Biblio VT
Series & Trilogias Literarias
Conheça a irmã mais nova da Rare-Foure, Charlotte, cujo sorriso é contagiante.
Charlotte não teve nada de errado em sua feliz existência como confeiteira. Sempre sorrindo, adora trabalhar com as irmãs e adora as clientes. Além disso, ela guarda um segredo em seu coração.
O Visconde Jeffcoat vê a alegria desaparecer dos olhos da mulher mais atraente que ele conhece, tão doce quanto suas criações de Marzipan1. Tentando desesperadamente consertar qualquer erro que ela esteja enfrentando, ele espera cortejá-la e conquistá-la, apenas para descobrir o impensável.
Quando parece que tudo o que ela amava estará perdido - e por seu próprio descuido - Charlotte se volta para o homem que não prometeu nada a ela enquanto lhe dá tudo. Ela e Lord Jeffcoat podem superar a traição e ruína para construir uma vida de amor e risos?
Prólogo
Londres, 1879
Charlotte terminou de fazer pequenos pêssegos falsos de Marzipan, aplicando folhas de pasta de pistache em pequenos caules de cravo antes de colocá-los no prato da vitrine.
— Estou começando a achar que é uma confeitaria mágica, — disse ela, pensando na sorte de suas duas irmãs mais velhas.
— Você simplesmente esperou que o homem certo entrasse, e ele entrou.
— Isso é ridículo, — disse Beatrice, encostando-se no balcão e esticando as costas. — Trabalhei duro até mesmo para gostar de Greer antes de amá-lo.
Todas elas riram. Alguns consideravam a irmã do meio Rare Foure espinhosa, e Beatrice e o marido certamente percorreram um caminho acidentado ao se apaixonar.
— E eu conheci Henry pela primeira vez em uma carruagem, apontou sua irmã mais velha, Amity, servindo-se de um chocolate simples. — Mm, ela suspirou feliz.
— Isso pode ser verdade, — Charlotte concordou, — Mas primeiro, seu amado duque veio aqui, procurando especificamente por você.
— Por nossa irmã, de todas as pessoas! — Beatrice brincou, ganhando uma resposta indecorosa de Amity, que mostrou a língua.
Elas riram de novo.
— Em qualquer caso, — disse Amity, — Acho melhor você manter os olhos na porta.
Charlotte encolheu os ombros.
— Eu sempre faço. Afinal, vi os homens que uma temporada de Londres tem a oferecer e não fiquei impressionada com a franqueza. Por outro lado, se eu encontrar um homem fora da loja, não o descartaria totalmente. — Especialmente um em particular.
— E quanto à magia da Rare Confeitaria? — Beatrice perguntou ironicamente.
Dando de ombros, Charlotte pensou em Lionel Evans e quantas vezes ela o convidou para ir à loja.
— Não posso simplesmente esperar que um raio caia três vezes, como dizem.
— Eles dizem isso? — Amity perguntou, indo em direção à cortina e à sala dos fundos, onde ela ainda tinha que limpar sua área de trabalho.
— Algo assim, — Charlotte disse.
Beatrice balançou a cabeça.
— Eu acredito que o ditado é mais como 'um raio nunca atinge mais de uma vez no mesmo lugar.'
— Mas funcionou, — Charlotte persistiu, — para vocês duas.
— O amor é como um raio? — Amity se perguntou. As três se encararam por um momento.
Então a campainha da loja tilintou. Com os olhos arregalados, todos se viraram na expectativa para ver um homem mais velho com uma bengala e uma cartola antiga. Isso os fez se dissolverem em um ataque de riso.
— Vá em frente, — disse Beatrice, segurando a cortina aberta para que ela e Amity pudessem desaparecer por trás. — Espere pelo seu Príncipe Encantado.
Capítulo Um
Os dias que antecederam o Domingo de Páscoa foram agitados, e Charlotte teve a impressão de que todos os londrinos haviam decidido comprar seus doces ao mesmo tempo e pouco antes de fechar! Como de costume, ela estava oferecendo amostras e cuidando das vendas no balcão, enquanto suas irmãs faziam chocolates e bandejas de caramelo na sala dos fundos. Os chocolates em forma de coelho de Amity e seus ovos de chocolate recheados com fondant cremoso, muito maiores do que os ovos de chocolate sólidos do Sr. Cadbury, estavam vendendo bem, assim como suas próprias criações de Marzipan em forma de frutas.
Durante toda a semana passada e até a noite de sábado, quando tudo ficaria quieto como peixes, sua mãe, Felicity, também estava na Rare Confeitaria lidando com clientes. Para a irmã mais nova da Rare Foure, esses foram os melhores momentos, quando estavam todos juntos e as horas corridas voavam. Além disso, ela gostava de como as pessoas ficavam felizes quando provavam um doce pela primeira vez e descobriam que era o seu favorito.
Charlotte nem se importava quando os clientes ficavam para conversar sobre seus planos para o dia de festa simplesmente porque, como suas irmãs costumavam dizer, era fácil conversar com ela.
Hoje, porém, quando uma senhora tagarela se demorou para oferecer os melhores votos da festiva semana da Páscoa, os que estavam atrás ficaram inquietos e mal-humorados. Se Charlotte conseguisse, ela jogaria doces na cabeça daqueles que se pressionavam contra o balcão para alcançar todos que esperavam na fila. Ninguém ficava chateado ao comer doces. Pelo menos, essa tinha sido sua experiência em seus dezenove anos, treze deles passados na confeitaria, assistindo e aprendendo ou servindo.
De repente, no meio da cena já caótica vieram três nobres, o marido de sua irmã mais velha, o duque de Pelham, e seus dois melhores amigos, o às vezes sorridente Lorde Waverly e o bastante sério Lorde Jeffcoat. Vestidos de maneira impecável e mais altos do que seus clientes habituais, os homens causaram sensação e não poderiam ter escolhido um momento mais agitado para fazer uma visita.
A última vez que ela os viu todos juntos foi em um baile à fantasia para 1.400 foliões em Marlborough House no ano anterior. Mesmo isso parecia menos frenético do que sua loja na Bond Street, com clientes exigindo latas disso e daquilo.
Com a dignidade e autoridade do mais alto nível de nobre, o duque cortou a multidão com evidente propósito e deslizou entre as bancadas. Depois de cumprimentar a mãe de sua esposa e acenar para Charlotte, ele desapareceu atrás da cortina de veludo azul que separava a frente da loja da sala de trabalho. Aparentemente, ele estava lá para visitar sua esposa, que agora carregava seu primeiro filho.
A mãe de Charlotte lançou-lhe um olhar questionador, mas continuou a pesar o caramelo na frigideira de sua balança de cobre para o cliente à sua frente. Por sua vez, Charlotte entregou a outra mulher um saco de chocolates, rapidamente pegou o pagamento, que ela jogou querendo ou não na caixa, e virou-se para a próxima da fila. Ao fazer isso, ela captou o olhar observador de Lorde Jeffcoat.
— Robin Hood, — ela cumprimentou em voz alta sobre o barulho. O visconde de cabelos escuros parecia muito bem para a bola em uma túnica e meia longa. Embora seu coração estivesse empenhado em outro lugar, ela apreciava suas pernas e braços bem torneados. Tampouco fora o primeiro encontro agradável, pois ela jantara certa vez como sua companheira na residência ducal de St. James's Place antes de o duque de Pelham se casar com sua irmã.
Embora um pouco solene para seu gosto, as habilidades de conversação de Lorde Jeffcoat a mantiveram entretida a noite toda.
Enquanto Lorde Waverly, que ninguém jamais acusou de ser sombrio, piscou escandalosamente para ela, Lorde Jeffcoat tirou o chapéu em saudação.
— Saudações do dia, princesa turca.
Ela sorriu ao se lembrar de sua fantasia colorida e sedosa naquela noite. Ela tinha sido uma princesa exótica. Agora, sentindo-se um pouco quente, com mechas de cabelo grudadas nas têmporas, Charlotte não se sentia uma princesa, turca ou não.
— Eu disse que quero um quilo de caramelo, — uma voz irritada trouxe sua atenção de volta para seu dever. — E eu estou esperando.
Com autoconfiança, como ela havia perguntado centenas de vezes, ela ofereceu:
— Simples ou com nozes, senhora?
O rosto da mulher se enrugou.
— Claro, claro! Qualquer outra coisa não é natural.
Charlotte não pôde deixar de sorrir. Essa observação a fez rir e enquanto empacotava meio quilo do caramelo amanteigado de melaço de Beatrice, ela esperava se lembrar de contar a ela. Que engraçado!
— Você está rindo de mim? — Perguntou a mulher com uma cara que transformaria hidromel em vinagre.
— Apenas tendo pensamentos alegres, — Charlotte respondeu rapidamente. — Fácil de fazer quando nos aproximamos da Páscoa. Você gostaria de uma amostra? — Ela quase acrescentou: Talvez um pouco do caramelo anormal? Mas manteve isso para si mesma.
— Só para você me cobrar um extra, sem dúvida, — disse a mulher. Ela era obviamente uma cliente nova e azeda nisso.
— Totalmente gratuito, eu lhe garanto. Por favor, escolha algo. — E se apresse, pensou Charlotte. A multidão por trás estava ficando cada vez mais impaciente.
Mesmo assim, parecendo suspeita, a mulher apontou para uma das flores de Marzipan de Charlotte polvilhada com cacau em pó. Usando uma pinça para prendê-lo, ela o colocou rapidamente em um quadrado de papel. Eles evitaram seus pratos de porcelana delicados habituais para as amostras daquela semana, pois o risco de quebrá-los era muito grande, sem mencionar a necessidade constante de lavá-los.
Pegando a guloseima como se a oferta pudesse ser rescindida, a mulher enfiou na boca com uma só mordida. E então, como Charlotte sabia que aconteceria, um milagre aconteceu. A cliente ranzinza mastigou e quando a delicada doçura estourou em sua língua, seus olhos ficaram vidrados com um olhar distante de felicidade. E então, ela sorriu.
O resto da transação, a troca da lata de caramelo por moedas, ocorreu sem problemas.
— Obrigada, senhorita, — disse a mulher, parecendo totalmente acalmada. — Voltarei em breve. Ela se afastou do balcão e pareceu flutuar para fora da loja.
Charlotte adorava quando isso acontecia. Uma risada alta chamou sua atenção. Olhando para cima, ela viu o visconde conversando com Lorde Waverly gesticulando, fazendo a maior parte da conversa e todos rindo. Lorde Jeffcoat, no entanto, estava claramente olhando em sua direção. Quando ele pegou seu olhar, ele acenou com a cabeça. Não tendo certeza do que fazer com isso, ela acenou com a cabeça em retorno.
— Senhorita, por favor, senhorita, — veio uma voz mais jovem, e Charlotte teve que se inclinar mais sobre o balcão para ver uma criança, talvez oito anos, com cabelos cor de areia, malvestida com um casaco remendado, mas com aparência limpa, no entanto.
— Posso comer um porco de Marzipan? — Ele perguntou.
— Ora, sim, é claro. — Era política de sua família acomodar os cidadãos mais jovens, mesmo aqueles que queriam apenas amostras. Seus pais nunca haviam esquecido que os doces eram apreciados principalmente pelas crianças, e garantiram que suas filhas não deixassem os filhos de Londres ficarem sem eles.
Voltando-se para a vitrine de vidro, ela usou a pinça para arrancar uma de suas últimas criações suínas com sua pele rosada de suco de cereja. Não era a comida usual da Páscoa, mas seus doces corpos redondos e o redemoinho cuidadosamente feito de uma cauda de Marzipan os tornavam populares. Colocando-o em um saco de papel branco alvejado com — Rare Confeitaria — estampado em tinta azul safira, ela se virou e descobriu que seu jovem cliente havia desaparecido.
Seu olhar primeiro voou para os amigos do duque, pois, de pé no meio dos clientes, eles eram as pessoas mais intrusivas da loja.
Lorde Jeffcoat ergueu uma sobrancelha escura e também uma mão antes de apontar para a parede oposta. Para seu alarme, o rapaz estava sendo espancado por uma mulher vestida com esmero e a quem Charlotte havia vendido recentemente meio quilo de chocolates.
— Você não pertence a este lugar, — a mulher ergueu a voz com escárnio, um dedo elegantemente enluvado praticamente tocando o nariz do menino. — Pelo que eu sei, você tem pulgas.
O menino deu um passo para trás, os olhos arregalados, parecendo não zangado como Charlotte esperava, mas envergonhado.
— Você! — Charlotte gritou de seu posto atrás do balcão, na esperança de pôr fim a esse espírito mesquinho. A senhora bem vestida a ignorou.
— Você aí, — Charlotte tentou novamente, mas ainda assim, a mulher tinha mais a dizer ao menino.
— Imagine alguém como você neste bom estabelecimento. Você sabe o que isso significa, estabelecimento? Significa um lugar onde os meninos de rua não pertencem.
Sem pensar, Charlotte assobiou, uma habilidade que seu pai lhe ensinou, que enervava algumas pessoas por seu volume estridente, mas geralmente conseguia chamar a atenção de alguém.
A loja inteira ficou em silêncio e todos os olhos e cabeças se voltaram para ela, incluindo os de sua mãe. Felicity definitivamente odiava o som.
Num piscar de olhos, o duque, Beatrice e Amity apareceram da sala dos fundos, pois sabiam que o som de seu apito proibido quando os clientes estavam na loja só poderia significar problemas.
Charlotte ignorou a todos, exceto a mulher, agora olhando estupefata para ela, e o menino, que se encolheu contra as prateleiras de latas vazias e brilhantes que esperavam para serem preenchidas por uma seleção do cliente.
— Estou falando com você, — Charlotte disse no silêncio.
A mulher franziu a testa, afastou-se do menino e deu um passo em direção ao balcão, embora não pudesse se aproximar no meio da multidão.
— Já tenho minhas compras.
— Eu sei, — Charlotte disse, seu tom gentil como sempre, mas firme. — E agora, devo pedir-lhe que saia, pois está perturbando nossos outros clientes.
Um suspiro coletivo ocorreu com a intenção de suas palavras.
— Você quer dizer...? Você esta falando...? Bem eu nunca...! — E a mulher abriu caminho em direção à porta.
Lorde Jeffcoat chegou antes dela e segurou-a aberta.
— Ela foi embora com mais facilidade do que eu esperava, — disse Charlotte à mãe, que a olhou em silêncio.
Então Felicity suspirou audivelmente, balançou a cabeça levemente e voltou sua atenção para os clientes.
— Quem é o próximo, por favor? — O tumulto recomeçou em segundos.
O garoto estava prestes a sair também, mas lançou um olhar na direção de Charlotte. Ela sorriu, apontou o dedo para ele e ergueu a sacola. Ele mordeu o lábio, mas se aproximou do balcão, tendo que se espremer entre outros clientes.
— Aí está, querido, um porco de Marzipan.
— Eu não estava pedindo nada de graça, senhorita. Eu economizei. É para minha mãe. — E ele enfiou a mão no bolso e tirou três moedas, e seu coração apertou em seu peito. Nem mesmo um centavo inteiro.
Sentindo que o rapaz não queria receber esmolas, Charlotte contou-lhe uma pequena mentira inocente:
— Você não precisa pagar, a menos que queira escolher algo mais. Além disso, cada cliente recebe uma amostra gratuitamente. — Ela evitou usar a palavra grátis.
— Sério, senhorita? — Seus olhos castanhos pareciam encantados, mas duvidosos.
— Verdadeiramente. O que você gosta?
— Bem, eu gostaria de um pedaço de caramelo, senhorita, para meu irmão e irmã. Podemos cortá-lo pela metade. Eles ficariam muito satisfeitos.
— Muito bem, mas como o caramelo pode esmagar o porco, deixe-me colocá-lo em um saco separado. — Sem que ele percebesse, ela separou dois pedaços de cada um, o que tinha nozes e o caramelo coberto de chocolate. As seleções não naturais!
— E para sua amostra, jovem senhor?
Suas bochechas ficaram rosadas com sua forma de tratamento.
— Você vai colocá-lo na bolsa também, senhorita?
Ela balançou a cabeça, sabendo que o garoto pretendia desistir.
— As amostras devem ser comidas aqui, para que eu possa ver se você gosta.
— Se essa é a regra, senhorita, — disse ele, novamente parecendo feliz com as regras dela. Ela não conseguia se lembrar da última vez que ela teve que convencer uma criança a pegar um doce dela.
— Que tal um chocolate? — Ela ofereceu.
— Obrigado senhorita. O que você achar melhor.
Ela conseguiu manter o rosto sério em seu tom sério. Escolhendo um grande bombom de fondant de chocolate puro e cremoso revestido com chocolate puro, ela decidiu usar um de seus pratos do tamanho de pires de porcelana em vez do papel e entregou a ele.
Quando viu o tamanho da confeitaria, engoliu em seco, olhou para ela e depois de volta para o chocolate. Ela praticamente podia ver sua água na boca. Erguendo o bombom, ele o examinou antes de mordê-lo.
Ah, ela pensou, um menino que sabe como fazer algo durar. Por seu largo sorriso enquanto o saboreava, ela escolheu bem.
— O que você acha?
— Acho que é a melhor coisa que já provei em toda a minha vida, senhorita. — Ele colocou o resto entre os lábios.
Ela acenou com a cabeça, feliz por não ter dado a ele Marzipan em vez disso simplesmente por orgulho de sua própria criação. A maioria das crianças torceu o nariz para a pasta de amêndoa cremosa quando poderia comer chocolate ou caramelo.
— Parece feitiçaria, — ele continuou, — o jeito que derreteu na minha língua. O exterior se dissolveu antes do interior. Juro, senhorita, não havia apenas um sabor, mas muitos.
Ela fez uma pausa. Eles deram centenas de amostras por ano, mas ela não conseguia se lembrar da última vez que teve um garoto lá sozinho, tão bem-comportado e tão articulado. A maioria das crianças agarrava qualquer coisa que ela entregava e comia sem discrição.
Mas este rapaz... havia algo sobre ele.
— Charlotte, — sua mãe chamou sua atenção. A fila de clientes estava fora da porta. De repente, ela teve uma ideia.
— Você está na escola? — Ela perguntou.
— Não, senhorita, — ele disse, então deu de ombros.
Ela esperava que ele quisesse dizer devido à semana da Páscoa e não porque ele não frequentasse, pelo menos, uma das chamadas Escolas Ragged de Londres, se não algo melhor.
— Você tem um emprego? — Ela persistiu, pois, mesmo os mais jovens frequentemente eram aprendizes de vários ofícios especializados ou já eram operários, escravos de quartos escuros com máquinas o dia todo.
— Não, senhorita. Nada a ser encontrado em lugar nenhum por causa da temporada. Estarei procurando novamente depois do Domingo de Páscoa.
A Lei do Ensino Fundamental, que foi aprovada com muito barulho três anos antes, poderia causar um problema.
— Quantos anos você tem? — Se ele tivesse menos de dez anos, como parecia, era ilegal contratá-lo de qualquer maneira.
— Tenho doze anos, senhorita.
Meu Deus, ele era pequeno para sua idade. Ele claramente precisava de algumas refeições saudáveis e não apenas de doces.
— Você voltaria amanhã, às oito horas antes de abrirmos ou às seis horas depois de fecharmos?
— Para quê, senhorita?
— Um trabalho se você estiver disposto.
Seu rosto se iluminou de entusiasmo.
— Sim senhorita. Logo de manhã, estarei aqui. Obrigado senhorita. Obrigado. — Tão emocionado, ele quase saiu correndo da loja sem suas compras, mas ela conseguiu entregar as duas sacolas para ele e perguntar seu nome.
— Percy, senhorita. É Edward Percy.
Então Lorde Jeffcoat, tendo permanecido parado junto à porta movimentada, abriu-a e deixou o menino sair e uma brisa fresca de abril entrar. Mais uma vez, o olhar do visconde encontrou o dela. Charlotte não tinha certeza se ele poderia ter ouvido seu discurso com o jovem Sr. Percy, mas ele a olhou com o que ela agora percebeu que eram olhos bastante atraentes e pensativos, quase tão azuis quanto os de sua irmã Bea.
DEPOIS de trabalhar um quarto de hora após o fechamento, Charlotte ficou aliviada quando sua mãe finalmente anunciou que o dia terminara. Felicity já havia dito a Lorde Jeffcoat para virar a placa como se ele fosse um empregado.
— E não deixe mais ninguém entrar, — ela ordenou, o que fez Lorde Waverly perguntar: — Devo começar a varrer agora, senhora?
Os que permaneceram na loja riram. O duque de Pelham veio da sala dos fundos com Amity, que estava crescendo com seu primeiro filho, e Beatrice, ambos já usando capas, luvas e chapéus.
Enquanto atendia os últimos clientes, Felicity perguntou:
— Para onde vai minha filha duquesa irá a noite?
Charlotte não pôde deixar de sorrir. Sua mãe valorizou a grande fortuna de Amity em se casar com um duque e, especialmente, por amor.
— Nós estamos indo para a casa da duquesa para a ceia, — disse Amity, referindo-se a sua mãe em lei. — Todos nós, — ela acrescentou, observando os outros dois homens.
— Eu não, — Beatrice disse. — Vou para casa, para o meu americano, caso alguém se interesse.
— Ah, vamos, — Lorde Waverly falou, com um tom exagerado, fazendo-os rir. — E você, Srta. Rare Foure?
Charlotte ainda achava engraçado como ela mudou para um endereço formal depois que Beatrice se casou no outono anterior. Ela costumava ser simplesmente Miss Charlotte.
— Talvez você queira nos acompanhar, — Lorde Jeffcoat falou inesperadamente, — Se estiver tudo bem com Pelham, presumindo que haja espaço na mesa da viúva.
Charlotte se assustou com o convite de uma fonte tão inesperada. O visconde já havia se dirigido a ela duas vezes no espaço de meia hora.
— Minha cunhada sabe que ela é sempre bem-vinda, — disse o duque. Todos eles esperaram, olhando para ela.
Lorde Jeffcoat e o resto deles estavam sentindo pena dela? Afinal, ela foi a última irmã a ser arrancada da videira por ser solteira.
Ela sorriu para todos eles.
— Esta noite é minha aula de arte na Burlington House, e eu nunca perco. Mas obrigada por me convidar. — Ela dirigiu essa observação ao seu cunhado e aos dois viscondes. — Na verdade, eu devo me apressar.
Normalmente, ela teria deixado a Rare Confeitaria nas mãos competentes de um de seus familiares e corrido rua abaixo. No entanto, com as multidões enlouquecidas de Londres em busca de doces de Páscoa, Charlotte teve que ficar.
— Vá, querida, — disse a mãe. — Espero que não seja tarde demais.
Atrasada ou não, Charlotte pretendia ir para a academia. Tudo o que ela precisava fazer era caminhar um pouco até que a New Bond Street se transformasse em Old Bond Street e virar à esquerda em Burlington Gardens. Se o tempo estivesse ruim ou terrivelmente frio, ela passaria pela passagem coberta de lojas conhecida como Burlington Arcade. Se o tempo estivesse bom ou se ela estivesse com pressa como estava naquela noite, ela dispararia para trás da arcada para chegar mais rapidamente à Royal Academy of Art, localizada no edifício principal na extremidade norte do pátio da Burlington House.
Entrar na estimada academia e assistir a uma aula de pintura foi a coisa mais emocionante que ela fez durante toda semana, duas vezes por semana. E não apenas porque costumava encontrar pintores no saguão ou ver magníficas obras de arte recém-exibidas, às vezes diante do público. Não, foi por causa de um colega.
No último ano, oito vezes por mês, ela olhara sonhadora para Lionel Evans, enquanto ele desenhava e pintava, e enquanto ela fazia o mesmo com entusiasmo e grande distração. Vê-lo foi o ponto alto de sua semana, e ela abordou cada aula com grande expectativa. Sua irmã, Viola, um tanto boba e mimada, mas afável, estava sempre pronta para conversar mais do que esboçar, e quando voltava sua atenção para o desenho ou a tela, era ainda menos talentosa do que Charlotte.
Ocasionalmente, Lionel participava da conversa e Charlotte sempre fazia questão de estender o convite para que visitassem a loja. Ele até concordou em fazer isso. No entanto, quando Viola apareceu em duas ocasiões, ela estava sozinha.
Uma vez, sentindo-se um pouco tímida, ela trouxe uma lata de seu Marzipan em forma de fruta para a classe. A professora e os outros alunos as proclamaram pequenas obras de arte inteligentes, mas Lionel não se importou com o gosto.
Mesmo assim, depois da aula, enquanto Viola falava com o professor, Lionel iniciou sua primeira conversa particular de verdade.
— Você tem um talento para escultura, Srta. Rare Foure. Por que você se preocupa em pintar?
Ela supôs que isso significava que ele não achava que ela tinha talento para a pintura, o que era perfeitamente verdade. Mas ela dificilmente poderia dizer a ele que fazia isso simplesmente para estar perto dele na aula.
Em vez disso, com a língua presa, ela deu de ombros, mas naquela noite, quando estava sozinha, ela foi capaz de saborear o fato dele finalmente ter se interessado por ela. Duas vezes por semana desde então, eles conversaram mais. E então, uma vez, Viola estivera ausente devido a uma enxaqueca, e Lionel demorou-se depois da aula enquanto Charlotte juntava suas coisas. Nos corredores sagrados da academia, que também eram silenciosos e sombreados naquela época, ele se inclinou e deu um beijo furtivo, esplêndido e aterrorizante nela!
Depois disso, ela esperava ansiosamente por cada aula com uma expectativa emocionante, geralmente terminando com suas esperanças se não frustradas, então definitivamente diminuídas. Viola estava sempre lá entre eles, conversando, até alguns meses antes, logo após o ano-novo. Naquela época, Viola parou de frequentar sem nem se despedir. Lionel disse que encontrou outro passatempo nas aulas de flauta.
Charlotte se sentiu culpada por estar satisfeita e sabia que era errado estar animada por não ter mais Viola presa firmemente entre eles. E naquela noite, depois da aula, Lionel a tomou nos braços e a beijou profundamente pela primeira vez. Seus dentes estalaram e houve uma troca inesperada de saliva. Mas ela estava nos braços de Lionel. Finalmente! Certamente, ele enviaria um convite pelo correio matinal para acompanhá-la a algum lugar, como um concerto ou peça.
Mas ele não fez. Algumas noites depois, quando a próxima aula se reuniu, demorou tanto para acabar que ela pensou que os relógios tivessem parado em Londres.
— Você sabe onde eu moro, não sabe? — Ela perguntou a ele com um grau de timidez que não era seu, mas temendo que se ela o pressionasse, ele voltaria a ser a pessoa reservada que ele tinha sido por mais de um ano.
— Sim, — disse ele. — Shh. E ele começou a beijá-la, encostando-a na parede, o que era frio nas costas.
— Baker Street, — disse ela quando ele ergueu a cabeça com o cabelo comprido e claro, fora da moda, amarrado com uma tira, como se fosse de outro século.
— E você sabe onde eu trabalho, — ela o lembrou.
— Hmmm, — disse ele, baixando a boca para a dela novamente. — Naquela loja de doces.
Ela cedeu às sensações da boca de um homem queimando a sua. Ou melhor, explorando seus lábios de maneira quente e úmida.
No final de cada aula do último mês, ele encontrou uma maneira deles ficarem para trás. A única vez que ele não tinha, ela teve que voltar para pegar sua luva — caída, encontrando Lionel no corredor do andar de cima, parecendo irritado. Sua irritação e sua carranca desapareceram assim que a viu.
— Eu pensei que você tinha ido embora. — Seu tom mal-humorado demonstrou seus sentimentos por ela.
Ela quase disse:
— Nunca! — Na verdade, porém, ela não conseguia deixar de se perguntar para onde isso estava indo. Se seus pais soubessem das liberdades que Lionel tomava, eles proibiriam Charlotte de ir às aulas. E, por sua vez, ela queria que ele declarasse sua intenção de convidá-la para sair, de fazer algo com ele além de pintar ou beijar. Certamente, ele tinha interesse em vê-la à luz do dia, em passear pelo parque ou mesmo em ir ao teatro.
Talvez ele se declarasse seu pretendente naquela noite!
Correndo para a sala dos fundos sob tantos olhos vigilantes, ela pensou que suas bochechas ficariam vermelhas como morangos de culpa por seus pensamentos inadequados. Vestindo sua capa cinza- clara de primavera, ela prendeu o chapéu no lugar e calçou as luvas. Depois de pegar sua bolsa com seu material de arte, ela emergiu para encontrar todos ainda lá, conversando com Felicity.
Charlotte falaria com sua mãe mais tarde, quando tivesse tempo sobre a oferta que fizera a Edward Percy. Desejando a todos um bom dia, ela caminhou em direção à porta.
Lorde Jeffcoat permaneceu presente e a manteve aberta para ela. Seus olhos se encontraram, e ele deu-lhe um aceno amigável.
— Fique bem, Srta. Rare Foure.
— E você também, meu lorde, — ela respondeu, ciente de ter que passar por ele. Ela até sentiu o cheiro de sua colônia, virando o rosto em direção a ele por um breve momento antes de sair para a luz fraca.
Enquanto corria em direção à academia, desejando que já estivesse lá e não perdesse um minuto da companhia de Lionel, estranhamente em vez de antecipar a noite que se aproximava como de costume, ela estava se lembrando do aroma incrivelmente inebriante de Lorde Jeffcoat, um cheiro de pão de gengibre esfumaçado com um toque de rum. Seu pai, que ganhava bem com açúcar, costumava tomar rum das Índias Ocidentais em seu escritório e, naturalmente, Charlotte o provava com um pouco de limão.
Muito incomum e delicioso, ela meditou, então balançou a cabeça para limpar a imagem do visconde. O que diabos havia acontecido com ela?
Capítulo Dois
Lorde Charles Jeffcoat sabia que ele estava em apuros. Embora ele tivesse estado na companhia de Charlotte Rare Foure em várias ocasiões e até mesmo feito parceria com ela na mesa de jantar de Pelham quando seu amigo ainda estava perseguindo a filha do conde honorável dois anos antes, ele não tinha certeza se realmente a tinha visto antes.
No baile de fantasias em Marlborough House sete meses antes, ela parecia bonita, é claro, em um traje turco colorido, com uma saia azul de comprimento médio exibindo suas pantalonas de seda verde e amarela de cores vivas, além de permitir um toque de seus tornozelos. Junto com todos os homens na sala, ele também notou seu corpete escarlate decotado a propósito do traje, é claro, mostrando seus seios bem torneados. Ele não foi capaz de esquecer a visão dela.
Além de sua aparência, no entanto, cada vez que se encontravam, ele a considerava uma pequena luz entre as orelhas, olhos arregalados para tudo, exultante com a sala de jantar do duque, emocionada com a recepção do casamento de sua irmã, e até mesmo girando como um pião para exibir suas sedas no baile à fantasia. Ele a considerava praticamente uma criança, exceto por seus atributos distintamente femininos, e também um pouco vaidosos.
Hoje, vendo-a lidar com clientes difíceis e testemunhando sua extrema bondade para com o menino, ele percebeu que Charlotte era uma mulher adulta com algo muito especial nela. Ele dificilmente poderia acreditar em si mesmo convidando-a espontaneamente para a festa da duquesa viúva na noite anterior, mas ele não queria dizer adeus.
E Waverly nunca o deixaria esquecer isso. Charles tentou ignorar as provocações do amigo durante toda a noite e seus murmúrios baixinho:
— Venha jantar, vendedora atrevida, oh, venha, por favor! — Charles quase o esfaqueou com um garfo no final do curso de relevés.
Agora, à luz do dia, sentado a uma mesa da biblioteca de Lincoln's Inn da qual fazia parte e havia recebido seu treinamento, Charles tinha dificuldade em manter seus pensamentos na lei e longe da impressionante Charlotte. Tirando os óculos, ele esfregou a ponta do nariz.
Ela não fazia seu tipo habitual, com certeza. Ele acompanhou algumas mulheres nos últimos anos, uma neta de um duque cabeça forte, irmã de um baronete de língua azeda e, uma vez, uma princesa espanhola a quem ele quase deu seu coração, mas ela ansiava por lar e ele era um inglês por completo.
Na última temporada, ele evitou os eventos de debutantes e esteve principalmente ocupado estudando direito e a irmã do baronete. A língua afiada dela acabou cortando-a de uma vez por todas, e ele descobriu que preferia o silêncio de sua própria companhia, a solidão de seus livros de direito ou a diversão irreverente e alegre da Waverly. Além disso, ele foi chamado para a Ordem dos Advogados em Michaelmas e agora poderia exercer a profissão.
Tirando uma nova caneta do bolso, ele virou a página em seu bloco de papel, colocou os óculos e voltou a rabiscar notas sobre seu último caso. Ao contrário de Pelham e Waverly, Charles sabia que seu futuro não estava no Parlamento, mas nos tribunais. Se seus amigos aprovassem os projetos de lei, Charles queria que as leis do país fossem respeitadas, argumentando cada caso e demonstrando o direito dele. Eventualmente, talvez ele possa até se tornar um juiz.
— Por que não? — Ele se perguntou desde que não permitisse que uma distração como a tentadora Srta. Rare Foure ficasse em seu caminho. Naquele momento, ele percebeu que havia desenhado um par de olhos de cílios longos e um conjunto de lábios carnudos no topo de uma página que já deveria estar preenchida com anotações.
Por outro lado, um homem deve ter equilíbrio em sua vida. Ela pode ter estado ocupada na noite anterior, mas pode estar aberta para ele acompanhá-la a um concerto ou peça. Ele supôs que a única maneira de saber era perguntando a ela.
CHARLOTTE MAL PODERIA se arrastar para o trabalho, caminhando com os pés lentos pela New Bond Street. Ela teria pedido licença do trabalho devido à dor de cabeça, o que era verdade, e ficado em casa se não amasse tanto sua família. Ela simplesmente não podia deixar sua mãe e suas irmãs na mão em mais um dia agitado da semana de Páscoa.
Na verdade, ela saiu para a loja mais cedo do que de costume para evitar qualquer discussão durante o café da manhã. Mesmo assim, ela caminhou com relutância, sem vontade de estar em nenhum lugar em particular. Com a cabeça baixa, olhando para o pavimento, Charlotte notou pela primeira vez como era cinza. Tudo em Londres era cinza de fato. Os prédios, o céu acima, seu reflexo nas janelas, as outras pessoas vindo em sua direção ou passando por ela. Além disso, ela parecia ter ganhado muito peso durante a noite. Não apenas seus membros estavam pesados, seu coração parecia uma pedra enorme em seu peito. Além de tudo isso, seus olhos tinham a consistência de ovos mimados cozidos demais, enquanto ela passava mais a noite chorando do que dormindo.
Mais uma vez, como inúmeras vezes nas últimas horas, seus pensamentos se voltaram para o rosto triste de Viola quando Charlotte entrou no estúdio de arte cinco minutos atrasada.
Em vez de ficar chocada por Viola ter voltado para a aula, ela olhou para além dela para procurar Lionel. Na noite anterior, porém, ele estivera ausente de seu lugar, apenas um banquinho vazio e um cavalete. Então ela realmente notou Viola. Algo terrível aconteceu e seu coração se apertou. Lionel estava ferido? Tomado doente?
— O que há de errado? — Ela perguntou, mal conseguindo respirar, não tinha certeza se queria ouvir.
— É meu irmão. Ele se foi. — Uma lágrima escorreu pela bochecha de Viola.
Ignorando o fato de que seu professor e todos os outros alunos estavam ouvindo, Charlotte engasgou.
— Foi? Onde? Por quanto tempo?
— Para o continente. Para sempre, eu acho. — Viola enxugou os olhos com um lenço. — Ele fugiu com a modelo.
— Minha modelo, — o professor interrompeu, escárnio em seu tom.
Charlotte trouxe à mente a mulher que muitas vezes se sentava no meio de seus cavaletes, seu cabelo loiro sobre um ombro em uma cascata de cachos desordenados ou em uma imitação de estilo grego, e seu corpo atraente envolto em qualquer tipo de material, às vezes veludo, às vezes seda. Às vezes, o professor dava a ela um vaso para segurar, um espelho ou até mesmo uma fruta.
Em todas as horas que Charlotte passou observando Lionel, ela nunca o notou prestando atenção especial ao modelo. Nem uma vez. Ela mesma nem sabia o nome da mulher.
— Senhorita Rare Foure, — o professor disse a Charlotte, seu tom permanecendo irritado, — Você poderia modelar para nós esta noite?
Ela recuou, ainda chocada com a saída repentina de Lionel. A enormidade de sua traição caiu sobre ela como uma chuva repentina de Londres. Por que ele a beijou se não para começar algo maravilhoso?
— Senhorita Rare Foure, — o professor incitou novamente.
Mesmo que ela não estivesse à beira das lágrimas para igualar a de Viola, ela não tinha intenção de se exibir no meio dos estudantes de arte. Sua mãe nunca perdoaria tal vulgaridade.
— Não, obrigada, — ela disse. — Eu não vou ficar.
O professor suspirou e perguntou a outra aluna do outro lado da sala, e todo o foco foi embora.
— Você vai ficar? — Ela perguntou a Viola.
— Não, vim apenas para te dizer, — disse ela, gesticulando com as mãos para mostrar que não tinha suprimentos consigo. — Quando você não chegou na hora, pensei que talvez você tivesse ido com ele e eu me enganei sobre a modelo.
Charlotte estremeceu novamente com a ideia. Ela nunca faria algo tão precipitado!
Enquanto colocava a chave na fechadura da Rare Confeitaria, o coração de Charlotte doeu ao pensar em Lionel e sua modelo loira pegando o trem da estação de Charing Cross e depois a balsa do outro lado do Canal para começar uma nova vida. Viola disse que ele deixou um bilhete para os pais afirmando que queria praticar sua arte entre os antigos mestres e as antigas ruínas da Europa.
Empurrando a porta, ela entrou e instantaneamente as paredes se fecharam ao seu redor, deixando-a se sentindo presa e... abandonada. Lionel poderia simplesmente ter ido a um de seus museus de Londres e instalado seu cavalete entre suas grandes coleções de óleos holandeses e flamengos, sem mencionar os mármores de Elgin como inspiração.
Ela nunca mais o veria! Esse pensamento terrível a parou no meio do chão de madeira, as lágrimas pinicando seus olhos como fizeram a noite toda. Como ela suportaria a perda dele e de seus beijos? Ela pensou na preocupação momentânea de Viola de que Charlotte tivesse sido a única a ir com ele.
Apesar de ouvir o sino tilintar atrás dela, perdida em um jogo fantasioso de e se, ela não se virou. No fundo de seus ossos, Charlotte sabia que nunca teria feito uma coisa tão egoísta para sua família. Nem mesmo por Lionel.
— Senhorita, com licença, senhorita?
— Ainda não abrimos, — disse ela, com a voz embargada de emoção.
— Eu sei, senhorita. Você disse para voltar.
De repente, ela se lembrou de Edward Percy. Respirando fundo, se recompondo, ela se virou para encarar o garoto que tocou seu coração. Naquele instante, ao vê-lo de chapéu na mão, usando as mesmas roupas do dia anterior, com o cabelo penteado, o rosto obviamente limpo, ela lembrou que a vida era muito maior do que sua obsessão por Lionel Evans.
— Olá, Edward, — ela começou, tentando colocar seus pensamentos em ordem. — Você certamente está pronto.
— Sim senhorita. Eu não aceitaria levianamente a oferta de trabalho.
Ah sim. A oferta de emprego dela. Após o desastre de partir o coração na academia, Charlotte foi para casa e diretamente para seu quarto. Ela não tinha pedido permissão à mãe sobre empregar o jovem Edward. Na verdade, ela havia se esquecido completamente dele. No entanto, era decididamente a loja de Felicity, não dela, nem de suas irmãs e nem mesmo de seu pai. O que sua mãe dizia era lei na Rare Confeitaria, e sempre foi assim.
Mas as coisas estavam mudando e rapidamente. Sua mãe havia deixado a administração da loja para suas filhas adultas nos últimos anos, entrando por algumas horas conforme lhe convinha. Amity não estava lá com tanta frequência desde que se tornou, de todas as coisas incríveis, uma duquesa em fevereiro do ano anterior. E Beatrice, que se casou com o Sr. Carson no outono passado, às vezes tinha horários mais curtos. Apenas o papel de Charlotte permaneceu o mesmo.
A verdade sobre o coração partido da noite caiu sobre ela mais uma vez. Para pensar, ela trouxe para si mesma acreditando que ele se importava com ela, quando ela não significava nada para ele. Estava tudo do lado dela, em sua própria cabeça. Durante toda a temporada do ano anterior, ela não tinha realmente considerado ninguém com quem ela conheceu e dançou, porque Lionel tinha ocupado todo o espaço em seu coração e mente. Tudo por nada. Apenas pensamento positivo.
E então ele começou a beijá-la...
Não apenas isso, desde que o The Langham, o hotel mais opulento de Londres, havia contratado eles no verão anterior para fornecer todos os seus doces, outros perceberam. A Rare Confeitaria agora tinha entregas semanais no The Grosvenor Hotel na Victoria Station e no The Great Western Hotel em Paddington, bem como no The Albion, um restaurante em Covent Garden, e no Gaiety Restaurant no Strand.
Charlotte, sua mãe e suas irmãs ainda não haviam discutido, mas logo precisariam de ajuda para atender aos pedidos, já que a demanda era maior do que as três poderiam produzir, especialmente enquanto mantinham a loja abastecida e se quisessem para continuar a expandir seus negócios.
Eles queriam? Talvez sua família estivesse mudando para outros interesses. Com Amity prestes a ter um filho em alguns meses, tudo mudaria drasticamente de novo. Enquanto sua irmã prometeu seu apoio contínuo à Rare Confeitaria e seu desejo de ser sua chocolateira, ela já havia reduzido seu horário. O que eles fariam se ela não pudesse fazer chocolates por um longo período de tempo?
E Bea e o marido encontraram tempo para ir para sua casa de campo na Escócia apenas uma vez desde o casamento, e Charlotte sabia que eles estavam morrendo de vontade de voltar e trabalhar na casa da fazenda.
Se as duas irmãs continuassem com suas vidas, como a confeitaria continuaria? De uma coisa Charlotte tinha certeza de que deveria tirar o pó de suas habilidades para fazer chocolates e caramelos. Qualquer um podia cuidar do balcão da frente, mas as lições e receitas que aprenderam com a mãe para fazer doces deliciosos eram especiais.
Naquele momento em particular, porém, tudo que Charlotte queria fazer era fechar totalmente a loja, ir para casa e enterrar a cabeça sob o travesseiro. Mas aqui estava ela, diante do ansioso Edward.
— Você tem um certificado de padrão dizendo que você não precisa estar na escola? — Ela perguntou.
Ele hesitou, ou porque não esperava tal pergunta ou porque estava prestes a mentir para ela.
— Sim, senhorita, em casa. De qualquer forma, vou fazer treze em seis meses e eles não podem me fazer voltar.
Bom o suficiente, ela supôs. Não era como se ela estivesse tentando forçar uma criança de seis anos a ser limpa-chaminés. Charlotte não pôde conter um pequeno estremecimento com a noção terrível. Que existência horrível aquelas crianças suportaram antes que a Lei dos Varredores de Chaminés fosse aprovada apenas quatro anos antes. Embora muitos jovens ainda trabalhassem em empregos perigosos em minas, moinhos e fábricas, pelo menos ela poderia oferecer a Edward algo melhor.
— Muito bem. No início, pensei que você fosse mais jovem e só pudesse arrumar e varrer, mas como você tem 12 anos, espero poder contar com você para cuidar das entregas. Nossa confeitaria vai para hotéis e restaurantes da região. Você pode lidar com isso?
— Oh, sim, senhorita. Conheço Londres tão bem quanto qualquer taxista.
— Bom. Você pode receber dicas de qualquer um desses estabelecimentos e está livre para aceitá-las. Além disso, eu vou pagar você. — Sem nenhuma ideia do que ela deveria dar a ele, ela quase disse três pence, então dobrou no último segundo. — Seis pence por dia.
Seus olhos se arregalaram.
— Uau, senhorita! Isso é uma libra, a cada quarenta dias! — Seu tom era de admiração.
— Talvez antes. Veremos como você se sai, Edward. Devemos? — Além disso, ela tinha que perguntar à mãe, e talvez Felicity dissesse que deveria ser um xelim por dia, caso em que os olhos do menino poderiam sair da cabeça completamente. Também dependia de quantas horas ele dedicava e do uso que eles poderiam fazer dele.
— Vamos ter que fazer para você um avental pequeno como eu costumava ter quando era criança, mas por agora, venha aqui atrás.
Levando-o entre os balcões e a sala de trabalho, ela mostrou onde ele poderia pendurar o casaco e colocar o boné desalinhado em uma prateleira. Então ela pendurou seu próprio casaco ao lado dele, antes de desamarrar o chapéu, não tendo sido capaz de se preocupar em prender um chapéu estiloso no lugar naquela manhã.
Da gaveta onde guardavam os aventais, ela tirou um limpo e tentou amarrá-lo embaixo dos braços. Não adiantou. Ele ainda tropeçaria.
— Não se preocupe, vou arranjar seu avental amanhã. — Charlotte prendeu e amarrou o seu. Ele assentiu, olhando ao redor da sala para o grande fogão de ferro e balcões de cobre e, do outro lado, a laje de mármore onde Amity temperava chocolate.
— Diga-me, sua família gostou dos doces? — Ela perguntou, pegando a garrafa de vinagre de outro armário e alguns jornais velhos.
Seu olhar estalou de volta para ela.
— Eles são para o Domingo de Páscoa, senhorita, e não antes.
Contenção outra boa característica do menino, raramente vista em crianças.
— Vamos começar limpando as vitrines de vidro da frente com este vinagre e esfregando-as com os jornais. — Se eles concluíssem as tarefas iniciais, e se uma multidão grande o suficiente se reunisse, Charlotte poderia virar a placa mais cedo.
— Pegue aquele balde, coloque um pouco de água da pia e despeje cerca de duas colheres de sopa de vinagre.
Ele pareceu imediatamente ansioso.
— Aqui, vamos fazer isso juntos hoje. Coloque o balde na torneira.
Ela o deixou enchê-lo pela metade e colocá-lo no chão.
— Agora, enquanto eu despejo, vou contar, um... dois. Pronto, já chega.
Edward carregou o balde para a frente.
— Agora, dobre um pouco de papel e mergulhe-o. Não toque nos olhos até que você tenha a chance de lavar as mãos ou vai doer como o diabo. Nesse momento, limpe o vidro e as impressões digitais e manchas desaparecerão.
— Eles somem, — ele disse maravilhosamente.
Ela voltou e agarrou a pequena vassoura de cerdas.
— Limpamos as vitrines todos os dias, às vezes duas vezes quando as crianças entram e se pressionam contra elas. Ou qualquer pessoa sem luvas, — acrescentou ela, começando a varrer o chão da frente, trabalhando em torno de Edward. — E limpamos o interior das janelas da frente algumas vezes por semana. Minha mãe tem um homem que vem e faz o lado de fora, junto com as lojas de cada lado de nós.
Enquanto falava, ela terminou de varrer todos os detritos para a pá de lixo, que jogou na lata de lixo nos fundos. Edward terminou um momento depois, recuando para observar seus esforços, antes de correr para limpar um local novamente.
— Você pode despejar isso na pia, devagar e com cuidado, por favor, para não respingar. Há uma lata de lixo no canto para o papel de jornal e, em seguida, lave bem as mãos.
— Sim senhorita. Ele desapareceu atrás da cortina, e Charlotte puxou a caixa de dinheiro de debaixo do balcão, confirmando que ela tinha muitas moedas para fazer o troco para qualquer cliente adiantado.
— Agora, fazemos as prateleiras de exibição parecerem atraentes, — ela disse a ele. — Como você pode ver, depois de ontem, elas estão quase vazios.
Eles tinham dois armários de confeitaria com bandejas de doces e uma caixa fria com gelo na parte superior e inferior, guardando itens como manteiga e leite. Amity também o usava para resfriar rapidamente fondant ou chocolate quando estava fazendo bombons. Embora o caramelo de Beatrice quase nunca precisasse de ajuda para endurecer, nas semanas mais quentes do verão londrino, Charlotte achava a caixa fria útil para evitar que seus pequenos doces de Marzipan se transformassem em bolhas desagradáveis. Felizmente, isso não era um problema nas épocas mais movimentadas do ano, Dia dos Namorados, Páscoa e Natal.
Ouvindo a campainha da porta tilintar, ela pegou uma bandeja e deu outra a Edward antes de correr para a frente.
— Bom dia, — disse Amity, parando em seu caminho ao ver Edward.
— Nosso novo ajudante, — Charlotte disse e os apresentou. — Sr. Edward Percy, esta é minha irmã, a Duquesa de Pelham.
O menino parecia prestes a cair no chão em súplica e derrubar o doce. Felizmente, Amity era boa em deixar pessoas comuns à vontade, já que fora uma delas durante toda a vida, até o casamento em fevereiro do ano anterior.
— É um prazer conhecê-lo, Edward. Eu faço os chocolates aqui, e você pode me chamar de Sra. Westbrook, — Amity disse, dando ao menino o nome de família de seu marido.
— Sim, senhora, — mas ele enviou a Charlotte um olhar alarmado.
— Você já provou um dos meus chocolates? — Amity perguntou.
— Sim, senhora. Estava uma delícia. Ele derreteu na minha boca.
— Perfeito, — disse Amity. — É melhor eu começar.
Então Charlotte o pôs para trabalhar enchendo as vitrines, dizendo a ele o que ia e onde, enquanto sua irmã mais velha começava imediatamente a fazer chocolates de todos os formatos, tamanhos e sabores, simples e com leite, alguns com frutas e nozes. E Charlotte montou seu próprio posto atrás do balcão fazendo doces de Marzipan, o que ela fazia o dia todo entre atender os clientes.
Quando Edward terminou de estocar as prateleiras, ele vagou para o fundo e Charlotte pôde ouvir Amity explicando o que ela estava fazendo enquanto trabalhava. A curiosidade natural do menino, com sorte, o transformaria em aprendiz de confeiteiro, o que seria muito útil.
Beatrice e a mãe entraram ao mesmo tempo.
— Se conseguirmos limpar o vidro da vitrine rapidamente e abastecer as prateleiras, — começou Felicity, — Talvez possamos abrir mais cedo. — No entanto, ela parou ao ver o vidro brilhando e as caixas cheias.
— Quão cedo você chegou aqui? — Sua mãe perguntou.
— Agora estou com preguiça, — disse Beatrice, mas sorriu. — E aliviada. Sinceramente, odeio o trabalho com vinagre e não tenho certeza de como fui sobrecarregadaa com ele.
— Considere-se abençoada, — Charlotte disse. Então ela olhou para sua mãe. Não havia sentido em prevaricar ou perder tempo. — Não estou aqui há muito tempo, mas contratei um ajudante e esqueci de contar a você. Naturalmente, se você não acha que ele é adequado para nós, vou mandá-lo embora. O pensamento era terrível. Como ela suportaria a decepção de Edward.
— Ele! — Felicity repetiu. — Ajuda contratada! Nunca tivemos ninguém aqui que não fosse da família. — Ela não parecia satisfeita.
— Edward, — Charlotte gritou. Um momento depois, ele passou pela cortina aberta.
— Sim senhorita. — Seu rosto estava incrivelmente sério.
— Esta é minha mãe, Sra. Rare Foure. Ela é dona desta loja e me ensinou tudo o que sei sobre fazer doces. Ela ensinou a todas nós, na verdade.
Seus olhos ficaram mais redondos olhando para a linda mãe de Charlotte.
— Mãe, este é o Sr. Edward Percy, um jovem capaz.
— Senhora, — ele disse, fazendo uma reverência desajeitada, antes de andar para frente e apertar a mão dela sem medo.
Felicity lançou um longo olhar para ele, parando para encará-lo nos olhos.
— Você pode trabalhar duro, jovem?
— Sim, senhora.
— E você não se importa em receber ordens de mulheres?
— Não, senhora.
— E seus pais sabem que você está aqui?
Talvez apenas Charlotte tenha percebido a leve hesitação.
— Sim, senhora. Eu disse a minha mãe ontem à noite.
Então, Felicity assentiu.
— Ele vai precisar de um avental amanhã, — ela proclamou e passou por ele na sala dos fundos para pendurar o casaco e vestir o avental. Charlotte falaria com ela mais tarde, em particular, sobre o salário dele. Enquanto isso, Beatrice ainda estava lá, já tirando o casaco.
— E esta é minha irmã, Sra. Carson. Ela faz o caramelo.
— Sério, senhorita? — Disse ele, apertando a mão dela. — Eu não provei o seu, mas o caramelo é um doce excelente.
Charlotte esperava que Beatrice não risse do menino e de seu jeito sério.
— Obrigada, Sr. Percy, — disse ela. — Eu concordo de todo o coração.
— Por favor, senhora, me chame de Edward.
— Tudo certo. Em primeiro lugar, vamos remediar sua terrível falta de experiência. Charlotte, por favor, — ela disse, estendendo a mão. — Um pedaço de caramelo puro.
Ela entregou à irmã um pedaço em um quadrado de papel, que Beatrice segurou na frente do menino.
— Pegue, chupe um minuto, não tente morder imediatamente. Então me diga o que você pensa, Edward. Posso confiar em você para me dizer a verdade, tenho certeza disso.
— Sim, senhora. — Ele colocou a peça inteira e a trabalhou em volta da boca. Ele fechou os olhos e chupou forte, depois trabalhou um pouco mais, antes de colocá-lo na bochecha.
— É uma delícia, senhora. O melhor caramelo que já tive.
— É o melado, — disse Beatrice, sem conseguir deixar de se regozijar. — Se você é uma pessoa cautelosa, então vou te ensinar como criá-lo. — Ela fez uma pausa. — Mas não se engane, é um negócio perigoso fazer caramelo. — Ela piscou para Charlotte. — Como trabalhar com fogo derretido. É necessária a constituição de um matador de dragões para fazer caramelo.
— Sério, senhora? — Edward disse em uma voz fina. Então ele tossiu e disse com mais firmeza: — Eu gostaria de tentar.
— Veremos. — Beatrice passou por ele, bagunçando seu cabelo enquanto caminhava para trás.
— Você provou os doces das minhas irmãs, mas ainda não os meus, — disse Charlotte. — Você gostaria de experimentar o Marzipan?
Ele acenou com a cabeça e ela foi buscar uma folha esculpida, esperando até que ele engolisse o resto do caramelo de Bea.
— O Marzipan, alguns chamam de marchpã, é feito de amêndoas moídas e, honestamente, não é do gosto de todos. Não ficarei nem um pouco ofendida se você não gostar. — Com isso, ela entregou a ele a folha.
— É muito bem feito, senhorita, — disse ele, examinando sua arte. — Parece quase real. Com isso, ele colocou na boca, trabalhou em sua língua e engoliu.
— É bom, — disse ele.
— Mas não tão bom quanto chocolate ou caramelo, — ela emendou.
Suas bochechas ficaram rosadas.
Ela riu.
— Está bem. A maioria dos clientes que o adora é mais velha do que você. Posso prepará-lo de várias maneiras e também posso assá-lo. Às vezes, Amity coloca dentro do chocolate, e às vezes eu coloco o chocolate dela dentro do meu Marzipan.
Ele absorveu tudo com olhos pensativos.
— Tinha gosto um pouco de flor, senhorita.
— Aquela folha tinha um pouco de água de rosas, uma receita do final do século dezesseis, se você pode acreditar. Agora, vamos ver se a Sra. Rare Foure permite que você faça nossas entregas hoje.
Ela mandou Edward para a sala dos fundos para falar com sua mãe, mas, assim que ela ficou sozinha novamente, o rosto de Lionel apareceu em seus pensamentos. Seu coração se apertou de dor. Ele ainda estava na ensolarada França, planejando sua grande turnê de arte? Eles tiveram uma discussão sobre os museus no continente uma vez, já que sua família tinha estado no exterior três vezes. No entanto, como os Evans nunca tiveram, Lionel tinha inveja, ela se lembrava, e um pouco mal-humorado com ela. Ela nunca tocou no assunto novamente.
De repente, uma batida na porta atraiu sua atenção. Olhando para cima, ela ficou surpresa ao ver o rosto de Lorde Jeffcoat pressionado contra o vidro.
— Robin Hood, — ela murmurou, contornando o balcão para deixá-lo entrar.
Capítulo Três
Charles ficou satisfeito ao ver a Srta. Rare Foure na frente da loja. Ele sabia que estava lá cedo. As ruas estavam praticamente desertas, exceto por entregadores e gangues de varredores. E ele havia planejado simplesmente passar por ali, se não a tivesse visto.
Mas como se o destino estivesse ajudando sua perseguição, a Srta. Charlotte não estava apenas lá, ela veio até a porta e a abriu.
— Lorde Jeffcoat, você não pode querer doces tão cedo, — disse ela como forma de saudação.
Ela não acompanhou isso com seu sorriso habitual, um que ele pensara convidativo desde a primeira vez que se conheceram. Com seus lábios carnudos, muitas vezes curvados, ela parecia em um estado contínuo de felicidade, algo que ele notava sobre ela sempre que estavam por perto.
Como no dia anterior, seu cabelo castanho estava preso em um coque bem cuidado. Talvez porque já era de manhã, antes que as hordas de clientes descessem a New Bond Street e fizessem com que essa linda moça caísse no chão, nenhum de seus cachos macios ainda havia escapado dos pinos.
Uma pena. Ontem, ela parecia o tema de uma pintura pastoral italiana, se ele fosse um homem para fazer associações tão poéticas. Normalmente, ele não era. Hoje, ela estava muito arrumada, e ele teve uma imagem visceral de afundar os dedos em seu cabelo sedoso e enviar os grampos voando para liberar suas mechas. Talvez quando ele estivesse prestes a beijá-la.
Suas bochechas aqueceram com os pensamentos rebeldes e completamente inesperados. Além do mais, ele sabia que ela tinha visto algo em seu olhar porque ela piscou lentamente e ergueu uma sobrancelha escura. Ele percebeu que ainda não tinha dito nada, apenas parado como um idiota, mais enfeitiçado por ela a cada encontro.
— Bom dia, Srta. Rare Foure. Você está certa. Não estou aqui para confeitaria.
Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, um exército inteiro de confeiteiros saiu da sala dos fundos, ou assim parecia. Liderando o ataque estava a Sra. Rare Foure, a matriarca da família. Era difícil não admirar a mulher que havia construído aquele estabelecimento de sucesso na cara rua comercial, onde o aluguel devia ser alto. E ela tinha feito isso vendendo doces! Ao mesmo tempo, ela deu à luz a três lindas meninas e as ensinou a fazer confeitaria.
A duquesa de Pelham, uma jovem impressionante que deixara seu amigo extremamente feliz, apareceu ao lado de sua mãe. Ela estava segurando latas de chocolates e falando com um menino. Se Charles não estava enganado, era o mesmo rapaz do dia anterior. O menino segurava um saco em cada mão, olhando para a duquesa, ouvindo cada palavra sua.
Por último veio a boca-de-lobo, enquanto pensava na irmã do meio, Beatrice. Um pouco azeda para o seu gosto, apesar de ser adorável. De qualquer forma, ela conseguira arranjar um marido no ano anterior, e Charles se lembrava do homem aparecendo seminu na Casa Marlborough, como se uma fantasia fosse qualquer desculpa para ficar sem camisa. Pelham disse o marido da boca-de-lobo foi um bom irmão na lei, no entanto.
Toda a conversa parou quando viram Charles parado na porta com a Srta. Rare Foure.
— Lorde Jeffcoat, o que você pode fazer aqui tão cedo? — A Sra. Rare Foure perguntou.
Ele estava absolutamente determinado a não contar a elas. Isso era certo.
— Só de passagem quando vi a senhorita Rare Foure pela janela, — contra a qual ele pressionou o rosto como uma criança — E pensei em dizer olá.
Ele não pôde deixar de notar que suas irmãs se entreolharam.
— Vejo que você está ocupada, então vou me despedir imediatamente.
— Bobagem, entre e feche a porta, — disse a mãe. — Não queremos moscas, queremos? Eu ofereceria chá ou chocolate, mas assim que colocarmos a chaleira no fogo, será hora de abrir. Como está o seu pai? Você gostaria de levar algo para ele na Páscoa? Não pude perguntar ontem, pois estava lotado quando você chegou.
Ninguém jamais mencionou sua mãe desleal e devassa, e ele esperava que fosse porque ela havia sido esquecida por muito tempo pela sociedade respeitável.
— Na verdade, — ele começou, — Percebi ontem que seu negócio está indo muito bem
— Negócios, sim! Eu devo voltar para isso. Charlotte, por favor ajude Lorde Jeffcoat com o que ele desejar enquanto preparo nosso novo funcionário para fazer suas primeiras entregas.
O menino parecia muito jovem para receber uma tarefa tão importante. Ele nem estava segurando todos os doces ainda, pois a duquesa estava tentando dar a ele mais latas.
— Eu não preciso de nada realmente, — ele disse a Charlotte que ainda estava parada ao lado dele, observando sua família agitada.
— Edward precisa de outro saco, — disse Beatrice. — Ou talvez devêssemos dar-lhe um carrinho de mão.
As mulheres estavam oprimindo o rapaz.
— Eu pensei que ter Edward faria com que nenhuma de nós tivesse que deixar a loja, mas talvez eu devesse ir com ele, — Charlotte disse suavemente, claramente pensando em voz alta mais do que discutir isso com ele. — Caso contrário, ele pode ter que fazer duas viagens.
— Talvez, se for o primeiro dia do menino, eu possa acompanhá-lo aonde quer que ele vá. — Charles ficou surpreso ao se ouvir fazer a oferta. Ele teve um longo dia de mandados e instruções, mas quando ela olhou para ele como se ele fosse um herói, ele ficou satisfeito por ter conseguido.
Estranhamente, seu sorriso brilhante usual não estava em evidência.
— Isso é muito atencioso e gentil de sua parte, meu senhor, — disse ela. — Não consigo imaginar nenhum outro cavalheiro em sua posição se oferecendo para fazer uma coisa dessas.
Ele não era nenhum santo, mas também não iria cumprir sua tarefa de convidá-la para sair em particular, então poderia muito bem se tornar útil antes de ir para as Inns of Court.
— Edward, — disse a Srta. Charlotte, cortando o barulho de sua mãe e irmãs, — Venha conhecer Lorde Jeffcoat, um amigo da família.
Essa introdução surpreendente fez Charles hesitar. Era assim que ela o via? Ele não tinha certeza se isso era promissor ou se ela o considerava como um velho par de chinelos familiares.
O menino se aproximou.
— Lorde Jeffcoat, — Charlotte disse, — Este é Edward Percy.
— Bom dia, meu senhor. — Edward se curvou antes de estender a mão que desapareceu totalmente quando Charles a engolfou para um simples aperto de mão.
Quantos anos ele pode ter? Dez talvez?
— Bom dia, Sr. Percy. Aposto que você conhece bem Londres. Você se importaria se eu o acompanhasse para ver onde estão suas entregas?
— Você é novo aqui, meu lorde?
Charles sorriu para ele.
— Não, mas talvez eu possa dar uma mão. Ficarei confinado o resto do dia, e seria bom dar um passeio primeiro, supondo que você esteja planejando caminhar.
— Eu estava, meu senhor.
Charles olhou para cima para ver as outras senhoras assistindo sua troca.
— É melhor você nos carregar, — disse ele. — Com os braços fortes do Sr. Percy e minha ajuda, não teremos problemas.
Finalmente, a Srta. Charlotte deu a ele uma versão aguada de seu antigo sorriso, e ele desejou que a conhecesse bem o suficiente para perguntar sobre seus problemas.
— O QUE VOCÊ acha dISSO? — Beatrice perguntou depois que o visconde e o menino haviam partido.
— Surpreendente, — Charlotte disse, observando-os passear pela calçada, — Mas legal. Lorde Jeffcoat parece um pouco sério. Estar com uma criança pode fazer bem a ele e tenho certeza que Edward nunca andou ao lado de um visconde antes.
Quando ela se virou, sua família, todas as três mulheres, estavam olhando para ela.
— O que é isso?
— Aquele jovem foi para a sala dos fundos? — Sua mãe perguntou.
Charlotte se perguntou sobre a pergunta de sua mãe.
— Claro, ele foi. Você estava lá com ele.
— Não, querida menina, o outro jovem. Será que Lorde Jeffcoat foi para a sala dos fundos? Contigo?
— Mãe! Claro que não. Por que você perguntaria tal coisa?
— Não há motivo, — disse Felicity, mas Beatrice sorriu.
— Porque nossa querida mãe acha que qualquer homem que entrar no quarto dos fundos com você está destinado a ser seu marido. — Bea riu por um momento. Então parou abruptamente. — Na verdade, ela estava certa. Virando-se para a mãe delas, ela perguntou: — Como você poderia estar certa sobre isso?
Amity acrescentou:
— Sim, mamãe estava certa. Portanto, tome cuidado com quem vai para a sala de trabalho.
Charlotte engasgou, levantando a mão.
— Ah não! Muito tarde!
— O que você quer dizer? — Amity perguntou, e Bea e sua mãe olharam com interesse.
— É o destino. Destino irrevogável. Eu estava lá atrás com Edward Percy esta manhã. — Ela deixou que todos pensassem nisso. — Pelo menos ele está fora das cordas principais. Então ela tentou rir, mas a rocha onde antes estava seu coração não a deixava fazer mais do que encolher os ombros com suas próprias palavras de brincadeira.
— Garota boba, — disse Bea, voltando para o fundo para fazer caramelo, seguida por Amity.
— Gosto do rapaz, — disse a mãe.
— Agora, qual você quer dizer? — Charlotte perguntou, olhando ao redor da loja para se certificar de que tudo estava pronto.
— Nosso novo funcionário. Lembro que ele esteve aqui ontem, — disse ela.
— Sim, algo nele me tocou, eu confesso. Estou feliz que você o deixou ficar.
— Certamente temos muito que fazer. Falando nisso, você não tem Marzipan para fazer?
Alguém bateu no vidro atrás dela.
— E você também pode virar a placa, — acrescentou a mãe. — Talvez não seja um pandemônio aqui se deixarmos os clientes começarem cedo.
Sua mãe estava errada sobre isso. Assim que Charlotte indicou que estavam abertas, um fluxo constante de pessoas entrou durante toda a manhã. Ela gostava de fazer coelhinhos de Marzipan e ovos com caroços de chocolate quando havia calmarias que sua mãe podia cuidar sozinha. Em algum ponto no meio da manhã, Edward voltou e quando Charlotte ergueu os olhos, Lorde Jeffcoat ergueu a mão em despedida do lado de fora da vitrine, mas não entrou.
— Como foi? — Ela perguntou ao menino.
— Bem, senhorita. Todo mundo sempre foi tão legal, embora pudesse ser por causa da companhia que eu mantive.
Rapaz esperto! Não era de se surpreender que ele tivesse sido bem tratado ao entrar em um hotel ou restaurante com um visconde. Foi uma grande ideia de Lorde Jeffcoat. Quando Edward fizesse suas próximas entregas, eles se lembrariam de pessoas com quem ele se associou e agiriam de acordo.
— Por que você não pergunta às minhas filhas se elas precisam de alguma coisa? — Disse sua mãe. — Suprimentos e outros enfeites, e então veremos o que mais você pode fazer.
— Sim, senhora. Uma coisa que me perguntei, — Edward acrescentou. — Como as entregas são em duas direções diferentes, talvez eu pudesse ir para um lado, depois voltar para pegar o resto dos doces e ir pelo outro. Além disso, o gerente do The Albion, oh, senhorita, que lugar para uma refeição fantástica! Ele disse que gostaria de mais uma dúzia de cisnes de Marzipan amanhã e mais uma dúzia de coelhos, enquanto os está colocando em cima de seus bolos de esponja de framboesa.
Então Edward disparou entre os balcões e desapareceu através da pesada cortina de veludo azul.
— Isso foi bem feito, — disse a mãe de Charlotte. — Ele fez o trabalho e lembrou-se de um pedido. — Voltando sua atenção, ela perguntou: — Posso ajudá-lo? Para o primeiro cliente que se aproximou do balcão.
Charlotte ficou satisfeita com Edward, mas não pôde deixar de franzir a testa quando a próxima onda de clientes passou pela porta. Quando ela deveria fazer mais vinte e quatro esculturas de Marzipan? Talvez devessem ter contratado um confeiteiro experiente, não um entregador.
— Agora que ele fez suas entregas, — refletiu Charlotte ao mesmo tempo em que fazia o troco para o cliente na frente dela, — O que mais Edward pode fazer até o fechamento? — De repente, ela duvidou de suas ações. — Eu deveria ter perguntado a você primeiro.
Felicity olhou para ela.
— Ele vai ficar bem. Ele pode caber de volta aqui conosco para reabastecer as prateleiras no meio da tarde e, no fechamento, ajudará na limpeza. E talvez, se for o tipo de pessoa certa, possa aprender a ser confeiteiro. Não é realmente isso que você viu nele?
Charlotte se lembrou do momento em que Edward comeu o chocolate no dia anterior.
— Eu suponho que pensei que ele tinha paciência e o..., ela parou. O que tornou os doces da Rare Confeitaria extraordinários?
— A faísca, — sua mãe terminou. — Eu também vejo isso no menino.
Pelo menos o julgamento de Charlotte não tinha sido tão desastroso em contratar como fora quando ela colocava seu afeto.
Depois disso, a loja ficou tão ocupada que Charlotte não teve tempo de pensar em Lionel, o que era uma coisa boa, nem de fazer esculturas de Marzipan, o que não era bom. Edward reabasteceu as prateleiras de exibição e as latas nas prateleiras do outro lado da sala e, ocasionalmente, ele abria a porta para um cliente. No final da tarde, quando eles podiam ver o fim do dia à vista, Charlotte foi até a sala dos fundos para fazer chá e encontrou Edward parado ao lado de Amity, observando-a mexer o fondant.
Levando uma xícara de chá para a mãe, Charlotte esperou pela próxima calmaria e disse:
— Sabe, desde que começamos a fornecer doces para o Langham, estamos crescendo.
— Verdade, — disse Felicity. — O que significa que é melhor você fazer mais Marzipan antes de acabarmos, e os cisnes e coelhos também.
Charlotte assumiu sua posição atrás do balcão, onde tinha um moedor de ferro fundido resistente para moer amêndoas e uma placa de mármore para criar suas pequenas esculturas.
— Eu estava pensando, — ela disse casualmente, — Que podemos querer expandir a loja.
— Expandir a loja? — Felicity exclamou, seu tom chocado. — Como faríamos isso? Mais barato e mais fácil adicionar outra vitrine se tivéssemos tempo para preenchê-la. — Ela apontou para a parede oposta. — E então mova essas latas para trás.
Charlotte franziu a testa. Isso era simplesmente mais do mesmo.
— Que tal um pequeno café?
Sua mãe tomou um gole de chá e balançou a cabeça como se já rejeitasse a ideia.
Charlotte persistiu:
— Algo como Gunter. — Frequentemente, seus pais levavam ela e suas irmãs para tomar sorvete em Berkeley Square antes de irem ao Hyde Park para um passeio pelo Serpentine. Como adulta, ela ainda pensava que o café com nada além de guloseimas, cremes, sorvete e musses congeladas era um lugar mágico. — Eu amo aquele lugar, não é?
Em resposta, sua mãe bateu no livro na prateleira atrás deles. O Confeiteiro Moderno de Gunter sentou-se ao lado do Le Confiturier Royal e A Arte de Fiar e Fundir Açúcar.
— Sim, eu quero, mas eles não estão na New Bond Street, — observou Felicity, — E nós não sabemos nada sobre como administrar um café ou fornecer qualquer coisa além de confeitaria. Teríamos que ter garçons e um chef pasteleiro e outros enfeites. Não consigo nem pensar em quanto trabalho isso daria, sem falar no custo.
Mesmo assim, ela pensou ter visto entusiasmo nos olhos da mãe.
— Você sempre quis que uma de nós aprendesse a arte da confeitaria.
Isso induziu um sorriso.
— É verdade, — disse Felicity, — Principalmente para que eu pudesse comer essas sobremesas aqui de graça, em vez de ter que ir até a Maison Bertaux.
Charlotte deu uma risadinha.
— Todo o caminho? — Era apenas uma caminhada de quinze minutos até a Greek Street e uma das poucas padarias de Londres que vendia os autênticos doces franceses que sua mãe adorava. Se fossem como uma família, seu pai deixaria de ir à confeitaria e apareceria no pub The Coach and Horses ao lado para tomar uma cerveja.
— Sinceramente, minha querida, — continuou a mãe, — Já considerei, até sonhei, um pequeno estabelecimento que vendesse a mais alta qualidade com uma oferta muito limitada. Chá das folhas mais frescas, os grãos de café mais ricos oferecendo seu aroma celestial, nossa confeitaria e a adição de alguns pastéis decadentes. Um lugar para as mulheres se reunirem e conversarem com estilo e conforto. — A expressão dela assumiu uma aparência distante.
Charlotte também podia imaginar isso facilmente. Em seguida, sua mãe disse as palavras seguintes.
— Mas não quero me mudar da New Bond Street e arriscar perder nossos clientes atuais, e não quero dois lugares separados para funcionar. Que pesadelo! Não, devemos nos contentar com a melhor confeitaria de Mayfair e na melhor rua também. Nada para reclamar. Nós somos abençoadas.
Sua mãe estava certa em todos os pontos. Além disso, como estava, suas irmãs não tinham interesse em administrar a loja, então Charlotte iria cair ainda mais sobre ela. Ela permaneceria atrás do balcão no mesmo lugar pelo resto de sua vida. Esse pensamento nunca a incomodou antes porque ela amava tudo sobre a Rare Confeitaria, a aparência, o aroma, os clientes.
Agora, tudo porque Lionel Evans se foi, ela foi deixada para trás e porque seus beijos duas vezes por semana eram excitantes, aquela noção insidiosa de insatisfação tinha trabalhado seu caminho dentro dela, tão inexplicavelmente como quando ela pressionava açúcar fino em amêndoas moídas para faça sua pasta de Marzipan. Ela se tornou uma pasta inquieta!
Suspirando tristemente quando a campainha tilintou na porta, ela deixou seus pensamentos se ocuparem com o trabalho. Os clientes fluíram durante toda à tarde até que as prateleiras ficaram praticamente vazias novamente. Suas irmãs ficaram o dia todo fazendo doces com Amity saindo duas vezes para ocupar primeiro o lugar de sua mãe e depois de Charlotte, para que cada uma pudesse ter alguns minutos para comer queijo e pão e a carne fatiada fria de sua cozinheira Lydia. Eles até trouxeram outra cadeira durante a semana ocupada para consertar o banquinho singular normal que apenas Beatrice preferia.
Depois daquela semana, as coisas voltariam ao normal, e elas assariam uma torta de carne ou, pelo menos, esquentariam a comida de Lydia da noite anterior. Às vezes era um deleite barato e alegre comprar sanduíches de presunto de um dos sanduicheiros que vendiam na rua.
Por fim, era hora de virar a placa para — Fechado. Edward começou a varrer imediatamente, enquanto o resto delas se encaravam em exaustão mútua. Charlotte poderia colocar a cabeça no balcão e dormir ali mesmo.
— Sua irmã está certa, — disse Felicity para Bea e Amity. — Estamos crescendo e precisamos de ajuda. Acho que devemos começar treinando esse garoto em qualquer confeitaria que ele seja mais adequado, talvez todos os três, para que ele possa ajudar em qualquer coisa.
Todas elas olharam para Edward, que piscou de volta para elas. Parecia muito para colocar nos ombros de uma criança de 12 anos, mas poderia ser sua melhor chance de um futuro lucrativo se ele não tivesse outras perspectivas. Ele sorriu e acenou com a cabeça tranquilizador.
— Eu gostaria de aprender, senhora.
A mãe delas concordou.
— Está resolvido então. Quando você não estiver limpando, entregando ou estocando prateleiras, estará aprendendo o ofício com cada uma das minhas filhas. — Ela suspirou. — E sempre que eu puder me afastar do balcão, vou ensinar você pessoalmente.
Charlotte enviou um olhar de cumplicidade para Amity, que o enviou para Bea. Felicity pode suspirar por fazer isso, mas ela foi uma professora maravilhosa e sempre disse que gostava.
— Todas as minhas garotas podem fazer todos os doces desta loja, não deixe que elas te enganem com a forma como dividem suas tarefas. Mas é verdade que alguns têm um talento especial para uma coisa e não para outra. Ninguém pode misturar sabores em fondant de chocolate como nossa duquesa, nem enrolar o rabo de um porco de Marzipan como a senhorita Charlotte, e ninguém pode tirar o caramelo do fogão precisamente no momento certo como a senhora Carson.
Edward acenou com a cabeça solenemente, parecendo assustado.
— Mas se você pode fazer qualquer uma dessas coisas muito bem, — acrescentou Felicity, — Então você será uma grande ajuda para nós. — Ela bateu palmas e depois as enxugou. — Hoje está pronto e limpo. Estamos todos prontos para ir para casa?
No entanto, depois que Charlotte e sua mãe se despediram de todos, incluindo Edward, trancaram a porta e começaram a caminhada curta para casa, Felicity a surpreendeu.
— Eu acho que você deveria estar no comando de Edward. Ele foi um grande achado, e estou feliz que você o contratou. Você tem uma boa cabeça sobre os ombros.
Antes que Charlotte pudesse agradecê-la, houve um barulho atrás deles de uma janela quebrando e um estrondo, ambos sons estranhos na New Bond Street. Elas giraram em suas trilhas.
Capítulo Quatro
— Gracioso! — A mãe de Charlotte exclamou.
Em frente à porta da loja, onde um momento antes eles estiveram, estava um abajur de mesa de latão cercado por cacos de vidro quebrados, vidros e pedaços da moldura da janela.
— E é isso! Gritou uma voz feminina de cima.
Olhando para cima, Charlotte viu a janela que havia quebrado quando a lâmpada passou por ela. Uma faixa de seis por oito estava perigosamente inclinada.
— Extraordinário, — disse Felicity.
Foi exatamente isso. Pois acima de sua loja havia uma fabricante de travesseiros. Isso foi tudo que a mulher fez em toda a vida de Charlotte. Ela pegou o melhor ganso, enfiou-o nas mais luxuosas caixas de seda e cetim e fez almofadas que foram vendidas em várias lojas na Bond Street, na Burlington Arcade da esquina e na Oxford Street. Além disso, a mulher do travesseiro, como Charlotte pensava dela, quase sempre ficava em silêncio. Naquele instante, ela não conseguia pensar em seu nome verdadeiro.
