e dura em seu abdômen. Ele gemeu quando se moveu contra ela, a excitação ondulando por ele como uma corrente.
— Você quer isto, Nova? — Ele murmurou contra sua boca. A voz dele estava rouca, um grunhido áspero, quente que deveria ter enviado pânico pelas veias dela, mas ao invés disso inflamaram uma chama mais forte em seu âmago. — Diga-me. Preciso saber se está sentindo isto também.
Ela tinha mil razões para negar isto, negá-lo.
Mil razões para afastá-lo e rezar para que nunca mais o visse novamente.
Mas quando separou os lábios apenas uma palavra saiu de sua língua. — Sim.
Ele não esperava verdadeiramente aquela resposta.
Mas isso não impediu Mathias de tomar a forma delicada de Nova em seus braços, então levá-la pelo pequeno apartamento para o quarto no fim do pequeno corredor.
Ele sabia que ela o queria. Inferno, ele sabia que ela estava febril e faminta de desejo como ele estava. Ele saboreou isto em seu beijo. Viu isto em seus pálidos olhos azuis, que estavam sombrios com necessidade antes de ele sequer escovar a boca contra a sua da primeira vez.
Mas ele antecipou completamente sua rejeição, não uma rendição ofegante.
Ela estava assustada por estar com ele. Ela admitiu isto facilmente.
O que ela não tinha sido tão franca era sobre a razão de seu medo. Parte dele quis acreditar que era porque ela não tinha experiência com sexo, mas as poucas coisas que ela disse sobre seu passado deram lhe razão suficiente para entender que Nova não era virgem.
Ela foi abusada antes, e isto o fez levá-la com ele como um pássaro quebrado e acalmá-la com palavras gentis e mãos cuidadosas.
Mas Nova também era uma mulher ardente; uma sensual, vibrante fêmea que fez o macho dentro dele querer levantar-se e bater no peito, mostrar a ela do mais carnal e primitivo jeito que ela era sua hoje à noite, e que nenhum homem se aproximaria dela novamente sem passar por ele primeiro.
Quando ele andou para a cama e sentou-a na extremidade, Mathias lutou com os dois lados opostos dele mesmo.
O desejo para deixá-la nua sob ele fez seu sangue correr quente em suas veias, suas presas pulsando tão ferozmente quanto a ereção esticada contra suas calças, exigindo libertação.
Levou todo o controle que teve não agir naquele impulso. Ao invés, ele alisou sua mão por seu sedoso cabelo preto-e-azul, deixando-o deslizar entre seus dedos. Ele acariciou sua cremosa, suave e aveludada bochecha, deixando seu polegar traçar a concha de sua orelha, acima da combinação de pequenos aros prata e preto que montaram seu delicado perímetro.
Ele acariciou os comprimentos acetinados de seus braços tatuados, memorizando cada centímetro colorido enquanto ambos seus dedos e olhar admirado viajaram por sua pele. Ele estudou o desenho em estilo gótico em seu antebraço esquerdo, aquele que inicialmente assumiu como uma lápide. Ao olhar mais de perto agora, ele percebeu que viu a imagem em algum lugar na cidade. Caminhou por ele mil vezes em suas patrulhas normais de Southwark, de fato.
— É a janela rosa nos destroços do antigo Palácio de Winchester, depois da Catedral de Southwark, — Nova disse, quando ele acariciou a tatuagem em muda contemplação. — É onde eu encontrei Ozzy, depois que vim para Londres primeiramente. A Catedral dá abrigo à sem-teto pela noite, então eu rondava nas ruínas durante o dia, desenhando para passar o tempo. Oz estava lá uma tarde e viu meu trabalho. Ele ofereceu para me deixar aprender na loja. — Ela exalou uma risada suave. — Desde que ninguém mais iria contratar uma sem-teto de quatorze anos de idade, eu decidi que arriscar uma chance com Oz era melhor que mendigar para turistas.
Mathias escutou, comovido que ela dividiu este pequeno pedaço de seu passado com ele. Ainda não sabia onde ela esteve antes de chegar a Londres em uma idade tão tenra, nem sabia as circunstâncias atrás do porquê ela correu... Ou de quem. Ele não sabia seu nome completo. Inferno, não estava em completamente seguro que Nova era seu verdadeiro nome.
Todas essas coisas ele seria paciente para esperar, respostas que ele percebeu que nem mesmo precisou ter, para gostar dela do modo que ele já gostava.
Ele a beijou novamente, então agarrou a bainha de sua camiseta preta e lentamente puxou isto acima de sua cabeça.
Abaixo da tatuagem de Fênix com suas asas espalhadas e da marca de Companheira da Raça escarlate em seu coração, o torso de Nova era uma tela clara de pele láctea, pura. Seus peitos eram perfeitos globos pequenos, coroados com doces mamilos rosa apenas implorando para serem saboreados. Ele dificilmente podia esperar, mas precisava, pelo menos até que estivesse certo que Nova estava pronta para tudo que ele ansiava dela.
— Você é bonita, com e sem a tinta, — ele murmurou, sua voz áspera, espessa com desejo. Ele pegou a mão direita dela na sua, olhou abaixo na tatuagem modificada que era sem dúvida uma lembrança constante de seu passado, de tudo que ela lutou tão ferozmente para deixar para trás. — Você está segura comigo. Eu prometo isto.
Ela assentiu, mas era um reconhecimento débil. Embora Nova tivesse se provado ser inquebrável em escapar de quaisquer horrores que ela suportou, existia uma fragilidade em seus olhos quando o assistiu explorar seu corpo com seu olhar e seu toque.
— Você pode confiar em mim, — ele disse, então se curvou abaixo e a beijou, lentamente, profundamente.
Era demais aquela união pura de suas bocas, depois que ele já estava tenso com desejo por ela. Mathias rosnou baixo atrás de sua garganta quando sua língua entrelaçou com a dela, seus lábios molhados e quentes, seu beijo lento tornando-se febril e imparável.
Ele precisava senti-la contra ele.
Precisava estar dentro dela, sua impaciência contendo-se na mais fina das cordas.
Mas seu prazer significava mais para ele naquele momento.
Afastou sua boca da dela em um grunhido. — Deite de costas.
Ela fez como ele pediu, e quando ela deitou-se na cama, ele subiu no colchão com ela, escarranchando seus joelhos. Ele a encharcou com seu olhar, o brilho carvão brilhante de suas íris de Raça banhando a pele dela de suave âmbar.
Lentamente, ele arrastou suas calças soltas pretas para baixo, descobrindo o topo de seus ossos do quadril e a inclinação sutil de seu abdômen esbelto. A boca de Mathias salivou quando vislumbrou as extremidades de renda de sua calcinha, cor-de-rosa claro, acetinada, surpreendentemente feminina.
— Sempre o inesperado com você, — ele observou, sorrindo através de seus dentes e presas.
Ela sorriu para ele. — Eu odiaria ser aborrecida.
— Não acho que você tenha que se preocupar com isto.
Ele tirou suas calças o comprimento todo e largou-a no chão. As pernas magras de Nova eram tão claras quanto seu torso, apenas pele lisa que tentava as mãos de Mathias. Ele acariciou o comprimento de seus membros, diminuindo a velocidade quando alcançou o ápice de suas coxas. O calor encontrou seus dedos quando brincou com o fragmento rendado de tecido que cobria seu sexo.
Ele podia cheirar a doçura de sua excitação, podia sentir o calor molhado florescer dela cada vez mais enquanto acariciava seu montículo. Incapaz de resistir, ele seguiu o toque com a boca, curvando acima dela e aninhando seu rosto contra o triângulo de cetim rosa.
Nova ofegou, estremecendo no contato. Ela agarrou sua cabeça, mas em vez de afastá-lo, ela o segurou, seus dedos passando por seu cabelo. Mathias gemeu, sabendo que estava perdido agora.
