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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


MODELO DE NECESSIDADE - P.2 / Nalini Singh
MODELO DE NECESSIDADE - P.2 / Nalini Singh

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

Tendo completado sua pesquisa, Vasquez localizou os três primeiros endereços rápido o suficiente, mas levou horas hackeando os firewalls da Net para desenterrar a segunda metade, e quatro dias para completar a lista. Psiquicamente exausto, ele considerou enviar um e-mail para aquele a quem ele servia com a atualização, mas eles concordaram com silêncio eletrônico e psíquico. Nada em seu plano iria vazar e destruir tudo o que eles meticulosamente haviam posicionado.

Ciente de que o cansaço poderia resultar em erros, Vasquez dormiu por tempo o bastante para se tornar funcional, então fez seu caminho até o composto escondido em um setor rural da Irlanda. —Eu tenho as coordenadas e imagens necessárias do primeiro grupo de alvos.

 

 

 

 

 

— Quando poderemos nos mover? — A voz era áspera, quebrada, emitida de uma garganta que sofreu queimaduras de segundo grau, Henry Scott gritou enquanto suas pernas eram transformadas em cinzas, um de seus braços cortado abaixo do cotovelo por um frio chicote de fogo.

Os médicos estiveram trabalhando em reparar os danos, mas eram severos. O fogo X de Sienna Lauren cauterizou as feridas, então eles precisaram cortar veia por veia para permitir que o time de regeneração trabalhasse. Porém, o pior dano foi feito quando um operante PurePsy jogou seu corpo sobre o de Henry em um esforço para protegê-lo. A arma do operativo se derreteu na carne do ex Conselheiro.

Estava se provando quase impossível retirar o plástico de seu corpo, uma parte dele parecendo ter se integrado aos seus órgãos. Como resultado, Henry ainda se mantinha ligado a vários dispositivos, seu corpo inerte em uma cama de hospital dentro de uma grande câmara de vidro estéril, sua voz arruinada soando através de um auto falante. Porém, o fogo não fez nada à sua mente, e eles eram Psy. A mente era tudo o que importava.

— Nós estamos em posição de atacar? — Henry elaborou, seus olhos injetados de sangue olhando para Vasquez através do vidro.

— Recomendo esperar até termos dez grupos completos. — Isso os permitiria atacar de uma vez, não deixando tempo nem espaço para um contra ataque. Porém, tudo dependia de Vasquez conseguir reunir pessoas confiáveis o bastante com as habilidades certas.

Altas, ruidosas respirações. — A Net está ficando mais fraca a cada dia que passa, cheia daqueles cujo Silêncio é defeituoso. Nós precisamos lembrá-los de quem nós somos como raça.

— Sim, mas nossas chances de sucesso crescem exponencialmente se agirmos sem quaisquer avisos. Não dando nenhum tempo para o inimigo se preparar antes da avalanche.

Henry tomou um longo tempo para responder, sua respiração tão áspera que Vasquez sabia que esse encontro logo acabaria. —Cinco grupos, — O ex Conselheiro disse finalmente. — Cinco grupos completos e um discrepante.

— Senhor?

— Uma pequena localização, uma demonstração do que nós podemos fazer além dos ataques primários.

— Um teste para averiguar a validade do nosso método refinado? — Seu plano anterior provou ter uma falha fatal, então ele poderia concordar com a precaução, exceto que isso arriscava sua chance.

Mas Henry disse, — Se aqueles na Net querem sentir, então talvez nós devêssemos ensiná-los o sabor do terror.

Vasquez nunca trairia o único homem que parecia estar tratando a desintegração do Silêncio não só como uma inevitabilidade, mas como uma doença que precisava ser parada, mas ele também não era um ciborgue que seguia todos os comandos de Henry. — Nós arriscamos perder o elemento surpresa, — ele disse—poderia resultar nos alvos primários sendo isolados.

— Não seria melhor, — Henry disse, — Se nós não tivéssemos que agir contra esse alvos? Talvez uma demonstração seja tudo que precisamos.

Vasquez considerou a questão, percebeu que seu líder estava certo. Essa estratégia não era uma com a qual eles concordassem facilmente, era contra os princípios do PurePsy. Porém, era um fato atestado que aqueles que se adaptavam às diversas circunstâncias eram aqueles que sobreviviam. — Se nós vamos seguir o horário, devo voltar para as minhas tarefas.

— Vá. — Uma pausa. — Vasquez?

— Senhor?

— Você tem sido leal. Eu não esquecerei.

— Pureza irá nos salvar, senhor. — Os ancestrais de Vasquez antes dele haviam sido assassinos e sociopatas. Silêncio era sua salvação. — Eu vou organizar as coisas.

Todos, não importa sua localização ou raça, tinham um vizinho Psy, colega ou conhecido de negócios. Quando os PurePsy se erguessem dessa vez, não seriam somente os Psy que aprenderiam o significado do medo.

 

RIAZ saiu do barco em que ele e Adria embarcaram para chegar a Veneza depois que o jato pousou nas proximidades do Aeroporto Marco Polo, ambos carregando pequenas mochilas. Esta época do ano era temperada, o ar em torno deles escuro com o pôr do sol que se aproximava, a luz suave polindo a pedra antiga dos edifícios que permaneciam acima da linha da água.

Como resultado da mudança de nível das águas do mar Adriático, e um terremoto submarino que danificara as bases de madeira em que estava Veneza, grande parte da joia que era a cidade estava agora debaixo d'água, embora algumas de suas icônicas e graciosas pontes tenham sobrevivido, algumas permaneciam abandonadas no meio de largos canais. No entanto, em vez de afundar no esquecimento, Veneza permaneceu uma cidade vibrante e viva, como resultado de sua complexa rede de biosfera abaixo da linha d'água.

Os núcleos foram desenvolvidos por uma equipe de changelings estabelecidos na água e colocados em prática durante a última década do século XX. Um grande número de pessoas do BlackSea ainda chamava Veneza de casa, mas o lobo de Riaz achava a antiga cidade claustrofóbica, principalmente abaixo da superfície, onde a biosfera agia como, em sua mente, prisões cautelares.

— Eu sempre fui fascinada por Veneza. — Adria fez um círculo completo na estrada “flutuante” projetada para subir com a água, seus olhos absorvendo tudo com franca admiração. — É cheia de tanta história que você quase pode ouvir a cidade sussurrá-la para você.

Embora suas memórias de Veneza fossem dolorosas, era impossível não ser afetado pela profundidade contagiante da alegria dela. — Você deveria ver durante o Carnevale. — Foi um pouco antes do último Carnevale que viu Lisette pela primeira vez, e foi incapaz de impedir-se de procurá-la durante as celebrações.

De pé nas sombras criadas pela alcova de um edifício coberto de musgo, o rosto escondido por uma meia máscara, ele assistiu sua figura ágil girar nos braços de seu marido, ambos cheios da energia selvagem que vinha do belo caos do festival. Ela estava vestida de vermelho e preto, uma dançarina espanhola de flamenco transplantada em solo Veneziano, com seu cabelo dourado como o sol tingido de preto vivido.

— Está na minha lista. — A voz ligeiramente rouca de Adria invadiu seus pensamentos, muito diferente da voz soprano com sotaque francês de Lisette. — Juntamente com o Mardi Gras em Nova Orleans, a Trilha Inca, o Taj Ma... — Seus olhos se conectam com os dela, ela se interrompeu no meio do caminho, uma ligeira onda de cor em suas bochechas. — Desculpe, estou falando sem parar.

— Não, me conte. — Atingiu-lhe mais uma vez o quanto ele não sabia sobre ela, e se viu fascinado.

— Que tal você me contar, — ela disse em vez disso, inclinando a cabeça um pouco para o lado, enquanto eles desviavam para deixar as malas no hotel. — Esteve fora por um longo tempo. Conte-me sobre alguns dos lugares que você visitou, as coisas que viu.

Riaz passou a mão pelos cabelos, pensando. Apesar de ter se estabelecido na Europa, ele viajou pela Ásia e partes da África, teve aventuras que o emocionaram e o mudaram de diferentes maneiras. — Uma vez fui pego nas chuvas de monções na Índia, — ele disse, escolhendo uma memória que ele sabia que iria fazê-la rir, porque quando Adria ria... As margens dentro dele se suavizavam, doía menos. — A minha parte humana amou, mas meu lobo não ficou impressionado. — Ele estremeceu, como se estivesse jogando água para fora de seu pelo.

A risada de Adria demonstrava a diversão de seu próprio lobo, os finos traços de ouro em seus olhos brilhando à profunda luz alaranjada do sol poente. — Eu posso imaginar. Você conseguiu chegar ao Nepal, viu Kathmandu?

Ele balançou a cabeça. — Eu estava no caminho para lá quando fui chamado à Roma para cuidar de negócios do clã. — Ele conheceu Lisette não muito depois, e os meses que se seguiram o estraçalharam sem piedade, até que teve de ir para casa, para a toca profunda nas montanhas de Sierra Nevada, onde ele poderia lamber suas feridas cercado pelo calor de seu clã.

Ele ainda precisava daquele calor, daquela conexão, mas não sentia falta disso hoje, embora estivesse longe da terra de seu coração. Não era difícil entender por que, com Adria dando longas e felizes passadas ao lado dele, seu prazer em Veneza tão aberto e tão franco como o coração de sua loba.

Sem vínculos. Sem promessas.

No entanto, apesar do voto que fizeram, laços estavam se formando. Laços de amizade, de necessidade, de respeito. Mesmo quando essa relação terminasse, essas ligações permaneceriam. O lobo de Riaz estava pensativo sobre isso, mas não rejeitava a ideia de cara, Adria não era apenas clã agora, não era apenas uma amante com quem ele compartilhava privilégios de pele. Ela se tornara alguém que importava para ambos os lados de sua natureza, que fazia parte de seu próprio ‘clã’ pessoal de pessoas.

Dele para proteger.

 

BOWEN estava esperando por eles do lado de fora de um despretensioso edifício do século XVII meio submerso pelas águas que inundavam permanentemente a lagoa de Veneza, a ponte que já o ligara para outro edifício maior há muito tempo, tornando-o uma ilha no final da estrada, o brilho da água além. O líder da Aliança Humana estendeu uma mão. — Riaz, é bom vê-lo novamente.

— Bo. — Sacudindo a mão estendida, disse ele, — Esta é Adria.

O sorriso de Bowen mudou, para o tipo que um homem dá a uma mulher que chamou sua atenção. — Bem vinda a Venezia, Adria.

— Obrigada.

O afastamento frio de sua resposta fez Riaz perceber quanto tempo se passara desde que ele ouvira aquele tom vindo dela. O orgulho presunçoso de seu lobo fez seus lábios se puxarem para cima nos cantos.

— Entrem. — Bowen os conduziu através das portas do aparentemente pequeno edifício que abrigava os escritórios da Aliança, pelo corredor acarpetado a frente, e para um elevador.

Riaz avistou seis câmeras de segurança, cinco guardas óbvios, e pelo menos três escondidos que ele discerniu apenas por causa de seu olfato. Estava à cima de um sistema de alarme a laser e a recepcionista lindamente vestida tinha olhos de assassina. Ele sequer pensou antes de se posicionar de modo que Adria ficasse protegida pelo intenso volume de seu corpo. Viu seu olhar penetrante, captou o pequeno aceno de cabeça. Ao invés de lutar contra sua postura sutilmente protetora, ela focou a própria atenção sobre a cobertura dos pontos cegos dele.

— Esperando companhia? — ele perguntou a Bo, uma vez que estavam no elevador.

O outro homem encostou-se à parede, cruzando os braços sobre uma camiseta preta que dizia: — Só por que você é paranoico não quer dizer que eles não queiram pegá-lo. — A citação era divertida, a maneira como ele mostrava os dentes menos como um sorriso e mais como uma exibição selvagem semelhante à de um lobo. — Algo assim. Vamos conversar lá dentro, — ele disse enquanto as portas do elevador se abriam. — Eu pedi comida.

Entrar na parte da biosfera protegida de Veneza fez os ombros de Adria caírem em decepção, embora seus olhos nunca perdessem sua atenta vigilância. — Não é diferente da cidade acima do solo, — ela sussurrou em um murmúrio subvocal do qual ele teve de se inclinar para ouvir, a respiração dela como uma carícia em sua mandíbula.

— Seja paciente. — Ele sabia o que estava por vir, seu lobo tremendo de antecipação enquanto esperava para ver sua resposta.

— Aqui. — Bo abriu a porta.

Adria congelou na porta, os olhos arregalados.

— Mais parecido com o que você esperava? — ele murmurou no ouvido dela, empurrando-a para frente com uma carícia na parte inferior das costas.

Claramente cativada pela sala de reunião, que, à primeira vista, parecia suspensa sobre nada além de água, ela caminhou lentamente para dentro. O edifício Alliance ficava na orla da cidade, o que significava que era realmente possível ver a água batendo na biosfera de um número de salas no piso inferior. Localizada a um canto, com três paredes de vidro, esta era a mais magnífica, criava a ilusão de que a clara água azul-esverdeada tocava o vidro, quando a curva real da biosfera estava a muitos metros de distância.

Como se montando um show, um cardume de elegantes peixes prateados disparava pela água, suas escamas capturando a luz do sol lá de cima.

Sem dizer uma palavra, Adria atravessou o verde profundo do tapete para olhar pelas janelas e para a água. De perto, Riaz sabia que o ponto de vista era cortado no lado direito pelos restos de edifícios vizinhos que afundaram e se deterioraram antes da restauração, bem como pelas estacas de madeira em que estes edifícios uma vez estiveram, mas perfeitamente clara sobre o lado que era de frente para a lagoa.

— Ela é bonita pra caramba. — Bowen disse, o que soava como uma pergunta.

A resposta de Riaz foi instintiva. — Ela tem dono. — Nenhuma parte dele se importava que o acordo que fizera com Adria não lhe dava direito de posse.

— Bastardo sortudo, seja quem for. — Um olhar oblíquo.

Adria se virou naquele momento, a luz da água brincando sobre os ângulos perfeitos de seu rosto, a luz âmbar lançada de seus olhos uma indicação silenciosa do fascínio de sua loba por esta cidade estranha. — Eu ficaria insana vivendo aqui, mas para uma visita, sim, que visão!

— Você deveria ver durante uma tempestade. — Bo caminhou até a mesa de conferência já arrumada com sanduíches, água, frutas e biscoitos, apressando-os a tomar seus lugares. — Mesmos algumas pessoas que vivem e trabalham aqui não aguentam. A lembrança de que não há muito entre Veneza e o esquecimento corta até os ossos.

— Você gosta. — A voz de Adria descongelara uma fração, sua exuberante boca macia com o mais fraco dos sorrisos.

O rosto de Bowen se enrugou em um sorriso profundo em resposta. — Sim, ela é uma mulher deslumbrante, minha Veneza.

O lobo de Riaz se irritou com a sugestão de flerte na voz do homem, mas ele conseguiu a manter-se polido enquanto cada um pegava um pouco de comida. — Então, — ele disse, uma vez que todos tiveram a oportunidade de dar algumas mordidas, — por que a paranoia intensa?

Girando em sua cadeira, um biscoito na mão, Bo usou um elegante controle remoto preto para ligar uma imagem na tela de comunicação atrás dele. Era de um homem de meia-idade, um pouco rechonchudo e de aparência completamente inofensiva. — Um de nossos especialistas sênior em comunicação. — Ele largou o cookie em seu prato, sua mandíbula era uma linha dura. — Nós descobrimos faz duas semanas que os Psys o invadiram e o programaram.

 

Adria afastou seu prato, apetite perdido. — Ele sobreviveu?— Lavagem cerebral era difícil em mentes Psy pelo que ela percebeu dos Laurens, mas era brutal em changelings, envolvendo a quebra de seus fortes escudos naturais. Com seres humanos poderia acabar de qualquer maneira, uma vez que seus escudos naturais eram tão fracos a ponto de quase não existirem, mas seus cérebros também não foram construído para aguentar esse tipo de pressão psíquica.

— Ele está suportando a vida, — O tom de Bo era sombrio. — Nós estamos tentando tudo o que podemos para lhe dar uma chance, mas...— Esfregando o queixo, ele respirou fundo, e quando falou em seguida, a desolação fora substituída pela raiva. — Ele foi, é, um homem bom, lutou muito para não ceder às compulsões. Os médicos dizem que ele deve ter hemorragias nasais constantes, pior até.

— Você acha que ele falhou, — disse Riaz, sua raiva uma coisa perigosa e calma que falava por si própria. — Ele comprometeu o seu sistema de comunicação interna?

— A coisa é que, — Bo disse, — Reuben não pode nos dizer o que fez ou não, quando descobrimos o que os bastardos lhe fizeram, ele entrou em coma. — Ele moveu sua cadeira para o lado, para que pudesse ver a tela de comunicação e a eles ao mesmo tempo. — Nós estamos no processo de arrancar e reinstalar cada peça de equipamento de comunicação em posição. Software e hardware. Até que esteja completo, estaremos em desligamento total com qualquer uma além das conversas mais banais.

— Celulares? — Riaz perguntou.

— Nós estamos substituindo tudo, foi Reuben quem nos entregou os antigos. — Ele balançou a cabeça. — Os novos devem chegar hoje para os técnicos desmontarem e checarem.

Adria concordou com as precauções, extremas como poderiam parecer. Só um tolo não consideraria a raça Psy uma ameaça. — Você tem alguma ideia de quem orquestrou o ataque contra Reuben? — Era fácil generalizar os Psy como o inimigo, mas a raça psíquica percorria a gama de inocente à mal, assim como changelings e seres humanos.

A expressão de Bo se tornou brutal, despida de qualquer vestígio remanescente do charme que exibira mais cedo. Um toque rápido no controle remoto e a imagem de Reuben foi substituída pela de uma mulher com maçãs do rosto que poderiam cortar vidro. Seu cabelo era um profundo mogno luxuriante, a pele com um ligeiro tom de oliva, seus olhos de um perspicaz verde-avelã.

— Tatiana Rika-Smythe. — Gelo em cada sílaba. — Ela não é tão chamativa quanto alguns dos outros Conselheiros, é mais parecida com uma cobra na grama.

— Você soa certo. — Adria estava na hierarquia superior do clã tempo suficiente para saber que os Conselheiros tinham uma maneira de trabalhar maquinações por trás de maquinações.

Bo descartou a foto de Tatiana por outra imagem, a do iate que começara tudo. Estava à deriva no oceano. — Perguntem o por quê de eu estar naquele iate no meio da porra do Mediterrâneo com sete guardas Psy.

As garras de Adria se expuseram, ameaçando marcar a madeira brilhante da mesa. — Eles planejavam controlá-lo também.— Foi necessário um esforço consciente para retrair suas garras, Riaz manteve o controle sobre as suas, mas seus olhos eram de um hipnótico e perigoso ouro.

Bo levou vários minutos para responder, lutando claramente contra a raiva que fizera linhas brancas aparecem ao redor de sua boca, esculpidas na tonalidade quente de sua pele. — Estamos começando a pensar que foi isso que aconteceu com o antigo presidente, — ele disse por fim. — Explicaria por que de repente ele começou a tomar aquelas decisões idiotas, na época, todos nós o odiávamos. Agora... Tenho pena do pobre bastardo. — Passando a mão sobre a curva suave de seu crânio, ele pegou uma garrafa de água, engolindo metade antes de falar novamente. — Um deles me atordoou quando eu estava voltando para casa por volta das nove da noite. Quando acordei, eu estava no iate.

Foi uma história plausível, especialmente porque envolvia um homem que, como todos os homens fortes, não achava que algo poderia tocá-lo, mas algo não soava verdadeiro. — Você não é o chefe oficial da Aliança, — ela disse, nunca tirando os olhos do rosto dele.

— A posição do presidente é agora amplamente administrativa. — Bo ignorou a pergunta implícita, sua expressão traindo nada. — Significando que Rika-Smythe tem boas fontes de informação.

— Você está me dizendo, — ela insistiu, consciente de Riaz ficando imóvel ao seu lado, — que você foi arrogante o suficiente para sair sozinho depois de escurecer quando já havia descoberto o que tinha sido feito a Reuben, e sabia que os Psy podiam estar lá fora para mexer com você?

O sorriso de Bo era lento e perigoso. — Esperta e sexy, meu tipo perfeito de mulher. — Ele terminou a água. — Nós estavamos trabalhando no pressuposto de que com Reuben fora da jogada, alguém com o nível de acesso dele aos nossos sistemas seria um alvo. Garantimos que todos com essa classificação estivessem protegidos exceto por mim.

— Brincando de isca? — Riaz bateu os dedos sobre a mesa. — Não havia maneira de você saber que seria capaz de lidar com os agentes que capturassem você.

— Eu não era uma isca estúpida, — Bo disse com um bufo ofendido. — Tinha um rastreador GPS implantado uma polegada abaixo da minha axila, onde praticamente ninguém pensa em verificar. Também tinha uma equipe no ar acima de mim todo o tempo.

O homem tinha coragem, Adria pensou. Porque com apoio aéreo ou não, ele estivera por conta própria no iate. — Você não estava preocupado com coação psíquica?

Uma pequena pausa antes de Riaz assobiar. — Filho da puta. — Seu tom era uma mistura de admiração e incredulidade. — Você conseguiu, você realmente descobriu como fazer aquele chip funcionar.

 

Foi depois do primeiro encontro com a Aliança que o clã descobrira que o grupo estava fazendo experiências com um chip que, uma vez implantado, agia como um escudo contra a invasão Psy. Ou esta vinha sendo a versão oficial transmitida aos soldados da Aliança. Na verdade, os chips originais agiram como interruptores remotos para matar.

O sorriso de Bo era severamente satisfeito. — O inferno que sim.

Riaz estava impressionado, mas ele precisava da resposta à outra pergunta antes que pudesse perguntar a Bo por mais informações sobre o chip. — Ashaya Aleine sabe? — A cientista era uma das pessoas mais experientes no mundo quando se tratava de implantes neurais e tinha, quando a poeira assentou após o sequestro abortado, concordado em ajudar Bo e seu povo a corrigir o chip defeituoso. Se ela e, por extensão, DarkRiver, sabia do sucesso da Aliança e não compartilhou as informações, a merda ia bater no ventilador. Forte o suficiente para cobrir a todos.

— Não. — Bowen cortou o ar com sua mão, seu tom de voz não deixando espaço para dúvidas. — A ajuda dela era crítica, e nenhum de nós nunca será nada além de grato, mas ela não é da Aliança, não guardaria nossos segredos. — Uma resposta contundente. — O protótipo mais recente que mandamos para ela foi criado a partir de um dos projetos anteriores. Imaginamos compartilhar a verdade uma vez que estivéssemos prontos para os clãs saberem.

— O incidente do iate empurrou as coisas para antes do previsto, — supôs Riaz, seu lobo relaxado agora que sabia que não teria de informar seu alfa que um dos membros do clã que era seu aliado mais confiável violara a aliança entre eles. Ao lado dele, sentiu a tensão deixar Adria, também.

— Votamos em que Ashaya tenha uma participação de vinte e cinco por cento na patente, — Bo disse depois de acenar afirmativamente à declaração de Riaz. — Uma patente que vamos registrar quando o inferno congelar, portanto Aleine é dona de uma porcentagem em um projeto que nunca gerará qualquer lucro. A única coisa importante é colocar o chip em tantos humanos quanto possível. Estar protegido de violações mentais não deve ser um luxo.

Riaz não ficou surpreso com o sigilo, mas a confiança de Bo no sucesso do implante parecia prematura.

Adria ecoou seus pensamentos, a rebeldia delicada de seu aroma envolvendo-o quando ela se inclinou sobre a mesa. — Eu não vejo pessoas fazendo fila para serem implantadas.

— Muita confiança se estivessem, — Riaz acrescentou, restringindo a vontade de passar lentamente a mão pelo arco das costas dela, exibido tão lindamente por sua posição atual.

— Vocês estão pensando a partir de uma perspectiva changeling, — disse Bo, paixão infernal nos olhos dele. — Humanos... Vocês não tem ideia de como é andar por aí sabendo que um dos Psy poderia deslizar em sua mente a qualquer momento e levar coisas, ou plantar coisas. É estupro e é uma violação cometida várias vezes contra pessoas que não podem revidar. — Palavras duras e diretas. — Um humano faz uma descoberta tecnológica, e a próxima coisa que fica sabendo é que os Psy já tem uma patente sobre a invenção. Coincidência apenas. — Seu riso era amargo. — Isso se eles optarem por deixar as memórias do humano intactas para que ele ou ela sequer saiba que foi roubado.

Fechando a mão sobre a mesa, ele soltou um suspiro, sua próxima declaração não foi tão encharcada de raiva. — O lançamento inicial foi suave, limitado ao pessoal da Aliança que eu pessoalmente examinei. Reuben não estava na lista. Se ele estivesse... — Ele balançou a cabeça. — Isso está feito e se foi. O fato é que os Psy vão descobrir mais cedo ou mais tarde, então nós começamos uma operação completa da Aliança. Todo mundo que quiser o chip consegue um.

Não havia nada que Riaz pudesse dizer sobre isto, cada palavra que Bo falara era uma feia verdade. Mas os SnowDancer entendiam o senso dele de violação de uma maneira que outros homens não podiam compreender. Os Psy violaram muitos de seus mais fortes, há duas décadas, quase destruíram o clã. Riaz era um juvenil, mas ele nunca iria esquecer o sangue, a perda... E a determinação letal nos olhos do menino com cabelo de prata e ouro, que havia se tornado seu alfa quando era pouco mais do que uma criança.

Riaz viu a mesma determinação inflexível no rosto de Bo. Seja o que fosse necessário, qualquer que fosse o custo pessoal, ele sabia que Bo não hesitaria, não se isso significasse proteger o seu povo. — Você foi o primeiro?

— De maneira nenhuma eu pediria aos meus homens e mulheres que fizessem algo que eu não faria.

A voz rouca de Adria roçou a pele de Riaz, roubando sua atenção. — Eu não vi o chip na parte de trás do seu pescoço. Você mudou o local?

— Está lá. Coberto por um emplastro cutâneo, que combina com o tom da minha pele. — Ele sacudiu a cabeça na direção de Adria, tanto desafio quanto flerte no leve sorriso em seus lábios. — Você pode senti-lo se quiser.

Mais uma vez, o lobo de Riaz mostrou seus caninos, mas manteve silêncio, sabendo que Bo estava brincando com sua coleira. No entanto, seu foco era agudo e mortal, enquanto observava a mulher que era sua amante caminhar até ficar em pé atrás da cadeira de Bo.

— Onde? — ela exigiu.

— Aqui. — Alcançando, ele bateu em um ponto.

Incapaz de ver qualquer diferença no tom marrom mel de sua pele, Adria pressionou a ponta de seu dedo sobre o calor da nuca dele. A dureza era leve, mas quando ela traçou ao redor da área, percebeu que formava um pequeno quadrado. Olhando para Riaz, ela balançou a cabeça, assustada com a maneira como o lobo a olhava por aqueles olhos. Com a garganta seca de repente, ela teve de quebrar o contato visual, limpar a garganta, antes que pudesse falar. — Pode ser uma simulação.

Bo encolheu os ombros. — Eu estou são e salvo depois de ter sido cativo de sete Psys. Pense nisso.

Ela pensou, e apesar de suas palavras, seu instinto era acreditar nele.

Riaz colocou o braço sobre o encosto da cadeira assim que ela retomou seu assento, sua atenção em Bo, mas os dedos roçando ligeiramente seu cabelo. O coração dela bateu em suas costelas, porque embora pudesse ser sutil, ela entendeu como uma demonstração possessiva. Era a primeira vez que ele fazia algo do tipo em público, um aviso da famosa tendência do lobo solitário em direção a possessividade. A questão era que Adria nunca esperara que ele mirasse esse aspecto de sua personalidade nela.

Ela ainda estava tentando descobrir como responder ao ato inesperado quando ele falou, sua voz rastejando sob sua pele para tocar partes suas que não tinha o direito de tocar.

— Se você não pediu ajuda a Ashaya para testar o implante, — ele perguntou, com os olhos que haviam retornado à seu tom humano presos em Bowen, — em quem você confiou o suficiente para fazer o teste?

Bowen tomou o seu tempo para responder. — Nós ouvimos falar sobre os Laurens, — ele disse quando de fato falou, sua expressão não oferecendo coisa alguma. — Sobre como eles estiveram vivos todo esse tempo. Como eles fazem isso? Uma rede familiar?

Adria inclinou-se com excitação, sem querer quebrar o contato com Riaz. — Outra família de desertores?

No entanto, Bowen balançou a cabeça. — Não. — Outra pausa. — Vamos apenas chamá-los de um grupo bem organizado. — Sua expressão deixou claro que não compartilharia qualquer outro detalhe da identidade deles. — Eles deixam a Rede por categorias, mudaram sua aparência, e se misturaram com a população. Ninguém teria sido mais sábio, exceto que um deles foi ferido em um acidente seis meses atrás, atingido por tijolos caindo de um prédio sob manutenção.

Adria encontrou-se deslizando para trás em seu assento, sua pele queimando no contato renovado com os dedos de Riaz.

— Eu o vi tentando mancar para longe. — Bo continuou. — Eu tenho certeza de que ele normalmente não diria uma palavra, mas ele estava contundido na época, e repetia ‘sem perfil de DNA’ enquanto eu o levava para a ambulância. Eu imaginei que ele tivesse um mandado de prisão sobre ele, mas então ele murmurou a ‘Rede Psy’. — Um encolher de ombros. — Eu fiz o que qualquer bom chefe de segurança faria. Eu o trouxe aqui, o tratei, e o interroguei enquanto ele ainda estava dopado.

Um ato cruel, mas então, do que Adria sabia dele, Bo nunca fingiria ser outra coisa quando se tratava de cuidar de seu povo. A loba nela respeitou isto, mesmo entendendo que o homem da Aliança trairia mesmo o aliado mais fiel se chegasse a uma escolha entre o aliado e aqueles que ele considera seus protegidos.

— Quando os amigos dele conseguiram localizá-lo, — ele disse, — nós soubemos quem eles eram, e que chantageá-los seria uma ideia muito ruim, então simplesmente sugerimos que os nossos interesses podiam se misturar e deixamos assim.

Uma decisão inteligente e calculista, de um homem que Riaz vira soltar charme como uma torneira em um bem-sucedido esforço para desviar a atenção das pessoas de sua inteligência de olhos frios. — Você tem coragem, tenho que admitir.

O sorriso de Bowen foi um lampejo de caninos. — A razão de sabermos que Tatiana está por trás do ataque a Reuben, — ele disse, o sorrindo desaparecendo tão rapidamente quanto surgira, — foi que os homens enviados para me levar não se preocuparam em esconder a conversa nos comunicadores que tiveram com ela uma vez que eu estava a bordo, mesmo o atordoamento tendo passado.

— Descuidados? — Riaz traçou círculos na nuca de Adria com a ponta de seu dedo.

— Eles imaginaram que eu não estaria em uma posição de dizer qualquer coisa depois que ela terminasse comigo. — Apoiando os antebraços sobre a madeira brilhante da mesa, Bo soltou bruscamente suas próximas palavras. — A cadela faz ela mesma a reprogramação, deixou claro que ninguém mais deveria me tocar.

Considerando os fatos, Riaz tomou a decisão tática de compartilhar um pouco de conhecimento. — Supõem-se que Tatiana tenha a capacidade de penetrar quase qualquer escudo.

As pupilas de Bo se contraíram. — Merda.

— Sim. Nenhuma maneira de saber se o chip a manteria fora, desde que é tecnológico, não natural, — Riaz disse, — mas parece que ela pode entrar na maioria das mentes sem causar grande estrago.

— Menos cicatrizes para se esconder, — Adria disse, e ele ouviu a empatia nela, o coração mole que ela escondia debaixo do exterior duro.

— Mas, — ele acrescentou, envolvendo a nuca dela suavemente com a mão, — a habilidade de Tatiana é notável por causa de quão incomum é, por isso não altera o impacto do chip. Ainda assim, seu povo precisa assegurar que não fique acomodado.

— Anotado.

— Uma vez que você tire a vantagem psíquica deles, — Adria disse no silêncio que havia caído após o breve aceno de cabeça de Bo, — os Psy são muito vulneráveis.

Como, Riaz devaneou, Bowen provara com eficiência mortal no iate.

— Eles têm uma tendência de confiar em suas habilidades, — o macho humano concordou. — Aqueles que eu derrubei no iate estavam armados, mas eles prestaram tão pouca atenção em mim, que foi a operação mais fácil que eu já completei. Um único guarda na porta? — Ele bufou. — Assim que peguei a arma dele, estava tudo acabado. Nenhum dos outros estava em alerta, pois eles assumiram que suas varreduras telepáticas iriam avisá-los de um intruso.

— Por que matá-los? — A pergunta de Adria traíu a compaixão inerente à sua natureza. — Por que não simplesmente incapacitá-los?

— Uma mensagem, — Riaz respondeu, o predador nele reconhecendo aquele que sentava a um metro de distância. — Ele estava enviando uma mensagem. Eles fodem com a Aliança, vocês não vão manter prisioneiros.

Um pequeno encolher de ombros de Bowen, os olhos negros como azeviche com um propósito letal. — Deixá-los vivos teria sido um sinal de fraqueza, e Tatiana espera fraqueza das raças ‘emotivas’. O que a cadela não entende é que a raiva é uma emoção, também.

 

Depois de ter passado duas horas com Bowen, discutindo as vantagens que os escudos artificiais podiam apresentar aos humanos, SnowDancer e aos clãs de seus aliados, Riaz reportou a Hawke por meio de um link de comunicação via satélite altamente seguro usando um equipamento preparado em um pequeno escritório dos SnowDancer escondido em Veneza. Embora o escritório não fosse utilizado exceto quando Pierce estava na cidade, tinha várias camadas de segurança que nem mesmo um teletransportador poderia romper sem disparar um alarme silencioso. Não que eles encontrariam muito além de alguns caros equipamentos de comunicação, o histórico de chamadas foi criado para apagar-se um segundo depois de o usuário desligar.

— Bo diz que enviou para Ashaya o chip final mais cedo, depois de tomar a decisão de nos inteirar do segredo, — ele disse a seu alfa. — Deixá-la testá-lo tão bem quanto possa. — Riaz não estava certo de até onde a cientista poderia ir sem implantá-lo em alguém, mas valia a tentativa. — De maneira alguma vou aceitar a palavra de Bo sobre a eficácia da tecnologia.

Hawke assentiu e Riaz quase podia vê-lo ponderando todas as variáveis ​​possíveis antes de dizer, — Também quero enviar Judd, testar aquele que está no Bo.

— Eu imaginei. Bo está esperando.

Hawke olhou para o lado, com a cabeça inclinada em um ângulo de escuta. Voltando-se para Riaz depois de alguns segundos, ele disse: — Judd não vai conseguir chegar aí até amanhã à noite. Está bem para vocês ficarem?

— Sim. — Ele se virou para a mulher ao lado dele. — Você?

Adria assentiu e falou diretamente com Hawke. — Eu deixei dois dias livres só para garantir.

— Mesmo que você não tivesse, — Hawke disse, o sorriso de seu lobo de repente em seus olhos, — Riley está tão feliz agora, que está concedendo licença para todo mundo que pede. Estou meio com medo de virar e descobrir que toda a toca partiu para as Bahamas.

Todos eles sorriram com a ideia do sólido e estável Riley em uma espiral de alegria. Riaz não podia imaginar isso acontecendo com um homem melhor. — Ele já levou Mercy à violência?

— Não até agora, mas eu tenho pipoca para quando o show começar.

Desligando depois de outra rodada de risos, Riaz e Adria reiniciaram a segurança e saíram por uma passagem engenhosa que os despejaram em um pequeno, mas movimentado distrito comercial.

A caminhada até o hotel foi rápida, as ruas ao redor deles envoltas em trevas de veludo invadidas pelas luzes cintilantes de vários restaurantes que derramavam conversas calorosas para a rua. — Jantar na varanda? — ele sugeriu enquanto entravam em seu quarto no segundo andar.

Adria se iluminou.

E algo dentro dele suavizou, uma ternura selvagem invadindo suas veias. — O que você quer? — Ele pegou o menu do serviço de quarto.

 

Dando a gorjeta do garçom na porta, o próprio Riaz levou a comida para a varanda. A temperatura caíra, mas permaneceu confortável, a noite pontilhada com belas luzes coloridas de um restaurante próximo, as janelas em tons de ouro de outro hotel pequeno, as luzes à moda antiga da rua. Não muito longe, à distância, a água dançava preta e sedosa através de um canal.

Servindo duas taças de vinho, ele entregou uma a Adria. — À Veneza.

Ela tocou a taça a dele, seu cabelo caindo sobre os ombros. — À Veneza.

Foi quase como se eles tivessem feito um voto... Mas qual, ele não sabia.

A comida era simples, mas o sabor satisfazia, assim como a música sombriamente romântica cantada com alegria por um músico de rua à noite. Taça de vinho na mão após eles terem comido, o vinho como rubis da meia-noite à luz silenciada, Riaz observava Adria. Ela girou em sua cadeira para cruzar os braços sobre os arabescos de metal do parapeito, com o rosto virado na direção do vento suave e seu ouvido inclinado para a música. Todas as preocupações dela pareciam ter desaparecido, a dureza criada pela vida se fora, até que sua beleza fosse primorosa, as linhas de seu rosto elegantes e graciosas.

Esta, ele pensou, era como ela era sem a desconfiança, a mágoa e os escudos. Uma mulher que, ele de repente soube, lhe contaria verdades que a outra Adria nunca diria. Por mais perigosa que fosse esta corda bamba em que ele estava andando, largou o vinho e estendeu a mão. — Dança?

Um olhar surpreso, as manchas de ouro em seus olhos mais vivas no escuro... A loba vindo à superfície. Mas ela se levantou, correu para os seus braços, uma das mãos na nuca dele, a outra fechada com a sua própria enquanto ele passava o braço livre em volta da cintura dela. Ela era alta o suficiente para que ele não precisasse se dobrar, não precisasse fazer nada além de se aproximar. Seus corpos alinhados em doce perfeição, a cabeça dela logo abaixo de seu queixo.

Um ajuste impecável.

Inspirando as notas escondidas de calor terroso da essência dela, ele se moveu ao balanço da música, seu sangue quente, seu corpo pronto. Mas nenhuma parte dele estava com pressa. Ele sempre correra muito com Adria, sempre em muita necessidade. Esta noite, essa necessidade estava temperada com o orgulho sexual de um macho dominante, o desejo de mostrar a ela o amante que ele poderia ser quando sua cabeça não estava desajustada.

O fato não era onde, mesmo que ele estivesse em Veneza, tudo começara por causa dela, esta mulher forte, resguardada e complicada que se transformava em uma deusa de membros preguiçosos em seus braços. Ele não conseguia entender muito bem como isso aconteceu, como chegara a confiar que ela nunca trairia seus segredos, mas ele confiava. Então, quando ela levantou o rosto ao dele, longos dedos acariciando sua nuca, ele abaixou a cabeça e encontrou seu beijo no meio do caminho.

Quente, exuberante e aberto, era um embaraço lânguido de bocas. A suavidade dela, as curvas, a força esbelta, tudo embriagante. Seu aroma estava em cada respiração, e ele se perguntou se ela estava se fundindo a sua pele, tornando-se parte dele. Era o que acontecia com amantes, ele lutou contra a mudança, não querendo o aroma de outra mulher em sua pele... Mas seu lobo não afastava a ideia com garras neste momento.

Por mais doloroso que fosse, seu coração selvagem aceitara o que nunca poderia ser, embora ele ainda não conseguisse esquecer. Mas era simplesmente isso, nunca teria sido suficiente. Tanto o homem quanto o lobo ficaram fascinados com o enigma que era Adria. A coragem que testemunhara sob o fogo era apenas uma faceta de uma complexa pedra preciosa. Ele já sabia que sua superfície áspera e espinhosa era uma fachada, a mulher debaixo, uma que entendia os SnowDancer mais vulneráveis... E que sabia oferecer conforto a um homem ferido sem desmoralizá-lo.

Espalhando a mão na parte inferior das costas dela, ele a estimulou a chegar mais perto. — Você sabe o que a letra da canção significa? — ele perguntou quando o artista de rua começou a cantar uma canção em veneziano, uma linguagem que Riaz fez um esforço em aprender durante seu tempo na Europa.

Ela balançou a cabeça, fios sedosos de ébano se prendendo contra seu queixo com barba por fazer. — Soa bonito, contudo.

Acariciando-a, começou a traduzir, as mãos entrelaçadas postas contra seu peito. O suspiro dela com a emoção pungente da balada romântica foi eloquente, os lábios que ela pressionou na curva da base de sua garganta eram exuberantes e convidativos. O que arrancou um baixo e profundo som de prazer dele, seu corpo preparado. — Pare com isso se você quiser me manter traduzindo.

Uma risada feminina de provocação. — Eu vou me comportar.

Riaz murmurou-lhe as palavras até que a música terminou, a voz substituída pelos sons doces de seus dedos acariciando as cordas do violão.

— Deveríamos dar gorjeta a ele. — Ela moveu a mão de sua nuca para a curva por cima do ombro, sua respiração soprando um beijo delicado em sua pele quando ela falou.

— Você quer descer?

Ela olhou para cima, olhos violeta iluminados por âmbar. — Sim.

Dedos se enredando, eles deixaram a sala e fizeram seu caminho até o artista de rua. A gorjeta que deixaram em seu estojo de violão aberto o fez sorrir. — Venha, — ele convidou com um floreio de acordes, — dancem!

O sorriso de Adria era tímido. — Você gostaria?

Riaz tinha os braços de volta ao redor dela antes de perceber que estava se movendo, as familiares ruas de paralelepípedo de Veneza como novas por seu sorriso enquanto ela navegava a superfície irregular, alta o suficiente para ter escapado da inundação, os dedos apertando sua mão.

— Te peguei, — ele murmurou.

Seu lobo, tanto tempo preso em dor e confusão, pressionado contra ela, feliz. Deslizando a mão pelas costas dela, eles dançaram sob a meia lua, mal conscientes dos transeuntes até que um velho casal italiano, o cabelo da mulher era um vison luxuoso com listras cinza, o rosto de seu companheiro traçado pela a idade e a vida, rodou para se juntar a eles.

A sombria verdade que ele carregava dentro de si lutou para despertar em face do vínculo não expressado deles, mas a noite era bonita demais para se estragar com arrependimentos. Homem e lobo, ele concentrou cada parte de si mesmo para dançar com a mulher cativante em seus braços. Ele não sabia por quanto tempo eles balançaram no calor abafado, mas quando eles se separaram, foi em um acordo silencioso. Deixando os outros dançarinos, caminharam de volta para o quarto deles, a música seguindo-os para cima.

Ele deixou as portas da varanda entreabertas, e as cortinas transparentes flutuavam na brisa suave. Mantendo as luzes apagadas para garantir a privacidade, ele correu os dedos sobre a bochecha de Adria, deleitando-se com a suavidade de sua pele quente. — Não. — ele disse quando ela começou a tirar a camiseta. — Permita-me. — Passando a mão pelas curvas de seu corpo, ele levantou o tecido macio com lenta antecipação.

 

Ela estava sendo seduzida, pensou Adria, enquanto Riaz agarrava seus quadris e pressionava um beijo na pele nua de seu esterno, a camiseta tendo se amassado silenciosamente no rico creme do tapete.

— Você tem gosto de fruta, — ele murmurou, beijando o caminho até a inclinação de seu pescoço. — Madura, exuberante, suculenta.

Exceto por quando lhe perguntou sobre suas fantasias, ele nunca antes falara muito na cama. O profundo timbre da voz dele nublava sua mente, a pele calejada na dela ameaçando emaranhar as linhas de razão que lhe sobravam. — Você nunca me contou a sua fantasia, — sussurrou contra a boca dele.

Ele inclinou o rosto para roçar o queixo delicadamente contra sua bochecha, os polegares moldando o formato dos ossos de seu quadril. — Uma mulher forte e sexy na minha cama, minha para fazer o que eu quiser. Você.

— Está é a fantasia de um macho muito dominante.

Diversão sensual em seus olhos, ele apenas a encarou.

Ela riu, embora seu pulso fosse como uma batida interrupta. — Sim, por que estou surpresa?

Seu beijo foi tão lento e tão romântico quanto a noite, o tipo de beijo que um homem poderia dar a uma nova amante que ele estava tentando levar para sua cama. — Permita-me, — ele sussurrou novamente, abrindo seu sutiã para retirá-lo e soltá-lo em sua camiseta antes de pressioná-la contra ele novamente, grandes mãos espalmadas sobre as costas dela de uma maneira que gritava posse. — Permita-me. — Um beijo pressionado no ponto sensível atrás de sua orelha.

Tremendo, ela teceu os dedos na espessa seda do cabelo dele, querendo ser mimada, acariciada e adorada o suficiente para entregar as rédeas a este homem em quem confiava para não trair sua fé.

Fazia tanto tempo.

— Sim. — Foi o sussurro mais desinibido, mas ele a ouviu.

Dedos em seu queixo, outro beijo leve, o corpo dele tão grande e quente. — Aguente firme. — Com isso, ele se abaixou e a agarrou em seus braços, levando-a para o quarto... e para a cama feita com linho branco suave em que alguma alma romântica espalhara pétalas de rosas. Elas eram como mordidas de veludo contra suas costas quando ele a colocou na cama, a luz fraca derramando para dentro da varanda como a única iluminação.

Eles eram lobos. Era tudo o que eles precisavam.

— Devíamos dispensar a cama, — ela disse, com os olhos em cima dele quando ele alcançava atrás para retirar a própria camiseta, mostrando um corpo que ela ansiava ainda mais hoje do que na primeira vez que compartilharam os privilégios de pele mais íntimos.

— Sem lençóis, — ele disse, tirando os sapatos e, se esticando para puxar as meias com rápida eficiência masculina. — Eu quero vê-la. — Ele deu a volta para se livrar das botas e meias dela igualmente rápido, antes de rondar por cima dela, seu cabelo caindo sobre a testa. — Você é tão linda. — Ele parecia quase... Surpreso, como se a estivesse vendo pela primeira vez.

Talvez estivesse, porque ela não conhecia exatamente este amante também. Este que a tocava com fascínio sensual e queria descobrir cada um de seus pontos secretos de prazer. — Riaz, — ela sussurrou quando ele beijou o caminho até seu umbigo, tendo tirado as calças jeans e calcinha dela para descartá-las ao lado da cama.

— Mmm. — Um beijo molhado pressionado logo acima de seu osso púbico, as mãos empurrando suas coxas, a aspereza da pele dele como um choque que a fez estremecer.

Foi o mais íntimo dos beijos, a paciência dele, primorosa. Seus gemidos suaves pairavam no ar, brilhando na fina camada de suor que transformara sua pele em uma miragem. E ainda assim, ele a acariciou com uma lenta atenção aos detalhes que tornava claro que, enquanto ela era a pessoa que tremia e se entregava, era muito sobre o prazer dele também.

Sua fantasia.

A percepção foi mais inebriante do que qualquer vinho. Render-se às sensações, ela ainda estava ofegante quando ele finalmente fez o caminho de volta por seu corpo para mordiscar sua garganta forte o suficiente para deixar uma marca. Durante todo o tempo, ele acariciava seus seios, seu abdômen, os topos de suas coxas com mãos tanto proprietárias quanto exigentes o suficiente para que ela soubesse que o controle dele não era tão impecável como aparecia.

Ela abriu a boca para o beijo dele, com as pernas na coxa revestida de pelos que ele empurrava entre eles. Mas a retirou depois de apenas um segundo, murmurando, — Pele, — antes de rolar para longe e tirar a roupa e voltar para ela, um grande e perigoso predador, que decidiu acariciá-la a um prazer que ela nunca antes havia sentido.

Desta vez, ele se colocou sobre ela, a ereção empurrando agressivamente contra seu abdômen. Ele lhe permitiu fechar os dedos ao redor de seu aço aquecido, a pele que o embainhou era paradoxalmente suave. Ela queria saboreá-lo, satisfazê-lo como ele lhe satisfez, mas esta noite, ela era dele para fazer o que quisesse. Não era da natureza de uma fêmea dominante ceder tão completamente na cama, mas Adria nunca se sentira tão estimada por um amante. Ameaçava deixá-la com medo, mas ela se recusou a submeter-se a emoção insidiosa, recusava-se a manchar uma noite em que ela sabia que iria tornar-se uma memória que guardaria com carinho.

A boca em seus seios, lambendo e saboreando. A mão entre suas pernas. Os dedos deslizando profundamente em seu interior, o caminho facilitado pelo calor derretido de sua necessidade. Ela apertou, tentou segurá-lo, mas ele se retirou... E então ele estava afastando suas coxas e penetrando-a com a espessa intrusão de seu pênis.

— Permita-me, — ele sussurrou mais uma vez, deslizando uma das mãos sob a cabeça dela para envolver seu cabelo no punho, acariciando sua perna por cima do quadril com a outra.

Ela não podia fazer outra coisa, seu corpo era instrumento dele. Balançando a casa com um grunhido, ele reivindicou outro beijo, desta vez mais quente, mais exigente, mas continuando a manter aquela característica preguiçosa que dizia que ele tinha toda a noite para amá-la. E quando ele começou a se mover, foi com o mesmo ritmo lânguido, os corpos trancados em uma dança lenta que cauterizava o prazer através de seus dedos.

Seduzida... Ela estava sendo seduzida.

 

Hawke olhou para o outro lado da cabana onde sua companheira estava sentada enrolada na cama com um reader. Ela estava lendo um artigo que seu professor recomendara, enquanto ele tinha o relatório conjunto de Kenji e Riaz sobre as negociações dos Blacksea. Ele preferia estar na cama ao lado de Sienna, mas ela o barrou. — De outra maneira, não conseguiremos fazer qualquer trabalho.

Esparramado na poltrona que ele adicionara à cabana um par de semanas atrás, ele tentou descobrir por que estava tão feliz quando por direito, deveria estar se sentindo um pouco mal-humorado.

Porque ela está aqui. Minha companheira está aqui comigo, segura, fazendo algo completamente normal.

Era um presente que ele podia ter antecipado há alguns meses, e um que não deixaria ninguém manchar com medo.

Sienna olhou para cima naquele instante. — Você não está trabalhando. — Tocando o dedo na tela de seu reader, ela virou uma página afetadamente.

— E você esteve na mesma página por dez minutos.

— Bobo. — Rindo, ela colocou o reader no edredom e jogou os braços para frente. — Como Ben diria, ‘Oi! Quer brincar?’

Sempre. — Não lá fora. — Estava chovendo, e enquanto seu lobo poderia funcionar muito bem através da neve e granizo, ambas as partes dele gostavam de estar quentes e secas.

— Que cara durão.

— Venha aqui e fale isso. — Deixando de lado o relatório, ele entortou um dedo.

Em vez de obedecer, Sienna lhe lançou um olhar dissimulado e um pouco culpado. Ele vira aquele mesmo olhar mais vezes do que podia contar, quando ela era juvenil. Tentado a atacá-la, ele disse: — Eu quero saber?

— Eu quero fazer cookies.

Ele sorriu. — É disso que estão chamando agora?

Ela jogou um travesseiro nele. — Eu trouxe os ingredientes na minha mochila. Então, podemos?

Arremessando-o de volta, ele inclinou a cabeça. — Temos a noite para nós mesmos. — Uma missão a se cumprir, mesmo com a atual paz relativa — E você quer fazer cookies?

Ela de repente ficou muito interessada no travesseiro. — Lara faz e parece divertido. Marlee e Toby gostam. — Ela pegou na costura da fronha. — Eu gostaria de saber como... Para o futuro.

No caso de termos filhos um dia.

Ela poderia ter pedido a Lara, Evie, Tarah, mas esperou para pedir a ele. O que o tornou seu escravo mais uma vez. — Outra memória para sua caixa?

Seu sorriso era o sol saindo das nuvens. — Eu trouxe gotas de chocolate.

— Então eu acho. — Levantando-se, ele estendeu a mão. — Que vamos fazer cookies.

Determinados a conseguir, eles pegaram receitas na Internet, assistiram a vídeos de demonstração, e substituíram uvas por cranberry, porque nenhum deles era um fã de — uvas-passas.

A melhor coisa que poderia ser dito sobre o esforço prendado deles é que era comível e que Sienna tinha chocolate derretido na ponta do nariz e ele teve que lamber.

Eles conseguiram queimar a segunda fornada, em um forno sem queima.

A terceira fornada, no entanto... — Estes são meus. — Ele fez uma linha imaginária na bandeja que colocava noventa por cento dos cookies do seu lado.

Jogando os braços em volta do pescoço dele, Sienna o beijou, sorrindo o tempo todo. — Tudo bem, — ele murmurou. — Eu vou lhe dar dois.

— Está dizendo que meu beijo só vale dois?

— Eu poderia ser persuadido a reconsiderar.

Mais tarde, depois dele tê-la alimentado com biscoitos quentes enquanto ela lhe prometia todos os tipos de favores, eles beberam leite e escovaram seus dentes para compensar o açúcar atualmente nadando através de suas correntes sanguíneas, e deitaram na cama de frente um para o outro. A chuva continuava a bater no telhado, um escudo temporário em torno do próprio mundo privado deles que fez a cabana parecer ainda mais confortável.

— Eu me diverti. — Foi um comentário suspirado de sua companheira.

Traçando um dedo ao redor da concha de sua orelha, ele disse, — Eu acho que deveríamos tentar fazer muffins depois. Eu gosto de farelo de banana. — Porque ele se divertira também, o menino nele há muito esquecido subindo à superfície. Ele fizera cookies com sua mãe há muito tempo, perdera a memória sob o peso da dor que chegara mais tarde, mas ela era mais uma vez uma joia radiante em sua mente.

— Eu estava pensando em bolo mármore, — Sienna disse, a expressão cintilando de excitação.

Ele assobiou. — Ambiciosa.

Esfregando o nariz contra o dele, ela sussurrou, — Ninguém jamais vai saber se acabarmos com um bolo que tem vagamente a cor de lama.

Ele riu, agarrando-a e virando-se de costas para que ela acabasse deitada ao longo de seu corpo. — Olhe para nós, estamos falando sobre algo tão doméstico. — Sem armas. Sem inimigos. Nenhuma tensão.

Ela sorriu intensamente. — É maravilhoso, não é?

— É, é sim. — Perigo espreitava sua companheira, mas esse momento era deles, privado, seguro e com cheiro de cranberries e chocolate derretido no ar.

 

ADRIA acordou se sentindo melhor do que já se sentira nos últimos anos. Ela passou a noite enroscada em um homem sexy e lindo que rira com ela nas horas da meia-noite, a voz dele um delicioso raspar sobre sua pele, e que fizera amor com ela novamente em algum momento antes do amanhecer. Ele foi mais exigente na segunda vez, mas não menos suave. Ela estava se sentindo terrivelmente acariciada e mimada.

Quando ela tirou a cabeça do lençol e a levantou para vê-lo entrando na sala vestido com nada além de uma toalha enrolada em torno de seus quadris, uma caneca de café na mão, simplesmente parou de respirar por um segundo. — Venha aqui, — ela murmurou quando pode falar novamente. Ele cheirava a sabão, homem e café, e ela só queria esfregar o rosto contra seu peito, satisfazer a profunda necessidade sensorial que ele tanto criava e preenchia nela.

Sentando na cama, ele colocou o café na mesinha de cabeceira com as bonitinhas pernas curvadas. Os olhos dela se prenderam em uma gota de água que descia o peito dele, o tom moreno de sua pele misturado ao um punhado de cabelos escuros. — Você esqueceu de uma gota, — ela disse, pegando-a com seu dedo.

Sem riso, a expressão dele era reservada.

Dedos se curvando em sua palma, ela permitiu que a própria mão caísse no lençol. — Isto muda as coisas, não muda? — Ela sabia que a noite fora bonita demais para não mudar, vinha tentando ignorar a verdade inevitável, porque esse sentimento dentro dela era uma alegria efervescente que não sentia há tanto tempo que não era sequer uma memória.

— Sim. — Uma única palavra áspera, mas a mão dele fechou-se sobre a dela, quente e protetora.

Ela abriu os dedos, os entrelaçou com os dele. — Você quer terminar? — O fato de que fazer essa pergunta a machucava profundamente era um sinal inequívoco que ela já começara a se apaixonar por este homem que nunca poderia lhe dar o que precisava.

