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Ilha de Alamus, Creta, Grécia, dias atuais...
Petrus dormia em sua cama, em um sono agitado, fazendo-o suspirar e reviver suas lembranças. Um sonho tão vívido que quase podia sentir o gosto dela em seus lábios. O gosto de Sami.
Na sua mente, surgia a imagem da mansão na Alemanha e o momento que ele se zangou com Sami por mentir para ele e ser desbocada.
Petrus rosnou e saltou sobre ela na cama, derrubando-a contra os travesseiros e tomou sua boca em um beijo.
Viu o doce momento em que Sami deixou de lutar contra ele e se entregou, retribuindo o beijo selvagem e soltando um gemido afogado em sua boca.
Petrus devorou sua boca em um beijo intenso, forte e que destruiu todos os pensamentos coerentes de Sami. Quando soltou de sua boca, ambos estavam ofegantes e com o corpo quente, coração batendo descompassado no peito, confusos.
Ficaram se olhando, aturdidos.
— Por Zeus, mulher... — ele sussurrou.
Ele tinha saboreado o paraíso e podia ver a confusão estampada em seus olhos. Depois lhe deu um beijo suave, roçando seus lábios nos dela, sentindo sua suavidade, como estavam quentes e úmidos, desejando mais.
Então ele viu o desejo em seu olhar.
— Deixe-me cuidar de você, Sami. Eu a quero muito.
— Mas eu não quero você, não sou uma de suas prostitutas.
Petrus gemeu, caiu para o lado na cama e não conseguia respirar, estava ofegante.
Ele olhou e sua barriga estava ensanguentada. Sami o tinha esfaqueado.
Petrus sentou na cama, puxando o ar com dificuldade para seus pulmões. Com o corpo molhado de suor, confuso, tocou a si mesmo para ver se estava ferido, mas não havia nada.
Era um sonho, somente um sonho imbecil e ele caiu sobre o travesseiro com os olhos fechados.
— Maldita mulher — sussurrou.
Ele tentou dormir novamente, mas as sensações do sonho estavam muito presentes e era tão forte que sua pele parecia estar formigando e o sabor de seus lábios parecia queimar sua boca.
Com um rosnado, ele levantou da cama e depois saltou pela varanda de seu quarto, caindo na varanda de baixo, uma imensa, construída em pedras de mármore, que dava para a praia.
Ele saltou para a areia da praia que havia ali embaixo e mergulhou no mar.
A água fresca aliviaria sua mente e seu corpo, que queria saciar o desejo reprimido.
Ficou ali, boiando, se acalmando e olhando para o céu estrelado. A noite estava muito calma, com a magia da noite banhando sua ilha, mas sua alma e seu coração estavam tempestuosos.
Ele queria Sami, mas suas novas responsabilidades não permitiriam. Ele a tinha tido em suas mãos, mas ela tinha partido.
Ele tinha lutado contra si mesmo para deixá-la partir.
Onde ela estaria agora?
O que ela estava fazendo nos Estados Unidos?
Sem ele.
Arizona, Estados Unidos, dias atuais...
Sami abriu a porta daquele bar de beira de estrada como se fosse dona dele.
Vestindo uma calça de couro colada e uma regata preta que emoldurava seus seios, com várias pulseiras de couro nos punhos e mascando um chiclete.
Ela parou e olhou ao redor, chamando a atenção para si.
Calmamente, ela fez uma bola com o chiclete e estourou, então, rebolando seu traseiro, andando como uma predadora, foi até o balcão, desfilando sobre o salto fino e alto de sua bota.
Quando chegou ao balcão, se escorou e piscou um olho carregado com uma maquiagem preta, cílios postiços e um delineador que deixavam seus olhos felinos, para o barman tatuado, que veio atendê-la.
— O que vai querer, doçura? — ele perguntou.
— Uma cerveja.
O garçom serviu a cerveja e ela bebeu um gole, olhando ao redor, com os olhos afiados, procurando.
— Ei, gata, como vai? — disse um rapaz musculoso que se aproximou, com uma caneca de cerveja na mão e um sorriso no rosto.
— Olá — Sami respondeu.
— Procurando alguma coisa interessante para esta noite?
Ela olhou para o homem, que além de lindo era quente em seu jeans apertado e sua camiseta colada, escondendo várias tatuagens que ornava seus músculos.
— Quem sabe, talvez eu queira morder esta noite.
— Gosta de morder?
— Depende do que há entre meus dentes — disse dengosa.
— Seus dentes são afiados?
— Oh, querido, nem sabe o quanto...
Ilha de Alamus, Creta, Grécia, dias atuais...
Petrus estava em uma das tantas varandas que rodeava sua mansão, que ficava no topo de um rochedo e, ali, ele podia ver quase toda sua ilha. Sua casa era construída no estilo antigo com toques modernos
e imensas portas de vidro por todos os lados.
Era toda branca com telhado cor de tijolo e floreiras coloridas, principalmente vermelhas. Os pisos eram de mármore branco e havia muitas estátuas em pedra entre colunas gregas clássicas, representando
figuras mitológicas gregas.
Ele olhava para sua ilha, atentamente, vendo os movimentos dos lobos em suas atividades com seus pequenos comércios ou preservando a limpeza de seus jardins.
O lugar era realmente magnífico.
À sua esquerda podia ver uma parte da Ilha de Creta com a saliente península onde habitavam mais de seus lobos. À sua frente, um tanto distante, um grande transatlântico, arrebatado de turistas do mundo
todo, se locomovia.
E ninguém sequer imaginava a sua existência.
Logo abaixo dele havia uma varanda coberta com altas colunas em forma de arco que cobria uma sala aberta ricamente decorada com vários sofás, mesas de centro, tapetes persas e belas obras de artes nas
paredes e na qual era banhada por uma piscina longa e estreita que a atravessava.
A piscina saía de dentro da sala e se estendia pela varanda e ia até a beira do pequeno penhasco, terminando em uma borda infinita, que para quem estivesse nela, a vista se misturava com o horizonte.
Aquele mar deslumbrante, que se misturava com o céu azul, dava a cálida sensação de pura magia do universo.
Havia uma calmaria ali. A ilha já estava passando do luto que foi acometida e nos olhares tristes e revoltosos de todos os lobos que restaram, o que fazia o vazio no peito de Petrus aumentar.
Mas, como sempre, o tempo abrandava as feridas e o seu povo começava a aceitá-lo e não temê-lo. Conversavam com ele e aceitavam seus conselhos e ajuda quando precisavam. O elo entre ele e seus lobos estava
se formando de forma branda, como era o certo.
Aquele era o seu lar, havia nascido e crescido ali, e tinha aprendido o que não queria para a sua vida. Tinha aprendido como devia ser um alfa, um lobo a ser temido, como seu pai ensinava, mas a questão
era que ele não desejava ser temido, queria ser respeitado, admirado e justo.
De certa forma, estar em casa novamente, depois de tudo que havia passado com suas experiências escabrosas no cativeiro, com a luta incessante de salvar lobos e com a inoportuna guerra com seu próprio
pai e irmão caçula, lhe dava outra perspectiva de vida, pois agora ele era o alfa antes do tempo que desejava e comandava aquela alcateia.
Ele era o alfa de Alamus.
E seria bom.
Petrus sempre fora apaixonado pela vida, pela aventura, sempre dera muita importância para as amizades, para a família, mesmo que a sua fosse difícil.
Aquela natureza deslumbrante enchia sua alma de força, porque ali estava livre para viver, correr, liderar e buscar sua felicidade.
Nunca mais queria estar preso novamente, impotente, à mercê dos humanos. Isso lhe enchia de horror. Ele fechou os olhos por um momento e se lembrou de quando foi preso nos laboratórios em Hesse, na Alemanha,
no ano de 2005, juntamente com a alcateia de Noah.
Petrus rosnou e saltou em forma de lobo sobre o mercenário que agredia Harley.
Petrus e Harley haviam sido colocados em uma sala diferente dos outros, não sabia onde estava Noah e agora tinham sido levados a este ambiente mais hostil do que as jaulas anteriores.
Ele não sabia se havia mais alguém de sua espécie ali, mas sabia que tinha que se livrar daquelas correntes e salvar seu irmão.
O efeito das drogas que o tinham deixado apagado, quase tinha passado e ao tomar consciência e se ver acorrentado a uma parede por fortes grilhões e correntes era demais para aturar.
Harley também estava dopado por causa dos tranquilizantes e não estava conseguindo se defender das agressões que sofria, pois também estava acorrentado a outra parede, mas seu lobo não recuava e isso poderia
causar sua morte.
Na forma Dhálea, a forma intermediária entre humano e lobo, no qual possuía as características de ambos, Harley era muito forte e até mesmo aterrorizante, mas desorientado e fraco como estava, estava vulnerável
contra tantos homens o agredindo.
Petrus se debateu contra suas correntes e quando se transformou em lobo conseguiu soltar os grilhões e atacou. Um erro dos humanos ao prendê-lo. Não haviam colocado a coleira, o que impedia que se transformasse
de humano a lobo por causa da forca, mas as patas, ah estas sim, poderiam se soltar dos grilhões quando passava de humano a lobo por causa do tamanho.
Com seus dentes afiados atacou o pescoço de um dos homens, arrancando ferozmente uma parte dele, deixando-o morto no chão.
Depois rosnou ferozmente quando viu outro homem bater no rosto de Harley com a coronha de um rifle, fazendo-o levar um severo corte que atravessou seu rosto e tombar no chão.
Petrus rosnou e saltou mais de dois metros de distância e dois metros acima do chão. No meio do salto, se transformou em sua forma Dhálea e suas longas garras cruzaram o ar e decapitaram o homem.
Com uma raiva desenfreada, ele matou mais dois guardas que já estavam na sala e mais dois que entraram correndo com rifles de tranquilizantes que atiraram diversos dardos pelo seu corpo.
Petrus era muito forte e um dos lobos que mais tempo conseguia permanecer na sua forma intermediária e estava com sua raiva muito aflorada e depois de estraçalhar todos eles, arrancou as correntes que
prendiam Harley na parede.
Ele pegou Harley desacordado nos braços e o objetivo era sair dali, mas a única passagem para sair daquele pavilhão metálico, cinzento e frio foi bloqueada por uma pesada porta que se fechou automaticamente,
antes que ele conseguisse correr e passar por ela.
Os dois ficaram presos novamente naquela maldita jaula gelada.
Petrus rosnou e bateu uma e outra vez contra a porta com seu ombro, mas viu suas esperanças acabarem quando sentiu suas forças diminuírem novamente quando o efeito dos tranquilizantes começou a fazer efeito
e um gás começou a sair de pequenos orifícios da parede... Mais tranquilizantes.
Petrus rosnou, soltou Harley no chão e tentou juntar o máximo que podia de sua força, a força de seu lobo, se jogando contra a porta metálica tentando arrombá-la.
Tentou bravamente e a grossa porta começou a entortar, mas ele foi perdendo suas forças por causa dos tranquilizantes que invadiam seu sistema e ele caiu, levantou e caiu novamente.
O desespero tomou conta dele e sabia que a oportunidade de fugir tinha passado, sem chances. Petrus sentiu seu mundo ruir e se arrastou até Harley e lamentou o rosto destruído de seu irmão e a última coisa
que se lembrou foi dos momentos felizes que tinham tido na véspera, na antiga vila irlandesa, na alcateia de seu amigo Noah.
Noah havia feito uma bonita festa para recebê-los, com muita carne assada em fogueiras montadas no chão, música e dança. Podia ainda ouvir as gargalhadas felizes dele quando contou que Laila, sua fêmea,
estava prenhe de seu filhote, seu herdeiro.
Petrus podia se lembrar do maravilhoso céu estrelado da Irlanda, mágico e poderoso, que banhava aqueles bosques místicos que o faziam se sentir vivo e ligado de uma maneira forte à natureza e a magia de
sua espécie.
Mas era uma boa lembrança, pois agora estavam presos e ninguém viria por eles.
Ele sentiu vontade de chorar e seu ódio o dominou e, antes que suas vistas escurecessem, ele jurou que um dia fugiria e não seria preso outra vez, nunca mais.
Ele seria o dono de sua vida e de suas vontades.
Petrus piscou algumas vezes, afastando aquelas dolorosas lembranças, que frequentemente tomavam sua mente.
Ele queria esquecer, mas era algo forte demais, com cicatrizes muito profundas para serem simplesmente apagadas. Ele e Harley tinham sofrido, mas soube de torturas e sofrimentos de seus amigos que foram
piores.
Cada um tinha que lidar com sua dor da maneira que podia, afinal, eles tinham sobrevivido e todos precisavam continuar suas vidas.
Tinha ido visitar seus amigos na Irlanda, e então tinham sido atacados e presos. Num momento era livre e tinha tudo, no outro estava preso e não tinha nada.
Ele nunca tinha visto algo assim.
Sabia que, ao longo dos séculos, os lobos foram caçados por todo o mundo e por todas as épocas, de todas as maneiras, por armas de fogo, tochas, lanças, flechas, machados e armadilhas.
Porque o humano não os entendia e os temia, e o primeiro impulso do ser humano quando não entendia algo era destruir.
Mas agora em pleno século XXI, onde pensou que estariam livres de tais perseguições às bestas do demônio, monstros selvagens e tantas outras denominações que receberam pelos humanos ao longo dos séculos,
foram capturados brutalmente.
E pior, para servir de cobaia para experimentos, para que os humanos bastardos estudassem sua mágica, para criarem suas ilusões de imortalidade, de rejuvenescimento, para descobrir cura de doenças que
eles eram imunes, saber como podiam se regenerar com tanta rapidez de cortes, machucados e fraturas.
E como podiam viver tantos anos.
Eles queriam a mágica, mas eles não poderiam ter, porque se havia uma coisa que os lobos não faziam, era vender-se em troca de liberdade.
Os lobos tinham honra e um intenso senso de responsabilidade e proteção de sua raça e isso era quase inquebrável.
Quase, porque Joan e Galen tinham quebrado em partes. Tinham vendido sua própria espécie para os humanos, mas, por fim, não tinham contado seu valioso segredo, pelo menos que eles soubessem.
Nenhum lobo havia contado que se poderia transformar um humano em lobo através de duas mordidas e o recito de um encantamento antigo celta.
Os humanos não mereciam isso, então a mágica não seria passada.
Petrus nunca tinha visto tanto horror na vida, tantas vidas de sua espécie torturadas e mortas. Tanta maldade. Como se eles não fossem nada. Nunca havia sido tão humilhado e estado tão impotente na vida.
Mas ele tinha orgulho de ser o que era, todos os seus amigos tinham.
E por sua ânsia de estar sempre o mais longe possível de sua alcateia, de seu pai e seu irmão mais novo, pois não se davam bem, ficar longe daquilo tudo que ele não queria assumir e viver, ele tinha ido
com Harley para outra viagem, só que, desta vez, tudo tinha sido um pesadelo.
Mas tudo tinha passado. Agora ele estava vivendo uma nova fase de sua vida. Agora ele era o Alfa de Alamus.
Petrus suspirou e esfregou o peito onde havia feito a tatuagem “Freedom”, que significava liberdade. Tinha-a feito logo que foram libertos e chegaram à Oldemburgo, na Alemanha, e ele tinha feito um juramento
de nunca mais ser cativo outra vez.
Mas havia muitas maneiras de se estar cativo.
Agora estava livre e parecia uma praga, pois estava de volta em Creta, era alfa e estava encurralado naquele maldito acasalamento com uma loba que nunca tinha visto na vida. Preso em uma chantagem.
A vida podia ser uma merda, às vezes.
Ele tomou outro gole da sua cerveja gelada, entrou na casa e andou descalço sobre o tapete felpudo da sua sala de estar, vestindo somente uma calça de pijama de seda negra.
Sua casa parecia tão vazia agora, sem seu pai e Lucas.
Era tarde da noite, mas ele nunca sentiu tanto silêncio naquela casa. Talvez agora pudesse chamar aquilo de lar, mas ainda faltava algo.
Ter matado seu pai naquela luta, na Ilha dos Lobos, tinha sido tão insano, mas ele tinha provocado e podia ser errado, o que fosse, podia doer em seu coração e maltratar sua alma, mas Petrus tinha seus
princípios e não iria contra eles.
Seu pai estava louco e tinha cometido uma insanidade contra inocentes e seus próprios filhos e mereceu a morte.
Se ele foi o miserável que teve que fazer isso, pois bem, viveria com isso. Mas seu pai tinha deixado seu legado para ferrar com sua vida.
Seguiria adiante como era seu destino e se acasalaria com a filha de Enrico Scopelli e o resto teria que ficar para trás.
De certa forma, eles podiam ter aprisionado seu corpo, novamente, mas nunca sua alma.
Ele arrancaria a cabeça de quem tentasse.
Berlim, Alemanha, dois anos antes...
Sami soltou sua bolsa sobre o sofá e sentou, esfregando o rosto. Teve que arrombar a porta de seu apartamento, pois sua chave tinha se perdido. Estava tão cansada que somente queria poder cair numa cama
e dormir. Dormir uma eternidade.
A viagem de Oldemburgo até Berlim de avião tinha sido bem rápida, mas a ansiedade para chegar em casa fazia com que a hora durasse uma vida inteira.
Pelo menos aqueles lobos tinham a deixado ir embora.
Claro, graças a Ester e seu alfa Noah, porque se dependesse de Petrus, ainda estaria presa.
Ela ainda não acreditava que a tinham deixado sair assim, sem mais nem menos.
E o inferno é que tinha aquele sentimento no peito que doía por ter deixado aquele grupo de lobos para trás, por ter deixado Petrus.
Era um sentimento estranho que machucava seu coração, algo que nunca tinha sentido antes.
Sua mente estava confusa sobre ele, mas tinha coisas muito mais importantes para se preocupar agora do que aquele espécime exótico, lindo, que tinha a encurralado por todos aqueles dias, com aquelas propostas
indecentes, aqueles beijos...
Deus, ela quase tinha perdido a sanidade depois de tantos acontecimentos desastrosos e loucos, surreais, parecia que tinha entrado em um filme de terror.
Ela olhou ao redor do pequeno apartamento e suspirou. Foi ao banheiro, tirou sua blusa e ficou olhando para o curativo que tinha no seu ombro que Ester tinha feito nela.
Ela o retirou e o machucado que havia sido feito por aquele lobo maldito já havia desaparecido.
Malditos, malditos lobos e ela era uma deles agora.
Uma lágrima escorreu por sua bochecha, quando olhou seus olhos verdes e eles haviam clareado mais. Santo Cristo, será que seus olhos ficariam claros como os deles? E se ficassem brancos como os de Petrus?
Ela olhou aturdida para duas mechas que haviam aparecido entre seus cabelos, mais claras que seu cabelo escuro.
O que faria? Ela era uma loba e estava sozinha.
Ela fungou e lavou o rosto, olhando para sua imagem no espelho.
Ela sabia que mudaria mais, seus cabelos negros talvez mudassem totalmente de cor ou teria aquelas mechas como eles tinham.
Ela se transformaria em uma loba, teria presas, seus olhos cintilariam como tinha visto acontecer com eles, ela rosnaria como um cachorro. Teria garras, pelos...
Ela fungou afastando o medo, o pavor, o ódio.
Tirou a calça jeans que usava e o calçado e somente com o sutiã e a calcinha foi até seu quarto, abriu a gaveta do criado-mudo e abriu o fundo falso que havia ali contendo alguns papéis, uma arma e um
telefone celular.
Ela pegou o telefone e discou rapidamente, enquanto ficava sentada no chão, encostada na cama.
— Oi, sou eu...
— Samantha! Por Deus, onde estava? Pensei que estivesse morta! Quando vi as notícias que o prédio onde estava tinha pegado fogo a dei como morta, pois não consegui encontrá-la.
— Eu sei... Eu estou bem, mas não pude me comunicar.
— E onde estava que não avisou que estava viva? Está ferida?
Ferida? Não, apenas era um animal agora.
Ela suspirou cansada.
— Não, eu não consegui me comunicar, não podia confiar em ninguém e você não vai acreditar em tudo que vi... Eu fui levada, não consegui sair.
— Estava presa?
— Sim, prisioneira em um lugar fora de Berlim, mas agora estou de volta e sim, estou bem, depois contarei tudo, mas agora somente quero saber de meu pai. Você conseguiu encontrá-lo?
Depois de alguns segundos veio a resposta.
— Seu pai está morto, os lobos o mataram.
— O quê? — perguntou assombrada.
— Sinto muito, Samantha.
— Não, não pode ser!
Ela gemeu, soltou o telefone e soluçou, caindo num pranto doloroso.
Seu pai estava morto e era culpa dela... E dos lobos.
Ilha de Alamus, Creta, Grécia, dias atuais...
Petrus olhou carrancudo para Enrico Scopelli. Ele era antigo, tinha quase quatrocentos anos e era muito poderoso na Europa. Não podia negar que o bastardo era um lobo admirável e poderoso e dava certo
medo, mas não a Petrus.
Depois de tudo que tinha passado na sua vida, que tinha enfrentado, havia poucas coisas no mundo, na verdade quase nada, que o deixariam com medo. Um lobo, não seria um deles.
Ele não tinha medo do velho, somente uma vontade imensa de saltar sobre sua garganta, mastigá-la e cuspi-la fora. Estava vencido, tinha estudado todas as opções e não tinha chegado a uma solução satisfatória,
somente tinha aquela que o carcamano oferecia.
Podia ter pedido ajuda a Noah, dinheiro emprestado, mas não achou justo. Noah era rico, mas não o suficiente para comprar uma ilha como Alamus e, infelizmente, Harley não tinha conseguido encontrar mais
nenhuma conta da máfia dos laboratórios que os havia rendido para que pudesse roubar.
Roubar era uma palavra forte, mas justa, por assim dizer, porque Petrus e Harley não tinham pegado para si mesmo nenhuma quantia como indenização, como Noah chamava, para subsidiá-los.
Somente Noah havia dado bons computadores para Harley, onde eles abriram sua empresa de softwares juntos e onde Harley era o cérebro e Petrus administrava as lojas virtuais que lhes rendia uma quantia
generosa mensalmente.
Seria muito fácil para Harley conseguir uma conta bancária e transferir dinheiro se quisesse, mas ele não era um ladrão, ele somente roubava quem o havia roubado. Isso era justo para eles.
Mas aquilo não era certo agora e eles não tinham de onde conseguir o dinheiro e continuavam nas mãos do velho lobo italiano.
E aquela ilha custava uma fortuna.
— Não adianta querer fugir disso, Petrus, somente ficará estressado à toa. Olhe, eu sei que isso lhe parece muito ruim, mas é uma honra ser companheiro de minha filha, de entrar para a minha família. Pense
pelo lado bom. O que há de errado em acasalar com uma Scopelli? Isso é uma honra e não um castigo. Ofende-me sua insistência em negar-se, como se isso fosse a pior coisa do mundo. Que espécie de alfa é
você?
Petrus queria rosnar, mas o velho tinha um ponto a favor, pois realmente isso seria uma honra, qualquer alfa estaria honrado de fazer parte de uma das mais fortes alcateias da Europa, pois isso lhe traria
muitos pontos positivos nos negócios e proteção para sua alcateia, mas infelizmente não era o que ele sentia.
Ele sabia que esse era um dos motivos pelo qual seu pai queria a aliança.
Mas Petrus não gostava de ser pressionado. Sua alma almejava a liberdade, queria tomar suas próprias decisões, por isso nunca se deu bem com o pai.
Ele suspirou e acalmou seus ânimos.
— Olha, senhor Scopelli, eu sei que fez todas estas negociações com meu pai e sua intenção de casar com sua filha para que nossas famílias se unam agora que nossos negócios estão entrelaçados seria bom
para todos, mas não pensa na felicidade de sua filha? Ela pode encontrar um companheiro mais apropriado: seu companheiro de alma.
O velho riu.
— Petrus, isso de companheiros de alma é besteira, um conto de carochinha. De Pietra cuido eu, de minha filha, eu sei. Ela se casará, porque o anúncio já foi feito e romper um tratado destes é uma afronta
que não vou conceber. Minha família não será afrontada desta maneira. Ou você se casa com minha filha ou eu puxo o tapete da sua família.
Petrus congelou.
— O que você está dizendo?
— Isso que você ouviu. O que já disse da outra vez. Sei que deve ser frustrante receber sua herança empacotada desta maneira, mas devia ter pensado nisso antes de arrancar a cabeça de seu pai e tomar o
lugar dele.
Petrus rosnou baixo em advertência, não discutiria aquele assunto que era proibido.
— Seu falecido pai gastou demais numa negociação comercial em meio a uma crise econômica no seu país. — Enrico continuou soltando uma baforada de fumaça do charuto e bebendo um gole do uísque. — Seu pai
precisava assinar o contrato com a Tormetera para manter a empresa de sua família livre da falência.
— Senhor Scopelli, eu entendo a importância de ter a conta de Tormetera, sua empresa que nos cobre na maioria de nossos carregamentos.
Sim, ele sabia e mesmo assim queria mandar Enrico e sua empresa para queimar no fundo de um vulcão.
— Se eu disser uma palavra no meio dos negócios para outros empresários, eles automaticamente os deixariam ou evitaria realizar um primeiro contrato. Se eu não tivesse dado esta conta ao seu pai, sua empresa
de transportes navais já teria falido. Eu salvei sua empresa e financiei a guerra de seu pai, que me deu a ilha como garantia.
Petrus o examinou com repulsa.
— Foi uma burrice sem tamanho esta guerra.
— Seja o que for, isso são negócios. Tem sequer ideia do montante que foi destruído? Um helicóptero, lanchas, iates, lobos mercenários… meu tempo… meus juros…
Petrus soltou um palavrão.
— E quanto às suas empresas, seu pai assumiu riscos demais num mercado onde a concorrência é feroz e os preços competitivos, quando insistiu em ampliar seu negócio na costa da Itália, onde é meu território,
e eu ainda posso retirar os contratos.
— Se a empresa cumprir os prazos para os transportes e manter os preços, não pode romper os contratos.
— Eu sempre encontro as brechas e uma palavra aqui e outra ali pode ser um desastre com seus outros clientes.
Petrus não tinha dúvida de que Enrico poderia arruinar os contratos da sua maior empresa, a Papolus Transportes Marítimos, que envolvia uma imensa quantidade de empregados e girava milhões de euros, e
que os mantinha no topo da alta sociedade. Com apenas um boato de que era uma escolha arriscada, eles estariam arruinados. Enrico Scopelli tinha este poder.
— Essa chantagem comercial é tão baixa. E sobre a compra das ações da empresa da Itália, não consigo acreditar que meu pai tenha aberto o capital dessa maneira.
— Devemos jogar as cartas necessárias para nos manter neste mercado, Petrus, e todos os negócios foram feitos dentro da lei. Seu pai abriu capital, eu comprei ações. Seu pai estava falindo, eu o socorri.
Seu pai pediu uma guerra e eu dei. Seu pai assumiu uma união entre nossos filhos e você vai cumprir.
Petrus rosnou, mas não podia contestar, pois era o que havia acontecido.
— Sua ausência nos negócios é tão despreocupada nos últimos anos. Pode assumir suas empresas e tomar as atitudes daqui para frente, Petrus, mas não pode desfazer o que seu pai fez, não comigo. Um Scopelli
jamais volta em sua palavra.
A culpa o assaltou. Ele ignorara sua suspeita de que seu pai estava lidando com mais coisas do que era capaz, e esse senso de responsabilidade só aumentou quando reconheceu o quanto seu azar era grande:
no caso, um acordo nupcial estava no meio.
E tomava com assombro de como suas negativas de assumir suas responsabilidades poderia custar à sua família.
Depois que foi capturado pelos laboratórios tinha ignorado imensamente sua família, pois eles não haviam feito nada para encontrá-los e não haviam dado crédito nas coisas horrorosas que haviam contado.
A alcateia de Noah se tornou a sua de coração e aquilo foi tão natural, era o que queria fazer, mas com isso tinha negligenciado seus negócios, sua responsabilidade.
— Eu preciso pensar sobre isso.
Petrus expirou entre os dentes cerrados, sua autodisciplina estava por um fio, seu lobo estava arranhando em seu interior querendo saltar sobre o velho e rasgar sua garganta.
A um passo de dar um soco no rosto presunçoso de Enrico, se acalmou ouvindo a advertência de Harley, que estava ao seu lado: seu beta agora.
A antiga rixa entre gregos e romanos desde o antigo império parecia reverberar pelo vento e inundar a sala, que ironia. Mas apesar da forma rusga de ameaça, o velho queria uma aliança entre as famílias.
Era estranho, mas Petrus não conseguia pensar claramente. Ele respirou fundo, tentando se acalmar.
— Sua filha está de acordo?
— Minha filha faz o que eu mando, e ela é preciosa, Petrus, deve ser tratada como uma rainha.
— Claro — ele rosnou entredentes.
Ele podia odiar a situação, mas nunca machucaria uma loba, ainda mais se fosse sua companheira.
— A única coisa que minha filha me pediu, quando parou de reclamar de sua condição é que eu permitisse que terminasse seu ano letivo.
— Ano letivo? — perguntou confuso.
— Ela está se formando na faculdade de design de joias neste semestre, em Milão, e se mudar para a Grécia imediatamente, prejudicaria sua formatura. Ela tem se esforçado muito e reconheço isso. Minha filha
vai se formar no fim do semestre e, então, estará aqui para o acasalamento.
Petrus franziu o cenho.
— Quer que ela termine a faculdade, mas a força a se casar? Não vejo muita lógica em sua modernidade.
— Ela não precisa trabalhar, isso é só um divertimento, um hobby, mas não vou impedir que tenha seu diploma, porque lhe dei minha palavra. Você vai cuidá-la e tratar com respeito e como uma alfa da mais
alta estirpe deve ser tratada.
— Não sou um bárbaro.
— Mas é um libertino, pelo que soube.
Petrus bufou e quase riu na sua cara. O velho era louco, mas sabia que os métodos do carcamano eram equivalentes aos mafiosos e isso já era ruim, agora um lobo feroz, sem escrúpulos, que seguia as antigas
leis dos lobos era um pé no saco. Estava fodido.
— Estamos conversados? — Enrico perguntou apagando o charuto no cinzeiro de cristal.
Petrus estava pasmo com as bases de seu mundo desmoronando. Ele teria que se casar com Pietra Scopelli.
Suspirou.
— Sim.
— Muito bem.
Enrico fez sinal para o lobo ao seu lado, um dos seus filhos, Marcello, um homem que abertamente chamava a atenção de longe por seu porte. Era alto, forte, com intensos olhos verde-claros com uma orla
negra, mas mantinha os cabelos negros até os ombros, que devia ser tingido, porque o velho tinha a cor de cabelo em três tons.
O homem se aproximou, sem tirar os olhos dele e lhe entregou uma pasta.
— Estes são os novos contratos assinados, que garantirão o pleno funcionamento das empresas. E seguirão os demais livremente que sua empresa já conseguiu. Tudo ficará bem. Agora assine este.
Ele lhe entregou outra pasta, Petrus a pegou e a abriu.
— Eu te darei mais um prazo para o acasalamento, como eu disse, a pedido de minha filha. Assine e estaremos firmados nisso, sem volta. Você não pagou o valor da hipoteca da ilha no prazo que havíamos estipulado
e ela é legalmente minha. Se romper com o acordo, perderá a ilha, como já havia dito. Se acasalar, ela será sua novamente, como dote de Pietra, assim como outras propriedades que constam listadas aí e
um montante em euros.
Petrus olhou a quantia e as propriedades e aquilo o espantou, realmente era muito, mas o pior foi a data e engoliu em seco. Mais algumas semanas, ele teria mais algumas semanas, não poderia consertar mais
nada.
O filho de uma cadela tomou sua ilha e a oferecia de volta, como era estúpido este acordo.
E ele podia se livrar de todos seus problemas, se simplesmente se casasse.
Petrus sabia que poderia sobreviver à queda da Papolus Transportes Marítimos ileso. Ele não dependia de apoio, nem de seus pais nem dos negócios da família, pois poderia viver muito bem com seus negócios
de tecnologia e softwares que mantinha com Harley, que até para seu espanto gerava uma renda astronômica.
Mas estava dolorosamente consciente de que três gerações de sua família haviam dado o sangue para transformar esse negócio numa linha de navegação de renome mundial.
Sua mãe ficaria arrasada se perdesse a empresa, sem mencionar o estilo de vida confortável e a posição social a qual estava acostumada.
De jeito nenhum Petrus poderia permitir que isso acontecesse a sua mãe naquela altura da vida, depois de ter conseguido obter sua liberdade de um companheiro que não a respeitava e, pior, colocar à deriva
a vida de tantos lobos e famílias de humanos que dependiam dele através dos empregos na empresa. Era um império.
Não era somente ele agora, pois era um alfa e muitos dependiam dele naquela ilha, de suas atitudes, de sua liderança, de sua sobriedade. Havia várias famílias de lobos que eram sua responsabilidade.
De certo modo, ser um alfa era como ser um rei e ter que cuidar do bem-estar de todos seus súditos.
De jeito nenhum poderia ser egoísta e colocar a vida de diversos lobos em problemas por um capricho pessoal. Havia laços que nem mesmo o mais convicto dos rebeldes poderia negar.
Seu pai, perdido na sua estupidez, tinha feito isso e olha onde tinham parado. Ele não poderia cometer o mesmo erro.
Não podia ficar parado e assistir à queda de sua ilha, seu império, simplesmente para manter sua própria liberdade e independência.
E, afinal, Pietra poderia ser uma boa companheira, se não fosse insuportável como o pai.
Que opções ele tinha? Suspirou depois de ler, assinou o documento e jogou a pasta de volta. O lobo pegou com um sorriso.
— Eu entendo a parte dos negócios, alfa, mas ainda não consegui assimilar a insistência de querer a união das alcateias. A insistência neste acasalamento — Petrus disse.
— Seu pai foi a um dos meus eventos na Itália e selamos alguns negócios e o pedido da mão da minha filha e a união de nossas alcateias foi feita publicamente, diante de vários alfas de outras alcateias
e meus parceiros de negócios. Eu apreciei muitíssimo que ela fosse a alfa de Creta, uma alcateia considerável e poderosa sobre toda a Grécia, com negócios promissores. Antes de seu pai meter os pés pelas
mãos, nós selamos o comprometimento de vocês honradamente e permitir que a rejeite a desonraria, jogaria Pietra a uma posição de relegada e isso não vou permitir, porque depois disso ninguém se acasalaria
com ela.
Petrus franziu o cenho.
— Como já percebeu, Petrus, nosso pai ainda perpetua as antigas leis dos lobos. Rechaçá-la é como arruinar a reputação dela. Se um alfa rejeita uma fêmea prometida de estirpe como a nossa é porque é defeituosa.
Isso é algo que os Scopelli não permitiriam, jamais — Marcello disse seriamente olhando para Petrus.
Petrus entendeu, realmente era antiquado, mas era certo.
— Entendo sua posição como alfa e pai — Petrus disse. — Eu honrarei nossa aliança, como deve ser.
— Não fique com esta cara de quem está indo para o abatedouro, quando conhecer minha filha, beijará seus pés. Não conhecerá loba mais linda e honrada que ela.
Petrus quase riu.
— Tenho certeza de que é graciosa.
— Ela será tratada como uma rainha, porque senão é um lobo morto.
— Nunca maltratei uma fêmea, não seria agora que o faria.
— Bem, bem-vindo à família, agora sua alcateia tem minha proteção, Petrus, no que for preciso. Quanto às empresas, a sua terá a ampla abertura na Itália e meus filhos estarão à frente dos negócios. E sobre
o acasalamento, nos falaremos daqui algumas semanas.
Petrus se espantou olhando para a mão que o velho estendia e a apertou. O trato estava selado.
O velho, seu filho e seus guarda-costas saíram e Petrus tentava digerir tudo aquilo e já tinha tido tempo para tal, mas não descia pela sua garganta, pois sabia em seu coração que aquilo tudo era errado,
apesar da medida ser acertada para resolver todos seus problemas financeiros e salvar suas empresas.
Mas em questão à sua vida privada, parecia tudo um grande castigo. Talvez fosse o castigo por ter matado o bastardo de seu pai. O pior é que sentia remorso sobre isso, claro, porque, no fundo, tinha um
bom coração e sentimentos nobres, mas sabia que não teve alternativa, era ele ou o velho.
Os lobos eram assim.
— Fez a coisa certa, irmão, foi o que Erick aconselhou a fazer — Harley disse.
— Eu sei.
Harley assentiu e o deixou sozinho, que ficou pensando em tudo. Ele se escorou na poltrona e bebeu um gole de uísque.
Suspirou quando sentiu um aroma agradável de rosas dançar pela sala.
— Às vezes eu me pergunto se não me julga, minha mãe — ele sussurrou, sentindo a presença dela, parada na porta da sala, às suas costas.
— A ti? Não. Já lhe disse isso — ela disse docemente, vindo até ele.
— Queria que tivesse sido diferente.
— Mas não foi. Um alfa tem que tomar decisões difíceis, às vezes.
— Eu sei.
— Lamento que esteja colhendo as consequências de atos impensados de seu pai.
Ele rosnou quando ela se aproximou. Ainda mancava. Sua perna havia sido brutalmente quebrada e ainda não tinha se curado inteiramente.
Ele não havia percebido o quanto era grave quando ela esteve na Ilha dos Lobos para pedir seu perdão e que ele viesse para casa. Estava muito ferida e mancava muito, mas era forte e fez o trajeto com o
queixo erguido e suportando a terrível dor.
Já havia se curado dos ossos quebrados da perna e costelas, de todos os hematomas, mas sua perna ainda acarretava sequelas. Somente vendo isso, já sentia raiva.
Sua mãe era muito bela, com lindos olhos azuis muito claros, quase transparentes, e quando estava na sua forma de loba seu pelo era mesclado de vários tons de castanhos, creme, branco, marrom e dourado,
e brancos no peito, seus olhos se tornavam brancos com nuances prateadas, assim como os dele.
Somente que os dele eram da mesma cor nas duas formas. Ele era uma cópia de sua loba e era ainda maior do que fora seu pai. Um poderoso lobo.
— Um homem não deveria matar um membro de sua família.
— Não deveria, mas ele pode ser justificado quando precisa salvar sua vida e a de uma alcateia inteira.
— Devia ter pensado em outro jeito.
— Não havia outro jeito. Você fez o que era o certo para salvar a todos. Não pode se culpar e ficar se martirizando por isso, deve esquecer.
— É possível esquecer?
— É possível, porque agora você tem um futuro para criar, tem uma vida para viver. Não pode ficar olhando para trás. Seu pai não estava normal, estava doente da cabeça, acredite em mim, filho. Ele teria
matado você e Harley sem pensar duas vezes.
Isso quase sufocou Petrus.
— Às vezes fico pensando sobre isso.
— Pois não pense, esqueça. Há linhas que, quando os lobos cruzam, não há volta. Seu pai a cruzou e teve que colher as consequências. Você é o alfa agora e precisa aceitar isso. No nosso mundo, para sobrevivermos,
devemos abraçar a benevolência quando ela surge em nossa vida, como você se agarrou aos seus amigos. Deve extirpar o mal, como fez com seu pai e aquele bando de loucos matadores de bruxas. Fique em paz,
filho, porque sua vida agora é que é importante. Está num momento delicado e precisa aquietar sua mente para tomar suas decisões com sabedoria.
— Está certa, mãe.
— Sim, mas você está infeliz — ela disse o analisando.
— Estou bem.
— Ainda não, mas ficará.
— Isso não é tão mal como parecia antes.
— Não, não é. Já vi Pietra Scopelli, é uma linda jovem, realmente adorável.
— Claro...
— Um dia teria que acasalar.
— Claro...
— Ter herdeiro...
— Claro.
— Eu ficaria muito contente em ver crianças correndo pela casa.
Ele bufou e ela sorriu.
— Você não gostava de ficar aqui por causa de seu pai e da maneira que governava. Agora esta responsabilidade é sua e você pode fazer da sua maneira e marcar sua história. Coloque seu coração aqui novamente,
Petrus, e faça daqui seu lar. Somente assim será feliz aqui.
Ele suspirou.
— Obrigado, mãe, tentarei.
— Ser um alfa às vezes é difícil, mas se seguir seu coração, conhecerá todas as respostas e saberá o que fazer. E se bem o conheço, todos o amarão. Seu pai sabia disso e era por isso que implicava com
você, ele temia, sabia que um dia você acabaria com as loucuras dele. Ele sabia que seria mais amado que ele e isso o irritava.
— Todos o respeitavam.
— Todos o temiam.
— Ele nunca achou que eu seria bom o suficiente.
— Porque não era cruel, como... Lucas.
Petrus suspirou.
— Lucas era o papai em pessoa.
— Eu sei. E ambos tiveram o mesmo fim. Mas este é o seu lugar, filho.
— Se é meu lugar, por que não me sinto bem aqui? Parece que tudo está desfocado, fora de lugar e errado.
— Então descubra o que é certo e coloque tudo no lugar. Eu confio em você. A única coisa que eu te peço é que não deixe de ser quem você é e se torne como seu pai e seu irmão. Acima de tudo, lute para
ser feliz com todas as suas forças.
Ela sorriu e beijou sua mão sobre o anel de alfa, fez uma mesura e saiu da sala enquanto ele ficou ali, sentado na poltrona e pensando na sua vida.
Sim, ele precisava descobrir o que estava errado e consertar. Porque se ele precisava viver ali, precisava ser do seu jeito.
— Mãe? — ele chamou antes que ela saísse pela porta e ela parou e o olhou.
— Sim, filho.
— Este império é meu e ninguém vai tirá-lo de mim.
— Eu sei, nunca duvidei disso.
Ele era o alfa e aquele império era sua responsabilidade. Ele seria o que era necessário para todos e se acasalaria.
Assim, sua data estava marcada e seu destino traçado.
Ilha de Alamus, Creta, Grécia.
Alguns meses depois...
Aquela manhã parecia imensamente tranquila, o sol estava vibrante, o mar sem ondas e uma suave brisa marítima do mediterrâneo emanava uma imensa paz.
Os lobos e lobas pararam de hostilizar Petrus, não com palavras diretas obviamente, porque deveria ser respeitado acima de tudo como alfa, mas os olhares suspeitos, o receio de confrontá-lo ou respeitá-lo
havia sumido.
Pareciam tê-lo aceitado como alfa porque, de certa forma, sua maneira de governá-los havia deixado todos mais tranquilos.
Petrus era imponente, inteligente e crítico, mas era bondoso, justo e atencioso e o que conquistou mais ainda era ser como sempre tinha sido, companheiro e amigável. Preocupado com todos, com suas necessidades
e bem-estar.
Ele sempre tinha sido assim antes de ser alfa e continuou querendo ser assim após, por isso seu povo o admirou.
Então, até o humor de Petrus havia retornado, suas tiradas engraçadas e seu constante sorriso, o que era uma bênção.
Era um momento de calmaria.
Ele estava tomando café com sua mãe e Harley, quando foi interrompido por uma criada que se aproximou e fez uma mesura.
— Alfa, a senhorita Pietra Scopelli acabou de atracar na ilha com sua escolta particular.
Petrus olhou para a loba e sua visão ficou um tanto turva e demorou um minuto para processar quem era Pietra Scopelli.
Oh, nada bom.
— Seu pai também está na comitiva? — Samira perguntou.
— Não, senhora.
Samira colocou a xícara do café lentamente sobre o pires de louça dinamarquesa e secou a boca com o guardanapo de linho.
Petrus olhou para Harley, que tinha o pedaço de pão de pita no meio do caminho, entre o prato e a boca.
Harley e Samira ficaram olhando para Petrus que forçosamente engoliu o gole do suco que tomava.
— Bem, sabíamos que esta hora chegaria — sua mãe disse, calmamente.
— Não está adiantada?
— Acredito que sim, em... algumas semanas...
— Ainda não acredito que papai tenha dado a ilha como garantia deste negócio. Ele nunca teria sido tão estúpido — Harley disse.
— Seu pai ultimamente estava cometendo muitos atos infundados, Nico — Samira disse.
— Acho que devíamos procurar outros advogados e achar um furo neste negócio, um que impossibilite Scopelli de ter poder sobre nossa ilha. Ainda acho que deve ter uma brecha — Harley disse.
— Erick olhou os papéis para mim. O negócio é legítimo. Obscuro, irracional, mas legítimo.
— Ele não vai tolerar que quebre o contrato, Petrus. Seria uma afronta pessoal ao alfa e sua filha — Samira disse. — Isso não seria permitido nem por Scopelli e nem por nenhum alfa.
— Isso é verdade, mãe. Eu mesmo assinei o contrato, não posso mais voltar atrás — Petrus disse. — O jeito é encarar.
— Muitos casamentos são arranjados, filho. Pode ser que com o tempo você se acostume com sua companheira e seja feliz. Conheça-a e verá. Já lhe disse que é uma moça bonita e adorável.
— Como a filha de um crápula pode ser adorável?
— Ora, vocês dois são filhos de seu pai.
Petrus fez uma careta.
— Merda...
— Vamos recebê-la e seja educado, por favor. Não vamos piorar as coisas. Nossa situação é de vulnerabilidade, Petrus, sabe disso.
— Sim, mãe, eu sei, não precisa me dizer que sem machos na ilha estamos vulneráveis — Petrus disse.
— Sim, e aquele carcamano pode causar um estrago se nos atacar — Samira disse.
— Precisamos de tempo para nos reerguer, para ficarmos fortes novamente — Harley disse.
— Bem, já que ela está aqui, vamos conhecê-la, pois tempo, meu amor, é o que não temos.
Petrus levantou, jogou o guardanapo sobre a mesa, assim como Samira e Harley e foram para a sala de estar.
Logo uma comitiva de dois lobos muito fortes e duas lobas entrou ladeando uma moça alta, esguia, com os cabelos longos até a cintura, ondulados e loiros, com mechas castanhas e magníficos olhos verde-claros.
Estava usando um vestido justo até o joelho, verde-esmeralda e um scarpin de grife, muito elegante e seu belo rosto estava adornado com uma maquiagem suave e impecável.
Bem, Petrus não sabia em qual momento ele tinha parado de respirar, porque ver aquela moça o desconcertou totalmente, ela era de tirar o fôlego de qualquer um.
Não que ele esperasse uma moça feia, porque dificilmente uma loba era feia, mas ela... era deslumbrante.
Ela era delicada, suave e respeitosamente fez uma mesura e, Petrus, boquiaberto, demorou a responder. Mas engoliu em seco e retribuiu com uma reverência.
— Bom dia, alfa Petrus. Sou Pietra Scopelli, filha do alfa Enrico Scopelli. Meus pais enviam seus agradecimentos pelo convite e a hospitalidade em me receber.
Convite? Hospitalidade? Ele nem tinha a convidado.
Petrus olhou para sua mãe que se limitava a olhar tranquilamente com um sorriso gentil para a moça.
Petrus estava um tanto perturbado, porque a sua voz era como um cântico e percebeu que, por fim, Harley tinha soltado sua respiração que estava presa junto com um rosnado engasgado.
— Seja bem-vinda, senhorita Scopelli — Petrus disse tentando disfarçar sua confusão mental.
— Oh, por favor, me chame somente de Pietra.
Petrus pigarreou e caiu na realidade, ele não tinha percebido, mas a moça tinha ido até ele e oferecido a mão.
Ele não sabia dizer o porquê estava tão aturdido, mas finalmente aceitou sua mão e beijou o dorso, e viu que era suave e delicada.
Idiota, se recomponha, resmungou mentalmente.
Ele olhou para Harley, que parecia tão embasbacado quanto ele e a olhava sem piscar.
O que diabos era aquela mulher, uma serva de Afrodite, ou a própria?
— Meu pai disse que seu convite para que eu ficasse hospedada na sua ilha era um gesto de boa-fé, de amizade entre as alcateias.
— Ele disse?
— Sim. Que ficaria feliz em passar alguns dias em minha companhia para me conhecer. Eu fiquei grata pela sua gentileza e boa intenção de que possamos fazer desta, uma união feliz e harmoniosa.
Merda! Aquela harpia era venenosa. O que estavam planejando?
— Veio para ficar aqui? — Harley perguntou espantado.
Todos olharam espantados quando viram a bagagem dela ser colocada ao lado da porta e o lobo olhou especulativo para Petrus, que não sabia o que responder.
— Claro, como não ser assim? — Petrus disse dissimulando em sua súbita raiva.
Desconcertada, Samira, também olhou de um a outro e antes que algo explodisse, colocou novamente um amável sorriso no rosto.
— Pode levar as malas para um dos quartos de hóspedes, em breve verei tudo, Cratus.
— Sim, minha senhora.
O lobo saiu levando as malas, Petrus olhou para Pietra e ela estava olhando para Harley fixamente, assim como ele para ela.
— Ham... Este é meu irmão Harley. Desculpe. Nico.
— Harley é apelido?
— Sim, de Harley Davidson. Sou um amante de motos — Harley respondeu.
— Oh, acho interessante motos, são bonitas e selvagens. É um prazer conhecê-lo, Nico, ou posso chamá-lo de Harley?
— Harley está bem.
Ela ofereceu sua mão e ele titubeou para pegá-la, e quando o fez demorou em um beijo em seu dorso.
Ela ficou olhando para ele com os olhos arregalados, piscou algumas vezes e puxou sua mão, pois ela pareceu formigar, depois olhou para Petrus.
— Hã... Meu pai disse que vocês têm negócios juntos.
— Infelizmente.
Pietra ficou desconcertada com sua sinceridade.
— Não se dá bem com meu pai?
— Não, para ser honesto.
Ela demorou um tempo para assimilar o que aquilo significava.
— Sinto muito, às vezes ele é meio turrão, mas é um bom alfa. Eu... Eu soube de algum acontecimento que houve na ilha dos novos habitantes, Ilha dos Lobos, acredito.
— Bem, se soube, então sabe também que seu pai atacou inocentes.
Ela o olhou, espantada.
— Não, alfa, eu não sabia do que se tratava. Ouvi uns boatos sobre uma bruxa e que houve uma guerra, mas depois soube que seu pai morreu e você assumiu e também ouvi rumores sobre os nossos antepassados.
Isso é verdade?
— Sim, é verdade e seria sábio levar isso em conta.
— Por que não faria?
— Seu pai não o faz, e sugiro que estas ameaças, confrontos ou injúrias sobre o povo de Noah e nosso rei pare por aí, pois não é bem-vindo aqui.
Pietra ofegou.
— Petrus... — Samira o repreendeu.
Pietra olhou de um a outro e suspirou.
— Eu não sou meu pai, alfa Petrus, eu percebo que há uma animosidade entre vocês?
— Para lhe dizer a verdade, sim, há.
— E qual é?
— Este casamento é arranjado e estou sendo pressionado, na verdade chantageado para me casar com a senhorita, então, me desculpe, se não estou conseguindo ser cordial como deveria, quem sabe com o tempo
as coisas entre nós dois possa se acomodar.
Pietra ficou olhando para ele espantada.
Harley gemeu com as palavras afiadas de Petrus, aquilo a atingiu como se ela não soubesse de nada.
Petrus pôde ver o espanto em seus olhos, aqueles enormes e espantosos olhos verdes que o encaravam em desalento.
Bem, as coisas podiam ficar piores?
Petrus somente ergueu uma sobrancelha para um dos lobos de sua comitiva que rosnou em advertência e nem sequer se incomodou.
— Não se preocupe, querida — Samira disse, segurando sua mão. — Casamentos arranjados possuem sempre uma pontinha de animosidade no início, depois quando se conhecerem melhor, verão que se darão muito
bem e encontrarão a felicidade juntos.
— Bem... Sim — Pietra sussurrou.
— Estou muito contente que esteja aqui para conhecer seu prometido melhor. Foi um ato bem pensado de seu pai permitir isso — Samira disse gentilmente.
Petrus tinha certeza disso. Carcamano bastardo.
Pietra olhou para Samira e tentou sorrir e depois sorriu para Petrus.
— Farei o meu melhor para lhe agradar, alfa.
Petrus, que estava com sua mente dando cambalhotas, com a bile subindo e descendo, respirou fundo e foi gentil, apenas por mero fingimento de diplomacia. Nunca tinha sido grosseiro com uma mulher, então
não começaria agora.
Mas estava difícil de conter sua raiva por ser obrigado a fazer o que não queria e por aquele verme ter jogado a sua filha em seu colo daquela maneira, impedindo que os laços fossem rompidos.
Talvez devesse se abrandar para poder assumir aquilo de forma mais fácil.
— Ótimo, será um prazer ter sua companhia por alguns dias, Pietra, sinta-se em casa. Agora, se puder me dar licença, tenho assuntos urgentes para resolver. Eu a verei no almoço, minha mãe vai lhe mostrar
seus aposentos e acomodá-la.
Ele fez uma reverência e ela uma mesura. Pietra não conseguiu dizer mais nada e somente viu Petrus sair pela porta, tão rápido que ela mal pôde contemplar toda a imponência de sua fabulosa figura.
Sem jeito, ela tentou sorrir e olhou para Harley e houve um silêncio tenebroso na sala.
— Posso lhe mostrar a ilha, se deseja, podemos ir até a praia — Harley disse sem pensar e quase atropelou as palavras.
— Oh, seria encantador, obrigada.
— Minha mãe mostrará seus aposentos e pode colocar uma roupa mais confortável. Aqui na ilha não somos de cerimônias e vou te levar ao quiosque na praia, precisa estar com algo mais apropriado do que um
salto alto.
Ela ficou olhando para Harley, sem saber o que responder, deveria aceitar isso?
— Claro, ficarei encantada.
— A espero no terraço.
— Venha, Pietra, vou lhe mostrar seu quarto e de seus acompanhantes e depois pode se trocar — Samira disse, simpática.
Elas saíram e Harley bufou e foi atrás de Petrus. Ele estava na varanda de seu quarto, olhando para o mar, escorado com os cotovelos na mureta, ao lado de uma estátua de um leão.
Harley chegou ao seu lado e se escorou na mureta também. E os dois ficaram calados por alguns minutos.
— Ela é bonita — Harley disse.
— Linda.
— Não precisava ser grosseiro, Petrus.
— Não era minha intenção, somente... estava irritado.
— Ela é doce, Petrus, linda como uma deusa, talvez consiga se dar bem, ela parece agradável, não é agressiva como seu pai.
— Eu sei, percebi, mas pode ser uma farsa.
— E é linda...
Petrus olhou para Harley, erguendo uma sobrancelha.
— Se interessou por ela?
— É sua prometida.
— Ela parece ser uma boa loba.
— Eu sei. Ela é uma dama e será sua companheira.
— Sim, não precisa ficar enfatizando o tempo todo e nossas aventuras depravadas estão no passado agora. Não podemos compartilhar uma companheira, irmão.
— Eu sei.
— Mas isso passou pela sua cabeça.
— Não.
— Não minta.
— Bem, eu só a achei bonita, e me passou pela cabeça se ela o agradaria, afinal será sua companheira para o resto de sua vida.
Petrus fez uma careta.
— Porra, eu já entendi este ponto.
— Só estou preocupado com você, Petrus.
— Eu ficarei bem.
— Sim, ela pode ser boa para você.
— Uma loba forçada a mim.
— Cada um tem seu fardo para carregar, irmão.
— Eu sei.
— Bem, você tem os instintos fortes, saberá se ela o está enganando, só preste atenção. Sua prometida está na ilha, eu sugiro que tome seu tempo com ela, conheça-a e prove-a, já que parece disposta a agradá-lo.
Baixe sua guarda e veja quem ela é realmente.
— Verei isso.
— Sei que tem sido difícil para você e isso não era o que almejava, mas seria tão ruim tê-la como companheira?
— O que mais me enfurece é ser obrigado a seguir por este caminho.
— Eu sei, preza sua liberdade, mas como alfa é bom ter uma companheira.
— Não precisa ficar repetindo isso tantas vezes com o intuito de me convencer.
— Só quero ajudar.
— E quanto a você? Quando vai ter sua companheira?
— Certamente não uma forçada a mim.
— Como fui me enroscar desse jeito?!
— Eu não sei. Mas não vejo solução para isso tudo, a não ser aceitar.
Petrus suspirou e coçou sua barba.
— Sim, já cansei de pensar numa solução e não vejo nenhuma, a não ser que me leve a uma quebra irreparável no nosso patrimônio.
— Como alfa deve pensar além de você.
— Porra, eu sei disso!
— Bem, então se prepare, porque em breve Pietra Scopelli estará na sua cama, irmão. E seu pai sabe disso, porque senão não a teria mandado aqui.
Alguns dias depois...
Harley observava Pietra enquanto ela olhava o mar, tinha um leve sorriso no rosto e estava tão linda e fresca num vestido estampado estilo anos 50, que lhe deixava com a cintura fina acentuada e os seios
empinados, firmes e lindos. Segurava a sapatilha na mão e um chapéu branco de abas largas protegia seu rosto do sol.
— Sei que deve estar sendo um tanto desconfortável, mas tenha um pouco de paciência com Petrus, ele tem enfrentado situações um tanto difíceis ultimamente — Harley disse amavelmente.
Ela o olhou de canto de olho e ficou sem jeito.
— Eu imagino. Não é minha intenção causar mais problemas.
— Seu pai não pensa assim.
— Meu pai não é acostumado a levar um não. Isso pode, inclusive, tê-lo impulsionado a empurrar mais longe.
— Você acha?
— Quanto mais Petrus espernear e rosnar, mais ele vai empurrá-lo.
— Você poderia sair disso?
— Não mais do que seu alfa.
Ela se virou e seus olhos se fixaram.
Os olhos de Harley passearam languidamente, analisando as linhas delicadas de seu rosto. Seu nariz arrebitado, seus olhos verdes tão lindos, seus cílios longos e escuros, seu cabelo era tão brilhante e
sedoso que ficou imaginando como seria tocá-los. Ela era requintada, fina e tranquila.
Harley não entendia o que estava fazendo, involuntariamente.
— Por que me olha desse jeito? — ela disse sem jeito.
— Somente estou admirando sua beleza.
— Você é muito galante, mas não sei de deveria estar me dizendo isso.
— Sendo seu cunhado, não posso elogiá-la?
— Acho... que pode.
— Somente estou dizendo o que meus olhos veem.
Ela o olhou por um momento e a maneira que a olhava era demais, quase tinha dificuldade de olhá-lo. Ele tinha um olhar malandro, intenso, que podia sentir sua pele queimar.
— Ouvi minha mãe dizer ao meu pai que vocês eram libertinos.
Harley soltou uma gargalhada.
— Oh, e a senhorita ficou horrorizada.
— Isso é verdade?
— Bem, isso soou um tanto antiquado, sei que atravessar os séculos é um tanto confuso, às vezes, mas estamos no século XXI e não usamos mais a expressão libertino.
— Claro — disse encabulada. — Agora seria depravado, galinha.
Ele riu novamente.