— O que deveríamos fazer? — Ela perguntou a sua mãe.
Um momento depois, a porta que abrigava a escada para o segundo andar se abriu e um homem saiu apressado. Com uma expressão sombria, ele olhou para a bagunça na calçada e para Charlotte e Felicity, e então saiu correndo.
— Suponho que devemos dar uma olhada nela, — a mãe de Charlotte declarou e marchou em direção à porta aberta.
Em todos os seus anos, Charlotte subiu as escadas apenas uma vez, quando tinha cerca de seis anos, para ser apresentada ao inquilino acima de suas cabeças. Tudo estava limpo e arrumado na espaçosa suíte de quartos, uma contendo caixas enormes de penugem e prateleiras de tecido bonito, e outra contendo a mulher do travesseiro, que também era a única costureira. Ela parecia velha para Charlotte naquela época e não tinha sido muito amigável. Enquanto estava calma e quieta, focada no trabalho, ela disse a menina de seis anos para não tocar em nada, caso ela tivesse açúcar ou chocolate nas mãos.
No topo da escada, elas encontraram outra porta aberta e entraram.
— Olá, Sra. Hafflen, você está bem? — Felicity gritou. — Você está bem?
— Quem é? — Veio a voz, não suave como Charlotte lembrava, mas afiada. E quando elas avançaram, nada era como há anos. Era um verdadeiro caos. As lixeiras estavam em desordem e penas de ganso por toda parte. Na verdade, algumas penas minúsculas flutuavam no ar desde que o homem recentemente os havia bagunçado.
— Cuidado para não respirar, — disse a mãe, levando a mão enluvada à boca e ao nariz. Charlotte fez o mesmo até que elas passaram pela sala para a da frente que dava para a rua. Surpreendentemente, no meio de mais confusão, a Sra. Hafflen sentou-se perto da janela quebrada costurando em sua silenciosa máquina Singer, com o pé bombeando o pedal sob as saias.
Ela olhou para cima enquanto continuava a costurar em um ritmo lento e constante.
— Sra. Hafflen, — Felicity persistiu. — Eu sou a Sra. Rare Foure da confeitaria lá embaixo. Você está bem? — Ela repetiu.
Os olhos da mulher pareciam vidrados, incapaz de olhar diretamente para elas. Então ela voltou ao trabalho em que estava costurando duas cores diferentes de cetim, uma combinação estranha e feia, o tecido não se alinhando corretamente para fazer uma fronha.
Elas esperaram em silêncio um momento até que a costureira arrancasse o tecido da máquina e o erguesse, perto do rosto, antes de cacarejar com raiva. Em seguida, ela o jogou no chão, onde havia outros já espalhados em desordem.
— Droga! — Ela jurou. — Eu costurei fechado novamente. Você viu? Não há abertura para baixo.
Charlotte olhou para sua mãe, que estremeceu.
— Quem era aquele homem? — Felicity tentou novamente fazer com que a velha lhe contasse o que estava acontecendo.
— Meu filho. O idiota quer que eu pare. Se ao menos eu tivesse filhas. Você tem filhas? — Ela perguntou.
Charlotte sentiu sua mãe se assustar ao lado dela. Que triste!
— Sim, — disse Felicity. — Três.
A Sra. Hafflen suspirou.
— Ele disse que eu tinha feito travesseiros suficientes para toda a Inglaterra e ainda tinha montes de dinheiro. Ele disse que eu tinha que ir morar com ele. E se eu não quiser? E quem vai fazer os travesseiros? Então eu joguei minha lamparina nele, e o idiota se abaixou!
Charlotte e sua mãe deram mais alguns passos. Ao lado da mulher do travesseiro e sua pilha desordenada de caixas, havia xícaras de chá vazias e os restos de uma torta. Há quanto tempo ela estava sentada lá, não sendo mais capaz de operar seu ofício corretamente?
— Podemos fazer alguma coisa? — Felicity perguntou. — Afinal, é hora de fechar e vai escurecer.
— Horário de encerramento? — A mulher repetiu antes de balançar a cabeça. — Não, ele está voltando. O idiota! — Então ela olhou para elas. — Quem é você e como entrou aqui?
Charlotte tinha ficado em silêncio até então, mas tirou do bolso a sacola de doces que sempre carregava com ela para o caso de se encontrarem com alguma criança no caminho para casa, o que acontecia quase todas as noites.
— Viemos para lhe dar alguns doces.
— Verdadeiramente? — Os olhos da mulher focaram pela primeira vez na bolsa branca brilhante com o nome da loja azul. — Eu não como nada doce há muito tempo.
Charlotte o estendeu para ela. A mulher o pegou devagar, abriu e pegou um chocolate. Depois de inalar o aroma com os olhos fechados, a Sra. Hafflen o enfiou na boca.
— Oh isso é bom. Realmente muito bom! Deve ter cuidado para não sujar o tecido, — ela murmurou, servindo-se de outro.
— Você acha que o filho dela vai realmente voltar esta noite? — Charlotte perguntou a sua mãe em uma voz sussurrada.
Sua mãe deu de ombros.
— Acredito que sim. Suponho que devemos esperar para ver.
— Quão mais? — Charlotte perguntou.
— Pelo menos por um tempo, — disse Felicity. — Afinal, seu filho parecia ser um homem determinado, então espero que ele volte. Do contrário, suponho que ela volte para casa para jantar conosco.
Olhando em volta, a mãe de Charlotte viu um pequeno fogão de ferro fundido, uma chaleira empoleirada em cima.
— Vamos ver se ela tem carvão, disse Felicity. — Podemos também fazer um bule de chá.
JEFFCOAT NÃO PODERIA SAIR do Lincoln's Inn rápido o suficiente. Seus pensamentos estavam longe dos livros secos que faziam a lei parecer enfadonha. Quando ele estava no tribunal, mesmo como um estudante no tribunal discutível, observando, tomando notas, era tudo menos isso.
Fazia mais de uma semana desde que ele vira Charlotte Rare Foure pela última vez, decidindo depois de deixar Edward Percy que era melhor abordá-la, novamente, após a semana movimentada da Páscoa terminar.
Charles desejou ter um motivo para entrar na loja, além de querer vê-la. Ele não queria que Waverly soubesse disso até que uma recepção favorável da jovem fosse garantida. E isso foi o pior de tudo, Charlotte não deu a ele qualquer inclinação de qualquer interesse.
Charles não era covarde, entretanto. Ele nunca se esquivou de se aproximar de uma mulher por quem sentia atração. E ele nunca foi rejeitado ainda. Então, por que ele esperou mais uma semana inteira antes de passear pela Old Bond Street até que ela se transformasse na New Bond Street? Além disso, por que ele estivera em duas lojas vizinhas à Rare Confeitaria, mas ainda não havia entrado onde esperava que Charlotte estivesse?
Na verdade, ele sabia por conversar com a esposa de Pelham que Charlotte costumava abrir a loja e depois sair no meio da tarde, deixando a irmã boca-de-lobo fechar a loja. Como eles não estavam mais perdidos com o costume da Páscoa, ele esperava que sua rotina tivesse voltado ao normal. Nesse caso, ele deveria ser capaz de interceptá-la sem problemas enquanto ela saía da loja.
Exceto que ela não tinha. E ele estava ficando inquieto. Não só isso, ele sabia que parecia suspeito. Nos últimos minutos, ele vadiou Finnigans, o fabricante de malas e bolsas de luxo, olhando pela janela da frente no caso de Charlotte passar. Ele nem percebeu que havia pego uma bolsa de couro até que um balconista se aproximou para olhar para ele, com sobrancelhas franzidas.
Lentamente, ele a largou, olhou para a pilha de cestas de piquenique de vime, imaginando que levaria Charlotte para um piquenique em breve, e então saiu da loja. Com determinação, ele caminhou com firmeza até a confeitaria, sem parar para ver quem ou o que estava lá dentro. Ele simplesmente entrou, ouvindo o tilintar da campainha enquanto abria a porta.
Para seu alívio, Charlotte parecia estar sozinha, curvada sobre o balcão trabalhando em algo.
Assim, ele se assustou quando uma segunda cabeça apareceu. Edward. Antes que Charles pudesse se recuperar, o menino falou.
— Bom dia, meu senhor, — Edward disse, parecendo extremamente feliz. — Estou aprendendo a fazer Marzipan, não as pequenas esculturas. Ainda não. Mas moer amêndoas e açúcar junto com uma gota d'água. Você quer ver?
Com um olhar para Charlotte para se certificar de que era aceitável, Charles se aproximou do balcão para ver que eles tinham duas tigelas em uma laje de mármore. Edward inclinou seu corpo para frente para que Charles pudesse olhar para ele.
— Parece bom, — Charles concordou. — Ou pelo menos, eu acho que sim.
Charlotte, que ainda não tinha falado, inclinou-se para frente. Parecia conter uma substância idêntica.
— Sim, posso ver que você está fazendo um excelente trabalho, — acrescentou Charles. — Você conseguiu corresponder precisamente ao da senhorita Rare Foure. — Ele voltou sua atenção para ela. — Bom dia. Como vai o negócio de confeitaria?
Charlotte pareceu inesperadamente severa, cumprimentando-o sem um sorriso nem com sua exuberância habitual.
— Bom dia, Lorde Jeffcoat. Vai bem, suponho. Estamos aliviados por ter um pouco de silêncio.
Ele fez uma pausa. Ela estava indicando seu descontentamento com a chegada inesperada dele? Seu rosto até então plácido tinha a gravidade de uma pessoa com problemas.
Naquele momento, a campainha tocou novamente e todos se viraram para ver uma dupla de clientes. Charlotte franziu a testa, franzindo os lábios em desgosto, e isso o surpreendeu mais do que tudo.
Duas mulheres vagavam ao longo da vitrine, olhando as ofertas.
Sem se mover de seu lugar, Charlotte gritou para elas:
— Posso ajudá-las?
Charles afastou-se do balcão para dar mais espaço às senhoras e ocupou um lugar no lado oposto da sala, onde as latas, esperando para serem escolhidas e enchidas, forravam a parede.
Uma das mulheres apontou para algo.
— O que é isso exatamente?
Com um suspiro audível, fazendo Charles se encolher com a grosseria dela, Charlotte foi até a parte de trás da vitrine, abaixou-se, identificou o doce e disse:
— É um chocolate com essência de framboesa.
Ele sabia que ela iria oferecer uma amostra a seguir. Ele a viu fazer isso durante o tempo em que esteve lá com Waverly, para cada cliente. E ainda assim, ela não fez. Ela esperou em silêncio.
— É possível provar? — A mulher persistiu.
— Quando você vai à peixaria, — Charlotte disse, — Você prova seus produtos antes do tempo? Ou na mercearia verde, você pede para comer uma de suas maçãs ou peras antes de comprar?
— Não, mas... — o cliente começou.
— Você já comeu chocolate antes? — Charlotte perguntou.
— Ora, sim, claro, — respondeu a mulher.
— E framboesas? — Charlotte continuou. — Você já comeu uma framboesa em toda a sua vida?
— Sim, mas...
— Bem, aquele confeito em particular tem gosto de chocolate e framboesas.
Charles teria entendido que Charlotte estava de péssimo humor, mas essas clientes não. A outra mulher perguntou:
— E o Marzipan?
— O que tem isso? — Charlotte perguntou, cruzando os braços sobre o peito generoso, que ele desejou não estar olhando. Ele desviou os olhos imediatamente.
— É tudo igual? — A mulher perguntou.
— O mesmo que o quê? — Charlotte respondeu, sendo difícil.
— Quer dizer, tem sabores e centros?
— Sim, — Charlotte respondeu com outro suspiro.
Charles olhou para Edward, que chamou sua atenção com uma expressão adulta de desgosto.
— Quais são os sabores e os recheios? — Perguntou a cliente. — Ajudaria se a confeitaria fosse rotulada.
— Ela nunca precisou ser rotulada antes, — observou Charlotte, como se essas clientes fossem particularmente obtusas.
Charles quase colocou a mão na testa. Nunca precisou de etiqueta, ele apostava, porque uma vendedora prestativa sempre explicava a confeitaria e dava amostras.
Um ruído desagradável de arranhar no alto, seguido pelo grito de uma mulher, fez com que os cabelos de sua cabeça se arrepiassem, ou assim parecia. As clientes também ergueram os olhos. Charlotte e Edward ignoraram.
O encontro todo foi tão desagradável que os três se viraram para a porta sem comprar nada.
— Você gostaria de uma amostra? — O jovem Edward as chamou, mas elas foram embora, uma das mulheres resmungando sobre o Chocolates Chatman na Regent Street.
Charlotte voltou para a tigela de Marzipan. Quando Edward se acomodou ao lado dela, ele disse:
— Você costumava sempre distribuir amostras.
Ela encolheu os ombros evasivamente e não disse nada. Charles temia a entrada de mais clientes, pois era doloroso ver como ela os tratava.
— Você gostaria de provar o Marzipan, meu senhor? — Edward perguntou.
— Hm. — Ele olhou para Charlotte, desejando que ela lhe oferecesse aquele sorriso que ele achava tão cativante, mas ela não o fez. Tão séria quanto um coveiro, ela o fixou com seu olhar castanho profundo.
— Algumas pessoas não gostam de Marzipan, — ela disse suavemente.
— Eu gosto, — disse Edward, olhando de Charles para a Srta. Rare Foure, mas ela apenas deu de ombros.
Onde estava a jovem que exclamou de alegria ao ver um bolo em forma de cisne recheado com carne no jantar de recepção de sua irmã? Ou a mulher feliz que girou animadamente para exibir sua fantasia turca no baile de fantasias? Essa senhorita Rare Foure parecia tão sem graça e desinteressante quanto queijo.
Mesmo assim, ela estendeu a mão para a vitrine, retirou uma folha de cor creme e entregou a ele. Com a mão nua!
— Minhas mãos estão limpas para fazer confeitaria, — ela disse quando o pegou olhando.
Tirando as luvas, ele a deixou cair em sua palma. Trazendo isso para o nariz, ele cheirou.
— O cheiro dá água na boca, — confessou. E então ele mordeu a folha ao meio. — Doce, — ele disse, — E com um sabor tão delicado. Laranjas, eu acho? — Ele disse isso como uma pergunta, esperando que ela apreciasse seu esforço.
Ela assentiu sem entusiasmo, nem parecia particularmente satisfeita.
— Às vezes, a senhorita Charlotte adiciona água de rosas e às vezes água de laranja, — Edward explicou. — Dá para comprar pasta de Marzipan já feita, mas ela mesma mói as amêndoas e mistura o açúcar. Agora eu sei como fazer.
Ela assentiu com as palavras do menino.
Charles olhou na vitrine para as várias formas de seu Marzipan.
— Você é realmente uma artista, — disse ele.
Ela ficou rígida.
— Se você me der licença.
Com isso, ela desapareceu rapidamente na sala dos fundos através de uma pesada cortina de veludo azul.
— Eu disse algo errado? — Ele perguntou baixinho, para que ela não ouvisse, então percebeu a inadequação de interrogar uma criança.
— Senhorita Charlotte é temperamental às vezes, — o menino respondeu.
De repente, houve um baque alto vindo de cima e depois outro.
— Eles estão tirando todas as coisas da costureira hoje. Pobre senhora. Ela me deu um travesseiro.
— Ela deu? — Charles estava começando a achar que a confeitaria era um pouco como Bedlam. Por outro lado, ele pensou em como o sorriso de Charlotte costumava ser adorável e como seus olhos cintilavam e entusiasmados seu temperamento, o oposto dos escriturários do Lincoln's Inn.
Quão desesperadamente ele queria a felicidade dela em sua vida! Essa surpreendente constatação foi seguida rapidamente por uma pergunta que só ele poderia responder: Haveria um momento melhor do que o presente?
— Continue, — disse ele ao menino, com um aceno de cabeça para a tigela e, em seguida, decidindo enfrentar o leão em sua cova, ele passou pelo espaço entre as bancadas e seguiu a Srta. Rare Foure através da cortina de veludo.
Capítulo Cinco
Charlotte girou ao ouvir os passos, sabendo que eles não pertenciam a Edward e imediatamente desejando que ela tivesse ficado de costas para a cortina.
Tarde demais, ela enfrentou Lorde Jeffcoat enquanto ela ainda enxugava as lágrimas. Sua expressão surpresa e desconcertada provavelmente refletia a dela.
— Peço desculpas, — disse ela, sabendo que isso a marcava como uma mulher emocional a ser encontrada chorando na sala de trabalho. Além do mais, as pessoas não iam a uma confeitaria para encontrar tristeza, e ela tentou desesperadamente reprimir seus sentimentos nas últimas duas semanas. Na maioria dos casos, manter sua infelicidade sob controle a fazia ficar desanimada e incomumente mal-humorada, como se sentiu naquele dia.
— Totalmente minha culpa, — disse o visconde, sem dar mais um passo. — Você não tem nada para se desculpar. Eu disse algo que te chateou lá. — Ele gesticulou atrás dele para a frente da loja. — E então eu invadi aqui quando você estava indisposta. Lamento pofundamente. Minhas ações são imperdoáveis.
Ele provavelmente a achava uma idiota piegas. Ela mal podia dizer a ele que qualquer menção a ela ser uma artista parecia uma flecha em seu coração.
— Sinceramente, meu senhor, estou feliz que você gostou do Marzipan, e foi bom você notar o toque sutil de flor de laranjeira.
— Mas nenhuma dessas coisas foi o que te aborreceu, — ele ressaltou.
Ela considerou seu rosto inteligente e decidiu contar-lhe a verdade.
— Temo estar um pouco machucada no momento e, por mais que eu tente ignorar, isso causa dores nos momentos mais inconvenientes. Às vezes, eu gostaria de não ter coração para falar.
Sua expressão tremeluziu de surpresa novamente, mas então, contra todas as expectativas, ele sorriu levemente. Era uma curva bem simétrica de seus lábios, uma reminiscência de um retrato renascentista. E a dor voltou quando seus pensamentos foram para Lionel pintando em algum lugar do continente.
— Não diga isso, — ordenou Lorde Jeffcoat. — Eu vi seu coração caloroso em ação, e foi esplêndido.
Charlotte ofegou suavemente.
— O que você quer dizer? — Ela teve uma visão terrível dele ao vê-la beijando Lionel no corredor escuro do andar superior da academia.
— Antes da Páscoa, — explicou Lorde Jeffcoat, — A maneira como você defendeu Edward para aquela cliente era verdadeiramente emocionante, e aqui está ele, trabalhando para você.
Ela sentiu suas bochechas esquentarem.
— Sinto muito pelo seu coração machucado, — ele continuou, parecendo sincero. Então, de forma bastante abrupta, o visconde acrescentou: — Por acaso, seria melhor depois de uma noite na cidade?
Lorde Jeffcoat estava cheio de surpresas. Se alguém tivesse dito que ele a convidaria para sair à noite, ela teria dito que eles eram lunáticos. Desde que ela o conheceu na casa do duque, ele foi educado, mas distante, durante cada um de seus encontros anteriores. Olhando para ele, ela se lembrou do momento em que ele segurou a porta para ela e ela sentiu o cheiro de seu perfume atraente. Isso a fez hesitar, e ela flertou com a ideia de se sentir atraída por ele, mas apenas porque achava que Lionel estava esperando a aula. Ela estava tonta de antecipação.
Quando tudo parecia possível, antes que ela descobrisse que Lionel havia partido.
As faces dele também ficaram um pouco vermelhas, à medida que os longos momentos de silêncio se prolongavam.
— Isso foi presunçoso da minha parte, — ele murmurou. — É melhor eu deixar você com seu trabalho.
Droga! Ela o envergonhou. Como balconista da Rare Confeitaria, ela ajudou centenas de clientes ao longo dos anos e tentou fazê-lo com a gentileza ensinada por sua mãe, algo que havia escapado completamente de Beatrice. Agora, Charlotte poderia simpatizar com o descontentamento de sua irmã. Ser agradável e alegre ultimamente parecia uma tarefa tremenda para ela. Ela falhou em ambos o dia todo, e agora ela ofendeu o bom amigo do duque.
Ele certamente não merecia depois de demonstrar tanta bondade.
— Meu senhor, gostaria muito de uma noite na cidade, como você a chama. Parece muito convidativo. Fiquei simplesmente chocada em silêncio.
Seu leve sorriso voltou.
— Chocada em silêncio? Não sabia que convidar você para sair seria tão ultrajante. Depois de sua temporada, com todos os jovens que estavam zumbindo ao seu redor, pensei que estaria na fila para ter essa chance.
E agora ele estava reforçando seu ânimo e sua confiança. Ele estava sendo um príncipe.
Recuperando um pouco o ânimo, Charlotte perguntou:
— Exceto pelo baile de Marlborough House, você e eu não estivemos nos mesmos eventos na última temporada. Como você saberia sobre homens, jovens ou não, fazendo barulho?
— Você me acertou, Srta. Rare Foure, mas posso imaginá-los. Estou certo?
Suas bochechas ficaram ainda mais quentes. Ela provavelmente estava corando profusamente.
— Suponho que tive minha cota de parceiros de dança, — ela admitiu.
— Ah, ha. — Ele levantou um dedo como se tivesse provado um ponto.
Isso a fez sorrir.
— Onde nós devemos ir?
— Do que você gosta? — Ele perguntou. — O ballet, um concerto, uma peça?
Ninguém nunca perguntou a ela antes. O que ela poderia dizer? Ela tinha estado em cada uma dessas coisas com a família e perfeitamente contente em fazê-lo, mas nunca com um homem.
— O que você prefere? — Ela perguntou, querendo ser amável.
— Eu preferiria sua resposta honesta sobre o que você deseja fazer.
Gracioso! Eles poderiam continuar sendo educados para sempre e nunca chegar a lugar nenhum.
— Uma peça, então, — ela decidiu. — Gosto de ver os atores recitarem suas falas, fingindo ser outras pessoas de forma tão convincente que quase acredito. Minha irmã, Beatrice, é muito talentosa na recitação. É necessária uma memória surpreendente para fazer isso.
— Acordado. Então veremos uma peça. Naturalmente, precisaremos de uma acompanhante.
— Naturalmente, — ela disse. Na verdade, ela não tinha pensado nisso por um segundo. Tendo servido como acompanhante de Beatrice e do Sr. Carson antes do casamento, parecia estranho que ela mesma precisasse de uma. No entanto, ele estava certo.
— Nossa empregada, Delia, poderia ir?
— Tudo bem por mim, mas depende inteiramente de você, — disse ele. — Podemos dizer amanhã à noite?
Verdadeiramente? Ela mal teve a chance de se acostumar com a ideia.
— Muito bem. Estou ansiosa por isso. — E estranhamente, ela estava.
SEUS PAIS PARECERAM tão surpresos quanto ela quando Charlotte lhes contou sobre o acordo para sair com o Visconde Jeffcoat.
— Isso é um pedaço de pêssego na geléia de ameixa, — disse Felicity. — Muito inesperado. Achei que o atrevido Lorde Waverly pudesse mostrar interesse em você ou em Beatrice, mas então o americano agarrou sua irmã tão rapidamente, e agora o mais sério Lorde Jeffcoat apareceu.
— De qualquer forma, — acrescentou o pai, — Nossas meninas os atraem como abelhas às flores. E com razão.
Normalmente, isso faria Charlotte rir, mas parecia um esforço para rir quando em algum lugar no meio de seu peito, ela sentia um aperto o tempo todo.
— Não sabia que você estava pensando em algum desses homens, — disse ela, — para mim ou para Bea.
De sua parte, Charlotte lamentou quanto tempo havia perdido pensando em um homem. E ela estava cansada de sua própria tristeza, que persistia apesar de cada dia que passava, desde que Lionel partiu. Além disso, tendo desistido de suas aulas de arte duas vezes por semana, incapaz de suportar a lembrança de ter passado horas apenas observando a maneira como seus longos dedos seguravam um pincel, ela tinha pouco com que ocupar suas noites.
Perder a aula não a incomodou, pois ela nunca teve uma paixão por pintura, mas ela também perdeu a emoção em sua vida. Ela até perdeu a amizade esfarrapada que tinha compartilhado com Viola. Haviam trocado algumas cartas desde a partida de Lionel e até se encontrado para tomar chá com bolinhos, mas Charlotte achou isso muito angustiante. A conversa incessante de Viola sobre a dor de perder seu irmão, sem saber sobre a própria dor de coração de Charlotte, a deixou com um sentimento de desassossego.
E então Viola começou a receber cartas. Embora no início, com fascínio quase mórbido, Charlotte quisesse ouvi-los, depois de algumas semanas, a narração de sua nova vida no exterior, tão feliz e despreocupada, tão alheia a quaisquer responsabilidades para com seus pais e o que ele deixou para trás, incluindo ela tornou-se muito doloroso. Mesmo depois de saber que ele e a modelo do artista se separaram em algum lugar de Roma.
Além disso, ele nunca perguntou por Charlotte. E enquanto seus primeiros sentimentos foram de traição e ter sido enganada, eventualmente, ela estava feliz por ele não a ter mencionado. A humilhação dela se Viola soubesse que ela o deixara beijá-la teria sido insuportável.
Embora Charlotte não esperasse que sua dor de cabeça sarasse durante a noite, ela esperava desfrutar de uma noite no teatro e estava ansiosa pela distração de Lorde Jeffcoat.
Assim, ela e seus pais estavam na sala de estar, seus pais sentados enquanto Charlotte ficava ao lado da lareira, usando um de seus vestidos favoritos da temporada anterior, evitando que ficasse amassado.
Enquanto aguardava a chegada de Lorde Jeffcoat, ela se sentiu estranhamente calma, uma sensação totalmente diferente da ansiedade inquietante que sentia antes de cada aula de arte.
— Você está muito bonita esta noite, querida filha, — disse o pai. Então, encerrando a conversa, Armand pegou o livro que estava lendo sobre fabricação de açúcar nas Índias Ocidentais e enterrou o nariz nele.
Charlotte sorriu com as palavras de seu pai e alisou seu vestido mais uma vez, um verde pálido com enfeites de renda preta. Ela se vestira com cuidado, esperando que Lorde Jeffcoat também a achasse bonita, pois o considerava um homem decididamente atraente, dentro ou fora de sua meia Robin Hood. Não de uma forma deslumbrantemente ostentosa, como o famoso Beau Brummel, ou mesmo como Lionel, com seu cabelo excessivamente longo e tendência a roupas extravagantes. Não, o visconde era mais do tipo sombrio e taciturno, mas elegante. Ela sentiu seu rosto esquentar, pensando nele.
— Ele esteve na sala dos fundos! — Sua mãe declarou de repente, ecoando a pergunta que ela havia feito dias antes.
Com espanto que de alguma forma sua mãe soubesse e percebendo que Lorde Jeffcoat esteve, de fato, na sala dos fundos, Charlotte caiu na gargalhada. Foi bom fazer isso, apesar de saber que sua mãe pensava que havia alguma conexão entre os homens que iam para a sala dos fundos e se casavam com suas filhas.
Armand Foure fechou o livro com força e recostou-se com o cachimbo na mão.
— É a primeira vez em muito tempo que ouço você rir, minha garota, então suponho que ele seja o certo.
— Pai, é a nossa primeira vez saindo juntos. Seus pais não iriam se tornar assertivos, iriam?
— Ele iluminou seu humor, de qualquer forma, — seu pai insistiu. — E isso o torna um bom sujeito.
— Oh, eu sei que ele é um bom homem, — concordou Felicity. — Lembre-se de quando ele ajudou Edward em seu primeiro dia.
Charlotte concordou.
— Ele está trabalhando bem.
— Lorde Jeffcoat! — Seu pai exclamou.
— Pai, eu quis dizer Edward Percy.
— Não, quero dizer, aqui está Lorde Jeffcoat. — E o pai dela se levantou para cumprimentá-lo.
Charlotte se virou, e com certeza, lá estava sua escolta para a noite, parado na porta aberta.
— Parece que o Sr. Finley está desaparecido novamente, — disse sua mãe, levantando-se para dar as boas-vindas ao convidado. — Não sei nem por que pagamos a ele.
Seu pai riu, nunca se incomodando com os períodos de ausência do mordomo ou desatenção aos detalhes.
— Boa noite, meu jovem, — disse Armand Foure, nem mesmo se dirigindo a ele corretamente.
Charlotte revirou os olhos, mas sabia que Lorde Jeffcoat não era do tipo que se ofendia.
Ele apertou primeiro a mão do pai dela, depois curvou-se sobre a da mãe antes de se virar para ela. Ele estava impecavelmente vestido de preto com um colete branco, camisa e chapéu. Seu cabelo castanho escuro estava penteado para trás, embora algumas mechas brotassem em sua testa, desmentindo seus pensamentos anteriores de que ele era elegante demais para ter um cabelo fora do lugar. Na verdade, ele parecia um pouco libertino.
— Boa noite, Srta. Rare Foure. Você está pronta para ir ao teatro? — Seus olhos azuis cintilaram à luz do fogo.
— Eu estou. — Uma pequena gota de alegria tentou escorrer por ela e conseguiu. — Mãe, você viu Delia? Pedi a ela que nos acompanhasse esta noite.
Como se na sugestão, sua média empregada com idade de todo o trabalho apareceu na porta.
— Estou pronta, senhorita, e tenho sua capa. Está um pouco frio esta noite.
— Não tenha medo, — disse o visconde. — Minha carruagem tem tijolos aquecidos e é bastante confortável.
— Então vão logo, — disse Felicity. — Eu me pergunto se você verá alguma de suas irmãs lá.
Ela não tinha ideia do que Bea e seu marido faziam à noite, mas Charlotte sabia o que sua irmã mais velha estaria fazendo.
— Amity está determinada a ficar em casa todas as noites com os pés para cima até que dê à luz a seu bebê.
Charlotte conduziu-os rapidamente porta afora antes que seus pais decidissem se juntar a eles, e antes que sua mãe pudesse contar a Lorde Jeffcoat sua teoria de homens na sala dos fundos se casando com suas filhas. Felicity iria assustá-lo, e tudo o que Charlotte queria era uma noite divertida. Ela não poderia ver um futuro com o visconde, simplesmente porque ele não era Lionel. Tendo nutrido essa fantasia por tanto tempo, todos os outros resultados pareciam inferiores.
QUANDO ELES ENTRARAM na carruagem, e o ar próximo e quente os envolveu, Charles pôde sentir o perfume delicioso de limão e lima da Srta. Rare Foure, mas suave, não picante, com um aspecto floral que fazia o perfume parecer cremoso também. Ele estava hipnotizado. Ele queria perguntar a ela sobre isso, mas sempre descobriu que os acompanhantes impediam a discussão pessoal até que alguém chegasse à segurança do camarote privado do teatro. Então, ele poderia sentar a empregada atrás deles e ter a liberdade de se aproximar e fazer perguntas.
— O que vamos ver? — Perguntou a senhorita Rare Foure, alisando as saias de seu vestido verde, que ele pôde ver onde sua capa se abriu. Como ele notou na sala de estar, tinha um decote na moda e mangas curtas. O corpete e as mangas eram adornados com renda preta atraindo seus olhos para onde não deveriam, pelo menos não enquanto ele ainda estava com seus pais.
Por outro lado, se uma mulher tinha um físico tão bonito, cintura fina e busto grande, como a Srta. Rare Foure, e se ela usava esse vestido, então obviamente, ela esperava ser observada e admirada. Novamente, ambos seriam mais fáceis de fazer uma vez que estivessem no teatro sem capa e, ele esperava, sem empregada.
— Mantendo o espírito de iluminar o seu coração, vamos ao Haymarket para ver uma comédia.
— Na verdade, meu lorde, estou aliviada por não ser o Lyceum Theatre. Embora eu admire muito o sr. Irving e a srta. Terry, eles costumam dar o seu melhor com uma tragédia shakespeariana.
— Acordado. Esta noite não haverá tragédia, garanto-lhe. Uma comédia bastante ridícula chamada Engaged.
— Oh sim, pelo Sr. Gilbert. — Ela parecia que estava prestes a bater palmas. — Seu Sorcerer e HMS Pinafore eram tão espirituosos. Estou ansiosa para o entretenimento da noite.
Ele estava feliz por seu espírito ter se animado. Quando passaram pelas colunas impressionantes da entrada do recém-reformado Royal Haymarket Theatre, ele esperava que ela também o tratasse com ternura. Ele queria muito ser a causa de seu próximo belo sorriso.
O berrante mármore rosa do teatro foi removido e um magnífico arco de proscênio emoldurado em ouro cercava o palco. Ele sabia que tinha havido um certo alvoroço com a instalação das barracas e a remoção do fosso, mas isso não afetou a ele ou a sua convidada no camarote com vista direta para o palco do lado direito.
Com sua criada sentada a uma distância educada atrás, eles tiveram alguns minutos para se acomodar e observar os que estavam abaixo deles e à esquerda, onde o teatro se estendia para trás e para cima nos assentos do círculo. Desinteressado em ninguém além dela, Charles se inclinou para cheirar a fragrância inebriante de Charlotte, abrindo a boca para perguntar a ela sobre isso. Ela escolheu aquele momento preciso para se inclinar para frente e afastar a cortina vermelha e dourada que emoldurava cada caixa, para que pudesse ver mais do público.
— Acho que vejo minha irmã e o Sr. Carson. Você vê? Eles estão na frente da varanda.
Ele olhou em volta, mas com todas as pessoas se aglomerando e se sentando, ele não conseguiu distinguir a boca-de-lobo e seu marido americano.
Charlotte acenou, levantou-se e inclinou-se para fora.
— Cuidado, Srta. Rare Foure. Você não quer cair e se tornar parte da apresentação da noite.
— Terei cuidado, — disse ela, sem olhar para ele, embora ele tivesse uma visão gloriosa de sua barriga, a forma como sua cintura se estreitava e então florescia acima com suas curvas generosas.
Ele suspirou. Ele era um homem superficial? Ele não acreditava nisso. Afinal, ele não estava com ela por sua aparência, ou pelo menos, não apenas por sua aparência, embora fossem certamente agradáveis. Ele ficou interessado nela por sua personalidade e bom humor. Quando ele percebeu o que ele primeiro pensara como sua infantilidade era na verdade alegria de viver, então.
Um apito agudo cortou o barulho do auditório barulhento, e ele soube imediatamente quem o causara. Querido Deus!
Ele sentiu como se todos os olhos no Haymarket se voltassem em sua direção, para seu camarote no palco. Atrás dele, a empregada do Rare Foure murmurou para si mesma:
— Oh, não, oh não, o que ela está fazendo?
À sua frente havia apenas um silêncio chocado e então, contra todas as probabilidades, a Srta. Rare Foure acenou majestosamente antes de se sentar.
— Beatrice me viu, — ela disse com satisfação. Então ela piscou no silêncio prolongado, olhando para o teatro enquanto as pessoas começaram a sussurrar. No instante seguinte, os frequentadores do teatro começaram a falar mais alto, voltando ao normal até que os lampiões a gás diminuíram.
— Algo está errado? — Ela perguntou quando ele não falou.
Ele gemeu. Num piscar de olhos, ele a imaginou como sua esposa, desempenhando seus deveres como sua viscondessa e bancando a anfitriã de alguns ministros do Parlamento ou de um grupo de juízes indigentes. E Charlotte no meio disso assobiando para anunciar o jantar ou aparecendo em suas sedas turcas berrantes. Isso nunca funcionaria. Ela simplesmente não serviria!
O que diabos ele estava fazendo com ela?
— Nada, — disse ele com firmeza. — Nada está errado. — Não havia sentido em dizer a ela que ela se comportou de forma ultrajante. Além disso, a última coisa que ele queria era a irmã dela olhando para eles do outro lado do teatro ou o americano fazendo suas piadas, como Pelham disse que o homem estava acostumado a fazer.
E então, enquanto Charles começava a se arrepender de toda a noite, finalmente Charlotte se virou para ele e sorriu. Era perfeitamente requintado, transformando seu rosto em radiante.
— Agora, Beatrice vai nos encontrar no intervalo. Você conheceu o marido dela? Ele é um homem divertido, digno da inteligência e da mente interessante da minha irmã. Espero que você goste deles. Minha família, todos eles, são tão diferentes, mas de alguma forma eles também são iguais. Todos perfeitamente encantadores, as pessoas mais gentis e generosas que você já conheceu. Exceto por Beatrice, às vezes. Sei que ela pode ser rabugenta, todo mundo já viu, mas, ultimamente, entendi um pouco melhor sua impaciência com as pessoas.
Ela fez uma pausa e acrescentou:
— Nunca se sabe, não é?
Ele não tinha ideia do que ela queria dizer, mas sabia que ela amava sua família tremendamente e achava que isso a tornava uma mulher especial, de fato. Embora gostasse do pai, não via a mãe há uma década e meia, nem se importava se a tornasse a ver. E ele não tinha irmãos, embora Waverly e Pelham se sentissem tão próximos de irmãos quanto ele poderia imaginar.
Ainda assim, ele estava um pouco impressionado com a profundidade de seus sentimentos.
As luzes piscaram e diminuíram novamente, e eles se acomodaram para o primeiro dos três atos, a estréia em uma cabana escocesa, perto de Gretna. Para seu prazer, Charlotte riu quase imediatamente.
Após o segundo ato, houve um intervalo, e ela deu um pulo com um sorriso no rosto.
— Podemos ir encontrar minha irmã? Eles não vão achar engraçado? Lembro-me de Lorde Pelham dizendo ao Sr. Carson para não mencionar a Escócia para as moças nos bailes do ano passado, caso pensassem que ele estava inferindo uma viagem a Gretna Green e um casamento precipitado.
Charles assentiu e se viu arrastado pelo bom humor dela até o saguão, com sua criada atrás dela. Como Charlotte previra, sua irmã rapidamente os encontrou. As mulheres se abraçaram e o Sr. Carson estendeu a mão para um aperto sólido.
— Você está gostando? — Charlotte perguntou, sem parar para uma resposta. — Eu sabia que você iria. Que premissa inteligente, e que divertido virem vocês dois. Você sabia que foi ambientado na Escócia? Sr. Carson, isso o fez pensar que deveria ter roubado minha irmã? — E então, ela bateu palmas de alegria. — Eu acho que vocês dois deveriam se juntar a nós no camarote para o fim disso. Você tem que esticar um pouco o pescoço, mas há muito espaço.
Ela se virou para Charles, que nunca tinha ouvido tal maré de palavras, como se uma represa tivesse rompido.
— Tudo bem para você, não é? Quanto mais melhor. Ó meu Deus! Onde está Delia? Nós a perdemos? Bea, Delia está conosco como minha acompanhante. Você acredita nisso? Como se eu precisasse de uma acompanhante, e com Lorde Jeffcoat?
Charles se sentiu como se tivesse levado um tapa na cara e castrado ao mesmo tempo.
A boca-de-lobo reconheceu o erro imediatamente e disse:
— Querida, você se lembra do ano passado. Todos nós precisamos de um acompanhante pelo bem do decoro. — Então ela olhou para o marido. — E qualquer homem pode acabar sendo um perigo para o coração, se não para a própria pessoa.
Charles observou os dois trocarem um longo olhar antes que a Sra. Carson olhasse para ele novamente, inclinou a cabeça um pouco alegremente e acrescentou:
— Lorde Jeffcoat parece um pretendente tão provável quanto qualquer outro que eu já vi.
Bem! Ele apreciou isso, com certeza. Charlotte fez uma pausa, deu-lhe uma longa avaliação e disse:
— Claro. Não quis dizer que ele não era tão perigoso quanto qualquer homem. Mas confio nele mais do que em qualquer outro que conheço, porque ele é um bom amigo do duque. É como ter um outro irmão em lei.
Charles respirou profundamente. Cada vez pior. Agora ele era como um irmão! Ele havia calculado mal seu próprio apelo, com certeza.
— Vamos todos tomar um pouco de champanhe antes que seja tarde demais? — Charlotte continuou, sem perceber como suas palavras honestas o cortaram.
Só então a boca-de-leao pegou sua irmã nas mãos com a mais branda das reprimendas.
— Você realmente não deveria ter usado aquele seu assobio abominável. Imagine o rosto da mãe. — Ela ficou em silêncio com um aceno de cabeça.
Incrivelmente, em vez de parecer envergonhada, Charlotte começou a rir, e sua irmã juntou-se a ela, provavelmente imaginando a mãe juntas.
— A Srta. Charlotte conseguiu chamar nossa atenção, — acrescentou o Sr. Carson, e eles deixaram o assunto para trás como se a humilhação em tão grande escala não fosse nada.
Charles ficou perplexo, embora soubesse que era inútil insistir, pois não havia remédio para isso, não havia como recuperar o som miserável.
Depois do lanche, eles voltaram para o auditório e, como Charlotte havia insistido, os Carsons se juntaram a eles em seu camarote. Com a empregada, havia cinco deles curtindo a apresentação. Toda a esperança de cheirar o pescoço de Charlotte e perguntar que perfume ela usava ou de dizer a ela o quanto ele apreciava seu sorriso desapareceu como a fumaça artística do palco. Além do mais, ela passava o tempo todo sussurrando para a irmã quando ela não estava rindo ruidosamente dos eventos da peça.
Apesar de achar que a risada de Charlotte era agradável, genuína e espontânea, Charles chegou a uma conclusão irrevogável no final da peça. A noite e convidar a Srta. Rare Foure foi um erro do início ao fim.
Capítulo Seis
— Sinto muito deixá-la assim, — disse Felicity durante o jantar uma semana depois, enquanto Charlotte ansiosamente absorvia a notícia surpreendente do súbito problema de saúde de seu pai.
— É apenas indigestão, — resmungou Armand Foure. — Médico interferente.
— Meu amor, — disse Felicity, — Ele é um bom médico, você sabe disso. E pode ser apenas indigestão, mas não foi você mesmo e ele disse que a brisa do mar é o que você precisa?! Está quente o suficiente agora, não vamos congelar em Newquay. Poderemos até nadar.
— Newquay, — pensou Charlotte, lembrando-se de uma visita à costa da Cornualha alguns anos atrás com seus pais e irmãs. Ela gostaria de poder ir também, mas como sua mãe estava deixando claro, a loja era dela para administrar.
Era a primeira vez que ela moraria sozinha na Baker Street apenas com os criados. Além disso, ela estaria trabalhando praticamente sozinha também. Ela tinha Edward, mas Bea nunca veio mais cedo quando não era uma época do ano agitada, especialmente agora que Edward poderia fazer a limpeza. E Amity quase não apareceu mais. Em vez disso, sua irmã fez chocolates de casa e Edward os levou para a loja. Felizmente, ele se dedicou à confeitaria como um pato na água e conseguia fazer um fondant liso, temperar chocolate e criar bombons sozinho. Ele não tinha habilidade para misturar sabores, mas seguia cuidadosamente as receitas que Amity lhe dava.
Quando Charlotte abriu a loja no dia seguinte, pela primeira vez em sua vida, um fio de medo se desenrolou dentro dela. Afinal, esse era o sustento de sua família. Então ela percebeu que não era mais o caso de Amity e Beatrice, e o medo diminuiu um pouco. No entanto, sem sua mãe ali, Charlotte teria que ficar o dia todo, todos os dias.
Assustada por um momento, ela lembrou a si mesma que era temporário e que seu pai ficaria bem em breve. Mesmo assim, seus pais já estavam em um trem a caminho da Cornualha. Todos sabiam que o bom ar salgado e a água do mar tornariam Armand Foure perfeito como a chuva em nenhum momento. Ainda assim, ela tinha um pequeno nó de preocupação na garganta que ela não conseguia engolir.
Edward chegou bem na hora, como de costume. Eles organizaram e limparam tudo o que não havia sido feito na noite anterior e, então, enquanto ele estocava as caixas, ela preparava os pedidos de entrega.
— Somos como uma máquina bem lubrificada, Edward.
— O que você quer dizer, senhorita? — Perguntou, ajeitando o avental, do qual tinha agora três que lhe caíam bem e o deixavam mais parecido com a sua idade.
— O que significa que trabalhamos bem juntos, você e eu.
— Oh, entendo, — disse ele. — As peças engraxadas das máquinas não se atritam umas com as outras.
— Precisamente, embora nunca tenha pensado nisso tão profundamente.
Ele deu uma risadinha. Charlotte passou a gostar desse som. No início, ele tinha sido um garoto mais sério, mas depois de semanas ganhando dinheiro constante, aprendendo o ofício e se sentindo mais confiante, estava ficando mais leve em maneiras e humor.
Quando ela explicou sobre a partida de seus pais, a expressão dele cresceu em um instante.
— Farei tudo que puder para ajudá-la, Srta. Charlotte.
— Eu sei que você vai, e eu agradeço isso. Faça as entregas e, quando Bea chegar, você pode tentar fazer outro lote de caramelo com ela.
Ele queimou o último, mas Charlotte não tinha certeza se teria feito melhor. Fazer caramelo parecia a coisa mais complicada do mundo, e ela decidiu perguntar a Bea sobre conseguir uma ampulheta e marcá-la com o momento preciso para que ela e Edward pudessem ter certeza do sucesso quando sua irmã não estivesse por perto.
Depois de virar a placa para — Abrir, — com Edward ainda não retornado, Charlotte começou a trabalhar silenciosamente fazendo doces de Marzipan, interrompido a cada poucos minutos pela chegada de um cliente. Depois da excursão com Lorde Jeffcoat na semana anterior, ela havia recuperado um pouco de seu antigo bom humor, percebendo que estava perdendo as interações amigáveis com seus clientes por ser grosseira e melancólica.
Uma hora se passou agradavelmente com ela distribuindo amostras e vendendo mais do que fazia em dias. Quando a porta se abriu, Charlotte olhou para a campainha com um sorriso de boas-vindas ao ver não um cliente, mas seu senhorio.
— Sr. Richardson, — disse ela com surpresa, pois só o vira meia dúzia de vezes em alguns anos. Nada mudou sobre ele, exceto seu bigode ficava mais grosso e grisalho a cada ano. — O que te traz aqui? Alguns doces para a Sra. Richardson?
Ela não tinha ideia se havia uma patroa, mas sempre era bom perguntar. A maioria dos homens não pensava nisso até que a ideia foi colocada em suas cabeças de que a confeitaria era um presente de boas-vindas, especialmente para nenhuma ocasião.
— Ora, sim, — disse ele, olhando em volta como se apenas percebesse o que vendiam. — Vou levar uma lata daquele caramelo que todo mundo está sempre delirando.
Ficou feliz em saber disso, ela estava mais determinada do que nunca para que Bea ensinasse a ela e a Edward como cronometrar corretamente.
— Mas vim falar com sua mãe. Ela está aqui?
— Não senhor. — E então a realidade bateu. — Ela está ausente indefinidamente, mas eu estou no comando. Estou administrando a loja.
— Realmente. — Ele olhou para ela por cima dos óculos. Seu bigode espesso se movia para cima e para baixo como se ele estivesse mastigando o ar enquanto refletia sobre esse fato. — Eu ia dizer que você parece jovem para administrar uma loja, mas você esteve aqui toda a sua vida, não é?
— Sim senhor. Algo está acontecendo?
— Na verdade, o contrário. Gostaria de saber se sua mãe gostaria de expandir a loja para ter a suíte do segundo andar. Está vazio agora. Sra. Hafflen aposentou-se para o país. Foi tudo limpo. Antes de começar a mostrá-lo para possíveis inquilinos, queria oferecê-lo à sua família. Coisa mais conveniente, não consigo imaginar, do que de repente dobrar seu espaço sem ter que se mover.
Charlotte mal conseguia respirar. Era o destino? Era exatamente o que ela esperava quando falou com sua mãe sobre a expansão semanas atrás. A resposta de Felicity foi definitivamente não, mas apenas porque ela não queria deixar New Bond Street ou ter dois locais. Esta era uma oferta milagrosa!
— Quanto tempo temos para considerar esta oferta? — As mãos de Charlotte tremiam e, distraidamente, ela pegou um chocolate e colocou-o na boca. Ela enviaria uma carta para seus pais imediatamente e...
— Só até amanhã, eu sinto muito.
Charlotte engoliu muito rápido e engasgou. Pegando um guardanapo de papel, ela tossiu até recuperar a compostura. O bigode do Sr. Richardson subia e descia mais rapidamente, mas ele esperou pacientemente, sem dizer nada.
— Com licença, — ela disse quando pode falar. — Eu gostaria de ter mais tempo.
— A notícia se espalhou rapidamente depois que a Sra. Hafflen se mudou, e todo tipo de pessoa tem perguntado. Todo mundo quer estar na New Bond Street, como você sabe. Estou ciente de que você não quer um salão de dança acima de sua cabeça. — Ele riu tristemente como se isso fosse uma possibilidade.
Na verdade, Charlotte não queria nada acima de sua cabeça, exceto a mulher do travesseiro quieta, a menos que fosse mais uma Rare Confeitaria.
— Você tem um contrato que eu possa ler? E o aluguel? É igual a este andar?
Ele a olhou por um minuto.
— Na verdade, é um pouco menos porque não há janelas na rua.
Ela acenou com a cabeça, sentindo uma emoção de dança potencial em sua espinha. Olhando ao redor da loja, ela pensou nos clientes sendo informados que eles poderiam subir para uma bebida rica e comer doces. Ou talvez a sala de jantar fosse aqui embaixo e o balcão de serviço no andar de cima. As possibilidades se espalharam diante dela.
— Teríamos que decorar o andar de cima para que se parecesse com a loja, — ela meditou. Sua mãe gostava de branco e azul safira tanto quanto possível, embora Charlotte adorasse a miríade de tons ricos de joias do popular modo estético.
— Você poderia fazer isso. Você poderia até construir uma escada aqui. — O senhorio olhou ao redor. — Suponho que seja naquele canto, para que os clientes não precisem sair para subir.
— Poderíamos? — Charlotte perguntou, sentindo-se ainda mais animada. Em sua mente, ela já podia ver os quartos acima cheios de pequenas mesas cobertas de tecido e clientes desfrutando de canecas fumegantes de chocolate ou café e pratos de doces. Eles tinham tanta renda extra com os contratos de hotel e restaurante que ela não via nenhum problema em pagar mais aluguel. E como Amity e Beatrice não viviam muito dos lucros da loja, a expansão parecia perfeitamente razoável.
De repente, apesar de estar sozinha na loja com toda a responsabilidade da Rare Confeitaria ter caído sobre ela, ela não conseguia pensar em um único motivo para não fazê-lo.
— Você vai voltar amanhã? Prometo ter uma resposta para você então.
Ele acenou com a cabeça e tirou alguns papéis de sua bolsa.
— Aqui estão os termos, o aluguel e a metragem quadrada. Tudo isso.
Pegando-o, ela o colocou na prateleira atrás dela e agarrou uma lata de caramelo, deslizando-o sobre o balcão para ele.
— Quanto? — Ele perguntou.
— Com meus cumprimentos, — ela disse.
— Hm. Se você quer ser uma mulher de negócios, Srta. Rare Foure, você deve me cobrar.
Ela sorriu.
— Tudo bem, eu vou. Mas primeiro, escolha uma amostra. Como mulher de negócios, quero que você experimente outra coisa, e talvez você queira comprar também.
Ele riu. Ela deu a ele um dos chocolates com sabor de café da Amity, cujo sabor distinto o fez levantar as sobrancelhas.
— Vou levar meio quilo desses, — ele disse, puxando sua carteira assim que engoliu, — Junto com o caramelo. Você é uma ótima mulher de negócios. Eu verei você mais ou menos na mesma hora amanhã. Eu espero que você aceite minha oferta. Caso contrário, acredito que será um fotógrafo acima da sua cabeça tendo clientes marchando por aquelas escadas laterais de manhã à noite, ou a outra parte interessada era um fabricante de botas de salto alto — ele fez uma pausa para rir de seu próprio trocadilho.
— Aquele esperava que você fechasse logo para que ele pudesse abrir uma loja aqui embaixo. Em qualquer caso, isso pode ser um pouco de sobrecarga de marteladas. Ambos os dois companheiros estavam esperando a mordida.
Era INSANIDADE, CHARLOTTE sabia disso, mas o tempo estava passando. Indo direto para Park Lane depois do trabalho, ela bateu na porta da casa de Lorde Jeffcoat sozinha. Sem acompanhante! Inquestionavelmente, não era mais um horário educado de visitas, que terminava por volta das três horas para o set aristocrático. Depois disso, um visitante poderia esperar um convite para uma refeição, e a maioria das pessoas não queria que essa imposição fosse imposta à sua porta ou ao pessoal da cozinha em curto prazo.
Um homem mais velho, quase tão alto quanto Lorde Jeffcoat, atendeu a porta, claramente um mordomo da qualidade de Amity e o mordomo eficiente do duque. Nada como o querido criado deles, o Sr. Finley, que foi rotulado de mordomo apenas pela interpretação mais generosa do termo.
O mordomo olhou por cima da cabeça dela por um momento, e Charlotte desejou ter a altura de Beatrice. Em qualquer caso, quando ele olhou para ela, seu rosto bastante severo se suavizou.
— Sim, senhorita?
Em sua mão enluvada, estava um cartão de visita da Rare Confeitaria. Não tinha o nome dela, mas ela disse:
— Eu sou a Srta. Rare Foure. Se o seu senhorio estiver em casa, pode dar-lhe o meu cartão? Eu vou esperar.
Entregando-o a ele, ela enfiou as mãos atrás das costas e quase começou a assobiar. Não o apito que parecia incomodar a todos, mas uma pequena música melodiosa. No entanto, ela se conteve quando ele olhou para o cartão e o virou, depois de novo. Talvez ele não tivesse intenção de deixá-la entrar. Era fora do comum, com certeza. Provavelmente nenhum visitante inesperado ou não convidado apareceu na casa do visconde durante toda a semana, se não durante todo o ano.
— Lorde Jeffcoat e eu já nos conhecemos, — garantiu ela. Talvez o mordomo pensasse que ela era uma mulher de má reputação, querendo ser pega em uma situação comprometedora para que pudesse chantagear o visconde. Talvez ele temesse que ela fosse uma pobre serva a quem seu mestre tinha usado mal, que estava lá para declarar que ela carregava seu filho.
Com seus pensamentos descontrolados por ter lido muitos livros horríveis de Delia para manter sua mente ocupada à noite, Charlotte não podia fazer nada além de olhar diretamente nos olhos do homem enquanto sorria encorajadoramente. Afinal, ela era uma mulher de negócios!
Algo deu certo no mordomo, pois ele recuou e convidou-a a entrar.
— Se ficar aqui, por favor, senhorita, vou perguntar ao meu senhorio se está a receber visitas.
— Obrigada, — ela disse, encantada por vagar pelo foyer. O homem subiu as escadas, deixando-a examinando um busto de mármore que parecia ser de alguém antigo, um grego, ela supôs. Em seguida, ela mudou-se para um lindo vaso vermelho que ela sabia ser de vidro veneziano, por ter visto semelhante na Itália. Tão bonita, com sobreposição de ouro aparentemente pingando simetricamente nas laterais. Ela teve que cerrar os punhos atrás das costas. Sua mãe sempre disse que a coisa mais segura a fazer era não tocar, mas ela queria muito.
Por último, na parede oposta ao lado de uma porta fechada, havia uma paisagem. O coração de Charlotte apertou quando ela viu que era semelhante a uma que eles tentaram copiar de uma gravura na aula de arte, provavelmente o mesmo pintor. A cópia de Lionel foi a melhor, sem dúvida.
Passos a tiraram de seus pensamentos em uma espiral de tristeza. Quando ela se virou, Lorde Jeffcoat estava chegando ao último degrau, parecendo ter descido a galope. Ele passou a mão pelo cabelo, penteando-o para trás, e então puxou o casaco como se tivesse acabado de vesti-lo. Ela aparentemente o pegou em um estado de descanso.
— Minhas desculpas, Srta. Rare Foure, por deixá-la esperando. Não esperava visitas esta noite.
— Sou eu que devo me desculpar por entrar aqui sem ser convidada, mas não conhecia nenhum outro advogado e só tenho até amanhã cedo. — Surpresa ao saber no ano anterior que Lorde Jeffcoat estava estudando Direito, já que ela presumiu que nenhum cavalheiro com título fizesse algo tão difícil, na outra noite ele a informou que tinha sido chamado para o exame. Charlotte não poderia estar mais aliviada por ter uma mente jurídica disponível em seu círculo de amizades.
Ele hesitou, mas então disse:
— Tudo bem. Você é sempre bem-vinda como a cunhada do meu melhor amigo.
Ela pensava assim dele, embora também percebesse que eles tinham dado um passo para trás. Ela notou com curiosidade que não era bem-vinda simplesmente como a mulher que ele queria escoltar pela cidade, o que ela não estava mais confiante de ser o caso.
Lorde Jeffcoat parecia gostar de sua companhia no Haymarket Theatre, assim como de sua irmã e do Sr. Carson. No entanto, depois de trazê-la diretamente para casa, ele a acompanhou até a porta e, com uma breve reverência, deixou ambas, ela e Delia, no degrau da frente. Além disso, ele não voltou à loja depois disso, nem a convidou para sair novamente.
Na verdade, ela estava um pouco interessada no motivo de sua desatenção, entendendo que ele a achava insatisfatória de alguma forma. Distraída com o funcionamento da loja na ausência de sua mãe, entretanto, Charlotte tinha sido incapaz de subir ao nível de ficar irritada e mal podia reivindicar a si mesma para ser incomodada simplesmente por curiosidade.
Vê-lo como um nobre em casa, rodeado por suas belas coisas e ela ainda nem tinha saído da entrada! Charlotte presumiu que Lorde Jeffcoat a considerava provinciana ou de classe média demais para ele. Talvez ela tenha rido muito alto da peça.
— Você sabe que sou um advogado e não um solicitador. Isso significa...
Ela acenou com a mão.
— Eu sei o que isso significa, meu lorde. Você se sente mais confortável discutindo perante um juiz do que lidando com contratos legais. Isso é bom. Eu simplesmente preciso de alguém para ler um documento e ter certeza de que não estou perdendo nada ou sendo enganada.
Ele franziu a testa.
— Que tipo de documento?
— Um contrato de arrendamento. Quero expandir a Rare Confeitaria.
Parecendo surpreso com a importância de sua visita, ele disse:
— Bem, então, é melhor eu dar uma olhada. — Ele olhou além dela para o mordomo, que havia retornado para aguardar qualquer ordem.
A carranca de Lorde Jeffcoat ficou gravada mais profundamente em sua testa.
— Você está aqui sem uma acompanhante? — Seu tom era incrédulo.
— Sim, — ela admitiu. — Vim direto, após fechar a loja.
Ele balançou a cabeça enquanto murmurava baixinho. Ela ouviu as palavras precipitada e ruína.
— Phelps, por favor, traga chá para o..., — ele hesitou e olhou ao redor de sua casa como se não tivesse certeza de onde estava.
— A sala de estar, senhor, — disse o Sr. Phelps. Charlotte abafou uma risadinha antes que o servo capaz se voltasse para ela. — Posso pegar sua capa, senhorita?
Havia um frio no ar e no saguão e ela não era uma convidada, então recusou.
Lorde Jeffcoat acenou com a cabeça para o mordomo e gesticulou para que ela o precedesse pelo vestíbulo e pelas portas duplas ao lado do quadro que a irritava.
— Você mora sozinho aqui? — Ela perguntou, olhando ao redor o que poderia ser melhor descrito como um quarto abandonado. Não ajudou muito quando ele ligou as lâmpadas. Sinais de negligência estavam por toda parte. Não na limpeza, é claro. Não havia nenhum traço de poeira ou teia de aranha à vista, mas mesmo assim foi desanimador.
E estava frio. Parecia que Lorde Jeffcoat não havia atualizado sua casa com a conveniência moderna do aquecimento a vapor ou a gás, e o aquecedor a carvão estava apagado, parecendo não ser usado há séculos.
— Meu pai, o Conde de Bentley, também mora aqui. Ele fica sozinho na maior parte do tempo.
Charlotte supôs que essa era a resposta. Sem presença feminina. Sem flores frescas, nem um livro sobre a mesa. Na verdade, todas as superfícies estavam vazias, e o sofá e as cadeiras não tinham travesseiros ou cobertores aquecidos pendurados nas costas. Não havia nem samambaia ou palmeira em um vaso. Ela juraria que o quarto nunca foi usado, mas apenas limpo pela equipe.
— Você quer se sentar? — Ele ofereceu.
Ela o fez, no sofá duro. Quando ele foi se sentar na cadeira mais distante dela, ela suspirou.
— Meu senhor, talvez você possa se sentar mais perto para que possamos repassar o aluguel juntos. Eu não quero que você escaneie e diga sim ou não. Quero que você me mostre qualquer coisa que possa ser considerada duvidosa ou qualquer linguagem que possa prejudicar a mim e minha família em benefício do senhorio do prédio. Acho que ele é um homem honesto, mas nunca custa investigar.
Novamente, ele hesitou, mas permaneceu de pé.
— Depois que o Sr. Phelps trouxer o chá, irei me sentar ao seu lado.
— Muito bem. — Ela podia imaginar como Lionel teria aproveitado a situação para pressioná-la contra o sofá e beijá-la. Ela percebeu que parecia covarde e astuto para ela agora, que ele nunca a tinha visto à luz do dia!
Silenciosamente, ela observou a calma reservada do visconde, embora ele estivesse parado diante dela um pouco sem jeito. Por sua vez, ele olhava resolutamente para a porta, como se quisesse que o mordomo se apressasse. Aparentemente, ele não só iria sentar-se depois do reaparecimento do Sr. Phelps, como também não ia falar. Cabia a ela aliviar a tensão.
— Sinto muito, meu senhor, por tê-lo colocado nesta posição.
— Não sou eu que estou em posição, — disse ele um tanto bruscamente. — É você. Uma posição para perder sua reputação, de um tipo que não poderia ser facilmente reparado.
Charlotte não pôde evitar um encolher de ombros nada feminino.
— Não consigo ver o mal.
— Isso é uma falha de sua parte.
— Possivelmente. — Ela quase sorriu, então percebeu que ele não estava brincando. Ele estava encontrando defeitos nela, o que ela não gostava. Nem um pouco. — Mais uma vez, peço desculpas por vir aqui diretamente. Eu deveria ter parado em casa por Delia.
— Isso é muito inapropriado, — acrescentou.
Antes que ela pudesse se defender novamente, a porta se abriu.
O Sr. Phelps, sem dúvida, instruiu o chá a ser feito em tempo recorde. Felizmente, com os grandes fogões modernos mantidos acesos a maior parte do dia, a água estava sempre fervendo na cozinha.
— Aqui estamos nós, — disse o visconde, enquanto o mordomo colocava a bandeja sobre a mesa baixa em frente ao sofá. Além disso, aninhado entre as xícaras e pires e o bule estava um lindo prato de porcelana com alguns biscoitos e wafers, que Charlotte apreciou porque havia pulado o almoço e estava ficando com fome.
— Devo servir, senhor?
— Não, Phelps. Eu cuido disso, — disse o visconde.
Tirando as luvas e pegando um biscoito, Charlotte mastigou enquanto o mordomo ia embora e seu Senhorio finalmente se sentava ao lado dela. Quando ele o fez, ela sentiu seu cheiro interessante de especiarias e rum novamente. Como ela descobriu, havia algo atraente em um homem que cheirava um pouco a pão de mel.
É certo que, naquele momento, sozinha na sala com ele, sentados juntos, ela sentiu uma nova consciência. Lembrando-se dos beijos furtivos com Lionel, sempre apressado e cheio de perigo de descoberta, ela percebeu como seria simples para duas pessoas, dado o tempo e o lugar, como a próxima hora em uma sala de estar privada, para quebrar totalmente os limites da aceitabilidade e respeitabilidade. Hm!
O aluguel estava dobrado em seu colo e ela agora entregou as duas folhas de papel a Lorde Jeffcoat. Ele tirou do bolso do casaco um par de óculos de arame de aço azulado, que colocou no rosto, certificando-se de que prendiam em suas orelhas antes de abrir os papéis dobrados. Ela nunca o tinha visto usando óculos antes. Enquanto ele começou a ler, ela o observou.
Seu rosto era atraente, com certeza. Sua boca era diferente da de Lionel. Por mais que odiasse admitir, Lionel tinha um jeito presunçoso de franzir os lábios enquanto se perdia em suas pinturas ou esboços, e sua boca deu lugar a um ar de petulância quando o professor fazia a menor crítica.
A boca de Lorde Jeffcoat não tinha nada de petulante ou enrugado, apenas determinação, como se ele fosse resolver qualquer possível problema no aluguel por bem ou por mal. Ela comeu outro biscoito enquanto ele olhava a próxima página.
Ele tinha sobrancelhas bonitas, ela decidiu, escuras e de formato refinado. E de lado, ela podia ver seus longos cílios praticamente tocando o vidro oval de seus óculos. Mais apropriado. Então, enquanto ela olhava para o lóbulo de sua orelha plana e seu queixo forte, sua cabeça se virou. Ele olhou diretamente em seus olhos com seus olhos azul celeste, e algo dentro dela mudou.
— Você está me encarando, — disse ele, — E estou achando difícil me concentrar.
— Eu estou? — Ela limpou as mãos para remover qualquer migalha. — Minhas desculpas, mas não há mais nada a fazer. — A sala não tinha livros ou jornais. Além disso, ela quis saber de uma vez, pelo olhar em seu rosto, se ele encontrou algo desagradável. — Devo servir o chá?
— Bem. Sim, por favor. Eu gosto de uma colher de chá de açúcar. — Em seguida, acrescentou: — Talvez todos gostem.
— Acho que não, — disse ela, e olhou para ver se ele estava brincando. Ele tinha um nariz bem formado, não muito pontudo. E embora suas maçãs do rosto não estivessem ridiculamente salientes, elas lançavam uma leve sombra em suas bochechas.
— Você ainda está olhando, — ele apontou. — Você gostaria que eu servisse?
— Não. — Ela colocou um pouco de leite no fundo de cada xícara e depois distribuiu o chá por cima, acrescentou o açúcar e até mexeu nas duas xícaras antes de entregar a dele.
— Seu chá ficaria mais quente no bule com um agasalho de malha, — ela disse a ele.
— Você está me distraindo, Srta. Rare Foure. Estou quase terminando.
Ela recostou-se com o chá e uma bolacha. Depois de bebericar o mais silenciosamente possível, ela falou novamente sem pensar.
— As plantas dão vida a uma sala, não acha?
Ele não respondeu.
— E com um castiçal de prata em cada extremidade do aparador, talvez com uma tigela de frutas no meio ou uma grande estatueta de porcelana, ficaria muito mais convidativo.
Ele virou a cabeça para ela novamente.
— Até o vaso vermelho do saguão ficaria bem, ali. — Ela apontou. — Isso traria um toque de cor.
Ele piscou.
Ela suspirou.
— Seu chá está esfriando.
Colocando as páginas sobre a mesa, tirou os óculos, pegou o chá e bebeu rapidamente.
— Eu não preciso de um aconchego em meu bule porque eu não bebo e fico vagando. Eu bebo antes que esfrie.
— E quanto ao conhaque?
— O que tem isso? — Ele perguntou, ambas as sobrancelhas levantadas.
— Você toma um gole ou inclina a cabeça para trás e engole tão rápido que mal sente o gosto?
— Eu bebo, — confessou, — Mas conhaque não é chá. Brandy deve ser saboreado lentamente. Como um beijo. — Essas palavras congelaram todos os pensamentos em seu cérebro, e ela ficou boquiaberta.
Ele estava flertando com ela?
Capítulo Sete
— Oh, — disse Charlotte depois de uma pausa, sabendo que o visconde a fez corar. Nenhum dos beijos que ela teve com Lionel foi lento. Muito pelo contrário. Eles tinham sido apressados e às vezes um pouco ásperos quando ele apertou sua boca sobre a dela, sempre com os dois ouvindo passos.
Imaginando como teria sido se ela e Lionel tivessem tempo à disposição, ela tentou, mas não conseguia imaginar Lionel ou sua boca quando se sentasse ao lado de Lorde Jeffcoat e seus insondáveis olhos azuis.
— Minhas desculpas, — ele disse, seu olhar permanecendo preso no dela. — Eu não deveria ter feito referência a um ato íntimo quando estamos sem um acompanhante. Isso foi errado da minha parte.
Ela engoliu em seco, seu olhar caindo para a boca dele. Como seria ter um beijo lento com o visconde? Eles iriam, sem dúvida, saborear o momento em vez de se agarrar um ao outro e então se separar no momento em que a excitação aumentava.
— Está tudo bem, — ela o assegurou, erguendo o olhar para ele novamente. — Não somos debutantes tímidas. Ou pelo menos não sou. Claro, você também não. Não que você pudesse ser. Você é um homem. — Ela começou a rir, ouvindo o nervosismo em sua voz. Ela tossiu. — O que quero dizer é que eu tive uma temporada, afinal.
Agora foi seu olhar que caiu. Enquanto ela falava, ele estudou sua boca ou assim parecia antes de seu olhar voltar aos olhos dela. Ele também nunca foi tão ligeiramente sorrindo. Com sorte, ele não estava rindo por dentro de sua tagarelice confusa.
Recupere sua compostura, Charlotte ordenou a si mesma, e ela o fez.
— Além disso, nós que gostamos do sabor do chá e não o bebemos apenas para matar a sede, queremos saboreá-lo, assim como você faz com o seu conhaque. E gostamos de saboreá-lo bem quente.
Parecendo pensativo, ele acenou com a cabeça, então ele sorriu mais amplamente pela primeira vez, e para sua surpresa, uma única covinha apareceu. Era bastante atraente e ela tinha o estranho desejo de tocá-lo.
— Você está certa, Srta. Rare Foure, — ele disse, fazendo-a olhar rapidamente em seus olhos. Ele não estava falando sobre sua covinha.
— Eu estou? — Ela perguntou.
— Você está. Se você gosta de saborear seu chá, quem sou eu para julgá-lo? — Inclinando-se para a frente, ele bateu no contrato com os óculos. — Quanto a este arrendamento, não sou um especialista em direito fundiário inglês ou mesmo em direito imobiliário, mas este arrendamento é direto. Ele já é o seu atual senhorio, correto?
— Sim, desde que meus pais abriram a loja. E de repente, o andar de cima ficou vazio pela primeira vez.
— Pelo que vejo, não chega a dobrar o seu aluguel, mas quase. — Ele apontou para a cláusula final na segunda página onde o pagamento mensal era estipulado. — Por que você não está falando com seus pais?
Isso a fazia parecer uma criança, mas ela supôs que ele tinha o direito de perguntar. Levantando o queixo, ela disse a ele:
— Meus pais estão fora e eu fui deixada no comando. Passo mais tempo na loja do que qualquer pessoa da minha família. Ela esperava que ela não soasse na defensiva.
Ele assentiu.
— Mesmo assim, você não acha que deveria discutir isso com suas irmãs?
— Posso me servir de outra xícara de chá? — Ela perguntou, querendo considerar sua resposta.
— Sim, claro, disse ele.
Leite, açúcar, chá, mexa. Recostando-se, Charlotte finalmente disse a ele:
— Você deve saber que seu amigo, o duque, em breve será pai. Minha irmã mais velha, sem dizer nada pessoal, precisa ficar mais tempo com os pés para cima. Eu não gostaria de preocupá-la com os doces agora. E, em qualquer caso, ela estará ainda menos envolvida nos próximos meses. Não que eu esteja dizendo que a decisão não cabe a ela, — acrescentou, — Embora, na verdade, seja exatamente isso o que estou dizendo.
— E a boca-de-lobo? — Ele parou abruptamente.
— O quê? — Ela perguntou, inclinando-se para frente.
— E quanto à sua outra irmã?
— Tenho certeza de que ela teria algo a dizer sobre isso, — Charlotte concordou, — Mas ela sempre passou o mínimo tempo na loja e o mínimo possível com os clientes. Sem dúvida, ela deixaria para mim e para minha mãe tomar uma decisão.
Sinceramente, Charlotte tinha quase certeza de que a opinião de Bea não se expandiria se isso significasse que ela teria de servir no andar de cima. Além disso, a última coisa que sua irmã queria naquele momento, com um novo marido e uma casa na Escócia para reformar, era uma confeitaria maior. Mas Charlotte foi deixada no comando, não Bea.
Lorde Jeffcoat suspirou, serviu-se de outra xícara de chá e pegou um biscoito.
— Senhorita Rare Foure, esta cláusula aqui, e ele apontou para outra mais acima na página, — Diz que isso é absolutamente vinculativo entre o signatário, ou seja, você e o Sr. Richardson. Se você mudar de ideia, ele não desculpará o fato de ser você e não seu pai assinando o documento.
— Ou minha mãe, — disse ela.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Acontece que você tem o poder de assinar, mas não sua mãe.
— O quê?
O visconde recostou-se, não parecendo confortável, mas isso sem dúvida era devido ao sofá duro.
— De acordo com a lei comum inglesa tradicional, você é uma solteira feme ou uma mulher adulta solteira.
— Sim. — Ela não tinha certeza do que ele queria dizer.
— Por mais estranho que possa parecer, você pode possuir uma propriedade e fazer contratos em seu próprio nome. Porém, sua mãe, como esposa, é considerada uma feme clandestina, uma mulher coberta. Obviamente, você está ciente de que ela não pode possuir propriedade por conta própria nem firmar um contrato.
— Suponho que já sabia, mas como ela sempre esteve a cargo da Rare Confeitaria, nunca pensei nas ramificações.
— Ela é considerada a mesma entidade que seu pai. Pelo menos, essa é a melhor maneira que posso colocar. Eles são uma pessoa só sob a lei.
— Mas essa pessoa é meu pai, não minha mãe.
— Precisamente.
— Parece... antiquado na melhor das hipóteses e ridículo no mínimo. Minha mãe construiu a loja até o que é, — Charlotte apontou.
— Para ser justo, a lei da clandestinidade também protegia as mulheres em uma época em que elas eram consideradas medíocres ou de vontade fraca. — Ele ergueu a mão quando ela começou a protestar.
— Isso garantiu que uma esposa pudesse realizar todos os tipos de atos hediondos ou mesmo levar um casal à falência, — explicou ele, — Sem consequências para si mesma, enquanto o marido seria responsabilizado.
— Você não acha que muitos maridos se comportaram abominavelmente por causa disso, — ela perguntou, — Tratando as mulheres como crianças, sendo cruelmente rígidos com elas, não permitindo que suas esposas tivessem liberdade e depois as punindo por quaisquer infrações?
— Com certeza. Felizmente, a Lei de Propriedade de Mulheres Casadas de 1870 e a Lei de Causas Matrimoniais do ano passado trataram de algumas dessas questões.
— Ano passado! — Charlotte pensou em Amity e Bea, ambas se casando e abrindo mão de seu status legal como pessoas. Que estranho! E elas o fizeram de boa vontade, por amor. Cada uma delas deve confiar em seu marido acima de qualquer coisa.
— Em qualquer caso, — ele continuou, — Se você realmente recebeu o poder de dirigir a loja, então você pode assinar o contrato de arrendamento. Não vejo nada desagradável no documento. No entanto, espero que, se você fizer algo que sua mãe não quer que faça, a força da lei será a menor de suas preocupações. Isso é correto?
Ela sorriu com sua suposição infalível.
— Verdade. Eu preferia ficar na prisão de Newgate do que aproveitar o descontentamento de minha mãe.
Diante de sua expressão preocupada, ela acrescentou:
— Falo de brincadeira, meu senhor. Minha mãe, embora formidável e exigente, sempre foi justa e gentil. Ela disse que gostaria de expandir se pudéssemos ficar na New Bond Street.
— Então, esta parece ser a solução perfeita. — Então ele inclinou a cabeça. — E você está certa sobre o chá. Minha segunda xícara está fria.
CHARLES FICOU IMPRESSIONADO com a Srta. Rare Foure mais uma vez. A próxima coisa que ele soube foi que ele a convidou para ficar para jantar depois de determinar que ela não tinha planos e estava indo para uma casa vazia. Ele até concordou em enviar um lacaio à casa dela para evitar a preocupação inevitável da equipe de longa data da família, que poderia estar preocupada, já que esperava sua chegada.
Por último, ele acendeu a lareira a carvão na sala de jantar, pensando, não pela primeira vez, em como a casa de Pelham era moderna com iluminação a gás e aquecimento. Com apenas ele e seu pai, dois solteiros, eles nunca viram a necessidade de reforma, exceto instalar um novo fogão a pedido do cozinheiro. No entanto, ele agora via o benefício, já que tinha sido difícil para o diabo fazer com que a Srta. Rare Foure removesse sua capa.
Durante a refeição, seu pai não apareceu, e Charles achou que era o melhor. O conde costumava ser rabugento. Por outro lado, a maneira como ela lidava com os clientes, sua personalidade encantadora, poderia ter feito a ele o bem.
Charles ficou secretamente satisfeito ao ver que ela havia recuperado o bom humor e o semblante agradável, ambos ausentes da última vez que ele esteve em sua loja, observando-a perseguir os clientes. Talvez tenha sido a possibilidade de expandir a Rare Confeitaria que a deixou tão feliz, mas ele praticamente podia ver sua empolgação em seus olhos brilhantes e lábios curvados.
Quem poderia imaginar que dentro daquela jovem que trabalhava Marzipan e amava coisas bonitas batia o coração de uma mulher de negócios?
Ele esperava que tudo corresse bem. Ele também gostaria de tê-la convidado para sair uma segunda vez. Ele tinha sido tacanho de não fazer isso, mas ele estava decididamente em cima do muro se eles eram bem combinados. Embora a atração aumentasse cada vez que ele estava com ela, se ela era totalmente inadequada para se tornar uma viscondessa, não havia sentido em enganá-la. Afinal, ele não era um canalha para brincar com os sentimentos de uma mulher, especialmente a irmã da esposa de seu amigo.
Sem hesitar, ela aceitou sua oferta de jantarem juntos sozinhos, como se fosse a coisa mais natural do mundo para uma mulher solteira jantar na casa de um homem solteiro. Ele não podia deixar de rolar os olhos para a precariedade dele e esperava que Pelham, como seu irmão na lei, não parecia indelicadamente sobre ele.
No final das contas, depois de uma sopa cremosa de vegetais seguida de frango assado com batatas fatiadas, a Srta. Rare Foure o encantou ainda mais com seu conhecimento de arte, bem como com a amplitude de seus pensamentos. Ela havia viajado muito pelo continente, mas não se gabava disso. Em vez disso, ela parecia ter desenvolvido uma visão aguçada das diferenças entre as culturas, ao mesmo tempo em que apreciava a mesmice das respostas das pessoas a coisas básicas como boa comida, vinho e música.
Em literatura, ela não era extremamente lida, aparentemente preferindo trapos de fofoca e romances sentimentais a qualquer coisa filosófica. Mas então, durante a sobremesa, ela mencionou William Harrison Ainsworth.