— Nós deveríamos terminar, — Riaz disse, os olhos marrom pálidos lançando âmbar na luz do sol da manhã, — antes que custe a ambos.

— Você está certo.

No entanto, nenhum deles fez o movimento para quebrar a conexão física. A loba de Adria ficou em silêncio, incerta... Assustada. Era difícil admitir, aceitar que apesar de cada uma das promessas a si mesma, Riaz chegara perigosamente perto de violar o núcleo que ela jurou proteger. Parte dela queria arrancar sua mão da dele, ir embora. Seria a escolha mais segura, permitindo-lhe sair disto um pouco machucada, mas de coração inteiro. E ainda assim...

Riaz segurou o rosto dela com a mão livre. — Eu sou um péssimo risco, Adria. — Bruto, sua alma despida. — Realmente péssimo.

Desembaraçando seus dedos, ela se ergueu em uma posição ajoelhada, o lençol preso aos seios. — Eu sou pior. — As cicatrizes que ela carregava eram invisíveis, e marcavam-na até os ossos. — Não sei se algum dia serei capaz de confiar inteiramente em um homem novamente. — A honestidade dele merecia a dela. — Meu defeito é profundo.

Quase capaz de provar a intensidade de sua dor, Riaz curvou a mão sobre a nuca dela. — Eu juro por Deus, vou caçar Martin e estraçalhá-lo membro por membro. — O orgulho de uma fêmea dominante e sua autoconfiança eram sua armadura, algo de que nenhum homem que se preze jamais iria tentar despi-la.

Um riso surpreso coloriu o ar, Adria o puxou para baixo até que suas testas se tocassem. — Não tem necessidade. Demorei mais tempo do que deveria, mas eu o vi pelo que ele era, e vi os erros que cometi também.

Mas o estrago estava feito, ele pensou, não era nada que iria facilmente desaparecer, suas cicatrizes tão indeléveis quanto às dele. Tão indelével quanto à força feminina que a trouxera para fora da escuridão. Seu lobo, os dentes ainda a mostra, deu um passo em direção a ela, e parou. Ele se sentiu como se estivesse à beira de um penhasco traiçoeiro. Um único movimento errado poderia mandá-lo rolando em um desfiladeiro rochoso, quebrando seus ossos, sua mente, sua própria alma.

Ele nunca esperou estar aqui, diante deste momento, com qualquer mulher.

Uma nuvem de tempestade lá no fundo, a sombra de um passado que ele estava determinado a colocar para descansar ameaçando escurecer a manhã, mas tão forte quanto o conhecimento de que não podia viver no limbo para sempre sem enlouquecer, e que a chama bruxuleante entre ele e Adria era algo importante, algo pelo qual valia a pena lutar.

Talvez, apenas talvez, duas pessoas quebradas conseguissem criar algo inteiro. — Sim, — ele disse e esperou, o corpo de seu lobo tremendo com uma tensão que lhe chutava nas entranhas com exatamente o quanto importante Adria se tornara para ele. E, com os olhos na marca que deixara no pescoço dela, ele soube que não iria se comportar e ir embora se ela dissesse não.

— Sim.

A resposta dela fez seu lobo vir à tona. Ele não lutou contra a mudança, porque esta decisão era tanto do lobo quanto do homem. Uma linda mulher com grandes olhos cor de violeta e cabelos como uma cascata de seda estava ajoelhada ao seu lado quando ele completou a mudança para caminhar ao redor e se sentar sobre os lençóis, seu corpo pressionando contra os joelhos dela. Um instante depois, o ar se encheu de faíscas iridescentes de cor... para tomar a forma de uma elegante loba prateada com um inesperado cintilar branco em sua cauda.

Sacudindo-se como para se ajeitar em sua nova pele, ela se deitou ao lado dele, o focinho nas patas dianteiras, o corpo dela era metade do tamanho do dele nesta forma. Ele se deslocou para encurralá-la contra a cabeceira. Rosnando, ela o espetou com suas garras quando ele forçou demais. Ele mordiscou sua orelha.

Olhos cor de âmbar se viraram para ele em um aviso que fez seu lobo se aninhar a ela com uma afeição selvagem que vinha do coração do predador. Ela não era aquela que fizera a sua alma cantar em reconhecimento quando estiveram nesta cidade alagada antes, mas era sua amiga, sua amante, ostentava o seu cheiro. O lobo confiava em tê-la na sua retaguarda, com seus segredos, não tinha intenção de deixá-la partir.

 

Era tarde da noite, bem depois da hora de dormir de uma criança de sete anos e meio, quando Judd sentou-se ao lado de William em um tronco caído no bosque que ficava atrás da casa que a família do garoto comprara na fronteira entre os territórios DarkRiver e SnowDancer. Não havia mais necessidade de Judd esconder sua presença, mas ele garantia que suas visitas para ver William continuassem secretas mesmo assim, no instante em que o vulnerável garoto fosse associado a ele, ele se tornaria um alvo. Havia alguns, Psy ou não, que não hesitariam em capturar William e moldá-lo em um instrumento da morte.

Como Judd, o menino era um Tk-Cell. Ele podia, literalmente, mover células dentro de um corpo, o que significava que ele poderia parar um coração e fazer com que parecesse uma morte natural. Judd teve que ensinar a William esta feia verdade, não só porque o garoto já havia inadvertidamente matado um animal de estimação da família, mas também porque William precisava perceber e reconhecer todos os aspectos de sua capacidade para que pudesse ganhar controle sobre ela. No entanto, eles estavam levando a aplicação prática da força Tk-Cell de William em uma direção totalmente nova.

Alcançando, ele bagunçou o cabelo castanho e suave do garoto. — Corte de cabelo ruim. — Era como se alguém tivesse colocado uma tigela em cima de sua cabeça e cortado em torno dela. Torto.

William apoiou os cotovelos sobre os joelhos, envolvendo o rosto. — Mamãe. — Pura exasperação. — Ela diz que vai crescer, mas eu tenho que ir para a escola!

Com bastante tempo e esforço, William poderia aprender a transformar as células de seu próprio corpo, mas a habilidade era difícil e enervante mesmo para Judd, e ele era muito mais forte do que William. — Diz a todos que você fez isso em um desafio, — ele disse, optando por uma solução muito mais acessível e eficaz.

Um sorriso. — Isso é esperto. — Seus olhos foram para o bolso interno da jaqueta de couro sintético de Judd, revelado pela forma que Judd apoiou os antebraços nas coxas. — Eu gosto de chocolate.

Judd tirou a barra que pegou no caminho. — É sua se você puder demonstrar sua proficiência com a técnica que ensinei na última vez.

— Como um teste?—

— Sim. — Alguns diriam que o menino era jovem demais para essas coisas, mas essas pessoas não entendiam como uma perda de controle psíquico poderia devastar. A morte acidental de seu animal de estimação quase destruíra William. O que aconteceria se ele parasse o coração de sua mãe ou causasse um derrame em seu pai?

Não. Era melhor que Judd fosse um mestre rígido, embora não tivesse intenção de tratar o menino como brutalmente fora tratado quando criança, até ser descontruído e reformado em um assassino. Daí a barra de chocolate como recompensa, como recomendado por Ben, seu consultor pessoal quando se tratava de todas as coisas relativas a crianças pequenas.

— Okay — William disse, pulando do tronco. — Eu estive praticando.

Colocando a barra de chocolate no bolso, Judd tirou um pequeno canivete. — Pronto?

William esfregou as mãos na frente de seu jeans, respirou fundo e disse, — Sim. Vai.

— Eu preciso monitorá-lo telepaticamente. — A única vez em que invadiria a mente do garoto sem pedir seria se William perdesse o controle fatalmente, e o próprio William fez esse pedido.

— Para que você veja se estou seguindo o processo correto. — William disse, seu tom uma imitação perfeita do de Judd quando ele falara aquelas palavras.

O que fez seu peito aquecer, o sorriso se construindo por dentro. — Sim.

— Aqui vão eles. — William baixou seus escudos, mas nunca ficando vulnerável a um ataque, Judd já assumira a tarefa.

— Um, dois, três. — Ele passou a lâmina da faca em sua mão.

O sangue jorrou, grosso e vermelho.

 

Parecia impressionante, mas ele cortou superficialmente, isto era sobre construir a confiança de William em suas habilidades. Não demorou muito para que ele sentisse sua pele começa a formigar, então puxar. Na frente dele, a testa de William estava enrugada, os olhos grudados no corte até que Judd não estivesse certo de que o rapaz estava piscando. Suor escorria de uma têmpora, seus pequenos punhos cerrados com tanta força que o castanho claro de sua pele estava sem sangue.

Cinco minutos de concentração feroz mais tarde, William disse, — Terminei, — e oscilou em seus pés.

— Sente. Beba. — Ele deu ao menino a garrafa de um litro de água esportiva rica em nutrientes que deixara ao seu pé. Somente quando William estava mais firme, ele tirou um lenço do bolso para enxugar o sangue e revelar a linha rosada de uma cicatriz que parecia já ter dois dias. — Muito bom. — Ele passou a barra de chocolate.

William arrancou a embalagem para dar uma grande mordida. — Isso me deixa realmente com fome, — ele disse depois de engolir. — E cansado.

— É por que você está usando seus músculos psíquicos. Você precisa se lembrar de reabastecer e descansar. — Jovem, seu corpo em desenvolvimento, as reservas psíquicas de William eram baixas. O que não negava seu poder. — Você fez um trabalho excelente.

Quando William sorriu e se apoiou nele, Judd sentiu mais um daquelas rachaduras se formar dentro dele. Aquelas que as pessoas que amava continuavam a causar, mostrando que ele tinha a capacidade de sentir ainda mais do que acreditava.

William terminou a barra de chocolate e olhou para cima. — Okay, estou pronto para a outra coisa.

A ‘outra coisa’ era onde Judd levou o menino através de todo o seu método, lhe ensinando onde poderia ser mais eficiente, mais forte, ou mais cuidadoso. — Feche seus olhos e foque. — Baixando seus escudos internos apenas o suficiente para permitir que William deslizasse para uma parte específica de sua mente, Judd mostrou ao menino o caminho psíquico que tomara, pedindo-lhe para criticar seu próprio desempenho.

William era inteligente e motivado, um excelente aluno.

Muito bem, ele disse depois que o menino descobriu a solução para um pequeno problema. É o suficiente por hoje. Desengatar, escudos levantados.

— Eu vou para Veneza, — ele disse quando William abriu os olhos. — você sabe onde fica?

— Não, mas eu sei que tem água, muita água. E barcos engraçados. — Uma pausa. — Foi por isso que eu tive que tirar uma soneca durante o dia e encontrá-lo tão tarde? Porque você vai partir amanhã?

— Sim, — Judd disse, porque ele não mentia para as crianças. — Você é importante.

— Você é também. — O abraço de William foi feroz.

Judd o abraçou de volta antes de escoltar o rapaz até a fronteira da propriedade de seus pais, onde a mãe e o pai estavam sentados à espera em uma mesa de piquenique de madeira. William correu para eles, explodindo para compartilhar o seu sucesso. Somente quando a pequena família estava a salvo no interior da casa que Judd se virou e caminhou de volta para a floresta... E para os homens que o esperavam. — Aden, — ele disse, encontrando o Arrow sentado no mesmo tronco que ele e William usaram. — Vasic.

— Nós não achávamos que você o avistara, — Aden disse quando Vasic se deslocou para fora das sombras viscosas entre as árvores.

Judd se sentou ao lado de Aden. — Eu aprendi muito sobre rastrear com os changelings. — Ele sentiu a presença de Vasic por causa do silêncio que o teletransporte criara nos pequenos habitantes da floresta.

Foi Aden que falou em seguida, seu olhar focado na direção da casa. — O garoto é um de nós.

— Sim.

As próximas palavras de Vasic foram calmas. — Eu vou ficar de olho nele enquanto você estiver em Veneza.

Judd não esperava nada menos. Se havia uma coisa que era verdade para todo Arrow que ele conhecia, exceto Ming LeBon que nunca realmente fora um deles, era que eram leais. Às vezes essa lealdade era mal orientada, dada àqueles que não a mereciam, mas nunca era falsa, e nunca estava à venda. — Vocês me rastrearam por uma razão?

— Nós sempre temos uma razão, Judd. — Aden pegou um fruto, examinou-o com cuidado. — Você sabe sobre os outros? Em Veneza?

— Não. — Ele nunca ouvira nada sobre outros Arrows clandestinos.

— Bom. Isso significa que tivemos sucesso. — O Arrow médico colocou o fruto de volta no chão.

— O tamanho do grupo?

— Uma pequena porcentagem das pessoas que morreram oficialmente durante as missões ao longo da última década.

— Como? — Todos os corpos de Arrows eram recuperados, a morte confirmada por um patologista que não fazia parte da equipe.

— Primeiro a equipe pegava certos cadáveres de funerárias depois de eles terem sido arrumados para o enterro. Do tamanho e da altura certa para se adequar a um Arrow a ponto de desertar. Em seguida, os cadáveres eram colocados no lugar dos Arrows em incidentes planejadas onde os corpos estariam tão danificados, o DNA tão degradado, que não seria difícil enganar os exames. Explosões e incêndios.

— Arriscado. — A coisa toda teria sido desvendada se um cientista consciencioso decidisse checar novamente suas descobertas antes de o corpo do ‘Arrow’ ser cremado.

— Sim, mas possível com a geração anterior de scanners de DNA, — Aden disse, dando a Judd outra indicação da natureza de longo prazo do plano. — O mesmo procedimento não funcionaria agora. É por isso que atualmente canalizamos a maioria dos desertores por meio de uma instalação de suporte nos Alpes Dináricos.

O Fantasma, Judd recordou, havia mencionado a instalação nos Alpes Dináricos em conexão com Arrows que foram retirados do Jax.

Vasic falou nos calcanhares desse pensamento. — Ming disse para Aden afastar os Arrows nos Alpes Dináricos do Jax para ver se poderiam ser reabilitado, e em algumas semanas mais tarde disse à sua equipe médica para garantir que nenhum deles jamais conseguisse sair de lá vivo.

Porque Ming LeBon queria apenas soldados perfeitos. Fraturas que não pudessem ser consertadas ou que pudessem deixar uma vulnerabilidade tornavam um homem inútil para ele.

— Ele contratou pessoal não-Arrow para me vigiar, — Aden acrescentou, — mas se esqueceu de que eu não sou apenas um médico de campo.

Judd perguntou se Aden usara as habilidades telepáticas que aprendeu com Walker para influenciar sutilmente as mentes da equipe médica, que podiam muito bem serem cordeiros levados para o abate. — Sem razão, então, para Ming questionar as eventuais certidões de óbito que saíam da instalação.

A expressão de Aden não mudou quando ele disse, — Especialmente quando seus corpos já haviam sido cremados, as cremações verificadas pela própria Keisha Bale.

— A M-Psy chefe, — Vasic disse quando Judd olhou para cima em questionamento.

— Eu conheço os renegados? — Judd perguntou, impressionado com a dimensão da farsa.

— As quatro primeiras deserções ocorreram na geração anterior à nossa, os dois iniciais permaneceram fortemente protegidos na Rede por quase dois anos depois de suas ‘mortes’, até que uma terceira deserção pudesse ser conduzida com sucesso, — Aden disse. — Três é o menor grupo que precisavam para tentar em termos de uma rede autônoma.

— Uma decisão inteligente. — A RedeLauren tinha inicialmente dois adultos, uma adolescente e duas crianças, e foi preciso tudo o que possuíam para manter o tecido da rede psíquica.

— Depois da terceira deserção, seguida rapidamente por uma quarta, o programa entrou em hibernação para aliviar qualquer suspeita. Foi reiniciado quando eu assumi a posição de médico de campo.

Foi quando Judd fez a conexão. — Seus pais morreram depois que o pequeno barco secreto em que estavam explodiu no mar. — Aden era um garoto... Mas era velho o suficiente para estar sob o Silêncio, velho o suficiente para ter aprendido a proteger os segredos dentro de sua mente.

O outro homem não confirmou sua suposição, mas não negou. — Eu o observei depois que você foi retirado do Jax, — Aden disse ao invés, — considerei trazê-lo, mas você era um Arrow tão perfeito. Não pude encontrar uma maneira de provar que o Jax já não tinha feito o que deveria fazer, que você não era um dos fantoches reprogramados de Ming.

Irônico, pensou Judd, que ele fizera um trabalho tão bom em esconder suas intenções, que mesmo seus companheiros Arrows nunca suspeitaram que tivesse tendências sediciosas. — Krychek?

— Melhor do que o Ming, — foi a resposta curta. — Quanto ao resto... Nós vamos tomar decisões que beneficiem a equipe e a Rede. Esse é o único fator operatório.

Nunca antes, pensou Judd, os Arrows ameaçaram se separar tão completamente das potências dominantes da PsyNet. Por enquanto, Aden e os outros seguiam Kaleb Krychek, mas só até que ele os traísse. Esse fora o erro fatal de Ming. — Vocês pretendem eliminar Ming?

— É uma possibilidade. — Aden encarou a floresta. — A Rede já está se desestabilizando. Parte da equipe acredita que o impacto da morte dele não será tão importante quando o tecido global estiver se propagando, mas sou da opinião de que poderia ser o ponto de inflexão que leva a uma ruptura mortal.

— Concordo, — Judd disse, tendo tido uma atualização do Fantasma quanto à situação atual. — O Conselho pode estar fraturado, mas a maioria da população não acredita nisso ainda. — Embora os rumores estivessem se tornado virais. — A morte de Ming seria um choque psíquico profundo.

Aden deu um pequeno aceno de cabeça. — A equipe vai seguir minha liderança sobre isso, e eu disse que vamos esperar. Ele vai morrer quando precisar morrer.

Judd sabia que não era falsa confiança. Ele também sabia que Aden entendia exatamente o quanto Ming seria um adversário maldoso, seu assassinato precisaria de um planejamento cuidadoso, um ataque preciso. Uma única dica de advertência, e Ming o transformaria em um confronto sangrento.

Vasic se deslocou uma fração, as folhas farfalhando ao redor de suas botas. — Os Arrows em Veneza, eles gostariam de falar com você, mas não pode ser em público.

— Seu rosto é muito conhecido agora, — Aden disse. — Não podem arriscar qualquer coisa que possa comprometer o disfarce deles.

Judd não tinha problemas com isso, entendia por que os Arrows precisavam manter esse segredo. — Você tem imagens de um local privado? — Ele precisava de um ponto para o teletransporte.

Aden pegou um pequeno telefone e lhe entregou. — Fotos carregadas. Ligue para o número predefinido quando você chegar e um deles vai sair para encontrá-lo. A conexão é segura, não pode ser rastreada mesmo se for hackeada.

Recebendo-o, Judd considerou quantos mais desses celulares desertores deveriam haver em todo o mundo, marciais e familiares. — Você tem que lançar as bases para um total de deserção da Net. — Casas, finanças, vidas alternativas, os desertores tiveram anos para colocar tudo no lugar.

Aden levou tempo para responder. — É uma opção, mas apenas se não houver nenhuma outra. A equipe não tem desejo de abandonar a Net, mas também não vamos ficar parados assistindo os que estão no poder nos usarem e então nos descartarem.

— Alguns de nós estão cansados, Judd, — Vasic acrescentou calmamente, o cinza de seus olhos guardando a mais escura das sombras. — Quando isso estiver acabado, tudo que pedimos é paz.

Quando isso estiver acabado...

Judd se perguntou se alguma coisa ou alguém iria sobreviver quando a guerra civil na PsyNet começasse para valer, se Vasic algum dia encontraria sua paz... Ou seguiria para sua morte, como um Arrow, até o fim.

 

— Nós precisamos ver Bowen hoje? — Adria disse a Riaz quando terminaram o café da manhã na varanda, querendo sugerir que passassem o tempo andando pela cidade. Um pouco de espaço poderia aliviar a estranha e dolorosa tensão que tanto os ligava quanto distanciava.

Ele balançou a cabeça. — Até que Judd chegue aqui para testar os chips neurais, não há muito que possamos fazer. — Seu telefone tocou naquele instante, o número na tela fazendo-o sorrir quando atendeu. — O negócio está feito? — Uma pausa, então, — Sim, tudo bem. — Seu sorriso se alargou para o que quer que a pessoa do outro lado tenha dito, antes que ele falasse novamente. — Onde? Certo.

Desligando sem se despedir, ele disse, — Você conhece o Pierce?

— Alto, olhos verde gelo, poderia ser italiano, indiano, do Leste Europeu, uma combinação de todos os itens acima ou nenhum deles? — O homem em que ela estava pensando os visitou com Matthias um par de anos atrás, depois de ter levado a mãe e o sobrinho até lá para ver um show. — Soldado sênior do setor de Alexei?

Riaz sorriu a sua descrição. — É ele. Ele fechou o acordo em que estava trabalhando e está dirigindo para nos ver. Eu assumi que estaria tudo bem para você se encontrar com ele.

— Claro. — Mesmo um lobo solitário, ela pensou, precisava de contato com os membros de seu clã, e se Pierce assumisse as funções de Riaz, ele poderia ficar sozinho por meses.

— Quanto à ascendência dele, — Riaz disse a ela, com os olhos brilhando, — Pierce me disse que vem de uma linhagem de saqueadores itinerantes que viraram comerciantes e que se “cruzaram” com homens e mulheres de todos os países conhecidos e alguns que já não existem através dos séculos.

— Boa história.

— Pelo histórico dele, as mulheres, obviamente, acham que sim.

Pierce aparentemente já estava em um ônibus aquático quando ligara e apenas quinze minutos depois eles se encontraram com o outro homem no lobby do hotel. A loba de Adria riu vislumbrando os olhares de soslaio das mulheres que passavam, e mais do que alguns homens, que não conseguiam tirar os olhos de Riaz e Pierce. Uma mulher quase bateu em uma coluna. Adria se simpatizou. Separadamente eles eram homens sexys e perigosos, com cabelos escuros e corpos que podiam fazer uma mulher gemer. Juntos, eles eram letais.

Alheios à atenção, os dois homens se abraçaram de uma forma tipicamente masculina, completando com tapas nas costas e socos nos ombros.

— Você ainda me deve dinheiro, porra, — foi a saudação de abertura de Pierce.

— Eu te comprarei um sorvete.

A troca fez a loba de Adria sorrir, porque estava claro que os dois eram amigos próximos o suficiente para que não se preocupassem em ser educados. Quando Pierce virou-se para ela, seus olhos claros de cristal se estreitaram por um segundo. — Setor do Matthias?

— Memória excelente. — Apresentando-se, assumiu uma posição secundária na conversa enquanto saíam para explorar, as vozes tranquilas e profundas eram um acompanhamento bem-vindo à sua absorção em Veneza.

Entrando em uma forja de vidros na ilha vizinha de Murano, ela se perdeu nas cores e formas criadas a partir do fogo, enquanto Riaz e Pierce rondavam ao lado dela com paciência preguiçosa. As peças criadas naquela pequena oficina e as que se seguiram eram além de belas, sonhos frágeis nascidos de sílica e artesanato meticuloso. Ela acariciou a mão sobre uma escultura fluida que suspirava sensualidade, riu de alegria dos pequenos pássaros de vidro empoleirados em uma árvore coberta, foi enganada pelos lustres em miniatura.

No final, ela comprou um trio de aves com plumagem cobalto brilhante. — Para Tarah, Indigo, e Evie, mais esse colar lindo para a minha mãe, — ela disse a Riaz, quando ele se aproximou do outro canto da loja do artesão, mostrando-lhe as contas laranja-brilhantes circundadas por ouro. — E estes para mim. — Ela ergueu um par de beija-flores em miniatura, os brincos eram verdes com uma pitada de vermelho.

— Tem certeza de que quer estes? — Uma pergunta solene. — Você esteve em apenas metade das lojas da ilha.

— Vá em frente, — ela disse, — tire sarro da viajante novata.

Ele a beijou na bochecha em vez disso, o calor de seu corpo uma carícia de que ela sentiria falta. — Eu gosto de ver Veneza através de seus olhos.

Um pequeno broto de esperança surgiu em seu coração. — Obrigada por me mostrar esta loja. — Ela estava escondida, um tesouro secreto.

— O que é isto?

Ele levantou duas caixas de vidro pequenas em cores diferentes, amarrados com laços de vidro prateados. — Eu levei uma para minha mãe da última vez e ela me disse que precisava de um conjunto. E para sua alteza, Marisol, levarei uma grande caixa de doces.

Era impossível não adorar um homem que não fazia mistério sobre o quanto amava as mulheres de sua vida. — Sua sobrinha é uma garota de sorte, — ela disse, levantando-se para soltar um beijo no canto de sua boca. — E sua mãe criou um bom homem.

Seu braço deslizou pela cintura dela para se firmar no quadril. — Pierce encontrou algo que ele acha que você vai gostar. — Tocando-a no nariz, ele acenou com a cabeça para o outro lado da loja. — Eu vou pedir para embrulhar isto para você.

— Obrigada. — Do pequeno broto dentro dela cresceu uma única folha fina como um sussurro de verde vívido: O sexo era uma coisa, mas dar e aceitar tão doce afeição, pública e brincalhona, levava o relacionamento deles para um novo lugar assustador. Um lugar que poderia lhe causar dor terrível, e ainda assim um lugar do qual não podia se afastar.

Era tarde demais para isso.

 

       Peito apertado com a percepção, Adria passou por Pierce e olhou para dentro da caixa de vidro ao lado da qual ele estava. A escultura exibida dentro era francamente bizarra, parecia que alguém havia quebrado um pedaço de vidro colorido como vômito, então o remontado. Mal.

— Não é magnífica? — Pierce tocou a caixa com dedos reverentes.

Não querendo ferir seus sentimentos, ela tentou rapidamente achar uma resposta. — Posso ver que ela fala com você.

— Oh, sim. O fluxo artístico é indescritível.

Adria não sabia muito bem o que dizer sobre isso, mas ele estava esperando que ela respondesse com uma expressão tão expectante em seu rosto, que ela soube que tinha de falar. — Sim, é... ah... Imaginativa.

Pierce começou a falar sobre a absorção ambígua das formas e como o poder da peça era uma fusão sutil de luz e escuridão. Foram quase dois minutos mais tarde, justamente quando ela estava planejando sua fuga, que captou o brilho em seus olhos e percebeu que fora pega. O intenso, apaixonado e inteligente Pierce era um lobo brincalhão em seu íntimo.

— Sim, sim, — ela disse quando ele fez uma pausa, — Você está tão certo. Na verdade, eu acho que é o presente perfeito. — Mordendo a parte interna da bochecha para não desatar a rir, ela tomou uma das mãos dele no meio das suas. — Eu vou comprá-la para você, não, não, eu insisto. Você tem sido ótimo hoje, tão paciente.

Um alarme distinto. — Não há necessidade. Eu já tenho...

— Eu insisto. — Virando-se, rapidamente seguiu para onde Riaz estava de pé no balcão, a sacola contendo suas lembranças na mão. — Riaz, eu achei o melhor presente para Pierce.

— Se você me der essa monstruosidade, — Pierce rosnou atrás dela, — vou te dar de presente de volta no seu aniversário.

Um bufo escapou de Adria. Os olhos de Pierce se estreitaram. E então ela estava rindo tanto, que teve que sair e cair contra a parede. Após sua saída, Riaz puxou sua trança. — Pierce não está divertido. — Ouro profundo, seus olhos lhe disseram que o lobo dele certamente estava.

O rosnado de Pierce fez lágrimas saírem de seus olhos. — Muito bem feito, — ela conseguiu dizer para o homem carrancudo.

— Ei! Eu estava... — Uma pausa abrupta. — Acho que é meu celular.

Adria não tinha ouvido nada, mas talvez estivesse para vibrar. Enquanto ele se afastava alguns passos para atender a chamada, ela se virou para Riaz. — Temos tempo para uma passadinha no museu de vidro que eu vi?

Riaz passou o braço em volta dos seus ombros, puxando-a para perto. — Vamos.

Querendo se aninhar em sua garganta, ela cedeu um pouco e deu um beijo no oco. A resposta foi um piscar rápido e o fechar de dentes perto de sua orelha.

Ficaremos bem.

O sinal ficou verde, mas no fundo, ela sabia que nunca seria tão simples.

 

Viajando sob um nome falso, e com suas características disfarçadas para evitar atenção, Judd saiu de um jato no Aeroporto Marco Polo no final da tarde, então pegou um ônibus aquático para Veneza. Ele poderia ter se teletransportado e negado a necessidade de subterfúgios, mas não havia motivo em usar suas reservas telecinéticas sem justa causa.

Quando ele chegou à ilha, encontrou um canto fora da vista dos transeuntes e das câmeras de segurança, concentrou-se nas imagens que Aden lhe dera, e se teletransportou para o local onde encontraria os rebeldes. Que provou ser um pequeno pátio interior, as paredes cremosas com a idade e cobertas com algum tipo de videira verde escura.

Não havia necessidade de fazer uma ligação do celular.

— Disseram-me que eu era esperado, — ele disse para o homem armado que o observava com os olhos planos de um Arrow, embora ele estivesse vestido com jeans desbotados e uma camiseta azul.

A menor hesitação, os olhos do homem piscando para o seu cabelo. Estava atualmente loiro sujo, com os olhos de um cinza pálido. — Quem o mandou? — O outro homem não abaixou sua arma.

Em vez de responder, Judd, tendo concentrado o foco correto, dobrou o cano da arma para baixo, tornando-a ineficaz. O Arrow rebelde jogou-a de lado, atingindo Judd com um golpe telepático ao mesmo tempo... Mas Judd tinha as mãos psíquicas nas células do coração do homem. Ele mudou coisas o suficiente para comprimir um vaso sanguíneo.

O homem empalideceu com o aviso. — Tk-Cell. — Foi um suspiro, as mão para cima com as palmas para fora.

Judd o soltou, fixando o dano enquanto soltava. — Eu assumo que mais introduções não serão necessárias.

A resposta veio de trás dele, onde sentiu uma presença familiar. — Eu me desculpo, Judd, — disse melódica voz feminina. — Alejandro tem ordens para incapacitar todos os desconhecidos que entram no pátio.

Mantendo Alejandro em sua linha de visão, ele se virou para ver uma mulher pequena em seus vinte e poucos anos com um rosto que era todo curvas suaves, seus lábios exuberantes. Mas eram os olhos que contavam a verdade de sua Natureza, da cor de carvão, eles eram como lascas de gelo. — Zaira. — Nascida na Jordânia e criada em um centro de treinamento para Arrows na Turquia, ela foi perdida em ação há cinco anos.

O olhar de Zaira mudou. Um segundo depois, Alejandro deu um forte aceno de cabeça e saiu. Só então Zaira se virou e o convidou para se juntar a ela em uma caminhada ao redor do pátio. — Nós não o esperávamos até esta noite. Foi por isso que um de nós não ficou de guarda.

— Alejandro está danificado.

— Suas funções neurais estão bem, mas ele teve uma overdose de Jax em uma missão. Isso o deixou incapaz de não cumprir uma ordem. Alejandro não entende sutilezas.

— Ele é seguro?

— Enquanto eu não lhe der uma ordem direta, ele não vai matar. — Zaira parou por um longo segundo antes de continuar a caminhada. — Eu salvei a vida dele, e ele ficou marcado por mim. Preocupa-me, mas de acordo com Aden, nada pode ser feito. Seus caminhos mentais estão fechados.

Judd pegou nuances de profunda emoção, se perguntou quanto era verdade e quanto era uma máscara criada para se misturar com o mundo humano. Arrows não deixavam o Silêncio facilmente. Ele sabia melhor do que ninguém. — Por que você queria me ver?

— Do que eu colhi dos relatos da mídia, você parece ter esculpido uma vida estável para si e sua família. Queremos saber como você fez isso.

Judd olhou ao redor do pátio, consciente de que estava sendo observado por mais olhos do que os de Zaira. — Todos vocês vivem aqui, neste complexo?

— Sim.

— O que vocês fazem por renda?

— Investimentos diversificados feitos ao longo de vários anos, incluindo propriedades em várias cidades e localidades. — Zaira virou a esquina do pátio, parando ao lado de uma passagem abobadada e curvada. — Dinheiro não é o que nos preocupa.

Judd fez uma última pergunta antes de dar a outra Arrow a resposta que procurava. — Vocês se misturam com a população lá fora?

— Apenas o quanto for necessário. O resto de nós não é como Alejandro, que simplesmente não pode lidar com a estimulação, mas continuamos a lidar com estar fora do Silêncio. — Ela olhou para ele com uma franqueza que desconcertaria a maioria dos não-Psy. — Eu desertei antes de você, assim como uma série de outros, mas estamos longe de estar tão integrados ao mundo.

Judd pensou no beijo que Brenna lhe dera quando ele saiu da toca, no abraço que Marlee correra atrás dele para reivindicar, o soco no ombro que fora a maneira de Drew dizer ‘Fique seguro’. — Vocês precisam aceitar — ele disse, — que precisam dos seres humanos e dos changelings, assim como eles precisam de vocês. — Sua raça tinha habilidades que uma vez foram muito respeitadas, e não apenas temidas.

— Isolamento vai simplesmente dar continuidade ao que começou na Rede. — Ele tinha família, sabia que Walker, Sienna, Toby e Marlee se importavam se ele vivia ou morria, e ainda estivera brutalmente perto do limite. Os Arrow que viviam aqui tinham apenas uns aos outros como família, e a maioria dos Arrows não entendia o que uma família era, muito menos como criar uma.

Zaira olhou para o céu que ficara daquele azul nebuloso que precedia o pôr do sol. — Não podemos arriscar qualquer forasteiro. Não ainda.

— Não. — Judd concordou, porque a tarefa deles era ser uma portinhola de fuga escondida. — Mas mudança está a caminho.

Os olhos de Zaira refletiam apenas o aço que lhe fazia uma assassina sem comparação. — Nós estamos prontos.

Nós somos Arrows.

 

— Vamos. Judd estará aqui em dois minutos, — Adria disse, depois de ter tomado banho e se trocado depois do dia fora.

Riaz, seu cabelo úmido do mesmo banho, seguiu para o corredor, fechando a porta atrás deles. — Pierce acabou de me enviar uma mensagem dizendo que vai lhe dar o troco por aquela pegadinha.

— Foi culpa dele mesmo, — ela disse com uma risada, sentindo um carinho acolhedor pelo belo lobo que era amigo de Riaz.

A resposta de Riaz foi inesperadamente séria. — Com ou sem banho, você carrega o meu cheiro na sua pele. — Olhos atentos. — Isso te incomoda?

Adria esperou até que estivessem dentro do elevador para responder, a felicidade espumante do dia, de repente um caroço no peito. — Da última vez que tive o aroma de um homem na minha pele, isso quase me destruiu, — ela disse, rasgando uma ferida mal curada...

Roçando sua bochecha, o aroma dele de madeira escura e algo cítrico penetrando em cada respiração. — Nós não somos todos bastardos, Adria.

As portas se abriram, salvando-a de ter que continuar a conversa. Não que ela não concordasse com suas palavras. Mas as lembranças, elas eram brutais, coisas dolorosas que arranhavam, mordiam e ameaçavam roubar sua racionalidade, sem aviso... Porque começara tenro com Martin, também.

Entranhas se agitando com a aceitação consciente de um medo que fora um sussurro nocivo na parte de trás de sua mente durante todo o dia, ela quase passou por Judd onde ele estava contra uma coluna no lobby do hotel movimentado. Foi o seu cheiro que a alertou, aquele toque de gelo que era um beijo frio. — Você dá um bom loiro.

— Brenna não gosta, — ele disse enquanto se dirigiam para a antecipada luz da noite, Riaz à sua esquerda e Judd à sua direita. — Ela já comprou o neutralizador para se livrar da cor assim que eu chegar em casa.

Se Adria o encontrasse na rua, pensaria que Judd era sofisticado e distante, mas não havia como perceber o amor em sua voz quando ele falava de sua companheira. — Tenho que admitir, — ela murmurou, — se eu pudesse escolher entre você com o cabelo castanho chocolate ou loiro, eu escolheria o castanho todas as vezes.

— Castanho chocolate, — Riaz murmurou. — Por que você não vai em frente e o compara com um cavalo garanhão?

Adria piscou para o comentário nervoso, tardiamente percebendo que o lobo solitário ao seu lado ficara irritado com a atenção que ela dera a Judd. Ela nunca foi uma mulher que se divertia deixando um homem com ciúmes e não mudara. Foi por isso que ela disse, — Por que eu sou parcial a belos olhos dourados.

Cor riscou as maçãs do rosto dele. — Judd, você não está escutando.

— Escutando o que? — O outro homem lhes lançou um olhar calmamente divertido. — Estamos sendo seguidos.

— Aliança, — Riaz disse. — Acho que é mais uma escolta.

Adria percebera os três homens também. — Bo, — ela explicou a Judd, — é agudamente paranoico, mas se estivesse no lugar dele, eu seria também. — Ela explicou o rapto, bem como a lavagem cerebral do técnico de comunicação, a suspeita do destino do ex-presidente.

Judd não soou surpreso. — O rumor é que Tatiana chegou a sua posição no Conselho matando seu mentor. Eu sei que de fato ela usou coação psíquica para obter determinados contratos, ela é uma das mulheres mais perigosas e sem escrúpulos na Net. Bowen tem razão em estar paranoico.

Qualquer conversa adicional parou quando eles chegaram ao prédio da Aliança e foram levados para dentro, onde um Bo carrancudo estava à espera nos elevadores. — Nós marcamos todas as rotas em Veneza, — ele disse, os olhos em Judd, — Vigilância completa com software de reconhecimento facial, e ainda assim você passou.

A resposta de Judd foi pragmática. — Não há muito que você possa fazer para impedir que alguém com a minha formação entre em sua cidade.

Com a expressão ainda sombria, Bowen os levou para a mesma sala que usaram ontem. Desta vez, a água era um negrume invisível além do vidro, o que criava a ilusão inquietante de estar encapsulada em nada. Escondendo seu estremecer, Adria olhou para as quatro pessoas que estavam sentadas esperando por eles em torno da mesa da conferência: uma mulher esbelta que Bo apresentou como sua irmã, Lily, junto com outros três homens, com idades entre vinte e poucos anos a quarenta e poucos anos.

— Eu imaginei que cinco cobaias, — Bo disse a Judd após eles se instalarem, — lhe dariam alcance suficiente para riscar escudos naturais da lista.

Não necessariamente, Judd pensou, dada a amplitude da Aliança. Se o conglomerado que representava os interesses humanos estava jogando algum tipo de jogo de alto risco, possuía o suficiente de uma sociedade para poder reunir cinco indivíduos com o tipo raro de escudo. No entanto, tudo o que ele disse a Bo foi, — Pronto?

O homem assentiu.

No instante em que ele tocou a mente de Bowen, ou tentou tocar, soube sem dúvida que o que parou sua intrusão não foi um escudo natural. Tais escudos sempre se pareciam como paredes sólidas para seus sentidos psíquicos, mas uma parede que podia lançar coisas de volta, repelir qualquer sonda psíquica. Esta era uma tempestade de eletricidade. Suas sondagens atravessaram... Mas foram destruídas antes mesmo de chegarem ao seu destino.

Firmando-se, ele tentou os truques telepáticos mais sutis que conhecia, inclusive um que Walker havia lhe ensinado durante seus teletransportes clandestinos a seu irmão quando Judd era um adolescente meio quebrado em um centro de treinamento Arrow. Falharam, todos eles. O escudo era uma obra-prima, alimentado pela carga elétrica do cérebro em si, e calibrado para fornecer a máxima proteção.

Tal como acontece com um changeling, a única maneira de rompê-lo sem ter acesso de longo prazo à vítima seria explodi-lo com força bruta, o que provavelmente resultaria em graves danos cerebrais. Inútil se a extração de dados era o alvo. A outra única opção era a remoção cirúrgica do chip. A menos... — O chip está fundido ao seu tronco cerebral?

 

Bowen deu um breve aceno de cabeça. — Qualquer tentativa de removê-lo uma vez que esteja totalmente integrado causará a morte.

O que significava que a extração seria tão inútil quanto a força violenta.

Considerando outras maneiras de passar através da eletricidade, Judd virou-se para Lily. Ela ficou branca, claramente menos certa da eficácia do escudo do que Bowen, mas acenou com a cabeça quando ele pediu permissão para tentar romper o escudo. O dela, ele descobriu, era diferente do de Bowen, menos ativo em alguns aspectos, as correntes mais suaves, mas era igualmente eficiente na degradação de suas sondagens.

— O teste está completo, — ele disse, retirando-se da mente do último individuo.

Bowen indicou que estava tudo bem que Lily e os outros saíssem, mas eles hesitaram. O chefe de segurança olhou para Judd. — Eles querem saber se você foi capaz de entrar.

Era um desejo que Judd poderia apreciar. — Não. A infiltração se provou impossível.

Bowen continuou a sorrir depois de as portas se fecharem atrás dos quatro voluntários, linhas enrugando a tonalidade marrom pálido de sua pele. — Você tem quaisquer dúvidas sobre a origem do escudo?

— É inequivocamente mecânico, — Judd disse, falando para Riaz e Adria, bem como para Bowen. — Um extremamente belo pedaço de engenharia biocompatível. — Sua admiração era genuína, assim como sua preocupação. — É seguro?

— Fizemos testes extensos. — Apesar das palavras confiantes, o sorriso de Bowen desapareceu em um olhar de determinação sombria. — Agora que nós autorizamos uma implantação geral, os pedidos estão superando de longe a oferta, mesmo tendo sido contundente sobre os riscos. O fato é... — Os olhos negros do chefe de segurança da Aliança se prenderam aos de Judd. — Mesmo que ele exploda nossos cérebros em alguns meses ou alguns anos, ainda teremos esse tempo sabendo que ninguém poderia entrar e pegar o que ele ou ela queria. Sabendo que nossos pensamentos eram privados.

Judd compreendia a necessidade. Sentira o mesmo desamparo quando criança. Toda a sua vida estava fora de seu controle, nas mãos de quem apenas queria usá-lo. — Integração completa, quanto tempo leva?

— Um ano, de acordo com as projeções, — Bowen disse. — Depois disso, o chip, em essência, se tornará parte do tronco cerebral.

— Então... — O tom de Riaz era calmo, sério. — Quem decidir colocar um deles terá um comprometimento para a vida toda.

— Sim. — Bowen esfregou o topo de sua cabeça, a barba raspando contra sua palma. — Nós fizemos os cinco primeiros com duas semanas de intervalo. Somos os controles. Se algo der errado ao número um dentro desse período de carência, o número dois terá uma chance de tirar o chip, e assim por diante.

— Você seria o primeiro a cair. — A voz rouca de Adria.

— É meu trabalho proteger o meu povo. — Empurrando a cadeira para trás da mesa, Bowen ficou de pé, as mãos apoiadas na mesa. — Divida a informação com o seu clã, e com os DarkRiver e Windhaven. Se você tiver companheiros de clã humanos que estejam preparados para assumir o risco, a Aliança está disposta a deixar um certo número deles cortar a fila como um gesto de boa fé.

 

Sienna estava sentada ao lado de Indigo na orla da Zona Branca, supervisionando um grupo de crianças de dois anos de idade brincando na caixa de areia, enquanto seus acompanhantes tiravam uma pausa para o café, quando a tenente disse, — Você precisa começar a sombrear diferentes membros do clã.

— Outros soldados, você quer dizer? — Sienna perguntou, assumindo que isso era um exercício de algum tipo.

Mas a mulher mais alta balançou a cabeça, seu longo rabo de cavalo roçando a parte de trás da camisa branca, de estilo ocidental com mangas três-quartos que enfiara em sua calça jeans de cintura baixa. — Uma pessoa de cada subgrupo da toca, das fêmeas maternais aos curandeiros, aos técnicos, aos mecânicos, às operações domésticas. Soldados, você já sabe. E, isto não é uma ordem, — a tenente acrescentou, — mas uma sugestão.

Sienna levou tempo para pensar na recomendação de Indigo, entendendo que a tenente queria fazer muito mais do que realmente disse. — Como Hawke — ela finalmente murmurou, falando mais para si mesma do que para Indigo. — Ele sabe cada detalhe de todos os aspectos do clã.

— Sim. — Um braço abraçando facilmente a perna que ela puxou na altura do joelho, as costas em um jovem pinheiro verde, Indigo fez uma pausa para gritar um incentivo a um par de pequeninos que estavam lutando com os seus baldes de areia. — Espere aí, é melhor eu ir ajudar, antes que um enterre o outro.

Voltando um par de minutos depois, areia nos joelhos de seus jeans e os ecos enfraquecidos do riso da loba em seus olhos, ela se acomodou em seu lugar. — Diga-me o por quê. — ela disse, como se a conversa nunca tivesse sido interrompida.

— Para que assim eu possa ser sua caixa de ressonância. — A pessoa com quem ele pode discutir ideias que ainda não está pronto para levar para seus tenentes. — Para que eu possa compreender as nuances das situações com as quais ele tem que lidar dia sim, dia não.

— Garota esperta. — Sacudindo os joelhos, a tenente virou-se para olhar para ela. — Mas esta não é a única razão.

— É para mim, também, — Sienna disse devagar, agarrando o que Indigo queria que ela visse. — Para fazer a transição de soldado novato para... Algo como um tenente, — Mas não igual, a sua prioridade era Hawke ao invés do clã. — Mais rápido e mais suave. — Lobos respeitavam força, e ela tinha isso. Mas ela precisava de mais experiência e, fundamentalmente, precisava da aceitação do clã, quando se tratava de qualquer alteração em seu lugar na hierarquia. — Quanto mais pessoas eu sombreio, mais conexões eu faço.

O ombro de Indigo roçou o seu quando a tenente assentiu. — Todo lobo gosta de se sentir apreciado. Hawke faz isso institivamente, você terá que fazê-lo de forma mais consciente, mas de nenhuma maneira desvalorizando o compromisso que você está fazendo para conhecer e compreender o coração do clã.

Falado, Sienna pensou, como a protetora que Indigo era. Eles eram mais fortes, inegavelmente mais letais, mas todos os dominantes consideravam-se a serviço dos mais vulneráveis ​​no clã, porque sem esses companheiros de clã mais gentis, não haveria ninguém para proteger, não haveria razão para eles existirem... Nenhum senso de uma casa colorida com afeto e carinho. Levara anos de convivência com os SnowDancer para entender essas sutilezas. — Acho que seria uma boa ideia começar com uma fêmea dominante materna, você não acha? — Elas exerciam tanto poder quanto os tenentes, simplesmente em uma esfera diferente.

O olhar de Indigo ostentava aprovação aberta e um orgulho que fez Sienna se sentir como tivesse lhe sido dado o louvor mais generoso. — Sim. Eu acho que se você perguntar à Lara, ela vai combinar tudo com Ava.

A tensão que Sienna não tinha consciência de sentir até aquele momento vazou para fora dela, seus ombros relaxando. Ela encontrara Ava um grande número de vezes. Seu filho, Ben, era um dos amigos de Marlee, embora os dois tivessem brigado recentemente e nenhum quis dizer qual era o problema. — Eu irei. — Inspirando longas respirações do ar fresco e limpo, ela viu um filhote em forma de lobo ajudar o amigo a completar um castelo de areia, acariciando a areia no lugar com patas de bebê. — Parece que estou construindo as bases para o resto da minha vida.

— Você se importa com isso?

— Estou tão feliz, que às vezes acho que vou explodir. — A profundidade de sua alegria a assustava de vez em quando. Ela nunca imaginara que teria um futuro, uma vida, além da fúria do marcador-X. Agora que imaginava... — Eu vou construir uma base tão forte, tão sólida, que ela nunca irá balançar, não importa o que o futuro traga. — Ninguém, nem mesmo Ming LeBon, ia impedi-la de viver sua vida.

 

RIAZ e Adria se juntaram a Judd na viagem de volta para a toca naquela noite. O ônibus aquático automatizado de Veneza para o continente estava vazio, sem chance de serem ouvidos mas eles falavam em voz baixa, o vento forte contra suas bochechas.

— Você acha que alguém vai querer correr o risco? — Adria perguntou, preocupação e empatia lutando por espaço dentro dela. Sam, forte, leal e corajoso, era ao mesmo tempo um dominante e um humano. Iria devastá-lo se ele fosse vítima de uma violação mental de um Psy, o ato seria um golpe selvagem ao coração de sua natureza. — Eu posso ver porque eles iriam.

Apoiando os antebraços nas coxas, Riaz disse, — Tenho que admitir, eu nunca considerei o quão vulnerável os humanos devem se sentir, — uma expressão preocupada marcando as linhas fortes de seus traços.

— Sim, — Judd disse em sua direita.

Não lhe escapou que os dois a imprensaram entre eles todo o tempo em que estiveram juntos. Sua loba estava irritada, pronta para uma briga. Ela não era uma filhotinha para ser protegida, mas uma soldada sênior, bem capaz de se livrar de problemas. — Você acha que Hawke vai querer que a informação circule por todo o clã? — ela perguntou, lutando contra a vontade de rosnar. Seria como tentar explicar trigonometria para alguém que nunca viu um livro de matemática. As palavras simplesmente não computariam em seus cérebros masculinos carregados de testosterona.

— Não. — A resposta de Riaz foi decisiva, a masculinidade sombria de seu perfume entrelaçando-se em torno dela em fios invisíveis. — Não até que Ashaya tenha feito testes exaustivos para confirmar que o chip é seguro.

— Poderia ser dito... — A voz calma de Judd. — que os humanos do clã deveriam receber a informação e terem o direito de decidir por si mesmos.

Riaz olhou para o homem Psy. — Você sabe que um clã não funciona assim. Não pode.

— Sim. — Judd ecoou a posição de Riaz, o vento espalhando o loiro sujo de seu cabelo. — Hawke é responsável pela saúde do clã como um todo, e às vezes isso significa fazer decisões difíceis quando se trata de escolha individual.

— Sim, — Riaz respondeu. — Se nossos companheiros de clã humanos decidissem fazer isso, e os chips falhassem, as mortes arrancariam o coração dos SnowDancer. O ganho não vale o risco, não ainda.

A declaração de Riaz ecoou dentro de Adria.

Ela pensou no risco que estava correndo com este lobo solitário apaixonado e fiel que poderia nunca pertencer totalmente a ela, sabia que poderia estar justamente se preparando para a pior queda de todas. Mas, como dissera a Riaz, ela não era exatamente um bem intacto. E... Ela não queria olhar para trás e lamentar o que poderia ter sido.

A vida pode doer, pode machucar, pode deixar cicatrizes para sempre, mas era para ser vivida.

— Pense sobre isso, — Judd disse quando o pensamento feroz passou por sua mente, — A Rede Psy é estruturada mais como um clã do que qualquer outra coisa, com o Conselho no lugar de um alfa.

Adria balançou a cabeça, seu lobo rejeitando a ideia. — Há uma grande diferença, cada decisão de Hawke, seja democrática ou não, é para o bem do clã, enquanto os Conselheiros têm uma maneira de usar suas pessoas até que não sobre nada. — Irritava-a até seu âmago que fossem aqueles que deveriam proteger que estavam causando mais dano.

— Esta geração, sim. — A concordância de Judd foi solene. — Mas os Conselhos pré-Silêncio eram focados na força e saúde da raça como um todo. Ironicamente, foi esse desejo que levou ao Silêncio, mas eu acho que as sementes da esperança estão lá, enterradas na escuridão.

Quando Riaz respondeu a Judd, o baixo ressoar de sua voz levantou os cabelos em seus braços, ela se viu pensando que Riaz era, em muitos aspectos, mais parecido com Judd do que era a qualquer outro lobo. Levaria tempo para confiar em uma mulher o suficiente para se abrir totalmente com ela, mas uma vez que o fizesse, ele seria devotado.

Adria não esperava tal devoção... Não tinha certeza de que ela poderia lidar com isso se acontecesse, sua loba entrava em pânico com a ideia da possessividade que seria parte integrante desse tipo de amor. O que a fez imaginar como Brenna lidava com Judd, a outra mulher não era dominante, e estava terrivelmente ferida quando ela e Judd ficaram juntos pela primeira vez.

Mas essa não era a única coisa que ela pensava. — Você já se arrependeu de ter uma companheira? — ela perguntou à Judd após eles fazerem seu caminho do ônibus aquático para o aeroporto, e conseguirem assentos no salão do portão de embarque. Mesmo enquanto falava, seus olhos seguiram a forma musculosa quando ele foi até o estande de café para pegar as bebidas deles, seu cabelo brilhando com luzes ocultas de cobre e bronze.

Judd lançou-lhe um olhar indecifrável. — Uma pergunta incomum para uma loba.

— Não seria mais fácil, — ela esclareceu, — fazer o trabalho que você faz, enfrentar perigos, se você não tivesse uma companheira cujo coração se partiria se você fosse ferido?

Judd tomou seu tempo para responder, seu olhar sobre a vasta multidão e as pessoas caminhando e correndo para pegar seus jatos. — Seria mais... Conveniente. — ele disse por fim. — Mas não seria mais fácil, o Silêncio é baseado no preceito de que a emoção é uma fraqueza, mas o que eu sinto por Brenna me faz mais forte. Eu luto mais, e mais brutalmente, porque eu sei que qualquer ferimento a mim irá se refletir nela.

— Soa como uma discussão séria, — Riaz disse, entregando à Judd a garrafa de água que ele solicitara, antes de passar o chocolate quente de Aria. — Com marshmallows. — Um sorriso que vincou o rosto dele fez seus olhos piscarem ouro, selvagem e atraente.

Sua loba acordou com a visão dele, as lembranças felizes de deitar ao seu lado na cama do quarto do hotel, fazendo-as subirem contra a sua pele em uma afeição primitiva. Foi tudo o que pôde fazer para não acariciar com o rosto o seu pescoço. — Posso apostar que você está bebendo o seu lodo habitual. — O aroma do café dele era rico e potente.

— Vai fazer crescer pelos no meu peito. — Lábios ainda curvados, ele se acomodou em sua cadeira, dobrando seu braço ao longo das costas dela. — Então... — sua coxa pressionando contra a dela enquanto ele se empurrava para seu espaço de uma forma muito masculina. — O que vocês dois estão discutindo?

— Se a emoção nos torna mais fortes ou mais fracos, — Adria disse antes que Judd pudesse mencionar o vínculo, seu coração se torcendo com a ideia de roubar o sorriso dos olhos de Riaz. — O que você acha?

Tomando um gole de café sem dúvida escaldante, Riaz disse, — Eu diria que é isso que nos torna humanos, no sentido mais amplo. Sem ela, poderíamos muito bem ser máquinas.

— Independentemente dos seus problemas, — Judd discordou imediatamente, — os Psy na Rede não são inumanos.

— Por que em alguma parte profunda de si mesmos, — Riaz argumentou, — eles de fato sentem.

— Sim. — Foi uma resposta inesperada de um homem que Adria supunha ter passado pelo condicionamento mais rigoroso da Rede. — O Silêncio nunca foi tão inequívoco quanto a máquina de propaganda do Conselho nos levaria a acreditar. — Ele acenou com a cabeça em direção a uma mãe e sua filha andando pela multidão, a mão da criança segurando firmemente na mão da adulta.

Estava claro pela fria falta de expressão em seus rostos, a rigidez sutil do andar da mulher, que eram Psy. — Um conselheiro diria que ela segura a mão da criança porque é um método prático para garantir que seu legado genético não seja perdido ou ferido.

Naquele exato segundo, Adria viu a mulher se mover para bloquear uma mala que iria bater na criança, assumindo a colisão para si. — Talvez seja mesmo o que ela acredita, — Adria murmurou, — mas há mais ali. — Uma proteção que fazia a mulher colocar a criança mais perto de seu corpo, sua mão em concha atrás da pequena cabeça loira.

— Não para todos os Psy. — Judd olhou para um carrinho de bagagem prestes a rolar para longe de uma mulher idosa, e que então parou suavemente e aparentemente natural. — É tarde demais para alguns, os danos causados ​​pelo condicionamento são muito, muito profundos.

— Jato expresso BD21 para San Francisco agora embarcando.

Acabando com seu chocolate quente, Adria recolheu o resto do lixo dele e o levou para a fresta de reciclagem. Riaz e Judd subiram e estavam esperando quando ela voltou, com Riaz tendo atirado a mochila dela por cima do ombro, juntamente com a dele. Ela não tinha problem algum com isso. Mas quando os dois ficaram um de cada lado dela, ela parou. — Eu não preciso de guarda-costas.

Um olhar confuso de ambos.

