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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


MOON KISSED / Donna Grant
MOON KISSED / Donna Grant

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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TRAZIDO JUNTOS POR ACASO
Durante anos, Addison Moore trabalhou duro para atingir seus objetivos. Perto de ganhar seu diploma, o conteúdo de uma carta chocante rasga seu mundo em pedaços. Na tentativa de esquecer, ela vagueia em um bar, sem saber, mudando sua vida para sempre. De repente, ela é cercada pelo sobrenatural que ela pensava ser apenas um mito e perseguida por uma sacerdotisa maligna com a intenção de morrer. Sua única chance é um homem enigmático que a faz querer esquecer tudo só para estar em seus braços.
LIMITADO POR CIRCUNSTÂNCIA
Myles LaRue estava contente por possuir um bar e caçar o mal no French Quarter. Ele não estava procurando por amor, especialmente depois da tragédia que sua família já vivenciou. Mas quando a requintada Addison Moore entra em sua vida, ele não pode deixar de se encantar. Apesar dos perigos que os cercam, Myles chega a uma conclusão - contra as probabilidades de que eles se encontraram, e agora que o encontraram, ele fará o que for preciso para mantê-la segura.

 


 


CAPÍTULO UM


Gator Bait Bar

Nova Orleans, Louisiana


Myles olhou os recibos da noite anterior de seu assento no final do bar. Enquanto ele contabilizava seus lucros e equilibrava os livros, seu irmão mais novo, Kane, estava examinando o estoque de bebidas para fazer outro pedido.

Um grito vindo das mesas de sinuca interrompeu Myles enquanto ele digitava os números em seu laptop. Ele virou a cabeça para o lado e olhou para seus outros dois irmãos - Solomon e Court - que estavam curtindo seu jogo diário de sinuca, tornando difícil para ele cumprir seu dever como seu contador.

Os jogos começaram quando Court mal tinha altura para jogar corretamente. Solomon foi quem ensinou o jogo a Court, vencendo-o com força todas às vezes. Era uma característica LaRue que, uma vez que decidissem algo, não cedessem até que tivessem o que queriam. Para o Court, isso era derrotar Solomon. Quando finalmente aconteceu, Solomon não estava preparado, pensando que ainda tinha anos de vitória pela frente.

Daquele dia em diante, poucas coisas atrapalharam seus jogos diários, incluindo furacões.

—Você achando que eles teriam acabado com a rivalidade — disse Kane sem erguer os olhos de sua prancheta enquanto anotava os números.

Myles observou seu irmão de perto. Depois do fiasco com a filha do próprio Diabo, Delphine, e seus primos em Lyons Point, Kane não era o mesmo.

Então, novamente, quem permaneceria inalterado depois de ser amaldiçoado por uma sacerdotisa voodoo com a intenção de aniquilar sua família?

—Quando estiverem usando andadores ainda jogarão sinuca — disse Myles. Ele fechou seu laptop. Kane estava tenso, muito tenso. — Sabe você terá que falar sobre o que aconteceu um dia.

Kane estava substituindo uma garrafa de vodca Ciroc na prateleira quando congelou. Houve um leve aperto em seus ombros antes de virar a cabeça e encarar Myles com seus olhos azuis brilhantes - olhos que todo LaRue tinha.

—Eu já falei tudo o que vou fazer — afirmou Kane em uma voz dura.

Myles não respondeu quando Kane se virou. Tudo em Kane era perfeitamente ajustado, desde seu cabelo loiro dourado até sua camisa enfiada em sua calça jeans até os cadarços de seus sapatos exatamente do mesmo tamanho quando amarrado. Este não era o Kane de antigamente. Que Kane rolasse para fora da cama com seu cabelo bagunçado, vestisse uma camiseta e jeans e exibisse um sorriso que paralisava as mulheres.

Este novo Kane era muito tenso, muito... Controlado.

—Não é sua culpa.

Kane girou os olhos brilhando de fúria, mas não houve gritos a partir deste novo Kane. Suas narinas dilataram e seus punhos cerrados. — É minha culpa ter chamado à atenção de Delphine. Não foi ruim o suficiente que um de nossos ancestrais ferrou com um sacerdote voodoo e nos fez ser lobisomens? Aparentemente, não para mim. Achei que poderia fazer o que quisesse. Delphine queria me dar uma lição. — Kane bufou zombeteiramente. —Ela queria que Ava fosse morta, e quem melhor para fazer isso do que o primo dos Chiassons que a protegia?

—Você não a matou, — Myles apontou.

Kane revirou os olhos. —É uma coisa boa também, ou Lincoln teria me esfolado. E eu teria gostado disso. Nós sabemos o que somos, quem somos quando mudamos, mas se eu tivesse matado Ava, todas as minhas memórias teriam sido apagadas. Eu seria um monstro. Exatamente como aqueles que caçamos.

—É por isso que chamamos nossos primos, lembra? Não podíamos ir atrás de você porque capturamos Delphine. — Myles sempre quis se esfregar com ácido depois de pensar naquela vadia vil. Foram necessários quase todos os truques que conheciam para confinar Delphine, e então quase saiu pela culatra para eles.

Kane apoiou as mãos na barra e soltou um suspiro profundo. — Fui imprudente, Myles. Eu não coloquei apenas nossa família em risco, eu coloquei a de nossos primos também. Se Ava não estivesse com eles... — Ele parou incapaz de responder.

Foi uma sensação que cada um deles experimentou. Kane estava lidando com quase se perder para o lobo dentro de si, mas ele não tinha ideia de como os eventos mudaram o resto deles. E Myles não ia contar a ele.

Não tinha sido apenas a maldição de Delphine ou mesmo a captura dela, foi Court espalhando a poeira estúpida ao redor deles para que nenhum do povo de Delphine pudesse chegar até ela. Era Salomon pronto para matar cada um de seus seguidores. Era Myles com suas presas em volta da garganta de Delphine, pronto para se conter.

Naquela noite, os três irmãos estavam preparados - e dispostos - a fazer tudo e qualquer coisa para salvar Kane.

—Fazia muito tempo desde que vimos os Chiassons. Ambos os lados da família estiveram tão ocupados lutando contra o sobrenatural que nos esquecemos. — Myles encolheu os ombros com um sorriso, na esperança de afastar Delphine de suas mentes. —Você mudou tudo isso.

Kane lançou um olhar e jogou uma toalha nele. O amolecimento da expressão de Kane lançou o mais próximo possível de um sorriso, mas foi o suficiente para Myles.

Como ainda não eram dez da manhã, todos os quatro LaRues ficaram surpresos quando a porta do bar se abriu e uma mulher com cabelo tão castanho que era quase preto entrou. Ela empurrou o cabelo comprido por cima do ombro quando a porta se fechou atrás dela e olhou ao redor da sala com olhos azuis brilhantes.

Myles deslizou para fora do banquinho quando percebeu que estava olhando para sua única prima, Riley Chiasson. Ele parou na frente dela e sorriu. —A última vez que te vi, você estava com tranças e atropelando seus irmãos.

O sorriso de Riley foi lento, mostrando uma covinha em sua bochecha esquerda. —Gostaria de saber se você saberia quem eu era.

—Com olhos assim? — Solomon disse enquanto colocava seu taco em cima da mesa de sinuca e caminhava até ela. —Não há como negar nossa família. O que a traz ao nosso pequeno bosque?

Riley engoliu em seco e olhou para cada um deles até encontrar o olhar de Myles. —Já que você tão gentilmente apontou que eu era uma garotinha da última vez que nos vimos, nomes colocados em rostos seriam ótimos.

Myles apontou para Solomon. —Esse é o idiota que pensa que só porque é o mais velho pode tomar decisões por nós.

—Solomon, — Riley disse com um aceno de cabeça para ele.

—O próximo na ordem sou eu— disse Myles, esperando para ver se ela saberia.

Riley levantou uma sobrancelha escura. —Então você é Myles.

—Muito bom— disse ele. —O carrancudo atrás do bar é o próximo.

O sorriso de Riley sumiu quando ela mudou seu olhar. —Kane. — Eles se encararam por um segundo antes de Riley virar seu rosto para a mesa de sinuca. —O que deixa o mais novo, Court.

Solomon cruzou os braços sobre o peito. —Agora que isso está resolvido, por que não nos diz por que você está visitando?

Quando ela hesitou, Myles a envolveu com um braço e a conduziu até o bar onde Kane encheu um copo com gelo e água. Ela se sentou em um dos banquinhos e fechou os dedos em torno do copo.

Myles trocou um olhar com Solomon. Pela maneira como Riley estava agindo, era óbvio que ela não tinha contado a seus irmãos onde estava.

—Sabe o porquê eu fui mandada embora? — Ela perguntou seu olhar no bar. — Vin disse que não queria que eu fizesse parte dos negócios da família.

—Você é a única irmã deles. Eu teria feito o mesmo — disse Court ao se juntar a eles.

Riley encolheu os ombros. —Eu gostaria de ter algo a dizer sobre isso. Todos os meus irmãos concordaram com Vin, até mesmo Beau. Um dia depois de eu me formar no ensino médio, Vincent me levou de carro a Austin. Eu moro no Texas há anos. Indo para a faculdade, trabalhando. Eu queria ir para casa.

—Você disse isso ao Vin? — Perguntou Solomon.

Riley balançou a cabeça. —Eu pensei que ficaria bem em ir para casa, já que Vin estava se casando com Olivia, e Lincoln e Ava estavam juntos.

—Você acabou de aparecer, não é? — Kane perguntou suavemente.

Riley olhou para ele. — Olivia e Ava sabiam o que eu tinha planejado. Eles me contaram como Beau conheceu Davena. Havia três mulheres na casa agora. Achei que isso significava que Vin não me manteria longe.

—Mas você não sabia de tudo o que tinha acontecido — adivinhou Myles.

Riley bufou e disse: — Os Chiassons e LaRues têm lutado contra o sobrenatural desde antes de eu nascer. Minha mãe teve cinco filhos e ainda lutou ao lado do marido. Devo poder ir para casa.

—Seus irmãos só querem o melhor. — Solomon sentou-se no banco à sua esquerda. —Certamente você entende isso.

—Sim, mas não vejo minha casa há mais de quatro anos. Eles sempre pareciam ter alguma crise ou outra em torno das minhas férias que me impedia de voltar.

Myles viu a desolação e infelicidade em seu olhar, um olhar que ele reconheceu muito bem nos olhos de Kane ultimamente. —Então o que aconteceu quando você apareceu?

—Não houve uma grande reunião de família feliz como eu esperava — disse ela com uma risada, seus lábios em um sorriso tenso. —Vin estava furioso. Ele e Olivia brigaram muito porque ela tentou convencê-lo a me deixar ficar. Não demorou muito para que todos começassem a discutir. Foi quando Vin me disse para voltar ao Texas. Eu disse a ele para beijar minha bunda e corri para o meu carro. Então comecei a dirigir. Antes que eu percebesse, eu estava aqui.

Court apoiou os antebraços na extremidade da barra. —Falei com Christian ontem. Ele me contou sobre a aparição de Delphine em Lyons Point. Estes são tempos perigosos, Riley.

—Eles são sempre perigosos. Riley é um Chiasson. Ela sabe como lutar, — Kane disse a Court. Ele então voltou seu olhar para Riley. —Qual é o seu plano?

Ela colocou o cabelo atrás da orelha. —Gostaria de ficar aqui alguns dias para decidir o que vou fazer a seguir. Se estiver tudo bem.

—Próximo? — Solomon repetiu. —Você não vai voltar para Austin?

Seu sorriso era triste. —Eu me formei em junho. Meus irmãos nem sabem. Todas as vezes que liguei para casa, eles não tiveram tempo de conversar por causa de algo que estavam caçando. Eu não tinha família presente. Até fiquei alguns meses pensando que eles poderiam perceber seu erro, mas sempre há algo que os impede de se lembrar de mim.

Kane cobriu a mão dela com a dele. —Eles lembram. Confie em mim. Você teve a chance de uma vida normal, Riley. Eles não fizeram. Nem nós.

—Claro, — ela disse muito rapidamente.

Myles não se deixou enganar. Riley estava sofrendo e ela precisava de um lugar para lamber suas feridas. —Você é bem vinda aqui o tempo que precisar.

Seus irmãos estavam concordando com a cabeça antes que ele terminasse de falar.

—Obrigado, mas só posso aceitar com uma condição — disse Riley.

Court encolheu os ombros, sem entender. —Diga.

—Nenhum de vocês pode contar a nenhum dos meus irmãos ou suas mulheres.

Riley pode ser linda, mas ela tinha uma mente afiada. Naquele momento, Myles percebeu a armadilha para a qual os havia levado. Se eles não permitissem que ela ficasse, eles não poderiam ficar de olho nela, e como caçador - e sua família - esse era seu dever. Ao fazer com que eles concordassem com seus termos, ela garantiu que não permitiria que seus irmãos caíssem sobre ela para levá-la de volta ao Texas.

—Eu nunca vi isso chegando — disse Kane, um lado de seus lábios erguidos em um sorriso.

Myles captou o olhar de Solomon e Court. Talvez Riley fosse exatamente o que Kane precisava para ajudá-lo a se lembrar de sorrir e rir novamente. Kane poderia cuidar dela, o que o ajudaria a se curar.

—Você sabia que a lua cheia chegará em alguns dias? — Solomon perguntou a ela.

Riley olhou para ele como se ele fosse um simplório. —Eu sou um Chiass. Claro que eu sei. Portanto, não se preocupe em tentar me dar um sermão. Eu conheço as divisões em Nova Orleans, onde vampiros, bruxas, demônios, lobisomens e djinn estão alojados. Também sei o suficiente para ficar longe de Delphine e de qualquer coisa a ver com Voodoo.

—Ela é uma Chiass, certo — disse Myles com um sorriso.

Riley era uma lufada de ar fresco e parecia ser exatamente o que os LaRues precisavam. Vincent pode lamentar ter uma irmã por causa da preocupação necessária para mantê-la segura, mas Myles se perguntou o quão diferente a vida dos LaRues teria sido se eles tivessem uma irmã entre eles.

—Vou acomodá-la — disse Kane quando deu a volta no bar.

Myles, Solomon e Court assistiram os dois saírem do prédio com Riley falando e Kane balançando a cabeça.

—Não sei se é uma boa ideia — disse Solomon.

Court passou a mão pelo cabelo loiro caramelo na altura do queixo. —Está feito agora. Ela sabia que não podíamos deixá-la partir.

—Ela fez Kane sorrir. É uma grande melhoria nas últimas semanas — observou Myles. —Ele precisa de algo para fazer, e Riley apenas deu a ele a oportunidade.

Solomon desceu do banco. —Vamos torcer para que você esteja certo, porque quando Vin descobrir que Riley está aqui podemos muito bem ter todo o clã Chiasson em nossas bundas.

—Pense em como poderíamos limpar Nova Orleans com todos nós — disse Court. — Chega de pactos com as cinco casas. Nova Orleans poderia ficar limpa mais uma vez.

Myles sabia que Court estava brincando, mas fazia sentido. —Não podemos derrubar Delphine e seus seguidores sozinhos. Com mais quatro, teríamos uma chance realmente boa.

—Especialmente com a mulher de Beau sendo uma bruxa, — Court apontou.

Solomon prendeu Myles com um olhar. —Primeiro, nos certificamos de que nada aconteça com Riley, porque Chiasson ou não, ela não estará caçando conosco. Se alguma coisa acontecer com ela...

—Você nem precisa dizer — disse Myles.

Talvez não fosse uma ideia tão boa que Riley estivesse lá.


CAPÍTULO DOIS

 

Addison Moore estava sentada em seu carro estacionado e olhava sem ver pelo para-brisa. Em suas mãos estava uma carta que mudou sua vida em um segundo.

Algo caiu no papel. Addison olhou para baixo e viu a gota de umidade que encharcou a carta. Levou um momento para perceber que era o suor escorrendo pelo rosto por estar no carro com o motor desligado em uma hora de trinta graus.

Ela dobrou a carta cuidadosamente e a enfiou na bolsa. Então ela abriu a porta do carro e saiu para o sol.

Addison fechou a porta e recostou-se no carro, olhando para todos os turistas. Eles estavam rindo e sorrindo, sem nenhuma preocupação no mundo. Era tão diferente do que ela estava passando, que quase parecia que ela não estava em seu corpo. Que ela estava do lado de fora olhando para dentro.

—Senhorita, você está bem?

Addison se sacudiu e viu o policial parado ao lado dela. Ele era de meia-idade, com cabelos grisalhos nas têmporas e preocupação em seus olhos.

—Você está perdida? — ele perguntou.

Ela forçou um sorriso. —Só sonhando acordada, oficial. Estou bem.

—Você precisa sair do calor e pegar um pouco de água logo — ele avisou antes de continuar.

Sabendo que ele estava certo, Addison se afastou do carro. Ela não deu dois passos antes de seu celular vibrar com uma mensagem. Ela enfiou a mão na bolsa para pegá-lo e gemeu quando viu que a mensagem era de sua colega de quarto, Wendy.

—Não fui embora por tanto tempo — ela murmurou enquanto escrevia apressadamente que o carro de Wendy estaria de volta em uma hora.

Como ela odiava não ter dinheiro para comprar seu próprio veículo. Depois de apenas um semestre em Tulane, Addison não teve escolha a não ser vender seu carro clunker para sobreviver. Foi sua única escolha, mas também colocou uma grande pressão sobre ela.

Addison guardou o telefone e caminhou pela rua. Desde a primeira vez que viu Nova Orleans aos dez anos, ela ficou fascinada. A história da cidade era fascinante. A comida e a vibração das ruas e edifícios atraíam uma multidão constante, independentemente da época do ano.

No entanto, não havia como negar a borda escura e perigosa da cidade também.

Addison caminhou pelas ruas do bairro, vendo os outros ficarem em pé para fotos ou olharem maravilhados para os cemitérios. Ao ter um vislumbre da vida de outra pessoa, ela foi capaz de esquecer a dela por um curto período.

Uma olhada em seu relógio provou que sua hora estava quase acabando. Relutantemente, ela voltou para o carro. Ela não estava pronta para voltar para a universidade, não quando era o fim de seu tempo lá.

—Pare de ter pena de si mesmo — disse ela em voz alta. —Fique firme. Fique orgulhosa. Você é um Moore.

Essas foram às últimas palavras que seu pai disse antes de ser implantado. Ele era um homem de carreira, nunca feliz a menos que estivesse no mar. Isso nunca a incomodou porque ele sempre voltava para casa. Até ele não ter.

Addison não queria pensar em seu pai, ou nos anos solitários que se seguiram. Aos vinte e três anos, ela estava pronta para continuar com sua vida, exceto que ele não poderia fazer isso até que ela terminasse o seu diploma.

O que seria impossível agora que o resto de sua bolsa tinha acabado. Seus empréstimos estudantis já estavam atingindo proporções cósmicas. Se ela tivesse sorte, ela poderia pagá-los antes de morrer.

Ela estava quase no carro quando um grito rasgou o ar. Alguém veio correndo em sua direção, jogando-a no chão. Addison ergueu os olhos a tempo de ver um jovem garoto com um moletom azul-marinho mergulhando em um beco.

De repente, as pessoas começaram a se aglomerar. Alguém a ajudou a se levantar enquanto as sirenes tocavam. Addison olhou para baixo para ver que ambos os joelhos estavam arranhados e sangrando, e sua camisa estava rasgada.

—Desculpe. Perdoe-me, — ela disse enquanto caminhava lentamente através da multidão de pessoas até o carro.

Ela chegou ao carro e olhou ao redor para ver alguém a apontando para um policial. Addison parou e esperou que o oficial a alcançasse. Foi o mesmo de antes.

—Você viu o que aconteceu? — Ele perguntou.

Ela ergueu as mãos. — Não tenho ideia do que aconteceu. Eu ouvi um grito, então alguém correu para mim e me derrubou.

—Você se lembra de alguma coisa sobre a pessoa?

—Eu vi o que parecia ser um adolescente com um pato de capuz no beco.

O rosto do policial estava sério. —Vou precisar de uma declaração formal de você.

—Porque o cara esbarrou em mim?— ela perguntou em descrença

—Porque ele assaltou uma senhora idosa. Quando ele pegou sua bolsa, ela caiu e bateu com a cabeça. Ela está morta.

Addison fechou os olhos brevemente. —Oh meu Deus. Eu não fazia ideia.

Em segundos, ela foi levada a um carro patrulha e conduzida à estação. Ela sentou lá pela próxima hora esperando que alguém tomasse sua declaração enquanto seu telefone explodia com mensagens de uma Wendy irritada. Outra hora se passou enquanto ela anotava tudo e revisava com outro policial antes de ser levada de volta ao carro de Wendy.

Addison olhou para o local onde o Miata vermelho deveria estar estacionado, mas encontrou um caminhão Dodge cinza. Ela estava prestes a tentar pegar a polícia antes que eles saíssem quando se lembrou de ter contado a Wendy onde estacionara o carro em uma das dezenas de mensagens que trocaram.

A raiva a atingiu quando ela discou o número de Wendy e ouviu o telefone tocar. Demorou três toques antes de Wendy atender. —Você está com o carro? — Addison perguntou.

—Sim. Pedi ao Paul para me deixar — disse Wendy com a música do rádio tocando ao fundo. —Eu te disse, eu tenho que estar hoje à noite na casa dos meus pais às oito. Eu não podia esperar.

—Eu gostaria que você tivesse me dito que pegou o carro. Achei que tivesse sido roubado.

Wendy riu. —Não. Eu estou com ele. Tenho que ir! Te vejo na segunda.

Addison olhou para o telefone depois que Wendy encerrou a ligação. Nunca passou pela cabeça de Wendy que Addison não tinha um caminho de volta para o apartamento que compartilhavam.

Seu estômago roncou. Ela havia pulado o almoço porque não havia tempo entre suas aulas e agora ela sentia como se pudesse comer seu próprio braço de tanta fome. Com apenas cinco dólares em seu nome, ela poderia comer ou pegar o ônibus para casa. Como não havia nada para comer no apartamento, sua escolha foi feita por ela.

Addison olhou primeiro para um lado e depois para o outro. Ela virou à esquerda e caminhou pela rua procurando um lugar que ela pensou que pudesse pagar. Restavam cerca de cem dólares para cobrar em seu único cartão de crédito. Ela estava guardando isso para algo especial como livros, mas a comida era muito mais importante.

Ela ouviu a música antes de ver o lugar. Enquanto muitos dos restaurantes tocavam música Zydeco, havia um bar na esquina da rua gritando Theory of a Deadman. A música era Drown, seu favorito.

Addison sorriu quando ela olhou para o sinal do bar balançando acima dela. Era uma placa de madeira feita para parecer como se uma enorme mordida tivesse sido arrancada de um canto do topo. Pintado na placa estava um crocodilo com a boca aberta.

—Gator Bait — Addison leu a placa em voz alta. —Apropriado.

Ela entrou no bar e foi imediatamente absorvida pela atmosfera. O piso de madeira tinha visto muitos sapatos, mas a barra à sua esquerda era tão polida que brilhava. Nas paredes havia centenas de fotos de pessoas famosas que visitaram o lugar, bem como algumas mandíbulas bem colocadas de crocodilos mortos. A música estava alta, os clientes bebendo, comendo e se divertindo.

Addison foi até o bar e se sentou em uma banqueta preta. Ela viu o menu laminado fora de alcance no bar. Inclinando-se, ela conseguiu agarrá-lo sem bater na cerveja do cara ao lado dela.

Não havia muito no menu, mas tudo parecia bom, e os preços eram razoáveis o suficiente para que ela pudesse até ceder à tentação e pedir um drinque . Depois do dia que ela teve, ela precisava disso.

—Posso ajudar?

Ela ergueu os olhos do cardápio com um sorriso e se assustou com o olhar azul brilhante do cara atrás do bar. —Sim, acho que gostaria de experimentar uma tigela de feijão vermelho e arroz com pão de milho, por favor.

—Uma das nossas especialidades — respondeu ele com um sorriso. —O que posso pegar para você beber?

Uma rápida olhada em suas bebidas e um chamou sua atenção. —Eu gostaria de experimentar o suborno do diabo.

Ele sorriu com a escolha dela. —Eu volto já.

Ela o observou se afastar, sem destacar que ele era bonito com seu cabelo loiro e olhos azuis. Addison deixou o menu de lado e percebeu que o cara à sua esquerda estava olhando.

—Posso te pagar uma bebida? — Ele perguntou enquanto a olhava, luxúria em seus olhos castanhos. Sua espessa barba castanha era longa e tinha restos de comida do almoço nela, fazendo seu estômago revirar. Uma bandana amarela estava amarrada em sua testa e ele usava uma camiseta bem apertada sobre a barriga de cerveja.

Ela agarrou a bolsa no colo. —Obrigado, mas eu já fiz o pedido.

—Eu posso pegar o próximo. Deixe-me tratar de você.

—Acho que vou passar. — Ela olhou em volta, esperando que houvesse outro lugar para se sentar, porque o cara a estava deixando desconfortável.

Ele arrotou alto, então se aproximou. —Você acha que é melhor do que eu?

—Não, eu... — ela começou.

— Os dardos estão abertos, Ed, — uma voz profunda e sexy a interrompeu.

O olhar de Addison saltou para a fonte. O novo cara estava atrás do bar. Ele era alto e imponente, seu cabelo loiro cinza parecia tão espesso que ela queria passar os dedos por ele. Seus olhos eram de um azul tão brilhante que pareciam iluminados por dentro. Com o olhar dele direcionado para Ed, ela teve que olhar para o lado direito.

Seu rosto era magro, áspero com uma aparência que beirava a feral. Com uma mandíbula bem barbeada, ela viu o músculo que se contraiu. Seus lábios eram pecaminosamente carnudos, carnudos demais para um homem tão bonito, mas o tornavam mais sexy - se isso fosse possível.

Seus olhos mergulharam em seu peito, onde sua camisa parecia ter sido feita especificamente para ele. Ele abraçou seus ombros largos, então diminuiu o V de seu abdômen para cair apenas abaixo de seus quadris. A parte da frente da camisa branca estava enfiada na cintura de seu jeans escuro de cintura baixa.

Quando Ed foi para os dardos, o homem respirou fundo, esticando a camisa branca e a costura azul-escura. Seu olhar se ergueu de volta para o rosto dele, e desta vez, seus surpreendentes olhos azuis estavam direcionados a ela.

A respiração de Addison travou em seus pulmões como se o ar tivesse sido sugado do quarto. Ela só podia olhar sua voz a abandonando. Ela ficou sem sentido, puxada para o seu olhar azul hipnotizante.

—Peço desculpas por Ed. Ele pode ficar um pouco turbulento quando vê uma mulher bonita.

Como um idiota, tudo que Addison pôde fazer foi assentir. Ela queria dizer algo espirituoso ou engraçado, mas sua mente estava completamente em branco. Como ela deveria reunir um pensamento coerente quando um homem tão corpulento estava olhando para ela? É como pedir a uma mosca para ordenhar uma vaca - impossível.

Seu rosto relaxou uma sugestão de um sorriso brincando em seus lábios. — Você Já foi ajudado?

Novamente, ela acenou com a cabeça.

Droga, Addison. Você poderia ter respondido isso. Você conhece essa resposta.

Ela fez? Ela não tinha mais certeza.

—Eu não acho que já vi você por aí antes. — Ele apoiou uma mão na barra e ela avistou a larga algema de couro em seu pulso direito. —É a sua primeira vez no Gator Bait?

