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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


NENHUM LUGAR PARA FUGIR / Maya Banks
NENHUM LUGAR PARA FUGIR / Maya Banks

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

NENHUM LUGAR PARA FUGIR

 

A última pessoa que Sam Kelly esperava retirar, ferida do lago, era Sophie Lundgren. Uma vez compartilharam um caso breve e intenso enquanto Sam estava à paisana e, em seguida, ela desapareceu. Ela passou os últimos meses fugindo, sabendo que qualquer erro custaria a sua vida e a de seu filho ainda não nascido, o filho de Sam. Agora ela reapareceu com um aviso para Sam: desta vez, ele é quem está em perigo.

Sam tem muitas perguntas para ela antes de deixá-la escapar novamente, como, por que ela desapareceu, em primeiro lugar. Desta vez ele promete não ser seduzido. Mas um olhar em seus olhos, e a paixão queima novamente, e Sam sabe que fará tudo para manter a ela e seu filho seguros. No entanto, o passado obscuro de Sophie é mais perigoso que ele imagina, e a única maneira para qualquer um deles sobreviver, é superar.

 

Ele estava esperando por ela, assim que abriu a porta de seu quarto de hotel. Sam Kelly observou enquanto Sophie se virava, viu a chama de desejo que acendeu em seus expressivos olhos azuis quando o encontrou.

Antes que ela pudesse alcançar atrás para dar um puxão nas alças de seu avental, ele a pegou em seus braços, os lábios esmagando os dela nesse primeiro sabor.

— Sam.

O nome dele saiu em um suspiro ofegante que correu todo o caminho até suas bolas.

Ele alcançou, soltou o nó e puxou até que o avental de trabalho que ela usava fosse tirado.

— Algum problema esta noite?

Ela balançou a cabeça, enquanto ele encontrava seus lábios novamente.

— Eu odeio que você trabalhe lá.

Ela fez uma pausa em seu beijo, e por um longo momento ficaram lá, seus lábios quase separados por uma respiração, enquanto olhava para ele. Sua boca se virou para baixo em um amuo infeliz, e ele se arrependeu por estragar o momento, ao expressar sua insatisfação com seu trabalho.

Quem era ele para dizer alguma coisa? Ela estava trabalhando em um pequeno clube noturno em Bumfuck, México, um lugar que uma garota como ela claramente não pertencia, mas talvez tenha sido tudo o que poderia fazer, para bancar as despesas.

Não era como se ele pudesse oferecer-se para carregá-la e levá-la para o por do sol.

— Esqueça que eu disse alguma coisa, — ele murmurou. — Venha aqui.

Colocou um dedo sob seu queixo e a guiou de volta para sua boca. Ele estava faminto, — morrendo de fome por ela. Enquanto seus irmãos e sua equipe estavam fazendo o trabalho, ele estava aqui, porque queria alguns momentos roubados com uma mulher a qual não foi capaz de resistir — uma mulher que não conhecia até o momento em que entrou no bar onde ela era garçonete.

Uma mulher que tornou muito fácil esquecer o dever.

Ela se inclinou para ele, quente e instável. Ele a ergueu apenas o suficiente para que ela pudesse circular seu pescoço com os braços, e ela sorriu contra sua boca.

— Melhor, — ela sussurrou.

— Eu ficarei melhor quando você estiver nua.

Levou-a para a cama e abaixou-a no colchão, até que pairou sobre ela, prendendo-a debaixo de seu corpo. Sua boca estava um pouco acima da barriga dela, e ele olhou por sobre seu corpo, encontrando seu olhar.

— Você é tão bonita, — ele murmurou.

Com movimentos lentos e metódicos, que desmentiam sua urgência, ele deslizou a camiseta para cima, expondo a cintura fina.

Enquanto levantava sua camiseta sobre os seios, lambeu o recuo superficial de seu umbigo. Ela estremeceu sob seus lábios e vários estremecimentos correram através de sua barriga.

Ela arqueou as costas quase como se estivesse tentando empurrá-lo, mas ele soltou a camiseta e agarrou seus quadris, mantendo-a no lugar.

— Minha.

Ela estremeceu e soltou um gemido suave enquanto ele subia lambendo por sua cintura e cravava os dentes na alça do sutiã. Ele sorriu e alavancou-se para cima, de modo que seus joelhos ficassem de ambos os lados dos quadris dela, e ficasse efetivamente presa.

Impaciente para tê-la sem roupa, agarrou a bainha da camiseta e rasgou pelo meio até que fossem duas peças, uma de cada lado, penduradas nos braços dela, e ele simplesmente as puxou até que ela estivesse livre.

Seus mamilos enrugaram e ficaram tensos contra os bojos do sutiã rendado. O material não escondia nada dos mamilos que ficavam cada vez mais escuros. Indolentemente, brincou com os bicos através do cetim, tocando e moldando até que eram pontos duros implorando para serem libertados.

O intumescimento encheu a borda dos bojos, e com um toque suave, ele os deixou livres, expondo seus mamilos para que ele espiasse sobre o sutiã.

As mãos dela subiram por suas coxas, deslizando sobre o denim grosso de seu jeans, mas ele estendeu a mão e agarrou-lhe os pulsos, afastando-a.

Ela começou a protestar, mas ele trouxe uma mão à boca e beijou a palma antes de levantar seus braços acima da cabeça. Ele inclinou-se até que ficaram pressionados no colchão, e mais uma vez ela foi capturada.

Em um momento de inspiração, ele juntou os restos esfarrapados de sua camiseta e amarrou um pulso na cabeceira da cama. Ela arfou, os olhos se arregalando enquanto ele tomava a outra mão e a prendia também.

Sua respiração acelerou e seu peito arfava. Ela lambeu os lábios nervosamente, mas seus olhos escureceram para um tom safira. O sorriso dele era lento e predatório. Ela era como uma droga. Uma droga fortíssima, da qual não queria se livrar. Ela o fazia sentir-se forte e invencível.

— Agora o que vou fazer com você?

Ele enfiou a mão no jeans e puxou seu canivete. Os olhos dela se arregalaram um pouco, mas nenhum medo brilhou em seu olhar. Ele abriu a haste da faca e enfiou a lâmina debaixo de seu sutiã. O material caiu, expondo os seios ao seu olhar faminto.

Fechou a faca e jogou-a de lado, então voltou sua atenção para o fecho da calça jeans. Queria arrancá-la, mas obrigou-se a ir devagar e saborear cada centímetro de pele que revelava.

Deslizou o jeans sobre os quadris e as pernas, movendo-se para que pudesse libertá-la completamente. Suas pernas bem torneadas chamavam por ele. Passou o dedo nas linhas esguias e pelas curvas e depois seguiu com sua boca, beijando e lambendo um caminho para os restos da roupa íntima de seda que protegia sua vagina.

Enfiou um dedo por trás da renda, penetrando através dos cachos nas dobras lisas. Ela gemeu e se contorceu inquieta quando ele encontrou o clitóris. Por um momento ele brincou, acariciando a ponta do dedo sobre o nó sensível. Então, deslizou até que margeou sua entrada, provocando-a sem piedade.

Com um empurrão, ele estava lá dentro. Veludo líquido fechou em torno de seu dedo, e ele fechou os olhos enquanto imaginava seu pênis ali, deslizando através de seu calor apertado e inchado.

— Sam!

Seu grito agonizante estremeceu-o de volta à consciência. O rosto dela estava corado, os olhos brilhando com a necessidade.

— Por favor, — ela implorou.

Ele rasgou a calcinha, não mais paciente, não mais disposto a prolongar a sedução. Ele a queria. Tinha que tê-la. Agora.

A camisa dele voou e atravessou o quarto. Ele rolou para o lado e puxou a calça jeans, xingando baixinho quando enroscou em torno de seus tornozelos.

Onde diabos estava o preservativo? No bolso. Merda. Inclinou-se sobre a cama para pegar a calça de volta e arrancou vários pacotes para fora. Eles se espalharam em cima da cama enquanto ele rolava de volta. Pegou um e rasgou-o enquanto a montava novamente.

O olhar dela estava voltado para sua virilha. Seus olhos brilharam apreciativamente, e em resposta, ele estendeu a mão, agarrou seu pênis e acariciou.

Ela se esforçou contra as amarras, e isso o deixou mais duro e mais ansioso para tomá-la.

Com a mão trêmula, colocou a camisinha e estendeu a mão para afastar suas pernas.

Deus, ela era tão macia e bonita. Delicada e feminina. Os cachos loiros e sedosos estavam úmidos com desejo, e ele correu o polegar pela fenda de sua vagina antes de afastar suas pernas.

Estava aberta para ele. Aberta e desprotegida. Sua para tomar. Sua para dar prazer. Sua para saborear e tocar.

Subiu em cima dela, enfiando seu pênis contra sua pequena abertura. Nunca poderia superar esse primeiro impulso, onde o corpo dela combatia seu tamanho e a vagina se fechava em torno dele como um torno. Ele estava suando e tremendo como um adolescente, e nem estava dentro dela ainda.

— Você está pronta para mim, Sophie?

Ele cutucou para dentro apenas o suficiente para que a cabeça abrisse sua abertura e ele pudesse sentir seu calor.

— Por favor, Sam. Preciso de você.

Aquelas palavras suavemente proferidas o deixaram no limite. Ele agarrou seus quadris e mergulhou fundo. Ela arfou. Toda respiração deixou o corpo dele em um gemido de intensa agonia.

Ela se contorcia abaixo dele, presa. A boca abria e fechava, e os braços se retesavam contra os laços em seus pulsos. Ela cercava seu pau como mel quente. Tão doce. Tão quente. Nunca sentiu nada que se comparasse com a sensação de estar dentro dela.

Quando ela empurrou para cima em sinal de protesto por sua imobilidade, ele se retirou, e ambos gemeram com a sensação dele ondulando através de sua carne.

— Deus, querida, você é tão apertada, é tão gostosa.

— Nós nos encaixamos, — disse ela em um gemido. — Você se encaixa em mim. Perfeito!

— Você tem razão, — ele rosnou enquanto mergulhava para devorar sua boca.

Flexionou os quadris e afundou novamente. Engoliu seu suspiro de prazer, saboreou, então voltou em sua próxima respiração, enquanto suas línguas imitavam a ação de seus corpos.

Não havia pensamento. Apenas a sensação escorregadia e quente dela contra seu pênis. Seu cérebro ficou dormente enquanto ele se perdia. Mais profundo. Mais forte!

O resto fugiu. Nenhuma missão. Nenhum babaca que precisava ser morto. Nenhuma frustração porque os esforços da KGI não tiveram nenhum resultado.

Aqui eram só os dois. E esse prazer perfeito e irracional.

Estendeu a mão para enfiar os braços por debaixo dos joelhos dela. Puxou forte, e o ângulo o enviou mais profundo, até que estava preso tão apertado que suas bolas estavam amontoadas contra sua vagina.

Ele olhou para cima, encontrando seu olhar, certificando-se que ela estava com ele e que não a machucava. Apenas sua necessidade desesperada por liberação olhou para ele.

Com um grito selvagem, ele se afastou e posteriormente bombeou sobre ela, balançando a cama inteira enquanto empurrava mais e mais. Os olhos dela se fecharam e seu grito cortou o ar. Ela estava apertada, tão apertada, enquanto todos os músculos do seu corpo ficaram tensos, e então de repente ela se liquifez ao seu redor, banhando-o em calor intenso.

Ele jogou a cabeça para trás, fechou os olhos e bombeou para frente uma última vez antes da liberação reunir-se em suas bolas e disparar de seu pênis. Explodiu dolorosamente, o prazer tão incrivelmente intenso que ele se perdeu por um breve momento.

Seus quadris ainda flexionavam espasmodicamente quando cuidadosamente se abaixou até o corpo mole dela. Ela tremeu quando suas peles se tocaram, e seus lábios roçaram sobre a mandíbula dele, enquanto ele colocava a cabeça em seu ombro.

Ainda estava enterrado profundamente, e não tinha nenhum desejo de se mover. Ela estava deliciosamente envolvida à volta dele, mantendo-o em seu corpo. Ele virou seus quadris novamente, um arrepio correndo por sua espinha com a sensação quase dolorosa sobre seu pênis.

— Machuquei você? — ele perguntou contra sua pele.

Ela sussurrou, um som ronronante que lhe disse que ele não fizera tal coisa. Ainda assim, ela falou suavemente contra seu cabelo, assegurando-o que ele lhe deu tanto prazer quanto havia recebido.

Apesar de odiar se mover, sabia que estava esmagando-a. Cuidadosamente, levantou-se e depois se retirou de seu corpo. Porra, mas ele ainda estava duro.

Estendeu a mão para desamarrá-la e, em seguida, rolou para descartar o preservativo. Quando voltou, ela imediatamente se enrolou nele, toda macia e maleável. Suas mãos sobre o corpo dele moviam-se quase freneticamente, como se ao negar a possibilidade de tocá-lo, a tornasse ainda mais desesperada para fazê-lo agora.

Ele pegou uma das mãos e puxou-a para baixo até que os dedos circundaram seu pênis.

— Vê o que você faz comigo? Não deveria estar duro novamente após duas semanas fazendo amor desse jeito, mas pareço ficar assim quando estou perto de você.

Ela riu baixinho e passou a mão para cima e para baixo em seu comprimento, explorando cada centímetro.

— Acha que ele vai me esperar tempo suficiente para eu tomar um banho? Você se importa? — O nariz enrugou em desgosto. — Estou cheirando a cerveja.

Ele cheirou seu pescoço, lambendo sua pulsação.

— Você cheira maravilhosamente, mas sim, vá tomar um banho. — Sentiu uma pontada de culpa por tê-la emboscado assim que entrou. Deveria tê-la deixado tomar banho e descansar. Ela trabalhou de pé toda a noite.

Ela se levantou e beijou-o antes de rolar para longe. Olhou-a, apreciando o balançar suave de seus quadris e bunda enquanto caminhava nua até o banheiro.

Ela era cem por cento mulher. Suave e feminina, com curvas em todos os lugares certos. Era tudo o que seu trabalho não era, e talvez por isso, o atraísse tão fortemente.

Ele ficou ali por um longo momento, e, finalmente, depois de cinco minutos, imaginou que lhe deu tempo suficiente para se lavar. Se não o tivesse feito, ele terminaria o trabalho para ela.

Saiu da cama e foi até o banheiro, onde o vapor do chuveiro já embaçara o espelho. Ela estava de pé, imóvel no chuveiro, seu corpo turvado pelo vidro.

Foi o suficiente para deixar seu sangue rugindo para a vida. Deus todo-poderoso, não conseguia explicar seu efeito sobre ele. Era uma loucura e o deixou sentindo-se desequilibrado.

Abriu a porta, e antes que ela pudesse se virar, entrou no chuveiro, seu corpo moldando-se ao dela. Ela começou a se virar, mas ele a impediu, mantendo-a parada.

Abaixou a boca para seu pescoço, onde pequenas gotas de água enfeitavam e rolavam por sua pele. Seus joelhos se dobraram e ela ameaçou cair quando os dentes dele afundaram na coluna fina de sua garganta. Ele a pegou e apertou.

— Ponha as mãos na parede.

Ela colocou as palmas das mãos sobre o azulejo e deslizou-as até seus braços estarem acima da cabeça. Ele se arqueou contra ela, então se abaixou e pegou sua perna direita com a mão. Levantou-se, erguendo-a enquanto a segurava firmemente com o outro braço.

Enquanto a água caía sobre eles, se empurrou dentro dela, encontrando seu calor mais uma vez. Não era suficiente. Nunca seria suficiente.

No fundo de sua mente, um aviso brilhou. Não estava usando preservativo, mas ele estava perdido na sensação do calor sedoso contra sua carne nua. Sua mente gritou estúpido, mas o macho rugiu que ela era sua e ele estava tomando o que era dele.

Ela apertou em torno dele. Seus dedos se enroscaram em punhos contra a parede do chuveiro. Jogou a cabeça para trás, arqueando-se para ele enquanto ele marcava seu pescoço com a boca.

Dele.

Era primitivo e rígido. Isso o intrigava, mesmo sabendo que não poderia ser explicado.

— Minha, — ele sussurrou.

Sua libertação, quando chegou, foi uma explosão. Um relâmpago, intenso e doloroso, e o deixou se arqueando na ponta dos pés enquanto se esforçava para se aprofundar.

Ela fez um pequeno ruído, e suas mãos deslizaram para baixo das paredes como se tivessem perdido toda a força que lhe restava. Ela cedeu e ele pegou-a suavemente para ele. Estava cheio de uma ternura ímpar, enquanto estendia a mão para fechar a água e depois a acomodava em seus braços.

Saiu do chuveiro e a desceu o suficiente para embrulhar uma toalha em volta dela. Durante muito tempo ficaram lá, a testa dela descansando em seu peito, enquanto ambos tentavam entender.

Ela se aconchegou sonolenta em seus braços, e mais uma vez, a culpa o atacou, enquanto imaginava como deveria estar cansada. Ele beijou o topo de sua cabeça.

— Vamos dormir um pouco. Você está esgotada.

Ela virou o rosto para ele e sorriu, mesmo enquanto suas pálpebras se fechavam. Então, levantou-se na ponta dos pés para enrolar os braços em volta de seu pescoço.

— Leve-me para a cama, — ela sussurrou.

 

Sam acordou com Sophie na curva de seu braço, a cabeça apoiada em seu ombro. Ficou tentado a rolar e deslizar entre suas pernas e acordá-los com um orgasmo rápido. Mas ela parecia cansada e um pouco frágil, como se tivesse tido uma noite difícil no trabalho.

Puxou-a para mais perto e correu as pontas dos dedos para cima e para baixo em seu braço. Os fios de cabelo mais próximo à sua boca voaram com cada respiração, e ele enganchou um dedo em torno deles para afastá-los de seu rosto.

Suas pálpebras agitaram e abriram, os olhos azuis sonolentos olhando para ele.

— Bom dia, — ele murmurou.

Ela respondeu se aproximando mais ao seu lado. Seu suspiro foi tudo que ele ouviu, e o braço dela deslizou por sua cintura, ligando-os mais apertados.

Ele riu levemente e beijou o topo de sua cabeça.

—Satisfeita?

— Mmm hmmm.

Era fácil aqui neste quarto de hotel. Todo o resto parecia um mundo distante e estavam fora da realidade. Ele não era estúpido o suficiente para abraçar isso, mas era bom, apenas por um tempo, ter a sensação que a única coisa que importava era o aqui e o agora.

— Vontade de comer alguma coisa?

Ela levantou a cabeça.

— Que horas são?

— Sete.

Antes que ela pudesse responder, uma batida soou na porta. Que diabos? Ele franziu a testa, então deslizou de debaixo de Sophie.

— Fique aqui e fora de vista.

Ele puxou a calça jeans e foi até a porta, abrindo-a com um estalo. O homem da recepção estava ali segurando um envelope selado.

— Para você, señor. Estava marcado como urgente.

Sam pegou o envelope.

— Obrigado! — Fechou a porta e virou o envelope na mão. Não tinha nome, mas ele não usava seu nome real aqui. Estava apenas marcado "304 Urgente". Sublinhado três vezes.

Olhou para Sophie, que se sentou na cama, as cobertas puxadas até o queixo. Em seguida, rasgou o selo e tirou o pedaço de papel.

No começo, não entendeu a curta mensagem. Quando o entendimento o acertou no intestino, sua primeira reação foi de descrença. Alguém estava fodendo com ele? Ele precisava voltar para seus homens.

Isto poderia ser uma besteira completa, mas era a primeira oportunidade potencial que a KGI pegou na sua missão de derrubar Alex Mouton e sua extensa rede de armas.

Durante duas semanas Sam e seus irmãos posaram como compradores, tentando fazer contato com Mouton. E nada. Ou o homem era um bastardo desconfiado ou não tinha interesse em ganhar novos clientes. O que disse a Sam que a sua clientela atual estava pagando-lhe uma montanha de dinheiro.

Um calafrio deslizou por sua espinha. Por que o aviso anônimo? Quem sabia do que o Grupo Kelly estava realmente atrás? Foram cuidadosos. Fizeram tudo certo. Misturaram-se com a população local. Não deram a ninguém qualquer razão para acreditar que eram qualquer coisa mais do que disseram ser. Mesmo a ligação ilícita de Sam com Sophie tinha sido um longo caminho na construção de sua cobertura. Porque que tipo de idiota vinha em uma operação secreta e, em seguida, passava seu tempo fodendo uma garçonete local, por distração?

— Sam, algo errado?

Sua voz suave desceu sobre ele, acalmando um pouco a tensão. Amassou a nota na mão, depois de guardá-la na memória. Empurrou-a em seu bolso e focou novamente em Sophie.

Sophie, que estava sentada nua em sua cama. Sophie, que ele poderia não ver novamente.

Atravessou o quarto e deslizou para a beirada da cama ao lado dela. Ela olhou para ele, os olhos perplexos, e havia uma sugestão de outra coisa lá. Medo?

Tocou seu rosto em um esforço para tranquilizá-la.

— Eu tenho que ir. Algo surgiu. Algo importante.

Ela mordeu o lábio inferior.

— Certo.

Ele inspirou, odiando o que tinha que dizer em seguida.

— Eu não sei quando, e se, estarei de volta.

O rosto dela ficou impassível. Seus olhos normalmente expressivos estavam semifechados e distantes.

— Eu entendo.

Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, ela inclinou-se para cima e colocou os braços em volta de seu pescoço. O cobertor caiu, expondo seus seios. Ela o beijou. Apenas uma vez. Com toda a doçura que ela trouxe para sua vida em tão pouco tempo.

Ele saboreou o gosto e a sensação, sabendo que nunca teria isso novamente. O remorso apertou seu peito.

— Tenha cuidado, — ela sussurrou.

Ele tocou seu rosto e depois beijou-a novamente.

— Sempre.

 

 

Sophie esperou tempo suficiente para ter certeza que Sam não iria retornar para o quarto, e então se vestiu às pressas, certificando-se que não deixou nada para trás. No banheiro, torceu o cabelo em um nó rápido e empurrou um palito de sua bolsa através do nó para prendê-lo.

A mulher olhando para ela no espelho era jovem, divertidamente radiante e enganosamente inocente. Não sentia nenhuma dessas coisas, mas conhecia pessoas que viam apenas o que queriam ver. Ninguém a levava a sério ou a via como uma ameaça.

Isso terminaria hoje.

Fazendo uma última varredura pelo quarto, viu a faca de Sam largada no chão, onde ele a jogou depois de cortar seu sutiã. Abaixou-se para recuperá-la e depois guardou-a em seu bolso. Não haveria provas de que ele esteve aqui, e ela poderia precisar dela mais tarde.

Respirando fundo, abriu a porta e espreitou para fora do quarto e no corredor. Satisfeita por não ver ninguém, correu para as escadas, ignorando o corredor que levava até o elevador.

No primeiro andar, havia duas portas na alcova, uma se dirigindo para o lobby e outra para fora, levando para o beco ao lado do hotel. Desceu pela outra para ver o carro esperando por ela.

Endireitando os ombros, caminhou até a Mercedes escura. O motorista saiu, de aparência sombria, em um terno escuro e óculos de sol que obscureciam completamente os olhos. Ele era sem nome e sem rosto, como todo mundo na organização de seu pai. Assim como ela.

Ele abriu a porta para o banco de trás, e ela foi engolida pelo veículo blindado.

O motorista levou-a através dos limites da cidade, através de ruas de paralelepípedos em ruínas, algumas das quais tinham enormes lacunas, onde areia e rocha assumiam. O carro não provocou olhares curiosos.

Os moradores aqui estavam bem acostumados com a presença de seu pai e aprenderam a não fazer perguntas.

Deixaram as linhas de casas miseráveis e viraram em uma estrada de terra sinuosa que levava para as colinas que rodeavam a vila remota. Quando finalmente se aproximaram das torres rígidas que guardavam o complexo de seu pai, o motorista reduziu a velocidade e depois apertou uma série de comandos no controle remoto instalado no painel.

O pesado portão de ferro se abriu para recebê-los, e rapidamente foram até a calçada pavimentada. A linha grossa de árvores obscurecia a vista da enorme casa, e na verdade, havia apenas um pequeno buraco através da linha densa, onde o carro aparentemente desapareceu em uma floresta, apenas para estourar através do outro lado, para uma visão que era aparentemente idílica .

Para uma pequena menina, tinha sido a terra das fadas. Ela não era aquela menina há um longo tempo.

Em vez de parar na frente, onde a pista circular rodeava uma fonte enorme, o motorista estacionou ao lado da casa, sob um toldo que abrigava outros três veículos blindados.

Ele abriu a porta, e Sophie piscou para o banho de sol que estapeou seu rosto. Ela saiu e olhou para o motorista.

— Tem certeza que é isso que você quer fazer? — ele perguntou em voz baixa.

Ela apenas assentiu, não confiando que não seria ouvida, se respondesse.

— Estarei esperando.

Desta vez, ela não reagiu. Passou pelo motorista e inseriu seu cartão na fenda de segurança ao lado da porta que levava para a casa. Seu pai seria alertado para sua presença, estaria esperando por ela. Ele nunca veio até ela. Era esperado que ela fosse até ele e desse um relatório como qualquer um de seus empregados.

Uma empregada a encontrou no corredor para o escritório de seu pai. Sophie não encontrou seu olhar. A empregada olhava para frente, mas enquanto Sophie se aproximava, a empregada pegou algo debaixo de seu avental e lhe entregou uma pequena bolsa quando ela passou.

Era uma bolsa de grife, algo que seu pai esperava que ela tivesse. Ele provavelmente a comprou. Enfiou-a embaixo do braço e parou em frente à porta dupla no final do corredor.

Levantou a mão para bater, mas parou no ar. Tremia da cabeça aos pés, e o suor gotejava em sua testa. Cada respiração parecia se arrastar, pesada e lenta. Seu coração batia descontroladamente, até que tinha certeza que era audível no silêncio.

Engolindo o medo, endireitou os ombros e bateu. Necessitaria de cada pitada de compostura que pudesse exibir. Seu pai poderia localizar a fraqueza em um segundo.

As portas se abriram automaticamente, e ela deu um passo adiante. Milagrosamente seu medo diminuiu quando olhou através da sala para ver seu pai de pé contra a enorme janela panorâmica. E, como tudo, era enganosa. O que parecia uma extravagância temerária para um homem como ele, era na verdade, uma placa reflexiva somente de um lado, de material à prova de balas da mais alta tecnologia. Ainda não estava nem mesmo no mercado. Ele podia ver do lado de fora, mas ninguém podia ver do lado de dentro.

— Sophie, você tem alguma informação?

A maneira informal na qual ele colocou a questão não a enganou, de qualquer forma. Seu pai não era casual sobre coisa nenhuma. Era friamente distante e calculista. Não esperava obediência. Exigia. Com resultados assustadoramente positivos.

Ela olhou ao redor da sala, procurando a posição dos guardas. Havia dois lá dentro. Pelo menos uma dúzia fora. Cada um disposto a dar sua vida pelo homem a quem pertenciam. Hoje, ela estava feliz em atendê-los.

— Eu tenho algo que possa interessá-lo, — ela murmurou.

Ele levantou uma sobrancelha especulativa como se não pudesse acreditar que ela tivesse se mostrado útil. Ela fez um show na abertura da bolsa como se tivesse algo para lhe dar.

Seus dedos deslizaram sobre a coronha de borracha da arma, e depois um dedo indicador sobre o gatilho de metal frio. Em um movimento relâmpago, virou-se e atirou através da bolsa, derrubando o primeiro guarda. Antes que o segundo pudesse reagir, ela disparou novamente, o baque pesado da bala enquanto batia no pescoço dele, era o único som na sala.

A bolsa caiu, revelando o cano longo do silenciador. Seu pai a olhou com firmeza.

— O que é isso, Sophie?

Ela não estava falando com o bastardo. Nenhum jogo estúpido. Tinha preciosos segundos para fugir antes que o mundo desabasse sob o comando dele.

Levantou a pistola, e pouco antes de disparar, viu o choque surpreso nos olhos de seu pai. Ele caiu pesadamente, o sangue se espalhando sobre o piso de madeira polida.

Puxou a faca do bolso e correu para onde ele estava deitado. Empurrando o colarinho da camisa para baixo, pegou a tira de couro que circulava seu pescoço e cortou-a.

A fina peça cilíndrica de metal descansava contra sua pele, manchada com seu sangue. Agarrou-a, em seguida, foi para sua mesa e sentiu o botão logo abaixo.

No outro lado da sala um painel se abriu no chão, revelando uma escadaria que levava para dentro da rede subterrânea de vias.

Sem um único olhar para trás, desceu as escadas correndo. Passou meses memorizando o esquema. Conhecia cada caminho, cada curva de cor, embora nunca tivesse descido lá embaixo. Baseando-se naquelas longas horas de estudo dos planos informatizados, percorreu seu caminho para a saída, onde o motorista a esperava.

Dez minutos depois, correu para o sol e deu um suspiro de alívio quando viu o carro lá, esperando. Ele não a traiu.

Ele a conduziu para o interior, e quando foi instalada na parte de trás, olhou para ela no espelho retrovisor.

— Está feito?

Ela engoliu em seco e assentiu.

— Obrigada por me ajudar.

A ligeira inclinação de sua mandíbula foi o único reconhecimento que ele lhe deu, enquanto ligava o motor e partia. Não olhou para trás. Não havia nada para ela lá.

Enquanto os quilômetros passavam, permitiu-se relaxar. E se atreveu a esperar o impossível.

— Liberdade!

Finalmente, ela estava livre.

 

Cinco meses depois...

Sophie reduziu novamente e o barco desacelerou, paralisando perto do Lago Kentucky. A escuridão a envolvia. O céu estava nublado. Lua nova. Apenas uma ou duas estrelas apontavam através da cobertura de nuvens. Estava correndo com as luzes apagadas e se mantendo no meio do lago, até que tivesse certeza que estava perto o suficiente de seu destino para se mover rapidamente para a praia.

Estudou o pequeno GPS portátil e depois ergueu o olhar até o litoral para o norte. Segundo suas coordenadas, seu destino estava a um quilômetro abaixo do lago.

Engoliu o medo e o nervosismo e automaticamente colocou a mão na barriga em um movimento tranquilizador. Sam estaria mesmo lá? Como reagiria ao vê-la novamente? O que mais ele diria quando soubesse a verdade sobre ela?

Olhou nervosamente por cima do ombro para a escuridão. O lago era um chapinhar da meia-noite. O único som que ouvia era a baixa oscilação contra o casco do barco.

Seus nervos estavam afetados. Sabia que estava assumindo um risco, mas estava sem opções. Os comparsas de seu tio estavam se aproximando. Podia sentir o cheiro deles. Podia senti-los em cada parte de seu corpo. Estiveram muito perto nas últimas semanas.

Uma mulher inteligente reconhece quando não pode mais fazer as coisas sozinha. Ela se considerava uma mulher inteligente, e por isso estava aqui. Em um maldito barco, em um maldito lago, tentando encontrar o pai de seu bebê, tão esperançosa que ele pudesse proteger a ambos.

Após cinco meses de fuga, a ideia de estar em um lugar tão vulnerável a assustava loucamente. Verdade, não era como se dirigisse corajosamente para Dover, perguntasse onde encontrar Sam Kelly e depois estacionasse na frente de sua casa. Ela tinha muito bom senso. A casa de Sam seria o primeiro lugar onde seu tio esperaria que ela corresse. E foi por isso que ficou longe por tanto tempo.

E depois, havia o fato que, nem ela e nem Sam foram honestos um com o outro. Ambos tinham sido outras pessoas. A única coisa real entre eles foi o desejo intenso. Ela se apaixonou rapidamente e se apaixonou perdidamente.

Por um homem que a desprezaria quando descobrisse a verdade.

Deslizou o barco para frente, seguindo a linha em seu GPS. Com alguma sorte, atracaria no cais do quintal de Sam e esperaria não levar um tiro por invasão.

Um barulho em frente e à esquerda a alertou. Sua cabeça levantou-se e olhou, suas narinas se alargaram enquanto sugava o ar da noite fria.

Uma súbita explosão de luz a cegou. Levantou o braço para proteger o rosto, mas foi inútil.

O rugido de um motor acelerando engatou seu instinto de autopreservação. Sem hesitar, mergulhou. Bateu na água fria e sentiu o choque nos dedos dos pés.

O barco maior bateu no dela com um estrondo retumbante. Destroços voaram no ar e cairam na água ao seu redor. Um pedaço enorme atingiu a superfície a sua frente e soprou água sobre sua cabeça.

Sua boca se encheu de água, e ela empurrou-a para fora antes de rolar para nadar em direção à costa. Não obtivera uma respiração completa, e seus pulmões já estavam apertados com a necessidade de ar.

Subiu à superfície e respirou bastante. A dor explodiu em seu braço, e inalou outro bocado de água. O choque estilhaçou sua consciência como agulhas. Tocou o braço e sentiu calor. Calor líquido.

— Sangue.

O filho da puta tinha atirado nela! O terror a assolou como uma marreta. Lutou para manter seu pânico distante. Precisava se controlar. Porque diabos ele atirou nela?

Seu cabelo foi puxado, e seu pescoço estalou quando uma mão a puxava para fora da água. Ela bateu na lateral de um barco, e contou com a presença de espírito para envolver os braços protetores em torno de sua barriga.

Seu bebê. Tinha que proteger seu bebê.

Desembarcou com uma batida no convés do barco e semicerrou os olhos contra o feixe de luz que brilhava em seu rosto.

— Levante-se!

Ela abriu um olho e olhou para o homem que estava sobre ela. Olhou ao redor e não viu mais ninguém.

— Vá se foder.

Ele a chutou no braço e a agonia ricocheteou através de seu corpo. Então ele se abaixou, enrolou a mão em seus cabelos e a ergueu.

Se ele não estivesse segurando-a, ela teria caído. Suas pernas se recusavam a cooperar. O braço estava em chamas e pendurava frouxamente a seu lado.

— Onde está a chave, Sophie?

— Olha, eu nem conheço você, — ela cuspiu. — Você não pode me chamar pelo meu primeiro nome. Acha que sou tão estúpida para transportá-la comigo?

Um flash prateado pegou seu olhar. Seus olhos se arregalaram quando viu a curva perversa de uma lâmina muito afiada. Então, levantou seu olhar e viu a determinação fria no rosto do Assassino.

Forçando bravata em sua voz, ela disse:

— Se você me matar, você começa a ficar de joelhos.

— Um fato com o qual você está contando, tenho certeza, — disse ele em um tom suave. — Minhas ordens são para fazê-la falar. Isso tem que acontecer de algum jeito. Confie em mim, você vai falar.

Ela engoliu e sugou o ar pelas narinas. Deus, o que iria fazer? Estava tão perto de Sam. Tão, tão perto.

Todos esses meses, todo esse tempo, permaneceu às sombras, sempre um passo à frente do domínio de seu pai. Mesmo morto, ele a segurava pela garganta. Seu tio iria continuar o seu legado de venda de morte. Havia sempre alguém disposto a assumir as rédeas.

Mas sem acesso à riqueza e aos recursos de seu pai, Tomas era aleijado. Ela planejava mantê-lo dessa maneira.

O homem arrastou-a para perto, a respiração quente soprando em seu rosto. Sentiu a borda da faca contra sua barriga e a bile subiu afiada na garganta.

— Você não vai morrer. Não agora. Mas seu bebê, sim. Conte-me o quero saber ou vou abrir você e deixar seu filho tombar de sua barriga.

Seu estômago se revoltou e ela sufocou, o nó tão grande que engasgou. Lágrimas escorreram de seus olhos, e depois a raiva explodiu quente como a primeira onda de uma explosão.

— Seu filho da puta, — ela gritou.

Ela teve o suficiente. O fato de que era constantemente subestimada, habitualmente trabalhava em seu favor, mas este cara parecia mais esperto que os outros idiotas que seu pai empregava. Na verdade, era mais esperto que seu pai, que não acreditou que ela mataria sua própria carne e sangue.

Este bastardo não iria dar-lhe qualquer facilidade porque era bonita, loira e de aparência inocente. O que significava que teria que confiar em sua pura determinação se quisesse manter seu bebê vivo.

— Tudo bem, vou contar, — ela arfou. — Afaste a faca.

— Eu gosto dela onde está.

Ele não iria facilitar.

Ela tomou cuidado para não olhar para baixo, nem sequer se contorcer. Sem aviso prévio, fez seu movimento. Esperou até que quase agitou fora de sua pele. Ali. A faca aliviou apenas um pouquinho e já não pressionava sua pele tão fortemente.

Bateu o joelho em suas bolas e o cotovelo em seu pulso. A faca caiu no convés e ela chutou com força, enviando-a em espiral pelo barco.

Ele a agarrou pelo pescoço, os dedos cavando profundamente em sua pele, apesar do fato de estar curvado, segurando suas bolas com a mão livre.

As mãos dele espremiam sem piedade, cortando seu suprimento de ar.

Ela ia morrer.

Aqui, em um barco, provavelmente não muito longe de onde Sam vivia. No lago, onde eliminar seu corpo seria mais fácil. Nas mãos de um idiota que falava sobre assassinato como falaria sobre o tempo.

Fúria. Vermelha, quente e escaldante. Espalhou através de suas veias como fúria vulcânica.

Fingindo rendição, deixou todos os músculos de seu corpo ficarem moles. Talvez o pegasse desprevenido, ou talvez esperasse que ela lutasse para aliviar o aperto.

Aproveitando sua raiva, lançou-se para frente, lançando-se contra o imbecil. Antebraços em seu peito, ela empurrou, colocando cada milímetro de sua força por trás de seus movimentos.

Ele cambaleou para trás, os pés tropeçando para tentar se equilibrar. Suas mãos voaram, e ele tentou agarrar o corrimão.

Ela pulou em cima dele, e ambos caíram no lago.

A água fria a atingiu como uma tonelada de tijolos.

Afundou na escuridão. Lutou contra o pânico e mergulhou, nadando para longe do barco. Vários metros a frente, subiu a superfície, ofegante.

Ele estava lá fora. Provavelmente perto. Mas levaria um tempo precioso para voltar para o barco e procurar por ela. Tempo que ela poderia usar em sua vantagem.

Desta vez, respirou profundamente enquanto mergulhava, e se forçou a ficar até as sombras crescerem em torno de sua consciência. Subiu a superfície e manteve a cabeça baixa, enquanto famintamente sugava ar.

Olhou para trás para ver as luzes do barco dançando através da água.

Inalou rapidamente e se abaixou sob a água novamente. Ignorando a dor agonizante em seu braço, nadou profunda e duramente. Eventualmente, seu corpo ficou entorpecido de frio, e a dor recuou. Deu um sopro rápido, em agradecimento, e empurrou-se para frente.

Por quanto tempo repetiu o ciclo interminável de mergulhar, respirar e voltar abaixo, não sabia. Pareceram horas. Não estava ciente de nada, apenas da necessidade de sobreviver.

Quando sua força finalmente acabou e a adrenalina fugiu de seu sistema, subiu a superfície e olhou em volta. Para seu imenso alívio, não viu o barco. Nenhuma luz, apenas a turva escuridão.

A água do lago rodou suavemente em seu queixo enquanto nadava. E de súbito, a dor voltou rapidamente, com a força de uma batida de carro.

Quase inconsciente, debilmente golpeou para fora, para a praia, mas parecia estar a um quilômetro de distância. A corrente puxou suas pernas, chupando-a de volta e para baixo do canal do rio, em vez de permitir que se movesse em direção a margem.

Exausta, parou de lutar e virou de costas para flutuar o melhor que podia. Tinha que sair da água. Ele estaria procurando por ela.

Sua cabeça bateu contra algo rígido, e ela soltou um grito surpreso. Caiu brevemente debaixo da água, em pânico. Quando reapareceu, empurrou ao redor para ver um tronco grande balançando na sua frente.

Grata por ter algo para segurar, rebocou seu corpo e envolveu a si mesma sobre o tronco. A casca molhada atritava sua bochecha, mas estava exausta demais para dar a mínima.

Esticou o braço bom e colocou a mão sobre a barriga. Seu bebê tinha que ficar bem. Tinha que ficar. Fechou os olhos enquanto esperava por alguma resposta de dentro. Apenas um chute minúsculo. Até mesmo um pequeno esbarrão para deixar Sophie saber que seu bebê estava a salvo.

Nada.

Correu a mão pelo braço, sentindo como o ferimento da bala era grave. Na água, era impossível dizer. Sussurrou uma fervorosa oração para que os eventos da noite não tivessem prejudicado seu bebê.

Mais uma vez abaixou a palma da mão, procurando por movimento.

Lutou contra o pânico. Era comum um bebê ficar quieto depois que a mãe sofria um choque. Tinha lido isso em algum lugar em um daqueles livros de gravidez.

Tornara-se uma especialista em auto tratamento, porque não ousou procurar ajuda médica. Tomas a teria encontrado instantaneamente. Então, devorou todos os livros em que conseguia colocar as mãos. E tomou vitaminas, bebia leite e se exercitava, de modo que permanecesse em estado de alerta. Exceto em uma ocasião, quando os homens de seu pai a pegaram.

Havia uma única estrela no céu. Apenas uma, e parecia embaçada e distante. Balançou para cima e para baixo, e não sabia se era porque ela tremia tão violentamente ou por que o lago estava agitado.

Seu braço se envolveu mais apertado ao redor do tronco, e pressionou sua bochecha contra a casca molhada. Poderia montar nele por um tempo, e talvez flutuasse rapidamente pela corrente, em direção as águas mais calmas do lago.

Suas pálpebras estremeciam enquanto lutava para ficar consciente. Algo quente e úmido escorria por seu braço. Sangue. Cheirava a sangue.

Sam.

Sua imagem cresceu vividamente à mente. Seu último pensamento coerente foi que tinha que chegar até Sam.

 

O sol da manhã brilhava no convés, nos fundos da casa de Sam Kelly, no Lago Kentucky. A madeira estava quente sob seus pés descalços, e os raios afastavam o frio da manhã. Tinha os ingredientes de um dia verdadeiramente espetacular.

O único jeito de ser mais perfeito é se ele estivesse no lago, uma vara de pesca em uma mão, uma cerveja na outra. Pelo menos, ele tinha a cerveja.

Esvaziou o restante de sua lata, então a amassou e jogou-a através da plataforma para a lata de lixo.

— Belo arremesso, — Donovan falou arrastado, seu corpo largado sobre uma das cadeiras.

Uma brisa fresca soprava sobre o rosto de Sam, lembrando-o que a primavera ainda não acabou totalmente.

Olhou para seu irmão mais novo e fez sinal para ele atirar-lhe uma outra cerveja.

Donovan lançou-lhe uma lata e depois olhou na direção de Garrett. O outro irmão mais novo de Sam— não que Garrett agisse como qualquer outro irmão mais novo— ergueu a mão para uma e Donovan jogou uma cerveja em sua direção também.

Garrett abriu a lata e então voltou sua atenção para a churrasqueira, onde ele virava os hambúrgueres.

Só o chiado da grelha podia ser ouvido. E o silvo da lata enquanto Sam a abria.

Ethan e Rachel partiram bem esta manhã? — Donovan perguntou, finalmente quebrando o silêncio.

Sam olhou na direção de Garrett, já que ele sabia melhor que ninguém.

Garrett assentiu.

— Sim, eles partiram para o aeroporto ao romper da maldita aurora. Rachel ficou compreensivelmente nervosa, mas muito animada por viajar para o Havaí por duas semanas. Ela e Ethan necessitam de uma folga.

De todos os irmãos, e todos eles amavam muito Rachel— ela era a única cunhada na família— Garrett era o mais próximo a ela, e o mais protetor. Mas afinal, ele tinha uma raia de proteção de um quilômetro de largura quando algo acontecia com quem ele amava.

Sam recostou-se e olhou para o lago. Ignorou a discussão de Garrett e Van sobre a recuperação de Rachel. Eles falavam sobre o Natal, e Sam ficou tenso, retirando-se ainda mais. Natal era um assunto delicado. Não que o desse ano não tivesse sido maravilhoso. Foi o primeiro Natal de Rachel, depois que voltou para a família Kelly. Ver seu sorriso e seus olhos brilharem como os de uma criança, valeu cada minuto.

Mas o Natal foi logo depois que ele voltou do México. Logo após Sophie ter desaparecido. Era estúpido se debruçar sobre isso, mas, inevitavelmente, seus pensamentos se dirigiram para ela. Seu sorriso. Seus olhos. Como eles eram bons na cama. Como ela respondia ao seu toque. Como ela era deliciosa quando ele estava enterrado até as bolas em seu corpo doce e receptivo.

Nada naquela missão aconteceu de acordo com seus planos. Eles não derrubaram Alex Mouton. Sequer sabiam para onde o filho da puta desapareceu. A única coisa que fizeram foi derrubar um carregamento de armas enorme. No geral, apenas uma pedra no caminho de um homem com os recursos de Mouton.

E Sophie não estava lá quando ele voltou.

Ele supostamente não deveria ter voltado. Nunca tinha sido o seu plano. Mas encontrou-se dando desculpas sobre seguir as pontas soltas e voltara, determinado a encontrar Sophie. E fazer o quê? Isso ele nunca descobriu. Só sabia que tinha de vê-la novamente. Foi poupado de tomar a decisão do que faria quando a reencontrasse, porque ela desapareceu. Ninguém parecia saber coisa alguma sobre ela, ou se sabiam, não falaram.

Sam levou um minuto para descobrir que seus irmãos estavam falando com ele.

— Vamos lá, Sam, acorde.

Sam olhou para cima para ver os dois, Van e Garrett olhando-o fixamente.

— O que há com você? —Garrett perguntou. — Não é o mesmo desde que voltamos do México.

Sam enrijeceu. Não percebeu que estivera usando um sinal de propaganda de seus problemas no México.

— Você não está ainda preso naquela garota, não é? — Garrett perguntou em um tom incrédulo.

Sam lançou-lhe um olhar fulminante.

— De que diabos está falando?

Garrett balançou a cabeça em desgosto. Virou-se para Van e apontou o polegar na direção de Sam.

— Estávamos no maldito México tentando montar uma compra com Alex Mouton, e o namoradinho arrumou tempo para ter um caso quente com uma garçonete de um dos bares locais.

 Donovan deu de ombros. — E daí? Ele ainda tem um pau. Somos obrigados a usá-lo de vez em quando.

Sam reprimiu uma risada. Deus ama Van. Nenhum osso tenso em seu corpo.

Donovan virou seu olhar sobre Sam e Sam começou a inquietar-se desconfortavelmente. Ele preferia não falar sobre isso.

Como se estivesse sentindo exatamente isso, Donovan virou-se para Garrett.

— Talvez você precise transar, cara. Talvez não ficasse tão malditamente tenso o tempo todo. — Garrett empurrou seu irmão, e Sam sorriu.

Não era nada bom pensar sobre Sophie. Eles eram bons juntos. Muito bons.

Não, ele não deveria ter se envolvido com ela enquanto estava envolvido em uma missão altamente delicada. Mas a sua doçura forneceu um bálsamo muito necessário para o que era uma tarefa infernal. Uma tarefa que ele não chegou a lugar nenhum, até que finalmente, um informante anônimo entregou as informações que Sam e sua equipe procuravam, em uma bandeja de prata.

— Você se ligou nessa garota? — Donovan perguntou.

Sam olhou para ele. Aparentemente ele não foi capaz de resistir, afinal.

Donovan ergueu as mãos em sinal de rendição.

— Okay, okay, eu sei quando recuar.

— Bom, — Sam murmurou.

—Percebeu que vocês não participaram de outra missão desde o México? — Donovan disse suavemente. — Steele e Rio estão ficando inquietos. Eu não imagino que todos estamos de férias.

Sam franziu o cenho. Ele não considerava que estavam de férias também, mas a declaração de Donovan lhe mostrou como ele foi exigente ao longo dos últimos meses.

— Não é que eu esteja reclamando, — continuou Donovan. — Eu estava pensando em um período de férias. Algum lugar ao sul. Muitas universitárias bonitas. Areia, sol, sexo. Muito sexo. — Sam os ignorou novamente enquanto ele e Garrett exaltavam as virtudes das universitárias de biquíni. Inferno, estavam velhos demais para meninas de faculdade, mas quem colocou um limite de idade nas fantasias?

O incomodava que ainda pensasse em Sophie. Então, franziu a testa. Quantos anos ela tinha? Ela era jovem. Não tão jovem quanto uma universitária, mas ainda jovem. Havia muita coisa que não sabia sobre ela.

Estavam sempre muito ocupados fazendo amor, para conversar.

Ele sintonizou de volta para a conversa quando ouviu Nathan e Joe serem mencionados.

— Eles estão fazendo o quê? — Sam perguntou.

— Cara, você está fora disso, — murmurou Donovan. — Recebi um e-mail deles esta manhã. Disseram que estariam partindo em breve e não poderiam dar mais detalhes. Não queriam que Mamãe e Rachel se preocupassem, então pensamos em dizer a elas que eles estão em outra missão de treinamento.

Sam bufou. — Como se mamãe fosse acreditar nisso. Ela tem um faro para nossas mentiras. Está farejando o tempo todo.

— Vamos deixar que Van diga a ela. Ela sempre acredita nele, — Garrett sugeriu. — É o resto de nós que não pode escapar com uma merda.

Donovan enviou a ambos um olhar presunçoso.

— Status de filho favorecido tem suas vantagens.

— Então, quando você vai pular fora desta depressão, Sam? — Garrett perguntou sem rodeios. — Se precisar de uma pausa da KGI, diga-me. Posso assumir as operações. As equipes estão ficando inquietas. Eles precisam de ação. Nós também.

Até Donovan parecia concordar com Garrett.

— Eu não estou em uma maldita depressão! Um monte de merda aconteceu ao longo do ano passado. Precisávamos estar aqui com a família.

Ele poderia sentir-se ficando na defensiva, o que significava que eles tinham razão, por mais que ele odiasse admitir.

Os dois irmãos apenas olharam para ele, como se esperando que ele chegasse à conclusão, por conta própria, que estava sendo um idiota.

— Sim, okay, eu entendi, — ele murmurou. — Vou colocar seus traseiros para trabalhar. — Sam suspirou e se levantou da cadeira do pátio para esticar as pernas. Descansou as mãos sobre o corrimão do deck, curtindo a madeira aquecida pelo sol contra sua pele.

Talvez fosse hora de voltar para o trabalho e espantar sua inquietação.

Olhou para Garrett e estudou as sombras sob seus olhos. Garrett não gostava de folga. Dava-lhe muito tempo para pensar sobre a merda que aconteceu com sua equipe de operações especiais, pouco antes de deixar os fuzileiros navais. Ele não estava dormindo ultimamente, não que admitisse isso para Sam ou Donovan.

Van confidenciara a Sam que Garrett estava rastreando toda e qualquer informação sobre Marcus Lattimer, o homem responsável pelo fracasso da missão de Garrett e por sua subsequente estada no hospital para se recuperar de um tiro na coxa.

Sam penou em falar com Garrett, mas não encontrou o momento certo. Não que houvesse um bom momento para tentar prender Garrett e fazê-lo falar.

— O que diabos vocês estão olhando? — Garrett perguntou rudemente.

— Você está péssimo, — Sam disse sem rodeios. — Não está dormindo, de novo.

— Sim, então somos dois. Pelo menos não estou preso a uma garota. Pare de tentar evitar o assunto, jogando sobre mim.

— Encontrou alguma coisa? — Sam perguntou suavemente.

Garrett franziu a testa e por um momento pareceu que fingia que não sabia sobre o que Sam estava falando. Bateu um hambúrguer na grelha, batendo a espátula no processo. Então olhou para Donovan.

— Ei, não olhe para mim, — disse Donovan, erguendo as mãos. — Você não tem sido exatamente discreto sobre isso.

— Quero derrubar o filho da puta, — disse Garrett.

Sam se recostou e posicionou as mãos no corrimão.

— Cristo, Garrett. A KGI não pode dar ao luxo de sair em alguma maldita missão de vingança.

Garrett encolheu os ombros.

— Quem disse que tem que ser por vingança? O mundo seria um lugar melhor sem aquele pedaço de merda. Ele é sujo. É um traidor. — Olhou fixamente para Sam. — Ele me custou minha equipe. Enquanto estamos aqui sentados esperando que você saia de sua depressão, poderíamos estar fazendo algo útil. Como pregar a bunda gorda de Lattimer na parede.

Não havia o que Sam poderia dizer depois disso. Ele entendia a raiva de Garrett. Faria o mesmo no lugar dele. Mas, certamente esperaria que seus irmãos o controlassem. Assim como ele estava fazendo com Garrett.

— Garrett não é o problema agora, — disse Donovan incisivamente. — Você é. Precisa puxar a cabeça para fora do atoleiro, e precisamos voltar a trabalhar, caso contrário, Garrett vai ser desonesto conosco e começar uma maldita guerra tentando encontrar Lattimer.

Sam soltou a respiração e se virou para olhar sobre o lago mais uma vez. Seus irmãos estavam certos. Sua cabeça não estava no lugar, e isso era uma coisa muito ruim para a KGI. Construíram seus negócios dentro de uma extensa lista de contatos militares e do governo. Fizeram trabalhos para agências que sequer existiam.

O trabalho para derrubar Mouton viera de seu contato na CIA, Resnick, e enquanto a KGI impedia um negócio de armas, Mouton escorregara por entre seus dedos. O que significava que ele ainda estava lá, ainda viável, e estava ocupado reconstruindo a sua rede.

E pelo menos por agora, o governo dos Estados Unidos não parecia inclinado a persegui-lo.

Sam odiava negócios inacabados. Era contra o seu princípio deixar um predador lá fora, que era capaz de destruir tantas vidas. Em teoria, não era pessoal. Mouton foi apenas um trabalho, mas para Sam tornou-se pessoal no momento em que não conseguiu derrubar o homem.

Ficou tentado a dizer a seu contato na CIA para se ferrar, e voltar atrás de Mouton, mas não valia a pena sair das boas graças do Tio Sam.

Seus lábios torceram em uma careta. Talvez Donovan tivesse a ideia certa. Talvez um pouco de sol, sexo e férias trouxessem sua mente de volta para o jogo. E para longe de Sophie.

Começou a virar-se para seus irmãos novamente, quando avistou algo que o fez parar. Um grande tronco boiava preguiçosamente para baixo do lago. Os níveis de água estavam subindo na primavera, enquanto a companhia de saneamento continha a água para que não sobrecarregasse os rios e riachos que alimentavam o lago, com as águas das chuvas. As tempestades recentes e chuvas fortes causaram um campo de destroços que apenas começara a diminuir. Mas havia algo sobre o final do tronco que capturou a atenção de Sam.

— Que diabos? — ele murmurou.

— O que é, Sam? — Garrett perguntou.

Mas Sam não lhe respondeu. Saltou sobre a borda do convés e saiu correndo para o cais, em direção à água. Ouviu as exclamações surpresas de seus irmãos atrás dele, mas não diminuiu.

Quando chegou ao fim da doca, mergulhou na água limpa, estremecendo pelo choque frio. Subiu a superfície a vários metros de distância e nadou duramente em direção ao meio do canal.

Segurou no meio do tronco e o manobrou para baixo. Um corpo flácido de mulher estava cruzado sobre o final, seu cabelo sujo e molhado escondendo seu rosto completamente.

Ele hesitou por um momento, com medo de estender a mão e tocá-la, para sentir a rigidez da morte. Então, afastou o medo ridículo e agarrou o ombro dela.

Para seu alívio, sua pele estava macia e flexível, embora fria, sob seus dedos.

— Jesus, que porra é essa?

Sam olhou ao redor para ver Garrett se aproximar com rápidas e certeiras braçadas.

— Ajude-me a levá-la para a praia,— Sam disse enquanto a puxava pelo tronco.

A cabeça dela pendeu para o lado, e ele abrigou o rosto dela no pescoço para que não inalasse água acidentalmente. Colocou os dedos em seu pescoço para verificar a pulsação. Fraca e imperceptível, mas estava lá.

— Santo Deus, ela foi baleada, — Garrett disse enquanto se aproximava pelo outro lado.

Sam olhou para ver o braço manchado de sangue.

— Vamos, — disse severamente enquanto se virava de lado e começava a nadar em direção à margem.

Garrett manteve o ritmo, mantendo o máximo do corpo dela fora da água. Quando se aproximaram da margem, Donovan se inclinou e estendeu as mãos para pegar a mulher.

Sam acenou para que ele se afastasse e seus braços enrolaram debaixo dela, erguendo-a da água quando ficou de pé na parte rasa. Era ridículo, mas foi tomado pela necessidade de que ele mesmo cuidasse dela. Não queria que ninguém a tocasse.

Sua nuca arrepiou e os cabelos levantaram enquanto a deitava no chão. A primeira coisa que notou foram a contusões no pescoço fino. Alguém fizera as marcas tentando sufocá-la.

A segunda coisa que viu foi o óbvio ferimento a bala em seu braço. Sangue ainda escorria do vinco irregular.

A terceira coisa? Seu olhar desceu sobre o corpo dela, e congelou quando encontrou o pequeno monte inchado de sua barriga.

— Santo Deus, — ele arfou. — Ela está grávida!

— Vou chamar uma ambulância, — disse Garrett.

A mulher se mexeu com a voz de Garrett, e Sam estendeu a mão para afastar o cabelo de seus olhos.

Todo fôlego deixou seu corpo quando suas pálpebras se abriram e seus olhos se encontraram. Ele fez um balanço completo de sua face e a certeza o acertou como uma marreta.

Deus, não conseguia entender. Estava debruçado sobre ela, olhando para ela, sua mente registrava quem ela era, mas não fazia sentido para ele.

— Sophie, — ele falou roucamente.

Os olhos dela se arregalaram, em reconhecimento, exatamente quando o medo bateu duramente naqueles grandes olhos azuis.

— Sam.

Seu nome saiu em um sussurro rouco e dissolveu-se em uma tosse. Depois que começou, não conseguia parar, e seu corpo todo convulsionava enquanto tossia a água de seus pulmões. Seus gemidos de dor bateram forte no peito dele e sacudiu-o para fora de sua inércia.

E, em seguida, a próxima maldita onda o atingiu com tanta força que ele quase perdeu o equilíbrio.

Sophie estava grávida.

Ele e Sophie estiveram juntos justos cinco meses atrás.

Ela certamente não parecia uma grávida de mais de cinco meses.

Na verdade, parecia exatamente ter esse tempo.

Estava ferida. Alguém atirou nela. Alguém tentou matá-la.

Estava grávida.

— Não, — ela disse ferozmente.

— Não o quê?

— Sem ambulância. Prometa-me.

Ela agarrou seu braço com uma força surpreendente. Seus olhos estavam selvagens, e ele duvidava que ela tivesse uma pista de onde estava, quem era ou o perigo que ela e seu filho estavam correndo.

— Você precisa de um hospital, — ele a acalmou. Inferno, ele precisava de um hospital. Ou de uma bebida forte. O que diabos ela estava fazendo aqui? Onde diabos estivera nos últimos cinco meses?

Grávida. Doce Jesus, o bebê era dele? Sua língua parecia grossa e inchada em sua boca. Não conseguia formar as palavras, e duvidou que ela as compreenderia, de qualquer maneira.

Sua mão foi automaticamente para seu braço, onde o ferimento começava a sangrar novamente. Seu sangue estava quente contra a pele fria, e ele apertou tão forte quanto se atreveu, não querendo machucá-la mais.

Ela levantou a cabeça, e seus olhos, vidrados pela dor, faiscaram com determinação.

— Sem hospital. Nenhum policial. Prometa-me. Prometa-me. — O desespero em sua voz o atingiu. Uma sensação desconfortável correu por sua espinha. Suas entranhas disseram que isso era uma Clusterfuck[1] além de todas as encrencas.

Ele olhou para Garrett, que estava olhando para ele e Sophie com uma profunda carranca de concentração. Sem dúvida, ele queria saber o que diabos estava acontecendo. Com os dois.

— Não chame a ambulância, — disse Sam e se virou para olhar para Donovan, sua mão ainda presa sobre o ferimento da bala. — Vá para dentro, encontre bandagens, um kit médico, qualquer coisa que possa encontrar.

— Você está louco? — Garrett explodiu. — Ela foi ferida. Levou um tiro. E está grávida.

Sam engoliu em seco e olhou para os olhos de Sophie, que agora estavam fechados.

— Garrett, por favor, faça o que eu pedi. Eu conheço esta mulher.

— Quem diabos é ela?

Ele olhou para seus dois irmãos.

— Ela é minha.

 

Frio. Ela estava congelando. E estava tendo alucinações. Ela tinha visto Sam. Mas ele não estava aqui. Não sabia onde ele estava. Só que havia um homem que se parecia muito com ele em pé sobre ela com uma expressão de horror em seu rosto. Sam não ficaria tão horrorizado ao vê-la, não é? Ele não sabia a verdade. Ainda. Não, definitivamente não era Sam.

Em seguida, um cobertor quente a cercava, e braços fortes a levantaram. Ela se acomodou contra o peito duro, aquelas braços ainda apertados ao seu redor.

Sophie abriu os olhos e olhou para cima para ver uma mandíbula rígida. Forte. Firme. Com apenas um toque de barba, como se ele estivesse demasiado preguiçoso para fazer a barba pela manhã. Era muito sexy.

O olhar dela vagou para cima, e depois ele virou a cabeça e seus olhos encontraram os dela. Azul. Azul pálido, como o gelo. Assim como os olhos de Sam. Ela ainda estava sonhando? Se estivesse, queria simplesmente continuar sonhando. Era um sonho bom.

— Ei, — ele disse suavemente. — Você está de volta.

De volta? Onde diabos ela tinha ido? Sua testa enrugou em confusão.

— Já estive aqui antes? — ela perguntou. Aliás, como chegou até aqui? Tudo era tão confuso. Sentia-se engraçada. Não em tudo. Estava tendo dificuldade para lembrar o menor dos detalhes. Frustrou-a, porque havia algo de importante que tinha que fazer.

Ele balançou a cabeça.

— Não.

— Mas você disse que eu estava de volta, como se eu tivesse estado aqui antes. — Deu-lhe um olhar preocupado e o fitou.

— Eu quis dizer que você estava de volta. Consciente. Você recuperou a consciência por instantes quando eu a tirei da água, mas depois desmaiou outra vez.

— Oh.

