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Series & Trilogias Literarias
Determinada a destruir o Escalão que ela despreza, Rosalind Fairchild está em uma missão aparentemente fácil. Entre. Descubra os segredos do desaparecimento de seu irmão. E caia fora.
Para se infiltrar nos Falcões da Noite e encontrar seu líder, Sir Jasper Lynch, Rosalind se apresentará como sua secretária. Mas ela não conta com Lynch sendo um homem tão perigosamente carismático, desafiando-a a cada passo, forçando-a a reavaliar tudo o que sabe sobre o inimigo.
Ele poderia ser seu inimigo mais perigoso - ou o aliado que ela nunca sonhou que existisse.
Capitulo 1
—Você tem três semanas para encontrar Mercúrio... ou eu juro que você vai compartilhar o destino dele...
A fumaça saiu com um rugido de tosse de uma fornalha distante enquanto Sir Jasper Lynch se inclinava contra a borda de uma chaminé, olhando através da escuridão enfumaçada, o eco das palavras do príncipe consorte ecoando em seus ouvidos.
Seu olhar rastreou as ruas enevoadas abaixo, procurando por qualquer sinal de movimento enquanto lentamente alongava os músculos contraídos. Como Mestre da Guilda dos Falcões da Noite - caçadores de ladrões e rastreadores - ele passou a última semana procurando pistas sobre o misterioso líder revolucionário, Mercúrio, cujo movimento humanista estava assolando Londres.
E agora ele encontrou uma.
Nenhuma menção ao nome Mercúrio, mas os instintos de Lynch estavam pegando fogo com o boato de uma remessa que deveria ser contrabandeada para fora dos enclaves úmidos nos limites da cidade - uma remessa específica que era recebida todos os meses nesta época, embora seu informante não sabia o que era.
Fácil de adivinhar. Os enclaves eram tanto a prisão quanto a fábrica, onde os mecanicistas internos eram forçados a trabalhar o aço em troca de seus membros mecânicos. Este enclave particular era responsável pela fabricação de peças mecânicas para o exército de autômatos que protegia o aristocrático Escalão.
À distância, chaminés espreitavam na poluição como pequenas torres de vigia. Uma sirene de nevoeiro ecoou pesarosamente enquanto o barco lentamente cruzava o Tamisa. O mundo parecia estranhamente silencioso sob seu cobertor etéreo, exceto pelo leve sussurro de movimento nas sombras.
— Aqui, — Alguém murmurou no beco abaixo dele. — São eles? Alguém dê a eles o sinal.
A cabeça de Lynch se ergueu.
Gavinhas de névoa giravam em torno de um homem no outro telhado, lambendo suas pernas e manto - Garrett. Fazendo um gesto afiado com os dedos, Lynch silenciosamente dirigiu seu tenente. Havia quatro outras formas no escuro, mas ele não conseguia vê-las, apenas ouvia um leve som de raspagem que sussurrava nos ladrilhos através de seu comunicador auditivo. Feito de peças finas de latão e couro, ele se encaixava perfeitamente em seu ouvido, um transmissor que recebia cada sussurro de Garrett. A peça correspondente de Garrett poderia transmitir seus comandos, não importa onde os dois estivessem.
O som de ferro raspando sobre paralelepípedos ecoou na noite calma. Alguém assobiou um aviso e o som foi cortado. Lynch se inclinou para frente, inclinando a cabeça para ouvir.
— Quieto. — Esta era uma voz de comando, fria e baixa. — Você quer que o mundo nos ouça? Lembre-se, os malditos sangradores podem ouvir por quilômetros.
Definitivamente humanistas.
Lynch se agachou na beirada do telhado de telhas, o coração batendo forte no peito de ansiedade. A escuridão o engoliu quando ele se inclinou sobre a borda, seus olhos escolhendo sua presa imediatamente. Um dos benefícios do vírus do desejo que o afligia eram os sentidos superiores. Um sangue azul podia ver na mais escura das noites e ouvir o mais fraco sussurro, embora isso mal compensasse a fome feroz que ele nunca poderia saciar, o desejo implacável por sangue...
Um trio de figuras encapuzadas pairava no beco, um sinalizador fosforescente protegido por uma de suas capas. Um era um homem alto, com ombros largos sob a capa e bochechas com marcas de varíola. Ele se ajoelhou e arrastou um caixote pesado para fora da grade aberta do esgoto na calçada.
Os olhos de Lynch se estreitaram. Havia homens dentro dos esgotos, mas ele não sabia dizer se eram de enclaves ou mais deste misterioso grupo.
Levantando a mão para neutralizar seu comando anterior, Lynch voltou às sombras para ouvir. Se os mecanicistas estavam usando os sistemas de esgoto próximos para contrabandear metal para fora dos enclaves, então o príncipe consorte precisava saber.
Um mês atrás, os humanistas tentaram bombardear a Torre de Marfim, a sede do poder do Escalão. O tratamento do bombardeio foi um desastre, com metade do aristocrático Escalão pisoteando suas depoimentos e apenas uma testemunha, que se recusou a falar, sob custódia. A única prova que Lynch tinha estava em seu bolso: um pedaço de couro que se rasgou da capa de uma mulher em uma das antecâmaras. Uma humanista, ele suspeitava, e uma envolvida no bombardeio. O cheiro dela estava há muito desbotado do couro gasto, mas se ele fechasse os olhos, ele sabia que poderia trazer o cheiro dela à mente. Isso o encheu, marcando sua memória como se ele nunca pudesse escapar dela.
Talvez ela estivesse lá embaixo? Seu sangue disparou com o pensamento. Ele queria encontrá-la - ele precisava. Embora às vezes, na escuridão da noite, ele se perguntasse se seus motivos para essa loucura eram os mesmos do príncipe consorte.
Engolindo em seco, Lynch forçou o pensamento da mulher misteriosa de sua mente. Ele tinha um trabalho a fazer.
O que os humanistas poderiam estar fazendo aqui? Eles estavam atrás de explosivos? Ou talvez uma arma para neutralizar os autômatos de metal fortemente blindados que patrulhavam as ruas?
Ele precisava colocar as mãos naquela caixa.
— Depressa —, rebateu o líder. — Já estamos atrasados.
Um homem grunhiu. — É muito pesado, sabe?
— O aço geralmente é. — Foi a resposta.
— O que é isso? — Alguém assobiou.
O silêncio caiu. Lynch desbotou de volta contra a alvenaria de uma chaminé.
— Pensei ter visto algo se movendo —, murmurou a mesma pessoa. — Lá em cima. No telhado.
— Falcões da Noite?
— Se apresse com isso — o líder estalou. — Precisamos nos mover. Agora.
Lynch fez uma careta quando um dos Falcões da Noite disparou entre as chaminés. Muito tarde. Eles foram vistos.
Lynch subiu na inclinação do telhado e subiu até a borda, saltando sobre o nada. Ele viu Garrett e os outros se movendo no limite de sua visão, então ele pousou na névoa rodopiante que se agarrou às pedras abaixo, seus joelhos dobrando para absorver o choque.
Um homem em um gibão áspero, com ombros do tamanho de um pugilista, cambaleou até parar na frente dele, sua boca escancarada em choque e ambos os braços faltando dos cotovelos para baixo. Em vez disso, ele usava os pesados braços hidráulicos de um mecanicista, um trabalho bruto e rudimentar, sem nem mesmo a carne sintética que os ferreiros mestres do Escalão poderiam criar. Trabalho de enclave.
— Falcões da Noite! — O homem berrou, as mangueiras hidráulicas em seu braço de aço sibilando na noite enquanto ele desferia um golpe em Lynch.
Agarrando o homem pelo pulso, Lynch chutou seus pés debaixo dele e o jogou de cara na calçada.
Uma sombra mudou no nevoeiro. Lynch teve um vislumbre de uma capa com capuz escuro e uma pistola brilhando à luz fraca e fosforescente de um sinalizador caído. — Deixe-o ir. — O líder comandou em voz baixa. Ele manuseou o gatilho em sua pistola.
Lynch pouco podia ver seu oponente além da capa e uma escuridão escancarada onde seu rosto deveria estar. Uma máscara de cetim preto cobria todo o rosto e garganta, não deixando um centímetro de pele visível. E ele soube de repente.
— Mercúrio. — Ele disse, olhando para o cano da pistola. A alegria faminta saltou por ele, sombras varrendo sua visão enquanto a fome do desejo momentaneamente o alcançou. O bastardo estava na frente dele.
Ele ouviu o clique um momento antes de o cano da arma tossir.
Lynch se atirou em um rolo quando a arma respondeu com um baque surdo. Um Falcão da Noite apareceu atrás dele e se enrijeceu, um pequeno dardo com penas azuis espetado em seu peito. Lewis Hicks, um dos novatos. Ele cambaleou para a frente, deu um pequeno suspiro e depois desabou aos pés de Lynch.
Os olhos de Hicks permaneceram abertos e ele tremia nas pedras, rígido como uma tábua, momentaneamente paralisado.
Lynch ergueu os olhos. Os novos dardos de cicuta que os humanistas estavam usando para derrubar sangues azuis o deixaram cauteloso. O veneno paralisava um sangue azul por uns bons cinco a dez minutos, deixando-os à mercê do humano. Como um predador, a repentina sensação de vulnerabilidade o enervou.
Os ombros de Mercúrio enrijeceram, mas ele não perdeu o fôlego. Em vez disso, ele se virou e disparou pelo beco, sua capa girando nos restos da névoa e sua sombra se alongando.
— Espalhem! — Alguém gritou.
Homens saíram dos esgotos, passando pelos Falcões da Noite. Garrett empurrou um homem contra uma parede e colocou algemas nele. Os humanistas fugiram como ratos, disparando pelos becos. Não havia Falcões da Noite suficientes para pegá-los todos, mas Lynch só precisava de um. Aí sim. Corte a cabeça da cobra e você terá todas elas.
— Ele é meu. — Ele retrucou para Garrett, deixando seu tenente com o resto deles. Correndo pelo beco, ele rapidamente alcançou o revolucionário, agarrando a capa do homem. Ele puxou por um momento e Mercúrio girou com um gancho de esquerda vicioso que acertou Lynch no rosto. A dor cortou sua bochecha, deixando sua visão branca por um segundo. Deve ter havido algo nas mãos do revolucionário. Soco inglês, talvez.
Girando, Mercúrio se desvencilhou da capa e disparou, deixando Lynch com um punhado de tecido e o cheiro indescritível de pólvora.
Maldito seja. Lynch começou atrás dele com um foco mortal.
O beco estava acabando, as paredes de pedra que cercavam os enclaves se erguendo na noite. Lynch parou quando Mercúrio girou, encarando-o através da gaze fina de suas fendas de olhos.
— Não chegue mais perto. — Advertiu o líder revolucionário, erguendo a pistola novamente.
— O problema com a nova marca de dardos de recuo é que ela requer recarga manual. Você parece estar sem dardos. Ou você já teria usado em mim. — Ele não tinha dúvidas disso.
O queixo de Mercúrio ergueu-se quando a pistola baixou. — Isso não me torna menos perigoso.
Lynch esfregou o queixo e o hematoma que sem dúvida estava começando a se formar. — Eu nunca esperava que isso acontecesse. Com o que você me bateu?
— Um toque de amor, milorde. — As palavras foram misturadas com sarcasmo. — Aproxime-se e eu lhe darei outro.
Eles olharam para a extensão de paralelepípedos. Lynch franziu o cenho com a escolha de palavras do inimigo, algo sobre a situação agitando inquietação em seu intestino. Atrás dele vieram gritos. Ele sentiu a atenção de Mercúrio passar por cima do ombro de Lynch e então o revolucionário deu um passo hesitante para trás, batendo na parede.
— Nenhum lugar para correr, — Lynch disse suavemente. — Sem lugar para esconder-se.
— Sempre há um lugar para onde correr. Au revoir, senhor. — Jogando a pistola a vapor de lado, Mercúrio sacou uma arma mais pesada do cinto em seu quadril, com um gancho de quatro pontas afiado na ponta.
Por um momento, Lynch pensou que o revolucionário iria atirar nele, mas então ele apontou para o céu e puxou o gatilho.
O gancho subiu na escuridão com um silvo de corda arrastando atrás dele. O metal retumbou na pedra muito acima, então o revolucionário deu um puxão na corda. Ela segurou e ele pressionou algo na lateral da arma de luta.
— Não... — Lynch estalou, saltando para frente.
Seus dedos roçaram a ponta da bota de Mercúrio enquanto o revolucionário voava pelo ar. A risada ecoou na escuridão, espessa com rouquidão. Lynch rosnou e bateu com a palma da mão na pedra. Ele o tinha. Na palma da mão ensanguentada e ele o perdeu.
Olhando para cima, ele mostrou os dentes. Era arriscado para um sangue azul entrar nos enclaves. Rebeliões recentes de mecanicistas viram dezenas de mecanicistas pisoteados nas ruas pela cavalaria de Troia de metal. Não havia amor perdido por um sangue azul - ou um covarde, como os mecanicistas os chamavam.
Seus olhos se estreitaram. Ele também era perigoso. E ele passou mais de um ano caçando o bastardo, apenas para ter Mercúrio escorregando por entre seus dedos. O aviso do príncipe consorte soou terrível em seus ouvidos. Traga- me a cabeça dele. Ou compartilhe seu destino.
Não é muito provável. Olhando em volta, Lynch enfiou a bota em uma fenda entre as pedras na parede e se ergueu com força total, esticando os bíceps.
Era a última coisa que Mercúrio esperava.
O vapor assobiou quando o enorme pistão rolou em sua rotação. A mulher conhecida como Mercúrio passou correndo, sua respiração quente e úmida contra a máscara de seda sobre seu rosto e seus olhos disparando.
Aqui nos enclaves, uma luz laranja forte iluminava as vigas de aço dos galpões de trabalho e fornos enormes. O lugar era crivado de túneis subterrâneos onde os trabalhadores viviam, mas na superfície os galpões de trabalho dominavam. Não era bem uma prisão - mecanicistas ganhavam meio dia de folga e quinze dias - mas estava perto.
Lingotes de metal brilhavam vermelho-cereja e o ar estava pesado com o cheiro de carvão. Os homens trabalhavam até à noite para manter as fornalhas quentes, sombras silenciosas contra as ondas de calor tremeluzentes. Rosalind passou por um mecanicista com um avental de couro esburacado enquanto ele colocava carvão na boca aberta de uma fornalha, a explosão de calor deixando um brilho leve de suor em sua pele. Gotas de suor escorreram por baixo de seus seios e molharam o interior de sua luva direita. Ela não conseguia sentir a esquerda. Apenas uma dor fantasma onde o membro costumava estar e onde agora estava o aço.
Droga. Rosalind jogou de lado a arma de agarrar com recuo de mola e começou a puxar sua luva direita. Seu coração não parava de bater em seu peito, seu corpo se movia com uma antecipação líquida que ela conhecia bem. Tolice saborear tal antecipação, mas o perigo, o limite de seus nervos, era uma droga que ela havia negado por muito tempo.
Ela não conseguia acreditar em sua má sorte. O próprio Falcão da Noite, em carne e osso.
Um homem de sombras e mitos. Rosalind não tinha dado uma boa olhada em seu rosto na escuridão, mas a intensidade de sua expressão era inconfundível e ela sentiu a pesada carícia de seu olhar como um toque na pele. Seu oponente mais formidável, um homem dedicado a capturá-la e destruir os humanistas. O choque de sua chegada a abalou, e Rosalind não era uma mulher que se surpreendia com frequência.
Ela deslizou entre fileiras de correias de ventilador com membros de autômato de metal pesado nelas. Os cabelos de sua nuca se arrepiaram. Ela sabia que era arriscado fazer esta última viagem, mas não tinha escolha. A lei marcial sufocou a cidade desde o bombardeio da Torre de Marfim e ela precisava das peças que os mecanicistas haviam prometido a ela.
O bombardeio foi um golpe poderoso para o aristocrático Escalão. Todos os principais lordes de sangue azul da terra, incluindo o príncipe consorte e sua rainha humana, foram reunidos. Se o ataque tivesse sido bem-sucedido, teria eliminado quase todos os sangues azuis parasitas, deixando as classes trabalhadoras - os humanos - para se livrar do jugo da escravidão e da servidão. Não haveria mais taxas de sangue ou escravos de sangue. Chega de exércitos de autômatos de metal para mantê-los reprimidos.
Um plano ousado.
Se tivesse dado certo.
Por um momento, Rosalind quase desejou ter pensado nisso, mas o grupo de mecanicistas que ela resgatou dos enclaves úmidos para trabalhar no aço para ela um ano atrás tinha ido pelas costas. Nos últimos seis meses, ela pediu paciência enquanto os mecanicistas sussurravam que ela era muito mole, não impiedosa o suficiente para liderar o movimento humanista. No final, eles resolveram o assunto com as próprias mãos. Rosalind tentou impedir a tentativa de bombardeio antes que fosse tarde demais, para tentar salvar seu irmão mais novo, Jeremy. Em vez disso, os mecanicistas o usaram, seduzindo-o com grandes histórias e enviando-o para entregar a bomba ele mesmo.
Foi uma catástrofe. O Escalão agora entendia a ameaça que os humanistas representavam. Rosalind foi forçada a dispersar aqueles que ainda estavam sob seu comando quando a lei marcial estabeleceu seu grande peso sobre a cidade e o Escalão colocou uma recompensa por suas cabeças. Ela e seu irmão mais velho, Jack, se esconderam enquanto tentavam desesperadamente descobrir qualquer palavra de Jeremy.
Dos mecanicistas que a traíram e o resto do movimento, não havia sinal. Tudo o que ela tinha deixado deles era o gosto rançoso de culpa em sua boca. Ela sabia que Jeremy gostava de seu líder, Mendici, e de seu irmão, Mordecai, mas ela não havia impedido a adoração ao herói. Ela estava muito ocupada com a causa e seu próprio projeto pessoal para ver o que estava acontecendo dentro de sua família.
O aço gritou ao bater contra a pedra. Rosalind girou nos calcanhares e olhou em volta, os punhos cerrados protetoramente na frente dela. Seu olhar percorreu as sombras. Ele não a teria seguido aqui, não é? Os enclaves eram perigosos para uma criatura de sua laia.
Nada além de quietude saudou seu olhar questionador. Faíscas se espalharam à distância de um equipamento de soldagem movido a vapor, mas não havia ninguém à vista.
Não queria dizer que ele não estava lá.
Colocando um pé atrás dela, ela deu um passo para trás lentamente, observando as sombras. A sensação de perigo era familiar. Ela tinha sido uma criança espiã, uma assassina, e anos de tal trabalho a ensinaram quando ela estava sendo observada e quando não estava.
— Você é inteligente. — Uma voz fria disse atrás dela.
Rosalind girou com o punho levantado. O Falcão da Noite segurou seu braço com força, mal se encolhendo com o golpe.
— Mas eu esperava isso. — Ele murmurou, olhando para ela de sua grande altura. Seus dedos travaram em seu braço direito em um aperto cruel.
— Eu retribuiria o elogio, — ela retrucou sem fôlego, forçando sua voz mais baixa. De onde diabos ele veio? — Mas eu não acho muito inteligente para um homem como você se aventurar aqui.
Ela se sacudiu contra seu aperto, mas estava imóvel. A dura luz vermelha iluminou seu rosto, destacando o corte nítido de suas sobrancelhas e seu nariz aquilino. Ele parecia o próprio Diabo, seus lábios duros e cruéis e seus olhos brilhando diretamente através dela. Uma dura carapaça de couro preto protegia seu peito - a armadura corporal da Guilda dos Falcões da Noite.
— Você e eu sabemos que eu poderia matar qualquer número de mecanicistas se eles viessem correndo. — Sua voz era suave, ela notou, um tom baixo e grave que se esforçava para ouvir mesmo assim. Ele seria alguém que não se preocuparia em levantá-lo com frequência. Alguém que esperava que sua palavra fosse obedecida e não costumava ficar desapontado.
— Sim, — ela concordou, curvando seu dedo médio e torcendo a ponta dele. A lâmina fina de seis polegadas escondida na junta na base de sua mão deslizou através da luva silenciosamente, um dos muitos aprimoramentos para a junta que ela recebeu. Dê um soco em um homem assim e ela poderá espetá-lo. — Mas eu não estava falando sobre eles. Este é o meu mundo, não o seu.
Rosalind esfaqueou com força, avançando com o corpo para dar força ao golpe. Lynch agarrou seu pulso, empurrando para o lado de forma que a lâmina deslizou por suas costelas e não por elas. Afastando-se dela, seus dedos se afastaram pegajosos de sangue preto. À luz do dia, haveria um leve tom vermelho-azulado - a cor dava o nome aos sangues azuis.
Ele olhou para cima, seus olhos claros queimando com intensidade e a promessa de vingança. O sangue nas veias de Rosalind gelou com a visão e ela tirou a adaga de sua bota, sentindo seu peso familiar em sua mão direita.
Lynch respirou fundo e desviou o olhar dos dedos ensanguentados. — Isso não foi muito sábio.
As sombras se moveram. Rosalind mudou, golpeando com a adaga para onde ela pensava que ele viria para ela. Uma mão agarrou a dela, o polegar cravando-se no nervo que corria ao longo de seu polegar.
— Maldito seja. — Ela jurou, quando a adaga caiu de sua mão repentinamente inútil. Ela conhecia centenas de maneiras de desarmar um homem. Mas seu braço foi puxado com força para trás, e quando o Falcão da Noite a girou, empurrando seu rosto contra uma parede de tijolos, ela percebeu que nada disso importaria. Pois ele também os conhecia.
Sua força a apavorava, ao mesmo tempo que a excitava. Aqui estava um jogo, ela pensou com um calafrio. Um inimigo que ela simplesmente não seria capaz de vencer.
Empurrando-a entre as omoplatas, ele puxou o braço dela para trás. Pontos negros apareceram em sua visão, mas ela não gritou. Em vez disso, ela relaxou, a dor diminuindo lentamente, como se enfiasse o polegar em um músculo duro. Ela conhecia a dor; era uma velha amiga e ela enfrentou muito pior do que isso em seu tempo. A dor não a assustou. Não, de fato, ela gostava. A dor física era algo que ela podia lutar, ao contrário do medo desesperador e dilacerante que a assaltava sempre que pensava em seu irmão desaparecido.
O corpo firme de Lynch pressionado contra ela, um joelho cravado nas costas dela. Não havia para onde se mover, para onde ir. Ele a havia prendido perfeitamente. Mas então, ela tinha uma surpresa na manga, um último ás para jogar.
Lynch fez uma pausa. Então ele pegou seu pulso e tirou sua mão mecânica da parede, examinando-a. Os dedos inúteis se abriram amplamente quando ele tocou um ponto de pressão nos tendões de aço, girando-o de um lado para o outro. O ódio queimava dentro dela.
— Sim, — ela murmurou. — Eu sou uma mecanicista.
Seu polegar correu sobre a navalha onde estourou através da luva, revelando apenas uma sugestão do aço reluzente de sua mão. Ela não se incomodou com a carne sintética que alguns usavam para esconder seus realces. Elas nunca eram reais o suficiente, nunca tinham a cor ou consistência certa. E ela não queria se conformar com as demandas do Escalão. Eles que se danem. Ela era humana o suficiente, com todos os direitos que um humano deveria ter, não importa o que dissessem sobre mecanicistas.
Lynch encontrou o mecanismo de travamento e a lâmina deslizou para dentro do aço. — Muito inteligente. Não admira que você acerte como Molineaux.
— Deixe-me ir e lhe darei outro.
O silêncio pairou entre eles. Então Lynch riu, uma tosse curta e latida de diversão que soou como se já tivesse se passado muito tempo desde que ele achou algo remotamente divertido.
A risada morreu tão rapidamente quanto apareceu. A pressão dele em seu braço relaxou e Rosalind caiu contra a alvenaria enquanto seu ombro ferido protestava.
— Sem dúvida você faria. — Agarrando um punhado de seu casaco, ele a girou, um punho cerrando a camisa em sua garganta. — E talvez você me oprima eventualmente, mas eu não me importo em testar a teoria. Você está indo para O Chancery Lane.
Os aposentos da Guilda dos Falcões da Noite. Uma vez lá, ela nunca veria a luz do dia novamente. Exceto por uma breve visão dela em seu caminho para o cadafalso.
— Eu tenho uma ideia melhor, — ela disse imprudentemente. O ace até sua manga... — Você e eu... nós poderíamos fazer alguns arranjos.
Aqueles frios olhos cinza encontraram os dela. Ela podia vê-los mais claramente agora que sua visão tinha se ajustado ao brilho vermelho infernal, mas sua percepção não tinha mudado. Lynch entregaria sua mãe à lei se ela a violasse.
Sempre houve uma maneira de manipular um homem. Até Lynch precisava querer algo, desejá-lo... Ela apenas tinha que descobrir o que era.
— Você está tentando subornar o homem errado. — Disse ele friamente, abrindo os braços dela.
Uma mão fria e impessoal correu ao longo de cada braço, sob as axilas e abaixo, até os quadris. Seus dedos duros encontraram as pequenas bolsas presas ao cinto - pós e venenos que feriam especificamente um sangue azul. Seus olhos se encontraram e Lynch puxou com força a fivela do cinto. O cinto deslizou pelas presilhas de sua calça com um tapa de couro, e Rosalind respirou fundo.
— Todo homem pode ser subornado —, disse ela. — O que é que você quer, Lynch? Dinheiro? Poder? — Ela viu a resposta desdenhosa em seus olhos quando ele descartou seu cinto com um movimento brusco.
— Nada que você possa me dar. Se você mover as mãos, vou quebrá-las. Até mesmo a de aço.
Com isso, ele se ajoelhou, deslizando as mãos pela parte interna das pernas dela. Suas palmas eram frias e impessoais, mas Rosalind estremeceu com o toque. Nenhum homem desde que seu marido a tocou ali e a sensação a enervou.
Havia outra adaga em sua bota. Ele a pegou, enfiando-a atrás do próprio cinto ao iniciar a viagem de volta. Mãos suaves deslizaram para trás de seus joelhos, a pressão firme o suficiente para fazer sua respiração prender. Mais alto... mais alto... então se esquivando pouco antes de ele segurar sua bunda.
— Você errou um pouco. — Rosalind se forçou a dizer enquanto ele se endireitava. Para escapar, ela teria que enganá-lo e, para isso, precisava que seus sentidos estivessem embotados.
Os dedos dele permaneceram em seu quadril. — Onde?
— Mais para cima — ela sussurrou, inclinando a cabeça para trás para olhar para ele. O couro liso de suas luvas deslizou sobre o linho áspero de sua camisa. — É o meu maior trunfo.
Seu polegar espalmado sobre suas costelas, sob seu seio. Tão perto. Embora ela quisesse manter seu sexo em segredo, os homens muitas vezes subestimavam uma mulher ou eram enganados pelo flerte de seus cílios. Ela não tinha nada além de desprezo por aqueles que caíram em sua faca por esse erro.
— Mais. — Ela o desafiou. Seu estômago se retorceu em antecipação, o calor inesperado se espalhando mais baixo, entre suas coxas. Rosalind lambeu os lábios secos. Não pense no que ele é. Use-o; use seu corpo.
A mão de Lynch deslizou sobre a curva lânguida e inconfundível de seu seio, seus olhos se arregalando. Eles estavam fortemente amarrados, para não interferir em seus movimentos, mas ele era um homem. Ele sabia o que isso significava.
— Surpresa. — Ela sussurrou.
— Puta merda. — Ele puxou a mão para trás como se estivesse queimado. Seus olhos se estreitaram, mas ela podia ver o pensamento correndo atrás deles. — Você! Você estava na torre. Com a bomba.
Uma mão se curvou ao redor de seu crânio e ele agarrou um punhado de seu cabelo. Rosalind agarrou sua capa enquanto ele puxava sua cabeça para trás, expondo sua garganta.
A barba por fazer raspou contra sua bochecha e o estômago de Rosalind se transformou em cinzas quando sua mandíbula roçou a pele lisa logo abaixo de sua orelha. Não! Ela se debateu loucamente, seus dedos de ferro envolvendo seu pulso, sabendo, mesmo enquanto o agarrava, que não poderia detê-lo. Não se ele quisesse seu sangue.
— Você é ela. — Ele sussurrou.
E ela percebeu que ele estava inalando seu perfume.
Afinal, ele não estava indo para a veia. O corpo de Rosalind tremia ao relaxar, seu estômago estremeceu. Senhor, tenha misericórdia. Ela estava a salvo dessa violação em particular.
Então sua mente começou a correr. — Quem? — Como ele sabia que ela estava na Torre de Marfim no dia em que os mecanicistas a bombardearam? O dia em que o duque de Lannister morreu? Ele suspeitou da mão dela nisso?
Lynch ergueu a cabeça, a mão embalando seu crânio. Ela viu seus olhos e se acalmou. Perigoso.
Ele tirou um pedaço de couro do bolso e segurou-o entre dois dedos. — Você deixou isso para trás. Eu podia sentir seu cheiro em todo o couro. Você, outras duas pessoas - e pólvora.
Uma peça de couro perfeitamente inócua, sua ausência mal notada. — E você está carregando isso todo esse tempo? Que tocante.
— Caso eu esqueça o cheiro.
Rosalind o olhou nos olhos, sua mente dando um daqueles saltos insanos de intuição que às vezes acontecia. Lynch a queria. Sua própria obsessão pessoal, ela percebeu. Um mistério - um que atraía tanto seu intelecto quanto seu desejo.
— E agora? — Ela sussurrou, sabendo que ela o tinha. Esta era sua fraqueza, bem aqui. — Não há nada com que eu possa subornar você agora?
Ele entendeu o que ela quis dizer, suas pupilas dilatando quando ele se afastou dela. Rosalind caiu contra os tijolos, sua mão espalmada para se segurar. Se ela fosse uma mulher inferior, poderia ter sentido alguma dor em sua consciência com a rápida rejeição. Mas ela procurou seus olhos enquanto dizia as palavras; isso não era repulsa. Por um momento, o interesse cresceu lá.
— Você atirou no duque de Lannister e tentou explodir a corte. Se você acha que vou fazer qualquer tipo de acordo com você, você é uma idiota.
— Eu atirei no duque, — ela admitiu. — Apenas um golpe feroz. Ele estava tentando estrangular uma conhecida minha.
— Você nega estar por trás do ataque a bomba?
— Eu tentei pará-la.
— Você me toma por idiota?
Ela se atreveu a dar um passo em sua direção. — Se eu achasse que funcionaria, teria liderado a ação, mas esse não era um plano meu. — Não, ela tinha ido encontrar Jeremy.
— Não? — Lynch se aproximou mais, suas narinas dilatadas. — Então o que você estava fazendo esta noite? O que você está fazendo?
— Diga-me você. — Ela olhou para cima através da gaze das fendas dos olhos da máscara.
Lynch segurou seu queixo, seu dedo acariciando o cetim preto. Seu polegar deslizou sob a borda da máscara, levantando-a sobre sua boca e mais alto. — Eu quero te ver.
A mão dela agarrou a dele. — Não. — Rosalind se arriscou e lançou a língua para fora, lambendo a ponta do polegar dele.
Lynch puxou a mão para trás, o calor ardendo em seu olhar. — Você me desapontou. Nada do que você diga ou faça vai mudar minha mente. Você está presa, com saias ou não.
Ele estendeu a mão para o pulso dela e ela torceu, capturando o seu. Os tendões em seu braço ficaram tensos, mas Rosalind lentamente levantou sua mão, mantendo o olhar fixo no dele o tempo todo. Ela pressionou a palma da mão dele contra sua bochecha, virando os lábios nela. Lynch retribuiu o olhar dela com frio desinteresse, mas a pulsação em sua garganta se acelerou.
Rosalind lambeu sua palma, traçando sua língua lentamente através da costura ali. — Isso não te excita? — Seu olhar cintilou para o dela e ela se aproximou, virando sua mão para traçar seus lábios contra a carne tenra entre as costas de seus dedos. — Você, — ela sussurrou. — Eu. Dois inimigos finalmente se encontram. — Com a palma para fora, ela pressionou a outra mão contra o abdômen ondulado de sua armadura e flexionou os dedos. O couro foi polido com o tempo e o uso. Impossivelmente suave. Como sua pele.
O pensamento a pegou de surpresa. Em todos os seus anos, ela só sentiu tal curiosidade despertando dentro dela uma vez, e tinha sido por seu marido, um homem que ela admirava e respeitava. Lynch não era digno de nenhum dos dois aos olhos dela.
Ou ele era?
Ela tinha descoberto o suficiente sobre ele nos últimos meses. Testando suas fraquezas, descobrindo que tipo de homem ele era - que tipo de inimigo ela enfrentava. A resposta a deixou nervosa. Frio e implacável, as pessoas sussurravam. Cruel. Até o Escalão o chamava de Sir Coração de Ferro, mas nunca na cara dele.
O homem na frente dela estava duro. Ela podia sentir isso inatamente. Mas o olhar em seus olhos... Oh não, isso não era frio. Nem um pouco frio.
— Todos esses meses você esteve me perseguindo, Lynch. — As palavras eram uma carícia, mas sua mente disparou. — E agora você me pegou. Você não está curioso? Você não quer apenas um gostinho antes de me entregar ao príncipe consorte?
Seus próprios pensamentos trêmulos usados contra ele.
— Não. — Sua cabeça se inclinou em direção a ela, sua respiração vindo áspera.
A excitação a percorreu. Antecipação. Foi a única vez que ela realmente se sentiu viva nestes dias. Como se ela estivesse sonâmbula há tanto tempo, a presença de Lynch foi como uma gota de água gelada em seu rosto. Deslizando a mão sobre cada ondulação do couro, Rosalind deixou seus dedos pararem na ponta do cinto e olhou para cima, por baixo dos cílios. — Mentiroso.
Uma cor furiosa corou as bordas nítidas de suas maçãs do rosto. Lynch olhou para ela, mas o desinteresse frio em seus olhos se dissipou. A escuridão de suas pupilas inundou suas íris até que ela olhava nos olhos de um demônio, seus pensamentos racionais obliterados pela fome, pelo desejo.
Ela o tinha.
Rosalind ficou na ponta dos pés, deslizando seus dedos de ferro pelos fios negros de seu cabelo. Baixando os cílios pela metade, ela puxou sua cabeça para baixo com um punhado de seu cabelo e guiou sua boca para a dela.
Ela beijou homens no cumprimento do dever, os seduziu com um sorriso sedutor que mal tocou a bola fria e dura de emoção dentro dela. Isso nunca significou nada para ela. Ainda assim, ela tremia agora, sua mão acariciando o corpo duro revestido de couro, sentindo a textura macia e amanteigada de sua armadura sob suas luvas. Suas palavras não apenas o seduziram - ela mesma sentiu a verdade nelas. A emoção de algo proibido.
Sua respiração fria roçou seus lábios sensíveis enquanto acariciavam os dela. Lynch resistiu. — Tire sua máscara. — Disse ele com voz rouca, seus próprios dedos acariciando a carne trêmula de sua mandíbula.
— Não.
Ela podia sentir o corpo dele se afastando dela enquanto ele lutava por seus sentidos. Em desespero, ela estendeu a mão e abriu a boca sobre a dele.
Um arrepio percorreu a moldura maciça que a envolvia. Ele enrijeceu em choque e ela bebeu de sua boca, sua língua acariciando a dele com um desafio e suas mãos deslizando para baixo. Esse corpo duro derreteu contra ela e ela sentiu o momento em que ele parou de lutar contra suas inclinações. Mãos seguraram seu rosto e ele a beijou como se fosse um homem desesperado, a paixão crescendo dentro dele tão rapidamente que a chocou. Ela sentiu o gosto da solidão em sua fome, e algo queimou para a vida dentro dela, algo estranho e perigoso. Um desejo que doeu como um punho em seu estômago, um eco.
Rosalind virou o rosto, ofegando em seu cabelo enquanto tentava se afastar disso. No momento em que ela pôde respirar, a sensação diminuiu, mas ela não o beijou imediatamente.
Sua mão segurou sua nuca e ele agarrou um punhado de cabelo, arrastando sua cabeça para trás. Lábios frios deslizaram sobre seu queixo e abaixo, em sua garganta. Rosalind agarrou seu ombro, desconfiada de sua vulnerabilidade, mas não voltou. Se ela se concentrasse em senti-lo, em cada sensação delicada enquanto ele lambia sua garganta, então ela conseguiria se segurar.
Um sangue azul. Mas ele se parecia como um homem sob suas mãos questionadoras, e tinha o gosto de um quando voltou para seus lábios, seu hálito doce com o vinho da noite. O beijo se aprofundou, sua língua forçando seus lábios a se separarem, sem fazer prisioneiros. Com fome. Seu corpo doía, a pulsação entre as pernas havia tanto tempo negada. Oito longos anos desde que Nathaniel morreu, e ela nunca se arrependeu de não ter um amante. Nunca encontrou um homem que a tentasse. Mas o perigo era seu próprio vício e uma parte dela emocionou-se com o homem em seus braços. O Falcão da Noite. Seu mais querido inimigo. Uma entidade sombria que ela teve grande prazer em frustrar nos últimos seis meses.
Um homem que ela estava prestes a frustrar novamente.
Suas costas bateram na parede de tijolos. A boca de Lynch deslizou por sua garganta e reivindicou seus lábios novamente. Ela mal teve tempo de respirar ou mesmo um punhado de sua camisa antes que sua língua raspasse em seus dentes. Mil impressões penetraram nela; a irritação de seus mamilos contra o linho que os prendia; o gosto de sua boca; o cheiro dele; e o som grave de seus nós dos dedos no tijolo quando ele a agarrou por baixo da bunda e arrastou suas pernas ao redor de seus quadris.
As unhas de Rosalind se enrolaram em seus ombros, acolchoadas apenas pela luva que ela usava. Doce senhor... Ela estava se perdendo de novo... Ela o beijou, mordendo sua boca, puxando seu lábio entre os dentes e mordiscando-o. Seria tão fácil esquecer-se de si mesma, permitir-se render-se até que se perdesse...
Não.
Mãos agarraram as dela, prendendo-as na parede. Mas ela precisava delas livres e lutou contra ele.
Sua cabeça girou. — Deixe-me - deixe-me tocar em você. Eu quero te tocar.
As palavras acalmaram a violência de sua paixão. Rosalind mordeu o lábio, avistando aqueles olhos escuros. Ela não era a única lutando contra essa atração. E se ela o deixasse ir - por apenas um segundo - ela o perderia.
Nunca. Rosalind se rendeu, balançando os quadris contra os dele, sentindo o aço duro de sua ereção entre suas coxas. Ela deixou seu corpo cavalgar contra o dele, suas mãos deslizando sobre seus ombros e o atraindo para mais perto enquanto ela jogava a cabeça para trás e engasgava.
Lynch bateu com uma das mãos na parede ao lado de sua cabeça, estremecendo. — Maldita seja. — Ele sussurrou. Então sua boca mordeu a dela com fome e ele se perdeu nela novamente.
Rosalind deslizou as mãos sobre o músculo tenso de sua garganta, ligando-as atrás do pescoço. Era uma questão simples puxar a luva de sua mão mecânica. Deixando cair descuidadamente, ela gemeu em sua boca quando sua mão deslizou sobre sua bunda, puxando-a contra ele com força.
Uma torção da junta em seu dedo anelar mecânico e uma agulha afiada deslizou do interior. Rosalind sentiu o gosto de seu hálito e percebeu que estava protelando. Ela deslizou as mãos sobre o ombro dele, a barba por fazer arranhando seu queixo.
Só mais um momento.
Mais um...
Seus quadris montaram os dele e ela jogou a cabeça para trás, os olhos vidrados de paixão. — Eu quase desejo... — ela engasgou. — que eu não tivesse que fazer isso.
Então ela deslizou a agulha em seu pescoço e injetou a cicuta direto em seu corpo.
Lynch enrijeceu, espasmos o atormentando. — Não. — Caindo contra ela, ele agarrou a parede para se manter de pé, seus joelhos cedendo.
Rosalind pousou levemente em seus pés, o corpo rígido prendendo-a contra a parede. Foi uma coisa boa, pois ela não tinha certeza se seus próprios joelhos a sustentariam agora. Ela pegou Lynch pelos braços enquanto ele gorgolejava algo em sua garganta. Palavras que ela provavelmente não queria ouvir.
Deitando-o no chão, ela deu um passo para trás, protegendo a agulha com cuidado dentro de seu dedo de metal e girando a junta de volta no lugar. Uma sensação quase como culpa a lambeu.
Um pensamento estúpido. Perigoso. O sentimento não fazia parte de seu mundo. Nem emoção. Qualquer um dos dois poderia matá-la em um instante.
Suas adagas estavam enfiadas atrás de seu cinto. O olhar de Lynch travou no dela e ela percebeu o que ele estava pensando.
Corte a garganta dele agora e não haveria mais Falcões da Noite em seu rastro, não haveria mais lei marcial. Isso seria um golpe devastador para o Escalão, do qual eles poderiam não se recuperar.
Seus dedos deslizaram sobre o cabo da adaga quando ela a pegou, a familiaridade moldando-a em sua mão. Os dedos de Rosalind cerraram-se inconscientemente enquanto ela o encarava. Não seria o primeiro sangue azul que ela mataria.
Vamos, meu pequeno falcão. Faça. Afinal, você é o que é. O que é mais uma morte?
Ela quase podia ouvir Balfour sussurrando em seu ouvido. A luxúria teve uma morte rápida e a bile subiu em sua garganta. Não. Ela não estava sob seu comando. Não mais. Ela se libertou no momento em que cortou a mão.
Não importa. Seu sussurro a enojou. Eu fiz você o que você é. E você nunca pode escapar disso...
— Não. — Ela sussurrou. O metal retiniu e ela percebeu que deixou cair a adaga.
Lynch se contraiu, um rosnado gorgolejante na garganta. Ela não conseguia desviar o olhar dele. Ele sabia, ela percebeu. Sabia que ela não poderia fazer isso. Não, não poderia. Não.
Tola. Ela balançou a cabeça e deu um passo para trás, suas botas esmagando velhas limalhas de metal no chão. Ela se arrependeria disso. Taticamente, essa não foi a escolha certa. Todo o seu treinamento gritava para ela terminar o trabalho.
Os dedos de Lynch se contraíram. Há quanto tempo ele estava caído? Um minuto? Dois? A quantidade de tempo que a cicuta o paralisaria dependia de quão altos eram os níveis do vírus do desejo. Se seus níveis de vírus fossem altos, então ele poderia começar a recuperar o controle de seu corpo antes que ela fugisse de cena. Não era um pensamento para saborear, especialmente com aquele olhar em seus olhos.
Rosalind pegou sua adaga novamente e a embainhou em sua bota. Faíscas espirraram em um equipamento de soldagem próximo. Ela se agachou, olhando para ver se alguém tinha visto. Se tivessem feito isso, a vida de Lynch estaria em perigo.
Você nem mesmo precisa empunhar a adaga. Apenas vá embora e deixe-o aqui. Indefeso.
Um segundo de hesitação. Seria tão fácil... mas algo a deteve. Um senso de misericórdia até então desconhecido. Esta foi a segunda vez em alguns meses em que ela permitiu que alguém vivesse que ela provavelmente não deveria ter permitido. Rosalind praguejou baixinho e se abaixou para agarrar seus pulsos. Arrastando-o para trás de uma caldeira, ela o escondeu de vista.
— Eu quero que você saiba que você foi espancado. — Ela murmurou, ajoelhando-se ao lado dele. Seus olhos brilharam nas sombras, a luz vermelha da fornalha cintilando sobre suas profundidades escuras. Uma promessa de vingança. Ela balançou a cabeça lentamente, reconhecendo isso. Isso - o que ela tinha começado aqui esta noite - não terminaria até que um deles tivesse a vantagem.
— Eu irei... por você... — Ele mal conseguia falar, mas as palavras enviaram um arrepio por sua espinha.
Um voto. Uma promessa mortal.
A expectativa aumentou quando ela se virou e foi embora. O mundo brilhava de cor, seu corpo ainda dançava de energia. Desperta. — Eu vou cuidar de você então.
— Eu vou cuidar de você então.
Uma mão enrolou em torno de seu ombro e Lynch acordou bruscamente, os resquícios despedaçados do sonho escapando de sua mente enquanto seu estudo ganhava vida ao seu redor. Piscando, ele olhou para a bagunça de papelada em que estivera se inclinando e a tinta que manchava suas mãos. Havia uma crosta de sangue sob suas unhas, onde ele cuidou do ferimento em seu lado. Embora já tivesse curado, cortesia do vírus do desejo por sangue que o tornava um sangue azul, a ação o enfraqueceu.
Garrett deu um passo para trás, arqueando uma sobrancelha. — Você precisa ir para a cama.
Passando a mão pelo rosto cansado, Lynch balançou a cabeça. — Eu preciso encontrar o Mercúrio. A análise na caixa?
Com uma carranca, Garrett atravessou a sala e se ajoelhou perto do fogo. Ele deu vida às escassas brasas com o fole, depois acrescentou um graveto. — Onde está Doyle? Ele deveria cuidar de você melhor do que isso.
Lynch afastou a cadeira da mesa e se levantou. — Ele já esteve aqui cuidando de mim. Eu o mandei embora. A caixa?
— O aço dentro parece ser algum tipo de peça movida a vapor. Um pacote de caldeira, Fitz suspeita. Pode ser usado para todos os tipos de máquinas.
Fitz saberia. O jovem gênio nunca conheceu uma invenção que não o fascinasse. Os lábios de Lynch se estreitaram. — Inútil então?
— Não exatamente. Mandei Byrnes para os enclaves com alguns homens para perguntar sobre a marca.
— Eles não encontrarão nada, — Lynch afirmou, virando-se em direção ao armário de bebidas. — Os mecanicistas nos enclaves estão notavelmente fechados atualmente.
— Desde que o príncipe consorte colocou a cavalaria de Tróia sobre eles dois meses atrás. — Respondeu Garrett.
Lynch serviu-se de uma taça de sangue, medindo-o com cuidado. Ele parafusou a tampa do frasco de volta no lugar. — Tenha cuidado onde você diz essas coisas.
— Estamos na sede da guilda.
— E sem dúvida o Conselho tem pelo menos três espiões aqui. — Lynch ergueu a taça e bebeu, o sangue frio acendendo seus sentidos. Sua visão nadou, pintando o mundo em preto e cinza por um momento. Lentamente, ele colocou a taça na mesa. Ele queria mais; ele ansiava por isso. E com a mesma certeza não permitiria.
— Você acha que eles têm homens dentro da guilda?
— Tenho certeza disso. — O Conselho sabia muito de seus negócios para que fosse coincidência. Lynch mudou rapidamente de assunto para um que ele queria seguir. — Não há sinal da mulher?
Garrett recostou-se na mesa, os braços cruzados e o olhar neutro. Muito neutro. Lynch não perguntou o quanto ele tinha ouvido através do comunicador auditivo; seu alcance era limitado, mas Garrett o encontrou com rapidez suficiente para estar nas proximidades.
— Os homens voltaram. Nenhum sinal dela. A trilha de cheiro terminou perto de Piccadilly Circus. Uma daquelas bombas químicas que os humanistas usam para obliterar todo o cheiro foi lançada.
Garota esperta. Os olhos de Lynch se estreitaram. Ele caiu em seu ardil como um colegial verde e o pensamento o irritou. Ela estava lá fora em algum lugar, sem dúvida rindo pelas costas dele. O pior de tudo é que seus homens o encontraram antes que ele se recuperasse, deitado de costas ainda parcialmente paralisado. Garrett o havia encoberto, enviando-os atrás do revolucionário em fuga, mas eles tinham visto o suficiente.
— Ainda não tenho certeza de como ela te enganou. Você não é um pombo, maduro para ser depenado. — Embora a maneira de falar de Garrett fosse tão precisa a ponto de imitar o Escalão, às vezes suas raízes básicas apareciam em sua escolha de idioma.
— Que faz de nós dois. — A voz de Lynch era dura e seca. Um aviso para Garrett mudar de assunto.
O encontro o frustrou. Sexo e a forma feminina eram distrações às quais ele se considerava invulnerável há muito tempo. Que ela o irritou tão rápida e facilmente.
Sexo era apenas outra necessidade, outra forma de fome, e ele pensou que controlava bem essas necessidades. Ele controlou estritamente a quantidade de sangue que seu corpo requeria e se deitava com uma mulher quando sentia o desejo surgir. Nem uma única vez precisou anulá-lo. Até agora.
E tudo o que precisou foi aquele pequeno sussurro de pecado em seu ouvido, os nós dos dedos acariciando a carapaça de couro de seu abdômen. Ele mal tinha visto seu rosto, apenas seus lábios sob a borda da máscara enquanto ela o tentava com sua oferta.
A memória sensorial o inundou: a leve sugestão de seu seio na concha de sua mão, suas longas pernas travando em torno de seus quadris enquanto ela se arqueava contra ele, a exalação de sua respiração queimando contra seus lábios...
Dane-se ela. Mesmo agora, seu corpo se mexeu e ele sabia por quê.
Um corpo nunca foi suficiente. Ele tinha visto e dormido com algumas das mulheres mais bonitas que o Escalão tinha a oferecer e raramente se lembrava de seus nomes. Mas esta o assombrava. Um mistério. Um desafio. Uma parte dele ansiava pelo próximo encontro, desejando levá-lo adiante. Desta vez, ele teria a vantagem e pretendia fazer pleno uso dela, para pagar cada grama de humilhação em sua carne e deixá-la ofegante por mais.
Ele não podia esperar.
Fechando os olhos, Lynch forçou seu corpo a esfriar. Os pensamentos eram uma loucura - a fome falando, seus próprios demônios pessoais. Ele era o Falcão da Noite, droga, e quando colocasse as mãos sobre ela, ele a prenderia e a entregaria ao Conselho.
Caso resolvido.
Quando ele abriu os olhos, Garrett estava olhando para ele, completamente perceptivo. Cabelo castanho caído sobre sua testa, um atrativo para os olhos das mulheres em todos os lugares. Ou talvez tenha sido esse o sorriso que Garrett lançava para elas. Ele tinha seus usos, apesar de sua fraqueza por tudo em uma saia. Coloque-o em um quarto com uma mulher que se recusava a dizer uma palavra, e antes que cinco minutos acabem, ele terá sua confissão assinada e todos os detalhes íntimos de sua vida.
Garrett conhecia as mulheres por dentro e por fora. E ele sabia quando um homem era derrotado por outro.
— Se você respirar uma palavra sobre isso...
Um sorriso lento e furtivo surgiu na boca de Garrett. — Eu nem sonharia com isso, senhor.
Capitulo 2
A vela gotejava com a brisa fria enquanto Rosalind descia a escada antiga. Uma vez, muito tempo atrás, ela foi projetada como acesso de uma estação de superfície abandonada à plataforma de trem subterrânea abaixo. Agora estava fechada com tábuas e era esquecida, exceto pelas ripas de madeira que ela cuidadosamente quebrou e depois forjou em uma abertura estreita - acesso ao seu mundo, as cavernas mofadas e túneis escuros que eles chamavam de Subterrâneo.
Água pingava ao longe. Os únicos outros sons eram o leve arrastar de suas botas de sola plana e o gemido ecoante de uma brisa passando pelos túneis ferroviários abandonados. Rosalind estendeu a mão e puxou a máscara sufocante sobre a cabeça. O ar frio encontrou sua pele aquecida e ela suspirou de alívio.
O gosto de Lynch permaneceu. Ou talvez fosse a queima de memória zombeteira, provocando-a com o que ela tinha feito.
Ou melhor, como ela reagiu.
Você gostou isso.
Um pensamento horrível de apertar o estômago. Ela nunca se importou com os homens, um déficit que ela considerava um alívio até que Nathaniel entrou em sua vida e a despertou para a alegre miséria da luxúria. Seu marido tinha sido a luz mais brilhante em sua vida... e a maior tristeza. Se a morte dele a ensinou uma coisa, foi nunca se trair novamente. Nunca deixar outro homem se aproximar.
E ela teve sucesso. Até agora.
Abrindo a mão em torno da máscara de cetim, ela a enfiou no bolso severamente. Esta noite ela jogou seu jogo e ela gostou. Isso não aconteceria novamente.
Saindo para a plataforma, ela teve apenas um segundo de aviso antes que um sopro de vento apagasse a vela. A escuridão repentina obliterou sua visão, mas não seus sentidos. Ela sentiu algo se mover e reagiu, erguendo o braço em um bloqueio. Torcendo o dedo, ela sentiu o assobio de vibração quando a lâmina deslizou através de sua junta de metal...
Uma mão bateu no alto do peito e Rosalind engasgou quando seus pulmões se esvaziaram. Então ela foi esmagada contra a parede de tijolos, a argamassa se desintegrando ao seu redor.
— Você está morta. — Uma voz rouca disse em desgosto.
Rosalind inclinou a cabeça para trás enquanto sua visão lentamente se ajustava à escuridão, e ofegou, tentando aliviar o vício em torno de seus pulmões. Ela pressionou a mão um pouco para frente. A ponta da lâmina cravou-se no músculo rígido do abdômen. — E você está destripada.
Um grunhido. Então Ingrid se afastou dela. — Não me mataria.
Verdade. O rosto de Rosalind se contorceu de nojo de si mesma. Um revolucionário distraído estava morto. Ela colocou a lâmina de volta na mão mecânica, esfregando o polegar sobre o aço polido. — Você voltou mais cedo.
— Você está atrasada. — A sombra escura se materializando nas profundezas do túnel estava começando a tomar forma. Ingrid elevava-se sobre ela com quase um metro e oitenta, com ombros largos e quadris bem torneados. Ela tinha um físico de guerreira, cortesia de sua ancestralidade nórdica, embora fosse menor do que muitos outros de sua espécie. O vírus de lupinismo que fazia os verwulfen o que eram, estimulava o crescimento e o desenvolvimento muscular. Ou então os cientistas disseram.
Embora as palavras de Ingrid tenham sido ditas asperamente, Rosalind ouviu o medo áspero subjacente. — Estou de volta —, disse ela, deslizando a mão sobre o antebraço de Ingrid. A outra mulher era quase uma irmã para ela. Uma irmã autoritária e superprotetora às vezes, mas Rosalind descobriu que apreciava isso. — Tive um encontro nos enclaves. O novo pacote de caldeira está perdido.
— O que aconteceu?
— Corri para o Falcão da Noite.
Silêncio. Então Ingrid soltou lentamente um suspiro. — Espero que tenha sido com uma lâmina afiada.
— Infelizmente não. Venha. Precisamos nos encontrar com Jack, descobrir como foi sua noite.
Ingrid o seguiu enquanto Rosalind saltou para os trilhos do trem. Um rato tagarelou no escuro e Rosalind sorriu enquanto sua amiga praguejava.
— Malditos ratos. — Disse Ingrid com desgosto. Mas ela se manteve perto de Rosalind, só para garantir.
— Eles não vão incomodar você. — Rosalind respondeu, desaparecendo no silêncio escuro do túnel.
Elas caminharam por várias centenas de metros, seguindo infalivelmente os trilhos de aço abandonados. Ingrid podia ver no escuro, mas Rosalind foi forçada a confiar na memória, contando os passos silenciosamente. Seus dedos tateando encontraram uma porta reforçada de ferro na lateral do túnel no momento em que uma rajada de vento soprou pelo vazio, mexendo em seus cabelos. Parecia um grito distante, sem dúvida um dos trens que circulavam nos sistemas subterrâneos próximos.
Alguns dos habitantes locais que se aventuravam aqui pensavam que os sons eram gritos de fantasmas; aqueles mineiros e engenheiros mortos há muito tempo presos aqui quando a linha oriental entrou em colapso. Ou aqueles que morreram três verões atrás, massacrados pelo vampiro que assombrava as profundezas até ser morto.
Rosalind não tinha medo de nenhum dos dois. Um vampiro era apenas um sangue azul que deu errado e ela sabia como matá-los. Quanto aos fantasmas... bem, ela tinha muitos seus próprios.
Deslizando para o túnel de acesso, suas mãos e pés encontraram a escada de metal e ela desceu correndo. Ingrid a seguiu, fechando a porta de ferro atrás dela com um estrondo.
Uma luz verde doentia brilhava abaixo. Rosalind deslizou os últimos metros até o fundo de um antigo poço de ventilação. Um enorme leque agitava círculos preguiçosos na parede, lançando sombras bruxuleantes através da luz fosforescente. Um homem encostado na alvenaria esburacada, os braços cruzados sobre o peito e uma carranca no rosto. Ele a viu e relaxou, empurrando a parede em sua direção.
— Jack. — Ela disse, deixando escapar seu próprio suspiro de alívio. Seu irmão parecia cansado, o pouco que ela podia ver de seu rosto. Uma pesada ocular monocular foi presa sobre um olho para ajudá-lo a ver no escuro e uma meia máscara de couro obscurecia sua face inferior. A estranha tonalidade verde das lentes amplificadoras de luz de fósforo a enervou. Com ele, ele podia ver quase tão bem quanto Ingrid.
Rosalind levantou a mão para tocá-lo, mas parou quando ele se encolheu. Jack não gostava mais de ser tocado, mesmo com as pesadas camadas do casaco e das luvas. Os dedos de Rosalind se fecharam em um punho duro. Essa era uma das coisas que ela sentia tanto falta em Jeremy - a maneira como ele envolvia um braço em volta dos ombros dela e a arrastava para perto, zombando dela sobre o fato de que ele a superava. O jeito que ela chutava seus pés debaixo dele e o levava para o chão com uma risada. — Você pode ser mais alto —, dizia ela. — mas sempre serei sua irmã mais velha.
O duro olhar cinza de Jack percorreu Ingrid. — Sem problemas?
— Não para mim. — Respondeu Ingrid.
Rosalind viu-se o destinatário desse olhar. Ela lançou um olhar severo para a amiga. — Nada que eu não pudesse lidar.
— Bem, estou curiosa —, disse Ingrid, passando por ele. — Exatamente como você escapou do Falcão da Noite?
Cerrando os dentes, Rosalind desviou do olhar assustado do irmão e correu atrás de Ingrid. — Eu o seduzi.
— Rosalind! — Jack retrucou, seguindo seu rastro. Três longas passadas e ele estava perto o suficiente para cair ao lado dela, o sinalizador fosforescente em sua mão destacando os planos ásperos de seu rosto. — Diga-me que vocês duas estão brincando.
Ingrid riu baixinho.
— Infelizmente não, — Rosalind respondeu. — Eu perdi a remessa e cinco homens.
— O aço pode ser substituído. — Respondeu Jack.
— Os homens também podem! — Ingrid gritou de volta.
Mas também não o dinheiro. Rosalind rangeu os dentes. O dinheiro era filtrado pelo partido político dos Humanitários, junto com informações de várias fontes do Escalão. A rede humanista já existia antes que ela se colocasse no lugar do marido e tentasse realizar seu sonho; só recentemente ela começou a se perguntar de onde vinha tanto dinheiro.
À frente deles, um retângulo de escuridão foi delineado por uma luz amarela brilhante. Casa. Os ombros de Rosalind caíram, começando a sentir o esforço da noite. A empolgação com Lynch a havia conduzido pelas ruas, fugindo de seus homens, mas agora, na escuridão da segurança, sua energia começou a diminuir.
Além da porta, uma única vela crepitava na mesa da entrada deles. Os móveis eram escassos e quase todos destruídos. Eles não precisavam de muito para seu propósito e tudo poderia ser deixado para trás rapidamente.
Jack fechou a porta atrás deles enquanto Rosalind se afundava em uma das poltronas estofadas. Uma mola cavou em seu quadril e ela mudou.
Jack cruzou os braços novamente. — Fale.
— Você não me contou sobre sua noite. — Disse ela enquanto Ingrid acendia a caldeira a gás para fazer chá.
— Estou mais interessado na sua.
Não haveria como sacudi-lo com esse humor. — Fomos emboscados quando saíamos dos enclaves. Lynch e seus homens estavam esperando por nós, sem dúvida dados a dica de alguém. — Rosalind franziu a testa. — Eu preciso descobrir quem - isso pode ser caro.
— Como ele é? — Ingrid perguntou, erguendo os olhos da chaleira.
Intenso. Rosalind se acalmou quando uma memória indesejável inundou seu corpo. — Exatamente como dizem. Duro e frio. E muito determinado. — O jeito que ele olhou para ela - como se ele fosse despedaçar o mundo para colocar as mãos nela novamente. Ela estremeceu. — Eu não acho que o verei pela última vez.
— Você deveria ter colocado uma bala nele. — Jack disse.
— Eu não estava na posição, — ela mentiu, baixando o olhar. — O melhor que pude fazer foi paralisá-lo com cicuta. Seus homens chegaram enquanto eu estava fugindo e tive que sair.
Rosalind podia sentir o olhar de Jack perfurando o topo de sua cabeça. Olhando para cima, ela suavizou a expressão de seu rosto. — Então me conte sobre sua noite. Alguma sorte?
A tensão persistiu em seus ombros, então ele soltou um suspiro e olhou para Ingrid. — Interceptamos o ônibus que carregava o editor do London Standard em direção à Torre de Marfim. A fuga ocorreu conforme planejado e um de nossos homens o tirou de lá. Infelizmente, um grupo de casacos de metal veio e fomos forçados a nos separar.
Outra avenida perdida esta noite. O editor publicou uma caricatura no London Standard do príncipe consorte com uma cabeça monstruosamente deformada, pendurando cordas de fantoches sobre uma imagem pálida de sua esposa humana, a rainha. Ele não faria isso de novo.
— Sem vítimas?
— Não do nosso lado. — Embora ela não pudesse ver, ela podia sentir o sorriso malicioso por trás da máscara.
— E nenhuma palavra de Jeremy? — Ela perguntou, olhando para Ingrid com uma casualidade enganosa. Embora irritasse, não adiantava procurar Jeremy quando os sentidos de Ingrid eram muito mais adequados. Ela passou o mês inteiro tropeçando atrás de Ingrid, sem dúvida atrapalhando-a. Esta noite foi a primeira noite que ela se forçou a deixar ir, para deixar Ingrid fazer o que ela fazia de melhor.
Desta vez foi a vez de Ingrid baixar o olhar. — Nada. Sem avistamentos, sem rastro de cheiro. — Ingrid respirou fundo e olhou para cima, seus olhos de bronze brilhando. — Ele não está fora dos muros da cidade, Rosa. Se houver alguma esperança de que ele tenha sobrevivido...
— Ele sobreviveu. — Ela retrucou. Não poderia haver outra opção, pois se houvesse, ela o havia falhado. Seu irmão mais novo, aquele que ela praticamente criou. O mundo ficou turvo, uma névoa de calor varrendo seus olhos.
A mão de Jack deslizou sobre a dela e Rosalind ergueu os olhos em choque enquanto ele apertava seus dedos suavemente e depois a soltou.
— Não é sua culpa —, ele murmurou, então se virou para Ingrid. — E nem é sua. Se você não consegue encontrá-lo, então ele não está lá.
No entanto, era culpa dela. Rosalind estava muito envolvida em sua causa para prestar atenção em seu irmão. Jeremy tinha caído junto com os mecanicistas, atraído por suas conversas ásperas e risadas obscenas. Ele era quase um homem, e ela não podia culpá-lo por querer a companhia de outros homens. Foi só quando ele desapareceu que ela percebeu o quanto o vinha ignorando ultimamente.
— Então ele não está fora das muralhas da cidade, — ela murmurou, esfregando os olhos. Tão cansada. — Isso deixa a cidade.
— Não —, retrucou Ingrid. — Você não pode nem pensar nisso.
A parede grossa que circundava o bairro da cidade mantinha a gentalha do lado de fora e os sangues azuis dentro. Dentro era seu território. Seus campos de perseguição. Um mundo de carruagens reluzentes, mansões elegantes, seda e aço.
Rosalind baixou lentamente a mão. — Onde mais eu procuro, Ingrid? Ele foi visto pela última vez na Torre de Marfim durante o bombardeio e os corpos foram todos encontrados. Eu esperava que ele tivesse escapado com os poucos mecanicistas que escaparam, mas nós caçamos alguns deles e ninguém sabe onde Jeremy está.
— O que deixa os sangues azuis. — Jack murmurou.
— Ou os malditos Falcões da Noite — Ingrid disparou. Ela ficou de pé. — E nenhum de nós pode chegar perto da Sede da Guilda.
Falcões da Noite. Rosalind se acalmou. Os próprios homens que estavam caçando os mecanicistas - e Mercúrio. Por que ela não tinha pensado nisso antes? — Se alguém souber o que aconteceu com os mecanicistas que explodiram a torre —, disse ela calmamente, — seriam os Falcões da Noite.
Sentindo problemas, Jack lançou-lhe um olhar penetrante. — O que você está planejando?
Rosalind olhou em volta. — Onde está meu arquivo sobre meu senhor Falcão da Noite? — Ela o viu em uma pilha sobre a mesa e se levantou da cadeira ansiosamente. — Havia um anúncio —, disse ela imprudentemente, rasgando o arquivo e vasculhando-o. Páginas e páginas de anotações sobre Lynch e suas idas e vindas rabiscadas na página. Conheça seu inimigo. — Várias semanas atrás no London Standard — Seus dedos se fecharam sobre a peça. — Um anúncio para um cargo de secretária...
— Não. — Jack retrucou, sabendo precisamente onde sua mente estava indo.
Ingrid olhou entre os dois, então franziu a testa. — A posição pode estar preenchida.
— Então teremos que garantir que esteja vazia de novo. — Rosalind disse levianamente, sem se opor a sequestrar alguém temporariamente para suas necessidades.
— Rosa, isso é loucura —, disse Ingrid. — Não temos ninguém para fazer o papel. Eu não posso fazer isso, não com esses olhos.
— Mas eu posso.
Suas palavras caíram em um silêncio abrupto. O queixo de Ingrid caiu e Jack deu um passo ameaçador em sua direção.
— Não. — Ele disse.
— Isso é o que eu faço —, respondeu Rosalind, sabendo de onde viria o problema. — Isso é o que Balfour me treinou para fazer. — E talvez a única coisa em que ela fosse realmente boa. Embora ela o odiasse, o espião mestre do príncipe consorte reconheceu seus talentos e os nutriu desde o início. Ele a conhecia de uma forma que nem mesmo Jack conhecia. A única coisa que ele havia entendido mal foram seus limites, o que nem mesmo ela poderia ser persuadida a fazer.
Como no dia em que ele pediu a ela para matar o marido.
A única vez que ela o desobedeceu - cujo custo ainda a assombrava à noite. Sua mão se sacrificou para salvar o homem que ela traiu. E Nathaniel morto nas mãos de Balfour como punição.
— Você chegou tarde demais, mon petit faucon — murmurou Balfour, limpando o sangue das mãos com um pano e olhando-a desapaixonadamente enquanto ela caía no chão com a perda de sangue. — Eu te dei cinco minutos para provar sua lealdade. — Um olhar furioso para o coto ensanguentado com seu torniquete áspero. — E assim está provado. — Jogando o pano de lado.
Ela mal podia ver ele ou Nathaniel. Sua visão estava sangrando negra nas bordas.
— Venha, — ele sussurrou, levantando o pulso e fazendo-a gritar quando sua visão ficou branca. — Vou fazer uma nova mão para você. E você vai me servir novamente.
Mas ela não fez. Foi Jack quem a tirou da enfermaria de cura onde ela estava delirando, sua própria pele queimada de ácido e ensanguentada pelo custo de sua traição. E Ingrid, a jovem verwulfen do zoológico de Balfour de quem ela sempre sentiu pena.
Porque ela também sabia como era estar presa em uma gaiola.
— Eu não dou a mínima, — Jack retrucou, sua mão cortando o ar em um gesto afiado. — Balfour usou você. E eu. Ele não se importava se voltávamos de nossas missões vivos ou mortos, Rosa. Bem, eu quero. Não consigo encontrar meu irmão e estou malditamente bem, não vou assistir minha irmã entrar em uma situação tão perigosa.
Ela não podia arcar com o custo da perda de Jeremy além do que já devia àqueles que amava. — Você não pode me impedir, — ela disse simplesmente. — E eu posso controlar Lynch. Eu sei que posso.
— Vou acorrentá-lo ao maldito...
— Por que você está tão certa de que pode controlar o Falcão da Noite? — Ingrid perguntou.
Rosalind se afastou de seu irmão. Evite em vez de lutar. — Ele está atraído por mim - pelo Mercúrio. Eu posso manipular isso. Lynch pode ser um sangue azul, mas ainda é um homem.
— Cristo, você está se ouvindo?
Ela ignorou Jack. — É perfeito. Quase perfeito demais. Como sua secretária, terei rédea solta para examinar sua papelada em meu lazer. Se ele souber alguma coisa sobre os mecanicistas e Jeremy, então poderei encontrar. Se não, eu vou embora e ele nunca mais me verá.
— Isso se ele lhe oferecer o cargo. — Respondeu Ingrid.
— Ele vai. — Jack lançou-lhe um olhar cortante. — Rosa sempre consegue o que quer, não é?
Rosalind enrolou as mãos nas costas da cadeira e olhou para ele. Forte. Ele não percebeu, mas isso foi capitulação em sua voz. — Então isso significa que vou encontrar Jeremy.
— Se ele estiver lá. Se ele ainda estiver vivo. — Um último tiro de despedida.
Rosalind escondeu seu estremecimento. Ela se sentiu melhor agora que tinha um plano. — Verdade. Mas preciso descobrir se ele está. É a única maneira de seguir em frente.
Ingrid franziu a testa. — Você precisa se disfarçar.
— É um dos meus talentos.
— Até mesmo sua altura e cheiro. — Murmurou Ingrid.
— Encontre alguém mais ou menos da minha altura. 'Mercúrio' pode fazer uma aparição enquanto estou com Lynch. Ele nunca vai suspeitar de mim.
O rosto de Jack se contraiu. — Que assim seja. Mas fazemos isso da maneira que fomos treinados - e você sairá no momento em que descobrir que o Falcão da Noite não o tem.
— Combinado. — Ela disse suavemente, sabendo que ela tinha ganhado.
A névoa rodopiava a seus pés enquanto Sir Jasper Lynch caminhava pelo beco estreito, sua grande capa batendo em seus tornozelos e sua bengala ecoando nas pedras do calçamento. Cada batida na sola de suas botas parecia ecoar a frustração que batia em seu peito.
Cruzando o Chancery Lane, ele avistou o edifício sombrio que abrigava seus homens. Quase todos eles eram de sangue azul, mas suas infecções foram por acaso ou acidente, ao invés de intenção. Apenas um filho das melhores linhagens do Escalão era oferecido os ritos de sangue quando eles completaram quinze anos. Qualquer chance de infecção era considerada ladra, e eles recebiam uma oferta de um lugar nos Falcões da Noite ou nos Guardas de Gelo que serviam à Torre de Marfim. Ou morte.
Lynch foi o Falcão da Noite original, mas com o tempo toda a guilda passou a representar seu nome. Os Falcões da Noite eram lendários na cidade, uma ameaça usada para intimidar criminosos e revolucionários.
Eles nunca foram incapazes de rastrear sua presa.
Até agora...
As ruas estavam começando a ficar agitadas com o tráfego antes do amanhecer. Um jovem jornaleiro com as bochechas rosadas de frio empurrou um exemplar do London Standard na frente dele. — Assassinatos em Kensington! Li tudo sobre isso! Sangue azul enlouquecido!
Lynch deu-lhe um xelim. O massacre de Haversham estava sendo investigado por seu homem, Byrnes, uma tarefa que ele geralmente guardava para si mesmo, mas pela importância de capturar Mercúrio. Tinha sido um esforço mantê-lo fora dos jornais até agora. — Alguma outra notícia, Billy?
O rapaz não era o único que usava para obter informações. Embora estivessem à vista de todos, os jornaleiros eram quase invisíveis na cidade. — Os Guardas de Gelo prenderam o editor do London Standard ontem, senhor. Encontrei-o em um porão com uma impressora e um par de humanistas.
— Uma vergonha.
Os olhos de Billy brilharam. — Na verdade não. Eles estavam escoltando-o de volta à Torre de Marfim quando foram atacados na noite passada. Um monte de rapazes invadiram os casacos de metal que os protegiam e derrubaram os guardas de gelo de algum modo. Eles são humanistas, dizem eles.
Dardos de cicuta, sem dúvida. Mas o interessante é que eles haviam retirado os casacos de metal. Ele teria que ver como eles faziam isso. Passando outra moeda para Billy, ele pegou um jornal para mostrar e atravessou a rua apressado.
A guilda pairava sobre Chancery Lane, um beco que percorria os dois lados, como se as casas geminadas de cada lado temessem tocá-la. Gárgulas furiosas vigiavam o telhado; dentro de cada boca aberta havia uma luneta que - por meio de um inteligente sistema de espelhos que ele havia projetado - transmitia imagens internas da rua para que seus homens pudessem vigiar sem serem vistos. Passando pelo par de portas duplas pretas brilhantes, ele se viu na entrada principal. Parecia a típica mansão londrina e era fácil de penetrar - não tão fácil de escapar. Se ele pressionasse o botão de violação de segurança, um sistema de corrente e alavanca derrubaria pesadas barras de ferro em cada abertura.
Um leve rangido no andar de cima atraiu seus olhos para cima. Com o leve toque de rum louro no ar, ele reconheceu Garrett. Ninguém mais usava loção pós-barba ensanguentada.
Lynch deu um passo à frente e congelou quando o cheiro de outra coisa chamou sua atenção. Carne quente. Linho e o sabor delicioso de limão. Apenas um toque de mulher.
Sua fome se agitou. Ele estava atrasado para a sua medida de sangue. Esse deve ser o problema.
Garrett apareceu no topo da escada, magro e rígido em sua armadura de couro preta.
— Há uma mulher aqui —, afirmou Lynch. — Quem é ela? — Seus homens conheciam as regras. Todas as atribuições deveriam ser em seu próprio tempo e não na guilda.
Garrett desceu as escadas. — Ela está aqui para você.
— Eu? — Ele fez uma pausa.
— Para o cargo de secretária. Para entrevista com você.
— Inferno sangrento, — ele murmurou, tirando sua grande capa. Ele a jogou no cabideiro. — Eu esqueci. Eu pensei que não disse mais mulheres? Quero alguém com uma constituição mais forte e mais fortaleza.
— Ela insistiu.
— É a natureza de uma mulher.
— Sim. — Garrett sorriu. — Esse senso brutal de honestidade é o motivo de você manter uma cama solitária.
Lynch passou a mão cansada sobre a barba por fazer em sua mandíbula. Nem sempre foi assim. — Pode ter algo a ver com o fato de eu não ter ido para a cama por dois... possivelmente três dias. — Ele considerou. — Definitivamente três.
— Vou pedir um pouco de café e sangue. E um prato de biscoitos para a senhora.
Lynch sacudiu abruptamente a cabeça. — Não se preocupe. Ela não vai ficar. Sangue, entretanto... sangue seria muito apreciado.
Subindo as escadas, ele caminhou em direção ao escritório com pés silenciosos como um gato. Para melhor observar. A porta do escritório de sua secretária se abriu alguns centímetros. O cheiro dela era muito mais forte aqui. O perfume pesado de verbena de limão e linho pairava no ar. Algum perfume que ela enxugou em seus pulsos e garganta que ele imaginou.
A estreita fresta da porta apresentava-lhe uma vista de saias azul-escuras, a azáfama enganchada em um estilo da moda quase cinco anos atrás. Um casaco de veludo grosso da cor dos ombros magros cobertos da meia-noite e seu chapéu disfarçava suas feições. Ele não sabia dizer se ela era jovem ou velha, bonita ou simples.
Ele percebeu, entretanto, que ela estava examinando o enorme mapa de Londres que cobria a parede oposta. Alfinetes vermelhos pontilhavam o mapa, esculpindo uma grande faixa do Leste de Londres e um fio vermelho corria entre cada alfinete, criando uma teia de aranha incompreensível para aqueles que não sabiam o que significava - avistamentos de Mercúrio que ele foi capaz de verificar ou a localização de vários humanistas que ele descobriu. Alguns ele deixou no lugar. Era o suficiente saber quem eles eram. Ele tinha uma presa maior para capturar.
A mão de Lynch deslizou para dentro do bolso do colete e o pequeno pedaço de couro dentro. Nenhum perfume ali. Seus dedos há muito haviam esfregado qualquer vestígio de cheiro. Mas fechar os olhos e seria fácil lembrar o cheiro quente dela, misturado com o cheiro de escória de ferro queimado nos enclaves e a mortalha sufocante de carvão. Mercúrio não usava perfume. Seu pênis latejava com o pensamento e Lynch cerrou os dentes. Diabo em forma de mulher.
A mulher em seu escritório correu os dedos ao longo do mapa, o chapéu elegante girando para examinar a sala. Procurando por algo? Ou apenas entediada? Ele não perguntou há quanto tempo ela estava esperando, embora já fosse apenas de manhã, não poderia ter sido muito tempo. Ninguém tinha permissão para sair à noite entre as nove e seis horas durante a lei marcial.
Abrindo a porta com facilidade, Lynch entrou sem fazer barulho. A mulher congelou, como se o sentisse imediatamente. Sua cabeça se inclinou para o lado, revelando a linha fina de sua mandíbula pálida e um par de lábios rosados. Da inquietação em sua postura e do enrijecimento entre as omoplatas, ela não tinha estado perto de um sangue azul com frequência. Sem dúvida ela pertencia à classe trabalhadora, seus ouvidos cheios de boatos e superstições sobre como um sangue azul cobiçava sangue, suas fomes eram insaciáveis. Ou como o Escalão mantinha fábricas cheias de escravos humanos.
— Sir Jasper. — Ela se virou lentamente, a luz batendo em seus traços finos. Olhos da cor de obsidiana polida encontraram os seus. Lynch parou em seu caminho. Ela tinha acabado de sentir a juventude, mas... não... Ele olhou mais de perto. Seu nariz inclinado e traços frágeis davam a impressão de que ela era mais jovem do que era. Seu senso de equilíbrio contou outra história.
Trinta talvez.
Lynch passou o olhar sobre ela. A pele parecia porcelana, tão pálida e cremosa que quase brilhava na luz suave do amanhecer através das janelas. Suas sobrancelhas eram asas de cobre, arqueando-se deliciosamente enquanto ela o examinava de volta. Ele não conseguia ver o cabelo dela por causa do chapéu e do véu, mas imaginou que fosse o mesmo cobre feroz de suas sobrancelhas. Ela era esguia o suficiente no torso para que suas saias pesadas a inundassem e suas mãos estivessem escondidas por luvas de couro de criança que ela não se preocupou em remover, como a etiqueta exigia. Apresentar os pulsos ou a garganta a um sangue azul era o mesmo que expor um seio.
Então ela tinha alguma experiência com sangue azul. Interessante. Lynch teve que alterar sua avaliação anterior dela. Ela estava desconfiada o suficiente para que a experiência não tivesse sido boa, ele suspeitava.
— Como vai? — Ela perguntou, colando um sorriso nos lábios rosados e oferecendo a ele sua mão direita.
Lynch olhou para ele. — Vamos direto ao ponto, senhorita... ?
— Sra. Marberry. — Ligeira ênfase na primeira palavra.
— Casada?
— Uma viúva.
Ele franziu a testa. — Temo que seus serviços não sejam necessários. Houve uma confusão com o anúncio. A posição já foi preenchida. — Seus olhos encontraram uma carta na mesa, o endereço escrito em tinta dourada. Do Conselho dos Duques, então. Ele começou a ir nessa direção. — Garrett irá acompanhá-la ao...
— Obviamente, não por uma mulher —, ela respondeu asperamente. — Com suas constituições fracas e tudo.
Lynch parou e olhou para ela. Ela o ouviu na entrada. Olhos castanhos frios encontraram os dele. Um desafio. Se ela pensou que ele ficaria envergonhado, então ela não o conhecia muito bem.
Abrindo sua bolsa, ela puxou um maço de papéis. — Tenho referências dos meus dois últimos empregos. Trabalhei para Lorde Hamilton no Ministério da Guerra e depois para Dama Shipton como sua secretária pessoal. Garanto-lhe — Sua voz tornou-se arrastada. — depois disso, nada poderia me chocar ou virar meu estômago.
Lynch cruzou os braços sobre o peito. Ele lidou com o caso Shipton. Um marido ciumento de sangue azul e uma consorte adúltera cujas predileções o surpreenderam. Ele pensou que já tinha visto tudo agora. — Você está ciente de que seus dois funcionários anteriores morreram?
— Não pela minha mão, eu lhe asseguro.
Uma peça ousada. Ele se endireitou com interesse. — Eu quis dizer que não seria capaz de verificar suas referências.
— Deixe-me ser ousada... Presumo que seja essa a sua preferência de qualquer maneira?
Lynch deu um aceno rápido. Ela era observadora, pelo menos.
— Meus empregadores anteriores morreram, como você observou, o que significa que não tenho nada além de dois pedaços de papel para provar minha aptidão para o emprego. Isso me deixa em um dilema. Preciso ganhar uma vida respeitável, Sir Jasper. Eu tenho um irmão... — E aqui ela vacilou, mostrando talvez a primeira falta de compostura. — Ele é jovem. E se relaciona com certos tipos de pessoas que não aprovo. Gostaria de alugar um apartamento na cidade, longe dessas influências, mas de momento não consigo.
Ela precisava de um emprego estável e de um bom salário. Os olhos de Lynch se estreitaram. — Eu não estou indiferente, — Ele disse a ela, apoiando o quadril contra a mesa. — Mas eu tive cinco secretárias nos últimos três meses. Meu trabalho envolve certos detalhes horríveis e longas horas, e ninguém parece ser capaz de me acompanhar. Passei mais tempo nos últimos três meses treinando novas secretárias do que trabalhando, e não estou inclinado a perder mais tempo.
A Sra. Marberry endireitou os ombros. — Eu estou ciente disso. Garrett me informou sobre a natureza do trabalho. Ele disse que você me fincaria no chão, esquecendo as necessidades humanas, como sustento e sono, e me faria escudeira por toda a cidade para tomar notas e examinar cadáveres. Você disse à sua última secretária para segurar a cabeça de alguém, para que pudesse examinar o ângulo do corte que decapitou o corpo e foi por isso que elas renunciaram.
Por um momento, Lynch foi pego de surpresa. — E você ainda está aqui?
— Está tudo correto então?
— Há alguns assuntos que acredito que ele se esqueceu de mencionar, mas principalmente sim. Os homens me chamam de 'aquele bastardo intransigente', embora não saibam que eu sei disso. Não é a pior coisa que já fui chamado. Ainda quer o emprego?
— Sir Jasper. — A Sra. Marberry se inclinou em direção a ele, completamente inconsciente do fato de que seu corpete estava aberto. Ele, entretanto, percebeu tudo. Pele lisa, as veias traçando seu caminho sob sua carne, azuis e pulsando com sangue. Mudando ligeiramente, Lynch desviou o olhar. Ela seria um problema. Ele não deveria contratá-la. Com sua boquinha bonita e queixo teimoso, os homens estariam em cima dela.
— Você não pode me assustar nem me afastar —, disse ela. — Você precisa de alguém que não tenha medo de você.
O olhar de Lynch se fixou no dela. Seus olhos eram realmente fascinantes - piscinas escuras que pareciam sugerir profundidades infinitas. Ele se perguntou brevemente se eles ecoavam a personalidade dela; havia profundidades escondidas lá também? Então ele descartou o pensamento como tolo. Bastava observar para compreender a verdadeira medida de um homem - ou de uma mulher. Ele ainda não tinha conhecido um a quem não foi capaz de decifrar até o último átomo de sua alma. As pessoas eram previsíveis. — E essa pessoa é você?