Sua loba mostrou os caninos, — Eu sabia que não iriam computar.

RIAZ SEPAROU-SE DE Adria quando eles chegaram à Toca, na tarde de San Francisco. Tomado banho, ele vestiu sua calça jeans que vestia melhor, o tecido macio de repetidas lavagens, e uma camiseta, em seguida fez o seu caminho até a porta dela. O cheiro dela era úmido e quente quando ela abriu a porta, o cabelo liso e brilhante de seu próprio banho, o corpo coberto por uma suave calça de pijama cinza e uma camiseta roxa desbotada com a imagem de um deprimido burrinho dos desenhos animados.

Uma sobrancelha levantada. — Sim?

O lobo dele estreitou os olhos para ela em contínua irritabilidade. Nem ele nem Judd tinham sido capazes de descobrir o que a tinha colocado para baixo antes que eles embarcassem no avião. Ele a tinha deixado divagar em silêncio durante a viagem, mas agora pisou no espaço dela e beliscou bruscamente em seu lábio inferior. — Por que você está agindo arrogantemente? — Ele fechou a porta com o pé.

Olhando para ele, ela esfregou o lábio que ele tinha mordido. — Eu só sou assim. Supere isso. — Ela se aproximou para cair de costas sobre a cama. — E vá embora para que eu possa ficar de mau humor em paz.

Ele lutou com um sorriso. Deixá-lo aparecer seria suicídio com uma fêmea dominante neste modo. — Eu tenho algo para você. — Ele levantou a pequena bolsa que tinha trazido.

Uma luz assustada na brilhante tonalidade dos olhos dela. — Você tem um presente para mim? — Ela arrastou-se de joelhos, estendendo as mãos. — Me dá!

Ele atravessou o quarto e sentou-se na cama. — Eu não sei se deveria dá-lo a alguém tão mal humorado. — Brincalhão como um filhote, o lobo dele sorriu.

Apoiando as mãos nos ombros dele por trás, ela fechou os dentes suavemente sobre a ponta da orelha dele. — Eu mordo, então tome cuidado.

— Eu também. — Ele estalou os dentes para ela.

Uma risada encantada, as garras dela amassaram os ombros dele. Quando ela se moveu ao redor para se sentar com as pernas cruzadas ao lado dele, ele colocou o saco no colo dela. A maravilha em seu rosto quando ela pegou e abriu a caixa forrada de veludo fez valer à pena toda a trapaça que tinha feito para comprar e esconder o presente dela. Ele devia uma ao Pierce.

— Oh. — Ela equilibrou a estatueta de vidro em sua mão - de um lobo com os olhos fechados, a cauda enrolada em torno de si. — Os detalhes... — Gesticulando para ele segurá-la, ela pegou as outras três estatuetas com dedos gentis. Eles eram ainda menores - filhotes brincando ao redor do guardião do sono: um rosnando para flores silvestres, outro num olho no olho com um corvo, o terceiro agachado em uma posição furtiva.

Fechando a caixa, ela arrumou os quatro na tampa, colocando o furtivo filhote atrás do lobo adulto. Como se o filhote estivesse planejando atacar a cauda do guardião. Ele riu. — Eu me lembro de tentar fazer isso com o papai.

Adria não respondeu, apenas olhou para o quadro, acariciando um dedo sobre uma das figuras, de vez em quando. — Isso não é justo. — Foi um sussurro, os olhos dela ficando enormes e úmidos.

Ele tinha comprado o conjunto maliciosamente para ela porque tinha pensado que aquilo a faria sorrir... E ele amava a maneira como Adria sorria quando estava profundamente feliz. Ele tinha vislumbrado esse sorriso só uma vez, quando ela tinha olhado para cima pela primeira vez a partir dos lençóis, na manhã depois de terem dançado na varanda, ele tinha vindo a perceber que queria vê-lo novamente e novamente. Mas em vez de alegria, seu presente tinha colocado lágrimas nos olhos dela.

Segurando a mandíbula dela, ele esfregou o polegar sobre o arco elegante da bochecha. — Hey.

Ela balançou a cabeça e afastou-se. Ele não gostou disso, mas deixou-a levantar-se da cama e colocar as estatuetas cuidadosamente sobre a pequena penteadeira escondida em um canto. Quando ela voltou para subir em cima dele com um único movimento suave, seu corpo respondeu como um fósforo à chama, a ligação sexual entre eles como um raio. Os lábios dela estavam macios e úmidos conforme seduziam os dele, o gosto dela um vício que lutou para roubar seus sentidos.

Não está certo, o lobo dele rosnou, isso não está certo.

— Adria. — Peito arfante, ele a puxou para longe com uma mão enrolada no cabelo dela.

Em resposta, ela cravou as garras nos ombros dele e empurrou-o, os olhos num pálido e perigoso âmbar. Teria o levado à cama, se ele não estivesse estado pronto para isso. Sangue perfumou o ar, forte e metálico. Rosnando, ele arrancou as mãos dela de cima dele, segurando e fixando-lhe os pulsos atrás das costas com uma mão. Não a induziu a desistir. Coxas trancadas ao redor dele, ela inclinou a cabeça com foco predatório.

Ele segurou seu queixo quando ela teria estalado para frente para afundar os dentes no pescoço dele, e apertou. — Comporte-se. — Isto era um desafio, e ele tinha que ganhar, ou eles nunca ultrapassariam este momento.

Um leve sorriso, os olhos de lobo astuto. — Riaz. — Movendo o corpo dela em uma curva sinuosa que seduzia, ela quebrou o domínio dele sobre seus pulsos com uma única jogada violenta, e foi para bater suas garras no peito dele. Mas ele não era estúpido, e sabia muito bem com quem estava lidando - uma afiada e predatória changeling feminina treinada para ganhar. Misericórdia não era algo que ela entendia. Não aqui. Não agora.

Torcendo no último momento, ele usou o próprio impulso dela para fixá-la na cama à sua frente. Ele algemou os pulsos dela em cada lado de seu corpo antes que ela pudesse recuperar o fôlego, pressionando-se em cima dela com sua estrutura muito mais pesada. Ela era inteligente, era forte, mas em uma competição de pura força bruta, ela nunca ganharia.

Quando ele cravou os dentes na curva suave do ombro dela, ela resistiu. Ele continuou a segurá-la até que ela se acalmou, o corpo inteiro tremendo com a tensão. Liberando o aperto no ombro dela, embora continuasse a fixar-lhe os pulsos, ele lambeu a marca e, em seguida, afastou o cabelo dela com o nariz para pressionar um beijo em sua mandíbula, o rosto dela virado de lado sobre o travesseiro. — Diga.

O som de dentes rangendo.

Impulsionado pela posse e firme determinação, ele permitiu que mais de seu peso caísse sobre ela enquanto lambia a marca que ele tinha feito, usando movimentos lentos de sua língua. Era uma provocação, e o grunhido que retumbou do peito dela lhe disse que ela sabia. Mas ele a tinha bem e presa, e independentemente do quanto ela resistisse, ela não podia afastá-lo.

— Eu me rendo, — ela finalmente disse entre dentes.

Não confiando completamente nela - não neste humor - ele liberou os pulsos dela um de cada vez, antes de apoiar-se em cima dela em um antebraço. Usando a mão livre, ele escovou de lado o emaranhado úmido de cabelo do rosto e pescoço dela, expondo a linha limpa de seu perfil. — Você quer que eu saia de cima de você? — Ele continuou a correr os dedos através do cabelo dela, acariciando-a para acalmá-la.

Uma pequena pausa antes que ela balançasse a cabeça.

— Diga-me quando eu ficar muito pesado, — ele murmurou, apoiando a parte inferior do corpo nas curvas ágeis do dela.

Os cílios dela desceram sobre os olhos que permaneceram num assombro de selvagem âmbar, e em seguida levantaram-se novamente. — É uma sensação boa.

Deslizando a mão no ombro dela, ele esfregou o polegar gentilmente sobre a marca de mordida antes de subir para massagear a nuca dela, seu couro cabeludo. Lentos, longos minutos se passaram, mas ela se tranquilizou finalmente, ficando relaxada debaixo dele. Pressionando um beijo quente e possessivo na curva de sua mandíbula, ele apertou o pescoço dela. — Nós não somos apenas sexo.

Riaz tinha preparado a mente para perseguir esta indefinível, maravilhosa coisa que tinha crescido entre ele e Adria quando nenhum deles estava olhando, e ele não ia permitir que os danos causados ​​a ela por outro homem destruíssem isso. — Somos? — Era uma questão pesada com exigência, os dedos dele se apertando.

Ela cravou as unhas nos lençóis, a mandíbula ajustada. Ele sabia que ela não estava fisicamente com medo por ele estar em cima dela – ambos entendiam que ele a soltaria no instante em que ela deixasse claro que queria sair. Não, o medo dela tinha uma causa completamente diferente, seu pânico tal que ele podia senti-lo em sua pele quando ele a lambeu, o brilho de transpiração que a cobria um brilho fino.

— Adria.

 

ADRIA estremeceu ante a dominação desenfreada naquele comando. Pela primeira vez, ela percebeu exatamente o quão cuidadoso ele tinha sido com ela em seus encontros sexuais até o momento - ele poderia ter sido tenro, apaixonado e urgente em retorno, mas ele não tinha permitido que ela visse por dentro do coração do lobo negro. Este homem, este que estava falando com ela em um tom suave que era uma lâmina quente sobre a pele dela, este era o núcleo primordial dele.

Os dedos dele moveram-se contra o pescoço dela, uma lembrança silenciosa de que ele segurava as rédeas. Sua loba não estava feliz com isso... Ainda que estivesse. A confusão disso causou um caos de emoção dentro dela. Por tanto tempo ela tinha estado com um homem que a tinha obrigado a silenciar e reprimir seu verdadeiro eu em várias pequenas coisas, porque ele não tinha sido forte o bastante para lidar com ela. Agora, ela estava com um homem que não apenas não tinha problema em aceitar sua força, mas que era também forte o suficiente para dominá-la em todos os sentidos que importavam a um changeling.

Pânico queimou o intestino dela como ácido. Ela era aquela que tinha sempre estado no controle, aquela que poderia parar as coisas antes que elas fossem longe demais, antes que a empurrassem muito profundamente para o doloroso território emocional. — Eu mudei de ideia, — ela disse, seu tumulto um latente incêndio dentro de sua pele, inundando todo o pensamento racional. — Nós precisamos terminar.

Liberando a nuca dela, Riaz começou a acaricia-la através de seu cabelo novamente, lento, fácil e inequivocamente, insuportavelmente possessivo. — Eu posso sentir seu pânico. — Um beijo na marca que ele tinha feito quando a tinha mordido. — Fale-me sobre isso.

Ela não podia fazer isso, não poderia expor a nua, vulnerável menina do interior na pele da mulher. No entanto, quando ela ia virar o rosto para longe, ele levantou o corpo dele de cima dela. Outro tipo de pânico a picou, a sensação de perda devastadora. Mas ela estava sendo virada de costas antes que pudesse reagir, o calor de Riaz cobrindo - a mais uma vez conforme ele escovava os cabelos para fora dos olhos dela com a mão livre, com a outra apoiada ao lado da cabeça dela.

— Eu vi um cacto no deserto uma vez, — ele disse, a voz baixa e profunda como um zumbido sobre a pele dela. — Chamado Dama da Noite. Tinha essa requintada flor cremosa, e o cheiro, embriagou meu lobo. Mas só abria à noite - você tinha que ter paciência para vê-la. — Olhos de ouro batido. — Eu sou muito paciente. — Chupando o lábio superior dela com sua boca em um beijo inesperado, ele rasgou a camiseta dela de um lado com as garras e, segurando o olhar dela, moldou a mão dele sobre as costelas nuas dela.

Tremores correram sobre o corpo dela. Ela tentou arquear-se para ele, deslizando a mão ao redor do corpo dele para empurrar a camiseta dele, para que ela pudesse tocar a quente e musculosa pele de suas costas. — Por favor.

Mas ele sacudiu a cabeça. — Sexo é fácil. — Ele balançou contra ela, o aço quente de sua ereção empurrando contra a lisa, necessitada carne entre as coxas dela. — Eu respiro o seu cheiro e eu estou pronto.

— Então por que você está fazendo isso? — ela sussurrou, com uma mão em punho contra o peito dele. — Vamos manter isso fácil, como era. — Sem exigências, sem expectativas, sem corações quebrados. Porque ela tinha estado errada, ela não era corajosa o suficiente para arriscar mais cicatrizes, mais contusões. Não quando desta vez, ela sabia que a agonia seria muito pior.

Sua loba nunca tinha adorado Martin como adorava o lobo negro com olhos dourados.

Inclinando-se para baixo até que seu rosto estava apenas um centímetro distante, sua respiração quente contra a pele dela, Riaz disse, — Porque é tarde demais para isso, e você não é do tipo casual. Você nunca foi. Assim como eu. — Pedras esmagadas e vidros quebrados na voz dele.

Foi instinto curvar a mão sobre a nuca dele, para acariciá-lo como ele a tinha acariciado. Ele a deixou tocá-lo, deixou-a reivindicar privilégios de pele que foram se tornando cada vez mais complicados. Ela tinha pensado que tinha resolvido tudo em Veneza, mas esta noite o que ele tinha feito, tocara a secreta, idealisticamente esperançosa parte dela que não tinha permitido ninguém chegar por tanto tempo que era uma memória esquecida. O fato de que ele já fizera isso quando o relacionamento deles tinha dificilmente começado, fez o estômago dela dar nós, o coração martelando contra as costelas.

E então, tinha a dominância dele.

Ele espalhou a mão na garganta dela, curvando-a em um aperto gentil. — O que você está pensando que faz o seu lobo tão cauteloso? — ele perguntou em um murmúrio baixo, balançando-se uma vez contra o calor fundido dela.

Ela se torceu em resposta instintiva, tendo o prazer de ouvi-lo assobiar uma respiração entre os dentes cerrados. Mas, apesar de ele acariciá-la descendo a mão para repousá-la possessivamente sobre seu seio nu, ele não deu o próximo passo, aquele que os teria deixado enredados e encharcados de suor. — Eu me acostumei a me submeter, — ela admitiu, lutando contra seu orgulho de expor o quão idiota ela tinha sido.

— Com Martin. Eu tive que me submeter para fazê-lo feliz. — Tinha tomado lugar tão lentamente que ela não tinha entendido a corrosiva feiura do que estava acontecendo. Pequenas coisas, ela pensara, coisas que não importavam realmente - afinal de contas, o homem tinha arriscado tudo para salvar a vida dela. Até que ela percebeu que tinha começado a enterrar a Adria para agradar Martin. — Ele estava longe de ser tão forte quanto você.

Riaz bufou. — Você tem estado esmagando minhas bolas desde o instante que nos conhecemos, eu, com certeza, não acho que de repente você está indo para tremular seus cílios e sorrir tolamente para cada palavra minha.

Tanto a loba quanto a mulher piscaram para a imagem ridícula. — Não é tão simples. — Ela tentou encontrar as palavras para explicar. — Martin me fez fraca... Não. Isso não é justo. — Havia duas pessoas naquela relação. — Eu me enfraqueci para fazê-lo feliz. Eu estou apavorada que eu vá fazer o mesmo com você. — Aquela era uma falha dela, de mais ninguém.

Moldando o seio dela com os dedos fortes, Riaz se inclinou para tomar o lábio inferior dela entre os dentes, liberando-o de forma oh-tão-lenta. — Então você quer acabar as coisas antes de começar? — Um aperto mais forte, uma sugestão mais profunda dos dentes ao longo de sua mandíbula. — Essa é a verdadeira fraqueza.

Ela cravou as garras nas costas dele quando ele a mordeu novamente. — Faça isso mais uma vez e eu vou te dar uma nova tatuagem legal.

Lábios curvando-se contra o pescoço dela. — Yeah. — O queixo barbeado dele era suave sobre a pele dela. — Eu não estou realmente preocupado com você se submetendo a mim. — Levantando-se em uma posição ajoelhada sobre o quadril dela, ele arrancou a camiseta e jogou-a no chão antes de descer sobre ela, as mãos em ambos os lados da cabeça dela. — Abra sua boca para mim.

— Isso é um pedido ou uma ordem?

Um sorriso preguiçoso que chegou aos olhos, a boca dele capturando a dela em uma demanda quente. Ela esfregou a língua contra a dele, sentindo-o rosnar no fundo do peito. Tremendo, ela pressionou as mãos no peito dele, seu musculoso corpo, dela para explorar. Mas quando ela correu os dedos para baixo da linha tentadora de cabelo, abaixo do umbigo dele e para o topo do jeans que pendia sensualmente baixo nos quadris, ele apenas permitiu-a abrir o botão de cima antes de puxar para longe a mão dela.

— Eu começo a brincar primeiro.

Ele rasgou a camiseta dela em pedaços e estava puxando fora dela o pijama e a calcinha antes que ela percebesse que ela era o pretendido brinquedo dele. Não resistente à ideia e com algumas ideias ela mesma, ela apertou um pé no peito dele no instante em que estava nua. — Fique nu. — Muito como uma ordem. — Eu quero completos privilégios de pele. — Ela ansiava pelo doce e quente deslize do corpo dele contra o dela, os rígidos ângulos masculinos e o delicioso peso dele.

Um beijo pressionado no pé dela e, de repente, ela estava sendo virada de frente, o metal frio do zíper dele mordendo-a quando ele estabeleceu o seu peso sobre ela, seu pênis um contorno rígido. — Não. — Negação quente no ouvido dela, uma grande mão empurrando embaixo do corpo dela para provocar e puxar o mamilo. — Eu acho que vou ser o chefe hoje.

 

— RIAZ.— Era um aviso, as garras dela talhando os lençóis.

Rindo, ele pregou um beijo em sua nuca e - para surpresa dela - obedeceu a não dita exigência, subindo nas ancas dela, as coxas de ambos os lados de seus quadris. Justo quando ela estava prestes a virar-se, ele colocou as mãos em suas costas e começou a massagear para baixo dos ombros dela, as mãos fortes, os dedos conhecedores. Ela gemeu.

No momento em que ele chegou à base da coluna, ela tinha desistido até mesmo dos mais vagos pensamentos de rebelião. — Você tem duas covinhas aqui. — Um molhado, melado beijo em cada uma que a fez gemer.

Aparentemente fascinado pelo lugar, ele lambeu cada covinha, esfregando a bochecha contra a pele dela. — Fiz a barba especialmente para você.

Os dedos dos pés dela enrolaram-se. — Eu aprecio isso. — Embora ela não estivesse, de forma alguma, avessa ao raspar áspero de sua barba por fazer, derreteu-a que ele tivesse tomado tempo para isso.

— Não se preocupe, vou pegar o meu pagamento.

O coração dela batia forte, cada centímetro dela muito consciente de que estava na cama com um lobo grande e perigoso, que queria fazer coisas distintamente eróticas com ela. Quando ele levantou a cabeça, sedosos fios de cabelo deslizando sobre a pele dela, esperava que ele saísse da cama e removesse os jeans, mas ele ficou no lugar, movendo a mão para baixo para moldar e acariciar as curvas inferiores dela. — Eu posso cheirar você, tão molhada e pronta.

O almíscar da mulher debaixo dele agia como uma droga nos sentidos de Riaz, a parte escorregadia dela pura provocação, quando ele circundou a entrada do corpo dela com um único dedo.

— Riaz. — Não um alerta desta vez. Um convite, as doces curvas dela subindo para seguir o toque dele.

Amando-a tão suave e prazerosa, ele se deslocou para se ajoelhar mais baixo no corpo dela, abrindo e empurrando o jeans baixo o suficiente para liberar seu pênis com um silvo de prazer e dor. Apertando a carne inchada, ele lutou por controle e encontrou o suficiente para acariciar com as mãos os quadris dela. — Levante Imperatriz.

— Imperatriz? — Ela levantou-se nos joelhos em um movimento fluido, subindo até que as costas dela pressionavam contra o peito dele.

Com a dura cabeça do pênis dele já banhado na lisa parte dela, ele simplesmente flexionou os quadris e empurrou dentro dela com lenta e primorosa deliberação prazerosa. — Rainha, — ele rangeu, os dedos cavando nos quadris dela, — não parece suficiente.

— Doce falador. — As unhas de sua amante fizeram uma pequena meia-lua crescente sobre as coxas dele, a respiração dela irregular, as costas arqueadas, empurrando os seios para frente em exibição sensual.

Rosnando, ele alcançou as mãos sobre os montículos roliços. — Faça o que quiser.

Ela moveu-se para ele, apertando e soltando, e ele sabia que não ia durar muito mais tempo. Sacudindo um mamilo tenso de uma forma que sempre a fazia apertar-se ao redor dele, ele deslizou uma mão para baixo para acariciar e provocar o nó escorregadio do clitóris dela.

— Riaz! — Ela se contraiu ao redor dele em uma explosão de prazer derretido que arrancou um grito dela. Mas quando ela tentou montá-lo para conclusão, ele soltou a mão livre para segurar a coxa dela, parando-a.

— Você é meu brinquedo, lembra? — Isto não era apenas sobre sexo, e ele não permitiria que ela esquecesse.

— Então brinque comigo. — Ela virou o rosto para exigir um beijo.

Satisfeito com a confiança dela, ele lhe deu o beijo, e mais, afagando, acariciando e saciando antes que ele baixasse a mão para o clitóris dela novamente. Brincando com o duro e pequeno pacote de nervos até que ela estava esfregando o corpo dela contra ele em necessidade selvagem, os seios pesados e sensíveis a cada toque, ele segurou os quadris dela.

— Devagar, — ele ergueu-a fora de seu pênis, os dentes cerrados contra a necessidade de bombear — e profundo — ele deslizou-a de volta para um longo e quente gemido — e tão molhado.

Desta vez, ele levantou-a até que a cabeça do pênis dele saísse. Empurrando contra a entrada inchada a fez gozar ao redor dele, os músculos apertando-se na exigência feminina. Mãos subindo para apertar os seios dela, ele empurrou profundo, cavalgando nos pulsos quentes do prazer dela. Mas ele não podia ir, ainda não. Beijando sua nuca, ele acariciou as mãos pelo corpo dela para empurrá-la suavemente para frente.

Apoiando-se nos antebraços, ela lhe lançou um olhar âmbar sobre o ombro que ele tinha mordido, com os olhos nebulosos. Era assim que ele a queria hoje. Satisfeita, marcada e sabendo exatamente quem segurava as rédeas. Porque embora Adria fosse uma dominante, ela não poderia ser uma nesta cama. Nunca funcionaria, não para qualquer um deles.

Empunhando a mão levemente no cabelo dela, ele sustentou seu olhar enquanto puxava fora, e empurrava novamente. E mais uma vez. E mais uma vez. Até que ela gritou e teve um orgasmo tão forte em torno dele que todo o corpo dela tremia. Só então ele se rendeu, o orgasmo quase o rasgando em dois.

 

TENDO deixado Naya com Lucas no escritório de Chinatown, Sascha olhou para o jaguar que a tinha levado enquanto ele trouxe o SUV para uma parada perto da Toca em torno de quinze para as seis naquela noite. — Eu acho, — ela disse, — que todos nós concordamos que eu já não preciso de um guarda-costas aqui. — Era uma questão implícita.

— Não é uma questão de confiança, — Vaughn respondeu. — Trata-se de mostrar força. Nossa aliança não muda o fato de que nós somos duas matilhas changeling predatórias.

Sascha sentiu a curva dos lábios num sorriso pesaroso. — Logo quando eu penso que sei tudo o que há para saber sobre changelings.

O macho loiro âmbar não era um dos mais táteis sentinelas, a reserva parte da natureza dele, mas agora ele esfregou os dedos contra a bochecha dela. — Não se preocupe, não vamos pegar de volta sua filiação à matilha.

Rindo do astuto humor felino, ela saiu do veículo, seus sentidos telepáticos alertando-a para o fato de que eles estavam sendo observados no caminho inteiro até a Toca. Outra demonstração de força, um silencioso lembrete de que os SnowDancer tinham reputação letal por uma razão. Lara se encontrou com eles na entrada, os cachos dela em um rabo de cavalo, o pálido amarelo limão de sua camisa roçando as curvas do corpo. — É bom ver vocês. — A curandeira abraçou Sascha com um calor que era genuíno.

— Me desculpe, eu não estava disponível para vir aqui mais cedo. — Uma questão tinha surgido com um jovem, algo que ela tinha tido que lidar dada sua posição como companheira do alfa. — O aumento no nível de consciência de Alice?

— Leve, mas se mantendo. — Recuando, Lara sorriu para Vaughn, a astúcia marrom do olhar dela quente do jeito dos curandeiros, de todas as pessoas em uma matilha, eles eram os únicos que não tinham nenhuma dificuldade em interagir, ou serem acolhidos em outras matilhas, mesmo aqueles que poderiam ser inimigos. — Olá, Vaughn. Como Faith está?

— Ela queria que eu te agradecesse pelas fotos que você enviou.

Lara dispensou as palavras dele. — Ela salvou a vida daqueles filhotes com sua previsão, ela ganhou uma reinvidicação sobre eles agora.

Um aceno silencioso de Vaughn.

— Você quer vir com a gente, ou ir treinar com os soldados?

— Eu vou com vocês.

Balançando a cabeça, Lara levou-os para a enfermaria, atualizando Sascha com as leituras mais recentes de Alice enquanto isso. — A única boa notícia, — ela disse enquanto caminhavam para a enfermaria, — é a pequena mudança no nível de consciência dela, mas é tão pequena que nós temos de aceitar que poderia ser uma flutuação natural. — Ela apontou para a porta aberta de um quarto de paciente. — Quarto da Alice.

— Eu vou esperar aqui, — Vaughn disse, tomando uma posição vigilante fora da porta.

Deixando o jaguar no seu posto, Sascha seguiu Lara para dentro. Como sempre, Alice dormia em silêncio, com o corpo coberto por um lençol macio, sua cabeça em uma touca de tecido fino com componentes eletrônicos que monitorava as funções cerebrais, enquanto uma série de outros tubos finos corria para fora do corpo dela. No entanto, ela estava respirando sozinha, o peito subindo e descendo em um ritmo tão gentil, que teria sido fácil perder se o resto dela não estivesse tão imóvel.

A atenção de Sascha prendeu-se nos ossos finos do rosto de Alice. Marcado por linhas tênues de tensão, aquele rosto não era pacífico no repouso, como se Alice estivesse lutando por dentro, lutando para sair. — Eu posso senti-la. A ressonância emocional é fraca, mas está lá. — Sascha pretendia fortalecê-la ainda mais, tendo estado mentalmente aprimorando sua capacidade de amplificar, depois de ler sobre a técnica no livro inovador que Alice tinha escrito há mais de uma centena de anos atrás.

Um dos mais fortes e mais originais presentes de um empata cardeal é a capacidade de amortecer emoções. Este estudo tem mencionado brevemente como essa habilidade pode ser - e tem sido - utilizada para controlar tumultos, mas a mesma habilidade pode ser utilizada em sentido inverso, para aumentar as emoções. No entanto, o último uso tem o efeito de drenagem no E, e mesmo cardeais só podem ativamente manter isso por breves minutos, variando de três a sete.

Alice não tinha descrito como as habilidades E trabalhavam no nível psíquico, o objetivo de sua tese, mais um estudo antropológico sobre os empatas como uma designação. Como resultado, Sascha tinha sido deixada com tentadoras pistas, mas nenhuma orientação prática. Quando ela tinha tentado pela primeira vez controlar uma voluntária ‘multidão’, ela tinha se esgotado em minutos.

Só mais tarde ela percebeu que tinha estado, na verdade, tentado forçar emoção dentro da multidão, ao invés de amortecer a deles. Tinha sido um começo. Embora ela ainda não tivesse descoberto como amortecer emoções, ela pensava realmente que poderia aumentá-las. — Eu gostaria de ter um professor, em vez de ficar tropeçando nisso no escuro. — Frustrava-a momentos como este, o poder dentro dela que ela não tinha nenhuma ideia de como usar.

— Você já sabe mais do que qualquer outro E-Psy no planeta – dê a si mesma um pouco mais de tempo. — Apertando o braço de Sascha, Lara moveu-se para o painel de controle no final do leito. — As leituras não apresentam quaisquer problemas. Você pode começar quando estiver pronta.

Exalando calmamente para concentrar-se, Sascha pegou uma das finas e pálidas mãos de Alice nas dela própria e fechou os olhos. No entanto, antes que pudesse começar, ela teve de identificar as outras emoções que permaneciam nos arredores para que pudesse estabelecer uma linha de base: o intenso foco de Lara, sua preocupação; a atenta observação de Vaughn e sua curiosidade; o teor de uma profunda amizade emanando de dois changelings em outro quarto de pacientes.

Base montada, ela estreitou sua atenção para Alice.

Frustração.

Limpa e clara, mas tão fraca que ela teve que se esforçar para sentir isso. Isolando a emoção com cuidado meticuloso, Sascha começou a fazer o que tinha teorizado. Em vez de empurrar, abruptamente as emoção em Alice, ela ‘cantarolava’ uma nota emocional que ressoava com a frustração de Alice.

Se funcionasse como ela achava que deveria, mudaria a profundidade da frustração de Alice, trazendo isso para a superfície da consciência dela. Uma vez lá, deveria continuar a ressoar em maior frequência, estimulando a mente de Alice até que a mulher humana tivesse forças para se libertar. Sascha não sabia por quanto tempo ela tinha estado cantarolando a nota, mudando a faixa psíquica para encontrar a afinação perfeita, quando alguma coisa ‘clicou’.

— Eu estou vendo um bipe. — A voz calmamente animada de Lara veio de longe. — Eu acho que está funcionando.

 

DOIS dias depois do regresso de Veneza, e Adria não tinha ideia do que estava fazendo prestes a entrar na casa dos Delgado em San Diego. Riaz a tinha pegado por volta das quatro da tarde, logo depois que ela tinha completado sua segunda sessão com uma unidade dos novatos de Indigo, que queriam aprender o estilo de artes marciais em que Adria era perita. Sienna Lauren, que tinha sido a primeira a inscrever-se, mostrava estar se adaptando bem à disciplina.

— É a ordem subjacente disso, — a jovem havia dito. — Eu gosto do fato de que toda a arte é construída sobre uma base de centenas de conjuntos de movimentos que o lutador coloca juntos de maneiras inesperadas.

Era com Sienna que ela estava conversando quando Riaz apareceu na extremidade da área de treinamento exterior. — Eu consegui dois bilhetes no trem de alta velocidade para San Diego, — ele tinha dito quando a mulher mais jovem tinha pedido licença. — Partindo em duas horas.

Assustada, tinha levado um momento para ela entender o que ele estava dizendo. — Nós não podemos sair novamente, tão cedo após Veneza, — ela dissera, com o coração na garganta.

— Viagem de volta hoje à noite, nós estaremos de volta na Toca por volta de duas da manhã. Você está livre o resto do dia, certo?

— Sim, mas eu estava planejando preencher alguns papéis. — Como todos os dominantes responsáveis ​​por menores, ela fazia questão de manter os pais deles atualizados com relatórios semanais.

— Faça isso no trem. — Ele bateu na bochecha dela com o dedo. — Vamos lá, Imperatriz. Eu quero que você conheça minha família.

Ela tinha sido atingida lateralmente pela importância emocional do pedido, o fato de que Riaz a tinha convidado para tão perto do coração da matilha pessoal dele... fez mil borboletas despertarem no estômago dela.

— Os jardins são impressionantes, — ela comentou agora conforme eles saíam do táxi, uma mão discretamente no abdômen dela em um esforço para acalmar a agitação interior.

— Você tem um aroma maravilhoso, querida! — A mesma pequena, curvilínea mulher que ela tinha visto na cerimônia de acasalamento de Hawke e Sienna apareceu inesperadamente ao lado de uma extensa roseira, as mãos estendidas e um sorriso enorme enfeitando seu rosto. — Estou muito feliz em conhecê-la, Adria.

Adria inclinou-se para aceitar o abraço de Abigail Delgado, o cheiro dela uma mistura de especiarias que ela não podia nomear e uma nota floral doce. — Eu também, — ela disse, de repente com a língua presa.

Quando Abigail recuou, Adria olhou para cima para ver Riaz, vestido com jeans e uma camisa chocolate escuro com as mangas arregaçadas até os cotovelos, sendo abraçado por um homem alto que tinha características tão notavelmente semelhantes, que ficou claro que eles eram pai e filho. A única diferença era que o grosso cabelo preto de Jorge Delgado era levemente salpicado com prata, as linhas finas nos cantos dos olhos e ao redor da boca adicionando uma tranquila profundidade de caráter. — Deus, — ela disse sem pensar, — Riaz vai ficar ainda mais bonito à medida que envelhecer.

A risada encantada de Abigail fez Adria corar, mas a mãe de Riaz enfiou o braço de Adria em seu próprio e apertou. — É uma terrível cruz que nós temos que carregar, querida.

Encontrando aqueles olhos cintilantes diante desse sussurro, Adria explodiu em gargalhadas, as borboletas alçando voo para deixar sua loba feliz em um nível elementar. Mais tarde naquela noite, quando Riaz puxou-a para o lado dele logo que o trem perfurou através do véu opaco da noite, ela sabia que o jantar tinha sido parecido com a dominância possessiva do amor dele depois de Veneza - seu lobo solitário estava reivindicando-a de seu próprio jeito tranquilo, determinado, e inexorável.

O coração dela gaguejou, eufórico e aterrorizado em medidas iguais.

 

KALEB ENCONTROU A SI MESMO em um beco sem saída na Net, mas em vez de recuar e tentar navegar ao redor da seção, ele examinou todos os aspectos do bloqueio. Era uma parede preta. Sem fraturas, sem dados. Espaço morto, a Net truncada.

Essas barricadas formavam-se naturalmente em áreas com baixa densidade populacional. A NetMind desviava os indivíduos da zona para o canal ativo mais próximo em um exercício de eficiência que a maioria das pessoas nunca percebeu, porque a NetMind ampliava o link da Net dos afetados para garantir que aqueles homens e mulheres não sentissem a tensão de serem psiquicamente posicionados fora da sua área geográfica.

O problema com esta seção truncada era que estava quase, mas não longe o suficiente de uma matriz relativamente densa de população. Qualquer ganho em eficiência decorrente do deslocamento das mentes neste setor não teria sido suficiente para justificar uma saída da NetMind.

O que significava que a entidade consciente não tinha criado este obstáculo.

Levou três horas para ele forçar abertura de uma pequena porta na parede preta sem acionar os alarmes embutidos. Deslizando através, ele a fechou atrás de si, ocultando a porta para acessá-la depois. A barricada provou ter sido nada além de um firewall destinado a desencorajar alguém de continuar a seguir a pista - porque estava quente novamente deste lado.

Mesmo quando ele varreu através da área em busca de seu alvo, parte de seu cérebro continuou a peneirar e classificar os milhões de pedaços de dados aleatórios que flutuavam ao redor. Rumores, sussurros, informações comerciais, trechos de conversa desvanecendo, era tudo filtrado para que não pudesse entupir a mente dele. Até que um único fragmento o fez pausar.

...empurrou o âncora para baixo nas escadas, mas a morte dele...

Não interrompendo sua busca psíquica, ele tocou a curiosa presença na NetMind, e pediu-lhe para seguir o fragmento. A grande entidade consciente retornou a ele em uma fração de segundo com o relatório de que aquele fragmento foi tudo o que restou. O resto da conversa tinha degradado, a energia absorvida de volta para a rede.

Independentemente disso, apenas uma âncora tinha morrido daquela maneira nas semanas anteriores. E uma vez que o modo da morte dele não tinha sido tornado público, o fragmento pareceu inferir que o homem tinha sido assassinado. O que Kaleb não conseguia raciocinar era o porquê. Como ele e Aden tinham discutido, a morte de um âncora não oferecia a ninguém na Net qualquer vantagem.

Seguindo aquela lógica, era provável que o assassinato estava amarrado a algo que não tinha nada a ver com a posição da vítima como uma âncora. A outra razão era muitas vezes o frio e racional dinheiro – os herdeiros do âncora poderiam simplesmente ter querido apressar a velocidade da herança deles.

Kaleb enviou a Aden uma mensagem telepática, tomando cuidado para não perturbar o rastro na frente dele. Brilhava um leve prata para seus sentidos psíquicos, e ele estava quase certo de que era isso, era o rastro... Quando desapareceu com brusquidão total.

Eu vou acompanhar. A voz telepática de Aden.

Kaleb respondeu automaticamente. Entre em contato comigo assim que você descobrir qualquer coisa. Ele examinou os arredores para qualquer indício do fio prata. Mas tinha ido como se nunca tivesse existido.

 

CINCO DIAS DEPOIS da visita a seus pais, Riaz assistiu Adria movimentar-se ao redor com um pequeno grupo de suas crianças. Empoleirado como ele estava na parte superior do ginásio na selva que era parte do treinamento de corridas, ele tinha uma excelente vista, sabia que ela estava ensinando-lhes uma das rotas de evacuação de emergência se um dia tivessem de utilizá-la para proteger os filhotes, seriam necessários todos os dominantes para manter de fora a força invasora.

Homem e lobo, ambos, pararam o que estavam fazendo para assistir a mulher que, ele estava lentamente começando a ver, era tão educadora quanto uma protetora agressiva. Uma combinação incomum, rara na hierarquia. Enquanto ela era, sem dúvida, uma soldado dominante com capacidades ofensivas impressionantes, havia uma suavidade sobre ela que era mais parecida com a das mulheres maternais. Era um aspecto da personalidade dela que ele roçou contra mais de uma vez sem perceber, e isso fez seu protecionismo em relação a ela se intensificar, até que ele sabia que teria que ser cuidadoso para não cruzar as linhas que mais definitivamente incomodariam sua loba de olhos âmbar.

Como se sentisse o escrutínio dele, ela se virou para olhar por cima do ombro, sua expressão amolecendo. — Hey, — ela murmurou.

— Hey, — ele murmurou de volta.

Lábios curvados, ela voltou sua atenção para os adolescentes em torno dela, desaparecendo sob a espessa copa das árvores não muito tempo depois. O lobo dele esticou o pescoço, tentando pegar um vislumbre final dela, mas não rosnou quando as árvores continuaram a bloquear sua visão, ele sabia que ela voltaria para ele, os laços entre eles não mais uma fina teia de aranha. O que tinha acontecido depois de Veneza tinha mudado as coisas em um nível fundamental.

Ele tinha feito sua decisão, feito sua reivindicação.

Adria não tinha rejeitado a posse dele, não uma aceitação, mas, como ele dissera a ela, era um homem paciente. Sorrindo com a forma como essa loba arisca estava começando a confiar nele com pedaços de seu coração, ele voltou sua atenção de volta para a pista de obstáculos que era o treinamento de corrida. Os soldados começaram a aprender o velho padrão, o que significava que era hora de reconfigurá-lo em um novo, o que ele estava fazendo, com a ajuda de Judd.

O outro tenente estava com o cabelo de volta a sua normalidade, uma sombra de marrom chocolate, o lobo de Riaz bufou, teletransportou para ele uma chave inglesa quando ele gritou por uma. — Obrigado. — Ele torceu um parafuso teimoso em seu lugar, a mente passando a questões a serem discutidas na próxima reunião de tenentes. — Ouviu qualquer coisa de Ashaya?

— Só uma atualização sobre quanto tempo seus testes iniciais vão levar, — Judd gritou por debaixo da estrutura. — Cerca de um mês. Ashaya é muito dogmática e detalhista em seu trabalho.

— Bom. — Desaparafusando uma pequena peça, ele a posicionou novamente à direita. — Bowen. Qual a sua opinião?

Judd saiu de debaixo da estrutura para olhá-lo, limpando com o antebraço a testa úmida de suor e deixando um traço de graxa para trás. — Ele é, em certo sentido, um alfa. A Aliança o procura por direção e proteção, visto dessa forma, as ações dele podem ser cruéis, mas são para o bem da matilha dele.

— Falou como um verdadeiro lobo.

Judd pegou a chave que ele jogou, esperando até os pés de Riaz tocarem o chão para dizer, — Como Drew diria, se você não pode vencê-los...

— Sim, tarde demais para voltar atrás agora. Nós sabemos onde você mora.

A resposta de Judd foi colocar a chave de fenda com as outras ferramentas e levantar a sobrancelha. Claro que Riaz não podia recusar o desafio, e eles estavam subindo sobre a selva modificada no ginásio em segundos. Judd foi chutado no traseiro em dois minutos dentro. Riaz durou mais dez segundos. — Droga, — ele disse com uma risada satisfeita. — Pegou nós dois. Excelente. — Ninguém ia aprender a vencer esta configuração tão rápido.

Olhos estreitados, Judd olhou para a estrutura como se estivesse frente a um mortal inimigo. Batendo no ombro de seu companheiro tenente, Riaz disse: — Nem pense nisso. — Um puto telecinético versus o complexo de postes metálicos e tubos do ginásio na selva - os resultados não seriam bonitos.

Judd olhou para o relógio. — Eu vou destruí-lo depois. — Frio como o gelo, mas Riaz captou o brilho, sabia que o Tk estaria de volta até que ele tivesse vencido o obstáculo. — É melhor irmos para a reunião. São quase duas.

Virando-se, eles guardaram as ferramentas e rapidamente lavaram-se antes de entrar na sala de conferência especial criada para as reuniões de tenentes. Hawke e os outros tenentes – via vídeo conferência e em pessoa - estavam todos presentes. Indigo, os pés apoiados em uma segunda cadeira, as pernas cruzadas à altura dos tornozelos, disse, — Você está atrasado, — sem tirar os olhos do seu datapad.

Aquele datapad estava subitamente pairando alguns centímetros no ar... Antes que se movesse até parar na frente de Judd. Pegando-o, ele disse, — E você está jogando Lobo versus Leopardo.

Todos riram quando Indigo ameaçou Judd com danos corporais, mas o tenente Psy continuou a estudar o datapad. — Você tem uma excelente estratégia territorial - embora pareça que este jogo se inclina para favorecer os lobos. O desenvolvedor é um lobo?

— Confesso! — Tomás ergueu as mãos. — Fui eu.

Cutucando o datapad de volta à Indigo, Judd virou uma cadeira ao redor para sentar-se com os braços apoiados na parte de trás. — Se você quer que os gatos joguem isto também, você tem que nivelar o campo de jogo.

Os olhos de Tomás brilharam. — Eu acho que você se ofereceu para ser meu imparcial jogador de testes.

— Tudo bem. Enquanto eu conseguir uma parte do que certamente serão grandes lucros, levando a competitividade dos lobos e leopardos em conta.

Tomás bateu na lateral do nariz quando mais riso encheu o quarto. — Eu vou ter o meu povo falando com o seu povo.

Hawke se recostou na cadeira, ajustando-se para equilibrá-la em duas pernas. — O ‘povo’ dele é Brenna, por isso esteja atento ou você vai ter sorte de sair com a roupa do corpo. — Mãos cruzadas por trás da cabeça, ele olhou para Riley. — Ok, o que está na agenda de hoje? Qualquer tentativa de mini-ataques pelos PurePsy que eu não sei? — Era uma pergunta irritada. — É como aquele jogo da toupeira, onde elas continuam surgindo.

— Nada nos últimos quatro dias, — Riley respondeu a uma série de aplausos. — E Sam está levando a piscina de detecção de armadilha com impressionantes nove pontos.

— Quatro dias, — Indigo disse em um tom de voz meditativo. — Esse é o maior intervalo até a data atual. Tensões no pessoal limitado deles estão começando a se mostrar?

— Toupeiras reproduzem-se muito rapidamente, — Judd disse secamente.

Jem quase bufou fora a água que ela tinha estado bebendo. — Chega de toupeiras, não vamos dar-lhes a satisfação de sugarem mais do nosso tempo.

— Eu agora declaro uma moratória[1] toupeira. — Com aquela solene declaração - que fez Cooper sufocar - Riley pegou o datapad na frente dele. — BlackSea é o primeiro da lista. Kenji, Riaz, dê-nos uma atualização.

Riaz acenou para Kenji responder.

— Tivemos um pouco de vai-e-vem, mas agora eles estão felizes com o contrato. — Empurrando seu chocante cabelo preto para fora de seus olhos, Kenji olhou para Hawke. — Eles fizeram a decisão sobre a aliança antes mesmo de se aproximarem de nós. Foi apenas um caso de trabalhar os detalhes.

Riaz teve de concordar. — Está chegando o encontro. — Ele e Kenji, bem como Riley, acompanhariam Hawke ao cara-a-cara com Miane Levèque, enquanto BlackSea estava enviando juntamente Emani e dois outros representantes do seu quadro. Em deferência a preferência de Blacksea a estar perto da água, a reunião foi marcada para acontecer em um edifício beira-mar possuído pelos DarkRiver. — Ainda nenhum indício do por quê de eles estarem de repente tão entusiasmados por uma aliança.

— Nós pegamos uma resposta no encontro, ou caímos fora. — O sorriso do alfa era todo dentes. — Bonita Garnet. Relatório.

Jem revirou os olhos. — Nada de novo. Ainda tenho um estável gotejar de Psys entrando no meu setor. Eu acho que a maioria está seguindo para San Francisco.

Franzindo a testa, Indigo disse, — A cidade vai começar a ter problemas de população e habitação, se continuar assim.

— Ainda não é tão ruim assim, — Riley respondeu. — Os gatos estão de olho na situação - há apartamentos suficientes na área geral no momento. Os Psys chegando estão ficando fora do território da Toca e nos limites territoriais dos DarkRiver.

Coop, que havia ficado na base com Riaz no dia anterior, os dois zoando através da vídeo conferência, não tinha nada a relatar. Nem tinha Matthias, mas Alexei estava ostentando um impressionante olho preto e uma carranca. No entanto, tudo que ele disse foi, — Tudo calmo por aqui.

— De jeito nenhum, Sexy Lexie,— disse Tomás, ganhando um olhar mortal, — Confesse. Onde você conseguiu esse olho roxo?

— Desafio de dominância.

As mãos de Hawke caíram, as pernas da cadeira batendo no chão conforme a expressão dele escureceu. — Mais uma?

— Não se preocupe, eu lidei com a situação. — Sulcos brancos enquadraram a boca dele. — Ele está vivo... Mal. Eu não acho que alguém mais vai querer tentar a sorte.

— Bom. — O tom de Hawke era sem piedade. — Nós talvez tenhamos ganhado dois ou três soldados fortes como resultado dos desafios, mas é um desperdício de seu tempo lidar com eles.

— Você, pelo menos, colocou gelo sobre isso? — Jem perguntou, estremecendo com o dano no rosto de Alexei.

O jovem tenente encolheu os ombros. — Não tive tempo, eu não queria dar a ele uma chance de curar-se antes de nós o entregarmos à sua matilha.

A mensagem, pensou Riaz, seu lobo em completo acordo, tinha que ser brutal, inconfundível. — Eu acho, — ele disse, quando Riley virou-se para ele e pediu uma atualização sobre a Aliança Humana, — que poderia ser hora de revisar a ideia de uma ligação permanente com eles.

Som de ranger de dentes. Ninguém tinha esquecido ou perdoado o que Bowen tinha feito da última vez que ele tinha estado na área.

Coop foi quem quebrou o silêncio. — Riaz está certo. A Aliança é grande demais para simplesmente ignorarmos.

Hawke enfiou uma mão pelo cabelo, pedindo opiniões. Todo mundo tinha uma, mas eles finalmente decidiram arriscar algum tipo de acordo de ligação.

— Você pode lidar com isso? — Hawke olhou para Riaz. — Você tem lidado com BlackSea também.

— Kenji pode levar a maior parte da carga de lá, — ele disse, recebendo um aceno do outro tenente. — E isso não é uma negociação de aliança completa. — Ele chamou a atenção de Judd. — Eu poderia precisar das suas informações, de vez em quando. — O outro homem tinha acesso à PsyNet, e Riaz sabia que havia pessoas poderosas na rede psíquica mantendo um olho sobre a Aliança.

— Sem problema.

— A possibilidade de uma guerra civil dentro da Net,— Indigo disse a Judd. — Qualquer notícia sobre isso daquela direção?

— Perto de inflamar, tudo o que precisa é de uma única faísca. — Uma arrepiante predição. — Eu comecei o aviso entre os Psy na cidade. A advertência pode salvar alguns deles.

Alguns, Riaz pensou, não todos.

 

FECHANDO a porta de seu escritório após a conclusão da sessão diária com as crianças, Adria limpou as mãos em suas calças jeans, respirou profundamente, e fez a chamada. Ela foi atendida no segundo toque, os vívidos olhos azuis de sua mãe enchendo a tela do computador, o marrom mel de seu cabelo caindo sobre os ombros - Cullan Morgan era quem tinha dado a suas filhas o ébano dos cabelos dele, mas os olhos de Tarah e de Adria vieram de Felicity.

— Adria. — Com um sorriso sincero no rosto, a mãe dela aproximou-se da tela como se fosse tocá-la, em seguida deixou cair a mão com um sorriso triste. — Como vai você, minha menina?

O coração de Adria apertou com o amor que cantava em cada palavra de sua mãe. Ela mantivera distância de seus pais por muito tempo, impulsionada por uma mistura cáustica de vergonha e raiva, e sua loba sofria para sentir a ferocidade do abraço de sua mãe, e o áspero carinho do toque de seu pai. — Bem. Eu fui a Veneza.

— Oh, que agradável. Eu sei que você sempre quis ir. — Felicity sorriu, olhou por cima do ombro. — Cullan, venha aqui! Sua pumpkin[2] está no telefone.

Adria riu, sabendo que, independentemente de sua idade ou posição, ela sempre seria o bebê surpresa deles. — Oi pai, — ela disse quando belo rosto de seu pai encheu a tela.

— Eu deveria bater em você, Adria Morgan, — foi a rosnada resposta dele, a barba polvilhada generosamente com prata. — Quando você está planejando visitar seus pais?

— Assim que eu conseguir três ou quatro dias consecutivos de licença, — Os pais dela moravam em Los Angeles, como resultado da posição de sua mãe na universidade, seu pai no comando de um ramo de construção dos SnowDancer na cidade. — Riley está em um humor muito bom, então eu posso ser capaz de fazer isso nas próximas semanas.

— Oh, eu ouvi, — disse sua mãe com um sorriso encantado. — Ele vai ser um pai maravilhoso.

— Sim, ele vai, — Cullan concordou. — Sempre teve uma cabeça firme em seus ombros, mesmo quando ele estava entrando em problemas com Hawke, Cooper, Riaz, e os outros quando eram mais jovens.

Adria tinha decidido manter silêncio sobre o aprofundamento de seu relacionamento com Riaz. Não era que ela não quisesse compartilhar sua família com ele, não queria que seus pais encontrassem o inteligente, apaixonado lobo solitário que estava entrelaçando vínculos cada vez mais fortes ao redor do coração dela, mas ela tinha que estar mortalmente certa. Nunca novamente ela queria que sua mãe e seu pai ficassem preocupados e feridos como eles tinham estado quando ela estivera com Martin.

Não, na próxima vez que ela apresentasse um homem à sua família, seria porque ela sabia que ele a amava com o coração e alma dele, sua devoção inabalável.

 

OS NERVOS DE SIENNA ESTAVAM disparados no momento em que ela empurrou-se dentro do escritório vazio de Hawke e esparramou-se na cadeira dele naquela tarde. O cheiro dele a rodeou, mas não era suficiente. Carrancuda, porque ela queria ficar de mau humor com ele, ela se levantou, decidindo persegui-lo como ele fazia tantas vezes com ela.

Não demorou muito, porque ela sabia a quem perguntar.

— Eu o vi, Sienna! — Ben ofereceu quando ela interrogou as crianças na Zona Branca. — Ele está consertando um carro.

— Obrigada, Ben. — Ela beijou a bochecha dele, e as bochechas de todos os outros filhotes que tinham se reunido ao redor - em seguida, fez o seu caminho até a garagem.

Hawke não estava, na verdade, ‘consertando um carro’. Ele estava discutindo sobre um veículo 4x4 robusto que parecia que ter sido separado peça por peça, com o mecânico chefe. Ficando fora de vista, ela não interrompeu o que parecia ser uma importante conversa, mas ela sabia que ele estava ciente dela, seu lobo se esfregando contra o vínculo de acasalamento em um primitivo Olá.

Ela não sabia como sabia com qual parte dele ela estava falando em um dado momento. Ela apenas sabia. E ela aprendera a acariciar o lobo pelo vínculo, como fizera agora. Quando Hawke terminou a sua conversa e caminhou até ela, ele só bateu em seu rosto e disse, — Meu escritório, — tendo claramente sentido o humor dela.

No instante em que eles entraram, ele levantou uma sobrancelha. — Alguém tem estado sentando na minha cadeira.

Ela caiu naquilo novamente. — As fêmeas maternais me odeiam.

Pálidos olhos azuis com suspeita branda, Hawke se inclinou para trás contra a sua mesa na frente dela e olhou para baixo para encontrá-la, sem dúvida, com olhar de mau humor. — Eu estou supondo que ser a sombra de Ava não funcionou.

— O bebê dela estava agitado hoje, então ela arranjou para que eu seguisse Nell em seu lugar. — Armando os dedos, ela fingiu atirar-se na cabeça. — Você sabe quantas vezes eu fui levada à frente de Nell quando jovem? Bem, ela sabe. Tem uma memória de elefante.

— Eu vejo.

— Pare de rir, — Sienna murmurou, olhando para o seu companheiro embora ele não tivesse feito um som. — Isso é sério.

Uma risada irritante antes que ele usasse o pé para empurrar a cadeira para longe, em seguida puxou-a de volta, de modo que ela acabou por ficar entre as pernas dele. — Diga-me exatamente o que aconteceu.

— Eu apareci para encontrar Nell no berçário, e nós passamos uma hora com os filhotes. Isso foi bom. — Ela amava a inocência dos bebês, a forma como as crianças gritavam em deleite, a alegria deles sincera e franca. — Foi quando nós saímos dali que Nell decidiu vagar pela estrada da memória. Sua 'favorita' — Ela enganchou os dedos para criar aspas no ar. — sobre mim é daquele tempo que a minha classe estava acampando nas montanhas, e eu convenci as meninas a roubar e esconder cada peça de roupa de propriedade dos meninos. Ela disse que ficou impressionada com a precisão do timing envolvido no ataque.

Hawke se lembrava do incidente, e do castigo que ele dispensara a todos aqueles envolvidos, lutando com o desejo de parabenizar as meninas sobre a audácia do golpe o tempo todo. — Nell provavelmente ficou impressionada. — Ele, com certeza, ficara.

Respondendo com aquele adorável som rosnado que ele amava, Sienna se empurrou para trás até que a cadeira dele pressionou contra a parede, as pernas dela empurrando na frente dela. — Ela, então, me fez sentar em uma sessão de disciplina com dois dos mais jovens adolescentes, foi como uma má reprise da minha vida. Mais tarde, ela me levou a uma reunião onde as seniores maternais dominantes todas trabalhavam em torno de uma colcha. Eu dificilmente posso costurar o suficiente para realizar reparos de emergência no campo!

Hmm... — Ela convidou você para voltar?

Um aceno de cabeça mal-humorado.

Deleite o teve enganchando o pé sob a cadeira e rolando-a de volta para ele. — Pergunte-me o nome da campeã reinante de problemas na Toca antes que você viesse?

O contínuo humor negro de Sienna ficou evidente em seu murmúrio, — Quem?

— Nell.

Isso chamou a atenção dela. — Nell?

— Sim. E ela manteve o título por dez anos. Assim, — ele se inclinou para baixo com as mãos apoiadas sobre os braços da cadeira dela — Eu diria que é definitivo que ela ficou impressionada com aquela incursão.

Mordendo o lábio inferior, sua companheira disse — A reunião de costura? — em voz baixa.

— É onde as maternais fazem a maioria de suas negociações. E elas não convidam qualquer um.

— Oh. — Sienna passou a mão sobre o rosto. — Para ser honesta, a reunião foi indolor em comparação com o tempo que passei com Nell - eu me senti como se estivesse sendo lançada sobre brasas.

— Como você respondeu?

— Eu a tratei com o respeito devido a uma das pessoas de posição mais elevada da Toca. — Cílios abaixaram, e levantaram. — Embora eu tenha ficado um pouco irritada quando ela empurrou demais, e eu posso ter apontado que sou uma mulher adulta agora e não particularmente interessada em refazer minhas façanhas do passado. Isso foi quando ela me levou para a costura.