— Estou trabalhando nos três volumes da última publicação do Sr. Ainsworth, Beau Nash. E eu entendo que ele ainda está escrevendo aos 74 anos.
Charles quase cuspiu seu vinho.
— Isso é notável.
— Não é? — Ela olhou para ele por cima de uma garfada de torta de morango que a cozinheira fizera para o prato de pudim. — As pessoas fazem muitas coisas aos setenta anos.
— Não, eu não quis dizer por causa da idade dele. Eu quis dizer porque o admiro muito também. Eu li quase todas as suas obras, declarou Charles, exceto aquela. Só não tive tempo ainda.
— Você o lê porque ele também é advogado? — Ela perguntou.
Que delícia, pensou ele, ter outra pessoa com quem pudesse conversar sobre um autor que admirava muito.
— Precisamente, embora não esteja satisfeito. Ele tem o coração de um poeta, eu acho. — Charles admirava o homem que poderia trazer um pouco de ímpeto para a profissão de advogado, que muitos consideravam enfadonha. — Você leu A Câmara Estelar?
— Não, eu não tenho, — ela admitiu. — Mas eu li seu Castelo de Windsor e gostei muito.
— Eu também. Tenho A Câmara Estelar, se quiser pegá-lo emprestado. Dois volumes. — Ele saltou da mesa. — Venha, traga o seu vinho. — Ele nunca conheceu uma mulher que tivesse lido William Ainsworth antes. Ele se sentiu como se tivesse encontrado um amigo rápido, mas se conteve um segundo depois. — Isto é, se você terminou com sua torta.
Como resposta, ela deu a última mordida entre os lábios carnudos, distraindo-o por um segundo, então ele se esqueceu de puxar imediatamente sua cadeira. Quando ela começou a empurrá-lo, ele entrou em ação, lembrando-se de suas maneiras. Em seguida, ele a conduziu da sala de jantar e subiu a escada principal para seu escritório.
— Você deve ter lido A filha do avarento, — ele disse, segurando a porta para ela entrar. Normalmente, era seu santuário, violado apenas por seu pai, Pelham ou Waverly. Ainda assim, ele não pensou duas vezes antes de convidar a Srta. Rare Foure para entrar. — E The Flitch of ...
— Of Bacon, — ela terminou, nomeando o romance de Ainsworth que explorava a velha tradição de dar aos casais um pedaço de bacon se eles jurassem não se arrepender um ano e um dia após o casamento. — Um pouco sentimental, mas estranho o suficiente para manter meu interesse.
Quando eles entraram na sala, com ele deixando a porta aberta por causa do decoro, ela começou a rir. O som inesperadamente despertou seu desejo, dando-lhe uma pausa. O que diabos deu nele? Ele não era um jovem excitante. Ainda assim, olhando para Charlotte, com seus ricos olhos castanhos brilhando à luz da lamparina, o arco de seu lábio superior curvado com alegria, ela era uma fada encantadora. Algumas horas atrás, ele nunca poderia ter imaginado uma criatura tão doce em seu escritório.
Ela colocou o copo na beirada da mesa lotada e girou em um círculo.
— Apenas olhe! — Ela gesticulou com suas mãos delicadas.
— O que estou olhando?
Ela riu de novo e disse:
— É como se todos os bibelôs convidativos e outros não tivessem sido colocados aqui. A sala de estar era tão simples que alguém pensaria que você tinha acabado de se mudar, e sua sala de jantar poderia ser descrita como simples. Mas aqui, você tem pinturas atraentes e todos esses livros lindos, e aquele lindo castiçal de prata. Qualquer um consideraria o tapete persa sob meus pés muito acolhedor. Ora, você até tem uma planta, parecendo saudável, se assim posso dizer.
— Eu acho que você insultou a maior parte da minha casa, — Charles disse a ela sem rancor. Na verdade, ele achou engraçado que ela fosse tão franca. — Mas estou feliz que você goste do meu estúdio. É aqui que passo a maior parte do meu tempo.
— Eu posso ver por quê. — Ela vagou pela sala inteira, passando a mão pelas costas da cadeira de couro dele, olhando para a mesa dele, até mesmo os papéis espalhados por ela, o que muitos considerariam uma invasão insolente de privacidade. Mas quando ela fez isso, Charles não se importou. Eventualmente, ela parou na frente de sua estante de livros onde começou a examinar os títulos. A ocorrência inteira lhe deu uma sensação estranha, mas prazerosa de familiaridade.
Ele tinha uma cadeira estofada perto do fogo brilhante, apenas uma, já que era seu domínio privado, e ao lado dela uma mesa de abajur. Ele pegou a taça de vinho dela na beirada da escrivaninha e colocou-a na mesa ao lado da dele, então ficou ao lado dela para encontrar os livros específicos.
A fragrância inebriante dela encheu sua cabeça quando ele se inclinou para uma prateleira inferior e retirou o conjunto de dois volumes de A Câmara Estelar. Ele entregou a ela um dos livros.
— Tem tudo, — ele proclamou, batendo na capa com os óculos antes de colocá-los e folhear as páginas. — História, uma história emocionante, aquele aspecto gótico que todos parecem amar tanto, e cenas da corte.
Ela riu novamente.
— E cenas de tribunal.
Charles queria beijá-la naquele momento mais do que queria respirar. Mas ele era um cavalheiro. Ele entregou a ela o outro volume e se afastou para colocar alguma distância entre eles. Pegando sua taça de vinho, ele tomou um gole rápido e a observou enquanto ela abria o livro.
— Seu nome é Charles! — Ela olhou para ele do outro lado da sala, depois de ler o livro na capa interna. — É realmente?
— Sim, — disse ele, sabendo imediatamente que a coincidência de seus nomes também a faria rir, e fez, um doce som borbulhante.
— Que estranho eu nunca soube disso. Ninguém me disse, embora eu nunca tenha perguntado. Charles Jeffcoat, — ela meditou.
— Charles Jeffrey Jeffcoat, — disse ele, só para trazer um sorriso ao seu rosto novamente.
— Não é! — E ela agarrou os livros enquanto ria.
— Você encontrou uma concubina bem-humorada, — veio a voz de seu pai no corredor, e Charlotte ficou absolutamente silenciosa.
Ambos se voltaram para o conde de Bentley. Seu pai estava parado na porta, seus cabelos com mechas grisalhas ainda predominantemente castanhos e, naquele momento, despenteados e em uma bagunça assustadora. Ele usava um roupão por cima das roupas em vez de um casaco. Charles podia ver que ele não usava gravata, nem gravata de qualquer tipo, e sua camisa sob o manto estava aberta na garganta. Naturalmente, ele também usava seus chinelos favoritos.
Charles não pôde evitar revirar os olhos. Seu pai falava sem malícia, simplesmente declarando o que ele pensava ser a verdade e em termos inequívocos. Evidências fariam acreditar que havia uma saia leve no escritório, pois que outro tipo de mulher estaria sozinha com um homem, bebendo vinho e se comportando de maneira tão relaxada?
— Pai, ela não é uma concubina. — Ele olhou para Charlotte para avaliar sua reação. Ela parecia mais curiosa do que qualquer coisa e, felizmente, não se sentia insultada. — Senhorita Rare Foure, permita-me apresentar-lhe o Conde de Bentley. Então ele se voltou para o pai. — A senhorita Rare Foure é amiga da família.
— Que família? Não a nossa, — seu pai apontou, enfiando as mãos nos bolsos do roupão.
— Minha irmã é a duquesa de Pelham, — Charlotte falou, ignorando seu tom hostil.
— Ah, Pelham! — O conde exclamou. — Conheço-o desde que tinha as orelhas molhadas. Não se trata de nada, exceto café, mas um bom tipo, suponho. E ele é um homem com uma mãe superior.
Charlotte olhou interrogativamente para Charles, mas não era hora de discutir as inúmeras falhas de sua mãe. Ele apenas deu de ombros, esperando que transmitisse tudo e nada.
Charlotte pareceu entender.
— Sim, a duquesa viúva é uma mulher maravilhosa que trata minha irmã muito bem.
— Hmph, — disse o pai. — Eu perdi o jantar?
— Sim senhor. Uma bandeja não foi levada para o seu quarto? — Charles o lembrou de seu costume usual.
Seu pai encolheu os ombros.
— Suponho que sim, mas eu pretendia visitar você.
Com essas palavras, Charlotte deu um passo à frente.
— Meu senhor, por que não entra e bebe um pouco de vinho conosco. Ou você prefere conhaque? É muito mais agradável aqui do que embaixo, de qualquer maneira. Talvez você queira uma sobremesa.
Ela olhou para Charles em busca de confirmação, e ele percebeu que suas habilidades de vendedora em deixar os clientes à vontade eram, como ele suspeitava, as mesmas de uma boa anfitriã.
— Sim, — ele concordou. — Pai, venha sentar-se perto do fogo. Estávamos apenas discutindo livros.
Seu pai ainda estava francamente estudando Charlotte, que lidou com seu olhar indelicado com calma.
— O que teve para sobremesa? — Ele exigiu dela.
— Torta de morango, — Charlotte respondeu. — Estava uma delícia.
Sem olhar para ele, seu pai disse:
— Pegue um pouco para mim, sim, Charlie?
Desejando que o apelido familiar não o fizesse parecer um garotinho, Charles apertou a campainha da porta para chamar um criado.
Por fim, seu pai entrou mais na sala e ocupou a cadeira com alças perto do fogo.
— Na verdade, estávamos discutindo sobrenomes, — disse Charlotte.
— Então eu ouvi. E Charlie estava mentindo para você. Ele não é Charles Jeffrey Jeffcoat. Que absurdo!
— Oh! — Charlotte voltou seus grandes olhos castanhos para Charles com admiração. Ela provavelmente o considerou um grande mentiroso.
— Eu só estava tentando ser engraçado, — confessou ele, sentindo-se um tolo. — Nosso nome de família é Lambeth. Não havia nada de divertido nisso.
— Charles Jeffrey Lambeth, o visconde Jeffcoat, — disse ela, juntando tudo.
Estranhamente, Charles esperava que ela gostasse de sua longa designação. Ele abriu um sorriso para ela, que ela retribuiu.
— Um dia provavelmente mais cedo ou mais tarde será o conde de Bentley, — seu pai acrescentou, — Mas, é claro, você sabia disso.
Charles revirou os olhos ao ligeiro insulto, praticamente chamando-a de caçadora de títulos, mas Charlotte não pareceu se ofender. Em vez disso, ela deu a volta na cadeira para ficar perto das brasas e enfrentar seu pai.
— Você admira a escrita do Sr. Ainsworth? — Charlotte perguntou.
Charles esperava que seu pai pulasse imediatamente ao perceber sua própria descortesia atroz. Em vez disso, ele inclinou a cabeça para trás e colocou a culpa em outro lugar.
— Eu sinto muitíssimo. Meu filho é negligente por ter apenas uma cadeira confortável, e eu a considerei uma idiota. Não estamos acostumados com visitantes. — Ele se virou para o filho. — Charlie, traga sua cadeira aqui para mim. Em seguida, a jovem lady pode ter um presente confortável.
— Está tudo bem, meu lorde, — Charlotte começou, mas parou quando Charles fez como seu pai ordenou e conseguiu que os dois se acomodassem. Ele teve que pedir a sobremesa a um lacaio e também outra cadeira, decidindo remediar a falta e colocar logo outra poltrona junto à lareira. Talvez isso trouxesse seu pai com mais frequência para uma conversa.
Em qualquer caso, ele ficou surpreso ao ouvir Charlotte e seu pai terem uma conversa fácil. Cada vez que o conde ficava irritado, ela dizia algo para acalmá-lo até que a sobremesa chegasse, que seu pai se deliciava com alegria. Naturalmente, o conde confessou uma preferência por obras mais antigas de Homero a Shakespeare, mal permitindo que Voltaire e Goethe valessem a pena ler.
— Todo o resto é bobagem, incluindo aquele Ainsworth, — ele acenou com a cabeça em direção aos livros que ela segurava.
— Oh, eu gosto muito deles, — Charlotte disse com bom humor, pegando sua taça de vinho da mesinha. — Também gosto de Swift ou Defoe para uma aventura divertida.
— Bah, — seu pai disse, mas seu tom era agradável. Então ele olhou para seu filho e de volta para Charlotte. — Se você não é uma concubina, por que está aqui?
— Pai! — Charles estava pronto para derrotá-lo. Estava além do limite fazer um convidado se sentir mal recebido. Seu pai, que podia agir com todo o decoro no Parlamento, estava sem dúvida sendo rude por esporte.
Antes que ele pudesse dizer mais, o conde acrescentou:
— Suspeito que você não veio apenas para comer nossa comida e pegar alguns livros emprestados, mas para garantir um marido com título, como sua irmã fez.
Capítulo Oito
Charles observou as bochechas de Charlotte ficarem rosadas de vergonha. Ele sentiu a mortificação dela até os dedos dos pés.
— Pai, isso foi rude. A senhorita Rare Foure veio pedir meu conselho jurídico, e você deve a ela um pedido de desculpas.
— Eu? — Perguntou o conde, tirando o prato de sobremesa da mesa onde o deixara de lado. Sem dizer mais nada, em vez disso, deu a última mordida na torta e mastigou feliz.
Claramente, ele sabia que havia dito algo inflamatório e estava se divertindo de qualquer maneira. Às vezes, ultimamente, seu pai caía em um estado infantil de obstinação, mas Charles achava que era mais provável devido ao aumento do isolamento e, portanto, à falta de necessidade da prática da civilidade, do que devido a qualquer perda de suas faculdades mentais.
— Não, está tudo bem, — Charlotte disse. — Naturalmente, seu pai está confuso.
Charles quase riu alto porque as palavras dela refletiram seus pensamentos, chegando a uma conclusão oposta ou, pelo menos, fingindo, a fim de desculpar o comportamento ultrajante do conde.
Seu pai abaixou o garfo, as sobrancelhas franzidas.
— Confuso? Por que você diria uma coisa dessas?
Charlotte o fixou com seu olhar castanho chocolate.
— Suponho que você esteja um pouco confuso, meu senhor. Por que outro motivo você andaria por aqui em seu roupão, sem saber se já jantou, evitando boas maneiras por palavras indelicadas e usando chinelos em várias companhias. E o tempo todo capaz de falar com inteligência sobre a grande literatura.
O queixo de Charles caiu. Ela tinha conseguido insultar o conde de todas as maneiras, enquanto o colocava em seu lugar e soava como uma convidada encantadora ao mesmo tempo. Sem mencionar que terminou com seu sorriso caloroso e praticamente um elogio. Então ela tomou um gole de vinho.
Ele queria dizer: Bravo! Mas segurou sua língua.
Seu pai parecia aborrecido.
— Não estou confuso nem atordoado, mocinha.
— Então, como você explica seu comportamento? — Ela perguntou, inclinando a cabeça de uma forma bonita.
De repente, isso se tornou interessante, Charles refletiu.
O conde abriu a boca e a fechou. Ele teria que confessar ser um velho mal-educado ou um tonto.
— Suponho que devo desculpas a você, — murmurou ele por fim. — Em minha defesa, nunca temos convidados e este aqui, — ele apontou o polegar na direção de Charles, — Nunca teve uma 'amiga' feminina. As únicas pessoas que vêm aqui são Pelham e Waverly. E você estava certa, a torta de morango é deliciosa. — Ele se virou para Charles. — Você se esqueceu de pedir uma taça de vinho para mim. Depressa, estou com sede. Agora, qual era essa questão legal?
Para a surpresa de Charles, os três tiveram uma breve, mas civilizada, discussão sobre a Rare Confeitaria, e seu pai achava que qualquer expansão na New Bond Street era - uma ideia excelente. Basicamente, embora não solicitado, ele deu sua bênção a Charlotte.
Em outra hora, com mais vinho tendo sido bebido, Charles se ofereceu para levá-la para casa.
— Foi um prazer conhecê-la, Srta. Rare Foure, — disse seu pai, levantando-se para vê-los sair.
— Foi um prazer conhecê-lo também, meu senhor, — ela retornou.
— Claro que foi, — Charles murmurou em seu ouvido enquanto desciam a escada.
CHARLOTTE RIU E abraçou os livros contra o peito.
— Ele foi um prazer, — ela insistiu. — Seu pai é encantador.
Lorde Jeffcoat colocou a capa sobre os ombros. Atrás dela, ela o sentiu balançar a cabeça.
— Ele não é, — ele disse perto de seu ouvido.
Sua respiração fazia cócegas, mas ela não se afastou quando um frisson de excitação percorreu sua espinha.
— Não no início, — ela esclareceu, — Mas depois.
— Depois que você o cativou com seu charme, — ele insistiu.
Ela não conseguiu conter a risada.
— Eu sou conhecida por isso, — ela confessou, esperando não soar arrogante.
O mordomo do seu Senhorio apareceu.
— Sua carruagem está pronta, senhor.
— Obrigado, Phelps.
Charlotte percebeu abruptamente o quão longe ela estava ultrapassando os limites da hospitalidade. Girando para enfrentar o visconde, ela teve que protestar seu próximo ato de bondade.
— Você não deve me levar para casa. Eu apareci aqui sem ser convidada, e ainda assim você me ajudou com minhas questões legais, você me alimentou e até me emprestou alguns livros. — Ela deu um tapinha no volume superior. — Eu posso facilmente chamar uma carruagem de aluguel.
— Como a irmã em lei do meu melhor amigo, eu a considero uma amiga, — Lorde Jeffcoat disse a ela, seus olhos azuis segurando seu olhar. — Além disso, Pelham me estrangularia se eu deixasse você ir para a escuridão sozinha. Ou a duquesa faria. Venha comigo. É um pequeno passeio até a Baker Street.
— Precisamente, — ela protestou, — Dificilmente vale a pena você atrelar seus cavalos.
— Já está feito, e não por mim, garanto-lhe.
O mordomo abriu a porta, e Lorde Jeffcoat, Charles, como ela agora o conhecia, estendeu o braço para ela. Ela colocou a mão no braço dele e o deixou acompanhá-la pelos dois degraus e ao longo do curto caminho para a carruagem que a esperava.
— Afinal, — continuou ele, — Não é como se eu tivesse ido às cavalariças para atrelar as montarias e colocar freios em suas bocas.
Ela esperava não ter ofendido o visconde ao inferir que ele tinha que fazer qualquer trabalho braçal, mas quando ele a ajudou em sua claridade, que estava iluminada por dentro e por fora, ela pôde ver que não era o caso.
Ele deu a ela seu leve sorriso e acrescentou:
— Embora eu ame cavalgar e tudo sobre cavalos. Estou tão feliz nos estábulos como no tribunal. Mais ainda, na verdade. Temos uma propriedade em Wiltshire onde os crio. É uma alegria. E eu não me importo de escová-los ou limpar seus cascos ou qualquer coisa assim, a propósito.
Ele a surpreendeu.
— Também temos uma casa de campo, — disse ela. — Mas não criamos nada lá, exceto flores e algumas galinhas.
Ambos riram. Então, quando a carruagem começou a andar, ele disse:
— Vou baixar as cortinas, porque com as lâmpadas internas acesas, estamos em exibição como atores no palco.
— Claro. — Ela não estava nem um pouco alarmada. — Eu não quero ser tomada como uma concubina de novo, quero? — Charlotte quis dizer isso de brincadeira, mas sua expressão ficou séria.
— Eu sou um idiota, — disse ele. — Eu deveria ter trazido uma das criadas conosco. Novamente, estamos arriscando sua reputação.
Ela encolheu os ombros.
— Não importa, meu lorde. Vou colocar meu capuz quando sair. Isso vai ajudar?
Seus olhos se arregalaram.
— Você considera sua reputação muito levianamente, Srta. Rare Foure. E fiquei complacente porque, na verdade, você é tão fácil de conversar e uma companhia tão boa, até com meu pai, que me senti como se estivesse levando um amigo para casa. Não uma mulher.
Não uma mulher! Ela recostou-se na cadeira, sentindo-se um pouco desanimada.
Ele balançou a cabeça, parecendo decepcionado.
— Isso não saiu como planejado. Obviamente, você é uma mulher. E uma linda. E eu te convidei para sair antes, — ele a lembrou.
— Mas não duas vezes, — ela disse calmamente, decidindo na segurança da carruagem quando eles poderiam conversar em particular para determinar o motivo. Afinal, se ela havia causado uma má impressão em um homem, tornando mais fácil para ele esquecê-la, como ocorrera com Lionel e Charles, então seria melhor descobrir por quê.
— Eu tive um tempo esplêndido, — ela confessou, — E então eu nunca mais vi você depois. Você não deve ter tido uma noite tão boa.
— Eu tive, — disse ele rapidamente, em seguida, suspirou, — Exceto....
Quando ele a deixou pendurada, Charlotte se inclinou para frente, as bordas dos dois volumes empurrando em suas costelas. Qual foi a exceção? A risada dela? A maneira como ela bebeu o champanhe rápido demais no intervalo? Talvez como ela bateu palmas por muito tempo no final da peça?
— Você assobiou antes de a peça começar, — disse Lorde Jeffcoat. — Foi... inquietante. E não foi a primeira vez que ouvi isso. Você fez isso naquele dia em sua loja, o dia em que contratou o jovem Edward.
— Eu assobiei, — repetiu ela, lembrando-se de quantas vezes sua mãe a advertiu para não o fazar em público. Felicity Rare Foure sempre estava certa.
— Todos no teatro ouviram, — continuou Lorde Jeffcoat, — E olharam para nós.
— Oh, — ela disse, seu olhar caindo para seu colo. Ela humilhou o visconde e agora estava mortificada. Charlotte piscou, recostando-se nas almofadas e se sentindo à beira das lágrimas.
— E então você convidou sua irmã e seu marido para se juntar a nós. Primeiro, no intervalo e depois no meu camarote. Se o Sr. Carson não tivesse sua própria carruagem, tenho certeza de que você os teria mandado de volta conosco também.
Seu olhar agarrou-se ao dele quando percebeu a importância de suas palavras.
— Você não gosta da minha irmã?
— Não! — Ele exclamou.
Ela recuou diante do homem que não apreciava um membro de sua família.
Ele acenou com as mãos em sua expressão.
— Quero dizer, não, você está incorreta. Não é nada disso. Embora, para ser justo, de vocês três, ela seja de longe a mais direta nas maneiras, alguns podem até dizer temperamento explosivo.
Sua raiva começou a ferver.
— Beatrice é a pessoa mais inteligente que conheço e uma boa julgadora de caráter, o que você, aparentemente, não é! Ela simplesmente tem uma baixa tolerância para tolos. E enquanto você está lendo Ainsworth, — ela jogou os livros no assento de couro ao lado dela, não mais interessada em pegá-los emprestados, — minha irmã está lendo as obras de Homero no grego original, e a História da Grã-Bretanha em... em Dialeto anglo-saxão, ou seja o que for.
— Provavelmente latim, — ele disse.
Destemida por sua útil interrupção, ela acrescentou:
— Seu pai certamente a aprovaria!
— Senhorita Rare Foure, — Lorde Jeffcoat começou. Desta vez, foi ele que se inclinou para frente, já que ela ainda estava se afastando dele. — Eu acredito que você me entendeu mal. Não conheço sua irmã o suficiente para não gostar dela, nem pretendia lançar calúnias sobre seu caráter. Ela parece brilhante, de fato, e amada por você e pela duquesa cada vez que as vejo todas juntas.
De repente, ele estendeu a mão e pegou a mão dela.
— Porém, na noite em questão, esperava conhecê-la melhor e passar um tempo a sós com você, apesar da presença de sua empregada. No entanto, você parecia não ter interesse em fazer o mesmo comigo. Assim, decidi, se não merecesse sua curiosidade, nem sua atenção, não a faria passar mais uma noite comigo.
— Oh! — Ela piscou para ele, e ele lentamente a puxou para frente novamente, a mão dela agarrada na dele.
— Esta noite foi agradável. Eu diria que foi divertido, — acrescentou ele, enquanto o clima entre eles mudava. — Tanto antes de meu pai nos interromper e até, surpreendentemente, depois.
Ela assentiu. Charlotte não podia negar que tinha gostado de seu tempo sozinha com ele no jantar e também em uma conversa com o conde. Ela esteve à vontade o tempo todo. Mais do que isso, ela tinha se interessado... e atraída, cada vez que Charles deu-lhe um olhar pensativo ou um sorriso.
Seu polegar acariciou a seção nua de seu pulso, logo acima de sua luva, fazendo-a estremecer. Seus olhares se encontraram novamente.
— Você está interessada em mim, Srta. Rare Foure?
Ela não hesitou, não quando confrontada com Charles Jeffrey Jeffcoat olhando em seus olhos. Ela também não era de prevaricar.
— Sim.
Ele a puxou mais um ou dois centímetros para mais perto e fechou o espaço entre eles, deslizando para a borda de seu assento. No próximo instante, ele reivindicou seus lábios. Soltando suas mãos, ele colocou as dele sobre seus ombros, segurando-a no lugar, enquanto inclinava a cabeça e encaixava sua boca na dela.
Seus lábios quentes tinham um leve gosto de morango e vinho. Suas mãos largas em seus ombros a marcaram através do tecido de sua capa e vestido. Sua boca cobriu a dela, pressionando suavemente, mas com firmeza.
Ela pensou que iria acabar assim que começou, mas não acabou. Para sua alegria, Charles começou um lento exame de seus lábios, mordiscando o inferior, deixando cair beijos no canto esquerdo e depois no direito. Então ela sentiu a língua dele tocar seu lábio superior e ela abriu a boca.
Seu corpo se moveu para mais perto, e ela podia sentir suas pernas se alargando para envolver suas saias, suas coxas pressionando ao longo do lado de fora das dela.
Quando ela soluçou suavemente, incapaz de parar o tremor em seus membros e a vibração em seu estômago, ele deslizou a língua dentro de sua boca.
Com os pulmões queimando, ela respirou fundo pelo nariz. Um beijo lânguido era, ela decidiu, o tipo perfeito de beijo, uma vez que a pessoa se acostumava com isso. Então ela não conseguiu formar nenhum outro pensamento coerente, ciente apenas de como seu corpo chiava e sua língua perversamente acariciava a dele, e como o homem diante dela cheirava divinamente a rum e especiarias.
Deus a ajude!
Ela ouviu o cocheiro chamar os cavalos pouco antes de a carruagem parar, continuando a balançar por alguns momentos. Charles a soltou, não apressadamente, mas suavemente, recuando e permitindo que ela fizesse o mesmo.
Oh meu Deus!
Eles se encararam, ambos respirando pesadamente.
— Eu gostaria de convidá-la para sair novamente, Srta. Rare Foure.
— Eu gostaria que você fizesse, — ela respondeu, incapaz de evitar colocar a mão enluvada nos lábios, que pareciam estar pulsando com calor.
— Eu também acho que deveríamos ter uma acompanhante no futuro, — ele acrescentou, observando seus movimentos. — Eu acredito que agora você pode ver porque uma é consideração necessária.
Ela assentiu, mas não pôde evitar sorrir.
— Honestamente, estou feliz por não termos uma esta noite.
Sua boca se abriu em um sorriso encantador e sua covinha apareceu.
— Devo concordar com você nesse ponto.
Ele bateu no telhado e, no instante seguinte, a porta se abriu e o lacaio desceu o degrau. Charles desceu primeiro, depois se voltou para lhe oferecer a mão.
— Não se esqueça dos livros.
Pegando-os com a mão livre, Charlotte saiu da carruagem, pousando na calçada ao lado dele, o comprimento de seu corpo balançando momentaneamente contra o dele. Ela suspirou. Que noite mágica!
— Você se esqueceu de colocar o capuz, — ele a lembrou.
— Oh! Charlotte começou a se atrapalhar, já que ela não tinha a mão livre.
— Não importa, — disse ele, parecendo meio exasperado, meio divertido. — Vamos entrar. — Lorde Jeffcoat a acompanhou até a porta, que não se abriu com a abordagem deles. Ele pareceu surpreso com tal infração insubordinada, algo que ela tinha certeza que nunca aconteceu com seu capaz Sr. Phelps.
— Sem dúvida está destrancada, — Charlotte disse a ele e tentou a maçaneta. Com certeza, a porta se abriu.
O visconde franziu a testa, suas sobrancelhas escuras se juntando.
— Você vai trancar assim que entrar?
— Eu vou, — ela prometeu. — Obrigada por ler o contrato de aluguel. — Estava guardado em segurança em sua bolsa, pronto para ela assinar.
— O prazer é meu. A noite toda foi um prazer, na verdade, e desta vez não serei negligente em lhe enviar um convite para outro passeio. Isto é, se você estiver disposta.
— Eu estou. Isso seria ótimo. E obrigada pelos livros. Se eu não adormecer imediatamente, começarei um esta noite.
Ele acenou com a cabeça, parecendo hesitante em deixá-la, e se eles não estivessem na soleira da porta à vista das janelas do outro lado da rua, ela poderia se imaginar rolando na ponta dos pés e dando um beijo em sua boca atraente.
— Boa noite, — disse ela antes de entrar em casa para não fazer qualquer coisa estúpida.
— Boa noite, — ele disse e partiu para sua carruagem que esperava.
Ela não esperava tal reviravolta. E então ela percebeu. Ela não tinha pensado em Lionel, nem uma vez, quando beijava o visconde. Que benção!
Tirando o manto dos ombros e deixando-o no saguão da frente, ela subiu correndo as escadas, subiu na metade e desceu correndo para trancar a porta da frente, revirando os olhos com o próprio esquecimento. Então ela subiu as escadas mais devagar, ainda segurando os dois volumes com o nome de Charles rabiscado em suas placas. Uma coisa tão íntima, ter sua própria letra nas mãos dela.
Seus poucos servos foram todos para a cama, o que foi um alívio, pois ela temia que Delia pudesse querer ajudá-la a se preparar para dormir. Normalmente, essa era uma circunstância extraordinária, feita apenas se ela estivesse amarrada em um vestido de baile espalhafatoso. No entanto, sua empregada de longa data não pensaria em nada em se oferecer para escovar o cabelo a fim de arrancar boatos de fofoca dela. E sem nenhuma de suas irmãs por perto em quem pudesse confiar, Charlotte temeu que contasse a Delia algo indecoroso ou constrangedor.
Em um minuto, Charlotte ganhou a solidão de seu quarto, onde o fogo foi aceso antes e as lâmpadas acesas.
Olhando-se no espelho enquanto removia os grampos do cabelo, Charlotte pensou que seu rosto revelava claramente que ela havia recebido um beijo longo e satisfatório. Pelo menos para seus olhos, era óbvio por sua expressão feliz e seus lábios um pouco mais vermelhos do que o normal. Ela não gostaria que Delia visse o mesmo.
E logo, talvez até amanhã, ela receberia outro convite para uma noite com o visconde.
Pegando sua escova de cerdas de javali, ela começou a alisar o cabelo, lembrando-se de que o visconde não deveria ser o pensamento mais importante em sua mente. Afinal, no dia seguinte, ela estava expandindo a Rare Confeitaria pela primeira vez em vinte anos!
Tudo ficaria perfeito!
Capítulo Nove
Por que parecia que nada estava indo bem?
A partir do momento em que Charlotte entrou na loja, sentindo-se um pouco cansada de sua noite emocionante e depois de ter lido A Câmara Estelar de Ainsworth por metade da noite, pequenas coisas começaram a dar errado.
Edward, que sempre era pontual, se não adiantado, estava atrasado. Como Bea voltaria ao meio-dia, Charlotte teve que limpar rapidamente e começar a empacotar os pedidos de entrega. Quando ela estava virando a placa para abrir, Edward parecia tão sombrio quanto as nuvens de chuva que tinham entrado, mas se recusou a dizer qualquer coisa além de um pedido de desculpas abjeto. Ela não tinha o direito de bisbilhotar.
— Se precisar da minha ajuda com qualquer coisa, saiba que sempre pode pedir, — ela o assegurou.
Com um aceno de cabeça adulto, ele foi atrás para vestir seu avental e pegar bandejas para reabastecer a vitrine, o que ele ainda estava fazendo quando o primeiro cliente entrou.
Charlotte achou que já tinha muitos trocos para começar o dia, mas não tinha a quantia certa para o primeiro cliente e acabou tendo que dar alguns dos doces.
— Tenho que correr para o banco, — disse ela ao menino, — Ou vamos à falência. Eu deveria ter feito isso ontem ou a primeira coisa. Minha cabeça não está fixada corretamente hoje.
— E os clientes? — Ele perguntou, os olhos arregalados.
Por um segundo, ela considerou virar a placa para — Fechado. Então pensou melhor.
— Se você os conhece, diga que estamos colocando suas compras na conta deles por hoje. Apenas anote o nome e o custo. Tudo certo? A menos que eles tenham a quantidade exata, e então... bem, você sabe, você pode lidar com isso. Estarei de volta o mais rápido possível.
Ela arrancou o avental e saiu correndo porta afora antes de chamar o senhorio de volta.
— Edward, — disse ela, entrando novamente em uma rajada de ar frio que estava soprando nos galhos das árvores e enviando gotas de chuva deslizando pelo céu em uma direção horizontal. — Se o Sr. Richardson aparecer, um homem de bigode espesso, por favor, mantenha-o aqui e diga a ele que voltarei assim que puder. É importante. Não o deixe sair.
— Sim, senhorita.
O menino parecia apavorado, o que estimulou Charlotte a correr sem qualquer decoro rua abaixo em meio ao aguaceiro. Felizmente, ela não teve que ir além da Lothbury Street, direto no final da Old Bond Street. Se tivesse sido em qualquer outro momento, ela teria continuado para Amity, pois estava a apenas algumas ruas de distância da St. James's Place.
Não havia fila na vitrine de um balconista do The Imperial Bank e, em cinco minutos, Charlotte estava levantando a saia com uma das mãos para poder correr pela rua de volta à loja, segurando sua bolsa e a bolsa de couro na qual guardavam o dinheiro para transporte. Em seu pânico, ela negligenciou sua capa com seu capuz protetor e seu guarda-chuva.
Empurrando a porta, sentindo-se como um rato afogado, ela não viu um lorde impaciente esperando por ela como ela temia, mas quatro clientes e um menino esgotado.
— Com licença, por favor, — ela disse, empurrando-os para que pudesse chegar ao espaço entre os contadores. — Estou feliz em ajudar quem está por vir.
Pelos próximos minutos, ela atendeu aos clientes, dispensando Edward. E então, mesmo que outro entrasse na loja, Charlotte teve que pedir a ela para esperar para que pudesse levar Edward para fora com as entregas. Ela levou alguns minutos para enchê-lo com os doces adequados antes que ele saísse correndo com os sacos estourando.
— Vá com calma, — Charlotte disse a ele. — Não deixe cair nada. — Fechando a porta atrás dela, ela viu a cliente elegantemente vestida. — Minhas desculpas por deixá-la esperando, — disse ela à mulher que andava circulando pela loja, pegando latas, olhando para tudo em ambas as vitrines.
— Você normalmente tem mais ajuda? — Ela perguntou.
Era uma pergunta irritante. Charlotte se orgulhava de como administrava bem a frente da loja, geralmente com tudo sob controle. Ao mesmo tempo, ela sempre se sentia relaxada e capaz de afastar pequenos problemas, até mesmo capaz de fazer seu Marzipan ao mesmo tempo. Em todo caso, ela não achava que o breve atraso em fazer os pedidos sair justificava que ela explicasse sobre uma irmã grávida ou outra que não gostava de vir antes do meio-dia, ou a ausência de sua mãe. Não era da conta desta mulher.
— Peço desculpas pela espera, — Charlotte repetiu. — Posso te ajudar?
— É prática comum servir sem avental? — A cliente exigiu.
Charlotte olhou para baixo, tendo esquecido que ela o removeu. Antes que ela pudesse responder, a mulher continuou.
— E com o cabelo pingando nos ombros? Você causaria uma impressão melhor se estivesse mais arrumada e usando um avental branco limpo. Além disso, você sabia que o chão é particularmente sujo? Muito desagradável em uma confeitaria.
Charlotte entrou trazendo um rastro de água suja da rua. Normalmente, em um dia com chuva caindo, ela ou Edward chutavam uma toalha entre os clientes para manter o chão apresentável e não escorregadio. Hoje, nenhum dos dois teve chance.
— Você gostaria de esperar enquanto eu visto um avental, seco meu cabelo e lavo o chão? — Charlotte perguntou e então mordeu a língua em seu comentário amargo, muito mais adequado para Beatrice do que para si mesma. Ela precisava começar de novo.
Oferecendo um sorriso agradável, ela disse:
— Peço desculpas. Isso foi mal-educado. Para falar a verdade, nossa confeitaria é normalmente impecável e bem equipada, mas hoje...
— Onde está sua equipe? — A mulher perguntou. — Eu ouvi que você tem uma duquesa trabalhando aqui. Posso falar com ela?
Charlotte hesitou. Pela primeira vez, ela viu um toque de malícia piscando nos olhos da cliente.
— Hoje não, não.
— Hoje não. Claro que não. Talvez não em qualquer dia, — disse a mulher. — Dificilmente parece um lugar para a nobreza. Parece o tipo de boato que uma loja espalharia para aumentar seu patrocínio.
— Você gostaria de comprar algo? — Charlotte perguntou, tentando manter seu tom neutro ao invés de afiado como ela queria, pronta como estava para jogar esta mulher na chuva.
— Sim, eu gostaria de uma variedade para poder saborear o que você oferece e, com sorte, você terá tempo para explicar o que há neles.
— Claro. Você gostaria de experimentar alguma coisa primeiro?
— Isso parece suborno. Um chocolate grátis terá um sabor melhor do que aquele que paguei.
— Será? — Charlotte perguntou, tentando seguir a lógica da mulher. O que diabos ela quis dizer? — Você não precisa ter uma amostra se não quiser. Oferecemos um a todos que entram.
— Você? Hm. Essa é uma boa política. O que você sugere?
Charlotte queria sugerir que ela saísse e fosse para outro lugar. Em vez disso, ela disse:
— Todo mundo gosta de chocolate. A menos que você tenha um desejo particular por caramelo ou Marzipan, por favor, deixe-me dar-lhe um chocolate para provar.
— Muito bem. — A mulher esperou, enquanto Charlotte pegava um pires pequeno da prateleira atrás dela e escolhia um chocolate com as pinças de prata, colocando-o no prato antes de entregá-lo a ela. — Isso tem um toque de laranja nele. Delicioso e refrescante.
Só então, um casal entrou, o homem claramente adorando a mulher, mal olhando para onde ele estava indo ao olhá- la, e a jovem igualmente distraída. Recém-casados, Charlotte arriscaria um palpite.
— Você gostaria de uma amostra? — Ela perguntou a eles, enquanto a mulher na frente dela comia o chocolate. — Ou você sabe o que quer?
— Você não quer isso, — disse a mulher.
— O quê? — A atenção de Charlotte voltou para a cliente difícil. Até o par distraído ergueu os olhos ao ouvir o tom dela.
— Se eles querem chocolate e laranja, quero dizer, pois não há um pingo de laranja nisso.
Franzindo a testa, Charlotte recuperou o prato que a mulher estendeu para ela e pegou outro chocolate. Ela cheirou e então o mordeu ao meio antes de colocá-lo no balcão atrás dela.
— Você está certa, — vieram as palavras que ela desejou não ter que dizer. — Aparentemente, esses são chocolate puro, colocados na prateleira errada. Que tal framboesa e chocolate?
— Como você não sabe o que tem nos seus chocolates e como não posso dizer antes de comê-los, o que pode levar o dia todo, acho que gostaria de experimentar o caramelo.
Ignorando o insulto, Charlotte acenou com a cabeça e entregou-lhe um pedaço de caramelo de Bea no prato.
Então ela se virou para o casal.
— Você gostaria de uma amostra, talvez chocolate com essência de framboesa?
— Se você pode acreditar, — a mulher murmurou.
— Não, obrigado, — disse o homem. — Vamos levar uma lata de meia libra do caramelo coberto de chocolate, certo, meu amor?
Seu amor assentiu.
— E dois porcos de Marzipan, — acrescentou ela. — Eles são tão adoráveis.
Enquanto falava, Charlotte já havia pego uma lata e enchido com o caramelo de melado de chocolate, e já estava pegando os porcos, quando foi interrompida.
— Você está me ignorando? — A mulher perguntou. — Eu estive aqui primeiro, mas você os está servindo.
Charlotte olhou dela para os recém-casados do outro lado do balcão.
— Eles sabem o que querem, — disse ela, — Então posso servi-los enquanto você prova o caramelo.
— Provei o caramelo, — disse ela, — E está queimado. Minha tia Jenny faz melhor. Ela olhou para os dois recém-casados. — Eu não levaria se eu fosse você.
— Já compramos isso antes, — disse o homem. — É delicioso.
A mulher encolheu os ombros.
— Cada um na sua. — Ela apontou para o prato. — Mas isso estava queimado. Em todo caso, eu estava aqui primeiro e tive que esperar antes disso.
— Podemos esperar, — disse a jovem, parecendo menos do que entusiasmada.
— Mas não por muito tempo, — acrescentou o homem. — Os pais da minha esposa estão esperando.
Charlotte sentiu vontade de bufar de frustração com a maneira como uma cliente assumiu o controle da situação quando ela quase conseguiu fazer os outros dois saírem pela porta, o que agora parecia imperativo com aquela mulher irritada caluniando tudo.
No entanto, na esperança de negar o julgamento da mulher, Charlotte pegou um pedaço de caramelo e o enfiou na boca para chupar. Queimada! Ela não pôde evitar tossir. Definitivamente tinha cozinhado por muito tempo. Ela não tinha como saber se o caramelo coberto com chocolate era o mesmo, e ela não tinha certeza se deveria dar ao jovem casal uma prova ou não.
Ela nunca teve um momento de dúvida sobre sua confeitaria antes, e ainda agora... Que situação estranha!
Esperando pelo melhor, Charlotte colocou dois pedaços de caramelo com chocolate em um prato limpo e o entregou ao homem.
— Por favor, — eu insisto. — Enquanto você espera. — Eles aceitaram com gratidão e ela voltou sua atenção para o primeiro.
— Você gostaria que eu fizesse uma variedade de confeitaria, chocolate, Marzipan e caramelo?
— Suponho, embora o que acabei de comer me deixe em dúvida. Ainda assim, quão ruim pode ser tudo isso? — A mulher disse isso com um encolher de ombros casual, como se ela não tivesse acabado de insultar toda a Rare Confeitaria.
Charlotte conteve sua irritação. Com o canto do olho, ela viu o casal pegar um pedaço de caramelo cada um.
— E as latas são bonitas, — continuou a mulher. — Eu gostaria de ter meu pedido em um desses. Vou querer um dos chocolates de cada uma dessas prateleiras e o caramelo de chocolate não pode ser pior e um pedaço com nozes. E eu vou levar aqueles dois porcos de Marzipan.
— Esses são os únicos que me restaram, — Charlotte disse, olhando novamente para o jovem casal que parecia estar fazendo caretas um para o outro. Oh céus! Aquele caramelo também estava queimado?
— Isso não é problema meu, é? — A mulher comentou. — Quem faz o Marzipan deveria ter feito mais. Sei que esta loja está aqui há muitos anos. Certamente parece velho, com este chão sujo e sua aparência miserável. Alguém aqui deve saber quantos porcos de Marzipan fazer por dia.
Charlotte sentiu seu rosto em chamas. Ela nunca tinha sido repreendida assim antes. Seu coração batia forte no peito. Na verdade, ela deveria ter feito mais esculturas de Marzipan na noite anterior, mas em vez disso, ela fugiu para Lorde Jeffcoat com o aluguel.
— Sinto muito, mas este casal já reservou os porcos.
— Mas eu estava aqui primeiro, — a mulher protestou.
Charlotte nunca tinha ficado tão perdida. Ela já havia começado a encher uma lata com chocolates e caramelos, mas agora tinha vontade de despejar o conteúdo da lata na cabeça da cliente. Elegantemente vestida com um chapéu elegante, paletó bem ajustado e nenhuma saia de lã absurda, a mulher parecia, em uma palavra, profissional. Então, por que ela estava agindo como uma megera?
— As folhas de Marzipan têm o mesmo gosto que as dos porcos, — disse Charlotte. — Ou as formas de frutas, com alguns aromas adicionais.
— Eu quero os porcos, — ela declarou.
— Tudo bem, — disse a noiva recém-casada. — Ela pode ter os porcos.
— Obrigada, — disse Charlotte.
— Em qualquer caso, não podemos esperar mais, — disse o jovem. — Voltaremos outra hora.
Antes que Charlotte pudesse resgatar a venda, a porta se abriu novamente. O casal saiu quando o Sr. Richardson entrou.
— Estarei com você em breve, — ela disse a ele, colocando rapidamente os porcos na lata e apertando a tampa.
— Você não deveria ter pesado cada um separadamente? — A mulher perguntou.
Na verdade, Charlotte teria, exceto que ela cobrava pelos porcos por peça, não por quilo, e ela sabia quanto os chocolates e o caramelo pesavam aproximadamente. Ela estava fazendo isso por tanto tempo, ela já tinha adicionado tudo em sua cabeça.
— Eu sei quanto custa, — ela disse teimosamente, e disse o preço.
— Como posso saber qual é o custo? Eu deveria ver isso pesado.
Charlotte suspirou, removendo os dois porcos com a declaração.
— Estes são três centavos a peça, como diz a placa, ou 2 xelins por libra. — Então ela colocou o caramelo na balança. — Este caramelo coberto com chocolate custa 1 xelim e 6 pence por libra. Mais caro do que o caramelo simples. — Então ela colocou os chocolates na balança. — E esse sortimento de chocolates, feito no estilo francês, custa dois xelins, seis pence por libra.
Novamente, ela deu à mulher um custo total.
— Você disse menos antes.
Ela olhou para a mulher.
— Eu estava perdendo dois pence a seu favor e, como você estava comprando tanto, cobrava metade do preço pela lata, mas isso é outro curtidor. Claro, a lata é reutilizável, por isso tem um bom valor.
A mulher encolheu os ombros.
— Poderia facilmente ter acontecido de outra maneira.
Charlotte pegou seu dinheiro, e a mulher ainda não foi embora.
— Haverá mais alguma coisa?
— Não.
Elas se encararam.
— Você pode ajudar este cavalheiro agora, — ela disse como se dando permissão a Charlotte. — Quero ver como você trata os outros clientes.
O que na Terra?
— Ele e eu temos negócios particulares para tratar.
— Realmente? — A mulher arrastou a palavra e ergueu as sobrancelhas perfeitamente esculpidas.
— Pelo amor de Deus, — Charlotte exclamou. — Eu vou ter que pedir para você sair.
Depois de um olhar astuto para o Sr. Richardson e depois um lento olhar de volta para Charlotte, a mulher saiu com sua lata.
— Como você está, Srta. Rare Foure? — Ele perguntou, aproximando-se do balcão.
— Perplexa, Sr. Richardson. Ela foi uma das clientes mais estranhas que já tive a infelicidade de atender. E tudo parecia um pouco estranho, incluindo a nossa confeitaria.
— Sim, sobre isso, — disse ele. — Minha esposa e eu comemos o caramelo depois do jantar. Isso... bem, tinha um sabor estranho. Os chocolates de café estavam excelentes no entanto. Mas o caramelo... De qualquer forma, não estou reclamando, mas achei que você gostaria de saber.
Seu coração afundou em seus sapatos.
— Obrigada por me dizer. Eu daria a você um lote diferente hoje, mas temo que estejamos tendo um pequeno problema com nosso aprendiz. — Ela suspirou, mas então lembrou por que ele estava ali.
— Enquanto isso, eu tenho uma resposta para você. Tenho o prazer de dizer que a Rare Confeitaria gostaria de assumir o segundo andar. Vou assinar o contrato, mas vamos precisar de um tabelião. — Ela ficou feliz por poder usar o termo desconhecido que Lorde Jeffcoat mencionou para ter certeza de que tudo era legal e autorizado.
O Sr. Richardson acenou com a cabeça.
— Sim certamente. Precisamos de duas cópias de qualquer maneira. Vou mandar copiar este aqui na gráfica e, para um tabelião, podemos ir ao Cheeswrights. É em frente ao Mercado Billingsgate.
Charlotte recuou, surpresa.
— Não posso ir até as docas hoje. — Em qualquer caso, seus pais definitivamente não aprovariam que ela fosse para Canary Wharf sozinha. — Eu tenho um negócio para dirigir.
— Tudo certo. John Venn and Sons está mais perto, na Aldwych Street. Eu te encontro lá mais tarde. Será que às quatro horas funciona, pouco antes de fecharem?
Ela não via como poderia chegar lá quando teria uma loja aberta, clientes no balcão e confeitaria questionável. Mesmo assim, ela concordou.
— Sim está bem. Eu te vejo lá.
CHARLES ESTAVA EM CONFLITO e não ligava para o sentimento. Saindo do Inns of Court, ele foi para casa e selou seu capão favorito. Um passeio pelo Hyde Park à tarde limparia sua cabeça. O que ele viu em todos os lugares foram maridos e esposas cavalgando juntos. Ou, pelo menos, ele imaginou que sim. Ele não sabia como Waverly se sentia em relação ao casamento ou mesmo se o bandido tinha sentimentos, mas vendo Pelham experimentar a felicidade conjugal e agora se aproximar da paternidade, Charles sentiu que ele também estava pronto para se casar.
Afinal, ele havia passado da metade dos seus vinte anos e podia ver a grande idade de trinta no horizonte. E para sua sorte, ele encontrou uma jovem que despertou seu interesse.
Então, por que ele estava em conflito?
Ele não sabia se Charlotte Rare Foure era realmente uma esposa adequada, embora ele estivesse pensando nela em detrimento de seus casos e quaisquer pensamentos úteis, desde que a deixou em casa. A lembrança de seu beijo surpreendente o assombrava, se uma ocorrência tão completamente deliciosa pudesse ser considerada em tais termos. Mas assombrar parecia correto, pois o rosto dela apareceu diante de seus olhos enquanto ele tentava escrever notas e a sensação de seus lábios, o gosto deles, também, o fez desejar mais.
Na sua idade, ele achou uma revelação agradável aprender como beijar pode ser uma nova experiência. Ele beijou sua cota moderada de mulheres, mas quando seus lábios tocaram os de Charlotte... ele balançou a cabeça. Tudo o que sabia era que poderia ter continuado a beijá-la por horas, sentindo como se estivessem formando um vínculo singularmente profundo.
Conduzindo seu cavalo ao longo de Rotten Row, ele acenou para aqueles que o cumprimentaram, embora ele parecesse não reconhecer ninguém enquanto pensava distraidamente sobre a confeiteira. Suas irmãs haviam encontrado maridos, e a esposa de Pelham era uma duquesa aceitável, segundo todos os relatos, parecendo calma e graciosa. Mas Charlotte como viscondessa e um dia condessa? Charles não tinha certeza.
Sem dúvida, ela poderia facilmente lidar com a tarefa de ser uma excelente anfitriã, bem como lidar com as contas da casa, já que sabia administrar uma loja e parecia ter uma boa cabeça sobre os ombros. Mas havia mais para um companheiro do que isso. Ela deve ser uma mãe protetora, uma ajudante confiável, e se ele precisava de um bom ouvido, ela deveria ser como a caixa de ressonância do púlpito, para que ele pudesse discernir suas idéias mais claras ao devolvê-las a ele.
Além disso, se milhares de noites juntos se estendessem diante deles, talvez sentado em seu escritório, ele queria uma esposa que gostasse de ler e discutir as histórias.
Estranhamente, a vendedora de classe média parecia adequada para tudo isso e muito mais.
Quanto aos outros talentos das senhoras de sua classe, ele sabia que deveriam ser capazes de esboçar, tocar piano e até cantar, mas ele não se importava de uma forma ou de outra se ela tinha alguma dessas habilidades duvidosas.
Na verdade, havia apenas uma coisa que realmente importava para sua fidelidade.
Capítulo Dez
Waverly iria provocá-lo se ele soubesse disso mais cedo ou mais tarde, então Charles poderia muito bem superar o pior. Ele se sentou no clube de White com Pelham e Waverly, em parte desfrutando de uma refeição do meio-dia, em parte não gostando, já que seus pensamentos estavam acelerados.
Pelham jurou não passar o tempo todo falando sobre gerar um herdeiro, mas como era a única coisa em sua mente, ele o fez mesmo assim. O duque previu quando pensou que seu filho ia chegar, explicou em detalhes que coisas estranhas sua esposa estava pedindo para comer e listou os nomes que eles estavam considerando para sua prole. No entanto, quando ele começou a listar as cores que eles escolheram para o berçário, Waverly suspirou tão alto que Pelham ficou sem palavras.
— Sinto muito, — disse Waverly, — Você ainda estava falando? Achei que podia ouvir moscas zumbindo em meus ouvidos. E você, Jeffcoat?
Ele pousou a taça de vinho.
— Abelhas zumbindo, — eu acredito.
— Tudo bem, — disse Pelham, mas seu sorriso não era menos brilhante. — Eu vou ser pai.
— Realmente? — Waverly brincou. — Nunca se saberia. Por que você não nos conta tudo sobre isso?
Os três riram.
— Bem, que outras notícias então? — Pelham perguntou. — E você, Waverly? Qualquer nova doce lady na sua mira capaz?
Waverly encolheu os ombros.
— Eu não vou a nada nesta temporada, a menos que vocês dois queiram fazer papel de trouxa novamente em um baile à fantasia.
— Acho que não, — disse Pelham. — Uma vez que você vai a um baile de fantasias real aclamado como o evento da década, parece que há pouco sentido em ir para outro.
Waverly deu de ombros, como se isso dissesse tudo. Mas Charles se perguntou se Pelham percebeu que seu amigo havia se esquivado e desviado a pergunta sobre uma mulher de interesse. Aparentemente não, porque Pelham estava ocupado cantarolando uma canção de ninar que todos conheciam desde a infância.
— Você está praticando? — Perguntou ao duque.
— O quê? — Pelham exclamou.
Charles sorriu.
— Você parece cantarolar uma musiquinha para crianças. Devo presumir que você está praticando.
Waverly deu uma risadinha quando o rosto de Pelham ficou vermelho.
— Eu não tinha percebido que estava fazendo isso. Minha duquesa e eu, ou seja, ela me deu um livro.
— Que livro? — Waverly pressionado.
— Tommy Thumb's... — Pelham começou.
— Deus não! — Waverly exclamou, parecendo horrorizado.
— Pretty Song Book, concluiu o duque.
— Tommy Thumb Livro de Bonitas Canções, — ecoou Waverly, dividido entre ficar horrorizado e totalmente divertido. No final, ele sorriu e balançou a cabeça.
— Sim, Tommy Thumb Livro de Bonitas Canções, — disse Pelham, erguendo o queixo, — Nós dois estivemos memorizando as canções.
Charles não teve coragem de zombar dele.
— Eu acho isso maravilhoso. Você será um bom pai e sua duquesa uma ótima mãe.
Os três ficaram em silêncio. Seus bons amigos sabiam que sua própria mãe não era a melhor, para ser exato, e era uma esposa ainda pior para seu pai. Depois de um momento, Pelham perguntou:
— E você?
Charles franziu a testa.
— E quanto a mim?
— Vamos, Jeffcoat, não é hora de você pular no abismo conjugal? — Perguntou o duque.
Já que isso estava tão perto de seus próprios pensamentos, ele não podia descartar a pergunta ou rir dela, e Waverly sentiu o cheiro de uma história suculenta imediatamente.
— Ora, eu acredito que nosso Jeffcoat de fato tem alguém em mente com quem deseja pular naquele abismo infernal. Olhe para ele, Pelham, — Waverly insistiu. — Ele mal consegue se concentrar em sua comida por bajular alguma senhorita.
Charles piscou para os dois, organizando seus pensamentos, pronto para contar a eles.
— Eu acredito que você está certo, — disse Pelham, seu tom não era de brincadeira como o do amigo.
— Ele está certo, — Charles confessou. — Há uma mulher que eu gosto. Eu não tenho certeza..., — ele parou. Que parte de suas dúvidas ele deve revelar?
— Ninguém nunca tem certeza, — disse Pelham, e suas palavras simples fizeram Charles se sentir melhor.
— Isso é verdade, — Waverly se juntou a ele. — Lembro-me de Pelham aqui pensando que sua duquesa poderia amar outro homem, então ele pensou que ela estava apaixonada por seu chocolate ou alguma coisa sem sentido. No final, todos nós sabíamos que eles eram perfeitos um para o outro. E você?
Charles tomou um gole de vinho novamente. Depois que ele dissesse a eles, não haveria como recuperá-lo. Ele fixou o olhar em Pelham.
— Imagino-me atraído para por sua cunhada, como se vê.
Mas foi Waverly quem soltou uma risada.
— Aquele navio partiu. Ela foi levada!
— O que você quer dizer? — De repente, Charles se perguntou se eles sabiam que a Srta. Rare Foure já havia entrado em um acordo do qual ele não tinha ouvido falar.
— Bem, ela se casou com aquele americano, caso você tenha perdido.
— Não, — disse Pelham. — Eu acredito que ele se refere a minha outra cunhada.
— Oh, — disse Waverly. Então ele sorriu. — A rechonchuda?
Charles queria tirar o sorriso do rosto do amigo, mas não havia como negar que Charlotte era bem-dotada. Ele assentiu.
— Ela não é um pouco jovem? — Pelham perguntou.
— Acho que não. — Charles franziu a testa. — Você sabe que ela está prestes a fazer vinte anos.
O rosto do duque se iluminou.
— Está? Bom Deus, pensei que ela tivesse cerca de dezesseis anos. Bem, está tudo bem, então. Caso contrário, eu teria que intervir em nome de seu pai ausente.
Waverly continuou sorrindo.
— Há quanto tempo sua chama está acesa por nossa atrevida vendedora?
Charles encolheu os ombros, ignorando o apelido ridículo.
— Admiro sua aparência desde a primeira vez que nos conhecemos, suponho. Deve ter sido há alguns anos, você sabe, na festa de Pelham. Mas, ultimamente, comecei a apreciar suas muitas qualidades excelentes.
Waverly riu.
— Pelo menos um par deles.
— Pare agora! — Pelham o avisou. — Ela é minha família agora.
Charles sabia que não adiantava tentar domar seu amigo libertino, então o ignorou.
— A Srta Rare Foure é amigável, — ele começou. — Dá para perceber o quanto ela gosta das pessoas pela maneira como trata os clientes. Não é uma farpa afiada em sua língua. — Exceto por aquele dia em que ele testemunhou seu comportamento incomum, nada de seu normal. Mesmo assim, seu tom era mais apático do que áspero. — E ela parece ter um jeito dela. Você deveria ter visto como ela domesticou a irascibilidade do meu pai
— Seu pai? — Pelham interrompeu. — Como ela encontrou seu pai?
Charles não tinha intenção de prejudicar sua reputação.
— Meu pai e eu estávamos caminhando pela Bond Street. Enfim, não importa.
— Continue falando sobre as muitas qualidades dela, — insistiu Waverly. — Depois da irmã daquele baronete, posso entender facilmente por que você quer uma língua macia para sua mulher.
Charles revirou os olhos. Waverly poderia transformar o comentário mais benigno em uma insinuação pecaminosa. Pelham olhou para ele, ainda bancando o cunhado protetor.
— A Srta. Rare Foure é extraordinariamente leal à família, o que eu aprecio muito, e atualmente ela administra a confeitaria sozinha, então ela é inteligente, — Charles continuou. — E eu admiro sua autoconfiança.
Waverly sorriu.
— Eu acho que você admira...
— Waverly! — Pelham avisou.
Seu amigo suspirou.
— Eu vou parar. Então você gosta dessa jovem, e depois? Você a está considerando seriamente para sua esposa?
Por que ele fez isso parecer uma ideia frívola? Charles encolheu os ombros novamente.
— Por que não? — Pelham perguntou. — Sr. Foure e a Sra. Rare Foure criaram três filhas esplêndidas. É uma pena que você tenha perdido a do meio, disse ele à Waverly.
— Não perdi nada. Ela é mais parecida com a irmã do baronete de Jeffcoat, eu acho. — Então ele sorriu para Charles. — Suponho que poderia voltar minha atenção para a filha mais nova se ela for o modelo que você a faz parecer. Poderíamos competir por sua atenção.
Charles sabia que seus sentimentos por Charlotte eram genuínos e mais profundos do que ele suspeitou quando a proposta da Waverly o atingiu com ciúme. Ele se perguntou se deveria protestar, o que poderia deixar seu amigo ainda mais decidido a perseguir Charlotte por esporte, ou se ele deveria fingir indiferença para afastá-lo.
No final, Pelham disse:
— Primeiro somos amigos, não somos Waverly? Quando nós dois estávamos de olho em Lady Madeleine alguns anos atrás, você abandonou o campo de batalha.
A expressão de Waverly se apertou.
— Porque todas as outras coisas sendo iguais, você é um duque, e eu não. Portanto, eu sabia para que lado a filha do conde iria correr.
— Mas nós dois somos viscondes, — Charles disse, — Então você vai tropeçar em nossa amizade e ir atrás de uma mulher por quem eu expressei interesse? Prefere ganhar ou, neste caso, perder ao invés de manter nosso vínculo?
Waverly tentou encará-lo, então ele revirou os olhos escuros e, finalmente, um sorriso apareceu.
— Claro que não, Jeffcoat. Você é como um irmão para mim, e eu não colocaria isso em risco por nenhum saco de feno, não importa quão curvilíneo.
— Saco de feno! Eu digo...
Waverly ergueu as mãos.
— Quero dizer para qualquer mulher que seja. Se você gostar dela, ela não apenas se tornará instantaneamente como uma irmã para mim, mas eu a ajudarei de todas as maneiras possíveis, como fiz por Pelham aqui, tanto quando ele perseguiu Lady Madeleine e sua atual duquesa.
— Ele foi útil? — Charles perguntou ao duque.
Pelham encolheu os ombros.
— Moderadamente. Pelo menos, ele não atrapalhou.
Waverly cruzou os braços sobre o peito e inclinou a cabeça para o duque.
— Tudo bem, — admitiu Pelham. — Na verdade, ele me deu bons conselhos em mais de uma ocasião. Como ele pode ver claramente sobre qualquer coisa a ver com as mulheres, sendo um solteirão tão convicto, nunca vou entender.
— Vamos beber por isso, — disse Waverly.
Todos levantaram suas taças de vinho.
— Para quê? — Charles perguntou. — Por você ser solteiro pelo resto da vida ou por me oferecer alguns bons conselhos, se necessário?
— Qualquer um, ambos. Não importa, — Waverly disse e esvaziou sua taça de vinho.
Charles não conseguia se imaginar pedindo ou precisando da ajuda de qualquer um de seus amigos, mas ficou aliviado por nenhum dos dois ter tentado dissuadi-lo de sua perseguição, se é que era isso. Se algum deles tivesse ouvido algo sobre ela ser volúvel ou inconstante, conhecendo sua aversão por mulheres infiéis, eles teriam contado a ele.
— Estive na cidade com ela uma vez e a convidei para sair novamente. Para um concerto.
Ele se perguntou se deveria contar ao duque sobre a intenção de Charlotte de expandir a loja, visto que a duquesa poderia ter uma opinião forte, mas isso parecia estar quebrando a confiança, então ele segurou sua língua.
Em vez disso, ele deixou Waverly falar sobre os locais mais românticos de Londres e manteve seus pensamentos para si mesmo.
CHARLOTTE TINHA PROVADO tantos doces quando Edward voltou das entregas, ela teve que deixá-lo cuidar da frente para que ela pudesse tomar uma xícara de chá fortificante. Nem tudo estava errado, mas parte da confeitaria estava — desligada. — Alguns dos chocolates tinham um estranho sabor de ervas que ela não conseguia identificar, o caramelo, como já descoberto, tinha sido cozido por muito tempo e alguns dos bombons de Amity pareciam recheados com tijolo em vez de um fundente cremoso e macio. A pior parte era que ela não conseguia dizer o que era bom só de olhar.
De uma coisa ela sabia com certeza, ela tinha vendido para aquela criatura elegantemente vestida alguns doces de gosto ruim. Ela não ficaria surpresa se a mulher voltasse a ficar furiosa com isso.
Bebendo o chá, sentindo-se um pouco enjoada, Charlotte se perguntou se fecharia a loja até que pudesse resolver a bagunça ao ouvir a campainha. Sentindo-se triste, para não mencionar cansada de sono ruim, ela quase ficou onde estava e deixou Edward lidar com isso sozinho. No entanto, ao ouvi-lo perguntar se poderia ajudar o cliente, sua voz jovem soando tanto como uma menina quanto como um menino, ela se levantou.
— Dois quilos de caramelo, — foi a resposta quando Charlotte abriu a cortina. — Um simples, um coberto de chocolate.
Oh, doce mãe! Era um lacaio do palácio, vestindo o uniforme real. Acontecia apenas algumas vezes por ano que a rainha mandava alguém. Nas outras vezes, recebiam aviso pedindo a entrega de confeitos. Ela deve querer comer imediatamente, se ela enviou um servo.
Agora Charlotte realmente achava que ela ia ficar doente.
— Bom dia, — ela começou, observando Edward começar a abrir a tela. Ela deveria ter retirado até o último pedaço de caramelo e jogado no lixo, mas a tarefa parecia monumental, para não mencionar um desperdício. Ainda assim, ela estava no comando e deveria ter sido decisiva.
— Você é do palácio, não é? — Ela perguntou.
— Sim, senhorita, — respondeu o lacaio.
— Presumo, então, que este caramelo é para Sua Majestade?
— Sim, senhorita, e os convidados da rainha.
Edward prontamente largou a pinça que estava usando, felizmente no balcão e não no chão.
— Ela precisa do caramelo neste exato momento? — Charlotte persistiu, tentando não ficar nervosa com a ideia de mandar o criado embora com um quilo de caramelo não comestível.
— Eu imploro seu perdão, senhorita, mas ela me enviou para que ela recebesse hoje.
Onde estava Beatrice? Essa pergunta surgiu em sua mente primeiro. Seguido por uma esperança impetuosa de que o caramelo com chocolate estava perfeitamente bom.
— Você gostaria de uma amostra? — Então ela franziu a testa. Talvez ter o lacaio provando não fosse o melhor curso de ação, mas ela e Edward não podiam começar a mastigar como se não tivessem certeza de sua qualidade. Além disso, lacaio ou não, ele conhecia um bom caramelo.
— Perdão, senhorita, — disse ele novamente, — Mas não tenho certeza se tenho permissão.
— Todos que entram aqui recebem uma amostra, — disse Edward. — Até eu fiz.
O criado parecia confuso.
— Mas você trabalha aqui, — ressaltou.
— Eu não trabalhava na época. Continue. O que você gostaria de experimentar? O Marzipan da Srta. Charlotte é muito bom.
— Não, Charlotte interrompeu, praticamente com um grito. Ela já sabia que não havia nada de errado com sua própria confeitaria, mas o resto era duvidoso na melhor das hipóteses.
— Quero dizer, espero que você tente o mesmo que está fazendo para Sua Majestade. Por favor, coma um caramelo de coberto de chocolate.
Ela olhou para Edward, que pegou a pinça e soprou. Charlotte fez uma nota mental para lhe dizer mais tarde que essa não era a maneira de limpar um utensílio na frente de um cliente. Em seguida, colocou um pedaço de caramelo em um prato e entregou ao lacaio.
Com um aceno de agradecimento, ele tirou a luva, colocando-a debaixo do braço, pegou o doce e colocou-o na boca. Por um momento, Charlotte pensou que tudo estava bem. Então o sorriso plácido do homem se alterou. Ele franziu a testa ligeiramente, o que se transformou em uma expressão enrugada de desgosto.
Então, para seu desânimo, Edward proclamou com orgulho:
— Eu mesmo fiz isso!
Caro Lorde! O mistério foi resolvido, mas a tal custo. O lacaio mastigava viril, mas não com prazer. A textura provavelmente estava correta e até o chocolate podia ser gostoso, mas o caramelo! Seu famoso caramelo de melado delicioso!
Charlotte já havia experimentado o sabor amargo e queimado, como café velho, duas vezes enquanto tentava determinar se cada lote estava ruim. Foi uma experiência desagradável.
— Não poderemos vender nenhum caramelo, como determinou, — disse ela ao homem.
— O quê? — Edward perguntou, claramente atordoado.
Ela explicaria a ele depois que se livrassem do servo da rainha.
— Peço desculpas. Por favor, diga a Sua Majestade — ela interrompeu ao ver a expressão do lacaio. Obviamente, ele não estava em posição de dizer nada à rainha. Ele deveria entregá-lo a alguma empregada de cozinha humilde que o entregaria ao cozinheiro ou governanta que provavelmente o entregaria ao mordomo ou a quem quer que atendesse a rainha.
Talvez ela pudesse pedir ao lacaio para dizer a todos no palácio que eles estavam esgotados. Ele mentiria por ela?
— Eu me pergunto se Sua Majestade pode esperar, — Charlotte não podia acreditar que ela estava dizendo uma coisa tão desrespeitosa, — Até o início da noite. Nessa altura, a Rare Confeitaria terá o nosso habitual caramelo coberto de chocolate da mais alta qualidade. Ou perderiam o favor do palácio, e a decepção de sua mãe seria esmagadora.
— A que horas devo voltar? — Perguntou o lacaio.
Grata pelo homem estar disposto a concordar com sua ideia, ela estava apenas calculando quanto tempo levaria para fazer um bom lote quando a campainha da loja tilintou e Beatrice entrou. Charlotte cedeu de alívio, mandando um agradecimento ao céu. Bea ainda precisaria de tempo para cozinhar e resfriar o caramelo, depois para derreter o chocolate de forma que pudesse ser derramado, e também precisaria de tempo para endurecer. Eles teriam que ficar abertos até tarde.
— Cerca de seis horas, — ela disse, se elas começassem imediatamente.
— Muito bem, senhorita. Eu volto então.
— Lamento terrivelmente o inconveniente.
Ele fez uma reverência superficial e saiu.
— O que está acontecendo? — Beatrice perguntou.
Charlotte respirou fundo.
— Temos alguns problemas com alguns de nossos doces, — ela começou, não querendo ferir os sentimentos de Edward, mas isso não poderia acontecer novamente. Se aquele caramelo tivesse ido para o palácio! Charlotte estremeceu ao pensar.
— Eu não entendo, — Edward disse.
— Prove, — Charlotte disse a ele.
Com os olhos arregalados, ele pegou um pedaço da bandeja de exibição e comeu. Parecendo desanimado, seu olhar foi de Charlotte para Beatrice.
— Está queimado? — Bea perguntou.
— Sim, — Charlotte disse a ela. — E alguns chocolates não têm o sabor certo ou não têm nenhum. Agora que você está aqui, pode fazer o caramelo para o palácio e mais, é claro, e eu irei trabalhar nos chocolates.
Beatrice não saltou como Charlotte esperava. Em vez disso, ela hesitou.
— Algo está errado?
Bea abriu a boca, mas a campainha tocou e um cliente entrou.
— Edward, remova todo o caramelo da vitrine, e rapidamente.
— E os chocolates? — Ele perguntou.
— Não, deixe-os. Preciso ter algo para vender. — Ela olhou para Bea, que estava carrancuda. — Por favor, Bea, comece.
Sua irmã mais velha suspirou e foi para a sala dos fundos enquanto Charlotte servia os clientes. A inspiração surgiu assim que ela considerou como vender os misteriosos chocolates.
— Posso te ajudar? — Ela perguntou, rezando para que eles quisessem Marzipan, que eram lamentavelmente poucos, também.
— Eu gostaria de duas peras de Marzipan, — disse uma das mulheres. — E alguns dos chocolates de framboesa.
Charlotte empacotou as peras e testou seu plano.
— Nós nos divertimos um pouco na loja hoje. Os chocolates estão pela metade do preço hoje e estão todos misturados, então você não saberá exatamente o que está comprando. Como uma doce surpresa para sua boca.
A princípio a mulher piscou, parecendo prestes a protestar.
— Metade do preço? — Repetiu sua amiga. — É um excelente negócio. Todos os chocolates que já provei daqui são deliciosos, então, como pode um dar errado? Vou levar uma libra.
Charlotte esperava recuperar parte de sua perda.
— Você gostaria de uma lata bonita? Elas podem ser usadas para outras coisas posteriormente, como luvas ou alfinetes de chapéu. As pequenas custam dinheiro, as maiores são presentes.
— Oh, não, obrigada. Se isso fosse um presente, eu poderia, mas são apenas para minha família.
Charlotte acenou com a cabeça, pesou meio quilo de chocolates variados e despejou a tigela de medição da balança em um saco branco, antes de amarrar a parte superior com uma fita azul, do jeito que sua mãe gostava.
— Bem, eu ainda quero os chocolates de framboesa, — disse a voz da outra mulher.
Virando-se para ela, Charlotte fez a única coisa que ela poderia pensar.
— Sinto muito, mas estão todos misturados.
Pelo resto do dia, Charlotte fez esculturas de Marzipan, vendeu chocolates pela metade do preço e mentiu que eles tinham acabado se um cliente insistisse, já que ela não tinha como saber se havia algo em um determinado chocolate. Estava além de drenar. Edward ficou nos fundos com Beatrice, provavelmente aprendendo a fazer melhor.
Apenas no caso, no entanto, ela enfiou a cabeça pela cortina e olhou para os dois.
— Você está de olho no tempo de cozimento, Bea? — Ela perguntou.
Edward desviou o olhar, suas bochechas ficando vermelhas.
— Sim, irmã, não se preocupe.
Charlotte se virou ao som da campainha novamente. Isso foi fácil para Bea dizer. Ela não se sentira humilhada tentando vender caramelo queimado, para o palácio e todos os lugares!
Elas teriam uma conversa mais tarde em particular, sem Edward. Como sua irmã poderia tê-lo deixado sem supervisão para fazer algo tão importante? E não era apenas a reputação de Bea em jogo, era toda a Rare Confeitaria. Além disso, ele deve ter tido permissão para fazer chocolates sem supervisão quando foi à casa de Amity recentemente para treinar e voltou com caixa sobre caixa. Parecia que as duas irmãs haviam perdido o juízo.
Quando ela percebeu que horas eram, eram quase quatro horas. Sr. Richardson! Ela nem teve a chance de contar a Beatrice. Na verdade, expandir a loja fora a coisa mais distante de sua mente durante todo o dia. E se ela pensasse mais no assunto, depois de descobrir a rapidez com que as coisas poderiam dar errado, Charlotte poderia descobrir que seus pés tinham criado raízes no chão.
Correndo para a sala dos fundos, ela anunciou:
— Eu tenho que sair. Esqueci que tinha um compromisso. — Rapidamente, ela tirou o avental quando Bea olhou para cima, com uma carranca no rosto.
— Você não pode estar falando sério. Você se preocupou o dia todo em eu terminar o caramelo e agora vai nos deixar.
— Está tudo feito, não é? — Charlotte perguntou, deslizando em sua jaqueta justa e alcançando seu chapéu de cetim. Felizmente, estava amarrado sob seu queixo e ela não precisaria de alfinetes. — O chocolate só precisa firmar no caramelo. E teria sido concluído mais cedo se você tivesse entrado antes da uma.
Sua irmã pareceu surpresa com seu tom, assim como Edward, que a evitou por horas e mal conseguia olhá-la nos olhos.
— Desculpe, Bea, — disse Charlotte, puxando as luvas. — Eu sei que você tem outras coisas em mente agora que você é uma mulher casada.
Bea abanou a cabeça.
— Sobre isso ...
— Eu tenho que correr, — Charlotte a interrompeu. — Eu tenho um lugar onde deveria estar às quatro, então obviamente já estou atrasada. Você ouviu o que eu disse aos clientes sobre os chocolates. Metade do desconto e tudo uma surpresa!
Sem esperar mais um instante, ela correu para a frente.
— Eu devo estar de volta bem antes do lacaio da rainha. — Uma frase que ela nunca pensou que iria pronunciar!
Capítulo Onze
Charlotte não se importava que seus pais estivessem fora, mas ela gostava de ter a pequena equipe da família à mão. Ela gostava de ouvir barulho quando estava vagando pela manhã, embora tomasse o café da manhã sozinha. Na manhã seguinte, Finley apareceu ao lado dela com duas missivas.
— Obrigada, — ela disse, presumindo que uma fosse de Charles e a outra de seus pais. Em vez disso, o primeiro que ela examinou tinha o nome de Viola rabiscado na parte inferior. Vê-lo trouxe tudo de volta. Ela não queria nem pensar nos Evans.
— Lionel precisa desesperadamente de recursos, — escreveu Viola com poucos preâmbulos. — Desde os dias em que você ainda nos contava entre seus amigos, espero que você encontre em seu coração para....
Charlotte parou de ler, pegou seu chá e o esvaziou, antes de retomar a mensagem presunçosa de como Lionel já havia esgotado todos os outros meios, inclusive implorar aos pais. De toda a fel! Na verdade, não foi culpa de Viola, exceto por um julgamento extremamente ruim. Charlotte ajudaria qualquer um que precisasse, mas Lionel havia trazido tudo para si e a usado muito. Ela não iria financiar sua travessura autoindulgente pela Europa.
Ela deveria responder? Em última análise, ela não o fez. Qualquer coisa que escrevesse a faria parecer mesquinha e avarenta, a menos que contasse a Viola sobre a atenção especial que Lionel havia dispensado a ela, levando-a a acreditar que suas intenções eram para um futuro juntos.
O segundo, um envelope enrugado com o selo de Lorde Jeffcoat, fez seu estômago se contorcer de excitação. Ele a convidou para um concerto na noite seguinte. Quando acabou de ler, reprimiu sua afronta ao pedido ousado de Viola e percebeu que a dor ressurgida ao ver o nome de Lionel já havia se dissipado. Tinha sido um mero fantasma da tristeza que ela havia sentido anteriormente. Nada mais. E seu coração parecia ser seu novamente.
Ela esperava ansiosamente pelo que estava por vir. Até o difícil dia anterior havia terminado melhor do que havia começado. Embora Beatrice já tivesse deixado a confeitaria quando Charlotte voltou do notário público, ela correu para encontrar Edward cuidando do balcão. Depois que os últimos clientes foram embora, o lacaio da rainha voltou, e eles puderam vender-lhe o caramelo recém-endurecido e fechar a loja.
Edward não disse mais nada sobre o papel que desempenhou no dia desastroso, mas quando eles começaram a limpar, ele falou:
— Eu sei que foi minha culpa, senhorita. Se perdi minha posição, eu entendo.
Seu coração estava com ele.
— Não, claro que não, mas seus doces não deveriam estar nas prateleiras até que estivessem perfeitos.
Ele baixou a cabeça e Charlotte abandonou o assunto.