Ela não desviou o olhar. Em vez disso, ela olhou através dele, como se pudesse ver dentro dele. Nem uma vez ele recebeu um olhar como aquele. — Essa pessoa sou eu.
Pelos deuses, ela seria um problema. E ainda assim ele estava estranhamente tentado. A garota tinha coragem, olhando para ele como se o desafiasse a contratá-la. Nem mesmo uma sugestão dos vapores, embora ela fosse inteligente o suficiente para ser cautelosa. Afinal, ele era o que era.
Talvez ela conseguisse lidar com ele? Talvez ela pudesse durar mais de uma semana, ao contrário da Sra. Eltham anterior, aquela do incidente da cabeça decapitada.
A Sra. Marberry desviou o olhar, seus olhos insondáveis escondidos sob os cílios grossos e escuros. A respiração de Lynch ficou presa. Um pouco diabólica.
— Você é muito bonita. — Ele rosnou.
— Perdoe-me?
Lynch fez um gesto para ela, afastando-se da mesa. — Isso... — Ele fez um movimento curvo no ar para indicá-la. — Isso não vai funcionar. Eu contrato mulheres feias. Umas com bigodes. Aquelas que meus homens não olhariam duas vezes.
— Eu dificilmente acho que sou o tipo de mulher que inspira tumultos em seus aposentos de guilda.
— Isso é porque você é mulher —, disse ele. — Estamos falando de quatrocentos e cinquenta homens que trabalho no solo. Eles mal têm tempo de falar com as mulheres e agora você quer que eu coloque uma linda no meio de todos eles?
Seu olhar endureceu. — Devo me preocupar?
— Preocupar? — Então ele percebeu que ela estava falando de agressão. — Meu Deus, não. Eles não ousariam. Eu mandaria eviscerar. E eles sabem disso.
— Então sua objeção decorre do fato de que você acha que eu seria uma distração?
Uma distração? Uma maldita catástrofe. Lynch fez uma careta, virando-se para a janela com passos devoradores de terra. Ele nunca foi um homem que ficava parado por muito tempo. Isso o ajudou a pensar. — Eu sei que você seria uma distração.
— Mas eu não deveria estar ao seu lado o tempo todo? — Ela perguntou, seguindo-o em um farfalhar de saias e perfume. — Ouso dizer que seus homens não ousariam arriscar tal tolice na sua frente.
— Eles não iriam.
Lynch girou nos calcanhares e a encontrou em seu caminho. Centímetros e centímetros de saias azul-marinho com aquela cintura apertada e... os seios. O vestido era modesto, mas em sua grande altura, ele não pôde evitar que o ângulo lhe desse uma certa visão.
Talvez eu não estivesse falando dos homens?
O calor apertou seu abdômen e ele cruzou as mãos atrás das costas. Maldição, isso seria um erro. Ele tinha mil coisas em que pensar e um líder revolucionário para encontrar. Ele não podia se dar ao luxo de ter uma ruiva rechonchuda e determinada debaixo do nariz. Especialmente aquela que cheirava a limões e lençóis macios e recém-lavados.
O pensamento evocou a imagem dela em seus próprios lençóis, aquela pele clara e impecável exposta para sua inspeção. Sua boca bonita se abriu em um suspiro quando ele pressionou seus quadris sobre os dela.
O pênis de Lynch se mexeu, lembrando-o de como era ser um homem. Droga. Ela já o estava afetando. Isso deveria ser uma prova de que seria uma má ideia.
Mas ele precisava de uma secretária. Alguém que não tinha medo dele.
Uma leve sugestão de cor subiu nas bochechas da Sra. Marberry, mas ela se recusou a desviar o olhar. Ele estava olhando, ele percebeu.
— Você vai me empregar ou não? — Ela perguntou.
O instinto lhe disse para dizer não. Mas quando ele abriu a boca, as palavras mudaram. — Sim, — ele se pegou dizendo. — Em caráter experimental. Estou desesperado.
— E um encantador, — ela notou com uma sobrancelha arqueada. Um pequeno sorriso brincou em seus lábios. Alívio. — Terei que cuidar de mim mesma com você, eu vejo.
E eu a mim.
Depois do encontro desastroso com o Mercúrio e agora isso, estava ficando claro que ele precisava de uma mulher para se acalmar. Mercúrio fez isso com ele, o deixou nervoso, e agora seu corpo ansiava por liberação.
— Qual é o seu nome de batismo? — Ele perguntou sem rodeios.
— Isso é altamente informal, senhor.
— Você descobrirá que raramente me importo com formalidades. Eu não vou latir 'Sra. Marberry' sempre que eu quiser. É um bocado.
Uma ligeira hesitação. — Rosa, — ela disse, seus lábios carnudos formando a palavra suavemente. — Meu nome é Rosa. E você?
Ele já tinha se virado para a mesa, determinado a fugir daquele cheiro persistente. — Eu?
— Como eu deveria te chamar?
— Sir Jasper ficará perfeitamente bem.
Lynch deu as costas para ela e Rosalind finalmente teve a chance de respirar o mais fundo que pôde com o espartilho desconhecido. A outra noite não lhe fez justiça, com a escuridão e o brilho vermelho dos enclaves. Ela percebeu então sua grande altura e frio, olhar penetrante. Eles disseram que homens totalmente adultos confessavam quando ele olhava para eles e as mulheres tremiam de joelhos.
O que ela não esperava encontrar era um homem frio e bonito, seu cabelo escuro bem cortado e penteado para trás com um gesto impaciente. Sua mandíbula estava escurecida com a barba por fazer e uma linha comprimida varria suas sobrancelhas escuras no que parecia uma carranca permanente.
Rosalind o examinou, pequenos arrepios pinicando sua pele. A outra noite havia deixado sua marca em seu corpo. Há muito que ela se considerava impermeável aos homens, especialmente aos perigosos, mas ela descartou Lynch como apenas mais um sangue azul e isso tinha sido uma tolice.
Seu olhar deslizou sobre seus ombros largos enquanto ele cruzava as mãos atrás das costas. Ombros em que ela cravou as unhas, seus lábios acariciando a pele lisa de sua garganta. Uma pequena vibração de excitação começou baixo em sua barriga, tentando-a. Ela prendeu a respiração, as unhas cravadas nas palmas das mãos. Isso foi o que ela não ousou admitir para seu irmão ou Ingrid. Lynch pode se sentir atraído por Mercúrio contra sua vontade, mas a verdade é uma deliciosa ironia, pois ela também foi pega na armadilha.
Rosalind lançou um olhar calculista para a sala enquanto dava um passo à frente. Esta noite, ela seria capaz de se lembrar de quase todos os pequenos detalhes. Seu olhar deslizou para a parede com aquele mapa maldito. Ela não era estúpida. Ela sabia o que todos aqueles alfinetes significavam, porque eles eram a localização de dezenas de humanistas escondidos na população em geral. Alguns foram descobertos e presos, mas muitos desses alfinetes eram humanistas que felizmente não sabiam que sua identidade havia sido comprometida.
O mapa dizia muito sobre o Falcão da Noite. Ele era paciente, para começar. Ele também era inteligente o suficiente para não expulsá-los de seus buracos. O barbante vermelho tornou-se uma teia de aranha e Rosalind teve a sensação de que foi ele quem o teceu.
Apenas esperando por uma pequena mosca, um certo revolucionário, ser pego em sua teia pegajosa.
Graças a Deus ela decidiu arriscar se infiltrar na guilda. Agora ela sabia que a armadilha estava lá e poderia alertar as pessoas, ou talvez usá-la para seu próprio benefício.
— Sir Jasper —, ela se forçou a dizer. — Isso também é um pouco complicado.
O Falcão da Noite lançou-lhe um olhar severo por cima do ombro, como se estivesse surpreso por ela ter falado. Aqueles olhos cinzentos gelados roubaram seu fôlego, deixando-a com a sensação de que o escritório havia desaparecido e não havia nada além dos dois.
Uma sensação horrível e desconfortável por isso deu a ela a impressão de que ele podia ver cada pequeno segredo que ela estava escondendo. E ela era muito boa em esconder seus segredos.
A luz brincou sobre a inclinação reta e acinzentada de seu nariz. — Lynch, então.
— Quando você gostaria que eu começasse? — Rosalind brincou com suas luvas, um hábito que ela nunca abandonou.
— Você gostaria de discutir seu salário primeiro? — Seu olhar caiu para o toque de seus dedos e Rosalind os obrigou a ficarem imóveis.
— Eu já perguntei ao seu homem, Garrett.
— Então, logo... — Sua cabeça ergueu-se, o olhar severo e cinza rastreando algo além da porta. Uma sugestão de sombras escuras passou por seus olhos, sinais da fome interior, o predador voraz que espreitava sob a pele sofisticada de cada sangue azul. O desejo.
Rosalind se acalmou. Havia uma arma amarrada em sua coxa com balas de fogo que explodiam com o impacto, e uma bainha de agulhas em seu pulso que foram mergulhadas em cicuta. Mas o medo arrepiante ainda pinicava em sua pele.
Lynch podia parecer e agir como um cavalheiro, embora brusco, mas ela nunca esqueceria o que ele realmente era.
A porta se abriu e um homem mais velho com uma cabeça careca e um gibão de couro entrou. Ele a viu e parou, uma cor avermelhada espalhando-se por suas bochechas. — Desculpe, senhorita. — Um leve sotaque irlandês. Seus olhos azuis se voltaram para Lynch. — Não sabia que você 'tinha alguém' aqui.
— Doyle, esta é minha nova secretária, — Lynch respondeu, quietude emanando dele. — Sra. Marberry.
— Outra? — Doyle arqueou uma sobrancelha. Um aceno rápido em sua direção, então ele voltou sua atenção para seu mestre. — Acabou de chegar. Mais más notícias. — Ele puxou uma carta de dentro do gibão e jogou-a em Lynch.
Lynch pegou a missiva no ar. — Você terá que ser mais específico.
— Avenue Lane, — Doyle respondeu. — É um banho de sangue. Lorde Falcone massacrou sua família inteira. Mulheres, crianças, servos... todos os servos. Lorde Barrons quer você lá agora.
Como herdeiro do duque de Caine, Barrons se reportaria diretamente ao Conselho dos duques governante, apesar de sua amizade. Lynch franziu a testa. — Este é o segundo incidente em uma semana. Byrnes mal começou a repassar os fatos do caso Haversham.
— Parece que não foi um incidente isolado, afinal. — Doyle encolheu os ombros.
— Maldição. — Lynch girou sobre os calcanhares, andando de um lado para o outro no tapete. — Não tenho tempo para isso.
— Eu não acho que essa desculpa vai servir é pastosidade real —, Doyle respondeu sem rodeios. — Não sem que ninguém fique com as mãos ensanguentadas. Poderia ser diferente se fôssemos apenas nós, trapaceiros.
Interessante. O olhar de Rosalind oscilou entre os homens, perguntando-se se Lynch castigaria seu homem pela insubordinação, mas sua expressão permaneceu friamente neutra.
Divisão no mundo do sangue azul? Ela ficou muito quieta, sua mente correndo. O tempo todo ela pensou que o inimigo era um, mas se ela pudesse usar essa informação para de alguma forma virar os Falcões da Noite contra o Escalão, então ela teria uma arma poderosa em suas mãos.
Os homens pareciam tê-la esquecido no momento. — Com licença, — Rosalind perguntou. — Mas o que está acontecendo?
Lynch lançou-lhe um olhar penetrante que a penetrou diretamente. — Uma cena de crime, Rosa. Agora veremos se você é adequada para o trabalho. Pegue aquele estojo de escrita e siga-me. Vou precisar ver os corpos enquanto estão frescos.
Capitulo 3
Rosalind cerrou os dentes quando a carruagem virou em outra esquina. A alça cravou em sua mão e ela agarrou a pasta contra o peito para não perdê-la.
Lynch rolou com o balanço, suas longas pernas devorando o interior. Ele se sentou em frente a ela, vasculhando uma pilha de papéis e franzindo a testa ocasionalmente. Embora ele a ignorasse em grande parte, o ocasional olhar rápido a varria como fogo. Ela não gostava de estar aqui, presa tão perto um do outro. Ele era muito grande, a força de sua presença dominando o espaço.
Não ajudava que, nos confins escuros da carruagem, tudo que ela conseguia lembrar era como era aquele corpo duro pressionado contra o seu. O sabor de sua boca e a profundidade de seu desejo quando ele a beijou despertou algo dentro dela. Fome. Recentemente acordada e mal saciada. Um desejo de carne, de pecado, de beijos molhados e do golpe duro de seu corpo sobre o dela.
Ela disse a si mesma para esquecer a memória, mas ela permaneceu em sua pele como uma aparição textural. Ela tinha sido uma idiota em beijá-lo. Uma tola - mesmo agora - por querer mais.
— Quem eram os Havershams? — Ela perguntou.
Lynch mal ergueu os olhos. — Lorde Haversham, sua consorte Dama Amelia, e seus três filhos. Um ramo menor da Casa de Goethe. Eles foram encontrados na manhã de segunda-feira pelo filho mais velho, que havia voltado de um clube de jogo. A casa inteira foi dilacerada, incluindo humanos, e Haversham deu um tiro na cabeça.
— Ele os separou?
— Nós suspeitamos que sim. Havia dois litros de sangue em seu estômago e sua consorte tinha pedaços de sua pele sob as unhas de onde ela tentou lutar. A lâmina de derramamento de sangue do homem estava em sua pessoa e a lâmina corresponde às marcas encontradas nos servos e... nas crianças.
Rosalind absorveu isso. O tom de sua voz soou como se ele repetisse os fatos de cor, mas no final... Ele não gostou da parte sobre as crianças, ela pensou.
— Por que ele faria tal coisa? — Apesar de seus sentimentos pessoais sobre sangue azul, era uma coisa estranha. Haversham era um senhor menor. Sem dúvida, ele mantinha servos suficientes para satisfazer a sede de sangue, a menos que estivesse perto do Desvanecimento, quando um sangue azul perdia todos os traços de cor e começava a evoluir para um predador sem mente, movido a sangue. — Não foi o Desvanecimento, foi? — O pensamento a enervou. Ela sabia o que acontecia quando um vampiro perseguia a cidade.
Lynch balançou a cabeça. — Seus níveis de vírus de desejo estavam se mantendo em sessenta por cento.
Não o Desvanecimento então. O vírus do desejo tornava o sangue azul o que eles eram, mas a maioria do Escalão mantinha um monitor cuidadoso de seus níveis de vírus. Era lei. Uma onda de vampiros um século atrás forçou o Conselho dos Duques governante a torná-lo obrigatório. Qualquer sangue azul cujos níveis começassem a atingir setenta e cinco ou mesmo oitenta eram monitorados de perto.
Qualquer coisa mais alta e um machado foi enviado.
— Doyle disse que haveria crianças aqui. — Quando criança, ela viu cenas horríveis o suficiente para considerar seus nervos de aço - na verdade, ela tinha sido a causa de alguns deles. Mas crianças... crianças sempre eram ruins.
— Sim, — Lynch disse em uma voz mortalmente suave. — Falcone tinha dois. Um menino e uma menina. — Ele a considerou por um longo momento. — Se quiser, pode esperar lá fora.
— Isso não é necessário. — Ela precisava se tornar útil para ele.
— Eu não vou pensar menos de você. — O cinza intenso de seus olhos ficou sombreado com outra coisa, algo assombrado. — Ninguém deveria ter que ver crianças assim.
— E a sua última secretária?
— Aquilo foi diferente. A vítima era um homem adulto viciado em sangue. Ele havia vencido sua serva muitas vezes e então ela cortou sua garganta quando ele estava dormindo.
— Cortar a garganta dele? Eu pensei que ele foi decapitado. — Um sangue azul poderia curar de quase tudo, menos isso.
— Ela usou uma faca grande —, respondeu ele. — Com grande força e uma quantidade considerável de vezes.
Rosalind considerou suas palavras, lentamente tirando suas próprias conclusões. Ela precisava saber mais sobre este homem - seu adversário. Ainda assim, ela não podia negar a leve pontada de curiosidade genuína. — Crianças te enervam então?
— Você pode se surpreender ao descobrir que ocasionalmente exibo e sinto emoções. Eu não sou uma máquina.
Ele poderia estar perguntando se ela gostaria de um pouco de chá. Rosalind olhou pela janela, para as ruas carregadas de névoa. Ela não queria ter empatia por ele. Lynch era o inimigo. Mas ela tinha ouvido sussurros de como até o Escalão o achava frio e mecânico. Um coração de aço. Praticamente uma peça de metal, eles riram.
Evidentemente ele também tinha ouvido esses rumores.
— Como você faz isso? — Ela perguntou, apesar de suas intenções. — Como você faz este trabalho?
Lynch colocou os papéis em seu colo. — Porque sou bom no que faço. Eu sou o melhor. Para cada mulher que encontro agredida, cada criança assassinada, sei que posso encontrar o culpado, talvez até mesmo detê-los antes que atinjam outra pessoa.
— E eu posso... desligar. É um dom que tenho, — Ele respondeu suavemente. — Tento não pensar neles como humanos. Eles já se foram quando eu os alcanço. Corpos. Nada além de corpos. Tudo o que posso fazer é oferecer-lhes justiça.
Isso ela certamente entendia. A emoção foi queimada há muito tempo. Era fácil simplesmente... empurrar para o lado. Para não pensar nisso. Para se concentrar em sua causa.
O mistério de Lynch se aprofundou. Quem era este homem? Ele era seu oponente, a entidade sombria do outro lado do jogo de xadrez metafórico que eles jogavam. Ela precisava conhecê-lo, e ainda assim, cada resposta o humanizava de uma forma que ela não gostou.
Ele não era nada parecido com o Escalão. Como Lorde Balfour.
Não é um coração de aço, ela pensou, mas paredes de aço. Construídas para protegê-lo. E seria assim que ela o derrubaria, ela percebeu. O homem não era impermeável, o que significava que ele tinha uma fraqueza. Rosalind simplesmente precisava encontrá-la.
O olhar de Lynch caiu. — Você brinca com suas luvas. Eu te deixo nervosa?
Rosalind parou de brincar com a ponta do dedo de sua luva imediatamente. — Não. — Talvez. Era aquele olhar condenável dele. Ela enfrentou muitos adversários, muitas vezes com uma lâmina, mas havia algo em Lynch que coçava em sua pele, ao longo de seus nervos. Não era medo. Ela matou sangue azul suficiente para saber que eles não eram infalíveis. Mas... algo... Ela ainda não conseguia identificar o motivo disso. — É um hábito.
Cruzando as mãos no colo, ela olhou pela janela. As ruas passavam rapidamente, uma interminável tapeçaria de tijolos, argamassa e névoa. Os lampiões a gás ainda brilhavam nas esquinas. E o toque de seu olhar era quase uma pressão física. Ela se viu mexendo em seu banco e forçou seu corpo a ficar imóvel. Era mais fácil como Mercúrio, quando a máscara a escondeu dele. — Talvez seja a ideia do que está por vir. O que veremos.
Houve um lampejo de movimento em sua visão periférica. Rosalind puxou a mão para trás quando ele a alcançou.
Lynch congelou, seu rosto endurecendo. — Eu só estava procurando oferecer conforto.
Sua mão esquerda. Sua mão de ferro. O coração de Rosalind trovejou em seu peito. — Eu sinto muito. — Ela a colocou de volta no colo. Um toque e ele poderia sentir o ferro, sentir as juntas. Foi sorte que a etiqueta exigisse que ela mantivesse as luvas na frente dele o tempo todo, exceto durante o jantar, embora ela pretendesse fazer o jantar em particular ou não.
— Não gosto que minhas mãos sejam tocadas —, respondeu ela. — Em qualquer outro lugar está bom.
Por um momento, seu olhar cintilou em seu decote. Então foi embora. Pode nem ter acontecido, mas de repente seus nervos estavam em chamas novamente.
Ele olhou para ela como um homem olha para uma mulher. E de repente Rosalind percebeu o que ela disse. Sua mente deu um desvio rápido, imaginando aquelas mãos sobre ela, e seu corpo reagiu, os mamilos endurecendo sob o tafetá duro do vestido, um arrepio de sentimento percorrendo seu caminho por sua espinha.
— Não vou tocar em você de novo —, respondeu Lynch. — Você tem minha palavra.
Rosalind não queria afastá-lo. Ela precisava entrar em sua pele, descobrir seus segredos, a maneira de homem que ele era. — Não é pessoal —, ela disse, sua mente correndo por uma lista de mentiras plausíveis e encontrando uma que era quase real. — Meu pai... — Ela olhou para seu colo. — Tenho uma má associação com o gesto.
Os traços marcantes de Lynch suavizaram. — Eu vejo. Peço desculpas então.
A carruagem deu uma guinada para outro canto. Rosalind aguentou firme para salvar sua vida. Lynch se limitou a se preparar, as coxas poderosas se contraindo ao passarem pela esquina. O couro macio como manteiga de suas calças rangeu.
— Isso é loucura —, disse ela. — Teremos sorte se chegarmos vivos à cena do crime.
— Eu lhe asseguro, Perry dirige assim o tempo todo. Eu prefiro velocidade a cautela. Preciso ver o que aconteceu antes que os homens do Escalão pisem em todas as minhas evidências e as destruam.
Seu punho se apertou na alça da carruagem. — Alguns membros do Escalão estarão lá?
— Barrons talvez, o herdeiro do duque de Caine. A convocação veio dele e ele tem uma mente curiosa. — Lynch pegou seus papéis novamente. — E sem dúvida os Guardas de Gelo do príncipe consorte estarão lá, para informar a ele.
O lugar estaria fervilhando de sangues azuis. Mas não Lorde Balfour. Ela deu um suspiro de alívio. Ela estava muito diferente da criança e jovem que ele conheceu, mas embora ele esperasse que ela estivesse morta, ele ainda a reconheceria.
— O que...
O mundo de repente parou, pneus cantando e pessoas xingando. Rosalind soltou a alça da carruagem e caiu para a frente.
Um aperto firme a agarrou quando ela caiu no chão da carruagem entre as pernas de Lynch. Houve um momento de músculos rígidos sob suas mãos, então ela percebeu exatamente onde suas mãos estavam e as puxou de volta.
Os dedos de Lynch se cravaram em seus braços, seu grande corpo rígido quando os dois perceberam a sugestividade de sua posição. A cor esvaiu-se de suas íris, suas pupilas negras engolindo-as inteiras.
O demônio dentro dele.
Rosalind congelou. A arma amarrada em sua coxa de repente esfolou, como se a lembrasse de como seria difícil alcançá-la. Ela cortou os bolsos de suas saias, deixando um caminho livre para a arma, mas suas saias estavam irremediavelmente emaranhadas em torno de suas pernas.
Com um puxão, ele arrancou as mãos, os dedos cerrados no assento.
— Eu não vou te machucar. — A voz de Lynch era dura, quase metálica, completamente sem inflexão. Ele respirou fundo e desviou o olhar, fechando os olhos. — Apenas se mova devagar. — Um músculo saltou em sua mandíbula. — Eu ajudaria você, mas não acredito que deva tocar em você agora.
Não havia onde colocar as mãos. Rosalind olhou para o joelho dele severamente e se forçou a colocar a mão direita em sua coxa. A carruagem a vapor deu um solavanco em movimento e seus dedos cravaram no aço cerrado de seus músculos.
— Eu sinto muito. — Ela murmurou.
Ele não abriu os olhos, sua respiração lenta e estável. Controlada. Forçando-se a reinar em suas fomes, seus desejos. — Assim como eu. — Um sorriso tenso. Como se ele só pudesse se permitir isso.
Rosalind ficou de joelhos, os olhos no nível do peito dele. A dura carapaça do peitoral moldada para se ajustar ao corpo, a musculatura definida de uma forma quase vulgar. Por baixo, ele usava uma camisa preta com um longo casaco de couro por cima.
A única coisa que ela podia sentir era o cheiro de couro. Um sangue azul não tinha cheiro pessoal, mas alguns gostavam de disfarçar esse fato com perfumes ou loção pós-barba. Na verdade, Garrett cheirava a isso, embora por sua impressão do homem, ela não estivesse surpresa. Lynch, entretanto... Sem aromas, sem perfumes. Apenas uma leve sugestão persistente de café e algo mais, algo quase acobreado.
Sangue.
Seus olhos se abriram, como se perguntando por que ela estava demorando tanto. Rosalind prendeu a respiração e ela se levantou, praticamente se jogando de volta no assento. O preto tinha desbotado, seus demônios bem e verdadeiramente controlados. A visão era impressionante. Ela raramente tinha visto um sangue azul se controlar assim.
— Isso não acontece com frequência. Mas eu não durmo há vários dias e não tive tempo para... comer alguma coisa antes de partirmos.
Seu corpo inteiro estava rígido, suas palavras tão baixas que ela poderia não tê-las ouvido. Uma pitada de constrangimento? De vergonha? Rosalind olhou para ele, a respiração deixando lentamente seus pulmões. Ela se sentiu quase nervosa, seu corpo preparado para lutar ou fugir. Mas o perigo havia passado. Por que então o sentimento persistia?
— Talvez você deva carregar um frasco. — Ela sugeriu, sua voz áspera e baixa.
— Uma excelente sugestão.
O murmúrio de sua voz estremeceu sobre sua pele, e ela desviou o olhar, forçando-o para a janela. O mundo além era uma névoa nebulosa, lâmpadas de gás piscando em rápida sucessão. A alvenaria das casas era mais sofisticada e surgiram cercas de ferro enroladas, muitas vezes com pequenos jardins.
Eles estavam quase lá. De repente, Rosalind mal podia esperar. Ela queria sair desta maldita carruagem, longe dele. E não era o medo que motivava seu desejo, mas sim a turbulência desconfortável em que ele deixou seus pensamentos.
A carruagem diminuiu a velocidade, o ronco da máquina a vapor suavizando para um silvo quando a fornalha exalou. Rosalind pressionou a mão contra a janela, espiando pelo vidro. Ele a observava, ela sabia. Ela podia sentir em sua pele, estremecendo sua espinha. O pensamento quase arrancou uma risada de seus lábios, afiada pelo pânico.
Pense em Nate. Ela apertou os cílios com força, tentando desesperadamente imaginar o marido. Por anos ele assombrou seus pensamentos, mas ela não conseguia encontrá-lo agora - apenas um esboço vago, uma sugestão do sorriso que conquistou seu coração.
— Eu nunca faria mal a você. — Disse Lynch.
Sem dúvida ele podia cheirar seu nervosismo, ler nas linhas imóveis de seu corpo. Mas ele interpretou mal a razão por trás disso.
Abrindo os olhos, ela percebeu sua respiração embaçando o vidro. — Eu sei. — Ela não permitiria que ele a machucasse. Respirando lentamente, seu espartilho cavando em suas costelas, Rosalind colou um sorriso nos lábios. — É a carruagem. Não gosto de espaços pequenos. Não por muito tempo, de qualquer maneira.
Seu penetrante olhar penetrou nela. — Não toque em suas mãos. Não te prenda. — Um aceno lento. — Vou me lembrar.
Finalmente a carruagem parou. A porta se abriu e Rosalind mal conseguiu se conter. Ela queria sair com um desespero que beirava a ansiedade. As paredes a pressionavam.
Garrett apareceu, surpreso ao encontrá-la na porta tão de repente. Ele ofereceu o braço em reflexo, aquele sorriso insincero aparecendo em seus lábios. Um homem perigosamente bonito, mas bonito demais para seu gosto. Não, seus gostos eram mais sombrios, ou assim parecia.
Rosalind ignorou seu braço e desceu, satisfeita por estar livre da carruagem. A falta de restrição iluminou sua alma. Suas saias se espalharam ao redor dela e ela as endireitou.
Garrett olhou para baixo sob seus cílios, como se estivesse considerando seu braço. Ele deixou claro que considerava isso uma caça e ela a presa. Cada afronta parecia apenas aumentar sua intensidade, embora apenas a frustrasse.
— Ela não gosta de ser tocada. — Lynch desceu com uma graça perigosa. — Nas mãos de qualquer maneira.
Seus olhos se encontraram. Era sua imaginação ou havia realmente um jogo de diversão em torno da linha dura de seus lábios? Um amolecimento talvez ou uma sugestão de calor latente naqueles olhos glaciais?
— Claro. — Garrett deu um passo para o lado com um sorriso que quase brilhava.
Um soco com sua mão de metal e todos aqueles lindos dentes brancos estariam espalhados pelas pedras. Rosalind sorriu com o pensamento e ele sorriu de volta, sem dúvida pensando que a estava conquistando.
O calor desapareceu de Lynch como se nunca tivesse existido.
—Venha. — Lynch estalou os dedos e caminhou em direção à casa. — Pare de tentar seduzir minha secretária, Garrett, e coloque sua mente no trabalho. Sra. Marberry, faça o favor de fazer o que estou lhe pagando para fazer. As artimanhas femininas são quase tão ranger os dentes quanto os vapores.
Sem amolecimento aí.
Rosalind ficou olhando para ele com os olhos estreitos, então agarrou a saia em seu punho e correu atrás dele. — Você não me pagou nada ainda. E acredite em mim, não tenho interesse em usar minhas 'artimanhas femininas'.
Ele parou abruptamente na porta da frente de uma grande mansão, bem iluminada por dentro. Rosalind quase trombou com ele. Virando-se, ele disse: — Garrett gosta de mulheres, Sra. Marberry. Não pense que você será a única.
— Obrigado, Sir Jasper. — Ela agitou os cílios para ele, provocada pelo sarcasmo. — Eu não tinha percebido isso de jeito nenhum.
Os olhos de Lynch se estreitaram. — Você está zombando de mim.
— Você está me confundindo com uma tola.
Outro brilho quente que a enervou. — Não gosto de mulheres que pensam que são mais espertas do que eu.
— Eu não acho que sou mais inteligente. — Para seu próprio crédito, ela não enfatizou a palavra “acho”. — E parece que você não gosta de mulheres em geral.
— Isso não é verdade. Eu simplesmente acho pouco uso para elas.
Desta vez, ela podia sentir suas bochechas esquentando. — Além do óbvio.
Seu olhar traçou sua boca. — Sra. Marberry. Isso é exatamente o que eu queria evitar com meus homens.
— Pensei que fosse a Rosa? Agora eu sou a Sra. Marberry?
Um olhar longo e firme. — Você sempre é a Sra. Marberry. Para mim. Por conveniência, você é Rosa.
Ela olhou em volta. — E nós estamos sozinhos, Sir Jasper. — Na varanda de uma casa georgiana, o vento batendo em seu grande manto em um casulo de intimidade. Rosalind respirou fundo. Mas isso era o que ela queria, ela decidiu - descobrir a fraqueza do homem. E parecia, pela maneira como a olhava, que achava alguma utilidade para as mulheres. Ou talvez para ruivas em particular.
Era fácil sorrir, brincar de ser Rosa Marberry, agora ela estava fora daquela carruagem. Ela assumiu o papel como se fosse uma segunda pele. Todos os pensamentos inquietantes ela simplesmente afastou. — Não acredito que minhas supostas tendências perversas estejam incomodando seus homens.
Mas o incomodando. Ah sim. Ela sorriu, deixando seu olhar cair sob seus cílios pesados. Ajudava pensar nele como um homem, não um sangue azul, fingir que ele era apenas humano.
Se ela fingisse que ele era apenas um homem, então poderia admitir que ele era uma bela figura. Não era de se admirar que ela sentisse essa atração estranha. O pensamento aliviou seu nervosismo. Não significava nada. O silêncio de Lynch era preocupante. A expressão cintilou em seu rosto quando ela olhou para cima, mas tão minuciosamente que ela não conseguiu decifrá-la. Ele era um observador, ela percebeu. Sempre assistindo, sempre pensando. Ela se perguntou a que conclusões ele tirou enquanto a examinava. Perguntou-se se ele poderia ver através dela.
— Eu direi isso uma vez, — ele disse calmamente. — Se eu suspeitar que você está tendo relações inadequadas com qualquer um dos meus homens, a posição será perdida imediatamente.
— Então, eu não tenho permissão para sorrir para nenhum deles?
Quietude. Então: — Claro que está.
— Pois era só isso —, ela respondeu laconicamente. — Garrett não tem nenhum interesse para mim como homem. Ele ri demais e usa colônia em excesso. — Ela juntou as saias. — Agora, se isso for resolvido, vamos?
Os lábios de Lynch se estreitaram. — Siga-me então, Rosa. Se você sentir vontade de lançar suas contas, por favor, não o faça nos corpos.
Com isso, ele passou por ela, os ombros largos emoldurados pelo lustre elegante da entrada. Rosalind lambeu os lábios e deu um suspiro de frustração enquanto corria atrás dele. O homem era irritante.
Capitulo 4
— Inferno sangrento. — Garrett murmurou, parando no meio da sala de estar e girando em círculos enquanto examinava a cena.
Lynch se moveu lentamente, catalogando cada centímetro da sala e analisando-a. Uma das criadas estava deitada na grande escadaria. Ela obviamente tentou fugir antes de Lorde Falcone chegar até ela. A mulher estava esparramada na escada acarpetada em seu avental e chapéu, sangue pingando do corte rasgado em sua garganta. Era uma bagunça - feita com dentes cegos e sem lâmina.
O mordomo quase conseguiu chegar à porta antes de ser morto. Uma poça de sangue espalhando-se sob seu corpo enrugado ensopou o tapete. As sobrancelhas de Lynch se juntaram. — É o mesmo que o caso Haversham, — ele murmurou. — Falcone estava mais interessado em matá-los nesta fase. Sem dúvida ele se saciou lá em cima. — Ajoelhando-se, ele tocou a poça pegajosa sob o mordomo. Sua visão turvou momentaneamente, seu sentido de olfato aumentando mesmo enquanto sua boca enchia de água. Ele queria tocar a ponta do dedo na língua, mas anos de controle o ensinaram melhor.
Atrás dele, Rosa rabiscava furiosamente em seu bloco de notas, anotando suas palavras. Sua pele estava pálida, seus lábios comprimidos, mas ela não deu nenhum outro sinal de que esta cena a incomodava - ou ela estava determinada a não fazê-lo.
Esfregando as pontas dos dedos, ele olhou para as escadas. A luz dourada do lampião banhava as paredes. Falcone não se preocupou em se atualizar para as conveniências modernas, como a lâmpada a gás. Alguns dos sangues azuis mais velhos eram assim.
Perry entrou silenciosamente na sala, o cabelo escuro penteado para trás sob um chapéu. — Um banho de sangue. — Ela murmurou, trocando um olhar inquieto com Garrett. Suas narinas dilataram-se, farejando o ar, o sangue. Como uma das cinco que compunham a Mão de Lynch - a sua melhor - ela precisava estar em cena. Perry tinha seus próprios dons, além de dirigir uma carruagem a vapor em curvas fechadas a uma velocidade vertiginosa. Com uma fungada, ela poderia localizar um homem no bairro de Londres de onde ele veio.
— Encontre Falcone — comandou Lynch. — Quero uma contagem completa de sangue pela manhã. — Se Falcone estava perto do Desvanecimento, Lynch precisava saber.
Barrons apareceu no topo da escada, esguio e movendo-se com a graça de um espadachim. Vestido com veludo preto, o único sinal de cor era um alfinete de rubi na gravata totalmente branca em sua garganta.
— Barrons. — Lynch acenou com a cabeça, um sinal de respeito ao jovem lorde. Barrons estava frequentemente envolvido em assuntos que exigiam uma mente inquisitiva. Seus caminhos se cruzavam regularmente nesses eventos; sem dúvida o príncipe consorte desejava ser informado.
— Falcone está aqui, — Barrons chamou, sua voz carregando a inflexão de bem-educada. — Ele ainda está vivo.
— Continua vivo? — Lynch subiu correndo as escadas. Atrás dele vinha o farfalhar de saias e o cheiro de limão e linho do qual não conseguia escapar.
Os dois homens trocaram um olhar.
— Se você pode chamar assim. Consegui subjugá-lo no escritório. Avisarei que não é bonito. — Disse Barrons, seu olhar vagando sobre o ombro de Lynch para Rosa.
— Raramente é. — Respondeu Lynch. Ele teve o breve instinto de dar um passo à frente dela, seus ombros eriçados.
Barrons não tinha a aparência de um homem olhando para uma bela mulher, mas algo em sua leitura gelou Lynch até o âmago. Ele se virou e ofereceu a mão a Rosa para ajudá-la a subir os três últimos degraus.
Ela olhou por um momento, então estendeu a mão direita e aceitou. Tarde demais, ele se lembrou de sua aversão a ser tocada ali. Mas então os dedos magros e quentes dela deslizaram sobre os dele, o couro da luva sob seu toque suave e gasto.
— Barrons, esta é a senhora Marberry, minha nova secretária. — Ele apresentou.
— Um prazer. Barrons assentiu.
Rosa sorriu, mas Lynch teve a sensação de que não era genuíno. — O prazer é meu, meu senhor. Eu nunca esperei estar esfregando os ombros com alguém do próprio Conselho dos Duques.
Barrons a estudou, logo olhou para longe. — Um membro honorário, minha querida. Eu fico no lugar do meu pai até que ele se recupere.
Lynch não disse nada. O duque de Caine sofreu de uma doença misteriosa durante anos. As chances de ele se recuperar eram pequenas e Barrons sabia disso.
O fato de que o vírus do desejo era uma doença possessiva não era desconhecido. Não tolerava nenhum outro vírus ou doença no corpo do hospedeiro. Ainda assim, poucos se atreviam a dizer isso a Barrons em sua cara. Ele sabia disso. Afinal, o homem não era tolo.
Qualquer que fosse a doença que afligisse seu pai, ele mantinha os boatos a sete chaves.
Barrons gesticulou para o escritório. — Talvez seja melhor vermos Falcone primeiro. Seus homens podem lidar com os corpos. Eles estão por aí. — Ele gesticulou para trás, para a biblioteca e os quartos.
Embora Lynch quisesse ver os corpos pessoalmente, Falcone era de grande interesse para ele. — Não fui capaz de examinar Haversham adequadamente. Ele se matou antes de chegarmos. Eu pensei que fosse culpa na época.
Barrons lhe lançou um olhar sóbrio. — Eu não acredito nisso. Não acredito que Haversham tivesse controle suficiente de seus sentidos para sofrer tal emoção.
— Então você acha que ele foi assassinado? Eu mesmo examinei o corpo. As feridas de entrada e saída pareciam consistentes com suicídio e queimadura de pólvora foi encontrada em suas mãos e mandíbula. Eu podia sentir o cheiro de outras pessoas em sua pele, mas presumi que fossem suas vítimas.
— Como eu disse, não acredito que Haversham tivesse o corpo docente para se matar.
Eles caminharam ao longo do corredor acarpetado. Estava mais escuro aqui, uma única vela acesa na arandela.
— O que devo esperar? — Ele perguntou. — Falcone estava perto do Desvanecimento?
— Falcone mal tem quarenta anos.
— Não há rima nem razão para o Desvanecimento —, argumentou Lynch. — Às vezes, o vírus coloniza um homem mais rápido do que outros. Eu vi um homem de oitenta anos com uma contagem de vírus tão baixa quanto vinte e três.
— Não há nenhum sinal de albinismo, — Barrons rebateu. — Sua pele tem um brilho saudável, seu cabelo ainda é castanho claro e seus olhos são castanhos. Se a contagem de seu vírus fosse mais alta, sua cor teria começado a desbotar antes de agora.
Gritos abafados começaram a surgir. O olhar de Lynch se fixou no escritório fechado. — Com que precisão você o subjugou?
— Atirei nele com um dardo de cicuta — respondeu Barrons. — Isso o paralisou por apenas um minuto.
— Um minuto? — Rosa deixou escapar.
Lynch quase a esqueceu. Quase.
Os dois homens olharam para trás.
— Minhas desculpas, — ela disse. — Eu li sobre essas novas misturas de cicuta em uma revista científica. Eu pensei que elas paralisavam um sangue azul por quase dez minutos?
Nenhum jornal científico ousaria falar de tal coisa. Os cílios de Lynch baixaram em consideração, correndo sobre ela. Os panfletos de propaganda que os humanistas imprimiram, entretanto, eram uma história diferente. Sua secretária tinha tendências humanistas? Ou ela era simplesmente uma das muitas curiosas em Londres que liam os panfletos quando eram distribuídos?
Ele conhecia um homem, um informante que era enfaticamente leal ao Escalão, que gostava de ler os panfletos, independentemente de sua lealdade. Jovan achava engraçadas as caricaturas do príncipe consorte como um abutre pálido e inchado pairando sobre a rainha.
— A quantidade de tempo que a mistura paralisa depende da quantidade de vírus do desejo no sangue, — explicou Barrons. — Quanto mais altos os níveis de vírus, mais rápido a paralisia passa. Eu testei em mim mesmo, na verdade. Demoro quatro minutos e meio para começar a recuperar o controle dos meus membros.
O que significava que Barrons tinha uma alta contagem de vírus. Lynch arquivou isso para pensamentos futuros.
— Então, se Lorde Falcone não tem uma contagem de vírus alta, como diabos ele conseguiu se recuperar tão rapidamente? — Rosa franziu a testa.
— Esta é a questão, — Barrons disse. — Não há explicação. Na verdade, não há nenhuma explicação para seu estado.
Os três pararam em frente à porta do escritório. De dentro veio o som abafado de um baque. Então algo se estilhaçou.
Barrons estendeu a mão severamente para a arma de dardos a seu lado. — Amarrei-o à cadeira —, admitiu. — Eu acredito que ele apenas quebrou. Esteja preparado para tudo.
Alcançando a porta, ele a abriu e deslizou para dentro. Lynch agarrou sua espada de bengala e olhou para Rosa. — Fique aí. — Estalou ele, e se apressou atrás do Barrons. Se ele permitisse que o herdeiro do duque de Caine fosse morto, sua própria cabeça estaria perdida.
O escritório estava silencioso e escuro, uma brisa soprando através das cortinas transparentes. Os restos lascados da cadeira espalhados em um tapete na frente da mesa, com corda descartada em poças de sangue.
Barrons se apressou para a janela e olhou para fora. — Inferno sangrento, — ele amaldiçoou. — Ele deve ter passado por isso.
Os cabelos da nuca de Lynch se arrepiaram.
— Isto é uma catástrofe. Se ele se soltar na cidade, causará histeria em massa —, disse Barrons. — Temos que capturá-lo antes que ele vá longe demais.
— Com o que estamos lidando aqui? — Lynch perguntou, ciente de tudo o que o jovem senhor não havia dito na frente de Rosa.
— Um sangue azul agindo como se estivesse no Desvanecimento quando ele não está. Presuma que você está enfrentando um vampiro, Lynch, e você pode chegar perto da verdade.
Lynch ficou imóvel. Tornar-se tal criatura era o único medo que um sangue azul tinha. Um vampiro poderia matar centenas antes de ser derrubado - e o tinha feito no passado. Mas o Escalão havia se tornado adepto do controle dessas questões. Se um senhor de alguma forma conseguisse alterar as leituras de seu vírus, os sinais reveladores do Desvanecimento começariam a aparecer em sua carne. Ele começava a cheirar a podridão, seu corpo lentamente se deformando em uma criatura quadrúpede pálida como um verme.
O pelo ao longo de sua coluna fez cócegas. Lynch esfregou a nuca. Barrons passou por ele em direção à porta, mas Lynch hesitou. Ele podia sentir o cheiro de algo agora. Algo doce, como sorvetes com sabor ou pãezinhos açucarados.
O sangue gotejou.
— Barrons — disse lentamente. — Não acho que ele tenha saído pela janela.
O senhor estendeu a mão para a porta, seu olhar estalando por cima do ombro. Lynch levantou lentamente os olhos e a cabeça do Barrons se levantou. Ele não precisava ver o que havia chamado a atenção do senhor para saber onde Falcone estava.
Barrons sacudiu sua pistola e Lynch se lançou fora do caminho quando o homem que uma vez tinha sido Falcone caiu do teto de gesso. Aterrou onde estava e quando Lynch ficou de pé, saltou para Barrons.
O tiroteio cuspiu no escritório escuro, momentaneamente chamuscando a visão de Lynch. Tudo o que podia ver era um par de formas escuras lutando e então o ganido do Barrons quando o jovem senhor caiu.
Lynch tinha sua própria pistola erguida, mas o centro de sua visão era uma confusão de luzes brilhantes. Saltando para frente, ele alcançou Falcone e puxou com toda sua força, arrancando a criatura do senhor caído. O sangue manchava o ar. Ele podia sentir o gosto em sua boca, o cheiro forte em suas narinas. Não houve tempo para ver o dano, no entanto. Falcone se retorceu de uma maneira que nem mesmo um sangue azul deveria ser capaz de fazer e saltou sobre ele.
Um golpe acertou sua mão e a pistola deslizou pelo chão. Lynch cerrou os dentes quando seu braço quase foi arrancado da órbita. Ele se virou para trás, evitando outro golpe, e finalmente deu uma boa olhada em seu adversário.
O rosto de Falcone se contorcia em uma expressão de raiva, seus olhos injetados de sangue e selvagens. Nada humano se escondia ali. O sangue manchava seu cabelo e roupas, e as unhas de sua mão eram afiadas. Lynch teve uma fração de segundo para examiná-lo antes de chegarem a seu rosto.
Parando com a espada erguida, ele mal conseguiu bloquear o primeiro golpe, depois o próximo, muito menos usá-lo em sua vantagem. Falcone era monstruosamente rápido e cada golpe ecoava no músculo do antebraço de Lynch. Lynch arrancou a espada da bengala, mas Falcone atacou, unhas gritando no aço quando ele a arrancou da mão de Lynch.
— Socorro! — Barrons gritou, ficando em pé. O sangue borbulhava em seus lábios e seu peito estava uma bagunça crua. Ele agarrou o veludo manchado, tentando se arrastar para uma posição sentada contra a parede.
A cabeça de Falcone se virou com o som e Lynch aproveitou a chance. Ele saltou para frente, derrubando o homem no chão e usando sua própria força considerável para forçar Falcone em seu rosto. Puxando um braço, ele o puxou para cima, colocando uma chave de ombro na criatura.
A luz inundou o escritório quando a porta se abriu.
Lynch recuou com o clarão brilhante no momento em que Falcone deu um forte puxão sob ele. Rosa correu para dentro, iluminada por trás pela luz, uma pistola nas mãos e o rosto sério enquanto seus olhos se fixavam nele.
— Saia! — Ele gritou. — Saia da casa!
Falcone se esticou, os tendões em seu ombro rasgando. Lynch podia sentir seu aperto escorregando, e o horror cravou suas garras frias em seu estômago quando viu o queixo de Rosa cair de surpresa.
— Corra! — Ele gritou quando Falcone rolou e o jogou de lado.
Lynch bateu na parede, o fôlego saindo dele. Ele caiu de joelhos, bem a tempo de ver Rosa fugir pelo corredor. Falcone foi atrás dela em um borrão.
— Perry! Garrett! — Ele empurrou a parede e cambaleou em direção à porta. Algo doeu em seu lado. Talvez uma costela quebrada. Sem tempo. Ele tinha que parar Falcone - antes que a criatura rasgasse a garganta de Rosa.
Esse pensamento queimou em seu peito como fogo. Rasgando a porta, ele viu a aba das abas do casaco de Falcone quando o senhor desceu as escadas. Rosa gritou fora de vista e uma arma disparou.
— Puta merda! — A voz de Garrett ecoou na entrada.
Lynch correu ao longo do corredor quando gritos começaram. Ele não sabia o que estava acontecendo. Mais disparos soaram. Perry gritou o nome de Garrett e então o tiroteio silenciou.
Saltando sobre o corrimão da escada, Lynch saltou no ar, varrendo a cena com um olhar penetrante. Rosa tropeçou no último degrau e caiu estatelada. Garrett estava caído, agarrando seu peito. Ele era talvez a única razão pela qual Rosa ainda estava viva. Falcone havia parado para atacá-lo primeiro.
Lynch aterrissou com força no saguão de mármore abaixo, a vibração subindo por suas pernas. Falcone o ignorou, pulando em Rosa e montando-a no chão. Sua cabeça bateu nas telhas de mármore e a arma em sua mão caiu livre.
Não!
A raiva cega transformou sua visão em sombras. O demônio nele - o lado faminto e escuro dele - subiu com um aperto asfixiante até que ele mal podia ver. A próxima coisa que ele sabia, ele estava puxando a criatura de Rosa e jogando-a na parede. Falcone juntou seus pés sob ele enquanto batia e se recuperava com uma graça atlética.
Lynch tinha uma espada na mão antes que percebesse. Falcone o atingiu com força, os dentes cegos afundando em sua garganta. Lynch enfiou a espada profundamente no peito da criatura. Como se percebesse suas intenções, Falcone estremeceu, sua mandíbula se abrindo. Lynch o agarrou e puxou-o por cima do ombro, jogando o lorde no chão. O punho de sua espada com cabo de osso brilhou na luz dourada, e ele se ajoelhou, usando o joelho para empurrá-lo pela casa enquanto agarrava Falcone pela cabeça e quebrava seu pescoço.
O silêncio caiu, quebrado apenas pelo chiado ofegante da garganta de Garrett.
Lynch cambaleou para fora do corpo, as sombras se esvaindo de sua visão. Ele se sentiu tonto de repente. Rosa estava de pé, sua boca entreaberta em choque enquanto ela olhava para ele.
— Fique aí. — Ele rosnou, apontando um dedo em sua direção. Um último olhar para Falcone - ele não estava se levantando de novo - e ele cambaleou em direção a Garrett.
Perry estava de joelhos, as mãos segurando o ferimento no peito de Garrett.
— Quão ruim está? — Lynch exigiu. Não Garrett. Ele era apenas um menino quando Lynch o aceitou, esperto e cheio de um encanto insincero que ele usava para se proteger, correndo nos calcanhares de Lynch, imitando-o, deixando-o louco com mil e uma perguntas.
Ele estendeu a mão e inclinou a cabeça de Garrett para o lado.
Garrett estremeceu. — Eu vou viver, — ele engasgou. Com um sorriso sangrento, ele acrescentou: — Não posso deixar tantas mulheres desoladas para trás. Elas ficarão... chorando por dias.
Perry tirou o casaco e apertou-o sobre a bagunça no peito de Garrett. Lynch viu o sangue bombeando por uma artéria e sentiu o aperto de ferro daqueles dedos gelados em seu intestino novamente. O coração. Falcone atingiu o coração. Não havia maneira mais segura de matar um sangue azul.
— Ele precisa de um médico —, disse Perry em um tom sem emoção, mas isso não significava que ela não sentia nada. Quando ela olhou para cima, a luz brilhou em seus olhos, com um brilho suspeito. — Rápido.
Lynch se endireitou e olhou em volta. — Onde diabos os Guardas de Gelo de Barrons estão?
Ninguém poderia responder a isso.
— Rosa, preciso que você busque ajuda. — Disse ele, tentando priorizar as necessidades em sua mente. Lynch gostava do Barrons o suficiente para não desejar ver o senhor morrer, mas mais que isso, sabia que perder o herdeiro do duque de Caine seria uma catástrofe monumental. Garrett no entanto... Garrett era pessoal.
— Estou com ele, senhor. — Disse Perry baixinho, vendo o dilema em seu rosto.
Ele assentiu brevemente. — Barrons está caído. Preciso ver se ele vai sobreviver. Rosa, chame um médico. Até uma maldita parteira serve.
As mãos enluvadas de Rosa estavam cerradas em suas saias marinho enquanto ela o encarava com aqueles olhos escuros como líquido. Ela não fez menção de obedecer.
O medo a deixou insensível? — O que? — Ele perdeu a cabeça.
— Você está sangrando. — Seus lábios se comprimiram, uma pitada de desafio brilhando em seus olhos. — Muito mal.
Ele levou a mão à garganta e sentiu a umidade ali. A sala fedia a sangue - a maior parte não dele, graças a Deus. Mas o cheiro disso... Lynch quase gemeu, sua língua saindo para umedecer os lábios. Esse foi o único sinal de sua perturbação, mas ela viu.
— Já passei por coisas piores —, disse Lynch, puxando a gola do casaco de couro para cima. Gesticulando em direção à porta, ele acrescentou: — Depressa. Antes que os outros sangrem até a morte. E então certifique-se de ficar do lado de fora até que isso seja resolvido.
Lynch precisava dela fora daqui. Ele não arriscaria sua vida de novo e agora, com a maneira como ela estava olhando para ele e o cheiro inebriante de sangue, ele só poderia ser aquele que perderia o controle.
Rosalind estremeceu na soleira da porta da mansão, ajeitando a capa sobre os ombros. Mais Falcões da Noite haviam chegado na última hora, bem como dois médicos e guardas de gelo suficientes para proteger a mansão. Multidões de curiosos assombravam-se além de suas formas impassíveis, desesperados para saber mais sobre o que havia acontecido.
— Foram eles humanistas? — Um senhor de sangue azul chamou, sua cartola balançando na multidão.
— Um vampiro? — Outro gritou, agitando sua bengala.
O pânico tomou conta de suas vozes e a multidão murmurou. Rosalind recuou para o esconderijo das rosas que caíam em cascata sobre a entrada e puxou o chapéu para cima ao redor do rosto. Ninguém a reconheceria aqui, mas a vulnerabilidade a dominava. Ela estava cercada por muitos sangues azuis - metade do Escalão ao que parecia, vestida com seus veludos e sedas extravagantes. Mesmo a esta hora do dia, penas berrantes balançavam em gorros femininos e Rosalind teve um vislumbre de várias perucas brancas e rostos empoados na multidão - sangues azuis mais velhos, pelo que parecia, aqueles ainda atolados em modas do passado. Ou talvez tentando esconder os efeitos do Desvanecimento. Quem sabia?
— Rosa?
A voz de Lynch interrompeu seu escrutínio. Rosalind se virou rapidamente, suas saias deslizando sobre o pórtico de ladrilhos e seu coração pulando em sua garganta. Ela estava acostumada a manter a cabeça fria em momentos de estresse, mas uma vez que a emoção se acalmou, ela não conseguia parar de bater o coração. Tão perto. Os olhos de Falcone estavam cheios de loucura e fome. Ela tinha ouvido sua respiração ofegante enquanto ele a perseguia pelo corredor, sabendo que ela nunca chegaria a tempo, sabendo que ele a teria... E então Garrett olhou para cima, seus olhos se arregalando em choque antes que ele puxasse suavemente a sua pistola e colocasse uma bala no peito de Falcone.
Ele salvou a vida dela. Mais um segundo e Falcone a teria. Do jeito que estava, o tiro mal o retardou. Rosalind tinha tropeçado escada abaixo, Garrett se lançando além dela para encontrar o senhor enlouquecido - outra ação que a salvou.
Era fácil desprezar os sangues azuis depois de tudo que eles fizeram a ela, mas Garrett arriscou sua vida pela dela sem pensar. Ela não gostou disso. Não combinava com sua visão de mundo.
Lynch tentou lavar apressadamente o sangue de sua pele e ajeitar o cabelo de volta no lugar, mas o mesmo brilho febril que queimava em seu peito iluminava seus olhos. — Eu preciso de você. Venha.
Puxando o caderno e o lápis da bolsa, Rosalind o seguiu para dentro. O cheiro rançoso de morte parecia permear o ar na luz sombria da tarde e dois dos Guardas de gelo estavam parados lá dentro. Seu olhar foi imediatamente para onde Lynch havia se lançado sobre o parapeito do corrimão. Ele pousou levemente, as bordas de seu longo casaco de couro queimando ao redor dele, seus olhos frios com propósito, antes de se jogar em Falcone. Matou-o de fato, com um propósito cruel e eficiente. Ela não perdeu a maneira como ele se moveu; alguém lhe ensinou um estilo de luta brutal. Falcone era mais forte e mais rápido, mas Lynch sabia como incapacitar um homem com alguns golpes rápidos de mão.
Rosalind olhou para cima, a luz brilhando através das facetas do lustre acima. Uma boa queda de seis metros e ele lidou com isso como se fosse um passo para fora da varanda. Um arrepio percorreu seu caminho ao longo de sua espinha.
Perigoso.
Sangue azul era superior em força e velocidade a um humano, mas isso nem sempre significava que o equilíbrio era desigual. Um assassino treinado poderia cortar um sangue azul não treinado em um combate corpo a corpo. Alguém como Lynch? Impossível.
Se ele percebesse quem ela era, Rosalind não tinha nenhuma intenção de se aproximar o suficiente dele para descobrir quem iria ganhar.
— Aqui, — Lynch disse, gesticulando para o corpo na escada. Alguém colocou um lençol sobre o cadáver, mas ele se agarrou úmido a Falcone, encharcado de sangue. — Escreva isso. Fizemos uma análise dos níveis de vírus de Falcone com o espectrômetro portátil de latão. Eles chegaram a cinquenta e três por cento. Nota: Solicite os níveis de vírus de Haversham quando retornarmos.
O mordomo estava coberto com um casaco que alguém encontrara. Rosalind franziu a testa. — Você costuma cobrir os corpos?
— Não.
Ele tinha feito isso por ela então. O lápis dela parou, arranhando até parar. Então ela escreveu rapidamente o resto de suas palavras.
— Pelo que posso determinar, Falcone estava na sala de jantar com sua família quando a... convulsão... o levou —, continuou ele, começando a subir as escadas. — O copo dele estava quase cheio, mas os níveis do decantador indicam que ele comeu um litro de sangue. Ele não deveria ter se deixado levar pelo desejo. Os níveis de vírus indicam que ele estava longe do Desvanecimento. Algo causou isso então. Uma influência externa? Uma toxina? O sangue que ele estava bebendo foi adulterado? Ou alguma doença até então desconhecida que aflige os sangues azuis...
— Espere. — Ela chamou, tentando rabiscar furiosamente em seu bloco de notas enquanto o seguia escada acima.
Lynch esperou. — Deste jeito. — Ele começou a descer o corredor, mal dando uma pausa. — O que...
— O que aconteceu com Garrett? — Ela perguntou, interrompendo-o. — E o filho do duque?
— Barrons está se recuperando no quarto de Falcone com os médicos. Felizmente, suas feridas já estão cicatrizando, embora fossem bastante graves na hora. Quanto a Garrett, ele está na cozinha. Doyle chegou por trás com o resto dos meus homens e está tentando costurá-lo.
— Ele vai se recuperar? — O pensamento não deveria ter incomodado. Um sangue azul a menos para o mundo se preocupar.
Os cílios escuros de Lynch fecharam seus olhos. — Garrett é mais forte do que parece, mas ele perdeu muito sangue. Perry teve que dar a ele um pouco dela.
Ele passou pelas portas à sua frente. Rosalind a seguiu, um punhado de saias na mão. Ele pode não ter se importado, ela pensou. Na verdade, por toda a emoção que demonstrou, Garrett poderia ser qualquer homem da rua.
— Aqui —, disse ele, apontando para a sala de jantar. Dois corpos jaziam sob os lençóis ensanguentados da toalha de mesa. — Este é o lugar onde ele estava jantando.
Rosalind tropeçou na soleira da porta, seu olhar se estreitando nas pequenas formas sob a toalha da mesa. Tão pequeno... Sua garganta se apertou, o sangue escorrendo de seu rosto. Cacos de porcelana cobriam o chão, uma garrafa derramada inundando a mesa de mogno com uma poça de vinho tinto espalhado. Gotejava da borda em uma queda constante e monótona.
— Cheira a... uma carnificina. — Ela murmurou, engolindo em seco contra o fluxo de bile no fundo de sua garganta. Ela não conseguia olhar para eles novamente. Como alguém poderia matar seus próprios filhos? Que tipo de monstro poderia fazer isso?
Um sangue azul, uma voz sussurrou em sua mente.
Lynch olhou para a cena como se a estivesse absorvendo. — É verdade. Assim como Falcone. — Ele se virou para ela falar, então fez uma pausa. — Rosa?
Ela olhou para cima e viu algo que quase parecia preocupação em seu rosto. — Eu estou... — As palavras secaram e ela levou a mão enluvada aos lábios. Ela não estava bem. Tudo o que ela podia ver eram aquelas formas minúsculas e retorcidas sob o linho ensanguentado.
Movimento borrado. Uma mão envolveu seu cotovelo, o grande corpo de Lynch se posicionando entre ela e os corpos. Então ele a empurrou pela porta, para a luz ofuscante do corredor bem iluminado. As paredes cambalearam, uma porta se abrindo na frente dela. Ela se moveu como uma marionete em suas mãos, o ácido queimando sua garganta.
Lynch empurrou uma janela e a empurrou na direção dela. O ar fresco varreu aquele cheiro doce doentio para fora de suas narinas e ela agarrou o parapeito da janela, prendendo a respiração. Sua mão se acomodou na parte inferior de suas costas timidamente, como se ele não tivesse certeza de como seu toque seria bem-vindo.
— Eu não deveria ter levado você lá. — Palavras suaves. — Me desculpe.
Rosalind balançou a cabeça, engolindo em seco. — Eu sinto muito. — Não importava o quanto ela tentasse empurrar a imagem para longe - naquele pequeno recesso escuro de sua mente onde se escondiam memórias inimagináveis - ela não conseguia. Estava tatuado na parte de trás de suas pálpebras, queimando seu estômago e garganta.
Uma mão fria esfregou pequenos círculos contra a curva de sua coluna. Rosalind agarrou-se ao peitoril e se inclinou para fora, puxando o ar carregado de carvão de Londres para os pulmões. Qualquer coisa para se livrar daquele cheiro de carnificina.
Como se para se distrair, ela se concentrou em seu toque. Sua respiração ficou presa.
— Você não tem nada para se desculpar. — Ele respondeu, sua exalação fria agitando os cachos na nuca dela.
Pela primeira vez, Rosalind percebeu o quão perto ele estava, suas pernas pressionando contra sua anquinha e saias. O nervosismo desceu por sua espinha. Ela não tinha esquecido o olhar em seus olhos quando ele matou Falcone - ele gostou, lambendo o gosto de sangue de seus lábios. Deveria tê-la enojado ainda mais, mas ela descobriu que não conseguia comparar aquele monstro com o homem que estava atrás dela, sua mão esfregando círculos suaves contra sua pele.
O corpo de Rosalind respondeu à sua proximidade, mas não com luxúria, não com a forma como a cena anterior ainda a assombrava. Em vez disso, ela relaxou ao seu toque, sua cabeça curvando-se enquanto ela sentia um pequeno conforto culpado de sua proximidade. Ela não queria pensar sobre por que sua presença a fazia se sentir... segura?
Ela ficou sozinha por tanto tempo, isolando-se dos outros após a morte de seu marido. Ela não precisava do toque de um homem ou de sua presença para confortá-la. Ela era forte o suficiente sem ele.
Rosalind enrijeceu. Ele tinha que parar de tocá-la. Ela não gostou. — Estou bem, senhor.
Seu toque hesitou, as pontas dos dedos patinando sobre o tafetá macio de seu vestido. — Muito bem.
A repentina ausência de seu toque a fez sentir quase com frio. Mas não, isso não era nada mais do que a brisa fria que entrava pela janela. Um arrepio percorreu sua pele e ela procurou por algo que pudesse tirar sua mente da confusão congelada de emoção que a mexia.
— O que você dirá à multidão? — Ela perguntou, examinando os sangues azuis reunidos abaixo.
— Isso nós estamos investigando. — Sua voz estava dura novamente. — Eles não precisam ser informados de todos os fatos do caso.
Os dedos de Rosalind se apertaram no parapeito da janela. — Se você não contar a eles, eles vão suspeitar de coisas piores. Eles já estão gritando 'vampiro'. — Ela balançou a cabeça. — Tem havido muitas pessoas na casa: os Guardas de gelo, Lorde Barrons, os médicos... Você não pode mantê-los todos quietos. Imagino que seja melhor dar à imprensa alguns detalhes, o suficiente para acalmar o medo.
— Você está certa, — ele murmurou. — Muito sábio de sua parte, Rosa.
— As pessoas temem o que não entendem. — Disse ela, olhando por cima do ombro, mas de repente se arrependeu das palavras.
Lynch olhou para ela, as mãos cruzadas atrás das costas. Seu olhar era assustadoramente intenso na luz fria da tarde. — É o que elas fazem. — Lentamente, ele abaixou a cabeça. — Não tenha pressa. Esperarei por você na sala de estar quando terminar de falar com os jornalistas.
Ela esperou até ouvir o clique da porta atrás dela antes de deixar escapar a respiração que estava prendendo. Um olhar para fora mostrou a multidão latindo para a cerca de ferro, fúria e medo gravados em emoção em seus rostos. Por um momento eles pareceram quase humanos, então ela franziu os lábios, estreitando os olhos.
Não havia nada de humano em um sangue azul, absolutamente nada. Não importa o que ela pensasse de Lynch, ela nunca poderia esquecer isso.
Quando ela se virou, seus olhos encontraram uma figura solitária encostada na esquina do outro lado da rua, os braços cruzados sobre o peito.
Com o chapéu puxado para baixo sobre o rosto e um casaco pesado obscurecendo sua garganta e queixo, ela não deveria tê-lo reconhecido, mas o fez. Mordecai. O líder dos mecanicistas que tentaram bombardear a torre.
A satisfação ondulando em seus lábios era inconfundivelmente dele - o sorriso maroto que sempre a fez arrepiar. O que ele estava fazendo aqui? Examinando sua obra? Ou simplesmente apreciando a visão do sofrimento do sangue azul?
Seus dedos de ferro se sacudiram dentro da luva inconscientemente. Ele tinha feito algo, ela tinha certeza disso. De alguma forma, ele tinha sido a causa disso, a razão de aqueles dois pequenos corpos permanecerem imóveis e silenciosos sob a toalha de mesa branca.
A razão pela qual ela não conseguiu encontrar seu irmão Jeremy.
Rosalind estava se movendo antes que ela pensasse sobre isso, a casa um borrão ao seu redor enquanto ela disparava escada abaixo para a sala de estar, os saltos de suas botas ecoando nos ladrilhos polidos enquanto ela abria a porta da frente.
Parando na beira do pórtico, Rosalind pegou a saia em sua mão em frustração. Ele se foi. O canto estava vazio, a multidão engolindo qualquer sinal dele e prendendo-a aqui. Não havia como ela passar por eles e a ideia de estar cercada por tantos inimigos fez sua garganta apertar.
Eu vou te encontrar. Seus olhos se estreitaram. Então ela o faria se arrepender de ter enviado seu irmão para entregar a bomba.
Capitulo 5
O nevoeiro persistia nos becos, parecendo espreitar nos cantos imóveis e nas portas onde nenhuma brisa soprava. Rosalind puxou o xale com força pelos ombros e se moveu rapidamente pela multidão noturna. Os cabelos de sua nuca se arrepiaram. Era o silêncio, ela decidiu, a maneira como as vozes de todos eram abafadas e ninguém se olhava nos olhos. A lei marcial sufocava a cidade desde o bombardeio, com casacos de metal em cada esquina e rumores de humanistas em cada sussurro. O desconforto era universal. Até ela sentia, apesar dos nervos que deveriam ter se transformado em aço há muito tempo.
Uma rápida olhada em seu relógio de bolso disse que era melhor se apressar. Eram quase oito e meia e ela tinha que estar em casa antes das nove. Se ela fosse pega, seria presa.
Quinze minutos depois, ela tirou a chave na frente da porta que levava ao seu apartamento alugado. A porta se abriu.
Rosalind bateu com a mão no peito quando Ingrid olhou para ela além da soleira. — Droga, Ingrid. Você está tentando me dar um acesso de nervos?
— Nervosismo? — Ingrid perguntou com uma voz esfumaçada. — Você?
Rosalind passou por ela. A porta bateu e então a fechadura clicou atrás dela enquanto ela puxava as luvas, cada dedo de cada vez. Ela odiava usá-las; faziam sua mão direita suar e era difícil empunhar uma pistola com elas. Mas se alguém visse sua mão mecânica, eles alertariam as autoridades. Claramente não era um trabalho de enclave.
Membros mecânicos nunca eram baratos e às vezes demorava até quinze anos nos enclaves para um mecanicista pagar sua dívida. Depois de terem se livrado de seus laços, muitas vezes voltavam aos enclaves como homens - ou mulheres livres. As ruas de Londres não eram as mesmas para uma pessoa com um realce mecânico. O Escalão os via como menos que humanos e, portanto, sem nem mesmo os direitos punitivos pelos quais a maioria dos humanos vivia.
Às vezes Rosalind se perguntava se seria melhor se ela não tivesse o substituto, não que ela tivesse escolha. Isso a fazia se destacar e isso era perigoso em seu mundo. Mas também deu a ela dois membros funcionais e isso era inestimável para um assassino.
Rosalind jogou as luvas de lado, flexionando seus dedos de aço. Você não é mais uma assassina. Mas às vezes ainda parecia isso. Às vezes, durante a noite, ela acordava suando, vendo o rosto de uma vítima passar por sua mente. Era a única vez que ela não conseguia se proteger das memórias.
Havia cinco delas no total. Inimigos de Balfour. Pelo menos ela teve a satisfação de saber que eles tinham sangue azul. Ainda...
Empurrando-as de lado, naquele pequeno compartimento mental em sua mente que ela mantinha trancada, ela se virou em direção à sala de estar e à garrafa lá. O fogo foi aceso, lançando uma luz alegre sobre as poltronas estofadas, com seus guardanapos de renda murcha pendurados nas costas e uma mesa de mogno entre eles. Acomodações esparsas, mas ela realmente não morava aqui. Isso era apenas uma fachada para seu joguinho.
O silêncio permaneceu e ela lançou um olhar distraído por cima do ombro. Ingrid se encostou no batente da porta, uma carranca juntando suas sobrancelhas escuras. — Você está nervosa. Eu posso sentir o cheiro.
O problema de viver com uma verwulfen - seus sentidos aprimorados podiam cheirar qualquer coisa. Rosalind tirou a capa e o chapéu de penas, jogando-os sobre uma poltrona. — Estou cansada. Fui arrastada para Kensington e de volta, para cima, para baixo e depois para casa novamente, sem almoço ou refresco para falar. O homem é uma máquina - uma máquina bem oleada que funciona com fumaça.
Ela afundou na poltrona remanescente e caiu de uma maneira pouco feminina. Lynch tinha sido uma força imparável hoje, sua mente dando saltos de lógica que até ela lutou para seguir. Ele questionava tudo, verificando cada centímetro da casa. A única aberração que encontraram foi um par de pequenas bolas de metal na sala de jantar que se pareciam um pouco com as bolas de vidro mecânicas com as quais as crianças brincavam nas ruas. O cheiro adocicado e enjoativo pairava sobre eles, embora, sem dúvida, as crianças estivessem por trás de sua presença.
Ingrid se aproximou, arrastando um banquinho para frente e puxando as botas de Rosalind para cima antes de se sentar na borda do banquinho. — Tenho algo para você.
Tirando uma caixa fina e retangular do colete, ela a entregou a Rosalind. Pela ausência de peso, a caixa poderia estar vazia.
Rosalind abriu. Uma luva fina e clara de material quase translúcido estava sobre um lenço de papel amassado. A arte era requintada, com finos veios de algodão azul apenas aparecendo através da camada externa de pele sintética e cicatrizes lisas que pareciam marcas de queimaduras antigas marcando as costas da mão. Pequenas escamas ovais foram incrustadas nas pontas dos dedos com meias-luas pintadas e um tom rosado.
— Pele sintética, — Ela murmurou. — Onde você conseguiu isso?
— Há um homem em Clerkenwell que conhece alguém que faz esse tipo de coisa. Eu pedi isso a ele.
— Isso deve ter custado uma fortuna. — Rosalind ergueu os olhos. — Ingrid, como você pagou por isso?
Seus olhos se encontraram, o ouro polido das íris de Ingrid flamejando. — Ganhei algum dinheiro nos Poços. — Ela admitiu.
— Ingrid! — Os Poços eram covis notórios na Extremidade Leste, onde os homens se enfrentavam a outros homens - ou mesmo a animais. Às vezes, as lutas paravam quando um competidor estava inconsciente. Às vezes não.
Proibir isso não deteria a outra mulher. Na verdade, muito pelo contrário. Ainda assim, ela tinha que dizer algo. — Você não é invulnerável.
— A luta ajuda a manter meu temperamento sob controle. E eu não gosto de você estar despreparada. Se o Falcão da Noite pedir para ver suas mãos —, disse Ingrid. — Então o que você deve fazer?
Rosalind fechou lentamente a tampa da luva. — Não vai resistir a um exame minucioso.
— Não. Mas tudo que você precisa fazer é deixá-lo dar uma olhada para que ele não comece a suspeitar.
— Obrigada. — Rosalind murmurou.
Ingrid assentiu rispidamente. Ela nunca disse o quanto estava preocupada, mas estava preocupada e isso a deixaria nervosa. Elas se conheceram quando Ingrid era apenas uma garotinha, presa em uma gaiola no zoológico de Balfour. Rosalind fora bem alimentada e cuidada, mas fora um peão em treinamento, tão sozinha em alguns aspectos quanto Ingrid. As duas haviam feito amizade e, eventualmente, Balfour deixou Ingrid sair da jaula às vezes para duelar com ela. Claro, colocá-la contra um oponente que era mais forte e mais rápido do que ela, mas sem treinamento, não tinha sido nada mais do que um teste de suas habilidades.
Ele subestimou o vínculo que as duas garotas haviam estabelecido.
Ingrid pigarreou — Nenhuma palavra de Jeremy?
— Eu não tive a chance de olhar. Houve um massacre. — Rosalind não sabia mais como chamá-lo. — Lorde Falcone destruiu sua casa e tentou fazer o mesmo conosco. — Ela rapidamente relatou os eventos do dia enquanto Ingrid tirava as botas. A mulher cravou o polegar nos calcanhares de Rosalind e seus olhos brilharam. Ela estava meio tentada a fechá-los, mas a memória do rosto de Mordecai passou por sua mente. Ela foi treinada para sempre terminar seu relatório, não importa em que estado ela se encontrasse. — Eu vi Mordecai lá. Ele estava lá fora, vigiando a casa.
Ingrid congelou, então seus polegares lentamente retomaram a massagem. — Ele teve alguma coisa a ver com isso?
— Eu não sei. — Rosalind esfregou a testa. — Estou começando a suspeitar que eles tinham algum plano na manga quando romperam conosco, algo que não consideraram adequado compartilhar com o resto de nós
— Uma arma?
— Algo que leva um sangue azul à sede de sangue. — Ela considerou o pensamento muitas vezes hoje. — Eu nunca ouvi falar desse tipo. Mas por que outro motivo ele estaria lá? E como ele fez isso? É um veneno? Uma toxina no ar ou no copo de sangue de Falcone? Uma injeção, talvez? — Ela balançou a cabeça. — Não, não uma injeção. Lynch fez um exame completo do corpo esta tarde, de volta à sede. Ele não teria perdido algo assim.
— Ele poderia ter.
Rosalind riu sem alegria. — Você não conhece o homem. Ele é meticulosamente meticuloso. — Seus olhos se estreitaram. — Eu não acredito que estou ciente de metade de seus processos de pensamento. Não há nada em seu rosto, mas sei que ele está pensando. Sempre pensando.
— Ele suspeita de você?
— Não acredito —, respondeu ela. — Ele estava distraído com o caso. — Rosalind considerou os eventos do dia e a maneira como Lynch olhou para ela. — E ele nunca suspeitaria que sua linda e jovem secretária fosse sua adversária. Ele está atraído por mim.
Por que ela deixou escapar isso?
Os olhos de Ingrid se estreitaram. — Você está cheirando nervosa de novo.
Rosalind ficou de pé, as saias balançando ao redor dos tornozelos calçados com meias. — Claro que estou nervosa. O homem tem sangue azul.
— Contanto que você não se esqueça disso. — Disse Ingrid.
— Eu nunca esqueço. — O rosto de Nathaniel invadiu sua mente e uma pontada de dor azedou o constrangimento de Rosalind. Ela ainda sentia sua perda a cada noite, quando ela deslizava em seus cobertores e ele não estava lá. Os dias não eram tão ruins, mas as noites... Ela não tinha nada para se distrair então.
Os sangues azuis o haviam levado para longe dela para sempre. Pode ter sido a mão de Balfour, mas foi por ordem do Conselho. A ameaça do movimento humanista tinha sido tão aterrorizante para eles que tiveram um sonhador inofensivo com um homem assassinado.
Ela não era inofensiva, entretanto. Seu erro. Pois Nathaniel tinha sido um orador, não um lutador. Sua guerra teria sido travada em tribunais e comícios. As dela seriam lutadas nas ruas, casacos de metal contra o enorme exército de ciclope de metal que ela estava construindo no Subterrâneo.
— Eu vou encontrar Jeremy, — ela disse oca. — Então vou terminar o projeto Ciclope e destruir o Escalão. Nunca, jamais esquecerei o quanto eles tiraram de mim.
— E Lynch?
Rosalind cruzou as mãos atrás das costas e olhou para a parede sem ver. Desta vez, uma nova imagem ultrapassou a de Nathaniel. Um dos traços esculpidos com o nariz aquilino afiado e olhar penetrante.
— Eu lidarei com ele, — ela disse quietamente. — De uma forma ou de outra.
Lynch abriu a porta e entrou na sala. A cirurgia foi pequena, com apenas as instalações operacionais mais básicas. O vírus do desejo curava quase tudo, exceto a decapitação, portanto, não havia necessidade de mais, e os fundos do Conselho mal cobriam o salário e manutenção dos homens.
O som de uma respiração áspera encheu o ar. Não era alto e, ainda assim, no silêncio da meia-noite da sala, parecia que todos os homens no lugar deviam ouvi-lo.
Uma bola de brilho fosforescente tornava a sala um verde doentio. Aninhado na cama estreita, os lençóis rígidos puxados para cima sob o queixo, Garrett dormia inquieto. Não havia suor em sua testa - um sangue azul não podia transpirar - mas a palidez doentia de sua pele falava de febre.
Perry afundou na cadeira ao lado da cama, a cabeça apoiada na mão enquanto ela cochilava. Lynch deixou a porta se fechar atrás dele e seus olhos piscaram abertos, sua mão indo para a espada ao seu lado.
— Senhor.
Lynch fez um gesto para que ela relaxasse e foi até a cama, olhando para o ferido. Ele recebera relatórios frequentes do Dr. Gibson a noite toda, mas ainda precisava perguntar. — Como ele está?
— Ele pediu por você. — Disse ela, com um toque de reprovação em sua voz.
Lynch assentiu. Ele veio porque tinha que vir - e porque não vir iria assombrá-lo a noite toda - mas ele não queria estar aqui. Qualquer sangue azul que estivesse tão ferido a ponto de ficar acamado dificilmente se levantaria novamente. E Garrett... Maldito seja, Garrett era um dos seus.
— Eu deveria ter... — Suas palavras foram sumindo. Ele não sabia o que dizer. Eu deveria ter tomado um dos outros. Eu deveria ter impedido Falcone. Eu deveria ter sido mais rápido...
A verdade era difícil de admitir. — Eu falhei.
— Não mais do que eu. Eu estava bem aí, senhor. Vi Falcone chegando e... não esperava. Eu congelei. Garrett não. Se eu fosse um segundo mais rápida, ele não...
— Em vez disso, você estaria deitada lá —, disse Lynch. — A respiração dele mudou?
Perry balançou a cabeça, seu cabelo escuro enrolando em torno de seu rosto. Ela o cortou curto o suficiente para que ninguém pudesse pegar um punhado, e ele viu indícios de loiro nas raízes ao longo dos anos para saber que ela tingia.
— Não senhor. — As palavras eram suaves. Quebradas.
Lynch olhou para ela atentamente e viu que seus olhos cinza-escuros estavam brilhando. Ele ficou imóvel, seu estômago apertando. Puta merda. Ele raramente pensava nela como uma mulher. Ele nunca precisou. Perry sempre fez seu trabalho, raramente expressando uma palavra de dissidência. Raramente expressando alguma coisa, na verdade.
Ela tinha vindo para ele nove anos atrás, uma criança abandonada trêmula na chuva, seu cabelo tingido caindo sobre seus ombros e a fome queimando em seus olhos. O clipe de um sotaque aristocrático temperava suas palavras e embora ele soubesse alguns de seus segredos, ele nunca mencionou isso. Perry não era o único Falcão da Noite se escondendo de seu passado.
Perry foi um acidente, ele adivinhou. As mulheres nunca receberam os Ritos de Sangue por medo de que a fome subjugasse suas delicadas sensibilidades. A única outra exceção era a duquesa de Casavian, e ela tinha o poder de uma grande casa atrás dela.
Ela tosou o cabelo naquela primeira noite e se enfaixou no uniforme que ele deu a ela - tendo uma escassez de qualquer outra roupa - e foi assim que ela ficou.
— Me desculpe senhor. — Perry respirou fundo, estremecendo. — Garrett é meu parceiro. Eu simplesmente me sinto... tão impotente.
— Eu sei. — Ele apertou o ombro de Perry. — Se alguém pudesse sobreviver, seria ele, o bastardo teimoso. — Então ele estremeceu ao ouvir o que havia dito.
— Eu sei —, disse ela, com um sorriso fraco. — Eu simplesmente odeio vê-lo assim.
— Eu odeio ver qualquer um deles assim.
Quarenta anos desde que ele formou os Falcões da Noite. Muitos bons homens morreram naquela época. O Conselho não se importava. Eles eram apenas renegados. Mas eles eram dele, cada um deles. Lynch franziu a testa, sentindo o músculo firme do ombro de Perry sob sua palma. Isso o deixou de castigo e ele percebeu que raramente tocava mais em alguém.
Ele tinha uma vez. Ele compartilhou suas refeições com seus homens, até riu com eles, mas isso morreu com o passar dos anos, como aconteceram. E lentamente ele parou de fazer suas refeições com eles. Ele se enterrou no trabalho, até que os nomes dos mortos significassem outra greve, outro fracasso em seu nome - mas nada mais.
Então, por que Garrett deitado aqui assim o afetou tanto?
Ele soube a resposta imediatamente. Garrett se recusou a manter distância, seu humor se desgastando até mesmo com a determinação de Lynch de manter distância.
Caramba, senhor, não pareça elegante esta noite. Por que, coloque um sorriso em seu rosto e metade das damas daqui até a cidade estariam fazendo fila.
Perry encostou a cabeça na mão dele, como se ela se consolasse com seu toque. — Eu não posso acreditar que ele fez isso. Garrett sempre disse que heroísmo é para tolos.
— Talvez ele estivesse tentando impressionar alguém.
— Sra. Marberry. — Perry disse com uma carranca.
O pensamento de Garrett e Sra. Marberry juntos escureceu o humor de Lynch. Para esconder isso, ele disse: — Bem, a única outra opção é você ou eu - e não acho que ele queira levar nenhum de nós para a cama.
Perry ficou imóvel. — Não senhor. Eu acredito que não. — Ela puxou os joelhos até o peito e apoiou o queixo neles. O movimento puxou seu ombro para fora de seu alcance.
— Eu sinto muito.
— Não sinta, senhor. Você está certo, afinal. — Um sorriso apareceu em seus lábios, como se ela estivesse tentando fazê-lo se sentir melhor, mas seus olhos cinzentos ainda estavam perdidos. — Você não é o tipo dele, no mínimo.
Lynch quase engasgou. —Inferno, espero que não.
Ela deu um tapinha na mão dele. — Você deveria ir dormir um pouco. Vou vigiar.
Era a abertura de que ele precisava. Lynch se levantou, embora o sono fosse a última coisa em sua mente. Ele precisava desesperadamente disso, mas havia muito a fazer. E a culpa sempre foi uma amante severa. Ele deu uma olhada em Garrett. Não. Não dormiria esta noite.