— Não vejo o prazer e o poder de louvar uma mulher na cama sendo considerado uma libertinagem, depravação.
Ela parou de respirar. Ele deu mais um passo e ergueu seu queixo com o dedo, forçando-a a olhar para ele. Ela era alta, com 1,85m de altura, mas Harley media 1,95m.
— Eu não sou galinha, sou um lobo, assim como meu irmão — sussurrou. — Nós rosnamos e mordemos e, acredite, minha Afrodite, é intenso.
Ela foi se afastar, mas estava colada na mureta e arregalou os olhos, quando ele chegou mais perto ainda segurando seu queixo.
— O que vai descobrir na cama de Petrus pode agradá-la, minha senhora.
Ela soltou um leve gemido e engoliu em seco.
— Como pode saber?
— Talvez já a tenha compartilhado.
— Oh, jogos sexuais estão na sua lista diária?
— Somos lobos apaixonados. Apreciamos muito o sexo e não posso negar que alguns pensamentos dançaram na minha mente.
Ela soltou a respiração com dificuldade e engoliu em seco.
Deus santíssimo, ele exalava sensualidade pelos poros, era um homem deslumbrante, viril, e sabia que seu lobo seria magnífico. Era tão alto e forte. Ela lambeu os lábios e respirou fundo.
O que estava errado com ela? Deveria empurrá-lo, afastá-lo, xingá-lo.
— Está me testando? É uma brincadeira? Um jogo? — ela sussurrou.
Ele queria dizer que não era, que estava encantado com sua beleza como se a própria Afrodite estivesse materializada na sua frente, mas então se recompôs e sabia que não poderia fazer isso. Harley recuou,
porque sua mente ficou embaralhada. Estava louco?
Não, estava arrebatado por sua beleza, somente isso, a luxúria batendo nele, violentamente. Ele franziu o cenho, pois tinham falado sobre isso com Petrus que já de cara tinha sacado a luxúria dele e ela
seria sua companheira. Era uma dama séria, uma loba alfa e estava fora de suas brincadeiras pecaminosas.
— Sim, minha senhora, é uma brincadeira tola.
Ela ficou olhando para ele seriamente e estava confusa, pois soube pelo seu olhar que não era uma brincadeira, que ele estava falando muito a sério.
Então eles captaram o cheiro de Petrus, que estava na porta da varanda, olhando-os, com os braços cruzados.
Ela tentou se afastar, encabulada. Petrus lentamente andou até eles, olhando-a fixamente, tanto que um arrepio cruzou sua espinha. Ele era predador, e a olhava como se a fosse devorar.
Oh, estaria zangado com aquela cena tão ousada de seu irmão?
Petrus parou na frente deles e para seu espanto, pensando que faria uma de suas grosserias, como estava acostumado, surpreendeu-a.
Deu um lindo, lento e majestoso sorriso que quase a desmontou.
— Apreciou o passeio desta tarde? — ele perguntou e ela demorou a responder.
— Sim, meu senhor, a sua ilha é magnífica.
Ele olhou para Harley, que não tirava os olhos dela, e pigarreou. Harley o olhou e suspirou.
— Vou deixá-los a sós.
— Muito obrigada pelo passeio, Harley, eu apreciei muitíssimo.
— Foi uma honra, glykiá adelfí.
Ele fez uma reverência e saiu.
— O que ele disse? — ela perguntou.
— Glykiá adelfí significa doce cunhada.
— Oh! Desculpe, eu ainda não sou fluente em grego. Estou estudando.
— Está se saindo bem.
Então, ela olhou para Petrus e piscou aturdida quando viu o quanto ele a olhava intensamente. Ela sorriu, nervosa.
— Eu devo me desculpar com você. Tenho deixado minha ira tomar minha consciência e tenho sido rude. Não tenho recepcionado você como deveria e nem dado brechas para que possamos nos conhecer.
— Eu entendo. Eu não sou tola, pensando que nossa união seria tão simples e fácil. No começo estava iludida que estava a contento com o arranjo, pois foi o que meu pai disse, mas somente soube da verdade
quando cheguei aqui. Sua mãe conversou comigo. Eu realmente sinto muito.
— Você quer isso?
— Minha opinião não importa. O bem da alcateia vem em primeiro lugar. Se meu pai ordenou, é o que devo fazer.
Petrus fez uma careta.
— Não deveria ser assim.
— Mas é o que é. Podemos fazer isso difícil ou fácil, é nossa escolha, no fim nosso destino está traçado e devemos escolher como levaremos isso.
Ele ficou a olhando por um longo tempo, analisando-a.
— Você é doce, como Harley me relata sempre — disse acariciando sua mandíbula.
Eles falavam dela. Céu santo, como era difícil.
— Quero agradá-lo.
— Isso me alegra — sussurrou.
— Serei uma boa alfa, prometo.
— Não duvido disso.
Ele segurou um pingente de ouro, em formato de lobo, cravejado de pequenos diamantes que ela carregava no pescoço.
— Isso é bonito.
— Eu que fiz.
— Oh, seu pai me disse que se formaria em design de joias. Parabéns.
— Sim, obrigada, me formei, por isso não podia mais adiar vir aqui, como meu pai ordenou. Por fim, um projeto de criar minha própria linha de joias deve ser engavetado.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Acha que farei isso? Proibi-la de criar suas joias?
— Como alfa, eu terei muito mais coisas para atender do que criar joias — disse melancólica e Petrus suspirou.
— Em outro momento falaremos sobre isso.
Ela o olhou com o cenho franzido, sem entender.
— Como desejar.
— Há uma gruta muito bela, acredito que gostaria de ver. A luz vem de uma pequena brecha nas rochas e ilumina a gruta e parece que há pontos de luz por todo lado. Precisa se molhar para chegar nela.
Ela sorriu interessada.
— Parece bonito.
— Gostaria que te levasse ali?
— Adoraria. O senhor me dá um momento para colocar o maiô?
— Me chame de Petrus e não precisamos de um maiô.
Ele pegou sua mão e a puxou, desceram as escadarias de mármore que dava à praia.
Não ficava longe de onde estavam e, quando chegaram às rochas, ela olhou o mar com um azul tão intenso que lhe arrancou um suspiro.
Aquela enseada era pequena com somente um pequeno espaço de areia e dos dois lados tinham imensas pedras claras e sua mata nativa.
A visão da natureza maravilhosa foi quebrada quando ele tapou sua visão com seu corpo com um leve sorriso malandro nos lábios e ele tirou seu chapéu e o colocou no chão e logo tirou sua própria camiseta,
o que quase a fez ofegar.
Ele era bonito, com os músculos fortes torneados, os gomos da barriga bem definidos, tinha os ombros largos e algumas tatuagens.
Sem que ela tivesse tempo de protestar, Petrus estava nu na sua frente.
Ela ficou um pouco desconcertada, não porque estava com vergonha dele, porque era acostumada a ver os lobos nus e estar nua, apesar de sempre preservar-se aos olhos dos outros ao máximo, por sua posição.
Mas estava receosa de como ele havia mudado seu comportamento com ela.
Nos três dias que estava na ilha, ele tinha a ignorado ou sido ríspido, perdia rapidamente a paciência e agora estava ali, tranquilo com ela, sendo gentil. Não estava entendendo a mudança de humor.
— Vejo a confusão nos seus olhos, Pietra.
Ela sorriu.
— Seu nome combina com o meu. — Ele riu.
— Combina. Pietra, um nome italiano com raiz grega. Significa pedra, rocha, rochedo... Seu nome, assim como o meu, se origina do nome Pétros, que também significa pedra ou rochedo.
— Coincidência, não é?
— Diria que podemos nos encaixar.
— Está sendo gentil...
Ele deu a volta por ela e sussurrou em seu ouvido, fazendo-a se arrepiar.
— Estou tentando ser cordial com você.
— Isso é bom.
— Sabe que primeiramente quis jogá-la daqui? E queria rasgar a garganta do bastardo do seu pai por ser um crápula.
Ela olhou-o espantada.
— Talvez eu devesse ir, então. Não desejo uma luta e não desejo estar onde não sou bem-vinda.
— Nós dois temos uma obrigação.
— Mas não serei maltratada ou insultada.
— Eu sei, eu fiz isso, mas ofereço uma trégua.
Ela olhou-o pensativa e Petrus quase sorriu ao ver como ele via que sua mente borbulhava.
— Aceita? — disse se aproximando mais dela e a olhando intensamente.
— Aceito.
Ele sorriu, pegou sua mão e beijou e depois deu a volta nela novamente. Isso a deixava tonta.
— Vamos ao lugar que falei?
— Sim.
— Acho que precisamos tirar isso, não queremos estragar este lindo vestido, não é?
Ela acenou que não e ele lentamente deslizou seu zíper de suas costas, passou os dedos pelas alças e o vestido deslizou pelo seu corpo e caiu na areia, ele deu uma longa olhada para seu corpo, o que a
fez ofegar.
Ele olhou para ela, admirando-a. Ela era perfeita, e usava uma calcinha de renda e um sutiã tomara que caia, brancas.
— Sabe, é a primeira vez que vejo uma loba ruborizar por mostrar seu corpo. E você nem está nua completamente.
Ela suspirou, tentando se recompor.
— Você me confunde, alfa.
— Por quê?
— Sua mudança de humor.
— Você disse que veio aqui para me conhecer, não foi?
— Sim.
— Eu sou um lobo pacífico, sempre tenho bom humor, salvo quando realmente me irritam. Gosto de alegria e gosto de sexo, gosto de desfrutar de uma fêmea bela.
Ela ofegou quando ele deslizou um dedo em sua clavícula e pelo seu colo, entre seus seios.
— Ouvi falar — disse.
— Isso te incomoda?
— Deveria?
— Não, pois, como minha companheira deveria desfrutar comigo.
Ela engoliu um ofego.
— Seria bom.
Ele sorriu.
— Então, para poder desfrutar, também seria bom se não apertasse suas mãos assim, tão fortemente — disse pegando suas mãos e soltando-as. — Não vou machucá-la, ou fazer nada que não queira. Estamos nos
conhecendo, só isso, e para te provar que estou com boas intenções, permitirei que fique com este lindo e sexy lingerie posto.
— Vai?
— Vou.
Ele se aproximou e ela pensou que fosse beijá-la, então ele deu aquele sorrisinho malandro novamente, se afastou, pegou sua mão e a puxou para a água.
— Sabe nadar, Pietra?
— Si... Sim.
— Não tenha medo, é totalmente seguro e estarei contigo o tempo todo, ok?
— Ok — disse nervosa.
Quando estavam ao lado de uma imensa rocha cinzenta com a água até na cintura, ele a olhou e sorriu.
— Vamos mergulhar para atravessar a rocha e assim, estaremos na gruta. Não tenha medo.
— Não terei.
— Não se preocupe, eu não vou te afogar.
Ela sorriu. Ele puxou ar e o prendeu, e ela fez o mesmo. Ambos mergulharam e nadaram por baixo das pedras. A água era translúcida e podiam ver claramente, eles passaram as pedras e ele começou a subir,
saíram da água e ela tossiu, puxando o ar.
Petrus agarrou sua cintura e a trouxe para seu peito para mantê-la fora da água.
— Viu, está tudo bem.
Ela agarrou seu pescoço e olhou ao redor ficando boquiaberta.
Era magnífica, a luz que brilhava no fundo da água era do sol, mas parecia que o fundo era cheio de holofotes e a luz cintilava pelo movimento da água e iluminava o teto baixo de pedras, dando nuances
de azul e branco e réstias prateadas.
Parecia mágico.
— Oh meu Deus, que lindo!
Ela riu encantada e Petrus ficou olhando atentamente para ela. Estava tentando desvendar sua prometida e gostava do que estava vendo, ela era linda, feminina, naturalmente sexy, sem ser forçada e vulgar,
era doce, delicada e parecia inocente.
Ela não tinha nada daquele ar arrogante de seu pai e seu irmão. Não tinha nenhuma malícia nela.
Ele não negou a si mesmo que gostava do que via e sentiu uma ponta de esperança que aquela união não fosse de todo ruim.
Ela seria uma boa companheira, cuidaria dele e seria boa para a alcateia e com certeza também uma boa mãe para os seus filhotes.
Ele a trouxe mais para o seu peito, abraçando-a pela cintura e passou um dos braços por baixo de seu traseiro e ela automaticamente enroscou as pernas na sua cintura e ofegou pelo quanto estavam próximos
e naquela posição erótica.
Ela o olhou com os olhos arregalados.
Pelos deuses, como tinham chegado àquilo, daquela maneira tão abrupta?
Ela estava desconcertada, assim como ele.
Petrus suspirou.
— Gosto do que vejo, Pietra.
— Eu também.
— Isso tudo é tão errado, mas é nosso destino.
— Eu sei.
Ela baixou o olhar para seu peito e olhou a tatuagem que ele tinha gravada ali, que atravessava seu tórax.
— Liberdade... Está prestes a perder sua liberdade — ela sussurrou, contornando as letras com a ponta dos dedos, fazendo o corpo dele reagir e excitar-se. — É por isso que estava tão irritado?
— Oh não, não tenho aversão por uma companheira, apesar de gostar de desfrutar de sexo por aí. Somente a liberdade que isto representa é muito mais profundo. Algo que seu pai tirou de mim.
— Sinto muito.
Ele olhou para aqueles lindos olhos verdes e não resistiu à tentação, tomou seus lábios em um beijo, lento no início, sentindo seus lábios, sentindo seu gosto, a maciez, então, aprofundou o beijo, poderoso
e selvagem.
Oh era bom, delicioso.
Petrus deslizou suas mãos pelas suas costas, sentindo suas curvas enquanto boiavam na água quente.
Era deliciosa. Ofegante, ele a soltou por um momento.
— Eu lhe devo um pedido de desculpas — ele sussurrou entre seus lábios.
— Por quê?
— Tenho sido rude com você desde que chegou. E fui injusto porque está neste barco tanto quanto eu.
— Eu não me ofendi, entendi que estava reagindo porque não deseja se casar comigo.
— Eu sabia que a hora chegaria, mas quando a vi aqui...
— Meu pai sabe como colocar o dedo na ferida e se impor.
— Sim, ele sabe.
— Ele não é mau. Talvez um pouco duro, mas não mau.
Ele queria contestar, mas suspirou, afinal era seu pai e pelo visto ela gostava dele. Ele sabia que muitos alfas mantinham as filhas à margem de seus negócios, principalmente as mais abastadas. Ele percebeu
como o carcamano jogava e, pela maneira que ela se comportava e pela sinceridade que sentia nela, sabia que Pietra Scopelli era uma delas.
— Você poderia se opor, Pietra.
— Não posso, tenho minhas responsabilidades, e você sabe o quanto perderia. Esta magnífica ilha é sua, por direito, não pode perdê-la.
— Sim, eu sei — disse e suspirou.
— Na verdade, eu não entendi exatamente como a sua ilha virou meu dote.
Petrus fez uma careta. Merda!
— Você não sabe nada dos negócios do seu pai?
— Não. Meus irmãos é que estão à frente das empresas com meu pai; na verdade, eu tenho vivido mais em Milão, cuidando dos meus estudos.
— Entendo.
— Vamos fazer isso funcionar, eu prometo me esmerar em agradá-lo. Se não fizermos este acerto agora entre nós, é melhor nem começarmos.
— Certo. Vamos tentar.
— Ok.
— Ok.
Ele a beijou novamente.
Era tudo tão certo e ao mesmo tempo tão errado que ele não sabia se fugia ou avançava. Nunca se sentiu perdido com uma mulher, sem saber se cruzava a linha ou não.
Ela estava seminua, escarranchada na sua cintura e pertencia a ele. Petrus estava excitado e dolorido e mesmo assim os sinos na sua cabeça continuavam badalando, avisando para recuar.
Estava sentindo luxúria, sim, como não sentir com aquela mulher deliciosa agarrada a ele daquele jeito. Um simples movimento e poderia estar dentro dela, enterrado em seu sexo.
Ele deslizou as mãos pelo seu traseiro, apertando, puxando-a contra ele, contra seu membro rijo, excitado e soltou um gemido de prazer.
Ela se contraiu contra ele e foi se afastar, mas era tarde demais, ele a beijou profundamente.
O turbilhão invadiu seu corpo e sua mente e ela não soube bem o que ele fez, mas a deixou tonta e quando se afastou, estava com suas costas em uma pedra lisa e ele estava sobre ela, imprensando-a com seu
corpo másculo, gemendo e soltou um rosnado em seu pescoço.
Ela arregalou os olhos quando olhou para ele, seus olhos estavam cintilando, brilhantes como o mercúrio, seu cabelo caía em seu rosto e seu rosnado a fez tremer inteira.
Misericórdia, onde estava se metendo?
Fascinante, ele era fascinante, intenso e mágico.
Ele lhe deu um doce beijo nos lábios, que ainda arfavam por tudo aquilo, rápido e intenso. Ele ajeitou sua calcinha no lugar e a endireitou em seus braços.
Mas ele se afastou um pouco. Ela piscou confusa porque ele estava se afastando e parecia nervoso.
— Um libertino confuso, isso deve ser novidade — ela disse com um sorriso.
Ele riu e lhe deu um beijo suave nos lábios.
— Acho que a madame exerce algo perigoso sobre mim.
— Hum, isso acredito, deveria me sentir lisonjeada?
Ele riu e apertou suas nádegas quando ela se esfregou nele.
— Moça, não brinque com fogo, pode sair chamuscada.
Ela sorriu, gostou da risada dele. Ele era lindo quando ria.
Ele poderia seguir adiante e tê-la agora, de forma completa, obter seu prazer dentro dela, pois ela parecia disposta e como seu prometido tinha direito.
Ele jamais teria recuado em tentar um momento de sexo, ainda mais com alguém tão enroscada nele, mas algo simplesmente não desenvolveu dentro dele.
Era como se algumas engrenagens não estivessem alinhadas, e ele devia ser cauteloso sobre ela, ainda não confiava nela totalmente, então, eles somente ficaram ali, movendo-se na água, mudos, sem saber
o que fazer, o que falar.
Petrus recuando para conseguir sexo, isso era a novidade do século.
— Acho melhor voltarmos... — ela sussurrou, sem saber o que fazer.
— Sim, é melhor — disse com a voz rouca.
Ele precisava de uma ducha gelada, porque dentro daquela água não estava funcionando, pois ia explodir novamente.
— Pronta?
— Sim.
Eles tomaram ar e mergulharam e logo passaram as pedras e chegaram à praia novamente e saíram do mar.
— Vamos para casa tomar um banho, vou lavá-la a um restaurante em Creta, onde servem os melhores frutos do mar.
Ela riu e ele a olhou indagativo, erguendo uma sobrancelha.
— Não deseja ir?
— Um lobo comendo frutos do mar... — ela disse divertida.
— Me diz que não come?
— Oh sim, como, foi somente uma relação tola.
— Posso conseguir um bife malpassado ou um coelho cru, se deseja.
Ela fez careta e depois riu e ele riu também.
— Pode me alimentar com frutos do mar e vinho branco, acredito que ficarei muito feliz.
Ele riu.
— A senhorita gostaria de nos acompanhar amanhã ao torneio na Ilha dos Lobos? Gostaria de apresentá-la aos meus amigos.
Ela sorriu pelo convite inesperado e perfeito. Ele a estava aceitando e era um alívio para seus temores. Apresentá-la aos seus amigos era um passo gigantesco.
— Seria um prazer.
Petrus a olhou por um momento longo.
Sim, ele poderia ficar bem, muito bem com sua prometida.
Ele faria isso funcionar. Era o certo a fazer para terem paz, porque a última coisa que queria era uma guerra.
Ele suspirou e uma pontinha de calmaria entrou em seu coração.
E, em seguida, pegaram suas roupas e foram para dentro da casa se preparar para jantar.
Ilha dos Lobos, Grécia, dias atuais...
Annelise estava parada no meio do quarto, segurando sua filha Cassidy no colo e a embalava levemente. Ela estava com os olhos marejados de lágrimas por observar o que seu companheiro fazia.
Kirian, na sacada de seu quarto, segurava seu filho, Collen, somente de fraldas, entre suas enormes mãos, o elevava acima de sua cabeça, e recitava uma oração na antiga língua celta.
Annelise não entendia as palavras, mas sabia o que significavam, pois ele havia explicado.
Kirian estava orando, agradecendo pelo seu filho, assim como já tinha feito com a filha e apresentando-o aos deuses. Assim, os deuses receberiam o pequeno lobo e o protegeriam.
Era um antigo ritual que os lobos faziam quando seus filhos nasciam. Aquela noite era propícia, pois a lua estava cheia e brilhante, o céu carregado de estrelas e o universo os observava.
Os lobos eram parte da natureza, necessitavam e exalavam sua energia e eles faziam o ritual para entrelaçar a alma de seu filho com a natureza, para que seu lobo sentisse seus instintos mais aguçados,
para que a natureza interagisse com ele e os deuses conhecessem sua existência.
Era a harmonia de sua raça com a vida e a magia.
Annelise colocou sua pequena filha no berço e Kirian se aproximou, beijou seu filho na testa, depois fez um leve carinho com seu nariz no dele e com sua bochecha na sua, sentindo a suavidade de sua pele
delicada e sentindo o cheiro delicioso de bebê, depois o colocou no berço.
Kirian nunca pensou que adoraria tanto umas coisinhas minúsculas cheirando a talco, mas estava um lobo babão.
Agora ele entendia Noah, que carregava seu filhote para todo lado e ficava trocando longas conversas com o pequeno, que mesmo sem entender nada, ficava atento ao som de sua voz.
Ele abraçou Annelise pelos ombros e quando ela o olhou com um doce sorriso no rosto, ele automaticamente sorriu. Era impossível não sorrir para ela. Sua doce companheira.
Ficaram um tempo ali, calados, somente observando as crianças, como se não conseguissem acreditar que aquelas coisinhas lindas eram fruto do amor deles.
Ele sentiu seu coração tão cheio de alegria e amor por ela e seus filhos que era quase inacreditável.
Ela estava mais linda do que nunca, com seus olhos brilhantes porque toda escuridão e tristeza havia ficado para trás.
Ele também entendeu uma frase de Erick. Eles não esqueceriam o passado, mas aprenderiam a deixá-lo para trás e olhar para as coisas boas que o presente estava oferecendo: a esperança de ter um futuro feliz.
Os últimos meses de sua vida tinham sido surreais, incríveis e felizes.
Ele tinha sua companheira e foi magnífico ver seu ventre ficar cada dia mais abaloado, carregando seus filhos. Ele nunca esqueceria a cara de espanto de Annelise quando Virna a examinou e fez os exames
necessários e confirmou sua gravidez, que Erick havia afirmado no casamento de Liam.
Ela tinha chorado de alegria.
E depois disso, ele pôde mimá-la como queria, usufruir como necessitava.
E quando eles nasceram? Bem, Kirian não tinha encontrado a palavra correta para descrever seus sentimentos.
Agora eles estavam ali, lindos e saudáveis, crescendo a cada dia.
— Isso foi lindo, Kirian. Gosto dos rituais que vocês fazem, parece tão místico e fascinante — ela disse.
— Agora os deuses protegerão nossos filhos.
— Está feliz?
— Nunca imaginei que tal felicidade me fosse permitida.
— Fico feliz que seu coração esteja curado, pelo menos acalentado.
— Você me curou.
Ele beijou sua testa e eles ficaram abraçados, olhando para as duas criaturinhas no berço, que de maneira despreocupada e tranquila os olhavam, debatendo os bracinhos suavemente.
— E está preparado para este torneio amanhã?
— Oh, eu sempre estou preparado para uma luta de espadas.
— Bem, e tem certeza de que não morrerei do coração? Porque somente vi isso nos filmes, ver uma luta de espadas antigas assim ao vivo, creio ser um pouco demais para mim.
Ele riu e a beijou docemente.
— Minha doce Anne, será ainda mais interessante que nos filmes, porque estará vendo guerreiros de verdade lutando, uns que possuem dois mil anos de idade.
— Fascinante! Contando ninguém acreditaria e será lindo, mesmo porque eu adoro vê-lo de kilt e sem camisa. Oh parece tão selvagem e... delicioso.
Sua fêmea o admirava abertamente e isso o deixava feliz.
— Todos os lobos estão eufóricos para ver isso e lutar com eles.
— Não há perigo?
— Não há, tomarei cuidado, eu prometo.
— Bem, então deixarei que lute.
Kirian se segurou para não gargalhar alto pela ousadia de sua fêmea e para não assustar seus pequenos. Mas sabia que ela estava zombando.
Annelise ficava tão abobalhada quando o via treinar e exercitar-se que ele se sentia maravilhoso, poderoso.
— Podemos usufruir de nosso luau esta noite, porque estes pequenos vão dormir tranquilos.
— Sim, vamos, poderemos ouvi-los se chorarem, então voltaremos.
— Sim, num salto.
— Eles são tão lindos.
— Sim, preciosos.
Houve outro silêncio entre eles.
— Kirian?
— Sim, anjo?
— Você acha que eles serão lobos? Quer dizer, que puxaram a você, e que poderão se transformar?
Kirian a olhou e, em seguida, para as crianças e suspirou.
— Eu não sei, devemos esperar eles crescerem e atestarmos se eles se transformam ou não. Como você é humana pode ser que eles sejam humanos.
— Mas seus olhos são verdes tão claros quanto os seus e Lili, por fim, é uma loba com genes recessivos. Ela demorou a se transformar, mas ela o fez.
— Sim, eu sei e eles parecem lobos e cheiram como tal, mesmo sendo mais suave que o normal.
— É certo. Pode-se fazer alguns exames neles para saber?
— É possível.
— Por que não fizeram em Lili?
Kirian suspirou.
— Depois de tudo o que ouviu sobre o que passamos nos laboratórios pensa que Jessy permitiria testes em sua menina?
— Oh! Entendo.
— O Dr. Herbert chegou a oferecer para Jessy que fizessem testes, mas ela recusou. Não permitiria que ela fosse testada para nada. A não ser que fosse para salvar sua vida, o que não era o caso.
— Isso quer dizer que você também não deseja fazer?
— Não, não desejo.
— Ok. Sem problema, foi somente uma ideia. Não se importa se eles forem humanos?
— São seus, Anne, só isso me importa. — Ela sorriu e suspirou o abraçando. — Mas não fique preocupada, porque eu sou um lobo forte e potente, como sabe e, com certeza, puxaram ao pai.
Ela riu e tapou a boca para não fazer barulho, pois seus pequenos estavam cochilando.
— Esqueceu-se de dizer que além de potente, a ponto de me fazer dois filhos de uma vez, é feroz e modesto.
Ele riu e suspirou e os dois ficaram pensativos.
De repente, ela se virou e olhou para ele com o olhar preocupado e Kirian viu ali algo que não gostou.
— Se eles forem humanos, viverão como humanos.
— Sim...
— Eles ficarão velhos e morrerão, enquanto você... Verá isso, pois na sua idade de lobo... Cento e sessenta e um anos... Viverá muito ainda — sussurrou.
Kirian retesou o corpo e a olhou com temor.
Ora merda, ele não havia pensado nisso, exatamente.
— Eu morrerei, Kirian...
— Anne, pare com isso.
— Mas é a verdade, é um fato, eu e nossos filhos morreremos e... você ficará... sozinho... de novo.
— Eu sei, a não ser que se transformem em lobos — disse angustiado.
— Você terá que mordê-los.
— Quando eles crescerem, se o desejarem, então eu farei.
— Não quero isso. Não quero deixá-lo, não quero abandonar a vida que você me deu, porque estou muito feliz para conseguir abrir mão disso.
— Está feliz?
— Pela primeira vez na minha vida eu estou realmente feliz. Eu percebi que nunca fui feliz antes, que a vida que eu tinha era apenas um engodo, uma falácia, que eu odiava. Porque isso que temos agora é
maravilhoso.
— Quer realmente ser uma loba?
— Sim, eu quero ser uma de vocês. Não quero que você sinta minha perda e nem de nossos filhos. Seria uma dor horrível e eu não quero isso para você.
Emocionado, Kirian acariciou sua mandíbula com os dedos e um nó se formou na sua garganta.
— Não quero que me deixe.
— Então devemos fazê-lo, deve me morder e me transformar. Não há nada que impeça agora.
— É o que mais desejo, que seja minha loba, que possa correr no bosque comigo.
Ela sorriu.
— Parece divertido.
— Sim, é divertido. É nosso lado animal interagindo com a natureza. Nossa magia na sua essência.
— Adoro sua magia... E está na hora de dá-la para mim. E se nossos filhos não se transformarem naturalmente, então, nós o faremos. Nossa família ficará unida, Kirian. Até quando os deuses permitirem, mas
do seu jeito.
Ele a beijou, longamente, devorando sua boca, emocionado com suas palavras, arrebatado pelo que ela sentia e dizia. Ele tinha esperado por este momento quase como um beduíno perdido no deserto esperava
por um oásis.
Ela queria ser sua loba.
Kirian a tomou nos braços e a levou para a cama, deitando-a e cobrindo-a com seu corpo e ela o ajudou a retirar sua roupa.
A alcateia tinha aceitado Annelise como humana e ela poderia viver ali daquela maneira, mas o pensamento de vê-la envelhecer e morrer era assustador.
Ele não queria isso, tinha explicado tudo a ela e ele tinha esperado que ela tomasse a decisão. Há um ano convivendo com os lobos, Annelise somente tinha ficado cada dia mais encantada com eles e já não
havia nenhum receio ou medo sobre sua espécie.
Ela tinha tido uma gravidez tranquila, após o susto de descobrir que estava grávida de gêmeos, pois pensava que não podia ter filhos e o pensamento de ter dois a assustou, mas a excitação e alegria tinham
imperado.
Depois disso, ninguém cogitou de ela ser transformada, mesmo por que, ninguém sabia se era possível, ou perigoso transformar uma humana em loba quando estivesse grávida. Então o assunto foi esquecido.
Eles tinham aprendido a conviver da maneira linda que ele não imaginou que seria, porque tudo era muito mais do que Kirian sequer imaginou que seria em ter uma companheira.
Em ter seu anjo.
Mas ele tinha se calado em questão de sua loba.
E agora, sua companheira, aquela mulher incrível que fazia de tudo para agradá-lo, fazia de tudo para deixá-lo feliz e confortável, queria ser sua loba, por sua espontânea vontade.
Kirian estava mais encantado como nunca e em sua mente, ele tentava imaginá-la como ela ficaria como loba.
A única coisa que sabia é que ela seria linda e ele a amaria enlouquecidamente.
Ela lhe deu um sorriso tímido que a deixava encantadora e ele não pôde deixar de sorrir de volta e enroscou um de seus cachos no dedo, como adorava fazer.
— O que eu devo fazer? — ela perguntou, com os olhos arregalados, as sobrancelhas levantadas, excitada e nervosa ao mesmo tempo.
— Só me ame e deixe o resto comigo, minha Anne.
— Vai doer?
— Por um segundo quando mordê-la, mas não fique apreensiva, não vou machucá-la.
— Ok...
— Confia em mim?
— Confio.
Ele sorriu, deu um beijo em seus lábios e depois em sua mandíbula, escorregando seus lábios em sua linha pelo seu pescoço, fazendo-a soltar um leve gemido.
Ele passou a mão pela sua perna, empurrando para cima sua longa camisola de seda preta, que a deixou linda e, que tinha o feito suspirar ao vê-la e automaticamente estava excitado, extasiado e querendo
tomá-la.
Com os dentes, ele puxou o decote da camisola e descobriu seu seio e rosnou quando ela arfou por ter tomado um mamilo na boca e sugado, mordido e lambido com êxtase.
Oh, ele amava seus seios, lindos, doces como fruta madura, na verdade ele amava cada parte de seu corpo.
Enquanto ele a torturava daquela maneira deliciosa, deslizou sua calcinha pelas suas pernas e rapidamente seus dedos tocaram seu sexo, estimulando-a e o deixando louco por perceber como ela já se encontrava
quente, excitada e escorregadia por ele.
Annelise se arqueou na cama e gemeu quando a penetrou com os dedos. Ele desceu depositando beijos pela sua barriga e ergueu os olhos para olhá-la quando tomou seu sexo na boca.
Adorava ver sua reação. Annelise soltou um grito de prazer, arqueou novamente na cama e fechou os olhos, porque a sensação era deliciosa demais.
Ele era maravilhoso fazendo aquilo e ela amava sua boca.
Kirian rosnou porque seu sabor o deixava louco. Suas presas logo cresceram, porque seu lobo estava saltando dentro dele, ávido e descontrolado, exigindo tudo dela e querendo tomá-la e ele continuou sua
brincadeira, deixando-a louca com a língua e penetrando-a com os dedos.
Ela gemeu fortemente e agarrou os lençóis porque estava na borda para ter seu orgasmo, que cresceu em seu interior, queimando-a por dentro.
Percebendo sua companheira, Kirian cobriu seu corpo com o seu.
Ele estava tão excitado, seus olhos cintilavam como duas lâmpadas acesas e ele a penetrou, profundamente, enterrando-se dentro dela com um movimento lento e contínuo, até estar todo dentro dela, e ela
gritou, mas seu grito foi abafado por seu beijo.
Aquilo não era um simples beijo, era a marca que estava deixando nela. Uma marca de fogo, uma marca de lobo, de posse, de mil promessas e comprometimentos. De laços sendo formados, laços irrevogáveis,
que não se desmanchariam jamais.
Ele empurrou dentro dela uma e outra vez, ora lento e tortuoso, mas experimentando as sensações que seus corpos unidos transmitiam, ora mais forte, forçando o prazer para que se libertasse, quase os deixando
insanos.
O prazer deste ato era tão intenso e prazeroso. Tão perfeito.
Ele tirou sua camisola pela cabeça, para poder sentir todo seu corpo colado no dele, para sua transpiração se misturar com a dele, para que o fogo que os atingia se mesclasse.
Ela deslizava suas mãos por seus ombros, seus braços e peito porque o achava tão lindo, másculo e o poder de seu corpo a deixava fascinada.
Kirian passou o braço pelas suas costas, a mão pela sua nuca e a ergueu um pouco do travesseiro e se enterrou nela profundamente e então, sem mais demora, com suas presas salientes, ele a mordeu no ombro.
Annelise tentou gritar, mas ficou engasgada, com a respiração presa pela sensação louca e intensa que a atingiu, porque unido à dor da mordida, a sensação de posse se apoderou de seu corpo e seus sentidos,
e o orgasmo mais violento que teve na sua vida, atravessou seu corpo. Era tudo demais para assimilar.
— Kirian... — ofegou e gemeu.
Kirian também ficou perdido no meio daquelas sensações, com o gosto de sangue em sua boca, o deixando hipnotizado, derramou sua semente dentro dela, tão quente, que parecia estar queimando-a por dentro.
E foi muito vago ela ouvir seu rosnado que retumbou pelo quarto, e logo, ele recitou as palavras do ritual sagrado.
Porque diante de seus olhos somente via estrelas pipocando, sentia seu corpo formigando e a magia a rodeando.
Uma onda multicolorida rodeava pelo quarto cruzando entre eles, penetrando em seu corpo, mudando sua essência.
Ela não soube quanto tempo aquilo durou, porque estava quase em transe e então ele rosnou novamente, ainda dentro dela, se virou na cama e a trouxe para seus braços, sem quase conseguir respirar, porque
estava muito tonto para isso.
Ele a abraçou forte contra seu peito, amando, acalentando e reivindicando sua loba.
— Eu te faço minha, Annelise, minha loba, minha amada e te juro lealdade, amor e a protegerei com minha vida, agora e sempre, porque meu coração e minha alma lhe pertencem.
Ela o ouviu e retribuiu o beijo suave que ele lhe deu nos lábios, e com as mãos trêmulas retirou os cabelos longos dele que caíam sobre seu rosto e, olhando para aquele rosto, tão lindo que ela tanto amava,
somente sentia seu mundo girar, girar ao redor dele.
— Amo você, Kirian, agora e sempre. — Ela engoliu o nó da garganta e seus olhos se encheram de lágrimas. — Eu sou grata pelo amor que me dá e eu prometo amá-lo de volta, com todo meu coração durante nossa
longa vida e além.
— Meu anjo... — sussurrou lhe dando doces beijos.
— Ao fim, minha loucura de quando cheguei aqui era verdade.
— Que verdade?
— Eu estou no céu. Eu estou...
Kirian a beijou e a amou como nunca. E eles dormiram assim, abraçados e encantados. E o luau daquela noite foi esquecido, porque nada os tiraria daquela cama. Eles fizeram amor de madrugada e Kirian a
mordeu novamente, completando o ritual. Annelise não queria dar tempo e nem aguardar dias, queria tudo agora, e ele deu.
Ele tinha sua loba agora e o medo de ficar sozinho para o resto de sua vida havia o abandonado.
Kirian fez uma oração aos deuses para agradecer. Agora se sentiu abençoado, porque não tinha mais motivos para pedir perdão, para pedir socorro ou misericórdia, ele somente tinha a agradecer, porque os
deuses finalmente tinham ouvido suas súplicas e o recompensado.
Quando o dia clareou, Kirian acordou e sentiu falta de Anne na cama e sentou, olhando ao redor.
— Anne?
Ele saltou da cama quando ouviu um uivo esganiçado no banheiro. Com um pulo ele estava na porta da suíte, quase arrebentando a porta e arfou quando a viu.
— Anne?
A loba de cor pérola somente com algumas manchas marrom nas costas e rabo, uivou assustada para ele e o olhava com lindos olhos azuis muito claros.
— Oh, meu anjo, você se transformou!
Ela estava entre a pia e a banheira e Kirian se ajoelhou e acariciou suas orelhas e beijou sua cara, extasiado ao vê-la.
— Linda, linda, divina, Anne. Mas por que não me esperou para se transformar, o que houve?
Ela arfou.
— Não sei o que fiz, acordei e vim ao banheiro e estava me olhando no espelho, me imaginando como seria como loba e bum! Virei loba. Foi assustador!
— Um simples comando e pode se transformar, faça isso agora e voltará.
— Oh, você me ouviu?
— Sim, anjo, eu ouço você.
Ela riu e suspirou e num piscar de olhos estava como humana, nua, sentada no chão e o olhou com os olhos arregalados e riu.
Kirian riu e a beijou uma e outra vez.
— Loba, minha loba hoje e sempre comigo.
— Oh, isso é incrível, como é fácil e foi... mágico, incrível, assustador!
— Você é uma de nós agora.
— Fascinante, fascinante! Eu me transformei numa loba.
Ele riu de sua empolgação, isso o deixava imensamente feliz.
— Na mais linda loba do mundo.
— Agora eu faço parte dos contos de fadas! De verdade!
Ele riu e ela o abraçou, rindo. Beijaram-se avidamente e ele rosnou tomando-a no colo e, com dois saltos dele, caíram sobre a cama e fizeram amor, enlouquecidamente.
Somente parando com sua aventura erótica quando os pequenos acordaram e ela foi amamentá-los, ainda sem parar de rir e falar, o que somente deixou Kirian conhecendo um grau de felicidade que ele pensou
ser impossível.
Finalmente ele tinha sua loba, sua família e era maravilhoso.
Arizona, Estados Unidos, dias atuais...
Sami se escorou na cabeceira da cama, acendeu um cigarro e soltou a fumaça lentamente, observando o movimento da fumaça, logo pegou a garrafa de cerveja gelada que John oferecia.
Ela calmamente pegou e tomou um gole e ele, nu, deitou na cama ao seu lado, espreguiçando-se.
— Você está muito séria hoje, gata.
— Só pensando.
— No que esta cabecinha está pensando?
— Quero saber quando você vai me levar nestas lutas que você frequenta.
— Mas eu te levei.
— Nas de verdade, John, e não onde treina e faz suas demonstrações. Quero as grandes.
— Isso não é coisa para garotas.
— Ah, mas eu não sou uma garota comum, meu bem.
— Eu sei bem disso. Inclusive é uma garota má que me deixa louco e depois me abandona — disse divertido.
Ela fez um beicinho e bebeu um gole da cerveja.
John deslizou a mão pela sua perna e Sami ergueu a perna e ele riu.
— Sou uma mulher muito ocupada, sabe como é.
— Sei, misteriosa, bandida e sexy como o próprio diabo. Quando vai me dizer o que exatamente faz aqui? Uma mulher como você, perambulando sozinha por aí, se aventurando nos bares. Isso é perigoso.
— Eu sei me cuidar.
— Há homens perversos por aí.
— Oh, querido, eu sei o quanto os homens podem ser malvados. Eles podem se tornar literalmente umas bestas e rasgar sua garganta.
Ele riu de seu trocadilho, sem saber que era uma realidade para ela.
— Você não pertence aqui.
— Um dia vou estar onde pertenço.
— Bom.
— Você não pertence aqui também, John, é um bom homem, merece uma vida melhor que este fim de mundo.
— Um dia terei meu lugar ao sol, você vai ver, vou virar um grande lutador e morarei numa mansão na Califórnia.
Sami sorriu.
— Torcerei por você.
— Mas gostaria de ter você comigo.
— Me terá novamente somente se me levar para ver suas lutas. As de verdade.
— Por que quer tanto ir?
— Sou uma mulher que gosta de aventura, gosto de emoção.
— Sei disso.
— E afinal, eu gostaria de ver você ganhar uma luta para mim.
— Bem, eu faria isso com gosto, mas as lutas já mudaram de lugar e não é mais minha categoria. Não fui convidado a lutar.
— Como assim? Pensei que os ringues estavam aqui no Arizona?
— O ringue é móvel, querida, e é proibido a entrada de qualquer pessoa estranha, somente entra as pessoas vips e os lutadores são convidados.
— Para que serve este teu agente que não coloca você no topo? É um imprestável.
— Ele está tentando.
— E você sabe para onde foi?
— Não, eu não sei, isso é confidencial, somente quem vai lutar sabe onde é e os convidados.
— Tem certeza disso?
— Sim, eu tenho. Mas ouvi uns burburinhos, tenho a impressão de que foram para Las Vegas, ou pelas redondezas, meu agente está tentando descobrir e conseguir uma luta para mim. As categorias mais especiais
precisam de apostas mais altas, então eles vão onde o dinheiro está.
— Que melhor lugar do que Vegas?
— Isso aí, baby.
— As apostas são muito altas?
— Oh, verdadeiras fortunas.
Sami ficou olhando seriamente para John por alguns minutos, depois levantou, soprou a fumaça e apagou o cigarro no cinzeiro. Alisou seu vestido muito justo preto e curto que colava em seu corpo torneado
e calçou os sapatos de salto.
— Ei, aonde você vai? — ele perguntou.
— Vou embora.
— Já? Mas pensei que passaria a noite comigo, gata.
Sem mexer um músculo da face, ela tocou a face dele com um leve carinho no queixo.
— Eu gostaria de ficar, mas tenho um compromisso.
— Vai continuar na cidade?
— Não, eu vou partir.
— Ah, que pena, vou sentir falta desta gata gostosa e sexy, tão cheia de mistério que quase me fez ficar de quatro. Gosto de ficar com você.
Ela deu um leve sorriso, se abaixou e beijou seus lábios.
— Tome cuidado com estas lutas, às vezes você pode topar com alguém muito mais forte que você e que pode realmente te machucar.
— Isso nunca vai acontecer, pois eu sou bom nisso, serei um campeão.
— Ah, querido John, você é inocente.
— Não vai me deixar seu telefone desta vez?
— Não. Eu tenho o seu e te ligarei.
— Vou esperar.
— Se tiver novidades irá me contar?
— Claro, princesa. Mas precisa me ligar constantemente pra saber.
Ela sorriu e o beijou novamente, pegou sua bolsa e saiu. Entrou no carro e foi para seu motel.
Quando chegou ao seu quarto, foi tirando a roupa, peça por peça e jogando pelo quarto até chegar ao banheiro e ligou a torneira para encher a banheira.
Ela abriu a seu nécessaire e dentro pegou o celular e ligou.
— Estou saindo do Arizona amanhã de manhã.
— Por que, o que houve?
— Eles não estão aqui. Os ringues mudaram de lugar de novo. Estou indo para Vegas.
— Tem certeza?
— Sim.
— Samantha, você não sabe se estarão naquela área, o fato dos ringues mudarem de lugar não quer dizer que os caras estarão por lá. Esse seu garoto não vai lutar?
— Não.
— Então esta informação deve estar errada.
— Bem, é a única pista que eu tenho, então eu vou procurar e você cobre minhas costas. Envie dinheiro, vou precisar.
— Ok. Tenha cuidado.
— Sim, eu terei.
Ela desligou o celular, o guardou novamente e foi até o frigobar, pegou uma garrafa de cerveja, pegou os fones de ouvido para ouvir uma música.
Sami tomou um longo gole da bebida e se olhou no espelho, tirou seus cílios postiços, as lentes de contato verde-escuras que ocultavam seus olhos verde-claros, quase translúcidos de loba, depois passou
loção para retirar a maquiagem.
Ela odiava as lentes, mas usava a maior parte do tempo.
Seu cabelo estava marrom com mechas mais claras, douradas e brancas. Isso não precisava ocultar, porque era normal uma mulher ostentar cabelos coloridos, todos achavam que eram mechas feitas no salão de
beleza.
Mesmo algumas vezes que saiu com os olhos sem lentes tinha causado frisson, mas todos pensavam que eram lentes.
Coisas de góticos, diziam.
Bem que os lugares do submundo que ela andava acarretava estas extravagâncias.
Então ela percebeu que se usasse este estilo de roupa mais gótico, misturado com um estilo motoqueiro, todos pensariam que o que ela usava era uma fantasia, era um estilo e não suas verdadeiras características
físicas.
As coisas não eram bizarras?
Quando a banheira estava cheia, ela entrou, acendeu o cigarro e ficou ali, bebendo, fumando e ouvindo música.
Sami soltou um longo suspiro e cobriu seu colo com a espuma perfumada, precisava tirar aquele cheiro de John dela.
Precisava de sexo, porque seu corpo pedia constantemente, mas não gostava do cheiro sobre sua pele, parecia que isso a irritava.
Parecia claramente que algo dentro dela se agitava. Podia jurar que a loba que habitava nela agora, rejeitava o toque de um homem, porque sua pele parecia formigar de forma diferente.
Mas sua libido estava sempre aflorada.
Sami tinha aflorado em todos os sentidos, tanto em relação ao seu corpo, como sua mente.
Ela não era mais a mesma Sami de antes.
Lentamente ela foi acariciando o seu corpo, enquanto ouvia a música Summertime Sadness, de Lana Del Rey, que tocava no fone. Aquilo pareceu que aumentou sua libido, seu desejo que estava sempre borbulhando,
torturando, deixou sua alma atormentada mais viva.
Os sentidos eram tão mais aflorados agora que ela era uma loba, os cheiros, as sensações, seu apetite sexual, tudo, e quando ficava zangada parecia que a violência pinicava sua pele, sem contar que tinha
mais energia, mais força, mais resistência.
Ela não tinha se transformado em loba nenhuma vez, somente na sua forma intermediária. Na primeira vez que ocorreu, foi sem querer, logo após saber da morte de seu pai, e quando tinha se visto no reflexo
do espelho tinha gritado e chorado.
Ela tentou voltar na sua fisionomia normal, como humana, mas não sabia como, então ficou encolhida no canto do quarto até que se acalmou o suficiente para poder voltar.
Ela tinha chorado, se revoltado e xingado. Tinha se embebedado e depois, tomando controle de si mesma, ela mudou seu comportamento.
Foi como se ela desligasse um monte de sentimentos que antes eram sua marca, agora não eram mais.
Uma nova Samantha surgiu. Ela não era mais a tonta, a medrosa, a burra que tinha cometido tantos erros e tinha deixado seu pai morrer.
Ela acabaria com toda aquela merda, pegaria os bandidos e se vingaria daqueles lobos bastardos.
Sami gemeu quando seu corpo reagiu ao seu toque e ela se lembrou do cheiro de Petrus, tão nítido em sua narina, na sua memória, tão sedutor, viciante e afrodisíaco.
O alfa poderoso que a dominava. Tomava todos os seus sentidos.
Ela sentia raiva quando se lembrava dele, porque ele era irritante, tão cheio de si e odiava aquelas cantadas baratas. Aquele ar superior que ele exalava, dominante.
Ela o odiava, mas não conseguia esquecer o rosto dele, seu toque. Seus beijos ainda pareciam queimar sua boca, sua mente.
Sami se lembrou do beijo que ele deu nela na cama, cobrindo-a com seu corpo, tão grande e forte, quente.
Ela fechou os olhos e suspirou, contorcendo-se na banheira, imaginando que Petrus a tocava, que estava ali, na banheira com ela, acariciando-a, excitando-a.
Aqueles olhos vibrantes olhando para ela, acendendo o fogo dentro dela. Aqueles lábios quentes, aquela beleza exótica, deslumbrante que a tinha deixado insana, deleitando-se com seu corpo.
Aquele toque forte que fazia seu pulso bater com força, acelerado, respondendo à sua luxúria, com o sangue fluindo sob aquela pele quente.
Imaginava a sensação dele beijando sua pele, deslizando seus lábios pelo seu pescoço, tomando seus seios, sugando, tomando-a como deveria, como ele dizia que faria, como ela gostaria que ele fizesse.
Sami tocou a si mesma, estimulando-se, penetrando-se com os dedos, e sua mente voou.
Sua imaginação estava viva, cheia de Petrus, e quando ela imaginou que ele a tomaria, ela sentiu a explosão de prazer irromper em seu corpo.
Arrancando um gemido alto, e logo um rosnado, que ecoou no banheiro.
Ela ofegou, estreitou os olhos e ficou ali na água esperando todas aquelas sensações passar, tentando respirar, esperando sua mente se acalmar e as memórias dele irem embora, mais uma vez.
Seu corpo se abrandou, relaxou e apaziguou, mas sua mente e seu coração não.
Ela sentiu vontade de chorar, mais uma vez, mas empurrou aqueles sentimentos tolos longe. Nunca mais derramaria uma lágrima por causa de Petrus.
Porque aquelas malditas imagens do lobo, grego, bastardo, metido a conquistador barato, mas lindo e maravilhoso não saíam da sua mente e faziam subir à superfície sentimentos que ela não queria sentir,
sensações que lutava para ignorar, pensamentos que não desejava.
E ela não sabia por que, pois se estava com raiva dos lobos não deveria sentir esta espécie de saudades, não deveria sequer pensar nele.
Sami não queria ter entrado neste mundo, fazer parte disso, ela não queria continuar atada àquela vida mágica, mas não havia volta, porque não podia simplesmente ir embora e esquecer, pois havia se tornado
uma deles.
E tinha que conviver com isso. Mas tinha uma missão e iria até o fim.
Talvez uma hora esta fixação por aquele homem-lobo passasse. Talvez quando ela cumprisse sua missão. Então, poderia esquecer todos eles.
Resignada, suspirou, saiu da banheira e se secou, vestiu uma camisola e foi dormir.
Na manhã seguinte, vendeu o carro que tinha, comprou outro barato, um dos antigos que ela achava um charme, rabo de peixe verde-claro, conversível. Colocou um lenço na cabeça para proteger seus cabelos
do vento e uns óculos escuros.
Pegou a rota para Las Vegas e sorriu ao fazer isso, porque sempre havia gostado daquela highway, a Rota 66, e estava livre para usufruir daquela viagem.
Porque depois de tudo que passou, algo aflorou em seu ser: seu espírito de aventura, sua coragem e seu lado selvagem.
Ilha dos Lobos, Grécia.
Ester suspirou, admirada, quando o grupo de Kimera, ante um grande flash de luz, apareceu na praia que era a sua praia privada, aquela era a maior da ilha e onde podiam reunir todos os lobos para o seu
ansiado torneio.
Seu grupo de lobos já estava reunido ali, esperando-os. Noah estava há dias excitado com o evento. Ele gostava de lutas, na verdade todos eles, e eram acostumados a fazerem na sua terra, a Irlanda, os
torneios típicos.
Há mais de doze anos que ele e seus lobos não faziam e então seria um grande evento.
Noah mudaria isso, e ficou feliz que o povo de Kimera aceitou participar, para que seus laços fossem estreitados.
Eles queriam lutar, mas o vencer não era importante. Eles queriam resgatar algo que tinha sido tirado deles, um momento de união, de divertimento, de confraternização entre os lobos.
Quando o povo de Kimera aparecia, sempre era uma comoção. Era difícil de acostumar com eles, por sua beleza, por sua imponência, por serem tão especiais.
O início de tudo, o berço de sua raça.
E Noah estava orgulhoso de eles terem se afeiçoado por sua alcateia e tentarem interagir de forma tão amigável. Por um lado, era por causa de Erick, mas era mais do que isso.
O rei Kayli era um lobo muito feroz e antiquado para bajular alguém. Sua simpatia era verdadeira e sua vontade de que os dois mundos voltassem a se unir era legítimo.
Bem, por fim, Noah acreditava que agora sua ilha estava protegida e segura, porque não haveria, na face da terra, um louco que ousaria se meter com eles para em consequência obter a ira do rei.
Ester era particularmente encantada com a rainha. Vanora era adorável e com uma magnitude ímpar.
Vanora estava ricamente vestida e ornada como uma rainha de filmes antigos, misturada com uma aura mística, com um vestido azul de um tecido fino e suave, com pequenas ranhuras, que caía em cascatas até
os pés, havia uma fenda na frente da saia que revelava outra saia lilás embaixo.
O decote era em V invertido, que era preso por um rico colar no pescoço, deixando seus ombros nus, e as bordas eram ricamente bordadas de pedrarias.
Abaixo do busto, sobre o vestido, havia um pequeno corpete de metal dourado com intrincados desenhos e torcidos com uma espécie de broche dourado, ornado com uma pedra azul no centro, que caía como um
grande pingente em sua barriga, com uma gota de cristal azul suspensa.
Nos braços, um pouco acima dos cotovelos, tinha braceletes dourados, cravejado de pedras preciosas e deles saíam uma manga do mesmo tecido azul com uma fenda e caía até o chão. Na cabeça, ostentava sua
coroa.
Magnífica. Devidamente imponente para um evento importante como um torneio.
Ester até se sentiu estranha com seu vestido de seda branca, que era lindo e elegante, mas moderno e de acordo com a temperatura quente da Grécia e na sua cabeça, um elegante chapéu branco de abas largas.
Ela até se coçou de vontade de se vestir como a rainha, mas riu de sua própria tolice.
Como o momento exigia, todos fizeram uma reverência cordial aos reis.
— Sejam bem-vindos, Majestades — Noah disse.
— É minha honra, alfa Noah. Todos nós estamos eufóricos para este torneio. Nossas práticas em Kimera deixaram meus lobos animados.
— Sim, esta troca está sendo muito apreciada.
— Como vai pai, mãe? — Erick disse, se aproximando com Kira e sua pequena filha, Safira, nos braços.
— Como vai, Erick? — seu pai cumprimentou, alegre.
— Muito bem e ansioso para o torneio.
— Oh, olá, filho — Vanora disse, beijando cada uma de suas faces e depois se virou para Kira e beijou suas faces também. — Sempre encantadora, princesa.
Kira sorriu, mas ficou envergonhada, ela era uma princesa e era estranho ouvir alguém se referir a ela desta maneira, além de Erick, pois agora era de verdade. Quem diria.
Espantoso era ser chamada de tantas coisas, como bruxa, princesa, loba... As coisas poderiam se tornar bem encantadas na verdade. Como um livro de histórias de fantasia.
Esta era sua vida agora e ela amava.
— É um prazer revê-la, senhora.
— Oh, deixe-me ver minha neta. Como está linda e grande e olhe estas suas bochechinhas rosadas e fofas.
A pequena menina com seu lindo vestidinho rosa e branco, riu para ela e soltou um gorjeio que a encantou.
Vanora beijou sua suave bochecha e acariciou seus finos cabelinhos loiros e cacheados. E a pequena a olhava com brilhantes olhos âmbares.
Vanora sorriu sentindo sua energia natural, sua aura mágica. Uma loba nascida bruxa. A menina era tão bela que parecia um anjo. Uma preciosidade entre suas raças.
Quando Kira a levou em frente ao rei, ele sorriu encantado e beijou sua mãozinha como a uma lady.
— Literalmente uma princesa.
Erick riu.
— Sim, literalmente, minha pequena princesa é preciosa.
— Como está sendo a receptividade com sua apresentação pelas alcateias, meu senhor? — Noah perguntou para Kayli, que o olhou.
— Algumas alcateias me aceitaram prontamente, enviando um convite para mais uma visita e outras ainda não acreditam na minha existência e de minha rainha. Vanora ainda tem uma resistência maior por ser
uma bruxa. Soube de algumas que são contra minha apresentação. Não concordam em ter Vanora como sua rainha, no qual preciso de mais tempo para me aproximar. — Ele suspirou. — Uma grande bagunça, acredito.
— Pelo menos ninguém quis travar uma guerra contra mim — Vanora disse.
— Pena que não tive a mesma receptividade — Kira disse.
— Há raízes muito profundas, minha querida, e é difícil quebrar as crenças das pessoas. Mesmo sendo uma guerra sem lógica para os dias de hoje, as bruxas ainda são consideradas um inimigo para os lobos
— Vanora disse.
— Isso mudará, pois ninguém irá contra minha companheira ou receberá a minha ira — Kayli disse.
— Só um lobo trouxa faria tal coisa — Noah disse.
O rei ergueu a sobrancelha e ficou inquisitivo e Noah sorriu, por saber que ele não entendeu o significado.
— Trouxa significa idiota, burro.
— Oh... Certo. Então, sempre há um trouxa, meu amigo.
Erick riu. Seu pai era temível somente de olhar, e quando o viu lutar, soube que nenhum lobo poderia se igualar a ele. O homem era forte, como nunca vira antes, assim como Aaron, seu irmão.
Talvez fosse a magia, o poder puro que preenchia suas veias, eram brutos, e lutar com eles seria uma diversão imensurável neste dia.
Annelise estava literalmente de boca aberta olhando para todos eles. Pois já os tinha visto no casamento de Liam, mas agora, os homens estavam vestidos como se fossem para uma guerra, usando muito couro,
exceto as mulheres que estavam com roupas mais ou menos no mesmo estilo que Vanora, somente que eram menos ornadas.
Longos vestidos até o chão, justos no corpo e abrindo em sino, decotes ornados com pedrarias e fios de ouro e riquíssimos adornos em joalheria na cabeça, pescoço e mãos. Uma riqueza.
Ela não conseguia acreditar que estava vendo uma verdadeira rainha com coroa e tudo, tão linda que seus olhos quase lacrimejavam e os homens, guerreiros como nos filmes de Hollywood. Um mais lindo que
o outro. Era quase surreal.
O rei, magnífico, usando uma bota rústica de couro, uma calça justa nas pernas, uma túnica de couro que caía até seus quadris, com um cinturão na cintura e usava um colete trançado de couro com grandes
tachas de metal, braceletes largos de couro reforçados nos punhos e uma ombreira de metal dourado. Eles usavam tranças estreitas em seus cabelos longos, caindo pelas laterais de suas cabeças.