—Sim — disse ela, recusando-se a assentir em silêncio novamente.

—Um turista?

Isso fez Addison rir. —Não. Normalmente estou trabalhando ou estudando. Eu não saio muito.

—Então estou feliz que você não vai fazer nada esta noite.

Ela podia sentir o rubor subindo pelo pescoço até as bochechas. — Eu também.

—Eu sou Myles LaRue — disse ele e estendeu a mão.

Sua mão se encaixou na dele, o calor escorrendo de sua palma para a dela enquanto algo sensual e necessitado espiralava através dela com seu toque. —Addison Moore.

Eles ficaram assim por um momento, as mãos juntas, os olhos travados. Addison não conseguia explicar a estranheza da situação ou como ela orava para que continuasse.

Alguém pigarreou e ela viu outro homem ficar ao lado de Myles. Addison tentou puxar a mão dela, mas Myles apertou um pouco mais, impedindo-a. Ele piscou, fazendo-a sorrir quando ele soltou sua mão.

—O Court parece ter trazido sua comida, — Myles disse enquanto pegava a tigela de Court e colocava na frente dela.

—Já que você está aqui, irmão, você pode preparar a bebida dela. Ela gostaria do Suborno do Diabo, — Court disse enquanto dava um tapinha nas costas de Myles e se virava para sair.

Addison não pôde evitar a risada que borbulhou quando Myles deu um tapa na perna de Court com a toalha enquanto ele se afastava.


CAPÍTULO TRÊS

 

Myles ficou totalmente encantado com a misteriosa e requintada Addison com seu cabelo ondulado na altura do queixo cor de champanhe. Na penumbra do bar, ele não tinha certeza do tom exato de seus olhos, mas eles eram impressionantes em como prendiam seu olhar. Havia um toque de timidez junto com sinceridade que fez suas bolas se contraírem.

O simples fato de que o desejo queimava em suas veias deveria ter sido o suficiente para fazê-lo correr tão rápido e longe dela quanto podia. Ainda assim, ele permaneceu, esperando ouvir mais de sua voz rouca.

A pele dela foi beijada pelo orvalho, um brilho saudável que o fez coçar para passar as mãos por todo o corpo dela. Sua camiseta sem mangas cor de pêssego mergulhou baixo, dando a ele uma visão tentadora das protuberâncias de seus seios.

Suas mãos se fecharam na barra. Foi um esforço hercúleo perceber que Court estava de volta e falando com ele. Ele lançou um olhar para o irmão, irritado por ter sua atenção desviada de Addison. Myles voltou o olhar para ela enquanto ela colocava um pedaço de feijão vermelho com arroz na boca.

Seus olhos grandes o observavam, mas ele não conseguia parar de olhar. Ela tinha o rosto de um anjo, doce e sensual. Sua boca era uma tentação em si, com seus lábios carnudos que poderiam tê-lo de joelhos em questão de segundos se ela conhecesse seu poder.

Uma imagem brilhou em sua cabeça de Addison em seus braços, sua cabeça jogada para trás enquanto ela gemia de prazer. Seu pênis ficou instantaneamente dolorido.

Ele estava regiamente fodido.

—Vocês não estariam por acaso contratando? — Addison perguntou.

Myles pestanejou. Demorou alguns instantes para que suas palavras penetrassem em sua névoa de desejo. Ele olhou para as mulheres andando em shorts jeans curtos e camisas pretas justas com o logotipo Gator Bait.

Ele realmente não conseguia pensar agora. Ele seria uma poça de necessidade se tivesse que ver Addison usando aquelas roupas todos os dias.

— Sim, — Court se inclinou e disse. — Nós estamos, na verdade. Eu tenho um formulário lá atrás. Quando você terminar de comer, Myles pode levá-lo ao escritório dele.

Myles definitivamente queria levá-la, mas não era para seu escritório. Ele limpou a garganta e se afastou do bar. Ele tinha que colocar alguma distância entre eles. —Sim. Meu escritório.

Droga. Ele parecia tão estúpido quanto pensava? Quando Court levantou uma sobrancelha em questão enquanto tentava não rir, Myles teve sua resposta.

Por mais cheio que o bar estivesse, Myles não conseguia ficar parado e conversar. Ele usou aquela desculpa para ajudar Court com as bebidas, já que Solomon estava cozinhando, e Kane ainda estava acomodando Riley.

Um pouco depois, Myles ergueu os olhos novamente. Addison estava de costas para ele com os cotovelos apoiados no bar enquanto ela balançava a cabeça junto com a música. Seu olhar estava na competição de piscina que era um evento semanal.

Sua comida havia sido retirada e sua bebida estava vazia. Ao lado, havia um copo de refrigerante que também estava vazio. Myles despejou o gelo derretido e voltou a enchê-lo antes de lhe servir um refrigerante novo.

Ele o pousou. Quando ele estava prestes a se afastar, ela virou a cabeça e seus olhos se encontraram.

Ela olhou para a bebida. —Obrigado.

—A qualquer momento. Você joga sinuca?

A risada dela foi direto para seu pau ainda duro. —Posso colocar uma bola no buraco se tiver sorte, mas raramente tenho sorte. Estou gostando do torneio. — Ela se virou no banquinho e deu um longo gole no refrigerante. —Eu ouvi o cara ao meu lado dizer ao amigo que vocês fazem isso semanalmente e depois têm um torneio maior para os vencedores semanais no final do mês.

—Sim. Jogamos sinuca desde que podíamos andar. Acho que a primeira coisa que nosso pai colocou em nossas mãos foi um taco de sinuca em miniatura. — Myles sorriu ao lembrar-se de seus pais.

—Seu pai deve ter realmente gostado de jogar.

Myles tirou uma caneca gelada da geladeira e puxou a alavanca de uma loira ale uma de suas cervejas mais vendidas. Assim que a caneca estava cheia, ele a colocou na frente do cliente. —Minha mãe era muito boa nisso. Quando decidimos abrir o bar, parecia natural colocar algumas mesas de sinuca.

—Então você e Court abriram isso junto? — ela perguntou.

—Eu tenho três irmãos. Solomon, Kane e Court. Nós quatro entramos juntos.

Ela torceu o nariz. —Ouvi dizer que nunca é bom fazer negócios com a família.

Isso era verdade para a maioria das famílias, mas, novamente, essas famílias não foram amaldiçoadas a se transformar em lobisomens. —Somos uma família unida.

—E os seus pais? Eles aprovam?

Court estava passando, e quando ele ouviu sua pergunta, um copo escorregou de seus dedos para quicar contra o tapete e então atingiu o chão, se espatifando. —Merda, — ele murmurou e correu para limpar tudo.

Myles começou a ajudar seu irmão mais novo, mas bastou um olhar furioso da Court para detê-lo. Seus pais eram um assunto delicado, mesmo depois de tantos anos. Myles voltou-se para Addison. —Nossos pais estão mortos.

—Eu sinto muito.

Ela disse isso sem o constrangimento de descobrir a morte, mas com a sinceridade de quem a conhece. Quanto mais Myles falava com ela, mas ele queria saber.

—Obrigado, — ele murmurou. —Foi há muito tempo.

—Essas feridas nunca vão embora.

Agora ele sabia que alguém próximo a ela havia morrido, e ele apostaria que foram seus pais. —Não, eles não vão.

—Você tem sorte de ter irmãos a quem recorrer.

A conversão precisava de alguma leviandade. —Quando eu não estou querendo arrancar suas cabeças. Você tem algum irmão?

—Sou só eu — respondeu ela com um sorriso muito brilhante. —Então, há quanto tempo este lugar está em funcionamento?

—Dez anos ou mais. Tem certeza que deseja trabalhar aqui? As gorjetas são boas para as meninas, mas as coisas podem ficar complicadas de vez em quando.

Addison encolheu os ombros. —Eu preciso do emprego.

Kane fez a contratação, mas Myles sabia que não havia nada sobre Addison que impediria seu irmão de trazê-la. —Dê-me um momento e vou levá-la ao escritório.

—Não tenha pressa. Eu não tenho onde estar, — Ela disse com um sorriso antes de voltar para o jogo de sinuca.

Court parou ao lado de Myles e disse sobre a música: — Você está olhando para ela como se quisesse devorá-la. Eu digo para você se mexer.

Cada vez que Myles pensava em ter um relacionamento, tudo o que precisava fazer era olhar para Solomon. —Nós sabemos como essas coisas terminam.

—Se nossos primos podem fazer isso, nós também podemos?

—Os Chiassons não têm nossa... Aflição — Myles o lembrou.

Court olhou para Addison novamente. —Você a quer. Não há razão para você não poder tê-la, mesmo que seja apenas por um breve período.

—Enquanto ela trabalhar aqui, tudo o que farei é olhar.


*****


Dois dias excruciantes depois, Myles ainda estava procurando. Exatamente como esperava, Kane contratou Addison na noite em que ela se candidatou. Ela começou a trabalhar no dia seguinte, e cada vez que entrava vestindo a camisa preta justa e shorts jeans, Myles não conseguia pensar em nada além dela.

Ele tentou ficar no escritório, mas não funcionou. Ele tentou permanecer na cozinha para que pudesse apenas ter alguns vislumbres dela, mas não foi o suficiente. Ele então tentou trabalhar atrás do bar, o que provou ser demais sempre que um patrono deu a ela um olhar de admiração.

Nickleback tocava nos alto-falantes e Addison balançava com a música enquanto arrumava as mesas.

—Ela é bonita — disse Riley enquanto colocava os óculos de lado, se preparando para a multidão da noite.

Myles olhou para a prima, sabendo que nenhum de seus irmãos aprovaria seu trabalho ali. — Eu suponho.

Riley bufou alto. —Você é um péssimo mentiroso, Myles. Você está olhando para ela há dias, e quando você não está olhando, ela está olhando para você.

Isso era exatamente o que ele não queria ouvir. Isso o fez querer perseguir o que quer que esteja entre eles, mas não era algo que nenhum dos LaRues tentaria novamente.

Riley colocou um copo na mesa e se posicionou de forma que ele tivesse que olhar para ela. —O que é isso? Você está me dizendo que não irá atrás dela? Por quê? Meus irmãos administram isso.

—Não somos exatamente como seus irmãos.

Ela revirou os olhos azuis e alisou o cabelo puxado para trás em um rabo de cavalo elegante. —Seu pai e avô não viram um problema. Nem qualquer um de seus outros ancestrais. — Ela franziu a testa de repente. —Algo aconteceu, não foi? Algo para afastar todos vocês dos relacionamentos.

Myles olhou pela porta em arco para a cozinha onde Solomon estava. — Deixe isso, Riley. Por favor.

—Meus irmãos sabem?

—Não, e queremos que continue assim — alertou ele.

Ela colocou a mão em seu braço. —Deve ter sido muito ruim.

—Você não pode começar a sonhar.

Riley largou a mão e engoliu em seco. —Ava disse que o pai dela está aqui. Eu não o vi.

—Jack faz suas próprias coisas. Ele vem e vai com frequência. Há muita caça a ser feita por aqui.

—Caçando? — A ajuda de Addison quando ela se aproximou e colocou alguns copos sujos no balcão. —O que você caça?

Myles estava tão perdido no passado que não percebeu que Addison estava por perto. Caso contrário, ele nunca teria falado. —Qualquer coisa, mesmo.

— Você conhece esses garotos Cajun, — Riley disse enquanto se virava para Addison. —Eles gostam de caçar.

Addison olhou de Riley para Myles, e depois de volta para Riley, uma ligeira carranca marcando sua testa. —Certo.

Myles não deixou escapar a respiração até que Addison desapareceu na cozinha. —Falando em caça, acho que vou esta noite.

—Eu vou com você — disse Riley.

Myles se afastou dela. —O inferno que você vai. Uma coisa é ter você aqui e não contar aos seus irmãos. Outra coisa é levá-la para caçar.

—Você se esquece de que sou um Chiasson? Eu sei o que está lá fora desde que eu tinha idade suficiente para segurar uma arma. Meus pais garantiram que todos nós soubéssemos como caçar - e matar - essas coisas.

—Sim, mas quando foi a última vez que você caçou?

—Duas semanas atrás.

Myles passou a mão pelo rosto, de repente muito feliz por não ter uma irmã. —Você está de brincadeira?

—Realmente? — Ela perguntou com raiva. —Você acha que eu fui para Austin e fingi que o mal não existia?

—Seus irmãos sabem o que você estava fazendo?

Ela colocou as mãos nos quadris. — Eles poderiam saber se tivessem se incomodado em visitar.

—Você vai me levar para beber, Riley — disse Myles e suspirou. —Eu conheço essa tendência teimosa dentro de você. Todos nós temos isso. Se não a levarmos, você irá caçar sozinha. Você pode vir comigo esta noite. Eu ouvi sobre um fantasma sendo avistado.

Ela piscou para ele. — Obrigado, primo.

Riley deixou Myles e foi para a cozinha. Não demorou muito para encontrar Addison nos fundos, descascando camarão. — Eu pensei que você trabalhava na frente.

Addison olhou para ela e encolheu os ombros. —Sim, mas está tudo pronto e odeio ficar ociosa. Então eu perguntei a Solomon o que eu poderia fazer para ajudar.

—Eu ouvi Kane certo antes? Você também tem outro emprego?

Addison esfregou o queixo no ombro. —Tenho três juntos, mas se posso trazer para casa tanto dinheiro quanto fiz na noite passada regularmente, acho que posso deixar um.

—Você é uma super mulher?— Riley perguntou com uma risada. — Três empregos e você ainda está tentando se formar? Estou impressionado.

—Estou tirando o semestre de folga.

Riley ficou instantaneamente em alerta quando ouviu a quebra na voz de Addison. —Às vezes precisamos dessa pausa. As aulas ainda estarão lá na primavera. Fiquei tentado a desistir no meio do meu terceiro ano.

—Onde você tirou seu diploma?

—UT. Meus irmãos me mandaram para Austin assim que recebi meu diploma do ensino médio.

Addison mudou seu peso de um pé para o outro enquanto encostava o quadril na mesa de aço inoxidável. —Então, você é de Nova Orleans?

—Fui criado a poucas horas daqui.— Riley escondeu um sorriso quando percebeu que Addison estava tentando ver se ela estava interessada em algum dos caras. Riley então decidiu acalmar sua mente. —Eu queria passar um tempo com meus primos. Os meninos LaRue podem ser muito divertidos.

A cabeça de Addison estalou para ela. —Primos?

—Primos, — Riley repetiu e cedeu ao sorriso. —Eu vou te avisar, eles são obstinados como mulas. Às vezes, nós, mulheres, temos que mostrar a eles o que elas querem.

—Eu não sei — Addison evitou.

Riley se aproximou. —Confie em mim. Vá atrás do que você quer. Ou devo dizer quem você quer. — Quando Addison simplesmente olhou para ela como um cervo nos faróis, Riley bateu seu ombro contra o de Addison. —Você nunca sabe o dia de amanhã.

Addison olhou pela porta para o bar em Myles. —Isso é tão verdade.


CAPÍTULO QUATRO

 

Addison bocejou enquanto saía da cafeteria depois de se deliciar com um frappuccino de Java chip. Todos os dias ela pensava nas palavras de Riley, mas ela ainda não tinha feito qualquer tipo de movimento em Myles.

Ela tinha uma hora até que ela tivesse que estar em Gator Bait. Fazia apenas uma semana, mas ela conseguiu trazer duas vezes mais dinheiro que seus outros dois empregos juntos. Manter três empregos estava cobrando seu preço, e foi por isso que ela optou por abandonar o emprego de limpeza. Ela manteve seu emprego no escritório do advogado por causa do horário e sua disposição de contornar os cursos da faculdade.

Claro, isso não fosse um problema neste semestre.

Addison foi até um banco do outro lado da rua e se sentou. Nem mesmo as maravilhas do Bairro Frances poderiam tirá-la do medo em que ela caía toda vez que pensava em terminar a faculdade.

Se ela salvasse tudo o que fez, ela poderia ter o suficiente para cobrir outro semestre, mas e o depois disso? Graças às gorjetas de Gator Bait, ela conseguiu pagar a Wendy o aluguel vencido de dois meses, bem como o mês atual.

Ficar atrás das contas era uma droga. Addison sentiu como se estivesse sempre sendo pega. Era uma das razões pelas quais ela queria um diploma, conseguir um bom emprego para poder ganhar dinheiro suficiente para se sustentar.

Desde a morte do pai, ela se sentia como se estivesse lutando por esmolas. Não havia muita família para sequer considerar acolhê-la, mas ela se sentiu feliz por ter tido isso e não ser forçada a um lar adotivo.

Olhando para trás, Addison sabia que seus primeiros anos com a avó podiam ter sido rígidos e regulamentados, mas pelo menos ela era amada. Depois que sua avó morreu, ela viveu brevemente com o irmão de sua mãe e sua esposa até que ele foi diagnosticado com fibrose cística. Então ela foi para a única outra família que poderia hospedá-la, o irmão de seu pai e sua esposa. Eles não tinham filhos e lutavam com dinheiro, mas ela tinha um lar.

Addison conseguiu seu primeiro emprego dois meses antes de seu aniversário de dezesseis anos, só para não ter que pedir dinheiro para o almoço. E agora, para saber a verdade sobre eles... Ela não conseguia nem pensar nisso. Cada vez que o fazia, ficava tão furiosa que pensava que poderia explodir de raiva, era tão forte.

Enquanto ela bebia seu frappuccino, os pensamentos de Addison se voltaram para Myles. A princípio ela acreditou que a tensão sexual entre eles era sua imaginação. Durante a semana passada, ela o encontrou olhando para ela com frequência. Seu olhar era direto e... Necessitado. A única coisa que ela não era o tipo de garota que toma conta. Ela gostava que o cara fizesse o primeiro movimento, mas estava pensando seriamente em sair de sua zona de conforto quando se tratava de Myles.

Ele era confiável, estável e tão bonito que ela queria lamber seu corpo inteiro. Era pecado para um homem parecer tão bem. Sem mencionar o estrago que causou em seus hormônios.

Myles parecia o tipo de cara que iria atrás de uma mulher que ele queria. Ele ainda não tinha feito nenhum movimento perceptível nela, o que provavelmente significava... Que ele não estava interessado.

—Bem, este dia está cada vez melhor e melhor, — ela murmurou para si mesma enquanto chegava à conclusão.

Addison assistia as pessoas - um de seus passatempos favoritos - enquanto ela continuava a lutar com seus pensamentos sobre Myles. Se ele a rejeitasse, Addison nunca seria capaz de colocar os pés dentro do bar novamente. Ela ficaria mortificada.

Uma brisa bagunçou seu cabelo, puxando os fios em seu olho. Ela os enxugou, colocando-os atrás da orelha. Foi quando ela avistou uma mulher com cabelo rico e escuro olhando descaradamente para ela do outro lado da rua, perto de uma fileira de artistas e adivinhos.

Addison levantou uma sobrancelha em questão. Para seu choque, a mulher começou a caminhar em sua direção. Em uma cidade conhecida por seus malucos, Addison endireitou o corpo, preparada para se defender se necessário.

A mulher era alta e esguia. Ela usava uma camisa creme transparente que era apertada na cintura com uma faixa marrom. Era combinado com uma saia longa e cheio de vermelho com pequenas flores bege. Em torno de sua cabeça, havia um lenço de creme com contas marrons escuras penduradas na testa.

A mulher parou diante de Addison, seus olhos castanhos grandes e ligeiramente inclinados nos cantos. Ela tinha a pele cor de moca que sugeria uma ascendência mista. —Sua vida está em perigo.

Como alguém reagiu a tal declaração? Addison franziu a testa quando ela inclinou a cabeça. —De você?

—Claro que não, — a mulher disse impacientemente e se sentou enquanto olhava secretamente ao redor. —Eu sei que você pode não acreditar em mim, mas eu vi você em perigo na noite passada.

Addison estava começando a se perguntar se a mulher havia escapado de um instituto mental. —Me viu? Eu duvido disso. Eu trabalhei a noite toda, e a única coisa que estou correndo risco é que cerveja derramar em mim.

A mulher deixou escapar um suspiro longo e sofrido. —Quando digo que te vi, quero dizer que tive uma visão. Eu estava fazendo uma leitura ontem à noite quando seu rosto passou pela minha mente e eu vi tudo. Um lobo estava perseguindo você.

—Uau, — Addison disse e se afastou no banco. —Espere um minuto. Você acabou de dizer uma leitura? Você é cartomante?

A mulher revirou os olhos e apontou com as mãos para sua roupa. —Bingo. Agora, você pode superar isso para ouvir o que mais estou dizendo?

—Eu te ouvi. Perigo. Lobo.

Ela olhou para Addison por um momento antes de estender a mão. —Vamos começar de novo. Sou Minka Verdin. Sou de uma longa linha de adivinhos descendentes de ciganos que vieram da Romênia para cá.

—Addison Moore — disse ela enquanto apertava a mão de Minka. —Você está falando sério?

—Como um ataque cardíaco. Escute na maior parte do tempo eu fico mentindo lendo a palma da mão de alguém. Tive visões desde os seis anos de idade, mas eram estúpidas, como a imagem de um carvalho vivo fora da cidade ou de um carro velho e enferrujado parado no quintal. Houve três ocasiões em minha vida em que vi o rosto de alguém. Ontem à noite, era seu.

Addison não queria acreditar nela, mas a verdade brilhando em seus olhos não podia ser ignorada. —Digamos que eu acredite em você. Como você sabia que eu estaria aqui?

—Minha barraca está ali — disse Minka e apontou para o outro lado da rua na praça. —Eu tenho esse mesmo espaço há cinco anos. Eu não apenas vi o lobo perseguindo você. Eu vi você sentada aqui com aquela mesma camisa azul marinho e shorts brancos. Eu mantive uma vigia.

Addison tinha vivido em Nova Orleans a maior parte de sua vida. Ela sabia do que se dizia sobre a cidade e até testemunhou algumas coisas que a fizeram querer se esconder debaixo das cobertas.

—Não há lobos em Nova Orleans.

Minka desviou o olhar. —Olha em volta. Diga-me o que você vê.

Addison fez o que ela pediu. Ela virou a cabeça de um lado para o outro. —Vejo pessoas voltando ao trabalho depois do almoço. Eu vejo turistas. Eu vejo artistas pintando. Eu vejo músicos. Pessoas normais e comuns.

—Você sabe o que eu vejo?

Ela desviou os olhos para Minka, curiosos. —O que?

Minka apontou para onde seu estande estava atrás dos artistas. —Eu vejo bruxas. — Ela empurrou o queixo na direção atrás dela. —Eu vejo demônios. — Em seguida, ela acenou com a cabeça para a esquerda. —Eu vejo vampiros. Mais adiante na rua... Lobisomens. E à direita estão djinn.

— Certo — Addison disse com uma risada, pensando que Minka estava brincando com ela. Então Addison viu seu rosto e a seriedade em que os olhos escuros de Minka a encaravam. —Você quer que eu acredite que estou cercado por essas coisas? Além disso, todo mundo sabe que vampiros não podem sair durante o dia.

—Sim eles podem. Eles preferem a noite, mas podem se mover à luz do dia. E sim, eu quero que você acredite que o sobrenatural a cerca, porque ele está. Sempre foi assim. Nova Orleans é a meca dessas criaturas.

—Apenas Nova Orleans?

—Não — disse Minka tristemente. —Existem outros lugares para os quais o sobrenatural é atraído e há pessoas que os caçam.

Caçadores. Addison lembrou-se do que ouviu entre Myles e Riley alguns dias antes. —Se esses... Seres... Sabem que estão sendo caçados, por que eles permanecem?

—Porque em Nova Orleans, eles têm uma espécie de trégua para que todas as cinco facções possam permanecer. E eles estão sendo vigiados. Se eles saírem da linha, serão eliminados instantaneamente. Ele mantém as facções alinhadas em sua maior parte. Além disso, há muitos sobrenaturais reunidos aqui para os caçadores locais eliminarem por si próprios.

—Você conhece esses caçadores?

Minka hesitou por um segundo antes de concordar. —Eu conheço. Eu faço parte do mundo sobrenatural porque tenho dons, mas não sou uma ameaça como vampiros, demônios ou outras coisas.

—Você deixou os lobisomens de fora. Eles não são perigosos? — Addison perguntou curiosamente.

Minka mordeu o lábio inferior por um momento. —Eles podem ser, mas também são extremamente leais.

— Você disse que um estava me perseguindo. Estou percebendo que não é leal a mim.

—É exatamente isso — disse Minka, franzindo a testa. —Ele não deveria estar perseguindo você.

Isso chamou a atenção de Addison. —Ele? Você sabe quem é? Diga-me para que eu possa manter minha distância.

—Isso pode ser difícil.

Havia algo no tom de Minka que disparou sinos de alerta na cabeça de Addison. —Quem é ele?

—Ele não é seu inimigo. Se qualquer coisa, você está mais seguro perto dele.

—Mais seguro? — ela gritou, levantando-se. —Você disse que ele estava me perseguindo.

Minka levantou-se e disse com muita calma: — Foi o que vi, mas não significa que foi isso que aconteceu.

Addison estava farto. Ela cruzou os braços sobre o peito. —Você veio ou não acabou de vir aqui e me dizer que estou em perigo?

—Sim — respondeu Minka.

—Você me disse ou não que um lobisomem estava me perseguindo nesta visão que você teve?

Os lábios de Minka se achataram por um momento. —Sim.

—Então por que você está retrocedendo de repente?

—Você não ouviu o que mais eu disse? — Minka perguntou irritado. —Eu disse que ele não deveria estar perseguindo você.

Addison deixou cair às mãos e ajustou a alça de sua bolsa crossbody. —Por quê?

—Eu reconheci o lobo.

—E? — Addison pediu com força, sua paciência no fim.

Minka deixou-se cair de volta no banco. —Ele é um dos mocinhos.

—Um lobisomem isso é bom? Isso não é uma contradição de termos?

—Se você o conhecesse, entenderia — disse Minka. —Eles são conhecidos em todo o bairro, em toda Nova Orleans. Eles ajudam a manter as facções na linha. Eles nunca machucariam um humano.

— Mas outros lobisomens fariam?

Minka ergueu os olhos e acenou com a cabeça. —Alguns.

—Você fica dizendo 'eles'.

Minka balançou a cabeça e afastou uma mecha de cabelo escuro do rosto. —Você conheceu novas pessoas recentemente?

—Eu trabalho em um bar. Eu conheço novas pessoas todos os dias.

T chapéu chamou a atenção de Minka. —Que bar?

—Gator Bait.

Minka ficou de pé novamente e deu um passo para trás. —Cuidado, Addison. Você está em perigo, mas não sei de quem.

O queixo de Addison caiu quando Minka se virou e começou a se afastar. —Então é isso? Você vai largar essa previsão no meu colo e depois ir embora.

Os passos de Minka pararam e ela olhou para Addison por cima do ombro. —Eu nunca disse nada disso a um estranho antes. Eu não poderia te ajudar de qualquer maneira.

—E se você tiver outra visão que lhe diga mais? Você não quer uma maneira de entrar em contato comigo? — Por sua hesitação, Addison sabia que a resposta era um sonoro não, mas o que quer que tenha levado Minka a proclamar sua visão a manteve quieta.

Finalmente, Minka assentiu. —Sim.

—Eu moro em um apartamento perto da Rue Parc Fontaine. Se eu não estiver lá, você pode me encontrar no Gator Bait quase todas as noites.

Minka assentiu. —Esteja seguro, Addison.