— Mande um recado, — ele disse calmamente. — Se a situação mudar.
— Eu vou. — Perry sabia exatamente do que falava. Sua mão deslizou sobre a de Garrett, como se ela inconscientemente tentasse mantê-lo longe da morte, por pura persistência, se nada mais.
Lynch despediu-se com uma eficiência silenciosa. Através da porta, ele ainda podia ouvir o som lânguido quando os pulmões abusados de Garrett sugaram outra respiração torturada.
Seu peito se contraiu e Lynch se afastou da porta. Doenças. Malditos quartos de doente. Ele os odiava.
Capitulo 6
Lynch arrancou a cabeça das mãos quando a porta de seu escritório se abriu, a dor queimando por trás de seus olhos. Sua visão se ajustou lentamente e ele piscou, olhando para o papel espalhado pela mesa. Notas manuscritas desordenadas cobriam metade deles - divagações rabiscadas que ele fizera na noite anterior enquanto deixava sua mente classificar os eventos do dia anterior. As bolas giratórias. Um resíduo pegajoso no peitoril. Algum tipo de cheiro doce que permaneceu no corpo de Falcone. E sublinhado três vezes. Sra. Marberry: Por que ela tem uma pistola?
Doyle foi direto para o fogo e o alimentou, enviando uma nuvem de fumaça pelo escritório. — Parece que você passou três noites inteiras em uma casa de gim. Cheira assim também.
— Dificilmente, — Lynch respondeu, afastando o cabelo do rosto. Ele deve ter cochilado. — Eu sei como cheira uma casa de gim.
Ficando de pé, ele cambaleou em direção ao armário de bebidas no canto. Sangue espesso e viscoso se acumulou em uma das garrafas. Por um momento, sua visão ficou mais nítida, a cor desaparecendo de sua vista. Sua mão tremia quando ele destampou a garrafa e se serviu de um copo pequeno.
Olhando pelas janelas para a manhã cinzenta, ele drenou o sangue. O gosto queimou por ele, acendendo o desejo em seu estômago como o golpe quente do toque de uma mulher. Lynch se obrigou a colocar o copo de lado e tampou a garrafa novamente. Ele se racionava estritamente - um mal necessário. Não importa o quanto ele desejasse mais, ele nunca permitia. Era um dos poucos métodos que ele usava para controlar suas fomes anormais. A meditação era outra.
— Como está Garrett? — Ele perguntou baixinho.
— Ainda respirando. — Respondeu Doyle, enxugando as mãos nas calças enquanto se virava. Sua própria expressão era inescrutável. Eles nunca falaram sobre isso entre si, mas todo Falcão da Noite conhecia os riscos do trabalho.
Cada hora que Garrett sobrevivia significava mais esperança de que o vírus do desejo o estivesse curando. Ele pode sobreviver. Poderia.
— Aqui, — Doyle murmurou, puxando uma carta do bolso. — Tem o selo dourado.
O Conselho então. Lynch o agarrou e quebrou o selo com a unha do polegar. Seu olhar percorreu as palavras, qualquer calor drenando de seu rosto.
— O que é isso? — Doyle perguntou sem rodeios.
— Uma convocação, — ele respondeu, caminhando em direção ao conjunto de quartos que ele manteve fora de seu escritório. — Às onze na torre.
Doyle o seguiu para o quarto. — Sim, não são boas notícias, então?
— Não tenho certeza. — A última vez que ele recebeu uma convocação, veio com uma ameaça. Isso fedia ao toque do príncipe consorte. Um lembrete de seu poder absoluto? Ou algo muito mais sinistro? Ele estava ficando muito cansado de ser puxado como uma marionete.
— Peça que meu cavalo seja selado.
— Feito. — Respondeu Doyle.
— Então eu vou precisar de um par de rapazes para me escoltar...
— Eles estarão esperando nos estábulos. — Doyle se conteve para não lançar um olhar revelador a Lynch. Ele conhecia seu trabalho. — Um par dos mais recentes recrutas. Ainda tão novos que urinam nas calças ao som do seu nome.
— De preferência, não nas câmaras do Conselho.
Lynch despejou uma jarra de água morna em sua tigela de barbear e deu um jeito rápido na tarefa. Doyle não estava muito errado. Com seus olhos injetados de sangue e a barba espessa e escura ao longo de sua mandíbula, ele parecia mais um patife do que o respeitável Mestre da Guilda.
Doyle abriu o armário e pegou o casaco de veludo preto que Lynch usava na corte e uma camisa branca engomada até quase o limite de sua vida. — É melhor deixá-lo pronto então. O colete cinza? Ou o preto xadrez?
— Preto. — Lynch arrastou a pesada carapaça de couro da couraça pela cabeça e tirou a camiseta. Ele se despiu completamente e se lavou rapidamente.
— Quero os relatórios de ontem à noite na minha mesa quando voltar —, ele instruiu. — E os resultados finais da autópsia do Dr. Gibson em Lorde Falcone. Se puder, faça o sangue dele correr novamente no espectrômetro de latão. Sei que a contagem de vírus dele está normal, mas quero ver se mudou. O vírus do desejo tende a sobreviver nos tecidos após a morte por vários dias. Vamos ver se ainda está dentro dos limites normais. E envie Byrnes para questionar o herdeiro Haversham novamente.
Doyle jogou a camisa nele. Lynch se enxugou com a toalha e se vestiu rapidamente. O branco puro da camisa era o único sinal de cor. Doyle jogou para ele uma gravata de seda preta e Lynch amarrou rapidamente.
— Oh, — Lynch disse, em seu caminho para fora da porta. — Sra. Marberry deve vir às nove. Mostre-lhe meu escritório e instrua-a a começar a transcrever minhas anotações para o arquivo formal do caso. — Ele fez uma pausa. — Providencie para que alguém mande um chá para ela ou... algo assim.
Ele percebeu na noite passada que mal a alimentou no dia anterior.
Doyle assentiu. — Vou fazer.
Lynch abriu a boca. Em seguida, fechou-a novamente. Doyle estava dando a ele um olhar sofredor. O homem estava com ele há quarenta anos, como evidenciado pelos cabelos grisalhos. Ele poderia ser apenas humano, mas ele conhecia seu trabalho.
— Muito bem então —, respondeu ele. — Eu estarei de volta assim que puder.
Lynch entrou no átrio da Torre de Marfim, curvando a cabeça para os membros do Conselho sentados.
Duas cadeiras permaneceram vazias. Provavelmente Barrons ainda estava indisposto pelo ataque de Falcone e a cadeira do duque de Lannister estava envolta em preto desde seu assassinato.
O sinal de luto era uma zombaria. Lynch provou que o duque sabia do bombardeio antes que ocorresse e ainda não disse nada. Se o duque não tivesse morrido no ataque, o príncipe consorte o teria executado de qualquer maneira. Mesmo agora a cadeira do Conselho estava vazia, o príncipe consorte obliterando a Casa de Lannister em sua raiva.
Os dedos de Lynch mergulharam em seu bolso, automaticamente tocando o pedaço de couro ali. Ela. Haviam três outras pessoas na mesma sala que o duque quando ele morreu, e Mercúrio era uma delas.
Ignorando o homem no centro do círculo de latão cortado nos ladrilhos - Sir Richard Maitland, aquele idiota - Lynch caminhou até o lado dele e se virou para o Conselho. A inimizade entre os Falcões da Noite e os Guardas de Gelo sempre havia fervido sob a superfície e nada teria gostado mais de Lynch do que jogar o Mestre dos Guardas do topo da torre.
O rosto do príncipe consorte estava sem expressão, a mão da rainha descansando em seu ombro enquanto ela ficava ao lado dele e olhava fixamente por cima do ombro de Lynch. Nenhum dos outros conselheiros mostrava sequer um vislumbre de suas intenções.
— Sir Jasper, Sir Richard. — Foi o jovem duque de Malloryn quem deu um passo à frente. Apesar de sua juventude, Malloryn era duque há dez anos, desde o momento em que atingiu a maioridade. A casa havia sido quase aniquilada com o assassinato de seu pai, mas Malloryn a retirou da obscuridade com uma determinação quase agressiva. — O Conselho decidiu que esta situação com os humanistas na cidade deve ter prioridade, principalmente a captura do líder revolucionário, Mercúrio. Uma vez que parece que houve pouco progresso e você não tem um único humanista em suas mãos, decidimos colocar vocês dois no caso.
A mandíbula de Lynch apertou. Isso não era exatamente verdade, mas eles não precisavam saber disso. Ainda não. Não até que ele tivesse todas as peças do quebra-cabeça.
Ter mais homens na rua não garantia o sucesso. Na verdade, isso apenas tornava a tarefa mais difícil. Sem dúvida, parecia atraente visto de sua preciosa Torre de Marfim, tão distante das ruas que Lynch andava.
— Você tem algo a dizer, Sir Jasper? — Os olhos incolores do príncipe consorte se fixaram nele.
— Não, Sua Graça. — Ele deu um breve aceno de cabeça. — Por que eu discutiria com sua infinita sabedoria? — Faça de que o que você faz.
Os olhos do príncipe consorte se estreitaram minuciosamente.
— Também foi recomendado fornecer algum incentivo para essa captura —, continuou Malloryn. — Como tal, quem nos traz Mercúrio será recompensado da forma mais adequada. Seu status de desonesto será revogado e você receberá os privilégios de um membro do Escalão.
Sir Richard inspirou um silvo agudo de ar ao lado dele. O olhar de Lynch se voltou para o estrado. Ele sabia a quem agradecer por esta notícia - a mão de Barrons, trabalhando nos bastidores.
Sua mente disparou. Sedução, de fato. Maitland estava quase tremendo de ansiedade ao lado dele. Ele teria todos os homens disponíveis que ele tinha nas ruas, inundando-os com guardas. A população ficaria em alvoroço, homens e mulheres com muito medo de se aventurar.
E Mercúrio... Lynch parou de respirar. Se Maitland colocasse as mãos nela, Lynch o mataria. Sua visão escureceu, sangrando em sombras com o pensamento.
— Não pense que meu comando anterior foi rescindido, Lynch, — o príncipe consorte disse friamente. — Está de pé.
— Claro —, disse ele, lutando para se controlar. Ele sabia que seus olhos escureceram quando a fome afundou suas garras por ele. Eles notariam seu estado - e se perguntariam. — Eu ainda tenho quase duas semanas. — Sua voz soou como se viesse de quilômetros de distância, um som acelerado enchendo seus ouvidos.
— Existe um limite de tempo do qual não estou ciente? — A voz de Maitland soou como um eco quando ele deu um passo suave à frente.
Um movimento tolo para apresentar as costas ao inimigo. Lynch olhou para ele. Seria ridiculamente fácil quebrar seu pescoço. Nem mesmo um sangue azul poderia se recuperar de tal lesão.
Ele estava deixando a fome governar seus pensamentos, suas emoções. Ele ansiava por arrancar a cabeça sorridente de Sir Richard de seus ombros - pará-lo antes que ele tivesse a chance de procurar por Mercúrio.
Fazendo um esforço supremo, Lynch controlou seus impulsos, forçando sua mente a se esvaziar de todo pensamento, mais particularmente da revolucionária com o qual tinha contas a acertar. Três respirações superficiais e controladas e as sombras sumiram de sua visão, embora permanecessem nas bordas como se ele não as tivesse banido completamente. Isso nunca tinha acontecido antes.
O som estalou de volta sobre ele, o mundo de repente brilhando com muita luz. O duque de Bleight o observava atentamente. Ele mal usava enfeites e desdenhava em pentear o cabelo como a maioria da corte fazia. Já era branco o suficiente e rugas pesadas delineavam seus olhos de predador.
Eles nunca foram aliados. Quando Lynch defendeu seu caso perante o conselho, quarenta anos atrás, Bleight foi o único duque a votar não à sua proposta de formar os Falcões da Noite. — Deixe o renegado morrer —, ele disse sem rodeios. — Eu não vejo nenhum uso nele.
Claro que não. Lynch tinha sido uma ameaça e Bleight não gostava de deixar um inimigo vivo, apesar do fato de que ele tinha quinze anos.
— Devemos tornar isso justo? — Bleight entoou com um sorrisinho malicioso. Sem dúvida, ele esperava que Lynch fracassasse. — Duas semanas para os dois?
— Probabilidade esportiva. — Respondeu o duque de Goethe com seriedade. Ele era um dos poucos duques que Lynch admirava; na verdade, eles já foram contemporâneos, antes que a morte de seu primo catapultasse Goethe ao poder. Agora sua barba preta aparada rente estava salpicada de prata e seus olhos, antes tão escuros quanto obsidiana, começaram a clarear - leves sinais do Desvanecimento. Goethe tinha apenas dez anos ou mais antes de a cor se esvair completamente.
— Duas semanas. — Um sorriso oleoso se espalhou pelo rosto de Maitland. — Eu terei Mercúrio na metade desse tempo. — Ele saudou energicamente. — Com sua licença, Sua Graça?
O príncipe consorte acenou com a cabeça e Maitland passou por Lynch, seu olhar pálido cheio de ambição.
— É bom ver um homem tão entusiasmado com sua tarefa. — Disse o príncipe consorte.
— Ele precisa de uma vantagem inicial. Isso é tudo que você desejou de mim? Tenho trabalho a fazer.
— Sem dúvida, — o príncipe consorte respondeu. — O ataque de Falcone?
A maneira como ele disse as palavras, como se as testasse, deixou Lynch alerta. O príncipe consorte não era o único com um brilho interessado nos olhos. Cada um dos membros do Conselho ficou imóvel, parecendo uma pintura de grande expectativa.
Ou medo.
— Eu acredito que os casos Falcone e Haversham estão conectados. Não tenho informações sobre o agente que os levou à sede de sangue, mas depoimentos de testemunhas e minhas próprias conclusões traçam um paralelo entre eles.
— Então é verdade? — A duquesa de cabelos cor de fogo de Casavian murmurou. — Ambos estavam em um estado de sede de sangue incontrolável?
— Eles agiram como se o Desvanecimento estivesse sobre eles —, respondeu ele. — No entanto, as contagens de ambos os vírus foram bastante baixas. Eu acredito que algo exacerbou a condição.
— Os relatórios afirmam que sua mão matou Falcone —, afirmou o príncipe consorte. — Ele era um primo distante meu.
— Ele massacrou toda a sua família. Eu não tive escolha. Se ele se soltar na cidade, estaremos inundados em distúrbios movidos a pânico esta manhã.
O príncipe consorte baixou o olhar. Com as relações entre o Escalão e as classes trabalhadoras como eram, não demoraria muito para desencadear um motim e ele sabia disso.
— Eu quero um relatório sobre o caso, — O príncipe consorte exigiu. — Mercúrio deve ser sua prioridade, mas não posso permitir que essa loucura se torne uma epidemia. Você não acha que é alguma doença que aflige os sangues azuis, acha?
— Não. — Ele considerou isso. — Os ataques foram rápidos demais. Ao que tudo indica, Lorde Haversham passou uma noite na ópera com sua consorte antes de despedaçá-la. Não havia sintomas de doença, nenhum sinal de que ele estava indisposto. Acredito que seja influenciado por algum tipo de toxina ou veneno, embora não tenha evidências conclusivas.
— Você vai encontrar.
— Eu vou.
Ambos os homens acenaram lentamente um para o outro.
— Então você está dispensado. Quero seu relatório amanhã de manhã.
— Como quiser.
Capitulo 7
O fogo queimava em um barril na esquina da rua, embora nem mesmo uma única alma se reunisse em torno dele. A noite havia caído e com ela o estrangulamento brutal da lei marcial. Casacos de metal rondavam a cidade em tropas, seus pés com botas de ferro soando nas pedras distantes.
Lynch ignorou o frio cortante, caminhando pela noite com sua capa girando em volta dos tornozelos. Três noites sem nenhum sinal de Mercúrio. Após a reunião do conselho, ele aumentou a enxurrada de Falcões da Noite que tinha nas ruas para neutralizar o mar de Guardas de Gelo. Uma parte dele estava quase agradecida que Mercúrio tivesse ido para o chão. Ele preferia cortar a própria garganta do que ver a mulher nas mãos de Maitland.
Ao ouvir os passos pesados de uma legião de casacos de metal nas proximidades, Lynch praguejou baixinho. Agarrando-se na ponta de um cano de esgoto, ele se ergueu, mão sobre mão, até o telhado da casa mais próxima. A vantagem dava-lhe uma boa visão da cidade e o manteria escondido da maioria dos olhos. Ele não queria Maitland respirando em seu pescoço, tentando descobrir as pistas que Lynch tinha sobre Mercúrio.
Sem dúvida, haveria um ou dois Falcões da Noite que se reportariam ao Conselho ou até mesmo a Maitland; assim era o mundo. Mas se eles esperavam encontrar algo na guilda, eles estariam muito enganados. Ele mantinha tudo importante em sua cabeça, onde ninguém poderia decifrar.
Correndo pelos telhados, ele viu a parede dos enclaves aparecendo à frente. A última vez que ele esteve aqui, ele teve seu mundo inteiro abalado por um deslize de uma mulher em uma máscara. O desejo passou sua mão enfumaçada por ele. Como ele queimou. Ele a queria desesperadamente, queria colocar as mãos sobre ela e se vingar.
Saltando do telhado, ele pousou levemente na rua e começou a andar em direção à guarita. Um guarda corpulento com as mangas cortadas do colete deu um passo à frente, com uma expressão sombria nos olhos. — Aqui agora, você não deve sair à noite...
Lynch abriu sua capa, exibindo o couro totalmente preto de sua armadura.
O homem se curvou, o motim brilhando em seus olhos antes que seu olhar abaixado o ocultasse. — Minhas desculpas, meu senhor...
— Eu não sou um senhor. — Lynch passou por ele em direção à guarita. — Eu preciso acessar seus registros.
Com isso, a cabeça do guarda se ergueu. — Agora, senhor, eu não devo dar isso sem as ordens do Conselho.
Lynch olhou para ele. — A chave. — Ele disse suavemente.
Afinando os lábios, o guarda murmurou baixinho e olhou em volta. — Não quero problemas com isso. — Ele arrastou um chaveiro pela cabeça e o estendeu na palma da mão.
Lynch a pegou e se voltou para a guarita. — Eu nunca estive aqui.
Dentro da guarita, o fedor de café rançoso e presunto muito coagulado o atingiu. O cômodo estava escuro, mas ele atravessou as sombras com facilidade até que enfiou a mão no bolso e acertou o sinalizador que carregava com ele.
A câmara de registros acabava de passar pela sala principal. Era uma sala comprida, cheia de arquivos. Dentro de cada um havia arquivos, todos listando nomes, descrições e o número de série de cada mecanicista junto com uma fotografia granulada. Lynch ignorou os arquivos dos homens e parou na frente das mulheres. Ele descartou o sinalizador em cima do armário de arquivo e destrancou a primeira gaveta.
Por lei, cada mecanicista tinha que ser registrado na cidade. Mercúrio estaria aqui em algum lugar. Tudo que ele precisava era encontrar uma mulher de cerca de um metro e meio - com um realce para a mão esquerda. Um pedido especial, equipado com lâmina e agulha, e sem dúvida mais.
Então ele a teria.
Só para descobrir o que fazer com ela.
A porta do santuário interno de Lynch estava trancada.
Rosalind olhou para a porta do corredor enquanto seus dedos meticulosamente dobravam uma carta e a fechavam dentro do envelope. Não havia sinal de Lynch nos últimos dois dias. A sala cheirava a sua presença; o redemoinho de papelada desordenada, um espectrômetro de latão no canto para a sua contagem de vírus, a barraca de bebidas com seus odres frascos de sangue e aquele mapa infame na parede, mas o homem era tão esquivo quanto o vento.
Ela não sabia se isso era uma bênção ou uma maldição. Embora tivesse dado a ela muito tempo para procurar em seus papéis por uma palavra de seu irmão - ou mesmo dos mecanicistas - a frustração a encheu.
A parte dela que representava o Mercúrio - aquela parte perigosa e em busca de emoção - coçava sua pele. Ela estava ficando inquieta com a inatividade. Forçada a manter a cabeça baixa devido aos esforços crescentes de Lynch para encontrar Mercúrio, ela ficava em casa todas as noites brincando com a boa viúva. Sem ele aqui durante o dia, não havia nem mesmo o desafio de combinar inteligência com ele.
Rosalind deixou de lado o par de cartas que estava preparando e foi até a janela, batendo com o abridor de cartas nas saias. O sol do fim da tarde lutava por entre as nuvens cinzentas, lavando o mundo com uma tonalidade melancólica.
Ela durou apenas um minuto. Lentamente, sua cabeça se voltou para a porta do escritório particular de Lynch. Não houve menção de Jeremy aqui, mas talvez ela não tivesse olhado com atenção o suficiente?
Ou talvez ela estivesse simplesmente muito inquieta.
A guilda estava quieta a esta hora do dia, a maioria dos Falcões da Noite procurando suas camas em preparação para a noite que viria. Rosalind foi até a porta e pressionou o ouvido contra ela. Os aposentos de Lynch eram acessíveis apenas por meio de seu escritório particular, então não havia risco de ele entrar por aquela porta. As pontas dos dedos dela se contraíram e com uma última olhada ao redor, ela colocou o abridor de cartas dentro da fechadura.
A ponta fina do estilete raspou no ferro. Rosalind inclinou a cabeça e ouviu cada clique, tateando como um cego com uma prostituta. A ponta pegou e ela prendeu a respiração, facilitando, com cuidado, cuidado...
Um clique.
A fechadura se abriu.
Um arrepio percorreu sua espinha e ela lambeu os lábios com um último olhar para a porta do corredor. A onda de calor que percorreu suas veias foi quase estonteante.
Movendo-se rapidamente, ela deslizou para dentro. O cômodo estava escuro, as pesadas cortinas fechadas sobre os caixilhos. Rosalind arrastou uma delas de volta e a claridade se espalhou pelo cômodo, partículas de poeira girando através do holofote que iluminava o tapete turco.
Enquanto seus olhos se ajustavam, ela olhou ao redor, distraidamente virando o abridor de cartas sob os dedos. O estúdio particular de Lynch era maior do que ela esperava, pelo tamanho de seu escritório lá fora. Ela tinha que se mover rapidamente, mas apesar de sua resolução, seu olhar foi atraído diretamente para a porta do outro lado da sala. Seus aposentos. A curiosidade a atingiu. Ela sabia que ele não estava lá. Ele nunca dormia, parecia. A fechadura de seus aposentos a tentava, mas isso certamente era uma loucura.
Não. Rosalind fechou os olhos e respirou fundo, sentindo o mesmo desejo inquieto varrê-la.
Deslizando o abridor de cartas entre os seios e no tecido duro de seu espartilho, ela correu para a outra janela e puxou as cortinas para trás, forçando-se a não pensar. Ele certamente sentiria o cheiro dela aqui, mas ela poderia explicar isso, protestando contra uma porta destrancada e o desejo de arrumar as coisas um pouco para ele. Depois da maneira implacável como ela preencheu sua papelada em seu escritório, ele acreditaria nela.
Mas o rastro do cheiro dela em seus aposentos privados não podia ser explicado.
Ora, senhor, eu queria ver onde você dorme - se é que algum dia dormiu... para ver sua cama, seus lençóis, seu casaco jogado sobre uma cadeira. Para tocar os tecidos finos de sua capa e calça, e correr os dedos sobre o couro liso de sua armadura.
Para deixar a máscara de Mercúrio no centro de seu travesseiro.
Rosalind reprimiu uma risada nervosa. Ela não ousaria. O pensamento era tolo - estúpido. Mas a ideia fez sua pele formigar.
Mantenha sua mente sobre o trabalho. O sorriso em seus lábios morreu e ela se obrigou a lembrar como Balfour a ensinara a se disciplinar quando criança. Todo último lampejo de humor desapareceu e ela correu para a mesa de Lynch.
A monstruosidade dominava o lugar, sufocada em pilhas de papelada. Honestamente, o homem não tinha encontrado um pedaço de papel do qual pudesse se separar, embora ela rapidamente descobriu que ele poderia colocar as mãos em qualquer coisa que quisesse em um minuto. Às vezes, ela se pegava mudando as coisas apenas para irritá-lo - outro desejo não natural. Ela não deveria estar jogando esses jogos, mas ela não podia evitar.
Correndo o olhar sobre cada folha de papel, Rosalind vasculhou as pilhas em sua mesa. A variedade de assuntos a fascinava: teorias científicas, o que pareciam ser tratados sobre plantas raras e destilações de venenos, lindos folhetos em aquarela de flores exóticas das quais ela nunca tinha ouvido falar e esboços de anatomia que teriam feito Ingrid se sentir mal só de olhar.
No entanto, não havia nada em sua mesa que tivesse algo a ver com seu trabalho.
Rosalind tamborilou os dedos no mogno. Uma orquídea cochilava no parapeito da janela, sua cabeça branca de gorro pingando com uma língua rosada florida. Ela realmente começou a olhar ao redor. Uma parede não era nada além de estantes de livros e Rosalind se aproximou.
— Que tipo de livro você leria? — As pontas de suas luvas farfalhavam nas lombadas encadernadas em linho e os olhos de Rosalind rastrearam os títulos.
Tratados científicos enfadonhos e secos. Mais plantas. Monólogos empoeirados de lugares estrangeiros e guerras antigas. Uma prateleira inteira dedicada ao Império Chinês - isso seria um interesse em suas origens de sangue azul, ela presumiu. E no outro extremo uma parede inteira de mistérios. Quão previsível. Um sorriso tocou seus lábios e ela arrastou um para fora, examinando a capa. Sem dúvida, ele resolveu o mistério uns bons dez capítulos antes do protagonista.
A sensação percorreu sua nuca, levantando os pelos de lá. Os dedos de Rosalind congelaram no livro. Ela sabia, sem olhar em volta, que ele a estava observando.
O desejo inquieto deslizou por suas veias como mel derretido, a emoção de ser pega. Seus lábios se separaram e ela colocou o livro de volta entre seus vizinhos, ouvindo qualquer som traidor dele, para tentar colocá-lo no seu escritório.
Não havia nenhum.
Rosalind se virou lentamente, pressionando as costas contra a estante. Lynch se encostou na porta de seu escritório, os braços cruzados sobre o peito largo e os olhos se estreitaram com uma expressão ponderada. Ela não conseguia lê-lo. Seu sangue disparou com o pensamento, incitando-a a correr, a lutar, mas ela o forçou a parar, erguendo os olhos para os dele.
— Eu acredito que este é o meu escritório, — ele disse em um tom frio e sem emoção. — A porta estava trancada esta manhã.
— Você deve estar enganado —, respondeu ela. — A maçaneta girou na minha mão pela primeira vez.
Nem mesmo uma sugestão de dúvida cintilou em seu rosto. — Você costuma testar minhas... maçanetas? — Afastando-se da porta, ele começou a tirar o casaco. O veludo preto austero deslizou de seus ombros, revelando uma camisa branca imaculada que a deslumbrou por um momento. As cintas montaram em seu peito poderoso, puxando a camisa esticada contra seus ombros.
Com um lance descuidado, ele jogou o belo casaco sobre uma poltrona empoeirada cheia de jornais. O olhar de Rosalind o seguiu por um momento, seus lábios se estreitando. — Portas trancadas são alvos tentadores. — Pegando o casaco dele, ela foi até o cabideiro perto da porta, as mãos enluvadas massageando o luxuoso veludo. Não havia calor corporal nas dobras macias. A pele dele seria fria, ela pensou, como seda lisa. — E eu classifiquei todos os papéis em meu escritório.
— Seu escritório? — Sua sobrancelha se arqueou.
Ela ignorou o sarcasmo, alisando as dobras de seu casaco com os dedos ausentes. — Eu queria arrumar aqui.
— Destruir meu santuário cuidadosamente desordenado, você quer dizer?
Um sorriso apareceu em seus lábios. — Sou mulher, é o que faço.
— Se eu quisesse que alguém manipulasse minha vida, teria me casado. — Balançando a cabeça, ele foi até a barraca de bebidas perto da janela.
— Se você aprendeu um pouco de charme, pode ter encontrado alguém disposto a assumir esse papel. — Ela olhou para o frasco em sua mão. Sangue. Ela tinha visto como a sede por aquilo incendiava os olhos de Balfour e dos outros sangues azuis ao redor dele. A humanidade era drenada, deixando-os pouco mais do que monstros, seus olhos inundados com um negro demoníaco.
Lynch serviu-se de uma dose medida e jogou-a de volta com fria eficiência. Rosa não conseguia desviar o olhar. Os músculos da garganta dele trabalharam, os dedos de sua mão se curvando ao redor do copo em um movimento traidor. Em seguida, ele bateu o copo na mesa e rapidamente tampou o frasco.
Mal o suficiente para manter sua fome sob controle. No entanto, ele se virou como se a ação nunca tivesse ocorrido, arrastando a gravata branca em sua garganta com uma careta ausente em seu rosto.
Alguma aparência de seu desconforto deve ter aparecido. Ele parou diante de sua mesa, a camisa aberta no pescoço e a gravata pendurada em seus dedos. — Me desculpe. Eu não pensei em me conter.
Rosalind se forçou a se mexer. — Você nunca fez isso antes. Não vejo o ponto agora.
Com um olhar cauteloso, ele jogou a gravata na mesa. — Eu me controlei muito. — Apoiado na mesa, ele cruzou os braços mais uma vez, uma pose familiar. — Diga-me... Você encontrou algo de interesse?
— Interesse?
— Quando você estava vasculhando minhas coisas.
Por um momento ela pensou que ele a pegara. Então ela percebeu que havia rugas leves no canto de seus olhos cinzentos e apenas uma sugestão de um sorriso contornando seus lábios ásperos. Seu coração começou a bater novamente, trovejando em suas veias.
E ela gostou da sensação.
— Havia muitas coisas interessantes —, disse Rosalind, circulando a mesa atrás dele. A cabeça dele virou para o lado e parou, e ela sabia que ele a estava rastreando pelo som agora. Seu cabelo escuro e espesso era cortado brutalmente curto, mal batendo contra o corte rígido e engomado de seu colarinho. Rosalind olhou para a larga extensão de seus ombros. — Você é um homem interessante.
— Ainda assim, você tem medo de mim. — Ele murmurou.
— Não, eu não tenho...
— Eu posso sentir isso. Em seu cheiro, em sua voz, a captura suave de sua respiração. — Ele olhou por cima do ombro então, seu olhar esfumaçado. — Você não pode esconder nada de mim, Sra. Marberry.
Mentira. Ela sorriu e continuou andando, as saias balançando contra as pernas. — Sra. Marberry? — Ela zombou. — Eu me pergunto por que você me chama assim às vezes.
Ele era bom. Seu corpo nem mesmo enrijeceu, seus olhos a observando perigosamente. — É o seu nome. — Ele a lembrou, com aquela voz áspera como veludo.
Rosalind se aproximou mais. Perigoso. Tão perigoso. Mas aquela velha emoção estava lá novamente, levando-a à loucura. Ela arrastou os dedos pela mesa, perto de sua coxa. — Eu gosto quando você me chama de Rosa.
Desta vez, ela chamou seu blefe. As calças pretas se apertaram minuciosamente em suas coxas. O olhar de Rosalind se ergueu e ela sorriu para ele.
Lynch olhou para trás, seu corpo anormalmente imóvel. A quietude de um predador, olhando sua presa. Os músculos tensos, a falta de ar. Rosalind deu mais um passo e suas saias roçaram inofensivamente em suas panturrilhas.
— Por que você veio aqui? — Ele perguntou.
— Para deixá-lo louco. — O choque direcionou seu olhar para o dela e o sorriso de Rosalind cresceu. — Com sua papelada, — ela elaborou. — Eu queria colocar tudo de lado enquanto você não estava aqui. Você tem uma obsessão por papel.
— Alguns podem argumentar que você também.
— Gosto que as coisas sejam organizadas.
— Gosto que as coisas estejam onde as coloco. — Respondeu ele, com um leve toque de rouquidão na voz.
Ela estava lentamente começando a entendê-lo. Embora o desejo tornasse sua voz áspera, ele não fez um único movimento em direção a ela.
Seus olhares se encontraram. De repente, ela podia se lembrar da exalação fria de sua respiração contra sua garganta e a sensação de seus dedos em sua bunda. Uma parte dela queria quebrar aquele controle gelado, levá-lo ofegante até o limite do desejo, do jeito que ela fizera nos enclaves.
Um pensamento preocupante.
Rosalind o agraciou com um sorriso para esconder sua turbulência interna e se virou, a bainha de sua saia balançando sobre suas botas. O sorriso sumiu de seu rosto assim que ela deu as costas.
— Como está Garrett esta manhã? — Ela perguntou, fingindo que nada havia acontecido.
— Recuperando. — Atrás dela, Lynch soltou um suspiro baixo que ela quase não ouviu. — Obrigado Senhor. Eu pensei por um momento... — Sua voz sumiu, então ficou mais forte. — Mas o Dr. Gibson me disse que ele deveria se recuperar, embora um pouco mais lentamente do que o normal.
Ela não esperava, mas estava honestamente grata. — São boas noticias. E o resto da sua manhã? Achei que você tivesse ido embora.
— Evidentemente. Você escreveu essas cartas?
Rosalind apoiou as mãos na parte de trás do sofá e olhou por cima do ombro. — Na minha mesa.
— Excelente. Existem alguns arquivos lá também. Você pode trazê-los para mim? Eu preciso que você faça algumas anotações.
Quando ela se virou, o encontrou curvado sobre a mesa, vasculhando as pilhas de papéis como se para ver o que ela tinha feito. A fraca luz do sol incidiu sobre sua pele pálida e a barba por fazer de sua mandíbula. Sombras escuras manchavam seus olhos, tornando o cinza quase cristalino. Ele tinha estado fora a noite toda, ela apostou. Procurando por ela. Ou por Mercúrio.
O pensamento deveria tê-la feito sorrir, mas em vez disso ela franziu a testa. — Você já dormiu?
Uma peculiaridade dessas sobrancelhas escuras. Ele não se preocupou em erguer os olhos. — Você ainda está sendo entrevistada para o papel de esposa?
Rosalind reprimiu sua resposta inicial. — Eu estava preocupada, senhor. Você está horrível, mas vou abster-me de reconhecer isso no futuro. Me desculpe. — Passando por ele, ela se dirigiu para seu próprio escritório menor e imediatamente viu os arquivos em sua mesa. Ele deve tê-los colocado lá quando percebeu que ela estava em seu próprio escritório.
Quando ela voltou, Lynch recostou-se na cadeira e olhou para ela. — Sinto muito —, disse ele. — Você me pegou em um momento ruim. Estou abatido e exausto.
Rosalind colocou os arquivos em sua mesa. Ela não esperava um pedido de desculpas. A força de seu controle, suas maneiras requintadas e sua polidez fria eram coisas que ela não esperava. Ele era um enigma e ela gostava de tentar entendê-lo.
Até demais.
— Está tudo bem, — ela se pegou dizendo. — Você não fez nenhum progresso com o caso?
— Qualquer um deles. — Ele fechou os olhos e recostou-se na cadeira, passando as mãos cansadas pelos cabelos. Por um segundo, sua expressão ficou desprotegida; a frustração guerreava com a exaustão e ela se viu quase tentada a estender a mão e tocá-lo. Para colocar sua bochecha em sua palma e virar seu rosto para ela.
O momento a sacudiu. Para esquecer isso, ela perguntou asperamente: — Algum deles? Lorde Haversham, você quer dizer?
Com isso seus olhos se abriram. A luz os atingiu, deixando-os quase cinza-azulados e algo apertou em seu peito. Uma dor. Uma saudade. Ela se virou, mexendo nas saias.
— Não Haversham, não, — ele respondeu quietamente. — Você já ouviu falar dos humanistas?
Rosalind educou suas feições. — Parece ser tudo de que se fala hoje em dia. As pessoas estão preocupadas com o que o Escalão pretende fazer com elas e se isso vai se espalhar para o mundo delas.
— Eu tenho que encontrá-los primeiro, — ele disse tristemente. — Antes que qualquer coisa possa ser feita.
— Não tenho dúvidas de que você vai. — Disse ela, embora não quisesse dizer uma palavra - não se ela tivesse algo a fazer a respeito.
— Você está certa, é claro. Leva tempo e isso é algo que eu não tenho. — Afinando os lábios, Lynch ficou de pé. — Aqui. Sente-se. Eu preciso que você tome o ditado. Minha própria escrita é terrível.
— Já reparei.
Ele a circulou enquanto ela se dirigia à cadeira, virando a cabeça quando ela passou. A sensação de formigamento entre eles estremeceu sobre sua pele e Rosalind se refugiou na cadeira, pegando a caneta de mola. Lynch foi até a lareira e olhou para a lareira fria, as mãos cruzadas atrás das costas. A pose chamou a atenção para os músculos longos e lisos de sua coluna vertebral e a maneira como suas calças acariciavam a curva tensa de suas nádegas. Rosalind mordiscou a ponta da caneta e olhou para ela. Afinal, não fazia sentido não admirá-lo. Procurando por pontos fracos, ela disse a si mesma com um sorriso autodepreciativo.
E não encontrando nenhum.
— Annie Burke. Número de série 1097638, — ele disse rapidamente. — Perdeu seu braço esquerdo inteiro. O braço foi substituído por uma peça bio-mecânica hidráulica fabricada pela Marca. A mão é um problema padrão...
Havia mais, mas sua caneta fez uma pausa e Rosalind olhou para o pedaço de papel, sua mente ficando em branco enquanto as palavras dele ecoavam.
Homem inteligente. Procurando uma mecanicista, não é? Em todos os lugares errados, é claro, mas ainda assim, a tenacidade do homem a incomodava.
— Rosa?
Ela olhou para cima e o encontrou olhando para ela por cima do ombro. Ele evidentemente ouviu a caneta parando.
— Sinto muito, — ela murmurou, rabiscando apressadamente a última de suas palavras. — Eu me perguntei como você consegue se lembrar de tudo isso.
— Lembro-me de quase tudo —, respondeu ele. — Eu me treinei para fazer isso anos atrás, depois que um incêndio varreu o primeiro prédio e tomou todas as minhas anotações. Agora, raramente coloco algo importante no papel.
A ponta da caneta pressionou com força o papel, deixando uma mancha de tinta que ela amaldiçoou silenciosamente. Droga. Ela passou dias vasculhando seus arquivos em vão. Ela se perguntou onde ele guardava as informações importantes. Agora ela sabia. Estava naquela cabeça dele. E ela não tinha como chegar lá.
A menos que... Ele teria que contar a ela sobre isso. E se ela jogasse bem seu jogo, ele poderia simplesmente confiar em Rosa Marberry.
— Porque agora? — Ela perguntou corajosamente.
— Eu examinei os arquivos de todas as mulheres mecanicistas nos enclaves e depois de visualizá-los, descobri que nenhum deles corresponde ao que procuro. O que significa que ela deve estar em outro lugar. — A nota dura em sua voz a surpreendeu. — Assim que você anotar meus pensamentos, vou compilá-los em uma descrição da mulher e o que sei de sua mão biomecânica. Então, enviarei Byrnes pelos enclaves para questionar todos os ferreiros.
— Mulher? — Ela perguntou levemente.
Esse olhar firme cintilou para o dela, como se ele acabasse de perceber que ela ainda estava na sala. — O líder humanista, Mercúrio.
— Você parece bastante... apaixonado por ela. — Ela vagarosamente traçou várias letras no papel, concentrando-se bastante.
— Ela me fez passar por idiota. Não vou sofrer para ser feito de idiota. Isso é tudo.
Não era tudo. Não por um tiro longo. Rosalind ergueu os olhos por baixo dos cílios e viu a intensidade do olhar dele passar por ela, para fora da janela. Ele estava pensando em Mercúrio. Ela podia ver na tensão repentina de suas mãos e ombros.
Um leve sorriso tocou as bordas de seus lábios e ela baixou o olhar novamente. — Devemos continuar?
A luz das velas tremeluzia na noite, iluminando o teto de seu quarto. Lynch esticou os braços para trás e apoiou a cabeça nas mãos, olhando para as sombras dançantes. Ele precisava dormir desesperadamente, mas não veio. Em vez disso, tudo em que conseguia pensar era no gosto da boca de sua revolucionária e na maneira como ela se contorcia contra ele, as pernas travadas em torno de seus quadris.
Seu pênis inchou, a ponta de sua camisola cavalgando sobre a carne sensível atormentadoramente. Foda-se. Ele mostrou os dentes, tirando a mão de debaixo da cabeça. Ele nunca conseguiria dormir se não cuidasse disso. Já era ruim o suficiente durante o dia, o encontro com Mercúrio o levando a uma espuma de frustração e desejo e agora a Sra. Marberry flertando com ele. Se ele não controlasse isso, ele se separaria, dilacerado pela fome e necessidade, quando ele mais precisava de seus sentidos no lugar.
Sua mão envolveu seu pênis em um aperto brutal e ele sibilou quando o prazer apertou suas bolas. Fechando os olhos, ele jogou a cabeça para trás e pensou naquele momento no beco quando Mercúrio o beijou. Conduzindo seu pequeno corpo ágil contra ele, sua língua se lançando em sua boca. E então, uma vez que o choque o deixou, como ela esfregou seu corpo contra o dele enquanto ele a empurrava contra a parede e a possuía com sua boca.
Ele gozou com um suspiro, muito rápido. Caindo de volta nos lençóis, ele gemeu enquanto seu corpo tremia, sua necessidade mal saciada. Bruxa. Lambendo os lábios, ele amaldiçoou o nome dela. Seu corpo estava meio duro novamente, o desejo um inferno furioso que não podia ser apagado. Nenhuma mulher o havia deixado tão desfeito antes, nem mesmo Annabelle.
Lentamente, ele se tocou novamente, acariciando sua pele escorregadia. Ele se livraria dessa fome, dessa necessidade. Não importasse o que custasse.
Então ele iria caçá-la e fazer o que precisava ser feito.
Capitulo 8
— Você tem certeza de que a mulher não estava nos arquivos? — Caleb Byrnes perguntou, com os braços cruzados sobre o peito enquanto se recostava na bancada do laboratório. A luz do sol das janelas altas branqueava as pontas de seu cabelo castanho e faiscava em seus olhos muito azuis. Um bastardo frio. E perigoso também. Mas pelo menos Lynch sabia que podia confiar nele para fazer seu trabalho; Byrnes era uma força da natureza quando se tratava de rastrear sua presa. Intenso e furiosamente focado. Na verdade, ele gostava um pouco demais.
— Certo. — Lynch respondeu distraidamente, virando lentamente a página de um dos livros de Fitz. Uma História de Biomecânicos. Leitura terrivelmente enfadonha, mas era nos diagramas que ele estava interessado.
Havia um distinto sabor de fumaça no ar, sem dúvida um experimento anterior de Fitz que havia dado errado. Cicatrizes e pequenas marcas de queimaduras frequentes cobriam a bancada danificada em que ele se encostava. O resto dos homens se referia a isso como a masmorra, e era o epicentro frequente de explosões e pequenos incêndios.
— Você já soube que o senhorio está errado? — Doyle bufou.
Lynch virou uma página e fez uma pausa. Ele ergueu o livro e se virou. — Eu apenas vi a mão dela, mas ela tinha algo assim projetado na mecânica. — Ele mostrou a Fitz.
— Uma lâmina de Carillion? Isso ajudará a reduzi-lo. Há apenas um punhado de artesãos na cidade que sabem como forjar uma corretamente. — As sobrancelhas grossas de Fitz se projetaram em sua linha do cabelo e ele sorriu em rara antecipação. Marcas de queimadura transformaram o centro de sua sobrancelha esquerda em uma bagunça sem barba e o terno de tweed que ele usava estava manchado de ácido nos punhos. Um jovem desonesto de sangue azul que encontrou sua vocação aqui, trabalhando com estranhos dispositivos e invenções.
Uma vibração começou no estômago de Lynch. Ele estava chegando perto de encontrar Mercúrio. Ele sabia disso. — Eu quero seus nomes.
— O problema é... — Fitz murmurou, pegando o livro e examinando o diagrama. — Eles pertencem ao Conselho.
— Como diabos um revolucionário consegue trabalho criado por um dos mestres ferreiros? — Perguntou Byrnes.
De fato, como? A mente de Lynch disparou. — O que faz uma mulher odiar tanto um sangue azul a ponto de querer destruir todos eles? — Esse era seu forte, seu gênio, prever os movimentos e os motivos do adversário. — Ela entrou em contato com o Escalão, tenho certeza disso. Talvez a perda da mão em si seja a chave? — Ele franziu a testa. Ele poderia fazer seus homens questionarem os membros do Escalão sobre uma jovem humana que havia perdido a mão, mas isso faria com que as pessoas fizessem perguntas que ele não queria. Ele precisava encontrá-la, não entregá-la diretamente nas mãos de outra pessoa.
— Você acha que um deles a levou? — Doyle franziu o cenho. — Esse não parece um motivo forte o suficiente para querer destruí-los.
— Quem sabe como as pessoas percebem essas coisas? Para alguns, tal perda pode ser a razão de fato. — Ele retrucou, andando pelo pequeno laboratório.
— Se um dos Escalão lhe custou a mão, então alguém a ajudou a conseguir um substituto mecânico —, disse Byrnes. — Estou pensando em sangue azul de novo. Os mestres ferreiros não são baratos e os únicos comerciantes que poderiam pagar por um não teriam contato com eles.
— Talvez eles não tenham sido solicitados a criá-lo. — Sugeriu Lynch.
— Mais uma vez, isso me traz de volta a um sangue azul —, Byrnes franziu a testa. — E teria que ser feito discretamente ou algum rumor sobre isso teria chegado aos nossos ouvidos. Os mestres ferreiros não criam peças mecânicas, pelo menos não para meros humanos.
— Nenhum mestre ferreiro desaparecido ou sequestrado nos últimos vinte anos?
— Vou olhar. — Byrnes prometeu.
Uma batida começou na porta. Todos os quatro se viraram.
Perry abriu a porta com o quadril e arrastou uma cadeira de rodas para dentro da sala. Garrett afundou no assento, parecendo completamente indignado com a engenhoca.
— Aqui estamos, senhor. Levei um pouco mais de tempo do que o previsto para buscá-lo. — Disse Perry.
— Ela praticamente me lutou contra isso, — Garrett retrucou. — Eu posso andar.
— Não até que o doutor diga que você pode, — Doyle respondeu sem rodeios. — Como está sua respiração?
— Estou bem. — O calor negro nadou pelos olhos de Garrett. Depois de um ferimento tão grave, seus níveis de desejo do vírus aumentaram dramaticamente, como se seu corpo não tivesse sido capaz de lutar contra o vírus enquanto tentava se curar.
Lynch trocou um olhar com Doyle. Ele teria que ficar de olho em seu segundo. Os níveis de vírus de Garrett estavam agora em torno da margem de sessenta por cento, mas tal aumento em um curto período de tempo poderia levar a breves perdas de controle. Garrett não estava acostumado a lutar contra essas fomes aumentadas.
— E seus pontos? — Doyle perguntou.
— Coça como um marinheiro com varíola.
— Eu os cortei esta manhã, — Perry respondeu, ignorando seu olhar enquanto ela o colocava ao lado de Lynch. — Está com frio? Você quer um cobertor?
— Vou enterrá-la no jardim, se você não parar. — Garrett colocou a mão na testa em frustração, tirando o cabelo do caminho.
Perry bufou. — Como se você pudesse. Mesmo quando você está no seu melhor, posso tê-lo de bruços no chão nove em cada dez.
— Eu só preciso de uma vez...
— Isso é o suficiente. — Lynch disse calmamente.
Ambos ficaram em silêncio.
— Eu preciso de você de pé, — ele disse a Garrett. — Se isso significa sofrimento por causa dos cuidados de Perry, então que seja.
— Além disso... — Um sorriso lento surgiu na boca de Byrnes. — Ela não pode deixar de se preocupar, é parte de sua natureza.
— Isso foi uma referência indireta ao meu gênero? — Perry perguntou, seus olhos se estreitando em fendas finas.
Se ele os deixasse assim, eles estariam na garganta um do outro em um minuto. Lynch ergueu a mão, olhando para todos eles. — Concentrem-se —, disse ele, apontando um dedo em direção ao livro. — Fitz, qual é a diferença entre o trabalho em enclave e os mestres ferreiros?
— O trabalho de enclave não tem carne sintética —, o jovem cientista franziu a testa. — Isso tende a prejudicar sua linha de trabalho.
— Ela não se incomodou com isso.
— No entanto, a adição da lâmina Carillion é um argumento para o trabalho do mestre ferreiro. Todos nós sabemos que a saliva de um sangue azul contém componentes químicos que podem curar um corte - ou o corte de uma lâmina para sangrar - sem transmitir o vírus —, disse Fitz. — Isso é o que eles usam para criar membros biomecânicos. Eles podem fundir tendões de aço ou tecido muscular com carne usando saliva de sangue azul. O interior do membro biomecânico é enxertado no corpo de um homem como se pertencesse a ele, cada contração do músculo criando flexão na mão de aço. É realmente uma extensão do corpo.
— E o trabalho do enclave? — Ele perguntou.
— Muito mais áspero. Eles não têm acesso à saliva de sangue azul. Uma mão depende de peças mecânicas em seu interior para acionar o mecanismo e mangueiras hidráulicas no braço para levantá-lo. Mecânico - não biomecânico. Muito menos preciso.
Lynch coçou a boca. — Seu trabalho de mestre ferreiro, tenho certeza disso. Ela tinha pleno uso de seus dedos e mão.
— Parece que temos alguns ferreiros para questionar. — Disse Byrnes com um sorriso acalorado.
— Você e Perry trabalham juntos nisso. — Dirigiu Lynch.
Perry olhou para ele. Ela e Garrett sempre trabalharam como parceiros; Byrnes preferia trabalhar sozinho.
— Vocês estão entrando no território do Escalão —, disse ele, embora raramente se importasse em explicar suas ordens. — Você precisa de alguém para cuidar de suas costas. Fiquem quietos, mas eu quero saber se algum mestre ferreiro criou algo assim nos... últimos dez ou quinze anos. A mão está totalmente dimensionada, então ela tinha que ser uma adulta no momento em que foi fundida em sua carne.
E manter Perry longe de Garrett iria impedi-los de brigarem um com o outro. Sua cabeça latejava. Lynch assentiu bruscamente. — Dispensados.
No final da tarde, Lynch tirou o casaco e jogou-o na poltrona de seu escritório, que agora estava livre de entulho. Fazendo uma pausa, ele olhou ao redor do escritório. A evidência da intromissão da Sra. Marberry existia em todos os lugares. Desde que ele a encontrou aqui dois dias antes, ela estava fazendo sua presença conhecida de uma infinidade de maneiras sutis.
Ele estava muito ocupado para questioná-la, mas agora ele fez uma pausa, dando uma boa olhada ao redor do escritório.
As estantes estavam imaculadas e sem poeira, a orquídea no parapeito da janela mudou para um local mais quente. Junto à lareira, todas as traduções de um antigo documento tibetano que ele estava fazendo haviam sumido e a mesa estava totalmente vazia de papelada.
Ele girou nos calcanhares e caminhou de volta pela porta em seu escritório alegre e iluminado pelo sol. O vapor saía do bule em sua mesa e sua cabeça estava inclinada enquanto ela cuidadosamente escrevia algo. A luz do sol dourava o cobre ardente de seu cabelo, traçando os fios finos e felpudos de sua nuca.
— Sra. Marberry. — Ele se apoiou na mesa, pairando sobre ela.
A caneta parou. Rosa ergueu os olhos lentamente, como se tivesse ouvido a maneira muito controlada com que ele falava. Aqueles solenes olhos castanhos fixos nos dele. — Sir Jasper, — ela respondeu daquela maneira composta que o levava além da resistência. — O que posso fazer por você?
Afastando-se da mesa - antes de estrangulá-la - ele apontou o dedo em direção ao escritório. — Cadê?
— Onde está o quê?
— Tudo. Meus papéis, meus tratados, aquele maldito documento tibetano que vale mais que sua vida! Tudo isso!
Ela largou a caneta. — O arquivo atrás de você está vazio. Coloquei todos os seus papéis lá. Se você olhar, verá que estão todos em ordem. Quanto ao documento tibetano, não tenho ideia do que você fala.
— Os papéis na frente da lareira.
— Aquela pilha de arranhões de frango que estava espalhada por todo o sofá, duas poltronas e o tapete?
— Sim. — As palavras saíram entre os dentes cerrados.
Seus olhos se arregalaram. — Oh, — ela disse. — Não achei que fosse importante.
O sangue bombeou em suas veias. Ele fechou os olhos e pressionou a língua no céu da boca, contando silenciosamente até dez. — Esse documento foi escrito com sangue —, disse ele. — Por um antigo erudito tibetano. É insubstituível. Eles dizem que as origens do vírus do desejo estão ocultas em suas transcrições. O que você fez com isso?
Quando ele abriu os olhos, os dela estavam grandes como pires. Seus lábios tremeram e uma pontada de culpa o ameaçou, antes que a leve contração nos cantos de sua boca o fizesse perceber que ela não estava com medo. Ela estava tentando não rir.
— Sra. Marberry!
— Eu sinto muito. Eu não deveria ser tão perversa. Coloquei-os com muito cuidado em uma das estantes restantes, fora da luz. — O riso explodiu dela e ela tentou contê-lo com uma mão esguia e enluvada. — Sinto muito, mas eu nunca vi você em tal... tal estado! — A risada se soltou e ela se curvou sobre a mesa, vários cachos acobreados caindo de seu coque.
O som varreu por ele. Lynch congelou, a boca entreaberta e o dedo ainda apontando. Ela estava rindo dele. A maldita mulher estava rindo!
Olhando para cima, Rosa se desfez em uma nova onda de risos ao ver a expressão em seu rosto. A raiva desapareceu dele tão abruptamente quanto havia surgido e ele balançou a cabeça. Mulher maldita. Lynch praguejou baixinho, marchando em direção ao seu escritório. Ele bateu a porta atrás dele, então caminhou até a estante. Ela estava certa. O documento estivera aqui o tempo todo, cuidadosamente dobrado ao lado de suas histórias do império chinês.
Ele ainda podia ouvir a risada dela através da porta. Paralisado pelo som, ele inclinou a cabeça e ouviu. Apesar da situação, ele não conseguiu evitar que um sorriso aparecesse em seus lábios. Ela estava tentando o lobo todos os dias e ela bem sabia disso. Sua pequena secretária afetada tinha um lado perverso.
Você queria alguém que não tivesse medo de você.
Com um suspiro, ele se virou para sua mesa e se sentou. O mogno polido brilhava nas sombras do fim da tarde. Lynch olhou para ele. Ele não achava que poderia se lembrar da última vez que o vira. A limpeza o perturbou. A presença de sua autora o perturbou ainda mais. Ele lançou outro olhar acalorado em direção à porta. O vestido decotado verde escuro que ela usava não escapou de sua atenção.
Seduzir sua secretária estava completamente além do pálido, mas dane-se se ele não estava considerando isso. Passando a mão trêmula pelo queixo, Lynch forçou seu corpo a se comportar. A maneira breve e frenética com que ele se controlava à noite não estava ajudando. Mercúrio havia acendido seu desejo sexual adormecido e agora ele estava considerando a Sra. Marberry como substituta.
Ou não exatamente. A Sra. Marberry tinha seu próprio efeito único; ela não era a substituta de nenhuma mulher.
Uma comoção chamou sua atenção e ele se acalmou, voltando-se com interesse predatório para o escritório de Rosa.
— Lynch!
Alguém bateu na porta e Byrnes enfiou a cabeça para dentro. As feições morenas estavam tensas e manchadas de sangue. — Houve outro massacre em Kensington.
— Onde? — A alegria desapareceu de Lynch completamente quando seu terceiro em comando abriu mais a porta. Atrás dele, a Sra. Marberry assistia com olhos arregalados.
— É... Holland Park Avenue, 75. — Byrnes respondeu sombriamente. Ele sabia, assim como os outros, o que significava o endereço.
O frio se espalhou por Lynch, pegando-o desprevenido. Não. — Alistair?
— Eu tive que matá-lo, senhor. Eu não conseguia... não conseguia tirá-lo de cima dela.
Não. O pensamento foi um mero sussurro. O mundo se estreitou ao redor dele e ele engoliu em seco. — E Dama Arrondale? — De alguma forma, sua voz saiu baixa e fria. Sem emoção. Quando dentro, ele sentiu como se o mundo tivesse explodido.
Um breve aceno de cabeça. — Me desculpe senhor.
— Você deveria ter ido para casa. — Lynch disse a ela, olhando para a mansão com relutância fervente em seus olhos. Todas as luzes ao longo da rua foram acesas e dezenas de Falcões da Noite inundaram a cena quando o início da noite estabeleceu seu manto sobre a cidade.
Ir para casa estava fora de questão. Rosalind precisava encontrar os mecanicistas por trás desses massacres tanto quanto Lynch.
Lorde Arrondale era o herdeiro do duque de Bleight, mas ela suspeitava que havia mais nesta história do que parecia. Lynch ficou friamente composto no caminho para cá, mas ele se portava ainda mais rígido do que o normal. Ele checou o relógio de bolso várias vezes na carruagem e não disse uma palavra. A tensão severa subia em seus ombros como um casaco bem cortado e o olhar sombrio e inexpressivo em seu rosto fez seus instintos se contraírem.
— Estou bem, senhor. — Respondeu ela, observando-o com olhos avaliadores. Eles discutiram brevemente sobre ela vir com ele, mas ele estava muito distraído para forçar sua vontade sobre ela. Rosalind tinha prometido ser útil tomando suas notas, quando na verdade ela estava desesperada para ver se este era outro ataque de mecanicistas. Sua voz baixou. — Você conheceu Lorde Arrondale?
Lynch lançou-lhe um olhar áspero e cru, as pupilas engolindo as íris e as sombras esculpindo planos profundos sob as maçãs do rosto. Por um momento, ela olhou para o rosto do demônio dentro, e sua respiração ficou presa por trás da ossatura rígida de seu espartilho.
— Ele era meu primo. — Lynch declarou, voltando-se para olhar a casa mais uma vez.
A ausência daquele olhar negro tornou mais fácil para ela respirar. Rosalind esfregou os nós dos dedos conscientemente contra as saias. Ela sabia que ele havia nascido do Escalão uma vez, mas não se preocupou em procurar mais detalhes. No que dizia respeito ao mundo, Lynch fora posto de lado como um renegado e conquistara seu próprio lugar no mundo como Falcão da Noite. Nunca houve qualquer menção à família ou à sua casa, porque nada disso importava mais.
O homem que ele chamou de Byrnes caminhou em direção a eles, suas feições escuras obscurecidas pelas sombras do início da noite. Ele se movia com uma graça sinuosa e mortal, a frieza em seus olhos azuis rivalizando com os de Lynch. Em torno de sua garganta, um lenço vermelho permanecia e uma longa espada estava amarrada em suas costas. — A casa está segura. Mandei um recado ao duque de Bleight.
— Quando ele chegar, peça aos homens que o preguem e mandem recado —, disse Lynch. — Não diga a ele nada que ele não precise saber neste momento. — Lynch lançou-lhe um olhar feroz. — Se eu te disser para sair, então não discuta. Vá direto para a parte de trás e encontre um dos meus homens. Instrua-os a levá-la de volta para o Chancery Lane e protegê-la com a vida.
— O que você não está me dizendo? — Rosalind agarrou um punhado de saias e o seguiu, a pele sintética que cobria sua mão mecânica puxando contra o interior de couro macio de suas luvas. Esta noite ela planejou deixá-lo ter um vislumbre dela - apenas o suficiente para fazê-lo pensar que sua mão era real. Não resistiria a um escrutínio intenso, mas no escuro e à distância...
Claro, ele tinha outros assuntos em mente. Esta noite poderia não ser a melhor oportunidade. Lynch segurou a porta aberta para ela. — Bleight me despreza. Houve alguns negócios quando fui nomeado desonesto em relação a Alistair e a mim. Se ele está atingido pela dor, acho muito provável que ele faça algum movimento contra mim - ou chegue ao ponto de me culpar. Isso pode se tornar uma cena e tanto.
Rosalind olhou para ele, o corpo duro, mas um fôlego longe dela. Ela podia sentir o cheiro do sangue acobreado pela porta aberta. Sem dúvida, Lynch também poderia. Sua mandíbula estava tensa de tensão.
— Você está com sua pistola? — Ele perguntou baixinho.
Ela assentiu.
— Não use, a menos que eu mande. — Então ele pressionou a mão nas costas dela e a empurrou porta afora.
Lá dentro, o salão estava cheio de silêncio. Quase parecia que a casa estava ouvindo. Cada rangido de madeira sob o salto de sua bota a fez estremecer. A presença de Lynch atrás dela era quase reconfortante.
A mão firme em suas costas a direcionou para outra porta. — Por aqui. — Lynch murmurou e ela sabia que ele podia sentir o cheiro da morte dentro.
Assim que viu o que estava no chão, Rosalind parou de andar. Sua mente lutou para dar sentido à bagunça, à poça vermelha que inchava os tapetes e ao rosto congelado e gritando da mulher idosa morta no chão. Metade de sua garganta havia sido arrancada e cortes marcavam suas saias lilás. Pelo sangue vermelho-azulado escuro que cobria seus dedos, estava claro que ela tentou se proteger.
Mãos firmes deslizaram sobre os ombros de Rosalind e ela relaxou com o toque. A morte nunca a assustou; ela lidou com isso com pouco remorso, mas tinha sido por um senso de dever. Não pessoal. Não assassinato. Esta... esta tinha sido uma mulher sentada para tomar sua sopa branca, talvez um sorriso no rosto enquanto ouvia o relato de seu consorte sobre o dia dele. A maioria dos acordos de consorte no Escalão eram itens de negócios, nada mais, mas a mulher havia usado suas boas pérolas e o cheiro de perfume pairava no ar. O cabelo loiro prateado tinha sido penteado artisticamente sobre seu ombro, e pelas rosas derramadas do vaso sobre a mesa, eles talvez estivessem comemorando alguma coisa.
Rosalind se derreteu no corpo rígido atrás dela, sentindo-se completamente entorpecida.
— Espere lá fora. — Lynch instruiu baixinho.
Rosalind se virou, tropeçando no tapete. Seu pior medo - ser ensanguentada assim, dilacerada por um sangue azul violento. Parando na porta, ela se segurou no batente e olhou por cima do ombro.
Lynch se ajoelhou ao lado da mulher, seu olhar encoberto e sua boca uma linha rígida. Com um suspiro, ele estendeu a mão e colocou a palma sobre o rosto da mulher, então fechou os olhos lentamente. Sua mão pairou ali, como se quisesse esconder o rosto da morta. Então ele cerrou o punho e o arrastou com força contra o peito.
A privacidade do momento atingiu Rosalind. Ela hesitou na beira da sala de jantar. Ele conhecia a mulher. Havia tão pouco em sua expressão que ela poderia ter pensado que ele era indiferente, mas algo sobre a aura de dor ao redor dele quase o machucava fisicamente.
Um estalo de som quando ele raspou os pratos fora do caminho e arrastou a toalha de mesa branca da mesa. Ajoelhando-se, ele cruzou as mãos da mulher sobre o peito e cuidadosamente colocou a toalha sobre ela. Ela ficou manchado de vermelho imediatamente, as pontas encharcando a poça de sangue sob o cabelo da mulher. Lynch se virou lentamente, sem emoção mais uma vez.
— Dama Arrondale. — Disse ele, como se explicasse. Passando por ela, ele caminhou ao longo do corredor, ignorando cada porta e tributário. Pequenos respingos de sangue escuro percorriam o chão xadrez e pinturas penduradas ao acaso, como se algo tivesse se espatifado contra a parede. Nas escadas, uma grande mancha de sangue acumulava-se nos ladrilhos de mármore e no corrimão de mogno esculpido, com estilhaços espalhados pelo chão.
Byrnes apareceu no topo da escada. — Ele está aqui. Não achei apropriado deixá-lo assim. Não com Bleight a caminho.
Lynch assentiu, subindo as escadas de dois em dois. — Como você o matou?
Byrnes espiou por cima da amurada. Seus olhos azuis estavam quase brilhando de fome, como se vissem algo que ela não via. O sangue longo e seco agarrou-se a sua mão direita e sua manga preta estava molhada. — Não consegui tirá-lo de Dama Arrondale. Ela ainda estava gritando naquele palco - de alguma forma ela se trancou na sala de jantar e alguém ouviu seus gritos de socorro. Eu estava voltando de uma entrevista com o chefe da guilda dos ferreiros e ouvi a comoção. Pela aparência da casa, Arrondale matou todos os outros, então foi para ela. — Seus lábios se estreitaram. — Eu coloquei minha arma atrás de seu ombro e puxei o gatilho para chamar sua atenção. Infelizmente, era tarde demais para Dama Arrondale.
Lynch olhou por cima da grade, avaliando as marcas de sangue no chão e as pinturas estilhaçadas ao longo do corredor. — Só uma vez?
— Eu não tive tempo para um segundo tiro. Ele se virou contra mim e eu caí. De alguma forma, acabamos lá... — Byrnes apontou para o ponto abaixo. — Eu tinha perdido a pistola até então. — Ele olhou para cima, o olhar fixo travando no de Lynch. — Eu tive que arrancar seu coração de seu peito. Ele estava tentando me estripar. — Um estremecimento. — Cristo, ele era forte.
Lynch examinou a cena uma última vez e se virou. — Mostre-o para mim.
Eles levaram o corpo para o quarto principal no andar de cima. O cheiro enjoativo de sangue manchava o ar e Rosalind engoliu em seco ao entrar. Alguém arrastou um lençol sobre o corpo e Lynch caminhou até ele, puxando-o para o lado. Seu grande corpo bloqueava sua visão e por isso ela estava grata. Ela tinha visto visões macabras o suficiente esta noite.
Deixando cair o lençol, ele se virou, a luz da vela lavando suas feições muito suaves. — Quero seu relatório na minha mesa pela manhã. É melhor você ir embora. Se Bleight ver você, ele vai querer sua cabeça...
Um grito soou do lado de fora. Todos giraram em direção à janela e Lynch passou por eles, puxando as cortinas para o lado. — Vá —, disse ele. — Saia pelos fundos e volte para a guilda. Pegue um guarda pequeno.
— Certamente o duque não atacaria ninguém. — Rosalind murmurou. Bleight era um abutre que se sentava no conselho e circulava em busca de presas, mas seu dossiê dizia que ele já foi um dos mais cautelosos do conselho, escolhendo começar suas lutas e raramente as proclamou.
Lynch lançou-lhe um olhar severo quando Byrnes saiu da sala. — Não saia do meu lado. Tente ser discreta. — Ele praguejou baixinho, agarrando o braço dela. — Eu nunca deveria ter trazido você aqui.
— Lynch! — Alguém rugiu. O som veio de dentro da casa.
O aperto de Lynch aumentou, então ele praguejou novamente e começou a andar em direção à porta.
— Tire suas malditas mãos de mim, seu vilão! — A voz estava empapada de raiva. — Lynch! Seu bastardo, cadê meu filho? Onde está meu maldito filho?
Lynch se aproximou da grade perto da escada. — Solte-o. — Sua voz ressoou na entrada.
Rosalind pairou nas sombras tanto quanto possível. Abaixo dela, o velho duque de Bleight se livrou das garras de dois Falcões da Noite. Seus próprios homens, em suas vistosas librés vermelhas, o seguiram e o corredor parecia um mar de vermelho e preto. O preto superava o vermelho, mas não muito.
Dezenas de sangues azuis. Os olhos de Rosa se estreitaram ligeiramente, seu olhar percorrendo o corredor. Nenhum rosto que ela reconheceu. Seus ombros relaxaram.
— Seu desgraçado! — Bleight berrou. — Seu idiota vingativo! Você está por trás disso! Você queria tudo que ele sempre teve!
Lynch deu um passo à frente, puxando as luvas de couro macio que usava. — Vossa Graça, — ele disse bruscamente. — Talvez você queira discutir isso em particular? O corpo do seu filho foi removido para o quarto. Se você quiser...
— Não vou discutir nada com você —, Bleight sibilou, começando a subir as escadas. — Saia. Saia antes que eu te mate. — A mão do velho duque baixou para descansar no punho da espada. Seu rosto pálido estava ainda mais branco de estresse, seus olhos brilhando com malícia.
Abaixo deles, meia dúzia de homens enrijeceu com a ameaça implícita. Rosalind se endireitou quando sua visão se estreitou no duque. Ela quase podia sentir o anel de suor frio em torno de sua liga, onde mantinha sua pistola no lugar.
A espada sibilou ao limpar a bainha. Abaixo, um par de Falcões da Noite saltou em direção à escada, mas Lynch deu um passo de comando à frente, erguendo a mão. — Eu vou embora, Sua Graça. Mas se você considerar a permanência de alguns dos meus homens, para examinar o...
— Saia! — Bleight balançou a espada, luz fria a gás brilhando no fio da navalha.
Lynch abaixou-se e a espada cortou o parapeito elegante no topo da escada e ficou presa. Bleight rosnou, puxando-a com uma força que desmentia sua idade evidente.
Afinando os lábios, Lynch deu um passo para trás, as mãos colocadas de forma apaziguadora à sua frente.
O que diabos ele estava fazendo? Por que ele não revidou? Rosalind o vira em ação; o duque não teria chance.
Balançando-se descontroladamente, o duque avançou quando Lynch saiu do caminho, suas costas batendo na parede. O olhar de Lynch encontrou o dela por um momento e se estreitou em advertência. Rosalind mal teve tempo de perceber que deu um passo à frente, sua mão mergulhando automaticamente no bolso quando Bleight seguiu a direção do olhar de Lynch.
— Ela é sua? — O duque perguntou com uma voz suave e ameaçadora.
Tão perto, Rosalind podia ver a escuridão de suas pupilas ameaçando ultrapassar suas íris. Seu espartilho se apertou e seus dedos se fecharam ao redor do punho liso de sua pistola através da fenda no fundo de seu bolso. Se ele fizesse um movimento em sua direção, ela explodiria sua cabeça.
— Não faça isso. — Alertou Lynch. Por um momento, ela pensou que ele se referia ao duque, então ela percebeu que seu olhar estava fixo no dela.
A realidade a invadiu. Mate o duque e ela seria executada ao amanhecer. O dedo de Rosalind esfregou o gatilho hesitantemente. Confiar que Lynch sabia o que estava fazendo? Ou entrar em ação? Ela pairava sobre o precipício, olhando nos olhos do duque louco. Ela nunca o pararia a tempo se ele a atacasse; um sangue azul era simplesmente muito rápido.
Sua mão se retirou lentamente e ela respirou fundo. Confiar em Lynch ia contra todos os seus instintos, mas ela não tinha escolha.
Bleight se virou para ela com um grunhido, a espada cortando o ar. Rosalind se jogou para trás, tropeçando nas saias e caindo no chão. A espada brilhou assustadoramente na luz azulada enquanto se arqueava em sua direção.
Então Lynch estava entre eles, batendo seu corpo com força contra o do duque. Um silvo agudo de dor encheu o ar e sangue respingou em seu rosto. O par cambaleou até a grade, que cedeu com um estalo agudo.
— Não! — Ela agarrou a capa de Lynch, seus dedos fechando no ar, e então eles se foram.
O golpe surdo quando eles pousaram a arrastou até a borda. Ela espiou pela abertura quebrada do corrimão enquanto Lynch acertava o rosto do duque com o cotovelo. De alguma forma, ele teve a vantagem e forçou a mão da espada do duque ao chão. Agarrando Bleight pela garganta, ele se agachou sobre ele com um rosnado.
Ao redor deles, os Falcões da Noite e os homens do duque dançaram para trás, abrindo um círculo. Um dos guardas vestidos de vermelho deu um passo à frente e Lynch ergueu os olhos, mostrando os dentes. — O suficiente!
Olhando para baixo, ele esmagou a mão do duque nas telhas. A espada soltou-se com estrépito e, enquanto ele se levantava, Lynch a chutou para longe. Ele cambaleou para trás, batendo a mão ao lado do corpo.
O sangue pingou no chão.
Rosalind ficou de pé, correndo para as escadas. O momento em que ele saltou na frente dela passou diante de seus olhos. Ele levou o golpe destinado a ela.
Ela não conseguia nomear a emoção que a dominou. Lynch lançou-lhe um olhar sufocante e Rosalind desacelerou, seus passos diminuindo. Ela não podia ver o quanto ele estava sangrando contra o preto de sua armadura de couro. Nem podia perguntar a ele, não agora, na frente do duque e seus homens. Qualquer sinal de fraqueza e Bleight estaria sobre eles.
— Estamos indo, — Lynch comandou. Ele acenou com a cabeça bruscamente para seus homens. — Quero todos os relatórios preliminares concluídos pela manhã. — Gesticulando para que ela ficasse de lado, ele colocou a mão livre nas costas dela - um gesto quase protetor - e a conduziu para perto de seu corpo.
Bleight lutou para se sentar, cuspindo sangue. — Vou pegar sua cabeça por isso...
Lynch se virou rapidamente e o duque se encolheu, alguns de seus homens avançando com as mãos caindo para as armas. Todos os olhos estavam sobre ele enquanto ele olhava para o duque. — Se você fizer um movimento contra um dos meus novamente, você vai me enfrentar no átrio. Eu juro. — Então Lynch se soltou e, pegando Rosalind pelo braço, conduziu-a até a porta.
Capitulo 9
— Você está sangrando muito?
Lynch pressionou as costas contra o assento da carruagem quando a porta se fechou, trancando-os na escuridão. Ele podia ouvir Perry do lado de fora, implorando para que os homens saíssem do caminho enquanto ela subia no banco do cocheiro. Um estrondo começou abaixo dele quando Perry chutou as caldeiras para funcionar.
— Lynch?
Ele chamou sua atenção de volta para dentro enquanto a Sra. Marberry se ajoelhava no assento ao lado dele, a saia caindo sobre suas pernas. Ele não deveria estar se sentindo tão fraco - maldito Bleight. Respirando fundo, ele tirou a mão do ferimento na lateral do corpo e estremeceu. O cheiro de sangue inundou seu nariz, saliva brotando em sua boca. Seu mundo estava girando ligeiramente, a pressão quente do corpo ao lado dele sua única âncora.
Tão quente. Tão tentador. A cor sumiu de sua visão, deixando-o com a pátina prateada do luar na pele pálida da garganta de Rosa. Instantaneamente, o demônio dentro dele saltou para a superfície, ameaçando afogá-lo. O desejo era uma dor aguda que cortava como uma lâmina, seu intestino apertando em necessidade. Cristo.
Ele agarrou seu braço, com a intenção de afastá-la. Os músculos sob seu toque se contraíram, mas Rosa não se retirou. Lynch pairou sobre ela, o aroma mais sutil de limão e linho passando por ele.
Ele estremeceu. — Diabo pegue você, me deixe em paz! — As palavras foram um grasnido áspero enquanto ele se agarrava à sanidade pelo mais fino dos fios.
— Aqui. — Ela disse severamente, retirando algo de sua bolsa. A prata brilhou ao luar enquanto a carruagem a vapor balançava em movimento com um assobio de chaleira. O som de um frasco sendo desatarraxado atraiu seu foco e então Rosa o pressionou contra seus lábios.
O sangue correu por sua língua. Lynch pegou seu pulso com surpresa, então virou o frasco para cima. Ele precisava de sangue. Muito - qualquer coisa para focar sua mente e controlar o demônio dentro de si.
Esvaziando o frasco, ele desabou contra os assentos de pelúcia da carruagem, ofegante. Rosa o pegou e fechou a tampa com cuidado.
Ele podia sentir que ela o observava. O mundo pareceu desvanecer até que eram apenas os dois, respirando suavemente no interior escuro. Até mesmo a dor em seu lado diminuiu para uma pulsação surda quando o vírus do desejo começou a curá-lo. De manhã, não haveria nem uma cicatriz, cortesia de seu alto currículo.
— Obrigado. — Disse ele.
Rosa soltou um suspiro baixo. — Eu deveria estar agradecendo você. Essa lâmina foi feita para mim. Aqui. — Inclinando-se mais perto, ela se atrapalhou com seu peito. — Deixe-me dar uma olhada nisso.
— Vai curar.
Puxando suas luvas, ela as tirou, suas mãos pálidas encontrando as fivelas de sua armadura e abrindo uma. Mesmo sob o luar fraco, ele teve um vislumbre das costas com cicatrizes de sua mão esquerda e a pele mais pálida. Meu pai... De repente ele queria saber o que o homem tinha feito com ela, mas não perguntou. Esta foi a primeira vez que ela tirou as luvas na frente dele e quando ele olhou para cima, ele percebeu que ela sabia que ele estava olhando para seus dedos ligeiramente grossos.
Rosa rapidamente olhou para baixo, puxando outra fivela. O calor escureceu suas bochechas como se estivesse envergonhada por sua atenção. Lynch não dava a mínima para a deformidade, mas respeitaria os desejos dela e não o mencionaria.
Ele estremeceu quando o peitoral de couro cedeu. Construído para parar uma espada ou um golpe, tinha sido uma defesa pobre contra a espada de Bleight.
— Por que ele fez isso? — Ela perguntou suavemente. Pegando sua camiseta com as duas mãos, ela a puxou para o lado, expondo sua pele ao seu olhar.
Lynch estremeceu de frio, sentindo o sangue frio pulsando em seu quadril. A lâmina o havia atingido alto, logo abaixo das costelas. — Fez o que?
As pontas dos dedos suaves sondaram o corte. — Atacou você. Por que ele achou que você teve algo a ver com a morte do filho dele?
— Eu te disse, Alistair e eu éramos primos. — Lynch mostrou os dentes em um silvo silencioso quando ela tocou um ponto particularmente sensível. — Bleight há muito tempo ocupa a posição em que eu desejava o lugar de Alistair como herdeiro da Casa.
— Isso não poderia estar mais longe da verdade.
— Era a verdade, — ele disse a ela, observando sua expressão na luz bruxuleante das lâmpadas de gás que passavam. — Uma vez.
Seu silêncio era quase insuportável. Um desejo faminto e curioso encheu sua expressão. — Claro. Você era primo de Lorde Arrondale, o que o torna sobrinho do duque.
— Terceiro na linha para o ducado —, disse ele com um sorriso desolado. — Meu pai e Bleight nunca foram amigos. Meu pai nasceu uma hora depois de Bleight e ele nunca se esqueceu disso.
Seu polegar enluvado acariciou a pele nua de seu lado. — Ele queria que você fosse duque?
— Ele me incentivou a competir com Alistair em todas as coisas, para me provar. Alistair era herdeiro por direito de nascimento, mas eu poderia derrubá-lo se quisesse. Tudo que eu tinha que fazer era duelar com ele na frente da corte quando atingimos a maioridade. E matá-lo. — A memória foi como um golpe de uma lâmina afiada. Ele teria feito qualquer coisa por seu pai, mas não isso.
Lynch olhou para baixo, sob os cílios, para os dedos macios que acariciavam inconscientemente seu quadril. — Não sei por que estou dizendo isso.
— Você está fraco —, disse ela, seus dentes brancos exibindo um sorriso rápido. — E estou aproveitando o momento. — Recostando-se com um suspiro, ela puxou a saia para cima.
A visão o acalmou. Centímetro de calçolas brancas espumosas brilhavam ao luar fraco, revelando panturrilhas lisas e vestidas com meias. Pegando a bainha de suas calçolas, ela as rasgou com um corte afiado que fez seu estômago apertar.
— O que você está fazendo? — Ele perguntou bruscamente.
— Eu não estou tirando vantagem de você dessa forma. Você pode relaxar. — Amassando o linho fino em uma bola, ela rasgou outra longa tira, puxando bruscamente o material com pouco cuidado para o fato de que os olhos dele estavam fixos em seus tornozelos.
Jogando as saias para baixo, Rosa se ajoelhou no banco, curvando-se para a frente. Sombras envolviam a parte superior de seu corpo, mas ele ainda podia ver o contorno fraco de seus seios quando ela pressionou o quadrado improvisado ao lado dele. Deslizando os braços ao redor de sua cintura, ela puxou o longo pedaço de linho em torno de suas costas e arrastou-o para longe com uma expressão determinada.
Seus dentes cravaram em seu lábio enquanto ela trabalhava. Lynch observou, totalmente congelado. Ele podia sentir o calor saindo de seu corpo e a escassa polegada entre eles. Ela não era nada além de escuridão e calor, a sombra de uma mulher que acendeu seu desejo, seus sonhos. E instantaneamente ele soube que quando finalmente estivesse sozinho, ele sonharia com ela assim.
O pensamento o chocou. Era Mercúrio em sua mente, noite após noite, mas havia algo sobre a mulher envolta em sombras na frente dele que o atraía. Uma sensação de... ternura.
Sua própria secretária. Puta merda. Se ele fosse um de seus homens, teria se pendurado pelos calcanhares.
Uma mecha de cabelo roçou sua bochecha no interior escuro da carruagem, suave como a seda e com cheiro de limão. Com Rosa ocupada cuidando de seu ferimento, ela mal percebeu quando ele virou a cabeça e respirou seu perfume. Qualquer que seja o perfume que ela usava, banhava sua pele e encharcava seu cabelo como se ela o tivesse lavado. Ele mal conseguia discernir seu cheiro natural. Sua boca ficou seca com o pensamento. Ele ansiava por pressionar seu rosto em sua garganta, para beber aquele cheiro, seu corpo reagindo com necessidade rápida.
— Pronto, — ela murmurou, amarrando as pontas da calçola. No instante em que ela terminou, ela puxou as luvas de volta como se a falta delas a deixasse vulnerável. — Isso deve durar até chegarmos à guilda.
Lynch respirou fundo, trêmulo. — Obrigado. Você é mais eficiente.
— Em todos os assuntos. — Ela deu a ele um sorriso suave, seus olhos escuros brilhando sob o luar prateado. Seu olhar baixou lentamente enquanto ela ficava séria. — Você conhecia Dama Arrondale.
As palavras não eram questionáveis.
— Annabelle? — O pensamento cortou seu desejo como uma lâmina.
— Você foi muito gentil com o corpo dela.
Ele respirou fundo e se endireitou. Annabelle. A culpa era um gosto amargo em sua boca. — Ela era a consorte do meu primo.
Ele sabia que ela ouviu a aspereza em sua voz e se amaldiçoou por ser um tolo. Ele desprezava falar de si mesmo; a história estava em todos os jornais da época, com cada jornalista tomando para si a tarefa de formar uma opinião sobre as circunstâncias. Poucos deles chegaram perto da verdade, mas isso não importava. Ele suspeitou de Bleight por trás da metade das histórias malditas, e a verdade era apenas um verniz para o duque.
Ele nunca deu a mínima antes, mas algo sobre a natureza fechada da carruagem e a curiosidade da Sra. Marberry o incomodou.
— Por que você quer saber? — Ele perguntou a ela.
— Porque... — Ela se atrapalhou com as palavras, um rubor escurecendo sua pele. Seu olhar traçou o caminho dele, através de sua garganta e bochechas.
— A curiosidade ociosa não é algo que encorajo.
As palavras podem ter sido um tapa. Seus olhos magníficos se voltaram para os dele. — Porque eu suspeito que você teve mais de um ferimento hoje. Eu queria... estava oferecendo conforto, nada mais. — Afastando-se dele, ela se encostou na porta da carruagem e olhou para fora, iluminada por sombras suaves e luar.
— Você não está curiosa?