Aaron usava uma armadura também de couro, mas era algo incrível, era como se o couro fosse moldado no seu corpo, mostrando seus músculos torneados e tinha ombreiras sobrepostas. Magnífico. Aquele espécime
era de tirar o fôlego.
Kirian tinha lhe contado que na guerra eles tinham usado uma armadura moldada, de metal dourado incrível, que gostaria de ver um dia.
Todos os guerreiros eram grandes, fortes e imponentes, sem contar com sua beleza física, porque não havia um feio. Todos eram lindos de arrancar suspiros.
Misericórdia, pois foi exatamente o que foi arrancado de Annelise, um grande suspiro, porque a sensação que tinha é que ela tinha entrado literalmente num filme de Hollywood.
— Minha mãezinha do céu. Eles nem parecem de verdade — ela sussurrou e com um sorriso adorável, admirando sua preciosa companheira com o dedo em seu queixo, Kirian fechou sua boca, lentamente.
— Eu vou ficar com ciúmes de vê-la olhando assim para eles.
Desconcertada, ela olhou para ele e depois para o grupo novamente.
Annelise olhou para ele espantada pela terceira vez e depois riu.
— Meu amor, gigante, acha mesmo que eu os acharia mais bonitos que você?
— Não acha?
— Não, impossível, não há lobo ou guerreiro mais bonito que você, nem neste mundo ou em outro.
— Oh, verdade?
— Verdade. Nem um ator de cinema, nenhum.
Ele sorriu e a beijou docemente nos lábios.
— Vou acreditar em você.
— Adoro quando veste este kilt e fica assim, selvagem.
Ele rosnou de forma pícara e ela gargalhou e o beijou.
Vendo a cena, Ester riu, ela também sempre ficava deslumbrada quando estava na presença deles.
— Deveríamos ter convidado os italianos... — Petrus disse pensativo.
— Por quê? — perguntou o rei.
Percebendo que tinha falado seu pensamento alto, ele riu um tanto sem jeito.
— Por nada. Conheço uma alcateia que não parece muito receptiva a acreditar na sua existência, meu senhor, mesmo depois de tantos relatos de suas visitas às alcateias pelo mundo.
Kayli olhou para Petrus que se aproximou e fez uma reverência formal.
— Sou Petrus Papolus, alfa da Ilha de Alamus, Creta.
— Oh, sim, sim, me recordo, alfa Petrus, eu soube de você. Como está sua alcateia?
— Bem melhor, senhor, estamos conseguindo prosperar novamente, ainda sofremos com a falta de machos por motivo que já deve saber, mas conseguiremos.
— Eu posso me informar com meus lobos de Kimera se há desejo de que alguns deles queiram viver na Terra. Soube que alguns pensaram nesta possibilidade, pois tem curiosidade de aprender e interagir com
o mundo moderno. Para falar a verdade, tenho muitos machos que superam a quantidade de lobas, o que no fim, acaba sendo um pouco sofrido para eles. Sua alcateia os receberia?
— Isso seria maravilhoso, Petrus, supriria sua carência de machos, fortaleceria sua alcateia e ajudaria os lobos a conhecer este mundo novo, talvez tenham a oportunidade de encontrar companheiras — Noah
disse.
Petrus piscou espantado, aquilo seria ótimo para ele.
— Isso seria possível, senhor?
— Para você, claro que seria. A sua contribuição para a proteção desta alcateia e meu filho durante a guerra, o fazem ter minha proteção. Se for proteção que precisa para sua ilha, a terá, lobo.
Petrus fez uma reverência, emocionado.
— Muito obrigado, Majestade, isso seria ótimo. Seus lobos serão bem-vindos à Ilha de Alamus.
— Ótimo, quando voltarmos para Kimera, verei sobre isso, e os interessados poderão se oferecer.
— Estarei ansioso.
— Mas sobre esta alcateia que pensa que sou uma fraude, quem é?
— Uma alcateia de Roma. Seu alfa ainda pensa que não são de verdade.
— Meu pai é muito conservador, meu senhor. Acredito, que se o conhecesse, sua dúvida seria sanada, eu mesma estou encantada com a verdade sobre nossos ancestrais. É tão incrível!
Todos olharam para Pietra, e ela ficou vermelha e envergonhada pela sua interferência, intrometendo-se na conversa na qual não fazia parte e fez uma mesura aos reis para amenizar sua ousadia. Ela mesma
estava tão encantada com o que via que havia se precipitado.
— Perdoe-me pela minha intromissão.
— Oh, e quem é esta loba adorável? — Vanora perguntou.
Petrus pegou Pietra pela cintura e a trouxe para frente, ficando ao seu lado. Talvez devesse se desculpar por sua grosseria ao falar de seu pai, mas fato era fato.
— Majestades, esta é Pietra Scopelli, minha prometida, filha do alfa Enrico Scopelli, que possui sua alcateia localizada em Roma.
— Encantado, milady. Uma união promissora, acredito. Quanto ao seu pai, assegure-o que em breve farei minha visita, e ele poderá me ver e minha rainha bruxa com seus próprios olhos.
Pietra arregalou os olhos, assustada com o tom de voz do rei, algo que claramente implicava em um alerta para que seu pai entrasse na linha ou teria problemas.
Ela olhou para ele e depois para Vanora, que sorriu lentamente, com um sorriso desafiador e seus olhos chegaram a brilhar e ela não sabia o que fazer. Aquilo poderia ser perigoso para sua família, pois
seu pai odiava bruxas.
— Tenho certeza de que será uma visita muito bem-vinda, Majestade — Pietra disse.
— Também nutre ódio pelas bruxas, pequena? — Vanora perguntou.
— Eu? Não, minha senhora, absolutamente. Nunca conheci uma para que pudesse odiar.
— Bom, porque não há nada a temer conosco.
— Claro, Majestade.
Eles se dispersaram nas conversas e então olharam para a comoção que houve na praia e um homem pairou sobre eles, abrindo suas gigantescas asas, brancas como a neve.
— Oh, Santo Deus! — Pietra arfou, enganchando em Petrus. — O que é ele?
— Um shifter de águia.
— Oh! Maravilhoso! Não sabia que existiam de verdade! Achei que era somente uma lenda.
— Suspeitamos que ele seja o último de sua espécie — Kayli disse. — Agora que temos acesso à terra, Vanora tentou localizar outros como ele, mas ainda não obteve sucesso.
— Oh que triste.
— Maddox vai participar do torneio? — Erick perguntou ao pai.
— Ele vai — o rei disse, rindo.
— Contando que não trapaceie com suas asas — Aaron disse, rindo.
— Eu ouvi isso — Maddox disse, rindo, se aproximando e todos riram.
Ele era uma visão completamente surreal. Além de suas fantásticas asas, que o faziam parecer um anjo, sua beleza era descomunal, com seu cabelo negro longo com uma mecha branca e seus olhos azuis muito
claros.
— Bem, se todos estão prontos, podemos começar com a diversão — Noah disse.
Todos foram para onde havia as marcações delimitando a arena, onde as duplas lutariam.
Foram colocados alguns toldos para proteger as crianças do sol e uma mesa com bebidas frescas e haviam sido colocadas várias cadeiras para as mulheres sentarem para assistir confortavelmente.
Luca, o filho de Naya e Ronan, hoje com quinze anos, estava grudado em sua câmera que tinha ganhado de seu pai para filmar tudo. Ele estava ficando bom nisso e depois dos jogos de computador, filmagem
era o divertimento dele.
Harley, que era um exímio criador de jogos, dava-os para Luca testá-los. Na verdade, pareciam um bando de crianças com jogos e entre gritos, rosnados e muitos xingamentos, sempre aprovavam as criações
de Harley para começar suas vendas on-line.
— Se tivesse aquelas arquibancadas de madeira, eu juraria que estava na Idade Média — Ester disse rindo.
Ela olhou maravilhada para Noah que entrava na areia, usando somente um kilt de couro negro, um cinturão de couro na cintura, braceletes de couro nos punhos, botas e acompanhado de sua enorme espada. Todos
os lobos de sua alcateia estavam usando o mesmo traje.
Eles também pareciam guerreiros saídos dos filmes, eram deslumbrantes, e sem camisa podiam vislumbrar o corpo magnífico. Ela não sabia por que nenhum deles usava o peito coberto, mas era a tradição de
sua aldeia.
Talvez fosse a ascendência celta mais forte de sua ilha, a Irlanda. Eles resgatavam as tradições dos antigos.
Era fascinante.
E Ester riu como uma tola quando se lembrou da menção que fez a Konan sobre ele ser o Conan, o bárbaro. Todos eles pareciam um e, claro, seu Noah parecia mais. E ela praticamente babou sobre ele, tão sexy
e selvagem.
Ester arfou e riu quando Lucian ficou em pé, de onde estava sentado, brincando com a areia, e saiu correndo, usando somente suas fraldas, uma bermuda e uma regatinha.
— Lucian! — chamou, mas parou e sorriu vendo aonde ele ia.
Ele se encontrou com um filhote de loba que veio correndo para ele e saltava alegre ao seu redor, fazendo-o rir às gargalhadas, tentando pegá-la.
— Oh, olhem isso, que coisa mais linda! — Ester disse olhando para eles.
— Oh que maravilhosa, de quem é esta lobinha? — a rainha perguntou.
— É minha filha, Majestade — Jessy disse, chegando à tenda e fazendo uma mesura para a rainha.
— A que todos pensavam ser somente humana?
— Sim, ela se transformou.
— Oh, esplendoroso, a magia é mesmo um dos maiores mistérios do universo. Ela sempre encontra um caminho para nos encantar.
— Majestade — disse Sasha, que acompanhava Jessy e educadamente fez sua reverência.
— É um prazer revê-los. Sua lobinha é preciosa, eu sou encantada com os filhotes de lobos, são tão encantadores.
— Sim, estão descobrindo sua vida mágica.
— Lucian ainda não se transformou?
— Ainda não, Noah e eu estamos ansiosos para que o momento chegue.
— Eles não têm idade certa, pois é um ato involuntário do lobo. Resta esperar, mas o momento dele chegará, em breve.
Jessy sentou em uma cadeira, que Sasha puxou para ela, ostentando uma barriga já abaloada pela gravidez. Ele era todo cuidados com sua loba.
— Sim, é um grande momento para os lobos.
Todos olharam para Lili e Lucian quando ouviram um grito e risadas. Lili tinha voltado à humana e estava de pernas para cima, deitada na areia e, Lucian, ria e tentava segurá-la, caindo sentado. Logo ela
levantou, pegou sua mãozinha e correram pela areia.
— Ela está tão levada — Jessy disse com um sorriso. — Gosta muito de sua forma de loba.
— Apesar de ela ter dificuldade de se transformar às vezes — Sasha disse.
— Dificuldade?
— Ela é muito pequena e não domina sua magia, ela às vezes quer se transformar, mas não consegue.
— Oh! Acha que isso é um problema? Por causa dos genes recessivos?
— Acho que não é um problema, exatamente. Ela é um bebê ainda, sua magia é mais fraca, mas quando crescer mais vai conseguir dominá-la. Minha lobinha é muito forte — Jessy disse orgulhosa e ostentando
um lindo sorriso.
— Ela é maravilhosa, Jessy — a rainha disse com um sorriso e isso deixou Jessy mais orgulhosa.
— Talvez eu devesse ler os estudos do papai, talvez ele tenha feito alguma anotação em seus computadores sobre isso, não? Noah os tem guardado — Ester disse.
— É possível, apesar de ele não ter feito nenhum experimento com a criança — Sasha disse.
— Nenhum experimento jamais será feito em meu bebê. Ela pode ser o que quiser, humana, loba, sempre a amarei — Jessy disse.
— Isso mesmo, meu amor — Sasha disse beijando sua testa.
— Vou pegar uma água para ela beber. Está correndo há tempos, deve estar com sede, com licença.
Com um sorriso majestoso, ela se levantou e foi à mesa de bebidas e Ester com um sorriso olhou para Sasha que a seguia com o olhar, carregado de amor e orgulho por ela. Seus olhos quase brilhavam como
duas lâmpadas acesas.
— E você Sasha, como está?
— Estou muito bem, obrigado, alfa — disse sorridente. — Minha loba está feliz, finalmente, então eu também estou. Temos tido momentos muito agradáveis tentando ensinar a pequena a ser uma loba. O mesmo
comigo — disse rindo.
— Fico contente. O tempo é o maior aliado para tudo, não é?
— Quase sempre, sim, ele é. Lili ter se transformado foi um pontapé imenso para afastar Jessy do seu passado. Um presente valioso. Não que ela não a amasse antes, porque elas eram inseparáveis e se amavam
profundamente, mas isso ajudou muito.
— Jessy é uma mãe maravilhosa.
— Sim, ela é.
— E a vinda do seu bebê também a deixou muito feliz.
— A nós dois.
— Vai querer saber o sexo do bebê, Sasha? — Virna disse sorrindo.
— Não preciso, deve ser um macho, como o pai.
Todas riram.
— Claro, um minilobo mercenário — Ester disse zombeteira.
Ele riu e beijou Jessy quando ela voltou com a água.
— Bem, senhoras, eu as deixarei tristes com minha ausência, mas vou me juntar aos homens.
— Vai lutar?
— Com espadas e machados? Não. Infelizmente não conheço esta arte fascinante, quem sabe futuramente. Mas se permitirem e algum lobo tiver coragem de lutar comigo, sou faixa preta em karatê e muito bom
no Krav Maga.
— Uau, isso parece arrasador — Ester disse, rindo.
— Sexy — Jessy disse com um sorriso.
Ele riu e fez uma reverência exagerada para as damas.
— Minhas adoráveis damas, se me dão licença.
Sasha beijou Jessy e se uniu aos lobos e assim o evento iniciou. As lutas seriam: os lobos de Kimera contra os lobos de Noah.
A primeira dupla a lutar foi Dragon e Harley, e foi uma luta esplêndida, mas Harley perdeu desta vez, pois não era ágil com a espada, mas, mesmo assim, quis participar para se divertir, ele ainda tomava
lições com Erick.
Konan lutou com um dos guerreiros e o derrotou e assim, um e outro foram tendo seus momentos de alegria e divertimento, com o espírito dos guerreiros aflorados e ferozes.
Liam não era tão musculoso como os outros, mas era muito ágil e rápido e venceu a sua luta. Virna passou o tempo todo da luta, ou gritando incentivos ou tapando os olhos. E quando ele venceu, ela não se
importou de correr entre os lobos e abraçá-lo.
Alguns lobos ficaram olhando para ela como se fosse louca, mas Liam achou divino e a rodou no ar e a beijou, vibrando pela vitória. Ester riu de quase chorar da cena.
Erick lutou com Aaron. E lutou bravamente, pois ele era magnífico com sua espada.
Quando ambos já estavam quase cansados de sua luta, Erick girou a espada em torno de sua mão por duas vezes e a segurou com as duas mãos e apoiando os pés, encontrou seu equilíbrio, desafiando seu oponente
com o olhar e um sorriso malicioso.
— Vamos lá, mostre que seus ossos não estão tão velhos assim, tio — Erick disse zombeteiro.
— Oh criança, meus ossos estão mais em forma que os seus. Mas se eu fizer algum arranhão na sua cara bonita, sua bruxinha pode consertá-la. Talvez fique mais bonito.
Erick riu.
— Ela pode te transformar num sapo.
Aaron rosnou e o atacou, Erick se defendeu bravamente contra os golpes cruzados e os diretos, girou, tentou atingi-lo nas costelas, quase atingiu, mas Aaron girou o corpo e se esquivou do golpe. Aaron
era muito forte e batia com tanta força que desequilibrava Erick.
Era incrível, mas Erick não poderia vencê-lo pela sua ferocidade e força humana agregada com a de seu lobo.
Kira gritou assustada quando Aaron avançou sobre ele, derrubando-o e quase o acerta com a espada em seu rosto, que foi cravada no chão, por Erick ser rápido na sua defesa, conseguiu desviar.
— Oh Deus, eu vou desistir de ver isso, terei um enfarte — Virna disse.
— Acredito que nos falta aquele espírito de arena que os antigos tinham. Acho que terei um enfarte também, se Noah entrar em mais uma luta destas.
— Oh, ele vai — a rainha disse.
— Misericórdia! — Ester rosnou.
Kira gritou novamente quando Erick se defendeu, chutando Aaron longe.
Então Erick usou estratégias de movimentos rápidos e precisos que envolviam desestabilizar Aaron, usando menos força e mais agilidade.
Sua espada era mais leve que a de Aaron e permitia alguns movimentos que ele não tinha conseguido realizar com uma espada pesada.
Já estavam cansados quando Erick girou, enganchou o braço no de Aaron, torceu e girou seu braço para trás, fazendo-o perder o equilíbrio e perder o movimento com o braço da espada e, com isso, Erick cravou
a espada no peito de Aaron, sem machucá-lo por causa de seu colete, mas dando fim à luta.
— Luta mais rápido que isso, tio.
— Jura? Devo ter me esquecido.
Erick riu quando viu seu tio rir, ele estava brincando, não estava colocando na luta toda sua energia.
Kira gritou, bateu palmas e riu por ele ter vencido e depois bebeu água para se acalmar.
Kirian estava lutando com Maddox, que tinha feito suas asas sumirem, já havia lutado com dois lobos de Kimera e tinha vencido.
Kirian girou, se defendeu do golpe, girou e bateu em suas costas, fazendo-o perder o equilíbrio, mas se recompôs rapidamente.
E assim seguiu lutando, rosnando e medindo forças.
Ele empurrou Maddox quando sua espada se enroscou na dele e o homem-águia tentou derrubá-lo. Maddox não era tão musculoso como os lobos, mas tinha uma força descomunal.
Kirian pensou que não conseguiria segurar a invasiva que o grande homem lhe dava, soltou um rosnado e juntou suas forças, por estar já cansado por ter vencido duas lutas e com um empurrão conseguiu se
desvencilhar e girou com força, bateu sua espada na dele e ela se quebrou.
Antes que Maddox tombasse no chão, suas asas, até então ocultas, se desprenderam como magia e se abriram como um gigante homem-pássaro e ele planou sobre o chão.
Kirian, ofegante, olhou para ele espantado, assim como todo mundo que ofegaram.
— Isso é golpe baixo, Maddox — Kirian disse divertido.
Ele riu. Voou e se pôs de pé.
— É o instinto de minha águia, muitas vezes minhas asas se libertam sozinhas, sem que eu ordene.
— Imagino que isso no mundo humano deva ser um problema?
— Oh, nem me fale, na época que vivia na terra, passei por momentos constrangedores — disse rindo.
Maddox se recompôs novamente em sua posição e suas asas sumiram novamente.
Um lobo jogou outra espada para ele e o combate reiniciou. Kirian era rápido e brutal com seus golpes, e Maddox era ágil em se defender, golpes cruzados, giros e saltos. Maddox bateu contra ele e a espada
bateu no rosto de Kirian causando um corte na lateral de sua boca.
Kirian cambaleou, mas conseguiu se firmar e gemeu passando a mão no corte e vendo o sangue. Houve um ofego geral, mas ele não se deu por rogado. Logo eles pegaram um escudo redondo no braço esquerdo e
Kirian rosnou ferozmente e avançou.
Agora os dois braços se moviam, batendo e defendendo, intercalando os golpes.
O escudo impedia que a espada atingisse seus corpos e a lâmina afiada era bravamente infligida para aniquilar.
Todos rosnaram e gritaram, instigando os dois a seguirem, a golpearem. Kirian, com a espada em uma mão e o escudo na outra, rosnou alto, como um grito de guerra, correu e saltou, bateu com tanta força
contra Maddox, que jogou o escudo sobre ele para se defender, mas este rachou em duas partes e Maddox caiu. Kirian o derrubou, e com o joelho cravou em seu peito, imobilizando-o no chão e cravou sua espada
ao lado se sua cabeça.
— Cortei suas asas, passarinho.
Eles ficaram se olhando ofegantes e desafiantes por um momento, então, Kirian jogou o escudo longe e levantou, oferecendo a mão. Maddox sorriu e aceitou e houve uma grande ovação, dando a vitória para
Kirian.
Agora era a vez de Konan que estava lutando com um guerreiro, usando o machado de cabo longo e escudo de madeira com placas de metal.
Uma antiga modalidade usada pelos vikings. Essas armas foram trazidas pelo rei, uma maneira de manter a tradição de sua antiga vida na terra.
Bem, esta luta arrancou mais gritos e ofegos das moças, porque os dois lutavam com uma ferocidade amedrontadora aos olhos das mulheres. Em um dos golpes de Konan contra seu escudo, ele estilhaçou-se e
jogou o lobo uns três metros longe, vencendo a luta.
Era quase uma pena que não podiam usar suas características de lobo porque seria aterrorizante e por regra não eram para se machucar, mas o lobo interior eriçava sob a pele e os impulsionava a lutar ferozmente.
Os lobos adoravam aquela adrenalina e lutar, era de sua natureza selvagem. E enquanto os homens bebiam cerveja e riam, gritando incentivos aos lutadores, outros conversavam e aprofundavam suas amizades,
contando as aventuras que tinham vivido aos longos anos de suas vidas.
Um dia glorioso para ser recordado.
Aaron bateu contra o rosto de Petrus com o escudo e ele ficou atordoado e seu lábio e supercílio sangraram pelos cortes e ele caiu sobre um joelho.
— Vai, Petrus, levanta! Acaba com ele! — Harley gritou.
— Oh! — Pietra gritou quando o homem avançou e cravou a espada sobre Petrus, que ainda atordoado no chão, levantou rapidamente o escudo para se proteger.
Depois com todo seu corpo, se jogou sobre o homem e os dois voaram longe, quase uns três metros de distância e Petrus caiu sobre ele, com a espada quase cravada em sua garganta. Os dois ofegaram e Aaron
parou de respirar.
— Homem, você é forte — Aaron resmungou, ofegante.
Petrus riu e com dificuldade de falar rosnou.
— E você é muito bom para um lobo de dois mil anos.
— E você é muito metido para um lobo.
Ambos riram.
Petrus levantou e cravou a espada no chão e ofereceu a mão para o homem e ele a agarrou e foi levantado com um puxão.
Petrus olhou para a tenda e viu que Pietra estava em pé aplaudindo e ele gostou disso nela, era uma loba atenciosa e vibrante, mesmo sendo tímida. Seus olhos se cruzaram por um minuto e ele sorriu para
ela, fez uma reverência galanteadora e ela apreciou seu gesto.
Aaron se ajeitou lentamente, seu orgulho mais ferido que seu traseiro. Petrus estava erguido atrás dele, rindo, e por bons motivos.
No curso de sua vida, Aaron nunca tinha sido surpreendido com a derrota em suas batalhas, como um escudeiro em tempos de treinamento com a primeira espada de madeira na mão, sendo treinado por seu pai.
Exceto por Kayli que sempre o surpreendia e o vencia.
A culpa era dessa mulher de cabelos curtos e negros com mechas douradas e de sua camisa vermelha decotada e colada no corpo que atraía o olhar, como uma vertente de sangue quente, sem falar do deleitoso
corpo e aqueles minúsculos objetos pendurados numa gargantilha de ouro que adornavam seu colo e refletiam a luz do sol.
Logo que a viu, pela extremidade do olho, ao levantar rapidamente do banco que estava sentada, como uma labareda vermelha, ele perdeu sua concentração e quando tentou ver algo mais, Petrus o derrubou com
um golpe pelas suas costas.
O impacto para o qual não estava preparado, enviou Aaron ao chão.
Ele tinha parado para olhar fixamente aquela moça que inexplicavelmente roubou sua atenção, pois parecia que ela estava preocupada, quando o mais provável era que tivesse que esforçar-se para evitar a
risada, como estava fazendo Petrus.
— Você me pegou desprevenido — Aaron disse com um rosnado.
— É uma honra — Petrus respondeu zombeteiro.
— Na verdade... — disse Aaron, tomando fôlego — sua proeza de me derrubar foi culpa de uma dama.
Petrus riu alto.
— Podemos repetir a luta, sem as damas para nos distrair, pois parecem conspirar para nossa derrota.
Aaron riu.
— Vá ao Valhalla, que eu adoraria ser derrotado por uma lady — grunhiu.
— Talvez possa — disse piscando um olho e ambos olharam para Clere, que agora, estava com as bochechas tão vermelhas quanto sua blusa.
Ela ofegou e soube que falavam dela, então olhou para Harley, que também estava a olhando seriamente, com o olhar penetrante, o que a irritou.
O que aqueles tolos estavam pensando? Ainda mais Harley que tinha a dispensado por ser muito menina para ele e ficava bajulando e elogiando sua futura cunhada. Descarado. Fodam-se.
Ela empinou seu fino nariz e foi em direção às bebidas, rebolando seu belo traseiro em um pequeno short branco e que quase fez os homens gemerem.
— Ei, mercenário, quer arriscar lutar? — um dos lobos de Kimera chamou Sasha, que estava com o grupo de Noah.
Ele olhou para a longa e bela espada que Erick levantou para mostrar e oferecer a ele com um sorriso desafiador.
Sasha suspirou e passou a mãos pelos cabelos curtos.
Seus cabelos haviam crescido rapidamente, como acontecia com todos os humanos que se transformavam em lobo e mudavam suas características físicas. Seus cabelos haviam recebido mais dois tons de castanho
e loiro com fios prata, mas como um soldado que foi e, sempre seria em seu sangue, ele os mantinha curtos.
— Náh! Espada não é meu forte — ele respondeu rindo.
— Qual é seu forte?
— Armas de fogo e meus punhos. Gosto também de adagas.
— Punhos?
— Artes marciais.
— Uh... Isso parece bom.
— Ei, Noah, o que acha, podemos abrir uma exceção e vermos uma luta de punhos? — Petrus perguntou.
Noah riu e deu de ombros.
— Não vejo porque não. Não acho que privá-lo de uma luta seja justo, contanto que não usem suas garras e nem se transformem em lobos. Demonstre-nos o que sabe, mercenário.
Noah já sabia, pois já o tinha visto em ação, mas gostaria de ver uma luta assim, sem que fosse um treinamento. Todos ovacionaram e Sasha riu, andou para o meio do círculo, devidamente vestido como todos
os lobos da ilha, e ficou esperando para ver quem o desafiaria.
Bem, um lobo chamado Iago de dois metros e dois de altura e músculos avantajados abriu caminho e parou na frente dele.
O lobo quis intimidá-lo, mas não pareceu funcionar, pois Sasha nem piscou, olhando-o com a sua típica cara zombeteira, que muitos tinham vontade de socar.
— Oh, mamãe, o homem é grande! — disse Lili, que estava sobre uma cadeira em frente à sua mãe.
Jessy olhou a cena com os olhos arregalados.
— Acho melhor não ver estas coisas, Lili, por que não vai brincar com Lucian?
— Não, quero ver papai lutar. Ele vai ganhar!
Jessy não sabia se deveria, mas ficou emocionada pelo fato dela chamá-lo de papai e querer torcer por ele e, além disso, ela sempre tinha ensinado Lili a ser valente e não se espantar com nada que se referisse
aos lobos. Então, não viu mal nenhum em ela ver as lutas.
— Papai disse que quando eu for maior vai me ensinar a lutar como ele — Lili disse eufórica.
— Ah, ele disse?
— Sim. Disse que devo saber me defender de “indiotas”.
Jessy riu e beijou sua bochecha.
— Pois bem, então torceremos juntas para Xaxa — disse brincando e Lili gritou e bateu palmas.
Os dois machos ficaram se olhando e se medindo por alguns minutos, andando lentamente em círculos.
— Acha que pode me derrubar com somente seus punhos, mercenário? — Iago rosnou.
— Posso fazer uma paçoca de lobo — Sasha respondeu sério.
— Uh... É confiante para um humano recém-transformado.
— Sou bom no que faço. Para me deter terá que ter mais do que dois mil anos e esta montanha de músculos, Matusalém.
Sasha, sem mais demora, se abaixou, flexionando seus joelhos, para que obtivesse seu equilíbrio e boa mobilidade de seu corpo e com os punhos cerrados diante do peito, com o direito mais à frente do esquerdo
fez um movimento muito rápido.
Ele soltou um grito misturado com um rosnado e puxou o braço esquerdo para trás ao mesmo tempo que deflagrou um soco no estômago do lobo que voou longe e caiu.
Tudo foi tão rápido que todos ficaram um tanto chocados e logo fizeram uma algazarra. Iago, aturdido, rosnou alto e feroz e num salto estava de pé e foi tentar atingir Sasha.
Sasha defendeu um soco com o braço e logo mais um com o outro braço. Depois rosnou e deflagrou um golpe, atingindo o rosto do lobo e mais um com um soco cruzado do outro lado, logo girou trezentos e sessenta
graus e com um salto e um chute atingiu a lateral da cabeça do lobo que girou e caiu.
O lobo se recuperou e levantou, sacudindo a cabeça para se focar. Sasha o atingiu com um golpe no estômago, segurou em sua armadura de couro, o puxou para si, se abaixou e impulsionando o pé em seu estômago
o jogou sobre ele com um giro e o lobo rodou no ar e voou longe, caindo de costas na areia.
— Uau, ele é bom — Petrus disse e Noah soltou um rosnado com um sorriso satisfeito.
— Sim, ele é bom.
O lobo atacou Sasha que desviou o primeiro golpe que daria em seu rosto, deu golpes rápidos e precisos acertando locais estratégicos para desestabilizar seu oponente, e com as palmas das mãos abertas,
bateu no peito dele o afastando e ele atacou novamente.
Sasha se esquivou, girou o corpo e golpeou o lobo no pescoço, empurrou seu queixo para trás o fazendo tombar e arfar sem ar, e o derrubou, deu com o joelho em seu peito, imobilizando-o no chão.
Iago bateu com os dois punhos cerrados no peito de Sasha, fazendo-o voar longe e rolar pela areia.
Houve um ofego e os lobos de Kimera ovacionaram seu lutador.
Sentindo a dor no peito, Sasha rosnou e levantou com um gemido. Bom ser um lobo, e seu corpo ser muito mais potente para receber golpes, pois senão sua caixa torácica seria somente migalhas nesse momento.
Sasha estava espantado consigo mesmo, pois seus treinamentos sempre foram árduos, mas sua força estava muito mais intensa como lobo e se seus amigos o vissem lutando agora, seria um assombro.
Ele seria uma máquina mortal para um humano.
Ele sorriu satisfeito perante este pensamento, gostaria de chutar algumas bundas de bandidos. Ele se virou para acenar para Jessy e Lili que estavam nas tendas e torciam para ele. Lili gritava “papai,
papai” e batia palmas.
Oh aquilo encheu o coração do mercenário e aproveitando este momento vulnerável onde Sasha baixou a guarda para o lobo lutador, ele o agarrou por trás, passou os braços debaixo dos braços de Sasha, cruzou
as mãos atrás de seu pescoço e imobilizou Sasha, rosnando em seu ouvido como se tivesse o derrotado.
Sasha estava imobilizado e todos ofegaram. Rosnou forte, girou o corpo para o lado e se abaixou, passou a perna direita atrás da perna esquerda do lobo, e com as mãos agarrou suas duas pernas, atrás dos
joelhos e o levantou do chão fazendo uma força brutal, pois o lobo era pesado.
Ele o derrubou no chão, soltando todo seu peso sobre o estômago de Iago, que sem esperar o golpe, arfou com a perda de ar e dor nas costas.
Com um movimento rápido, Sasha liberou os braços, bateu em sua virilha e lhe deu uma forte cotovelada no queixo com o outro braço e o lobo desfaleceu.
Sasha saltou longe e ficou em posição de ataque novamente, mas o lobo não levantou, estava desacordado.
Houve um silêncio de todos, que tentavam não perder nenhum movimento e, então, Noah gritou erguendo o punho de Sasha para o alto e logo todos os lobos fizeram o mesmo e depois riram, indo cumprimentar
Sasha por ter vencido a luta.
Jessy e Lili bateram palmas e gritaram felizes, assim como as outras mulheres da tenda.
Quem diria que um humano recém-transformado poderia derrubar um lobo guerreiro de dois mil anos e forte como Iago que tinha dois metros e dois de altura.
Sasha pôde.
— Isso pode parecer sexy como o inferno, mas é tão medieval, eu até poderia ir para casa e assistir a um seriado mais sociável — Kira disse abanando-se com um delicado leque, pois a brisa do mar estava
muito suave neste dia e estava quente.
Ester riu às gargalhadas.
— Meu amor, você deveria se preparar, porque nossos machos estarão bem cheios de energia após estas brincadeiras e, então, você saberá o que é ser medieval.
Kira olhou séria para ela por um minuto e riu, envergonhada, entendendo que os homens gostavam de sexo após atiçarem sua adrenalina com lutas.
Ester nunca tinha travas na língua e não tinha vergonha de falar o que pensava.
— Céus, poderia ficar menos violento? Prefiro o sexo sem as lutas — Annelise falou e as garotas riram.
— Oh sim, vai se acostumando. Como se sente, dona loba?
Annelise olhou para Ester e ficou encabulada.
— Oh, já sabe?
— Seu cheiro mudou, querida, todos podem saber que é uma loba agora. Está se sentindo bem?
— Bem, sim, somente algumas sensações estranhas, meus olhos, meus ouvidos. Parece que as pessoas estão falando normal e, de repente, estão gritando e os olhos ardem.
— Seu corpo está se acostumando com a magia, e com a sensibilidade de seus sentidos que ficarão mais aguçados agora, com o tempo se acostuma.
— Sim, espero que sim.
— Qualquer coisa pode me chamar que a ajudarei.
— Obrigada, Ester.
Ela gemeu novamente observando a luta de Thorman.
Thorman defendeu seu corpo com o escudo do golpe de machado de Kugar, um dos guerreiros do rei.
Estava sendo bravo lutando até que Kugar, usando o machado de cabo longo, enroscou seu lado contrário que possuía uma espécie de gancho, no joelho de Thorman e puxou.
Isso fez com que ele perdesse o equilíbrio e caísse e num giro, ele foi golpear Kugar, que tentou se defender, rolou no chão e cravou o machado na perna do guerreiro, que rosnou e caiu.
O combate foi finalizado.
— Oh Santo Deus! — Ester gritou, assim como as outras mulheres e levantou para correr até o homem e ajudá-lo.
Mas a rainha ergueu sua mão, fazendo com que ela parasse.
— Não se preocupe, pequena, eu vou ajudá-lo.
A bela mulher foi até o homem que esbravejava, caído no chão, segurando a perna ferida, enquanto o largo talho jorrava sangue.
— Se acalme, Kugar, tudo ficará bem — a rainha disse.
Ela colocou as duas mãos sobre sua perna e recitou algumas palavras na antiga língua celta.
Em poucos segundos, todos, boquiabertos, viram, diante de seus olhos, o corte fechar e desaparecer completamente.
Ela levantou e olhou para Thorman que estava com os olhos esbugalhados e assustado. Obviamente ele não teve a intenção de feri-lo daquela maneira, mas no calor da luta, aconteceu.
Ele sangrava no braço e ela sorriu e foi até ele. E com apenas um toque sobre a ferida, uma palavra, ela desapareceu. Todos ofegaram novamente, espantados.
— Isso... Isso é incrível — Thorman disse espantado.
— O que uma mulher como esta não espantaria o mundo, não é? — Kayli disse se aproximando e a envolvendo pelo ombro, claramente com um tom orgulhoso e protetor na voz.
— Um perigo entre os humanos, meu senhor — Noah disse.
— Assim como Kira — Erick disse.
— Os humanos não estão preparados para o que é diferente, meu amigo — Kayli disse. — Não estão preparados para nós. Não estavam há dois mil anos e não estão agora.
— Tenho conhecimento disso, Majestade. Ninguém mais do que nós sabe disso — Noah disse.
— Francamente, eu me sinto muito obsoleta quando vejo estas coisas — Virna resmungou e Ester riu.
— Eu também, querida, eu também.
— Alguns de meus professores da faculdade de medicina, com aqueles narizes empinados, achando que são deuses, morreriam se vissem algo assim. Se a cada ferimento a magia fosse usada para cura não haveria
mais mortes — Virna disse.
Todos olharam espantados para Virna que ficou envergonhada. Aqueles gigantes juntos sempre a intimidavam, mesmo agora, que era uma loba, pois continuava uma anã perto deles. As humanas transformadas em
lobas mudavam muito nas suas características físicas, mas não na altura.
— O poder de cura não pode ser usado indiscriminadamente, pois pode acarretar consequências diante do astral. A magia deve sempre ser usada com cautela e sabedoria — Vanora disse olhando para Virna. —
É o que estou ensinando para nossa Senhora, Kira.
— Sim, entendo, Majestade — ela respondeu.
Thorman olhou para Kugar que estava em pé agora.
— Você está bem?
— Sim, estou, você é um bravo lutador.
— Obrigado. Desculpe pela perna.
— Está tudo bem.
— Bem... Vamos continuar com a brincadeira? — Noah perguntou animado. — Temos o vencedor — disse erguendo a mão de Thorman.
Todos gritaram e rosnaram animados.
— Homens... blé... — Ester resmungou com um suspiro.
— Lobos, você quer dizer — Kira disse, rindo e beijando a bochecha de sua filha, e Ester riu.
— Isso só piora o pacote, vou tomar uma cerveja gelada para acalmar meus nervos, quem me acompanha?
Virna levantou a mão, depois Kira e mais algumas lobas rindo delas. E logo a rainha veio sentar com elas e também estava animada e aceitou o copo com a bebida gelada e bebeu um gole.
— Esta cerveja é bem mais gostosa da que temos em Kimera.
— É porque está gelada, Majestade, vocês tomam a cerveja quente.
— Na minha época na terra, no inverno a cerveja ficava bem gelada, pois as temperaturas eram bem baixas e não havia tanto calor nas fortalezas como há nos lugares frios, com apoios tecnológicos, como chamam...
Calefação.
— Tinha cerveja naquela época? — Kira perguntou espantada.
— Sim, os celtas eram grandes fabricantes e consumidores de cerveja.
— Hum, que interessante, os lobos gostam bastante da cerveja pelo que observei — Kira disse sorridente.
— Sim e do vinho — Ester disse.
— Meu pai gosta muito de vinho, possui uma adega esplendorosa — Pietra disse.
— Oh, minha querida, como todo bom italiano. A Itália é magnífica e amo sua comida, gostaria de voltar ali algum dia — Ester disse.
— Será uma honra acolhê-la em minha casa. Oh... Quer dizer, para meu pai e minha mãe, agora meu lar será na ilha de Alamus... com Petrus — disse um pouco atordoada com o verdadeiro conhecimento da informação
que ela mesma tinha dado.
Todas olharam para Pietra, que delicadamente tomou um gole da bebida, tentando disfarçar seu nervosismo.
— Hum... Vocês estão se dando bem? — Ester perguntou. — Eu soube que está passando uma temporada em Creta com ele.
— Sim, estamos tentando nos conhecer antes de nos acasalarmos. Nenhum dos dois estava contente com a união forçada, mas vamos nos acostumar um com o outro.
Ester franziu o cenho e depois fez uma careta.
— Se acostumar? Meu bem, um casal não pode se acostumar.
— Ester... — Virna alertou, mas ela não fez caso.
— Como assim? — Pietra perguntou.
— Amor, querida, eu estou falando de amor, de paixão, sua relação precisa ser quente, explosiva, apaixonante, além de cultivar o companheirismo e o amor tranquilo. Ele tem que ter olhos somente para você,
não porque é bitolado e cego, mas porque o que sente é sincero e ele admira e quer manter isso. É algo perfeito. Precisa da necessidade de estar com ele, sentir falta, sentir tesão, perder os sentidos
e querer levá-lo para sua cama porque seu cérebro não funciona, e além de tudo, conhecer seus defeitos e ainda assim, amá-lo. Acender como as chamas da lareira somente quando te olha. Ter olhos somente
para você e você para ele.
Pietra olhou para Ester e piscou duas vezes com a respiração presa. Então, engoliu em seco.
— Tenho certeza de que eu e Petrus conheceremos a paixão e manteremos uma união pacífica até o fim de nossa vida.
— Mas isso de casamento assim, me parece tão antiquado, estamos num mundo moderno, sua opinião não conta? Quer dizer, você quer se casar com ele, mesmo sem conhecê-lo direito?
— São as diferenças de nossa espécie, dos costumes dos lobos com a dos humanos que nem sempre são semelhantes. Ele parece ser muito bom e é gentil comigo agora e parece que nos daremos bem.
— Os humanos sempre fizeram isso, forçar a mulher a estes casamentos arranjados.
— Mas não hoje em dia.
— Eu ficarei velha e não aprenderei tudo sobre lobos — Virna disse.
— Ele é seu companheiro verdadeiro, Pietra? — Ester perguntou.
— Como? — Pietra perguntou confusa.
— O da lenda, companheiros criados um para o outro, com um amor arrebatador que faz você parar de pensar, cometer desatinos e fazer tudo pela pessoa e ser amado na mesma medida. Companheiros de alma que
se reconhecem...
Pietra piscou aturdida e ficou olhando para Ester e depois olhou para as outras mulheres.
— Isso é só uma lenda...
— Não, meu bem, não é. Acredite, você vai reconhecê-lo quando encontrar.
— Ester! — Virna a chamou em advertência.
— Só estou falando, Vir. Pietra, você sente isso pelo Petrus?
Ela piscou novamente.
— Ele é muito atraente e bondoso. Um forte guerreiro, está sendo um alfa muito bom para sua alcateia e será um bom companheiro e pai para os filhotes que eu der a ele.
— Oh Deus... — Ester sussurrou.
— Eu tenho certeza de que sim, querida, logo vocês vão se conhecer melhor e encontrarão sua harmonia e serão muito felizes. Um brinde ao seu acasalamento — a rainha disse.
— Isso... Vocês ficarão bem. Desejo toda a felicidade do mundo no seu casamento — Ester disse sorrindo e deixando o assunto para lá.
— Lobos não casam, na maioria, apesar de eu achar os casamentos humanos tão lindos. Meu pai disse que é uma tolice, mas eu gosto do negócio de vestido branco e uma cerimônia e depois uma festa.
— Acasalamento, casamento, ou o que seja, nada impede que você e Petrus façam uma cerimônia como a humana, se você gosta, tenho certeza de que ele concordaria para agradá-la. Petrus sempre gosta de agradar
— Ester disse sorrindo.
— Acho que sim.
— Vou pegar uma bebida, com licença.
Ester levantou e seguiu para a mesa de bebidas.
— O que está fazendo, Ester? — Virna sussurrou, indo atrás dela.
— Nada.
— Falar estas coisas para ela, sabendo de suas circunstâncias, quer que ela desista do casamento, acasalamento ou o que seja?
— Eles não são companheiros de alma, viu como ela falou? Sem estar arrebatada, seus olhos nem brilharam quando falou de Petrus.
— Acabaram de se conhecer, deve estar assustada com esta situação de se casar forçada, mas vão se entender. Só precisam de tempo.
— Isso não me cheira bem.
— Petrus não faz mais parte da sua alcateia, dona alfa, não pode se meter em suas vidas desse jeito. Noah vai se zangar.
Ela bufou.
— Petrus é da minha área sim, estava na minha mansão quando o conheci e depois na minha ilha, então posso dar pitaco, sim. Quero que seja feliz. E afinal, Pietra parece uma loba adorável, doce e gentil
e vamos combinar, linda demais. Ela também merece a felicidade.
— Claro, falou a dona cupido.
Ester deu um pulo quando ouviu um rosnado bem na sua nuca e olhou para trás aturdida, dando de cara com Noah.
— Siga o conselho de sua amiga e não dê pitaco.
— Noah, escutando nossa conversa, que coisa feia.
— Olha quem fala, a metida mor.
Ela bufou.
— Beba isso e vá jogar espadinhas com seus lobos e deixe o assunto de amor comigo, ok? Eles têm que fazer algo mais do que se gostar.
Ele riu com gosto e pegou o copo de água fresca e tomou meio copo com muita sede. Depois riu novamente e lhe deu um beijo nos seus lábios.
— Eu gosto de gostar de você, companheira.
Ela sorriu como uma tola.
— Eu também, companheiro.
— A maioria dos lobos se acasala por conveniência e por alianças das alcateias, meu amor, e não porque encontrou sua companheira de alma. Muitos lobos nem sequer acreditam nisso. Nem eu acreditava antes
de encontrar você.
— Mas é tão triste, isso parece tão antigo. Eu gostaria que todos tivessem o que temos.
— Você é muito doce, querida — ele disse acariciando sua bochecha. — Mas nem todos podem ter isso. É melhor deixar Petrus resolver da maneira que achar melhor, se ele precisar de ajuda pedirá. E sua prometida
também, ok?
— Ok.
Ele pegou uma cerveja gelada.
— Comporte-se — disse e lhe deu outro beijo nos lábios e um tapa no traseiro, fazendo-a soltar um gritinho.
— Estou comportada, estou aqui como um anjo. É sua vez de lutar agora?
— Sim. Não está assistindo?
— Mais ou menos, a maioria do tempo estou com os olhos fechados.
Ele riu.
— Bem, estamos na final e vou lutar com Kayli.
— Ai meu Deus, vou ter um enfarte, melhor não ver.
Ele riu e saiu girando sua pesada espada como se não pesasse nada.
— Como ele consegue fazer estas coisas? — Ester perguntou.
— Que coisas? — Virna perguntou com um sorriso também.
— Ser assim tão perfeito?
— Que coincidência, eu penso o mesmo do meu Liam.
As duas riram e Virna a puxou para sentarem e assistir a luta.
Noah atacou com um golpe cruzado e Kayli defendeu com sua espada, girou e o atacou de volta e o brandir das espadas era alto e ecoava pela praia, o que impulsionava a torcida dos lobos.
E com um golpe atrás do outro, com uma força incrível, e com precisão, eles seguiram golpeando entre urros e rosnados.
Noah girou a espada em torno da de Kayli, para desestabilizá-lo e tentar derrubar a espada de sua mão, mas Kayli se recuperou.
Ele girou nos calcanhares e lançou a espada na altura da cabeça de Noah, que se abaixou, girou e atacou em suas costelas, mas Kayli se esquivou e desviou sua espada com um estrondoso embate.
Os dois já estavam ofegantes depois de longos minutos lutando, e por alguns momentos andaram ao redor, respirando, se encarando, desafiando.
— É um grande guerreiro, alfa Noah.
— Digo o mesmo, Majestade.
— Quando Erick me disse de sua agilidade e força para lutar, eu não duvidei, mas confesso que estou mais espantado. Em nossas brincadeiras com as espadas em Kimera você estava ocultando sua força.
Noah sorriu.
— Há coisas que somente devem ser demonstradas numa luta real, ou quase.
— Oh, acredito que está certo.
Kayli rosnou e atacou, uma e outra vez e Noah, bravamente, se defendeu e contra-atacou em um giro muito rápido, ficando em suas costas, segurando o braço de Kayli e atingindo-o com o cotovelo em suas costelas.
Kayli rosnou e se desvencilhou dele, dando alguns passos atrás, então saltou alto e caiu sobre Noah batendo a espada violentamente, que caiu com ele por cima. E somente por um milésimo de segundo girou
a cabeça e evitou que a espada lhe cravasse o rosto.
Ester gritou e levantou da cadeira, assustada.
— Ai meu Deus, eles vão se matar!
— Calma, alfa, eles sabem o que estão fazendo — Vanora disse calmamente.
— Sabem? Causar-me um enfarto é saber o que estão fazendo?
— Temos que nos acostumar que nossos homens são bravos guerreiros.
— Misericórdia, como consegue estar tão calma, Majestade?
— Não estou calma, meu bem, estou fingindo. Tenho dois mil anos de prática.
Ester riu para ela e tentou sentar, voltando a olhar a luta, mas quando Noah foi jogado a uns dois metros de distância e rolou pela areia, ela gritou e levantou novamente.
— Levanta, amor, mostra pra ele como se bate! — ela gritou.
Vanora riu dela, tapando a boca com a mão.
Ester, muitas vezes, os tratava como meros mortais e isso agradava Vanora, que se divertia. Ela gostava desta convivência com as humanas recém-transformadas em lobas.
Elas não conheciam protocolos reais e cometiam as mais atrozes gafes, mas, para espanto de muitos, principalmente dos lobos de Kimera, isso não era considerado ofensa, como havia decretado o rei.
Não que ele não exigisse respeito à sua senhora, pois qualquer coisa que desagradasse Vanora o deixava furioso, mas sabia que a espontaneidade daquelas mulheres agradava sua companheira.
Falando francamente, Kayli era condescendente com a alcateia de Noah, porque não era bem assim com algumas alcateias que visitou. Kayli não era assim tão bonzinho, somente para quem ele admirava.
Mas era justo, muito justo.
E assim, em meio a gritos, urros e rosnados, todos os lobos na praia estavam na torcida, uns pelo rei, outros pelo Noah. Ambos já estavam bem cansados, mas continuavam um feroz embate.
O choque dos aços, associado aos saltos incríveis que ambos davam ao se esquivar e saltar sobre o outro aproximou os restantes dos homens que estavam na praia.
Eles estavam dando um espetáculo à parte, porque na luta com as espadas em si, eles não saltavam, mas riram e acharam graça quando o rei e o alfa estavam dando seu espetáculo particular, com suas próprias
regras.
Estavam permitindo esta ousadia, o que proporcionava a oportunidade para todos se divertirem mais, gritarem, rosnarem e uivarem em louvor a eles.
— Ei, isso não é permitido! Por que todos me xingam quando eu voo? — Maddox disse alto e todos riram.
— O rei pode fazer o que quiser — Aaron disse zombeteiro.
— Claro que pode, então eu, como alfa, também poderia — Petrus disse rindo quando Noah saltou longe evitando um golpe feroz de Kayli.
— Ah, homem voador, pode voar, mas continuarei ganhando as lutas contra você — Aaron disse, rindo.
Maddox riu e gritou junto com todos vendo mais uma manobra espetacular do rei até que Noah deu um salto, um giro com a imensa espada, que brandiu com a do rei, quase o derrubando.
A luta parecia interminável e nenhum parecia se render e todos estavam cada vez mais eufóricos, querendo que alguém desse o golpe final. Então o surpreendente aconteceu.
Os dois desviaram um golpe cruzado ao mesmo tempo, giraram o corpo junto com suas espadas e pararam em um solavanco. Ambos pararam as espadas a um centímetro do pescoço do outro.
Houve um ofego geral entre todos e um silêncio apreensivo após.
Noah e Kayli ficaram se encarando, ponderando a respiração e um sorriso brotou nos lábios dos dois. E ambos deram um passo atrás e abaixaram as espadas, fazendo reverência um ao outro, houve um silêncio
e muitos ficaram sem entender o que estava acontecendo.
Então Kayli e Noah riram, apertaram as mãos e se abraçaram e Kayli deu um soco no peito de Noah e ergueu sua espada soltando um longo uivo e todos, admirados, começaram a rir e a vibrar e logo uivaram.
E tudo foi um grande festival de uivos.
O combate havia empatado e o próprio rei estava dando o reconhecimento pelo valoroso guerreiro que Noah era.
Ester gritou, assobiou e bateu palmas dando pequenos pulinhos de tão eufórica que ficou.
Ria com o sorriso mais deslumbrante ao ver como aquilo tinha deixado Noah surpreendido e orgulhoso de si mesmo. Ver Noah tão feliz a deixava imensamente feliz.
— É isso! Meu lobo mau mostrou pra eles! — ela gritou esquecendo totalmente que deveria ser uma alfa, então quando se lembrou, riu encabulada, chegando a ficar com as bochechas vermelhas.
Ela suspirou, sentou imitando a postura como a da rainha e bateu as palmas delicadamente.
— Bravo! — disse tranquilamente.
E todas as mulheres riram, inclusive a rainha.
O torneio acabou e Kayli foi declarado o vencedor, Noah em segundo e Kirian em terceiro e receberam seus prêmios.
Se fosse levado a ferro e fogo teria uma bagunça, mas ninguém estava ligando para isso, pois regras foram quebradas, lutas foram interrompidas e tudo acabou em risada.
No fim, o que valeu foi a grande roda da cerveja e os incríveis e numerosos leitões, novilhos e frangos que estavam sendo assados em fogueiras colocadas em um canto da praia, que era rodada a cada momento
para que assasse proporcionalmente, como era feito antigamente nas aldeias.
E, acima de tudo, as amizades formadas e reforçadas naquele dia e a festa durou até a noite.
Foi um dia glorioso para ser relembrado.
Ilha de Alamus, Creta, Grécia.
— Tudo bem? Precisa de alguma coisa?
Pietra se assustou, virou-se rapidamente e ofegou quando viu Harley bem atrás dela, somente usando uma calça negra de agasalho, baixa no quadril e descalço, onde ela podia ver todos os músculos definidos
de seu abdômen, era como uma montanha de músculos torneados.
Ele estava com os cabelos soltos e selvagens, com os olhos fixos nela, quase a devorando com o olhar.
Pietra estava tão distraída na cozinha e perdida nos seus pensamentos, que nem sequer percebeu seu cheiro. Estava dormente, porque o cheiro deles naquela casa sempre a deixava um tanto tonta.
Era estranho como vivia distraída desde que chegara ali, com seu corpo reagindo estranhamente a cada momento que eles se dirigiam a ela. Sua loba ficava saltando dentro dela o tempo todo, o que era quase
irritante. Não sabia o que estava acontecendo com ela.
Ela viu como ele a olhava, sempre com aquele olhar carregado de luxúria. Ele deslizou seu olhar pelo seu corpo e ela ficou ainda mais sem jeito.
Ela estava usando uma camisola longa de seda negra e um penhoar, que tentou fechar mais no peito, para diminuir sua exposição à Harley. Não imaginou que haveria alguém na cozinha àquela hora da noite.
Ele deu um passo à frente, se aproximando mais, mas ela não pôde fazer o mesmo, pois já estava encostada no balcão.
— Oi... Oi! — ela gaguejou.
— Precisa de algo? — ele insistiu, com a voz rouca e cadenciada.
— Não... Eu só... vim pegar água.
— Sua pele ganhou um tom hoje — disse passando lentamente o dedo em sua bochecha.
Ela o olhou com os olhos arregalados.
— Bem, sim, me protegi, mas Grécia é Grécia... Bom sol.
Ele sorriu, olhando-a tão intensamente que ela quase tombou em seus joelhos. Ela não entendia por que ele a olhava daquele jeito e por que isso a incomodava tanto.
Ele, então, foi à geladeira e pegou uma bolsa de gelo.
— Vi que você e Petrus parecem estar se acertando.
— Ele é bom, está sendo gentil.
— Você merece a delicadeza.
— Mereço?
— Gostaria de poder tirá-la desta confusão.
— Mas não pode.
Ele negou lentamente.
— Está contente? — ele perguntou.
— Estou.
Estava?
— Petrus a tratará bem, pois ele é um adorador de mulheres. Ama-as, as vê como presentes dos deuses.
— Eu deveria me sentir lisonjeada?
Ele sorriu tão lindamente que ela quase gemeu. Ele era divino com seu cabelo loiro longo e com mechas mais escuras e seus olhos verde-claros.
— Deveria ir para ele. Precisará de uma fêmea esta noite.
Oh, o frenesi. Atingia levemente os solteiros e intensamente os acasalados, após altas doses de adrenalina, ela sabia.
— E você não? — ela perguntou.
Ela engoliu em seco porque obviamente ela podia perceber como ele estava excitado sob seu agasalho, ele exalava sexo e parecia um predador prestes a saltar sobre ela.
O que estava de errado com estes homens? Ou o problema era com ela?
— Darei meu jeito, encontrarei meu alívio. Sempre há uma loba querendo a atenção de seu beta.
Ela espremeu as mãos contra o copo.
— Entendo...
— Todos aqui a amarão, Pietra, e lhe darão toda sua devoção a você como alfa.
— Inclusive você?
— Inclusive eu, acima de tudo.
Ele tocou sua bochecha novamente, deu as costas a ela, então parou e a olhou.
— Talvez você devesse levar isso para Petrus, glykiá adelfí.
Glykiá adelfí, doce cunhada, agora ele só a chamava assim.
Ele colocou a bolsa de gelo sobre a mesa e saiu da cozinha, e ela ficou ali, paralisada, com os olhos arregalados.
Senhor Jesus, estava pega numa cilada. Sua cabeça dava voltas, sua mente estava uma bagunça.
Ela suspirou e bebeu a água, tocando sua bochecha que parecia queimar, onde ele a tocou.
Ficou ali por um longo tempo porque não sabia o que fazer de sua vida. Todos sempre tomavam as decisões por ela. Vá lá, fica aqui, veste isso, senta aqui, case-se.
Era um milagre que seu pai tinha permitido que fizesse a universidade que amava, mas pra quê servia se não poderia usar nada?
Ela suspirou tristemente e colocou o copo na pia.
Bem, tinha um dever a cumprir, então, se ninguém se importava, por que ela deveria se importar? Estava cansada de argumentar dias a fio por alguma coisa que desejava. Só esperava que Petrus não fosse como
seu pai.
Ela pegou a bolsa de gelo e saiu da cozinha.
Harley estava no seu quarto, andava de um lado a outro, quando ouviu um ruído no corredor e sentiu o cheiro.
Ele foi até a porta e sem fazer ruído espiou o corredor.
Pietra andou pelo corredor e parou na frente da porta de seu quarto por um momento, ficou parada, como se decidindo o que fazer, então virou e se dirigiu para o quarto de Petrus.
Ela ficou ali por um momento e fez que ia bater e parou, estava nervosa e confusa, como se não soubesse se deveria fazer aquilo ou não.
Então ela pegou o trinco, abriu a porta devagar e espiou dentro, entrou e fechou a porta, tentando ser discreta.
Harley fechou sua porta e ficou paralisado. Ele não sabia por que saber que Pietra seduziria Petrus e provavelmente conseguiria seu intento, o incomodava tanto. Ele mesmo tinha sugerido isso, não?
Petrus não a recusaria, porque ele conhecia o irmão, ele era sexual até os fios de cabelo e nunca recusava estar na cama com uma mulher.
Não era por pouco que ambos tinham tido aventuras quentes em seu passado. Ambos adoravam sexo.
E Pietra? Era a mulher mais linda que já tinha visto na vida e mesmo que Petrus não estivesse inclinado a aceitar aquele acasalamento, ele o faria porque era honrado demais para recusar e causar um caos
para sua alcateia.
E por ela? Por Zeus, quem seria imbecil de recusar se deitar com aquela serva de Afrodite. Ele se ajoelharia se pudesse tê-la em sua cama, prová-la...
Ele rosnou com estes pensamentos. Eles não podiam compartilhar Pietra. Não seria certo. Ou seria? Apesar de saber que companheiros já haviam compartilhado leito, mas se ela fosse a companheira de alma
dele?