— Bom, — ele disse, reivindicando um beijo duro antes de levantar-se novamente. — Se você a tivesse deixado andar em cima de você, nunca teria sido convidada para a reunião. — A delgada Nell podia parecer jovem e quase frágil, mas a líder das maternais tinha uma coluna de titânio, e apreciava o mesmo nos outros. — O fato de que você não pode costurar é irrelevante, elas malditamente me dão uma agulha e linha quando eu compareço.

Sienna cuspiu uma risada assustada, as estrelas voltando para os olhos dela. — O que você faz?

— Lembre-as de que eu sou alfa. — O lobo rosnou. — Então, eu me sento e escuto. — Porque as maternais eram a espinha dorsal da matilha, aquelas que os faziam família, davam-lhes o coração.

— Eu me fiz útil cortando peças para a colcha, — Sienna disse, — mas, principalmente, eu ouvi também. — Uma longa, estremecida liberação de ar. — Então... Não foi um desastre? — Hesitante, silenciosa, um pedido de reafirmação.

O matava fodidamente cada vez que ela expunha a profundidade de sua confiança nele, esta mulher que, como uma assustada, sozinha criança, tinha sido ensinada a não confiar em ninguém. — Nem mesmo perto, — ele disse, curvando um dedo. — Eu chamaria de sucesso absoluto.

Levantando-se, Sienna pressionou seu corpo ao dele, os punhos dobrados contra o peito dele. Abraçando-a perto, ele esfregou o queixo contra a têmpora dela. — Você está indo muito bem. — Ele sabia que ela não estava trilhando esse caminho apenas para si mesma, mas para ele, para os SnowDancer, de modo que a matilha pudesse saber que poderia ter fé na força do seu casal alfa.

Orgulho e amor disputavam espaço dentro dele, colidindo em um soco poderoso de emoção. — Vamos lá, — ele disse, passando as mãos pelas costas dela. — Vamos esgueirar-nos em nossos quartos para um jantar antecipado. — Ele queria tocá-la, acariciá-la, adorá-la, abraçá-la.

 

APANHADA no trabalho no dia seguinte, e com o próximo tutorial de escalada dela e de Drew marcado para mais tarde, Adria encontrou-se em um ensolarado assento em um pedregulho gigante na Zona Branca pouco antes do almoço. Ela queria sentar e mexer com uma pequena peça de motor eletrônico que os mecânicos tinham descartado como muito trabalhoso para corrigir. Era, mas ela gostava do desafio. Ela tinha quase certeza de que descobrira uma solução parcial quando pegou um perfume que estava agora incrustado em sua própria pele.

Sua loba subiu, enchendo a superfície de sua mente, e ela colocou a mão segurando a peça na coxa para se concentrar nele, este lobo solitário que estava se tornando dela... Ainda que ele nunca seria dela. O passo dele era confiante, um homem seguro de sua força. Mas ele não era inflexível, era capaz de uma ternura que ameaçava fazê-la cair tão fundo, que nunca se recuperaria.

Alcançando-a, ele olhou para o pedaço do motor e inclinou a cabeça em uma pergunta silenciosa.

— É um hobby, — ela disse, deslizando a peça e a ferramenta em miniatura para dentro de um bolso de suas calças cargo de cor ouro, sentindo-se estranhamente tímida. Como se esse fosse o primeiro encontro deles e ele a tivesse pego brincando como uma criança. — Um quebra-cabeça para resolver.

Colocando o saco de papel marrom em sua mão, ele enfiou a mão no próprio bolso para tirar uma pequena e polida escultura de madeira de um leopardo meio a espreita. — Meu hobby, — ele disse, colocando o leopardo na palma dela. — Não está terminado.

Atônita e encantada, ela correu o dedo ao longo da parte de trás do animal incrivelmente realista. — Quando você faz isso? — Ela estava fascinada. — Eu nunca vi você fazendo.

— Aqui e ali, quando estou pensando.

— Posso ficar com ele?

Um brilho de ouro no marrom pálido, a alegria do lobo. — Quando estiver pronto. — Arrancando-o dos dedos dela, ele o colocou de volta em seu bolso. — Mostre-me o que estava fazendo com a peça.

Recuperando-a, ela explicou, enquanto ele ficava entre os joelhos separados dela, uma das mãos na coxa dela, o cabelo dele brilhando preto azulado à luz do sol. Era uma intimidade sutil, e envolveu-a em correntes de seda, ela teve que se concentrar para conseguir falar, e não teve certeza se respirava até que ele disse, — Isso parece divertido, — em um tom intrigado. — Eu quero trabalhar em um com você.

Uma risada borbulhou dela. — Tudo bem.

Roubando a risada dela com um beijo que era pura demanda quente e molhada, ele apertou a coxa dela antes de alcançar o saco que tinha trazido para pegar alguma coisa. — Aqui.

Era um sanduíche. — Frango e abacate, — ela murmurou, outro pedaço da casca dura em torno de seu coração caindo. — Meu favorito.

— E o seu açúcar e creme com um pouco de café. — Colocando o copo térmico e a garrafa de água dele sobre a pedra, ele tirou seu próprio sanduíche.

O sol aquecia os ombros dela quando ele se virou para acomodar-se com as costas contra a pedra, as coxas dela em cada lado do maior e mais musculoso corpo. Quando ela pressionou um beijo impulsivo na nuca dele, ele fez um baixo, estrondoso som em seu peito, um lobo satisfeito. Tudo nela - corpo e alma - tremeu em resposta visceral.

Perigoso, ela pensou, isso era tão perigoso. Muitos pedaços dela nas mãos dele. Ela tinha de segurar alguma coisa para trás, alguma parte dela que a protegeria contra as noites em que acordasse para encontrá-lo acordado, com uma expressão distante no rosto. Porque isso aconteceria - não importava a apaixonada ternura cada vez mais profunda entre eles, ela era a segunda melhor, seria sempre a segunda melhor.

A dura verdade disso machucava o coração dela. Deixando de lado seu quase não comido sanduíche, ela passou a mão furtivamente sobre o órgão. Ela não sabia se estava tentando acabar com a dor ou conter a fúria selvagem do que ela sentia por Riaz. Mas ela tinha a penetrante sensação de que já era tarde demais. Talvez tivesse sido tarde demais no instante em que sua loba, pela primeira vez, respondera a ele, a atração visceral.

Tendo terminado o seu sanduíche, ele se virou para pegar a água, e viu o dela. — Coma o resto.

Já no limite, ela eriçou-se. — Desde quando você começou a me dar ordens?

Olhos de ouro pálido encontraram os dela, amarrados por seda preta. — Desde que eu percebi que você tem uma tendência a não comer corretamente. — Pegando o sanduíche, ele segurou-o para ela.

Ela tomou-o e colocou-o de volta para baixo. — Não tente me controlar.

A voz de Riaz era um estrondo profundo. — Eu não vou deixar a minha mulher maltratar a si mesma. Coma o sanduíche ou nós vamos ficar aqui o dia todo.

Minha mulher.

A garganta dela fechou-se até que não pôde falar, cada parte dela acaloradamente consciente da mão que ele colocara mais uma vez em sua coxa. Um par de centímetros mais alto e ele poderia deslizar aquela mão grande para cobri-la com a mesma intimidade que ele tinha feito na última noite, no escuro silencioso da cama dela. O calor áspero do corpo dele tão perto, o bronze escuro da pele um convite para os lábios, roubou a mente dela, tornou impossível pensar.

Empurrando a mão dele para o lado, ela trouxe as pernas para se agachar sobre a pedra, então pulou do outro lado. — Talvez eu vá comer o sanduíche depois, — O batimento cardíaco dela perfurando na garganta — Se eu estiver com vontade. — Isso não tinha nada a ver com o sanduíche, ambos sabiam disso.

Olhos estreitados. — Você quer mesmo me desafiar sobre isso?

O tom dele eriçou os pelos da lobo dela... E injetou adrenalina através de seu corpo. — Por que você não o come? Desde que parece gostar tanto. — Com isso, ela se virou e caminhou para dentro da floresta, garantindo que seus quadris balançassem de um modo concebido para despertar os instintos mais dominantes dele.

 

RIAZ encarou as árvores onde Adria tinha desaparecido, o lobo dele rosnando em atenção. Se ela achava que ele a deixaria apenas ir depois daquele tipo de provocação, ela não tinha ideia de com quem estava lidando. Pegando o sanduíche, ele envolveu-o no saco de papel e colocou-o no bolso da calça jeans. Ia estar totalmente esmagado na hora em que ele a alcançasse, mas sua imperatriz malditamente o comeria.

Um sorriso amargo nos lábios, ele estava em seu caminho para a floresta quando um corpo pequeno enganchou-se nas pernas dele. — Whoa! — Agarrando o filhote, Riaz colocou-o de pé.

Mas o garoto oscilou, o rosto amassado em um esforço infantil para não chorar.

— Hey. — Agachando, Riaz verificou o filhote e descobriu um tornozelo torcido. — Vamos lá, amiguinho. — Ele tomou o menino nos braços. — É melhor irmos ver Lara.

O perturbado filhote grudou em Riaz como um band aid e não o deixou ir até que a mãe dele chegou à enfermaria, e por esse tempo Adria tinha uma vantagem de quinze minutos. No entanto, Riaz era um tenente e um dos melhores localizadores da matilha. Levou apenas dois minutos para pegar o perfume de frutas esmagadas em gelo e o selvagem almiscarado dela, e outros trinta segundos para perceber duas coisas muito importantes.

Primeira, Adria tinha corrido completamente em curva no instante em que ela estava fora de sua vista; e segunda, ela tinha feito uma tentativa de encobrir seus rastros, então ela claramente entendera as consequências do desafio que ela jogara no rosto dele. O sangue dele voltou-se quente, a perseguição de repente um jogo muito adulto... Até que os rastros dela, já não escondidos de qualquer forma, mostraram que ela tinha se diminuído para um passeio.

Ele mostrou os dentes.

Adria pensou que ele tinha desistido. Aquele era o segundo erro dela. O primeiro tinha sido ameaçá-lo em primeiro lugar. Perseguindo-a em silêncio, ele localizou sua presa em uma piscina natural alimentada por dois córregos, tendo o cuidado de permanecer contra o vento. Uma pilha de roupas descartadas estava na margem, mas não foi isso que chamou a atenção dele.

Lustrosa e molhada, ela se levantou da água clara, voltando-se para espremer o excesso de umidade dos cabelos. Os mamilos dela estavam duros, pontos mordíveis pelo frio do vento, a pele creme fustigada com ouro. Flexionando as mãos que queriam acariciar, afagar e possuir, ele baixou o olhar para o escuro triângulo entre as coxas dela, seu corpo rígido com a necessidade de conduzir seu pênis no aperto fundido dela.

Sem mais fugas, minha teimosa e bela soldado.

 

ADRIA TERMINOU DE TORCER os cabelos e considerou usar ou não a camiseta para secar o corpo. Ela sempre podia mudar e voltar para casa em forma de lobo. Poderia ser melhor se o fizesse, porque ela não tinha certeza se poderia esconder a profundidade dolorosa de sua decepção, caso contrário.

A perseguição tinha sido um teste, um jogo posto em ação pelo lobo que vivia dentro dela, cauteloso, esperançoso e com a coragem de rolar os dados. Ela precisava saber se Riaz se importava o suficiente para estar irritado, o suficiente para seguir. Homens changeling que reivindicavam uma mulher eram suscetíveis sobre o tipo de desafio que ela tinha lançado, nunca simplesmente permitiriam um passar. Que ele tivesse permitido, tornava claro que embora ele a tivesse chamado de ‘sua’ mulher, tinha sido apenas o mais superficial compromis...

— Eu gosto do que você está vestindo.

Ela foi arrastada contra um duro corpo masculino, uma das mãos dele espalmadas possessivamente em seu umbigo, a outra segurando seu seio e puxando o mamilo antes que a importância daquela profunda voz masculina se registrasse. A pulsação dela transformou-se em um martelo, sua respiração em suspiros suaves.

— Desculpe, estou um pouco atrasado, — ele murmurou de uma forma que ela sabia significar problemas. — Emergência com um filhote.

Alívio e alegria ameaçaram fazê-la derreter-se contra ele... Mas ela era uma loba dominante. Deslizando as garras, ela ia rasgar o abraço dele, mas ele havia lido seu intento - ela encontrou-se sendo girada ao redor, os pulsos presos atrás das costas. Ele estava usando apenas uma mão, mas seu domínio era inquebrável.

— Isso não foi legal. — Ele segurou o queixo dela duro o suficiente para que ela não pudesse usar os dentes contra ele, e inclinou-se para dar uma mordida no lado do peito dela.

— Isso dói! — Ela apertou as coxas, as dobras delicadas entre suas pernas lisas com uma umidade que fez falsa a tentativa dela de um grunhido. — Riaz.

Quentes e molhadas voltas da língua dele. — Você gostou. — Ele apertou-lhe a mandíbula em advertência quando ela rosnou baixo em sua garganta, olhos de lobo ouro olhando para os dela. — Comporte-se.

Ela poderia não ser um tenente, mas também não era uma submissa. Não demonstrando suas ações de qualquer forma, ela levantou o joelho, ao mesmo tempo em que ela estalou a cabeça para frente.

Afastando-se, Riaz bloqueou o ataque na virilha, mas o duplo ataque o distraiu o suficiente para que ela fosse capaz de libertar-se. Cortando com suas garras antes que ele pudesse recuperar o equilíbrio, ela marcou quatro linhas perfeitas no peito dele, rasgando a camiseta. Vermelho infiltrou nas bordas do tecido branco, mas os cortes não eram profundos. Apenas o suficiente para lembrá-lo que ele estava jogando com uma mulher perigosa e forte, não uma menina inexperiente.

Puxando a camiseta rasgada, ele a jogou de lado. — Agora, — ele disse, perseguindo-a com passos lentos, rondando-a com um olhar fixo, — Eu vou ter que fazer mais do que apenas mordê-la.

Oh, Deus. Vendo as narinas dele dilatarem-se, o cheiro da excitação dela espessa no ar, ela lutou contra o impulso primitivo de fixá-lo na terra, pele com pele, e lançou a ele um sorriso deliberadamente provocativo. — Eu não o vejo em nenhum lugar perto de mim.

Ele riu... Bem antes que investisse contra ela. A única razão pela qual ela fugiu foi porque dançou para a esquerda e para dentro da profunda piscina criada pela convergência de duas correntes. Subindo um segundo depois, ela o viu agachado à beira, observando-a, com a cabeça inclinada de uma maneira muito feroz. — Eu não quero ficar molhado.

— Bom, eu vou ficar aqui, então.

Grossos cílios pretos baixaram para encobrir os olhos dele. — Eu acabei de ver uma enguia nadando por aí.

Ela estremeceu. — Não, você não viu. — Exceto que, o que foi aquele roçar na perna dela? Uivando, ela pulou uma fração para a direita, e encarou-o quando ele riu. — Você está inventando.

Um sorriso que era todo dentes. — Vem para fora e eu só vou te morder um pouco.

Ela estremeceu com o impacto dele tão brincalhão e mais do que um pouquinho perigoso. Era isso, ela era um caso perdido. Morta e enterrada. Não ceda. Foi um comando de sua loba - que entendeu que o homem assediando-a estava se divertindo. Como também estava ela.

Pisando na água, ela balançou a cabeça. — Obrigado pela oferta, mas eu acho que não.

Dando de ombros, ele cravou os pés agora descalços na grama e se estabeleceu ali, observando-a com o mesmo inabalável e inquestionável foco predatório. — Está bem atrás de você, — ele disse um minuto depois, a tensão entre eles uma corda vibrando. — Com um amigo.

Ela girou ao redor, virando-se para trás. — Mentiros...

— Peguei você. — Ele puxou-a para fora da água e prendeu-a na grama macia em um único movimento poderoso.

Mamilos esfregando contra o atrito requintado do cabelo no peito dele, ela envolveu suas pernas ao redor da possessiva intrusão dos quadris dele. — Você só me queria perto o suficiente para agarrar. — Ela arranhou levemente em seus ombros com as pontas de suas garras.

Arqueando com a carícia, ele disse, — Eu sou um lobo. O que você esperava? — Ele deslizou a mão entre as coxas dela com uma ousadia que intoxicava. — Vamos tentar um jogo diferente agora. — Polegar e indicador lisos com a evidência cremosa das boas-vindas dela, ele esfregou o feixe de nervos tensos que era seu clitóris.

Tremendo, ela disse, — Sim, — e puxou a cabeça dele para baixo para um beijo, que terminou com a língua dele em sua boca e os dedos empurrando dentro dela em uma dura demanda masculina. — Vamos.

 

UMA hora depois, a mão de Riaz tremeu quando acariciou a úmida seda do cabelo de Adria, o rosto dela tranquilo no sono. Sua bela, espinhosa e ferida Adria havia adormecido em seus braços após a dança lúdica do amor deles. Ele entendeu o que aquilo significava, sabia que ele tinha alcançado uma parte dela que a maioria das pessoas nem sequer percebia que existia.

Era apenas justo.

Porque ela chegara fundo na alma dele também, em lugares que ele tinha pensado que permaneceriam para sempre áridos. Simplesmente, ele estava feliz. Olhos cautelosos, garras e tudo, Adria o fazia feliz. Ele tinha se preocupado que seu lobo fosse lutar com ele, lutar com o quão duro ele estava apaixonado por ela, mas o predador nele ficou encantado com a amante que tinha tornado-se uma amiga... e que agora possuía um grande pedaço do coração dele. O lobo esfregara-se contra ela conforme saciava sua profunda necessidade de privilégios de pele, acariciando o comprimento das costas dela.

— Você é minha, Adria Morgan.

Foi um soco na garganta, a descoberta de que ele ainda era capaz de tal visceral profundidade de emoção. Encontrar, e então, perder Lisette não tinha matado a parte dele que sentia uma selvagem e possessiva ternura em relação à deusa de pernas compridas nos braços dele, e onde uma vez ele teria visto seus sentimentos por Adria como uma traição, ele agora os via como um presente. Tinha sido dada a ele uma segunda chance.

As pestanas dela agitaram-se naquele instante, olhos sonolentos em um azul céu das montanhas riscado com veios de metais preciosos, olhando para ele. — Eu estava dormindo?

Era instinto brincar com ela. — Você ronca adoravelmente.

Rindo, com a voz ainda rouca de sono, ela fingiu puxar o nariz dele. — Você não.

— Ronco?

— Ronca adoravelmente.

Ele mostrou os dentes para ela. Ela mostrou os dela de volta. Repleto de alegria carinhosa, o tijolo que tinha sido um peso esmagador na alma dele esfarelando-se, ele desenhou uma linha na areia. Nunca mais olharia para trás.

Lisette era seu passado, Adria seu futuro.

 

RILEY terminou a conversa ao telefone celular com Kenji em relação ao encontro com BlackSea e olhou para onde sua companheira estava na janela da cozinha de Nate e Tammy, os olhos treinados em alguma coisa lá fora. Eles tinham conduzido para cá porque ele precisava devolver algumas ferramentas que pegara emprestado com Nathan, e desde que ela tinha terminado seu turno, Mercy tinha aparecido para conversar com Tamsyn - e aproveitado a oportunidade para se vestir como uma garota.

Tendo escolhido um vestido de tiras modelado com girassóis amarelo-brilhantes, ela puxara o cabelo vermelho para trás em um rabo de cavalo alto e enfiara os pés em simples chinelos brancos decorados com uma única margarida nos dedos dos pés. Ela parecia brilhante, bonita e feminina - e ele sabia muito bem que ela tinha vestido aqueles sapatos porque ela poderia chutá-los fora em um segundo para chutar traseiros, fosse isso necessário para a proteção da matilha.

Sorrindo amplamente, ele aproximou-se para deslizar seu braço ao redor da cintura dela e acariciar um beijo na inclinação cremosa de seu pescoço. — O que é tão interessante? — ele murmurou num sussurro apenas audível, consciente de Nate e Tamsyn provocando um ao outro na mesa do outro lado da bancada da cozinha.

— Faith está tendo um ataque nervoso.

O lobo imediatamente em estado de alerta, ele seguiu a linha de visão dela para ver o espetáculo da tranquila, graciosa Faith NightStar dobrada no quintal da curandeira DarkRiver, rindo demais para responder ao que fosse que seu companheiro perplexo estava dizendo. Ela e Vaughn tinham chegado 15 minutos mais cedo para deixar uma caixa de suprimentos médicos que tinham trazido para Tamsyn, acabaram permanecendo para um café.

Agora, a F-Psy finalmente parara de rir tempo suficiente para dizer algo para Vaughn. O sorriso do jaguar poderia ser melhor descrito como um enorme sorriso presunçoso.

As garras de Mercy assobiaram para fora.

Riley apertou-lhe a cintura. — Você quer saber? — O lobo dele andou em excitação, ambos, homem e lobo gostavam de saber as coisas com antecedência, mas Riley era consciente de que Mercy preferia surpresas. Ele iria com a escolha dela sobre isso, já que era altamente improvável que ele fosse capaz de manter a boca fechada, se Faith tivesse previsto o que ele pensava que ela tinha.

Porque bem antes da chamada de Kenji distraí-lo Riley pegara Faith encarando Mercy, os olhos cardeais enormes. Um segundo depois, a F-Psy tinha desenvolvido uma tosse súbita, forte o suficiente para ela ter tido que sair. Claramente, Mercy já tinha conectado os mesmos pontos que ele.

— Eu amo surpresas, — ela sussurrou, retraindo suas garras e colocando a mão sobre a curva ainda plana de seu abdômen, — mas eu acho que desta vez, para a nossa sanidade mental, é melhor descobrir o que ela viu no nosso futuro.

Riley esfregou a parte inferior das costas dela. — Provavelmente uma diabinha ruiva.

— Ou talvez um teimoso filhote de lobo que gosta de ter as coisas do seu jeito.

Sorrindo um para o outro, eles se voltaram para Nate e Tamsyn. — Estaremos de volta em um segundo, — Mercy disse, puxando-o para a porta.

Levou apenas alguns segundos para alcançarem Faith e Vaughn. — Cuspa isso, — Mercy ordenou no instante em que estavam perto o suficiente.

A F-Psy enxugou as lágrimas dos olhos, seu sorriso a mais doce inocência. — O quê?

— Não me faça tirá-lo de você, Faith NightStar. Basta dizer-nos, o nosso filho vai nos deixar tão loucos?—

Por alguma razão, a questão derrubou Faith de novo. Ela riu tão forte que acabou sentada no chão, Vaughn agachado ao lado dela. Esfregando suas costas, o jaguar tentou olhar solenemente. E falhou miseravelmente, seu rosto enrugado em um sorriso raro. — Você sabe, — ele disse, — o futuro é mutável, sujeito a mudanças.

— Eu estou supondo pela resposta de Faith que o aspecto particular disto é praticamente imutável. — Cruzando os braços, Mercy tentou respirar através das bolhas de incipiente prazer em sua corrente sanguínea. — Nosso bebê vai mudar para um lobo, não é? — Adorável, ela pensou, o filhote deles seria absolutamente adorável, o rosto bonito dele uma cópia em miniatura do de Riley.

— Hmm. — Faith franziu os lábios.

— Em um leopardo? — A alegria de Riley era transparente. — Com o padrão de manchas de Mercy?

Um surto de riso antes de Faith dizer, — Hmm, — novamente.

— Faith. — Foi um rosnado compartilhado.

Compartilhando um olhar cauteloso com seu companheiro, a F-Psy disse, — Eu acho que Tammy lida com seus filhos muito bem, não é? — em um tom meditativo de voz.

As pernas de Mercy desmoronaram debaixo dela. — Nã-ão,— ela disse, consciente de Riley descendo ao lado dela. — Eu não terei gêmeos.

— Não, eu tenho certeza de que você não terá.— A resposta imediata de Faith foi estranhamente decepcionante quando a ideia de gêmeos havia sido um choque. — Você sabe como a previsão funciona, as coisas nunca são claramente cristalinas e nascimentos múltiplos são raros. — Levantando-se, ela estendeu uma mão para Vaughn. — Vamos beber aquele café.

A cabeça de Mercy estava tão bagunçada, que levou até o outro casal ter deixado o pátio para que o cérebro dela processasse o que Faith tinha realmente dito. — Nascimentos múltiplos. — Seus, sem dúvida, embriagados olhos bateram nos de Riley. — Múltiplos.

— Mas ela tem certeza de que não estamos tendo gêmeos.— Riley parecia alternadamente em êxtase e atordoado. — Changelings têm uma taxa de parto menor que as de Psy ou seres humanos, mas dentro disso, nós também temos uma maior taxa de nascimentos múltiplos do que as outras raças.

Mercy olhou para ele. — Como você pode estar tão calmo?

— Porque eu não posso esperar para beijar os bebês que você me der, gatinha. — Tomando-a nos braços, ele beliscou-a carinhosamente na mandíbula. — Um ou três ou cinco, eu espero que todos eles tenham o espírito da mãe deles.

— Minha mãe sempre disse que a minha punição por dar-lhe inúmeros cabelos brancos antes que ela tivesse trinta, seria meus próprios pequenos terrores. — Roubando um beijo daqueles lábios firmes, ela disse, — Esperançosamente, seus genes irão equilibrar os meus e vamos ter bebês de cabelos castanho-avermelhados lindos e bem-comportados que escutam a mãe deles.

Riley olhou para ela... E então eles estavam rindo e se beijando e segurando um ao outro, felizes e assustados e nervosos tudo de uma vez.

 

DE: Lara <lara@snowdancer.org>

PARA: Sascha <sascha@darkriver.net>; Ashaya <ashaya@darkriver.net>; Tammy <tamsyn@darkriver.net>; Amara <amara@sierratech.com>

DATA: 22 de setembro de 2081 às 13h21min

ASSUNTO: Paciente A

 

Eu queria dar a vocês uma atualização sobre os resultados da visita de Sascha. A atividade mental da paciente A tem aumentado a uma taxa aguda, e eu tenho que dizer que ela está significativamente mais ‘alerta’. No entanto, não há sinais de sua ascensão à consciência.

 

DE: Amara <amara@sierratech.com>

PARA: Ashaya <ashaya@darkriver.net>

CC: Lara <lara@snowdancer.org>; Sascha <sascha@darkriver.net>; Tammy <tamsyn@darkriver.net>

DATA: 22 de setembro de 2081 às 13h38min

ASSUNTO: Re: Paciente A

 

Pode ser um ótimo momento para injetar nela o novo soro.

 

DE: Ashaya <ashaya@darkriver.net>

PARA: Lara <lara@snowdancer.org>

CC: Amara <amara@sierratech.com>; Sascha <sascha@darkriver.net>; Tammy <tamsyn@darkriver.net>

DATA: 22 de setembro de 2081 às 15h45min

ASSUNTO: Re: Re: Paciente A

 

Eu concordo com Amara. No entanto, vamos precisar de outros sete a dez dias para completar a calibração final do soro - alguns dos testes tomam tempo para mostrar resultados. Chame-me se você ver qualquer sinal de que a paciente está regredindo. Eu preferiria não injetar o soro ainda, mas se for uma escolha entre assumir o risco e a vida dela, então eu farei.

 

COMUNICAÇÃO TELEPÁTICA ENTRE AMARA ALEINE E ASHAYA APÓS OS EMAILS ANTERIORES

Por que você me faz usar este método arcaico de comunicação? Eu não sou um primata capaz apenas de bater para fora mensagens primitivas em um teclado.

Porque você precisa aprender a se comunicar com os outros.

Por quê?

Amara, você disse que ia tentar.

Muito bem. Você concluiu a sua análise da seção 2B3 do chip neural da Aliança?

Sim. Parece estável e seguro. Suas conclusões?

Concordo. Vamos passar para a seção 2B4.

Concordo. Amara... como você está?

Estável e segura.

Amara.

Há um homem nos laboratórios que fala comigo. Eu não sei porque, ele não tem nada de relevante a dizer.

Talvez ele goste de você.

Então ele está sendo irracional. Eu não posso gostar dele de volta.

Fale com ele, de qualquer maneira. Você pode achar uma interessante interação.

Improvável, mas vou considerar como mais um passo na minha ‘reabilitação’.

Você se sente diferente?

Eu já não tenho pensamentos psicopatas com tanta frequência. Acredito que isso poderia ser denominado progresso.

Você não é uma psicopata.

Ou talvez você simplesmente não queira que eu seja.

 

HAWKE GOLPEOU RILEY nas costas. — Inferno, sim. — Seu lobo estava tão orgulhoso com as notícias do outro homem quanto ele estaria se fosse o pai.

Riley ergueu a cerveja em um brinde. — Às ruivas.

Hawke tocou sua garrafa na de Riley, ambos sentados nos degraus da cabana privada de Hawke e Sienna. Embora o lugar fosse pretendido a ser fora dos limites para o resto da matilha, eles tinham percebido que desfrutavam em convidar os amigos, às vezes.

— Espere, — Hawke disse, antes de tomar um gole. — Qual ruiva nós estamos celebrando? Minha ruiva, Mercy, Faith, ou sua futura prole?

— Todos elas. — Riley abriu os braços expansivamente. — E eu vou agradecer você por chamar minha prole de gatinhos ou lobinhos, ou gatinhos-lobinhos.

— Gatinhos-lobinhos. — Hawke ponderou. — Eu gosto disso.

De sua cadeira na varanda, Mercy balançou a cabeça para Sienna. — Os meninos estão bêbados.

Sienna estava fascinada. — Eu nunca tinha visto Hawke bêbado. Ou Riley.

— Isso, — Mercy disse, seu tom o de uma professora sábia, — é embriaguez comemorativa. Testemunhado, por vezes, quando os homens se regozijam em suas próprias proezas.

Riley olhou por cima do ombro para sorrir amplamente – arreganhar os dentes, na realidade – para Mercy. — Eu te dei múltiplos gatinhos-lobinhos. Eu tenho talento.

Olhos dançando, Mercy caminhou para se sentar atrás dele em um degrau mais alto, para que ele pudesse encostar-se no peito dela. — Sim, você deu, e sim, você tem.

Sienna percebeu que ela estava sorrindo, e quando Hawke lançou a ela um sorriso lupino, ela não pôde deixar de obedecer à ordem silenciosa para se sentar com ele, como Mercy estava fazendo com Riley. Mais tarde, a sentinela DarkRiver puxou-a de lado por um segundo. — Esses dois são cabeças-duras, — disse a outra mulher, as palavras carinhosas, — mas depois de tanta celebração, até mesmo a sua alteza Alpha terá uma ressaca. Seja gentil.

Sienna certamente não teve que ser gentil naquela noite, Hawke estava em uma disposição, e oh o corpo dela gostava. Com energia para queimar e, então, mais um pouco, ele esgotou-a em uma incoerência mole antes de colocá-la possessivamente contra ele, acariciando-lhe com o rosto o pescoço e então adormecendo.

Ele não se moveu por oito horas.

Banhada e vestida depois que ela conseguiu esquivar-se do abraço dele, prometendo-lhe todos os tipos de coisas luxuriosas que ela não estava certa que ele ouvira, ela sentou-se na cama com uma caneca de café e escovou os cabelos dele para trás. Um olho abriu uma mera fenda. Fechou. Um gemido soou. — Feche as cortinas.

— Elas não estão abertas. — Dado o efeito imprevisível de álcool nas habilidades Psy, ela nunca tinha estado bêbada, mas ela tinha visto seus amigos nessa condição, e manteve a voz em um sussurro. — Eu trouxe café.

— Grr. — Ele se recusava a se mover.

Risos borbulhavam no peito dela. — É a minha mistura especial. — Respirando fundo, ela tomou um gole. — E você tem uma teleconferência em quarenta e cinco minutos. — Ele poderia fazê-la dali, mas precisava estar consciente para isto.

— Diga a Riley para lidar com isso. — Falado de dentro do travesseiro dele.

— Riley estava mais bêbado do que você e, provavelmente, ainda está em coma. — Colocando o café na mesa de cabeceira, ela se aconchegou de volta na cama ao lado dele.

Olhos permanecendo fechados, ele jogou um braço em volta da cintura dela e puxou-a contra ele. — Eu posso ouvi-la pensando. Mal-humorado.

— E se quando nós decidimos ter filhos, eu só conceber um?

Outra fenda de azul-lobo. — Eu não tenho ideia de sobre o quê você está falando.

— Eu só... É melhor ter gêmeos ou trigêmeos? — Ele e Riley tinham estado tão encantados com as notícias. — Nós poderíamos pedir aos médicos para garantir isso. — No entanto, os leopardos tinham estado tão radiantes com o nascimento de Naya e ela era um único bebê.

Hawke fechou o olho. — Eu te amo, mas eu tenho uma ressaca e você está falando besteira.

Ela fez uma careta. — Eu só estou tentando entender.

Dando um profundo e queixoso gemido, ele abriu ambos os olhos. — Quantos não faz diferença, Riley e eu, teríamos nos embriagado, mais cedo ou mais tarde. Ele é o primeiro de nós a ter uma criança. Entendeu?

Oh. — Como se fosse Evie ou Maria ou outra pessoa no meu grupo. — Ela entendera. — É um marco.

— E é fodidamente hilário que Riley, sem o qual a Toca poderia desmoronar, está meio apavorado com o fato de que está prestes a se tornar pai.

— Apenas um melhor amigo acharia os medos dele hilários.

— Deus, você é adorável, mesmo quando está falando alto o suficiente para acordar os mortos.

— Eu estou sussurrando, — ela apontou com outra carranca e, esfregando a mão contra os pelos na bochecha dele, levantou-se. — Beba este café ou eu vou abrir as cortinas. — Enérgico e ocupado como ele era, ela nunca tivera que lidar com ele tão ranzinza de manhã, era divertido descobrir esta faceta inesperada da personalidade dele.

— Não me dê ordens. Eu sou o alfa.

— Eu não me importo.

— Venha aqui.

— Parece como se fosse a minha primeira vez confrontando um lobo? — Inclinando-se, ela puxou o lençol de cima dele, expondo o nu comprimento de seu corpo, a pele dourada mesmo na penumbra.

Oh... meu.

Realmente, ele não tinha o direito de ser tão deslumbrante.

Embora fosse doloroso virar as costas para o homem delicioso em sua cama, ela foi para as cortinas. — Você agora tem 35 minutos e essas cortinas serão... Abertas.

Nenhum som.

Ela virou-se para descobrir que ele tinha um travesseiro sobre a cabeça.

Rindo, ela saltou sobre a cama e beijou o caminho para baixo na coluna dele. — Tudo bem, — ela disse, totalmente em harmonia com o mundo, — Vamos ficar na cama o dia todo.

— Mulher provocativa. — Ele se livrou do travesseiro. — Com quem eu estou teleconferenciando?

— Selenka Durev em Moscou. — As duas matilhas tinham uma informal disposição para compartilhar informações, e esta era uma espécie de ‘base inicial’ de um bate-papo. — Você sabe quão irascível ela é, pode tomar como um insulto se você se atrasar. — Um beijo na nuca dele. — Eu vou ligar o chuveiro. — Conforme saía da cama e fazia o que tinha dito, ela percebeu que estava sorrindo. Não importava o humor dele, não havia nenhum homem que ela preferiria acordar para encontrar a seu lado.

Quando ele entrou no chuveiro e lhe pediu para lembrá-lo dos pontos que ele estava pressuposto a mencionar durante a teleconferência, ela sentiu o vínculo entre eles crescer mais profundo, mais matizado. Ele não tinha perguntado a ela porque era um soldado novato. Ele perguntara porque ela era sua companheira, e ele precisava do lembrete. Assim como permitira que ela o visse de ressaca. Uma coisa simples, uma pequena vulnerabilidade, mas que significava tudo vindo de um lobo alfa.

 

FOI UMA SEMANA TERRIVELMENTE feliz depois daquele interlúdio na piscina que Adria encontrou-se de igual para igual com Riaz. — Não me dê um ultimato. — Martin tinha jogado muitos daqueles nela durante os anos deles juntos, até que a mera sugestão de um fazia explodir em fúria a corrente sanguínea dela.

— Não é um ultimato, — Riaz disse, seu tom uma ameaça sedosa. — É um aviso. Eu tenho deixado a questão dos quartos compartilhados se arrastar um inferno de tempo mais do que eu deveria. Você é minha. Você mora comigo. Fim da história.

A loba dela eriçou-se. — Não é uma inevitabilidade. — E não era como se eles alguma vez dormissem separados.

— Foda-se. Se eu quisesse viver sozinho, eu não estaria em um relacionamento. — Torcendo a trança dela em sua mão, ele a segurou no lugar. — Portanto, o seu tempo de pensar acabou de acabar.

Ela cravou as garras no peito dele, e o viu estremecer. — Deixe-me ir ou eu vou rasgar essa camiseta também.

Respeito no rosto dele. — Eu vou deixá-la ir... Depois disto. — O beijo foi quente e irritado e recusou deixá-la tomar qualquer distância.

Ela ainda estava rosnando em fúria quando correu para Indigo não muito depois. — Não pergunte, — ela retrucou no instante em que a outra mulher iria abrir a boca. — Não quando eu vi você fazendo rostinhos de beijo com Drew cinco segundo atrás.

Indigo levantou as mãos em sinal de rendição. — Hey, nós brigamos. Drew apenas torna muito difícil ficar brava com ele. Você sabe o que ele fez hoje? — Ela respondeu a pergunta antes que Adria pudesse responder. — Ele alinhou o painel do meu veículo com miniaturas de ursos de pelúcia com rostos tristes. Quero dizer, vamos lá! Não é justo.

Adria riu apesar de si mesma - porque Indigo estava segurando um daqueles pequenos ursos adoráveis ​​conforme ela gesticulava. — É tão difícil para você, pobrezinha.

Indigo fingiu jogar o brinquedo macio nela. — Vê? Eu nunca ganho qualquer simpatia. — Enfiando o urso no bolso do jeans, de onde aquilo as assistia pesarosamente, ela disse, — Então?

Adria balançou a cabeça. — Eu estou indo para uma corrida.

— Eu vou com você.

— Vá embora, — ela murmurou. — Eu quero ficar sozinha.

— Supere isso. Você está em uma matilha.

Elas correram em silêncio por mais de meia hora, terminando em um alto prado de montanha cheia de flores silvestres e enormes rochas quebradas jogadas ao redor como se fosse pelas mãos de um gigante. Tomando assento em uma daquelas rochas após matar sua sede em uma frágil cachoeira escondida nas proximidades, ela disse, — Desculpe por ser arrogante.

Indigo, sentada no chão com as costas na rocha quente do sol, estendeu a mão para acariciá-la na canela. — Você é permitida. O que Riaz fez?

— Ele está exigindo que eu vá morar com ele.

— Dificilmente surpreendente, — Indigo disse, esticando as pernas. — Ele é um lobo. Matilha é tudo, e a mulher dele é onde isso começa.

Aquelas palavras de novo - mulher dele. — Eu tomei a decisão de estar com ele, — Adria sussurrou, — mas eu nunca pensei que iria me apaixonar tanto, tão profundo, até que o nome dele estivesse escrito em partes de mim que Martin nunca tocou. — Era a primeira vez que ela conscientemente aceitava aquele fato... E o medo que vinha com o conhecimento. Martin a machucara, mas Riaz, ele poderia destruí-la. — Ele faz essas coisas e tira meu fôlego, faz o meu peito doer.

— Que tipo de coisas?

— Ontem, ele desapareceu com as minhas botas e trouxe-as de volta com um solado novo porque tinha notado que estavam danificados. — Quando ela agradeceu, ele correu os dedos por sua bochecha e disse que era seu emprego cuidar dela. — Eu encontrei um xale no meu quarto outro dia, suave como o ar, e na cor exata dos meus olhos. — Linhas ouro entrelaçadas em um requintado azul.

— E ele está sempre me alimentando, — ela disse, perplexa com a ternura inesperada. — Cupcakes e pizza caseira e meu spaghetti favorito. — Então, a coisa mais maravilhosa de todas - as esculturas de madeira que ela continuava encontrando em seus bolsos. Sua favorita era um pequeno dragão, a expressão feroz, as garras para fora.

— Protecionismo é parte da matilha, — Indigo disse. — Você sabe disso. Eu sou mais dominante do que Drew, mas ele ainda encontra maneiras para cuidar de mim. — Ela pegou o urso triste, sorriu, e beijou-o no rosto antes de colocá-lo de volta com segurança em seu bolso.

— Eu sei. Eu só não esperava que Riaz fosse ser assim comigo. — Ela não tinha que explicar o por quê, não queria falar sobre a mulher desconhecida que era a companheira de Riaz.

Virando-se, Indigo olhou para ela. — Eu entendo porque você está hesitante. Eu acho que a questão é, você acha que seria mais feliz sem ele?

— Eu não posso suportar a ideia de ficar sem ele. — A dor era profunda até os ossos... E aquela era sua resposta.

Descendo para sentar-se ao lado de Indigo, ela disse, — Não adianta tentar manter uma distância física entre nós, não é? Quando eu já pertenço a ele aqui. — Ela esfregou a mão fechada sobre o coração sabendo que, independentemente do quanto a aterrorizava depositar seu amor em um homem cujo próprio nunca pertenceria a ela, manter isto sufocado seria uma injustiça tanto para si mesma quanto para o lobo solitário que a tinha feito sentir-se tão estimada. — Eu tenho que ter a coragem de amá-lo sem condições.

 

VASQUEZ EXAMINOU o mais recente relatório catalogando os atos de tentativa de sabotagem na terra SnowDancer. Os incidentes tinham diminuído acentuadamente nas últimas duas semanas, e nenhum deles tinha causado aos lobos algum problema, mas o planejamento e a realização estavam mantendo a maioria da força remanescente dos PurePsy ocupada.

Bom, ele pensou, enviando uma mensagem telepática ao líder para continuar. Enquanto eles estivessem ocupados na tarefa inútil, ele poderia montar o ataque fora do padrão sem ter que preocupar-se com qualquer um ficando muito curioso. Nenhum vazamento poderia ser permitido. Não agora.

Não quando a hora tinha finalmente chegado.

— Há um problema, — ele disse a Henry quando eles se encontraram naquela noite. — Apesar de eu ter uma unidade pronta para seguir em frente com os alvos secundários, ainda tenho apenas um operário em quem eu confio com a tarefa primária. — Fazendo ataques consecutivos impossíveis, embora - e sem contar o fora do padrão - ele tinha cinco conjuntos completos de localizações confirmadas. — No entanto, eu não recomendo esperar. A Net está tornando-se mais infectada com aqueles cujo condicionamento está fraturado.

— Você tem permissão para se mover tão logo você veja uma janela aberta, — Henry respondeu, a voz quebrada pela falta de ar. — Nós teremos êxito, Vasquez.

— Sim, senhor. Nós teremos. — Nada nem ninguém tinha o poder de detê-los. Não desta vez.

 

DOIS DIAS DEPOIS de Adria ir morar com ele, Riaz era um lobo feliz. Ele adorava tê-la em seu espaço, adorava que o cheiro dela estivesse por toda parte - e que o dele estivesse sobre todo e cada perfeito centímetro dela. E ele estava definitivamente convencido sobre o fato de que, embora o pedido deles por quartos na seção de casais ainda não tivesse sido atendido, ela não fizera qualquer barulho sobre sua sala de estar ser pequena demais para ambos.

Tirando o sorriso do rosto, uma vez que totalmente destruía sua reputação de fodão, ele fez uma chamada para Bowen, precisando falar sobre alguns detalhes finais sobre o acordo de aliança permanente de SnowDancer com a Aliança. O chefe de segurança pediu-lhe para organizar um espaço livre para o acordo, para voar para San Francisco para uma discussão pessoal dentro dos próximos dias. — Eu acho que tenho a candidata perfeita, mas quero discutir com a Lily. Ela assumiu Recursos Humanos, conhece nossas pessoas de dentro para fora.

— Espere um pouco. — Mudando de linha, Riaz fez uma chamada rápida para o seu contato-parceiro em DarkRiver – Nathan - e conseguiu o espaço livre, muito da cidade era território leopardo. De volta à linha com Bo, disse ele, — Você tem permissão, — em seguida, estabeleceu as condições - basicamente lidando com quanta liberdade de movimento seria permitida à aliança. — Você vem junto?

— Eu vou tentar. Depende da situação da segurança.

— Qualquer outra agressão de Tatiana?

— Nada óbvio. Vigilância encoberta é provável. — Um sinal sonoro no fundo. — Esse é meu telefone celular. É melhor eu atender, ligo para você no final da semana para confirmar os detalhes do voo.

Desligando, Riaz balançou para o escritório de Indigo para discutir um assunto pessoal. A outra tenente lhe deu um olhar considerado, através de sua mesa depois que eles tinham terminado. — Adria me contou sobre as pétalas de rosa.

Ele sabia quando um lobo estava pescando. — Ela contou?

— Droga. Ela mencionou pétalas de rosa e, em seguida, ela corou. Adria nunca cora.

Esparramado na cadeira de visitante, ele apenas sorriu. — Então, você e Drew estão indo assumir o setor de Alexei em um mês.

— Só a manutenção, — Indigo esclareceu. — Você sabe o quão bom ele é. Precisa de um pouco mais de tempero, é tudo. Eu estou levando a maior parte dos meus novatos e soldados mais jovens, — ela acrescentou. — Bom para eles aprenderem a trabalhar com dominantes de outros setores. Os que eu estou deixando aqui são aqueles com aptidão para armas - Alexei vai fazer sessões com eles, enquanto está aqui.

Sabendo que da força de Alexei nessa área, Riaz sabia que os novatos tinham tido sorte. — Ele teve mais problemas com desafios?

— Não, mas houve um desenvolvimento interessante na última noite, os lobos na matilha que continuavam desafiando-o? — Ao aceno de Riaz, ela continuou. — Acontece que eles estão em um mau momento. Seu alfa faleceu dois meses atrás de velhice, e enquanto os tenentes foram capazes de manter isso calmo e a matilha em conjunto, todos eles são relativamente jovens e fracos.

Numa situação em que uma matilha não tinha nenhum sucessor para o seu alfa, Riaz pensou, um tenente forte que tivesse o apoio de seus companheiros dominantes poderia garantir a saúde contínua da matilha. Mas precisava ser alguém do calibre de Riley - um homem que cada lobo na matilha poderia respeitar e cuja força era inquestionável.

Sem isso, a agressão natural dos dominantes transbordaria, desintegrando a matilha de dentro para fora. — Esse é o porquê de todos os desafios? — ele disse, vendo o plano da matilha mais fraca - um inteligente, se eles somente tivessem alguém que pudesse lidar com Alexei. — Eles queriam um de seu povo em uma posição de poder nos SnowDancer?

Indigo assentiu. — Eles estão desesperados para se fundir conosco, mas é um pedido difícil para eles, trazer seu povo sob alguém que eles não conhecem e confiam. Especialmente tendo em conta a nossa reputação.

Uma reputação que, Riaz sabia, tinha sido cuidadosamente cultivada nos anos após Hawke assumir como alfa. Ninguém mais, aquele jovem garoto havia declarado, veria alguma vez os SnowDancer como uma presa fácil. Cada um e todo dominante na Toca havia apoiado aquela reputação com dentes, garras e sangue, até mesmo as matilhas mais agressivas evitavam o território SnowDancer. — O show de Alexei ganhou a atenção deles, — ele adivinhou.

— Sim, e desde que praticamente todos os dominantes da matilha estavam lá quando ele devolveu o homem deles, eles tiveram a chance de julgá-lo por si mesmos. Eles fizeram um pedido formal para ter permissão de se mover sob a bandeira dos SnowDancer, trazendo seus territórios com eles.

— Esta matilha sabe o que isso significa? — SnowDancer esperava fidelidade total e absoluta, tendo executado um deles mesmos não muito tempo atrás, quando ele provou ser um traidor assassino.

— Eles entenderão, e se não, a nossa troca de região pode ter que esperar um pouco enquanto nossos novos companheiros de matilha se estabelecem sob Alexei. — Indigo olhou para o relógio. — Está na hora de você ir embora para o encontro. Certifique-se de que o polvo não te pegue.

— Engraçado, — ele murmurou, mas parte dele estava intrigada com a ideia de polvos changeling. Ou deveria dizer octópode? BlackSea era tão reservado que era impossível separar conjectura selvagem de fatos.

Hawke e Riley encontraram-no na garagem. Os três deles - e Kenji - tinham debatido vestirem-se em ternos, mas tinham resolvido ficar com seus habituais jeans e camisetas. Isto era quem eles eram, e se BlackSea não gostasse, não havia muita esperança para uma aliança funcional.

— Quem vai dirigir? — Riaz perguntou, alcançando o veículo.

Todos eles olharam um para o outro... Então estenderam os punhos para um jogo de pedra, papel e tesoura. Riley ganhou, com Riaz perdendo e acabando no banco de trás. De bom humor, ele não ficou nervoso, sua mente cheia de pensamentos sobre a mulher que o havia trazido de volta à vida, marcado sua reinvindicação no coração dele. Sua difícil, espinhosa, generosa Adria, que não era tão difícil ou espinhosa, afinal.

Na última noite, ele a tivera gargalhando depois de encontrar um lugar delicado e tomar impiedosa vantagem. Ele tinha se sentido tão jovem quanto um filhote conforme eles se torciam e enrolavam-se nos lençóis, as risadas dela em erupção entre advertências severas e ameaças de tirar o fôlego. O lobo sorrindo com a memória, ele conversou com a parte de trás da cabeça de Riley. — Como Mercy está indo?

O guarda mais velho acariciava o volante através de uma curva, deslizando o veículo graciosamente para a estrada além do território da Toca. — Ela não rosnou para mim ainda. — Descrença pura em cada sílaba. — Eu apareço do nada enquanto ela está trabalhando, e ela sorri, me dá um beijo, e me deixa ficar por perto o tanto que eu quiser.

Hawke se virou para olhar Riley, suspeita em larga escala em seu perfil. — Estamos falando de Mercy, a sentinela? Aquela que chutaria o seu traseiro se você se atrevesse a tratá-la como criança?

— Talvez seja a gravidez? — Riley soava esperançoso.

Riaz estremeceu. — A gravidez geralmente faz fêmeas dominantes mais más, e não mais agradáveis. — Tendia a ter que se tomar muito cuidado acariciando-as para acalmá-las uma vez que elas tivessem se irritado. — Você tem certeza que ela está feliz em te ver?

Riley deu a ele uma olhar no espelho retrovisor.

— Certo, — Riaz murmurou. — Vínculo de acasalamento. — A cicatriz em seu interior esticou, a ferida latejando, mas não sangrou. Porque a coisa era, ele sabia quando sua imperatriz estava feliz, também, seu lobo em sintonia com o dela.

Hawke esfregou o queixo. — Eu diria para aproveitar enquanto dura, — foi seu conselho pensativo. — Mais cedo ou mais tarde, ela vai se transformar em um demônio.

O grunhido de Riley encheu o veículo. — Não insulte minha companheira ou eu terei que parar este SUV e te bater até te matar.

O cabelo de Hawke pegou a luz vinda através do teto solar conforme sacudiu a cabeça, os fios brilhando em ouro branco. — Eu posso aguentá-lo.

— Até parece.

— Após a reunião, você e eu. Riaz vai arbitrar.

Bem ciente de que os dois homens eram os melhores amigos e frequentemente levavam um ao outro à combate, Riaz interligou os dedos atrás da cabeça e olhou para o céu azul claro visível através do teto solar. — Golfinhos changelings - o que vocês acham?

Riley foi o que respondeu. — A isso, eu poderia dar crédito. Um número de seres humanos e changelings são moradores da água - mesmo Psy em alguns casos – reportam serem salvos de afogamentos por golfinhos. Os sobreviventes sempre mencionam o quão inteligente as criaturas pareciam.

— Isso, — Hawke disse, — Assume que humanos, changelings e Psy são as únicas espécies inteligentes do planeta. Muito arrogante da nossa parte.

— Águas-vivas, — Riaz disse, depois de considerar os outros habitantes do mar. — Sério, não pode haver changelings águas-vivas.

Hawke se virou para olhar por cima do ombro. — Que diabos você tem andado fumando?

Riaz deu de ombros, seu humor inatingido. — Era verde e frondosa. — Ele fez uma nota para discutir o tema dos possíveis changelings marítimos com Adria, intrigada como ela era por quebra-cabeças, acharia tão fascinante quanto ele. — Aqui está Kenji. — Seu vôo atrasado, o tenente pedira a eles para passar pelo aeroporto e buscá-lo.

Saltando no carro sem bagagem, Kenji e seu cabelo magenta tomaram um assento ao lado de Riaz. — Uma adolescente gritou e pediu meu autógrafo, pensou que eu era parte de alguma boy band do Japão.

— Eu te avisei, — disse Hawke. — Você deu um autógrafo à sua fã?

Kenji sorriu. — Teria sido uma vergonha decepcioná-la.

O resto da viagem foi retomada com uma rápida discussão sobre a próxima reunião, que Hawke conduziria, o resto deles oferecendo backup e segurança, conforme necessário.

Riaz bateu no ombro de Riley quando atingiram o Embarcadouro, apontando para a esquerda. — Aquele prédio. — Baixo e largo, era a fachada do cais, o brilho da Baía visível no pequeno espaço entre o armazém e a cerca.

Estacionando, eles saíram para encontrar Nathan esperando por eles. O sentinela sênior DarkRiver levou-os através do espaço vazio que Riaz já tinha verificado com ele no início da semana. Nate verificou todas as saídas e entradas uma vez mais, assim como qualquer coisa que pudesse ser um possível ponto cego em uma luta. Por causa de sua forma, o armazém não possuía realmente qualquer canto sombrio, parte da razão pela qual Riaz o tinha escolhido.

— Nós desativamos o equipamento de vigilância como você pediu, — Nate disse a Riaz, — mas um dos técnicos está à disposição se você quiser qualquer coisa funcional.

Hawke balançou a cabeça, atravessando o espaço cavernoso para deslizar e abrir a grande porta que dava para o cais. — Não, nós vamos perder a confiança deles se descobrirem que estão sendo monitorados.

— Nesse caso, o lugar é todo seu. Chame-me quando você tiver terminado e eu vou mandar alguém para trancá-lo. Boa sorte. — O sentinela DarkRiver partiu com essas palavras.

Riaz e Kenji seguiram Riley e Hawke para o cais. Gaivotas crocitavam acima, o cheiro de água salgada e peixe, picante nas narinas de Riaz, o vento serpenteando através de seu cabelo. Tomando uma respiração profunda, ele avaliou a área mais uma vez. Embora permitindo fácil acesso para e da baía, uma vez no cais, seus convidados estariam bloqueados da vista dos outros armazéns pelas cercas altas em ambos os lados.

Dada a preferência de BlackSea a ficar sob o radar, ele e Nate tinham até montado um ancoradouro temporário, assegurando que o grupo de Miane pudesse ir direto do seu barco para o cais. Nate havia sugerido que Blacksea poderia simplesmente nadar, mas Riaz não pensava que eles estariam nada menos do que em ternos profissionais e polidos.

Ele provou estar certo.

— Aí vêm eles. — O corte fino artesanal através da água com a graça de um dançarino, o motor quase silencioso. Não surpreendente, o braço de construção naval de Blacksea era considerado inigualável, seus artesãos e artesãs, artistas.

O navio entrou no ancoradouro temporário e encaixado. E então Miane Levèque estava caminhando no cais com dois homens desconhecidos e Emani. Vestida em um terno e saia limpos de um profundo verde, Miane era uma mulher de estatura média com translúcidos olhos castanhos incliandos uma fração nos cantos e cabelo alisado de ébano, o negro suave demais para ser chamado de azeviche.

Aquele cabelo estava cortado em uma franja acima dos olhos dela, jogados em relevo. Sua pele era uma sombra que mostrava ascendência do norte da África ou do Oriente Médio, ou possivelmente parte da América do Sul. Riaz não teve que adivinhar - ele fizera sua pesquisa, sabia que ela tinha nascido no porto de Cairo, de mãe argelina e pai egípcio.

— Hawke. — Ela estendeu a mão, que trazia cicatrizes de mais do que alguns golpes e cortes, embora as unhas fossem cuidadas e polidas numa sombra acetinada que Riaz pensou que pudesse ser chamada de ostra.

Hawke sacudiu-a, segurando o olhar fresco, quase frio dela. Riley apresentou-se um segundo mais tarde, dando a Miane uma razão para desviar o olhar. Era uma dança quase ritualística quando dois alfas reuniam-se pela primeira vez. Deixados à própria sorte, eles se encarariam até que um dos dois ou recuasse ou extraísse sangue primeiro.