Sua preocupação se aprofundou e ele olhou para cima, e foi então que Sophie viu outro homem caminhando ao lado deles. Grande. Mal encarado. Com as sobrancelhas franzidas para ela.

Sophie se encolheu contra o homem que a carregava e teve um arrepio involuntário.

— Está tudo bem, — ele murmurou suavemente enquanto a erguia mais em seus braços. — Ninguém vai machucá-la, eu prometo.

— Quem é aquele? — ela sussurrou.

Novamente ele olhou para o lado.

— É Garrett.Ele é meu irmão.

— Ele é grande e mal-encarado, — ela murmurou.

Ele balançou contra ela enquanto ria.

— Ele é inofensivo.

Um bufo soou, e Sophie adivinhou que Garrett não gostou da avaliação de seu irmão.

Então Garrett inclinou-se para olhar para ela.

— A questão é, quem é você? — Ela encolheu-se e teria escorregado por cima do ombro do seu protetor e se escondido atrás dele, se pudesse.

— Afaste-se, Garrett, você a está assustando.

Garrett fez uma careta de novo e deu-lhe um olhar que sugeria que ele não tinha terminado. A raiva subiu sobre Sophie. Droga, estava farta de machos arrogantes e idiotas.

— Calma, — o homem que a carregava a acalmou, como se sentisse sua tensão.

Seguiu andando e, em seguida, passou por outro homem—em que diabo de confusão ela conseguiu se meter agora? Pelo menos eles não portavam armas, e até agora não tentaram matá-la. Isso era positivo, não era? Talvez eles pudessem lhe dizer como encontrar Sam.

— Onde estou? — ela perguntou baixinho enquanto ele a colocava em uma cama. Não esperando uma resposta, enrolou-se em uma bola e alcançou as cobertas e um travesseiro simultaneamente. Deus, estava cansada. Estava dolorida da cabeça aos pés.

— Oh, não, você não vai, — uma voz masculina a repreendeu. — Você não pode dormir ainda. — Ela empurrou-o com uma mão e se aconchegou mais fundo no travesseiro. Era tão bom. Seus músculos começaram a relaxar dentro das cobertas quentes, e então começaram a gritar em protesto.

Sua boca e os olhos se abriram enquanto a dor a oprimia. Seu braço. Fogo. A dormência desapareceu. E então ela se lembrou. Fugindo de barco. Levando um tiro. Escapando.

Sua mão subiu para o braço, sentindo o ferimento. Não poderia ser muito ruim, não é?

— Simples, — o sósia de Sam murmurou. — Eu diria que alguns dos choques se esgotaram e agora você está começando a sentir dor.

Ela sacudiu violentamente, os dedos ainda segurando a área do tiro. A mão suave agarrou seus dedos e afastou-as do ferimento.

— D-dói.

— Eu sei. Você deveria estar no hospital.

Sua cabeça voou para cima.

— Não.

— Aqui está o curativo, — Garrett disse enquanto entrava no quarto. — Van está trazendo um pouco de água e panos para que você possa limpar o ferimento.

Sophie segurava as cobertas contra o peito e olhava cautelosamente para Garrett.

Garrett não parecia mais impressionado com ela do que ela com ele. Ele a observava com o que ela só poderia descrever como profunda desconfiança.

Um momento depois, o terceiro homem chegou por trás de Garrett. Ele, pelo menos, não demonstrava que preferia que ela estivesse em qualquer outro lugar, exceto aqui, mas o cuidado irradiava dele, no entanto.

— Esse é meu irmão Donovan, — o falso Sam disse, enquanto apontava o polegar sobre os ombros.

— Quantos irmãos você tem?

Ele sorriu.

— Cinco. Apenas dois estão aqui, no entanto.

— Há mais três? — perguntou ela, tentando conter o horror de sua voz.

A sala girou loucamente a sua volta, e ela estava com tanto frio que os dentes estavam batendo. Havia algo de importante que tinha de fazer, mas não se lembrava de nada além de manter seu bebê seguro.

Apertou a barriga quando percebeu que ainda não sentiu nenhum movimento do bebê. As lágrimas escaldaram seu rosto, e ela fungou fortemente, mas não conseguia fazer o ar entrar por seu nariz.

Através da névoa e confusão, lembrou-se da única coisa que tinha que fazer, acima de tudo.

— Sam, — ela murmurou. — Tenho que encontrar Sam. Eles vão matá-lo. — Ela afundou ainda mais na cama, enquanto o quarto esmaecia ao seu redor.

— Estou aqui, Sophie.

— Sam? — Não, aquele era o cara que se parecia com ele. Ela balançou a cabeça. — Não, Sam K-Kelly. Tenho que encontrá-lo. É importante. Eles vão me matar também. Meu bebê. — Seus dentes batiam até a mandíbula doer.

Por que não podia se recompor? Por que sentia-se tão incoerente e sombria? O quarto girava loucamente ao seu redor, como se estivesse presa em alguma roda-gigante do inferno. Seu estômago deu um nó e ferveu. A dor pavorosa estava fazendo-a ter náuseas, e a última coisa que queria fazer era vomitar.

Nada fazia sentido. Podia ouvir-se murmurando, mas não conseguia sequer lembrar sobre o que.

Sam. Isso ela se lembrava. Era sua única constante.

Tentou dizer o nome dele novamente, mas encontrou seus lábios duros e não cooperativos. Seus cílios amontoaram sobre seus olhos, e tentou esfregá-los para que pudesse enxergar.

A escuridão lotou até que o quarto ficou tão sombrio que ela não conseguia sequer ver os homens. Doía combater a escuridão crescente. E por isso ela desistiu.

Sam ficou olhando enquanto ela flutuava em direção a inconsciência novamente. Olhou para Garrett e Donovan e viu os dois olhando através dele.

— Que diabos está acontecendo, afinal? — Garrett disse finalmente.

Sam passou a mão pelos cabelos e envolveu a parte detrás de seu pescoço.

— Cristo, eu não sei.

— Quem é ela? — Donovan perguntou.

Antes que pudesse responder, os olhos de Garrett se estreitaram, e ele os fixou entre Sophie e Sam.

— É a garota com a qual você estava envolvido no México, não é? —Sam ignorou Garrett e ajeitou as cobertas sobre Sophie, para que ficasse aquecida, mas teve o cuidado de deixar o braço descoberto.O sangue ainda escorrendo do ferimento   o perturbava.

Inferno, a coisa toda o perturbava.

— Que diabos ela quis dizer com a necessidade de avisá-lo? — Donovan perguntou. — Isso cheira mal, Sam. Você deveria chamar Sean e uma ambulância. Deixe-o lidar com as coisas.

Sam balançou a cabeça. — Não chamaremos a polícia. Não até que eu saiba que diabos aconteceu aqui.

Seu olhar caiu para a barriga dela. Afastou um pouco as cobertas, e não conseguiu se controlar, deslizou a palma da mão sobre ela. Sua pele estava fria ao toque, mas a pequena bola dura de seu estômago o fascinava.

— Oh inferno, — Garrett murmurou. — Oh inferno, não.

— O quê? — Donovan perguntou.

Sam sabia. Engoliu em seco e olhou para seus irmãos. — Pode ser meu. Não terei certeza até que eu possa falar com ela, mas estávamos juntos cinco meses atrás. Ela parece ter cerca de cinco meses de gestação.

— Puta merda, — Donovan explodiu.

—Estou com Van. Isto fede como um gambá atropelado, — Garrett disse severamente.

Sam apontou para Sophie.

— Preciso fazer o curativo enquanto ela está inconsciente. Preciso de você para me ajudar com o braço dela. Se a bala ainda estiver lá, não teremos escolha, exceto levá-la ao hospital.

Olhou para o ferimento. Com bala ou sem, precisava levar pontos. Não sabia como diabos poderia mantê-la fora do hospital ou por que diabos deveria.

Donovan deslizou em cima da cama, do outro lado de Sophie, sua expressão sombria.

— Parece que alguém bateu muito nela, tentou sufocá-la, e depois atirou. Não necessariamente nessa ordem.

A raiva apertou a mandíbula de Sam. — Sim, é o que parece. Não é de espantar que ela fugiu.

— Se ela fugiu, — Garrett disse acidamente.

Sam lançou-lhe um olhar irritado. — O que isso deveria significar?

— Acho que é muito estranho que ela apareça semiafogada e espancada, com um ferimento de bala, falando alguma merda sobre ter que avisá-lo. Onde diabos ela esteve por cinco meses, se você estava tão quente e grudado com ela? Ela deveria saber que você poderia protegê-la.

— Então o que você está dizendo? — Sam perguntou calmamente. — Acha que ela se surrou, atirou em si mesma, então se atirou no lago, quando está grávida, em um elaborado esquema para chegar a mim? — Garrett teve a graça de parecer um pouco envergonhado.

— Olhe, eu sei que você é um bastardo desconfiado. Eu estou tendo a minha parte desse fodido momento, mas até eu ouvir o que ela tem a dizer, estou evitando julgar.

— Boa ideia, — Donovan murmurou enquanto examinava o ferimento de Sophie. — Parece um ferimento limpo. Não acertou o osso! Somente a pele foi ferida. Deve doer como o inferno e provavelmente estará infectado depois que passou tanto tempo no lago, mas não acho que seja muito sério. Eu estaria mais preocupado com sua gravidez.

A declaração de Donovan bateu em Sam como um martelo. Sim, ele viu sua barriga. Tratava o assunto com calma e naturalidade, o que dizia a seus irmãos que o bebê poderia ser dele. Mas até agora ele realmente não tinha se aprofundado na ideia.

Havia um bebê. Poderia ser seu. Ele poderia ser pai.

Puta merda.

Discussão sobre a posição de expectador. Isto não era algo que ele contemplou em seus sonhos. Deixou para seus irmãos se estabelecerem e terem filhos. Imaginou que Ethan e Rachel iriam ter um casal antes que ele jamais considerasse a ideia de se estabelecer e fornecer netos para mamãe e papai.

Fez uma careta. Inferno Santo. Mamãe ficaria muito preocupada sobre isso.

Ele tinha 36 anos. Bem além da idade que a maioria dos homens pensava em ter família, não é? Mas assumiu a maldita certeza que, se, e quando, chegasse a fazê-lo, seria em seus termos, de preferência com uma mulher com a qual estivesse casado e após cuidadosa consideração. Bebês e sua carreira não faziam exatamente uma boa combinação.

— Você está bem, cara? — Donovan perguntou baixinho.

Ele estava bem? Sentia-se como se alguém tivesse puxado o tapete de debaixo dele. Como se alguém tivesse subitamente mudado todas as regras e alterado todo o curso de sua vida.

Okay, soava dramático, mas inferno, era assim! Um bebê mudava tudo. E então havia Sophie. Por que ela desapareceu? Não, ele não fizera nenhuma promessa. Não estava em posição de oferecer-lhe alguma coisa. Nem mesmo a sua verdadeira identidade...

— Porra, — ele resmungou.

Garrett olhou atentamente para ele.

— Como diabos ela sabia onde me encontrar? Ela me conhecia como Sam. Apenas Sam. Um cara que frequentava o bar onde ela trabalhava. Não Sam Kelly. Eu poderia ser de qualquer lugar, por tudo que ela sabia.

— Eu diria que você provavelmente se entregou em algumas conversas pesadas no travesseiro — Garrett disse secamente.

Sam balançou a cabeça.

— Você acha que sou estúpido? Além disso, falar não era exatamente o que fazíamos quando estávamos sozinhos.

Donovan riu, mas depois ficou rapidamente sério.

— Então o que diabos fazemos? É uma pequena coincidência que a garota com quem você teve um caso, enquanto disfarçado, simplesmente aparece, parecendo a morte requentada, resmungando terríveis advertências sobre pessoas tentando matá-lo, quando na verdade ela não deveria saber nada sobre você. E certamente não onde você vive.

— Isso quase cobre tudo, — Sam disse enquanto olhava para a forma imóvel de Sophie.

O lençol sobre sua barriga se mexeu. Apenas uma contração pequena que ele quase perdeu. Perplexo, inclinou-se e afastou o lençol. A blusa encharcada tinha levantado, expondo a expansão suave de seu estômago.

Lembrou-se de tocá-la, correndo as mãos sobre seu corpo exuberante, que certamente mudou desde a última vez que fizeram amor.

Colocou a mão do lado da barriga, só para sentir o minúsculo impacto contra a palma da mão. Ele olhou, assombrado. Era o bebê.

— Imagino que a pequena criança está bem, — Garrett murmurou.

Sam não conseguia formar uma resposta. Estava muito confuso. Era sua, esta criança que sentia contra os dedos?

— Você deve tirar essas roupas molhadas dela, — Donovan ofereceu. — Você e Garrett também precisam de roupas secas. Vou aquecer uma sopa e descobrir se temos antibióticos em nosso estoque de medicamentos. Ela necessitará de algo mais forte do que o ibuprofeno[2] para a dor. Para não mencionar que não tenho certeza se ela pode tomar, estando grávida.

Sam se mexeu e se sacudiu de seu transe. Então fez uma careta. Ninguém, além dele iria vê-la nua. Concentrou sua carranca em Garrett, até que ele finalmente recebeu a mensagem e caminhou em direção à porta, murmurando baixinho todo o caminho.

— Pegue a sopa e encontre todos os medicamentos que puder, — Sam disse a Donovan. — Depois que eu tirar suas roupas e colocá-la em algo quente,  vou avaliar seus ferimentos. Quando ela acordar e puder nos dizer o que diabos está acontecendo e por que não quer que a levemos para o hospital, descobriremos o que fazer a seguir.

Donovan assentiu e saiu do quarto depois de Garrett.

Sam voltou sua atenção para a mulher deitada em sua cama. Sua mulher. Seu filho?

Balançou a cabeça em negação. Ela não era dele.

Pegou uma mecha de cabelo molhado, puxando-a cuidadosamente e afastando de seu pescoço.

— Onde você estava, Sophie? — perguntou baixinho. — Que segredos você está escondendo e quem diabos quer você morta?

Raiva súbita rolou através de seu corpo. Quem a queria morta também tentou matar seu filho. Seu filho.

Tantas perguntas zumbiam ao redor de sua cabeça, estava prestes a enlouquecer. Se não cuidasse dela, ela não iria sobreviver para dar-lhe respostas. Ela ainda tremia, mesmo em seu estado inconsciente. Precisava tirar sua roupa molhada e deixá-la aquecida.

Ele tirou sua própria roupa e não perdeu tempo em vestir algo seco. Então voltou para Sophie.

Cuidadosamente, retirou as camadas encharcadas de seu corpo, dando um cuidado especial para seus ferimentos. Uma variedade de contusões pontilhava seu corpo, e sua mandíbula apertava enquanto estudava as impressões digitais escuras no pescoço dela.

Seus mamilos se enrugaram e se mantiveram eretos enquanto arrepios de frio percorriam seu corpo. Ela era magra e curvilínea, exceto pelo monte de sua barriga. Sam olhou descaradamente sua forma nua, hipnotizado pelas mudanças que a gravidez forjara.

Ela parecia muito pequena e muito magra. Ela era pequena para começar, mas a gravidez não devia preencher uma mulher? Torná-la mais curvilínea? Ele certamente ouviu sua mãe queixar-se de ganhar um bom tamanho a cada uma de suas gestações e como seus quadris se expandiram exponencialmente. Além de seus mamilos terem escurecido, a única mudança em Sophie era o aumento em sua barriga.

— O bebê é meu, Sophie? — ele sussurrou. — Por que você partiu?

Escorregou cuidadosamente uma das suas camisas de flanela ao redor dela e a abotoou sobre as bandagens que Donovan prendeu no ferimento. Ele se preocupava com o sangue que escoava através da gaze. Qualquer perda de sangue não poderia ser bom para uma mulher grávida, não importa como o ferimento fosse pequeno. E depois havia o fato de ela obviamente ter ficado no lago por um tempo. Sua pele ainda estava fria ao toque e os lábios tinham uma coloração azulada que ele não gostava de jeito nenhum.

Tantas perguntas. A única coisa inteligente seria chamar Sean e levar Sophie para o hospital. Ela estava machucada e grávida. Mas cada vez que ele olhava para o telefone, lembrava-se do medo em seus olhos e a convicção em suas palavras.

Ela certamente não estava mentindo sobre uma ameaça. Se era para ela, ele ou os dois, ele não podia se dar ao luxo de arriscar a vida dela e de seu filho.

Arrastou-se para a cama, empilhando mais cobertores sobre seu corpo frio. Deitou-se ao seu lado e puxou-a com cuidado contra ele, dando-lhe o benefício de sua temperatura corporal. Então, puxou as cobertas apertadas em torno deles, selando-os no calor.

Aos poucos ela parou de tremer e pareceu acalmar-se. Seus lábios se entreabriram contra o peito dele, e um suspiro ofegante escapou. Ela tentou se aproximar, mas choramingou quando seu ombro colidiu contra o corpo dele.

— Cuidado, querida, — ele sussurrou e puxou sua mão para baixo, entre seus corpos, para que ele pudesse deixá-la imóvel.

— F-frio, — ela murmurou inquieta contra a sua pele.

— Eu sei. Você vai se aquecer. Apenas fique quietinha para não se machucar.

— S-Sam? É realmente você ou ainda estou sonhando?

Ele não tinha certeza do que fazer com sua confusão. Choque e frio, para não mencionar um ferimento a bala, poderiam deixar uma pessoa bem "apagada". A suspeita insinuou em sua mente, enquanto ele queria descontar tudo isso como uma coincidência bizarra.

Só um idiota ignorava o óbvio. Coincidência, meu rabo.

— Sou eu, Sophie. Estou aqui. Você foi ferida. Preciso levá-la a um hospital. Você precisa se certificar que seu bebê está bem.

Esforçou-se ao máximo para não interrogá-la ali mesmo. Só o conhecimento de como estava frágil o conteve.

Ela balançou a cabeça contra ele, então gemeu baixinho.

— Não se mexa. Isso só vai machucar mais, — ele advertiu.

—Não podemos ir para o hospital, — disse ela com voz rouca. — Ele me encontrará. — A testa de Sam franziu e ele olhou para o seu rosto tão firmemente pressionado contra o peito dele.

— Quem, Sophie? Quem vai encontrá-la?

— Meu pai, seus homens, — ela corrigiu.

Quando essa porra de declaração saiu, deixou-o estupefato. Sam olhou para baixo enquanto suas pálpebras fechavam mais uma vez. Ele queria bater a cabeça em frustração, e, em seguida, imediatamente sentiu-se culpado quando se lembrou que a mulher em seus braços, obviamente, tivera um dia ou semana de muita merda por causa desse assunto.

— Sophie. — Ele esperou por uma resposta. — Sophie, — disse ele um pouco mais alto. — Querida, acorde. Preciso que você fale comigo.

Ela gemeu e enterrou o rosto em seu peito, um gesto que lhe disse mais do que palavras que queria que ele calasse a boca e fosse embora.

Isto estava deixando-o louco. Van estaria de volta a qualquer momento com o remédio e tudo o que conseguisse desenterrar. Com esse pensamento, Sam verificou as cobertas para se certificar que ela estava protegida contra quaisquer olhares indiscretos. Não que Van fosse um idiota, mas alôo, uma mulher seminua atrairia os olhos de qualquer homem com sangue nas veias. Não importaria se ela estivesse morta.

Suspirou quando ela ficou mole novamente. Porra. Este não era o seu dia, sua semana ou até mesmo seu mês. Realmente pensou apenas uma hora atrás, que sentia falta dela? Era quase como se ele a conjurasse, e por mais que tivesse muitas fantasias sobre ela estar em sua cama novamente, isso certamente não era o que ele tivera em mente.

Donovan bateu uma vez, então, sem esperar resposta, enfiou a cabeça pela porta. Vendo Sam e Sophie, entrou, um kit médico em uma mão e uma seringa com uma agulha tampada na outra.

— Que diabos é isso? — Sam perguntou quando Donovan aproximou-se da cama.

— Os antibióticos. Tenho-o para o kit de campo.

— Como você sabe que é seguro dar isso a uma mulher grávida?

— A Internet é uma coisa útil, — Donovan disse calmamente. — Incrível o que se pode encontrar. Eu nem sei porque as pessoas vão aos médicos ainda.

— Eu tenho que confiar a segurança do meu filho em alguns sites da web que você pesquisou no Google? — Sam perguntou, incrédulo.

— Bem, sim. Você tem uma ideia melhor? Eu ainda voto que chamemos Sean e a levemos rapidamente para o hospital. E você sabe que estou certo.

Sam suspirou, então gesticulou para Donovan se aproximar com o material. Ele também carregava uma variedade de ataduras e pomadas, juntamente com um kit de sutura.

— Pare, não deixarei você suturá-la. Isso é loucura.

— Então, estará deixando seu braço apodrecer de infecção.

— Porra, Van. Você é um maldito filho da puta. — Naquele momento Donovan esboçou um leve sorriso. — Você e Garrett são tão fáceis, juro. Acho que ambos nasceram com espigas de milho enfiadas na bunda. Fui treinado como médico, lembra? Posso fazer todos os tipos de coisas incríveis. Pilotar aviões e helicópteros, e posso costurar membros. Eles podem apodrecer mais tarde, mas cara, não é problema meu.

— Bastardo irreverente, — Sam murmurou. — Você passou muito tempo em torno de Joe.

Donovan sorriu novamente. — Joe sempre foi o meu irmão favorito.

Sam acenou para ele com impaciência. — Dê-lhe a injeção, mas eu quero dar uma olhada em seu braço e na lateral de seu corpo mais uma vez antes de deixá-lo solto com uma agulha e linha.

— Você faz parecer que estou prestes a bordar uma fronha, — Donovan disse secamente.

Donovan destampou a seringa e se moveu para o lado oposto da cama. Olhou pedindo desculpas a Sam enquanto movia as cobertas para o lado para desnudar a curva do quadril de Sophie. Sam fez uma careta, mas segurou sua língua, enquanto Donovan, eficiente, limpava a pele lisa acima de suas nádegas e, em seguida, mergulhava a agulha em sua carne.

Ela se encolheu e deixou escapar um grito assustado. Enrolou as mãos na camisa de Sam e tremeu, mas seus olhos não reabriram. Sam instintivamente puxou-a mais perto, murmurando palavras tranquilizadoras em seu ouvido. Mas olhou com descontentamento para seu irmão, enquanto ele retirava a agulha e tampava a seringa.

Donovan revirou os olhos e moveu-se para a cama para começar a abrir o colarinho da camisa de flanela que ela usava. Quando chegou na atadura em seu braço, cuidadosamente a puxou. A atadura saiu vermelho brilhante, e Donovan franziu a testa enquanto limpava o sangue fresco que escorria do ferimento.

— Ela precisa de pontos, Sam. Sei que você não gosta, mas se não vai fazer a coisa certa e levá-la ao hospital, eu preciso dar pontos. Posso dar-lhe uma anestesia local para entorpecê-la. Não vai ser tão bom quanto o que lhe dariam na Sala de Emergência, mas se ela ficar inconsciente, não vai sentir. — Sam xingou baixinho, fechou os olhos e soltou um som resignado.

— Okay, faça. Mas seja rápido. Não quero fazer isso pior que o necessário.

Sam enfiou o rosto dela em seu pescoço, depois alisou a mão em seu braço até alcançar o local onde Donovan estava preparando. Era ridículo que ele estivesse agindo como uma mulher nervosa por isso. Ele remendou a sua quota de ferimentos sangrentos no campo de batalha. Viu coisas que fariam até mesmo o soldado mais endurecido empalidecer. Mas a visão de Sophie, grávida e vulnerável em seus braços, enquanto seu irmão estava prestes a enfiar uma agulha através da pele dela, fez suas entranhas apertarem.

— Segure-a, — Donovan murmurou, enquanto se preparava para colocar o primeiro ponto. — Se ela se mexer, vai doer mais, e não quero fazer mais danos.

— Apenas faça, — Sam rosnou.

Ele enrolou Sophie apertada nele, oferecendo-lhe sua força e proteção. Quando a agulha perfurou sua pele, não tinha certeza sobre quem estava mais tenso, ele ou Sophie.

O rosto dela se contorceu e seus olhos se abriram alarmados. Ela parecia olhar através dele. Sua boca se abriu em um grito sem som, e então quando falou, sua voz saiu fraca e rouca.

— Por favor— ela implorou. — Não machuque meu bebê.

O estômago de Sam torceu, e até mesmo Donovan olhou para cima, seus olhos se estreitando.

— Que diabos? — Donovan murmurou.

— Acabe logo com isso, — Sam ordenou.

Ele se virou para Sophie e pressionou os lábios nos dela em um esforço para parar os gemidos que batiam nele como dardos.

— Shhh, Sophie, é Sam. Estou aqui. Nada vai machucá-la. Eu juro. Seu bebê está bem. Eu estou bem. Você entende?

— Sam, — ela falou arrastado. — Tenho que avisar Sam. Não é mais seguro. Fiquei longe, mas agora eles me acharam. Sam tem que saber.

Uma única lágrima arrastou-se por sua bochecha, e Sam beijou-a, saboreando o contato depois de tantos meses. Ele não ligava para o que Van pensava. Não se importava com o que ele via ou que ele diria a Garrett. Eles que se fodessem. Agora estava com sua mulher em seus braços. Seu filho. E queria saber quem diabos a ameaçou. De quem ela tinha tanto medo. E porque ela achava que tinha que protegê-lo.

Isso o deixou furioso.

— Você não terminou ainda? — Sam sibilou.

— Quase, — murmurou Donovan.

Donovan enfiou a agulha em sua carne para fazer os dois últimos pontos. Sam apenas orou para que ele se apressasse.

Sophie ficou tensa novamente e deixou escapar um soluço baixo. Sam queria gemer com ela.

— Ele vai ficar tão zangado, — disse ela com a voz fraca.

Ela estava balbuciando agora, vacilando com cada ponto, embora não lutasse. Parecia ter se resignado com o inferno que estava enfrentando. Sam só queria saber o que estava acontecendo dentro de sua mente febril.

— Ele vai me odiar. Ele nunca entenderá. Tenho que contar a verdade a ele. — Donovan concluiu a última sutura e lançou um olhar preocupado em direção a Sam. Sam não precisava de Donovan para dizer-lhe que aquilo era uma loucura. E ia além de bizarro. Havia alguma merda séria e estranha acontecendo.

A questão era, como Sophie estava envolvida? E se ela estava com problemas, por que diabos não o procurou antes?

Sua mão deslizou até tocar sua barriga, e ele sentiu o reconfortante remexer do bebê em seu ventre.

E se este era o seu filho, o que diabos isso significava para ele e Sophie agora?

 

Sophie finalmente estava quente. Não havia uma parte do seu corpo que não doesse, mas ela estava quente. Levou um momento em sua perplexidade para perceber que a fonte de seu calor vinha de outra pessoa.

Estudou a sensação do corpo contra o dela sem abrir os olhos. Forte. Musculoso.

Definitivamente masculino. E familiar.

Aconchegou-se mais profundamente na parede de seu peito e inalou profundamente. Conhecia aquele cheiro.

Ela o reconheceria em qualquer lugar.

Sam.

O braço dele se apertou em volta de sua cintura, forçando a barriga dela em sua virilha. Foi então que sentiu a vibração suave de seu bebê. Ofegante, ergueu-se, quase gritando de agonia quando seu braço protestou. Mas ela não se importou. Seu bebê havia se mexido.

Sentou-se na cama, as duas mãos espalmadas sobre a barriga, como se quisesse que o pequeno se movesse novamente. Quase desmaiou quando o reconfortante tamborilar de um ritmo bateu contra as palmas de suas mãos.

— Oh, graças a Deus, — ela sussurrou.

O alívio a percorreu e deixou-a fraca. Ela cedeu precariamente, braços fortes a pegaram, deslizando-a de volta no travesseiro. Olhou para os olhos azuis de Sam, e se esqueceu de respirar.

Estendeu a mão para tocar seu rosto, necessitando provar que ele estava realmente aqui.

— Sam. É você! — Ela conseguiu. Não sabia como. E não se importava. Mas estava aqui e segura com Sam. Ele a protegeria e protegeria o filho deles. Ele tinha que fazê-lo.

Ele estudou-a atentamente. Sua expressão era cautelosa, e seus lábios estavam em uma linha firme, nem sorriso, nem carranca.

— Sim, sou eu, Sophie. Como está se sentindo? Está com muita dor?

Ela estava muito chocada para registrar como se sentia. Ficou muito aliviada que seu bebê estava se mexendo, mas estava espantada que estivesse deitada na cama de Sam, em seus braços. Quantas noites ficara sozinha, sonhando em estar de volta nos braços dele?

Então o medo rolou através dela. A sucessão de memórias, tudo o que aconteceu nos últimos dias, veio para ela, lembrando-lhe que a vida de seu filho não valia a pena no momento.

— Há quanto tempo estou aqui? — ela perguntou enquanto lutava para sair das garras de Sam.

A dor subiu por seu braço e deixou-a ofegante. Ele a soltou, mas ajudou-a a sentar. Seu olhar caiu para a barriga dela e ela engoliu nervosamente. Ele não era estúpido. Juntou as coisas. Provavelmente já sabia. Mas havia muito mais que ele não sabia.

— Poucas horas, — disse ele em voz baixa. — Eu a pesquei do lago. Você entrou e saiu da consciência desde então. Assustou-se quando eu disse ao meu irmão para chamar uma ambulância. Você especificamente não queria um hospital ou a polícia. Pode me dizer por quê?

Ela desviou o olhar, mas ele trouxe seu queixo de volta com os dedos insistentes.

— Oh não, Sophie. Você e eu temos muito o que conversar. Começando com o que diabos aconteceu com você. Para onde diabos desapareceu há cinco meses atrás. Como sabia onde me encontrar e quem eu era. Por que sente a necessidade de me avisar. E o mais importante. A questão mais importante de todas. Você está grávida de um filho meu?

O sangue correu do rosto dela. Ele certamente não deixou de perguntar nada. Mas ele merecia respostas. Iria odiá-la, mas merecia saber a verdade. Sobre tudo.

Engoliu em seco, nervosa, e olhou para ele com o terror pesando sobre ela como duas toneladas de tijolos.

Os olhos dele se estreitaram, e ele roçou o polegar sobre seu rosto. Ela deveria ter achado o gesto reconfortante, mas era mais incitante que afetuoso.

Lambeu os lábios, em seguida, abriu a boca, mas nada saiu. Olhou para ele com horror enquanto lágrimas quentes escorriam por seu rosto. Agora que estava finalmente na frente dele, estava tão perto, que podia sentir seu calor envolvendo em torno dela, não conseguia dizer nada.

Sua expressão suavizou e seus dedos deslizaram em torno de seu queixo.

— Não tenha medo de mim, Sophie. Nunca a machucarei. Estou em território desconhecido aqui, então tenha paciência comigo, tudo bem? Preciso saber se você está carregando meu filho.

Enquanto ele falava, a outra mão desceu para sua barriga, e ele envolveu a curva arredondada. O bebê vibrou e chutou em resposta, e ela prendeu a respiração com a maravilha de sentir seu movimento depois de ficar imóvel por tanto tempo.

— Ela é sua, — disse Sophie, com o peito tão apertado que mal conseguia respirar.

Suas pupilas queimavam e suas narinas tremiam. Por um momento ele olhou para ela em silêncio, como se digerindo a declaração.

— Ela? — ele disse finalmente.

Sophie corou.

— Eu chamo de "ela". Não sei ao certo. Apenas um pressentimento. Não gosto de dizer “ele”.

— Mas você pode dizer neste momento, certo? Quero dizer, você já fez um ultrassom. Não puderam dizer-lhe o sexo?

Ela olhou para baixo. — Eu não fiz um ultrassom.

Ele trouxe seu queixo para cima novamente, e franziu a testa.

— Mas você foi ao médico.

Ela balançou a cabeça. — É muito perigoso.

Sua boca torceu em uma curva apertada. Ele continuou olhando para ela com aqueles olhos azuis intensos.

— Mas ela é minha.

— Sim. Ela é sua. Nenhuma dúvida sobre isso.

— Entendi.

Ele parecia calmo o suficiente, mas ela podia sentir a agitação sob a expressão aparentemente calma.

— E só agora você está de volta, para me contar.

Ela quase riu. Teria rido se não estivesse tão certa que acabaria em um ataque de histeria. Contar a ele. Como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Amargura, afiada e rápida, brotou em seu peito.

— Contar a você? — Ela riu então. Simplesmente não podia se controlar. Como previsto, terminou com um som alto e estridente que não foi nada agradável. — Então, como eu poderia lhe contar, Sam? Você saiu daquele quarto de hotel depois de dizer que eu não iria vê-lo novamente. — Os olhos dele se estreitaram novamente, e brilhavam perigosamente.

— E ainda assim você não teve nenhum problema em me encontrar. Obviamente, sabia onde eu estava o tempo todo, que é mais do que posso dizer que eu sabia sobre você. Como é Sophie? Quem diabos é você e o que está jogando?

Com que rapidez suas perguntas transformaram-se em acusações.

Ela rolou, preparando-se para quando o seu braço ferido recebesse o peso. Lutou para conseguir ficar de pé sobre a beirada da cama e no chão. Levantou-se, e a camisa de flanela caiu até os joelhos. Isso era bom, já que seu bumbum estava nu.

Olhou em volta procurando suas roupas, mesmo enquanto sua mente apenas tentava processar tudo que ela precisava dizer.

— Vou fazer isso rápido e fácil, — disse ela com uma voz amarga. — Alguém quer me ver morta, ou irão me matar, logo que consigam o que querem de mim. Provavelmente querem você morto também, mas foi mantido vivo porque você é a isca. Fiquei afastada por esse motivo. Mas chegaram muito perto, e eu não poderia ter uma chance de ficar à frente deles por mais tempo. Certamente não sou tão rápida ou tão brilhante como costumava ser.

Apontou para sua barriga em desgosto.

— A gravidez não só me deixou mais lenta, mas juro que suga todas as células do meu cérebro.

— Sophie, você precisa se acalmar, — Sam disse enquanto erguia as mãos de forma apaziguadora. — Volte e sente-se. Você não deve se levantar.

— Onde estão minhas roupas? — ela perguntou enquanto olhava ao redor. — Preciso de minhas roupas. — Sabia que parecia desesperada e irracional. Mas dane-se, precisava de algo para vestir, e precisava dar o fora daqui. Sam disse que ela estava aqui há várias horas. Tomas e companhia sabiam exatamente onde procurar por ela.

Seu olhar se iluminou sobre um par de calças de moletom, no canto, e abaixou-se para pegá-las. Quando se levantou, a dor percorreu seu braço, e ela oscilou como uma garota bêbada usando saltos altos. Sam estava lá para pegá-la, mas ela afastou-se e foi em direção a cama para que pudesse colocar a calça.

Eram muito grandes, mas ela não se importava. Eram quentes e secas. Assim que as colocou, levantou-se novamente e estendeu a mão para Sam, apoiando-se em seu braço. Ele olhou para ela em descrença, como se olhasse para uma mulher louca.

— Vamos lá, Sam. Temos que ir. Não podemos ficar aqui. Eles virão. Vão matá-lo. E a seus irmãos. Não sabia que você tinha irmãos. Desculpe. Eu não percebi. Pensei que eram só você e seus homens.

Seu pulso bateu dolorosamente nas têmporas, e seu queixo tremeu enquanto ela falava o resto. Não fazia nenhum sentido, e Sam só ficou lá, olhando para ela como se tivesse ficado louca.

Aproximou-se novamente e desta vez pegou a mão dele entre as dela. Ela puxou até a palma da mão repousar sobre sua barriga.

— Eles iam matá-la, Sam. Ele tinha uma faca. Disse que iria me abrir e deixá-la cair. Não posso deixar isso acontecer. Preciso de sua ajuda. Por favor. Você tem que me ajudar. — Sam olhou para ela com horror, em seguida, seu olhar caiu onde sua mão estava esticada em seu abdômen. Ele parecia tão chocado que ela parou por um momento e colocou os próprios braços em torno do estômago, prendendo a mão dele lá.

— Doce mãe de Deus, — Sam murmurou. Puxou sua mão e depois puxou-a nos braços.

Doeu demais, mas ela não se importava. Não protestou e não tentou se afastar. Queria absorvê-lo direito em sua alma. Finalmente sentia-se segura. Como se talvez, não estivesse tão sozinha.

Por apenas um momento ela ficou lá, mas a realidade foi se infiltrando, apesar de seu desejo de entrar na fantasia.

— Temos que ir, — ela sussurrou.

Ela se afastou, mas ele segurou-a firme.

— Solte-me, — protestou ela. — Temos que sair daqui, Sam. Seus irmãos. Eles têm que ir também. Eles vão matá-los.

Ele segurou seu braço bom, e com a outra mão segurou seu queixo, e segurou-a de modo que foi forçada a olhar para ele.

— Vamos deixar algumas coisas claras aqui, okay? Um, você não vai a lugar nenhum. Ponto! Dois, preciso de respostas, Sophie. Um monte de malditas respostas. Três, ninguém vai machucá-la ou ao meu filho. Quatro, se você sabia onde eu estava todo esse tempo, poderia muito bem ter vindo até a mim, no momento em que soube que estava em perigo.

Ela olhou para ele, incrédula. Então riu. Era tudo o que podia fazer. Ele estava tão determinado, e agia tal como um homem para tentar simplificar as coisas.

— Você não entendeu, Sam. Não posso ficar. Não vou colocar meu bebê em perigo, — disse ferozmente. — Mal consegui escapar do bastardo na noite passada. Ele atirou em mim. Teria matado o meu bebê. Eu não darei uma segunda chance a ele. Fiquei à frente dele durante os últimos cinco meses.

— E agora ele quer apanhar você, — Sam disse calmamente. — Sente-se, Sophie. Você e eu temos muito o que conversar. Quero resolver as coisas pessoais primeiro. Porque depois, quero meus irmãos aqui, quando você me contar toda essa outra merda. — A luta a deixou e a dor oprimiu seus sentidos. Ela cedeu na beirada da cama e deixou cair a cabeça, em derrota.

Sam se ajoelhou na frente dela e cuidadosamente colocou a mão sobre sua barriga.

— Por que você não me contou?

Ela olhou para ele novamente.

— Você não se comportou como um homem que queria saber. Você mentiu para mim sobre tudo a partir do momento que nos conhecemos.

— E ainda assim você sabe tudo sobre mim. Como é isso, Sophie? — ele perguntou com uma voz perigosamente baixa.

Ela olhou para ele teimosamente.

— Eu voltei por você, — disse ele, surpreendendo-a muito.

Ela franziu as sobrancelhas e franziu a testa duramente para ele. — Que estória é essa?

Ele passou a mão pelos cabelos e olhou rapidamente para longe.

— Eu estava lá encoberto. Não poderia contar nada, Sophie. Não poderia compartilhar mais nada de mim mesmo, do que compartilhei. Mas quando tudo acabou, eu voltei, mas você já tinha ido embora. Desapareceu. Eu procurei, e foi como se você não existisse. — Seu rosto aqueceu sob seu escrutínio, mas ela se recusou a se sentir culpada. Ela não tivera escolha, senão fugir e fugir muito. Passou os últimos cinco meses se escondendo. Tudo porque ela o ajudou. E traiu seu pai no processo.

— Olhe para mim e me diga que ela é minha, — Sam disse ferozmente. — Eu tenho que saber. Não me engane a esse respeito.

Ela levantou o olhar até que olhou para ele diretamente. Deixou a calma invadi-la porque não tinha nada a esconder dele quanto a isso. Oh, ela tinha muitos segredos, mas este, a sua consciência estava limpa.

— Ela é sua. Não houve mais ninguém, Sam. Não por um longo tempo.

Era alívio o que ela viu em seus olhos? Arrependimento? Alegria! Talvez uma mistura de todos os três? Era difícil dizer.

Por apenas um momento, seu foco mudou para a barriga dela. Ele espalhou o material da camisa apertada sobre seu estômago e deslizou os dedos sobre cada centímetro, estudando a curva e o recuo raso do seu umbigo.

— Não consigo acreditar, — disse ele com voz rouca. — Eu  vou ser pai. — Ela começou a empurrar os dedos em seu cabelo, mas os trouxe de volta. Havia tanta coisa a resolver entre eles. E talvez não houvesse nada para resolver. Ela foi uma aventura para ele, ou pensou que foi, mas ele disse que voltou por ela. Ousaria acreditar nele? Um homem dizia muitas coisas para escapar quando o seu traseiro estava no fogo.

Mas ele não lhe fizera nenhuma promessa, e ela certamente escondeu muito dele. Tantos segredos. Então, mais traição. Seria muito mais fácil apenas avisá-lo do perigo iminente para ele e sua família e ir embora.

Como se sentisse seu desejo súbito de fugir, sua mão pressionou sua barriga, depois se levantou e pegou a mão dela na sua.

— Podemos falar sobre nós mais tarde, — disse ele em voz baixa. — Agora precisamos conversar sobre quem diabos está tentando matá-la e por que você, eu e minha família estamos em perigo. E não deixaremos meus irmãos fora desta conversa, pois dependerei deles para ajudar a salvar nossos traseiros.

 

Uma miríade de emoções tremulou no rosto de Sophie. Medo, indecisão, dor e cansaço profundo. Deveria estar na cama, descansando, mas estava tão nervosa como um grilo, e parecia que iria fugir se ele desviasse o olhar um segundo sequer.

Sam pediu que ela voltasse para a cama. Afofou os travesseiros e puxou as cobertas sobre seu corpo até que ela se sentou como uma rainha que presidia seus súditos. Só que ela parecia pequena e frágil, em vez de majestosa.

Ele ergueu um dedo enquanto olhava para ela.

— Não se mexa. Nem mesmo um músculo. Estarei de volta em um minuto com meus irmãos.

Uma onda repentina de medo nos olhos dela fez o seu intestino apertar. As mãos dela foram para a barriga, e ela esfregou em um círculo apertado. Ele não tinha certeza de quem ela estava tentando tranquilizar. O bebê ou a si mesma.

Era tudo o que poderia fazer para não se inclinar e beijá-la. Para dizer a ela que estaria tudo bem, que cuidaria dela e do bebê deles.

Havia muito indefinido entre eles, e o mal-estar na barriga continuou a crescer em proporção direta com a suspeita que criou raízes em sua mente.

Quando teve certeza que ela não iria pular da cama, virou-se e caminhou para a porta. Inclinou-se para fora e não viu Van ou Garrett, mas podia ouvi-los na cozinha. Com uma rápida olhada em Sophie e uma diretiva não dita para ela ficar quieta, apressou-se para alcançar seus irmãos.

Donovan estava mexendo algo em uma caneca, enquanto Garrett estava ao lado, de braços cruzados sobre o peito largo, uma típica carranca em seu rosto.

Ambos olharam para cima quando Sam entrou, e Donovan derrubou a colher em cima do balcão.

— Esquentei um pouco de caldo para ela. Encontrei alguns remédios para dor em nosso estoque e fiz o cruzamento para as contraindicações para gravidez.

Sam assentiu.

— Preciso de vocês dois no quarto. Sophie tem algumas coisas a me dizer que quero que vocês ouçam.

Garrett se afastou da parede e não fez nada para disfarçar seu interesse.

— Como o quê?

— Eu não sei ainda. Ela diz que está em perigo, que nós estamos em perigo. Já que dependo de você dois para cobrir meu traseiro, e vice-versa, achei que seria útil ouvirem o que ela tem a dizer.

— E se ela estiver mentindo? — Garrett perguntou. — Essa coisa toda não grita armação para você? Eu gostaria de saber como diabos ela sabia onde encontrá-lo. Pelo que você falou, ela era uma garçonete de rosto doce e olhos grandes que você abandonou quando recebemos a dica sobre o carregamento de armas de Mouton.

O queixo de Sam cerrou.

— Você está me irritando agora, Garrett. Você precisa voltar a foder. Você não disse nada que eu não esteja pensando, mas não vou acusá-la quando ela está machucada, assustada e grávida. Ela é uma mulher, pelo amor de Deus. Use sua cabeça.

— Um de nós tem que fazê-lo, — Garrett disse uniformemente. — A cabeça certa.

— Eu não vou dizer mais uma vez. Recue.

Os dois irmãos ficaram nariz com nariz. Os olhos de Garrett brilhavam com raiva e impaciência, mas Sam sabia que ele só queria respostas. Assim como ele. Esperançosamente, ele usaria um pouco mais de sutileza que Garrett.

Finalmente Garrett recuou.

Donovan limpou a garganta.

— Então, uh, nós vamos ser tios? — A questão casual fez Sam encolher-se. Então ele lentamente assentiu.

— Sim! O bebê é meu.

— Jesus, — Garrett murmurou.

— Ei cara, — disse Donovan de lábios franzidos. Ele reuniu o monte de suprimentos, então pegou a caneca no balcão. — Não tenho certeza do que você quer que eu diga, por isso vou ficar calado.

— Sim, — Sam retrucou. —Calar-se é bom.

— Você está tão certo que ela está dizendo a verdade, — disse Garrett com uma pitada de raiva em sua voz.

Sam parou no caminho de volta para o quarto e virou-se. Olhou Garrett uniformemente.

— Não. Não estou dizendo isso. Estou, no entanto, abraçando a possibilidade muito real de que o bebê possa ser meu. Ela diz que é meu. Por enquanto, vou acreditar. E não vou deixar nada acontecer com meu filho.

Garrett esfregou a palma da mão sobre o rosto e balançou a cabeça.

— Sim, eu entendo, cara. Van e eu guardaremos suas costas. Você sabe disso.

Sam assentiu.

— Obrigado.

Ele se virou e voltou para o quarto. Sophie estava mal inclinada à direita, com os olhos semicerrados. Quando os ouviu entrar, assustou-se e abriu os olhos. Estremeceu e agarrou seu ombro com a mão livre.

— Cuidado, — Sam murmurou enquanto ele ia para ela. Olhou para Donovan. — Será que este medicamento para dor a nocauteou?

— Esse é o plano, — disse Donovan. — Temporariamente, enquanto ela precisa de algo mais forte. Então poderemos usar o ibuprofeno.

Sam fez uma careta, depois virou, se desculpando com Sophie.

— Precisamos conversar. Donovan vai lhe dar o medicamento depois. Então você poderá dormir por um bom tempo.

Ela balançou a cabeça, seus olhos ferozes.

— Não poderei dormir, Sam. Depois que eu disser o que você quer saber, terei que ir. Não posso ficar aqui. Já fiquei por muito tempo. Se você não vai comigo, não tenho escolha, além de fugir por própria conta.

Ele atirou a seus irmãos um olhar penetrante, mas não respondeu a declaração dela. Sentou-se na beirada da cama e fez sinal para seus irmãos ficarem confortáveis.

Donovan foi para a beirada da cama do outro lado de Sophie e olhou para ela, como se pedindo permissão. Ele poderia muito bem sequer estar lá, por toda a atenção que ela lhe prestou. Seu rosto estava pálido e tenso, e era óbvio que estava lutando para ficar consciente.

Garrett estava no final da cama, de braços cruzados sobre o peito, e olhava pensativamente para Sophie. Quando ela olhou para ele, ficou ainda mais pálida.

— Maldição, Garrett, — Sam murmurou. — Relaxe, pelo amor de Deus. — Garrett mudou de posição com um bufar irritado.

— Fale comigo, Sophie. Preciso que você colabore e me diga por que desapareceu. Preciso saber como sabia quem eu era e onde me encontrar, e por que as pessoas estão tentando matá-la, e por que você acha que eu e minha família estamos em perigo.

Ela atirou-lhe um olhar impaciente que sugeriu que não gostava do fato de ele estar questionando o que ela indicou como fato.

Então, ela olhou para suas mãos, e ele podia ver as dobras ficarem brancas enquanto ela torcia nervosamente os dedos. Respirou fundo e depois olhou para ele, os olhos quase desafiadores. Como se estivesse se preparando para a batalha.

— Meu pai era Alex Mouton.

— Que porra é essa?

Sophie saltou diante da explosão de Garrett. Até Donovan recuou e olhou para Sophie. Sam processava as informações com um sentimento de descrença. Apenas olhou para ela, imaginando o quanto ele se expôs e como estava ferrado.

Ela olhou para ele, seus lábios pressionados em uma linha apertada enquanto o esperava digerir a bomba.

Foi Donovan quem finalmente levou Sophie a continuar. Sam não era capaz de falar. Estava muito furioso. Sentia-se como o maior idiota do planeta.

— Okay, então Mouton é seu pai, — disse Donovan em voz firme. — Espere um minuto! Você disse era.

Os olhos dela arregalaram mais, e olhou para eles como se medindo se confiava o suficiente para dizer qualquer coisa.

— Só uma figura de linguagem.

— Ele a enviou até mim, não foi? — Sam perguntou antes que ela pudesse continuar.

O queixo dela foi para cima e seu olhar endureceu.

— Ele me enviou. Você bateu o radar dele no momento em que entrou na cidade. Ele queria informações.

As narinas de Sam dilataram.

— Pena que você falhou. Ou talvez você não fosse boa o suficiente para me fazer falar.

Ela estremeceu e desviou o olhar. Ele sentia-se como um bastardo chutando um filhote de cachorro, mas porra, ele estava puto.

— Ele não conseguiu nada de mim, — disse ela. — Mas realmente não precisava. Ele estava em cima de você logo depois que você entrou em seu território, mas pensou que era uma boa ideia eu ficar perto de você, caso deixasse cair qualquer informação que ele julgasse valiosa. Como acha que eu sabia onde encontrá-lo? Aqui, eu quero dizer. É por isso que você precisa entender o perigo que você e sua família estão correndo.

Havia muito mais que ela queria dizer. Sam percebia. Seus lábios tremiam, e ele viu o relance de seus dentes quando ela afundou-os em seu lábio inferior para reprimir o fluxo de palavras. Que diabos?

Ela brincou com ele desde o início. Seu pai era um negociante de armas e atualmente ocupava o segundo lugar na lista dos mais procurados pelo governo dos Estados Unidos. Ela alegava estar grávida de seu filho. Seu pai queria algo dela e estava usando o filho de Sam como influência, para não mencionar que Sam e toda a sua família estavam em perigo. E ela esperava que ele largasse tudo para protegê-la. Do quê?

Donovan atirou a Sam um olhar que disse claramente cale a boca. Era óbvio que ele estava pronto para explodir?

— Precisamos de cabeças claras aqui, — disse Donovan. — Sei que vocês dois têm uma estória, mas agora, isso não é tão importante quanto o motivo de alguém estar tentando matá-la, Sophie. Por que isso, Sophie? — Ele olhou fixamente para ela, mas sua expressão não era tão feroz quanto a de Garrett ou a que Sam sabia que deveria estar em seu próprio rosto.

— Você não está nos dizendo tudo.

Não, ela não estava. Sam podia ver as sombras em seus olhos. Ela estava se segurando por medo, mas de quem? Estaria com medo dele e de sua reação? Ou estava com medo do pai, e em caso afirmativo, o que diabos ela tinha feito para fazê-lo virar-se contra ela depois que ela se prostituiu por ele.

— Olha, vocês tem que saber que meu pai era um bastardo. Não é como se ele desse a sua carne e sangue passe livre. Eu vi minha oportunidade de escapar, e a peguei. Há pessoas não tão satisfeitas comigo por causa disso.

— E nós encaixamos onde? — Garrett perguntou.

Ela atirou-lhe um olhar desgostoso. — Vocês invadiram o território Mouton. Ferraram com os negócios da família. Você foi um alvo logo que apareceu, tentando marcar um acordo.

— Isso foi há cinco meses, — Sam apontou. — Por que agora?

Os lábios dela torceram. — Você era a isca. Eles estavam esperando que eu chegasse até você. Fiquei longe, enquanto pude. Mas estou ficando maior e mais desajeitada a cada dia. Em breve estarei completamente indefesa. Então eu vim aqui porque tinha certeza que você, pelo menos, protegeria seu filho.

Sam olhou para cima e fechou os olhos em frustração. — Então você ficou afastada, manteve o conhecimento do meu filho para si, mesmo estando ambos em perigo, e fez isso tudo para me proteger. — A raiva estourou em seus olhos como um sinal luminoso. Era uma mistura afiada de raiva, tristeza e ansiedade indefesa.

— Sabe o que mais? Vá se foder! — Ela olhou para os irmãos dele, incluindo-os em sua fúria. — Fodam-se todos.

Ela rolou para o lado, empurrando Donovan enquanto escorregava para o chão. Seus joelhos dobraram, e teria caído, se Donovan não tivesse se apressado para pegá-la.

Ainda assim, livrou-se dele e arrancou o braço de seu alcance. Um espasmo de dor empalideceu seu rosto, e seus olhos azuis ficaram pálidos.

Sam atravessou o quarto para cortar sua rota de fuga para a porta. Certificou-se que pegou seu braço não lesionado, o outro braço foi em volta da cintura para prendê-la contra ele.

Ela tentou empurrá-lo dali, mas ele segurou firme.

— Peque a injeção! —Ordenou a Donovan.

— Não! — Ela lutou mais forte até que ele temeu que iria se machucar mais. — Sam, você não pode me manter aqui. Eles vão me encontrar! Você está louco? Sei que você não se importa comigo, mas pelo amor de Deus, pense na sua filha. Seu bebê!

Ele manobrou-a para a cama e a dominou até que estivesse presa ao colchão. Lágrimas ficaram presas em seus olhos, mas nenhuma caiu, provavelmente retidas por pura determinação para não deixá-lo vê-la chorar.

Ele segurou-a severamente, olhando em seus olhos atormentados.

— Nesse momento, não dou a mínima para o que você fez no passado. Vamos deixar isso claro. Você era uma transa. Um caso. Você brincou comigo. Okay, tudo bem. Eu posso lidar com isso. Mas se esse é o meu filho, se há alguma chance de você estar carregando o meu bebê, você não vai a lugar algum. E eu protejo muito bem o que é meu.

A dor encheu os olhos dela, e mais uma vez, ele sentiu como se estivesse esmagando um inocente. Inocente! Porra, ela era filha de Alex Mouton.

— Eu não mereço morrer, Sam. Não importa o que você acha que eu fiz, eu não mereço morrer.

Suavizou suas mãos nos ombros dela enquanto Donovan se aproximava com a seringa. Apesar de sua raiva e choque, Sam suavizou os dedos sobre seu rosto, num gesto destinado a confortá-la.

— Você não vai morrer, Sophie.

Donovan deslizou a agulha em sua carne, e ela estremeceu de surpresa, o seu olhar chocado indo para Donovan. O pânico queimava em seus olhos azuis, e ela foi à loucura.

— Não! — ela gritou com voz rouca. — Deus, por favor, deixe-me ir. Por favor!

Suas súplicas quase desfizeram Sam. Até mesmo Garrett parecia desconcertado pelo desespero em seus gritos.

Sam se abaixou e puxou-a em seus braços. Segurou-a contra ele, enquanto ela lutava. Quando ela finalmente descobriu que não poderia vencê-lo, afundou na derrota, seus soluços ruidosos ecoando fortemente em todo o quarto.

— Jesus, — Donovan murmurou enquanto retirava a seringa. Ele a jogou com raiva dentro do saco e se virou, os ombros tensos.

Sam a agarrou, acariciando seus cabelos, oferecendo-lhe conforto, mesmo que fosse a última coisa que ele quisesse dar.

Havia várias peças faltando no quebra-cabeça. Ela não contou tudo a eles. Muito não fazia sentido, mas agora não era o momento de tentar arrancá-lo dela. Estava histérica, com dor, e logo estaria fora do ar quando o medicamento atingisse seu sistema.

E o mais importante, ele e seus irmãos teriam que agir rápido. Se tudo o que ela disse era verdade, se houvesse qualquer possibilidade de ela estar dizendo a verdade, teriam que bloquear toda a família.

Ele precisava contatar Sean. Precisava avisar Steele e Rio e suas equipes. Mamãe, papai e Rusty eram vulneráveis, assim como Ethan e Rachel. Todos podiam ser alvos.

Olhou para cima para encontrar Garrett olhando ferozmente para ele, e sabia que Garrett estava pensando as mesmas coisas que ele.

Sophie ficou completamente mole contra ele, e cuidadosamente a afastou para ver que ela finalmente se rendeu ao analgésico que Donovan injetou.

Seus olhos estavam inchados e sua pele estava manchada e vermelha de tanto chorar. Ela parecia delicada e frágil, mas debaixo da fachada enganosa, era uma mulher desonesta, que não teve pudores em executar as ordens de seu pai, um homem que era responsável por mais mortes que um monte de guerras.

E inferno, ela estava carregando o filho de Sam. O que significava que, gostando ou não, estaria ligada para sempre a ele por essa criança. Não importa o que ela fez no passado ou quais seus motivos agora, ele tinha que protegê-la e manter ela e seu filho, ou filha, vivos.

Cuidadosamente se desprendeu dela e fez com que ficasse confortavelmente deitada sobre os travesseiros. Puxou as cobertas sobre seu corpo e então se virou para seus irmãos.

— Vamos, — disse severamente. — Temos que agir rapidamente.

 

— Você acredita nela? — Garrett perguntou quando se reuniram na sala de estar. — Acredita em toda essa merda?

Garrett ainda tinha um olhar de desconforto após o episódio com Sophie, momentos antes, mas Sam tinha certeza que seu irmão não percebia o quanto sua angústia o afetou. Isso apenas enfurecia Garrett.

—Não importa se eu acredito nela ou não, temos que tratar isso como uma ameaça legítima. Seus ferimentos não são falsos e nem o fato que eu a puxei para fora do lago, quase morta.

— Eu concordo, — disse Donovan.

Garrett arfou, mas assentiu.

Sam olhou para Donovan primeiro.

— Eu quero que você entre em contato com Ethan. Alerte-o sobre o que está acontecendo. Certifique-se que ele mantenha seus ouvidos e olhos abertos para qualquer ameaça a ele e Rachel. E, pelo amor de Deus, diga-lhe para não voltar para casa. Ele poderia estar caminhando para uma armadilha. — Garrett assentiu em  concordância.

— Depois, quero que você ligue para Sean. Diga-lhe para se dirigir para a casa de mamãe e papai até que possamos chegar lá.

Ele olhou para Garrett.

— Precisamos dar uma olhada e ver se alguma coisa está lá fora. Não vou andar em plena luz do dia com Sophie quando eu não sei se alguém está lá fora esperando.

— Eu vou, — disse Garrett. — Você fica de olho em Sophie e fique com o rádio. Se houver algo lá fora, eu encontrarei.

Enquanto Donovan fazia seus telefonemas, Garrett escapou pelo túnel do porão, que ia até o lago, e Sam fez um reconhecimento passo a passo da casa, verificando qualquer ângulo possível que um atirador poderia usar.

O porão era sólido, quase tanto quanto o de uma fortaleza, como a sala de guerra no lote adjacente, mas só havia uma maneira de sair dele, se a casa fosse violada, e ele preferiria usá-lo como um último recurso.

No nível principal, as áreas problemáticas eram a cozinha, que tinha uma janela de frente para a área arborizada do outro lado da estrada em frente da casa, e o quarto de Sam, onde Sophie dormia. A janela era um convite aberto para que alguém atirasse no quarto.

Ele esperava que ela ainda estivesse sob a influência da medicação para dor. A última coisa que queria era que acordasse e quisesse fugir quando ele e seus irmãos ainda não tinham o âmbito completo da situação.

Cuidadosamente, ele passou os braços por baixo de seu corpo quente e levantou-a, centímetro por centímetro, prendendo a respiração quando ela se mexeu e aconchegou-se em seu peito.

— Sam, — ela murmurou em sua voz doce e sonolenta. Ele a ouviu falar assim tantas vezes, quando a acordava para fazer amor novamente.

Era uma compulsão deslizar os lábios sobre seu cabelo. Ainda estava úmido e emaranhado pela água do lago, mas ainda tinha o cheiro exclusivamente de Sophie.

Ele se irritou. Numa situação em que precisava estar no controle absoluto e completo de seu julgamento e emoções, ele decididamente... não estava.

Voltou para a sala, onde já tinha colocado cobertores e travesseiros no sofá. Deitou Sophie nas almofadas e acomodou seu braço para que nada o pressionasse.

Antes que fosse tentado a ficar, virou-se, recusando-se a olhá-la por mais tempo.

Donovan o encontrou a poucos passos de distância.

— Ethan não está feliz. Queria pegar o próximo avião para casa. Mas, ao mesmo tempo, não quer arrastar Rachel no meio de algo que ainda não entendemos.

— Ele não é estúpido. Fará o que for preciso para proteger Rachel.

— Sean está indo para a casa de mamãe e papai agora.

A voz de Garrett veio baixa e séria no rádio. Donovan e Sam congelaram enquanto ouviam.

— Sam, encontrei alguém. Acima de nós, em posição vertical, a oeste. Está cercado por uma rede de camuflagem. Praticamente invisível. Claramente em serviço de observação. É apenas ele. O resto do perímetro está limpo.

— Filho da puta, — Sam murmurou. — Você tem uma boa chance de atirar?

— Negativo. Árvore no meu caminho.

As narinas de Sam dilataram. Ninguém o caçava em seu próprio território.

— Mantenha sua posição. Vou atrás dele.

— Estou na mira. Se ele se mover eu o pego. Tenha cuidado, Sam. Esse cara parece ser um profissional.

Donovan encontrou o olhar de Sam com os olhos duros. — Você deve ficar aqui, Sam. Deixe-me ir atrás dele. Se Sophie acordar, ela vai precisar de você.

— Ela vai precisar mais de você, — disse Sam rapidamente — Você é o médico.

 Donovan assentiu, não argumentando, apesar de Sam saber que ele não estava feliz com a decisão.

Sam vestiu sua roupa especial de combate, sua mente focada no fato que havia uma ameaça lá fora, para sua família.

Perseguir sua presa era o que Sam fazia melhor. Era paciente e astuto. Uma vez passou seis horas se aproximando de um franco-atirador e levou-o para fora sem o inimigo, posicionado a apenas quinze metros de distância, nunca saber.

Isto era mais importante. Este homem representava uma ameaça a tudo que Sam tinha de mais querido do mundo. Seus irmãos. Sua família. E agora seu filho.

E Sophie. A voz sussurrou em seu ouvido, um lembrete que ele não queria.

Quando finalmente conseguiu o intruso em sua mira, ele apenas observou, avaliando a intenção do homem. Era um soldado ou um mercenário, e também era paciente. Seus movimentos eram comedidos. Observava a casa através de binóculos e ocasionalmente olhava a área ao redor. Procurando alguém a observá-lo.