CAPÍTULO CINCO

 

Myles sabia que algo estava errado com Addison pela maneira como ela pulava a cada som. Desde que ela entrou no bar naquela tarde, ela estava nervosa e hiper alerta. Quase como se ela estivesse esperando que alguém a atacasse.

Como se ele fosse permitir que isso acontecesse. Não em seu bar, e mais especialmente para ela.

—Problema? — Perguntou Solomon.

Myles deu de ombros de seu lugar na porta da cozinha. —Eu não sei. Algo assustou Addison.

—Ela está em Nova Orleans. Ela seria estúpida se não se assustasse.

—De acordo com Riley, Addison viveu aqui toda a sua vida. Ela viveu tanto tempo sem nenhum incidente. Preciso lembrar que ela foi matriculada em Tulane até este semestre? Você sabe o que acontece lá.

Solomon grunhiu e deixou seu olhar vagar pelos clientes. —Não há ninguém aqui que deva causar tal reação.

Myles ergueu uma sobrancelha e olhou para o irmão. —A lua cheia está sobre nós. A cidade inteira enlouquece durante esse tempo.

—Isso pode ser o que a está incomodando.

Myles torceu para que não fosse. —Eu dei desculpas para você e Court. Seria um inferno se Addison visse você depois da bela mentira que contei.

—Ponto tomado. E você e o Kane? Quando vocês vão sair?

—Em breve — disse Myles e olhou para Addison.

Solomon deixou escapar um suspiro. —Só por causa do... Passado... Não significa que você não deva pegar o que obviamente quer. Ou seja, Addison.

Myles se virou e apoiou as costas na parede. —Você passou pelo inferno, mas nós estávamos bem aí com você, irmão. Não éramos apaixonados por ela, mas a amávamos. Você é mais idiota do que eu pensava se não acha que isso afetou cada um de nós.

—Eu sei que sim. — Solomon passou a mão pelo rosto marcado de fadiga, seus olhos azuis preocupados. —Quando eu estava em Lyons Point, vi Vincent e Linc com suas mulheres. Eu os odiava por serem capazes de segurar isso. Se eles soubessem como é fácil.

Myles segurou o ombro do irmão e apertou. —Jogue sua raiva nos filhos da puta estúpidos o suficiente para cruzar a linha esta noite.

Os olhos de Solomon brilharam com uma luz profana do lobo dentro. —Vejo você lá fora.

Myles observou Solomon sair pela porta dos fundos antes de verificar os cozinheiros. Havia uma quantidade excessiva de humanos no bar, mas sempre era assim em uma noite de lua cheia. Os humanos eram tentação para o sobrenatural que vivia na escuridão.

Ele saiu da parte de trás e acenou com a cabeça para Kane, que saiu sem que ninguém percebesse. Myles caminhou atrás do bar, onde Riley estava ocupada servindo bebidas.

—O que você ainda está fazendo aqui? — Ela perguntou enquanto olhava para o relógio. —O sol acabou de se pôr. Você deveria estar lá fora.

—Vou. Tem certeza que tem tudo?

Ela riu e abriu as tampas de duas cervejas com um abridor antes de colocar as garrafas na frente dos clientes. —Claro.

Myles se aproximou quando ela se virou para ver o cartão de crédito. —Um de nós estará perto. Nunca saímos do bar completamente sem vigilância.

—Vai ficar tudo bem, — ela o assegurou. —Não provei nas últimas duas noites que sei exatamente o que estou fazendo? Eu derrubei aquele fantasma, e na noite passada, dois vampiros. Sozinha. Lembrar?

—Eu lembro. — Ele balançou a cabeça, incapaz de conter um sorriso. —É a única razão pela qual não estamos trancando você na geladeira nos fundos.

Riley deu-lhe um olhar seco. —Muito engraçado. Agora vá enquanto Addison está ocupada.

Myles olhou na direção de Addison para vê-la anotando um pedido. Algo o incomodava para ficar, mas ele tinha um trabalho a fazer. Ele caminhou até a cozinha e saiu pela porta dos fundos para o beco.

Ele deu uma olhada rápida para se certificar de que ninguém estava por perto antes de correr dois passos, pular em uma pilha de caixotes e então se lançar por cima da cerca de madeira para o telhado do próximo prédio.

A lua acenou, convocou. E o lobo dentro respondeu.


****


Addison entregou o crocodilo frito, apelidado de Gator Bait junto com uma jarra de cerveja para a mesa de três universitários que a olharam com admiração. Uma semana atrás, ela teria corado com sua aparência descarada, mas não demorou muito para se acostumar com essas coisas. Se fosse honesta consigo mesma, admitiria que o único que a fazia corar agora era Myles.

Ela se virou da mesa e olhou em volta procurando por ele. Pelo menos um dos quatro irmãos LaRue estava sempre no bar. Pelo que ela poderia dizer, nenhum deles estava lá agora.

Addison decidiu não dar muita importância a isso. Todo mundo precisava de uma noite de folga. O dela deveria ser amanhã à noite, mas ela pegou um turno de outra garçonete que queria uma folga.

Ela não podia acreditar que não tinha pensado em conseguir um emprego em um bar antes. Ela ganhou mais dinheiro do que em seus outros dois empregos juntos. Muito mais. Foi muito libertador largar seu trabalho de limpeza. Andar nos prédios do escritório à noite, quando não havia ninguém lá, era chato, estranho e simplesmente nojento às vezes.

Quem quer que tenha dito que os profissionais são malucos por organização que sempre cuidam de si mesmos, obviamente nunca tiveram que limpar seus escritórios depois de comerem duas refeições sem se preocupar em jogar nada fora.

Embora a comida fosse nojenta, e encontrá-la metade no lixo e metade no chão fosse ruim, não foi tão ruim quanto encontrar preservativos usados. Só de pensar nisso ela estremeceu.

Addison entrou na cozinha para respirar. Um dos três cozinheiros ergueu os olhos, seu sorriso largo ao vê-la.

—E aí, garota Addy?

Marcus era tão divertido e alegre que ela não se importou com o apelido dele. Sua pele era de um negro profundo, sua cabeça raspada e seu rosto em um sorriso perpétuo. Pelo que ela poderia dizer nada desanimou Marcus.

—O que é esta noite? — Ela perguntou enquanto colocava a mão na parte inferior das costas para esticá-la. —É como se os malucos tivessem aparecido.

Marcus riu quando os outros dois cozinheiros se juntaram a ele. Marcus preparou um prato de bagre enegrecido e piscou para ela. —É lua cheia, garota. Você não sabia?

—Eu não sabia. — Ela sabia que os animais reagiam de maneira estranha durante a lua cheia. Havia mais animais mortos espalhados pelas estradas durante a lua cheia do que em qualquer outra época do mês.

Marcus acenou para ela, seu sorriso diminuindo. Assim que ela chegou perto, ele se inclinou e disse: — Deixe um de nós acompanhá-la até sua casa, garota Addy. Não é uma noite para sair sozinho.

Ela olhou em seus olhos negros e viu que ele não estava brincando com ela. Ele estava realmente preocupado. E isso a deixou nervosa, especialmente depois do anúncio de Minka naquela tarde. —Tudo bem, — ela concordou.

Com o sorriso no lugar mais uma vez, Marcus assentiu. —Bom.

Ela viu quando ele se virou e cortou sem esforço um peito de frango grelhado em pedaços antes de colocá-los em uma tigela de macarrão e jogá-los. Addison girou e voltou para o bar. Foi quando ela viu Riley sozinha parecendo esfarrapada e morta de pé. Addison rapidamente foi ajudar.

—Obrigado, — Riley disse com um olhar agradecido.

Durante as duas horas seguintes, Addison passou de uma pessoa para outra enchendo bebidas e recebendo os pedidos de bebidas das garçonetes. Passava dá uma da manhã quando ela conseguiu respirar fundo e inspecionar o lugar. Muitos dos clientes haviam partido, mas ainda havia algumas mesas ocupadas.

—Acha que pode lidar com eles? — Riley perguntou. —Nesse caso, vou mandar duas das garçonetes para casa.

—Eu cuido deles — disse Addison enquanto saía de trás do bar para verificar as mesas.

Ela estava tirando pratos de uma mesa de dois casais, quando uma das mulheres engasgou e deixou cair o copo. Addison ergueu os olhos para ver que o cliente estava pálido, seu olhar além de Addison.

Addison se virou para a porta para ver uma mulher toda vestida de branco parada logo dentro do bar. Sua pele escura contrastava diretamente com seu traje e atraiu toda a atenção do bar para ela. O olhar da mulher esquadrinhou o bar até que avistou Addison.

Um arrepio percorreu Addison quando a mulher sorriu e caminhou até uma mesa. Só tardiamente Addison percebeu que a mulher não estava sozinha. Um negro alto, vestido com calça e camisa brancas, seguia de perto, sentando-se apenas depois que a mulher escolheu uma cadeira.

Foi uma daquelas raras ocasiões em que Addison teria alegremente passado a mesa para outra pessoa, mas ela disse a Riley que poderia lidar com a coisa sozinha.

Suas pernas estavam duras enquanto ela caminhava para a cozinha. Ela colocou os pratos sujos na pia e correu de volta para frente para limpar o vidro quebrado, mas Riley já estava cuidando disso. Isso deixou Addison sem nada mais a fazer a não ser ir para sua nova mesa.

Com seu melhor sorriso, ela parou na mesa. —Bem-vindo ao Gator Bait. O que posso conseguir por vocês esta noite?

A mulher a observou com um meio sorriso, do tipo que dava a impressão de que sabia algo que Addison não sabia. Seu cabelo preto estava preso em dezenas de pequenas tranças que caíam até a cintura. Com sua pele escura impecável e maçãs do rosto salientes, a mulher era espetacularmente bonita.

—As coisas melhoraram para você desde que veio trabalhar aqui, Addison — disse a mulher com uma voz rica que parecia preencher cada centímetro do bar.

Addison engoliu em seco enquanto agarrava o lápis com força. —Eu conheço você?

—Ainda não, mas eu conheço você.

—Como?

O sorriso da mulher cresceu uma fração. —Onde estão os irmãos LaRue?

—Eu não sei. Não é de a minha conta acompanhá-los, — Addison respondeu rigidamente. Seus braços começaram a tremer por mantê-los presos no lugar enquanto esperava para anotar o pedido. —Agora. O que eu posso pedir para você comer ou beber?

—Eu não vim pela comida, — a mulher disse e cruzou uma perna sobre a outra, sua saia longa movendo-se com fluidez. —E eu posso conseguir bebidas em qualquer lugar.

Addison baixou os braços para os lados. Ela sabia que a mulher a estava incitando a fazer a pergunta, e mesmo sabendo que seria melhor ir embora, ela perguntou: — Então por que você está aqui?

—Para você.

Addison ficou tão chocada que deu um passo para trás. Quem era a mulher e por que ela veio por ela? Addison sabia o suficiente para reconhecer o traje da mulher como aquele da cultura Voodoo. Era uma religião sobre a qual ela nada sabia, exceto o fato de que poderia ser perigoso em mãos erradas. Ela não queria - ou precisava - saber mais do que isso.

—Algum problema? — Riley perguntou enquanto caminhava ao lado de Addison.

O sorriso da mulher cresceu lentamente enquanto ela olhava para Riley. —Não esperava ver um Chiasson aqui em New Orleans. Não acho que meu dia possa melhorar.

—Quem é Você? — Addison perguntou.

A mulher baixou a cabeça enquanto deslizava o olhar de Riley para Addison. —Eu sou Delphine. — Ela estreitou os olhos em Riley. —Seus irmãos não me mencionaram?

Addison olhou para Riley para vê-la tremendo de raiva. Seus lábios estavam apertados com força e suas mãos estavam fechadas em punhos ao lado do corpo.

Delphine jogou a cabeça para trás e riu. —Ah. Eu vejo que eles têm. Eu me pergunto, seus irmãos sabem que você está aqui? Imagino que fariam tudo ao seu alcance para mantê-la fora de Nova Orleans após meu último encontro com eles. Hmm. Existe discórdia no clã Chiasson?

—Saia, — Riley disse entre os dentes cerrados. —Agora.

Delphine se levantou. Seu sorriso se foi, mas uma expressão de prazer absoluto brilhou em seus olhos negros. —Você deveria saber mais sobre seus empregadores, Addison. Apenas estar associado a tais... Pessoas... Pode causar todos os tipos de problemas.

Com isso, Delphine girou nos calcanhares e saiu do bar.

Todos respiraram com mais facilidade depois que Delphine foi embora. Todos menos Addison, claro.

—Não dê ouvidos a ela, — Riley disse enquanto olhava para a porta fechada. —Ela tem rancor da minha família, que começou com os LaRues, e desde então se expandiu para abranger os Chiassons.

Addison engoliu em seco e esfregou as mãos nos braços. —Por que ela me procurou?

—Para assustar você. — Riley a encarou e deu um sorriso rápido. —Delphine é uma sacerdotisa Voodoo. Cuidado com ela.

Eles se viraram para encontrar Marcus atrás deles, seu rosto uma expressão trovejante de fúria e ódio. —Riley está certa, garota Addy. Delphine é um péssimo negócio.

Addison não precisava que nenhum deles dissesse isso a ela. Ela sentiu isso no momento em que viu Delphine, mas isso ainda não impediu que as palavras da sacerdotisa passassem por sua cabeça repetidamente.


CAPÍTULO SEIS

 

Addison mal podia esperar para encerrar a noite. Ela estava exausta tanto física quanto mentalmente. A visita de Delphine tinha apenas agitado as coisas, e ela estava mais do que curiosa para saber onde Myles e seus irmãos estavam. Quando ela perguntou a Riley sobre isso, Riley deu de ombros e disse que os meninos precisavam de uma noite de folga.

Addison saiu pelos fundos com um saco de lixo. Ela abriu a lixeira e jogou-a dentro. Depois de tirar o pó das mãos, ela olhou para o céu, mas não conseguia ver a lua de onde estava.

Ela se virou para voltar para dentro quando um homem saiu das sombras. Addison deu uma olhada na porta, mas o beco estreito a impediu de ter espaço suficiente para contorná-lo e chegar à porta. Se alguma coisa acontecesse, ninguém lá dentro a ouviria gritar com a música estridente.

Addison olhou por cima do ombro para a cerca de madeira que a trancava. Ela não achava que poderia escalá-la rápido o suficiente ou abrir o portão trancado rápido o suficiente para escapar.

Ela percebeu o homem. Ele era baixo e tinha uma estrutura fina, mas havia algo nele que a deixava desconfiada, algo que a fazia pensar que ele era muito mais forte do que parecia.

—Aqui está o pedaço que estou procurando — disse ele com um sorriso.

Sua pele parecia pálida na luz que inundava o beco. Os olhos dele estavam na sombra, mas ela sabia que estavam fixos nela quando ele começou a se mover em sua direção. Addison recuou seu coração batendo forte de medo.

O homem alisou a mão sobre o cabelo castanho escuro penteado para trás. —Você é tudo que está sendo falado. — Ele lambeu os lábios. —Estou faminto.

—Posso pegar um pouco de comida para você — ela se apressou em dizer.

Aparentemente, ele achou engraçado porque riu. —Dê uma olhada nas minhas roupas, querida. Eu pareço não ter dinheiro para tudo o que quero?

—Você disse que estava com fome.

—Oh, eu estou. — Ele puxou os lábios e seus olhos se alongaram.

Addison teve seu segundo choque da noite, e isso a trouxe até curto, parando seu retiro. Certamente foi algum truque da luz.

Minka disse que havia vampiros.

Oh Deus. Ela ia morrer de uma mordida de vampiro. O terror que a consumiu travou seus membros para que ela não pudesse se mover por um momento. Addison tropeçou para trás contra a cerca, um grito brotando em sua garganta.

Em seguida, um flash de pele escura disparou sobre sua cabeça. Ela gritou quando algo grande e peludo aterrissou na frente dela, um rosnado baixo e ameaçador emanando dele. O vampiro deu um passo para trás e chiou. Addison queria pensar que era um cachorro, mas não havia como negar que ela estava olhando para um lobo - um lobo muito grande e assustador.

Seu corpo estava baixo no chão enquanto ele batia suas mandíbulas no vampiro e emitia outro rosnado. Por um segundo, Addison pensou que o vampiro iria embora, e então ela percebeu que o lobo não tinha intenção de deixá-lo ir a lugar nenhum.

Ela se grudou na cerca, rezando para que o lobo não a visse. A mão de Addison tremia enquanto ela tentava abrir o portão à sua direita. O movimento do metal fez com que o olhar do vampiro se voltasse para ela.

Sua respiração travou em seu peito. Então o lobo virou a cabeça para ela e ela viu seus olhos amarelos que pareciam brilhar por dentro. Ela ficou surpresa com a beleza feroz do lobo. No próximo segundo, o lobo surpreendeu a ela e ao vampiro quando se lançou sobre o homem e travou suas poderosas mandíbulas ao redor do pescoço do vampiro. Os gritos do vampiro foram abafados pelo rosnado do lobo.

Addison gritou e se concentrou em abrir o portão porque sabia que estava vendo um lobisomem em primeira mão. Levou um momento para perceber que de repente tudo estava quieto como a morte ao seu redor, exceto pelo baque da música dentro do bar.

Ela fechou os olhos, ambas as mãos ainda no trinco do portão que se recusava a abrir. Addison lentamente virou a cabeça e olhou por cima do ombro.

O lobo estava de lado, parado sobre o cadáver do vampiro que estava ficando cinza e desmoronando diante de seus olhos. Ela ergueu o olhar para o lobo e deu uma boa olhada em seu pelo marrom chocolate. Não era apenas mais musculoso do que um lobo normal, mas mais alto também.

Ele não estava mais rosnando. Ele simplesmente olhou para ela como se estivesse esperando por algo.

—Obrigada, — ela sussurrou.

De sua posição, ele pulou a cerca sem nenhum som. Addison engoliu em seco de volta um grito de surpresa e então correu ao redor da poeira do vampiro o mais rápido que pôde antes de correr para a cozinha.

Tudo que Addison queria fazer era acabar com a noite para que ela pudesse tentar dormir. Talvez então ela pudesse esquecer tudo o que testemunhou.

Quando ela voltou para frente do bar para terminar de limpar as mesas, Riley a parou agarrando suas mãos. —Você está tremendo — disse Riley. —O que aconteceu?

Addison não estava certa se ela pudesse contar a Riley sobre o que tinha acontecido. Ela não queria que ninguém pensasse que ela pertencia a um manicômio.

—Addison, por favor, — Riley pediu.

—Havia um homem lá fora.

Riley franziu a testa e olhou para a cozinha. Ela soltou Addison e caminhou até o banco. Addison a seguiu para fora. Com um olhar, Riley caminhou até o último pedaço de cinzas do vampiro. Ela se ajoelhou e tocou algo no chão.

Seu olhar se ergueu e se fixou em Addison. —Pela palidez do seu rosto, estou deduzindo que você viu isso?

Addison assentiu.

Riley suspirou e se levantou. —O que aconteceu?

A aceitação em seu rosto fez Addison girar. Ela colocou os braços em volta da cintura. —Você aceita isso como se soubesse. Você não está chocado por haver uma pilha de cinzas ali, e você sabe o que é.

—Eu poderia ter mentido para você, fingido que não vi nada e esperado até você sair para dar uma olhada melhor. Mas eu não fiz. Eu sei sobre vampiros, demônios, bruxas...

—Lobisomens? — Addison perguntou.

Riley hesitou por um segundo. —Sim.

—Isso é o que pegou o vampiro.

Riley apontou o polegar por cima do ombro para a cerca. —Eu vi as marcas de garras frescas.

Addison baixou a cabeça entre as mãos. —Eu não posso acreditar que estou parado aqui falando sobre lobisomens e vampiros. Morei em New Orleans toda a minha vida. Todos esses rumores eram apenas para manter os turistas chegando.

—Como eu gostaria que isso fosse verdade. — Riley veio ficar ao lado dela. —Você está assustada, mas não tanto quanto eu esperava.

Addison baixou as mãos e olhou para cima. —Este foi um dia muito estranho. Fui abordado anteriormente por uma cartomante que disse que teve uma visão de mim sendo perseguido por um lobisomem.

—O que? — Riley explodiu. — Ela disse lobisomem?

—Ela disse lobo, mas disse que estava confusa porque conhecia os lobos do bairro e disse que eles protegiam as pessoas. — Como Addison aprendeu em primeira mão naquela noite. —Mas ela me avisou que eu estava em perigo.

Riley grunhiu e cruzou os braços sobre o peito enquanto sua carranca se aprofundava. —Isso é óbvio pela visita de Delphine esta noite. Alguém está se interessando por você, Addison, e isso é motivo de preocupação.

—Realmente? — ela perguntou sarcasticamente.

O rosto de Riley se abriu em um sorriso. —Eu acho que isso pede uma bebida. Apenas Marcus sobrou. Entre e me conte em detalhes o que aconteceu aqui.


****


Myles observou Addison e Riley voltando para a cozinha através de uma ripa na cerca. A propósito, Riley olhou por cima do ombro, ela deve ter adivinhado que ele ainda estava lá fora.

Ele estava feliz por ter ouvido seus instintos e permanecido para trás. Nem mesmo matar o vampiro esfriou a fúria que correu por ele. O vampiro nunca deveria ter chegado tão perto do bar, e ele não teria, se Myles não tivesse sido levado a uma alegre perseguição pelo bairro atrás de outro grupo de vampiros.

Não era comum que o bairro fosse um foco de atividade na lua cheia, mas ele percebeu agora que tinha sido levado de propósito. O vampiro estava atrás de Addison.

Mas por quê? E o que o vampiro quis dizer quando disse que todo mundo estava falando sobre Addison?

Mais perturbador foi à menção do nome de Delphine, apesar de Riley ter sussurrado. Na forma de lobo, ele podia ouvir tudo - até as batidas frenéticas do coração de Addison.

Sabendo que Riley manteria Addison segura lá dentro, Myles fez outra ronda pela área. Ele e seus irmãos certamente estavam ocupados esta noite, e quanto mais demorava para ele retornar a Addison, mais frustrado ele ficava.

Não foi até os primeiros raios de sol iluminar o céu que ele foi capaz de seguir o cheiro de Addison e Riley, embora o de Addison fosse mais forte para ele. Ele galopou pelas ruas, permanecendo escondido até chegar à Rue Parc Fontaine. Ele olhou para a rua e viu Riley sentada no capô de um jipe verde brilhante.

Ela o viu e deslizou para fora do carro com um sorriso. —Estou feliz em ver você — disse ela quando ele trotou. —Você a salvou, não foi?

Myles parou ao lado dela e olhou para o segundo andar, onde podia sentir o cheiro de Addison.

—Ela está segura — disse Riley enquanto acariciava suas costas.

Isso só poderia confortá-lo muito, especialmente sabendo que ela ainda estava em perigo. Uma bruxa do bairro disse que ela teve uma visão de Addison sendo perseguido por um lobo. Isso o perturbou.

—Achei que você viria, — Riley continuou enquanto se abaixava e alcançava uma bolsa colocada no chão, então se endireitou com algo em sua mão. —Então eu peguei algumas roupas. Você não pode ser visto assim, primo.

Myles colocou o jeans na boca e foi para um lugar isolado. Ele largou o jeans e deixou a transformação de volta em seu corpo humano começar. Era sempre mais fácil voltar à forma humana do que mudar para lobo. Ele cerrou os dentes enquanto ossos, tendões e músculos voltavam à sua forma verdadeira.

Myles estava ofegante, o suor cobrindo seu corpo quando ele empurrou as mãos e olhou em volta para se certificar de que ninguém o tinha visto. Então ele se levantou e vestiu o jeans antes de caminhar descalço de volta para Riley.

Ela sorriu brilhantemente, segurando uma camisa vermelha e um par de chinelos de couro marrom. —Não podemos deixar você andar descalço. Você não sabe o que poderia pisar. E a camisa é uma necessidade. Se as mulheres te avistassem, você nunca voltaria para o bar.

Ele riu e vestiu a camisa. Enquanto calçava os sapatos, ele olhou para Riley. —Vamos voltar para o bar.

—Suponho que você tenha perguntas?

Myles esperou que ela pegasse a bolsa antes de começar a andar. —Sim. Eu não serei o único.

—Eu sabia que você estava lá — Riley resmungou.

—Delphine apareceu realmente lá?

Riley concordou. —Eu ouvi sobre ela de Ava, mas eu não esperava sentir o mal de Delphine tão fortemente. Era como se ela fosse o centro de tudo.

Myles colocou o braço em volta de Riley e puxou-a contra ele. —Você não deveria ter que enfrentá-la sozinha na primeira vez. Merda. Seus irmãos vão ter minha cabeça.

—Ela sabia quem eu era, mesmo sem saber meu nome, — Riley disse e descansou a cabeça em seus ombros.

Eles caminharam o resto do percurso até o bar em silêncio. Riley era forte. Ela tinha que ser uma Chiasson, mas ela mesma vinha fazendo as coisas por tanto tempo que queria desesperadamente que alguém aliviasse parte da carga de seus ombros. Ela apenas não compreendia isso ainda.

Myles os conduziu pela parte de trás do prédio. Assim que eles entraram na cozinha, ela se afastou, empurrou os ombros para trás e ergueu o queixo. Quer ela soubesse ou não, ela agia como se estivesse indo para a batalha, e de certa forma ela estava - a batalha por si mesma.

Ele parou quando entrou na frente do bar e viu Court, Solomon e Kane sentados com Marcus. Marcus era a única outra pessoa no bar que sabia o que realmente eram, e apenas porque foi Solomon quem salvou sua vida dez anos antes, quando um demônio tentou possuir Marcus quando era adolescente.

Marcus passou a mão pela cabeça careca e encontrou o olhar de Myles. —Delphine estava aqui por Addison.


CAPÍTULO SETE

 

Horas depois, Myles estava deitado em sua cama com o braço atrás da cabeça olhando para o teto. Ele deveria estar dormindo, mas sua mente continuava repassando tudo que Marcus e Riley lhe contaram sobre a visita de Delphine e a cartomante que falou com Addison.

O que havia em Addison que estava chamando a atenção de todas as facções do sobrenatural na cidade? Pelo que Myles sabia, ela era uma garota normal do Sul, todos os dias. Obviamente, ele estava errado.

Ele se levantou e tomou um banho rápido, sem se preocupar em se barbear. Ele vestiu um novo par de jeans, uma camisa preta e botas antes de sair de seu apartamento.

Isso era algo que os LaRues faziam de maneira diferente dos Chiassons. Eles não moravam todos na mesma casa. Solomon ainda morava na casa LaRue nos arredores de New Orleans, no pântano. Era um lugar grandioso que era grande demais para um homem, mas Myles, Court e Kane optaram por residir em Nova Orleans, cada um ocupando uma seção próxima um do outro, mas ainda permitindo que eles ficassem de olho nas coisas dentro das facções.

A casa de Myles era um antigo armazém que ele comprou seis anos antes e converteu em grandes apartamentos tipo estúdio. Ele tinha um carro, mas raramente o dirigia, já que morava perto o suficiente de Gator Bait para andar.

Ele puxou suas chaves quando chegou ao bar. Quando ele estava prestes a colocá-los na abertura, ele ouviu algo dentro. Myles abriu a porta e entrou para encontrar Solomon puxando as cadeiras das mesas.

—Não conseguiu dormir? — Perguntou Solomon.

Myles abanou a cabeça. —Você também?