Riaz permaneceu em segundo plano com Kenji, sua atenção nos homens que tinham vindo com a alfa Blacksea, ambos claramente ali para a proteção dela, independentemente de qualquer condição que detinham no Conclave. Aquilo não era um insulto - ele e os outros tenentes estavam ali para a proteção de Hawke. Nenhum deles baixaria a guarda em qualquer momento, no caso de que isto fosse uma gigante armadilha e BlackSea estivesse visando o assassinato do mais poderoso alfa do país.

— Por favor, — Miane disse, dando um pequeno passo para trás, os pés envoltos em saltos pretos de couro que faziam sons de recorte na madeira do cais, — juntem-se a mim no meu navio. A cabine é mais que adequada para esta reunião.

Uma graciosa oferta destinada a colocá-los fora de seu jogo, seus lobos tendo uma forte antipatia ao movimento do mar. Eles poderiam suportar, mas desgastaria os ânimos, reduziria a concentração.

— Obrigado, mas eu vou recusar. — Hawke mostrou os dentes em um sorriso que era um aviso silencioso. — Se você preferir não entrar no armazém, podemos falar aqui.

Miane considerou aquilo, um de seus homens sussurrando em seu ouvido em um nível subvocal. — Malachai diz que vai ser mais fácil nos espionar ao ar livre, usando equipamento de áudio para pegar nossas vozes. O lugar mais seguro seria o mar.

Hawke apenas esperou. Ele fizera suas intenções claras, e agora estava de pé para Miane aceitar ou ir embora. Depois de uma pausa tensa e outra discussão silenciosa com o homem de olhar duro chamado Malachai, a líder do Conclave BlackSea inclinou a cabeça, e Riaz sabia que ela tinha decidido confiar neles neste ponto pelo menos. — Vamos continuar lá dentro.

Riaz deixou as portas abertas atrás deles. Interceptando um olhar de Emani, ele disse, — Nós podemos usar desreguladores de áudio para ter certeza de que a conversa permaneça privada, — e retirou os pequenos dispositivos redondos de uma caixinha plana do bolso de trás de seus jeans.

Emani verificou os desreguladores com um scanner de mão e assentiu. Juntos, eles partiram e ativaram quatro deles, um em cada canto do armazém. Ninguém falou até que eles voltaram para ficar atrás de seus respectivos alfas.

— Nós, — Miane disse, — temos estado satisfeitos com a boa vontade SnowDancer em trabalhar conosco para um acordo.

Hawke a olhava sem piscar. — Vamos direto ao assunto - as únicas questões restantes são se podemos trabalhar juntos em terra, e a verdadeira razão pela qual você está de repente tão interessada em uma aliança.

Um ligeiro alargamento dos seus olhos era a única indicação da surpresa de Miane. — Brusco.

— Nós trabalhamos com você no contrato porque fazia sentido com suas pessoas sendo tão espalhadas, — Hawke disse, — mas isso não é quem nós somos, e não é assim que nós funcionamos. Melhor você saber disso agora do que ser surpreendida mais tarde.

Uma dica fraca de calor na fria inteligência dos olhos de Miane. — Você sabia que os tubarões changeling são tão raros, — ela disse, — que são considerados um mito mesmo por alguns dos changelings em BlackSea?

O sorriso de resposta de Hawke foi uma navalha afiada. — Eu estou supondo que você não acredita na mesma coisa.

— Quanto a isso, eu vou manter o meu próprio conselho, mas vou dizer que entendo de predadores.

— Nesse caso, vamos conversar.

 

TENDO SIDO ATRIBUÍDA a uma mudança para a enfermaria no último minuto, Adria levantou uma sobrancelha questionando Elias quando ele se juntou a ela. — Na última vez que eu verifiquei, — ela disse, — nós não tínhamos quaisquer criminosos perigosos aqui.

— Eles estão esperando acordar Alice Eldridge. — Elias manteve a voz baixa. — Hawke quer segurança extra até que Lara possa obter uma leitura nela enquanto ela está consciente - não há nenhuma maneira de saber o que ela foi programada para fazer antes de ser colocado para dormir.

Descolando-se um pouco, Adria olhou para o quarto da paciente. Embora o acesso a Alice fosse rigorosamente controlado, Adria tinha visto a mulher em consequência da batalha, quando ela ajudara a mover a cama de Alice para o lado para dar lugar aos SnowDancers feridos. Alice estava como estivera então, pálida e imóvel. Em torno dela estavam três mulheres, cada uma com uma carranca de concentração no rosto, suas vozes se sobrepondo à medida que elas falavam sobre os ajustes de última hora.

Lara, Adria conhecia e respeitava. Ashaya Aleine, também, era familiar depois daquele jantar na casa de Mercy e Riley, seus cachos puxados severamente fora de seu rosto em um coque elegante, os olhos azul-acinzentados surpreendentes contra o marrom rico de sua pele. A terceira mulher, com suas curvas suaves, um tom de pele mel, e olhos cardeais, não era ninguém com quem Adria já houvesse falado, mas reconheceu-a, no entanto.

Sascha Duncan, companheira do alfa DarkRiver, uma E-Psy.

A loba de Adria não estava muito confortável estando ao redor de uma mulher que podia sentir suas emoções - especialmente quando essas emoções eram tão dolorosamente profundas e complexas. Viver com Riaz, não era nada como viver com Martin. O homem era dominante, agressivo e arrogante o suficiente para querer tudo do seu próprio jeito, mas era também perverso o suficiente para estar encantado com ela quando rosnava para ele.

O pensamento fez os lábios dela contraírem-se por um segundo fugaz, antes de emoções mais escuras virem à tona. Apesar da compreensão que ela tivera no prado cheio de flores silvestres nas montanhas, um núcleo desesperado de autopreservação continuava alertando-a para manter um pedaço dela própria separado, à parte. Não para machucá-lo... mas porque ela não era a companheira de Riaz, nunca seria, a relação deles desequilibrada no nível mais fundamental.

 

PERIFERICAMENTE ciente de Eli e Adria na porta, Lara olhou para Ashaya. — Sim?

A cientista acenou com a cabeça. — Nós fizemos o máximo possível sem a aplicação da injeção.

Consciente de que a M-Psy estava profundamente preocupada com os danos que elas poderiam causar, Lara disse, — Se não fizermos nada, ela vai morrer. O corpo dela está falhando.

A cabeça de Ashaya disparado para o painel na extremidade da cama. — Eu disse a você para nos avisar se ela tivesse uma decaída. Nós poderíamos ter nos movido mais rápido.

— Eu falei com Amara, — Lara disse, pensando na mulher que era fisicamente idêntica a Ashaya, mas muito estranha em sua forma de pensar. — Ela me disse que se aplicássemos em Alice uma injeção com o soro não calibrado, o risco de fracasso subia para setenta por cento. Eu tomei a decisão de esperar.

Ashaya agarrou a parte superior do painel, os ossos dela empurrando o branco contra a pele. — Minha gêmea tem uma maneira de estar certa enquanto esconde coisas, Lara. Você sabe disso. Você deveria ter verificado comigo.

— Eu não queria distraí-la numa fase tão crítica. — A própria Ashaya tinha dito a Lara que a calibração final tomaria um trabalho preciso - de tal forma que a cientista tinha passado dois dias longe de seu companheiro e filho, no laboratório que os DarkRiver tinham construído para ela.

— Nenhum dano feito - o soro não estava pronto. — Ashaya se moveu como para passar uma mão por seus cachos, percebeu que eles estavam presos, e deixou cair a mão de volta na cama. — Para referência futura, porém, minha gêmea é muito, muito inteligente, mas ela não tem bússola moral.

Sascha fez um pequeno som na parte de trás de sua garganta. — Eu não gostei de Amara quando a conheci, — disse ela, claramente ainda perturbada pelo que ela tinha descrito à Lara como uma resposta esmagadoramente hostil. — Mesmo agora, ela envia um calafrio através de meus ossos por causa do vazio nela, mas aquele vazio não é total como foi uma vez. Eu não acho que ela, alguma vez, será capaz de estar na faixa normal de emoções, mas pode estar mostrando uma espécie de atrofiada consciência das emoções dos outros.

O rosto de Ashaya segurou uma esperança dolorosa. — Você não tem certeza, entretanto?

— Não, eu sinto muito. — Sascha tocou a outra mulher no braço. — Eu tenho uma reação tão forte a ela que acho difícil obter uma leitura clara, e como você disse, a inteligência dela é inquestionável. Ela é totalmente capaz de manipular suas respostas.

Inteligente o suficiente, pensou Lara, para fingir empatia.

— Mas, — Sascha acrescentou, — tem havido uma mudança nela, tanto quanto eu posso verificar. Pode ser simplesmente o efeito de estar em uma limpa rede psíquica - não há nenhuma DarkMind na Rede de Estrelas, nenhum miasma oculto que está penetrando no cérebro dela.

— Eu ficarei com isso. — Engolindo em seco, Ashaya voltou sua atenção para a leitura eletrônica no painel em frente a ela. — A menos que alguma de vocês discorde, eu acho que é hora de falarmos com Alice.

Lara e Sascha acenaram para ela ir em frente.

Agulha injetora na mão, a cientista olhou para onde os dedos de Sascha agora entrelaçavam com os de Alice. — Você está sentindo alguma coisa?

— Frustração de novo, — Sascha disse, três linhas verticais profundas entre as sobrancelhas. — Mas há algo mais. — Cílios abaixando, ela apertou a ponte do nariz entre o polegar e o dedo indicador de sua mão livre. — Determinação. — Seus olhos estalaram abertos. — Eu apostaria a minha vida que ela está dando seu melhor para acordar.

— Isso é suficiente para mim. — Sem mais hesitação, Ashaya pressionou a agulha injetora no pescoço de Alice, empurrando o soro na corrente sanguínea dela. — O efeito deverá ser evidente dentro de dois ou três minutos, se funcionar como deveria.

Ninguém disse uma palavra, o silêncio tão puro que Lara podia ouvir as respirações abafadas de todos na área próxima, incluindo Eli e Adria. Se a sala ostentasse um velho relógio fashion de tique-taque, ela pensou, cada tique teria soado como uma bomba.

Um minuto.

Verificando os dados que chegavam através da touca com componentes eletrônicos na cabeça de Alice, Lara balançou a cabeça para os outros.

Dois minutos.

Foi Ashaya que verificou desta vez, os dedos voando sobre o painel. — Nenhuma mudança.

Três minutos.

Quatro.

Cinco.

Decepção uma rocha pesada em seu peito, Lara apertou o braço de Ashaya em silenciosa simpatia, e elas caminharam para ficar ao lado de Sascha. No entanto, a cardeal empata não lhes prestou atenção, seus olhos ficando como a meia-noite, o que denotava ou forte emoção - ou um uso poderoso de suas habilidades.

Trocando um tenso, esperançoso olhar com Ashaya, Lara manteve-se em silêncio.

— Ashaya, — Sascha disse quase meio minuto depois, a voz distante, como se sua atenção estivesse em outro lugar, — você tem mais do soro?

— Sim, mas uma segunda aplicação poderia matá-la. — Ashaya brincava com as configurações do injetor, parou por um segundo. — Amara estava confiante de que poderíamos seguramente dar a ela outra oitava de uma dose.

Recordando os avisos anteriores da outra mulher, Lara virou-se para ela. — Você confia nela nisso?

— Isto é um desafio. — A resposta de Ashaya segurava uma clareza que dizia que ela via as falhas e os defeitos de sua gêmea tão bem quanto seus dons. — Amara não gosta de falhar, e a morte de Alice constituiria fracasso.

— Eu posso senti-la lutando, — disse Sascha, seus dedos agora conectados tão fortemente com os de Alice que o mel quente de sua pele estava sem sangue. — Ela sabe que está presa - há pânico, medo. Deus, é como se ela estivesse se sufocando do terror de ser enterrada dentro de seu próprio corpo.

Claramente abalada pelo relatório, Ashaya colocou o injetor no pescoço de Alice. — Você tem certeza, Sascha?

— Sim. Rapidamente.

Uma pressão do polegar de Ashaya e uma oitava parte do soro explodiu através da barreira permeável da pele de Alice.

Alarmes soaram um segundo mais tarde, o corpo de Alice arqueando tão severamente fora da cama que ela quase se dobrou ao meio antes cair de volta sobre os lençóis em um espasmo irregular. Examinado os alarmes, Lara pegou a máscara de oxigênio e colocou-a sobre a boca e o nariz de Alice. — Ashaya, estatísticas!

— Rápido aumento de sua atividade mental. Batimento cardíaco irregular, oxigênio insuficiente sendo absorvido.

Batendo na mão de Sascha sobre a máscara de oxigênio para mantê-la no lugar, Lara alcançou outro injetor e apertou-o na parte superior do braço de Alice. — Agora?

— Batimento cardíaco estabilizando. — Ashaya bateu a tela. — Níveis de oxigênio atingindo o ideal. A atividade cerebral continua a ser irregular.

— Alice, — a voz suave de Sascha tornou-se de alguma forma implacável, totalmente decidida. — Alice, você está segura. Concentre-se.

Foi quando Lara olhou para baixo e percebeu que os olhos de Alice Eldridge, de um marrom tão rico que pupila e íris eram quase impossíveis de diferenciar, estavam amplamente abertos.

 

TENDO retornado do encontro com BlackSea para ser atualizado com as notícias sobre Alice Eldridge, Riaz passou vários minutos conversando com Ashaya e Hawke. Não foi simplesmente sobre a mulher humana que eles falaram.

— Eu estive focada em Alice, — Ashaya disse, — mas do que eu tenho estudado até o momento, o chip da Aliança não levantou qualquer bandeira vermelha. No entanto, isso não é dizer muito - eu vou começar um trabalho intensivo nele assim que Alice estiver estável.

Esperando até que a cientista tivesse retornado para a enfermaria, Hawke disse, — Quando é que Bo terá a resposta para você sobre a conexão dele?

— Próximos dias. — Riaz cruzou os braços. — O que você acha sobre a situação de BlackSea? — O secreto grupo changeling tinha finalmente compartilhado porque precisava de SnowDancer como aliado.

A expressão de Hawke era severa. — Eles são um grupo valioso para ter como amigos. Vamos ajudá-los tanto quanto pudermos – Miane sabe que eu não vou fazer nada que deixaria SnowDancer vulnerável.​​

Riaz tinha tido os mesmos pensamentos. — Você quer que eu marque outra reunião para finalizar a aliança?

Hawke levou um segundo para pensar sobre isso, sacudiu a cabeça. — Eu vou falar diretamente com Miane, certifique-se de que não há mal-entendidos. Você pode tirar um pouco da carga de Riley? Eu acho que ele merece um descanso... E algum tempo livre para perseguir Mercy.

Os lábios de Riaz se contraíram. — Sem problemas. — Como um resultado do arranjo das coisas com Riley, assim como ficar até mais tarde para atender várias chamadas de homens e mulheres na rede internacional SnowDancer, Riaz não teve a chance de falar com Adria até depois do anoitecer. Incapaz de encontrá-la na Toca, ele se transformou e começou a conferir os lugares favoritos dela nas florestas, um por um.

Encontrou-a no terceiro lugar, a lua cheia um holofote sobre a grande clareira pontilhada com árvores novas que tinham nascido depois de uma tempestade derrubar muitas das árvores velhas um par de anos atrás. Recortadas contra o azul da meia-noite do céu noturno, seus perfis delgados adicionavam uma beleza assombrosa à cena.

E lá estava sua Imperatriz andando pelas árvores, a cabeça abaixada em pensamentos.

Ele observou por um longo momento, imóvel, sua fome satisfeita agora que ele a tinha encontrado. Ela era magnífica. Forte, ágil e encantadora. E dele. Mesmo que ela não estivesse muito segura de que ela queria ser, Adria pensava que ele não sabia sobre a apreensão que a assombrava, mas é claro que ele sabia. Ele notava tudo sobre ela.

Ele tinha sido paciente, mas era hora de ela aceitar que ele não a deixaria ir, nunca.

 

ADRIA pegou o cheiro de madeira cítrica queimada de Riaz na brisa, mas levou alguns segundos para localizá-lo – no final, foram os olhos dourados que o entregaram. Se os fechasse, ele seria uma sombra preta no escuro. Quando ele roçou-se contra as pernas dela, ela correu os dedos através da pele dele. — O que você está fazendo aqui?

Ele não mudou para a forma humana, apenas pressionou mais fortemente contra ela em demanda silenciosa. Compreendendo, ela continuou a acariciá-lo, seu lobo mais do que grande o suficiente para chegar até a metade da coxa dela. Quando ele olhou para cima, pegou o olhar dela com o fulgor da noite brilhando no dele próprio, ela sentiu seu coração gaguejar, lançando-se em um ritmo mais rápido.

Aquele olhar, era o do caçador.

E ela sabia que esta dança silenciosa entre eles seria decidida naquela noite, de um jeito ou de outro. Ou ela derrubava cada uma de suas defesas e aceitava a reivindicação dele na alma, ou ela se afastava. Exceto que ela não achava que esta última era uma opção.

Nervos e raiva colidiram.

Ele estava pressionando-a, mas é claro que ele faria. Aquele era quem ele era. Como ela era uma dominante que conhecia sua própria força. Quebrando o contato, ela transformou-se, sem se preocupar em tirar a roupa. Suas roupas desintegraram-se para fora dela quando a agonia e o êxtase da mudança assumiram o controle, faíscas de luz brilhando no mistério exuberante que era a noite.

Um segundo depois, ela se levantou sobre quatro pés, a cabeça inclinada em direção ao lobo negro que era muito maior e mais forte, mas que ela sabia que nunca iria lhe causar danos físicos. Aquele conhecimento era suficiente para a loba, mas a mulher precisava de mais, precisava da devoção que ela sabia que ele ofereceria apenas para uma mulher na vida dele.

Ele acariciou-a, mas ela dançou fora, correndo através das esguias sombras das árvores e através da música silenciosa de um córrego prateado pela lua. Ele era rápido, muito rápido, mas ela era inteligente, e ela entrelaçava e torcia em torno das árvores novas e velhas, sobre rochas pontiagudas e através de flores sonolentas para atravessar outro córrego, salpicando rio abaixo para esconder o cheiro dela antes de subir na outra margem.

O lobo negro estava longe de ser visto.

Ela não era tola, sabia que ele estava perseguindo-a. Ajeitando-se em silêncio ao longo da margem, ela manteve os olhos do outro lado do rio... E apanhou um vislumbre de ouro selvagem. Ele lançou-se através da água, mas ela já estava correndo para colocar distância entre eles, espremendo-se através de aberturas que ele não caberia, patinando sob árvores caídas que não acomodariam o tamanho dele.

A próxima vez que ela parou, seu coração batia um ritmo acelerado, a alegria da loba misturando-se com a da mulher. O ar era um tesouro de aromas, a noite cheia de música. Era intoxicante. Sabendo que ela precisava pensar com a cabeça mais clara, ela mudou de volta para a forma humana, os cabelos caindo em torno dela conforme agachou-se no chão da floresta, com a cabeça inclinada para o vento.

Escuridão da floresta, beijada com madeira queimada e uma pitada de cítrico selvagem.

Tudo ao redor dela. Em sua pele. Contra a sua língua.

Os lábios dele acariciaram seu pescoço, a mão suave em seu quadril, mas ela sabia que estava presa. Virando-se, ela o observou com os olhos de lobo. O cabelo dele caiu sobre o rosto, seu olhar luminoso. Desta vez, aqueles olhos disseram, ele não a deixaria correr. Mas ela não era um lobo porque desistia. Ela torceu-se para a esquerda sem aviso.

Ele estava lá quase antes de ela se mover, levando o corpo dela para a terra. Ela estremeceu com o beijo frio da relva carregada de orvalho, mas ele não a soltou. — Eu tenho você. — A voz dele era rouca, escura com a determinação do predador dentro dele. — E eu estou mantendo-a.

Ela levantou uma mão para a bochecha dele, a ternura dentro dela um rio sem fim. Como ela poderia ter até mesmo pensado em manter qualquer parte de seu coração a salvo dele? Era uma impossibilidade. Ela fora capturada, bem e verdadeiramente. Lágrimas queimaram nos olhos dela, escorreram para os lados de seu rosto e dentro de seu cabelo.

— Shh. — Ele beijou a tristeza salgada, rolando em suas costas e levando-a com ele, uma mão embalando a parte de trás da cabeça dela, a outro acariciando a curva da coluna. — Não chore, querida.

A gentileza dele enroscou outra mecha em torno do coração dela, até que ela estava tão enredada nele que sabia que nunca se libertaria. Pela primeira vez em sua vida, sua loba tinha escolhido. E tinha escolhido este lobo solitário. — Você me tem, — ela sussurrou. Tudo de mim.

 

KALEB ESTAVA NO escritório dele em casa quando Silver ligou. — A. V. é Vasquez, — ela disse, — minha família está tão certa disso quanto podemos estar sem ter o DNA dele. Ele também parece estar comandando as coisas no que afeta aos PurePsy. De qualquer forma, os soldados acreditam que ele fala por Henry.

Kaleb também acreditava. A NetMind e a Darkmind tinham tido uma reação muito calma diante da ‘morte’ de Henry. Kaleb tinha tentado usar as gêmeas neosencientes para localizar o ex-Conselheiro, mas elas tinham estado atuando cada vez mais instáveis ultimamente, e ele tinha sido incapaz de concentrá-los no alvo. Aquilo evidenciava um profundo problema na Net, a profundidade que talvez só ele entendesse – o fanatismo de Henry e a deterioração contínua do Sujeito 8-91 eram simplesmente sintomas de um mal-estar mais perigoso.

Finalizando a conversa com sua assessora, ele se levantou de sua mesa, brincando com uma pequena estrela de platina por entre os dedos. O metal estava quente de seu toque, mas sua mente trabalhou com gelada precisão conforme ele decidia o que era para ser feito com Henry. Aden.

A resposta do telepata foi cristalina. Conselheiro.

Kaleb está bom. O Conselho não existe mais exceto nas mentes da população.

Kaleb.

Henry vai continuar a ser um problema se viver. Você tem qualquer problema com eliminá-lo? Kaleb precisava saber quanto da lealdade dos Arrows era dele.

Não. As políticas dele não são boas para a Net.

Kaleb esfregou o polegar sobre a superfície brilhante da estrela. Então, considere isso como uma missão autorizada.

Anotado.

Conexão telepática cortada, Kaleb considerou aqueles que permaneceriam depois da morte de Henry. Com Shoshanna, ele não perdeu tempo. A ‘esposa’ de Henry tinha falhas que fariam mais fácil manipulá-la. Nikita deixaria Kaleb em paz enquanto ele não tentasse violar o território dela - ou prejudicar sua filha e neta. A outra conselheira escondia bem, mas Kaleb poderia deslizar através da Net sem causar uma única onda. Ele viu tudo. O condicionamento de Nikita podia ser perfeito, mas ela não estava no Silêncio.

Não da maneira que ele estava.

O instinto protetor de Nikita era seu calcanhar de Aquiles, mas Kaleb não tinha nenhuma razão para explorar isso. Não, desde que ela não tentasse entrar em seu caminho. Se ela tentasse...

Seu olhar caiu sobre a estrela. Ele parou seus movimentos. E soube que ele tinha sua própria fraqueza, uma que Nikita nunca adivinharia, e então ele ainda tinha a vantagem nas suas relações com ela.

Quanto a Anthony, Kaleb não achava que haveria quaisquer problemas - ele não tinha vontade de invadir terras NightStar ou capturar o grupo F-Psy de Anthony. Nenhum vidente poderia detê-lo uma vez que ele se decidisse sobre um curso de ação.

Isso deixava Ming e Tatiana. Ambos teriam de morrer quando fosse a hora. Não havia nenhuma outra opção viável. Kaleb não arriscaria com eles agindo pelas costas dele.

A estrela cintilou na luz da lâmpada sobre a mesa dele.

Preso, ele olhou para o pequeno amuleto, imaginando o que a proprietária acharia de seus pensamentos de assassinato. Logo, ele descobriria a resposta. Porque ele acabara de violar outra camada de segurança, desenterrando a parte mais antiga do rastro. Estava frágil e fragmentada, mas estava lá.

Logo.

 

Riaz chamou Adria para pedir-lhe pra vir ao encontro de Bo e sua ligação três dias depois e descobriu que ela já estava em San Francisco com Indigo, Tarah, Evie, e uma outra mulher que tinha um cheiro familiar, mas não parecia em nada como deveria — a partir de sua altura, a cor de seu cabelo e dos olhos, até mesmo a forma de seu rosto, este último aparentemente alterado utilizando almofadas de gel de alta tecnologia que Judd havia conseguido não se sabe de onde.

Quando ele se afastou depois de pegar Adria, as outras quatro mulheres acenaram para ele do café em que estavam comendo grandes fatias de bolo acompanhadas de merengue. — Como diabos tinha Sienna convencido Hawke a deixá-la sair do território do bando?

Adria deu-lhe um olhar arqueado. — Eu não faço ideia. Não me pergunte. — Pegando um pedaço da torta de maçã que ela havia embalado para viagem, ela o alimentou. — No entanto, ela poderia, eventualmente, ter apontado que ela é uma fêmea adulta com o direito de tomar suas próprias decisões.

Ele reprimiu um sorriso com seu tom. — Sim, ela poderia ter feito isso, mas Hawke esta recém-acasalado e há uma alta probabilidade de que ela esteja na mira de Ming. Hawke pode ser inteligente, mas não é racional, não quando se trata de Sienna.

Comendo um pedaço, Adria fez um som hmmm na garganta. — Você sabe que você esta certo.

— No entanto, até que você me pegou, ela estava com uma tenente, uma soldado sênior, e uma mulher que pensa nela como mais uma filha. Ninguém ia pegá-la.

Riaz teve que ceder nesse ponto. Esqueci sobre Tarah ser uma submissa, lobos maternos iriam lutar até a morte para proteger seus filhotes.

— Maaaas, — Adria disse, — cinco minutos antes de eu sair, eu recebi um telefonema de Simran e Ines. Estavam na área. Fazendo compras. Ouviram dizer que estávamos nas proximidades e disseram que viriam se juntar ao grupo. — Um olhar estreito, mas seu tom de voz estava admirado. — O homem é desonesto.

Riaz riu, — Claro que ele é. Força bruta apenas não o faz alfa do bando.

— Você acha que Sienna desconfiou?

— Pelo pequeno sorriso que ela tinha em seu rosto quando Simran ligou, sim. Ela não estava brava, acho que ela descobriu exatamente quão duro isto deve estar sendo para Hawke.

O Lobo de Riaz rosnou em desacordo. — Se ela sabia, deveria ter ficado em segurança em nosso território.

— E se ela fosse o tipo de mulher que faz isso, — Adria respondeu, — ela não seria forte o suficiente para ser companheira de um alfa. — Ela comeu outro pedaço de torta. — Existe uma diferença entre tomar certas precauções e colocar o rabo entre as pernas.

Levou um esforço consciente para pensar além de seus instintos de proteção, para entender que quando um homem escolhe uma mulher forte por conta própria, ele assume o compromisso de cuidar e respeitar essa força. Adria nunca permitiria que ele a mimasse, como Sienna não lutou com a necessidade de Hawke de lhe dar segurança, Adria permitiu Riaz abraçá-la, confiava nele para cuidar dela em uma centena de pequenas maneiras que acalmavam seu lobo.

Já não havia qualquer indício de distância entre eles, naquela noite, sob a lua, se esqueceram de ter um vínculo que era jovem, cru, e assustadoramente poderoso. Ele não podia imaginar acordar sem ela, gostava de dormir com as pernas enredadas nas dela, sua voz rouca a última coisa que ele ouvia. Ele sabia que, quando o desejo de percorrer trechos isolados acordasse novamente dentro de seu lobo, ele ia convencê-la a ir junto. Solidão não seria divertida sem ela.

Pegando a mão dela, ele apertou um beijo em seus dedos. — Obrigado por ser minha.

Um olhar assustado, seguido de um sorriso que iluminou seus olhos. — Idem.

Ele ainda estava sorrindo quando eles entraram no átrio cheio de luz do hotel art deco onde deviam se reunir com Bo e sua ligação. Foi quando Riaz levou um pontapé emocional no peito que tirou todo o ar de dentro dele.

 

O lobo de Adria veio à superfície no instante em que sentiu a súbita tensão que se apoderou do corpo de Riaz. Em alerta para um risco de segurança, ela seguiu seu olhar para onde Bowen estava com uma mulher de cerca de cinqüenta e dois anos, talvez três, com os cabelos brilhando ouro, que ela matinha preso em um enrolado engenhoso, o corpo vestido um conjunto sob medida água-marinha que destacava olhos cinza suave.

Nenhuma arma. Nenhuma ameaça. Apenas uma linda mulher... da Europa.

A sensação de mal estar horrível no estômago, Adria olhou da estranha para Riaz, viu o choque que tornou seus olhos selvagens, e ela soube. Ela soube. Porém a mulher e Bo os tinham visto, estavam andando, e de alguma forma, ela conseguiu se controlar durante as apresentações. No entanto, mesmo durante todo o toque em seu crânio, a náusea sufocando sua garganta, ela notou que Riaz nunca tocara a mulher — Lisette, o nome dela era Lisette — nem sequer olhara para ela corretamente.

— Lisette costumava ser a gerente de negócios em outra empresa, — Bo disse para Adria, — Mas ela tomou uma posição permanente com a gente. — Sua especialidade em comunicações, a escolha perfeita para uma ligação.

Riaz cruzou os braços. — Emil está com você?

Adria pegou o que ela achava ser sofrimento na expressão de Lissete antes da outra mulher sorrir e responder em Inglês com sotaque francês. — Não, ele tinha alguns negócios em Berlim. Olhando para Adria, disse ela, — Riaz e meu marido trabalharam juntos em um projeto enquanto Riaz esteve na Europa.

Deus, Adria pensou, como deve ter matado Riaz. Sua dor por ele era interminável, a sua própria angústia uma escuridão cavernosa dentro dela. Conhecer e aceitar que o homem que ela amava tinha uma companheira, e ficar cara-a-cara com a companheira eram duas coisas diferentes. Isso arrancou as lentes cor de rosa que ela tinha colocado desde a noite sob a lua, foi um tapa na cara, a realidade de que seu status era nada além do que ser uma substituta para a mulher que Riaz realmente queria.

Ela não sabia como passou pela reunião, mas nem ela nem Riaz disseram uma palavra sobre isso até que estavam em território SnowDancer. — Então... É ela. — A afirmação que era na verdade, uma pergunta, porque ela precisava tê-lo confirmando, precisava ouvir isso da sua boca. No entanto, uma pequena parte dela era uma criança, querendo ouvi-lo dizer: — Não, — e dizer que ela estava imaginando coisas, mesmo quando a verdade era um sinal de néon em sua frente.

Riaz trouxe o carro a um impasse. — Isso não muda nada entre nós. — Sua resposta foi dura, ele colocou a mão contra sua bochecha áspera com o calor. — Você é a única em meu coração.

Não, eu sou o prêmio de consolação. Ambos sabiam que ele estava com ela apenas porque ele não poderia estar com Lisette. Orgulho engasgado em sua garganta, mas ela não enfiou a mão para o lado, não disse a ele para obter o inferno longe dela, ela virou para ele com os olhos bem abertos. Para puni-lo por algo sobre o qual ele não tinha controle, em pé neste momento, quando ela sabia que tinha que sofrer a dor mais cruel... Não, ela não podia fazer isso com seu lobo negro. Amor, ela percebeu, naquele terrível momento da verdade, pode ser incrivelmente altruísta, mesmo quando dói até sangrar.

Soltando o cinto de segurança dela, então o dele, ela se arrastou até se esparramar em seu colo, envolvendo os braços ao seu redor. — Eu estou aqui.

Ela o quebrou, Riaz pensou, seus braços apertando ao redor do músculo liso de seu corpo, seu coração trovejando. Incapaz de falar, ele enterrou o rosto em seu pescoço, atraindo a delicadeza estranha do seu cheiro, tão complexo e único. Isso ancorou seu lobo chocado e recém-ferido, acalmou o homem.

Ele esperava fúria, tinha pensado que ele poderia encontrar-se fora no frio, quando ele precisava dela mais do que nunca. A única coisa que ele não esperava era essa generosidade de espírito, e ele deveria ter, porque ela tinha mostrado a ele uma e outra vez que ela não era apenas um soldado de pele forte, mas uma mulher de empatia e de coração, uma mulher que qualquer homem ficaria orgulhoso de chamar de sua.

Pressionando um beijo na batida do pulso em seu pescoço, ele sentiu sua mão em seu cabelo. Seu lobo se deliciava com a ternura. — Foi o choque mais do que qualquer coisa, — ele disse, sua pele tão macia sob seus lábios. — Eu vou ficar bem agora.

Adria esfregou seu rosto contra o dele antes que recuasse. — Sem pretensão, Riaz, — ela disse, segurando seu olhar com a sinceridade inabalável de si própria. — Você me diz se isso não estiver funcionando para você.

Ele fechou suas mãos em seu cabelo, o choque destruído pela fúria possessiva. — Isso está muito bem.— Talvez ele tivesse ido para este relacionamento pela necessidade do conforto do toque de um companheiro de matilha, mas agora? Agora ele apostou em sua reivindicação. — Você é minha. — O lobo rosnou de acordo. — Eu nunca vou deixar você ir.

 

VASIC estava em uma parte remota de Nunavut, Canadá, envolto pela noite, conversando com Aden sobre o seu progresso no rastreamento de Henry, quando um tremor o abalou. Inicialmente, ele pensou que a região de Cape Dorset tinha experimentado um tremor de terra.

Então Aden balançou a cabeça. — Alguma coisa aconteceu na Net.

Uma fração de segundo mais tarde, depois de ter aberto o olho psíquico, Vasic entrou no turbilhão da PsyNet enquanto Aden fazia o mesmo. A Net era o maior arquivo de dados em todo o mundo, milhões, trilhões de pedaços de dados enviados para lá todos os dias. Mas ao invés de rios relativamente suaves de informações que Vasic estava acostumado a ver, esta seção da Net estava torcida, amassada sobre si mesma.

Escudos de proteção! Ele enviou telepaticamente para Aden.

Ao redor deles, as estrelas negras da Net estavam literalmente em colapso, levando as centenas de mentes ancoradas nesta seção com eles. Ele expandiu seus escudos para proteger o maior número de mentes que pôde, mas enquanto ele era um poderoso Tk-V, Aden era o telepata mais forte, capaz de proteger um número muito maior.

Forçando seu corpo físico, ele se concentrou em manter os escudos sobre aqueles que ele conseguiu agarrar a partir das bordas da zona do desastre, não pensando sobre aqueles que tinham sido capturados pelo colapso. Separados da Net, eles teriam tido uma morte rápida e violentamente dolorosa.

Aden, ele enviou telepaticamente quando viu a borda começar a se expandir numa ondulação. Suas habilidades telepáticas, não eram suficientes para conter a cascata contínua de destruição e proteger ao mesmo tempo.

Eu chamei os outros.

Mas alguém chegou antes do restante do elenco, e seu poder era tão grande que os cegou. Ele, sozinho, construiu um suporte em torno do colapso, selando a brecha, até que Vasic pode liberar as mentes que ele estava protegendo.

Krychek não é só um cardeal Tk.

Um duplo cardeal, Aden respondeu. Impossível.

Só que tanto poder telepático não era nada menos do que de nível cardeal.

— Está segurando, — Krychek disse no plano psíquico, a conversa protegida de vazar para a PsyNet por escudos negros impenetráveis. — Você pode entrar na seção recolhida para verificar a extensão dos danos? Eu preciso manter essa sutura até que Net vede a si mesma.

Aden verificou com Vasic, temos uma avaliação de risco idêntico ao que ele tinha feito. — Sim.

— Vou deixar esta pequena janela aberta para você. — Kaleb indicou as coordenadas. — Vá.

Mergulhando em meio aos destroços torcidos, Vasic em suas costas, Aden manteve pesada blindagem enquanto navegava por caminhos quebrados que ameaçavam cortar e empurrar dentro de sua mente, a escuridão da Net de alguma forma irregular e desprovida de vida. — Pare. — Ele fez Vasic verificar a sua ligação biofeedback, enquanto fazia o mesmo.

Só quando ele estava convencido de que a sua ligação à Net estava segura, independentemente do fato de que eles estavam agora em uma seção ‘morta’, eles continuaram. Não demorou muito tempo para encontrar o local e o motivo da falha na rede sem precedentes. A Net tinha implodido em uma ponta afiada do local, como se o tecido psíquico tivesse sido sugado por um vórtice.

— O âncora desta região, — ele disse a Vasic, — está morto.

— Sua morte por si só não teria causado isso. Existem múltiplas coisas falhas. — Vasic passou perto do vórtice congelado, o tecido mutilado da Net tendo criado um plug natural ... Tarde demais para salvar os homens, mulheres e crianças apanhados dentro. Precisamos encontrar o corpo.

Retornando pela janela que Krychek tinha deixado, ele os informou da falta de sobreviventes, observou-o a começar a finalizar o selo. — O âncora está morto, — Aden disse. — Vamos trabalhar para localizar o corpo.

Saindo do plano psíquico, ele esperou Vasic abrir seus olhos. O Tk-V trouxe acima seu organizador computadorizado em seus braços, assim que fez isso. — Eu estou acessando os arquivos de ancoragem desta região.

Aden esperava, ciente de que Vasic estava procurando uma imagem que pudesse se concentrar em um teletransporte.

— Aqui. — Um instante depois, o Tk-V teletransportou diretamente na frente de uma casa de dois andares na orla de Cape Dorset. A falta de vizinhos era incomum para um Psy, mas não para um âncora. Muitos membros da Designação A desejavam isolamento.

Isso era assim, porque um âncora já havia explicado para Aden, eles estavam constantemente rodeados por outras pessoas na rede. Ao contrário de um Psy comum, um âncora não poderia desligar essa consciência, era um componente inerente de sua capacidade de manter a Net no local. Seu relativo isolamento no plano físico era um mecanismo de defesa psicológico.

Luz derramava da casa de campo, e quando Aden fez o seu caminho para uma das janelas, usando as sombras do lado de fora a seu favor, ele não viu nenhum indício de perigo. Eu vou tocar a campainha.

Espere até que eu esteja dentro.

Vasic ouviu os tons claros do eco do sino até a casa um segundo depois que ele teletransportou para a sala visível da janela. Quando não houve nenhum outro som ou movimento, ele deixou Aden entrar trabalhando praticamente em silêncio, eles verificaram no primeiro andar e não encontraram nada, antes de ir para o segundo.

Lá. Aden acenou para uma gota do que parecia ser sangue no tapete que cobria os degraus.

Parando, Vasic olhou com mais atenção e viu outras duas gotas. Quem fez isso, passou por este caminho.

O corpo estava no quarto do canto que o âncora havia usado como seu escritório. A partir dos dentes e os espirros do sangue, ele tinha sido arremessado violentamente contra a parede pelo menos duas vezes. — Este é o trabalho de um Tk, — Vasic disse em voz alta, depois de analisar o espaço por dispositivos de escuta, o scanner, capaz de ser adaptado para muitas tarefas, construído em sua manopla.

Aden não disse nada até que ele se aproximou e verificou a garganta do âncora por uma pulsação. — Morte confirmada. Sua pele, no entanto, está quente. Encaixa-se com o cronograma.

Vasic correu os olhos sobre os dentes que a cabeça do âncora tinha feito na parede. Havia sangue, sim, mas o assassino tinha o suficiente sobre ele para escorrer, o que significava que ele estava perto de sua vítima. — Fratura catastrófica no Silêncio?

— Você tem certeza de que era um Tk?

— Padrão de lesões da vítima adicionado ao dano de alto impacto na parede faz com que seja altamente provável. — Ele olhou para a bagunça de sangue respingado na mesa onde pareceu que o âncora havia trabalhado antes do ataque. — Ou a violência descontrolada foi montada, ou alguém está usando um Tk instável para os seus próprios fins.

Um brilho no canto do olho. Girando, ele encontrou Kaleb Krychek no quarto com eles. Embora o fato não fosse conhecido, o ex-Conselheiro era um dos raros Tks que poderiam ir para pessoas, bem como locais, e ele, obviamente, fora para ambos, Vasic ou Aden.

Vestido com um terno impecável, seu rosto não tinha nenhuma marca de tensão como resultado do poder que ele gastou na rede. — A informação que fui capaz de reunir a partir da NetMind, — disse ele, observando a carnificina, — indica que fail-cofres foram todos assassinados segundos antes da morte do âncora, por assassinos que invadiram suas casas, armados com armas laser. Aconteceu tão rápido, a NetMind não poderia estabilizar a fratura.

Aden se levantou de sua posição agachada ao lado do corpo. — Isso exigiria um esforço coordenado. Os nomes dos fail-cofres não são transmitidos, e sua segurança não está nem perto da de um âncora, razão pela qual os assassinos não capazes de teletransporte tinham sido capazes de romper suas casas, cada um é passivamente monitorado.

É por isso que, Vasic pensou, toda a rede tinha sido eliminada na mesma hora. Quaisquer planos de alerta e contingência teriam entrado em jogo. O Psy tinha backups sobre backups quando ele veio para o âncora, Designação A era a base de toda a estrutura psíquica, mantiveram sua raça viva, a Net grande demais para ser estável sem eles. Mate os âncoras e a Net sofreria um colapso total, levando todos com ele.

 

ADEN assistiu Vasic começar a se mover ao redor do escritório. Quieto, calmo, friamente focado. — Este poderia ser o trabalho de um dos outros antigos Conselheiros? — ele perguntou a Kaleb.

— Não faria sentido lógico, fraturando a Net, fratura-se sua base de poder.

— Um indivíduo que conhecesse os parâmetros de falha antes do tempo poderia garantir a segurança de seus aliados e as mortes de seus inimigos.

Nos olhos de Kaleb, pedaços de vida da PsyNet, trancados no rosto de Aden. — Sim. No entanto, tal carnificina indiscriminada se encaixa melhor aos princípios da PurePsy, meus companheiros ex-Conselheiros tendem a ser muito mais direcionados em seus assassinatos.

Aden pensou na falta de apoio que o grupo havia recebido na Net após a sua recente derrota humilhante nas mãos da coalizão dos changelings, humanos e Psy, a maioria da população acreditava que os PurePsy não deveriam ter saído da Net, que a agressão violou seu objetivo declarado de Pureza. Dado que os PurePsy estão cada vez mais extremos na ideologia, a falta de apoio poderia muito bem ter sido tomada como revolta.

— Mesmo com números esgotados, — ele disse ao Kaleb — o grupo tem a capacidade de organizar um ataque desse tipo.

 

— E seu general tem disciplina. — Kaleb virou de Aden a Vasic. — Você já o encontrou?

— Não. — O outro Arrow olhou na tela do computador transparente que ele tinha trazido para cima. — Não há nenhuma mensagem aqui, e nada na Net de ninguém reivindicando a responsabilidade ou ameaçando mais violência.

O que, Aden sabia, não queria dizer que mais assassinatos não foram planejados. As palavras seguintes de Kaleb deixaram claro que o telecinético cardeal havia chegado à mesma conclusão. — Proteger cada âncora em todo o mundo é uma impossibilidade estatística.

— Concordo. — Havia muitos deles, fortes e fracos, críticos e periféricos. — No entanto, podemos enviar um alerta a cada região, aconselhar as autoridades responsáveis pelos âncoras a reforçarem a segurança

— Avise-os sobre a possibilidade de um forte Tk estar envolvido, — acrescentou Vasic, seus olhos sobre os dentes de sangue na parede. — Pelo menos Gradiente 8.

— Isso vai ser problemático. Há muito poucas pessoas mais fortes do que um Gradiente 8 Tk, — Kaleb estava certo, o que significava que mais âncoras iriam morrer, a menos que eles derrubassem o arquiteto dos ataques. — Se este é o início de uma campanha PurePsy, — Aden disse, considerando como diminuir os possíveis alvos, — Certas regiões são mais propensas a serem atingidas. — Nikita Duncan e Anthony Kyriakus não tinham sido apenas parte da coalizão que havia derrotado os fanáticos de Henry, mas também tinham dado voz a suas visões anti-Pure Psy. Mais importante, sua região foi se tornando um ímã para aqueles cujo Silêncio estava fraturado ou suspeito, um anátema ao objetivo de absoluta pureza dos PurePsy.

— Este local parece argumentar contra o envolvimento PurePsy, — Vasic apontou. — Não tem importância estratégica ou política.

— Eu tenho a teoria que este foi um treinamento executado em uma região tranquila da Net. — Aden reconheceu que sua teoria tinha uma falha, na medida em que exigia que os agressores sacrificassem o elemento surpresa, mas isso não os desqualificava, não quando o irracional comportamento foi se tornando uma marca registrada de operações Pure Psy. — Nós não devemos desconsiderar que seja o trabalho de um grupo desconhecido, mas é razoável dar a Nikita e Anthony uma advertência específica.

Kaleb assentiu. — Eu vou cuidar disso.

Vasic quebrou o silêncio. — Relatórios preliminares estão chegando em quatrocentos e setenta mortos confirmados até agora.

E a região que havia desmoronado, pensou Aden, era pequena, com uma população escassa. Um único colapso no setor de San Francisco levaria dezenas de milhares de vidas com ele.

— Pelo menos oitenta e cinco dos mortos são crianças.

Aden encontrou os olhos de Vasic em um aviso silencioso, mas Kaleb não estava prestando atenção ao Arrow que estava em silêncio, e quebrado. — Eu tenho que ir, — disse o ex-Conselheiro depois de uma pausa de dez segundos. — Solte o aviso de segurança geral, Aden. — Ele piscou na próxima respiração, o seu poder tão grande que o teletransporte levou pouco ou nenhum esforço. A única outra pessoa na Net tão rápida era Vasic, e ele tinha nascido com a habilidade. Kaleb tinha aprendido com um Tk.

— Ele mesmo poderia ter feito isso, — Aden disse, olhando para onde o cardeal estivera. — Nós nunca saberíamos com que velocidade ele se teletransporta.

— Sim.

 

KALEB teletransportou para o escritório de Nikita para encontrar Anthony Kyriakus já lá. Desde que Anthony era um telepata, sem capacidade de teletransporte, isso significava que ele tinha usado ou um de seus Tks para levá-lo de imediato ou ele estava com Nikita no momento do ataque.

Muito tarde para uma reunião política.

Desabotoando o paletó, ele se sentou ao lado de Anthony, do outro lado da mesa de Nikita. — Um Conselho de fato?

— Eu não tenho nenhuma razão para querer a Net sofrendo uma falha catastrófica, — Nikita disse em vez de responder, seu cabelo preto de governante reto, escovando seus ombros. — Nem Anthony. Nem você.

— Tão certos?

— Você quer controlar a Net, Kaleb. Quebrada, é inútil para você.

Ele não disse nada, não traiu nada. Nikita pensava que entendia como sua mente trabalhava. Ela não entendia, mas era uma vantagem deixar o equívoco continuar. — Não há ainda nenhum sinal de Henry, e Shoshanna tem uma casamata em algum lugar na Inglaterra por trás de escudos pesados. — Nenhum que iria protegê-la quando chegasse o momento. — Tatiana e Ming são os curingas. — Kaleb tinha suas suspeitas sobre o envolvimento de Ming no assalto PurePsy da Califórnia, mas o mentor militar tinha sido muito cuidadoso em enterrar seus rastros.

— Há outras pessoas que têm razão para querer prejudicar a Net, — Anthony disse, e os três passaram por grande parte da mesma conversa que tivera com Aden e Vasic. Aden, pensou com um canto de sua mente, era o centro em torno do qual os Arrows rodavam. Enquanto o telepata não era o membro mais poderoso da equipe em termos de capacidade psíquica crua, ele era o único, o resto dos Arrows olhavam para a liderança. Ele também teve o apoio de Vasic, o único teletransporte na Net mais rápido do que o próprio Kaleb. Para possuir o plantel, Kaleb teria que ter a lealdade de Aden. E ele o faria. Porque Kaleb tinha planos que Nikita não podia sequer adivinhar, e ter um esquadrão de assassinos letais atrás dele iria fazer as coisas, tanto mais mortal e mais suave quando ele jogasse seu jogo final.

— Agora que a violência tomou forma, será que seus videntes serão capazes de prever o próximo protesto? — Nikita perguntou a Anthony.

— Eu dei a ordem e vou encaminhar todas as informações pertinentes, mas o caos nesta escala distorce a linha do tempo. — Anthony olhou para Kaleb. — Vamos garantir que nossos âncoras estejam bem protegidos.

— Posso oferecer-lhe um certo número de minhas tropas.— Ele sabia que os dois ex-Conselheiros tinham limitado seus recursos militares, seria quase impossível cobrir a rede de âncoras em sua área.

— Obrigada, — Nikita disse, — mas eu vou negar.

A resposta de Anthony foi a mesma. Kaleb não esperava qualquer outra coisa, se ele estivesse do outro lado, não confiaria em si mesmo também. — A oferta continua sobre a mesa, se você mudar de ideia.

Levantando-se, abotoou o paletó ao mesmo tempo em que acalmava o pânico da NetMind. A nova consciência estava com medo, e enquanto Kaleb não sentia, ele tinha aprendido a diferenciar os humores da Darkmind e NetMind de ambos. Agora, ele suavizava a NetMind e freava a Darkmind, a sensibilidade mais escura mais forte, na esteira da violência assassina. — Se vocês me desculparem. Eu preciso voltar para a minha própria região.

Um segundo depois, ele havia teletransportado para outra sala em outro continente. — Ming, — ele disse. — Tatiana, vejo que vocês já ouviram falar sobre o ataque.

 

Depois de passar a noite enrolado em torno da mulher que havia curado algo quebrado nele e que depois o segurou quando o ferimento rasgou novamente, Riaz acordou com o seu mundo de volta em foco. — Bom dia, — ele disse, afastando os fios de cabelo que se agarravam à bochecha de Adria.

— Bom dia. — Um leve sorriso, um cuidado escondido, mas presente.

Ele sentiu como se tivesse levado um soco de novo, mas disse a si mesmo para ser paciente. Sua não tão difícil soldado tinha tido um choque também. Inclinando-se, ele mordeu o lábio inferior em um beijo brincalhão, uma mão espalmada sobre suas costelas, seu outro braço apoiado sob a cabeça dela. Ela correu sua própria mão em seu peito e em torno de sua nuca, acariciando-o com a mesma afetuosa preguiça, seu sorriso crescendo mais profundo. — Esta é uma boa maneira de acordar.

— Sim, é. — Ele ia dizer outra coisa, mas o computador tocou, Riley convocando-o para uma reunião de tenentes urgente.

Ele não queria ir, queria amar Adria doce e lentamente, mostrar-lhe o que ela era para ele, mas ele era um tenente e ela era um soldado sênior. Correndo para o chuveiro, ele saiu para encontrá-la estendendo uma xícara de café para ele. — Eu espero que não seja outro ataque, — ela disse, com os olhos azuis-violeta escuros com preocupação.

Colocando seu rosto para baixo, ele pressionou sua testa contra a dela própria por um único momento precioso. — Espero o inferno que não. Supondo que seja o que for, os seniores serão todos informados do que estamos para fazer.

Ela assentiu com a cabeça. — Vá em frente. — Um beijo rápido, o calor de seus lábios ainda com ele quando entrou na sala de conferências, poucos minutos depois.

— Isso é café? — Indigo gemeu quando entrou atrás dele.

Deixando de lado sua caneca, Riaz serviu-lhe uma xícara da cafeteira sobre a mesa, ciente de que a outra tenente tinha trabalhado até o anoitecer com a equipe de Felix, depois tinha voltado para supervisionar os novatos em um exercício de treinamento noturno. Riaz tinha oferecido para lidar com o último, mas Indigo queria pessoalmente julgar seu progresso desde que um casal estava se afiando para o status de soldado completo. — Não me diga que o seu menino brinquedo não está te tratando bem, — ele disse enquanto entregava o café.

Indigo bebeu metade dele antes de dizer: — Eu vou lidar com você depois, — em um tom ameaçador despojado de sua ameaça por um bocejo de quebrar a mandíbula. — Você sabe do que se trata?

— Não. — Pegando um assento, virou-se para os monitores quando Alexei e Jem ficaram online.

— Vocês têm alguma idéia do que está acontecendo? — ele perguntou.

— Meu palpite, algo que se passa com os Psy, — disse Jem. — Eu fui para a rua correr esta manhã como às vezes faço, e eu não sei como descrevê-lo, havia uma estranha calma no rosto de cada Psy por quem passei.

— Seja o que for, — Alexei apontou, — se nós estamos tendo uma reunião e não indo para o modo de emergência, provavelmente não é uma ameaça iminente para o bando.

O nível de tensão caiu um grau, porque o jovem tenente estava certo, Riaz perguntou a Alexei sobre os lobos que queriam fundir-se com SnowDancer quando Hawke entrou com Riley e Judd.

A conversa parou por um minuto enquanto os outros tenentes começavam a aparecer online. Kenji, Tomás, Matias e Cooper, todos entraram em foco um após o outro. Coop estava com olhos brilhantes, como se tivesse estado assim por horas, e Kenji parecia ter vindo de um turno da noite, mas os outros não pareciam impressionados.

— Eu pensei que a guerra tinha sido ganha, — Tomás gemeu, uma caneca gigante na mão. — Este era o meu sono do dia.

— Eu pensei que tivesse sido ontem, — disse Cooper.

— Cale a boca. Só porque você está sendo colocado em uma base regular não significa que você tem que ficar convencido sobre isso.

O sorriso de Coop foi lenta e definitivamente convencido.

Batendo na mesa com um dedo devido àquele sorriso, Hawke colocou a reunião em ordem.

— Judd, Lucas e eu, — ele disse — tivemos uma conferência muito interessante, com Anthony e Nikita há alguns minutos.

Todo mundo se acalmou. A relação do bando com os dois Psys poderosos era estável na melhor das hipóteses. Não havia dúvida de que ambos tinham feito a sua parte do trabalho pesado quando se tratara de proteger a cidade do exército armado de Henry Scott, eles haviam fornecido tropas de combate com capacidade, usaram seus próprios consideráveis poderes telepáticos ​​para repelir os invasores. No entanto, isso não significava que eles poderiam ser confiáveis.

— A boa notícia é: — Hawke disse, — é muito provável que não sejamos mais o alvo número um, tratando-se dos PurePsy.

— Por que você não está comemorando? — Perguntou Indigo, estendendo a mão para a garrafa e servindo-se de uma segunda xícara de café, superando até Riley, que também o fez.

A expressão de Hawke era sombria, as palavras que ele falou ainda mais sombrias. — Por causa da guerra civil na Net que não é uma possibilidade, está começando. A contagem mais recente de vítimas é de quinhentos e dezessete.

— Merda. — Matthias esfregou o rosto, a pele morena brilhando à luz do candeeiro da pequena mesa, ele ainda não havia desligado. — Uma explosão de algum tipo?

Judd foi o único que respondeu. — Parte da Net caiu na noite passada.

Um silêncio chocado.

— A separação das vítimas da Net foi tão violenta, — ele continuou, — que eles não teriam tido nenhuma chance de tentar reintegrar-se. Homens, mulheres, crianças... Famílias inteiras exterminadas.

— Raiva, é isso que me causa. — disse Coop, sua cicatriz branca pela força de suas emoções, — Não podemos afetar a rede. Por que Nikita e Anthony entraram em contato com a gente?

— A Net entrou em colapso porque o âncora da região foi assassinado, assim como todos os seus Fail-safes[3], — explicou Judd. — Âncoras são protegidos no plano psíquico por blindagem permanente que é quase impossível de quebrar. No entanto, eles ainda são mortais.

Riaz viu então o que Nikita e Anthony queriam que eles fizessem. — Eles precisam da nossa ajuda para proteger os âncoras do território. — Foi um pedido histórico... Especialmente quando Riaz pensou sobre isso e percebeu que os dois Psy estavam dispostos a confiar nos SnowDancer com as localizações das pessoas que eram a maior vulnerabilidade de sua raça.

— Sim. — Judd empurrou a mão pelo cabelo, uma traição física rara de suas emoções. — Antes de colocar as nossas mentes nisso, há algo que eu não tenho certeza de que todos notaram.

— Espere, — Indigo disse, empurrando mais de uma xícara de café. — Beba isso primeiro. Sem ofensa, lindo, mas você parece um inferno.