Vinte e quatro horas depois, ela se concentrou em ser grata por ter Delia à sua disposição como uma acompanhante. Embora todos na classe alta desprezassem uma criada como adequada e insistissem em uma mulher casada da mesma classe, Charlotte não conseguia imaginar como poderia sair com Lorde Jeffcoat de outra maneira. Ela mal podia perguntar a Amity, que raramente saía de casa, ou Beatrice... quem sabia o que ela estava fazendo?
— Você está linda, minha garota, — Delia disse em seu jeito familiar. Desde que ela estava com a família por quase quinze anos, ela se sentia mais como uma tia confiável do que uma empregada doméstica.
— Obrigada. — Charlotte usava outro vestido da temporada anterior que ela compareceu com Beatrice. Sua única temporada, uma que ela não achava que precisava, já que tinha seu coração voltado para Lionel. — Eu espero que você não se importe de ficar atrás para o concerto.
— De modo nenhum. Estou ansiosa por um pouco de música, embora não tanto quanto você, tenho certeza. Seu Lorde Jeffcoat parece um bom tipo.
— Eu também acho. É estranho, porém, não saber seu passado. Quando você está em um salão de baile, você precisa apenas se inclinar e perguntar à mulher ao seu lado, e todos eles estão dispostos a contar a história inteira de cada homem ali, especialmente um visconde. Suponho que seus colegas saibam quem ele escoltou pela cidade antes, e se ele já esteve noivo. Não é como se alguém começasse a vida no momento em que outra pessoa os conhecesse.
Delia parou de mexer no cabelo de Charlotte e olhou para ela no espelho até que seus olhos se encontraram.
— O que está te incomodando?
— Ele é cerca de cinco ou seis anos mais velho do que eu. Ele é um visconde e bonito. Por que ele não está apegado a alguma senhora de classe alta apropriada? E por que ele está interessado em mim?
— Você é uma jovem bonita, — Delia disse.
Charlotte descartou suas palavras com um encolher de ombros.
— Ele pode ter muitos rostos bonitos, tenho certeza. Londres está repleta deles, seja na nobreza, esvoaçando nas festas de Amity, ou mesmo alguma atriz no palco. Mas por que eu de repente, você não acha estranho? Espero não estar sendo conduzida pelo caminho do jardim. — Afinal, seu julgamento era obviamente terrível.
— Para o caminho do jardim? — Delia repetiu, suas bochechas ficando rosa. — Oh, não, ele não parece o tipo.
— Eu não sei o tipo, Delia. E se ele for um ladino? — Charlotte lembrou-se do marido de Amity uma vez a advertindo sobre tal sujeito, mas apesar de tal aviso, ela deixava Lionel beijá-la duas vezes por semana.
— Por um lado, seus pais não teriam deixado você sair com ele antes de partirem. E por outro lado, ele é um bom amigo do duque de Pelham, não é? Esse bom cavalheiro não seria amigável com um velhaco.
— Isso é verdade. — Charlotte pensou por um momento. — Suponho que poderia simplesmente perguntar a Lorde Jeffcoat por que ele quer ficar comigo. Isso é muito ousado e estranho? Talvez até pergunte a ele sobre suas amigas anteriores.
— Eu não sei, Srta. Charlotte. Ele é um membro da nobreza, e eles não são para alguém como eu entender.
Delia terminou de arrumar o cabelo, então deu um passo para trás para admirar as tranças enroladas e os cachos macios.
— Honestamente, minha garota, eu não acho que seja apropriado você se intrometer no passado dele. Os homens não gostam de falar dessas coisas.
Charlotte suspirou.
— O que provavelmente é mais uma razão pela qual as mulheres querem saber. — Elas sorriram uma para a outra.
— Você está linda esta noite também, — ela disse a Delia, que estava usando um vestido cinza recatado com detalhes em creme claro para atuar como acompanhante.
Mais uma vez as bochechas da empregada ficaram rosadas.
— Oh, não tanto quanto você! Eu não, mas você é uma fofa por dizer isso.
Charlotte se levantou.
— Vamos esperar na sala. Quem sabe onde o Sr. Finley está, e podemos não ouvir a porta.
CHARLES NÃO PODE SE RECORDAR da última vez que sentiu um frio na barriga quando foi pegar uma mulher. Era bom estar animado com a ideia de vê-la. Melhor ainda quando ele bateu na porta e ela atendeu. Ele quase riu do absurdo refrescante de ir para uma casa onde a pessoa que ele queria ver realmente abriu a porta.
Ela não teve a chance de preparar suas feições em uma expressão educada enquanto um mordomo ou empregada o levava para uma sala de estar. Nem estava ocupada posando em um sofá, nem arrumando o cabelo sobre o ombro para a melhor impressão possível. Charlotte simplesmente o recebeu no foyer, seus profundos olhos castanhos brilhando e um sorriso generoso em seus lábios macios. Ela parecia genuinamente feliz em vê-lo. Ele ficou encantado.
Pegando sua mão sem luva, que por si só parecia chocantemente sensual, ele a levou aos lábios e beijou as costas dela. Foi um gesto impulsivo e formal, mas parecia certo. Ele sentiu o desejo de fazer algum tipo de contato com ela assim que a visse.
Depois que ele a soltou, ela olhou para os próprios nós dos dedos por um momento, depois de volta para ele. Ele quase deixou escapar como as mãos dela eram bonitas. E elas eram! Não mole e inútil, pálido e excessivamente macio. Elas eram delicadas e limpas, com certeza, mas ele sabia que também eram mãos hábeis e artísticas. Além disso, ele tinha o desejo insano de senti-las vagando por sua pele nua, da mesma forma que queria correr os dedos por seu corpo.
— Boa noite, meu lorde, — disse ela, e ele percebeu que seu olhar a estivera vagando da cabeça aos pés. Ela parecia ser a perfeição em um vestido azul prateado que cabia nela como a luva que ela deveria usar pelo bem do seu decoro.
Prevenindo-se para conter seu desejo repentino por mais, ele tirou o chapéu e curvou-se ligeiramente.
— Boa noite, Srta. Rare Foure. Você está pronta?
— Eu estou. — E ela bateu duas palmas rapidamente, assustando-o. — Minhas desculpas, — ela murmurou, virando-se para revelar sua criada atrás dela segurando um manto noturno. — Estou simplesmente entusiasmada.
Ele gostou de seu entusiasmo e sua honestidade. E ele queria tirar a capa preta da donzela Delia, e pendurá-la sobre os ombros de Charlotte, apenas como desculpa para tocá-la novamente. Em vez disso, ele manteve as mãos ao lado do corpo.
Tardiamente, ela calçou luvas de cetim pretas e retirou uma pequena bolsa azul da mesa do corredor enquanto sua empregada vestia sua própria capa e luvas.
Com os três acomodados em sua carruagem e Delia enfiada em um canto olhando pela janela, Charles poderia finalmente falar com ela.
— Como foi com o seu senhorio?
Ele estava praticamente queimado pelo brilho de seu sorriso e rosto feliz.
— Foi tudo bem, — disse ela desnecessariamente, pois ele podia ver isso. — E foi no restante de um dia particularmente difícil. Quase mandei caramelo queimado para a rainha!
— Elimine o pensamento, — disse ele.
— Você está brincando, mas considere nossa reputação. Se Sua Majestade retirasse seu favor, nossas vendas para centenas de nobres em Mayfair despencariam.
— Entendi. — Ele não deveria levar nada que ela dissesse sobre confeitos levianamente, pois era o sustento de sua família. — Você conseguiu resolver isso?
— Eu consegui. O jovem Edward, você se lembra do meu ajudante? Ele tinha feito caramelo com minha irmã e, um tanto impensadamente, ela o deixou colocá-lo à venda. Da mesma forma, ele foi para a casa da minha outra irmã para treinar chocolate, e quando ele voltou alguns dias atrás com caixas de doces, eu não percebi que ele tinha feito a maior parte deles. Nada terrível, veja bem, mas não de acordo com nossos padrões. Pior, eu não sabia o que era o quê. — Ela balançou a cabeça maravilhada. — Afinal, você não pode vender algo se não souber o que é, e como eu poderia saber sem provar cada chocolate? — Ela perguntou, erguendo as mãos em um gesto de desânimo impotente.
Ele balançou a cabeça, fascinado por ela.
— Você não poderia.
— E eu dificilmente poderia morder cada um para descobrir seus segredos.
Assistir sua boca perfeita discutindo mordidas e segredos fez a dele secar abruptamente.
— Não, claro que você não poderia, — ele concordou. — Duvido que alguém comprasse chocolates que você já tivesse mordido. — Exceto ele. Charles lamberia dos lábios dela se pudesse.
O que deu nele? Ele estava bem e verdadeiramente cativado, e não conseguia se lembrar de nunca se sentir tão impressionado com o interesse antes.
Ela explicou como os vendeu como surpresas, o que parecia uma solução inteligente e criativa para seu desconcertante problema.
— Pena que você teve que baixar o preço, — disse ele.
— Foi uma pena, — ela concordou. — Especialmente com a adição de um andar inteiro à loja. Preciso manter a receita entrando.
Ele observou a empregada se assustar e então se virar lentamente para ela.
— Com licença senhorita. Você disse que adicionou um piso?
— Sim, Delia. Estou expandindo a confeitaria Rare.
A serva de meia-idade empalideceu.
— Sem sua mãe aqui? Ela é muito particular, como você sabe.
Charlotte assentiu, mas parecia destemida.
— Tenho certeza de que ela ficará satisfeita.
— Muito bem, senhorita. — Mas a mulher parecia duvidosa mesmo assim.
Charles sentiu um arrepio de inquietação. Parecia um grande passo a ser dado, especialmente sem a permissão de seus pais.
— É um fato consumado?
— Sim. — Seu tom tornou-se estridente de excitação. — Amanhã, vou começar a procurar um carpinteiro para construir uma escada dentro de nossa oficina.
— Se precisar de ajuda, — ele ofereceu, embora não soubesse nada sobre construtores ou como conseguir um carpinteiro. Mas ele presumiu que ela também não.
— Se você quiser passar na confeitaria amanhã após fechar, vou lhe mostrar o andar de cima. — Ela sorriu como um demônio. — Sr. Richardson me deu a chave.
De novo, Delia se virou para ela.
— Devo ir então, também?
Charlotte franziu a testa.
— Por quê? — Então ela deu um sorriso enviesado para a empregada. — Ah, entendo. Minha reputação está novamente em perigo extremo por causa de Lorde Jeffcoat, — ela brincou.
Charles se admirou de sua inocência e de alguém com sua idade também! Foi um milagre nenhum homem ter conseguido ficar sozinho com ela durante a temporada do ano anterior, em uma alcova ou um mirante vazio ou mesmo atrás de uma cerca viva do jardim. Ou talvez alguém tenha!
— Eu acredito que Beatrice estará lá, Delia, e Edward também, — Charlotte prometeu. — Eles serão suficientes?
A criada hesitou, seu olhar cintilando para Charles.
— Sim, senhorita.
Por sua vez, ele estava aliviado por Charlotte ter aqueles ao seu redor que a amavam, mas ele queria mudar o assunto da conversa, já que era tudo sobre como protegê-la de pessoas como ele, como se ela fosse um cordeiro e ele, um lobo babando.
— Devo passar por lá amanhã, — ele prometeu, honrado por ela o ter convidado para ver o segundo andar da loja antes de qualquer outra pessoa.
— Onde estão seus óculos? — Ela perguntou de repente, inclinando-se para frente, pegando-o desprevenido quando seu manto se abriu e seus seios bem torneados quase desafiaram os limites de seu decote de cetim.
E, naquele momento, ele se sentiu mais como um lobo do que nunca.
— Perdão? — Ele perguntou tolamente, então a pergunta dela penetrou seu cérebro distraído. — Oh, certo. Meus óculos. Eu só preciso deles para ler. Não para te ver — graças a Deus! — Ou para ouvir música. — Ambos riram. — E com alguma sorte, levará alguns anos antes que eu precise de uma trompa de audição.
— Mas para ler o programa desta noite, — ela apontou.
— Sim, então meus óculos virão. — Ele deu um tapinha no bolso, mas parecia vazio. Ele alcançou dentro. Nada. Em seguida, ele experimentou o outro bolso, também vazio. Abrindo o casaco, ele deslizou os dedos no bolso interno sem sucesso.
— Nunca os esqueço, — falou. Até hoje à noite. Ele não diria a Charlotte na frente de sua criada como a expectativa de vê-la o fez sair correndo pela porta da frente sem os óculos, uma ocorrência singular.
— Deixa para lá, — ela disse. — Vou ler o que você quiser. Além disso, posso ver melhor seus olhos azuis sem eles.
Ele fez uma pausa. Seu comentário de flerte enviou uma ponta de excitação por ele. Além disso, ela notou a cor de seus olhos. Que maravilha! Ela até se ofereceu para ser seus olhos, provando que ele estava certo sobre sua doce natureza.
O St. James's Hall, projetado pelo mesmo arquiteto que desenhou o interior do Crystal Palace, estava lotado. O popular jovem pianista e cantor George Henschel era o principal intérprete que todos estavam presentes para ouvir, junto com a prestigiosa orquestra da Sociedade Filarmônica.
Mesmo com tal apresentação pela frente, era difícil não ficar igualmente impressionado com a beleza florentina da sala de concertos, imitando um palácio mouro no qual dois mil londrinos podiam desfrutar de música. Três galerias alinhavam-se na sala, todas com uma vista maravilhosa do palco abobadado e seu órgão. As janelas altas, cada uma em sua maciça baía pontiaguda, e o teto alto davam a impressão de estar em uma catedral.
— Certamente não estamos no Oxford Music Hall esta noite, — brincou Delia, que Charles claramente ouviu. Ele duvidava que Charlotte já tivesse estado em um lugar como aquele ou qualquer um dos outros salões de música espalhafatosos. O pior provavelmente foi em Islington, onde os homens costumavam trazer suas amantes em vez de suas esposas ou namoradas. O público frequentemente se juntava à apresentação, cantando alto junto com o que quer que estivesse acontecendo no palco enquanto bebia. Ele tinha ido a alguns como estudante e jurou, depois de uma exibição vulgar particularmente desagradável de canções cômicas, danças grotescas e quedas ridículas de nunca mais voltar.
Um music hall definitivamente não era sua preferência por diversão.
No St. James's Hall, um de seus locais favoritos, Charles gostou da galeria que ficava de frente para o palco e obteve assentos na primeira fila. Ele estava grato por Delia ter concordado em deixá-lo sentar ao lado de Charlotte e até mesmo escolher o assento do outro lado. Pelo menos eles poderiam passar a noite lado a lado.
Com sua ex- namorada bem atrás deles!
A Srta. Virginia Stadden, a irmã do baronete de língua afiada, deu a ele seu olhar mais frio enquanto ele conduzia primeiro a criada e depois Charlotte para a fileira antes de se sentar.
Que idiota em pelo menos dois pontos! Ele nunca deveria ter trazido Charlotte para o mesmo lugar que costumava frequentar com Virgínia, e se ele ia cometer tal estupidez, ele deveria pelo menos ter escolhido uma parte diferente do salão de dois mil lugares.
Balançando a cabeça diante de sua própria tolice, Charles teria que atribuir isso a não ter escoltado tantas mulheres por Londres e, portanto, ele geralmente nunca tinha que se preocupar com uma reunião ou outra parecendo aborrecida. Waverly provavelmente sabia desde cedo como evitar as amantes anteriores. E, como esperado, quase imediatamente, ele sentiu um toque em seu ombro direito, fazendo-o virar na direção oposta de Charlotte.
— Que bom ver você de novo, Lorde Jeffcoat? — Seu tom gelado era como o assobio de uma cobra.
— E você, senhorita Stadden. Que coincidência, — acrescentou.
— Realmente? — Ela perguntou, sua voz aumentando. — Você achou que eu não viria mais aqui? Eu deveria me esconder de toda a sociedade de Mayfair porque o evasivo Jeffcoat não queria mais ser visto comigo?
— Um... — Ele sentiu Charlotte se mexer com interesse ao lado dele. Ele realmente não a queria envolvida em uma cena feia. E, infelizmente, ele sabia que iria se deteriorar rapidamente. De sua parte, ele achava que a separação deles havia sido facilmente cumprida, mas, em retrospectiva, Virginia não queria que sua associação terminasse. E agora, seu primeiro encontro foi extremamente público.
Era sua imaginação ou tinha ficado quieta em torno dele enquanto cada cutucada intrometida ouvia?
Virando-se ainda mais em seu assento, de modo que suas costas ficassem totalmente voltadas para Charlotte, ele esperava fazer Virginia ver a futilidade de enfrentar um ao outro. Seus olhos piscaram sobre ela para sua companheira. Querido Deus! Era sua mãe, uma mulher que tinha certeza de que sua filha se tornaria viscondessa. Sua expressão era tão fulminante quanto à de sua filha.
As luzes diminuíram no corredor. Charles suspirou.
— Se você deseja falar comigo em particular em algum outro momento, então serei receptivo a isso.
Virginia ergueu a voz.
— Você está tentando arranjar um encontro comigo enquanto acompanha outra mulher?
E assim começou a cena infeliz, obviamente mais interessante para aqueles ao seu redor do que o Sr. Henschel e a Filarmônica jamais poderiam esperar ser.
— Por favor, Srta. Stadden, este não é o momento.
— E agora ele está me implorando, — ela proclamou com alegria.
Enquanto isso, sua mãe parecia que ia bater nele com seus óculos de ópera.
O resgate veio de um lugar inesperado. A própria Senhorita Rare Foure.
Capítulo Doze
Charlotte podia ver o que estava acontecendo. Uma mulher ciumenta do passado de Lorde Jeffcoat, provavelmente uma antiga paixão, procurou arruinar sua noite. Naturalmente, ela gostaria de saber mais sobre a criatura bonita, de ossos finos, cabelos louros e enfeitados com joias como ela era. Mas não naquele momento. Ela queria ouvir o concerto.
Virando-se desajeitadamente em seu assento, ela conseguiu aproximar a cabeça da do visconde e olhar para a mulher, que parecia estar acompanhada de um dragão cuspidor de fogo, ou de sua querida mamãe!
— O concerto está prestes a começar, — Charlotte disse em voz alta. — De acordo com o programa, haverá um intervalo, para que você possa ir ao saguão e tagarelar o quanto quiser. Mas agora, você está perturbando aqueles ao seu redor. É bastante rude.
Silêncio atordoado encontrou sua proclamação. Bom! Ela tinha a atenção deles. Em seguida, ela remexeu em sua bolsa e tirou sua sempre presente bolsa de papel branco, feliz por ter amolecido no dia anterior em uma versão menos barulhenta e enrugada. Abrindo-o, ela baixou as bordas para revelar o que restava.
— Você gostaria de um doce? Se você enfiá-lo na bochecha e deixá-lo derreter, manterá sob controle o desejo de falar quando não deveria. Pelo menos funciona bem com crianças. Você vai tentar?
E ela estendeu a bolsa para a mulher que tinha mais ou menos sua idade. Sua oferta foi recebida com um rosto pétreo, lábios franzidos e uma mandíbula cerrada. Então, como se um fósforo tivesse sido aceso embaixo dela, ela explodiu da cadeira, levantando-se com muitos gestos e ruídos inarticulados, e então disse:
— Venha, mãe. Este lugar se tornou muito comum!
Sua mãe se levantou com alguma dificuldade enquanto ela estava presa entre os braços de madeira cobertos de veludo de sua cadeira. Charlotte pensou que um pouco de manteiga sobre os quadris poderia ajudar a libertá-la. Eventualmente, a mulher se levantou, bufou alto, olhou para todos ao seu redor e saiu da fileira, seguida pela filha.
No último momento, a bela loira se virou e se dirigiu a Charlotte.
— Eu não seria muito presunçosa se eu fosse você. É óbvio porque ele está com você. — Com isso, ela se virou e saiu, assim que a orquestra tocou suas primeiras notas.
Perplexa, Charlotte se virou. Lorde Jeffcoat estava inquieto ao lado dela, alisando seu casaco e mantendo o rosto voltado.
— Você gosta muito de confeitaria? — Ela perguntou. — É isso que aquela senhora quis dizer?
— Conversaremos depois, — ele prometeu.
Assentindo, ela estendeu a bolsa para ele. Ele hesitou, seus pensamentos impossíveis de discernir no auditório escuro. Então ele estendeu a mão e pegou um pedaço.
— Obrigado, — ele sussurrou, contra seu ouvido, fazendo-a estremecer.
Impropriamente, ela queria inclinar a cabeça em seu ombro e respirar sua fragrância. Felizmente, ela poderia senti-lo de qualquer maneira. Ela algum dia sentiria o cheiro de pão de gengibre ou rum e não pensaria neste homem? Ou quer ser beijada por ele?
QUANDO BEATRICE ENTROU à uma hora do dia seguinte, Charlotte estava pronta para ser amarrada.
— Por que você vem cada vez mais tarde? — Ela perguntou à irmã mais velha, tentando não soar irritada, mas se sentindo um pouco desesperada. Ela e Edward estavam trabalhando duro desde a abertura até o fechamento, mas eles mal conseguiram acompanhar. E ela não tinha deixado Edward fazer mais caramelo, não sem Beatrice ali para supervisionar.
— Bom dia para você também, querida irmã, — disse Beatrice.
Charlotte percebeu que ela não estava usando seu vestido normal de dia, mas uma... roupa de viagem! Nem tirou o casaco ou foi para a sala dos fundos.
— O que está acontecendo? — Charlotte perguntou, sentindo uma pequena folha de pavor desenrolar dentro dela. Obviamente, Beatrice não estava lá para trabalhar.
— Passei a manhã toda arrumando nossa casa. O Sr. Carson e eu vamos para a Escócia. Há alguma emergência com o rebanho e a água do poço.
Charlotte sabia que sua boca se abriu, mas não sabia como conter o pânico crescente.
— Você está saindo da cidade?
— Sim. Eu ia discutir isso com você ontem, mas com o pedido real e depois sua saída abrupta para quem sabe para onde, eu não consegui fazer isso.
— Mas com Amity fora..., — Charlotte parou.
— Eu sei e sinto muito. — Mas ela deu de ombros, como se isso fosse uma questão de sair de um pedaço de manteiga ou de meio quilo de amêndoas.
— O Sr. Carson não pode ir sozinho? — Charlotte desejou poder voltar atrás, já que Beatrice ainda era considerada uma recém-casada.
Sua irmã parecia envergonhada.
— Pode levar semanas, e eu não posso me separar dele por tanto tempo. Eu sei que é egoísmo da minha parte.
— Não, eu entendo. — Os pensamentos de Charlotte voaram para Lorde Jeffcoat. Se ele fosse seu marido, que pensamento presunçoso! Então ela não iria querer deixá-lo ir embora por semanas também.
— Mas eu não estou simplesmente saindo e deixando você sem caramelo.
— Você não está?
— Passei o dia todo com Edward ontem. Ele pegou o jeito, eu garanto a você. Até contei a ele sobre outro sabor que queria testar, e ele o fez perfeitamente.
— Um novo sabor? — Charlotte perguntou com ansiedade. Não parecia um bom momento para experimentar.
— Sim, nosso novo caramelo é baseado na marca Everton. Vamos adicionar um pouco de essência de gengibre.
— Gengibre, — Charlotte repetiu, assustada com quantas vezes ela estava meditando sobre aquele tempero recentemente. Mas todos sabiam que o famoso Everton era popular. — E Edward vai lançar este novo caramelo sem você aqui?
Beatrice sorriu.
— Eu te disse, ele fez isso perfeitamente. Eu até dei a ele o O Cozinheiro Frugal para guardar atrás, que tem a receita certa. Onde ele está, aliás? Eu trouxe algo para ele.
— Eu acabei de mandá-lo fazer uma entrega extra. O Langham não tinha chocolates suficientes para durar a semana, o que faz pouco sentido, já que o pedido tem sido o mesmo desde então
— Eu não posso ficar, — Beatrice interrompeu, indicando que não havia sentido na próxima tática de Charlotte, cair de joelhos e começar a implorar.
— Mas eu também não tenho Amity, nem mamãe.
— Mamãe deve estar em casa logo. Quanto tempo eles podem ficar à beira-mar? — Beatrice perguntou.
Charlotte não tinha ideia, mas então, ela se sentia como se tivesse pouco controle sobre qualquer coisa. Fazia sentido contar à irmã sobre a expansão da loja se ela nem mesmo estaria lá? Charlotte não achava que teria estômago se Bea dissesse algo desagradável sobre a ideia, especialmente porque agora era tarde demais.
— Quando o filho de Amity nascer, as coisas voltarão a um aspecto de normalidade, — disse Beatrice.
Elas olharam uma para a outra, nenhuma delas acreditando nisso.
Então sua irmã se aproximou, passou pelo espaço entre as bancadas e colocou os braços em volta de Charlotte. Foi um gesto inesperado, mas reconfortante.
— Voltarei assim que puder, — prometeu sua irmã. — E então as coisas vão voltar a ser como eram, com o fato de eu estar insuportavelmente rabugenta e latindo para você por trás.
Charlotte tentou sorrir, mas não conseguiu.
— E teremos Edward para que tudo dê menos trabalho.
Ontem foi mais trabalho e com a perda de receita, mas ela não disse isso.
— Você vai ver Amity antes de sair?
Beatrice assentiu.
— Sim. Eu estou indo para lá agora.
— Por favor, diga a ela que enviarei Edward amanhã assim que ele me ajudar a abrir. Ele vai levar suprimentos com ele. Eles não devem apenas fazer mais, mas também rotular tudo. E diga a ela...
— Oh, que coisa, — Beatrice disse. — Eu não acho que seus pensamentos estão tão focados em fazer chocolate.
— Eu sei que não estão, mas ela ainda é nossa Chocolatier. Vou lembrar a Edward para que ela escreva tudo o que deve ser utilizado. Mas eu ia acrescentar que ela deve vigiá-lo e garantir que ele não mude a receita.
— Vou lembrá-la, mas ela parece tão apta a começar a cantar uma canção de ninar boba quanto a prestar atenção. — Beatrice inclinou a cabeça e fixou-a com seu olhar sério, um azul mais brilhante do que o de Jeffcoat, mas lembrando-a dele de qualquer maneira. — Você pode ter que começar a fazer os chocolates também. Você era boa nisso, eu me lembro.
— Quando eu faria isso? — Charlotte perguntou estupidamente, sentindo-se como a Cinderela no conto de fadas de Perrault, mas sem nenhuma madrinha à vista.
— Você está no comando, — Beatrice a lembrou. — Melhor do que qualquer uma de nós, você conhece a situação financeira da Rare Confeitaria. Talvez até que o filho de Amity chegue, você deva contratar alguém para trabalhar no balcão, liberando você para fazer chocolates, a menos que Edward acabe sendo tão bom nisso quanto é na fabricação de caramelos.
— Eu provei apenas seus lotes queimados, — Charlotte murmurou.
— Oh, isso me lembra, — disse Bea. — Aqui está o que comprei para o nosso aprendiz. Um pouco caro, mas tenho certeza que ele vai tomar cuidado com isso. — Ela tirou um termômetro de sua bolsa. — Ele já sabe o que procurar enquanto cozinha o caramelo, — ela assegurou a Charlotte, — E eu mostrei a ele o truque da água fria para testar, mas isso vai ajudá-lo. — Beatrice entregou o instrumento a Charlotte, que olhou para o tubo de vidro cheio de mercúrio.
— Basta colocar esta ponta e ler a escala. Cerca de 280 graus devem resolver o problema, — disse Beatrice, um pouco casualmente demais. — Além disso, ontem, dei a ele uma ampulheta e marquei para o momento certo quando ele deveria começar a testar a consistência.
— Obrigada, — disse Charlotte. Sua irmã fizera tudo o que podia. Elas se abraçaram de novo e então Bea foi embora. Engolindo o nó na garganta, ela usou o resto da calmaria dos clientes para fazer quantas esculturas de Marzipan pudesse.
CHARLOTTE FICOU EXCITADA por virar a placa da loja no final do dia, sentindo apenas uma pontada de culpa quando fez contato visual com um homem prestes a abrir a porta. Oferecendo a ele um sorriso arrependido, ela se virou. Com sua sorte, ele era provavelmente o homem mais rico da Inglaterra e queria comprar até o último doce.
Isso não seria difícil, pois o estoque estava terrivelmente baixo. Ela nem mesmo permitiu que Bea levasse nenhum para a Escócia, pois sua irmã poderia fazer caramelo quando ela chegasse lá se sua nova equipe estivesse clamando por isso.
Sua equipe!
Charlotte também precisava de um cajado. Com um confeiteiro e meio a menos, porque Amity definitivamente não estava produzindo sua quantidade normal, ela tinha apenas um menino para ajudá-la. E Bea provavelmente estava certa sobre a contratação de ajudante de balcão, exceto que Charlotte sempre gostara dessa parte de seu trabalho.
Edward voltou das entregas e foi diretamente para a sala dos fundos para fazer os doces. Ele exclamou de alegria sobre o termômetro. Quando os clientes estavam na loja, eles não podiam falar, mas quando ele ouviu o sino tilintar, sabendo que eles estavam sozinhos, ele ocasionalmente fazia uma pergunta.
Isso fez Charlotte sorrir, lembrando-se de quando ela e suas irmãs eram mais jovens, como pediam instruções à mãe na sala dos fundos. Felicity, assim como Charlotte, preferia conversar com os clientes.
Que estranho ser a única de sua família remanescente na confeitaria!
Edward completou todas as suas tarefas de encerramento e pendurou seu avental. Vestindo o casaco, ele parecia cansado. Charlotte esperava que ele não se arrependesse de trabalhar para ela. Certamente, era melhor do que uma casa de trabalho, de qualquer maneira.
Ele estava à porta quando ela se lembrou da chegada iminente de Lorde Jeffcoat. Odiando perguntar, mas sem Beatrice ali, ela não tinha escolha.
— Edward, você pode ficar mais tempo?
Ele se virou.
— Desculpe, senhorita. Prometi a minha mãe que iria direto para casa. Tenho duas irmãs mais novas para cuidar enquanto ela faz o trabalho por peça. Ela termina as camisas dos cavalheiros.
Charlotte se sentiu culpada por ter perguntado a ele. Em comparação com ele cuidando de sua família e sua mãe ainda enfrentando horas de trabalho, que direito ela tinha de tentar usá-lo como acompanhante? Além disso, ela era uma mulher adulta, não uma criança que precisava ser cuidada, como se ela ou o visconde não fossem confiáveis. Isso era um absurdo.
No momento em que seus pensamentos estavam agitados, a expressão de Edward havia caído.
— Lamento desapontá-la, senhorita.
— Oh, não, — ela o assegurou, — Você não fez. Não pense mais nisso. Tudo está bem. Vejo-te amanhã de manhã. Por favor, dê lembranças à sua mãe. Espero conhecê-la algum dia.
Ele acenou com a cabeça, embora sem entusiasmo. Ele disse a Charlotte no passado que sua casa não era para alguém como ela visitar, mas ele traria sua mãe se ela pudesse ter tempo.
O menino mal havia desaparecido da loja quando ela ouviu uma batida no vidro. E lá estava ele, seu novo amigo, o visconde.
EM ALGUNS MINUTOS, CHARLES se viu saindo da Rare Confeitaria e entrando por uma porta entre ela e a loja ao lado. Sinceramente, ele nunca tinha notado a porta, e agora, como Charlotte não tinha procurado uma acompanhante, ele a seguiu rapidamente para dentro. Quanto menos tempo alguém os visse sozinhos, melhor.
Fechando-o firmemente atrás dela, ela o trancou. Então, nos confins apertados da estreita escadaria utilitária, ela passou por ele, sua fragrância cítrica e floral imediatamente entrando em sua cabeça. Enquanto ela o seguia para o próximo andar, ela deu a ele uma visão esplêndida de seus tornozelos.
Charles suspirou. Ele teve que parar de pensar nela nesses termos, especialmente naquele momento em que ela precisava de um amigo. Ela já havia explicado como Bea havia deixado Londres para ir para a propriedade de campo do marido e que Edward precisava voltar para casa.
Ao ouvir sobre sua iminente reclusão inadequada, Charles quase implorou pelo favor. Ele devia dizer a ela que subiriam em outra hora, quando ela tivesse companhia. Exceto que Charlotte parecia um pouco triste e a única coisa que trouxe um sorriso em seu rosto foi a ideia de mostrar a ele o novo espaço para o café da Rare Confeitaria.
Depois que ela destrancou uma porta no topo da escada, ele a seguiu até uma sala vazia com piso fosco que precisava de polimento. As paredes, porém, foram recém-pintadas e as janelas dos fundos, com vista para as cavalariças, cintilavam. Nem uma teia de aranha à vista no teto de gesso. No centro da sala vazia, Charlotte se virou para encará-lo.
Um tanto tímida, ela perguntou:
— O que você acha?
Ele escolheu suas palavras com cuidado.
— É uma sala boa e limpa com muito espaço.
Ela assentiu, satisfeita com sua declaração.
— Venha ver a sala da frente com vista para a rua. Posso praticamente imaginá-la mobiliada, embora esteja dividido entre mesas de bambu falso ou algo com incrustações e um toque com acentos dourados.
— Por que não ambos? — Ele perguntou, gerando um olhar estranho nela. Obviamente, ele traiu sua ignorância em todas as questões de decoração e móveis.
Seguindo-a em direção à frente, ele passou por um amplo arco.
— É uma coisa boa não haver parede e porta aqui. Gosto de como todo este andar parece quase um só espaço.
— Exatamente meus pensamentos, — ela concordou, e ele recuperou um pouco seu orgulho. — Embora dependendo do que acabarmos servindo, — acrescentou ela, — Talvez seja necessário construir uma pequena cozinha nos fundos.
Ele engoliu em seco. Ela fazia ideia de quanto custaria colocar encanamento aqui se não houvesse canos para torneiras e ralo? Ele também não tinha noção do custo, mas provavelmente era considerável.
— Talvez você deva usar a cozinha lá embaixo, nos fundos, até começar a ter lucro.
— Estou repensando isso, — disse ela, assustando-o. Afinal, ela assinou um contrato. — Devíamos ter cadeiras almofadadas macias aqui, para que as senhoras fiquem mais tempo, bebam mais chocolate e comam mais doces.
Ele sorriu ao ver a imagem de seus clientes cada vez maiores enquanto permaneciam na área de jantar comendo doces. Mas não era para brincadeira que ela estava se concentrando nos detalhes da decoração e não nas grandes despesas para colocar uma pia e um forno.
— Com a receita atual da loja, você conseguirá fazer tudo o que deseja aqui?
Ela estava olhando para as janelas da frente, perdida em pensamentos, e ele pôde admirar tudo sobre ela em silêncio por um longo momento. Por fim, ela se virou.
— Coleta de lã, — disse ela em tom de desculpas. — Eu estava imaginando aqueles pratos de servir em três camadas, não de prata, mas de porcelana, com nossos doces e alguns biscoitos em todos os três pratos. Eu me pergunto se deveríamos contratar um chef pasteleiro, um pâtissier, para ser mais específico, para fazer sobremesas adequadas ou se mamãe vai achar que isso vai muito longe de nosso objetivo principal. As pessoas esperariam comprar os pastéis da loja lá embaixo da mesma forma que fazem nossos doces depois de comê-los aqui?
Ele pensou que ela estava fazendo uma pergunta retórica, como acontecia com frequência no tribunal, mas por sua expressão atenta, ele percebeu que ela estava esperando sua resposta.
— Suponho que você poderia oferecer em sua sala de jantar mais do que vende lá embaixo. Se estou em um restaurante ou café, nunca espero poder comprar nada do menu para levar para casa comigo.
— Isso é verdade. Então nossa loja poderia ficar como está embaixo, talvez com outro balcão de vendas aqui.
Ela se virou e passou pela abertura em arco.
— Acho que as escadas de baixo vão sair em algum lugar por lá. — Ela gesticulou para a parede direita, então bateu palmas. — É tão emocionante. — No instante seguinte, ela parecia praticamente perturbada.
— Qual é o problema? — Ele perguntou, dando um passo mais perto.
— Pensar que ninguém da minha família sabe disso ainda. Só você. — Ela olhou para ele. — Eu sei que não é sua função dizer, — ela hesitou, — mas você não acha que eu cometi um erro, acha?
Seu coração afundou. Deus, ele esperava que não!
— Eu acho que você tem uma boa cabeça sobre os ombros, e se você acha que sua loja tem os fundos necessários para expandir, então provavelmente tem.
Provavelmente. Ele deu mais um passo em sua direção. Ela deveria recuar. Ela não fez isso, então ele se desviou para andar pela sala e parou onde ela indicou que as escadas estariam.
— É uma ideia muito boa colocar uma escada, não só para a comodidade dos seus clientes na loja de baixo, mas também em caso de incêndio.
— Sim, eu não tinha pensado nisso. — Desta vez, ela parecia estar se aproximando. Irracionalmente, Charles se achatou contra a parede.
— O que diabos você está fazendo, meu senhor? — Ela perguntou, um pequeno sorriso em seu rosto.
— Fazendo? Por quê? Nada?
— Você parece estar em perigo, — ela disse. Pelo brilho em seus olhos, ela estava fazendo isso de propósito. Ele relaxou.
— Você sabe tão bem quanto eu que não deveríamos estar aqui sozinhos.
Ela assentiu.
— Mas nós estamos.
— Então devemos manter alguns metros de distância, — ele sugeriu.
Essa afirmação foi recebida com seu riso, borbulhante e contagiante. Ele riu também, embora não soubesse o porquê.
Depois de um momento, ele fez a mesma pergunta.
— Por que estamos rindo?
— Porque eu acho ridículo que os adultos não sejam confiáveis. Eu sei que se nós fossemos descobertos, seria muito ruim. Eu entendo sobre as aparências. No entanto, para sugerir que precisamos nos separar quando ninguém está olhando, como se você realmente pensasse que poderia ser dominado e saltar sobre mim, — ela começou, então balançou a cabeça, deslocando uma mecha marrom macia que ele coçava para colocar atrás de sua orelha.
— Não é apenas para sua proteção, — Charles apontou.
Seus lindos olhos se arregalaram, assim como seu sorriso.
— Ah eu vejo! Você está preocupado que eu possa ser incapaz de me ajudar. — Ela se aproximou ainda mais. — Eu posso estar tão dominada por seu magnetismo extraordinário que não posso ser responsabilizada por me pressionar contra você.
E ela fez exatamente isso, roçando seu corpo bem torneado contra ele, enquanto ele cerrava os dentes.
Por piedade!
Capítulo Treze
O calor de Charlotte estava se infiltrando nele. E Charles podia sentir sua suavidade contra seu braço e então seu peito. Um momento depois, ela estava rindo mais uma vez e passando por ele em direção às janelas dos fundos.
Ele engoliu em seco e até mesmo a falta de ar ficou presa em sua garganta seca.
A mulher irritante não tinha ideia de como ela era esplêndida ou o quanto ele queria agarrá-la para ele e provar seus lábios novamente. Fazer isso iria privá-lo de qualquer pretensão de ser um cavalheiro, especialmente porque ela o convidou como amigo.
Ele estava descobrindo rapidamente que havia amizade demais no que dizia respeito à Charlotte.
— Oh, olhe lá, — ela exclamou, e ele não teve escolha a não ser segui-la e se aventurar dentro do círculo de sua atração. Perto demais. Mas ela estava certa, ele não era um animal em quem se pudesse confiar.
Caminhando para a outra janela traseira, ele olhou para fora para ver o que ela estava olhando. Na verdade, não era muito de uma vista. Nem a frente da confeitaria, que apesar de estar de frente para a St. Paul's à distância, não oferecia nada além de uma visão íntima das lojas do outro lado da rua. E na parte de trás, ele podia ver apenas o beco e mais edifícios. O que atraiu seu interesse?
Em um piscar de olhos, ela se moveu para ficar ao lado dele. Ele sentiu vontade de rosnar, não como um animal, mas apenas um homem encontrando tentações demais.
— Eu nunca vi a vista daqui de cima. Posso ver o Hyde Park, ou pelo menos as copas das árvores, e o Green Park. — Ela abriu a janela e se inclinou para fora. — E se eu esticar o pescoço, — acrescentou ela, — posso até ver o Tâmisa à distância.
Inclinando-se ainda mais, seus pés de repente deixaram o chão e seu corpo balançou no parapeito da janela. Charles a agarrou enquanto ela gritava de surpresa. Puxando-a de volta para dentro, ele a segurou com força.
— O que na Terra! Senhorita Rare Foure, se eu não estivesse aqui, você teria mergulhado para a morte no beco abaixo.
Ela olhou de soslaio para as cavalariças. Estava limpo até onde chegavam os becos, mas ainda assim continha o lixo dos vários estabelecimentos da Bond Street, junto com pedaços de carvão caídos de entregas que erraram o alvo nas rampas do andar inferior. Ele estremeceu ao imaginá-la deitada quebrada nos paralelepípedos.
— Isso teria sido um fim vergonhoso, — ela concordou, aparentemente totalmente imperturbável. — No entanto, não acho que teria conseguido passar pela abertura sem me segurar com as mãos contra a moldura.
Ele teve que discordar. Ela não era apenas mais baixa, mas o que ele descreveria como pesada. As leis da gravidade teriam garantido que ela tombasse e fizesse uma descida rápida.
Ele a puxou para mais perto como ele imaginou. Envolvendo os braços ao redor dela, ele fechou os olhos e descansou o queixo sobre ela... seu chapéu espinhoso. Na melhor das hipóteses, era desconfortável. Além disso, ela estava resistindo a seu abraço, como deveria, empurrando contra seu peito.
Rapidamente, ele largou os braços ao redor dela e deu um passo para trás.
— Minhas desculpas, — disse ele. — Fui brevemente dominado por uma imagem na minha cabeça do que certamente teria acontecido. Prometa-me que não fará nada tão tolo de novo.
Charlotte congelou no lugar, olhando para ele.
— Essa foi a coisa mais doce, — ela anunciou. — Você está me resgatando e depois me abraçando. Sinto muito por preocupá-lo.
Novamente, ela estava se aproximando. Antes que ele pudesse reagir, ela jogou os braços em volta da cintura dele e o abraçou de volta.
Toda a situação saiu do controle e agora, eles estavam em uma posição insustentável. Apertando-o contra ela, ela olhou para cima, e ele sabia o que significava cair profundamente nos olhos de uma mulher. Pois foi isso que ele fez, seus profundos olhos castanhos dando-lhe as boas-vindas em sua alma. Seu estômago embrulhou com a sensação.
Sem pensar, ele abaixou a cabeça e reivindicou seus lábios.
CHARLOTTE ENGASGOU COM a boca de Lorde Jeffcoat e depois relaxou. Seu corpo inteiro estava formigando desde que eles entraram na suíte, e ela sabia que o estava provocando até a distração. Embora quase tenha caído da janela, possivelmente para a morte, tenha sido um acidente.
No entanto, havia alcançado seu objetivo. Ele finalmente a estava beijando novamente com um beijo longo e feliz.
— Mm, — ela disse contra seus lábios, e sentiu sua resposta na forma como seus dedos apertaram sua cintura e como ele aprofundou o beijo, sua boca parecendo acariciar a dela. Depois de um longo tempo, ele recuou.
Ela abriu os olhos e viu seu próprio olhar ir de longe para um foco nítido, e então suas feições se contraíram.
— Explodiu tudo! — Ele praguejou e se afastou dela, até o final da sala e através do arco para o outro conjunto de janelas.
Depois de se recuperar de sua reação surpreendentemente afiada, ela correu atrás dele.
— Lorde Jeffcoat, algo está errado?
Ele não estava olhando para ela, mas olhando pela janela. Ousando seu desagrado, pois ele irradiava aborrecimento, ela ficou ao lado dele.
— Esta vista é mais familiar, mas ainda é difícil de ver sobre os telhados do outro lado da rua.
Ele não disse nada.
— Lorde Jeffcoat, você vai ficar em silêncio até nos separarmos?
— Talvez, — ele murmurou.
— Por quê?
— Porque eu me comportei abominavelmente e deveria ser açoitado.
Ela sentiu vontade de rir com o tom sério dele depois do beijo agradável, mas então ela o imaginou despido para uma chicotada e ficou sério ao pensar em ver seu torso.
— Eu... eu sinto muito se eu causei angústia, — ela ofereceu.
— Você! — Ele exclamou. — Você não é a única a se desculpar. Eu sou aquele que deveria ser razoável e racional e cauteloso e... e proteger sua inocência. Em vez disso, ataquei você e roubei um beijo.
Desta vez, Charlotte não conseguiu conter seu bom humor. Ela tentou apertar os lábios, mas sua risada se espalhou.
— Oh, meu senhor. Você sabe tão bem quanto eu que joguei meus braços em volta de você. Depois de já ter te abraçado, — ela ressaltou.
Eles se encararam.
— É realmente tão terrível? — Charlotte não pôde deixar de perguntar.
Ele suspirou.
— Você já perguntou isso antes e sabe a resposta.
— Eu sei, — ela admitiu, — Minha reputação está em jogo, mas talvez não se chegarmos a um acordo.
Ele parecia chocado, realmente empalidecendo.
O que ela disse que foi tão chocante?
— Senhorita Rare Foure, não pode haver um entendimento que permita a um único homem e uma única mulher desprezar as restrições da sociedade civil. Ignoramos o decoro e destruímos essas restrições por nossa própria conta e risco.
Lorde Jeffcoat andava de um lado para o outro, e ela o imaginava fazendo isso, para frente e para trás, diante do tribunal de algum juiz nobre enquanto apresentava seu caso.
— Se descoberto, você seria rotulada como uma saia leve na pior das hipóteses ou uma mulher solta na melhor das hipóteses. Sei muito bem que seria perdoado aos olhos da sociedade por ser tentado além da razão por seus encantos.
— E você é? — Charlotte sabia que deveria parar de cutucá-lo, mas não podia. Ele era tão apropriado com sua gravata perfeita e suas luvas cinza.
— Eu sou o quê? — Ele perdeu a cabeça.
— Tentado além da razão? — Ela perguntou.
— Argh! — Ele exclamou e se afastou dela novamente. Mas então ele se virou e voltou. — Senhorita Rare Foure ...
— Você poderia me chamar de Charlotte, — ela apontou, — Quando estivermos sozinhos, já que nos beijamos. Duas vezes.
Ele apertou a mandíbula.
— E eu poderia chamá-lo de Charles. Só, como eu disse, quando estamos sozinhos.
— Não estaremos sozinhos de novo, — prometeu. — Não devemos.
Ela suspirou.
— O arranjo a que me referi é o tipo que os casais fazem quando gostam um do outro e se entendem.
Ele estreitou os olhos.
— Você quer dizer um noivado?
Depois de tudo isso, ouvi-lo dizer isso quando ela teve que soletrar para ele foi mortificante ao extremo. Se ele queria passar um tempo sozinho com ela e tinha sentimentos tão intensos, então um noivado deveria ter prevalecido em sua mente. Não dela. Ou, pelo menos, não apenas dela.
— Não, — ela respondeu para salvar a face. — Eu suponho que eu quis dizer..., — ela parou.
— Bem? — Perguntou ele, como se fosse um advogado interrogando uma testemunha.
— Minha irmã, a Sra. Carson, antes disso, tinha um acordo com o Sr. Carson. Eles eram... parceiros... em um esquema para encontrar para ele uma moça com título como sua esposa.
Lorde Jeffcoat revirou os olhos.
— E como isso funcionou para eles?
— Perfeitamente, — Charlotte disse a ele. — Eles se apaixonaram e, obviamente, eles pertencem um ao outro.
— Hm.
Isso não disse nada a ela sobre seus pensamentos.
— Se tivéssemos um acordo, algo que estivéssemos fazendo, — ela persistiu, — Então poderíamos ficar juntos sem suspeitas.
— Não, Srta. Rare Foure, não poderíamos. Além disso, o que estaríamos fazendo juntos? Eu não sou um advogado imobiliário. Nem posso construir sua escada tão necessária.
Ela suspirou.
— Deixa para lá. Por que você não me fala sobre aquela senhora na sala de concertos?
Ele parecia chocado novamente.
— Um tópico inapropriado, — disse ele.
— Eu acho que não. Por que você não me conta? Se você pode me convidar para sair e depois me levar a algum lugar onde eu possa encontrar suas ex-amantes...
— Senhorita Rare Foure!
— Suas antigas amigas, esse é um termo melhor e mais civilizado? — Ela perguntou. — Se você me colocar no caminho delas, acredito que tenho o direito de perguntar. Afinal, ela me ofendeu.
— Ofendeu você? — Ele repetiu, franzindo a testa ligeiramente.
— Ela fez, — Charlotte o lembrou. — Eu não sou tão ingênua para não saber o que ela quis dizer sobre por que você está comigo.
Seu rosto ficou rosado e seu olhar se desviou de seu rosto. Ela o envergonhou.
— Está tudo bem. Tenho plena consciência de alguns traços meus que chamam a atenção dos homens.
Ele parecia prestes a correr, então ela parou. Ela se desenvolveu além das irmãs e recebeu muitos olhares boquiabertos de um homem. No entanto, ter uma mulher, particularmente uma amiga de Lorde Jeffcoat, mencionar o seu número tinha sido uma ocorrência nova e desconfortável.
Como se ela fosse nada mais do que um busto largo e lindos lábios!
— Por que você me chamou para sair de novo? Eu sei que não foi apenas devido ao que sua amante mencionou.
— Minha amiga, — ele corrigiu com firmeza, — E ela já não é nem mesmo isso. Ela não tem importância.
— Apesar de tudo, — ela foi rude.
— Ela foi, — ele concordou. — E ela estava errada. Eu gosto de você porque você é interessante.
Interessante? Uma vendedora que fazia Marzipan! No entanto, ela acreditou nele, e sua declaração a aqueceu.
— Se ela não é importante, então você pode me dizer quem ela é.
— Você seria um bom advogado, Srta. Rare Foure. Ou pelo menos um persistente. — Ele cruzou os braços. — Ela é a senhorita Virginia Stadden. Eu a acompanhei pela cidade e a algumas festas por alguns meses. No entanto, ela é indelicada e, depois de um tempo, não pude aguentar mais.
— Entendo. — Ela supôs que respondia a todas as suas perguntas. Desde que a mulher não estivesse mais em sua mente ou coração, ela não se importava, exatamente como ele disse.
— Você é o oposto. Você é gentil, — Lorde Jeffcoat ofereceu.
Charlotte não pôde deixar de sorrir.
— Eu sou, — ela concordou, fazendo-o latir uma risada.
— E modesta. — Ele brincou, depois de um momento.
— Parece arrogante concordar que minha natureza é basicamente gentil?
— Não realmente, não quando você diz isso, — ele concordou. — Eu vi a evidência.
Ela encolheu os ombros.
— É fácil ser gentil e deixar as pessoas felizes, principalmente com os doces.
— Eu suponho que sim. A maioria das pessoas com quem trabalho não sorri.
— Algo tão grave quanto a lei pode drenar a felicidade, — ela meditou. — Mas você não é um homem triste, embora às vezes um pouco sério.
— Eu já ouvi isso antes.
— Você parece com seu pai, talvez, — ela meditou, — embora o conde parecesse mais irritado do que sério. — Mas se o modelo de vida de Charles como homem era o conde rabugento, então ela supôs que ele tinha se saído muito bem.
— Melhor meu pai do que minha mãe, — ele brincou, então parecia que gostaria de poder sugar as palavras do ar e engoli-las de volta.
— Sua mãe faleceu? — Charlotte perguntou a ele, temendo o pior.
Ele não disse nada por um longo momento.
— Se você não se importa, prefiro não falar dela. — Seu tom se tornou reticente e desagradável.
Provavelmente era muito doloroso para ele.
— Claro. Lamento ter bisbilhotado. Em qualquer caso, tomei muito do seu tempo.
De repente, ela se lembrou que todo aquele espaço pertencia a ela e à Rare Confeitaria e sua alegria borbulhou mais uma vez. Voltando ao centro da sala, ela girou em um círculo.
— Não dá para imaginar? — Ela gritou.
— Tudo atraente até os mínimos detalhes, os pisos, a pintura, o papel de parede e os móveis. E vai cheirar divinamente aos chocolates da Amity e ao caramelo amanteigado de Beatrice. E café também. Vai ser ótimo.
— Eu posso imaginar isso. Tenho certeza de que o seu Marzipan também estará aqui, — acrescentou.
Que gentileza da parte dele mencionar isso.
— Não tem um cheiro quente e delicioso. É, sem dúvida, a doçaria menos popular da loja.
Com isso, percebendo que ainda tinha trabalho a fazer lá embaixo, ela começou a caminhar em direção à porta.
— E isso não te incomoda? — Ele perguntou, parecendo surpreso.
— De modo nenhum. Afinal, meu Marzipan faz parte do sucesso da Rare Confeitaria. — Ela olhou para ele. — Como família, falhamos ou temos sucesso juntos, — eu acredito.
Ele parou em seu caminho.
— Você me surpreendeu novamente, Srta. Rare Foure. Além do mais, você o fez mais do que qualquer pessoa que conheço.
Charlotte não sabia o que fazer com isso.
— A maioria das famílias são semelhantes, não são?
— Eu gostaria que fosse assim, — Charles disse, fazendo-a entender que ele não teve a mesma experiência em sua vida.
Ela se lembrou de como Lionel foi embora sem qualquer indicação de quando veria Viola ou seus pais novamente. Puro egoísmo! Mas, certamente, Lionel era uma aberração de uma mente artística! Ela esperava que tal coisa não tivesse acontecido ao visconde de sua própria família.
— Posso acompanhá-la a algum lugar novamente esta semana? — Ele perguntou.
Sua pergunta a tirou dos pensamentos de um homem que ela nunca poderia ver novamente, um que ela finalmente deixou para trás.
— Sim, — ela respondeu. — Vamos precisar de Delia, obviamente, porque não podemos manter nossas mãos longe um do outro.
Charlotte quis dizer isso de brincadeira, mas ele enrijeceu. Ele era um pouco sério demais para seu próprio bem. Ora, ela quase se inclinou para beijá-lo apenas para arrepiar suas penas mais uma vez, mas se conteve. Isso certamente terminaria com ele se repreendendo novamente.
— Estou falando em tom de brincadeira. Devo me comportar da melhor maneira, — garantiu ela. — E tenho certeza de que você também.
Isso o fez sorrir, embora apenas ligeiramente.
— Eu gosto de andar. Acho que posso ter mencionado isso antes. Mas você trabalha todos os dias, não é?
— Exceto aos domingos.
— Vou planejar um passeio para uma noite desta semana, — ele propôs, — Mas também, eu gostaria de levá-la para andar no domingo.
Ela teria que confessar a verdade.
— Meu senhor, sou filha de um lojista de classe média. Nossa família não anda no parque porque não temos montaria ou não temos roupas de montaria adequadas.
Mesmo assim, Charlotte achou que ela ficaria atraente em um hábito de veludo verde. Ela poderia obter tal coisa em uma loja de roupas prontas e em tão curto prazo?
Mas ela também precisaria de um cavalo, e não de uma das éguas robustas que puxavam a carruagem de seu pai pela cidade.
Lorde Jeffcoat não se intimidou.
— Você já cavalgou antes?
Ela deveria confessar que cavalgou sem sela em sua casa de campo? Uma ou duas vezes, apenas por diversão, ela cavalgou ao longo do rio Blackwater, já que eles não tinham uma sela lateral. A égua gorda se movia tão devagar quanto melaço em um dia frio.
— Algumas vezes, sim, mas não na cidade, — ela admitiu.
— Perfeito. Você vai se divertir, — eu prometo. — E qualquer vestido serve, tenho certeza, desde que tenha uma saia larga para cobrir os tornozelos. Vou te dar uma montaria bem-educada e uma sela confortável. Cavalgaremos cedo enquanto o resto de Londres ainda está dormindo. Diga sim, Srta. Rare Foure.
Ela não conseguia pensar em nenhum impedimento, visto que ele estava lhe dando um cavalo.
— Tudo certo. Minha resposta é sim.
Então ela se lembrou.
— E quanto a Delia?
Ele franziu a testa.
— Eu não posso ser responsável por sua empregada se ela nunca montou. Vou trazer um lacaio. — Após uma pausa, ele acrescentou: — Talvez dois.
Charlotte o fitou com um sorriso, erguendo as sobrancelhas.
— Você tem certeza de que dois acompanhantes serão o suficiente?
Com um sorriso atipicamente largo que trouxe à tona sua linda covinha, ele balançou a cabeça e gesticulou para que ela liderasse o caminho para baixo.
— Não, Srta. Rare Foure, não tenho certeza.
Capítulo Quatorze
— Mais adiante, precisamos encontrar um carpinteiro que nos faça uma escada, de forma barata e com o mínimo de barulho possível. Suponho que também o mais rápido possível, pois teremos que fechar a loja quando a construção começar.
Os olhos do menino eram como pires.
— Não se preocupe, — disse Charlotte, fazendo formatos de frutas tão rapidamente quanto Edward fez o Marzipan para ela.
— Não vou pedir que você comece a trabalhar com uma serra e um martelo.
Eles não estavam atrás, nem estavam à frente. Amity estava produzindo alguns chocolates em casa, e Charlotte havia tirado o pó de suas habilidades para fazer mais na loja. Edward, com a ajuda do termômetro de doces e do cronômetro de areia, estava fazendo um excelente caramelo usando as receitas de Bea.
— Só estou me perguntando como alguém faz para encontrar uma pessoa de boa reputação. Nunca precisei de nada construído antes. Eu sei que existe uma guilda de carpinteiros porque eles demoliram seu salão de reuniões há alguns anos e não abrirão o novo até o próximo ano. — Ela deu uma risadinha. — Todos aqueles carpinteiros e está demorando mais de meia década!
— Eu moro no centro desse locol, senhorita. A pouca distância da Bomba Aldgate.
Ela sabia disso. Isso marcou o início do East End mais sombrio de Londres, mas Edward estufou ligeiramente o peito e acrescentou:
— Você sabe que eles moveram a bomba um pouco para o oeste.
Ela supôs que de alguma forma o bairro dele parecia menos pobre. Ela estava prestes a perguntar a ele sobre sua situação de vida quando ele voltou ao ponto da discussão.
— O salão da guilda já é um prédio lindo, senhorita, embora não esteja concluído. À direita na London Wall Road. Logo abaixo do Finsbury Circus.
Charlotte encolheu os ombros.
— Quase nunca estive nessa área. Ocasionalmente, vou às docas com meu pai e minhas irmãs, para obter açúcar ou grãos de cacau ou minhas amêndoas.
— Tudo bem, senhorita. — Ele torceu o nariz.
— Fica feio de qualquer maneira quanto mais a leste você vai.
E não muito seguro, também, pelo que Charlotte sabia das favelas de Whitechapel. Ela não gostava da área do cais também, mas se sentia segura com seu pai.
— Eu poderia perguntar a um dos carpinteiros quando eu passar pela manhã, — Edward ofereceu.
Franzindo a testa, ela prendeu um pequeno cravo-da-índia no topo de seu falso Marzipan de pêssego. Não era trabalho para um menino, mas ela também não teve tempo de atravessar toda a cidade, embora isso a levasse além das Inns of Court. Ela balançou a cabeça. Ela não teve tempo para aparecer e visitar o advogado Charles Jeffrey Lambeth, se isso fosse permitido. Deve haver algum lugar mais perto onde se possa contratar um construtor. Talvez o negócio na Cavendish Square perto de The Langham, que fazia vitrais e paramentos para igrejas. Ela passava sempre que fazia entregas no hotel. Então ela percebeu a resposta.
— Eu sou uma idiota com cabeça de pano! O jornal é a resposta. Vou olhar os jornais esta noite no meu jantar e encontrar algumas perspectivas.
Edward parecia desapontado, então ela cedeu.
— Se você deseja dar uma passada no salão da guilda e ver o que consegue descobrir, — Charlotte disse a ele. — Eu ficaria muito grata. Entre nós dois, descobriremos o homem certo para a construção de nossa escada.
ENQUANTO CHARLOTTE TINHA escrito os nomes de dois construtores em anúncios nos jornais e os trouxe para a loja na manhã seguinte, quando Edward entrou, ele não tinha apenas o nome de um construtor, mas o próprio homem.
— Senhorita, este é meu tio, Sr. Tufts. Ele diz que pode fazer o trabalho.
Charlotte deu a volta por trás do balcão, parando no meio da sala. Embora se sentisse um pouco estranha ao encontrar um comerciante e desejasse ter mais alguns centímetros de altura para lhe dar um ar de autoridade, ela estava no comando. O homem não tinha o mesmo cabelo cor de areia de seu sobrinho, nem qualquer sinal da franqueza do menino em relação a ele.
Em vez disso, o olhar dele disparou para cima e para baixo em sua figura, então cintilou ao redor da loja, dando a Charlotte um momento de desconforto. No entanto, quando o homem encontrou seus olhos novamente, ele acenou com a cabeça de uma forma amigável.
— Uma loja bem organizada você tem aqui, senhorita, e isso não é um engano. Meu sobrinho disse-me que você precisa construir escadas e eu posso ajudar com isso.
— Você é um mestre carpinteiro, Sr. Tufts? Ou um aprendiz? — Obviamente, ele era muito velho para ser um aprendiz.
— Sou um construtor, senhorita. Eu posso fazer um pouco disso, um pouco daquilo. Telhados, paredes, escadas. Não importa o que aconteça, eu posso fazer isso.
Ela olhou para Edward, que permaneceu quieto.
— Vou começar a trabalhar, senhorita, — disse ele, e desapareceu nos fundos para pegar o avental.
— A mãe dele está tão satisfeita quanto Punch que você deu trabalho ao menino.
— Ele é um trabalhador esforçado e capaz também.
— Puxou a mim, — disse o homem, estufando o peito.
Um arrogante, Charlotte pensou, mas se ele era bom em seu trabalho, então isso não importava.
— Onde você quer as escadas? — Ele perguntou, começando a passear.
— No canto de trás. Estamos expandindo para o segundo andar e a escada atual fica do lado de fora.
— Expandindo sua loja de doces, não é? Você deve estar indo muito bem, e nesta rua também. Um monte de pessoas ricas comprando de você, não é? — Ele não deu pausa para ela responder, mas foi até as prateleiras onde guardavam suas lindas latas para pedidos maiores. Em seguida, ele bateu um pouco na parede com a palma da mão.
Charlotte franziu a testa. O que isso poderia dizer a ele?
— Boa construção aqui, — disse Tufts quando a viu olhando para ele. Então ele ergueu os olhos. — É preciso fazer um buraco bem ali.
— Sem dúvida, — Charlotte disse. E então, no silêncio, ela perguntou: — Você gostaria de uma amostra de confeitaria?
— Gratuito? — Ele perguntou.
— Sim, claro.
— Mas eu não estou comprando nada.
Charlotte sorriu.
— Está tudo bem.
— Um pedaço de caramelo, então, moça. Preciso subir e ver a configuração do terreno.
Charlotte pensou no que acontecera com Charles Jeffcoat lá em cima.
— Vou pedir a Edward para levá-lo para cima. Tenho muito trabalho a fazer para abrir. Não esperava ver um construtor esta manhã.
Ela chamou Edward para fora da sala dos fundos e deu-lhe a chave antes de dar a seu tio um pedaço de caramelo. O menino parecia estranhamente carrancudo, sem olhar nos olhos dela, mas ela falaria com ele em particular depois que seu tio fosse embora.
Antes de saírem, ela perguntou:
— Sr. Tufts, você tem referências?
A palavra que ela nunca tinha usado antes parecia estranha e exigente. Ela nunca contratou uma empregada ou empregado, exceto Edward. Mas ela sabia que alguém pedia isso para determinar o caráter e a habilidade de uma pessoa.
— Oh, sim, senhorita. Só o melhor. Edward, aqui, por exemplo. — Ele estendeu a mão e bagunçou o cabelo do menino, o que ele não pareceu gostar, pois ele se esquivou.
Charlotte sorriu.
— Tenho certeza que Edward irá atestar por você, mas eu gostaria dos nomes de alguns de seus empregadores anteriores e os endereços de algumas residências ou empresas onde você construiu algo.
Ele assentiu.
— Tudo bem, então. Vou mandar junto com Edward amanhã. E eu vou te dar um preço assim que eu ver o andar de cima.
— Obrigada.
Quando eles partiram, Charlotte sentiu como se estivesse chegando a algum lugar. Talvez ela não precisasse perseguir nenhum dos outros construtores dos jornais, pois seria bom trabalhar com a família de Edward.
No entanto, quando o menino voltou alguns minutos depois sozinho, ele não parecia feliz.
— O que há de errado? — Ela perguntou enquanto ele lhe entregava as chaves.
— Um pouco de dor de estômago, senhorita, — Disse ele. — É melhor eu limpar as vitrines.
Eles estavam um pouco atrás, mas ela não estava pronta para deixar o assunto morrer.
— Você acha que seu tio pode fazer o trabalho?
— Eu acredito que sim, senhorita. Por que mais ele teria pedido para vir?
De fato!
— Suponho que ele more com você e você mencionou as escadas.
— Sim, senhorita.
— E você quer que eu dê o trabalho a ele? — Francamente, parecia a ela que Edward preferia que ela mantivesse seu tio afastado, mas ela não tinha certeza.
O menino suspirou e esfregou o estômago.
— Sim senhorita. Isso ajudaria minha mãe.
Charlotte supôs que o tio era irmão de sua mãe e daria um pouco do dinheiro para sustentar a família. Pelo que ela poderia dizer, não havia pai em casa.
— Onde está seu pai? — Ela perguntou a ele, nunca tendo bisbilhotado antes.
— Morto, — Edward disse e desapareceu nos fundos.
DEPOIS DE UMA NOITE no teatro sem a irmã boca-de-lobo e seu marido, Charles estava mais firmemente convencido de que Charlotte era a mulher que ele estava procurando.
Nem por toda a sua vida! Ele não podia dizer nada tão romanticamente bobo assim. No entanto, agora que ele estava pensando em se casar, ela parecia atender às suas necessidades. Ele queria tocá-la, beijá-la e cheirar seu cabelo sempre que estivessem perto. Aquilo foi uma coisa boa. Além disso, gostava de conversar com ela e gostava especialmente de seu humor. Ela parecia a companheira perfeita.
E então, enquanto desfrutava da companhia dela, ele se lembrou de seu pai dizendo como a mãe de Charles parecia a companheira perfeita também. Bela de rosto, mas também charmosa, fácil de conversar, atenciosa. Esposa. Ela também tinha sido obstinada, inteligente e terrivelmente, esmagadoramente inconstante.
Observando Charlotte decidir entre o champanhe espumante e o vinho durante um intervalo de balé, ele torceu para não detectar um fio de tal inconstância nela. Se o fizesse, seria o fim de seu relacionamento florescente.
Depois de deixar Charlotte e Delia na Baker Street, Charles percebeu que sentia falta dela ao chegar em casa, querendo-a lá, bebendo um conhaque tarde da noite, aquecendo sua cama. Tudo isso e muito mais. Ela queria o mesmo? Ele não tinha como saber se ela estava pronta para tal responsabilidade. Ele também não sabia se ela seria fiel a ele pelo resto de suas vidas. Alguma mulher era capaz disso?
— Ela parecia uma jovem simpática, — disse o pai, encontrando-se com ele carregando conhaque escada acima para o escritório.
Hesitando no meio de um passo, Charles se virou para onde o conde estava no final, em seu roupão como de costume.
— Quem você quer dizer?
— Não banque o tímido, — disse o pai, subindo com uma das mãos na grade, parecendo mais velho do que realmente era. Ele precisava de um bom corte de cabelo e que seu valete o colocasse em roupas apresentáveis. — A bonita que esteve aqui outra noite, — continuou o pai. — Com o riso adorável.
Não foi a primeira vez que ele a mencionou.
— O que te faz pensar que eu estava pensando nela? Por que você ainda está pensando e falando sobre ela?
— Você saiu com ela, não foi? — O conde se inclinou rudemente e cheirou seu filho. — Eu posso cheirar sua fragrância.
Charles se encolheu.
— Pare com isso. Sim, acompanhei a Srta. Rare Foure ao balé esta noite.
Seu pai deu de ombros e passou por ele na escada.
— Como eu disse, uma bela jovem.
Charles considerou as costas de seu pai enquanto o conde se dirigia ao longo do corredor, remexendo em seus chinelos.
— Então você a aprova? — Ele chamou atrás dele.
Seu pai se virou, carrancudo como ele.
— Aprovar? Você está realmente me perguntando isso? Você não é um jovem verde, nem ela é sua primeira amante.
— Não estou pedindo que você julgue uma amante, a qual ela definitivamente não é. — Charles pensou por um instante. Na verdade, o que ele estava perguntando? Ele supôs que queria ajuda para não cometer o mesmo erro que seu pai cometeu. — Um dia, a mulher com quem me casar será a condessa de Bentley.
— Suponho que sua esposa não pode ser pior do que a última condessa, pode? — Disse seu pai.
Eles piscaram um para o outro em tristeza compartilhada pela mãe de Charles.
— Já que fiz uma escolha tão ruim, — continuou o conde, — cego para todas as falhas que eram evidentes como o nariz em meu rosto, não posso aconselhá-lo sobre sua escolha. Tampouco tenho certeza de que qualquer mulher pode ser melhor do que..., — ele parou de falar, pois nunca falaram o nome dela. — Elas podem ser todas megeras desleais e caprichosas pelo que eu sei.
— Isso não é verdade, — Charles protestou. Ele sabia que a esposa de Pelham não era nenhuma dessas coisas.
Novamente, o conde encolheu os ombros.
— É o que você diz. — Ele se virou e começou a descer o corredor novamente, então parou sem olhar para trás. — Sua garota Rare, qualquer que seja seu nome confuso, pode ser rara de fato, ou tão comumente enganosa quanto o resto delas. Só o tempo dirá, suponho.
Com isso, seu pai continuou a andar e Charles entrou em seu escritório. Ela havia estado nele apenas uma vez, mas ele podia imaginar Charlotte ali perto da estante, rindo, parecendo incrivelmente linda.
Sua mãe, pelo que conseguia se lembrar dela, também era linda e alegre, rindo muito, alegre e animada. E então, em um piscar de olhos, ela saiu. Ele lembrava vagamente que ela deu um beijo rápido em sua testa, tocou seu cabelo e saiu correndo pela porta da frente. Ele nunca tinha imaginado em seu cérebro de criança que seria a última vez que ele poria os olhos nela. Que ela nunca escreveria para ele.
Como uma mãe pode fazer uma coisa dessas com seu filho?
Charles sentou-se calmamente, embora, ridiculamente, a velha dor o tenha invadido. Ficou forte a lembrança de encontrar o pai de joelhos na sala de estar, segurando uma carta escrita na caligrafia da condessa, que o conde mal conseguia ler em meio às lágrimas.
Charles tomou um gole de seu conhaque e desejou poder apagar a imagem de seu pai forte e capaz, soluçando ao saber da traição e duplicidade de sua esposa. Depois disso, depois de abraçá-lo por um momento, sabendo que o conde não queria que seu filho testemunhasse sua vergonha e tristeza, Charles saiu da sala silenciosamente, com um pouco de medo da dor adulta que encontrou. Ele tinha ido para a cama, para nunca derramar uma lágrima por sua mãe horrível, e ele nunca trouxe o incidente para seu pai.
Além disso, nenhum deles jamais a perdoou!
Capítulo Quinze
Depois que ela abriu a loja e uma hora tinha passado sem entrada de cliente, Charlotte sentiu uma pontada de alarme. No final da tarde do dia anterior, tinha sido mais lento do que o normal, pois muitas vezes havia uma correria de pessoas levando doces para casa para saborear depois do jantar. Isso não aconteceu, então ela e Edward limparam facilmente e viraram a placa precisamente na hora de fechar.
Depois de mandá-lo para casa, Charlotte passou outra hora esboçando como ela queria que o andar de cima fosse e fazendo listas de coisas que eles precisariam.
A ideia de uma nova confeitaria Rare era emocionante, a coisa mais emocionante que ela fez desde que ela compartilhou a temporada anterior com Beatrice. E agora, ela estava usando seus vestidos para sair com Lorde Jeffcoat, um homem que estava ocupando sem esforço todo o espaço de seu coração. Ela não sentia mais dores de tristeza com a noção de Lionel. Agora, ela sentia apenas a maneira como seu batimento cardíaco acelerou quando ela estava prestes a ver Charles.
Ela suspirou, encostando-se no balcão, ouvindo o som de... nada, exceto Edward trabalhando na sala dos fundos. Uma loja vazia e nenhum sino tocando. O que estava acontecendo?
De repente, como se em resposta às suas orações, a porta se abriu. Mas não era um cliente. Era o duque de Pelham, e em seu rosto havia uma expressão de consternação. Imediatamente, seus pensamentos voaram para sua irmã e o bebê que ainda não nasceu.
Charlotte correu ao redor do balcão.
— O que há de errado? É Amity? Está tudo bem?
— O quê? — Ele parecia confuso. — Oh Deus! Sim, ela está bem. Ela só sente sua falta. Você deve passar por lá. Que tal jantar conosco esta noite?
— Sim, claro. Mas você não veio aqui para me convidar para sua casa.
— Não, eu me perguntei se você viu o Evening Mail ontem à noite.
— Papai não se importa com o editor, então não assinamos. Por quê?
— Havia uma história sobre a Rare Confeitaria nele ontem. Vai sair hoje novamente no Times, que é dono do Mail. — Ele endireitou os ombros. — Para ser franco, não é favorável.
Charlotte ficou surpresa em silêncio. A loja nunca teve uma palavra ruim escrita sobre isso que ela soubesse.
— Você trouxe isto, Sua Graça?
— Sim. — Ele tirou um pedaço de papel de jornal do bolso. Tinha sido lido e enrolado como seu pai gostava de dizer. — Amity insistiu que eu trouxesse diretamente.
Ela o pegou, mas não olhou para ele.
— Conte-me mais sobre minha irmã.
Henry relaxou.
— Maior, mas bem. Ela aproveita o tempo com o garoto Percy quando ele chega. Isso a distrai de seu desconforto e tédio.
Charlotte concordou.
— Edward aprendeu muito com ela. — Inesperadamente, ela percebeu que ela queria falar com seu cunhado sobre o visconde. Afinal, quando ela teria a chance de falar com Henry sozinha novamente?
— Você provavelmente sabe que seu amigo Lorde Jeffcoat está me acompanhando pela cidade, — ela começou.
O duque corou levemente como se estivessem discutindo algo pessoal.
— Eu estava ciente, sim. — Então ele fez uma careta. — Não que Jeffcoat esteja tagarelando como uma velha com um pote de água de fofoca, você entende.
— Não, eu não pensei isso. De qualquer forma, gosto de sua companhia. Eu simplesmente pensei que iria te dizer isso. — Ela hesitou. Isso foi um pouco estranho. — Eu queria ter certeza de que teria sua bênção, suponho. Em todo caso, se você não quisesse que nós lhe fizéssemos companhia, você teria dito algo a ele, mas você também pode falar comigo.
As bochechas do duque ficaram mais vermelhas.
— Eu acho que ele é um bom homem. Além do mais, sei que você é uma jovem maravilhosa. Não vejo impedimento para sua companhia.
Ela assentiu.
— Obrigada. Eu me perguntava se ele sofria de algum grande amor perdido. Há algo nele, um pouco cauteloso e às vezes triste.
Henry ficou em silêncio por um momento.
— Jeffcoat sofreu uma grande decepção quando era mais jovem. Isso o afetou muito, embora ele não admita. Espero que ele conte a você sobre isso, pois não cabe a eu fazer. Você entende?
Assentindo, pelo menos ela teve suas preocupações confirmadas, mesmo se tudo o que o duque fez foi despertar sua curiosidade ainda mais. Então ela sacudiu o papel em sua mão.
— Por que Amity está tão preocupada com um artigo no jornal? Mesmo um ruim dificilmente pode ser tão ruim.
Seu rosto congelou.
— Pode? — Ela perguntou, o medo apertando seu estômago.
— É melhor você ler. Amity acha que você pode ter que começar alguns novos anúncios para neutralizar os efeitos. Enfim, não se preocupe. O artigo é bastante sombrio e pode prejudicar as vendas em um futuro previsível, mas você tem um negócio organizado e econômico aqui, e mesmo uma pequena queda nos lucros não prejudicará muito. — Ele tirou o chapéu, acenou com a cabeça e se virou para a porta. — Veremos você hoje à noite para o jantar. Venha às sete horas para visitar sua irmã com antecedência. Talvez eu tenha uma surpresa para você.
Quase sem ouvir quando o sino sinalizou sua partida, ela notou que o papel estava dobrado para revelar a história ofensiva, escrita por uma Srta. J. Whittaker. Ela nunca tinha ouvido falar dela.
— Enquanto a vendedora tentava ajudar, ela claramente não fazia ideia do que havia na confeitaria sendo vendida.... Havia uma grande variação de qualidade entre um doce e outro, principalmente os chocolates, que eram um mistério do bom e do não tão bom.... O caramelo de melado, proclamado por muitos como excelente, pode ter sido assim no passado, mas este escritor descobriu que ele está tristemente abaixo da noção de qualquer um sobre o que é saboroso. Seu sabor pode ser mais bem descrito como nitidamente desagradável. Em uma palavra, era intragável...
Quando ela acabou de desacreditar os doces, o escritor passou a difamar a loja:
— Não era tão limpa quanto se desejaria. Certo, o dia estava chuvoso, mas com nosso clima em Londres quase sempre contendo algumas gotas de chuva, isso não pode ser usado como desculpa para um chão encardido e escorregadio.... A falta de pessoal foi o motivo dado para a aparência da loja.... A vendedora, embora atenta no início, parecia não ter foco, incapaz de manter o controle de qual cliente estava ajudando.
Essa última frase doeu tanto quanto qualquer um deles, e todos eles, de fato, feriram o orgulho de Charlotte. E a conclusão do repórter, declarada no jornal para que todos pudessem ler, foi claramente a razão para a repentina falta de clientes:
— Embora a Rare Confeitaria tenha sido usada no passado para tratar de qualidade, ela claramente caiu na desordem e na ignomínia. Pelo mesmo custo de seus doces, ou até mais baratos, deliciosos confeitos Cadbury's e Fry's podem ser encontrados convenientemente em muitas lojas na forma de caixas e bares chiques, sem ter que fazer uma viagem especial para New Bond Street para serem vendidos a preços elevados, em confeitaria inferior.
Pelo amor de Deus! Até Charlotte queria sair correndo e pegar uma barra Cadbury para tirar o gosto desagradável do artigo de sua boca.
Confeitaria cara demais e inferior!