Solomon grunhiu. —Você sabe que eu não durmo.

Era verdade, e algo de que raramente falavam. —Não consigo entender por que Addison é tão importante para as facções.

—Você já parou para pensar que é porque ela veio trabalhar aqui?

Myles caminhou para trás do bar e serviu-se de uma xícara de café preto forte. — Quantas pessoas já trabalharam para nós ao longo dos anos? Nenhum deles foi destacado.

—Verdade, — Solomon admitiu enquanto colocava a última cadeira no lugar se preparando para a confusão do meio-dia. Ele caminhou até o bar e sentou-se em um banquinho. —Algo no passado dela, talvez?

Myles encolheu os ombros. —Poderia ser. Eu não quero interrogá-la sobre isso.

—É isso ou pedimos um favor no NOPD.

Myles coçou a bochecha e bebeu mais café, esperando que a cafeína fizesse efeito em breve. —Ficarei surpreso se ela voltar. Depois de tudo, ela provavelmente está muito assustada para voltar.

—Tornando mais difícil para nós protegê-la. — Solomon ergueu as sobrancelhas e olhou intencionalmente para Myles.

—Desde quando fui eleito o único para cuidar dela?

—Já que você não consegue tirar os olhos dela.

Myles não podia negar isso. Ele pensou que tinha sido dissimulado sobre isso.

—Estamos mais sábios agora, — Solomon disse enquanto descansava seus antebraços na barra e entrelaçava os dedos. Seu cabelo loiro escuro estava desgrenhado como se ele tivesse passado as mãos por ele. —Cometemos erros com M... Cometemos erros.

Myles desviou o olhar quando Solomon não conseguiu nem dizer o nome da mulher que amava. Seis anos não tinham entorpecido a dor de perdê-la - ou a memória da forma trágica como ela morreu. —Ouvi dizer que duas novas mulheres chegaram ao acampamento dos lobos em Slidell. Vá dar uma olhada.

O olhar de Solomon ficou duro. —Estamos falando de você, não de mim. O que quero dizer é que Addison vai precisar ser vigiada independentemente de voltar ao trabalho ou não. Um vampiro estava aqui para matá-la. Delphine propositalmente entrou em nosso bar para falar com Addison na noite em que ela sabia que não estaríamos aqui. Por último, mas não menos importante alguém da facção das bruxas lendo fortunas teve uma visão sobre ela sendo perseguida por um lobo.

—Eu sei de tudo isso. Você não tem que repetir, — Myles disse irritado.

—Aparentemente, sim, para enfiar na sua cabeça dura.

Myles terminou seu café e pousou a caneca com força. —Você acha que eu não sei que você está me empurrando para ela na esperança de que eu desista?

Solomon sustentou seu olhar por vários longos momentos. — Eu acho que você está lutando contra todos os instintos naturais de tomá-la. Acho que você está se esforçando para garantir que não vai ceder ao desejo. Acho que você a quer mais do que qualquer outra coisa. Sempre.

—Não posso — sussurrou Myles.

—Porque você tem medo de se apaixonar? Ou com medo de perdê-la?

Myles não achava que era forte o suficiente para suportar o que Solomon tinha. Ter encontrado o amor, depois perdê-lo de uma forma tão hedionda, era demais. Agora, saber que tantas facções estavam interessadas em Addison só trouxe a possibilidade para casa.

—Ambos — admitiu Myles.

Solomon colocou as mãos na barra e se levantou. —Isso ainda não muda o fato de que ela está em perigo. Vou mandar Kane vigiá-la primeiro. Nós três podemos dividir o tempo. Você não precisa se envolver.

Myles cerrou os punhos ao pensar em seus irmãos observando cada movimento de Addison enquanto ele ficava para trás. Era o melhor. Pelo menos foi o que ele disse a si mesmo enquanto Solomon ia em direção à cozinha.

—Não — disse Myles antes que Solomon pudesse passar pela porta. —Eu vou falar com ela. E pare de sorrir, seu idiota. Eu posso ver você.

Solomon riu enquanto desaparecia na cozinha. Myles suspirou e decidiu repassar os números do dia anterior para distraí-lo das coisas.

Exceto que ele aprendeu uma hora depois que nada poderia tirar sua mente de Addison. Ele finalmente desistiu e saiu do bar. Sem destino em mente, ele vagou pelas ruas até chegar à Jackson Square.

Myles passeou por muitos artistas exibindo seus produtos. Enquanto ele caminhava, ele estudou as bruxas consideradas videntes. Houve mais do que nunca. Alguns eram fraudes, mas alguns eram os artigos genuínos.

Ele viu uma jovem bruxa que estava mais interessada em observar alguém do que em atrair clientes que passavam por ela. Myles seguiu seu olhar até que viu ninguém menos que Addison.

Myles foi até a bruxa e se sentou. Ela saltou, balançando a cabeça para ele. Seus olhos se arregalaram, indicando que ela sabia exatamente quem ele era.

—Minka, certo? Você disse a Addison que ela estava em perigo — disse ele.

A bruxa tinha cabelos castanhos longos e profundos que cresciam. Um pedaço de tecido rosa brilhante estava enrolado em sua cabeça com pequenas contas em vários tons de rosa penduradas em sua testa. Seus olhos eram castanhos claros rodeados de preto, dando-lhe uma aparência dramática e exótica.

Ela se inclinou para trás, a blusa preta pendurada em um ombro. Uma sobrancelha escura se ergueu quando ela devolveu seu olhar. Então ela cruzou uma perna sobre a outra, sua saia rosa subindo o suficiente para mostrar sandálias de contas pretas. —Porque ela está.

Levou muito tempo, mas pelo menos a bruxa estava falando. —De um lobo?

Minka desviou o olhar brevemente. —Como eu disse a Addison, é aí que fica complicado.

—Como?

—Eu sinto o perigo envolvendo-a, e eu sei que ela está sendo perseguida por um lobo, mas eu não acho que é o lobo que ela deveria ter medo.

Myles olhou para onde Addison fazia compras na praça. —Qual é a cor do lobo?

—Castanho.

—Então você entendeu errado, bruxa. Eu nunca a machucaria.

A cabeça de Minka balançou enquanto ela o estudava. —Não, você não faria. Ela sabe o quanto você anseia por ela?

—Isso não é da sua conta.

—Então, isso é um não, — Minka disse com uma torção de seus lábios. —Por que os homens são tão estúpidos?

Myles estalou os dedos para ela. —Foco. Preciso saber quem está atrás de Addison. Um vampiro tentou pegá-la ontem à noite, e Delphine a visitou.

A bruxa empalideceu com a menção da sacerdotisa. —Delphine? Ela foi ao apartamento de Addison?

—Não. Ela veio ao bar.

Minka assobiou baixo. —Depois que você e seus irmãos a capturaram e torturaram? Tem certeza de que ela está atrás de Addison e não um de vocês?

—Não somos estúpidos. Sabemos que sempre estaremos na mira de Delphine. Não gosto da atenção dela em Addison. Como ela soube de Addison?

Minka se inclinou para frente e baixou a voz. —Tem havido rumores por algumas semanas sobre alguém que tem poder suficiente para colocar Delphine em seu lugar.

—Eu sei quem ela é, mas ela não está em Nova Orleans — disse Myles.

Minka balançou a cabeça, a testa franzida. —Eu sei sobre Davena. Eu estava levando ao fato de que não é apenas Davena que está sendo comentada.

Quando ela não continuou, Myles lançou lhe um olhar plano. —Você não pode ir tão longe, bruxa, e não terminar.

—Tudo bem — afirmou ela com raiva. —Mas entenda que eu coloquei minha própria vida em perigo ao lhe dizer isso.

—Apenas cuspa.

Minka olhou em volta e de repente ficou nervoso. —Não aqui, — ela sussurrou.

Myles recostou-se e estendeu a mão. —Você é uma cartomante, certo? Qual a melhor maneira de encobrir o que estamos falando do que lendo minha palma?

—Você está louco — ela resmungou, mas colocou a mão dele entre as dela. Ela correu um dedo ao longo de sua palma, seu olhar focado em sua mão. —Eles ainda estão assistindo.

—Quem?

—Meu povo. Eles não querem se envolver.

Myles olhou para uma mesa a poucos metros de distância e encontrou uma mulher observando-os. Assim que seus olhos se encontraram, ela rapidamente desviou o olhar. —Por quê? — Ele perguntou a Minka.

—Dizem que não é nossa luta. — A unha dela raspou levemente em sua palma. —Não contei a eles o que vi, mas eles sabem que algo está acontecendo.

Ele inclinou a cabeça como se observasse atentamente o que ela estava fazendo em sua palma. —Ignorar não fará com que a situação desapareça.

—Sem brincadeiras? — Ela respondeu suas palavras cheias de sarcasmo. — Eu também não consigo ver nada.

—Diga-me o que você sabe, — ele pediu suavemente.

Ela encontrou seu olhar e então suspirou. —Dizem que Delphine está preocupada. Ela precisa fazer o sacrifício de alguém de espírito puro, assim como de uma bruxa, para aumentar seu poder.

—Addison não é uma bruxa — disse Myles, a outra mão segurando a lateral da mesa. —Ela deve ser aquela pura de espírito.

—Essa é a conclusão a que cheguei ontem. Não sei por que vi você perseguindo-a.

Ele encolheu os ombros. —Uma coisa de cada vez. Se as outras facções conhecem o plano de Delphine, então pode ser por isso que o vampiro tentou matar Addison na noite passada.

—Addison não é apenas uma boa alma. Ela é verdadeiramente pura de espírito. Ao contrário da maioria de nós, ela realmente é espiritualmente limpa, sem culpa e sem manchas de culpa. Mesmo quando ela teria o direito, ela não nutre pensamentos de vingança. Não há muitos deles por aí, especialmente na cidade. Ninguém quer que Delphine ganhe mais poder. Ela já tem demais — disse Minka olhando para ele com um sorriso, então ela parecia estar dando boas notícias para qualquer um que estivesse assistindo.

Myles sorriu de volta. —Não podíamos matá-la quando a tínhamos. Você sabe disso, não é?

—Nós sabemos o que ela fez com Kane, mas se você impedi-la nisso, tenho a sensação de que ela virá atrás de você.

—Melhor eu do que Addison.

Minka estremeceu seus olhos ficando leitosos enquanto ela o encarava sem piscar. As unhas dela cravaram em sua mão, fazendo com que o sangue brotasse das formas de meia-lua.

Myles sub-repticiamente olhou em volta antes de se inclinar para frente. —Minka? Ei, bruxa? Fale comigo.

Suas pálpebras se fecharam e Minka respirou fundo. Quando ela abriu os olhos, eles estavam mais uma vez castanhos claros. Ela largou a mão dele e começou a tremer. Desta vez, foi Myles quem segurou as mãos dela.

—Fale comigo, bruxa. O que acabou de acontecer?

—Eu vi sua morte.


CAPÍTULO OITO

 

Myles soltou as mãos de Minka e recostou-se. —A morte faz parte de ser um caçador. Mais cedo ou mais tarde, ele nos encontra.

—Isso é mais cedo — Minka sussurrou com fervor. —Por que você não está pirando? Eu gostaria de saber.

—Você acha que alguém da minha família viveu até uma idade avançada? Temos muitos inimigos.

Minka ergueu uma sobrancelha. —Um homem tão machista. Por que você não pode dizer que não quer morrer?

—Alguém quer morrer, bruxa?

Todo o calor saiu de suas palavras. —Alguns fazem.

Myles pensou imediatamente em Solomon. Seis anos atrás, Solomon implorou por uma morte. Ele suspirou e se concentrou no presente. —O que você pode-me dizer sobre sua visão?

—Você estava gravemente ferido quando a visão começou — disse Minka.

—Eu preciso de detalhes, Minka. Onde eu estava? Com quem eu estava lutando? Quais foram os ferimentos? — ele pressionou.

Ela deslizou os dedos pelo cabelo perto das têmporas e fechou os olhos. —Havia árvores e grama ao seu redor. Eu não conseguia ver as feridas, apenas sangue. Tanto sangue.

Myles se inclinou para frente e baixou a voz. —Você pode ver com quem eu lutei?

—Não, — ela disse com um aceno de cabeça. Seus olhos se abriram quando ela baixou as mãos. —Você estava na forma de lobo.

—Bom. Isso vai ajudar. Você deu uma olhada no que me matou?

—Uma lâmina de prata.

Droga. Isso realmente acabaria com ele para sempre. Myles se levantou e pescou duas notas de vinte de seu bolso. Ele os jogou na mesa para fazer a troca parecer legítima. —Obrigado. Os LaRues estão em dívida com você. Se você precisar de alguma coisa, venha nos encontrar, bruxa.

Ele saiu com a nova informação rolando em sua mente. Se ele morreria em breve, isso colocaria as coisas em uma nova perspectiva. Como Delphine estava envolvida, havia uma chance de que sua vida pudesse acabar naquele mesmo dia.

Myles parou na beira da calçada, seu olhar procurando por Addison. Ele a encontrou olhando através de uma pilha de pinturas. Se ele ia morrer, ele morreria conhecendo o gosto do beijo de Addison.


*****


Addison tentou dizer a si mesma que havia retornado à Jackson Square para preencher o tempo, mas a verdade era que esperava que Minka tivesse mais informações. Addison ainda não tinha reunido coragem para ir pessoalmente até Minka. Mas ela estava trabalhando nisso.

Ela estava folheando algumas pinturas quando uma chamou sua atenção e ela fez uma pausa. Era uma pintura do bairro à noite, uma grande lua cheia nascendo. Era uma peça grande, que ficaria incrível em cima da cama.

Addison sabia que não deveria gastar nenhum dinheiro em algo que não fosse uma necessidade, e ainda assim ela queria a pintura. Ela olhou para o preço e se encolheu. Era muito mais do que ela queria pagar, mas cada vez que tentava resolver o problema e ir embora, não conseguia.

—Encontrou algo de que goste? — Perguntou uma voz profunda atrás dela.

Um arrepio a percorreu ao reconhecer a voz de Myles. Ela virou a cabeça para ele. —Só navegando.

Seu sorriso torto disse a ela que ele sabia que ela estava mentindo. —Eu conheço o pintor. Ele é bom. Eu gosto de sua vista da cidade.

—Sim. — Addison obrigou-se a pousar o quadro.

—Ouvi dizer que o bar estava lotado ontem à noite. Riley deveria ter chamado um de nós.

Pode ter sido a imaginação de Addison, mas ela teve a sensação de que Myles sabia tudo o que acontecera na noite anterior. —Nós cuidamos disso.

—Então eu ouvi. Também soube que havia um visitante perigoso no bar.

Addison não tinha certeza se ele estava falando sobre o vampiro, o lobo ou Delphine.

—Uh huh.

—Então, Delphine não te assustou? — Ele perguntou com um olhar estreito.

Ela encolheu os ombros e começou a andar. Myles caminhou ao lado dela. —Ela era definitivamente estranha. O jeito que ela olhou para mim me fez sentir como se alguém tivesse pisado em meu túmulo.

—Delphine não é alguém com quem você precisa mexer. Em tudo.

—Eu adoraria ouvir o seu conselho e gostaria de saber disso antes dela entrar no bar.

—Sim, — ele disse firmemente. —Ela sabia que não estávamos lá e esperou até então para lhe fazer uma visita.

Addison olhou de soslaio para ele. —Está tudo bem. Riley e Marcus a fizeram sair. Eu ainda adoraria saber como ela sabia meu nome.

—O que você sabe sobre Voodoo?

—Eu sei que ele pode fazer coisas muito ruins.

Myles olhou para ela enquanto caminhavam. —Há muitos rumores falados em nossa cidade, mas os sobre Delphine são verdadeiros. Ela amaldiçoou Kane não há muito tempo, e ela não gosta muito dos nossos primos.

—Eu meio que entendi pela maneira como ela falou com Riley.

Ele sorriu e parou para colocar a mão nas costas dela para tirá-la do caminho enquanto um grupo de turistas passava. —Delphine matou muitas pessoas — Myles se inclinou e sussurrou em seu ouvido.

O corpo de Addison aqueceu com seu toque, e seu coração saltou uma batida quando seu hálito quente soprou em seu pescoço.

—Não é bom se ela colocar o foco em você. — Ele tocou uma mecha de seu cabelo.

Ela olhou para ele, presa em seu hipnotizante olhar azul. —Ela não é o único mal na cidade.

—Não, mas ela é uma das mais perigosas. Ela é imprevisível e ávida por poder.

Addison lambeu os lábios. Seu estômago embrulhou quando seu olhar baixou para sua boca. Ela prendeu a respiração quando ele se inclinou ligeiramente para frente.

Deus, sim. Por favor, me beije.

Como se percebesse onde estavam, Myles olhou em volta. —Você precisa ser cuidadoso e vigilante. Delphine pode estar assistindo agora.

Addison ainda estava tentando colocar seu corpo sob controle, e ele esperava que ela pensasse? E se ele pudesse fazer isso com um quase beijo, o que ele faria com ela se eles se beijassem?

O olhar de Myles olhou por cima da cabeça dela, seu rosto endurecendo. Ele então pegou a mão dela e a levou embora rapidamente. —Parece que minhas palavras estão se tornando realidade. Você está sendo seguido.

Addison olhou para trás enquanto Myles abria caminho por entre a multidão. Ela avistou dois homens todos de branco correndo atrás deles. Ela agarrou a mão de Myles e teve que correr para acompanhar seus passos longos. Nem uma vez ele parou ou diminuiu a velocidade. Addison não tinha ideia de para onde eles estavam indo e não se importava, contanto que ficasse longe dos dois homens.

Para sua surpresa, Myles a puxou para baixo do arco de ferro de um dos famosos cemitérios da cidade. Se ela pensou que ele iria parar, ela estava errada.

Eles vagaram pelas tumbas até que de repente ele parou e a empurrou contra uma cripta. Ele colocou os dedos nos lábios. Addison assentiu com a cabeça, engolindo em seco enquanto enxugava o suor do rosto.

Algo parecia estranho a seus pés. Ela olhou para baixo para ver que sua sandália havia quebrado. Como ele permaneceu em seu pé durante o voo, ela não tinha ideia. Seu olhar se ergueu para descobrir que Myles havia partido. Addison revirou os olhos e afundou nas pedras para tentar ver se conseguia consertar o sapato o suficiente para levá-la a uma loja antes do turno.

O ruído da pedra fez sua cabeça se erguer e ela avistou um dos homens que a seguia. O suor escorria por sua pele negra, um sorriso curvando seus lábios quando a viu. Ele soltou um assobio e, um momento depois, o segundo homem se juntou a ele.

Addison abriu a boca para gritar. Antes que um som pudesse escapar, Myles apareceu do nada, movendo-se com velocidade letal enquanto socava os homens com os punhos e cotovelos. Em questão de segundos, os dois homens ficaram inconscientes a seus pés.

Myles estendeu a mão, mal respirando com dificuldade. —Estou com sede. E quanto a você?

Ela piscou para ele. —Como você fez isso?

—Anos de formação e vivência no Bairro.

Addison pegou a mão dele e o deixou puxá-la para cima. Ela não deu dois passos antes de sua sandália cair. Com uma maldição, ela o pegou e começou a andar com um pé descalço.

Num minuto ela estava de pé e no próximo estava nos braços de Myles. Ela prendeu o braço em volta do pescoço dele, esquecendo o sapato quebrado.

—O que você está fazendo? — Ela perguntou.

Ele deu a ela um olhar divertido. —Com o que se parece?

—Você não pode me carregar até o bar?

—Queres apostar?

Ela tinha visto seus músculos através de suas roupas, mas não havia nada como sentir os tendões duros sob suas mãos. Não havia dúvida de que ele poderia carregá-la. Não que ela se importasse de estar ali, muito pelo contrário, na verdade, mas era constrangedor. Ou deveria ser.

Seu corpo aqueceu com mais do que apenas o sol de agosto.

—Veja? — Ele perguntou com uma piscadela. —Não é tão ruim.

Ela lambeu os lábios, afastando sua mente de sua proximidade. —Como você sabia que eu estava sendo seguida?

Seu humor escureceu quando uma carranca se formou. —Eu não fiz. Pelo menos não até que eu comecei a perceber quão facilmente eles podiam te pegar na rua.

—Eu nunca me senti inseguro antes. Eu não gosto disso. — Quando ele não respondeu, ela perguntou: — Como você sabe sobre Delphine?

—Todo mundo sabe dela.

—Incluindo os vampiros?

Seu olhar se voltou para o dela, mas não houve choque ou surpresa refletida em suas palavras. —Todos.

—Eu não sabia.

Myles desviou o olhar. —Você sabe agora.

—O que você não está me dizendo? Por que você não pirou com a minha menção a vampiros?

Um músculo em sua mandíbula saltou. Ela estava tão perto de seu rosto que queria tocar sua bochecha e sentir o arranhar de sua barba sob seus dedos. Addison cedeu ao desejo de tocá-lo e alisou os dedos ao longo do cabelo loiro em suas têmporas. Os fios estavam quentes do sol e macios.

—Riley sabia deles, o que significa que você também. Você também sabe o que aconteceu comigo ontem à noite. Você estava me procurando hoje?

Ele suspirou alto e parou. —Sim, eu estava procurando por você, mas não só por causa da noite passada. — Ele soltou suas pernas e a abaixou lentamente até que seus pés tocassem o concreto. —Eu sei dos vampiros. Eu sei um monte de coisas que é melhor você não saber.

Ela fixou em seus olhos azuis brilhantes. Apesar de tudo o que ele disse, ela se concentrou na única coisa que fez seu coração disparar. —Por que mais você estava procurando por mim?

—Por isso, — Ele disse enquanto deslizava a mão ao redor do pescoço dela e a puxava contra ele enquanto sua boca descia sobre a dela.

Addison ficou na ponta dos pés e colocou os braços em volta dele. O fogo, a necessidade incontrolável de seu beijo a enviou em um abismo de desejo tão profundo que ela sabia que nunca queria sair.

Seu gemido, tão cheio de desejo, enfraqueceu seus nervos. Ele então inclinou a cabeça dela para o lado enquanto sua língua deslizava por seus lábios. O mundo derreteu, desapareceu. Ela não estava preparada para a intensidade do beijo, a força da paixão que ardia entre eles.

Ele aprofundou o beijo e ela apertou os braços. Ela tinha que estar mais perto dele, para sentir sua pele. Uma vez que ela encontrou a bainha de sua camisa, ela passou a mão por baixo e conectou a seu abdômen duro como pedra.

Myles se afastou, terminando o beijo para olhar para ela com os olhos brilhando de desejo. —Eu queria fazer isso há algum tempo.

—Por que demorou tanto? — Ela brincou.

Exceto que ele não sorriu de volta. Na verdade, ele parecia triste.

Myles enroscou seus dedos nos dela e a virou. Addison viu então que eles estavam no bar. Ela tinha estado tão envolvida nele que não percebeu onde estava? Ele a conduziu para dentro, e ela levou um minuto para se ajustar à luz fraca do bar após o sol forte.

—O que diabos aconteceu? — Riley disse enquanto corria ao redor do bar.

—Delphine enviou alguns homens — respondeu Myles.

Addison desviou o olhar para uma mesa onde os outros três irmãos LaRue estavam sentados. Solomon olhou para as mãos unidas antes de levantar os olhos para ela. Ela esperou para ver o que ele faria, e quando Solomon lhe enviou um pequeno sorriso, ela foi capaz de respirar novamente. Porque, de alguma forma, ela sabia que sua melhor chance de sobreviver era com os irmãos.


CAPÍTULO NOVE

 

Myles não queria libertar Addison, nem mesmo Riley. Ele observou o par desaparecer na parte de trás, onde Riley tinha alguns sapatos para Addison.

—Então o que aconteceu? — Solomon perguntou.

Myles virou a cabeça para seus irmãos. Ele caminhou até a pequena mesa redonda e puxou uma cadeira, virando-a para trás antes de se sentar entre Kane e Solomon. —Eu fui ver a bruxa que disse a Addison, como ela estava em perigo.

Court assobiou. —Você é um homem valente. Você não me pegaria morto falando com eles.

Myles tentou sorrir da brincadeira de Court, mas não conseguiu. —Demorou um pouco, mas descobri por que Delphine quer Addison.

—O fato de a cadela a querer é suficiente para matar Delphine no meu livro — disse Kane com os dentes cerrados.

Solomon olhou para Kane antes de olhar para Myles. —Bem?

—Delphine quer aumentar seu poder. Para fazer isso, ela precisa de duas coisas - uma bruxa e um mortal puro de espírito.

Court grunhiu e colocou um braço nas costas da cadeira. —Não preciso adivinhar em qual categoria Addison se enquadra.

—Exatamente. — Myles passou a mão pelo rosto, decidindo que guardaria para si o que a bruxa havia predito sobre sua morte. Não há necessidade de preocupar seus irmãos.

Solomon o estudou cuidadosamente. —O que você está deixando de fora?

—Nada — Myles mentiu. —A bruxa disse que as outras facções sabem do plano de Delphine e não querem que ela obtenha mais poder, então eles decidiram eliminar Addison.

Kane tamborilou com os dedos na mesa. —Então, outros virão atrás de Addison?

—Possivelmente. Se Delphine não chegar até ela primeiro.

Court fez uma careta. —Ela enviou uma mensagem clara indo atrás de Addison no meio do dia. Meu palpite é que ela ouviu sobre o vampiro na noite passada. Delphine não vai querer dar outra chance.

—Não é como se Addison fosse o único puro de espírito — disse Solomon.

Myles encolheu os ombros. —De acordo com a bruxa, ela está em Nova Orleans.

—Quantos homens de Delphine estavam atrás de Addison? — Kane perguntou.

—Três. Apenas dois atacaram. O outro assistia à distância.

—Você deveria ter ido atrás dele, — Court disse enquanto apoiava um antebraço na mesa.

—E deixar Addison sozinha por um quarto que eu poderia não ter visto? — Myles apontou.

Solomon levantou a mão quando Court começou a discutir. — Myles fez a coisa certa. Se Delphine deseja Addison tanto que está disposta a sequestrá-la no meio do dia, então pode ter sido uma armadilha.

—Vocês poderiam ter matado Delphine, — Kane disse enquanto olhava para a mesa, os dois punhos cerrados com força na superfície. —Se eu não tivesse brincado e sido amaldiçoado, você poderia tê-la matado. Você deveria, de qualquer maneira.

Myles estendeu a mão e colocou a mão no ombro de Kane. —Se tivéssemos feito isso, você teria permanecido na forma de lobo para sempre.

—Só até que um de nossos primos me matar — disse Kane enquanto olhava para Myles. —Cada um de vocês estaria livre de Delphine agora, e Addison não estaria em perigo.

Solomon apoiou um de seus punhos em cima do de Kane. —Então não teríamos você. Fizemos a decisão certa.

—Nós com certeza fizemos, — Court declarou em voz alta.

Myles tirou a mão do ombro de Kane quando Addison e Riley voltaram. Ele não conseguia parar de olhar para a boca de Addison. O beijo foi tudo o que ele sabia que seria e muito mais. Ele esqueceu tudo, inclusive onde ele estava, quando ela estava em seus braços. Por que ela tinha que ser tão atraente? Por que ele a desejava como se ela fosse a própria vida?

Ele não se importou que não houvesse respostas. Ele não precisava deles. Tudo que ele precisava era Addison. Que idiota ele tinha sido para afastá-la, para manter distância. Agora, ele temia que não tivesse nem um dia com ela.