Judd deu a Indigo o mais fraco dos sorrisos, obedecendo a ordem. — Desde a descoberta de que os SnowDancer protegeram Marlee e Toby da reabilitação, — ele disse, depois de beber um bom terço do copo, — um monte de Psy na área está procurando os DarkRiver e SnowDancer por algum tipo de liderança. O coração disso é o conhecimento de que você protegeu a própria parte indefesa que a liderança deles procurou destruir.

— Bandos Changeling — Riley disse com seu jeito ponderado — conseguiram manter o nosso sentido de identidade para sobreviver sendo sugado para dentro da máquina Psy, porque nós somos cuidadosos sobre quem chamamos de nossos.

Changelings iriam lutar até a morte para proteger o bando, Riaz pensou, mas ganhar a confiança do bando era uma coisa muito difícil, como Judd sabia. No entanto. — Isso não parece bom pra mim, que viremos as costas para pessoas que confiam em nós para ajudar.

— Para mim também, — disse Riley quando os outros tenentes assentiram. — Ao mesmo tempo, os nossos lobos ficariam loucos tentando proteger um tão grande 'bando'.

Porque uma vez que um dominante assume a responsabilidade de um grupo, ele assumiu toda a responsabilidade.

— Um inferno de uma bagunça, — Matthias murmurou.

Depois de inclinar a cadeira para trás sobre duas pernas, Hawke trouxe para baixo em todas as quatro. — Deixando isso de lado, por enquanto, primeiro precisamos de números. Judd?

— Vinte âncoras em todo o estado, — o tenente respondeu. — Duzentos backups, dez por âncora.

Tomás assobiou. — Esse é um número malditamente baixo para fixar as vidas de milhões de pessoas.

— Há outros como Sophia Russo, esposa de Max, que também ajudam a estabilizar a Net, mas eles não podem conter um colapso, então não são alvos. — Judd bebeu o resto do seu café. — Três dos vinte são cardeais e tecnicamente as únicas verdadeiras âncoras da rede. No entanto, os âncoras secundários, treinados desde a infância, são tão integrados no tecido psíquico da PsyNet, que tem as mesmas vulnerabilidades. Enquanto os cardeais controlam áreas exponencialmente maiores, tirando um único hub secundário, o que significará dezenas de milhares de mortes.

Alexei inclinou para frente, seus cabelos loiros amarrados para trás com um pedaço de corda. — Quanto tempo nós teremos que manter a vigilância?

— Não muito tempo, — disse Judd, para sua surpresa. — Há muito, muito poucos Tks que podem se teletransportar para as pessoas ao invés de lugares. As chances são grandes de que o telecinético por trás do assassinato do âncora não tenha essa capacidade. O que significa que ele precisa de imagens dos lugares onde vivem seus alvos. — e aqueles que provavelmente o abastecem “em caso de emergência”, são arquivos mantidos com os âncoras.

— Anthony e Nikita estão organizando novos furos, — Coop adivinhou. — Inteligente, simples e eficaz.

— Nós podemos fazer isso, — Riley disse, tendo mantido sua cabeça junto de Indigo, enquanto o resto deles falava. — Pegando emprestado os DarkRiver, os ratos, e Windhaven, junto com certos humanos treinados, sabemos que podemos confiar na cidade, temos mais do que pessoas suficientes para cobrir todos os âncoras e backups, vinte e quatro por sete[4].

— Será que vai deixar o território vulnerável? — Hawke perguntou, a pergunta de um alfa cujo objetivo principal era manter seu povo seguro, mesmo que isso significasse fazer uma escolha cruel. Indigo balançou a cabeça. — Não, estamos em muito boa forma.

Os olhos claros de Hawke esquadrinharam o quarto. — Sim ou não. A decisão irá afetar todos os setores do território SnowDancer, e se disser que sim, ela nos coloca em um dos lados da linha nesta guerra civil.

O lobo de Riaz sabia que só havia uma escolha. — Goste ou não, — ele disse, — como o grupo mais poderoso na área, temos uma responsabilidade para com a região agora. — Como Riley havia apontado, bandos changeling eram isolados por um motivo, mas eles não eram nem nunca foram cegos para o mundo exterior.

— Riaz está certo. — A voz de Cooper. — Nós não podemos apenas olhar para longe, enquanto os nossos vizinhos estão sendo abatidos.

— Isso não é o que somos. —A declaração de Jem foi ecoada por cada tenente na sala.

O aceno de Hawke demonstrou um orgulho silencioso que disse que ele não esperava outra resposta. — Mas, não pode ser permanente. — As palavras implacáveis​​. — Nossos lobos não são feitos para esse tipo de manobra política, e eu não tenho nenhum desejo de governar esta região ou qualquer outra. Nós protegemos, e quando a poeira baixar, vamos ajudar a população Psy a encontrar os seus pés.

Uma volta imediata de acordo, e, em seguida, eles foram para a difícil questão de como exatamente poderiam protegerem-se e aos âncoras de um Tk. Judd tinha uma resposta simples. — Atacar com força mortal, logo que 'adentrarem'. Sem aviso.

 

HAWKE entrou em seu escritório para encontrar Sienna em pé à direita de sua mesa. Sua atenção estava na parede e no mapa que mostrava a terra atualmente em processo de ser replantada, trabalho que foi definido para se concluir esta semana. Sabendo como isso a perseguia, o que ela tinha quase feito aos SnowDancer, a vida que ela havia tirado para proteger o bando, ele não lhe ofereceu qualquer banalidade. Em vez disso, puxando-a contra seu peito, ele esfregou o queixo sobre seu cabelo, seu lobo acalmado por sua mera proximidade. O braço dela veio em torno de sua cintura em troca, mas quando ela falou, as palavras em sua voz em forma eram inesperadas.

— Judd me deu a atualização mais recente sobre as mortes em Cape Dorset. — Silêncio. Solene. Como ela tinha ficado quando ele a acordou para lhe dar a notícia. — Se eles destruírem um ponto de ancoragem na região, o número de vítimas será catastrófico.

Ele deveria ter aprendido como ela era boa em ignorar suas próprias emoções para se concentrar na dura realidade, mas ela ainda o surpreendia em alguns momentos. Continuaria a fazê-lo, ele pensou, enquanto ele vivesse. Não havia nada previsível sobre Sienna... Exceto o amor que ele via em seus olhos a cada manhã, o seu próprio na íntima madrugada. — Nós concordamos em ajudar na proteção.

— Eu quero...

— Não.

Afastando-se, ela franziu a testa. — Eu sei que você está preocupado com Ming, mas ele tem que ter outras prioridades no momento. Eu posso usar um disfarce, como eu fiz quando saí com Evie e sua família.

Ele cruzou os braços. — Esse disfarce só funcionou por causa do contexto. — Foi a única razão pela qual ele tinha sido capaz de deixá-la ir, porque ninguém esperaria Sienna Lauren Snow, cardeal X, caminhar ao redor da cidade para comprar sapatos. — Você acha que as pessoas que pretendem atacar um âncora não farão a varredura da área? Um instante depois de descobrir que você é Psy, eles vão saber quem você é. — Eles também saberiam o valor dessa informação para aqueles que procuravam aproveitar a fúria de um X.

Tensão teimosa marcou seu queixo. — Eu não posso me esconder para sempre. — Ela cruzou os próprios braços, os pés ligeiramente afastados. — Eu sou forte o suficiente para cuidar mesmo de um telecinético cardeal.

— E eu deveria esquecer o alvo grande e gordo em suas costas? — Raiva penetrou em sua voz, polêmica em seu lobo.

— Oh, você quer dizer para coincidir com o seu? — Estreitado olhos. — Eu vou ficar, se você ficar.

Soprando um fôlego, ele rosnou.

Sienna se aproximou, em vez de ir mais longe, deixando cair os braços. — Eu pensei que já tínhamos trabalhado isso.

Ele permitiu-lhe ir para a batalha, permitiu colocar sua vida em risco. Isso não significava que ele tinha gostado. — Você esqueceu o fato de que eu sou um lobo dominante, bem como o seu companheiro? — Ele não era sensato quando se tratava da possibilidade dela se machucar.

Ela revirou os olhos para ele, depois sorriu. Um desses repentinos sorrisos brilhantes que ela lhe dava a cada dia, sorrisos que o faziam se sentir a 10 pés de altura, mesmo quando eles o cortavam na altura dos joelhos. E quando ela segurou o rosto dele e puxou-o para baixo para esfregar seu rosto contra o seu próprio, seus seios empurrando os braços cruzados, homem e lobo, ambos sabiam que estavam afundados.

Desdobrando seus braços, ele passou as mãos por suas costas enquanto ela apertava uma linha de beijos ao longo de sua mandíbula. — Ainda não, — ele sussurrou, sua voz despojada para o núcleo. Sienna recuou, linhas entre as sobrancelhas. — Hawke?

Ele era lobo, era alfa. Vulnerabilidade reveladora, até mesmo para sua companheira, não vinha fácil. — Eu quase perdi você, — ele disse, fazendo com que a memória dele desejasse raiva, como ele reviveu o quão perto esteve de nunca mais ver o sorriso de Sienna. — Eu preciso... — Ele não conseguiu completar a frase, suas emoções muito cruas.

Olhos de cardeal desprovidos de estrelas olhavam para ele. — Eu entendo, — ela disse, e ele sentiu a profundidade de sua percepção ao longo do vínculo de acasalamento. — Nós dois, precisamos de um pouco mais de tempo para nos convencer de que fizemos isso. — Acariciando as mãos sobre o peito, ela colocou os braços em volta dele para descansar sua bochecha contra seu coração.

Ele não esperava isso, que ela se rendesse à profundidade violenta de sua necessidade de mantê-la segura, mesmo que apenas por um sussurro fugaz de tempo. E ele sabia que não podia permitir que ela fizesse isso, não podia roubar-lhe a liberdade para aplacar sua necessidade. — Vá, — ele disse, forçando as palavras, — fale com Riley. Peça-lhe para te emparelhar com alguém mais velho e experiente.

Afastando-se de seu peito para que ela pudesse olhar em seus olhos, Sienna tocou os dedos em seu rosto.— Homem bonito.

Suas garras picado o interior de sua pele, seu lobo lutando contra a decisão do humano.

— Eu vou ficar. — Sua palma da mão contra o rosto, os olhos luminescentes com emoção. — É a escolha lógica.

Quando ele levantou a cabeça, ela disse: — Se eu sair por aí, você vai ficar meio louco de preocupação e sem nenhuma utilidade para o bando. — Ela pressionou os dedos sobre os lábios para impedi-lo de falar.

— Eu faria o mesmo se fosse você.— Um sorriso torto. — Estou fazendo esta escolha não para você, mas para nós dois, eu vou ter outras chances de ajudar o bando dessa maneira. Desta vez, eu vou ajudar por ser um dos que vai permanecer para trás para proteger nosso território.

Tomando-lhe a mão, ele beijou a pele um pouco áspera de sua palma, que era de um soldado, uma lutadora ... E de uma mulher que o entendia de uma maneira que ninguém nunca tinha feito, nem nunca o faria novamente.

 

Eu nunca deixarei você ir.

Adria guardou as palavras apaixonadas de Riaz em seu coração durante a sua primeira patrulha nos detalhes do âncora. Mas foi difícil, tão difícil, quando ela soube que ele tivera uma reunião com Lisette essa tarde. Ele perguntou à Adria se ela queria acompanhá-lo, e a loba feroz dela havia roubado a chance, mas Adria não era uma ciumenta mulher irritada, não se permitiria tornar-se uma.

Então, ela freou o ímpeto e disse que não, confiando nele para honrar a sua fé.

Mas ela ainda era uma mulher que amava. Doeu imaginá-lo falando com Lisette, cada pulso era uma navalha cortando-a de dentro para fora. Parte de sua dor era por ele, pela agonia que tinha que estar rasgando-o em pedaços. Por estar tão perto de um alguém feito para ser seu, apenas para ter isso negado. Era uma ideia tão cruel, que fez seu peito doer. Ou talvez a dor fosse dela, um sintoma do conhecimento de que esta verdade nunca mudaria, que ela nunca seria mais do que Lisette era para Riaz.

Naquele momento, ela quase podia invejar os Psy e seu Silêncio.

O homem mais velho que ela guardava, seu cabelo um cinza empoeirado, com os olhos perto do mesmo tom, olhou para cima dos papéis que estava classificando. Ele era um professor na universidade, ele disse a ela. Âncoras não precisam trabalhar, e muitas vezes não conseguiam por causa da disciplina mental exigida deles na Net, mas Bjorn Thorsen era um gênio matemático. — Não fazia nenhum sentido racional, — ele disse a ela, — ter o meu conhecimento morrendo comigo.

Agora, ele disse: — Um lobo em meu local de estudo. O mundo mudou, de fato.

Adria gostara de Thorsen. Havia algo sobre ele, como se, apesar de sua inclinação matemática, ele tivesse a capacidade de ver mais sutilezas não numerais. — Sim, — ela disse. — Esta é a última coisa que eu esperava estar fazendo.—

— Tenho 85 anos de idade. — Ele trouxe sua tela de computador, mostrou-a uma imagem de si mesmo muito mais jovem e mais rígido. — No início da minha vida, changelings não eram sequer um pontinho no radar do Conselho. Eu vi o poder do seu povo crescer cada vez mais forte, e eu vi o meu povo fazer más escolhas após más escolhas. Este último status, não é nenhuma surpresa.

Assustada, ela se virou para inclinar o ombro contra a parede. — Você esperava que alguém começasse a assassinar âncoras?

— É lógico, Adria. — Colocando a caneta em sua mão, ele encontrou seus olhos, seu olhar segurando um poder feroz. — Se você controlar os âncoras, você controla a Net.

— Mas eles estão matando, não controlando.

Thorsen balançou a cabeça, seu rosto segurando a sabedoria de quem viveu bem mais do que o dobro de sua vida. — Você não vê? Depois de terem destruído uma parte maior e mais crítica da Net, quem está por trás disso vai tornar público que quebrará outras partes, assassinará outros âncoras, a menos que esses âncoras jurem lealdade à ele.

Adria franziu a testa. — Que vantagem daria-lhes? Pelo que entendi, vocês estabilizam a Net, nada mais. — A resposta veio a ela quando a última palavra saiu de seus lábios. — Se você estabilizar a Net, — ela disse, percebendo o verdadeiro nível de inteligência fria por trás do plano sádico, — Você pode desestabilizá-la. — Essa desestabilização tinha o potencial de afetar milhares, dezenas de milhares de pessoas ao mesmo tempo. — Que melhor maneira de controlar as massas do que deixá-los saber que suas próprias vidas estão em jogo? — Um passo fora da linha e a própria Net poderia ser recolhida ao seu redor, sua tábua de salvação extinta. E ao contrário dos Laurens, Psys mais comuns provavelmente não sabem funcionar uma rede menor, muito menos tem a força psíquica e psicológica para sair.

— Excelente, — Thorsen disse, soando como o professor que ele era. — É claro que tal prática não pode ser mantida a longo prazo. A razão pela qual os próprios âncoras não desestabilizaram a todos como reféns na Net e esperaram, não é só porque seria um ato irracional, mas porque estamos tão profundamente ligados a ela, que qualquer dano que fizermos, causa um rebote em nossas costas. Eu poderia sobreviver uma ou duas vezes, mas além disso... — Ele esfregou as têmporas.

Seu lobo entrou em alerta. — Qual é o problema? Ataque telepático? — Se assim for, ela tinha Judd em standby. Ele poderia teletransportar e, ela esperava, interromper o processo.

Linhas de dor irradiavam para fora dos olhos do professor. — Não. Dissonância programada, parece que eu não estou destinado a falar de tais coisas. — Ele deixou cair sua mão, sua respiração áspera. — É insuportável em um nível, mas eu me tornei um pouco anestesiado a isto ao longo dos anos.

— Porque um homem tem que aprender, — ela disse, servindo-lhe um copo de água de um jarro nas proximidades, — que não gostam de ter seus pensamentos truncados. — Ele não chamaria isso de bravura, nem sequer chamaria de uma decisão emocional , mas ele fez uma parada à sua própria maneira tranquila. — O que você acha que você vai ver na próxima década da sua vida?

Seus olhos estavam calmos, sua resposta brutal. — Guerra.

 

RIAZ parou na porta da sala de reunião do piso inferior do mesmo hotel art deco, em San Francisco. — Onde está o Bo?

Olhando para cima para o outro lado da pequena mesa oval, Lisette disse: — Ele voou de volta para Veneza há uma hora, — naquele distinto tom claro dela. — Houve uma tentativa de levar o pessoal da Aliança. Todo mundo está seguro, mas ele quer estar lá. Ele assumiu que estaria tudo bem para você trabalhar os detalhes finais comigo.

— É claro, — ele disse, fazendo uma nota mental para acompanhar o ataque com ela no final do dia. Como elo de ligação, Lisette deveria ter as informações mais atualizadas. — Você tem pensado sobre os protocolos de comunicação que eu enviei por e-mail? Algum problema?

O sorriso de Lisette era suave. — Porque você não se senta?

Ele pegou uma cadeira em frente a ela, e foi a primeira vez que ele realmente olhou para ela desde a sua chegada no país. O impacto foi... Inesperado. O desejo primal que sentia por ela não tinha desaparecido, mas tinha entorpecido a um ruído de fundo, deixando-o lúcido e sob controle. O que o deixou tomar uma respiração profunda e tranquila, tanto quanto seu lobo também não mostrou vontade de torcer as rédeas, de estocar por ela. Ele ficou quieto, atento.

Lisette levantou a mão em um movimento gracioso, a pulseira de ouro fino em volta do pulso correndo mais para baixo no braço. — Eu não tenho problemas com os protocolos. Eu deveria ter lhe contado no meu e-mail, mas eu... Queria falar.

Ele pegou as sombras sob seus olhos, a palidez de sua pele, sentiu seus instintos protetores mexerem. — Qual é o problema?

— Eu sinto muito. — Ela engoliu em seco, sacudiu a cabeça. — Eu não sei por que... — Outro agitar de cabeça antes de seu rosto enrugar.

— Hey, hey. — Caminhando ao redor da mesa, ele agachou-se ao seu lado, tomando suas mãos na dele.

— Diga-me o que está errado.

Levou alguns minutos para recuperar o fôlego. — Eu não tenho falado com Emil há um mês, — ela sussurrou, com os olhos vermelhos.

— Ah, Lisette. — Levantando-se, ele a puxou para um abraço.

Ela segurou firme nele. — Eu não sei por que posso falar com você sobre isso, por que isso é tão fácil. — Perplexidade. — Eu não contei a ninguém.

O lobo de Riaz entendia por que ela se sentia tão confortável com ele, mas sabia em seus ossos que ela não era a pessoa à quem ele iria se estivesse sofrendo tanto quanto Lisette estava agora. Havia apenas uma pessoa em quem confiava o suficiente para baixar a guarda, deixar-se indefeso, apenas uma pessoa a quem seu lobo iria falar seus segredos. O conhecimento era um outro pedaço fixando-se no lugar, outro filamento no vínculo entre ele e sua imperatriz.

Espremendo Lisette apertado, ele a soltou e cutucou de volta em sua cadeira. — Por quê? — Ele perguntou depois de obter-lhe uma xícara de café. — Eu sei que vocês são loucos um pelo outro.

— Alguma coisa aconteceu e ele simplesmente parou de falar comigo, — ela disse em um tom quase sub-vocal. — Eu não posso acreditar que ele está tendo um caso, mas o que mais poderia ser?— Ela limpou outra onda de lágrimas. — Eu disse que ia deixá-lo esperando que o choque chegasse até ele, e ele finalmente me dissesse o que havia de errado... E ele disse que queria o divórcio.

 

MERCY não estava nem um pouco repleta de surpresa quando Riley apareceu naquela noite para se juntar a ela em sua patrulha de segurança na cidade. Seu leopardo intrometeu-se contra o seu cheiro, brincalhão e afetuoso. O toque de retorno de Riley foi cuidadoso, quase... Hesitante.

Inclinando a cabeça para o lado, ela disse: — E aí, meu lobo mau pessoal e muito sexy? — Riley nunca foi hesitante. Apesar de ser calmo, o homem tinha a batida de um rolo compressor. Ele teria feito picadinho da pequena submissa que uma vez tinha sonhado, Mercy o tinha perdoado por isso, mas ela ainda gostava de chateá-lo sobre isso agora e sempre.

Não hoje, não quando ele parecia tão solene.

— Você está sendo doce, — ele disse, a hesitação substituída por frustração. — Eu continuo esperando por um silvo e um golpe com suas garras, e, em vez disso vem você, meu animal de estimação.

Rindo baixinho, ela pressionou seu corpo ao dele. — Riley, meu Riley. — Tão sólido, forte e estável, ele era seu porto na tempestade. Não importava o que acontecesse, ela sabia que podia vir para casa, para Riley, seu amor tão duradouro quanto as próprias montanhas. — Eu sei o que faz você me ver como vulnerável.

O fato de que ela carregava um bebê em seu ventre, significava que ela não era mais tão rápida ou tão letal, consciente que estava de não fazer nada que ferisse seu filhote. Foi a razão pela qual ela pediu para ser colocada em patrulhas de rotina. — Eu sei. — Garras amassando suavemente em seus ombros, ela falou com os lábios contra os dele. — Eu não fico louca quando você me checa. — Sua profunda necessidade de cuidar, proteger era patente em cada brilho do vínculo de acasalamento. Isso é o que era Riley, e ela o amava por isso.

— Sinceramente? — ele disse, acariciando sua mão ao redor de sua nuca.

— Sinceramente, — Selado com um beijo. — Você vai ficar?

Ele deu um aceno tímido. — Eu me coloquei aqui no turno. Eu sei, estamos dobrando, mas temos pessoas suficientes, ninguém vai notar.

E Riley, ela pensou, tinha ganhado o tempo todo. Ele era um astro dos SnowDancer também, tinha sido por tanto tempo quanto Hawke tinha sido alfa. — Vamos lá. Vamos dar uma volta no cais, Zach vai me cobrir. — Seu parceiro estava sendo muito discreto, do outro lado da rua.

Riley riu, era um de seus sons favoritos no universo.

 

— Está indo como eu esperava, — Vasquez disse ao homem dentro da câmara estéril. — Os âncoras na região da Califórnia estão agora sob forte vigilância.

— Podemos chegar a eles?

— Sim, mas podem comprometer nosso agente primário. — Tarde demais, Vasquez percebeu que ele não deveria ter cedido terra sobre a crise de Cape Dorset. — Devemos mudar o foco de nosso próximo planejamento a partir de San Francisco para outro grande centro, com o potencial de alto impacto.

— Nós não somos estúpidos anarquistas, — a resposta veio raspada. — A população tem que ver que fazemos isso por uma razão. Para limpar a Net daqueles que não conseguiram manter o seu silêncio.

— O risco é elevado. Nikita e Anthony têm apoio changeling.

— O que só mostra sua fraqueza. — Seu julgamento era o que Vasquez compartilhava. — É hora de demonstrar isso. São Francisco permanece o alvo.

Cada parte de seu treinamento lhe disse que o movimento era tolo, mas ele também sabia que Henry estava certo.

A violência por si só não era a resposta. A mensagem deve ser ouvida. — Eu vou começar os preparativos. — Levaria extenso reconhecimento e extrema paciência, mas Vasquez nunca tinha falhado em sua tarefa.

 

ADRIA tinha estado enfrentando-se. Ela não tinha interrogado Riaz sobre seu encontro com Lisette no dia anterior, tinha escolhido não cutucar a verdade não dita que pairava entre eles, consciente de que isso só criaria uma ferida que iria apodrecer. Em vez disso, ela tomou a decisão de valorizar o afetuoso e apaixonado laço que tinha crescido entre eles, para aquecer o carinho selvagem de seu lobo, e não obcecar-se no vínculo primordial que eles nunca teriam. Então, ela não sabia como isso tinha acontecido, como ela acabara sozinha com a mulher que tornara impossível pensar em qualquer outra coisa.

— Muito obrigada por isso, — Lisette disse, colocando seu cinto de segurança. — Eu realmente não estava insinuando um passeio quando corri para você.

— Não é um problema. — Tendo deixado alguns papéis no HQ dos DarkRiver para Hawke, Adria estava andando de volta através de Chinatown para seu carro quando ela viu Lisette saindo de uma loja de souvenir. — Comprando algo interessante?

A mulher riu, e era um som doce e suave. Apesar de sua maquiagem e cabelos perfeitos, seu intacto vestido cor de tangerina parecia ao mesmo tempo profissional e de verão, sob um casaco de tons neutros, Lisette exalava um calor que era genuíno. Agora, ela procurava em sua bolsa e pegava uma pequena estatueta de jade. — O lojista disse que iria me dar boa sorte, estou indo pedir aos DarkRiver e SnowDancer permissão para arrumar um apartamento na cidade.

O coração de Adria gaguejou. — Você continuará a ser a ligação?

— Sim. Isso pode realmente funcionar melhor se os bandos me tiverem aqui por perto.

As palavras da outra mulher faziam muito sentido, falando como eles, pela preferência changeling a situações onde eles poderiam julgar o humor da outra parte, o seu perfume. — Você e seu marido decidiram em qual parte da cidade gostariam de viver, se você tiver o Ok? — A questão era um lembrete para si mesma que Lisette era casada, que não tinha vontade de pedir o crédito sobre um lobo solitário que era de Adria.

Um longo silêncio do banco do passageiro, desde que os cabelos se levantaram na parte de trás do pescoço de Adria, sua mente trabalhando em uma centena de quilômetros por hora. — Seu marido não está se mudando, — ela adivinhou, sabendo que ela não deveria se intrometer, mas incapaz de deixar de fazer.

— Não. —era um sussurro. — Estamos separados.

O lobo de Adria sentiu como se tivesse sido chutado com botas de bico de aço, ficou quebrado e sangrando como se seu mundo desabasse ao seu redor, mas sua voz soou estranhamente calma. — Eu sinto muito. — Ela entendia a dor que acompanha o colapso de um relacionamento de longo prazo, não podia deixar de sentir compaixão, mesmo à uma mulher que ameaçava roubar tudo dela. — É definitivo?

Lisette virou a cabeça em direção à janela, os cabelos um ouro pálido à luz do sol. — As últimas palavras que ele falou para mim eram sobre o divórcio. — Uma confissão sombria. — Eu nunca soube que era fácil dissolver um casamento.

O desespero da outra mulher era uma onda negra, e Adria sabia que o amor de Lisette pelo seu marido não tinha morrido, acabava de ser gravemente ferido. Riaz merecia mais, merecia uma mulher que lhe daria tudo... Mas Lisette era sua companheira. E agora ela estava livre.

Adria não tinha certeza de como conseguiu funcionar no resto do caminho para o hotel de Lisette. Sua despedida foi curta o suficiente para a ligação da Aliança dar-lhe um olhar preocupado, mas Adria mal estava mantendo-se unida, ela não tinha bondade suficiente para ser gentil com a dor da outra mulher. Deixando Lisette antes que pudesse perguntar o que estava errado, ela dirigiu com um único foco para a terra SnowDancer, estacionou o veículo em uma seção densamente arborizada, apoiou as mãos no volante e gritou ... Até que os soluços roubaram o fôlego, se quebrando em pedaços de dentro para fora, a dor em seu peito um nada em comparação à de seu coração.

Não importava se Lisette permanecia amando seu marido, ela era a companheira de Riaz. Adria teria lutado por seu lobo negro com tudo de si contra qualquer outro adversário, mas esse único fato não podia ser alterado, não podia deixar escapar. Não foi por acaso que Lisette se viu querendo permanecer na Califórnia, suas ações coloridas por uma conexão que não entendia nem percebia conscientemente. Riaz tinha que sentir isso também, sentir o empate primitivo que era o maior dom da vida de um changeling.

Mas ele fez uma promessa a Adria, e ele não era um homem de renegar suas promessas.

Então ela teria que ser a pessoa que quebraria seu próprio coração.

 

JUDD entrou na enfermaria logo após as doze horas, consciente de que Walker tinha levado Lara para o almoço. Foi fácil tirar a atenção de Lucy, a enfermeira estava envolvida com uma jovem que quebrara as costelas depois de cair de uma árvore, ela segurava as lágrimas com rosto vermelho, e estava fazendo um grande esforço para combater os soluços. Ainda assim, ela tinha apenas sete anos.

Lutando contra o impulso instintivo de ajudar, ele escorregou invisível passando de Lucy e do filhote para a sala ocupada por Alice Eldridge. Ele fez com que a porta se fechasse com o mais macio snick em suas costas antes que se virasse para olhar a paciente. Ela estava com os olhos fechados, com as mãos em cima dos lençóis, com a cabeça inclinada para o lado. Embora não mais ligada a um tubo de alimentação, ela continuava a usar a touca computadorizada.

Seu peito subia e descia em respirações fáceis, os cílios escuros contra o marrom maçante de sua pele. Esta pele necessitava de sol, necessitava ser bronzeada. Brenna tinha encontrado algumas fotos antigas de Alice Eldridge secretas on-line, incluindo uma feita pelo seu parceiro de rapel quando ela chegava ao lado dele. Suas pernas estavam levemente musculosas como se ela apoiasse na parede, seu sorriso brilhante, os cachos loiros inesperadamente expostos sob seu capacete brilhante, com saúde.

Nada como a mulher perdida na cama.

No entanto, seus olhos, quando abriram e fixaram nele, eram os mesmos. Ébano, tão escuros, a pupila difícil de distinguir da íris. Ele esperou por uma reação, e não demorou muito para receber. — Arrow, — ela disse. — Ex.

— Você se lembra. — Ele não tinha certeza que ela poderia se lembrar sobre a conversa passageira.

— Eu pensei, — ela disse, sua voz áspera com desuso — que era um sonho.

Atravessando a sala, Judd pegou uma cadeira e sentou-se ao lado da cama. — Suas memórias de antes? — Lara e os outros tinham se tornado frustrantes e silenciosos agora que Alice estava acordada, citando a confiança que um paciente precisava ter em seu médico. Mas esta mulher tinha um conhecimento incrível trancado dentro de sua mente, conhecimento que Sienna precisaria para o futuro. Alice era a única entidade em relação a X-Psy no mundo.

Uma respiração profunda, olhos de ébano deslocando para a direita.

Seguindo seu olhar, Judd viu a garrafa de água. Ele a pegou e segurou contra seus lábios. Ela tomou um gole, dois, antes de parar. Esperando até que ele colocasse a garrafa de volta, ela disse: — Um caleidoscópio quebrado. Essas são as minhas memórias.

— Mas você sabe o que é um caleidoscópio.

Um leve sorriso que atingia toda a boca. Na foto, a boca parecia perfeita para o seu rosto, seu sorriso enorme. Mas aqui, com todos os ossos do rosto salientes, a exuberância de seus lábios não se encaixava. — Sim, — ela disse. — Lugar estranho, a mente. Eu me perdi, mas eu tenho mantido o mundo.

Sua inteligência era clara, mesmo agora, quando ela estava tão danificada. Isso o fez pensar o que Alice seria se ela nunca mais recuperasse a sua plenitude. — Você sabe em que ano você está? — Cem anos ou mais se passaram desde o início do sono forçado de Alice.

— Sim, — Tanta perda em seu reconhecimento. — Eu tinha pais. Eu me lembro deles. Eles se foram. — Palavras simples para descrever uma verdade inefável.

— Eu sinto muito. — Havia algo sobre Alice que o fez pensar — ela é uma de nós, embora a cientista fosse uma humana, e de um tempo longe. Talvez fosse porque ela tinha tentado estudar mais os marginalizados de todas as designações.

A tristeza na expressão de Alice foi substituída por um conhecimento silencioso enquanto o observava. — Você queria me quebrar, — ela disse. — Qualquer Arrow faria.

— Eu precisava dos conhecimentos em sua mente.

Os cílios de Alice cairam, levantaram, seu peito subindo e descendo. — Estranho como eu me lembro dos Arrows.

— Talvez nós tenhamos sido a última coisa que você viu.— Seus irmãos históricos poderiam muito bem terem sido os que a haviam tomado.

A carranca, a pele lisa de sua testa enrugando. — Não, — ela sussurrou. — Zaid não teria permitido que eles me colocassem em uma caixa.

Za-eed.

A pronúncia de Alice do nome, pensou Judd, era perfeita. Foi a sua familiaridade que o surpreendeu. Zaid Adelaja havia criado o esquadrão, foi o primeiro Arrow, um telepata com uma capacidade feroz em combate mental. — Você conheceu Zaid? — Não era impossível, se Judd estava certo sobre a data da morte de Zaid, o tempo de vida do outro homem teria cruzado com Alice.

Sua mão fechada sobre a folha branca. — Eu acho que sim.

Memória abalada, ele lembrou a si mesmo, certo de que ela não estava saudável o suficiente para mentir. — Você vai se lembrar.

— Você parece mais certo do que a bela curandeira com cachos negros. — Uma pausa, os dedos subindo para tocar a touca craniana computadorizada que cobria sua cabeça raspada. — Eu não tinha cachos. Tantas cores, como se o loiro do meu pai e o cabelo preto da minha mãe juntassem em mim. — Soltando a mão, ela olhou para a parede, com o olhar distante.

Ele se perguntou o que ela vira, mas manteve a paz por agora. Forçar não faria Alice se lembrar, independentemente de quão importante era que ela fizesse. Levantando-se, ele voltou a cadeira para o seu lugar contra a parede e estava prestes a sair quando Alice falou novamente.

— Tudo que eu lembro antes de você, — ela sussurrou, — é tristeza, tanta tristeza terrível. Isso fez o meu coração chorar de dor, até que a agonia tomou conta do meu mundo. Zaid ... Zaid estava lá.

 

CHEGANDO ao bando quatro horas depois que de ter deixado Lisette, Adria se permitiu um pouco mais de espaço para respirar, esperando e lutando para encontrar um raio de luz na escuridão. Mas depois que ela viu Riaz caminhando em sua direção, ela soube que seu tempo tinha acabado.

O sorriso de Riaz alcançou seus olhos. — Olá, Imperatriz.

— Ei, você, — Fluindo em seus braços, ela deixou a força e o calor dele envolvê-la uma última vez. — Você tem tempo para conversar?

— Poucos minutos, — ele disse, enrolando o longo comprimento de seu cabelo ao redor de sua mão como tinha costume de fazer. — Eu tenho que ir a uma discussão com Hawke sobre os Blacksea.

— Aconteceu algo? — Uma pergunta cotidiana. Tal intimidade tranquila que ela nunca experimentaria novamente. A próxima vez que se encontrassem, seria como soldado sênior e tenente, não amantes que se tornaram amigos... E muito mais.

— Não. — Seu peito retumbou contra ela. — Apenas um caso de criação de uma linha de comunicação permanente. Estamos pensando em Kenji para a ligação, desde que eu tenho a Aliança.

Um lance agudo de dor, e ela pensou, talvez fosse melhor fazer isso aqui. Se eles fossem para trás de portas fechadas, ela poderia desistir. Mas lá fora, com os companheiros de matilha no final do corredor, e uma saída não muito atrás, ela estava, de uma forma estranha, protegida de sua própria fraqueza que o envolvia.

Recuando até que ela pudesse olhar em seu rosto, ela disse: — Eu vi Lisette, ela me disse que está se divorciando de seu marido.

Nenhuma surpresa em seu rosto, apenas a intensa determinação de um dominante que pretendia obter o seu próprio caminho. — Isso não muda nada, não vai nos mudar.

— Isso muda tudo. — Sua voz um sussurro rouco, dando um passo para trás, quebrando a conexão entre eles.

Ele não gostou disso, ela viu um flash de seu temperamento passando nos olhos puros de lobo. Respirando com uma lâmina dentada no peito, ela balançou a cabeça. — Não me diga que você não deseja, não...

— Eu não porra! — Ele agarrou seus braços, segurou-a no lugar, a fúria crua em sua voz, uma coisa selvagem. — Eu fiz a minha escolha, e eu escolhi você. Não faça isso. Não nos destrua.

Era tão tentador desistir, mas ela sabia que, mesmo que tentasse convencer a si mesma, a ideia de sua companheira seria sempre um doloroso silêncio entre eles. Ainda assim... Ela não era tão auto punitiva.

Ela queria ficar com ele, e se ele queria ficar, com certeza estava tudo bem?

Agonia queimou seu sangue, seu lobo uivando de uma dor óssea profunda. E ela sabia que ela o amava demais para roubar sua alegria. — Vá, — ela sussurrou, e foi arrancado dela. — Seja feliz.

O som que saiu da garganta de Riaz era o de um animal mortalmente ferido. Agarrando sua nuca, ele a puxou contra ele. — Não. — Uma única palavra falada brutalmente contra sua orelha.

As lágrimas ardiam em seus olhos, engasgavam em sua garganta. Ela queria desesperadamente se segurar, apenas se manter, mas em sua cabeça passou o pesadelo de acordar um dia e descobrir que ele a odiava, como Martin a odiara. Seu ex-amante tinha ressentido a sua força, mas Riaz teria uma razão muito mais profunda para odiá-la.

Não, ela não faria isso, nem para ele, nem para ela mesma.

Ela valia mais. Ela merecia ser a primeira, a única. Nem a segunda melhor, não a que tinha pegado esse homem incrível quando ele estava sofrendo de uma perda que só um changeling conseguiria entender... Não apenas um amigo de confiança que não podia suportar a dor. — Vá, — ela sussurrou novamente, roçando os lábios nos dele, a mandíbula em uma carícia final que guardou em seu coração. — Ela é sua. Você precisa dela, e ela precisa de você. Rasgando-se para fora de seus braços, ela se empurrou pela saída mais próxima e começou a correr.

Seus pés batiam na terra, o sangue dela batia em suas veias, e seu coração... Se estilhaçou em mil fragmentos.

 

RIAZ olhou para a saída. Ele poderia pegá-la, as amoras esmagadas, o gelo e o calor oculto em seu perfume estavam incorporados em cada célula sua. Ele poderia localizá-la através do vento, granizo e neve. Mas ele não podia ir atrás dela.

Não agora.

Não quando ele não sabia as palavras que tinha que dizer para convencê-la do amor que tinha vindo e o definido, um amor que tinha um nome espinhoso, generoso e bonito, Adria.

— Foda-se. — Ele bateu com o punho na parede de pedra da toca, raspando a pele e deixando um rastro de sangue para trás. Que mal foi registrado. Em vez de uivos de fúria possessiva, ele cerrou os dentes, freou seu lobo, que o arranhou em uma confusão de raiva e de dor, e saiu pela mesma porta que Adria tinha usado.

Ele precisava pensar, planejar. Porque jeito nenhum no mundo ele iria deixá-la ir. Ela era dele, tinha-se dado a ele. Ele não era um homem generoso quando se tratava de sua imperatriz, não devolveria seu coração. Esse maldito pertencia a ele e ele o estava mantendo.

Lutando contra seus instintos mais primitivos, ele correu na direção oposta da que ela tinha tomado, empurrando-se com tanta força que seu poderoso peito changeling machucou com a força de suas respirações. Ainda assim, ele fugiu. Até que ele estava no ar rarefeito das altitudes mais elevadas, o céu turbulento com a dança de fogo do pôr do sol, e seu corpo o obrigou a parar. Apoiando as palmas das mãos sobre as coxas, ele engasgou com o ar fresco, limpo, e com o coração bombeando quente e rápido.

Não foi uma grande surpresa, uma vez que deveria ter sido, ver um enorme lobo prata-ouro materializar fora das árvores. Hawke não era alfa simplesmente porque era mais forte e mais rápido do que os outros lobos no bando, ele era alfa porque ele conhecia o seu povo. Enfiando a mão pelo cabelo úmido de suor, Riaz correu para a beira de um riacho alimentado pelas neves das montanhas, e jogou água em seu rosto. O frio disso o chocou.

Quando Hawke passou ao lado dele, ele não olhou para o seu alfa. Não era o fato de que o outro homem estava nu, tal nudez depois de uma mudança era parte aceita da vida de um changeling, não havia nada a ser comentado, mas porque ele não tinha vontade de falar com ninguém. — Eu preciso ficar sozinho. — Era só Adria que ele permitia ficar perto sempre que quisesse. Todo o resto poderia sair e ficar por lá.

A resposta de Hawke foi decisiva. — Nell viu você quebrar a mão na parede, ela pensa que provavelmente quebrou um osso e nem notou. O que diabos aconteceu?

Sua raiva fervia, precisando de uma tomada. — Eu disse, me deixe em paz. — Decidindo fazer o seu ponto explícito, ele mudou para forma de lobo, os lábios abertos de volta a piscar seus caninos.

Hawke mudou entre um batimento cardíaco e outro, seus olhos baixos fixos em Riaz. Exceto que Riaz não estava com disposição para uma exibição de dominância. Rosnando, ele lançou seu corpo em direção a Hawke, garras para fora.

Eles se encontraram em um choque de pele, sangue e fúria.

 

DEZ MINUTOS DEPOIS, ele jogou água em seu rosto, e fez uma careta. O corte sobre seu olho tinha sangrado muito, e sua bochecha estava como se tivesse sido esmagada, mas provavelmente era apenas uma contusão pesada. O único consolo era que Hawke não tinha saído disso ileso, embora ele tenha no final conseguido jogar Riaz no chão, cravando os dentes na nuca do pescoço de Riaz.

— Você estava lutando com raiva, — disse o alfa agora. — Fez de você desleixado.

Soprando uma respiração, Riaz flexionou sua mão. — A propósito, Nell estava errada. Nada quebrado. — Apesar de que sua mão estava vermelha e crua, os dedos raspados.

— Você está pronto para falar agora?

— Você costuma vencer seus tenentes para os levar a falar?

A gargalhada de Hawke foi genuína. — Pergunte a Riley algum dia. — Passando a mão sobre a pele de um dos lobos selvagens que tinham vindo ficar de guarda enquanto eles lutavam, o alfa encontrou o olhar de Riaz. — Adria?

Riaz não era um lobo solitário só porque ele gostava de solidão. Ele não confiava em muitas pessoas com seus pensamentos mais íntimos, era mais feliz mantendo o silêncio. Só que desta vez, ele sabia que precisava da ajuda de seu alfa. Respirando quieto, ele começou a falar.

— Merda, Riaz, — Hawke disse quando ele terminou. — O inferno de uma bagunça.

— Diga-me que você tem a resposta. — Hawke era a única pessoa que poderia. — Você é o único lobo que eu sei que encontrou sua companheira duas vezes.

— E você?

Riaz respirou fundo, a dor em seu peito uma facada profunda. — Adria é minha. — Ele não mexeria nisso, nem agora, nem nunca. Ela só tem que se acostumar com o fato. — Mas o puxão de acasalamento, foi para Lisette. — Embora não fosse mais uma feroz corrida possessiva, mas uma suave, no fundo de sua mente, por si só, uma coisa estranha, uma vez que ele era um changeling predatório masculino, novamente nada sobre esta situação era ‘normal’ de qualquer forma.

O cabelo de Hawke refletia a luz quando o outro homem sacudiu a cabeça. — Se eu te dissesse que tenho uma resposta, estaria mentindo.

— Yeah.— Havia uma única diferença fundamental entre a sua situação e a de Hawke, a criança Hawke acreditava que tinha sua companheira, que tinha morrido quando Hawke era um menino. — Se Rissa tivesse vivido...

— Eu não teria sido o mesmo homem, — Hawke disse simplesmente. — Eu teria estado acasalado por anos antes que conhecesse Sienna, e a vida teria me formado de uma maneira totalmente diferente. — Um sorriso irônico. — Quem sabe, eu poderia até ter sido um cara legal.

Diversão inesperada enfiada através do nó emaranhado de emoções de Riaz. — Eu posso ver você assando cupcakes.

Por alguma razão, isso fez Hawke uivar de tanto rir antes de seu alfa deslocar e caminhar para o fluxo, os lobos selvagens seguindo seus passos. O próprio lobo de Riaz esticando dentro dele, querendo sair. Ele se rendeu à necessidade, após Hawke atravessar o córrego e ir mais alto para as montanhas. Seu pequeno bando galopou em um ritmo fácil, o vento ondulando através de sua pele, os perfumes no ar agudos e frágeis com o frio.

A beleza da Sierra Nevada bateu em seu coração mais uma vez e ele se perguntou como poderia já ter deixado este lugar de montanhas e florestas, lagos e rios. Doeu em seu coração, o amor que ele sentia por esta terra. Lutando em cima de uma pequena colina formada por rochas caídas, ele levantou a cabeça e cantou sua alegria em estar em casa... E de ter encontrado a pessoa que era para ser sua. Seu bando se juntou em sua canção, e isso era bom.

Voltando para baixo, ele correu novamente.

Quando o bando parou, ele estava ao lado de um lago de espelho perfeito. Riaz amenizou sua sede antes de mudar, sua mente senão calma, então pelo menos uma fração menos desordenada. Faíscas de cor ao seu lado indicavam a mudança de Hawke. Nenhum deles falou por longos momentos de silêncio, enquanto o vento no início da noite sussurrava por entre as árvores, o céu ardente acima enrolando uma ponta de azul índigo.

— Você está na dança de acasalamento com Lisette? — Hawke perguntou finalmente, coçando a cabeça do lobo selvagem que tinha enrolado ao seu lado. — Porque se você está, seu lobo tomou a decisão para você e tentar lutar contra isso vai destruí-lo.

— Não. — Nem homem, nem lobo queriam estar na dança com Lisette, a idéia disso me faz sentir mal em todos os níveis, uma traição tão grande, que fez o seu grunhido de lobo um desafio. — Tudo que Lisette e eu sempre tivemos entre nós foi uma possibilidade. — E ele sabia em seu íntimo que o tempo para que a possibilidade viesse a ser concretizada passara, independentemente de qualquer norma aceita. — Você alguma vez já conheceu um lobo em um relacionamento e que encontrou seu companheiro?

Hawke teve tempo para responder. — Conheço casais que já estão juntos há anos e que, de repente, desenvolvem um vínculo de acasalamento. Eu sempre pensei que talvez a escolha do ser humano influenciasse a do lobo, ou talvez duas pessoas entrem em perfeita sincronia após esse tempo juntos, tipo como Indigo e Drew, conhecendo um ao outro por tanto tempo antes de se acasalarem.

Riaz entendeu o que o seu alfa estava dizendo, tinha visto a mesma coisa ele mesmo, mas...

— Essa não foi a pergunta que eu fiz.

Os olhos Husky-pálidos trancaram com os olhos de Riaz. — A resposta é não. Amor sem vínculo, onde o lobo aceita a amante, ao invés de ser neutro sobre o assunto, parece parar o vínculo de acasalamento, não entrando no jogo com mais ninguém. — Fazendo uma pausa, ele acrescentou, — a explicação mais simples é que o compromisso toma o lugar do vínculo de acasalamento.

— Então, se eu tivesse conhecido Adria primeiro... caíria como sua primeira.... Eu não teria que lidar com isso.— Uma situação em que a mulher que ele adorava pensava que ele era feito para outra.

— Sim, provavelmente.— Hawke bateu no lado do lobo, cuja cabeça ele estava coçando, e, relutantemente, deu espaço para outro. — Dalton pode saber mais sobre isso do que qualquer um de nós, — disse o alfa, nomeando o bibliotecário do bando — , mas há outra coisa que eu posso dizer.

Riaz esperou.

— A escolha não é sua, é sempre a mulher que aceita ou rejeita o vínculo.

— Um inferno que não. — As garras de Riaz fatiaram para fora de sua pele. — A fêmea pode aceitar a ligação, mas eu aposto com você muito bem que o macho tem que estar disposto. Não é isto. — Uma vez, ele teria vendido sua alma para ser de Lisette, mas algo fundamental havia o mudado, sua alma renasceu a partir de uma crucial dor o quebrando. Ele sobreviveu, saiu dela cicatrizado, alterado, mais forte, um homem que amava um soldado e não tinha vontade de voltar no relógio.

— É o rosto de Adria que vejo quando penso em casa. — Olhos azul-violeta, que o olhavam de volta dos rostos das crianças que ele começou a imaginar desde aquela noite no prado de luar, em que ela havia se tornado sua Adria. — Adria que detém os meus segredos.

— Você andaria longe da mulher feita para ser sua companheira?

— Sim. — Talvez não tenha sido uma escolha que qualquer outro lobo jamais fosse fazer, inferno, a idéia pode até horrorizar, mas nenhum outro lobo tinha vivido a vida que levara até o momento. — Eu encontrei a mulher que está destinada a ser minha. — A mulher que tinha a devoção selvagem de seu lobo.

— Você tem certeza? — Perguntou o alfa, como se ele tivesse acabado de dar a sua resposta.

Riaz encontrou o olhar do outro homem, sua raiva tão profunda que ele sabia que seus olhos eram os do predador que vivia dentro dele.

Mas Hawke não recuou. — Você está falando sobre a vida de Adria, — ele disse. — Você tem que ter certeza de que você nunca vai se virar e ver a falta nela.

Riaz nem estava ciente de reagir. Ele só sabia que estava com a mão agarrada no pescoço de Hawke, a mão de seu alfa segurando seu pulso em um aperto de punição.

Os olhos azuis encontraram os seus próprios, a própria calma do lobo de Hawke.

Rosnando baixo em sua garganta, ele retirou a mão, suas garras cortando para trás em sua pele. — Eu morri, Hawke. — Palavras brutais. — Quando eu vi pela primeira vez Lisette e percebi que ela nunca seria minha, eu quebrei em tantos pedaços que eu era um morto-vivo quando voltei para o escritório.

Foi Adria que tinha me forçado de volta à vida, que tinha me desafiado, lutava, e brincava até que eu não estava só vivo, mas descontroladamente, gloriosamente assim. — Eu confio em Adria em um nível que eu nem sequer confio em você. — Soava certo. Um lobo deve confiar em seu companheiro mais do que em qualquer outro... ainda que Adria não fosse sua companheira, exceto em seu coração. — Meu lobo confia nela. — Ele deixou que o lobo subisse à superfície, deixou-o colorir seus olhos e sua voz.

Hawke soltou um suspiro. — Como sua companheira, Lisette tem o potencial de ganhar uma confiança ainda maior.

Riaz bufou, consciente que o alfa estava jogando de advogado do diabo. — E você tem o potencial para fazer tricô. — O lobo pensou em termos muito mais concretos, e ele tinha dado a sua lealdade e seu coração para Adria. Esse alguém pode ser um ajuste melhor, mesmo quando esse alguém promete ser sua companheira? Foi uma consideração inútil.

Um aceno de cabeça tranquilo, uma aceitação. — O que você vai fazer?

— Convencer Adria de que eu quero dizer o que eu digo.— Ele não aceitaria nenhum outro resultado.

 

ADRIA teve certeza de trocar tarefas e fazer mudanças para garantir que não houvesse nenhuma chance de correr para Riaz. Sua pele ferida, sua cama um lugar frio que ela odiava, seu corpo todo dolorido com a perda que a fez sentir como se tivesse sido espancada. Ela não tinha certeza se poderia deixar de ir para ele se o visse.

Então, quando ela entrou em seu quarto um dia após seu último encontro doloroso e encontrou uma poderosa caixa rosa, que levava seu perfume, em cima da mesa-de-cabeceira, pensou que a crueza de sua necessidade a fazia ter alucinações. Tocando a caixa com dedos desejosos, ela empurrou quando ela não desapareceu. Nem os cupcakes dentro.

— Creme de morango, veludo vermelho, baga banana, maçã e especiarias. — Um nó em sua garganta, ela pegou um de sabor maçã e lambeu a cobertura de glacê. A iguaria doce derretida em sua língua... O gosto fundindo-se com o sal da lágrima que beijou sua boca.

Ela não se lembrava de ter lhe dito os seus favoritos, mas ela deve ter dito.

Desabando sobre a cama, ela colocou o cupcake de volta na caixa, com os ombros tremendo com a força de suas emoções. Adeus, ela pensou, ele estava dizendo adeus com a mais doce ternura. Teria sido mais fácil se ele tivesse ficado com raiva, ou se ele simplesmente a ignorasse — Deus, isto a teria ferido — mas ele mandando cupcakes a fez se apaixonar por ele novamente.

— Eu te odeio, — ela sussurrou, correndo as lágrimas, e foi a maior mentira que já tinha dito. A mentira que ela disse mais tarde naquele dia, quando deu três dos cupcakes para Shawnie, Becca, e Ivy, era apenas um pingo em comparação. — Eu tentei, mas eu não podia comer todos. — A verdade é que ela ainda tinha o que havia provado, não podia suportar terminá-lo. Iria se sentir como se estivesse aceitando o seu adeus, e ela não estava pronta.

Três horas depois, ela olhou para a pequena caixa de madeira polida situada no meio da mesa. — Olha!

Indigo olhou respeitosamente. — É linda. Simples, mas ouço que lobos solitários são, por vezes, um pouco estranhos com a sua ideia de presentes.

— Simples? — Enfurecida, com quem, ela não sabia, Adria começou a levar a caixa. Indigo inclinou-se para assistir a demolição, os olhos arregalados. — É um quebra-cabeça! — Deleite tinha lhe alcançado através de um peça.

Adria bateu fora a mão dela. — Você tem que fazê-lo na ordem exata ou... Você não vai ver. — A representação em miniatura do Coliseu escondida no centro, com arcadas esculpidas e a sugestão da arquitetura interna em camadas.

Indigo esfregou o dedo cuidadosamente para baixo na madeira brilhante. — Isso é... wow. Eu nunca tinha visto um quebra-cabeça de madeira tão complicado.

Ele o criou para ela, Adria pensou, porque ele sabia que ela gostava de quebra-cabeças, tinha que ter vindo a trabalhar sobre isso por um tempo.

— Por que Roma?

Imperatriz. — Esqueça isso, — Adria disse, remontando a caixa sob o olhar fascinado de Indigo. — Ele não está me ouvindo. — O lobo teimoso não estava dizendo adeus com dignidade e graça, ele a estava cortejando. Escandalosamente.

— Adria, querida, — Indigo disse lentamente. — Você percebe que está falando de um macho dominante? Desde quando eles ouvem alguém uma vez que já tenham decidido em suas mentes?

— Você não está ajudando.

— Você sabe — um olhar de alegria — agora eu entendo por que todo mundo se divertia assistindo Drew me enlouquecer.

Agarrando o bolo que ela trouxe para o escritório, Adria deu uma grande mordida. Se Riaz pensava que ela ia amolecer e derreter sob sua ofensiva de charme e esquecer o abismo dolorosamente real que lhes dividia, ele não sabia que ela... Mas ele aparentemente sabia do seu amor pela ópera italiana, um segredo que ela vagamente não tinha compartilhado com ninguém, e a razão muito insensível para que ela tivesse aprendido o idioma.

Dois bilhetes para La Bohème a saudaram naquela noite, escondidos no canto do espelho de maquiagem. Seu coração pulou, mas determinada a fazê-lo ver a razão, ela levou os bilhetes e colocou-os ao Conselho na sala de descanso dos soldados seniores. Ninguém fez qualquer esforço para reclamá-los, a despeito do fato de que eles eram para os bancos altamente cobiçados.

— Nenhum de nós é louco o suficiente para irritar um lobo solitário, — Simran disse quando ela descobriu Adria olhando para os bilhetes no dia seguinte. — Especialmente quando o lobo solitário fez questão de dizer que ele iria caçar e enterrar a pessoa que ousassem tomar quaisquer presentes que fossem para você.

Ignorando o fato que os olhos da outra mulher estavam brilhantes de humor, Adria arrancou os bilhetes e seguiu para o escritório de Riaz. Ele não estava lá, ela não tinha certeza se estava aliviada por não ter de testar sua força de vontade ou estava preocupada ou enganada por ter sido roubada da briga, arrastada para fora da luta que ela estava esperando.

Pegando emprestado um martelo de Walker Lauren, ela bateu os bilhetes na porta do escritório com um prego. Hawke, passando, felizmente segurou os bilhetes no lugar enquanto ela martelava o prego. Ele não disse uma palavra, uma expressão tão branda que ficou claro que ele estava se divertindo muito.

Riaz também não disse nada.

Ele só escapou de volta para seu quarto e colocou os bilhetes abusados de volta no lugar. No topo da maquiagem, ele deixou uma caixa alegremente embrulhada. Incapaz de resistir a desembrulhar, ela encontrou um kit de ferramentas novinho em folha, completo, com um martelo roxo personalizado. Seu lobo ficou tão encantado, que ela levou um segundo para se concentrar e ver o que ele tinha feito.

O martelo foi personalizado, tudo bem, com o nome — Adria Delgado.