O duque havia dito que eles tinham um negócio econômico e pensaram que resistiriam a essa pequena crise facilmente. Mas Charlotte tinha acabado de dobrar o tamanho do espaço e o aluguel mensal. E a campainha da loja não tocou durante toda a manhã. Esta noite, ela finalmente diria a ele e Amity o que ela fez.
Enviando Edward nas entregas, ela teve tempo de sobra para ir em frente fazendo Marzipan fresco e começando a criar os porcos que as pessoas gostavam com o blush de suco de cereja na pele.
Ao meio-dia, eles tinham alguns clientes, pessoas que não liam o jornal e alguns clientes regulares, mas não era seu fluxo normal. Edward estava ocupado fazendo caramelo, que Charlotte provou em cada estágio. Foi satisfatório. Ela nem tinha certeza de que poderia dizer a diferença se empurrada entre o dele e o de Beatrice. Ele estava seguindo a receita de sua irmã ao pé da letra. Se aquela mulher horrível voltasse e, naturalmente, Charlotte agora soubesse precisamente quem havia escrito o artigo, a cliente do jornal o acharia não apenas comestível, mas delicioso.
Ela balançou a cabeça ao perceber que uma crítica contundente em um jornal popular poderia causar tantos danos. Então ela teve um pensamento. Certamente, isso significava que uma boa revisão poderia restaurar sua reputação. A melhor coisa seria convencer a Srta. Whittaker a voltar, encher seu buraco de bolo presunçoso com doces deliciosos e fazê-la se retratar.
No entanto, isso parecia improvável. Para não mencionar perigoso. Se algo desse errado e Charlotte tivesse aprendido literalmente qualquer coisa poderia dar errado a qualquer momento, isso poderia significar um desastre. E seria escrito no Evening Mail para que todos vissem.
Talvez ela pudesse atrair outro repórter para a loja. Ela supôs que se fosse colocar um anúncio, ela poderia pedir para falar com o editor do jornal e determinar se ele enviaria alguém para fazer uma revisão da loja. Por outro lado, ela estava prestes a fazer um buraco no teto e teria que fechar por alguns dias. Ela teve que esperar até terminar antes de convidar alguém para entrar.
Talvez uma simples refutação por escrito estivesse em ordem. Vagando de volta para o outro lado do balcão, ela olhou o papel novamente. Como esperado, foram impressas cartas do público para que todos pudessem ler. A maioria eram queixas e críticas sobre a pressão da água no East End, lixo sendo jogado nas lojas na Oxford Street, até mesmo uma carcaça de cavalo deixada para apodrecer ao norte de Hyde Park, bem como as queixas sempre presentes sobre o fedor do Tamisa. Uma carta protestando contra um dia ruim em uma confeitaria parecia fútil. Por mais enfadonho que fosse deixar o artigo sem contestação, escrever uma carta ao editor do jornal seria uma defesa aguada.
Com as horas se estendendo sem fim e passando lentamente, Charlotte deu as boas-vindas ao retorno do tio de Edward.
— Aqui estou, senhorita, pronto para fazer um trabalho honesto por um pagamento honesto.
Ele deslizou um pedaço de papel pelo balcão em direção a ela. A caligrafia pobre tornava as palavras difíceis de decifrar, e ela percebeu que a maioria estava escrita incorretamente assim que as reconheceu como nomes de ruas. Abaixo deles estavam o que ela presumiu serem os sobrenomes das pessoas, todos misturados.
— Todo o trabalho deles eu fiz e fiz bem. Agora, sobre o preço. — E ele passou a discutir o custo de madeira e pregos, balaústres e um corrimão, postes...
— Talvez se você pudesse escrever tudo isso, — ela perguntou.
Seu rosto azedou.
— Já escrevi tudo isso, — protestou ele, apontando para a folha única. — Não tenho tempo de escrever um romance para você.
Justo.
— Qual é o custo final, Sr. Tufts?
— Não muito caro, não muito barato, você achará perfeitamente razoável.
— O que é isso? — Ela perguntou novamente.
Ele disse o preço, e ela achou justo, já que não tinha ideia de qual deveria ser o preço de um lance de escadas, mas o custo dele não esvaziaria a conta.
— Quanto tempo vai demorar? Terei de fechar a loja e quero fazer isso o mais breve possível.
— Sim, senhorita, claro. Precisarei do dinheiro adiantado para comprar os suprimentos e posso começar assim que os tiver e terminar assim que fizer.
Ela olhou fixamente para ele. Ele estava dando a ela alguma resposta real?
— Uma estimativa de quanto tempo depois de começar, por favor, Sr. Tufts.
— Não deve demorar mais de três dias.
Ela assentiu. Isso foi mais rápido do que ela esperava.
— Você trabalha sozinho?
Ele hesitou.
— Sim. Se eu tivesse outro homem comigo, teria que cobrar mais de você.
— Claro. — Isso fazia sentido. — Dê-me um pouco de tempo para pensar sobre isso, — ela disse a ele. Afinal, ela precisava acompanhar alguns dos lugares que ele lhe dera e precisava reunir os fundos. A única coisa que deu a ela alguma garantia neste novo empreendimento foi que o homem era tio de Eduardo. Já que ela deu um emprego a seu sobrinho, ele faria o certo por ela.
— Não posso esperar muito, — ele interrompeu rapidamente. — Eu tenho outro trabalho a fazer. Ficando ocupado, você sabe. Então, se você não me contratar agora, pode ter que esperar mais, e eu não sei quando poderei encaixá-lo. Eu estava fazendo isso de forma rápida e barata como um favor, já que você contratou Edward.
— Agradeço isso, Sr. Tufts. — Mas ela não seria apressada. — Eu vou deixar você saber, — acrescentou ela com firmeza.
— Voltarei amanhã para receber sua resposta, — disse ele, com a mesma firmeza, virou-se e saiu, sem nem mesmo pedir para dizer olá ao sobrinho.
Bem!
— Edward, você se sente confortável cuidando da frente enquanto eu corro para algumas tarefas?
Ele apareceu através da cortina azul.
— Sim, senhorita. Não parece que vou perder os pés.
Não, certamente não. Pegando sua jaqueta, chapéu e luvas, Charlotte saiu em uma carruagem de aluguel para ver alguns dos lugares que o Sr. Tufts havia listado e, com sorte, falar com alguns de seus empregadores anteriores. Além disso, como ela não era nenhuma boba, ela iria cair nos escritórios de dois dos construtores que ela reuniu nos jornais.
Afinal, ela não estava tentando construir uma mansão, apenas uma escada simples. Quão difícil pode ser? Ela e Edward provavelmente conseguiriam fazer isso sozinhos. Isso a fez rir enquanto direcionava o cocheiro para o primeiro endereço.
CHARLOTTE CEDOU UM POUCO antes de chegar à casa da irmã em St. James's Place. Amity havia transformado a enorme casa antiquada em uma moderna e acolhedora no ano anterior, com papel de parede brilhante e alegre e pintura suave, tapetes novos e alguns acessórios suaves.
— Aí está minha linda menina, — disse Amity, sem se levantar, mas deixando cair seu projeto de tricô no colo e estendendo as mãos.
Charlotte correu, agarrou as mãos da irmã e ocupou o espaço ao lado dela no lindo sofá rosa.
— Você está maravilhosa — disse ela a Amity, cujas bochechas estavam cheias junto com o resto dela. — A imagem da saúde.
— Obrigada. Eu me sinto bem, exceto por estar cansada. De qualquer forma, estou tão feliz que você veio.
— Onde está o seu ousado duque? — Charlotte perguntou.
— Em algum lugar. Ele chegará em breve. O que você acha? — Amity ergueu as agulhas de tricô com um fio de cor creme e uma massa de lã emaranhada.
Charlotte não pôde evitar. Ela começou a rir.
— O que é isso?
Amity não se incomodou em parecer irritada.
— Primeiro, pensei em tricotar um gorro para o bebê, mas, rapidamente, decidi que era melhor ser algo reto, como um cobertor.
— O que mudou sua mente para fazer uma teia de aranha? — Charlotte perguntou, levantando uma ponta do desastre. Elas riram juntos.
— Vou comprar para você um lindo e macio chapéu e um cobertor para o bebê, — prometeu Charlotte. — Por favor, não inflija este desastre ao meu pequeno sobrinho, seja um menino ou uma menina.
Pegando o tricô, agulhas e tudo, Amity o jogou na cadeira em frente a ela quando a porta da sala se abriu. O duque entrou seguido por Lorde Jeffcoat.
Ao mesmo tempo, Charlotte sabia que o visconde foi a surpresa que seu cunhado tinha mencionado.
— Você desistiu do tricô? — Perguntou o duque. — Mas você me fez comprar um carrinho cheio de lã para aquele gorro.
— Era um cobertor, — Amity corrigiu, quando Lorde Jeffcoat acenou com a cabeça em saudação e avançou para levantar a lã enroscada da cadeira antes de se sentar.
— Era realmente? — Ele perguntou. — Eu acho que vocês dois estão errados. Acho que é um... — ele fez uma pausa e o ergueu, depois o estendeu e balançou a cabeça. — Sinto muito, é diferente de tudo que eu já vi.
Charlotte sorriu com a tentativa do visconde de aplacar. Ele parecia particularmente bonito em cinza escuro, com uma gravata creme.
— Todos vocês estão se divertindo às minhas custas, — disse Amity. — E eu não me importo nem um pouco! Dê a lã para alguém que tem mais paciência.
— Não desista, querida irmã. — Charlotte deu um tapinha na mão de Amity. — Muitos acham o tricô divertido. Por que não encontrou um padrão fácil de tentar. Você tem muito tempo disponível agora que o jovem Edward é quase tão bom chocolateiro quanto você.
— Uau! — Ambos os homens exclamaram ao mesmo tempo, como se controlassem um cavalo rebelde.
Charlotte deu uma risadinha.
— Minha irmã sabe duas coisas, cavalheiros. Um, que eu penso do mundo dela e acredito que ela é a melhor chocolateira de todos os tempos, não importa que nós provoquemos uma a outra. E dois, ela sabe que precisamos que Edward se torne o melhor possível, para não oferecermos aos nossos clientes produtos de confeitaria de qualidade inferior.
— O que nos leva ao artigo de jornal, — disse Amity. — Parece que você teve um dia particularmente ruim.
— Que artigo? — Charles perguntou, e o duque o informou antes que qualquer uma das damas tivesse a chance.
— Em minha defesa, — disse Charlotte, — Eu não sabia que os doces que vendia naquele dia tinham sido feitos quase exclusivamente por Edward. Bea não disse uma palavra.
Amity balançou a cabeça.
— Nem eu. Eu realmente sinto muito. Eu o tive aqui por alguns dias para experimentar. Eu não tinha ideia do que ele fez iria acabar nas prateleiras. Eu deveria ter prestado mais atenção.
— Minha duquesa está um pouco desmiolada ultimamente, — disse o duque, olhando para ela com ternura. — Eu acho isso totalmente encantador. — Ele se agachou ao lado dela, levou a mão dela aos lábios e a beijou.
Charlotte e o visconde trocaram um olhar e um sorriso divertido até que o duque se sentou.
— Seja como for, — disse Charlotte, — a cliente do jornal não ficou nem um pouco encantada com nada da Rare Confectionery. Eu realmente não posso culpá-la. E devo esperar encontrar outro repórter para nos dar uma crítica elogiosa e desfazer os danos. —Ela respirou fundo. — Mas isso terá que esperar até o início da construção.
Três rostos se voltaram para ela, embora o visconde soubesse de tudo.
Amity colocou as mãos sobre o estômago inchado e repetiu:
— Construção?
Capítulo Dezesseis
— Sim, — declarou Charlotte. Era hora de contar a ela. — Estou expandindo a Rare Confeitaria.
— Você está expandindo... — Amity começou e parou. — Mas não vejo como isso é possível. Para onde você está expandindo?
— A única coisa que precisamos é de uma escada, — Charlotte garantiu a ela. — Assinei um contrato de arrendamento para o segundo andar.
— Você assinou um contrato de aluguel, — repetiu a irmã, e Charlotte desejou que Amity parasse de fazer isso.
— Não acho que seja o momento ideal, — observou o duque. — Eu acredito que você disse que seu negócio já estava em baixa.
Amity parecia alarmada, mas Charlotte não queria que sua irmã ficasse nem um pouco chateada.
— Como eu disse, outro artigo, desta vez favorável, pode trazê-lo de volta, e todos os problemas que a cliente do jornal encontrou foram resolvidos. Exceto por ser um pouco pequeno.
— Sua equipe é bastante curta, — observou Lorde Jeffcoat. Todos olharam para ele. Charlotte acreditou que foi a primeira brincadeira que ela o ouviu falar. Embora ela apreciasse a tentativa de leviandade, sua irmã ainda parecia preocupada.
— Edward pode ser baixo, mas ele faz o trabalho de um homem adulto, e ele aprendeu a fazer doces como um pato da água.
— Mas... mas... o que faremos com o andar de cima? — Amity perguntou. — De quantos chocolates e bandejas de peras, caramelo e Marzipan mais vamos precisar? E o que aconteceu com a fabricante de travesseiros.
— O filho dela a levou embora, — disse Charlotte. — Eu pensei que ele era duro no começo, mas ele era um bom homem cuidando de sua mãe. Assim como qualquer um de nós faria. O duque pela viúva, nós por nossa mãe, e... — ela fez uma pausa e olhou para Lorde Jeffcoat, que estava carrancudo. O duque balançou a cabeça. Ela continuou: — E então temos todo esse espaço para criar um café.
— Um café! — Amity exclamou.
— Haverá café? — Perguntou o duque, um amante conhecido da rica bebida.
— Sim, naturalmente, — disse Charlotte, — E nossos doces e potes de chocolate servidos como Amity gosta e chá. — Ela decidiu continuar falando até que alguém dissesse que era uma boa ideia. — Achei que seria ótimo contratar um pâtissier, mas ele precisaria de um lugar para trabalhar. Há um kit e uma carga de espaço no andar de cima, mas, como Lorde Jeffcoat me lembrou, vamos precisar de encanamento e um forno se quisermos ter uma cozinha. Uma pena que a mulher do travesseiro nunca colocou um. Tudo o que ela tinha era o menor fogão a carvão para fazer seu chá.
— Em suma, aquele pequeno fogão é tudo que você precisa para fazer café, — o duque meditou. Então ele se virou para o amigo. — Aguente. Jeffcoat, você sabia disso?
O visconde assentiu.
— Não era minha notícia, Pelham, então não fique zangado comigo. Você é como um irmão para mim, mas os segredos de uma mulher devem ser revelados ou não.
Charlotte gostou dele ainda mais por dizer isso.
— Encanamento e um forno, — Amity ecoou. — E mamãe está satisfeita com tudo isso?
Charlotte apertou os lábios.
— Oh, — disse Amity. — Achei que só eu não sabia.
Balançando a cabeça, Charlotte explicou:
— Beatrice também não sabe, porque ela partiu para a Escócia e o contrato de aluguel teve que ser assinado imediatamente. Caso contrário, nosso senhorio poderia ter colocado qualquer tipo de negócio acima de nossas cabeças.
— Mas agora as vendas caíram, — disse Amity.
— Isso não vai durar. E temos dinheiro para economizar para criar um lindo espaço lá em cima.
— Você e o jovem Sr. Percy não serão capazes de lidar com tudo isso.
— Isso é verdade. Teremos que contratar mais funcionários. Pelo menos um. Um servidor para levar os pedidos às mesas.
— Olhe para ela, — disse o visconde. — Senhorita Rare Foure, você ficou radiante de entusiasmo.
Ela colocou as mãos nas bochechas.
— Admito que acho o desafio de criar uma nova experiência para os nossos clientes na Rare Confeitaria ser muito emocionante. Talvez tenhamos até sorvetes como...
— Gunter's, — Amity completou. — Você sempre amou aquele lugar. Todos nós gostamos, menos você. — Então ela inclinou a cabeça. — Mas você sabe alguma coisa sobre a contratação de um servidor?
— Não, — disse Charlotte, — nem um construtor. — Ela decidiu deixar a irmã mais tranquila, embora, até aquele segundo, ela não tivesse se decidido sobre o Sr. Tufts. — Mas eu consegui. Agora temos um construtor com referências que nos deu um bom preço e ele pode começar imediatamente. Acho que ele vai nos tratar bem porque é parente de Edward.
Como ela esperava, essa informação fez com que o duque e Amity relaxassem. Afinal, todos reconheceram que ela fizera bem em contratar o menino. Não havia necessidade de mencionar que ela não conseguiu falar com ninguém para quem o Sr. Tufts havia trabalhado. Ela tinha visto algumas residências impressionantes, mas não tinha ideia do trabalho que ele havia feito em qualquer uma delas. Ela mal conseguia bater nas portas ainda, na verdade, ela tinha feito isso em uma casa, e a governanta disse que ela pensou ter reconhecido o nome do construtor. A mulher não soube dizer com certeza, nem sabia o alcance do trabalho.
Cada endereço que ela teve tempo de investigar estava arrumado e bem guardado. Qualquer trabalho que ele fez deve ter sido bom se tivesse sido aceito por aquelas pessoas. Então ela parou no escritório de um construtor cujo endereço estava em um anúncio no jornal. Seu funcionário tinha sido rude como se não pudesse acreditar que Charlotte estava em posição de contratar alguém. Quando ela insistiu em receber um preço por uma escada, ele lhe disse uma quantia exorbitante e que nada poderia ser feito por um mês.
O tio de Edward de repente parecia a melhor escolha, considerando todas as coisas. Além disso, Charlotte ficou satisfeita em poder dizer a Amity que ela tinha as coisas sob controle.
— Acho que devemos brindar a Srta. Rare Foure pelo que ela conquistou, — disse Charles.
— Isso pode ser um pouco prematuro, — Charlotte protestou, enquanto se sentia calorosa e feliz.
— Não, — Amity disse, — concordo com Lorde Jeffcoat. Temos sorte de ter você comandando a loja. — Em seguida, acrescentou: — Tenho certeza de que mamãe ficará satisfeita.
Se ao menos sua irmã tivesse dito isso de forma mais convincente.
Quando o mordomo dos Pelham, o Sr. Giles, anunciou que o jantar estava pronto e os quatro, com Amity decididamente gingando, foram para a sala de jantar, Charlotte estava nos braços de Charles. Quando ele puxou a cadeira dela, ela se lembrou da primeira vez que eles se encontraram e jantaram juntos na mesma mesa, alguns anos antes.
Tinha sido uma noite importante quando ela acompanhou Amity a uma festa na residência Pelham antes de sua irmã ficar noiva do duque. Na verdade, foi à noite em que Henry deveria propor casamento a outra. Em vez disso, como Charlotte soube mais tarde, foi à noite que encerrou seu relacionamento anterior. Ela foi parceira de Charles no jantar e se lembra de ter feito o visconde rir quando ela exclamou sobre os pratos elegantes sendo apresentados.
Olhando para ele agora, do outro lado da mesa, ela se perguntou se ele a considerou meio idiota quando ela simplesmente estava tentando ser divertida. Mais tarde naquela noite, defendendo sua irmã, ela repreendeu uma sala cheia de nobreza e não se arrependeu. Será que seu comportamento anterior, alguns o chamaram de rude e ultrajante, o faria pensar duas vezes sobre sua adequação?
CHARLES PODERIA IMAGINAR tendo muitos encontros como este, divertidos e relaxantes, com bons amigos e boa comida. E Charlotte. Ele olhou para ela do outro lado da mesa de jantar dos Pelham. Melhor ainda se ela se tornasse sua esposa.
Ele tinha tomado sua decisão e simplesmente tinha que concretizá-la. A ideia de esperar até que seus pais voltassem para que ele pudesse pedir permissão ao pai de maneira adequada era atraente. No entanto, parecia que a duração de seu tempo fora de Londres era desconhecida. Durante o jantar, Charlotte e a duquesa discutiram as cartas recebidas de sua mãe, cheias de caprichos e falta de detalhes. Se ele lesse nas entrelinhas, ele adivinharia que seu pai tinha piorado em sua saúde e sua mãe não queria preocupar as irmãs.
Além disso, não era como se estivéssemos na idade das trevas, ou mesmo na época de Prinny e sua laia. Charles conheceu muitos homens que obtiveram o consentimento da mulher antes de pedir a seu pai. Muito menos humilhante assim, pelo que podia ver. Nada poderia ser pior do que ter o Sr. Foure lhe dando permissão, apenas para que Charlotte dissesse, não, obrigada.
Ele considerou o que mais seus colegas faziam antes de se comprometer. Ele abriria mão do antigo direito de estudar a conta bancária da família ou inspecionar sua linhagem ancestral. Ele nem mesmo se importava particularmente com as conexões ou tendências políticas da família dela, embora a política de um lojista fosse geralmente conhecida.
Além disso, Pelham havia suavizado o caminho em seu círculo íntimo para tomar como esposa uma garota que não era de sua classe e elevá-la à nobreza. Ainda era incomum, com certeza, mas era menos extraordinário do que no passado. E Charles não se importava nem um pouco se sua esposa tivesse uma loja, assim como não achava estranho ser um advogado que também era visconde.
Quanto a seu próprio pai, o conde não o impediria ou diria qualquer coisa para contradizer o acordo. Por outro lado, era improvável que ele desse sua bênção, tão enojado com seu próprio desastre conjugal.
Charles suspirou, pensando em como isso havia definido grande parte da vida de seu pai e, de certa forma, a sua própria.
— Foi um suspiro profundo, Lorde Jeffcoat, — disse Charlotte. — Espero que não fique descontente com este assado tão delicioso.
Ele sorriu para ela.
— Certamente não um de descontentamento. Tenho batatas com creme no meu prato. O que poderia estar errado?
— E eu acredito que a sobremesa vai até ofuscar as batatas, — a duquesa falou.
— Verdadeiramente?
Pelham sorriu do outro lado da mesa.
— Minha esposa gosta de seus doces. Provavelmente será algo com chocolate.
— Perfeito, — Charles disse. Que contraste com alguns anos atrás, quando Pelham e Waverly eram seus companheiros de jantar, muitas vezes em um restaurante de comida gordurosa, se não em seu clube. Quão melhor com mulheres adoráveis que cheiram floral e cítrica! E em vez do humor muitas vezes sarcástico ou mesmo cínico de Waverly, elas foram tratadas com o charme e o raciocínio claro das irmãs Rare Foure. Mas pensando no diabo...
— O que Waverly está fazendo?
A duquesa parecia desapontada.
— Confesso que ele não estava na minha lista de convidados esta noite porque não consegui encontrar uma companheira de jantar adequada para ele em pouco tempo.
O duque riu.
— Minha querida esposa leva a sério as regras de nosso grupo. Melhor cortar alguém do que ter um número ímpar na mesa.
— Oh, — a duquesa gemeu. — Você está certo. Eu fui uma idiota. Eu deveria simplesmente tê-lo convidado. Quem se importa com a simetria quando posso ter ferido seus sentimentos!
Pelham olhou para Charles e os dois riram.
— Realmente, meu amor, — o duque garantiu a ela, — Waverly não vai se importar nem um pouco em perder um jantar, nem mesmo com as batatas. Ele está fazendo algo que acha emocionante, eu sei disso.
— E o que seria isso? O que um cavalheiro da sua posição acha emocionante? — Charlotte perguntou, olhando para seu cunhado.
Charles olhou para ele também, observando o homem se contorcer.
— Sim, diga-nos, duque, — ele perguntou, aumentando o desconforto de seu amigo.
Foi a duquesa quem riu e salvou o marido.
— Não o provoque, Lorde Jeffcoat. Em primeiro lugar, não há ninguém com a posição dele, — ela insistiu, olhando apenas para Pelham, seu olhar cheio de amor.
Charles não se considerava um sentimentalista sentimental, mas juraria que poderia sentir o amor da duquesa ir de uma ponta à outra da mesa. Seu olhar disparou para Charlotte, que parecia sentir a mesma coisa. Seus lindos olhos castanhos se arregalaram, e então seus lábios se abriram em um sorriso doce. Naquele momento, ele queria muito que ela olhasse para ele como a duquesa olhava para Pelham.
— Em segundo lugar, — a duquesa continuou. — Eu sei que vocês dois estariam em seu clube, jogando bilhar ou cartas, e bebendo muito conhaque se vocês não estivessem aqui sendo domados pelo sexo gentil.
— Domados? — Charles repetiu. É isso que acontece com um homem quando ele se casou?
O duque encontrou sua língua.
— Obrigado, meu amor. Eu admiro o quão bem você me conhece. Também apreciei como você nunca me impediu de ir ao White's para ficar com meus amigos.
Eles se olharam novamente como se estivessem sozinhos. Desta vez, Charlotte pigarreou.
— Chega daquela lua olhando uma para a outra. Lembro-me no Godey's Ladyy ’s Book que o anfitrião e a anfitriã não devem fazer seus convidados se sentirem como se fossem um pudim estragado, para serem ignorados.
— Eu nunca iria ignorar o pudim estragado, — disse o duque. — Eu me certificaria de que meu lacaio entrasse e jogasse tudo na lata de lixo.
— Henry! — A duquesa exclamou. — Minha irmã está certa. Podemos fazer olhos de lua um no outro mais tarde. Ou pelo menos você pode fazer isso no espelho, pois estarei dormindo logo após a sobremesa.
Charlotte balançou a cabeça.
— Honestamente, irmã, você também não deve fazer seus convidados se sentirem como se tivessem ficado muito tempo e a estão mantendo acordada. — Ela bebeu um gole de vinho e acrescentou: — Às vezes, acho que seria uma duquesa melhor.
— Ou uma viscondessa. — Charles percebeu que disse as palavras em voz alta quando todos se viraram para ele. Sua cabeça girou quando ele olhou da expressão divertida de seu melhor amigo para a da duquesa com suas sobrancelhas levantadas, antes de finalmente, seu olhar pousar em Charlotte.
Seus lábios estavam separados, o inferior cheio preso entre aberto e fechado. Ela ficou surpresa com ele expressando tal coisa, quase tanto quanto ele, e suas bochechas ficaram de um belo tom de rosa. Ele presumiu que o seu também.
— Ou uma baronesa ou uma... princesa, — ele tropeçou, tentando fazê-los acreditar que ele não quis dizer nada com seu comentário.
— Por que não comemos sobremesa na sala de estar? Esta sala de jantar é grande demais para quatro pessoas, — Amity disse, provando que era uma boa anfitriã, quebrando o momento de tensão. Antes que ela pudesse fazer qualquer coisa a não ser deixar o guardanapo ao lado do prato, o duque estava correndo ao redor da mesa, como um relâmpago para puxar a cadeira de sua esposa e ajudá-la a se levantar.
Charlotte esperou que Charles fizesse o mesmo, embora ele o fizesse em um ritmo menos frenético.
— Perdoe-me se eu te envergonhei, — ele murmurou perto de seu ouvido.
Ele sentiu um pequeno arrepio percorrê-la, mas ela colocou o braço no dele, deixando-o acompanhá-la na esteira de seus anfitriões.
— Isso foi bem diferente da primeira vez que jantamos como parceiros nesta sala, — ela o lembrou.
— Pelo menos naquela noite, estávamos sentados um ao lado do outro e a menos de um metro e meio sobre a mesa. Era mais fácil conversar. Hoje à noite, cada palavra parecia ecoar pela sala.
— Cada palavra, — ela concordou.
E ele sabia que ela se referia a apenas uma: viscondessa. Ainda ecoava em sua própria cabeça. Mas ele não diria mais nada sobre isso esta noite. Este dificilmente era o cenário romântico que ele imaginou para propor.
Quando entraram na sala de estar de Pelham, tão diferente da sua por ter almofadas, velas suaves, bruxuleantes e coisas atraentes, Charles teve que confessar a si mesmo que nunca imaginou como ou quando pedir em casamento. Exceto que ele sabia que eles deveriam ficar sozinhos. Como diabos ele poderia estar sozinho com ela?
— Você está carrancudo, Jeffcoat, — observou seu amigo, servindo conhaque enquanto as mulheres se sentavam.
Charles sacudiu a cabeça e pegou o copo oferecido quando um lacaio trouxe uma bandeja com bolo coberto com calda de chocolate. A duquesa bateu palmas deliciada. Obviamente, o duque estava certo sobre o amor de sua esposa pela sobremesa.
Então ele se perguntou exatamente como alguém poderia evitar que a reputação de uma jovem fosse prejudicada e, ao mesmo tempo, encontrar uma maneira de fazer com que ele pedisse sua mão sozinha. Se ele aparecesse na casa dela na Baker Street, ele supunha que poderia pedir um momento sem a sempre presente Delia sentada por perto.
Ele observou Charlotte, enquanto ela levava uma garfada de bolo à boca, comia e saboreava, sua língua parecendo lamber os lábios antes que ela se lembrasse de onde estava. Rápida como um raio, sua língua desapareceu e ela levou um guardanapo à boca. Ao mesmo tempo, seu olhar caiu sobre ele.
Charles decidiu que era melhor ser rápido ao perguntar a ela, para que ela não começasse a considerá-lo rude por olhar fixamente quando ela estava em sua presença. E então ele percebeu o melhor lugar para ficar sozinha com ela.
Ele deve escrever um argumento persuasivo como faria para o juiz? Com sorte, ele não precisaria de palavras românticas e floridas simplesmente da verdade.
Capítulo Dezessete
— Antes que seu tio comece a escada, teremos de vender toda a confeitaria que temos e não fazer mais nada, — disse Charlotte a Edward quando ele voltou de fazer entregas. — Então pare de fazer caramelo. Vou colocar à venda, como fiz no dia em que não tinha ideia do que havia nos chocolates.
Ela voltou para a frente, então caminhou de volta pela cortina.
— Exceto não uma venda pela metade do preço. Algo menor, mas ainda vai despertar seu interesse.
Ele assentiu.
— Acho que 10% é muito pequeno. Talvez 25% de desconto.
Ele acenou com a cabeça novamente, então ela se virou e o deixou. Ele não era o mesmo que ter suas irmãs ali para discutir questões. Elas certamente teriam uma opinião.
Então, um pensamento lhe ocorreu e gritou:
— No entanto, precisamos de doces para nossas entregas. Temo que, se não continuarmos com eles sem interrupções, esses estabelecimentos possam buscar seus doces em outro lugar.
Edward não respondeu.
— Você pode calcular quanto precisamos por cinco dias? — Ela pediu. — Vou repassar os valores mais tarde e ter certeza. Mas cinco dias darão bastante tempo ao seu tio, e então não faremos nada além de entregas até a poeira baixar. Terminada a serragem e martelagem, começaremos de novo a vender aqui embaixo e, ao mesmo tempo, começaremos a decorar escadas.
Ainda assim, Edward não disse nada.
— Eu já encomendei mesas, — ela persistiu. — Seis delas. Eu vi uma na janela do Empório de Chunley com um topo de mármore quadrado e pernas laqueadas pretas que têm a mais doce decoração dourada. Eu acho que elas são perfeitas.
Apenas o silêncio encontrou suas observações.
— Edward, você está aí?
— Sim, senhorita.
Charlotte suspirou. Ela tinha que resolver isso sozinha. Ela deve continuar a fornecer aos hotéis e restaurantes, mas fechar a loja aos clientes regulares. Talvez ela devesse colocar uma placa na porta dizendo onde se pode encontrar seus chocolates.
Ela franziu o cenho. Os clientes não ficavam no The Langham para comer a Rare Confeitaria, mas podiam ir a um dos restaurantes.
Havia muito em que pensar. Não apenas com a loja, mas também com Lorde Jeffcoat. Quando ela ficou sozinha com alguns minutos para examinar suas emoções, ela poderia dizer honestamente que agora tinha uma tendência para o homem. Mais que isso. Seu coração saltou quando o viu e bateu um pouco mais rápido quando ele estava perto. Ou quando ele falou com ela. Ou quando ele deu a ela um certo olhar e sorriu torto. Além disso, ela estava desesperada para que ele a beijasse novamente.
Ela sabia que não deveria deixá-lo tomar liberdades com ela, mas era uma liberdade tão boa.
Com o tilintar da campainha, seus pensamentos foram arrancados de pensamentos tão agradáveis para os assuntos em questão. O Sr. Tufts apareceu como prometido.
— Eu gostaria de contratá-lo, — disse ela, — mas pagarei a você metade do custo total no início e o restante após a conclusão do trabalho. — O duque havia sugerido tal compromisso, e quando o Sr. Tufts concordou, Charlotte apertou sua mão com firmeza, sentindo-se como se tivesse feito um difícil negócio.
— Volto amanhã para começar, — disse ele, e saiu com uma promissória.
— Edward, — ela gritou. — Você acabou de perder seu tio.
Depois de um momento, seu rosto apareceu na cortina de veludo.
— Ele começa amanhã.
O menino concordou. Embora ela não dissesse que ele estava carrancudo, ele definitivamente esteve quieto recentemente, até um pouco mal-humorado.
— Há algo que você deseja falar comigo?
Seus olhos se arregalaram.
— Não, senhorita. Devo voltar para casa.
— Muito bem. Vejo-te pela manhã.
— Sim, senhorita.
Depois que ele saiu, Charlotte virou a placa, trancou a porta e começou a escrever um aviso para colocar na janela explicando sobre o fechamento temporário. Ela deveria ter construído um tempo em sua programação para imprimir um, mas teria que servir.
Quando seu estômago começou a roncar, percebendo que havia pulado o almoço, ela chupou um grande pedaço de caramelo, esperando que Lydia tivesse algo quente e delicioso para o jantar. Com esse pensamento, ela colocou outro pedaço na boca e então ouviu uma batida no vidro.
Lorde Jeffcoat!
Acenando para ele, ela correu ao redor do balcão, então diminuiu o passo. Ele iria considerá-la uma idiota, de fato, se ela corresse para a porta. Com dignidade, ela o deixou entrar, sorriu e babou caramelo dourado em seu avental.
— Raios! — Ela tentou exclamar, seus dentes parcialmente presos. Raios duplos!
— Senhorita Rare Foure, você está bem?
Apontando para a boca enquanto pescava um lenço do bolso, ela enxugou o queixo, enxugou o avental branco e disse:
— Melo.
— Caramelo, — Ele concordou, olhando para as bochechas salientes dela, e então ele começou a rir.
Tanto por sua dignidade! Charlotte não conseguia nem rir com ele. Em vez disso, ela encolheu as bochechas e chupou com força, então tentou mastigar o maço de melado solidificado.
Segurando o dedo indicador para que ele prestasse atenção, ela gesticulou para ele fechar e trancar a porta antes que ela se virasse. Boa Lorde! Ela havia babado na frente do visconde!
Mãe doce! Ele alguma vez a acharia desejável novamente? Ela correu para a sala dos fundos, colocou a chaleira no fogo e acendeu a chama embaixo dela. Uma xícara de chá rápida resolveria o problema.
Quando ela se virou, Charles estava atrás dela.
— Você está bem? — Ele perguntou.
Ela assentiu, não confiando em si mesma para tentar falar ainda. Ela tinha sido uma piralha gananciosa, sem dúvida, sobre isso.
Apontando para a chaleira, ela perguntou:
— Eee?
Ele balançou sua cabeça.
— Eu vim falar com você. Ainda bem que você está indisposta para falar agora.
Olhando ao redor, ele avistou o banquinho azul de Beatrice, agora usado com frequência por Edward, e o puxou para ela.
— Sente-se, — ele ordenou.
Seus olhos se encontraram, e ela sabia que algo importante estava por vir, então ela fez o que ele pediu.
— Cheguei a uma determinada fase da minha vida em que me vejo pronto para ter uma companheira, uma companheira no dia a dia, uma boa amiga morando sob meu teto.
Gracioso! Ele ia propor. Ela considerou suas palavras até agora. Não havia nada particularmente amoroso neles. Uma ajudante pode ser a babá do berçário ou uma camareira. Um parceiro pertencia ao trabalho. Um bom amigo? Ele deveria comprar um cachorro para que pudesse ficar não apenas sob seu teto, mas também sob sua cama à noite.
Revirando os olhos enquanto fazia barulhos de estalo com os lábios, ela engoliu um pedaço do caramelo, e ele prontamente ficou preso na garganta. Ainda bem que não havia nenhum repórter lá para testemunhar os perigos do caramelo de melado da Rare Confeitaria.
— Resumindo, Srta. Rare Foure, não estou em busca de uma esposa, mas, desde que a conheci, pego-me pensando nessa posição mais do que nunca.
Essa posição? Parecia que ela estava fazendo um teste para o papel de viscondessa sem saber. Talvez seus beijos não tivessem sido movidos pela paixão ou desejo de saborear seus lábios, mas simplesmente para ver se ela era boa o suficiente no ato para se tornar sua esposa.
Abruptamente, ela se levantou e foi até o fogão, onde rapidamente preparou o bule Betty marrom com folhas soltas e então despejou na água fervente.
Charles começou a falar de novo, mas ela ergueu a mão para detê-lo. Sem se preocupar com o aconchegante de chá azul tricotado, pois ela não ia deixar o chá infundir muito, ela abriu a caixa fria e jogou leite na caneca. Pegando o recipiente de açúcar, ela agarrou um traço com os dedos, então congelou. Ele pensaria que ela era uma bárbara, mas era tarde demais.
Pegando uma colher, era uma colher de sopa grande e difícil de manejar e não uma colher de chá delicadamente apropriada para seu desgosto, ela mexeu enquanto servia o chá, então esperou um momento para deixar as folhas assentarem.
— Senhorita Rare Foure, se posso continuar, tenho muito a recomendar o enlace ...
Novamente, ela ergueu a mão. Se Charles não conseguia nem mesmo chamá-la pelo primeiro nome, eles não estavam em um lugar em que ele deveria estar pedindo sua mão. Ela queria detê-lo antes que ele o fizesse. Assim que ele fizesse a oferta, aparentemente por todos os motivos errados no que dizia respeito a ela, ela teria de dizer não. Seu orgulho viril seria ferido e eles teriam que parar de fazer companhia, o que destruiria qualquer chance que tivessem de se aproximarem.
Bebendo o chá, ela inclinou a cabeça ligeiramente para trás, mantendo o olhar no rosto assustado dele, enquanto deixava a bebida quente derreter o caramelo que estava grudado em seus dentes de trás. Usar o chá como líquido para gargarejar mais um momento bárbaro.
Se ele ainda queria se casar com ela, ela deveria agarrá-lo com as duas mãos. Mas ela não faria isso. Ela queria que ele estivesse completamente apaixonado por ela da mesma forma como o duque estava com Amity e Mr. Carson estava com Bea. A maneira como ela estava começando a se sentir por ele, se ela pudesse parar de se achar um tanto inadequada.
Em qualquer caso, tendo visto tal amor, ela não poderia se contentar com menos. Talvez tudo de que precisassem fosse um pouco mais de tempo.
— Lorde Jeffcoat, — ela disse finalmente. — Você me pegou em um momento infeliz. Deixei minha fome levar o melhor de mim e pensei que dois pedaços de caramelo seriam sensatos. Obviamente, não foi.
— Tudo bem, — disse ele. — Como mencionei, vim falar com você e não esperava que você respondesse muito.
— Realmente? — Que coisa estranha de se dizer. Então, novamente, ela supôs que os advogados gostavam de persuadir para sua satisfação e não ouvir uma longa discussão em troca.
— Só há uma palavra que quero ouvir depois de fazer minha pergunta, — disse ele. — Você vai se sentar novamente?
— Tem certeza de que não quer uma xícara de chá? — Ela perguntou, parando enquanto considerava como pará-lo.
— Não, sério, eu não. Se tudo correr bem, terei uma taça de champanhe para comemorar no meu clube. Do contrário, tomarei um calmante copo de conhaque no meu escritório.
Ela não pôde evitar revirar os olhos. O homem era um idiota de primeira ordem.
— Lorde Jeffcoat, se minha resposta fosse satisfatória, presumo que você tomaria champanhe comigo, não com seus amigos no clube de cavalheiros. Mas acredito que você se encontrará em seu escritório.
Ele fez uma pausa, aparentemente considerando as ramificações de suas palavras.
— Você está me rejeitando? — Ele perguntou, seu tom incrédulo.
— Não, — ela disse rapidamente. — Eu não vou deixar você perguntar.
O silêncio encontrou sua resposta, e então.
— Por que não?
— Porque eu não desejo rejeitar você, mas você está me pedindo prematuramente, não acha?
Ele franziu a testa e pegou sua caneca. Surpresa, ela a soltou e o observou tomar um gole e depois drenar completamente. Todo o tempo, ele continuou a parecer preocupado.
Devolvendo a xícara vazia a ela, ele se sentou no banquinho, algo que um cavalheiro em sã consciência nunca faria, não enquanto ela permanecesse de pé. Claramente, ela o havia confundido com um comportamento descortês.
Passando a mão pelo cabelo, ele olhou para ela, seus profundos olhos azuis perplexos.
— Achei que fosse o objetivo de todas as moças pedirem sua mão.
Ela sorriu ironicamente, colocando a xícara de lado.
— Você acha que nosso objetivo é receber a proposta, nem mesmo o objetivo mais digno de se casar?
— Bem, primeiro a proposta, é claro.
— Então, uma jovem quer simplesmente receber a proposta, — ela meditou, — por qualquer pessoa.
Suas bochechas ficaram vermelhas.
— Eu não sou qualquer um.
Ah, o visconde tinha seu orgulho, como ela suspeitava. A nobreza era uma raça de cavalo completamente diferente. Não que ela não achasse que todo homem tivesse uma dose de presunção, mas esses homens nobres naturalmente se considerariam os suplicantes mais escolhidos pela mão de uma mulher. E eles estariam certos. No entanto, eles não podiam esperar a devoção instantânea de todas as mulheres, nem uma resposta positiva em todos os casos.
— Não, você não é qualquer um. Para mim, você tem sido um bom amigo.
Ele estremeceu.
— E mais do que isso, — ela acrescentou rapidamente, pensando na maneira como ele a tocou e na sensação deliciosa de seus lábios nos dela. — Passamos muitas horas agradáveis juntos e espero que mais por vir. — Isso foi tão honesto quanto ela poderia ser, sem perguntar a ele se ele achava que poderia se apaixonar perdidamente por ela.
— Entendo, — disse ele.
Ele entendeu?
— Senhorita Rare Foure...
— Charlotte, por favor, pelo menos quando estivermos sozinhos.
— Normalmente, não podemos estar sozinhos. Pensei em vir aqui e... chegar a um acordo, e então não seria tão irresponsável sermos apanhados juntos. Embora isso ainda possa prejudicar sua reputação.
Abruptamente, ele estendeu a mão e pegou a mão dela e a puxou para o espaço diretamente na frente dele, entre suas pernas estendidas. Com ele no banquinho e ela de pé, a cabeça dela estava acima da dele, e ele teve que olhar para ela.
— Você é uma mulher enigmática, — disse ele. — Se eu tivesse iniciado minha proposta para qualquer outra, tenho certeza de que ela teria me deixado terminar, pelo menos. Você gosta de mim, não é?
Ela não pôde deixar de sorrir.
— Eu gosto.
— Então me diga o que você quer, — ele implorou.
Era uma visão incomum, olhando para um homem. Eles sempre ficavam de pé até que um se sentasse e então paravam no momento em que se levantava novamente. Ela sempre pensou que era algum tipo de costume cavalheiresco, mas agora, percebendo o quão diferente ela se sentia ao vê-lo abaixo dela, Charlotte não pôde deixar de se perguntar se os homens faziam isso para manter uma perspectiva de poder e autoridade. Ela deve se lembrar de perguntar a suas irmãs o que elas acham de sua ideia.
Avaliando seus cabelos castanhos e sobrancelhas e a ponte de seu nariz fino, pensando que seria maravilhoso contemplá-lo todos os dias por toda a vida, finalmente, ela suspirou.
— Eu quero o que todos querem e acho que você pode descobrir por conta própria. — Ela começou a recuar, mas ele continuou segurando sua mão.
— Você acha que eu posso dar a você, Charlotte?
Ela prendeu o lábio inferior entre os dentes. Ouvi-lo dizer o nome dela deu a ela uma sensação de arrepio. Ela entendia por que homens e mulheres não saíam dizendo o nome de batismo uns dos outros. Era uma coisa íntima, e a pessoa errada fazendo isso seria muito familiar.
Mas Charles Jeffcoat não era a pessoa errada.
— Sim.
— Essa era a resposta que eu esperava antes, — ele brincou.
— Agora você tem. Acho que você vai descobrir o que estou dizendo, mas só o tempo dirá com certeza.
Ele puxou levemente, tentando fazer com que ela fechasse o espaço entre eles, se inclinasse e o beijasse ou se deixasse ser beijada. Isso não mudaria nada, por melhor que fosse. Para seu prejuízo, porém, poderia fazê-lo pensar que ela era um pouco perdida por interromper uma proposta, mas não um beijo.
— Você sabe o que eu gostaria de fazer? — Ela perguntou.
Seu sorriso se alargou, e como eles estavam a centímetros de distância, ela podia ver o interesse brilhando em seus olhos.
— Gostaria de mover todas as latas vazias da frente da loja, as que estão nas prateleiras, para o andar de cima.
Ele recuou.
— Você vai me ajudar? — Ela persistiu, perguntando-se se um visconde se consideraria acima dessas coisas.
— Claro, — ele disse imediatamente, mas seu olhar caiu para a boca dela. — Mas eu esperava...
— Um doce primeiro? — Ela perguntou inocentemente. — Talvez um chocolate ou um pedaço do meu Marzipan em vez do caramelo. Parece extra pegajoso esta noite.
Por fim, ele a deixou escorregar a mão de seu alcance.
— Na verdade, eu gostaria de mais um pedaço do seu Marzipan.
Ela congelou. E se ele odiasse? De repente, significava mais para ela do que qualquer outra coisa que este homem gostasse do que ela fazia todos os dias. Ela não teve que ir para a vitrine. Ela e Edward tinham movido todos os confeitos restantes para a parte de trás para ir para as entregas na parte da manhã e, portanto, nenhum deles seria contaminado por serragem.
Passando por ele para uma bandeja coberta, ela levantou a tampa e pegou uma pequena cereja falsa de Marzipan. No centro, ela colocou um montão de fondant de chocolate de Amity. Era um de seus doces favoritos.
— Experimente, — disse ela.
Assentindo, ele cravou os dentes nele, mordendo-o ao meio, deixando cair um pouco na perna da calça. Sem pensar, ela o escovou enquanto ele mastigava. Seus olhos se arregalaram, seja com a delícia da guloseima ou com a sensação dos dedos dela no topo de sua coxa. Retirando a mão com pressa, ela cruzou os braços e esperou enquanto ele colocava o resto na boca.
Em seguida, ele lambeu os lábios, uma coisa atraente para um homem fazer se ele apenas tivesse ficado satisfeito com algo de sua própria criação.
— Eu amei. O Marzipan era macio como a seda, mas também firme. E a surpresa do chocolate no meio foi um triunfo, principalmente pela forma como combinou com o sabor da amêndoa. Acho que detectei um pouco de baunilha também. Sim?
— Sim. — Charlotte bateu palmas. Este homem definitivamente tinha uma promessa. — Agora que você está fortalecido, você vai ajudar?
— Eu teria ajudado mesmo sem o suborno.
Quando ele se levantou de novo abruptamente, ele pareceu encolher o tamanho da sala. E ela deu um passo para trás.
— Eu sei que você teria, mas é importante que você entenda o que eu faço aqui. — Ela queria que ele amasse cada aspecto dela, lembrando-se de como Lionel não só não queria entrar na loja, mas também não ligava para seu Marzipan.
Charles fez um som de despedida.
— Acho que você faz muito mais aqui do que fazer porcos de Marzipan e frutas, mas admito que você faz isso muito bem.
Ele estendeu a mão para ela novamente, e ela se esquivou, pegou as chaves do andar de cima e saiu do quarto.
— Você está vindo? — Ela chamou por cima do ombro. — Essas latas não se movem sozinhas e o construtor começa amanhã.
Capítulo Dezoito
O construtor! Charles gostaria de tê-la ajudado a encontrar um e esperava que ela tivesse contratado um homem de boa reputação. Ela disse outra noite que ele era parente de Edward. Isso foi reconfortante, já que o menino tinha uma boa ética de trabalho.
Segurando os braços à sua frente, ele deixou Charlotte empilhar latas em seus antebraços antes de perceber o absurdo de uma maneira tão precária de movê-los.
— Você não tem sacos ou caixas?
Ela fez uma pausa.
— Eu suponho que seria mais seguro. Se eles atingirem o solo, eles amassarão. Não posso vender latas amassadas, mesmo que o conteúdo seja perfeito. — Ela saiu correndo, deixando-o congelado no lugar.
Depois de um momento, ele gritou:
— Como está se saindo, Srta. Rare Foure?
— Chame-me de Charlotte quando estivermos sozinhos, Charles!
Sua voz provocante o fez sorrir. Quase tudo nela o fazia sentir vontade de sorrir. De alguma forma, ela evitou a proposta dele enquanto o fazia se sentir bem sobre o futuro deles, porque ela disse que acreditava que ele poderia dar o que ela queria.
Seus braços estavam começando a doer. O que ela queria?
Ela não o deixou chegar à parte de seu discurso quando ele disse a ela que tinha vindo para cuidar dela. Ele suspirou. Cuidado era uma palavra muito morna para as emoções que ela despertava nele de qualquer maneira. Ele deveria ter declarado que a amava? Fazer isso parecia prematuro e ele não queria assustá-la.
Quem acompanhou alguém algumas vezes e depois anunciou que se apaixonou? Ninguém em sã consciência! Apenas um homem louco. E Charlotte não iria querer um homem louco. Com sua educação, de classe média tão sólida, ela iria querer um relacionamento lento e estável e um homem normal que dissesse:
— Nos últimos meses, me apaixonei por você.
Caso contrário, ele seria como um daqueles poetas malucos, Keats ou Shelley. Ou como Oscar Wilde. Qualquer uma dessas pessoas que aderiam à busca da beleza em vez da bondade, embora Charlotte fosse as duas coisas. Ela queria um daqueles homens selvagens? Como os artistas Rossetti e Morris, que escreveram sobre a autoexpressão ser mais importante do que as expectativas morais, que se rebelaram contra as restrições do conformismo e juraram fidelidade ao culto da beleza e da arte pela arte.
Tudo isso era o oposto da vida pedante de um advogado, impregnada de regras, leis e aplicação prática. Especialmente um advogado que também era um visconde, e alguns podem dizer um entupido visconde.
Finalmente, ela reapareceu.
— Desculpe o atraso. — Edward dobrou todas as sacolas de entrega e as colocou em um novo lugar. — Agora eu sei como minha mãe se sente quando reorganizo as prateleiras depois que ela as teve de certa forma por uma década.
Colocando sacos no chão, ela começou a descarregar os braços de sua carga. Quando ela colocou a última lata nas sacolas, ele flexionou os braços e gemeu, captando seu olhar. Agora ela o considerava um fraco.
— Eles não eram pesados, — explicou ele, — Apenas uma posição difícil de segurar.
— Claro. E você estava certo, — disse ela. — Temos muitos sacos para guardar todas essas latas, e eles podem ficar nelas no canto do andar de cima. Eles permanecerão limpos e sem danos.
— Como sua mãe se sentirá sobre algo muito maior do que reorganizar confeitos em uma prateleira? — Ele perguntou a ela.
Seu rosto ficou sério, mas ela respirou fundo e pegou dois sacos.
— Pesado, mas não muito, como você disse. Vamos pegá-los, certo? — Ela disse e se virou para a porta.
Quando estavam subindo as escadas, ela acrescentou:
— Acredito que minha mãe vai pensar que fiz as melhores escolhas para nosso negócio na ausência dela.
Ele a ouviu murmurar baixinho:
— Espero que sim.
— E você está fechando a loja enquanto a escada é construída?
— Parecia a coisa mais prudente, — disse ela. — E se um cliente for atingido por um pedaço de madeira ou cair serragem no caramelo?
— Isso colocará em risco sua capacidade de pagar o aluguel? — Ele odiava bisbilhotar, mas parecia uma coisa importante a se ter considerado.
Eles entraram no espaço abandonado.
— Espero que não. As entregas continuarão e, enquanto tivermos esse dinheiro estável, estaremos bem. Afinal, é apenas por alguns dias.
Eles colocaram os sacos na parte de trás, o mais longe possível de onde o construtor faria um buraco no chão.
— Mobiliar esses quartos também será caro, — destacou.
— Eu já comecei. Eu estava contando a Edward, mas era como falar com uma tigela de amêndoas. Encontrei a mesa perfeita e pedi seis delas. Eles estão no modo estético que todo mundo fala hoje em dia. No início, eu ia fazer o andar de cima parecer o andar de baixo, mas depois, quando você pensa em todas as coisas maravilhosas que podemos fazer com cores e pavões, você sabe como todo mundo é louco por pavões! Contanto que usemos o azul safira que minha mãe gosta como cor de destaque.
Querido Deus! Ela fazia parte do movimento artístico selvagem. Como ele, um homem mundano, iria satisfazê-la se ela estava pensando em Edward Burne Jones e Albert Moore? Ela realmente responderia a declarações grandiosas de paixão e promessas fantasiosas de amor eterno. Ela poderia esperar que seu namorado ameaçasse pular de um penhasco sobre rochas pontiagudas se ela retirasse seu favor ou imaginar que ele poderia embarcar sozinho para lutar em guerras estrangeiras como Byron. Charles nem gostava de ir a um clube estranho e não receber seu tipo de conhaque favorito.
— Pavões, — ele repetiu, — pintados nas paredes?
— Talvez, — ela disse. — Posso esboçar alguns e pensar se devo contratar um pintor.
— Você estava tendo aulas de pintura, não estava? Você é habilidosa o suficiente?
Ela balançou a cabeça.
— Não para colocar na parede da Rare Confeitaria.
— Então talvez alguém de sua classe, — ele sugeriu. — Um aluno pode trabalhar mais barato.
A expressão dela turvou e ele se perguntou o que havia dito de errado. Rapidamente, ele acrescentou.
— Em qualquer caso, pavões azuis parecem muito encantadores.
— Mas eles são atemporais? — Charlotte perguntou a ele. — Imagine se a tendência desaparecer e tivermos que fazer as paredes novamente em mais ou menos um ano.
— Existe esse risco. Talvez você deva ir com painéis escuros. Todo mundo gosta disso.
Pela cara que ela fez nem todo mundo fez, na verdade, assim.
— Veremos, — disse ela evasivamente, e ele decidiu não tentar mais nenhum conselho sobre a decoração do café.
No silêncio que se seguiu, a percepção de que estavam sozinhos novamente, sem acordo entre eles, o deixou irritado. Ele queria tomá-la nos braços e beijá-la.
— Vou pegar o resto das latas, — ele ofereceu e desapareceu antes que ela pudesse dizer qualquer coisa. Quando ele voltou, ela estava esperando no topo da escada, as chaves na mão, pronta para trancar.
Isso foi um alívio. Não haveria mais tentação. Ao passar por ela, ele deixou as sacolas com as outras, antes de desocupar a suíte. Parado ao lado dela enquanto ela trancava a porta, ele detectou seu suave perfume floral, limão e lima nos limites fechados da escada apertada.
— Tudo pronto? — Ele perguntou.
Ela se virou para ele.
— Sim.
Um instante depois, sua boca estava sobre a dela e, depois de ouvir o som das chaves batendo no patamar ao lado dele, os dedos dela estavam enroscados em seu cabelo. Pressionando-a contra a porta, suas curvas quentes se moldaram contra ele, e ele segurou seus quadris no lugar, suas pernas se perdendo em suas saias rodadas.
Ele abriu a boca e ela fez o mesmo, suas línguas imediatamente dançando, deslizando uma contra a outra. Ela tinha gosto de melado e manteiga do caramelo, uma doçura inebriante e deliciosa.
Ele poderia recuperar as chaves e deixá-los entrar. A ideia insana passou rapidamente por seu cérebro encharcado de desejo. Ele ansiava por possuí-la, esta mulher especial. Ele queria tudo dela de uma maneira que nunca sentiu antes. Como poderia ser?
Mas ele queria fazer dela sua esposa, e ninguém se casava contra uma porta ou no chão de um quarto vazio. Essa era a forma desrespeitosa de tratar uma saia leve.
Charles se afastou, dando um passo para trás, prendendo a respiração ao ouvi-la fazer o mesmo.
Quando ele olhou nos olhos dela, eles estavam brilhando com a luz que subia pela escada e não o condenavam como ele temia.
Ele jurou fazer melhor. Ele iria domar sua paixão animal porque ela merecia coisa melhor do que ser atacada toda vez ficasse sozinha com ele.
Amaldiçoando baixinho por sua própria falta de controle, ele se abaixou e pegou as chaves.
Oferecendo-lhe a mão, que ele estava grato por ela ter tomado quando ela tinha todo o direito de se esquivar dele, ele a acompanhou escada abaixo. No fundo, ele parou.
— Deixe-me sair primeiro, então espere alguns momentos antes de sair e trancar a porta.
Ela balançou a cabeça, prestes a protestar.
— Por favor, faça o que eu peço. Eu me comportei terrivelmente, — ele insistiu. — Deixe-me tentar protegê-la desta forma.
— Tudo bem. Saia e contarei até dez.
— Charlotte, — disse ele com exasperação, mesmo reconhecendo uma emoção secreta por usar o nome dela tão livremente e sentindo, em seu coração e alma, que ela era dele.
— Vinte, então, — ela concordou, — Mas isso é tudo, então é melhor você correr como uma raposa na caça.
Seu sorriso provocador era tão apropriado que ele gemeu.
— Não se esqueça, — disse ela. — Vamos cavalgar no domingo.
Ele certamente não tinha esquecido, embora tivesse pensado em exibir sua nova noiva. Assentindo, ele escapuliu pela abertura tão pequena quanto pode e desceu correndo a New Bond Street sem olhar para trás, esperando que ela contasse devagar.
— Oras! — CHARLOTTE exclamou quando uma cabeça de machado veio abruptamente do teto. Ela tinha um palavrão mais rude em mente e felizmente evitou que cruzasse seus lábios já que Edward estava na sala ao lado.
Como prometido, seu tio apareceu na manhã seguinte. Depois da partida apressada de Charles no dia anterior, ela havia passado um tempo desmontando as prateleiras e guardando-as no andar de cima, depois esvaziando as vitrines dos últimos aparadores. Com a placa firmemente presa à janela da frente, ela escreveu outra para a porta, só para garantir.
Com tudo pronto, ela pôde desfrutar do jantar e da noite, pensando em Charles Jeffcoat e no quanto gostava de estar com ele. Sim, ela queria tornar-se sua esposa. Seu coração estava totalmente comprometido. Mas ela tinha feito a coisa certa ao impedir sua proposta. Ela queria que ele falasse com palavras do jeito que ele beijava com os lábios. Pois se ele sentia o que havia em seus beijos, então já estava meio apaixonado por ela. Ela estava com ele mais da metade.
Com o coração batendo forte enquanto olhava para a cabeça do machado, que desapareceu no instante seguinte, deixando destroços caindo no chão em seu rastro, ela desejou que o Sr. Tufts tivesse colocado o revestimento do chão. Afinal, em poucas horas, haveria um bom pedaço de teto no piso de madeira polida da confeitaria. Certamente, seria mais fácil limpar se ele pudesse arrastar tudo de uma vez.
— Sr. Tufts, — ela gritou para ele, assim que o machado apareceu novamente. Ele não deveria estar usando uma serra?
— Sr. Tufts, — ela tentou novamente.
— Sim, senhorita? — Ele gritou através do teto.
— Duas coisas, você pode cobrir o chão aqui embaixo e logo vai mudar de machado para serra?
O silêncio encontrou suas palavras.
— Sr. Tufts?
— Sim, bem, senhorita. Não acho que você queira que eu vá embora agora e pegue o que chamamos de lona para os destroços. Levaria um tempo melhor gasto no meu trabalho.
Ela suspirou. Ele deveria ter pensado nisso no início.
— De qualquer forma, — acrescentou, — a poeira irá para todo lado. Uma lona não vai aguentar, e isso não é mentira.
O machado golpeou novamente.
— Assim que eu conseguir um buraco grande o suficiente, vou começar a serrar, — garantiu ele.
Ela já havia pago a metade de sua taxa e ficou simplesmente aliviada quando ele realmente entrou com suas ferramentas para fazer o trabalho. Mas ela não podia deixar de desejar que ele tomasse um pouco mais de cuidado com a parte existente da loja.
— Edward, você está pronto para fazer as entregas? — Ela o chamou.
Sua cabeça apareceu pela cortina.
— Quase pronto, senhorita. — Então ele olhou para a cabeça do machado espetada no teto, revirou os olhos e recuou. Um minuto depois, ele reapareceu com duas malas.
— Vou pegar o resto, senhorita. Mas não consigo encontrar sacos suficientes.
— Oh, Edward. A culpa é minha. — Ela entregou-lhe as chaves, assim que a ponta de uma serra apareceu e começou a se mover, para frente e para trás. — Eu os usei para carregar as latas. Vá tirar as latas de alguns sacos. Vou pensar em outra coisa para colocá-las mais tarde para mantê-las limpas.
— Sim, senhorita. — E o menino desapareceu pela porta da frente e na porta de vidro ao lado dela. Ela podia ouvir os pés dele subindo as escadas.
A escada em que ela novamente permitiu que o visconde a beijasse. Ela realmente deveria ter deixado que ele a pedisse em casamento, já que ela pretendia eventualmente. De repente, ela ouviu vozes altas vindas de cima. Foi uma ocorrência tão estranha, já que durante todos os anos de seu trabalho diário na Rare Confeitaria, ela nunca tinha ouvido um pio lá de cima.
— Eu não vou, — veio filtrando pelo pequeno orifício.
— Você irá. Nem mais uma palavra, ou você sabe o que vai acontecer.
E então a serração começou novamente.
Hm, Charlotte meditou. Edward e seu tio estavam tendo uma briga, aparentemente. Desta vez, ela sabia que não devia perguntar nada ao menino, já que quanto mais tentava descobrir o que o estava incomodando, mais estóico ele se tornava.
— Vou levar estes que estão embalados, senhorita, e encher o resto quando eu voltar.
— Tudo bem. — Embora com pouco a fazer além de fazer doces suficientes para as entregas do dia seguinte, ela iria surpreendê-lo e embalá-los ela mesma. Depois disso, que tarefa ela poderia definir para ele? Ele ficaria arrasado se ela tivesse que cortar suas horas e seu pagamento, mas ela não tinha certeza para o que ela poderia usá-lo.
Então ela teve uma ideia. Ela criaria um aviso anunciando sua expansão e o enviaria para a impressora. Edward poderia andar pela New Bond Street, Old Bond Street e por toda a Mayfair e depois pelo Hyde Park distribuindo os avisos.
Ela abriu a porta para ele e o observou caminhar pela rua. Um estrondo inesperadamente alto atrás dela a fez pular. Girando para enfrentá-lo, com o coração acelerado, Charlotte viu que um grande pedaço do teto havia batido no chão.
Gracioso! Por que o construtor não a avisou?
— Você está bem, senhorita? — Veio sua voz de cima.
— Sim, um pouco assustada. — Ainda bem que ela não tinha clientes na loja. Ser atingido pelo gesso certamente seria ruim para os negócios.
— Mais por vir, — disse ele. — Aquela lona não teria sido uma má ideia, afinal.
Revirando os olhos, ela olhou para a fina camada de poeira branca que já cobria tudo. Talvez essa fosse a tarefa de Edward nos próximos dias, acompanhar a bagunça na frente da loja.
— Sr. Tufts — gritou ela, mas ele ainda estava serrando o grande retângulo para o topo da escada.
— Sr. Tufts, — ela disse novamente e o serrar cessou.
— Sim, senhorita.
— Seu sobrinho e eu vamos limpar isso no final do dia, mas por favor, traga uma lona amanhã. Receio que já tenhamos alguns arranhões ou ranhuras no chão aqui, mas devemos continuar.
— Sim, senhorita, — ele concordou e retomou a serragem.
— Sim, senhorita, — ela murmurou e foi para a sala dos fundos para embalar o resto das entregas do dia.
CHARLOTTE ABRIU A porta da frente, o coração batendo tão forte como se o Sr. Tufts estivesse jogando gesso atrás dela. Lá estava Charles, parecendo incrivelmente bonito em um casaco e calça bege com botas de montaria pretas e seu chicote na mão, que ele ergueu enquanto tirava o chapéu.
— Você está pronta, Srta. Rare Foure?
— Eu estou, — ela disse. Ela tinha andado pela última meia hora enquanto olhava pela janela da frente, ansiosa para começar. Ela usava seu tom favorito de verde com uma saia larga para pendurar sobre o punho e a sela e um paletó de algodão escovado de aparência elegante. Com o chapéu no lugar, uma bela pena projetando-se na parte de trás e o tempo resistindo com o sol brilhante, ela estava antecipando um passeio maravilhoso.
Ele se virou e gesticulou para trás. Não só ele tinha dois cavalos, mas, como prometido, ele tinha um lacaio segurando suas rédeas e outro, montado e segurando o cavalo do outro lacaio. Foi uma bela reunião de dois lacaios como acompanhantes para um passeio com o Visconde Jeffcoat. Como isso pode estar acontecendo com ela?
Em poucos minutos, ela foi ajudada a montar Trudy, uma égua castanha gentil com uma bela mancha branca na testa. Charles montou um esguio ruão cinza. Os cavalos se moveram em um passo lento em direção ao Marble Arch e à entrada nordeste do Hyde Park. Apesar de ser uma experiência nova, Charlotte não sentiu medo, nada além de felicidade. Assim, ela ficou surpresa quando Charles se virou para ela e disse-lhe para não temer.
— Se alguma coisa acontecer no apinhado Rotten Row, Trudy vai levá-la com segurança.
— Honestamente, eu não estou preocupada. Nunca vejo sentido em temer o pior. — Era verdade e, embora a impedisse de ser uma pessoa ansiosa ou excessivamente cautelosa, ela sabia que às vezes a fazia agir sem considerar todas as consequências. Mas o que poderia dar errado durante um passeio à tarde com Lorde Jeffcoat? Ou com a expansão da confeitaria de sua mãe, por falar nisso?
Eles viajaram em silêncio pela Portman Square e pela Oxford Street. Ao entrar no parque, Charlotte não pôde deixar de sorrir enquanto eles pegaram o caminho ao sul para The Serpentine e King's Road além. Ela nunca tinha visto desta posição, olhando para o parque de cima de um cavalo. Havia muitas pessoas fora e cada uma delas parecia feliz. Crianças com arcos, bastões e bolas, famílias fazendo piquenique e casais passeando juntos. E havia muitos outros cavaleiros, tanto a cavalo quanto em carruagens.
— Parece ser o lugar mais movimentado de Londres, — disse Charlotte, tendo que levantar a voz para ser ouvida por entre os muitos frequentadores do parque.
Ele assentiu.
— Muito lotado, de fato. É menos durante a semana, quando todos os negócios e fábricas estão abertos. Então você tem apenas a nobreza para lutar e não..., — ele parou.
Charlotte olhou para ele. Ele ia dizer algo insultuoso. Disso, não havia dúvida. A gentalha, talvez? O povo operário regular, de quem ela fazia parte, atrapalhavam o seu Senhorio enquanto ele cavalgava num domingo.
Claramente, o visconde era um nariz de focinho pomposo, afinal, e Charlotte se perguntou como diabos ela poderia desculpar isso ou até mesmo ignorar por tempo suficiente para se apaixonar por ele.
Talvez ela não devesse se esforçar.
Capítulo Dezenove
Uma faísca de aborrecimento passou por ela. Beatrice teve a sorte de se apaixonar por um homem tão comum quanto parece, exceto por ser um americano estranho e rico, para começar. E embora Amity tivesse capturado o coração de um duque, ele sempre parecera o homem mais modesto. Obviamente, ele vivia no mundo rarefeito dos aristocratas, e agora sua irmã mais velha também, mas o duque de Pelham nunca fizera um único comentário presunçoso que Charlotte pudesse se lembrar.
Obviamente, ela e o visconde eram de dois mundos diferentes e, sem dúvida, eles viam Londres de maneiras muito diferentes. Hoje, por exemplo, Charlotte viu a beleza de todas as pessoas da cidade curtindo o ar livre. Como ela gostaria de ter um grande saco de doces para distribuir.
E se Charles os visse como ratos pululando por todo seu precioso parque?
— Peço desculpas, — disse ele em seu silêncio contínuo. — Tenho certeza que soou impossivelmente arrogante.
— Sim, — ela disse rigidamente. — Embora eu entenda o que você quer dizer. Você não gostaria de atropelar algum operário em seu único dia de folga e sujar os cascos do seu cavalo.
— Comentários cortantes não combinam com você, — disse ele. — Uma doce gatinha uivando como uma alma penada. De qualquer forma, pedi desculpas. Claro, não desejo atropelar ninguém. Eu estava apenas lamentando as multidões que nos impedirão de deixar os cavalos terem suas corridas por um minuto. Verdade seja dita, eu preferia correr em um campo na minha propriedade rural do que em qualquer lugar em Londres. — Ele olhou ao seu redor. — Em determinados momentos da semana, dependendo do clima, você pode trotar e galopar sem esbarrar em ninguém. Mas em minha propriedade, posso deixar meu cavalo correr sem medo de colisão ou acidente. E posso usar o que quiser em vez de estar vestido para acompanhar os meus colegas.
Ele gesticulou para sua própria roupa.
Ela não pôde evitar balançar a cabeça.
— Você tem que se vestir de uma certa maneira caso seus colegas vejam você e julguem que você está faltando?
— Na verdade, eu quero, — ele a assegurou. — Ou haverá rumores de que meu pai e eu perdemos nossa fortuna. Antes que você perceba, minhas contas serão encerradas em toda a cidade. As pessoas vão dizer que estamos praticamente falidos. Vou ler nos jornais que os destituídos lordes de Bentley estarão vendendo sua casa geminada a qualquer momento.
Ela estreitou os olhos.
— Tudo isso se sua gravata for da cor errada, eu suponho.
Ele encolheu os ombros.
— Na verdade, sinto muito se ofendi. Não foi minha intenção. Normalmente não venho aqui aos domingos. E a essa hora da manhã, fiquei simplesmente surpreso com a multidão de pessoas.
— Pessoas fora da sua classe não perdem o dia de folga deitando na cama, — ela o informou. — Para alguns, é o único dia em que podem desfrutar de um pouco de ar fresco.
Ele acenou com a cabeça e um momento depois disse:
— Eu entendo. Sinto muito por falar sem pensar primeiro.
Eles seguiram em frente. Ela nunca guardou rancor, e ele se desculpou sinceramente. No entanto, ela estaria alerta para quaisquer declarações semelhantes. Ela não achou que seus pais ficariam particularmente inclinados a ela dizer que ela tinha se apaixonado por um nariz empinado.
— Não venho ao parque com frequência, — admitiu Charlotte, — Mas devo dizer que gosto da vista de cima de um cavalo. — Inclinando-se para a frente, ela deu um tapinha no pescoço sedoso de Trudy e correu os dedos pela crina áspera e avermelhada. — Isso dá uma perspectiva diferente. No chão, você não pode ver além da pessoa à sua frente, mas aqui, posso ver todo o caminho até o Carriage Drive.
— Estou feliz que você goste de cavalgar. Algumas pessoas, se não o fizeram muito quando crianças, acham isso assustador.
Ela se perguntou se ele tinha alguém em particular em mente, como uma ex-namorada, a pessoa que causou a dor no coração de Charles a quem o duque havia feito referência.
— Eu ficaria feliz em mostrar a você minha propriedade e meus cavalos, — ele continuou. — Se você gosta de flores...
Ela riu.
— Quem não gosta?
— As flores fazem algumas pessoas espirrar. De qualquer forma, temos um jardineiro particularmente habilidoso e nossos jardins são fantásticos. Os visitantes passam sem avisar apenas para passear por eles.
— E você não se importa? — Ela tinha a sensação de que ele devia estar se referindo aos visitantes da classe aristocrática, pois ela não conseguia imaginar que ele receberia pessoas comuns vagando pela propriedade. Talvez ela estivesse julgando.
— Não estou lá o suficiente para me importar, — disse ele. — Não é o suficiente para o meu gosto, pelo menos, mas geralmente três vezes por ano. — Ele inclinou a cabeça. — Você está totalmente apaixonada pela cidade ou ficaria feliz com longas estadias no campo?
— Eu gostaria muito de ver sua casa de campo, — disse ela, então percebeu como isso soava presunçoso. Ela não o deixou propor, mas já estava presumindo isso — Onde está de novo?
— Em Wiltshire, entre o misterioso Stonehenge e ...
Para seu espanto, as palavras do visconde foram cortadas sem cerimônia quando uma bola o atingiu na lateral da cabeça, fazendo-o recuar para o lado, perdendo o chapéu antes de cair completamente. Seu ruão empinou por estar repentinamente sem um cavaleiro e então disparou, embora não pudesse ir muito longe no caminho lotado.
Como prometido, Trudy não deu mais atenção do que um movimento de orelhas e continuou avançando como se nada tivesse acontecido. Provavelmente foi uma coisa boa Charlotte não ter gritado, mas aconteceu tão rápido que, quando ela respirou fundo, o incidente acabou.
Puxando as rédeas e parando seu dócil cavalo, ela olhou para baixo para ver Charles se levantando e se limpando, seu rosto em um tom distinto de vermelho.
Um de seus lacaios desmontou e correu atrás do ruão.
— Não caio do cavalo desde os quatro anos de idade, — disse Charles com os dentes cerrados. — E agora eu fiz isso na frente de metade de Londres.
Ele se abaixou e recuperou o chapéu, que não estava apenas sujo, mas amassado além do conserto.
— Olhe pelo lado bom, — disse ela, depois de verificar que ele não estava ferido. — Pelo menos a maioria das pessoas aqui não é da nobreza e não sabe quem você é, nem liga.
Ele olhou ao redor por um segundo para ver que ela estava certa. Exceto por um momento de pausa quando isso aconteceu, principalmente para discernir se eles estavam em perigo, os frequentadores do parque perto deles haviam voltado para seus próprios negócios sem se incomodar.
— Pense em como seria pior se você tivesse caído do cavalo em um dos dias em que este parque foi esvaziado de todos os trabalhadores de classe baixa e média, — ela o lembrou. — Então você teria executado uma desmontagem tão mortificante diante de seus colegas.
O lacaio havia devolvido o cavalo de Charles e, depois de entregar ao criado o chapéu arruinado, ele montou de novo com um movimento leve e rápido.
— Não, — ele a corrigiu. — Eu não teria, porque não teria havido algum canalha jogando uma bola na minha cabeça.
Os dois olharam em volta, mas a criança, como certamente era, há muito desapareceu junto com sua bola.
— Não é nada engraçado, — ele protestou com a expressão em seu rosto.
— Não eu sei. Você poderia ter se ferido, mas felizmente não foi.
— Se tivesse acontecido com você, — disse ele, — Você poderia ter se machucado seriamente. Devo repensar algum dia cavalgando aqui novamente em um domingo lotado.
Ela encolheu os ombros.
— Se você pretende fazer companhia à filha de um lojista de classe média, meu lorde, então..., — ela parou. Oferecer-lhe um ultimato quando ele estava com sujeira nas calças de montaria e com a cabeça escandalosamente descoberta provavelmente não era uma boa ideia dela. — Então, devemos esperar os domingos chuvosos e cavalgar aqui apenas no tempo mais sombrio, quando não houver mais ninguém por perto. — Com essas palavras, ela lhe enviou um sorriso caloroso. Felizmente, ele não era um daqueles homens que nutrem rancor ou desprezo.
Após uma pausa momentânea, ele concordou.
— Um brinde aos domingos chuvosos. Felizmente, Londres nos oferece muitos.
Ele nem mesmo voltou para casa como ela meio que esperava, dado seu atual estado de desordem. Em vez disso, ele passou a mão pelo cabelo, que estava desarrumado e sem dúvida irreconhecível para seu valete.
Então ele perguntou:
— Vamos cavalgar?
CHARLES CONSIDEROU aquele domingo perfeitamente feliz, apesar de ter sido jogado do cavalo e estragado um chapéu perfeitamente bom. Além disso, apesar de quase ter feito uma observação aristocrática terrivelmente mesquinha da qual teria sido difícil se recuperar.
Eles continuaram seu passeio, voltaram para sua casa sem maiores contratempos, e jantaram juntos com Delia como sua acompanhante porque ele achou inapropriado convidar qualquer um de seus lacaios para a casa de Charlotte. Em suma, um dia excepcional, mesmo que o amanhã fosse tornado mais penoso pelos mandados de justiça que ele não havia concluído.
Enquanto tomava conhaque em seu escritório, no entanto, não pôde deixar de sentir que havia perdido algo importante. Além do óbvio, quando ele se conteve para não roubar um beijo, embora eles tivessem cerca de trinta segundos sozinhos enquanto Delia foi até o corredor para buscar seu bordado.
Além de não conseguir provar mais uma vez os doces lábios de Charlotte, ele também perdeu a oportunidade de determinar o que ela realmente queria dele. Ela sabia que ele poderia lhe fornecer uma casa e uma propriedade rural, cavalos e até flores. Não havia razão para não pensar que ele também poderia fornecer bebês, e isso seria uma tarefa extremamente agradável.
Ela teria até um advogado na família, sempre útil.
Então o que foi?
Ele ouviu seu pai se arrastando.
— Está tarde, — ele gritou para o conde. — Por que você ainda está acordado?
Depois de uma pausa, a cabeça do conde apareceu pela porta aberta.
— Eu estava lendo os jornais e os últimos atos do Parlamento.
— Alguma coisa interessante?
— Eu entraria e diria, mas você ainda não tem uma segunda cadeira confortável. Muito inóspito. Eu estava na sala de estar, mas é como a tumba do Faraó lá embaixo.
— Qual Faraó? — Charles provocou. Na verdade, ele pretendia mandar trazer outra cadeira, mas não percebeu que seu pai estava esperando por ela para que pudessem se sentar juntos.
— Bah! Qualquer um deles. Não importa. Quando você vai trazer aquela jovem agradável de novo para uma visita?
Charles endireitou o corpo.
— Seria altamente impróprio ter uma jovem solteira de boa reputação conosco, dois solteiros.
Seu pai deu um passo para dentro da sala.
— Mas ela fez antes. E foi esplêndido. Sem danos causados.
Charles suspirou. Todos relaxaram seus princípios morais, exceto ele?
— Foi um equivoco, um engano, uma reunião que virou um jantar.
— Você não gosta da garota? — Seu pai franziu a testa. — O que você tem? Você provavelmente não pode fazer melhor do que ela. Se você enfrentar os fatos, Charlie, você é um pouco seco e enfadonho. Ela provavelmente pode fazer melhor do que você em qualquer lugar.