Um rubor coloriu suas bochechas, fazendo-o sorrir, porque ele sabia que ela estava pensando em seu beijo, assim como ele. Ele amava a maneira como os olhos castanhos dela olhavam para ele, como se ela quisesse devorá-lo.

—Não acho uma boa ideia Addison trabalhar hoje — disse Riley.

Myles queria abraçar a prima por seu raciocínio rápido. Seu sorriso cresceu, mesmo quando Addison começou a argumentar que ela precisava trabalhar.

—Riley está certo. Não podemos ver todos com quem Addison entra em contato se ela está trabalhando — disse Myles. —Ela precisa estar em algum lugar seguro.

Como sua casa.

Addison desviou o olhar. —Tenho de trabalhar. Não só preciso do dinheiro, mas também fiz um turno.

—Isso eu posso facilmente assumir, — Riley disse. Ela cutucou Addison. —Sinto muito, mas acho que é o melhor. Delphine não pode colocar as mãos em você se ela não souber onde você está.

Solomon se levantou. —Então está resolvido. Myles suponho que você levará Addison para sua casa?

—É protegida — disse Myles e se levantou seu pau já inchando com a ideia de ficar sozinho com Addison.

Kane pegou seu telefone celular. —Por mais que aprecie a proteção, acho que seria prudente trazer reforços.

Myles olhou de Kane para a Court e para Solomon e encolheu os ombros. —Você decide, — ele disse a Solomon.

Por longos segundos, Solomon refletiu sobre a proposta de Kane. Ele inalou profundamente e balançou a cabeça pesarosamente. —Vou me arrepender disso, mas tudo bem.

Enquanto Kane ligava para o bando de Moonstone, Myles esperou que Addison fosse até ele. Depois que ela estava ao lado dele, tudo o que ele pôde fazer foi não puxá-la para seus braços e beijá-la novamente.

Ela não tinha ideia de quão tentadores eram seus lábios rosa escuro, quão irresistível seu gosto. Ou talvez ela tenha. Talvez ela soubesse a maneira como o atormentava e o seduzia com seu toque suave e olhos grandes.

—Seu lugar? — Ela perguntou um tom de sereia em sua voz.

Myles podia sentir os olhos de seus irmãos e Riley sobre ele, e não se importava se eles pudessem ver a fome, o desejo por Addison em seu olhar. —Minha casa — ele sussurrou e estendeu a mão.

Havia um sorriso em seu rosto quando ela entrelaçou os dedos nos dele. Eles caminharam de Gator Bait juntos, nenhuma palavra falada. Nenhum necessário.

Myles estava alerta e cauteloso enquanto caminhavam pela calçada. Ele estava tenso quando chegaram ao prédio. Depois de digitar rapidamente o código para abrir a porta, Myles a conduziu para dentro e subiu os quatro lances de escada, evitando o elevador.

Ele destrancou a porta de aço e a abriu. —Sinta-se em casa — disse ele enquanto acenava para ela entrar.

—Eu amo o espaço, — ela disse olhando ao redor.

Myles fechou a porta e ficou olhando para ela. Ele olhou ao redor da grande sala com seus tetos de quinze pés. Ele havia deixado as paredes de tijolos e a tubulação de ventilação expostas, usando-as como parte de sua decoração.

Sua cama tinha cortinas cor de vinho que ele podia fechar para bloquear a luz das muitas janelas que ficavam contra a parede do fundo. A cozinha era pequena, mas adequada. Ele não tinha armários, em vez disso armazenava o pouco que precisava nas prateleiras.

Havia uma pequena mesa na cozinha onde ele comia se não levasse a comida para o sofá de couro marrom que separava o quarto da sala. Em frente ao sofá, uma TV pendurada na parede.

—É incrível — disse Addison com um sorriso enquanto olhava por cima do ombro para ele.

—É simples.

Ela parou e se virou para encará-lo. —Combina com você perfeitamente.

Myles trancou e empurrou a porta. —Eu tenho filmes. Existe um Xbox, se preferir. Também posso preparar algo para você comer, se estiver com fome.

—Não estou com fome, não jogo videogame e não quero assistir a um filme. — Ela puxou a alça da bolsa sobre a cabeça e largou a bolsa no sofá.

Myles se manteve firme, com medo de se mover ou emitir um único som e quebrar o feitiço. Addison removeu os chinelos muito grandes enquanto sustentava seu olhar. Ele tinha visto aqueles olhos incríveis de perto. Havia manchas de ouro em seus olhos castanhos e, quando ela estava com medo, havia mais verde do que marrom.

—O que você quer fazer? — Ele perguntou.

Ela sorriu um pouco timidamente e olhou para baixo. —Isso, — ela disse e fechou a distância entre eles antes de beijá-lo.

Myles a envolveu com os braços e se entregou ao beijo ardente e feroz. Desta vez, ele não precisava se preocupar com um ataque. Desta vez, ele não precisava acabar com isso.

Ele a empurrou até a cama e a ergueu. Uma risada escapou dela quando ela interrompeu o beijo e olhou para ele. Myles a jogou cuidadosamente na cama e rapidamente colocou um joelho no colchão enquanto se arrastava sobre ela.

—Esse olhar me faz sentir como se eu tivesse borboletas, — ela sussurrou.

Myles fez uma pausa. —O olhar?

—Este aqui, — ela disse e colocou as mãos em seu rosto traçando seu nariz, sobrancelhas, mandíbula e lábios.

Ele virou a cabeça para beijar o interior de um dos braços dela. —Ah. Você quer dizer aquele que diz que eu desejo você mais do que qualquer coisa.

—Sim, — ela disse sem fôlego. —Ninguém nunca olhou para mim assim antes.

—Idiotas estúpidos. Então, novamente, eles salvaram você para mim.

Ele abaixou seu peso em cima dela enquanto se beijavam novamente. Ela começou a puxar sua camisa. Myles parou de beijá-la por tempo suficiente para arrancá-la. A forma como o corpo dela embalou o dele fez seu sangue bater implacavelmente com necessidade. Ele queria tomar seu tempo, amá-la de acordo, mas ele passou muito tempo fantasiando sobre torná-la sua.

Ele rolou de costas, trazendo-a com ele. Ao fazer isso, ele tirou a camisa dela e a jogou de lado. Sua pele era quente e macia. Seus lábios eram atraentes, tentadores.

Demorou um pouco mais para remover seu short jeans, deixando-a com nada além de seu sutiã de algodão branco liso e calcinha. Com um movimento do pulso, ele desabotoou o sutiã e deslizou as alças por seus braços. Foi Addison quem o puxou de seus corpos e o arremessou. Ele a colocou de volta nas costas e se inclinou sobre ela.

—Meu Deus, — ele murmurou enquanto olhava para seus seios empinados e mamilos com pontas rosadas. Ele deslizou a mão ao longo de sua barriga lisa e depois até o seio. —Você é linda.

Seu rubor manchou suas bochechas, peito e até mesmo seus seios. Como um elogio poderia envergonhá-la só o fazia querer mais tempo com ela. Ele observou seu rosto enquanto passava o polegar em seu mamilo. Ela inalou profundamente no início. Enquanto ele circulava o botão tenso, seus quadris começaram a se mover.

Ela era uma visão adorável, uma mistura de inocência e sedução que lentamente o estava deixando louco de luxúria. Sua mão se moveu para o outro seio e provocou o mamilo até que ambos se tornaram duros. Só então ele se abaixou e apertou os lábios ao redor deles, sugando primeiro um, depois o outro. Ele usou sua língua e seus dentes para despertar.

Pequenos gritos de prazer encheram a área. Com um mamilo ainda na boca, ele acariciou sua barriga até a calcinha e depois entre as pernas. Seu pênis saltou quando sentiu o ponto úmido de sua excitação.

Isso o levou ao limite. Myles virou a cabeça e fechou os olhos enquanto lutava para se controlar.

—O que foi? — Addison perguntou suavemente.

—Eu quero você — ele grunhiu.

—Então me tenha.

Suas palavras, simplesmente faladas, o surpreenderam. Ele olhou para ela e franziu a testa. —Eu quero ir devagar, para você saborear cada momento, mas eu quero você muito desesperadamente. Eu não consigo fazer devagar.

—Então não vá.


CAPÍTULO DEZ

 


Addison estava em chamas. Cada lugar que Myles tocava a fazia doer, ansiar por mais.

Sua confissão apenas fez as chamas da necessidade crescerem.

Com um gemido - ou foi um rosnado - Myles pulou da cama e tirou as calças. Addison ergueu-se sobre os cotovelos e olhou boquiaberta para o magnífico espécime diante dela.

Myles era esculpido com perfeição. Cada músculo definido, cada centímetro de seus tendões duros como uma rocha. Ela se ajoelhou e rogou por ele. Suas mãos estavam cerradas ao lado do corpo, sua mandíbula travada enquanto ela corria as mãos sobre seu peito e ombros. Havia algumas cicatrizes - mais do que deveria - em vários lugares de seu corpo. Mas ela não estava interessada nas cicatrizes.

Ela estava interessada nele. Na pele tão quente que a queimou, na espessa excitação que se projetou entre eles. Addison olhou para os músculos protuberantes em seus braços e ombros enquanto ela passava a mão sobre sua barriga lisa até a cintura estreita. Uma rápida olhada mostrou que suas pernas eram tão musculosas quanto o resto dele.

Assim que ela começou a fechar a mão em torno de seu pênis, ela se viu de costas mais uma vez. A excitação correu por ela quando ele arrancou sua calcinha e abriu suas pernas. Ela tremeu quando ele olhou para seu sexo por longos momentos. Então ele se curvou e a lambeu. Ela suspirou o calor se espalhando por seu corpo. Seus dedos encontraram seu clitóris e rolaram a protuberância entre eles.

Addison gemeu e agarrou as cobertas. O prazer era muito, a necessidade muito grande. Ela sentiu como se sua pele estivesse muito apertada, como se seu corpo não pudesse conter o êxtase que ameaçava despedaçá-la.

—Abra os olhos — Myles exigiu com voz grave. —Olhe para mim.

Ela forçou suas pálpebras abertas e encontrou seu olhar. Ele ficou segurando uma de suas pernas em cada mão. Sua vara saltou, roçando seu sexo enquanto ele se ajoelhava na cama. Ele soltou uma de suas pernas para que pudesse se segurar e guiar seu pênis até sua entrada. Ela engoliu em seco, com as pernas tremendo com a necessidade de envolver a cintura dele.

Addison mordeu o lábio enquanto empurrava dentro dela, esticando-a. Ele moveu os quadris duas vezes, afundando mais a cada vez. Na terceira vez, ele mergulhou dentro dela, enchendo-a completamente. Ela gritou, arqueando as costas com o prazer que a atingiu. Ele caiu sobre ela, travando os braços ao redor dela. No instante seguinte, ela estava reunida em seus braços quando ele começou a empurrar com força e rapidez. Ela envolveu seus braços e pernas ao redor dele, encontrando-o impulso por impulso.

Ele era implacável, implacável enquanto batia em seu corpo. Ela fechou os olhos, o desejo apertando dentro dela e empurrando-a cada vez mais perto do auge do prazer. Ela estava tentando alcançá-lo quando ele a atingiu de repente, prendendo a respiração com a força do clímax. Seu corpo apertou a vara de Myles e convulsionou repetidamente.

Ele ergueu-se sobre as mãos, seus quadris sacudindo mais rápido. Seus olhos azuis brilhantes se voltaram para ela. Ela estava se afogando em seu clímax e em seus olhos quando eles brilharam em amarelo antes que ele jogasse a cabeça para trás e gritasse seu nome.

Seu corpo ainda estava pulsando com o orgasmo quando ele puxou para fora dela. Ver seu pênis molhado com seu prazer e sua semente a fez perceber que eles não tinham usado nenhuma proteção.

Myles caiu de costas e estendeu a mão para ela. Ele a aconchegou contra seu corpo, a pele úmida do esforço. —Eu não perdi o controle assim em... Bem, nunca.

—Idem, — ela disse com um sorriso. Mas logo caiu. —Myles, não usamos proteção.

Ele ficou em silêncio por um momento antes de seu braço apertar ao redor dela. —Eu estava tão concentrado em você que nem pensei nisso.

—Idem, — ela ajuda novamente.

—Eu sinto muito.

Addison virou a cabeça para olhar para ele. —É tanto minha culpa. A culpa não está apenas nos seus ombros.

Ele passou a mão pelo cabelo dela. —Você é um em um milhão, Addison Moore. Não sei o que a trouxe ao bar, mas estou feliz que o fez.

Ela olhou para o peito dele enquanto pensava naquele dia que mudou sua vida. —Na época, pensei que era o pior dia da minha vida.

—Pior? — ele perguntou com uma carranca. —Por quê?

—Acabei de receber uma carta dizendo que não poderia mais obter ajuda financeira para o semestre de outono.

—Obtenha um empréstimo estudantil.

—Tenho vários montantes extremamente grandes, mas não cobrem tudo. — Ela lambeu os lábios e olhou para seu rosto bonito. —Minha mãe morreu quando eu tinha quatro anos. Não me lembro dela, exceto das fotos que papai guardou para mim.

—E seu pai?

—Um piloto da Marinha. Ele morreu em um acidente de treinamento no Golfo quando eu tinha 12 anos. Sabe, eu nunca disse isso a ninguém — disse ela se perguntando o que tornava Myles tão diferente.

Ele tocou seu rosto suavemente. —Eu sinto muito. Eu sei como é.

—Você teve seus irmãos. Eu não tinha ninguém.

—Não havia família para te acolher? — Ele perguntou surpresa piscando em seus olhos azuis.

Addison se moveu em seu cotovelo, seu braço apoiando sua cabeça para que ela pudesse brincar com seus cabelos loiros acinzentados com a outra mão. —Eu morei com minha avó por dois anos antes de ela morrer. O irmão da minha mãe me acolheu, mas depois adoeceu. Eles tinham outros três filhos e eu sabia que era um fardo. Fui morar com a única irmã sobrevivente do meu pai. Achei que tinha muita sorte em permanecer perto de todos.

—Eles maltrataram você?

—Eles nunca colocaram a mão em mim. Eles foram... Cordiais, mas nunca me senti parte da família. Eles eram muito pobres, mas eu não me importava. Eu tinha uma casa, comida e roupas. Nós raspamos por cada centavo. Consegui um emprego assim que pude, para poder receber o dinheiro do almoço.

—Meu Deus.

Ela encolheu os ombros. —Não éramos os únicos pobres e, em comparação com alguns, estávamos bem.

—Quanto tempo você ficou com eles?

—Até eu me formar. Sem o conhecimento deles, abri uma conta bancária e estava colocando meu dinheiro lá. Eu tinha o suficiente para cobrir um apartamento, mas não o suficiente para um semestre de faculdade. Levei um pouco mais de um ano economizando cada centavo que pude. Assim que ganhei dinheiro suficiente, me inscrevi em Tulane e encontrei um colega de quarto.

Myles colocou o outro braço sob a cabeça. —Isso soa como o início de um final feliz.

—Deveria ter sido. — Era para ter sido. Addison engoliu em seco e soltou a mão de seu cabelo para descansar em seu peito. —Eu consegui bolsas e empréstimos estudantis, mas nem tudo isso dava para tudo. Levei trabalhando em dois empregos para sobreviver, e isso diminuiu o número de aulas que eu era capaz de fazer.

—O que se estendeu quando você deveria ter obtido o seu diploma, — Myles adivinhou.

Addison abriu um sorriso. —Bingo! Candidatei-me a outra bolsa durante o verão para o semestre de outono. No dia em que entrei no Gator Bait pela primeira vez, recebi uma carta dizendo que não receberia o subsídio porque minha família ganhava muito dinheiro.

—Espere o que? — Ele perguntou sua testa franzida profundamente. —Você acabou de dizer...

—Eu sei, — ela o interrompeu. —Essa também foi a minha opinião, mas a carta continuava explicando que o governo soube que minha tia e meu tio na verdade participaram de um crime de lavagem de dinheiro anos atrás. — Ela riu levemente. —Pensar que eles poderiam ter pago alguma coisa da minha faculdade, que eu não precisava ter dois ou três empregos para pagar as contas, que não precisava vender meu carro, me enfurece.

—Deveria.

Ela caiu de costas e olhou para o teto. —Não esperava muito deles, mas se tivessem tanto dinheiro, só teria pedido uma pequena parte se achasse que o recebiam honestamente.

—E agora? — Myles perguntou enquanto rolava sobre o cotovelo para olhar para ela.

—Estou trabalhando e economizando dinheiro para, com sorte, voltar a Tulane no semestre da primavera. Só me resta um ano.

—Você nunca disse. Em que você está se formando?

—Contabilidade. — Em seu sorriso, uma explosão de risos a deixou. —Eu esqueci você é um contador.

Ele encolheu os ombros, sorrindo.

—Você se formou em Tulane? — Ela perguntou.

Myles se inclinou e deu-lhe um beijo rápido. —Perdemos o almoço e estou morrendo de fome. E quanto a você?

—Sim — ela respondeu enquanto o observava pular da cama e caminhar nu para a área da cozinha. Ela se perguntou por que ele não quis responder à sua pergunta sobre seu diploma.

Ela se esqueceu de sua não resposta enquanto olhava seu corpo esplêndido. Se ela pensava que ele iria cozinhar, estava redondamente enganada. Ele pegou o telefone e enviou uma mensagem de texto.

—Sem cozinhar? — Ela perguntou quando ele se virou para ela.

Myles riu. —Eu queimo tudo que tento cozinhar. Sou um desastre na cozinha. É tão ruim que Solomon me proibiu de sequer pensar em cozinhar no bar.

Addison riu tanto que suas bochechas começaram a doer.

—O que? — Ele perguntou com um grande sorriso. —Você acha isso engraçado? Você não sabia que existem alguns de nós que podem queimar água?

Incapaz de formar palavras por causa da risada, ela ergueu a mão, implorando para que ele parasse.

Ele estava de repente em cima de seu corpo, seus olhos brilhando de alegria. —Você tem uma risada incrível.

—Faz muito tempo que não ria assim — disse ela quando conseguiu.

—Você deveria fazer mais.

Addison estava prestes a concordar se isso significasse que Myles estava lá, mas a ideia de esperar que o que quer que esteja entre eles fosse de longo prazo era muito cedo. —Você só gosta de me ver rindo tanto que nem consigo falar.

—Eu gosto de ver você rindo, — ele disse de repente ficando sério. —Eu gosto de ver você gemendo. Eu gosto de ver você chegar ao clímax.

O desejo, apenas armazenado, inflamou-se uma vez novamente. Com apenas palavras, ele a derreteu, doendo por seu toque. Ele abaixou a cabeça e ela abriu os lábios para o beijo.

Pouco antes de suas bocas se encontrarem, algo zumbiu alto por toda a sala. Myles gemeu de frustração e mais uma vez desceu da cama.

Ele caminhou até um armário que parecia antigo e abriu as portas. Ele vestiu uma calça jeans. —Nossa comida está aqui. Estou mais do que feliz em vê-la nua, mas se você quiser algo para vestir além das roupas, fique à vontade para cavar aqui. Existem muito moletons velhos para mim.

Addison permaneceu na cama até que a porta se fechou atrás dele. Então ela se levantou e foi direto para o armário. Ela encontrou a velha calça de moletom, mas optou por um moletom cortado que teve que enrolar várias vezes na cintura para que ficasse vestida.

Por baixo dos cortes estava um moletom velho que teve as mangas e o pescoço removidos. Não foi até que ela o vestiu que ela percebeu que a parte inferior do moletom tinha sido cortada, também. A porta de aço se abriu e ela só foi capaz de olhar para si mesma antes de ouvir um assobio apreciativo.

—Agora eu sei por que salvei esses — disse Myles.

Addison sorriu e o encarou. —Eles parecem mais velhos do que você. Estou pensando que não deveria usá-los.

—Eu disse para você se ajudar. — Ele colocou a sacola de comida na mesa. —Esses eram do meu pai. Quando ele morreu, eu não pude caber neles, então cortei até que pudesse.

Ela sabia que não deveria tê-los colocado. Addison começou a removê-los quando a mão de Myles envolveu seu pulso. Como ele a alcançou tão rapidamente através da grande extensão?

—Está tudo bem, — ele disse suavemente. —Eles ficam bem em você. Além disso, eles estavam apenas juntando poeira.

Addison baixou o olhar para o peito e notou suas cicatrizes novamente. Ela viu o que parecia ser quatro fatias cortando seu lado esquerdo. As cicatrizes eram antigas e quem as costurou fez um bom trabalho. —O que aconteceu?

—Você sabe o quão louco o Mardi Gras pode ficar. Vamos. Vamos comer, — ele disse e a puxou atrás de si.

Addison estava começando a achar que havia muito mais coisas em Myles do que ele estava contando a ela. Então ela se lembrou de como seus olhos brilharam amarelos. O mesmo amarelo do lobo que a salvou.


CAPÍTULO ONZE

 

Myles não se surpreendeu quando Addison adormeceu no meio do filme que ela escolhera depois que terminaram de comer o etouffee de lagostim. Ele cuidadosamente a ergueu em seus braços e a trouxe para a cama. Myles a deitou e a cobriu com um lençol. Incapaz de se virar, ele a encarou por vários segundos.

Seu cabelo loiro champanhe curto caiu contra sua bochecha quando ela virou a cabeça para o lado. Myles gentilmente afastou os fios. De alguma forma, ele sabia que fazer amor com Addison eclipsaria qualquer um de seu passado. E assim foi.

Ela era doce, terna, corajosa, bonita, generosa e confiante. Ele não queria mentir para ela, mas também não estava pronto para dizer quem ele era. O que ele era. Não era porque temia que ela não aceitasse. Era porque ele estava com medo de que ela então não quisesse nada com ele.

Myles passou a mão pelos cabelos e girou nos calcanhares para limpar o que restava da refeição. Ele não tirou os recibos do bar da noite anterior da bolsa como deveria, mas em vez disso, sentou-se no sofá com seu laptop.

Addison havia contado a ele um pouco de seu passado, mas ele queria saber mais detalhes. Por mais difícil que tivesse sido para ela compartilhar o que tinha, ele não queria pedir mais. Então, em vez disso, ele foi para a Internet.

Não demorou muito para encontrar seu pai, o coronel James Moore, e o mau funcionamento de seu jato durante um exercício de treinamento. Nem mesmo havia um corpo para se recuperar. Sua busca pela mãe de Addison demorou um pouco mais, já que ele não sabia o primeiro nome dela, mas acabou descobrindo onde ela morreu de câncer no ovário.

A tia e o tio de Addison não tiveram tempo para aprender. O artigo que leu explicava como o casal estava sob investigação do FBI há anos, mas eles não conseguiram nenhuma prova até cinco anos atrás - quando Addison foi embora.

A fúria queimou dentro dele. Os idiotas viviam na pobreza porque não queriam perder o dinheiro roubado com Addison. Ela trabalhou até a morte apenas para ter uma vida melhor, quando sua família tinha os meios para torná-la mais fácil.

Era bom que eles já estivessem sob custódia do FBI, porque Myles considerou seriamente fazer uma visita a eles - na forma de lobo.

Ele não era rico, mas ele e seus irmãos estavam confortáveis, graças ao dinheiro deixado para eles por seus pais. Os quatro investiram esse dinheiro e recuperaram o suficiente para comprar o bar, deixando um pouquinho a mais para cada um. Myles havia investido seu dinheiro mais uma vez e retornou um lucro muito maior, que lhe rendeu o prédio. Com seus inquilinos, ele estava trazendo o suficiente para viver com muito conforto.

Myles poderia dar algum dinheiro a Addison, mas sabia que ela não aceitaria. Ela tinha feito tudo sozinha até agora e não iria parar agora. Ele fechou o laptop e o colocou de lado. Então ele se levantou e caminhou de janela em janela, olhando para fora para ver se os lobos do bando de Moonstone tinham respondido ao chamado de Kane.

Um cara com cabelos escuros chegando ao queixo ergueu os olhos de seu posto na esquina do outro lado da rua e encontrou o olhar de Myles. Kane teve o relacionamento e interação com o bando fora de Nova Orleans, mas Myles reconheceu outro lobisomem quando viu um.

Ele acenou com a cabeça para o cara que rapidamente se moveu para as sombras. Myles encontrou mais três lobos parados ao redor do prédio. Normalmente, os LaRues lidavam com qualquer coisa que acontecesse na cidade, mas eles aprenderam da maneira mais difícil que quando se tratava de Delphine, eles não podiam fazer isso sozinhos.

Desde que Delphine assumira o cargo de sacerdotisa trinta anos antes, o bairro estava uma merda. A paz provisória que os pais de Myles instituíram entre as facções depois de cinco longos anos foi destruída em uma única noite.

A paz não foi à única coisa destruída. Sua família também.

Um suspiro passou por seus lábios quando sentiu as pequenas mãos de Addison envolvendo-o por trás. Ela apoiou a cabeça nas costas dele e o segurou com força.

—Parece que o peso do mundo está sobre seus ombros.

Ele cobriu uma das mãos dela com a sua. —Às vezes é assim que parece.

—Gostaria de falar sobre isso?

Isso nunca foi falado, e talvez esse fosse o problema. Talvez mantê-lo dentro de casa, deixá-lo apodrecer e apodrecer só piorasse as coisas. —Você nunca perguntou por que odiamos tanto Delphine.

—Houve menção de ela amaldiçoar Kane. — Ela encolheu os ombros. —Achei que era isso.

Myles se virou em seus braços e pousou as mãos em sua cintura fina. —Há muitas razões pelas quais meus irmãos e eu a detestamos. O ato de ela torturar um de nossos amigos, Jack, por anos, e então amaldiçoar Kane para tentar matar a filha de Jack é muito alto. Ela também tem uma afinidade com matar para se divertir e manter nossa cidade em constante terror.

—Por que a polícia não faz nada?

—Ela controla a maioria deles.

Addison balançou a cabeça lentamente, formando uma carranca. —Você quer matá-la.

Não foi uma pergunta. —Mais do que nada.

—Por quê? — Ela sussurrou.

—Porque ela matou meus pais.


*****


Addison não estava preparada para tal declaração. Ela olhou para Myles tentando encontrar as palavras certas.

—Meus pais trabalharam incansavelmente para trazer um acordo entre os vampiros, demônios, bruxas, lobos, djinn e aqueles envolvidos no Voodoo. Funcionou. Depois de três meses de paz, meus pais nos deixaram e saíram para comemorar.

Ela não queria ouvir mais nada, mas não podia dizer a ele para parar.

—O restaurante era conhecido como território neutro para todas as facções. Delphine explodiu tudo.

—Oh Deus, — Addison murmurou, sentindo-se mal do estômago.

—Meus pais estavam longe o suficiente da explosão para não serem mortos, apenas gravemente feridos. Meu pai tinha um caco de aço na perna, mas ainda carregou minha mãe pelos escombros do lado de fora.

Addison fechou os olhos, mas o quadro que Myles pintou era claramente visível.

—Delphine e seu pessoal estavam esperando por qualquer um que tentasse escapar. Meus pais foram mortos com uma faca no coração. — Ele bufou um sorriso triste brincando em seus lábios. —Eu estava assistindo TV com Solomon quando ouvimos e sentimos a explosão. Nós acordamos Kane e Court e fomos ver o que tinha acontecido. Foi quando encontramos meus pais. Eles estavam um de frente para o outro, de mãos dadas. Eles pareciam tão em paz que a princípio não acreditei que estivessem mortos.