Cílios vibraram contra suas bochechas pálidas enquanto ela olhava para seu colo. A linha de sua nuca atraiu seus olhos. Ele queria pressionar seus lábios ali, lamber o cheiro de limão de sua pele e provar o sal de seu corpo.
Lynch se acalmou, novamente preso por sua fome. O rugido disso disparou em suas veias. Apenas um pouco de sabor... para tê-la debaixo dele, a faca em sua garganta, o sangue quente em sua boca enquanto ela lutava fracamente. Ela era uma tentação que ele nunca deveria ter trazido sob seu teto. Por quarenta anos ele conteve seus impulsos de sangue, e ela pisou em todo seu controle como se não valesse nada. O pensamento era preocupante.
Eu vou vencer isso.
— Estou curiosa, — ela admitiu. — Claro que estou. Mas a motivação não é vulgar.
— Então sua curiosidade é pessoal?
Silêncio. Demorou por longos momentos, durante os quais ele se viu examinando-a novamente, seus dedos apertando o assento da carruagem.
— Sim, é pessoal. — Um olhar penetrante para longe.
Ele não era o único afligido por essa loucura. Lutando contra seu corpo, ele se forçou a pensar em Annabelle, deitada no chão com a traição estampada em seu rosto.
Funcionou, como um jato de água gelada no rosto.
— Eu disse a você —, disse ele simplesmente, — Alistair e eu competimos em todas as coisas.
— Você a amava?
— Eu não sei. Eu tinha quinze anos. — Ele deu uma risada áspera. — Fui consumido por ela com todo o fascínio raivoso de um jovem. E eu queria conquistá-la. Nem Alistair nem eu queríamos levar nossa rivalidade tão longe como um duelo, então Annabelle se tornou o prêmio.
— E ele ganhou?
Silêncio. Desta vez, de sua própria autoria. Lynch fechou lentamente os olhos, a imagem de Annabelle pintada atrás de seus olhos. Ele não a via há anos. A sombra da idade o surpreendeu, mas ele ainda podia reconhecê-la, nas linhas elegantes de suas maçãs do rosto e nos lábios que haviam sido feitos para rir. A culpa era uma sensação de torção em seu peito. Culpa, arrependimento e tristeza...
— Minhas desculpas, — ela murmurou. — Eu não percebi o quão fortemente você ainda se importava.
— Não a vejo há mais de trinta anos —, respondeu ele. Um ferimento antigo, mas parecia apenas tirar a crosta. — Eles me disseram que ele era gentil com ela.
Rosa parecia lutar com alguma coisa. Lentamente, ela estendeu a mão, deslizando a mão sobre a dele. Um toque gentil, mas ainda hesitante, como se ela tivesse que se forçar a fazê-lo.
— Meu marido... — ela começou, e hesitou. — Não foi... não foi amor para mim. Não no começo. Na verdade, comecei a atraí-lo para o casamento de propósito. — Com isso, ela lançou um olhar para ele, como se para ver como ele recebeu essa revelação. — Eu odeio isso agora que ele se foi. Ele me amou tanto e eu me arrependo... de tantas coisas.
Lynch passou o polegar pelo couro, simplesmente ouvindo.
— A culpa nunca vai embora, mas o sentimento enfraquece —, ela admitiu desolada. — No final, quando ele percebeu o que eu tinha feito... eu vi na cara dele, sabe? Ele me odiou naquele momento. Mas se ele tivesse sobrevivido, eu não me importaria se ele ainda me odiasse. Enquanto ele estivesse vivo. Isso é tudo que importa.
A voz dela falhou e ele ouviu o som de sua respiração, a sensação de sua mão o ancorando.
— O que você acha que aconteceu? — Rosa sussurrou. — Se seu primo se importava com a esposa, como você diz, o que poderia tê-lo feito matá-la?
— Eu não sei. — O olhar de Lynch desviou-se para a janela. Ele apertou os dedos dela, sentindo-se estranhamente vulnerável. — Mas pretendo descobrir.
Fileiras de lâmpadas a gás brilhavam na noite enquanto a carruagem passava por um parque. Algo chamou sua atenção quando seu olhar baixou para a mão de Rosa e a cabeça de Lynch voltou para a janela. Lá, parado perto de um bosque de árvores, estava uma figura familiar envolta em uma capa de seda preta.
Mercúrio.
Seu coração saltou em sua garganta, jogando fora a mortalha de dor. A alegria o inundou. — Pare a carruagem! — Ele gritou, puxando a porta e soltando a mão de Rosa.
A figura mascarada soprou um beijo para ele e voltou para o bosque. Lynch abriu a porta com a carruagem ainda em movimento e saltou, cambaleando ao aterrissar. Ele bateu a mão nas costelas. Fraqueza maldita. De todas as vezes que seu corpo desistiu dele.
— Senhor? — Perry desligou as caldeiras e se ajoelhou na beirada do banco do motorista, perscrutando a escuridão com atenção.
— Mercúrio, — ele retrucou, apontando para o parque. — Eu a vi nas árvores. Vá atrás dela. — Ele tirou os dedos pegajosos de seu lado. Não adiantava correr atrás dela. A frustração cresceu dentro dele.
Perry saltou para a rua e correu em direção ao parque.
As saias farfalharam e então Rosa deslizou sob seu braço para ajudar a segurá-lo, seus olhos escuros percorrendo seu rosto. — O que está acontecendo? — Ela olhou para baixo e empalideceu. — Você abriu sua ferida.
— Vai curar. — Ele ficou olhando para Perry. Do outro lado do parque, um motor ganhou vida com um assobio quando uma carruagem a vapor se afastou do meio-fio. — Droga. — Ele apostou seu último centavo que Mercúrio estava naquela carruagem. Perry iria perdê-la e ele não sabia dirigir a carruagem para poder persegui-la.
Rosa pressionou a mão enluvada contra o lado dele. — Você precisa se sentar e descansar...
— Isso não vai me matar. — Disse ele distraidamente.
— Não, mas você vai acabar acamado por dias nesse ritmo. — Ela respondeu asperamente.
Isso chamou sua atenção. Lynch olhou para baixo, perplexo, enquanto sua secretária cacarejava e o repreendia de volta à carruagem. A expressão dela estava furiosa quando ela puxou a camiseta dele de volta e reexaminou o curativo.
— De todo o momento podre, — ela murmurou baixinho. — Não parece tão ruim. O sangramento está diminuindo. No entanto, se você se mover de repente de novo, ficarei muito chateada com você. Sente-se lá e não se mova até chegarmos à guilda.
Não se discutia com uma mulher desse tipo de tom. Lynch afundou nos assentos de couro.
Perry chegou à porta, respirando com dificuldade. — Perdi-os, senhor. Eles tinham um motorista esperando - um homem usando uma colônia semelhante à que Garrett prefere. Parecia que ele estava usando uma espécie de meia máscara sobre o rosto. E uma mulher alta na parte de trás da carruagem, como um lacaio. Ela ajudou a empurrar a mulher mascarada para dentro da carruagem.
— Não é sua culpa. — Os olhos de Lynch se estreitaram na direção em que Mercúrio havia desaparecido. — Eles planejaram esta reunião.
Mas por que? Não deu em nada. Mercúrio queria ser visto. Ela estava enviando uma mensagem para ele? Uma provocação? Ou sua presença foi relacionada à morte de Alistair?
— Você quer que eu os rastreie? — Perguntou Perry.
— Você pode fazer isso? — A cabeça de Rosa se ergueu.
— Perry pode rastrear cheiros que até eu não consigo. — Admitiu, depois se voltou para Perry e balançou a cabeça. A maioria dos homens estaria voltando para a guilda. De jeito nenhum ele enviaria Perry atrás dos revolucionários por conta própria - não tão cedo depois de quase perder Garrett.
— Quando voltarmos para a guilda, quero que você pegue três dos homens e veja se a trilha do cheiro ainda está viva, — ele murmurou, recostando-se no assento. — Não os enfrente e não seja pego sozinha. Você pode me dar seu relatório pela manhã.
Qualquer que seja o propósito de Mercúrio, para esta noite ele tinha outras preocupações que foi forçado a priorizar.
Lynch não foi capaz de examinar o corpo ou a casa e sabia que Bleight nunca permitiria isso agora.
Fitz havia costurado a ferida em seu lado e eles o colocaram aqui horas atrás. Olhando através das sombras escuras de seu escritório, Lynch silenciosamente repassou o que sabia sobre o caso. Ele examinou Haversham e Falcone pessoalmente. Não havia nenhum sinal de marcas de agulha, sem toxinas ou venenos em qualquer um de seus copos e nenhuma evidência na casa para sugerir uma razão por trás dessa insanidade.
Apenas aquele cheiro doce e pegajoso que ele notou em ambas as casas.
Ele só podia presumir que a crise de insanidade de Alistair seria a mesma.
Tirando o cabelo do rosto, ele olhou para a mesa. Sua mente estava entorpecida esta noite - tristeza, provavelmente. Ele mal conseguia pensar. Cada vez que ele perseguia um pensamento, ele fugia, dissolvendo-se em névoa. O confronto com Mercúrio continuava saltando para a frente de sua mente, apesar da necessidade de se concentrar em Alistair.
Por que ela apareceu esta noite? Ela o rastreou da casa de Alistair? Ela estava envolvida com a morte dele? Se ela estivesse... Seu punho cerrado. Não haveria misericórdia se ela estivesse.
Uma batida forte na porta soou.
Perry. Ele poderia dizer pela maneira como ela esperou por sua resposta. — Sim? — Ele chamou, olhando para o relógio. Ela tinha partido há apenas três horas. Isso não seria uma boa notícia.
Perry entrou pela porta, uma chuva leve borrando seus cabelos e cílios. — Perdi-os —, disse ela. — Eu fiz uma trilha neles por várias ruas, então começou a chover.
— Em que direção eles estavam indo?
— As docas da Extremidade Leste.
Lynch recostou-se na cadeira e observou a maneira como ela cruzou as mãos atrás das costas. — Você tem outra coisa para relatar.
Perry suspirou. — Quando perdi a trilha, voltei para a Holland Park Avenue. Consegui sentir o cheiro do homem usando colônia no beco oposto. Ele nunca se aproximou da casa, mas suponho que ele estava olhando para você.
— Não está envolvido no ataque então, — Lynch murmurou. — O que significa que o interesse deles estava em mim. Mas porquê?
— Não sei dizer, senhor. — Ela respirou fundo. — Há algo mais. A mulher mais alta é verwulfen. Eu juro.
Interessante.
— Enviei dois dos homens para verificar o registro, para ver se eles podem identificar uma mulher. — Disse ela.
O tratado com a Escandinávia havia introduzido uma mudança nas leis, libertando da escravidão todos os verwulfen do Império. No entanto, todos os verwulfen recém-libertados eram obrigados a se registrar em cada cidade e vila por onde passassem.
— Excelente. — As peças estavam começando a se encaixar. Lynch sempre foi paciente; a teia de aranha estava começando a formigar, a armadilha lentamente se aproximando de Mercúrio. Uma vibração de antecipação agitou seu intestino.
— Você parece exausta —, disse ele. — Desligue o relógio e descanse um pouco. Você foi bem esta noite.
Perry não sorriu com o elogio raro, mas ela assentiu e se despediu.
Lentamente, seu olhar se concentrou na mesa à sua frente e ele percebeu que havia um pedaço de papel dobrado ao lado de seu tinteiro.
O cheiro exalava do papel - o cheiro de Rosa, lembrando-o dos dias de primavera e do sol, do riso e dos lençóis de linho. Apesar de seu humor, ele sentiu seus ombros relaxarem. Ele queria uma secretária que não tivesse medo dele, embora não tivesse ideia do que fazer com ela.
Seja cuidadoso com o que deseja.
Bem, ela certamente não o temia, e ele teve que admirar sua engenhosidade com o frasco de sangue. Ele também admirava alguns outros aspectos de sua pessoa, mas era melhor deixá-los sem pensar.
Abrindo a carta com a unha do polegar, ele correu o olhar pela folha. O luar olhou por cima do ombro, dando-lhe luz suficiente para entender a escrita inclinada.
Prezado Senhor,
Eles dizem que a limpeza está próxima da piedade, o que explica a sua falta de reverência. Portanto, assumi a responsabilidade de salvá-lo do pecado. Você encontrará seus papéis arquivados em meu escritório; classificado, em ordem alfabética e liso.
Eu apreciaria se você pudesse mantê-los assim, embora eu tenha poucas esperanças. Com todo o respeito...
Sua serva,
Sra. Marberry
Ela deve ter escrito antes desta tarde. E ele em seu estado de tumulto não tinha notado.
Lynch traçou a curva de seu nome, seus lábios se suavizando. Mulher maldita. Ela tinha uma audácia que o surpreendia.
Ela também conseguia distrair, mesmo que apenas momentaneamente.
Falta de reverência, de fato. Ele sabia exatamente quem não tinha reverência, se ele e sua espécie haviam sido excomungados ou não. A admissão falava de sua educação de classe média; o Escalão há muito havia dado as costas a uma igreja que os rejeitava por serem demônios. Como que em retaliação, a fé estava se tornando um contraponto surpreendentemente forte entre as classes pobres e médias atualmente. Eles não tinham igrejas - o Escalão as demoliu -, mas ele ouvira falar de reuniões secretas em lugares sombrios.
Falta de reverência. Seus olhos se estreitaram e ele largou a carta, pegando a gaveta para tentar descobrir onde ela colocara o papel.
Mulher maldita.
— Você não pensou em me perguntar se deveria fazer uma aparição esta noite? — Rosalind rosnou, caminhando ao longo da passagem escura e úmida.
— Encontrar alguém da sua altura para brincar de Mercúrio foi sua sugestão, — Ingrid a lembrou. — Impedir que seu senhorio suspeite de você, hein?
Os lábios de Rosalind se comprimiram. — Ele foi ferido.
— Exatamente. Eu podia sentir o cheiro de sangue nele quando ele saiu daquela mansão. — Houve um longo momento de silêncio e Rosalind percebeu que Ingrid estava se perguntando por que ela se importaria. — Sabia que ele não poderia persegui-lo, — a outra mulher murmurou. — Oportunidade perfeita para vestir Molly com uma capa e máscara. Nós apenas aproveitamos a situação.
O que era exatamente o que ela teria feito na situação de Ingrid. Rosalind diminuiu a velocidade ao se aproximar de uma porta. O que diabos havia de errado com ela? Lynch não tinha se ferido, não seriamente... Embora ela sentisse um estranho desconforto ao pensar no sangue dele em seus dedos. O ardil com Molly dissiparia quaisquer dúvidas que ele pudesse ter se ela escorregasse por acidente. Aja. Não reaja, Balfour sempre dizia.
Segurando o lampião a gás tremeluzente bem alto, Rosalind deslizou pela porta. — Eu só queria que você tivesse me avisado. — Ela murmurou.
As sombras se dissiparam com a luz invasora, revelando enormes estátuas em forma de homem no escuro. A luz brilhou no aço, refletindo na fenda do olho de vidro vazio da criatura na frente dela.
— Cento e doze, — Rosalind disse, olhando para as fileiras de autômatos. — E não o suficiente.
— Os cálculos indicam que cada um de nossos ciclopes vale quatro casacos de metal do Escalão. — Disse Ingrid, dando de ombros. Ela enfiou um charuto entre os lábios carnudos e riscou um fósforo. Fósforo vermelho queimava nos porões frios e escuros, então Ingrid o sacudiu.
A outra mulher desprezava o frio, vestindo nada mais do que uma camisa de cavalheiro enrolada até os cotovelos e um par de calças masculinas justas. Seu cabelo escuro e espesso estava puxado para trás em um coque que deixava suas maçãs do rosto nuas. Chupando o charuto de volta, ela soprou a fumaça de cheiro doce pela sala, passando a mão nua sobre o braço de aço do Ciclope.
Rosalind suspirou. — E eles têm mais de mil desses.
— Faremos o suficiente.
— Eventualmente. — Com isso, seus lábios se estreitaram. Desde que os mecanicistas abandonaram a causa humanista e desapareceram, a produção secreta dos Ciclopes foi interrompida. Ela poderia ser paciente - ela seria - mas estava ficando sem opções rapidamente. E agora que Lynch descobrira sua rota de contrabando de suprimentos para fora dos enclaves, ela tinha ainda menos. — Você terminou de perguntar nos enclaves por um ferreiro?
— Mordecai evidentemente nos venceu. Nenhum mecanicista entre eles vai nos oferecer ajuda.
— Então procuramos em outro lugar. Raptar um dos ferreiros mestres do Escalão.
Ingrid engasgou com o charuto. — Você está louca? O Escalão os tem mais trancados do que as roupas de uma virgem.
— Então onde? — Ela retrucou, girando nos calcanhares e olhando para os gigantes silenciosos e imóveis. Com base no projeto dos casacos de metal, eles foram projetados de forma que cada peitoral pesado se abrisse para um humano se arrastar para dentro e manipular o monstro de metal de dentro. Isso dava a eles uma maior destreza e manipulação, com as reações de um humano guardadas com segurança atrás da espessa armadura de aço. Juntamente com os canhões que eram colocados em cada braço, eles podiam lançar fogo com precisão até seis metros.
— Eu preciso de homens para manejá-los, — ela continuou. — E homens para construí-los. Eu não tenho nenhum no momento.
— Você sempre foi paciente o suficiente para esperar.
— Isso foi antes de Jeremy desaparecer! — Amaldiçoando baixinho, Rosalind bateu com a mão no ciclope mais próximo. A dor picou sua palma, trazendo consigo uma clareza que ela sabia que precisava. Ela estava falhando - falhando com seu irmão, falhando com Jack e Ingrid por esta estranha suavização em relação a seu inimigo e falhando no sonho final de Nate de restaurar os direitos humanos na Grã-Bretanha. De alguma forma, falar dele hoje à noite para Lynch havia levado sua culpa a níveis atormentadores. — Você circulou a guilda?
— Sim. Nenhum sinal do cheiro de Jeremy. Eu estive na cidade também...
— Ingrid! — Ela retrucou, virando-se para a amiga. — Você corre muitos riscos. Basta olhar para seus olhos e todo sangue azul da cidade saberá exatamente o que você é.
Como se para irritá-la, Ingrid ergueu o olhar, aquelas íris douradas metálicas refletindo a luz. — As leis contra o verwulfen foram revogadas. E há fluxo suficiente de Manchester e dos Poços para mais um não ser notado.
— Isso não significa que você está segura. — Um sangue azul era o inimigo natural de um verwulfen. Mesmo a força de Ingrid não iria ajudá-la se houvesse o suficiente deles. — Prometa-me que não correrá mais riscos. Não chegue perto da cidade de novo - não mostre os olhos.
Os ombros de Ingrid incharam, um olhar de indignação ardente estreitando seus olhos. — Eu tenho tantos direitos quanto você, — ela rosnou baixinho. — Eu escondi esses olhos ensanguentados metade da minha vida, aqui embaixo no escuro. Agora que os sangues azuis assinaram uma trégua com os clãs verwulfen escandinavos, não preciso mais me esconder. — Sua expressão se tornou teimosa. — Eu não vou. Mata-me ficar presa aqui, nestes túneis sangrentos.
Rosalind apertou a mão de Ingrid entre as suas - uma das poucas que ousaria quando Ingrid estava com esse humor. A pele sob a palma da mão direita estava queimando. O vírus do lupinismo que fazia de Ingrid o que ela era fazia mais do que apenas torná-la super-humana forte. — Eu sei. — A voz de Rosalind se suavizou. — Só estou preocupada que a trégua ainda seja muito nova. Sangues azuis têm memória longa e alguns deles são tão antigos que ainda vivem no passado. — Ela apertou a mão da amiga. — Se você subir, leve vários dos homens. Ou Jack, mesmo.
Ingrid jogou o charuto no chão e o esmagou sob o calcanhar, sem expressão. O próprio vazio de seu rosto disse a Rosalind como ela estava chateada. Ingrid há muito havia aprendido a controlar seu temperamento por medo de machucar alguém, e seu controle se mostrava na linha rígida de seus ombros.
— Trégua?
Ingrid olhou para ela mal-humorada, então assentiu. Rosalind agarrou sua mão em um aperto áspero, apertando com seus dedos de ferro. As narinas de Ingrid dilataram-se, mas ela apertou de volta. Os segundos se arrastaram, então Ingrid a empurrou, xingando baixinho.
Rosalind bateu na parede e riu - um antigo ritual que nunca deixava de acalmar o temperamento selvagem de Ingrid. Ela flexionou os dedos de metal, sentindo o músculo agarrar seu antebraço onde os cabos de aço encontravam o tendão.
— Se você quebrou minha mão, terá que pagar por isso. — Rosalind avisou com um sorriso.
Ingrid revirou os olhos. — Vou sequestrar um mestre ferreiro.
A alegria de Rosalind desapareceu com a lembrança. Ela se afastou da parede. — Venha. É melhor irmos atrás desses mecanicistas. Vou precisar dormir um pouco esta noite se vou cuidar de meu senhor Falcão da Noite amanhã. — O pensamento apertou algo dentro dela - uma sensação de antecipação trêmula.
Ela estava tão distraída que nem percebeu o olhar penetrante que sua amiga lhe deu.
Capitulo 10
Rosalind bocejou ao entrar em seu escritório na guilda. Ela passou metade da noite procurando os mecanicistas perdidos. Não havia sinal deles em nenhum lugar nos ferreiros, nas fundições de ferro ou nos enclaves, onde poderiam estar trabalhando o aço. Havia muitos boatos sobre os massacres na cidade, no entanto.
Fechando a porta, ela piscou. Algo parecia fora do lugar.
A sensação de erro tornou-se imediatamente evidente. Sua mesa estava cheia de uma confusão de pastas, papéis abandonados pendurados precariamente no topo da pilha.
O culpado não estava à vista.
Ele tinha encontrado sua nota. Rosalind deu um passo à frente, examinando a cena de devastação. Na esteira de tudo o que ocorreu na noite anterior, ela se esqueceu completamente.
Talvez fosse um momento ruim para ela, embora não tivesse conseguido se conter na hora - aquele sentimento precipitado e impulsivo do qual nunca conseguia escapar.
O controle ajuda, ela disse a si mesma, olhando para a pilha enorme e tentando sufocar seu primeiro instinto, que foi a retaliação. Balfour a ensinara isso e, embora o odiasse, ela usaria as lições que ele lhe dera para dominar seus próprios impulsos.
Encontrar ordem neste caos, no entanto... Ela suspirou e alcançou o primeiro maço de papel. A escrita mal era legível, um tipo de escrita impaciente, como se Lynch não conseguisse pronunciar as palavras com a rapidez necessária.
Sra. Marberry,
Como você evidentemente tem tão pouco a fazer, encontrei alguns arquivos de casos antigos para você classificar. Alguns deles - os arquivos de 1863, eu acho - referem-se a uma série de envenenamentos estranhos na cidade. Quero esses arquivos na minha mesa ao meio-dia. Também há listas dos ferreiros da cidade. Quero que todos tenham referências cruzadas com os registros da guilda metalúrgica para ver quem é capaz de criar peças biomecânicas. Os registros da guilda estão... em algum lugar da pilha.
Atenciosamente,
Lynch
Obs: Raramente peço e, quando o faço, é totalmente intencional. Não preciso salvar.
Os lábios de Rosalind se separaram enquanto ela olhava para a enorme bagunça na frente dela e então se curvou em um raro sorriso. Se ele pensava que era o fim de tudo, ele estava errado. Estreitando os olhos, ela pegou um pedaço de papel e sua caneta.
O relógio na lareira marcou doze.
Rosalind largou o último dos arquivos e olhou para ele. Não houve sinal de Lynch durante toda a manhã, o que deveria ter sido uma coisa boa. Isso a deixou com tempo suficiente para pensar em seu próximo movimento em relação aos mecanicistas e à ausência contínua de Jeremy.
Jeremy. Devia haver algum sinal dele em algum lugar, alguma palavra. Ela não podia acreditar que ele havia morrido no bombardeio. Ela saberia. Não é? Ele praticamente tinha sido dela para criar.
Foi a primeira vez que ela considerou essa possibilidade. Todos os corpos foram apanhados, segundo os jornais. Mas e se os jornais não pudessem saber a contagem completa de corpos? E se, por algum motivo, a verdadeira contagem de corpos tivesse sido mantida em segredo?
Sua respiração se acelerou. O espartilho desconhecido apertou em torno de suas costelas como um punho enorme, lentamente apertando, e o calor subiu por trás de seus olhos. Não. Ela se afastou da mesa, movendo-se inconscientemente em direção à luz suave da tarde que entrava pela janela. Não pense nisso. Continue andando. Continue caçando ele. Você o encontrará.
Rosalind esfregou os nós dos dedos da mão falsa, sentindo a união suave de cada bola e encaixe através das luvas de cetim que se estendiam até os cotovelos. Às vezes doía, como se o membro ainda estivesse lá. Agora era uma dessas vezes.
Abaixo dela, o mundo ia e vinha, homenzinhos minúsculos em chapéus e casacos, as senhoras ostentando gorros sóbrios e vestidos escuros. Este não era o coração da cidade onde o Escalão vagava em todos os seus trajes de pavão. As pessoas abaixo dela eram sóbrias, de classe média, humanas. Seu tipo de pessoa. Aqueles pelos quais ela lutava. Aqueles pelos quais ela se sacrificou.
Para o ponto onde ela tinha esquecido seu irmão pouco impressionável, culpa sussurrou. Tão focada no plano do Ciclope que ela mal tinha tempo para ele, focada no que ela devia a Nate.
Por que ela não conseguia encontrá-lo? A dor em seu peito era tão forte que ela mal conseguia respirar.
Ação. Tome uma atitude.
A emoção paralisa um homem - ou mulher. Se você não pudesse trancar, o melhor seria se distrair com uma ação afirmativa.
Rosalind respirou lenta e continuamente. Lynch era a resposta. Ela precisava entrar em sua cabeça e descobrir o que ele sabia sobre Jeremy e o bombardeio da torre.
Não importasse o que ela tivesse que fazer para obter essa informação.
O observatório estava fresco, apesar do calor do sol de outono lá fora. Lynch foi até a parede norte, com seu mapa das estrelas e a manivela que abria o telhado para o céu. Agarrando a haste, ele a destrancou com um movimento rápido do dedo e puxou a alavanca que a abriria. O processo tinha sido trabalhoso, com manivela, até que Fitz deu uma olhada no sistema dez anos atrás e o mecanizou.
Provavelmente uma coisa boa, já que a ferida recém-costurada em seu lado deu um puxão de advertência quando ele soltou a alavanca. Embora ele tivesse protestado sua aptidão para seus homens, Doyle deu uma olhada nele e instruiu um dia de descanso. A frustração não controlava o sentimento que o percorria.
Seu olhar se estreitou nos béqueres do outro lado do cômodo e no gotejar constante da destilação. O observatório não era usado apenas para observar as estrelas; na verdade, com a poluição de Londres, ele raramente a usava mais para esse fim. Em vez disso, tornou-se parte laboratório, parte retiro. Era só aqui que ele conseguia se forçar a parar de pensar no trabalho.
A cúpula de latão se abriu com um ruído de aço, como uma flor revelando suas pétalas ao sol. Uma brisa fresca agitou a lapela de seu casaco e a luz do sol se espalhou pelo chão de pedra do observatório, cortando pouco antes de alcançá-lo. Lynch contornou suas bordas e olhou para o primeiro vidro e o líquido pálido e insípido dentro. Um veneno raro com o qual ele vinha trabalhando há meses, que poderia criar um transe catatônico, quase mortal.
Nenhum sinal de Mercúrio, seja nas ruas ou em seus sonhos. Não, a noite passada tinha sido um tormento criado por ela mesma, caracterizando a tentação que estava separando suas pastas e o mantendo fora de seus aposentos - sonhos febris cheios de todos os tipos de pecado.
A boca de Lynch se firmou e ele ligou o destilador que Fitz havia projetado para ele. O pequeno pacote de caldeira estremeceu com a vida, a água vibrando silenciosamente. Ele daria cinco minutos e então o vapor encheria este pequeno canto do observatório, destilando silenciosamente seus venenos.
Passos silenciosos chamaram sua atenção. Quase mole demais para ser qualquer um dos homens. Os primeiros traços leves de perfume de limão atingiram seu nariz.
Ainda não. Ele ainda não estava pronto. Ele resmungou uma maldição baixinho e se virou no momento em que a Sra. Marberry carregava uma bandeja para o laboratório. A luz do sol derramou sobre ela e ela olhou para cima, seus olhos se arregalando em uma tímida surpresa quando ela viu o telhado aberto. A expressão em seu rosto estava muda e ainda parecia mais real do que qualquer outra que ele tinha visto dela.
Genuína, ele pensou, e se perguntou por que parecia tão certo.
— Bom dia. — Ele disse, notando que o vestido cinza que ela usava caía como uma luva. Os botões de veludo preto corriam de sua garganta até a cintura, mas o tecido se curvava sobre seus quadris com força antes de derramar no chão. Sua agitação sugeria as curvas suaves de seu traseiro enquanto ela girava em um círculo lento, olhando para cima, e sua boca ficou seca na longa curva do pescoço revelada pela ação. O cabelo ruivo cobre solto em mechas de seu coque, acariciando sua garganta. À luz do sol, ela era uma criatura de fogo, sua pele de porcelana quase etérea.
Ele queria colocar as mãos naquele tecido, rasgá-lo até que a despisse. A cor lentamente foi drenada de sua visão e Lynch respirou fundo, desviando o olhar. Seu pulso batia pesadamente em seus ouvidos, uma batida latejante e surda que deveria servir como um aviso para qualquer sangue azul.
— Acredito que seja de tarde —, disse ela, colocando a bandeja em uma mesa bagunçada. — Doyle disse que você me pediu para trazer uma bandeja para o seu observatório. — A voz dela enfraqueceu quando ela evidentemente lhe deu as costas, examinando o conteúdo da sala com interesse. — Que diabo é...
Lynch ergueu os olhos no momento em que alcançava um curioso objeto pontiagudo em uma de suas bancadas de trabalho. — Não! — Ele retrucou, saltando através da sala em direção a ela.
Os braços dele se enlaçaram na cintura dela enquanto seu dedo enluvado roçava as pontas de aço nas costas do ouriço mecânico. Uma vez ativado, o aumento da pressão fazia com que cada coluna explodisse para fora.
Lynch acabou com uma braçada macia e quente de sarja e veludo que ofegou contra seu peito. Rosa pegou um punhado de sua gravata, uma expressão de aço, assustada em seu rosto antes que de repente se suavizasse.
— Meu Deus —, disse ela, prendendo a respiração. — Você me assustou.
Os dedos de sua mão esquerda estavam presos ao linho branco da gravata dele. Lynch pigarreou. — Você está me estrangulando.
Instantaneamente ela o deixou ir.
Lynch pegou sua mão direita e então parou. — Posso?
Ela considerou sua mão estendida duvidosamente, então lentamente colocou seus dedos dentro de seu alcance. — O que é isso? O que há de errado?
Ele inclinou a mão dela, alcançando as pontas das luvas. Rosalind respirou fundo e Lynch parou, seu olhar erguendo-se para o dela. — As pontas estão envenenadas com curare, um veneno muito perigoso da América do Sul. — Ele puxou lentamente a luva, deslizando-a sobre a mão dela. — Eu preciso ter certeza de que você não quebrou a pele.
Relutância fez sua espinha dorsal de aço. Ele podia sentir seu corpo tremendo sob a mão que acariciava suas costas enquanto ele puxava a luva.
— Eu mal toquei. — Ela sussurrou.
— Por favor.
A mão dela era pequena e pálida, a pele macia contra a dele. Lynch virou-a lentamente, examinando as pontas não marcadas das pontas dos dedos. O alívio se espalhou por seu peito, e seu polegar acariciou a depressão em sua palma. — Sem cortes.
— Eu poderia ter te dito isso. — O tremor sumiu de sua voz, mas algo em seu tom chamou sua atenção.
Ela estava observando o polegar dele com olhos semicerrados e cautelosos. Lynch parou o movimento, de repente ciente de como isso era íntimo. As veias azuis de seu pulso estavam abertas vulneravelmente na frente dele - uma tentação e uma zombaria. Como se ela estivesse ciente de onde seu olhar caiu, ela endureceu.
Ele a deixou ir. — Eu não tiro meu sangue diretamente da fonte. — Ele disse, colocando um passo entre eles.
Rosa levou a mão ao peito, encontrando seu olhar com olhos escuros esfumados. — Você não quer?
Ele balançou a cabeça e foi até a bandeja em sua mesa, o coração ainda trovejando em seus ouvidos. O mundo era cinza, mas de alguma forma a Sra. Marberry parecia uma luz brilhante dentro dele, o som de seu próprio batimento cardíaco acelerado chamando sua atenção como o predador que ele era.
Alguém - Doyle, sem dúvida - achou por bem provê-lo com vinho de sangue. Ele despejou uma dose e colocou de volta, tão ciente dela que quase podia sentir o olhar dela na nuca.
— Eu sou um renegado, Sra. Marberry. Eu compro meu sangue das fábricas de drenagem - ou o que resta delas. — Sangue que foi recolhido nas taxas de sangue que o Escalão impôs à população durante anos. Ele tapou lentamente a garrafa. — Eu não tenho o tipo de vida para sustentar um servo.
— Mas seguramente...
— Não —, ele respondeu com firmeza. — Eu nunca tirei da veia.
O silêncio caiu pesadamente. Lynch se recompôs e se virou para encará-la. Rosa ainda agarrava seu braço, olhando para ele com aquela curiosidade ardente que ele frequentemente via em seu olhar.
— Você quer saber por quê. — Ele disse, e o cinza sumiu de sua visão de repente.
A cor alagou suas bochechas. — Claro que não.
— Surpreendente —, observou ele, quase para si mesmo. — Você mostrou pouca contenção no passado, a menos que isso aconteceu com você mesma ou a menos que você esteja se referindo a mim diretamente como um sangue azul. — Ele viu o pequeno estremecimento que ela não podia esconder e se recusou a ceder à culpa. — Você não gosta de pensar em mim como um sangue azul. — Sem choque desta vez, mas ele sabia que tinha acertado em cheio. — Você me deixa muito curioso sobre sua história, Rosa. E suas tendências humanistas.
O sangue sumiu de seu rosto. — Minhas o quê?
Interessante. Ele pegou a taça que tinha usado e agarrou a garrafa. Sentando-se no sofá, ele engatilhou as botas na mesa e serviu-se de outra. Rosa ainda não tinha se movido, mas a tensão irradiava por seu corpo, como se ela estivesse preparada para fugir a qualquer momento. Sua mão nua agarrou a luva como se fosse uma tábua de salvação.
— Você leu os panfletos —, disse ele, com pena dela. — Você sabe o suficiente para me fazer pensar que você simpatiza com a causa humanista se nada mais. Muito poucos humanos entendem a cicuta e suas aplicações. Eu também suspeitaria de um incidente em seu passado envolvendo um sangue azul.
Alguma cor havia retornado a suas bochechas. — E por que você suspeitaria disso?
— A pistola —, ele respondeu sem rodeios. — Seu medo de mim e de meus homens, do jeito que você não gosta de ser tocada ou trancada em um pequeno espaço comigo. A única vez que você não teve medo de estar na carruagem junto contigo foi quando eu estava ferido e, portanto, em sua mente, vulnerável.
Ela olhou para ele como um animal encurralado. — Eu não tenho medo de você.
Lynch ergueu uma sobrancelha.
— Eu não tenho. — Ela estalou, seus punhos cerrados.
— Então você está desconfiada. E isso me faz suspeitar que você está com sangue azul.
Ela puxou a luva de volta como se fosse uma armadura. — Meu pai era um sangue azul, — ela disse a ele. — Minha mãe tinha sido sua serva, mas ela fugiu quando... quando meu irmão mais novo nasceu. Infelizmente, ela faleceu; as ruas não foram gentis com ela e tivemos que aprender a nos virar, o que deveria explicar a pistola. Velhos hábitos são difíceis de morrer. — Cílios escuros se fecharam sobre seus olhos. — Meu pai nos encontrou quando eu tinha dez anos, então eu tenho... um respeito saudável pelos sangues azuis e pelo que eles podem fazer. Isso é tudo.
A verdade talvez, mas longe de ser tudo. Se seu pai era de sangue azul, isso significava que ela tinha origens gentis. Quem? Ele afastou o pensamento; tempo para isso mais tarde. Ele poderia ser paciente, e tudo o que sabia sobre ela dizia que ele precisava ser.
Lynch deu um gole em seu vinho de sangue, sabendo que a visão dele a perturbava. — Seu pai machucou você-?
— Meu senhor, — ela respondeu friamente, — eu acredito que isto está completamente fora da conversa convencional. Você não tem direito...
— Para cutucar e bisbilhotar? Talvez eu compartilhe sua curiosidade, mas em vez de invadir cômodos trancados - cujo meio me interessa, aliás - estou perguntando a você.
O olhar que ela lançou para ele não era nada amigável. — Eu não arrombei; a porta não estava trancada.
Lynch se inclinou para frente, pousando a taça. — Bem, isso —, disse ele. — é uma mentira. Embora você faça isso tão bem, quase não consigo dizer. — Outro silêncio moderado. Ele gesticulou para o assento à sua frente. — Sente-se. Por que não dispensamos essa dança por aí?
— Tenho trabalho a fazer.
— Vou conceder-lhe generosamente uma hora de almoço.
Mesmo assim ela hesitou.
— E eu vou oferecer a você uma verdade em troca de uma —, disse ele, sabendo que a curiosidade era sua ruína. Ele estendeu a mão e ergueu a tampa da bandeja à sua frente, revelando uma série de pequenos sanduíches de pepino, um prato de bolo apimentado e um prato de biscoitos. Um bule de chá fumegava ao lado dele. — Além disso, eu não pedi esta comida para mim, obviamente. Tenho sido negligente em alimentá-la desde que você começou.
— Eu não me importo.
— Você quer dizer —, disse ele, olhando por cima da bandeja. — que não quer me contar suas verdades. — Ele observou o brilho rebelde em seus olhos. — Eu tenho quatrocentos e cinquenta Falcões da Noite, Sra. Marberry. Não me deixe muito curioso. E vou avisá-la de que você certamente está despertando meu interesse, embora eu duvide que essa seja sua intenção.
Ela se sentou, embora a maneira rígida como se empoleirou na frente dele indicasse seu humor. Lynch recostou-se na cadeira, as longas pernas esticadas à sua frente. Ele tinha dezenas de perguntas e respostas insuficientes sobre ela, e cada resposta evasiva apenas lhe dava mais perguntas.
— Coma.
— Eu não estou com fome.
Ele a observou. — Sim, você está.
— Você é sempre tão preciso, meu senhor?
— Tive muitos anos para aprender quando alguém está mentindo para mim. — Ele se inclinou e serviu o chá dela. — Limão, — ele murmurou. — E um açúcar, eu acredito?
A Sra. Marberry olhou para ele. — Você sabe como eu tomo meu chá.
— Eu observo tudo, Rosa. — O uso de seu nome foi inteiramente deliberado. Este não era um interrogatório - ainda não - mas havia certas perguntas sobre ela que ele precisava saber a resposta. Certas... dúvidas. E enquanto ele tinha tempo - descanso forçado, por assim dizer - ele poderia muito bem satisfazer sua curiosidade.
— Obrigada. — Ela murmurou, aceitando a xícara e o pires. Ela a colocou no colo, como se fosse uma barreira entre eles.
Bom. Ele a queria desconfortável. Ele queria que ela contasse seus segredos.
As mãos de Rosa envolveram a xícara de chá como se procurasse seu calor. — Posso ir primeiro, então? Já que eu já te dei muitas verdades.
Ele abriu os braços sobre as costas da cadeira e inclinou a cabeça. — Eu acredito que apenas algumas delas eram verdades, mas como um cavalheiro, vou permitir que minha senhora vá primeiro.
— Muito gentil. — Ela tomou um gole de chá, a consideração aquecendo seus olhos. — Você amava Annabelle. Você já amou outra mulher?
Um voleio direto. Ela estava tentando colocá-lo em desvantagem. Lynch sorriu preguiçosamente. — Não. Aprendi minha lição uma vez, Rosa. Não estou tão ansioso para repetir a experiência.
Seus olhos se estreitaram. — Mas é...
— Minha vez, — ele a cortou. — Você nunca negou minha sugestão de que você tem tendências humanistas. Acho isso muito curioso.
— Hmm. — Ela se refugiou em seu chá. — Não acredito que seja uma pergunta.
— Você tem simpatias humanistas?
A porcelana soou quando ela colocou a xícara na mesa e examinou a bandeja de sanduíches. — Eu sou humana, senhor. Claro que tenho tendências humanistas. — Seus olhos encontraram os dele, brilhando com uma emoção que ele não conseguia nomear. — Você não entenderia. Você tem direitos. Eu não. Cada homem e mulher na cidade se pergunta secretamente se não seria melhor se os humanistas tivessem sucesso.
— Eu tenho direitos, tenho? — Lynch meditou, meio para si mesmo. — Talvez eu tenha que explicar isso ao príncipe consorte na próxima vez que nos encontrarmos.
Rosa escolheu um sanduíche para seu prato, sua luva de cetim preta pairando sobre eles. — Eu não esqueço que você é um renegado. Mas você certamente não tem medo de ser molestado na rua por causa de seu sangue. — Seus dedos mergulharam e mergulharam, enchendo seu prato. — Eu não sou forte o suficiente para lutar contra um sangue azul. Eles poderiam me deixar sangrar até a morte na sarjeta e ninguém ousaria dizer nada. Então, sim, tenho simpatias humanistas.
Mordiscando seu sanduíche, ela parecia completamente à vontade. Mas ela colocou a luva de volta. Sentar para comer era considerado o único momento respeitável em que uma mulher podia mostrar seus pulsos para um sangue azul e ela não o fez.
Ele arquivou esse pensamento, perguntando-se por que ela pensava que estava segura com as luvas. Ela não considerou sua garganta nua, com a borda de renda preta que o escarnecia?
— Eu gostaria que você não me visse comer. — Ela murmurou, enxugando os lábios com um guardanapo.
Eu não estava. Ele baixou o olhar. Havia um tabuleiro de xadrez na mesa do abajur ao lado dele. Ele gesticulou para ele. — Você joga?
— Um pouco.
Ela estava brincando com ele. Lynch arrastou-o até a mesa entre eles e abriu um espaço. — Isso vai lhe dar uma sensação de privacidade. — E ele mesmo mais uma visão sobre o mistério de sua personagem. Ele rapidamente o montou, colocando as peças na placa lisa laqueada.
— Não é preto, senhor?
Ele olhou para as peças brancas à sua frente. — O branco se move primeiro. — Um piscar de seus dentes, talvez um sorriso. — Eu sou um homem. Eu ataco.
— Uma proposta muito gritante, — ela disparou de volta, observando enquanto ele colocava sua primeira peça. — Esse é um movimento agressivo - mas há outros que são mais agressivos. Acho que você está tentando me proteger de seu verdadeiro propósito. E isso — Ela o olhou com um sorrisinho perigoso. — é muito mais parecido com a sua natureza do que uma avaliação tão branda.
Lynch realmente sorriu. — Touché.
— Portanto, devo presumir que você tem outra estratégia em mente. — Respondeu ela, examinando o quadro com interesse. Sua delicada mãozinha pairou sobre o cavalo, depois voltou a ser um peão. Ela o colocou diretamente na frente dele. Um desafio para ver se ele morderia a isca.
Ele moveu seu cavaleiro para um local ameaçador, dando a ela um olhar suave. Ela queria atacar primeiro, mas se conteve. Interessante. — Sempre tenho outra estratégia.
— Mmm. — Ela puxou a cadeira para mais perto, inclinando-se sobre o tabuleiro com o queixo apoiado na mão. — Minha vez: o que você quis dizer quando disse ao duque de Bleight que o veria no átrio se ele se movesse contra você e contra os seus de novo?
— Ele sempre temeu minha ambição —, respondeu Lynch, observando seus dedos com ar de águia. Cavaleiro para o centro. — E ele está envelhecendo, sem nenhum herdeiro direto, exceto por um emaranhado de primos distantes. O pensamento de que eu poderia desafiá-lo para o ducado é a única coisa que pode mantê-lo sob controle.
— Você consideraria desafiá-lo?
— Eu sou um renegado, Rosa. — Ele ignorou o fato de que esta era uma segunda pergunta e moveu seu cavaleiro para neutralizá-la. — Não posso ter títulos ou qualquer posição na sociedade. Ele deveria perceber isso, mas está cego demais pelo medo de mim.
Ela deslizou um peão pelo tabuleiro como se o movimento fosse inconsequente. — E se ele quebrar o pacto, você vai desafiá-lo?
— Sim, — ele disse firmemente, capturando seu peão. Ela estava jogando de forma quase imprudente. Ele franziu a testa. Imprudentemente ou tentando acalmá-lo? — Eu disse a ele que faria; portanto, eu vou. Não posso voltar atrás com minha palavra, no entanto. Não me ganharia nada.
— Você não quebraria sua palavra, mesmo se pudesse, não é? — Ela perguntou, olhando para cima. A visão dos olhos dela o prendeu por um momento; eles brilhavam com uma emoção intensa que ele não conseguia nomear. — Eu admiro isso, meu senhor. Você não é o homem que eu esperava encontrar.
— Lynch, — ele corrigiu, segurando seu olhar. — Eu não sou um senhor.
— Mas você poderia ter sido. — Seu olhar se suavizou. — Você deve odiá-los pelo que tiraram de você.
Um pequeno sorriso tenso cruzou seus lábios. — Tiraram de mim? O que te faz pensar que a escolha não foi minha?
Ela derrubou sua própria torre com surpresa. — Eu-eu não entendo.
— Não? Você não ouviu a história? Você deve ser um dos poucos que não o ouviram. — Ele estendeu a mão e pegou a torre dela, seus dedos roçando sua luva. Rosa se encolheu, mas permitiu o toque. — Permita-me. — Ele murmurou.
Algum demônio se apoderou dele. Ele colocou a torre em pé e deslizou seu dedo mínimo ao redor dela, ligando-os. O cetim era delicioso e quente, tão macio contra sua pele. Suas pálpebras baixaram, pensando naquela pequena mão em outras partes de seu corpo, acariciando, acalmando. Suas luvas ainda estavam, mas nada mais enquanto ela se ajoelhava diante dele. Todo aquele lindo cabelo vermelho caindo por sua espinha nua, acariciando o topo de suas coxas. Sua boca ficou seca com o pensamento.
Seus olhares se encontraram.
Os lábios de Rosa se separaram sem fôlego, como se ela pudesse ver exatamente o que ele estava imaginando. O observatório ficou espesso com o silêncio, cada lento tique-taque do relógio sobre a lareira batendo alto no fundo. O ar entre eles estava carregado de tensão. Ele poderia tê-la deixado ir. Ele deveria, mas o minúsculo entrelaçamento de seus dedos parecia tão inócuo. Tão inocente.
Quase nada perigoso.
Ele olhou para baixo e acalmou o polegar nas costas dos nós dos dedos dela. Por que o fascínio pelas mãos dela? Talvez porque ela as escondia dele? Ele ficou tentado a tirar a luva e pressionar os lábios contra a pele macia de seu pulso, para sentir o impulso de seu pulso contra sua língua. O sangue latejava em suas têmporas. Pela primeira vez, ele entendeu por que as mãos de uma mulher sempre deveriam estar enluvadas.
Rosa respirou fundo, como se não tivesse respirado desde que ele a tocou. — Meu Senhor? — Um sussurro, tenso com a necessidade.
Maldição. Ele a soltou, cravando os dedos no músculo duro de sua coxa. Sua ereção se esticou contra o couro apertado de suas calças, os músculos de seu abdômen se contraíram. — Minha vez. — Disse ele com voz rouca.
Ele vasculhou as perguntas em sua mente. Por que você não gosta de ter suas mãos tocadas? O que seu pai fez com elas? Quem te ensinou a usar uma pistola? Todas essas perguntas sensatas para as quais ele queria respostas. Em vez disso, outra a prendeu.
— Você disse que não amava seu marido a princípio. Você já o amou?
Rosa puxou a mão de volta para o lado do corpo e pressionou as duas contra a saia. — Isso é muito ousado.
— Eu te falei sobre Annabelle, — ele respondeu. — E não vamos fingir que você é tímida ou reservada. Diga-me como ele era.
Silêncio. — Nathaniel era um bom homem. Ambicioso, mas gentil. A princípio achei isso um defeito, pois ele estava sempre procurando o que havia de bom nas pessoas, mesmo quando não havia. Tão diferente de mim. — Ela se acalmou. — Eu nunca percebi o que sentia por ele até que ele se foi.
Finalmente, alguma verdade dela. Embora isso o incomodasse de uma maneira que ele não esperava. Lynch olhou para o tabuleiro de xadrez e percebeu que havia perdido toda a estratégia - com apenas um toque de sua mão. Ele empurrou um cavaleiro para frente e se inclinou para trás.
— Agora me diga o que você quis dizer sobre a escolha de se tornar um renegado, sendo sua. — Disse ela. Uma cor quente manchava sua garganta. A pergunta sobre seu marido de alguma forma tocou um nervo.
— Eu não tinha terminado ainda. Eu respondi a três perguntas seguidas antes. Você me deve mais duas.
Uma explosão de raiva em seus olhos. Escondida rapidamente. — Muito bem.
— Há quanto tempo seu marido faleceu?
— Oito anos. — Ela disse muito rapidamente.
— E você nunca se casou de novo?
— Como você nunca amou de novo, nem eu. — Ela retrucou.
— Você sempre fica sozinha? — As palavras suaves foram um erro assim que ele as disse.
Rosa se acalmou. Ela olhou em sua direção, e apesar de si mesmo, sua mente traiçoeira escolheu repetir a imagem dela de joelhos, deslizando aquelas luvas de cetim até o músculo nu de suas coxas.
— São três. — Respondeu ela, com a língua umedecendo os lábios.
— Responda.
— Eu tenho meus irmãos.
— Isso não foi o que eu quis dizer.
Fúria e desejo vibraram através dela. A dicotomia de caráter o intrigou; a Sra. Marberry era calma e flertava em todas as situações, exceto agora, quando ele a empurrou. Ele queria empurrar mais, quebrar aquele controle frio e descobrir o quão longe as profundezas de sua paixão iam.
Tal movimento era perigoso, pois ele não era imune a ela. De modo nenhum. O fluxo de sangue por seu corpo só servia para lembrá-lo de que ela estava a poucos centímetros de distância, uma mesa frágil entre os dois. Seria simples chutar a mesa para o lado e arrastá-la para seus braços.
Se ele fosse um homem inferior.
Ela olhou para ele, o calor de seu olhar cortando-o como uma lâmina. — Claro que fico sozinha. Sou viúva, não virgem. — Desviando o olhar, ela agarrou seu cavalo e pegou sua torre. — A questão é —, disse ela, jogando a torre descuidadamente ao lado de suas peças capturadas. — se você quer?
— Eu sou um homem. Existem outros caminhos abertos para mim. — Respondeu ele, tentando examinar o tabuleiro para ver para onde a jogada tinha mudado.
— Verdade. — Ele podia sentir seu pequeno e quente olhar sobre ele. — Isso não é uma resposta, mas uma evasão. No qual você é bastante hábil, eu noto. Você não gosta de estar sob o microscópio, meu senhor?
Um leve aperto no músculo da mandíbula. Ele pegou um peão e começou a delinear uma campanha que faria com que ela terminasse rapidamente. — Estou muito ocupado para pensar em companhia feminina.
— Agora, isso —, ela murmurou. — É uma mentira.
Pegando sua torre, ela quebrou seu peão do tabuleiro. Como ele pretendia.
Seus olhos se encontraram.
— Você pensa em mim. — Ela desafiou, recostando-se na cadeira e rolando o peão capturado entre o cetim preto de seus dedos. Um leve sorriso curvou-se em seus lábios; qualquer vantagem que ele pensava ter tirado, ela evidentemente se recuperou. A ponta do peão roçou seus lábios, depois voltou, traçando aquele sorriso enigmático.
Lynch se obrigou a encolher os ombros. — Claro que eu penso. Você é uma bela mulher de certa idade, e sou forçado a passar muito tempo em sua companhia. Eu sou apenas um homem.
— Que declaração... apaixonada. — Seu sorriso se aprofundou, os olhos brilhando intensamente. — Você sabe o que eu penso às vezes quando você está por perto?
Perigo. Ele aceitou o desafio com um olhar frio. — O que?
Ela enrolou o peão na palma da mão, arrastando-o lentamente para baixo sobre a renda em sua garganta e através da sarja francesa cinza. Ele mergulhou em cada curva e seu olhar foi com ele. — Penso em todos esses botões que desejo desabotoar. — Sua pequena língua rosada saiu e molhou seus lábios. — Começando talvez com este? — O peão se foi; ele nem tinha notado o truque. Em vez disso, suas luvas encontraram o botão de veludo logo abaixo do queixo. Um movimento hábil e ele se abriu.
Nem mesmo um traço de pele foi revelado, mas de repente o observatório parecia muito pequeno. Ele engoliu em seco, o couro rangendo enquanto suas coxas se apertavam. O que diabos aconteceu? Como ele perdeu o controle de toda essa situação?
— Eu amo o quão ferozmente você se controla, — ela murmurou. Seu sorriso era inteiramente tímido, seu olhar vigilante. Ela se sentia segura agora, quando era ele quem estava evidentemente angustiado. — Outro botão, senhor?
Seus lábios se estreitaram e ele se recostou na cadeira. Amaldiçoe-a, mas ele não lamentaria. — Como quiser.
— Mmm, nem mesmo uma sugestão de preocupação. Você é muito bom, meu senhor. — O segundo botão cedeu. Desta vez, a pele cintilou, quente com o calor de seu corpo.
O cheiro de seu perfume ficou mais forte. Tudo nele queria empurrar a porra da mesa para fora do caminho e arrastá-la para seu colo. Uma veia em sua têmpora latejava. Mas ele não aprendeu o controle sobre todos esses anos para nada.
— É muito tentador —, disse ele. — Você gostaria de mais chá?
— Eu gostaria —, ela ronronou. — desfazer todos esses botões miseráveis.
— Se você começar este jogo, — ele a avisou. — eu vou terminar.
Seus olhares se encontraram. Duelaram. A maldita mulher sorriu. — Eu te desafio, senhor.
Inclinando-se para frente, ele serviu-lhe outra xícara de chá, qualquer coisa para manter sua mente e corpo ocupados. Os nós dos dedos dele se apertaram quando ele ouviu os dedos dela farfalhando em outro botão. Ele não se atreveu a erguer os olhos.
— Eu gostaria de desfazer todos os seus botões também, meu senhor...
Sua mão tremia e o chá derramou na bandeja de prata polida. Foda-se. Ele lançou-lhe um olhar sombrio e então congelou ao ver seu decote nu. Mal revelava mais do que seu vestido verde no outro dia, mas a maneira como ela estava sentada lá, desabotoando o vestido calmamente, quase o destruiu.
— Eu não tenho botões. — Ele respondeu bruscamente, amaldiçoando a rouquidão de sua voz.
— Não no seu casaco, não. — Seu olhar mergulhou, cílios escuros vibrando contra suas bochechas lisas. Inclinando-se para a frente, com o corpete aberto, ela pegou o bule dele e aceitou a xícara e o pires. — Mas então, eu não estava falando do seu casaco.
Os únicos botões que ele tinha estavam nas calças. Misericórdia. Seu pênis inchou e ele mudou para esconder a visão.
— Estou mais interessado no seu. — Ele sorriu tensamente, determinado a recuperar a vantagem. — Outro botão, minha querida?
Ela tomou um gole de chá, segurando o pires com elegância. — O que você vai me dar?
O que você quiser. — O que você gostaria?
Aqueles olhos castanhos vibrantes se aqueceram na vitória antes que ela olhasse para baixo com recato. — Diga-me, por que você escolheria se tornar um renegado?
— Você odeia não saber, não é?
— Minha aflição. — Ela sorriu, os dedos tremendo no botão seguinte. — Quanto você gostaria de ver mais?
— Muito.
— Então me responda.
Seus olhos semicerrados. — No ano em que fiz quinze anos, disse ao meu pai que não tinha intenções de duelar com Alistair. Ele estava furioso, mas não importa o quanto ele se enfurecesse, eu não desistia. Então ele forçou minha mão. Ele orquestrou para que, quando chegasse a hora dos ritos de sangue, o Conselho me oferecesse uma escolha: duelar com Alistair pelo direito de herdeiro ou ser negado os ritos.
Seus dedos ficaram tensos no botão, como se estivessem surpresos. — Você escolheu negar a si mesmo seu direito de primogenitura?
— Não valia a pena. Não se eu tivesse que matar meu primo. — Ele gesticulou. — Agora, eu acredito que respondi sua pergunta.
Seu olhar quente a devorou. A Sra. Marberry deu-lhe um sorriso tímido e lentamente, lentamente, desfez o próximo botão. — Satisfeito?
Seu corpo queimou. — Dificilmente.
Isso rendeu outro sorriso. Eles eram quase tão devastadores quanto sua maneira lenta de se despir.
— Agora — Ela murmurou. — sua vez.
Ele olhou para ela. — Achei que você não gostasse de ser questionada.
— Eu pretendo jogar limpo, senhor.
— Eu duvido disso.
Outro pequeno sorriso enigmático que fez seu pênis apertar. Ela tomou um gole de chá.
Por onde começar? Inferno, o que ele perguntou a ela até agora? Ele passou a mão pelo cabelo. — Há quanto tempo você foi casada com seu marido?
— Cinco meses. — As sombras piscaram em seu olhar, então desapareceram. Ela olhou para ele, seu olhar cortando através dele. — Um botão, meu senhor. Essa é a desistência, não é?
Demorou mais alguns instantes do que deveria para entender o que ela queria dizer. O calor atingiu suas bochechas e ele a prendeu impiedosamente com seu olhar.
Rosa tomou um gole de chá. Paciente. Esperando. Praticamente desafiando-o.
Se ele quisesse saber mais, ele tinha que ser indulgente com ela - mesmo que ser indulgente com ela fosse o pior erro que ele poderia cometer.
Eu posso controlar isso. Ele deu a ela um breve aceno de cabeça, reconhecendo sua vitória, então baixou as mãos para o botão de cima de suas calças. Seu casaco era comprido o suficiente para se cobrir decentemente, embora qualquer senso de decência já houvesse deixado este observatório.
No entanto, deslizar o botão livre pareceu o primeiro passo para o laço do carrasco. Sua visão estava nadando novamente, mergulhando entre tons de cinza e cores, seu corpo inteiro tenso. Ele agarrou a garrafa e serviu-se de mais vinho de sangue - qualquer coisa para aliviar a pressão.
— Como você se tornou um sangue azul então, se os ritos foram negados? — Ela perguntou.
— Foi ideia do Alistair. Ele disse que se sentia culpado pelo que havia acontecido comigo e sugeriu um plano. Ele iria me infectar com seu sangue e nós dois seríamos sangue azul, livres das influências de nosso pai.
— Uma curiosa escolha de palavras, — ela murmurou. — 'Ele disse que se sentia culpado... '
— Sempre me perguntei —, respondeu ele. — Ir contra o decreto do Conselho era tolice e eu sabia disso.
— Mas?
— Annabelle veio até mim naquela noite professando seus... seus sentimentos por mim. Poderíamos ficar juntos, mas apenas se eu fosse um sangue azul. Seu pai nunca permitiria que ela firmasse um contrato de consorte com um humano.
— Você acha que eles estavam trabalhando juntos?
— Acho que o duque queria ter certeza de que eu nunca poderia derrubar seu filho —, respondeu ele. — O que aconteceu comigo era incomum, e havia membros do Conselho questionando isso. Se eu fosse chamado de renegado, no entanto, minhas chances seriam perdidas para sempre.
Rosa tomou um gole de chá, pensativa. — Então Annabelle se torna duquesa, Alistair continua herdeiro - e por todos os meios agrada a um pai que suspeito ter sido bastante enérgico - e o duque consegue tudo o que deseja. Eles prenderam você de maneira muito organizada.
— Sim, eu suspeito que sim.
Rosa franziu a testa. — Você parece muito calmo com tudo isso. Eu ficaria furiosa.
— Que bem teria feito? Eu gostava muito de Annabelle, não importa se ela mentiu para mim ou não. Eu não queria machucá-la, nem Alistair. Você está certa em sua avaliação do pai dele. Na verdade, Alistair pode ter recebido o que merecia - ele ainda tinha que viver com aquele monstro.
Seu olhar caiu, sua carranca se aprofundando. — Você é uma pessoa melhor do que eu.
— Eu vi vingança, Rosa. Muitas vezes e de tantas maneiras diferentes. Tirei os corpos do Tâmisa e prendi esposas ou maridos histéricos. A vingança é um lugar frio e solitário e consome uma pessoa até que não haja mais nada além de amargura e cinzas. E sempre afeta muito mais do que as pessoas envolvidas. — Ele coçou o queixo. — Acho que nunca fiquei furioso. Machucado, sim. Frustrado e com medo. Vou até admitir o estranho pensamento vingativo contra o duque, embora nunca tenha tomado nenhuma atitude a respeito. — Ele respirou fundo. — Meu pai era um homem brutal, e o mundo em que eu caminhava era uma fossa de ambição e jogos. Quando saí da Torre de Marfim, apenas com as roupas do corpo e um plano rudimentar do que faria, me senti livre, pela primeira vez na vida. Eu poderia ser o homem que queria ser, e poderia lutar contra eles, encontrar algum senso de justiça no mundo.
Rosa olhou para ele, a xícara de chá esquecida em suas mãos.
— E agora —, disse ele, recostando-se na cadeira. — acredito que você me deve alguns botões. Três para ser mais preciso, pois você fez três perguntas diretas. — Ele sorriu maliciosamente, deixando seu olhar cair para a polegada da camisa que o chamava. — Você vai ficar seminua se continuar assim.
Capitulo 11
— Eu mudei de ideia. Eu não quero botões. Eu quero ganchos.
— Ganchos? — Seu espartilho. As mãos de Rosalind pararam.
— Ganchos. — Ele repetiu com firmeza.
— Jogando com apostas altas agora, senhor. — As palavras ficaram sem fôlego. Ela não podia acreditar que ele estava fazendo isso. O que diabos ela estava pensando, para chamá-lo de frio?
E por que diabos ela começou isso?
Se você começar este jogo... eu o terminarei. Um arrepio a percorreu. Ela nunca se sentiu tão animada em sua vida.
O que são você está fazendo? Ele é um sangue azul. Mas seus pensamentos sobre o que constituía um inimigo estavam começando a se fragmentar. Ela não podia olhar para este homem, com seus raros sorrisos e suas fomes friamente controladas, e chamá-lo como ela chamava os outros. Lynch não era nada parecido com o Escalão.
Como se por decisão própria, seus dedos deslizaram o primeiro gancho em seu espartilho. Depois o segundo e o terceiro. A renda se abriu com um farfalhar suave; era o mais pálido dos rosas, tão cremoso que era quase branco. A carne branca e lisa inchou na parte superior, tentando os ganchos tensos a se separarem. Ela percorreu um caminho perigoso, mas sua precipitação foi avassaladora. Ela não conseguia controlar isso. Ela o queria tão desesperadamente, suas coxas estavam molhadas com isso.
— Minha vez —, disse ele, mudando de posição na cadeira. — Como você conheceu o seu marido?
O equivalente a um jato de água fria no rosto. A culpa era um método maravilhoso de controlar o lado mais vil de sua natureza. — Nathaniel trabalhou para o London Standard. Ele me entrevistou para um artigo sobre um dos meus empregadores anteriores e me convidou para jantar. Casamo-nos uma semana depois com licença especial.
— Que imprudente da sua parte.
— Por que você está tão fascinado com meu marido?
Ele não poderia responder a isso; Rosalind viu a verdade em seus olhos e seu coração afundou. Lynch a queria. E não apenas em sua cama. Ele estava começando a se suavizar em relação a ela, suas emoções engajadas. Deveria ter sido um momento triunfante, mas em vez disso ela congelou, olhando para ele sem fôlego.
Pois ela própria havia esquecido uma das regras fundamentais da manipulação. Nunca se apaixone pelo seu oponente. Ela estava na beira do precipício; ela não podia ficar fria contra o ataque disso.
Sim eu posso. Eu vou. Seus lábios se comprimiram.
— Outro botão, eu acredito. — Disse Lynch, tirando-a do estado de choque. Suas mãos caíram, e ela olhou avidamente enquanto o segundo botão de sua calça se emancipava.
Concentre-se. Ela estava aqui por uma razão maldita.
— Minha vez. — Ela disse, respirando fundo o suficiente para seus seios arfarem. Aqueles olhos cinza fixos nela.
— De fato.
Rosalind lambeu os lábios. — Você disse que estava em busca de humanistas. Você já pegou algum, senhor?
Embora ele estivesse olhando para seus seios, seus olhos saltaram para os dela e ela se perguntou se tinha dado aquele passo longe demais. Este não era o tipo de homem que se perdia tão completamente olhando para ela. Ele pode esquecer de si mesmo, mas ele não era tolo.
— Um ou dois. — Disse ele.
Amaldiçoe-o. Ela não podia pedir mais, não com ele olhando para ela assim. Mas pelo menos a resposta deu esperança a ela. Convocando um sorriso, ela soltou outro gancho. Seus mamilos tensos contra o espartilho apertado, a parte superior escura deles aparecendo sobre o babado de renda.
Seus olhos se encontraram. Ele engoliu em seco. Forte.
— Sua vez. — Ela solicitou.
— Não consigo pensar em nada para perguntar. — Esfregando a mão sobre a boca, ele se mexeu na cadeira novamente. — Qual é a sua cor favorita?
Rosalind sorriu, incapaz de desviar os olhos dos dele. — No momento, acredito que esteja cinza. — Seus lábios se separaram... Ela ousaria? Sim. — Estou tendo problemas com meus ganchos, senhor. Você me ajudaria?
Lynch ficou imóvel, seus olhos suavizando perigosamente. — Rosa. — Ele avisou.
— Você disse que iria terminar. — Ela sussurrou.
Um longo e prolongado momento em que ela pensou que o empurrou longe demais. Então ele explodiu, empurrando a pequena mesa com suas peças de xadrez para fora do caminho e vindo para ela.
Peões preto e branco espalharam-se por toda parte e Rosalind respirou fundo quando ele separou seus joelhos dos dele, ajoelhando-se na beirada da cadeira. Seu joelho prendeu sua saia, prendendo-a. — Eu acho que você quer que eu termine, — ele disse, segurando sua mandíbula e inclinando seu rosto para ele. — Você é um demônio de mulher.
— O gancho, senhor. — Ela sussurrou inocentemente.
— Então, eu vi. — Seu olhar caiu, sua mão espalhada deslizando sobre a curva de seu seio. — Uma tarefa tão difícil. Eu entendo porque você não conseguiu fazer isso sozinha. — Um movimento hábil de seus dedos e o espartilho se abriu.
Seu mamilo deslizou livre da borda de renda. Lynch respirou fundo. Rosalind não conseguia se mover. O joelho entre os dela era perigosamente atraente.
— Faça-me uma pergunta. — Ele exigiu.
Ela ergueu os olhos. — Você sonha comigo?
— Sim. — Ele assobiou com os dentes cerrados. Suas mãos caíram, mas as dela foram mais rápidas.
Ela segurou seu pulso. — Permita-me.
As mãos de Lynch caíram para os lados. — Eu sonho com você com suas luvas nas minhas coxas. — A pulsação em sua têmpora latejava. — Suas malditas luvas. Não consigo parar de pensar nelas.
O calor se espalhou por ela. Humidade. Rosalind deslizou as palmas das mãos levemente por suas coxas, olhando para ele com ousadia. A protuberância em suas calças estava quente e dura. Ela não pôde impedir seus dedos de roçarem sobre ele, então novamente, acariciando com mais força, sua mão direita apertando seu comprimento pesado.
— Minhas desculpas, — ela respirou. — Não consigo encontrar o botão.
Lynch enfiou a mão em seu cabelo com um silvo agudo. — Eu deveria levar meu cinto para você por isso. — Ele a jogou de volta na cadeira, seu corpo empurrando o dela nas almofadas macias. Seus olhos estavam negros de novo, mas ela não estava com medo. Não dessa vez. Ela sabia exatamente que tipo de fome despertou nele.
Ela estava ganhando.
— Você gostaria disso, meu senhor? — Ela arqueou as costas, deslizando as mãos por seu peito. — Você gostaria que eu me curvasse sobre a sua mesa e removesse minhas calçolas?
Ele gemeu, inclinando a cabeça para trás bruscamente. — Foda-se. — Seus outros dedos traçaram seus lábios. — Você vai pagar por isso. Eu quero beijar você, Rosa.
— Então faça isso. — Ela sussurrou, seu hálito quente em sua boca.
Aqueles olhos falcões encontraram os dela, seus dedos cruéis segurando seu queixo. — Eu não deveria.
Olhos perigosos. Fazia tanto tempo que ela o achava frio e impiedoso? Rosalind respirou fundo. Como ela estava errada. Havia tanto calor nele, tanta paixão.
— Faça isso. — Ela sussurrou.
Seu olhar caiu para os lábios dela. — Não em sua boquinha bonita. — Levantando o joelho, ele empurrou a saia dela para cima. Capturando sua mão direita, ele a deslizou para baixo, entre suas pernas. — Abra suas calçolas.
O choque a atravessou. Então o calor, agitando-se entre suas coxas, molhando o linho entre as pernas. Ela quase morreu ao pensar no que ele pretendia. — Meu Senhor! — Ela sussurrou.
— Não é tão divertido quando o sapato está no outro pé. Eu disse que iria terminar. Agora faça isso.
A mão dele deslizou sobre a dela, pressionando os dedos contra as calçolas úmidas. Um arrepio percorreu sua espinha e Rosalind engasgou, a sensação disparou por todo o seu corpo.
A frieza de sua palma era áspera e exigente. As coxas de Rosalind se contraíram, presas por seu joelho. Ela mal podia ver suas mãos, suas saias espumosas caindo sobre eles, mas ela podia sentir, sentir a pressão de seus dedos, guiando-os para uma parte secreta de si mesma.
— Você me surpreende. — Ela sussurrou, sua boca a apenas alguns centímetros da dele. Uma parte desesperada dela queria pressionar seus lábios nos dele, lamber os dele, cativá-lo. Mas ela segurou. Era um novo jogo, com novas regras, e o arrepio de deleite ao pensar em seu domínio quase a destruiu.
Fechando os olhos, ela abriu a calçola, o ar frio agitando-se contra sua carne sensível. — Está feito.
— É isso? — Os lábios de Lynch roçaram os dela, leves como uma pena.
Ela quase gritou então, quase alcançando-o, mas sua boca se arrastou mais para baixo, seus lábios dançando sobre a renda de seu vestido, tornando-o áspero contra sua pele - lançando-se sobre seu mamilo. Em seguida, mais abaixo, roçando a seda lisa de seu espartilho, provando-a, tocando-a, como se fosse pele nua e não roupa. Ela estremeceu, desejando estar nua, desejando que fosse a boca dele em seu corpo, causando um tormento tão delicioso.
A mão de Lynch cerrou os punhos nas saias derramadas, puxando-as para cima e Rosalind perdeu o fôlego com um suspiro. Ela não podia acreditar que isso estava acontecendo. — Oh Deus. — Ela sussurrou, seus dedos de ferro cavando na almofada macia sob seu traseiro.
Uma batida soou na porta.
Não! Rosalind ergueu a cabeça, tentando recuperar o fôlego. Lynch se acalmou, suas saias quase a desnudando completamente ao seu olhar.
— Diga a eles para irem embora. — Ela sussurrou.
Ele olhou para ela então, desejo áspero queimando em seus olhos cinzentos. Engolindo visivelmente, ele olhou por cima do ombro, o punho cerrando e abrindo em suas saias. — Quem diabos é? — Ele chamou, em um tom de voz que ameaçava consequências terríveis para a aldrava.
— Garrett, senhor. — Uma tosse fraca. — Eu entendo que você está ocupado, mas há um rapaz no portão da frente, insistindo para falar com você. Um de seus garotos do jogo, senhor.
— Foda-se, — ele murmurou, seu olhar travando no dela. — Foda-se. — Ele ergueu a voz. — Qual?
— Meriwether.
Lynch fechou os olhos, um músculo em sua mandíbula saltou. — Eu tenho que ir. — Sua voz era áspera e baixa. — Não vá a lugar nenhum.
Rosalind segurou seu pulso enquanto ele retirava sua mão. — Fique —, ela sussurrou. — Deixe Garrett lidar com isso.
Ele lançou-lhe um olhar desamparado, e ela percebeu então o quanto ele queria ficar. — Eu não posso. — Afinando os lábios, ele empurrou a saia dela para baixo. — Estou esperando há mais de um mês por esta mensagem. — Capturando o rosto dela, ele o inclinou impiedosamente em direção ao seu. — Fique aqui. Temos negócios inacabados.
— Eu posso terminar sozinha. — Disse ela, endireitando-se. Suas coxas tremiam com desejo frustrado.
Lynch estava se levantando, mas ao ouvir suas palavras ele a agarrou pelo pulso e a puxou para perto de si. — Não, — ele disse. Um beijo rápido e brutal, então ele se afastou dela. — Espere por mim.
Rosalind caiu para trás contra a poltrona enquanto ele caminhava para a porta, puxando os botões da calça no lugar. Ele parecia quase impassível, enquanto ela se sentava em uma poça de saias e o balanço escancarado de seu corpete, seu corpo inteiro aparentemente derretido.
Ele a destruiu. Arrancou todo o senso de controle dela com um movimento. Um homem perigoso, pois ela o desejava com mais desespero.
Oh Deus, o que ela fez? Ela precisava recuperar seu controle e desesperadamente também, antes que ela perdesse todo o sentido de seu propósito aqui.
— Verifique. — Ela sussurrou.
O jogo estava em andamento.
— O que diabos você está fazendo fora do seu leito de doente? — Lynch exigiu enquanto fechava a porta atrás de si.
O rosto de Garrett estava pálido e quase pálido. Aqueles olhos perceptivos encontraram os dele. — Fitz diz que preciso andar pelo prédio pelo menos três vezes por dia. Então, me ofereci para entregar a mensagem.
— Você está horrível. É melhor você voltar para a cama.
Garrett fez uma careta. — Perry está me deixando louco, afofando meus malditos travesseiros e se oferecendo para buscar algo para mim a cada segundo.
— Ela quase perdeu você. Isso a assustou. — Isso o assustou, embora ele não falasse sobre isso. Os homens geralmente não.
Garrett caminhou ao lado dele, ou tentou, sua respiração saindo áspera. — Provavelmente foi bom ter sido eu, senhor.
Lynch parou no meio do caminho e lançou um olhar furioso para o segundo. — Por quê?
Garrett arqueou uma sobrancelha. — Você cheira a limão verbena. Se você quiser um conselho, eu lavaria antes de você ver mais alguém. A menos que eu assuma errado; a menos que você não queira manter isso em segredo.
Sua mandíbula cerrou. — Vou seguir seu conselho então. Mas diga uma palavra sobre isso e você estará de volta à enfermaria.
A boca de Garrett se curvou em um sorriso lento. — Já era hora de você ter uma mulher. — Uma sugestão de seu antigo humor veio à tona. — Além disso, se ela se irritar com você, talvez você desanime o resto de nós.
— Eu não presumiria isso.
— Veremos, senhor.
Capitulo 12
Lynch avistou sua presa quando ela saiu da joalheria, segurando um pacote nas mãos enluvadas. Seus passos rápidos balançavam suas saias cor de vinho ao redor de seus tornozelos enquanto ela se lançava no fluxo de pedestres. Uma jovem mãe empurrando seu carrinho de bebê ergueu os olhos, viu os olhos da mulher e puxou o filho para fora do caminho.
Ela estava sozinha. Perfeito.
— Obrigado. — Ele murmurou, passando uma nota de cinco libras para Meriwether, o menino que pagou para cuidar da casa da Sra. Carver. Afastando-se da esquina do prédio em que estava encostado, ele cortou diretamente no tráfego que se aproximava. Caminhando na frente de um ônibus, ele ignorou a buzina estridente e a maldição enquanto um riquixá pneumático tentava desviar para o lado. A mulher à sua frente olhou por cima do ombro assim que ele alcançou o meio-fio e Lynch se escondeu atrás de um cavalheiro alto de cartola.
Ele a perseguiu por várias ruas, de olho em seu marido. A Sra. Carver pode ser perigosa, mas a um metro e meio de altura ela era administrável. Seu marido, entretanto, era outro assunto. Este foi o mais perto que Lynch chegou de colocar as mãos na Sra. Carver desde sua transformação, um mês atrás.
Não ajudava em nada o fato de ela ter sido protegida de Barrons. Enfrentar o recém-nomeado embaixador verwulfen era uma coisa; indo contra Barrons outra. Mas ela estava na torre no dia em que o duque de Lannister foi assassinado e a bomba explodiu, assim como seu marido. Dos dois, ele sabia qual era o mais provável para falar com ele sobre a identidade de Mercúrio.
Uma carruagem a vapor estava parada no meio-fio à frente com o distintivo símbolo de lobo rosnando do novo embaixador. Um cocheiro permaneceu ao lado dele, as mãos em concha ao redor de um charuto enquanto o acendia. Elevando-se sobre a multidão, seu cabelo loiro roçando a gola de seu grande casaco, ele trazia leves traços de sua ancestralidade nórdica. Enquanto ele lentamente sacudia a chama de seu fósforo, seus olhos dourados observavam a multidão com um olhar faminto e frio. Um dos verwulfen recém-infectado, sem dúvida. Tentando se encaixar novamente na sociedade e fracassando mal.
Lynch avançou. Se a Sra. Carver alcançasse a carruagem, ele não teria chance. E o tempo estava se esgotando para ele.
Evitando os curiosos, ele a agarrou pelo braço, seus dedos afundando no veludo macio de seu casaco. O músculo de seu braço se contraiu e ele se abaixou antes que ela pudesse reagir.
— Ande comigo —, ele murmurou. Seu olhar encontrou o do cocheiro por cima da cabeça dela e o homem enrijeceu. — Eu não quero te fazer mal.
Lena Carver lançou-lhe um olhar de cílios abaixados, o anel de bronze ao redor dos olhos refletindo a luz do sol. O olhar levemente sedutor estava totalmente em desacordo com a tensão que corria por seu corpo frágil. — Você não gostaria, Sir Jasper. Max veio recentemente dos Poços de Manchester. Ele ganhava a vida matando homens no ringue.
— Sorria para ele então. Antes que eu seja forçado a abreviar suas circunstâncias recém-libertadas.
Ela considerou sua súplica, então agraciou o cocheiro corpulento com um sorriso que teria abalado o juízo de qualquer homem normal. Deslizando a mão sobre a de Lynch, ela fez como se eles fossem qualquer outro casal, para dar um passeio.
Os ombros do guarda-costas relaxaram, mas seus olhos nunca os deixaram. Lynch a virou por uma rua lateral, em direção a um parque.
— Meu marido não aprovará isso —, disse ela. — Ele é... protetor.
— Ele é verwulfen —, respondeu Lynch, o que significava tudo. Ele a soltou quando chegaram ao parque. Recostando-se nos trilhos de ferro da cerca do parque, ele a encarou. — Eu tenho perguntas para você.
Aqueles lindos olhos castanhos com seu brilho recém-cunhado se arregalaram ligeiramente. — Questões? Receio saber pouco sobre o trabalho do meu marido...
Ele a ignorou. — Perguntas sobre o pacote em suas mãos, talvez? Sem dúvida, se eu olhar, vou encontrar meia dúzia de anéis de rubi cheios de cicuta.
O sorriso sumiu de seu rosto como se nunca tivesse existido. — Não sei do que você está falando.
— E eu não me importo se você está carregando anéis de veneno. — De certa forma, ele aprovava. A Sra. Carver já havia sido uma debutante e, como tal, presa dos sangues azuis que rondavam o Escalão. Dizia-se que certos membros da geração mais jovem achavam antiquado tomar uma debutante como serva, quando podiam tirar seu sangue à força. Apenas boatos, é claro, e Lynch não tivera tempo de investigar, mas se tivesse, a erupção repentina de anéis de veneno nos dedos de cada debutante era algo que ele estava disposto a fechar os olhos.
— Em primeiro lugar, quero saber se há alguma mulher verwulfen em Londres —, disse ele. — Não há nenhuma listada no registro. Eu sei. Meus homens verificaram.
A ansiedade da Sra. Carver diminuiu um pouco, como ele pretendia. — Apenas eu. O resto voltou para a Escandinávia assim que o tratado foi assinado.
Então de onde veio a companheira verwulfen de Mercúrio?
— Algo mais? — Ela perguntou, agitando seus cílios.
— Há um mês, o duque de Lannister foi esfaqueado, baleado e parcialmente decapitado na Torre de Marfim —, afirmou ele, observando sua reação. Sua repentina palidez tirou todo o calor de suas belas feições. — Eu não me importo com quem o esfaqueou ou tentou arrancar sua cabeça - e veja bem, eu tenho suspeitas, considerando a trilha de cheiro deixada na sala - estou interessado na mulher que atirou nele.
— Receio não saber nada sobre isso. — Disse ela rapidamente.
— Eu poderia fazer da minha conta descobrir quem decapitou o duque. — Ele respondeu. A Sra. Carver, ele suspeitava, correria direto para a casa do marido se ele fizesse uma ameaça contra ela. Mas se a ameaça fosse contra seu marido... Era tudo simplesmente uma questão de aplicar os pontos de pressão certos.
Claro, ele nunca poderia cumprir a ameaça. A senhora Carver tinha sido protegida por Barrons e ele tinha feito um juramento ao homem de que não revelaria quem tinha estado na habitação nesse dia.
Ela não precisava saber disso, no entanto.
Os lábios da Sra. Carver se estreitaram. — Por que você quer saber?
Relaxando um pouco, ele ofereceu-lhe o braço enquanto dois cavalheiros idosos caminhavam em sua direção. A Sra. Carver o pegou, o calor não natural de sua pele permeando até mesmo através de suas luvas. Ele a conduziu ao longo do caminho, contornando um par de esquilos que tagarelavam perto de um banco de parque. — A explosão durante a assinatura do tratado foi um ataque de um grupo chamado humanistas. — A falta de surpresa em seu rosto fez sua mente disparar, mas ele não achou que ela estivesse envolvida. Will Carver não teria permitido isso. Mesmo assim... Pensamentos para depois. — Eles são liderados por uma mulher que se chama Mercúrio. Ela está sempre mascarada e sua identidade é desconhecida. Eu preciso encontrá-la.
— Para qual propósito?
— O príncipe consorte me incumbiu de entregar o revolucionário a ele.
— Onde ela será executada.
— O bombardeio não pode ficar impune, Sra. Carver.
Mordiscando o lábio, ela fez uma pausa. — E se ela não tivesse nada a ver com o bombardeio?
Interessante. Exatamente a mesma declaração que sua nêmesis mascarada fizera nos enclaves. O olhar de Lynch se fixou nela. — Por que você diria uma coisa dessas?
— Tendo em mente que tudo isso é suposição —, respondeu ela, — talvez você esteja procurando o grupo errado? Talvez existam humanistas que romperam com a revolução e decidiram fazer justiça com as próprias mãos? Suponha que ela tente impedi-los?
Ele ficou sem fôlego. — Suposição perigosa, Sra. Carver.
— Prender a esposa do embaixador de Verwulfen certamente aumentará a tensão entre a Escandinávia e a Grã-Bretanha. Estou tentando cooperar o máximo que posso.