— Como você é gentil, — Charles brincou, mas o fez pensar. Talvez Charlotte quisesse um homem menos chato, embora ele não tivesse certeza do que isso significava.
— Devo deixar meu cabelo crescer e espalhar minha semente sobre muitas mulheres e então morrer de uma terrível febre na Grécia para que eu possa ser considerado um herói romântico? Isso soa engraçado.
— Você está zombando de Byron? O pobre sujeito viveu apenas para ver trinta e seis verões.
Charles engoliu em seco. Não, ele não queria que sua vida terminasse em uma década, nem queria vagar pelo mundo com vários amantes. Ele simplesmente queria Charlotte e uma vida bastante moderada em sua amada Londres ou com seus cavalos em sua propriedade em Wiltshire.
— Você pode querer ser mais parecido com aquele artista americano de que todos falam desde que ele processou nosso crítico de arte.
— Você está falando sobre Whistler processando Ruskin, — Charles esclareceu. Não se importou muito com o artista ou com o crítico, mas assistiu a algumas fases do julgamento popular porque se tratava de um caso singular. E as palavras de Ruskin sobre o artista foram repetidas com frequência, de modo que todos sabiam seu insulto de cor: — Nunca esperei ouvir um janota pedir duzentos guinéus para atirar um pote de tinta no rosto do público.
Além disso, Charles notou como, apesar de uma defesa fraca, Whistler venceu em princípio, mas recebeu apenas um centavo. Certamente, houve uma lição lá sobre o custo de estar certo, especialmente com as custas judiciais. Da última vez que ouviu, o pintor, agora empobrecido, fora para Veneza.
— Não sou pintor, — resmungou ele, pensando naquele estilo de vida transitório.
— Nem Whistler, — disse seu pai, depois riu, — Não se você fosse por seu Nocturne em preto e dourado. Esse foi precisamente o ponto de Ruskin.
Charles suspirou. Se Charlotte estava procurando um homem chamativo dado a ações ou palavras abertamente apaixonadas, como um dos artistas populares Rosetti com seus wombats e pássaros exóticos, sem falar em seus modelos exóticos, Charles não tinha chance de conquistá-la. Ele duvidava que faria algo extravagante. Ele poderia sair amanhã usando seu segundo chapéu favorito, já que seu favorito estava arruinado e não poderia ser substituído em tão curto prazo, mas isso não era como Whistler pintando o Tâmisa durante uma geada de inverno.
Talvez ele pudesse cortejá-la com flores.
Do nada, seu pai disse:
— Sua mãe teria gostado daqueles malditos pré-rafaelitas ou da estética de que todo mundo está falando. Um monte de artistas perdulários!
Surpreso ao ouvir seu pai mencionar a ex-condessa de quem se divorciou depois que ela partiu para o continente, Charles estava prestes a lhe oferecer um copo de conhaque quando se virou e foi embora.
— Cama, — ele ouviu seu pai murmurar. — Para dormir, talvez sonhar.
Pobre homem! Era isso que acontecia quando se casava com uma mulher inadequada a quem não se podia satisfazer ou agradar.
E sua mãe teve o privilégio e a honra de ser elevada do nível de filha do segundo filho de um visconde somente por sua beleza. Qualquer um pensaria que se tornar uma condessa seria uma recompensa que ela não jogaria fora com sua infidelidade descuidada.
No entanto, ela tinha.
Para Charlotte, a elevação de status seria ainda maior, mas ele aprendeu que não poderia significar nada. Não conquistou a lealdade, fidelidade ou amor de uma mulher.
Por outro lado, era um bom presságio que, apesar de ser visconde e, algum dia, no futuro distante, conde, nenhum dos dois não fora o suficiente para convencê-la a aceitar sua proposta. Pelos sinos, ela nem o deixou terminar!
Ela não era, portanto, uma oportunista. Ela era uma mulher de negócios de classe média com quem ele ficava mais apaixonado cada vez que estava com ela.
Capítulo Vinte
Era um desastre! Sem nem mesmo um dia de antecedência ou um rosto amigável parando para discutir o assunto, um dos hotéis e um dos restaurantes cancelaram abruptamente seus pedidos permanentes. As mensagens chegaram pelo correio matinal.
Charlotte releu as cartas curtas e teve vontade de chorar. E no pior momento possível, quando eles não estavam recebendo nenhuma receita das vendas da loja. Além disso, pela aparência da bagunça, o Sr. Tufts levaria mais de três dias para construir até mesmo uma escada rudimentar. Ainda não havia nada além de um buraco horrível no teto da confeitaria.
Naquele momento, o Sr. Tufts estava na oficina, martelando tábuas, que chamou de degraus, e prendendo-as a mais tábuas, que chamou de espelhos do degrau. Mas o trabalho estava progredindo terrivelmente devagar e envolvia muito serrar e praguejar por parte do construtor.
Edward já estava fazendo as entregas do dia, e agora, uma vez que os pedidos foram interrompidos, ela não tinha certeza se os destinatários pagariam por eles quando fossem cobrados.
Uma batida na janela chamou a atenção de Charlotte. Uma mulher com um bonito gorro amarelo estava parada ali.
Em estado de choque com o recebimento das cartas de cancelamento, Charlotte murmurou:
— Você não consegue ler? — O aviso de fechamento estava bem ao lado do rosto da mulher. Mesmo assim, ela foi até a porta, destrancou-a e colocou a cabeça para fora.
— Sinto muito, mas estamos fechados, — Charlotte começou e gesticulou para seu sinal escrito à mão.
— Sim eu posso ver isso. Além disso, ouvi de outro lojista que você está saindo do mercado.
Outro choque. Quem estava dizendo tal coisa?
Antes que Charlotte pudesse perguntar, a mulher continuou:
— Eu só queria saber que tipo de estabelecimento está acontecendo aqui. Posso ver que algumas reformas estão acontecendo. Terei o prazer de espalhar a palavra e contar aos meus amigos.
Uma fofoca! Charlotte lembrou a si mesma que não era culpa dessa mulher que as pessoas gostassem de ouvir as últimas, seja sobre uma loja ou um nobre, por falar nisso.
— A Rare Confeitaria não vai falir, garanto-lhe, e pode dizer isso a quem quiser saber. Estamos expandindo. Haverá um café perfeitamente delicioso no andar de cima. — Ela faria outro sinal dizendo isso, mas como o café não estaria aberto no momento em que a loja fosse reaberta, ela não queria confundir as questões. — Nossa loja regular será aberta assim que a escada for concluída.
— Oh.
Isso era decepção no tom da mulher? Charlotte estava pronta para gritar. Em vez disso, ela respirou fundo e permaneceu calma.
— Eu espero que você volte nessa hora. Bom dia. — Fechando a porta com firmeza, ela passou pelo Sr. Tufts, que martelava um pedaço de madeira que até Charlotte podia ver que estava torta. Indo diretamente para a sala dos fundos, ela colocou a chaleira no fogo. Chá quente, forte, doce e com leite estava em ordem.
Quando Edward voltou, ela atacou.
— Algo estranho está acontecendo durante as entregas?
Seus olhos correram por toda parte, mas finalmente ele fixou seu olhar no dela.
— Estranho como, senhorita?
— Qualquer coisa, Edward. Isso é importante. Por acaso você tropeçou e esmagou a confeitaria? Mais de uma vez? Ou apareceu tarde? Ou entregou o pedido errado a um estabelecimento?
Ele parecia pálido, com certeza, e ela diria que pelo menos uma dessas coisas tinha acontecido, mas ele balançou a cabeça.
— Por que, senhorita?
— Porque dois dos lugares foram cancelados sem me dizer o motivo, exceto para dizer um serviço insatisfatório. Suponho que seja inteiramente possível que os clientes tenham simplesmente se cansado de nossa confeitaria, mas parece improvável que os dois o fariam ao mesmo tempo.
Seus olhos se arregalaram.
— Talvez possamos conseguir novos clientes, senhorita. Posso ir a outros restaurantes ou hotéis e tentar vender?
— É mais fácil manter clientes antigos do que fazer novos, embora concorde que teremos que tentar fazer novos.
De repente, o Sr. Tufts gritou bem alto, e não pela primeira vez. Ela o viu levantar um polegar latejante. E ela testemunhou um colapso de um degrau sob seus pés enquanto ele o soltava. Muito pouco profissional!
— Mas não podemos buscar novos negócios, não neste caos quando nem mesmo temos todos os nossos produtos disponíveis. Primeiro, precisamos reabrir a loja. Lamento dizer que acredito que seu tio subestimou o tempo que levaria.
No final do dia, isso foi confirmado. O Sr. Tufts saiu, parecendo alegre mesmo enquanto Charlotte observava o trabalho de má qualidade de apenas dois degraus terminados e presos a nada, simplesmente descansando no chão. Uma onda de desespero passou por ela.
Durante o dia, ela foi a outro fabricante de móveis e encomendou cadeiras, dando-lhes uma entrada. Rapidamente, sua conta estava ficando escassa. Amanhã, a primeira coisa depois de deixar o Sr. Tufts e Edward entrar na loja, ela faria uma visita aos dois clientes que haviam cancelado seus pedidos permanentes e determinaria se eles poderiam ser recuperados. Ela teve que salvar alguma renda.
Se continuassem assim, ela estaria no banco perguntando sobre um empréstimo.
— NÃO ENTENDO como isso pode ter acontecido, — disse ela ao maître d'hôtel do Grosvenor Hotel no dia seguinte. Edward não tinha aparecido naquela manhã, e Charlotte entregou os dois contratos restantes ela mesma, descobrindo que eles também estavam prestes a cancelar.
Com sua garantia e uma oferta de que a entrega daquele dia seria gratuita, ela conseguiu manter o hotel, mas o outro, o restaurante Albion, não tinha certeza. Ele iria discutir isso com seu parceiro. Então ela foi para aqueles estabelecimentos que já haviam cancelado, na esperança de recuperar a reputação da Rare Confeitaria.
— Eu sei que esses pedidos foram concluídos. — Ela mesma os embalou recentemente, já que não tinha mais nada para fazer.
O maître do The Great Western Hotel encolheu os ombros.
— Não é maneira de fazer negócios, mocinha. Com certeza, nossos clientes adoram tudo o que vendemos que vem da Rare Confeitaria, mas não podemos ser enganados por um quilo aqui e outro ali. Consome nossos lucros. — Ele fez uma pausa. — Ha! Isso é engraçado, já que estamos falando de doces, não é?
Charlotte não achou nem um pouco divertido, mas ela ofereceu a ele seu melhor sorriso.
— Eu garanto que não estamos tentando enganar você em nada.
— Se tivesse acontecido apenas uma ou duas vezes, eu teria pensado que era um erro genuíno e honesto. Mas, semana após semana, esses quilos aumentam, — observou ele, — e parece intencional.
— Sim, concordo, — disse ela. — Eu sinto muito por isso, e vou chegar ao fundo disso. Naturalmente, a entrega de ontem será gratuita. Mas espero que você reconsidere o cancelamento. Que tal se eu contar pessoalmente o pedido, embalá-lo e entregá-lo? — Porém, quando a loja voltasse a ficar ocupada, Charlotte não viu como poderia fazer tal coisa.
Em qualquer caso, o homem estava balançando a cabeça.
— Está fora de minhas mãos agora.
— Como pode ser? — Ela se sentiu um pouco desesperada e percebeu em seu tom. — Você não dirige este estabelecimento?
— Eu o administro, mas não o possuo. E uma vez que você começa a interferir nas contas e nos lucros, o proprietário dá uma boa olhada. Não estou arriscando meu emprego porque alguém da sua loja de doces está mexendo por aí.
Alguém Edward! Infelizmente, ele tinha que estar por trás dessa bagunça. Felizmente, o gerente do Langham foi mais compreensivo. Eles faziam entregas lá desde o ano anterior, quando o agora marido de Beatrice estava hospedado lá.
— Por que ninguém nos contou? — Ela perguntou enquanto estava sentada no escritório do gerente.
— Senhorita Rare Foure, somos um grande hotel. Temos muitas contas e muitos fornecedores, como tenho certeza que você pode imaginar. Não tenho tempo para ser sua babá. Se sua empresa não estiver sendo supervisionada corretamente e eu estiver sendo prejudicado por causa disso, encerrarei minha parceria com você.
Ela suspirou e tirou um saco de confeitaria de sua bolsa de contas. Abrindo por acaso, ela ofereceu um ao gerente. Ele fez uma pausa, prestes a recusar, mas então sentiu o cheiro de chocolate e se serviu.
— Delicioso, — ele proclamou. — Nunca tivemos problemas com a qualidade. Isso é certo. Que vergonha.
— Então me dê a chance de remediar isso, — ela insistiu.
Ele ergueu a mão.
— Por tudo que eu sei, você pode ter sido a única perpetrando o engano.
— Senhor! — Ela exclamou. — Minha família é dona da loja e eu não faria mal a eles ou a mim mesmo. Mas tenho certeza de que conheço o culpado.
— Eu pedi e paguei sete libras por semana, — ele persistiu, — E em mais de uma ocasião, recebi apenas cinco. Isso não é pouca coisa.
Charlotte se lembrou de embalar ela mesma a última entrega e, em seguida, entregá-la a Edward. Somente uma criança, uma criança relativamente honesta com pouca experiência em duplicidade, faria algo tão estúpido que poderia facilmente remontar a ele.
— Eu concordo, não é pouca coisa. Roubo nunca é. Você pode me dizer quando começou, se você sabe?
— Não posso dizer exatamente porque, até percebermos, não começamos a examinar cada entrega. Temos coisas mais importantes a fazer do que pesar chocolates. Mas definitivamente ocorreu nos últimos dois meses.
— Eu sei que posso impedir que isso aconteça novamente. E temos vindo a fornecer-lhe uma excelente confeitaria desde o ano passado. Você sabe que não pode encontrar igual em outro lugar.
— Estranho você dizer isso, — disse o gerente do Langham, juntando as mãos sobre a mesa. — Quando eu estava falando com um dos meus funcionários sobre sua confeitaria, ele disse que comprou exatamente o mesmo porco de Marzipan de um vendedor de rua em Covent Garden.
— Tenho certeza de que outros têm formas semelhantes de Marzipan, — disse Charlotte, apesar de não ter visto pessoalmente nenhum outro porco. Mas pensar que seria em um carrinho de rua e nem mesmo em uma boa confeitaria era inquietante.
— Não é semelhante, Senhorita Rare Foure, idêntica em gosto e forma. Eu ia mandar alguém lá para descobrir quem os faz.
Ela recuou, chocada.
— Porque o mesmo vendedor ambulante também tinha chocolates e caramelo, todos tão bons quanto os seus e não tão caros.
Naturalmente, não tão caro, Charlotte pensou. A pessoa não tinha um aluguel da New Bond Street para pagar.
— Se você nos der outra chance, não vamos decepcionar você, — ela prometeu.
— Você terá que baixar o preço, — disse o gerente tão rapidamente que ela soube que ele estava esperando que ela implorasse.
No entanto, ela não estava tão desesperada.
— Absolutamente não, — ela disse a ele, ouvindo claramente a voz de sua mãe lembrando-a de quanto The Langham cobrava por um quarto, ou mesmo por um bule de chá em uma de suas salas de jantar. — Se você deseja atribuir sua reputação a seus convidados ao capricho da capacidade de um vendedor de rua de Covent Garden de entregar quilos de doces todas as semanas, então desejo-lhe boa sorte, senhor. E mesmo se você procurar em outras lojas de Londres por nossa qualidade a preços tão bons, novamente, desejo-lhe sorte.
Ela se levantou, recusando-se a ser intimidada ou quebrada.
Ele se levantou.
— O Langham continuará vendendo seus doces, desde que você pessoalmente me assegure que o assunto ou a pessoa nefasta já foi resolvida.
— Claro, — ela concordou. Enquanto isso, ela estava indo para Covent Garden para descobrir um vendedor de confeitaria que conseguia imitar seus doces com tanta perfeição.
CHARLES NÃO PODE ACREDITAR na sorte quando viu Charlotte atravessando a rua em sua direção. Tendo acabado de terminar a refeição do meio-dia em um pub na esquina da piazza em estilo italiano que cercava o mercado de Covent Garden, ele emergiu do Lamb and Flag. Com uma torta de carne com batatas fritas regada a um copo de cerveja, ele escreveu notas para o tribunal. Ele sempre se sentava atrás da lareira, acesa ou não, pois as mesas eram maiores do que na frente do bar. Mesmo assim, ele mal conseguiu concentrado enquanto sua mente vagava para o que sua amiga estava fazendo, imaginando-a curvada com segurança atrás do balcão da Rare Confeitaria.
E ainda assim lá estava ela, tendo acabado de sair de um táxi.
— Senhorita Rare Foure, — ele a chamou.
Quando o olhar dela pousou nele, um sorriso apareceu em seu rosto que fez seu coração disparar. Que rosa inglesa perfeita ela era! Ele queria arrancá-la do arbusto de mulheres solteiras. Ele quase riu disso, o pensamento mais poético que já teve. Ele queria prosseguir com algo sobre estabelecê-la no vaso matrimonial, mas perdeu o fio e então eles estavam a apenas alguns metros de distância.
Curvando-se ligeiramente para ela, ele recebeu um aceno de cabeça em retorno.
— Que prazer encontrar você aqui, meu lorde, — ela começou, sem se importar que ele queria ser o único a dizer isso primeiro. Ela não precisava bajulá-lo ou desmaiar sobre ele. Ele teve sorte de que uma mulher tão acolhedora, calorosa e deliciosa estivesse interessada nele, chato como ele agora temia que fosse, com uma casa nada convidativa da qual ela estivera a par e um pai mal-humorado.
Graças a Deus ele era um visconde, pois não conseguia pensar em mais nada que o recomendasse a ela.
— O prazer é todo meu, Srta. Rare Foure. — Dizer o nome de sua família agora parecia uma farsa, um código secreto de um mistério gótico, já que em particular eles usavam o primeiro nome. Isso o fez oferecer um sorriso bobo em troca.
— O que você está fazendo aqui, e no meio do seu dia de trabalho?
Ele pôde ver instantaneamente que algo estava errado, quando a expressão dela ficou nublada.
— Não estou em uma missão feliz, com certeza, — ela confessou.
— Posso ajudá-la de alguma forma?
Ela encolheu os ombros. Um movimento tão delicioso quando ela o executou.
— Verdadeiramente, eu não sei. Procuro um vendedor de rua que de alguma forma está vendendo Rare Confeitaria ou sua semelhança exata.
— De fato. E essa pessoa está aqui? — Ela tinha realmente planejado passear sozinha pela multidão até encontrar um vendedor de doces? Então o quê?
— Então, me disseram. Mas não quero tomar seu tempo.
— Não seja boba. Estou feliz em acompanhá-lo ao redor do mercado. — Em seguida, ele se lembrou do mandado que não havia concluído e dos processos judiciais que deveria observar mais tarde, rejeitando ambos imediatamente.
— Muito bem, — disse ela. — Dou as boas-vindas à sua companhia.
Isso selou tudo, então. Ele não poderia mais abandoná-la agora do que ele poderia voar para o céu. Enquanto caminhavam pela King Street em direção à área das colunatas do mercado, ela contou a ele sobre seus problemas.
— Como você pode ver, não poderia ter acontecido em pior hora, com a ampliação e despesas adicionais de mobiliar o andar de cima, sem falar no fechamento do andar de baixo.
— Uma escada não deve demorar muito. Afinal, não é a Casa Marlborough, — brincou ele, lembrando-a do baile à fantasia que ambos compareceram no ano anterior em uma das residências mais magníficas de Londres.
— Não, não deveria, — ela disse, olhando para longe, não parecendo satisfeita, e ele percebeu que algo mais estava errado em seu mundo. Antes que ele pudesse perguntar sobre a escada, ela disse: — Ali. Esse homem está vendendo doces, eu acho.
Eles vagaram em direção a um vendedor de aparência rude em cores festivas que desmentiam seu rosto carrancudo.
— Doces cozidos, senhor? — O homem ofereceu. — Talvez um bom saco deles para sua patroa?
— Não, obrigado, — disse ao homem. — Você tem chocolates?
— Não, senhor. O que eu pareço?
Charles não queria dizer ao homem que parecia um arlequim mal-humorado, então apenas acenou com a cabeça e seguiram em frente.
— Não gosto de pensar em você vagando por aqui, abordando estranhos, — disse ele.
Suspirando, com a cabeça girando enquanto olhava para a multidão e muitos vendedores, ela disse:
— Isso é um absurdo. Eu lido com estranhos quase todos os dias.
— Da segurança de sua loja.
— Tive um ladrão lá no ano passado, — ela confessou. — Tive que afugentá-lo com nosso bastão de críquete.
Ele parou, seu coração batendo forte.
— Você foi atrás de um homem com um bastão?
Ela assentiu.
— Ele também fugiu, embora tenha sido o meu assobio alto que finalmente o tirou da loja e o mandou para a rua. Ele pegou minha bolsa verde favorita, mas ele estava realmente atrás da de Beatrice.
— Venha, — acrescentou ela quando ele não se moveu. Ela deu alguns passos sem ele e ele correu para alcançá-la.
— Diga-me, — ele exigiu, mas ela balançou a cabeça.
— Essa é uma história para outro dia, — disse ela. — Vamos continuar procurando ou perguntar a alguém.
— A quem perguntaríamos? — Não era como se houvesse qualquer ordem no caos do mercado de Covent Garden, ou assim parecia. No entanto, naquela hora do dia, o mercado estava calmo em comparação com o anterior. Se tivessem chegado às seis horas da manhã, estariam no meio do caos dos vendedores de verduras, com repolho, couve-flor, ervilha, cenoura, nabo e batata.
As mulheres se sentavam em grupos para começar a bombardear centenas de vagens de ervilha. E correndo entre as carroças e as barracas estavam os muitos meninos de rua que vinham recolher o que podiam. Às vezes, era a única comida deles. Charles estudou a situação quando o Parlamento estava criando as leis das escolas públicas. Confinando algumas dessas crianças em uma sala de aula, elas não teriam acesso às pilhas de comida apodrecidas que as mantinham vivas.
Quando as montanhas de vegetais desapareceram e a última cebola foi para o seu destino, fosse uma mercearia ou um restaurante, começaram os leilões de flores e frutas, geralmente por volta das dez horas. Algumas flores foram destinadas aos floristas, mas centenas de mulheres e meninas compraram cravos, rosas, violetas e muito mais, para fazer buquês para vender nas ruas. E quando esses leilões terminaram, em cada lado da avenida principal os mercados continuaram nas praças fechadas. O amigo de Charles, Pelham, que já esteve no continente várias vezes, disse que Covent Garden tinha o maior e melhor mercado que ele tinha visto na Europa, se não no mundo. Das cerejas, maçãs e peras britânicas comuns às laranjas exóticas, uvas de Hamburgo, peras francesas, maçãs americanas e muito mais, a variedade era surpreendente.
Pouca coisa dessa abundância saiu do rico extremo oeste de Londres e, mesmo então, havia crianças maltrapilhas sugando frutas descartadas com alegria.
Charles não pôde deixar de pensar nos recentes surtos de cólera e esperava que a fruta fornecesse sustento a essas crianças abandonadas em vez de doenças.
— Vamos experimentar lá, — disse Charlotte, e ele a acompanhou até uma barraca de agrião, onde uma jovem vendeu os brotos tenros.
— Mais de 1.600.000 molhos de agrião são vendidos apenas em Covent Garden, — disse ele, lembrando-se do último relatório London Labour and the London Poor que havia lido.
Ela parou de andar.
— Como na Terra? — Charlotte começou.
— Seu jovem tem razão, senhorita, — disse a dona da barraca. — É nutritivo, delicioso e barato. Cachos da melhor qualidade podem ser encontrados aqui. Quer um ou dois grupos?
Charles não pôde deixar de sorrir quando Charlotte comprou dois da impressionante jovem vendedora.
— Você teria visto exatamente o oposto do agrião? — Charles perguntou à mulher. — Alguém vendendo doces?
— Alguém novo? — Charlotte acrescentou. — Talvez nas últimas semanas?
— Perto dos sacos de nozes, — disse a jovem. — Vá ao longo da colunata. — Ela apontou na direção. — Eu vi uma mulher passeando com doces à venda. Ela não tem uma tenda, veja bem, então ninguém pode atestar por ela.
— Obrigada, — Charlotte disse, e Charles tirou o chapéu. Eles vagaram sem sucesso por muitos minutos.
— Acho que devemos perguntar a alguém com crianças, — disse Charlotte, olhando para as pessoas que passeavam.
Quando uma mulher obviamente uma babá por suas roupas emergiu da multidão com dois jovens pupilos, Charlotte se aproximou deles.
— Com licença, senhora, — Charlotte começou, — por acaso você conhece um vendedor de doces por aqui? Disseram-me que havia um bom vendedor por perto, vendendo chocolates e caramelos, e não doces cozidos.
A mulher acenou com a cabeça.
— Sim existe. Nós a encontramos duas semanas atrás nas barracas de flores. Ela não tem carrinho, apenas uma caixa com balas em sacolas. Este lote cheirava chocolate como cães de caça com uma raposa. E eles eram notavelmente bons. Os chocolates, não esses pirralhos, — ela esclareceu quando o menino começou a puxar as tranças da menina. — Pare com isso, Samuel.
— A vendedora de chocolates estava vestida com algo identificável ou tinha uma placa? — Charles perguntou, esperando que eles não tivessem que vagar para cima e para baixo na colunata para sempre.
— Ela estava perto das rosas na semana passada, e bem perto, na frente dos cravos na semana anterior. Ela não usava nada de especial, exceto uma capa azul claro, nas duas vezes que a vimos.
— Muito obrigada, — disse Charlotte. — Bom dia para você, — acrescentou ela e correu em direção à primeira fileira de flores.
— Estou surpreso por você não ter dado a essas crianças algo da sua bolsa, — disse ele.
Ela engasgou. — Eu também. Por outro lado, o menino estava um pouco aterrorizado e a menina parecia mimada, e parece que a babá lhes dá muitos doces. Lá! — Ela exclamou.
Uma mulher de meia-idade com uma capa azul desbotada tinha uma caixa de madeira ao lado e estava solicitando os que passavam.
— Alguns chocolates, senhora? Caramelo, senhor?
O homem na frente deles parou. A transação foi rápida.
— Caramelo é dois pence por saco, — disse a vendedora.
Charlotte cerrou os dentes com o preço baixo que nem pagaria pelos ingredientes, muito menos as horas de trabalho da irmã.
— Quanto está no saco? — Ele perguntou.
— Quarto de libra, mais ou menos. Você não ficará desapontado.
As moedas foram trocadas e a mulher entregou ao homem uma sacola branca com o distintivo selo azul: Rare Confeitaria.
Capítulo Vinte e Um
Charles olhou para Charlotte. A cor vermelha estava em suas bochechas com certeza. Ela marchou até a mulher.
— Você tem Marzipan também?
— Claro, senhora. — A mulher disse, olhando para Charles, depois de volta para Charlotte. — Você gostaria de um saco disso, formas variadas?
— Sim, — Charlotte disse, sua voz quase um sussurro. Seu olhar era claramente de fascínio quando a mulher se abaixou, ergueu a tampa tosca de uma caixa de madeira simples e tirou um saco.
— Espere, isso é tudo chocolates. — Soltando-o, a mulher agarrou outro. — É esse mesmo, senhora. Marchpane, como minha mãe chamava. E este é o mais delicioso que você já experimentou.
— Quanto custa a bolsa? — Charlotte perguntou, seu tom suave e silencioso, deixando Charles mais preocupado.
— É mais caro do que caramelo, com certeza. Feito com amêndoas, que não sai barato, — acrescentou a mulher. — Um tostão pela bolsa. Existem formas fofas lá. Três peças. Às vezes uma forma de fruta, às vezes um porco...
Charlotte agarrou a bolsa dela e a abriu, soltando um leve suspiro ao fazê-lo.
— Agora. Isso não é de graça, — reclamou a vendedora ambulante.
Charles rapidamente enfiou a mão no bolso e tirou algumas moedas, pagando à mulher, o que fez Charlotte carrancuda. Então ela alisou a bolsa, e ele pôde ver as palavras em azul safira com um pequeno desenho arqueado sobre elas e pedaços ondulados de cada lado. Artístico, ele pensou, mas dificilmente o ponto.
— Rare Confeitaria? — Charlotte incitou a mulher, como se estivesse lendo a sacola.
— Sim, senhora. Eu chamo assim porque os doces são tão deliciosos quanto raros por aqui.
— De fato, — Charlotte disse, e seu tom foi se tornando mais severo a cada palavra.
Charles considerou a situação e tomou uma decisão.
— Quanto tempo você vai ficar aqui hoje? Podemos querer mais depois de fazermos nossas compras.
A mulher olhou para a torre do relógio visível acima das cabines.
— Vou ficar aqui mais algumas horas, senhor. Tenho que colocar comida na minha mesa. Tenho três filhos pequenos para alimentar.
Com essas palavras, ele viu a raiva sumir de Charlotte. Assentindo, ele se virou, mas como ela não o acompanhou, ele a segurou pelo antebraço e a puxou com ele.
— Mas... — ela começou.
— Vamos conversar primeiro, — ele murmurou em seu ouvido, levando-a mais longe. — Venha, seja sensata.
Ela o deixou levá-la até o final da fileira de flores, mas então ela puxou o braço livre.
— Seja sensata? Descobri que minha própria confeitaria foi vendida por menos da metade do preço por uma estranha e você pagou por ela em vez de denunciá-la! Agora você está me dizendo para ser sensata.
— Eu sei que você sentiu pena dela quando ela mencionou seus filhos.
Novamente, ele viu sua raiva justa deixá-la como o ar de um balão murcho.
— Você não pode ficar com raiva de uma mãe, — ela concordou.
— Você a reconheceu?
— A mãe de Edward pela semelhança, — ela murmurou. — Sem dúvida. Ela se parecia com ele nos olhos e na boca. — Colocando a mão na testa, ela suspirou. — Meu Deus, que bagunça!
— Eu pensei que talvez devêssemos discutir o que você quer fazer. Chamar a polícia ou simplesmente a confrontar. Edward sabe que você sabe sobre isso?
— Não, mas eu o questionei sobre as entregas estarem suspensas. Dois de nossos contratos estáveis cancelados ontem. Eu estava dependendo desse dinheiro enquanto a loja estava fechada. — Ela juntou as mãos. — Edward não apareceu hoje. Foi a primeira vez que ele faltou ao trabalho desde que o contratei. Eu mesma fiz as entregas e descobri que quase perdemos os outros contratos também. Então, o gerente do Langham me disse que alguém estava vendendo confeitos exatamente como os nossos, e ele estava certo.
— Já que Edward sabe que foi descoberto, ele provavelmente contará para sua mãe esta noite. Duvido que ela volte amanhã também. — Charles esperava que isso fizesse Charlotte se sentir melhor. — Em qualquer caso, ele não vai poder roubar mais nenhum doce para dar a ela.
— Roubando! Como eu poderia ter julgado tão mal? Eu sou uma idiota. Tratei Edward como família.
— Isso foi bom da sua parte. Você é uma mulher gentil e decente, mas, no final das contas, ele tinha sua própria família, a quem devia mais fidelidade.
— O que você acha que eu devo fazer sobre...? — E ela gesticulou em direção à mulher de capa azul.
— Isso é contigo. — Ele tinha a sensação de que sabia o que ela faria. — Ela vai sair correndo logo.
Charlotte concordou.
— Especialmente por esses preços. — Suspirando, ela disse: — Vou deixá-la terminar.
— Eu sabia que você iria. — Ele começou a caminhar em direção à estrada onde haveria uma carruagem de aluguel disponível.
— Ela disse que era a melhor marchpane, — Charlotte brincou, fazendo-o amá-la mais.
Charles quase tropeçou. Ele a amava! Ela era a melhor pessoa que ele conhecia, e ele queria que ela ficasse ao lado dele pelo resto de suas vidas.
— Se Edward aparecer para trabalhar amanhã, pelo menos vou conseguir falar com ele, — ela continuou, sem saber de sua revelação surpreendente.
Ele fez sinal para um carro, ajudou-a a entrar e entrou também. Ao ar livre, eles poderiam conversar facilmente com o cocheiro.
— Para onde vamos, senhor?
Charlotte de repente olhou para Charles como se estivesse surpresa por se encontrar sentada na cabine, ao lado dele.
— Bem, Srta. Rare Foure? Você está voltando para sua loja ou casa?
Ela gemeu.
— O tio de Edward ainda está trabalhando. Devo voltar e ver como ele está. Não tem corrido bem até agora. Em qualquer caso, tenho que trancar.
— Você deixou o construtor lá sozinho?
— Eu não tive escolha, — ela disse a ele.
Charles deu o endereço ao cocheiro.
Assim que chegaram, Charles percebeu que havia um problema. Pelo grito de consternação de Charlotte, ela também podia. Ele a ajudou a descer antes que ela pulasse. Enquanto ele pagava ao cocheiro, ela correu para a porta, que estava entreaberta, e entrou correndo.
CHARLOTTE sentia-se doente. Ela estava olhando para o desastre. Dentro da loja havia algumas pessoas vagando. Havia quatro degraus improvisados caídos inutilmente de lado no chão, serragem e pregos por toda parte, e nenhum sinal do tio de Edward.
— A loja está fechada, — disse Charlotte a um homem e duas mulheres que obviamente entraram apenas por curiosidade, e uma delas estava atrás do balcão.
O rosto daquela mulher ficou vermelho de vergonha.
— Eu esperava que houvesse algumas amostras aqui, — disse ela. — Eu não estava roubando. — Ela correu entre os balcões e saiu correndo da loja.
Os outros dois estavam olhando boquiabertos para o buraco, e Charlotte ficou grata quando Charles ajudou a conduzi-los para fora. Então ela ouviu um barulho na sala dos fundos.
— Edward, — ela gritou. Abrindo a cortina, Charlotte encontrou um estranho olhando para ela. Ele estava agachado, vasculhando as gavetas que continham suas toalhas e alguns suprimentos. Os suprimentos de confecção de doces nas prateleiras também foram removidos. Alguns estavam faltando.
Ele se levantou, um saco na mão, provavelmente segurando suas colheres e potes.
— Abaixe isso, — ela ordenou.
Um sorriso desagradável apareceu no rosto do homem, então desapareceu ao mesmo tempo que Charlotte sentiu alguém atrás dela. Sentindo o cheiro familiar de Charles, ela sabia que ele estava bem ali, apoiando-a. Como ela teve sorte!
— Você ouviu a senhora, — ele rosnou.
Lentamente, o homem largou a sacola, uma de suas próprias sacolas de entrega, e estendeu as mãos para mostrar que estavam vazias.
— Achei que você tivesse falido e perdido tudo. Parecia que sim.
Charlotte quase chorou.
— Você não deveria estar de volta aqui, — ela disse, quando ela quis gritar para ele sair. O homem se moveu em direção a ela e a única saída. Dando um passo para trás, ela esbarrou em Charles, que a arrastou para o lado, abrindo caminho para que o estranho pudesse sair. Charles o viu sair da loja e trancou a porta.
Antes que ela soubesse o que estava fazendo, ela caiu contra o balcão, colocou a cabeça entre as mãos e deixou as lágrimas rolarem. Depois de um momento, ela sentiu sua mão quente em suas costas, primeiro dando tapinhas e depois esfregando suavemente até que ela parou de chorar.
— Que bagunça!
— Não posso acreditar que seu construtor deixou sua loja aberta e sem supervisão. É injusto. Temos sorte de que ainda haja alguma coisa.
Ela duvidava que uma coisa em particular permanecesse. Olhando atrás do balcão, ela viu o espaço flagrantemente vazio.
— Alguém roubou a caixa de dinheiro. Felizmente, estava quase vazio, pois não atendíamos os clientes.
A mão de Charles parou em suas costas. Então, talvez percebendo a impropriedade, ele se afastou alguns metros.
— Suponho que seu construtor terminou o dia?
— Ele deveria estar aqui, — disse ela, e os dois olharam para a bagunça que ele havia deixado. — Você acha que ele está voltando?
O rosto sombrio de Charles foi sua resposta. Eles caminharam até a bagunça de madeira que nunca seria uma escada adequada.
— Ele já foi pago? — Ele pegou um pedaço de madeira rachada.
— Um pouco disso. Metade para começar, depois um pouco mais para mais suprimentos.
Ela ouviu Charles suspirar e sabia o que ele estava pensando. Então ele perguntou:
— Qual é o nome dele?
Ela contou a ele.
— E você sabe onde fica o escritório dele?
Escritório? Ela duvidava que o homem tivesse algo assim.
— Não.
— Que tal onde ele mora? Ou Edward para esse assunto. Talvez seja o mesmo lugar.
Ela balançou a cabeça, sentindo-se cada vez mais estúpida. O que Charles deve pensar dela?
Gemendo, Charlotte olhou ao redor e pensou em como apenas algumas semanas atrás, a Rare Confeitaria estava agitada. Eles não só tinham muitos clientes até a terrível crítica do jornal, como também tinham bons contratos e nenhum buraco no teto.
Agora eles tinham o dobro do aluguel, alguém vendia seus doces em Covent Garden, eles haviam perdido dois contratos, talvez três, não tinham nenhum cliente e um buraco enorme no teto.
Sentindo-se tonta de preocupação, ela sabia que devia estar pálida, pois Charles a encarou por um segundo antes de dizer:
— Vamos fazer chá e discutir o que fazer a seguir.
Seguindo-o até a sala dos fundos, ela começou a remover as coisas furtadas do saco no chão enquanto Charles acendia o fogão e colocava a chaleira no fogo.
— Eu fiz isso! — Ele exclamou enquanto ela endireitava as garrafas de essência de framboesa e laranja de Amity que haviam sido derrubadas.
Olhando para ele e para sua expressão satisfeita, seu coração se iluminou um pouco.
— Suponho que você não precisa fazer seu próprio chá em casa, — ela percebeu em voz alta. — Ou em qualquer lugar para esse assunto. Bem feito.
— Você está tirando sarro de mim? — Ele perguntou, pegando uma bandeja de caramelo de suas mãos e colocando-a na prateleira onde ela estava tentando colocá-la de volta.
— Oh, não, Charles. Estou falando a sério. Você acendeu o fogão, encheu a chaleira e ligou-o como se soubesse o que estava fazendo.
Ele sorriu.
— Essa era a extensão das minhas habilidades na cozinha, eu lhe asseguro. Eu morreria de fome mesmo com uma despensa bem abastecida se não tivesse um cozinheiro.
— Eu duvido disso. Você é uma pessoa capaz que descobriria. Você provavelmente compraria um livro de receitas e logo se tornaria um chef. Você tem bom senso e pensa no futuro. Você nunca é precipitado, não que eu tenha visto. — Ela sentiu as lágrimas brotarem ao compará-lo consigo mesma. — E você nunca pagaria a um homem para construir uma escada sem saber se ele realmente poderia fazer isso.
As lágrimas escorreram pelo rosto dela e ele a tomou nos braços. Tão decepcionada consigo mesma e com Edward, e especialmente com o tio de Edward, Charlotte não podia gostar de estar nos braços de Charles, apesar de tentar encontrar conforto lá.
Se ao menos ela não estivesse com tanta raiva de si mesma.
— Talvez o menino volte amanhã, — disse ele, — E você poderá descobrir onde mora o tio dele.
— E se ele não o fizer? — Ela disse contra seu casaco.
— Então eu devo ajudá-la a encontrá-lo de qualquer maneira. Edward Percy e o Sr. Tufts. Conheço alguns detetives em Whitehall que podem ajudar.
— Oh, que vergonha!
— Você não é a primeira a ser enganada por inescrupulosos. Provavelmente Tufts fez o máximo que pôde e então, quando não conseguiu continuar com a farsa, decidiu que pegaria o que já tinha recebido de você. Obviamente ele não seria capaz de terminar e recuperar o equilíbrio.
— Preciso encontrar um novo construtor, e rápido, mas o lugar que entrei me tratou como uma mulher boba. Acho que o balconista estava certo.
— Eu vou te levar de volta lá, — ele começou com uma carranca.
— Eles eram muito caros de qualquer maneira.
Charles parou um minuto.
— Eu mesmo me sinto bastante ineficaz. Nunca precisei contratar um operário e não saberia onde encontrar um. Quando nossa casa precisa de reparos, eu só digo... É isso! Meu mordomo sabe tudo! — Ele exclamou.
Surpreendentemente, sua declaração a fez sorrir.
— Ele sabe?
— Parece tão bobo. Eu deveria ter pensado nisso antes. Vou perguntar a ele sobre um construtor, e vamos começar suas escadas novamente em algum momento.
Ela olhou para ele.
— Eu estava pensando em como seria divertido ter uma fita azul amarrada no degrau inferior com uma placa que dizia: 'Suba logo.'
— E você deve fazer isso, — disse ele como se ela fosse uma criança.
Revirando os olhos, ela realmente se sentiu melhor.
— Assim que as escadas estiverem prontas, posso reabrir a loja. Vou precisar contratar alguém para substituir Edward. Todo aquele treinamento em fazer confeitaria desperdiçado! Sem falar no quanto gostei do menino.
Ele apertou seus ombros de forma tranquilizadora, e foi quase tão bom quanto compartilhar um beijo, sabendo que Charles se importava o suficiente para confortá-la. Ela cheirou seu aroma picante.
— Espero que Edward volte amanhã, mas não acredito que ele retorne, — acrescentou ela. E ela teve que pensar além do menino e sua traição desconcertante para o bem-estar da loja de sua família.
— A Rare Confeitaria vai se recuperar, e então vou procurar um repórter para me entrevistar sobre a loja e nossa expansão. Ele ou ela vai adorar tudo, e nossos clientes voltarão em massa, ansiosos para aproveitar o andar de cima também.
— Essa é minha garota, — disse ele. — Tudo parece sombrio, mas não será tão difícil de consertar.
Sua garota!
Ela esticou o pescoço para olhar para ele, ao mesmo tempo que ele olhava para ela. E seus pensamentos voltaram aos beijos, porque embora ser consolada fosse quase tão bom, não havia nada como compartilhar um beijo sensual. Quando ele colocou a mão sob seu queixo, ela separou os lábios.
— Charlotte, — ele começou.
— Charlotte! — Ecoou outra voz, não suavemente, mas fazendo seu coração bater com a mesma força. Realmente mais difícil!
E então aumentando um pouco mais alto, a voz veio novamente.
— Charlotte Rare Foure, venha aqui neste instante!
— Mãe, — ela exclamou.
Capítulo Vinte e Dois
Assim que Charles a soltou, o sentimento nauseante voltou instantaneamente. O refúgio de seus braços fez tudo parecer bem por alguns minutos. Endireitando os ombros, ela abriu as cortinas e caminhou até a frente.
Seus pais estavam próximos à pilha de destroços, ainda com suas roupas de viagem. Seu pai estava olhando para o buraco, enquanto sua mãe, com as mãos na cintura, fixou-a instantaneamente com seu penetrante olhar castanho.
— O que na Terra? — Felicity perguntou.
E então, como Charlotte sabia que ele faria, Charles passou pela cortina de veludo azul atrás dela.
Isso chamou a atenção total de seu pai.
— Bem, bem, — disse Armand. — O visconde. Na sala dos fundos, Sra. Rare Foure. — Ele trocou um olhar velado com a mãe de Charlotte ou o que ele pensava que estava velado.
A expressão de Felicity se suavizou consideravelmente.
— Bem, pelo menos temos boas notícias.
Instantaneamente, Charlotte pensou que sua mãe estava se referindo à saúde de seu pai.
— Papai está muito melhor. Posso ver pela cor em suas bochechas.
— Sim, claro, — disse sua mãe, — mas a sua boa notícia.
— Minha? — Charlotte perguntou. Como sua mãe poderia pensar que havia algo de bom no desastre em que todos estavam?
— Eu suponho que você tenha chegado a um acordo. Do contrário, por que Lorde Jeffcoat estaria na sala dos fundos?
— Oh! — Charlotte disse.
Charles, que havia permanecido em silêncio até aquele momento, deu um passo à frente e apertou a mão de Armand Foure antes de acenar para Felicity.
— Devo pedir desculpas se demos a aparência errada. Você vê, nós acabamos de descobrir alguns eventos bastante perturbadores, então eu estava fazendo chá, — ele parou com as expressões confusas nos rostos de seus pais.
— Você estava prestes a colocar seu avental também? — Armand perguntou, depois riu com vontade de sua própria piada. — Talvez você fosse colocar na frigideira e fazer alguns ovos e bangers.
— Pai! — Charlotte repreendeu. — O visconde teve a gentileza de ver que eu estava em apuros e tentei, oh! A chaleira! — Ela os deixou para desligar o fogão. — Devo fazer o chá de qualquer maneira?
— Claro, — disse a mãe. — Não há necessidade de desperdiçar água fervida. Então venha aqui e nos abrace.
Charlotte derramou a água sobre as folhas de chá, rapidamente colocou o cobertor sobre o bule e correu de volta para enfrentar seus pais, caso Charles estivesse sendo insultado ou pressionado ainda mais.
Sua mãe abriu os braços e Charlotte correu para seu abraço reconfortante. Ela sempre o considerou o melhor lugar em todo o mundo. Fragrância de calor e água de rosas a envolveu. E então, depois de sentir o beijo de sua mãe em sua têmpora, ela foi entregue ao outro melhor lugar para estar, envolvida nos braços fortes de seu pai. Ela tinha sentido falta de seu cheiro familiar de tabaco, feliz por ele estar em casa.
— Você está realmente se sentindo melhor?
— Sim, querida menina. Nada que o ar marinho e os copos de vinho do Porto não pudessem curar.
Ela suspirou, relaxando até que ele disse:
— É melhor você nos contar o que aconteceu com a loja antes que sua mãe tenha um ataque. Eu sei que ela se conteve o melhor que pode, mas uma explicação é necessária.
Ele a afastou dele e ela quase se moveu em direção a Charles. Afinal, o abraço dele havia se tornado outro de seus lugares favoritos. Olhando para ele, ele balançou a cabeça com encorajamento.
Charlotte respirou fundo.
— Surpresa! Estou expandindo a Rare Confeitaria para cima. Isso é o dobro do espaço para clientes. Com espaço para uma lanchonete para vender café, chocolate quente e chá, além de nossa confeitaria, e talvez alguns biscoitos ou até mesmo bolos? — Ela desejou não ter terminado com uma nota incerta e questionadora, mas ela estava se sentindo impossivelmente insegura de suas ações.
Sua mãe franziu a testa.
— Não conversamos sobre um café antes de eu ir embora?
— Sim, mãe. Mas seria bem aqui. — Charlotte gesticulou para o buraco aberto e feio. — E eu tive que dizer sim ao Sr. Richardson porque ele tinha alguns inquilinos barulhentos esperando pelo espaço.
— O que você quer dizer com disse sim? — Felicity perguntou.
Charlotte teve que confessar.
— Quer dizer, assinei um contrato de arrendamento por três anos.
Seu pai soltou uma risada.
— Você criou uma miniatura de você, Sra. Rare Foure, exceto que você teria exigido cinco anos a uma taxa mensal fixa.
— Certamente, — disse sua mãe. — Vou falar com o senhorio imediatamente por tentar enganar minha filha, quando temos sido bons inquilinos todos esses anos.
— Então você não está com raiva? — Charlotte perguntou.
— Eu posso ver que você foi pega em uma posição difícil. Naturalmente, eu preferia que você tivesse me contatado
— Eu teria se ele tivesse me dado mais tempo.
Sua mãe apertou os lábios.
— Mais uma vez, terei umas palavras com ele. Ele sabia o que queria ao pressioná-la.
— Lorde Jeffcoat examinou o contrato para ter certeza de que nada estava errado.
— Ele fez isso agora? — Comentou seu pai.
Charlotte revirou os olhos. Seus pais já os tinham no altar, trocando votos.
— Termine, Charlotte, — Sua mãe solicitou. — Vamos para a casa de Amity a seguir para ver como ela está se sentindo.
— Ela está se sentindo redonda e exausta, — Charlotte disse a ela. — E Beatrice foi para a Escócia.
— Eu sei. E tempo ruim. Mas o que deu em você para tentar construir escadas por conta própria?
— Isso também é obra sua, Jeffcoat? — Seu pai perguntou com bom humor. — Fazer chá, ler contratos, martelar e serrar tudo pelo bem da minha filha mais nova?
Charlotte observou as bochechas de Charles ficarem vermelhas e então respondeu por ele.
— Infelizmente, a escada, ou a falta dela, são obra de um construtor que temo ter fugido com nosso dinheiro.
Pela primeira vez, seu pai parecia realmente irritado.
— Ele fez, não é? Bem, isso não vai durar, eu posso te dizer. Vou caçá-lo, não se engane.
Sua mãe deu um tapinha em seu ombro.
— Não se preocupe, meu amor. Não há ar puro do mar aqui para restaurá-lo. — Então ela olhou para Charlotte. — Mais alguma coisa? Conte-nos tudo e então deixaremos vocês dois... para tomar seu chá.
Charlotte sentiu suas próprias bochechas esquentarem. Que seus pais considerassem permitir que ela e o visconde ficassem sozinhos depois de descobri-los era incrivelmente impróprio. Talvez tenha sido um teste.
Como se sentisse a mesma coisa, Charles disse:
— Agora que você está aqui para... apoiar a Srta. Rare Foure, vou me despedir. Tenho mandados de tribunal para trabalhar. Foi bom ver vocês dois novamente, — acrescentou.
Virando-se para Charlotte, ele pegou a mão dela e formalmente se curvou como se eles estivessem em um baile, em vez de no meio de uma loja em ruínas.
— Espero vê-la novamente em breve. — Seus olhares se encontraram, e todos os sentimentos crescendo entre eles pareciam estar aparentes nas profundezas de seus olhos azuis.
— Sim, — ela disse, então tossiu em seu tom ofegante na frente de seus pais, especialmente quando ela ansiava por um beijo de despedida.
Ela podia ver que Charles conhecia seus pensamentos quando seu olhar foi para seus lábios, então de volta para seus olhos. Ele sorriu, sua covinha aparecendo.
— Vou mandar um convite para sua casa.
Ela assentiu.
— Obrigada por toda a sua ajuda, especialmente hoje em Covent Garden.
— Covent Garden? — Sua mãe perguntou.
Com isso, o seu visconde despediu-se, sabendo que ela tinha muito para contar aos pais. Depois que a porta se fechou atrás dele, Charlotte considerou a situação.
— Talvez você deva ficar para o chá, afinal, porque vai demorar um pouco para alcançá-lo. Ou podemos abandoná-lo e ir para a casa de Amity. Eu posso explicar isso facilmente para você lá.
— Desperdiçar um bule de chá, — Disse a mãe. Então ela se iluminou. — Vamos levá-lo conosco.
O pai de Charlotte riu até chorar.
— Como se alguém fosse querer estar em sua carruagem com uma bebida quente.
Sua mãe olhou para ele.
— Definitivamente, comemos chocolate em canecas enquanto estávamos em um trenó. Lembro-me daquele Natal na França na fazenda de seu pai.
— E Beatrice derramou a dela no cobertor. Parece bom, mas eu, pelo menos, não quero chá escaldante derramando no meu colo. É incivilizado.
— Muito bem, — disse Felicity. — Vamos tomar uma xícara aqui e depois ir para a casa de Amity. Apresse-se, — ela ordenou a Charlotte. — Vá encontrar três canecas e sirva. Contanto que você tenha leite. Afinal, não somos selvagens.
Charlotte correu para a sala dos fundos.
— Não dá para desperdiçar um bule de chá, — ela ouviu a mãe acrescentar.
Felicity era econômica, mas nunca barata. Como ela suportaria a perda de renda, Charlotte não podia adivinhar, mas acalmá-la com um chá forte e com leite era um bom começo.
— Onde está Edward? — Ela gritou.
Seria uma longa tarde de explicações, mas com sorte Amity e seu duque colocariam um bom jantar na mesa e tomariam um pouco de conhaque suave depois. Todos eles iriam precisar.
NA MANHÃ SEGUINTE, NEM Edward nem seu tio apareceram para trabalhar, e Charlotte sentiu-se realmente triste. Ela decepcionou sua família pelo menos duas vezes.
Felizmente, sua mãe estava animada com a expansão do andar de cima, e quando Charlotte fez um esboço das mesas que ela encomendou, Felicity aprovou.
Foi tenso durante o café da manhã, no entanto, quando sua mãe insistiu em ler o artigo depreciativo da confeitaria. Armand teve de convencê-la a não ir ao escritório da editora em busca do repórter. Sua mãe queria dar à mulher uma conversa séria.
Isso não resolveria nada. O que eles precisavam era começar a trabalhar e ter uma boa publicidade superando as ruins.
— Devíamos processá-la por difamação, — disse Felicity, — Agora que temos um advogado praticamente na família.
Charlotte ignorou suas palavras. Ela dissera algo semelhante três anos antes, quando Amity estava noiva de um advogado, e não deu em nada. Obrigado Senhor! Um duque era infinitamente melhor do que um advogado. Mas um visconde que também era advogado era um peixe de outra escala!
— Devíamos processar aquele charlatão que se disfarça de construtor, — disse o pai em vez de acalmar ainda mais a mãe.
Charlotte sabia que seria melhor obter um plano de ação antes que seus pais iniciassem um litígio contra todos. Eles também não aceitaram com bons olhos a perda da conta do Great Western Hotel, mas pelo menos não era uma ofensa passível de ação penal. Ela esperava.
— Tudo depende de reabrirmos a loja, — apontou Charlotte.
— Nossa filha está certa, — disse Armand. — Eu sei onde encontrar um carpinteiro profissional, mas os bons geralmente não estão disponíveis em curto prazo. Veremos o que podemos fazer.
— Se Lorde Jeffcoat se lembrasse, — Charlotte disse a eles, — Então ele iria perguntar a seu mordomo sobre conseguir um construtor.
O silêncio cobriu a mesa. Então seus pais riram.
— Ele vai pedir ao mordomo! — Seu pai exclamou.
Charlotte franziu a testa.
— Foi legal da parte dele oferecer. Afinal, se um nobre precisa de algum trabalho, ele pede a seu mordomo que encontre alguém para fazê-lo, e eles provavelmente encontrarão pessoas se atropelando para fazê-lo.
— Nossa filha está certa de novo, — disse Felicity. — Mas acho que você também deveria olhar, meu amor, — disse ela ao marido. — Por via das dúvidas, o visconde não segue adiante.
— Se ele está tentando conquistar o coração de Charlotte, tenho certeza que o fará, — declarou Armand.
Seus pais se voltaram para ela em busca de confirmação. Ela apenas deu de ombros, incapaz de evitar o sorriso de seus lábios.
— Ha! Eu sabia, — disse sua mãe. — O que eu disse a você sobre aquela sala dos fundos?
A romântica sala dos fundos em que ela quase ficou noiva.
— Você está suspirando, — disse a mãe.
— Eu estou? — Ela perguntou.
Um barulho repentino de batida vindo do corredor fez seu pai se levantar. Depois de um momento, ela o ouviu dizer:
— De jeito nenhum. Entre, entre. — O formigamento na nuca não deixou dúvidas de quem era, mesmo antes de Lorde Jeffcoat aparecer atrás de seu pai.
Seus olhos se encontraram e, por um momento, foi como se estivessem sozinhos. No instante seguinte, ela sentiu a estranha sensação de pertencer, como se Charles já fosse seu homem, seu amado, seu pretendido. Ela queria se levantar e deixar que ele segurasse suas mãos, como se cumprimentasse seu próprio marido.
Como apropriado, ele cumprimentou sua mãe primeiro e depois Charlotte, desejando a cada uma um bom dia, antes que seu pai gesticulasse para que ele tomasse um lugar vago à mesa. Charles recusou.
— Como eu disse ao Sr. Foure, peço desculpas por me intrometer antes do horário de visita educado, mas eu queria oferecer meus serviços em procurar Edward e seu tio. Além disso, meu mordomo me deu o nome de um construtor respeitável.
Ela e seus pais se entreolharam, e sua mãe acenou com a cabeça significativamente para o pai, como se isso selasse as núpcias de casamento iminentes.
Então Charles deslizou seu cartão de visita sobre a mesa com um nome rabiscado nele.
— A disponibilidade do carpinteiro é, naturalmente, desconhecida, mas ficaria perfeitamente feliz em emprestar meu nome se isso agilizar a construção de sua escada.
— É muito gentil da sua parte, — disse Felicity.
Charles fez uma careta.
— Como você deve saber, mesmo nos dias de hoje, depois de duas grandes nações terem feito revoluções pela liberdade, ainda é o caso que aqui na Grã-Bretanha um nobre recebe tratamento preferencial pela classe exata que deveria buscar igualdade.
Charlotte piscou.
— Quão autoconsciente de você, meu lorde. Minha irmã Beatrice aprovaria.
— E você, Srta. Rare Foure? — Ele fixou seu rico olhar azul sobre ela.
— Estou simplesmente grata por sua ajuda. Temo ter feito uma bagunça nas coisas ...
— Não, de jeito nenhum, — disseram três vozes ao mesmo tempo.
— Você se saiu bem sob a pressão de não ter nenhuma de suas irmãs para ajudar e um senhorio agressivo, pressionando você. — Sua mãe disse isso com óbvio orgulho.
— E ela não poderia saber que o jovem Percy, que parecia ser de primeira, provaria ser um malandro, — disse Charles.
Doeu no coração de Charlotte acreditar no pior de Edward.
— Se ele é um malandro, como você diz, então qual é o sentido de procurar ele ou seu tio?
— Satisfação, — disse Charles.
— Muito certo, — seu pai concordou. — Por que você não vai com o rapaz e vê se consegue caçar o menino e até o tio dele. Isto é, se o advogado aqui achar que podemos obter qualquer restituição. E sua mãe e eu faremos uma visita a este construtor.
Ela se virou para seus pais.
— Eu sinto muito por ter nos forçado a esta situação.
— Mas ela pode ter recuperado a conta do Langham, — Charles apontou em seu nome. O abençoe!
— Reúna sua criada como acompanhante, Srta. Rare Foure, e iremos nos aventurar para o leste em busca dos Percy.
Capítulo Vinte e Três
Poucos minutos mais tarde, Charlotte encontrou-se na carruagem luxuosa do visconde, com Delia ao seu lado, passando pela The Worshipful Company of Carpenters na London Wall Road. Com pesar, ela espiou pela Avenida Throgmorton até sua entrada antes que ele desaparecesse de vista. Era onde ela deveria ter ido primeiro para encontrar um construtor respeitável. Tudo o que ela sabia, porém, era que Edward estava a uma — distância curta — da bomba d'água de Aldgate, como ela disse a Charles.
— Existe uma delegacia de polícia que cuida dessa parte da cidade, — disse ele. — Podemos começar por aí e perguntar o sobrenome dele e o do tio.
Foi o que eles fizeram. Dentro de duas salas apertadas, policiais circulavam. Duas celas estavam à vista, uma segurando mulheres em vários estágios de nudez que haviam sido apanhadas durante as horas anteriores, e a outra segurando homens por várias infrações.
— Você pode esperar na carruagem se quiser, — Charles disse a ela pela segunda vez em menos de um minuto. Na verdade, eles convenceram Delia a ficar dentro da carruagem fazendo seu tricô, já que Charlotte não poderia sofrer nenhum dano em uma delegacia.
— Tenho certeza de que posso lidar com qualquer coisa que possa encontrar aqui, — disse Charlotte. — Eu não sou uma de suas nobres mulheres que desmaiam com cães vadios e seguram seus lenços cheirosos sobre seus rostos ao primeiro sinal de uma pessoa pobre.
Ela desejou não ter soado afiada, mas ela estava irritada porque o nome do visconde por si só traria para sua família um bom construtor e em pouco tempo. Ela deveria ter sido capaz de fazer isso sozinha.
— Você veio me pagar bem, amor? — Uma mulher gritou, assustando Charlotte, embora ela soubesse que era Charles quem estava sendo abordado. — Farei com que valha a pena.
A maioria das mulheres riu, mas algumas simplesmente pareciam desesperadas, e Charlotte desejou que esta parte do mundo de Edward em Londres não existisse. Ou, se fosse necessário, ela gostaria de entender por que os londrinos mais ricos não cuidavam melhor dos mais desafortunados. Parecia que todas as leis para os pobres eram destinadas a punir as pessoas pelo pecado de serem pobres, e a punição significava asilos ou, pior, a prisão.
— Sei que é difícil testemunhar, — disse Charles, como se lesse seus pensamentos, — Mas meus colegas no Parlamento, bons homens como o duque de Pelham, estão trabalhando para melhorar a vida dessas pessoas.
Assentindo, ela ficou perto dele enquanto se aproximavam de um dos policiais que trabalhava em uma mesa.
— Eu sou Lorde Jeffcoat, — Charles começou, chamando a atenção do homem e também das pessoas ao seu redor que podiam ser ouvidas.
Charlotte tinha visto isso acontecer com o marido de Amity. Havia algo mágico na reação a um nobre, especialmente em um lugar ao qual ele não pertencia, como uma delegacia de polícia ou uma confeitaria. Ela tinha certeza de que seu pai experimentara o mesmo apenas entregando a um construtor o cartão de visconde.
— Sim, meu senhor. Como posso ajudá-lo?
— Procuro uma família que vive perto da bomba de Aldgate com o nome de Percy ou Tufts.
O bobby franziu a testa.
— Não conheço nenhum Percy, mas regularmente ficamos de olho em Archie Tufts. Um péssimo ali, sempre parece ter coisas de outra pessoa ou é pego vendendo. Ele foi trazido mais vezes do que posso contar, mas nunca teve o mesmo endereço duas vezes.
Charlotte estremeceu com a ideia de que ela estava sozinha na loja com um homem “mau”.
— E você nunca ouviu falar de uma família na área com o nome de Percy? — Charles persistiu.
— Não, meu lorde. Talvez você possa encontrar um endereço para eles no Escritório do Censo.
Charles já havia dito a ela que achava muito mais provável que um membro da família acabasse encontrando a polícia do que respondendo a um censo. A maioria das pessoas nos bairros mais pobres de Londres temia o objetivo da contagem de funcionários, temendo que isso significasse mais impostos.
— Como o último censo foi em abril de 1871, oficial, duvido que isso nos ajude muito. Como você sabe, os mais pobres entre nós não mantêm as mesmas moradias por muito tempo. Você se importaria de dar uma olhada em seus registros primeiro, meu bom homem? Caso você tenha esquecido o nome.
— Claro, meu senhor. — Ele escreveu Percy em um pedaço de papel e chamou outro homem com uma cabeleira ruiva. — Vá para o porão, Nigel, e veja se consegue encontrar um endereço. Também para Tufts.
— Velho Archie? — Perguntou o ruivo.
O oficial encolheu os ombros. Mas quando o homem chamado Nigel suspirou, o oficial acrescentou:
— Para o seu Senhorio, aqui.
O ruivo chamado Nigel endireitou e com um pouco mais de entusiasmo disse:
— Sim, senhor.
— A pouca distância da bomba Aldgate, — Charlotte ofereceu.
Os dois policiais olharam para ela antes de Nigel acrescentar:
— Vou fazer o meu melhor, minha senhora.
Ela se sentiu um pouco tola, especialmente quando Charles não o corrigiu. Obviamente, as informações sobre a bomba não foram úteis. Ou eles tinham um endereço ou não.
— Quanto tempo você acha que vai demorar? — Ela perguntou ao policial sentado.
— O tempo suficiente para que você e seu Senhorio possam querer ir embora e voltar, — disse o homem. — Nigel fará o seu melhor.
Charles a acompanhou para fora, e eles levaram sua carruagem, com Delia ainda tricotando, para a bomba com sua lanterna de coroação.
— Agora o que vamos fazer? — Ela perguntou, enquanto eles olhavam para o que tinha sido o abastecimento de água para um bairro inteiro até apenas três anos antes.
— Água que dá vida, — o visconde murmurou. — Ou morte.
— De fato. — Nenhuma alma em Londres não tinha ouvido a história chocante do século 16 contaminado bem abaixo da bomba. No início, os East Enders elogiaram o sabor da água até que ela ficou horrível, e o alto conteúdo mineral revelou ser restos humanos sugados de cemitérios próximos.
Charlotte estremeceu, pois mesmo então, um homem estava bebendo dela, não mais bombeando a alça de ferro forjado, mas usando uma xícara de lata presa a uma corrente e pressionando um botão de latão instalado pela New River Company que tinha redirecionado água limpa para o Aldgate. Observando-o, ela teve dificuldade em engolir com a memória das centenas que morreram bebendo a água do poço.
Com um sorriso, o homem tirou o chapéu para ela e subiu a rua Fenchurch. A próxima da fila, uma mulher velha e atarracada, encheu dois jarros de barro, e Charlotte imaginou que provavelmente o usara quando estava bombeando água de poço, e provavelmente para toda a vida.
— Não há nada de errado com isso, — a velha exclamou, vendo Charlotte olhando para a torneira com cabeça de lobo de latão. A velha senhora o acariciou com ternura e desceu a rua Leadenhall. Ele supostamente representava o último lobo morto na grande Londres.
— Talvez devêssemos voltar para Covent Garden, —disse Charlotte. — Talvez a mãe de Edward esteja lá novamente.
— Sem doces para vender, improvável. — Charles estava de olho na área circundante. — À distância de uma cusparada, disse o menino.
— Ele disse. — Ela seguiu seu olhar ao redor do cruzamento. Atrás deles havia um banco; na outra esquina, uma pequena mercearia, uma tabacaria e uma impressora. Acima do banco, ela poderia dizer que havia outros negócios sérios com sombras escuras puxadas para baixo. No entanto, acima das lojas do outro lado da rua, as janelas que dão para a praça podem conter pequenos apartamentos. Eles tinham cortinas floridas ou lençóis surrados, dependendo dos recursos financeiros dos ocupantes.
E então ela viu Charles se assustar.
— Não é aquela mulher de Covent Gardens? E Edward com ela?
Charlotte se virou. No início, ela não viu o que ele queria dizer. Então o flash de uma capa azul chamou sua atenção do outro lado da rua, vindo em sua direção. Edward estava caminhando ao lado da mulher, e duas crianças mais novas estavam na frente deles.
— Você tem olhos muito bons para um homem que usa óculos, — disse ela a Charles.
— Eu preciso deles apenas para leitura. À distância, tenho olhos de falcão.
— Certamente você tem — ela concordou, mantendo seu olhar na pequena família. — Ele ainda não nos viu. O que deveríamos fazer?
— Suponho que podemos abordá-los. Acho que posso proteger você de uma mãe e seus três filhos.
O tom provocador a fez olhar para ele.
— Talvez sim, meu lorde, mas não imaginaria suas chances contra minha própria mãe se ela estivesse protegendo a mim e minhas irmãs.
Seu rosto ficou sombrio.
— Nem todas as mães são como a sua, Srta. Rare Foure.
E então eles cruzaram a estrada entre cavalos e carruagens e outros pedestres. Calmamente, eles interceptaram os quatro Percys em frente a um pub aconchegante que claramente estava lá desde o século anterior.
— Sra. Percy, — disse Charlotte, — Posso falar com você? — Ela ignorou os olhos arregalados de Edward e a maneira como seu olhar disparou dela para Charles e para sua mãe. Claramente, ele estava confuso com a aparência deles e não sabia se devia ficar ou fugir.
E Charlotte viu o momento em que sua mãe se lembrou dela também. Ela provavelmente não teria se Charlotte estivesse sozinha, mas ela estava ao lado do belo visconde, que era sem dúvida inesquecível. O rosto da mulher empalideceu.
— Você comprou doces de mim outro dia.
— Sim, — Charlotte disse. — Eles eram meus. Sou a Srta. Rare Foure.
— Rare Confeitaria, — Sra. Percy sussurrou.
Charlotte concordou.
A mulher olhou para Edward.
— Ela é sua chefe?
— Sim, mãe. — Ele segurava um de seus irmãos pela mão, uma menina com um vestido remendado. Na frente deles estava um jovem garoto, também com roupas bem usadas, provavelmente usando as roupas que foram de Edward.
— O que você vai fazer? — A mulher perguntou, e pela primeira vez ela olhou ao redor. — Você chamou a polícia?
Charlotte quase podia sentir o cheiro de seu medo.
— Não, viemos falar com você e com Edward, e se possível, com seu irmão.
— Meu irmão? — Ela exclamou. — Eu não sei do que você está falando. Eu não tenho irmão.
— Sr. Tufts, — Charlotte disse, olhando para Edward e segurando seu olhar. Ele parecia envergonhado, envergonhado, embaraçado e assustado ao mesmo tempo. — Você disse que ele era seu tio.
— Caramba! — Disse sua mãe. Por um momento, Charlotte pensou que a mulher iria desmoronar ou começar a chorar, mas se endireitou, erguendo a sacola de compras no quadril como se fosse um bebê.
— Nós moramos no andar de cima, — ela apontou para o pub The Three Vassouras. — Dois lances de escada acima, se você quiser entrar e conversar.
— Mãe, — Edward disse em um tom de advertência.
— Está tudo bem, amor. Ele não estará de volta por horas.
Charlotte imaginou que o — ele — era Archie Tufts e ficou extremamente feliz por ter Charles com ela. Olhando para ele agora, ele acenou com a cabeça, e assim, eles decidiram entrar em uma residência do East End. Que aventura!
— É a segunda porta, — a Sra. Percy indicou.
Só então, Charlotte ouviu seu nome e percebeu que era Delia.
— E agora, senhorita, onde você está indo? — Delia, que estava esperando na carruagem, se apressou, obviamente não querendo deixar a Rare Foure mais nova desaparecer de sua vista. Afinal, aquela não era uma delegacia de polícia. Houve gritos altos e risos vindos de dentro do pub e, mesmo assim, um homem saiu aos tropeções seguido por uma mulher seminua.
Recebendo um olhar questionador da Sra. Percy, Delia ergueu a cabeça.
— Eu sou sua acompanhante, — ela declarou com um senso de importância totalmente injustificado na opinião de Charlotte. Na verdade, foi um pouco mortificante.
— Eu vou ficar bem, — ela disse a Delia, — Eu estou perfeitamente segura.
— Claro, ela esta — Sra. Percy disse com um bufo, provavelmente incapaz de imaginar qual era o propósito de Delia.
Pensando que o quarto ou quartos do andar de cima deviam ser pequenos e que o assunto de roubo e desonestidade poderia trazer algumas palavras acaloradas, Charlotte decidiu manter sua empregada fora disso.
— Por favor, volte para a carruagem, Delia. Voltaremos em breve.
Sua criada franziu os lábios, mas acabou acenando com a cabeça. Charles, agindo como porteiro, abriu e gesticulou para que todos entrassem. Atrás da porta havia uma escada íngreme, lembrando Charlotte daquela ao lado da Rare Confeitaria, exceto no patamar, eles continuavam subindo outro lance.
Era lento com as crianças pequenas na liderança.
— Depressa, Emma. Vamos, Albert, — Edward pediu aos irmãos mais novos, parecendo ansioso.
— Deixe-os em paz, — disse a mãe. — Foi um longo dia e ainda não acabou.
Capítulo Vinte e Quatro
Justo antes de Charles fechar a porta atrás dele, ele pegou seu cocheiro olhando, dando-lhe um aceno de cabeça. Ele queria ter certeza de que o homem sabia onde ele estava, caso houvesse problemas.
Assim que entraram no apartamento, a situação sombria dos Percys tornou-se aparente como uma lâmpada de chão solitária, sem aquecimento, sem carpetes. Servindo de cozinha havia uma pequena pia lascada com uma única torneira e um pequeno fogão, como o da fabricante de travesseiros, sem forno. Uma mesa parecia ser usada tanto para preparar alimentos quanto para comê-los. Havia cadeiras suficientes para quatro. A única outra coisa na pequena sala era uma pilha de peças, espalhadas em um pano em um canto, provavelmente para manter o tecido limpo.
Através de uma porta aberta sem portas nas dobradiças, Charles pôde ver que havia colchões no chão.
E essa família foi uma das sortudas, tendo um quarto separado para dormir, uma pia com água corrente, se de fato saísse da torneira, e aparentemente apenas uma família para dois quartos. Esses eram luxos que poucos podiam pagar. Em um piscar de olhos, ele podia ver por que Edward tinha feito o que ele fez.
— Vá em frente, vocês dois, — disse a Sra. Percy, enviando seus pequeninos para o quarto. — Brinque em silêncio e não saia até que eu diga a vocês.
Charles se perguntou o que eles tinham para brincar e tentou engolir o nó de sua garganta. Uma coisa era estar no Parlamento, a par de relatórios sobre os pobres. Outra era conhecer alguém como Edward e entrar em sua casa.
— Estamos com fome, — disse aquele chamado Albert, provavelmente batizado em homenagem ao Príncipe Consorte, como tantos garotos tinham feito nas últimas duas décadas desde sua morte.
Não surpreendentemente, Charlotte procurou em sua bolsa um saco de doces, tirou-o e entregou a coisa toda para Edward distribuir para seus irmãos mais novos.
— Eu sinto muito. Eu deveria ter perguntado primeiro, — ela disse quando notou a Sra. Percy olhando.
— Não, não é isso, — disse a mãe. — Mas eu poderia vendê-los e ter o suficiente para comprar pão por uma semana.
As bochechas de Charlotte ficaram rosadas e, novamente, ela murmurou:
— Sinto muito.
— Está tudo bem. Eles não provaram nada disso antes, exceto o que Edward comprou na Páscoa. — Ela colocou uma sacola de crochê na mesa, e Charles pôde ver através da rede que havia batatas e cebolas nela. E, com sorte, algo fortificante do açougue, embrulhado no papel branco, que ele podia ver. Ele se perguntou se ela alguma vez comprou agrião.
Edward levou seu irmão e irmã mais novos para a sala ao lado, e os adultos, esperando em silêncio por seu retorno, puderam ouvir os gritos de alegria do menor Percy. Pela expressão no rosto de Charlotte, ela desejou ter mais para dar a eles.
— Você se importaria de se sentar? — Sra. Percy perguntou. — Não posso oferecer chá quando saímos, mas você não precisa ficar parado como se estivesse esperando o ônibus.
Para não ofender, Charles puxou uma cadeira para Charlotte, que ela graciosamente pegou, depois foi fazer o mesmo para a Sra. Percy, mas ela parecia ofendida. Ele esperou que ela se sentasse. Quando ela não fez isso, mas apenas olhou para ele, duramente, contra toda a cortesia comum, ele finalmente se sentou.
O que agora?
Felizmente, Edward voltou e sentou-se na cadeira em frente a Charlotte, para que as explicações pudessem começar.
— Sinto muito, senhorita, eu realmente sinto, — ele começou.
— Não diga nada, — sua mãe o advertiu.
— Sra. Percy, — Charles começou, — Nós não somos a polícia, mas já sabemos que Edward roubou doces da Srta. Rare Foure e os entregou a você. Não adianta negar o óbvio.
— Eu não roubei da Srta. Rare Foure, — Edward protestou. — Eu... eu só retirei alguns doces das minhas entregas. Mas eu te dei todo o dinheiro, — ele disse olhando para Charlotte. — Eu não guardei um centavo, nem um centavo.
— Então você roubou os hotéis e os restaurantes, — Charles disse, pensando que Charlotte poderia ter um coração mole demais para dizer o óbvio.
— Sim, senhor, — Edward concordou, — mas... não é dinheiro. Eu nunca roubaria dinheiro.
Charlotte suspirou.
— Edward, de certa forma, você fez. Não consigo recuperar alguns desses contratos, de modo que o dinheiro desapareceu da loja. E era com a receita que eu contava.
Edward abaixou a cabeça. Sua mãe não disse nada, simplesmente olhando entre seus dois convidados inesperados e seu filho. Agora, ela se sentou pesadamente na última cadeira e fixou em Charlotte um olhar desesperado.
— Você está processando meu filho? — Ela exigiu.
Charles pensou que ela seria beligerante, mas sua voz falhou na última palavra. Então a Sra. Percy acrescentou: — Lembre-se, ele fez bem com você, senhorita, trabalhando como alguém com o dobro de sua idade. Eu sei como meu filho é confiável. — Suas palavras terminaram em um estremecimento de emoção.
— Não, — Charlotte disse sem hesitação. — Não vou apresentar queixa contra ele.
— Oh! — Disse a mulher, recostando-se. — Contra mim, então? Você arrancaria uma mãe de seus três filhos? Eu trabalho duro como finalizador de camisas por 3 xelins por semana. Se eu pudesse pagar uma máquina, — ela parou soando mais desesperada. — Mas você não pode me mandar para Newgate.
Edward saltou em sua defesa.
— Não, mãe, a senhorita Charlotte nunca faria isso.
— Ele está certo, — Charlotte assegurou a mulher.
Charles sentiu que toda a cena parecia tirada de um romance de Dickens. Muito clichê de longe, muito banal e muito triste quando era a vida real.
— Então por que você veio aqui? — Sra. Percy exigiu.
— Edward não apareceu para trabalhar, nem o Sr. Tufts, — Charlotte apontou.
Mãe e filho trocaram um olhar. Por um momento, Charles se perguntou como seria ter um relacionamento tão próximo com sua própria mãe que eles pudessem se comunicar com um olhar rápido.
— Quem é esse Tufts realmente? — Ele perguntou.
Edward olhou para a mesa. Sua mãe respirou fundo e suspirou.
— Ele foi para o asilo no ano passado por conta de contas não pagas. Eles nos separaram como se fôssemos gado. — Então ela se endireitou. — A cólera levou meu marido, ou foi o que me disseram. O Sr. Tufts também estava lá, na mesma enfermaria que meu Richard. Quando o Sr. Tufts saiu, ele me encontrou e aos pequeninos além da esperança, morando em um único quarto com outra família, na Whitechapel Road. Ele disse que meu marido pediu a ele para cuidar de nós e nos mudou para cá.
— Eles eram amigos? — Charles perguntou.
A mulher deu de ombros, parecendo cansada. Foi Edward quem falou em seguida.
— Sr. Tufts me disse para dizer a todos que era meu tio. Sinto muito, senhorita.
— Foi ideia dele que você guardasse alguns dos doces que deveriam ser entregues? — Charlotte perguntou ao menino.
— Sim, senhorita, — Edward disse, sua voz quase um sussurro.
— Ele estava certo sobre vendê-lo em Covent Garden. Fácil como cair de um tronco, — disse a Sra. Percy.
— Ele é realmente um construtor? — Charles perguntou, imaginando a audácia da mulher exultando sobre como ela vendeu doces roubados tão facilmente.
Mãe e filho trocaram olhares novamente.