Sam sorriu para si mesmo. O idiota nunca veria Garrett, a menos que Garrett quisesse.

Sem nenhum som, Sam desembainhou sua faca e arrastou-se para frente, imobilizando-se quando o vento parava ou seu alvo se movia.  Estava a três metros de distância e o homem ainda não havia detectado sua presença. Então o vento mudou, soprando do oeste. O homem virou a cabeça, as narinas se expandindo como se ele cheirasse Sam como um animal selvagem.

Antes que ele pudesse se virar, Sam estava sobre ele. A lâmina pressionada no pescoço manchado com tinta de camuflagem, e Sam sussurrou sua ordem perto da orelha do homem.

— Quem te mandou?

— Vá se ferrar!

O intruso torceu e tentou forçar sua arma entre ele e Sam. Sam fatiou, cortando a garganta do homem em um movimento rápido.

O silvo de ar escapando e o leve gorgolejo de sangue eram os únicos sons passando pela brisa.

— Bom trabalho, — disse Garrett no fone de ouvido de Sam.

Sam levantou o sinal de okay e, em seguida, sinalizou que cuidaria do corpo. Ele o deixaria lá para apodrecer, mas um, estava muito perto de sua casa e não queria sentir o cheiro do bastardo, e dois, seria uma dor de cabeça para Sean quando o corpo fosse descoberto.

Melhor desaparecer com ele para sempre.

Uma hora depois, voltou para casa para encontrar Garrett e Donovan esperando.

— Eu defini um perímetro de segurança em torno da casa, — disse Garrett. — Ninguém será capaz de mijar na direção desta casa sem o nosso conhecimento.

— Precisamos chamar Steele e Rio, — Sam disse enquanto olhava em direção ao sofá, onde Sophie ainda dormia. — Mouton cometeu o erro de pisar em nosso território. Levaremos a luta para ele. Desta vez, ele vai cair.

Garrett e Donovan balançaram a cabeça em concordância.

— Até que Steele e Rio cheguem aqui com suas equipes, ficaremos parados. Eu não quero Sean, ou mamãe e papai, envolvidos de alguma forma. Colocamos grandes alvos brilhantes nas nossas bundas e desafiamos os bastardos a vir e nos pegar.

— Foderemos  Alex Mounton, — rosnou Garrett.

— E Sophie? — Donovan perguntou.

Mais uma vez Sam olhou para seu corpo curvado no sofá.

— Ela ficará comigo. Não sairá de nossa vista.

 

Sophie lutava em seus sonhos. O problema era que ela estava consciente o suficiente para saber que estava apenas sonhando, mas não conseguia sair do mundo nebuloso do sono. O esgotamento a segurava com muita força em suas garras.

O assassino estava segurando-a enquanto lentamente esculpia uma linha em sua barriga. Ela sentiu a pele ceder. O horror a cobriu. Ela gritou, um grito gigante e silencioso. Não conseguia fazer seus lábios funcionarem, e sua boca estava seca como serragem.

Choramingos saiam de sua boca, e ela empurrou braços invisíveis para longe dela. Mas, ainda assim, sentiu a lâmina cortando mais perto de seu ventre.

— Sophie. Sophie!

A voz rouca a despertou do sono. Pânico gritava através de sua coluna vertebral. Deus, não estava sonhando. Ele estava aqui. Estava de pé sobre ela, pronto para matá-la.

Ela veio balançando. Seu punho conectou com o nariz dele, e ela sentiu a pressão satisfatória enquanto sua cabeça batia de volta.

— Filha da mãe!

O rosnado a fez rolar, apesar do grito de protesto de seu braço. Ela recuou, pronta para acertá-lo novamente, seu outro braço instintivamente sobre o ventre.

— Pelo amor de Deus, sou eu, Garrett. Você estava sonhando.

Ela piscou e olhou para o homem que se avultava ameaçadoramente sobre ela. Ele estava segurando o nariz, e sangue manchava seus dedos.

Ela não poderia sequer pedir desculpas. As palavras estavam presas na garganta, enquanto se lembrava do babaca que ele tinha sido até agora.

— Que diabos está acontecendo? — Donovan perguntou enquanto se aproximava. Olhou para Garrett com uma expressão de descrença. Então, inclinou a cabeça na direção de Sophie e arqueou uma sobrancelha em questionamento.

— Ela me golpeou, — disse Garrett.

Donovan sacudiu os ombros e os seus lábios se contraíram. Seus olhos brilhavam de alegria.

Garrett fez um som que saiu como um grunhido.

— Ela tem um bom soco.

— Olha, eu não quis atingi-lo, —disse, desgostosa. — Pensei que você fosse o idiota tentando matar meu bebê.

Apertou os braços em torno de si mesma e se recusou a olhar para eles. Os dois homens permaneceram em silêncio, e, finalmente, ela ouviu Garrett se afastar. Um momento depois, ouviu a torneira da cozinha sendo aberta.

— Onde está Sam? — ela perguntou, ainda sem olhar para Donovan.

— Fazendo outra ronda. Certificando-se que não teremos mais companhia.

— Ela o olhou então. — Mais? Eles já estão aqui? — Ela balançou a cabeça, limpando os restos do medicamento, sentindo-se entorpecida.

— Você me drogou, — disse, entredentes, enquanto se sentava na beirada do sofá.

Ele se afastou cautelosamente. A memória veio à tona, ela implorando e pedindo que a deixassem ir.

— Quem está lá fora? —ela perguntou.

Levantou-se cambaleando e amaldiçoou quando Donovan estendeu a mão para impedi-la de cair.

— Ei, você está bem? Talvez deva sentar-se novamente.

— Fique longe de mim, — ela murmurou enquanto o contornava.

Ele suspirou.

— Você estava com dor.

Ela mostrou os dentes.

— Quando é que Sam estará de volta? E você nunca respondeu à minha pergunta. Quem estava lá?

Garrett voltou da cozinha e fez uma careta em sua direção.

— Não sei quem estava lá fora. Ele não estava para conversa, — disse Donovan.

— Por que vocês dois não estão lá fora, com Sam? — ela perguntou. — E se algo acontecer com ele?

Garrett atirou a ela um olhar incrédulo.

— Nada vai acontecer com ele. Sam pode lidar com isso sozinho.

— Fácil para você dizer. Você está aqui.

— Você quer alguma coisa para comer? — Donovan perguntou.

Assustada, ela olhou para ele, tentando se lembrar da última vez em que tinha comido. Alimentado pela sugestão, seu estômago roncou, e ela começou a suar. Suas mãos tremiam.

— Sente-se, — Donovan disse suavemente. — Vou lhe trazer um pouco de sopa, certo?

Com um suspiro resignado, ela afundou de volta na almofada. Donovan foi para a cozinha, deixando-a com Garrett.

— Você sempre tem essa expressão em seu rosto? — ela perguntou.

Por um momento, sua carranca escorregou e ele pareceu assustado com a pergunta. Então fez uma careta, mas não respondeu. Ela deu de ombros e se recostou no sofá, fechando os olhos, cansada.

Seu coma induzido por drogas não tinha sido um bom substituto para uma noite de sono, e agora seu corpo estava se aproximando do desligamento. O cheiro de frango flutuou em seu nariz, e ela se mexeu, mas estava tão cansada, que não tinha certeza se conseguiria reunir forças para abrir os olhos e comer.

— Sophie.

Seus olhos se abriram para ver Sam ali, seu olhar perfurando-a. Ele sempre foi tão alto e musculoso? Ela passou muito tempo nua com ele, mas agora, vestido com uma camiseta preta e calças camufladas, ele parecia... feroz. Como um homem que ela não conhecia e com o qual não se sentia segura.

— Você precisa comer, — disse ele.

Foi então que viu a tigela na mão dele. Engoliu em seco, nervosa. Eles não tinham conversado, não disseram nada desde que ela deixou cair a bomba em cima dele. Deveria lhe dizer que o pai dela estava morto? Que ela o matou? Ele ainda acreditaria nela?

Seu estômago roncou novamente, e ela cobriu o nervosismo mudando de posição no sofá. Seu braço estava começando a doer ferozmente de novo, e apesar de sua raiva sobre o analgésico forçado, teria sido bom diminuir a dor novamente.

Limpou a garganta, odiando mostrar fraqueza. Foi forçada a mostrar força na frente de seu pai por tanto tempo que estava arraigado.

— Você tem algo para a dor? — ela perguntou. — Como uma pílula. Algo que não vá me nocautear.

As linhas na testa de Sam se aprofundaram.

— Claro! Aqui. — Entregou-lhe a tigela e deslizou a colher em torno do interior até que encostou em seu dedo. — Vou pegar alguns ibuprofeno. — Ela envolveu a tigela e deixou que o calor se espalhasse em suas mãos. Suspirou enquanto inalava e fechava os olhos para permitir que o vapor subisse mais em seu rosto. Cheirava como o céu.

Sam voltou com uma garrafa de plástico pequena e um copo de leite. Tirou alguns comprimidos e se sentou ao lado dela no sofá. Em seguida, levantou o leite.

Seu olhar caiu para a barriga.

— Para o bebê, — disse ele rispidamente.

Cuidadosamente colocou a tigela no colo, equilibrando-a com cuidado para que a sopa não derramasse.

Tocada pelo gesto, ela pegou o leite e os comprimidos e, em seguida, olhou para ele por cima da borda do copo enquanto engolia o remédio.

Era difícil avaliar o seu estado de espírito. Ele estava carrancudo, mas parecia que todos os Kelly gostavam de franzir as sobrancelhas.

Os olhos dele piscavam, e novamente ele olhou para sua barriga.

Ela esvaziou o copo e o colocou de lado antes de pegar a tigela novamente. Ele a deixava inquieta, olhando para ela enquanto tomava um gole da sopa. Estavam todos olhando para ela como se ela fosse algum inseto sob um microscópio, alguma espécie desconhecida.

Colher por colher, concentrou-se no líquido morno que revestia sua garganta até o estômago vazio. Quando terminou, Sam pegou a tigela, com suas mãos se tocando por apenas um instante.

Ele parou e ela olhou para os dedos dele, lembrando como deslizavam em seu corpo. Como ele tinha sido terno. Como tinha sido áspero. E exigente.

Afastou essas memórias, determinando que não tinham influência no aqui e agora.

Quem ela estava enganando? Ela apagaria o presente em um piscar de olhos, se pudesse simplesmente voltar a aqueles preciosos dias que passou em seus braços.

Não, ela não iria voltar. Ela desistiria de muita coisa, mas não de sua liberdade. Talvez tenha cometido um erro ao correr para Sam. Pensou que estava sem opções, mas talvez devesse ter apenas continuado a fugir.

Olhou em seus olhos, encontrando aquele olhar firme, com determinação de aço.

— O que faremos agora?

 

Sam puxou uma pequena câmera digital do bolso e virou a tela para Sophie.

— Reconhece?

Ela recuou, e seu estômago saltou. Jogou a cabeça para longe enquanto sua respiração soluçava de sua boca. O homem estava obviamente morto, um corte aberto na garganta.

— Você o reconhece?

Ela olhou para trás e cruzou os braços sobre a barriga. Então, assentiu.

— Foi ele quem ameaçou matar nosso bebê, — disse ela em voz baixa.

— Você não terá que se preocupar com ele novamente.

Ergueu o olhar para encontrar o de Sam. Havia raiva refletida no azul. Mas também havia frieza e ela estremeceu contra a violência dele.

— Você o matou?

Ele não hesitou.

— Sim.

Nem ela hesitou.

— Bom.

— Ele era um dos assassinos pessoais de seu pai, — disse Sam. Apertou um botão na câmera e depois a virou novamente para que ela pudesse ver.

Sim, ela sabia que seu pai exigia que seus homens tivessem o símbolo de sua lealdade marcada no braço. Era bárbaro e sem sentido, mas ele nunca teve escassez de homens dispostos a morrer por ele.

— Você precisa começar a falar, Sophie. Há um inferno de coisas que preciso saber. — Se ele estivesse com raiva, ela poderia lidar com isso. Raiva seria justificada. Mas a voz dele era fria.

Ele parecia interrogar um prisioneiro.

Estou grávida de sua filha. Ela queria gritar isso. Você não se lembra de como nós a fizemos?

— Eu não o traí, Sam, — ela disse ferozmente.

Seus lábios apertaram. Ele olhou para seus irmãos, que estavam em silêncio do outro lado da sala, e despediu-os com um aceno.

Assim que eles se foram, Sam se ergueu, como se não pudesse suportar sentar-se perto dela. Por um tempo ele se manteve de costas, e pesado silêncio caiu sobre a sala. Então ele se virou, seus olhos apertados.

— Então me diga, Sophie. O que exatamente você fez?

Ela se encolheu e isso a irritou. Sentia-se presa ao sofá, indefesa. Não podia suportar o peso de seu olhar por outro momento.

Suas mãos enrolaram sobre a borda do sofá, e ela se ergueu, ignorando a dor em seu braço.

— Sente-se, Sophie.

Ele não rosnou a ordem, mas era uma ordem, no entanto. O queixo dela subiu na sua melhor impressão de vá para o inferno.

Foi preciso coragem para ir até ele. Coragem para enfrentá-lo quando ele poderia facilmente virar-se e esmagá-la sem pensar.

Sentiu raiva de si mesma por se importar. Sentiu raiva por ser importante para ela. Fez o que tinha que fazer para sobreviver. Não deveria ter que se explicar para ninguém.

— Eu sabia que você tinha segredos, que não foi honesto comigo, — disse ela.

— Sim, eu suponho que você soubesse.

As palavras tropeçaram com uma pitada de sarcasmo. Ela ignorou-o e continuou, recusando-se a dar a luta que ele parecia querer.

— Eu sabia e eu entendi. Eu não me importava. Eu queria aqueles momentos com você, apesar de saber que quando tudo acabasse, você iria embora e eu deveria fingir não saber quem era você ou nunca esperar mais que aquilo que você me deu.

Seu pomo de Adão balançou enquanto ele engolia, e desviou o olhar como se estivesse desconfortável com a direção que a conversa tomou. Iria matá-lo admitir que ela o machucou? Alguma coisa feria este homem? Não estava tentando fazê-lo sentir-se culpado. Ela aceitou seu papel nessa mentira tão facilmente como aceitou o dele. Talvez tivesse se sentido diferente se nunca tivesse acreditado, nem por um momento, que as coisas eram honestas entre eles.

— Eu não o traí, — disse ela novamente.

Seu olhar levantou, e aqueles olhos azuis penetrantes pegaram os dela novamente. Desta vez havia uma dúvida genuína lá, em vez de acusação e descrença.

— Diga-me!

Doce alívio cantou em sua mente. O peso que pairava tão insuportavelmente sobre seus ombros suavizou, e ela esqueceu a dor no braço e no coração.

Com essas duas palavras, ele disse a ela que a ouviria.

— Eu já expliquei que meu pai me enviou a você. Ele queria que eu colhesse todas as informações que eu pudesse, de qualquer forma que precisasse.

— E você foi.

Ela fechou os olhos. Sabia como parecia ruim. Não iria pedir desculpas, porém, e não iria permitir que Sam a fizesse sentir vergonha de sua escolha.

— Você era minha melhor chance de escapar. Nunca tive intenção de fazer nada mais que deixar meu pai acreditar que eu estava fazendo o que ele queria. Mas eu vi você e o desejei mais do que eu queria a minha liberdade.

A cor se aprofundou nos olhos dele. Ficaram escuros e seu corpo ficou imóvel.

— Por que você queria sua liberdade? — perguntou suavemente.

Ela manteve o mesmo olhar, não traindo o surto de raiva que corria através de seu sangue.

— Eu o odiava.

A testa de Sam enrugou e ele franziu a testa.

— Por que?

— Você sabe que tipo de homem ele foi, não é?

— Mas o que ele fez para você, Sophie?

— Além de exigir que eu me prostituísse para ele? É importante? Eu acho que é ruim o suficiente. Você mesmo disse. Quem diabos faz isso? Que tipo de pai pede a filha para fazer isso?

Não era tudo, mas era tudo o que Sam precisava saber, e certamente era uma razão crível o suficiente para uma filha odiar seu pai.

— Lembra-se do bilhete, Sam? O que você recebeu naquela última manhã?

Ele assentiu.

— Fui eu quem o enviou. Fui eu que contei a você sobre o carregamento de armas, quando e de onde ele partiria.

Os olhos dele se arregalaram em choque e, em seguida, apertaram tão rapidamente. Seus lábios ficaram em uma linha apertada, e ele olhou desconfiado para ela.

Ela esfregou o peito, tentando em vão apagar a dor. Não, ele não confiava nela. Não podia culpá-lo, mas doía mesmo assim.

— Quer que eu lhe diga o que estava escrito nele?

Ela citou novamente o conteúdo em uma voz baixa e estável e nunca quebrou seu olhar. Ela não desviava o olhar, não lhe daria alguma razão para acreditar que estava mentindo. Palavra por palavra. Sabia de cor. Ela deveria saber. Ela digitou a nota, imprimiu no lobby do hotel e pagou ao recepcionista para entregá-la.

Sam passou a mão sobre o cabelo, desviou o olhar e depois voltou para ela, balançando a cabeça como se não pudesse acreditar.

— Por quê? Não estou entendendo. Porque, não bastava me dizer?

Ela tentou rir, mas sua garganta estava fechada.

— O que você teria feito, Sam? Se eu tivesse descarregado esse tipo de história sobre você, você teria acreditado em mim? Teria ficado com raiva, assim como está agora. Suspeitaria de qualquer informação que eu lhe desse sobre meu pai.

Ele assentiu e suspirou com tristeza o seu reconhecimento.

— Esperei tempo suficiente para você sair e então agarrei a minha oportunidade. Fui ajudada por dois funcionários da casa de meu pai que eram leais à minha mãe e, como resultado, a mim. Estou fugindo desde então.

— Quando descobriu que estava grávida?

Ela fechou os olhos, lembrando-se muito vivamente do medo e da alegria. O pânico de que não seria capaz de manter a si mesma ou a sua filha segura, enquanto a gestação evoluía.

— Não faz muito tempo, — disse com voz rouca. — Talvez se eu não estivesse tão ocupada deslizando de lugar para lugar, mantendo um passo à frente dos homens do meu pai, teria percebido que a fadiga e a fraqueza não eram devidas ao stress e ao medo. Quando notei que a minha calça estava apertada e eu não estava comendo bem, tentei me lembrar da última vez em que fiquei menstruada. Então eu soube.

— Aquela vez no chuveiro, — Sam murmurou.

Ela sorriu levemente.

— Sim...

— Por que você não me procurou imediatamente? Se estava em apuros e sabia onde me encontrar, por que não veio antes?

Se fosse assim tão fácil.

— Como eu disse, eu não sabia que estava grávida até seis semanas atrás...

— É a única razão pela qual você veio? Porque está grávida? — Ele soava acusador, e ela simplesmente olhou para ele. O que ele esperava?

— Em grande parte, sim, — disse ela, o queixo subindo.

Ela poderia ser tão agressiva quanto ele em qualquer dia da semana. Porra, mas estava cansada de ter de se defender.

— Este é o primeiro lugar que eles teriam procurado por mim. Provavelmente já estavam de olho em você há meses, esperando que eu me mostrasse. É a única razão pela qual você ainda está vivo. Meu pai tinha informações sobre a KGI. Por mais que ele não tivesse coragem de lançar um ataque total contra vocês aqui, ele teria feito o que fosse necessário para pegá-lo fora. Ele é um homem paciente quando se trata de vingança.

O franzido na testa de Sam se aprofundou.

— O que mudou então? Por que agora? — A suspeita explícita em sua voz bateu como um dardo envenenado. Sim, ela sabia que ele tinha o direito, mas isso estava começando a irritá-la seriamente.

— O que mudou é que o filho da puta me alcançou. O que mudou é que não estou tão rápida ou tão ágil como eu costumava ser. Estar grávida de cinco meses de sua filha muda muito, inclusive a minha capacidade de me cuidar e proteger-nos dos idiotas que meu tio manda.

— Tio?

Sam se apegou ao seu deslize, com os olhos afiados.

— Tio, pai, não importa. Eles são parceiros. De qualquer maneira eu traí os dois. Eles não vão me perdoar por isso.

— Fomos levados a acreditar que Tomas Mouton era um bode expiatório do seu pai e nada mais. Ele não tinha poder. Alex controlava todas as cordas e Tomas só ocupava espaço na organização de Mouton.

— Tenho certeza que é verdade. — De fato, era. Mas com seu pai morto, Tomas teria se aproveitado da oportunidade para assumir a rede. E sua primeira ordem de comando seria recuperar a chave que Sophie roubou e executá-la por sua traição à família Mouton.

Ela manteve essa informação enterrada, sem saber quanto deveria dizer a Sam sobre a chave ou o fato que ela matou o pai. Havia uma coisa com muita informação de uma só vez. Queria que Sam estivesse disposto a oferecer proteção a ela e sua filha, e não atirá-la para fora com um chute na bunda na primeira oportunidade.

— Sam, olhe para mim, —ela implorou suavemente.

Seu olhar levantou e encontrou os olhos dela. Ela se encolheu com a falta de emoção, mas engoliu seu orgulho.

— Eu sei o que parece. Sei que você tem o direito de suspeitar. Você acha que estou aqui, nesse momento, em alguma missão de averiguação para o meu pai, ou talvez para derrubá-lo, enquanto você dorme, porque quem iria imaginar que uma mulher grávida e ferida fosse perigosa, certo? — Seus lábios apertaram. Ele não se divertiu com a declaração. Ela queria chegar até ele, tocá-lo, mas estava com muito medo de sua rejeição, e se ele a rejeitasse, isso iria esmagá-la.

— Eu me arrisquei ao passar tanto tempo com você naquele hotel. Menti para meu pai e disse o que precisava dizer para não levantar suas suspeitas, porque eu queria ser capaz de retornar para você a cada noite. Eu sabia que você não estava me oferecendo o para sempre. Sabia que era uma aventura. Você não tem que me bater na cabeça com isso. Mas não sou a única que mentiu. Você também mentiu.

Inspirou várias vezes, equilibrando pelo nariz e recuperou o controle de suas emoções.

— Eu também sabia que quando eu lhe desse a informação sobre o negócio de armas, você iria embora sem olhar para trás e eu teria que agarrar a chance para escapar de meu pai. Então, sim, se você encarar dessa forma, eu usei você. Eu o usei para fugir de meu pai, mas nunca contei a ele uma maldita coisa sobre você. Eu não o traí. Ele sequer sabia de onde vazou a informação. Não, eu não o traí, Sam. Eu traí o meu pai. Por você. E por um inferno de um monte de outras pessoas que ele teria ferido.

— E agora ele está atrás de você. Pelo que, vingança?

Ela engoliu em seco e virou a cabeça. Vingança? Vingança soava pessoal. Tomas faria dela um exemplo. Um rito de passagem em seu novo papel de liderança. Ele queria lidar eficazmente com ela. Ela seria um exemplo para os outros, de como traidores eram despachados. O fato que ela era sua carne e sangue só levantava suas ações entre seus seguidores. Como seu pai, ele seria visto como um homem a não ser enfrentado. Mas o mais importante, ela segurava o sucesso desse império em suas mãos. E por isso, ele estaria disposto a arriscar tudo.

— Ele vai matara mim e a nossa filha assim que conseguir o que quer, — disse ela suavemente. —É por isso que eu tinha que finalmente chegar até você e esperar que me oferecesse sua proteção, não importando seus sentimentos por mim. Não posso fazer isso sozinha por mais tempo. Eu quase morri. Nossa filha quase morreu. Não estou mais disposta a correr o risco de ficar sozinha, mesmo que isso signifique trazer problemas à sua porta.

Os olhos dele estavam duros e determinados. Sua mandíbula se apertava com raiva, mas quando ele estendeu a mão para agarrar seu braço, seu toque era suave e calmante.

— Nunca deveria ter duvidado que poderia me procurar. Eu posso estar louco como o inferno. Eu posso me sentir como um idiota, mas nada perto da sua segurança e do nosso filho. Você honestamente acha que eu iria afastá-la depois que me explicasse tudo?

Ele parecia incrédulo, e mais uma vez, ela foi atingida pela constatação de como tudo isso era injusto. Ele esperava que ela confiasse nele, mas ele não era obrigado a acreditar nela ou em suas intenções.

— Se eu pensasse que você me rejeitaria, eu não estaria aqui, — disse ela suavemente. — Não, eu não viria aqui imediatamente. Por um lado, eu não tinha como saber quanto tempo você ficaria amarrado no México. Dois, não tinha como saber se alguma coisa iria acontecer com você. Três, uma vez que você já não servisse ao propósito de atrair-me para que os homens de meu pai me atacassem, você seria dispensável. Agora o tempo está passando, porque a partir do minuto em que eu vim para você, você é dispensável.

— Você realmente acredita em tudo isso, não é?

Ela se afastou dele, com os ombros pesados com raiva.

— Eu não sou idiota, Sam. Você pode não pensar que o que fiz foi inteligente ou que eu tive o melhor plano, mas quer saber? Eu me mantive viva até agora. E sabe o que mais? Eu o mantive vivo também.

Um silvo impaciente escapou de seus lábios, e então ele agarrou o ombro dela e virou-a para encará-lo.

— Vamos deixar algumas coisas claras aqui, okay? Só para que não haja mal-entendidos no futuro. Você não vai tomar decisões no que diz respeito à sua segurança ou a do bebê em um esforço para me salvar. Grande merda. Meu trabalho, o que eu faço, é proteger pessoas. A partir de agora é você e nosso bebê, Sophie. Vou protegê-los, e a melhor maneira que você poderia me ajudar é ouvir tudo o que eu digo. Não se precipite, não tome decisões emocionais. E seja honesta comigo. Completamente... A partir de agora. Entendeu?

Ela queria bater nele por ser um idiota arrogante, mas podia ver que ele realmente não estava tentando conversar com ela. Ele estava em modo de comando total, e estava falando com ela como falaria com um de seus homens. Não faça nada absurdo, e esperava ser obedecido. Ela ficou tentada a atirar-lhe uma saudação e balbuciar um irritável "sim senhor!”

— Agora venha aqui, — disse ele em voz baixa.

O timbre profundo enviou um arrepio em sua pele. Ele soava rouco e um pouco inseguro, mas havia também um apelo irresistível para que fosse até ele.

Ela foi e ele a pegou em seus braços, puxando-a contra o peito. Quente. Ele estava tão quente que o calor embebia em seus poros e invadia os músculos rígidos.

Parecia tão bom, tão absolutamente certo, que não podia fazer nada mais que estar no círculo de seus braços e enterrar o rosto em seu pescoço.

— Eu vou protegê-la, Sophie. Temos muito que trabalhar, e conseguiremos chegar lá. Mas primeiro vou fazer tudo ao meu alcance para me certificar que ninguém nunca toque em você ou no nosso filho. Se você não acredita em mais nada, acredite nisso.

— Eu acredito em você, — ela sussurrou. — Por isso estou aqui.

— Eu só queria que você tivesse vindo mais cedo, — disse ele em voz baixa.

— Eu estou aqui agora.

Ele assentiu.

— E você vai ficar.

Virou-a para o sofá e a deitou mais uma vez. Depois de se certificar que estava apoiada em uma posição confortável, cuidadosamente colocou os cobertores ao seu redor.

— Você precisa descansar e tenho que planejar uma maneira de sair daqui. Donovan está fazendo alguns testes em nosso assassino. Então, se você for paciente e nos deixar fazer nosso trabalho, a tiraremos daqui o mais rapidamente possível.

Ela tentou cobrir o bocejo que ameaçava sair, mas desistiu e se entregou.

Ele se inclinou, beijou sua testa e depois alisou a mão pelo seu rosto.

— Descanse Sophie, e confie em mim para proteger você e nosso bebê.

Ela olhou para ele. — Eu confio, Sam. Eu confio.

Assentindo com satisfação, ele girou nos calcanhares e saiu da sala para encontrar seus irmãos, e ela ficou sozinha, encolhida sob os cobertores no sofá, ponderando sobre a bagunça em que colocou toda a família Kelly.

 

— Então, o que descobriram? — Sam perguntou quando voltou para Donovan e Garrett.

Donovan olhou para cima enquanto Sam se aproximava.

— Eu corri a foto do cara e as impressões digitais através do banco de dados da CIA.

— E?

— Interessante. Ele é um dos faz-tudo de Mouton, mas está designado aos detalhes da segurança de seu irmão.

— O que há de tão interessante nisso? — Garrett perguntou.

— Bem, a informação que eu reuni sugeria que Tomas é uma parte simbólica da rede de Alex. Ele não tem voz, nenhum poder, e Alex o ignora enquanto Tomas segue as regras. Que são basicamente manter a boca fechada e fazer tudo o que Alex mandar.

— Este cara teria sido escolhido, contratado e treinado para o assunto de Alex ou a cabeça confiável de segurança, mas não teria qualquer poder real ou outra responsabilidade além de ficar perto de Tomas, e se eu conheço Alex, o assassino provavelmente reportava para Alex, não para Tomas.

Sam franziu o cenho.

— Então, por que enviar esse cara atrás de Sophie? Se seu pai está tão irritado, ou quer vingança, ou enviar uma mensagem, por que enviar esse palhaço? Ele não era completamente inepto, mas não foi difícil de derrubar. Por que não enviar um de seus melhores?

— Por que enviar alguém, afinal? — Garrett perguntou. — Eu sinto que algo está faltando aqui. Sim, Sophie é sua filha e ela caiu fora. Mouton não me parece o tipo sentimental. Por que iria dar a mínima para uma mulher? O cara é um idiota de primeira classe. Traficava mulheres e crianças. Duvido que compreendesse as coisas mais importantes sobre sentimento familiar.

— Ela o traiu, — Sam disse numa voz baixa.

Ele ainda não tinha certeza do que fazer com a declaração de Sophie. Suas entranhas lhe diziam que estava dizendo a verdade. Às vezes valia a pena seguir seu instinto. Outras vezes isso quase o matou. Porra, se ele sabia qual era o caso desta vez.

— O traiu? — Donovan deu uma olhada para Sam com descrença.

— Pare um segundo. O que você não nos contou?

Garrett se inclinou para frente, a sua sempre presente carranca se aprofundando.

— Ela era o nosso informante, — Sam disse a Garrett. — Aquele que nos deu a dica sobre quando o carregamento de armas estaria partindo.

Donovan e Garrett trocaram olhares de que porra é essa? As palavras para defendê-la correram à boca de Sam, mas ele as engoliu. Não podia defendê-la. Ainda não.

— Ela fez tudo isso porque você estava transando com ela? — Garrett perguntou, incrédulo.

Sam virou-se e bateu no peito de Garrett, torcendo sua camisa em suas mãos.

— Já tive o suficiente de sua boca, — Sam rosnou. — Você vai ter algum maldito respeito ao falar sobre a mãe do meu filho, entendeu?

Os olhos de Garrett se estreitaram, então se arregalaram quando Sam não se afastou. Ele colocou as mãos para cima.

— Okay, okay, foi mal.

Quando Sam soltou sua camisa, Garrett deu um passo para trás, praguejando, enquanto o fazia.

— Você vai pelo menos tentar olhar para isto objetivamente? — Garrett perguntou. — E se fosse comigo ou Van? Um de nós sai com uma garota, enquanto estamos em uma missão. Ele se distrai. A garota aparece meses mais tarde, depois que não conseguimos derrubar o alvo, e ela está fazendo todos os tipos de reivindicações selvagens, sem falar que ela está grávida de um filho de Van ou meu. Então ela diz que traiu sua carne e sangue por um cara com quem ela teve um caso de poucos dias. Diga-me, Sam, você estaria dizendo tudo bem, sim, e daí?

Donovan ficou quieto, mas os pensamentos de Garrett estavam refletidos em seus olhos.

Sam suspirou.

— Quando foi que eu dei a vocês dois a impressão de que sou algum idiota emocional que pensa com seu pau? Aceito que estejam desconfiados. Eu tenho meu próprio conjunto de dúvidas, mas até agora o que ela está dizendo foi checado. E apesar do que você pensa, mostre algum respeito por mim e por ela. Se você não consegue viver com isso, então eu sugiro que dê o fora, e eu lidarei com isto sozinho.

— Oh cale essa maldita boca, — Garrett murmurou. — Você bem sabe e sabe malditamente bem que Van e eu estamos atrás de você. Jesus, esta é uma encrenca malditamente gigante.

— Você não pode resolver isso para mim, — disse Sam enquanto olhava para Garrett. — Eu sei que vai contra tudo o que está acostumado que você não possa apenas intervir com uma solução. Esta não é apenas uma missão ou algum trabalho, e você e eu sabemos disso. Tudo mudou para mim, e eu sou a única pessoa que pode resolver o problema.

Donovan deu uma risadinha, e Sam e Garrett olharam para ele.

— Garrett parece um filhote de cachorro porque o controlador descontrolado dentro dele, não pode controlar essa situação. E Sam parece que engoliu uma pedra.

Sam levantou o dedo do meio no momento exato em que Garrett fez o mesmo, o que só fez Donovan rir mais.

Ele balançou a cabeça e correu a palma da mão por sua mandíbula. — Se pudermos voltar para os fatos em mãos. O assassino trabalhava sozinho. Garrett e eu estivemos lá fora. Não há mais ninguém. Ainda não. Provavelmente já ganhamos alguns dias, até Mouton imaginar que o seu cara está morto e enviar outra pessoa. Ele não me impressionou com sua inteligência, até agora, então poderá ou não enviar homens suficientes para fazer o trabalho. Mas antes, ele estava atrás apenas de uma mulher solitária. Agora, terá que nos enfrentar.

— Uhu! Todos nós, — Garrett rosnou. — Ninguém fode com os Kelly.

Sam sorriu e depois deixou o sorriso desaparecer.

— Precisamos encontrar mamãe e papai para nos certificarmos que estão bem, fazer Steele e Rio nos encontrar lá e definir nosso próximo passo. Eu não dou a mínima para o que a CIA está fazendo. Pegaremos o bastardo desta vez. — Donovan assentiu em concordância. — Vá buscar Sophie. Garrett e eu estaremos com a caminhonete pronta.

 

Sophie olhava pela janela do SUV enquanto rolavam na entrada da garagem de uma casa de madeira pitoresca que tinha, pelo menos, cem anos de idade. Era uma daquelas casas de subúrbio que aparecia em programas de televisão. A varanda perfeita, o paisagismo perfeito. Um segundo andar, que provavelmente tinha pelo menos seis quartos e um quintal que se prolongava por vários hectares.

Parecia aconchegante e acolhedora como se tivesse uma alma e não fosse apenas uma habitação fria, construída para manter os outros do lado de fora. Não, esta casa convidava as pessoas para dentro de seu calor. Famílias reuniam-se aqui.

Era tudo o que ela sempre quis em toda a sua vida, e doeu-lhe que teria que entrar nesse lugar com Sam e fingir que não era.

Os pneus arrastaram sobre o cascalho, e Garrett parou a caminhonete atrás do carro de polícia do xerife do condado. Sophie girou a cabeça para olhar para Sam acusadoramente.

— Sean está aqui para proteger minha família, — disse Sam imediatamente. — Eu não agi por trás das suas costas e a denunciei para a polícia.

Ela relaxou um pouco, mas o nó na garganta se tornou maior quando olhou para a casa.

Esta era a casa dos pais dele, e ela não tinha noção de como agir diante de uma família normal. Mas ela carregava o neto deles, e se nada mais, isso dava a ela alguma coisa. Não?

Donovan abriu a porta para ela, e automaticamente seu queixo se ergueu. Sam deu a volta e chegou para ajudá-la. Ela agarrou a cintura da calça de moletom para segurá-la enquanto Sam dobrava o braço ao seu lado. Pelo menos ele não estava tentando colocar um mundo de distância entre eles. Ela não poderia enfrentar toda a família dele sozinha.

Garrett e Donovan correram na frente e abriram a porta no momento em que ela e Sam chegaram lá. Assim que ela entrou, foi recebida por uma corrente de ar quente e o cheiro, não era mesmo um perfume identificável. Era uma mistura de alimentos caseiros cozidos, flores, limpeza e um cheiro de mofo antigo que vinha de anos de desgaste.

Era o melhor cheiro que ela já encontrou.

Respirou profundamente, querendo saborear cada pitada.

— Sam, Garrett, Donovan? São vocês?

A voz feminina chegou mais perto, e em um momento uma mulher pequena virou a quina, como se sobre rodas. Ela colidiu com Garrett, se afastou e imediatamente se lançou sobre o homem enorme.

— Garrett!

Ela puxou-o em seus braços, e Sophie observou fascinada enquanto Garrett se transformava na frente de seus olhos. Ele passou de um símio mal-humorado e carrancudo para o filhinho gentil da mamãe. Era incompreensível.

Ele a levantou em seus braços, mas ela parecia estar agarrando-o muito mais.

— Estamos bem, Mamãe. Pare de me apertar tanto ou não serei capaz de respirar. — Ela beijou seu rosto em ambas os lados, deu um tapinha em uma bochecha e depois virou sua atenção para Donovan, que estava assistindo com um sorriso divertido.

— Puxa, Mãe, parece que você nunca nos viu.

Ela fez uma careta para ele, e Sophie podia ver onde Garrett conseguiu a sua. Sua mãe poderia ser bastante feroz quando provocada.

Ela abraçou Donovan ferozmente, acariciando e apertando em padrões aleatórios.

— Eu estava tão preocupada. Sean apareceu resmungando sobre segurança e problemas e depois disse que não iria deixar seu pai ou eu sair de casa. Eu estava tentada a colocá-lo sobre meu joelho.

Sam empurrou para frente balançando a cabeça. — Sean fez exatamente o que  deveria fazer, Mãe. Não cause problemas a ele.

A Sra. Kelly virou-se para Sam e seu rosto suavizou. Ao mesmo tempo, ela viu Sophie de pé ao lado de Sam e sua expressão congelou.

Ela olhou para Donovan e então rapidamente de volta para Sam e depois focou em Sophie novamente.

— O que significa isso?

Ela começou a ir na direção de Sophie, e tudo que Sophie não podia fazer, era se virar e correr.

As mãos da Sra. Kelly se estenderam até enlaçar os braços de Sophie, mas Sam estava lá para afastar qualquer um que pudesse tocar em sua lesão.

— Cuidado, Mãe. Ela está ferida.

A voz de Sam era suave e rouca, quase meiga. Os joelhos de Sophie começaram a tremer, porque ela não conseguia suportar isso. Foi a gota d’água. Estava morrendo de medo, e a última coisa que queria era a rejeição.

— Oh senhor! — A Sra. Kelly arfou.

E antes que Sophie pudesse gastar mais tempo aterrorizada, a mulher a envolveu em seu abraço tão cuidadosamente como se ela fosse uma criança. E, então, repentinamente ela se afastou e apontou um olhar feroz para Sam.

— Sam Kelly, qual é o significado disto? Esta pobre menina parece que estava no lago. — Ela estendeu a mão e tocou o cabelo sujo de Sophie e franziu a testa. Então, olhou para baixo.— Ela sequer tem sapatos!

Sam ergueu as mãos, mas sua mãe o ignorou.

O olhar dela se prendeu na barriga de Sophie, e Sophie ficou completamente imóvel. Ela ficou lá, com medo, queixo para cima, joelhos tão travados que era uma maravilha que não tivesse caído ainda.

— Ela está grávida! Oh querido Senhor. Sam o que você estava pensando? — as sobrancelhas de Sam subiram, e ele recuou como se não soubesse a que sua mãe se referia.

— Mãe, me escute, está bem? Há algumas coisas que você precisa saber.

— Faça isso rápido, — ela retrucou.

Sam voltou para o lado de Sophie e puxou-a contra ele em um gesto que não poderia passar despercebido por sua mãe. E, de fato, as sobrancelhas da Sra. Kelly subiram, e ela olhou para Sam e Sophie com óbvia curiosidade.

— Sophie e eu nos conhecemos há cinco meses, enquanto eu estava em uma missão no México. Estávamos envolvidos. Ela está em apuros e agora precisa da nossa ajuda. Toda a família pode estar em apuros, razão pela qual enviamos Sean para ficar com você e papai. Minhas equipes estarão aqui em poucas horas. — Qualquer outra coisa que poderia ter dito se perdeu no suspiro de sua mãe.

— Sam Kelly, este é o meu neto que você está permitindo ficar na minha cozinha com sua mãe tremendo de frio e descalça?

Sam suspirou.

— Sim, senhora.

— Pelo amor de Deus, e pensar que eu achava que Joe era o filho carente de bom senso.

Ela virou-se para Sophie, ignorando Sam.

— Sophie, sou Marlene Kelly, e por favor, me chame de Marlene. Vou apresentá-la a Frank, mas primeiro o meu filho idiota precisa levá-la lá em cima para um banho quente e uma nova muda de roupa.

Sophie sorriu, ou tentou, mas seus lábios tremiam, e ela tentou controlar o bater de seus joelhos. A ideia de um banho quente era tão maravilhosa que quase se dobrou no local. E teria, mas Marlene passou um braço em volta de sua cintura e segurou-a.

— Vá em frente, Sam, antes que a coitada caia. Garrett e Donovan podem me contar tudo sobre isso, enquanto você cuida de suas responsabilidades. — Ela deu a Sam um olhar que, provavelmente, fazia todos os seus filhos tremerem em suas botas.

Sam enfiou sua mão através de Sophie e puxou-a para longe de sua mãe. Ela queria aquele banho. Realmente queria, mas não conseguia imaginar como conseguiria.

— Talvez eu devesse tomar uma ducha em vez disso. Não tenho certeza se serei capaz de sair da banheira depois que estiver lá dentro.

Seu rosto ficou tenso, e ela olhou ao redor para se certificar que ninguém a ouviu.

Sam sorriu, aliviando as linhas ao redor de seus olhos.

— Não se preocupe com isso. Eu vou ajudá-la a entrar e sair.

Os olhos dela se arregalaram. — Oh.

Ele levantou uma sobrancelha para ela. — Eu já vi você nua, Sophie.

Ela corajosamente tentou controlar a onda de calor subindo pelo pescoço.

Ele sorriu novamente e então virou-se para o lado dela e levantou-a nos braços.

— Eu posso andar.

— Eu sei. Mas fará menos esforço sobre esses ferimentos se eu carregá-la.

 Com isso, ele se dirigiu para as escadas, passando por sua família, como se eles não estivessem mesmo lá. Ela se recusou a fazer contato visual com qualquer um deles. Não tinha nenhum desejo de ver seu julgamento.

Quando chegaram ao banheiro, ele acendeu a luz e a colocou cuidadosamente sobre o balcão, de modo que suas pernas pendiam sobre a beirada. Então estendeu a mão para ligar a água na grande banheira.

Logo o vapor subia e ela estava salivando. Ela doía pelo tanto que queria aquela banheira cheia de água quente. Estremeceu com impaciência, observando o nível subir lentamente.

— Eu vou ajudá-la a tirar a roupa, então vou colocá-la na banheira. Vou deixá-la pelo tempo que quiser ficar imersa, e quando quiser sair é só chamar por mim, okay?

Ela assentiu, com a língua muito presa para que as palavras passassem por seus lábios. Ele estava certo. A tinha visto nua. Devassa. A viu da maneira mais íntima que um homem jamais poderia ver uma mulher. Não havia um centímetro de seu corpo que ele não tivesse explorado, e vice-versa. Então, por que estava agindo tão pudicamente agora? Estava grávida do filho dele, pelo amor de Deus.

Mas naquela época, não foram expostos às mentiras entre eles. Os segredos não foram expostos. Eram apenas dois amantes tão envolvidos um no outro que o mundo exterior não foi capaz de se intrometer.

— Soph? — ele chamou em voz baixa.

Ela piscou e focou nele novamente. Seus dedos estavam na cintura do suéter muito grande. Ele estava se certificando que ela estava bem com ele, e por alguma razão isso suavizou seu coração.

— Vamos acabar com isso. Eu quero tanto entrar nessa banheira, que eu mergulharia completamente vestida.

Ele riu e puxou a calça para baixo até que se reuniu em torno de seus tornozelos. Com um puxão suave ela se foi, e ele deixou-a cair no chão.

— Eu vou colocar você e então vamos tirar sua camisa. — Ela deu um gemido de protesto, quando seus pés bateram no chão. Não tinha mais forças para ficar de pé. A fadiga aumentava a dor em uma proporção de pelo menos dez para um. A dor não diminuía seu desejo de dormir. Por um ano. A gravidez era cansativa o suficiente. Adicione fugir através do país, mergulhar várias vezes no lago, evitando idiotas com facas e armas.

— Estou com você. Fique quietinha. Vou tentar não mover o braço em demasia.

Ela olhou para frente enquanto ele manobrava a camisa para fora de seu corpo, e de repente estava completamente nua na frente dele. Ela odiava como se sentia vulnerável e nua.

Idiota, você está nua!

Felizmente ele não perdeu tempo. Assim que ela estava livre de sua roupa, ele se virou para ajudá-la na banheira. Ela colocou uma perna dentro e gemeu quando a água quente deslizou por sua pele.

— Oh, Deus!

— Que bom, hein?

— Oh Deus, sim. Nunca tive nada tão bom na minha vida. — Ela afundou devagar, segurando em sua mão. Seu corpo gritou em protesto, mas ela não se importou.

A água batia em seu queixo, e ela inclinou a cabeça para trás, fechando os olhos. Oh céus!

Sam se inclinou e gentilmente bateu em seu queixo até que ela abriu os olhos novamente.

— Chame-me se precisar de mim, okay?

Ela assentiu sonolentamente enquanto o calor nadava intoxicantemente através de suas veias.

Ele se virou para sair, e de repente ela se lembrou o que queria lhe pedir.

— Sam.

Ele virou-se, segurando a beirada da porta.

— Sim?

Ela se mexeu desconfortavelmente, em busca de mais água.

— Existe alguma maneira possível, de eu poder conseguir algumas roupas íntimas? Eu odeio perguntar, mas estar sem sutiã é uma merda quando você está grávida. Quero dizer, meus seios estão enormes agora e estão sensíveis...

Ela podia ver o próprio trabalho masculino estremecer sobre ele. Seus olhos praticamente se contraíram com a menção de calcinhas e sutiãs.

— Eu os conseguirei para você. Não se preocupe.

Ela sorriu, sentindo o calor que nada tinha a ver com vapor da água quente sobre ela.

— Obrigada!

 

Sam saiu do banheiro e esfregou sua nuca. Santo Deus. Ele merecia a santidade. Não só ficou no banheiro com uma mulher muito linda e muito nua, mas calmamente conversou sobre conseguir coisas para ela, como um sutiã e uma calcinha, sem mover um cílio.

Dê-lhe bombas, granadas, sangue e vísceras, mas sutiã?

Jesus.

Agora, onde diabos iria conseguir um sutiã?

— Ei, ela está acomodada?

Sam olhou para cima para ver Garrett e Donovan subindo as escadas. Ele fez uma careta.

—Oh, sim. Mais ou menos.

Garrett deu-lhe um olhar.

— Ela precisa de um sutiã. Algo sobre a gravidez e mamas grandes e eu meio que desliguei depois disso.

O peito de Donovan soltou no riso silencioso. O bastardo.

— Então, consiga um, — disse Garrett.

Garrett quase perdeu aquele constante e sombrio, olhar de besta. Ah sim, ele era bom em manter essa cara feia, mas Sam viu o lampejo de diversão em seus olhos.

— Há três mulheres nesta casa, constantemente. Certamente podemos conseguir um sutiã, — Sam murmurou.

— Uh, bem Rusty e Rachel são menores, — disse Donovan, completando. — Não que Sophie seja grande nem nada, mas ela tem mais busto.

Ficou claro para os seus irmãos ao mesmo tempo que para Sam. Seus rostos contorceram e a boca de Garrett abriu e fechou.

— Cristo. Sobrou mamãe, — disse Sam.

Garrett começou a recuar, mãos para fora.

— Ah, não! Claro que não. Eu não vou pedir a Mamãe um de seus sutiãs. Isso é apenas... errado.

Donovan parecia que tinha engolido um inseto, e então ele e Garrett olharam para Sam.

— A mulher é sua. Você pede pra Mamãe.

Sam limpou a garganta. — Pedra, papel ou tesoura?

— Foda-se, — Donovan bufou.

— Seus covardes!

— Você vai. Pagaremos terapia para você mais tarde, — disse Garrett.

Sam virou-se enojado e afastou-se.

— Você provavelmente deve saber que mamãe não está muito feliz com você agora, — Donovan falou atrás dele.

Sam virou-se.

— Que diabos isso significa?

— Garrett e eu a colocamos a par do assunto. Você sabe, sobre a estória. Sobre como você engravidou Sophie, voltou para casa, então a pescou para fora do lago.

Sam soltou a respiração e virou o rosto para o teto.

— Sim, e eu aposto que você realmente odiou contar tudo isso a ela, não é?

Garrett encolheu os ombros.

— Você pode nos agradecer mais tarde, cara.

Sam levantou o dedo médio e desceu correndo as escadas para enfrentar sua mãe.

 

Sam pairou perto da porta do banheiro e olhou o relógio. Ela não tinha chamado, e ele voltou, com medo de não ouvi-la quando ela o fizesse. Não conseguia decidir se entrava e verificava como ela estava, ou se esperava.

A decisão foi tomada de suas mãos quando ouviu o chamado suave filtrado através da porta.

— Sam?

Ele entrou rapidamente, jogando às pressas os itens que sua mãe lhe deu em cima do balcão. Quando virou-se para ela, viu os olhos sonolentos a observá-lo. Seu rosto estava corado com o vapor do banho, e o cabelo estava molhado contra o rosto.

— Você está bem?

Ela assentiu lentamente.

— Eu tentei sair, mas doeu. Estava com medo de cair.

Ele franziu a testa e seguiu em frente.

— Eu disse que iria ajudá-la. Está pronta para sair agora?

Novamente ela assentiu, e ele estendeu a mão, deslizando seus braços na água. Sua mão resvalou no bumbum exuberante e, em seguida, foi para a carne tenra debaixo de seus joelhos. Levantou-a, e a água correu sobre a pele como seda. Seus olhos ficaram presos à visão de seu corpo, inchado e exuberante.

Ficou lá o tempo suficiente para colocar uma toalha a sua volta. Ela olhou timidamente para ele, com seus doces olhos azuis. Assim como estiveram quando a viu pela primeira vez.

Ele odiava vê-la trabalhar naquele clubezinho. Ela era muito jovem, inocente demais para ser exposta aos idiotas que frequentavam o boteco. Agora ele se sentia como um idiota, porque depois de viver com seu pai, os caras no bar deveriam se parecer com escoteiros.

— Eu posso me secar, — disse ela depois de limpar a garganta.

Ele se virou para o balcão e levantou cautelosamente o sutiã com um dedo.

— Eu sei que este não é o ideal, mas foi a coisa mais próxima que pensamos que fosse caber em você. A, uhm, calcinha, bem, desde que ela não caia... Você poderia puxá-la sobre sua barriga.

A diversão brilhava em seus olhos, mas ela sorria como se tivesse acabado de ganhar diamantes.

— Obrigada! Vai ser perfeito.

Oscilou um pouco quando tentou dar um passo adiante, e ele a pegou e colocou sobre o balcão.

— É efeito de toda a água quente, — ele explicou. — Faz você ficar tonta, especialmente estando grávida. Provavelmente não deveria ter ficado tanto tempo.

Ela arqueou uma sobrancelha dourada para ele.

— Como você sabe tanto sobre mulheres grávidas?

Um espinho incômodo agrediu seu pescoço.

— Eu, uhm, devo ter lido em algum lugar.

Ele virou à direita e depois à esquerda e percebeu que ela ainda estava presa na toalha e precisava se vestir.

Houve uma batida curta na porta, e ele fez uma careta enquanto se virava. Abriu apenas uma fresta para que quem estivesse fora não visse do lado de dentro. Donovan estava ali, segurando uma calça e uma camiseta. Empurrou-as para Sam.

— Imaginei que ela se sentiria melhor se não circulasse apenas com o sutiã e calcinha de Mamãe.

Havia a sugestão de um sorriso nos lábios de Donovan, e Sam encarou um buraco gigante na cabeça.

— Obrigado, — ele murmurou.

— A qualquer momento.

Ele sorriu novamente e depois se afastou.

Sam o chamou de algumas palavras bem escolhidas e se retirou para o banheiro, onde Sophie ainda estava empoleirada no balcão, a toalha agarrada e apertada no queixo.

A toalha cobria apenas parte de sua barriga, e a foi concedido um vislumbre minúsculo do monte suave que protegia seu filho. Não era como se ele já não tivesse visto algumas vezes. Era a maneira sugestiva que apenas mostrava um pouco dos limites da proteção da toalha.

Com cuidado para não assustá-la, lentamente mergulhou suas mãos naquela pequena parte e empurrou a toalha para o lado, para desnudar mais sua barriga.

— Sam?

Seu nome saiu sem fôlego. Um pouco hesitante. Um pouco nervosa. Mas não havia medo em sua voz.

— Deixe-me vê-la, Soph. Eu quero ver minha filha. Um momento em que estamos apenas nós. Sem distrações. Nenhum perigo. Só você, eu e nossa filha.

A mão dela afrouxou o aperto sobre a beirada da toalha, e, finalmente, a deixou cair completamente.

O material caiu, expondo seus seios e a barriga. Até mesmo o V delicado e feminino de suas pernas, com os macios e prateados tufos de cabelo loiro, eram visíveis.

Era a visão mais bela que ele já viu. Aqui neste balcão, Sophie machucada e maltratada, com os cabelos molhados e o cansaço enchendo seus olhos. Havia uma visão mais bonita que uma mulher exuberantemente grávida?

Não conseguiu se impedir de tocá-la. As pontas de seus dedos roçaram o topo de suas coxas, ao redor de seus quadris e, finalmente, para cima e sobre o esticado abdômen. Quando se reuniram no centro, sua barriga mexeu e empurrou.

Ele se afastou atordoado.

— Isso foi ela!

O rosto de Sophie se iluminou como um milhão de velas.

— Sim. Foi ela. — Sua própria mão chegou para ninar sua barriga, e ela balançou para frente e para trás como se estivesse sentada em uma cadeira confortando seu bebê.

Guiado por um poder que não entendia, Sam abaixou a cabeça, centímetro por centímetro, até seus lábios estarem a apenas um fôlego desse pequenino tamborilar. Ele apertou os lábios no mais delicado dos beijos, enquanto espalmava os dois lados da barriga de Sophie para mantê-la no lugar.

O pequeno pontapé contra seus lábios o fez sorrir em puro deleite.

— Ela está dizendo Olá, — disse ele com voz rouca.

Quando olhou para Sophie, foi pego de surpresa pela tristeza enorme em seus olhos. Poderia jurar que havia lágrimas, mas ela piscou e elas se foram. O que poderia tê-la perturbado?

Ele enrugou a testa e tocou sua face.

— Está tudo bem, Soph?

Ela sorriu, mas parecia abalada para ele.

— Estou bem. O banho fez maravilhas. Eu me sinto como uma nova mulher.

Era quase fácil esquecer que ela estava sentada nua na frente dele, se ele não continuasse recebendo distrações como os seios que ele e seus irmãos discutiram em profundidade no corredor.

Os mamilos dela, uma de suas coisas favoritas, estavam mais escuros agora, em vez da sombra deliciosa de rosa que haviam sido. Pareciam marrom, quase rubi. Ele daria tudo para sentir seu gosto mais uma vez. Para deslizar sua língua ao longo do bico enrugado e senti-la estremecer em seus braços.

Seu corpo apertou dolorosamente, e ele quase não se controlou por bater na borda do balcão. Filha da puta aquela dor!

— Eu consegui um sutiã para você. Está bem aqui. Donovan trouxe uma calça e uma camiseta. Pegaremos os sapatos quando estiver vestida. Deixe-me ajudá-la em tudo, e então veremos o que temos para trabalhar.

Ela torceu o nariz para o sutiã.

— Deus, é um daqueles instrumentos de tortura. Um desses de 36 horas[3] ou seja  lá como são chamados.

Sam riu. Até ele viu comerciais de televisão suficientes para saber que havia sutiãs de dezoito horas. Mas quem diabos iria querer ficar com tal engenhoca bárbara por 18 horas? Essas coisas não eram para maricas.

— Você vai ter que me ajudar a colocá-lo. Não posso colocar por trás e torcê-lo. Iria matar o meu braço. Vou colocar os bojos e você fecha nas costas.

— Bem, inferno, — ele resmungou. — Eu tenho muita prática em tirar sutiãs das mulheres, mas não posso dizer que já ajudei a colocá-los.

Ela abriu um sorriso.

— Então você aprenderá algo novo e útil. — Ela posicionou o sutiã, levantou as alças sobre os ombros, e ele olhou para o fecho balançando. O quanto poderia ser difícil?

Prendeu os fechos e tentou duramente não se lembrar onde ele o conseguiu ou quem o usou pela última vez, porque havia muito em seu cérebro para controlar.

— Basta segurar a calcinha. Passarei minhas pernas por ela, — ela disse.

Ele se curvou e segurou o que parecia ser a calcinha da vovó e abriu enquanto ela agarrava seus pulsos para apoiar e cautelosamente enfiou uma perna de cada vez nos buracos. Alguns segundos depois, estava com a calcinha sobre toda a barriga e desatou a rir.

— Eu pareço uma palhaça, — disse, ainda rindo.

— As roupas vão cobri-la. — Graças a Deus. Mesmo tão pouco atraentes como as coisas femininas de sua mãe eram, Sophie ainda conseguia parecer sensacional nelas. Poderia amarrar um saco de lixo ao seu redor e ela ainda iluminaria um quarto.

A calça não foi difícil, mas a camisa era mais complicada. Ele apenas estendeu as cavas até que pudesse enfiar os braços dela sem fazer truques de contorcionista.

— Quer que eu seque o seu cabelo?

Ela piscou, surpresa.

— Você poderia... Seria tão difícil fazê-lo com uma só mão.

Ele estendeu a mão para o secador de cabelos.

— Você consegue ficar em pé por tanto tempo ou prefere se sentar no assento do sanitário?

Ela pôs a mão no peito dele e deslizou seu caminho para o banheiro fechado.

Ele começou a secar e enfiar sua mão através das mechas enquanto movia o secador para cima e para baixo. Depois de alguns minutos, pegou uma escova do balcão e passou-a delicadamente através das mechas.

Ela fechou os olhos e manteve o rosto virado um pouco, como se estivesse experimentando os primeiros raios de sol, depois de um longo inverno. Querendo continuar agradando-a, escovou os fios enquanto soprava o secador sobre eles, até que brilhassem como fios de ouro.

— Ninguém escovou meu cabelo desde que eu era criança, — ela murmurou, seus olhos ainda fechados. — É uma sensação maravilhosa.

— Nunca escovei o cabelo de uma mulher antes, — ele admitiu com pesar.

Ela abriu os olhos e sorriu para ele através do espelho.

— Eu estava com a ideia que você era um especialista em fazer com que as mulheres se desnudassem de suas roupas e bagunçassem seu cabelo, mas talvez não tanto com tudo o que vinha depois.

— Não foram tantas mulheres assim, — ele murmurou.

Ela inclinou a cabeça, e ele podia ver a pergunta fermentando em seus lábios.

Mais uma vez, uma batida na porta interrompeu-os. Sam soltou sua respiração aliviado, desligou o secador e colocou-o de lado.

— Está aberto, — ele falou.

Donovan enfiou a cabeça para dentro.

— Eu tenho o kit médico de mamãe se você quiser que eu olhe os pontos de Sophie. Ela está insistindo em chamar Doc, mas eu a fiz esperar para ver o que você queria.

— Sim, okay, deixe-me levá-la ao quarto para que você tenha espaço, — Sam respondeu. — Diga a mamãe para se acalmar. Você não explicou a ela a situação que temos aqui?Não podemos chamar toda Stewart County para vir aqui.

— Sim, mas você conhece Mamãe, — disse Donovan, divertido.

Sam tocou Sophie no ombro enquanto Donovan saía do banheiro.

— Você pode fazer isso?

Ela se levantou timidamente e depois sorriu.

— Incrível o que um banho quente e roupas limpas podem fazer por alguém.

Ainda assim, ele pegou sua mão e entrelaçou os dedos com os dela enquanto a levava para fora do banheiro e em direção ao quarto de seus pais.

— Basta deixá-la sentada, —Donovan disse enquanto apontava para o fim da cama. — Isto não vai demorar, apenas um minuto.

Sam ficou olhando enquanto Donovan cuidadosamente puxava a camiseta de Sophie por cima do ombro para que pudesse examinar o ferimento suturado.

Impacientemente, Sam se aproximou.

— Está tudo certo? —Donovan virou-se para seu irmão.

— Sim, está. Parece muito bom. Eu só vou colocar uma pomada antibiótica e ataduras novas e ela vai estar boa para ir. — Sam tocou o cabelo de Sophie, agora brilhante e limpo. Ela virou o rosto para ele, e ele queria tocá-la mais.

— Está sentindo alguma dor? Van pode conseguir mais remédios contra a dor.

— Apenas o ibuprofeno.

— Mamãe está fazendo um banquete. Vocês dois devem descer e comer. Sophie então poderá tomar seu remédio com o estômago cheio, — disse Donovan.

Sam viu o anseio nos olhos de Sophie e acenou para Donovan.

— Nós desceremos. Fale para mamãe montar uma bandeja para Sophie poder sentar no sofá onde é mais confortável.

 

Limpa e aquecida. E agora estava olhando para uma bandeja em frente a ela com mais comida do que poderia comer, mas porra, se ela não ia dar o seu melhor.

Havia uma tigela de frango e bolinhos, um sanduíche de queijo grelhado, salada de batata e um prato de carne assada com purê de batatas e molho.

Marlene, em tom de brincadeira, disse-lhe que ela limpou a geladeira, e como não sabia do que Sophie gostava, fez um pouco de tudo.

Com a boca salivando, Sophie mergulhou no frango e bolinhos primeiro. Ignorou os acontecimentos à sua volta e mergulhou em cada um dos pratos, saboreando cada mordida.

Quando o sofá afundou ao seu lado, Sophie olhou para cima para ver uma adolescente olhando curiosamente para ela. Ela não se encaixava no molde do resto da família Kelly, e talvez isso fosse proposital.