Ela conhecia bem as regras da sociedade. O príncipe consorte não suportaria ver seu novo tratado destruído por Lynch. Ele queria Mercúrio, mas havia alguns preços que ele não pagaria.
— Você está tentando proteger alguém. A questão interessante é quem. E porquê.
— Você sabe quem —, respondeu ela. — Estou preparada para revelar certas informações confidenciais, desde que tenha sua palavra de não agir contra mim ou meu marido.
— Isso depende da informação revelada.
— Então não estou inclinada a ser amável.
Lynch deu um passo à frente dela. — Eu gosto do seu marido. Não me force a fazer algo que não desejo.
Sra. Carver olhou para ele por um longo momento, procurando seu olhar. — Você cheira a desespero, senhor —, disse ela finalmente. — Por quê?
Lynch respirou fundo, tentando conter a tensão que irradiava dele. Se a Sra. Carver - recentemente uma verwulfen - podia reconhecer sua angústia, então isso devia ser evidente. — Se eu não colocar minhas mãos em Mercúrio logo, temo que o príncipe consorte recorrerá a medidas desesperadas.
— Você não acha que ele enviaria os casacos de metal com força?
— Eu não sei. — Palavras contundentes, mas verdadeiras. — Ele não está agindo de maneira totalmente racional no momento.
A Sra. Carver suspirou. — Se eu soubesse de alguma coisa, poderia suspeitar que o que você estava procurando pode ser encontrado no Subterrâneo. — Ela ergueu os olhos. — Não posso dizer mais do que isso. Eu não vou.
Lynch agarrou seu braço quando ela se virou para ir embora, o desespero o levando. — Você sabe quem ela é.
— Ela não é minha amiga, embora eu não a deseje mal. — Os dedos da Sra. Carver se curvaram sobre os dele, a força de seu aperto desmentindo sua pequena estatura. — Já disse o que posso, Sir Jasper. Embora eu tema que você esteja procurando a pessoa errada. Você deveria estar caçando um grupo de mecanicistas fugitivos.
— A mulher —, ele retrucou. — Quem é ela? Dê-me algo, qualquer coisa... Um nome?
A Sra. Carver soltou um de seus dedos. O brilho repentino de bronze em seus olhos o advertiu. — Lamento terrivelmente sua situação, senhor. Mas dei minha palavra e não a trairei. Isso é tudo que posso te dizer. Agora tire suas mãos de mim antes que eu seja forçada a gritar para Max.
Lynch olhou através dela por mais um segundo, então a deixou ir. Ela cambaleou ligeiramente, lançou-lhe um olhar breve e depois endireitou a saia.
— A guerra está chegando, Sra. Carver.
— A guerra já está aqui. — Ela respondeu sem rodeios, então se virou em direção ao portão do parque e saiu correndo.
Capitulo 13
Rosalind caminhava pelo corredor, cerrando e abrindo os punhos. Quanto mais ela esperava por Lynch, mais ela começava a se questionar. No calor do momento, tudo o que ela queria era ele. Foi só depois, conforme seu corpo esfriou lentamente, que ela percebeu como os eventos se tornaram perigosos.
Perdendo a cabeça assim, perdendo o controle do jogo... Se ela não tomasse cuidado, ela se encontraria em águas profundas.
Ela tinha que fugir.
Abrindo as cortinas, ela olhou para a rua. Ninguém a seguiu para casa. Não que ela esperasse que eles fizessem, mas ainda... O interrogatório repentino de hoje a deixou cautelosa. Ele suspeitava de algo?
Eu tenho quatrocentos e cinquenta Falcões da Noite, Sra. Marberry. Não me deixe muito curioso.
Sua curiosidade foi satisfeita? Ela sabia que a dela não estava.
— Temos um problema? — A voz rouca de Ingrid a assustou.
O olhar de Rosalind se ergueu quando a outra mulher deu um passo furtivo para dentro do quarto. — Você está tentando me pegar desprevenida?
— Tem sido extremamente fácil ultimamente. Você precisa tirar sua mente do que quer que esteja te distraindo antes que Jack perceba.
Ela olhou para a amiga.
— Você cheira a colônia de homem. — Ingrid cruzou os braços sobre o peito como se desafiasse Rosalind a responder.
— Claro que eu cheiro. Eu trabalho em um prédio cheio deles. — Erguendo o braço, ela cheirou a si mesma. — É mais provável Garrett. — Ela ignorou a maneira como a expressão de Ingrid não mudou. Não a enganou nem um pouco. — Sem notícias?
— Nenhum sinal de Jeremy. — Respondeu Ingrid.
A inquietação percorreu sua espinha. Rosalind começou a trabalhar em suas luvas, franzindo a testa preocupada. — Eu preciso empurrar planos. Lynch não tem nada em seu escritório sobre Jeremy ou os mecanicistas - o maldito homem mantém tudo em sua cabeça.
— Então você pode também abortar a missão.
— Não. — Ela largou a luva em uma das pequenas cobertas com babados que assombravam o quarto. Cada centímetro do espaço era ocupado com bugigangas, lâmpadas e guardanapos de renda. — Estou aprendendo muito e estou na posição perfeita para ouvir as últimas notícias do Escalão.
— E se ele descobrir você?
— Ele não vai. — Rosalind afirmou.
Ingrid rosnou baixinho. — E agora?
Rosalind parou perto do armário de bebidas e destampou uma garrafa de uísque. Ela serviu as duas uma dose generosa. — Lynch precisa encontrar os humanistas que bombardearam a torre.
— Quase nenhuma notícia.
— Então eu vou apontar ele para os mecanicistas. Acho que é hora de Mordecai experimentar o que é olhar por cima do ombro.
Ingrid pegou seu copo e bateu contra o de Rosalind. — Eu vou beber a isso. — Ela jogou o copo de volta. — Como você pretende fazer isso sem estragar seu disfarce?
Rosalind girou o conteúdo de seu copo à luz da lamparina, observando o jogo de luz. A alegria bateu em seu peito e abaixo - um desejo não satisfeito. — Eu não vou. Mercúrio vai.
É hora de arriscar.
E hora de amenizar a dor inquieta dentro dela. Ela jogou o uísque de volta, sentindo-o queimar todo o seu corpo.
Sentindo-se frustrado, Lynch afundou nas águas da sala de bombas, o calor cortante trazendo uma onda de calor à sua carne. Passando as mãos pelo rosto cansado, ele emergiu, piscando por entre as gotas de água.
O vapor permaneceu na superfície da piscina e se agarrou aos pilares de pedra que sustentavam o pesado teto abobadado. O zumbido das enormes fornalhas e das bombas que conduziam a água por todo o edifício ecoava nas paredes. Anos atrás, Fitz deu uma olhada no encanamento e planejou um sistema de água quente que não apenas abastecia toda a guilda, mas também conduzia canos aquecidos pelo chão de pedra; o subproduto daquele pedaço de gênio foi isso. O calor das fornalhas tinha que ir para algum lugar, Fitz havia dito. Por que não usá-lo como banheiro, muito parecido com os que os romanos construíram há séculos?
Se havia uma indulgência que Lynch possuía, era essa.
Encostando-se na borda da piscina, ele fechou os olhos e deixou o corpo flutuar. Seu sangue frio o fazia ansiar pelo calor como um dos dragões míticos de que falava o Império Chinês.
O latejar constante dos motores da bomba enchia a sala, vibrando contra sua pele. Lynch deixou sua mente flutuar livre, tentando esquecer a tarde e o incidente com a Sra. Marberry. Ela não estava aqui quando ele voltou e a culpa adicionou um sabor azedo a sua boca. Ela se arrependeu do que aconteceu? Talvez fosse melhor assim. Ele não conseguia imaginar o que diria a ela no dia seguinte. Seduzindo sua própria funcionária...
A água ondulava contra seu peito, pequenas ondas suaves que lambiam sua pele. Lynch puxou o cabelo molhado para trás e congelou.
Não havia nada para agitar a água, exceto seu próprio corpo.
Ele abriu os olhos e olhou para a figura envolta em sombras do outro lado da piscina. Ela se ajoelhou na beira dos ladrilhos, o vapor obscurecendo seu rosto enquanto ela traçava os dedos na água.
Seu corpo gritou de consciência quando Mercúrio sorriu para ele. Seus olhos estavam cobertos, desta vez com uma meia máscara de couro que o lembrava de um circo. Tachinhas de latão enroladas em um lado como decoração e o brilho fino de seus olhos o observavam através das fendas dos olhos de gato.
— Ora, olhe, — ela falou com voz rouca. — sou eu, Lorde Falcão da Noite... em carne e osso.
O duplo sentido agitou seu intestino com dedos quentes. Lynch baixou as mãos lentamente, relaxando os braços na beira da piscina. Um músculo pulsou em sua mandíbula. Ela tinha vindo aqui de propósito, sem dúvida para desarmá-lo.
Ela iria aprender. Ele nunca estava desarmado, nada menos do que letal e agora seu temperamento estava agitado.
Apenas dois metros e meio de água os separavam. Ele poderia cobrir essa distância em um segundo, mas do jeito que ela se apoiou nas pontas dos pés, ela já esperava por isso. Sem dúvida, havia mais do que algumas armas escondidas sob aquele casaco marrom opressor.
E ela não teria vindo aqui sem motivo. Sua curiosidade foi despertada.
Lynch forçou seu corpo a relaxar, embora fosse difícil. A Sra. Marberry o destruiu esta tarde e ele mal conseguia organizar seus pensamentos - ou sua luxúria desenfreada - por tempo suficiente para lidar com a revolucionária. — Você sabe que há mais de cem Falcões da Noite neste prédio?
— E ainda assim nenhum deles me notou. — O sorriso dela o provocou. — Nem mesmo você. — Apontando o dedo indicador para ele, ela fez um gesto de tiro que não passou despercebido por ele.
Seu olhar encoberto. — Se você me quisesse morto, eu estaria. — Ele daria isso a ela. — Só não sabia que você me queria nu.
— Tudo para te seduzir, meu senhor.
Isso o fez rir. — Então você pode me dominar de novo? Eu acho que não. Eu cometo erros, minha querida, mas apenas uma vez e apenas raramente.
— Então, eu sou um erro, não é?
— Eu não sei exatamente o que você é. Mas eu vou descobrir. — Ele deixou seu próprio sorriso surgir em seus lábios. — Nunca tive a intenção de deixar ser difícil entrar na guilda. Sair é outra questão.
Mercúrio lentamente se desdobrou, revelando saias vermelho-escuras enganchadas apenas o suficiente para revelar uma espuma sedutora de calçola e um corpete de bronze tipo espartilho que empurrava seus seios claros para cima. As mesmas tachas de latão que decoravam sua máscara corriam ao longo de um cinto pesado que segurava sua pistola e seu cabelo escuro enrolado sobre o ombro. Não era coincidência que o casaco dela tivesse caído para trás, mal agarrando-se aos ombros pálidos.
Sua garganta ficou seca. Ele nunca tinha visto uma mulher vestida assim antes. Era indecente. Escandaloso. E ele a queria mais do que nunca.
Seus sonhos ultimamente tinham sido com outra mulher, mas agora, a tentação rugia. Sua esguia secretária que gostava de deixá-lo louco, ou uma mulher que ele mal conhecia, sua mais doce obsessão?
— Você me deixará ir, — ela disse com um encolher de ombros descuidado. O casaco escorregou um pouco mais, revelando seu ombro arredondado. — A alternativa são as masmorras do Escalão e não acho que você queira isso.
— O que eu quero nem sempre importa.
— Você nunca cede aos seus impulsos, meu senhor?
— Raramente.
— Você deve. — Outro sorriso lento e sugestivo que afundou em seu intestino com garras com pontas de ferro. — Por que você não sai da água? — Ela chutou a ponta da bota na superfície, enviando uma chuva de gotas em direção a ele.
— Por que você não entra?
— Eu não gostaria de me molhar.
Lynch se afastou da borda. Ele manteve os olhos nela, não confiando nela um centímetro. O vapor enrolou-se em torno dele enquanto ele se levantava, sacudindo a água.
Mercúrio deu um passo cauteloso para trás. — Vou pegar sua toalha. — Disse ela, tirando-a do gancho em que estava pendurada. Virando-se, ela a segurou, mantendo-se a um metro e meio de distância da água.
Lynch encontrou os degraus que conduziam para fora da piscina e subiu com fria indiferença por sua nudez. A água escorreu por sua pele, o vapor subindo de seus braços nus enquanto ele erguia as mãos e puxava o cabelo molhado para trás. Quando ele olhou para ela, o pequeno sorriso havia morrido, substituído por algo muito mais vigilante.
Ele demorou, sacudindo as gotas de água antes de estender a mão. — A toalha?
Uma risada rouca o saudou. — Agora, por que eu faria isso? — Outro olhar lento e acalorado que acariciou seu corpo. — Meu senhor Falcão da Noite, a imaginação não lhe faz justiça.
— Eu gostaria de poder dizer o mesmo. — Ele se aproximou.
O sorriso dela permaneceu, mas ele sentiu o enrolar dos músculos dentro dela em sua proximidade abrupta. Então ela não estava tão certa de suas intenções? Bom.
— Eu gostaria de ceder, — Mercúrio respondeu, sua mão de ferro apertando a toalha. — Mas eu acho que nós dois preferiríamos que eu mantivesse minha máscara. Adiciona um pouco, o que os franceses dizem? Jay, não, diga...
— Je ne sais quoi. — Uma certa coisinha indescritível. Uma vantagem. Pela primeira vez, ele teve a impressão de que ela estava brincando com ele. Ela sabia exatamente o que queria dizer. Ele franziu a testa ligeiramente. O sotaque a perturbava, e era exatamente isso que ele imaginava.
Quem era ela? Suas mãos doíam para remover a máscara, para revelar sua identidade para ele. Ele poderia fazer isso também, antes mesmo que ela soubesse que ele havia se movido.
E depois?
Ela estava certa. Ele gostava da máscara, do mistério. Isso o distraia, mas ainda não estava preparado para resolver o quebra-cabeça de sua identidade. Fazer isso significaria que ele teria que agir de acordo e a relutância pesaria em seus ombros.
Lynch agarrou as mãos dela onde apertavam a toalha e as puxou pela cintura. A toalha macia roçou contra sua virilha enquanto Mercúrio pousava contra ele, a respiração dela ofegante dizendo que ele tinha conseguido desarmá-la.
— O desejo ataca os dois lados, minha querida.
Ela olhou para cima, seu espartilho pressionado contra o peito dele. O ângulo empurrava seus seios em globos lisos que ele ansiava por tocar. — É verdade.
Soltando as mãos dela, ele puxou as pontas da toalha com força e enfiou uma ponta na outra. As mãos de Mercúrio percorreram seus quadris, sua cabeça abaixando em uma exploração curiosa e Lynch de repente a entendeu. O que quer que tenha acontecido entre eles nos enclaves - tudo o que ele pensava que tinha perdido - ela também perdera.
— Então, o que o faz pensar que não vou simplesmente entregá-la ao Escalão? — Ele perguntou.
A ponta do dedo dela percorreu a trilha macia de pelo sob o umbigo, enredando-se nas mechas escuras. Ele roçou a ponta da toalha e enganchou contra o tecido enquanto ela puxava, apenas gentilmente o suficiente para ser sugestiva. Lynch respirou fundo.
— Eu acho que você me quer para você.
— É uma suposição perigosa de se fazer, considerando onde você está. — Ela parecia tão certa de que ele não a machucaria.
Poderia ele não ser? Esse olhar sombrio encontrou o seu por trás da máscara. Ele não podia ver seus olhos, mas ele sentiu a conexão quando seus olhares se encontraram. Ele correu uma mão quente por seu corpo, envolvendo-se firmemente em torno de seu pênis. Sua ereção se mexeu contra a toalha e Mercúrio percebeu. Ela molhou os lábios, seu dedo deslizando com mais segurança por trás da toalha.
— Eu presumi errado? — A máscara o desafiou; ele queria desesperadamente ver por trás disso.
E tão desesperadamente quanto não. Uma sensação de vazio se formou em seu intestino. Instinto. Qualquer que fosse o segredo dela, uma parte dele não queria saber.
Por quê? Sua expressão ficou dura. Ele aprendeu a confiar nesse instinto ao longo dos anos, mas o que isso estava lhe dizendo?
— Não, — ele disse suavemente. — Você não presumiu errado.
O ar entre eles mudou. A quietude irradiou através dela como se a tivesse surpreendido. O olhar de Lynch caiu para sua boca. Ele sabia que ia fazer isso. Chame de loucura ou insanidade, ele não se conteve.
Uma mão deslizou ao redor da curva de sua nuca, embalando a linha rígida de seu crânio. A ponta de uma peruca cortou sua mão e sua mente arquivou isso para uma reflexão futura, mesmo quando sua boca desceu sobre a dela.
No momento em que seus lábios se tocaram, ele sentiu a faísca por todo o seu corpo. Ele a queria. Não para capturá-la, não para entregá-la ao príncipe consorte, mas apenas para tê-la. Como sua.
O pensamento era uma loucura. Não poderia haver futuro nisso, nada por trás do calor do sexo e da fome. Mercúrio era uma sombra; ele não sabia nada sobre ela. Mas ela era sua sombra, seu desafio, sua obsessão. A Sra. Marberry era uma tentação que ele não podia se permitir, um sonho de algo que ele havia muito pensava ter acabado, mas isso... isso era seguro o suficiente para arriscar.
A necessidade violenta o varreu, acesa pela paixão e frustração. Ele rosnou no fundo de sua garganta e deslizou a mão pela curva suave de suas costas até a carne cheia de sua bunda. Pressionando-a contra ele, ele respirou fundo enquanto seus quadris cavalgavam contra a junção macia de suas coxas.
Lynch fechou os olhos com força, a sensação atravessando sua virilha com um abandono incandescente. A língua dela disparou em sua boca e ele a apertou contra ele, tentando beber tudo, tomar tudo o que podia dela. Erguendo-a contra ele, ele a empurrou contra uma das colunas de mármore, as coxas dela travando em torno de seus quadris e as saias subindo entre eles. Um pequeno suspiro saiu de sua garganta, então ela o estava beijando novamente, sua mão de ferro deslizando sobre sua nuca enquanto ela girava os quadris, esticando-se contra ele.
Lynch libertou a boca, ofegando quando seus quadris a prenderam na coluna. Ele não pensou. Não poderia. A necessidade era uma besta cruel dentro dele, tão faminta por liberação que mal conseguia ver através da névoa cinzenta de sua visão. De alguma forma, sua fome aumentou e ele agarrou sua peruca e puxou sua cabeça para trás, seus lábios deslizando sobre a pele lisa de sua garganta. O chute inebriante de sua pulsação vibrou contra sua língua e Lynch mordeu, seus dentes afundando na carne macia com um aviso.
Mercúrio se acalmou, os dedos de ferro dela enrolando em seu cabelo, apenas um pouco dolorido. Seu coração trovejou como um animal em pânico em seu peito, sua respiração vindo em pequenos suspiros que pontuaram o ar.
— Você não confia em mim? — Ele sussurrou, pressionando os lábios suavemente na área que acabara de morder. Ele a lambeu, sugando suavemente para acalmar a dor. — Você acha que eu faria isso? — As palavras foram imprudentes. Isso era exatamente o que ele queria fazer. Para colocar uma lâmina em sua garganta e derramar o doce sangue sob sua pele. Para engolir, para aplacar a dor de fome que nunca o deixou completamente.
Suas mãos tremeram quando ele segurou seu traseiro, os lábios roçando tentadoramente sobre o músculo liso de seu trapézio. Ele queria tanto, o cheiro de seu medo enviando cãibras de fome através dele com garras de ferro. Mas ele era melhor do que isso. Ele poderia controlar isso. Ele iria.
A mão de Mercúrio deslizou pela garganta e pelo peito. — Eu não sei, — ela sussurrou. — Você iria?
Lynch se afastou com um suspiro, pressionando sua testa contra a dela. Engolindo em seco, ele lutou para se controlar. Ele nunca tinha se sentido tão tentado, nunca esteve tão perto de perder o controle. Era seu maior medo e sua própria agonia secreta. — Eu quero, — ele admitiu. — Mas isso te assusta.
— Eu não sou comida. — Ela retrucou.
— Isso não tem nada a ver com isso. — Ele balançou a cabeça e arrastou as mãos para segurar o rosto dela. — Eu quero você. Eu quero reivindicar você como minha, e isso... isso é parte disso. — Ele respirou com dificuldade, mordendo seu lábio, seu queixo. Mais baixo. Pressionando o rosto em sua bochecha enquanto ele gemia. — Eu quero possuir você.
Os dedos de ferro de Mercúrio se fecharam em seu pulso. — Como uma serva.
— Não. — Ele arrastou a boca por sua garganta e sentiu sua cabeça cair para trás rigidamente. Ela estava se agarrando a ele, como se quisesse manter alguma aparência de controle. Os lábios de Lynch roçaram a marca da mordida, sentindo a marca de seus próprios dentes. — Como minha.
— Você mal me conhece.
— Então me diga algo sobre você. — Ele exigiu, trazendo seu olhar drogado de volta para seu rosto corado.
As mãos de Mercúrio deslizaram pelo seu peito, uma quente, a outra fria de ferro. Elas tremiam. — Você me assusta. — Ela sussurrou, e ele não achou que ela estava se referindo ao que ele poderia fazer com ela.
Suas mãos pararam. Sua boca cheia estava aberta e inchada, seus seios arfando com sua respiração.
Lentamente, ele acariciou sua boca com o polegar, sentindo a umidade em seus lábios. — Você me assusta. — Ele admitiu.
Lynch quase captou um vislumbre sombrio dos olhos dela quando eles se lançaram aos dele. Então ela virou o rosto, fechando-os. Um estremecimento a percorreu. Uma risada imprudente. — Eu nunca esperei isso. — Lentamente, as mãos dela percorreram seus ombros, as pontas dos dedos percorrendo sua pele. — Eu nunca deveria ter beijado você.
— Mas você fez.
— Sim. — Ela se inclinou e beijou seu peito. Abrindo a boca, ela lambeu sua pele, seus pequenos dentes cegos afundando no músculo de seu peitoral.
Lynch engoliu em seco com a explosão de dor, as mãos fechando em punhos ao lado do rosto dela. Seus quadris flexionaram involuntariamente e o calor subiu por sua boca. Preciso.
Os quadris de Mercúrio lentamente se destravaram e então ela estava deslizando para baixo dele com uma graça sinuosa, seus lábios percorrendo a pele lisa de seu abdômen. Os músculos se contraíram e Lynch empurrou a mão contra a coluna de mármore para se manter de pé, seu olhar fixo nela. Mercúrio caiu de joelhos, as palmas das mãos deslizando sobre as coxas dele e os lábios dela roçando na aspereza da toalha, perigosamente perto de sua virilha.
Ela olhou para cima e os joelhos de Lynch quase cederam ao olhar aquecido em seu rosto. — Você confia em mim? — Ela sussurrou, um sorriso lento se espalhando em seus lábios. Lentamente, ela o beijou através da toalha, o toque atravessando seu membro inchado.
A outra mão de Lynch atingiu a coluna enquanto ele estremecia. — Nem mesmo um centímetro. — Ele disse a ela em uma risada áspera, quase uma expiração.
— Que tal — Seus olhos o percorreram. — uns bons dez centímetros?
Sua respiração ficou presa. Lentamente, ela estendeu a mão e enganchou os dedos na toalha. A extremidade dobrada se soltou e a toalha áspera raspou sobre sua ereção enquanto se soltava.
Ele sabia o que ela pretendia. Ainda assim, ele mal conseguia respirar quando ela deslizou as palmas das mãos por suas coxas, sua língua se lançando para umedecer os lábios.
O choque de sua boca quente quase o tirou de sua pele. Sua mão passou por seu cabelo e ele empurrou contra ela, sentindo o deslizar úmido de sua boca sobre seu pênis. Seus dentes arranharam-se contra ele como um aviso e por trás da máscara ele viu o brilho de luz em seus olhos.
Sim. Sua cabeça se curvou em derrota, um gemido gutural rasgou sua garganta. Ela tinha a vantagem no momento, mas pela primeira vez ele não deu a mínima. Ela era sua fascinação profana, simplesmente sua de uma forma que ele ainda não podia compreender e ele precisava muito disso. O tormento da semana o tinha enlouquecido. Ele ainda não sabia o que faria com o Mercúrio, mas felizmente isso não exigia nenhum pensamento.
Aquela pequena boca quente o trabalhou úmido, roubando seu fôlego e os poucos raciocínios que lhe restavam. A boca de Lynch se abriu em um suspiro, seus olhos se semicerraram quando seu punho cerrou a peruca que ela usava.
— Pare. — Ele gemeu.
Um sorriso se alargou em sua boca carnuda e sua mão de ferro agarrou a base de seu pênis, fazendo-o respirar fundo. Inferno, isso era tão bom pra caralho. Ele estava tão perto que precisava que ela parasse, mas de alguma forma seus lábios não diziam as palavras e ela sabia disso.
Ela colocou um feitiço nele. Um beijo nos enclaves como uma bala no peito e agora ele não conseguia parar de sentir, não importava quais fossem as consequências.
Mercúrio o levou profundamente, a língua dela acariciando seu eixo com abandono úmido e ele estava perdido.
O punho de Lynch cerrou-se e ele ofegou, empurrando com força contra sua boca enquanto gozava com um gemido gutural. Aqueles lábios rosados e inchados sugaram a cabeça sensível de seu pênis e ele desabou contra a coluna, respirando com dificuldade.
Mercúrio deu um beijo em sua coxa, mexendo os pelos finos contra sua pele de forma que ele estremeceu. — Bem, — ela sussurrou, lambendo os lábios. — Eu, Senhor Falcão da Noite, você me impressiona. — Ela sorriu para ele, fria e misteriosa, então lentamente deslizou por seu corpo, pressionando-se entre ele e a coluna.
Se ela pensava que isso o destruiria, então estava enganada. E se ela pensasse que era o fim do que havia entre eles... Ele a observou com olhos frios, acariciando com as costas dos dedos sua boca inchada.
— Eu mal comecei, — ele murmurou, inclinando-se mais perto e respirando o doce sabor de seu hálito. Um sorriso curvou-se sobre sua boca enquanto ele olhava para baixo, seus dedos se arrastando para baixo, roçando a curva suave de seu peito. — Você, meu amor, não é uma dama.
Sua respiração se acelerou com a provocação de seu toque. — Você quer que eu seja uma?
— Não. — Ele deslizou a mão por sua nuca e a girou, pressionando suas mãos contra a coluna. Ela ficou tensa, então se acalmou quando ele alisou a longa e escura cauda de seu cabelo e pressionou a boca aberta contra sua nuca. Chupando forte, ele trouxe o sangue à superfície em um hematoma vermelho, em seguida, beliscou a marca condenatória. Mercúrio estremeceu, um pequeno suspiro de rendição cruzou seus lábios, e Lynch sorriu.
Ele correu os lábios pela curva suave de seu ombro, mordendo-a apenas o suficiente para deixar uma marca, depois acalmando a picada com a língua. Lentamente, suas mãos deslizaram para baixo de seu casaco, traçando a curva do espartilho que ela usava. A sensação despertou desejo por ele e ele pressionou seus quadris contra seu traseiro, deixando-a saber o quanto ele a queria.
Mercúrio respirou fundo, meio se virando. — Meu senhor...
Ele pegou as mãos dela e as empurrou contra a coluna. — Não deixe ir. — Em seguida, as mãos dele estavam envolvendo seus seios, segurando o peso rechonchudo em suas palmas.
A cabeça de Mercúrio se inclinou para trás com um gemido. — Misericórdia, — ela gemeu. — Precisamos falar.
— Nós? — Ele afiou a borda do espartilho para baixo e seu mamilo saltou livre, duro e tenso. Deslizando a outra mão contra seu abdômen, ele puxou seus quadris contra ele, rolando o pico inchado de seu mamilo entre os dedos. — Eu pensei que você tivesse vindo aqui para isso?
Mercúrio arqueou contra ele, a cabeça dela caindo para frente com um suspiro indefeso. Ele podia sentir a rendição em seu corpo e o tremor em seus joelhos.
— Não. Sim. — Ela balançou a cabeça e gemeu. — Você quer saber quem explodiu a torre?
A mão de Lynch apertou seu quadril. As palavras o cortaram como uma lâmina. Para disfarçar, ele deu um beijo na pele macia abaixo de sua orelha e foi recompensado com outro arrepio. Ela gostou disso. — Você ainda afirma que não fez isso?
— Nem queimei as fábricas de drenagem. — Sua mão espalmada sobre a coluna, seus dedos de ferro flexionando inconscientemente. A outra mão deslizou entre eles, envolvendo em torno de sua ereção crescente. — Um ano atrás, — ela engasgou, — Eu libertei um grupo de mecanicistas dos enclaves. Eles queriam vingança e eu... eu precisava deles.
Seus cílios baixaram e ele se empurrou na palma da mão dela. O pacote de caldeira de aço que ele tirou dela nos enclaves. — Estou ouvindo.
— Houve uma luta pelo poder. Eles romperam com a minha liderança e queimaram as fábricas. Eu estava tentando impedi-los quando eles chegaram na Torre.
— Por quê? — Ele perguntou. Seu punho apertado fez a veia em sua têmpora latejar, mas ele podia conter a necessidade feroz agora. Seus cuidados inteligentes cuidaram disso. Ela, porém, não estava tão satisfeita. — Aquela explosão quase matou metade dos sangues azuis da corte. Achei que era isso que você queria.
— Razões pessoais —, respondeu ela, inclinando a cabeça para o lado para olhar para trás por cima do ombro. — E não deu certo, não é? Agora eu tenho todo maldito Guarda de Gelo e Falcão da Noite atrás de mim. Você acha que eu queria isso?
— Acho que você está correndo muito perigo.
Ela riu baixinho, um som quase triste. — Eu escolhi este caminho. Eu conhecia os riscos.
Seus lábios se estreitaram. Maldita seja, mas ele estava começando a se suavizar em relação a ela. Ela estava dizendo a verdade? — Entregue-se —, disse ele, passando a mão pelo abdômen dela. — E eu exigirei uma sentença branda.
A rigidez em seu corpo era quase antecipatória. A tensão irradiava através dela e ela arrastou sua mão de ferro para a dele, incitando-a mais abaixo. — Você não pode fazer o príncipe consorte fazer nada que ele não queira.
— Há maneiras de jogar, — ele respondeu, seus dedos deslizando entre o calor de suas pernas, juntando suas saias. — Se você me contar tudo o que sabe sobre os mecanicistas, terei tendência a ser tolerante.
Ela ficou tentada. Ofegando fortemente, ela pressionou os lábios na coluna, seus quadris voltando para sua virilha enquanto os dedos dele mergulhavam no calor úmido entre suas coxas. Ela não estava usando calçolas. — Mordecai, — ela engasgou. — Seu nome é Mordecai. Não sei onde ele está, mas eu sei disso: ele tem algo a ver com os massacres no Escalão. Eu o vi perto da segunda cena do crime.
— Que conveniente que você estava por perto. — Ele murmurou, sua mente correndo. Os mecanicistas tiveram algo a ver com a loucura que varria o Escalão? Isso significava que tinha que ser uma toxina ou um veneno. Foi feito pelo homem e isso significava que ele poderia pegá-los.
Se ela não estivesse mentindo.
Agarrando seus pulsos, ele a girou e a empurrou contra a coluna de mármore, segurando suas mãos sobre a cabeça.
Lentamente, as mãos dele relaxaram sobre as dela, deslizando sobre o pulso traidor de seu pulso direito. — Diga-me, — ele exigiu, — que você não teve nada a ver com os massacres. Com a morte de Lorde Arrondale.
Mercúrio puxou contra seu aperto, mas não lutou contra ele. — Não tenho nada a ver com isso.
Seu pulso bateu em seu pulso, tão estável quanto antes. Ela estava dizendo a verdade. Ou isso ou ela era uma mentirosa tão boa que podia controlar os reflexos de seu corpo.
— Eu acredito em você. — Disse ele.
Seu polegar acariciou a pele macia de seu pulso. A outra era de metal frio, tecido tão perfeitamente na pele que ele o reconheceu como um trabalho de mestre ferreiro. Não era de admirar que suas reações fossem tão delicadas; a hidráulica de metal tinha sido ligada a tendões carnais e músculos costurados à fina camada fibrosa do interior de seu pulso com manopla. O membro trabalhava quase tão naturalmente quanto sua mão direita.
— Você me quer, não é? — Ela perguntou. — Você está me perseguindo há meses.
O olhar de Lynch semicerrou. Ele a soltou, as mãos deslizando por seus braços. — Eu não preciso perseguir você —, ele sussurrou em seu ouvido. — Porque você vai voltar para mim.
— O que você quer dizer?
Lynch se afastou da coluna e arrastou a toalha em volta dos quadris. — Não serei feito de idiota duas vezes. Mas você... você está queimando por isso. — Ele recuou, observando sua expressão chocada quando ela percebeu que ele não tinha nenhuma intenção de terminar isso.
— Eu pensei que eu teria que lutar para me libertar. — Ela sussurrou, suas pupilas dilatadas de desejo.
Ele deveria capturá-la. Prendê-la agora. Mas o que fazer com ela? Ele estava certo de que o príncipe consorte tinha espiões na guilda, e embora ele tivesse conseguido manter um ou dois humanistas quietamente vigiados em seu tempo, a possibilidade do príncipe consorte colocar suas mãos em Mercúrio o fez se sentir fisicamente doente. Ele não podia garantir a segurança dela. Nem na guilda e nem em qualquer lugar de seus pequenos esconderijos na cidade.
Lynch deu um passo para trás. — Vá pela ala sul e espere até a torre do relógio soar dez horas. Os guardas mudarão de turno. — Ele enfiou a toalha dentro de si, sem saber se estava fazendo a coisa certa. Um pensamento passou por sua mente: se ele não podia entregá-la ao príncipe consorte agora, como faria isso quando chegasse a hora?
A cabeça de Mercúrio. Ou dele.
— Vá —, disse ele, antes de mudar de ideia. — Saia daqui.
Foi uma subida longa e lenta para seus aposentos e ele mal percebeu nada disso. Assim que ele deixou a câmara quente e úmida, sua mente começou a trabalhar novamente.
O que diabos ele estava fazendo? Lynch sabia o que ela estava fazendo e fazendo bem - testando sua determinação, lentamente afastando-o de seu propósito. Ele não perdeu suas palavras sobre um desafio à sua liderança. Ela pretendia colocá-lo sobre os mecanicistas esta noite e ambos sabiam disso.
Mas ela quis dizer mais alguma coisa que ela disse? Ou seduzi-lo era apenas uma maneira de amolecê-lo? Seu punho cerrado. Ele suspeitava que ela estava jogando com ele, embora se ele tivesse conseguido infligir algum dano em sua própria psique, ele não sabia.
Isso tinha que parar. Ele tinha menos de uma semana para “encontrar” Mercúrio e entregá-la ao Escalão. A primeira parte parece ser a mais fácil das duas tarefas. Ele precisava se concentrar e pensar sobre o que faria antes de se ver feito de idiota.
Lynch parou na frente da porta do escritório da Sra. Marberry, o cheiro de perfume com infusão de limão temperando o ar. Aqui estava outra razão pela qual seus passos se arrastavam. A culpa o inundou. Ele deixou Rosa esta tarde apenas para descobrir que ela havia partido quando ele voltou. Depois de suas ações no observatório, não era de se admirar.
Quando ele estava na presença dela, ele nem uma vez pensou em Mercúrio. Rosa eclipsava todos os pensamentos de qualquer outra mulher. No entanto, um encontro fumegante na casa de banho provou que ele era tão suscetível quanto qualquer outro homem.
Ambas as mulheres o intrigavam em seus caminhos. Mercúrio era um mistério, projetado para ser resolvido. Um desafio. Sexo.
E a Rosa? Seu estômago se apertou. Ele não tinha certeza do que ela significava para ele. Seu humor levemente obsceno o intrigava e ele se via cada vez mais procurando por ela. A verdade chocante era que ele gostava de passar tempo com ela. Ela o deixava louco com seus joguinhos, mas pensar neles o fazia sorrir - uma sensação de leveza quando ela estava por perto, como se o sol brilhasse um pouco mais forte.
Então por que ele a traiu dessa maneira? Cada passo para longe da sala de vapor só o fazia se sentir mais desconfortável com suas ações. Ele perdeu a cabeça por um momento, obtendo prazer pelo prazer. A agonia disso o atravessou. Ele não era o tipo de homem que dormia com duas mulheres ao mesmo tempo. Suas ações esta noite tomaram a escolha dele, e por um momento ele quase odiou Mercúrio por tirar Rosa dele. Mas não era um pensamento justo - ele era o culpado. Aquele que não era capaz de negar a si mesmo.
E muito bem não deveria importar. O dia de hoje o tinha enganado de maneiras que ele teve que virar as costas. Ele tinha um trabalho a fazer e uma semana para fazê-lo. Se ele não se isolasse dessas distrações, nada disso importaria. Ele seria executado no átrio.
Esfregando o peito, ele entrou no escritório de Rosa. Ela tinha ido para casa há muito tempo, mas o fantasma dela permaneceu em sua fragrância e na limpeza meticulosa do escritório. Uma veia na têmpora de Lynch latejava. Ele tinha que esquecê-la. Ela apelava para um futuro que não existia para ele.
A trilha inebriante de seu perfume, no entanto, não o deixaria esquecer. Ele o seguiu através de seu escritório, até a porta previamente trancada de seus aposentos privados. A luz quente das velas enchia seu quarto, a vela pousada em uma poça de cera. Ela evidentemente o esperava muito antes.
Havia um bilhete em seu travesseiro e algo pequeno e preto ao lado. Lynch franziu a testa antes de perceber o que era.
Ele foi lentamente até a cama. A carta o tentou. Seus dedos quase coçaram para tocá-lo, mas ele tomou sua decisão. A Sra. Marberry precisava ser esquecida - tanto para o seu próprio bem quanto para o dele. Não importava o quanto ele desejasse vê-la novamente.
Controle- se. Foco. Ele amassou a carta em seu punho e a jogou na grelha fria, onde ela caiu com um suspiro suave de cinzas brancas. O botão de veludo, entretanto... que ele manteve, deslizando em seu bolso como um lembrete do que poderia ter sido.
Então ele se virou e se dirigiu para seu armário e a armadura de couro austera que o esperava. Ele tinha trabalho a fazer.
Capitulo 14
O nevoeiro fervilhava na Extremidade Leste, enchendo as ruas estreitas e obscurecendo as casas abaixo. Lynch espiou através dos telhados sem corpo, esfregando os nós dos dedos distraidamente. Esta era uma parte perigosa da cidade, governada por gangues humanas implacáveis e pelo próprio Diabo de Whitechapel, um dos poucos sanguessugas desonestos que lutou para se livrar de seu destino e conquistou sua própria vida fora do poder Escalão.
As muralhas da cidade surgiam à distância, mantendo o Escalão dentro e a turba humana fora. Ambos os grupos pareciam preferir assim, e era uma maneira fácil de distinguir quem pertencia aonde.
O som deslizou pelos ladrilhos atrás dele e uma meia olhada o alertou da chegada de Byrnes. O outro homem se movia com uma graça felina ao longo da crista da casa, a névoa se agitando em torno de suas botas enquanto ele silenciosamente inspecionava o mundo. O gosto de carvão estava espesso no ar, como a exalação do hálito de um fumante de cachimbo.
— Bem? — Lynch perguntou.
— Eu encontrei uma entrada para o Subterrâneo — Byrnes murmurou, ajoelhando-se ao lado dele. Seu olhar frio varreu a névoa. Garrett era um líder de homens, mas Byrnes era a única escolha quando se tratava de caça em espaços escuros. Ele gostava de ficar sozinho, gostava das sombras. — Eu gostaria que você trouxesse mais homens.
— Eu já tive aquela palestra de Doyle. Eu quero observar esta noite, não atacar. — Lynch coçou o queixo. Ele a deixou ir, mas isso não significava nada. Ele precisava dos segredos de Mercúrio, para descobrir se o que ela disse sobre os mecanicistas era verdade. — Onde fica a entrada para o Subterrâneo?
— Atrás de um bordel em Limey —, respondeu Byrnes. — Alçapão na parte de trás que parece levar a um porão. Alguém abriu um buraco nos túneis da ELU.
Sem dúvida, o bordel era então uma guarida de contrabando. O Subterrâneo existia para tipos empreendedores. Os olhos de Lynch se estreitaram. — Um guarda?
— Eu escorreguei com ele —, respondeu Byrnes. — Ele está muito ocupado acariciando a mercadoria.
— Vamos embora, então.
Os ladrilhos estavam escorregadios sob as botas de Lynch, mas ele se moveu como um líquido durante a noite, sabendo que Byrnes o seguia. Uma alegria feroz surgiu nele quando ele saltou por um beco estreito e pousou em um telhado próximo, seus pés mal se tocando antes de correr pela encosta íngreme do telhado. Estas eram as únicas vezes em que ele se sentia verdadeiramente livre, livre de responsabilidades e deveres. Byrnes poderia desaprovar que ele assumisse um papel tão ativo na caçada, mas Lynch precisava disso, agora mais do que nunca.
Com um gesto brusco, indicou a Byrnes que assumisse a liderança assim que chegassem à Rua Jamaica. O silêncio do mundo era estranhamente assustador agora que a lei marcial havia baixado. As pessoas, sem dúvida, perambulavam pelas ruas - não havia guardas suficientes para policiar cada colônia - mas mantinham suas saídas em silêncio.
Uma discussão sussurrada chamou sua atenção, passando por entre a névoa. Ele a ignorou, tentando ficar baixo na linha do telhado e fora do luar.
E então algo sobre as palavras chamou sua atenção. Uma voz que ele conhecia muito bem. — Você deve estar enganado, — a Sra. Marberry disse claramente, sua voz ecoando por toda parte. — Eu paguei meu aluguel do mês.
Lynch parou em seu caminho. O que diabos ela estava fazendo fora? Um olhar mostrou Byrnes desaparecendo nas sombras. Lynch deve seguir em frente; dever acenou. Ele havia tomado sua decisão sobre a Sra. Marberry e pretendia continuar com ela.
Em seguida, a resposta de riso baixo de um homem fez todos os fios de cabelo de sua nuca se arrepiarem, o mundo se transformando em sombras cinza tingidas de vermelho. Lynch conhecia esse tipo de risada. Ele estava se movendo antes que pudesse pensar.
Rosalind encostou-se na parede de tijolos, tentando não respirar muito fundo. Seu senhorio temporário cheirava a gim.
O açougueiro olhou para baixo em seu corpete, nem mesmo fingindo ser decente. — Não me lembro dessa transação.
— Você gostaria que eu pegasse o recibo? — Ela respondeu entre os dentes. Ela sabia exatamente o que ele estava fazendo. Uma viúva era considerada um alvo fácil aqui na Extremidade Leste e ela teve sorte de não ser molestada por tanto tempo. Claro, se ele soubesse o que ela estava planejando - quão fácil seria cortar sua garganta - então ele poderia não estar tão interessado.
Ela acalmou seus impulsos. Um corpo nas ruas levantaria questões de que ela não precisava agora. Alguém como a Sra. Marberry lidaria com isso de outras maneiras.
— Vou procurá-lo —, disse ela. — Talvez você prefira falar com meu irmão Jack sobre o mal-entendido? — Doía envolver um homem, mas às vezes era mais rápido. Rosalind não hesitaria em usar qualquer ferramenta necessária para a tarefa.
Dando um passo para o lado, ela recuou quando o açougueiro bateu a mão carnuda contra a parede ao lado de seu rosto. — Não vamos causar problemas de que não precisamos —, disse ele, olhando em volta. — Você e eu, podemos chegar a algum tipo de acordo.
A pressão de seu corpo quase a fez engasgar. Ela estava meio tentada a acionar a lâmina em sua mão de ferro e enfiá-la embaixo do queixo gordo, só para ver o brilho de porco em seus olhos desaparecer.
— Ouça aqui... — Ela começou, quando uma sombra desceu de cima.
O açougueiro desapareceu. Em um momento, seu sorriso sem dentes estava em seu rosto e no próximo ele foi jogado contra a parede por uma figura encapuzada. O estranho segurou o açougueiro por uma das mãos, os dedos cravando-se na garganta do homem com facilidade. A boca de Rosalind se abriu em choque quando ela reconheceu as feições duras e aquilinas e o brilho frio e ardente dos olhos de Lynch.
O que ele estava fazendo aqui? Seu estômago se retorceu em nós enquanto ela remexia mentalmente seu traje. Ela não usava nada de Mercúrio e ela generosamente se pulverizou com perfume antes de sair de casa. A menos que a marca do que aconteceu na sala de banho úmida sob a guilda tenha deixado algum tipo de marca invisível - uma letra escarlate pintada contra sua testa.
Ele a tinha seguido desde a guilda? Ela raramente era descuidada, mas ela sabia que sua cabeça não estava em um espaço claro de mente. Em vez disso, a frustração e o desejo sexual passaram por ela, deixando-a meio louca de impaciência. Ela teve que sair de lá antes que ela marchasse de volta e exigisse suas dívidas. Isso foi duas vezes agora que ele a deixou no limite, seu corpo vibrando com a necessidade não satisfeita.
Eu não preciso perseguir você... Você vai voltar para mim.
Ele estava certo. Mesmo agora, seu corpo a traiu, a fome feroz batendo em seu peito enquanto ela olhava para aquela estrutura dura e musculosa - um corpo que ela conhecia quase cada centímetro de agora.
— Você sabe quem eu sou? — Lynch perguntou baixinho.
— Sim. — Uma resposta rouca. O cheiro de urina encheu o ar. — Por favor...
— Mantenha sua boca fechada. — A voz de Lynch era quase irreconhecível, quase metálica. Uma adaga apareceu em sua outra mão e ele pressionou a ponta afiada na garganta do homem e se apoiou nela apenas o suficiente para romper a pele. — Esta mulher está sob minha proteção, entendeu?
Aqueles olhos de porquinho se arregalaram e o açougueiro soltou um gemido que poderia ser assentimento. Rosalind deu um passo nervoso para trás. O demônio o montou forte esta noite. Sua mão deslizou para o bolso e agarrou o cabo da pistola amarrada à coxa. Então deixe ir. Ela não sabia bem o que fazer.
— Se você chegar perto dela novamente, eu cortarei sua garganta, — Lynch sussurrou. — E ninguém jamais encontrará o corpo. — Seu olhar caiu quando a adaga se moveu alguns centímetros, cortando a pele como se fosse papel. O sangue escorregou entre os rolos do queixo do açougueiro. — O aluguel dela é grátis por seis meses, entendeu? E todas as outras mulheres que alugam você - você também não tocará nelas. — Ele se inclinou para perto, a ameaça irradiando dele. — Nunca pense que não terei alguém assistindo.
— Não, senhor. — O açougueiro engasgou, engolindo a lâmina.
Outra raspagem da adaga. Rosalind observou com fascinação mórbida enquanto Lynch cortava o homem de orelha a orelha, a pressão firme o suficiente para separar a pele. O açougueiro mal estava sangrando, mas ele se lembraria disso. E quando ele se olhasse no espelho pela manhã para fazer a barba, ele veria evidências desta noite.
Lynch se afastou dele e o homem caiu nas pedras, chorando em soluços violentos. — Vá, — ele disse friamente, enxugando a ponta da adaga contra as calças. — Antes que eu mude de ideia e você seja preso por violar o toque de recolher.
Uma rápida escalada nas pedras do calçamento, então o açougueiro cambaleou passando por ela, tão assustado que nem parecia vê-la. Rosalind pressionou as costas contra os tijolos para evitá-lo e, lentamente, ergueu os olhos.
Lynch respirou fundo, olhando para as mãos enluvadas. Ele fechou os olhos, seu corpo inteiro tremendo.
Algo estava errado. Rosalind molhou os lábios e se afastou do prédio.
— Você está bem? — Ela sussurrou. Ele não a seguiu. Ele não poderia ter - ou então ele não teria parado apenas com o açougueiro. Foi puro acaso que seus caminhos se cruzaram.
— Não. — Palavras roucas. Ele estendeu a mão e espalmou a mão sobre a alvenaria esburacada. A própria precisão de seus movimentos a deixou imóvel, os cabelos de sua nuca se arrepiando. Ela tinha visto isso antes em Balfour.
Este não era o homem que ela conhecia; sua fome estava em ascensão, Lynch agarrando-se a ela pela mais fina das correias.
— O que você está fazendo fora? — Ele perguntou asperamente. — É a lei marcial. Eu deveria muito bem prendê-la.
— Eu estava procurando pelo meu irmão, — ela disse, uma pontada de tristeza passando por ela. — Ele ainda não voltou para casa.
As palavras quase trouxeram lágrimas aos seus olhos. Ela estava se segurando à sanidade pelo mais leve aperto. Todos os dias apenas apertava o nó dentro de seu coração, onde Jeremy pertencia. Não importa o quão ocupada ela se mantivesse, os momentos de silêncio ainda surgiam, nos quais ela não conseguia evitar pensar em sua crescente sensação de perda.
Ainda sem sinal dele... Ela não podia desistir. Ela não iria... Mas por que ela não conseguia encontrá-lo?
Lynch voltou os olhos negros para ela, as íris completamente obliteradas pela escuridão. — Quantas vezes aquele homem assediou você? Ele já...
— Não —, ela se apressou em assegurá-lo. — Ele não ousou antes. Eu o encontrei no caminho para casa e ele estava bebendo... — Ela balançou a cabeça. — E eu tenho minha pistola. Para homens assim.
Lynch se afastou da parede. — Então por que você não atirou.
Rosalind ficou tentada a recuar, mas não ousou. — Eu não pensei que eu precisava. Eu estava no controle.
— Não parecia.
Ela ficou boquiaberta com as palavras, sem entender a mudança nele. A raiva dele era tão forte que ela quase podia sentir em sua pele. — Bem. Não acho que terei que me preocupar no futuro. A notícia se espalhará depois dessa pequena apresentação.
Ele agarrou o braço dela. — Eu forçaria você a ficar na guilda, mas eu não acho isso sábio. Vou definir um homem para cuidar de você em vez disso.
A proximidade de seu corpo a pôs em chamas, seu coração martelando em seu peito. Ela não conseguia esquecer a sensação daqueles dedos inteligentes entre suas coxas e a raspagem de seus dentes contra sua garganta. Concentrar-se era difícil, mas ela não seria desfeita como se estivesse no banheiro. — Não, — ela deixou escapar. A pior coisa possível. — Está tudo bem. Eu não preciso de um Falcão da Noite na minha porta. — Então ela franziu a testa. — E por que você não quer que eu fique na guilda? Eu pensei... depois desta tarde... ?
Seu olhar baixou, mas ele não estava olhando para os seios dela como o açougueiro. — Esta tarde foi um erro —, disse ele gentilmente, mas com firmeza. — Eu nunca deveria ter tomado tais liberdades e imploro seu perdão. — Ele encontrou seu olhar então. O preto estava desbotando, mas a implacabilidade de sua resolução não. — Não vai acontecer de novo, Rosa. Não pode.
Ela nunca deveria ter provocado isso em primeiro lugar. Ainda assim, seu coração se apertou com as palavras dele, uma perigosa sensação de... algo... enchendo-a. Desapontamento?
— Por quê? — Ela deixou escapar imprudentemente.
Lynch parecia se recolher para dentro de si mesmo como se estivesse erguendo paredes. — Você é minha secretária —, disse ele. — e eu, seu empregador. Eu estaria aproveitando.
— Eu não me importei, — ela murmurou. — Eu queria o que aconteceu...
— Eu beijei outra mulher esta noite —, disse ele sem rodeios. — Você deveria saber disso.
Ela sabia. Claro que ela sabia. No entanto, a maneira como ele jogou em seu rosto realmente doeu. Ela podia sentir o calor drenando de sua pele, seu coração de repente batendo forte em seus ouvidos. Que ridículo... Sentir tanto ciúme do que era essencialmente ela mesma.
— Por quê? — Ela sussurrou.
Lynch se afastou, passando a mão pelo cabelo. — Eu não sei —, ele retrucou. — É uma situação complicada.
— Ela é... ela é alguém que você conhece? — Parecia ridículo perguntar, mas de repente ela estava desesperada para saber o que ele realmente pensava sobre ela. Ou sobre Rosa Marberry.
A raiva a encheu. Ela não era Rosa Marberry. A mulher era apenas um papel. No entanto, parecia real. Uma pequena parte dela queria ser Rosa Marberry. Alguém sem o peso esmagador de seu passado ou a pressão de um irmão desaparecido. Alguém que Jasper Lynch queria, mesmo por um segundo.
A desolação de Lynch a surpreendeu. — Não, — ele disse. — Ela não é ninguém que eu conheço, ninguém... importante.
Isso tornou a dor mais forte. — Eu vejo.
— Eu nunca deveria ter tocado em você. A vergonha é toda minha —, respondeu ele. Uma leve hesitação. — Venha, vou acompanhá-la até sua casa.
— Não. — Ela se afastou. — Está bem. Eu posso encontrar meu próprio caminho.
— Rosa. — Uma mão agarrou seu braço.
Ela atacou então, fechando a mão direita em um punho e cravando-a em seu estômago. — Não me toque! Apenas me deixe em paz!
Ele exalou bruscamente, mas o acolchoamento com nervuras de sua armadura desviou o golpe e ela ficou segurando a mão dela, o calor borbulhando atrás de seus olhos.
O choque a pegou de surpresa. Então ela começou a chorar e não conseguiu parar, lágrimas úmidas e desordenadas escorrendo pelo seu rosto e um soluço preso em sua garganta. Ela cerrou o punho contra os dentes para impedi-lo de escapar, uma onda quente de dor deslizando pelo membro ferido.
— Droga, — Lynch amaldiçoou. Ele se aproximou, as pontas de suas botas entrando em sua visão aquosa. — Droga, Rosa. Por favor, não chore. — Suas mãos deslizaram sobre seus braços e ela enrijeceu, mas ele estava apenas os esfregando. Sua mão de metal estava longe de seu toque.
Então seus braços a envolveram, apertando-a. Rosalind lutou por um segundo, lágrimas quentes de raiva marcando seu rosto, então desabou em seus braços. Hesitante, ela colocou a mão contra o peito dele. Desejo sexual que ela podia lutar, mas não isso... Ela queria ser abraçada como se alguém se importasse, só desta vez.
A dor borbulhou dentro dela com o pensamento. Uma onda repentina de tristeza passou por ela; ela sentia tantas saudades do marido. Ou talvez simplesmente o toque de um homem, a companhia calorosa, a sensação de que alguém cuidaria dela, em vez de ser sempre a única a cuidar de todos.
— O que há de errado?
Rosalind se aninhou nos braços de Lynch, implorando silenciosamente para que ele a segurasse. Balançando a cabeça, ela enterrou o rosto contra o peito dele e deixou as lágrimas rolarem.
Ela pensou que era forte o suficiente para lidar com isso, mas ela estava se desfazendo nas costuras, se quebrando, seu mundo inteiro se despedaçando como uma janela de vidro colorido.
— Estou tentando ser forte. — Ela deixou escapar, sem saber de onde vinham as palavras.
— Você é forte...
— Não, não sou —, gritou ela. — Tudo está dando errado. Tudo!
— Eu não entendo —, respondeu ele, a frustração afiando sua voz. Ele esfregou suas costas, sua mão se curvando protetoramente contra sua coluna. — O que foi, Rosa? O que é 'tudo'? É o açougueiro? Ou eu?
O desejo a encheu. Rosalind queria contar a ele, deixar escapar todos os seus problemas e ficar aqui em seus braços. Ter outra pessoa para lidar com o problema de uma vez. Como se alguém se importasse, como se alguém fosse cuidar dela. Que bagunça. Ela arrastou mechas de cabelo molhado do rosto e balançou a cabeça. Se ela lhe contasse a verdade, o tom carinhoso escaparia de sua voz imediatamente. Ele não era seu aliado nem mesmo seu amigo. Não de verdade. Ela tinha que esquecer esse sentimento e seguir em frente no caminho que ela se propôs.
Você está sozinha. É assim que tinha que ser - ou tinha sido desde a morte de Nate.
Respirando fundo, ela enxugou os olhos e as bochechas. As lágrimas deslizaram silenciosamente agora. — Eu sinto muito.
— Rosa, — ele sussurrou, segurando seu rosto. Um eco de sua dor permaneceu em sua expressão, como se realmente doesse ver isso. — Me diga o que está errado. Posso te ajudar.
Ela balançou a cabeça. — É só... — Sua respiração prendeu novamente. — Não consigo encontrar meu irmão. Eu não o vejo... há muito tempo. Eu nem sei se ele ainda está vivo. — Sua boca continuou dizendo as palavras, mesmo enquanto seu cérebro horrorizado gritava para ela calar a boca.
As mãos de Lynch seguraram seu rosto e o ergueram. — Eu posso te ajudar, Rosa. Eu posso encontrá-lo. É o que eu faço.
— Você não pode. Ninguém pode me ajudar.
Seu olhar ficou vigilante. — Você tem medo do que pode acontecer se eu o encontrar? Rosa, você disse uma vez que ele caiu no meio de uma multidão ruim. Ele é... ele é um humanista?
Os dedos dela apertaram a manga dele com medo e ela olhou para cima, uma negação rápida em seus lábios.
Lynch pressionou o dedo contra sua boca, acalmando as palavras. — Não, — ele exigiu em uma voz sedosa e áspera. — Não minta para mim, por favor. — As costas de seus dedos roçaram sua bochecha, traçando o caminho de suas lágrimas. — Eu não sou um monstro, Rosa. Eu não o machucaria. Não é a primeira vez que fechei os olhos.
A descrença estremeceu por ela. — Você mentiu para o Escalão?
Suas mãos eram quase hipnóticas, traçando a curva de seu lábio. — Às vezes, o Conselho interpreta mal uma situação. — Seus dedos hesitaram. — Eu não sou o inimigo, Rosa. Eu nunca fui.
Ela fechou os olhos, respirando fundo, trêmula. Ela ousaria confiar nele? Era tão tentador, mas ela teve suas aulas espancadas nela ao longo dos anos com eficiência brutal. Ela poderia ir contra tudo que ela já aprendeu?
— Por favor, Rosa.
Isso quebrou algo dentro dela. Ela tremeu sob seu toque, outra lágrima quente deslizando por sua bochecha. — Eu queria tentar encontrá-lo. É por isso que aceitei o trabalho como sua secretária, — Ela sussurrou. Ela precisava disso, ela percebeu. Precisava de algum senso de honestidade entre eles. — Achei que você pudesse ter notícias dele. É por isso que examinei todos os seus papéis. É por isso que arrombei seu escritório. Eu... menti para você várias vezes.
Ele estava tão quieto. Ela olhou para cima, segurando seu pulso como se ele tentasse se afastar.
— Continue.
— Ele é um humanista —, respondeu ela. As palavras quase murcharam em sua língua. — Só um menino, no entanto. Eu tentei protegê-lo...
— Mas os meninos farão o que quiserem. — Lynch franziu a testa. — Qual o nome dele?
Novamente ela não conseguiu falar as palavras. Isso ia contra tudo em que ela acreditava. Lynch a observou em silêncio até que ela finalmente desviou o olhar. — Jeremy —, ela murmurou. — Jeremy Fairchild. — Sua voz caiu melancolicamente. — Eu o chamo de Jem. Ele é muito mais jovem do que eu. Minha mãe morreu quando ele tinha dois anos, então eu o criei.
— Quantos anos tem ele?
— Dezessete.
Outro silêncio sombrio. — Isso é velho o suficiente para ser julgado na torre.
— Não. — Ela balançou a cabeça desesperadamente. — Ele é apenas um menino.
— Como ele é?
As palavras estavam começando a ficar mais fáceis agora. — Ele tem cabelo ruivo, como eu. — Ela tocou uma mecha de cabelo que caía sobre seu rosto. — E sardas, embora estejam desaparecendo agora. Ele deve ter cerca de um metro e oitenta, embora pareça que cresce três centímetros cada vez que olho para ele.
Lynch respirou fundo como se ela o tivesse golpeado. — E quanto tempo se passou desde que você o viu? — Ele demandou.
Outra pergunta difícil de responder. — 24 de agosto.
Ambos sabiam o que significava. A data em que o Escalão assinou o tratado com os clãs verwulfen escandinavos. A data em que os mecanicistas tentaram explodir a torre.
— Ele teve alguma coisa a ver com o bombardeio?
Ela balançou a cabeça. Então hesitou. Era terrivelmente difícil responder a essa pergunta. Ela confiava nele? Confia mesmo nele? Ele disse que não era a primeira vez que fazia vista grossa aos acontecimentos, mas ela estava brincando com a vida de Jeremy aqui. — Sim. — Um sussurro. Um apelo. — Acho que sim. Os homens com quem ele estava envolvido...
Lynch respirou fundo. — Puta merda. — Ele olhou para ela e então passou a mão pelo queixo. — Você percebe o que isso significa? Humanista é uma coisa, mas um ato dessa magnitude? — Sua voz falhou. — Rosa, você sabe o que está pedindo de mim?
Esperança desinflou, seu peito apertando com força. Claro que ela pedia muito. Ele não podia ajudá-la. Ninguém poderia. — Sim.
Lynch praguejou baixinho. — Eu farei o meu melhor, — ele prometeu. — Mas eu preciso de mais fatos do que isso. Eu preciso saber que se eu o encontrasse e o deixasse livre para você, ele não faria mal a ninguém. Eu não posso - eu não posso te prometer nada.
O fato de ele estar disposto a ajudá-la era muito mais do que ela jamais teria suspeitado. Num impulso, ela estendeu a mão e pegou a dele, deslizando os dedos pelos dele. — Eu sei que você fará o que deve.
Assim como ela. Mas o peso que a arrastava por semanas parecia ter diminuído. Uma onda de sentimento a varreu, tão estranha e desconfortável como uma lâmina coçando contra sua pele. Ela não entendia; ou talvez ela tenha entendido muito. Isso foi o que quase a destruiu tantos anos atrás, quando ela bateu a porta da cela e cambaleou para dentro, apenas para assistir Balfour arrastar a lâmina pela garganta de seu marido.
Um calafrio percorreu seu corpo, seus olhos marejados de lágrimas novamente. Balfour arrancou seu coração de seu peito com um movimento, destruindo seu mundo inteiro. Ela jurou então que nunca mais se enfraqueceria, nunca colocaria outro homem em tal situação.
A cabeça de Lynch abaixou, seus cílios caindo semicerrados sobre aqueles olhos azuis glaciais. O coração de Rosalind gaguejou em seu peito quando ela percebeu suas intenções. Uma coisa era beijá-lo como Mercúrio, provocá-lo como Rosa Marberry, mas agora ela não era nenhum dos dois. Ela havia desnudado parte de sua alma para ele, a primeira vez em muitos anos. O sentimento a deixou surpreendentemente vulnerável. Isso, mais do que tudo, era sua verdade. Não as palavras que acabara de dizer, mas sua própria admissão de que sentia cada vez mais por ele.
Um sangue azul.
Abruptamente, ela puxou os dedos de suas mãos. O pânico percorreu seu abdômen e ela se virou, quase tropeçando nas saias. Balfour a ensinara a não temer a dor nem a morte. Mas... isso... E a devastação que deixou em seu rastro...
— Sinto muito —, disse ele secamente. — Não foi minha intenção fazer isso.
Rosalind assentiu, colocando as mãos uma na outra. O que ela estava pensando? Talvez Ingrid estivesse certa. Talvez fosse hora de cortar suas perdas... Mas então ele tinha acabado de prometer ajudá-la a tentar encontrar Jeremy.
Ela precisava ver isso até o fim.
Se ela pudesse. Pela primeira vez, Rosa teve sérias dúvidas sobre sua capacidade de permanecer fria e não afetada.
— Você estava certo, — ela sussurrou. — Eu não acho sábio perseguir isso... isso... — Ela não tinha um nome para isso, como se ao dar um nome, ela deu à fraqueza poder sobre ela. — Eu acho que talvez devêssemos permanecer como estávamos. Empregador e empregada.
Ela esperou por sua resposta, inclinando a cabeça para o lado para vê-lo. A incerteza a enchia, ela que nunca era incerta. O que ele estava fazendo com ela? Ela tinha que manter distância.
— Claro, — ele murmurou. — Mas devo insistir em acompanhar você até em casa. Odeio pensar em você aqui nas ruas.
Ela podia lidar com quase tudo que encontrasse nessas ruas. A ironia era que sua única fraqueza era ele. Rosalind respirou lentamente, se recompondo. — Se você precisa.
Ela se virou para aceitar sua manga. Lynch cambaleou para dentro dela, suas mãos agarrando as dela antes que ela pudesse detê-lo.
O horror a encheu. Sua mão se fechou sobre o metal duro de seu pulso esquerdo. Ela não podia sentir o toque, é claro, embora sentisse que deveria. Ela sentiu como se isso devesse queimar dentro dela.
— Oh Deus. — Ela sussurrou.
Então seus joelhos cederam e ele caiu contra ela, sua mão agarrando sua saia, seus dedos, qualquer coisa para se impedir de cair.
Foi quando ela viu o dardo saindo da nuca dele.
Capitulo 15
Uma risada zombeteira encheu o beco.
Rosalind ergueu os olhos quando uma sombra se separou do resto. Um homem alto, vestindo um pesado casaco de marinheiro de couro, avançou pesadamente. Ele não se incomodou em esconder o gancho afiado que usava em vez da mão esquerda, seu olhar de pálpebras pesadas deslizando sobre ela.
— Bem agora. Vejam o que temos, rapazes. Um Falcão da Noite pelo que parece. E uma torta bem arredondada. — Um sorriso dividiu seu rosto largo. — O avarento por Mordecai e a cadela por mim.
Ela observou o gancho, seu olhar seguindo seus movimentos hipnóticos. Anos atrás, ter um vislumbre disso teria sido o pior pesadelo de qualquer morador da Extremidade Leste. As gangues de assassinos que perambulavam por essas partes usavam qualquer sucata que pudessem encontrar para se aprimorar. Alguns diziam que até cortaram os membros de sua própria carne para substituí-los por ganchos cruéis e lâminas afiadas para se juntarem às gangues. O melhor era arrastar um corpo para a Cidade Inferior, onde o amarrariam a uma maca e drenariam seu sangue para obter lucro.
Três anos atrás, um vampiro tinha cuidado da maioria deles, com o Diabo de Whitechapel limpando o resto. Obviamente, alguns poucos escaparam.
E Mordecai deve ter se aliado a eles, dando-lhes o segredo da cicuta.
— Receio ter um compromisso anterior. — Rosalind observou as sombras. Os assassinos costumavam correr em matilhas, caçando suas presas como cães selvagens. Haveria mais deles.
Um segundo homem se livrou da névoa que se aproximava. Depois, um terceiro. Rosalind olhou para cima quando algo mudou em sua visão periférica e viu mais no telhado.
Aos pés dela, Lynch fez um ruído indefeso com a garganta. Uma repentina ferocidade ardente em seu peito a pegou de surpresa. Eles não iriam colocar as mãos nele. Ela teria certeza disso.
— Não se preocupe, — ela disse suavemente. — Eu não vou te deixar.
— Pegue ela, — o assassino disse com um aceno de desprezo de seu gancho. — E amarre esse sangrador antes que ele recupere.
A mão de Rosalind mergulhou em seu bolso e tirou a pistola. Ela deu um passo para longe de Lynch para ter espaço para trabalhar. — Não se mova — disse ela friamente, apontando a pistola para a testa do líder do matador. — Ou todo o metal do mundo não preencherá esse buraco.
Ele sorriu lentamente. — Este é um pequeno brinquedo bonito, moça. Você sabe como usar?
— Você gostaria de uma demonstração? — Rosalind puxou o gatilho.
O assassino cambaleou para trás, com os olhos revirando a cabeça e um ponto vermelho florescendo no meio da testa. Seu corpo atingiu o chão com força e Rosalind estava se movendo, inclinando-se para tirar a adaga de sua bota. Ela preferia uma pistola, mas nessas ruas não era aconselhável chamar muita atenção.
Os dois homens restantes deram um passo à frente, expressões rudes e duras. Um deles assumiu a liderança, seu rosto feio marcado pelo que parecia ser meia dúzia de cicatrizes.
— Vou mantê-la viva para isso, — ele prometeu. — Por um longo período de tempo.
— Eu não tenho tais escrúpulos. — Ela saltou sobre as costas largas de Lynch, grata por ele estar deitado de cara e não poder ver.
O homem encontrou sua lâmina com uma das suas; uma lâmina enxertada em seu antebraço, sem dúvida perfurada no osso. Rosalind rodou, as saias mal a atrapalhando enquanto ela liberava a lâmina Carillion em sua mão de ferro. Deslizou entre suas costelas com a facilidade de um cirurgião, então ela cortou com sua outra adaga, arrastando-a pela parte interna de sua coxa. O sangue espirrou em suas saias, quente e acobreado quando ela atingiu a artéria femoral.
Ele caiu com um grito e ela girou baixo, enganchando a ponta da bota atrás do calcanhar do outro homem com uma graça selvagem. A raiva queimou em sua garganta. Ela queria isso, precisava disso. Qualquer coisa para afastar esse sentimento de impotência e desencadear a maré de desespero dentro dela.
Quando ele atingiu o chão, ela estava em cima dele, batendo com o calcanhar nos ossos vulneráveis de sua garganta. Um barulho satisfatório encheu o ar.
O ruído assobiava na névoa assustadora. Rosalind girou, a adaga esticada. Então algo pesado caiu sobre ela e ela caiu de joelhos sob uma rede, as pontas carregadas de chumbo.
Malditas saias! Ela tentou chutar, mas a rede estava perdidamente enredada em sua anquinha e ela deixou cair a adaga ensanguentada. Um par de botas pousou na frente dela, então o som de outra. Rosalind golpeou desesperadamente a rede com sua lâmina Carillion. Serrou o cânhamo espesso com facilidade, mas então mãos a pegaram pelos braços e ela foi arrastada para cima, a rede enrolada em volta de seus tornozelos.
— Não! — Ela se sacudiu com força, o primeiro indício de inquietação infiltrando-se insidiosamente em suas veias. — O que você está fazendo? Tire suas mãos de mim!
O mundo virou quando alguém a arrastou por cima do ombro. Através da rede, ela vislumbrou um par de homens ajoelhados sobre Lynch e algo queimou em brasa dentro dela.
— O que vocês estão fazendo com ele? — Ela chutou desesperadamente.
— Leve-a para baixo, — alguém vociferou. — Jogue a cadela em uma cela enquanto controlamos o sangrador.
O gigante embaixo dela se virou e Rosalind perdeu a visão de Lynch. — Não! Socorro! Alguém ajude! — Ela gritou, sentindo medo pela primeira vez em anos.
Se eles o machucassem... Ela balançou a cabeça. Ele era invencível. Um sangue azul. Certamente ele poderia se libertar e se salvar.
Mas eles o paralisaram com cicuta. Ela, entre todas as pessoas, sabia muito bem como incapacitar os sangues azuis - e mantê-los assim.
— Não!
Eles o amarraram em um conjunto de algemas e o arrastaram para o alto usando um guincho. Lynch saltou no ar, incapaz de fazer uma maldita coisa para evitar ser pendurado como um pedaço de carne. Ele odiava isso, odiava a vulnerabilidade.
A cela estava bem no fundo da Cidade Baixa. Eles o vendaram e o enrolaram com correntes, mas isso não significa que ele não foi capaz de entender para onde os levaram. O cheiro de alcatrão e corda pairava no ar enquanto eles entravam nos túneis - em algum lugar perto do Beco Sailmaker, se ele não estava enganado. A partir daí, foi uma breve jornada pelos túneis frios até esta cela esquecida por Deus, onde eles rasgaram a venda.
O líder entrou pela porta com uma carranca de frustração. — Amarre também.
— Tire suas mãos de mim!
Lynch lutou para erguer a cabeça pesada, tentando ver o que eles estavam fazendo com Rosa. O vermelho brilhou em sua visão quando dois homens a arrastaram para dentro da cela. Suas mãos estavam amarradas atrás dela, o sangue espirrava em suas saias, mas ela se contorceu em suas mãos como se pensasse em se libertar.
Um deles cerrou o punho e a acertou no abdômen. Rosa engasgou, encolhendo-se sobre o braço do homem com um grito suave. Mate-os... Lynch se mexeu, sua perna chutando levemente. Os músculos de seus ombros doíam enquanto ele se esforçava para conseguir algum movimento em seu corpo. Qualquer coisa além de ficar aqui inutilmente.
Onde diabos estava Byrnes? Ele deveria ter voltado quando percebeu que Lynch estava faltando.
O líder deu um passo para trás enquanto arrastavam as mãos enluvadas de Rosa para outro conjunto de algemas e a puxavam para o alto. A ponta de suas botas arrastou no chão, então ela gritou quando eles a puxaram para o ar. Qualquer tipo de operação que estivessem executando aqui, eles sabiam o que estavam fazendo.
A luz mais nua brilhava através da pesada porta da cela. Lynch captou o olhar de Rosa e viu a frustração e a dor ecoando ali. Ela parou de chutar quando o viu, respirando fundo, estremecendo, seus olhos escuros cheios de medo.
— Eles... machucaram você...? — Ele conseguiu grasnar.
Rosa balançou a cabeça. — Não.
Com uma risada, o líder deu um tapa na coxa de Lynch, fazendo-o balançar, as pontas das botas arrastando-se no chão frio de pedra. — Não precisa. — Um largo sorriso iluminou seu rosto feio. — É para isso que você está aqui.
Palavras. Apenas palavras. Mas o gelo desceu por sua espinha com o pensamento. Ele olhou para Rosa, seu cabelo acobreado desgrenhado e caindo em torno de seu rosto pálido. Ela mordeu o lábio e se mexeu contra o peso que arrastava em seus ombros. O olhar de Lynch percorreu a cela. Estava vazia, mas ele podia ver manchas leves de escuridão contra as paredes. Sangue. Pulverizando as paredes como se alguém tivesse rasgado a garganta de um homem.
Ele ficou frio.
É para isso que você está aqui...
Eles não teriam que machucar Rosa. Ele iria. Ele sabia disso com tanta certeza quanto conhecia seu próprio nome. Esses homens estavam envolvidos com os massacres de alguma forma. Os mecanicistas dos quais Mercúrio falou.
Ele não sabia o que eles fizeram com Haversham, Falcone e Alistair, mas ele tinha a suspeita de que estava prestes a descobrir.
Não. Ele estremeceu - ou tentou. Todos os músculos de seu corpo pareciam lentos, como se tivessem pesado seus ossos com implantes de aço.
— Tudo bem, rapazes —, disse o líder. — Vamos deixá-los com o destino deles. — Ele encontrou os olhos de Lynch com um olhar malicioso. — Eu o verei em uma hora ou mais, Sir Falcão da Noite.
Então a porta da cela se fechou atrás deles.
— Rosa.
Ela chutou inutilmente. Os músculos de seu abdômen doíam e ela ainda não tinha recuperado o fôlego, ou então teria protestado mais.
— Rosa. — A voz de Lynch estava fria, mas algo a advertiu - algum indício de tensão subjacente.
Ela olhou para ele. Barras de luz listravam seu rosto da pequena janela gradeada na porta da cela. O movimento mexeu em seus membros, sinais de que a cicuta estava finalmente passando. Eles devem ter batido nele com uma grande dose para mantê-lo no chão por tanto tempo.
— O que? — Ela sussurrou.
Por um momento, uma emoção desconhecida cruzou seu rosto, lá e foi tão rapidamente que ela não reconheceu. Sua respiração ficou presa e ela se acalmou, olhando através da expansão sombria para ele.
— Eles levaram sua pistola, não é? — Ele perguntou. — Você tem alguma coisa que possa ser usada como arma?
Apenas ela e seu treinamento, mas ele não podia saber disso. — Não. Eu sinto muito. Não tenho nada com que lutar contra eles.
Sua expressão se apertou. Ele praguejou baixinho e olhou ao redor. — Suas algemas estão bem apertadas? Você pode se livrar?
Sua urgência queimou por ela. — O que você não está me dizendo?
— Apenas responda à maldita pergunta! — Ele perdeu a cabeça.
Isso a chocou. Ele nunca ficou assustado. E foi isso que ela reconheceu em seus punhos cerrados enquanto ele lutava contra as algemas.
Rosalind lambeu os lábios e olhou para cima. — Talvez, — ela admitiu. — Tenho vários grampos no cabelo. Posso conseguir arrombar isso.
— Faça.
Apertando os lábios com força, ela colocou todo o seu peso no pulso direito e estendeu a mão para agarrar um laço da corrente com o esquerdo. Sua mão de ferro agarrou com força os elos e ela se ergueu, alto o suficiente para cravar a mão direita no cabelo. Seus dedos finalmente travaram em torno da ponta de um alfinete e ela o puxou com um suspiro, o peso de seu corpo caindo de volta contra as algemas. Isso teria sido fácil dez anos atrás, mas ela não treinava mais todos os dias como fazia sob os cuidados de Balfour. Então ela estava em forma, ágil e muito mais forte do que agora.
— Consegui. — Ela engasgou, seus ombros doendo contra o balanço das algemas.
Vozes soaram no corredor fora da cela. Seus olhos se encontraram.
— Você precisa sair, Rosa —, disse ele. — Abra a fechadura e saia. Fique o mais longe possível daqui.
Uma risada lá fora. Seu olhar se sacudiu dessa forma quando alguém abriu um alçapão de ferro na porta.
— Dê-me lembranças, Sir Falcão da Noite.
Rosalind estremeceu quando algo foi jogado na cela. A bola de ferro mal tinha o tamanho do punho fechado de Lynch e sacudiu o chão de pedra, quicando na parede oposta antes de parar no centro da cela. Parecia quase como as bolas de vidro mecânicas com as quais as crianças brincavam nos becos acima do solo, perseguindo-as até que finalmente parassem. Como uma das bolas que eles encontraram na sala de jantar de Falcone.
Ela olhou, suor frio cobrindo seus lábios. Que diabo era isso? E por que Lynch estava olhando para ela como alguém olha para uma cobra viva? Ele lutou contra as algemas, um rosnado silencioso em seus lábios enquanto se sacudia e se contorcia.
— Adoraria ficar e assistir ao teste final —, disse o estranho. — Mas vocês, vorazes, não gostam de ficar presos. Estaremos por perto... para quando acabar.
O alçapão de ferro se fechou com força e então a risada foi se esvaindo.
— Lynch, — ela sussurrou, o medo a esfaqueando. — O que está acontecendo?
A bola de ferro estremeceu, uma linha fina se tornando aparente em torno de sua circunferência, como se alguma pressão interna lutasse para forçá-la a se abrir.
— Isso é o que eles fizeram com Falcone, — Lynch rosnou. Ele lutou furiosamente, torcendo o corpo para tentar arrancar as algemas do teto. — Estou certo disso. Você tem que sair.
O que eles fizeram com Falcone... Ela olhou para ele por um longo momento enquanto suas palavras eram penetradas. Ele sabia. De alguma forma, ele sabia o que estava por vir - assim como sabia que não seria capaz de se impedir de machucá-la.
Ela viu a verdade em seus olhos enquanto ele se debatia desamparado, então ficou imóvel, ofegante. Ele não conseguia se libertar. Ele tinha sido enfraquecido pela cicuta até ficar quase humano em força, mas se a sede de sangue o atingisse do jeito que tinha feito com Haversham ou Falcone ou seu primo... ele seria imparável. É por isso que ele perguntou se ela tinha algo que pudesse ser uma arma. Não era para usar contra os mecanicistas. Não, era para usar contra ele.
O calor foi drenado de seu rosto, sua mão formigando de dormência.
— Eu sinto muito.
— Não sinta. — Ela desviou o olhar, assustada com a derrota em seus olhos. — Eu não vou deixar você me matar. — Ela respirou fundo e soltou o ar lentamente. Pense, maldita seja. Ela sobreviveu a coisas piores do que isso. Se havia um presente que Balfour já havia dado a ela, era este - o desejo de sobreviver contra todas as probabilidades.
A bola começou a tremer com tanta força que estremeceu no chão. Quase aberta.
— Eu quero que você —, disse ela lentamente, — pense em botões.
O olhar de Lynch disparou para o dela. — O que?
— Meus botões, para ser mais específico.
— Rosa!
— Vou fugir —, acrescentou ela. — Mas eu ouvi dizer que sangue azul tem fortes... impulsos. Fomes fortes.
Ele entendeu o que ela queria dizer. — A sede de sangue é mais forte.
— Vamos testar essa teoria como último recurso —, respondeu Rosalind, apertando os dedos ao redor do alfinete em sua mão. — Você me quer, meu senhor. Então pense nos meus seios, dos quais você nunca consegue tirar os olhos, e naquela tarde na biblioteca, onde você me deixou bastante insatisfeita. — Chutando as pernas para cima, ela prendeu um tornozelo em torno de uma das correntes, a saia caindo sobre sua cabeça.
A bola de ferro estourou com um chiado, o vapor jorrando por pequenas aberturas em torno de seu meio.
Lynch tossiu. — Rápido!
Um perfume doce atingiu seu nariz quando a nuvem de vapor flutuou pelas pedras, pairando baixa no momento. Ele envolveu as pernas pendentes de Lynch e por um segundo ela viu seu medo novamente.
Ele não podia ceder ao medo. Se o fizesse, estaria completamente perdido.
Rosalind engoliu em seco, seu alfinete deslizando na fechadura. Sucesso. Ela soltou a respiração. — Você nunca perguntou. — Ela disse, forçando sua voz a permanecer calma.
— Nunca perguntei o quê?
— Se eu obedeci sua instrução final no observatório naquele dia. Se eu esperei por você.
Por um momento, o olhar de Lynch se fixou no dela. As sombras piscaram em seus olhos, roubando a cor deles. Ele os fechou com força. — Isso não está ajudando.
— Você vai perder o controle —, disse ela sem rodeios. — Experimente e pense...
— Eu não vou perder o controle, — ele retrucou, um músculo em sua mandíbula se contraindo. — Eu não posso. Eu não vou.
O vapor se contorceu ao redor dele com gavinhas famintas. E Rosalind finalmente o entendeu. A razão pela qual ele nunca tirou da veia e controlava estritamente a ingestão de sangue. Este era o seu maior medo - a perda de controle, a sede de sangue. Pela primeira vez, ela percebeu o que seria ser atingida pelo desejo, lutar contra o instinto e a necessidade, quando seria muito mais fácil ceder.
— Eu sei que você pode lutar contra isso.
— Não confie em mim —, ele engasgou. — Ponha as mãos em uma arma - qualquer coisa - e não tenha medo de usá-la.
O vapor subiu, obscurecendo sua visão de seu corpo. Lynch se esforçou, tentando se erguer acima disso.
Rosalind voltou sua atenção para a fechadura. Ela deslizou o alfinete dentro dela, tateando às cegas na escuridão.
A fechadura finalmente clicou.
Abrindo a algema, ela flexionou os dedos de aço e agarrou a corrente acima da mão direita. Ela não tinha tempo para sutilezas. Em vez disso, ela puxou com força, sua mão biomecânica quebrando os elos da algema.
— Merda! — Seus olhos se arregalaram quando ela começou a cair. Batendo no chão com força, ela ficou deitada por um momento de pânico e sem fôlego.
— Rosa? Você está livre?
— Eu estou livre. — Ela rolou sobre as mãos e joelhos com um estremecimento. O vapor obscureceu a cela e ela tossiu quando o cheiro pegajoso dele coagulou seus pulmões.
— Você pode... sair?