Ele pegou sua calcinha entre os dentes e as deslizou, longe do trecho de aparados cachos apertados. Então riu, tendo descoberto outra coisa que não tinha esperado sobre sua beleza de cabelo escuro. Ele arqueou uma sobrancelha. — Loira?
Ela encolheu os ombros, enviou a ele um sorriso brincalhão. — Você nunca perguntou.
Ele sorriu de volta, mas não iria deixá-la ter a última risada. Como retorno, ele mergulhou naquela pequena cabeleira tentadora com seus lábios e língua, extraindo um surpreendido grito dela à medida que ele buscou, e achou, o pacote de nervos aconchegados entre suas dobras.
Ele se amamentou, beijando-a tão apaixonadamente e profundamente ali quanto beijara sua boca alguns momentos atrás. Ele não cessou até que ela estava contorcendo debaixo dele, suas mãos torcendo os lençóis enquanto seu corpo curvava contra seus lábios e língua.
— Oh, Deus, — ela ofegou, arqueando quando ele a excitou cada vez mais. — Oh, foda... Mathias...
Ele olhou para cima enquanto o orgasmo a atravessou. Ela o olhou também, seus olhos bloqueados nos dele quando seu prazer culminou, transbordando.
Mathias segurou o olhar dela, dando-a uma promessa silenciosa de que isto era só o início do que ele tinha a intenção de mostrar.
Ele quis compensar por todos os abusos que ela sofreu nas mãos de outros, ainda que levasse o resto de sua vida para ajudá-la a esquecer.
Inferno, olhando a rendição dela tão abertamente para ele agora, existia uma parte dele pronta para dar-lhe uma eternidade.
Se ele tivesse qualquer coisa a dizer sobre isto, este momento já era o começo.
— Mathias, — ela murmurou, ofegante dos tremores de seu clímax. — Eu não quero que este sentimento pare. Não ainda...
— Não, — ele rosnou. — Não ainda.
Fora de sua roupa e botas, ele então se ajoelhou ao lado dela, ficando mais faminto, impossivelmente mais duro, enquanto ela bebeu em sua nudez com apaixonado e pesado olhar.
Sua pulsação martelou em suas orelhas, em suas têmporas, seu sangue correndo como lava derretida em suas veias pela intensidade de sua necessidade por esta mulher. Seu glifos ondularam com calor, cor inundando os espiralados e arqueados padrões em seu tórax, ombros e bíceps.
Suas presas apertadas contra sua língua, pontas afiadas completamente estendidas, e ele soube que Nova estava vendo-o em seu mais inumano, em sua selvagem forma de predador.
Ela não vacilou.
Ela não tremeu.
Ela o agarrou. — Mathias...
Não havia nada mais que ela precisasse fazer ou dizer.
Ele a beijou, sem pressa, e posicionou-se entre suas coxas separadas. Sua fenda era lisa e quente contra sua seta enquanto guiava-se para ela. Não podia parar agora. Seu desejo por ela inundou todos os seus sentidos.
Ele puxou seus quadris para trás até que estava acomodado no centro de seu corpo pronto.
Então ele dirigiu para casa, centímetro por centímetro delicioso, no prazer mais doce, mais quente que já conhecera.
Ele encheu-a mais profundamente do que ela pensou que fosse possível, abrindo seu núcleo com tanto calor, força e paixão que ela dificilmente podia respirar. A sensação a subjugou, atordoou.
Esmaeceu todo pensamento que ela já teve sobre estar à mercê das necessidades carnais de um homem.
Nova agarrou em Mathias quando ele balançou nela com força desenfreada.
Seu corpo estava ainda flexível de sua libertação, as terminações nervosas ainda tamborilando do prazer que ele deu a ela com seus lábios, língua e toque.
Ela sentiu aquela liberação espiralar novamente quando ele colidiu contra ela, a fricção de se pau movendo dentro dela, rapidamente tomando mais do que ela podia aguentar.
Em um grito, ela quebrou. Sentiu-se estilhaçando separadamente em pedaços minúsculos.
Sem aviso, súbitas lágrimas encheram seus olhos. Queimando atrás de sua garganta.
Mathias ficou completamente quieto acima dela, detendo-se no meio de uma punhalada. A respiração cortada dele, e a maldição que ele praguejou foi abrupta, cheia de temor. — Você está chorando.
Ela deu uma sacudida fraca de sua cabeça, lutando para achar sua voz. — Eu apenas... Eu pensei que seria diferente, — ela engasgou. — Eu pensei que podia lidar com isto...
— Ah, merda. Maldição. — Todo músculo do corpo dele parou de mover agora. Sua carranca aprofundou. Ele começou a retirar-se dela. — Nova, eu sinto muito...
— Não. — Ela agarrou seus ombros e engoliu de volta o cru nó que estava bloqueando sua voz. Quando ele continuou a mudar seu peso fora dela, ela embrulhou suas pernas em torno da parte de trás de suas coxas para segurá-lo no lugar. — Não, Mathias. Não é isso que eu quero dizer. Eu não estou chorando porque você fez qualquer coisa errada. É porque isto parece tão incrível. Você se sente incrível dentro de mim. Eu não estava preparada para isto... para como nós nos sentiríamos juntos. Eu não esperava isto.
Em silêncio, ele olhou fixamente para ela, imóvel. Seu ardente olhar aqueceu o rosto dela com seu calor. — Você se sente bem, então?
— Mais que bem, — ela o assegurou. — Eu me sinto... viva. Com você dentro de mim assim, eu me sinto inteira. Pela primeira vez, Mathias, sinto como se todo o resto estivesse realmente para trás. Você me deu isto.
Ele praguejou novamente, algo baixo e reverente. Então a beijou com mais ternura, o prazer mais desejoso, que seu coração pareceu capaz de conter.
Quando ele finalmente quebrou o contato, ele estava sorrindo, presas cintilando.
Ela franziu. — O que é tão engraçado?
— Nada, — ele murmurou, dando a seu quadril um moer significante contra ela. — Eu só pensei que poderia ser divertido, fazer outras coisas que você apreciará, mas não esperaria. Achando caminhos para manter você surpreendida, para variar.
Ele ainda estava movendo dentro dela, ainda duro. Ficando mais duro, de fato.
Nova acariciou seu rosto, seu belo transcendental rosto. Ela perguntou-se quanto tempo levaria para ela cansar de olhar para ele.
Mais tempo que ousou imaginar.
Toda vida e um pouco mais.
Ela esperou enquanto ele achou seu ritmo mais uma vez. Suspirando com prazer quando seu ritmo ascendente guiou-a em direção à borda de outro pico de sensação. Fechando seus olhos, ela deixou-o levá-la lá, montou com ele enquanto seu corpo grande começou a ficar rígido e tenso, o quadril dele bombeando mais forte agora, furioso e fundo.
Ela gritou seu nome. Ouviu ele murmurar o dela em um grito áspero ao lado de sua orelha no próximo momento, enquanto calor explodia dentro dela e ele tremeu com a força de seu orgasmo.
O coração de Nova estava batendo como trovão em suas orelhas.
Então ela ouviu o estrondo novamente, um rápido martelar, urgente e instável. Vindo do outro quarto.
Mathias ouviu isto também, sem dúvida antes dela. Ele levantou-se abruptamente.
— Nova. — A voz de Eddie soou esquisitamente fina fora da porta do apartamento.
— Algo está errado. — Mathias disse antes de ela poder verbalizar sua preocupação. Seu rosto era horrendo, narinas chamejando. — Há sangue.
— Oh, Deus. — O alerta a sacudiu fora da cama. Ela se apressou de volta em sua camisa e calças de moletom e estava correndo para a sala de estar no próximo momento. Ela abriu a porta e choque bateu como um soco no intestino. — Eddie... Oh, meu Deus!