Ela tinha um tom de verde interessante em seus cabelos castanhos, um piercing no nariz e uma linha de brincos em sua orelha esquerda. Enquanto a menina não teria se destacado na maioria das escolas de ensino médio, aqui nesta aparentemente conservadora e austera família, ela se destacava como o brilho de néon laranja.

Como a menina continuava a olhar para ela, Sophie a olhou também, recusando-se infantilmente a recuar sob o escrutínio da adolescente.

A menina fungou e depois se virou para sorrir na direção de Sam.

— Parece que Marlene precisa dar palestras sobre sexo seguro para outra pessoa, além de mim.

— Rusty, pelo amor de Deus, — Frank Kelly falou alto.

Sophie saltou e olhou com cautela para o corpulento homem mais velho. Seu latido parecia pior que sua mordida, mas não podia ter certeza devido ao seu breve conhecimento.

— Se você não pode manter uma língua educada em sua cabeça, pode voltar lá para cima, — disse Frank. Então ele virou-se para Sophie. — A mocinha de boca esperta sentada ao seu lado é Rusty. Não se importe com ela. Ela gosta de provocar meus meninos.

Sophie engoliu sua mordida e não perguntou o óbvio. Não era assunto seu. Realmente não queria saber quem era Rusty, de qualquer maneira.

Rusty se inclinou, conspiratoriamente: — Eu era uma perdida. Marlene tipo me adotou. Não que você poderia possivelmente pensar que eu surgi do mesmo grupo de genes que aquele grupo. — Apontou o dedo por cima do ombro em direção a Sam, Garrett e Donovan.

— Feche a boca, Rusty, — Sean estalou. — A última coisa que precisamos é de sua boca hoje.

Sophie olhou com surpresa para o jovem adjunto do xerife, de pé do outro lado da sala.

Rusty enrolou os lábios na direção de Sean.

— Eu não respondo a você, policial. Vá comer um donut ou algo assim.

Rusty voltou-se para Sophie e revirou os olhos.

— Ele é outro perdido que Marlene pegou. Embora, pessoalmente, eu ache que ele abusa da hospitalidade.

— Rusty, — disse Frank com sua voz grave. — É o suficiente, mocinha. — Para a surpresa de Sophie, Rusty calou a boca e se endireitou na cadeira. Sophie podia jurar que havia respeito genuíno e afeto nos olhos da menina quando ela olhou para o patriarca dos Kelly.

Sophie estava menos segura de Frank. Ele a observava. A observava desde que Sam a colocou no sofá. Não havia nada acusatório em seu olhar, mas estudava-a atentamente e isso a deixava desconfortável.

Ela só podia imaginar as hipóteses que estavam sendo feitas. Poderia citar várias, mas não tinha intenção de torturar a si mesma. Os pressupostos eram merecidos, e ela não tinha energia mental ou o desejo de corrigir qualquer um deles.

— Terminou, querida?

Sophie hesitou e olhou para cima para ver Marlene em pé na frente dela, as mãos estendidas para tirar a bandeja.

— Sim, obrigada, Sra. Kelly. Eu apreciei a comida. Estava maravilhosa.

Marlene sorriu calorosamente.

— Tal qual uma jovem educada. Mas, por favor, me chame de Marlene. Ninguém me chama de Sra. Kelly, a menos que sejam os operadores de telemarketing. A maioria das pessoas só me chama de Marlene ou Mamãe.

Ela pegou a bandeja e Sophie virou para o lado, incapaz de manter a cabeça erguida. Sam colocara vários travesseiros atrás e ao seu lado, e ela se aconchegou sob a colcha quente. Ninguém parecia estar prestando muita atenção a ela agora, então ela flutuou, mal ouvindo o que estava acontecendo ao seu redor.

 

Sam viu como a cabeça de Sophie mergulhava cada vez mais baixo, até que o rosto aninhou contra o travesseiro. Sua mãe também estava observando, e assim que Sophie fechou os olhos, ela atravessou a sala, seus olhos se estreitaram e fixaram nele.

— Você vai me dizer o que diabos está acontecendo aqui, — disse em uma voz baixa e determinada. — E eu quero tudo, não a versão diluída que seus irmãos já me deram. — Sam expulsou o fôlego em um longo suspiro. Passou a mão cansada pelos cabelos e olhou para ver seu pai encarando-o com a mesma intensidade que havia no olhar de sua mãe. Inferno.

— Ela está carregando meu neto, — disse Frank.

Ele podia contar que seu pai iria direto ao ponto. Ele nunca foi de ficar fazendo rodeios.

— É muito provável que ela esteja carregando meu filho, — disse Sam com cuidado.

Marlene franziu o cenho.

— Você não deveria saber? — Ela olhou para Sophie, sua carranca aprofundando.

— Não vamos tirar conclusões precipitadas, Mãe. E não pense mal de Sophie. Ainda não. Há muito que eu não sei. Ela merece o benefício da dúvida, até eu descobrir o que diabos está acontecendo aqui.

Se isso não fazia dele um hipócrita inflamado, ele não sabia o que fazia. Não queria que ninguém a desrespeitasse ou desenvolvesse uma opinião ruim, mas isso não o impedia de ser desconfiado e cauteloso com ela.

Ele reconheceu hoje cedo que ela tinha muito poder no que se relacionava a ele, e não se sentia bem com isso.

— Então me diga o que você sabe, — disse Marlene ferozmente.

Sabendo que isso não iria fazê-lo parecer bem na frente de seus pais, contou-lhes a verdade nua e crua sobre sua missão no México e seu envolvimento com Sophie. Deixou de fora a parte de matar o assassino, mas a julgar pela expressão no rosto de seu pai, ele adivinhava o restante. Não precisavam horrorizar sua mãe mais que o necessário.

— Agora me escute, Mamãe, — disse Sam. — Isso é sério. Nossa família inteira pode estar em perigo. Preciso que você e papai façam exatamente o que eu digo. Sem discutir. — Ele olhou incisivamente para o pai. — Não poderei fazer meu trabalho se estiver preocupado que vocês não estejam seguros. — Frank colocou o braço em torno de Marlene e puxou-a para seu lado.

— O que você quer que façamos?

Sean, que estava de pé logo ao lado, caminhou até eles até que pudesse ser incluído na conversa.

— Minhas equipes devem chegar logo. Uma será atribuída apenas para mantê-los seguros. Todos vocês. Ninguém se move sem que meus homens digam que sim, e isso inclui Rusty. — Sean fez uma careta. — Vou manter a pequena idiota na linha.

— Sean...— Marlene advertiu com um franzir de testa.

A expressão de Sean não mudou.

— Até que isto seja resolvido, todos terão de ser pacientes. — Frank lançou um olhar sobre Sophie. — E sobre você e Sophie? O que você fará?

— Sam, temos um problema.

Sam virou-se para ver Donovan de pé atrás dele, segurando o telefone seguro da KGI em sua mão.

— O que houve?

— Resnick acaba de ligar querendo saber por que estávamos acessando os arquivos deles sobre os assassinos de Mouton.

Sam franziu a testa.

— Como? Não é como se saqueássemos seu banco de dados o tempo todo. Você não invadiu qualquer merda classificada, não é? —Donovan sequer respondeu a bronca.

— Ele quer falar com você o mais rápido possível.

Apreensão penetrou no seu pescoço. A última coisa que precisava era de Resnick metendo o nariz nisso.

Olhando e se desculpando com sua mãe, seu pai e Sean, Sam voltou para a cozinha com Donovan em seus calcanhares. Garrett deve ter visto o êxodo, porque apareceu apenas alguns segundos depois deles.

Sam pegou o telefone de Donovan e colocou-o em sua orelha.

— Resnick.

— Sam, o que diabos está acontecendo aí? O que o assassino de Mouton está fazendo em sua vizinhança?

— Eu estava esperando que você pudesse me dizer.

Resnick bufou.

— Não jogue esse jogo comigo. A filha de Mouton está desaparecida. Alguma chance de que esteja com você?

Sam franziu a testa e virou-se para que pudesse olhar para seus irmãos.

— Por que a CIA se interessaria pela filha de Mouton?

— Eu não estou aqui para responder a perguntas, Sam. Estou aqui para fazê-las.

A raiva borbulhou no sangue de Sam, e ele agarrou o telefone com mais força.

— Ouça-me. Eu não estou jogando aqui. Aquele bastardo está atrás da minha família. Eu não dou a mínima para a CIA agora, você me entendeu? Este será o seu único alerta. Vou fazer o que precisar para garantir que ele nunca toque em ninguém próximo a mim. A melhor coisa que você pode fazer é ficar fora do meu caminho.

Silêncio.

— Sam, eu preciso falar com ela. É importante. Se ela está com você, precisamos interrogá-la. Mouton está sumido também. Não foi visto desde que a KGI derrubou o carregamento de armas há cinco meses. Pensamos... pensamos que ele estivesse trabalhando com plutônio e que tivesse uma fonte. Seus cientistas estavam trabalhando em uma maneira de armazená-lo por longos períodos de tempo em um ambiente estável.

— Merda! Por que diabos você acha que ela sabe algo sobre isso?

— Eu não sei. Mas ela desapareceu ao mesmo tempo que ele, e o irmão dele gastou muitos recursos em busca da filha e, de repente um assassino aparece à sua porta? Ele a quer de volta por uma razão. Estou pensando que talvez ela tenha algo que eles querem ou que tenha informações que eles não querem que vazem.

— Boa sorte em encontrá-la então, — disse Sam.

Resnick praguejou longa e violentamente.

— Maldição, Sam. Trabalhe comigo aqui. Não me trate como se eu fosse um idiota. Marque uma reunião para mim. Você escolhe o local. Irei sozinho. Você tem a minha palavra. Isso é muito importante. Se Mouton colocar as mãos sobre o plutônio, muitas pessoas irão morrer.

Sam esfregou a palma da mão sobre o rosto e fechou os olhos enquanto o pulsar de uma dor de cabeça começava na base de seu crânio. Sophie ainda estava escondendo alguma merda dele? Ela teria sido sincera sobre alguma coisa?

Olhou para seus irmãos e os viu olhando fixamente para ele, perguntas em seus olhos. Segurando o olhar deles, finalmente falou novamente ao telefone.

— Só você, Resnick. Se quebrar sua palavra, nunca mais terá nenhuma outra maldita coisa da KGI. Estamos acertados? Vou chamá-lo com a localização e horário. — Antes que Resnick pudesse responder, Sam desconectou e bateu o telefone no balcão.

— Que diabos foi aquilo? — Garrett perguntou.

— Resnick quer interrogar Sophie.

— Sobre o que? — Donovan perguntou.

— Aparentemente, Mouton está desaparecido. O irmão parece estar no comando das coisas, o que explica seu guarda-costas pessoal vir, e não um dos de Mouton. Ele desapareceu no mesmo dia em que Sophie fugiu. A CIA tem uma atração por Sophie. Eles acham que ela pode dar-lhes informações.

— E você está concordando com o encontro, — disse Garrett.

Sam assentiu.

— Sim, estou. Não vejo vantagem em enfurecer Resnick. Também quero informações. Se ela está escondendo algo de nós, precisamos saber. Não correrei nenhum risco com aqueles bastardos e nossa família.

Garrett e Donovan assentiram em concordância.

Sam checou o relógio.

— As equipes estarão aqui em breve. Mamãe e Papai decidiram fazer o que pedimos. Vamos dividir, deixaremos Rio e seus homens para protegê-los, Steele e sua equipe irão proporcionar segurança para a nossa reunião com Resnick.

— Um de nós deve ficar com Rio, — disse Donovan. — Eu me sentiria melhor se um de nós estivesse aqui com mamãe e papai.

— Vocês dois podem ficar, — disse Sam. — Não quero arrastá-los para minha bagunça. — Garrett lhe lançou um olhar sufocante.

— Vou fingir que você não disse isso. Van pode ficar com mamãe e papai. Eu vou com você e Sophie.

— Okay então. Vamos resolver onde diabos marcaremos o encontro e receberemos Resnick.

 

Quando Sophie acordou, a sala estava cheia de homens estranhos, todos vestidos com camisetas pretas e calças camufladas. Eles pareciam duros, não apenas musculosos, mas duros no sentido que tinham visto e sofrido muito.

Eram militares. Disciplinados. Mais que apenas dinheiro guiava sua motivação. Sua lealdade não poderia ser comprada, como o seu pai comprava aqueles que eram leais a ele.

Seus pensamentos eram fantasiosos. Ela não sabia nada disso como um fato. Talvez não fossem melhores que seu pai, mas ela tinha que acreditar em alguma coisa, e agora escolheu acreditar em Sam e, por padrão, nos homens que trabalhavam com e para ele.

Fascinada pela única mulher no grupo—eles a chamavam de P.J. — Sophie a viu interagir da segurança de seus cobertores e montanha de travesseiros. Ninguém notou que estava acordada, e estava muito feliz em observar em silêncio.

P.J. era pequena e, surpreendentemente, tinha aparência muito feminina, ou talvez fosse porque estava cercada por machos muito maiores e fortes. Era muito bonita, de uma forma discreta. Tinha um bronzeado que testemunhava o tempo passado ao ar livre. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo arrumado, simples e prático, assim como sua aparência. Seus olhos, porém, eram uma sombra verde clara, bonitos o suficiente para Sophie se vir encarando descaradamente a mulher fascinante.

Ela também estava vestida com uma camiseta preta e calça camuflada. Uma faca grande estava presa ao cinto, e usava um coldre com uma pistola enfiada debaixo do braço.

Sophie sentiu uma onda de inveja. Aqui estava uma mulher que era totalmente autossuficiente. Ela não precisava dos homens que a cercavam. Era, obviamente, uma igual, e podia cuidar de si mesma. Estes homens confiavam nela para vigiar, não só a si mesma, mas a equipe também.

P.J. não teria fugido de medo, como Sophie tinha feito. Nem teria feito uma tentativa tão lamentável de escapar do assassino de Tomas.

Ela olhou para suas mãos e quase riu. Era bastante inútil se comparar a um mercenário do sexo feminino. Embora quisesse saber a estória de P.J. Como, impressionantemente, ela tinha escolhas, poderia fazer e ser qualquer coisa. Estava no controle de seu próprio destino.

Assim, eram cerca de um bilhão de pessoas no planeta, e agora Sophie seria assim. Não seria mais controlada por outro ser humano. Era uma promessas que ela repetia frequentemente.

Seu olhar girou para onde Marlene e Frank estavam sentados no canto da sala. Marlene estava no colo de Frank, e ele tinha um braço firme ao seu redor. Estavam conversando em voz baixa, e era óbvio que Frank estava consolando-a. De vez em quando o olhar preocupado de Marlene buscava seus filhos, mas havia também orgulho feroz refletido lá. E amor.

Isso fez o peito de Sophie doer. Doía ver tanto amor, tanto sentimento de família nesta casa espaçosa. Fotos e memórias enchiam as paredes e a cornija sobre a lareira. Ocupavam todo o espaço disponível na superfície das mesas e sobre a televisão.

Era tudo que ela sempre quis e nunca teve.

O bebê chutou, apenas um pequeno empurrão, como se estivesse se virando para uma posição melhor em seu sono. Lágrimas queimaram nas pálpebras de Sophie. Ela já amava muito sua filha, e prometeu com tudo o que tinha, que de alguma forma, de alguma maneira, sua filha iria crescer com o amor e a segurança que Sophie nunca desfrutou.

Ela não tinha experiência. Mas tinha sonhos. Imaginara mil vezes como as famílias normais viviam e amavam. Queria isso para sua filha. Queria para si mesma.

— Você está bem?

Virou a cabeça até ver um homem alto, de cabelos escuros—Rio? —de pé sobre ela. Congelou enquanto o estudava. Ele parecia feroz, mas havia algo suave em seus olhos quando a olhou.

— Você parecia chateada.

Ela limpou a garganta nervosamente. Não sabia o que dizer, ou se deveria dizer alguma coisa. Ele poderia ser um dos homens de Sam, mas isso não lhe dava livre acesso automaticamente.

Então ele sorriu, e os dentes brancos brilharam.

— Você me lembra minha irmã mais nova. Magdalena era o nome dela.

— Era?

Sua voz saiu pouco mais que um sussurro, e quando a dor brilhou em seus olhos escuros, ela lamentou fazer a distinção.

— Ela faleceu há alguns anos atrás. Estava grávida como você. Estava tão bonita. Gravidez faz isso para uma mulher.

Sophie não sabia o que dizer ou como responder, então não disse nada. Para sua surpresa, Rio estendeu um copo de chá gelado e cuidadosamente colocou-o em sua mão.

Tocada pelo gesto, deu-lhe um sorriso genuíno e levantou o copo aos lábios.

— Obrigada! Quem são essas pessoas? — ela perguntou, olhando para além dele, para os outros.

Ele olhou por cima como ela fez.

— O homem em pé à direita de Sam é Steele, líder da outra equipe. Eu sou Rio, aliás. Minha equipe está de pé ao lado. Toda essa intimidade não é realmente nosso negócio.

Ela seguiu sua direção a um grupo de cinco homens que estavam em silêncio, sem expressão. Eles apenas observavam. Ela estremeceu. Pareciam perigosos.

— Aqueles são Cole e P.J., com Donovan. Eles são os dois atiradores. Ambos pertencem a Steele. Do outro lado deles estão Baker, Renshaw e Dolphin.

Ela levantou a cabeça para olhar para Rio.

— Golfinho[4]?

Rio sorriu.

— Porque ele nada como um.

— Por que você está sendo tão legal comigo? — ela perguntou sem rodeios.

A sobrancelha dele subiu e ele estudou-a por um momento.

Por que eu não seria?

Ela encolheu os ombros.

— Você não me conhece.

— Eu acho que talvez não esteja acostumada a pessoas que estão sendo muito agradáveis com você. Talvez seja hora de alterar suas expectativas, hum?

Ele ofereceu um sorriso, depois voltou para onde seus homens estavam. Inclinou-se contra a parede, apoiando um pé atrás dele, e olhou para Sam e Steele com uma expressão de tédio no rosto.

De vez em quando ele olhava para ela e sorria. Ele não tinha ideia de quanto esse pequeno gesto significava para ela, em uma sala cheia de pessoas que não conhecia ou confiava. Deu-lhe algo para agarrar. Ele podia não gostar ou confiar nela— ela duvidava das duas opções—mas ele foi gentil com ela, quando não precisava ser. Era muita tolice— mas não surpreendente— que ela fosse tão boba e fraca para alguém mostrar-lhe qualquer tipo de bondade.

Ela já estava firmemente sob o feitiço de Marlene Kelly, e pelo que percebeu, a mulher mudou de ideia sobre ela no momento em que Sam contou-lhe a estória.

Falar de casas seguras e partidas virou Sophie na direção de Sam. Ele estava falando com Steele, e Rio fechou o pequeno círculo dos homens em torno de Sam. Garrett e Donovan estavam do outro lado de Sam, e ela foi atingida pela maneira como suas expressões eram ferozes.

Esforçou-se para inclinar-se para frente para que pudesse ouvir, e Marlene e Sam a viram ao mesmo tempo. Sam virou em sua direção, ficando em silêncio enquanto seu olhar vagava sobre ela. Marlene deixou o abrigo dos braços do marido e deslizou para o sofá ao lado de Sophie.

— Como está se sentindo, querida? — Marlene perguntou enquanto colocava uma mão no braço de Sophie.

Não querendo ser rude, arrancou o seu olhar de Sam e se virou para Marlene.

— Melhor. O banho e a comida fizeram maravilhas.

— Você está ferida? Quer mais um pouco de remédios contra a dor? — Sophie fez uma pausa, percebendo que não estava sequer se lembrando de seu ombro. Não despertou com a dor viciosa. Cautelosamente testou seu movimento, levantando o braço.

Estremeceu e imediatamente deixou seu braço cair de volta para seu lado.

Antes que pudesse responder a Marlene, Sam estava ao seu lado, com os olhos piscando com desaprovação.

— Não mova seu braço mais que o necessário. Você não quer abrir os pontos. — Ele olhou para Donovan. — Van, você quer dar mais uma olhada antes de partirmos?

Sophie piscou em confusão e, em seguida, olhou entre Sam e sua mãe.

— Eu estou bem, Sam. Ele acabou de olhar, e eu não fiz nada, até apenas um segundo atrás. Nem mesmo doeu quando o fiz.

— Bem, não o mova mais, — disse ele rispidamente.

— Você está partindo? — ela perguntou. A ideia de ele partir enviou pânico até sua espinha.

Seus olhos se estreitaram e ele piscou.

— Você pensou que eu a estava deixando? Você virá comigo, Sophie.

Os lábios dela formaram um O.

— Onde estamos indo?

Estava tão aliviada que sua cabeça estava um pouco nublada.

— Teremos bastante tempo para discutir isso na estrada. Sente-se pacientemente aqui com mamãe, enquanto discuto todos os detalhes com meus homens.

Tocou a mão dela brevemente enquanto se levantava, mas o calor viajou por todo seu corpo. Olhou mais uma vez para ela antes de voltar para seus homens.

— Existe algo que eu possa trazer para você? — Marlene perguntou.

Sophie sacudiu a cabeça e focou em Sam. Queria ouvir o que ele tinha a dizer e descobrir qual era seu plano. Precisava de sono, mas agora estava em desvantagem. Ela perdeu muito enquanto cochilava.

— Rio, eu quero que você parta com mamãe, papai e Rusty. Donovan ficará com vocês. Fiquem escondidos até que eu entre em contato. Steele, você faz o reconhecimento no Águia Um com Cole, P.J. e Dolphin. Quando informar que está tudo limpo, trarei Sophie. Quero Baker e Renshaw no primeiro avião para o Havaí para vigiar Ethan e Rachel. Vou mandar Garrett encontrar Resnick e trazê-lo. Vocês manterão o perímetro em todos os momentos. Não correremos nenhum risco.

— Eu cuido disso, — disse Steele.

Era a primeira vez que ouvia Steele dizer algo. Ele ficou a maior parte do tempo de pé e observando, seus intensos olhos azuis absorvendo tudo ao seu redor. Ele parecia... frio e intimidante.

Instintivamente ela encontrou Rio, e ele lhe deu um sorriso rápido.

Ela queria interromper e perguntar onde diabos estavam indo, mas permaneceu em silêncio. Não queria a atenção de todos sobre si. Sam prometeu protegê-la e a filha deles, e por enquanto, isso bastava.

 

— Sam, acho que Sophie deve ser examinada por um médico antes de vocês partirem, — Marlene disse com uma voz preocupada.

Sam olhou para sua mãe, que estava com a mão em seu braço. — Van já a examinou, Mamãe. Suturou o ferimento e deu-lhe antibióticos.

— Mas Donovan não vai com vocês. Ele vai ficar conosco. Garrett não é médico e nem você. Além disso, o que Donovan sabe sobre gravidez?

Sam franziu o cenho.

— Este é o seu filho, Sam, — Marlene persistiu. — Esta mulher passou um inferno. Você precisa ter certeza que está tudo bem com o bebê.

Sam colocou a mão na parte de trás do pescoço e torceu a cabeça de um lado para o outro. A fadiga e tensão tinham um controle firme sobre ele. — Tenho que cuidar da segurança deles, Mãe. Você sabe disso... Não posso deixar que nada aconteça a eles. Não podemos entrar em uma clínica, nem mesmo usando uma identidade diferente. O pai dela chegará até nós. Tenho certeza que ele tem uma rede de várias centenas de quilômetros de largura ao nosso redor.

— Eu posso conseguir que Doc venha aqui para examiná-la. Ele já fez o parto de mais de um bebê. Poderia ao menos ouvir o batimento cardíaco. E receitar algumas vitaminas. Ela deve tomar vitaminas.

O franzido da testa dele suavizou quando viu verdadeira preocupação nos olhos dela. Inclinou-se e abraçou-a apertado.

— Vou conseguir as vitaminas. Me certificarei que se alimente bem. Cuidarei muito bem dela. E logo que possível, a levarei ao médico. Você tem a minha palavra. Mas não posso fazer isso agora. Não posso assumir o risco e ficar aqui por mais tempo.

Marlene suspirou e chegou até a dar um tapinha em sua bochecha. Ele sorriu para o gesto. Sempre o fazia se sentir como um menino novamente.

— Você é meu filho mais velho, e eu te amo, meu querido, mas tenho que dizer, você realmente ferrou tudo desta vez.

Ele piscou, surpreso, enquanto ela balançava a cabeça e se afastava. Então ele riu. Não havia mais nada a fazer. Foi repreendido como um adolescente pego fazendo sexo no banco de trás do carro dos pais. Pelo menos naquela época, ele teria usado um preservativo.

Soprando um suspiro cansado, ele se virou para os outros.

— Estão todos prontos para sair? — Ele olhou para seu pai. — Você, mamãe e Rusty fizeram as malas?

Seu pai foi até a cozinha. — Deixe-me trancar a casa e programar o alarme.

Sam balançou a cabeça, não tendo coragem de dizer a seu pai que travas e alarmes não impediriam os homens de Mouton se eles quisessem entrar.

Sua mãe abraçou a todos, inclusive cada um de seus homens. Foi divertido ver o desconforto deles por terem sido acarinhados por Marlene Kelly, mas não era como se eles a repelissem. Ela não era do tipo que você recusava.

Sophie observava do sofá, e Sam podia ver a dor que não tinha nada a ver com seus ferimentos, profunda em seus olhos. Caminhou até ela e pegou sua mão. Seu olhar assombrado encontrou o dele, e ele apertou-lhe os dedos, na esperança de aliviar um pouco da escuridão que viu refletida em seu rosto.

— Sente-se paciente, — ele murmurou. — Levarei alguns travesseiros e cobertores até o SUV para que você fique confortável. Garrett vai dirigir, então me sentarei na traseira com você. — Agora que as ordens foram dadas, todos se separaram e seguiram seu caminho. Um dos dois jatos Kelly voaria com Baker e Renshaw para o Havaí, enquanto o outro levaria Steele, Dolphin, P.J. e Cole para West Virginia, onde preparariam o Águia Um, uma das casas seguras da KGI, para a chegada de Sam e de Sophie.

Garrett deslizou para o banco do motorista e olhou por cima do ombro para Sam, que estava enchendo a parte de trás com os travesseiros para Sophie.

— Você disse a ela o que foi combinado?

Sam fez uma pausa, em seguida, encontrou o olhar de Garrett.

— Não.

Garrett levantou uma sobrancelha.

— Você não acha que ela verá como uma emboscada?

— Provavelmente.

— Ela vai ficar irritada, cara.

Sam olhou para seu irmão.

— Você não parece preocupado em irritá-la.

— Eu não estou dormindo com ela. E ela não está carregando meu filho.

Sam esmurrou um dos travesseiros, em seguida, retirou-se da parte de trás e ficou na porta, sua mão segurando a parte superior da janela.

— Eu não quero que ela esteja preparada para Resnick. Se ela estiver com a guarda baixa, poderemos descobrir mais. Ela está escondendo algo. O que, eu não tenho certeza, mas ela não nos disse tudo.

— Concordamos em muito.

Sam observou enquanto os veículos que levavam sua família para segurança saíam da garagem, e depois voltou para a casa. Encontrou Sophie de pé na sala de estar, calçada com meias. Parecia nervosa e perdida.

Por um momento, a auto repugnância o manteve imóvel. Ele estava jogando-a aos lobos. Não que permitiria Resnick a pressionasse, mas estava levando Sophie a uma situação sem nenhum aviso. Sim, funcionaria melhor assim, mas ele se sentia como um idiota.

Ele tinha uma família para proteger, e não poderia fazer isso sem todas as informações. Informação, que ele sabia, era possível que Sophie tivesse. Se Resnick estava confiante de que Sophie era alguém que a CIA queria questionar, ele estava com a razão que ela sabia alguma coisa.

— Sophie.

Ela olhou em sua direção, e ele podia ver a tensão em seu rosto. A profunda tristeza em seus olhos o atingiu profundamente. Deu um passo a frente, querendo tocá-la. Seus dedos traçaram-lhe o braço até que pegou seus dedos entre os dele.

— Por que você parece tão triste? — ele perguntou.

Seus lábios tremiam enquanto ela tentava sorrir. Desviou o olhar e olhou ao redor da sala.

— Você sabe como é sortudo?

O que não era nada do que esperava que ela dissesse.

— Por que você diz isso?

Ela puxou sua mão levemente, mas ele apertou ainda mais, recusando-se a deixá-la se afastar dele.

— Você tem tudo isso. — Ela fez um gesto com a mão livre, abrangendo a sala. — Você tem mágica.

Novamente seus olhos azuis olharam para ele e ficou impressionado com a onda de emoção lá. Eles brilhavam com lágrimas não derramadas e seu intestino apertou.

— Você tem uma família. Uma estória. É tão óbvio que existe amor aqui. Deve ter sido maravilhoso crescer nesta casa.

Ele puxou-a cuidadosamente em seus braços e enfiou a cabeça dela debaixo de seu queixo. Não sabia o que dizer, além de concordar. Que tipo de infância ela suportou crescendo sob o julgo de alguém como Alex Mouton? E onde estava a sua mãe? Ela não falou muito sobre sua mãe, e ninguém de seu serviço de inteligência mencionou uma mulher ou uma filha.

Resnick tinha muito a responder. Ele enviou a KGI para a missão, sem informações importantes. Como o fato de Mouton ter uma filha. Sam tinha a maldita certeza que não teria se envolvido com Sophie se soubesse desse pequeno fato. Olhando para trás, percebeu que era, no mínimo, conveniente.

Mas aqui, agora, com ela nos braços, e sentindo o pontapé de seu filho, era fácil dizer que ele não teria se envolvido, mas não conseguia se mostrar arrependido. Mesmo que Sophie estivesse firmemente envolvida nos negócios de seu pai. Se nada mais, seu filho não viveria com as repercussões das escolhas de sua mãe ou de seu avô.

Surpreendendo-o, Sophie se virou em seu peito e abraçou-o ferozmente. Lentamente os braços dele foram de encontro a ela, e segurou-a lá enquanto ela enterrava o rosto em seu ombro.

Não tinha certeza do que ela precisava dele. Ah, podia adivinhar, mas tudo o que podia oferecer era proteção. Estava determinado a manter o resto de si mesmo trancado, pelo menos até... o quê? Ela mostrar-se digna?

O pensamento o enojou ao mesmo tempo em que criava raízes em sua mente. Não havia maneira de adoçar o que estava fazendo. Odiava o fato de não confiar  nela completamente, mas seria um idiota se oferecesse sua fé cega. Muitas pessoas dependiam dele.

Quanto mais cedo se reunissem com Resnick, mais cedo poderia continuar com o negócio de despachar Mouton de uma vez por todas. Então, talvez ele e Sophie pudessem trabalhar sobre os obstáculos aparentemente intransponíveis entre eles.

— Venha, — murmurou em seu cabelo. — Vamos pegar seus sapatos. Garrett está esperando. Precisamos pegar a estrada.

Ela não perguntou para onde estavam indo. Pegou sua mão e deixou-o levá-la da sala para a porta da frente.

Sua confiança o humilhou e fez a sensação de mal estar em seu estômago crescer.

Ele estava com muito medo que, quando tudo terminasse, ele não se comprovasse ser digno dela.

 

— Não gosto da ideia de deixar você e Sophie sozinhos, — Garrett disse enquanto navegava através do tráfego de Nashville, em direção ao aeroporto.

Sam inclinou-se contra a porta, com Sophie nos braços, a parte inferior do corpo esparramado pela poltrona. Ela adormeceu 30 quilômetros depois que saíram de Dover, e sua respiração enchia a traseira do veículo.

Distraidamente passava os dedos pelos fios de cabelos loiros descansando em seu rosto enquanto olhava para o reflexo de Garrett no espelho retrovisor.

— Não quero dar a Resnick nossa localização. Ele estava muito ansioso para saber sobre Sophie. Se dermos meia chance, ele trará uma equipe e a levará. Se você buscá-lo, não precisarei me preocupar que isso aconteça.

Garrett assentiu.

— Farei tudo para não sermos seguidos. Se eu tiver que drogar e vendar o filho da puta, para que não tenha uma pista de onde estou levando-o, o farei.

Garrett dirigiu para o estacionamento do aeroporto e desligou o motor. Sam gentilmente tocou Sophie na face.

— Sophie, acorde. Chegamos ao aeroporto.

Suas pálpebras agitaram e, em seguida, abriram. Ela tentou se levantar, seus movimentos desajeitados contra ele. Ele ajudou-a a se colocar na posição sentada, e ela olhou ao redor, os olhos arregalados.

— Sam, eu não tenho nenhum dos meus documentos. Meu passaporte.

— Não voaremos para lugar nenhum. Garrett é quem irá. Mas ninguém precisa saber disso. Faremos uma caminhada no terminal e então você e eu voltaremos e trocaremos de veículos.

Ela franziu a testa.

— Aonde Garrett vai?

Garrett olhou para Sam e depois de volta para Sophie.

— Apenas uma pequena missão de investigação. Encontrarei vocês dois no Águia Um.

Sophie sacudiu a cabeça, como se para desanuviá-la, enquanto Sam a ajudava a sair da traseira do SUV.

— O que é Águia Um? Todos estão falando sobre isso.

— Uma de nossas casas seguras, — disse Sam.

Pegou seu cotovelo na palma da mão e a guiou em direção ao elevador.

— Aja naturalmente, Sophie. Sorria. Não queremos chamar atenção indevida.

Vinte minutos depois, Sam e Sophie passaram pela saída de passageiros e entraram num táxi. Ele direcionou o motorista para um local fora do centro da cidade e depois se sentou e puxou Sophie para ele.

— Está sentindo dor?

Ela balançou a cabeça contra a curva de seu braço.

— Estou me sentindo muito melhor. Estou com fome de novo, mas estou sentindo fome o tempo todo esses dias.

Ele sorriu e automaticamente olhou para sua barriga, que pressionava a lateral do corpo dele.

— Eu vou te dar algo para comer, logo que estivermos em nosso caminho novamente. — Ela não o questionou ainda mais. Não perguntou para onde iam ou quanto tempo levaria. Somente se recostou contra ele e descansou.

Eles saíram do táxi, e Sam colocou Sophie no banco da frente de um Ford Expedition[5] preto. Então abriu a porta traseira e levantou o forro para mexer no pequeno arsenal escondido lá.

Colocou uma Glock no coldre, bateu o pente para balas em um dos fuzis, em seguida, tirou o telefone por satélite e uma unidade de GPS de pequeno porte. Colocou o forro de volta e depois caminhou para se sentar no banco do motorista.

Os olhos de Sophie arregalaram brevemente, quando viu a espingarda, mas não disse uma palavra enquanto ele colocava o tambor para baixo entre os seus assentos.

— Não iremos muito longe hoje, — disse ele enquanto acionava o motor. — Enviei Steele e sua equipe à frente para reconhecimento. Estaremos atrás deles até que ele me diga que está tudo limpo. Pensei que gostaria de comida e banho quentes e uma cama confortável.

As mãos dela tremiam no colo e ela olhou para os olhos dele,  duros e vazios.

— Isso seria absolutamente maravilhoso.

Ele pegou a mão dela, curvando os dedos em torno dos seus enquanto pegava a estrada. Por um momento sua mão ficou inerte na dele, até que finalmente ela enfiou os dedos apertados nos dele e segurou.

 

Pararam em um motel de beira de estrada, algumas horas depois. Não era o Ritz, mas também não era uma espelunca. No momento, Sophie não se importava, desde que nada se arrastasse sobre ela e tivesse água corrente e uma cama decente. Na verdade, a cama sequer tinha que ser decente.

Surpreendentemente, estava livre de dor, e realmente podia mover o braço em diferentes graus sem o ferimento irritá-la. Ainda estava dolorida da cabeça aos pés, mas estava mais solta agora e se pudesse conseguir outro banho quente, iria percorrer um longo caminho para restaurar suas forças.

Sam voltou com as chaves, e caminharam para um quarto no final do corredor. A única suíte que o motel possuía, mas anunciava uma banheira Jacuzzi, então ela estava contente sobre isso.

— Vou preparar seu banho, e você poderá ficar imersa enquanto peço a comida. Tem alguma preferência? — Sam perguntou. — Vou pegar as bagagens da caminhonete para que você tenha roupas limpas para vestir.

A testa dela enrugou.

— Bagagem? Não trouxemos nenhuma bagagem.

Ele sorriu.

— Foi providenciado.

A boca dela estava aberta.

— Mas como?

— Sempre vale a pena estar preparado.

Ela balançou a cabeça. Ele não estava contando nada a ela. Alguém deveria ter abastecido a caminhonete para eles. Provavelmente um de seus muitos membros da equipe.

— Vamos! Vou ajudá-la na banheira e depois a deixarei em seu banho, — ele disse enquanto a guiava em direção ao banheiro.

Ela parou e colocou uma mão em seu braço.

— Eu posso fazer isso. Estou bem. — Ele olhou para ela por um momento, depois assentiu.

— Tudo bem, então. Vou cuidar da bagagem e providenciar a comida.

Ela não gastou tanto tempo nesta banheira como gastou na banheira dos pais de Sam. Podia ouvi-lo do lado de fora do banheiro, e estava cheia de uma urgência inquieta para voltar para ele.

Apesar da rigidez e um pouco de dor residual, o ferimento não a incomodava tanto quanto pensou que incomodaria, quando foi baleada. Tocou a cicatriz com os dedos e examinou-a no espelho. Estava um pouco enrugada, um pouco inchada ao redor da sutura, mas não havia vermelhidão que indicasse infecção. Aquelas injeções de antibióticos que Donovan lhe deu fizeram o truque.

Secou o cabelo na toalha e então percebeu que Sam não trouxe uma muda de roupa para ela. Sua calça larga e camiseta estavam jogadas no chão, se umedecendo com a água que escorria do chuveiro.

Com um suspiro, enrolou uma toalha em volta do corpo e abriu a porta do banheiro. Não viu Sam, então empurrou mais para dentro do quarto, esticando o pescoço para ver ao redor da porta.

Ela viu Sam ao mesmo tempo em que ele olhava para cima e a via. Houve uma faísca em seus olhos, e ele rapidamente desviou o olhar, mas depois o ergueu mais uma vez, como se não pudesse resistir.

— Eu, uhm, não tenho nenhuma roupa, — ela murmurou.

Ele moveu-se para a cama e remexeu em uma das sacolas antes de puxar uma calça jeans, roupa íntima e uma camisa. Circulou a cama e caminhou em sua direção com passos decididos.

Ela quase recuou. Sentia-se pequena e vulnerável, e ele estava olhando para ela da mesma maneira que olhara todas aquelas noites que passaram em outro hotel.

Parou a apenas a um passo em frente a ela, tão perto que seu calor a alcançou e a circulou como a toalha úmida que ela usava tão perto de seu peito.

As roupas estavam em sua mão, mas ele não se mexeu para entregá-las e ela não esticou a mão para pegá-las.

Seu olhar era tão intenso. Tão penetrante. Ela se sentiu nua. Tão inquieta e viva. Engoliu em seco, mas nada a fez se livrar do nó na garganta. Sua garganta doía tanto quanto seu corpo.

As roupas caíram silenciosamente no chão. As mãos dele envolveram seus ombros nus. Seus dedos acariciaram sua pele.

Lentamente, e com infinita ternura, sua boca desceu sobre a dela. Sua respiração dançou sobre sua pele, e então ele capturou seus lábios em um beijo longo e quente. O tempo derreteu como gelo num dia de verão. Ela estava de volta em seus braços no quarto do hotel onde se encontravam após deixar o bar todas as noites.

Ele sempre esperou por ela, puxando-a em seus braços assim que entrava pela porta. Suas roupas voavam e reagiam desesperadamente à paixão que existia entre eles.

Ela daria tudo para voltar para as noites preciosas que passara em seus braços. Mas sempre soube que não poderia ter isso para sempre.

No entanto, agora, sob o calor dos seus lábios, se agarrava a ele, querendo-o tanto, que a dor ultrapassava em muito, a dor de seus ferimentos.

Ele se afastou e deu um passo para trás, passando a mão pelos cabelos em agitação.

— Maldição, Sophie. O que você faz comigo.

Os lábios dela franziram e olhou para ele, esperando que ele murchasse sob a força de seu olhar.

— Eu não fiz você me beijar. Você me queria tanto quanto eu queria você. Não dê desculpas. Cale-se e assuma a responsabilidade.

Ele levantou uma sobrancelha e depois seu olhar ardeu. Deu um passo adiante, e ela, instintivamente, recuou.

Suas mãos alisaram os ombros dela, cuidadosamente deslizando sobre o braço enfaixado, até envolver seu rosto nas palmas das mãos.

— Você está absolutamente certa, — ele murmurou — Assumo o fato que agora eu quero fazer amor com você mais que qualquer coisa. É estúpido. Até mesmo insano, mas aí está. Por agora, vou assumir a responsabilidade pelo fato que vou beijá-la novamente.

Ela engoliu o nó na garganta, enquanto os lábios dele desceram novamente. Ela derreteu em seus braços, entregando-se totalmente ao abraço.

Um gemido baixo subiu em sua garganta, inchando dolorosamente antes de correr para a boca dele. Queria tocá-lo, segurá-lo contra ela, para saber que nada de ruim iria acontecer enquanto ela estivesse em seus braços.

— Diga-me que não podemos fazer amor, Soph, — ele murmurou contra seus lábios. O apelido carinhoso que ele utilizou tantas vezes quando estava em cima dela, dentro dela, ao seu lado ou enrolado em volta de seu corpo, soou tão doce aos seus ouvidos. Estava faminta por ele. — Há muita coisa por resolver entre nós. Não devemos, não podemos, fazer amor.

Ela suspirou infeliz e olhou para ele enquanto seus polegares acariciavam os cantos de sua boca.

Seu rosto ainda estava ternamente envolvido nas mãos dele, e não queria quebrar essa conexão por motivo nenhum.

— Por que não podemos? — ela sussurrou. — Eu senti tanto a sua falta, Sam. Fiquei acordada muitas noites ansiando que você me abraçasse novamente, me beijasse e fizesse amor comigo como fez antes.

Ele fechou os olhos e inclinou-se até que sua testa descansou contra a dela.

— Você está ferida. Isso é loucura.

Ela inclinou para trás apenas o suficiente para que pudesse roçar os lábios sobre os dele.

— Eu estou bem, Sam. Preciso de você. Por favor, diga que pensou em mim pelo menos uma vez.

— Merda, Sophie.

Ele parecia irritado. Afastou-se, a expressão sombria.

— Eu pensei em você. Pensei muito mais que uma vez. Gostaria realmente de não ter pensado. Mas porra, você desapareceu. Voltei para você e você se foi.

Dor, pior que uma punhalada, cortou o peito dela. As coisas teriam sido diferentes se ela estivesse lá quando ele voltou? Não que tivesse sido possível. Ela fez escolhas, não escolhas difíceis, mas ela as fez, e agora tinha que viver com as consequências.

— Eu pensei em você também, — ela sussurrou. — O tempo todo.

Virou-se e fechou os olhos enquanto o desamparo caía sobre ela. O remorso fechava sua garganta em um canal apertado. Inalou dolorosamente, até que a dor era tudo o que conseguia assimilar.

Uma batida soou na porta do hotel. Sam tocou seu ombro, em seguida, inclinou-se para recuperar as roupas caídas.

— Vá para o banheiro e se vista. Vou pegar a comida.

Ela pegou as roupas sem olhar para ele. Então retirou-se para o banheiro e fechou a porta. Encostou-se na madeira velha, odiando-se pelas lágrimas silenciosas que caíam por seu rosto.

Ela não podia voltar atrás. Não voltaria, se pudesse. O que foi feito, estava feito, e o preço que ela pagou foi alto. Talvez muito alto.

Limpando o rosto com as costas do braço, deixou cair a toalha e procurou no meio das coisas que Sam lhe deu. Havia calcinhas e sutiãs no tamanho correto. Desta vez, fechou o sutiã e apenas puxou-o sobre sua cabeça o melhor que podia.

Poucos minutos depois, limpa e vestida em roupas que lhe caiam muito bem, respirou fundo e voltou para o quarto.

O cheiro de comida flutuou por suas narinas e sua boca salivou. Havia uma variedade de alimentos espalhados sobre a cama. Uma pizza fumegante, duas saladas, uma bandeja de frios e caixas de comida chinesa.

Ficou ao lado da cama, sem saber por onde começar primeiro.

— Ataque, — Sam disse.

Ele se sentou na beirada da cama e pegou uma fatia da pizza de pepperoni.

— Eu ficarei com a metade, — disse ela rapidamente, apontando para a pizza.

Ele riu e pegou um prato de papel e entregou em sua mão.

—Eu acho que você conseguiu o que queria. Ficarei com a tarefa da limpeza.

Ela pegou o prato e rapidamente começou a empilhar comida sobre ele. Quando não tinha mais espaço, hesitou, tentando encontrar o que ela poderia devolver.

Sam riu novamente e entregou-lhe outro prato. — A comida não irá a lugar nenhum, Sophie. Sente-se e coma.

Sentindo-se uma idiota, ficou na beirada da cama e empurrou a bandeja de minissanduiches para o lado.

Atacou a primeira pizza porque estava muito quente, e apesar de pizza morna ser bom, era melhor quando o queijo estava todo derretido.

— Deus, isso é bom, — disse com um gemido.

Ele olhou curiosamente para ela.

— Quanto tempo se passou desde que você comeu decentemente?

O rosto dela corou.

— Alguns dias. Eu não ousava parar para comer. Estava muito ocupada tentando me manter à frente das pessoas que me perseguiam. Mas eu estaria morrendo de fome, de qualquer maneira. Não sou um desses tipos delicados de grávida. Acho que poderia comer o meu peso em cada refeição. Serei uma morsa até a hora do parto.

O olhar dele caiu sobre seu corpo, e ela se viu corando.

— Você certamente ganhou alguns quilos. Sua barriga esticou como uma bola de voleibol. Mas não engordou em nenhum outro lugar.

— Os seios, — ela murmurou em torno de uma segunda fatia de pizza. — Os seios estão enormes agora. Eu odeio isso. Sinto que estou incubando alienígenas e eles estão prontos para eclodir. — Ele olhou para ela com surpresa por um momento antes de jogar a cabeça para trás e rir.

— Eu acho que os alienígenas são perfeitos.

— Você acha, — ela murmurou.

Ela comeu, até que temeu que iria arrebentar seu estômago. Sua barriga estava tão apertada que não conseguia se mover. Caiu para trás na cama e fechou os olhos, deixando o contentamento correr sobre ela.

Então teve que rir, porque quando o contentamento acabou, isso não era exatamente o ideal. Estava presa em um motel, em fuga, com um homem que ela desejava com cada hormônio feminino em seu corpo grávido. Um homem cuja filha ela estava carregando. Um homem que não confiava nela e parecia lutar consigo mesmo, sobre se gostava dela ou não.

Então havia o fato que os homens de seu tio estavam respirando em seu pescoço, ela matou seu pai, e roubou o acesso a toda a sua fortuna.

Quando ela ferrava as coisas, ela ferrava por inteiro.

— O que estamos fazendo, Sam? — ela perguntou em voz baixa. — Onde estamos indo?

— Eu te disse. A uma casa segura da KGI.

Ela fez um som de frustração.

— E o que acontecerá depois? Você não pode me dizer que não tem um plano. Onde é que eu me encaixo?

— Eu disse que iria proteger você e nossa filha, — disse ele em um tom uniforme. Um tom que poderia ter sido usado com qualquer um. Um tom que lhe disse que ele não estava lhe dando nada.

Ela rolou e saiu desajeitadamente da cama. Foi até a janela, porque não havia mais para onde ir. Seus dedos dobraram e desdobraram, apertando a palma da mão quando as unhas afundaram em sua pele.

— Por que você não me diz nada?

Odiava o som suplicante de sua própria voz. Parecia necessitada e patética. Onde estava a mulher que planejara friamente o assassinato de seu pai e sua fuga?

Abaixou a cabeça, lamentando conjurar a imagem de seu pai escorregando para o chão, seu sangue escorrendo pelo chão polido.

Podia odiar o bastardo, mas a ideia de que ela tão facilmente puxou o gatilho a assustava. Seria mais parecida com ele do que pensava?

— Venha para a cama, Soph.

A voz baixa de Sam soou em seu pescoço, tão suave e suplicante. Ela estremeceu e apertou os braços protetoramente sobre o peito.

As mãos dele deslizaram sobre seus ombros e a puxou de volta contra ele. Então seus lábios sussurraram logo abaixo da orelha. Um beijo simples e delicado que transmitiu mais que as palavras, a tristeza pesada entre eles.

— Venha para a cama, — disse novamente.

Deixou-o afastá-la da janela. A comida fora retirada e as cobertas puxadas para trás. Manteve o olhar para baixo, mas ele cuidadosamente deitou-a no colchão, antes de prendê-la nas cobertas como faria com uma criança.

Sem despir-se, contornou a cama para o outro lado, onde deslizou ao seu lado. Seu calor envolveu-a antes mesmo que se empurrasse contra ela.

Por um momento ela resistiu e ficou rígida enquanto ele a colocava contra seu corpo, mas depois, incapaz de resistir, relaxou e se aconchegou prontamente em seu abraço.

Agora não se importava com o que ele pensava dela. No momento estava segura, mesmo que fosse apenas uma ilusão. Sua filha mexeu e chutou entre eles, e sua garganta apertou, na fantasia de como poderia ter sido se ela não fosse quem era, e ele não fosse quem ele era.

Poderiam ser pessoas normais celebrando a vida de uma criança e sua primeira incursão na paternidade. Ele poderia ler livros de gravidez e preocupar-se indefinidamente se ela estava comendo corretamente. Ele estaria lá para cada chute e movimento, e ficariam até tarde da noite conversando sobre os nomes e fazendo planos para o futuro.

— Sam?

O nome dele saiu de seus lábios. Ela tinha tanta coisa para explicar. Não sabia nem por onde começar, mas não conseguia mais suportar a tensão entre eles.

— Shhh. Não agora, Soph, — disse ele em voz baixa. — Deixe como está. Durma agora. Nosso filho precisa de sua força.

Com um suspiro resignado, ela fechou os olhos.

 

Sophie acordou sentindo lábios quentes e sensuais deslizando por seu pescoço. Estremeceu quando a língua de Sam traçou a concha de seu ouvido e permaneceu no lóbulo tempo suficiente para mordiscá-lo com os dentes.

O cobertor foi jogado para o lado, e a palma passou levemente pela perna dela, empurrando a enorme camiseta sobre seu quadril e juntando-a na cintura.

Ela prendeu a respiração. Teria retirado a calça durante o decorrer da noite? Estava deitada apenas de calcinha e camiseta, e as mãos de Sam foram rápidas em se livrar da camiseta.

Ou talvez ele fosse simplesmente muito bom.

Em outros tempos, ele já estaria sobre ela, dentro dela, acordando-a para sentir seu pênis esticando-a e colocando fogo em suas terminações nervosas. Mas esta manhã ele estava hesitante. Procurando... permissão? Seu consentimento?

Seu corpo latejava. Uma pulsação zumbia em sua virilha, e ela já estava inchada e molhada para ele. Adorava o seu toque. Mesmo em sua gentileza, ele era forte e magistral. Foi atraída por sua força, quando tinha motivos para temer tudo o mais no mundo.

Ele a fazia se sentir protegida e estimada.

Mas agora?

Seu cérebro doía tentando decifrar onde estavam. Se estavam em algum lugar. Não podia nem mesmo olhar para trás, para o que tiveram, porque o que tiveram não foi real. Foi construído sobre mentiras e meias-verdades.

A mão dele deslizou sobre sua barriga e envolveu a filha deles, como se trazendo para casa a única coisa que tinham. Eles criaram uma vida muito preciosa. Ela era muito real.

Ele a beijou novamente, apenas um toque contra a pulsação em seu pescoço. Seu corpo pressionou na curva do traseiro dela. A ereção estava quente e túrgida, pulsando contra sua pele. Choques frios pontilhavam seu quadril e se espalhavam rapidamente por suas pernas.

— Você disse que não podíamos — ela disse, sem convicção.

Ele moveu a mão para cima, até envolver o seio, e apertou suavemente, acariciando o mamilo entre seus dedos.

— Você está mais sensível aqui, agora? — Ele sussurrou.

Ela balançou a cabeça, incapaz de falar através do aperto em sua garganta.

— Então, serei ainda mais cuidadoso.

Ele tocou e acariciou, alternando até que seus mamilos estavam como picos duros, eretos e tão duros que doíam. O mais simples roçar em todos os pontos enviava uma corrente de desejo correndo por seu abdômen.

— Vou tirar sua camisa. Apenas fique deitada. Deixe-me fazer o trabalho. Não quero que machuque seu braço.

Ela estremeceu pela sensualidade crua de sua voz. Timbre baixo, rouco, com apenas um pouco de aspereza. Sua voz sempre ficava baixa e rouca quando faziam amor.

Oh Deus, iriam fazer amor.

Ele levantou a camisa, até que se juntou em torno do pescoço dela. Estendeu as aberturas da manga até que pudesse colocá-las em torno de seu cotovelo. Houve apenas uma pontada quando ele puxou o resto para cima e sobre seu braço.

— Levante sua cabeça por um segundo, querida.

Um momento depois, estava livre do material, e estava só de calcinha.

Ele levantou-se no cotovelo, e ela virou a cabeça para que pudesse vê-lo. Ele simplesmente a observou, seu olhar flutuando acima e abaixo por seu corpo com golpes preguiçosos.

— Você é tão incrivelmente linda, — disse ele com voz rouca.

Ela engoliu em seco. Não queria estragar o momento, mas precisava saber o que mudou. Por que estava disposto a fazer amor com ela agora?

— Você disse que não podíamos, — ela repetiu.

— Eu disse, — ele concordou. — Mas agora não consigo pensar em uma única razão pela qual não podemos. Eu quero você, Sophie. Senti sua falta. Não posso ficar deitado aqui, sem tocar em você. Eu quero o que é meu, novamente. E quero dar-lhe o que é seu.

Seu peito encheu, então ficou apertado. O estômago sacudiu e ela começou a tremer.

— Shhh, querida, — disse ele, enquanto acariciava a curva de seu corpo. —Apenas me deixe amá-la. Iremos descobrir tudo isso, Sophie. Eu juro.

— Você não me odeia?

Seus olhos suavizaram, e ele se inclinou para beijar seu quadril, bem em cima do cós da calcinha.

— Eu sinto muitas coisas por você, Sophie. Mas ódio não é uma delas.

Seu polegar enganchou na calcinha, e deslizou-a cuidadosamente para baixo, deixando-a nua e vulnerável ao seu toque e visão.

Sua mão voou sobre a barriga dela, e ela virou o rosto no travesseiro, incapaz de suportar seu escrutínio.

— Tem alguma ideia do quanto você é linda?

Havia admiração e reverência em sua voz, o que fez com que ela olhasse novamente para ele. Estava lá em seus olhos enquanto ele simplesmente a olhava.

Ele se curvou e beijou-a novamente e, em seguida, despejou uma linha de beijos, descendo de sua perna até o tornozelo. Levantou o pé e beijou cada dedo até que ela se contorceu pela sensação de cócegas.

Abaixou seu pé e moveu-se para detrás dela novamente. Deitou-se, com a boca perto de seu pescoço, enquanto a abraçava de conchinha. Suas nádegas acolheram a ereção, e ela gemeu em antecipação.

Ele não a moveu, não a virou. Simplesmente levantou sua perna e colocou-a sobre a dele, até que ela estivesse aberta e descoberta. Seu pênis estava entre as pernas dela, mas foram os dedos que encontraram seu calor.

— Sam... — ela sussurrou enquanto ele acariciava as linhas suaves. Ele separou-as e mergulhou um dedo dentro dela.

— Você está quente, úmida e tão malditamente apertada, — disse ele em um gemido íntimo.

Outro dedo escorregou dentro dela, e ela arqueou-se indefesa. Ela não iria resistir. Seu corpo estava dolorosamente consciente dele. Ela o queria a cada respiração. Virou a cabeça, e sua bochecha encontrou os lábios dele. Ele a beijou. A doçura desse beijo derreteu seus sentidos e enviou um trêmulo despertar através de seu coração.

Como poderia amar alguém sobre o qual estava tão insegura?

Lágrimas correram de seus olhos subitamente. Piscou furiosamente, com raiva por ser tão fraca em um momento tão vulnerável.

— Faça amor comigo, — ela falou. — Por favor, Sam. Preciso de você.

Ele parou por um momento, e um leve estremecimento percorreu seu corpo, pressionando dentro dela. Ela podia sentir sua energia e sua reação ao seu apelo suave.

Seus dedos deixaram-na agarrar seu pênis. Ele posicionou-se em sua entrada e, em seguida, encontrou seu ouvido com os lábios. Um beijo. Dois. E então ele murmurou baixo e docemente.

— Apenas relaxe, querida. Deixe-me tomá-la desta forma, assim você não precisará se mover. Deixe-me cuidar de você.

Ele a cutucou, pressionando os quadris em suas nádegas, enquanto rompia a brecha apertada de seu calor. Ela prendeu a respiração, então fechou os olhos enquanto os impulsos rasos enviavam camadas de prazer através de sua boceta.

Para frente e para trás. Ele balançava contra ela lenta e calculadamente, nenhum de seus golpes indo muito profundamente. Sua mão deixou o pênis, agora que estava posicionado, e ele a colocou possessivamente sobre o quadril dela. Seus dedos se enrolaram na pele dela, segurando-a enquanto se movia mais rápido agora, mas ainda tão cuidadosamente quanto antes.

Ele a estava deixando louca. Ela flexionou e empurrou para trás, ansiosa para encontrar seus movimentos, mas ele segurou seu quadril e a manteve no lugar.

Deixe-me, — ele sussurrou novamente.

Sua perna estava sobre a dele, e ela enfiou o pé entre as pernas dele, apreciando o roçar dos pelos em sua pele nua. As pernas dele eram musculosas, magras e muito fortes. Flexionavam-se e se contorciam com cada impulso para frente.

Em seguida, a mão dele saiu de seu quadril e relaxou debaixo de sua perna, empurrando-a para cima para dar-lhe espaço. Apoiou sua coxa com o antebraço e a tocou até seus dedos encontraram o clitóris.

Seu polegar provocou a entrada onde seu pênis esfregava para frente e para trás, enquanto os dedos separaram a carne macia acima e ternamente acariciou o feixe de nervos duro e sensível em seu centro.

Não conseguindo mais ficar parada, ela apertou e se inclinou contra ele.

Suas estocadas ficaram mais fortes, e ele afundou mais profundamente, até que suas nádegas estavam coladas contra o abdômen dele.

— Você está pronta, querida? Venha comigo. Goze comigo agora.

— Só mais um segundo — ela suspirou.

Fechou os olhos e balançou contra ele. Os dedos dele ficaram mais agressivos, e moveu seu polegar até deslizar sobre o clitóris em uma exigência para que ela respondesse.

— Sim. Oh meu Deus, sim. Assim, Sam. Não pare, por favor. Não pare.

Ela estava implorando. Sua voz estava rouca e necessitada, e cada exigência saía em uma curta explosão de ar.

Ele recuou e então bombeou profundamente, enquanto seu polegar circulava em um círculo apertado.

Ela gritou e ficou tensa. Seus dedos se apertaram em bolas, em punhos tão apertados que suas mãos tremiam com a tensão. Cascatas de cores brilharam, manchas pequenas e grandes que flutuaram através de sua visão mesmo quando fechou os olhos.

Sam estava empurrando forte e rápido agora, enquanto buscava sua própria liberação. Seus gritos roucos se misturavam com os sons de agonia dela. Parecia que ela estava sentindo o pior tipo de dor, mas o prazer, ah o prazer, era tão intenso, tão bonito que ela não queria que acabasse.

Estendeu a mão para segurar a dele quando a sensação tornou-se demasiada intensa para suportar. Ele afastou o polegar, mas continuou um suave movimento balançante que enviava seu pênis deslizando através dos tecidos escorregadios por sua liberação.

Finalmente ele parou, abrigado dentro dela. Ela não se mexeu por medo de deslocá-lo, e ficou deitada lá, simplesmente apreciando a sensação de estar tão intimamente ligada a este homem.

Ele beijou suas costas, esfregou o dedo em círculos ao redor de seu ombro e, em seguida, beijou-a novamente, sua respiração irregular enviando arrepios sobre a pele dela.

— Eu preciso de você.

Sua voz era calma e pesarosa, como se ele não gostasse de admiti-lo e odiasse ainda mais expressar. Ela se perguntou por que ele foi honesto, talvez também estivesse cansado de todo o engano entre eles.

— Não consigo explicar. Não sei se quero, mas droga, preciso de você, Sophie. Isso não é apenas físico. Não pode ser. Já tive envolvimentos físicos antes.

Ele moveu-se ligeiramente, e por um momento ela temeu que estivesse saindo de dentro dela, mas ele ficou preso apertadamente, seus corpos unidos enquanto ele se mexia mais perto dela.

Ele deslizou a mão sobre a cintura dela e espalmou os dedos sobre sua barriga. Seu aperto era possessivo e delicado e disse a ela mais que as palavras, que ele estava reclamando o que era dele.

Ele continuou a acariciar e afagar sua barriga, seu toque leve e calmante. Pousou a boca sobre o ombro dela, e nenhum dos dois falou. Ela flutuava sobre uma nuvem entre o sono e a vigília, existindo em um estado de letargia delicioso.

Finalmente, cochilou e só acordou quando o sentiu finalmente se afastar em uma corrida quente de fluido.

Volto já, — disse ele.

Ele voltou com uma toalha morna e gentilmente limpou entre suas pernas. Em seguida, se instalou ao seu lado na cama mais uma vez e puxou-a para perto dele.

— Não temos que sair? — Ela murmurou.

— Não, ainda não. Minha equipe vai notificar-me quando for seguro.

Ela se mexeu e fez uma careta.

— Estamos seguros aqui, apenas nós dois?

Sentiu-o sorrir contra seu pescoço.

— Sim, Soph, estamos seguros. Eu não colocaria você ou o nosso bebê em risco. Saberei se alguém se aproximar a dez passos da nossa porta.

— Como? — Ela perguntou, sonolenta.

Ele riu.

— Segurança. Eu coloquei um monte, enquanto você estava tomando banho. Durma agora e não se preocupe com nada.