Harley franziu o cenho porque... E se fosse? E se ela fosse a companheira de alma de Petrus, qual era o problema? Seria bom para seu irmão, porque eles se harmonizariam, se amariam e seriam felizes, como
os outros lobos...
Aquilo devia incomodá-lo? Não.
Mas incomodava.
Harley se vestiu, se perfumou e com um rosnado saiu. Encontraria uma fêmea para ele, ou talvez duas, uma noite longa de sexo aliviaria sua cabeça insana.
Petrus parou aturdido quando saiu nu do banheiro secando os cabelos e avistou Pietra parada ao lado de sua cama. Ele quase gemeu sentindo seu corpo reagir violentamente.
E convenhamos, ela estava linda, como sempre, usando aquela camisola de seda negra até os pés, com um decote generoso.
Oh Senhor, tortura podia ser denominada por aquilo.
Ele continuou ali, parado sem saber o que fazer.
— Harley me disse que precisava de gelo. Talvez para seu olho.
— Ele disse? — perguntou erguendo uma sobrancelha.
Bastardo.
— Se você se sentar posso ajudá-lo.
Petrus não se fez de rogado e pudor era algo que não constava no seu dicionário, ele foi até a cama e sentou e para espanto de ambos, ele colocou a toalha no colo, porque ela estava quase saltando longe
quando viu o quanto ele estava excitado, talvez tivesse sido uma má ideia...
— Você poderia parar de olhar para minhas partes e colocar este gelo na minha cara? — disse com um sorriso malandro e ela olhou para ele, piscou e ruborizou, porque ela não tinha se dado conta da sua descompostura.
Ela engoliu em seco e se aproximou, respirou fundo, tentando ser uma adulta sensata.
Devagar, ela colocou o gelo na sua têmpora que estava roxa e com um corte.
— Ajuda a aliviar.
— Obrigado. Apreciei o gesto.
Ele fixou sua mão sobre a dela e continuou a olhando. Com a outra mão pegou em sua cintura, lentamente abriu as pernas e a trouxe mais para perto.
— Não tenha medo, não vou morder — ele disse sorrindo e ela sorriu.
— Por que não pediu dinheiro para o rei?
— O quê? — ele perguntou aturdido.
— Hoje, no torneio, o rei te ofereceu proteção, ajuda com os lobos na sua ilha e você teve a oportunidade de pedir ajuda. O rei poderia te fornecer o dinheiro para comprar sua ilha de volta e assim poderia
se livrar de mim. Quer dizer, eu não faço ideia de quanto custa uma ilha, mas acho que ele poderia, não?
— É tarde demais. Meus prazos estão esgotados e eu não teria como pagar o rei pelo empréstimo. Uma ilha custa um pouquinho caro, querida. E, além do mais, eu assinei outro contrato.
— Que outro contrato?
— O que eu aceito me casar com você.
— Oh... e então eu acho que isso é inquebrável agora?
— Seu pai deu você ao alfa de Alamus, e eu aceitei. Não podemos mais voltar atrás.
— Você foi obrigado a aceitar.
— Isso não importa mais.
— Então vamos ter que nos virar e nos dar bem, certo?
— Certo.
Ele suspirou, colocou o saco de gelo sobre a mesinha e tocou seu cabelo loiro, enrolando uma mecha em um dedo.
Lentamente ela tocou em seu peito, deslizando os dedos em sua pele, que ainda continha gotas da água do chuveiro.
— Você é tão bonito, Petrus...
— Pietra...
Ele a aproximou mais e ela pensou em recuar, mas não o fez. Ela era quase tão alta quanto ele e sedutoramente encostou-se a seu corpo, passando a mão por seu tórax, fazendo-o ofegar. E com um movimento
ele ergueu sua camisola longa e a fez sentar escarranchada em suas coxas.
Depois deslizou a mão pelo seu ombro, seu pescoço, e retirou seu penhoar, a olhou com cobiça, vendo a fina seda negra com detalhes de renda cobrir seu corpo.
Ela colocou as mãos em sua nuca e, lentamente, olhando diretamente em seus olhos, ela o puxou para si.
Petrus sentiu seu corpo reagir quando seus lábios se encontraram e ele permitiu que ela o beijasse.
Ele estava louco, com o desejo reverberando pelas veias. A adrenalina acendendo um leve frenesi, fazendo a libido aflorar mais do que já estava.
Pietra beijou seus lábios e o envolveu pelo pescoço.
E eles se beijaram profundamente.
Pela misericórdia, ele estava alterado e como podia resistir a uma mulher como ela que exalava sensualidade pelos poros? Era aquela sensualidade contida, moderada, lânguida que parecia envolvê-lo como
uma serpente. E isso era perigoso e delicioso.
Petrus não era de ferro, pelo amor de todos os deuses e ele a beijou de volta, com fome e retirou a toalha que se interpunha entre eles.
Instintivamente, ele deslizou os dedos pela alça de sua camisola e com um puxão arrancou as alças e ela deslizou embolando na sua cintura e isso fez com que ela arfasse sexy como o inferno, que só o deixou
mais louco.
Ele rompeu o beijo e olhou para seu corpo e o seu reagiu em apreciação. Seus seios eram lindos e ele os tomou nas mãos e eriçou os mamilos com os polegares.
Que vá tudo para o inferno! Se ele tinha que se acasalar, então seria direito.
Ele a tomou em um abraço e deslizou suas mãos pelo seu corpo, que era lindo e perfeito, ergueu-a e com um giro ele a tombou na cama e se encaixou sobre ela, beijando-a mais a fundo, fazendo-a soltar um
gemido desesperado.
Oh, aquilo estava bom e algo dentro de Petrus começou a tomar forma. Uma forma estranha.
Ele tentou ignorar qualquer pensamento que sondou sua mente e a beijou mais fundo, tentou pensar no prazer em tocá-la, no sexo bom que estavam tendo e como seria bom tomar aquela linda loba, entregue em
seus braços.
Não queria fazer conjecturas, balancear o certo e errado ou seu futuro, somente queria desfrutar do sexo com aquela loba que estava debaixo dele, em sua cama.
Ele esfregou seu corpo no dela, excitando-a, e tudo aquilo estava funcionando porque sua ereção ficou pulsante, seu sangue esquentou quase queimando suas veias e suas mãos deslizaram por seu corpo e enlouquecido,
beijou e mordeu seu pescoço fazendo-a gemer.
Ele abriu os olhos e seu olhar se encontrou com os vibrantes olhos verdes de Pietra.
Ele estava alterado, seus olhos deveriam estar cintilando e com as presas alongadas, e ele devia ter arranhado o seu pescoço com elas, pois pode ver a marca onde quase lhe arrancou sangue.
Eles ficaram se olhando com mil perguntas sem resposta, sem saber o que fazer, com a respiração desconcertada.
Ela era seu destino, sua companheira.
Ele quase a mordeu e acasalou com ela, mas sua mente começou a gritar. Porra, Petrus queria bater na sua cabeça. Qual era o maldito problema com ele. Estava parvo?
Ele sentiu a respiração dela mudar, seu corpo enrijecer. Ele a olhou aturdido, sem entender o que acontecia.
— O que houve? Fiz algo errado, meu senhor? — ela perguntou.
Hã? Tinha feito?
— Não, não fez nada errado. Somente estou admirando sua beleza. É uma loba esplendorosa, Pietra e eu... estou um pouco alterado hoje e... feri sua pele, desculpe, não quis feri-la.
— E sou sua, para agradá-lo.
Ah... aquele tom, temeroso, tímido e deslocado.
Petrus rolou de cima dela e olhou para o teto, soltando um suspiro cansado, tentando se acalmar.
Seu corpo todo doía e vibrava e queria um sexo selvagem, queria rosnar e jogar todas aquelas sensações que o estavam deixando louco para fora. Mas o problema é que ela não era apropriada para isso. Parecia
errado, parecia estranho.
Ela suspirou, fechando os olhos.
— Acho que eu deveria ir para o meu quarto.
Ela levantou da cama e vestiu o penhoar, já que as alças de sua camisola estavam arruinadas, sem olhar para ele.
Quando foi se afastar da cama, ele a segurou pelo punho e ela o olhou. Não havia recriminação, ou raiva, até parecia haver alívio.
— Desculpe, Pietra.
— Está tudo bem. Não estamos preparados para isso, quer dizer, eu não estou... ainda.
— Vamos respeitar nosso tempo, as coisas entre nós devem ser feitas mais devagar. Fomos empurrados a isso e não podemos fugir, mas aqui, entre mim e você vamos encontrar nosso tempo, nosso equilíbrio.
— É melhor.
Essa doçura dela o deixava desconcertado.
Ele se ajoelhou na cama e segurou seu rosto entre as mãos e beijou seus lábios.
Ela o olhou e havia um entendimento mútuo entre eles. Ele fazia coisas que a deixavam aturdida demais.
— Obrigado pelo gelo, eu apreciei muito isso — ele disse.
Ela sorriu e o clima aliviou, quase arrancando suspiros.
— Obrigada por ser bom comigo. Boa noite, meu senhor.
— Boa noite.
Ela saiu do quarto para não mudar de ideia, porque realmente era difícil deixar Petrus excitado e nu na cama, mas beleza não era suficiente.
Ela correu para seu quarto, fechou a porta e se encostou nela, como se estivesse fugindo dos cães do inferno e uma tristeza se abateu sobre ela. Depois de tudo, ela teve prazer em beijá-lo, tocá-lo, mesmo
sabendo que não o amava, que aquilo seria só sexo. Um ótimo sexo, com certeza...
Ela suspirou.
O que poderia fazer? Nem ela estava apaixonada por ele, nem ele por ela, mas o sexo poderia ter sido estupendo, e agora estava os dois ali, como adolescentes perdidos, um em cada quarto.
Separados.
Que idiota fugindo dele daquela maneira. Ele a acharia uma companheira ruim, fria e sem graça.
Mas ela mal o conhecia e aquilo seria prazer carnal e nada mais.
Ela tocou seu pescoço e olhou seus dedos e havia um pouco de sangue. Ele quase a mordeu. Isso lhe causou pânico e ela olhou sua camisola rasgada e deixou-a cair no chão.
Ela sentiu mais vontade de chorar ainda e, dessa vez, as lágrimas rolaram, porque ela desejou aquilo que Ester tinha falado, queria ser arrebatada, não somente pelo prazer do sexo, mas desejava por algo
mais, algo que envolvesse seu coração, sua alma.
Petrus era bom, podia ver isso, mesmo que tivesse a assustado nos primeiros dias, pois estava zangado, mas as coisas haviam mudado e agora parecia gentil.
Poderia amá-lo com o tempo.
Mas se ele se zangasse com ela, a machucaria?
Sentiu-se triste e envergonhada por estar ali lamuriando como uma cadela acuada. Era uma loba, ora bolas, uma filha de alfas poderosos.
Encurralada...
Ela não queria se acasalar...
Bem, empurrou este sentimento fora. Ela era uma loba, seria a alfa e deveria endurecer seu coração. Era seu destino. Nada tinha a fazer, deveria estar grata por conseguir um alfa tão valoroso e lindo como
ele, mas não conseguia se sentir feliz como devia.
Então, ela foi para a cama e deitou, mas seus pensamentos não estavam a deixando ter uma noite de sono como devia.
Ela só precisava de um pouco mais de tempo.
Eles acasalariam, se amariam e seriam uma família.
Ele cuidaria bem dela.
Tudo ficaria bem.
Petrus tentou até dormir, mas seu corpo estava aceso demais para isso, pensou em voltar para o chuveiro e tomar um banho frio, mas sabia que não adiantaria.
Xingou tanto até acabar toda sua lista conhecida de palavrões e então rosnou, se vestiu e saiu.
Ia desafogar sua merda fora dali. Achar uma fêmea sem compromissos, alguém que não pensasse, agisse.
A única coisa que ele precisava naquela noite era um sexo selvagem e nada de lamúrias. Nada de companheiras.
Ele rosnou quando entrou na lancha e tomou rumo à ilha de Creta.
Ia encher a cara, achar fêmeas desejosas e desinibidas e iria esquecer Pietra, Sami, malditos lobos, seu inferno.
Ele pensou em chamar Harley, pois eles eram bons juntos em ocasiões assim, mas ele não estava nem com a paciência para seu irmão naquele momento.
Ele e Pietra eram o elo de paz entre as alcateias, mas no momento ele queria fazer guerra e ser livre.
Ilha dos Lobos, Grécia.
Ester bateu na porta e espiou para dentro do quarto.
— Olá, eu posso entrar?
Clere olhou para trás, suspirou e então acenou.
Com um sorriso no rosto, Ester entrou e sentou na beirada da cama.
— Trouxe sua encomenda. Olhe esta calça, vai ficar linda em você.
— Obrigada, alfa.
Clere ficou olhando séria para Ester e com as mãos estendidas sobre as coxas. Parada.
— Oh, estava pintando as unhas? E esta maquiagem, você que fez? Ficou muito boa e você está linda!
— Obrigada. Estou aprendendo com o Youtube.
— Fico contente. — Ester sorriu e ficou sem jeito. — Está se sentindo bem?
— Sim.
Ester percebeu que ela não estava a fim de conversa.
— Clere, eu não quero ser rude, nem me meter na sua vida, mas sua mãe está preocupada com você. Ela me chamou porque a ama e quer te ver feliz, assim como eu e sempre lhe demonstrei que pode me falar sobre
qualquer coisa, certo?
— Sim.
— Então... Por que está tão melancólica? A cada dia está mais isolada de todos e depois do torneio, não saiu mais do quarto. Fale-me.
— Por quê?
— Está aqui trancada, não sai mais e fica fuçando na internet sem cansar, isso soa mal para uma moça que estava tão alegre, tão forte, enfrentando tudo tão bem.
— Não tenho aonde ir, não tenho idade para ser uma loba independente e todo mundo fica me olhando atravessado como se eu fosse surtar.
— Todos aqui amam você e se preocupam.
— Sei o que pensam. O mesmo que Harley pensa.
— O que Harley pensa?
— Que sou uma criança, que tenho problemas...
— Por que Harley pensaria isso?
— Ele não me quer mais por perto, pensei que fosse meu amigo e me deu as costas.
— Oh... Quer falar sobre isso?
— Não.
— Olhe, sou sua amiga, pode falar comigo, querida, qualquer coisa que precisar, nunca vou te julgar, somente quero ajudar. Você... Era amiga de Harley... E ele foi mal-intencionado com você?
Clere suspirou e pensou se falaria ou não.
— Não. Ele não foi. Foi sempre muito gentil.
— Por que está triste com ele então?
— Não estou triste com ele, alfa, estou triste comigo.
— Por quê?
— Porque não estou feliz aqui na ilha e sei que parece bem egoísta eu dizer isso, mas... não sou mais criança e todos me tratam como uma.
— Clere, todos estão superprotetores, sua infância foi difícil e seus amigos somente querem te proteger, querem que seja feliz.
— O problema é que por causa deste medo e do intuito de me agradar, não me deixam fazer nada, me tratam e me veem como criança. Acredite, posso ser pequena, mas já tenho 22 anos e eu... eu nem sequer conheço
a cidade vizinha. Não vejo pessoas, não posso andar na rua, não posso ir ao cinema. Não tenho amigos com quem conversar. E quando quero uma roupa, olhe, veja por si mesma, me compra pela internet e me
traz.
— Pensei que estava te agradando.
— Está alfa, mas não é esta a questão, sou grata pelo carinho, cuidado e amor que todos me tratam, mas a questão é que nunca entrei num provador de roupas de uma loja. Nunca ninguém me levou jantar e olhar
para mim como uma mulher que gostaria de namorar? Muito menos. Todos os homens da ilha ficam a distância de mim, com medo de me ofender ou me tocar porque acham que sou traumatizada como Jessy.
— Bem... Aí talvez tenhamos um probleminha, mas podemos resolver isso.
— Eu saí da jaula, mas estou presa aqui neste quarto e a única coisa que vejo são os vídeos na internet de um mundo que nunca vou conhecer.
— Oh, Clere...
— E Harley... Ele nunca vai me ver como uma possível companheira.
— Oh, merda!
Petrus estava com Pietra e sua mãe na mesa do café, degustando seu dejejum, e ele pegou sua mão e beijou seus dedos, lançando uma piscadela com mensagens que a fez ruborizar.
Observando isso, sua mãe deu um leve sorriso.
— Fico contente que tenham se acertado — ela disse.
— Estamos bem, mãe.
— Isso é ótimo, o que vão fazer hoje?
— Acredito que eu gostaria de visitar algumas lojas na vila, comprar alguns vestidos mais frescos, mais apropriados para a ilha.
— Oh, eu adoraria acompanhá-la, se me permite — Samira disse, simpática. — Eu gostaria de comprar algumas coisinhas novas.
— Seria uma honra, senhora.
— Mãe, deveria descansar para curar sua perna, talvez devêssemos procurar um médico que a ajude.
— Eu estou bem. Minha perna está bem e vamos às compras, não saio há muito tempo e desejo isso.
— Podemos pedir à Kira que arrume sua perna com sua magia. Não pode ficar mancando deste jeito, não está certo. Não está se curando como devia. Já faz tanto tempo e ainda manca.
— Isso soaria como um dilúvio se seu pai ouvisse isso... Sobre eu ser consertada por uma bruxa.
— Bem, ele não está aqui para consertar suas burradas, pois deve estar se debatendo no rio Estige agora, fazendo companhia à Hades — disse irritado e ela suspirou.
— Tudo bem, filho, eu aceitarei por sua causa. Na volta, falaremos com a princesa bruxa.
— Ótimo. Onde está Harley?
— Está enfurnado na sua sala de computadores, somente o vi na cozinha preparando uma bandeja de café e voltou para lá. Deve estar em um novo projeto. Pode vê-lo? Penso que anda estranho nestes últimos
dias.
— Claro.
Petrus entrou na sala que eles tinham preparado para ser seu escritório, onde ele e Harley mantinham para seus negócios virtuais e onde os sofisticados computadores de Harley estavam ligados a telas enormes
nas paredes e mais três menores sobre a mesa e vários teclados.
Eles tinham implantado um novo sistema de segurança, como na ilha de Noah e tudo tinha funcionado muito bem.
Harley estava criando dispositivos de segurança inusitados que estavam gerando certo alvoroço no mundo dos negócios, mas o que ninguém sabia era de onde vinha a empresa, pois era tudo muito sigiloso, além
dos jogos.
Mas quando Petrus sentou na confortável e enorme cadeira giratória de couro, franziu o cenho olhando as telas e mapas e milhões de informações que ele não entendia direito.
Informações tiradas da Deep Web e que somente Harley com sua mente brilhante e conhecimento nesta área conseguia decifrar. Quase todas as informações eram com senhas criptografadas e ele tinha que quebrar
todas antes de acessar.
— Pensei que estava dormindo, mas nossa mãe disse que deve estar em um projeto novo, nem tomou café conosco — Petrus disse calmamente.
— Tomei o café aqui — disse sem parar de digitar e tomou um gole da sua xícara.
— O que está fazendo enfurnado aqui? Algum projeto novo? Algum novo jogo?
— Buscando ratos.
— Que ratos?
— Rastreando contas bancárias, transações, pessoas falsas...
— Pessoas?
— Isso mesmo.
— E quem seria esta pobre alma que será seu alvo desta vez?
— A operação resgate.
— Bem. Noah ainda não desistiu de buscar a Joan? Não temos mais nenhum lobo para resgatarmos dos laboratórios.
— Aparentemente não.
— Aparentemente? O que quer dizer?
— Já se perguntou se Joan fez isso com mais alguém além de nós?
— Bem, é uma possibilidade, mas acha que não teríamos ficado sabendo?
— Talvez. Na verdade, eu estava buscando umas coisas e caí em outras. Agora estou no rastro de alguém que diz ser uma pessoa e na verdade é outra.
— Quem?
— Alguém muito próximo a você.
— Tem a ver com nosso carcamano e Pietra?
— Não. Acasalou com ela? Sinto o cheiro dela em você, mas não estão acasalados?
— Não, não estamos acasalados... Ainda.
— Fez... sexo com ela?
— Não te interessa.
— Uh, estamos nervosos hoje?
— Eu não, você está?
— Não. Mas acredito que você ficará.
Petrus suspirou.
— Desembuche antes que eu quebre seus dentes.
Harley riu.
— Petrus... Eu descobri uma movimentação bancária estranha e com minha busca incansável sobre certa loba, eu realmente tinha chegado à conclusão de que não tinha nada a encontrar sobre ela, mas eu estava
errado, porque, na verdade, ela não existe.
— Harley, você está embolado, não estou entendendo.
Ele fez uma careta.
— Merda! Eu não queria te dizer isso, porque está com problemas demais para resolver...
— Fale, homem!
— Resolvi retomar minha investigação sobre... Sami.
Isso espantou Petrus profundamente, foi uma surpresa desagradável. Aquele inferno não acabava nunca?
— Por quê? Disse que não tinha encontrado nada de errado em seus arquivos na época que a resgatamos.
— Sim. E depois deixamos para lá, mas depois que verificamos o sinal dela novamente, quer dizer, algo ficou martelando na minha cabeça e retomei minha busca e descobri um furo.
Petrus se empertigou na cadeira.
— Que furo?
— Sami Strauss é um nome falso. Muito bem falsificado com um histórico de um passado muito bom. Só que ela não existe.
— E? — perguntou cautelosamente sentindo seus nervos contraírem.
— Todo seu histórico foi forjado e, acredite, foi feito por um profissional muito qualificado porque, na época, eu não vi o furo. Realmente acreditei, apesar de suas desconfianças que Sami Strauss era
quem disse que era.
— Sami não existe?
— Não. Um nome falso. Veja... Tudo de sua vida que havia encontrado é falso, a universidade, sua formação, família, endereço, tudo, tudo falso.
Petrus viu suas vistas ficarem turvas e apertou os braços da cadeira até entortarem.
— O sinal dela está onde agora?
— Desde a última vez que te mostrei isso, ela fez várias viagens de um lado a outro, inclusive voltou à Alemanha, não sei exatamente o que está fazendo, mas seu movimento é constante, no momento está nos
Estados Unidos, novamente.
— Ela poderia ter trocado de nome depois do que houve nos laboratórios, isso de suas viagens pode ser um novo emprego. Nós também já trocamos de nomes várias vezes.
— Petrus, foco, ok? Não arrume desculpas porque agora eu devo concordar que havia algo de errado com Sami naquela época, mas como todos acreditaram que era inocente, a deixamos ir. Mas, graças a sua interferência,
o rastreador que Galen colocou nela foi retirado e colocamos um dos nossos, sem que ninguém se inteirasse. Sei exatamente que, além de sua desconfiança por ela, porque seu instinto dizia que ela estava
mentindo, você estava tão fascinado por ela que estava cego e não queria se desvencilhar dela, mas agora, mano, acredito em você.
— Acha que ela era do lado deles? Que compactuava com as experiências dos lobos? — disse nervoso.
— É uma possibilidade. Se não, por que de sua insistência em querer sair da mansão? Suas evasivas e sua desesperada tentativa de fuga quando Galen a pegou?
— Podia ser medo de ser descoberta e morta por nós. Ela realmente sentia muito medo.
— Olha, eu não vi maldade nela, e eu mesmo cheguei a acreditar, mesmo sabendo que aquela história não estava bem contada. Mas a ponto de ser uma médica malvada como os outros... aí eu já custo a acreditar,
mas que ela está envolvida mais com os laboratórios do que nos disse, isso está.
— Continue.
— Agora o mais interessante é que rastreei depósitos e retiradas em alguns pontos onde ela passou, mas não usa cartão de crédito. Alguém a encoberta.
— O que quer dizer?
— Quer dizer que nossa falsa moça tem um comparsa que lhe envia dinheiro.
— Se ela não é Sami, quem é?
Harley digitou algumas coisas no computador e uma imagem apareceu na tela maior.
Petrus se aproximou lentamente olhando para a foto da moça que ali constava. A foto era de anos atrás, um tanto mais nova do que ele conhecera, mas ainda linda, com um lindo brilho no olhar, com o narizinho
empinado e confiante de si mesma.
— Nossa moça se chama Samantha Sterlin. Formada em Medicina na Universidade de Oxford, PhD em Genética Molecular e Biotecnologia pela Universidade de Zurique. Seu trabalho está focado na pesquisa. Seu
pai era o cientista Godbert Sterlin. Sua mãe, uma inglesa, falecida há dez anos. Seus rendimentos a partir de 2005, ano em que fomos presos, assim como dela e de seu pai, aumentaram... consideravelmente.
Sami era o nome no qual estava registrada nos laboratórios, como técnica de laboratório. Um engodo, caso fosse pega. Por isso foi o que nos contou e o que achamos. Esta Samantha está recebendo depósitos
de alguém que não consigo rastrear. O que me deixa muito preocupado.
Petrus soltou um rosnado e com um tapa jogou uma das cadeiras longe. Seus olhos cintilaram e suas garras cresceram. Oh aquilo era quase tão ruim do que sequer imaginara.
Após alguns segundos, Petrus respirou fundo e procurou desesperadamente manter o foco. Harley somente o observou, pois sabia que estava maquinando na sua cabeça, podia até ouvir as “engrenagens” funcionando
e seu coração batia forte e descontrolado.
— Vai avisar Noah? — Harley perguntou.
— Não. Vamos descobrir mais.
— O que pensa em fazer?
Petrus se virou e encarou o irmão, então sentou lentamente novamente na sua cadeira.
— Acho que faremos uma visitinha aos Estados Unidos.
— Bem, vou fazer a mala.
— Dizer para você ficar adiantaria?
— Sabe que não. — Ele suspirou. — Mas tenho uma pergunta para você, mano.
— Por que não me espanta?
— Por que me conhece?
— Fale.
— Está preparado para estar cara a cara com Sami, ou seja lá quem é esta mulher?
— Por que não estaria?
— Porque sempre agiu de forma estranha quando se trata dela.
— Não agi de forma estranha.
— Bem, tive a impressão de que se importava demais, arrisco dizer que estava até apaixonado.
Petrus pensou em mentir, mas nunca mentiu para Harley. Ele tamborilou nervosamente os dedos nos braços da cadeira e fez uma careta quando pensava em definir o que sentia, nem sabia ao certo. Só sabia que
aquilo revirava toda sua mente e corpo.
— Senti algo forte por ela, sim, algo que nunca tinha sentido por ninguém na minha vida, uma atração incrível. Seu cheiro parecia um afrodisíaco que me deixava tonto e perdido por ela. Meu lobo queria
reivindicá-la como minha.
— Você chegou a pensar que fosse sua companheira? Sabe... Esta... De alma.
— Sim, eu cheguei a pensar, mas estava iludido com a história do Noah e Ester. Com aquela coisa toda de companheiros de alma vindo à tona, mas não pode ser.
— Por que não?
— Ela me odiou, Harley, ela podia até sentir atração física, porque eu sentia que o cheiro dela mudava, via como me olhava com fome, mesmo que logo me rechaçasse. Ela realmente nunca me quis. Desprezou-me
e falou comigo, às vezes, com tanto ódio e desprezo. Uma companheira de alma não faria isso.
— Acho que não.
— Uma companheira deveria... gostar de mim.
— Dizem que é recíproco. Vimos isso com os outros casais também. Mesmo tendo seus problemas, eles logo se entregaram. Deve ser um sentimento muito forte.
— Sim... então Sami não teria me deixado.
E ele quase tinha implorado para que ficasse com ele...
— Não.
— Acho que foi apenas uma atração sexual, porque... Homem, ela era uma coisinha linda. Meu lobo queria possuí-la, queria tomá-la. Somente... sexo, nada mais.
— Sim, claro... Talvez fosse somente isso mesmo. Uma forte atração sexual. Uma noite de sexo alucinante e o encanto se quebraria. Então não há problema algum de vê-la novamente, não é?
— Não, nenhum. Sou um adulto que consegue controlar minhas libidos.
Harley riu.
— Esta conversa está muito estranha, estamos em uma espécie de consultório de terapia?
Petrus riu e se sentou confortavelmente na cadeira, se escorando no encosto alto, retraiu suas garras e dentes e tentou relaxar, se é que isso fosse possível.
— Parece que estamos muito afetados — Harley disse bebendo um gole do café.
— Nada que não possamos resolver.
— Claro. Tudo bem com Pietra, então?
— Sim, já nos acertamos.
— Ótimo.
— Ótimo.
— Bem, então, quando pretende resolver esta questão sobre a pequena e bonitinha impostora?
— Amanhã mesmo estamos embarcando.
— E seu acasalamento?
— Estaremos de volta em tempo. Não se preocupe.
— E o que pretende fazer com a moça?
— Vou achá-la, espremê-la como a um limão até que me diga a verdade e então... veremos quem é Samantha Sterlin.
— E se ela for uma traidora?
— Então eu a darei para Noah para que arranque sua cabeça.
— É uma pena que tenha que viajar, mas entendo que deve ser importante. Deve ter muitos assuntos a tratar agora que assumiu tantas responsabilidades como alfa.
— Sim, isso é muito importante.
Petrus olhou para Pietra e sua cabeça estava uma bagunça. Tudo parecia tão embaralhado.
Ele tomou seu rosto entre as mãos e beijou seu nariz.
— Você pode ficar aqui aos cuidados de minha mãe se desejar, até eu voltar.
— Nosso casamento é semana que vem. Pela data que meu pai me disse.
— Eu sei e estarei de volta.
— Está bem, mas eu voltarei para casa, para preparar minha bagagem e depois voltarei aqui. Haverá uma cerimônia, como deve imaginar.
— Somente nossas famílias estarão presentes. Teremos uma cerimônia singela, eu espero. Eu não desejo nenhuma extravagância.
— Claro... Como desejar.
Petrus sentiu a pontinha de decepção na voz dela. Obviamente que se ele queria algo tão privado, sem convidados, ainda era claramente o sinal de que estava fazendo aquilo obrigado.
Merda! Ele tinha que lidar com isto? Não estava para festas. Ele quase rosnou.
— Minha mãe pode ajudá-la no que precisar.
Ela assentiu.
Ele olhou para ela e viu o medo em seu olhar. Ela era forte e aceitava tudo com tranquilidade e suavidade. Tão submissa que até irritava Petrus, mas ele sabia que ela estava angustiada e apreensiva, via
isso em seu olhar.
— Não se preocupe, tudo está bem, Pietra.
— Eu sei.
— Teremos tempo para nos conhecermos depois.
Ela assentiu.
— Vou deixar que descanse para sua viagem. Boa noite.
Ela foi sair, mas ele segurou seu pulso e ela se virou e o olhou.
— Fique, fique comigo esta noite. Quer dizer... Você gostaria de jantar comigo? Só nós dois? Podemos pedir o jantar na varanda.
Ela olhou-o, aturdida, e depois sorriu.
— Tem certeza?
— Sim.
— Eu adoraria.
Las Vegas, Nevada, Estados Unidos.
Petrus corria pelos telhados dos prédios, nos subúrbios de Las Vegas.
Saltou de um prédio para o outro, parou e olhou ao redor, observando todas as luzes cintilantes e coloridas da cidade, dos prédios, cassinos e carros barulhentos.
Ouviu a mistura de músicas e sons altos para todo lado que embalava aquele exagero de luzes.
Aquilo era muito movimento para ele e o barulho abusivo de toda aquela composição o irritava e fazia seus ouvidos sensíveis doerem.
Era um boêmio, mas conseguia tolerar isso se estivesse banhado a algumas cervejas ou um bom uísque regado a um bocado de sexo quente.
Fora isso, ele realmente apreciava a paz das ilhas gregas.
Bem, mas estava ali agora, então teria que tolerar e fazer seus ouvidos e nariz aguçados se adaptar.
O cheiro era uma mistura de todas as porcarias juntas, cigarro, fumaça de canos de descargas de carros, drogas, bebidas azedas caídas nas calçadas e guetos, sexo.
Ele fez uma careta por aquilo irritar seu nariz sensível, mas seu corpo retesou e ele lentamente se virou, farejando.
Lobos...
E então algo mais forte atingiu seu nariz. O cheiro dela. Inesquecível e embriagante. Estava fraco, mas ele sabia que era ela.
Aquele cheiro que o perseguia por mais de dois anos de sua vida, o deixando tonto como uma droga, uma maldita droga que não conseguia esquecer.
— Harley, onde ela está? — perguntou ao pequeno intercomunicador auricular que usava.
— A uma quadra depois do prédio à sua frente — Harley disse olhando para a tela do computador que monitorava Petrus e Sami dentro do furgão, parado não muito longe dali.
Seguindo-a pelo rastreador, não foi difícil encontrar a farsante, mas ela se movia rápido e eles ficaram observando-a por um tempo, se esgueirando pelos becos de Las Vegas, mas, hoje, ela não escaparia
das garras de Petrus.
Petrus rosnou e correu sobre o telhado. O som de rosnados e luta entre lobos que se aproximava à medida que ele corria, o deixaram louco e o impulsionou a correr mais rápido.
Ele saltou para o outro prédio e correu até a outra lateral e espiou pela borda.
O prédio tinha uns seis andares e, então, ele a avistou.
Petrus ficou petrificado olhando Sami lutar contra dois lobos.
Mas que diabos ela estava fazendo? E quem eram os malditos que ousavam lutar com uma loba? Era sabido que raramente lobos agrediam fêmeas, mas aqueles ali não deveriam ser boa coisa.
Lutar contra sua Sami? Dois contra um?
Aquilo fez seu lobo dar uma cambalhota de raiva dentro dele. Aqueles bastardos não ousariam mais tocar na sua fêmea.
Este pensamento passou tão rápido na sua cabeça que ele nem se deu conta de que havia a chamado.
Ele rosnou e não esperou mais nada, saltou do prédio para o beco, dando paradas pelas escadas de incêndio para amenizar sua descida. Rosnou, chamando a atenção dos lobos para ele, quando ambos partiram
para cima de Sami, com suas unhas afiadas.
Os três, aturdidos pela sua intromissão, olharam para ele e um deles saltou sobre Petrus e o outro levou um chute de Sami. Este, cambaleando, se voltou para ela novamente, rosnou e continuaram a lutar.
Petrus atacou ferozmente, o lobo era grande e forte e os dois lutaram, arranharam e deram golpes, sem se transformar ao todo, então entraram na sua forma intermediária e assim travaram sua luta.
Ele queria ir até Sami para impedir que fosse ferida, mas o grandalhão estava resistindo. Ouvindo um arfado afogado de Sami quando ela foi brutalmente derrubada no chão, isso o fez ver tudo vermelho.
Ele rosnou, saltou sobre o lobo e com suas garras rasgou sua garganta, logo correu pelo beco e saltou sobre o lobo que no mesmo momento havia saltado para atingir Sami, que estava caída no chão.
Petrus bateu contra as costelas do descarado que estava em forma de lobo agora e este caiu dando duas cambalhotas pelo chão, levantou aturdido e rosnou para ele.
Ele rosnou mostrando seus caninos afiados, com os olhos cintilando como duas bolas de prata e ambos saltaram para travar mais uma revoada de golpes. O lobo era feroz, mas Petrus era mais.
Ele saltou sobre o lobo, caindo atrás dele e antes que o lobo tivesse tempo de se virar para se defender, Petrus agarrou sua cabeça e quebrou seu pescoço.
Petrus rosnou alto para vociferar sua vitória e então se acalmou, respirou fundo e voltou, em partes, na sua forma humana.
Lentamente girou o corpo, da cintura para cima, e olhou para trás, para Sami, que estava olhando para ele com os olhos arregalados, respirando com dificuldade. Ela tinha se levantado do chão e se encostado
à parede para observar a luta.
Bem, ver Petrus era a última coisa que ela pensou em sua vida. Afinal, ela estava nos Estados Unidos, num beco imundo, entre milhares deles, no meio da madrugada.
O que infernos ele fazia ali?
O medo, o assombro, espanto, raiva e até alegria ou tudo misturado, que ela não soube explicar, se abateu sobre ela.
Era tipo uma miscelânea de todos os sentimentos fortes, controversos, que poderia sentir tudo de uma vez e se ela não estivesse encostada na parede de tijolos, estaria tombada no chão como uma poça d´água.
— Olá, Sami — ele disse calmamente, tão melodioso que ela pensou que suas vistas ficaram nubladas e seus ouvidos zuniram.
Ela arfou e não respondeu, porque toda aquela concentração de porcarias estava entalada na sua garganta.
Ele era um predador, sexy como o puro pecado, vestido com uma calça de couro preta colada, mostrando sua bunda perfeita e coxas musculosas, uma camiseta preta que agarrava seu corpo como uma segunda pele,
e usando uma jaqueta de couro negra cheia de fivelas e tachas.
Tudo aquilo moldando aquela montanha de músculos que ainda estava suportada por uma pesada bota de motociclista se virou totalmente para ela.
Ele ainda estava com as presas longas e olhos cintilando, então voltou completamente ao normal, e ela, que não tinha o visto daquela maneira ainda, o achou assustador.
Se não fosse uma loba e já estivesse familiarizada, gritaria como uma menininha histérica.
Quando aqueles olhos brancos, incríveis e gélidos como um cubo de gelo a olharam, e logo se transformaram num olhar quente que quase a derreteu, toda aquela enxurrada de sentimentos desconhecidos que ela
tinha enterrado dentro de seu coração explodiu.
Suas memórias voltaram. Memórias de mais de dois anos atrás em uma longínqua Alemanha. O gosto do seu beijo, seus olhares fulminantes, seu sorriso malandro, sua voz, o fogo de seu toque que acometia sua
pele. Como a seguia para todo lado, como dizia que a desejava.
Quando dava aquele sorrisinho no canto da boca, por sua língua afiada que a deixava vermelha como um tomate. Como a excitava sem nem ao mesmo tocá-la de forma depravada.
Ela lembrou quando ele pediu que ficasse com ele, e ela quase tinha sucumbido.
Ele lentamente andou até ela, que estava petrificada e parou a cinco centímetros dela, onde seu cheiro quase a sufocou. Ele colocou as mãos na lateral de sua cabeça, escorando-se na parede para ficar com
o olhar da mesma altura que o seu.
Um alfa puro e poderoso, exalando um cheiro afrodisíaco, misturado com o cheiro do couro. Forte e másculo.
Maldito.
— O que está fazendo aqui neste beco lutando com lobos, minha preciosa? Minha Sami nunca aprende a ficar fora de confusão?
Isso foi um balde de água fria nas suas doces lembranças.
Então, as brincadeiras idiotas dele surgiram na sua mente, sua passagem grotesca pelos laboratórios, vendo o que acontecia ali, ela tentando ajudar a loba, ela sendo mordida, o terror, o medo, sua vida
indo ladeira abaixo, a morte de seu pai e o porquê ela estava ali.
Isso cegou sua mente e ela gritou em meio a um rosnado e bateu com as duas mãos em seu peito, o empurrando, o que o deixou espantado, dando dois longos passos para trás.
Com os olhos arregalados, Petrus olhou para ela.
— Calma, Sami, sou eu, Petrus. Recorda?
— Eu me recordo. O bastardo que me deixou prisioneira na Alemanha.
— Oh, calma aí. Eu não a deixei prisioneira...
— Não? Presa no quarto no subterrâneo da casa. Presa, rodeada por vários lobos que me impediam de sair e me traziam de volta quando eu tentava sair.
— Era para sua proteção, sabe disso.
— Uma merda! Eu implorei que me deixasse ir.
— Precisávamos saber quem era. O que tudo aquilo implicava, Sami, estava mordida e reclamada por um lobo que queria te levar, estava protegida ali.
— Nunca estive protegida entre lobos.
— Sami, você é uma loba e pensei que tivesse se acostumado a isso.
— Nunca vou me acostumar à aberração que me transformaram e o que vocês me fizeram. Você tirou tudo de mim! — gritou.
— Sami...
— Agora saia da minha frente e me deixe ir, antes que eu o mate.
— Me matar? Oh, querida loba, me matar de prazer eu até posso consentir, mas fazer com que meus pulmões parem de respirar é bem difícil.
— Difícil, mas não impossível.
Ela girou nos calcanhares e começou a andar para longe do beco com passadas largas.
Estupefato com a maneira que ela estava falando com ele, com tanta raiva, Petrus saltou alto, ultrapassando sobre ela e caindo na sua frente, fazendo-a parar bruscamente.
— Não quero mais lutar por hoje, me deixe passar — ela disse trincando os dentes.
— Oh, amor, mas acabamos de nos encontrar. Que tal tomarmos uma cerveja gelada e conversarmos sobre o que anda aprontando, hã? Devo dizer, mulher, que está sexy como o inferno nesta roupa de couro. Eu
nem consegui acreditar que era você, pensei que meus olhos estavam me enganando. Mas não vou negar que gostei, estamos fazendo um belo par em couro, que tal um pouco de sexo selvagem e um chicote?
Ela rosnou e saltou sobre ele, mas não o atingiu porque ele se esquivou de seu golpe.
— Brabinha... Gosto assim, selvagem, mas confesso que tenho saudade de minha doce Sami. Desbocada, mas doce.
— Não sou sua doce Sami! — gritou com um rosnado.
Ela o atacou com golpes com os punhos, pés e com giros que o deixou espantado. Era muito rápida e eficiente.
Ele conseguiu se defender de seus golpes, até que ela deu uma cambalhota e seu pé bateu no rosto de Petrus. Ele cambaleou e quase caiu, ficou zangado quando viu seus lábios sangrando e se transformou em
sua forma Dhálea e rosnou para ela.
— Está alterada, loba.
— E você está se metendo onde não deve!
— No que estou me metendo, hã?
— Vá embora, Petrus, e me deixe em paz!
Então para mais um espanto de Petrus, ela se transformou em sua forma Dhálea e rosnou para ele, arreganhando seus dentes.
Petrus ficou assustado com seu comportamento agressivo. Não imaginou que ela usaria sua forma intermediária de loba contra ele, ou de qualquer maneira, já que disse que odiava isso, ser transformada, mas
ela parecia zangada.
Ele não a entendia.
— Vamos conversar, gatinha. Fique calma.
— Não sou gatinha!
— Bem, é uma loba, vejo isso, mas precisa se acalmar, não estou aqui para ferir você, somente quero conversar e podemos discutir o que anda xeretando, ok?
— O que xereto não é da sua conta.
— Oh... É da minha conta desde o momento que está lutando com um lobo e eu tive que rasgar sua garganta.
— Eu faria, não precisava de sua ajuda. Como sempre, se achando o rei do pedaço.
Petrus riu ironicamente.
— Meu amor, eu sou o rei, você é que ainda não me provou, porque quando provar ficará tão caidinha por este rei que se ajoelhará em reverência, como uma obediente súdita.
Ela riu.
— Espere sentado, porque isso nunca acontecerá.
Ela atacou, dando golpes precisos com as mãos e os pés e ele rapidamente se defendia e desviava, mas não atacava de volta.
Ela saltou sobre ele e com os tornozelos cravou nas laterais de seu pescoço e girou, fazendo Petrus girar e tombar no chão, e antes que ela se soltasse, ele agarrou suas pernas e a girou com ele, tombando-a
também, e ela gritou como baque no chão.
Ele saltou, rosnando, agarrou-a pelos braços, levantou-a do chão, girou, fazendo uma torção e a enroscou entre seus braços, prendendo-a e a puxando para seu peito.
O baque fez Sami expulsar o ar dos pulmões e arfar.
Presa entre seus braços seus rostos estavam próximos e ele deu um sorriso lento e malicioso e seus olhos chegaram a brilhar o que fez com que um frio percorresse a coluna de Sami.
Bem, ela se sentiu minúscula ali, presa nos braços dele, olhando para cima para ver seu rosto. Ela tinha se esquecido do quanto ele era alto.
— Oh, querida, isso é um desafio? Deveria saber que não se desafia um lobo. Há, mas você não sabe, porque não quer conviver conosco.
— Sou livre para viver como quiser, não preciso de vocês.
— Vai precisar de mim.
— Vai sonhando.
Ela rosnou, girou e com um movimento que o espantou, se livrou dele e com outro chute o atingiu no estômago, afastando-o dela. Ele deu dois passos para trás, se recuperou, rosnou e saltou sobre ela, e
mais alguns golpes foram travados.
Petrus, que até estava se divertindo com a luta e testá-la, resolveu finalizar a briga. Ele a golpeou no estômago, fazendo-a ir para trás e antes que ela caísse, ele a agarrou, saltou com ela uns dois
metros do chão, presa em seus braços e aterrissou contra a parede do beco, imprensando-a contra a parede com seu corpo.
Tonta e ofegante, ela ficou atordoada olhando para ele, tentando respirar.
Petrus cravou seu olhar no dela e os dois ficaram ali, olhando um para o outro, ofegantes, perdidos e tontos com toda aquela merda.
— Onde aprendeu a lutar assim? — sussurrou a dois centímetros de sua boca.
— Autodefesa — ela arfou com a garganta seca.
— Muito bom, fica mais forte em forma de loba, sabia? Como ela é?
— Sem loba.
Ele franziu o cenho. Ela não tinha se transformado em loba?
— Oh, menina teimosa. Tão linda, tão feroz e sexy com estas roupas. Podia devorá-la agora, minha doce Sami, rebelde e mentirosa.
— Ainda pode sonhar se quiser.
— Não será um sonho, em breve.
Ele lentamente se aproximou mais dela, quase tocando seus lábios e sem tirar os olhos dos dela tocou seus lábios, lambeu lentamente, sedutoramente, e aquilo atingiu Sami como um raio atravessando seu corpo.
Ela gemeu, atordoada demais para recuar ou reagir, o que somente o impulsionou a ir mais fundo, porque com seu corpo ali, colado no dela, imprensando-a contra a parede, com ela tão encaixada nele, sem
empurrá-lo, ele não conseguiu resistir.
Depois de tanto tempo tinha Sami entre seus braços e, apesar da inusitada briga, o desejo turvou sua mente e seu corpo que parecia estar formigando e não viu mais nada, a não ser a luxúria queimando em
suas veias.
Ele se esfregou contra ela, com seu membro rijo contra sua barriga e ela gemeu novamente e Petrus arrastou seus lábios pelos dela, provocando-a e quando ela arfou e entreabriu seus lábios para tentar respirar
ele a invadiu, encaixando sua boca na dela, invadindo-a e tomando-a com sua língua ávida pelo prazer.
“Oh, por Zeus!”, ele orou. O cérebro de Petrus entrou em uma espécie de pane, como um motor falhando e o de Sami fez o mesmo.
Ele a beijou profundamente e ela queria empurrá-lo, se afastar, bater nele, mas seu empurrão não passou de mera tentativa, porque quando percebeu, estava o beijando de volta, sentindo a mesma excitação
tomar conta dela.
Era mais prazeroso do que podiam se lembrar, daquele beijo que foi roubado na mansão da Alemanha. Um beijo que foi marcado a fogo em suas memórias e agora estava mais vívido, mais intenso, mais maravilhoso.
Quando Petrus soltou de seus lábios, coisa que foi bem difícil, estava tão aturdido que mal conseguia pensar.
Eles ficaram ali, olhando um para o outro, por longos momentos que nem sabiam quanto foi.
— Não tem permissão para me beijar... — ela sussurrou.
— Não foi isso que percebi, meu bem. E eu posso fazer o que eu quiser, agora que a tenho.
— Continua o mesmo bastardo.
— É bom rever você, querida — sussurrou.
— Bom ver você também... nos seus sonhos...
Ele sorriu e então, tentando focar sua mente, viu que ela respirava com dificuldade e havia cheiro de... sangue.
Ele deslizou as mãos pelo seu corpo, sentindo o delineado maravilhoso de suas curvas e então sentiu sua mão molhada.
Petrus franziu o cenho, ergueu sua mão e arregalou os olhos quando viu que estava cheia de sangue. Ele olhou para ela com horror.
— Está ferida!
— Oh, ele tem um cérebro... — ela sussurrou com um fio de voz, então desmaiou.
Petrus a segurou e olhando para sua cintura viu que sua jaqueta de couro estava rasgada e havia bastante sangue ali. Não foi ele que tinha feito isso, pois eram cortes de garras que ela tinha ali e deveria
ter sido daquele bastardo que ele matou.
— Merda, Sami, o que estava fazendo?
Petrus rosnou com raiva porque vê-la ferida deu um nó na sua cabeça. Ele apertou o intercomunicador que tinha no ouvido.
— Harley!
— Ah, resolveu me atender? Porra! O chamei, por que não respondeu?
Petrus franziu o cenho. Mas que estranho, estava tão distraído que não tinha ouvido Harley chamar com o negócio bem dentro do seu ouvido, quase perfurando seu cérebro?
Estava aturdido realmente.
— Bem, estou respondendo agora. Preciso do carro.
— Sua briga com a lobinha atiçada já terminou? Tem um motel bem na sua frente, pegue o quarto mais próximo.
— Ela está ferida, levante esta bunda daí e venha me buscar, agora.
Harley suspirou.
— Oh, mano, achei que daria uma surra em seu traseiro teimoso, mas machucá-la?
— Cale-se e venha logo, e precisa juntar dois corpos de lobos estripados. Não quero que humanos vejam isso. Venha logo antes que alguém apareça aqui.
— Ok. Dois minutos.
Petrus rosnou e em um rápido movimento a pegou no colo.
— Harley está certo, eu deveria bater em seu traseiro.
Ele espiou fora do beco para ver se haviam pessoas por perto, mas parecia que ninguém estava dando bola para aquela direção, então logo o furgão negro parou na entrada do beco e Harley desceu.
Petrus entrou com Sami desacordada em seu colo no banco de trás e Harley abriu as duas portas traseiras, juntou os corpos dos lobos e jogou ali atrás e quando entrou no lugar do motorista, olhou para os
dois.
— Isso é um reencontro feliz? — Harley perguntou zombeteiro.
— Felicíssimo.
Harley suspirou e saíram dali.
Sami piscou lentamente, ainda navegando entre a inconsciência, tentou mover o corpo, sentiu uma fisgada e gemeu, piscou mais rápido quando puxou as mãos e percebeu que elas estavam presas.
Ela olhou para cima e viu que elas estavam presas com um torcido de tecido na cabeceira da cama e olhou com os olhos arregalados ao redor.
Arfou quando viu que estava deitada numa cama, de calcinha e sutiã.
Ela rosnou e foi tentar se soltar.
— Se eu fosse você, parava de se debater, Sami.
Ela se virou para o lado que veio a voz e olhou para Petrus, na poltrona no canto do quarto, onde estava tranquilamente sentado e passava os dedos na barba em seu queixo.
Aturdida, pôde perceber que parecia estar a um longo tempo a observando.
Ela arfou, olhou ao redor para ver que quarto era aquele. O quarto era elegante, parecia ser muito caro.
— Onde estou?
— Num hotel.
— Por que me amarrou?
— Primeiro, não adianta forçar que não vai arrebentar, porque apesar de eu ter tido o cuidado de forrar com tecido para não machucar seus delicados e deliciosos pulsos, isso é ferro. Segundo, não se debata
que vai abrir os pontos de seus cortes na barriga e terceiro, você vai ficar aí até termos uma boa conversa.
Ela gemeu e olhou para o curativo que tinha na cintura.
— Agradeço pelo curativo, mas não tem o direito de me prender.
— Tenho todo o direito.
— O que quer?
— Quero conhecer você.
— Me conhecer? Pra quê?
— Quero saber quem você é realmente, quero saber o que faz da sua doce vida, quero saber o que anda fazendo nos Estados Unidos, o que fez na Alemanha, o que estava fazendo naquele beco com lobos e porque
anda vestida assim.
Ela trincou os dentes. Mas era só o que faltava na sua vida, dar um looping e recomeçar com esta merda de novo. Estar presa pelos lobos.
— Você não tem este direito.
— Você já disse isso e eu repito a resposta. Sim, eu tenho o direito.
— Você sabe da minha vida o suficiente que precisa saber. Prender-me assim é cárcere privado, poderia ser preso, sabia?
Petrus riu.
— Oh, e quem vai chamar a polícia para me prender, você? Sabe, seria difícil explicar para eles como você possui estes olhos verdes tão claros, agápi mou.
— Meus olhos? Estou de lentes.
— Não, amada, eu retirei suas lentes, para que ficasse mais à vontade, sei que elas são desconfortáveis para dormir. Seus olhos estão na cor natural, lindos na verdade e estas mechas claras no seu cabelo
escuro, realmente é atraente. Deve ter se tornado uma linda loba, como ela é? Eu apreciaria muito vê-la. Não acreditei quando insinuou que não tinha loba.
— Nunca me transformei em loba, não faço ideia.
Ele suspirou.
— Se nega até hoje a se transformar? Por quê?
— Não quero saber de nenhuma loba.
— Eu sei e até entendo que sua transformação foi traumática e contra sua vontade. Galen não teve nenhum cuidado, feriu-a brutalmente e isso deve ter sido horrível para você, mas isso é sua vida agora,
não pode continuar ignorando sua loba.
— Eu posso fazer o que eu quiser.
— Se aceitasse sua nova condição, aprenderia muito com a loba, é realmente fascinante este poder, deveria testar.
— Eu disse que nunca haveria nenhuma loba!
— Mas se transformou em Dhálea.
— O que é isso?
— É o nome que os irlandeses chamam à forma intermediária dos lobos, a que estava usando no beco. A forma entre ser humano e lobo, que comporta as duas espécies. Os antigos celtas da região onde nos originamos
chamavam de Ker, na Grécia chamamos de Lycomos.
— Oh, isso. É o que me permito usar.
— Para brigar com lobos?
— Gosto das unhas longas e dentes afiados.
— Certo. Podemos brincar com esta parte. Quem eram aqueles lobos?
— Não sei. Provavelmente alguns que não apreciam lobas.
— Sami, lembra-se quando eu te disse que você deveria ficar com os lobos?
— Não pensaria nesta possibilidade.
— Disse que precisava aprender sobre os lobos.
— Já sei o que preciso saber.
— Bem, se soubesse eu não precisaria te dizer que lobos machos não agridem lobas.
Ela riu.
— Sério?
— Sério, a não ser em raros casos que se sintam verdadeiramente ameaçados, ou sejam realmente muito maus e isso seja o empecilho para alcançar um objetivo. Mesmo no mundo selvagem, os lobos, os que não
são metade humana, possuem algumas particularidades que servem para nós também. Se uma loba corre perigo, o macho vem salvá-la, espantando seu lobo predador e ela em alguns casos, sabiamente mete a cabeça
sob o pescoço de seu companheiro e ali fica até que o lobo ameaçador desista e saia. Ela faz isso porque sabe que o lobo não a atacará e assim, ela está protegendo a garganta de seu companheiro.
— Fascinante. Qual o ponto?
— O ponto é, que no meu mundo, lobos, salvo raras exceções, não atacariam uma fêmea. O que me diz que você deve ter feito algo muito ruim para eles.
— Claro, eu, uma moça pequena e indefesa, amedrontando dois enormes lobos ferozes. Quem diria.
— Claro, mas fico intrigado para saber o que você teria feito.
— Eu não fiz nada, estava passando e eles me atacaram.
— Sami, não agrida minha inteligência.
— Se você fosse um bom moço e inteligente, me libertaria e me deixaria ir.
— Lamento, mas isso não vai acontecer.
— Bastardo! — gritou e se moveu bruscamente e gemeu pela dor na sua barriga.
— Faça isso novamente e vai abrir seu corte que está fechado, tola. Não te deixei dormir por dois dias para que estrague tudo de novo! Meu tempo é precioso, não o desperdice!
— Dois dias, estou aqui há dois dias? — perguntou espantada.
— Quando estão no sono profundo, os lobos se curam mais rapidamente. Ah, mas você não sabe disso também, não é?
— Bem, obrigada por me cuidar, me costurar e agora eu agradeceria se me deixasse ir.
— Não até responder minhas perguntas.
— Olhe, eu não fiz nada contra você para que me prenda.
— Isso, nós veremos.
Ele levantou e ela o olhou embasbacada. Ele parecia mil vezes mais bonito que antes. Por Deus, ela estava perdida.
— Por favor — sussurrou.
— Não vou machucar você.
Ele estava descalço, somente usando a calça de couro preta e uma camiseta da mesma cor justa no corpo. Ajoelhou-se na cama e veio engatinhando sobre suas pernas. Sami parou de respirar, seu coração batia
tão forte no peito que doía. Petrus a olhava como se fosse a devorar.
Um predador, lindo e poderoso.
Ela soltou um gemido.
— Sabe... — ele sussurrou sentando em suas coxas e se aproximando dela, escorado em suas mãos, olhando-a languidamente, sedutor como o inferno. — A primeira vez que a alfa Ester, a que você conheceu na
mansão na Alemanha, viu Noah, ele a tinha amarrado na cama, ele pensou que ela era uma médica má que estava na sua casa para machucar os lobos.
— Ele a machucou?
— Não, somente a atacou, causando um arranhão, pois ele no primeiro momento não a reconheceu e podia tê-la matado, ela teve sorte. Mas então ele a amarrou para tratar seu ferimento. Engraçado como tive
que fazer a mesma coisa.
— Ela deve ter ficado zangada com ele.
— Ficou, mas ela o perdoou. Noah era um lobo muito zangado naquela época. A diferença é que ela era inocente e eles eram companheiros...
— Oh, e quer que eu perdoe você por isso?
— Sim, minha Sami, vai me perdoar, porque na verdade quem precisa de perdão aqui é você.
— Eu? Não fiz nada.
— Mesmo? Por que não me conta sobre sua vida pra mim?
— Como me encontrou?
Ele suspirou de forma exagerada e aquilo a deixou ainda mais atordoada.
Petrus lentamente olhou para seu rosto e desceu o olhar para seus seios, barriga e para sua calcinha e ela sentiu o pânico tomar seu corpo e, o pior, ela reagiu violentamente a ele.
Ele fechou os olhos e inspirou profundamente.
— O que está fazendo?
— Sami, Sami, você me surpreende, este seu cheiro me deixa tão tonto como se estivesse drogado.
— Oh, o que foi que eu fiz na minha vida para merecer ter você para me manter presa, hein?
Ele riu e a pegou por baixo dos braços e a puxou, deixando-a sentada sobre os travesseiros, os ajeitou cuidadosamente nas costas e ela o olhava com os olhos arregalados.
Petrus podia ouvir seu coração bater descompassado e sabia que aquilo era uma ponta enorme de medo.
Ele suspirou, ajeitou suavemente seu cabelo para trás dos ombros e retirou fios soltos do seu rosto e pegou o copo de água.
— Beba um pouco de água fresca.
— Me solte. Por favor.
— Você tem uma pequena ideia no que está metida, moça?
— Não fiz nada.
— Então não tem o que temer, não é? Beba um pouco de água, precisa se hidratar.
Ela tomou a água, realmente estava sedenta.
— Seu corte foi fundo, me espanta que tenha conseguido lutar comigo com tanta ferocidade sem tombar antes.
— Não precisava ter lutado com você se me deixasse em paz.