Addison cobriu a boca enquanto as lágrimas escorriam por suas pálpebras e caíam sobre sua bochecha. O horror que Myles e seus irmãos suportaram foi além da imaginação.

—Você pode imaginar o caos que tal evento causaria, e mesmo assim Delphine, vestida com suas roupas brancas, ficou com seu povo assistindo com um sorriso no rosto. Tentei matá-la então, mas Solomon me segurou. Ele tinha visto o que eu não.

Ela piscou, abriu os olhos e cheirou. —O que?

—Delphine tinha enviado homens para nos matar.

Addison balançou a cabeça, incapaz de compreender tal coisa. —O que? Por quê?

—Meus pais não eram apenas poderosos, eles tinham muita influência na cidade, especialmente no bairro.

A maneira como ele falou, a convicção em sua voz falou muito. Se seus pais eram tão ativos com as facções sobrenaturais, então isso deve significar que eles eram tão eu como parte dela. De repente, Addison soube no fundo de sua alma que Myles era um lobisomem.

Ela lambeu os lábios e enxugou as lágrimas. —Vocês obviamente fugiram de Delphine.

—Não sem alguma ajuda, — ele disse seus olhos olhando por cima da cabeça dela e ficando distantes, como se ele estivesse perdido nas memórias. —Nossos pais tinham muitos amigos. Alguns humanos, outros não. Juntos, eles nos tiraram os quatro do Bairro. Uma velha bruxa que era próxima de minha mãe fez um feitiço de camuflagem que impediu Delphine de nos encontrar.

—Onde você foi?

Myles olhou para ela. —Mudávamos constantemente, apenas para garantir. Não foi até que nós quatro estivéssemos fortes o suficiente para cuidar de nós mesmos que voltamos para o bairro.

—Os amigos de seus pais ainda estavam por perto para ajudar?

Seus lábios se estreitaram ligeiramente. —Um pouco. A maioria foi morta por Delphine.

Addison recuou, levando-o para o sofá. Ela deu-lhe um pequeno empurrão para que se sentasse um pequeno sorriso brincando em seus lábios. Fez bem ao coração dela ver até mesmo uma sugestão de seu sorriso. Isso significava que as memórias não mantiveram seu domínio sobre ele.

Seus braços serpentearam e a envolveram. Ele a puxou de volta, derrubando-a em seu colo. Eles se entreolharam, compartilhando um sorriso. Myles colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha antes de traçar a concha com a ponta do dedo.

—Você não perguntou — disse ele.

—Perguntou o quê?

—O que meus pais eram. O que eu sou.

Sua voz era baixa, como se odiasse dizer aquelas palavras. —Você está envergonhado com o que você é?

—Não — disse ele com força. —Nunca.

—Boa. Não perguntei por que é fácil deduzir que você é alguma facção do sobrenatural.

Seus olhos azuis brilhantes se estreitaram sobre ela. —Qual?

Ela arrastou o polegar sobre o lábio dele e se lembrou do lampejo amarelo. —Lobo.

A surpresa cintilou em seus olhos antes que uma carranca marcasse seu rosto. —Como você sabia?

—Quando fizemos amor... Seus olhos piscaram amarelos.

A mandíbula de Myles caiu. —O que?

—Você não sabia que eles fazem isso?

—Não. Eles nunca fizeram isso antes.

Addison ergueu as sobrancelhas. —E você está sempre se olhando no espelho quando faz a orgasmo?

—Não, — Ele disse rispidamente. —Mas é algo que uma mulher comentaria, certo?

Ela teve que concordar com ele. —Certo. O que você acha que isto significa?

—Não tenho certeza. Nunca ouvi falar disso antes.

Com um suspiro, ela descansou a cabeça em seu ombro. — Você sabe por que Delphine me quer, não é?

—Sim, — ele respondeu suavemente.

—Conte-me.

Seus braços a envolveram. —Lembra quando eu disse que ela foi atrás da filha de Jack?

—Sim. Foi quando ela amaldiçoou Kane.

—Exatamente. Essa filha, Ava, está noiva do irmão de Riley, Lincoln. Eles vivem em Lyons Point perto de Lafayette, que sempre foi um foco de atividade paranormal. Recentemente, desenhou uma bruxa que estava fugindo de Delphine por anos depois de assistir Delphine matar sua mãe.

Addison a clicou para falar. —Delphine realmente precisa ir e pisar em um Lego.

Myles desatou a rir, seu peito tremendo enquanto continuava por um momento. Ele finalmente conseguiu respirar fundo. —Você tem pelo menos um osso mau nesse corpo?

—Sim.

—Eu duvido — disse ele, ainda resmungando. —A bruxa, Davena, acabou sendo mais poderosa do que Delphine esperava.

—Delphine queria matar Davena também?

—Isso é o que todos nós pensamos, mas Delphine queria recrutá-la. Davena disse a ela para beijar em termos inequívocos, enquanto demonstrando o quão forte sua magia era.

Addison ergueu a cabeça, tentando conectar todos os pontos. —Suponho que Delphine não ficou feliz.

—Até agora, não houve ninguém para desafiá-la. Davena se apaixonou por outro irmão de Riley, Beau, então ela não tem interesse em vir para Nova Orleans agora. Mas ela vai.

—E Delphine está nervosa — supôs Addison. —Como me levar à ajuda? Eu não tenho magia?

Ele esfregou a mão para cima e para baixo em seu braço. —Você é puro de espírito.

—O que? Não é possível. Confie em mim nisso, Myles. Eu fiz coisas ruins.

—Diga uma, — ele ousou.

Ela abriu a boca, procurando suas memórias. —Oh! Uma vez saí sem pagar meu café.

Myles olhou para ela como se isso fosse ridículo. —Isso é o melhor que você pode inventar?

—Eu disse coisas significantes.

—Gosta da declaração Lego? — Ele questionou. —Isso não é maldade.

Addison se afastou de seu peito e se levantou. —Eu não sou uma boa pessoa. Senti saudades da igreja, não deixei gorjeta porque não tinha dinheiro, disse coisas odiosas pelas costas da minha tia e do meu tio. Oh! E eu até colei em um exame. Bem, apenas duas perguntas, mas ainda era trapaça.

—Você é adorável — disse ele com um sorriso sexy.

Ela se jogou no baú de madeira que servia de mesa de centro. —Por que ela precisa de alguém puro de espírito?

—Entre você e uma bruxa, ela pode combinar magia com pureza e dar um impulso ao seu próprio poder, — ele explicou seu rosto ficando sério.

Addison ergueu o queixo. —Bem. Como podemos pará-la?


CAPÍTULO DOZE

 

Por horas, Myles caminhou pelo telhado de seu prédio. Addison era como um cachorro com um osso. Depois de aprender os detalhes, ela não ficou contente até que começou a pesquisar. Ele largou o computador e observou enquanto ela fazia páginas e mais páginas de anotações de suas descobertas. Por sua vez, ele estava ao telefone, ligando para amigos para ver se eles poderiam dar-lhe mais informações do que a bruxa já havia dado a ele.

Tudo o que ele conseguiu discernir foi que Delphine estava fazendo barulho com todas as facções. Não é de se admirar que o vampiro veio depois de Addison. As facções estavam preocupadas, assustadas até. Se Delphine ganhasse mais poder, ela seria imparável.

Myles apoiou as mãos na borda do telhado e se inclinou para o lado. Os lobos da MoonStone ainda estavam em guarda, embora estivessem fazendo um bom trabalho em permanecer escondidos. Eles não seriam capazes de permanecer escondidos por muito tempo, entretanto, já que a noite se aproximava, e ainda estava na fase de lua cheia.

Ele não podia acreditar que Addison tinha adivinhado o que ele era. Depois de tudo que ele divulgou sobre seu passado, ele assumiu que ela descobriria que ele fazia parte de uma facção. Mas ela tinha tanta certeza de sua resposta.

Com um aceno de cabeça, Myles riu. Ele sabia que seus olhos nunca tinham brilhado em amarelo antes. Ela sabia que foi ele quem matou o vampiro? Era por isso que ela não estava com medo?

Seu celular tocou. Myles retirou-o do bolso e viu que era Solomon. —Ei.

—Olá você mesmo. Como estão as coisas? — Perguntou Solomon.

—Elas estão quietas. Muito quieto.

—Eu sei. Eu também sinto. — Solomon soltou um suspiro. —O bando de MoonStone terá que partir em breve. Não gosto da ideia de você ficar aí sozinho se Delphine aparecer.

Myles continuou a caminhar pelo perímetro do telhado. —Todo este bloco é especificamente protegido contra ela. Ela não pode entrar aqui. Contanto que Addison fique dentro de casa, ela está segura.

—E você?— Perguntou Solomon. —E se você?

—Nós somos lobisomens, irmão. Protegemos a cidade e mantemos as facções na linha. Temos poucos aliados e muitos inimigos. É um fato que ninguém na linha LaRue ou Chiasson vive muito.

Solomon ficou quieto por um momento, os sons da cozinha em Gator Bait vindo do telefone. Um momento depois, o rangido da porta dos fundos soou, e então silêncio. Se Solomon tivesse saído, Myles não iria gostar do que ele tinha a dizer.

—Cuspa isso — disse Myles.

—Acho que Kane, Court e eu devemos ajudá-lo.

Myles ficou pasmo. —E deixar o bairro sem monitoramento durante a lua cheia? Você perdeu a cabeça?

—Você está olhando para Addison há semanas, e hoje, aquele olhar melancólico mudou para um de posse. Os lobos acasalam-se para sempre, Myles.

—Não me diga, — ele disse friamente.

—Há uma chance muito real de que não importa o que façamos, Addison possa morrer. Hoje, amanhã, na próxima semana. Ela não vai ficar enfurnada na sua casa por muito tempo. Delphine vai matá-la. Acredite em mim, Myles, você não quer passar por isso.

Myles sentou-se na beira do telhado. —Você quer que eu me afaste dela?

—Eu quero-

As palavras de Solomon foram interrompidas de repente. Myles se levantou, a apreensão o inundando. —Solomon? — Ele gritou.

O som de tábuas quebrando veio através do telefone, e então o rosnado de um lobo.

—Merda!— Myles se virou em um círculo, sem saber o que fazer. Ele não queria deixar Addison, mas se Solomon se virou no meio do dia, foi porque ele foi atacado. E se Court e Kane estivessem dentro do bar, eles nunca saberiam.

Myles bateu com as mãos no concreto da beirada do telhado, quebrando-o com sua força sobrenatural. Ele respirou fundo e abriu os olhos para ver o lobo de cabeça escura olhando para ele.

Ele apontou para a entrada do prédio, dizendo ao lobo para vigiá-lo, e então ele se virou e pulou de telhado em telhado, caminhando até o bar. Myles pousou na parte de trás do bar respirando pesadamente. Um olhar mostrou que uma luta havia ocorrido. Todos, exceto um lado da cerca, foram destruídos. Havia pedaços de pelo branco e sangue ao redor.

Ele inclinou a cabeça para trás e cheirou. No entanto, ele não conseguia sentir o cheiro de Solomon fora do bar. Myles caminhou até a porta dos fundos e a abriu. Ao entrar, ele virou a cabeça para a direita e encontrou Solomon inclinado sobre a pia, com o peito nu, lavando o sangue de seu braço.


*****


Addison estremeceu quando ela esticou as costas. Todas as suas pesquisas provaram o quão perigosa uma sacerdotisa voodoo pode ser. Nada do que ela descobriu deu a ela qualquer esperança de que Delphine pudesse ser interrompida com outra coisa senão mágica, no entanto.

Ela se levantou da mesa e deu a volta no espaço, esticando o pescoço de um lado para o outro. Myles tinha subido ao telhado para dar uma olhada. Ele estava tentando fazê-la pensar que tudo ia ficar bem, mas não havia como negar que as coisas eram sérias e todos estavam em alerta máximo.

Addison desejou ter o número de Minka. Ela ligaria para a cartomante e veria se havia algo que ela pudesse fazer.

Seu estômago roncou ruidosamente. Uma olhada no relógio mostrou que eram seis da tarde. O sol não se poria nas próximas duas horas e meia, o que significava que ainda havia bastante luz lá fora. Mas estava diminuindo rapidamente.

Era bobagem pensar que o mal só aparecia à noite, mas a escuridão parecia esconder o mal tão bem. Ela não tinha ficado com medo à luz do dia, mas com cada tique-taque do ponteiro do relógio, ela estava ficando mais e mais assustada.

Seu celular tocou, assustando-a tanto que ela soltou um pequeno grito. Quando ela o pegou na bolsa, sua mão tremia.

—Olá? — Ela respondeu.

—Addison?

Ela fechou os olhos de alegria ao reconhecer a voz de Myles. —Como as coisas parecem do telhado?

—Normal. Liguei para o bar pedindo comida há cerca de dez minutos. Deve chegar a qualquer momento. Quero fazer mais uma ronda antes de entrar.

—Sem problemas. Vou buscar a comida.

Ela desligou a ligação e colocou o telefone ao lado do laptop. Ela não se incomodou com os chinelos de Riley enquanto abria a porta e descia correndo os três lances de escadas. Addison tentou olhar pela janela de vidro da porta de entrada, mas não conseguiu ver nada. Ela então abriu uma fresta e colocou a cabeça para fora.

O movimento de seu lado a fez virar a cabeça em direção a ele quando algo congelou seus músculos no lugar. Ela tentou gritar, mas suas vias respiratórias estavam fechadas.


*****


—O que você está fazendo aqui? — Solomon exigiu com raiva quando avistou Myles.

Myles ficou boquiaberto. —Temos a ameaça de Delphine, então você foi atacado enquanto falava ao telefone comigo e quer saber o que estou fazendo aqui? Você é um idiota. —

Solomon enxugou os braços com uma toalha antes de jogá-la de lado. —Estou bem. Não era nada que eu não pudesse lidar.

—Quem era?

—Dois demônios.

Court e Kane entraram na cozinha e correram para eles. —Que diabos? — Kane perguntou.

Solomon se virou para a fileira de armários atrás dele e abriu um para tirar uma camisa. —Como eu disse a Myles, eram apenas dois demônios.

—No meio do dia? — Court perguntou incrédulo.

Kane balançou a cabeça para Myle . —Você deixou Addison sozinha?

—Não pretendo ficar aqui por muito tempo — disse Myles. —Estou voltando agora. E só para constar, como eu disse a Solomon, ela ficará bem, desde que não saia do prédio.

Solomon lançou lhe um olhar severo. —Você disse isso a Addison, certo?

Myles começou a dizer sim quando parou. Ele tinha? Ele não tinha certeza.

—Oh, foda-se, — Court murmurou.

Myles se virou e saiu correndo pelos fundos. Ele não se incomodou em ir para os telhados. Ele poderia chegar lá com a mesma rapidez nas calçadas. Suas pernas bombeavam com força enquanto ele passava por uma multidão de pessoas. Ele ouviu passos atrás dele e sabia que pelo menos um de seus irmãos estava com ele. Myles não diminuiu a velocidade até chegar ao seu prédio.

Um olhar para o outro lado da rua mostrou que o lobisomem havia sumido. —Droga — Myles murmurou e rapidamente digitou o código para abrir a porta.

Ele a abriu e correu escada acima, Kane em seus calcanhares.

—Addison! — Myles gritou enquanto abria a porta de metal.

Kane o empurrou para a mesa. —O telefone dela está aqui.

—Assim como sua bolsa, sapatos e roupas.— Esses eram os únicos vestígios de Addison. —Ela se foi.

—Os lobos podem ter visto algo.

Myles queria bater em alguma coisa. —Eu deixei um vigiando a porta e ele se foi.

—Griffin?

—Eu não sei quem diabos ele era!

Kane veio ficar na frente dele e cutucou Myles no peito. —Você deve. Eles são lobos, assim como nós.

—Ele se foi.

Kane fez um som no fundo da garganta e saiu. Myles o seguiu, fechando e trancando a porta atrás de si. Então os dois saíram.

Myles parou na porta quando pegou uma mecha de cabelo loiro champanhe presa na maçaneta. Kane marchou pela rua. Myles ergueu os olhos enquanto segurava a mecha de cabelo de Addison entre os dedos e viu Kane conversando com dois lobos. Um momento depois, Kane acenou para ele.

Com um suspiro, Myles caminhou até seu irmão e os lobos da MoonStone. Sua mãe fazia parte do bando, mas depois de sua morte, os lobos se espalharam. Myles nunca os perdoou por isso. Ele não ficou feliz quando eles começaram a voltar para Nova Orleans, cinco anos atrás.

—Diga a ele o que você me disse,— Kane ordenou.

O mais jovem, um adolescente com cabelos loiros e olhos estranhos de um azul tão claro que eram quase brancos, disse: —Vimos a mulher ser levada por dois homens vestidos de branco. Delphine também estava lá. Griffin os seguiu para que pudesse voltar e deixar você saber onde ela estava.

—Eles a machucaram? — Perguntou Myles.

Outro dos lobos com cabelo castanho e olhos castanhos profundos acenou com a cabeça severamente. —Delphine fez algo para impedi-la de se mover, mas sua mulher lutou contra eles.

Sua mulher. Myles fechou os olhos brevemente quando a urgência o empurrou. —Eu vou matar cada um deles.

—E eu estarei lá com você — disse Kane.

O lobo com cabeça de reboque disse: —Todos nós vamos.

Myles franziu o cenho para o adolescente. —Por quê? Você não me conhece ou Addison.

Foi o terceiro lobo com a cabeça raspada e tatuagens aparecendo na gola da camisa que encolheu os ombros. —Claro que nós fazemos. Por que você acha que Griffin nos trouxe de volta para Nova Orleans depois que nossos pais fugiram? Não devíamos ter saído e estamos aqui para compensar o passado.

—Apenas me ajude a encontrar Addison.— Myles ficava apavorado e furioso.

As emoções rodaram por ele com a força de um furacão até que ele não conseguiu decifrar uma da outra. Como um tolo, ele se manteve afastado de Addison e se recusou a acreditar que deveria ter apenas um dia com ela.

Addison era sua mulher. Os lobos acasalaram para o resto da vida, e embora ela não fosse um lobo, seu coração, sua alma, sua vida era dela.

Myles acenou com a cabeça para os lobos. —Espalhe a palavra. Lua cheia ou não, o bairro vai ser invadido com a gente.

—Delphine ainda precisa de uma bruxa — disse Kane.

Solomon se aproximou com Court. —O que ela já tem.

—Está em todo o bairro,— Court disse miseravelmente. —A bruxa estava lendo palmas, foi buscar algo para beber e nunca mais voltou.

Myles ergueu a cabeça quando ouviu o grito de um lobo perfurar a noite.

—Griffin está chamando,— disse o lobo com cabeça de reboque.

O lobo dentro de Myles queria ser livre, para causar estragos naqueles que ameaçassem o que era dele. —Então vamos encontrá-lo.


CAPÍTULO TREZE

 

Myles dobrou a esquina de um prédio a oitocentos metros de sua casa e viu um vulto se afastando das sombras. O lobo de cabeça escura que ele tinha visto antes caminhou em direção a ele.

Griffin olhou para seus homens e acenou com a cabeça. —Eu me perguntei se você aceitaria nossa ajuda.

—Eu disse que faríamos — disse Kane.

Griffin olhou para Myles com seus olhos verdes. —Eu segui Delphine. Eles levaram sua mulher para um cemitério.

—Qual? — Perguntou Myles.

—St. Louis número um.

Solomon bufou. —Claro. É onde está enterrada a Rainha Voodoo, Marie Laveau.

—Ela vai canalizar Marie, — Kane murmurou com uma maldição.

Myles não tirou o olhar de Griffin. —Delphine e seu pessoal provavelmente ouviram sua ligação. Eles estarão à procura de qualquer lobo.

—Não se alguns dos meus homens os levarem embora.— Griffin apontou para um lobisomem de cabelo preto. —Jaxon e um pequeno grupo vão distrair.

—E eu — respondeu o adolescente de cabelo curto. Myles percebeu que ele tinha apenas dezesseis anos, já que ainda não tinha se tornado corpulento como os lobisomens no final da adolescência.

— Colt — Griffin disse com um olhar de advertência. —Eu preciso que você volte para a matilha e pegue o máximo de lobos que vier.— O olhar de Griffin se voltou para Myles. —Estou supondo que os LaRues querem causar um impacto.

Solomon avançou para ficar ao lado de Myles. —Sem dúvida.

—Isso vai causar uma tempestade de merda, com certeza — disse Court.

Kane encolheu os ombros. —Todo mundo pode beijar minha bunda doce por tudo que me importa.

Myles virou a cabeça para olhar para Kane. Ele sentia falta de seu irmão despreocupado e um pouco imprudente, que era mais preocupado com mulheres e bebida do que com o legado de sua família. O que Delphine fez com ele com sua maldição mudou Kane. Ele ainda era imprudente, mas havia um descuido sobre ele agora, um que dizia que não importava para ele se vivesse ou morresse. Um que gritou por retribuição e vingança.

Myles estava feliz por não estar recebendo a fúria de Kane, porque Kane era um homem com uma missão, e nada nem ninguém seria capaz de detê-lo.

Por que eles não perceberam isso antes? Eles deveriam ter reconhecido o brilho letal em seus olhos. Talvez Kane tivesse ficado bom em esconder isso.

—A distração precisa ser grande o suficiente para causar preocupação em Delphine — alertou Myles.

Griffin sorriu ameaçadoramente. —Eu acho que colocar fogo em sua têmpora pode resolver isso.

—Uh, sim, isso basta — disse Court com um sorriso.

Myles desejava agora ter ido ao acampamento Moonstone e visto os lobisomens. —Quantos você acha que pode conseguir?

—Todos eles — afirmou Colt com convicção.

Griffin concordou com a cabeça. —Eles estavam esperando por um evento assim.

—O que você está pensando? — Solomon perguntou a Myles.

Myles olhou para seus irmãos e sorriu. —Estou pensando em uma das estratégias do papai. Cerque e conquiste.

—Simples, mas eficiente. — Solomon deu um aceno de aprovação. —Já funcionou antes.

Myles olhou para Griffin. —Tempo é tudo. Delphine espera eu e meus irmãos. Eu quero que sua matilha se segure e espere pelo nosso sinal.

—Qual será o sinal? — Griffin perguntou.

Kane deu um tapa nas costas dele. —Confie em mim, você saberá.

Com um olhar, Griffin enviou Colt e Jaxon em suas missões. O terceiro lobo permaneceu, esfregando a cabeça careca e se movendo para ficar logo atrás de Griffin.

—Dê aos meus lobos algum tempo para entrarem no lugar — disse Griffin.

Myles olhou para o céu e para a escuridão crescente. —Isso pode não ser uma opção.

—Delphine não vai começar o feitiço até meia-noite.

Court cruzou os braços sobre o peito. —E como você sabe disso?

—Eu sei muito sobre Delphine.— Griffin olhou por cima do ombro para o outro lobo. —Nós sabemos muito.— Ele se voltou para os LaRues. — Este é meu irmão, Gage. Delphine não apenas transformou nossos pais em lobos estúpidos que tínhamos que matar. Ela tem nossa irmã.

Myles respirou fundo. —Não admira que você estivesse tão ansioso para nos ajudar com Delphine.

—Nossos pais cometeram um erro ao fugir na noite em que Delphine iniciou sua matança. Pior, eles não deveriam ter deixado vocês quatro para trás.

Solomon estava com o rosto impassível ao dizer: —Acabamos bem.

Myles não aguentava mais falar. Ele tinha que ver Addison por si mesmo, saber que ela não tinha sido prejudicada ainda. —Vou ao cemitério.

—Agora não — disse Kane com uma mão em seu braço.

Myles olhou de sua mão para os olhos azuis de Kane. —Tente me impedir.

—Ele está certo,— Griffin afirmou. —Se você chegar agora, pode arruinar seu plano.

Solomon girou nos calcanhares. —Acho que há outra facção com a qual precisamos conversar antes de confrontar Delphine.

Myles hesitou enquanto Court, Griffin e Gage seguiam Solomon. Depois de um momento, Kane o soltou e também o seguiu. Myles soltou um suspiro de frustração e acompanhou os demais.


******

 

Addison acordou com o latejar de sua cabeça. Ela tentou agarrar as têmporas, mas seus braços pararam ao lado do corpo. Um olhar para baixo confirmou que ela estava amarrada com uma corda grossa que já cortava sua pele, esfregando-a em carne viva.

Ela deitou a cabeça para trás e olhou para o céu claro depois de olhar de uma direção para a outra para os enormes monumentos de pedra. O cemitério. Ótimo. Ela se perguntou o que estava deitada, então pensou que seria melhor se ela não soubesse.

Addison tentou puxar com mais força contra as cordas, mas isso só fez seus pulsos sangrarem.

—Não se preocupe. Você não vai chegar a lugar nenhum — disse uma voz reconhecível.

Ela olhou em volta, mas não viu Minka. —Onde você está?

—Atrás de você. Por enquanto.

Isso soou ameaçador. —Como você está aqui?

—Engraçado, isso, — ela disse sarcasticamente. —Eu ouvi rumores sobre o plano de Delphine, e até compartilhei isso com Myles. Eu não sabia que eu era aquela que ela consideraria sua bruxa.

O medo se apoderou de Addison, transformando seu sangue em gelo. —Certamente você pode nos tirar daqui, certo? Você tem magia.

—Eu tenho visões.

—Obviamente, você tem mais do que isso — argumentou Addison. —Por que mais você seria levado?

—Muito astuto da sua parte, Addison — disse Delphine, sua voz parecendo vir de todos os lados.

Addison virou a cabeça para a esquerda e viu o vestido branco de Delphine segundos antes de seu rosto aparecer.

Delphine sorriu e parou ao lado dela. —Não vai demorar muito agora, meninas. Em breve você estará livre deste mundo. Você estará fazendo algo pelo bem do bairro.

Minka bufou alto. —Apenas cale a boca com suas merdas. Você é uma assassina de qualquer maneira.

—Isso mesmo, Minka — disse Delphine bruscamente. —Porque todo líder deve sacrificar indivíduos pelo bem da causa.

—As pessoas realmente acreditam que isso é bobagem?

Addison tentou virar a cabeça quando Delphine andou atrás dela, mas ela só conseguiu ver o branco de relance.

—Eu posso tornar sua morte mais fácil, ou posso torná-la difícil,— Delphine disse em uma voz dura para Minka. —Você escolhe, bruxa.

—Eu não sou uma bruxa! — Minka gritou. —Eu teria que ser capaz de fazer mágica para ser uma bruxa.

Delphine riu, o som ficando mais alto à medida que continuava. —Oh, como sua família mentiu para você. Você acha que foi escolhido por capricho? Você tem um potencial inexplorado que eles têm escondido de você.

—Não acredite nela — disse Addison a Minka.

A risada de Delphine foi tão vazia quanto sua alma. —É melhor ela me ouvir. Existem muitas bruxas para escolher, mas era você que eu queria. Imagine minha surpresa quando planejei sequestrar você e um de seus mais velhos veio até mim.

Se Addison estava chocada, ela só podia imaginar o que Minka estava sentindo.

—Parece, — Delphine continuou, — que ela estava com medo de você assumir. Ela ofereceu você em troca de eu deixar seu coven sozinho pelos próximos vinte anos.

Houve um rangido de corda antes de Minka dizer —Mentirosa.

Mas não havia calor em suas palavras, como se soubesse que o que Delphine dizia era verdade. Addison conhecia aquele sentimento de traição, de ter a família virando as costas.