Tateando ao longo da parede, ela viu as faixas brilhantes de luz contra a escuridão nebulosa. A porta!
Lynch era uma sombra escura na névoa. Rosa chutou a bola de ferro para o canto, parando quando viu seus olhos brilhantes fixos nela. Como uma presa.
— Você fez? — Ele engasgou, cerrando e abrindo os punhos. Um arrepio percorreu seu corpo.
— Eu o quê?
— Você esperou?
Ela se afastou dele quando seus olhos ficaram pretos com uma necessidade feroz. Ele os apertou com força, tentando se segurar.
— Eu esperei, — ela sussurrou. — Ainda estou esperando.
Lentamente, ela estendeu a mão atrás dela para a porta, sentindo a fechadura na escuridão. Seu alfinete havia torcido. Ela precisaria de outro. Mas ela não conseguia, no momento, tirar os olhos dele. O vapor o obscureceu completamente e ele estremeceu, ainda lutando, mesmo agora, para não perder o controle de si mesmo.
Rosalind mal conseguia vê-lo. Mas ela ouviu um silvo baixo de respiração, um som que a aterrorizou, apesar de suas intenções. E então o som de metal esticando enquanto ele arrancava suas algemas.
— Corra —, ele implorou. Outra risada tensa, como se lutasse para contê-la. — Pelo amor de Deus, corra!
Rosalind se virou e enfiou outro alfinete na fechadura, seu coração batendo forte no peito de terror.
Ele tinha acabado de perder a batalha.
Capitulo 16
A porta se abriu e Rosalind não perdeu tempo para ver se ele havia se libertado. Ela podia ouvi-lo se esforçar, um grunhido baixo de frustração ecoando em sua garganta enquanto ele lutava contra as algemas. O aço não o manteria neste estado. Não por muito tempo.
Empurrando o ombro contra a porta, ela cambaleou para dentro do túnel - parecia um antigo túnel de manutenção de algum tipo, com um par de tochas acesas continuamente em seus nichos.
Agarrando um punhado de saias, ela começou a correr.
Atrás dela, um rugido frustrado ecoou quando ela escapou. O som enviou um calafrio por sua espinha, seus passos se alongando em resposta. Precisava fugir. Se ele a pegasse-
A porta no final do túnel estava trancada. Rosalind sacudiu a maçaneta, então bateu sua mão de aço contra ela em frustração. — Maldição!
Atrás dela caiu o silêncio.
Rosalind se virou lentamente, os cabelos de sua nuca se arrepiando. No final do túnel, uma figura escura saiu da cela, movendo-se com uma graça misteriosa e predadora. Ele parou e olhou para ela, seus olhos negros de fúria, necessidade e fome.
Rosalind arrancou um grampo do cabelo e girou, prendendo-o na fechadura. — Vamos lá, — ela murmurou, sacudindo-o até sentir que pegava. — Vamos! — Um olhar por cima do ombro o mostrou caminhando em sua direção, sem pressa, sabendo que ela não poderia escapar. Rosalind bateu com o punho contra a porta, reprimindo-a. Por um golpe de sorte, a fechadura clicou. Ela puxou a porta, sugando um assobio assustado de respiração entre os dentes quando ela abriu.
— NÃO!
O grito de raiva de Lynch ecoou no túnel e Rosalind disparou pela porta, batendo-a atrás dela. Havia uma chave em um gancho ao lado da porta e ela a enfiou na fechadura e girou-a, olhando pela fresta da janela enquanto Lynch trovejava em sua direção.
— Maldito seja! — A fechadura estalou e Rosalind cambaleou para longe da porta quando ele a atingiu.
As dobradiças gritaram em protesto, poeira sacudindo das paredes de pedra. Rosalind encontrou seus olhos e não viu nada humano ali. Não o homem que ela conhecia. Não o homem de quem ela gostava. Aqui estava seu próprio medo secreto, olhando para ela com olhos frios e famintos.
Seus punhos envolveram as barras e ele se torceu. O ferro gritou, dobrando-se como borracha indiana. Rosalind se virou e subiu correndo um lance de escadas.
Atrás dela, um enorme estrondo ecoou.
Mais rápido, seus pulmões gritando por ar. Ela lançou um olhar por cima do ombro e viu algo se mover nas sombras atrás dela.
Uma porta apareceu na parede. Rosalind passou por ela, batendo-a atrás dela e trancando-a antes que ela se virasse e desabasse contra algo no escuro. Seus dedos desajeitados encontraram um lampião de contrabandista e um pacote de fósforos. Impressionante, ela acendeu o pavio do lampião com dedos trêmulos.
Algo bateu na porta. Rosalind deu um pulo. Uma mesa estava no centro do cômodo, com bancos nas laterais. Ela correu atrás dela, embora a mesa fosse de pouca ajuda.
Caixas de bolas de ferro brilhavam à luz bruxuleante, com pequenos mostradores de relógio amarrados a elas. Rosalind correu os dedos sobre uma delas, sentindo a costura fina que corria ao redor do meio. Devia haver dezenas aqui. O suficiente para enlouquecer uma horda de sangue azul. O que os mecanicistas estavam planejando?
Outra sacudida estremeceu a porta. Rosalind girou, seu olhar vasculhando o cômodo em busca de algo para ajudá-la. Ferramentas de metal penduradas na parede, sinais do comércio de um mecanicista. Ela pegou uma das ferramentas e o fechou em seu punho, procurando por algo mais afiado. Uma prateleira de garrafas alinhava-se na parede oposta, o vidro brilhando quando ela levantou o lampião e a trouxe para mais perto. Tirando a rolha, ela cheirou o líquido incolor. O mesmo cheiro adocicado doentio que ela reconheceu na cela a fez colocar a rolha de volta.
Um silêncio ensurdecedor caiu, fazendo seu coração bater forte em seus ouvidos.
Então um punho veio pela porta.
Rosalind gritou, largando o lampião no banco e girando para encará-lo. Seu olhar caiu sobre uma pilha de mercadorias em uma pequena mesa perto da porta. Uma arma de dardos com as penas azuis brilhantes de um dardo de cicuta.
Lynch tateou em busca da chave, girando-a na fechadura. Então sua mão se retirou, os nós dos dedos ensanguentados. Lentamente, muito lentamente, a maçaneta girou.
Rosalind se recostou no banco. Nenhum lugar para correr. Nada com que lutar contra ele. Se ao menos ela pudesse pegar a arma de dardos.
A porta se abriu lentamente. A escuridão entrou, materializando-se em um homem que ela mal reconheceu. Seu cabelo preto brilhava à luz do lampião, a chama piscando em seus olhos de obsidiana. A luz forte esculpiu os traços refinados de seu rosto e ombros largos.
— Lynch? — Ela sussurrou.
Ele estava respirando com dificuldade, seu peito subindo e descendo. Ele fechou a porta lentamente. Em seguida, trancou-a. Por um momento, sua cabeça se curvou, como se alguma parte dele ainda lutasse pelo controle. Então ele começou a ir em sua direção.
Cada passo era hipnotizante, seu poder e graça tão perigosos que roubou seu fôlego.
Rosalind engoliu em seco. Não adiantava correr ou lutar. Qualquer um dos dois apenas despertaria suas fomes. — Você gostaria de... outro botão? — Ela sussurrou, erguendo as mãos para os pequenos botões que curvavam seu corpete. Seus dedos estremeceram e o botão superior se rasgou, caindo no chão. O algodão lavanda estava quase estragado de qualquer maneira.
Lynch se acalmou, sua mão enluvada deslizando sobre a extremidade da mesa como se estivesse pensando. Rosalind arrancou outro botão, descartando-o com pressa.
Então outro.
— Você se lembra do observatório? — Ela perguntou, puxando os botões minúsculos desesperadamente.
Seu olhar mergulhou, correndo acaloradamente sobre a pele exposta de seu decote.
— É isso. — Ela sussurrou, dando um passo lateral ao redor da mesa. Mais perto da porta - e da arma de dardos.
Ele não gostou disso. Rosalind se acalmou quando os músculos de suas coxas se contraíram. Estendendo a mão, ela lentamente sacudiu os últimos grampos em seu cabelo, deixando-o cair por cima do ombro em espirais brilhantes e acobreadas. A luz do lampião fez brilhar ricamente contra sua pele pálida e o olhar faminto em seu olhar endureceu.
— Você é minha. — Ele disse friamente.
Então ele estava sobre ela. Rosalind mal teve tempo de respirar fundo quando a mão dele afundou em seu cabelo e puxou sua cabeça para trás. Ela pegou um punhado de sua camisa e reprimiu um grito quando sua boca cortou sobre a dela.
Lynch a devorou, batendo suas costas contra a parede. Uma caixa caiu do banco e aquelas pequenas bolas de metal rolaram por toda parte enquanto sua língua empurrava, quente e forte, contra a dela. Rosalind se derreteu contra ele, seus joelhos cederam quando uma onda de alívio a encheu.
— Sim. — Ela quase soluçou, agarrando um punhado de seu cabelo.
Lynch a segurou por baixo das coxas, deslizando-a sobre o banco enquanto a beijava desesperadamente. Ela não conseguia respirar, não conseguia escapar dele. Ele estava em cima dela, seu corpo enorme envolvendo o dela com uma possessividade que ela não podia lutar. Seus dentes sugaram seu lábio inferior entre eles e ele a mordeu, uma mão agarrando seu pulso direito.
Mas pelo menos ele não tirou sangue. Ainda.
Rosalind choramingou, envolvendo as pernas em volta dos quadris dele enquanto o beijava de volta com uma ferocidade nascida do alívio. Ela não podia deixá-lo ir. Nem por um segundo. Se o fizesse, ela poderia perdê-lo.
A porta se abriu e um homem entrou, todo vestido de couro preto.
— Não! — Ela gritou quando Lynch se desvencilhou de seus braços e saltou em direção ao estranho. O Falcão da Noite.
Se ela não soubesse melhor, ela teria pensado que ele colocou seu corpo entre eles, um gesto quase protetor. Mas então isso não poderia ser verdade. Ele não estava pensando agora. Apenas reagindo.
Seus corpos se encontraram, Lynch jogando o Falcão da Noite contra a parede. Os olhos do homem se arregalaram em choque. — Senhor?
— Ele vai te matar! — Ela gritou.
Os olhos azuis gelados do estranho cintilaram para os dela, então ele empurrou um cotovelo no rosto de Lynch que levantou sua cabeça. Uma expressão sombria cruzou o rosto do estranho - totalmente implacável.
Lynch foi para sua carótida, mas o homem cortou um punho na garganta de Lynch e prendeu um tornozelo atrás do seu. Ambos caíram, o Falcão da Noite lutando desesperadamente.
Não havia sutileza nos movimentos de Lynch. Ele foi reduzido ao básico de sobrevivência, mal se protegendo, com a intenção apenas de matar. No entanto, sua raiva e força eram imparáveis.
Rosalind deslizou para fora do banco lentamente, os olhos na arma de dardos. Avançando em direção a ele, ela se encolheu quando Lynch jogou seu homem de cara no chão. Sua cabeça se ergueu, rastreando seus movimentos. Rosalind engoliu em seco, seus dedos se fechando sobre a arma de dardos.
Ele veio até ela tão rápido que ela mal podia ver. Apenas anos de treinamento salvariam sua vida. Ela atirou nele a um metro de distância. Ele deu mais um passo, seus joelhos dobrando enquanto a cicuta corria por suas veias.
— Sinto muito, — ela sussurrou quando aqueles olhos negros encontraram os dela, estranhamente humanos naquele momento. Traído. — Sinto muito.
Capitulo 17
A consciência veio lentamente.
Lynch lutou para chegar lá, esforçando-se, ansioso, a fome o agarrando com tanta força que gritou. Algo o impedia. Homens gritando. O cheiro quente e acobreado de sangue no ar e então o respingo dele contra seus lábios. Nunca seria o suficiente. Ele o queria quente e fresco, doendo para tirá-lo da garganta de alguém. Para rasgar e matar, para rasgar a carne como se fosse papel e se afogar em sangue.
Ele não conseguiu encontrá-la. Não importava o quanto ele se esforçasse, olhando além do redemoinho de rostos, ela não estava lá. O medo o levou. Medo e uma fúria protetora que ele não podia lutar. Sua mulher. Dele. E alguém a estava mantendo longe dele.
Um rosto apareceu, as mãos agarrando seus ombros. — Sou eu, senhor. Garrett!
As palavras estavam estranhamente distorcidas. — Onde ela está? — Ele gritou, rasgando as algemas de metal que o mantinham preso nas costas.
Uma mão deslizou sobre o ombro do homem. — Ele não está mais lá, rapaz, — um homem mais velho disse rispidamente. — Deixe-o ir.
— Não! Dê a ele mais cicuta. — A luz dourou o cabelo acobreado do homem e tudo o que Lynch viu foi a cor do sangue. — Nós esperamos ele sair. Ele vai voltar.
Então ele estava deslizando para a escuridão, seu corpo afrouxando contra o aço que o mantinha preso. Não importava o quão forte ele se esforçasse, ele não conseguia sentir nem mesmo uma sugestão daquele cheiro familiar de limão.
Dez horas desde que ela o viu pela última vez. Gritando e apertando em suas algemas...
Rosalind passou os braços em volta dela e olhou através da escuridão. Ao lado dela, o sopro suave da respiração de Jack através do filtro de ar coçou seus nervos.
— Onde ela está? — Ela murmurou, estremecendo de frio. Ela sentiu isso profundamente esta noite. Como se o susto da noite anterior tivesse penetrado em seus ossos. Ela achou que Lynch ficaria bem quando o trouxessem de volta para a guilda. Mas ele não estava.
— Ela estará aqui. — Jack disse, sua voz suave e melodiosa. Sua garganta era a única parte dele que não havia sido danificada por Balfour e seu gotejamento constante de ácido. Seus pulmões eram outro assunto, daí o filtro de ar na máscara. O ar denso e sufocado pelo carvão de Londres era rico demais para ele, levando-o a paroxismos de tosse sem ele. Às vezes ela se perguntava se ele não estaria melhor no campo, ou em algum lugar ao longo do Mediterrâneo, onde o ar era claro e quente. Talvez a Itália, onde não havia sangue azul e a igreja governava suprema. Ele gostaria disso.
Rosalind tirou o relógio de bolso do colete justo que apertava suas curvas e o examinou. A parte de trás era uma bolha de vidro transparente, revelando as engrenagens de latão sinuosas dentro dela, enquanto o rosto era coberto por uma folha de pérola. Um lampejo de luz a gás atingiu a pérola e a transformou em um brilho de arco-íris.
— Dez. — Ela murmurou. Como que para irritá-la, um sino tocou nas proximidades, sobre as torres do telhado de uma velha igreja meio queimada. Uma, duas, três vezes... Ele continuou, cortando a névoa espessa.
— Eu deveria ter ido com Ingrid. — Ela murmurou.
Jack lançou-lhe um olhar, seus óculos monoculares brilhando assustadoramente à luz baixa do gás. — Acabamos de te trazer de volta. Eu não vou deixar você sair de novo, não com aqueles sangradores lá fora. — Sua voz ficou áspera. — Não vou deixar você se aproximar deles nunca mais.
Ela não tinha nada a dizer sobre isso. Se ele descobrisse a verdade - o motivo do sangue em suas saias quando ela fugiu de volta para casa e o tremor que ela não conseguia parar em suas mãos - ele teria ido atrás de Lynch com um forcado. Do jeito que estava, ela teve que inventar alguma história sobre ser abordada em seu caminho para casa por um anônimo de sangue azul.
Foi a primeira mentira que ela contou ao irmão mais velho. Crescer nas ruas sombrias endureceu os dois para o mundo e os fez agarrar-se um ao outro. Eles não podiam confiar no mundo. Apenas um ao outro. Ele a protegeu e ela a ele por anos, até aquele dia fatídico em que ela enfiou a mão no bolso e Balfour a viu.
Ele a reconheceu como sua, uma das três crianças que sua mãe tinha tirado dele quando ela quebrou seu contrato de servidão e fugiu dele. Rosalind nunca soube realmente por que sua mãe fazia isso, embora talvez pudesse adivinhar. Nesse estágio, ela já estava morta há muito tempo e Rosalind e Jack haviam feito o que precisava ser feito para sobreviver. Jack a conhecia até o último centímetro de sua alma.
— Estou bem —, disse ela. — Não foi nada que eu não pudesse lidar.
— Não foi? — Ele abriu o pequeno filtro de ar de cobre no meio de sua meia máscara de couro e colocou os dedos ao redor do buraco, respirando neles para aquecê-los. — Você tem se distraído ultimamente.
— Estou preocupada com Jeremy.
— Você está? — O tom de barítono de sua voz atraiu seu olhar.
— O que você quer dizer? Claro que estou preocupada com ele.
Jack ergueu lentamente a mão enluvada, o dedo indicador afastando uma mecha de cabelo dela. Seu dedo roçou seu pescoço timidamente. — Você tem uma marca de mordida na nuca. O tipo que um homem dá a sua amante.
Ela não conseguia respirar. Lynch. No banheiro. Ele a mordeu lá, sugando a pele até que ela machucou e ela esqueceu tudo sobre isso. Rosalind se esquivou de sua mão, puxando a gola de seu casaco mais para cima. — Não faça isso.
— Você está com problemas, — Jack disse calmamente. — A última vez que te vi assim foi quando você foi enviada para espionar Nathaniel.
Rosalind se virou, olhando para o beco estreito. O tijolo estava furado, marcado e coberto por uma espessa poeira de carvão, mas ela não viu nada disso. Em vez disso, o rosto de Nate surgiu em sua mente.
Chefe do movimento humanista em Londres, ele foi um idiota irreprimível que discutia nas ruas pelos direitos humanos e então ousou levar seus argumentos para a Torre de Marfim. Organizando uma entrevista com ele, ela o tinha enrolado em seu dedo antes mesmo que ele terminasse de gaguejar uma saudação. Uma ameixa madura para a colheita. Uma semana depois, eles se casaram e ela era a Sra. Nathaniel Hucker, a cobra em sua cama, relatando tudo o que ouvia para Balfour.
Um sonhador, sim. Ingênuo. Cego. Sim. E o melhor dos homens. Quatro meses para ele derreter seu coração e fazê-la começar a questionar tudo o que Balfour já lhe disse. Ela manteve suas dúvidas em segredo de Balfour, mas não de Jack. Lentamente, a maré mudou. Ela se reportava a Balfour, mas apenas o suficiente para acalmar suas suspeitas. E quando ela começou a ouvir o que Nate pregava sobre direitos humanos, ela começou a acreditar.
O conflito de lealdade a havia dividido em duas. Ela se apaixonou perdidamente pelo marido, mas, àquela altura, Balfour possuía seu corpo e sua alma por oito anos. Ela matou por ele. Espiou por ele. Seu pequeno falcão. Ela teria feito qualquer coisa por ele.
Exceto matar Nathaniel.
— Quem? — Jack perguntou simplesmente.
Lágrimas queimaram os olhos de Rosalind. Ela balançou a cabeça e manteve o olhar irrevogavelmente afastado. O que ele pensaria se soubesse quais pensamentos secretos seu coração continuava produzindo? Nathaniel era humano, mas Lynch não. Lynch era a própria criatura que Jack mais temia.
— Lynch? — Ele perguntou, uma pitada de raiva aquecendo sua voz. — Ele fez isso com você? Ele forçou você na cama dele?
— Pelo amor de Deus, Jack, você acha que algum homem - sangue azul ou não - poderia me forçar a fazer algo que eu não queria?
Seu olhar se aguçou e ela percebeu seu erro. — Então você queria que ele dormisse com você?
Passando a mão pelo rosto, ela procurou Ingrid. — Ele pode me ajudar a encontrar Jeremy. Eu preciso atraí-lo para perto, para...
— Para seduzir um sangue azul? Você poderia deixá-lo realmente tocar em você? Para colocar as mãos encharcadas de sangue sobre você?
— Ele não é assim.
Jack ficou em silêncio. — Isso é exatamente como Nathaniel.
— Não. — Ela balançou a cabeça. — Eu amava meu marido. Isso não é nada assim, mas não posso negar... Lynch é... Ele não é nada como o resto dos sangues azuis. Ele tenta lutar contra isso.
— Não se esqueça do que ele é.
— Eu sei melhor do que ninguém o que ele é.
— E o que diabos isso significa? — Jack agarrou seu braço.
— Nada. — Ela apertou os lábios. Esta manhã ela passou pela guilda para ver se ele estava se recuperando, mas ele ainda não conseguia reconhecer ninguém. Garrett se recusou a deixá-la vê-lo, afirmando que tudo o que Lynch queria era ela.
Isso a assustou. Ela pensou na época que a pior coisa que ele poderia fazer com ela seria beber seu sangue e drená-la até secar, mas ela estava errada. Em vez disso, o demônio dentro dele a reivindicou como sua.
Minha, ele rosnou.
Imagine sua fúria quando descobrisse como ela o jogou. Imagine... sua dor. Rosalind engoliu em seco. Ela se sentia como se tivesse se prendido em sua própria teia de mentiras pegajosas e o peso disso a estava esmagando. Ela não queria machucá-lo. Ele era bom demais para isso.
Jack a observou, sem dúvida tirando suas próprias conclusões. — Você não deveria voltar lá. Ele está fazendo você se desviar de seu curso.
— É a coisa certa a fazer? — Ela sussurrou, pensando no silencioso exército de Ciclope sentado no escuro no Subterrâneo.
Jack ficou tenso. — Não duvide disso. Fizemos esse pacto há oito anos, depois que Nathaniel foi assassinado. Qualquer coisa para derrubá-los - destruí-los.
— Vale a pena a vida de Jeremy? — Ela retrucou, virando-se para ele. — É isso? Porque se foi isso que me custou, então eu não posso fazer isso.
— Tem certeza de que é apenas com Jeremy que você está preocupada?
Ela gemeu baixinho. A verdade. Se ela continuasse como estava, um dia teria que enfrentar Lynch. Valia a pena? Ela poderia realmente derrubá-lo por sua causa?
Não. A resposta foi um sussurro doentio em sua mente. Uma traição a tudo que ela havia defendido nos últimos oito anos. Mas como ela poderia evitá-lo? Ele ficou entre ela e o Escalão e ela sabia que seu senso de dever e honra o forçaria a se mover contra ela.
— Eu vou lidar com isso. — Como?
— Veja se você faz, — Jack disse. — Não se esqueça de onde reside sua lealdade. Com sua família, com seu próprio povo - com os humanos que vivem nesta cidade miserável e procuram em nós a única maldita esperança que eles têm.
— Eu sei onde estão minhas malditas lealdades. — Ela retrucou.
— Diabo os pegue, posso ouvir vocês dois até Limey. — Alguém praguejou. Ingrid se materializou na névoa, arrastando um jovem rapaz sem um olho e três dedos de ferro.
O aperto no peito de Rosalind diminuiu. Ela deu um passo à frente quando Ingrid empurrou o rapaz de joelhos na frente dela. — Encontrei-o nos Poços, apostando no esporte sangrento —, disse Ingrid. — Não pude levá-lo lá, então tive que esperar até que ele perdesse o dinheiro.
Rosalind se ajoelhou, apoiando os cotovelos nos joelhos. — Olá, Harry.
O mecanicista fez uma careta, arrastando-se para uma posição sentada. O sangue escorria de um corte em sua testa. Ingrid não foi gentil, então.
O jovem era da mesma idade que Jeremy e os dois sempre se deram muito bem, mesmo que Harry tivesse olhado para Mordecai em busca de liderança, ao invés de si mesma. Seus lábios se estreitaram enquanto ele examinava a forma ameaçadora de Jack atrás dela. — Não sei nada.
— Sim, você precisa saber — Rosalind sorriu e ergueu um dedo para impedir seus protestos. — Não vamos fingir que você não vai nos contar tudo o que sabe. A questão é se você vai fazer isso agora e ser enviado em seu caminho ileso ou se Ingrid deve quebrar todos os ossos do seu corpo primeiro.
Seus olhos azuis rolaram para Ingrid e ele engoliu em seco.
— Em primeiro lugar, quero saber se você viu Jeremy. Ou não recebeu notícias dele.
Os ombros de Harry relaxaram, como se percebesse que ele não seria chamado para trair seus companheiros mecanicistas. — Não o vejo desde a torre, — ele admitiu. — Pensei que ele estava morto ou levado pelos Falcões da Noite.
Seus cílios baixaram enquanto ela lutava para controlar suas emoções. Suas últimas esperanças estavam se esgotando. Se nenhum dos mecanicistas o tivesse visto... — Por que você acha que os Falcões da Noite o levaram?
Harry encolheu os ombros. — Eu fui meio que jogado, sabe? Eles estavam por toda a torre depois que a bomba explodiu.
Ele não sabia de nada então. Rosalind sentou-se sobre os calcanhares, a garganta seca e apertada. A mão de Jack deslizou sobre seu ombro e ela agarrou-a, apertando suas luvas suavemente enquanto o mundo se dissolvia ao seu redor. A última esperança que ela tinha era Lynch, e ela não tinha certeza se ele se recuperaria de sua sede de sangue.
Ingrid suspirou. — Saia então...
— Espere. — Rosalind ergueu os olhos. — Espere, — ela adicionou suavemente, forçando seus pensamentos a se concentrarem. — Conte-me sobre as bolas mecânicas. As que vocês usam para enlouquecer um sangue azul.
O rosto de Harry empalideceu sob seu tufo de cabelo escuro. — Eu não sei nada.
— Ingrid —, disse ela. — Corte o polegar dele.
— Não! — Harry gritou, subindo nas pedras - diretamente nas pernas de Ingrid.
Ingrid agarrou a mão dele e tirou uma adaga enorme de seu cinto. — Qual? — Ela perguntou a Rosalind. Elas jogaram esse jogo muitas vezes.
Rosalind encolheu os ombros. — Não importa particularmente. Sua escolha.
— Este então. — Disse Ingrid, puxando a mão do rapaz de volta.
— Não! — Ele gritou. — Não, pare! Eu irei dizer! Eu direi tudo que você quiser saber sobre os Orbes do Sentido!
Rosalind gesticulou para que Ingrid se afastasse e se aproximou. — Então me diga, — ela disse. — O que há nos orbes que deixa um sangue azul louco? Existe uma cura?
— Há um Dr. Henrik Doeppler na Extremidade Leste —, ele deixou escapar, olhando para a adaga de Ingrid. — Algum tipo de maluco, mas ele estava tentando encontrar uma cura para o desejo e, em vez disso, encontrou essa fórmula. Não sei se há cura. Não os deixamos viver o suficiente depois...
— Depois dos testes. — Ela encorajou.
Ele olhou para ela.
— Sim —, ela sorriu. — Tenha cuidado para não dizer a verdade, Harry. Você não sabe o quanto eu sei.
— Fizemos testes —, disse ele rapidamente. — Apenas alguns abaixo. Foi 'difícil conseguir os nossos' e com sangue azul, entende?
Ela assentiu.
— Então Mordecai achou que devíamos tentar no Escalão. Deixá-los correndo com medo e veja se funciona bem antes de atacarmos.
Seus instintos estavam certos. Isso era maior do que parecia. — E onde vai acontecer o ataque final?
Harry olhou para ela impotente. — Não sei bem. — Ele ergueu as mãos na frente dele enquanto ela franzia a testa. — Eu não! Eu juro! Mordecai apenas me diz o que preciso saber.
Rosalind franziu a testa. — Eu vi caixotes cheios de orbes. Havia o suficiente para levar metade do Escalão ao frenesi. Ele deve estar planejando um ataque a algo grande, em algum lugar que muitos membros do Escalão ficarão presos juntos.
— A única coisa que eu sei é que vai começar em dois dias, — Harry adicionou prestativamente. — Comecei a enviar as caixas para as gangues esta noite.
Dois dias. Nenhum de seus espiões no Escalão mencionou nada importante.
— Solte ele, — Rosalind murmurou, então estreitou os olhos em Harry. — Se eu fosse você, não diria uma palavra desta reunião a Mordecai.
— Acredite em mim — Ele deu uma risada trêmula. — Eu não vou.
Na manhã seguinte, Rosalind estava nos degraus da guilda, depois de escapar sem acordar Jack ou Ingrid. Ontem de manhã eles não a deixaram entrar. — Por favor, — ela sussurrou baixinho. — Por favor, deixe-o ser ele mesmo novamente. — Se o apelo era para um Deus a quem ela nunca orou antes, ela não sabia.
Batendo fortemente na porta principal, ela esperou com a respiração suspensa. Os minutos se arrastaram e ela estava prestes a bater novamente quando Doyle a abriu.
Seu brilho se desvaneceu quando a viu, um suspiro suave em sua garganta. — Não há nenhuma mudança, Sra. Marberry. Garrett o tratou com cicuta novamente. É melhor você ir embora, talvez eles cheguem aqui.
Ela empurrou a mão contra a porta enquanto ele tentava fechá-la. — Nós sabemos o que os efeitos a longo prazo da cicuta farão com ele?
— Sra. Marberry, nem mesmo sabemos se ele voltará a ser ele mesmo. Ele tem estado selvagem esta manhã. — Novamente ele se moveu para fechar a porta.
— Posso sentar com ele? — Ela deixou escapar, empurrando-se entre a fenda que se estreitava. — Só por meia hora. Por favor?
— Eu não sou tão velho que acho que seja uma boa ideia.
No topo da escada, uma figura escura se destacou das sombras e Garrett se apoiou no corrimão. — Deixe-a passar.
Doyle fez uma careta. — Você sabe como ele tem sido. Não é certo deixar uma senhora entrar com ele assim.
— Não é? Nada do que fizemos fez qualquer diferença. Ele não reconhece nenhum de nós; na verdade, ele nos vê apenas como ameaças. — A expressão de Garrett suavizou quando ele olhou para ela. — Mas ele chamou por você, muitas vezes. Talvez ela possa fazer o que nós não podemos.
Rosalind passou antes que Doyle pudesse dizer outra palavra, sentindo-se sem fôlego. — Ele está sendo perigoso?
Os cílios de Garrett roçaram sua bochecha quando ele olhou para baixo. — Nós o prendemos. Ele só se torna violento quando entramos no quarto.
Ela engoliu o nó duro em sua garganta. Aquele momento no Subterrâneo onde ele a prendeu contra a parede a assustou. Ela nem deveria estar aqui; Jack e Ingrid haviam argumentado contra isso até que ela concordou em não ir, nem que fosse apenas para aplacar os dois.
Mas ela não podia deixar para lá. Ela precisava vê-lo, precisava que ele estivesse bem.
Ela sentia falta dele.
Pegando as saias nas mãos, ela subiu as escadas, caminhando ao lado de Garrett.
— Eu me lembrei de algo —, disse ela, — sobre o ataque. Eles mencionaram um Dr. Doeppler - o homem que criou a droga que... que fez isso com ele. Talvez ele tenha um antídoto?
Garret lançou-lhe um olhar penetrante. — Dr. Doeppler?
— Na Extremidade Leste. — Ela respondeu, seu olhar se estreitando na porta de seu próprio escritório. Ela se sentia tonta, cada passo deliberadamente colocado.
— Eu vejo. Vou mandar alguém ver o médico. — Seu olhar mergulhou em suas mãos entrelaçadas. — Não tenha medo. Eu não acho que ele te machucaria, ou então eu não permitiria isso.
Garrett abriu a porta e conduziu-a para dentro com uma mão fria na parte inferior de suas costas.
— E se ele não quiser me ver? — Ela sussurrou de repente. O silêncio nos aposentos era quase ensurdecedor. — E se isso o levar ao limite novamente?
— Existe esse risco, — Garrett admitiu. — É por isso que ele está amarrado. Ele não pode chegar até você, Rosa. — Uma hesitação. — Mas temo que você possa ter que fazer isso sozinha. Se ele me ver, ele não reage bem à visão de nenhum de nós, e temo que se ele me vir ao seu lado... ele perceberá uma ameaça.
— Ele tem medo de você?
Outra hesitação estranha. — Não exatamente.
— Garrett, por favor. — Ela realmente colocou a mão em seu braço. — Diga-me o que você não está dizendo.
— A escuridão dentro dele - seus demônios, como você quiser chamá-los... Eles estão focados em você, Rosa.
Um frisson de medo - e algo mais - percorreu sua pele.
— Às vezes acontece com sangue azul —, acrescentou ele calmamente, — quando ele deseja uma mulher acima de tudo. É uma força motriz possessiva dentro dele. Para proteger você, ter você com ele, para... — Ele realmente corou. — A necessidade de reivindicar você como seu. Acredito que foi a única coisa que salvou sua vida no Subterrâneo. Sua sede de sangue foi despertada, mas com ela despertou o lado mais sombrio de sua natureza, a parte que reconhece você como dele. — Algo sombrio viajou por aqueles lindos olhos azuis. — Todos nós temos capacidade para isso, Rosa.
Um desastre. Ela nunca poderia escapar dele se isso fosse verdade. E Lynch exigiria mais de si mesma do que ela poderia dar. — O que aconteceria se eu não fosse até ele?
— Se não conseguirmos encontrar uma maneira de trazê-lo de volta, então nós - eu - teremos que matá-lo.
A dor encheu seus olhos e com isso veio a compreensão de que Garrett era um homem melhor do que ela jamais suspeitou. Fazer tal ato o machucaria além de qualquer reparação. Mas ele faria isso se precisasse - aquele senso de dever arraigado que ela suspeitava que Lynch tinha ajudado a incutir.
— Vou tentar. — A parte dela que havia sido treinada por Balfour estava gritando com ela, forçando-a a olhar para isso estrategicamente.
O calor queimava atrás de seus olhos e ela se recompôs e deu um passo para a porta de seu escritório. Suas estratégias cuidadosas que se danassem. Não importava o quanto ela tentasse negar isso, ela sentia algo por Lynch. Algo forte. Algo que quase a fazia se sentir humana novamente.
Ela não poderia deixá-lo para trás se ela fosse a única chance que ele tinha de se recuperar.
Capitulo 18
Rosalind soube assim que tocou na maçaneta da porta que Lynch estava acordado. Ela quase podia ouvi-lo ouvindo e o suor tocou uma mão úmida em sua coluna.
Coragem.
Resolutamente, ela girou a maçaneta.
A visão dele roubou seu fôlego. Respingos de sangue seco e opaco salpicavam seu peito e os lençóis, seus braços puxados bem acima do corpo e presos com enormes algemas de ferro que alguém enfiara na parede com o que pareciam pregos de ferrovia. O lençol cobria seus quadris, mas eles amarraram seus pés da mesma maneira e do frasco e par de agulhas na mesa de cabeceira, eles o estavam administrando com cicuta regularmente.
Ela fechou lentamente a porta atrás dela. Lynch a observou, aqueles olhos negros brilhando na dança bruxuleante da luz das velas. Olhos de predador. Não o homem que ela desejava. Não seu adversário inteligente, seu inimigo mais querido.
— Olá, — Rosalind sussurrou, tentando acalmar seu coração acelerado. — Senti sua falta, meu senhor. — Sua voz soou alta no quarto, o silêncio quebrado apenas pelo ligeiro deslocamento dos lençóis enquanto a cabeça dele se virava para rastreá-la.
Isso era o que ela odiava e temia por tanto tempo. Os olhos de Balfour estavam assim, negros e sem emoção, quando ele cortou a garganta de Nathaniel na frente dela. Você é o diabo, ela gritou com ele então, e ela acreditou.
Esfregando o peito, Rosalind foi até a janela e puxou as cortinas, incapaz de suportar mais a escuridão. O que ela acreditava agora?
Atrás dela, o suspiro baixo de sua respiração chamou seus ouvidos. Quando ela se virou, Lynch desviou o rosto, escondendo-se da luz quase ofuscante. Claro. Os sangues azuis toleravam a luz do sol, mas preferiam a escuridão, com seus olhos excessivamente sensíveis e pele pálida. Quanto mais alta a contagem de vírus, mais duros eles sentiam e agora, com a sede de sangue o governando, ele seria ainda mais sensível.
Rosalind fechou as cortinas semicerradas. — Eu sinto muito. Mas mal consigo ver. — Seu nariz enrugou. O quarto cheirava a sangue. Ela abriu a janela e uma brisa fresca agitou as cortinas.
— Você comeu? — Ela perguntou, sua voz fortalecendo. Ela olhou para as manchas enferrujadas em sua camisa. — Eles deram banho em você?
A resposta, claro, era não.
Cruzando rapidamente para a porta, ela alcançou a maçaneta. Foi só então que ela percebeu o quão relaxado seu corpo estava, pois ele se virou de repente, as algemas cortando sua carne.
— Não!
Rosalind fez uma pausa. Seus olhos se encontraram. — Não vou a lugar nenhum —, disse ela. — Eu só vou mandar Garrett buscar alguns lençóis limpos e água.
A respiração pesou em seu peito, seus olhos brilhando perigosamente. Rosalind girou lentamente a maçaneta. — Eu não vou sair do quarto. — Ela prometeu.
Garrett esperava no escritório de Lynch, pondo-se de pé com uma expressão desesperadamente ansiosa assim que a viu.
Ela balançou a cabeça, não ousando ultrapassar a soleira. — Preciso de água morna e sabão —, disse ela. — Lençóis limpos para a cama dele também e um pouco de vinho de sangue.
Garrett acenou com a cabeça, seus ombros caindo de alívio quando ele saltou em direção à porta. Rosalind não teve coragem de dizer a ele que não houve mudança.
Fechando a porta, ela se voltou para Lynch. Seus lábios se curvaram e ele olhou através da parede, um ronronar raivoso soando em sua garganta.
— Isso é o suficiente. — Disse ela, colocando-se entre ele e a porta. Seu olhar pousou sobre ela e ela estremeceu. Perigoso.
Os músculos tensos de sua garganta se contraíram e ele lutou contra as algemas que o prendiam. Rosalind correu para a cama. — Pare, — ela disse, colocando as mãos em seu peito. — Você vai se machucar.
A reação foi instintiva. A carne dura se flexionou sob suas luvas e seus lábios se separaram quando ela olhou para baixo. Aqueles olhos a observavam novamente, mas o olhar não era mais perigoso. A necessidade primitiva cruzou sua expressão, o desejo queimando no calor negro de seus olhos.
Ele acendeu dentro dela, seu corpo reagindo como se ele tivesse transformado a chama em óleo. Rosalind ergueu a mão de ferro com hesitação, acariciando com a outra mão o peito nu dele. Os botões de sua camisa estavam rasgados, abertos sobre os flancos rígidos e os músculos ondulados de seu abdômen. Instantaneamente ela foi transportada de volta para aquela noite no banheiro, não muito tempo atrás. A sensação de seus dentes na nuca e suas mãos em seus seios e deslizando para baixo, no V de suas coxas. Seus quadris empurrando contra ela, lábios quentes traçando a curva de seu ombro...
Um pequeno arrepio percorreu sua pele, seus mamilos endureceram por trás do tecido fino de sua camisa. O medo teve uma morte curta em seu peito.
Ele não queria machucá-la. Ele nunca quis. Reclamá-la como sua própria sim, afundar os dentes na pele lisa da garganta e beber seu sangue. Se ele poderia ter se impedido, ela não sabia, mas ele não tinha intenções de machucá-la.
Apenas de reivindicá-la.
Dor com a qual ela podia lidar - a ideia de pertencer a ele, a qualquer pessoa, tão completamente, enviou uma emoção nervosa por ela. Não totalmente desagradável, quase o mesmo jogo de nervos que ela gostava em situações perigosas - e ainda muito mais aterrorizante. Seus sentimentos por Nate tinham sido a calorosa alegria da amizade e do respeito compartilhado, um amor que não a desafiava, embora a deixasse se sentindo segura e protegida. Fosse o que fosse - o que quer que ela sentisse por Lynch - era um redemoinho em comparação, e ela não tinha certeza se conseguiria se controlar.
Ela não sabia o que fazer, mas sabia que tinha que tentar ajudá-lo nisso. A ideia de perdê-lo para a sede de sangue quase a sufocou.
— Meu senhor, — Rosalind murmurou, ajoelhando-se na cama e se inclinando sobre ele. — Eu sei que você está aí.
Sua respiração sussurrada traçou sua orelha. Lynch girou a cabeça com um grunhido, respirando com dificuldade enquanto aspirava o cheiro dela em seus pulmões.
Seu coração trovejou em suas veias. Lentamente, Rosalind roçou sua luva de seda nos lábios dele, se inclinando mais perto. Lynch ficou quieto embaixo dela como um enorme gato selvagem, a violência acumulando-se em cada músculo. Mas ela não estava mais assustada. Ele estava amarrado e acorrentado e ela tinha a vantagem.
O pensamento era quase excitante.
Inclinando-se, ela traçou seu dedo enluvado sobre seu lábio, mergulhando úmido em sua boca. Em seguida, abaixo, desçeu pela fenda em seu queixo e depois pela cavidade lisa de sua garganta. Os músculos sob ela endureceram como mármore, mas ele se manteve imóvel, um leve tremor em seus braços. Contido por seu toque, o olhar em seus olhos sombriamente curioso. Como se a avisasse de que não estava de forma alguma domesticado, ele virou o rosto para a mão dela, seus dentes cravando-se na almofada carnuda de sua palma.
Um suspiro molhou os lábios de Rosalind, a sensação parecendo puxar todo o caminho através dela, direto para o coração de seu sexo, até que ela pulsou com fogo líquido. O prazer de sua mordida era quase doloroso, quase um pouco forte demais. Ela se ajoelhou, mordendo o lábio, os dedos se curvando desamparadamente ao redor do rosto dele.
— Por favor. — Ela gemeu. Implorou.
Seus dentes liberaram sua pele e a sensação inundou a carne, fazendo seus olhos se fecharem e um estremecimento percorrer seu corpo.
Uma batida na porta arrancou sua cabeça, uma onda de calor queimando suas bochechas. Garrett a tinha ouvido? A tensão percorreu o corpo rígido na cama e ela acariciou seu rosto, virando-o em sua direção.
— Eu voltarei, — ela sussurrou, inclinando-se para roçar os lábios contra sua bochecha. A aspereza de sua barba por fazer áspera em sua boca sensível. — Então vamos terminar isso.
Cílios escuros cobriram seus olhos. Ele gostou disso.
Rosalind correu para a porta. Empurrando-a aberta apenas o suficiente para seu corpo, ela viu o olhar de Garrett levantar sobre seu ombro. Algum impulso protetor quase a fez se endireitar, como se quisesse bloquear Lynch de sua vista.
— Obrigada. — Ela murmurou, aceitando o pacote em seus braços. Um par de lençóis, com uma tigela de água equilibrada em cima e uma barra de sabão amarelo-manteiga ao lado.
— Ele está...
— Vá — disse ela, fechando a porta com a ponta do sapato. — Ele não vai me machucar.
A porta se fechou na cara dele.
— Sra. Marberry. — Garrett chamou através da porta.
Rosalind olhou por cima do ombro enquanto Lynch se mexia, olhando malevolamente para a porta. — Você o está deixando pior. Nos deixe em paz. Mandarei chamá-lo quando precisar.
— Há um vinho de sangue no armário de bebidas no canto. — Em seguida, os passos de Garrett ecoaram do outro lado da porta enquanto ele se afastava, o som desaparecendo quando ele fechou a outra porta entre eles.
Endurecendo-se, Rosalind se virou, os braços doendo com o esforço dos lençóis e da bacia de água. Ela os largou e rapidamente arrancou a camisa de seus braços. Não havia sentido em retê-lo; estava bastante arruinado.
— Aproxime-se. — Lynch comandou, sua voz um sussurro áspero enquanto seu olhar travava em sua garganta.
— Não, — Ela respondeu, puxando o lençol debaixo dele. Sua expressão se suavizou quando viu a fúria indefesa cruzar seu rosto. — Por favor. Deixe-me cuidar de você. — Seus cílios baixaram. — Talvez você até goste, senhor?
Quietude. Ele a observava; ela podia sentir formigamento em seu couro cabeludo.
Depois que ela tirou e refez a cama, ela colocou toalhas ao redor do corpo dele e, em seguida, colocou a bacia na cômoda ao lado da cama. Enquanto ela o lavava, ele parecia se acalmar, suas pálpebras meio fechadas. Ela se ajoelhou sobre ele com a toalha, puxando o lençol para baixo.
Os olhos negros de Lynch fixaram-se nos dela e seus quadris deram um impulso sugestivo enquanto ele respirava fundo.
— Não até que você volte para mim. — Ela sussurrou.
Esses olhos se estreitaram perigosamente. — Eu nunca saí.
Seu lado sombrio a tentava. Rosalind deslizou a toalhinha ensaboada sob o lençol, a mão segurando a onda de sua ereção. Lynch congelou, as costas rígidas.
— Você sabe o que eu quero. — Ela sussurrou, agarrando seu pênis. O calor atravessou seu abdômen... e mais abaixo.
— Você sabe o que eu quero.
— Me reivindicar, — Ela murmurou, incapaz de desviar o olhar dele. Torcendo o pulso, ela puxou outro suspiro rosnado dele. Seus mamilos endureceram e Rosalind engoliu em seco. — Talvez eu reclame você? — Ela sugeriu, o pensamento queimando por ela com intensidade perversa.
Jogando a toalha de lado, ela o enxugou com a toalha, sem pressa e prestando atenção provocadora à sua ereção tensa. Ela pensou que a expressão em seus olhos não poderia ficar mais sombria, mas ele estava quase se contorcendo agora, a fúria e a necessidade o sufocando. As algemas chacoalharam quando ele as puxou.
— Me deixe ir.
— Deixe-o ir. — Ela rebateu, agarrando um punhado de suas saias e montando nele.
Aqueles olhos impiedosos se fixaram nela. — Eu sou ele.
— Você é toda a escuridão nele. — Ela corrigiu, inclinando-se e pressionando um beijo em seu peito. A combinação de medo e poder a fez se sentir terrivelmente tonta.
— O que você acha que ele é? — O demônio dentro dele sussurrou.
Rosalind estendeu a mão e traçou sua língua sobre seu mamilo. Lynch estremeceu. — Ele é bom, — ela sussurrou. — E leal, honesto e corajoso. — Ela tomou seu tempo, seus dentes afundando na carne delicada de seu mamilo.
— E o resto? A escuridão, — Ele exigiu com um grunhido. — Você pertence a mim também. Nunca se esqueça disso.
Seus quadris empurraram sob ela, carne quente dirigindo contra sua coxa. Rosalind engasgou, seus próprios quadris flexionando. De alguma forma, o fim de seu pênis raspou contra ela, montando a seda molhada que se agarrava à sua boceta.
— Leve-me, — ele sussurrou. — Entregue-se a mim. Preciso de você... Quero você...
Ela não conseguia pensar. Rosalind gemeu e então balançou a cabeça. — Não. Não até você deixá-lo vir à superfície.
— Não... parando ele...
A ponta de seu pênis atingiu a fenda de sua calçola. Rosalind cravou as unhas em seu abdômen ondulado. Ela podia senti-lo agora, sedoso e liso contra sua umidade. Aqueles perversos olhos negros encontraram os dela e então a larga cabeça de seu pênis mergulhou dentro dela.
Ela pensou que estava no controle. Ela estava errada. Um suspiro escapou de seus pulmões e Rosalind se flexionou involuntariamente. Ela queria isso, precisava disso. Mas ela queria estar aqui com ele.
— Por quê? — Ela sussurrou, suas coxas queimando enquanto ela se mantinha acima dele. — Do que ele - você - tem medo?
Lynch sorriu, uma expressão sombria e perversa que a fez derreter. — Ele tem medo de mim. — Ele deu uma estocada. Ganhou mais um centímetro quente. — Ele tem medo de me deixar ir.
Rosalind apertou em torno dele, montando apenas a ponta de seu eixo. Ela assumiu um risco calculado. A escuridão de Lynch, suas fomes, eram apenas outra parte dele. Se ela não podia aceitar, como ele poderia?
Ela jogou a cabeça para trás e afundou-se, cravando-o ao máximo. Suas saias fluíam sobre seu estômago e peito e Lynch gritou de necessidade quando ela o tomou.
Muito tempo desde que ela teve um homem. Há muito tempo ela queria um. Mas ela queria este desde o início e esse pensamento a apavorou. Rosalind encontrou aqueles olhos negros e lentamente, lentamente se arqueou até que apenas a ponta dele a penetrou. Um sangue azul. Seu pior medo uma vez, mas ela estava começando a perceber que ele era apenas um homem, como qualquer outro. Ela cravou os dentes no lábio inferior com um gemido e voltou a se sentar.
— Inferno. — Lynch se arqueou, sacudindo as costas. — Você é tão boa pra caralho.
— Você também. — Sussurrou ela, cavalgando-o lentamente, com firmeza.
— Quero tocar em você... — Seus punhos cerraram e ele rasgou as correntes.
Ela ousaria? Os olhos de Rosalind se estreitaram enquanto ela girava os quadris. Ela queria suas mãos sobre ela. Precisava delas. Estendendo a mão, ela puxou um grampo do cabelo e deu a ele um olhar ardente.
Trabalho rapidamente para desfazer as algemas em seus pulsos. Lynch a agarrou pelos quadris, empurrando seu corpo para baixo da cama de forma que seus joelhos dobrassem e ela fosse empurrada para frente, empalada em seu pênis. A escuridão em seus olhos olhou para ela, capturou-a.
— Sim. — Ela sussurrou, montando-o mais rápido, mais forte, enquanto as mãos dele em seus quadris a encorajavam.
Dedos hábeis deslizaram sob suas saias. — Você parece tão afetada, — ele sussurrou. — Eu gosto disso. — Em seguida, eles estavam abrindo suas calçolas, acariciando a carne quente e úmida que tremia tão desesperadamente.
— Eu gosto de você —, ela gemeu. — Como isso. Eu gosto de você fora de controle, desinibido.
A dúvida assaltou a escuridão. Ela viu e gemeu com a vitória, mesmo enquanto seus dedos causavam um dano delicioso. Eles congelaram.
— Eu machuquei você, — ele disse, como se estivesse se lembrando. — No Subterrâneo.
— Não. — Ela esfregou contra seus dedos, incitando-o. Agarrando seu pulso, ela o pressionou com mais força contra ela. — Você nunca me machucou. Você nunca quis. Tudo que você queria era isso. Para me tornar sua.
Lynch estremeceu, pedaços de cinza rastejando em seus olhos. Rosa percebeu sua vitória e diminuiu a velocidade, esfregando-se contra ele. — Eu não consigo me lembrar, — ele engasgou. — Eu vejo... lampejos disso... De te empurrar contra a parede...
— Às vezes, — ela sussurrou, — Eu gosto quando você é rude comigo. Além disso... — Mordendo o lábio com um gemido. — O que te faz pensar que eu não posso lidar com você? Todos vocês?
Ela gozou com um empurrão explosivo, seu corpo inteiro cantando de necessidade. Um grito suave morreu em seus lábios, seus dedos enluvados cavando em seu peito enquanto ela desabava sobre ele.
— Deus —, ela sussurrou. — Oh Deus.
De alguma forma, ela encontrou aqueles olhos grandes - olhos cinzentos. Rosalind quase gritou de novo, sua mão deslizando sobre sua bochecha em terno desespero quando ele agarrou seus quadris e assumiu o controle. Ela não conseguia se mover, mal conseguia respirar. Tudo o que ela podia fazer era ofegar quando ele empurrou dentro dela, levando os dois até a borda... e além.
Desta vez, não havia como voltar. Rosalind desabou sobre seu peito arfante, seu corpo derretido quando os dedos de sua mão direita se entrelaçaram com os dele.
Lynch ergueu a cabeça, ofegante. — Rosa?
Ela sentiu a diferença em seu tom e soube que tinha vencido a batalha. — Estou aqui. — Ela respondeu suavemente, então beijou a pele fria de seu peito. Seu pênis deu um pequeno aperto provocador dentro dela.
Sua mão deslizou em seu cabelo e a segurou lá, seu outro braço deslizando ao redor dela em pânico. — Não me deixe. Não me deixe ir.
Rosalind se aninhou mais perto, seus olhos fechando sonolentamente. — Eu não vou deixar você ir. Você não precisa mais ter medo disso.
Capitulo 19
Uma batida na porta o acordou.
Lynch se arrastou até uma posição sentada, o lençol amontoando em seu colo. A escuridão patinou em sua visão e seu punho cerrou-se no colchão antes de respirar fundo. Quanto tempo ficaria assim? Cada movimento repentino e som despertando a fome dentro dele? Ele ficou apavorado por ainda estar tão perto da escuridão interior. Um movimento errado e ele poderia se perder nas sombras novamente, vendo nada além de uma presa.
Olhando para seus próprios homens como se fossem o inimigo e para a Sra. Marberry... Ele olhou em volta então. Não havia nenhum sinal dela, além do cheiro fraco e indescritível que pairava em seus lençóis e sua pele. A noite passada foi uma revelação, tanto da carne quanto dela mesma. No escuro, ele fez amor com ela duas vezes mais enquanto a fome crescia nele, saciando-se em sua carne. No meio, ela se enrolou em seus braços, sussurrando com ele. Palavras quietas. Pequenos segredos. Pedaços de si mesma e um pouco da vida que levava nas ruas antes de seu pai a encontrar. Dele, ela falava muito pouco, mas não dizer o suficiente.
Ela deve tê-lo deixado em algum momento durante a noite.
Não, a escuridão dentro dele rugiu.
Passando a mão trêmula pelo queixo, Lynch engoliu em seco. — Entre.
Doyle voltou para o quarto, trazendo uma bandeja do café da manhã com um frasco de sangue aquecido e o Standard cuidadosamente dobrado em cima. O olhar de Lynch se estreitou na garganta de seu amigo e ele desviou o olhar, seu rosto perdendo a cor.
Quanto tempo, droga?
— Meu Senhor. — Doyle o olhou fixamente, como se procurasse sinais disso em seu rosto. — Você está com uma aparência melhor esta manhã.
Lynch acenou com a cabeça bruscamente. — Eu também sinto isso. — Silêncio constrangedor desceu e ele gesticulou para sua mesa lateral. O cheiro do sangue aquecido espalhou sua visão em tons de cinza novamente, e suas narinas dilataram enquanto ele segurava as rédeas de si mesmo.
— Peguei o jornal, senhor. — Doyle continuou a divagar, como em qualquer outra manhã. Ou não exatamente o mesmo. A tensão endureceu seus ombros. — E suas cartas.
— Algo de interesse?
— Duas delas. O Conselho deseja um relatório de progresso - e para lembrá-lo de que você tem apenas dois dias restantes.
— Como eles são gentis. — Seu humor azedou, um calor negro se espalhando por seus olhos. Talvez ele devesse aceitar uma reunião e mostrar a eles o que acha de sua solicitude.
— E isto. — Doyle segurou um pedaço de papel entre os dedos, as sobrancelhas arqueadas. — Um de seus pombinhos, sem dúvida.
Lynch pegou a nota dobrada, olhando as pontas esfiapadas e o papel manchado. Nenhum dos meninos que ele pagou para obter informações sabia ler ou escrever. A antecipação tornou-se uma ponta afiada dentro dele. Ele a abriu, o olhar rastejando nas poucas linhas.
— Eu sei algo que você não sabe. Encontre-me no Dog and Thistle, Shoreditch, às doze.
Ele não reconheceu a escrita, mas soube imediatamente de quem era. A tensão cresceu em seu músculo intestinal, o pensamento da Sra. Marberry surgindo em sua mente. Sua risada rouca enquanto ela estava em seus braços na noite passada, seus olhos brilhando com humor provocador quando ela ergueu os lábios para dar um beijo carinhoso contra seu músculo peitoral. Ao ir encontrar Mercúrio, ele estava efetivamente fingindo que nada havia mudado quando o mundo inteiro havia mudado ao seu redor.
Mas a carta... Ele ousaria ignorá-la?
Ele a esmagou com o punho. Se ele não encontrasse uma maneira de escapar das mandíbulas iminentes da armadilha do Escalão, então de qualquer maneira, não importaria. Ele tinha que fazer algo para apaziguar o príncipe consorte. — Pegue minha armadura.
Um par de Guardas de Gelo em roupas indefinidas tentou segui-lo, mas ele os perdeu na parede, mergulhando na trama espessa da Extremidade Leste. Este era o seu mundo, não o deles, e ele sabia disso como a palma da sua mão.
Dog and Thistle fervilhava de bebedores; trabalhadores da classe trabalhadora e velhos marinheiros grisalhos. Lynch puxou a gola do casaco até a garganta e empurrou entre eles, a pressão de corpos despertando seus instintos predatórios. Ele podia ouvir o batimento cardíaco de cada homem, a visão da garçonete jogando a cabeça para trás com uma risada o prendendo por um momento. Sua carótida latejava fortemente com sangue, um rubor manchando suas bochechas. Lynch desviou o olhar, seus olhos se fixando em uma figura solitária do outro lado do bar.
Mercúrio o observa como se ela soubesse exatamente o que ele estava pensando. Olhando para baixo, ela olhou para sua caneca de cerveja, esperando por ele.
Lynch sufocou a necessidade espessa, empurrando um homem forte que cheirava a sardinha. Uma névoa de fumaça de tabaco pairava no ar acima de sua cabeça, manchando as pesadas vigas que sustentavam o telhado. Alguém aplaudiu quando um dardo se lançou no coração do alvo e alguns rapazes bateram nas costas do lançador com bom ânimo.
Mercúrio arrastava os dedos enluvados dela em pequenos círculos, mexendo o anel pegajoso de cerveja que permanecia no bar. Estava escuro aqui, sombras acumulando-se sobre o casaco pesado que ela usava e os cachos grossos cortados rente em torno de sua cabeça. Alguém havia colado um bigode autêntico em seu lábio e havia pó de carvão - ou sujeira - suficiente sombreando sua mandíbula que ele quase confundiu com barba por fazer.
— Você está atrasado. — Ela disse, cílios grossos e escuros tremulando contra suas bochechas enquanto ela lentamente erguia o olhar.
Ele olhou em um par dos olhos mais azuis que ele já tinha visto.
Olhos azuis.
De alguma forma, o pensamento parecia errado, como se ele devesse reconhecê-la de algum lugar. Lynch franziu a testa, apoiando-se no bar ao lado dela. — Você merece estar no palco.
Ela ergueu a caneca para ele, tomando um gole inebriante. — Acho que já fui.
Isso fez sua mente disparar. Até que ele viu o brilho fraco em seus olhos. Ela estava brincando com ele, sabendo que o mistério de sua identidade o fascinava.
— É aqui que você entra em contato com os sangues azuis? — Ele perguntou friamente, gesticulando para a garçonete pedindo outra cerveja. Cruzando os braços no bar, ele observou o lugar. Mercúrio tinha uma boa visão aqui. Ela podia ver tudo enquanto poucos podiam observá-la. E pela corrente de ar em suas costas, havia uma porta em algum lugar atrás, caso ela precisasse sair com pressa.
— O que você quis dizer?
— As pessoas não decidem simplesmente aderir a uma causa —, respondeu ele, deslizando uma nota de uma libra para a garçonete enquanto ela lhe entregava uma caneca espumosa. — Fique com o troco.
Bebericando a cerveja - não era o que ele queria, mas serviria - ele virou a cabeça para olhar para Mercúrio.
O humor sumiu de seu rosto e de repente ele sentiu o bar se estreitar ao redor deles, como se alguém tivesse batido uma janela invisível entre eles e a risada estridente.
— Você teve um conflito com sangue azul uma vez, — ele disse a ela. — É por isso que você faz isso. Quem quer que tenha sido, o rosto dele te assombra, noite após noite, ou você não se sentiria assim.
A cor sumiu de seu rosto, os dedos apertando em torno da caneca pesada. Ela empurrou seu olhar para baixo, olhando para os resíduos espumosos. — Você não sabe absolutamente nada sobre mim.
— O quê ele fez pra você?
Ela sibilou entre os dentes, os ombros enrijecendo. — Deixe isso em paz, meu senhor Falcão da Noite. Não é da sua conta.
— Claro que é. Você fez disso o meu negócio no momento em que me beijou.
— Um fato do qual ainda me arrependo, meu senhor.
— Mentirosa. — Estendendo a mão, ele levou os dedos ao rosto dela. Ele podia sentir seu tremor.
Ela riu amargamente. — Eu me arrependo. Todos os dias me arrependo de ter conhecido você.
— Por quê? — Não era sua imaginação. O sotaque sumiu por um momento. Sua voz soou quase familiar.
Ela olhou para cima, os olhos azuis brilhando. A luz bruxuleante das íris fez sua respiração prender. Uma lente occipital, se ele não estava enganado. Projetado para espiões pelo Escalão - pelo próprio Balfour, o espião mestre do príncipe consorte. Como diabos ela colocou as mãos em um aparelho?
E de que cor eram seus olhos se não fossem azuis?
Seu coração estava batendo tão rápido que de repente percebeu que as sombras lavavam sua visão. Sua angústia o atingiu até que o diabo dentro de si despertou. Um desejo. Uma necessidade feroz de protegê-la.
Ele fechou os olhos e respirou fundo. Ele tinha dois dias. Dois dias antes da lâmina do carrasco cair sobre um deles. Uma sensação de mal estar o invadiu e quando ele abriu os olhos e viu o tremor fino de seus lábios, ele sabia qual seria sua escolha.
Lynch a deixou ir, o gosto do arrependimento como cinza em sua boca. Ele não poderia fazer isso. Ele mal a conhecia, mas não poderia entregá-la ao Conselho mais do que poderia ter cravado uma adaga em seu coração. A onda de pesar que o varreu foi quase intensa o suficiente para dobrar seus joelhos. Rosa... Todas as oportunidades perdidas. Por anos ele quis encontrar alguém e agora ele tinha... E era tarde demais.
— Você sabe por que me arrependo. — Respirando fundo, Mercúrio estendeu a mão e pressionou os dedos de ferro dela contra o centro do peito dele, uma expressão torturada no rosto dela. — Você estava certo. Eu faço reuniões aqui todas as noites. Eu o queria tanto morto que queria queimar todo o Escalão, mas... — Ela hesitou, seus olhos erguendo-se para os dele. — E se eu estivesse errada? E se eles não fossem todos ruins?
As últimas palavras foram um sussurro.
O coração de Lynch se apertou em seu peito como se ela o tivesse socado. — Você me toma por idiota? — Ele perguntou asperamente.
Aqueles olhos aflitos o encararam sem recriminação. — Não. — Ela molhou os lábios com a língua, as emoções lutando para atravessar seu rosto. — Eu nunca deveria ter beijado você. Nunca.
Então ela estava na ponta dos pés, sua boquinha quente procurando a dele nas sombras. O gosto dela explodiu por ele, sua mão subindo inconscientemente para segurar a base de seu couro cabeludo. Não.
Sim, o demônio dentro dele ronronou. Ela é minha.
Lynch afastou a boca com um suspiro, virando o rosto para que os lábios dela roçassem sua bochecha e não a sua boca. O coração dela trovejou em seus ouvidos, combinando com o galope acelerado dele, e por um momento, a memória de segurar Rosa em seus braços veio à tona. Os dois se encaixaram tão facilmente ali e os dois se beijaram como se estivessem tentando se afogar nele. Ele quase podia sentir o gosto de Rosa em seus lábios, mas isso era... uma loucura.
Lynch balançou a cabeça. Ridículo. Sem dúvida foi a culpa que trouxe à mente a imagem de Rosa. A culpa que deixou o gosto dela em sua boca. E isso revelou as intenções de seu coração mais do que qualquer outra coisa. O choque o empurrou para longe dela, para que ele pudesse encontrar algum espaço para respirar. Alguma sensação de distância.
— Eu, senhor? — Mercúrio sussurrou, mãos acariciando os planos trêmulos de seus lados.
— Eu não posso —, disse ele com voz rouca. — Meu coração está em outro lugar. — A confissão queimou por ele e ele agarrou seus pulsos e os afastou dele. O choque em seu rosto foi quase tingido de histeria quando ela puxou as mãos.
— Não, — ela disse, a voz ficando mais forte. — Não. Você não pode.
— Eu sinto muito.
— Quem? — Ela exigiu.
— Não importa, — ele respondeu, soltando seus pulsos. — Você não a conhece.
Dando um passo para trás, ela se apoiou pesadamente no bar. — É a ruiva, não é? — Ela olhou para cima, sua expressão tão perdida. Então endureceu. — Você não acha que posso fazer você esquecê-la?
Ele segurou seu pulso quando ela o alcançou. — Por alguns minutos, sim. Mas eu não sou esse tipo de homem.
Um som de leve pesar sussurrou em sua garganta. Quando ele abriu os olhos, ela estava olhando para ele novamente, impotente.
— Isso, — ele disse a ela, — é apenas uma necessidade. Apenas desejo. Ela é mais para mim. Ela é... tudo que eu pensei que nunca sentiria novamente.
Lentamente, ela arrastou o braço de volta ao peito, segurando-o como se ele o tivesse machucado. — Você não pode tê-la. Você sabe disso?
— Eu sei. — Dois dias. Ele sorriu amargamente para sua cerveja intocada. — Mas eu não vou traí-la.
— Lá vai você de novo, quebrando minhas percepções. — Um sorriso magoado apareceu em seus lábios, mas suas bochechas ainda estavam brancas. Ela respirou fundo, estremecendo. — Era mais fácil quando os sangues azuis eram apenas monstros. Você deve saber, meu senhor Falcão da Noite, que não vou me mover contra você. Eu não poderia. — Seus punhos cerraram-se e ela balançou a cabeça. — Todo esse planejamento e você o destruiu em questão de algumas semanas.
Seus cílios vibraram contra suas bochechas. — Eu sei o que os mecanicistas estão fazendo. Os massacres em Mayfair foram apenas um teste. Eles estão planejando ir atrás do Escalão com seus Orbes do Sentido, criando um massacre generalizado. Deixando seus sangues azuis rasgarem uns aos outros.
Lynch ficou imóvel. — Quando?
— Amanhã.
— Onde?
— Eu não sei. — Ela ergueu as mãos quando viu sua expressão. — Eu não. Mordecai está guardando cartas perto de seu peito. Mas será em algum lugar onde muitos sangues azuis estejam reunidos. Em algum lugar que causará o maior impacto.
Onde? Sua mente disparou. Não havia grandes eventos políticos planejados, nem mesmo sociais. A temporada estava terminando, a maioria dos contratos de servidão assinados.
Uma comoção alcançou seu ouvido e ele girou, avistando dois cavalheiros imaculadamente barbeados abrindo caminho para o pub. Seu olhar encontrou o de Sir Richard Maitland, embora o homem carecesse de sua distinta libré dos Guardas de Gelo. A fúria cresceu nele e Lynch entrou na frente de Mercúrio, protegendo-a com seu corpo.
— Vá, — ele disse a ela. — Lá fora. Não seja pega.
Ela olhou para ele e depois de volta para Maitland. — Quem é ele?
— Vá. — Ele repetiu, asperamente desta vez.
Seus olhos encontraram os dele. — Isto é um adeus, então?
Lynch assentiu com a cabeça, a fome nele gritando sua raiva. Uma veia em sua têmpora latejou, sua cor mergulhando em tons de cinza, então piscando novamente.
— Adeus, meu senhor Falcão da Noite. — Ela sussurrou.
— Adeus. — Ele repetiu, então ele se virou e empurrou a multidão, sem olhar para vê-la ir. A fome nele, seu demônio interior, rugia sua fúria silenciosa.
Não! Leve ela!
Lynch o ignorou, empurrando o pensamento profundamente. Nenhum deles poderia ser seu.
Ele tinha um encontro com o carrasco.
Capitulo 20
— Rosa?
Ela puxou os dedos para longe da janela com culpa.
A expressão de Ingrid era vigilante enquanto ela passava pela soleira do quarto. — Você conseguiu dormir?
— Não. — Os olhos de Rosalind ardiam, seus pensamentos se perdiam em sua cabeça, da mesma forma que haviam feito a noite toda. Aquelas palavras devastadoras que ele falara no pub, como se pudesse haver um futuro entre eles.
Não havia futuro. Não sem seu irmão. E se Lynch descobrisse seu segredo, ele nunca iria olhar para ela - para a Sra. Marberry - da mesma maneira.
Não sou eu que ele ama! Era uma pessoa que não existia, um papel que ela desempenhou muito bem ao longo das últimas semanas. A dor a esfaqueou. Ela estava achando difícil se manter separada da Sra. Marberry. Balfour a ensinou a colocar o máximo possível de verdade em suas mentiras, e essa lição foi sua ruína.
Pois a Sra. Marberry era tudo o que ela secretamente desejava ser. Livre de ódio, da violência de seu passado, objeto do amor de um bom homem. Ela tocou os lábios levemente, como se ainda pudesse sentir o toque fantasma de sua carícia ali.
— O que está acontecendo? — Ingrid exigiu, seus olhos se estreitando em suspeita. — Você não tem agido como você ultimamente. Você tem mentido para nós, nos evitando...
— Eu não menti...
— Onde você estava ontem então? Você disse que estava apenas saindo, pegando um pouco de ar fresco.
Rosalind viu a verdade nos olhos de sua amiga. — Você me seguiu.
Balançando a cabeça em desgosto, Ingrid caminhou até a janela e puxou a janela. — Sim, eu vi você no Dog and Thistle. Eu o vi. E no dia anterior, quando você deveria estar dormindo o dia todo?
— Eu estava com ele — Rosalind admitiu, se sentindo cansada de todas as mentiras. — Fui ajudá-lo a se recuperar.
— Por quê?
— Porque eu não suportaria vê-lo assim. — Ela sussurrou.
As sobrancelhas de Ingrid se juntaram. — Eu não entendo. O que mudou? Você os odeia - ou odiava. O fato é que, antes, você nunca teria deixado um deles colocar a mão em você.
— Eu não sei. Ele não era como eu esperava que fosse. Ele não é... nada como eu esperava.
O som de passos na escada quebrou o impasse. Ingrid respirou profundamente. — Jack. — Ela disse.
— Não diga a ele. Por favor.
Ingrid lançou-lhe um olhar inquieto e assentiu.
No momento em que Jack alcançou sua porta, ele estava sem fôlego - um efeito residual da cicatriz. Ele parou na porta, o olhar disparando entre as duas. — Você contou para ela?
Ingrid balançou a cabeça. — Não tive chance.
— Me dizer o quê? — Rosalind exigiu.
— A próxima remessa chegou —, disse Jack. — Incluindo um mecanicista para fazer o trabalho para nós.
— Um mecanicista dos enclaves? Eles mudaram de ideia e trabalharão para nós?
— Este vai. — Respondeu ele.
— Por quê?
Ingrid ergueu os olhos bruscamente. — Disse que recebia um bom dinheiro.
Seu contato no Escalão. Rosalind se virou e olhou pela janela. Ela sempre pensou que seu contato tinha ligações com o Partido dos Humanitários que falava no parlamento - talvez o próprio Sir Gideon Scott, o chefe do partido. Eles forneceram o dinheiro e ela criou o Ciclope.
Os cabelos de sua nuca se arrepiaram. — Scott não tem o dinheiro que temos recebido este ano. Ninguém o faz. O aço é caro.
— Muitas pessoas doam para a causa. — No reflexo, ela viu Jack encolher os ombros.
Isso era verdade. Ainda assim, ela não gostou da sensação de coceira em sua espinha. — Acho que é hora de descobrirmos exatamente quem está doando para esta causa. — Quando ela assumiu o trabalho de Nate pela primeira vez, ela já tinha encontrado a maioria de seus contatos no lugar. O dinheiro tinha sido um gotejamento então, até que ela bolou o plano do Ciclope. Então se tornou uma inundação. Demais, na verdade, para que suas suspeitas não fossem despertadas.
Alguém queria que ela criasse um exército de metal e ela estava muito preocupada com Jeremy ultimamente para se perguntar por quê.
— O que você está planejando fazer? — Ingrid perguntou.
— Colocar alguns de nossos humanistas no lugar - aqueles que sabemos que são leais a nós - e fazer com que cada membro do Partido dos Humanitários observe. Se houver um rastro de dinheiro, devemos ser capazes de encontrá-lo.
— Isso vai levar meses. — Disse Jack.
Rosalind assentiu. — Sim vai. Mas eu quero respostas.
— E enquanto isso?
Ela encontrou seu olhar corajosamente. — Faça ao mecanicista começar no próximo Ciclope, — ela disse. — Vamos continuar como está por enquanto, para que ninguém fique desconfiado.
— E você?
Ela pensou em Lynch e na ameaça de ataque. — Eu vou ver se meu senhor Falcão da Noite frustra o ataque de mecanicistas.
E certificar-se de que ele não se machucaria no meio disso.
O olhar de Ingrid disparou para ela, mas Rosalind fingiu que não viu. — Ingrid, você me ajudaria a colocar meu espartilho?
— Isso é tudo, senhor. — Garrett jogou uma variedade de recortes de jornais e convites sobre a mesa.
Lynch agarrou-os, vasculhando-os. — Alguns saraus, uma leitura de poesia, o jantar de caridade de Dama Callahan... — Ele fez uma pausa, desdobrando uma folha de papel intocada. — A isca do lobo.
— A ópera —, murmurou Byrnes, inclinando-se mais perto para ver. — Última exibição da temporada. Todos estarão lá.
— É isso. — Tinha que ser. O príncipe consorte em pessoa provavelmente compareceria, assim como qualquer pessoa de influência.
— É um edifício enorme —, disse Garrett. — Eles já podem estar lá dentro e nunca saberíamos disso.
— E eles nunca vão nos deixar entrar. — Disse Byrnes calmamente.
Lynch ergueu os olhos, batendo com o papel na mão. Byrnes estava certo. Apenas a mais pura das linhagens teria um convite. Nenhum renegado seria autorizado a entrar, não importava o que Lynch dissesse - especialmente quando os homens de Maitland estivessem guardando a ópera.
Alguém bateu na porta de seu escritório.
— Entre. — Ele chamou.
Perry entrou pela porta, seu cabelo escuro cortado curto grudado no couro cabeludo. Rosa seguia em seus calcanhares, vestindo algodão verde escuro que balançava em torno de seus tornozelos. Seu olhar encontrou o dele, então cintilou longe, um leve rubor rosa subindo em suas bochechas. Isso o lembrou do rubor perverso em suas bochechas quando ela se sentou montada nele, seus pequenos dentes brancos roçando seu lábio enquanto ela lentamente, lentamente abaixava-se sobre seu pênis.
A sensação disparou por ele, quebrando seu controle e sua inteligência. Ela estava sombreada com a sombra agora, o rosa de suas bochechas perdido na monotonia da visão do predador. Uma mão pressionou em seu peito e ele olhou para baixo com surpresa quando Garrett empurrou contra ele, um olhar de advertência em seu rosto.
— Seus olhos, — Seu segundo murmurou. — Controle-o.
E de repente, ele reconheceu a necessidade feroz surgindo através dele e a maneira intensa como ele se moveu em direção a ela - um movimento que ele não conseguia se lembrar de ter começado.
Todos estavam olhando para ele. Os olhos de Byrnes se estreitaram em pensamento e ele olhou para a Sra. Marberry como se de repente percebesse o que as palavras de Garrett significavam.
Lynch engoliu em seco. — Rosa. — Ele inclinou a cabeça educadamente.
Ela retribuiu a saudação e ele percebeu que ela estava pálida esta tarde. A luz havia sumido de sua pele cremosa, deixando-a levemente pálida.
— O que eu perdi? — Perguntou Perry.
— Achamos que sabemos onde os mecanicistas vão atacar, — Lynch respondeu, voltando seu olhar para o aviso da ópera. Ele não ousou olhar para Rosa - nem mesmo se perguntar por que ela parecia tão tensa. Era ele? Ela se arrependeu do que aconteceu entre eles? — Nós sabemos que vai ser hoje. O único evento de qualquer importância social é a ópera.
— Então, o que fazemos? — Garrett perguntou. — Acabamos com isso?
— Não. — Ele esfregou os nós dos dedos. — Passei meses jogando com segurança e... — Sua voz falhou. — Eu estou correndo contra o tempo. Se fecharmos a ópera, em seguida, os mecanicistas simplesmente desvanecerão de volta para a população e não seremos capazes de levá-los perante o tribunal... — Ele quase falou a tempo.
— Então, como vamos entrar? — Perguntou Byrnes.
— Você não sabe —, respondeu Lynch. — O único com alguma chance de ser aceito na porta sou eu mesmo. O resto de vocês...
— Não.
A palavra foi suave e veio de trás dele. Lynch olhou por cima do ombro. — Somos todos renegados, Sra. Marberry, mas pelo menos meu título de cavaleiro pode finalmente fornecer algo útil.
— Não —, respondeu ela, avançando com os punhos cerrados. — Você não vai sozinho. Se eles estão planejando liberar as orbes, então eu não quero você lá. Você sabe o que aconteceu. Eu não vou permitir! De novo não.
Lynch olhou para ela, sentindo os olhos de todos sobre eles enquanto lutava para encontrar as palavras. Ela não teria dito isso se não se importasse com ele, certo? A exaltação cresceu em seu peito, mas ele a sufocou cruelmente. Ele não tinha nada para oferecer a ela. Nenhuma esperança de nada além de hoje, não importava o quanto ele desejasse.
Porque ele não poderia trair Mercúrio para o Conselho.
— Você não está em posição de me negar. — Ele a lembrou baixinho, embora as palavras falassem de muito mais. Ele odiava ter que fazer isso - odiava assistir a inundação furiosa de calor em suas bochechas como se ele a tivesse esbofeteado - mas isso era para o seu próprio bem. Se ele a deixasse ter esperanças, então ele as destruiria cruelmente. Vamos acabar agora. Antes que o dano se tornasse muito grande.
Garrett estremeceu, mas a Sra. Marberry ergueu o queixo. — Você está certo, — ela respondeu. — Eu não tenho autoridade - não... nenhum direito de negar você. Faça o que quiser, seu tolo teimoso, mas não duvide disso. Você não irá sozinho. Sou uma viúva respeitável com uma...
Desta vez foi sua vez de começar. — Absolutamente não!
— E como você pretende me impedir? — Ela respondeu, enlaçando os braços sobre o peito. — Deixe-me assegurar-lhe que posso e vou arranjar um bilhete para a ópera se você tentar me manter fora disso. Posso ser extremamente engenhosa quando desejo.
— Estou ciente disso —, respondeu ele. — Mas isso deve ser bastante difícil, mesmo para você, se eu te acorrentar no meu maldito quarto!
— Senhor, realmente, — ela falou lentamente, um brilho de humor aquecendo seus olhos escuros. — Um cavalheiro nunca revela suas intenções em público como tal.
Ele ficou boquiaberto.
Rosa deu um passo na direção dele, seu sorriso crescendo vitorioso. — Além disso, o que te faz pensar que não vou simplesmente arrombar a fechadura?
— Vou remover todos os seus alfinetes. — Essa veia em sua têmpora estava começando a latejar novamente. A mulher não tinha bom senso? Isso era perigoso.
— Todos eles? Meu senhor, você é meticuloso.
Não poderia ter soado mais como uma insinuação se ela tivesse tentado. Garrett tossiu e os lábios de Perry estavam pressionados com tanta força que ela parecia que ia explodir.
— Eu acredito que você está sendo enganado. — Garrett murmurou. — Eu sugiro uma capitulação saudável agora, antes que você diga algo de que realmente se arrependa.
— Bem. — Lynch estreitou seu olhar em direção a Garrett. — Eu não vou levá-la para a ópera sozinha. Você pelo menos se parece com isso. Quero você com roupas de corte em duas horas. Você não se afastará um centímetro do lado dela.
— Não preciso de babá. — Protestou Rosa.
Perry sorriu. — Esses belos casacos virão a calhar novamente, Garrett.
O olhar de Lynch cortou para o dela. — E você pode encontrar um vestido.
O queixo de Perry caiu. — Sem chance, senhor.
Ele apontou um dedo para ela. — Não estou perguntando. Encontre um vestido e uma peruca ou então encontrarei uma para você. Então, eu mesmo colocarei você nisso, se precisar!
O silêncio saudou essa explosão. Mesmo Garrett - que estava lutando para suprimir sua risada - não ousou dizer uma palavra. Lynch se endireitou. — Byrnes, quero que você tenha homens ao redor do prédio. Eu também preciso que um contingente seja enviado para cada um dos outros eventos da lista, apenas no caso de termos escolhido o errado. — Ele sabia que não tinha, mas havia Falcões da Noite suficientes para cobrir cada lugar.
— Mande enviar um homem a Barrons e o alerte do que está acontecendo. Ele pode tirar a rainha e o príncipe consorte se as coisas derem errado. — Ele começou a mexer nas abotoaduras. — Garrett, no seu caminho, envie Doyle para ajudar a me preparar.
— Sim, senhor. — Garrett fez uma saudação.
— E quanto a mim? — Rosa perguntou.
Ele olhou para ela. — Se você pensa que está vindo, você precisa olhar para o lado. Vai ser difícil convencer os porteiros a nos deixar passar como está.
— Leve Perry, — Garrett acrescentou suavemente. — Você pode ter que mostrar a ela o que é um vestido.
O brilho repentino de Perry estava a um passo de um assassinato. — Espero que você se engasgue com a sua colônia. — Ela rosnou, indo em direção à porta e agarrando Rosa pelo braço.
Capitulo 21
Pela porta, Lynch latiu ordens, dando uma última instrução para seus homens. Rosalind respirou fundo, alisando as saias elegantes sobre os quadris. O vestido era quase muito confortável, seus seios ameaçando transbordar do decote quadrado da seda cor de pêssego. Faixas de folhagem de passementerie de chenille marrom-chocolate enfeitavam o decote e o tecido macio de sua saia. Uma echarpe de quadril de papel alumínio caia no chão atrás dela, fazendo um som farfalhante toda vez que ela se movia.
Perry a examinou com um olhar experiente. — Isso vai servir. Inversão de marcha.
A própria Perry estava quase irreconhecível. A mulher de rosto frio, vestida de couro preto duro e cabelo coberto de pomada, se foi. Em vez disso, uma pena de avestruz branca dançava em seu cabelo, os cachos da peruca preta caindo sobre seu ombro. Ela usava seda vermelha, os painéis de corte enviesado do corpete criando curvas suaves fora da figura esguia da mulher. Uma saia de baixo de renda Point d'Angleterre aparecia por baixo da cortina de sua cauda, e ela usava pérolas enroladas três vezes em volta do pescoço. Rosalind sabia de tudo isso porque Perry a explicara em detalhes bastante explícitos enquanto elas atacavam a costureira francesa naquela tarde. Um vislumbre das roupas de couro de Perry e a madame fora muito complacente, sem dúvida por medo de incorrer na fúria dos Falcões da Noite.
Uma tira de fita de veludo preto circulava a garganta de Rosalind e Perry a amarrou. Uma única pérola em forma de lágrima pendurada no centro, aquecendo contra sua pele.
— Lynch vai ter uma apoplexia. — Perry murmurou com um sorriso maldoso enquanto Rosalind olhava para o espelho.
— Você é muito boa nisso. — Rosalind observou, encontrando os olhos da outra mulher no espelho.
— Eu prefiro usar calças. Isso não significa que eu não sei para que serve um vestido.
— Eu uso vestidos, — Rosalind apontou. — E não sei como se chama metade disso. — Ela apontou para o babado rendado que envolvia seu ombro.
— Você sabe como usar uma adaga? — Perry perguntou, ignorando a pergunta em suas palavras.
— Melhor do que saber como usar esse leque.
— Este? — Perry agarrou o leque da cama com um movimento brusco do pulso. As lâminas revestidas de cobre se espalharam, criando um semicírculo mortal que parecia que poderia ser lançado.
Pela primeira vez naquela tarde, Rosalind se inclinou para frente com interesse. — As bordas são afiadas?