— Oh Riaz, — ela sussurrou, — o que você está fazendo comigo?

 

KALEB sabia que os Arrows tinham uma vigia discreta sobre eles, mas ele tinha a muito tempo aperfeiçoado a capacidade de se mover despercebido através da Net, e ele agora usava essa habilidade. Ele estava muito perto de localizar seu alvo para permitir qualquer obstrução ou atraso.

Qualquer um que tentasse detê-lo, logo descobriria que, ao contrário dos outros que já haviam sido Conselheiros, ele não se importava de ficar com sangue em suas mãos.

 

PROFUNDAMENTE SATISFEITO COM o fato de ter forçado Adria a brincar com ele, mesmo que ela não visse as coisas da mesma maneira, Riaz foi procurar Dalton na manhã seguinte. A ideia de Hawke era boa, o bibliotecário carregava na memória a história do bando, pode ser que ele soubesse de uma situação similar, informação que poderia ajudar Riaz em sua campanha de convencer Adria que o que eles tem é certo, verdadeiro. Ele pegaria todo apoio que pudesse conseguir para ajudá-lo a cortejar sua imperatriz de volta a seus braços.

Quando ele chegou ao escritório de Dalton foi para achar uma nota na porta do ancião dizendo que ele estava em seu ‘escritório no lago’. Sorrindo, Riaz fez uma corrida para beira do lago próximo a toca, sabendo que o avô de Lara não gostava de sentar na costa com pedregulhos, mas sim na beira com grama, abaixo dos galhos espalhados do velho carvalho.

— Nós somos contemporâneos de algum tipo — ele uma vez tinha dito a Riaz batendo no caule ainda em crescimento da árvore — Apesar de que receio que ela viverá por mais tempo.

Agora, ele levantou seu olhar marrom de raposa para Riaz, enquanto este aparecia por entre as árvores. — Ah, aí está você, — disse o bibliotecário como se estivesse esperando a visita. — Venha e fale comigo, Sr. Delgado.

O lobo de Riaz se endireitou, lembrando das centenas de enrascadas quando era criança. — Você só usa nossos sobrenomes quando estamos com problemas.

A pele escura de Dalton tremeluziu com calor, seus olhos dançando. — Você tem o mesmo olhar em você hoje, — ele disse. — O que você aprontou, filhote?

Sentando ao lado do ancião, Riaz contou tudo a ele, ciente de que não poderia esconder a verdade se quisesse que Dalton entendesse essa situação que deveria ser impossível. Quando ele terminou, Dalton suspirou, seu olhar no lago. — Olhe para ele, tão calmo, com apenas o mínimo ondular.

— O vento está calmo nesta manhã.

Dalton não disse nada por um longo tempo, aqueles que não tinham crescido com ele achariam que ele estava dormindo. Riaz sabia melhor, entendia que o ancião grisalho via tudo com aqueles olhos brilhantes que ele transmitiu à sua neta.

— As Guerras Territoriais foram uma tempestade, — Dalton disse por fim, — criando milhares de ondulações. Quebrando tudo o que deveria ser.

Incluindo, Riaz entendeu com uma explosão dolorosa de crua esperança, as regras normais quando se tratava de cortejar e se tornar companheiro.

— Registros daquele tempo, na melhor das hipóteses, estão fragmentados, — Dalton continuou. — Muitos bibliotecários foram mortos nas lutas, enquanto outros escolheram começar de novo quando os bandos pós-guerra foram encontrados.

Riaz pensou nas lições de história de quando era menino, lembrou-se do dizimar pelos banhos de sangue, um número de bandos se misturou ao redor do país, cada grupo escolhendo um novo nome para representar a variedade de seus membros. — Então um monte de registros foram destruídos durante a guerra?

Independente de sua intensa frustração com o bloqueio, ele podia entender como os sobreviventes desejaram deixar os horrores da guerra no passado – especialmente quando alguns dos que se misturaram, tinham sido inimigos amargos no passado.

— Sim. — Dalton colocou a mão no ombro de Riaz e apertou. — Mas alguns têm os mesmos credos que eu, que o passado não deve ser esquecido, não importa que seja somente o bibliotecário que saiba a verdade. Esses registros existem.

Apertando novamente, seus dedos fortes, apesar de seu aparente estado nodoso, ele deixou cair às mãos em seu colo. — Mesmo na guerra, a rejeição de um companheiro era uma coisa rara. Mais frequentemente, quando acontecia entre combatentes de lados opostos, a decisão era se juntar para tentar a paz. Ás vezes funcionava. Outras vezes...

— Eles falhavam, eram executados, — Riaz adivinhou.

— Não, — Dalton respondeu para sua surpresa. — O laço de companheiro é um presente tão precioso que mesmo os alfas não executavam aqueles em seu bando que tinham como companheiro um inimigo, mas tal vínculo não era permitido em nenhum dos dois bandos.

Riaz pensou em Mercy e Riley, e na impossibilidade deles como casal caso seus respectivos bandos, SnowDancer e DarkRiver declarassem guerra. — Seria um inferno. — Deixar o bando não era coisa fácil, não para um lobo.

— Especialmente para o mais dominante, os lobos e bandos precisavam desesperadamente proteger aqueles entre os seus que eram vulneráveis. O único caso ambíguo que conheço em que dois changelings sentiram a urgência de rejeitar um ao outro envolviam tenentes inimigos.

O lobo de Riaz abaixou a cabeça, compreendendo a agonia que deveria ter devastado a ambos.

Acasalar-se era uma alegria que todo changeling almejava, mas proteger aqueles sob seu cuidado era um instinto primitivo. Nenhum dominante poderia se afastar dessa responsabilidade e viver consigo mesmo, a culpa envenenaria qualquer relação. — O que aconteceu? — Era uma questão crucial.

Dalton esfregou uma folha de carvalho entre os dedos. — Os registros não estão tão claros quanto a isso, mas há indícios que o vínculo se quebrou devido à força da rejeição de ambas as partes.

A brasa de esperança dentro de Riaz brilhou mais forte — o contínuo e profundo amor de Lisette por Emil era uma rejeição tão forte quanto à rejeição consciente de Riaz, a situação deles não era tão diferente quanto a dos tenentes de Dalton. — Então, eles conseguiram se vincular a outras pessoas? — A possibilidade de poder se vincular a Adria...

O sorriso de Dalton era triste. — Nunca iremos saber, ambos morreram nas batalhas finais. — Olhando Riaz, ele balançou a cabeça. — Quanta decepção. Você queria um caminho a seguir, mas tudo que eu te dei foram fantasmas e sombras.

Passando as mãos pelos cabelos, Riaz se levantou, foi até a beira da água antes de voltar e se agachar ao lado de Dalton. — Não há razão para que a fêmea tenha uma escolha se não significa nada, — ele disse por fim, porque enquanto Dalton compartilhava informações, ele sempre fez com que seus estudantes achassem as respostas de suas próprias perguntas.

— Sim. — Rugas se espalharam a partir do canto dos olhos do bibliotecário. — Talvez será você a pessoa que resolverá esse enigma, hein, Riaz? É sempre tarefa do lobo solitário viajar para o desconhecido sozinho.

— Não estou sozinho, — Riaz disse de pronto, as palavras sem necessitar de um pensamento. — Adria anda ao meu lado. — Mesmo que a loba teimosa ainda não pudesse ver.

Dalton sorriu — Então.

E Riaz entendeu que enquanto o vínculo de companheiro traria uma felicidade inacreditável, a falta dele não diminuiria seu amor por Adria, a devoção absoluta de seu lobo. — Me chame de tolo e acabe logo com isso, — ele disse ao ancião que via o passado e futuro com total claridade.

Ao invés Dalton deu um tapinha na bochecha de Riaz assim como tinha feito com o caule do carvalho. — Vá cortejar aquela que você escolheu, filhote, e deixe um velho homem com seus pensamentos.

 

NÃO FOI até que Adria entrou na garagem naquela noite — dois dias após o inicio da perseguição implacável de Riaz — que ela se deu conta que foi cativada. — Pensei que estaria na vigia com Sam. — A pequena escultura que o lobo teimoso tinha deixado em seu armário mais cedo, um gambá bêbado hilário, queimava um buraco em seu bolso.

— Eu só vou te dar espaço até certo ponto, — Riaz disse, seu sorriso perigoso, — e você já usou sua quota.

Ela não disse a ele que era um arrogante filho da mãe que tinha uma tonelada impossível de charme, e ela não envolveria seu corpo faminto ao seu redor até que nada mais fosse dor. Em vez disso, ela entrou no SUV e disse, — eu ainda não tive chance de ler o relatório inteiro. — Três de seus afilhados foram chamados à sala do diretor, prova de que ser submisso não significava bom comportamento.

Ela passou duas horas para chegar ao ponto em questão. — Algo que eu deva saber sobre essa âncora e local em particular?

— Não, é padrão. — Uma pausa. — Espere um momento. — O SUV passou por um buraco na estrada.

Ignorando o choque, Adria tirou seu mini-datapad. — É melhor eu digitalizá-lo de qualquer maneira, quero dizer que eu puxaria a orelha dos meus estagiários, se ignorassem a lição de casa. — Ela se concentrou, conseguiu absorver o material, mas quando ela tentou continuar e pegar o grande pacote de boletim dos soldados sênior, revelou-se um esforço falho. Ela não podia desligar sua consciência do homem no banco do passageiro, aquele que não pertencia a ela, independentemente da inesperada e maravilhosa batalha que ele estava travando.

— Eu vi Lisette ontem, — ele disse sem aviso prévio.

As palavras em frente a ela eram turvas. — Como ela está?

— Não apaixonada por mim. — As palavras eram duras, deixando claro que com cortejo ou não, sua raiva não tinha de maneira nenhuma esmaecido.

De alguma forma, aquilo a atingiu mais profundamente, mesmo ele estando tão bravo com ela, ele continuou a querê-la, continuou a cortejá-la.

— O que é ótimo, — ele acrescentou, — porque eu não estou apaixonado por ela também.

— Dê tempo. — O amor e o vínculo de acasalamento estavam interligados para cada par acasalado que ela já conheceu, ela não ia se enganar, fingindo que seriam a exceção a regra.

— Deus, você é obstinada. — Foi um grunhido. — Tenho que ser um masoquista, pois eu gosto disso sobre você.

Seu lobo mostrou os caninos, encantado, mas tentando não permitir se importar. — Eu só vou piorar quanto mais você me conhece. Considere uma escapada de sorte.

O sorriso Riaz era selvagem. — Não sou eu o que pensa em escapar, e apenas no caso de você ainda não ter percebido, não vou deixar você ter sucesso.

Com esse aviso, ele trouxe o SUV a uma parada na entrada de uma pequena casa que dobrava ordenadamente num Presídio, onde havia terra suficiente em torno do lugar para que este custasse uma soma substancial.

Saindo do veículo, ela circulou em frente. Riaz a encontrou lá, enrolando os dedos em torno de seu braço quando ela se moveu passando por ele. Ela estremeceu, pela centelha de explosão no contato.

— Eu não vou te deixar, — ele murmurou, sua respiração quente contra seus lábios, — e eu não vou mudar de ideia, se acostume a ter que lidar comigo.

A esperança era uma pequena luz em seu coração, ela não tinha mais força de vontade para brigar contra. — Temos um trabalho a fazer. — Palavras práticas, mas sua voz tinha uma vulnerabilidade que a aterrorizava, especialmente quando ela viu os olhos de Riaz virarem um brilho na noite e sabia que ele também tinha escutado.

 

SIENNA parou em um promontório, com vista sobre a terra abaixo. Era seu segundo dia consecutivo na tarefa de rotina em vigiar o perímetro de segurança, embora Riley tivesse certeza de que suas rotas permanecessem irregulares, mas ela não se importava. Como disse a Hawke, desta vez, era sobre como ela poderia ajudar o bando.

  — Ser vigia de um âncora não é muito emocionante, — Riordan tinha dito a ela quando saiu hoje para atuar como backup para dois soldados seniores, nenhum novato foi escolhido como guarda principal.

— Eles, principalmente, apenas sentam lá e ficam trabalhando ou lendo, ou dormindo.

— Maria disse que tinha uma boa história sobre a sua primeira vez como âncora.

— Ah sim, essa foi a que ficou me assistindo, como se estivesse esperando que me crescessem presas e eu fosse tentar comê-la. Eu não pude me conter, usei minhas garras para arranhar meu nariz. Seus olhos quase saltaram das órbitas.

Sorrindo com a lembrança, ela se perguntou se aqueles na PsyNet ofereceriam tal ajuda para outros grupos. Até pouco tempo, ela teria dito que não. Mas agora... O pensamento de Nikita Duncan e Anthony Kyriakus terem ajudado a defender São Francisco fora de seus interesses próprios, histórias se espalhavam, no pós batalha, que Psys comuns ajudaram seus companheiros, independente de raça.

Um soldado DarkRiver que foi abatido na luta foi arrastado para dentro por duas mulheres Psy idosas enquanto elas seguravam o inimigo com suas habilidades telepáticas. Um dos humanos bem conhecido pelos DarkRivers contou como seu filho, um jovenzinho muito curioso, escapou e foi até o final do quarteirão para espiar soldados PurePsy desembarcando dos céus por helicópteros.

Fora de sua mente preocupada, o pai tinha se preparado para sair em busca da criança desaparecida quando um vizinho Psy – um dos três estudantes que dividiam um apartamento – ligou pra dizer que ele estava a salvo. Eles pegaram o garoto das ruas e o trouxeram para casa, o protegendo psiquicamente dos ataques feitos pelos soldados que os lançavam como maneira defensiva ao aterrissarem.

Seria mais seguro para os estudantes, principalmente os dois mais velhos permanecerem em casa. Afinal de contas, nem um soldado ferido ou uma criança pequena poderia lhes oferecer vantagem tática. Mas eles não permaneceram atrás de portas fechadas, seguros. Elas ajudaram somente pela razão de que era a coisa certa a fazer.

Um escovar de pelos contra sua perna, do lobo que apareceu por entre as árvores.

Hawke não tinha muito tempo disponível com tudo o que estava acontecendo, mas ele sempre a achava durante seus turnos, mesmo que por poucos minutos.

Agachando-se ao lado de sua cabeça orgulhosa, ela passou as mãos nos pêlos dourado-acinzentados.

— Quando penso nas histórias da batalha, fico orgulhosa de ser Psy.

O lobo angulou sua cabeça, os olhos perfurando a escuridão. Ela riu, capaz de ler a expressão afrontada em seu rosto como se ele tivesse falado. — Sim, eu sou SnowDancer, — ela disse, porque essa era sua família, seu bando, seu lar, — mas eu sou uma Psy SnowDancer.

O lobo considerou antes de virar seu focinho e mordiscar muito, muito cuidadosamente sua mandíbula, aqueles afiados e letais dentes nem mesmo machucando a pele dela. Rindo novamente, ela esfregou seu nariz contra o dele.

— Muito obrigada, Senhor Grande Lobo, — ela disse, consciente de que essa tinha sido a maneira dele dizer que a decisão dela de se autodenominar Psy SnowDancer era aceitável.

Um rosnar alto retumbou do peito dele e ela imediatamente reconheceu que não era um de divertimento que ele usava com ela quando não estava sério. Esse foi muito, muito, muito sério. Com cada senso em alerta ela ficou de pé escaneando a área ao mesmo tempo.

— Intrusos, — ela disse um segundo depois, movendo-se com a maior discrição possível ao lado de seu lobo enquanto ele caminhava em direção à presa. — Escudos Psys mentais.

— Espera. — Agachando-se novamente, ela usou outro sussurro sub-vocal para transmitir o que ela sentiu.

— Eles estão escaneando a área. Eles tem que saber que estou aqui. — Não ela em particular, mas uma mente com uma impressão Psy. — Não tenho certeza se eles sabem sobre você — Sienna poderia sentir a sutil e crítica diferença entre a mende de um feroz lobo e a de um changeling, mas ela esteve com os snowdancers por anos, a maioria dos de sua raça não tinham aquela vantagem.

Os olhos claros de um husky ou um pássaro de rapina encontraram os dela, um olhar tanto protetor quanto inflexível. Eles se tornaram companheiros há pouco tempo, ainda não tinham aprendido todas as sutilezas de cada um, mas ela entendeu a mensagem silenciosa. E ela discordou. — Quem for que ele seja, posso destruí-lo em uma fração de segundo, o instante em que ele me ver. Eu estou preparada.

Os lábios de Hawke levantaram para exibir seus caninos.

— Esta é a minha área de atuação, — ela disse, segurando seu olhar, porque ele iria encará-la até obter seu próprio caminho, se ela o deixasse.

Desta vez, a mordida no queixo era uma fração mais forte, um aviso para não ferir a si mesma ou ela estaria em um inferno de um monte de problemas. Passando a mão no pêlo, mais uma vez, ela o viu tornar-se uma sombra indistinguível das árvores enquanto ela fez seu caminho para a pequena clareira onde três mentes Psys esperavam. Eles estavam protegidos, mas ela sabia no fundo de seu íntimo que tinham vindo por ela antes de ter a chance de vislumbrá-lo através das árvores.

A marca de nascença no lado esquerdo de seu rosto era uma mancha vermelha, um erro de pigmentação que uma vez que ele disse a ela que seus pais não tinham corrigido, porque eles acreditavam que iria torná-lo mais resistente se ele tivesse de superar uma coisa dessas em uma sociedade na qual perfeição era premiada. Ming poderia ter corrigido uma vez que se tornou adulto, mas ele não tinha. Um símbolo de orgulho, ela sempre pensou, ou talvez uma maneira de ganhar uma vantagem psicológica sobre outros Psys, os quais foram surpreendidos na primeira vez que encontraram-no face-a-face.

Mas Sienna não sentiu nenhum choque. Ela sabia que cada linha e poro daquele rosto, estava intimamente familiarizado com o mal que vivia dentro de Ming LeBon.

Eu irei queimá-lo e o assitirei morrer... Suas próprias palavras, tão verdadeiras hoje quanto quando ela as falou para Hawke. Consciente dos dois homens atrás de Ming, um de cada lado, com as mãos tocando os ombros dele, eles teriam que ser teleportadores, ela considerou como matar o homem que ela odeia acima de todos os outros sem ferir seus guardas. Eles não causaram nenhum mal a ela, e ela não iria julgá-los quando ela mesma foi forçada a ser uma das protegidas de Ming.

— Sienna, — Ming disse no silêncio, sua voz calma, controlada, fria o suficiente para queimar. — Eu sei que você está aí.

Não, ela pensou, ele não sabia. Ele estava simplesmente tomando um risco calculado de que a mente que ele sentia era dela, tendo usado imagens de satélites de vigilância para restringir a área na qual ela poderia estar presente esta noite. A partir das linhas de tensão nos rostos de seus teletransportadores, este não foi o primeiro lugar que eles se teletransportaram na tentativa de identificar sua localização.

Mantendo o silêncio, ela continuou a trabalhar em um modo de matá-lo.

— O mundo está mudando, — disse ele, seu corte militar salientando os ossos de sua face.

— Enquanto não havia lugar para uma X com a sua capacidade tóxica no mundo antes, agora há. Os Psy precisarão de um novo conselho após a poeira baixar, e você já é considerada heroína por muitos.

Sienna teria rido de sua arrogância, mas ela não tinha risadas quando se tratava de Ming. Estreitando os olhos, ela levantou a mão e olhou para os lados para encontrar o olhar do lobo que havia deslocado para fora das sombras para que ela pudesse vê-lo. Não houve censura em seu olhar, só a aprovação de um companheiro predador.

Balançando a cabeça, ela se virou... E liberou o fogo frio.

Ming teletransportou instantes antes que do fogo acertá-lo, deixando-o colidir com a árvore em frente, transformando-a em cinzas entre uma respiração e outra. — Os bastardos do homem estavam condicionados ao teleporte. — Deve ter sido brutal, manter suas mentes à beira de um teleporte por tanto tempo.

Hawke mudou em faíscas de luz e cor, o lobo se transformando em um homem que pegou o rosto dela entre as mãos e disse, — você vai pegá-lo da próxima vez.

Era exatamente o que ela precisava ouvir. — Sim, eu vou.

Seu companheiro a envolveu em seus braços, a pele macia de prata e ouro que lhe cobria o peito de um prazer sensorial quando ela o segurou firme.

— Ele realmente pensou que eu poderia ir com ele, — ela disse, o insulto violento.

— Se você tivesse, teriam terminado seus problemas. — A voz de Hawke não era inteiramente humana. — Agora, ele tem que encontrar uma maneira de matá-la.

Recordando sua escura resposta emocional quando ela tinha visto Hawke em perigo no campo de batalha, ela acariciava suas costas, sua pele de seda quente. — Ming, — lembrou a ele, — vai ter que passar por você e o bando para chegar até mim.

— Ele nunca vai ter sucesso. — Foi um rosnado.

— Não, ele não vai. — Os lobos podem não terem poderes psíquicos, mas como Henry Scott tinha aprendido, não era só a mente que importava quando se tratava de guerra.

Afastando-se dele apenas uma fração, ela ficou na ponta dos pés para alcançar sua boca. — Eu não recebi um beijo esta noite. — Ele precisava do contato e assim ela lavaria as palavras venenosas de Ming da sua mente, para lembrar que ela era muito mais do que ele jamais poderia imaginar.

— Eu não sei se você merece um beijo, — disse seu companheiro, o peito retumbante sob as palmas das mãos abertas.

— Vendo como você ignorou a minha ordem de se manter infernalmente longe de Ming.

Deslizando as mãos sobre seus ombros quando ele se inclinou para tornar mais fácil, ela entrelaçou os dedos atrás do pescoço dele. — Você vai me morder muito duro? — Ela provocou, usando palavras que sua jovem prima, Marlee, aparentemente, uma vez usara.

— Engraçadinha. — Movendo as mãos até aquela bunda, ele as deslizou nos bolsos de trás da calça jeans dela.

Ele poderia ser duro e dominante, ela pensou, se entregando à quente, úmida carícia de um beijo que ele deu a ela, seu homem tinha uma veia de ternura que ela estava certa de que ninguém, exceto, talvez, os filhotes, já viram.

— Temos que continuar a vigia. — Era um murmúrio áspero.

— Eu sei, — ela disse, apesar de que tudo o que ela queria era tê-lo dentro dela, marcando-a, amando-a. Num preguiçoso e possessivo humor no qual ele estava agora, ele balançou tão lento e fácil, fazendo-a sentir cada centímetro de espessura. — Eu queria que fosse algumas horas mais tarde.

Ele estendeu a mão para acariciar e acariciar um de seus seios com a própria mão, não ajudando a obter sua excitação sob controle. — Paciência. — Liberando sua carne dolorida, ele se afastou um par de centímetros.

— Você sabe que gosta lento.

— Não, este seria você. — Já profundamente sentindo falta do calor selvagem dele pressionado contra ela, ela viu quando ele mudou, a beleza da coisa a impressionando de novo. — Eu gosto rápido.

O lobo bufou com o riso, e, em seguida, eles estavam correndo de novo, o vento da noite ondulando através de sua pele e beijando seu rosto. Apesar do enfurecido confronto minutos atrás, Sienna nunca se sentira tão contente.

 

DISPENSANDO O M-PSY ele ligou para seus aposentos, uma mulher mais velha, que sabia o valor da discrição, Ming ficou na frente do espelho. A bandagem fina cor de pele que o médico havia colocado em seu peito escondeu a maioria da ferida diagonal, mas ele ainda podia ver as bordas vermelhas, as bolhas.

Ele tinha sido apenas minuciosamente escovado pelo chicote de fogo frio, mas este teve sucesso em atingir sua pele e uma fina camada de gordura subcutânea para derreter pontualmente a camada muscular e óssea. Ao atraso de um segundo e ele não teria mais órgãos internos, sua cavidade interna estaria cheia de cinzas.

Agora ele tinha uma cicatriz que o fez parecer como se alguém tivesse cavado um sulco através de sua pele com uma colher cruelmente afiada. O M-Psy garantiu-lhe que a lesão podia ser reparada, preenchida, mas Ming não tinha intenção de fazê-la.

Não até que Sienna Lauren estivesse morta.

A menina tinha provado que ela era muito perigosa para permanecer viva, mesmo na coleira.

 

PARADO à beira do imóvel que abrigava o alvo principal, Vasquez olhou para o Tk, que era, no momento, seu operador mais valorizado, ambos os rostos cobertos por máscaras de esqui pretas. Baixa tecnologia, mas eficaz, como um método para ofuscar a identidade. Embora o Tk não fosse usá-la durante a operação em si - comprometeria sua visão periférica, e nunca houve qualquer testemunha que se preocupar depois que ele estivesse em ação.

Tem certeza de que pode iludir os guardas? Os changelings tinham se provado sentinelas mais dedicados do que tinha antecipado, não deixando vulnerabilidades óbvias. A organização não pode dar ao luxo de perdê-lo. No entanto, eles tinham que atacar em breve, antes que o impacto de seu primeiro protesto se dissipasse em nada.

O Tk teve tempo para estudar a casa, os movimentos do dispositivo de protecção exterior, a segunda guarda escondida da vista no interior de um quarto sem janelas, juntamente com o seu alvo. Aquele quarto em grande parte não erautilizado, não tinha sido fotografado como parte do arquivo de segurança sobre a âncora, por isso foi inteligente por parte dos changelings mover o alvo para ele, mas Vasquez era mais esperto. Ele e o Tk ao lado dele tinham feito o reconhecimento desta propriedade antes da operação de Cape Dorset, tomado suas próprias imagens de backup.

Como tinham de uma série de casas de âncora na região.

A razão pela qual eles não haviam plantado uma câmera transmitindo dentro de casa foi porque a âncora, assim como seus irmãos, passavam por uma profunda varredura de segurança a cada semana. Vasquez não podia arriscar que o bug fosse encontrado, a transmissão monitorada de volta para ele.

Eu só preciso de um segundo para desativar o animal dentro, o Tk disse por fim. A do lado de fora não chegará na sala a tempo.

Eu posso fornecer uma distração. Ele pegou uma arma. Será que isso é suficiente?

Um aceno de cabeça. Espere até que eu dê o sinal.

 

RIAZ USOU SUA POSIÇÃO para pegar a vigia da âncora – como eles estavam lidando com um Tk, as chances eram de que Adria ficasse mais segura no perímetro de fora. Claro que ele não foi estúpido o bastante para realmente dizer isso. — Você parece querer arrancar meu sangue, — ele murmurou, deliberadamente bagunçando o pêlo dela. — Tire o sentimento para fora antes que assuste a nossa incumbida.

Olhos estreitos, violetas tingidos de âmbar. — Eu sei o que você esta aprontando. Fique inteiro ou eu realmente vou machucá-lo.

Quando múltiplos tiros atingiram a lateral da casa ele pensou que estava errado.

Adria!

Mesmo que a raiva e preocupação terrível ardessem dentro de sua mente, ele pegou um piscar com o canto do olho. Garras para fora ele estava se movendo antes que o assassino se materializasse. Ele bateu no corpo do homem, a âncora fazendo como eles praticaram, entrando debaixo da mesa dela, telefone celular e bisturi laser na mão - era mortal quando usado como uma arma, especialmente em ambientes fechados, bem como a única opção ofensiva que não fazia a âncora particularmente verde.

— Identifique-se! — ele gritou no instante do impacto, pois havia uma diminuta chance de ser um amigo ao invés do inimigo.

Em resposta, o intruso empurrou Riaz de volta com uma viciosa força telecinética, batendo-o no balcão forte o suficiente para quebrar a madeira, mas Riaz já havia cravado suas garras no abdômen do atacante. Sua separação violenta teve o efeito de rasgar o estômago do outro macho aberto. Apertando um braço sobre sua carne rasgada em um esforço para manter seus intestinos dentro de seu corpo, o Tk estendeu uma mão sangrenta e dedos invisíveis agarraram a garganta de Riaz em asfixia.

Manchas coloriam sua visão, o peito gritando com a falta de ar, mesmo quando seus ouvidos registravam mais tiros do lado de fora. Não se atreva a se machucar, Imperatriz.

Não se preocupando em tentar retirar as mãos, não podia ver ou tocar, Riaz foi para a arma no bolso. Seus dedos se fecharam sobre o barril, espasmos, e por um instante, pensou que ele ia se matar. Deus, iria irritar Adria. Estimulado pelo pensamento, ele conseguiu agarrar a arma e puxá-la para fora.

— Animal inútil. — O Tk usou sua habilidade para esmagá-lo nas mão de Riaz.

Mas isso, pensou Riaz, estava bem. Porque mesmo que ele não tivesse ar, ele poderia cheirar as amoras esmagadas no gelo, brasas de fogo escondida.

Uma.

Duas ...

O cérebro do bastardo assassino explodiu em um jorro de sangue e ossos quando Adria foi para fora, por trás, sua arma segura em mãos firmes como rocha.

Tosse e dificuldade em respirar o ar correndo de volta para seus pulmões, ele arrastou seu caminho em torno da mesa para garantir que a âncora estava segura. Ela bateu com o bisturi laser, quase acertando seu rosto.

Bom, pensou, percebendo no mesmo instante em que as manchas na frente dos seus olhos foram se fundindo em preto puro. Merda.

 

ADRIA não foi rápida o suficiente para pegar Riaz antes que sua cabeça batesse no chão. Ignorando a confusão que fizera do assassino, ela correu para agachar-se ao lado de seu lobo, seus dedos em busca de seu pulso.

— Sonja, você está segura, — disse a âncora. — Você fez a chamada?

— S-sim. — A jovem olhou para fora sob a amassada mesa e agora suja de sangue.

— Eles disseram que eles...

Sentindo o movimento do ar em suas costas, Adria virou com a arma apontad... E reconheceu os dois homens que tinham teleportado a partir das descrições de Judd. — Não, — ela disse quando eles foram examinar o assassino morto. — Verifiquem Riaz primeiro. O bastardo estava tentando sufocá-lo. — Feias e manchadas contusões já haviam se formado no bronzeado de sua carne.

Foi o macho asiático com os ossos da bochecha afiados que agachou ao lado de Riaz. — Eu não sou um médico changeling, — ele disse em uma voz ártica que faltava emoções, após correr uma linha de escaner por Riaz. — Mas ele parece não ter sido lesado. Ele deve recuperar a consciência logo.

Não era pelo que o macho Psy dissera, mas sim pelo fato de que ela podia sentir as costas de Riaz subindo e descendo com as mãos que o acariciavam, sua cor retornou, pressionando um beijo aliviado em sua têmpora, com o rosto virado para o lado enquanto ele estava deitado em sua parte dianteira. — Desculpe, mas você não receberá o seu castigo, — ela disse, sabendo que teria preferido interrogar o assassino. — Eu tive que atirar para matar.

— Entendido. — Levantando, o homem vestido de preto entrou para participar com seu parceiro vestido da mesma forma, um homem alto, de cabelos escuros, olhos cinzentos tão assombrados que ela se perguntou o que ele via quando os fechava.

Riaz gemeu naquele instante, colocando a mão na testa quando ele se levantou em uma posição sentada contra a lateral da mesa. — Eu tenho a dor de cabeça que acaba com todas as dores de cabeça.

Ela não queria nada mais do que gritar com ele por assustá-la, em seguida, lotar-lhe o rosto de beijos. — Você está vivo, — ela disse, o rosto quase em ruínas quando ele deu a ela um sorriso que disse que viu através do ato difícil dela, — Então não reclame.—  Obrigando-se a deixá-lo, ela ajudou a âncora a sair de seu esconderijo, mas disse a jovem para ficar sentada no chão atrás do balcão. — Você não quer ver o que está do outro lado.

O olhar da âncora foi estranhamente vago quando se encontrou com o dela. — Ok.

Choque, Adria se deu conta. Ao contrário dos dois homens de olhos frios que estavam examinando o caído Tk, e em contraste com a independência silenciosamente rebelde de Bjorn, a maioria dos âncoras foram mimados e protegidos, nunca chegando tão perto da dura realidade. — Aden, — ela disse, usando o nome que tinha sido dado para o médico.

Ele levantou a cabeça e ela percebeu como ele era bonito, se você gostasse de seus homens gelados o suficiente para lhe dar hipotermia. — Sim?

— Eu acho que você precisa garantir que sua âncora não esteja... — prestes a se partir. Mordendo as palavras na ponta da língua, ela apenas disse, — cheque-a.

Aden levantou com uma graça quase felina para contornar a mesa e agachou-se ao lado da âncora. Que congelou, os olhos fixos em seu uniforme, na única estrela que decorou seu ombro esquerdo. — Esquadrão Arrow. Pensei que fosse apenas uma história.

Aden não respondeu, verificando a mulher com uma eficiência que disse que ele a via apenas como uma coisa viva, uma máquina de respiração. Ele não falou, mas Adria sabia que ele e os outros Arrows tinham que estar se comunicando telepaticamente. Por fim, ele pegou um injetor de pressão e apertou o medicamento no corpo da âncora, pressionando-o até o pescoço.

Sonja caiu.

Pegando-a, Aden deitou-a no tapete. — Nós não podemos tê-la desestabilizando a Net, — ele disse a Adria. — Sua mente vai continuar a manter as coisas como estão, enquanto ela dorme. Quando ela acordar, ela vai ter o apoio médico adequado.

Adria não gostou do fato de que ele agiu sem pedir a permissão da âncora, mas então, ela não sabia se ele tinha falado telepaticamente com Sonja, e a PsyNet não era sua área de especialização. Mais importante ainda, Judd tinha dito que este homem e seu parceiro eram confiáveis​​, e Adria tinha fé absoluta no tenente.

— Estamos responsáveis pela sua segurança, — ela disse em resposta, verificando o pulso de Sonja para se certificar de que estava bem. — Eu não posso liberá-la para qualquer outra pessoa que não vocês dois.

— Vasic vai teleportá-la a um centro médico. — Com isso, ele se voltou para o seu parceiro.

Alfinetando seus ouvidos enquanto Riaz esfregava seu rosto a um pé de distância, ela sintonizou a conversa em voz baixa.

— Sim, — Vasic disse. — Confirmado.

— Você está certo.

— Sim.

Percebendo que os dois Arrows ou eram cientes da natureza aguda da audição changeling, ou então se comunicaram telepaticamente para que eles não deixassem escapar nada, ela encontrou o olhar de Riaz.

Ele deu de ombros, e ela sabia que ele estava tentando ouvir, também. Ao se aproximar, ela disse — Deixe-me ver seus olhos. — Foi um ardil - ela precisava tocá-lo, resolver os nervos que tinham despertado quando ele entrou em colapso.

— Obrigado pelo resgate. — Ele se sentou pacientemente enquanto ela usava a mini-lanterna no bolso para determinar que seus alunos estavam reagindo adequadamente. — Bom tiro.

Seu lobo teria alegremente destruído o bastardo que tinha machucado ele se Riaz já não tivesse cuidado disso, mas ela disse apenas — Você é meu parceiro. Agradecimento não é necessário.

— Os tiros.— Olhos de marrom pálido escanearam seu corpo com a intenção de proteção. — Você está ferida?

— Eu não acho que o atirador já teve como alvo um changeling antes, ele era muito lento. — Dobrando a lanterna de volta em seu bolso, ela manteve o rosto virado para longe da carnificina, mas não havia nenhuma maneira de evitar o fato de que seu vestuário fora salpicado com manchas de coisas que ela não queria pensar. Seu rosto, ela limpou com a camiseta que usava sob sua camisa, mas ela queria desesperadamente um banho, o cheiro de morte entupindo suas narinas. — Aqui.

Arrancando uma parte limpa da sua camiseta, ela limpou o sangue que tinha batido no lado do rosto de Riaz, sua roupa relativamente incólume por causa do ângulo do tiro.

Sua mão tocou seu quadril, assustando-a o suficiente para que ela congelasse. Segurando seu olhar, ele acariciou delicadamente. Não uma carícia sexual, ela percebeu, simplesmente conforto de um changeling para outro, um lobo para outro. Engolindo o nó de emoção na garganta, ela jogou o tecido rasgado em uma pequena lixeira de metal que era provavelmente para detritos de escritório, e baixou a voz a um nível sub-vocal. — Não aqui, não ainda. — Ela não podia se dar ao luxo de quebrar, a rastejar em seus braços e dar a ela própria um choque.

Cortando o contato, ele acenou com a cabeça, e ambos empurram-se até seus pés. Riaz ficou instável uma fração, mas durou apenas alguns segundos. Na frente deles, os dois homens Psy levantaram-se de sua posição agachada ao lado do corpo, atravessando silenciosamente a mesa para pegar Sonja e se teleportar para fora. Sua velocidade era impressionante de testemunhar, especialmente quando ele teleportou de volta menos de dez segundos mais tarde.

— O Tk não estava trabalhando sozinho, — disse ela para os dois. — O seu parceiro baleou a casa, depois a mim, quando eu percebi que tinha que ser uma distração e me dirigi para dentro. — Ignorando a porta da frente, ela quebrou o seu caminho através de uma janela no piso inferior. — Tenho certeza de que ele estava em pé na sombra dos eucaliptos em frente.

— Um minuto. — Vasic saiu para o corredor e - Adria adivinhou - a janela de onde podia ver as árvores. Ele voltou não muito tempo depois, segurando vários pedaços enegrecidos de grama. — Sim, ele estava lá. Assim como o que parece ser uma motocicleta a jato. As marcas de queimaduras na grama deixaram claro que ele partiu apressado.

Sabendo que não havia nada que pudesse fazer para ajudar a controlar o atirador se ele partisse num veículo de alta velocidade, Adria fez uma nota para ver se poderia pegar um perfume por entre as árvores. Ele poderia vir a ser útil mais tarde, se tivessem que identificar um suspeito. Ao lado dela, Riaz disse — Eu vou falar com os DarkRiver, veja se o atirador passou em alerta por uma de suas patrulhas de segurança. Tiro longo, mas vale a pena tentar.

— Uma análise da assinatura da arma pode fornecer algumas pistas, — Adria disse, mas sabia que as chances eram que sua presa fosse muito inteligente para ter usado uma ferramenta visível.

As palavras seguintes de Vasic a provaram estar correta. — Arma projétil genérico, produzido em massa, — ele disse, olhando para a tela preta da luva computadorizada que cobria seu antebraço esquerdo.

Riaz enfiou a mão pelo cabelo, bagunçando os fios pretos já caídos. — Nós podemos continuar a assgurar o perímetro enquanto você trabalha.

Aden balançou a cabeça. — Não há muito a ser feito aqui além da limpeza. Nós vamos cuidar disso e arrumar a casa. — Ele soou como se a tarefa fosse um simples caso de leite derramado, não óssea e massa encefálica encharcada de sangue. — Nós apreciamos a assistência.

Adria se perguntou com qual frequência um daqueles homens falava aquilo para qualquer um.

 

ADEN estava na janela do corredor e viu os dois SnowDancers entrarem em seu veículo depois de passar vários minutos pelos eucaliptos, onde o atirador estava. Ele estava interessado em saber se o homem iria insistir em dirigir, independentemente do fato de que ele tinha estado inconsciente não muito tempo atrás. Predadores changeling masculinos tinham uma reputação de comportamento irracional. No entanto, este inclinou a cabeça para a alta, bonita soldado feminino - seus olhos uma sombra que Aden nunca vira antes – antes de rir permitindo-lhe tomar o assento do motorista.

Isso o fez se perguntar o que a mulher havia dito que tinha provocado a reação emocional de um homem que tinha visto Aden e Vasic com foco furtivo de um predador desde que recuperou a consciência. — Esta não é a primeira vez que os changelings têm ajudado Psy, — ele disse, observando suas lanternas traseiras desaparecerem na noite. — E, no entanto, nunca os ajudamos.

— O ponto é discutível, — Vasic disse de dentro do quarto onde estava o corpo. — Os changelings não pedem ajuda.

Verdade - os bandos eram muito isolados. — Parece que todas as três raças têm falhas. — Os Psys eram arrogantes ao ponto de não ver a realidade na frente deles, e os seres humanos, eles tinham se deixado subjugar e serem tratados como fracos por muito tempo.

Deixando a janela, voltou para o corpo. — Um dos de Henry. Confirma a conexão PurePsy.— Identificação Visual impossibilitada pelo fato do assassinato a tiro dos SnowDancers terem destruído o rosto do Tk, Vasic tinha acesso ao principal banco de dados Tk do Conselho, identificação confirmada via DNA. Um arrow que tinha se infiltrado nos PurePsy tinha então fornecido a verificação da contínua lealdade política do homem morto para o grupo.

— Você já teve algum sucesso perseguindo Henry? — Perguntou Vasic.

— Não. No entanto, eu tenho algo em andamento que pode dar-nos alguma coisa antes que a noite termine. — Era uma previsão ousada, mas Aden conhecia suas próprias habilidades, assim como ele conhecia as de Henry. — Ele não pode estar protegendo a si mesmo, ele não tem a habilidade. — Henry era de alto Gradiente, mas nem sempre era sobre poder, mas sobre a forma como o poder que o indivíduo tinha era usado.

— Vasquez deve ter arranjado um telepata mais talentoso. — O time tinha zerado no general de Henry, mesmo antes de Kaleb Krychek fazer disso uma prioridade, foi a tentativa de fazê-lo sair da toca. — Ele continua a ser um problema, Tenho sido incapaz de rastrear todas as imagens dele desde a sua morte oficial. — O homem tinha apagado sua presença da Net.

Vasic andou o perímetro da sala, e Aden sabia que ele estava calculando o trabalho a ser feito. — Será que você descobriu por que ele foi retirado do programa de treinamento para a equipe? — O teletransportador perguntou quando ele virou a esquina.

— Ele falhou na avaliação psicológica. — Foi um teste difícil - sociopatas faziam assassinos perfeitos afinal. — Um elevado nível de instabilidade.

— A avaliação psicológica pode ter sido errada neste caso. — Vasic voltou para o centro da sala. — Ele executou as coisas com precisão militar para Henry.

Aden assistiu Vasic abaixar a cabeça, flexionando suas mãos. — Ele também é um fanático.

— Alguns dos que diriam isso são Arrows.— Gotas de sangue começaram a descascar as paredes e fora do tapete, unindo em uma única mancha vermelha sobre o corpo do homem morto. — Éramos muitos no início, quando Adelaja criou o esquadrão.

Uma unidade de elite formada para proteger o Silêncio, que tinha sido a sua missão declarada. Por mais de um século, os Arrows tinham assegurado que ninguém ousasse levantar sua voz contra o protocolo, acreditando que era o silêncio que tinha salvado sua raça. Agora eles sabiam que o silêncio tinha consequências que podiam levar à extinção de seu povo, e que a guerra era inevitável. Depois que acabasse, eles teriam que encontrar uma nova razão de existir.

A gigante ‘gota’ de sangue misturada com manchas de cérebro e osso cresceu mais e mais quando Vasic recolheu vestígios do tapete, as paredes, o próprio ar. Se a âncora decidisse voltar para sua casa uma vez que o perigo tivesse passado, ela não iria encontrar nenhuma evidência de violência.

— Onde devo levá-la? — Perguntou Vasic, seu tom de voz indicando que não havia perturbação emocional na tarefa sombria.

No entanto, Aden tinha conhecido o outro homem quase toda a sua vida, compreendeu quão perto Vasic estava da borda final. — Recipiente Biohazard no necrotério Arrow, — ele disse, e viu como, em vez de teletransportar o material biológico Vasic teletransportou um dos recipientes para dentro. A questão do sangue e do cérebro facilmente flutuantes no receptáculo, nem uma gota derramada, e em seguida, o recipiente foi tampado e teletransportado a distância.

Vasic em seguida levantou o corpo do chão e limpou o sangue preso embaixo, enquanto Aden reverificou o espaço para todos os dispositivos de vigilância discretas que o Tk poderia ter plantado antes do seu ataque. Ele sabia que Nikita e o povo de Anthony já tinham feito um passe, como tinham os changelings, mas um Arrow não levava nada na fé.

Ele não encontrou nenhum sinal de um bug.

Satisfeito, ele desligou o celular que tinha ligado quando Vasic teleportou-os para dentro.

— O quarto está limpo, — Vasic disse no silêncio, o cadáver flutuando a poucos metros na frente dele. — O necrotério?

— Sim.

 

— SE EU ESTOU ENTENDENDO como a rede de âncora funciona, — Adria disse, um tremor repentino invadindo as veias enquanto dirigiam pela garoa leve que havia começado a cair. — Então os fail-safes que conectam com essa âncora tem que estar mortos.

Compreensão brutal escureceu o olhar de Riaz. — Eu espero um inferno que você esteja errada.

Felizmente, ela estava.

— Parece que os PurePsy decidiram reverter a ordem, — Judd disse a eles quando se encontraram com o antigo Arrow na Zona Branca ao retornar à Toca, seu maxilar cerrado com fúria contida, seu cabelo úmido da chuva nebulosa. — Assassine a âncora e use o caos seguinte para eliminar os backups. Mas tem uma segunda pior opção, que eles possam ir direto de âncora a âncora em cada estado.

— Companheiros são peças-chaves o suficiente, — disse Adria, a proximidade da superfície de seu lobo no âmbar de seus olhos, — e a estrutura de suporte começaria a ruir.

Judd pegou no sangue que manchava o fundo da camisa rasgada de Adria, seu moletom amontoado na mão. A soldado inclinou o rosto para a chuva, e ele sabia que ela queria apenas lavar o cheiro de sangue e morte. — Os fails-safes são backups, e não âncoras, — ele disse, confirmando sua suposição.

— Eles não podem manter a PsyNet por eles mesmos durante um período prolongado, e mesmo se outras âncoras esticarem as zonas de influência para cobrir a abertura, o tecido eventualmente esticaria se tornando demasiado fino e começaria a rasgar.

O olhar de Riaz conectou com Judd. — Eu achei que já tivesse entendido, — ele disse, — quão grande é isso, mas eu não fiz, não até agora. Qualquer pessoa que conheça a localização de cada âncora de todo o mundo, ou em uma região grande o suficiente, pode aniquilar a PsyNet.

— Sim. A razão pela qual nenhuma outra raça jamais foi capaz de usar essa fraqueza para acabar com os Psys foi a falta de conhecimento, apenas um Psy na Net, um com acesso a informações classificadas, pode coletar dados sobre as identidades e localizações físicas dos âncoras e seus fail-safes.

Adria soltou um suspiro. — Meu Deus... A confiança que eles depositaram em nós.

— O façam ou não outros Psys, — Judd disse — Tanto Nikita quanto Anthony entendem que existem certas linhas que os DarkRiver e SnowDancer não vão ultrapassar. — Esse núcleo de honra foi um dos motivos que Walker e Judd arriscaram desertar em tal perigoso território changeling - a idéia de dano colateral aceitável era um anátema para os bandos. As crianças e os inocentes não seriam prejudicados, e um colapso na Net extinguiria a vida com imparcialidade implacável. — Independentemente disso, é apenas uma confiança temporária, assim que as âncoras forem movidas, nós já não teremos essa informação.

— Porque é que está demorando tanto para deixar as casas seguras? — Riaz Perguntou, piscando fora a água batendo em seus cílios. — Essas âncoras são alvos fáceis agora.

A própria frustração de Judd ecoou o outro tenente. — Elas não podem ser movidas para muito longe. — Era uma limitação crítica. — Não se ficarem naquele local por um tempo, e temos que assumir que eles vão estar lá por um tempo. — É necessário a população de âncora permanecer uniformemente distribuída - muitas em uma área, ou âncoras se movendo muito rápido para fora da região, deformaria o tecido da PsyNet.

— Isso faz com que seja mais difícil de encontrar furos de segurança.

Riaz xingou baixo, a compreensão sombria em sua expressão. — Porque os assassinos sabem que só têm de procurar em uma área limitada.

— Sim. — Âncoras também tem uma alta necessidade de estabilidade, de modo que não poderiam ser transferidas para um local temporário e, em seguida mudarem-se novamente, sem afetar negativamente a Net na região. — No entanto, a última atualização de Nikita e Anthony dá uma estimativa de 48 horas antes das realocações começarem.

— Quão ruim vai ficar? — Adria disse depois que Judd terminou de falar, lutando contra o desejo de envolver-se em torno de Riaz e apenas respirar no calor vivo da sua pele até que o frio deixasse seus ossos. Ela não se arrependeu de matar o assassino, mas a violência a tinha sacudido - no entanto, ela queria beijar os machucados feios no pescoço do lobo solitário, dar carinho para ele e permitir que a guarda dela caísse.

— Ruim, — Judd disse em resposta a sua pergunta. — PurePsy podem ter perdido esse Tk, mas eles vão encontrar outro. — Na realidade o que não se falava era que a designação de Judd era uma das mais instáveis ​​na Net, uma forragem vulnerável para um grupo que prometia paz. Há uma grande chance de que eles passem de alvos aleatórios... Para pessoas que não podem proteger.

Sombrio e escuro, as palavras deixaram claro quantos Psys poderiam morrer nos próximos dias e semanas, talvez meses. — Eles não vão ganhar, — ela disse ferozmente. — Nós não vamos deixá-los.

Judd tocou seu rosto com os dedos em uma carícia inesperada deste mais remoto dos homens, sua pele fria da chuva. — Você ajudou a salvar uma âncora hoje, e ao fazê-lo, protegeu milhares de inocentes. É um começo. — Ele acenou com a cabeça em direção ao SUV que tinha conduzido. — Eu vou ver se consigo descobrir algo a mais.

Um calafrio repentino percorreu a figura de Adria quando o tenente Psy entrou e ligou o motor. — Eu preciso tomar banho.

— Venha aqui. — Os olhos com brilho de noite se tornaram neblina, Riaz tentou puxá-la em seus braços.

— Não. Estou totalmente...

Ele puxou-a para perto, apertando-lhe a nuca e inclinando-se para esfregar seu rosto sobre o dela. Com a barba de vários dias, sua mandíbula era como uma lixa, mas ela não se importava, sua pele estava um inferno. Tudo o que ela queria era rastejar para ele e nunca mais ir embora.

— Eu que não vou deixar você ficar sozinha agora, — ele rosnou. — Portanto, não se atreva a me mandar embora.

Ela tinha que mandá-lo, é claro que ela tinha, mas ela era fraca o suficiente para se agarrar à força sólida dele por longos minutos antes de permitir que ele a levasse de volta para seu quarto. Mas quase ao entrar no quarto, ela colocou a mão no peito dele e segurou-o à distância. — Não. — Foi muito difícil conseguir uma única palavra para fora, uma necessidade violenta asfixiava-a.

Olhos de ouro espanhol se chocaram com os dela, a fúria neles temperada por uma ternura que a matou.

Ignorando a mão dela e a declaração de ambos, ele entrou e fechou a porta atrás de si.

— Riaz...

Mas ele já estava girando em torno dela e puxando sua blusa úmida. Agarrando-a em uma mão, a outra espalmada em seu abdômen quando ele foi para trás dela, ele disse, — Eu nunca vou te perdoar se você não me deixar cuidar de você esta noite. — Foi o voto de um predador changeling masculino conduzido para o abismo.

Para sua vergonha, ela não era forte o suficiente para afastá-lo uma segunda vez. Em vez disso, ela o deixou tirá-la com as mãos suaves, deixou-o se juntar a ela no calor do vapor do chuveiro e cuidar dela com um carinho selvagem que quebrou seu coração. Não havia mais nenhuma raiva nele, apenas uma gentileza possessiva que a marcava como sua.

Aconchegando-se em uma toalha, pouco tempo depois, ela sentou-se, enquanto ele secava o cabelo, em seguida, segurou-se a ele enquanto ele a pegava e a levava para a cama. Onde ele a abraçou perto e passou a mão pelas costas, até que ela se deu conta de que estaria segura em seus braços, o cheiro amadeirado com a mordida citrus de seu perfume em cada respiração, ela não teve pesadelos.

— Te amo.

Ela estava à beira do sono, com os olhos pesados​​, mas ouviu as palavras de amor que ele falou, seu belo lobo negro... E ela sabia que esta noite iria quebrar o último fragmento remanescente de seu coração.

 

VASIC ERA UM assassino. Era o que ele tinha sido programado para ser desde que era uma criança colocada no Esquadrão Arrow. Ele tinha estado tão confuso, tão assustado. Porque ele ainda sentia então, havia sabido mesmo quando uma criança de quatro anos que as pessoas que tinham vindo por ele não eram pessoas que ele queria em sua vida.

Ele tinha escapado deles, também. Várias vezes. Nenhuma segurança poderia conter um Viajante. Foi por isso que ele tinha sido colocado sob o ‘cuidado’ de outro Arrow, o único outro Tk-V que ele tinha conhecido em toda a sua vida – e o único que tinha entendido como a mente de Vasic funcionava bem o suficiente para enganá-lo.

— Você não sente nada? — Tinha sido uma pergunta inocente de uma criança para o homem que se tornaria seu pai, treinador e carcereiro.

— A emoção é uma fraqueza. Você vai ficar em Silêncio logo, então, você vai entender.

Vasic não tinha simplesmente ficado em Silêncio, ele tinha se tornado ainda mais um Arrow que o seu mentor. Patton tinha estado usando Jax, a droga usada para controlar Arrows, desde que ele se tornara uma arma que era visada, apontada, e dita a quem matar. E quando seu desempenho começou a cair, ele tinha sido derrubado como um cão.

Vasic não tinha estado tão perto do Jax quanto Patton, e assim, apesar do que muitos acreditavam, ele podia ainda pensar por si mesmo. Jax poderia criar soldados perfeitos, mas também, eventualmente, anestesiava as mentes daqueles soldados. A mente de Vasic permanecia como uma navalha afiada, suas habilidades afinadas por uma borda letal - afinal, como um Viajante, ele fazia parte da Designação Tk, teletransporte não sendo sua única habilidade.

Agora, Vasic se afastava da vista do Pacífico proporcionada por esta remota área rochosa, a grama atingindo o topo de suas botas de combate, e disse, — Você tem Henry?

— Sim. — O olhar de Aden estava no horizonte, o céu de um cinza pálido que se fundia na preta porção do mar, o nascer do sol pelo menos à uma hora de distância.

— Como?

— Eu não procurei por Henry,— Aden respondeu em um aparente paradoxo. — Eu procurei por médicos treinados em tratamento de ferimentos de queimaduras graves que haviam desaparecido de cena.

E era por isso, pensou Vasic, que Aden liderava os Arrows. — Envie-me os marcadores para o bloqueio de teletransporte.

Uma batida tranquila em sua mente, um pedido de entrada. Quando ele abriu o canal telepático, Aden enviou imagens detalhadas da câmara de vidro esterilizada na qual Henry jazia, o corpo marcado por fogo X. O médico cuja mente eu tirei as imagens não soará o alarme - ele não tem consciência de que eu infiltrei seus escudos.

— Henry, — Aden acrescentou em voz alta, — nunca pensou a longo prazo, então, o fato de que ele deixou seus médicos não blindados era um erro previsível, mas eu esperava mais de Vasquez.

Vasic considerou o que eles sabiam sobre o homem que era o general de Henry, pesando isto contra os atos dele até o momento. — Não importa em que ele acredita, a razão por si só não o direciona. — E tal homem cometeria erros. — E Ming?

Ambos sabiam que Henry tivera ajuda em suas mais recentes atividades militares - o ex-Conselheiro não era criativo o suficiente para ter surgido com estratégias tais como a arma sônica que tinha virado a audição sensível dos changelings contra eles. Era impossível provar se Ming também tivera uma mão na evolução da ideia de paralisar a Net assassinando âncoras, mas a probabilidade era alta.

— Corremos o risco de uma cascata fatal na Net se eliminarmos dois ex-Conselheiros de uma vez, — Aden disse, seu cabelo levantando no vento salgado vindo das ondas quebrando.

Nem todo Conselheiro morto, Vasic sabia, tinha um impacto tão grande. Dependia das circunstâncias circundantes. O assassinato de Marshall Hyde tinha causado um murmúrio menor, no máximo. No entanto, agora, a devastação em Cape Dorset tinha a população bambeando. Outro choque poderia quebrar uma série de mentes frágeis. Porém. — Henry já está morto, tanto quanto a maioria das pessoas estão sabendo.

— Exatamente. Sua execução deve deixar a Net relativamente incólume.

— Quando você quer que eu termine o trabalho?

Os olhos de Aden encontraram os dele, a íris marrom escuro tendo um sentido de vida nelas que Vasic já não via em sua própria. — Eu não sou seu controlador, Vasic. Se vamos fazer isso, vamos fazer isso juntos.

— Isso não é racional. Aumenta o risco de descoberta.