—E você, Addison. — Delphine fez uma careta e voltou a ficar ao lado dela. —Eu não pensei que um telefonema fingindo ser Myles iria funcionar com você. Como você foi facilmente capturado. Myles disse a você que todo o edifício estava protegido contra mim?

Addison sentiu-se mal do estômago. Ela deveria saber que não devia sair de cena. Myles nunca a teria mandado buscar comida. Que idiota ela era. E agora, ela estava bem no meio de algo que ela não queria fazer parte.

—Para pensar em tudo o que ele fez para me manter longe de você. — Delphine balançou a cabeça, seus longos cabelos negros caindo ao redor dela. —A cerimônia desta noite será lembrada por muito tempo.

Addison olhou para a sacerdotisa. —Myles virá atrás de mim. Ele vai me encontrar.

—Você tem certeza? Um lobisomem não é confiável. Eu sei porque foi um dos meus ancestrais que amaldiçoou os LaRues para se tornarem lobisomens há centenas de anos.

—Ele virá. — Pelo menos Addison esperava que sim. Eles haviam compartilhado seus corpos apenas uma vez. Isso não constituía um compromisso, mas ela tinha certeza de que Myles pelo menos iria procurá-la.

Delphine se virou e foi embora, sua risada sumindo com ela.

—Não dê ouvidos a uma palavra que essa vadia diga — disse Minka.

Addison puxou as cordas novamente. —Como se você não tivesse dado ouvidos a ela.

—Porque eu sei que o que ela disse é a verdade.

Addison se acalmou, seus olhos se arregalando. —Você sabe quem te traiu?

—Há cinco anciãos em nosso coven. Isso restringe as coisas significativamente. Eu não queria ser uma bruxa, —Minka disse suavemente. —Eu não conseguia fazer nem mesmo o mais simples dos feitiços, mas tinha visões.

Addison ficou quieto por um minuto. —Você falou com Myles?

—Eu sabia que ele não contaria — disse Minka com um suspiro alto. —Os homens podem ser tão... Estúpidos às vezes.

Ela se opôs a isso. Myles não era estúpido. —Ele me contou sobre o plano de Delphine. Ele simplesmente não me contou como ouviu falar disso. Quando ele falou com você??

—Esta manhã. Apenas no caso de você não saber, aquele homem está apaixonado por você.

Isso trouxe um sorriso ao rosto de Addison. —O sentimento é mútuo.

—Sim, eu percebi. Você sabe quem ele realmente é?

—Ele é um lobisomem.

—Bem, você não é o mais inteligente do grupo.

Addison ouviu o sorriso na voz de Minka. —Ele virá por mim.

—Tudo o que você ouviu sobre lobos é verdade, Addison. Nada o impedirá de chegar até você. Nada.

—Delphine vai matá-lo.

—Lembra o que eu disse a você sobre os caçadores? Os que guardam a cidade? Os LaRues são esses caçadores. Se há alguém que pode encontrar um caminho, são eles.

Addison tentou engolir, mas sua boca estava seca. —Eu espero que você esteja certa.

—Eu estou — Minka sussurrou. —Eu tenho que ser.


CAPÍTULO QUATORZE

 

Levou duas horas excruciantes para convencer três dos cinco covens de bruxas e o bando da Marca de Sangue a se juntar a eles. As bruxas não ficaram emocionadas com a ideia de se juntar a duas matilhas de lobos, mas o pensamento de Delphine ganhando mais poder eventualmente as influenciou.

—Pare de andar — disse Court. —Você está me dando dor de cabeça.

Myles lançou lhe um olhar sombrio.

Kane balançou a cabeça com desdém. —É o rosnado que está me dando nos nervos.

—Deixe isso, — Solomon disse para Court e Kane.

Myles encostou-se ao edifício enquanto olhava para a entrada do cemitério. Foi assim que Solomon se sentiu quando sua mulher foi tirada dele? Seu coração se apertou porque Myles sabia que não sobreviveria se Addison fosse morto. Como Solomon suportou o esmagamento ?

—Só mais um pouco — disse Griffin ao lado de Myles.

Myles olhou para o líder dos lobos da Pedra da Lua. —Você tem um companheiro?

—Não — Griffin disse com uma risada. —Meu pai disse a nós, crianças, que saberíamos quando encontrássemos o nosso. Ainda estou procurando.

—Eu não queria um. Inferno, eu nem sei se ela quer ser minha. — Myles passou as mãos pelo rosto.

Solomon olhou para ele de sua posição no canto do prédio. —Ela quer você. Confie em mim.

—Sim, — Court disse, balançando a cabeça.

Kane esticou o pescoço de um lado para o outro. —Nós vimos com nossos próprios olhos. Ela é sua, Myles.

—Está na hora, — Griffin disse e se afastou da parede.

Myles sentiu seu próprio lobo empurrar contra ele. Ele começou a tirar suas roupas, sua respiração ficando cada vez mais rápida. Griffin jogou a cabeça para trás quando os ossos começaram a se quebrar e se transformar em um lobo.

A dor da mudança foi indescritível. Ele os golpeava por todos os lados, tirando seu fôlego e os rasgando de dentro para fora. O lobo de Myles se levantou rapidamente. A urgência o empurra, o leva.

Ele caiu de joelhos. Pela primeira vez, ele não sentiu nenhuma dor. Seus pensamentos estavam centrados em Addison. E matando Delphine.

Quando ele abriu os olhos, viu seus irmãos terminarem suas transições. Ele viu a pele sólida de Solomon. Ao lado dele estava um lobo de cor preta - Kane. Do outro lado de Solomon estava Court com seu pelo fulvo.

Outro lobo trotou. Myles olhou para o pelo cinza manchado de Griffin. Griffin olhou para Myles por um momento enquanto Gage se juntava a ele antes de desviar o olhar para o cemitério.

Com o canto do olho, Myles viu as orelhas de Solomon balançarem. Myles ergueu a cabeça e ouviu. Apenas uma outra vez na história da cidade os lobos caíram sobre ela em massa como agora. Hoje à noite, os lobos não estavam lá para reivindicar o domínio, mas para libertar dois inocentes e deter uma sacerdotisa.

Pareceu uma eternidade antes de Myles cheirar as primeiras chamas. Logo, sirenes dos bombeiros e da polícia soaram pela cidade.

Myles e seus irmãos estavam atrás do prédio, as sombras profundas o suficiente para ocultá-los completamente. Ele espiou pela esquina e viu um dos homens de Delphine, todo vestido de branco, vindo até a entrada do cemitério para ver o que estava acontecendo.

Ao lado de Myles, Kane rosnou, a alma retumbando em seu peito. Solomon cutucou Kane com a cabeça para silenciá-lo.

O homem correu de volta para dentro do cemitério e, segundos depois, ele e três outros correram para fora e entraram em um carro para partir. Isso diminuiu em quatro pessoas contra quem eles deveriam lutar, mas Myles não estava preocupado com os seguidores de Delphine. Ele estava apreensivo com ela.

Um movimento errado selaria todos os seus destinos.

Ele não tinha esquecido a previsão de Minka sobre sua morte. Se aconteceu naquela noite, Myles queria que fosse depois que Addison fosse libertada. Ele tinha que ser inteligente, astuto e implacável. Essas eram as únicas características que salvariam sua mulher.

Myles olhou para seus irmãos. Eles se alinharam lado a lado e saíram das sombras, atravessaram o estacionamento e atravessaram a rua. Cada um deles tinha seus destinos. Assim que passaram pelo alto portão de ferro, eles se separaram, esgueirando-se silenciosos como a morte ao redor das tumbas. O mau cheiro de Delphine era sufocante, mas a tornava fácil de rastrear.

Myles percorreu todo o caminho até a parte de trás do cemitério e então se encaminhou para Delphine, esperando que fosse ele a encontrar Addison. Seus passos diminuíram quando ouviu a voz de Delphine cantando. Ele mudou para a direita e se moveu furtivamente em direção ao som. Myles saltou sobre uma tumba e rastejou de barriga até a borda.

Delphine estava sem o turbante branco. Seu cabelo estava solto e caindo em torno de sua pele cor de moca. Onde ela normalmente estava coberta quase da cabeça aos pés de branco, esta noite ela usava uma blusa branca que era fina o suficiente para ver seus mamilos. A saia dela era longa, mas transparente.

Myles teve que se esforçar para permanecer imóvel quando ouviu a voz de Addison. Um segundo depois, ela apareceu com um homem de cada lado dela, segurando-a. Minka também foi detida por dois homens quando foi trazida após Addison.

Delphine ergueu lentamente os braços acima da cabeça. As chamas surgiram, circundando os sete. Minka chutou um dos homens, que então a golpeou com as costas da mão com tanta força que ela caiu para o lado, errando por pouco as chamas.

—Minka! — Addison gritou.

Os homens puxaram Minka de volta com sangue escorrendo de seu lábio. Delphine começou a balançar, os olhos fechados e as palavras vindo mais rápido. Um por um, seus seguidores apareceram aparentemente do nada para formar um grande círculo. Eles bateram palmas lentamente e cantarolaram. Os olhos de Delphine se abriram de repente, brilhando com uma luz vermelha profana. Ela apontou primeiro uma mão para Addison e depois a outra para Minka.

Myles rosnou de fúria quando o corpo inteiro de Addison estremeceu e suas pálpebras se fecharam. Minka a imitou um segundo depois. Os homens recuaram e saíram do círculo em chamas, já que Delphine controlava as duas meninas agora.

A voz de Delphine ficou mais alta, suas palavras incompreensíveis. Myles só pôde ver Addison e Minka caindo para trás. Mas eles nunca atingem o solo. Eles estavam rígidos quando suas pernas se levantaram, inclinando seus corpos horizontalmente .

—Nosso templo está pegando fogo! — Gritou uma voz masculina.

Delphine parou de cantar e olhou lentamente em volta. — Vai. Nossa casa deve ser salva.

Houve uma comoção quando metade dos homens e algumas mulheres correram para fora do cemitério para ajudar a apagar o incêndio. A propósito, Delphine estudou cada sombra, ela suspeitou que o fogo tinha sido uma distração.

Myles esperava pegá-la de surpresa, mas isso não era mais uma opção. Ela estaria em guarda agora, preparada para o que quer que viesse para ela.

Ela se concentrou em Addison e Minka novamente e caminhou para ficar entre eles. Delphine tocou a testa de Minka e passou a mão pelo corpo até os dedos dos pés. Então Delphine repetiu o movimento com Addison, palavras ininteligíveis saindo de seus lábios o tempo todo.

Ele rosnou, erguendo os lábios. O ódio era insuportável. Isso o consumiu, o devorou. Isso o manteve por anos, mas se ele deixasse isso levá-lo completamente agora, não haveria espaço para qualquer outra emoção como ... amor.

Delphine estendeu as mãos à sua frente, palma para cima. Do nada, um escudo curvo feito de osso apareceu em suas palmas. Segurando-o em uma das mãos, a outra o traçou como se fosse um objeto a ser adorado.

Quando ela segurou a lâmina de osso no alto, seu rebanho restante soltou uma ovação e continuou batendo palmas em um ritmo. Delphine se virou primeiro para Addison e agarrou o osso com as duas mãos acima da cabeça, preparando-se para enfiá-lo no peito de Addison.

Myles saltou de cima da tumba entre os adoradores e o fogo, rosnando ferozmente. Kane, Solomon e Court saíram de seus esconderijos, seus grunhidos se misturando aos dele. O povo de Delphine rapidamente se moveu para abrir caminhos para seus irmãos, até que eles também ficaram diante do fogo em frente à sacerdotisa.

—Eu sabia que você viria,— Delphine disse enquanto olhava para cada um deles. —Qual de vocês é Myles?

Foi Court quem estalou as mandíbulas para ela em resposta.

Delphine riu. —Oh, isso é muito simples. Que bobagem de vocês, garotos LaRue, pensar que vocês quatro poderiam me impedir. Eu vou matar essas garotas, e então vou me certificar de terminar a linha LaRue de uma vez por todas.

Myles olhou para Solomon do outro lado do fogo e acenou com a cabeça. Myles, Court e Kane se viraram e atacaram os seguidores de Delphine. Seus gritos encheram o ar. Embora eles nunca tenham cravado os dentes em nenhum deles, seus gritos diziam o contrário.

Com seu sinal para o bando de Moonstone literalmente gritando dos telhados, Myles se virou para Delphine, que estava olhando para Solomon. Como Myles esperava, a cadela estava mordendo a isca. Porque em sua mente, apenas ele seria o único a ficar de guarda vigiando Addison.

E Myles estava, apenas não da maneira que ela esperava.

Os gritos de seus seguidores se intensificaram conforme a matilha de Griffin enchia o cemitério com as bruxas logo atrás deles. Myles jogou a cabeça para trás e soltou um uivo.

Delphine girou em um círculo olhando em fusão e raiva para as bruxas e lobos se aproximando de seu povo, de pé sobre tumbas e preenchendo os espaços.

—O suficiente! — Delphine gritou.

Uma jovem bruxa com cabelo vermelho escuro em pé no topo da tumba em que Myles estava abriu os dedos enquanto segurava os braços ao lado do corpo. —Você não nos governa. Você nunca vai nos governar.

As outras bruxas abriram bem os braços até formarem um grande círculo. Seus olhos estavam fixos em Delphine enquanto focavam sua magia. Delphine não teve escolha a não ser lutar contra eles.

Era hora dos lobos. Myles foi o primeiro a se lançar sobre as chamas e jogar Delphine no chão. Pouco antes de se virar para ir para Addison, ele sentiu algo afiado afundar em seu ombro. Myles se virou e disparou, mas Solomon, Court e Kane já estavam em cima de Delphine. Griffin e Gage logo se juntaram à briga.

Myles mancou até Addison. Ele observou surpreso quando as duas garotas caíram no chão. Delphine teve que conservar seu poder para si mesma, o que libertou Addison e Minka. Ele viu o sangue nos pulsos de Addison e os lambeu para ajudar a estimular a cura. Quando ele ergueu a cabeça, seus olhos castanhos estavam abertos e olhando para ele.

—Você veio. — Ela sorriu e passou a mão pela cabeça dele, afundando as mãos em seu pelo. —Eu sabia que você viria.

Myles aninhou-a até que ela colocasse as duas mãos em volta do pescoço dele. Então ele recuou e ajudou-a a se sentar.

—Belo truque aí, lobo — disse Minka com um gemido. —Quem diabos vai me ajudar?

Addison estendeu a mão e ajudou Minka. Myles pegou a bainha do moletom cortado de Addison na boca e puxou, tentando dizer a ela que eles precisavam ir.

—Acho que isso significa que temos que ir — disse Minka.

Addison olhou para os lobos que atacavam Delphine. —Sim. Quanto antes melhor.

Solomon bateu em Minka e saiu correndo. Minka o seguiu rapidamente. Myles ignorou a dor de seu ferimento e esperou por Addison. Enquanto corria atrás dela, ele garantiu que não haveria nenhuma outra surpresa de Delphine naquela noite com o clã Moonstone e as bruxas atacando-a.

Enquanto Solomon os conduzia por ruas tranquilas até que eles estavam fora da cidade e para o pântano, Myles viu Griffin e seus lobos com eles. As meninas nunca chegariam ao acampamento Moonstone, e Myles não queria Addison lá de qualquer maneira. Ele soltou um som que fez Solomon parar.

Minka e Addison pararam tropeçando, com as mãos nos joelhos enquanto se curvavam para respirar. Myles os circulou tentando pensar em um lugar para levá-los, porque não tinha certeza de quanto tempo mais poderia continuar. Sua ferida o estava enfraquecendo significativamente. Algo que só aconteceria se a prata fosse usada.

Myles olhou para Addison. Pelo menos ela estava fora do alcance de Delphine agora. Não fazia sentido contar a seus irmãos sobre seu ferimento. Nada poderia ajudá-lo agora. Ele estava morrendo, lenta mas seguramente.

Griffin e seus lobos se espalharam, verificando o pântano enquanto Solomon permanecia no ponto, muito preocupado com um ataque para perceber que algo estava errado.

Depois de um momento, Minka ergueu a cabeça e olhou para Addison. —Eu conheço um lugar que podemos ir.

—Onde? — Addison perguntou sem fôlego.

Minka se endireitou, um olhar triste vindo sobre ela. —A velha plantação de Gilbeaux. Ou o que sobrou dele.

Solomon soltou um rosnado baixo e balançou a cabeça. Myles teve que concordar. Aquele lugar não era adequado para animais, muito menos para as meninas.

—É para onde estou indo — afirmou Minka com determinação. —Não há outro lugar para mim. Não posso voltar para o bairro.

Addison ergueu os olhos e tirou as mechas curtas de champanhe do rosto. —Não. Não há volta para aqueles que o traíram. Que tal um dos outros covens?

Minka estava balançando a cabeça antes que Addison terminasse. —Não é possível.

—Tudo bem então.— Addison deslizou seu olhar para ele. —Precisamos ir para a plantação Gilbeaux.

Myles suspirou e virou para oeste, seu curso estabelecido.


CAPÍTULO QUINZE

 

Agora que haviam escapado do bairro, os pés de Addison latejavam. Ela estava com medo de olhar para baixo e ver o dano causado. Eles já haviam caminhado por mais uma hora e ela estava exausta até os ossos.

Myles de repente se chocou contra ela, detendo-a. Era sua imaginação ou ele estava mancando? Addison ergueu os olhos do solo e ouviu o rugido de um motor. De repente, os lobos se fecharam em torno dela e de Minka. Ela tentou segurar Myles, mas ele escapuliu, indo ficar na frente da matilha com um lobo branco e um cinza.

Um caminhão 4x4 passou pelo pasto que eles estavam cruzando e parou escorregando. Os faróis a cegaram, mas Addison foi capaz de proteger seus olhos o suficiente para ver a porta da caminhonete aberta.

—Qual dos meus primos idiotas achou que seria uma boa ideia me deixar de fora?

—Riley? — Addison disse com um sorriso. — É você?

—Addison? Você está bem?— Riley perguntou e saltou da caminhonete. Ela correu para ela, os lobos imediatamente se movendo para fora do caminho. Riley colocou os braços em volta dela e segurou firme.

—Sim, graças a Myles e todos os outros lobos.

Riley se afastou. Seu sorriso caiu quando ela olhou para Myles e o lobo branco. —Isso foi uma merda. Se eu não tivesse visto o grupo de bruxas andando pela rua falando sobre todos os lobos, eu nunca teria saberia. Então eu encontrei esses dois idiotas, —ela disse com o polegar por cima do ombro.

Só então, um lobo preto e outro com pelo fulvo subiram.

—Mas isso é assunto de família — disse Riley, notando todos os outros lobos. —Vocês devem ser do bando de MoonStone de que Kane fala. Obrigado por ajudar. — Riley então mudou seus olhos de volta para Addison. —Para onde vocês estão indo?

—A velha plantação de Gilbeaux — disse Minka.

—Vocês parecem com a morte esquentada. Entre no caminhão. Eu vou dirigir enquanto você dá instruções. Há um pouco de água engarrafada dentro.

Minka não precisava ouvir duas vezes. Ela correu para o 4x4 e subiu pela porta traseira do lado do passageiro. Addison deu um passo e estremeceu com algo espetado em seu pé.

—Você não tem sapatos? — Riley perguntou consternado.

Addison encolheu os ombros. —Fui levada sem eles.

Riley colocou o braço de Addison em volta de seu ombro e ajudou-a a mancar para o caminhão. Addison entrou e viu Myles parado na porta dela.

—Quer andar de bicicleta? — Ele deu um passo para trás, fazendo-a rir. —Estou bem. Vamos apenas chegar à plantação.

Assim que Myles trotou e todos os lobos desapareceram entre as árvores, Addison fechou a porta e soltou um suspiro. Ela fechou os olhos enquanto Minka conduzia Riley pelas estradas do interior até a plantação. Addison não precisou olhar. Ela sabia que Myles estava por perto.

A certeza disso, de saber que ele estaria lá para ela era tão calmante quanto maravilhoso. Ela nunca tinha sido capaz de dizer isso sobre ninguém antes, e ela estava hesitante em até pensar nisso com ele.

Não era porque ele era um lobisomem e mudou com a lua. Foi por causa de quem ele era, o que ele fez. Ele lutou pelos inocentes do bairro, o que significava que colocava sua vida em perigo todos os dias.

Seu pai tinha feito o mesmo, e veja como ele acabou. Por mais que isso a incomodasse, Addison sabia que ela não poderia se afastar de Myles.

Ele era tudo que ela nem sabia que queria ou precisava. Sua gentileza com ela, junto com sua inabalável lealdade e defesa dela contra alguém tão maligno quanto Delphine estava cambaleando.

Ela não sabia onde o relacionamento deles poderia levar, mas ela certamente queria descobrir.

—Qual é a sensação de ser a mulher de um lobo? — Riley perguntou.

Addison abriu os olhos e sorriu. Minka empurrou uma garrafa de água para ela, que ela abriu e bebeu profundamente. —Parece... certo. É assim que deveria ser?

—Eu não sei — disse Riley. —Acho que essa pode ser a resposta certa para qualquer casal.

—Eu só não quero ler muito sobre as coisas. Suponho que Myles estava apenas cumprindo seu dever de caçador.

Minka deu uma gargalhada. —Garota, estou seriamente prestes a bater na sua cabeça. Não tivemos essa conversa no cemitério?

—Sim — disse Addison. —É só que, todo mundo que eu sempre quis na minha vida me deixou. Eu não quero perdê-lo.

Riley sorriu para ela. —A única maneira de você perder Myles é se você disser a ele que não o ama, e mesmo assim, levaria meses para ele tentar te trazer de volta e você recusar antes que ele pensasse em desistir. Uma vez que um lobo escolhe quem é seu, não há como voltar atrás.

—Realmente? — Addison perguntou enquanto afundava ainda mais no assento.

Minka se inclinou entre os dois bancos dianteiros. —Realmente.

Addison deixou esse conhecimento se estabelecer em sua mente - e em seu coração. Era quase esperar demais , pensar que ela encontrou alguém que não iria deixá-la.

—O sangue de Chiasson corre em suas veias tanto quanto LaRue, — Riley disse enquanto continuava a dirigir. —Foi um Chiasson que deixou a França e se estabeleceu na Nova Escócia por um tempo, trazendo sua irmã e dois irmãos com ele. Eles finalmente seguiram para Louisiana. Ele se estabeleceu em Lyons Point enquanto seus irmãos decidiam ir em diferentes direções para ver o que o país tinha.

Addison ficou paralisado ao ouvir a história das famílias Chiasson e LaRue.

Riley sorriu enquanto olhava para Addison e depois para Minka. —A irmã dele veio para Nova Orleans com ele em uma viagem e se apaixonou por um LaRue. Ela se casou e ensinou seu marido a caçar o paranormal.

—Eu me perguntei como os LaRues se tornaram caçadores — disse Minka enquanto se recostava.

A caminhonete saltou sobre alguns buracos profundos na estrada de terra enquanto Riley dava de ombros. —Estar em Nova Orleans tem suas vantagens, mas também suas desvantagens. Ou seja, todos os seres com alguma forma de habilidade sobrenatural.

—Eu aceito isso, — Minka disse, mas não havia calor em suas palavras.

Addison se virou e disse: —Sim, mas você não está tentando matar pessoas. Acho que Riley está falando sobre eles.

—Eu estou — disse Riley. —Temos bruxas em Lyons Point. Inferno, Beau está namorando uma. Mas acho que é a mistura de todos os seres de Nova Orleans que é tão diferente. Você vê, uma das crianças LaRue fez algo para incorrer na ira de uma sacerdotisa voodoo.

—Oh meu Deus — disse Minka com um suspiro. — O que há com os LaRues e os sacerdotisas?

Riley balançou a cabeça. —Eu gostaria de saber. Eu não sei o que aconteceu para fazer a sacerdotisa voodoo ficar tão brava, mas em resposta, ela colocou uma maldição em todos os LaRues para se tornarem lobisomens.

Addison girou a garrafa de água em sua mão. —Quanto tempo a maldição permanecerá no lugar?

—Para sempre, — Riley e Minka responderam em uníssono.

Addison ficou indignado. —Você está de brincadeira? Isso é um pouco extremo, você não acha?

—Muito certo — Minka murmurou.

Riley torceu os lábios. — Meus primos conseguiram usá-lo a seu favor. Eles fizeram amizade com bruxas que usaram feitiços para ajudá-los a serem capazes de mudar quando quiserem, em vez de apenas na lua cheia. É útil enquanto eles caçam no bairro.

Minka se inclinou novamente e apontou para o para-brisa. —Há um carvalho vivo com seus galhos crescendo no chão. Vire à esquerda lá.

Addison olhou através da escuridão para onde os faróis penetravam na noite e avistou os galhos retorcidos da grande árvore ficando tão pesados que de fato tocaram o solo.

Riley diminuiu a velocidade do caminhão e virou para a esquerda, assim como Minka instruiu. Eles cavalgaram em silêncio ao longo da estrada estreita com arbustos grossos crescendo em ambos os lados enquanto Myles e o lobo branco corriam à frente do caminhão.

—Droga, garota — disse Riley para Minka. —O quão longe no pântano estamos indo? Esta não é uma estrada. É um caminho que não é usado há anos.

Houve silêncio enquanto Minka permanecia inclinado para a frente entre os dois bancos da frente. —Era da minha tia-avó. Ela nunca se juntou ao coven. Ela não confiava neles nem concordava com seus métodos. Então ela se mudou para St. Louis por muitos anos antes de retornar. Ela fez isso sem que nenhum dos outros soubesse que ela estava aqui, e ela guardou para si mesma.

—As bruxas ficam bravas se outros não se juntam ao coven? — Addison perguntou.

Minka assentiu. —Especialmente quando o coven é formado por uma família.

Riley e Addison trocaram um olhar rápido.

—Minha tia viveu seus dias nesta terra em paz — explicou Minka. —Ela deixou para mim quando morreu há quatro anos. Eu pago alguém para manter o lugar.

Naquele momento, o mato clareou e o que restava de uma casa de fazenda branca apareceu.

—Por favor, me diga que você não vai ficar aí — disse Addison quando avistou a varanda do segundo andar desabando.

Minka deu uma risadinha. —Não.

—Não há nada além de terra e água — disse Riley enquanto diminuía a velocidade do caminhão até parar.

Addison seguiu o feixe dos faróis para encontrar Myles observando-os. Ela começou a sorrir, mas escorregou quando viu algo molhado em seu ombro. Seu coração parou de bater. —Por favor, me diga que isso é água e não sangue.

—O que? — Riley perguntou enquanto olhava de Addison de volta para Myles. Houve uma breve pausa antes de ela dizer: —É sangue.

—Ele já deveria ter se curado — disse Minka. —A menos que...

Ela parou, o que fez Addison se contorcer. —A menos que? O que você não está me dizendo?

—A menos que prata tenha sido usada, — Riley sussurrou.

Addison lentamente se virou, mas Myles não estava mais sob os faróis. —Eu acabei de encontrá-lo. Eu não posso perdê-lo.

—Uma vez que a prata está em sua corrente sanguínea, não há como pará-la. Eu sinto muito.

—Eu disse a ele para ter cuidado — disse Minka.

Addison fechou os olhos com força. —Você viu a morte dele, não viu?

—Sim. Eu não sabia quando isso iria acontecer — acrescentou Minka.

Addison abriu os olhos. —Não vou desistir tão facilmente.