— Afiadas o suficiente para fazer a barba —, respondeu Perry, dobrando-o dentro dele mesmo. Ela o pendurou em seu próprio pulso e tirou uma pequena forma de quinze centímetros da cama. — Este é um punhal de corpete. — Tirando a pequena lâmina de sua bainha de veludo, Perry a sacudiu entre os dedos com uma destreza que Rosalind quase invejou. — Você quer?
Rosalind acenou com a cabeça e aceitou a lâmina, enfiando-a entre os ossos finos de seu espartilho, o cabo acomodado confortavelmente entre seus seios.
— E isso — Perry pegou uma adaga fina da cama. — foi feita para ser usada no cabelo. Vê como o cabo é ornamental?
— Muito bonito.
Perry sorriu, entregando-a primeiro o cabo à ela. — Não deixe Lynch atrair você para cantos escuros. Ele pode cortar os dedos quando eu terminar com você.
Rosalind olhou para ela por baixo dos cílios. Ela estava quase começando a gostar da outra mulher. — Achei que ele parecia mais propenso a me estrangular.
— Interessante. Eu esperava que você negasse.
— Preto combina com você, meu senhor.
A voz sensual veio de trás. Os dedos de Lynch sacudiram nas abotoaduras e ele se virou... então parou.
Rosa descia a escada vagarosamente, abanando-se com um pedaço de renda branca enquanto suas saias se arrastavam atrás dela. Sua respiração se acelerou. Inferno. Alguém a derramou naquele vestido. Se ela respirasse com força, os botões de repente se tornariam um granizo fatal ao seu redor.
Seu olhar mergulhou. Os botões desciam pela cintura apertada de seu vestido e desapareciam no tecido transparente enrolado em sua cintura. Ele não conseguia respirar de repente, uma imagem de seus dedinhos inteligentes trabalhando em botões semelhantes surgindo em sua mente.
— Você parece que está com seu colarinho muito apertado. — Um pequeno sorriso cintilou em seus lábios quando ela estendeu a mão e brincou suavemente com o laço branco em volta do pescoço.
— Você está maravilhosa. — Seu olhar caiu novamente, um leve escurecimento obscurecendo as bordas de sua visão. Todo homem na ópera estaria olhando para seus... botões.
— Não faça cara feia. — O sorriso de Rosa se desvaneceu, seus dedos demorando-se em sua gola por mais tempo do que o apropriado. Ela olhou para sua garganta, uma pequena sugestão de nervosismo piscando através daqueles olhos escuros. — Eu quero que você tenha cuidado esta noite, senhor.
O pensamento de que ela estava preocupada com ele provocou uma risada áspera. Ele passou horas tentando resolver seus próprios argumentos sobre por que ela não deveria comparecer.
Lentamente, as mãos dela deslizaram para o peito dele, descansando levemente contra as lapelas do casaco, como se ela não conseguisse parar de tocá-lo.
— Rosa. — Ele murmurou.
Seus cílios escuros vibraram contra suas bochechas lisas e aqueles olhos luminosos o atingiram com todo o poder de um soco.
— Rosa, eu queria...
— Não faça isso. — Uma palavra sombria. Seu olhar caiu, suas mãos tremulando impotentes contra o peito dele. — Por favor, não.
A luz brilhou sobre o brilho acobreado de seu cabelo. Lynch respirou fundo, aspirando o cheiro de limão dela enquanto fechava os olhos. Ele se sentia como se estivessem sozinhos, o mundo a mil quilômetros de distância. O silêncio caiu sobre eles como um manto, e ele simplesmente ouviu o suspiro suave de sua respiração, a batida acelerada e latejante de seu coração... O som era sua própria forma de comunicação e ele sentiu um eco profundo em seu peito.
Alcançando, ele traçou as pontas dos dedos sobre os lábios dela. Ele jurou que não faria isso. Só a machucaria se ele falhasse em sua tarefa esta noite, mas ele estava tão indefeso quanto uma mariposa atraída pelas chamas. Lentamente, sua cabeça abaixou, sua testa encostada na seda macia de seu cabelo. Ele podia sentir o gosto de sua respiração entre eles e quando ela se moveu, seu próprio rosto se erguendo levemente, ele sentiu a agitação contra seus próprios lábios.
Lynch não conseguia se mover, não conseguia se aproximar. Em vez disso, ele demorou, puxando o fôlego dela para seus pulmões, onde pertencia. Sentindo-a tão profundamente dentro dele, como se ela tivesse enrolado correntes ao redor de seu coração e os unido.
Rosa inclinou o rosto, um gemido suave soando em sua garganta. Sua boca roçou a dele. Uma vez. Duas vezes. Seda raspando em seus lábios sensíveis. Suas mãos se fecharam em punhos ao lado do corpo e ele as ergueu, acariciando as costas dos nós dos dedos contra a pele aveludada de sua mandíbula.
Eu desejo que não tivesse que ser desta maneira.
Mais uma vez, suas bocas se roçaram, mais como uma inspiração do que como um beijo. O corpo de Rosa se rendeu ao dele, seus quadris pressionando com força contra suas coxas. No entanto, apesar da suavidade de seu corpo, suas mãos ainda se enrolaram em torno de suas lapelas como se ela tivesse medo de se soltar totalmente.
— Tenha cuidado esta noite, — ele sussurrou, traçando sua boca com as palavras. — Eu não suportaria ver você machucada.
Ela lambeu os lábios, sua língua umedecendo a dele. Um gemido ecoou em sua garganta e ele respirou fundo e se afastou. O mundo girou. Quando ele encontrou seus olhos, eles mantinham a mesma falta de fôlego desfocada que ele sentia.
Lentamente, suas pupilas se concentraram nele. — Eu não vou deixar você se machucar —, disse ela, engolindo em seco. Sua voz ficou mais forte. — Não importa o que eu tenha que fazer.
O limite da crueldade estava em desacordo com o que ele sabia dela, mas ele podia se lembrar das sombras escuras em sua voz na outra noite, quando ela se deitou em seus braços e lhe contou sobre sua vida. Rosa era a luz do sol e sorrisos, mas uma ponta de aço endurecido existia sob o exterior. Ela conhecia a dor e havia sobrevivido a ela. Quando ela olhou para ele, ele percebeu que a havia subestimado.
Ela faria o que fosse necessário para protegê-lo.
Ele viu em seus olhos a verdade do que ela não lhe contaria, a verdade que ela não deixaria que ele lhe contasse. O medo não permitiria que ela desse voz a isso, mas existia entre eles, tão inebriante quanto o ópio.
Lynch balançou a cabeça lentamente e se afastou, as mãos caindo indefesas de seu casaco.
— Eu tenho algo para você, — ela murmurou, sua pulsação ainda latejando em sua garganta. Abaixando-se, ela tirou uma máscara bucal de couro de sua bolsa. — Eu conheço alguém que as faz e comprei o máximo que pude enquanto Perry e eu estávamos... fazendo compras.
Mais fácil falar disso do que de tudo o que não foi dito. Seu olhar foi para o rosto dela, notando a rigidez de seus ombros. Algo havia mudado entre eles naquela noite em que foram levados para o Subterrâneo, e embora a dúvida lhe dissesse que era por causa do que ele quase fez a ela, seu estômago se apertou com o instinto. Já havia acontecido antes disso; no momento em que ela disse que ele não podia beijá-la novamente, o pânico tomou conta de seu rosto.
Por muito tempo ele teve medo de deixar outra mulher se aproximar após a traição de Annabelle. Doeu tanto, embora a dor fosse como uma velha cicatriz agora. Ele nunca quis se sentir assim novamente.
De alguma forma, Rosa o irritava. Ele nem percebeu o que estava acontecendo até que fosse tarde demais. E agora ele estava se apaixonando por uma mulher que tinha medo de amá-lo de volta.
Oh, sim, ele reconhecia a distância deliberada que ela manteve entre eles. A única vez que ela chegou perto de se revelar - aquele núcleo secreto que ela mantinha escondido - ela estava em seus braços e em sua cama, e nenhum deles estava focado em falar.
Ele sabia que ela tinha segredos. Ele simplesmente não se importava.
O gosto de seu medo percorreu sua língua, apesar do sorriso fraco que ela lhe deu. Se ela quisesse fingir que nada havia acontecido, ele iria deixá-la - ele tinha que deixar. Qualquer outra coisa só prolongaria a dor de sua morte se ele não conseguisse descobrir uma maneira de dar ao Escalão o que eles queriam sem trair Mercúrio.
Então ele não a pressionou para enfrentar esse medo. Ele não perguntou o que ela estava escondendo dele. Em vez disso, ele pegou a meia máscara com dedos duvidosos e a examinou. — O que é isso?
Um pequeno disco redondo centrado sobre o bocal, preso com uma malha que enrugou a ponta de seu polegar quando ele o raspou.
— É uma máscara de filtragem. Ajuda aqueles que sofrem de pulmão negro, ou outras doenças pulmonares, a respirar sem a asfixia do ar de Londres.
— Você acha que isso vai impedir a sede de sangue de me afetar?
— Eu não sei. Pode ser. É suposto filtrar todos os gases e poluentes nocivos.
Ela sabia. Conhecia o medo que espreitava em seu próprio coração. A vulnerabilidade deveria tê-lo preocupado - ele odiava que alguém conhecesse suas fraquezas - mas Rosa era diferente. Ele confiava nela implicitamente, apesar dos segredos que se escondiam entre eles. Isso significava mais para ele do que qualquer presente. — Obrigado.
— Eu tenho mais três. — O olhar dela disse a ele que ela sabia exatamente o que ele estava pensando. — Uma para Perry e Garrett e uma sobrando para quem você achar que precisa.
— Byrnes —, disse ele instantaneamente. — Ele estará liderando o contingente externo.
Passos se intrometeram. — Eu ouvi meu nome. — Garrett anunciou, caminhando para fora das sombras e para a luz, sua atenção focada em suas abotoaduras. Ele as endireitou e olhou para cima, a luz brilhando em seu cabelo castanho e a camisa totalmente branca sob seu casaco preto.
Alguém poderia pensar que um membro do Escalão havia chegado; desde as dobras imaculadas do lenço branco pendurado em seu pescoço até as luvas brancas imaculadas que Garrett colocou no lugar, ele parecia como qualquer outro jovem libertino.
Seu corpo estava focado no entanto, a quietude irradiando através dos músculos elegantes. Uma arma ao lado de Lynch e em que ele tinha que confiar o suficiente para usar. Garrett sobreviveria, ele tinha que acreditar nisso. Lynch não poderia proteger a todos, especialmente quando desta vez era ele quem precisava de ajuda.
— Onde está Perry? — Garrett perguntou. — Ainda está tentando descobrir que ponta do vestido vai para onde?
— Oh, eu consegui, — Perry falou lentamente, do topo da escada.
Até as sobrancelhas de Lynch se ergueram ao vê-la. Languidamente acenando um leque, Perry deslizou a saia vermelho sangue para a outra mão e começou a descer as escadas. Sua graça natural predatória fazia parecer que ela os estava perseguindo, um pequeno sorriso triunfante em seus lábios pintados enquanto seus olhos azuis se fixavam em Garrett.
— Você acha que isso vai servir? — Ela perguntou com uma voz surpreendentemente feminina ao chegar ao pé da escada. Olhando para Garrett sob seus cílios, ela deu um pequeno giro que alargou as saias em torno de seus tornozelos.
A seu lado, Rosa levou a mão enluvada aos lábios e tossiu. Lynch baixou os olhos bruscamente. Isso soou suspeitosamente como uma risada. Quando ele viu o sorriso que ela não conseguiu esconder, ele levantou uma sobrancelha questionadora.
Ela inclinou a cabeça em direção a Garrett, que estava congelado no ato de endireitar o casaco.
— Bem? — Perry repetiu, parando, com as saias vermelhas envolvendo a parte inferior das pernas e um rubor excitado e ofegante em suas bochechas.
Garrett pigarreou. — Bom Deus. Sra. Marberry, você faz maravilhas.
— Não tive nada a ver com isso —, respondeu Rosa. — Talvez você não esteja dando a Perry suas dívidas. Parece que ela escondeu mais do que uma ou duas lâminas sob a armadura o tempo todo.
A cor sumiu do rosto de seu segundo. Uma suspeita crescente começou a crescer nele e Lynch olhou para os dois. O rosto de Rosa apareceu quando ela endireitou o casaco e ela piscou para ele como se soubesse exatamente o que ele estava pensando.
— Não estrague isso. — Ela murmurou silenciosamente.
— Bastante, — Garrett disse em um tom nítido e distante que não soava ele mesmo. Seus olhos estavam selvagens. — Devemos?
A luz brilhava sobre as pesadas colunas gregas que sustentavam o pórtico da ópera. Dezenas de senhoras bem-vestidas enchiam as escadas de mármore que levavam às portas, leques tremulando como asas fantasmagóricas na noite.
Lynch saiu da carruagem a vapor preta e lisa, observando a multidão com um olhar implacável. Sangues azuis se aglomeraram ao redor dele, alguns deles lançando olhares curiosos para a carruagem como se se perguntando o que ele estava fazendo ali. Ele ganhou o título de cavaleiro há mais de vinte anos por encontrar o primo sequestrado da rainha, mas raramente se movia entre eles. Eles podem chamá-lo de “senhor” na cara, mas ainda o consideram pouco melhor do que um velhaco. Na verdade, alguns dos membros mais jovens do Escalão nem mesmo se preocupavam com o “senhor”, jovens demais para se lembrar de uma época em que ele caminhou entre eles com os mesmos direitos e obrigações que eles possuíam.
Ele ofereceu a mão a Rosa. A luva dela descansou na dele, então ela deslizou para baixo da carruagem com graça sem esforço, abanando-se. A expressão entediada em seu rosto combinava perfeitamente com qualquer outra senhora ali, como se elas não ousassem revelar muita emoção por medo de parecerem desajeitadas.
Seus olhos, no entanto, percorreram a multidão com a mesma atenção aos detalhes que os dele - quase como se ela estivesse procurando por alguém. Lynch deslizou a mão na curva de suas costas e a puxou para a casa de ópera, curvando-se para murmurar: — Não fique nervosa. Não vou permitir que nada aconteça com você.
— Eu sei.
Sua coluna vertebral era de aço, relutância apertada em cada músculo sob a ponta dos dedos. — Você espera que seu pai esteja aqui?
Rosa parou em seu caminho. — Como você... — Então ela parou e ele não teve dificuldade em decifrar seus pensamentos.
— Eu sei que ele é do Escalão. E eu sei que ele te machucou. Um dia desses, você vai me dizer o que ele fez... — No movimento repentino de sua cabeça, ele ergueu uma mão calmante. — Mas agora não. Apenas tenha certeza de que você não sofrerá nenhum dano. Se quiser esperar na carruagem, pode.
— Se eu ver meu pai, então sei que não sofrerei nenhum dano. — Sua expressão se apertou. — Não posso dizer o mesmo para ele.
Um pressentimento frio percorreu sua espinha. — Você está com sua pistola?
— Claro. Está amarrada à minha coxa. — Ela colou um sorriso impressionantemente convincente no rosto. — Não tema, meu senhor, pois não pretendo caçá-lo. — Ela estendeu a mão e arrastou a ponta de seu leque sobre os lábios dele. — Eu também não tenho intenção de esperar na carruagem. — Desta vez, o sorriso dela suavizou com genuinidade.
— Valeu a tentativa.
Ela riu baixinho, baixo e rouco, o som movendo-se sobre sua pele como dedos suaves.
— Você pode ver Garrett ou Perry? — Ele perguntou, olhando ao redor. — Eu gostaria de poder usar o comunicador auditivo.
— Garrett provavelmente ainda está boquiaberto como um bacalhau, — Rosa murmurou, pegando um punhado de suas saias enquanto ela suavemente subia o primeiro degrau ao seu lado. — Eles terão que deixar a vulgaridade fora de vista e caminhar a pé. Eu não deveria esperar por eles tão cedo, não com essa paixão.
Mais pessoas se viraram para olhar para eles quando chegaram ao topo da escada, sussurros brotando.
Na porta, um par de Guardas de Gelo deu-lhe um olhar inquieto. O príncipe consorte e a rainha deveriam estar presentes então. As entranhas de Lynch se contraíram. Como se esta noite não fosse difícil o suficiente.
Entregando seus ingressos na porta, ele e Rosa esgueiraram-se para dentro do saguão de mármore. Um tabuleiro de xadrez preto e branco de ladrilhos estendia-se por todo o caminho até um par dourado de escadas em espiral.
— Para onde? — Rosa sussurrou, olhando para ele. Ela estava quase sem fôlego de excitação, seus olhos brilhando à luz das velas.
— Lá em cima. — Ele murmurou, protegendo-a da multidão esbofeteada com seu corpo. Dezenas de drones serventes banhados a ouro rodopiavam no meio da multidão e ele agarrou um par de taças da bandeja plana em uma de suas cabeças. Oferecendo a ela o champanhe, ele tomou um gole de seu próprio vinho de sangue. A multidão estava começando a se mover e, do outro lado do saguão, ele viu Garrett conduzindo Perry de forma protetora para dentro.
Se os mecanicistas estivessem aqui, eles o reconheceriam imediatamente. Eles não iriam, no entanto, reconhecer o par de Falcões da Noite, a menos que ele fizesse algo para chamar a atenção para eles. Lynch desviou o olhar, concentrando-se nos criados uniformizados que se misturavam à multidão. Nenhum deles parecia ter levado uma vida difícil e ele não podia ver nenhum sinal de um membro mecânico distinto em qualquer lugar.
— Não os servos, — ela murmurou. — Esses homens são dos enclaves. Não há como eles se misturarem o suficiente para que o Escalão os confunda.
Ela estava certa. Eles estariam em algum lugar nas entranhas do prédio, talvez se passando por trabalhadores nos bastidores ou trabalhadores de manutenção.
Um sangue azul passou triturado com uma jovem pálida na coleira, seu olhar abatido e uma túnica branca fina e transparente revelando centímetros de pele decadente. Os olhos de Rosa endureceram e Lynch a conduziu para longe com uma mão na parte inferior de suas costas. Um olhar disse a ele que ela sabia exatamente o que ele estava fazendo; aquele olhar afiado como diamante o atingiu e por um momento ele sentiu uma onda de vergonha, como se por sua própria cumplicidade, ele mesmo tivesse colocado a corrente de ouro em volta do pescoço da jovem serva de sangue.
— Não há nada que eu possa fazer a respeito —, disse ele. — Nem você.
— Então, nós simplesmente ignoramos isso?
Engolindo seu champanhe, ela bateu a taça de vidro na bandeja de um drone servo que passava e se afastou de seu toque.
— Mantemos nossas mentes no negócio em questão. — Ele agarrou seu cotovelo com força e Rosa se acalmou, as costas rígidas com a fúria mal contida. Lynch suspirou baixinho e se aproximou, abaixando o rosto perto do ouvido dela. — Eu não tenho nenhuma influência aqui. Sou tão estranho quanto você, Rosa.
Um olhar para o rosto de Rosa, para aqueles olhos negros implacáveis, disse-lhe que ela não se deixou influenciar. — Se pudesse, iria ajudá-la?
Algo sobre a quietude de sua figura disse a ele que a resposta era mortalmente importante para ela. Ela olhou através dele, como se procurasse desnudar sua alma, para encontrar algo dentro dele que ela precisava desesperadamente encontrar.
— Você precisa perguntar? — A mão dele acariciou seu braço. Inferno, ele não podia acreditar no que estava pensando, sua mente marcada pelo choque. Ela admitiu que seu irmão era um humanista, mas seus próprios pensamentos sobre o assunto eram perigosamente reveladores. — Rosa, você precisa manter esses pensamentos longe, especialmente aqui. Se alguém ouvir...
Rosa respirou fundo, seu corpo inteiro tremendo sob seu toque. — Eles pensariam que eu tinha tendências humanistas. Talvez eu deva dizer algo. Talvez esse maldito silêncio eterno - essa atitude de segure a língua ou morra seja o que mantém mulheres assim acorrentadas. Essa falta de voz - é a razão pela qual estamos aqui. A razão pela qual está acontecendo uma guerra, travada em segredo sob os narizes do Escalão.
Ela estava tremendo tão violentamente que ele mal conseguia contê-la. Lançando um olhar por cima do ombro, ele a pressionou contra a parede, usando seu corpo para proteger o dela. Pela primeira vez, ele ficou aliviado com as risadas e fofocas opressivas por perto, pois isso manteve as palavras condenatórias de Rosa longe dos ouvidos comuns.
Seus olhos se encontraram. Ela estava com raiva e ele não entendia muito bem.
— Se eu dissesse algo...
— Então você morreria, e eu com você. — Ele disse secamente.
Os lábios de Rosa se separaram, seus olhos se arregalando. Ele observou os pensamentos correndo em rápida emoção pelo rosto dela, como a sombra de uma nuvem no chão.
— Eles teriam que passar por mim primeiro —, explicou ele. — Mas eu morreria, e você também, e talvez houvesse alguns para gritar 'mártir', mas no final não importaria. Nada mudaria. Essa garota irá para casa com sua coleira e guia, e seu mestre vai tirar dela tanto sangue quanto ele desejar. — A parte de trás de seus dedos enluvados percorreu sua mandíbula. Ela parecia tão perdida, tão arrasada. — É por isso que devo parar esses humanistas, esses mecanicistas. Eles trarão a guerra e a morte sobre o Escalão, mas pisarão os inocentes em seu caminho tanto quanto o inimigo. Se não os encontrarmos, a vitória deles será vazia, ganhando nada além de ódio e medo. E quando o Escalão teme algo, eles o destroem.
Ela estremeceu, seus cílios se fechando - mas não antes que ele visse o brilho de diamante de uma lágrima em seus olhos.
— Milhares morrerão —, disse ele. — Você sabe que estou caçando humanistas, mas o Escalão não deve ser tão discreto. Eles simplesmente irão reunir quem puderem e executá-los até que consigam o que desejam.
— Isso não é verdade —, ela sussurrou com voz rouca. — Tem que haver uma maneira. Temos que ter uma maneira de lutar...
Sua boca tinha gosto de cinza, seus piores medos ganhando vida. Nós... Ela se nomeara entre eles com tanta certeza como se o tivesse reivindicado diretamente na cara dele. A dúvida o assaltou - um momento em que ele se perguntou o quão profundamente ela estava envolvida, quantos problemas um espião no Falcões da Noite poderia causar.
Mas ela não podia fingir tudo, não é? Se ela fosse uma humanista, então ela nunca o teria beijado, nunca o teria...
Mercúrio.
Isso foi diferente. Isso era luxúria, uma marca ardente entre eles. Um fósforo cintilante jogado em uma poça de óleo. O que quer que houvesse entre ele e Rosa, era mais do que isso.
Ou poderia ter sido, se ele deixasse.
Ainda assim, seu polegar acariciou seu queixo, a dúvida o paralisando. Ele tinha que saber. Isso era real ou ela era a melhor atriz que já enfeitou um palco?
Ele tomou sua boca, capturando um suspiro. As mãos de Rosa se fecharam em seu casaco instantaneamente, seu corpo pressionando contra o dele enquanto o beijava. Era uma loucura tomar tais liberdades aqui. O canto estava nas sombras, uma fraca luz dourada pingando do papel de parede vermelho e branco por todo o saguão, mas ele sabia que isso seria notado e comentado.
Ainda assim... o sabor dela definiu a escuridão rugindo por dentro. A necessidade de reivindicar, de tomá-la como sua. Dane-se ela. Sua mão agarrou a base de seu coque elegante. Ele estava se perdendo nela, não importava o que prometesse a si mesmo.
Apenas uma vez ele amaldiçoou o dever e o empurrou de lado. Foda-se o Conselho. O príncipe consorte poderia ir para o inferno. Ele queria isso - ele a queria, com todo seu coração. Uma vida inteira nunca seria suficiente.
E ele só tinha mais uma noite.
Lynch deu um suspiro trêmulo, respirando com dificuldade contra a boca. Com apenas uma polegada entre eles, ele podia ver a fome selvagem brilhando em seus olhos. Isso o tentou, mas ele lutou, lambendo o gosto dela de seus lábios. Ele poderia se perder aqui, se perder nela, mas se o fizesse, se a levasse para casa e deixasse os mecanicistas fazerem o que quisessem, então ele sabia que não importava o quão freneticamente a beijasse, ele ouviria o relógio correndo lentamente o fundo.
— Eu preciso que você saiba de uma coisa, — ele respirou, os dedos tremendo em sua mandíbula. — Não importa o que aconteça... eu preciso que você saiba.
— O que? — Ela agarrou seu casaco como se alguma sensação de premonição estremeceu por ela.
— Eu menti quando disse que não tinha certeza do que sentia por Annabelle. Eu menti quando disse que nem uma vez pensei em vingança —, disse ele asperamente. — Eu sabia. Perdê-la doeu muito, tanto que jurei que nunca mais me deixaria sentir assim. — O olhar de Lynch cortou para o dela, forçando-a a encontrar seus olhos, não importa o quanto ela endureceu. Ele não se importava se ela tinha medo disso; ele precisava que ela soubesse, antes que fosse tarde demais. — Você me faz esquecer a dor. Você me faz desejar que houvesse mais dias pela frente. Para que pudéssemos...
Rosa colocou o dedo nos lábios dele, parando o fluxo das palavras. O horror rodeou seus olhos. — Não, — ela sussurrou. — Não, você mal me conhece. — A histeria se juntou às duas últimas palavras.
— Eu sei que você está com medo...
— Você não sabe de nada! — Ela passou, pressionando os dedos enluvados nos lábios.
Lynch a seguiu, com força nos calcanhares, ignorando a repentina dispersão de debutantes curiosas. Eles não podiam dizer isso aqui. Estava muito lotado, todos os ouvidos e olhos de repente se virando em sua direção.
Ele agarrou seu pulso, seus dedos travando em torno de algo duro. Rosa girou como um gato escaldado, puxando-o pelas mãos e levando a mão ao peito. Os dedos de Lynch se esfregaram lentamente, como se sua mente procurasse assimilar a sensação daquele toque.
Forte.
Como ferro.
Ela congelou como um animal aprisionado, um olhar cruel e desesperado em seu rosto. — E agora, meu senhor Falcão da Noite? Você ainda se sente assim agora?
O barulho e as risadas ao redor dele foram drenados, o mundo se estreitando na mulher na frente dele enquanto ela o encarava, quase o desafiando. Ele mal viu. Tudo nele se transformou em chumbo, a escuridão obliterando sua visão enquanto a fome aumentava.
Não. Não podia ser.
Meu senhor Falcão da Noite...
Como se um véu tivesse sido levantado, tudo o que ele sabia sobre ela - tudo que ela explicou tão bem - colidiu. As mãos dela - não toque nas minhas mãos - a pistola que ela carregava, e a maneira como ela conseguia abrir uma fechadura sem nem mesmo pensar. Não! Ele tinha visto a mão dela, visto Mercúrio no parque enquanto Rosa estava sentada na carruagem ao lado dele... Ou ele tinha? A verdade o atingiu como um balde de água gelada, lavando a cegueira deliberada, fazendo-o sentir-se mal com o engano. O jeito que ela o enganou e tão facilmente também.
Ou talvez, para ser honesto, ele se deixou enganar.
— Mercúrio. — Ele sussurrou, e percebeu que ela estava certa.
Ele não a conhecia.
Capitulo 22
Rosalind entrou em pânico.
O que ela fez? A expressão em seus olhos - oh Deus, seus olhos - como pequenas pontadas negras de fúria flamejante. Mas ela não aguentaria, não podia enfrentar o peso opressor de suas declarações sem arruiná-lo. Ela tinha que aguentar. Antes que ele dissesse algo que ela não conseguiria esquecer. Antes que a nauseante mordida de seus próprios segredos a estrangulasse de culpa.
Rosalind não conseguia mais encará-lo. Não tinha estômago para a expressão em seu rosto, como se ela tivesse dado um soco no peito com uma espada. Traição. Isso é o que ela viu e doeu tanto que ela não conseguia respirar.
Com o coração trovejando em seus ouvidos, ela se virou e correu em direção à escada. Ao redor de seus sangues azuis pressionados em suas perucas empoadas e veludos extravagantes.
Rosalind conteve um soluço, o mundo borrando ao seu redor em uma névoa dourada de luz de velas derretida. Por que diabos ela não manteve a boca fechada? Que ele professasse seu amor eterno por ela; não significava nada. Não deveria.
Por que ela deixou escapar a verdade?
Ela queria que ele soubesse. Então ele não a amaria mais. Para que ele não a torturasse com essas declarações falsas. Para que ela nunca mais tivesse que vê-lo novamente, nunca mais sentiria a dor de seu segredo roendo como um tumor dentro dela. Nunca se permitiria desejar algo que ela não poderia ter...
Parecia um pesadelo. As escadas eram intermináveis, como se não importasse o quanto ela corresse, elas nunca iriam acabar. Ela ficou esperando que uma mão puxasse sua saia, que ele a agarrasse pelo ombro e a colocasse de joelhos. Finalmente! O topo. Ela empurrou em um par de sangue azul e parou cambaleando, presa pela multidão. Onde ele estava? Por que ele ainda não a agarrou?
Rosalind arriscou um olhar. Seus olhos encontraram os de Lynch, o marrom escuro se chocando com o cinza gelado e algo em seu peito se contraiu com a maneira como ele ficou parado na parte inferior da escada, olhando para ela como se ela tivesse arrancado seu coração e fugido com ele.
Seu pulso trovejou áspero em seus ouvidos. Como se compartilhasse o mesmo pesadelo, ele balançou a cabeça, sacudindo o feitiço. A expressão em seu rosto endureceu e algo doeu profundamente dentro dela ao vê-lo.
Por quê? Isso é o que você queria!
Seu primeiro passo foi lento, deliberado. A luz cintilou no brilho polido de suas botas, a escuridão de seu casaco absorvendo cada sombra. De alguma forma, a multidão cedeu a ele como se sentisse o perigo que rondava em seu meio.
Os pulmões de Rosalind pararam até que ela mal conseguia respirar. O pânico cresceu. Ela deu um passo para trás e o olhar de Lynch se achatou. Ele estava furioso. Além de furioso. O terror repentino a fez se virar com um farfalhar de saias e se espremer na multidão.
Uma campainha elegante tocou e as portas do teatro se abriram. A risada ecoou, tão áspera e rouca contra sua pele que ela sentiu como se esfregasse em carne viva. O enxame da multidão passou pelas portas, indo para seus assentos, e ela foi arrastada pela maré, presa pela correnteza de pessoas. Esbofeteada por todos os lados, em pânico, quase cega para o mundo ao seu redor, ela empurrou e abriu caminho, não se importando mais com o que eles pensavam. Lynch era o perigo. Se ele colocasse as mãos nela...
Ela respirou fundo. Quase longe da multidão. Apenas mais três passos e então ela iria agarrar um punhado de suas saias e fugir pelos tapetes vermelho-sangue para a saída.
Dois passos. Um. Uma mão dura agarrou seu cotovelo, a outra pousou em sua cintura. Ela foi empurrada para fora da multidão, então o controle sobre ela aumentou.
Rosalind enrijeceu.
— Não. — Lynch murmurou, inclinando-se perto de seu ouvido. Seu corpo duro pressionado contra suas costas, empurrando-a contra a parede.
Rosalind girou, a adaga do corpete agarrada em seus dedos enluvados. Lynch a pressionou contra o papel de parede de veludo em relevo, examinando a multidão ao redor deles com um brilho perigoso. Como se sentisse o olhar dela em seu rosto, ele lentamente olhou para ela.
— Você vai usar? — Essa voz... Tão fria.
— Usar o que? — Ela sussurrou, incapaz de quebrar o controle de seu olhar. Me desculpe.
— A adaga. — Disse ele, enunciando cada palavra com uma ponta de diamante. Ele a deixou ir, suas narinas dilatadas e seu olhar negro de fúria. — Continue. Use-a. — Seus braços caíram para os lados, apresentando a extensão vulnerável de seu abdômen e peito.
Rosalind olhou para ele. Ela mal tinha percebido o que tinha feito; sacar a lâmina sempre foi seu primeiro instinto. Só que não havia nada para lutar aqui. Ela não podia cortar o aperto brutal de sentimento em seu peito, o peso que a fazia sentir como se estivesse se afogando lentamente. Seus dedos se abriram sem forças e a adaga caiu no chão.
Se qualquer coisa, seu olhar se estreitou ainda mais.
Então ele a puxou para a próxima escada - aquela que levava às caixas. Presa pelo aço implacável de seu punho, Rosalind não pôde fazer nada além de tropeçar em seu rastro. Sua mente estava em branco. Nenhuma rota de fuga inteligente, nenhuma réplica inteligente. Ela estava dormente o tempo todo.
Eles cambalearam para o silencioso saguão que levava às caixas. O dourado subia em cada coluna e o telhado era espelhado em pequenas telhas de vidro. Uma imagem dos dois, presos juntos em um abraço horrível, dançou através de milhares de minúsculos cacos de vidro. Um criado de libré vermelho deu um passo à frente. — Senhor, você não pode estar aqui...
Lynch lançou-lhe um olhar mortal e Rosalind agarrou seu braço em desespero enquanto a escuridão dentro dele olhava para trás.
— Não, — ela disse trêmula. — Descarregue sua raiva em mim. Ele não.
O servo engoliu em seco e saiu correndo do caminho. Lynch deu uma olhada nos símbolos fortemente dourados em cada porta: um grifo, um cisne, três leões rugindo, uma serpente... Ele abriu a porta, a cobra escarlate parecendo assobiar em seu rosto quando foi arrancada.
A cabine da Casa de Bleight. Devia estar vazia logo após a morte do filho do duque.
Mergulhando na escuridão, seus joelhos bateram em uma das cadeiras e ela tropeçou, agarrando-se ao encosto de veludo. O teatro se espalhou diante dela, luz dourada se aquecendo sobre centenas de rostos pálidos enquanto os sangues azuis ocupavam seus assentos. O rugido monótono da conversa ecoou no teatro cavernoso, um zumbido monótono que mascarava a respiração ofegante dela.
Rosalind girou.
Lynch fechou a porta com um clique silencioso e controlado, a cabeça curvando-se por um momento como se lutasse pelo controle. A linha entre seus ombros estava rígida de tensão. Respirando fundo, ele se afastou da porta e se virou para encará-la.
Olhos cinza encontraram os dela, devorando seu rosto como se ele nunca a tivesse visto antes. — Você gostou? Me fazendo de idiota? Rindo de mim pelas minhas costas?
— Nunca foi sobre isso...
— Não?
A palavra dura a deteve. Rosalind ergueu o queixo em desafio. — Talvez no início tenha gostado um pouco.
Um sorriso amargo curvou-se sobre sua boca. — E o que aconteceu? Venha, me divirta com uma história sobre como isso começou a mudar - como comecei a ser importante para você. Há quanto tempo você pretende realizar essa charada? Até que você me quebrou? Até que você ganhasse qualquer jogo que pensava que estava jogando? — Ele se aproximou, pairando sobre ela, cada palavra cortante e precisa. — Você deveria ter me deixado naquela cela, minha querida. Tenho certeza de que os mecanicistas teriam cuidado de mim e então você não teria que sujar as próprias mãos eventualmente.
Os punhos de Rosalind cerraram-se, a dor a dominando. Em defesa, ela sentiu sua própria raiva aumentar. — Você não teve nada a ver com isso. Eu nunca teria arriscado tal charada se não precisasse, se eu... se pudesse encontrar meu irmão. Seu bastardo arrogante, pare de pensar que isso era sobre você! Você nunca deveria ter acontecido, isso... — Ela engasgou com as palavras. — Você arruinou tudo.
Silêncio. Lynch se acalmou, seus olhos de pálpebras pesadas examinando-a. — Você espera que eu acredite que a história sobre seu irmão era verdade?
— Eu não espero que você acredite em nada. Eu não me importo se você quer ou não. Não importa nem um pouco para mim. — As palavras teriam sido muito mais críveis se sua voz não tivesse falhado no final.
Um arrepio de cordas sussurrou no ar, então uma percussão suave enquanto a orquestra encorajava todos a se sentar.
— Então seu irmão foi a única razão pela qual você se infiltrou na guilda? Ou você estava planejando outra coisa?
— Acredite no que quiser, mas Jeremy era minha única preocupação. Não participei de nada desde que ele desapareceu.
— E o pacote de caldeiras dos enclaves?
Não é mentira, não exatamente. — Algo que foi iniciado há anos.
— Fitz suspeita que seja semelhante ao modelo usado para alimentar os casacos de metal do Escalão. — Seu olhar se aguçou. — O que você está planejando, Rosa? Ou esse é mesmo o seu nome verdadeiro?
Ela não tinha nada a dizer sobre isso. Cada palavra apenas a amaldiçoaria ainda mais.
— Inferno. — Ele amaldiçoou, batendo a mão contra a parede ao lado de sua cabeça.
Rosalind se encolheu.
— E seu marido? — Ele demandou. — Ele era real? Algo disso era fodidamente real?
— Quase tudo. — Ela fechou os olhos, incapaz de suportar a demanda dele. — As melhores mentiras são baseadas na verdade.
A respiração áspera de sua respiração agitou-se contra sua bochecha quando ele se aproximou. Rosalind prendeu a respiração e ela se preparou. Um golpe que ela poderia tolerar. Mas não isso... Não suas gentis crueldades.
— Não, — ela sussurrou, encontrando seus olhos. — Por favor.
— Por quê? — Uma demanda severa, atada com um desejo severo. — Ou você só usa o seu corpo pela causa? Você me beijou uma vez, se entregou a mim. Isso era real, Mercúrio? Ou apenas outra maneira de me colocar de joelhos? — Sua mão se ergueu, hesitou em seu rosto. Ele queria que fosse real; ela leu tudo em sua expressão.
Rosalind virou o rosto de lado, deixando escapar a respiração que estava segurando enquanto se pressionava contra a parede. Qualquer coisa para impedi-lo de tocá-la. De destruí-la.
— Por favor...
— Você faz isso tão bem. Quase me faz pensar que alguma parte de você se importa. Mas, como você diz, as melhores mentiras - especialmente esta - são baseadas na verdade. — Seus dedos pegaram seu queixo e inclinaram seu rosto para ele. Sua outra mão roçou sua boca e ele se inclinou mais perto, uma luz fria, quase fanática em seus olhos negros. — Não se atreva a desviar o olhar. Você me deve isso.
Dever ou não, isso não era mentira. Esta era sua única verdade real, mas ela nunca o convenceria disso, mesmo que encontrasse as palavras para dizer. Ela nunca teve as palavras - desnudar-se tão completamente ia contra todas as lições duras que ela já aprendeu - mas isso... isso ela podia fazer. Só com sua boca, suas mãos, seu corpo, ela poderia dizer a ele o que seu coração não podia.
Com o corpo dele tão perto do dela, Rosalind mal conseguia pensar. A raiva vibrava fora dele, queimando-a com sua intensidade. Ele não a perdoou. Ele provavelmente nunca faria. Mas ele estava tão preso por isso quanto ela, o desejo tecendo uma rede grossa ao redor deles. Na escuridão do camarote do teatro, com o chiado estremecedor das cordas da orquestra crescendo ao fundo, ficando mais alto, quase com raiva de si mesmas, ela quase podia fingir que estavam sozinhos. Em outro lugar. Em algum lugar onde o perfume de limão verbena da Sra. Marberry manchava o ar e o farfalhar dos lençóis se movia sob eles.
Rosalind desejou desesperadamente poder voltar a isso. Para ser a Sra. Marberry novamente, uma mulher que ele admirava e respeitava, uma mulher que ele amava.
Mas ela não era e ele não. Havia verdade de novo, tão dolorosa que ela queria a mentira que ele ofereceu enquanto acariciava sua boca com as pontas dos dedos.
Rosalind ergueu os olhos. O desejo nu em seus olhos era alimentado pela raiva. Ela não ligava. Não mais.
Por um longo momento acalorado, eles simplesmente se encararam. O rosto de Lynch baixou, seus olhos semicerraram e ela prendeu a respiração. Sim. Por favor. Suas mãos tremularam perto de seu peito, sem ousar tocá-lo.
Ele parou, seu rosto a menos de um centímetro do dela, sua respiração fria em seus lábios úmidos. Apenas mais um centímetro... Ficando na ponta dos pés, ela o alcançou.
— Eu nunca cometo erros duas vezes. — Ele sussurrou asperamente, seus lábios quase roçando os dela. Então ele se afastou, sombras escuras cintilando em seus olhos. Olhando para ela como se ela fosse uma estranha. — Dói, não é? Para ser feita de tola.
A dor em seu peito se solidificou em algo pesado. Rosalind caiu de costas contra a parede, a esperança de morrer uma morte curta e dolorosa. Este era o fim. Ela o havia perdido. Verdadeiramente o perdeu.
— Seu bastardo. — Ela sussurrou sem calor.
— Agora isso, eu não posso reclamar.
O silêncio reinou em todo o teatro, espesso com antecipação. As cortinas de veludo vermelho se abriram com um farfalhar, um círculo de luz destacando uma pastorinha rechonchuda no palco. Quando a cantora de ópera abriu a boca para cantar, uma erupção de tosse rugiu do poço orquestral e a pastora se encolheu, olhando para o maestro antes de retomar.
O vapor subiu do poço orquestral. Parte da multidão aplaudiu, sem dúvida pensando que era um efeito.
— Lynch. — Ela chamou bruscamente.
Ele olhou, então caminhou até a borda da cabine, suas luvas brancas enroladas na varanda. Outro rugido de tosse ecoou no teatro abaixo. O vapor saía das bocas douradas escancaradas das gárgulas que alinhavam as paredes e sussurravam debaixo das cadeiras. Vários dos sangues azuis exclamaram de surpresa, olhando para baixo de seus assentos com curiosidade. Um deles teve um ataque de tosse, caindo de joelhos no corredor.
Seria um massacre.
— Eles devem ter programado um cronômetro para eles. — Rosalind disse, seu olhar correndo ao redor do teatro.
Lynch lançou-lhe um olhar faminto e praguejou baixinho. Ele arrancou o casaco e o jogou de lado, puxando a gravata borboleta branca em volta do pescoço até que afrouxasse. Uma pistola estava enfiada na cintura de suas calças na parte inferior das costas, mas nenhuma outra arma parecia visível.
— O que você vai fazer? — Ela perguntou.
Ele subiu em uma das poltronas de veludo macio, então saltou levemente para a borda do corrimão. — O que eu sempre faço, — ele disse friamente. — Meu dever. — Olhando por cima do ombro, ele examinou a multidão abaixo e as ondas ondulantes de vapor. — Considere-se afortunada pelos mecanicistas serem a maior ameaça no momento.
Rosalind engoliu em seco. Ele estava recuando para trás daquela máscara distante e eficiente, fingindo que nada no mundo estava acontecendo - paredes de aço fechando ao redor de seu coração já protegido. O gosto da vergonha era tão forte que ela quase engasgou com ele.
O teatro parecia as entranhas do inferno, gritos assustados ecoando pela câmara escura. A cantora caminhou até a beira do palco e começou a discutir ferozmente com o maestro.
O peso de Lynch mudou. Rosalind correu para frente e agarrou a perna de sua calça, fazendo-o olhar surpreso para ela.
— Onde está sua máscara?
— Isso funciona mesmo?
Ela queria bater nele de tão furiosa, mas uma parte dela não podia culpá-lo. Ela mentiu para ele o tempo todo, por que ele confiaria nela?
— Funciona. Por que eu enviaria você despreparado? Eu quero colocar você contra os mecanicistas, lembra? Eu queria que você os destruísse.
— Então você fez. — Com um sorrisinho tenso, ele se endireitou e deu um passo para a beira do corrimão. — Está no meu casaco.
Rosalind foi buscá-la rapidamente. Ele hesitou por um momento e ela não conseguiu se conter. — Se eu quisesse te machucar, eu te empurraria para fora da maldita varanda. Pegue!
Suas luvas brancas enroladas em torno do couro bronzeado. — Seria sábio usar esta oportunidade para fugir. Se eu voltar a ver você, não serei tão negligente em meu dever.
Então ele curvou-se fortemente, inclinando levemente a cabeça para um adversário - para um estranho - e recuou para fora da amurada.
Capitulo 23
Um grito assustado perfurou o teatro.
— O que está acontecendo? — Uma mulher gritou estridente. — Robert, o que está acontecendo?
E então, mais para trás, perto das portas. — Estamos presos! — Um homem gritou. — Alguém trancou as portas!
Os dedos de Rosalind se apertaram na grade. Uma oportunidade perfeita para ela fugir... Por que então a dor em seu peito se intensificou? Ela não devia nada a ele. Ela não devia a nenhum deles, mas foi de Lynch que ela teve medo de repente.
Sim, corra e você poderá escapar, uma vozinha sussurrou. Corra enquanto você ainda tem a chance de...
Um doce aroma passou por seu nariz enquanto o vapor subia. O som de tosse e sufocação começou abaixo. Rosalind hesitou.
Centenas de sangues azuis no teatro. Lynch não tinha chance sozinho. E conhecendo o homem como ela conhecia, ele não se afastaria do desafio. Ele arriscaria sua própria maldita cabeça nos melhores momentos e agora... Agora, não era um desses.
Ir embora agora e ela nunca se perdoaria.
Rosalind abriu sua bolsa, lutando contra o conteúdo até que pudesse puxar seus binóculos. Elas foram modificadas com várias lentes diferentes: uma que tornava tudo preto e branco, para que ela pudesse ver o mundo como um sangue azul o fazia; uma que minimizava a distância, de modo que parecia que ela estava ao lado da soprano no palco; e uma lente de fósforo que amplificava a luz, de modo que se pudesse ver virtualmente à noite, destacando os rostos da plateia abaixo. Isso era para os espectadores que estavam mais interessados em ver o que estava acontecendo ao seu redor no teatro escuro do que no palco.
Rosalind arrancou a alça dos binóculos e puxou a saia. Arrastando a liga pela coxa, ela a prendeu nas bordas dos óculos, criando um par de óculos improvisado. Puxando-os pela cabeça, a liga puxando com força na parte de trás do couro cabeludo, ela deslizou a lente amplificadora de luz de fósforo no lugar e olhou por cima da grade.
O teatro era uma confusão matizada de verde; damas murchavam nos corredores e sangues azuis abriam caminho em direção à porta como se a fuga pudesse salvá-las. Uma delas saltou para o palco e colocou a cantora de ópera no chão, seus gritos assustados perfurando o ar e morrendo abruptamente. A luz forte do palco deixou Rosalind momentaneamente cega.
Onde estava Lynch? Sua visão turvou, seu estômago vibrou de medo. Ela havia se sentido assim antes: o desamparo, o medo, a culpa... Acorrentada na escuridão enquanto Balfour se ajoelhava diante dela e dizia que ela tinha cinco minutos para salvar o marido.
Respirando fundo, Rosalind rasgou as saias pelas laterais para liberar seus movimentos e, em seguida, deslizou as pernas pela varanda. Agarrando o mogno polido, ela girou e deixou seu corpo cair, o peso arrastando em suas mãos. Foi apenas uma queda para Lynch, mas se ela caísse errado, ela torceria o tornozelo... ou pior.
Olhando para baixo, ela se deixou cair, pegando uma gárgula dourada na base da varanda. Os óculos distorceram a percepção de distância e ela percebeu que seus dedos escorregavam. De alguma forma, ela transformou a queda em uma queda curta, aterrissando no assento de veludo de uma das cadeiras. Perdendo o equilíbrio, ela caiu no corredor e rolou para fora do caminho quando um sangue azul passou correndo.
O ar estava úmido aqui, o sabor do doce aroma mais forte. Levantando-se, ela se viu quase até o quadril em uma névoa densa. Não havia sinal de Lynch em lugar nenhum. Uma enorme multidão de sangues azuis martelava nas pesadas portas de bronze, encolhendo-se com o vapor. Eles podiam não saber o que era, mas eles podiam ver os efeitos com clareza suficiente. Vários deles já haviam sucumbido e caçavam debutantes pelos assentos.
Uma figura em uma camisa branca e colete de seda reluzente saltou levemente sobre o encosto de uma cadeira como se fosse chão sólido e agarrou um senhor de sangue azul enlouquecido no chão enquanto sua presa assustada escapava. Lynch. Sua respiração ficou presa no peito, mas ela hesitou, olhando novamente para as portas principais. O vapor estava aumentando. Se os sangues azuis não saíssem daqui, todos eles seriam atingidos pela sede de sangue.
Rosalind tinha que confiar que Lynch poderia cuidar de si mesmo no momento. Melhor um sangue azul enlouquecido do que um teatro inteiro cheio deles.
Levantando o pé em uma cadeira, ela deslizou as saias para cima o suficiente para recuperar a pistola feminina que mantinha presa à coxa. Mal tinha o tamanho da palma de sua mão, mas as balas de fogo dentro dela estavam cheias de produtos químicos o suficiente para fazer a cabeça de um sangue azul explodir com o impacto.
Empurrando severamente para o bando de sangues azuis, Rosalind caminhou em direção às portas, sem medo de usar os cotovelos ou balançar a pistola em alguns rostos. Três homens lutavam contra as pesadas portas de latão, em mangas de camisa.
— Saiam do caminho, — ela estalou, apontando a pistola. — Está obviamente bloqueado do lado de fora.
Uma jogada inteligente. O olhar de Rosalind pousou nas dobradiças, mirou e atirou duas vezes. As dobradiças, uma grande parte da porta e metade da moldura da porta desapareceram em uma pequena explosão de lascas e lascas de latão.
Cobrindo o rosto com a manga enquanto tossia, um dos homens bateu com o ombro na porta. Alguém enfiou uma barra pesada nas alças do outro lado. Não havia maneira de abri-la, mas de alguma forma um par de sangue azul conseguiu forçar a borda externa aberta apenas o suficiente para passar.
— Viva! — Um dos senhores aplaudiu, batendo-lhe nas costas.
— Meu obrigado. — Outro sangue azul disse sinceramente, seus olhos azuis claros arregalados e assustados.
Eu não fiz isso por vocês. Mas então ela parou, observando enquanto ele ajudava uma jovem assustada a passar pela abertura estreita. Ela, mais do que ninguém, deveria saber que às vezes os monstros eram tão humanos quanto o resto do mundo.
Rosalind não se preocupou em assistir enquanto o primeiro da multidão deslizava pela abertura. Ela tinha que encontrar Lynch ou, exceto Garrett ou Perry.
Algo chamou sua atenção quando ela olhou ao redor do teatro escuro. Um homem alto passou pelas lentes esverdeadas dos óculos de ópera, seu rosto áspero observando algo nas cadeiras atentamente enquanto ele avançava.
Mordecai.
Seu sangue gelou quando ela percebeu quem ele estava olhando.
Lynch rangeu os dentes e puxou a cabeça do sangue azul bruscamente para a direita. Um leve estalo. Então toda a luta foi drenada do homem e o corpo caiu no chão embaixo dele.
Uma serva vestida de amarelo-ouro estava deitada no carpete entre os bancos, olhando para ele em choque e horror. O sangue respingou em suas saias e havia uma marca de mordida em seu ombro que deixaria uma cicatriz. Seus lábios se separaram quando o sangue azul desmoronou, então ela ficou de mãos e joelhos ao lado dele.
— Epson? — Ela sussurrou. Suas mãos começaram a tremer e ela olhou para Lynch com grandes olhos azuis. — Você o matou.
— Era você ou ele. — Ele respondeu, lutando para aplacar a sede de sangue que rugia em suas veias. A máscara ajudou. Cada respiração tinha gosto de pão açucarado, mas embora mexesse com seus batimentos cardíacos, ele podia se controlar.
— Tenha cuidado! — Uma mulher gritou.
Lynch girou baixo, esquivando-se entre os assentos enquanto um homem atrás dele erguia uma pistola. O tiro passou por cima de sua cabeça, um pedaço enorme de gesso explodindo na parede.
A pistola baixou e Lynch olhou para o cano. O rosto do homem estava áspero pela barba por fazer, seus olhos frios e implacáveis enquanto ele punha o martelo para trás. — Passe bem, Sir Falcão da Noite.
Um borrão de seda creme surgiu do nada no momento em que a pistola respondeu. Os dois sumiram de vista, mas ele sabia quem era com tanta certeza quanto conhecia seu próprio nome.
Rosa.
O que diabos ela estava fazendo aqui? E para onde diabos foi essa bala? Não havia nenhum sinal de luta, nenhum sinal de movimento... A raiva que o consumiu por sua traição perdeu o seu fogo, um nó duro e frio se retorceu em seu peito.
Pulando sobre a fileira de cadeiras, Lynch derrapou até parar no corredor. O estranho estendeu a mão para a pistola no chão com uma determinação implacável - um enorme bruto em uma camisa de trabalhador que esticava sobre seus ombros enormes. Ajoelhando-se, Rosa lançou-se ao lado do estranho e chutou a pistola para debaixo das cadeiras.
— Maldita seja, — o estranho rosnou, rolando para ficar de pé. — De que lado maldito você está?
Rosa se endireitou, seu olhar frio passando por ele para se fixar em Lynch. Apenas um momento, um que o queimou por completo. — Você quer saber o que eu sou? Quem eu sou? Então fique fora disso.
O estranho lançou-lhe um olhar inquieto.
— Onde está meu irmão, Mordecai? — Ela perguntou.
Então ela estava dizendo a verdade.
Se ela pensava que ele poderia ficar fora disso, ela estava enganada. Ela o traiu, mentiu para ele, o fez pensar que havia mais entre eles do que havia... Mas vê-la se machucar estava além dele.
— Não o vi — respondeu Mordecai, virando-se para manter os dois à vista. — Provavelmente o mesmo lugar que o meu.
Os lábios de Rosa se estreitaram. Sua expressão era tensa e focada, tão distante da alegria atrevida da Sra. Marberry que Lynch de repente percebeu que estava vendo a realidade de quem ela era. Não a Sra. Marberry. Talvez nem mesmo Mercúrio. Ela esbanjava com uma autoconfiança e determinação que eram apenas ecos das outras duas mulheres.
Ela própria.
— Sinto muito por isso, — ela admitiu. — Mas Mendici tentou pegar sua arma. Eu fui mais rápida.
— Sim. — A escuridão sombreava os olhos de Mordecai. — Mas você é mais rápida do que eu?
Ele atacou com um punho carnudo. Lynch saltou para a frente e parou quando Rosa se abaixou sob o golpe como se o esperasse, o cotovelo travando o braço de Mordecai no lugar enquanto sua mão de metal descia em um golpe brutal contra o pescoço do sujeito. Mordecai rugiu de dor e empurrou-a para os assentos com o ombro na barriga.
Rosa levantou um joelho, trazendo o cotovelo para baixo entre as omoplatas dele. Cada movimento era esparso e econômico, sem a extravagância de quem fazia isso para provar sua habilidade. Ela poderia ter prolongado isso, mas em vez disso mirou em golpes que aleijariam e mutilariam - o mais rápido para acabar com isso.
Tão rápido. Mordecai levantou-se cambaleando e Rosa saltou de leve na cadeira para ganhar altura, depois o chutou no rosto. Sua saia rasgou na extensão de sua perna, alta e graciosa. Mordecai cambaleou para trás, com sangue escorrendo do nariz, mas não caiu.
A visão de Lynch oscilou entre o colorido e o preto e branco. Os Orbes do Sentido haviam se dissipado, mas ele não ousou tirar a máscara. Ele queria intervir, para acabar com isso, apesar de Rosa ter tudo sob controle. A escuridão nele era uma tempestade crescente. Por um momento, sua visão embotou, a fúria cavalgando por ele. Esta era sua mulher. E ele iria para matar qualquer um que ameaçasse ela. Seus olhos se encontraram. O tempo suficiente para Mordecai atacar.
Rosa cambaleou vários passos para trás no corredor, rangendo os dentes contra o golpe. Lynch cravou as unhas nas palmas das mãos, lutando contra todos os instintos que possuía.
Mordecai balançou o enorme punho de metal de seu braço direito. Rosa bloqueou com sua própria mão biomecânica, mas a força a fez cambalear de volta para os assentos. A luz do palco iluminou-os por trás quando Lynch deu um passo mais perto e parou.
Mordecai flexionou seus dedos de metal. — Você bate como uma menina.
Rosa ergueu os olhos, seus olhos negros como a noite. Chutando para fora, ela enfiou o calcanhar em sua rótula e Mordecai gritou quando ela se mexeu.
Deveria ter sido o fim. Mas até Lynch ficou surpreso quando o enorme mecanicista se lançou para frente em uma guinada desajeitada e dirigiu seu corpo enorme diretamente para Rosa.
Por um momento, eles pairaram na beira do fosso da orquestra, os olhos arregalados e assustados de Rosa encontraram os de Lynch e então desapareceram. Uma enorme cacofonia de ruído surgiu.
— Rosa? — Lynch cambaleou até a beira do poço.
Ela se deitou de costas entre a seção de cordas, estremecendo ao levantar o quadril. Sua mão tateando encontrou a ponta de um címbalo de latão e ela a apertou em seus dedos mecânicos, a ponta uma arma perigosa.
Mordecai gemeu, de cara no chão ao lado dela. Rosa trepou por cima dele, acertando suas costas com um joelho coberto de meia enquanto puxava a cabeça dele pelos cabelos e pressionava a arma em sua garganta. Não era afiada, mas com força suficiente...
Lynch saltou ao lado dela, agarrando seu pulso. — O suficiente.
Ela olhou para cima, os olhos negros brilhando. Naquele momento, ele viu a frieza nela. Ela teria feito isso. Não porque ela queria, mas porque era o que ela deveria fazer - o próximo passo para isso.
Uma assassina treinada.
Ele reconheceu, mesmo quando a frieza desapareceu de sua expressão, substituída por uma miséria sem fôlego. Por causa dele. A mão dele deslizou da dela, incapaz de reconciliar a mulher que ele viu na frente dele com a mulher que ele conheceu.
— Eu preciso dele vivo. — Ele disse.
Rosa largou a lâmina, como se parecesse vê-lo pela primeira vez. A cor inundou suas bochechas, a emoção aquecendo sua expressão. Ele não conseguia ler o que ela estava pensando, mas pelo menos ela não era mais a assassina cruel que ele viu de relance.
Ela também sabia. Seus olhos escuros piscaram para os dele, viram tudo que ele não conseguia esconder e desviou o olhar. — Claro.
Arrancando as cordas de vários violinos, ele as amarrou e amarrou as mãos de Mordecai atrás das costas. O homem gemeu, mas não lutou. Do ângulo do joelho, ele não lutaria contra nada em breve. Então Lynch sentou-se e passou a mão no rosto.
O que ele iria fazer?
Sua fúria tinha morrido. Ele se sentia entorpecido. Entorpecido e muito, muito velho de repente. O brilho que ele sentia sempre que estava perto dela parecia sugá-lo, como se ela tivesse sugado a própria alma dele.
Eu te amei. Ele olhou para ela, esperando pacientemente de joelhos, com as mãos pressionadas com tanta força que ele sentiu como se de alguma forma a tivesse acertado um golpe mortal. Cílios escuros vibravam contra suas bochechas, mas ela não podia - ou não queria - olhar para ele.
— Por quê? — ele perguntou com voz rouca. — Seu irmão? Apenas seu irmão? — Já houve alguma coisa para mim?
Ela brincou com a ponta dos dedos das luvas, um movimento tão reminiscente da Sra. Marberry que seus pulmões pararam. Então ele se desvencilhou. Ele não podia continuar procurando por coisas que não estavam lá.
— Eu juro, — ela sussurrou. — Eu só queria encontrar meu irmão.
A verdade nua e crua daquilo fez com que morresse a esperança em seu peito. Ele não podia mais ficar aqui. Ficando de pé, ele enterrou tudo bem no fundo. Isso era pior do que aquele momento em que percebeu que Annabelle o enganara. Talvez tenha sido o bálsamo curativo de todos aqueles anos embotando a memória, ou talvez porque ele finalmente ousou se permitir sentir algo por alguém, apenas para que isso acontecesse novamente.
Lição aprendida.
Com o rosto inexpressivo, ele puxou o mecanicista gemendo para seus pés. Pelo menos ele tinha algo para mostrar pelos esforços desta noite, embora soubesse que isso não agradaria ao príncipe consorte. Não, o Conselho queria sangue. Queria a mulher ao seu lado.
Ele empurrou o mecanicista para fora do poço. Pulando, ele pegou a borda dela e puxou-se para fora, ignorando o jeito que ela o observava, como se esperasse que ele falasse.
Ele não tinha mais palavras. Só mais uma noite. E ele não conseguia ver nenhuma saída por si mesmo. Não importava o quanto ela o machucou, ele nunca poderia entregá-la. Seus sentimentos, pelo menos, eram verdadeiros.
— Lynch, — ela sussurrou, olhando para ele. — Eu sinto muito. Eu sei... eu sei que nada que eu dissesse poderia...
Mas ele não a estava ouvindo. Uma figura saiu lentamente da escuridão, fundindo-se em um homem alto no corredor, apoiado em uma bengala com cabo de marfim. Fios brancos embaçavam seu cabelo acobreado até que se tornasse um loiro morango desbotado, e linhas se espalhavam nos cantos de seus pequenos olhos pretos. Ele usava o preto nítido de um casaco de cauda longa, o branco puro de sua camisa brilhando nas sombras. Um uniforme típico para qualquer homem que vai à ópera, ele era tão normal que o olho implorava para pular diretamente sobre ele.
Como ele sem dúvida pretendia. Ninguém olhando para ele saberia que este homem era um dos poderosos por trás do trono, perdendo apenas para o príncipe consorte na manipulação dos eventos do reino. Afinando os lábios, Lynch se abaixou e ofereceu a mão a Rosa.
Ele a colocou de pé ao lado dele, ignorando o homem no corredor. O príncipe consorte poderia muito bem esperar. Ele estava farto de brincar com ele por uma noite.
— Obrigada. —nEla murmurou, piscando contra o brilho repentino do holofote.
Lynch a ignorou, saindo da luz e encontrando o olhar de Balfour. — O que você quer?
Balfour não estava olhando para ele.
Uma repentina frieza pareceu escorrer por sua espinha. Lynch já vira aquela expressão antes - o sorriso fraco, a escuridão penetrante dos olhos estreitos de Balfour enquanto observava um inimigo humilhado diante dele.
Lynch poderia muito bem nem estar lá. Ele seguiu o olhar de Balfour, sua mão alcançando a espada que não estava mais em seu quadril.
Rosa pairou fora dos holofotes, tão quieta, trêmula, como um cervo pego pela arma do caçador. Seus olhos escuros - tão semelhantes, agora que ele os via juntos - se estreitaram. Mil emoções cruzaram seu rosto. Ódio, medo e finalmente... raiva. O frio tremor na espinha de Lynch cresceu. Se eu vir meu pai, eu sei que não vai chegar a qualquer dano... Eu não posso dizer o mesmo para ele.
Lynch se moveu antes que os músculos tensos em suas pernas pudessem movê-la. Ele a pegou pela cintura, balançando-a com força contra seu próprio corpo. Rosa rosnou, empurrando seu peito. Ela nem mesmo olhou para ele, fixada apenas em Balfour.
— Me deixe ir!
Lynch segurou as costas dela contra o peito, os braços travando ao redor dela. — Não.
Ele sabia o que ela não sabia. Havia uma sombra atrás de Balfour. Um de seus falcões, sem dúvida, disfarçado de guarda-costas. O homem vestia preto e pairava com aparente indiferença na escuridão. Rosa nunca chegaria perto o suficiente, mesmo que Balfour não fosse tão perigoso quanto realmente era.
Pela primeira vez, aqueles olhos escuros se ergueram do rosto de Rosa e Lynch os encontrou. Ele ergueu o queixo, estendendo um desafio silencioso. Rosa pertence a mim... O pensamento levou-o inconsciente, mas ele não lutar contra isso. Não agora. Seu próprio orgulho fragmentado não era nada comparado ao pavor que o enchia.
— Você tem algo meu — murmurou Balfour, seu sotaque de elite tão altivo que falava de anos de criação. Um leve sorriso apareceu em seus lábios. — Achei que você estava morta, Cerise. Todos esses anos eu pensei que tinha perdido você.
Cerise.
Rosa estremeceu, lutando contra seu aperto. — Você perdeu! Eu não pertenço mais a você. Não o faço há anos.
— Eu fiz você — Balfour disse gentilmente. — Bastava assistir aquela luta para perceber que você não esqueceu nada do que eu te ensinei. — Ele deu um passo à frente. — Pensei ter visto você hoje à noite, mas você mudou muito. Só quando vi você lutar é que percebi que não estava apenas me sentindo piegas.
Rosa se lançou sobre ele. Lynch a colocou de volta atrás dele, colocando-se entre os dois. Ele lançou a ela um olhar sombrio. — Não.
— Fique fora disso. — Ela sibilou.
— Ele é mais do que você pode suportar.
— Você não sabe com o que eu posso lidar.
A verdade perturbadora era que ela provavelmente estava certa. Se ela pertencesse a Balfour - se alguma vez tivesse pertencido a ele - então foi criada para ser uma arma. Seu olhar caiu para suas mãos e a memória vacilou. Minhas mão... não toque minhas mãos. O que diabos o bastardo fez com ela?
— Eu não posso deixá-lo escapar, — ela sussurrou. — Lynch, por favor. Ele tirou tudo de mim.
— Você fez suas escolhas. — Corrigiu Balfour.
Rosa olhou para ele. — Eu escolhi Nathaniel. E você o matou porque não suportava que eu tivesse lealdade a mais ninguém.
Uma leve contração naquele rosto inexpressivo. Balfour puxou lentamente as luvas, como se estivesse pensando. O movimento lembrava perigosamente Rosa. — Você deveria saber que não devia me pressionar naquele estado de espírito. Eu tinha te dado tudo... — Sua voz endureceu. — E você jogou de volta na minha cara por aquele idiota ingênuo. — Ele agarrou as luvas com uma das mãos, finalmente encontrando os olhos dela. — Eu te dei uma nova mão no final.
— Você me acorrentou à parede, me deu uma espada e me disse que eu tinha cinco minutos para salvá-lo. — Seus olhos estavam molhados de lágrimas furiosas. Ela ergueu o aço brilhante de seu punho. — Você fez isso comigo.
— Você fez isso consigo mesma — respondeu Balfour. — Eu só dei a você uma escolha. Ele. Ou eu. Você não precisava aceitar.
De alguma forma, ela encontrou uma lâmina. — Você quebrou sua palavra. Você disse que se eu chegasse a tempo, você não o mataria.
Silêncio. Lynch estendeu a mão, avisando-a para não fazer isso.
— Você estava atrasada —, Balfour disse finalmente. — Eu te dei cinco minutos.
Lynch viu a onda de fúria em seus olhos um segundo antes de ir para Balfour. Ele a pegou. — Quinze segundos! — Ela gritou, chutando e lutando em seus braços. — Quinze segundos de atraso! Você cortou a garganta dele na minha frente!
Os lábios de Balfour se estreitaram. — Você só tem a si mesma para culpar, Cerise...
— Eu não sou Cerise! Eu não sou! Meu nome é Rosalind.
Balfour sorriu. — Rosalind Hucker, a esposa do humanista? Isso foi apenas um papel, minha querida. Uma missão que te dei. — Ele deu mais um passo mais perto, como se sentisse que a tinha espancado. Ela estava esmagada pela dor e pela raiva, incapaz de fazer o que ela queria tão desesperadamente. E Balfour, a víbora, sabia disso.
Ele estendeu a mão para ela.
— Dê-me a adaga. — Lynch murmurou, tirando-a de seu aperto frouxo. Ele a virou, colocando mais distância entre ela e a mão estendida de Balfour.
O espião mestre do príncipe consorte notou. Aqueles olhos negros do diabo brilharam nele como se o marcassem como um adversário em potencial. — Não faça algo que você vai se arrepender, Lynch.
Ele ainda tinha a adaga dela na mão. Sentando-a em uma cadeira, enrolada sobre si mesma, parecendo muito com uma criança perdida naquele ponto, Lynch endireitou-se lentamente. — Nunca me arrependo de nada que faço.
No segundo seguinte, ele estava de costas para o peito de Balfour, a adaga contra sua garganta. O falcão deu um passo brusco para a frente e congelou.
Lynch olhou para ele. — Não se mova ou vou cortar sua garganta.
— Isso não vai me matar. — Balfour murmurou.
A pressão da adaga aumentou. — Nunca duvide de mim, seu bastardo presunçoso. Se eu quiser matar você, então o farei.
— E o que o príncipe consorte dirá?
Lynch se aproximou o suficiente para colocar os lábios nos ouvidos do homem mais velho. — Eu não vejo nenhuma testemunha, não é?
— Há olhos sobre nós —, respondeu Balfour. — Sempre.
Sua própria pequena rede de espiões. Lynch olhou para Rosa por baixo de seus cílios. Ela o encarava com olhos arregalados e marejados de lágrimas, como se nunca o tivesse visto antes. Como se ele fosse algo mais do que realmente era.
— Vá. — Ele disse suavemente.
— O que você está fazendo? — Ela sussurrou.
Ele não tinha tempo para isso. Ele podia ver o músculo trabalhando na mandíbula do homem de Balfour. Pouco tempo antes que o falcão viesse buscá-lo.
— Vá — Ele retrucou.
Ela se encolheu, seu olhar disparando entre os três homens. — Eu sinto muito. —.Um sussurro só para ele.
— Eu também. — Ele respondeu, as palavras sem emoção.
Então ela se foi, desaparecendo pela parte de trás do palco, seus passos ecoando no teatro escuro.
— Nunca pensei que fosse um homem que demonstraria fraqueza. — Murmurou Balfour.
Lynch o soltou e deu-lhe um empurrão nas costas. — Eu também nunca tomei você como tal.
Balfour não se preocupou em esfregar a fina linha de sangue em sua garganta. — O que você quer dizer?
— Ela pode ter pertencido a você uma vez, mas você nunca mais a controlará, Balfour. Ela foi feita para voar livre e nunca vai sucumbir à sua vontade desta vez. Ela te odeia. Você a empurrou longe demais.
O pensamento correu por trás dos olhos do espião mestre. — Ela era muito parecida comigo. — Um leve tremor de orgulho traçou suas palavras.
— Não —, respondeu Lynch. — Ela não era nada como você. Você nunca teria cortado sua própria mão para salvar outra pessoa. — Ele embainhou a adaga em seu cinto antes de ficar tentado a usá-la. — Deixe ela ir. Se você tem algum sentimento por ela, então deixe-a em paz.
— Você também nunca a terá. — Disse Balfour. Ele sabia. Sabia que amanhã Lynch seria chamado ao Conselho para apresentar Mercúrio ou ele mesmo.
Lynch balançou a cabeça lentamente. — Você está certo. Eu não vou.
— Eu poderia interceder.
— A que preço? — Lynch respondeu, sabendo que Balfour iria perguntar por ela. — Você não pode me comprar, Balfour.
— Isso é o que o torna tão perigoso —, respondeu Balfour. Ele olhou para o mecanicista gemendo no chão aos pés de Lynch. — Você percebe que isso não tem nada a ver com o revolucionário?
Lynch fez uma pausa.
— Você tem quatrocentos e cinquenta Falcões da Noite — Balfour murmurou. — E você insiste em fazer a coisa certa, não importa quem você desafie. Alguns podem dizer que é uma combinação perigosa. O suficiente para fazer... certas pessoas... temerem você.
O príncipe consorte. — Eu nunca teria agido contra ele.
Balfour sorriu. — Eu sei disso. Nunca tive medo de você, Lynch. Você é previsível. Eu sei para que lado você vai se mover antes mesmo de fazer isso. A honra é um grande peso em volta do pescoço. — Ele deu um aceno conciso, seu olhar cintilando para a porta. E o par de sangue azul que deslizou por ele. Garrett e Perry. Balfour se endireitou, gesticulando para que seu homem se acomodasse ao lado dele. — Mesmo se você pudesse de alguma forma encontrar Mercúrio pela manhã, viria outra demanda. E outra. Até que você finalmente desse a ele uma desculpa. — Balfour saudou lentamente. — Eu te vejo de manhã, então?
Por um segundo, Lynch pensou em usar a adaga. — Você vai?
Com um último sorriso, Balfour deu-lhe as costas e sorriu para Garrett e Perry ao passar por eles. — Eu não perderia por nada neste mundo.
Capitulo 24
Lynch rabiscou várias palavras com a caneta, então seus olhos se ergueram lentamente. A chama da vela à sua frente dançava como se alguém tivesse aberto uma porta em algum lugar.
Largando a caneta, ele esfregou a linha cansada entre as sobrancelhas e olhou para o relógio sobre a lareira. Três da manhã. Não adiantava tentar dormir. Ele precisava colocar seus negócios em ordem e cuidar para que certos eventos ocorressem como ele desejava.
Um leve farfalhar de som.
Ele inclinou a cabeça. Silêncio. Ainda assim, a sensação enervante de uma presença encheu o escritório, coçando sua pele. Lynch ficou de pé e foi em direção ao seu quarto com os pés calmos, a vela na mão.
Girando a maçaneta, ele a abriu. As cortinas de seu quarto balançavam com a brisa, a janela quebrou pela metade. Antes mesmo de dar um passo para dentro do quarto, ele sabia; ele podia cheirá-la, limpo e fresco, manchado com o leve cheiro adocicado das orbes. E então ele pôde vê-la, a luz da lua dourando aquela pele de porcelana com um toque amoroso.
Rosa.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Ele sussurrou asperamente, levantando a vela.
Rosa ergueu o queixo, olhando para ele como se ela mesma não soubesse. Longos fios de cabelo acobreado agarrados a seus ombros e pendurados em torno de seu rosto manchado de lágrimas, os pedaços rasgados do vestido lindo que ela usava ainda agarrados a suas pernas. Com seu cabelo ruivo e pele clara, ela não era o tipo de mulher feita para chorar, mas havia algo no desafio em seus olhos que o fez perder o fôlego. — Eu queria... eu precisava falar com você.
Lynch engoliu a dura bola de emoção em sua garganta e passou por ela em direção à janela, colocando a vela na mesa alta ao lado de sua cama. — Eu acredito que tudo o que precisava ser dito foi dito. — Ele olhou para fora, procurando nas sombras por olhos escondidos. — Você acha que eu deixei você escapar por nada? Droga, mulher, não tenho dúvidas de que Balfour está de olho na guilda. Ele estará esperando que eu faça algo esta noite.
Fechando a janela com força, ele fechou as cortinas com um puxão forte e respirou fundo. Inferno, ele não a esperava aqui. Seus dedos tremiam ligeiramente nas cortinas. Uma parte dele não queria enfrentá-la.
— Por que esta noite? — Ela perguntou. Uma nota de dúvida surgiu em sua voz. — Ele ameaçou você? O que ele disse? — O farfalhar das saias se aproximou. Então parou. — Ele não te machucou, não é?
Ela se importaria? Seus dedos se apertaram no peitoril, então ele lentamente se afastou e olhou para ela.
Um leve rubor subiu por suas bochechas e seu olhar caiu. Brincando com as pontas das luvas, com os ombros ligeiramente curvados, ela conseguiu respirar fundo. — Você não deveria tê-lo deixado viver. — Palavras quietas. — Se você me deixasse ir, eu poderia...
— Matá-lo. — Respondeu ele, com um toque de vigor a mais. Inferno, se ela soubesse o que estava fazendo com ele... Seu olhar faminto percorreu sua figura esguia e, apesar de si mesmo, seu corpo ansiava por ela. Apenas um toque. Ele sabia que se fosse até ela, ela voltaria o rosto para ele ansiosamente, mas isso significaria alguma coisa? Ele não sabia. Ele se considerou um grande juiz de caráter uma vez, mas agora ela quebrou suas percepções com a teia de mentiras que ela tinha tecido. Ele não conseguia mais ver a verdade e isso o fez duvidar de cada uma de suas ações.
— Por que você veio aqui esta noite?
Rosa se encolheu um pouco, como se o peso de seu olhar a derrubasse. — Eu queria dizer... sinto muito. — Esse último foi um sussurro. — Eu não podia - eu precisava ver você.
Passando a mão pela nuca, ele foi até a garrafa de licor e se serviu de uma taça generosa de vinho de sangue. Inferno.
Ela respirou fundo, estremecendo. — Eu sei que você não vai acreditar em mim. Eu não posso te culpar por isso, mas eu desejo - eu preciso que você saiba que eu nunca quis que nada disso acontecesse. — Ela deu um passo mais perto, suas saias balançando. — Eu não sou boa nisso. Eu nunca fui. Era mais fácil quando eu era Mercúrio, mais fácil... como Sra. Marberry.
— Mais fácil de mentir? — Ele perguntou, deixando de lado o vinho de sangue.
— Não foi tudo uma mentira.
Lynch largou a taça com um som de toque. Ele se virou - e então desejou não ter feito isso. Aqueles olhos vulneráveis o queimaram. Ele queria acreditar nela. Deuses, ele ansiava por isso.
Apenas deixe ir, sussurrou seu lado mais sombrio. Pegue o que ela está oferecendo. Você nunca terá outra chance.
E uma parte dele a odiava por isso, pelo fato de que seu coração e corpo ainda queriam o que queria, independentemente de sua traição.
— Você deveria ir.
Suas palavras calmas levantaram sua cabeça com tanta força que ele poderia muito bem tê-la esbofeteado. Determinação olhou para ele. — Não — ela sussurrou. — Eu não vou. Eu sei que menti para você. Eu sei que você nunca vai me perdoar, mas, por favor, o que eu senti por você...
Ele não aguentava mais. Afastando-se, ele foi até a lareira e olhou para as cinzas. Sua carta ainda estava lá, uma nota desamparada amassada nas cinzas finas e pulverulentas. — Não significava nada. Vou esquecer. — Sua própria mentira. — E sem dúvida você também vai.
— Isso não é verdade.
Lynch olhou por cima do ombro sombriamente. — Não é? Qual parte?
— Tudo isso. Você me quer. Eu sei que você quer...
Ele se virou então. Seu corpo estava tão tenso quanto a porra de uma corda de violino. — Talvez você esteja errada.
— Eu posso fazer você me querer, — ela declarou, dando um pequeno baque que deslizou suas mangas sobre os ombros. Seu corpete amoleceu, seus seios carnudos ameaçando derramar. — Você me quis uma vez.
— Se eu quero você ou não, isso não muda o fato de que eu nem sei quem você é! — Ele perdeu a cabeça. — Achei que amasse uma mulher, mas ela não existia. Já tive traição suficiente para uma vida inteira.
Rosa se encolheu. Mas ela não recuou. Em vez disso, seus dedos foram para o corpete e a pequena fileira de botões que desciam na frente de seu vestido com espartilho de corte fino. A luz brilhou no metal de sua mão esquerda; ela havia tirado as luvas, sem dúvida para forçá-lo a admitir para si mesmo que não era a Sra. Marberry.
— Você quer me conhecer? — Rosa perguntou. — Então, que seja. Eu era uma ladra. Nas ruas quando criança. Depois a espiã de Balfour e depois... mais tarde a sua assassina. Deixei meu marido morrer porque não consegui salvá-lo a tempo e não posso dizer a meus irmãos o quanto os amo porque nunca tenho palavras. Não quando significa algo. — Lambendo os lábios secos, ela continuou: — Eu não sou boa, não sou gentil, não pareço ser capaz de sentir as coisas que outras pessoas sentem - como se pudesse trancar uma caixa dentro da minha mente e esconder tudo das... emoções dentro dela. Mas não posso fazer isso agora. Não com você. Eu odeio me sentir assim. Eu odeio ser tão incerta. Odeio a culpa, sabendo que estava errada, que deveria ter contado a você. — Ela lutou com um botão, os dedos tremendo, xingando baixinho. — Eu não sei o que dizer. Tudo o que tenho é isso, para mostrar a você...
— Eu não sou seu marido —, disse ele, um lembrete brutal de um homem que ela havia amado. — Você pode tê-lo enganado, mas não vou cometer esse erro novamente.
Outra flecha no escuro. Sua pele empalideceu, mas seus dedos trêmulos começaram a puxar a pequena fileira de botões. E não importava o que ele disse, ele não conseguia desviar os olhos.
— Você está certo. Esse foi o erro que cometi. Fingir ser alguém que não sou. Duas vezes. — A incerteza acalmou seus dedos. — Eu o amava, mas... ele não me conhecia. Não até o fim, quando Balfour disse a ele o que eu era, o que havia feito. — Tristeza sombreou seus olhos. — Eu não poderia ir até ele. Nunca tive essa chance. É por isso que estou aqui agora. — Ela enrijeceu, como se esperasse por um golpe. — Você disse que seu coração pertencia a mim, mas você nunca me conheceu de verdade. Toda a... a feiura... Agora você tem. E... se você quiser que eu vá embora, para realmente ir embora, tudo o que você precisa fazer é me dizer que não me ama. Diga-me que não sou a mulher de quem gostava. Que não há nada em mim que você possa amar.
Seu sussurro o cortou, seus dedos tremendo no botão seguinte enquanto ela o encarava e esperava que a guilhotina caísse.
Ele não poderia fazer isso. Ele queria muito acreditar nela. Ele queria ela demais.
Dois passos e Lynch estava na frente dela, suas mãos alcançando seu rosto. Amaldiçoando-se. Amaldiçoando a fraqueza nele que o fazia ansiar desesperadamente que suas palavras fossem verdadeiras. A seda de seu cabelo deslizou ao redor de sua mão quando ele embalou a base de seu crânio e então sua boca encontrou a dele e ele se perdeu.
— Deus, — ele sussurrou, puxando-a com força contra ele. — Rosa, eu desejo... — Sua língua, quente e úmida. Suas mãos o agarraram pela camisa para que ele não pudesse fugir. — Eu gostaria de poder dar a você para sempre.
— Vou levar esta noite.
Então sua boca encontrou a dele e todos os pensamentos se dispersaram, exceto o desejo desesperado de possuí-la.
Por um segundo, Rosalind pensou que havia falhado, que ele iria embora, não a desejaria. Mas mesmo quando seus pulmões esvaziaram, ele estava se movendo em direção a ela, sua boca descendo para capturar a dela. O beijo foi forte, desesperado. Pela primeira vez, nada se interpunha entre eles e ela não pôde evitar se agarrar a ele, seu coração trovejando em seus ouvidos e a esperança crescendo.
Ele a queria. Apesar do que ela fez. Apesar de suas mentiras, da traição... Sabendo tudo o que sabia sobre ela, ele ainda a queria. Isso era o que ela nunca teve a chance de ver nos olhos de Nate. Em vez disso, ele morreu antes que ela pudesse ousar perguntar se ele poderia perdoá-la.
O perdão pode não ser conquistado tão rapidamente, não com Lynch. Ela o machucou tanto... Mas pelo menos isso era um começo. Pelo menos ele não a jogou pela janela como ela provavelmente merecia.
Rosalind recuou para respirar, arfando, os dedos correndo sob a camisa dele. Ávida. Tão ávida por sua pele, seu corpo... Para mostrar a ele como ela se sentia quando não conseguia encontrar as palavras. Ele deslizou a mão pelo cabelo dela, inclinando a cabeça para trás, e então seus lábios frios correram por sua garganta, a sensação ecoando entre suas coxas. Suas costas bateram na parede, a outra mão segurando seu traseiro exuberante e então ela podia sentir a ponta dura de seu pênis pressionando contra seu estômago.