— Talvez, — Aden disse calmamente, — nós não deveríamos ser sempre tão racionais. Judd não foi racional quando desistiu de tudo na escassa chance de que sua família fosse encontrar abrigo com os SnowDancer, e ele tem uma vida.

Enquanto eles existissem.

Vasic sabia que ele nunca teria uma vida como Judd, era muito danificado, mas Aden tinha uma chance. — Eu vou fazê-lo, — ele disse, e teletransportou-se antes que o outro homem pudesse detê-lo.

Chegando ao seu quarto, ele puxou uma capa preta em torno de seu corpo, o capuz sobre a sua cabeça, puxando-o para frente até que ocultasse seu rosto para a invisibilidade escura. Não havia necessidade de dar aos homens de Henry, Vasquez em particular, um alvo específico - quanto mais confuso, menos eficaz PurePsy se tornaria.

Uma pulsação de concentração nas imagens que Aden tinha recolhido da mente do especialista em queimaduras, e ele estava de pé ao lado da forma adormecida de Henry, o teletransporte tão preciso que o ar não se agitou, os alarmes nas proximidades silenciosos. Sombras encheram a luz silenciosa da sala, até que ele era simplesmente outra parte da escuridão.

O técnico além do vidro não tinha nenhuma suspeita de um intruso, os olhos em um monitor. Teleportando-se atrás dele, Vasic incapacitou o homem mais velho com uma simples, indolor beliscada no nervo que o manteria desacordado por cerca de uma hora, antes de retornar para a sala de vidro preenchida com o silencioso bombear das máquinas que mantinham o mutilado corpo de Henry Scott vivo, a respiração um duro, repetitivo arquejar.

Fogo X não era como fogo normal, o dano que causava tão extenso e profundo que nem sempre era possível reparar totalmente. Henry, ele viu, tinha perdido as pernas, parte de um braço. Os membros deviam ter sido escovados pelo fogo frio e se desintegrado antes que o ex-Conselheiro fosse teletransportado para fora. Parte de seu estômago era visível através do vestido médico, o amarelado de sua carne aparecendo mesclado com o derretido e borbulhoso preto de algum tipo de plástico. Seu rosto estava relativamente ileso - exceto pela queimadura através de sua bochecha e boca que tinha tomado seus lábios. Talvez o suficiente de mudança para parar um teletransportador que bloqueasse pessoas tão bem como lugares, se os escudos de Henry não tivessem sido tão fortes.

Ver isso iria perturbar Sienna Lauren.

Foi um pensamento repentino, sobre uma garota que ele tinha visto apenas uma vez - quando ele tinha reportado para Ming como um garoto de dezoito anos recém formado Arrow. Ela tinha sido uma criança, com um olhar em seus olhos que ele tinha reconhecido em nível visceral. Sua resposta a ela tinha sido um dos primeiros sinais de que ele não era Patton e nunca seria, o conhecimento de um presente que lhe permitira sobreviver tanto tempo.

Agora, tendo estado observando o monitor cardíaco, ele olhou para baixo... para ver os olhos do ex-Conselheiro olhando para ele.

— Não, — Henry grunhiu, suas cordas vocais claramente chamuscadas.

— Qualquer chance de que pudéssemos ter deixado você viver, — Vasic disse, — foi perdida quando você tentou destruir a própria Net. — Os Arrows não deixariam ninguém destruir a Net.

Chegando com a parte de sua mente que não era tão elegante quanto sua capacidade de teletransporte, mas funcionava tão bem, ele estalou o pescoço de Henry, mesmo enquanto ele desligava as máquinas monitorando o corpo quebrado do outro Psy. O uso de Tk foi insignificante, o efeito catastrófico. Henry morreu no silêncio que ele queria criar na Net, e Vasic ficou de guarda até que o corpo do ex-Conselheiro estava frio ao toque, sem nenhuma esperança de renascimento.

Ele teletransportou-se para a área rochosa para encontrar Aden sentado em um banco que alguém tinha colocado lá há muito tempo, tornando-se parte da paisagem. — Está feito. — Empurrando para trás o capuz de seu manto, ele caminhou até a beira do penhasco, o fogo cintilante do céu falando de um nascer do sol luminoso. — Temos de encontrar e eliminar Vasquez para desativar completamente o maquinário de PurePsy.

— Vasquez é mais esperto do que Henry.

— Nós vamos encontrá-lo. — Arrows sempre achavam aqueles que eles caçavam.

— Eu não vou deixar você morrer, Vasic.— A voz de Aden estava tranquila.

Vasic não respondeu, mas ambos sabiam que Aden não poderia pará-lo. Uma vez que Vasic tivesse pago suas dívidas, uma vez que a Net estivesse segura, tudo o que ele queria era paz. Para sempre.

 

EMOCIONALMENTE ABALADA PELA tenra, assombrosa noite que havia sido seguida pela selvageria possessiva do amor do seu lobo solitário quando a manhã rompeu - um amor que ela não tinha sido capaz de resistir, mesmo sabendo que era errado - a última pessoa que Adria antecipou ver quando abriu a porta sendo batida poucas horas mais tarde, era Martin.

Atordoada demais para falar, ela apenas olhou para o homem ruivo que já tinha sido seu amante uma vez. Ela não sabia o que ela tinha esperado, se eles alguma vez se encontrassem de novo, mas não era este silencioso sentimento de perda, lascas de memória flutuando em sua mente. Como se ele tivesse sido parte de uma outra vida.

— O que você está fazendo aqui? — ela finalmente perguntou, procurando, mas não encontrando o que foi que a tinha atraído a ele tanto tempo atrás. Apesar da dor que ele causara nela, ela sabia que no cálculo final, ele não era uma pessoa ruim, era que simplesmente não havia nenhuma força nele, e ela precisava daquilo em seu homem.

— Eu queria falar, — ele disse em uma voz hesitante, os olhos cor de avelã incertos. — Eu não vou te culpar se você disser que não, mas eu estou pedindo.

Saindo, ela fechou a porta atrás de si, o celular que ela tinha levado para a sala para se arrumar, na mão. — Vamos andar do lado de fora. — Não importava qual o status de seu relacionamento com o lobo negro que se recusava a deixá-la libertá-lo, ela não podia ter, não teria, o cheiro de Martin dentro de seu quarto. Seria uma traição.

Martin não disse nada até que eles estavam em uma parte da floresta que dava para o lago mais próximo da Toca, as águas lisas como vidro hoje. Vários companheiros de matilha caminhavam ao longo da borda da água, brincavam no raso na forma de lobo, ou sentavam-se nas pedras da praia, mas não havia ninguém por perto, nenhuma chance de que alguém fosse ouvir a conversa deles.

Inclinando-se contra um jovem cedro resistente, ela correu o olhar sobre Martin. Ele estava... Diferente, as mudanças sutis, mas presentes. Como se ele, também, tivesse sido quebrado e colado de volta, com o rosto segurando uma maturidade que não tivera no dia em que ela tinha batido com a porta na cara dele. E os olhos dele, eles estavam agitados com emoção quando eles encontraram os dela. — Eu vim para dizer o que eu deveria ter dito um ano atrás.

Ainda incerta sobre para onde isso estava indo, ela simplesmente esperou.

— Sinto muito, Adria. — Palavras duras, a expressão dele desprovida de fingimento, da dignidade rígida que sempre tinha sido sua armadura. — Desculpe por ser um bastardo e desculpe por não ter a coragem de enfrentar o que eu estava fazendo a nós.

Não era nada que ela, algum dia, esperasse ouvir, mas ela tinha as palavras para responder. — Obrigada por dizer isso. — Significava algo que ele tivesse feito o esforço para encontrá-la, para fazer um pedido de desculpas que ela sabia que não poderia ter vindo facilmente. — Mas não foi tudo sua culpa - eu joguei minha parte.

— Não, — ele sussurrou. — Não me absolva de culpa, eu sei muito bem que eu mereço.

— Eu não estou, — ela disse, porque entendia a coragem que tomava ter que enfrentar seus próprios defeitos, e ela não diminuiria a de Martin.

— Mas... — ela segurou o olhar dele, deixou-o ver a verdade em seus olhos — Está feito, nada que você precise levar como uma pedra em torno de seu pescoço. — A vida dela agora mesmo podia ser uma tempestade turbulenta, mas o capítulo com Martin, ela tinha fechado há muito tempo. Era parte de um passado que a tinha moldado, mas não mais a enjaulava. — Espero que você encontre a felicidade. — O desejo era genuíno, para um homem que uma vez a fizera rir.

Fechando a distância entre eles, ele tocou um hesitante dedo na bochecha dela. — Eu nunca soube o que eu tinha até que você tivesse ido embora. — Uma sentença silenciosa, os olhos dele sombreados com perda e culpa atormentada.

— Nós somos um pedaço da história um do outro agora, Martin, — ela disse suavemente, a força para ser gentil vinda não de seus agressivos instintos de soldado, mas da parte dela que entendia que compaixão não tinha de significar fraqueza. — No passado.

O olhar dele traiu um pesar que prateou a mais aguda emoção através dela, mas não encontrou nenhum gêmeo. Como Riaz tinha visto no que parecia uma eternidade atrás, ela nunca tinha amado Martin da forma que uma mulher predadora changeling devia amar seu homem - até que fosse um uivo selvagem em seu sangue, um desejo quase doloroso e uma ternura que queimava. Ainda assim, eles não tinham sido sempre adversários, então ela não o machucou rejeitando seu abraço antes de ele partir.

— Tchau, — Adria sussurrou enquanto as costas dele desapareciam nas árvores, sabendo que ela tinha colocado o fantasma final para descanso, mesmo se Martin continuasse a lutar com eles. Havia calma em fazer as pazes com seu passado, mas aquela paz estava esmagada por uma angústia que ia para a alma, como se um pedaço dela mesma tivesse sido arrancado e a ferida não estivesse curando.

Porque desta vez, ela tinha amado de verdade.

Até que, a despeito da promessa silenciosa que ela tinha feito para não pedir a ele o que ele não podia dar a ela, ela não podia suportar estar com Riaz sabendo que não era sua primeira, sua única. Ainda assim... O jeito que ele a amava, o jeito que ele a marcava com seu beijo, a posse primitiva nas ásperas, belas palavras que ele falava para ela - a fez querer acreditar que o coração dele carregava o nome dela, não o de Lisette.

O tumulto de seus pensamentos opostos tinha o lobo dela arranhando e rosnando, não mais certa de que escolha era a mais acertada.

 

QUANDO Riaz retornou ao território da Toca no final da tarde após lidar com algumas coisas na cidade, ele estava determinado a continuar onde ele tinha parado com Adria - para descobrir que ela tinha pedido uma mudança em seus deveres que a colocava nas montanhas durante três dias, em um dos altos perímetros de vigilância que ninguém além dos lobos solitários gostava muito, estando tão isolados. O soldado que ela substituíra estava em êxtase, e mais do que feliz em tomar as mudanças de Adria sobre detalhes da ancoragem.

Ele sabia que a única razão pela qual ela não tinha se oferecido para um trecho ainda mais longe era que ela era muito leal aos seus alunos para deixá-los treinando entre eles. Da forma que era, ela tinha organizado duas sessões especiais para eles com o solitário dominante que tinha o dom de não intimidar até mesmo o mais delicado submisso - Drew - e levara um telefone por satélite com ela, no caso de as crianças precisarem entrar em contato. Um telefone que ela tinha aparentemente dado para todos, exceto Riaz.

Seu lobo rosnou, mas ele esperou a sua vez, porque quando ele fosse atrás dela, não voltaria sozinho. Primeiro, ele tinha que tomar conta de outro assunto em que tinha estado trabalhando em segundo plano - e, dadas as mudanças que ele estava fazendo com o esquadrão de proteção do âncora, bem como seus deveres como o tenente encarregado dos interesses comerciais internacionais dos SnowDancer, tomou dele até no final do dia seguinte para colocar todas as peças no lugar.

Foi na manhã depois daquilo que ele dirigiu até San Francisco.

Lisette sorriu ao vê-lo na porta de seu quarto de hotel. — Esta é uma agradável surpresa.

— Nós temos que conversar. — Era passado o tempo. — Sobre nós.

O sorriso dela esmaeceu. — Riaz, eu senti algo a primeira vez que nós encontramos, mas...

Ele pressionou um dedo sobre os lábios dela, sentindo uma afetuosa ternura por ela, tanto quanto ele poderia se sentir por um estimado amigo. — Eu sei. Eu não te amo também. — Era tão simples como isso, independentemente da promessa do vínculo de acasalamento que existia com Lisette. Seu coração, o coração de um lobo solitário, pertencia absoluta e indelevelmente a uma teimosa mulher de olhos violeta que estava indo fazê-lo persegui-la até as montanhas. Nenhuma potencial fantasia de um futuro poderia conter a vela para a felicidade incandescente que homem e lobo sentiram em simplesmente estar na presença de Adria.

— Ah, bom. — O riso de Lisette foi um pouco choroso. — Porque eu estou estupidamente apaixonada por um homem que não me quer.

Entrando dentro da sala, ele fechou a porta e puxou-a para a janela que dava para o estacionamento abaixo e a rua tranquila além. — Você está com raiva.

A mão de Lisette apertou a dele. — Furiosa seria a melhor palavra. Eu sei que deixei Emil, mas ele deveria lutar por mim! Como ele pode apenas me deixar ir?

— Olhe para baixo. — Ele afastou a cortina de renda.

A respiração de Lisette lançou-se em um suave sussurro quando ela viu o esbelto homem loiro de pé ao lado de um sedan prata alugado no estacionamento. — Você ligou para ele?

— Ele tem estado na cidade desde o dia depois que você chegou. — Emil era um bom homem, um que amava sua esposa tanto, que ele tinha pensado em deixá-la livre quando ele tinha sido diagnosticado com um raro distúrbio genético que significaria anos de árdua visita hospitalar para cura, terapia que poderia deixá-lo em agonia - algo que ele sabia que causaria em Lisette dor brutal. Só que ele não pode suportar viver sem ela, a tinha seguido através do oceano e manteve uma vigília sobre ela. — Ele ama você.

— Ele me mandou os papéis do divórcio! — Claramente indignada, Lisette empunhou ambas as mãos... Embora seus olhos continuassem a beber da visão de seu marido.

— Dê a ele uma folga. Ele estava ficando louco. — Riaz tinha localizado Emil abaixo com a intenção de chegar ao fundo das coisas, de fazer o outro homem ver o quão ruim ele estava machucando Lisette. No entanto, descobriu-se que Emil já tinha feito a sua mente para recuperar sua esposa e confiar na força do amor deles para atravessá-los pelo teste que estava por vir.

— Quando eu falei com ele hoje, — Riaz continuou, — ele estava planejando invadir suas defesas, mas ele concordou em me dar alguns minutos com você primeiro. — Só porque Riaz tinha prometido tentar suavizar o humor de Lisette, embora até este segundo, ele não tinha tido ideia de que ela mesmo tivesse um temperamento.

— Hah! — Lisette chutou a parede com um pé vestido com um frágil salto alto cor de pêssego, tentando empurrar a janela fechada ao mesmo tempo. — Ele acha que pode me ter de volta apenas aparecendo?! — Uma rápida tempestade de indignação em francês conforme ela desistia da janela e caminhava até a porta.

Abrindo-a com tanta força que bateu na parede, ela saiu.

Emil não estava olhando para o hotel quando ela pisou do lado de fora, mas ele virou-se uma fração de segundo mais tarde. Expressão iluminando-se, ele foi para tomar Lisette em seus braços. Neste ponto, sua doce, amorosa, culta mulher deu um soco no queixo dele, duro o suficiente para que a cabeça dele girasse. Depois disso, ela embalou seu rosto entre as mãos e beijou-o profundamente, antes de se afastar e gesticular em fúria desenfreada.

Em seguida, ela se abaixou, tirou o sapato e jogou-o na cabeça dele, ignorando a pequena multidão de espectadores fascinados. Esquivando-se do míssil, um Emil risonho agarrou-a pela cintura, prendendo os braços dela para os lados. Mas Lisette tinha liberdade o suficiente de movimento para puxar a saia na altura do joelho e tentar atingir seu marido nas partes masculinas.

Riaz estremeceu, depois sorriu, sabendo que o outro casal estaria bem. A sofisticada e elegante Lisette que o resto do mundo conhecia nunca faria uma cena nessas proporções impetuosas - claramente era apenas com o homem amado, que ela deixava seus escudos caírem. Assim como sua Adria nunca permitiria que qualquer homem, exceto Riaz, reduzisse-a a gargalhadas conforme ela se contorcia através da cama em uma tentativa de escapar dos dedos dele fazendo cócegas nela... Ou abraçá-la, quando ela estava mais vulnerável. — Eu estou indo, amada. E eu não estou vindo sem você.

 

ADRIA sabia que estava abaixo de sua loba ter que correr, mas ela precisava de espaço para pensar. Algo que Riaz tornou impossível fazer quando continuou a cortejá-la com um foco tão inflexível. Depois de sua conversa com Martin, ela tinha entrado em seu escritório para encontrar um vaso de planta esperando por ela, um grande laço vermelho em volta do vaso.

Dama da Noite. Para a minha imperatriz. Vamos plantá-la e ver se ela floresce para nós.

Adria ainda tinha a nota no bolso, enrugada e mole do manuseio constante.

Agora, conforme a noite se fechava nas montanhas, um crepúsculo em tons de roxo, ela correu para o acampamento base e mudou para a forma humana, a primeira vigília completa. Arrastando-se em um jeans, uma camiseta lisa de manga comprida preta e um moletom cinza, ela estabeleceu-se em frente à fogueira.

O outro lobo na vigília ali em cima tinha o acampamento base na extremidade oposta da rota, correria na segunda vigília, mas Adria tinha de estar descansada para a terceira em poucas horas. Mesmo sabendo daquilo, ela não sentia nenhuma vontade de dormir, sua mente um caos de necessidade, carência e escolhas impossíveis. Ela tinha só esta noite antes que tivesse que voltar para a Toca, e ela não tinha respostas para as perguntas que a atormentavam.

Quando ela pegou o escuro cheiro de madeira queimada e uma pitada de citrus de Riaz enquanto ela se movia, ela gemeu, percebendo que estava vindo do suéter. Ela havia jogado aquilo em sua mochila, de onde tinha estado em cima da cômoda, esquecendo-se que ela não o usava desde a manhã depois do prado na meia-noite... A noite que ela tinha dado a si mesma para ele.

Agora o cabeça dura do lobo estava segurando-a pelas palavras dela, contrário a todas as regras da cartilha de quando acontecia o acasalamento. Emoções oscilando entre fúria frustrada, desespero negro e uma paixão que ardia, ela puxou as mangas do suéter sobre os dedos e colocou seus braços em torno de si própria, mesmo sabendo que não havia maneira de limpar a cabeça.

Outro sussurro daquele escuro, quente aroma masculino... Muito forte, muito fresco para vir do suéter. Levantando-se, com o coração na garganta, ela se virou para as árvores. Ou ela estava ficando louca, ou o teimoso lobo solitário do homem havia vindo atrás dela. Deus, mas ela o amava. — Você tem uma companheira. — Foi um lembrete desesperado para ambos, porque a força de vontade dela... Estava desmoronando a apenas poeira.

— Eu tenho você. — Ásperas, determinadas palavras. — Uma irritante mulher que pediu ao homem e eu, nada menos, roubei a Dama da Noite para tomar conta dela! Eu provavelmente vou ter que amarrar Felix para consegui-la de volta.

Adria balançou a cabeça, dando um passo para trás. — Não seja charmoso. — Cada parede que ela tentou levantar estava derretendo, cada escudo rachando. — Eu não vou roubar a sua chance de acasalamento. — Envenenaria a relação deles com uma gota corrosiva de cada vez.

Riaz continuou a andar em direção a ela, lenta e implacavelmente. — Eu joguei isso fora de livre e espontânea vontade, — ele disse, os olhos cintilando em ouro escuro à luz da fogueira. — Eu te amo com loucura, Imperatriz.

O lábio inferior dela tremeu, o coração traidor estrondando contra as costelas. Um lobo solitário não diria aquelas palavras para qualquer pessoa, a devoção dele um presente que ele daria apenas para a mulher que ele chamava de sua.

— Riaz...

Ele agarrou os braços dela quando ela teria dado mais um passo para trás, arrastando-a em seu peito para mantê-la firme. — Não. — Um rouco sussurro que era mais do lobo do que do homem. — Não ande para longe de mim novamente. Eu não poderia suportar isso.

O corpo inteiro dela estremeceu quando ela lutou contra a necessidade interior dela e a perda. — Você vai me odiar, — ela disse, com os braços fechados em torno dele, porque ela não podia não abraçá-lo quando ele estava perto. — Um dia, você vai me odiar. — Era a coisa que ela mais temia.

Segurando a mão no cabelo dela, ele pressionou a testa dele contra a dela, seus olhos de noite brilhando no escuro. — Eu vou te amar até o dia em que eles me deixarem na terra.

Lágrimas alojaram-se na garganta dela com a ferocidade do voto dele. Ela sentiu-se subitamente frágil, como se fosse feita do mesmo vidro que as pequenas imagens que Riaz trouxera para ela de Veneza. Mas quando ela separou os lábios para dizer algo - ela não sabia o que - ele os cobriu com os dele. Não era a devastadora, possessiva marca, mas uma lenta, doce sedução, persuasão.

Arrogância, força, dominação, ela poderia ter resistido, mas essa ternura...

— Adria. Adria. Adria. — A voz dele um murmúrio áspero, ele beijou um caminho até o pescoço dela, e voltou para a boca. — Minha Adria.

Ela era apenas uma mulher. Uma mulher que amava esse homem com o coração do lobo. Ela tinha lutado tanto, afastando-se mesmo quando aquilo ameaçou quebrá-la para sempre, tinha dado a ele uma escolha. Que ele tinha escolhido-lhe... Não, ela não era sobre-humana o suficiente para resistir a isso, mesmo que lá no fundo, ela soubesse que a escolha que estava prestes a fazer poderia um dia atacá-la. — Eu amo você, — ela disse contra a boca dele.

— Prometa-me que você nunca vai se afastar de mim novamente. — Uma demanda, a mão calejada dele segurando o rosto dela, um dos polegares acariciando possessivamente sobre os lábios.

— Eu prometo. — Ela beijou-o quando ele teria retornado a promessa, amando-o até que ele se esqueceu do que tinha estado prestes a dizer.

 

SIENNA SOBREVIVEU A OUTRO encontro das maternais para rastejar para a cama sob o fofo cobertor azul céu que ela tinha comprado online. Modelado com flocos de neve brancos, era tão suave em torno de seu corpo que ela se sentia como se estivesse flutuando sobre uma nuvem. Até que foi puxado para longe algum tempo depois, para ser substituído por um muito mais pesado e quente cobertor. — Você está atrasado, — ela murmurou sonolenta.

Beijos afagando-a ao longo do pescoço e mãos fortes acariciando a curva de sua cintura. — De acordo com meus muitos espiões, você foi para a cama às oito e meia. — Um beijo pressionado entre os seios dela. — Maternais fizeram a sua cabeça doer?

— Um pouco menos, desta vez. — Empurrando os dedos através da espessura gloriosa do cabelo dele, ela puxou-o para cima para um daqueles longos, preguiçosos, sensuais beijos que ela adorava no lobo dela. — O que Lucas disse? — Com os acidentes com âncoras tendo se acalmado conforme Nikita e Anthony começaram a mudá-los para casas seguras permanentes, Hawke tinha descido para o território DarkRiver com Riley para uma reunião para finalizar as regras de namoro inter-matilhas.

— Que nós deveríamos apenas atirar nas nossas cabeças agora. — Separando as coxas dela, ele se colocou entre elas. — Eu gosto de te encontrar nua na cama, toda quente do sono e sedosa.

Lábios puxados para cima com a declaração satisfeita, ela envolveu uma perna ao redor da cintura dele. — Minhas amigas me deram algumas lingeries muito bonitas como presente de acasalamento. — O presente íntimo a levara a corar, fazendo Evie, Maria, e o resto de suas lunáticas amigas uivarem de tanto rir. — Eu estou com medo de usar qualquer uma delas, — ela disse para o lobo na cama com ela, — no caso de você rasgar o cetim e renda em pedaços.

Mordendo o lábio inferior dela, ele correu uma mão para afagar e acariciar seu peito. — Você pode fazer um desfile de moda mais tarde, depois que eu estiver devidamente saciado.

— Homem arrogante. — Ela mordiscou o queixo dele. — Você me acordou de um sonho muito bom.

Um brilho nos olhos azuis. — Eu vou corrigir isso pra você.

Ele fez. Duas vezes.

Deitando felizmente esgotada no peito dele, ela acariciou o musculoso calor dele e falou de algo que tinha estado em sua mente desde o confronto na floresta. — Ming não vai deixar isso assim.

— Eu sei, — Hawke não soava preocupado - sua voz era a de um predador no modo de caça. Fria. Focada. Sem piedade. — É por isso que eu vou matá-lo.

Empurrando-se para cima no peito dele, ela olhou para seu rosto, o cabelo dela criando uma cortina vermelha rubi em torno deles. — Desculpe-me. Eu acho que deve ter usado acidentalmente o pronome errado.

O grunhido que retumbou do peito dele foi alto o suficiente para chacoalhar o copo de água na mesa-de-cabeceira. — Tudo bem, você pode ficar no canto e comemorar, enquanto eu o mato.

Ela começou a rir, e isso era a última coisa que ela teria algum dia pensado que ela faria ao falar sobre o Conselheiro Ming LeBon, telepata e um monstro que tinha transformado sua infância em uma câmara de tortura. Ao contrário do homem na cama com ela, que tinha lhe ensinado a brincar, e que a tratava como se ela fosse um presente que ele estivera esperando uma vida inteira para abrir.

— Se você está me imaginando com pompoms, — ela disse, vislumbrando o brilho renovado nos olhos dele, — pare agora mesmo. — O efeito de sua ordem foi um pouco diluído pelo riso que continuava a dançar em seu sangue.

— Ou o quê? — Não arrependido, ele virou-a sobre as costas dela, mas, apesar da maldade em sua expressão, as próximas palavras dele foram mortalmente sérias. — Ele vai morrer, Sienna. Ninguém ameaça minha companheira e escapa das consequências disto.

Ming tinha sido o pesadelo particular dela por um longo tempo. Isso foi antes de ela ter sido reivindicada por um lobo alfa que tinha uma cruel vontade quando se tratava de proteger aqueles que eram dele. Sienna entendia aquela parte dele - porque existia nela, também. Qualquer um que se atrevesse a machucar Hawke imploraria por misericórdia no momento em Sienna tivesse acabado com eles.

— Nós temos que ter um plano, — ela disse, falando aos olhos gelados do predador que a observava do rosto do homem. — Um tão bom, que as habilidades de Ming não vão salvá-lo. — O Psy macho era um telepata especializado em combate mental, poderia cortar através das mentes como se ele tivesse lâminas em suas mãos. — Você e eu teremos que trabalhar como uma equipe e confiar em alguns outros para ajudar, o problema mais crítico que temos de resolver é como nos livrarmos dele sem atingir os inocentes na Net.

A mão de Hawke se fechou ao redor da garganta dela, a possessividade do domínio ecoando na exigência bruta do beijo dele. — Você é tão perfeita para mim, — Palavras quentes contra os lábios dela, — Eu te roubaria se você já não fosse minha.

Rodeada pela força, calor e selvageria dele, ela nunca havia estado tão pronta para assumir seu pesadelo. — Eu acho que nós devemos chamar 'Operação Ming é um Homem Morto Andando'.

Um sorriso selvagem no rosto dele, Hawke se inclinou até que a noite brilhante dos seus olhos estivessem há apenas um centímetro de distância dela. — Ele não vai estar andando por muito tempo. Nós vamos ter certeza disso.

 

RIAZ sabia que ele tinha o coração de Adria e seu compromisso quando ele a acompanhou até a Toca na tarde seguinte. Ela nunca mais tentaria deixá-lo. Não que ele fosse permitir aquilo, pensou com um grunhido interno. Mas ele também sabia que ela escondia dentro dela uma veia profunda de cautela, e ele odiava que ela não tivesse certeza do amor dele em qualquer nível. Odiava.

Paciência, ele aconselhou seu lobo, mas quando se tratava de Adria, ele não era paciente. Como qualquer lobo solitário que tinha feito a sua mente sobre a sua mulher, ele era implacável em sua determinação. — Eu nunca cancelei o nosso pedido para um alojamento de casal e ele foi atendido há dois dias, — ele disse a ela, os pés separados e as mãos nos quadris, pronto para a luta que ela, sem dúvidas, estava prestes a dar-lhe. — Nós estamos nos mudando.

Um enrijecimento na mandíbula dela. — Bom ser questionada.

Os pelos do pescoço paradoxalmente achatando-se ante a borda ácida na voz dela, ele agarrou-a pela cintura e beijou-a até que ela mordeu o lábio dele para pegar um pouco de ar. Sorrindo ante a picada que disse a ele que sua imperatriz estava de volta, ele disse, — Eu vou deixar você escolher os lençóis.

Ela rosnou para ele, deixando-o sentir suas garras, mas, para surpresa dele, colaborou na mudança. Uma vez que a preocupação com os âncoras estava agora em um tom baixo, eles tiveram tempo para fazê-lo naquele dia.

Eram por volta de nove horas da noite quando Adria deu uma muito bem-vinda risada e disse, — Você é uma ameaça.

Um sorriso lento se espalhou pelo rosto dele quando viu que ela tinha encontrado o urso que ele tinha esculpido dormindo de barriga para cima, um grande sorriso no rosto e uma garrafa de cerveja em uma pata. — Ele teve uma festa com o gambá.

Adria colocou o urso ao lado do gambá bêbado na prateleira que ele tinha instalado para ela colocar seus quebra-cabeças mecânicos. — Você tem mais, não é?

Ele fez um som sem compromisso... E encontrou-se aproveitando, enquanto ela tentava ameaçar arrancar a resposta dele. Virando as mesas, ele a teve gargalhando, e então ela estava suspirando e arqueando-se debaixo dele, o corpo dele fundido em boas-vindas. Depois disso, ela deitou com a mão no coração dele, a coxa dele empurrado entre a dela.

Mordendo a orelha dela, ele disse, — Você vai, alguma vez, admitir o fato de que você é uma dominante maternal? — Acontecia uma ou duas vezes em cada geração, uma fêmea maternal com tão agressivas tendências de proteção que ela escolhia treinar como um soldado. Mas nada, pensou Riaz, poderia mudar o núcleo de aço de compaixão que fazia as maternais quem elas eram, aquela bondade inerente entrelaçada com força refletida em cada ação de Adria.

A risada dela foi rouca. — Que tipo de tenente você seria se não pudesse descobrir isso, hein? — Ela escreveu suas iniciais sobre o coração dele, como se estivesse marcando-o. — Nell foi mais rápida do que qualquer outra pessoa em descobrir - ela me quer na conspiração maternal.

Sorrindo ante a descrição dela do poder no coração da matilha, ele colocou o cabelo dela atrás da orelha para que ele pudesse ver seu rosto. — Interessada?

— Eu não sei, é como a máfia. Uma vez que você está dentro, você nunca pode sair. — Um sorriso que dançou com travessura, mas suas próximas palavras foram pensativas. — Eu escolhi treinar como um soldado porque combina com o meu lobo, eu sou muito agressiva para ser uma maternal em tempo integral.

— Você é ótima com os submissos. — Garantir a saúde dos seus filhotes era apenas um aspecto dos deveres complexos empreendidos pelas fêmeas maternais, mas era importante.

— Sim. — Um outro desenho no peito dele, este mais sem objetivo. — Trabalhar com os filhotes e os jovens cumpre o outro lado da minha natureza. Assim, a configuração que eu tenho atualmente é quase perfeita... Porém, eu poderia abrir um canal com a conspiração. — Outro sorriso perverso. — Seria bom obter a entrada delas em algumas coisas, mas desde que eu vou ter um pé em ambos os campos, vai ser uma forma de garantir que nada deslize entre as rachaduras quando se tratar de crianças.

— Você acha que Riley tinha isso em mente o tempo todo?

— Não me surpreenderia, até mesmo dopado em Mercy, ele pensa dez passos à frente. — Roubando um beijo sorrindo, ela acomodou-se mais intimamente contra ele e fechou os olhos. — Vá dormir. Temos de levantar cedo.

— Boa noite, Imperatriz.

— Boa noite, Olhos Dourados.

Ele sorriu e mordiscou a orelha dela de novo. — Diga isso em público e você vai se arrepender.

— Agora você está me desafiando. Você não sabe que nunca deve fazer isso com uma mulher maternal?

Riaz rosnou brincando com ela. Ele estava feliz no fundo do seu coração... Mas não contente, porque esta mulher rindo, que tinha a devoção de seu lobo, uma mulher que ele adorava além da própria vida, esperava que a deixasse, talvez não hoje ou amanhã, mas um dia. Era uma sombra escondida no azul-violeta, uma escuridão que ele só vislumbrava quando ela achava que ele não estava olhando... E machucava-o profundamente.

Ele se recusava a permitir que ela se machucasse daquele jeito. Fodidamente recusava.

 

JUDD não se surpreendeu ao ver Aden nos degraus de trás da igreja de Xavier uma semana após o ataque a Sonja. — Os âncoras nesta região estão seguros, — ele disse ao Arrow. Todos e cada um haviam sido transferidos, a localização deles conhecida apenas por Nikita e Anthony, nenhum arquivo de backup mantido na Net ou fora dela. Mas para surpresa de todos, o arquivo telepático contendo as imagens que poderiam ser utilizadas para um teletransporte bloqueado em caso de emergência, também tinha sido enviado para Sascha.

— Minha filha está danificada, — Nikita havia dito durante a reunião, olhando diretamente para aquela filha, — faz com que ela seja o único indivíduo em que podemos confiar absolutamente em não usar as informações para causar danos.

A resposta de Sascha tinha sido tão franca quanto. — Eu vou compartilhá-lo com Judd, ele é a única pessoa que seria capaz de chegar aos âncoras em uma emergência.

— A decisão é sua, — Nikita tinha dito. — Como uma E, você tem a capacidade de julgar se ou não um ex-Arrow vai usar a informação para matar.

Era, Judd sabia, a primeira vez que Nikita tinha, alguma vez, reconhecido que Sascha não era apenas uma cardeal danificada, mas uma poderosa. E porque ele, Sascha, Lucas, e Hawke todos sabiam que, mesmo se a guerra civil na Net ficasse brutal e ameaçasse engolir as matilhas, nenhum deles procuraria desmoronar a Net para matar indiscriminadamente, ele segurou o arquivo dentro de sua mente, escondido em uma seção que imediatamente e automaticamente se degradaria se seus escudos fossem violados.

Somente as pessoas que estiveram naquela reunião, bem como Walker e Sienna, sabiam que ele e Sascha mantinham os arquivos. A informação era muito explosiva, muito perigosa, poderia fazer dos dois alvos, se vazasse. A menos que um âncora na área relevante enviasse um pedido de socorro em emergência, ninguém nunca saberia.

— O mesmo está sendo tentado em todas as regiões através do mundo todo, — Aden disse agora, — mas a tarefa é enorme, e a maioria das cidades não tem os recursos de dois Conselheiros. Por enquanto, nós estamos recomendando aos âncoras moverem seu mobiliário em torno de formas inesperadas e nunca estarem desarmados.

Nenhum Tk já usara o layout de mobiliário como um bloqueio - era muito transitório. E todos os Tks com capacidade de teletransporte tinham uma habilidade de senso de espaço embutida que significava que eles nunca se materializam em objetos sólidos. A menos que houvesse uma falha psíquica, o teletransporte se abortaria ante a obstrução. No entanto, se um Tk se teletransportasse, a disposição desconhecida poderia conceder ao âncora mais uns segundos para correr ou usar uma arma. — É uma jogada inteligente.

— Henry está morto.

— Você?

— Vasic. — Uma pausa. — Nós não podemos confiar nele, não depois disso acabar.

Judd não entendeu mal o aviso. — As crianças nas escolas Arrow, — ele disse, em vez de responder diretamente à declaração, — quem está cuidando delas? — Mesmo com a escuridão engolindo a Net e a atenção dos Arrows, Aden não teria esquecido seus irmãos mais jovens.

— Os mais estáveis de nós têm cada um, um grupo ao qual monitorar. — Aden passou a Judd um pequeno cristal de dados preto. — Os nomes e endereços das crianças. Se alguma coisa acontecer conosco, eles são aqueles a quem você deve proteger. — Uma pausa. — Confie isso a Walker, ele vai compreender e ser capaz de ajudá-los melhor do que você ou eu.

Judd colocou o cristal no bolso interno de sua jaqueta de couro sintético, o ato uma promessa não dita. — Vasic monitora um grupo? — Vasic podia não sentir, mas ele tinha uma consciência, nunca prejudicaria uma criança abandonando-a. Essa consciência era o porquê o Tk-V odiava a si mesmo, embora ele não colocasse aquilo naqueles termos.

— Não. — Aden olhou para a noite. — Ele não confia em si mesmo para não matar se flagrar um professor machucando uma criança, não podemos ainda intervir. Arriscaria entregar tudo antes de estarmos em uma posição para assumir o controle total do sistema de formação.

— Quão perto vocês estão?

— Na iminência. Ao contrário de Ming, Kaleb parece não ter inclinação a tomar uma mão direta nas escolas. — Uma longa pausa. — Mesmo quando nós tomarmos as rédeas, a libertação total será impossível.

— Eu sei. — Sem a disciplina mental forjada por seu rígido treinador Arrow, as habilidades de Judd poderiam ter o autodestruído um longo tempo atrás. — Mas o processo não tem de ser cruel. — O braço de um jovem rapaz não tem que ser quebrado uma e outra vez, até que ele pare de gritar.

— Alguns diriam que tal postura vai destruir o fundamento do programa.

Aquela dor era um estado de espírito a ser superado. — E talvez nós descubramos que isso nos faz mais fortes.

Aden não disse nada por um longo tempo. — Eu tenho que ir. Houve uma explosão em uma instalação de pesquisa Psy em Belgrado.

Judd observou o Arrow desaparecer na escuridão antes de se levantar e entrar na igreja para pegar o segundo banco na parte de trás. Ele sentiu a mais leve ondulação de ar quando o Fantasma deslizou no banco atrás dele um minuto depois. — Você sabe sobre Belgrado? — Judd perguntou enquanto esperavam pelo padre Xavier Perez, a terceira parte de seu inesperado triunvirato, terminar de falar com um paroquiano em seu escritório.

— É claro. — Sem arrogância, simples fato. — Foi pequeno e está sendo contido, sem mortes.

— Sorte ou falta de planejamento por parte dos agressores?

— O último. A instalação é financiada com fundos privados, e estava prestes a começar uma avaliação crítica do Protocolo do Silêncio, de alguma forma, a declaração de missão deles vazou na Net 24 horas atrás.

O fato de que qualquer grupo ganhara permissão para conduzir tal estudo era importante, apesar de Judd ter uma ideia muito boa de como isso tinha sido feito. Como ele tinha sobre o vazamento. — Pure Psy agiu no calor do momento. — Judd sabia o que o Fantasma sabia sobre Vasquez, e por isso ele sabia que esse ato estava fora do personagem. — A morte de Henry pode ter cortado a coleira que mantinha Vasquez racional. — Ele não tinha dúvidas de que seu ex-companheiro rebelde estava ciente da morte do ex-Conselheiro.

— Talvez. — Nenhuma preocupação. — É hora, Judd.

Sim, os dominós tinham começado a cair, imparáveis e inexoráveis. — A violência é necessária?

— Algumas coisas precisam ser quebradas para se tornarem mais fortes.

O Fantasma partiu trinta segundos depois, chamado à distância por algo urgente.

Sentado sozinho na paz da igreja, Judd pensou nos assassinatos cometidos por PurePsy, a violência feita hoje à noite, o sangue que seria derramado no futuro. Em vez de lembrar à população do valor do Silêncio, a agressão estava cutucando e despertando emoções há muito enterradas, medo tão escuro e vindo de tão profundo na psique que nem mesmo o condicionamento mais doloroso poderia mantê-lo aprisionado.

Silêncio era uma rachadura longe do fracasso total.

Algumas coisas precisam ser quebradas para se tornarem mais fortes.

— Ele não entende amizade,— Judd disse para Xavier mais tarde, — mas eu entendo.

A pele escura do sacerdote brilhava à luz das velas que eram a única iluminação, agora que ele tinha apagado as luzes. — É misericordioso acabar com a vida de um amigo atacado pelo tormento, ou é um pecado?

— Essas são suas perguntas, Xavier. A minha é apenas esta: se ele se provar muito instável, — disposto a extinguir a Net a uma ondulação interminável de morte — eu terei a força para executar um homem que é um espelho do que eu poderia ter sido em outra vida?

 

DUAS SEMANAS APÓS a tentativa de assassinato do âncora de San Francisco, e uma semana após a onda de atentados em alguns centros de pesquisa Psy e instituições de ensino, parecia a Adria como se o mundo inteiro estivesse prendendo a respiração. Sete dias tinham passado sem mais sinais de uma guerra civil que poderia devastar o planeta, mas com Judd Lauren tendo compartilhado o que sabia com os membros mais velhos da matilha, Adria sabia que a trégua era nada mais do que a calma no olho da tempestade.

Estava tudo indo desabar, mais cedo ou mais tarde.

Como soldado, ela trabalhou com seus companheiros de matilha e seus aliados para preparar a matilha e a região - e, em certa medida, outras partes do mundo. Através de conexões de seus aliados, e seus laços com a Aliança Humana, os BlackEdgeWolves, os changelings que vivem na água, e as relações menos formais com outros grupos, SnowDancer tinha uma rede mundial que disseminava e compartilhava informações em um esforço para fornecer às pessoas os meios para se proteger quando a tempestade desabasse.

No entanto, dentro de si mesma, onde ninguém podia ver, ela lutava uma muito mais dolorosa guerra. Seu amor por Riaz viera a defini-la. Ela sabia que não importava o que o futuro trouxesse, ela nunca mais sentiria essa glória, nunca mais queimaria com tal vibrante paixão e selvagem ternura. Trouxera a ela alegria incrível viver com ele, rir com ele, adormecer nos braços dele... E todos os dias, ela acordava e por um único segundo doloroso, se perguntava se este era o dia em que ele olharia para ela e perceberia do que tinha desistido.

Ela aprendeu a esconder aquele dardo instintivo de dor, e hoje, enquanto eles sentavam em um banco no Golden Gate Park, observando as pessoas passearem entre os canteiros de flores sob este penetrante dia de outono brilhante, ela quase podia acreditar que tudo era como deveria ser, que ela estava com um homem que estava destinado a ser dela própria e de mais ninguém.

— Você nunca vai falar comigo de novo? — Riaz exigiu, seu tom o de um homem no fim de sua paciência.

Isto confundiu-a. — Nós não acabamos de ter uma conversa sobre o cachorro que vimos na bolsa daquela mulher?— A pequena coisa latindo tinha ficado em silêncio quando a mulher passou por eles, os grandes olhos assistindo Riaz e Adria como se esperasse ser comido.

Havia feito os dois rirem.

Mas nenhum riso coloriu a voz de Riaz quando ele falou de novo. — Nós falamos sobre coisas do cotidiano, coisas sem importância. — Olhos de um pálido marrom encontraram os dela, brilhando com uma película de raiva aquecida... Mas as palavras dele, elas carregavam dor crua. — Você me chutou para fora do seu coração, amada, e isto está me rasgando em pedaços.

Isto fez o sangue dela virar gelo, seu fôlego preso até que ela teve que levantar-se, caminhar, para que pudesse encontrar o ar novamente. Ele não tentou cercá-la, o lobo preto dela, não fez nada além de assistir. Quando ela voltou para se sentar ao lado dele, ela agarrou as bordas do banco. — Eu não pretendia. — Foi instintivo, essa retirada em si mesma, uma medida defensiva que tinha aprendido nos anos que estivera com Martin. — Eu nem percebi que estava fazendo isso. — Machucando-o da mesma forma horrível que ela tinha sido uma vez machucada, algo que tinha jurado nunca fazer a ninguém.

Devastada, ela desejou que ele acreditasse nela. — Eu nunca quis que...

— Eu sei.— Ele estendeu a mão para colocar um fio esvoaçante do cabelo solto dela atrás de sua orelha em uma doce, íntima familiaridade. — E eu estou tentando tanto não pressioná-la, mas preciso que você seja minha. Porque eu sou seu.

Simples. Inesperado. O coração de um lobo solitário nas mãos dela.

Seu peito doía. — Eu estou com tanto medo, — ela sussurrou, escancarando a alma dela aberta porque a honestidade dele exigia a dela mesma. — Eu tento não estar, mas estou com tanto medo que você se arrependa de deixá-la ir. O medo sufoca-me às vezes.

Riaz não fez nada que ela teria esperado de um macho dominante. Ele não pegou-a em seus braços e tentou convencê-la de que estaria tudo bem, não rosnou ou resmungou até que ela cedesse. Em vez disso, ele disse, — Olha para lá.

Seguindo o olhar dele, ela encontrou-se olhando através do grande canteiro de flores na frente para se concentrar em um casal de idosos que tinha estado sentado no banco em frente a eles por algum tempo. Adria tinha os assistido pegar lanches de uma pequena lancheira, passar um ao outro café de uma garrafa térmica prata, e ficar de mãos dadas. Como estavam fazendo agora. — Eles são lindos juntos. — O amor deles era de longa data e familiar, um sulco em suas vidas e corações. — Você pode dizer que eles são uma unidade. — Como um casal, um não sobreviveria muito tempo sem o outro.

— Eles não são changeling.

— Humanos, — ela disse. — Devem estar com cento e vinte e cinco anos, ao menos. — Aptos e saudáveis, embora eles tivessem permitido que seus cabelos ficassem brancos como a neve, seus corpos tão suaves. Idade assentou-se neles com a mais quente elegância.

— É o centésimo aniversário deles hoje, — Riaz disse para a surpresa dela. — Então eles decidiram recriar seu primeiro encontro.

Maravilha floresceu dentro dela. — Como você sabe?

Um pequeno sorriso em seus lábios trouxe aquela luz aos olhos dele que ela tanto adorava. — Eu estava escutando quando o parque estava um pouco mais silencioso. O vento carregou as palavras deles.

— Isso é tão romântico, — ela disse, o rosto se esticando com a profundidade de seu sorriso. Talvez um dia, fossem ela e Riaz nesse banco, cem anos a partir de agora.

O sonho era um que ela queria com cada respiração... E um, ela entendeu em um momento de clareza cristalina, que ela tinha o poder de tornar realidade. Como ela tinha o poder de destruir, enterrando-o sob a fria escuridão do medo até que nada permanecesse.

A compreensão colocou tudo de lado para deixá-la com uma única verdade ofuscante: o futuro deles nunca tinha sido, e nunca iria ser, escolha apenas de Riaz. Ele e o lobo solitário dele tinham lutado tanto por ela, e ela lutaria por ele também, até a última batida de seu coração. Nunca mais ela graciosamente se colocaria de lado. Esquecendo sobre a definição de deixar algo livre se você o amasse - ela malditamente seguraria seu homem. Seu lobo rosnou de acordo, seu machucado espírito infundido com aço, uma porta batendo aberta dentro dela que ela nunca tivera conhecimento de estar trancada.

— Eles não são changeling, Adria.

A determinação um pulso quente na sua pele, ela se virou para olhar para ele, o perfil dele forte. — Eu sei. — Foi uma declaração frustrada, porque tudo o que ela queria fazer era tocar seu lobo negro, segurá-lo, fazer as pazes com ele por ter sido tão idiota por tanto tempo.

— O que isso significa?

— Riaz.

Ele enfiou a mão na nuca dela, apertando-a. — Olhe.

Ainda carrancuda, ela olhou para cima para ver o homem inclinar-se para beijar sua esposa, antes que ele ligasse o minúsculo leitor de música que ele tinha colocado no banco. Ele estendeu a mão e ela correu para os braços dele. A canção era velha, do tempo de juventude deles, e enquanto os pés deles se moviam um pouco mais lentos do que eles poderiam ter feito naquele primeiro encontro há muito tempo, o amor entre eles era tão luminoso, que fez cada pessoa ao redor deles se deter, parar de respirar.

Adria, também, não tirou os olhos do casal até que eles terminaram de dançar e empacotaram suas coisas para ir embora, mão na mão. — Isso é... — Ela não tinha palavras para a beleza pura do que ela tinha visto.

— Eles não são changeling, — Riaz disse novamente. — Eles não têm o vínculo de acasalamento. O que quer que eles sintam um pelo outro não pode ser o que um companheiro acasalado changeling sente pelo outro.

— Como você pode dizer isso? — Ela virou de frente para ele, indignada que ele tentasse diminuir a maravilha do que eles tinham acabado de presenciar. — Eu desafio qualquer um a separá-los.

Riaz não disse nada, seus olhos um brilhante dourado escuro.

E ela ouviu o que tinha dito, o que ele tinha dito. — Nós não somos humanos, — ela sussurrou, esperança uma explosão incandescente de sol no sangue dela.

Desta vez, ele tomou-a em seus braços, em seu colo, indiferente a quem pudesse estar olhando. — Isso significa que nós amamos menos? — Palavras ásperas do coração do lobo.

Balançando a cabeça, ela colocou os braços ao redor do pescoço dele e segurou-o firme. — Eu amo você loucamente. — Ela se afastou, o rosto dele seguro em suas mãos, dando a ele as palavras, o namoro, que ele tinha dado a ela. — Tanto que eu acordo cedo alguns dias só para vê-lo dormir, tanto que dói estar separada de você mesmo por um dia, tanto que eu roubo seus suéteres para que eu possa esfregar meu rosto contra o seu perfume.

Os braços dele apertaram-na tanto que ela sabia que levaria contusões, mas ela não se importava. Quando ele teria falado, ela parou-o com um beijo, empunhando a mão no cabelo dele. — Sem mais chances, Olhos Dourados. Você é meu e eu vou tirar sangue para fazer valer a minha reivindicação. — Ela não se importava se uma centena de mulheres reivindicassem direitos, Riaz pertencia a Adria e ela estava mantendo-o. — Eu acabei sendo razoável, acomodada ​​e estúpida o suficiente para até mesmo deixá-lo ir. Então, prepare-se para enredar-se com uma muito possessiva fêmea dominante que te considera dela.

Um lento sorriso, os olhos do lobo direcionados a ela. — Eu pensei que você nunca diria isso.— Ele mordeu o queixo dela, seu lobo esfregando-se contra o dela com um carinho que a fez querer transformar-se e jogar com ele através dos canteiros. — Você é minha primeira e única, também, mas você já sabe disso.

Sim, ela pensou com uma risada alegre, ela sabia. Estava em cada toque dele, cada olhar, cada carícia, o pulso disso arqueando-se através de sua corrente sanguínea. Eles nunca poderiam ter o vínculo de acasalamento, mas eles criariam o seu próprio vínculo, e ela desafiava qualquer um a quebrar a beleza selvagem disso.

Em seguida, ele falou de novo e a alegria se estilhaçou em quase insuportável ternura. — Coração do meu coração, isso é quem você é, Adria Morgan. Escolhida e para sempre. — Tirando a mão dela de sua bochecha, ele deu um beijo prolongado na palma da mão antes de colocá-la sobre o forte, constante ritmo daquele mesmo órgão. — Lobo e homem, você possui cada parte de mim.

Virando a mão para enrolar os dedos em torno dos dele, este solitário lobo que usava seu amor com tanto orgulho, sem medo de mostrar vulnerabilidade, ela sussurrou, — Coração do meu coração... Meu Riaz. Escolhido e para sempre. — Com um sorriso trêmulo, ela traçou os lábios dele com as pontas dos dedos e rendeu os últimos vestígios de suas próprias defesas. — E estamos iguais... Porque você possui todas as partes do meu, também.

A boca dele se moveu sob o toque dela, o sorriso vincando as bochechas dele. — Eu acho que nós vamos ter que cuidar bem dos nossos presentes.

— O melhor. — Risos borbulhavam dentro dela, a enorme profundidade da felicidade buscando uma saída. — Nós precisamos dançar.

Uma sobrancelha levantada.

Paixão fundida com ternura, ela beijou-o até que o coração dele trovejou, até que ele sorriu de alegria feroz e pediu-lhe para fazer novamente. — Então, — ela disse após conceder o desejo dele, — nós podemos fazer isso em nosso centésimo aniversário.

Seu lobo negro sorriu, levantou-se... E girou-a em uma curva ultrajante antes de girá-la em seus braços novamente, as costas dela contra seu peito. — O lugar ao qual você pertence, — ele disse, dando um beijo na pulsação dela.

Sim.

 

                                                      Recuperação

 

KALEB tinha encontrado a primeira pista oito meses atrás, um rastreador psíquico que ele tinha construído e lançado na Net. Dos milhares que ele tinha enviado, apenas um voltara para ele. Estava velho e em ruínas, mas tinha levado uma carga viável de informação viável.

Um nome.

Uma direção.

Tinha tomado dele meses de acompanhamento meticuloso através da Net para pegar a trilha. As últimas semanas tinham exigido horas de concentração intensa todos os dias, os becos sem saída e escudos formados para confundir um perseguidor tendo tido anos para amadurecer e se transformar até que criaram uma torcida selva psíquica. Suficiente para parar mesmo o mais altamente treinado soldado. Mas... Ninguém tinha esperado que Kaleb viesse à caça.

Ninguém sabia que eles tinham tomado o que pertencia a ele.

Ninguém vivo, de qualquer maneira.

Mas ele fez isso, e agora ficava em silêncio e imóvel, certo de que estava tão perto de seu alvo que ele corria o risco de desencadear vários fios de viagem psíquicos.

Tocando a NetMind e a DarkMind, esta última com uma identidade ainda mais forte do que a anterior, ele pediu a elas para dizer-lhe o que viam. A mente dele se encheu com uma sobreposição de linhas finas através das estrelas cravejadas nos céus da Net. Aqueles eram os ‘vasos sanguíneos’ da rede, canais para a transferência rápida de informações. Ele ignorou-os para se concentrar nas linhas vermelhas mais finas abaixo – alertas psíquicos de que alguém tinha equipado uma seção da Net que parecia desabitada.

Contornando os fios de viagem com a impecável graça mental de um cardeal com treinamento de combate letal, ele continuou em direção ao seu alvo. Havia mais fios de viagem, mais armadilhas, até que ele vislumbrou as mentes dos guardas, afinal. Mas eles não o viram. Camuflado em invisibilidade psíquica, seus escudos impenetráveis, ele passou direto por eles. Para encontrar-se em frente às portas de um cofre psíquico bloqueado disfarçado de espaço morto. Tinha sido construído por um telepata de considerável habilidade, com o efeito de criar uma prisão em torno de uma mente particular, garantindo que nenhum vestígio daquela mente vazasse para a Net.

Kaleb tinha esperado demasiado tempo para cometer um erro agora. Ele circulou em torno do cofre para verificar por alarmes ocultos que alertariam aqueles que o monitoravam. Ele encontrou cinco. Desmontá-los levou quatro horas de concentração incessante. Somente quando ele estava certo de que nenhum outro alarme permanecera, ele ‘quebrou’ o selo psíquico do cofre e deu um passo para dentro. Ele ficou dois segundos, apenas tempo suficiente para tomar uma impressão telepática da mente dentro.

Abandonando a Net após deixar a vigiada e manipulada área com a discrição cuidadosa que ele tinha usado para entrar, ele teletransportou-se quase no mesmo instante, usando a impressão da mente presa como um bloqueio telecinético. Este era o método mais raro possível de obtenção de um bloqueio, porque para obtê-lo, você tinha que rasgar os escudos da mente sendo usada como um bloqueio, efetivamente colocando o cérebro aberto - mas a mente que ele tinha visto no cofre já havia sido despojada, seus escudos destruídos.

Completando o teletransporte, ele encontrou-se em uma pequena cela branca, as paredes acolchoadas, o brilho da única lâmpada do teto cortando. Sem janelas. Sem luz natural.

Ele ignorou os fatores irrelevantes. Só uma coisa importava.

Ele a tinha encontrado.

 

[1] (Espera, dilação que o credor concede ao devedor além do dia do vencimento da dívida)

[2] Abóbora

[3] Cofres Contra falhas

[4] 24 horas por 7 dias, ou seja, vigilância constante.

  

                                                                  Nalini Singh

 

 

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