O menino estava branco como um fantasma, seus olhos dilatados com choque. Sangue manchou a frente de sua camiseta e calça jeans. Muito sangue.
Nova o agarrou e abraçou perto. Ela procurou por machucados, mas ele parecia incólume. Suas mãos saíram pegajosas e vermelhas. — O que aconteceu com você? Onde está Ozzy?
— No estúdio, — ele murmurou, sua voz esganiçada. — Eu não podia fazer qualquer coisa, Nova. Ele disse que me escondesse. Eu quis ajudar, mas ele não me deixou.
Pânico agarrou-a. — Ozzy? — Ela gritou no silêncio do edifício.
Mathias permaneceu atrás dela agora, peito nu, vestido apenas com calças pretas. Nova virou seu olhar para ele, um soluço cru engatando em sua garganta.
— Oh, Deus. Que diabo estar acontecendo? Oz!
Ela precipitou-se passando Eddie, só para ser detida quando Mathias pegou em seu braço. — Nova, fique aqui. Deixe-me...
Ela soltou um grito miserável e arremessou-se para os degraus que levavam até o estúdio.
— Ozzy... Oh, não. Não!
Nova o encontrou na loja de tatuagem vazia, deitado em uma poça de sangue próximo a sua estação. Caído sob o gato peludo em suas costas, seu corpo estava imóvel, seus olhos congelados arregalados. Sua garganta foi cortada, terrivelmente estraçalhada.
— Oz! — Ela chorou, em pé descalça na extremidade da poça de sangue, suas mãos cobrindo a boca quando um uivo de angústia brotou dela. — Não, Ozzy. Não...
— Estava varrendo a sala de trás depois que Ozzy terminou com um cliente, quando ouvi um homem entrar na loja, — Eddie murmurou por detrás dela na parte inferior dos degraus. — Ele estava procurando por alguém. Procurando por você, Nova.
Confusão despontou através de seu pesar quando olhou para baixo na selvageria feita com seu amado mentor. — Procurando por mim? Você tem certeza?
— Ele não parecia saber seu nome, — Eddie continuou, — mas o homem conhecia sua aparência. Ele falou com Ozzy, perguntado se ele conhecia você. O homem disse que era importante que a encontrasse. Disse que você estava com problemas.
Ela franziu o cenho, tentando fazer sentido do horror na frente dela. Até em seu estado de choque entorpecido, podia sentir o cheiro da mentira que o atacante disse a Ozzy. — Você viu quem era Eddie?
— Não. Ele estava vestindo roupas escuras, tinha uma jaqueta com capuz. Eu só o vi de lado, enquanto ele caminhava para a estação de Ozzy. — Eddie soltou a respiração com um estremecimento. — Ele era grande, Nova. Ele parecia meio, irritado. Podia ver que Ozzy estava assustado com ele também.
Ela fechou os olhos, o medo rastejando em suas veias. — Ele era humano?
— Não sei, — Eddie disse. — Tentei olhar, mas não pude ver seu rosto. O homem não me viu em pé na parte de trás da sala. Queria dizer-lhe para deixar Ozzy em paz, mas Oz acenou para eu ficar parado. Ele murmurou para eu não dizer nada, me esconder... — O menino sufocou um soluço. — Então, eu fiquei. Rastejei para um armário e me escondi, Nova. E então ouvi o homem machucando Oz...
Ela olhou para trás em direção a Eddie, e viu Mathias, agora chegando pela parte inferior dos degraus.
— Você fez a coisa certa, — ele disse para a criança, que havia se dissolvido em lágrimas. — Se você não fizesse o que Ozzy lhe disse, os dois estariam mortos agora, Eddie.
O menino olhou para ele. — Você estava aqui ontem à noite. Você estava lá em cima com Nova?
Mathias deu um breve aceno com a cabeça. Seu olhar era solene, sombrio. E na piscina dos verdes olhos pálidos que encontrou o olhar de Nova agora, ela viu o crepitar das faíscas âmbar. Viu as pontas de suas presas também, e o rubor da cor que estava devagar vazando dos dermaglifos em seu peito nu.
A visão de tanto sangue fresco derramado não devia ser fácil para ele. Sua natureza da Raça deveria estar escavando nele, ainda assim Mathias manteve seu lado vampiro à distância com um controle notável. Por causa de Eddie, sem dúvida. Talvez por ela também.
Um soluço irregular rasgou da garganta de Nova, quando olhou para baixo em direção a Ozzy novamente.
Ela não ouviu Mathias subir por trás dela.
Não percebeu que ele chegou perto o suficiente para tocá-la, até que a mão morna dele tocou ligeiramente, ternamente, em seu ombro. — Nova...
— Não faça isso. — Ela encolheu-se para longe de seu conforto. A ideia de que tinha se descuidado com a paixão, clamando em prazer com Mathias, enquanto Ozzy estava sendo atacado e assassinado bem debaixo deles, era uma dor que mal podia suportar. Ela olhou fixamente para Mathias em miséria extrema, a culpa e o pesar retalhavam dentro dela. Sua voz saiu rasa, proibitiva. — Não me toque.
Ele franziu o cenho, deixando sua mão cair para o lado. — Eddie, o homem disse qualquer outra coisa para Ozzy?
— Não. Ele queria saber onde encontrar Nova. Ozzy não disse a ele, e então o homem ficou realmente zangado. — Eddie fungou. — O homem vai machucar Nova também?
— Não, — Mathias respondeu com firmeza, rapidamente. — Nunca permitirei que isto aconteça. Não deixarei nada de mal acontecer com qualquer um de vocês, Eddie. Mas vocês não podem ficar aqui agora. Vou chamar algumas pessoas que podem me ajudar a cuidar de Ozzy, então vou levá-los para um lugar seguro comigo.
Ele estendeu a mão para Nova enquanto dizia isto. Ela não pode conter sua reação automática, o instinto de negar e a tristeza que cortou através dela, com o pensamento de ir a qualquer lugar sem Oz.
— Não vou deixá-lo. — Ela afastou-se do alcance de Mathias. Sangue frio e espesso escorreu debaixo das solas descalças de seus pés, quando se moveu para mais perto do corpo de Ozzy. — Preciso saber o que aconteceu. Preciso saber quem fez isto.
Ela caiu de joelhos ao lado dele.
Mathias viu o que ela estava para fazer. Ele fez uma careta e começou a balançar a cabeça. — Nova, não faça...
Sua precaução foi um eco distante nos ouvidos dela, quando ela estendeu a mão e pegou na mão sem vida de Ozzy.
Os momentos finais de sua vida desenrolaram-se por trás das pálpebras fechadas dela, da mesma maneira que Eddie descreveu. O homem imenso em uma roupa escura, todo o rosto dele obscurecido pelo capuz de sua jaqueta preta. As exigências que ele fez a Ozzy, sua voz baixa mortal, ameaçadora.
Então, o corajoso e tolo Ozzy, se esforçando para protegê-la. Para mentir por ela, até mesmo quando soube que provavelmente custaria sua vida.
Nova viu a lâmina afiada surgindo por detrás de Oz quando o homem o dominou. Fatiando no fundo de sua garganta. Deixando-o cair no chão em uma convulsão, gorgolejando em uma pilha, a última memória consciente de Ozzy desaparecendo, retrocedendo na forma de seu assassino, enquanto o atacante desaparecia da loja com uma velocidade e agilidade inumana.
Porque ele não era humano.
— Ele era da Raça, — Nova murmurou, quando a conexão com a morte de Ozzy desapareceu de seu alcance. — O homem que o matou... Ele era da Raça.