— Oh Sami e pensa que teria sobrevivido àqueles dois lobos? O que tem na cabeça?
— Eu teria me virado.
Ele bufou incrédulo com sua confiança descabida.
— Quem eram aqueles lobos?
— Eu já disse que não sei.
Ele suspirou.
— Mais uma mentira.
— Olhe, eu não estou te prejudicando, estou? Solte-me, vá embora para a sua ilha, sei lá onde ela fica e tudo fica bem, eu estou tomando conta da minha vida.
— Eu realmente gostaria de poder seguir minha vida, mas eu não posso, sabe por quê? Porque eu preciso saber de você a verdade, porque esta verdade implica a um passado terrível que matou muitos dos meus
amigos, e eu não posso deixar isso passar, Sami. Você teve uma chance uma vez, mas parece que não serviu de lição, porque você está aprontando alguma coisa aqui.
— Não, não estou aprontando nada, somente estou seguindo minha vida.
Ele rosnou e se aproximou bruscamente, assustando-a e ela se contraiu e gritou.
— Meu coração se parte a cada mentira que conta.
— Petrus, por favor...
— Eu quero acreditar que é inocente, realmente quero, porque odiaria ter que quebrar seu pescoço, mas eu juro, Sami, se não me contar você estará em problemas. Se for inocente e estiver com problemas,
posso ajudar.
— Não pode me ajudar.
— O que você tem a ver com os laboratórios, mais do que me contou?
Ela espremeu os lábios e engoliu em seco.
— Vamos, Sami, confie em mim, eu te dou minha palavra, com todo meu coração que eu vou te proteger se for inocente.
— Sou inocente. Eu juro.
— Então não precisa ter medo de mim, nem de nenhum lobo.
— Eu estou amarrada numa cama, com você rosnando em cima de mim, acha que eu não preciso estar com medo?
— Agápi mou, esta poderia se converter em uma cena quente entre nós dois. Poderíamos ter um delicioso sexo com bondage.
Ela riu e mesmo com a ponta de extremo nervosismo na sua risada isso o deixou feliz.
— Sabe que eu...
— O quê? — ele sussurrou se aproximando de seus lábios.
— Essas suas piadas toscas... Senti saudade delas.
— Sentiu?
— Sim, estava fazendo falta ter um palhaço na minha vida.
Ele riu e depositou um doce beijo em seus lábios.
— Também senti sua falta com sua língua afiada.
— Me solte.
— Me conte a verdade e eu te solto.
A porta do quarto se abriu e Harley entrou. Ela se assustou e se encolheu.
— Não precisa ter medo. Harley é meu irmão, deve se lembrar dele.
Arfando, ela olhou assustada para ele.
— Olá, moça. Vejo que acordou e estão se entendendo, pelo menos ainda tem uma cabeça sobre o pescoço. Bem, acho que podemos pedir o jantar, estou faminto e está tarde.
— O que aconteceu com os lobos do beco? Os deixaram lá? — ela perguntou.
— Não, agora o deserto de Mojave de Las Vegas tem dois lobos estripados para transformar em adubo. A nossa loba motoqueira disse quem são os lobos? Não havia nada que os identificasse com eles. Nenhum
rastreador, nenhuma pista. Estive no beco e tentei farejar pista, mas o cheiro se perdeu, muita informação para meu nariz. Aqueles becos do subúrbio são um lixo.
Petrus levantou da cama, olhou para Sami e ergueu a sobrancelha quando ela se moveu freneticamente na cama.
— Petrus, me cubra! — ela disse nervosa.
— Fale dos lobos.
— Eu estou de calcinha e sutiã, por favor!
Ele suspirou e viu que estava envergonhada, com as bochechas vermelhas.
— Harley não vai te olhar com cobiça, somente eu o farei.
— Petrus!
Harley riu e sentou na poltrona confortavelmente.
— Sami, pensei que tinha aprendido esta lição da outra vez. Os lobos não ligam para a nudez, a não ser que realmente tirem seu tempo para admirar. Harley não vai te tocar ou te olhar com cobiça, não é,
Harley?
Ela olhou para ele.
— Não irei.
— Ótimo.
— Vou pedir a comida.
Tranquilamente, ele pegou o telefone e ligou para a recepção.
Ela olhou para Petrus e ele suspirou, se aproximou de seu ouvido e sussurrou, fazendo um arrepio cruzar seu corpo.
— Harley somente tocará em você se eu permitir, e eu tocarei você quando eu quiser, porque é minha.
— Não faria isso contra minha vontade.
— Contra sua vontade? — Ele riu. — Ah Samantha, eu adoro como você tem esta capacidade de mentir para si mesma.
Ela o olhou com os olhos arregalados.
— Sim, eu sei que se chama Samantha e muito mais. Vou tomar um banho e você vai pensar em me contar sua história, agápi mou, senão, não terá o jantar e eu posso te castigar.
Ele deu uma lambida em seus lábios e ela arfou, apavorada agora e com raiva misturada e ele saiu de perto dela e foi para o banheiro com um malicioso sorriso e ela rosnou e puxou as correntes.
— Bastardo! Maldito! Solte-me! Eu vou arrancar sua cabeça, Petrus!
Ele parou na porta e a olhou.
— Pode tentar, agápi mou, pode tentar, mas quem está acorrentada é você, assim como ficaram meus amigos e eu nos laboratórios. Pode sentir a mesma sensação agora. Tem sorte que eu não esteja lhe cortando
em fatias. Ainda.
Ele fechou a porta do banheiro e ela ficou olhando com a respiração difícil e estava apavorada, puxou as correntes com força, uma e outra vez e Harley rosnou, o que fez ela se assustar, parar e olhar para
ele.
— Pare, ou vai se machucar.
— Como se você se importasse!
— Talvez sim, talvez não, depende. Você é culpada ou inocente, senhorita Samantha Sterlin?
Ela ofegou e trincou os dentes.
— Não prendi nenhum de vocês.
— Bem, então não há com o que se preocupar, não é?
— Bastardos, miseráveis — sussurrou e virou o rosto para o outro lado e ela gemeu quando viu ele se aproximar da cama e o que a espantou foi que Harley pegou o lençol e cobriu seu corpo, ela o olhou espantada.
— Não a tocarei, como Petrus disse, apesar de já termos compartilhado a cama muitas vezes com lindas e maravilhosas mulheres, se ele não permitir, eu nunca tocarei em você, agápi mou — disse zombeteiro
as palavras em grego.
— O que quer dizer agápi mou que ele me chama?
Harley olhou para o teto por um segundo e suspirou.
— Ele lhe dirá, se desejar. Mas eu lhe dou um conselho. Petrus é o homem mais justo que conheço neste mundo, mas ele odeia mentiras e traições e te matará se continuar com este seu jogo.
— Não estou fazendo nenhum jogo.
— Está, e é grande e vai nos contar.
Harley rosnou para ela, arreganhando suas presas e ela se encolheu, gemendo, depois ele saiu de perto da cama e foi até uma mesa e abriu um laptop e a ignorou completamente por alguns minutos, digitando
ali, sabia lá o que fosse.
— Se gritar quando vierem trazer a comida, arrancarei sua língua. Só para alertar.
Ela arfou.
— Disse que não tocaria em mim.
Ele a olhou e ergueu uma sobrancelha.
— Eu disse, mas faça algo que prejudique Petrus e quebrarei esta regra.
— É o cachorrinho dele?
— Petrus é meu irmão e meu alfa. Eu sou seu beta e daria minha vida para protegê-lo. É apenas um aviso. O machuque e se arrependerá. E eu não estou brincando.
Ela entendeu bem o aviso. Registrado com letras garrafais na sua mente, porque a maneira que ele falou e a olhava, estava falando a sério, muito a sério.
Por um lado, odiou sua arrogância e a forma que a ameaçava; mas por outro, admirou a maneira que queria proteger Petrus. Tinha percebido um pouco disso na mansão o tempo que esteve lá. Eles pareciam unidos
e queriam cuidar um do outro.
Doce enganação, aquilo não era bem assim, eles eram maus, eram maus. Mataram seu pai. Ficava repetindo na sua cabeça um milhão de vezes.
Ela suspirou e ficou um momento quieta e parecia que havia um vácuo dentro do quarto e que zumbia em seus ouvidos. Senhor, tinha que dar um jeito de sair dali.
— Este hotel é de luxo, como me trouxeram desacordada pelo saguão sem que fizessem perguntas?
— Eu entrei pela recepção e peguei a chave, Petrus entrou com você pela janela.
— Pela janela? — perguntou espantada.
— Estamos no último andar, ele subiu no telhado e saltou na varanda, simples.
Ela suspirou com aquilo. Uau, que loucura! Loucura era sua vida. Estava enrascada, encurralada, apavorada e excitada, ela estava perdida.
O que deveria fazer? Contar a verdade? Mas eles não eram confiáveis.
Mas era Petrus que tinha turvado sua mente por tanto tempo, que atormentava seus sonhos, fazia seu corpo desobedecer aos comandos do seu cérebro, seu coração disparar como um insano no peito.
Que a irritava e a fazia suspirar.
Sua cabeça dava voltas, tanto que até doía. Ela fechou os olhos e tentou ver a perspectiva das coisas. Tinha se safado da outra vez, poderia fazer o mesmo novamente?
Eles não pareciam com nenhum desejo de negociar, ou falava a verdade ou eles a matariam.
Este era um medo, o outro era que seu coração fraquejasse e sucumbisse a ele desta vez.
Petrus saiu do banheiro secando os cabelos com a toalha e estava nu. Ele entrou no quarto andando naturalmente como se aquilo não fosse nada.
Trocou algumas palavras com Harley que falou baixinho com ele e ela estava chocada demais para conseguir decifrar e ouvir algo, porque ver Petrus nu na sua frente foi a mesma coisa que levar um imenso
choque elétrico.
Ela ficou atordoada por tudo, pelo seu corpo perfeito, os músculos torneados e rijos, o tom dourado de sua pele bronzeada do sol, a tatuagem em seu peito e outra no braço. E ele tinha o traseiro mais lindo
que já vira na vida, mesmo nas revistas de modelos, sem contar que ele era bem-dotado.
Deus misericordioso, ela estava perdida.
Sentindo um formigar na nuca, Petrus se virou e a olhou de canto de olho, porque queria parecer despreocupado a ela, o que não era bem verdade e cruzou os braços.
Harley parou para ver a cena e quase riu, porque ela estava com a boca aberta e com a testa franzida, parada como uma estátua olhando para ele.
— Aprecia o que vê, agápi mou?
Olhando para seu membro que parecia estar reagindo fortemente a ela, pois estava excitado, era de espantar, porque ela nunca tinha achado um homem nu bonito, realmente, mas ele... era mais que perfeito.
Quase a fez salivar.
Então, ela se deu conta da situação que estava. Ela estava de calcinha e sutiã amarrada na cama, Petrus nu e excitado olhando para ela e o outro ali, rindo da cara dela.
Que idiota!
Ela ficou vermelha como um tomate, gemeu e virou o rosto para o outro lado.
— Bastardo — sussurrou arfando.
— Não sou bastardo, sou um filho legítimo, qual é o seu problema? Não há nada de errado em apreciar o corpo, uma obra perfeita criada pelos deuses. O seu eu acho realmente perfeito.
— Petrus, coloque uma roupa! — ela disse zangada.
— Por que faria isso? Somos lobos, não nos envergonhamos do nosso corpo, é natural estarmos nus diante um do outro, Sami, tem que se acostumar com isso, pois é uma loba.
— Não...
— Ah, não tem convivido com lobos, em uma alcateia, para aprender e perder sua vergonha. Isso é exclusivo dos humanos.
— Ok, já me disse isso, mas, por favor, poderia colocar uma roupa agora?
Ele suspirou de forma pícara e foi até sua mala, tirou uma calça de agasalho negra e vestiu.
— Pronto, assim estou melhor?
— Obrigada.
Houve uma batida na porta e Harley levantou.
— A comida.
Petrus fez um movimento para ela ficar quieta. Sami até pensou em gritar, mas achou melhor ficar quieta, senão podia ser pior.
Havia uma antessala que os separava da porta de entrada e, portanto, o atendente não a viu. Harley o dispensou pagando uma gorjeta e entrou no quarto empurrando o carrinho.
Ele pegou um dos pratos, que continha uma tampa metálica abaloada em cima e seu laptop da mesa na outra mão.
— Vou para o meu quarto. Se precisar de mim, alfa, é só chamar.
Ele saiu por uma porta na lateral do quarto, fechou-a e ela o acompanhou com o olhar e depois olhou para Petrus.
— São quartos conjugados. Ele ficará lá para dormir. Está com fome? — ele perguntou indo até o carrinho e arrumando os pratos na mesa.
— Faminta.
Com o cheiro da comida, ela sentiu ainda mais fome e seu estômago protestou.
— Posso ir ao banheiro?
Ele suspirou, foi até a cama e soltou seus braços.
— Eu soltei você, mas faça-me o favor de não tentar fugir, porque a pegarei tão rápido quanto um piscar de olhos.
— Será que me permite colocar uma roupa? Descarado!
— Por quê? Está tão bem assim, esta lingerie é bonita.
Sami bufou e foi ao banheiro e bateu a porta. Olhou desesperadamente para ver se havia algo que pudesse fugir e não havia nada, nenhum jeito de sair, pois as janelas eram lacradas e ela suspirou cansada.
Merda!
Fez suas necessidades, se lavou e saiu do banheiro usando um robe de felpo branco e ele sorriu quando a viu.
— Sente aqui, jantemos em paz. Por favor, Sami, comporte-se, não quero ser rude com você e nem a machucar e se agirmos civilizadamente podemos nos entender e, talvez, eu não a deixe presa.
Ela suspirou e uma dor de cabeça despontava, então se rendeu e sentou na mesa para poder comer, porque tombaria se não o fizesse.
— O que quer de mim, afinal?
— Precisamos resolver sobre este muro que está entre nós, Sami.
— Não entendo porque se importa tanto comigo. Por que veio atrás de mim?
— Porque quero saber a verdade. E poderia começando com a explicação de sua raiva de mim, sem eu ter feito nada a você, pois nunca a machuquei.
— Há muitas maneiras de ferir uma pessoa, Petrus.
— Oh, então suponho que como não machuquei seu lindo corpo, tenha machucado seus sentimentos?
— De certa forma.
— Céus! Diga-me como fiz tal coisa?
— Fui transformada numa loba!
— Eu sei, vi isso acontecer diante dos meus olhos quando Galen a mordeu, docinho. Foi Galen, não eu, nem nenhum de meus amigos.
— Isso não importa.
— Importa, porque temos os mocinhos e os bandidos e, se você não percebeu, nós éramos os mocinhos.
— Como... como poderia confiar em você, no que me dizia? Para mim era... eu não podia confiar em tais criaturas.
— Eu nunca menti para você. O fato de ter o poder de me transformar em um lobo, não quer dizer que seja um animal, uma besta sem raciocínio ou sem sentimentos. Eu tenho um cérebro, muito bom por sinal,
e um coração que bate no meu peito, tenho sentimentos e tudo que te disse foi verdadeiro.
Ela estava atordoada, mas que merda, sua cabeça não conseguia pensar claramente.
— Mentia quando ficava me dando aquelas cantadas baratas.
Ele riu zombeteiramente.
— Não era cantada barata, era a expressão do meu desejo por você.
— Pediu que ficasse com você, que cuidaria de mim, o que quer mais mentiroso que isso?
— Por quê?
— Fez uma proposta de eu ir para a tal ilha na Grécia com você, isso é um compromisso.
— Eu sei, que você negou.
— Mas era mentira.
— Não era mentira, eu queria que ficasse comigo, senão não teria pedido, Sami. Ou, devo chamá-la de Samantha?
— Como descobriu meu nome verdadeiro?
— Oh, assume que este é seu nome?
— Sim, me chamo Samantha. Sami era como meu pai me chamava. Por isso ele escolheu para a nova identidade.
Estava perdida, perdida naquele mundo e não sabia sair dele, e pior, estava amarrada a Petrus de um jeito que não queria, mas parecia tão difícil se negar mais. Seu coração queria tanto acreditar que ele
era bom.
Era como se cada vez que mentia para ele um pedaço de seu coração rachasse. Era como trair a si mesma, porque não queria mandá-lo embora, não queria mentir para ele, porque doía, infinitamente.
Doía naquela época e doía agora.
Era um sentimento que a acometia, tão estranho e infeliz, que ela não entendia. Estava tão ferrada.
— Não sou seu inimigo, Sami, nunca fui, e eu não menti sobre minhas intenções, eu realmente a teria levado para a ilha para viver comigo.
Ela bufou e riu e Petrus franziu o cenho.
— Por que está rindo?
— Os homens correm dos compromissos, do casamento, não gostam de estarem presos, veem o casamento como uma prisão, sentem-se algemados ao compromisso. Por que faria tal coisa se mal me conhecia?
— Mas eu não sou um humano idiota, sou um lobo, e eu não tenho medo do compromisso.
— Então por que não se casou até agora?
— Porque eu não encontrei quem despertasse meu interesse.
— Nunca se apaixonou?
— Eu me apaixonei uma vez...
— E por que não se casou com ela?
— Meu pai não permitiu.
— Oh, sério? Quem hoje em dia proíbe seu filho de se casar, pelo amor de Deus.
— Isso ocorreu em... 1866.
Sami engasgou com o pedaço de carne que colocou na boca e tossiu, o olhou com os olhos arregalados.
— O que disse?
— Eu era muito jovem, tinha somente 38 anos e meu pai não permitiu que me acasalasse porque ela não era uma nobre loba. Ela era filha de um oleiro. Lia, era seu nome...
— Está falando sério? É uma piada, não é?
— Não. Isso partiu meu coração, mas obedeci meu pai. Como um futuro alfa deveria me acasalar com uma loba filha de alfas. Firmar uma aliança com uma alcateia forte. Era o correto a fazer. Então eu a deixei.
— 1866?
— Sim.
— Um, oito, meia, meia?
— Sim, Sami, há cento e cinquenta anos.
— Quantos anos você tem?
— Oh, entendo sua confusão agora. Eu tenho cento e oitenta e oito anos, Sami.
— Não pode ser... — sussurrou aturdida.
— Os shifters vivem muitos anos.
— Então... eu...
— Sim, você viverá muito, minha querida loba.
Ela tomou vários goles de água para tentar se acalmar.
— Merda...
— Pensei que tivesse descoberto isso nas suas experiências nos laboratórios.
Ela suspirou.
— Eu não sabia, quer dizer, vi a menção disso, mas achei que estava errado.
— Seus rendimentos eram altos desde 2005, havia um depósito na sua conta, mensalmente.
— Meu pai me dava, ele pagava meus estudos, minha criação, porque na época ele não morava com minha mãe.
— Seu pai trabalhava nos laboratórios?
— Sim.
— Você sabia o que ele fazia nos laboratórios?
— Não exatamente, eu pensei que era uma coisa e depois era outra. Ele nem sequer trabalhava onde eu pensei que trabalhava.
— Mas depois você foi trabalhar lá.
— Sim, eu fui.
— O que sabia então, doutora? Qual era o tipo de experiência que fazia com meus amigos? Qual parte de seus membros você estudava?
Ela o olhou horrorizada.
— Nenhum.
— Eu deveria acreditar nisso?
— Por que deveria me dar ao trabalho de explicar, já que não acredita em mim?
— Por que talvez se me dissesse a verdade eu pudesse acreditar, por favor, eu posso descobrir a verdade, mas quero que você me conte. Chegamos ao limite, loba, não sairemos daqui até que me fale. Desta
vez não haverá nada neste mundo que te libertará.
Ela suspirou novamente.
— Sabe, Sami, se eu não tivesse o dom de me curar, talvez eu nem estivesse vivo, eu teria tantas cicatrizes no meu corpo, feito por cortes, ossos quebrados e meu estômago seria um lixo, pelas drogas. Talvez
eu não tivesse veias, pois estariam derretidas. Meu irmão teve um severo corte no rosto, seu nariz quebrado, pode imaginar? Lembra-se de Jessy, a loba de cabelos negros, e sua filhinha? Pois bem, ela foi
estuprada por anos e anos, torturada miseravelmente. Tanto que chegou a ficar fora de sua mente. Noah pensou que nunca a teria de volta. Seu companheiro foi severamente machucado e eles o dissecaram como
a um sapo. Sabe o alfa, eles mataram sua companheira e seu filho...
— Pare, por favor! — gritou tapando os ouvidos.
— Devia parar? Sabia o que faziam naqueles laboratórios, Sami, você sabia, não sabia?
— Não! Eu não sabia!
— É uma maldita médica e trabalhava lá, porra!
— Não!
— Não pode negar porque foi lá que a encontramos.
— Eu estava lá, porque...
— Fale! Porque se não falar agora toda a verdade, eu juro que a entregarei para Noah e ele te matará, lentamente.
— Não trabalhava lá, exatamente.
Num rompante, ele se levantou, pegou uma pasta e jogou sobre a mesa e ela, assustada, a pegou e arfou quando abriu.
— Não minta mais para mim, Samantha Sterlin. Já sei de tudo, mas eu quero ouvir de sua boca, porque se tem outra versão do que essa, ou quero descobrir. Isso é muito sério, Sami.
Ela suspirou cansada.
— Meu pai trabalhava lá. Eu... eu trabalhava em outro laboratório e somente recebia os materiais que ele me enviava. Eu sabia que havia algo errado, porque ele mudou seu comportamento ao longo dos anos,
aquelas amostras eram estranhas, mas como eu estava desenvolvendo uma pesquisa sobre regeneração ele me envolveu nisso, mas não me disse a verdade da origem. Eu queria desesperadamente entrar no meio,
era recém-formada e queria aprender, me infiltrar.
— Trocou sua formação na identidade falsa.
— Sim, mas era somente para despistar, minha colocação era muito alta e não havia vaga, somente para uma posição mais baixa.
— Que materiais recebia?
— Amostras de DNA. Eu os estudava e completava suas pesquisas. Eu sabia que era algo grande, porque não sabia como eles conseguiam tais DNAS... humano e animal, mas ele me dizia que eles estavam criando
tal coisa para curar doenças e não que eram de seres vivos, quer dizer reais, como vocês.
— Como você pôde acreditar em tal coisa?
— Queria o quê? Que acreditasse que existissem lobisomens?
— Questionou sobre isso, pelo menos?
— Sim, mas ele disse que estava fora da minha alçada. Muitos experimentos podem ser criados em laboratórios. Coisas inimagináveis que as pessoas nem sonham. Meu pai era um gênio.
— Um gênio assassino.
— Não! Ele foi assassinado pelos lobos!
— Jura? E por que você acha que foi assassinado pelos lobos? Porque ele os prendeu! Tratou-os como cobaias! — disse zangado.
— Não, Petrus, ele tentou salvá-los.
— Oh verdade?
— Meu pai tentou salvá-los e foi traído.
— Traído por quem?
— Pelos lobos.
— Explique.
— Meu pai desapareceu há alguns anos. Um dia ele entrou em contato e me disse que estava com problemas, que precisávamos sair do país e eu descobri que vocês existiam. No começo eu não acreditei. Meu pai
disse que corríamos perigo, estava tentando fugir, mas parece que depois sua fuga foi comprometida e desapareceu. Eu tentei encontrá-lo, mas ele não estava onde havia me dito. Eu investiguei e... usei
uma identificação e uma vida falsa para poder me infiltrar lá e descobrir onde ele estava. Se soubessem quem eu era não conseguiria o trabalho.
— Estava infiltrada naquele laboratório em Berlim para descobrir onde seu pai estava?
— Sim.
— E por que salvou Clere?
— Eu pensava que os lobos eram maus, monstros, mas quando eu entrei naquela sala e vi o médico maltratando aquela moça... eu só reagi, não pensei, tentei ajudar, e depois na mansão os vendo, fiquei tão
confusa se eram bons ou maus... mas fui pega por um lobo.
— Galen.
— Sim.
— Por que não nos contou a verdade? Poderíamos ter ajudado a encontrar seu pai.
— Para matá-lo?
— Bem, ele seria julgado pelos seus atos e se merecesse a morte, sim.
Ela suspirou cansada.
— Por que acha que eu deveria estar do seu lado?
— Pelo amor de Deus, Sami, nós éramos as vítimas. Nós fomos presos, se seu pai estava tentando ajudar os lobos por que esperou tanto tempo? Pelos registros que Harley descobriu, ele trabalhava lá desde
o início, anos, Sami, anos!
— Eu não sei! Mas ele era bom, talvez não estivesse ligado diretamente com vocês.
— Não respondeu minha pergunta, por que não contou a verdade quando esteve presa na mansão?
— Não confiava em nenhum de vocês. Os lobos eram maus e prenderam meu pai, era tudo o que eu sabia e somente estava tentando salvá-lo e por culpa de vocês ele morreu!
— Nossa culpa?
— Se tivesse me deixado ir, eu o teria encontrado e salvado sua vida, mas você estava mais interessado em me levar para a sua cama do que me deixar ir!
— Se tivesse contado a verdade sobre seu pai eu teria ajudado.
— Não podia confiar. Minha experiência com lobos não tinha sido nada boa até então, os que estavam com meu pai eram maus e o traíram. Eu só queria sair dali e ficar longe de vocês, então me transformaram
em loba...
— Sami, quer dizer que era para este homem que você queria voltar, quando me disse isso naquela época? Que tinha um homem que a amava?
— Sim, era meu pai e sua vida dependia de mim.
— Contou isso a polícia?
— Oh não, eu não contei a ninguém. Quem acreditaria em mim, afinal, poderia ser jogada num hospício. Ei, cara, me ajuda aqui que tem homens–lobos na cidade, igual ao dos filmes.
— Quem ajuda você? Os telefonemas, o dinheiro...
— Isso não importa.
— Sami...
— É um amigo, somente um amigo. Ele me dá dinheiro para cobrir minhas despesas, para me ajudar, somente isso.
— Ele sabe dos lobos?
— Sabe, mas não contará a ninguém, para me proteger.
— Devo acreditar nisso? Sabe que uma das leis dos lobos, uma que os lobos guardam severamente, é que os humanos não podem saber de nossa existência, você contou a este seu amigo?
— Não, ele já sabia até antes de mim.
— Como?
— Por meu pai.
Petrus suspirou cansado e esfregou a testa.
— É a verdade, seu segredo está salvo com ele, se não estivesse já teria contado à imprensa ou para alguém que pudesse lucrar com isso, não acha?
— Ele seria capaz disso?
— Não. Ele não machucaria ninguém.
— E seu pai?
— Quando eu voltei para casa era tarde demais, os lobos o tinham matado.
— Quem são estes lobos, Sami?
— Os lobos que eu vou encontrar e matar.
— É isso que está fazendo, caçando estes lobos que mataram seu pai?
— Sim.
— Qual o nome deles?
Ela calou-se.
— Sami... responda.
Ela se calou e ele levantou nervoso e foi até a janela e a abriu para entrar ar, porque estava sufocando.
Apavorada, ela levantou e saiu correndo em direção à porta e ele viu seu movimento pela vidraça, então girou, rosnou e saltou, atravessando o quarto, a agarrou pela cintura antes de chegar à porta. Ele
a jogou contra a parede e rosnou alto em seu rosto e ela gritou e tentou lutar, mas ele era muito forte e desta vez usou sua força.
— Tola, por que não pode facilitar as coisas, hã?
— Me deixe ir!
— Desta vez, não.
Ele a agarrou, levantando-a do chão atravessou o quarto e a jogou sobre a cama e num minuto ela estava presa novamente.
— Não! Petrus, por favor, me solte.
— Te deixaria solta, se não fosse tão estúpida de tentar fugir. Droga, por que não pode ser razoável?
Ela gemeu pela dor na barriga e se encolheu na cama e ele saiu de perto e foi até a mesa e sentou. Respirou fundo e ajeitou o cabelo do rosto e bebeu o suco, depois cortou sua carne e comeu, sem olhar
para ela.
Petrus estava com sua mente girando tão rápido que o deixava tonto, não queria fazer aquilo, mas faria porque ela cederia e falaria e, então, resolveriam as coisas.
Aquilo ou acabava bem, ou mal, mas não permitiria que ela saísse de suas vistas sem ter as respostas que queria. Isso nunca.
Depois de comer, Petrus fez algumas ligações para a ilha para saber como as coisas andavam por lá, depois ficou um tempo com Harley em seu quarto vendo suas investigações e descobertas e discutindo suas
suspeitas e o que deveriam fazer.
Quando ele voltou ao quarto, não gostou de como a via, estava embolada na cama e podia sentir a vibração de frustração vinda dela.
Havia uma raiva pairando sobre ela, sim, porque era uma vespinha e tinha raiva em seu coração. Mas havia o medo, a dúvida e a dor.
Tinha outro jeito de fazer isso? Ao mesmo tempo que tinha vontade de torcer seu pescoço, queria protegê-la, cuidar dela.
Petrus atravessou o quarto quando houve uma batida na porta e quando voltou carregava uma bandeja.
Colocou a bandeja na cama, a colocou sentada e ela o olhou aturdida, mas não protestou. Espantou-se quando viu que ele tinha comida.
Ele pediu comida para ela, porque naquela briga toda, ela não tinha comido nada.
— Olhe, eu te peço, Sami, que possamos entrar num entendimento e então poderemos acabar com isso. Vou te alimentar porque sua fome está me irritando e não quero que fique doente.
— Como se você se importasse — sussurrou.
— Eu me importo. Não é meu objetivo machucar você. Coopere comigo, ok? Por favor, pelo menos uma vez faça o que te peço e esta situação acaba. Não vamos cometer os mesmos erros da outra vez.
— Da outra vez eu pedi e você não me soltou, meu pai morreu por isso.
Petrus esfregou os olhos.
— Sami, foi um erro, porque você não contou a verdade, poderíamos ter ido buscar seu pai, poderíamos tê-lo resgatado. Mas você contou a verdade? Não. Teve sorte que a deixamos ir porque no fim estava mentindo
para nós.
— Teria me ajudado?
— Sim, eu teria. Eu e Noah, Harley, Kirian... Se tivesse pedido ajuda, teríamos ajudado.
Ela o olhou e via sinceridade nos olhos dele e pareceu que a densa névoa que pairava na sua mente deu uma dispersada, porque as palavras de Petrus a tocaram. Podia ser verdade.
— É tarde, estamos cansados e todos nós queremos resolver a situação.
— Resolve se eu contar tudo a você?
— Resolve, porque, então, eu saberei se é culpada ou inocente.
— Acha que se eu fosse culpada, uma daqueles cientistas que maltrataram vocês, eu diria?
— Talvez não, mas eu descobriria, então.
Ela suspirou, cansada.
— Eu não fiz nada daquelas coisas, eu nunca maltratei um gato, imagine se torturaria um lobo que vira gente. Eu até faço parte da ONG protetora dos animais contra uso de animais como cobaias. Acha que
concordaria com cobaias meio humanas? Pode conferir isso. Chama Ohne Meerschweinchen, “Sem Cobaias”, em Zurique, onde usamos pseudônimos. O meu é Delfine Darfh.
Ele sorriu.
— Delfine Darfh?
— Era o nome da minha gatinha que minha mãe me deu, ela morreu no acidente de carro que minha mãe sofreu há dez anos. Ela era toda branca e peluda e tinha os olhos azuis mais lindos que já vi.
— Foi neste acidente que sua mãe morreu?
— Sim. Na verdade, ela sofreu um ataque cardíaco enquanto dirigia e... capotou o carro.
— Sinto muito. Eu vou checar sua história, Delfine Darfh. Agora você vai comer, beber, descansar e então me contar mais de seus segredos.
Ela ficou olhando para ele, pensativa se acreditava ou não que ele não queria seu mal.
Mas, pelo que disseram naquela época, eram inimigos de Galen, o mataram. Talvez eles realmente fossem do lado bom... as vítimas, tanto quanto seu pai.
— Talvez agora eu tenha que me registrar lá na ONG como um animal a ser protegido — ela disse, divagando.
— Eu posso proteger você — sussurrou ele, sorrindo.
— Pode?
— Uma trégua entre nós, ok?
Ela pensou por um momento e assentiu.
Ele suspirou, pegou o prato e pegou um cubo de carne com o garfo e ofereceu na frente de seus lábios. Olhando-o fixamente, ela abriu a boca e ele colocou a comida.
E fez isso por alguns minutos, calado, calmo, com muita paciência, esperando que ela mastigasse, então lhe dava outra porção.
Por que aquilo parecia tão doce, quando ela deveria sentir raiva dele?
— Pode me soltar que comerei sozinha.
— Os lobos gostam de alimentar suas fêmeas — ele disse, divagando.
— Não sou sua fêmea.
— Não é. Mas foi bom fazer isso, de qualquer forma.
— O que mais os lobos gostam?
— Liberdade. Correr na natureza. Sentir a vida, sentir o vento. E é bom compartilhar isso. Eu realmente gosto de correr como lobo.
Seria bom mesmo? E a curiosidade a atingiu. Como seria a sensação?
— Tem isso na sua ilha, a que me convidou a ir?
— A ilha de Noah é maravilhosa, gostava muito dali, mas agora estou na minha própria ilha. Meu pai... morreu e eu assumi como alfa. É também na Grécia, um belíssimo lugar, uma linda ilha rodeada pelo mar
do mediterrâneo.
— Parece bonito. Sempre achei muito lindas as fotos e vídeos que vi de lá.
— Seus parentes não perceberam que mudou?
— Não tenho parentes. Quer dizer, tenho uns tios e primos, por parte de mãe, mas não somos chegados, não saberiam dizer se meus olhos são verdes ou azuis. Cada um cuida da sua vida.
— Por isso que pensa que não precisa de uma alcateia?
— O que uma alcateia poderia fazer por mim?
— Uma alcateia age em unidade, se um tem um problema, todos ajudam. Se um está feliz, compartilhamos todos de sua felicidade. É como uma grande família.
— A minha não é assim. Meus parentes vivem em Londres e eu na Alemanha, não nos vemos, principalmente depois que minha mãe morreu. Às vezes um telefonema no Natal.
— Uma alcateia é. Bem, algumas talvez mais que as outras, mas a de Noah era assim, se importavam com todos e eu gostava disso. Quero que a minha seja assim também.
— O que um alfa faz exatamente?
— O alfa deve suprir as necessidades do bando, ajudar e proteger. É um líder. Todos o seguem e acatam suas decisões.
— Você é um bom alfa?
— Eu estou tentando ser.
— Parece bom.
— Podia ser bom para você. Andar como uma loba renegada e vingativa por aí, sozinha, pode ter problemas. Problemas que não conseguirá segurar sozinha.
— Tenho me virado bem sem você.
— Mas não teria sobrevivido ao ataque daqueles dois lobos, Sami.
— Devo pensar, então, que devo minha vida a você?
— Deve.
— Que sonho. Os lobos têm algum negócio de que minha vida está vinculada a sua agora por ter me salvado a vida? Tipo uma dívida de sangue?
Petrus riu e pegou o copo de suco de laranja e a ajudou a beber, depois ele limpou sua boca lentamente com o guardanapo de linho.
Parecia que os ânimos estavam se acalmando novamente.
— Não quero que deva nada a mim, Sami, quero que compartilhe, que confie em mim. Eu nunca menti para você. Gostaria que não fizesse isso também. Que pudéssemos ser... amigos.
Houve um silêncio entre eles e ele pôs o prato na bandeja.
— Posso dormir um pouco, por favor? — ela sussurrou.
Ele coçou sua barba e suspirou.
— Durma.
— Onde você vai dormir?
— Bem aqui.
— Não pode dormir comigo! — disse espantada.
— Só há uma cama.
— Pode dormir com Harley.
— Vou dormir aqui, na minha cama.
Sami abriu a boca para protestar e ele ergueu a mão para que parasse e ela fechou a boca.
— Por favor, por todos os deuses que existem no universo, não vamos criar uma discussão por causa disso. Eu vou dormir aqui e ponto. Não faremos nada, ok?
Não faremos nada? Misericórdia, ele não via o perigo?
Ela estava tão cansada que não discutiu. Sabia que seria inútil.
Petrus colocou a bandeja na antessala, foi até o quarto de Harley falou algo, depois fechou a porta que os separava, desligou as luzes e deitou na cama.
Ele somente deitou ao seu lado e seu coração detonou no peito. Como era possível sentir tesão pela pessoa ao mesmo tempo que queria bater com um vaso na sua cabeça? Estava louca?
Ela virou de costas para ele, porque não queria ter contato visual. Sério que ele a deixaria dormir?
Suas vistas estavam ardendo e ela queria dormir, mas como conseguiria com ele respirando bem na sua nuca?
Petrus fechou os olhos e tentou acalmar sua mente, não sabia direito como deveria conduzir aquela situação, porque não queria prendê-la como se fosse uma bandida, porque seu coração dizia que ela era a
sua doce Sami, inocente, um tanto rebelde e louca, mas inocente. Mas e se não fosse? Havia evidências...
Os dois ficaram ali, nem sabiam dizer quantos minutos passaram, mas ambos acabaram pegando no sono.
Petrus acordou quando amanheceu e antes que sua mente focasse na realidade, ele somente podia sentir o cheiro dela impregnando seu nariz, sua pele quente na sua, o desejo tomando conta de seu ser.
Ele estava sobre ela, envolvendo seu corpo e sentindo sua suavidade em suas mãos, suas pernas enroscaram nas dela e seus dedos embrenharam em seus cabelos.
Seu roupão estava aberto e ele podia sentir totalmente seu corpo quente no seu.
Entre uma nuvem de desejo e a inconsciência, ele a beijou; e se sua condição já estava ruim, quando seu gosto tomou conta de seu sistema, seu lobo reagiu.
Petrus gemeu de prazer por um simples beijo, por senti-la.
Ela, que estava no mesmo estado que ele, perdida, gemeu em sua boca.
Ele a beijou tão intensamente como jamais tinha beijado ninguém antes, porque somente o beijo mexeu com todo seu sistema, seu corpo, sua mente e sua alma.
Algo ali pareceu mais forte, intenso. Algo estranho e desconhecido que estava circulando entre eles.
Sami abriu os olhos quando ele soltou de seus lábios, e sentir o peso de seu corpo sobre o dela quase a sufocou.
O que estava fazendo?
Devia gritar, empurrar, mandar ele para o inferno, mas sentiu uma vontade súbita de fechar os olhos e continuar seu sonho delicioso.
— Petrus... — ela sussurrou.
Ele a olhava com aqueles olhos exóticos que deveriam deixá-la apavorada, enojada ou sei lá qual sentimento deveria ter, mas achava lindo, deslumbrante. Estava escorado em seus cotovelos e se moveu sobre
ela, encaixando seu membro rijo entre suas coxas.
— O que está fazendo?
— Nada...
— Não devia... saia de cima de mim...
— Eu sairia se eu soubesse que realmente quer isso.
— Pedi...
— Mas não deseja. Quer que a ame, Sami, quer que a tome como um lobo?
— Não pode...
— Por que não? Tenho você aqui nos meus braços...
Ele se moveu novamente a fazendo gemer. Se ela não estivesse de calcinha poderia estar dentro dela...
— Você é meu inimigo...
— Não, eu não sou, a não ser que você tenha causado dor aos meus amigos nos laboratórios.
— Eu não fiz. Mas vou.
— Vai o quê?
Ele se moveu e lambeu seus lábios, e tomou um seio em sua mão, atiçando-o, o que a fez se contorcer debaixo dele.
— Vou vingar meu pai.
— Bem, e para vingar seu pai, você precisa de um alvo, quem é?
— Você, se não sair de cima de mim.
— Oh, sério, Sami? Então, quem sabe eu deva torturar um pouquinho você para me dizer, pois você está tão excitada por mim, que um lobo sentiria seu cheiro a duas quadras daqui.
Ele riu, beijou seu pescoço puxando o sutiã e tomou seu seio na boca, sugando fortemente.
Ela gritou e se contorceu, arfando pelo prazer que ele lhe proporcionava, intenso e insano. Delicioso, sua língua era mestre.
— Isso é errado...
— Nada entre mim e você é errado.
Porque é minha...
Isso circulava na mente de Petrus, perdido ali no prazer. Seu lobo uivava isso na sua mente.
Ela se contorceu e puxou as correntes e num movimento muito rápido que ela mal teve conhecimento ele soltou seus pulsos.
E antes mesmo que ela pensasse em usar suas mãos livres para empurrá-lo longe dela, ele a beijou profundamente e ela, perdida no mar do desejo, embrenhou seus dedos em seus cabelos e o beijou de volta.
Ele a seduziu, a beijou, excitou e tocou seu sexo com os dedos quando afastou sua calcinha.
Petrus gemeu ao sentir como estava quente e molhada, implorando para ser tomada. Então ele a olhou, vendo o desejo cru em seus olhos de loba e ele lambeu seus dedos. A teria agora se quisesse.
Devia? Sim? Não?
Mas ele fechou os olhos por um momento, saiu de cima dela e ela olhou-o aturdida.
— O que está fazendo?
— Ué, pensei que queria que eu parasse, pois eu não sou seu inimigo? Você sempre tem sexo com seus inimigos?
Ela estava tão aturdida e com a boca aberta o olhando.
— Bastardo... — disse sussurrando entredentes, sentindo seu corpo vibrando tão fortemente que queria gritar. Maldito, a excitou até implorar e a largou.
— Vou pedir o café da manhã, pode tomar um banho.
Harley abriu as duas portas de seu quarto em um supetão, como se quisesse pegar algum flagrante, olhou para os dois com as sobrancelhas erguidas e com um sorriso malandro no rosto.
— Interrompo?
— Não, nossa convidada vai tomar um banho para tomar o dejejum e nos contar mais de sua história.
Ela estava aturdida, só não sabia se pelo comportamento de Petrus ou pela presença de Harley.
Ela tinha puxado o lençol para se cobrir e então com os cabelos despenteados, os lábios vermelhos e inchados pelos beijos de Petrus, ficou vermelha de vergonha.
Ela rosnou furiosa, saiu da cama tão desajeitadamente rápido, puxando o lençol para se enrolar nele, que quase caiu e soltando mil palavrões, saiu como um foguete para o banheiro e bateu a porta com tanta
força que eles pensaram que ela não abriria mais.
Ela deu algumas voltas pelo banheiro rosnando.
— Burra, idiota! O que está fazendo?
Ela estava tão frustrada que seus olhos se encheram de lágrimas.
O que tinha na cabeça para demonstrar desejo para ele desta maneira descarada? Corresponder a Petrus era entrar numa areia movediça. Ela jogou o lençol no chão e se olhou no espelho. Ainda tinha uma leve
mancha roxa ao lado de sua bochecha, uma forte pancada do lobo no beco.
Ela retirou o curativo da barriga e estava totalmente fechado. Ela pegou a caixa de primeiros socorros em cima da pia e com a pinça retirou os pontos e limpou o ferimento, bem diante dos seus olhos os
minúsculos furos desapareceram.
Ela olhou boquiaberta. Aquilo era o mais incrível de tudo. Não era à toa que queriam os lobos como cobaias, descobrir seus segredos, sua mágica.
Ela não tinha entendido exatamente o que tudo aquilo implicava até agora. Só que agora ela estava do outro lado, era uma deles e se a pegassem, seria uma cobaia como eles.
E era tão errado. Tudo que fizeram a eles era errado. Ela sabia. Mas precisava pegar os bandidos. E havia Petrus...
Sami entrou embaixo do chuveiro e tentou acalmar seu corpo e sua mente, mas estava difícil, parecia que ele formigava inteiro, que suas veias queimavam, como o fogo.
Ela ficou ali, tomando o banho e tirando o cheiro da excitação, o cheiro dele de cima de sua pele, mas sua mente e seu coração, estes não havia água nenhuma que lavasse.
Tinha que tomar posse de sua mente novamente, não deixaria aquele idiota brincar com ela.
Se ele estivesse do seu lado, talvez a ajudasse a achar os lobos bastardos, ela os mataria, e tudo acabaria de uma vez e estaria livre.
Estaria livre de Petrus e sumiria no mundo.
— Seu interrogatório vai bem? — Harley perguntou à Petrus, zombeteiro.
— Bem, obrigado. Como se não tivesse ouvido tudo na porta ao lado.
— Coloquei algodões nos ouvidos.
Petrus riu.
— Que tais aquelas panquecas americanas com mel, além do bacon, ovos e torradas para o dejejum? — Petrus disse.
— Hum, sim, devemos comer todas estas guloseimas típicas que vemos na televisão, já que estamos na América.
— Certo. Lembre-se, não tire o olho daquela porta, ela é rápida.
— Sim, eu sei.
Harley cheirou o ambiente.
— Pare de cheirar, sua besta — Petrus resmungou.
— Só checando. São estes métodos de tortura que vai usar para arrancar as coisas dela? Sexo?
— Ela responde a isso.
— Sério?
— Não quer que bata nela, não é?
— Você batendo numa mulher? — ele gargalhou. — Claro que não. Já que você seria incapaz disso e suspeitamos que ela não é uma vilã.
Petrus suspirou.
— Merda. Checou a informação que ela nos deu ontem?
— Sim, ela disse a verdade sobre a ONG.
— Poderia ser uma fachada?
— O que seu instinto te diz?
— Que não, mas ficaremos de olho, ok?
— Ok. E chequei novamente aquelas informações do sistema de segurança que pegamos no laboratório de Berlim antes de explodi-lo. Confirmei que seu acesso somente foi feito recentemente naquele prédio, ela
ficava em outro, onde não consta na nossa lista de lugares cativeiros dos lobos e ela estava restrita nos andares de cima.
— Então é certo que ela somente tenha visto os lobos há poucos dias antes de invadirmos?
— Sim.
— Descobriu quem é o cara que manda dinheiro e que sabe de nós?
— Ainda não, tentei rastrear de onde vinha os depósitos, mas o bastardo é um ou tem um hacker que bloqueia meu acesso cada vez que tento entrar em seu sistema.
Petrus fez uma careta.
— Isso quer dizer que sabe que estamos em seu encalço.
— Agora sim.
— Deve estar tentando entrar em contato com ela?
— É possível, mas ela não tinha nenhum telefone, rádio, nada com ela.
— Talvez em seu hotel.
— Bem, saberemos assim que ela sair do banheiro.
Ela apareceu na porta de banheiro, vestida com um robe e uma toalha na cabeça.
— Preciso de minhas roupas.
— Suas roupas foram para o lixo, estavam arruinadas. Está tão linda assim.
Ela suspirou, cansada.
— Petrus...
— Me diga onde é seu hotel que Harley pegará suas coisas.
Ela o olhou com os olhos arregalados.
— Meu hotel? Mas eu preciso ir!
— Sami, não enrole, você não vai a lugar nenhum sem nós, e se Harley voltar para o computador, saberá seu hotel, portanto, nos poupe tempo e fale de uma vez e terá suas roupas.
— Como conseguiria isso?
— Sami! O. Nome. Do. Hotel. E quem sabe eu te deixe comer as deliciosas panquecas, bacon frito e o borbulhante café que chegou agora.
Ela cheirou e logo bateram na porta. Ele fez sinal com o dedo na boca para ela fazer silêncio e Harley foi buscar o carrinho.
Quando voltou ao quarto, ele abriu as tampas dos pratos e ela gemeu com o cheiro delicioso da comida.
Podia negar? Não. Por fim, ela cedeu, pois precisava de forças e não queria ser presa de novo.
— Motel Vegas Holiday In, na Wall Under Street.
— Uau, parece um luxo.
— Não sou uma alfa rica para ficar em hotéis cinco estrelas, ok?
— Claro, já que o dinheiro que pagava seu salário sobre os lobos acabou.
Ela suspirou.
Era uma verdade, mas ela não sabia que seu salário era à custa da vida de lobos e isso partiu seu coração e lhe causou um imenso remorso.
— Eu não sabia.
— Está quase me convencendo.
— Aliás, não deveriam ser discretos? Estar num hotel de beira de estrada, ocultos das câmeras e pessoas?
— Estamos em Vegas. Acha mesmo que alguém aqui repara em alguém? Temos dinheiro e isso é o que vale. O único lugar onde não poderíamos estar é numa mesa de jogo em um cassino.
— Por quê?
— Porque ali teriam muitas câmeras em cima de nós. Todas as mesas são monitoradas por câmeras. E eles cuidam exatamente do comportamento dos jogadores.
— Oh. Mas estar em Vegas sem ir a um cassino é até estranho.
— Ou estar em uma capelinha com o Elvis.
— Certo — ela bufou e riu e seus olhares divertidos se fixaram por um momento.
Sami suspirou e desviou o olhar, soltou os cabelos da toalha e languidamente penteou os fios com os dedos.
Petrus quase gemeu, porque ela o estava provocando, deliberadamente, já que se inclinou para o lado e isso fazia seu roupão abrir no peito, quase revelando seus seios.
A danada o estava provocando. Petrus teve vontade de rosnar, saltar sobre ela e beijá-la até a inconsciência, mas ele focou na sua comida, despreocupado.
— Fui boazinha e lhe dei a informação que pediu. Posso comer ou vai me deixar passar fome como ontem? Ou vai me prender novamente?
— Sente e coma. Se comporte que não precisarei prendê-la e nem torturar você.
— Oh, claro, me excitar e me largar a ver navios. Muito sutil.
— Oh, muita informação para os meus ouvidos — Harley disse fazendo uma careta e depois comeu um enorme pedaço de panqueca.
— Desculpe, Harley, não me dei conta de que estava aí — ela disse zombeteira e ele bufou.
— Hum, isso é delicioso — Harley disse enchendo a boca com uma panqueca.
— Harley, o hotel — Petrus disse.
— Estou indo.
Ele comeu mais uma, tomou o resto do café e enfiou um bacon torrado na boca, levantou e antes de sair do quarto disse:
— Comportem-se, crianças.
Quando ele saiu, ela tomou o café lentamente e Petrus a observava.
— Se fizer isso novamente, Petrus, vou quebrar sua cara.
— O que eu fiz?
— O que fez na cama hoje de manhã!
Ele riu.
— Oh, já vejo, quer que eu vá até o fim, para que tenha um orgasmo. Posso fazer isso, agápi mou.
— Oh, eu não disse que quero, disse para tirar suas patas de cima de mim.
— Claro, como se eu acreditasse nisso, pois não foi o que demonstrou hoje de manhã.
— Eu só estava meio dormindo.
— Essa é mais uma de suas mentiras — disse zombeteiro.
Ela girou os olhos e comeu suas panquecas.
— O que é agápi mou que tanto me chama?
Opa, ele não esperava por esta pergunta.
— É grego.
— Sei, mas o que significa?
Ele a olhou demoradamente, o que a desconcertou.
Sami estava de roupão branco, com os cabelos molhados, sentada na mesa de café da manhã em sua suíte e queria fazer amor com ela. Completamente. Ele pensou no quanto tinha desejado aquela cena na sua vida
e agora ela estava ali.
A situação estava meio embolada, mas Sami estava ali.
— Não sei se merece ouvir isso e nem se eu devo dizê-lo, moça.
— Então por que fica dizendo?
Então Petrus teve um enorme vislumbre de sua situação, que aquilo ele fazia quase que automaticamente. Saía de sua boca tão facilmente como um suspiro e, pior, que vinha de seu coração.
E ele não podia dizer que agápi mou significava “meu amor” porque ela não podia ser seu amor.
— Coma, Sami.
Ela ficou desconcertada por ele não querer responder, mas não insistiu.
Quando terminaram de comer, os dois ficaram sentados no sofá olhando alguns seriados na televisão, pulando um canal para o outro.
Foi incrível, mas algo estranho estava acontecendo entre eles. Nenhum dos dois sabia como agir. Ele não a prendeu de volta na cama e ela não tentou fugir. Podia ser mais bizarro?
Sami queria contar a verdade para aliviar sua confusão mental, queria sair dali e achar os bastardos e ele queria conquistá-la, queria que confiasse nele.
Ela ergueu as pernas e colocou sobre a mesinha de centro e o roupão abriu e ele gemeu vendo suas coxas desnudas.
— Oh, o que foi? Pensei que disse que não se importava de ver corpos humanos.
— O seu é uma exceção.
— Conversa, aposto que traça toda mulher que cruza na sua frente. Sendo uma loba ou não.
Ele a pegou tão rápido, puxando-a para seu colo que ela não teve nem tempo de gritar, somente arfar.
Ele a tombou ao seu lado no sofá sobre as almofadas e a imprensou com seu corpo.
Tomou sua boca em um beijo intenso que fez a mente de Sami derreter.
Ele beijou, deslizou sua mão em sua cintura, sua barriga, seu seio e seu pescoço e ela soltou um gemido afogado em sua boca e então ele segurou seu queixo, se afastou e a olhou nos olhos.
— Adoro seu jogo de me provocar, mulher, mas faça isso de novo e te jogarei naquela cama e te foderei, fui claro?
— Não estou provocando.
Ele sorriu e beijou seus lábios docemente.
— Claro que não.
Ele a girou por cima dele, como se ela não pesasse nada e a sentou novamente no sofá. Passou sua mão por sua perna até sua coxa e antes que ela protestasse, ele puxou o roupão para cobri-la.
Ela estava completamente desorientada, com o coração acelerado.
— Petrus! — rosnou.
— Neste jogo, não pode ganhar de mim.
Ah, não?
— Não estou jogando e quero que fique com suas patinhas longe de mim.
Ela lhe deu um tapa, mas, por instinto, ele foi mais rápido e por um triz, ela não o acertou bem no meio da cara. Ele arregalou os olhos e segurou seu pulso.
— Não bata — ele disse em advertência.
— Não me toque de novo.
— Como queira, agápi mou.
— Vai me dizer o que significa isso?
— Não.
Outro silêncio se fez até que ele o cortou, porque precisava cortar seus pensamentos luxuriosos para não saltar sobre ela. Precisava de um pouco de foco na sua missão que estava escorrendo pelos seus dedos.
— Havia mais laboratórios que teve contato, além do que a encontramos?
— Não.
— Tem registros sobre nós?
— Sim, pesquisa e fotos.
— Eu quero que você me dê estas anotações.
— Petrus... — Olhou-o espantada.
— Olhe, tem noção de como isso é importante e perigoso de estar por aí? E se cair em mãos erradas de novo? Sabe que podemos ser caçados novamente?
Ela suspirou.
— Eu sei, mas é o trabalho do meu pai.
— Um péssimo trabalho, querida, e olha, eu entendo que era seu pai, que o defenda, mas nisso não há defesa. Eu quero que pense nisso e me entregue, porque é prova contra nós, contra você mesma, porque
goste ou não, é uma de nós agora e corre tanto perigo quanto qualquer shifter.
— Eu também sei.
— Ali dizia se havia outro lugar que havia lobos?
— Não, Petrus, eu juro que não há nada disso. O que ele me deixou foi sobre pesquisa genética, regeneração de órgãos, mas nenhuma localização de laboratórios nem endereços. Dou minha palavra.
— Ok, eu vou acreditar nisso. Então pode me dar.
— Mas vai destruir sua pesquisa.
— Irei destruir provas.
— É o trabalho de sua vida.
— Um trabalho que custou muitas vidas e pode destruir mais.
Ela sabia que ele estava certo, mas era difícil engolir tudo aquilo.
— Além do mais, já que não nos possuem mais, não vai adiantar sua porra de pesquisa porque não vai salvar a vida de ninguém à custa das nossas. Não se pode salvar a vida de um humano a não ser que ele
seja como nós, Sami, porque o que nos move é a magia.
— Seria tão bom poder salvar vidas, ajudar os doentes...
— Já te descrevi o que ocorria ali e não era bonito, não quer que te faça um relatório completo e detalhado, não é?
Ela fez uma careta e suspirou, cobrindo o rosto com as mãos.
— Não, eu já entendi, mas ele não sabia.
— O problema, minha querida, é que não temos como saber o que se passava na cabeça dele sobre isso. Portanto, a ideia de que ele tenha tentado salvar lobos, me parece infundada. Eu acho que você está se
enganando sobre isso.
— Não! Ele não era mau. Não faria testes em pessoas assim, não permitiria que morressem desta maneira, que fossem machucados desta maneira. Não meu pai.
— Sami, o pai de Ester também era um cientista e por algum tempo também teve que aguentar algumas coisas, não conseguiu nos tirar dali de imediato.
— Veja! Meu pai pode ter feito a mesma coisa!
— A diferença, Sami, é o tempo.
Harley entrou no quarto com algumas malas e colocou sobre a cama. Sami foi ali, as abriu e olhou suas coisas. Petrus ficou ao seu lado olhando atentamente.
— Não precisa olhar, mano, já revistei tudo e se está procurando isso...
Ele soltou uma bolsa e Petrus olhou dentro.
— Ei! Isso é meu! — Sami disse.
— Era.
A bolsa continha armas, adagas e uma maleta com tranquilizantes para um pequeno rifle.
— Não havia um celular no quarto? — Petrus perguntou.
— Eu não encontrei, dei uma geral e não achei nenhum celular.
— Sami, havia um ali?
— Bom, se não estava ali, eu devo ter perdido no beco, talvez esteja arruinado.
— Podemos voltar ali e procurar — Harley disse.
— Não! É perda de tempo, se estava ali ou está quebrado ou... alguém pegou.
— Qual o número, posso rastreá-lo.
— Não precisa, deixa pra lá. Era um telefone descartável mesmo.
— Sami... Há algo importante neste celular que devemos saber?
— Não, eu o comprei somente para necessidade e não faz mal nenhum.
Isso porque ela sabia o número de Alexander de cor. Para falar com ele novamente teria que comprar outro celular. Mas isso eles não poderiam saber.
— Sami, com isso seu amigo não poderá te encontrar, não é?
— Não, não pode. Mas não importa.
— Isso, nós ainda veremos, mais tarde.
Ela suspirou e ele olhou para a bolsa e retirou uma arma de tranquilizantes.
— Ora, vejam isso. Te parece familiar, mano?
— Iguais as que usavam nos laboratórios. As de modelo menor.
— Onde conseguiu isso?
— Loja para caça de animais.
— Sério?
— Estamos nos Estados Unidos. Aqui se consegue muitas armas para caça.
— Você é uma estrangeira, como tem uma licença para comprar armas aqui?
— Tenho meus meios.
— Quem estava caçando, afinal? Como encontrou aqueles dois lobos?
— Acredito que eles podem ser de uma alcateia ou apenas ser contratados para serviços, tipo mercenários.
— Certo, faz sentido, e se há uma alcateia de lobos que estão envolvidos com laboratórios devem ser exterminados.
— Sério? — perguntou espantada.
— Nós também queremos vingança sobre quem nos prendeu, Sami.
— Isso quer dizer que acreditou na minha inocência?
— Estou trabalhando nisso, mas vou lhe dar um crédito de confiança enquanto procuramos.
— Bem. Então eles seriam seus inimigos também?
— Logicamente sim, e por isso estamos do mesmo lado. Então estes lobos do beco estavam atrás de você por quê?