Ela abriu a porta, encerrando a conversa. Assim que ela o fez, Myles e o lobo branco estavam lá.

Minka não perdeu tempo em sair da caminhonete e caminhar até Myles. —Idiota. Isso precisa ser resolvido.

O lobo branco deu um grunhido baixo ao notar a ferida. Myles ignorou os dois enquanto olhava para Addison. Addison deslizou da caminhonete e fechou a porta. Ela mancou até Myles e o tocou enquanto Minka caminhava até a água.

Riley desligou o motor. —Eu realmente espero que ela não queira atravessar o pântano.

—Vamos descobrir. — Addison estremeceu quando ela se virou e mudou seu peso.

A porta do lado do motorista se fechou e Riley deu a volta na frente, seu corpo cortando na frente dos faróis que ainda não tinham apagado. Ela olhou para os pés de Addison e franziu a testa. —Você não vai a lugar nenhum.

—Eu não vou ficar aqui também.

Riley sorriu e se virou para abrir a porta traseira do passageiro da caminhonete. —É bom que eu sempre carregue coisas extras comigo.— Ela cavou na parte de trás do caminhão por um momento e endireitou-se com outro par de chinelos. —Eles não são ideais para caminhadas no pântano, mas são melhores do que pés descalços.

—Você sempre viaja com seu armário? — Addison perguntou com um sorriso.

—Eu cresci caçando, e odeio andar por aí com sapatos molhados, então eu mantenho extras na minha bolsa.

Addison levou um momento para usar a luz de dentro da cabine da caminhonete para limpar seus pés e puxar alguns adesivos e um pedaço de vidro. Mesmo com os sapatos calçados, seus pés doíam. Pelo menos agora eles estavam um tanto protegidos.

—Eles precisarão ser atendidos quando voltarmos para o bairro — disse Riley.

Como se concordasse, Myles cutucou o braço dela com o nariz frio e úmido. Ela sorriu e afundou a mão na pele de seu pescoço. Ela tinha visto um lobo no zoológico uma vez, e ela sabia que os lobisomens eram mais do que o dobro de seu tamanho.

—Você deveria ter me dito que estava ferido — ela advertiu Myles.

—Oh. Hora de ir, —Riley afirmou e foi embora.

Addison olhou para ver Minka virar à esquerda e se afastar da plantação. O lobo branco caminhava ao lado de Minka, e Addison viu dois outros lobos disparar para fora do mato e segui-los.

Ela mal podia esperar para saber quem era quem. Se ela tivesse que adivinhar, Solomon era o lobo branco. Ela sabia quem era Myles, e isso era tudo que importava.

Addison andou o mais rápido que pôde com seus pés machucados para seguir Minka e Riley. Ela ficou grata pelos sapatos quando a trilha a levou por um bosque. Myles, também mancando, permaneceu ao lado dela.

Ao redor dela havia lobos. Eles não faziam nenhum som, mas ela os via de vez em quando. Com a mão em Myles, ela se sentiu segura e confortada. Quem diria que isso poderia acontecer com um lobisomem.

Addison saiu da floresta e parou quando viu uma velha casa construída sobre palafitas sobre o pântano, a água batendo suavemente nos pilares de madeira enquanto a lua projetava tudo em um brilho azul pálido.

Myles a cutucou. Ela se assustou e começou a andar novamente. Addison olhou para a água e as formas escuras que viu.

Deus, por favor, que está casa esteja em melhores condições do que a plantação. Seria muito errado ser salvo de Delphine para morrer pelo crocodilo.


CAPÍTULO DEZESSEIS

 

Myles estava na varanda olhando para a água meia hora depois do amanhecer. Ele e os outros lobos foram para a floresta para voltar. Ele pensou em deixar Addison, mas não tinha certeza se ela estava pronta para ver tudo isso ainda. Sem mencionar que ele queria primeiro dar uma olhada em seu ferimento.

Addison dormiu como uma morta depois que Minka colocou um pouco de pomada em seus pés e acrescentou um pouco de erva ao chá doce. Caso contrário, ele sabia que ela estaria ali com ele. Myles permanecera por perto, patrulhando a varanda que circundava a pequena casa, mesmo enquanto seu ferimento infeccionava.

O ferimento em si era feio, linhas pretas se ramificando enquanto a prata continuava a envenená-lo. H e não tinha ideia de quanto tempo ele tinha. Cada respiração era uma luta, mas ele lutou porque não estava pronto para deixar Addison.

—Onde você conseguiu as roupas? — Minka perguntou quando ela saiu para a varanda. Ela se sentou em uma das cadeiras de madeira e puxou os joelhos até o peito.

—O caminhão que Riley dirigia é de Kane. Sempre guardamos roupas para essas ocasiões.

—Sorte para você. — O sorriso de Minka era suave, triste. —Como você está se sentindo?

—Como uma merda — disse ele. Ele suspirou alto. —Eu nunca vi a lâmina. Eu sabia que Delphine tinha uma faca de osso na mão, mas não vi uma de prata.

Minka colocou os pés no chão e se inclinou para frente na cadeira. —Deixe-me dar uma olhada. Eu posso ser capaz de fazer algo.

—Você sabe tão bem quanto eu que nada pode ser feito.

—Deixe-a olhar.

Myles sentiu seu coração pular ao ouvir a voz de Addison. Ele permaneceu para vê-la, mas agora que ela estava acordada, ele sabia que teria sido melhor se ele tivesse morrido sozinho.

—Por favor — disse Addison. —Deixe-a tentar, se puder.

Myles não conseguia formar nenhuma palavra. Quando Addison veio ficar ao lado dele, com os braços em volta de um dos dele, não havia nada que ela pudesse pedir que ele negasse.

—Eu sou sua? — Ela perguntou.

Myles virou a cabeça para olhar nos olhos castanhos dela. —Por agora e sempre.

—Então eu lutarei por você, assim como você lutou por mim.

Ele se mexeu para ficar de frente para ela, tendo o cuidado de manter o ferimento em seu ombro esquerdo o mais escondido possível. —Eu não quero dar falsas esperanças.

—É melhor do que desistir, — ela respondeu suavemente. —Myles, contra tudo que nos encontramos. Não posso explicar a atração ou o... —ela fez uma pausa e engoliu em seco. —O amor que tenho por você. Eu não quero que isso acabe.

Como se ele fosse morrer agora sem lutar. Myles tocou sua bochecha. —Minha doce Addison. Você roubou meu coração no dia em que entrou no bar. Eu te desejei, te desejei com tanta fome. Então eu provei você. Eu não queria você em meu coração, mas você encontrou seu caminho de qualquer maneira. Lobos acasalam-se para o resto da vida.

Seus olhos estavam brilhando com lágrimas não derramadas. —Então me disseram.

—Você é minha, — ele disse densamente.

—Então não me deixe.

Minka se levantou de repente. —Ótimo. Então vocês se amam. Vamos ao que interessa. Addison, vá até a cozinha e olhe no armário de baixo ao lado da pia. Você verá uma caixa de madeira. Traga-a. Myles, —ela disse e apontou para a cadeira que ela desocupou. —Tire a camisa e sente-se.

Myles ficou olhando para Addison enquanto fazia o que Minka mandava. Ele rangeu os dentes enquanto tentava tirar a camisa. De repente, alguém agarrou a gola da camiseta e a rasgou ao meio. Ele se virou e viu Kane ao lado dele.

—Isso parece uma merda — disse seu irmão sobre o ferimento.

Myles encolheu os ombros bom. —Parece mesmo.

Saltos de botas soaram na varanda, e um momento depois Solomon e Court estavam parados na frente dele. Myles não conseguia segurar os olhares de seus irmãos. Ele não suportava ver a tristeza ou raiva em seus olhos.

Então Addison voltou com a caixa de Minka, um pequeno sorriso em seu rosto que fez Myles querer puxá-la contra ele e beijá-la. Era contra tudo dentro dele desperdiçar o pouco tempo que tinha tentando curar a ferida em vez de beijar a mulher que amava.

—Isso vai funcionar — disse Addison com um aceno de cabeça firme.

Myles sorriu. —Você nem sabe o que Minka vai fazer.

—Não importa. Vai funcionar.

O olhar de dúvida de Minka, que ela manteve escondido de Addison, disse a Myles tudo o que ele precisava saber. Mágico ou não, seria um milagre se Minka fosse capaz de reverter os efeitos do envenenamento de prata.

Kane foi para trás de Myles, com as mãos sobre os ombros. Solomon se moveu para a direita de Myles enquanto Court caminhou para a esquerda. Houve algumas ocasiões em que os lobos tentaram parar a prata, e nenhum deles foi indolor.

—Você deve ir — disse Myles a Addison.

Ela ergueu o queixo. —Nunca. Eu estarei ao seu lado em tudo.

—Eu não sei o que vai acontecer,— ele disse, preocupado com o bem-estar dela. —Eu não quero que você se machuque.

—Ela não vai ficar — disse Griffin quando ele e Gage vieram para ficar em cada lado de Addison.

Myles viu o rápido olhar de interesse trocado entre Minka e Griffin, mas foi rapidamente esquecido quando Minka tocou em seu ferimento. Ele puxou os lábios quando a dor o atingiu.

Ele agarrou a ponta da cadeira, mas ouviu a madeira estalar sob seu domínio. Instantaneamente, ele sentiu as mãos de seus irmãos segurando-o no lugar enquanto ele fechava os olhos com força. Ele pensou em Addison, em sua boca tentadora e corpo macio. Que injusto encontrá-la apenas para deixá-la ir tão cedo.

Addison não conseguia parar as lágrimas, não importava o quanto tentasse. Ela observou o corpo de Myles estremecer de dor enquanto seus irmãos o seguravam no lugar. A ferida parecia horrível, como se seu corpo estivesse apodrecendo de dentro para fora. E as veias escuras se espalhando por seu peito e abdômen, descendo por seu braço até sua mão e cruzando suas costas mostravam como a prata se espalhava rapidamente por ele.

Minka, por sua vez, estava trabalhando freneticamente enquanto procurava pelas ervas, aplicando uma após a outra, sem afetar, seu rosto marcado pela preocupação.

—Use sua magia, — Griffin a encorajou.

Minka olhou para ele . —Eu não tenho nenhum.

—Delphine pensava de forma diferente. Encontre-o e use-o. Ou Myles morre.

Myles estava tremendo de dor, as veias negras ficando mais escuras, mais grossas enquanto a prata se movia mais rápido por ele. Addison correu para ele, ajoelhando-se entre suas pernas . Ela colocou as mãos sobre as dele.

Ninguém a parou ou tentou empurrá-la para fora do caminho. Seria porque eles sabiam que Myles não viveria? Ela se recusou a aceitar isso.

Addison voltou seu olhar para Minka. —Você tem magia. Delphine disse que sim. Está dentro de você. Por favor, Minka.

Minka olhou de Addison para Myles e então respirou fundo, estremecendo. Ela se acalmou e apagou todas as emoções de seu rosto. Então ela colocou as mãos sobre a ferida de Myles e fechou os olhos.

Myles estremeceu, um rosnado baixo vindo de dentro dele. Seus olhos se abriram, brilhando em amarelo enquanto seu rosto se contorcia de dor. Com os dentes começando a se alongar e as unhas ficando longas e afiadas, Griffin tentou arrastar Addison para longe.

—Não! — Ela gritou e saiu de seu alcance. —Eu não vou deixá-lo.

—Addison! — Solomon gritou acima dos rosnados de Myles. —Ele não gostaria que você se machucasse.

Ela se levantou, o olhar de Myles se fixou nela. —Eu não vou te deixar,— ela disse a ele e pegou seu rosto nas mãos. Então ela se inclinou e o beijou.

Myles se acalmou instantaneamente. Quando Addison se afastou, seus olhos azuis voltaram. Ela sorriu para ele.

—Addison? — Ele sussurrou um pouco antes de relaxar e fechar os olhos.

—Myles! — Ela gritou e o sacudiu.

Desta vez foi Court quem a segurou e a puxou. Court quem a segurou com força, então não havia como ela se libertar. Ela observou quando Solomon e Kane se afastaram com um olhar severo em seus rostos.

Addison olhou para a varanda para ver dezenas de pessoas - lobisomens - observando Myles em silêncio. Ela enxugou as lágrimas e notou Riley pela primeira vez em pé dentro da casa com os braços em volta de si mesma, chorando silenciosamente, os ombros tremendo.

—Não — sussurrou Addison. —Eu não posso perdê-lo. Eu perdi todo mundo.

Griffin colocou a mão em seu ombro. —Shh.

Ela franziu o cenho para ele, mas viu que seu olhar estava em Minka. Addison girou a cabeça para a bruxa. Minka estava pairando a alguns centímetros da varanda, uma luz estranha a rodeando. Solomon começou a ir em direção a Minka, mas Griffin se moveu com a velocidade da luz, parando Solomon com uma mão em seu braço.

—Deixe-a — Griffin disse em uma voz baixa e perigosa.

O olhar de Solomon se estreitou, seus lábios puxados para trás em um rosnado. —Por quê?

—Porque a magia dela está sendo liberada. Olhe para a ferida do seu irmão, se não acredita em mim.

Addison engasgou quando viu as veias pretas de Myles começarem a diminuir de tamanho e comprimento até que não houvesse nada além da ferida feia e purulenta. E então, mesmo isso começou a curar.

—Impossível, — Court murmurou.

Griffin estava sorrindo quando disse: —Não, apenas não é algo que qualquer pessoa possa fazer.

O sangue começou a escorrer das orelhas e nariz de Minka quando o último pedaço do ferimento de Myles desapareceu, terminando com uma gota de prata que também desapareceu. Minka relaxou, mas foi pega nos braços de Solomon antes que pudesse atingir o chão.

Solomon olhou para ela por um momento antes de gentilmente levantá-la e lentamente levá-la para dentro da casa, passando por Riley. Addison empurrou as mãos de Court e correu para Myles, mas ele não se mexeu. Kane e Court rapidamente o levantaram e o levaram para o sofá.

Assim que ele se deitou, Addison sentou-se no chão ao lado do sofá, com a mão na dele. Ela apoiou a testa em seu lado e simplesmente o abraçou, rezando para que ele acordasse.


*****


Estava escuro quando Myles abriu os olhos. Ele sorriu quando viu Addison dormindo enquanto ela se encostava no sofá. Myles foi cuidadoso ao se sentar, esperando dor, e como não havia nenhuma, ele olhou para o ombro para descobrir que estava curado. Havia uma grande cicatriz, mas nenhum ferimento.

Ele gentilmente pegou Addison em seus braços e a levou para o sofá. Enquanto ele se levantava, ele viu Minka e Griffin na varanda conversando em voz baixa. O interesse nos olhos de Griffin era óbvio, e Myles suspeitou que Minka pudesse estar interessado também.

Myles estava prestes a ir para a varanda quando avistou Solomon parado no canto da cozinha, olhando pela janela para Minka e Griffin. De repente, o olhar de Solomon se voltou para ele e ele sorriu.

—Eu serei amaldiçoado, — Solomon sussurrou.

—A magia de Minka funcionou então? — Perguntou Myles.

Solomon apontou para o ombro de Myles. —Obviamente. Addison não saiu do seu lado, nem comeu, o dia todo.

Myles veria que isso mudaria assim que ela acordasse. —Onde estão Court e Kane?

—Com a matilha de Moonstone.

Havia algo na maneira como Solomon disse as palavras, emparelhado com o olhar que lançou a Griffin, que fez Myles se perguntar o que estava acontecendo. Então ele ouviu a risada suave de Minka e viu a testa de Solomon franzir antes de ele se virar.

—Griffin e seus lobos disseram que ficariam de olho em Minka — afirmou Solomon.

Myles cruzou os braços sobre o peito. —Temos uma dívida com ela. Não acho que deveria ser apenas o bando de Moonstone. Acho que devemos a Minka verificar como ela está.

Solomon deu de ombros e encostou-se no balcão da cozinha. —Concordo.

Myles viu Griffin partir e aproveitou a oportunidade para falar com Minka. Ele saiu, fechando suavemente a porta de tela atrás dele. Não havia ar condicionado na casa velha, então as janelas e portas permaneciam abertas para permitir a entrada de qualquer brisa disponível.

—Você parece muito melhor — disse Minka com um sorriso quando o viu.

Ele se encostou nas estacas. —Por sua causa. Obrigado, Minka. Tenho uma dívida com você que não tenho certeza se algum dia vou pagar.

—Estou feliz que funcionou.

Ele observou o perfil dela por um momento enquanto ela olhava para o pântano. —Tem certeza de que é aqui que você quer ficar?

—Minha tia-avó fez isso. Vai funcionar enquanto meu clã achar que estou morta.

—Você ainda precisa comer. Você terá que ir até a cidade para comprar suprimentos. —

Ela o encarou e encolheu os ombros. —Vou ficar bem por um tempo. Ainda existem aqueles que vivem no pântano em que minha tia-avó confiava.

—Nós iremos verificar você quando pudermos.— Ele coçou a bochecha, desejando fazer a barba. —No entanto, o bando de Moonstone prometeu ficar de olho em você também.

Minka olhou para dentro da porta do sofá onde Addison dormia. —E quanto a vocês? O que acontece agora? Nós dois sabemos que Delphine não vai desistir. Há muitas bruxas por aí para ela usar.

—Não, — ele respondeu com um suspiro cansado. —Ela não vai desistir, mas espero que as outras facções nos vejam trabalhando com as bruxas. Isso poderia ajudar muito a convencer os outros a se juntarem a nós na derrota de Delphine.

—Cuidado com o meu coven. Eles não são confiáveis.

—Isso não é dito de todas as bruxas? — Ele brincou.

Não havia sorriso em seu rosto. —E fique de olho em Addison.

—Você não precisa se preocupar. — Ele olhou para dentro, seu olhar travado em sua mulher. —Eu não estava procurando alguém, e então ela entrou na minha vida. Agora, não posso viver sem ela.

—Então não faça. Vocês dois têm algo especial, algo que mais desejam com cada fibra de seu ser. — Minka se afastou da grade. —Agora, entre lá e diga a ela que você está bem.

Myles riu, mas seguiu seu conselho e entrou na casa. Ele se sentou na beira do sofá, maravilhado com sua mulher. Ele levantou uma mecha de cabelo loiro champanhe e girou ao redor de seu dedo.

Addison abriu um olho e viu Myles. Ela se sentou e jogou os braços em volta do pescoço dele, abraçando-o com força. —Você está vivo. Você está realmente vivo.

Ele a segurou firmemente. —Eu estou vivo.

—Eu pensei que tinha perdido você.

—Por um momento, pensei que tinha ido embora.

Ela fungou e enterrou a cabeça em seu pescoço. —Essa foi a noite mais assustadora da minha vida.

Myles se afastou e segurou o rosto dela com as mãos. —Addison, eu te amo com cada grama de meu ser, mas esta é minha vida. Eu arrisco tudo todas as noites....

—Eu sei agora.

—-Para ajudar aqueles que precisam. Se for demais....

—Não é.

—Então eu entendo. Não existe apenas a caça, é também a minha família de lobisomens. E, para que não esqueçamos, existe Delphine.

—Você está me ouvindo? — Addison exigiu quando ele puxou as mãos. —Eu sei que é perigoso. Eu sei que esta é a sua vida. Sei que você é um lobisomem e que, se algum dia tivermos filhos, eles também serão. Eu sei que há Delphine, e vampiros, bruxas, djinn e demônios. Eu sei de tudo isso, e ainda permaneço ao seu lado.

Ele a encarou por um minuto inteiro.

Addison balançou a cabeça quando ela olhou para ele. —Você salvou minha vida. Você salvou a vida de Minka. Quantas pessoas você e sua família salvaram, Myles?

—Eu não sei — disse ele com um encolher de ombros.

—Você carrega uma maldição que não é sua. Isso por si só é incrível — disse ela. —Mas então você vai além e protege o Bairro, com perigo de sua própria vida. Eu sei o que está lá fora agora. Nunca mais vou olhar para o bairro da mesma forma, mas saber que você e seus irmãos estão lá para proteger o máximo que puder me faz sorrir.

Ele era o bastardo mais sortudo que já andou na terra. Myles a beijou forte e rápido. —Eu nunca vou perder você de vista novamente.

—Bom — disse ela com um sorriso malicioso. —Demorou bastante.

—Posso ser um pouco lento às vezes, mas acabo mudando de ideia.

—Hm — disse Addison enquanto alisava as mãos em seu peito. —Acho que gostaria de ver mais da sua casa.

—Eu posso fazer isso acontecer.

Riley fez um barulho no fundo da garganta. —Sim por favor. Você está deixando todos nós doentes com essa conversa de amor.

Myles olhou e viu todos os três irmãos parados atrás de Riley e Minka. Addison corou e colocou a cabeça no ombro de Myles enquanto todos riam.

Hoje foi um bom dia. Os LaRues aprenderam a agarrar cada um com força porque nunca sabiam quando o próximo poderia chegar.


EPÍLOGO

Duas semanas depois...

 

Duas horas antes da abertura, Addison estava rindo quando ela e Myles saíram da cozinha em Gator Bait. Ela havia se mudado para a casa de Myles e, embora ele a pedisse todos os dias em casamento, ela ainda não dissera sim. Ela estava indo. Ela só queria um pouco mais de tempo com ele. Tudo aconteceu tão rápido, mas ela não tinha dúvidas de que era para ser dele.

—Então você roubou o material da Tulane e aprendeu a ser um contador dessa forma? — ela perguntou em descrença.

Myles colocou a caixa de rum no balcão e deu de ombros. —Tínhamos acabado de comprar o bar e cada um de nós tinha seus empregos. Sempre gostei de números, mas não da escola. Além disso, eu não queria atrapalhar meus irmãos indo para a faculdade.

—Como você sabe que não está bagunçando as coisas? — Ela perguntou enquanto pegava uma garrafa de rum da mão dele e subia no banquinho para estocá-la em uma prateleira.

—Eu contrato um CPA a cada poucos anos para verificar novamente.

Ela ergueu uma sobrancelha. —Então você é muito inteligente.

—Ele foi convidado a se juntar à Mensa,— Solomon gritou da cozinha.

Addison ficou boquiaberto. — Mensa? Seriamente? A International High IQ Society?

Myles encolheu os ombros e entregou-lhe mais duas garrafas.

—Diga-me novamente por que você não voltou e se formou?— Ela perguntou.

—Não interessado. Estaria repetindo coisas.

—Sim, mas você realmente teria seu diploma.

—É para isso que você serve.

Ela fez uma pausa em colocar a última garrafa no lugar. Então ela lentamente olhou para ele. —O que?

Ele a agarrou pela cintura e a jogou no chão. Mantendo as mãos sobre ela, Myles a trouxe contra ele. —Você tem mais um ano. Deixe-me ajudar a terminar. Podemos fazer a contabilidade juntos.

Era de sua natureza recusar qualquer esmola, mas ainda assim não era um abandono. Era do homem que ela amava, o homem com quem passaria o resto da vida. Como ela poderia recusar?

—Não responda agora — disse ele quando ela hesitou. —Pense bem.

Addison ficou na ponta dos pés e o beijou. —Eu te amo, Myles LaRue.

—E eu te amo, Addison Moore, embora deva ser Addison LaRue.

Ela riu enquanto eles se beijaram novamente. Eles foram interrompidos por um pigarro.

Addison virou a cabeça para ver um homem com cabelos escuros e olhos azuis brilhantes. Ela não precisava ser informada de que era um Chiasson. Ela podia ver a semelhança entre ele e Riley.

—Myles — disse o homem com um sorriso.

Myles estava sorrindo, a cabeça inclinada para o lado. —Bem, eu serei amaldiçoado. Se não for Beau Chiasson.

Os dois se encontraram no final do bar e se deram tapinhas nas costas em um rápido abraço. Addison viu a maneira como Beau olhou em volta e como Myles o observava.

—O que o traz à cidade? — Perguntou Myles.

Beau começou a responder quando virou a cabeça em direção à cozinha e viu Solomon, Court e Kane saindo.

Addis caminhou até Myles e entrelaçou a mão dela com a dele. Em suas semanas no Gator Bait, ela passou a valorizar a amizade de Riley. Riley ainda estava encontrando seu caminho, e Addison não pretendia deixar ninguém da família de Riley - incluindo os LaRues - forçar Riley a retornar ao Texas.

—Riley, — Beau finalmente respondeu. —Eu vim por Riley.

Kane cruzou os braços sobre o peito. —Por que você acha que ela veio aqui?

—Onde mais ela iria? — Beau respondeu com um sorriso torto. —Olha, eu só quero saber se ela está bem. Vin está perdendo a cabeça e Linc está pronto para começar a vasculhar a Louisiana por ela. Christian está em Austin esperando que ela esteja, mas eu conheço Riley melhor. Ela estava ferida.

—Eu estava muito certo, — Riley disse quando ela saiu da parte de trás.

Beau deixou escapar um suspiro de alívio. — Graças a Deus você está bem.

—Eu não vou voltar — afirmou Riley.

Beau ergueu as mãos. —Eu não estou aqui para fazer você. Eu pretendia, mas Davena endireitou minha bunda rápido o suficiente. Fizemos errado com você Riley. Vin não está pronto para admitir isso, mas é a verdade. Leve o tempo que precisar antes de retornar ao Texas.

Riley revirou os olhos. —Você não me ouviu? Eu não vou voltar. Não preciso voltar para o Texas, idiota. Eu já me formei!

Addison teve que se virar para não rir da expressão estupefata de Beau .

—Você realmente fodeu aí, primo, — Court disse a Beau.

Beau o ignorou e caminhou até Riley. Ele a puxou para seus braços e a abraçou. —Sinto muito, mana. Deixe-me fazer as pazes com você?

—Como?— ela perguntou.

—Não vou dizer a eles que te encontrei. Ligue amanhã e diga a Vin que está tudo bem.

Riley estava balançando a cabeça antes que ele terminasse. —Não, Vin e Linc vão procurar por mim.

—Você tem minha palavra de que não o farão. Olivia ainda está com raiva de Vin e não vai deixar que ele te force a fazer nada. Quanto a Lincoln, ele não vai fazer nada para aborrecer Ava novamente.

Riley olhou para ele por um momento antes de cheirar e limpar discretamente os olhos. —Já que você está aqui, você pode muito bem ficar e comer. Onde está Davena? Eu queria conhecê-la?

—Ela não estava pronta para vir para Nova Orleans ainda depois de sua última corrida com Delphine,— Beau disse enquanto tomava um banquinho no bar.

Myles olhou para Addison. —Ela deve se preparar para isso.

Os olhos de Beau endureceram. —O que aconteceu?

O resto dos LaRues se sentaram ao redor de Beau e começaram a contar tudo. Addison assistia a tudo com interesse. Se ela ia ser uma LaRue, isso significava que os Chiassons também eram parte de sua família.

—Do que você está sorrindo? — Myles sussurrou em seu ouvido.

—O fato de eu ter passado de filha única a uma família inteira .

Myles se virou para olhar para ela. —Você está dizendo o que eu acho que está dizendo?

—Sim — disse ela com um sorriso.

Myles soltou um grito e pegou Addison em seus braços. —Nós vamos nos casar! — Ele gritou.

Os dois foram cercados por Riley, Solomon, Court, Kane e Beau parabenizando-os. Addison não conseguia tirar os olhos de Myles. Ele era seu melhor amigo, seu amante, seu futuro marido e seu lobisomem.

A vida não poderia ficar melhor.

 

 

                                                    Donna Grant         

 

 

 

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