Vinte minutos mais tarde, completamente vestido e sombrio com a ameaça mal contida, Mathias esperava seu auxílio chegar. Ele chamou sua equipe de guerreiros, da perseguição de procurar o rabo de Renegados em Lambeth, para ajudá-lo com um problema real. Um elemento imediato que significava lidar com o uso de todos os efetivos e recursos ao seu alcance. Isso incluía seu amigo Sloane, que se ofereceu para colocar uma força tarefa completa sobre o caso, quando Mathias falou com o oficial da JUSTIS um tempo atrás.
Inferno, se Mathias tivesse que pedir favores de todos os comandantes da Ordem dos Estados Unidos e no estrangeiro, para desentocar sua presa, ele malditamente bem faria.
O homem que matou Ozzy, e que muito provável ainda estava na caça de Nova, iria pagar.
Com sua alma, se Mathias chegasse até ele primeiro.
Vendo a dor de Nova, e de Eddie também, não havia nada que satisfizesse Mathias mais do que ser o único a matar o filho da puta.
Que o assassino pudesse ser da Raça apenas fazia isto mais crucial que eles o encontrassem. Ruim o suficiente saber que havia assassinos humanos como Doyle e seus colegas marcados com o escaravelho, espreitando ao redor de Londres com o potencial de fazer mal à Nova. E pensar que ela podia estar na mira de um predador com apetites e habilidades mortais da Raça?
Mathias rosnou através de suas presas, rondando o escritório como um animal enjaulado, enquanto esperava que Thane e Deacon chegassem. O terceiro membro da patrulha, Callahan, estaria escoiceando por toda a cidade para encontrá-los na loja. Thane informou a Mathias que o jovem guerreiro impulsivo, tinha saído para encontrar um anfitrião de sangue e alimentar-se, depois que caçar uma equipe de Renegados se provou um fracasso.
Quanto a JUSTIS, Sloane estava preso em outra investigação, mas esperava que ele pudesse estar lá com sua unidade dentro de uma hora.
Enquanto isso, a espera estava deixando Mathias louco.
A sensação de impotência não era algo ao qual estava acostumado, mas este sentimento tinha menos a ver com o reconhecimento antecipado de sua equipe e a JUSTIS do que se referia à Nova.
Depois de usar sua habilidade em Ozzy, ela saiu rapidamente nauseada, mal chegando ao banheiro no fundo da loja, antes de praticamente vomitar seu estômago.
Ela permanecia na sala dos fundos com Eddie desde então, uma porta fechada como uma barreira entre eles e Mathias no escritório.
Aquela porta não era o único obstáculo entre Nova e ele agora.
Ela não queria estar próxima a ele.
Ela não queria seu conforto ou sua preocupação.
Ela não queria nada dele.
E não que pudesse culpá-la. Ele tinha estado doente consigo mesmo também, amaldiçoando-se pelo descuido que não apenas custou a vida de Ozzy esta noite, mas também, deixou Nova na mira de um assassino. Um que poderia estar aproximando-se dela agora mesmo.
Por mais que Mathias odiasse que ela tivesse usado seu dom extrassensorial, para tentar identificar o assassino de Ozzy, ele tinha que admitir que estava esperando que a visão tivesse lhe dado algo útil para continuar em sua perseguição do bastardo.
Ele não queria que Nova fizesse isto. Tentou impedi-la, sabendo o que aquele vislumbre terrível custaria a ela. A experiência da morte de Ozzy seria algo que teria que levar com ela para sempre.
Ela já tinha conhecido dor e feiura o suficiente em sua vida. Mathias queria protegê-la mais. Difícil de fazer, quando ela não estava nem falando com ele agora.
Ele amaldiçoou e enviou seu punho contra a parede mais próxima.
Ele falhou com ela esta noite.
Se não tivesse estado tão preso à sua excitação no corpo de Nova, sua paixão doce mas ardente, talvez tivesse ouvido a confrontação que acontecia na loja, dois andares abaixo. Talvez tivesse sentido o cheiro de sangue no ar, antes de Eddie vir até a porta. Talvez pudesse ter impedido a morte de Ozzy e poupado o pesar de Nova que estava lhe despedaçando agora.
Talvez...
Caralho. Tudo o que tinha era talvez, quando chegou até esta mulher.
Sua mulher.
Para sua surpresa, percebeu que não podia pensar sobre Nova de qualquer outro modo.
Estava prestes a vira-se e dizer isto a ela, quando o Ranger Rover preto da Ordem encostou ao meio-fio do lado de fora da loja de tatuagem. Enquanto Thane e Deacon saltavam, Sloane explodiu atrás deles em um veículo sem marca, com seu painel de LED piscando, outra unidade da JUSTIS seguindo bem atrás dele. Alguns momentos depois, Callahan emergiu de algum lugar na escuridão e veio correndo até a loja.
Mathias saiu para saudar os guerreiros que chegavam e seus amigos da JUSTIS.
Sua conversa com Nova teria que esperar.
Agora, ele tinha um assassino para caçar e destruir.
Nova fez o seu melhor para limpar Eddie e a si mesma no pequeno banheiro da loja.
Não havia água suficiente em Londres para lavar todo o sangue que manchava a camisa e as mãos trêmulas do garoto em estado de choque. Ela tentou esfregar isto fora dela também, de seus dedos e pés descalços, os joelhos de seu moletom escuro encharcados, de quando se ajoelhou ao lado de Ozzy, revivendo seus últimos momentos de vida.
Vermelho tinha escorrido pelo ralo da pia por quinze minutos direto, antes de ela finalmente desistir. Não faria nada com suas roupas além de queimá-la.
Ela soltou a camiseta arruinada de Eddie na lixeira do banheiro, e deu-lhe um olhar terno. — Você está bem?
Ele assentiu fracamente, então balançou a cabeça. Seus olhos ainda estavam inchados e úmidos de suas lágrimas. Sua boca tremia enquanto falava. — O que vamos fazer, Nova?
Ela ofereceu-lhe um sorriso, mas pareceu vacilante e incerto em seus lábios. — Nós resolveremos isto.
As mesmas palavras que Mathias tinha falado para ela mais cedo naquela noite, quando finalmente admitiu para ele que não tinha resolvido merda nenhuma, que estava assustada.
Ela ainda estava assustada, muito mais agora. Não apenas porque Ozzy se foi, e ela não sabia como seria sua vida sem o velho fazendo parte dela, mas porque de alguma maneira deixou outro homem entrar em sua vida.
Em seu coração.
Mathias.
Como ela tinha sido tão descuidada a ponto de abaixar sua guarda com ele, depois de uma vida toda se mantendo seguramente fechada, ela queria e desejava trancar-se atrás das íngremes paredes da torre impenetrável?
Como ele conseguiu derrubar o portão, quando ela mal teve tempo de se preparar para a batalha?
Por mais que Nova quisesse se culpar, ou culpá-lo, por Ozzy estar sofrendo esta noite, enquanto eles tinham estado tão alegres e egoisticamente desavisados, havia outra parte dela que não queria nada além de abrir a porta e correr para Mathias. Para seu conforto, para sua força.
E sim, para seu amor.
Ela precisava de todas aquelas coisas dele, e não tinha medo de admitir, mesmo que apenas para si mesma.
Olhando para Eddie em pé, meio vestido, seu peito e ombros esqueléticos estremecendo debaixo do peso do choque e do medo, Nova entendeu que também precisava da proteção de Mathias. Para o garoto.
Para si mesma também.
Em meio a todo o horror e angústia desta noite, acima da perda de Ozzy, ela não poderia dar-se ao luxo de esquecer que havia um assassino a procura dela.
Um macho da Raça selvagem que mostrou claramente que não iria deixar ninguém entrar em seu caminho até encontrá-la.
Nem mesmo um garoto inocente.
Muito pior seria se o assassino de Ozzy descobrisse que Eddie tinha estado por perto o tempo inteiro a fim de ouvir o suficiente para saber o que ele tinha feito a Oz.
E se o assassino decidisse voltar para o estúdio?