Agarrando a parte de trás de sua coxa, ele puxou seu joelho para cima, pressionando com força entre suas pernas. Rosalind gemeu, suas unhas cravando-se na pele lisa de suas costas, percorrendo os músculos longos e magros. De alguma forma, sua mão encontrou a dele, então ela a pressionou mais abaixo, sobre seu abdômen e para baixo, o desejo quente correndo por suas veias.
Um suspiro suave quando ele a encontrou, molhada e pronta, seus dedos deslizando entre a fenda em suas calçolas. Seu suspiro ou o dele, ela não sabia. Sua cabeça caiu para trás, as unhas cravando-se nele enquanto ela mordia o lábio. Ele sabia exatamente onde tocá-la, exatamente como fazê-la gritar. Mas essa foi a única coisa sobre a qual ela nunca mentiu para ele. Ele a conhecia aqui. Conhecia cada pequeno lugar para acariciar para deixá-la louca.
Dedos duros se afundaram dentro dela, seu polegar acariciando com força a protuberância no centro de todo esse prazer. Rosalind não conseguia pensar, não conseguia ver. Seu corpo se movendo contra o dele, desesperado por isso, para aliviar a dor em seu peito, e agora a dor entre suas coxas. Ele aumentou com uma rapidez sufocante - talvez porque ela queria tanto isso, talvez por puro alívio que ele a estava tocando, dando a ela o que ela precisava - e então a oprimiu com uma rapidez chocante.
Seu grito ecoou no quarto, seu corpo convulsionando em torno de seus dedos enquanto ela se agarrava a ele, tentando cavalgá-lo. De alguma forma, isso era mais puro e doce do que qualquer coisa que ela já sentiu antes, como se a purga de toda aquela emoção que a estava sufocando deixasse seu corpo cantar.
Os dentes arranharam sua garganta, mordendo a pele macia sobre a veia. Os olhos de Rosalind se arregalaram, sabendo o que ele queria, conhecendo as fomes escuras que o moviam. Mas se ela ousasse pedir a ele para confiar nela, então ela tinha que dar a ele a mesma confiança. Ele não a forçaria, não tiraria diretamente da veia. Ele nunca fez isso.
Seus olhos se arregalaram ainda mais, o medo espesso em sua garganta com a ideia que veio à mente. Ela não conseguiria. Ela poderia?
O estilete fino raspou em seu cabelo. Quanto mais ela tentava não pensar nisso, mais ela não conseguia se conter. Isso a apavorou. Para dar esse controle a outra pessoa, até mesmo a Lynch. Seu coração latejava no peito. Lynch ergueu a cabeça, os olhos semicerrados e atordoados, as bochechas vermelhas de desejo. Ele sentiu sua retirada e procurou encontrar a causa.
Rosalind agarrou um punhado de seu cabelo e o beijou, tentando não entrar em pânico. Ela não podia deixá-lo ir. Agora não. Com as pontas dos dedos descendo por seu peito, ela sentiu a forte pressão do cabo contra a base de seu crânio.
— Rosa? — Ele perguntou.
Ela tinha a lâmina em seus dedos antes mesmo que pudesse pensar sobre isso. Engolindo em seco, ela pegou a própria mão dele e envolveu o cabo com os dedos.
Lynch congelou. Seus olhos cinza esfumaçados encontraram os dela, o calor se espalhando por eles até que eles ficaram pretos com a necessidade feroz. Seu olhar caiu para sua garganta, seus lábios se separando com um pequeno puxão trêmulo. Ele queria isso. Muito. Demais.
Fechando os olhos, ele tentou respirar através dele e ela observou as emoções duras perseguirem cada uma em seu rosto. — Não, — ele disse suavemente. — Não, você está com medo... eu não vou...
Ela arrastou a mão dele até a garganta e pressionou a ponta da lâmina contra a veia latejante. Seus olhos se encontraram. — Eu quero que você me reivindique. Eu quero ser sua.
Outro momento de estremecimento. Então a picada quente quando a lâmina cortou a pele. Ela caiu no chão e então suas mãos seguraram sua bunda e sua boca se fechou sobre sua garganta enquanto seus quadris se aninhavam ao redor dele.
A onda de sentimento disparou direto entre suas pernas, acendendo seu corpo. Cada puxão de sua boca, cada gole quente puxou seu clitóris como se sua boca estivesse lá. Ela veio, agarrando seus ombros, gritando, seus quadris esfregando contra os dele, desesperada, desesperada agora para colocá-lo dentro dela... Mãos deslizando entre eles, puxando suas calças e então ele estava livre, a onda quente de seu pênis a enchendo mãos, esfregando contra sua pele molhada e lisa. Ela gozou novamente, gritando, choramingando... Parecia que seu batimento cardíaco acelerou, batendo no mesmo ritmo que o dele enquanto sua boca levava seu sangue para seu próprio corpo, suas próprias veias.
Um golpe forte. Os olhos de Rosalind se arregalaram, drogados, a luz da vela derretendo em uma poça ao redor deles. Mãos firmes seguraram seu seio, deslizando os botões livres, os mesmos com os quais ela lutou... Então seus dedos inteligentes deslizaram sobre seu mamilo, puxando, provocando, seus quadris bombeando enquanto ele empurrava profundamente dentro dela.
Uma maldição áspera. Então Lynch estava lambendo sua garganta para fechar a ferida, seus quadris a empurrando contra a parede com desespero furioso. A boca dele pegou a dela, e ela podia sentir o sabor acobreado de seu próprio sangue quando suas línguas se chocaram.
O coração de Rosalind trovejou em seus ouvidos. Eu te amo. Ela gritou as palavras por dentro, onde ele não podia ouvir, seus olhos inundando de calor. Por que ela não pôde fazer isso? Por que era tão difícil dar tanto de si mesma? Não deveria ser assim. Ele merecia muito melhor, mas ela estava com tanto medo, medo de que uma parte dele olhasse para ela e não visse nada que merecesse aquelas três pequenas palavras.
— Deus, Rosa... Preciso tanto de você... — Ele engasgou, os dedos cavando em seus quadris, seu rosto se contraindo com a necessidade feroz. — Sabor... tão bom...
Ela segurou seu rosto e o beijou, sentindo a pressão crescendo dentro dele, dentro dela. Ela queria explodir, mas precisava tirar isso antes que fosse tarde demais.
— Eu te amo. — Ela deixou escapar, um sussurro áspero na quietude ofegante. Não o que ela pretendia, mas... o suficiente...
Ele a beijou. Forte. Capturando as palavras em seus lábios enquanto a conduzia para o papel de parede estampado. Os dedos deslizaram entre eles e então ela se perdeu, gritando, ancorada apenas pela sensação de suas mãos em seus quadris enquanto seu corpo estremecia contra ela, um grito áspero rasgado de sua própria garganta.
O calor se espalhou dentro dela. Ela o segurou, o rosto dele contra o ombro dela e as mãos dela deslizando pelo cabelo dele. Ofegante, tentando recuperar o fôlego novamente, ela sentiu cada minúsculo estremecimento que o percorreu.
Dela.
Ela entendeu então porque ele ansiava por seu sangue. Era o mesmo. Não para possuí-la, não para prendê-lo a ela com laços que ele não poderia quebrar, mas para existir naquele momento onde os dois eram um. Para dar - e receber.
Para serem reivindicados.
Completamente e totalmente.
Ela sabia que ainda havia muito entre eles, tantas palavras malditas que não haviam sido ditas, mas pela primeira vez esta noite, ela sentiu um pequeno botão de esperança crescer em seu peito. Apoiando o queixo em seu ombro, ela deu um pequeno beijo em sua garganta.
Ela nunca iria deixá-lo ir agora.
Capitulo 25
Lynch rolou até a beira da cama e se sentou, esfregando o rosto com as mãos. A luz suave do amanhecer penetrava pela janela e ele podia ouvir pombos arrulhando no telhado acima.
O pânico se apoderou dele e levou a mão trêmula à boca. Tanto que ele não foi capaz de passar na noite passada. E tanto ele tinha...
Ele olhou para baixo, para a mulher adormecida na cama ao lado dele. O calor de Rosa permaneceu nos lençóis, sua respiração deslocando o lençol de algodão que a envolvia precariamente, acariciando as curvas exuberantes de seu traseiro. Seu coração gaguejou em seu peito. As memórias da noite passada martelaram nele como alfinetes de imagem empurrados em brasa em seu cérebro. Tudo o que ela admitiu, tudo que ela disse, aquelas últimas palavras sussurradas que ele fingiu não ouvir... Aquelas que fizeram tanto dano ao seu coração.
Ele queria que elas fossem verdadeiras. Queria que pelo menos valesse a pena. Mas ele poderia confiar nelas? Confiar nela?
A resposta para isso foi fácil; se ele acreditasse que elas eram verdadeiras, então ele nem mesmo estaria questionando.
Lynch se sentia totalmente esgotado. A julgar pelo relógio sobre a lareira, ele tinha apenas três horas antes de se apresentar a corte. Seu peito apertou novamente, o pânico se agarrando a ele com dedos gananciosos. Ele não conseguia respirar. Seus pulmões simplesmente se recusaram a abrir. Estendendo a mão, ele agarrou a mão de Rosa, sentiu seus dedos quentes apertarem ao redor dos dele enquanto ela se mexia com um gemido suave. Ele não queria ficar sozinho. Não esta manhã.
De alguma forma, ele respirou fundo. Era mais fácil, com a mão dela na dele, mas não o suficiente. Lynch se virou para ela, deslizando a outra mão sobre seu traseiro enquanto beijava seu ombro. Seus cílios vibraram contra seu rosto enquanto ele a beijava, roubando seu próprio fôlego.
Isso era um adeus. Aqueles olhos escuros encontraram os dele quando ela acordou e então ela deslizou a mão de ferro em seu cabelo e puxou sua boca para a dela como se sentisse a necessidade, a fúria que o dominava. — Jasper? — Ela sussurrou, mas ele não queria falar. Agora não.
Ele a empurrou de costas e se aproximou dela desesperadamente. O calor de seu corpo afastou o resto do pânico quando ele empurrou dentro dela com uma necessidade feroz. Cada suspiro suave de seus lábios o ancorou, lutando contra o último de seu medo. Se ele pudesse protegê-la, se ela vivesse por causa de seu sacrifício, isso seria o suficiente.
Foi rápido, furioso, desesperado. E quando acabou, ela sorriu para ele com os olhos atordoados, uma mão ainda ligada à dele, e aqueles dedos de ferro vagando ternamente sobre sua bochecha. Seu coração apertou novamente e ele enterrou o rosto em seu ombro, segurando-a embaixo dele enquanto lutava contra uma última onda de pânico.
— Lynch? — Ela murmurou, se mexendo como se fosse olhar para ele. — Você está bem?
Sua garganta estava seca. — Estou bem. — Lynch passou os braços ao redor dela e a moveu de forma que seu corpo se acomodasse na curva de seu quadril, seu rosto enterrado naquele glorioso cabelo vermelho. Para que ela não pudesse vê-lo. — Volte a dormir.
Ela levou as mãos unidas aos lábios e deu um beijo nos nós dos dedos brancos. — Eu acho que vou, — ela murmurou, em sua voz rouca de Sra. Marberry. — Você me esgotou bastante.
Sua risada suave ecoou em seu peito enquanto ele a segurava. Por um momento, tudo parecia certo com o mundo. Ele respirou o cheiro de seu cabelo, tão familiar e ainda tão único.
Os minutos se estenderam, cada tique-taque do relógio soando como o barulho de uma cela de prisão. Rosa se suavizou em seus braços, sua respiração se tornando lenta e uniforme. Ele queria ficar aqui o dia todo. Para sempre. Mas o ponteiro das horas bateu nove e ele sabia que havia muito o que fazer se quisesse protegê-la.
Desembaraçando-se de seu corpo, ele escorregou da cama com uma graça cuidadosa e foi até a porta.
Ele não disse adeus.
Ele nem mesmo deixou um bilhete, embora tenha se demorado em sua mesa por longos momentos na indecisão.
No final, eles disseram tudo o que precisava ser dito.
Houve uma batida na porta. Rosalind levantou a cabeça do travesseiro, sentindo o hematoma dolorido daquela queda no poço da orquestra. Ela estremeceu, então percebeu que estava sozinha.
Empurrando o lençol até o peito, ela olhou em volta, seu coração batendo um pouco mais rápido. Não havia sinal de Lynch e, com a luz do sol entrando pela janela, ela dormiu metade da manhã. Não era de admirar, com o esforço físico e emocional da noite anterior.
— Sra. Marberry? — Perry gritou. — Posso entrar?
Arrastando o cabelo atrás da orelha, ela gritou um assentimento. Seus olhos estavam tensos e inchados. A vaidade a obrigou a admitir que provavelmente foi bom que Lynch tivesse saído mais cedo.
Ou não?
Ela não pôde deixar de se sentir nervosa. Tanta coisa havia acontecido entre eles no último dia e, ainda assim, nem tudo havia sido resolvido. Ele a perdoou? Não perdoou?
Perry apareceu com o vestido verde de Rosalind da tarde anterior pendurado no braço. As olheiras permaneceram sob seus olhos azul celeste; ela parecia quase tão mal quanto Rosalind se sentia.
— Aqui —, disse Perry, empurrando o vestido para ela. — Garrett disse que era hora de você se levantar. Ele deseja falar com você.
O tom abrupto de sua voz fez o peito de Rosalind apertar. Eles não sabiam. Eles não podiam. — Lynch está aqui? — Ela perguntou. — Ele está... ele queria me ver?
Perry enrijeceu, seu olhar disparando para Rosalind - então para longe. — Você vai ter que perguntar a Garrett.
Perry a deixou para se vestir. Rosalind mexeu rapidamente com o vestido e as meias, borboletas começando a fazer cócegas em seu abdômen. O instinto - sempre uma maldição - estava começando a deixá-la nervosa. Algo estava errado. Perry tinha sido afetuosa com ela na noite anterior, mas esta manhã elas poderiam muito bem ser estranhas.
Quando ela abriu a porta dos aposentos de Lynch, ela encontrou Garrett tamborilando os dedos na mesa do escritório de Lynch. Os dedos pararam, seu olhar a examinando com uma obliquidade que não era normal. Sempre podia avaliar os pensamentos de Garrett pelas expressões que cintilavam em seu rosto. Não havia nenhum sinal de seu sorriso usual, ligeiramente zombeteiro, enquanto a olhava fixamente.
— O que está acontecendo? — Rosalind perguntou.
Ele ficou de pé, linhas brancas esticando-se ao redor de sua boca. — Sra. Marberry. — Aqueles olhos azuis estavam vigilantes. — Fui instruído a escoltá-la até as masmorras.
O sangue sumiu de seu rosto. — O que? — Ele não iria. Não Lynch. Droga, a noite passada deve ter significado algo. Ela deu tudo a ele, até que ela estava quase seca. A menos que... ela o machucou tanto que ela destruiu até mesmo o vislumbre de afeto que ele tinha por ela.
Garrett gesticulou para ela na frente dele. — Devemos?
Ela não iria quebrar. Aqui não. Não na frente de Garrett ou qualquer um dos Falcões da Noite que ela pudesse ver na viagem para as celas abaixo. Sua visão branca com o choque, ela o precedeu através da porta, não vendo nenhuma das voltas e reviravoltas que eles deram. Muito em breve, ela estava parada na frente do que parecia ser um par de portas feitas inteiramente de engrenagens de latão entrelaçadas.
Garrett passou, suas mãos correndo sobre a tela. Cada engrenagem deu um clique quando ele as girou, embora ela não conseguisse entender em que ordem ele as movia. Então ele deu um passo para o lado e apertou um pequeno botão escondido ao lado das portas.
Todo o mostrador começou a se mover, as engrenagens do meio começando a ranger, então cada engrenagem subsequente girando e mudando as outras em sua periferia até que toda a porta girasse em um turbilhão. Um baque pesado soou dentro. Então outro. E um latejar final e surdo que soou como se estivesse dentro da porta. As engrenagens pararam e então a fina rachadura no meio começou a se separar.
— Uma porta mecânica, — Garrett murmurou. — Você deve mover as peças corretamente na primeira vez, ou ela irá parar e não poderá ser ressuscitada até que tudo seja reiniciado. Lynch e Fitz tiveram a ideia. Ninguém pode entrar sem a primeira peça do quebra-cabeça - e ninguém pode sair.
As portas se abriram para revelar o interior de uma câmara de elevação. Rosalind engoliu em seco e entrou.
— Ele tem uma mente extraordinária. — Ela respondeu calmamente.
Garrett deu um passo ao lado dela, então apertou o botão para que as portas se fechassem. O vagão começou a se mover, o som áspero do guincho pesado soando acima dela.
— Ele tem um coração extraordinário —, ele corrigiu, as sombras escurecendo sua visão. — Ele me disse quem você é e o que fez.
As palavras foram educadas; o tom continha um núcleo de aço, entretanto.
Cada sacudida da câmara de elevação a lembrava de que não havia saída. Preocupada com as luvas, ela tentou manter a respiração estável. Pequenos pontos brancos já dançavam em sua visão. — Ele pretende falar comigo?
Ela podia senti-lo olhando para ela, seu olhar queimando através dela. — Você me intriga, Sra. Marberry, ou qualquer que seja o seu nome...
— Rosalind. Meu nome é Rosalind.
— Rosalind. — Ele parecia estar pensando em algo. — Não tenho certeza se você está jogando ou se realmente se importa. Achei que você estivesse apaixonada por ele.
Ela ficou em silêncio, desprezando a natureza investigativa de sua pergunta.
Ele soltou um suspiro baixo. — Tão impenetrável como uma maldita esfinge. Eu vejo. Você não dá a mínima para o que eu penso de você, não é?
O vagão parou, suas portas se abrindo para revelar outro conjunto de portas mecânicas. Rosalind encontrou seu olhar. — Nem um pouco, senhor. — Afinal, ela foi odiada e temida e pior em seu tempo. Ela se acostumou com a sensação, com o calo espesso que parecia sua única forma de proteção.
Ou tinha sido uma vez.
O único cuja opinião importava não estava aqui.
Garrett girou várias das engrenagens da porta - ela tentou observar desta vez - e o mecanismo girou em uma dança vertiginosa novamente.
— Não costumamos manter prisioneiros —, disse ele, gesticulando para que ela passasse pelas portas. Ele não parava de olhar para ela, como se tentasse decifrar algum mistério. — Apenas nós cinco que formamos a Mão de Lynch sabemos da existência deste - e temos o código das portas.
— Você está tentando sugerir que não há ninguém aqui para me ajudar a escapar?
Ele parou no meio do corredor, uma fileira de lâmpadas a gás brilhando no couro preto brilhante de sua armadura. Um momento de surpresa, então ele baixou a cabeça. — Me desculpe. Não tinha percebido que você não entende as intenções dele. Não estamos aqui para trancá-la em uma cela, Rosalind.
— Embora sua opinião seja diferente da dele.
— Não, — ele disse. Mais uma vez, ele parecia prestes a dizer algo, mas balançou a cabeça com uma expressão frustrada. — Eu espero que eu esteja certo. Espero que alguma parte de você se importe com ele. Aqui. — Ele deu um passo em direção a uma das portas da cela. Elas eram todas feitas de mecanismos de relógio interligados.
Garrett pôs um em movimento e recuou para esperar. Rosalind prendeu a respiração, observando as engrenagens brilharem e se moverem enquanto se moviam lentamente durante a transição. O que quer que estivesse do outro lado da porta mudaria sua vida, ela tinha certeza disso.
As fechaduras clicaram. As portas começaram a se abrir.
Rosalind se viu olhando para uma pequena cela escura sem janelas, uma única lâmpada a gás brilhando sobre o ocupante lá dentro. O menino sentado na única cama estremeceu com a claridade repentina, o braço erguido diante dos olhos. O coração de Rosalind caiu até o chão do estômago. Ela o conhecia - o conhecia tão bem que praticamente fora sua mãe.
— Jeremy. — Ela sussurrou. Havia mãos em seus ombros, ajudando a mantê-la de pé. Agarrando-se a Garrett, ela piscou, tentando se orientar, mas o mundo ainda estava girando e ela tinha a sensação de que nunca iria parar.
— Rosa? — Jeremy baixou o braço, a cor empalidecendo em seu rosto. Ele ficou de pé, o horror pintando-se em sua expressão. — Droga, eu não diria nada a eles. O que aconteceu? Como eles te pegaram?
Ela deu um passo à frente. Então outro. Em seguida, ele estava em seus braços, e ela foi pressionada contra seu peito, suas lágrimas quentes manchando a camisa de cambraia áspera que alguém havia fornecido para ele. Tão grande agora. Alto, magro e pálido por falta de sol.
— Oh Deus, — ela sussurrou. — Você está vivo. Você... não está machucado. — Agarrando seus braços, ela sentiu seu peito e ombros, correndo em suas lágrimas com as luvas. Ela não conseguia parar de chorar. Ele era real. Ele estava lá. Todo esse tempo... todas as horas que ela passou se preocupando e procurando e ele estava vivo.
— O que aconteceu? — Um soluço a dominou. — Há quanto tempo você esteve aqui?
Ele lançou um olhar feroz por cima do ombro dela. — Eles me pegaram logo depois da torre. O Falcão da Noite está me martelando com perguntas, mas juro que não contei nada a ele. Ele não vem mais com tanta frequência. Só esta manhã. Não disse muito, mas ele sabia meu nome desta vez. Não imaginei que ele tinha você. — Suas mãos agarraram seus braços. — O que aconteceu? Como você foi pega?
— Eu não fiz. Eu não esto... — Ela olhou para Garrett, que descansava na porta com os cílios semi-cerrados sobre os olhos. — O que acontece agora?
— Eu acompanho você até a saída e você sai.
— Bem desse jeito? — Ela perguntou, enxugando o rosto. Certamente não poderia haver mais lágrimas. Mas com os dedos cerrados nos de seu irmão, ela sentiu que borbulhava novamente: raiva, alegria, descrença... Como? Como isso aconteceu? Ela podia se lembrar daquela noite no beco e da reticência de Lynch ao descobrir que seu irmão era um humanista.
Ele sabia.
Conheceu e prometeu a ela que faria o possível para devolver seu irmão para ela. Sem dúvida ele lutou contra seus próprios instintos, sabendo que Jeremy havia participado do bombardeio e se perguntando se era a coisa certa a fazer. No entanto, ele ainda tinha dado a ela o que ela mais desejava.
Seu coração inchou... e quebrou. Apesar de sua traição, ele deu a ela a única coisa que ela mais desejava no mundo.
— Onde está Lynch? — Ela perguntou. — Eu... poderia agradecê-lo. Por favor?
— Ele foi a corte. — Garrett se afastou da porta. — Eu sugiro que tiremos seu irmão daqui. Rapidamente. Antes que alguém com intenções menos nobres do que eu perceba o que está acontecendo.
Ela correu atrás dele, arrastando Jeremy em seu encalço. — Eu pensei que você disse que apenas sua Mão conhecia sua mente.
— Eu sei. — Garrett conduziu-os à câmara de elevação. — É preciso lembrar que ele nos tirou das ruas ou do bloco de execução e nos deu um jeito de viver. Nem todos nós achamos que você deveria ficar impune por isso.
As portas se fecharam e a câmara de elevação começou a subir. — Byrnes. — Ela adivinhou.
— Byrnes é o nosso maior problema —, admitiu Garrett. — Embora não seja o único. Doyle acha que você deveria ser chicoteada.
— Que sorte que você ainda obedece aos comandos de Lynch.
Ele encontrou os olhos dela então. — Ainda estou indeciso.
— Rosa? — Jeremy perguntou. — O que está acontecendo?
Ela o parou com uma mão. A urgência caiu pesadamente em seus ombros. Ela tinha que tirar Jeremy daqui. Então ela poderia lidar com Lynch. Isso tudo estava começando a confundi-la. Seus nervos - que deveriam ter se acalmado - estavam ficando mais tensos. O que Garrett não estava dizendo a ela?
Assim que chegaram ao nível do solo da sede da guilda, Garrett os conduziu por vários corredores e salões escuros. Ela esperava que Falcões da Noite saltassem de cada canto, mas os corredores estavam estranhamente silenciosos.
— Perry está mantendo os outros ocupados. — Garrett murmurou, parando diante de uma pesada porta de aço. Quando ele a abriu, a luz do sol entrou, revelando a entrada dos fundos da guilda e o beco atrás dela.
O ânimo de Rosalind melhorou imediatamente. Ela olhou para Jeremy e encontrou seu olhar surpreso antes de apertar sua mão trêmula. Ela estava livre e Jeremy estava seguro. Jack e Ingrid ficariam muito felizes. E ela... sua alegria morreu ligeiramente.
Ela falaria com Lynch. A noite passada deve ter significado algo, não é? Ela não permitiria que isso fosse o fim de tudo.
Jeremy correu pela porta, puxando-a atrás dele. — Vamos, Rosa. Vamos dar o fora daqui.
Mas ela parou no beco e olhou para Garrett, as pontas dos dedos de Jeremy deslizando pelos dela.
— Diga a ele que sinto muito —, disse ela. — E agradeça a ele por isso.
— Eu não posso. — Garrett cruzou os braços sobre o peito e olhou para ela. Isso era o que ele estava esperando, ela de repente suspeitou, pelo olhar faminto e desesperado que ele deu a ela.
Os cabelos de sua nuca se arrepiaram. Algo estava errado.
— Por quê?
Esse olhar. Como se tentasse descascar as camadas protetoras dela. — Eu prometi que não contaria a você. Mas acho que você deveria saber. Houve um preço para isso, Rosalind. E ele vai pagar.
— Eu não entendo. O que ele fez? Que preço?
— O Conselho deu a ele três semanas para encontrar Mercúrio. Ou ele compartilharia o destino de Mercúrio.
O mundo ficou branco ao seu redor. Ela pensou ter cambaleado, mas não tinha certeza. Não. Não! — Quando? — Um sussurro.
— Hoje. — Garrett foi impiedoso. — Era ele. Ou era você.
E foi então que ela finalmente percebeu as dragonas reluzentes do Mestre da Guilda em seus próprios ombros.
Capitulo 26
Rosalind nunca desmaiou em sua vida, mas chegou perto naquela tarde no beco. As palavras de Garrett a atingiram como um arpão no peito.
Ele era ele. Ou era você.
Homem estúpido, estúpido! Era exatamente disso que ela temia. Não de amar - já era tarde demais para isso, fazia dias -, mas de ser tão amada que outro homem perderia a vida antes dela.
Ela não poderia fazer isso. De novo não. Colocando a mão sobre a boca, ela gemeu de dor quando se curvou na cintura. Culpa dela. Tudo por sua maldita culpa. Ela não podia assistir outro homem morrer por ela. Ela não iria.
Não seja fraca. Lynch precisava que ela fosse forte, especialmente agora.
Mordendo o punho, ela engoliu a forte bolha de emoção em sua garganta. Ao longe, ela percebeu que Jeremy estava dando tapinhas em suas costas, sua voz aumentando em incrementos enquanto ele exigia saber o que havia de errado com ela. E de repente ela ficou muito grata por ele estar vivo e bem - por Lynch tê-lo dado a ela. Mais uma dívida que ela tinha com ele.
Seu irmão estava seguro. Ela fez o que veio fazer. E Jack... Ingrid... Era a vez deles cuidarem dele.
Ela olhou para Garrett, com a garganta seca e rouca. Foco. — O que você vai fazer para libertá-lo?
— Nada. — Garrett se moveu. — Se fosse só eu, arriscaria. Mas já me explicaram muito claramente que, se eu fizer um movimento, todos os Falcões da Noite sob meu comando serão abatidos por casacos de metal. Todos os jovens em treinamento... Doyle, Byrnes... Perry. — Esse último nome parecia um descuido, mas pelo jeito que sua voz suavizou, ela sabia exatamente qual rosto ele estava imaginando agora. — Eu não posso desfazer isso. Não sem começar uma guerra entre os Falcões da Noite e o Escalão. Além disso, estou ficando sem tempo. Eles ameaçaram executá-lo hoje.
— Há quanto tempo ele se foi? — Ela perguntou, pensando furiosamente.
— Uma hora. Eu vim acordá-la assim que ele saiu.
Claro. Porque as mãos de Garrett estavam amarradas e as dela não. Ela sabia o que ele estava perguntando. Tudo isso tinha sido um estratagema para testar seus sentimentos por Lynch, até onde ela iria para salvar sua vida.
— Quero que você vá para a casa de Jack —, disse ela a Jeremy, as palavras soando como se saíssem de lábios mecânicos. — Há algo que tenho que fazer.
Jeremy agarrou as mãos dela, em pânico. — O que diabos está acontecendo, Rosa?
— Sua irmã vai me ajudar a resgatar Lynch. — Garrett respondeu, seus ombros caindo de alívio.
Jeremy balançou a cabeça. — Ah, não. De jeito nenhum vou deixar você fazer isso. Você está indo contra o Escalão, não é?
— Você não pode me impedir —, disse ela, cansada. — Se eu precisar, vou pedir a Garrett que coloque você de volta na cela até que seja feito.
— Até o que seja feito? — Ele demandou.
Ela não podia contar a ele. Seus olhos encontraram os de Garrett e ela olhou para ele. Não ouse.
— Vou libertar Lynch. — Disse ela. Sua vida ou a minha. Amaldiçoe o homem. Amaldiçoe-o como um tolo. Por que diabos ele não disse a ela o que estava planejando? Ou ele tinha suspeitado que essa poderia ser a reação dela?
Claro que não. Ele duvidou dela, duvidou de tudo o que havia entre eles. Mas a única razão pela qual ele não teria contado a ela era se ele temesse que ela não tivesse mentido sobre como se sentia.
— Como? — Jeremy exigiu, seus olhos se estreitando. Ele parecia tão maduro de repente - um homem crescido, não um menino. Então seus olhos perderam sua aparência mundana. — E porque?
— Talvez se eu der a eles o que eles querem, — ela sugeriu, colando um sorriso nos lábios. — Ou alguma parte disso. Capturamos Mordecai ontem à noite. Na sequência do ataque à ópera, tenho certeza de que eles estarão atrás de sangue. Nós damos a eles o que eles querem.
Não seria o suficiente - não se Lynch não tivesse tentado sozinho. Mas os olhos estreitos de Jeremy perderam o brilho. Ele acreditou nela. Ela quase engasgou com a mentira.
— Eu irei, — ele avisou. — Vou dizer a Jack o que você está fazendo.
Jack não era tão fácil de enganar quanto Jeremy. Rosalind manteve o sorriso na boca. — Claro —, disse ela. — Dê a ele... dê a ele meu amor. E Ingrid também. — Estendendo a mão, ela acariciou o braço de Jeremy e os finos cabelos ruivos ali. Diga a eles para me perdoar. — Estou muito grata por ter você de volta. — Com isso ela não pôde evitar. Ela o puxou para seus braços e o abraçou com força, o sorriso morrendo quando ela pressionou o rosto contra seu peito.
— Eu te amo. — Ela sussurrou.
— Também te amo. — Jeremy murmurou, limpando a garganta e lançando um olhar envergonhado a Garrett.
Ela deu um passo para trás. — É melhor você ir. Antes que um dos outros Falcões da Noite perceba que você está desaparecido.
— Eu vou buscar Jack. — Ele avisou novamente. Talvez não totalmente enganado. Então ele recuou, olhou por cima do prédio sombrio e girou em direção à entrada do beco.
Ela o observou ir, seus dedos se fechando em pequenos punhos. A onda de sentimento estava varrendo de volta para ela agora. O ponto de ruptura.
Quando ela pensou que estava sob controle, ela olhou para Garrett. — Bem?
— Um excelente desempenho. — Ele abaixou a cabeça lentamente. — Vou manter o Escalão fora de sua trilha.
— Obrigada. — Sua boca estava seca. — Você joga um jogo perigoso.
— Eu não estava totalmente certo —, admitiu. — Se você se importava o suficiente.
— E agora você sabe.
Garrett passou a mão pelo cabelo. — Agora eu sei. E ele também.
Ela engoliu em seco. Ela não tinha pensado nisso. Lynch ficaria furioso. — Ele vai odiar você por isso.
— Eu sei. — Garrett ofereceu-lhe o braço. — Esse é o meu preço a pagar. Eu pretendia apresentar Mordecai ao Escalão, mas... acho que não será o suficiente. Lamento pedir isso a você.
— Você não precisa perguntar —, ela respondeu. — Apenas diga a ele que eu mesmo tomei a decisão assim que soube. Diga a ele... Diga a ele que o que eu disse ontem à noite... eu quis dizer cada palavra.
O carrinho da prisão estava cheio de palha, um vento cortante soprando em cada fenda. Rosalind se viu empurrada para dentro dele sem graça e girou para mostrar os dentes para Byrnes. Ele arqueou uma sobrancelha fria para ela, encontrou o olhar desafiador de Garrett, então se virou e saiu de vista.
— Desculpe, — Garrett murmurou, estendendo a mão para ajudá-la a se levantar. — Ele é um bastardo frio, mas ele olha para Lynch como um irmão.
Rosalind encolheu os ombros, afundando-se na estreita prancha de madeira que servia de assento. Lentamente, ela olhou para cima e encontrou os olhos do homem sentado à sua frente. Mordecai mexeu-se nas correntes, semicerrando os olhos para ela com um olho roxo. Seu olhar caiu para seus pulsos soltos. Não tendo certeza do que ela estava fazendo aqui.
Garrett fechou a porta e a luz se apagou. Quando a máquina a vapor ganhou vida, sua visão se ajustou o suficiente para distinguir a expressão sombria de Mordecai.
— Então, nós dois vamos dançar hoje. — Ele sorriu, revelando um lábio partido. — Acho que vamos descobrir logo se aquele irmão seu ainda está vivo.
Ela não se preocupou em corrigi-lo. Em vez disso, ela colocou as mãos no colo e olhou para elas. Seu estômago estava uma confusão de nervos. A ideia de ser executada a apavorava. Por um momento, ela pensou que ia vomitar e se mexeu no banco, incapaz de ficar parada. Seus pulmões paralisaram.
Não pense nisso.
O olhar quente de Mordecai perfurou o topo de sua cabeça. — Como eles te pegaram?
Ela particularmente não queria falar com ele, mas pelo menos afastou sua mente do que estava por vir. A carruagem da prisão balançou para frente e ela agarrou o assento. — Eu deixei minhas emoções mais fracas levarem o melhor de mim.
Ele riu suavemente. — Emoções? Você não tem nenhum. A cadela mais fria que já conheci.
— Eu gostaria que isso fosse verdade.
Silêncio. — Então eles pegaram você e a mim. Quem sobrou? Suponho que nenhum dos meus meninos saiu vivo da ópera?
— Alguns, — ela admitiu. — No entanto, os Falcões da Noite cercaram o lugar.
Ele grunhiu. — E aquele seu irmão?
Ela não queria pensar nisso também, pois isso significava que ela falhou. Havia uma razão para ela liderar a causa e não Jack. — Ele e Ingrid ainda não foram encontrados pelos Falcões da Noite.
— Não quero dizer merda —, ele bufou. — Jack fala muito bem, mas eu sei que ele está se escondendo um pouco sob as roupas dele. Ele não lidera nenhuma ação, tanto quanto eu vi.
— Ele não pode, — ela disse. — Seu corpo inteiro foi queimado com ácido. — Por Balfour. Quando ela escolheu Nate em vez dele. Quando ela acordou com uma nova mão e com febre, já era tarde demais. O temperamento de Balfour esfriou e ele realmente admitiu algum remorso pela ação, mas o dano já estava feito. — A pele dele está muito apertada agora. Dói para ele se mover rapidamente, embora ele possa se precisar.
— Você acha que ele e aquela vadia verwulfen podem envelhecer juntos?
Rosalind ergueu os olhos. — Eu pensei que você odiava?
Um lento encolher de ombros. — Nunca gostei muito de você. Ainda não sei. Mas antes de nós dois nos sentarmos. Não há mais meus mecanicistas. Fomos até eles - mais severos do que você jamais fez - mas a verdade é a verdade. Todos os humanistas que sobraram pertenciam a você e eu peguei o Escalão mais do que já havia pegado você.
Muitas vezes ela lutou e discutiu com este homem.
— Nós dois cometemos erros —, ela admitiu. — Eu deveria ter incluído você e seu irmão em meus esquemas quando você perguntou. — Ela respirou fundo. — Eu deixo o orgulho e a desconfiança tomarem minhas decisões, em vez de pensar nelas racionalmente.
O interesse cintilou em seus olhos escuros. — Isso é um pedido de desculpas?
— O único que você vai conseguir. — Ela respondeu asperamente.
Uma risada suave. — E agora você quer que eu admita que eu não deveria ir contra você? Que se dane isso.
— Eu entendo por que você fez.
— Todos esses anos... — Ele fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás contra as ripas de madeira das paredes. — Trancado nos enclaves, me dando tempo para um membro que eu nunca quis. — Trazendo seu punho de ferro, ele o cerrou, olhando para o metal em movimento. — Eles disseram que eu devia a eles quinze anos por isso. Quinze anos naquele inferno. — Uma risada áspera. — Então você com suas lindas promessas. Tudo que eu queria era alguma ação. Alguma forma de igualar a pontuação. E você insistiu para que esperássemos, construíssemos seu exército de metal, porra. — Ele cuspiu para o lado. — Trabalhei metal por mais de dez anos. O que você queria teria levado pelo menos mais três. Eu não podia esperar tanto tempo.
— Se você fizesse, talvez não estaríamos sentados aqui agora.
— Sim. — Ele esfregou o hematoma no rosto distraidamente, então estremeceu. — Acertou bem, você tem. Nunca te vi em ação antes. Você poderia ter causado algum dano. — Raspando a unha do polegar contra a boca, ele olhou considerando. — O Escalão, eles querem Mercúrio muito, não é?
Ela assentiu.
— Então me responda isso; por que você deu a eles?
O olhar em seus olhos era surpreendentemente astuto. — Eu não sei o que você quer dizer.
— Eu vi o jeito que aquele dândi 'te colocou aqui'. O que quer que você esteja planejando, ele não gosta de nada. — Olhos estreitos. — O que você está planejando?
Ele achou isso uma manobra. Rosalind desviou o olhar. — Estou planejando me entregar em troca de Lynch. Eles querem Mercúrio, então vou dar a eles.
— O quê? — Mordecai pareceu incrédulo, então uma expressão astuta cruzou seu rosto, um sorriso. — Disse que uma mulher não deveria estar no comando. Essas emoções mais fracas sejam a sua morte.
— Eu sei.
Ele balançou sua cabeça. — Um sangue azul, eh. Um maldito Falcão da Noite.
— O Falcão da Noite. — Ela corrigiu.
— Sim. E ainda está sangrando.
— Eu costumava acreditar. — Ela fechou os olhos e encostou a cabeça na parede. — Eles não são como o Escalão.
— Não?
— Não. — Um pequeno sorriso cruzou seus lábios. — Se isso faz você se sentir melhor, eu suspeito que a maior ameaça para o Escalão não será você ou eu. Serão os Falcões da Noite. Eles já têm um exército; eles não precisam construir um.
O silêncio saudou esta declaração. Quando ela abriu os olhos, ele estava olhando para ela. — Você acredita nisso? — Não importava sua bravata, ela sentia a necessidade dele. O desejo de saber que isso não foi tudo em vão.
— Eu acredito.
— Você não é tão ruim, — ele murmurou. — Quando você não é fria. Uma pena. Poderíamos ter trabalhado bem juntos.
Um sorriso sem humor tocou seus lábios. — Eu coloquei os Falcões da Noite em você. — Ela o lembrou.
Apesar das contusões, ele quase sorriu de volta. — Isso foi inteligente. Nunca suspeitei disso.
As palavras foram sumindo enquanto os dois espiavam pela janela gradeada na parte de trás da carruagem da prisão. Seu estômago se agitou. Aproximando-se agora. Eles estavam quase na torre. Ela quase podia sentir a sombra pairando sobre o carrinho da prisão.
— O que você faria se este 'anúncio' não acontecesse? — Mordecai perguntou de repente. — Se Lorde Falcão da Noite estivesse livre e você não estivesse enfrentando a guilhotina?
Ela tinha que pensar sobre isso. Na verdade, ela tinha tido muito tempo para pensar ultimamente - sobre tudo que ela fez de errado ou certo, tudo que ela poderia ter feito de forma diferente. — Eu não começaria uma guerra —, disse ela. — Não nas ruas. Não do jeito que planejei. Havia algo que Lynch disse... sobre a guerra não ser a maneira de vencer. Os Escalão são tão fortes porque são temidos, porque ninguém ousa falar contra eles.
— Você falaria contra eles?
— Eu encontraria uma maneira, — ela disse. — Talvez eu me juntar ao Partido dos Humanitários.
— Juntar-se? — Ele riu, um tom áspero. — Você não seguiria. Não por muito tempo. Você gostaria de liderar.
— Talvez eu tenha aprendido minha lição —, ela respondeu. — Ou talvez não. Quem sabe? O ponto é discutível.
A carruagem da prisão diminuiu a velocidade, alguém gritando ao fundo. Então a voz de Garrett, cortando os gritos enquanto ele proclamava, — Prisioneiros. Para a torre.
Seus olhos se encontraram. Mordecai empalideceu sob a camada escura de fuligem. — Você acha que eles vão nos chamar de heróis nas ruas?
— Tudo é possível. — Rosalind prendeu a respiração. Ela podia sentir o gosto do medo, ver nos olhos dele e sabia que ele via nos dela.
— Sempre quis ser um herói. — Ele respirou fundo quando a fechadura na parte de trás da carruagem chacoalhou. —Acho que é isso. Uma pena, depois de tudo o que fizemos, que termine aqui.
— Sem ganhar nada. — Ela concordou com voz rouca.
Seus olhos se encontraram. Mordecai acenou com a cabeça lentamente, o pensamento correndo atrás de seus olhos. — Eles nem me querem, querem? Tudo o que eles querem é Mercúrio.
Rosa concordou.
Mordecai lambeu os lábios e mexeu-se na cadeira. — Acho que estou morto então e os bastardos nem se lembrarão do meu nome. Amaldiçoe-os. Amaldiçoe todos eles.
Capitulo 27
— Isto é ridículo. — Barrons estalou, dando um passo para a frente do estrado o mais perto que tinha chegado de confrontar o príncipe consorte.
— Você ousa desafiar seu príncipe? — O duque de Bleight perguntou.
Claro que aquele abutre estaria aqui. Todos estavam, Balfour ocupando o lugar deixado vago pelo desaparecimento da Casa de Lannister. Ele tamborilava com os dedos na cadeira, o único sinal de movimento além do dardo de águia em seus olhos.
Lynch ficou com os ombros retos e a cabeça erguida. Ele não conseguia controlar a batida acelerada de seu coração. A morte nunca teria sido sua escolha, mas ele não tinha opção. Ele poderia ter entregado o líder mecanicista em alguma tentativa de influenciar a mente do príncipe consorte, mas isso era perigoso. Muitas pessoas sabiam quem era Mercúrio e Mordecai era o único cuja língua ele não conseguia controlar.
— Eu ofereço conselho. — Barrons respondeu friamente, — quando o resto de vocês prefere morder suas línguas e balançar suas cabeças por medo de ofender. — Ele se virou para encarar o príncipe consorte. — Eu sei que não sou o único que pensa que isso é tolice. Sou apenas o único que se atreve a expressá-lo.
O príncipe consorte lançou-lhe um olhar penetrante. — Está muito perto de cruzar a linha, Barrons.
— E então cairíamos duas cadeiras no conselho. Talvez você prefira uma ditadura? — Barrons respondeu.
Um movimento perigoso. Mas Lynch viu o brilho pensativo nos olhos de vários conselheiros. Eles estavam se agarrando ao poder e sabiam disso. Bastaria que eles se unissem contra ele e o estrangulamento do príncipe consorte acabaria. Mas isso nunca aconteceria enquanto cada conselheiro servisse primeiro aos seus próprios objetivos.
Como se não pudesse controlar, Lynch olhou para Bleight. O duque estava envelhecendo, empoleirado como um abutre em sua cadeira enquanto olhava para Barrons. Firmemente no bolso do príncipe consorte. Pela primeira vez, Lynch se perguntou como teria sido se ele não tivesse se recusado a duelar com seu primo. Se fosse ele sentado lá, tentando manter o Príncipe Consorte na baía.
Sua respiração se acelerou. Ele não se arrependia de nada, não de verdade, não importava o quanto as decepções de Annabelle e Rosalind tivessem causado, pois ter feito as coisas de maneira diferente significaria que ele seria um homem diferente.
No entanto, talvez tivesse sido melhor para outros. Para os humanos, os mecanicistas e os renegados, aqueles que o Escalão ignorava como inconsequentes. Ele poderia ter ocupado uma posição de poder, de influência.
A falta de poder o irritava agora - viver ou morrer pelos caprichos desse homem.
O príncipe consorte finalmente voltou sua atenção para Lynch, ignorando os olhares especulativos entre seus conselheiros. Ou talvez não totalmente ciente deles. A rainha estava ao seu lado, sua mão pálida descansando em seu ombro e seus olhos vagos vagando pela sala. O fato de ela ter ficado de pé enquanto o marido estava sentado indicava a mudança de poder entre eles. Lentamente, seu olhar pousou em Lynch.
Um fantoche impotente para outro.
— Você acha que isso é sábio? — Ela perguntou baixinho a seu consorte. — Sir Jasper tem nos servido muito bem ao longo dos anos. Lembra quando ele encontrou o primo Robert para mim?
O príncipe consorte a afastou. — Quase duas décadas atrás. Ele não nos serviu tão bem desde então. A cidade está quase tomada por humanistas. — Ele olhou para o Conselho. — Ou alguém esqueceu aquele caos na noite passada? Não há lugar seguro? Não posso nem assinar um maldito tratado nestes corredores ou assistir à ópera em paz! Não. — Ele se voltou para Lynch. — Eu te dei uma chance e você falhou. Jurei então que você iria compartilhar o destino de Mercúrio e você vai. Guardas!
Sir Richard Maitland teve grande prazer em chutar seus joelhos. O homem foi destituído do comando por não conseguir encontrar Mercúrio e usava as dragonas comuns de um tenente.
Lynch atingiu o mármore com força, um punho em seu cabelo puxando sua cabeça para trás e a ponta de uma lâmina contra sua garganta. A luz atravessou o teto de vidro e Lynch de repente não conseguiu respirar.
Este era ele.
As portas se abriram. — Esperem!
Seu coração despencou. A voz de Garrett. O que ele estava fazendo aqui? Lynch perdeu o equilíbrio, a lâmina de Maitland pressionando com força contra sua garganta. Pelo menos uma outra pessoa não queria a interrupção.
— Quem é? — O príncipe consorte exigiu.
— O segundo de Lynch, Sua Graça. — Barrons parecia quase aliviado. — Mestre Temporário da Guilda, Garrett Reed.
— E seus companheiros? — O rosnado do príncipe consorte foi letal.
— Você disse que ele tinha três semanas para entregar Mercúrio, — Garrett anunciou. — Deixe-o levantar. Eu vim trazer o que você deseja.
Não. Não. Não. Lynch agarrou a espada e a empurrou, cortando sua mão no processo. Mas ele precisava olhar. Aterrando em suas mãos e joelhos, seu olhar foi direto para a porta.
Garrett deu um passo para o lado, revelando um par hesitante na porta. Lynch mal viu o mecanicista alto acorrentado, com a cinta de ferro segurando seu joelho no lugar para que ele pudesse andar. Tudo o que ele podia ver era Rosa, parada ali em silêncio, engolindo em seco enquanto seu olhar disparava ao redor da sala. Seus olhos se encontraram. Orgulhosa e linda e desafiando-o com seu olhar conhecedor.
Não.
Mas era tarde demais. A respiração do conselho prendeu, aparentemente de uma vez, quando a atenção se voltou para o par na porta.
Havia apenas uma razão para ela estar aqui. Ela o amava. Amava de verdade. Ele viu em seus olhos quando seu peso mudou para frente. Não! A ironia disso o rasgou, que ela estava dando a ele tudo o que ele queria dela - apenas para ser a última coisa que ele desejava agora.
— Onde está Mercúrio? — O príncipe consorte perguntou friamente.
— Bem aqui. — Garrett atirou de volta.
E Rosa respirou fundo e se preparou para dar um passo à frente.
Capitulo 28
— Você queria o Mercúrio?
A voz a assustou quando Mordecai passou empurrando-a, empurrando-a para fora do caminho com força enquanto olhava arrogantemente para o Conselho. — Bem, aqui está.
O choque a atravessou, congelando Rosalind no lugar. Tudo o que ela podia ver eram os olhos furiosos de Lynch enquanto ele olhava para ela. Ele congelou também, voltando seu olhar para o mecanicista robusto.
— Com medo de apenas um homem. — Mordecai riu. — Olhem para todos vocês. Empoleirados em sua torre de marfim. E aqui estou eu, peguei vocês mesmo aqui.
O príncipe consorte ficou de pé, com os olhos brilhando de raiva gélida. Mas pelo menos eles não estavam mais descansando em Lynch.
— Eu quero a cabeça dele, — ele estalou. — Tragam-me a cabeça dele!
O Mestre da Guarda de Gelo olhou boquiaberto para o príncipe consorte, lançando a Lynch um olhar desapontado. Enquanto Maitland se movia em direção a Mordecai, Garrett se colocou entre eles.
— Você vai honrar sua palavra? — Garrett se atreveu a perguntar. Ele parecia nervoso; sem dúvida ele estava. Nenhum deles esperava isso. — Lynch derrubou Mercúrio. Você disse que era a vida dele ou do revolucionário.
— Então tire ele daqui. — O olhar faminto do príncipe consorte nunca mudou.
Lynch lentamente ficou de pé. Garrett curvou-se e saiu do caminho, sua mão encontrando a dela nas sombras de seu corpo. Ela apertou de volta.
Mordecai olhou por cima do ombro. Ela olhou para ele, uma sensação quase inexplicável de tristeza passando por ela. Como ela realmente o subestimou.
Ele deu de ombros frouxamente antes de se voltar para o Conselho. — Sim, me mate então. E saiba que vou morrer um herói. Eles nunca vão me esquecer, lá fora nas ruas. E vão terminar o que comecei, o que nós, humanistas, começamos. Seus dias estão contados, seus vermes pastosos. — Sua risada ricocheteou no telhado. — Vocês acham que isso acaba com isso? — Ele gritou. — Vocês acham que minha morte vai impedir que nós, humanos, nos levantemos? Este é apenas o começo!
— Aproveite-o! — O príncipe consorte gritou.
As palavras de Mordecai ecoaram na câmara, mas ela sabia a quem se dirigiam. Use -o. Use esta chance. Fazer o que nem de lhes tinha gerido tão longe. Seu sacrifício a derrubou. Ele já estava morto, mas pelo menos assim ele lhes deu uma chance.
Os guardas de gelo agarraram seus braços e puxaram-no para o círculo de latão cortado no chão de mármore. Seus joelhos foram chutados debaixo dele, o branco de seus olhos chamejando enquanto puxavam sua cabeça para trás. Rosalind estremeceu, seu punho apertando o de Garrett. Ela não conseguia desviar o olhar, não conseguia encontrar aquela frieza interior que a protegia em momentos como este. Ela sentiu quando a espada raspou na garganta de Mordecai e engoliu em seco contra o caroço na sua.
— Monte a cabeça na parede da torre, — o príncipe consorte disse friamente. — Deixe as massas ver o que acontece com aqueles que ousam me desafiar. — Sua voz se elevou. — Deixe-os vir até mim e ver como termina o desafio! Eu não serei abatido. Não por você. Não por aquela horda de humanos imundos e sujos! Você é gado!
Então a espada desceu, o sangue espirrando no chão de mármore. O corpo de Mordecai estremeceu, o sangue jorrando de sua garganta, então caiu no chão.
Tão rápido. Sem formalidade. Rosalind olhou para a poça de vermelhão que se espalhava nas telhas de alabastro enquanto arrastavam o corpo para longe. Isso poderia ter sido ela. Deveria ter sido, exceto por este pequeno ato de misericórdia - de heroísmo. O calor surgiu por trás de seus olhos.
Você não será esquecido, ela jurou. E nem seria sua própria promessa. Ele não tinha dado a ela essa chance para nada.
Garrett apertou os dedos dela. Ela estava tremendo tanto que mal conseguia ficar em pé. Mas Lynch estava vivo. E ela também e, de alguma forma, eles haviam puxado a lã para os olhos do príncipe consorte.
Ela mal conseguia respirar por causa do nó na garganta. E então ela viu Balfour.
Ele a observava com aqueles olhos negros sem emoção, seus cílios tão incolores que eram quase brancos. Não sou idiota. Ele nunca tinha existido e sabia; ela viu isso nele. Somente ele no Conselho tinha visto o pé dela mudar enquanto ela avançava, para reivindicar o nome de Mercúrio. Ela observou a expressão rápida dançar em seu rosto enquanto ele fazia as conexões. Foi ele quem a enviou para espionar os humanistas, Nathaniel. Depois de anos acreditando que ela estava morta, ela apareceu de repente, assim como o nome de Mercúrio estava na boca de todos.
Uma palavra e ele poderia condenar todos eles.
Mas ele não disse isso. Os momentos passaram e ele olhou para baixo, brincando com o anel de sinete em seu dedo. A tensão apertou seu rosto. Ele nunca havia traído seu príncipe, mas a que custo isso custaria? O que ele exigiria dela?
Ela procurou por Lynch, assustada e insegura. Seus olhares se encontraram e ela sabia que ele entendia seu medo.
— Você tem sorte de que seu homem se preocupe com seus melhores interesses, — o príncipe consorte disse a Lynch com um sorriso oleoso enquanto se acomodava em sua cadeira. — Se ele tivesse adiado sua chegada mais um minuto, ele teria sido capaz de deixar de lado o rótulo de Mestre da Guilda temporário e substituí-lo por permanente.
— Talvez você não entenda lealdade, então, Sua Graça? — Garrett novamente.
Lynch olhou para ele e balançou a cabeça em advertência.
O príncipe consorte olhou para Garrett por um minuto desconfortável. — Oh, eu entendo lealdade. — Seu sorriso desapareceu. — Lynch, você pode ir.
Rosalind soltou um suspiro. Por favor. Deixe-os fugir deste lugar horrível.
Mas Lynch fez uma pausa, virando-se para enfrentar o conselho, suas botas quase na poça de sangue que o corpo de Mordecai havia deixado para trás. — Eu acredito que você prometeu algo mais, Sua Graça. Algum incentivo, se o revolucionário fosse levado à justiça.
Silêncio.
Barrons se adiantou, vestido inteiramente de veludo negro com um rubi pendurado em sua orelha. — Você jurou que revogaria o status de renegado de Sir Jasper e o nomearia um do Escalão.
O sorriso do príncipe consorte morreu. — Então eu fiz. Obrigado por me lembrar disso, Barrons.
— O prazer é meu.
—E assim eu declaro. Sir Jasper Lynch, — o príncipe consorte chamou. — Eu oficialmente revogo seu status de desonesto e nomeio você um do Escalão. — Um sorrisinho desagradável torceu sua boca. — Como tal, tiro você do título de Mestre da Guilda dos Falcões da Noite. Nenhum sangue azul poderia permanecer entre os renegados.
— Concordo. — Lynch se endireitou.
Ele estava tramando algo.
Desenhando todos os olhares, Lynch deu um passo para trás, o salto da bota cortando o círculo de latão. Em seguida, outro, até que ele ficou totalmente dentro dele. Ele encontrou o olhar do duque de Bleight e fez um gesto com uma pequena contração zombeteira de seus dedos. — Demorou muito para chegar, tio. Eu o desafio para o ducado de Bleight. Primeiro sangue.
O príncipe consorte apertou a cadeira com força, seu rosto ficando branco de fúria. E Rosalind entendeu o que Lynch havia planejado. Seu coração deu um salto - depois caiu. Se ele ganhasse esta luta, ele se tornaria um duque e se juntaria ao conselho. Não haveria lugar para ela ao seu lado.
Mas ele estaria livre da ameaça do poder do príncipe consorte. Mais seguro, talvez, com poder próprio. Ela não podia - não queria - negar isso a ele.
O duque de Bleight lentamente se levantou, seu rosto antigo sem expressão. A maioria dos duelos era até a morte. Lynch não estava apenas oferecendo um alívio, mas aos olhos do Escalão, um insulto. Seu orgulho superaria seu medo da mortalidade? Todos eles sabiam como essa partida seria desigual, até mesmo Bleight.
O resto do conselho esperou com a respiração suspensa.
— Eu aceito, seu pequeno vira-lata.
Capitulo 29
Três dias depois...
O vento soprou em seu cabelo quando ela desceu da porta da frente da mansão e Rosalind apertou a mão enluvada no chapéu. Seu coração ainda estava martelando no peito. Ela tinha feito isso. Sem sombra de mentira ou mesmo omitindo um único detalhe. Tudo o que ela acabou de ganhar foi com a verdade.
Suas saias cor de vinho balançando ao redor de seus tornozelos, ela cruzou para a carruagem a vapor preta lisa que esperava no meio-fio. Era alugada, é claro. Jack soprou ar quente nas palmas das mãos pelo orifício do respirador e deu um passo à frente para abrir a porta para ela. As pessoas olhavam. Ele puxou a gola do casaco para esconder a meia máscara, mas ainda assim seus olhos se demoraram e as mulheres agarraram seus filhos pelos braços e os arrastaram para longe, como se temessem que qualquer contágio que ele tinha pudesse se espalhar.
Rosalind estendeu a mão para ele e apertou sua mão. Pedir-lhe que saísse das sombras escuras em que se escondeu nos últimos oito anos era uma enormidade que ela não subestimava.
— Sério? — Ele perguntou, ignorando a multidão como se ele não desse a mínima.
— Sir Gideon concordou em almoçar comigo na sexta-feira no Hotel Metropolitano. Ele é cauteloso, mas certamente parecia interessado no que eu tinha a dizer. — A excitação borbulhou em seu peito. — Oh, Jack. Você deve ouvir algumas de suas ideias. Eu sempre achei que o Partido dos Humanitários não passasse de ar quente, mas ele não é. Ele é muito inteligente.
— Você acha que isso vai funcionar, então?
Pela primeira vez em dias, seu sorriso se suavizou, perdendo seu tom duro e falso. Ela não tinha percebido o quão desfocado seu sonho tinha estado ultimamente. Tudo o que ela fez se tornou reativo, em vez de tomar iniciativa. Ela fez o que tinha que fazer, mas o fazia mecanicamente, sem qualquer sentimento real para isso. Uma tarefa. Algo que ela devia a Nate, pelo que ela custou a ele. Mas agora, mil ideias brotaram em seu peito. — Eu acho. Eu realmente quero. Eu pensei que desistir de meus planos doeria mais, mas não machuca. Vamos elaborar um projeto de lei para apresentar ao Conselho sobre o aumento dos direitos para os mecanicistas. Projeto de lei de Mordecai. Isso é um começo.
— Você acha que eles vão aprovar?
Seu sorriso era vicioso. — Claro que não. Não no começo. Mas, infelizmente para o Conselho, não vou embora. Vou insistir com eles até que se cansem da minha voz.
O cálculo brilhou em seus olhos cinzentos. O outro estava coberto por um tapa-olho. — Acho que você terá pelo menos um dos votos do Conselho no bolso.
O lembrete quebrou seu sorriso. Ela vinha tentando não pensar nisso desde que Lynch venceu o duelo. Tinha havido tanto a fazer e ela foi varrida de lado no caos depois daquela batalha rápida. De pé na entrada, observando como Barrons o levantava com um duro golpe nas costas, ela lentamente voltou para a porta. Ele venceu. Ele estava seguro e o duque de Bleight banido para uma propriedade rural, com seus títulos destruídos. Se Lynch quisesse vê-la, ela não teria ficado sentada nas últimas três noites sozinha, vendo sua vela queimar enquanto a noite passava lentamente.
— Eu não presumiria. — Ela disse rigidamente.
— Eu gostaria. — Jack inclinou a cabeça em direção à porta aberta da carruagem. — Talvez seja melhor você intervir.
A expressão em seu rosto cheio de cicatrizes era ilegível, mas ela podia detectar as linhas mais fracas ao redor de seus olhos. Um sorriso, talvez. Seus olhos dispararam em direção à carruagem, seu peito apertando um pouco mais forte. Aquela sensação de coceira em seu estômago se multiplicou mil vezes, queimando por ela até que ela pensou que todos notariam.
— Jack, o que você fez?
Ele ergueu as mãos em sinal de rendição e recuou para o meio-fio. — Nada, Rosa. Um cavalheiro se aproximou de mim e conversamos um pouco. — Pelo súbito brilho intenso de seus olhos, ela teve a sensação de que a discussão poderia ter durado pelo menos uma das várias horas em que esteve lá dentro.
Foi então que ela notou o cocheiro sentado no banco da carruagem. Perry olhava para ela, um chapéu puxado para baixo sobre os olhos. Rosalind engoliu em seco. Por mais que estivesse loucamente desesperada para ver Lynch, não queria entrar na carruagem.
— Seja corajosa, — Jack baixou a voz, pegando a mão dela pela ponta dos dedos para ajudá-la a entrar. — Você merece ser feliz. — Uma leve careta. — Mesmo que ele seja o que te faz feliz.
Ela achou isso um tanto presunçoso. Tanta coisa aconteceu entre ela e Lynch na semana anterior, mas nada foi resolvido. E ele era um duque agora. Como o Mestre dos Falcões da Noite, ele estava de alguma forma ao seu alcance, mas o Escalão estaria esperando que ele tomasse um consorte ou começasse a fazer contratos de servidão. Não importa o quanto ela o amasse, ela não poderia ser uma serva.
— Como você vai para casa? — Ela perguntou.
— Tenho vontade de andar. — Jack encolheu os ombros. — Ver se consigo convencer Ingrid de seu mau humor.
Nem todos eles ficaram tão felizes ao ouvir sua confissão sobre seus sentimentos, tanto pela causa quanto por Lynch.
— Ela vai mudar de ideia. — Jack viu a expressão em seu rosto. — Ela ama você. Ela simplesmente não gosta de mudanças. E ela está com medo de que não haja lugar para ela aqui, na luz.
Rosalind assentiu. A porta da carruagem se abriu, revelando nada além de sombras dentro. Endurecendo-se, ela deu um beijo na bochecha de seu irmão, agarrou um punhado de suas saias e entrou.
O repentino mergulho na escuridão a deixou cega. Jack bateu a porta e de alguma forma ela encontrou seu assento, a forma sombria de longas pernas começando a se formar na frente dela. Seguindo-as, ela notou a sobrecasaca justa que Lynch usava e a gravata totalmente branca derramada. Não era seu uniforme usual então. Isso apenas a lembrou da distância entre eles e a pequena parte esperançosa dela gaguejou em sua alegria.
Rosalind finalmente encontrou seu olhar, contorcendo suas saias para endireitá-las. Sob a curva escura de seus cílios, seus olhos brilhavam em um cinza intenso - vigilantes, mas não revelando nada. Sua única consciência dela se mostrou na rigidez de seu corpo e no repentino aperto dos músculos rígidos em sua coxa. Vê-lo novamente fez seu coração torcer como se alguma mão enorme o estivesse apertando. Ela mal tinha o controle para se comportar. Ela queria se jogar nele e arrastar sua boca para a dela. Para tocá-lo. Certificando-se de que ele estava realmente lá.
Mas por que ele estava aqui?
— Olá, Sua Graça. — Ela disse calmamente.
Com isso, Lynch fez uma careta. — Eu tive o suficiente para durar uma vida inteira.
— É melhor você se acostumar, pois acredito que terá uma vida inteira disso.
Um suspiro. Então aqueles olhos astutos encontraram os dela novamente. — Você esteve ocupada.
Rosalind cruzou as mãos cuidadosamente em sua saia. Nada. O maldito homem não estava lhe dando nada. Ela estava tão tensa que sentiu como se fosse explodir. — Não tenho nada para fazer há três dias. — A censura apareceu em sua voz. — E uma vez alguém me disse que eu nunca venceria uma guerra, não nas ruas.
Lynch olhou para a janela e para a casa de arenito marrom, enquanto a carruagem começava a andar. Seus dedos tamborilavam uma batida lenta e constante em sua coxa. Sem descanso. — Então agora você vai atrás deles em seus próprios corredores sagrados. Encontrando o leão em sua própria cova?
— Vou me envolver com política —, disse ela. — Sir Gideon Scott está interessado em várias de minhas ideias e eu... — Seu coração disparou. — Eu admito que fiquei um tanto animada com algumas das suas. Ele não é o tolo que pensei, mas ele sabe até onde pode chegar a cada passo.
— É um caminho perigoso. — Disse Lynch sem rodeios.
— Menos do que o meu anterior. — Ela respirou fundo. — Você se lembra daquele pacote de caldeiras que eu estava tentando contrabandear dos enclaves?
Ele assentiu.
— Ele foi projetado para alimentar um autômato. Nós os chamamos de Ciclope. Eles são construídos grandes o suficiente para um homem sentar dentro deles e manipulá-los e têm poder de fogo suficiente para lidar com quatro casacos de metal do Escalão.
Os olhos de Lynch se estreitaram sobre ela. — Quantos você tem?
— Insuficiente. Ainda não, — Ela admitiu. — E provavelmente não vou prosseguir com o projeto. Você estava certo. Isso não pode ser vencido por uma guerra aberta.
Ele passou a mão pela nuca. — Isso não alivia nem um pouco minha mente.
— O que você sugeriria? Que eu busque uma lareira e um lar, talvez comece a tricotar?
A intensidade súbita de fumaça de seu olhar a enervou. — Não era bem isso que eu tinha em mente. Além disso, você provavelmente esfaquearia alguém com sua agulha de tricô.
Rosalind não se conteve. Seu coração começou a acelerar, seus dedos brincando inutilmente um com o outro. Seu olhar caiu para elas. Malditas mãos. Sempre a traindo. — Eu vejo. E o que você pretendia para mim?
— Droga, Rosa. Temos que ser tão formais?
Novamente ela vivia na incerteza. Olhando para cima, ela encontrou a linha dura de sua mandíbula cerrada. Ele nunca tinha sido um homem dado a muitas emoções, mas ela viu, brilhando em seus olhos claros e narinas apertadas. Um homem se segurando com tanta força que tinha medo de se soltar.
Mas um deles deveria. Ou eles existiriam nesta delicada polidez até que a carruagem parasse e então ele a ajudaria a descer e ofereceria alguma banalidade e ela provavelmente aceitaria, observando enquanto ele partia.
Dar o próximo passo a assustava. Mas ela não estava com tanto medo quanto antes. Ela pensou uma vez que amar novamente seria o pior que poderia acontecer com ela, mas não foi. Chegar tão perto de perdê-lo mostrou a ela o quão pequeno esse medo poderia ser.
— Eu esperei por você nas últimas três noites, — Ela disse em uma voz baixa e embargada. — Eu estava tão certa de que você viria por mim. Mas você não fez. Eu tinha que fazer algo com meu tempo. Eu estava enlouquecendo...
— Inferno, Rosa. Eu queria vir. Eu pensei - você não estava lá. Quando me virei, você tinha ido e... Havia coisas que eu precisava desesperadamente cuidar.
— Oh?
— Balfour —, disse ele rispidamente. Quando ela ficou rígida, ele estendeu a mão e pegou a dela. — Ele não vai incomodar você de novo, Rosa. Na verdade, ele não deseja machucar você. Ele está quase tão decidido quanto eu em ver que o príncipe consorte nunca ouça a verdade sobre Mercúrio.
O calor passou por ela. — Por quê?
— Eu acredito que ele se arrepende do que aconteceu. Não importa o que você possa sentir, ele parece gostar de você e está muito orgulhoso.
Rosalind arrancou seus dedos dos dele. — É uma manobra.
Estendendo a mão, Lynch tentou tocá-la novamente, mas ela estava muito agitada. O que ele estava dizendo? Que em sua fúria, Balfour fez algo de que se arrependeu? Ela balançou a cabeça. Não. Ele matou Nate e aleijou seu irmão. Isso era imperdoável.
— Se for um estratagema, então estou preparado para ele —, disse Lynch calmamente. — Você mencionou que ele lhe pediu para assassinar várias pessoas por ele. Eu gostaria dos detalhes, quando você estiver pronta. Quero preparar um processo completo contra ele, caso ele decida manipular você. Falei com Barrons sobre isso e ele está preparado para pressionar o caso por mim.
— Chantagem? — Ela perguntou, engolindo o nó duro em sua garganta. — Eu nunca teria esperado isso.
— Alavancagem, — ele corrigiu. — Balfour disse uma vez que sou previsível. Talvez eu fosse. Mas não mais. — Sua expressão escureceu. — Já estou farto de ser manipulado por quem está no poder. Não serei mais ameaçado - e também não permitirei que aqueles que considero meus sejam ameaçados.
O olhar que ele deu a ela não a deixou confusa sobre a quem ele se referia.
— E nós? — Ela sussurrou. — O que de nós? Você disse...
— Eu sei o que eu disse. — Seu rosto escureceu, seus olhos escurecendo com calor e necessidade. — Rosalind... Quando você entrou naquela câmara... — Ele estremeceu, cada palavra dita com tanta precisão que ficou claro que ele mal estava se segurando. — Eu sei o que você pretendia. Pude ver em seu rosto. Nunca mais faça isso.
— O que eu deveria fazer? Deixar você morrer no meu lugar? Quase me matou quando Garrett me contou o que você estava planejando. — Tudo o que ela estava segurando nos últimos dias ferveu. O calor correu por trás de seus olhos. — Seu homem estúpido! Você deveria ter me contado o que o príncipe consorte estava exigindo! Eu não posso acreditar em você... Você - você nem mesmo disse adeus...
Ela não pôde evitar. Ela estava com tanta raiva. Ou machucada. Ou... algo que ela não conseguia explicar, nem para si mesma. Pulando em direção a ele, Rosalind cerrou o punho e o cravou no braço. Lynch agarrou seus pulsos, arrastando-a para frente.
— Maldito seja. — Ela estalou, então sua boca tomou a dela e as palavras se perderam.
Ela deslizou as mãos em seu cabelo e puxou seu rosto para mais perto do dela. A dura violência o dominou, os músculos de seus braços tremendo com contenção enquanto ela passava as mãos por eles. Ela não queria restrição. Ela odiava isso, odiava a educação distante, a maneira como suas emoções pareciam uma bola dura no centro de seu peito. Ela deixou tudo sair, mordendo sua língua apenas o suficiente para arder.
Como se o movimento o incitasse a agir, ele rosnou no fundo de sua garganta, uma mão agarrando seu cabelo enquanto ele arqueava suas costas, a outra mão agarrando um punhado de sua bunda e puxando-a para mais perto. Os joelhos de Rosalind afundaram nos assentos de couro duro, suas saias amontoadas entre eles enquanto ele a colocava firmemente em seu colo. Muitas malditas saias. Ela pegou um punhado delas e puxou-as para fora do caminho, e então ela podia sentir o aço duro de sua ereção entre eles, separado de sua própria carne por suas calças e pelo deslizamento de seda de suas calçolas.
Lynch varreu sua anquinha para fora do caminho, e então sua mão se dirigiu para baixo entre a parte de trás de suas pernas, os dedos deslizando sobre o delicado botão de rosa enrugado de seu traseiro e ainda mais fundo, onde a seda pressionava úmida contra sua carne. A cabeça de Rosalind girou, um suspiro saindo de seus lábios machucados.
— Oh Deus. — Ela sussurrou, esfregando contra ele. De repente, ela não conseguia mais se conter. Ela precisava senti-lo contra ela, sentir sua pele fria como seda, saboreá-la em sua língua. Dedos trêmulos encontraram os botões de seu colete preto e Rosalind estava puxando, frenética em sua pressa, os botões se soltando do veludo exuberante - quente e trêmulo e tão perto de se desfazer que ela não conseguia respirar.
Os dedos entre suas coxas deslizaram impiedosamente entre a fenda fina de suas calçolas. Contra sua carne molhada. Ela gemeu, agarrou um punhado de seu colete e rasgou-o.
— Calma, meu amor, calma...
Rosalind beijou o sorriso de seus lábios. Ela não queria fácil. Ela queria agora. De alguma forma, ela tinha a camisa dele aberta e então ela estava arrastando a boca em sua garganta, seus dentes raspando contra o disco plano de seu mamilo. A mão de Lynch agarrou seu cabelo e ele engasgou com força. Ele não conseguia alcançá-la agora, a outra mão apertando o monte de sua bunda. Ela precisava de descanso. Ela queria que ele estivesse com ela desta vez, e se ele continuasse, ela teria gozado em segundos.
A mão dela deslizou entre eles, agarrando o comprimento tenso de seu pênis através do tecido apertado de suas calças. Beijando seu caminho para baixo, Rosalind começou a puxar seus laços, seus lábios roçando a linha de cabelo que ia para o sul de seu umbigo...
— Chega. — Lynch murmurou, agarrando seus quadris e girando-a para que ela o montasse por trás.
Empurrando as camadas de saias, ele a encontrou molhada e querendo. Um puxão forte e suas calçolas se foram. Então ele se atrapalhou entre elas e de repente ela pôde sentir o toque sedoso e macio de sua ereção. Agarrando-a pelos quadris, ele a puxou para trás, revestindo-se dela com um impulso firme.
Rosalind jogou a cabeça para trás, mordendo o lábio inferior até doer. Seu traseiro se aninhou contra seu colo, sua respiração áspera e fria contra sua nuca. Mãos firmes agarraram seus quadris, facilitando-a em um movimento de balanço. Então eles estavam deslizando para cima, segurando seus seios por trás, empurrando-os para o alto.
— Mais rápido. — Ela sussurrou, suas coxas queimando enquanto ela o montava. Fios de seu cabelo acobreado caíram ao redor de seu rosto quando sua cabeça caía para frente, seu lábio preso entre os dentes.
Os dedos de Lynch a encontraram e ela gritou, seu corpo desacelerando sobre o dele, incapaz de se mover, suas coxas tremendo enquanto pairava ali. Era demais. Ela agarrou seus joelhos, segurando, seus quadris movendo-se embaixo dela... lentamente... torturantemente... Como se ele quisesse sentir cada segundo disso.
O mundo ficou branco. Rosalind estremeceu, seu corpo agarrando-se ao dele avidamente enquanto o prazer a inundava.
Ela não conseguia mais manter o equilíbrio. Tudo o que ela queria era murchar sobre ele como uma flor, desossada, extasiada com o prazer. Ele não a deixaria. Uma mão estendida, empurrando para o lado a pequena cortina, e então ela pôde sentir o vidro frio sob seu toque, dedos abertos e agarrando algo - qualquer coisa - para se segurar.
— Senti sua falta —, ele sussurrou em seu ouvido. — Eu estava com tanta raiva de você, mas o pensamento de não ter você... Isso fez algo para mim. Rasgou algo bem no fundo.
Suas palavras desencadearam outra cascata de prazer dentro dela - desta vez da alma.
— Senti sua falta —, Rosalind admitiu. — Mas eu não aguentava mais. Eu precisava que você soubesse a verdade.
— Sim. — Ele beijou seu ombro, lentamente esfregando contra ela novamente. — Estou feliz que você me disse. — Ela sentiu os lábios dele se contorcerem contra sua pele. — Embora o momento pudesse ter sido melhor.
Outra moagem lenta. Rosalind moveu-se, girando os quadris. Afastando-se da janela, ela arqueou as costas e se recostou em seu ombro, deslizando a mão por sua garganta. Cerrando os músculos internos, ela o ouviu praguejar baixinho.
— Você gosta disso? — Ela sussurrou.
— Sirigaita. — Mas as mãos dele tremiam em seus quadris e ele a pressionou mais rápido. Cada aperto tirou uma forte inspiração dele. — Você me deixa louco. — Ele gemeu e pressionou os lábios em seu ombro. Os dentes afundaram no músculo macio enquanto ele empurrava com força contra ela. Com voz rouca: — Quero tanto, tanto...
Ele a apertou contra ele, uma mão em seu abdômen enquanto ofegava. Rosalind apertou com força, sentindo seu corpo tremer ao redor dela quando ele atingiu o clímax. Ela amava esse sentimento, o poder que tinha sobre ele, a forma como o mundo parecia pertencer apenas aos dois.
Lynch desabou contra o assento com um gemido, arrastando-a com ele. Longos minutos se passaram enquanto ela se deitava em seus braços. Ela não queria que isso acabasse nunca.
— Eu nunca pensei que sentiria falta da máscara, — ele murmurou, beijando um rastro ardente em seu trapézio. — Mas eu gosto disso também. Ter você tão vulnerável embaixo de mim - em cima de mim. Saber que é você. Que sempre foi você. — Seus dentes afundaram em sua pele e ela engasgou.
Um pouco desconfortável agora. — Não fui sempre eu. Não... Não sou o verdadeiro eu.
— Você acha que eu não a vejo? — Ele sussurrou, acariciando sua garganta. — A verdadeira Rosalind? Cerise?
Rosalind se afastou dele, virando-se em seu colo para encará-lo. — Eu não sou Cerise.
— Ela é tão parte de você quanto a Sra. Marberry era. Ou Mercúrio. Eu posso ver pedaços de todas elas em você. Você não deveria ter vergonha. — Sua mão subiu, segurou seu rosto, seu polegar acariciando sua boca. Aqueles gloriosos olhos cinzentos caíram também. Como se estivesse pensando em provar de novo. — Todas essas peças são você, Rosa. Elas fizeram de você o que você é. Até Cerise... a garota que machucava... a garota que não queria mais existir... Você não seria você, quem você é, sem ela.
Lágrimas escorreram de seus olhos por ele ver tão claramente. Ela engoliu em seco, querendo beijá-lo novamente. Mas essa era uma saída covarde. Uma forma de se esconder, de se expressar sem falar. — Eu queria destruí-la, — ela sussurrou. — Porque ela não merecia viver depois do que ela fez. Eu queria ser Rosalind. Um novo começo. Longe de toda a culpa. Toda a dor. Se eu terminasse o que Nate começou... Era uma maneira de consertar as coisas, de encontrar... o perdão...
Aquela mão fria segurou seu rosto, a fez se sentir segura. Tão segura. Rosalind inclinou a bochecha ao toque, como um gato. Nada jamais se comparava do que estar em seus braços. Uma lágrima molhada deslizou por sua bochecha.
— Ele te perdoou. — Lynch disse gentilmente.
— Você não sabe disso.
— Eu sei. — Ele insistiu. — Isso é o que significa amar o outro.
As palavras roubaram seu fôlego. Com elas veio a esperança. Então seus braços a apertaram contra ele, segurando-a com tanta força que era como se alguma parte dele tivesse medo que ela fosse arrancada de suas mãos.
As palavras borbulharam em sua garganta, fazendo cócegas contra o céu da boca. Agarrando sua camisa arruinada, ela pressionou seu rosto contra a pele nua de sua garganta. Mas ela não podia dizer isso, como se uma parte dela ainda se sentisse indigna. Empurrando contra seu peito, ela olhou para cima. — Eu menti para você.
— Com seus lábios, sim. — Suas pálpebras baixaram, quase escondendo aqueles olhos luminosos, mas sua mão continuou acariciando sua bochecha. — Eu deveria ter prestado mais atenção aos meus instintos, ao que minha metade sombria estava me dizendo. — Seu polegar parou no meio de seu lábio e ele olhou para cima, capturando seu olhar. — Ele sabia quem você era, não importava o disfarce que usasse. Ele reivindicou você muito antes de mim. — Ele respirou fundo, estremecendo. — E você já mentiu para mim... aqui? — As pontas dos dedos hesitantes pressionaram entre seus seios, diretamente sobre a batida de seu coração.
Rosalind balançou a cabeça, engolindo em seco. — Você sabe que não —, ela sussurrou, colocando a mão em concha e segurando-a firmemente contra o peito. Ela podia sentir a pulsação inebriante de seu coração através do toque dele. — Pertenceu a você muito antes de eu saber disso. — Outro gole inebriante. Ela tinha que dizer isso. Ele merecia e ela queria que ele soubesse. — Eu te amo.
— Eu sei. — Ele disse a única coisa que ela mais precisava ouvir. Desta vez ele acreditou nela. Lentamente, os lábios dele se curvaram, e ela pensou que poderia morrer pela alegria que a visão provocou nela. Seu sorriso - tão raro - era uma maravilha. — Eu soube no instante em que você entrou pelas portas do átrio. — O sorriso começou a desaparecer.
Rosalind pressionou rapidamente as pontas dos dedos sobre ele, como se fosse capturá-lo. — Não pense nisso.
Lynch beijou a ponta dos dedos dela e respirou fundo, estremecendo. — Eu não vou. Isso está feito. No entanto, há uma última coisa que devemos discutir.
— E agora. — Não foi uma pergunta.
Seus dedos se entrelaçaram entre os dedos de ferro dela e os ergueram. — Fiz com que Fitz desenhasse algo especial para mim. — Alcançando o bolso do colete, ele tirou uma pequena caixa de veludo vermelho. — Considerando que nenhum anel normal caberia...
Rosalind se sentou e quase bateu com a cabeça. Tudo o que ela podia ver era aquela caixa, seu coração batendo tão rápido que ela quase cambaleou de tontura. — O que você está dizendo?
— Eu perguntei ao seu irmão se eu tinha permissão para torná-la minha consorte. — Ele abriu a caixa. — Eu quero que você compartilhe o mundo comigo. Para sempre, Rosa. Não há mais segredos entre nós. Nada além de você e eu, até que a morte nos separe.
Aninhado dentro estava um anel de aço reluzente, polido com tanto brilho que brilhava. Um enorme diamante quadrado foi colocado no topo, com uma treliça de prata minúscula e filigranada segurando-o no lugar. Nenhuma senhora do Escalão o usaria, mas combinava com ela, tão perfeitamente que ele mesmo obviamente o havia desenhado. E o fato de ele ter perguntado a Jack - quem dera sua bênção - significava muito mais para ela do que qualquer diamante.
— Sim. — Ela sussurrou, sua mão tremendo quando ela o ergueu.
Lynch tirou o anel da caixa. — Você nunca pode tirar isso, Rosa. Pretendo fazer com que Fitz o solde em seu dedo.
— Eu não quero tirar. — Ela saltou impaciente. — Apresse-se e coloque-o.
Ele o deslizou para baixo sobre a junta de ferro e o colocou no lugar. — Bem, duquesa... Como você se sente?
— Sinto como se você tivesse me dado o mundo. — Sua garganta estava seca e apertada novamente quando ela olhou para ele. Como alguém poderia ter tantos sentimentos por dentro e não se afogar nisso? Ela teria que aprender a lidar com isso. — Eu gostaria de poder dar a você a metade disso.
— Você me deu. — Ele beijou as pontas dos dedos de ferro dela. — Você me deu um futuro e alegria nele também. Antes de te conhecer, eu só existia. Eu não estava vivendo a vida. Nas últimas semanas... por mais tumultuadas que tenham sido, pelo menos eu as vivi. — Inclinando-se, ele beijou seus lábios levemente.
— Além disso, — ele sussurrou contra seus lábios, — nós temos tanto a fazer juntos, você e eu. Um mundo inteiro para mudar. — As palavras prenderam sua respiração. — Você é a única em quem confio para cuidar de minhas costas.
— Bem, é quase minha parte favorita de se olhar. — Ela sussurrou.
Lynch sorriu. — E aí está minha malvada Sra. Marberry. No entanto, acredito que tenho um último pedido... Algo que eu gostaria de pedir a você em troca do anel.
— Qualquer coisa. — Ela prometeu, sorrindo para este homem incrível: seu futuro, sua esperança, seu coração...
— Fique com a máscara. — Ele murmurou, e se inclinou para beijá-la novamente.
Bec McMaster
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