— Não sabemos o que ele fez antes, — disse a Sra. Percy. — Ele queria tudo o que eu ainda tinha do meu marido. Disse que meu Richard havia prometido tudo a ele.
— Mas ele não é um construtor, — acrescentou Edward. — Ele roubou as ferramentas de algum lugar depois que cheguei em casa e disse à minha mãe sobre a expansão da loja. Ele estava ouvindo e disse que eu precisava apresentá-lo.
Charles olhou para o rosto de Charlotte. Ela estava calma e receptiva, não histérica ou zangada com o engano perpetrado sobre ela.
Em seguida, ela perguntou:
— Você sabia que ele iria estragar tudo?
As bochechas de Edward ficaram rosadas.
— Eu não tinha certeza, senhorita. Eu esperava que ele soubesse o que estava fazendo.
Charles olhou para o rosto pálido da Sra. Percy e o envergonhado de seu filho.
— Por que vocês dois o estão ajudando?
— Ele nos deixa viver aqui, — disse a Sra. Percy. — Do contrário, estaríamos na rua ou no asilo, e meus filhos iriam parar Deus sabe onde.
— E ele tem um temperamento, — Edward disse baixinho, fazendo Charles revirar o estômago. A ideia de um homem adulto cometendo violência contra uma família e era a família de outro homem que o deixava doente.
— Ele não é tão ruim, — disse a Sra. Percy. — Não vivemos com medo constante, como alguns que conheço, e ele não nos mantém aqui. Nós poderíamos sair se quiséssemos.
— Se você tivesse um lugar para ir, mas ele sabe que você não tem — Charlotte apontou.
— Não tenho como ganhar dinheiro, exceto com o trabalho por peça, — disse ela, apontando para a pilha de tecidos. — Acabamento de camisa — acrescentou ela, olhando para Charles como se fosse sua culpa que ela precisasse costurar. — É horrível de fazer e paga pior do que colher lúpulo, mas o dinheiro de Edward e o meu pagam pela comida e parte do aluguel.
— E como o Sr. Tufts ganha a vida quando não está fingindo ser um construtor? — Charlotte perguntou.
— Ele não é um fugitivo, — Edward disse. — Ele nunca fica parado. Às vezes, ele dá uma esquiva de bisturi
— Uma o quê? — Charlotte perguntou.
— Ele finge estar ferido para esmolar, — Charles disse a ela.
— Certo, meu lorde, — disse Edward, parecendo impressionado.
— Um lorde! — Sra. Percy exclamou, empurrando sua cadeira para trás. — Ora, eu nunca!
— Ele é um visconde, mãe, — Edward disse, parecendo mais com seu antigo eu, agora que ele sabia que nem ele nem sua mãe seriam acusados.
Charles não queria se tornar o assunto da conversa.
— Então, Tufts implora para ganhar esmola?
— Ele também é insignificante, um aproveitador e um sarcástico, — Edward continuou, — sem mencionar um caminhão de limpeza, um arrastador e um soletrador usando farrapos pesados.
— Nada disso parece bom, — Charlotte disse, olhando para Charles em busca do significado, mas desta vez ele estava tão perdido quanto ela.
— Farrapos são dados, — ele ofereceu desajeitadamente.
O menino acenou com a cabeça, assim como sua mãe, que acrescentou:
— Ele tem um monte de ostentação em qualquer caso, para alguém sem emprego fixo, exceto por ser um ferrador habilidoso. Um batedor de carteira, entendeu?
Charles concordou. De todas as pessoas que Charlotte poderia ter escolhido para construir uma escada!
— Ele disse que você era a pomba perfeita, — Edward acrescentou, olhando para Charlotte.
— Uma pomba? — Ela repetiu.
— Uma vítima, — Charles explicou, tendo ouvido a expressão muitas vezes nos tribunais.
— Oh. — Com isso, Charlotte se levantou, forçando Charles a fazer o mesmo. Ela caminhou pela pequena sala. — Não estou particularmente satisfeita em ser uma pomba, — disse ela. Então ela olhou para Edward. — E prometi ao gerente do Langham que cuidaria do problema com as entregas que se aproximam. Como você acha que eu deveria fazer isso, Edward?
Ele engoliu em seco, parecendo menos falante novamente. Charles sentiu pena do menino e os dois esperaram que Charlotte o despedisse ali mesmo.
— Eu vou te dizer como, — ela adicionou. — Eu acho que você deveria trabalhar muito duro para mim e minha família, e até mesmo dedicar algumas horas de graça para compensar isso. Em troca, não vou deixar você ir. Mas você nunca deve comprometer o bom nome da Rare Confeitaria novamente. Se não pode me prometer isso, diga isso e deixe meu emprego.
Charles ficou impressionado com sua generosidade, assim como a Sra. Percy.
— Obrigado senhorita. Ele estava apenas fazendo o que era forçado a fazer. Mas meu menino não vai decepcionar você de novo, vai? — Ela se virou para o filho.
— Não, — Edward disse, sua voz um pouco mais firme.
— O que acontecerá quando o Sr. Tufts retornar, — Charles perguntou, olhando para a mãe de Edward, — E esperar que seu filho continue fornecendo doces para você vender?
— Eu já disse a ele que fui descoberto, — disse Edward.
— Suponho que foi por isso que ele abandonou o estratagema, — disse Charlotte. Ela estava olhando para a Sra. Percy com uma expressão pensativa. — Eu tive um pensamento ou dois durante esta discussão esclarecedora.
Todos eles olharam para ela. Charles esperava que ela continuasse divulgando suas ideias, já que eles tentaram a sorte para ficar tanto tempo. Embora não tivesse dúvidas de que poderia derrotar Archie Tufts em um duelo de socos, não desejava trazer perigo para esta família ou Charlotte.
Mas ela balançou a cabeça.
— Meus pais voltaram de uma breve viagem e a loja é realmente da minha mãe, então não posso dizer mais nada sem falar com ela primeiro. Em qualquer caso, nada pode ser feito enquanto você estiver associado ao Sr. Tufts. Embora eu não deseje que ele fique doente ou mesmo que ele acabe em Newgate, não pretendo ser seu pombo novamente.
— Você não tem outro lugar para morar? — Charles perguntou à Sra. Percy, perguntando-se se a mulher havia formado um relacionamento romântico com o referido homem sarcástico.
— Não estaríamos aqui se tivéssemos, — disse ela levantando o queixo, depois acrescentou: — o seu Senhorio. — Franzindo a testa, ela perguntou: — Ou é o meu Senhorio?
Antes que ele pudesse responder, ela disse:
— Pelo que eu sei, nunca falei com um membro da nobreza antes, e não posso acreditar que alguém está em minha própria casa. Juro por Deus, você parece uma pessoa normal.
Charles se sentia como um espécime zoológico.
— Está tudo bem. Deixe-me falar francamente. Você tem a intenção ou é compelida por algum motivo a ficar com Tufts? — Ele esperava que isso estivesse claro o suficiente. A mulher queria fugir do charlatão ou não?
— Não vejo como sair, mas se pudesse, eu o faria. Eu não tenho — ela olhou para Edward, que tinha sua expressão normal de seriedade. — Não tenho nenhum sentimento particular pelo homem.
— Muito bem. Faço parte do conselho da Sociedade para a Organização de Assistência Caritativa e Repressão da Mendicidade. Eles podem ser capazes de ajudar.
— Mendicidade? — Sra. Percy perguntou.
— Mendigos — Charles disse.
Ela recuou, afrontada.
— Sr. Tufts faz todo tipo de coisa, a maioria não pergunto, e é verdade, ele nos forçou a cumprir suas ordens em algumas coisas que não deveríamos ter feito, — ela olhou para Charlotte, depois de volta para ele. — Ou teríamos enfrentado seu temperamento desagradável, sua senhoria.
Charles quase a corrigiu, mas sabiamente segurou a língua, enquanto a mulher estava entrando em pânico.
— Mas eu não sou uma mendiga, nem meu marido, que Deus o tenha. Ele estava na brigada preta quando era mais jovem na velha York Road em King's Cross, e até ia à escola quatro noites por semana. Quando ele tinha dezesseis anos e era muito velho para estar na brigada, ele conseguiu um emprego como sapateiro com meu próprio pai, que Deus o tenha também. No ano passado, perdemos a loja, — Sra. Percy disse, seu tom cheio de emoção. — Então perdemos tudo.
— Eu sinto muito, — Charlotte disse, parecendo exagerada, e Charles também sentiu um nó na garganta.
Muitas das classes mais baixas de Londres viviam insidiosamente perto da beira da ruína e da pobreza. Eles podem trabalhar por toda a vida e ainda assim acabar morrendo no asilo, como o Sr. Percy. Charles sabia disso durante toda a sua vida, mas sabê-lo era totalmente diferente de passar tempo com Edward, e também de ver seus dois irmãos mais novos com muito poucas chances de suas vidas darem certo.
— Eu ia enviar meu Edward para a mesma brigada preta de sapatos depois da Páscoa. — Sra. Percy estendeu a mão e tocou a mão de seu filho. — Ele teria que ser declarado sem-teto e indigente e viver com as outras dezenas de meninos lá, e eu teria sentido muita falta do meu filho. — Ela suspirou, e Charles novamente foi tocado pelo olhar que trocaram. Ela teria feito o que era certo para ele, mesmo que isso significasse mandá-lo embora.
— Então ele encontrou trabalho com você, Srta. Rare Foure. Aprender a fazer doces parecia muito mais promissor e seguro do que estar na rua limpando e engraxando sapatos masculinos. Alguns meninos não recebem um bom pagamento sabe, uma estação e não ganham muito. E às vezes, os cavalheiros não pagam depois de fazerem os sapatos. Agora, essa é uma ferramenta para você! — Ela assentiu enfaticamente. Em seguida, olhando diretamente para Charles, disse: — Sem ofensa, meu senhorio.
— Nenhuma ofensa, eu garanto a você. — Seu criado sempre engraxava seus sapatos, então Charles sabia que nunca roubaria um jovem sapateiro de seu pagamento. — Como eu estava dizendo ou acho que estava, de qualquer forma, faço parte do conselho de uma sociedade que ajuda as pessoas. Há cerca de trinta e dois membros fazendo o trabalho de centenas, mas eles conseguem encontrar moradia acessível e arrecadam dinheiro todo mês, então geralmente há o suficiente para colocar alguém em pé. É considerada uma assistência temporária, mas pode tirar você de uma situação ruim.
— Quão rápido? — Charlotte perguntou a ele. — Quer dizer, se o Sr. Tufts tiver um temperamento forte, eu não gostaria de esperar um dia a mais.
— Não se preocupe com isso, senhorita, — disse Edward. — Eu posso proteger minha mãe.
Sra. Percy farejou a coragem de seu filho.
— Posso proteger meus filhos, — ela insistiu, — Mas gostaria de receber a ajuda. Quando meu marido morreu, ninguém no asilo poderia me dizer para onde ir ou o que fazer.
Charles sabia que esse era um dos problemas. A sociedade de caridade poderia ter a melhor das intenções, mas se eles não saíssem para as comunidades mais pobres e oferecessem assistência, que bem fariam.
— Irei diretamente para a sede da sociedade, — disse ele, pensando na suíte arrumada de quartos na Buckingham Street, no bairro de Adelphi. — Com a ajuda deles, tenho certeza de que podemos encontrar um lugar para você morar. — E se eles não pudessem, ele iria colocá-los em sua própria casa até que pudesse.
— Edward pode voltar ao trabalho amanhã, — disse Charlotte. — Ele vai ter que pedir desculpas à minha mãe e aos locais onde fez as entregas, mas não vou obrigá-lo a pagar por todos os doces roubados. Chamaremos de lição aprendida e ficarei feliz em tê-lo de volta.
O rosto de Edward passou por uma miríade de emoções, mas no final disso, ele disse simplesmente:
— Obrigado.
— Agradeço também, senhorita, — disse a mãe. — E eu sinto muito por vender seus chocolates e tal.
— Eu entendo por que você fez isso, — Charlotte disse.
Admirando sua generosidade, Charles pensou que tinha se apaixonado por ela um pouco mais naquele momento.
— É melhor nós irmos. Preciso chegar à sociedade antes das quatro.
— Vejo você na primeira hora, — Charlotte disse a Edward. — Sra. Percy, você criou um bom menino.
— Ele aprendeu com o pai, — disse ela, parecendo triste.
— Você tem comida suficiente para sua família esta noite? — Charles não pôde deixar de perguntar.
— Sim. — Sua voz estava tensa, e ele percebeu que ela estava segurando as lágrimas. Ele queria sair antes que elas fossem derramadas.
— Venha, senhorita Rare Foure. Meu cocheiro vai pensar que caímos no sono aqui.
— Delia! — Ela exclamou. — Estou chocado que ela não veio aqui e tentou me remover à força.
Mas quando eles voltaram para sua carruagem, encontraram Delia sentada no banco ao lado de seu cocheiro, tão perdida em gargalhadas e conversas, nem percebeu a chegada de seu mestre ou patroa.
— Talvez um novo romance tenha surgido entre nossas famílias, — refletiu Charlotte.
Charles queria dizer a ela que certamente sim, mas não era o momento de tentar novamente torná-la sua.
— Bertie, ajude a empregada da Srta. Rare Foure a descer e vamos indo. Vocês dois devem estar fartos da vista da bomba Aldgate.
— Sim, senhor.
Capítulo Vinte e Cinco
Charlotte tinha certeza de que nunca recuperaria o dinheiro que pagou ao Sr. Tufts, mas ficou aliviada por Edward e sua mãe não serem pessoas desonestas, apenas desesperadas.
— Você pode me dizer a ideia que deseja discutir com sua mãe? — Charles perguntou, enquanto eles voltavam pela Fenchurch Street.
— Claro. — Charles se tornou praticamente seu amigo mais querido, ao lado de suas irmãs. — Eu acho que a Rare Confeitaria deveria ter um lugar permanente em Covent Garden, uma barraca ou um carrinho, e a Sra. Percy pode cuidar disso.
Ela apreciou como ele considerou isso, ao invés de descartá-lo de imediato, mas depois de um momento, ele balançou a cabeça.
— Acredito que ela faça trabalhos por empreitada em casa para poder cuidar dos pequeninos.
Ele estava certo. Ela havia se esquecido disso. Obviamente, eles eram jovens demais para a escola.
— Eu me pergunto onde as crianças estavam quando ela esteve em Covent Garden antes?
— Se ela os deixou aqui sozinhos, isso é perigoso, e você não gostaria de encorajar tal coisa, — ele ressaltou.
Charlotte não queria deixar que isso a impedisse de ajudar a mãe de Edward a sair da pobreza e dar a ela a capacidade de ficar em seus próprios pés, sem depender do dúbio Sr. Tufts.
— Nós devemos descobrir isso, — ela falou. — Se você conseguir encontrar um lugar para ela morar, com sorte um pouco mais a oeste da bomba, podemos pensar em um lugar onde seus filhos podem ficar enquanto ela trabalha. Deve haver muitas mães em situação semelhante.
Ele assentiu.
— Faz dois anos que estou naquele conselho e me sinto inútil. Eles sempre têm um membro da nobreza no conselho para ajudar na arrecadação de fundos. Mas esta será a primeira vez que poderei ajudar alguém diretamente.
— Você já ajudou a mim e minha família, — Charlotte apontou para ele. Ela não sabia como teria feito isso sem toda a ajuda dele. Além disso, sem ele saber, ele curou seu coração ferido também. Aconteceu quase sem ela perceber, e agora, ela tinha um amor lindo e brilhante em seu coração.
— Você é um caso completamente diferente, — ele disse, seu tom suave, mas então seu olhar se voltou para Delia, inclinando-se no canto com os olhos fechados, e ele sorriu ao invés de dizer mais.
Quando sua adorável covinha única apareceu, Charlotte sorriu de volta. Que homem verdadeiramente decente! Ela admirava tudo nele e, vendo sua expressão, seu coração se abriu como uma rosa ao sol.
Desejando que eles pudessem ter um momento a sós, não, isso não era verdade! Ela agora desejava passar a vida toda com Lorde Charles Jeffcoat. No entanto, ela precisava de privacidade para dizer a ele que se apaixonou por sua natureza intrigante alternadamente calma e séria e, em seguida, excitantemente apaixonada.
— Você parece pensativa, — disse ele.
Ela encolheu os ombros.
— Foram alguns dias interessantes, para dizer o mínimo. Quem sabe o que o amanhã trará?
— Espero que seja um carpinteiro novo, — ele brincou.
— Quando você diz algo de brincadeira, parece uma década mais jovem.
Ele pareceu surpreso.
— Eu sou geralmente tão severo e agressivo?
— Você costuma ser reflexivo e atento, — disse ela, esperando que essas palavras o acalmassem.
— Então, um sapo sério e carrancudo?
Ela não pôde deixar de rir.
— Absolutamente não, meu lorde. Seu jeito firme e sincero é uma característica maravilhosa. Uma pessoa sabe o que você é e onde se encontra.
Depois de um momento, ele assentiu.
— Eu acho que sei o que você quer dizer.
Ela desejou que Delia não estivesse encostada em seu braço. Ela queria dizer a ele que não o trocaria e seus modos sérios e confiáveis por nada, certamente não pelos modos extravagantes e inconstantes de Lionel Evans. Ela se encolheu ao lembrar como o achava admirável por ser, às vezes, barulhento e alegre, outras vezes, taciturno e até cruel. Ela o rotulou como tendo uma disposição artística e achou sua imersão no movimento estético interessante e excitante.
Em comparação com Charles, ele era uma criança obstinada.
NO DIA SEGUINTE, Charlotte pretendia ser a primeira na loja, como de costume, mas quando se aproximou, viu que a porta estava entreaberta e o barulho de dentro lhe disse que alguém estava trabalhando.
Empurrando mais a porta, ela testemunhou um milagre. Seu pai estava ao lado do balcão, coberto por uma lona, assim como o chão. Ele estava conversando com Charles! Os dois ergueram os olhos para a entrada dela, ambos sorrindo, embora apenas um tivesse a covinha devastadora que fez seu estômago dar uma cambalhota estranha.
À direita estavam dois homens com aventais e bonés pesados, caixas de ferramentas bem organizadas ao lado, construindo uma escada.
Balançando a cabeça maravilhada, ela se aproximou do pai e deu-lhe um beijo na bochecha. Em seguida, ela desejou um bom dia ao visconde antes de dar voz a todas as suas perguntas.
— Há quanto tempo eles trabalham? Quando vocês dois chegaram aqui? Eu me perguntei onde você estava quando perdeu o café da manhã. — Ela fez uma pausa. — Tem certeza que este é um ambiente saudável para você, papai, com a serragem e tudo mais?
— Provavelmente não é um lugar saudável para ninguém, — ele disse parecendo alegre. — Mas eu estou bem. Não se preocupe como sua mãe. Seu senhorio queria me encontrar aqui mais cedo para que pudéssemos ter certeza de que os homens que seu valete nos indicou estavam em alta.
Radiante para os trabalhadores que nem mesmo levantaram a cabeça de suas tarefas. Armand Foure acrescentou:
— Eles estavam esperando na porta prontos para trabalhar uma hora atrás.
Ela sorriu para Charles.
— Obrigada, meu lorde.
— Não é necessário agradecer. Fui negligente em não ajudar você a encontrar um construtor antes.
— Eu não teria dado ouvidos, — ela confessou, — não quando pensei que poderia ajudar o tio de Edward.
— Eu acho que você e seu pai deveriam entrar com uma ação legal contra o homem. Afinal, ele não é parente dos Percys e assim que os tirarmos dele, ele não será nenhuma ameaça.
— O rapaz tem razão, — disse o pai. — Você sabe que não sou um homem litigioso, mas o que é certo é certo e, aparentemente, temos alguns móveis para comprar. — Ele acenou com a cabeça para o teto. — Aquele dinheiro que ele roubou de você pode vir a calhar. Além disso, temos um advogado praticamente na família. Você não vai nos cobrar, vai, meu lorde?
— Pai! — Ela exclamou, mas Charles parecia despreocupado.
— Eu não cobraria nada, Sr. Foure, — ele insistiu. — Essa é uma das vantagens de já ter uma fortuna. Não posso ser subornado, nem posso ser forçado a aceitar casos em que não acredito, nem devo representar apenas aqueles que podem me pagar.
— Ideal! — Seu pai disse, esfregando as mãos. — Não que não possamos pagar, é claro, mas seria como ser enganado duas vezes.
Charlotte balançou a cabeça diante da audácia do pai. Antes que ela pudesse lembrá-lo de que os honorários de Charles não seriam um golpe, mas um pagamento bem merecido, Armand Foure continuou:
— Quando vencermos, como tenho certeza de que ganharíamos pelo brilho em seus olhos, então você poderá cobrar daquele tal de Tufts seus honorários e os do tribunal também. Que pilantra! Tirando vantagem da minha garota.
— Duvido que o Sr. Tufts tenha dinheiro para os custos judiciais, — protestou Charlotte. — Ele provavelmente gastou o que eu dei a ele, então eu duvido que ele tenha isso para devolver. Ele certamente irá para Newgate. E então o seu Senhorio ficará preso com as custas judiciais também.
Seu pai encolheu os ombros.
— O preço de ser advogado, eu suponho, e se apaixonar por minha Charlotte perfeita.
Ela engasgou. Ele estava realmente além dos limites. Como ele poderia dizer tal coisa se nada havia sido declarado? Suas bochechas pareciam estar queimando. Ela e Charles não entendiam, não concordavam.
Exasperada, ela ergueu o olhar para o visconde que a encarou de volta e então, contra todas as expectativas, ele sorriu novamente.
— Suponho que você tenha razão, — disse ele ao pai.
Ele estava praticamente confessando seus sentimentos por ela e para pai dela! Eles deveriam conversar em particular, e logo. Mas, primeiro, ao outro assunto em questão.
— Como você se saiu no... como foi chamado? A Sociedade de Mendicidade?
— Falei com o Sr. Loch, o secretário do conselho, e ele teve boas notícias imediatamente. Ele conhece moradia para quem é pobre, mas tem meios de subsistência, como a Sra Percy. Ele trabalha com Miss Octavia Hill. Você pode ter ouvido falar dela. Ela tem feito um trabalho muito bom e graças à sua associação com o Sr. Ruskin
— O crítico de arte? — Charlotte se perguntou. Para ela, Ruskin era o desagradável crítico de arte que havia falado mal sobre as pinturas Noturnas de Whistler na exposição da Grosvenor Gallery. A caspa de Lionel atingiu um alto nível durante uma longa discussão na aula de arte.
— O mesmo, — disse Charles, — Mas também é um homem de filantropia, produzindo o Fors Clavigera mensal para a classe trabalhadora. Também conhecido como 'Cartas aos Trabalhadores e Trabalhadores da Grã-Bretanha'.
— Coisas boas, — seu pai interrompeu. — Eu li algumas dessas cartas. Muitos artigos interessantes sobre a visão social do homem.
— Ele deu à Srta. Hill uma das primeiras propriedades que ela administra para os pobres, — Charles continuou. — Ela agora tem cerca de dezoito lugares para colocar famílias e mais de três mil inquilinos. Ela está particularmente interessada no bem-estar das crianças. — Ele olhou para Charlotte. — Nossa esperança foi respondida para o menor Percys, pois há uma área comum com atendimento aos mais jovens.
— Perfeito! E há um lugar para eles?
— Sr. Loch disse que há uma vaga em Marylebone, — Charles informou a ela.
— Isso é um pouco a oeste da bomba de Aldgate, — Charlotte disse, pensando em como Edward ficaria satisfeito. — Você fez uma coisa maravilhosa.
— Um dos associados da Srta. Hill irá ao East End hoje e buscará a Sra. Percy e seus filhos e tudo o que ela quiser trazer daquele apartamento.
Charlotte ficou mais uma vez surpresa com o poder da nobreza. Tudo o que ela conseguiu dizer foi:
— Obrigada.
— Fizemos isso juntos, eu diria. — Os olhos azuis de Charles seguraram o olhar dela por um momento, até que seu pai tossiu, quase tão alto quanto o serrar acontecendo ao fundo.
— Eu preciso preparar as entregas para Edward, — ela disse.
— Você acha que ele vai aparecer? — Charles perguntou a ela.
— Eu acredito.
Depois de levantar uma sobrancelha amigável, ele declarou que deveria ir ao tribunal.
— Vou enviar-lhe um convite, — disse-lhe ele, — Se me permitir.
— Eu quero — ela disse. — Muito mesmo. — E ela o observou partir. Afinal, ela tinha a madrinha de Perrault ao seu lado, disfarçada de visconde.
— Estou indo embora também, minha menina, — disse o pai. — Você tem tudo sob controle, como sempre. Voltarei para revisar o progresso a qualquer momento, no entanto, — disse ele em voz alta o suficiente para que os trabalhadores ouvissem, como se essa terrível ameaça os mantivesse na linha.
Revirando os olhos, Charlotte foi para a sala dos fundos para começar. Apenas dez minutos depois, Edward chegou pronto para o trabalho.
— Não contamos nada ao Sr. Tufts sobre sua visita, senhorita, — disse ele, demorando-se entre as duas salas, olhando por cima do ombro para os trabalhadores.
— Provavelmente sábio, — ela concordou. — Eu acho que você e sua família vão se mudar em breve. Você está pronto para fazer entregas?
— Sim, — ele deu outro passo para a sala dos fundos, como se não tivesse certeza de que seria bem-vindo. — E eu vou me desculpar também, senhorita.
— Bom. Então vamos trabalhar.
— UMA FESTA DE JANTAR! — CHARLOTTE exclamou em voz alta para Delia quando o grosso papel de carta chegou com o selo de Lorde Jeffcoat. — Com dança.
— Assim como na última temporada, — sua empregada relembrou.
Charlotte achou que não era nada parecido com o ano anterior. Embora gostasse de ir a bailes com Beatrice e às vezes com a então já casada Amity, Charlotte não se importava nem um pouco com nenhum dos homens. Embora emocionada com os locais e os vestidos, ela se sentiu impassível por seus companheiros de jantar e dança. Desta vez, ela seria escoltada pelo homem que amava. E a ideia de estar em seus braços na pista de dança causou uma vibração deliciosa dentro dela.
A expectativa excitada se misturou à tensão, pensando em como ela poderia deslumbrar ou falhar no braço do Visconde Jeffcoat. Era divertido ficar nervosa por causa de um homem.
Antes que ela percebesse, sua chegada estava a poucos minutos de distância. Trajando um vestido de seda cor de açafrão com um decote prateado brilhante e rendado na barra das mangas, Charlotte se sentia confiante em sua aparência. Chinelos de dança combinando e uma pena turquesa frívola e absolutamente adorável enfiada em seus cabelos penteados completavam seu visual.
— Sr. Finley acabou de subir as escadas para dizer que seu visconde está aqui, senhorita, — Delia disse.
— Sim, eu o ouvi, — disse Charlotte, com vontade de rir. O criado de seu pai dificilmente estava no lugar certo, ao contrário de um mordomo de verdade, e foi uma espécie de milagre quando ele conseguiu anunciar um visitante. O fato de ele ter gritado escada acima em vez de subir com dignidade só a fez gostar mais do homem.
Um pensamento repentino ocorreu a ela.
— Delia, você está interessada no Sr. Finley?
— Interessada, — sua empregada perguntou, puxando seu próprio vestido simples de algodão escovado de cor creme. — O que você quer dizer, minha garota?
Charlotte de repente desejou não ter bisbilhotado, mas Delia percebeu o que ela queria dizer um momento depois.
— Não seja idiota, — ela disse irreverentemente. — Ele está apaixonado por Lydia.
— Ele está? — Charlotte se perguntou como tais coisas podiam acontecer sob seu nariz sem que ela percebesse. Seu mordomo e sua cozinheira? — E Lydia retribui o amor do Sr. Finley?
— Sim, senhorita.
— E você? — Charlotte perguntou, vendo como Delia não parecia ofendida. — Gosta de alguem?
— Gostei de conversar com o cocheiro de Lorde Jeffcoat nas poucas vezes que o encontrei. Bom sujeito. Tem boas acomodações na casa do senhorio e uma pensão quando achar que vai se aposentar.
— Você nos deixaria se você se casasse? — Charlotte se perguntou, tentando imaginar Baker Street sem Delia.
— Bem, se você também se casar, senhorita, cada um de nós com a pessoa certa, então podemos ficar juntas, se você entende o que quero dizer.
Bondade! Delia estava planejando se casar com o cocheiro de Charles e se mudar com ela. Bastante presunçoso, mas também... doce!
Descendo as escadas e vendo Charles esperando por ela na parte inferior, a vibração no estômago de Charlotte pareceu se tornar um tumulto de asas de pássaros. O que diabos havia de errado com ela?
Sua expressão, a admiração calorosa em seus olhos, não fez nada para acalmar seus nervos. Ela queria agradá-lo, ser a mulher que ele merecia como esposa. Enquanto ele se apaixonou por ela, ela não via impedimento para um futuro juntos.
— Você está incrivelmente bonita, — disse ele quando os pés dela tocaram o chão do vestíbulo. Ele pegou a mão enluvada dela, inclinou-se sobre ela e roçou os lábios nas costas.
Ela quase riu do arrepio perverso que percorreu sua espinha, já que podia sentir o calor de sua respiração através da seda fina. Rir não era o comportamento de uma futura viscondessa, então ela apertou os lábios e olhou para seu adorável cabelo escuro até que ele se endireitou e seus olhares se encontraram.
— Você também, — ela murmurou. Atrás dela, Delia fez um som, e o olhar de Charlotte se voltou para a expressão surpresa de Charles.
— Quero dizer, é claro, que você está extremamente bonito, meu senhor.
— Obrigado, — ele disse, mostrando sua covinha. — Eu sabia o que você queria dizer. Tudo que precisa é uma tiara de joias e rivalizaria com a rainha.
Desta vez, ela deu uma risadinha. Como ela o achou muito enfadonho?
— Vocês estão prontas?
Capítulo Vinte e Seis
Charles pretendia ficar sozinho com Charlotte, mesmo que tivesse que enterrar Delia na tigela de ponche depois do jantar ou trancá-la no banheiro enquanto ele fugia com seu vestido de seda. Eles chegaram ao jantar do Fitzwilliam, e ele não só não conseguia desviar o olhar da companheira, como também não conseguia os outros homens solteiros na sala.
Charlotte era a personificação do desejo de qualquer homem em seu atraente vestido laranja ardente que realçava seu cabelo castanho escuro, dando-lhe mechas de fogo. Mais do que isso, moldava-se às suas curvas como se ela fosse dourada na seda de cores brilhantes. As mangas curtas exibiam seus braços bem torneados, e o decote astuto dava uma ideia da protuberância cremosa de seus seios generosos. Não muito a ponto de parecer devasso. Na verdade, sua costureira havia feito um trabalho admirável. Sua confeiteira parecia tão bem-arrumada quanto qualquer mulher da nobreza.
E mais do que tudo, ele queria elevá-la à nobreza como sua esposa. Relembrando sua última tentativa frustrada, ele pretendia uma abordagem muito diferente da maneira seca e imparcial com que ele pediu a mão dela. Conhecendo seu coração caloroso como ele conhecia, estava claro para ele que ela queria um pronunciamento apaixonado de seu amor e, absolutamente, ele estava pronto para fazê-lo.
Depois de tomar vinho na sala de estar de Fitzwilliam, ele e Charlotte estavam entre alguns dos convidados que entravam na sala adjacente, já que eram cerca de quarenta. Ele jantou lá antes e sabia que a sala de jantar acomodaria todos, não de uma maneira espaçosa como se estivessem em um jantar no palácio, mas bem o suficiente. Além disso, ele não se importava em ficar perto desta situação.
Para aumentar sua alegria, os acompanhantes já haviam sido levados para baixo para um jantar separado e voltariam para a parte de dança da noite. Charles se sentia como um colegial cujo severo diretor se aposentou pouco antes de uma assembléia. Naturalmente, alguns dos convidados se aproveitariam e se comportariam mal, aqueles que mais desesperadamente precisavam de um acompanhante. Ele e Charlotte tinham uma boa dose de respeito um pelo outro, e embora ele adorasse roubá-la e reclamar seus lábios carnudos, ele não faria nada para comprometê-la, e ele sabia que ela não faria nada para prendê-lo.
Sinceramente, ele não se importaria que ela tentasse prendê-lo em um casamento precipitado. Uma pequena aventura com Charlotte parecia grandiosa, exceto por como sua reputação poderia sofrer.
Ao vê-la conversando com o Barão e a Baronesa Winslow, ele jurou nunca lhe causar um momento de dor no coração. Ela borbulhava de alegria, bebericando vinho branco, falando animadamente sobre o concerto que tinham visto juntos, e então... Santo Deus! Ela começou a falar sobre a bomba Aldgate e os horrores que vê-la pessoalmente trouxe à tona.
Querido Deus! Quando o tom e as palavras dela ficaram sérios, o barão começou a franzir a testa e os lábios da esposa se franziram em desaprovação. Dificilmente o bate-papo leve é aceitável em uma dessas reuniões.
— Senhorita Rare Foure, — Charles interrompeu antes que ficasse pior, — Você contou aos Winslows sobre...? — Sua mente geralmente rápida se debatia. Não fale sobre ela fazer Marzipan ou administrar uma loja, pois nenhum dos dois daria certo. Não mencione Covent Garden, porque os Winslows certamente não teriam ido lá, mas enviado seus criados. Então ele se lembrou de algo. — Sobre suas várias viagens ao continente? Certa vez, encontrei o barão e sua esposa em Paris. Acho que eles compartilham o amor por essa cidade com você. Você não disse que já esteve no Louvre?
E Charlotte, abençoe seu coração, acenou com a cabeça para ele, um brilho em seus olhos. Depois de um breve discurso sobre suas próprias experiências, ela fez muitas perguntas ao casal. Uma vez conduzida no caminho certo, ela fazia com que uma conversa trivial parecesse fácil e genuína. Na verdade, mais um de seus dons, sem dúvida adquiridos em anos ajudando os clientes.
E então ele teve o prazer de acompanhá-la para jantar. A sala de jantar era como ele havia imaginado. A mesa com todas as suas folhas tinha o tamanho de uma pequena sala. Rendas, velas e flores adornavam o centro, e lacaios cercavam o perímetro.
Depois de puxar a cadeira de Charlotte para ela, Charles estava acomodado confortavelmente como ele esperava, ao lado da mulher mais maravilhosa do mundo. Seus braços estavam praticamente se tocando.
— Os Winslows foram muito bons, meu senhor — disse ela enquanto tirava as luvas, colocava-as no colo e colocava o guardanapo em cima delas, enquanto todas as mulheres ao redor faziam o mesmo. — Todo mundo é tão gentil.
Ele não a desiludiu de suas noções rosadas. Mas ele viu dois casais falando sobre ela, embora provavelmente apenas se perguntando quem ele trouxe para a festa. Mais de um homem a cobiçou, e ele ouviu alguma mulher cheirar ruidosamente e desacreditar a cor ruidosa do fabuloso vestido de Charlotte. A mulher, vestida com um bronzeado opaco, parecia um bicho-pau em comparação com a forma curvilínea e a coloração vibrante de seu amor. Ele não poderia estar mais feliz.
— Assim que Lorde Fitzwilliam me convidou, — disse ele, — eu sabia que você iria gostar.
Ela brilhava para ele, irradiando prazer, e suas entranhas se apertaram. Como era fácil fazê-la feliz! Ele queria ser o único a trazer aquele sorriso ao rosto dela e fazê-lo pelo resto de suas vidas.
Então, quando a felicidade dela se dissipou com a conversa inesperada que ocorreu durante a sobremesa, Charles se sentiu impotente para fazer qualquer coisa. Uma sensação terrível e incomum!
— Normalmente, como muitos de vocês sabem, — Lady Fitzwilliam começou, — eu sirvo confeitaria junto com bolo e tortas e outros enfeites. — Ela gesticulou para as sobremesas que haviam sido alinhadas no meio da mesa depois que o último prato foi aberto.
— No entanto, você também deve ter ouvido falar em nosso meio, bem no coração de Mayfair, que estamos perdendo nossa confeitaria favorita.
Charles sentiu Charlotte enrijecer ao lado dele.
— Muitos de vocês provavelmente leram a crítica indicando que falhavam na qualidade antes de fecharem as portas. Que vergonha. Não sei como isso pode ter acontecido. Sempre tivemos os chocolates mais saborosos daquela loja.
— E caramelo, — Lorde Fitzwilliam gritou do outro lado da mesa.
Charles ouviu Charlotte farfalhar ao lado dele, vendo seu peito se erguer enquanto ela respirava fundo, sem dúvida para falar. Interromper os anfitriões seria uma gafe da qual ela não se recuperaria facilmente. Onde a mão dela repousava sobre a toalha de mesa branca, ele estendeu a mão e a roçou muito discretamente com as costas da sua, sentindo-a pular. Ela olhou para ele e ele balançou a cabeça ligeiramente para alertá-la.
Ela franziu a testa, uma expressão de consternação que o doeu, mas ela teria a chance de refutar os rumores, mas não naquele momento.
— E, claro, — Lady Fitzwilliam acrescentou, — A Rare Confeitaria tinha o Marzipan mais cremoso. — A sua Senhoria suspirou. — Devido a má gestão, ingredientes inferiores e coisas do gênero, aparentemente eles foram para os cachorros, como diz a expressão. Uma pena! — Ela terminou.
Charles sentiu a jovem ao lado dele ir de ferver a fervura e segurou a mão dela, sem se importar com quem o visse enquanto ele ainda esperava protelar o inevitável. Ele uma vez vira Charlotte dar publicamente à filha de um conde uma severa reprimenda na casa de Pelham. Isso também fora em defesa de Amity e também da qualidade da Rare Confeitaria e ela tinha sido maravilhosa. Jeffcoat, junto com outros convidados, assistiu boquiaberto, e Waverly não conseguiu parar de comentar sobre a — vendedora atrevida — durante um mês de domingo.
Mas sua reunião não estava sendo organizada por alguém tão tolerante quanto o duque de Pelham.
Abruptamente, Charlotte arrancou a mão de seu aperto.
— Não, nós certamente não fomos para os cachorros! — Todos os olhos em sua vizinhança imediata se voltaram para ela.
— Quem disse isso? — Lorde Fitzwilliam perguntou do outro lado da mesa, tentando ver quem estava falando, fazendo com que todas as cabeças girassem em direção ao anfitrião.
Aparentemente tomando isso como um convite para se apresentar, Charlotte se levantou. Charles balançou a cabeça antes que pudesse se conter, desejando poder puxar a mão dela e arrastá-la de volta para a cadeira. Como estava, ele e todos os homens à mesa fizeram um movimento para ficar com ela.
— Eu disse, — ela disse. — Por favor, senhores, permaneçam sentados. Eu sou a Srta. Rare Foure, da Rare Confeitaria.
Um suspiro coletivo correu em torno da mesa comprida como o sussurro de um incêndio florestal ao pegar a grama seca.
— Como você chegou aqui? — Lorde Fitzwilliam perguntou como se ela tivesse saído da rua e tomado um assento não convidado em sua mesa.
— Ora, eu..., — ela olhou incerta para Charles. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Lady Fitzwilliam entrou na conversa.
— Você tem uma confeitaria, em sua tenra idade? — As cabeças se voltaram para a anfitriã.
Charles pensou que não iria tão mal, a menos que ela confessasse
— Não, meus pais o possuem. Eu trabalho na loja e faço o Marzipan. O cremoso que você mencionou. — A atenção dos convidados estava firmemente voltada para Charlotte.
— Minha palavra! — Exclamou a sua Senhoria. — Por que diabos você confessaria uma coisa dessas?
— Verdade, verdade, — vozes murmuraram.
— Porque tenho orgulho da minha família e da nossa loja. E mais orgulho de nossa confeitaria. Detesto ser contraditória, vossa Senhoria, mas a Rare Confeitaria não perdeu qualidade.
— Como ela entrou aqui? — Lorde Fitzwilliam perguntou de novo, desta vez direcionando para sua esposa enquanto ele batia na mesa.
Charles suspirou e se levantou.
— Eu a trouxe como minha convidada.
— Bem, isso foi mal avisado de sua parte, — disse seu Senhorio. — Ela é uma coisa bonita com certeza, Jeffcoat, mas bastante comum. É como convidar nosso açougueiro só porque estamos servindo um assado, — acrescentou.
A sua Senhoria engasgou-se, pois, a sua reputação de anfitriã amável corria um perigo terrível. Sem falar no fato de que seu marido havia insultado um visconde ao insultar seu companheiro.
— Meu senhor, — Lady Fitzwilliam chamou do outro lado da mesa, — certamente qualquer convidado de Lorde Jeffcoat é bem-vindo em nossa casa. Além disso, não é a mesma coisa, já que não estamos servindo seu assado. Quero dizer, sua confeitaria. Eles estão saindo do mercado.
— Não, — Charlotte insistiu, e todas as cabeças se viraram para ela novamente. — Nós não estamos. Na verdade, estamos expandindo. Haverá um café delicioso no andar de cima, acima de nossa loja.
Lady Fitzwilliam gostava de ser a primeira a saber das coisas e definitivamente não gostava de ser contestada em sua própria mesa de jantar.
— Jovem, li o artigo, — ela insistiu.
— Que artigo? — O seu Senhorio gritou, depois acrescentou: — Mais vinho, — e gesticulou para um lacaio próximo.
Lady Fitzwilliam ignorou o marido.
— O escritor declarou algumas falhas flagrantes que indicariam
— Uma série de ocorrências infelizes, — Charlotte interrompeu. — Era só isso. Um dia chuvoso, uma mistura de doces...
— Caramelo queimado, — alguém interrompeu. Todas as cabeças se voltaram para o novo informante.
— Eu também li, — disse uma mulher com papadas pesadas como um dos buldogues da propriedade de Charles.
— De fato! — Disse a sua Senhoria. — Queimado. E é por isso que não pedi nada para esta noite.
— Você não pode pedir nada, minha senhora, — Charlotte a corrigiu. — Estamos fechados.
Exasperada, Lady Fitzwilliam gesticulou pedindo mais vinho também. Charles esperava que fosse o fim de tudo, mas depois a Senhoria dela acrescentou: — E assim, você o admite.
— Garanto a você, o fechamento é temporário, — Charlotte insistiu. — A Rare Confeitaria sempre serviu os melhores doces e continuará servindo. Todos vocês são bem-vindos à nossa grande reabertura.
— Para caramelo queimado, — alguém disse, e alguns riram.
Charles estava farto. Não havia como salvar a noite. Ele não iria levar Charlotte para o salão de baile e dançar com ela enquanto todos os olhos fitaram a garota que fazia Marzipan e cuja loja vendia confeitaria questionável.
Como ele não previu nada disso?
— Devemos nos despedir, — ele disse firmemente.
No entanto, foi Charlotte quem se virou para ele com os olhos brilhando.
— Não vamos sair por causa dessa discussão, vamos? É assim que a nobreza se comporta? Eu desacredito algumas inverdades, e então não podemos ficar e dançar por causa de um artigo bobo nos jornais. Certamente, essas pessoas inteligentes, seus amigos, acreditam mais em mim do que em algo que leram no jornal. Ora, isso seria como acreditar num absurdo sobre si mesmo que leram nas colunas de fofoca.
Charles olhou ao redor da mesa. Algumas pessoas pareciam interessadas, outras desconfortáveis, mas ninguém parecia particularmente hostil, nem mesmo Lorde e Lady Fitzwilliam, que bebiam vinho alegremente nas duas pontas da mesa.
Ainda de pé no meio deles, Charlotte olhou ao redor da mesa.
— Acontece que eu gosto muito de dançar, você entende. Já estive em bailes em Devonshire House, Marlborough House e Clarendon House. Dancei no mesmo andar que Suas Altezas, o Príncipe e a Princesa de Gales. Meu companheiro aqui foi Robin Hood.
Charles estremeceu.
— No baile à fantasia, ano passado, — ele esclareceu, caso algum de seus companheiros de jantar pensasse que ela quis dizer que ele estava tramando algo ridículo.
De qualquer forma, ela estava se saindo bem em justificar sua presença na casa de Lorde e Lady Fitzwilliam. Não que ele achasse que ela precisava provar seu valor, mas essas pessoas, nascidas na classe aristocrática, viam as coisas de forma diferente. Ele fez, também, para esse assunto, ou ele tinha até se tornar um advogado. Lidar com pessoas reais de todas as classes e seus problemas o mudou. Ele esperava o melhor.
Olhando ao redor da sala, de repente ele teve a sensação de que poucos deles tinham estado em Marlborough House naquela noite extraordinária. Na verdade, esses ingressos foram difíceis de conseguir, exclusivos para o alto escalão da sociedade. Charles tinha quase certeza de que, apesar de ser visconde, só comparecera porque o duque de Pelham o recebera como convidado. Essas pessoas, portanto, não tinham motivo para desprezar Charlotte.
De sua parte, ela parecia compreender que os convidados dos Fitzwilliams reagiriam bem ao fato de ela os ter correspondido no jogo de ter bons contatos. E ela nem mesmo mencionou sua melhor conexão de todas.
— Se a senhorita Rare Foure deseja ir embora, — disse ele, — depois do jantar iremos tomar uma taça de vinho com seu cunhado, o duque de Pelham, e sua irmã, a duquesa. No entanto, se ela deseja ficar, teremos o maior prazer em dançar com você em seu singular salão de baile.
Ele deixaria a escolha ser dela.
CHARLOTTE OLHOU em volta da sala, avaliando a simpatia daqueles que a encaravam de volta. Tinham sido alguns minutos duvidosos, mas ela esperava que eles entendessem o quão especial a Rare Confeitaria era.
— Oh, eu gostaria de ficar. Tenho certeza de que Lorde e Lady Fitzwilliam nos fornecerão uma música excelente, já que seu gosto em confeitaria é muito bom.
Em seguida, ela voltou a sentar-se, uma vez que os lacaios avançaram para começar a servir nas várias tigelas, pratos e travessas.
Quando Charles se sentou ao lado dela mais uma vez e o nível normal de conversa foi retomado, ela ergueu os olhos do pão-de-ló com creme e morangos para vê-lo olhando para ela.
— Está tudo bem? — Ela perguntou.
— Você se conduziu com tanta graça. Você defendeu a loja da sua família vigorosamente, mas de uma forma que não nos fez ter que sair furiosos. Embora eu o teria feito com prazer se você não quisesse dançar.
— Você é doce, assim como este bolo. Mas estou ansiosa para dançar com você, — ela disse a ele. — Honestamente, mal posso esperar para estar em seus braços.
Sua expressão satisfeita disse a ela que ela não tinha errado em falar tão francamente.
— Nesse caso, — ele disse em tom baixo, — espero que todos comam rápido.
Ela olhou ao redor da mesa e suspirou.
— Se há uma coisa que aprendi durante a temporada do ano passado, é como uma refeição pode ser dolorosamente longa.
Com um olhar pensativo, Charles acenou com a cabeça, então ele se virou.
— Lorde Fitzwilliam, — ele se dirigiu ao anfitrião. — Nós temos tempo para uma fumada rápida antes de dançar?
E então, ele se levantou.
Até Charlotte sabia que ele estava se comportando mal. Ficar diante de seus anfitriões foi uma grande quebra de decoro. Aparentemente, suas palavras o estimularam a ações drásticas.
Lorde Fitzwilliam olhou ao redor da mesa, parecendo surpreso, mas então ele deu de ombros e se levantou, fazendo com que os outros homens o seguissem.
— Eu gostaria, de fato, de fumar um charuto, Lorde Jeffcoat, mas temo que minha esposa me espancaria por isso mais tarde. Vamos para o salão de baile, por mais estranho que seja — acrescentou ele com ironia.
Com metade dos convidados do jantar de pé, as senhoras colocaram os guardanapos na mesa, retiraram as luvas do colo e as calçaram rapidamente. Em seguida, eles se levantaram enquanto os cavalheiros puxavam suas cadeiras. Charlotte achou que isso se parecia tanto com uma dança quanto com qualquer coisa que acontecesse no chão polido de um salão de baile. Finalmente, cada mulher pegou o braço direito do homem e deixou que seus anfitriões mostrassem o caminho.
Na verdade, o salão de baile dos Fitzwilliams era perfeitamente adequado e às duas horas seguintes passaram voando. Com Delia vigiando por perto, Charlotte dançou duas vezes com Charles, como era permitido, e também desfrutou da atenção de outros homens que eram dançarinos perfeitamente adequados. Ninguém falou atrevidamente com ela, apesar de seu discurso no jantar. No entanto, cada vez que uma dança terminava e ela se reunia com seu amado acompanhante, Charles os recebia com uma carranca como forma de saudação.
— Pare de fazer essa cara para cada um dos meus parceiros de dança, — ela ordenou, mas secretamente achou isso encantador.
— Aquele segurou você muito perto, — Charles murmurou. — Achei que teria que arrancá-lo de você, — disse ele sobre outro. — Ele não era um cavalheiro, — ele se irritou com um terço. — Ele estava descaradamente olhando para o seu decote.
— Os músicos estão tocando tão lindamente, — Charlotte acalmou.
— Eles estão, — Delia concordou, batendo feliz no dedo do pé.
Charles deu a sua acompanhante um olhar fulminante e Charlotte quase riu. Delia não tinha estabelecido a sociedade para ser tão restritiva, então não havia sentido em se enfurecer contra sua empregada estar no meio deles.
No entanto, ela gostaria de um momento privado com ele.
— Se você vier à minha casa amanhã, — Charlotte o informou, — Meus pais não terão nenhum problema com a nossa visita.
— Verdadeiramente? — Ele perguntou, embora Delia fizesse ruídos tut tut. A alegria voltou ao seu olhar, e um sorriso cruzou seus lábios revelando sua covinha.
— Eu estarei com você na sala, senhorita, — Delia protestou.
Charlotte balançou a cabeça.
— Mesmo que um certo cocheiro esteja do outro lado da porta da frente?
As bochechas de sua criada ficaram rosadas.
— Bem, eu... bem!
— Meu cocheiro? — Charles exclamou.
Charlotte reprimiu uma risada.
— Está quase na hora da última dança. Suponho que você o reservou para mim.
— Sim, — disse ele.
— Três danças, — murmurou Delia, como se o destino de todas as coisas civilizadas estivesse pendurado por um fio fino e sua dança no final de uma noite adorável pudesse quebrá-lo completamente.
— Três são permitidas, — Charlotte protestou, sabendo que era o máximo absoluto antes que seus nomes fossem ligados.
— Oh, bom, — disse Charles. — Uma valsa!
Assim que eles começaram a girar pela pista de dança, ela suspirou. Ela estava exatamente onde queria estar.
Ele se inclinou enquanto sua mão pressionava suas costas.
— Meu cocheiro? — Ele sussurrou.
Desta vez, Charlotte não conseguiu conter o riso enquanto eles dançavam passando da meia-noite.
Capítulo Vinte Sete
Como ela esperava, seus pais ficaram mais do que felizes por Charlotte receber Lorde Jeffcoat em sua casa quando ela mencionou isso no café da manhã.
— Seu pai pode ir à loja comigo, — disse Felicity. — Enquanto ele conversa com o construtor, vou preparar as entregas para Edward.
— Sobre o que estarei conversando com eles? — Perguntou seu pai, embora naquele momento, enquanto mastigava contente um pedaço de bacon e bebia um gole de chá, parecia perfeitamente feliz em fazer tudo o que lhe fosse pedido.
— Estou pensando em usar um elevador de serviço, — disse a mãe, — da sala dos fundos até o café.
Todos eles chamavam o andar de cima de café agora, dando a Charlotte um pouco de emoção cada vez que ela ouvia.
Charlotte bateu palmas.
— Uma ideia maravilhosa, mas espero que sejamos capazes de colocar uma pequena cozinha no andar de cima, porque fazer doces e bebidas na sala dos fundos pode ser difícil, se o andar de cima ficar cheio.
— Quando ficar cheio, — corrigiu Felicity.
Graças a Deus sua mãe abraçou a expansão de todo o coração!
Uma hora depois, seus pais tinham saído, e Charlotte passeou pela sala de estar, desejando que ela pudesse se concentrar em qualquer coisa, exceto no homem que a qualquer momento...
— Você está aqui! — Ela disse porque Charles estava parado na porta pigarreando para chamar sua atenção.
— Eu estou. E, como sempre, não havia Finley para me cumprimentar. Honestamente Charlotte, eu bati, mas qualquer um poderia ter entrado.
— É realmente uma pena, — disse ela. — Nós somos tão relaxados. — Mas ela realmente não se importou. O bairro deles era seguro e normalmente um deles se lembrava de trancar a porta da frente.
— Meus pais estão fora, — ela declarou enquanto ele caminhava em sua direção.
Ele congelou no meio do caminho.
— Eles foram à loja juntos. Podemos ter um garçom. Não é maravilhoso?
— É isso? — Ele perguntou, olhando ao redor. — Onde está aquela sua empregada infernal que está sempre tagarelando quando tento falar com você? Aquela que está de olho no meu cocheiro perfeitamente feliz? — Ele suspirou.
— Por que você não está feliz por eles? — Charlotte perguntou. Ele não achava que os servos deveriam ter amor também?
Ele encolheu os ombros.
— E se ela partir o coração dele e ele decidir se aposentar amanhã?
Revirando os olhos, porque ela sabia que Delia nunca iria partir o coração de ninguém, mas era tão atenciosa quanto qualquer pessoa que ela já conheceu, Charlotte foi até a porta.
— Delia! — Ela gritou. Quando não houve resposta, ela deu um assobio curto e agudo.
— Bom Deus! — Charles exclamou atrás dela. — Nós realmente devemos experimentar isso em minha propriedade rural e ver quantos cães você consegue reunir.
Delia desceu as escadas e Charlotte se dirigiu a ela.
— O cocheiro de Lorde Jeffcoat está do lado de fora e me disseram que ele está muito sozinho.
— Oh, não podemos ter isso. Vou ver se ele quer entrar para uma xícara de chá ou ficar do lado de fora para bater um papo. — Colocando seu xale ao redor dela, Delia desapareceu pela porta da frente.
Quando Charlotte se virou, Charles estava balançando a cabeça.
— Essa mulher não tem senso de dever. Ela nem mesmo enfiou a cabeça aqui para me dar um olhar severo e me colocar no meu lugar. E se eu já tivesse tirado meu casaco e até minha gravata e estivesse dançando uma giga? Sem meus sapatos!
Colocando a mão na boca, Charlotte riu muito. Ainda rindo da imagem do visconde em um estado tão bobo de nudez, ela se sentou no sofá.
— Sente-se, Charles.
— Você disse isso como se eu fosse um cachorro, — reclamou. Mas ele obedeceu, e como ela esperava, ele desistiu da noção afetada de sentar-se à sua frente e, em vez disso, sentou-se ao lado dela.
E então, todas as risadas saíram de sua garganta quando ele se aproximou e a beijou, totalmente sem aviso ou preâmbulo.
Inclinando a boca, ele firmemente reivindicou a dela sob a sua. Erguendo os braços, ela cruzou os dedos atrás do pescoço dele e o deixou empurrá-la de volta no sofá.
— Charlotte, — ele murmurou contra sua boca.
— Charles, — ela disse de volta.
— Estou ficando louco de vontade de beijar você de novo. — Ele mordiscou a borda de sua boca, fazendo seu corpo chiar. — Ter você em meus braços ontem à noite sem nenhuma maneira de segurá-la perto foi uma tortura. Dançar foi nada menos do que um tormento provocador. — E então o beijo se aprofundou novamente.
Seu estômago apertou, baixo entre seus quadris quando ele passou a língua entre seus lábios.
— Mm, — ela disse, do jeito que ela faria ao comer um doce delicioso, pois ele era o homem mais delicioso.
— Mm, — ele repetiu, e antes de se afastar, ele puxou suavemente o lábio inferior dela com os dentes.
— Oh, — ela respirou enquanto seu estômago revirava novamente e seu coração batia rápido. Quando ele tentou se afastar, ela apertou os dedos em seu cabelo macio e espesso na nuca.
— De novo, — ela exigiu.
E ele fez.
UM POUCO DEPOIS, ela se sentou afetada e apropriadamente em uma extremidade do sofá enquanto ele se sentou na outra, sorrindo para ela como um idiota. Charles não se conteve.
— Senhorita Rare Foure... Charlotte... eu deveria fazer um belo discurso, — ele começou.
Ela balançou a cabeça.
— Não é necessário ou esperado.
Ele parou, não esperando seu comentário. Então ele repassou em sua mente o que havia ensaiado diante de seu espelho e decidiu pular para a parte melhor e mais pertinente.
— Eu confesso que meu coração está transbordando de amor por você. Você vai ser minha esposa?
Ele não esperava que ela risse na cara dele, mas ela o fez. Ele engoliu em seco, sua boca seca de repente, e mil medos correram por suas veias.
— Oh céus! — Ela disse de uma vez, provavelmente porque ele ficou pálido. Estendendo o braço, ela segurou a mão dele, o que ele deveria ter feito em primeiro lugar, sem mencionar que se ajoelhou, e ele teria feito as duas coisas se não estivesse tão distraído pelo beijo caloroso. Mais do que isso, ele estava realmente nervoso para saber sua resposta.
— Não, por favor, — disse ela, — Não fique ofendido. Só que não esperava uma declaração tão curta, assim como não esperava um belo discurso. Afinal, você é um advogado. Portanto, esperava um longo argumento persuasivo, destinado a suprimir quaisquer dúvidas que eu pudesse ter.
— Você tem alguma? — Ele perguntou, esperando que isso não acabasse mal. Ele não tinha certeza se teria coragem de tentar uma terceira vez. Waverly teria um dia agitado zombando dele se um visconde não conseguisse segurar a mão de uma vendedora. Até a vendedora mais espetacular que já existiu.
— Não, — ela confessou.
Ele quase esqueceu a pergunta.
— Não? Oh, você quer dizer não, você não tem quaisquer dúvidas. — Ele soltou um suspiro de alívio. — Preparar tal discurso parecia uma perda de tempo, pois eu esperava saber o que você pensa sobre o assunto. Posso ousar acreditar que meus sentimentos são correspondidos?
— Sim, e na medida mais forte, — ela concordou, franzindo o nariz de uma forma doce e tratando-o com um sorriso generoso de seus lábios carnudos.
A força deixou seu corpo junto com a tensão que ele não percebeu que mantinha seus músculos tensos. Ele colocou a cabeça para trás e fechou os olhos, sentindo o tempo todo ela apertar sua mão que continuava segurando.
— Charles? — Ela perguntou incerta.
— Estou simplesmente muito aliviado e feliz. — Então ele percebeu que bobo apaixonado ele devia parecer para aquela mulher vivaz. Sentando-se, ele fez bem ao lado dela e caiu de joelhos ao lado do sofá.
— Charlotte, você vai me fazer o homem mais feliz do mundo e se casar comigo? — Ele percebeu tardiamente que ainda estava olhando para suas mãos unidas. Levantando o olhar para o rosto dela, ele olhou em seus olhos, da cor de chocolate rico e viu algumas lágrimas brilhando ali. Seu coração se apertou.
— Oh, não, — ele disse imediatamente. — Não chore. Por favor. Quero que você sinta apenas felicidade com a ideia de ser minha esposa. — Um pensamento inquieto passou por seu cérebro. Sua própria mãe tinha guardado suas esperanças e sonhos de uma vida de viagens e diversão quando se tornasse uma condessa com todos os deveres e expectativas sombrias? Pareceu-lhe que, se ela realmente amasse seu pai, ela teria criado a vida que ela queria dentro dos limites de seu casamento.
— Estou extraordinariamente feliz, — disse Charlotte, colocando todas as suas dúvidas para descansar. — Não cometa erros. Contanto que você realmente me ame.
— Querida senhora, — ele murmurou, — Você capturou inteiramente meu coração. Acho que desde a primeira vez entrei na sala dos fundos da sua loja e ...
Ele parou quando ela engasgou.
— Isso é exatamente o que minha mãe sempre diz. Eu sempre pensei que a loja tinha um poder mágico, — ela parou. — Você está carrancudo.
— Eu garanto a você, não era sua loja. Foi você, Charlotte. Você tornou impossível para mim não te amar. Sua doçura e carinho, o jeito que você ri e vê graça em tudo, até dançando com um bando de pessoas pomposas que tentaram te insultar.
Ela encolheu os ombros.
— Gosto de dançar, principalmente com você.
— Especialmente! Eu também espero. Prefiro que você nunca mais dance com outro homem, — declarou.
— Eu seria considerada terrivelmente rude e nunca seria convidada para nenhum baile. E como eu poderia ser sua viscondessa e anfitriã de festas se me recuso a dançar com qualquer pessoa, exceto meu marido arrojado?
— Arrojado? Com quem você vai se casar de novo?
Ela riu, mas então sua expressão ficou séria quando ela colocou a palma da mão em sua bochecha.
— Vou me casar com um advogado que cavalga em defesa de estranhos sem ser solicitado.
— Ou pago, — ele a lembrou.
— Você está arrojado em todos os sentidos, mesmo com seu sorriso torto.
— Meu sorriso...? — Ele parou. — Eu sorrio torto? É perceptível? Você tem um espelho à mão? — Ele examinou a sala e viu um pendurado na parede atrás de uma lâmpada.
Pondo-se de pé, ele foi até lá, imediatamente se olhando no espelho.
— Minha boca não parece torta.
Ele sentiu os braços dela envolverem sua cintura. Como é familiar! Que esposa e maravilhosa!
— Sorria, — ela ordenou, e ele o fez, parecendo um cachorro mostrando os dentes. E com certeza...
— Querido Deus! Aquele bufão absurdo com seu sorriso torto é realmente eu?
Ele sentiu a risada dela ao ouvi-la. O corpo dela balançou contra as costas dele, e ele agarrou as mãos dela onde estavam atadas em seu colete.
— Você vê a covinha, meu lorde? É, eu garanto a você, um arrojado.
Ele sorriu de novo e viu a expressão em sua bochecha.
— Se você diz.
— Eu juro. Toda mulher ama um homem com covinha.
Ele se virou no círculo de seus braços e a abraçou.
— Aposto que as mulheres preferem ainda mais um homem com duas covinhas.
— Absurdo. Uma única covinha é bastante... — ela parou, e suas bochechas ficaram deliciosamente rosadas.
— O quê? — Ele perguntou.
— Sensual. Isso me convida a ter pensamentos quentes e úmidos, — concluiu ela.
Seus próprios pensamentos foram instantaneamente para os mais quentes também.
— Eu não tinha ideia de que uma covinha era tudo isso. O que você acha de um noivado curto?
Ela riu tanto que as lágrimas surgiram em seus olhos novamente.
— Não estou falando de brincadeira, — Charles protestou. — Se você for receptiva, acho que três meses. Talvez eu consiga aguentar quatro meses, mas ...
— Três seria perfeito, — ela concordou. Uma mulher tão amável!
— Irei com você à loja imediatamente e pedirei a bênção de seu pai.
Ela sorriu.
— Não se assuste se meus pais se comportarem como se já estivéssemos noivos, ou como se pensassem que estávamos. Eu juro, elas estão muito à frente de cada uma de minhas irmãs e dos homens que se tornaram seus maridos.
— Tudo do melhor. Não vou precisar ensaiar um argumento persuasivo. E vamos reunir nossas famílias em breve. Não que eu tenha muitos do meu lado. Meu pai tem uma irmã na Escócia, mas só a encontrei duas vezes. Ela provavelmente não virá e é muito longe para se preocupar em ir vê-la. — Charles percebeu que estava balbuciando como um riacho, mas não conseguiu se conter.
— Vamos receber seus pais para conhecer meu pai no final da semana. E suas irmãs e seus maridos devem vir também, é claro. Seria bom ter Pelham lá para alisar quaisquer manchas ásperas. - Naturalmente, Pelham conheceu meu pai em muitas ocasiões, mas não acho que sua irmã, a duquesa, o tenha.
Charles sentia-se um pouco ansioso pensando em seu pai irritado junto com a ensolarada família Foure, mas quanto ao nervosismo por ficar noivo, ele não tinha absolutamente nenhuma dúvida de que Charlotte Rare Foure era a mulher certa para ele.
BEATRICE VOLTOU, e bem a tempo de jantar na casa do conde de Bentley e do visconde Jeffcoat, que em breve também seria de Charlotte. Deixando Delia mexer em seu cabelo por mais vinte minutos, Charlotte esperou enquanto sua criada colocava outro cacho à direita, um cacho extra nas costas, e então uma pena de pavão enfiada no pequeno coque trançado em cima.
— Eu acho que isso é bom, — Charlotte disse por fim.
— Bom? Queremos esplêndido. Você vai jantar com o seu futuro sogro.
Charlotte manteve para si mesma como o homem a considerou uma saia leve da última vez que ela esteve lá.
— Eu amo este vestido que você escolheu, — Charlotte disse, se levantando e girando na frente do espelho de corpo inteiro no canto de seu quarto. — É um tom incomum de azul esverdeado. Ou é verde azulado, você diria?
— Nenhum, — Delia disse. — É jade. — Ela certificou-se de que a renda branca do decote estava plana e deu um puxão no corpete.
— Ufa, — Charlotte disse. — Não muito baixo.
Delia sorriu.
— Eu já vesti você de alguma forma que não fosse decente? Mas agora, você tem o visconde, você pode se vestir um pouco mais aventureiro. Isso vai garantir que você mantenha o visconde.
— Delia!
Sua empregada não deu atenção ao seu tom.
— Vire, — Delia disse, antes de se certificar de que as dobras e pregas do tournure do vestido estavam perfeitas.
— Vai ser tudo estragado depois da viagem até lá de qualquer maneira, — Charlotte a lembrou.
— Elimine o pensamento. Peça a uma de suas irmãs que vá para o banheiro com você e você pode se revezar, certificando-se de que esta arrumada depois de chegar lá.
— Sim, Delia, — mas Charlotte não tinha intenção de se preocupar. Afinal, sentar-se ao jantar ou na sala de estar poderia bagunçar as dobras perfeitas de sua saia novamente, então o melhor que ela podia fazer era continuar olhando para frente. Ela estava muito mais interessada em ficar com Amity e Beatrice juntas novamente.
Como esperado, eles se reuniram na sala de estar, que parecia vagamente melhor do que da última vez que Charlotte a vira, simplesmente porque mais lâmpadas foram trazidas e o fogo ardia intensamente na lareira.
Sua mãe e irmãs olharam ao redor da sala com o mesmo olhar perspicaz, sem dúvida pensando no que ela pensava sobre a necessidade de um tapete mais claro, tinta fresca e papel de parede, e alguns vasos bonitos com flores. Seu pai, por outro lado, e os maridos de suas irmãs, o Sr. Carson e Sua Graça, o Duque de Pelham, não pareciam notar a aparência sombria.
O conde de Bentley estava totalmente vestido, com o cabelo penteado e saudando seus convidados.
— Então esta é aquela que roubou um duque, hein? — Ele disse ao encontrar Amity.
Charlotte esperava que sua irmã não se ofendesse, mas Amity se distraiu com seu estado de saúde e apenas ofereceu seu adorável sorriso antes de ocupar o primeiro lugar disponível. Quanto ao duque, ele estava bem acostumado com os modos irascíveis do pai do amigo.
— Ela realmente me pegou, senhor, — disse ele, apertando a mão do conde — como se eu fosse um veado premiado.
Quando ele se virou, Charlotte percebeu que ele trocou um olhar com Jeffcoat, tolerante e afetuoso.
— E você é? — O conde perguntou a Beatrice e seu marido. Depois que Charles os apresentou, seu pai fez poucos comentários, exceto dizer: — Americano! Realmente?
Charlotte arrastou-os para longe dele, com um pouco de medo do temperamento explosivo de sua irmã do meio quando ela pensava que estava sendo desprezada.
Seus pais patinaram pelo meio sem incidentes, também, e, em seguida, Charlotte foi até o seu futuro sogro e ignorando a mão que ele estendeu para ela. Em vez disso, ela se inclinou e beijou sua bochecha.
— Eu sou muito grata por Charles, — ela murmurou para que só ele pudesse ouvir.
— Você cheira bem, — respondeu o conde, o que todos ouviram, fazendo com que todos rissem, e eles terminaram as apresentações.
Com champanhe na mão, exceto por Amity, que no momento desfrutava apenas de uma pequena taça de cerveja preta, ocasionalmente, conforme aconselhado pela parteira, todas se sentaram. O sofá estava duro, como Charlotte se lembrava, e ela estremeceu quando Amity se reclinou sem jeito, parecendo abertamente desconfortável.
Charles anunciou o noivado, o que não foi novidade para ninguém, e disse isso como se ela estivesse lhe fazendo um favor. Que homem querido! Ele poderia ter qualquer mulher que quisesse, mas Charlotte estava confiante de que o amaria mais do que qualquer uma, desde seu sorriso torto até seus dedos, esperançosamente, não tortos, embora isso também fosse bom. Ela esperava ver seus pés descalços e seus...
— Não posso acreditar que finalmente nos relacionaremos, Jeffcoat, — disse o duque erguendo a taça. — Você não poderia se casar com uma família melhor.
— Concordo, disse o Sr. Carson, a quem Charlotte considerava uma pessoa maravilhosamente agradável com quem passara a maior parte da temporada anterior enquanto ele cortejava Bea.
— Todas as nossas três meninas, Sra. Rare Foure, — proclamou o pai, — Noivas dentro de três anos. Bastante notável.
— A magia da Rare Confeitaria, — Felicity pensou, colocando a mão no braço do marido.
— Eu sabia! — O duque disse com sua voz provocante. — Algo me agarrou quando entrei e não me deixou ir. Achei que fosse apenas o delicioso chocolate da minha esposa, mas talvez fosse mágico.
— Tudo o que sei é que algo foi jogado em mim, — brincou o Sr. Carson, dando a Beatrice um sorriso amoroso, — Mas voltei para receber muitas chicotadas mágicas junto com uma boa quantidade de caramelo.
Beatrice não parecia nem um pouco incomodada em ter sua língua afiada criada em uma companhia mista. Ela encolheu os ombros e bebeu um gole de champanhe antes de perguntar:
— E que magia juntou a Lady Marzipan e Lorde Jeffcoat? Você vai nos contar ou vamos ter que ler sobre isso nas revistas de fofoca?
— Lady Marzipan? — Charlotte repetiu, olhando além do estômago de sua irmã para ver Beatrice sorrindo como um gato.
— Bem, você me rotulou de herdeira de caramelo com melado ante toda a nobreza de Londres, — ela apontou. — Mas você, você será uma senhora com título.
Todos riram, exceto Amity, cujo rosto estava excepcionalmente pálido e cuja boca parecia comprimida. Charlotte estava prestes a perguntar a Charles se ele achava que seu cozinheiro tinha um pouco de chá de gengibre para acalmar a irmã quando, acima das risadas, Amity gemeu. Foi um som alto e estranho que fez a sala ficar instantaneamente em silêncio enquanto todos a encaravam.
O duque correu de uma cadeira alada na direção de sua esposa, e Beatrice se espalhou para o lado para dar-lhe acesso.
— Você está... você... isto é, eu posso...? — Ele perguntou.
Charlotte nunca tinha visto o duque de Pelham parecer mais indefeso.
Amity não pôde fazer mais do que sacudir a cabeça, o que não disse nada a todos, e então ela fechou os olhos e gemeu de novo.
Charlotte segurou a mão da irmã e a sentiu dar um aperto reconfortantemente forte. Amity tinha a força de dez homens e Charlotte tinha a sensação de que precisaria de cada grama.
Após uma pausa, Felicity Rare Foure, parecendo calma, disse:
— Acho que teremos que adiar o jantar. Minha filha, a Duquesa do Chocolate, entrou em trabalho de parto.
Capítulo Vinte e Oito
Charlotte não se importou com o fim abrupto do jantar porque, de repente, ela era uma tia, o que era praticamente a melhor coisa do mundo depois de ser mãe. Sem ir primeiro para casa, ela foi com sua família direto para a grande casa de sua irmã em St. James's Place. Um médico chegou pouco depois, assim como uma parteira, porque o duque disse que não ia correr riscos.
Quando ele se perguntou em voz alta se também deveria convocar o melhor veterinário de Londres, Felicity o conduziu para fora do quarto e fechou a porta para o duque ansioso. Charlotte se juntou à mãe e Beatrice para sentar-se com Amity.
— Na verdade, não há nada a fazer a não ser esperar e possivelmente comer alguma coisa, — disse a mãe, depois de se certificar de que sua filha mais velha estava o mais confortável possível. — Eu estava ansiosa para experimentar as habilidades de sua futura cozinheira, — acrescentou ela, olhando para Charlotte.
Mandaram a criada de Amity buscar um bule de chá, outro de chocolate quente e o que quer que houvesse na despensa, já que o pessoal da cozinha de Pelham não esperava alimentar os convidados naquela noite.
— É uma pena, — Amity disse entre as contrações, — Porque vocês todos estão lindos esta noite, especialmente Charlotte.
— Deixe que você seja tão amável, — Beatrice observou, — A ponto de desejar que seu trabalho de parto não tivesse começado para que pudéssemos ter um bom jantar.
— Além disso, — disse Charlotte, — Meu noivo tem que me ver com este vestido. — Ela olhou para seu vestido de noite agora amassado. — E esse é realmente o ponto, não é? Além disso, terei a oportunidade de usá-lo novamente. Até então, eu serei uma tia. — Ela bateu palmas. — Isso é tão emocionante.
Ela percebeu que sua mãe trocou um olhar com a parteira e então Felicity deu de ombros.
— Isso não vai ser só morango com creme. Vocês, meninas, entendem isso, não é?
— Mãe, — disse Bea. — Não somos crianças. Somos mulheres casadas. — Ela olhou para Charlotte. — E noiva. De qualquer forma, o que quero dizer é que todos nós tivemos uma amiga que passou por isso ou leu sobre isso.
Charlotte assentiu, assim como Amity, que parecia um pouco assustada. Charlotte não podia culpá-la, mas achou que o melhor era se elas mantivessem sua mente ocupada por tanto tempo quanto ela os desejasse.
— Você se incomodaria, — ela perguntou à mãe, — Se eu levasse Delia comigo? — E então ela contou a eles sobre a tendência crescente de sua empregada para o cocheiro de Charles. — É totalmente romântico, não é?
Bea riu.
— Não tão romântico quanto Lorde Jeffcoat, que te conhece há anos, se me permite salientar, inesperadamente percebendo que você é o desejo do coração dele.
— E ele para mim, — Charlotte apontou.
— Ainda mais notável, — Amity disse de sua cama, — Já que ele é o seu primeiro amor e será o seu único.
Charlotte decidiu que não havia propósito em mencionar Lionel Evans. Por outro lado, ela não queria que elas pensassem que ela havia se apaixonado pelo primeiro homem que aparecesse e mostrasse interesse por ela. Charles a teria conquistado mesmo se ela tivesse uma longa lista de pretendentes.
— Eu já estive de olho em outro homem antes. Não sou totalmente verde, como dizem.
— Ha! — Beatrice disse. — Nós sabíamos disso. Não é? — Ela olhou para a cama.
— Ficamos imaginando, — disse Amity.
Charlotte não explicou quem, nem perguntou o que suas irmãs pensavam que sabiam.
— Era uma paixão boba em comparação com o que sinto por Lorde Jeffcoat. — Lionel havia se tornado totalmente insignificante. Mais do que isso, Charlotte estava realmente aliviada por ele ter partido quando o fez. Ela poderia ter feito algo imprudente que teria garantido que ela tivesse que se casar com ele. E agora que experimentara o encontro de mentes com Charles, para não falar dos lábios que sabia que estar com Lionel teria sido uma decepção terrível e acabaria mal.
Amity gemeu. Charlotte suspirou. Não havia nada a fazer a não ser esperar.
SER UMA TIA com Amity tendo um lindo menino cujo nome ainda não tinha sido dado foi a primeira das bênçãos de Charlotte. A escada foi concluída para a satisfação de todos e a loja foi reaberta. A vida era boa.
E não apenas para ela e sua família.
— Você deveria ver o tamanho do lugar, senhorita, — Edward disse depois que ele, sua mãe e irmãos se mudaram para seu novo apartamento em Marylebone. — Mamãe se sente uma rainha.
O coração de Charlotte estava cheio, quase explodindo. E embora ela não tivesse visto o lugar, ela foi informada de que eles eram bem cuidados pela Srta. Hill. Apesar do que Edward disse, os apartamentos eram pequenos para todos os padrões, exceto por terem vivido com uma família de quatro pessoas em um apartamento no East End. Definitivamente não era um palácio, mas a nova casa dos Percys em Marylebone seria segura e barata.
— Nós nem contamos ao Sr. Tufts para onde íamos.
— Acho que ele estará muito ocupado com o processo dos meus pais para se preocupar em encontrar você e sua família, — disse Charlotte.
Sua mãe concordou que expandir para Covent Garden, se a licença para ter uma pequena barraca lá não fosse muito cara, seria uma grande ideia.
— Pense em todos aqueles clientes, — disse Felicity, — Que não vão à New Bond Street, mas que vagueiam pelo mercado ou perto dele todos os dias.
Assim que eles reabrissem e estivessem de volta a todo vapor, como seu pai disse, eles iriam prosseguir com a ideia sobre a Sra. Percy.
No meio de tudo isso, Charlotte tinha seu casamento pela frente. Charles já havia escolhido a Igreja de St George, a menos que ela tivesse alguma dúvida. Ela não tinha nenhuma. No entanto, como nunca tinha entrado, ela decidiu passear e examinar o interior em vez de comer uma refeição do meio-dia na sala dos fundos.
Foi uma curta caminhada da loja em um dia ensolarado com apenas algumas nuvens brancas. Charlotte colocou um pedaço de caramelo na boca enquanto caminhava, se perguntando como sua vida havia se tornado tão abençoada. Pensar que ela estava trabalhando a apenas uma rua de distância da igreja centenária onde se casaria parecia mais um milagre. Construído depois que um ato parlamentar convocou cinquenta novas igrejas em Londres e Westminster, o grande edifício antigo a deteve momentaneamente.
O toque de seu único sino tinha sido um som familiar em sua vida, e ela tinha visto St. George muitas vezes, mas nunca com os olhos de uma noiva. Passando pelas seis colunas coríntias na frente, o único adorno para um exterior plano, ela não encontrou ninguém lá dentro no meio do dia. Livre para vagar pela nave, seu olhar foi instantaneamente cravado no vitral acima do altar na abside na outra extremidade. Com o sol brilhando, todas as cores do arco-íris brilharam de forma impressionante de volta para ela. Era melhor do que qualquer pintura que ela já tinha visto.