E se estivesse em algum lugar lá fora, observando, esperando por uma chance de fazer outro movimento?
E se ele fosse alguém enviado por seu pai? Alguém pior do que Doyle e seus outros assassinos humanos?
Cada possibilidade pareceu mais terrível que a próxima. A única coisa que ela tinha certeza era que o estúdio não era um lugar para Eddie estar agora. Mathias se ofereceu para levá-los para um lugar seguro esta noite. Talvez devesse deixar.
Ela enrolou os braços ao redor de Eddie. — Vamos conversar com Mathias, certo?
O menino assentiu, e ela começou a guiá-lo em direção à porta fechada que levava ao estúdio.
Começou, mas parou.
Mathias não estava mais sozinho na loja.
E quando o estrondo de vozes aumentou lá fora, os companheiros de Mathias da Ordem e a JUSTIS, todos agora estavam lá, o coração de Nova congelou em seu peito.
Um olhar para Eddie confirmou seu medo.
O rosto sardento dele estava branco fantasmagórico, seus olhos arregalados de medo.
— Você o ouve também? — Ela sussurrou.
Eddie movimentou a cabeça, em silêncio
A voz que Nova ouviu quando reviveu a morte de Ozzy. A voz que apavorou Eddie de dentro do armário onde ele se escondeu, durante o assassinato.
O homem ao qual isto pertencia estava na sala com Mathias agora.
Ele tinha que ser advertido. Mas como ela poderia fazer isto, sem se expor e a Eddie, ao assassino de Ozzy ao mesmo tempo?
Nova empurrou o garoto para trás, para longe da porta. Então suavemente, silenciosamente, abriu-a apenas um pouquinho. Seu coração deu uma guinada, o medo como gelo em seu peito.
Mathias estava conversando baixo, em tom sério com os outros homens. Ele estava obviamente amigável com todos eles.
Amigos deles todos.
Incluindo aquele cuja voz transpassava por Nova tão afiada quanto à lâmina que cortou a garganta de Ozzy.
Aquele homem e alguns outros agora se separam de Mathias e começaram a rumar para a sala na parte de trás.
Havia mais do que um envolvido? Poderia Mathias possivelmente saber?
E então, um pensamento repugnante, inquietante: Foi por isso que ele tentou impedi-la de tocar Ozzy? Porque tinha medo do que ela veria através dos olhos de Ozzy?
Ela não queria pensar nisso.
Queria acreditar que sua confiança nele foi bem colocada, que era real.
Mas Mathias estava ainda se aproximando, trazendo o assassino de Ozzy diretamente para ela.
Não. Oh, Deus... Não.
Ela não podia deixá-lo vê-la. Não podia deixá-lo se aproximar de Eddie.
Nova afastou-se da porta.
— Vamos, — ela sussurrou, mal fazendo um som. — Temos que sair daqui. Agora.
Mathias estava mais impaciente que qualquer pessoa para começar a caça ao assassino de Ozzy, mas antes que pudesse pensar em bater na rua com sua equipe e os oficiais da Junta de Segurança Urbana que haviam chegado, tinha que se assegurar que Nova e Eddie estivessem a salvo.
Ordenou a Callahan que voltasse novamente ao centro de comando da Ordem no coração de Londres. Ainda que raro, quase desconhecido, era permitido aos civis que entrassem na Ordem, mas Mathias estava disposto a quebrar esta regra por Nova.
Se tivesse algo a dizer a respeito, ela não iria ser meramente uma civil por muito tempo, de todos os modos. A queria em sua vida. Demônios, ele a queria como sua Companheira e ela o teria.
O Ranger continuava funcionando no meio-fio. Tudo o que Mathias precisava fazer era convencer Nova a confiar nele, que ela teria que fazer o que ele pediu pelo menos uma vez e deixar que cuidasse dela.
Dirigiu-se ao quarto de trás com Callahan e alguns dos homens, Mathias bateu na porta ao mesmo tempo em que começou a abri-la. — Nova, fiz alguns arranjos para que você e Eddie...
Ela se foi.
O quarto estava vazio. A porta traseira que saia para o beco atrás da loja estava parcialmente aberta, deixando entrar uma rajada do ar da noite no interior.
Nova se foi, levando Eddie com ela. A realidade do que aconteceu passou por Mathias como garras frias.
Merda. Ela estava na rua por sua conta neste momento, enquanto o assassino de Ozzy estava oculto.
Tinha que ser consciente deste perigo. E no entanto, ela escolheu tomar este risco do que permanecer outro minuto com Mathias.
— Maldição, Nova. — Voltou-se para os três guerreiros atrás dele, um estranho arrepio percorreu seu corpo. — Ela não vai voltar.
— Onde acha que foi? — Perguntou Callahan.
Mathias levantou seu ombro. — Não sei. Ela poderia estar em qualquer lugar na cidade.
— Se ela está a pé, não pode ter ido muito longe. — Disse Deacon.
Thane assentiu, suas sobrancelhas negras arqueadas sobre os olhos escuros. — Quer que a equipe vá atrás dela, Comandante?
— Não. — Disse Mathias depois de um momento, a palavra pesada em sua língua.
Cada partícula de seu ser foi golpeada com a necessidade de trazê-la de volta para ele. Mas se ele enviasse seus guerreiros atrás dela agora, isto apenas a faria correr mais longe.
Nova era uma mulher inteligente e uma sobrevivente. Tinha que confiar que ela encontraria uma maneira de manter-se a si mesma e Eddie seguros.
O melhor que poderia fazer por ela era ter certeza e que o filho da puta que mantou Ozzy Raza não respirasse durante muito mais tempo esta noite.
Sloane estava atrás de Deacon e Callahan na porta. O oficial da Junta disparou a Mathias um olhar de reprovação. — Tem um corpo estendido em uma poça de sangue por aí, uma mulher desaparecida e ninguém aqui para explicar o que aconteceu esta noite, exceto, você meu amigo. Acho que será melhor que nos diga o que está acontecendo.
Ele havia contado algumas coisas quando os chamou até a loja, alertando sobre o assassinato e que o assassino estava procurando uma mulher que trabalhava ali. Não parecia o melhor momento para falar que ele estava no lugar quando o assalto aconteceu, por não falar que estava no andar de cima fazendo amor com a mesma mulher que o atacante procurava.
Ainda que Sloane exigisse respostas, Mathias falou com sua equipe. — Conheci Nova aqui na loja há algumas noites, durante nossa busca pelo artista da tatuagem sem terminar no último homem tirado do Tâmisa.
— Um golpe de sorte. — Comentou Deacon. — Buscamos dezenas de lojas e voltamos com as mãos vazias.
— Sim, bom. — Mathias respondeu. — Tão logo me aproximei da loja de Ozzy, senti que algo estava errado. Percebi que houve um desentendimento aqui, algo muito ruim. Isto me deixou curioso, assim que parei e fiz algumas perguntas.
— O que descobriu? — Perguntou Thane.
— Que nosso escaravelho morto havia, de fato, estado nesta loja. Ele veio na noite anterior e Nova foi quem fez a tatuagem.
— Mas ela não terminou. — Disse Callahan.
— Não. O tipo estava bêbado. Ali trocaram algumas palavras, então ameaças. As coisas ficaram feias e Ozzy o matou tentando proteger Nova. Jogaram o corpo no rio.
— Jesus cristo. — Sloane murmurou.
Mathias continuou segurando o olhar legitimamente indignado de seu velho amigo. Sloane não iria gostar nenhum pouco. — Percebi que havia coisas que não estava me dizendo. Suspeitei de algum tipo de conexão entre ela e o homem que entrou na loja... e não me enganei. Ela o conhecia. Não conhecia os outros no necrotério, mas estava com muito medo de ir ali e descobrir o que pudesse sobre eles.