— Porque eu descobri sua localização, eles desconfiaram de meu interesse súbito em querer encontrar com seu alfa, então eles foram enviados para tirar... satisfação. Como não sou mulher de dar satisfação
a assassinos tivemos uma pequena briga.
— E por acaso será que a senhorita poderia dar os seus nomes?
Ela pensou se dizia ou não, mas estava jogando com ele, não estava? Precisava de tempo para que pensassem que estava colaborando e seria uma boa garota.
— Eles o chamam de Lobo Negro. Sei que os outros dois que traíram meu pai devem estar também em seu bando.
— Lobo Negro — Harley repetiu pensativo.
— E estariam fazendo o quê aqui em Vegas? Metidos com jogos?
— Lutas clandestinas com apostas altas, sabem... nesse tipo de coisa rola muito dinheiro.
Petrus fez uma careta.
— Bem. Ora, vejam, pelo panteão de Zeus, se não encontramos uma mina de ouro — Harley sussurrou.
— Merda! — Petrus disse.
Sami saiu do banheiro vestindo suas roupas que Harley tinha trazido, ela olhou de canto de olho para ver o porquê de tão grande silêncio e viu que Petrus e Harley olhavam para ela atentamente, desconfiados.
Ela tinha vestido uma calça colada de couro negro e uma camiseta cinza e uma regata preta por cima e um cinto de tachas prateadas adornava sua cintura.
Harley a media com uma faísca de desconfiança. Ela sabia que ele cumpriria as ameaças se ela fizesse algo para prejudicar Petrus. Ela poderia admirar isso.
Quanto a Petrus, para variar, olhava-a como se fosse um bife suculento. O que ela não sabia era se deveria se sentir lisonjeada ou insultada.
Extraordinária era a única palavra que pairou no cérebro dele enquanto Petrus pairava seus olhos deslumbrados e a analisava de cima a baixo.
— Perdeu alguma coisa? — ela disse.
Ele levantou o olhar de sua bunda e olhou para ela quando se virou o encarou com as mãos na cintura.
— Não, amor, eu achei.
— Achou o quê?
— Um manjar.
— Aconselho a tirar os olhos de meu traseiro.
— Querida, se não quer que olhe para seu traseiro poderia usar algo que não o agarrasse com tanto afinco e mostrasse estas bochechas empinadas que estão pedindo por uns tapas.
Ela bufou e Harley riu.
— Você é um grosseiro desbocado.
— Grosseiro? Mas foi um elogio.
— Ameaçar dar tapas na bunda de uma mulher não é um elogio.
— Oh, no meu mundo é. Meus tapas seriam para deixar você doidinha, querida.
Ela deu um tapa no seu traseiro e empinou seu nariz arrebitado.
— O dia que você bater em meu traseiro, Petrus, levará um murro no nariz.
Ele riu zombeteiro.
— Posso fazer outras coisas com ele se assim o deseja.
Ela rosnou para ele, indignada.
— Acha que conquista uma mulher com estas cantadas baratas?
— Meu amor, eu conquistei você com estas cantadas desde a Alemanha.
— Rá! Vá sonhando, seu ego é realmente de espantar.
— Pode negar o quanto quiser, mas eu tenho um bom nariz e este ninguém pode enganar.
— Oh, és um homem afortunado — ela disse erguendo as mãos para o céu e falando drasticamente.
— Ela ficaria estupenda sobre uma Harley Davidson com estas roupas. Podemos providenciar isso, Harley?
— Boa pedida. Estou indo, tenho um trabalho a fazer. Eu te encontro no local e hora marcados, Petrus — Harley disse e saiu.
Petrus aproveitou a ausência de Harley e com um salto estava sobre Sami, que ofegou pelo susto, sem esperar aquele súbito ataque.
— Não gosta de minhas palavras chulas? O que gosta de ouvir, minha princesa?
— Oh, deixe de conversa fiada, me solte, tenho muito que fazer. Tenho lobos para caçar.
— Não sairá daqui.
— Oh, não? Seu pai não te deu educação? Não te ensinou que deve ser educado com as damas?
— Oh, querida, meu pai me deu muitas coisas.
Ela o olhou franzindo o cenho e captou uma mensagem subliminar e como ele ficou desconcertado e a soltou.
Sami soube que tinha dito algo que atingiu Petrus profundamente. Seu pai.
— Seu pai era muito rigoroso?
— Durão, era um alfa dos antigos, muitas vezes duro até demais, mas sempre achei que era justo comparando com outros alfas que vi por aí. Foi duro na nossa educação e depois aliviou um pouco. Nos últimos
anos parece que ele se perdeu de vez, mas eu e Harley estávamos muito ausentes para perceber o quanto ele tinha mudado e, inclusive, meu irmão caçula.
— Mas se ele fazia coisas erradas, todos o seguiam? O respeitavam?
— Ele era o alfa, todos respeitam o alfa, mesmo ele estando errado, poucos têm coragem de questioná-lo.
— Isso é certo?
— É assim que as coisas são.
— Então você não o questionava?
— Sim.
— E ele acatava o que sugeria?
Petrus suspirou e uma lembrança veio à sua mente.
— Pai, não pode matá-lo somente porque defendeu sua filha.
— Ele me desafia.
— Ele está certo e Lucas errado, não pode permitir tais coisas na alcateia! O filho do alfa não tem o direito de molestar nenhuma loba como se fosse uma escrava! — gritou diante de todos.
Seu pai bateu em sua face com a mão que ostentava o anel de alfa e com isso cortou sua bochecha e o sangue escorreu.
— Nunca mais questione minhas ordens. Ele foi contra seu alfa, foi desrespeitoso e me insultou assim como ao seu irmão, merece a morte. Como futuro alfa, deve aprender, Petrus.
Petrus olhou com tanta raiva para o pai que seus olhos cintilaram.
— Isso não é justiça.
— Isso vai ensinar os outros a não desafiar seu alfa. Ele será um exemplo. Amarrem-no nas rochas, quando a maré subir, receberá seu castigo.
Os lobos levaram o homem embora e Petrus teve que se calar.
Mas quando a maré tinha subido e o homem estava quase afogando, Petrus o libertou e Harley o colocou num barco. O homem teve que abandonar sua família, mas assim sobreviveu. Alguns meses depois, sem que
ninguém soubesse, Petrus enviou a mãe e a filha para junto dele e encontrou uma alcateia em outro país que os acolheu.
Essa era uma das tantas lições de seu pai. Uma das tantas que Petrus não compactuava.
— Por que está melancólico? Não se dá bem com seu pai?
Ele a olhou e seu olhar endureceu.
— Meu pai está morto.
— Eu sinto muito.
— Eu não.
— Por que diz isso?
— Eu o matei.
— O quê? — perguntou espantada.
— Uma coisa que deve aprender sobre os lobos, agápi mou, é que muitas vezes temos que ser fortes e duros para sobreviver. Muitas decisões difíceis devem ser tomadas e, às vezes, algumas delas podem condenar
seu coração e sua alma.
— O que ele fez?
— Meu pai iniciou uma guerra, mas não foi uma guerra justa e nem sequer racional e com isso colocou em risco a vida dos lobos da alcateia de Noah, assim como os nossos também.
— Oh, mas guerra como nos filmes?
— Sim, como nos filmes.
— O que houve?
— Eu o desafiei e o derrotei, depois ainda descobri que espancou minha mãe, que tentou evitar tudo, quase a matando.
— Oh, que horror!
— Ele havia perdido sua mente e estava cometendo atos fora da razão e colocando a vida de muitas pessoas em risco. Inclusive a minha e a de meu irmão, Harley.
— Como?
— Ele nos condenou à morte.
— Petrus, ele era seu pai, como pode ter condenado seus filhos à morte?
— Ele era um lobo que perdeu a razão, sua loucura justificava isso e queria impor seu respeito. Eu tentei persuadi-lo para que recuasse, mas ele não me ouviu, então... eu o desafiei. Houve uma luta e eu
o matei.
Ela abriu a boca de espanto e arregalou os olhos. Ficou assim por alguns minutos e ele ficou esperando ela condená-lo, olhá-lo com desprezo, mas somente via choque.
— Isso, foi... Necessário?
— Era uma guerra e estávamos do lado contrário, ele não quis uma trégua ou entrar na razão, tive que o impedir para tentar salvar vidas inocentes, mas para isso tive que matá-lo.
— Era ele ou você?
— Sim, ele ou eu.
— Parou a guerra?
— Não, mas vencemos com a ajuda do rei e seus lobos que vieram em nosso resgate e por causa de Kira, a esposa de Erick. Agora sou o alfa de minha alcateia e pretendo ser um alfa melhor que meu pai foi.
— Há um rei?
— Sim, um rei e uma rainha, a que criou nossa espécie. A melhorou, na verdade, eles têm dois mil anos.
— O quê?
— Sim, querida, eles têm essa idade e estão vivos e nós os descobrimos há pouco tempo, é fascinante. Gostaria que os conhecesse um dia.
Ela estava em choque e não sabia o que pensar, rei, rainha? Ele era um assassino? Matou seu pai? Mas era um lobo e eles eram diferentes...
Sua cabeça dava voltas e não conseguia realmente pensar com frieza.
— Acha que sou um monstro?
— Monstro? — perguntou aturdida. — Eu... Eu não sei.
— Já me achava seu inimigo antes, agora deve me achar um monstro.
Ela suspirou e se calou e Petrus balançou a cabeça.
Era tudo uma merda mesmo. Nem sabia por que estava preocupado se ela o julgaria ou não. Fez o que tinha que fazer e tinha que viver com isso.
— O que acontece, Sami é que... tem que entender as coisas para que possamos conviver. Se o seu pai estava na pesquisa dos laboratórios e compactuou com a prisão e morte minha e de meus amigos, mulheres
e crianças, ele mereceu a morte. E se estivesse vivo eu mesmo o mataria. Porque eu defendo os meus até a morte, faço qualquer coisa para defendê-los. Não somos animais selvagens e irracionais, cobaias
e não somos monstros, apenas somos diferentes dos humanos e merecemos respeito e viver nossa vida em paz. Há lobos maus entre nós, assim como há humanos maus.
— Parece que sim — ela sussurrou.
— Você vai ter que ver a diferença e vai ter que escolher seu lado.
Ela ficou olhando para ele, seriamente e com seus olhares fixos um no outro, havia algo mais fervilhando dentro de suas mentes.
Aquela maldita atração que ambos ficavam empurrando longe, evitando, se controlando para não jogar tudo para cima e que o mundo se ferrasse.
Se sentir atraída por ele a irritava até a morte, tinha vontade de dar na sua cara por ser tão estúpida. Tinha que afastá-lo, mas ele sempre a surpreendia e a beijava e quando fazia isso ela gostava e
queria beijá-lo de volta. Era revoltante.
— Entendo muitas coisas, Petrus, mas não pode me manter aqui e desejar que faça o que você quer, porque não vai acontecer.
— Você está sob minha responsabilidade e tem que parar de agir sozinha e me ouvir.
— Senhor amado, que sina a minha, por que não me brinda com algumas de suas pérolas, hã?
— Minhas pérolas?
— Sim, o que mais adora fazer para me irritar. Suas frases clichês, suas cantadas baratas.
— Minhas palavras são verdadeiras e não as lanço ao vento.
— Fala sério?
— O homem mais afortunado é o homem que encontra o amor verdadeiro. Para um lobo, é sua companheira de alma, aquela feita especialmente para ele.
Ela o olhou com os olhos arregalados.
— Do que está falando?
— De você, Sami, minha companheira de alma.
Ela ficou paralisada e olhando para ele sem respirar, abriu e fechou a boca algumas vezes sem pronunciar uma palavra.
— Está dizendo que sou sua companheira de alma? Tipo alma gêmea, amor eterno e estas coisas?
— Sim.
Petrus não sabia por que tinha dito aquilo, estava chocado com suas próprias palavras, mas as manteve, pois era o que sentia. A verdade estava estampada na sua frente. Não tinha dúvidas.
— Tenho dificuldade de acreditar nessas coisas.
— Oh, mas não somos apenas um homem e uma mulher, somos lobos e o nosso instinto natural está nos chamando e, acredite, linda, uma hora suas barreiras vão cair e sua loba vai me reivindicar.
Ela arregalou os olhos para ele.
— Não há loba.
— Ela está dentro de você, é parte de sua alma agora. Precisa aceitar isso. E seus instintos estão te dizendo o mesmo que eu, o problema é que não quer ouvir.
Ele suspirou e se afastou.
— Vou me encontrar com Harley, tenho uma pista importante para seguir sobre toda esta história. Tenha bons sonhos.
— Não vou ficar aqui, vou também.
— Não, lobinha, você vai dormir.
Ela o olhou e piscou várias vezes, pois suas vistas estavam embaralhadas.
— O que fez comigo?
— Nada de mais, somente um sonífero no seu café.
— Bastardo!
— Bons sonhos.
Petrus saiu na porta e levou a chave e ela foi levantar da cama para correr atrás dele, mas o quarto girou e ela caiu desmaiada na cama.
Petrus ficou alguns minutos no corredor e voltou ao quarto. Sami estava caída sobre a cama.
Ele retirou as mechas de cabelo que caíam sobre seu rosto, a pegou no colo e a colocou ajeitada nos travesseiros.
— Desculpe, querida, mas tive que fazê-lo.
Petrus foi até a janela e ficou olhando para a vida pulsante de Las Vegas, chamando os turistas e abastados para a libertinagem, para o jogo e dança do dinheiro. Ali, no submundo rolava muito mais, e sabia,
rolava as drogas, o tráfico, a prostituição e agora estas lutas envolvendo lobos.
Sami tinha soltado muito de sua história e seus planos, mas estava tão perdida quanto ele.
Ele sabia que agora, como uma loba, as sensações que acometiam seu corpo eram muito mais fortes, e se estavam fazendo isso com ele deveriam estar fazendo com ela, talvez isso a deixasse tão arredia. Estava
combatendo.
Ela sentia o mesmo que ele, esta atração absurda e enlouquecedora?
Ele olhou para ela, que parecia tão tranquila, e naquele momento ele não sabia dizer o quanto estava enrascado, pois seus pensamentos estavam cada vez mais tomados por ela.
Harley havia perguntado se ele estava preparado para ela, mas não estava.
Ele estava ficando insano. Aliás, ela sempre teve este efeito sobre ele. Um efeito tão forte que era quase impossível controlar.
Ele saiu de seus devaneios quando seu celular tocou.
O número era desconhecido e ele franziu o cenho, mas atendeu.
— Alô?
— Petrus?
Ele franziu o cenho.
— Pietra?
— Olá, como vai?
— Olá, eu estou bem, e você?
— Estou bem, obrigada. Eu espero que não esteja atrapalhando.
— Não está.
Petrus ficou nervoso e mudou o peso nas pernas, foi até a varanda e fechou a porta.
— Como estão seus negócios?
— Tudo indo bem, que dizer, tentando resolver alguns problemas.
— Falei ao meu pai para onde você foi. Ele ficou zangado.
— Que pena, dois trabalhos para ele, ficar zangado e deixar de ficar.
Ela riu.
— Sabe, às vezes eu não entendo a cabeça de meu pai. Por que ele faz certas coisas?
— Se você que é sua filha não entende, imagina eu.
— Ele disse que se você não voltar em alguns dias ele vai tomar sua ilha e todo aquele discurso.
— Eu disse que voltarei em alguns dias, e o farei, mas não posso ir sem terminar o que vim fazer.
— Eu sei, disse isso a ele. Desculpe por isso.
— Tudo bem. Não tenho medo de rosnados.
— Faz bem e vou tentar segurá-lo para que não o incomode até voltar. Somente queria dizer olá.
— Obrigado.
Pietra desligou e Petrus fechou os olhos por um minuto e respirou fundo.
— Vou te matar, seu velho bastardo. Um dia... Vou te matar.
Sami acordou e levantou da cama num salto e deu de cara com Petrus nu no meio do quarto.
Seu choque foi imenso e a paralisou. De costas, ele a olhou maliciosamente sobre o ombro. Sami deslizou o olhar pelo seu corpo e sentiu sua boca salivar. Vê-lo assim, nu, excitado na sua frente foi uma
pancada no seu sistema.
Ela rosnou e trincou os dentes.
— Me dope novamente e arrancarei suas tripas.
— Ui! Adoro suas ameaças. Se visse o quanto fica quente quando está zangadinha, mas eu tinha que sair e você ficaria melhor sem os grilhões.
— Por que está nu no meio do quarto?
— Provocando-a.
— Seu corpo não me desperta nada.
— Como mente, minha doce Sami, as mentiras rolam na sua boca tão facilmente. Mas, querida loba, saiba que não pode esconder sua excitação de mim. Sou um lobo, esqueceu?
Sami rosnou e Petrus sorriu malicioso, o que a irritou mais ainda.
— Sami, me deseja amando-a tão profundamente até que sua mente voe.
Ele deu um passo à frente e ela um atrás.
— Oh, que presunçoso e isto é o que embala seus sonhos, mas continue sonhando, porque não vai acontecer.
Petrus rosnou, a puxou e a beijou, um beijo feroz, dominando-a e a soltou num solavanco.
Sami olhou-o por um segundo e levantou a mão para lhe dar um tapa, mas Petrus segurou seu pulso, impedindo-a, então ela foi bater com a outra mão, mas ele segurou seu punho, a puxando para seu corpo, e
a beijou novamente. Em seguida, a soltou e Sami cambaleou.
— Cretino!
— Linda!
— Bruto.
— Desbocada.
Sami rosnou zangada, quis agredi-lo novamente, mas Petrus foi mais rápido e revidou o soco, um chute e outro soco.
Sami gritou zangada e Petrus riu, agarrou-a contra seu corpo, prendendo suas mãos nas costas.
Ela ofegou pelo baque.
— Sami... Amo você brabinha, mas prefiro lutar com você na cama, e pretendo que não faça mais estas tolices. Se pegar você seguindo lobos sem mim, baterei na sua bunda.
— Pare de se meter em meus assuntos, imbecil. Isso não lhe diz respeito!
— Sami, estes lobos são perigosos, pensa que como uma loba recém-transformada e sem domínio total de sua loba consegue enfrentar lobos? Talvez lobos que tenham mais de duzentos anos?
— Sei lutar e estou forte.
— Sim, está, mas não o suficiente.
— Não me importa o que pense, volte para sua Grécia e me deixe em paz.
— Isso não vai acontecer, portanto pare de brigar e vamos agir juntos que assim resolveremos tudo de uma vez e todos ficarão felizes e de volta em seus lares. Quanto mais nos der trabalho, mais demoraremos
aqui. De acordo?
Ele a soltou e ela ficou respirando com dificuldade, e pensativa. Petrus viu que ela estava considerando o assunto, estava visivelmente cansada e confusa.
— Pare e abaixe suas armas contra mim — falou com uma calma que a desconcertou.
Devia zangar-se, rosnar, mas estava olhando-a tão sereno que era irritante. Era muito mais fácil lidar com um Petrus mau.
Petrus suspirou.
— Estou nu, mas não foi para te provocar, sua tonta, estou nu porque acabei de vir de um beco que me transformei em lobo. Sabe que depois disso ficamos sem roupa, certo? Oh, claro, você não sabe, porque
nunca se transformou em loba.
Sami suspirou cansada e não disse uma palavra. Ele esperou que ela revidasse e dissesse mais uma grosseria, mas em vez disso, uma onda de tristeza veio dela e o atingiu, bem no peito.
Petrus odiava estas sensações que vinham dela. Era estranho e perturbador, mas ele captava coisas que nunca tinha acontecido antes, sua sensibilidade por ser um lobo era grande, mas com Sami era mais intenso,
talvez por ela ser sua companheira. Ela devia sentir coisas por ele também e essa luta contra deveria doer.
— Está tarde e estou faminto. O que quer comer? — ele perguntou calmamente.
A pergunta a deixou mais desconcertada e a fez olhar confusa para ele.
— Comer?
— Sim, vamos comer, a hora do almoço já passou há horas. Diga o que quer.
— Qualquer coisa.
— Qualquer coisa não é comida. Diga-me o que gosta, vou fazer os pedidos.
— Como se isso te importasse.
— Me importa! Se não importasse, não estaria perguntando.
— Sou sua prisioneira, pão e água, não é o que servem?
— Deixe de ser rabugenta, pois em nenhum momento te tratei mal.
— Me prendeu na cama.
— O que melhor há na vida que estar presa numa cama com um homem que quer agradá-la?
Sami olhou para Petrus boquiaberta e ele respirou exasperado.
— Olhe, a prendi e a dopei porque está revoltada e não escuta o que digo. Não quero que fuja, não quero que se machuque e quero a verdade desta história. E sim, agápi mou, me importa o que gosta de comer
porque gosto da ideia de te agradar. Se eu e Harley vamos pedir os nossos pratos apetitosos, não serei uma besta para não fazer o mesmo por ti.
Ela sentiu sua garganta se fechar, porque esse lobo descarado fazia tudo para desconcertá-la.
— Vamos, olhe o cardápio e pode pedir o que mais aprecia.
Ela pegou o cardápio que ele lhe ofereceu.
— Gosto... Gosto de filé... Agora.
— Isso é gostoso. Como lobos, apreciamos muitíssimo carne. Antes não gostava de filé? Preferia o frango ou outro tipo de carne?
— Eu... era vegetariana... desde os 15 anos. Minha mãe começou e achei bom. Mas agora... Sabe, eu não consigo parar de comer carne. Depois que me transformei em loba, eu vomitava cada vez que comia e ficava
me sentindo mal, meu organismo não o aceitava.
Ele piscou aturdido e viu a maneira triste e conformada daquilo e o quanto devia ter sido difícil para ela ter essa transformação. Seu coração se compadeceu.
— Por isso recusava comer na mansão?
Ela assentiu.
Ele se aproximou dela e tomou seu rosto entre as mãos e seus olhares se prenderam e houve uma conexão forte naquele momento. Porque falar do que ela tinha perdido havia derrubado um grande muro entre eles.
Quem diria.
Petrus acariciou seu rosto com os polegares.
— Eu sinto muito — ele sussurrou e Sami quase desabou em lágrimas, como um bebê.
— Eu já me acostumei, não é ruim agora. Pelo menos, não passo mais mal.
— Queria ter podido te poupar disso, já que não queria.
— Você não teve culpa.
— É sério que estou ouvindo isso? Pensei que me odiava por isso.
— Não por isso.
— Por que me odeia então?
Ele ficou esperando a resposta, mas ela somente ficou ali, muda, o olhando, e não respondeu. Petrus suspirou.
— O que posso fazer por você agora?
Beijar-me?
Isso saiu rolando do cérebro de Sami e parou na ponta da língua. Petrus estava acabando com sua fortaleza, pois estava se transformando em uma manteiga derretida e isso era péssimo.
Ela engoliu para tentar afastar a vontade de chorar, e o bolo que sufocava sua garganta quase a impediu de fazê-lo.
— O filé com fritas estaria estupendo.
Ele suspirou suavemente porque olhava para seus lábios esforçando-se para não a beijar, já que seu corpo todo pedia a ela, desejava-a, queria arrancar aquelas roupas e amá-la até que perdessem a sanidade.
— Também adoro a batata frita e aqui parece ter as melhores. Uma sobremesa?
— Eu aprecio muito a torta de maçã.
— Ok, terá sua torta de maçã. — Ele sorriu lindamente. — Perfeito, teremos um jantar civilizado e sem brigas por uma vez, está bem?
— Bem. Prometo.
— Então, já que estamos nos entendendo eu posso fazer algo sem que grite ou me bata? Só uma vez?
Devia dizer não...
— Ok.
Ainda segurando seu rosto, ele tocou levemente seus lábios, em um beijo tão suave que parecia um beijo de borboleta. Sami não conseguiu segurar e soltou um suspiro e Petrus deslizou as mãos para sua nuca
e a puxou para um beijo intenso, encaixado, perfeito, um beijo tranquilo e profundo que foi tão intenso que perturbou os dois.
Sami perdeu a noção do mundo e o beijou de volta. Sentiu seu corpo vibrar, exasperar-se por mais e mais. Queria saciar os desejos reprimidos e aquela chama acesa há muito tempo. E bem que os dois poderiam
ficar ali para a eternidade, porque não existia nada mais perfeito no mundo.
Petrus deslizou as mãos pelas suas costas e trouxe-a para seu corpo. Bom demais, perfeito demais. Se não parasse a tomaria de uma vez.
Ele precisava de tempo para descobrir como convencê-la a ficar com ele, uma vez que sabia que ela o queria, mesmo quando o rechaçava.
Sami deveria saber sobre como os lobos acasalavam, embora ele tivesse uma boa ideia de que ela não tinha nenhuma pista se tinha feito uma relação disso.
A questão era... e se a convencesse, a domasse? Ele não podia ter Sami como sua companheira, porque tinha Pietra, mas agora que tinha visto e experimentado a pimentinha, o plano havia mudado. Era como
ter aberto a caixa de Pandora. Agora ele a queria para si e estava ferrado.
Ele se afastou por um centímetro, só o suficiente para olhá-la nos olhos. E eles ficaram assim, olhando-se, dando suaves beijos. Tão conectados que não pareciam eles mesmos, envolvendo suas almas, acariciando
seus sentidos.
Isso era simplesmente delicioso. Uma calmaria que raramente existia entre eles. Uma capaz de fazê-los esquecer todo o resto do mundo, de derrubar seus muros.
— Devemos seguir com isso ou devemos pedir a comida? — ele sussurrou entre seus lábios, esfregando-se contra ela.
— Comida — sussurrou.
Mesmo contrariado, ele sorriu e a soltou e sem cortar o contato visual, pegou o telefone e pediu o que queriam.
Quando a comida chegou, Harley foi abrir a porta. O rapaz empurrou o carrinho para dentro, recebeu a gorjeta e partiu. Harley sentou para comer.
Petrus rosnou, se vestiu e olhou carrancudo para ele. Harley estava sério o olhando. Ele estava desgostoso com algo.
— Qual é o problema, Harley?
— Vocês dois se agarrando é o problema.
— Não se meta.
— Claro, sabe o que está fazendo, irmão?
— Sei perfeitamente o que estou fazendo.
— Ok, então não preciso te dizer que precisa ligar para casa.
— Por quê? O que há de errado?
— Lobos italianos é o problema. Recorda? Há um deles que quer uma lista de seus amigos. Eu tenho atendido seus telefonemas nesta tarde.
Petrus sentiu toda sua excitação pela loba na sua frente sumir.
Infernos!
— Lista? Eu disse que não quero nada grande. Italianos não sabem o significado de íntimo? — perguntou zangado.
— Por que não explica?
Petrus rosnou zangado e Sami os olhava e não entendia a conversa.
“Petrus, ligue para Pietra e resolva isso, ok?”, Harley disse mentalmente para o irmão.
“Faça esta gentileza por mim, irmão, diga a ela que somente a família estará presente”, Petrus respondeu da mesma maneira.
“Como desejar”, Harley disse ironicamente. “Mas devia pensar em Pietra enquanto está aqui agarrando esta loba!”
“Não sou acasalado com Pietra, não lhe devo fidelidade.”
“Vai acabar se enrolando, Petrus.”
“Desde quanto isso te incomoda?”
— O que estão fazendo se encarando desta maneira? — Sami perguntou.
— Estamos falando mentalmente — Petrus respondeu.
— Lobos podem fazer isso? — ela perguntou espantada.
Petrus a olhou e sorriu.
— Em forma de lobo todos podem se comunicar com outros lobos. Em forma humana somente os mais fortes podem se comunicar com outros, como alfas ou companheiros, você direciona a conversa, como se fosse
um canal.
“Pode me ouvir, minha lobinha?”, Petrus perguntou mentalmente olhando para ela com um sorriso e ela o ouviu dentro de sua cabeça e ofegou dando um passo atrás e riu.
— Você falou isso?
“Sim, eu falei e você pode me ouvir.”
— Incrível. Eu posso fazer isso?
— Pode.
Sim, porque era sua companheira. Ela ficou olhando para ele e espremeu os olhos.
— Me ouviu?
— Não.
— Bem, não funcionou.
— Vai funcionar, somente precisa se concentrar.
— Disse que são para lobos fortes, talvez eu não seja uma. Não sou forte e não tenho realmente assumido minha loba, como você mesmo vive me dizendo.
— Deverá, querida. Como eu disse, deve se concentrar e direcionar; treine e garanto que o fará.
Somos companheiros, ele quis dizer, mas calou-se.
Petrus sorriu lindamente e acariciou sua bochecha.
Sami olhou para Harley e viu que sua jaqueta estava rasgada. Ele a tirou com um rosnado zangado e a jogou sobre o sofá.
— O que houve?
— Um lobo bastardo a rasgou.
— Encontraram os lobos?
— Sim, seguimos uma pista até um velho prédio no subúrbio da cidade, mas já foi abandonado. Parece que as lutas não acontecem duas vezes no mesmo lugar. Agora tenho outra pista sobre outro armazém.
— Vai me dizer?
— Se o alfa permitir.
Harley a ignorou e se virou para Petrus.
“Precisamos de armas, Petrus, e talvez um apoio extra, tenho um mau pressentimento sobre isso. Encontrei dois humanos e um lobo morto, enterrados no subsolo do prédio”, Harley disse mentalmente para Petrus,
que assentiu, pensativo.
— O que estamos esperando? Temos que ir lá — Sami disse.
— Não é a hora. Agora comida.
— Como pode pensar em comida sabendo que temos que investigar?
— Agora não é o momento, Sami.
— E quando, oh sábio lobo poderoso, é o momento?
Petrus rosnou e Sami olhou-o com os olhos arregalados.
— Eu sou o alfa e eu digo a hora de ir. Agora nós vamos comer, depois iremos e você vai ficar aqui onde estará segura.
— Olha aqui. Quando você vem com esta merda de companheiros esperava que ao menos me respeitasse, mas se não pode confiar em mim e lutar lado a lado comigo, nunca existirá confiança entre nós.
— Estou tentando te proteger, porque você não tem ideia no que está se metendo.
— E você não tem ideia de quem sou e como sou boa em chutar traseiros, chutarei o seu se me deixar trancada neste quarto e me impedir de ir atrás dos bastardos.
— Ok, vamos fazer um jogo, e então a deixarei ir. Você me pergunta algo e eu te pergunto algo e assim posso te conceder alguns privilégios. Faça uma pergunta.
Ela respirou exasperada e pensou.
— Quando foram presos nos laboratórios, como perderam suas casas? Lembro que Ester me disse que não podiam voltar para a Irlanda. Como isso aconteceu? Como fez com que roubassem tudo a ponto de não poderem
voltar para casa?
— Hackers, falsificadores. Com dinheiro se pode contratar alguns muito bons. Nossas contas foram fechadas, negócios vendidos, assinaturas falsas, algumas foram tiradas do próprio punho do proprietário.
Muitos rumores diferentes foram espalhados para quem estranhou nosso sumiço e alguns amigos de outras alcateias tentaram até saber o que estava acontecendo, mas... eles foram espertos em desviar, esconder,
porque os lobos são acostumados a isso, sumir no ar, apagar os rastros, se ocultar. O boato foi que nossa alcateia mudou por segurança. Talvez não tivéssemos tido alguém que realmente se empenhasse em
descobrir o que aconteceu. Os lobos que nos traíram fizeram um bom trabalho em ajudar os humanos a fazer toda esta transição, pois conhecem as manhas dos lobos, sabem fazer tudo desaparecer.
— Também foram traídos por lobos? O tal Galen?
— Sim. Pelo menos dele pudemos nos livrar. Mas ainda há contas a acertar.
— Como pode ser tão mau para fazer isso?
— Há muitas mentes doentes neste mundo, querida. Infelizmente nós cruzamos com muitos deles. Harley é um hacker e tanto, ele conseguiu muito de volta, mas para muitos não foi dinheiro que foi perdido.
Foi um lar, uma história, uma vida, a dignidade de nosso povo. Então o dia que os responsáveis por isso forem encontrados, lindinha, eles conhecerão a fúria de um lobo em busca de vingança.
Ela suspirou e ficou pensativa por um momento.
— Vou matar os lobos que traíram meu pai e terei minha vingança, por tudo que perdi, por tudo que arrancaram de mim, minha vida.
Petrus colocou a comida no prato de Sami e ela comeu, calada.
Depois de alguns minutos em silêncio e comerem a comida, ele respirou fundo e encostou-se à cadeira.
— Minha pergunta. Sabe os nomes deles?
— Um se chama “O Demolidor” e outro “Lobo”
— Nomes interessantes.
— São nomes característicos em lutas de ringue.
— Tipo MMA ou boxe ou lutas entre lobos?
— É um vale-tudo e... há lobos, mas há humanos que lutam também. Obviamente não são grandes lutadores famosos, porque seria muito perigoso que fossem descobertos.
— O quê? Lobos lutando com humanos? Isso é... — Petrus olhou fixamente para Sami, que o olhava seriamente.
— Sádico.
Ele assentiu.
— Quase assassinato para diversão. Por mais forte que seja um lutador não tem chance contra um lobo — Harley disse espantado. — Por isso aqueles que encontrei estavam estraçalhados.
— Merda! — Petrus rosnou, suspirou e esfregou sua barba, fazendo uma careta.
— Então, fui boazinha e lhe dei uma boa informação, posso ir com vocês agora?
— Bem, termine de comer e se arrume que irá nos acompanhar, teimosa. Harley, quarto.
Eles dois saíram e ela mordeu um pedaço de carne com raiva porque ele era um mandão, mas pelo menos a levaria junto, o que era um grande avanço. Talvez se dobrar um pouco agora seria uma boa estratégia.
Petrus suspirou quando entrou no quarto com Harley.
— Ela perde a calma rápido — Harley disse e ergueu uma sobrancelha, olhando para Petrus.
— Sami é impulsiva e está sendo movida pelo ódio. Temos que ficar de olho nela para que não faça uma besteira.
— Como fugir?
— Isso também. Bem, você liga para Pietra, e eu ligo para Sasha para conseguir armas e então partiremos.
— Não quer trocar estas tarefas?
— Não.
— Pietra é sua prometida.
— Sério? Não tinha me dado conta.
Harley riu e depois suspirou.
— Não acha que deveríamos falar com Noah?
— Vamos sozinhos até este local, bisbilhotar e obter algumas informações sobre lutas de cash alto na cidade, tenho certeza de que se formos aos lugares certos, molharmos as mãos certas logo teremos nosso
alvo e a partir disso, veremos o tamanho de nossa bomba, então falaremos com Noah, ok?
— Ok.
Contrariado, Harley ligou para Pietra, mas para sua desventura ela não atendeu ao celular. O que o deixou aliviado e um pouco mais rabugento que o normal. Afinal, ele era apenas o cunhado, por que infernos
era ele que tinha que ligar para a prometida do irmão?
Depois de mais uma tentativa frustrada, Harley queria socar a parede, então vestiu sua jaqueta de couro e pegou o intercomunicador de cima da mesa.
— Estou indo na frente, para fazer o reconhecimento da área. Se eu fosse você faria aquela varredura no motel de Sami novamente.
— Por quê?
— Só faça, Petrus.
Petrus olhou estranhamente para Harley, mas ele saiu antes que pudesse questioná-lo. Ele estava imensamente irritado e ele não entendeu o que estava acontecendo com seu irmão, mas suspirou e deixou por
isso, pois teriam uma conversa mais tarde.
Petrus pegou seu celular e fez uma ligação.
— Olá, Sasha, é Petrus.
— Como vai, companheiro?
— Meio enrolado e você?
— Estou bem.
— Ansioso pelo filhote?
— Muito. Estou feliz de ver como as coisas estão andando. Jessy está bem e isso me deixa bem.
— Fico contente. Ela merece um pouco de paz e felicidade.
— Ela terá. O que posso fazer por você?
— Sasha, preciso de armas.
— Para quê?
— Estamos em uma busca nos Estados Unidos. Um de seus homens não estaria por perto de Vegas?
— Está em Vegas?
— Sim, quem diria, mas aqui estou e quero conseguir algumas armas, para caso a situação por aqui fique feia.
— Meu irmão está em Los Angeles. Ele pode conseguir armas para você.
— Seria bom se Nathan conseguisse isso para mim.
— Farei uma chamada e ele entrará em contato com você por este número. Está encrencado?
— Mais do que imaginaria estar.
— Tem a ver com seu casamento?
— Não.
— Precisa de ajuda?
— Por enquanto, não. Mais tarde veremos.
— Bem, deixe-me saber se necessitar de algo mais.
— Pode deixar, eu avisarei.
— Boa caçada.
— Obrigado. Adeus.
Petrus desligou o telefone e entrou no quarto. A pulga estava atrás de sua orelha e ele tinha que tirar a maldita dúvida.
— Espere aqui, volto num momento — disse pegando sua jaqueta.
— Ei, não íamos juntos? — Sami perguntou confusa.
— Iremos, mas preciso fazer uma coisa antes, fique aqui e me espere; eu não demoro, vou arrumar nosso carro.
— Ok — disse desconfiada, mas não reclamou.
Petrus saiu e suspirou no corredor.
— Espero que eu não encontre o que estou procurando, Sami. — resmungou de mau humor.
Quando Petrus voltou ao hotel e entrou no quarto, estava como um touro furioso, Sami estava na sacada do hotel e se virou, olhando para ele. Num momento ela estava ali e no outro, estava entre os braços
de Petrus e caindo sobre a cama.
Ela abriu os olhos desesperados, que se fixaram no olhar dele, e viu algo que a confundiu. Ele estava sério, com raiva...
Ele tomou sua mão e levantou sobre sua cabeça e ela ouviu um clique. Quando olhou para cima ela percebeu o que ele tinha feito, tinha colocado o grilhão no seu pulso novamente.
Ela o olhou com os olhos arregalados.
— O que está fazendo, Petrus?
— Eu? Nada, agápi mou, somente a coloquei onde merece.
Ela puxou as correntes.
— Me solte!
— Nós tínhamos uma trégua, um trato e você o quebrou.
— Eu? Não.
— Onde estava pensando em ir?
— Lugar nenhum. Estava te esperando.
— Estava espiando pela sacada e tentando ver como sair pelo telhado.
— Não, somente olhava o céu.
Petrus riu e deu uma longa lambida em seus lábios e ela gemeu e arfou.
— Quer ser torturada de novo, docinho?
— Não me chame de docinho!
— Certo, azeda.
Ela rosnou zangada.
— Tínhamos um trato, quem está quebrando é você! Disse que não me prenderia mais!
— Estava tentando fugir, Sami, não sou burro e... eu quero algumas respostas e você vai dá-las a mim. Agora.
— O que mais quer saber? Já disse o que sabia.
— Não, não disse. Onde está seu telefone?
Ela piscou confusa.
— Não sei, o perdi.
— Última chance, Sami. Onde está seu telefone?
— Já disse que o perdi no beco, se não estava no quarto com minha bagagem, estava no beco.
— Bem, acontece que ele estava no quarto do motel e bem escondido. Harley não o achou na primeira busca, mas eu o fiz e por causa do cheiro que para mim é muito mais forte que para ele e eu o encontrei.
— O quê?
— Estava preso com fita debaixo do fundo de uma gaveta da cômoda e você, mentirosinha irá pagar.
— Eu esqueci.
— Sami, por favor, não piore sua situação, você dá um passo para frente e dois para trás e, querida, isso é perigoso para você.
— Saber sobre meu telefone é irrelevante.
Ele rosnou ferozmente na sua face.
— Quanto pensa que o fato de me ocultar coisas sobre os laboratórios, sobre a morte de meus amigos e sobre este bastardo que te sustenta é irrelevante? — ele gritou furioso.
— Já disse que não sou culpada, você não se importa com o que digo. Por que me pergunta se ainda não acredita em mim?!
— Sim, eu me importo — disse olhando seriamente em seus olhos, a deixando desconcertada e disse tão intensamente que seu coração vacilou.
Realmente se importava com ela? Essa maldita tempestade em sua mente e em seu coração era tão inapropriada. Ele era tão poderoso que exalava este poder pelos poros e ela achava tão fascinante, maravilhoso
e lindo que o queria para ela. Mas seu lado raivoso, tempestuoso, somente queria que ele sumisse de sua vida e queria sua vingança.
Seria pedir demais?
Mas ele não a deixaria, e agora podia descobrir sobre Alexander. Estava ferrada.
Ela soltou um gemido angustiado e ele rosnou.
— Sou muito condescendente com você, se fosse outro lobo, sua cabeça já não estaria sobre o pescoço, meu próprio irmão a arrancaria porque não confia em você.
— Disse que não me machucaria.
— Mas também disse que eu não sou tão bonzinho assim para ficar aguentando seus joguinhos, porra! Mas se você me falar a verdade poderá ter uma chance de se safar desta. Sami, Harley rastreará suas chamadas
e descobrirá quem é este cara que te banca, me conte sobre ele. Quem é Alexander?
Ela o olhou com os olhos arregalados.
— Você falou com ele? — perguntou assustada.
— Eu liguei para o único número que havia gravado ali e este cara atendeu, então o desligou e olha só, o número desapareceu, como um passe de mágica... Ou de um hacker.
Alexander tinha conseguido apagar o telefone de seu celular. Ele era muito inteligente. Quando viu que não era Sami ao telefone, agiu rapidamente.
— Ele não tem nada a ver com isso, é só um amigo que me ajuda.
— Mas sabe sobre nós.
Como tinha sido estúpida de ter dito que sabia deles, burra, burra, mil vezes burra.
— Deixe-o em paz, ele não é uma ameaça.
— Loba, é a última vez que te peço, estou te dando a oportunidade de estar do meu lado, porque se não me responder desta vez, eu juro que vou chamar Noah e te entregar para ele e te garanto que ele não
será misericordioso com quem mata nossa família! — gritou com um rosnado. Ela engoliu em seco. — Quem é ele?
— Eu não posso dizer, mas ele não matou ninguém.
— Por que não? Se ele não é um dos laboratórios, se ele não é culpado, nada vai acontecer.
— Sou leal a ele, porque ele é leal a mim.
— Ah lealdade, fico pensando se sabe o que é isso, Sami.
— Eu sei, mais do que você.
— Ele é seu amante?
— Não.
— Alguém da sua família? Se for sua família, entendo que o queira proteger.
— Você disse que matou seu pai, o que entende de lealdade familiar?
Ele rosnou furioso, a assustando e então ficou quieto por um tempo, depois olhou para ela. Sami fez uma careta.
— Desculpe, eu não queria dizer isso.
— Sami, quanto mais ocultar a verdade mais será suspeita de ser do lado deles, não percebe isso? Olha... dê-me algo e eu faço algo por ti. Estou negociando. Acredite, eu estou sendo bonzinho, mesmo que
não mereça. Sabe como alguns de meus amigos arrancam informações? Eles quebram ossos.
Ela ficou em silêncio, pensativa. Ele não teria coragem. Ou teria?
— Ok, vou te dar uma informação, mas não sobre Alexander e tem que me prometer que deixará meu amigo em paz, ele não é mau e nem irá prejudicar vocês. Ele somente me dá dinheiro e me ajuda com a investigação
para encontrar estes lobos. Eu juro que ele não é uma ameaça para você, nem para nenhum lobo. Seu segredo está a salvo com ele.
— Ok, vou fazer esta promessa, vou te dar este voto de confiança, Sami, só mais este e ficarei de olho. Até o momento que ele não seja uma ameaça para nós ele estará seguro. Agora, me dê algo relevante,
sem enrolação ou amanhã eu terei a cabeça deste cara numa bandeja e isso é uma promessa, querida.
Ela ficou olhando seriamente para ele ponderando se deveria acreditar nas suas promessas. Bem, estava de saco cheio e tinha que proteger Alexander e não queria estar acorrentada novamente.
Ela fechou os olhos por um segundo, respirou fundo e o olhou.
— Quando vocês me libertaram do laboratório, eu estava atrás dos lobos. Eu descobri tudo sobre eles. Um tempo antes, meu pai havia me dado um telefonema estranho e disse que eu deveria sair da Alemanha
o mais rápido possível. Ele parecia nervoso e me deu uma ordem. Eu disse que confiaria nele, pois me contaria tudo assim que todos estivessem em segurança.
— Todos quem?
— Ele disse que precisaria ajudar umas pessoas. Ele alugou uma casa no interior de Dorset, Inglaterra. Lá as propriedades são isoladas nos grandes campos. Seria seguro, ele disse. Eu tenho dupla cidadania
inglesa, por causa de minha mãe, e achei que era por isso, mas ele me enviou um passaporte falso. Disse que eu deveria ir para lá, sem fazer perguntas e usar somente meu nome falso. Eu fui, sem fazer mais
perguntas, porque confiei nele, mas o dia do encontro que deveria ter acontecido, não aconteceu. Ele desapareceu.
— E mesmo assim não falou com a polícia sobre seu desaparecimento?
— Ele disse que se algo acontecesse não era para procurar a polícia, disse que era para ficar quieta e não voltar mais à Alemanha.
— Mas não o fez.
— Relutei muito, mas ele havia me feito jurar que não procuraria a polícia se algo acontecesse. Então, eu resolvi ir atrás do que havia acontecido. Voltei para a Alemanha e abri seu cofre secreto que ele
me confiou o segredo anos atrás. Então descobri dos lobos e com meus documentos falsos eu me infiltrei no laboratório.
— Isso não deveria ser fácil, não colocariam qualquer pessoa ali para descobrir seus segredos.
— Alexander me ajudou. Ele... Ele ficou do meu lado e prometeu me ajudar. Então, começamos uma caçada. Eu descobri o que havia acontecido. Meu pai tinha planejado uma fuga, ele queria libertar os lobos
e então tudo foi descoberto e foram impedidos. Meu pai estava desaparecido e eu não conseguia fazer com que ninguém confessasse onde ele estava. Tinha esperanças de ele ainda estar vivo, mas então eu...
me infiltrei nas alas proibidas, pois eu não tinha permissão para estar ali, mas com a ajuda de Alexander eu consegui senhas e ele introduziu minhas impressões digitais nos comandos das portas, então consegui
entrar.
— Então ele trabalhava ali?
— Não, ele não trabalhava ali, ele é um hacker e com os computadores ele conseguia estas coisas para mim. Ele nunca entrou naquele laboratório que vocês explodiram. Eu juro.
— Ok. E então?
— No dia que pensei que conseguiria chegar aos lobos e iria saber sobre o que tinha acontecido, eu entrei naquela cela e vi aquele homem machucando uma de suas lobas.
— Clere.
— Sim. Eu reagi para ajudá-la, bati nele com uma bandeja de instrumentos e ele caiu desacordado. Tentei soltá-la, pois estava machucada e acorrentada.
Sami respirou fundo, atordoada com suas lembranças.
— Então Galen a pegou.
— Sim. Ele me levou para outra jaula e me mordeu, como contei a vocês da outra vez. Então seus amigos chegaram e me levaram para Oldemburgo e o resto você já sabe.
— A sua pressa para ir embora era por causa do seu pai?
— Sim, eu tinha que voltar, tinha que encontrá-lo, mas tudo havia sido destruído e logo que cheguei em casa, Alexander me contou o que descobriu. Meu pai estava morto.
— E acha que foi pelos lobos de Noah?
— Meu pai foi morto pelos lobos que ele ia libertar no dia da fuga.
— Nomes.
— Chamam-se Julian e Logan.
Petrus olhou para ela com os olhos arregalados.
— Julian e Logan?
— Sim, pelo que eu sei, meu pai foi morto por estes lobos.
— É deles dois que você está atrás?
— Sim.
Petrus demorou um pouco para pensar na situação toda.
— E acha que eles estão nas lutas?
— Sim.
— Por que acha isso?
— Porque investigando sobre as lutas, descobri dois lutadores com estes nomes, eles usam outros nomes agora, como já te disse. O Demolidor e Lobo.
Petrus ficou mudo olhando para ela e, então, soltou uma gargalhada. Sami ficou confusa olhando para ele.
— Do que está rindo?
— Mas que merda. Sami, olha, eu lamento ter que te dizer isso, mas a sua investigação está errada.
— Não, eu sei!
— Sami... Eles estão mortos.
— O... O quê? — perguntou aturdida.
— Logan e Julian estão mortos. Foram mortos pelos guardas que impediram a fuga. Eles estavam tentando fugir, sim, e a fuga deu errado. Essa parte está certa.
— Não, não pode ser, eles eram parte dos lobos maus. Deviam ser cúmplices daquele Galen.
— Não, eles não eram cúmplices de Galen. Eles eram prisioneiros, como eu. Eram meus amigos e faziam parte da alcateia de Noah.
— Mas...
— Ronan, um dos lobos que resgatamos em Berlim, nos contou depois que se recuperou dos tiros que levou quando os tiramos dos laboratórios. Sua história foi confirmada por Thorman e Zian. Ronan nos contou
que eles faziam parte de um experimento diferente e ficavam a maioria do tempo em jaulas separadas do pavilhão onde eles estavam. Eles souberam que os dois estavam planejando a fuga com a ajuda de um cientista,
que Ronan não sabia dizer o nome.
— Meu pai, era meu pai!
— Ok, seu pai. O plano foi descoberto e eles foram impedidos. Quatro lobos que eram prisioneiros foram mortos naquele dia, inclusive Logan e Julian. Ronan os viu serem mortos a balas, todos eles viram.
Foi um fuzilamento. Os guardas atiraram neles na frente dos outros para que servisse de lição.
— Mas minha informação não pode estar errada.
— Está. Logan e Julian eram irmãos e seus pais ainda estão vivos, estão vivendo na Ilha de Noah. Eles queriam fugir para tentar resgatar os outros, encontrar seus pais que nem sabiam se estavam vivos ou
mortos, pois estavam em outro laboratório. Eles tinham mais um irmão e uma irmã mais novos que estão mortos também com aquelas malditas experiências que faziam conosco, como animais sem nenhum valor.
— Petrus...
— Sabe a dor que estes pais sentiram, Sami? Tem sequer ideia o que é para um pai e uma mãe perder os quatro filhos dessa maneira tão podre?
Aquilo tudo era uma grande merda, uma sem precedentes.
— E meu pai?
— Ronan soube que ele foi morto também, por traição, pelos mesmos guardas. Não foram os lobos que mataram seu pai, Sami. Pelo menos, não foram Logan e Julian e nenhum dos meus amigos.
— Não, não pode ser.
— Eu juro para você. Dou-lhe minha palavra de honra. Kirian sofreu muito o baque de suas perdas, pois eles eram muito amigos, desde meninos.
— Aquele que estava gritando comigo?
— Sim, aquele é Kirian, ele estava com muito ódio por ter perdido seus amigos. Depois de tudo que já tinha sofrido estava esperançoso de encontrá-los ainda vivos nos laboratórios. Mas não estavam.
— Mas... Eu não posso ter me enganado tanto assim e estes lobos são muito grandes e meu pai tinha fotos deles... Tinham os mesmos nomes...
— Querida, muitos lobos são semelhantes, por causa de algumas características da pelagem. Os olhos, o tamanho, podem ser parecidos, mas não os mesmos nomes, lobos mudam muito de nomes para se ocultar.
Se Julian e Logan estivessem vivos já teríamos os encontrado.
Ela soltou um suspiro tão cansado que Petrus sentiu sua dor no coração e ele sentou na cama.
— Eu sinto muito, Sami.
— Não consigo acreditar. Preciso matá-los.
— Eles já estão mortos, querida.
— Meu pai morreu para ajudá-los.
— Eu entendo sua raiva. Quer vingança, mas não está no caminho certo, Sami. E seu pai fez uma escolha, ele sabia dos riscos. Os lobos os viram serem mortos e não acredito que eles tenham traído seu pai,
se ele estava tentando salvá-los.
— Como pode saber?
— Porque o pai de Ester estava fazendo a mesma coisa, e todos nós nos sentíamos muito agradecidos a ele. Logan e Julian não são traidores e não mataram seu pai.
— Quem os traiu então?
— Pode ter sido Galen e seus capangas, pois era ele que estava naquele laboratório. Ninguém sabia disso antes do resgate. Você mesma conheceu o grau de sua maldade. Ele a transformou em loba, queria te
forçar a ser sua companheira.
— Então está acabado?
— Eu sinto muito. Pode confirmar a história com Harley, se quiser ligarei para Ester e ela te contará isso. Pode perguntar para Ronan ou para qualquer lobo que sobreviveu.
A tristeza que Petrus viu em seu olhar partiu seu coração. Sami estava vendo o fim de sua vingança, aquele era o motivo que a sustentava, que a mantinha forte, que a motivava a lutar.
E agora o que ela tinha? Nada.
Ela sentiu-se sozinha, perdida e sem ter no que se agarrar. Petrus abriu suas correntes e esperou para ver se ela saltaria da cama, para longe dele, mas ela ficou ali, estática, somente olhando para o
nada. Seus olhos estavam marejados de lágrimas e ele esperou para vê-las cair, mas não caíram.
A força que ela fazia para se manter inquebrável era tamanha que ele ficou preocupado que ela endurecesse seu coração de forma irrevogável, mais duro do que já estava.
Ele não queria isso para ela, queria sua Sami inteira e não quebrada assim.
Bem, todo mundo tinha um coração quebrado, as esperanças arrancadas algum dia. Era a vida.
Petrus acariciou sua bochecha gentilmente e ela o olhou e não impediu quando ele a tomou nos braços para confortá-la.
— Agora sabemos da verdade — ela disse contra seu peito. — Ele não era mau, queria ajudar os lobos.
— É o que parece.
— Ele não sabia o que acontecia lá. Somente soube muito depois. Assim como eu que trabalhei um bom tempo para os laboratórios sem saber o que realmente acontecia lá. Eu juro isso.
— Tudo bem, Sami, eu acredito em você.
— Tenho como te provar isso, está escrito em um dossiê de meu pai. Agora está em uma caixa forte de um banco em Berlim.
— Há mais coisas dos lobos lá?
— Sim, estudos na maioria, algumas fotos e materiais de laboratório.
— Eu poderia ver isso?
Ela ficou calada e ele pensou que ela negaria, mas ela o surpreendeu.
— Eu te darei isso, como prova de minha boa-fé com você.
Isso era grande e Petrus suspirou acariciando seus cabelos. Um imenso passo entre eles.
— Sinto muito pelo seu pai.
Seus olhos marejaram novamente e ela engoliu em seco, com dificuldade, mas ainda não deixou as malditas lágrimas caírem.
Sami não queria parecer vulnerável e fraca perto dele, mas aquilo tinha sido forte, e era como levar um tombo por alguém puxar seu tapete. Enfrentar a realidade era uma merda.
— Desculpe, Petrus, eu não queria ter dito aquilo sobre seu pai também. Mesmo que minha vingança e busca tenha dado em nada, ainda tenho que proteger meu amigo. Ainda devo minha lealdade a ele. Fiz uma
promessa e não posso quebrá-la.
— Admiro sua lealdade a ele, apesar de me irritar.
Pois queria mais lealdade a ele.
Ela se afastou e o olhou e ele tomou seu rosto entre as mãos.
Petrus não resistiu a tentação por ela estar ali, quase sentada em seu colo, desmoronada. Ele se aproximou e lentamente beijou seus lábios e para seu espanto, ela não o afastou. Ela fechou os olhos e o
beijou, lentamente.
Oh senhor. Aquilo era delicioso e como um bálsamo para a dor.
Quando ele soltou de seus lábios ficaram se olhando intensamente.
Aquela atração que não sumia, não desaparecia, e insistia em deixar os dois perdidos.
— Me beija assim, mas ainda me acusa de não confiar em você?
— Entendo sua dificuldade, ainda que isso me incomode. Há uma coisa diferente em obter lealdade, Sami. A verdadeira lealdade não vem pelo sangue, vem pelo coração. Você pode ser leal aos seus por obrigação,
por medo ou por pensar que não tem outra opção por ser sua família. Mas a lealdade ganha pelo coração é espontânea, pois existe fé, respeito e uma intensa amizade, inquebrável. É isto que existe entre
mim e Harley, entre nós e a alcateia de Noah, um laço inquebrável e infinito.
— Mas não era assim com seu pai? Irmão? Sua mãe? Ou sua alcateia?
Ele suspirou.
— Fui leal ao meu pai por obrigação, por respeito e até por medo. Responsabilidade por causa de minha posição dentro da matilha, mas por toda minha vida eu sempre tive dificuldade de dar minha lealdade
a ele, meu irmão caçula, a mesma coisa.
— Por quê?
— Porque eu não via a bondade em seus corações.
— Vê isso em seu irmão Harley?
— Sim, eu vejo.
— E pede isso a mim?
— Sim, eu peço.
— Por quê?
— Porque meu coração está mandando, minha mente, meu lobo.
Ele lentamente deslizou sua mão e continuava acariciando seu pescoço.
— Você é um risco para mim e me pede que confie em você. Eu não posso fazer isso facilmente.
— Entendo. Acha que seus segredos estão em perigo comigo.
— Talvez.
— Então, enquanto não houver confiança entre nós, agápi mou, não podemos ser companheiros.
— Há segredos que devem ser mantidos.
— Eu sei, meu bem, eu entendo mais de segredos do que imagina. Nossa espécie é rodeada de segredos, de termos que nos esconder, de fingirmos ser outras pessoas para o mundo. Mas entre nós os segredos são
ruins porque constrói muros e afasta a confiança. Um lobo não pode viver numa alcateia sem confiança e lealdade, porque o erro de um pode levar a morte de todos.
— Por isso prefiro viver sozinha.
— Mas é leal a este homem. Talvez o ame.
— Sim, sou leal a ele, sim o amo, mas não como pensa. Eu jurei protegê-lo e não posso quebrar minha promessa, Petrus. Preciso manter minha palavra com ele porque se perder isso, não sei mais o que tenho
nessa vida. Preciso ter controle de minhas juras, de minha lealdade, senão não sobrará nada de minha humanidade.
— Não confia em mim, é por isso.
Ela suspirou cansada.
— Ok, vamos fazer uma nova trégua. Eu juro que não vou fugir, que vou colaborar e te contarei tudo que sei, se prometer deixar a pessoa do telefone fora disso. Se fizer isso, saberei que pode entender
o valor de confiança e das palavras proferidas. Eu prometo me comportar. Mas não me isole e me tire disso, porque preciso.
— Ok, te deixarei dentro, porque vamos continuar a busca. Vamos descobrir sobre o Lobo Negro e essas lutas e se realmente está acontecendo como pensamos, estes lobos devem ser punidos por se esporem aos
humanos. Os entregaremos para a alcateia do Texas e iremos para casa. Quer continuar?
— Sim, eu quero. Vai ainda me levar nesta busca que havíamos planejado?
Ele a olhou languidamente.
— Sim, Sami, eu vou levá-la. Contanto que me prometa que ficará perto de mim. Eu não quero ter que me distrair com você.
Ela abriu a boca para retrucar, mas calou-se.
— Ok, eu prometo.
— Vamos tentar confiar um no outro?
— Sim.