Passando entre os bancos estreitos de cada lado dela, a altura deles tendo sido reduzida oito anos antes para que as pessoas pudessem ver por cima deles, ela imaginou sua família sentada ali, testemunhando seu casamento com Charles. Olhando para o teto arqueado, apoiado por pilares que imitavam as colunas externas, ela respirou o cheiro do prédio antigo não mofado, simplesmente... rarefeito. Havia algo especial ali, com certeza. Isso a lembrou de estar em um museu no qual ela foi compelida a falar em tons abafados enquanto absorvia a magia da grande arte tanto quanto ela com seus olhos.
Encolhendo os ombros diante de suas noções tolas, Charlotte deu uma última olhada na folha de ouro polida dos topos coríntios e nas faixas douradas cobrindo o teto. Como era apropriado que a decoração mais cara tivesse sido colocada perto do céu.
Que incrível ela, filha de lojista, se casaria ali!
Saindo da igreja, como era um dia adorável, raro para Londres, não importa a época do ano, ela rumou para o norte por dois minutos até a Hanover Square, para que pudesse desfrutar de um pouco de verde à sombra das velhas árvores.
Atravessando a praça, determinada a encontrar um lugar no meio para se sentar por cinco minutos, de repente, ela avistou Viola Evans, que ela não via há meses. E com ela estava... Lionel.
Lionel! Seu coração quase parou. Ele parecia o mesmo, mas diferente. Seu cabelo estava mais curto, suas roupas diferentes, mais reservadas do que ele usava na aula de arte. Menos um viajante continental extravagante e mais... comum.
Viola a viu em seguida, soltou o braço do irmão e correu em sua direção. No instante seguinte, ela apertou as mãos enluvadas de Charlotte.
— É bom ver você, — declarou Viola.
Realmente? Foi a primeira comunicação que tiveram desde que Viola pediu dinheiro a ela. Se Viola tivesse escrito novamente com apenas algumas palavras de amizade, Charlotte teria respondido na mesma moeda.
Lionel parou na frente dela. Ela percebeu que estava tremendo. Um ano e meio ela se dedicou a observá-lo, aguardando cada palavra sua, deixando-o beijá-la, esperando o momento em que a reclamaria publicamente, como ele havia insinuado. Quando fosse a hora certa...
— Bom dia, Srta. Rare Foure, — foram suas primeiras palavras. — Estou feliz em ver que você está bem. — E seu olhar a percorreu da cabeça aos pés antes de oferecer seu sorriso encantador.
Quase incapaz de respirar com o choque, ela não conseguia falar.
— Você não vai cumprimentar meu irmão? — Viola disse, seu tom fino. — Espero que você não guarde rancor por ele não ter se despedido.
Viola havia convenientemente esquecido seu rancor contra ele quando ele fugiu com apenas um bilhete para seus pais. Aparentemente, todas as suas cartas subsequentes conquistaram sua irmã.
Recordando uma época em que ela teria derretido se ele dissesse que ela parecia bem e sorrisse benignamente para ela como o sol no céu, Charlotte percebeu que não dava mais um figo.
— Estou bem, obrigada. — Seus pensamentos voaram para Charles. Sem uma pitada de egoísmo, ele a ajudou, e então a beijou, e todos os seus problemas haviam desaparecido. Ele não havia pedido nada em troca. Ao contrário de Lionel.
Protegendo os olhos contra o sol da tarde, ela olhou para Lionel.
— Você voltou recentemente de sua viagem?
Irmão e irmã se entreolharam.
— Sim, — disse ele. — Apenas alguns dias atrás.
— Estávamos indo para o Gunter's para tomar sorvete. Você vai se juntar a nós? — Perguntou Viola. — Lionel ia me contar em detalhes sobre os pontos turísticos que viu.
Os pontos turisticos! Viola falou como se a viagem tivesse sido uma viagem sancionada em vez de uma fuga furtiva e escorregadia com uma jovem cuja reputação agora estava arruinada.
Sentindo-se um pouco doente com a ideia de ouvir Lionel tagarelar sobre lugares que ela tinha visto com sua própria família, Charlotte balançou a cabeça enfaticamente. Então ela se lembrou de suas maneiras.
— Não, obrigada. Acabei de... em uma missão. — Que maneira banal de descrever um tour pela igreja onde ela se casaria com o homem mais maravilhoso do mundo.
No entanto, o anúncio do noivado ainda não havia sido feito, embora ela soubesse que sairia nos jornais naquele mesmo dia. Mas os Evans não eram sua primeira escolha de pessoas para contar fora de sua família, e revelar tal coisa do nada na rua parecia vulgar e arrogante.
Charlotte se desculpou.
— Eu devo voltar para a loja.
Viola soltou sua mão.
— Tudo certo. Outra hora. Lamento ter perdido o contato, mas agora que meu irmão está de volta, talvez possamos voltar à nossa antiga amizade, nós três.
Tornou-se flagrantemente claro ao longo dos últimos meses que eles não tinham interesses comuns fora da academia de arte. Não só Lionel se comportou de maneira repreensível, mas Viola ficou irritada quando Charlotte expressou consternação com a partida dele, e depois petulante quando ela não se interessou mais por suas cartas presunçosas. E isso foi antes do pedido de dinheiro.
No entanto, não havia motivo para ser rude.
— Você vai voltar para a aula de arte? — Charlotte perguntou a Viola, mas seu olhar se fixou em Lionel também, e foi ele quem respondeu.
— Se minha irmã ainda quer aulas, agora posso instruí-la, depois de tudo que vi e fiz. — Ele deu um sorriso superior. — Já pintei com alguns grandes artistas em um ateliê em Paris, e não voltaria para o nosso antigo professor, de qualquer maneira. Não acho que nenhum de nós ganhou muito com ele.
Lionel ganhou uma bela companheira de viagem loira, e Charlotte vagamente se perguntou o que teria acontecido com a modelo no momento em que chegaram a Roma. Ela não conseguia se importar o suficiente para bisbilhotar, mesmo que esse fosse um assunto aceitável.
— Desejo um bom dia a vocês dois, então, — ela disse a eles. — Aproveite seus sorvetes. — Isso se Lionel pensasse que o gelo britânico poderia se comparar ao gelado francês em Paris. Afinal, poucos meses aparentemente o transformaram no próximo Delacroix, se não no Botticelli.
— Charlotte, — disse Viola, interrompendo sua partida. — Espero que perdoe Lionel por seus antigos maus modos e partida abrupta.
Viola não sabia nem a metade, a menos que incluísse beijos roubados naqueles — maus modos.
Porque ela não se importava mais com a inteligência, ela disse:
— Não há nada a perdoar, eu garanto a você. — E ela quis dizer isso. Tirando isso, seria impossível voltar a qualquer aparência de amizade apenas com Viola, não com Lionel sendo constantemente mencionado, ou pior, ficar por aí com sua expressão presunçosa. Era impróprio.
— Bom dia, Viola. Eu desejo você bem. — Ela esperava que soasse tão final quanto ela pretendia. Então seu olhar se voltou para Lionel. — Bom dia para você, Sr. Evans.
Novamente, ele a mediu, da cabeça aos pés. Isso fez com que suas bochechas esquentassem de vergonha por ele, e ela não se importou com a sensação.
— Bom dia para você, Srta. Rare Foure. Espero que nos encontremos novamente.
Os olhos de Lionel, que ela sempre considerou impecavelmente emocionantes, brilhando de interesse, agora pareciam selvagens com pensamentos inadequados em comparação com o olhar inteligente e amoroso de Charles.
Apressando-se, Charlotte se sentiu confusa. Era a única maneira de ela descrever a sensação de inquietação ao vê-lo novamente de forma inesperada, apesar de não ter mais um pingo de afeto por ele.
O barulho DE PEDRAS em sua janela e na parede ao lado dela a fez abrir a janela nas primeiras horas da manhã.
Assim que ela abriu, ela reconheceu o perpetrador. Lionel parecia estar pegando pedras ainda maiores no jardim de seus pais e balançando como um navio em mar agitado.
— Charlotte! Charlotte. Eu sonho com você e você sozinha. Minha musa de fogo! Deixe-me pintar você nua.
Revirando os olhos para o tolo bêbado, ela o chamou:
— Sr. Evans, fique quieto.
— Sua crueldade não conhece limites. Eu sou realmente agora 'Sr. Evans para você quando eu reivindiquei aqueles lábios perfeitos?
Mãe doce! Ele não ligava para a reputação dela?
— Eu voltei, — acrescentou ele desnecessariamente, — Para reivindicar o resto de você. — Com essas palavras, ele ergueu as mãos e abriu os braços como se fosse pegá-la se ela pulasse do segundo andar.
Seu comportamento era indefensável. Delia provavelmente acordou com as primeiras palavras gritadas e ouviu tudo. Seus pais, cujo quarto ficava do outro lado da casa, felizmente não haviam despertado de seu sono. Mas o Sr. Finley e Lydia também podem ter acordado. Não que ela achasse que a empregada doméstica fosse uma fofoqueira desleal, mas qualquer pessoa com uma xícara de chá em uma das mãos e um biscoito na outra era capaz de começar a tagarelar sobre algo tão irreverente.
— Vá embora, Lionel, — disse ela, esperando que, ao usar o nome dele, ele se acalmasse e se retirasse.
— Ai sim! Ela ainda me ama. Olhe aquela janela como Charlotte ofusca o sol, — disse ele em voz alta, mutilando uma citação de Shakespeare que até ela sabia de cor.
— O que vai fazer você sair neste instante?
— Uma promessa, querida Julieta — ele insistiu. — Encontre-me hoje no nosso paraíso em miniatura.
Seu significado estava claro. Duck Island em St. James's Park, onde eles se conheceram. Ela tropeçou por uma cerca, quase rasgando sua capa, e passou correndo pela cabana dos tratadores de pássaros, onde ela sabia que não deveria ir porque o público não era bem-vindo. Ela o conheceu presumindo que ele iria propor ou se declarar, pelo menos.
— Eu irei se puder trazer minha irmã ou minha empregada.
— Absolutamente não. Que diversão haveria nisso? — De repente, ele se jogou na beira do pequeno jardim, sem se preocupar com o banco de pedra. — Você deve vir sozinha ou eu..., — ele parou.
Ela esperou, mas quando ele não disse mais nada, ela se perguntou se ele tinha adormecido em um estupor de embriaguez.
— Lionel? — Ela perguntou, prestes a fechar a janela.
— Ou devo dizer a todos o quão mal você me usou?
Capítulo Vinte e Nove
Lionel era louco! Talvez ele tivesse comido um pouco de sua tinta a óleo. Charlotte tinha ouvido falar que podia deixar um pintor tão maluco quanto uma lebre em marcha.
— O que diabos você quer dizer? — Ela exigiu.
— Suas artimanhas femininas eram mais do que eu poderia suportar, — ele fez beicinho.
Ele não teve nenhum problema em deixá-la e suas artimanhas para trás. Quando ela começou a dizer isso, ele se levantou novamente.
— Encontre-me às... ao meio-dia, — disse ele em um tom mais exigente.
— Isso é impossível. Devo trabalhar hoje. — Ela esperava que isso o desanimasse. Além disso, ele adormeceria antes do meio-dia, ela tinha um pressentimento, e seria o fim de tudo. Mas e se ele voltasse com sua voz alta e palavras ameaçadoras?
— Então, quando você fechar a loja, — ele emendou. — Eu vou esperar você na ilha entre as aves aquáticas.
Algo estava sujo, certo, e não apenas os patos. Charlotte cerrou os punhos. O que ele esperava realizar?
— Prometa, — ele acrescentou. — Ou ficarei aqui para sempre. E também retorno diariamente.
Se ele ficasse, como poderia voltar? Ele era realmente um bêbado terrível.
— Tudo certo. Eu estarei lá por volta das seis horas. — Ela estremeceu com a ideia de fazer algo tão astuto a ponto de encontrar ilicitamente um homem que não era seu noivo.
— Mas você deve me prometer depois disso, você nunca mais virá aqui de novo, — ela insistiu. — Você vai me deixar em paz.
— Se você quiser, — ele disse suavemente, soando menos embriagado do que antes. — Vai ser difícil esperar até que eu te veja novamente. — E ele foi embora sem vacilar ou tropeçar.
CHARLES VIU O ANÚNCIO no jornal, que leu com seu bule de chá matinal um dia atrasado, como sempre acontecia, pois não havia tido tempo livre para jornais ou chá na véspera. O efeito de ver seu nome ligado ao de Charlotte foi bem-vindo e ele deu um suspiro de alívio. De alguma forma, ver o noivado em preto e branco o tornava real, irrevogável. Charlotte Rare Foure seria sua esposa capaz, afetuosa e amorosa. Eles teriam muitos bebês e muitos anos felizes juntos.
Ele teve que passar o dia no tribunal em um caso que não esperava ganhar, mas esperava ver sua noiva mais tarde, fazendo com que qualquer perda legal em potencial se tornasse totalmente irrelevante.
Noiva! Ele percebeu que estava sorrindo para si mesmo pela enésima vez simplesmente por pensar na palavra. Não era como se ele não esperasse um dia ter um. Mas ser capaz de reconhecer de repente que ele se vinculou a alguém, à impossivelmente maravilhosa Charlotte, elevou sua felicidade.
Sua prometida ele sorriu novamente, outra boa palavra! Disse a ele que as escadas estavam prontas e que a loja estava prestes a reabrir. Ela e a mãe começaram a trabalhar no andar de cima antes do previsto. Com sua percepção do que as pessoas gostavam, o novo café de Charlotte seria um sucesso retumbante.
E ele estava determinado a apoiá-la de qualquer maneira que pudesse. Por um lado, Pelham o ensinara a viver com uma esposa que trabalhava e a desviar a conversa desse fato quando necessário, sob certas circunstâncias. Ele não tinha vergonha de sua condição de classe média e não se importava que ela não pudesse tocar piano ou cantar. Se eles precisassem de entretenimento, ele o contrataria, não esperava que Charlotte fornecesse.
Era um tanto insultante quando alguém pensava nisso dessa forma usando a esposa para divertir as pessoas em sua sala de estar, da mesma forma que alguém trazia o cavalo vencedor no autódromo de Ascot ou mesmo um ponteiro de prêmio em uma daquelas exposições caninas da moda em Newcastle upon Tyne.
E para aqueles momentos em que ele pudesse cantar louvores com segurança sem constrangê-la ou convidá-la a censura, então ele faria isso também. Para o grupo certo de amigos, ele contaria com orgulho que sua esposa era uma confeiteira que fazia o Marzipan mais cremoso e macio.
Talvez ele pudesse aumentar o negócio da Rare Foure simplesmente patrocinando-a, assim como Pelham. Talvez Charlotte até nomeasse algo com ele.
O Marzipan Jeffcoat. Ele fez uma careta com a ideia boba. Talvez não.
Contanto que pudesse fazê-la feliz pelo resto de suas vidas, ele não se importava se alguém comesse um doce Jeffcoat.
CHARLOTTE PUXOU seu casaco de algodão. Ela ficou satisfeita por estar quente o suficiente para não precisar de uma capa até que ela percebeu os benefícios de um capuz, dando-lhe um certo grau de anonimato. Em vez disso, ela usava uma saia listrada rosa e creme vivo e paletó listrado combinando. Ela amou a roupa por ser extravagante, fazendo-a se sentir como uma doce confeitaria. No entanto, agora que iria encontrar Lionel, temia ter a aparência de uma vara de barbeiro ambulante muito visível.
Saindo da Rare Confeitaria, ela considerou ir a pé, mas decidiu que a caminhada de 20 minutos seria muito longa. Seus nervos estariam em frangalhos. Assim, após debater consigo mesma por meio quarteirão, ela chamou um táxi que estava, de repente, bem na sua frente. Que fortuito!
A viagem ao St. James's Park foi curta, mal tinha tempo de arrumar as saias no velho assento de couro antes de cruzarem as lojas e chegarem.
— Aí está, senhorita.
Ela pensou em pedir ao cocheiro para esperar, mas havia tantos taxistas na entrada do parque que parecia um pedido desnecessário. Passando apressada por outros carrinhos de bebê nos vários caminhos, ela se dirigiu ao lago. Em outro minuto, ela escalou a cerca semidestruída que tinha visto dias melhores, barrando a trilha para Duck Island, que na verdade era uma península. Certamente já não mantinha os gatos da cidade afastados, já que a vedação tinha como objetivo principal proteger as várias espécies de pássaros, nem afastava as pessoas determinadas a ir para a ilha.
Passando por um homem com uma vara, ela olhou para o balde. Depois de ler sobre a água estagnada, ela não conseguia se imaginar comendo nada preso no lago do Parque St. James.
Ela passou pela casa do tratador de pássaros, também em péssimo estado de abandono, e se apressou ao redor da pequena ilha até uma árvore familiar. Lá estava ele. Lionel Evans.
Ele não a interessava nem um pouco, e agora, ela tinha que convencê-lo a continuar com sua vida. Se ele estava apaixonado por ela em alguma obsessão recém-descoberta, ela insistiria que cessasse imediatamente. Ela até contaria a ele sobre seu noivado, se necessário, para afastá-lo. Certamente, ele não gostaria de se envolver com um visconde, especialmente alguém que também era advogado.
Lionel se virou e sorriu.
— Aí está minha garota, — ele disse, dando-lhe uma pausa. Ele parecia tão seguro e presunçoso.
— Na verdade, eu não sou, — Charlotte afirmou para que ele soubesse onde eles estavam imediatamente, — e é por isso que vim.
Cruzando os braços, ele a olhou de cima a baixo daquela maneira insolente que fazia. Ela lembrou que ele sempre fez isso, mas costumava excitá-la. Agora, ela se sentia insultada.
— Você está dizendo que veio me encontrar secretamente para me dizer que ainda não tem sentimentos por mim?
Ela vacilou. Doeu saber que ele viu o quanto ela gostava dele anteriormente, e ele a deixou de qualquer maneira. Ela preferia esperar que ele fosse um tolo indiferente, não um homem frio e sem coração, que rejeitou seus sentimentos tão abruptamente.
— Eu vim aqui porque você me forçou, — Charlotte o lembrou. — Embora você estivesse tão embriagado, eu não tinha certeza se você se lembraria.
— Eu não perderia um encontro com você, a futura viscondessa Jeffcoat.
Ela deu um passo para trás chocada.
— Como você sabia?
— Estava nos jornais ontem. Eu percebi isso depois que minha irmã e eu encontramos você, — ele disse, parecendo casual. — Parabéns.
Fazendo uma pausa, ela sabia que estava em território desconhecido. O que ele queria?
— Obrigada, — ela disse suavemente, continuando a estudá-lo. — Mas você disse que... queria reivindicar o resto de mim.
— Então você veio aqui para ver se era verdade. — Ele balançou sua cabeça. — Acho que você é uma garota bonita, Charlotte, mas talvez não seja adorável o suficiente para capturar um visconde rico. A menos que... - ele fez uma pausa - você o deixou desembrulhar o presente da noite de núpcias antes do tempo e o prendeu?
— O quê? — Ele estava dizendo o que ela pensava que ele estava? Girando nos calcanhares, ela começou a se afastar. Ela veio porque ele a ameaçou, pensando que ele poderia falar com alguém que claramente não tinha nenhum.
— Ou ele pensa que você ainda é inocente? — Suas palavras zombeteiras vieram atrás dela.
Ela parou, suas bochechas aquecidas. Sem se virar, ela disse:
— Eu sou, — e deu mais um passo para longe dele.
— Mas você me deixou beijar você. Mais de uma vez.
— Eu gostava de você, Lionel, — disse ela, voltando a encará-lo. Pensando nas palavras dele em sua janela sobre dizer a todos que ela o tinha usado, ela perguntou: — O que você quer?
— Embora eu ache que você é uma pessoa especial, você é mais útil como uma viscondessa, já que estou em algumas dívidas. O continente não foi bom para mim.
— Você não pode vender algumas de suas pinturas para arrecadar dinheiro? — Ela perguntou, tentando não seguir suas palavras à conclusão natural de que ele iria pedir dinheiro a ela, assim como Viola tinha feito.
Seu rosto ficou azedo.
— Não sou apreciado como serei eventualmente. Às vezes, isso não acontece até depois que um artista morre, mas não estou disposto a esperar tanto tempo. Eu preciso viver E depois de um incidente na Itália, descobri que o melhor lugar para eu morar é bem aqui, na velha Inglaterra entediante.
Para o azar dela.
— E sua família?
— E eles? — Ele perguntou com raiva. — Meus pais não aprovaram minha partida em primeiro lugar. Tive que... pedir dinheiro emprestado a eles. Eu precisei!
Parecia que ele havia roubado de sua família e agora eles não confiavam nele.
— Mas certamente eles vão deixar você morar em casa até ...
Ele estava balançando a cabeça.
— Só Viola me apoiou, mandando dinheiro quando podia. Eu esperava que você também fosse uma boa amiga. Pelo que um dia significamos um para o outro.
Charlotte balançou a cabeça.
— Eu não vou te dar nada. Eu não faria isso quando Viola me pediu, e eu não vou agora.
— Você vai, — Lionel disse, olhando para sua luva, dando um puxão, e então de volta para ela. — Ou eu vou arruinar você.
Uma lasca de medo a atravessou, mas então ela imaginou o rosto inteligente de Charles.
— Meu noivo não vai acreditar em você, — declarou ela, revoltada com o comportamento de Lionel. — Ninguém que me conhece vai acreditar em qualquer coisa que você diga.
— Não? — Lionel inclinou a cabeça. — Eu acho que você é tão ingênua sobre o mundo como sempre. Os homens não gostam de pensar que foram feitos de idiotas, nem mesmo uma sugestão disso. E nos encontramos sozinhos. Quantas vezes? Quem pode dizer o que fizemos ou o que você poderia ter feito comigo?
Ela não sabia exatamente o que ele queria dizer, mas certamente poderia adivinhar um pouco do que ele insinuou. No entanto, a única coisa de que ela tinha certeza era que Charles a amava.
— Vou dizer a ele que você está me chantageando por dinheiro, — disse ela, embora tivesse que confessar que tinha um carinho por este homem odioso. Que mortificante!
— Viola vai dizer ao mundo que você era minha amante. — Suas palavras saíram frias, seguras e sem piedade.
Ofegante, ela se sentiu tonta. Viola? Charlotte temeu que ela fizesse. Desta vez, ela deu um passo em direção a ele, as mãos estendidas suplicantes.
— Lionel, por que você faria isso comigo? Eu me importava com você, sim. Você sabe disso. Mas eu me apaixonei por outra pessoa. E não tenho dinheiro para te dar.
— Você vai ter, e muito.
— Não posso lhe dar o dinheiro de Lorde Jeffcoat! Se ele descobrisse, o que pensaria de mim? Eu nunca o trairia assim.
— Oh, Charlotte, você já cometeu um erro terrível vindo aqui hoje, não acha? Se ele descobrisse, seu noivado estaria acabado. Por que você me conheceria a menos que você pensasse que eu tinha algo para segurar sobre sua linda cabeça? Isso é o que ele vai pensar. Ou pior, que você queria continuar de onde paramos?
Ele estendeu a mão e puxou-a para si.
— Nós nos beijamos, — ela disse, olhando para ele, querendo que ele admitisse a verdade. — Nada mais. É tudo o que sempre fizemos.
E então, com o canto do olho, ela viu um movimento. Ao mesmo tempo, Lionel olhou além dela e seus olhos se arregalaram, seu rosto ficando pálido.
Virando-se rapidamente, ela viu Charles quase em cima deles. Seus modos eram calmos, seu rosto de pedra. Isso a apavorou mais do que qualquer coisa que já tinha acontecido.
Libertando-se, o que foi fácil, pois Lionel se transformou em massa, ela enfrentou o homem que amava.
— Como você me achou? — Ela começou, lutando para se sentir aliviada porque ele sempre a ajudara, mas desta vez...
Suas primeiras palavras a deixaram fria.
— Eu confiei em você.
Confiou? No passado, mas não mais? Ela temia que Lionel, amaldiçoado homem, estivesse certo. Seria preciso muita explicação para transformar esse pesadelo crescente de volta no dia lindo que era antes.
Antes que Charlotte pudesse dizer mais alguma coisa, Charles passou por ela e fechou o punho no meio do rosto de Lionel.
CHARLES FLEXIONOU os dedos e afastou o desconforto de sua mão. Ele desejou ter começado com um golpe no estômago do patife e depois um soco no rosto. Ele teve pouca satisfação em ver o estranho esparramado no chão, o sangue jorrando de seu nariz, já derrotado.
Quem era esse homem que estragou tudo? No instante seguinte, ele não se importou em descobrir. Afinal, não era ele com quem planejava passar a vida.
Virando-se para Charlotte, Charles pensou que ela parecia... diferente. Os mesmos grandes olhos castanhos, seu cabelo lustroso artisticamente arranjado para o trabalho de forma que não caia em seus olhos, mas sua expressão era uma que ele nunca tinha visto antes. Foi culpa? Medo?
Ele não tinha certeza, mas não gostou. E seus lábios macios e carnudos estavam tensos de preocupação por terem sido descobertos em alguma confusão sórdida.
A raiva correu por ele novamente, exceto que desta vez, ele não tinha um rosto de homem para liberar. Ele estava se aproximando da Rare Confeitaria quando a viu sair, uma bela e deliciosa visão rosa e branca, lembrando-o de um presente a ser desembrulhado. Antes que ele pudesse chamá-la, ela pulou em um táxi. Com o coração decidido a passar um tempo com ela, Charles a seguiu até o parque e depois para a ilha, imaginando sua aventura extravagante. Só para descobrir que ela estava se encontrando com um homem!
Tinha sido difícil para seus olhos acreditar, ainda mais difícil para seu cérebro aceitar quando a primeira onda de fúria fluiu por ele.
— Charles, posso explicar?
— Você o conhece? — Sua voz soou oca e estranha aos seus ouvidos. Além disso, ele não sabia ao certo por que fez essa pergunta primeiro. No entanto, se isso tivesse sido um encontro casual de alguma forma, se ela estivesse dando um passeio inocente e o homem a tivesse surpreendido, eles poderiam salvar tudo. Então, ela teria que perdoar suas suposições terríveis.
— Sim, costumávamos...
Ele ergueu a mão para detê-la. Ele não tinha interesse no que eles costumavam fazer ou significar um para o outro.
Ele inesperadamente ganhou o caso no tribunal naquele dia. E ainda mais inesperadamente teve seu coração partido. Seus piores temores se deram conta de que ele se apaixonou por uma mulher como sua própria mãe enganosa e desleal.
— Venha comigo, — disse ele. Mesmo que ela não pudesse mais estar em sua vida, pois, daquele dia em diante, Charlotte não significaria absolutamente nada para ele, mas ele não poderia deixá-la sozinha naquela ilha miserável. Não era seguro.
Com suas palavras, ela se iluminou. Seu alívio foi palpável. Ela realmente pensou que ele lhe daria outra chance de enganá-lo.
Ele estendeu o braço para ela, e seu sorriso se estabeleceu em seu rosto quando ela colocou a mão na dele.
— Não seremos capazes de ficar assim, — ela tagarelou. — O caminho se estreita muitas vezes.
Ele balançou a cabeça, estripado com o conhecimento dela da ilha que ele nunca tinha estado antes. Obviamente, ela tinha. Como ela previu corretamente, eles tiveram que se separar quando arbustos e árvores lotaram a trilha estreita, e ele a deixou liderar o caminho.
Assim que eles voltaram para o caminho principal do parque, ela se virou para pegar o braço dele, mas ele não deu a ela.
Balançando a cabeça, ele começou a se afastar. Ela estava segura o suficiente agora sozinha. O sol demoraria horas para se pôr e havia muitos taxistas nas várias entradas do parque.
— Charles?
Ele se virou para ela e sua expressão questionadora. Em sua mente, ele viu seu pai, dobrado de tristeza e estava grato pela pequena bênção de ter descoberto antes de cometer o erro de se casar com ela.
— Senhorita Rare Foure, terminamos. Pode ser demais para mim esperar nunca mais ver você, mas esse é o meu desejo fervoroso.
Girando nos calcanhares, ele foi embora.
— Charles, — ela gritou atrás dele, sem se incomodar de que houvesse outras pessoas nos caminhos. — Como você pode dizer aquilo? Você não me ama?
Por dentro, ele não hesitou. Seu coração gritou sim, ecoando inutilmente em seu cérebro. Ele ficou imediatamente angustiado e exausto. No entanto, ela não fez a pergunta correta. Ela deveria ter perguntado se ele confiava nela. E a resposta foi um sonoro não!
Capítulo Trinta
Felizmente, a casa de Amity era próxima, ou Charlotte poderia ter se sentado no parque e chorado por horas. Como estava, depois de assistir a figura de ombros largos de Charles se afastando dela, ela rapidamente alcançou a porta de sua irmã e soluçou em particular. Ou, pelo menos, tão privado quanto poderia ser na sala de estar de Amity com um novo bebê e uma babá e o marido diligente de sua irmã pairando a cada poucos momentos.
No final das contas, o duque foi mais útil do que Amity. Enquanto a irmã de Charlotte tentava acalmá-la e explicar como tudo ficaria bem, seu marido queria detalhes, parecendo determinado a — consertar — qualquer dano que tivesse sido feito.
— Você não deveria ter se encontrado com o homem, — disse ele, depois que Charlotte controlou suas emoções pela segunda ou terceira vez com a ajuda de várias xícaras de chocolate e alguns lenços.
— Ele não me deu escolha. Ou assim pensei. O Sr. Evans certamente não queria que fossemos descobertos. Ele queria segurar minha cabeça até que eu me casasse e então me chantagear para pagá-lo.
— O canalha, — disse Amity. A palavra saiu estranha dos lábios de uma mãe que amamentava, toda vestida de azul claro de algodão macio. Charlotte se sentiu quase como se tivesse trazido aspereza e sujeira para sua casa.
— Mesmo assim, — protestou o duque, — somos uma família. Você deveria ter vindo para mim ou, pelo menos, para seu próprio pai.
— Não, — Charlotte discordou. — Eu deveria ter falado com Charles primeiro.
Ela pensou que Henry concordaria imediatamente, mas ele não concordou.
— Meu querido amigo é um pouco irritadiço quando se trata da fidelidade das mulheres.
— Claro que sou fiel! — Charlotte protestou. — E eu sempre serei. Não tenho interesse em Lionel Evans ou em qualquer outro homem. Eu dei a Charles todo o meu coração, e agora estou perdida sem ele. — Ela começou a chorar de novo, lembrando-se do tom de sua voz e a dureza de suas palavras, sem mencionar o olhar reprimido em seus lindos olhos azuis, tão gelados da última vez que a olharam.
— Nós acreditamos em você, — disse Amity, então olhou para o marido.
— Claro, — disse o duque. — Mas Jeffcoat tem feridas antigas, e elas são abertas toda vez que ele olha para o pai. — Ele suspirou, pegando distraidamente uma xícara de chocolate da qual Amity estivera bebendo e engolindo em dois goles. Então ele olhou para ele, surpreso, e lambeu os lábios antes de olhar com ternura para a mãe de seu recém-nascido.
— Você vai me contar sobre essas feridas? — Charlotte perguntou, desejando poder ouvir a história dos próprios lábios de seu noivo, mas se isso lhe causasse mais dor, melhor ainda deveria vir do duque.
Henry franziu a testa.
— Não é uma longa história, mas é feia, por isso que Jeffcoat talvez quisesse poupar você.
— O que quer que você esteja disposto a me dizer, — Charlotte disse, — eu agradeceria. É injusto para Charles e eu perdermos tudo por causa das transgressões de outra pessoa.
— Concordo, — disse o duque. — O esqueleto disso é que sua mãe foi infiel ao pai, e quando ela finalmente se mudou e foi para o exterior, ela deixou muitos danos em seu caminho, incluindo um marido perturbado e um menino com cicatrizes. Nenhum deles ouviu falar dela novamente.
Charlotte tentou imaginar um jovem Charles com aqueles olhos azuis centáurea. Como uma mãe pode deixá-lo?
As lágrimas começaram a escorrer por suas bochechas novamente.
— Ela ainda está viva, alguém sabe?
O duque encolheu os ombros.
— Eu não sei. Mas se você pensa de alguma forma, depois de todo esse tempo, pode haver um reencontro feliz, por favor, não pense duas vezes. Essa condessa precisa ficar no passado.
Ela enxugou os olhos com o lenço. O duque provavelmente estava correto. Ela precisava se concentrar em convencer o homem que amava de que não era como sua mãe.
— Ele não confia em nenhuma mulher?
O duque encolheu os ombros.
— Eu me sinto um pouco desleal ao discutir isso com você.
— Discutindo o quê? — Veio uma voz da porta.
Charlotte reconheceu Lorde Waverly de reuniões anteriores. Um pouco mortificada por ser apanhada com as lágrimas apenas secas, ela se levantou, tendo decidido fugir apressadamente. Com um aceno rápido em sua direção, cabeça baixa e seu rosto praticamente escondido atrás do lenço úmido, ela vagou em direção à outra porta que dava para fora da espaçosa sala de estar e em uma sala menor.
— Se for sobre Jeffcoat, — Lorde Waverly gritou atrás dela, — acabei de vê-lo.
Charlotte girou e o enfrentou.
— Onde?
— No nosso clube, — ele disse, seu tom medido. — Ele já está a meio caminho de ser Lorde Lushington.
— Lorde Lushington? — Amity perguntou.
— Para ser mais claro, Duquesa, nosso amigo não consegue ver um buraco em uma escada.
— Isso não é nada claro, — o duque o advertiu. — Nem é gentil.
— Eu tentei fazer ele vir comigo para ver você sem saber que ela estaria aqui, — ele explicou, olhando para Charlotte com um olhar quase tão frio quanto o de Charles. — Mas nosso amigo está determinado a estar cheio até a porta na hora de dormir.
— Se todas as suas palavras balbuciantes significam que Charles está ficando embriagado, então você deveria ter ficado com ele. — Charlotte não tinha a intenção de suas palavras sair tão duramente, mas de todos os três amigos, Lorde Waverly sempre parecia o mais diabo pode se importar. Ele também era conhecido, pelo menos nas colunas de fofoca, como um mulherengo, o que para ela era um traço repreensível.
Ele piscou, então estreitou os olhos.
— Senhorita Rare Foure, não sou a babá de Jeffcoat. Além do mais, depois de me contar uma triste história de traição, — acrescentou Lorde Waverly, parecendo pesar cada palavra, — ele precisava de um tempo sozinho. Acho que, acima de tudo, ele se sentiu um pouco humilhado por ter caído nas mãos da filha de um lojista.
— Waverly! — O duque o repreendeu. — Eu vou pedir para você segurar sua língua. Lembre-se de que minha esposa, por favor, é filha do mesmo comerciante, e você está na casa dela.
Lorde Waverly teve a gentileza de parecer envergonhado para a duquesa.
— Minhas desculpas, Sua Graça.
Como esperado, Amity era toda graciosidade e luz.
— Está tudo bem. Eu sei que você está falando por uma grande amizade por Lorde Jeffcoat. Mas você deve entender que essa história terrivelmente triste e traiçoeira que você mencionou se abateu sobre minha irmã também. E você também deve saber, se ainda não sabe, minha irmã está muito apaixonada pelo seu amigo.
— Ela está? — Ele exigiu, não pronto para deixar a culpa de alguém, ou assim parecia a Charlotte.
— Posso responder por mim mesma, — disse ela. — Amo Charles de todo o coração. Fui enganada para encontrar um velho... conhecido. Ele passou por momentos difíceis e achou que poderia usar meu noivado como uma sorte inesperada. Eu tinha acabado de desiludi-lo dessa ideia quando Charles apareceu.
Lorde Waverly ergueu a cabeça, olhando para ela por baixo do nariz, uma sobrancelha levantada e depois a outra. Ela sabia disso por um olhar imperioso, muitas vezes dado pela nobreza que encontrara. Ela não deixou que isso a incomodasse nem um pouco, mas o encarou de volta. Depois de alguns segundos, o homem abaixou o queixo e a considerou abertamente.
— Você realmente ama Jeffcoat?
— Eu amo. — Ela começou a abaixar o olhar ao discutir algo tão pessoal com praticamente um estranho.
— Não, — disse ele, — olhe para mim bem aqui. Pois gosto de pensar que sou um bom juiz de caráter, e a maioria das pessoas transparece claramente em seus olhos.
— Minha irmã não precisa ser interrogada por você, — disse Amity. Seu tom era suave, mas com um coração de ferro puro. Por mais estranho que fosse, Charlotte estremeceu.
— Está tudo bem. Posso olhar Lorde Waverly ou qualquer pessoa nos olhos e declarar meu amor e minha fidelidade. Charles não me deu chance, mas estou determinada a tentar.
Outro longo momento, e então Lorde Waverly assentiu, parecendo satisfeito.
— Estou ao seu dispor se puder ajudar. Mas se eu fosse você, esperaria pelo menos até o meio-dia de amanhã antes de você procurá-lo. Do contrário, você pode encontrá-lo no seu pior estado, e nada torna um homem mais temperamental e pobre de julgamento do que uma cabeça latejante e um estômago azedo.
CHARLES SENTAVA-SE EM SEU estudio e refletia sobre seu futuro. Waverly tentou dissuadi-lo de beber demais. Naturalmente, ele falhou. Independentemente disso, não importando quantas taças de conhaque, Charles se sentia tão sóbrio quanto um padre. Eventualmente, ele desistiu de tentar tirar Charlotte de seu coração com bebida e foi para casa.
No passeio de carruagem, ele percebeu o que precisava fazer. Foi sua vez de partir.
Não para sempre, mas por enquanto, até que ele não sentisse... nada. Não para Charlotte. Ele não queria ir ao batizado do bebê de Pelham e vê-la lá. Ele não queria passar pela casa de Pelham e topar com ela. Ele não queria entrar em um restaurante e receber uma oferta de uma Rare Confeitaria.
No momento em que ele desocupou sua carruagem ao perceber que até mesmo seu próprio cocheiro o lembrava de Charlotte, ou pelo menos sua empregada, ele decidiu fazer um tour pelo continente. Ele tinha perdido uma coisa tão caprichosa, com estudar para ser advogado e cuidar de seu pai.
Ele fez uma careta para o copo de água pura que agora estava bebendo para não doer todo pela manhã. E ele bebia pelo menos mais dois antes de dormir, um truque que aprendeu enquanto passava muitas noites em um pub ou outro com Waverly quando estavam na escola juntos. Um truque ainda mais útil quando os exames se aproximam no dia seguinte.
Seu pai, que abominaria pensar que um dia ele — cuidou, — era o único impedimento. Como poderia Charles se levantar e deixá-lo? Ou ele deveria dizer, como ele poderia deixá-lo também?
Se ele pensasse por um momento que o conde iria com ele, ele iria recebê-lo como um companheiro de viagem, mas seu pai deixara seus sentimentos bem claros ao deixar a ilha da Bretanha.
— Não em sua vida.
Nas poucas vezes que Charles esteve fora, apenas por uma semana na França ou na Espanha, ele esteve com Waverly, sempre procurando por mulheres, ou com Pelham, sempre procurando a melhor xícara de café. Ou com ambos.
Na verdade, ele não se importava de ir sozinho. Charles falaria com o conde pela manhã, certificando-se de que seu pai soubesse, apesar de sua intenção de ficar longe por um longo período, que era temporário. No final desse tempo, ele voltaria como o filho zeloso que sempre foi. Amanhã, ele entregaria seus processos judiciais a um de seus associados e depois partiria da costa com a pressa devida.
E um pouco de pressa, no que lhe dizia respeito.
Antes que ele enfraquecesse e mudasse de ideia.
Antes que ele cedesse ao desejo de ver o rosto dela novamente e deixá-la mentir para ele tão docemente.
Para se punir por tal fraqueza, ele trouxe à tona a imagem de Charlotte movendo-se para o círculo dos braços do estranho um pouco antes de Charles fazer sua presença conhecida por eles. Se ele não tivesse, ele teria que assisti-la beijar outro homem?
Sentindo seu estômago revirar, ele bebeu a água e ergueu o copo para jogá-lo na parede. Sua mão tremia e seu coração batia forte. Depois de um momento, ele respirou fundo para se acalmar, pousou o copo e tornou a enchê-lo com a jarra que seu mordomo havia deixado. Ele tinha deixado sua traição inesperada roubar sua natureza civilizada uma vez naquele dia. Ele não iria deixar isso acontecer novamente.
— PARTIU? — CHARLOTTE repetiu a palavra. A informação surpreendente veio dos lábios de sua mãe, tornando-a ainda mais estranha. — Lorde Jeffcoat partiu? Para onde? E como você sabe disso?
Charlotte tinha simplesmente ido trabalhar como de costume, com a intenção de ir para a casa de Charles mais tarde naquele dia, como Lorde Waverly havia aconselhado. Naquele momento, ela segurava um pedaço de tecido rendado na cor creme, rodeado de pequenas flores azuis em uma das mãos e uma pena de pavão na outra, enquanto desenhavam as cortinas e o interior do café.
O mais casualmente possível, ela disse:
— Lamento dizer que Lorde Jeffcoat e eu tivemos uma... uma briga ontem, mas pretendo vê-lo e resolver tudo. — Armada com o conhecimento do duque, ela pensou que poderia chegar ao cerne da questão da confiança de Charles e fazê-lo entender que ela não era como sua mãe.
E então sua mãe disse aquelas palavras intrigantes indicando que Charles não seria encontrado em casa. Felicity olhou para ela.
— Agora que a polícia está mantendo o Sr. Tufts na prisão, seu pai queria discutir o processo com Lorde Jeffcoat. Ele foi ao Lincoln's Inn esta manhã, mas foi informado que seu visconde havia entregado todos os seus casos, incluindo o nosso, a outros advogados e tirado uma licença.
Já era meio-dia.
— Por que você não me contou assim que entrou?
Sua mãe piscou.
— Naturalmente, pensei que você soubesse.
Charlotte fechou a boca. Claro que seus pais presumiriam que ela sabia para onde ele estava indo. Mas ela não disse. Tudo que ela sabia era que ele não era mais seu prometido, e se ela não se apressasse, ele poderia escapar dela para sempre pensando que ela o traiu.
— Como posso encontrá-lo? — Ela perguntou em voz alta, não se importando com o que sua mãe pensava sobre o descuido de sua filha mais nova em perder seu novo noivo.
— Você poderia perguntar ao pai dele. Se alguém souber, será o conde.
NEM MEIA HORA DEPOIS, Charlotte, com a mãe ao seu lado, estava na sala triste quando o conde de Bentley entrou. Ele concordou em vê-la imediatamente. No instante seguinte, ela soube por quê.
— O que é que você fez? —Ele exigiu em vez de uma saudação, obviamente preparado para repreendê-la.
Ela deu um passo para trás com sua intensidade, e então percebeu que suas palavras nasceram da dor, trazidas do passado. Além disso, assim como ela estava perdendo o desejo de seu coração, ele temeu estar perdendo seu filho, e por suas ações.
— Foi um terrível mal-entendido, — ela começou.
O pai de Charles dispensou as palavras dela.
— Foi o que minha esposa disse a princípio, até que não houvesse mais mal-entendidos. Então havia apenas a verdade doentia.
— Eu não sou essa mulher! — Charlotte declarou, sentindo sua mãe se eriçar ao seu lado. Felicity tinha deixado claro que não interferiria, mas Charlotte também sabia que sua mãe não ficaria em silêncio se sua filha fosse atacada injustamente.
— Não, e você também não será a esposa do meu filho. Ele viu através de você a tempo.
— Por favor, meu lorde, não havia nada para ver. Eu amo seu filho
— Você? — Ele perguntou, seu tom amargo.
— A questão é: seu filho ama minha filha? — Sua mãe perguntou, chamando a atenção do conde. — Eu acho bastante impróprio dele virar o rabo no primeiro solavanco na estrada.
— Mãe, por favor — começou Charlotte, mas o conde se ergueu ainda mais alto do que já era.
— Você está depreciando meu filho?
Felicity fungou de uma forma que conseguiu transmitir uma mensagem de — entenda como quiser. Charlotte não achou que iria acabar bem.
— Senhora, como se atreve?
— Como você se atreve a apontar o dedo para minha filha sem mesmo saber dos fatos. Esses jovens deveriam descobrir por si mesmos, sem o fantasma de seu próprio passado interferindo. Mas eles não podem fazer isso quando um deles fugiu.
— Fugir! — O conde parecia que ia abrir um botão. — Para que saiba, senhora, meu filho trabalhou muito durante toda a vida, embora não precisasse, enquanto seus colegas estavam preguiçosos em fazer muito pouco com os talentos dados por Deus. Charlie ganhou o direito de passar um ano perambulando pelo continente.
Charlotte engasgou. Um ano! Primeiro Lionel e agora Charles. Ela estava começando a pensar que levava homens a cruzar o maldito Canal!
— Ele deveria estar fazendo isso em sua viagem de casamento, — sua mãe apontou.
O conde suspirou como se estivesse murchando junto com sua raiva.
— É verdade que não sei os detalhes da briga, — ele olhou para Charlotte com menos raiva, — mas algo grave aconteceu.
— Honestamente, meu lorde, — Charlotte falou antes que sua mãe pudesse irritá-lo novamente, — Charles interpretou mal algo que viu porque... porque, meu Deus! — Ela não queria dizer isso.
— Porquê? — O conde perguntou.
— Porque ele ficou muito magoado com sua condessa, com a partida de sua mãe.
O pai de Charles empalideceu e ele balançou a cabeça, parecendo perdido em seus próprios pensamentos dolorosos.
Charlotte o lembrou: — Pense em como aquele menino estava magoado com uma mãe que não o queria.
— Claro que ela o queria! — O conde exclamou. — Mas eu não a deixaria ficar com ele. Ela o teria tirado de mim e eu tive que puni-la.
Felicity agarrou a mão de Charlotte como se alguém estivesse tentando separá-los, tão feroz foi o tom do homem mais velho.
— Você puniu seu filho junto com sua esposa? — As palavras estavam no coração de Charlotte, mas foram ditas por sua mãe. — Eu entendo que você foi vítima de uma traição terrível, — continuou Felicity. — E posso dizer que você amava muito a condessa. No entanto, quando alguém se torna pai, deve colocar o filho em primeiro lugar. Teria feito melhor, senhor, se seu filho soubesse que sua mãe não era um monstro.
O conde recuou um passo com a ideia, deixando claro que não tinha sido capaz de ser tão generoso.
— Ela tentou entrar em contato com ele? — Charlotte perguntou, desejando que seu tom não soasse tão pequeno e triste, mas seu coração estava se partindo novamente.
O conde assentiu.
— Eu a parei, — ele admitiu. — Eu bloqueei todas as suas tentativas e destruí todas as cartas.
— Certamente, quando ele era mais velho, você poderia ter permitido sem medo de perdê-lo, — disse Felicity.
— As missivas pararam há anos. Ela pode estar morta, pelo que sei.
E não me importo. As palavras não ditas pairaram no ar entre os três.
— Não o deixe pensar que eu não o amo. Não o deixe sair com tanta dor, — Charlotte implorou. — Por favor, me diga aonde ele está indo, e eu irei atrás dele.
— Sim, — sua mãe concordou. — Ela vai.
Capítulo Trinta e Um
Charlotte podia ver sua forma alta sobre as cabeças dos outros na multidão no cais da balsa de Dover. Charles estava subindo na prancha de embarque, prestes a sair de sua vida. Lágrimas escorriam por suas bochechas, fazendo com que as pessoas olhassem e, ao olhar desesperado em seu rosto, se desviassem de seu caminho enquanto ela lutava para alcançá-lo em meio à multidão de viajantes.
Os marinheiros estavam desamarrando as cordas que prendiam o navio a vapor ao cais. Ela chegaria tarde demais. Ela passou a manhã primeiro no escritório do capitão do porto e depois na bilheteria da Channel Steamship Company tentando determinar o navio correto e, portanto, quase o havia perdido completamente.
— Charles, — ela gritou, mas ela soube imediatamente que era inútil. Soprava uma boa brisa que, em anos anteriores, teria transportado um navio rapidamente, se talvez agitado, através do Canal. Atualmente, estava enviando suas palavras inutilmente em todas as direções, exceto em direção ao homem que ela mais desesperadamente queria tocar novamente.
Por um momento, ele pareceu se virar na direção dela, talvez dando uma última olhada na Inglaterra até o ano seguinte, mas ela não podia esperar que ele notasse seu chapéu verde simples no mar de pessoas que se aglomeravam. Alguns esperaram por outro navio a vapor, alguns por um veleiro e alguns avançaram para embarcar no Empress com o homem que Charlotte amava.
A angústia, forte e aterrorizante, a encheu e ela quase caiu de joelhos, com a bolsa e tudo, mas pelo medo de ser pisoteada.
— Charles, — ela gritou, fazendo com que algumas pessoas ao seu redor olhassem. Mas ele já havia alcançado a amurada do navio e estava falando com alguém ao seu lado, que ela pensou ser seu criado.
Delia, ao seu lado, como estivera dia e noite, agarrou-a pela cintura para confortá-la.
Sem pensar em como soaria pouco feminina ou em como sua mãe desaprovaria fortemente, Charlotte assobiou, longo e alto. O som estridente cortou o vento tempestuoso que açoitou sua capa, e fez aqueles perto dela se encolherem. Ela não se importou com nada disso, apenas notando que Charles ergueu a cabeça e olhou novamente para a multidão no cais.
Uma centelha de esperança acendeu nela.
Assobiando novamente, ela ergueu os braços, agitando-os freneticamente.
— Eu acho que ele viu você, senhorita, — Delia disse.
Embora incapaz de ver sua covinha encantadora à distância, Charlotte esperava que ele estivesse sorrindo. Afinal, ele não podia duvidar de seu amor quando ela foi atrás dele por todo o sudeste da Inglaterra.
Certamente, ele a tinha visto porque começou a levantar a mão, um pouco hesitante. Mas, para seu espanto, ele a apoiou na grade e não fez mais nada. Ele não tentou desembarcar ou alcançá-la, e seu coração começou a bater como o tambor de um soldado.
— Não se desespere, — ela disse em voz alta para se fortalecer. Afinal, naquele momento, eles ainda estavam a poucos metros um do outro e ele finalmente estava à vista.
Continuando em frente, ela fez pouco progresso enquanto lutava contra a multidão que continuava a embarcar no navio, assim como aqueles que ficaram para se despedir.
— Lá, senhorita, — Delia disse, apontando para a proa do navio. Outra prancha de embarque estava sendo usada pela tripulação apressada, carregando carga e suprimentos de última hora, talvez até mesmo correio com destino à França.
Charlotte achou tão difícil no começo lutar contra a maré de pessoas quanto lutar contra ela. Mas depois de alguns metros, ela ultrapassou o pior da multidão e, de repente, alcançou a prancha de embarque.
Prestes a pisar na áspera tábua de madeira, um marinheiro agarrou seu braço.
— Aqui, agora, você não pode ir por ali. Se você tem uma passagem, você deve embarcar na outra extremidade.
— Não tenho passagem — confessou ela, tentando soltar o braço. — Eu preciso falar com meu noivo. Ele já está a bordo.
— Você não pode embarcar sem uma passagem, senhorita. Siga em frente. — Ele a soltou, cruzou os braços e bloqueou a prancha de embarque.
Olhando para cima, ela pode ver que Charles estava agora inclinado sobre o parapeito, tentando discernir o que ela estava fazendo.
— Você vê, — disse ela, apontando para ele. — Ele está bem aí. — Ela acenou para ele, mas para sua consternação, ele não acenou de volta.
— Ele não parece interessado em vê-la, senhorita.
— Eu só quero falar com ele por um momento, — ela persistiu. — Eu prometo que não vou causar nenhum problema. Se eu pudesse correr até lá e falar com ele, voltaria imediatamente. Exatamente como o Grande Velho Duque de York.
— Da cantiga infantil, senhorita? — Ele perguntou, coçando a cabeça.
— Sim, de fato. — E deve ter visto seu nervosismo em como tudo poderia dar terrivelmente errado que fez Charlotte começar a recitar:
— Oh, o grande e velho duque de York,
Ele tinha dez mil homens.
Ele os levou até o topo da colina,
E ele marchou para baixo novamente.
O marinheiro ficou surpreso e até Delia riu nervosamente ao seu lado.
— Ela só quer ver o noivo, — explicou a empregada.
— Então o noivo deveria ter comprado uma passagem para ela. — Ele olhou Charlotte de cima a baixo. — Talvez ele não possa pagar uma esposa, e seria melhor você procurar outro lugar. Menina bonita como você.
— Ele é um visconde, — Delia protestou, obviamente não apreciando a maneira atrevida do marinheiro com sua ama. — E ele vai ficar muito irritado porque ela não pode chegar até ele. Você sabe como é a nobreza. Num minuto você é um marinheiro e no próximo já está com a cabeça arrancada.
Quando Delia fez um movimento de cortar a garganta para ilustrar o que ela queria dizer, Charlotte decidiu que o estresse devia estar afetando sua empregada também. Afinal, Charles dificilmente era um tirano implacável.
Então, a inspiração a atingiu como sempre acontecia na loja.
— Tenho uma coisa para você, — disse ela, pensando que talvez o marinheiro não tivesse acesso fácil à confeitaria. — Uma lata de doces, se você aceitar.
Naturalmente, ela não tinha viajado sem algo açucarado e calmante. Embora ela e Delia tivessem comido alguns na viagem de trem, muitos sobraram. Sem esperar por uma resposta, ela pescou a lata da Rare Confeitaria da bolsa que carregava.
— Você pode comer o que sobrou de chocolates, caramelos e Marzipans se me deixar subir na prancha para falar com Lorde Jeffcoat. Por favor.
O marinheiro olhou dela para a lata estendida, que pegou tão devagar que ela teve vontade de gritar. Mas, eventualmente, com os olhos estreitados, ele a abriu.
— Ah, — disse ele depois de respirar os aromas de chocolate, manteiga, açúcar e amêndoas combinados para cheirar como o paraíso. Ele escolheu um pedaço de caramelo, colocou na boca e fechou os olhos.
Um apito soou a bordo, pouco mais alto que o dela, indicando a partida iminente do navio.
— Por favor, — disse ela. — Eu voltarei diretamente.
Assentindo enquanto chupava o doce, ele deu um passo para o lado. No entanto, quando Delia foi segui-lo, ele a barrou e disse a Charlotte: — Só você, senhorita, a noiva. — Ele disse isso como se ainda duvidasse dela. — Esta fica comigo.
— Esta! — Delia repetiu, parecendo indignada.
O marinheiro encolheu os ombros, dirigindo-se novamente a Charlotte.
— Assim eu sei que você vai voltar.
— Como se eu fosse uma refém, — sua empregada murmurou.
— Eu estarei de volta em breve, — Charlotte prometeu. E, finalmente, ela colocou o pé na prancha.
CHARLES ACHOU QUE SEUS olhos poderiam pular para fora de sua cabeça. Charlotte estava subindo pela prancha. Ela estava louca? Ele a observou embarcar no navio, mas cercado de ambos os lados pelos passageiros que estavam na amurada, ele não podia se apressar para interceptá-la e mandá-la de volta como desejava. Em vez disso, lentamente, ele se moveu em sua direção, irritado porque ela os forçaria a uma exibição pública.
Quando eles finalmente chegaram perto um do outro, ela não parou a uma distância civilizada. Tão descuidadamente quanto ela havia executado seu apito impróprio no cais, ela agora fez o impensável ao colidir com ele, então ele teve que passar os braços em volta dela na frente dos outros passageiros ou ser derrubado por ela.
Assim que a teve contra si, os ruídos do navio e do cais sumiram, assim como todos os pensamentos de quem poderia estar assistindo. Sua familiar Charlotte deixou cair sua bolsa de carpete sobre seus sapatos e o segurava com força.
— Charles, — disse ela, olhando para o rosto dele. — Eu te encontrei a tempo. Por favor, saia do navio comigo.
— Eu estou indo para a França, — ele disse, pensando que suas palavras soaram um pouco coxas e mornas em comparação com seu grande gesto.
— Se você for para a França, eu também irei.
Ele balançou sua cabeça. Ela não tinha ideia do que estava dizendo.
— Por quê? — Ele demandou.
— Porque eu te amo, — ela declarou, e não baixinho, mas como se eles estivessem sozinhos e pudessem falar francamente.
Ele suspirou. Talvez ela tenha pensado que sabia naquele momento, mas não amanhã ou na semana seguinte.
— Vou sair da loja e ir para onde você quiser, — ela insistiu, as lágrimas caindo de seus olhos, — porque você é a pessoa mais importante do mundo para mim.
Ele ficou surpreso com a veemência dela. Afinal, ele sabia o quanto ela adorava sua família.
— E porque eu não vou deixar você acreditar por mais um momento que você não é desejado.
Com essas palavras, cortando o coração da angústia que ele sentiu por tantos anos, ele a afastou dele. Quando ela começou a chorar, ele tirou um lenço e enxugou suavemente suas bochechas molhadas, depois o entregou para ela segurar.
— Charlotte, não consigo esquecer o que vi.
— Você me viu dizendo a um homem o quanto eu te amava e que não seria chantageada para dar-lhe dinheiro. Ele queria contar mentiras sobre mim, mas não fiquei com medo por um momento. Eu sei que no fundo você confia em mim. Você deve, do contrário, como você poderia me amar como você me ama?
Lágrimas picaram seus próprios olhos. Ele a amava de todo o coração e até aquele momento terrível no parque, ele confiava nela implicitamente. Por que ele parou? Ele deveria ter dado a ela uma chance de explicar.
— Agora que eu disse a você, — ela continuou, — Ele não pode me chantagear. E depois que você o espancou daquela maneira, acredito que ele entendeu que você não era um homem com quem deveria brincar. Afinal, você é um advogado, e ele é apenas um artista, e não muito bom nisso.
Um artista! A criatura apaixonada, poética e arrojada que ele imaginava que as mulheres admirassem. Mas não alguém que pudesse levar um soco com certeza.
— Eu não deveria ter tirado uma conclusão precipitada de tudo que sei sobre você. — Foi um milagre ela ter vindo atrás dele.
— Caro Charles, — ela disse, piscando para ele. — Estou tão feliz por ter alcançado você. Eu teria te seguido até os confins da terra para fazer você entender o quanto eu te adoro.
Alcançando-a, ele a puxou mais uma vez para seus braços, se abaixou e a beijou. Ignorando alguém limpando a garganta e outra pessoa exclamando sobre sua sensibilidade, Charles sentiu o calor de Charlotte correr por ele, aliviando sua dor enquanto ela derretia seu coração.
— Oh, — Ela exclamou quando ele ergueu a cabeça. — Eu posso sentir o seu amor formigando na ponta dos pés.
Suas palavras, tão ingênuas, aliviaram as faixas que apertavam seu coração por dois dias. Além disso, ele se sentia da mesma forma, exceto que era mais um chiado. Olhando para baixo para ver se seus dedos do pé realmente estavam pegando fogo, ele percebeu que o convés estava se inclinando sob seus pés. Eles haviam saído do cais e as pessoas ao redor foram para a amurada do outro lado do navio.
Ao mesmo tempo, Charlotte soltou um leve grito antes de exclamar:
— Deus! Eu não tenho passagem. Dei confeitaria ao marinheiro.
— Claro que você fez. — Sua noiva encantadora, pois ele nunca deixara de pensar nela como sua, naturalmente pagava com doces às pessoas. — Eu pagarei sua passagem.
— E quanto a Delia? — Ela perguntou, seus olhos castanhos cheios de preocupação.
— Eu vou pagar a passagem dela também.
— Não, — Charlotte disse, balançando a cabeça e olhando para trás por onde eles tinham vindo. — Eu a deixei no cais.
Ele não pôde deixar de rir de seu tom taciturno. Nada parecia mais triste. Ele não conseguia desenterrar um grama de preocupação ou medo. Ele tinha a mulher que amava ao seu lado e eles estavam indo para a França.
Querido Deus! Iam para a França, solteiros, tendo acabado de se beijar na frente de um navio cheio de gente. E ela não tinha acompanhante. Além do mais, teriam que passar a noite em um hotel e voltar no navio da manhã. Sua reputação sofreria independentemente do que dissessem ou fizessem no continente. A menos que...
— Charlotte, você quer se casar comigo?
Ela deu uma risadinha.
— Eu já disse que sim. — Ela estendeu a mão e acariciou sua bochecha. — Você esteve no sol à beira-mar por muito tempo?
— Quero dizer, você se casará comigo quando chegarmos à França. Você tem família lá, pelo que me lembro, e então podemos voltar para a Inglaterra como marido e mulher.
Por um momento, ela afundou os dentes em seu lábio inferior carnudo, que ele adorava mordiscar. Quais foram seus pensamentos? Ela teve dúvidas?
— Suponho que meus pais tiveram a alegria de dois casamentos na igreja para minhas irmãs. Contanto que tenhamos uma festa esplêndida quando voltarmos, não vejo razão para não.
Então ela franziu a testa.
— Mas e o seu pai? Ele não ficará desapontado por não testemunhar o casamento de seu único filho?
Charles não pôde evitar uma careta.
— Meu pai definitivamente não vai se arrepender de perder um casamento. Eles estão entre seus eventos menos preferidos. Na verdade, estaremos fazendo um favor a ele acabando com isso.
— Então, meu querido visconde, eu digo sim para a França. Devemos ir diretamente aos meus avós. Eles têm um grande apartamento em Paris. Além disso, uma fazenda que meu pai herdou quando seu irmão mais velho morreu no ano passado, mas duvido que possamos ir para lá. A não ser que você queira. Oh, você vai adorar os Foures, pessoas tão calorosas.
Charles não se importou enquanto ela continuava contando sobre o lado francês de sua família e como ela se tornara a honorável senhorita Rare Foure no ano anterior, quando seu pai também herdou o baronato.
Na verdade, quando eles se viraram para o horizonte distante, ele estava tão envolvido em seu amor que não conseguia mais sentir nem mesmo o sopro da brisa. E apesar do ar do mar pungente que encheu suas narinas durante toda a manhã, agora tudo o que ele podia sentir era o delicado aroma de flores e frutas cítricas.
— Bom Deus! — Ela declarou de repente. — Estamos fugindo. Que legal!
Ele sorriu para ela.
— Sua covinha, — ela exclamou. — É a primeira vez que o vejo em dias, e sinto muita falta.
— Eu senti tanto sua falta, — ele disse a ela. — Até agora, tenho sido uma pessoa um tanto chata, mas espero que esta seja apenas a primeira de uma vida de aventuras.
— Não vejo por que não, — ela disse soando tão prática sobre o assunto que ele teve que rir de novo.
— Não, também não vejo por que não.
Epílogo
Charlotte estava incorreta ao supor que seus pais não se importariam em perder o casamento da filha mais nova. Assim que um telegrama foi enviado de Paris a Londres e entregue na casa Rare Foure, na Baker Street, outro foi enviado de volta e entregue na casa dos avós no Boulevard des Capucines.
— Esperem! Estamos chegando. — Charlotte leu a curta mensagem em voz alta durante o jantar para os avós e para Charles, que então colocou os óculos para relê-la.
— Acho que não vamos nos casar amanhã, afinal, — disse ele.
Em vez disso, eles passaram pela formalidade de proclamas sendo publicadas na prefeitura da cidade em preparação para seu casamento civil na Prefeitura.
Enquanto isso, seus avós ficaram encantados em acompanhar o casal de noivos onde quer que eles desejassem. A primeira parada foi no empório de vários andares de Boucicaut, Le Bon Marché, já que Charlotte não tinha nada com ela, exceto sua pequena bolsa de viagem. Na espaçosa loja de departamentos, Charles insistiu que ela o deixasse comprar um novo guarda-roupa, não apenas pelo período de sua estada antes do casamento, mas também um enxoval adequado a uma viscondessa para a viagem nupcial.
Naturalmente, eles não podiam fazer tudo isso no departamento de pronto-a-vestir de uma única loja. Assim que seus pais chegaram, surpreendendo-a com Beatrice e seu marido também, bem como Waverly como padrinho, as compras e as refeições começaram a sério. Por puro excesso disso, eles caminharam três arcadas em um dia. Como estava ensolarado, as lojas cobertas não estavam lotadas. A luz do sol fluía através do vidro acima das lajes da mais antiga delas, a Passage des Panorama.
Quando saíram, cruzaram o Boulevard Montmartre diretamente para a próxima fileira de lojas cobertas na Passage Jouffroy. Depois de terem desfrutado de todo tipo de loja imaginável, de livros a minúsculas xícaras de chá e sombrinhas, Felicity declarou-se faminta. Depois de conduzi-los em um animado debate sobre se comeriam no Le Grand Véfour ou em seu favorito, Le Procope, a mãe de Charlotte decidiu ficar com o primeiro, pois era mais perto da última arcada que pretendiam visitar. No entanto, imediatamente após a refeição suntuosa, eles não podiam retomar as compras sem parar no Stohrer's.
— A amada confeitaria de mamãe, — Charlotte disse a Charles, inclinando-se como sempre fazia, apenas para respirar seu amado perfume. — Deve ser o mais antigo de Paris também. Se decidirmos servir qualquer coisa além de bebidas e doces no andar de cima na Rare Confeitaria, vamos querer encontrar alguém que possa fazer doces como estes.
Em seguida, ela fez uma pausa antes de acrescentar:
— Se você tentar pedir qualquer outra coisa que não seja um baba com rum, a mamãe fará com que você também compre um baba com rum. Todo mundo deve ter um que vá para o Stohrer's, ou assim ela pensa.
— O que você acha? — Ele perguntou a ela.
— Meus favoritos são os éclairs, que posso conseguir, assim como um...
— Baba com rum, — ele forneceu.
— Exatamente isso. Você vai se dar bem com minha família.
Eles terminaram o dia na terceira arcada, a Passage Verdeau com seu magnífico teto de vidro inclinado e vitrines de madeira.
— Este foi o dia perfeito, — Charlotte proclamou mais tarde, quando eles voltaram para o espaçoso apartamento de seus avós na ampla avenida arborizada. Sentada no jardim atrás dela, ela acrescentou: — A única coisa que o teria tornado melhor seria a presença de Amity e de seu duque.
— Então, você acha que pode ter mais do que perfeito? — Beatrice perguntou.
Charlotte olhou para Charles, que sorriu de volta, mostrando sua covinha.
— Definitivamente, — ela disse.
Uma semana depois, Charles e Charlotte se casaram no Hotel de Ville, ainda em fase de retoques finais após o incêndio em 1871, mas já parecendo extremamente majestoso.
— Até mesmo o nome soa muito mais grandioso do que chamá-lo apenas de Prefeitura, — Charlotte sussurrou enquanto eles estavam no lindo tapete vermelho diante de Monsieur Moreau, prefeito do 19º distrito de Paris.
Naturalmente, oficiando em francês, ele lia um livro, enquanto os burocratas permaneciam sentados a cada lado dele. Como testemunhas, ela supôs. Atrás dela, sua família e Lorde Waverly estavam sentados, e atrás deles estavam os amigos de seus avós, parados entre as paredes revestidas de murais retratando o campo, lembrando Charlotte da fazenda de seus avós fora da cidade.
— Espero que não esteja desapontado, — disse ela. — Não é St. George's, mas mesmo assim é um belo edifício.
Charles inclinou a cabeça.
— Se você acha que este prédio do governo está bem, mal posso esperar para ver minha casa de campo, da qual você será sua dona. Mais um minuto e você será minha esposa.
Ela quase bateu com a mão na testa quando um pensamento surgiu nela. Ela havia fugido para o continente com um homem sem contar a sua família, exatamente o que ela achava que era muito egoísta para fazer. É verdade que cruzar o Canal da Mancha não foi intencional, mas se Charles tivesse ido à frente dela, ela o teria perseguido sem se importar com sua própria ignomínia no navio a vapor seguinte. Felizmente, ela o pegou.
Eles estavam de mãos dadas, um de frente para o outro, e ela apertou suavemente.
— Eu te amo, — ela sussurrou.
— Eu te amo, — ele disse mais alto para que todos pudessem ouvir.
Houve um murmúrio de aprovação na sala, e ela sabia que não havia nada de egoísta no que tinha feito. Pois ela passaria todos os dias de sua vida amando aquele homem de todo o coração.
Quando o prefeito os declarou casados, Charlotte se virou para ver seus pais, certa de que podia ver a alegria tremeluzindo na sala.
UM MÊS E MEIO depois, tendo visto tudo o que eles queriam ver da França, Suíça, Itália e Alemanha, Charles sentou-se ao lado de sua viscondessa em um trem de Dover para Londres em uma carruagem particular. Pegando sua mão enluvada, havia momentos em que ele ainda não conseguia acreditar que eles estavam juntos. Ele nunca deveria ter duvidado dela.
Foi estranho ouvi-la de repente duvidar de si mesma por causa do estalo das rodas do trem.
— Eu não sei nada sobre como administrar a casa de um nobre. E se eu fizer uma bagunça disso? — Ela perguntou enquanto eles se aproximavam da periferia.
Ele sorriu para a mulher capaz que poderia realizar mais do que a maioria dos homens que ele conhecia.
— Você será uma anfitriã de boas-vindas, — ele prometeu. — Mas, como sua irmã mais velha dirá, nem tudo é festa. Ou melhor, podem ser muitas festas. Acolher passa a ser um dever e um trabalho tão exigente como ser pasteleiro. E as apostas são maiores.
— Mais do que quase arruinar a loja da minha família com algumas decisões precipitadas?
Dando de ombros, ele levou a mão dela à boca e a esfregou no algodão fino, fazendo-a rir.
— Você quase não estragou nada. No entanto, um passo em falso no lugar errado, como em um evento real, por exemplo, ou uma palavra no ouvido errado podem ter consequências monumentais, até internacionais. Além de viscondessa, você é a esposa de um advogado.
— Significando o que exatamente? — Ela perguntou, tentando manter seu rosto solene e falho. Abruptamente, ela sorriu para ele.
— O que você acha tão engraçado? — Ele perguntou.
— Cada vez que você usa a palavra esposa e se refere a mim, é como se você estivesse fazendo cócegas em minhas costelas.
— Eu gosto de fazer cócegas em você, — disse ele, então pensou nas últimas semanas em várias estalagens, especialmente nas noites juntos. — Eu gostei de tudo que tive o prazer de fazer com você, — ele acrescentou, fazendo suas bochechas ficarem rosadas.
E como estavam sozinhos, ele tirou as luvas e passou o dedo pela doce curva de sua bochecha.
— Como esposa de um advogado, — disse ele, tentando soar sério, — Você não deve parecer perversa ou depravada de forma alguma.
Ela levou a mão à boca, mas seus ombros começaram a tremer. Finalmente, ela soltou a risada, derramando-se como água de uma represa quebrada.
— Oh, Charles, — ela disse quando ela pode falar novamente. — Você é tão querido para mim, mesmo quando você é muito sério. Pareço ter tendência para alguma perversão que nem consigo imaginar ou depravação que pode fazer com que você seja jogado do banco ou expulso?
— Não, — disse ele, feliz por ela não ter sido insultada porque ele estava, na verdade, apenas brincando. — Resumindo, como esposa de um nobre e também de um advogado, você deve se comportar com decoro e dignidade, demonstrando bom senso e... você está sorrindo de novo, — ressaltou.
— Você disse esposa de novo. — Ela bateu no colo com a mão livre. — Não desejo contradizê-lo, pois você sabe melhor do que eu, com certeza, mas li os jornais, inclusive as folhas de escândalo. Um mau hábito, eu sei. No entanto, parece que você está discutindo padrões que são quebrados diariamente por homens e mulheres da nobreza.
Ela estava certa, mas ele queria fazer melhor. Além disso, ele queria que ela fizesse melhor. Ele não queria que ninguém sussurrasse sobre ela como fizeram com sua mãe.
— Eu não quero estar envolvido nas fofocas, — ele insistiu. — Não quero que as pessoas leiam como você estava dançando com outro homem ou como dormi com minha cozinheira ou com a esposa de Lorde Fulano de Tal.
Ela recuou.
— Você dormiria com nossa cozinheira? — Seu tom estava chocado.
— Claro que não, — ele disse rapidamente. — Assim, vou me comportar de uma maneira que evita que eu tenha que me preocupar em ver tal história no jornal. Mas também não quero ler sobre minha esposa com outro homem.
— Oh, — ela disse, seu tom suave. — Nobreza ou não, ninguém quer que tal coisa aconteça. Não consigo imaginar a mágoa de minha mãe ou de meu pai ao descobrir que o outro não era verdade.
— Exatamente. Desgosto e humilhação, — acrescentou ele, pensando que o último destruiu seu pai quase tanto quanto o primeiro. — Mas seus pais não teriam que ler sobre isso de manhã, tarde e noite, ou ouvi-lo sussurrado toda vez que entrasse em uma sala, ou mesmo nas câmaras do Parlamento.
Charlotte concordou.
— Eu não trataria meu amado marido dessa maneira, não importa se alguém descobrisse. Mesmo se alguém pudesse escapar impune em perfeito sigilo, saberia no fundo e sentiria sua dor pelo resto da vida. Você não acha? Não sei como alguém vive com a culpa.
— Nem eu, — ele concordou, olhando em seus olhos.
Ele se inclinou e beijou-a, saboreando a maneira como ela se virou na cadeira e ergueu os braços para que pudesse colocar os dedos atrás do pescoço dele. Eles já estavam agindo com impropriedade, mas não era o tipo de coisa que sairia nas folhas de escândalo. Os fofoqueiros festejavam com o tipo de inconveniência que doía. Era um esporte sangrento entre a alta sociedade, e se alguém não fosse embora ferido e sangrando por causa do escândalo, eles não considerariam isso uma vergonha adequada!
Como ele poderia fazê-la entender como isso o esmagaria?
Quando ele recuou e os dois puderam respirar novamente, ela o fixou com seu olhar castanho profundo.
— Eu nunca faria para você ou nossos filhos o que sua mãe fez. — Suas palavras tranquilas o alcançaram no espaço de uma batida de coração e ao longo dos anos desde que ele era uma criança, observando o desespero de seu pai.
Charles ofegou, erguendo os olhos para ela. Ele não precisava fazê-la entender. Ela já o fez.
— Nós ganharíamos o bolo de bacon, — ele prometeu. — Seja um ano e um dia ou cem anos, não terei arrependimentos de me casar com você.
— Nós ganharíamos o porco inteiro, — ela concordou.
ASSIM QUE CHARLOTTE despertou nos braços do marido, em sua nova casa, ela estava pronta para cair da cama e correr para a New Bond Street.
No entanto, Charles se mexeu e a arrastou de volta contra ele para beijos matinais... e mais. Muito tempo depois, ela se espreguiçou e se declarou faminta.
— Depois do café da manhã, irei ver como tudo está indo. — Levantando-se, ela vagou até a janela para ver como seria sua vista matinal. Surpreendentemente, o Hyde Park se estendia do outro lado da rua na direção oeste ao longe, com Kensington Gardens em sua extremidade. Em sua mente, porém, ela já estava na Rare Confeitaria.
— E se a escada desabou ou as mesas não parecem certas ou alguém pintou os pavões com as cores erradas? — Ela não estava realmente preocupada. A vida era boa demais para arranjar problemas. Ela simplesmente sentia falta da loja e de sua família.
— Chegamos em solo britânico ontem, — Charles protestou. — Você tem que ir trabalhar hoje?
— Eu estive ociosa por muito tempo. Você não se casou com uma preguiçosa da classe alta.
— Cuidado com suas palavras, mulher. Nem todas as pessoas da classe alta são preguiçosas. — Pulando da cama, ele a perseguiu até seu novo camarim, onde a deixou vestir-se em paz. Em breve, ela esperava que Delia estivesse lá também.
— Seu pai estará no café da manhã? — Ela perguntou pela porta fechada.
Seu sogro acolheu-los de volta na noite anterior. Eles tinham estado muito exaustos dos últimos dias de viagem para fazer mais do que desfrutar de uma taça de conhaque para comemorar enquanto ele brindava com suas núpcias antes de se recolherem.
— Não sei, — confessou Charles. — Você vai se acostumar com os modos dele, às vezes ranzinza, às vezes... bem, se não exatamente alegre, pelo menos ironicamente engraçado.
— Tudo bem, meu amor. Ele é seu pai, e eu o amarei. — Ela não tinha contado a Charles sobre seu encontro com o conde antes de correr para Dover atrás de seu noivo como um cachorro caçando. Ela esperava conseguir encontrar seu sogro sozinho antes dela sair para New Bond Street e instá-lo a confessar ao marido que sua própria mãe não tinha abandonado ele.
Foi o melhor presente de casamento em que ela pode pensar.
Uma hora depois, depois de se despedir de Charles com um beijo, ela estava na carruagem do marido, sendo levada para a New Bond Street. O rosto alegre do cocheiro lembrou a Charlotte que ela deveria falar com Delia mais tarde naquele dia, não só para se desculpar por abandoná-la no cais, mas também para fazer um pequeno casamento.
E então ela enviou uma oração fervorosa para que tudo corresse bem na casa atrás dela. Ela deixou os dois homens altos, pai e filho, conversando calmamente. Quando ela voltou para casa naquela noite, ela esperava que uma revelação mais importante tivesse sido feita e o coração de Charles pudesse começar a se curar.
A campainha familiar tilintou quando ela abriu a porta. Charlotte não pôde evitar o alto assobio de felicidade que escapou dela ao ver a Rare Confeitaria reaberta, com os clientes já no balcão. Cada cabeça se virou em sua entrada ruidosa.
Sua mãe não teve coragem de parecer aborrecida com sua filha caçula incivilizada. Felicity escrevera para Charlotte enquanto ela estava fora, contando que haviam recebido a visita de um repórter do Herald, que elogiara a confeitaria e a decoração do café, tanto que os londrinos estavam ansiosos para abri-lo.
Mesmo assim, sua mãe estava enchendo uma bolsa branca. Beatrice, que um momento antes parecia amarga por estar na frente da loja, sorriu para Charlotte e acenou com a cabeça em direção à escada. Laca branca com arabescos azul safira pintados na calha-guia, era extravagante e magnífico.
Edward desceu as escadas carregando algumas latas, dando a ela um sorriso feliz e acenando com a cabeça como forma de saudação. Ele teve que se abaixar sob uma fita de cetim azul que impedia qualquer um de subir ao segundo nível. Eles cumpriram a palavra, prometendo não abrir o café sem ela.
Ela passou pela abertura entre os contadores.
— Saudações, minha Lady Marzipan, — Beatrice exclamou. — Estamos tão felizes por ter você de volta.
Tudo que Charlotte pode fazer foi sorrir enquanto corria para o quarto dos fundos para pegar o avental. Era bom estar em casa!
Sydney Jane Baily
O melhor da literatura para todos os gostos e idades