Agora, Sloane amaldiçoou entre dentes de foram muito profana. — Você mentiu para mim hoje, Rowan. Atuou como se não tivesse ideia de onde estava a maldita mulher do vídeo no necrotério. No entanto, todo o tempo sabia.
— Sim. — Admitiu com seriedade. — Digo agora, tendo a meus amigos, meus companheiros de equipe, como testemunha de que isto vai contra tudo o que sou. Mas quando se trata desta mulher, quando se trata de Nova...
— Preocupa-se com ela. — Disse Thane.
Mathias assentiu. Lançou um olhar para Sloane. — Quando me disse que esteve no necrotério para ver os outros mortos, não sabia o quanto poderia estar envolvido em nada disto. Não sabia se ela fazia parte dos outros assassinatos também. Não sabia se estava mentindo para mim sobre o que sabia. Apenas sabia que tinha que lhe dar a oportunidade de contar-me primeiro. Assim, logo que o sol se pôs, vim aqui para falar com ela.
— Esteve aqui a noite toda? — Callahan elevou a voz. — Você estava aqui enquanto acontecia um assassinato?
— Estava no andar de cima, no apartamento de Nova com ela. — Ele não teve que explicar o que estava fazendo ali. — Os olhares que estava recebendo dos quatros homens dizia que entendiam claramente. — Eu não soube sobre o ataque até depois que se concluiu. O garoto, Eddie, estava na loja quando o assassino chegou. Eddie escondeu-se novamente ali, no depósito. Correu escada acima para Nova depois, em estado de choque.
— Ele não viu quem o fez? — Perguntou Deacon.
— Não, mas Nova sim. — Depois dos olhares confusos fixos em Mathias, ele explicou. — Ela é uma Companheira da Raça. Seu dom a deixa ver os momentos finais da vida de alguém quando os toca. Quando tocou Ozzy, viu o homem da Raça com uma jaqueta e um capuz. Viu quando ele abriu a garganta de seu amigo.
Mathias agora olhou para Sloane. — Isto era o que Nova estava fazendo no necrotério esta manhã, tocando os mortos com a tatuagem de escaravelho. Viu que havia algum tipo de reunião entre os homens e um grupo de russos. O capanga que a enfrentou aqui na loja de Ozzy na outra noite estava ali também. Ela o viu executar seus próprios homens.
Sloane olhou fixamente, passou uma mão sobre a cabeça. — Pelo amor de deus, Rowan. Quando iria contar todas estas informações? As coisas entre nossas organizações são delicadas o suficiente sem o Comandante da Operação da Ordem em Londres intencionalmente interferir em uma investigação da Junta de Segurança Urbana. A retenção de informação, o desvio de recursos, transar com uma pessoa de interesse...
Mathias grunhiu com este último, apesar de ser culpado de tudo o que Sloane apontou. — Quero que tudo isto se resolva como qualquer pessoa, mais que ninguém, eu diria. Mas Nova é minha responsabilidade. Não quero que ninguém a questione, apontando com um dedo sem primeiro perguntar algo.
Sloane o observou com os olhos azuis estreitados. — Bebeu desta mulher? Uniu seu sangue com o dela? — Quando Mathias negou com a cabeça, Sloane zombou. — Não, mas quer.
Ele não iria responder a isto. Não podia.
Enquanto ele viveu uma vida muito longa tomando seu sustento de mulheres humanas dispostas, mulheres que proporcionavam sexo e alimentação, não sentia este desejo mais.
Não desde que colocou os olhos na garota tatuada, pouco convencional, chamada Nova.
Se bebesse dela, uma Companheira da Raça, um gole significaria para sempre.
Um conceito que Mathias estava mais que disposto a explorar com ela. Se conseguisse, se arrumasse uma forma de encontrá-la antes de o perigo alcançá-la.
— Não importa o que eu quero neste momento. — Disse para Sloane e sua equipe da Ordem. — Apenas preciso me assegurar que Nova e o garoto estejam a salvo e que possamos encontrar o bastardo assassino que esteve na loja esta noite.
Com seus guerreiros enviados em separado para sair pelas ruas ao redor a pé, a unidade da Junta aumentando a busca com veículos, Mathias voltou-se para Sloane. — O assassino não veio aqui em busca de Nova por acidente. Ele deve ter tido acesso ao vídeo do necrotério. Sei que você tem muitas razões para não me fazer nenhum favor neste momento...
— Não, não tenho. — O oficial da Junta respondeu. — Mas para sua sorte, eu não guardo rancor. Quer uma lista de todos os olhos que viram o vídeo?
— E de todos que tiveram acesso aos arquivos dos mortos com escaravelho. — Acrescentou Mathias, arqueando uma sobrancelha quando Sloane lançou um olhar malicioso. — Eu agradeceria.
O macho da Raça grunhiu. — Vou fazer alguns telefonemas. Avisarei ao laboratório forense sobre a situação também.
Mathias tocou seu velho amigo no ombro e murmurou um agradecimento quando Sloane saiu. Sozinho na loja de Ozzy, o sangue coagulado debaixo do corpo coberto e muito menos potente para seus sentidos, Mathias levou um momento para considerar tudo o que aconteceu esta noite.
Sua preocupação pela segurança de Nova e a necessidade de saber que ele não a perdeu por completo, fez suas emoções lutarem contra os instintos do guerreiro na parte do tempo depois do assassinato de Ozzy. E agora que tudo estava se resolvendo, um plano se formando, percebeu que algo estava roendo as bordas de sua mente.
Não podia evitar a sensação de que faltava algo crucial.
As peças não estavam fazendo sentindo quando as juntava e ele continuava voltando ao fato de que algo não se encaixava.
Sloane entrou novamente, deslizando seu telefone do bolso. — Posto que está pedindo um favor para a Junta de Segurança Urbana esta noite, quer que coloque um aviso sobre sua mulher? Geralmente, procuramos pessoas desaparecidas depois de vinte e quatro horas, mas não vejo nada de mal em romper as regras por um amigo.
— Não, mas obrigado. — Respondeu, os instintos ainda o irritando.
Por muito que apreciava a oferta de Sloane por apoio, preferia manter todos os olhos concentrados em encontrar o assassino. E havia uma parte dele que não queria confiar em ninguém, no que a Nova se referia.
Voltou a pensar no que ela disse sobre as coisas que viu quando ela tocou os escaravelhos mortos no necrotério. — Nova disse que havia alguém mais no cais naquela noite. — Murmurou pensando em voz alta. — Alguém que disparou e matou um dos russos, talvez mais de um.
Sloane grunhiu. — Isto é raro. Os únicos que tiramos do rio até o momento foram os escaravelhos mortos. Nenhum russo entre eles.
— Parecia muito segura de que o viu. — Disse Mathias. — O que significa que temos outro assassino aí fora.
— Talvez este seja o tipo o cara que devemos buscar esta noite. — Sloane sugeriu. — Foi capaz de identificar algo útil sobe o cara que disparou nos russos?
— Ela não disse.
— Mas tinha certeza de que não era Doyle?
Cada tendão no corpo de Mathias estava tão tenso como uma corda de arco. Suas veias começaram a pulsar com força. — Sim, tinha certeza...
Lançou um olhar para Sloane, quem agora lhe devolvia o olhar.
— Nunca lhe disse seu nome. — Disse Mathias.
No princípio pensou que Sloane fosse negar. Mas então o grande Raça inclinou levemente a cabeça, um sorriso irônico levantando o canto de sua boca. — Não. Acho que não o fez.
Mathias sentiu-se traído. Olhou para seu velho amigo com incredulidade. — Você fez isto esta noite? Teria a matado também?
— Não tinha nada a ver com o velho e o garoto. Não tinha nada a ver com tudo isto. — Os olhos de Sloane adquiriram um tom duro. — Se quer culpar a alguém, a culpa é deste idiota bêbado, Doyle. Ele colocou um alvo em suas costas. Não deveria colocar o negócio a perder colocando-se em qualquer lugar que as pessoas pudessem reconhecê-lo. Assim, ele vai e faz esta tatuagem? Humanos de merda.