Ela suspirou, enquanto um pouco da euforia pós-sexo se dissipava. Era difícil não se preocupar quando enfrentava tanta incerteza. Ela ainda não lhe contou tudo, e quando ele soubesse, provavelmente não iria querer nada com ela.

Ele odiava o pai dela, e como os filhos geralmente se pareciam muito com os pais, ela não conseguia imaginar que Sam ficaria feliz em passar algum tempo com ela, amá-la ou permitir que seu filho fosse criado por um monstro.

O medo agitou seu estômago até que estava respirando profundamente pelo nariz para acalmar as náuseas. Ele não podia, não iria tomar a filha dela.

Fechou os olhos. Estava sendo idiota. Nada disso iria acontecer. Ela só precisava ser cuidadosa, escolher o momento certo e se certificar de seu tio nunca chegasse perto.

Mas isso ela não poderia fazer sem Sam.

 

Sam acordou com um corpo quente e doce estendido sobre ele e um pequeno tamborilar na lateral. Levou um momento para processar que era seu filho chutando-o.

Ele sorriu e deslizou a mão para baixo da coluna de Sophie, até envolver seu pequeno traseiro arredondado, enquanto ficava deitado lá absorvendo a total domesticidade da cena.

Sua mulher, lânguida e saciada, envolta sobre ele de uma forma possessiva que lhe dava uma sensação ridícula de satisfação, e seu filho, acordando-o com um pequeno chute em seu intestino.

Se o pequeno moleque se parecesse pelo menos um pouco com a mãe, ele estava em um inferno de um trajeto.

Enquanto continuava a acariciar o bumbum dela, ela se mexia e murmurava algo contra seu pescoço antes de se enterrar mais profundamente em seus braços.

— O que foi isso? — Perguntou ele contra sua orelha.

— Banho, — ela murmurou. — Eu preciso de um. Mas Deus, eu não quero me levantar.

— Então, não se levante.

Ele reforçou seu aperto sobre ela, satisfeito de simplesmente ficar assim. Ergueu a mão de seu quadril para verificar o relógio e, em seguida, preguiçosamente arrastou seus dedos até a fenda da bunda dela.

Choques frios correram pelas costas dela, e ele acalmou-os com a palma da mão. Por um longo momento, ela ficou deitada lá, o único som, a respiração suave contra seu pescoço.

Sim, ele gostava disso. Ele gostou cinco meses atrás e gostava agora.

Finalmente, ela empurrou-se para cima, e seu cabelo loiro se espalhou sobre o queixo dele. Para sua surpresa, ela inclinou-se e o beijou.

Não era uma tentativa de roçar seus lábios, mas um beijo quente, de boca aberta, que enviou uma onda de energia elétrica através de seu corpo.

Ela se afastou, e suas pupilas se dilataram até que houvesse apenas um fino círculo azul em torno do preto. Colocou a mão sobre o queixo dele e deixou seu polegar deslizar em seus lábios.

— Por que você me amarrou antes?

Ele piscou.

— Uhm?

— Aquela vez no hotel. Você me amarrou.

Seu peito tremeu quando o riso escapou.

— Eu não sei. Parecia a coisa que eu deveria fazer naquela época. Talvez eu seja um bastardo excêntrico. Você gostou?

Ela pareceu pensar quando inclinou a cabeça para o lado.

— Talvez.

Ele inclinou-se para cima e beijou-a rapidamente na boca.

— Então talvez eu faça isso novamente algum dia.

Seus olhos se arregalaram e ficaram ainda mais escuros. Ele sorriu. Ah sim, ela gostou. De fato, ele realmente não sabia por que tinha feito aquilo. Na época ele a quisera completamente à sua mercê, e a ideia de amarrá-la a sua cama tinha sido muito excitante. Não que ele precisasse de muito mais incentivo quando estava perto dela.

— Ok, eu realmente vou tomar um banho agora, — disse ela.

Tentou se afastar, mas ele pegou-a e, em seguida, rolou com ela até que estava sobre ela, olhando os olhos azuis estonteantes.

Seu pênis doía como um filho da puta, e quando ela se contorceu, a ponta roçou as dobras úmidas e inchadas. Ele gemeu e empurrou, forçando seu caminho através do calor fluído e apertado. Ela suspirou e disparou para cima.

Oh merda, —ele sussurrou. — Isso vai ser rápido.

Ele empurrou e sentiu a pele dela se desfazer, deixando-o cru e exposto. Tentou ser gentil. Precisava ser gentil, agora mais do que nas outras vezes, quando ela ainda estava sonolenta e despreparada, mas seu canal abraçou-o, e manteve o domínio sobre seu pênis.

As unhas vasculharam suas costas e, em seguida, cravaram-se nele. Ele empurrou e sacudiu, e ela abriu as pernas ainda mais para recebê-lo.

Quando ela sussurrou seu nome em uma doce e rouca aceitação, ele se perdeu. Se desfez enquanto ela o segurava. Suas mãos, como pequenas penas, deslizaram para cima e para baixo em suas costas.

Ele engoliu em seco e tentou recuperar a compostura, mas sentia-se despedaçado por este rápido encontro. Balançou quase incontrolavelmente e repentinamente se enfraqueceu.

Abaixou-se de encontro a ela, e ela o envolveu em seu abraço. Ele enterrou o rosto em seu pescoço e inalou o cheiro feminino.

Me desculpe, querida. Sinto muito.

Ela virou a cabeça até seus lábios encontrarem a pele atrás de orelha dele. Beijou-o, apenas uma vez, e sussurrou baixinho.

— Não peça desculpas por me desejar, Sam.

Ele levantou-se.

— Isso nunca. Estou me desculpando por que fui um idiota insensível.

Ela sorriu.

— Venha tomar banho comigo.

— Não vai mergulhar na banheira hoje?

Ela balançou a cabeça.

— Não, apenas uma ducha rápida e então você poderá me alimentar novamente. Quando teremos que sair?

Ele olhou para o relógio, pensando a mesma coisa.

— Vá direto para o chuveiro. Eu ligarei e me certificarei que tudo está acontecendo de acordo com o plano.

Cuidadosamente retirou-se de dentro dela e depois estendeu a mão para ajudá-la a sair da cama. Observou-a caminhar até o banheiro, hipnotizado pelo balanço suave de sua bunda.

Ela era uma linda mulher grávida. Ele sempre achou que as mulheres grávidas eram bonitas. Gostava de olhar para elas, para a exuberância de seus corpos inchados, a faísca em seus olhos e imaginar a suavidade da sua pele. Mas nada o preparou para a realidade de uma mulher grávida de seu filho.

Balançou-se de volta à consciência. O diabo era que sabia que estava em um claro curso de colisão com algo que não estava preparado para lidar, mas no momento não se importava.

Só sabia que, de alguma forma, de alguma maneira, ele tinha de resolver tudo isso. Não só não deixaria seu filho ir embora, mas não deixaria Sophie ir também. Isso era o mais longe que poderia pensar, e não se permitiria ir mais longe.

 

Sophie saiu do banheiro com os pés descalços e os cabelos ainda úmidos do chuveiro. Esfregou-os com uma toalha enquanto procurava por seus sapatos.

— Procurando por isto? — Sam perguntou enquanto jogava os tênis em cima da cama. — Precisamos nos mexer. Temos algumas horas na estrada antes de chegar à casa segura .

Ela deixou a toalha cair e pegou um par de meias que Sam colocou com os tênis.

— Vou pegar o resto das coisas no banheiro e então sairemos. Já peguei as outras coisas.

Ela assentiu e calçou os calçados, rapidamente amarrando os cadarços. Estava cheia de curiosidade sobre esta casa segura. Quanto tempo Sam planejava ficar lá? Pretendia deixá-la lá, enquanto iria atrás de seu tio?

Ele não lhe contou nada, mas ela não era idiota. Em seu lugar, faria a mesma coisa. Não ficaria triste ao ver o resto da rede de seu pai se desmantelar. Tomas estava aleijado porque não tinha a chave que Sophie tinha roubado. Seus recursos estavam acabando, e ele simplesmente se tornaria cada vez mais desesperado.

— Estou pronta, — disse, quando ficou de pé novamente.

Sam introduziu-a para fora do hotel, seu olhar vasculhando a noite em torno deles. Seu corpo estava tenso e alerta enquanto a colocava no SUV. Ele mesmo a vergou para dentro, antes de caminhar para o lado do motorista. Ela sorriu e balançou a cabeça. O homem era consciencioso. Era obrigada a reconhecer. Ele não fazia nenhuma idiotice.

Era intensamente leal às pessoas que amava. Sua família. Seus amigos. Se ele desse apenas a metade daquela lealdade a sua filha, ela cresceria como a mais afortunada das meninas. Mas Sophie sabia que Sam daria toda a sua lealdade. Não haveria ninguém mais importante para ele que sua filha.

Seu peito doía de tristeza. Como seria ter esse tipo de amor e lealdade? Ela só esperava que pudesse dar o que nunca lhe foi dado. Esperava saber como.

Realmente não importava se a natureza prevalecia sobre a criação ou vice-versa. Ela estava ferrada em ambos os sentidos.

Vai clarear em breve, — disse ele. — Talvez em uma hora. Chegaremos no meio da manhã. Bem a tempo para o café da manhã. Sei que você disse que estava com fome, mas acha que pode esperar algumas horas?

Eu estava brincando com você, — disse ela com um sorriso. — Comi muito antes, que acho que não terei fome por uma semana.

Ele olhou para sua barriga.

— Uh-huh. Ouvi dizer que nunca é sensato acreditar em uma mulher grávida quando ela diz que nunca vai estar com fome novamente.

Ela riu e gostou da sensação de se sentir tão leve. Era absurdo e incongruente, dada a maneira como chegaram até aqui e como seu controle sobre a situação era tênue. Há muito tempo não se sentia segura o suficiente para desfrutar de um momento roubado onde não precisava preocupar-se por sentir alegria por alguma coisa que significava a sua morte ou remoção.

Desviou o olhar, envergonhada pelo fato que não poderia esquecer tão facilmente o que estava em jogo aqui. Limpou a garganta como se isso, de alguma forma, fizesse o sentimento ir embora.

O céu ficou lavanda, e apenas uma estrela pendurava teimosamente nele, brilhante como um diamante contra o veludo. Seu olhar estava fixo na estrela, e foi incapaz de desviar o olhar. As estrelas sempre a fascinaram. Ela passou incontáveis horas desejando-as quando era criança.

Aprendeu muito jovem que desejar era um exercício de futilidade, e que a única característica útil era a autossuficiência. Passou anos tentando fazer a pequena garota melancólica dentro dela, desaparecer. A princípio estivera empenhada em protegê-la, e depois tentou guiá-la impiedosamente na existência.

A mulher que atirou no pai e não sentiu nenhum remorso estava muito distante da criança que sempre desejou apenas o amor e uma família — uma verdadeira família.

— O que você está pensando, tão distante? Está prestes a arrancar seu lábio inferior de tanto mastigar.

Ela imediatamente relaxou a boca e conseguiu um leve sorriso.

— Nada de importante. Fale-me sobre a KGI. Como você começou e por que você faz o que faz? Parece uma estranha escolha de carreira.

Ele lhe lançou um olhar de esguelha e encolheu os ombros.

— Paga bem.

Ela arqueou uma sobrancelha.

— É isso? Paga bem?

— Suponho que poderia dizer que está no sangue. Minha família inteira é militar. Nunca houve um tempo em que não fôssemos. Meu pai, o pai dele, o pai do pai dele. Tios, primos, você dá um nome, nós atendemos.

— Mas você não está mais alistado, certo? Quero dizer a KGI é privada.

Houve apenas um breve piscar de olhos, e se ela não estivesse observando, teria perdido suas mãos apertando um pouco o volante.

— Seu pai não lhe contou sobre nós? Você disse que ele sabia o que éramos.

Os lábios dela se crisparam.

— Meu pai só me disse o que achava que eu precisava saber a fim de me aproximar de você. Ele não me deu sua história de vida ou qualquer outra coisa.

Ele olhou novamente para a estrada.

— Não, eu não estou alistado. Eu era um homem do exército. Garrett e Donovan juntaram-se aos Marines. E também Ethan, Nathan e Joe, que você ainda não conheceu. Ethan era um SEAL da Marinha.

— Era? Então, nenhum de vocês está no serviço militar?

— Nathan e Joe ainda estão na ativa. No Exército.

— E Ethan trabalha com você?

Sam fez uma careta.

— Talvez. Provavelmente no futuro. Ele e sua esposa tiveram alguns momentos difíceis. Sua prioridade é ela agora.

— Oh. Quero dizer, isso é bom.

— Sim, eles precisam de tempo. Entretanto, estão bem. Rachel é forte. Ela é uma lutadora.

Sophie olhou para ele com curiosidade. Um brilho quente entrou em seus olhos quando ele falou de sua cunhada, e isso deixou Sophie curiosa para saber a história por trás dessas enigmáticas palavras.

Então, você formou a KGI quando deixou o exército? Parece um empreendimento tão assustador. Não consigo nem imaginar.

Sam sorriu.

— Nem tanto. Eu tinha muitos bons contatos. Salvei o traseiro de um agente da CIA de nível superior durante um incidente em uma das embaixadas dos Estados Unidos. Ele me disse que se algum dia eu precisasse que retribuísse o favor, deveria chamá-lo. Então eu o chamei. Muitos dos trabalhos que fazemos são através dele, mas aceitamos trabalhos no setor privado também.

— Como?

Ela não conseguia imaginar pessoas comuns e normais precisando de uma operação militar. Seu pai sim, mas ele estava tão longe do normal como se poderia obter.

— A maioria de nossas missões de recuperação de reféns é contratada através dos governos e nem sempre do nosso. Somos contratados por países menores, sem o poder militar de uma nação mais desenvolvida. No setor privado aceitamos trabalhos para resgatar vítimas de sequestro e também recuperamos fugitivos.

Seus olhos se arregalaram.

— Quer dizer, fugitivos da prisão?

Ele sorriu.

— Não, não completamente. Mais como criminosos que ainda não foram apreendidos ou estão em fuga antes que sejam julgados por seus crimes. Esse tipo de trabalho, é muitas coisas, mas previsível e chato, ele não é.

— Parece muito perigoso, — ela murmurou.

— Pode ser, mas somos bons no que fazemos. Contratamos e treinamos os melhores.

Ela sorriu descaradamente.

— Você falou como um comercial agora.

Ele esticou o braço e colocou-a no queixo dela.

— Ninguém gosta de valentões.

Ela pegou sua mão e beijou a ponta de um dedo. Seus olhos se derreteram, e por um momento a direção desviou quando ele tirou a atenção da estrada.

— Você é uma ameaça, — ele murmurou.

Seus olhos se arregalaram inocentemente.

— O quê?

Ele balançou a cabeça e riu, mas encarou a estrada e voltou as duas mãos ao volante.

 

— Estou em posição, — disse P.J. em seu receptor.

Por força do hábito, ela vasculhou ampla e lentamente, da esquerda para a direita, com a sua mira de alcance, e pegou as áreas potencialmente problemáticas.

— Há uma área fraca a oeste da casa. Três árvores de grande porte ligadas por uma massa de madressilvas tão grossa que é impossível enxergar através dela. Alguém poderia se esconder lá dentro e nunca ser visto.

— Devo pegar a motosserra? — Cole falou com a voz arrastada.

P.J. revirou os olhos.

— Você provavelmente não conseguiria lidar com tanto poder.

— Vou lhe mostrar o poder, — ele murmurou.

— Crianças, — Dolphin repreendeu.

P.J. sorriu e contou mentalmente até três. Sim, Steele os interrompeu com sua voz seca e sem nenhum senso de humor.

— Parem com isso, vocês dois. Temos um trabalho a fazer aqui. Darei uma olhada em seu ponto problemático P.J., — Steele afirmou. — Você e Cole permaneçam na posição. Sam estará chegando em breve.

P.J. tirou os óculos de campo e observou, curiosa para saber se seria realmente capaz de ver Steele na área. Sabia que não, mas era um jogo do qual ela não se cansava. O homem não poderia ser sempre assim tão bom, poderia?

Depois de vários minutos, Cole deu uma risadinha no ouvido dela.

— Você não irá encontrá-lo, P.J.

Ela franziu o cenho.

— Como diabos você sabe o que estou fazendo? Eu sei muito bem que você não pode me ver.

— Eu poderia deixá-la confusa e dizer que posso, mas você é previsível. Eu sabia que estaria olhando.

Estimulada pela necessidade que ele tinha de irritá-la um pouco, ela levantou a espingarda e fez uma varredura meticulosa da área onde ele estava posicionado. Encontraria seu traseiro e o pregaria na parede. Então, ele não seria tão presunçoso.

Levou várias varreduras e intensa concentração, os olhos quase irritados, enquanto procurava por qualquer padrão que não se encaixava. Ela teria perdido se somente piscasse, mas lá estava ele. Um cadarço. Apenas a ponta entre duas folhas.

— Te peguei, — ela sussurrou.

— Em quem você vai atirar agora? — Cole perguntou, divertido.

— Você. Acabei de encontrá-lo.

A gargalhada de Dolphin explodiu.

— Mentira, — Cole disse em uma voz concisa.

Mas houve uma pausa, e então o cadarço desapareceu, e as folhagens que o rodeavam se deslocaram um pouco como se sopradas por uma brisa.

Ela riu.

— Bom movimento, mas eu já tinha pregado você. Tem que olhar esses seus pés enormes, Cole.

— Filha da puta, — murmurou Cole.

— É verdade o que dizem sobre os homens com pés grandes?

— Venha até aqui e deixarei você descobrir.

Ela bufou.

— Você sonha alto.

— Por mais divertido que eu considere vocês dois, quero silêncio no rádio, e eu quero agora, — ordenou Steele.

P.J. cumpriu a ordem e ficou em silêncio. Mas ainda estava sorrindo quando entrou em vigilância.

 

A casa segura era uma grande cabana abrigada entre uma parede de árvores e enterrada no sopé das Apalaches. A área circundante era aberta e levemente inclinada. Ela podia ver seu apelo do ponto de vista de proteção. De nenhuma maneira, alguém poderia deslocar-se sobre você aqui.

Ainda assim, Sophie pesquisou o terreno nervosamente e se perguntou se seria seguro. Se seu tio iria encontrá-la aqui, e se o fizesse, Sam e sua equipe seriam suficientes para protegê-la?

Sam tocou sua mão, e ela se virou para olhar para ele. Seus dedos se enroscaram em torno dela e ele os apertou tranquilizadoramente.

— Você vai ficar bem aqui, Soph.

Ela sorriu e esperava que seu sorriso parecesse genuíno.

— Quanto tempo temos que ficar aqui? Você sairá com os outros quando forem atrás do meu ti... meu pai?

Ele pareceu espantado com sua pergunta.

— Você está tão certa que é isso que farei.

Ela encolheu os ombros.

— É o que eu faria. Ele é uma ameaça para sua família.

— Ele é uma ameaça para você e nosso filho.

— Sim.

— Não pretendo deixá-lo continuar a ser uma ameaça.

Ela levou a mão trêmula a sua testa.

— Você está bem? Sua cabeça está doendo? E o seu braço?

— Estou bem.

Ele franziu a testa, mas não pressionou. O SUV deslizou até parar, e Sam desligou o motor antes de olhar para onde Steele atravessava o pátio para encontrá-los.

— Fique onde está até que eu chegue até você, — Sam disse enquanto abria a porta e enfiava uma perna para fora.

Ela assentiu, e ele saiu da caminhonete e fechou a porta, deixando-a em silêncio.

Ele e Steele conversaram, e Steele fez vários gestos em direção à área circundante. O medo deu um nó em sua barriga. Não era temor por sua segurança. Sentia-se à vontade pela primeira vez desde que fugiu da propriedade de seu pai. Era um medo diferente.

Precisava contar tudo a Sam. Em breve.

Sam andou em frente à caminhonete e abriu a porta. Inclinou-se para ajudá-la a descer e depois a apressou em direção a cabana.

Ela estremeceu enquanto o ar fresco e úmido roçava sua pele. O sol ainda não dissipara a neblina, e o chão estava envolto em uma leve névoa. Inalou profundamente e puxou a umidade em sua garganta seca.

Os degraus de madeira rangeram sob seus pés à medida que subia para a varanda. Sam abriu a porta e uma rajada de ar mais quente bateu em seu rosto.

O interior era decorado escassamente, com apenas um sofá e uma poltrona desgastada na sala de estar. Uma grande lareira de pedra dominava a parede do fundo, mas estava vazia e o fogo não estava aceso.

Não era extravagante, nem mobiliada acima das necessidades básicas, mas parecia segura. Não tinha ideia se isso era alguma intuição real ou apenas um produto de seu pensamento positivo. Mas dessa vez era bom depender de alguém, além de si mesma, para cuidar de seu bem-estar. Estava cansada, mais que cansada, de fugir, de sempre temer que o dia atual fosse seu último dia.

Sam passou a mão por suas costas e por cima do ombro antes de apertá-la levemente.

— Você está bem?

Ela se virou e sorriu para ele, maravilhada de como era bom sorrir de verdade. Sorrir, mesmo em meio a tanta adversidade.

— Estou bem. Melhor que bem. Só estava pensando como é bom me sentir segura e poder depender de alguém que não seja eu mesma.

Intrigada com o desconforto repentino que cruzou o rosto de Sam, inclinou a cabeça para o lado.

Eu disse algo errado?

Ele se recuperou rapidamente e sacudiu a cabeça.

— Não, claro que não. Estou feliz que você se sinta segura. Quero que se sinta segura.

Ela olhou ao redor da cabana vazia e levantou as mãos.

— Então, o que faremos? Jogar cartas? Monopólio?

Apesar de ter sido uma piada, um formigamento de excitação passou por ela, com a ideia de fazer algo tão simples como jogar esses jogos infantis, jogos que Sam provavelmente desempenhou um milhão de vezes enquanto estava crescendo. Ela nunca fizera tais coisas mundanas. Nunca tivera esses momentos de brincadeiras e diversão sem sentido.

Ele riu.

— Preciso voltar com Steele e me certificar que o perímetro é seguro, ver se ele tem alguma preocupação. Receio que não temos Monopólio, mas sempre podemos jogar Truth or Dare.[6]

Ele arqueou as sobrancelhas sugestivamente e sorriu. Isso transformou seu rosto de grave e inflexível à leve e brincalhão. Seu coração acelerou. Ele realmente tinha uma aparência extraordinária.

Eu nunca joguei Truth or Dare, mas parece interessante.

Os olhos dele se arregalaram em horror simulado.

— Nunca? Sua educação foi extremamente negligenciada. E Girar a Garrafa[7]?

Ela balançou a cabeça solenemente.

— Posso lhe dar a versão abreviada de ambos os jogos. Você acabará em um closet[8] me beijando, com a minha mão centro de sua camisa.

Ela colocou a mão sobre a boca para abafar o riso.

Se isso supostamente tem a intenção de me alertar, receio que não funcionou.

Seus olhos azuis se derreteram, e ele andou para mais perto dela. Ergueu o queixo dela para cima com os nós dos dedos e depois fundiu seus lábios nos dela em um beijo longo e quente.

Ela se inclinou para mais perto, seus joelhos se enfraquecendo. Amava o gosto dele. Amava a leve barba por fazer sobre seu queixo. Amava seu cheiro — não conseguia colocar um nome nele — mas era uma mistura inebriante de masculinidade flagrante e conforto. Se pudesse engarrafá-la, ganharia uma fortuna.

Ele se afastou o suficiente para tocar os lábios inchados com a ponta do dedo.

— Mantenha esse pensamento, — ele murmurou. — Voltarei e poderemos continuar de onde paramos. Podemos até trocar o armário pelo quarto.

Ela abriu os lábios e mordiscou seu dedo, então o sugou para dentro de sua boca. Ele enrijeceu e suas pupilas se dilataram. Fez com que ele imaginasse a boca dela em torno de seu pênis. Isso lhe daria algo para pensar.

Com um sorriso atrevido, ela soltou seu dedo, e seguiu na direção do quarto.

— Estarei esperando— ela falou. — No closet.

Sua gargalhada a seguiu enquanto entrava no pequeno quarto.

Ela não viu ninguém enquanto se dirigiam para dentro, mas havia outro veículo estacionado ao lado da cabana. Sabia que eles estavam aqui, em algum lugar, mas estava feliz em manter a ilusão de privacidade para ela e Sam.

Sam poderia fazer suas coisas, verificar com sua equipe. Ela sabia que ele cuidaria de sua segurança. Confiava nele, e essa era uma estranha — e nova — sensação para ela. Confiança não era uma palavra que já contemplara antes. Mas decidiu que gostava. Gostava muito.

 

Sam entrou no quarto para encontrá-lo vazio. O som de água correndo chegou aos seus ouvidos, e seguiu a trilha de roupas no chão, da cama até o banheiro. Sorriu quando entrou no banheiro e viu a silhueta de Sophie atrás da porta de vidro do chuveiro.

Ele voltou, abaixou-se e posicionou o rádio e o telefone via satélite sobre a pequena cômoda, para fácil acesso, e depois voltou para o banheiro. Quando ouviu a água ser fechada, roubou uma toalha da prateleira e esperou que Sophie abrisse a porta do chuveiro.

Foi como um soco na barriga quando a porta se abriu e ele a viu ali, parada, seu corpo escorregadio pela água, brilhando sob a luz. Ela olhou para cima e seus olhos grandes e assustados encontraram o olhar dele.

Deus, ela era linda. Gotículas deslizavam por seu pescoço, sobre os seios intumescidos, e em seguida, pela curva de sua barriga intumescida. Ele não se fartaria de simplesmente olhar para ela.

Mecanicamente, moveu-se para frente e segurou a toalha aberta para ela se envolver. Tremendo, ela derreteu-se em seus braços, e ele envolveu a toalha em torno dela e, em seguida, esfregou rapidamente para secá-la.

A toalha caiu no chão, e suas mãos deslizaram sobre sua pele quente e macia.

— Eu só quero tocar em você, — disse ele. — Não consigo ter o suficiente do seu toque.

Ela gemeu e se arqueou em suas mãos como um gato querendo ser acariciado. As pontas de seus seios roçaram a camisa dele, e de repente ele queria estar tão nu quanto ela.

Ele posicionou as mãos por baixo de seus seios e depois virou as palmas para cima para tocar os seios intumescidos. O movimento os arremessou para cima e os mamilos enrugaram e ficaram ainda mais rígidos. Tinha que saboreá-los, queria os dois em sua boca. Queria chupá-los e deixar seu doce sabor explodir na língua.

Impacientemente levantou-a em seus braços, girou e começou a acomodá-la no balcão ao lado da pia.

— Merda, — ele murmurou.

Colocou-a no chão, pegou a toalha e rapidamente espalhou-a sobre o azulejo frio. Em seguida, levantou-a novamente e acomodou-a na toalha.

— Perfeito.

Abaixou a cabeça em direção à ponta de um mamilo rosado. Soprou sobre ele suavemente, olhando-o fascinado, quando enrugou novamente. Ela estremeceu em reação e recostou-se para dar-lhe melhor acesso.

Ele bateu sua língua sobre a ponta. Aveludada. Adorava o jeito que a sentia em sua boca, amava o jeito que ela se esticava e girava sob seu toque. Ela era tão franca em sua reação e não se envergonhava. Dava tudo a ele.

Inclinou-se mais para sugar o pequeno broto tentador em sua boca e estremeceu quando sua virilha pressionou a beirada do balcão. Jesus, como estava duro, e morrendo de vontade de entrar dentro dela.

— Abra suas pernas, — sussurrou. — Deixe-me vê-la.

Tentadoramente, ela puxou os joelhos e depois separou as coxas. Cachos louros guardavam a carne macia e rosada. Passou o polegar em sua vagina e depois pressionou para dentro, encontrando o centro úmido.

— Eu tenho que sentir seu sabor.

Ouviu sua ingestão rápida de ar enquanto se abaixava de joelhos na frente dela.

— Coloque seus pés sobre os meus ombros, — disse ele. — E relaxe.

As pontas dos dedos dos pés dela cravaram nos ombros dele. Usando dois dedos, separou as dobras delicadas da boceta. Sua boca pairou perigosamente perto, e inalou seu cheiro enquanto beijava a abertura. Mantendo a boca pressionada firmemente nela, empurrou a língua para dentro, saboreando sua quente e sedosa essência.

Ela gemeu e estremeceu, e por um momento os pés deixaram seus ombros. Os dedos dela empurraram fortemente seu couro cabeludo e, em seguida, ela o guiou de volta quando ele se afastou.

—Por favor. Oh Sam, toque-me.

Ele lambeu delicadamente, querendo lhe dar tanto prazer quanto estava recebendo. Beijou o seu caminho até o clitóris e então passou sua língua antes de sugar cuidadosamente para trazê-lo para mais dentro de sua boca.

Ela começou a tremer. Sua excitação o estimulava. Seu pênis inchou e se esticou contra o jeans, e ele sabia que se não entrasse logo dentro dela, gozaria de qualquer maneira.

Levantou-se abruptamente e se atrapalhou com o zíper. Estava tão desajeitado e indelicado quanto um adolescente em sua primeira vez, mas nada importava, exceto encontrar o doce calor dela.

Ele gemeu seu alívio quando o pênis ficou livre e se projetou para frente. A mão dela fechou em torno dele enquanto a outra empurrava o jeans para baixo de seus quadris.

Encaixou-se em sua abertura, em seguida, esfregou a ponta do pênis para cima e para baixo e, finalmente, para dentro. A abertura queimou ao redor da cabeça, e ele fechou os olhos, rangeu os dentes e, inferno, esperou que pudesse manter rédea curta sobre seu controle.

Lançou os quadris para frente e impulsionou em uma dura estocada. Ela arfou. Ele arquejou. Travou a mandíbula e ficou parado, absorvendo a sensação da carne muito apertada e molhada em torno de seu pênis.

As mãos dela enrolaram em torno de seus ombros e os dedos enfiaram fundo. Ele abriu os olhos e procurou o seu olhar, em busca de qualquer sinal de que a estaria machucando ou indo muito rápido.

Sentia-se insensível. Um idiota de primeira linha. Mas se perdeu na sensação dela e estava incapaz de fazer qualquer coisa, além de se mover. Retirou-se e empurrou. Fez um grande esforço nas pontas dos pés para ir mais profundo.

— Avise-me se eu machucá-la, — falou, entre dentes.

Mesmo enquanto falava isso, esperava que não estivesse, porque não tinha certeza se teria forças para parar.

Os dedos dela apertaram sua pele e sua respiração deixava seus lábios em suaves e pequenos ofegos.

— Não. Não pare.

Seus seios balançavam a cada impulso, e sua mão esquerda largou o balcão para envolver os montes flexíveis. Seus polegares roçaram as pontas em golpes rápidos para imitar o movimento de seus quadris.

Fogo concentrou-se em sua virilha, enrolado em um nó doloroso e, em seguida explodiu em seu intestino e suas bolas. A sua liberação o espreitava, ameaçadora em seu poder, e ele parou, querendo prolongar o momento.

Descansou contra ela, seu saco pressionado contra a bunda dela, seu pênis completamente envolto no calor dela. Ela se contorceu e pulsou em torno dele e se torceu inquieta, dizendo-lhe sem palavras, que precisava de mais.

— Segure-se em mim, querida. Não posso mais esperar. Você é tão gostosa.

Ele se retirou, e a dor se intensificou quando ela ondulou por todo o seu comprimento. Empurrou para frente novamente, cuidadosamente, mesmo quando sua mente gritou para que a tomasse tão duro e rude quanto podia.

Freou aquele ímpeto e afundou em seguida, ficou imóvel antes de repetir todo o ato novamente. A sua liberação fez suas bolas se levantarem, tão apertadas que doíam, e quando mergulhou fundo novamente, seu gozo disparou por seu pênis. Extravasou, líquido e quente, enquanto seus quadris empurravam espasmodicamente contra ela.

Desceu a mão pelo corpo dela, deixando-a deslizar sobre a barriga intumescida e depois mergulhou através dos cachos macios, até que encontrou a pequena protuberância entre suas dobras.

Ela ofegou, arqueando para cima, e ele a pressionou, girando em um círculo apertado, até que sentiu a vibração em torno de seu pênis. Empurrou uma última vez e ela gritou. As mãos dela caíram de seus ombros e agarraram a beirada do balcão com tanta força, que os nós dos dedos ficaram brancos.

Ele revirou o polegar sobre seu clitóris e ela se liquefez ao redor dele. Ele continuou a deslizar para frente e para trás, até que finalmente escorregou do aperto acolhedor de seu corpo. Levantou-se, tentando espremer o ar em seus pulmões torturados. Seus joelhos tremiam e nunca se sentiu tão ágil, tão completamente satisfeito, em sua vida.

Inclinou-se para frente, envolveu-a em seus braços e descansou a testa contra a dela, enquanto ambos lutavam para respirar.

Seu suave olhar azul encontrou o dele, e ela sorriu, um gesto que o afetou até os dedos dos pés.

— Bem, aqui é quase um armário.

Ele riu e beijou-a, se perguntando, não pela primeira vez, como poderia suportar deixá-la partir.

 

— Que saco! — Rusty reclamou enquanto olhava para a televisão, entediada.

Marlene Kelly lhe deu um daqueles olhares maternos que sugeriam que ela não apreciava a avaliação de Rusty.

Frank fez um grunhido de seu assento na cadeira e passou a mão sobre o peito.

— Será muito mais fácil se você mantiver uma atitude decente, mocinha.

Rusty quase gemeu. Ela odiava quando a chamavam de mocinha. Frank usava-o apenas quando chamava sua atenção sobre alguma coisa, e isso a fazia se sentir com cerca de cinco centímetros de altura. Incrível como ele conseguia fazer isso sem nunca levantar a voz.

Ela e os "pais" foram levados para uma pequena casa em uma cidadezinha insignificante, a vários quilômetros de distância de Dover, tudo em nome da segurança, e ficavam aqui girando os polegares como idiotas, enquanto Sam e companhia estavam fora salvando o mundo, ou pelo menos, a vadia que Sam tinha sido burro o suficiente para pegar.

Donovan estava lá fora brincando de super-herói com Rio e companhia. Talvez fizessem alguma coisa legal como plantar explosivos para manter os caras maus à distância.

— Se eu não estivesse faltando à escola, isso seria ainda mais chato, — ela murmurou. — Pelo menos o Eye Candy[9] não é ruim.

Frank revirou os olhos e olhou para Marlene.

— Viu, é por isso que não tivemos meninas. Elas são a hormonalmente desequilibradas.

Rusty sorriu.

— Só estou falando o que vejo.

Frank esfregou o peito distraidamente e fez uma careta. Mexeu-se na cadeira, mas não tirou a mão do peito.

— Frank, há algo errado? — Marlene perguntou, em um tom preocupado.

— Não, apenas um caso de indigestão. Será que tem algum antiácido por aqui? Esse lugar parece bem abastecido.

Rusty bufou, mas levantou-se do sofá e se dirigiu para a cozinha. Bem abastecido? Bem abastecido seria ter algo a fazer neste lugar esquecido por Deus. Não tinham nem mesmo TV a cabo, então estavam presos assistindo duas das grandes redes, e ela odiava seriados.

Remexeu nos gabinetes, mas não encontrou nada que se assemelhasse a um antiácido. Chegou a encontrar algum ibuprofeno[10], então sacudiu algumas das pílulas e derramou um copo de leite da geladeira.

Voltou para a sala e entregou o copo de leite a Frank.

— Não encontrei antiácido, mas um copo de leite supostamente ajudaria? Trouxe alguns remédios para dor. Talvez façam efeito.

Frank sorriu e tomou o remédio de sua mão espalmada.

— Obrigado, Rusty. Tenho certeza que irá ajudar.

Ela deu de ombros e voltou para o sofá para se sentar ao lado de Marlene.

Seriados familiares eram os piores. Observar pessoas disfuncionais tentando ser engraçadas enquanto apareciam todas felizes, era pior que ver tinta secar. Ela sabia tudo sobre disfunção, e não caminhava de mãos dadas com felicidade ou diversão.

Suspirou, sintonizou com as risadas da plateia e se perguntou quanto tempo demoraria para salvar o mundo. Poucos dias? Semanas? Perguntaria a Marlene quanto tempo, mas isso só lhe daria mais um daqueles olhares maternais que a faziam estremecer.

Ela virou-se quando ouviu Frank se mover. Ele se sentou impaciente na cadeira, segurando o braço. Parecia pálido e tenso, e bufava para respirar.

Alarmada, olhou para Marlene, para vê-la olhando para Frank também.

— Frank, — disse Marlene bruscamente. — O que está errado?

— Não é nada, Marlene. Só preciso levantar e me mover. Sinto-me como se um maldito elefante estivesse sentado no meu peito.

Esforçou-se para ficar de pé e por um momento ficou imóvel antes que começasse a balançar. Com um gemido, lançou-se para frente e caiu no chão com um baque.

O pânico bateu em Rusty como uma tonelada de tijolos. Ela ficou em pé e gritou por Rio e Donovan com toda força de seus pulmões.

Marlene se jogou no chão ao lado de Frank, ao mesmo tempo em que Rusty subia sobre a mesa de café para se ajoelhar ao lado dele.

— Ele está respirando? — Rusty perguntou com medo. — Oh meu Deus, ele está morto?

Antes que Marlene pudesse responder, Rusty encostou o ouvido no peito dele, procurando por qualquer movimento. Estendeu a mão até o pescoço. Deveria sentir o pulso da vítima, certo?

Não estava se movendo. Deus, ele não estava respirando. Ela não achava que seu peito estava se movendo de jeito nenhum. Não conseguia sentir seu pulso, mas suas mãos tremiam tanto que duvidou que pudesse ter sentido de qualquer maneira.

Rio e Donovan entraram na sala, um dos outros homens os seguindo. Todos estavam com as armas apontadas, mas quando viram Frank no chão e as duas mulheres o rodeando, jogaram as armas de lado e se apressaram.

Donovan empurrou Rusty para fora do caminho e imediatamente verificou a respiração e pulsação.

Rio se dobrou ao lado dele e rasgou a camisa de Frank no peito.

— Ele n-não está respirando, — disse Rusty.

O olhar de Rio encontrou o dela por apenas um momento, e ela viu reafirmação constante lá. Então ele dobrou suas mãos e posicionou-as sobre o coração de Frank. Com o rosto pálido e abatido, Donovan levantou o pescoço de Frank, então se inclinou e começou a respiração boca-a-boca.

Marlene estava de joelhos, seu rosto tão branco, que assustou Rusty. Parecia que ela estava em choque, e pior, havia tanto medo em seus olhos que bateu Rusty no intestino como um soco.

— Marlene. Marlene! — Rio acrescentou mais força.

Marlene agarrou-se à consciência e olhou para Rio.

— Ligue para o 911. Temos que levá-lo para um hospital.

Rusty começou a tremer. Não havia uma parte de seu corpo que não estivesse tremendo violentamente. Oh Deus não, Frank. Não, não, não. Lágrimas brotaram de seus olhos e ela envolveu os braços em volta de si mesma, num esforço para recuperar o controle.

A expressão de Rio era sombria quando ele e Donovan continuaram a CPR[11]. Donovan não olhou na direção dela ou de Marlene. Seu foco estava constante em forçar ar dentro e fora dos pulmões do pai dela. Marlene correu para o telefone, e Rusty podia ouvi-la vagamente, relatando a situação para o atendente.

Apenas alguns segundos depois, Marlene voltou e pairou ansiosamente sobre os homens.

— Eles disseram que uma ambulância estaria aqui em dez minutos.

Donovan não tomou conhecimento. Continuou com as respirações.

A espera era a pior que Rusty já sofreu em sua vida. Era como um vídeo ruim, preso em um gancho de repetição. Não parecia real. Não podia ser real. Isto não estava acontecendo. Ela não podia perder Frank. Ele acreditava nela. Ninguém mais acreditava nela.

Quando os paramédicos chegaram, finalmente, tiveram que forçar Donovan a se afastar. Tudo tinha um aspecto confuso. Havia um tubo e agulhas. Cateteres e uma máquina. Quando pararam a CPR para verificar se havia ritmo e a linha fina, vermelha e plana transmitiu em todo o monitor, Rusty se perdeu.

— Não!

Ela se jogou para frente e empurrou o paramédico para fora do caminho. Abraçou-se a Frank, soluçando, seu coração se partindo.

— Não, — gritou histericamente. — Você não pode me deixar. Por favor, não me deixe. Você não pode morrer.

Rio arrancou-a de lá, e ela chutou e lutou com ele até que envolveu os braços em torno dela e a manteve imóvel. Os médicos rapidamente tiraram Frank fora da sala, em direção à ambulância que o aguardava, e quando Marlene iria seguir Donovan, o homem de Rio, suavemente a impediu.

— Ouça-me, Rusty, — Rio disse em voz baixa ao lado de seu ouvido. — Ele não morreu. Ainda não. Eles podem salvá-lo. Você tem que acreditar nisso. Não pode desistir dele. Ele saberá.

Lágrimas corriam pelo rosto dela. Nunca se sentiu tão perdida em sua vida. Nem quando sua mãe estúpida a abandonou. Nem quando seu padrasto idiota tornou sua vida miserável. Nem quando tentou se prostituir apenas para encontrar uma saída para sua vida.

— Rio, por que não posso ir com ele? — Marlene perguntou com a voz arrasada. — Para onde estão levando-o? Preciso estar com ele. Preciso estar com Donovan.

Rio delicadamente sentou Rusty no sofá e tomou o assento ao seu lado. Envolveu seu rosto com as mãos, mesmo com as lágrimas espirrando sobre o dorso de sua mão. Ele olhou para Marlene.

— Meu trabalho é mantê-los seguros. Todos vocês. Vou levá-las ao hospital. Mas faremos isso direito. Vocês irão comigo. Não irão a lugar nenhum sem mim. Compreendido?

Marlene assentiu, entorpecida, com os olhos vidrados de medo e tristeza. Então, ela atravessou a sala e sentou-se ao lado de Rusty, puxando-a em seus braços.

Rusty a abraçou fortemente e escondeu o rosto contra seu peito. Todas as mães precisavam ter o mesmo cheiro de Marlene. Quente e reconfortante. A única experiência de Rusty era com mães com cheiro de álcool e fumaça de cigarro velho.

— Shhh, — Marlene disse enquanto embalava Rusty para frente e para trás. — Ele é um lutador, Rusty. Todos os Kelly são. É necessário mais que um ataque cardíaco para derrubar Frank. Ele já sobreviveu a coisas piores.

Rusty sufocou outro soluço e se agarrou desesperadamente a essas palavras. Sabia que Marlene estava exibindo uma fachada corajosa para ela, e ela apreciava — amava Marlene por estar fazendo isso — mas sentia os tremores traiçoeiros de Marlene e o medo que estava atado naquelas palavras de conforto.

Rio pôs a mão nas costas de Rusty e então a deslizou para apertar seu ombro.

— Se vierem comigo, nós as levaremos ao hospital.

 

Sophie acordou em uma cama vazia, e o sol fluía através de uma rachadura na veneziana. Virou-se para evitar o brilho, estendeu a mão para o travesseiro de Sam e abraçou-se a ele, inalando seu cheiro.

Estava deliciosamente cansada e dolorida pelo amor que fizeram, e pela primeira vez, não tinha medo de contar tudo a Sam. Ela se abriria com ele sobre a chave e confiaria nele para fazer a coisa certa com a informação. Ele era um homem bom, e ela não pensava nem por um minuto que ele trairia sua confiança.

Sorrindo, saiu da cama e puxou uma das calças jeans de cintura elástica que encontrou esperando por ela. Sentia-se ridiculamente tocada por haver roupas realmente de gestantes no seu tamanho, juntamente com todos os acessórios, incluindo um sutiã que lhe servia e uma calcinha.

Com um suspiro satisfeito, saiu em busca de Sam. Não queria adiar o inevitável por mais tempo. Queria contar a ele, acabar com isso, e então esperava que pudessem deixar o passado para trás.

O murmúrio de vozes na sala de estar ficou mais alto quando se aventurou pelo corredor. Quando virou a quina, ficou surpresa ao ver alguém de pé com Sam e Garrett. Sabia que Garrett deveria chegar hoje, mas Sam não dissera o que ele estava fazendo.

Todos os três homens se viravam quando a ouviram e, agora, sujeita ao seu escrutínio, desejou simplesmente ter ficado na cama.

— Se eu estiver interrompendo, posso voltar...

Começou a se virar, mas Sam avançou a passos largos, sua expressão indecifrável. Pegou sua mão, mas a tensão irradiava dele, e ela olhou nervosamente para o rapaz desconhecido, novamente.

— Sophie, quero que conheça Adam Resnick. Ele está aqui para falar com você.

Ela piscou, surpresa, e seu olhar rapidamente passou de um homem para o outro. Garrett, como de costume, estava parado lá, parecendo que poderia quebrar uma pedra em seu rosto. O cara Resnick parecia... ansioso, por falta de uma palavra melhor. Sam parecia... preocupado.

— Comigo?

Seu coração bateu mais forte. Ela começou a suar, e engoliu em vão através do nó em sua garganta. Como esse homem, seja ele quem fosse, poderia saber alguma coisa sobre ela? Por que queria falar com ela?

Resnick deu um passo à frente.

— Sophie. Posso chamá-la de Sophie?

Ela assentiu com firmeza e esperou, seu pavor aumentando a cada segundo.

— Eu sou do... Bem, vamos apenas dizer que represento os interesses do governo dos Estados Unidos, e gostaria de falar com você sobre seu pai.

Ela prendeu a respiração, e seu olhar chocado foi para Sam. Ele a traiu! Ele realmente a traiu! Sam franziu a testa e estendeu a mão para ela, mas ela se esquivou, colocando metade da sala entre eles.

Por um longo momento ela ficou de pé, os punhos fechados, de costas para os ocupantes da sala.

Quando se virou, recusou-se a olhar para Sam. Dirigiu seu olhar para Resnick e perguntou em uma voz fria.

— O que você quer saber?

Resnick moveu-se para ela, e ela deu um passo rápido para trás. Empinou o queixo e forçou uma calma que não sentia.

— Onde ele está agora?

— Eu não sei, — disse ela com sinceridade.

— Tudo bem, onde ele provavelmente está? Se nos der informações sobre onde ele possa estar, poderemos combinar com o que sabemos dele. Talvez estejamos perdendo alguma coisa.

— Eu não sei.

Resnick fez um som de frustração.

— O que pode nos contar, Sophie? Se cooperar plenamente, faremos concessões para você.

Um calafrio desceu por sua espinha.

— Resnick, — Sam rosnou.

Sophie ignorou Sam e olhou diretamente para Resnick.

— Concessões? Que tipo concessões devo esperar? Com o que você está me ameaçando?

Resnick ergueu as mãos.

— Não estou ameaçando-a. Estou apenas apontando que podemos ajudá-la mais, se cooperar conosco.

Oh bom, — disse ela amargamente. — O que está dizendo é que estarei por minha conta, a menos que eu me comporte bem com o FBI ou a CIA, ou quem diabos você represente. Quer saber? Estou bem com isso. Nunca deveria ter confiado em ninguém além de mim mesma, de qualquer maneira.

— Sophie, — Sam a interrompeu, sua voz forte o suficiente para fazê-la dirigir seu olhar na direção dele. — Ele não fala por mim.

— Você está errado, Sam. — Ela apertou as mãos ao lado de suas pernas para impedi-las de tremer. Olhou para ele com firmeza enquanto expedia sua sentença. — No momento em que o trouxe aqui, ele passou a falar por você.

— Sophie, maldição!

Ela desviou o olhar novamente, a raiva vibrando em sua garganta. Não discutiria com ele na frente de outras pessoas, nem em nenhum outro momento.

— Estou pedindo para você me ajudar, — disse Resnick. — Ele machucou muitas pessoas. Como filha dele você sabe disso. Achamos que ele está tentando usar tecnologia para construir uma arma nuclear e leiloá-la pelo maior lance. Ele tem que ser impedido.

— Ele nunca, isto é, ele não confia em mim. Não estou a par dos detalhes de seus acordos de negócios, — disse ela com firmeza.

— Tudo bem, eu entendo, — ele disse num tom apaziguador. — Mas existem coisas que você pode nos contar sobre ele, pequenos detalhes que talvez não pense que podem ajudar.

—Tomas é quem você deve procurar.

Resnick piscou, surpreso e, em seguida, olhou para os outros, como se avaliando suas reações com a declaração dela.

— Por que isso? Fomos levados a acreditar que Tomas não tinha poder algum.

Ela olhou friamente para ele, com as mãos ainda apertadas contra a lateral de sua perna.

— Você perguntou, eu respondi. Ele me quer morta, mas talvez você não se importe com isso.

Resnick olhou fixamente para ela.

— Ele está morto, Sophie? Tomas matou Alex, na tentativa de tomar o poder? É por isso que ele está atrás de você, agora que é herdeira de Alex? Ou você tem algo que ele quer?

O sangue deixou o rosto de Sophie. Ela queria se manter inteira. Seu estômago se revoltou, e sua pele estava quente e úmida.

— Se me desculparem, preciso ir ao banheiro.

Ela fugiu, ignorando a pergunta preocupada de Sam para saber se ela estava bem. Bem? Como poderia ficar bem quando fez o papel de maior idiota do mundo?

Deus, quando iria parar de ser tão malditamente confiante?

Ouvindo passos atrás dela, bateu a porta do banheiro e trancou-a. A última coisa que precisava era Sam pairando sobre ela.

— Sophie, — ele chamou através da porta. — Porra, Sophie, abra a porta para que eu possa ver se está tudo bem com você.

Ela se inclinou sobre a pia e respirou fundo, sugando o ar pelas narinas enquanto lutava contra a vontade de vomitar. Sentiu a presença de Sam durante vários segundos, antes que finalmente o ouvisse se retirar e caminhar de volta pelo corredor.

Jogou água no rosto e olhou para seu reflexo no espelho, até que tivesse certeza que não parecia que estava prestes a desmoronar. Olhou para suas mãos, levantou-as à sua frente e esperou que o tremor parasse. Quando estava satisfeita que poderia controlá-lo pelo tempo que esse "questionamento" durasse, abriu a porta e silenciosamente voltou para o hall.

Quando chegou ao fim, as palavras de Resnick a detiveram, e ela parou, surpresa.

— Eu tenho que levá-la. Você sabe disso, Sam. Ela é muito valiosa para que eu a deixe ir. Ela sabe alguma coisa. Até mesmo você pode ver isso.

O medo quase a deixou de joelhos. Um rugido surdo iniciou em seus ouvidos enquanto seu sangue corria furiosamente. O inferno, se iria escapar de seu tio só para cair nas garras de algum lacaio do governo que estava ansioso para se autopromover derrubando a família Mouton.

Não escapou de uma prisão apenas para entrar em outra. Sua filha teria uma vida melhor do que a que ela teve, e faria qualquer coisa para garantir isso. Já fizera.

Ela se virou, sua mente procurando freneticamente por uma rota de fuga. Havia janelas no quartos, mas certamente não as inspecionou para ver se abriam. Agora parecia uma boa hora.

 

 

— Você está ficando louco, — Sam rosnou. — Sophie fica comigo e isso é inegociável .

Resnick soltou o fôlego e passou a mão pelos cabelos.

— Olha, Sam, não tenho uma escolha nisto. É uma questão de segurança nacional. Certamente você pode ver isso. Tenho que fazer o que é preciso para parar Mouton, mesmo que isso signifique levar a filha dele em custódia. Inferno, não vou machucá-la. Me certificarei que seja bem cuidada. Terá a melhor assistência médica para ela e o bebê.

Sam agarrou Resnick pelo colarinho e o jogou contra a parede.

— Meu filho. Meu. Ele é o meu filho e Sophie é minha mulher. Não dou a mínima para o que seus superiores estão dizendo. Ela permanecerá sob minha proteção.

Garrett colocou um braço entre Sam e Resnick e forçou Sam a se afastar.

— Acalme-se, Sam. Você dois precisam se acalmar. Isto não vai ajudar.

Sam se afastou e envolveu a mão sobre a parte de trás de seu pescoço enquanto andava pela sala.

— Cristo, Sam, você tem que saber que minhas mãos estão atadas aqui, — disse Resnick.

Garrett estendeu as mãos para cima.

— Acho que Mouton está morto, e acho que Sophie sabe disso.

Sam e Resnick olharam atentamente para Garrett.

— Temos esse, como um dos cenários possíveis, — disse Resnick. — Mas o que o faz dizer isso?

— Sophie está se escondendo algo desde o início. Está tão nervosa como um grilo, mas escorregou algumas vezes e se referiu ao pai no passado. Não disse nada sobre ele estar atrás dela, mas mencionou o tio. E se você estiver certo sobre Tomas estar tentando manipular o poder?Ele mataria Alex, talvez até tentasse matar Sophie no processo. Ela escaparia, Tomas a capturaria, colocaria um buraco de bala nela, e ela procuraria Sam em busca de ajuda e proteção.

— É plausível, — disse Resnick. — É algo que estou considerando, mas a única coisa que não faz nenhum sentido para mim é por que existe tanta ênfase em Sophie. As mulheres nunca significaram nada no império dele. São usadas e descartadas, ou mantidas sobre estrito sigilo, como suspeito que Sophie tenha sido. Se ela escapou, por mais que Tomas possa estar aborrecido, não consigo imaginá-lo arriscando tanto para persegui-la em solo americano.

— A menos que ela tenha algo que ele quer, — Sam disse severamente.

Garrett assentiu com a cabeça.

— Exatamente.

Sam começou a ir em direção ao banheiro, mas parou. A impaciência fervia em suas veias, mas teria que lidar com isso muito bem. Ele machucou Sophie, escondendo isso dela. Ela não seria muito cooperativa agora, porque ele perdeu a confiança dela.

Pela centésima vez, questionou sua decisão de permitir que Resnick se encontrasse com Sophie. Não queria irritar o homem que lhe indicou muitas das suas missões, mas se concordasse, estaria colocando os negócios à frente de seu filho, o que fazia dele um grande idiota.

Ele tinha esperanças que Sophie não soubesse de nada, Resnick ficaria satisfeito, e então iria embora e Sophie estaria livre de qualquer "interesse à segurança nacional." Isto não iria acontecer agora, e ele teria que lidar com uma mulher que se sentia traída.

 

 

P.J. varria a área em intervalos de dois minutos, com os olhos abertos para qualquer coisa que não deveria estar lá. Era um trabalho malditamente chato, mas nunca permitia que o tédio interferisse. Um único lapso poderia custar vidas, e tivera que aprender a ter paciência da maneira mais difícil quando trabalhou na SWAT.

Algumas lições eram aprendidas nos livros. Outras, com a experiência dura e fria. Essa última poderia não ser a melhor maneira de aprender, mas através dela, você aprendia muito bem.

Percorreu o perímetro novamente, e quando alcançou a casa, parou, não acreditando no que estava vendo.

— Bem, vejam só, — murmurou.

Sophie estava saindo pela janela. Impressionante para uma mulher grávida. P.J. sempre imaginou que a gravidez deixasse uma mulher desajeitada como o inferno e quase tão graciosa como um alce, mas Sophie fez um rápido trabalho pela janela e correu como um coelho para a floresta.

Merda.

— Steele, temos um problema. O “Assunto” está fugindo para a floresta. Rumo ao norte. Rapidamente.

— O que? Diga de novo.

Sim, ela também não acreditava.

Repetiu a informação e ouviu o suave praguejar de Steele.

— Dolphin, você vem comigo. Cole, você e P.J. ficarão de vigia, e P.J., relate isso a Sam. Diga-lhe Dolphin e eu fomos atrás dela.

— Vocês dois sempre ficam com toda a diversão enquanto eu fico presa nas árvores, — ela reclamou. Não que realmente quisesse mexer com uma mulher grávida. Existia uma semelhança muito grande entre elas e os pit bulls, para seu gosto.

Ela assumiria um homem a qualquer hora, muito obrigada.

Bateu no botão para alternar entre a privacidade de sua comunicação com sua equipe, e em seguida, disparou uma mensagem para Sam.

 

— Ela o quê? — Sam perguntou.

Ele arrancou o receptor de sua orelha e perseguiu pelo corredor até o banheiro. Filha da puta. Filha da puta! O banheiro estava vazio. E o quarto também. Somente a janela quebrada contava a estória como P.J. a retransmitira.

— Maldição.

O que está acontecendo? — Garrett perguntou da porta.

Resnick ficou ao lado de Garrett, seu rosto marcado pela preocupação.

— Ela foi embora. Saiu pela janela. P.J. a viu correndo para a floresta. Steele e Dolphin estão a sua procura.

Resnick xingou, e Sam explodiu. Diminuiu a distância entre eles e bateu Resnick contra a parede do corredor.

— Fique longe dela. Você vai sair daqui e esquecer que sabe que ela existe, entendeu?

— Não posso fazer isso, Sam. Você sabe disso.

— Faça isso por mim.

Resnick soltou o fôlego e cedeu.

— Porra, Sam. Que hora para pedir um favor.

Sam soltou sua camisa.

Temos que sair daqui. Sophie está lá fora. Provavelmente pensando que eu a entregarei a você. — O som alto e forte do celular de Sam o interrompeu enquanto caminhava pelo corredor. Vendo o número de Rio no visor, puxou-o para seu ouvido.

— Sam.

— Sam, precisamos conversar. Temos uma situação.

Merda. O medo deslizou por sua coluna e seu aperto no telefone se intensificou.

— Isso pode esperar? Sophie fugiu. Dolphin e Steele foram atrás dela. Garrett e eu precisamos ir também.

— Não, não pode esperar.

Sam olhou para Garrett.

Eu irei atrás dela, —disse Garrett.

— Eu posso ajudar, — Resnick ofereceu.

Garrett balançou a cabeça.

— Você mostra o seu rosto, e ela correrá ainda mais rápido em outra direção. Fique aqui com Sam até que possamos tirá-lo aqui.

— Eu me sinto tão valorizado, — Resnick disse secamente.

Garrett o ignorou e correu para a porta.

Sam virou-se e colocou o telefone de volta no ouvido.

— Fale, Rio. Mas seja rápido.

— É uma péssima notícia, Sam. Seu pai teve um ataque cardíaco.

Sam tropeçou e teve que apoiar-se no armário da cozinha.

— O quê?

— Ele está na UTI. Está sendo monitorado de perto.

Houve uma pausa.

— O que mais? Apenas digo logo, — Sam exigiu.

Deus, não o deixe morrer. Não deixe meu pai morrer.

— Sua mãe está desaparecida.

— O quê? Mas que diabos? O que quer dizer com “ela está desaparecida?” Ela nunca esteve em nenhum outro lugar, além do lado de meu pai.

— Eu sei. Porra eu sei, Sam. Sinto muito. Eu o decepcionei. Ainda não sei como infernos isso aconteceu. Nem mesmo a deixei ir na ambulância com ele para o hospital. Disse que ela e Rusty não iriam a nenhum lugar sem mim. Ponto. Eu mesmo as levei. Meus homens estão aqui na sala da família. Requisitei uma sala particular. Temos um forte esquema de segurança em torno da unidade de terapia intensiva. Tenho alguém em todas as entradas possíveis. Permitiram que sua mãe o visse algumas horas atrás. Ela saiu e Donovan entrou. Ela parecia estar bem. Conversou com Rusty por alguns minutos e depois pediu licença para ir ao banheiro. Enviei um homem com ela. Ele ficou do lado de fora da porta. Quando eles não retornaram, fui atrás deles e encontrei-o morto dentro de um dos banheiros e sua mãe não estava em lugar nenhum. Estou revistando a vigilância do hospital agora, e o resto da minha equipe está virando o hospital de cabeça para baixo.

— Jesus. Filho da puta!

Ele nunca se sentiu mais fora de controle em sua vida. Tudo estava ruindo em torno dele e sentia-se impotente para detê-lo.

— Eu quero esse filho da puta, — Rio fervilhava. — O bastardo ataca mulheres indefesas. Primeiro Sophie e agora Marlene. Ele matou um dos meus homens.

— Não sei o que ele quer, mas espero descobrir em breve, — disse Sam. — Espero que ele queira negociar.

Suas entranhas deram um nó e ele queria vomitar. Sua mão tremia ao redor do telefone, e o esmagou contra o ouvido para não deixá-lo cair.

— Certifique-se que Rusty e meu pai estão seguros. Faça o que tiver que fazer. Quero que você me mantenha atualizado sobre o estado dele. E pelo amor de Deus, fique de olho em Donovan e certifique-se que ele não faça nada estúpido. Estarei aí assim que puder.

Eu os protegerei com a minha vida, — Rio disse suavemente. — Sinto muito tê-lo decepcionado, Sam.

Sam fechou os olhos e lentamente afastou o telefone de seu ouvido.

— Está tudo bem, Sam?

Virou-se para ver Resnick em pé, a alguns metros de distância, com as mãos enfiadas nos bolsos.

— Ele está com ela, — disse com voz rouca. — Aquele desgraçado pegou a minha mãe. Meu pai está no hospital com um ataque cardíaco, e aquele filho da puta a pegou quando ela foi ao banheiro.

Resnick passou a mão para frente e para trás sobre a cabeça.

— Cristo, Sam, sinto muito.

As mãos de Sam apertaram em um punho apertado e ele deu um murro no gabinete. A madeira lascou e a dor atravessou sua mão.

— Preciso encontrar Sophie. Então, terei que ir até meu pai. E depois, irei atrás deste filho da puta!

Olhou para Resnick, deixando toda a força de sua fúria aparecer em sua expressão.

— Fique fora do meu caminho. Certifique-se que ninguém fará nenhum movimento em direção a Mouton. A última coisa que quero é que vocês finalmente decidam agir e minha mãe fique presa no meio do fogo cruzado.

Resnick puxou um maço de cigarros amassados do bolso de sua camisa e empurrou um, apressadamente, em sua boca. Acendeu-o e respirou fundo. Então exalou, soprando um fluxo constante de fumaça de seus pulmões.

— Só posso lhe dar um pouco mais de tempo, Sam. Não podemos permitir que, quem quer que seja responsável, Alex ou Tomas, venda uma maldita arma nuclear a algum maldito país do terceiro mundo com uma agenda terrorista.

— Eu o derrubarei. Ou morrerei tentando.

Resnick balançou a cabeça e tragou o cigarro novamente. Andava pela sala de estar, agitado, arrastando-se bruscamente e expelindo a fumaça em exalações barulhentas.