Bem, milagres existiam.
Ele ofereceu a mão para selar o trato e ela a apertou.
— Obrigada, Petrus — disse sussurrando.
Lentamente, de forma dengosa e provocativa, Sami se aproximou dele e beijou seus lábios, deixando-o sem ação. Ele fechou os olhos e a deixou beijá-lo, pois era divino. Sami aprofundou o beijo, girou na
cama e escarranchou em sua cintura, o girou e o derrubou na cama, sem deixar de beijá-lo, deslizou as mãos em seu peito, em seus ombros e em seus braços e tomou suas mãos entrelaçadas nas suas.
Ela esfregou-se nele, excitando-o, e arrancando um gemido, ela ergueu suas mãos acima da cabeça e o beijou mais profundamente, então ela parou ao mesmo tempo que um clique foi ouvido.
Petrus abriu os olhos e a encarou espantado e ela sorriu maliciosamente.
— Nunca mais me prenda, senão corto suas bolas.
Ela beijou seus lábios e saiu da cama e Petrus puxou as correntes, mas estava preso, e então, espantado, indignado e com vontade até mesmo de rir ao mesmo tempo que queria xingá-la pela sua audácia, ele
a viu ir rebolando exageradamente para o banheiro e fechar a porta.
Então, ele riu.
Petrus se transformou em lobo, se soltando das correntes facilmente, então se vestiu novamente. Ele queria ir ao banheiro e bater naquele traseiro gostoso dela até que gritasse, mas soltou um rosnado indignado.
Uma coisa ele tinha que admitir: ela era boa. Literalmente.
E amou a maneira que ela o atacou, com aqueles beijos quentes que quase tinham fritado seu cérebro, aquelas mãos tocando-o. Mesmo que ela quisesse torturá-lo como forma de vingança ele tinha amado a experiência.
Sami tinha um lado brincalhão, um lado leve, e ele queria desvendar isso, queria vê-la aflorar e brincar.
Ele suspirou, foi para o quarto de Harley pegar seu celular e uma arma. Então, voltou ao quarto e estacou; ficou parado olhando para Sami, ao lado da cama, que fazia seu rabo de cavalo nos cabelos. Estava
de costas para ele e com a posição empinava seu traseiro totalmente moldado em uma calça de couro negra.
Sua bota de salto cobria a perna até o joelho e ele chegou a salivar porque ela era estupenda, seu corpo era maravilhoso e ele queria tocá-la mais que tudo. Aquele traseiro redondo e empinado somente lhe
trouxe estrelas nos olhos porque sua virilidade estava o matando.
Ele estava desconfiado que estivesse com um frenesi encubado como Jessy. Ele suspirou com o pensamento, pois sua situação era lamentável.
— Vai sair com um salto deste tamanho?
— Sim, acostumei-me a lutar com ele. — Ela se virou e ele quase gemeu novamente. — E, além disso, posso perfurar uma garganta com ele.
Petrus sorriu.
— Eu sei, quase perfurou a minha.
Ela sorriu com seu comentário e estava feliz porque ele a levaria na busca dos lobos. Isso era um grande avanço entre eles.
— Como se soltou?
— Me transformei em lobo, grilhões maiores que as patas, fácil de soltar, grilhão no pescoço, impossibilitam a transformação.
— Oh.
— Se aprendesse saberia disso.
Ela girou os olhos.
— Sim, claro.
— Está pronta para ir?
— Sim.
Ela foi passar por ele para saírem, mas ele agarrou seu braço e a puxou de volta e a prendeu entre seus braços. Sami arfou pelo baque em seu peito, mas não protestou.
Eles ficaram se encarando por um minuto que pareceu uma eternidade e ele, sem desviar o olhar se aproximou e beijou seus lábios, lentamente.
Sami entreabriu os lábios e ele encaixou sua boca na dela, fazendo sua língua dançar com a dela, fazendo o corpo todo reagir. Petrus soltou de seus lábios e a olhou.
Não havia palavras para serem ditas, pois a mente estava lenta demais para pensar em uma frase coerente.
Petrus depositou um suave beijo em seus lábios e se afastou, a soltando. A tendência de escorregar para o chão era alta, mas ele sorriu maliciosamente, colocou seus óculos escuros, virou e saiu pela porta.
Sami respirou fundo e o seguiu. Bater na sua cara bonita era uma boa pedida, mas estava muito extasiada com aquele beijo para brigar.
Afinal, ela não tinha motivos para brigar, porque tinha amado cada segundo.
Os beijos estavam se tornando frequentes e isso era um perigo.
Petrus e Sami desceram no elevador usando os óculos escuros e suas roupas de couro. O casal de senhores que entraram no elevador depois deles, se agarraram e ficaram espremidos no canto, decerto achando
que eram algum tipo de frequentadores de alguma gangue ou clube de motociclistas selvagens ou algo parecido.
Quando o elevador parou no andar da academia e saunas, a senhora e o senhor saíram e olharam para trás com os olhos arregalados.
Petrus deu um sorriso malicioso para eles.
— Bu! — ele disse e eles se agarraram e saíram em disparada.
Sami o cutucou com o cotovelo e riu.
— Que malvado!
Ele riu e olhou para ela, com aquela cara de malandro que a fazia virar manteiga e ele colocou uma pastilha de chiclete na boca e começou a mascar.
E só para anotar, ele ficava ridiculamente lindo mascando chiclete.
O que espantou Sami foi como Petrus andava no meio dos humanos sem temor. Ela havia demorado a conseguir esta segurança, perder o medo, pois chamava muito a atenção. Tinha que ter uma força interior muito
grande, uma confiança em si e na sua força para poder perder a inibição. Mas ela era uma loba há dois anos. Ele há duzentos.
Ela quase lamuriou por este pensamento. Viver tantos anos era assustador.
Ele deve ter percebido sua ponta de nervosismo e seus pensamentos, porque a olhou novamente e segurou sua mão, entrelaçando seus dedos nos dela.
— Uma lição de lobo, Sami. Nunca demonstre seu medo. Destilar seu poder é que dá mais poder a sua loba.
— Não estou com medo.
— Eu sei, e a admiro por isso.
Ela havia se achado poderosa, mas agora vendo Petrus sair do elevador e andar pelo saguão do hotel cheio de humanos, de seguranças que olhavam tudo cuidadosamente, disfarçados de turistas curiosos, foi
escandaloso, digno de um filme de cinema.
A sua mente parecia que registrava tudo em câmera lenta. Ele estava com os cabelos soltos e os óculos BL somente o deixava com um ar mais poderoso. Sua calça colada de couro e pesadas botas, com um casaco
de couro longo até os joelhos, lhe davam um ar predador como o inferno e sua altura, então?
Estava tendo uma boa temporada em Las Vegas e a cidade estava lotada de humanos, assim como o saguão do hotel de luxo.
— Tem certeza de que deveríamos nos expor assim? Olhe quantos seguranças! — Sami cochichou.
— Ostente dinheiro e posição e os seguranças jamais te abordarão, mesmo usando roupas como as nossas. Chamaríamos mais atenção se estivéssemos em um hotel ruim. Os donos destas espeluncas geralmente não
têm boa índole e entregam as pessoas facilmente para a polícia, na esperança de serem alguém procurado e conseguir algum dinheiro de recompensa, geralmente é necessário lhes dar um bolo de notas para ficar
de bico calado.
— Hotel como estes não fariam?
— Dê um bolo de notas para o recepcionista e diga que não quer ser incomodado. Outro bolo para os seguranças e peça para não ser incomodado. Eles pensarão que é alguém grande e importante e farão isso
na esperança de conseguir outro bolo.
Sami suspirou.
— Qual a diferença dos dois se tem que dar bolo de notas?
— A diferença é que aqui pensarão que é alguém importante e já te respeitam por isso e eles querem manter seus empregos. Afinal, não é qualquer um que consegue trabalhar aqui e nem alguém que paga dois
mil dólares na diária. Olhe a segurança, ninguém passaria por eles e invadiria nosso quarto para nos matar, bem diferente da espelunca que você estava que um tapa derrubaria a porta. Você pode estar caçando
um lobo, mas também pode ser caçado.
— Oh, não tinha pensado nisso.
— Mas mesmo estando em um ou em outro, você sempre deve estar em alerta e pronto para lutar e fugir e não mostrar sua forma de lobo para os humanos. São coisas que vamos aprendendo ao longo do caminho.
— Sim, longo caminho...
Sami e Petrus atravessaram o local que se abriu como um mar sob uma ordem de Moisés.
Todos pensavam que eram extraordinários e, Sami, mesmo não tendo quase dois metros de altura como Petrus, também não deixou por menos com sua roupa de couro colada, sua bota de salto alto e suas unhas
pintadas de vermelho, um cinto de tachas pontiagudas e muitos braceletes de correntes e couro.
Um batom vermelho realçado pela sua pele alva que fazia contraste de sua maquiagem preta dos olhos bem delineada que estava oculta pelos óculos escuros. Os cabelos longos até a cintura estavam presos num
rabo de cavalo, ostentando as diversas cores.
Eram um casal de modelos, de uma banda, celebridades, ou algo assim, porque suspiros e muitos ofegos foram ouvidos. Petrus podia jurar que uma moça até pensou em correr até eles e pedir um autógrafo. Ele
já tinha passado por isso e achou divertido.
Sami se agarrou na confiança de Petrus porque estar com ele estava lhe dando uma segurança nova.
Mas se isso a deixava boquiaberta, ficou ainda mais quando saíram no estacionamento e tinha uma Harley Davidson estacionada na porta que foi trazida pelo guardador de carros. Petrus girou a perna sobre
a moto e se acomodou nela.
Sami quase suspirou, porque vê-lo poderoso daquela maneira sobre aquela moto novinha em folha, foi quase um sonho lúdico.
— Uau, este é nosso transporte?
— Sim, minha dama, gosta de motos?
— Sim, eu gosto, mas nunca andei numa dessas.
— Gosto de saber que serei o único a proporcionar este presente a você.
— Mais uma coisa para enaltecer seu ego — disse zombeteira e ele riu.
Ela sorriu, pegou o capacete e quando montou na moto e abraçou a cintura de Petrus, ele somente parou e sentiu os movimentos.
Tê-la na garupa, abraçada a sua cintura e com seu corpo colado em suas costas foi mais que prazeroso. Ele sorriu, ligou a moto e saiu, deixando os dois guardadores de carros boquiabertos.
Eles seguiram pelas avenidas e Sami pôde desfrutar um pouco da cidade que ela não tinha visto ainda com outros olhos. Estava tão presa no seu mundo de ódio que não tinha sequer vislumbrado como Las Vegas
era magnífica. Era uma explosão de cores, mesmo durante o dia, e havia pessoas de todos os tipos circulando.
Podia-se ver carros populares a luxuosos, muitas limusines e, com certeza, a festa rolava dia e noite, sem parar.
Ela tinha sua própria história para ser vivida naquela cidade e estar com Petrus lhe dava outra perspectiva. Agora, com as mãos pousadas sobre suas coxas ela soltou um leve gemido, parecia que sua pele
estava formigando. Ele pareceu ouvi-la e agarrou sua mão.
— Tudo bem, Sami?
— Sim, estou bem.
Ela sentia que a cada hora que passava se afundava mais e percebeu isso quando ele não soltou de sua mão e ela não fez menção de tirá-la.
Quando saíram da cidade pegaram uma estrada que chegava perto do deserto, Petrus estacionou a moto na beira da estrada onde havia alguns arbustos altos e desceram observando o lugar de longe. Era uma fileira
de galpões de um depósito abandonado.
— Parece muito quieto.
— Deveria ser aqui, é o endereço que ele me enviou.
Petrus ligou seu intercomunicador no ouvido.
— Harley, está me ouvindo?
O aparelho fez um som de estática e um chiado que fez Petrus fazer uma careta, seu ouvido sensível doía com aquelas merdas.
— Oi, irmão, estou aqui.
— Vivo, pelo menos.
Petrus fez careta e esfregou o nariz.
— Deve ter algo aqui, sinto cheiro de lobo.
— Há algo mais.
— Cheiro sangue.
— Sabe, eu gostaria que descobríssemos uma pílula que camuflasse nosso cheiro, seria bem-vinda para nos aproximarmos sem alarde de outro lobo — Harley disse pelo intercomunicador.
Petrus riu.
— Você e suas ideias.
— O quê? Seria genial.
— Talvez a bruxinha de Erick possa fazer isso.
— Sério? Que ideia magnífica.
Petrus riu novamente.
— Bruxinha? — Sami perguntou.
— Sim, querida, ela é uma bruxa de verdade, e poderosa, nem acreditaria se a visse.
— Sério?
— Sim, igual nossa rainha, fascinante, mas Kira é tão pequena e meiga que você duvidaria de tal poder.
— Vocês tem uma rainha, de verdade? — Sami perguntou espantada.
— Sim, querida, uma rainha, um rei e tudo que tem direito e eles têm dois mil anos.
— Uau, isso é realmente estranho.
— Nem me diga...
Eles andaram lentamente redobrando a atenção, olhando ao redor. Petrus baixou o binóculo que havia preso na sua testa, como se fosse uns óculos. Era necessário para ver mais ao longe, se encontrassem lobos
teriam que atacar logo antes que eles sentissem o cheiro e para avaliar o local, precisava ver mais longe que seus olhos de lobo podiam.
Não via movimento algum, nenhum carro, pelo menos daquela distância.
— Pode vir, estou caçando um lobo, há um furgão aqui dentro.
— Só um?
— Pelo que senti, sim.
— Vamos — Petrus disse para Sami.
Os dois correram descendo o desfiladeiro e chegaram à frente dos galpões. Petrus tomou a frente e entraram e pararam observando o local.
Petrus cheirou o local e fez uma careta.
— O que esta gente fuma, pelo amor de Deus?
Sami sorriu.
Petrus captou o cheiro do lobo e um barulho vindo ao fundo e os dois correram em alerta. O lobo, escapando de Harley, cruzou sua frente a uns dois metros e se embrenhou em uns corredores com estantes velhas
carregadas de latões. Petrus o seguiu, enquanto Sami freou e observou, ao invés de segui-lo, desviou para o outro lado e correu. E logo Sami se chocou contra o lobo.
Ambos caíram e rolaram pelo chão. Atordoada, ela levantou e lançou um chute em seu estômago fazendo-o voar, seu voo foi interrompido no ar por Petrus que saltou, o agarrou e o jogou na outra direção, fazendo-o
voar pelo grande salão.
Ele bateu na parede arrebentando tábuas e canos de ferro e caiu no chão, muito machucado e atordoado. Gemendo, o lobo tentou se levantar e parou quando sentiu Sami imprensar uma barra de ferro em sua garganta.
Petrus se aproximou e suspirou.
— Lobo, lobo, dando trabalho para meu irmão, isso não é bom e apanhando de lobas, que feio.
— Não tenho o que querem — gemeu.
Harley chegou até eles ofegante e Petrus vislumbrou um fio de sangue que saiu de sua boca.
— Vejo que já estavam tendo uma conversa amigável.
— Ele não estava muito disposto a contar sobre as lutas.
— Eu já disse, se falar sou um lobo morto. O Lobo Negro não quer espiões.
— Mas nós somente queremos apreciar uma boa luta, afinal estamos em Las Vegas. O que há de errado nisso?
— Só ricos podem assistir as lutas, não podem entrar sem ter uma aposta alta.
— Oh, mas nós temos dinheiro.
— Sério? Então espere um convite.
— Como o Lobo Negro vai me dar um convite se ele não sabe que quero ver a luta? Eu só quero encontrá-lo.
O lobo riu cuspindo o sangue da boca.
— Logo se vê que são amadores.
— Estou cansado de seus jogos, fale ou arranco sua cabeça! — Harley rosnou.
— Devia colaborar, poderia viver — Petrus disse.
— Não sou dedo-duro.
— Oh, mas é um mercenário em busca de dinheiro, posso negociar isso.
— Ele me mataria.
— Bem, eu vou te matar se não me disser quem ele é e como chego até ele.
— Ninguém quer chegar perto do Lobo Negro.
— Qual o seu verdadeiro nome?
— Eu não sei, mas é poderoso.
— Sua alcateia vive aqui?
— Não, Las Vegas é somente um ponto para suas lutas.
— Onde ele vive?
— Eu não sei, me juntei a ele em Nevada, já estavam em movimento. Poucos sabem o verdadeiro lar do Lobo Negro.
— Onde será a próxima luta?
— Não posso dizer.
— Posso lhe dar uma quantia generosa de dinheiro, pode sair daqui sem que ele o pegue. Oito mil dólares.
O lobo titubeou.
— A oferta é generosa. Deveria aceitar.
— Hoje há uma luta em Garvely Hide, numa antiga fábrica.
— Hoje?
— Sim. Somente os mais próximos a ele sabem com antecedência onde será, pois arrumam os convites.
— Como consigo um convite?
— Não é você que os acha, são eles que o acham, caçam nos cassinos. Dinheiro, cara, ele cheira a grana.
Petrus deus alguns passos pensando nas informações.
— Bem, há muitos lobos?
— Muitos.
— Humanos?
— Oh, sim, há humanos, tanto para apostar e assistir como para lutar.
Harley rosnou quanto à informação.
— Isso fica um pouco complicado, mas quem sabe possamos contar com a sorte.
— Com a sorte que você anda ultimamente? — Harley perguntou zombeteiro e Petrus olhou atravessado para ele.
— Então, quanto pode negociar? Posso conseguir mais informações, dez mil dólares? — o lobo perguntou.
— Dez mil dólares. O que acham? — Petrus perguntou.
— Ele vai nos dedurar — Harley disse e o olhou calmamente.
— Não, não vou, me dê o dinheiro que fico calado, sairei da cidade. O Lobo Negro me mataria se soubesse que contei sobre o local da luta.
— O problema, lobo, é que me disse que a luta seria hoje, mas ela já aconteceu não?
— Não, é agora à noite, podem correr, pegará ele lá, se conseguirem um convite, mas acho difícil.
— E a próxima onde será?
— OIha, eu não sei.
— Ok, eu vou te dar a recompensa, pela sua ajuda.
Harley segurou sua cabeça e com uma torção forte quebrou seu pescoço e o lobo caiu morto.
— Oh, por que o matou? — Sami perguntou assustada.
— Porque ele estava mentindo, em partes.
— Mas ele disse que a luta seria hoje à noite!
— Sami, mais tarde perceberá que não se pode confiar na palavra de um lobo mercenário. Ele pode ter dado a informação de como conseguir convites, mas nos entregaria com certeza para o Lobo Negro e estaríamos
numa emboscada.
— Oh, claro, somente devo confiar nos bonzinhos — disse ironicamente.
— Sim, por isso chama-se lobo bom e lobo mau.
— Oh e você seria o lobo bonzinho?
— Sim, mas eu garanto que posso te devorar — disse com um sorriso safado.
Ela bufou incrédula, mas não conseguiu evitar uma risada.
— Você não toma jeito.
— A vida é feita de tentativas.
Ela riu mais.
Harley arrastou o corpo e jogou dentro de um tonel com piche.
— Acha que é seguro deixá-lo aí?
— Quem procurará algo dentro de um tonel velho de piche?
— O que faremos agora? — Sami perguntou.
— Iremos a Garvely Hide, não é longe daqui. Não achou nada no furgão?
— Não. Sem pistas, sem identificação, placa roubada.
— Ok, vamos.
Eles seguiram pela estrada, rumo à antiga fábrica abandonada. Petrus e Sami foram com a moto e Harley os seguiu com o seu furgão.
Como sempre, pararam um pouco distante para poder observar. Se houvesse lobos ali, farejariam sua presença. O que era ruim.
— Não há nada aqui! — Petrus disse zangado.
— Acha que ele mentiu?
— Talvez seja bem mais tarde e chegamos adiantados.
Petrus esfregou o nariz sentindo uma irritação.
— Senti cheiro de lobos e... sangue.
Harley suspirou.
— Acho que devemos arriscar e entrar, o máximo que vai acontecer é termos que lutar.
— Bem, vamos arriscar e ver o que encontramos. Sami, atrás de mim.
Ela revirou os olhos, como se fosse aceitar suas ordens.
Se esgueirando e olhando atentamente ao redor, procurando fazer o mínimo de barulho e cuidando de qualquer ruído, chegaram até uma porta enorme de metal e Petrus empurrou para abrir.
Entraram pela fresta e o cheiro de sangue ficou mais forte.
— A luta já aconteceu, o pátio está cheio de marcas de pneus e há cheiros de vários lobos, suor e sangue.
— Nada agradável — Sami resmungou com uma careta e esfregando o nariz.
Eles foram até o fim do pavilhão, desviando de antigas máquinas que pareciam de uma metalúrgica. Espreitaram pela lateral do galpão, esperando Harley dar sua visão do outro lado e ir para o andar de cima.
Sami estava atenta, olhando ao redor, e ele a admirou por um minuto. Ele sabia que ela estava maquinando algo, porque estava calada e pensativa e de vez em quando olhava para ele.
— O que pensa, Sami? Pode falar comigo, não vai cair um pedaço.
— Sabe, tenho uma curiosidade.
— Pergunte.
— Como me encontrou?
Petrus piscou calmamente e virou um pouco a cabeça para o lado e um pequeno sorriso apareceu no canto de sua boca, o que fez Sami querer esbofeteá-lo.
— Quer mesmo saber?
— Por favor, faça esta gentileza para mim.
— Rastreador.
Ela arregalou os olhos.
— Vocês tiraram isso de mim.
— O que Galen colocou, sim, mas colocamos um meu no lugar.
Ela arfou, colocou automaticamente a mão na nuca que era onde ele deveria estar, o mesmo lugar que haviam dito que estava o de Galen. Imperceptível, pois era minúsculo e ficava sob a pele.
— Colocou um rastreador em mim? — perguntou entredentes.
— Sim.
— E me diz isso com esta cara descarada?
— Só tenho esta... E a de lobo.
Ela suspirou, fechou os olhos e ficou calada. Ele esperou ela dizer algo mais, mas não disse.
— Sami, o que está fazendo?
— Contando.
— Por quê?
— Para me acalmar e não quebrar sua cara.
Ele sorriu, se divertindo e esperou ela se acalmar. Estava tão linda ali daquele jeito.
Ele suspirou e cruzou os braços, escorando na parede.
— Por que colocou um rastreador em mim? É coisa de lobo, todos vocês fazem isso?
— Porque queríamos saber onde andava e não era algo comum entre os lobos, mas foi um assunto repensado depois dos laboratórios.
— Você queria me controlar.
— Sami, Sami, acha mesmo que Noah teria deixado você ir, assim, fácil? Apesar de ele querer agradar sua doce companheira, que intercedeu por você, ele é um alfa e estava querendo proteger sua alcateia.
— Sei.
— Harley esteve te monitorando por um tempo, depois por não encontrar nada te deixou em paz, mas eu sempre soube por onde andava, mas não me aprofundei para saber o que realmente fazia. Soube que ficou
um bom tempo reclusa em um pequeno apartamento, então depois estava trabalhando em um pequeno laboratório em Berlim. Soube que não teve contato com ninguém mais dos laboratórios. Por que não falou mais
com eles?
— Queria que pensassem que estava morta. Eu seria a cobaia agora, não acha?
Ele assentiu.
— Bom, deduzi isso. Mas ficou em Berlim usando sua identidade falsa, mas quando veio para os Estados Unidos usou seu nome verdadeiro.
— Eu fui dada como morta, como Sami nos laboratórios, usei ainda meu nome falso por um tempo, mas depois voltei a usar o meu. Estava providenciando um novo nome falso, documentos, porque achei mais seguro
me desvincular de minha família. Alguém poderia me achar se continuasse usando meu nome.
Ele assentiu.
— Suas viagens começaram a ganhar território e isso despertou minha curiosidade.
— Então veio até aqui saber se estava caçando seus lobos para espetá-los.
— Em parte. Harley descobriu o furo de sua história e quem realmente era e eu tinha que vir para saber.
— Saber se devia me matar ou não.
Petrus a olhou seriamente, ela não estava gritando, esperneando, xingando ou tentando bater nele como sempre fazia por saber de algo tão grave, devia estar furiosa. Ele estranhou seu comportamento, mas
não disse nada.
— Bem, lobinha, na verdade eu queria saber que cor é a sua calcinha, mas penso que me bateria com esta barra de ferro que está espremendo entre as mãos ou me daria daquelas voadoras surpreendentes que
me deu no beco.
Bem, agora ela deveria bater nele...
Ela o olhou por um minuto e andou lentamente até sua frente e colou seus peitos empinados em seu peito, quase o fazendo babar, olhando-a vir como uma felina deslizando para sua presa, ela chegou mais perto
e sussurrou em seu ouvido:
— Somente diria que não estou usando nenhuma calcinha.
Ela se afastou e saiu rebolando pelo pavilhão girando a barra de ferro na mão, com uma destreza que o impressionou.
Ele se moveu porque estava tão excitado que sua mente estava turva e estava dolorido dentro de suas calças que pareciam estar muito apertada, de repente. Ele sorriu pela malícia dela. Amava-a assim provocante
e deliciosa.
Ele a seguiu mirando com uma arma automática e deixou sua luxúria de lado para prestar atenção no local. Harley derrubou uma porta de aço e soltou um rosnado furioso, em sua forma intermediária.
Petrus correu até ele, assim como Sami, e eles cruzaram a porta e vislumbraram o salão com arquibancadas e no centro cercado com cordas, um ringue improvisado. Havia cheiro de lobos e sangue. Petrus olhou
aturdido para manchas e respingos de sangue para todo lado.
— Parece que tivemos uma pequena briga por aqui.
— Essas lutas parecem bem violentas — Sami disse.
— Lutas entre lobos podem ser bem feias, principalmente aos olhos dos humanos.
— O que me enfurece é que há humanos metidos nisso. O que quebra as nossas leis. Quem seria o imbecil fazendo tal insanidade?
— Não sei, mas quando encontrá-lo vou adorar quebrar seu pescoço.
Petrus se virou rosnando, pois captou o cheiro e também um barulho ao longe.
— Sei que está aí espionando, saia, antes que me irrite — Petrus disse.
Logo um homem surgiu na porta que estava a uns seis metros longe deles.
— Posso oferecer uma ajudinha, amigo?
Sami, que estava numa posição de luta, assim como Harley e Petrus, um de cada lado, olharam para o intruso.
Sami piscou aturdida olhando para um homem grande parado na porta, vestido todo de negro, usando um colete Kevlar à prova de balas, pesadas botas e ostentando muitas tatuagens pelos braços que sumiam debaixo
de uma camiseta preta justa. Ele estava mirando um rifle automático para eles.
Petrus rosnou e depois riu, baixou a arma e retraiu seus dentes.
— Para me emprestar as armas não precisa testá-las em mim.
O homem bonito riu e abaixou a arma.
— Sempre penso na oportunidade que tenho para usá-las.
— Chegou rápido, veio como, voando?
— Eu estava nas redondezas quando Sasha me ligou.
Petrus e o homem se encontraram, trocando um rápido abraço e apertaram as mãos enluvadas de couro.
— Como está, amigo?
— Bem, estava curtindo um período de tédio. Precisam de uma ajudinha de um ou precisam da cavalaria?
— Ainda não sabemos exatamente, mas podemos cuidar disso.
— Trouxe alguns brinquedos, estão no porta-malas.
Harley se aproximou e o cumprimentou da mesma maneira, um aperto de mãos e um abraço.
— Sami, este é Nathan, um mercenário amigo. Ele é irmão de Sasha e é da sua equipe. Sasha agora é um lobo também, acasalado com Jessy, a irmã de Noah. Você a conheceu na mansão na Alemanha.
— Oh, sim eu me lembro deles. Como vai?
Ele sorriu lindamente e fez uma reverência com a mão no coração.
— Melhor agora tendo uma visão tão bela.
Sami riu e bufou.
— Isso deve ser contagioso.
— Ela não aprecia cantadas, Nathan.
O homem riu deliciosamente.
— Ainda espero o dia que serão bonzinhos e agradecidos e me apresentarão uma loba que não quebre minha cara, mas posso gostar de uns arranhões.
— Talvez um dia alguém consiga te fazer um patinho feliz, mas não essa fêmea.
— Ui! Entendi a mensagem, código vermelho.
Sami girou os olhos entendendo a mensagem que Petrus estava dando. Ela tinha dono, e isso a fez rir e se sentir indignada, não sabia exatamente o sentimento que isso causava.
Mas gostou da ponta de ciúmes que Petrus demonstrou por ela. O homem a tinha olhado com admiração e cobiça e claramente Petrus percebeu e teve ciúmes.
Se bem que o rapaz, apesar de não despertar interesse nenhum nela, deixaria qualquer moça de quatro, pois era alto, musculoso, e tinha os cabelos castanhos curtos e os olhos verdes. Era realmente muito
bonito.
— Querem ajuda com a área?
— Nesta aqui não, infelizmente não encontramos nenhuma pista, o negócio já aconteceu e não parece ter mais nada além de sangue e o ringue, mas nos outros eles retiraram tudo, aqui deixaram esta enorme
armação. Estamos atrasados, mas foram desleixados.
— Talvez retirem as coisas daqui em outro momento.
— Ou talvez tenham a intenção de usá-lo novamente. Temos que nos movimentar até encontrarmos o timing certo, então pegaremos os bastardos — Harley disse.
— Vamos, Nathan, quero ver as armas que trouxe — Petrus disse saindo do pavilhão.
Harley sentou na poltrona e colocou o notebook sobre as coxas e suspirou. Sua mente estava turva e queria quebrar a cara de alguém. A de Petrus seria muito bom no momento.
Ele rosnou e bebeu um gole da cerveja gelada e tomou coragem outra vez. Ligou o computador e fez a chamada de vídeo e esperou que ela atendesse.
Pietra atendeu e olhou espantada para a visão de Harley.
— Olá, Pietra.
— Oh, oi Harley. Hum... Tudo bem?
— Tudo bem.
— Petrus está bem?
— Sim, ele está bem, e me pediu que ligasse para te dizer que, bem, ele já te disse isso, que não queria convidados para a cerimônia.
Seu sorriso desapareceu e Harley se sentiu um imbecil.
— Sim, ele disse.
— Desculpe, sabe que Petrus ainda está muito zangado sobre esta situação.
— Ele disse que estaria bem.
— Estará, ele fará a coisa certa. Petrus é um bom homem e quer ser um bom alfa, ele cuidará bem de você. Só precisa de tempo.
— Eu sei, acredito que ele esteja se esforçando. Eu lamento esta coisa toda. Apenas pensei que gostaria de ter alguns amigos por perto, mas está tudo bem, eu...
— Olhe, mesmo que ele não tenha passado a lista, ele me mandou resolver isso e eu estou resolvendo. Eu passei uma lista para você pelo e-mail.
— Passou?
— São nossos amigos e ficarão felizes de estar ao lado dele na festa.
— Petrus sabe disso?
— Não, mas confie em mim, eu estou mandando a lista e quando chegar na hora, ele nem vai reclamar porque vai estar contente de ver todos, acredite.
— Tem certeza?
— Sim. Conheço meu irmão.
— Ok. Obrigada. Meu pai não ficou nada feliz em adiar isso, novamente. Gritou tanto que fiquei prejudicada dos meus ouvidos.
Harley riu.
— Eu imagino, ele deve ter rosnado e chutado bastante, mas estamos no meio de algo grande aqui e não dá para ir, Pietra. Seu pai vai ter que engolir seus rosnados e esperar. Petrus irá, somente temos assuntos
importantes a resolver aqui e está demorando mais do que pensamos.
— Deve ser importante para ele evitar falar comigo.
Harley suspirou e bebeu um gole de sua cerveja.
— Ele voltará, eu me encarregarei disso, prometo.
Ela ficou olhando para a imagem dele e não sabia mais o que dizer.
— Está no seu quarto? — Harley perguntou antes de segurar as palavras.
Ela estava com o cabelo molhado e de robe de seda branca, pelo amor de Deus. Alguém poderia deixar de ser cruel com ele?
Só então ela olhou para si e tentou fechar mais o robe, envergonhada.
— Desculpe, eu... Eu estava no banho.
— Percebi. Este não parece seu quarto que vi da outra vez que falamos.
— É o meu de Milão.
— Oh, o que faz em Milão?
— Vim buscar minhas coisas. Fechar o apartamento. Eu... acredito que não voltarei mais aqui.
— Está triste.
— Eu gostava de morar aqui. Sabe, eu tinha alguns amigos bons aqui. Humanos.
— Seu pai permitia isso?
— Não, mas às vezes temos que fazer algumas coisas escondidas de nossos pais.
Harley sorriu.
— Ei, então era aí que fazia suas joias?
Espantada, ela sorriu. Como ele se lembrava disso?
— Sim.
— Pode me mostrar?
Isso tocou seu coração, pois ninguém ligava.
— Não precisa se esforçar para me agradar, Harley, já me deu a lista e já se desculpou pelo seu irmão. Está tudo bem.
Harley rosnou e veio para frente.
— Pietra. Estou falando com você porque quero, somos amigos, ok? Mostre suas joias para mim.
— Por quê?
— Porque me importo.
Bang! Foi como levar um tiro bem no coração. Ela ficou olhando para ele, paralisada por um minuto.
— Um momento — sussurrou.
Ela levantou e saiu do quarto e ele a seguiu com o olhar. Como estava linda naquele robe, se só pudesse vê-la sem ele...
Ele rosnou com seus pensamentos pecaminosos e pelo Santíssimo, estava perdendo a coerência de seus pensamentos de novo, não sabia o que estava errado com ele.
Ela voltou segurando uma caixa de madeira envernizada, sentou e a abriu, então ele viu um lindo e genuíno sorriso iluminar seu rosto, o que o fez sorrir também. Ela era linda sorrindo.
— Este é um colar inspirado nas fadas.
Harley se aproximou para ver o colar que ela mostrava. Era de ouro com uma corrente de desenhos finos e delicados, e o pingente era uma fada pequena e cravejada de brilhantes.
— Lindo.
— Este é um anel de um Fae.
Harley sorriu, era muito bonito com delicados desenhos de folhas, com uma safira no centro e diamantes nas laterais.
— Você gosta muito do diamante.
— Sim, gosto como brilham, são como pequenas estrelas. Gosto muito das estrelas. Sempre achei que eram tão mágicas. Quando era pequena pensava que nós tínhamos vindo dali e pensava que quando crescesse
pudesse alcançá-las. Que seria um mundo encantado. Hã... Tolices de criança. Queremos tanto crescer, então... Quando crescemos gostaríamos de voltar a ser crianças, porque... a magia se vai — disse nostálgica.
— Desculpe, eu estou falando tolices.
— Não são tolices.
Eles ficaram mudos por um minuto, então ela pegou outro anel.
— Este é um anel de lobo.
— De lobo?
— Sim, não um de alfa, mas ele tem um lobo aqui, consegue ver?
Harley olhou com atenção e sorriu.
— É muito bonito.
— Você é muito gentil em perder seu tempo comigo, Harley.
— Quem disse que estou perdendo tempo? Se estivesse aqui a convidaria para uma cerveja comigo e conversaríamos mais.
Ela sorriu.
— Ficaria feliz. Vou parar de importuná-lo. Por favor, diga a Petrus que o verei em breve.
— Ok — disse desanimado.
— Adeus, Harley.
— Adeus, Pietra.
Ela foi desligar e isso causou pânico em Harley.
— Pietra?
— Sim?
— Você está muito ocupada agora?
— Não, ia somente encaixotar mais algumas coisas.
— Tem cerveja na geladeira?
Ela ficou aturdida.
— Tem, por quê?
— Pegue a cerveja, e vamos continuar o bate–papo. Quer dizer... Se você quiser. Veja, também tenho a minha — disse mostrando sua Long Neck.
Ela piscou aturdida por um minuto e sorriu.
— Seria legal.
— Ok.
— Ok.
Ela levantou e saiu e ele, batendo os dedos na beirada da poltrona, esperou impaciente que voltasse.
Ela voltou, abriu a garrafa e sorriu.
— Um brinde.
Os dois pegaram suas garrafas e tocaram na tela do notebook e beberam e sorriram sem jeito, olhando-se.
— Bem, do que quer falar? — perguntou animada.
Harley sorriu, e assim eles continuaram a conversa falando de vários assuntos e ele se perdeu na hora e esqueceu-se de seus problemas e da vida ao redor.
Inclusive de um bem grande que Harley ainda não havia se dado conta.
Sami acordou e era tarde da noite, mas a cama estava vazia e o quarto silencioso. Ela levantou, andou e olhou ao redor.
— Petrus? Harley?
Ninguém estava ali, pelo visto tinham saído e a deixado. Com uma ponta de indignação, ela se vestiu e saiu do hotel e quando parou na calçada pensou em seguir suas pistas como sempre, entrar nas vielas,
clubes e fazer as perguntas certas para os caras certos. Procuraria seus lobos.
Isso era estranho, eles saíram a deixando sozinha, sem prendê-la com as correntes, sem lhe dar sonífero. Por que teriam feito algo assim e onde teriam ido?
Não importava, ia fazer o que estava ali para fazer, mesmo que os planos tivessem mudado, ia caçar lobos.
Quando passou pela porta de um clube próximo ao seu hotel sentiu seu corpo formigar, uma sensação estranha tomou conta de seus sentidos e podia sentir sua loba saltar como louca dentro dela.
Ela olhou ao redor e não sabia o que estava havendo. Podia jurar que sentia o cheiro dele: Petrus.
Sem pensar duas vezes, entrou no clube Midnight, que parecia mais um inferninho, mas os frequentadores eram ricos e mimados. Um lugar onde a conquista era fácil, as jogadas eram certas e rolava bebida
e drogas à vontade.
Quando a porta abriu ela recebeu uma enxurrada de sons fortes e cheiros que a fez gemer e sua vontade foi de voltar. Ela se recompôs e se concentrou para controlar a sensibilidade de seus sentidos aguçados
e ficou atenta, observando tudo.
Mais uma vez, o corpo lembrou-a da urgência do desejo. Não era possível agir de outra forma. A necessidade estava no controle. Sami sabia que estava agindo como uma fêmea no cio, e ela não se importava.
O cheiro dele parecia puxá-la e não conseguia entender como no meio de todos aqueles cheiros sentiu o dele. Mas estava certa. Era Petrus.
Ele estava em umas das pistas com Harley e havia uma loira muito bela e esguia entre eles, usando um vestido tubinho vermelho que somente cobria sua bunda e saltos negros altíssimos que pareciam muito
caros, seus brincos de diamantes faziam par com uma pulseira e um Rolex. Ela parecia cara, mas vulgar.
Eles estavam em uma espécie de sanduíche, se embalando ao som da música e movimentos eróticos.
A loira estava entre eles, sendo deliciosamente esmagada por aqueles dois deuses gregos de dois metros de altura e musculosos. A moça era alta, mas não era páreo para eles, pois não chegava aos 1,80m com
o salto.
Estavam alheios a olhares, julgamentos, estavam se divertindo e iniciando uma dança de sexo. Ali naquele clube, na frente de todos. Na frente dela.
Seu sistema todo levou um choque com a visão deles e seus ouvidos zumbiram, seu coração acelerou e Sami conheceu novamente o sentimento assassino que tomou conta dela. Ela não soube dizer quanto tempo
ficou ali no bar, parada como uma estátua, observando o trio dançar e se excitar.
Petrus ouvia a conversa, os burburinhos e as risadas, conversas resmungadas, ofuscadas pela música alta e tecno que parecia somente um grande ruído e as batidas aceleravam seu coração. Os gemidos da mulher
na sua frente eram lânguidos e eróticos, mas tudo girava em torno dele sem registrar nada exatamente.
Mas seu lobo captou sua loba: Sami.
Ah a ratinha tinha vindo direto para a ratoeira com o pedaço de queijo.
Petrus não parou o que estava fazendo, pelo contrário, se esmerou mais na sua pequena loira entre suas pernas e então ele a viu parada no bar, olhando para eles e seus olhares se prenderam.
Tudo parecia um grande filme em câmera lenta, porque seus olhos estavam presos nos dela, como se uma força maior no universo os comandasse. O som pareceu distorcer, as conversas desapareceram e somente
conseguia ouvir a batida descompassada do coração e a respiração ofegante.
Onde estava com a cabeça ao aceitar o convite de Harley para sair? Como o clube estava perto do hotel não haveria problema, supôs que devia evocar Sami para ele. Ele sabia que ela o seguiria e estava
fazendo de propósito, estava atiçando uma loba.
E estava funcionando.
O olhar de Sami era assassino. Queria matá-lo, esbofeteá-lo e ao mesmo tempo estava carregado de desejo, de luxúria, porque sua mente estava confusa também com aquela explosão de sons e imagens, a luz
que piscava e atordoava a mente, a bebida que amortecia o sistema. O prazer, o sexo, a devassidão. O desejo reprimido.
Ela o queria, mas não aceitava isso.
A loira puxou o rosto dele para tomar um beijo, mas ele não permitiu, virou seu rosto e lambeu seu pescoço e então Sami se moveu e sentou na banqueta e o movimento trouxe a atenção dele de volta para ela.
As bochechas dela haviam assumido um tom ainda mais brilhante de rosa. Ela demonstrou nada além de uma hesitação em levantar e ir embora, mas não conseguiu sair e deixar Petrus ali, não conseguiu largar
a cena.
E Petrus se excitou até o infinito com isso. Ela tinha aquele efeito sobre ele, fazendo seu corpo ficar em alerta pelo simples fato de entrar no ambiente.
Petrus soltou o ar, frustrado, porque não queria tocar aquela loira desconhecida que parecia ter um nome Sharon, Shanonn ou algo do tipo. Queria tocar Sami, mas era óbvio que ela não estava lá para se
juntar à festa. Na certa, todas aquelas memórias haviam sido desenterradas por ver a cena erótica. Memórias de seus próprios momentos.
Petrus murmurou seu próprio elogio a ela, embora não soubesse o que dizia. Ele estava arriscando empurrá-la para longe dele, e até arrependeu-se por um segundo por ter aceitado o convite para sair e iniciar
aquele jogo perigoso.
Mas ele adorava desafios, provocá-la e a excitação que este tipo de situação causava. E ele queria derrubá-la de uma maneira ou outra. Era como um grande jogo e ele queria saber até onde daria.
Seus olhos foram atraídos para os dela como se fossem ímãs. Ela estava deliciosa, com os lábios úmidos, a posição da cabeça, ligeiramente inclinada para trás, expunha o pescoço longo e elegante.
Ele percorreu com o olhar a farta cabeleira ondulada que caía sobre os ombros até a cintura como uma cascata de fios escuros, e suas mechas claras, seguiu pelo queixo delicadamente proeminente até os lábios
cheios que estavam entreabertos.
Os olhos semicerrados e os lábios entreabertos sugeriam que ela estava quase em êxtase, o desejo e a raiva misturados.
A ereção dolorosa pressionou o brim áspero da sua calça jeans. Não havia como negar sua química com Sami, seu lobo sabia, ele sabia. E a maneira que a olhava quase a fazia derreter e a maneira que se esfregava
na garota somente fazia a luxúria aumentar.
As íris verdes pálidas, quase brancas, estavam quase cintilando de maneira a denunciá-la, o que era perigoso, e continuavam o fixando diretamente, sem piscar. O encarava como se quisesse devorá-lo. Sami
estava paralisada. Ela se mantinha imóvel, com a atenção concentrada nele. Parecia não registrar mais nada ao redor.
A loira tocou-o no braço enquanto falava com ele, algo vulgar e sensual, aos gemidos e sussurros e esfregava os peitos falsos em sua barriga e então aquelas mãos imundas percorreram seu peito e seu pescoço,
enquanto Harley a excitava por trás, esfregando sua ereção em seu traseiro no embalo da música.
Uma onda de sentimento de posse percorreu o corpo de Sami. Aquele homem era dela, não permitiria que aquela mulher estivesse em seu lugar.
Eles pareciam muito à vontade, pareciam saber muito bem o que estavam fazendo, eles deviam fazer isso muito em público e ninguém parecia dar bola, todo mundo estava interessado no seu próprio prazer. Se
eram descarados assim em público, o que não faziam em um quarto? Todos juntos?
Lobos descarados.
Mas eles eram livres, podiam fazer o que queriam, com quem queriam...
Então, por que aquela sensação de que havia algo errado persistia? Por mais que tentasse relaxar, Sami não conseguia se livrar de uma espécie de presságio, como se algo estivesse para acontecer. Algo que
ela queria fazer.
O medo infundado a fazia paralisar a cada ruído que ouvia, o medo que Petrus não a olhasse mais, não a desejasse mais. O medo de perdê-lo para outra qualquer. Os sentidos estavam em alerta, conflitantes,
como os de um animal enjaulado. Tinha medo de parar de olhar e ele deixá-la pela loira.
A dança deles estava mais erótica e a moça conseguiu cortar o olhar deles quando abriu a camisa de Petrus e deslizou suas mãos pelo seu peito.
Sami rosnou, pegou uma dose dupla de uísque que o garçom serviu para o cara ao seu lado e bebeu e teve que piscar porque a fumaça do lugar, gelo seco e cigarro irritou seus olhos, quase às lágrimas.
— Ei, gata, o que há com seus olhos? — o cara do lado perguntou.
Então ela se lembrou de que não estava usando as lentes, mas não se deu o trabalho de responder. Ela olhou ao redor e alguns homens a notavam e a olhavam com cobiça. Mas isso não a excitou ou alegrou,
somente a deixou ainda mais irritada.
Mais um gole da bebida desceu queimando sua garganta e ao ver Petrus deslizar as mãos pelo traseiro daquela garota, encaixar sua ereção entre suas pernas, fez sua mente quase queimar.
Os três estavam empenhados na sua dança erótica e ritmada, os dois espremiam a garota entre eles e as mãos deslizavam por toda parte.
Era a visão mais erótica que ela já tinha visto na vida. Os três juntos daquela maneira eram quentes como o inferno, e sua boca salivou e ela desejou estar ali, no lugar dela.
Era demais para olhar, porque ela queria arrancar a cabeça daquela mulher que tocava seu homem.
Petrus a estava provocando, excitava a mulher e olhava para ela.
“Me quer, Sami? Venha me tomar!”, veio a voz dele dentro de sua cabeça.
Ela tomou outra dose da bebida e sua raiva estava por um fio, queria bater nele. Mas ela o queria? Então o tirasse dali, pois ele deveria tocar a ela, somente ela. Ele era dela.
Estas frases circulavam na sua mente e, de repente, tudo começou a rodar. Olhou para eles e Harley a beijava de forma tão quente, depravada.
Ela piscou rapidamente e queria matar alguém. A ela mesma por ser tão estúpida, então deu um passo à frente.
“Vem para mim, Sami, venha que eu te darei o que precisa. Tome seu lobo.”
Mais um passo.
Então tudo parecia rodar e ela parou e deu meia volta e andou apressada entre as pessoas e saiu do bar.
Quando chegou à calçada, puxou o ar com tanta força que seus pulmões pareciam estar queimando, uma e outra vez.
Estava sufocando.
Sami não entendia o que estava acontecendo. Sua cabeça girava tão rápido, sua pele toda formigava e a sensação era aterradora.
Ela gemeu, mas ao invés disso, um rosnado saiu e assustou um casal que estava passando na calçada.
Opa, momento perigoso.
Sami ficou atordoada e confusa, então correu para o quarto do hotel. Não podia entrar pelo saguão porque estava transtornada demais e a notariam, então foi para o beco e saltou pelas escadas de incêndio
até o último andar e saltou pela sacada.
Quando entrou, fechou a porta com uma batida, se escorou na porta e respirava descontroladamente, olhou para suas mãos e seus dedos estavam alongados e as garras à mostra. Olhou para a imagem refletida
na janela da varanda e estava com os olhos cintilando e as presas crescidas.
Ela gemeu novamente, dolorida desta vez. Seu corpo todo pulsava como se ela fosse explodir.
— O que há comigo?
Ela abriu novamente a porta da varanda e tomou uma lufada de ar e o desespero abateu sobre ela.
Ela queria Petrus e vê-lo com aquela garota fez isso a ela. Ciúmes.
Simples e claro. Estava com ciúmes e se não tivesse saído e ido embora tinha ido lá e matado a garota. Reivindicado Petrus como seu.
— Merda, merda... Controle-se.
Então ela começou uma contagem mental, intercalada com respirações profundas, acalmando sua loba e seus nervos até que voltou a sua forma humana.
Ela petrificou na varanda quando sentiu o cheiro dele ficar forte no quarto e antes mesmo que tivesse tempo de fazer algo, ele a agarrou por trás, colando seu corpo no seu.
Ela foi se afastar, mas ele a prendeu fortemente com um braço enlaçado em sua barriga e a outra mão deslizou pelo pescoço. Ela fechou os olhos e pensou em se livrar de seu agarre, mas foi como se ele lesse
seu pensamento e a puxou mais contra ele.
— Está uma linda noite, não está, agápi mou? Uma boa noite para amantes sentirem o prazer — sussurrou sedutoramente em seu ouvido.
Por que ele sempre fazia isso? Sabia exatamente onde pisar para desestabilizá-la. Ela respirou fundo o ar da noite e se acalmou.
Não mostraria o quanto estava descompassada.
— Sim, deve ter muitos amantes nesta cidade, aproveitando suas vidas.
— Como nós deveríamos estar fazendo.
— Pensei que estaria ocupado com sua loira no clube.
— Oh eu estava e você estava gostando de admirar, talvez se juntar a nós.
— Ah, acha que seria tão pervertida para participar de uma orgia? Não sou desse tipo que gosta.
— Você sabe o tipo que gosto, o seu — ele sussurrou sedutoramente em seu ouvido novamente, soltando o ar quente, que a atingiu como um raio, e lambeu sua orelha a fazendo gemer e seu corpo arrepiar. —
Pode dançar comigo, te darei o prazer que quiser, darei somente a ti.
Oh tentador.
— Devia voltar para ela, não gosto de restos.
— E deixar você aqui? Assim? Tão cheia de ciúmes, tão cheia de tesão? Sua excitação está tão forte que poderia sentir de longe. Garanto-te que guardei o especial para você.
Havia uma música que vinha da rua, ou de um carro, talvez. Ele a puxou mais fortemente contra seu corpo, esfregando sua ereção em seu traseiro, uma que já tinha virado permanente e quase o deixava fora
de si. Ele beijou seu pescoço, com beijos molhados e lentos, lambidas e deslizou uma mão pela sua pélvis.
— Vocês costumam compartilhar mulheres?
— O sexo é um jogo, agápi mou, pode ser apreciado de muitas maneiras. Aprecio o prazer.
— Já fez isso? Com seu irmão?
— Já estivemos com uma mesma mulher, sim.
— Faria isso comigo?
— É um convite?
— Não, somente curiosidade.
— Não, você é só minha. Mas se algum dia quiser satisfazer alguma fantasia sexual, estarei ao seu dispor.
Ele arrastou os dentes pela sua pele e excitava-a com a mão sobre a calça de couro, arrancando um ofego e um gemido sufocado.
Ele beijava seu pescoço de forma tão intensa, que lhe arrancava suspiros.
— Se me tomar como seu, não tocarei a ninguém mais nesta vida.
— Mentiroso.
— Não, tem minha palavra.
— Você teria transado com aquela garota. Só parou porque eu cheguei.
— Sim, teria, se naquele momento estivesse mais interessado no sexo que outra coisa.
— Diz isso na minha cara quando quer me conquistar?
— Sami, eu não tenho razão para mentir. Eu podia estar lá embaixo tendo sexo com aquela garota, com duas ou até três de uma vez. Acredite, eu poderia ter isso se eu quisesse, mas estou aqui querendo fazer
com que seja minha garota, mesmo que não me dê sexo. Mas se me der, eu te darei de volta, mas te garanto que não será somente sexo, porque o que nós temos é algo que nenhuma daquelas garotas teria e nunca
terá.
— Mais que sexo?
— Mais que sexo. Ter prazer e sexo é fácil de conseguir, mas isso que há entre nós é raro.
— Coisa de lobos?
— Coisa de lobos.
— Você é sempre tão mau comigo.
Ele riu, fazendo com que aquele som sexy vibrasse e sua pele eriçasse.
— Não sou mau com você, acredito que esta sua constatação está um pouco desfocada. Você nunca me viu sendo mau. Eu nem açoitei seu traseiro, isso me faz ser um lobo bonzinho.
Ela riu.
— Oh, eu deveria chorar de agradecimento agora?
— Sabe, Sami, estou me roendo de vontade de descobrir o que mais evoluiu em você, sua língua está mais afiada, lutando desta maneira, se metendo com lobos...
— Oh, querido, eu nem posso enumerar minhas qualidades.
— Uau, isso me deixa excitado.
Ela girou os olhos e riu novamente, então soltou um longo suspiro, pela maneira que ele a movimentou com seu corpo, envolvendo-a, embalando-a sensualmente, forçando o seu corpo a se mover no seu ritmo.
Uma dança lenta que fazia seus corpos se acariciarem, se excitarem e acender todas as terminações nervosas.
Ele estava extremamente excitado e a deixava saber, esfregando-se em suas costas, soltando seus ofegos de prazer em seu ouvido, deslizando suas mãos pelo seu corpo.
Todo seu tamanho, seu corpo musculoso, forte, a dominando daquela maneira, naquela dança sensual, como fazia no clube, estava a deixando tonta.
Ele se movia de uma maneira que todo seu corpo roçava no dela, seus braços a envolviam, suas mãos eram fortes e a tocavam de uma maneira surpreendente.
Pela misericórdia, como alguém conseguiria se livrar daquele pecado?
Ela devia se irritar por ele ter estado com aquela garota e estar fazendo o mesmo com ela, mas necessitava de seu toque e estava feliz que tinha abandonado a garota para estar com ela.
Quem tinha vencido, afinal?
Mas aquilo não era um jogo, e se fosse era perigoso, porque os sentimentos eram fortes demais para uma brincadeira simplesmente.
— Petrus?
— Sim, agápi mou.
— Não quero que toque outra garota — sussurrou.
Ele a virou e a imprensou na porta da varanda e a olhou por alguns minutos, desejando-a, admirando-a, quase a devorando com o olhar quente como brasa.
Ela deslizou o olhar pelo rosto dele, admirou a barba que ostentava e sentiu falta de ver seu rosto bem barbeado como viu anos atrás, mas ele estava sexy assim, barba loira e seu cabelo claro, de mechas
mais escuras mescladas que estavam caídos pelo lado de seu rosto, com uns fios de uma franja sobre seus olhos.
Desalinhado e selvagem.
Aqueles olhos, aquela boca, que ela tinha sonhado. Ele era bruto e forte e num segundo estava lânguido como uma víbora hipnotizando para dar um bote em sua vítima, que, no caso, era ela.
Maldito.
Ela não entendia o que sentia por ele, porque era algo que não conseguia explicar. Era tão forte, tão poderoso que assustava, mas ao mesmo tempo era tão excitante, quente, que era quase impossível ficar
sem. Como o ar para respirar. Sua energia a envolvia e contagiava.
Então, o mundo se apagou quando ele a beijou.
Desta vez ela correspondeu com a mesma paixão que ele a beijava, forte, selvagem, entre suspiros e gemidos, um beijo avassalador e profundo.
Petrus deslizou suas mãos pelo seu corpo, de uma forma tão poderosa que ela mal conseguia respirar, era um aperto de posse, para marcar seu corpo todo com seu toque.
Ele beijou sua mandíbula, seu pescoço, ela ergueu uma perna abraçando-o pelo quadril e se encaixou entre suas pernas.
— Me quer, me tome como seu, pois você já é minha. Nossa química diz isso. Seu corpo diz isso. E está morrendo de ciúmes porque queria estar no lugar daquela loira sendo tocada por mim. E se não se importasse
comigo, teria fugido e ido embora, pois teve a chance, mas não, voltou para o hotel. Voltou para mim.
— Não pertenço a você.
— Se me conhecesse, saberia que pertencer a mim pode significar a paz que tanto deseja.
— E se não quiser sua paz?
— Eu te darei o que quiser. Seja paz ou guerra.
E agora ela o olhava tão intensamente com aqueles lindos olhos verdes que ela tinha ganhado de sua loba que a mente de Petrus estava girando como um carrossel desgovernado.
Ele sabia que tinha que ter paciência com ela, senão a perderia.
Havia coisas que ninguém podia curar pelo outro a não ser ele mesmo.
Sami estava surtada, uma ânsia tomando conta de sua mente e após alguns segundos, ela mandou tudo ao inferno, interrompendo aquela conversa, os pensamentos e colocando em movimento o fogo nas veias.
Soltou as mãos de seu agarre e embrenhou em seus cabelos e o beijou, porque beijá-lo era somente o que queria acima de arrancar sua cabeça. Beijou enlouquecidamente, sugando seus lábios e tomando sua língua
em uma dança enlouquecida.
Sami gemeu em sua boca, o deixando louco. Oh e Petrus amou cada segundo.
Ele passou o braço pelo seu traseiro e a ergueu, fazendo-a entrelaçar as pernas em sua cintura e imprensou-a contra a parede e com dois movimentos ele arrancou sua camiseta. Com outro movimento, que ela
quase não percebeu, ele saltou pelo quarto e tombou na cama, sobre ela.
Ele estava se perdendo ali naquela loucura e a empurrou contra os travesseiros e cobriu o corpo com o seu.
Por tudo de mais sagrado, como aquilo era bom, prazeroso e temerário. Era como segurar o raio de Zeus e sentir sua eletricidade.
Com dificuldade de respirar, ele se empurrou contra ela e Sami gemeu novamente quando sentiu ele se encaixar entre suas pernas, com uma ereção inchada e turvou sua mente em pensar que estavam naquela posição
erótica e jogados naquela cama novamente, somente separados pela roupa.
E não teria volta, não desta vez.
O beijo se transformou num frenesi. Ele queria devorá-la num crescente desejo que o tomou por completo.
Com movimentos rápidos, Sami arrancou sua camisa e a sua regata, moldou seu corpo contra o dele, as mãos acariciando seu rosto e ombros, quase com desespero. Consumindo um ao outro, ela gemeu, os lábios
deixando um rastro de fogo ao percorrerem o pescoço, enquanto as mãos se moviam por todos os lados.
Então, ela pousou beijos molhados sobre o peito largo, a língua provocando a pele incendiada que parecia quente como fogo.
Ele girou e a pôs sobre ele, escarranchando em sua cintura, o que arrancou um ofego dele. Petrus prendeu a respiração quando ela mordiscou seu mamilo, sugando-o com volúpia. O desejo desenrolava em ondas
cálidas, numa sensação fronteiriça com a dor. Ela se afastou com os olhos semicerrados, mas tão intensos, cintilando.
— Quero fazer amor com você, Petrus...
Petrus quase não acreditou no que ouvia. Depois de tudo, ela estava dizendo isso mesmo?