Mathias grunhiu. — Diga o que esta acontecendo, Sloane. Você e Doyle. Estava com ele esta noite no cais? O que estavam fazendo? Que tipo e negócios estavam fazendo esta noite?
Ele balançou a cabeça lentamente. — Minha única parte no acordo era assegurar que tudo acontecesse sem contratempos e que ninguém se intrometesse esta noite.
— Você e Doyle? — Pressionou Mathias. — Matou todas estas pessoas a sangue frio?
— Eram escórias, todos eles. Especialmente Doyle. Teria o matado logo, mas sua mulher e o velho fizeram o trabalho para mim.
— Por quê? É um escaravelho também?
— Merda não. — Sloane cuspiu. — Minha única afiliação é a mim mesmo.
— Então como se envolveu em tudo isto?
Sloane sorriu. — Pagaram-me amigo. Pagaram fodidamente bem para assegurar que um pacote chegasse a seu destino e que não houvesse cabos soltos. — Ele riu entre dentes. — Suponho que sou o último.
— O que acontece com Nova? — Disse Mathias. — Há alguém mais atrás dela?
— Nunca ninguém esteve. Não sei sobre a conexão dela com Doyle ou seus associados fora de Londres e não me importa. — Encolheu os ombros. — No que me diz respeito, estava no lugar errado na hora errada.
Mathias sentiu alivio ao ouvir isto, mas ainda consciente do fato de que o passado de Nova precisaria ser tratado em algum momento. Quando estivesse pronta. E ele queria estar ao lado dela quando este dia chegasse.
— Tenho que admitir, Gavin.
Olhou finalmente, sem expressão. — Os dois sabem que isto não vai acontecer.
Lentamente, deu a volta, como se fosse dar um passo fora da loja.
Mathias puxou a pistola do cinto de armas. Inclinou a pistola 9mm. — Sloane pare.
Fez uma pausa, mas não se voltou. Seus braços estavam dos lados. — Vai colocar uma bala nas minhas costas?
Mathias amaldiçoou entre dentes. — Prefiro não fazê-lo. Mas você não irá passar por esta porta.
— Está bem. — Disse Sloane depois de um momento. — Vou fazer isto mais fácil para você.
Girou de repente e Mathias viu que estava pegando sua própria arma. Explodiu um instante mais tarde e uma bola de fogo de dor se abriu no ventre de Mathias.
Disparou novamente.
Sua bala alcançou seu velho amigo entre os olhos.
Sloane caiu no chão.
Mathias caiu sobre um joelho, o sangue saindo dele.
Mathias caminhou no quarto de guerra do centro de Comando da Ordem em Londres na próxima manhã, uma bandagem embrulhada ao redor de seu tórax nu. Sua dor era aprazível, mas o ferimento de tiro que perfurou vários órgãos internos iria tomar mais algumas horas para curar.
Ele não teve muito prazer em ser arrastado para a sede por Thane e seus outros homens depois que os chamou de volta para a loja de Ozzy. Ele quis procurar por Nova ontem à noite. Virar a cidade ao avesso para achá-la e dizer que o assassino de Ozzy estava morto e ela não tinha nenhuma razão para ter medo.
Mas o amanhecer tinha vindo rápido, e a bala que Gavin Sloane atirou o teve parado pelo resto da noite ao invés.
O relatório da Ordem durante a noite da morte de Gavin Sloane em cumprimento do dever tinha contradito com dos seus colegas da JUSTIS. O fato que o oficial de longa data tinha sido corrupto, para uma problemática organização criminosa com ligações e motivos não ainda determinados, tinha sido um detalhe que Lucan Thorne decidiu omitir de quaisquer registros oficiais.
Documentos tinham sido arrancados, fotografias e vídeos destruídos, dados alterados. E, onde foi necessário, mentes humanas tinham sido limpas de qualquer e toda memória para contradizer o que a declaração oficial de Mathias dizia.
Para qualquer pessoa do lado de fora da Ordem, Sloane encontrou inesperadamente a cena de um homicídio em um estúdio de tatuagem em Southwark, aparentemente surpreendendo um par de criminosos, um que tinha uma faca, o outro uma arma de fogo. Infelizmente para Sloane, Mathias e seu time da Ordem descobriram o crime muito tarde para salvar o respeitado oficial da Raça, que tinha sido morto com um sortudo tiro na cabeça, os criminosos fugiram da cena.
Nunca foram vistos ou ouvidos novamente, claro.
Para Mathias e seu time, eles já estavam examinando outra série incomum de matanças.
Pareceu que alguém começou quietamente a almejar a comunidade bancária de Londres. Três alto executivos de finanças tinham sido achados mortos em suas casas nos últimos dias: uma vítima humana, as outras duas Raça. JUSTIS estava sob imediata e grande pressão para fazer os assassinatos pararem antes de o público descobrir e entrar em pânico.
Mathias entendeu a urgência, mas sua mente estava em outro assunto não resolvido de grande preocupação.
Ele tinha que ver Nova novamente.
Ele tinha que deixá-la saber que estava segura.
E que ela sempre estaria segura, tanto tempo quanto ele tivesse respiração em seu corpo e sangue correndo em suas veias eternas.
Ele apenas precisava achá-la primeiro.
— Bela tatuagem, — Callahan disse, passeando no quarto onde Mathias se sentou com um computador, revisando a informação dos recentes assassinatos. O jovem guerreiro se sentou próximo a Mathias na estação de trabalho, estudando a tatuagem de espada em suas costas. — Acha que sua senhora faria uma para mim?
— Eu não sei, — Mathias respondeu. — O que você gostaria?
O guerreiro encolheu os ombros. — Algo fodão, como a que você tem.
— Sem chance, — ele disse. — Isso tudo pertence a mim.
E a mulher que criou isto.
— Que tal o que você está desenhando naquele relatório, então?
— Hmm? — Mathias olhou até onde ele tinha estado à toa brincando com o estilete no tablete. Ele não tinha uma fração do talento de Nova, mas reconheceu o símbolo imediatamente.
A janela rosa das ruínas do Palácio de Winchester.
Uma das muitas tatuagens de Nova.
Uma que significou algo muito importante ela.
E ali era onde ele começaria a procurar assim que noite caísse.
Nova colocou Eddie na cama fina no porão da catedral. A pobre criança estava exausta. Ela estava também. Ela se sentou na extremidade do colchão e alisou seu cabelo fora de seu rosto sonolento.
— Quanto tempo nós temos que ficar aqui? — Ele perguntou a ela, sua pronúncia indistinta de palavras com o sono que já estava puxando-o.
— Eu não sei, — ela respondeu. — Durante algum tempo. Até que eu ache algum lugar melhor.
Ele assentiu com sono. — Certo. Só não me deixe.
— Nunca, — ela sussurrou, percebendo apenas agora que ela acabou de tomar o lugar do Ozzy. Não seria fácil de substituir. Mas faria o seu melhor. Ela acharia um jeito para dar a Eddie a mesma segurança e suporte que Oz deu a ela todos aqueles anos atrás.
Deus, ela já sentia sua falta.
Sempre sentiria.
E ela sentiu falta de Mathias também, embora isso fosse uma dor que ela não tinha que aceitar.
Ela poderia contatá-lo. Ele deu a ela seu número. Um número que jogou no lixo quase na mesma hora que ele deu a ela.
Agora, ela queria nada além de voltar àquele momento. Rebobinar. Fazer de maneira diferente.
Talvez Ozzy ainda estivesse vivo.
Talvez ela e Mathias estivessem juntos.
Talvez ela fosse uma idiota, perdendo seu coração para alguém que ela conhecia a apenas um punhado de dias.