Sam verificou sua arma, depois pegou o rifle sobre o balcão. Enfiou o fone de ouvido e posicionou o microfone na frente da boca.

— Reportando. Nenhum sinal de Sophie ainda? Estou saindo.

Negativo, — Steele respondeu. — Estamos procurando .

Sam xingou e empurrou-se para fora da porta.

 

Sophie se amontoou entre dois, dos três grandes afloramentos de pedra e forçou-se a respirar lentamente. Seu pulso batia como um martelo, até que tudo que podia ouvir era seu batimento cardíaco e cada respiração, dentro e fora.

Escalou a face da pedra alta e deslizou por trás dela, em um esforço para encontrar um lugar para se esconder. A menos que alguém subisse da mesma maneira que ela, ninguém iria encontrá-la aqui. Estava protegida por todos os lados e tinha espaço suficiente para se esticar no musgo escarpado. Estava úmido e frio, mas estava segura aqui.

Tudo o que tinha que fazer era ser paciente. Sam iria procurar por ela. Eles se espalhariam, cobririam o território ao redor da cabana, e gradualmente se afastariam até que ela estivesse atrás do raio de busca. Se pudesse sobreviver a eles e não a encontrassem, poderia ir em direção contrária e escapar sem ser detectada.

Seu plano era brilhante, e ela não iria fugir como uma galinha sem cabeça, mas seria simplesmente brilhante, se funcionasse.

Sufocou o riso histérico que ameaçava borbulhar. Tinha muita experiência em fugir. Esconder-se como alguns fugitivos. Mas nunca imaginou que teria que fugir do homem no qual confiou para protegê-la.

Puxou as pernas para mais perto do corpo, encostando-as na barriga. Deixou a cabeça cair nos joelhos enquanto a raiva corria por sua pele, quente e irritante.

Se não tivesse procurado Sam, não teria sentido esperança. Não teria tocado o sol por um breve e brilhante momento, só para ter aquele calor e alegria extintos.

Ela foi uma tola, e agora não apenas teria que se manter a frente de seu tio, mas teria que evitar ser levada em custódia e o que seria feito, Deus sabe o que, com ela por qualquer que fosse a agência que Resnick representasse. Se é que ele representava alguma.

Malditos sejam. Malditos sejam todos eles. Especialmente Sam.

Quem quer que fosse Resnick, o governo dos Estados Unidos queria seu pai o suficiente para fazer o que fosse necessário para conseguir seu objetivo. Ela era dispensável. A filha dele era dispensável. Poderiam suspeitar que seu pai estava morto, mas ainda não sabiam. Ainda não. E, embora não pudessem fazer nada com a informação de que ela o matou, certamente poderiam utilizar a informação que ele estava morto em seu benefício.

Encostou-se à rocha fria e fechou os olhos, cansada. Apenas ontem à noite estivera deitada nos braços de Sam, reunindo coragem para confessar que matou um homem a sangue frio. Já tinha muita coisa trabalhando contra ela, aos olhos de Sam. O que ele pensaria sobre a mãe de seu filho ser uma assassina?

Então acordara com o sentimento que tudo ficaria bem. Sam entenderia. Não iria julgá-la. Iria confessar tudo a ele, e ele tomaria as medidas necessárias para manter seu tio afastado, e então ela poderia, finalmente, viver em segurança, com sua filha. A filha de Sam. Poderiam ser uma família.

Só que Sam nunca teve nenhuma intenção de que eles fossem alguma coisa.

Durante horas, ela ficou lá, até que seus músculos gritaram em protesto. Sua bexiga doía e ela ficava mais contraída a cada minuto que passava. Ainda assim, não se moveu. Ainda não. Esperaria até anoitecer, mesmo se isso a matasse.

Cochilou levemente, seu sono era interrompido a cada vez que ouvia o menor ruído. O pescoço doía e suas costas estavam matando-a. Precisava mudar de posição.

Centímetro por centímetro, ela se ajustou, até que esticou as pernas do outro lado da pequena área protegida pelas rochas. Um suspiro de alívio sussurrado passou por seus lábios enquanto se enrolava do outro lado.

Olhou para o céu, observando as finas nuvens passarem e o azul clarear quando o sol começou a se pôr. Não demoraria muito agora. Sua paciência seria recompensada.

Dormiu novamente, e quando acordou dessa vez, ficou surpresa com a escuridão ao seu redor. Dormira por mais tempo do que pensava e agora estava desorientada quanto ao tempo. O crepúsculo já havia passado e as estrelas já estalaram acima dela. Talvez Sam tivesse desistido ou ampliado o raio de busca, de tal forma, que estaria a quilômetros de distância agora.

Rolou de joelhos, apoiou as palmas das mãos no chão e empurrou-se lentamente para cima.

Os joelhos rangeram, as costas estalaram, e seu ferimento protestou pela tensão que estava colocando sobre ele.

Por alguns segundos, ela se levantou e se espreguiçou, trabalhando as torções para fora de seu corpo rígido. Estava com frio e com fome, mas ignorou os dois desconfortos. Nenhum dos dois era novidade para ela.

Tão cuidadosamente quanto possível, escalou a menor rocha, testando seus pontos de apoio para ter certeza que não cairia ou faria ruídos desnecessários.

No fim do caminho, escorregou e caiu com um baque que tirou sua respiração. Colocou os braços em torno da barriga e ficou lá, examinando-se mentalmente, à procura de qualquer lesão.

Depois de recuperar o fôlego, levantou-se e olhou ao redor, tentando obter sua direção. Estava muito escuro e não havia luar para guiá-la. Era bom para não ser vista. Não tão bom quando a impedia de enxergar.

Rastejou por entre as árvores e pela vegetação rasteira, muito mais lenta e furtivamente que algumas horas antes. Tivera o dia todo para chegar a um plano, mas a única coisa que se destacou era que precisava encontrar um meio de transporte. Não poderia ir a pé, se esperava colocar qualquer distância entre ela e sua ameaça imediata.

Quando estava apenas a uma curta distância da cabana, fez uma pausa e esfregou a pontada na lateral do seu corpo. Mal conseguia perceber onde as árvores retrocediam, e avançou para frente, tentando perceber se as luzes estavam acesas na cabana e se as caminhonetes ainda estavam estacionadas na frente. Não sabia o quanto Sam seria teimoso ou quanto tempo persistiria procurando-a, ou se sequer a procurou.

— Indo a algum lugar?

Ela se virou e bateu a mão sobre a boca para estancar o grito reflexivo. A luz de uma lanterna a cegou, e levantou seu outro braço para bloqueá-la.

Pronta para fugir, disparou para a direita, mas a mão de Garrett estalou ao redor de seu pulso, e a puxou.

— Deixe-me ir, — disse ela desesperadamente.

— Você vai se machucar. Pare de lutar, — disse ele em uma voz calma.

Lágrimas bloquearam sua garganta.

— Maldito!

A luz caiu, e então ele virou a lanterna para cima para que a área imediatamente fosse iluminada.

Ela esperava que seu rosto estivesse com sua expressão ameaçadora de costume, mas ele não estava carrancudo.

— Deixe-me ir, — ela implorou. — Você sequer gosta de mim. Não gostou de mim desde o início. Deixe-me ir e nunca mais incomodarei você ou Sam novamente. Mas pelo menos, me dê uma chance de proteger meu bebê.

Algo que parecia arrependimento e desconforto brilhou no rosto dele. Suas feições suavizaram e o aperto em seu braço diminuiu. Por um momento acendeu a esperança em seu peito. Ele iria deixá-la ir. Mas quando ela tentou se afastar, o aperto aprofundou novamente.

— Ouça-me, Sophie. Sam está frenético de preocupação. Apesar de tudo o que você ouviu ou pensa que ouviu, ele não pretende traí-la.

— Ele já traiu, — ela disse amargamente. — Eu não deveria esperar outra coisa. Ele não me deve nada. Fui apenas uma garota que ele pegou em um bar. Ficar comigo não era parte do negócio.

Se você conhecesse Sam, não estaria jorrando essas bobagens, — disse Garrett. — Sei que está magoada. Sei que se sente traída. Mas dê a ele uma chance de explicar. Nós iremos protegê-la, mas não poderemos fazer isso se você fugir de nós.

— Nós? — Ela questionou. — Está se incluindo nessa promessa?

— Estou, — ele disse sucintamente.

— Por quê? — Ela deixou escapar. — Você nunca fez segredo do fato que me despreza. Não confia em mim. Não me quer em nenhum lugar perto de seu irmão.

— Você está carregando minha sobrinha ou sobrinho. Você é importante para Sam. — Havia resignação em sua voz, como se esse reconhecimento deixasse um gosto ruim em sua boca. — Isso a torna importante para mim.

Ela olhou para ele e ele encontrou o seu olhar. Não havia raiva, nem a desaprovação que estava tão acostumada a ver em seus olhos. Ela oscilou em seu aperto, de repente, tão cansada que teria caído se ele não estendesse a outra mão para firmá-la.

Deixe-me levá-la de volta, Sophie. Você está cansada, está ferida e não tem nenhum negócio para cuidar, já que estava fugindo carregando um bebê.

— Não posso.

Sua voz se transformou em súplica, e ela o olhou, lhe implorando, esperando que pudesse influenciá-lo.

— Não posso ir com aquele esse cara, o Resnick. Você não entende? Sou dispensável a ele. Não sou nada em comparação ao que ele ganhará, desbaratando a rede de minha família. Eles não se importam comigo ou com meu bebê. Eu quero que ela tenha algo melhor do que eu tive. Por favor, deixe-me cuidar do meu bebê.

O rosto inteiro de Garrett suavizou, mas ele não soltou seu braço.

— Juro para você, Sophie, Sam nunca permitirá que Resnick leve-a para nenhum lugar. Essa nunca foi sua intenção. Além disso, eu não permitirei. Você tem a minha palavra.

— Você não está realmente me oferecendo uma escolha, — ela disse sombriamente.

Ele suspirou.

— Não, não estou. Eu preferiria que você voltasse por vontade própria, mas se não voltar, serei forçado a trazê-la, por qualquer meio necessário.

Seu queixo caiu e ela fechou os olhos.

— Tudo bem, — ela aceitou calmamente.

 

Quando Garrett a empurrou para dentro da cabana, Sophie viu que ela e Garrett eram os dois únicos ocupantes. Ele fechou a porta atrás deles e atirou-lhe um olhar que lhe sugeria que não deveria pensar em fugir novamente.

Ele gesticulou em direção à mesa.

— Sente-se. Vou pegar alguma coisa para você comer e beber.

Ela afundou-se exausta em uma cadeira e cruzou os braços sobre a mesa para que pudesse descansar a cabeça. Quando Garrett colocou um copo de leite na sua frente, bebeu avidamente e depois voltou sua cabeça para a posição erguida. Fechou os olhos e descansou, enquanto Garrett remexia na geladeira. Estava com fome, mas estava cansada demais para comer.

Um momento depois, a porta se abriu, tirando-a de sua letargia. Ela pulou em posição vertical para ver Sam entrando, os olhos brilhando. Mal teve tempo de registrar o susto antes que ele estivesse em frente a ela.

Ele puxou-a e colocou-a de pé, envolvendo uma mão em torno de sua nuca e depois a arrastou para ele.

Beijou-a longa e duramente, a boca moldada tão apertada a dela que nenhum deles poderia sequer respirar.

Ela inseriu suas mãos entre eles e empurrou tão forte quanto podia. Ele não cedeu.

Ao contrário, aprofundou o beijo, como se para convencê-la de sua propriedade.

Sua língua flamejou sobre a dela. Quente, degustadora, molhada. Seus dedos esfregaram firmemente sobre o pescoço e depois para cima em seu cabelo, se enrolando nos fios.

Finalmente, ele se afastou, mas manteve a mão em sua nuca, enquanto a olhava através dos olhos semicerrados.

Nunca mais me assuste assim novamente, — disse ele em voz baixa.

Ela tentou se afastar novamente, mas ele envolveu o rosto dela com a outra mão rosto e alisou o polegar sobre os lábios inchados.

— Eu sei que a magoei, Sophie. Sinto muito. Mais do que posso dizer. Não tenho tempo para explicar tudo para você agora. Espero que entenda isso.

Com isso, ele se virou e caminhou em direção a Garrett. Ela ouviu com horror enquanto ele contava a seu irmão, que Frank teve um ataque cardíaco e que a mãe deles foi raptada do hospital.

Ela cambaleou e teve de apoiar-se na mesa. Não se arriscou a olhar para nenhum dos dois. Não suportaria ver a raiva nos olhos de Garrett. Raiva que seria direcionada a ela.

A náusea ferveu em seu estômago como ácido, e ela engoliu a respiração pela boca. Seu peito estava pesado, e fechou os olhos antes de finalmente afundar novamente na cadeira.

Tudo o que queria fazer era enterrar o rosto nos braços e chorar.

— Sophie, precisamos ir.

Levantou a cabeça para ver Sam parado ao lado da mesa, a expressão sombria. Além dele, Garrett já estava caminhando para fora da cabana.

— Para onde? — Ela resmungou.

— Para casa. Para meu pai. Preciso vê-lo e então teremos que encontrar minha mãe.

Ela se levantou tremendo, balançando a cabeça em concordância. É claro que tinham que ir. Ela saiu à frente de Sam e quase correu para Garrett na parte inferior da escadaria. Ele segurou o braço dela para firmá-la, antes de Sam assumir e a conduzir para a caminhonete.

O percurso foi silencioso e tenso. Os dois homens não conversaram. Garrett olhava tristemente pela janela enquanto o olhar de Sam permanecia fixo na estrada.

Ela alternava entre sentir-se culpada por trazer seu tio à porta deles, e sentir raiva pelo sentimento de culpa. Era inevitável que seu tio viesse atrás de Sam e sua família. Depois que pegasse Sophie, seu tio tomaria medidas para erradicar os Kelly.

Mas agora ela precisava dar a Sam toda a munição necessária para lutar contra seu tio e, esperançosamente, resgatar a mãe dele no processo. Orou para que Marlene estivesse sendo mantida viva. Se seu pai ainda estivesse no comando, Marlene já teria sido morta e deixada para Sam e sua família encontrarem uma mensagem. Seu tio não era tão implacável quanto seu pai, no entanto. Não que não tentasse ser. Ele era apenas mais fraco. Queria ser visto como alguém que era tão forte e tão capaz de dirigir um império criminoso quanto o pai dela, mas não existiam muitos homens que eram. Alex Mouton não tinha consciência quando estava vivo, e Sophie só podia esperar que ele tivesse sido remetido para o inferno, depois de sua morte.

Apertou os lábios e inalou profundamente pelo nariz. Em seguida, endireitou-se e afastou-se da janela para que pudesse ver facilmente os homens, de sua posição.

— Meu pai está morto.

Sam virou a cabeça para olhá-la pelo espelho retrovisor, ao mesmo tempo em que Garrett disparava seu olhar para ela.

— Você tem certeza disso? — Sam exigiu. — Isso é importante, Sophie. Temos que saber com certeza. Não podemos nos dar ao luxo de supor nada.

— Você viu o corpo? — Garrett o interrompeu.

— Vi, — ela disse suavemente. — Fui eu quem o matou.

Sam freou de repente e seguiu para o acostamento. Parou o carro, mas deixou o motor ligado. Então, se virou, de modo que também pudesse olhar para ela.

— Você poderia repetir isso para mim?

— Eu o matei. Atirei nele, para ser exata.

— Puta que pariu! — Garrett murmurou.

Sam fechou os olhos e beliscou a ponta de seu nariz num gesto de frustração.

— Você atirou nele.

— Sim.

— Cristo, é por isso que seu tio está atrás de você? Vingança? — Garrett perguntou.

— Tenho algo que ele quer.

Ela afugentou o tremor de sua voz, recusando-se a chorar, agora que corajosamente fez a sua confissão.

Sam imediatamente tornou-se mais alerta. Seus olhos se aguçaram, depois se estreitaram.

— O que você tem, Sophie?

— A chave do cofre do meu pai.

Garrett fez uma careta mais profunda.

— E? O que isso significa?

— O cofre seguro das riquezas de meu pai. Não só a sua riqueza, mas todos os detalhes de suas transações de negócio, seus contatos, os protótipos das armas que ele desenvolveu ao longo dos anos. O seu Sr. Resnick estava preocupado com a ideia de ele desenvolver tecnologia nuclear. Se ele tiver desenvolvido, os detalhes estarão lá, juntamente com todo o resto.

E ele mantém essa merda trancada em um cofre? — Garrett perguntou, incrédulo.

Ela quase sorriu.

— Não é um simples cofre. É um cofre subterrâneo, altamente desenvolvido, completamente seguro, e climatizado. E quando eu digo cofre, não imaginem uma coisa semelhante ao cofre de banco, talvez do tamanho que poderia caber num carro. Este é um vasto complexo. É um aposento enorme com apenas uma entrada e uma saída. E depois que você entra, não pode sair pelo caminho que entrou. Esse é o único caminho.

— E você tem a chave para isso. Ele simplesmente deixou esta chave jogada por aí para que qualquer um pudesse pegá-la, — disse Sam.

Ignorando o sarcasmo, ela assentiu mais uma vez.

— Eu a cortei do pescoço dele com a faca que você deixou no quarto do hotel. Depois que eu atirei nele. Era a minha apólice de seguro. Era minha maneira de ter certeza que permaneceria viva. Sabia que eles viriam atrás de mim, depois que matei meu pai. Iriam me caçar e me despachar da mesma maneira que fariam com qualquer outro inimigo. Mas eu não morreria rapidamente. Porque eu era sangue dele e traí o meu sangue, fariam minha morte ser longa e dolorosa. Porque eu me virei contra meu pai, deveria sofrer até que implorasse pela morte. Essa chave impede que eles me matem. Se me encontrarem, terão que me levar viva ou correrão o risco de nunca recuperar o único caminho para a vasta rede subterrânea da riqueza e dos negócios de Alex. Tomas só poderia assumir temporariamente como líder dos negócios da família Mouton. Logo ele ficará sem recursos, sem dinheiro e apoio. Sem ter como acessar o cofre de meu pai, Tomas não será nada.

— Cristo, — Sam praguejou. — Ele mantém essa merda em um cofre? É insano.

Ela levantou uma sobrancelha.

Como assim? Ele lida com ouro. Pedras preciosas. Uma riqueza indetectável. Ele não confia em bancos. Nunca deixa registros de suas transações. Todos os outros? Ele mantém contas meticulosas de todos aqueles com quem já teve negócios. Em seus livros, tem os nomes de inúmeros líderes mundiais, muitos do Ocidente, que morreriam se seus crimes fossem descobertos. Muitos matariam por esta chave. Eu não planejo desistir dela.

Garrett soltou a respiração e olhou para Sam.

— Uau, garoto, isso só torna tudo infernalmente mais complicado.

— Você pode dirigir por algum tempo, Garrett? Não podemos nos dar ao luxo de ficar parados. Temos que chegar até papai.

Em resposta, Garrett saiu e caminhou até a porta do motorista. Esperou que Sam deslizasse para fora, antes de se acomodar no assento do motorista. Em vez de ir para onde Garrett estivera sentado, como Sophie esperava, Sam abriu a porta e deslizou ao lado dela.

Garrett voltou para a estrada, e Sophie ficou olhando para Sam, temendo seu escrutínio. Temendo as perguntas inevitáveis. E a mudança na maneira que olharia para ela, de agora em diante.

Ela lentamente abaixou a cabeça e olhou para seus dedos enroscados tão rigidamente no colo.

— O que ele fez para você, Sophie?

Sua cabeça levantou-se, surpresa. Não era isso que ela esperava que ele dissesse ou perguntasse.

— O que você quer dizer?

— Por que o matou?

— Porque ele precisava morrer.

— Eu acredito que você o matou, — Sam disse suavemente. — Mas não acredito nem por um momento que você o matou para livrar a humanidade de um bastardo de primeira linha.

— Então você não me conhece muito bem, — ela provocou. — Eu o matei, apenas por essa razão. Ele é um bastardo. É um sociopata frio e calculista. A vida não significa nada para ele. A de ninguém, exceto a dele. Eu tirei a única coisa que ele gostava. Sua própria vida. Era a única coisa pela qual ele era apaixonado.

Ela não percebeu que a mão de Sam deslizava por seu braço até que ele descansou a palma contra a curva de seu pescoço, esperando até que ela terminasse seu discurso. De repente, estava acariciando sua pele, acalmando um pouco da tensão horrível que emanava dela.

— E peguei a chave, por que isso significava que ninguém poderia assumir seu legado.

— Essa foi a maldita coisa mais estúpida e corajosa a fazer, — Garrett disse, a contragosto. — A mais estúpida, entende, mas ainda assim incrivelmente corajosa.

— Onde está a chave agora? — Sam perguntou.

Ele manteve sua voz tão suave quanto a carícia sobre sua pele. Mas ela não queria falar sobre a chave. Ela queria saber por que ele a colocou em contato com Resnick. Se o pai dele não tivesse um ataque cardíaco e a mãe não tivesse sido raptada, Sophie estaria agora mesmo a caminho de um buraco escuro, onde o governo dos Estados Unidos a colocaria, onde ela nunca seria vista ou ouvida novamente?

Era óbvio que Sam iria precisar dela agora. Agora que as circunstâncias mudaram tão drasticamente e provavelmente ele iria precisar trocar Sophie pela única coisa que mais importava para ele.

Tentou não pensar sobre o quanto isso a magoava. Parecia que em todos os lugares onde ia, ela era dispensável.

— E sobre Resnick? — Ela perguntou com voz rouca. — Por que você mentiu?

— Eu não menti.

— Você ocultou informações. É a mesma coisa.

Sua boca se franziu em um rosnado.

— Não vamos entrar no assunto reter informações, Sophie. Você se resguardou de mim desde o início.

Ela mostrou os dentes e o empurrou para frente em seu espaço.

— Exatamente o que eu deveria fazer, Sam? Aparecer à sua porta e dizer, oi, estou grávida, e a propósito, você é o pai, e como sei o quanto você odeia seu sogro em potencial, atirei nele a sangue frio e então fugi como o inferno? Pensei que você não seria muito receptivo. Achei que teria me despachado para Resnick, ainda mais rápido do que você acabou fazendo. Eu acho que teria recuado tão rápido que quebraria uma perna ao fazê-lo.

Ela suspirou e combateu o cansaço que a bateu tão implacavelmente.

— Apenas me diga por que, Sam. Não responda às minhas perguntas com acusações. Tenho certeza que temos muito com o que nos acusar mutuamente.

— Droga, — Sam proferiu. — Sophie, eu tinha que concordar em deixar Resnick interrogá-la. Ele empunha muito poder. Não pude dizer não. Era óbvio que você estava escondendo alguma coisa. Algo que a assustava muito, e Resnick estava convencido de que você poderia dar-lhe informações que iriam ajudá-lo. Agora vejo por que ele pensou isso.

Fez uma pausa e deslizou as mãos sobre o pescoço dela e mergulhou na espessura de seu cabelo, com os dedos.

— Mas querida, me escute. Nunca. Nunca houve sequer uma possibilidade remota que eu o deixasse levá-la para longe de mim. Ele estava ali para lhe fazer algumas perguntas. Eu estava lá para pacificá-lo através da cooperação. Não menti para você quando disse que iria protegê-la.

Sua voz baixou até que era quase um sussurro e ninguém, além dos dois poderia ouvir.

Eu não menti quando disse que precisava de você.

Ele se inclinou até que sua testa pressionasse a dela. Então beijou a ponta do seu nariz.

— Você e eu sabemos que temos muitas coisas para resolver. Mas não podemos fazê-lo se não estivermos juntos, Sophie. Conseguiremos se eu puder estar com você para certificar-me que está segura e que nosso filho está protegido de seu tio bastardo. Preciso que confie em mim e eu sei que estou pedindo muito.

Ela levantou o olhar até que encontrou o dele.

— Preciso que você confie em mim, Sam. Você quer e espera muito de mim, mas não está disposto a me dar nada em troca.

Ele passou a mão sobre a bochecha dela e acariciou seus cabelos. Se ele não respondesse tão diretamente, ela não teria acreditado nele. Teria pensado que estava dizendo o que fosse preciso naquele momento para convencê-la. Mas ele permaneceu em silêncio por um longo momento, e então, finalmente, inclinou a cabeça para que seus olhares se prendessem.

— Eu confio em você, Sophie. Meu instinto me diz que devo acreditar em você, mas minha cabeça está gritando que sou um tolo. Sinto muito se isso a deixa magoada, mas estou sendo cem por cento honesto com você.

— Apenas me diga que acredita que eu nunca o traí, — ela sussurrou. — Que sabe que eu não me prostitui pelo meu pai.

Seu olhar suavizou e ele a beijou, apenas um leve beijo em seus lábios, e então ele levantou a boca para pressionar um beijo em sua testa.

— Eu acredito em você, Sophie.

Ela envolveu seu braço ao redor dele e se afundou em seu peito. Ele segurou-a firmemente contra ele, enquanto ela absorvia seu calor e força.

— Eu estou com medo, Sam.

Ele esfregou suas costas e deixou cair um beijo no topo de sua cabeça.

— Eu sei, querida. Eu também estou.

— Ele irá exigir a chave. Ele vai me querer de volta. Eu terei que ir. Se tivesse sido meu pai, ele já teria matado sua mãe, mas Tomas tentará negociar. Ele está desesperado. Ele só quer a chave... e eu.

Sam ficou tenso abaixo dela. Seus braços apertaram dolorosamente ao seu redor.

— Aqui é onde eu preciso que você confie em mim, Soph. Eu não vou entregar você e meu filho para aquele bastardo, mas também não vou abandonar minha mãe. Encontrarei um caminho. Eu juro.

Ela afastou-se e apoiou-se em seu peito para que pudesse olhar nos olhos dele. Tudo o que viu foi uma determinação inabalável. Ela não estava tão convencida quanto ele, mas sabia que ele acreditava absolutamente no que estava dizendo.

Colocou uma mão em seu rosto e acariciou as linhas profundamente esculpidas em sua testa.

— Sei que você não vai.

E ela orou com toda a fé que possuía, que ele não fosse.

 

O comboio de SUVs rolou para o beco estreito ao lado do hospital rural. Rio caminhou para fora do edifício, sua boca definida em uma linha sombria. Veio imediatamente cumprimentar Garrett e Sam quando saíram da caminhonete.

— Como ele está? — Sam perguntou.

— Estável. Ficou acordado por um tempo. Um pouco desorientado. Perguntou onde estava sua mãe. Donovan está com ele. Não sei se ele já contou sobre sua mãe.

— Estável? — Garrett repetiu. — Porém ele ainda está na UTI, certo?

— Ele vai permanecer na UTI até o cardiologista liberá-lo. Eles querem monitorá-lo de perto, mas avaliaram sua condição como estável. Tenho certeza que o médico pode lhe dizer mais do que eu.

Sam se aproximou da caminhonete para pegar a mão de Sophie e puxou-a para fora, ao lado dele. Rio, Garrett e Sam formaram um círculo de proteção em torno dela enquanto Steele e os outros vinham na retaguarda. Quando chegaram ao interior do hospital, Sam fez uma breve pausa para emitir uma diretiva para Rio.

— Dê o relatório a Steele e sua equipe. Coordene seus esforços. Eu quero minha família segura. Não podemos permitir outra brecha na segurança.

Rio balançou a cabeça, e Sam podia ver o fluxo de culpa em seus olhos.

Colocou a mão no ombro do líder de sua equipe.

— Eu não o culpo, Rio.

Rio não reagiu ou respondeu. Sam sabia que ele não responderia. Abaixou a mão e a enrolou no braço de Sophie, uma vez mais.

— Eu quero que Sophie consulte um médico, enquanto estivermos aqui, — disse a Garrett, enquanto se apressavam em direção o elevador. — Depois de ver papai.

Entraram em um elevador, e Sam puxou Sophie ainda mais perto. Ela estremeceu contra ele, e seus olhos pareciam tão tristes. A mesma culpa que viu no olhar de Rio, ele via no de Sophie. Apertou a mão dela. Era tudo o que poderia oferecer no momento. Palavras não eram boas o suficiente, e até que pudesse ver seu pai, sua língua estaria tão atada, que não conseguiria falar, de qualquer maneira.

Quando as portas do elevador se abriram e ele viu o sinal apontando o caminho para a unidade de terapia intensiva, o medo apertou seu peito tão fortemente que se sentiu tonto.

Rio dissera que ele estava estável. Isso era bom, certo? Mas ele teve um ataque cardíaco. Um sério ataque cardíaco.

Isso significava que poderia ter outro? Que seu coração estava danificado?

Não queria imaginar um mundo sem seu pai nele. Crescendo, seu pai tinha sido sua rocha. Ele foi a rocha de seis meninos indisciplinados e desordeiros, e infundiu valores essenciais em todos eles.

Ser um bom homem, ter honra e integridade, proteger os mais fracos, e nunca tolerar uma injustiça.

Esses valores formaram a pedra fundamental da KGI.

Não percebeu que parou do lado de fora da sala dos familiares, até que a pequena mão de Sophie circulou e apertou a sua.

A dor em se peito intensificou até que se sentiu atolado em emoção. Tristeza. Medo. Raiva.

Oh Deus, não poderia perder seu pai. Nem seu pai. Nem sua mãe. Oh Deus. Usou toda sua força para ficar lá, firme, e não desmoronar, enquanto olhava para a porta fechada do quarto.

Garrett virou-se para ele, e viu que seu irmão não estava se saindo melhor que ele. Ambos eram supostamente tão fortes. Os irmãos mais velhos. Líderes. Sam se sentia uma fraude.

Então Sophie estendeu a mão e tocou Garrett levemente no braço. Foi um gesto simples que suavizou um pouco a tristeza brutal nos olhos de Garrett. Garrett pegou a mão dela e deu-lhe um rápido aperto.

— Obrigado, — ele murmurou.

Sam assentiu com a cabeça em direção à porta.

— Vamos entrar. Eu quero vê-lo assim que souber como Rusty e Sean estão.

Quando entraram, Sam viu Rusty sentada no canto mais distante, seu rosto manchado e os braços ao redor de seus joelhos eretos. Sean estava parado do outro lado da sala, as mãos enfiadas nos bolsos, e dois homens de Rio montavam guarda bem em frente à porta.

Quando Rusty os viu, ficou rapidamente de pé. Com os punhos cerrados ao lado do corpo, avançou para onde Sam estava.

— Você prometeu que os manteria em segurança! Você os deixou! — Ela acusou, com a voz devastada pelas lágrimas.

Ela virou seu olhar furioso para Sophie e depois se voltou para Sam.

— Isso tudo é culpa dela, não é? Ela é a razão pela qual você desapareceu e os deixou sem proteção. Eles poderiam ter morrido. Todos poderiam ter morrido.

Sam se moveu para que Sophie ficasse atrás dele, e estendeu a mão para Rusty. Ela tentou se afastar, mas ele a puxou contra seu peito e passou os braços em torno dela.

Ela lutou, mas ele a segurou, e finalmente ela ficou mole contra ele e explodiu em comoventes soluços. Ela chorou contra seu pescoço, e seu corpo todo tremia incontrolavelmente.

— Shhh, — Sam disse, enquanto acariciava seus cabelos. — O papai vai superar tudo isso, Rusty. Você sabe como ele é genioso. Você pode imaginar um ataque cardíaco tirando-o de circulação? Seria necessário um tanque, e mesmo assim eu ainda apostaria nele.

— E quanto a Marlene? — Ela soluçou. — Eles acreditaram em mim. Foram as únicas pessoas que se preocuparam comigo.

Sam engoliu suas próprias lágrimas e a abraçou fortemente. Era a primeira vez que ele estendia a mão para Rusty, em quase um ano que ela estava com sua família. Ele e seus irmãos a toleravam como um espinho. Chato, mas lá. Eram indulgentes com o fato de Marlene tratá-la maternalmente, assim como cediam a seus cuidados maternais com todas as outras pessoas do mundo. Mas eles nunca a aceitaram. Apenas Marlene e Frank Kelly tinham feito isso.

— Nós a teremos de volta, Rusty. Eu juro. Iremos resgatá-la.

Ele a levou até o sofá contra a parede e acomodou-a. Ela cobriu o rosto com as mãos como se estivesse envergonhada que ele a tivesse visto chorar.

— Rusty, olhe para mim, — disse ele suavemente.

Lentamente, seu queixo se ergueu e os olhos assombrados encontraram os dele.

— Eu sei que você está irritada. Eu também estou. Mas papai precisa que você seja forte para ele, principalmente agora que Mamãe não está aqui. Eu juro que a trarei de volta para casa.

— Você jurou que os manteria seguros, — disse ela amargamente.

Sam suspirou.

— Rusty, você tem idade suficiente para saber que merdas acontecem. Jogar o jogo da culpa não a levará a lugar algum. Se me culpar faz você se sentir melhor, então está livre para fazê-lo. Mas isso não mudará absolutamente nada. Se eu tiver que mover o inferno para encontrar minha mãe, então, isso é o que irei fazer.

As lágrimas encheram seus olhos novamente e o rosto dela se enrugou.

— Me desculpe. Me desculpe. Estou com tanto medo. Se eu perdê-los...

Ela separou-se e enterrou o rosto nas mãos.

Sam puxou-a contra seu peito novamente.

— Você sempre terá um lar, — ele disse calmamente. — Não importa o que aconteça.

Ela jogou a cabeça para cima e olhou para ele, as lágrimas derramando sobre as bordas dos seus olhos.

— Você está falando sério?

— Eu não falaria, se não estivesse.

Ela sorriu, realmente sorriu, e ocorreu a Sam que esse era o primeiro sinal de verdadeira alegria que já testemunhou dela. Era sempre tão reservada e em guarda. De uma maneira mais resistente do que uma menina de sua idade deveria ser.

— Obrigada, — ela sussurrou.

— Preciso que você me prometa uma coisa agora.

Ela inclinou a cabeça.

— O quê?

— Você não irá a nenhum lugar, nem mesmo ao banheiro, sem uma escolta armada. Sem exceções. Não poderei me concentrar em trazer mamãe de volta se eu tiver duas pessoas para resgatar, ok?

Seu rosto caiu com a menção de Marlene, mas ela mordeu o lábio e assentiu.

— Eu prometo.

Ele se levantou, deixando-a no sofá. Antes de ir embora, abaixou-se e apertou sua mão.

— Eu voltarei. Preciso ver papai.

Sophie estava de pé, onde a deixou. Estava pálida, com o rosto indeciso, e parecia que preferia desvanecer-se na parede.

Garrett estava ausente, provavelmente já tinha ido ver seu pai. Rio entrou na sala de espera, e Sam foi ao seu encontro. Estendeu a mão para Sophie e puxou-a para seu lado quando parou na frente de Rio.

— Cuide delas para mim, — disse em voz baixa. — Estou indo ver meu pai e então teremos que colocar nossas cabeças juntas.

— Steele e eu estamos trabalhando nisso, — disse Rio. — Sean está coordenando com a polícia local e estadual, e montaram barricadas depois de uma hora do sequestro. Se eu tivesse que adivinhar, diria que escaparam pelo ar. Houve relatos de dois helicópteros na área e estamos tentando obter informações sobre ambos.

Sam tocou a bochecha de Sophie.

— Fique aqui com Rio. Não vá a lugar nenhum sem ele, ok?

Sophie parecia inquieta enquanto olhava para Rio, mas balançou a cabeça.

Sam olhou para Rio mais uma vez e Rio assentiu. Em seguida, Sam saiu da sala e seguiu em direção à porta que levava aos quartos de vidro fechados da unidade de terapia intensiva.

Demorou um pouco para uma enfermeira responder sua convocação, e quando ele lhe disse que estava lá para ver Frank Kelly, ela informou-lhe que já havia dois visitantes com ele.

Sam passou a mão pelos cabelos em frustração.

— Acabei de chegar. Eu tenho que vê-lo. Meus irmãos estão com ele. Eu gostaria de estar lá com eles. Por favor.

Seu rosto suavizou e ela olhou para trás, em direção ao posto das enfermeiras.

— Venha comigo.

Ele a seguiu até o final da unidade, ao último cubículo à direita. Ela fez uma pausa na porta e apontou para que entrasse.

— Não posso deixá-lo ficar muito tempo. Se a enfermeira-chefe voltar, insistirá no limite de dois visitantes.

— Obrigado, — disse Sam.

Ele cutucou a porta entreaberta e olhou para o pai deitado imóvel na cama, fios, tubos e máquinas em todos os lugares.

Garrett estava sentado ao lado de seu pai, em uma cadeira colocada ao lado da cama, enquanto Donovan estava afundado em uma cadeira do outro lado. Quando Donovan olhou para cima e viu Sam, imediatamente se levantou e caminhou em sua direção.

Depois de hesitar um momento, Sam envolveu Donovan em um abraço de urso.

— Como ele está? — Sam sussurrou.

Donovan se afastou e murmurou baixinho.

— Ele acordou algumas vezes. Na primeira vez perguntou por mamãe. No começo acho que ele não tinha nenhuma ideia do que aconteceu.

— E agora?

— Ele sabe, — Donovan disse severamente.

Sam fechou os olhos. Então, passou por Donovan e foi para a cabeceira da cama de seu pai. Garrett olhou para cima, seus olhos desolados.

Sam sentou-se na cadeira de Donovan e se inclinou para frente até agarrar a mão de seu pai. Ficou chocado como Frank Kelly parecia tão fraco e humano, deitado pálido na cama.

— Pai, — ele disse suavemente. — Sou eu, Sam. Garrett e eu estamos aqui. Você pode nos ouvir?

Para sua surpresa, as pálpebras de seu pai estremeceram e se abriram. Por um momento ele olhou para Sam, como se não o reconhecesse. Então seus lábios se separaram.

— Sam.

Mal saiu como um sussurro. Mais como um rouco suspiro que uma palavra real, mas foi o som mais doce que Sam já ouviu. Lágrimas queimaram seus olhos quando seu pai virou a mão na de Sam até que pudesse enrolar seus dedos em torno da palma.

Frank lentamente virou a cabeça até encontrar Garrett.

— Garrett? É você?

Garrett se inclinou para frente e agarrou a outra mão de seu pai.

— Estou aqui, pai.

— Onde está Van?

— Está aqui também, — disse Sam. — De pé, bem atrás de mim.

Tragam sua mãe de volta. Não se preocupem comigo. Eu estarei bem. Vá buscar sua mãe. Tragam-na para casa, para mim. — A dor convulsionou o rosto de Frank e uma lágrima rolou por seu rosto enrugado. — Eu nunca fiquei sem ela. Nunca, em 40 anos.

— Nós vamos encontrá-la, — Sam prometeu. — Concentre-se apenas em ficar bom, assim, quando ela voltar para casa, você não estará preso aqui no hospital.

Frank balançou a cabeça.

— Ethan e Rachel. Eles estão seguros?

— Sim, eles estão bem. Eu preciso... Preciso contar a Ethan sobre a mamãe.

Frank balançou a cabeça.

— Não. Deixe-os o mais distante disto que você puder. Não é necessário trazer Rachel para casa, em direção ao perigo. Vocês encontrarão Marlene. Tenho toda a fé em vocês.

— Eu te amo, papai, — disse Sam enquanto o nó crescia mais em sua garganta. — Cuide-se, por favor.

— Também te amo, filho. Tenha cuidado.

Frank pareceu ceder ainda mais na cama. Seu rosto estava cinza, e parecia exausto pelos poucos minutos de conversa. Alarmado, Sam chamou a enfermeira. Ela veio imediatamente e fez uma avaliação.

— Ele está exausto. Vocês realmente deveriam deixá-lo descansar agora.

Relutantemente Sam levantou-se e saiu da sala com seus irmãos. Eles se reuniram na sala de espera da família, onde Steele, P.J., Cole e Dolphin juntaram-se a Rio e seus homens. Rusty ainda estava sentada no sofá, com as mãos firmemente enroladas no colo, e Sophie recuou para o canto e ficou com os braços em volta da cintura, como se protegendo a si mesma e ao bebê do mundo.

Apesar da necessidade de falar com seus homens, Sam deixou o grupo de pessoas e caminhou até onde Sophie estava. Sentia uma necessidade muito real de tocá-la, de senti-la contra ele. Correu as mãos por cima de seus braços e depois a puxou com cuidado em seu abraço.

— Ele está bem? — Ela perguntou ansiosamente. — Quer dizer, eu sei que ele não está bem, mas ficará?

Ele a beijou levemente nos lábios.

— Acho que sim. Ele parece ruim, e está preocupado com mamãe, mas acho que a preocupação é o que vai mantê-lo lutando.

O rosto dela entristeceu.

— Sinto muito, Sam. Isto é tudo minha culpa. Eu deveria ter ficado afastada por mais tempo. Não deveria ter vindo de jeito nenhum. Eu sabia... — Sua respiração vacilou. — Sabia o que iria acontecer, que meu tio viria atrás de você, mas...

Ele colocou um dedo sobre seus lábios.

— Você certamente deveria ter vindo para mim. Não quero nem mesmo imaginar você lá fora, ainda em fuga, ferida, talvez até mesmo morta agora. Resolveremos tudo isso, Soph. Não quero que você culpe a si mesma. Coloque a culpa em quem ela pertence. Em seu pai e seu tio.

Ela escondeu o rosto em seu peito e agarrou-se ferozmente a ele. Todas as suas reservas derreteram, e tudo o que podia ver ou sentir era ela. Onde ela pertencia. Com ele. Ele parado entre ela e o mundo.

Um telefone tocou e Sam virou-se bruscamente para encontrar a fonte. O telefone comunitário sobre a parede, para que a família usasse, tocou alto, interrompendo o silêncio na pequena sala.

Donovan o pegou e murmurou um Olá. Seu corpo inteiro ficou tenso e sua expressão tornou-se sombria e ameaçadora. Sua mão se enroscou tão rigidamente em torno do receptor, que Sam poderia ver seus dedos ficar brancos.

Sam afastou-se de Sophie assim que Donovan estendeu o telefone em sua direção.

É Mouton. Ele quer falar com você.

 

Sam ouviu Sophie arquejar atrás dele. Um rugido surdo começou em seus ouvidos, e ele cruzou a sala para arrebatar o telefone da mão de Donovan sem qualquer percepção do que fez.

— Sam Kelly, — ele vociferou.

Tomas Mouton foi curto e direto ao ponto.

— Eu tenho algo que você quer. Você tem algo que eu quero. Se você quer sua mãe de volta, viva, entregue minha sobrinha para mim, e é melhor se certificar que ela esteja com o que roubou de mim.

Os lábios de Sam franziram em um rosnado.

— De você? Você não quer dizer o que ela roubou do pai dela? Alguns argumentariam que é dela agora. Você está assumindo, Tomas? Não pensei que teria coragem de dirigir a organização de Alex.

Um silvo baixo foi tudo que ouviu em resposta, e então ouviu um grito assustado. Feminino. Sua mãe.

— Sam? Sam é você?

Seu coração palpitou. Suas mãos e joelhos tremeram tanto que ele teve que se sentar no sofá.

— Mãe, você está bem? Ele a machucou?

A voz dela estava tensa pela raiva.

— Não. Estou bem, filho. Ele quer que eu lhe diga para fazer o que ele diz ou irá atrás de cada membro da nossa família. — Parou de falar e houve um som abafado quando o telefone foi tirado dela novamente.

Sam ergueu os olhos e procurou Sophie, que estava imóvel como uma estátua do outro lado da sala. Todos os outros se viraram para olhá-la também, e ela ficou mais pálida.

Então, como se recompondo, ela se endireitou. Seus olhos ficaram estáveis e nenhum sinal de emoção estava refletido no frio azul. Caminhou até onde ele estava sentado e estendeu a mão para o telefone.

— Deixe-me falar com ele, — ela exigiu em voz baixa.

Sim, Sam, — Tomas exigiu. — Deixe-me falar com a minha amada sobrinha.

Lentamente, Sam entregou o receptor para Sophie e observou sua expressão ficar ainda mais fria quando o colocou em seu ouvido.

Levantou-se para ficar ao lado dela, mas ela se virou, e quando ele tocou seu ombro, ela se encolheu e deu de ombros para afastá-lo.

— Tomas, é Sophie. Ouça o que eu tenho a dizer e preste atenção. Eu tenho o que você quer. Levarei a chave para você.

Sam tentou pegar o telefone, mas Sophie o arrancou de suas mãos e afastou-se, o máximo que o cabo permitia. Ergueu um dedo para detê-lo, com raiva e o olhou ferozmente, uma ordem clara para que não interferisse.

Ele ficou ali fervendo, sua raiva crescendo a cada momento.

— Se você maltratar a Sra. Kelly, se sequer arranhá-la, desaparecerei com a chave e a destruirei. Nunca irá encontrá-la. Nunca terá acesso às riquezas de meu pai ou aos seus negócios.

Parou por um momento e pareceu escutar algo que Tomas estava dizendo. Sam tentou se aproximar, mas novamente ela se desvencilhou.

— Não ferre comigo, Tomas, — disse ela suavemente. — Não tenho nada a perder. Eu irei até você, mas você não ganha nada até que ela seja libertada. Temos um acordo?

Voltou-se para Sam e deslizou o telefone até seu pescoço antes de finalmente entregá-lo de volta para ele. Sam o pegou e o colocou em seu ouvido, só para ouvir um tom de discagem.

Ele explodiu.

— Sophie, que porra é essa?

Estava furioso com ela por concordar em trocar a si mesma por sua mãe, e furioso, pois não sabia nada sobre a troca. Local, nada. Odiava o sentimento de desamparo que se apoderou dele, e odiava ser dependente de Sophie para obter informações.

— Fiz o que precisava ser feito, — ela disse calmamente. — Se fosse meu pai, sua mãe já estaria morta.

A sala irrompeu em exclamações e várias blasfêmias. Garrett e Donovan se empurraram para perto de Sophie, e ambos pareciam tão furiosos quanto Sam.

— Que diabos foi aquilo? — Donovan exigiu.

A dor cintilou nos olhos de Sophie por um breve segundo antes que ela endurecesse mais uma vez e qualquer emoção fosse perdida quando olhou primeiro para Sam e depois para os outros.

— Tomas não é tão disciplinado como o meu pai era. Meu pai teria matado Marlene para enviar uma mensagem. Ele não negociaria. Não faria uma troca. Ele exigiria, e se suas exigências não fossem cumpridas, ele agiria. Tomas é mais fraco. Por isso sua mãe está viva. Tudo o que ele quer, tudo o que almeja, é riqueza e poder, e com o meu pai morto, ele vê tudo em suas mãos. Só que eu permaneço em seu caminho. Seus olhos estão sobre mim. Ninguém mais importa. Nem sua mãe, nem você, mais ninguém.

Ela disse isso com tanta naturalidade que poderia estar discutindo sobre o tempo. Sam olhou para ela, incrédulo. Será que ela honestamente acreditava que ele iria sacrificá-la?

Olhou para seus irmãos, que ainda estavam olhando para Sophie, mas agora não tinha certeza se eles estavam putos porque ela concordou tão prontamente com a barganha, ou se estavam putos porque ela tomou o controle de suas mãos.

— Isso foi uma maldita coisa estúpida a fazer, — Garrett rugiu para ela.

Ela vacilou desta vez e deu um passo para trás. Garrett ignorou e deu um passo adiante até que olhava para ela de sua altura máxima.

— Você honestamente acha que qualquer um de nós iria simplesmente entregar você e nossa sobrinha, ou sobrinho, para aquele bastardo? Você está doida?

Agora, ela parecia em pânico, e seu olhar disparou para Sam em um pedido de ajuda, só que ele não se sentia particularmente útil no momento. Ele estava puto pra caramba.

Até mesmo Donovan, que desde o início a tratava muito mais suavemente que Garrett, avançou sobre ela com uma profunda carranca em seu rosto.

— Talvez você não tenha entendido ainda, mas você faz parte desta família, —Donovan rosnou. — Encontraremos uma maneira de derrubar aquele bastardo e resgatar a nossa mãe, mas não será porque a entregaremos como um bando de maricas de merda.

Os olhos de Sophie se arregalaram e lágrimas brilhavam lá, transformando o azul em líquido. Sam não estava pronto para resgatá-la ainda. Ela precisava ouvir isso, precisava entender o que ele mesmo ainda não foi capaz de dizer. Talvez ele mesmo ainda não tivesse percebido.

Steele deu um passo adiante, e logo os membros restantes da KGI formaram um círculo ao seu redor.

Estava encurralada. Nenhum lugar para correr. Nenhum lugar onde poderia negar seu valor.

— A KGI não se esconde atrás de uma mulher. Mesmo uma tão corajosa como você, — Steele disse em sua voz tranquila e austera.

Rio olhou para Steele, divertido, antes de adicionar suas próprias declarações à mistura.

— E eu raramente concordo com alguma coisa que Steele tenha a dizer, mas neste caso, concordo. Talvez você nunca teve ninguém com quem pudesse contar no passado, mas agora você tem. E não vamos deixá-la fazer algo tolo, como andar em direção a uma morte certa.

Toda a cor desapareceu das bochechas de Sophie. Ela parecia atordoada. Olhou freneticamente de um rosto para outro e, finalmente, se voltou para Sam. Olhou para ele com os olhos suplicantes. Esperando o quê? Confirmação? Compreensão?

O coração dele virou em seu peito. Será que ela realmente achava que não tinha nenhum valor, exceto como instrumento de barganha? Ele prendeu a respiração. Claro, ela achava. Ele não lhe deu qualquer razão para acreditar de forma diferente. As coisas aconteceram tão loucamente rápidas nos dias desde que ele tirou-a do lago, que realmente não deu à presença dela em sua vida, qualquer pensamento além do imediatismo do aqui e agora. Nem mesmo sabia se ela queria um lugar em sua vida. Ele não lhe ofereceu nenhum. Não a fez acreditar em seu valor.

— Sophie, o que Tomas disse? — Sam perguntou delicadamente. — O que mais ele disse? Sobre a troca. Onde é que vamos fazê-la?

Parte da luz saiu dos olhos dela, mas porra, ele não podia dizer a ela tudo o que queria dizer, na frente de todos os seus homens, e sua primeira prioridade tinha que ser informação.

Sua voz estava áspera, e ela secou o rosto com as costas da manga de sua blusa, enquanto falava.

— Ele está aqui. Nos Estados Unidos.

— Onde? — Garrett vociferou.

— Meu pai era dono de uma grande propriedade no oeste do Texas. É isolada e tenho certeza que o policiamento local está em sua folha de pagamento. Ele muda para os lugares e assume. Era assim que operava. Tomas levou sua mãe para lá. Ele quer fazer a troca. Temos 48 horas.

Ela olhou para Sam.

— Ele quer que eu e você iremos sozinhos.

Porra, — murmurou Donovan.

Sam virou-se para Donovan.

— Temos informações sobre alguma propriedade no Texas?

— Havia duas de meu conhecimento, — disse Donovan.

Sam olhou para Sophie.

— Onde, Sophie? Para onde iremos?

— Rock Springs. Não muito longe de Del Rio e da fronteira.

Sam encarou seus homens.

— Ok, quero todas as informações que pudermos reunir sobre este lugar. Imagens de satélite, o clima local, mapas topográficos, obras. Quero saber quem está mijando e quando, e quero para ontem. O relógio está correndo. Garrett, você e Donovan necessitam entrar em contato com Sean e ver que tipo de cooperação local podemos ter para manter esse hospital bloqueado e fornecer proteção para Rusty e papai.

Suspirou enquanto o peso de sua missão se acomodava sobre os ombros. A mãe de seu filho — e seu filho — pela vida de sua mãe? Não conseguia nem mesmo pensar nisso. Se ele não tivesse nada a ver com isso, nunca teria chegado a esse ponto.

— Garrett, — disse ele quando seu irmão começou a sair com os outros.

Garrett parou e olhou para Sam.

— Pegue o chifre de Resnick.

Sophie enrijeceu e se afastou.

— Sim, e...? — Garrett disse.

— Diga a ele para ficar fora do nosso caminho.

 

Sophie estava tremendo tanto, que iria cair se não se sentasse. Seus sentidos foram quebrados, e precisava ficar longe da presença esmagadora de tantas pessoas. Não havia acolhimento de Rusty, que estava sentada no canto isolado da sala, e Sam nunca a deixaria ficar um pé fora da porta sem ele.

Nunca esteve mais amedrontada ou mais oprimida em sua vida.

Sam pressionou e pôs uma mão em seu ombro. Ela saltou e deslizou para o lado, o leve toque, duro, em seus nervos já desgastados.

— Sophie, — ele disse suavemente. — vou levá-la ao fundo do corredor para que um médico a examine.

Seu bebê. Sim, ela queria se certificar que tudo estava bem com seu bebê.

Entorpecida, permitiu que Sam a levasse para fora do quarto. Ele manteve seu aperto ao seu lado, e caminharam apenas três portas abaixo, para o que parecia ser uma sala de descanso particular dos médicos.

Estava vazia quando entraram, e ele a dirigiu para se sentar em um dos sofás de couro que se alinhavam na parede. Então se sentou ao lado dela e tomou-lhe as mãos.

Ela olhou para baixo, vendo como seus dedos roçavam leve e suavemente sobre as palmas dela.

O médico estará aqui em um momento. Eu queria uma chance de falar com você em particular.

Ela levantou a cabeça, alarmada.

Ele manteve seu olhar, e ela ficou surpresa com a ternura em seus olhos. Não havia raiva. Nem julgamento.

Nunca antes se sentiu tão oprimida. Os eventos dos últimos minutos, de alguma forma, a desequilibraram. Sentia-se tão desesperadamente à deriva, e estava com mais medo agora do que quando fugiu tantos meses atrás, e continuava fugindo.

Antes, não tinha nada a perder, e agora? Tinha muito a perder e talvez absolutamente nada.

Irritada com as lágrimas que deslizavam por sua bochecha — não fizera nada, além de chorar, na última hora? — Esfregou a umidade com as costas da mão e desviou o olhar para que Sam não testemunhasse sua terrível e angustiante fraqueza.

Mas ele a virou para ele. Sempre muito gentil, tocou seu queixo e a trouxe de volta. Secou a trilha úmida com o polegar, e seu olhar suavizou ainda mais enquanto olhava para seus olhos.

— Eu menti, sabe, — ela disse aos pedaços.

Ele pareceu assustado por sua admissão.

— Sobre o quê?

Afastou-se dele, incapaz de ficar sentada lá, quando todos os músculos do seu corpo mexiam incontrolavelmente. Andou três passos e depois parou, de costas para Sam. Seu coração disparou, e mesmo enquanto enxugava as lágrimas, sentiu uma vontade incontrolável de chorar mais.

— Eu lhe contei uma mentira sobre o porquê de eu matar meu pai, e talvez algumas coisas fossem verdade. Mas eu o matei por minha mãe. E agora por causa disso, você pode perder a sua.

Ela virou-se para que pudesse, pelo menos, olhá-lo nos olhos.

— Eu sinto muito, Sam. Nunca quis que isso acontecesse. Nunca sonhei...

— O que ele fez para você, querida? — Sam perguntou. — E sua mãe? Você nunca a mencionou.

— Você tem tanta sorte, — ela disse com toda a inveja em seu coração. — Mesmo com tudo o que aconteceu, você é tão afortunado. Tem uma família tão maravilhosa.

Ele se levantou para ficar na frente dela. Parecia indeciso se deveria tocá-la ou não, e, finalmente, simplesmente ficou lá, olhando para ela.

— E você não tem uma família.

Ela balançou a cabeça lentamente.

— Minha mãe era a coisa mais próxima de uma família, mas ela também era muito intimidada por meu pai, para que nunca fizesse qualquer coisa que recebesse a desaprovação dele. Ele nunca se casou com ela. Não queria que eu tivesse seu sobrenome. Pensava que seria inconveniente se seus inimigos tentassem me usar para enfraquecê-lo. Inconveniente. O que seus inimigos não sabiam era que ele nunca teria se importado. Nunca teria dado ou sacrificado qualquer coisa por mim ou qualquer outra pessoa. Mas ele não queria ser incomodado. Deus.

— Ah Sophie, — Sam disse baixinho.

— Ele a matou. E sabe por quê? Ele não estava zangado com ela. Ela não tinha nada a ver com isso. Foi infeliz o suficiente para estar na sala quando um homem com quem meu pai estava fazendo um acordo questionou se ele tinha ou não estômago para fazer o que era necessário para concluir o trabalho. Querer saber o que meu pai fez, então?

Sam fechou os olhos.

— Jesus, Sophie, você não precisa me contar isso.

— Sim, sim, eu preciso, então talvez você entenda, porque eu mesma não entendo. Não entendo absolutamente nada. Estávamos jantando. Ele estava discutindo negócios com esse idiota. Quando o homem perguntou-lhe, ele simplesmente pegou uma arma e atirou na minha mãe, na cabeça. Na mesa de jantar. E depois voltou a comer calmamente. Seu único comentário? — Você duvida de mim agora?

— Puta merda, quantos anos você tinha?

Ela ficou quieta por um momento, porque tudo em que conseguia pensar era na imagem de sua mãe, caída para frente em sua cadeira, o som barulhento de seus talheres à mesa. E o sangue. Tanto sangue. Correndo sobre a toalha branca e imaculada. Sophie não gritou. Não reagiu. Mesmo sendo tão jovem, sabia que se fizesse qualquer som, provavelmente seu pai a teria matado também. Somente para provar seu ponto de vista.

— Eu tinha dez anos, — ela disse finalmente. — Ele voltou a comer e depois reclamou que seu bife estava muito mal passado. Lembro-me de ter sentido medo pelo cozinheiro, mas o humor dele estava estranhamente relaxado, e além de empurrar seu prato de lado e limpar a boca, não fez nada mais do que olhar para o homem do outro lado da mesa. Então perguntou se ele gostaria de uma bebida depois do jantar. Eles se retiraram para o estúdio de meu pai, enquanto fiquei lá sentada, olhando para minha mãe. Fiquei sentada lá até que a empregada chegou para me tirar de lá, e os homens de meu pai, em seguida, descartaram o corpo de minha mãe, exatamente como eliminavam tudo o mais na vida de meu pai, que o desagradava.

Ergueu o olhar mais uma vez para Sam.

— Você queria saber por que o matei. Eu o matei com o mesmo desprezo que ele matou a minha mãe, e o matei para que eu, finalmente, pudesse ser livre.

— Jesus, querida, eu sequer tenho palavras. Não sei como você sobreviveu por tanto tempo. — Puxou-a em seus braços e a embalou protetoramente contra seu peito. Acariciou seus cabelos com uma mão e segurou-a firmemente com a outra. — Eu sinto muito. Sinto muito.

Ela fechou os olhos e inalou seu perfume reconfortante. Lágrimas quentes continuaram a fugir por suas bochechas, absorvidas pela camisa dele. Ela nunca chorou por sua mãe. Tivera tanto medo. Mesmo na escuridão de seu quarto à noite, tivera muito medo que seu pai ouvisse. Ele abominava a fraqueza, e ela passou anos removendo qualquer indício de fraqueza de seu comportamento.

Uma batida soou na porta, e ela rapidamente se afastou de Sam, limpando o rosto em um esforço para esconder sua angústia. Ele lhe deu um instante, depois se inclinou para beijá-la na testa.

— É o médico. Sente-se e fique confortável. Quero que ele faça um profundo check-up antes de sairmos daqui.

Ela afundou no sofá e ouviu parcialmente, enquanto Sam ia até a porta e falava em um tom baixo com o médico. Um momento depois, um homem mais velho entrou, empurrando uma mesa portátil com equipamentos médicos, com Sam em seus calcanhares. Ela não deixou de perceber que a mão de Sam estava em sua arma, e ele observava o médico de perto quando este parou na frente de Sophie.

— Sophie, sou o Dr. Richards. Gostaria de examiná-la, ouvir os batimentos cardíacos do bebê, e se você consentir, gostaria de fazer um ultrassom também. Só para me certificar de que tudo está como deveria.

Ele sorria enquanto falava, e Sophie relaxou um pouco.

— Poderemos ver o bebê?

A esperança e excitação brotaram em seu peito, e ridiculamente, sentiu vontade de chorar novamente.

— Sim, poderemos até mesmo ver se você terá um menino ou uma menina, se quiser.

Seu olhar voou para Sam. Ele parecia um pouco amedrontado.

Eu quero, — ela suspirou. — E você? — Ela perguntou a Sam.

Sam circulou ao redor do médico e caiu no sofá ao lado dela.

— Eu quero. Eu adoraria saber.

O médico começou com um exame superficial em Sophie. Auscultou seu coração, aferiu a pressão sanguínea, fez-lhe perguntas gerais sobre o seu histórico de saúde. Pediu para ver seu braço, picou e incitou os pontos e pareceu surpreso que as suturas parecessem tão limpas e não houvesse nenhum sinal de infecção. Então pediu que ela se reclinasse no sofá, sorrindo, quando ela o fez.

— Receio que essa não seja a melhor mesa de exames, mas o Sr. Kelly insistiu tanto para que eu realizasse o exame aqui, e não em um dos nossos quartos.

— Não, tudo bem, — ela disse apressadamente, enquanto olhava para a direita e esquerda para determinar a melhor maneira de se acomodar.

Sam resolveu seu dilema simplesmente girando e acomodando-a, até que a cabeça dela estava em seu colo. Acariciou sua testa enquanto o médico colocava o cós da calça jeans abaixo da barriga dilatada.

Houve um som abafado da máquina quando o médico colocou a sonda transdutora[12] sobre sua barriga e moveu-a para frente e para trás. Em seguida, ele a deixou parada em um ponto em sua barriga, e um rítmico tum tum tum tum ecoou na sala.

Sophie moveu a cabeça para o lado para ver uma bolha pulsando na tela.

— Esse é o coração, — disse o médico. — Uma forte e boa batida de coração. Exatamente como queremos.

Ela estava hipnotizada pela visão. Era o seu bebê! Olhou com admiração quando a imagem mudou.

Ocasionalmente, o médico parou e digitou no pequeno teclado ligado a máquina de ultrassom.

Ressaltou os braços e pernas, a cabeça e até mesmo uma pequena boca. E depois uma mão, aparentemente se estendeu, como se acenado, os pequenos dedos espalmados.

O coração de Sophie se contraiu. Foi atingida por uma onda de amor tão feroz que a paralisou. Sua filha. Uma pequena vida aninhada em seu ventre. Não conseguia nem mesmo envolver a cabeça em torno da ideia.

— Ok, aqui vamos nós. Vamos ver... Temos um bebê tímido.

Dr. Richards sondou um pouco mais forte em sua barriga e depois virou a sonda.

— Aha, lá está ela. Dê uma olhada, Sophie. Você tem uma filha.

Apesar de sua promessa de não derramar outra lágrima, a tela ficou completamente embaçada. Uma filha.

— Eu estava certa, —ela sussurrou. — Uma menina!

— Você a chamava de menina, e estava certa, — Sam disse suavemente acima dela.

O fragmento em sua voz fez com que apartasse o olhar da tela para olhar para ele. Ele estava olhando para o monitor com tanta reverência em seus olhos, que ela sentiu seu peito se apertar ainda mais.

Então ele olhou para baixo e seus olhos capturaram os dela. Ele tocou seu rosto, e a emoção em seu olhar quase a desfez.

—Ela é linda, Soph. Assim como a mãe.

Ela olhou para o monitor e sorriu. A pequena explosão de alegria era tão bem-vinda, tão maravilhosa, que queria segurá-la para sempre.

O Dr. Richards afastou a sonda de sua barriga e cuidadosamente puxou as calças de volta sobre a cintura.

— Deixarei esses pontos em seu braço por mais alguns dias. Mantenha a área limpa e um curativo sobre ela. Está se curando bastante bem. Todo o resto parece bom. Eu diria que vocês tem uma menina saudável.

Obrigada. Muito obrigada. Foi tão bom vê-la pela primeira vez.

O médico sorriu e afastou-se do sofá.

— Deixarei vocês dois agora. Tenho pacientes me aguardando.

Rodou a máquina de ultrassom e se afastou, e um segundo depois, ela ouviu a porta se fechar atrás dele. Tentou se empurrar para a posição sentada, mas foi estranho. Sam a ajudou, e ela encostou-se no sofá, repentinamente exausta, mas eufórica, ao mesmo tempo.

— Uma filha.

Reverentemente colocou a palma da mão sobre a barriga e esfregou suavemente. Sam colocou a mão sobre a dela e apertou.

— Eu só quero que ela esteja segura, — disse Sophie.

Sam envolveu seu queixo e a puxou até que ela o encarou. Sua expressão estava dura agora, desprovida da ternura de antes. Havia determinação lá.

— Ela estará, Sophie. Encontraremos um caminho. Preciso que acredite nisso.

— Eu acredito, — disse ela com sinceridade.

— Ajude-me então. Preciso de informações. Sei que você está cansada. Mas preciso que conte para mim e para meus homens tudo o que puder sobre o seu tio e sobre a propriedade de seu pai em Rock Springs. Cada detalhe que conseguir lembrar. Eles estão reunindo informações agora e temos de avançar rapidamente, mas você pode nos ajudar muito se nos contar o que sabe.

— Claro que contarei.

— Onde está a chave? Perguntei-lhe na caminhonete, mas você não respondeu.

Ela cobriu o rosto em um gesto cansado, afastando a mão dele do queixo, no processo. Esfregou os olhos e suspirou.

— Na noite em que peguei o barco, quando estava vindo para você, escondi a chave em uma caixa e a enterrei no vaso que estava na loja de iscas onde consegui o barco. Está lá. O nome da loja é A Caixa de Gelo.

— Eu a conheço. Fica a poucos quilômetros abaixo do lago, vindo de Paris Landing. Enviarei um dos homens de Rio para procurá-la.

Ela balançou a cabeça.

— Não, eu deveria ir.

Ele franziu o cenho.

— Você não irá a lugar nenhum desprotegida.

Havia determinação em seus olhos enquanto olhava para ele.

— Essa chave é toda a segurança que tenho, Sam. Toda a segurança que nossa filha tem. Não irei colocá-la em risco.

— Sei que não tenho o direito de pedir, e você tem toda razão de estar insegura e com medo, mas confie em mim, Sophie. Confie em mim. Acredite que não farei nada que coloque vocês duas em risco. Eu o enviarei à procura da chave e ele a entregará para nós, para você.

Ela engoliu em seco, e ele podia ver o conflito tão facilmente perceptível em seu rosto. Sua mão se fechou sobre a dela, e ele sentiu seu tremor. Finalmente, ela balançou a cabeça.

Tudo bem, mande-o ir.

Ele ergueu sua mão e beijou a ponta dos dedos.

— Vamos lá então. Vamos encontrar os outros.

 

Depois de emitir instruções para Rio enviar um homem para recuperar a chave, Sam voltou para ver seu pai. Desta vez, não o perturbou. Simplesmente ficou à sua cabeceira, olhando as linhas subindo e descendo no monitor cardíaco e se tranquilizando pelos sons rítmicos de cada respiração.

Agora, mais que nunca, precisava tomar medidas para garantir a segurança de sua família. Levaria meses para ver a fruição dos planos detalhados para uma fortaleza verdadeira no terreno que comprou, mas ele não os adiaria mais.

Sua família estaria em segurança sob seus olhos vigilantes, todos eles.

Estendeu a mão para tocar a de seu pai. Estava fria, muito fria ao toque. Sua mãe deveria estar aqui, sentada ao lado da cama, e não amedrontada, em algum buraco de merda em West Texas.

Ele não rezava a um longo tempo, mas agora ele orou. Lembrou-se de cada ida à igreja com seus pais, e sabia que sua mãe encontrava conforto nas escrituras e as palavras constantes do púlpito. Esperava que ela encontrasse conforto agora e que não perdesse a esperança.

— Eu a trarei para casa, papai, — sussurrou. — De alguma forma eu farei tudo certo.

Virou-se, saiu do cubículo e ficou em frente à enfermeira que o acompanhou ao quarto mais cedo.

Ela apontou para um homem em um dos telefones, no posto das enfermeiras, a poucos metros de distância.

— O médico está aqui, se quiser conversar com ele sobre seu pai.

— Obrigado, eu gostaria.

— Espere aqui que irei buscá-lo, — disse ela.

Alguns segundos depois, o médico desligou o telefone, a enfermeira falou com ele e apontou na direção de Sam. O médico se aproximou e estendeu a mão.

— Sou o Dr. Caldwell. Estou no comando dos cuidados com seu pai.

Sam apertou sua mão.

— Sam Kelly. Como ele está, doutor?

— Ele está bem, considerando o ocorrido. Ele tinha um bloqueio principal que corrigimos. Existe outra artéria com cerca de sessenta e cinco por cento de bloqueio que inflamos. Ele terá que estar sempre medicado, e precisará fazer algumas mudanças drásticas na dieta e no estilo de vida, mas deverá ficar bem com o tratamento adequado.

O alívio quase esmagou Sam.

— Quando acha que ele poderá voltar para casa? Quero dizer, ele está bem a esse ponto? Quanto tempo você vai ficar com ele?

O médico sorriu.

— Gostaria de mantê-lo por alguns dias e monitorar sua recuperação, certificar-me que não existem quaisquer problemas. Farei alguns exames para ver o quanto o coração foi danificado, se é que foi, mas ele será capaz de ir para casa em poucos dias.

— Obrigado, — disse Sam.

O médico colocou a mão no ombro de Sam.

— Sem problema. É o meu trabalho. Se me desculpar, tenho outros pacientes para ver.

Sam assentiu e o médico foi embora. Sam olhou para trás em direção ao quarto de seu pai, antes de caminhar para fora da UTI.

Quando voltou para os outros na sala da família, informou Donovan e Garrett sobre o que o médico dissera e então se virou para o assunto em questão.

— Sean, me dê os detalhes sobre o que você fez para a segurança no hospital, — Sam disse baixinho. — Preciso de cada homem com quem eu puder contar quando formos para Rock Springs, mas também não deixarei Papai e Rusty desprotegidos.

Sean parecia abatido, como se não dormisse há uma semana, e a dor era crua como uma tempestade em seus olhos. Frank e Marlene eram como pais para ele, e ele era outro filho, de uma família que já era grande.

Era jovem, mas era um policial muito bom, e Sam confiava nele para manter seus entes queridos seguros de danos.

— A polícia estadual estava gritando, mas seu amigo Resnick ligou e eles se acalmaram, — Sean afirmou.

A testa de Sam franziu em surpresa, e ele virou-se para Garrett.

— Você sabia sobre isto?

Garrett encolheu os ombros.

— Tudo o que eu lhe disse foi para manter o Tio Sam fora de nossas bundas e fora do Texas. Imaginei que era tudo que ele precisava saber.

Resnick sabia demais. Ele era um bom homem quando estavam em uma situação perigosa. Sam sabia que o colocou em uma posição insustentável. Seu traseiro estaria na reta de seus superiores. Mas ele se arriscou por Sam. Dívida paga.

— Ok, o que mais? — Dirigiu-se a Sean.

— Temos três soldados designados para o hospital. Também tenho dois locais e dois dos meus rapazes do município. Alertamos a segurança do hospital, e eles chamaram os substitutos para que dobrassem a área. Eu mesmo ficarei com Frank e Rusty.

Sam arfou, olhou para seus irmãos e abordou o tema que estivera preocupando-o desde a conversa com seu pai.

— Eu sei que meu pai não quer Ethan envolvido, mas tenho que chamá-lo. Preciso de Baker e Renshaw, e Ethan vai ficar puto se não lhe contarmos o que aconteceu. Não poderei culpá-lo. Eu iria querer saber se eu estivesse fora da cidade e toda essa merda estivesse acontecendo, e cabeças iriam rolar se eu fosse deixado de fora.

Garrett fez uma careta.

— Eu concordo, mas e Rachel? Se ligarmos para Ethan, ele voltará correndo para casa, e vai querer ir com a gente.

— Precisamos dele, — disse Sam.

— Rachel pode ficar com Rusty e papai, — Donovan ofereceu. — Ethan estará em uma posição infernal. Não irá querer deixar Rachel, mas não ficará para trás enquanto iremos atrás de Mamãe.

— Eu os protegerei com a minha vida, — Sean disse com a voz firme e severa.

Sam colocou a mão no ombro Sean.

— Eu sei, Sean. Apenas me preocupo em arrastar Ethan para essa luta, quando Rachel ainda está tão frágil.

— Não gosto disso, mas você está certo, precisamos dele, — disse Garrett.

Sam olhou para Donovan para confirmação, em seguida, soltou um suspiro enorme.

— Ok, chamarei Ethan e o trarei para a ação. O jato Kelly poderá trazê-los para casa pela manhã, e sairemos assim que tivermos as coisas controladas aqui.

Ele olhou para trás ao longo de Sean.

— Quero que Sophie fique aqui com você e as outras mulheres.

Ele pegou um borrão de movimento pelo canto do olho. Sophie estivera sentada calmamente durante toda a conversa, mas agora ficou de pé.

— Você está louco? — Ela perguntou. — Eu não vou ficar aqui.

Sam pegou a mão dela e levou-a para o lado dele.

— Não é uma negociação, Sophie. Eu quero você segura. Não levarei você para o meio de uma guerra com o seu tio.

Seu rosto pálido se enrugou com raiva e indignação.

— Você está assinando a sentença de morte de sua mãe. Seja qual for o seu plano, não pode ir até lá sem mim. No momento em que ele perceber que não estou cumprindo a minha parte do acordo, ele matará sua mãe. Oh, ele não fará isso sozinho. Não tem coragem para isso. Mas ela morrerá. Está disposto a correr o risco?

— Eu não a trocarei por você.

Ela puxou a mão da dele e encarou-o, a boca em uma linha feroz.

— Eu fiz o acordo com ele. A chave em troca de sua mãe. Temos que, pelo menos, dar-lhe a aparência disso. E se seu plano der errado? Você está preparado para o pior? Está disposto a se arriscar, confiando somente em sua capacidade de entrar e executar um resgate perfeitamente?

— Sophie...

— Não me peça para confiar em você, Sam. Isto não tem nada a ver com confiança e tudo a ver com o fato de que não estou disposta a ser responsável pela morte de sua mãe. Que tal você confiar em mim? Confiar que eu conheço meu tio e sei o que vai acontecer quando ele perceber que não vai conseguir o que quer.

Sam fechou os olhos. Maldição, não queria envolver Sophie em nada disso. Como poderia?

— Quão perto você acha que será capaz de chegar sem mim? Está disposto a assumir esse risco, Sam? Você quer que eu confie em você. Bem, eu confio. Confio em você para me manter segura enquanto vou com vocês. Confio para elaborar um plano onde seus homens buscarão sua mãe, enquanto enfrentarei meu tio. Você sabe que estou certa. Pode não querer me levar, mas sabe que precisa. Você sabe disso.

Seu apelo apaixonado impressionou os homens reunidos em torno de Sam. Eles moviam-se sem descanso, e Sam podia ver que lutavam o mesmo dilema que ele. Nenhum deles queria que ela se ferisse. Não a queriam em nenhum lugar perto do tio. Mas todos também sabiam que ela tinha razão.

E isso o deixava puto!

— Cristo.

Não gosto disso, — disse Donovan. — Não podemos colocar Sophie e seu bebê em risco, sobre a possibilidade de não conseguirmos fazer o trabalho.

— Eu também não gosto, — Garrett murmurou. — Mas temos escolha? Realmente queremos correr esse risco? Podemos protegê-la, Sam. Você sabe que podemos protegê-la. Você não quer que ela vá. Eu não quero que ela vá. Mas você realmente quer encarar o papai e lhe dizer que não fizemos tudo que podíamos para trazer mamãe de volta para ele?

Isso é um golpe baixo, — Sam disse ferozmente.

A pequena mão de Sophie deslizou sobre seu braço e o puxou, trazendo sua atenção de volta para ela.

— Eu não tenho direito de dizer uma palavra neste processo? — Ela perguntou em voz baixa. — Eu trouxe isto até sua porta, Sam. Trouxe até a porta da casa de seus pais. Eles não tiveram escolha. Deixe-me fazer isso. Deixe-me salvar a sua mãe como eu não pude salvar a minha. Você acha que eu poderia viver comigo mesma, se eu ficasse aqui e ela morresse?

Sua coragem o surpreendeu. O humilhou. Sentiu-se totalmente indigno de seu altruísmo.

E por mais que quisesse negar, por mais que quisesse amarrá-la, se necessário, para mantê-la segura, sabia em seu íntimo que ela estava certa. Ela estava certa e isso o deixou tão furioso, tão temeroso por ela, que queria quebrar alguma coisa.

Olhou em seus olhos e depois fechou os dele. Suas mãos encontraram as dela e ele as segurou. Deus o perdoasse, mas o que deveria fazer? Como poderia escolher entre manter sua mulher segura ou possivelmente causar a morte de sua mãe?

Sophie moveu-se contra ele. Ele abriu os olhos, quando ela inclinou-se na ponta dos pés. Ela o beijou. Um beijo suave, gentil, que continha uma riqueza em significado. E apoio. Era a primeira vez que ela fazia qualquer gesto evidente na frente de outras pessoas.

Eu tenho fé em você, — ela sussurrou.

Seus dedos apertaram os dele, e ela abaixou os pés. Havia mais confiança em seu olhar do que ele merecia. Ele apenas orou, para que não a traísse.

Sentindo-se vazio, virou-se para os outros, mas manteve a mão apertada na de Sophie.

— Refaremos o plano, — Sam disse friamente. — Eu entrarei com Sophie. Quero P.J. e Cole na posição de atiradores. Assim que o sacana aparecer, quero que ele seja retirado. Todos irão cercar e entrar. Tem que ser precisamente cronometrado. Não há espaço para erros.

— Não fracassaremos, — disse Steele. — Nunca fracassamos. Não começaremos agora.

Sam puxou Sophie para mais perto dele, precisando sentir seu calor, naquele momento, para lembrá-lo do que estava em jogo. Deslizou a mão por seu corpo até a barriga, sentindo-se reconfortado pelo chute de sua filha.

Sua filha.

— Esta é a sobrinha de vocês, — ele disse aos seus irmãos. — Sophie terá uma menina.

Ele precisava que eles soubessem. Precisava tornar essa missão pessoal, torná-la tão real para eles quanto era para ele. Então eles saberiam o que estava em risco.

O rosto de Donovan dividiu-se em um largo sorriso. Moveu-se para frente, pegou Sophie em seus braços e a girou. Até Garrett sorriu, e quando Donovan a soltou, Garrett pegou sua mão.

Ela hesitou só por uma fração de segundo antes que aceitasse o abraço de Garret de boa vontade. Ele a abraçou apertado.

Ela parecia chocada com sua atitude, e quando Garrett a soltou, ela balançou um pouco, os olhos vidrados.

— Se ela tiver metade da ferocidade da mãe, será uma força da natureza, — Garrett disse em uma voz áspera.

Um sorriso torto curvou os lábios dela.

— Se você continuar assim, vou acabar pensando que você realmente gosta de mim.

— Lamento se lhe dei a impressão que não gostava de você, — disse Garrett, seus olhos graves. — E talvez eu não gostasse. Eu estava errado.

Ela olhou para Garrett surpresa e descrente. Sam sorriu. Garrett admitir que estava errado era um espetáculo digno de ser visto.

Sam estendeu a mão para que Sophie voltasse para ele. Ela veio de boa vontade, e ele a puxou para seu lado.

— Isso tem que dar certo, — ele disse aos homens que o cercavam. — Não posso perdê-la.

 

Enquanto Sam e seus homens entravam na fase de planejamento final, Sophie dormia e Sam zelava por ela. Ele não estava inteiramente focado na conversação e na intensa sessão estratégica porque seu olhar se mantinha a deriva sobre a pequena mulher que tinha uma grande parte dele em suas mãos.

Odiava que não pudesse mantê-la aqui, afastada de qualquer coisa que pudesse feri-la. Ele desprezava isso. Antes, a KGI teria planejado uma extração brutal, embora precisa, resgataria os reféns, e sairia em uma hora. Limparia as mãos, e passaria para o próximo trabalho.

Dessa vez foi tudo para o inferno porque era sua mãe, e se Sophie fosse confiável, e ele acreditava que era, o tio dela era imprevisível. Ninguém sabia como reagiria, porque ele nunca foi testado. Nunca assumiu nenhuma liderança na organização de Alex Mouton.

Isso o fazia imprevisível, e não podiam se dar ao luxo de colocar sua mãe em risco, presumindo qualquer coisa.

Porra, odiava isso.

— P.J. e Cole estarão no posto de atiradores, — Steele disse em voz baixa ao lado de Sam.

Sam virou-se para o seu chefe de equipe e sabia que foi apanhado desprevenido. Estava olhando para Sophie, que estava enrolada no pequeno sofá na sala da família, seu rosto tenso e esticado, mesmo no sono.

Era tudo o que podia fazer para não correr os dedos sobre os lábios dela para aliviar o estresse causado pela preocupação, mas não queria perturbá-la. A hora seguinte seria tensa e ela precisava de descanso.

— Você e Sophie poderiam fazer bonito e encontrar Tomas para fazer a troca, se é que o desgraçado vai aparecer. O resto de nós estará organizado ao redor da casa e entraremos. Se Marlene estiver lá dentro, nós a resgataremos. Se ela estiver com Tomas, P.J. ou Cole trarão Tomas para fora na primeira oportunidade.

— Ele sabe que não irei sozinho com Sophie. Ele não pode ser tão estúpido. Estará esperando algo. Temos que lhe dar algo totalmente diferente, — disse Sam. — Eu não a colocarei em risco. Quero Garrett e Donovan comigo. Proteção para Sophie. Se eu enfrentar homens o suficiente comigo e Sophie, o resto de vocês pode vir como uma surpresa.

— E Ethan?

Sam soltou a respiração. Ele precisava de Ethan, mas não queria envolvê-lo também. Inferno de situação.

— Ethan vem comigo. Você e Rio pegarão suas equipes e derrubarão todos em seu caminho. Precisa ser limpo e silencioso. Quanto mais tempo demorar para Tomas descobrir que vocês estão lá, melhor.

A porta da sala se abriu e Ethan entrou, sua mão envolvendo apertadamente a de sua esposa. Baker e Renshaw ladeavam o casal e estavam armados até os dentes.

Sam foi ao encontro de seu irmão, assim como Donovan e Garrett, que se separaram do outros.

— Como ele está? — Ethan perguntou com voz rouca.

— Está descansando. Ele vai ficar bem. Falei com o médico mais cedo.

O olhar de Sam caiu sobre Rachel e ele estendeu a mão.

— Rachel, querida, como vai você?

Para sua surpresa, ela caminhou para seus braços e abraçou-o ferozmente. Ele respondeu envolvendo-a em um abraço. Ela melhorou acerca de expressar seu afeto para ele e os outros membros da família, mas essa explosão espontânea o pegou desprevenido.

— Sinto muito, — ela murmurou. — Você deve estar tão preocupado.

Ele largou um beijo no topo de sua cabeça e a entregou a Garrett, que esperava impacientemente ao lado. Garrett e Rachel sempre tiveram uma ligação especial, e depois de Ethan, Rachel era mais íntima de Garrett.

— Diga-me que inferno está acontecendo, Sam, — Ethan exigiu. — O relatório que recebi estava impreciso, e eu ainda não entendi o que está acontecendo aqui.

Sam chamou a atenção de Garrett e acenou para que ele se afastasse com Rachel. Garrett respondeu envolvendo um braço ao redor da forma esbelta, guiando-a, passando por Sophie até onde Rusty estava sentada.

Da forma mais sucinta possível, Sam deu a Ethan a história desde o início. As partes sobre ele e Sophie foram abreviadas, mas seu aviso foi bem claro. Não era para seu irmão colocar a culpa nos ombros de Sophie.

Ethan olhou atônito para o sofá onde Sophie estava deitada, dormindo. Então, passou a mão sobre seu cabelo cortado rente e balançou a cabeça em descrença.

— Eu vou com você, — ele disse firmemente.

Seu olhar era desafiador, como se esperasse que Sam o derrubasse. Mas Sam assentiu.

— Eu preciso de você nisso, Ethan. Fiz arranjos para que Rachel e Rusty fiquem protegidas. Sean ficará com elas, e temos um verdadeiro exército em todo o hospital para que elas e papai fiquem em segurança.

Ethan abaixou a voz.

— Preciso explicar a Rachel. Ela não sabe o que está acontecendo, apenas que papai teve um ataque cardíaco e houve problemas.

— Então vá explicar, — disse Sam. — Sairemos em uma hora.

 

— Sophie, Sophie, querida, hora de acordar.

Ela ouviu as palavras, mas pareciam tão distantes. Sonolenta, abriu os olhos para ver Sam sentado na beirada do sofá, os olhos cheios de dúvidas.

— Estamos indo?

Estava orgulhosa da maneira que manteve o medo afastado de sua voz, como as palavras saíram firmes.

— Sim, precisamos ir.

Ela se sentou e fez um balanço rápido da sala ao seu redor. Havia rostos que não vira antes. Um homem que se parecia muito com Garrett estava de pé contra a parede mais distante, os braços abrigando uma mulher esguia, de cabelos castanhos. Dois outros homens, fortemente armados, estavam com Steele. O homem e a mulher deviam ser o irmão e a cunhada de Sam.

— A chave, — ela disse e parou para limpar a rouquidão de sua voz. — Eles pegaram a chave?

Sam enfiou a mão no bolso e tirou um longo pedaço cilíndrico de metal.

— É isso? — Ele perguntou quando o virou na palma da mão. Era uma peça estranha. Não se parecia com uma chave tradicional. Ela podia entender o seu ceticismo.

Ela a pegou e passou um dedo ao longo da série de gravuras do lado de fora.

— Sim. É especialmente projetada. É um bom pedaço de tecnologia. No exterior, as gravuras são a peça chave. Cada sulco se encaixa em um sulco correspondente no buraco da fechadura. Mas é oco, como você pode ver, e no interior existe um código criptografado que é escaneado quando a chave encaixa na fechadura. É totalmente informatizado, e no final, onde você a segura, existe um sensor. Se a pulsação da pessoa está muito elevada ou a temperatura da pele está fora do calor normal do corpo por mais de um grau, o acesso é negado.

Sam balançou a cabeça.

— Seu pai era um bastardo paranoico.

— Ele gostava de pensar que era cuidadoso e pensava em qualquer eventualidade. Não confiava em ninguém. Mas também era arrogante. Tinha um forte esquema de segurança em torno dele em todas as vezes que pensou que era invencível. Acreditava que ninguém poderia tocá-lo.

— Que complexo de Deus, filho da puta, — murmurou Donovan.

Sophie olhou para cima para ver que Donovan e Garrett estavam reunidos, assim como o homem que ela pensava ser o irmão deles, Ethan.

Ela assentiu.

— De certa forma ele se considerava um deus. Não uma divindade. Ele não era um homem religioso. Não tolerava o que não podia ser tocado ou visto. Considerava a religião uma fraqueza, e se interessava pela força, ou o que ele percebia como força.

— Como diabos você teve coragem de ir contra ele? — Garrett perguntou. — Você disse que atirou nele, mas como?

Ela olhou para suas mãos.

— Não é nada para me gabar. Não estou orgulhosa do que fiz. Fiz isso por razões egoístas. Não sou uma pessoa nobre.

A mão de Sam deslizou sob seu queixo e inclinou-o para cima até que encontrou seu olhar.

— Eu discordo, — disse ele em uma voz baixa que quase vibrava. — Está arriscando sua vida por uma mulher que não conhece. Isso faz de você malditamente nobre, em minha opinião.

Sua mão apertou como se simplesmente dizer as palavras fosse insuportável.

— Você encontrará uma maneira de me manter a salvo, — disse ela.

Aquelas não eram palavras ditas apenas para tranquilizá-lo. Ela acreditava nelas. E queria que ele soubesse disso.

Ethan se adiantou e estendeu a mão para Sophie.

— Eu sou Ethan, irmão mais jovem de Sam. Irei com vocês para Rock Springs.

Ela deslizou a mão delicadamente na dele.

— Eu sou Sophie.

Ele sorriu, e era surpreendente ver alguém que se assemelhava tanto a Garrett, quando sorria.

— Eu sei quem você é. Meu irmão me falou muito sobre você.

Steele se aproximou e tocou Sam no braço.

— Estamos prontos para sair. As caminhonetes estão aqui, os helicópteros estão à espera, e o jato está abastecido.

Seu estômago enrolou em um nó, e ela abaixou as mãos para que ninguém visse como estava tremendo. A chave pressionou em sua palma, e a tira de couro que a mantivera no pescoço de seu pai estava inerte em sua perna. Profundas manchas vermelhas manchavam um lado. O sangue de seu pai.

A chave tinha sido sua apólice de seguro, mas agora era a única coisa que ficava entre Marlene Kelly e a morte certa. Quando desistisse dela, a menos que Sam e seus homens fossem capazes de derrubar a rede de seu tio completamente, ela usaria um alvo em suas costas para o resto de sua vida. Não importa quanto tempo durasse.

Sam pegou sua mão e puxou-a até que ficasse ao lado dele. Seus olhos encontraram os dela e ele tocou seu rosto em um gesto terno. Em seguida, deixou sua mão cair e puxou-a para o círculo protetor de seus homens, enquanto saíam do hospital.

 

Estavam subindo nos SUVs quando um sedan preto rugiu em direção a eles. O barulho de armas foi ensurdecedor, enquanto cada um dos homens de Sam se escondia e miravam no veículo que se aproximava. Ele guinchou ao parar a poucos metros de onde Sam estava e Sam empurrou Sophie no banco traseiro.

— Fique abaixada — ele gritou.

Sacou sua Glock quando a porta do carro abriu e Resnick saiu, as mãos para o ar. Sem esperar por uma convocação, caminhou com determinação para Sam, sua boca em uma linha sombria.

— Porra, Adam, eu lhe disse para ficar fora do nosso maldito caminho, — disse Sam, entre os dentes cerrados. Propositalmente não ordenou aos seus homens para abaixarem as armas.

Resnick fumava como uma chaminé, e arrancou o cigarro da boca.

— Preciso de cinco minutos de seu tempo, Sam.

— Eu não tenho cinco minutos. Saia do meu caminho, Adam.

— Você está em uma maldita missão suicida, Sam. Maldição, ouça-me!

Os olhos de Sam se estreitaram e ele abaixou a pistola.

— Que porra é essa? O que sabe sobre onde estamos indo?

Resnick soltou uma baforada de fumaça agitada, em seguida, jogou o cigarro ainda brilhando no pavimento. Ele deslizou para longe em uma chuva de faíscas.

— Não é preciso ser um gênio. Tenho acesso a imagens de satélite mais sofisticadas que você. Mouton chegou com um maldito exército em West Texas. Seus homens são bons, Sam. Os melhores. Mas vocês estão preparados para enfrentar um maldito exército?

— O que você está propondo? — Sam perguntou.

— Tenho duas equipes mobilizadas e em rota para Del Rio. Eles coordenariam com você.

— Olha, — Garrett interrompeu impacientemente. — Se vocês vão ficar de conversa, façam isso na estrada. Temos que nos apressar.

Sam apontou o polegar para Resnick.

— Entre.

Resnick correu para o banco do passageiro e pulou ao lado de Garrett. Sam deslizou para o banco próximo a Sophie, que estava olhando para Resnick como se ele fosse uma cobra.

Sam estendeu a mão para Sophie e puxou-a para perto, enquanto Garrett rugia para fora do estacionamento.

— Não se preocupe, — ele murmurou em seu ouvido.

Resnick virou em seu assento para olhar para Sam. Seu olhar pairou sobre Sophie, e uma expressão de verdadeiro pesar acendeu em seus olhos.

— Sinto muito pelo que aconteceu antes, Sophie. Nunca tive a intenção de assustá-la.

Um pouco da tensão desapareceu, e ela relaxou ao lado de Sam.

— Agora, que diabos você planeja? — Sam perguntou a Adam.

— Você está indo em direção a um massacre, — disse Resnick. — Um maldito massacre. Parece que ele colocou todos os seus homens e talvez alguns mercenários também. Sabemos que os países do terceiro mundo lhe devem muitos favores e eles o supriram com poder militar. Há provavelmente uma dúzia.

— Filho da puta, — Sam praguejou. — Ele está com minha mãe. Quer trocá-la por Sophie. Isso não vai acontecer. Nossa única esperança é entrar e trazê-lo para fora.

Resnick assentiu e enfiou um cigarro na boca, embora não fizesse um movimento para acendê-lo. Ele o retirava da boca em intervalos, exatamente como se estivesse fumando, e suas mãos tremiam agitadamente. Ele sempre foi um filho da puta estressado.

— Você sabe o que penso de você e seus homens, Sam. Mas você não pode fazer isso. Está em minoria, pelo menos, de 4 para 1. Precisa me deixar equilibrar as probabilidades. Tenho duas equipes de operações especiais organizadas e prontas para ir. São os melhores.

— E o que você ganha com isso? — Sam perguntou sem rodeios.

Resnick encontrou seu olhar e olhou-o de frente, seus olhos brilhando com determinação.

— Eu o quero derrubado de qualquer jeito. Quem fizer isso é irrelevante, e se eu puder ajudar nesse objetivo, então farei o que for preciso. — Seu olhar passou por Sophie e depois voltou para Sam. — Alex está morto, não está?

Sam deu um aceno curto.

Os olhos de Resnick se estreitaram.

— Quem o matou?

Sophie enrijeceu ao lado de Sam, mas ele não reagiu.

— Isso importa? — Ele perguntou calmamente.

Resnick balançou a cabeça e arrancou o cigarro da boca novamente.

— Não. Não, não importa, de jeito nenhum, já que o filho da puta se foi.

Sam olhou para Garrett, que olhava para ele pelo espelho retrovisor. Por um momento os dois irmãos não disseram nada e depois Sam finalmente se voltou para Resnick.

— Encontraremos seus homens em Del Rio. Eles não entrarão, não farão nada sem o meu consentimento, entendido? Tudo será feito de acordo com nosso plano. Minha mãe e Sophie devem ser protegidas a todo custo.

Resnick assentiu.

— Entendi. Entendi. Farei a chamada.

Sam relaxou e passou a mão para cima e para baixo sobre o braço de Sophie.

— Obrigado, Adam. Agradecemos sua ajuda.

— Não me agradeça. Apenas pregue aquele bastardo à parede. Esse será meu agradecimento.

 

Chegaram em Del Rio ao anoitecer. O jato Kelly pousou em um caminho acidentado de terra plana que era comandado pela equipe de Resnick. Voaram no escuro, e os dedos de Sophie deixaram uma marca permanente nas mãos de Sam. Quando finalmente rolaram até parar, ela cedeu como um balão se esvaziando.

— Rio e Steele já estão no terreno. Eu os notifiquei da mudança na contagem de pessoas. Estão esperando nossas ordens, — Garrett disse enquanto se abaixava pela saída e fazia um rápido trabalho com seus pés.

Ele esperou na parte inferior e estendeu a mão para Sophie, que precedeu Sam do avião. Garrett a acomodou em pé e olhou para Sam no escuro. Resnick, Donovan e Ethan seguiram logo atrás.

— Adam Resnick?

A voz filtrou através do pequeno grupo como um fantasma. Todos se viraram rapidamente, levantando suas armas.

— Kyle Phillips, Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, senhor. Meus homens estão aqui aguardando suas ordens.

— Mostre-se, soldado, — disse Resnick.

Houve apenas uma ligeira mudança no ar, e depois um vulto escuro apareceu ao lado de Resnick.

Resnick não perdeu tempo com brincadeiras.

— Phillips, este é Sam Kelly e seus irmãos, Garrett, Donovan e Ethan. Você receberá ordens deles. Esta missão é deles, mas é seu trabalho certificar-se que eles não falharão.

— Sim, senhor.

Phillips virou-se para Sam e estendeu a mão.

— Já ouvi muito sobre você, senhor. É um prazer conhecê-lo.

Sam pegou a mão dele e a balançou rapidamente.

— Aprecio que vocês e seus homens tenham vindo Phillips. Quais informações você tem para mim?

— Se vier comigo, senhor, temos veículos esperando, a meio quilômetro sobre aquela colina. Darei o relatório quando estivermos lá.

Sam pegou a mão de Sophie, e Garrett, Donovan e Ethan caíram em torno dela, enquanto se apressavam atrás de Phillips. Quando chegaram à linha de SUVs, Sam e Sophie entraram no veículo com Phillips e Garrett, enquanto Resnick, Donovan e Ethan entravam no outro.

— Já temos o alvo sob vigilância durante as últimas seis horas. Houve uma enxurrada de movimento que acabou duas horas atrás com o que acreditamos ser a chegada de seu último influxo de armas. Temos duas equipes em torno da casa e eles estão instalando explosivos agora.

— Já viram a minha mãe? — Sam perguntou.

— Negativo, senhor. Não houve muito movimento na casa, e sem um homem lá dentro, é difícil ver. Foi construída com a defesa em mente. Sem grandes janelas abertas, poucas portas, etc. A maior parte do movimento tem sido no perímetro. Estão se preparando para a guerra. Eu tenho três atiradores de elite. Nós os posicionaremos para fazer o maior dano que pudermos, antes de entrarmos.

— A guerra é o que eles irão obter, — Garrett murmurou.

— Excelente, — disse Sam. — Coloquei meus dois melhores atiradores de elite para o encontro com Mouton. Poderíamos usar mais, em torno do perímetro.

— Somos muito bons no que fazemos, senhor. Quero que saiba disso. Não iremos decepcioná-lo.

Pela primeira vez desde que todo esse negócio sangrento começou, Sam sentiu uma ponta de alívio. Ele vivia e morria por sua fé nos militares dos Estados Unidos e das operações especiais. Não existiam homens melhores em qualquer lugar do mundo, e estava malditamente feliz por tê-los com ele agora.

— Preciso que informe seus homens sobre o que está acontecendo, — disse Sam.

— Sim, senhor.

— E quero qualquer informação que conseguir e o número de homens e sua posição. Preciso conhecer cada centímetro deste lugar, antes de entrar. Você irá coordenar com Steele e Rio, os líderes da minha equipe. Eles terão o campo. Meus irmãos e eu levaremos Sophie para fazer a troca por minha mãe.

— Sim, senhor. Cuidaremos de tudo.

— Obrigado, Phillips. Eu agradeço.

— Não é necessário agradecer, senhor. É o meu trabalho.

Sim, um trabalho. Ele desejou que toda essa porra fosse isso, dessa vez. Apenas um trabalho.

 

Isso não parecia correto. Nada disso parecia correto. Sam olhou os arredores enquanto o SUV rodava pela estrada sinuosa e poeirenta que levava à frente do largo portão de Mouton.

Garrett dirigia e Resnick, que insistiu em ir junto e acrescentar sua força de trabalho, montava a espingarda. Sophie estava espremida entre Sam e Donovan no assento do meio, enquanto Ethan estava atrás.

Olhou de esguelha para as pálidas feições de Sophie e viu a firme determinação de sua boca. Sobre sua camisa fina ela usava um colete à prova de balas Kevlar[13] que o próprio Sam colocara em torno de seu pequeno corpo. Inferno, ele queria cobri-la da cabeça aos pés com uma armadura corporal. Não queria nenhuma parte dela desprotegida. E se algo desse terrivelmente errado? Como poderia perdoar a si mesmo se algo acontecesse com ela ou sua filha?

Estava fortemente tentado a dizer a Garrett para retornar para que pudesse levar Sophie de volta. Como se sentindo sua turbulência, Sophie deslizou os dedos através dos seus e virou a cabeça para olhar para ele. Apertou e sorriu, e essa pequena reafirmação bateu-lhe no intestino.

Ele era uma maldita fraude. Era seu trabalho, seu dever, proteger sua família, e ainda assim, era Sophie quem estava determinada a proteger a todos eles.

Apertou a mão dela também, todas as palavras que queria dizer presas em sua garganta. Forçou seus pensamentos para a situação em questão.

Steele e Rio juntaram-se a equipe de Phillips horas antes, quando a noite ainda envolvia as colinas rochosas. Estabeleceram um perímetro apertado ao redor do complexo, e P.J. e Cole estavam em posição, seus rifles treinados na entrada da frente.

Era uma missão que Sam deveria achar que estava correndo bem. As equipes de Phillips igualaram as chances. Ele tinha fé absoluta em seus próprios homens. Deveria ser um passeio no parque. Só que era pessoal. Envolvia pessoas que ele amava.

Amor. Deus, ele a amava. E isso tinha que acertá-lo agora? Quando estava prestes a colocá-la em perigo? Afastou seu olhar para longe dela, porque se não fizesse isso, estaria perdido.

Teria que se controlar. Não podia entrar nessa operação com a cabeça tão malditamente tumultuada. Teria que esquecer o amor. Teria que esquecer sua mãe. Teria que esquecer Sophie, e oh Deus, teria que esquecer sua filha.

Apenas um trabalho. Precisava manter a objetividade, ou iria cometer um erro e perderia todas elas.

Só que sua pulsação não diminuía, e seu coração parecia que iria bater para fora do peito.

Mais de 14 malditos anos sendo destemido e estoico diante do perigo, e iria foder tudo agora, quando era mais importante.

Havia três guardas armados no portão de metal pesado. O nível de tensão no SUV chegava ao teto. Garrett parou e abriu a janela.

— Estamos aqui para ver Tomas Mouton, — ele disse friamente.

Sophie ficou rígida ao lado de Sam.

O olhar do guarda varreu o SUV, e ele gesticulou para Garrett abrir sua porta.

— Não abrirei, — disse Garrett. — Diga a Mouton que estamos aqui. Ele está nos esperando.

As narinas do guarda se alargaram, mas ele pegou um rádio e transmitiu a informação. Um momento mais tarde, o portão começou a se abrir, e estavam passando por ele.

— Você ficará atrás de mim o tempo todo, — Sam disse a Sophie, apesar de terem repassado o plano, meia dúzia de vezes. — Não se mexa, não faça nada até falarmos com você, e se eu falar para se abaixar, você deve se abaixar imediatamente.

Ela assentiu, mas não desviou o olhar da casa que se aproximava do para-brisa.

Pararam em frente à entrada principal, exatamente no local em que determinaram, de forma que Cole e P.J. teriam ótimas oportunidades para atirar nos degraus da frente.

Tudo dependia de um jogo de frango[14] e a KGI não vacilaria primeiro. Sam esperava que Tomas fosse do tipo nervoso.

Garrett saiu primeiro, mas ficou atrás da porta aberta. Resnick saiu ao seu lado, e então Donovan saiu e bateu o assento à frente para Ethan.

— Fique na caminhonete até que eu diga, — Sam murmurou para Sophie, quando ele também abriu a porta.

Sam entrou no sol da manhã, feliz por que a luz estava por trás deles. Tomaria qualquer vantagem que pudesse.

Os segundos se transformaram em minutos, até que finalmente a porta da frente abriu e Tomas Mouton saiu, ladeado por dois guardas. Ele parecia nervoso, um bom sinal, e quando avistou os homens em torno do SUV, parou, e por um momento pareceu incerto.

Sam deu um passo adiante até que ficou ombro a ombro com Garrett.

— Onde está minha mãe? — Ele gritou.

Os dois homens estavam separados por uns bons vinte metros e uma fileira de quatro passos antecedia o concreto em frente à porta.

— Onde está minha sobrinha? — Mouton retornou.

Sam apontou para a caminhonete.

— Está lá dentro.

— Assim como sua mãe.

O silêncio se estendeu, e Sam não disse nada, à espera que Mouton fizesse a próxima jogada.

— Traga-a para fora. Eu quero vê-la. Se estiver tramando alguma coisa, Kelly, sua mãe será executada aqui.

— Como um gesto de boa-fé, trarei Sophie para fora. Isso é tudo. Ela não fará nenhum movimento em sua direção até que eu veja minha mãe. Entendeu?

Todo o ar deixou o pulmão de Sophie quando Sam se voltou em direção à caminhonete e estendeu a mão para dentro. Ela não hesitou, não queria que ele testemunhasse o medo terrível que passava por suas veias.

Agarrou seus dedos e deslizou até sair do caminhão.

— Fique atrás da porta, — Sam comandou.

Quando estava satisfeito com sua posição, voltou-se e ficou em frente a ela para enfrentar Mouton.

— Você a está vendo. Agora quero ver minha mãe. E é melhor que ela esteja ilesa, Mouton.

A boca do tio de Sophie se desenhou em uma carranca. Não, ele não gostava de ameaças. Ela tinha visto aquele olhar inúmeras vezes quando seu pai emitiu alguma repreensão ao seu irmão mais novo.

Tomas ignorou Sam e olhou diretamente para ela. Tinha um olhar distinto de desconforto no rosto. E medo. Ela quase podia sentir seu medo. Sua testa estava brilhante na luz do sol, e quando ela olhou para suas mãos, estavam crispadas ao lado do corpo.

— A chave, Sophie. Mostre-me a chave.

Não esperando pelo comando de Sam, ela lentamente levantou sua mão, piscando o metal no sol para que ele pudesse ver claramente a chave e a correia de couro que a mantivera ao pescoço de seu pai.

A porta se abriu novamente e os homens em torno dela e do SUV ficaram tensos, cada um alcançando suas armas. Os guardas ao lado de Tomas reagiram puxando seus rifles.

Marlene Kelly ficou à vista, pálida e abatida, mas Sophie não olhava para ela. Não, seu foco estava sobre o homem que quase cobria Marlene. O homem que mantinha um braço firmemente ao redor de seu pescoço e apertava uma pistola em sua têmpora com a outra mão.

O suor irrompeu em sua testa. As palmas das mãos ficaram úmidas, e seu estômago se apertou em um nó tão apertado que achou que iria vomitar.

Não era possível.

Ela o matou.

Sam congelou quando viu o homem segurando sua mãe como um escudo humano. Pouco dele era visível, mas podia ver o suficiente para saber que era ele. Não apenas sabia quem era, mas sabia que verdadeira e regiamente fodeu tudo.

Filho da puta.

Olhou de soslaio para seus irmãos, mas se recusou a olhar para Sophie, se recusou a dar a ela ou ao bastardo do pai dela, essa satisfação.

Deus, quando se lembrou das lágrimas que Sophie evocou quando o abasteceu com aquela história triste sobre sua vida em casa e como atirou e matou seu pai, ele quis vomitar. Ela era boa, e ele tinha sido fisgado, anzol, linha e chumbada.

O bebê seria mesmo dele ou ela mentiu sobre isso também?

— Jesus, — Garrett murmurou.

Isso ecoava os pensamentos de Sam perfeitamente.

— Eu também acreditei nela, cara — Garrett disse em voz baixa para que os outros não ouvissem.

Sam ficou frio. Absolutamente imóvel, e se desligou de tudo. Agora nada importava, exceto trazer sua mãe para a segurança.

— Deixe-a ir, Mouton, — Sam falou — Deixe-a ir, e você obterá o que deseja.

— Bem vindo ao lar, filha, — Alex chamou.

Pela primeira vez, Sam virou-se e levantou sua mão para Sophie, em um movimento para parar.

— Você não se moverá uma maldita polegada até que ele liberte minha mãe.

Sophie estava de pé, imóvel, com o rosto pálido e abatido. Sua mão segurava a chave, aquela maldita chave, seu pai ao menos precisava dela? Seria a coisa toda uma artimanha elaborada para colocar Sam e seus homens em uma posição vulnerável?

Havia muita coisa que Sam não conseguia entender, mas isso não importava. Sua mãe sim.

Enquanto não estava encarando Mouton, ordenou em rápidos e urgentes tons.

— P.J., Cole, atirem.

— Eu não tenho uma boa posição para atirar. Repito, não tenho uma boa posição, — disse P.J.

Uma fração de segundo depois, a voz de Cole sangrou através do receptor na orelha de Sam.

— Negativo. Não tenho uma imagem clara.

Sam praguejou baixinho. Virou-se para Mouton, ignorando o apelo nos olhos de Sophie.

— Parece que estamos em um impasse, Alex.

Mas estariam? O sacana queria mesmo Sophie? Estava disposto a sacrificá-la para alcançar seus objetivos? E qual era seu objetivo? Vingança? Nada disso fazia sentido. Por que criar uma charada tão elaborada? As dúvidas lotavam a mente de Sam. Sophie realmente o traiu?

Deixando de lado suas emoções, olhou para Alex Mouton. Sam necessitava fazê-lo falar, precisava que ele cometesse um erro para que P.J. e Cole pudessem derrubá-lo.

— Não, não estamos, — disse Alex com indiferença. — Realmente não me importo se sua mãe morrer. Você pode dizer o mesmo?

Marlene fez um som de pânico quando Mouton enfiou a ponta da pistola mais forte ao lado de sua cabeça.

Sam apontou a arma para a mão de Mouton, da maneira como apertava ao redor do cabo da arma. Seu dedo pairou e em seguida, fechou sobre o gatilho. Ele iria matá-la. Bem aqui, na frente de Sam e seus irmãos. E Sam estava impotente para fazer qualquer coisa, além de olhar.

Pelo canto do olho, ele pegou o movimento. Garrett virou-se, as mãos em suas calças, exatamente quando Sophie disparou por ele, uma das granadas do cinto de Garrett em sua mão.

E então, ela fez sua jogada.

Puxou o pino da granada e a agarrou na mesma mão que estava a chave. Apenas o cordão de couro estava visível, esmagado ao lado da granada. Suas mãos tremiam e seus olhos estavam selvagens e ferozes com determinação. Seu olhar conectou com o de Sam, e ele viu tanta dor e tristeza que sugou o ar de seus pulmões.

E ele soube. Naquele momento soube que fizera uma suposição terrível. Ela não o traiu.

 

Sophie não conseguia respirar. Não conseguia processar o pesadelo na frente de seus olhos.

Seu pai iria matar Marlene. Ela sabia disso, sem dúvida. Não importa o que acontecesse, ele iria fazer uma declaração. Não cruze o meu caminho. Nunca.

Queria vomitar, mas agora precisava ser forte. Tinha que pensar rápido e não trair seu medo angustiante. Isso ela poderia fazer. Escondera seu medo e fraqueza de seu pai por anos. Não falharia agora.

Segurando a granada perto dela, agora que tinha certeza que seu pai a tinha visto, nivelou um olhar frio para ele e expressou suas exigências.

— Abaixe a arma e deixe-a ir.

Os olhos de Marlene se moveram horrorizados quando Sophie caminhou em direção aos degraus da frente. Sophie a ignorou. Não poderia pensar em Marlene ou oferecer-lhe nenhuma garantia.

— Deixe-a ir, ou eu explodirei tudo, — Sophie disse em uma voz desprovida do medo terrível que rolava através de seu corpo.

— Você está blefando, — seu pai pronunciou.

— Estou? — Ela agarrou a granada ainda mais apertada, seu polegar agora entorpecido pela pressão que exercia sobre a alça. — Acha que eu não sei que morrerei de qualquer jeito? Se eu for com você, você me matará. Não tenho nada a perder. Mas você tem uma escolha. Você pode deixar que a Sra. Kelly vá embora, eu colocarei o pino de volta na granada e irei com você. Ou eu relaxarei meu aperto e explodirei você, eu e a chave em pedacinhos. De qualquer maneira eu morrerei. Se libertar a Sra. Kelly, você não morrerá. Então, o que vai ser?

Seu pai se moveu, mas teve o cuidado de manter a aterrorizada Marlene na frente dele.

— Querida, não faça isso, — disse Marlene, em uma voz assustada e instável. — Pense no seu bebê. No meu neto. Não faça isso. Volte para Sam. Pelo amor de Deus, volte para Sam.

— Cale a boca, — Alex Mouton vociferou, enquanto posicionava o cano da arma mais fortemente em sua têmpora.

— Deixe-a ir, — Sophie exigiu.

Afastou a granada de seu corpo até que ficasse na palma da mão e a pulseira de couro descansasse contra as alças de seu vestido. Então jogou o pino na varanda, onde seu pai e seu tio estavam.

Tomas praguejou e imediatamente se abaixou para recuperar o pino. Estendeu-a em direção a ela, a mão trêmula.

— Coloque-o de volta, — disse ele com voz rouca. — Coloque-o de volta agora.

Seu pai olhou para ela por um longo momento, como se medindo sua determinação.

— Tudo bem, Sophie. Você está no comando. Se quer que a Sra. Kelly seja liberada, venha até a mim e faremos a troca. Você por ela. Ela não se afastará de mim até que você esteja perto o suficiente para dissuadir os atiradores.

Ela engoliu em seco e deu um passo hesitante para frente. Não olhou para trás. Não poderia. Se olhasse, somente veria o que ela nunca teria.

Quando estava perto o suficiente de Marlene, ela sussurrou:

— Diga a Sam que eu o amo e que eu nunca menti para ele.

— Que tocante, — seu pai zombou.

Rápido como um raio, empurrou Marlene para longe dele e puxou Sophie em seu peito.

— Corra! — Sophie gritou com voz rouca.

O mundo ao redor deles explodiu no caos.

Marlene fugiu em direção a seus filhos. Os dois guardas de pé nos degraus caíram, sangue correndo de ferimentos abertos em suas cabeças. Tomas mergulhou de volta para a casa. O tiroteio irrompeu ao longo do complexo. Uma pesada explosão abalou o chão. Sophie agarrou a granada ainda mais apertada, enquanto seu pai se apoiava na pesada porta da frente, o braço estrangulando-a.

Seu último vislumbre de Sam foi quando ele apressou sua mãe para a segurança dos SUVs.

Ela fechou os olhos. Graças a Deus.

 

— Mãe, mãe! Você está bem? — Sam perguntou, enquanto se inclinava sobre ela no SUV. — Nos dê uma maldita cobertura, — ele gritou com Garrett.

Resnick e os irmãos de Sam se lançaram no SUV e Garrett abalou-o sobre um vaso e através de uma sebe até que mergulhou em um barranco estreito atrás de um afloramento de rocha.

— Estou bem, Sam. Estou bem. Apenas aterrorizada.

As mãos dela em seu rosto penetraram um pouco em sua névoa vermelha. Ele estava furioso, e estava assustado pra caralho.

— Temos uma situação de reféns, — ele gritou em seu microfone. — Sophie está dentro do edifício. Procedam com extrema cautela.

Marlene tentou sentar-se, mas Donovan a empurrou de volta para baixo, seu corpo cobrindo o dela.

— Fique abaixada, Mamãe.

Ela olhou para Sam, o tormento enchendo seus olhos cansados.

— Sam, você tem que tirá-la de lá. Ela acha que vai morrer.

Sam fechou os olhos.

— Ela me pediu para dizer que te ama e que nunca mentiu para você, — disse sua mãe em uma voz chorosa.

— Doce mãe de Deus, — Garrett disse com a voz tensa. — Filho da puta!

— O quê? — Sam perguntou, enquanto balançava a cabeça em direção a seu irmão.

Garrett ergueu a chave. Estava faltando o laço de couro, aquele que ela mantivera na mesma mão com a granada.

— Ela deve tê-la escorregado em meu bolso quando pegou a granada.

O estômago de Sam apertou. Lembrou-se bem de sua determinação para que Tomas nunca colocasse as mãos na chave. O quanto estaria ainda mais determinada a mantê-la longe de seu pai?

— Oh, meu Deus, — ele sussurrou. — Ele vai matá-la.

Ethan levantou-se do piso da terceira fila e pegou a mão de sua mãe.

— Ethan, — ela murmurou, surpresa. — O que está fazendo aqui? Onde está Rachel?

— Ela está segura, Mamãe, — Ethan disse rispidamente. — Graças a Deus você também está.

Marlene olhou ansiosamente para Sam.

— Você vai atrás dela? Você não a deixará lá, não é?

— Sam, chamei um helicóptero pelo rádio. Posso tirar sua mãe fora daqui em minutos, — disse Resnick. — Vocês vão embora. Eu ficarei aqui com Sophie.

— Eu quero que o resto de vocês vá embora com Mamãe, — disse Sam. — Esta é minha luta. O trabalho de vocês é assegurar que Mamãe saia daqui viva .

— Besteira, — Marlene estalou.

Cinco pares de olhos olharam surpresos para ela.

— Seus irmãos nunca iriam deixá-lo voltar sozinho. Seu pai criou vocês muito melhor que isso. Vocês vão voltar lá e salvar o meu neto. Salvar aquela jovem que acabou de trocar a própria vida pela minha.

— Não se preocupe, Mamãe, — disse Donovan. — Não iremos deixar esse idiota ir a lugar nenhum sem nós.

— Começaremos a artilharia pesada — Steele disse no ouvido de Sam.

Os outros se voltaram para Sam, seus olhares preocupados encontrando o dele.

— Vamos, — disse Sam. — Não deixarei esse desgraçado tirar a vida de nenhum dos meus homens, e tenho a maldita certeza que não deixarei aquela tola da minha mulher ser assassinada.

 

Sophie arrancou-se do aperto de seu pai assim que as portas se fecharam. Parecia uma pedra rolando sobre um túmulo. Droga, se ela deixaria o medo paralisá-la agora, entretanto.

Seu polegar estava deslizando sobre a alavanca da granada. Seria tão malditamente fácil soltá-la. Mas não tinha nenhuma intenção de morrer, não importa o que ela pudesse ter dito.

— Coloque o pino de volta, Sophie, — disse seu pai.

Tomas estava de pé, a mão estendida com o pino, suando em bicas e tremendo. Alex olhou para ela através das fendas estreitas de seus olhos, olhos frios que não traiam nenhum medo. O homem era feito de pedra ou estava apenas convencido que era indestrutível? No tocante a isso, ela atirara nele e ele ainda sobreviveu. Talvez ele fosse invencível.

— Eu atirei em você.

O canto de sua boca levantou em um quase sorriso.

— É, você atirou. Você me impressionou. Nunca pensei que tinha essa força em você.

Então seus olhos mudaram, esfriando, enquanto a raiva queimava nas profundezas.

— Você me colocou no hospital por meses. Fiquei lá, lembrando de você apontando aquela arma para mim, uma pequena puta arrogante que achava que tinha vencido. Você não pode me matar, Sophie. Eu não posso morrer.

Ela levantou a granada novamente quando Alex se moveu em sua direção. Sua mão tremia, mas nesse momento ela não se importava se estava ocultando seu medo do pai. Ela acabou com isso. Ela acabou com ele.

— Fique longe de mim e do meu bebê.

— Dê-me a chave e eu considerarei deixar você viver o suficiente para dar à luz ao seu pirralho.

Uma explosão de riso histérico escapou. Ele ainda não tinha percebido que ela não tinha a chave.

Tomas se moveu, e nesse pequeno lapso de atenção, enquanto ela olhava em sua direção, Alex avançou sobre ela. Agarrou seu pulso e o torceu dolorosamente até que a granada caísse de sua mão para o chão.

O laço de couro flutuou para baixo, e tanto Alex quanto Tomas tentaram agarrar a granada.

Alex chegou primeiro, arrebatou-a e atirou-a pela porta em direção ao corredor.

Sophie caiu no chão, com os braços cobrindo a barriga protetoramente.

A explosão abalou a casa, e choveu gesso e madeira sobre sua cabeça. Recuperando-se rapidamente, ela ficou sobre suas mãos e joelhos e rastejou pelo chão coberto de detritos.

Uma mão circulou seu tornozelo e puxou-a de volta. Ela rolou defensivamente e ficou cara a cara com os olhos furiosos de seu pai. Poeira e pedaços do teto de gesso cobria seu cabelo, e ele ergueu o laço de couro com a mão livre.

— Puta maldita, onde está a chave?

A autopreservação a incentivou, e ela bateu nele com seu outro pé. Lutando violentamente contra seu aperto, se esforçou para ganhar vantagem com as mãos, empurrando contra o chão em uma tentativa de se alavancar.

A esperança floresceu quando o viu arrastar a perna esquerda em um esforço para manter-se com ela. As pernas da calça dele foram arrancadas abaixo do joelho, e o sangue escorria para o chão.

Com outro chute desesperado, conseguiu libertar seu tornozelo, e virou-se, pulando pelo chão em direção à porta do outro lado. Ele estava em cima dela em dois segundos, seu corpo pousando desajeitadamente contra o dela. O som de sua respiração encheu seus ouvidos quando a mão dele enrolou em seu cabelo.

Ele puxou violentamente, e quando sua cabeça se aproximou, deu um tapa no rosto dela.

Atordoada, ela bateu no chão novamente, apenas para que ele a levantasse e a arrastasse para o lado oposto do corredor. Tomas estava caído, preso sob parte da porta que caíra na explosão.

Sophie lutou descontroladamente. Ela não poderia morrer. Não agora. E tinha a maldita certeza que não morreria nas mãos de seu pai. Tentou chutar sua perna ferida.

Xingando, ele a golpeou novamente, desta vez com o punho. O metal frio de uma arma roçou seu rosto antes que ele abaixasse e o enfiasse dolorosamente em sua barriga.

— Fique quieta e coopere ou atirarei em você e a deixarei sangrar como um porco eviscerado, — ele sibilou.

— Desista, — ela ofegou. — Você não pode vencer. Sam e os seus homens o cercaram. Você não pode, possivelmente, achar que vai sair dessa.

— Observe-me.

— Para onde você está me levando? — Ela perguntou quando ele arrastou-a pela casa. Os sons de tiros os rodeavam, distantes, mas cada vez mais próximos. E se Sam fosse morto? Ou os irmãos dele? E se não conseguissem colocar Marlene em segurança?

Deus, havia tantos e, se. Sam achava que ela o traiu. Ele realmente a colocaria acima da segurança das pessoas com quem mais se preocupava? Ela não tinha tanta certeza quanto a seu pai, que ele viria por ela, mesmo que fosse sua filha quem ele estava mais interessado em salvar. Diante de sua aparente traição, não pareceria exagerado se ele até mesmo não acreditasse que o bebê era dele.

Seu pai a empurrou para a biblioteca e em direção a um painel de madeira no centro da sala.

As portas se abriram, revelando um elevador. Ele forçou-a para dentro, então, retirou uma chave do bolso e a inseriu na fenda abaixo do botão desce.

As portas se fecharam, imergindo o interior na escuridão. O chão balançou abaixo dela e começaram a descida.

Todo o tempo, ele segurou o braço dela no seu aperto esmagador. Seu rosto doía e a boca estava inchada e cortada no canto. O gosto metálico de sangue pairava sobre sua língua, mas ela estava viva. Não iria perder a esperança ainda.

Por favor, Sam. Encontre-me. Salve nossa filha. Salve-me. Eu te amo.

O elevador parou e as portas se abriram para mais escuridão. Teriam descido para o inferno?

Seu pai a empurrou para frente, e ela, desajeitadamente, tropeçou pelo chão duro. Ele diminuiu o ritmo agora, e mancava muito, seu corpo balançando contra o dela.

Ela fingiu tropeçar, em seguida, soltou um grito de angústia. Ele caiu em cima dela, se recuperou e soltou um silvo de dor. Mas ela o desacelerou.

Seu cérebro entrou em curto-circuito. Ela só poderia retardá-lo na esperança de que Sam viesse atrás dela. Balbuciou a primeira coisa que lhe veio à mente em uma tentativa desesperada de distraí-lo, fazê-lo falar, todas as coisas clichês que alguém faz quando estava lutando por sua vida. O que mais lhe restava?

— Como você sobreviveu? Eu atirei em você. Você deveria ter morrido.

Provavelmente não era melhor coisa a fazer. Lembrá-lo do fato que ela atirou nele, assim como ele atirou em sua mãe.

Ele permaneceu em silêncio, recusando-se a ser arrastado para uma conversa. Sua única resposta foi chutar o tornozelo dela para estimulá-la a se movimentar. Ela foi para frente, fingindo cair. Sua mão tateou a parede de modo que não caísse com muita força.

— Você está tentando minha paciência, — ele rosnou. — Mexa-se ou atirarei em você e a deixarei aqui.

Como uma chama de um fusível seco, a fúria pegou fogo e queimou, quente e selvagem, através de suas veias.

— Por não atira, então? Você é um covarde que ataca as mulheres e os mais fracos que você. Atirou em minha mãe na mesa de jantar. Que tipo de pervertido faz isso?

Ele realmente fez uma pausa, os dedos ainda em seu braço. Ela sentiu um tremor traiçoeiro surgir no corpo dele. O bastardo frio reagiu? À menção de sua mãe?

— Você acha que eu atirei nela por um motivo casual?

Ele riu, mas soou mais como um silvo de quem estava puto, do que diversão.

— Sua mãe era uma prostituta sem lealdade. Assim como você. Ela me traiu, assim como você.