Quando os roncos suaves de Eddie derivaram de seu travesseiro, Nova cuidadosamente saiu da cama.
Era cedo, só depois do pôr-do-sol. Ela estava inquieta, nervosa, embora não dormira mais que alguns minutos ontem à noite.
Ela olhou ao redor nas dúzias de outras camas semelhantes, ocupadas por homens, mulheres e crianças, uma comunidade de todas as idades e descrições. Ela era sem-teto novamente. De cara com a decisão de correr um pouco mais ou se esconder.
Ela precisava de espaço para pensar. Tempo para curar depois da morte de Ozzy e todas as coisas terríveis que cercaram isto.
E precisava sentir os braços de Mathias ao redor ela, com um desespero que dificilmente poderia reconciliar.
Ela apaixonou-se por ele.
Não sabia como, não se importava porquê.
Ela apenas sabia que precisava dele.
E agora mesmo, tudo que queria fazer era sair no ar da noite e gritar o nome de Mathias.
Quietamente, ela deixou o abrigo do porão e subiu para os degraus para a porta que leva aos chãos da catedral. Ela achou um banco de madeira e afundou-se nele. Era um lugar que ela se sentou muitas vezes antes, seu cantinho de meditação privada no meio da agitada cidade.
Inclinando sua cabeça para trás, ela olhou em cima, além das torres da catedral nas estrelas e na minguante lua crescente. Ela fechou seus olhos e lembrou-se da apavorada, brutalizada, pequena menina que veio aqui a primeira vez.
Ela voltou novamente, assustada e machucada, mas era diferente agora. Ela teve uma nova força, graças a Ozzy e a casa que ele abriu para ela. Agora ele se foi, mas ela ainda estava em pé. E ele iria querer que ela permanecesse. Não que ela corresse.
Ela não queria correr, não mais.
Não de ninguém, nunca.
Nem mesmo de Mathias, e dos sentimentos que ele despertou nela.
— Esta cadeira está ocupada?
Ela baixou o queixo, seus olhos abrindo de repente. — Você me achou.
— Eu achei você, — Mathias disse. Ele se sentou próximo a ela no banco. — O assassino de Ozzy está morto. Você está segura agora. Eu quis que você soubesse disto.
— Você...? — Ela perguntou, insegura do que precisou saber naquele momento. O fato que ele estava lá com ela era a única coisa que realmente importou.
— Nós o pegamos, Nova. E do que juntamos, não parece que qualquer um sabe que você está em Londres. Doyle e os outros não estavam procurando por você. Você e Eddie não estão em qualquer perigo agora.
— Obrigada, — ela murmurou. — Você veio aqui só para me dizer isto?
Ele assentiu. — Vocês estão... bem?
— Eu sinto falta de Oz, — ela admitiu. — Eu sempre sentirei.
— Eu sei. Sinto muito. — Ele franziu, deu uma suave sacudida na cabeça. — Se houver qualquer coisa que eu possa fazer...
— Eu ficarei bem, — ela o assegurou. — Eddie e eu estaremos bem. Nós nos arranjaremos.
Mathias sorriu por isso, um sorriso que pareceu pesado com remorso. — Você pensou sobre o que fará... Se você voltará para o apartamento do Ozzy...?
— Eu não quero levar Eddie lá de novo, — ela disse, percebendo isto agora. Ela realmente não pensou sobre alternativas, mas sabia que se fixaria em algum lugar. — Nós nos arranjaremos.
— Você já disse isto, — ele murmurou. Levantou a mão para ela, acariciando sua bochecha com uma carícia leve. — Por que você não pensa nisso enquanto fica comigo.
Nova franziu. — Ficar com você, onde?
— Em meu apartamento na cidade.
— Você quer dizer, a sede da Ordem?
Ele encolheu os ombros. — Eu sou o chefe do escritório de Londres. Então, tecnicamente, a sede é meu apartamento. Você e Eddie ficariam comigo, em meus quartos privados na mansão.
— Mansão, — ela disse. Ela imaginou mármore cintilando e mobília elegante. As coisas que conheceu quando criança e aprendeu a menosprezar. — Eu não sei...
— O que você não sabe? — Os dedos acariciaram sua bochecha agora vagando em seu cabelo, sua palma morna, forte agarrando sua nuca. — Volte comigo. Não há razão para você e Eddie viverem aqui, quando eu tenho o quarto que qualquer um de vocês podia necessitar.
Ela agitou sua cabeça, mesmo tentada como era por sua oferta de conforto e um lugar luxuoso para ficar. — Não seria certo. Eu não posso negociar um abrigo temporário por outro.
Ele olhou fixamente para ela, uma carranca se formando. — Não, isso não seria certo.
Ela soltou uma respiração pesada, reprimida. Soltar isto pareceu esvaziar um pouco de sua alma junto. — Eu prefiro parar isto agora, Mathias. Eu não tenho medo de ficar sozinha, mas não quero enganar-me que aceitar sua oferta não fará isto mais difícil para sair mais tarde.
Ele assentiu sobriamente. — Eu concordo, isso seria um problema. Para nós dois. É por isso que minha oferta não é temporária.
Ela ficou boquiaberta. — O quê?
— Eu quero levar você para casa comigo, Nova. Você e Eddie juntos. — Ele tomou seu rosto em ambas as mãos agora, segurando-a tão ternamente quanto uma casca de ovo. — Eu quero levá-la comigo, agora mesmo. Onde eu planejo cortejá-la corretamente... e completamente. Você, de qualquer modo. Não o menino.
Nova riu. — Você não pode falar sério. Nós dificilmente conhecemos um ao outro.
— Temos tempo. Todo tempo do mundo.
— Você nem mesmo sabe meu nome real.
Ele sorriu, seus olhos faiscando com desafio e determinação. — Então, diga-me.
— Catriona, — ela disse suavemente. — Catriona Riordan.
Ele grunhiu, como se provando o nome em sua mente. — Eu gosto disto. E eu gosto de você. Eu amo você, Nova.
Ele a amava. Seu coração saltou em seu peito, uma sacudida vertiginosa de euforia feminina. Ela tinha estado tão inerte com pesar, o prazer que ela sentiu agora era como uma explosão súbita de luz solar depois de uma tempestade pesada. — Você está tentando me varrer fora de meus pés ou algo assim, Mathias?
Seu sorriso alargou. — Como algum tipo de cavaleiro em armadura brilhante, Nova. Sim, isto é exatamente o que eu estou tentando fazer.
Ela tocou em seu rosto, seu bonito rosto sério. — Bem, nesse caso, eu não me importo de dizer a você que eu te amo também.
— Boa resposta. — Ele olhou fixamente em seus olhos, suas próprias íris reluzindo com faíscas de âmbar brilhante. — Agora sobre o resto de minha pergunta...
— A parte sobre passar o resto da minha vida com você?
— Como minha Companheira, — ele esclareceu. — Eu não me conformarei com qualquer coisa menos.
— Eu não sou uma mulher fácil de viver, — ela o advertiu. — Eu sou mal-humorada. Sou teimosa. Às vezes eu não interajo bem com outros.
— Felizmente para nós dois, eu aprecio um desafio.
Ela riu, então suspirou quando ele a puxou em seus braços e através de seu colo.
Quando sua boca achou a dela e ele a beijou, lento, doce e sensual, ela sentiu todos os seus medos derreterem.
Sentiu esperança, e a promessa de um futuro, e felicidade, que ela há muito imaginou estar fora de alcance.
Mas nada estava fora de seu alcance agora.
Não quando seu coração estava transbordando com carinho e Mathias estava a segurando perto de seus braços fortes.
[1] Galahad era um dos Cavaleiros da Távola Redonda do Rei Artur e um dos três que conseguiu alcançar o Santo Graal.
Lara Adrian
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