— Que tipo de merda você está fumando? O que ela poderia ter feito para merecer receber um tiro na cabeça durante o jantar, pelo amor de Deus?

— Cale-se! — Ele vociferou. — Cale essa boca e continue caminhando.

Ela abriu a boca para falar novamente, mas ele torceu seu braço até que ela gritou de dor verdadeira.

Calou-se e lutou contra as ondas de náusea fluindo por sua barriga.

O túnel não terminava nunca, mas seu senso de tempo tinha sido irremediavelmente alterado pela cadeia de eventos que levavam ao agora.

Ela quase tropeçou e caiu quando o pé se prendeu em um torrão no chão. Ela registrou o som de uma mão deslizando sobre a parede e depois a luz correu por seus olhos. Piscou, não querendo ficar fraca e perder nenhuma oportunidade. Oportunidade para lutar, para escapar. Para viver.

Seu coração afundou quando viu dois Hummers[15] estacionados a poucos metros de distância do longo túnel que levava para fora em frente a eles.

Com a mão ainda enrolada em torno de seu braço, ele ergueu a arma com a outra e apontou-a diretamente em seu rosto.

— Entre.

Oh Deus, não podia entrar na caminhonete. Não poderia deixá-lo levá-la.

Um tiro rugiu em seus ouvidos. Reflexivamente ela pulou para trás, exatamente quando seu pai bateu na caminhonete. Sua cabeça bateu repugnantemente contra a janela do passageiro, e por um momento ele parou, os olhos arregalando. Então, como uma marionete cujas cordas foram largadas, ele cedeu e deslizou ao lado da caminhonete. O sangue manchou e riscou um caminho descendente e, em seguida, empoçou por baixo dele quando ele finalmente desabou no chão.

Ela girou, esperando ver Sam ou um de seus irmãos em pé atrás dela. Preparou-se para lançar-se em direção a ele, seu coração batendo aliviado. Ela parou, os pés emaranhando e cambaleando quando viu Tomas em pé, a uma curta distância, a arma ainda levantada na direção que atirou.

Seu estômago doía, e ela lutou contra o impulso de vomitar.

Olhou para ele, entorpecida, não sabendo o que deveria fazer.

— Ele merecia uma morte mais dolorosa, — Tomas disse com uma voz imparcial. — Pelo que fez para Maria.

Sophie sacudiu a cabeça.

— Por que você se importa com o que ele fez à minha mãe?

Tomas voltou os olhos para ela, e ela estremeceu diante da frieza que encontrou lá. Todos os traços de medo limparam-se de seus olhos. Nenhuma tensão, nenhum nervosismo. Era como se tivesse se libertado do homem que ele temia acima de tudo.

A selvageria brilhou e sua expressão tornou-se triunfante, quase como se ele não pudesse acreditar no que acabara de fazer.

— Ele a matou porque ela me amava, — disse Tomas. — Ele descobriu. Não sei como ele descobriu. Talvez um dos empregados a tenha traído. Mas não foi coincidência que um dia depois que ela entregou-se a mim, ele a matou.

Sophie sacudiu a cabeça. O mundo estava louco. Estava suspensa pela insanidade. Seu conjunto de genes estava em uma grande bagunça. Como poderia ter se enganado tanto, acreditando que poderia levar uma vida normal, quando viveu sua vida inteira cercada pela loucura?

Completa e totalmente esgotada, caiu de joelhos e, continuou caindo até que sua bunda batesse nos calcanhares. Escondeu o rosto entre as mãos e balançou para trás e para frente.

— Levante-se e entre na caminhonete, — Tomas falou, entredentes.

A cabeça dela voou para cima e ela olhou para ele, incrédula.

— Você é louco. É tão louco quanto meu pai. Não irei a lugar nenhum com você. Não tenho a chave, Tomas. Vá você. Eles virão atrás de você. Estarão aqui a qualquer momento. Se quiser sobreviver, é melhor sair agora.

Ele virou a arma contra ela, e se antes ele parecia uma pilha de nervos, agora parecia assustadoramente confiante e à vontade.

— Levante-se agora. Entre na caminhonete.

Lentamente, ela empurrou-se para cima, os joelhos batendo como rochas. O mundo inclinou e oscilou, e ela quase caiu de novo.

Tropeçou para o Hummer, atrapalhou-se com a maçaneta e conseguiu abri-la. Tomas a seguiu, a empurrou para dentro, em seguida, bateu a porta atrás dela. Caminhou pela frente do carro, apontando a arma para ela através do para-brisa, o tempo todo. Firme determinação estava gravada em seu rosto. Estranhamente, ela estava subitamente com mais medo dele, do que tivera de seu pai. Pelo menos, antes ela sabia o que esperar.

Tomas sentou ao volante, transferiu a arma para a mão esquerda e ligou o motor.

Com um rugido, acelerou pelo túnel largo, os faróis saltando ao longo das paredes. Após alguns momentos, o túnel foi iluminado como se o sol caísse sobre a passagem. Brotaram do recinto, e a poeira subiu, enquanto ele guiava a caminhonete para a pista estreita.

Ela virou-se freneticamente em seu assento, em busca de direção. Seu olhar travou-se na casa de onde vieram. Ficava cada vez menor, à medida que o Hummer corria através da paisagem árida e rochosa. Em direção ao nada. Por tudo que os olhos podiam ver, não havia nada além de rochas e colinas irregulares.

 

Quando uma explosão abalou a casa, Sam e seus irmãos se jogaram no chão e o coração de Sam quase parou.

Sophie. Granada.

Querido Deus, o que ela tinha feito?

— Sam, não! — Garrett gritou perto de seu ouvido.

Ele nem mesmo percebeu que se levantou e correu para a porta até Garrett jogá-lo no chão. Ficou deitado no chão, Garrett esparramado em cima dele, o seu íntimo a ponto de explodir com aquela porra.

— Porra, Sam, faremos isto direito, e isso não inclui você conseguir que seu traseiro fique cheio de buracos de balas.

— Saia de cima de mim, — Sam rugiu. — Tenho que encontrá-la.

O som de helicópteros aterrissando desviou sua atenção de tudo por dois segundos, enquanto olhava para trás e via Resnick apressar Marlene Kelly a bordo.

O alívio por sua mãe misturou-se com o medo atroz por Sophie.

Garrett lentamente afastou-se de Sam, Donovan e Ethan se moveram para o lado deles, armas em punho e treinados para a entrada da casa.

— Faremos isso, juntos, — disse Garrett. — Como uma unidade. Apoio. Conceito familiar? Não há como você ir a lugar nenhum sem isso.

— Cale a boca, — Sam rosnou. — Você está me dando muitas ordens.

— Sim, bem, quando sua cabeça está na sua bunda, alguém tem que dá-las.

Ethan e Donovan agacharam em ambos os lados da entrada. Ethan levantou um dedo, em seguida, dois, e quando levantou o terceiro, ele e Donovan viraram e saíram correndo para dentro.

Sam e Garrett seguiram então, avançaram para além do vestíbulo.

— Estamos dentro da casa, — Sam disse em seu receptor. — Steele, Rio, me dê a sua posição.

— Empenhados, — veio a resposta curta de Steele.

— Vindo do oeste, — disse Rio, um momento depois. — Nossa área está limpa. Dando suporte a Steele para limpar os canalhas. Sem vítimas a relatar.

— Bom, — Sam murmurou. Esperava que ele pudesse dizer o mesmo.

— Por aqui, — Ethan chamou da esquerda.

Sam, Garrett e Donovan cuidadosamente escolheram o caminho pela sala até onde Ethan estava com seu rifle para cima e apontando para um salão.

— Santo inferno, — murmurou Donovan. — Eu diria que isso é o lugar onde a granada explodiu.

Sam engoliu em seco. O estômago doía, e ele engoliu novamente.

O quarto estava torrado. Havia entulho por toda parte. As paredes desabaram e a porta estava torta levando para a sala de conexão.

Cuidadosamente, escolheram o caminho através da destruição. Sam ergueu uma grande parte do gesso, mas não havia nada debaixo dele, exceto mais detritos e o chão. Deixou-a cair e continuou o caminho para a sala adjacente.

— Há sangue aqui, — disse Ethan.

Sam correu para onde Ethan estava. Um feixe da porta estava para o lado, e havia uma área raspada no chão, que parecia que alguém estivera preso debaixo da bagunça e tinha empurrado para sair. A pergunta era, quem? Sophie? O pai dela?

Olhou ao redor da sala, mas estava silenciosa, exceto pelo barulho de tiros à distância. Não havia nenhum sinal de Sophie ou de qualquer outra pessoa. O que significava que ela sobreviveu à explosão. Ele poderia ser grato por isso, pelo menos, mas ela ainda estava nas garras do pai. E isso o aterrorizava.

Seguiram pelo corredor, vasculhando meticulosamente cada um dos cômodos que encontraram.

Não havia nada. Ninguém. Nem mesmo empregados. Ou todos fugiram ou ninguém nunca esteve lá.

A cada vez que entravam em um cômodo vazio, a esperança de Sam afundava um pouco mais. Ele precisava que ela estivesse segura. Precisava dela de volta com ele.

No final do corredor, chegaram a um beco sem saída. Mas quando entraram em um quarto, armas em riste, prontos para enfrentar Alex e Tomas Mouton, encontraram apenas silêncio e uma sala vazia.

— O que nós perdemos? — Sam perguntou.

Seu olhar varreu a sala novamente, à procura de qualquer coisa que não se encaixasse. Franziu a testa quando avistou uma pequena mancha de sangue sobre o mármore polido. Cabeça abaixada, vasculhou a área ao seu redor, à procura de mais.

Lá, apenas uma gota.

Seguiu o sinal esparso e ficou cara-a-cara com o painel de madeira. Cerejeira escura. Personalizado. Deveria ter custado uma fortuna.

— O que foi? — Donovan perguntou.

— A trilha de sangue termina aqui. Há algo por trás disso. Tem que haver.

Donovan levantou a coronha do rifle e bateu a parte traseira na madeira. A madeira resistiu, mas o baque com certeza soou oco.

— Amadores, — Garrett murmurou.

Passou por Donovan e Sam, empurrou-os para longe da parede e, em seguida, disparou uma série de rodadas contra o painel. A madeira lascou e caiu. Garrett abaixou a arma e, em seguida, avançou e chutou a madeira fragmentada.

Ethan se juntou a ele, e os dois homens conseguiram fazer um buraco grande o suficiente para passarem por dentro dele. Ethan enfiou a cabeça dentro e depois assobiou.

— Dê-me uma lanterna, — ele falou.

Donovan puxou uma pequena lanterna de seu cinto e colocou-a na mão de seu irmão. Ethan virou-a e, em seguida, iluminou dentro do buraco.

— O que é isso? — Sam perguntou impaciente.

Ethan se retirou.

— Parece um poço de elevador. Sem elevador, no entanto. Se desceram por ele, provavelmente passaram por aqui. Não vejo maneira de que suba, de modo que provavelmente requer um código de segurança ou chave interna.

— Desceremos por rapel, — disse Sam.

Donovan suspirou.

— Eu sabia que você iria dizer isso.

Ethan deu um leve sorriso.

— Ainda não superou seu medo de altura, Aviador?

— Eu gosto muito de altura. Em um avião. Ou helicóptero. Mas não gosto de ficar suspenso por uma corda.

— Vamos. — Garrett interrompeu. — Guarde o bate-papo para mais tarde.

Sam já estava no processo de proteção do gancho em torno da viga de aço que emoldurava o eixo. Depois que ele estava seguramente acinturado e testou o aperto do gancho, saiu para a escuridão e começou uma descida rápida.

— Porra, Sam, vá mais devagar, — Ethan rosnou.

Ele estimou que eram 9,14 metros para baixo quando suas botas bateram contra uma superfície dura.

— Ilumine aqui embaixo, Ethan, — ele pediu.

A poucos metros acima dele, Ethan acendeu a lanterna e dirigiu-a para baixo. Pousou ao lado de Sam alguns segundos mais tarde e brilhou a luz sobre a superfície. Estavam no topo do elevador.

Donovan e Garrett aterrissaram em ambos os lados, e enquanto Ethan segurava a lanterna, Sam se inclinou para baixo para forçar a abertura do alçapão. Quando puxou para cima, Ethan iluminou dentro do elevador, e Donovan e Garrett apontaram seus rifles para baixo.

— Droga! — disse Garrett.

Não esperando por mais, Sam jogou a correia de seu rifle sobre o ombro, em seguida, ajoelhou-se e posicionou a parte inferior de seu corpo através da abertura. Desceu e esperou com efervescente impaciência que seus irmãos se juntassem a ele.

— Porra, está escuro, — disse Donovan depois de arrombarem as portas do elevador. Afastou-se dos outros, e Sam podia ouvi-lo deslizar as mãos sobre uma superfície. — Estamos em um maldito túnel.

Ethan levantou a lanterna, mas Sam colocou a mão para fora e empurrou o braço de Ethan para baixo.

— Apague a luz.

Moveram-se furtivamente pelo corredor. Sam pressionado, quase correndo. Quando rodearam uma curva, ele piscou quando uma fonte de luz distante apareceu. Ergueu a mão e sinalizou silenciosamente para que seus irmãos se espalhassem.

Avançou em direção à abertura, e Sam forçou seus ouvidos para ouvir algo, qualquer coisa. Enquanto se aproximava, o barulho dos tubos de luz fluorescente encheu o espaço. Caso contrário, estaria silencioso. Malditamente silencioso.

Sam e Donovan em um lado do túnel, Garrett e Ethan, do outro, os dois pares se encararam, as armas para cima. Sam levantou um dedo e depois dois. Em três invadiram a abertura.

Sam parou repentinamente ao ver o que o saudou. Um Hummer preto estava estacionado a vários metros de distância, e ao lado estava Alex Mouton. Ou o que restava dele.

— Puta merda, — Donovan respirou. — Alguém explodiu metade de sua cabeça.

Garrett levantou uma sobrancelha.

— A nossa menina?

Sam olhou em volta e depois na direção onde o Hummer estava, e viu um outro túnel.

— Tomas deve estar com ela. Se ela atirou em Alex, onde ela está agora?

Ethan moveu-se na frente do Hummer e olhou para o concreto.

— Havia outro veículo aqui. Há marcas de pneus. Parece que quem saiu, saiu com muita pressa.

— Sam, eu tenho notícias de Resnick.

Sam colocou a mão em concha no fone de ouvido.

— Vá em frente, Steele.

— Resnick está no ar. Atualmente está perseguindo um Hummer, que está a toda velocidade na estrada em direção a Del Rio. Levantando um rastro de poeira e, evidentemente, não muito preocupado em ser visto. Ele acha que viu Sophie no banco do passageiro. Ele vai continuar atrás deles.

A pulsação de Sam disparou. Energia nervosa sulcou em suas veias e o deixou nervoso. Não sentia esse tipo de adrenalina desde a sua primeira missão.

— Entendido, Steele. Também iremos atrás deles. Você e Rio estão bem?

— P.J. e Cole estão chutando as bundas de alguns mercenários. Estamos fora de problemas e deixando-os limpar os vagabundos. Estamos bem. Vá buscar a sua mulher.

Sam olhou para Donovan.

— É hora de me mostrar suas habilidades, garoto da tecnologia. Tire-nos desse inferno, nesse Hummer.

Donovan levantou uma sobrancelha, deu a volta ao lado do assento do motorista, abriu a porta e enfiou a mão dentro do carro. Um segundo depois, o barulho de chaves soou, e Donovan as levantou com um sorriso.

— Fácil demais, Sargento.

 

Sophie saltou e se lançou em frente, enquanto atingiam outra elevação. Tomas estava única e exclusivamente focado no caminho à frente deles, e ela assistia de perto enquanto a arma abaixava e sua atenção tornava-se menos focada nela.

Ela não disse nada. Não fez nenhum som, nem mesmo quando sua cabeça bateu na lateral da janela. A última coisa que queria era chamar a atenção dele para ela. Da maneira anárquica que ele estava conduzindo, provavelmente não demoraria muito para essa maldita arma disparar, e nesse momento ela ainda estava apontada para ela.

Onde estavam indo? O que ele poderia esperar realizar? Ele não tinha a chave. Toda a sua “proteção” estaria em voltar para casa, esperando conseguir seus traseiros entregues a eles por Sam e seus homens.

O que a deixava com Tomas. Um pensamento repentinamente assustador, levando-se em conta o fato que ele era corajoso pela primeira vez em sua vida e levantou-se contra seu irmão. A última coisa que ela precisava era que ele se sentisse elevado em adrenalina e confiança.

Olhou nervosamente para Tomas quando ele fez malabarismos com a arma e tentou alcançar o bolso, todo o tempo mantendo seu dedo malditamente perto do gatilho. Ela iria morrer, porque esse idiota era um idiota incompetente.

Ele desviou, bateu numa pedra, e sua mão saiu do volante. Por um momento eles se inclinaram perigosamente para a direita. Ele praguejou e girou a roda traseira para a esquerda. Milagrosamente, o veículo se alinhou, e continuaram sua caminhada aleatória pelo terreno acidentado.

Tomas arrancou um telefone celular do bolso e o colocou — e a arma — em sua direção.

— Ligue para ele, — ele exigiu. — Ligue para ele e diga que eu quero essa chave maldita ou matarei seu pirralho.

Ela riu. Não conseguiu se controlar. Uma bolha histérica brotou em sua garganta e escapou através dos lábios que se agitavam como um peixe com falta de ar na terra seca.

— Eu não sei como entrar em contato com ele, Tomas. Nunca liguei para ele. Você não deveria saber como contatá-lo? Você estava mantendo a mãe dele como refém, pelo amor de Deus.

Ele balançou para ela com o cano da pistola, mas ela se esquivou e sua mão bateu no encosto de cabeça, em seu lugar. O Hummer virou novamente, e algo rompeu dentro dela. Sam não iria tirá-la disso. Nem Garrett, nem os catorze milhões de homens que trabalhavam para a KGI.

Se iria sobreviver, se iria proteger sua filha, teria que fazê-lo sozinha.

Quando Tomas começou a balançar para ela novamente, ela estendeu a mão e agarrou seu pulso com as duas mãos e puxou tão forte quanto podia.

Maldições enchiam o ar. O Hummer virou, e ele agarrou o volante desesperadamente com a mão esquerda para manter o controle. Ele puxou sua mão direita para trás, tentando bater no rosto dela, mas ela se esquivou e depois afundou os dentes no pulso dele.

Engasgou quando o gosto de sangue encheu sua boca. Ele arrancou e depois se virou para ela com a mão esquerda. Tão logo sua mão esquerda largou o volante, o Hummer colidiu com um enorme obstáculo e o mundo foi à loucura ao seu redor.

O alto tornou-se baixo e o baixo tornou-se alto. Ela tinha a vaga sensação de que estava em profunda merda, então fechou os olhos e orou.

Sua cabeça bateu contra algo rígido. Lanceando dor através de sua mão. E depois, de repente, tudo ficou quieto.

Embora sua cabeça latejasse, ela cautelosamente abriu os olhos. O Hummer tinha se endireitado.

Ela olhou para Tomas e o viu caído sobre o volante. O sangue espirrou no para-brisa em frente a ele e podia vê-lo escorrendo ao lado de sua cabeça.

A mão dela doía.

Oh Deus, ela estava sucumbindo. Isso era tudo que ela podia planejar? Apenas se sacudiu um zilhão de vezes com um homem segurando uma arma, e a única coisa que conseguia pensar era que seus dedos doíam como filhos da puta.

Olhou para baixo para ver seu dedo mindinho e o anular já inchados. O ângulo de seu dedo anular parecia estranho, mas seu cérebro estava tão confuso, que tudo o que conseguia fazer era olhar silenciosamente para sua mão.

Para fora. Saia, Sophie.

Estendeu seu corpo, com a mão esquerda para abrir a porta. Deixe-a abrir-se. Por favor. Ela não queria ter que rastejar para fora pela janela. Esta abriu alguns centímetros e prendeu teimosamente.

Ela bateu na porta com o ombro, mas só conseguiu movê-la um pouco. Tomada pela frustração, girou o corpo e recostou-se na direção de Tomas, rezando o tempo todo para que o bastardo estivesse morto. Apoiou os pés contra a porta e empurrou com toda a força.

O metal gritou em protesto, mas ela conseguiu mantê-la aberta o suficiente para que pudesse sair. Ansiosamente, fugiu para frente até as pernas passarem através da abertura. Quando automaticamente alcançou a moldura da porta para preparar-se, sussurrou de dor e puxou sua mão ferida de volta.

Sacudiu-a para tentar amenizar a dor horrível, e finalmente optou por recostá-la firmemente contra o peito.

— Vamos tentar novamente, — ela murmurou.

Percebendo que o colete estava no caminho e que teria uma chance melhor de se espremer através da abertura sem ele, ela se atrapalhou com uma mão sobre o fecho até que soltou o colete o suficiente para dar de ombros e tirá-lo. Então, sugou toda a respiração e deslizou seu caminho entre a porta e o chassi da caminhonete.

Assim que estava livre, cedeu contra o Hummer batido e soprou seu hálito em um longo exalar.

De alguma forma, sairia dessa, viva. Tomaria isso como um sinal de que alguém estava procurando por ela. O pensamento fortaleceu seu espírito cansado, e olhou para o terreno rochoso. Eles percorreram vários quilômetros para longe da casa, e a única coisa lógica a fazer seria retraçar o mesmo caminho.

Quando se afastou da caminhonete, ouviu o som de um veículo à distância. Colocou a mão que não estava machucada na testa e examinou o horizonte.

Um frio subiu por sua espinha quando viu o outro Hummer rompendo por entre as pedras e a areia. Ela viu seu pai cair. Metade do lado de sua cabeça desapareceu. Ele estava morto. Então não era ele.

Seu coração começou a bater ferozmente. Ela deu um passo à frente. Seus joelhos tremeram, e sua boca ficou seca. Deu mais um passo quando a caminhonete se arremessou sobre uma elevação de aproximadamente cinquenta metros. Derrapou, então parou. As portas se abriram, e ela ouviu gritarem seu nome.

O alívio derramou sobre sua alma como uma cachoeira.

Sam.

Queria correr para ele, mas estava enraizada no lugar como uma estátua.

Sam e Garrett saíram bruscamente e Ethan e Donovan saltaram atrás deles. De repente, suas expressões mudaram de preocupação e alívio, para horror.

Ela franziu o cenho.

— Sophie! — Sam gritou.

Sam e Garrett começaram a correr, e Sam puxou sua arma da cintura e mirou em um ponto além dela.

Atordoada, ela se virou para ver o que eles estavam vendo. Recuou quando viu Tomas tropeçando nos destroços. Ele parecia o inferno, o sangue cobrindo a maior parte de seu rosto e cabeça. Mas deu passos bruscos em direção a ela, e pior, estava com a arma na mão, apontada diretamente para ela. E ela não estava mais usando seu colete.

Havia uma expressão vaga que pairava sobre ele, como melancolia. Sophie não estava certa se ele tinha a menor ideia de quem ele era, onde estava ou que diabos estava fazendo, mas estava com essa arma apontada para ela, e parecia determinado a atirar.

Ela viu seu dedo apertar e se debruçou sobre si mesma, cobrindo a barriga enquanto tentava cair para se proteger. O tiro explodiu em todo o espaço, exatamente quando um borrão de movimento chamou sua atenção e Garrett explodiu passando por ela.

Ele voou, literalmente voou pelo ar, os braços estendidos enquanto se jogava na frente do corpo dela.

O som da bala batendo em sua carne era um som que ela se lembraria pelo resto da vida.

— Não! — Ela gritou.

Ela caiu sobre o corpo dele no mesmo momento em que um segundo tiro explodiu no ar. E um terceiro. Ela não olhou para cima.

— Garrett. Garrett!

Ela enfureceu-se com ele, batendo contra o seu colete a prova de balas, na tentativa de fazê-lo responder.

Ele gemeu e rolou de costas, levantando os braços para se defender dela.

— Deus, mulher, você está tentando acabar comigo?

Lágrimas encheram os olhos dela. Raiva inundava seu rosto até as bochechas queimarem com o calor.

— Por que você fez isso? Você é um idiota? — Ela gritou. — Você nem mesmo gosta de mim, Garrett. Como pôde se atirar na minha frente? E se você morresse?

Ela desmoronou enquanto soluços saiam dolorosamente de sua garganta. Abaixou a cabeça e juntou seu grande corpo o mais próximo a ela que podia, enquanto chorava em seu pescoço.

— Por quê? — Ela sussurrou. — Por que fez algo tão estúpido?

A mão dele percorreu delicadamente seu cabelo, e depois ele juntou os fios entre os dedos e puxou cuidadosamente até que sua cabeça se levantou do peito dele e ele conseguiu olhar nos olhos dela.

— Porque é isso que a família faz, — disse ele em uma voz macia e cheia de dor.

 

Sophie olhou para os olhos de Garrett, olhos que estavam vidrados de dor e começando a desvanecer. Calor se espalhou em sua mão, e ela olhou para baixo para ver a palma pressionada na sua. O sangue escorria por entre os dedos e sobre a camisa dele.

— Não. Não, não, não. — A bala o atingiu onde ele não estava protegido.

Ela balançou a cabeça em negação enquanto as lágrimas corriam pelo seu rosto.

— Sophie, querida, pare de olhar para mim desse jeito, — Garrett disse rispidamente. — Vai acabar me convencendo de que eu vou morrer.

— Você não vai? — Ela perguntou com a voz trêmula.

— Estou sofrendo como um filho da puta, mas tenho certeza que nada vital foi atingido. É para isso que servem os coletes.

Ela levantou a mão e engoliu horrorizada diante do sangue pegajoso que cobria a palma de sua mão. Então olhou para Garrett em pânico. Ele estava mentindo para ela?

— Sophie, afaste-se, deixe-me olhar para ele.

Ela se virou para ver Donovan puxando seu braço, o rosto sombrio de preocupação. Permitiu que ele a levantasse, e então tropeçou quando Donovan se debruçou sobre Garrett.

Imediatamente foi envolvida em um abraço feroz. Sam. Ela ficou fraca de alívio.

— Você está bem? Está machucada? Fale comigo, Sophie. Você e o bebê estão bem?

Ele passou as mãos com urgência sobre seu corpo, empurrando, puxando, afastando sua roupa enquanto procurava por evidências de lesões.

Então estendeu a mão e tocou-lhe a têmpora, os dedos se afastando cobertos de sangue. Ela olhou estupidamente para o sangue — o sangue dela. Lembrou-se que sua mão estava doendo. Não sua cabeça. Não tinha registrado que estava sangrando. Olhou para sua mão. Era o sangue de Garrett. Não dela.

— Filho da puta, — Sam praguejou. — Ethan, me dê algo para limpar isso para que eu possa ver o quanto está ruim.

Ele levou-a para o Hummer e a colocou lá dentro. Foi extremamente gentil com ela, quando a colocou na borda do assento. Suas pernas penderam sobre a borda, e ela sentou-se.

Entorpecida. Repentinamente, exausta. Preocupada além da conta.

— Garrett não deveria ter feito isso, — ela murmurou.

Olhou para onde Donovan estava cuidando de Garrett e falando em seu receptor em tons de urgência.

Isso a confundiu. Garrett dissera que isso era o que a família fazia, mas ela não era da família. Certamente não era da família dele. Ou era?

Garrett nem mesmo gostava dela. Ele deveria pensar que ela traiu Sam — traiu todos eles.

As mãos de Sam balançaram quando deslizaram pelos braços dela para agarrar seus ombros. Por um momento, ele segurou-a lá, seus dedos firmes contra a pele. Então, ele abaixou os braços mais uma vez, colheu as mãos nas dele.

Ela gritou e puxou sua mão direita do alcance dele e a embalou protetoramente contra o peito. Manteve seu olhar propositadamente longe dele. Olhou para Garrett novamente e se balançou para frente e para trás, envolvendo os dedos contra ela.

Eles latejavam. A dor movia-se rapidamente por seu braço. Sua cabeça começou a doer muito, e podia sentir o sangue quente deslizando lentamente ao longo de seu ouvido.

Sam observava e se preocupou quando Sophie começou a se esquecer do mundo ao seu redor. Ethan apareceu com um kit de primeiros socorros e Sam pegou uma garrafa de soro fisiológico e algumas ataduras, quando Ethan o abriu.

— Ajude Van com Garrett. Será que o helicóptero está vindo?

— Sim, Resnick está pousando agora.

Sam assentiu e fez sinal para que Ethan se afastasse. Ele nem mesmo ouviu o helicóptero. Estava muito focado em Sophie.

Cuidadosamente limpou o sangue que escorria por sua têmpora e orelha. Ela não parecia registrar o que ele estava fazendo. Seu olhar estava fixo em Garrett à distância.

Quando ele finalmente conseguiu limpar a área, Sam apertou o corte e o inchaço em sua cabeça. Precisaria levar pontos. Esperava que fosse somente isso e que ela não tivesse ferimento grave na cabeça. Ela precisava de transporte também.

Ele tentou afastar o pulso de seu peito para que pudesse olhar para a mão dela, mas ela resistiu, segurando-a, tensa.

— Querida, deixe-me olhar sua mão. Eu preciso ver o quanto está machucada.

Propositalmente manteve a voz em tom baixo e suave. O olhar dela ainda estava focado em Garrett, e outra lágrima rolou por seu rosto.

Seu coração virou no peito. Deus todo-poderoso, ele a amava. Sua pele coçava e arrepiava com a necessidade de segurá-la e confortá-la.

— Soph, deixe-me ver a sua mão, querida.

Ela olhou para ele, finalmente, e então olhou para sua mão, a confusão nublando seus olhos azuis. Lentamente, ela a estendeu, mas manteve-a cuidadosamente apoiada com a outra mão.

Ele estremeceu quando viu os dois dedos inchados e obviamente quebrados. Gentilmente tocou seu pulso e movimentou os outros dedos. Apenas dois estavam feridos. Provavelmente doía muito, mas ele não conseguia discernir quaisquer outros ferimentos. Orou para que ela não tivesse nada interno.

Ele tocou um dedo em seu pescoço para encontrar sua pulsação. Estava um pouco irregular, mas batia fortemente contra as pontas de seus dedos. Sua cor não era muito ruim considerando tudo. Ela estava pálida, sim, mas não mortalmente. Era seu estado mental que estava incomodando-o no momento.

Nem mesmo o som do helicóptero a perturbou. Ela apenas ficou lá, com os olhos vagos, com o rosto empoeirado e manchado de lágrimas.

— Sam, — Ethan chamou. — É preciso levá-la a bordo. Mamãe e Resnick ficarão comigo e com Van. Fomos expulsos. Há lugar para você e Sophie.

Sam a pegou nos braços e cuidadosamente levantou-a da caminhonete. Ela se apoiou inerte contra ele, enquanto ele corria em direção ao helicóptero que os esperava.

Donovan se inclinou para tirar Sophie de seus braços quando Sam chegou.

— Como está Garrett? — Sam gritou.

— Estável, — Donovan gritou de volta. — Estanquei o sangramento e apliquei um curativo compressivo. Está doendo muito, mas ele vai superar.

Sam fechou os olhos e inalou profundamente, aliviado. Graças a Deus.

Donovan agachou no helicóptero e colocou Sophie em um dos assentos, enquanto Sam subia atrás dele. Garrett estava em uma maca no chão, as pernas e um braço imobilizado.

Ele abriu os olhos e olhou para Sam.

— Sophie? — Ele murmurou.

Sam inclinou-se perto do ouvido de seu irmão.

— Ela está bem, eu acho. Graças a você.

Garrett tentou dar de ombros, mas depois empalideceu de dor. Sam colocou a mão no peito de Garrett e olhou ferozmente para o grande homem.

— Obrigado, cara. Nunca poderei retribuir o que você fez para mim. Você salvou... você salvou meu futuro. Você salvou minha vida.

Garrett sorriu levemente. Sua boca funcionou, mas Sam não conseguiu ouvi-lo sobre o rugido do motor. Ele se inclinou mais perto.

— Ela significa muito para você, cara. Eu estava errado sobre ela.

Sam retribuiu o sorriso cheio de dor de seu irmão.

— Eu também estava.

— Todos acomodados? — O piloto gritou.

Donovan pulou da parte traseira e, então, levantou o polegar para o piloto. Sam se movimentou até sentar-se ao lado de Sophie, que ainda olhava para Garrett, entorpecida pelo choque.

Sam se inclinou perto dela, tocou seu rosto, em seguida, percorreu com o nariz, do seu cabelo ao ouvido.

— Ele vai ficar bem, querida, eu prometo.

Pela primeira vez, ela parecia ciente de Sam, e virou seu olhar ansioso para ele. Tentou dizer algo, mas ele não ouviu quando o helicóptero levantou no ar.

Ela olhou novamente para Garrett, tão perto de seus pés. Garrett sorriu. Sam sabia o quanto era difícil, quando era óbvio que ele estava sofrendo, mas ele ergueu a mão livre até Sophie.

Ela a agarrou e Garrett apertou. Ele teria soltado sua mão, mas ela segurou firme e se inclinou para segurá-la entre os joelhos.

— Estou bem, — ele murmurou para Sophie. — E você?

Ela apenas balançou a cabeça, em seguida, fez uma careta e ergueu a mão direita para mostrar os dedos inchados e deformados.

Garrett franziu o cenho em simpatia, mas continuou segurando a mão de Sophie, à medida que pairavam sobre o terreno.

Um pouco da ansiedade e o aperto no peito de Sam se dissiparam, enquanto observava Garrett suavizar em relação à Sophie. Garrett olhou para Sam, e Sam sabia que seu irmão via a mesma fragilidade em Sophie, quase como se estivesse à beira de um colapso completo.

Sam se inclinou e passou os braços em torno dela. Puxou-a para perto e deslizou uma mão para envolver sua barriga. Ele queria sentir o batimento reconfortante de sua filha, mas sua barriga estava imóvel e rígida.

Não queria se preocupar desnecessariamente e não iria gastar energia fazendo isso. Sua filha tinha que estar bem. Sophie tinha que estar bem.

Ele não poderia viver sem nenhuma das duas.

 

Sam sentou-se na cadeira ao lado da cama de Sophie com o pé apoiado na beirada da cama. E simplesmente a observou dormir. Observou as pequenas linhas vermelhas em toda a máquina que monitorava suas contrações, contente que, por agora, tudo parecia bem com sua filha.

Sophie foi picada, cutucada e verificada, mais do que fora ao longo de sua vida. Sam insistiu.

Fez uma tomografia computadorizada e vários raios-X, sua cabeça foi costurada, e sua mão direita tinha um gesso parcial.

O resto da família estava à espera de Garrett sair da cirurgia. A bala não tinha sido completamente limpa. Um fragmento se alojou em seu ombro, e iriam removê-lo.

Sam já havia chamado Sean para obter um relatório sobre seu pai e para deixar que todos voltassem para casa e soubessem que Marlene e Sophie estavam em segurança.

Ele deveria estar se sentindo no topo do mundo. O pesadelo acabou. Resnick e companhia estavam rastejando sobre o complexo Mouton, mas Sam pegou a chave com Garrett, antes que ele entrasse na cirurgia.

O que seria feito com ela agora seria decisão de Sophie. Sam não tiraria isso dela. Ela lutou muito e arriscou tudo para mantê-la longe de mãos erradas. Ele confiava nela para fazer o que fosse certo.

— Sam?

Ele se virou para ver sua mãe em pé, na porta.

— Ei. Entre.

— Eu queria ver como ela estava, mas não queria perturbá-los.

Sam sorriu e fez sinal para que ela entrasse.

— Sophie está dormindo. Provavelmente vai estar inconsciente por um tempo.

Levantou-se, mas ela praticamente o empurrou de volta para seu assento.

— Fique sentado.

Ele pegou a mão dela.

— Como você está, mãe? Realmente.

Ela suspirou e depois sorriu.

— Melhor agora que eu sei que meus meninos estão bem. Ethan falou com Rachel. Ela está aguentando bem. Sean disse que ela tem sido uma rocha para Frank e Rusty.

— Eu conversei com Sean também. Ele disse que papai estava bem melhor. Deve estar pronto para ir para casa quando chegarmos lá.

Marlene colocou a mão no ombro de Sam e apertou.

— Como você está, filho?

Ele ficou em silêncio por um momento, e olhou para Sophie, assistindo a ascensão e queda suave de seu peito.

— Eu a amo, Mamãe. Eu quero que você a ame também.

Marlene sorriu.

— Eu já amo. Como não poderia amar alguém que ama meu filho tão ferozmente? Ela arriscou a vida por mim. É uma mulher muito corajosa.

A dúvida lotou a mente de Sam.

— Espero que ela possa perdoar...

— Perdoar o quê? — Marlene interrompeu.

Sam suspirou.

— Eu não confiei nela no princípio. Não confiei nela no final. Pensei que tinha mentido para mim. E ela sabe disso.

— Antes de se torturar inutilmente sobre algo que pode não ser, espere e pergunte a ela. Acho que as coisas serão muito melhores que você pensa.

Ele sorriu e estendeu a mão para cobrir a dela, que estava em seu ombro.

— Você sempre tem uma maneira de simplificar as coisas e me fazer sentir melhor. Às vezes eu me sinto com seis anos novamente, confiante no conhecimento de que minha mãe pode consertar tudo.

Ela se inclinou e beijou sua bochecha.

— Espero que você nunca perca isso, meu querido. Não conheço uma mãe viva que não queira sempre tentar fazer as coisas melhores para seus filhos, não importa quantos anos eles tenham.

— Haverá mudanças, Mãe. Você precisa perceber isso. Isso... tudo o que aconteceu... mudou tudo. Preciso saber que você e papai estão seguros. Que a família está segura.

Seu sorriso era dolorosamente triste quando olhou para ele.

— Eu sei, Sam. E quero que saiba uma coisa. Quero que saiba o quanto eu e seu pai estamos orgulhosos de você. Mesmo com tudo o que aconteceu, eu não mudaria quem você é e o que você faz, por nada. Às vezes, sacrifícios têm que ser feitos, a fim de tornar o mundo um lugar melhor. Seu pai sempre acreditou nisso, e ele passou esse ideal para cada um de seus filhos. Sim, seu pai vai reclamar e fazer barulhos pelas mudanças, mas ele irá aceitá-las com a mesma graça que sempre aceitou, sabendo que cada um de seus filhos arrisca sua vida todos os dias porque querem tornar o mundo mais seguro.

— Eu te amo. Você sabe disso?

Ela envolveu-o nos braços e o apertou.

— Eu sei, mas é agradável ouvir.

— Eu nem mesmo perguntei sobre Garrett. A cirurgia terminou? É por isso que você está aqui agora?

Ela balançou a cabeça.

— Eles o levaram para a recuperação um tempo atrás. Disseram que eu poderia voltar quando ele começasse a voltar a si, mas acham que demorará meia hora ou mais. Eu queria ver você e Sophie.

— Obrigado. Eu estou bem.

— Eu nem perguntei se você irá trazê-la para casa, — Marlene disse com um sorriso.

— Ela não irá a nenhum outro lugar, nem sobre o meu cadáver, — ele disse rispidamente.

Marlene olhou para o monitor com um olhar melancólico.

— Eu admito, nunca esperei que fosse você quem me desse meu primeiro neto, mas de uma forma, isso se encaixa. Você é o mais velho.

Sam se inclinou para frente.

— Eu não te contei? É claro que não. Como poderia? É uma menina. Eu a vi pela primeira vez no hospital onde meu pai está.

O rosto de Marlene se iluminou.

— Uma menina! Oh, será tão divertido! Ela certamente o terá na palma da mão.

O peito de Sam expandiu, e ele sentiu um aumento da expectativa que fez sua pele formigar. Imaginou uma garotinha loira, de olhos azuis. A cara da mãe.

— As duas terão, — disse ele com voz rouca.

Sua mãe deu uma risadinha.

— Sim, suspeito que você está certo.

Ela acariciou sua bochecha e lançou um último olhar em direção a Sophie.

— Vou voltar para Garrett. Acho que ele estará mais irritado que uma cascavel com fome, quando acordar. Preciso me certificar que ele não assuste as enfermeiras com todos os seus rosnados.

Sam riu e se levantou para abraçá-la. Por um longo momento apenas se apoiou nela. Ela parecia muito preciosa em seus braços. Ele tinha muito a agradecer. Ele devia a vida dela a Sophie.

— Eu posso mandar você para casa, à nossa frente, para que possa voltar para o papai. Ele precisa de você.

Ela abraçou-o ferozmente.

— Agora, meus filhos precisam mais de mim. Não irei para casa sem Garrett. Seu pai ficaria furioso se eu sequer pensasse em ir embora. Ele quer que eu esteja aqui.

Ela se afastou, segurou seus braços e olhou fixamente para ele.

— Eu sei que você está preocupado com Sophie, mas precisa descansar, Sam. Até mesmo algumas horas na cadeira seriam melhor que nada. Você mesmo disse que ela ficará inconsciente por um tempo.

O canto da boca dele se levantou.

— Ok, Mamãe. Irei descansar. Prometo.

Depois de um carinho final em seu rosto, ela se virou e saiu da sala.

 

Sophie abriu os olhos, e a primeira coisa que viu foi Sam largado em uma cadeira ao lado de sua cama, a cabeça inclinada para o lado, no que parecia ser uma posição extremamente desconfortável.

Ela estava do seu lado, a mão engessada descansando no quadril. A outra mão estava dobrada debaixo do travesseiro. Não querendo se mover, ficou deitada lá, observando enquanto Sam dormia.

Ele não a deixou. Durante o percurso de helicóptero, o desembarque, a agitação na sala de emergência, onde fizeram incontáveis exames e o obstetra que a examinou garantiu que a bebê estava bem.

Ele ficou com ela o tempo todo, sua presença constante e tranquilizadora mais reconfortante que qualquer coisa que ela pudesse imaginar. Não trocaram nenhuma palavra. Não tiveram nem um único momento para conversar e agora que estavam sozinhos, ela não conseguia convencer-se a acordá-lo.

Ele parecia exausto.

Cuidadosamente, levou a mão engessada até a barriga. Para sua alegria, a bebê se mexeu, chutou e fez uma pequena cambalhota dentro do útero. Ela olhou para baixo, o peito apertado diante da maravilha de saber que sua filha estava viva e bem.

Quando olhou para cima, ficou surpresa ao ver Sam olhando para ela, seu olhar intenso, quando olhou para sua mão.

— Oi, — ela sussurrou.

Ele tirou os pés da cama e sentou-se inclinado para frente. Esfregou a mão sobre a barba nascendo em sua mandíbula e, em seguida, em seu cabelo, em um movimento cansado.

— Ei você. Como está se sentindo?

Ele deslizou a cadeira para mais perto e colocou a mão em concha sobre a testa dela. Acariciou seus cabelos em um movimento suave, então se inclinou para beijar o rosto dela.

Um leve e oscilante sentimento avançou em seu peito e fugiu em um suspiro ofegante.

— Bem. Ótima, na verdade. Talvez um pouco entorpecida. Eu me sinto quase desencarnada. Suponho que soa estranho. Sinto como se estivesse em algum lugar muito alto. Distante da realidade.

Ela abaixou o olhar, envergonhada por balbuciar.

— Faz todo o sentido, — ele disse suavemente. — Você passou por muita coisa. Tem todo o direito de se sentir um pouco fora do ar. Fico feliz que não esteja ferida. É a nossa pequena se movendo? Vi sua mão pulando um pouco quando a colocou sobre sua barriga.

Ela sorriu e, em seguida, alcançou a mão dele timidamente. Bateu desajeitadamente os dedos contra o gesso, mas o agarrou e o guiou até sua barriga.

O rosto dele se iluminou, e de repente seu olhar cinzento e cansado se animou, enquanto ele olhava com espanto para sua mão.

— É tão incrível. Eu me pergunto o que ela pensa do mundo ao seu redor. Se eu fosse ela, iria querer ficar dentro de sua mãe, onde estaria segura, para sempre.

— Como Garrett está? — Sophie perguntou, hesitante.

— Está bem. Terminou a cirurgia. Minha mãe saiu há um tempo atrás. Eles removeram um fragmento da bala de seu ombro. Ele provavelmente está reclamando com eles, agora.

— Graças a Deus. Estava tão preocupada. Não poderia conviver comigo mesma se ele morresse.

Sam moveu a mão da barriga dela e tocou seu rosto. Seu polegar roçou seus lábios, e ele olhou para ela com tanta emoção em seus olhos que sua barriga se apertou.

— E eu não poderia viver comigo mesmo se você tivesse morrido, Sophie.

Seu peito doeu. Ela não conseguia respirar.

Ele se afastou e depois enfiou a mão no bolso. Estendeu a outra mão para seus dedos, abriu-os e depois trouxe a mão do bolso e colocou algo na palma de sua mão. Ela olhou para baixo para ver a chave que deixou cair no bolso de Garrett.

Prendeu a respiração e olhou para o pedaço de metal brilhante em sua mão. Então olhou para Sam, em busca de uma explicação.

Ele fechou os dedos dela sobre a chave e olhou atentamente para ela.

— Você decide, Sophie.

Calor viajou até seu corpo e acondicionou-se em torno de seu coração.

Ela abriu a boca para responder, mas uma batida soou na porta. Para sua surpresa, Adam Resnick enfiou a cabeça, mas ele não fez qualquer movimento para entrar. Sam olhou para ela e esperou.

— Entre, — ela chamou em voz baixa.

Ele tinha um cigarro apagado metido entre os lábios e as mãos enfiadas nos bolsos quando empurrou a porta, para entrar.

— Sophie, — disse ele ao redor do cigarro, e, em seguida, como se lembrasse que o cigarro esta lá, apressadamente estendeu a mão e arrancou-o de sua boca.

— Como está se sentindo?

— Bem. Talvez. — Ela riu um pouco. — Ainda não tenho certeza.

Resnick assentiu.

— Não a incomodarei por muito tempo. Eu só queria ver como você estava. — Hesitou por um momento, olhou para Sam e depois se concentrou nela. — Queria agradecer-lhe.

Os olhos dela se arregalaram de surpresa.

— Agradecer-me? Eu não fiz nada.

— Você fez mais do que pensa. A rede de seu pai está desmoronando enquanto conversamos. Capturamos dezenas de seus seguidores. Ele e seu tio estão mortos. É apenas uma questão de tempo antes que desmontemos seu sistema.

Ela olhou para sua mão, sentiu a impressão da chave. E sabia o que precisava fazer. Sam lhe deu a escolha. A liberdade de colocar sua confiança em quem ela queria. Ela confiava nele. E agora confiaria em Resnick para fazer a coisa certa. Como Sam confiava nela.

Lentamente, levantou a mão e estendeu-a em direção a Resnick. Deixou os dedos se abrirem para revelar a chave.

Resnick olhou para ela, com o cenho franzido.

— Pegue, — ela disse com a voz rouca. — Você encontrará o cofre embaixo da casa de meu pai, no México. Dentro dele está tudo o que transformou Alex Mouton em quem e o que ele era. Sua riqueza. Seus contatos. E se ele estava lidando com armas nucleares, tudo isso estará lá.

Cuidadosamente relatou os fatos relacionados que contara a Sam, quando conversaram pela primeira vez sobre a chave. Resnick a interrompeu no meio e tirou seu BlackBerry[16]. Digitou furiosamente enquanto ela ditava.

Quando ela terminou, Resnick olhou para ela com admiração e gratidão refletidas naquelas piscinas negras que eram seus olhos.

Enfiou a mão no bolso da camisa e tirou o que parecia ser um cartão de visita. Mas quando o entregou a ela, ela viu que tinha um único número de telefone escrito em tinta, em toda a superfície.

— Se houver qualquer coisa que eu possa fazer, você só precisa ligar.

Ela olhou para o cartão entre os dedos. Um grande peso foi tirado de seus ombros. Acabou. Realmente acabou. Seu pai estava morto. Seu tio estava morto. Qualquer um que poderia prejudicá-la, ou a sua filha, tinham desaparecido.

Ela estava segura.

— Vou deixá-la descansar, — Resnick disse em voz baixa.

Ela olhou para cima quando ele se virou para Sam e estendeu a mão. Sam se levantou e sacudiu-a com firmeza.

— Obrigado, — disse Sam. — Eu lhe devo agora.

Resnick balançou a cabeça.

— Não. Isso nunca. Manteremos contato.

Sam assentiu e Resnick saiu pela porta. Quando foi embora, Sam inclinou-se e apertou os lábios na têmpora dela.

— Estou tão orgulhoso de você, — ele murmurou.

Ela virou-se para que seus olhos se encontrassem e suas bocas estivessem a apenas um sopro de distância.

— Obrigada, — ela sussurrou.

Ele arrastou o dorso da mão por sua bochecha, e ela ficou impressionada com a intensidade de seu olhar. Ele estava tão concentrado nela, que se fosse outro homem, ela juraria que sua expressão significava que estava olhando-a com todo o amor existente em seu coração.

— Fiquei sentado aqui observando enquanto você dormia, revendo o que eu queria lhe dizer. E então percebi o quanto eu precisava dizer. Pensei que precisamos conversar sobre tantas coisas. Pensei e repensei.

Ele virou a mão e espalmou seu rosto. Seu dedo traçou os lábios dela, em seguida, traçou o formato de sua boca.

— Mas então, percebi que toda conversa do mundo não mudaria um único fato. Não o esclareceria, não o tornaria melhor ou pior. Não mudaria o que é.

Ela olhou para ele, seu coração batendo tão forte que podia sentir seu sangue pulsando, ouvi-lo rugindo em seus ouvidos.

— Eu amo você, Sophie. Não sei dizer em que momento eu me apaixonei por você. Talvez tenha sido a primeira vez em que olhei através daquele bar no México e você estava lá. Talvez tenha sido a primeira vez em que fizemos amor. Ou talvez, quando vi você lutando por nossa filha. E depois por minha mãe. Não importa. Eu te amo. É isso. Isso é tudo. Espero que seja o bastante.

Seu coração apertou. Ela sempre tentou imaginar como seria ouvir essas palavras. Saber que era amada. Nada se comparava. Era tanta alegria. Machucava. Não machucava, mas sentiu-se pequena demais para sua pele, como se fosse explodir.

— Eu também te amo.

Sempre imaginou que aquelas três palavras seriam tão difíceis de dizer. Mas era tão fácil, tão libertador. Era a sensação mais maravilhosa do mundo.

Sam sorriu, e sua voz soou áspera e um pouco rouca.

— Eu sei que você me ama, querida. Deus, eu sei. Você provou seu amor tantas vezes. Mas obrigado por dizer. Eu precisava ouvi-la dizer.

Seus cotovelos estavam na beira da cama agora, e seus rostos estavam tão perto que ela poderia ouvir cada uma de suas respirações. Podia sentir o seu nervosismo e sua incerteza, e se maravilhava que pudesse fazer isso com ele. Que pudesse fazer este homem de ação, ficar hesitante, mesmo por um momento.

Ele puxou sua mão, de onde descansava sobre sua cintura e deixou-a descansar sobre a palma de sua mão. Colocou a outra mão por cima e esfregou o dedo nas costas de sua mão.

— Responda-me uma coisa, Sophie. O que você quer? O que mais deseja no mundo?

Havia vulnerabilidade nessa pergunta. Ele estava com medo que ela quisesse algo além dele? Fora de seu alcance?

— Quero que sejamos uma família, — ela disse suavemente. — Só quero que sejamos uma família. Quero que você ame a mim e a nossa filha. Quero amar você. Eu sempre te amarei, Sam. Nunca irei te trair.

Um pouco da tensão fugiu de sua expressão. Seus olhos queimaram. Azuis, profundos e intensos.

— Você terá uma família, querida. Não terá somente a mim e a nossa filha, mas terá irmãos. Uma irmã. Você irá adorar Rachel. E ainda há Rusty.

Diante de sua careta, Sam sorriu.

— Não se preocupe. Ela é um pé no saco para todos. Você terá uma mãe e um pai. Eles são os melhores e amarão cada pedacinho de você, tanto quanto eu.

Ele se inclinou e beijou-a, seus lábios derretendo sobre os dela, no mais doce dos toques.

— E você terá a mim. Sempre.

Seu estômago afundou, e ela imaginou que era como andar em uma montanha russa. Ou voar. Voltada para o sol, andando tão alto que quase não conseguia ver o chão.

Ela queria rir. Queria fechar os olhos e saborear este momento para sempre.

Estava livre. Finalmente livre.

Livre para amar. Livre para viver sua vida do jeito que queria.

Livre para escolher.

— Eu escolho você, — ela sussurrou.

Ele sorriu e beijou-a novamente. Entre eles, sua filha se mexeu mais uma vez, depois aquietou como se não quisesse perturbar o momento precioso entre seus pais.

— E eu escolhi você, Soph. Sempre você.

— Eu não sei como viver uma vida normal, — ela admitiu. — Não sei como é não sentir medo. Eu nunca vivi sem sentir medo.

— Eu não posso oferecer o normal, — disse ele. — Mas posso prometer que nunca terá que sentir medo novamente. Eu sempre estarei aqui para proteger você e nossa filha. Não só eu, mas toda a minha família.

— Estou com medo. — Então, ela riu. — Viu? Não sei como não ter medo. E se eu estragar tudo?

Ele tocou seu nariz, os olhos sérios, e suavizados com amor.

— Eu a ajudarei. Viveremos um dia de cada vez. Confie em mim, Soph. Confie em mim para amá-la e fazê-la feliz.

Ela descansou o gesso em seu ombro e se inclinou para ele até que suas testas se tocaram.

— Um dia de cada vez. Acho que posso seguramente fazer essa promessa.

 

Sophie nunca se cansava da vista do cais de Sam. Sentou-se na beirada, balançando os pés na água, enquanto o sol deslizava abaixo no céu. Com sua barriga protuberante tornava difícil sentar-se muito para frente, então, ela se inclinou para trás, apoiando as palmas das mãos sobre a madeira aquecida pelo sol, e virou seu rosto para cima.

Fazia três semanas que estava aqui com Sam. Três semanas, que voltaram de West Texas. Levou um tempo para tudo se acomodar. Teve muito tempo para pensar durante essas semanas. Os momentos de silêncio foram bons para sua alma, mas também lhe deram tempo para dúvidas.

Esfregou um ponto em sua barriga, onde estava convencida que um pé pequeno empurrou e depois se deslocou para aliviar seu desconforto. Seus pés chutaram para cima e mandaram gotas deslizando em toda a superfície da água.

— Ei, Soph.

Ela olhou para cima, protegendo os olhos com uma mão, para ver Sam em pé atrás dela, as mãos enfiadas nos bolsos das calças de brim.

— Se importa se eu sentar?

Ela sorriu e deu um tapinha na madeira desgastada ao seu lado. Ele se agachou e, em seguida, manobrou as pernas sobre a borda do cais. Foi então que notou que ele estava descalço e seu jeans estava enrolado sobre os tornozelos.

Ele não disse nada, mas tinha sido extremamente paciente com ela durante seus longos períodos de silêncio reflexivo. Parecia entender que ela estava se esforçando para chegar a um acordo com tudo o que aconteceu.

Sentaram-se lado a lado, os pés fazendo ondulações na água. Ela colocou as palmas das mãos para baixo e enrolou os dedos sobre a borda do cais. Tentou fazer sua voz soar casual, como se estivesse embarcando em uma simples conversa.

— Você já se preocupou em ser um bom pai?

Como se pego na mesma preocupação que ela tanto tentava esconder, ele se virou e levantou a cabeça, seus olhos se estreitando.

— O tempo todo.

Ele pegou a mão dela e entrelaçou seus dedos.

— Eu também me preocupo, — ela admitiu. — Muito é feito através da natureza versus a criação, mas no meu caso, nenhuma das duas é boa opção. Onde isso me deixa? Como posso ter certeza que não me tornarei um monstro como meu pai? Sei que parece bobagem, mas então me lembro que atirei em meu pai a sangue frio.

Ele puxou-a para o abrigo de seu braço e colocou um beijo ao lado de sua cabeça.

— Você já pensou que você será dez vezes a mãe de alguém por causa da sua educação?

Ela balançou a cabeça.

— Eu me preocupo muito. Em alguns dias me convenço que garantirei que nossa filha nunca duvide, nem por um minuto, do quanto eu a amo. Outros dias eu me preocupo por que posso estragar a vida dela para sempre.

Sam riu.

— Bem-vinda à maternidade, meu amor. Eu acho que não existem pais vivos que não tenham os mesmos medos, não importa como foi sua criação.

Ela deitou a cabeça em seu ombro e absorveu seu calor e força.

— Você acha isso mesmo?

— Eu sei disso. Você deve conversar com Mamãe. Ela jura muitas e muitas vezes que ela ferrou tudo tantas vezes, que se admira que qualquer um de nós acabou normal. Papai argumenta que não somos normais e que é tudo culpa dela.

Sophie riu e gostou do alívio em seu peito. Ela relaxou e olhou sobre a água, absorvendo a beleza do dia perfeito. O sol começava a se pôr, e faixas cor de rosa e douradas pintavam o horizonte.

— Você sabe o que eu lamento?

Os braços de Sam se apertaram em volta de sua cintura.

— O que?

— Que nunca faremos todas as coisas normais que um casal faz. Você sabe. Sair para namorar. Ver filmes idiotas. Sair para dançar. Eu costumava sonhar que estava dançando em uma sala lotada, na véspera do Ano Novo. Como uma espécie de conto de fadas. — Ela sorriu quando sua fantasia de infância tornou-se viva em sua mente. — Eu e o Príncipe Encantado valsando, enquanto uma chuva de confete caía sobre nós, e todos os ruídos e brindes à meia-noite.

Ela foi tirada de seu devaneio quando Sam se afastou e ficou de pé. Olhou para ele, surpresa, se perguntando se o deixou irritado com suas tolas divagações.

Mas ele simplesmente parou em frente a ela e estendeu a mão.

Ainda confusa, ela estendeu a mão e o deixou ajudá-la a ficar de pé. Então ele puxou-a para seus braços e apertou seu rosto contra o dela.

Seu corpo se movia lento e sensual contra o dela. Em um círculo solto, ele os virou, balançando ao ritmo do vento.

Ela suspirou e fechou os olhos. Deus, como amava esse homem.

— Case-se comigo, Sophie, — ele sussurrou perto de seu ouvido.

Ela enrijeceu e se afastou, o choque fazendo-a ficar de boca aberta.

Ele sorriu suavemente e beijou-lhe a boca aberta.

— Não deveria chocá-la o fato de querer casar com você.

— E-Eu... — Ela parou desajeitadamente e piscou furiosamente, enquanto as lágrimas a ameaçavam.

— Case comigo, — disse ele novamente. — Diga que envelhecerá comigo, que terá uma dezena de crianças comigo. Que você ama cada pedacinho de mim, assim como eu amo você.

— Você tem certeza? — Ela sussurrou.

Ele descansou sua testa contra a dela e envolveu os braços a sua volta, até que estava moldada apertadamente ao seu corpo. O bebê chutou como se protestasse, e ambos olharam para onde a filha repousava.

— Nunca estive mais certo de nada na minha vida. Eu te amo, Soph.

— Eu também te amo, Sam. Muito. E sim. Eu me casarei com você.

Ele sorriu e ela sentiu um tremor através de seu corpo. Ela ficou maravilhada com o fato de que ele parecia tão feliz com sua resposta. O rosto todo iluminado.

— Dance comigo.

Ela derreteu em seus braços enquanto ele os girava. Eles dançaram enquanto os últimos raios de sol caíam no horizonte. Eles dançaram ao som das ondas suaves batendo na costa. Eles dançaram até as estrelas brilharem fortemente e a lua respingar sobre a superfície da água como prata líquida.



 

[1]Termo militar para múltiplas coisas erradas numa situação. Encrenca.

[2]Analgésico, componente principal do ADVIL, mundialmente conhecido.

[3]Sutiã conhecido como sutiã da vovó.

[4]Dolphin – golfinho, em inglês.

[5]Utilitário esportivo, SUV (Sport UtilityVehicle)

[6] Verdade ou Desafio. É um jogo que exige no mínimo dois participantes e é muito popular entre adolescentes e crianças, mas também é jogado por alguns adultos e idosos. Os participantes sentam em uma roda e um pergunta ao outro "Verdade ou Desafio?". O outro pode escolher entre as duas opções. Se o jogador escolher "verdade", ele terá de responder com sinceridade a uma pergunta do primeiro. Se o jogador escolher "consequência", ele deve se sujeitar à imaginação dos outros jogadores. O tipo de consequência varia desde um desafio físico ou algo psicológico.

[7] Um jogo onde o jogador gira uma garrafa e beija quem a garrafa apontar.

[8] Armário embutido ou quarto de vestir anexo ao dormitório, onde se guardam roupas, peças íntimas e calçados.

[9] Nome de um episódio do seriado Happy Tree Friends.

 (coment. da Gisa: Eu adoroooooooo esses bichinhos!!!!)

O episódio citado é esse: http://www.youtube.com/watch?v=NnO2HDb2s3E&feature=related

[10] Medicamento anti-inflamatório, analgésico e antipirético.

[11] Ressuscitação Cárdio Pulmonar.

[12] Sonda que envia e recebe ondas sonoras e faz parte do aparelho de ultrassonografia.

[13] Kevlar é uma marca registrada da DuPont para uma fibra sintética de aramida muito resistente e leve. Trata-se de um polímero resistente ao calor e sete vezes mais resistente que o aço por unidade de peso. O kevlar é usado na fabricação de cintos de segurança, cordas, construções aeronáuticas, velas, coletes à prova de bala, linha de pesca, na fabricação de alguns modelos de raquetes de tênis e para fitas de alguns modelos de pedal de bumbo.

[14] Game of Chicken. É um conflito, onde as duas partes resistem a render-se e o pior acontece. O nome de frango tem sua origem em um jogo onde dois motoristas dirigem em direção ao outro em rota de colisão. É preciso desviar ou ambos correrão o risco de morrer no acidente, mas o motorista que desviar primeiro será considerado um frango, que na gíria americana significa covarde.

[15]OHummeré um veículo da General Motors. Ele foi desenvolvido a partir do HMMWV, originalmente um veículo de guerra que acabou caindo no gosto dos consumidores norte-americanos e virou sucesso de vendas entre as SUVs.

[16] O BlackBerry é um aparelho celular que possui funções de editor de textos, acesso à Internet, e-mail. É o aparelho que deu origem à categoria dos smartphones.

 

                                                                                            Maya Banks

 

 

                      

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