Ele poderia considerar a loucura e não ir adiante, mas que os deuses o condenasse, ele não recuaria com um convite como aquele, pois aquela frase naquela voz suave, quase ronronando, era a coisa mais erótica,
clichê, besta e deliciosa que já tinha ouvido.
E vinha dela.
Ele não recuaria nem que um terremoto abalasse a terra.
Ela se abaixou e seus longos cabelos derramaram sobre seu peito e ele gemeu com a carícia. Vê-la sobre ele daquela maneira era um sonho realizado.
Ele girou na cama, deitando-se sobre ela e tomou seu seio na boca com tanta vontade que quase a fez ter um orgasmo, deliciou-se entre lambidas, mordidas e fortes sugadas, depois se dedicou ao outro. Desceu
pela sua barriga depositando beijos e deliciando-se de sua pele com a língua e logo ele deslizou sua calça e calcinha e desfez das suas próprias, ficando ambos nus.
Ele então parou, lutando com sua respiração, deslizou o olhar para o corpo dela, de cima a baixo, e o achou tão perfeito como se os deuses tivessem perguntado a ele como ele gostaria de sua companheira.
Ela era tudo que desejava e gostava.
Seu olhar chegou ao seu sexo depilado e ele a tocou quase em reverência. Erótica, sexy e pecaminosa. Ele deu uma rápida olhada direto em seus olhos, fixando seu olhar, pensando no que faria e se ela ainda
ousaria impedi-lo.
Mas somente uma respiração difícil podia ser ouvida e as batidas aceleradas de seus corações e os olhos dela estavam lindos, brilhando de antecipação, com seus longos cabelos esparramados nos travesseiros
brancos.
Sem perder o contato visual, Petrus se abaixou e a lambeu, sentiu seu gosto e era divino, seu paladar reagiu de forma tão forte envolvendo todos seus sentidos, fazendo-o gemer de prazer.
Era uma sensação forte e fascinante, e soube que ela sentia o mesmo porque seu corpo não podia ficar parado, nem conseguia segurar os ofegos e gemidos, pois estava enlouquecida, então ele a prendou com
as mãos para não fugir dele.
Ele sabia muito bem fazer aquilo e tomou seu tempo deliciando-se com ela, com sua língua, lábios e seus dedos, penetrando-a, dando-lhe um prazer desmedido e foi esplêndido quando arrancou sem misericórdia
um orgasmo que explodiu pelo corpo de Sami, tão forte e intenso que sua visão ficou turva.
Sim, ele sabia fazer aquilo e Sami amou cada coisa que ele fez, cada carícia que ele lhe deu.
— Oh... Petrus...
Petrus deitou sobre ela e aproveitando aquele momento, ele abafou seu gemido desesperado com um beijo e entrou nela, de uma vez, até o fundo e foi quase demais para suportar, porque nunca tinha provado
nada mais delicioso, intenso, queimando-o vivo.
Ele parou para senti-la, soltou de seus lábios e olhou em seus olhos e ver o desejo estampado neles, por ele, e ao mesmo tempo senti-la, envolvendo-o de forma tão completa, era maravilhoso.
Sami mal conseguia pensar ou respirar, tê-lo dentro dela era quase demais para suportar, era uma sensação tão forte que quase podia lhe arrancar lágrimas. Ela estava preenchida totalmente e quando ele
se moveu ela gemeu, quase desesperada.
Ele começou a se mover lento inicialmente, para que ela se acostumasse ao seu tamanho, para que seu corpo se ajustasse perfeitamente no dela. Sabia que nada se comparava àquilo, nada em sua longa vida
se comparava a ter Sami, sua companheira. Ele tinha sua companheira embaixo dele e sua mente dava voltas.
Ele já sabia que ela era sua companheira, mas agora era tudo e mais um pouco, sua companheira de alma, ele soube e o mundo inteiro parou.
Então seu ritmo foi aumentando, se moveu mais rápido, poderoso, levando-a a níveis altíssimos e mostrou a ela como lobos se amavam, como a magia os envolvia e como eles se pertenciam.
Sami, que não conhecia bem as sensações fortes dos lobos, e muito menos a que sentia com ele, estava perdida no prazer, perdida nele e foi fabuloso.
Ela gemeu alto e se contorceu no seu êxtase e isso o fez chegar ao seu prazer e derramou sua semente dentro dela, queimando-a, marcando-a e Petrus sentiu sua magia rodar entre eles, suas presas cresceram
e seus olhos cintilaram. Sami jogou a cabeça para trás e ele viu suas presas crescidas.
Seus lobos estavam querendo se unir.
Petrus rosnou alto, empurrou sua magia longe e podia jurar que seu rosnado feroz e descontrolado chegou até outro quarteirão.
Foi duro negar o acasalamento, doeu em seu coração, e em seu corpo todo, como milhares de agulhadas espalhadas por cada centímetro dele, mas ele recuou. Ele se soltou dela e caiu na cama, tentando respirar.
Não a morderia, não podia, não ainda.
Sami sentiu o mesmo e gemeu como se tudo nela doesse, mesmo sem entender o que significava.
Petrus esfregou com força os olhos turvos e embaçados e suspirou.
O que estava fazendo? Por um momento mais e teria a mordido e acasalado com ela, feito dela sua companheira.
Foda-se. Sami era sua companheira, agora não tinha dúvida, estava ferrado, frito em óleo quente.
Era um lobo morto, mas seria amanhã, porque agora ele a puxou para seu corpo, abraçando-a, pois somente queria senti-la em seus braços, porque não queria soltá-la jamais. Somente beijou sua face uma e
outra vez, a envolveu como podia e acarinhou seus cabelos, enquanto sussurrou docemente em seu ouvido.
— Durma, minha doce Sami.
— Meu corpo está formigando, o que está acontecendo? — ela sussurrou com a garganta seca, muito atordoada das sensações de seu corpo.
— Está tudo bem, querida, já vai passar, está segura aqui. Durma na paz dos meus braços e saiba que ninguém vai protegê-la como eu.
Queria dizer que nunca ninguém a amaria como ele.
Petrus disse isso com a vista turva e a garganta embargada, porque nunca, em toda sua vida, sentiu o prazer tão intenso como agora, nunca conseguiria ter este tipo de prazer com ninguém.
Um prazer que toca o corpo, o coração e a alma, prazer que somente teria com ela. E nunca sentiu tanto temor em perdê-la.
Ele não conseguiria deixá-la dessa vez.
Sami ouviu o que ele disse e não respondeu nada, porque se abrisse a boca, desmoronaria como uma manteiga derretida, como uma tola apaixonada, mas naquele momento ela escolheu a paz. Paz era só o que ela
precisava desesperadamente. E era isso que ela sentia agora nos braços dele. Paz, a sensação de lar, aconchego, era como se tudo estivesse no seu lugar, devidamente encaixado. E conhecê-la foi seu inferno.
Aquela declaração retalhou seu coração como se o tivessem colocado em um picador de carne.
Não que ela não acreditasse, mas, na verdade, não queria, porque ela tinha escolhido odiá-lo que amá-lo, pois era mais fácil, já que odiava todos os outros lobos.
Ela suspirou com o medo do desconhecido e de seus sentimentos desenfreados sendo jogados longe e o abraçou forte, e os dois se enroscaram, o mais que podiam e dormiram. Sem mais conversas, sem mais pensamentos.
Porque nenhum dos dois conseguia falar absolutamente nada.
Sami não sabia como olhar para Petrus depois daquela noite. Ela não conseguia lidar com ela mesma, na verdade.
Ela tinha acordado com uma discussão entre Petrus e Harley, então soube que Harley havia saído com Nathan para bisbilhotar.
Ela saiu do banheiro e ficou paralisada olhando para Petrus, que estava parado do lado de fora da porta, somente com a toalha presa na cintura. Seus olhares se prenderam e os dois ficaram um tempo assim,
paralisados, se olhando.
Sami quase entrou de volta no banheiro e se trancou ali, mas omitiu todas suas incertezas e tolices, deu um sorriso, foi até ele e beijou sua bochecha.
Isso o surpreendeu.
— Bom dia.
— Bom dia.
— Briguinha de irmãos?
— Nada sério.
— Pensei que humanos não poderiam saber sobre nós.
— A equipe de Sasha é diferente, eles nos salvaram.
Ela assentiu e admirou o rapaz grandalhão.
— Onde Harley foi?
— Sondar os cassinos. Tentando descobrir os possíveis que poderíamos ir hoje à noite.
— Acha que isso funcionará?
— Acho que sim, e acho que é nossa melhor alternativa. — Ele deslizou um dedo em seu pescoço, descendo para seu colo, sedutoramente. — Está tudo bem?
— Estou ótima.
— Que está ótima estou vendo, parece ainda mais linda do que estava ontem à noite.
Ele a beijou, um beijo suave e daqueles que fazem a pessoa perder o rumo da vida, embrenhando os dedos pelos cabelos de sua nuca e encaixando sua boca na dela.
Sami gemeu de prazer, porque era puro, cru, selvagem e tão delicioso que custava se lembrar de seu próprio nome. Como podia se livrar dele, mandá-lo parar ou sumir de sua vida se ela adorava quando ele
a tocava? Não tinha conhecido nada tão delicioso na sua vida.
Ele se afastou o suficiente para encará-la e seus olhos cintilavam pelo desejo.
Misericórdia.
Ele a trouxe novamente para sua boca e com a outra mão a trouxe para seu corpo e ergueu-a, fazendo-a entrelaçar as pernas em sua cintura, e ele a levou para o boxe do chuveiro.
Ela gemeu quando a água quente bateu em seu corpo, porque causou uma sensação poderosa, como um choque, pois sua pele parecia sensível, como uma carga elétrica vibrando.
Ela não quis questionar nada, somente queria curtir o momento que ele queria proporcionar. Ele a empurrou contra a parede, beijando-a enlouquecidamente e movimentando seu corpo, ritmicamente, para cima
e para baixo, languidamente, provocando, excitando.
Ele deslizou dentro dela tão facilmente, pois estava quente e excitada, fazendo-os gemer em uníssono.
Sim, eles estavam sofrendo de uma urgência poderosa e não deixava os dois pensarem racionalmente. Algo mais forte os impulsionava. Algo que vinha de suas almas, batia no coração e se alastrava por seus
corpos e sentidos. Era como se uma porta tivesse sido aberta e fosse impossível fechá-la novamente.
Ela puxou-o mais contra si, pois parecia que não conseguia obter o suficiente. Petrus rosnou quando ela cravou as unhas em suas costas, ele olhou para ela e seus olhos cintilavam, suas presas estavam longas.
— Oh, Sami, se soubesse como a acho linda, assim, quente, selvagem e como sua loba.
Ela rosnou e beijou-o, não queria que falasse nada, ele falava demais e isso a deixava louca, porque somente sua voz tinha um efeito poderoso sobre ela.
Eles tiveram um sexo forte, poderoso e rápido. Ela estava quase perdendo o controle de sua loba, e picou seu ombro com os dentes, mas ele a afastou, impedindo-a de mordê-lo.
— Não ainda, minha loba, não ainda.
Ele empurrou contra ela mais rápido, arrancando um orgasmo poderoso dos dois que rosnaram e, ofegantes, quase despencaram ao chão, pois Petrus tremia, suas pernas estavam fracas.
Ela rosnou alto e a luz do teto do banheiro piscou e estourou. Isso a assustou, mas não mais do que as sensações que a afligiam.
— Petrus...
— Shhh, calma, está tudo bem, tudo bem, Sami. Precisa conter sua magia.
— Não sei fazer isso.
— Só ordene que recue. Você domina sua magia.
Ela fechou os olhos e o abraçou e conseguiu empurrá-la para dentro e a luz parou de piscar.
Ele sentou no chão e a prendeu no seu colo abraçando-a forte e a água continuava a banhá-los.
— O que está fazendo comigo? — ela sussurrou.
— Nada, agápi mou, não estou fazendo nada. Nada mais que os deuses fizeram a nós dois — sussurrou.
Ela suspirou. Tinha se perdido com ele, o que tinha jurado que não faria, mas não tinha sido forte o suficiente e ele sabia enrolá-la como um novelo de lã. Ela devia estapeá-lo e empurrá-lo para longe,
mas estava se sentindo bem demais em seus braços para conseguir rechaçá-lo.
— Está turvando minha mente, Petrus.
— Você turva a minha, acho que é reciproco o que sentimos.
Ela suspirou e descansou a testa em seu ombro.
Eles ficaram longos minutos assim, somente abraçados, sentindo a água cair sobre eles e quando ela o olhou, os olhos analisavam, indagavam, mas as palavras não eram ditas. Petrus encostou a sua testa na
dela e assim ficaram mais tempo.
O que dizer se não havia palavras? Somente aquele turbilhão confuso em suas mentes? Mas aqueles olhares, aqueles pequenos toques, um suave beijo, molhado, cansado, significava tudo. Estavam unidos e parecia
que não haveria nada que os separasse depois daquilo.
Deviam voltar à realidade. Sami suspirou e o olhou.
— O que faremos agora? Qual é o plano?
— Além de repetirmos isso novamente?
Ela riu e ele também. Como era maravilhoso.
Sami olhou para ele e queria dizer, sim, vamos repeti-lo, sempre, para toda vida. Mas ela era turrona demais para dizer. Afinal, apesar de estar vivendo uma vida mágica, não acreditava em contos de fadas
com finais felizes.
— Digo, além disso.
— Se eu conseguir sair deste banheiro, o que está bem difícil, eu providenciarei umas roupas elegantes. Precisamos de um novo carro também.
— Pra que tudo isso?
— Se vamos a um cassino, com o objetivo de atrair um lobo que gosta de dinheiro, devemos ir com categoria, querida.
Ela o olhou e sorriu.
— Pode ser divertido. Nunca estive em um cassino.
— É isso aí, baby. Vamos mostrar a que viemos, afinal, estamos em Vegas. Mas primeiro de tudo te alimentarei.
Ela riu e o beijou.
— Oh, aquele negócio que gosta de alimentar sua fêmea?
— Sim — disse sorrindo. — Não aprecia?
Ela o olhou e seria muito fácil dar uma resposta grossa como sempre, para ele saber que ela não estava de quatro por ele, mas estava muito relaxada para iniciar uma discussão e, pela primeira vez, ela
não sentia nenhuma vontade de ser hostil com ele.
Olhando para seu lindo rosto, para aqueles olhos incríveis que a olhavam com admiração, com expectativa, ela não conseguiu, porque ele parecia um ímã que a puxava e parecia cada vez mais difícil de fugir
dele. Uma deliciosa e perigosa atração e aquela raiva toda que tomava conta dela, havia ido, estava adormecida, ou abrandada.
Era aterrorizante se dar conta disso. Era como ter duas mentes gritando dentro de sua cabeça, uma dizia para odiá-lo, se afastar. A outra queria poder lhe dar carinho, conhecê-lo mais. Queria poder tomá-lo
nos baços e apagar seus sofrimentos. Fazê-lo sorrir, porque ele era lindo sorrindo.
— Para falar a verdade, sim, eu aprecio.
Pronto, sua boca agiu mais rápido que seu cérebro e então não pôde voltar atrás. Ela suspirou e baixou os olhos para fugir do olhar espantado que lhe deu.
Petrus ergueu seu queixo vagarosamente com os dedos, fazendo-a encará-lo.
— Isso me deixa feliz. Gostaria de poder te fazer feliz sempre, Sami.
Oh céus precisava sair dali, fugir, ignorá-lo. Corra!
— Eu ficaria feliz agora se me alimentasse.
Ele sorriu e beijou docemente seus lábios. Petrus não era tonto, sabia quando tinha que parar de pressionar para não estragar o momento.
Ele levantou e colocou o xampu na mão e lavou seu cabelo. Ela quase gemeu, quase, mas tinha ainda um pouquinho de controle emocional. Ele estava lavando seu cabelo e foi maravilhoso, algo tão simples,
mas tão significativo, logo que acabou pegou o sabonete.
— Vou te dar essa parte, porque se te tocar desta maneira, juro que ficaremos aqui por mais uma hora.
Ela riu, pegou o sabonete e se lavou enquanto ele enxaguou seu cabelo.
Depois os dois saíram do banheiro e foram se vestir.
— Onde conseguiremos roupas finas para ir a este cassino?
— Boa pergunta. Peça na recepção. Eles informarão.
— Tem certeza de que precisa gastar isso tudo?
— Hoje à noite gastaremos o que for preciso, Sami, se isso atrairá estes lobos, então sim, eu o farei com gosto.
— Ok.
Sami pegou o telefone e além de pedir comida, começou sua jornada para conseguir o que precisavam, enquanto Petrus se encarregou de alugar os carros.
Kirian estava na cozinha preparando o jantar. Ele se virou e sorriu quando uma loba de pelagem de cor pérola entrou e parou o olhando. Ele sorriu ao ver o brilho nos seus lindos olhos, azul mais claro
que da cor do céu.
Ele sabia que ela estava rindo e soltou um rosnado engraçado que o fez rir. Na boca, ela segurava um saco de papel com um pequeno pote dentro.
Ele foi até ela e o tirou de sua boca.
— Nunca vou me cansar de ver sua loba, Anne, é linda.
Ele se ajoelhou e a acariciou, embrenhando os dedos em seu pelo macio e ela se aconchegou em seus braços, lambendo seu rosto.
— Estou adorando isso, Kirian. Realmente fascinante — disse em seus pensamentos e ele inflou o peito por ouvir isso, pois lhe dava orgulho. Ela se transformou em humana e ele rosnou a segurando nua em
seus braços.
— O que não aprecio, no entanto, é a vergonha que passo. Acho que o moço do armazém vai me apelidar de tomate porque acredito que era essa a minha cara quando me transformei para pedir o tempero e fiquei
envergonhada de estar nua na sua frente.
Kirian riu e depois rosnou.
— Ele foi desrespeitoso com você?
— Oh não! Eu juro que o único lugar que ele olhou foi nos meus olhos, mas ainda sou envergonhada com isso, acredito que não vou me acostumar.
— Claro que vai, amor, as outras lobas se acostumaram.
Ela suspirou e o beijou.
— Tentarei com mais afinco.
— Você é a loba mais linda que já vi na vida.
— Oh, tem certeza disso? Vi umas lobas muito lindas aqui.
— Não para mim.
— Acha que a esposa do beta pode fazer aquela mágica para mim de roupas?
Kirian riu e a beijou.
— Tem que perder a vergonha de seu corpo, Anne.
— Acho meio difícil. Sabe, estas gordurinhas aqui na minha barriga não são elegantes.
— Seu corpo é lindo, não tem do que se envergonhar, e eu não sei de que gordurinhas está falando, você é magra.
— Tem certeza?
— Sim. E os lobos não olham para você com cobiça. Eles respeitam minha companheira.
— Isso parece tão surreal. Se eu saísse nua na rua, os homens pulariam em cima de mim, seria presa por atentado ao pudor e isso se não fosse pior.
— Mas somos lobos.
— Graças a Deus!
Ele riu e ela acariciou seu rosto, beijando-o.
— Eu poderia ter ido buscar o tempero que faltava para o assado.
— Bem, mas estava ocupado cortando a carne. Você é bom nisso.
Annelise o beijou, levantou e pegou seu vestido que estava sobre a cadeira e o vestiu, pegou a taça de vinho e tomou um gole.
Depois foi nas cadeirinhas que estavam sobre a mesa com seus filhos e os beijou.
Cassidy estava dormindo e Collen estava ali, prestando atenção em tudo e soltando gorgulhos felizes de vez em quando e brincava com as franjas da manta. E Annelise abriu um gigante sorriso quando seu filho
olhou para ela e sorriu. Não havia nada melhor no mundo.
Havia uma música suave tocando e eles conversavam e riam sobre a receita e como cortar e saborear os alimentos da receita da comida típica grega que estavam fazendo e, entre a ida e vinda ao fogão, sempre
havia beijos carinhosos.
Eles adoravam cozinhar juntos.
A comida levava geralmente o dobro do tempo para ser feita, mas Annelise não estava preocupada com isso porque nunca na sua vida sentiu tanto prazer em cozinhar.
O restaurante ia bem e todos amavam sua comida, mas ele não abria todos os dias, como haviam combinado e ela estava adorando tudo nele, tudo sobre os lobos, tudo sobre sua nova vida e aquela ilha.
Estava encantada, apaixonada e sabia o verdadeiro significado de felicidade.
O que mais ela apreciava quando tinham o tempo somente para os dois, além de desfrutar a praia, era fazer um prato delicioso para o jantar, os dois juntos.
Kirian, com todos seus músculos e altura, era doce como nunca. Estava sempre pronto para agradá-la, para mimá-la e tinha uma paciência que o deixava mais encantador.
Mas, perante seu povo, ele ainda fazia suas carrancas e rosnava o tempo todo, ainda mais quando soltavam suas piadinhas sem graça.
Ela riu e bebeu um gole do vinho quando ele cuidadosamente terminava de acomodar as postas da carne na travessa, que assariam com as ervas finas.
— Está ficando bom nisso — ela disse com um sorriso malicioso. — Aliás, no que você não é bom?
Ele riu e a beijou e, com sua taça, ela o fez beber um gole do vinho.
— Sempre quero ser bom para você, Anne.
— Meu Deus, se isso tudo melhorar nem sei se manterei minha sanidade mental.
Ele riu e temperou a carne.
— Acha que isso vai ficar gostoso? — ele perguntou.
— Não sei, na TV estava muito apetitosa. Nunca comi carne de cordeiro, estou curiosa.
— Bem, se ficar bom, podemos colocar no cardápio do restaurante.
— Sim, podemos. Sendo carne, qualquer tipo delas, seus lobos gostam.
Ele riu.
— Sim. Lobos gostam de muita carne.
— Jura? Não havia reparado, e eu também agora como muito mais carne.
— Ossos do ofício de ser uma loba.
— Oh e eu estou amando ser loba. Um conto de fadas. Eu vivo um e jamais quero sair dele.
Ele colocou a travessa no forno, lavou as mãos e a agarrou erguendo-a e a colocando sobre o balcão da cozinha e, entre um beijo e outro, dividiam carícias e vinho.
— Ei, prove o molho.
Ele pegou a colher, abriu a panela e logo soprou para esfriar e colocou em sua boca.
— Hmmm, Kirian isso está delicioso, meu amor, você é um ótimo cozinheiro.
— Vindo de você não sei se fico lisonjeado ou desconfiado que mente para mim.
Ela riu com vontade, segurando seu rosto.
— Digo a verdade, juro, nem minha quiche fica tão boa quanto a sua.
Ele se afastou e rosnou quando sentiu cheiro de outro lobo do lado de fora.
— Temos visita.
— Oh.
Kirian a pegou pela cintura e a colocou no chão e foi atender a porta. Ele sorriu para Konan, que o aguardava, e eles apertaram as mãos.
— Estamos cozinhando — Kirian disse e Konan sorriu.
— Posso sentir o cheiro delicioso.
— Aceita jantar conosco? — Annelise perguntou.
— Talvez outro dia, obrigado. Agora, Kirian, eu vim te buscar, temos uma situação.
— Que situação? O que houve?
— É Dada, está na clínica. Ela teve outro ataque e a alfa disse que talvez ela não sobreviva a este.
Kirian rosnou e todos saíram rapidamente, pegando as cadeirinhas com os bebês.
Quando Kirian entrou na clínica, seguido de Annelise, olhou para Ester em busca de informação.
— Kirian... Ela teve um ataque cardíaco. Íamos levá-la ao hospital, mas ela se recusa e pediu para ver você. Kira intercedeu com sua magia e acredito que somente isso a esteja mantendo viva.
— Seu coração está muito fraco, não vai resistir por muito tempo — Kira disse.
— Pode fazer mais?
— Acredito que já fiz o meu possível, Kirian, não posso usar minha magia e interferir na morte de humanos mais do que já fiz.
Kirian foi até a cama, se ajoelhou e segurou sua mão.
— Dada, precisa do hospital de Atenas.
— Não... não quero hospital. Estava horrível da outra vez, odeio hospitais.
— Mas melhorou.
— Não... Não desta vez.
— Nunca deixa de ser uma cabeça-dura?
— Acho que deve ser minha hora, Kiki.
— Não pode ser, porque agora que meus filhos nasceram eles precisam de uma avó, mesmo que seja assim doidinha.
Ela riu e uma lágrima escorreu pelo canto do olho.
— Meu menino, estou tão feliz por você e por seus bebês e sua linda companheira.
— Não pode me deixar, Dada.
Todos no quarto estavam emocionados, pois estava abarrotada com vários lobos que vieram vê-la. Dada bajulava todos os lobos como crianças, mas Kirian era seu xodó. Ela sempre fora quem conseguia acalmar
seus antigos ataques de fúria.
— Não precisa de mim, já tem quem cuide de você, Kirian. — Ela olhou para Luca que estava com sua mãe e ele queria parecer forte, mas estava com os olhos marejados. — Você também, pequeno Luca, agora você
tem seu pai e sua mãe para cuidarem de você.
Luca foi até ela, se ajoelhou e segurou sua outra mão.
— É minha segunda mãe, Dada. Não pode ir — Luca disse triste, segurando o choro.
— Não quero que fique aqui para cuidar de mim, mas para que eu cuide de você. Realizou seu sonho de ter a sua casinha e agora vai deixar? — Kirian disse.
Ela suspirou e ficou pensativa.
— É uma verdade. Eu nunca estive tão feliz como nesta ilha e por causa dos lobos. Eu tenho sido muito mimada pela alfa e por todos.
— Porque a amamos.
— Todos sabiam que em breve eu me iria, pois sou uma humana.
— Pode deixar de ser — Noah disse seriamente.
Noah se aproximou e colocou a mão no ombro dela. Todos olharam aturdidos para Noah pela sua proposta.
— O quê? Está oferendo transformar Dada? É proibido entre os lobos — Kirian disse.
Noah, altivamente, olhou para todos os rostos dos lobos que estavam com os olhos esbugalhados, inclusive Luca, que agora chorava do outro lado da cama.
— Não é de nosso costume transformar humanos em lobos para evitar a morte, Dada. Todos nós sabemos que a morte é inevitável, que ela chega para todos e que é um ciclo normal da vida e deve ser respeitado.
Mas você é da nossa família, faz parte de nós, mesmo sendo uma humana. Dê seu consentimento e eu darei o meu. Há alguma objeção? — ele disse olhando para todos e ninguém se pronunciou, na verdade estavam
agora olhando esperançosos para saber a resposta de Dada.
Ela piscou lentamente, já fraca, e olhou para o rosto de todos ali, que a estavam zelando.
— Por favor, Dada. Como loba pode viver por mais alguns anos — Ester disse com a voz embargada, secando as lágrimas que caíam.
— Seu pai um dia me disse... quando eu perguntei... se ele queria ser lobo como vocês... Ele me disse que seria muito abençoado se fosse um. Que ele os amava tanto... Os admirava tanto.
— Mas ele não pôde ser salvo, mas nós podemos te salvar. Precisamos de você.
— Já estou velha, por que precisam de mim?
— Porque a amamos e não queremos perdê-la, Dada. Se você se transformar em loba, poderá se recuperar de suas deficiências, pode se curar.
— Mas faça isso somente se desejar ficar conosco. Talvez prefira ir e descansar — Liam disse triste, abraçado a Virna.
Ela suspirou, assentiu e estendeu a mão para Kirian.
— Não quero partir, sou feliz aqui, aliás, nunca fui tão feliz desde que fui trabalhar para vocês. Nem minha família nunca me deu valor. Quando meu único filho morreu, minha nora e netos jogaram-me num
asilo para viver lá para que não incomodasse ninguém, mas eles não eram bons lá. Eu fugi um dia e estava morando sozinha na rua... Eu pedia esmola numa escadaria e vagava pelos subúrbios para evitar a
polícia. O Dr. Klaus me ofereceu uma refeição na lanchonete que ele fazia seu lanche todos os dias e emprego, se eu soubesse ficar de boca fechada. Eu jurei que minha boca jamais revelaria nada a ninguém
e o ajudaria com um milagre... Ele disse... Era assim que eles os chamavam. Milagre e os tomou como seus filhos.
Todos olharam para ela, espantados com o que contava. Ninguém sabia de sua história, ela sempre desconversava quando alguém fazia alguma pergunta.
— Eu fui para a mansão... e juro que pensei que tinha morrido e entrado em algum conto de fadas e eu os amei tanto, mesmo quando faziam cara feia com minhas tolices... quando rosnavam para me assustar.
Eu fui muito feliz trabalhando para vocês.
— Você não trabalha mais para nós, Dada, é uma de nós.
— O senhor permitiria, alfa?
— Claro, Dada! O que será de mim, sem aguentar suas maluquices? — Noah disse.
Ela riu e fungou, deixando as lágrimas escorrerem.
— Já que querem esta carcaça velha para ainda fazer uns quitutes para meus meninos lobos, então... faça.
— Não precisa ter medo — Kirian disse beijando sua mão.
— Não tenho medo, nunca tive. Nem quando rosnava para mim, grandão.
Ele sorriu emocionado.
Dada respirou fundo e fechou os olhos. Kirian pegou seu pulso e mordeu.
Ela gemeu pela dor, mas logo se acalmou. Kirian retraiu suas presas e de olhos fechados sussurrou as palavras sagradas.
Ele acariciou sua testa e ela sentiu um tremor percorrer seu corpo, quando a magia dançou sobre ela e todos puderam ver a névoa multicolorida como um arco-íris a rodear, mas logo ela adormeceu, pois estava
fraca.
— Ela está bem? — Annelise perguntou assustada.
— Ela vai dormir agora. Quando acordar deve se sentir muito melhor, então receberá a segunda mordida e será uma loba — Ester disse a examinando.
— E ela vai se curar?
— A força vital e a magia do lobo vai restaurar seu sistema humano, com certeza curará seu problema no coração e as outras pequenas deficiências que seu corpo já tinha.
— Tão mágico... — Annelise sussurrou abraçando Kirian.
— Obrigado, alfa — Kirian disse para Noah que abraçou Ester e sorriu.
— Esta senhora nos demonstrou um amor gratuito, puro, nunca nos temeu e nunca nos recriminou, isto é apenas o que podemos retribuir a ela.
— Sim, se isso a deixa feliz, então é um presente.
— Hoje foi um grande dia para nossa alcateia. Quebramos uma regra do mundo dos lobos, mas nós iremos manter isso em segredo, porque Dada é mais importante — Erick disse.
— Nunca um lobo quebrou estas regras, mesmo quando estivemos no cativeiro — Konan disse.
— Há uma diferença de fazer isso, Konan. Lá poderíamos ter salvado vidas, mas nossa honra estava em jogo e nosso código falou mais alto, mas aqui entre nós, agora, é diferente. Pergunto-me se aqueles humanos
estavam interessados em realmente nos poupar e aprender conosco. Acredito que não. Estavam mais focados no seu poder e maldade. Aqui, agora, entre nós, há algo mais, tudo aqui está motivado pela bondade.
Dada merece uma segunda chance de melhorar, de conviver onde ela é feliz. Ela merece conhecer nossa magia, porque é boa, então isso ficará entre nós.
Todos concordaram e em silêncio ficaram no quarto mais um pouco e depois a deixaram descansar.
Quando Petrus e Harley saíram do quarto vestindo seus smokings, pararam boquiabertos olhando para Sami que estava parada no meio do seu quarto.
— Uau! — Harley exclamou rapidamente ao vê-la.
Já Petrus ficou sem ar, embevecido com a visão dela, que nem conseguiu emitir uma opinião.
Ele a achava linda sem maquiagem, com o cabelo despenteado, como ela era antes, de qualquer maneira, mas assim, como estava agora, fez seu coração quase parar.
Ela vestia um vestido de festa negro tomara que caia que era de tecido fluído todo transpassado e justo que deixava suas curvas mais acentuadas, o que a deixou extremamente sexy.
Seu cabelo estava puxado para o lado e caía sobre o ombro esquerdo, envolto de forma aleatória em um fino cordão brilhante e os brincos de diamantes faziam jogo com o colar e sua pulseira. Ela usava uma
maquiagem impecável e estava divina, linda, como jamais pensou em vê-la.
Ele foi até ela e sorriu.
— Está deslumbrante, Sami — sussurrou.
— Obrigada. Confesso que não estou acostumada a este tipo de roupa.
— Nem eu, mas sempre há seus momentos na vida.
— Sim, e... estas joias? São de verdade? Não as comprou, não é?
— São verdadeiras, sim. Infelizmente elas terão que ser devolvidas com os trajes, querida.
— Imaginei. Você está muito elegante também.
Elegante? Ele estava lindo, com aquele smoking impecável, com o cabelo com gel e penteado para trás. Seu perfume quase a fez tombar no chão. E ambos estavam usando lentes para acobertar seus olhos claros
demais.
Ele se aproximou e sussurrou em seu ouvido:
— Está tão linda que mal consigo segurar minha vontade de tomá-la agora mesmo.
— Comporte-se! Não consegue controlar esta luxúria toda? Parece um adolescente — disse provocando-o com um sorriso malandro, o que o fez suspirar de forma pícara, como se tivesse ofendido.
— Oh, sabia que não poderia ficar sem jogar uma pedra por muito tempo.
— Comportem-se vocês dois — Harley disse rindo e indo para a porta.
— Você está lindo também, Harley! — ela gritou para ele, que já estava no corredor e riu com seu rosnado.
— Obrigado! — ele gritou.
— Vamos, está na hora do show.
— Devo tirar o chapéu pela sua roupa, estou embevecida.
— Pelo preço que paguei para ter uma roupa ajustada para meu tamanho deveria ficar mesmo.
— Imagino pelo tempo que perderam no alfaiate.
— Ossos do ofício de ser um lobo, a maioria das roupas são por encomenda.
— Tem certeza de que devemos fazer isso? Você disse que não era bom estarmos num cassino por causa das câmeras.
— Bem, é um risco que teremos que correr. Se for ali que conseguiremos o caminho para nosso objetivo, teremos que arriscar. Haja o que houver, não saia de perto de mim.
— OK.
Eles se dirigiram para frente do hotel, onde o guarda carros trouxe um Porsche prata. E mais uma vez eles chamaram a atenção toda para si.
— Uau, isso é luxuoso! — ela disse espantada.
— Precisava de um carro à nossa altura, agápi mou.
Ela sorriu e entrou enquanto ele segurava a porta e viu que na frente Harley entrava em outro.
Ela suspirou e esperou ele entrar.
— Claro, uma noite de Cinderela.
— Vai me permitir tirar seu sapatinho de cristal?
Ela riu e o olhou incrédula.
— A Cinderela perde o sapatinho e ele não tira.
— Mas depois que ela perde, ele acha e o coloca no seu pé, depois se casam, então ele tira.
Ela riu novamente, desta vez com gosto.
— Você é incrível, Petrus.
— Uau, gostei desse elogio. Nem me bateu, estamos evoluindo.
Sami riu novamente e ele beijou sua mão, piscou o olho com aquele sorrisinho malandro e ligou o carro.
Eles foram para um dos cassinos mais luxuosos de Vegas. O cassino era grande e as pessoas estavam tomando seus drinques e rodando de uma mesa a outra.
Podia-se ver claramente como os milionários circulavam com suas acompanhantes bem-vestidas e com joias caras jogando muitos dólares nas mesas, podia-se ver também turistas que estavam por ali para uma
aventura na vida.
Podia encontrá-los facilmente nas máquinas de caça-níqueis, na roleta e outros jogos mais dinâmicos, mas claramente havia mesas onde rodadas milionárias entravam em jogo.
Tudo era barulhento e colorido, e as garçonetes e garçons, elegantemente vestidos, passavam com as bandejas com canapés e champanhe. Os efeitos de sons e luzes faziam parte do jogo de sedução das máquinas
de caça-níqueis às mesas mais agitadas como as roletas, ou dados, assim como as mais compenetradas como Black Jack e pôquer.
Sami riu ao beber o champanhe e quando Petrus lhe ofereceu os dados.
— Oh, tenho pé frio.
— Veremos isso — disse com um lindo sorriso.
Ela pegou os dados, suspirou e deu um beijo neles, então os jogou.
Os dados voaram sobre a mesa e não entendendo do jogo, Sami só percebeu que havia ganhado quando as várias pessoas ao redor da grande mesa gritaram e aplaudiram.
Petrus gritou rindo e a abraçou e Sami vibrou de alegria e assim eles foram às próximas rodadas, mas logicamente como um bom cassino, as coisas começaram a dar para trás e rindo e bebendo mais champanhe,
ele pegou suas fichas e levou Sami para a outra mesa.
Harley fazia o mesmo, fazendo como se não estivesse com eles, rodando de mesa em mesa, paquerando as belas moças que estavam por perto e jogando suas altas somas no Black Jack.
Disfarçadamente eles se encontraram no bar para mais uma bebida e com os olhos sempre atentos olhavam ao redor.
— Acho que devemos ir, já chamamos a atenção o suficiente e não senti cheiro de nenhum maldito lobo — Petrus disse.
— Sim, talvez no próximo tenhamos mais sorte. Encontro vocês no Royals.
Harley saiu na frente com seu próprio carro esporte. Logo Sami e Petrus saíram atrás.
Eles partiram para o cassino e fizeram o mesmo ritual do outro, passavam de uma mesa à outra, bebiam champanhe, esbanjavam dinheiro, mas ali não havia nenhum maldito lobo.
— Merda, acho que estamos perdendo tempo! — Harley rosnou bravo.
— Confie, irmão, vamos encontrá-los.
— Espero que sim, antes de irmos à falência.
— Bem-dito — Sami disse bebendo o champanhe.
— Mais um e vamos embora.
E assim eles partiram para um dos mais luxuosos de Vegas. E com certeza, com o Porsche, fizeram sua entrada triunfal e digna do lugar.
— Uau, que luxo! — Sami disse olhando ao redor.
— Sim, e aqui é nossa última cartada.
— Posso te dar sorte.
— Bem, isso seria ótimo para fechar a noite, princesa.
Eles foram para a mesa de dados novamente e ali esbanjaram uma boa quantia e Sami estava dando sorte a Petrus, que sempre dava os dados a ela, que os beijava e os fazia voar pela mesa.
Rindo e vibrando pelas vitórias e reclamando com pesar pelas derrotas, e seguiram noite adentro.
“Petrus, lobo no cassino. Está os observando”, Harley disse no fone de ouvido.
Petrus atiçou todos seus alertas e após fazerem mais uma excitante e cara jogada e vibrando com a vitória, discretamente pegou suas fichas as colocando nos bolsos e pegou no braço de Sami e conduziu-a
até o bar e Petrus beijou seu rosto, sedutoramente.
— Há lobos aqui, agápi mou, fique atenta, ok?
— Pode deixar.
— Independente do resultado desta noite, para mim, ela está ganha — ele sussurrou, puxando-a pela cintura.
— Confesso que foi um bom tempo — disse com um sorriso.
Petrus lentamente beijou-a no canto da boca, e fez o carinho de lobo, roçando sua bochecha na dela. Eles ficaram se olhando, com o olhar quente e lânguido, se embalando ao som da música. Podia ser mais
mágico? Todas aquelas pessoas e mesas de jogos estavam sumindo de seus mundos perfeitos.
Então, Petrus captou cheiro de lobo próximo e não era Harley, ele se pôs em alerta e olhou ao redor e no canto do bar um lobo bem-apessoado, com um terno muito elegante e caro se escorava no balcão.
Ele conhecia o ar de perigo que um lobo exalava quando via um e aquele ali não era boa coisa. Apesar do ar requintado e ser um belo espécime, exalava maldade. Seu longo cabelo estava preso num rabo de
cavalo e seus olhos castanhos olhavam com profundo cuidado, mas sabia que deveria ser uma lente de contato que ocultava a verdadeira cor pálida característica dos lobos.
Podia ver uma tatuagem saindo pelo pescoço, escondida pelo colarinho de sua fina roupa e uma ponta saía sobre o dorso de sua mão, o que dizia que seu corpo deveria ser bem tatuado.
Ele era muito dono de si, sabendo que ele e Sami eram lobos. O lobo tomou um gole do seu copo de uísque e frisou o ar entre os dentes.
— Que surpresa ver um casal desta magnitude por aqui. Um alfa.
Petrus o olhou seriamente e tentou ver se já o tinha visto antes, mas não o conhecia. Talvez ele fosse o caça milionários entediados que gastariam boas somas em um momento de diversão em um ringue. Então
jogaria para ver se ele pegava a isca.
— Nada como um bom jogo para animar e fazer o sangue correr pelas veias, minha companheira e eu adoramos desafios e jogos — Petrus disse amistosamente.
— Nenhum lugar proporcionaria mais diversão inusitada que Las Vegas. Mas ela não é sua companheira.
Petrus empertigou-se, assim como Sami.
— Sabe como é, estou a convencendo a ser minha companheira, espero que depois desta viagem e proporcionar um bom tempo ela me aceite.
Sami sentiu uma fisgada na nuca quando os olhos gelados do lobo caíram sobre ela. Merda!
Sensualmente, ela escorou-se no ombro de Petrus e deu um sorriso malicioso para ele, quase lascivo. Talvez se ele pensasse que era uma loba fútil, interesseira, saberia que Petrus teria que gastar e fazer
suas vontades. Não que isso fosse comum entre lobos. Sempre seria uma honra para qualquer loba ser companheira de um alfa.
— Fizemos uma aposta, se ele conseguisse me animar no fim de semana com jogos excitantes aceitaria ser sua companheira. Não é divertido? — disse dengosa e sensual.
— Ela já é minha companheira, pois meu cheiro sobre ela não nega isso, apesar de não a ter mordido... ainda. O que não passará deste fim de semana, já que pretendo ganhar a aposta — Petrus disse firme
e sério e lançando um olhar de aviso ao lobo que os observou por um minuto.
— De fato — o lobo disse com um meio sorriso.
— Sou Fedrick Tropavick — Petrus disse cortando o assunto e mentindo seu nome.
— Rock Valey.
Petrus franziu o cenho estranhando o nome.
— Oh, é um nome que adotei, nova identidade, sabe como é. Eu era fã do lutador Rock Valey, nos anos 40.
— Oh. Uma vantagem de termos várias identidades.
— Exatamente. Adoro lutas.
— Adoramos jogos, mas também gostamos de mais adrenalina, desafios mais eletrizantes como lutas. Nosso país é um pouco monótono para isso. Não sabia que havia uma alcateia em Vegas.
— Oh, e não há, mas temos negócios aqui.
— Interessante, que negócios, na área do jogo?
— Algo mais eletrizante.
— Hum, isso parece interessante, minha companheira vive reclamando do tédio. E vive assistindo esses jogos americanos e lutas na tevê, de MMA e WWE. Eu somente gosto de apostar... e vencer.
O lobo olhou-os atentamente, já estava de olho neles há algum tempo, longe o suficiente que seu cheiro ainda não fosse perceptível. Somente observando a quantidade de dinheiro que esbanjavam.
E com os diamantes no pescoço de Sami, com o corte de suas roupas, que claramente eram de uma cara grife, e o carro esporte novinho que chegaram ao cassino, podia ver claramente que eram abastados. Faltava
ver se eram confiáveis...
— De onde são? Eu não reconheço o sotaque.
— Sou alfa de uma alcateia em Kiev — disse forçando o sotaque.
— O sotaque dela é diferente.
— Ela é alemã. Uma junção interessante, não acha?
— Emocionante. — O homem ficou pensativo por um momento. — Talvez eu possa lhes ajudar com seu divertimento.
— Oh, o que sugere, confesso que já estou um pouco entediada com estes jogos, gosto de algo mais... selvagem — Sami sussurrou com um ar sedutor e malicioso.
O lobo sorriu apanhando o olhar que ela lhe deu, provocante.
— Talvez queiram assistir uma luta.
— Luta?
— Sim, meu alfa promove lutas interessantes, com apostas realmente altas.
— Uau, isso parece ser tão excitante. O que acha, companheiro? Poderíamos nos divertir apostando em algum lutador bárbaro.
— Há alguns, senhora, posso garantir, tão bárbaros que a faria tremer de medo.
Petrus olhou seriamente para o lobo.
— Adoro lutas, me deixa com um frenesi louco, e isso me anima para uma noite quente.
O homem pareceu ponderar suas palavras e analisar Petrus. Eles pareciam estar desempenhando um bom papel, pois encaixavam perfeitamente no perfil dos escolhidos.
O lobo tirou dois convites do bolso de seu fino terno e depositou no balcão.
— Amanhã à noite. Só quero que saiba que estas lutas são proibidas em Vegas, pois são clandestinas, apesar de envolver a alta sociedade.
— Oh, isso entendo, quer dizer que não podemos comentar isso com ninguém.
— Isso mesmo, alfa. Uma festa privada, somente para convidados especiais e respeitáveis, que sabem o valor de manter a boca fechada.
— Quem é seu alfa?
— Quem sabe amanhã eu possa apresentá-los. E assim ele mesmo lhe diz seu nome.
— Claro, entendo perfeitamente. Será uma honra. Estaremos lá.
Petrus pegou os convites e colocou no bolso e o homem bebeu o restante de seu uísque, depositou o copo no balcão e saiu.
— Harley, pegou isso?
— Sim, estarei seguindo o lobo para ver se descubro algo sobre o alfa. Melhor ir embora.
— Ok. Vamos, Sami.
Ele ainda ostentando um sorriso, e agindo como se nada tivesse acontecido, foi trocar suas fichas por dinheiro e saíram do cassino.
Quando estavam no carro, Sami olhou para Petrus que pegou os convites e os olhou.
Um cartão preto em letras douradas com somente um endereço.
— Isso é de arrepiar, nem acredito que conseguimos isso — Sami disse eufórica.
— Por um momento pensei que não cairia.
— Aquela história de companheira quase nos entrega. O que disse é sério? Ele pode farejar seu cheiro sobre mim?
— Sami, meu cheiro está em toda você, até em seus fios de cabelo, agápi mou.
Ela bufou.
— Acho que devo tomar outro banho. O que quis dizer sobre morder?
— Lobos mordem para reivindicar seus companheiros, Sami, e o cheiro muda. Os lobos podem sentir e identificar lobos companheiros.
Ela até abriu a boca para dizer algo, mas antes que ela dissesse qualquer coisa, ele passou a mão em sua nuca e a trouxe para si, beijando-a intensamente, arrancando qualquer possibilidade de protesto
e fazendo a sua mente voar.
Suas línguas dançaram de forma frenética. Um beijo que poderia marcar a fogo, para ligar os sentidos. Rápido, forte e intenso.
Ele soltou de seus lábios e só então, ela conseguiu respirar e ele a olhou intensamente.
— Que selvagem — ela sussurrou.
— Sim. Eu sou selvagem. E juro que minha vontade é de baixar este banco, erguer esse seu vestido sexy e me perder em seu sexo e fazê-la gritar até que as estrelas caíssem do céu.
— Mas o carro é muito apertado.
— Sim, mas o nosso quarto não é.
Petrus riu, se endireitou em seu banco, ligando o carro e saíram em alta velocidade pelas ruas de Vegas. Sami somente percebeu o que ele estava fazendo quando passaram pela frente de seu hotel e não pararam.
— Estamos sendo seguidos?
— Não, mas não custa termos certeza — disse olhando pelo retrovisor.
Assim deram mais uma volta e pararam na frente do hotel, desceram rapidamente e entraram.
Sami respirou aliviada quando estavam seguros dentro de seu quarto de hotel. Ela foi em direção ao banheiro, mas ele a segurou pelo braço, a rodou e a abraçou, prendendo em seus braços.
Ela o olhou espantada e então, lentamente, ele deslizou as mãos em seu corpo e ela parou de respirar.
Uma mão rodeou sua cintura e a outra deslizou em seu braço e tomou sua mão, a puxou para seu corpo e Sami piscou aturdida, ele estava se embalando, para um lado e para o outro, olhando-a fixamente.
Estava dançando lentamente e suavemente como se estivessem flutuando numa nuvem.
Por Deus, ele quase fritava seu cérebro e ela queria protestar, mas aquilo era forte demais para ela recusar.
Seus muros haviam descido e não conseguia mais subí-los. Seu coração estava parando de lutar contra ele.
Talvez fosse fácil parar mais tarde, mas agora estava bom demais para causar briga.
Então ficou ali, se embalando com ele, deixando que ele fizesse o que quisesse com ela.
— Queria ter feito isso lá, mas prefiro a privacidade.
Ele a beijou suavemente, roçando seus lábios nos dela. Uma carícia que quase arrancava lágrimas de seus olhos. Uma carícia tão deliciosa que parecia que fazia vários pontos sensíveis de seu corpo estalar.
Como se fossem lâmpadas acendendo ao serem tocadas.
Ele mais parecia um bruxo com o poder de enfeitiçá-la com aquelas atitudes, aquelas carícias.
Maldito, era um jogo e ele estava conseguindo seu intento. Tê-la à sua mercê.
Ele a olhava com muita atenção. Ela estava linda, sensual com aquela roupa e naquele momento se embalando tão deliciosa com ele, era como um sonho.
Não sabiam de onde vinha uma música do lado de fora da janela, mas era lenta, arrastada, que parecia deixar os pensamentos lânguidos. The Blackest Day, de Lana Del Rey, ela identificou.
A dança era suave, e os dois arrastavam seus corpos um no outro, com a respiração lenta em meio às carícias suaves e os lábios roçando tão leves como pluma; eram somente toques ternos enquanto o perfume
os envolvia, os embevecia.
Seus seios empinados roçavam em seu peito, sua barriga, em um leve agachar e subir, enquanto suas mãos deslizavam pelas curvas do corpo quente.
Ela fez que morderia seus lábios, mas os soltou e ele gemeu pelo prazer que aquilo causou.
— Não me provoque, lobinha. Você gosta de jogar.
— E se gostar?
— Você pertence a mim e o fato de ainda não a ter mordido não quer dizer que não seja minha companheira.
— Oh, lá vem o lobo mandão outra vez. Não quero ninguém controlando minha vida. Quando vai entender?
— Quando o sol nascer azul?
Ela riu e ele agarrou seus braços e girou e a imprensou contra a parede.
Ela mostrou suas presas, mas ele não se moveu, então os dois ficaram se olhando fixamente.
— Isso pode ser quente.
— Você é perversa, gosta de me provocar.
— Eu gosto, então por que não me deixa provocar você?
Petrus leu uma mensagem maliciosa em seu olhar e soltou seus braços.
— Sou todo seu, para seu prazer.
— Eu senti saudades — ela sussurrou.
— Saudades do quê?
— De ver seu rosto todos os dias.
Petrus ficou chocado com aquela declaração e seu coração quase deu uma cambalhota dentro do peito. Eles ficaram se olhando por alguns minutos.
Ela mordeu o lábio com um meio sorriso, como se ao perceber o que disse a deixasse envergonhada, suas lindas bochechas receberam um leve tom de rosa. Mas então, ela olhou-o com fome, com o olhar carregado
de desejo, com aquele jeito sensual que ela tinha que o deixava fora de si.
Ela deslizou o olhar pelo seu corpo e foi subindo o rosto até olhar para cima e encontrar seu olhar quente, que a devorava.
E ele sabia que ela estava pensando obscenidades.
Oh delicioso.
— Eu não deveria mais beijar você, até que me beije de volta — ele disse.
Ela o olhou aturdida.
— O quê?
— Que você me beije, Sami. Que tome a iniciativa.
— Você reclama demais.
— E você devia manter essa boquinha ocupada me beijando.
— Quer que eu lhe mostre?
— Por favor. Mostre-me como sabe me beijar.
Sami o beijou, embrenhou os dedos em seus cabelos e o beijou tão deliciosamente que Petrus sentiu uma espécie de blackout em sua mente e seu corpo reagiu totalmente a ela.
Ela deslizou suas mãos pelo seu peito, passou por baixo do paletó, deslizando pelos ombros, escorregando pelos braços e fazendo-o cair no chão. Depois tirou sua gravata, colete, camisa e ele ficou ali
parado, deixando-a fazer o que queria, no seu tempo. Logo ela lambeu seus lábios e os beijou enquanto abria sua calça e a tirava, até deixá-lo nu.
Sami abriu lentamente o zíper do vestido que ficava na lateral e ele caiu no chão deixando-a com uma lingerie preta de renda tomara que caia e com uma meia 7/8 com ligas, o que fez Petrus suspirar pela
linda visão dela.
Saltos, lingerie e diamantes.
Senhor amado, ele não sobriviveria a esta noite e, o melhor de tudo, era que ela estava tomando a iniciativa, seduzindo-o.
— Isso... O champanhe tem algum crédito nisso?
Ela apenas sorriu, então beijou seus lábios, sua mandíbula e desceu pelo pescoço e seu peito, sua barriga e se ajoelhou e Petrus gemeu e se escorou com uma mão na parede enquanto embrenhou a outra mão
em seus cabelos.
Sami se inclinou e umedeceu os lábios, ansiosa por prová-lo. E Petrus pensou que sua mente tinha saltado longe quando ela tomou seu membro na boca.
Por um instante, Petrus ficou completamente perdido. Ele não conseguia se mover, não conseguia pensar, pois o prazer foi intenso demais. Senti-la daquela maneira, desinibida, dando prazer a ele, um carinho
que ele tinha sonhado, mas quase não acreditava que estava acontecendo. Sami realmente o havia surpreendido.
Ela estava dando prazer a ele, voluntariamente, e era mais audaciosa do que tinha imaginado, e Petrus estava amando conhecê-la, desfrutá-la, compartilhando o prazer com ela, deixando-a agir como queria
e o melhor de tudo era que ela queria dar prazer a ele.
Isso era precioso.
Ele queria dar tudo a ela, pois queria que com isso ela o admirasse, gostasse dele, perdesse aquele muro que separava os dois. Queria que isso se tornasse uma constante, natural entre eles.
Petrus sorriu com o pensamento de que ela estava permitindo que eles se conhecessem.
Bem, uma coisa ele tinha certeza nessa vida. Sami era uma loba controversa, era fria e quente de um segundo a outro, mas que sabia o que era lhe dar prazer.
Ele gemeu e soltou um rosnado, trincando os dentes e fechando os olhos, soltando o ar com dificuldade.
Ela trilhava a ponta intensamente sensível da língua, em sua longitude, lambeu-o e sugou-o com vontade, com maestria, e quase fez Petrus perder a sanidade e ter seu orgasmo.
Sami sabia que ele era delicioso, mas senti-lo assim era outro nível, era sentir o prazer de fazê-lo sentir prazer, era senti-lo entregue a ela, levá-lo ao limite, e isso somente a fez saboreá-lo com mais
vontade.
Ele era quente e picante, e mais delicioso do que poderia ter imaginado. A respiração ofegante de Petrus a excitou ainda mais, e ela assumiu o controle, sugando com volúpia o membro ereto. Sem nenhuma
inibição, recato, pois aquela barreira já tinha sido superada.
Ela tinha perdido em algum momento depois de ter entrado naquele maldito hotel com ele.
— Sami, oh, por Zeus, eu não vou aguentar — ele sussurrou, levantando o quadril quando sentiu a umidade quente da boca o envolver, tomando-o o mais que podia.
Ela rosnou e se tornou mais implacável, deslizando uma mão em seu traseiro e suas coxas musculosas. Ele era um deus.
Sami rosnou e a vibração que veio de sua garganta o atingiu em cheio e ele gemeu pelo prazer que seu corpo foi devastado. Segurando sua cabeça com as duas mãos, Petrus rosnou olhando para o teto e depois
a observou, o que somente o excitou mais.
Ela continuou o jogo sensual até que Petrus chegou ao limite, se afastou dela, a suspendeu por baixo dos braços e a puxou para seu corpo. Então, a boca se apoderou da dela, assumindo o controle, tomando
o poder em suas mãos novamente. Ele a beijou com gosto, quase com desespero, prendendo seu corpo contra o seu, presa em seus braços.
Quando soltou de seus lábios, ambos estavam ofegantes, tentando respirar, com o olhar nublado de desejo.
— Disse que não me beijaria mais.
— Cumpriu sua parte, agora lhe darei o que quiser.
Ela sorriu e o beijou, enroscando-se nele como podia. Petrus foi atingido novamente de surpresa por ela. As coisas estavam fluindo como sonhado, mas era inesperado mesmo assim. E cada coisinha os jogava
no fogo e no precipício.
Ele girou o corpo e a levou contra a parede, de costas para ele, abriu suas pernas com seu joelho e com um puxão arrancou sua calcinha, que estraçalhada, voou pelo quarto e no segundo seguinte, a ereção
firme encontrou a umidade macia que estava quente, pulsante e pronta para ele.
Ele não a tomou de imediato, mas a torturou com seu membro e com seus dedos, enquanto a beijava. E quando ambos já não suportavam mais a tortura, Petrus entrou nela, arrancando um alto gemido.
O prazer daquilo era indescritível, novo e delicioso e, enquanto se movia, beijava seu pescoço, sua orelha e sussurrava palavras com aquela voz maravilhosa que a deixava aturdida, deslizando seu peito
em suas costas, sentindo a pele contra pele.
Petrus parou somente sentindo a sensação de estar dentro dela.
— Quente... Você é tão quente que quase me queima vivo.
Com a mão ele virou seu rosto para que o olhasse, vendo o desejo cru cintilar em seus olhos. Ela estava de lente escura para esconder seus olhos, mas estavam cintilando e ele podia ver. Magnífica.
A magia estava reverberando através dela. Ele a olhou com mais admiração ainda.
— Segure sua magia, loba.
— Não estou fazendo nada.
— Sua magia está. Domine-a, segure-a.
— Não sei.
Claro que não sabia, pois nunca tinha acontecido antes. Seus atos sexuais quentes por aí, depois de ter virado loba, tinham sido bem magníficos, porque sua libido estava sempre aflorada, mas aquilo? Somente
acontecia com ele.
E ao mesmo tempo que era assustador, era incrível, prazeroso e delicioso demais para colocar um adjetivo.
— Sabe o motivo de não saber, Sami?
Ela riu e gemeu.
— Porque tenho que aprender.
Ele sorriu por sua brincadeira. Mas ele sabia que era por serem companheiros porque aquilo também nunca tinha acontecido com ninguém que ele teve sexo e sua lista era bem longa.
Mas Sami era Sami, era dele.
Ele beijou sua boca, e com os olhos cravados nos dela podia ver claramente o mesmo deslumbre, a mesma sensação de espanto, de êxtase, de surpresa.
Porque estar assim era diferente de qualquer coisa. Não era apenas aqueles papinhos clichês de ser a mais gostosa, a diferente, porque queria conseguir uma transa, mas sim porque eram especiais e a conexão
que se formou atingiu os dois, algo diferente que se chocava bem no coração, como se o inflasse e parecia que uma aura de energia se expandiu de seus corpos.
Era como se os dois tivessem enfiado o dedo na tomada. Se só de eles estarem assim já era intenso, como seria se a mordesse?
Sami soltou a respiração e Petrus tocou seus lábios com um beijo tão doce que quase lhe arrancou lágrimas, então ele fechou os olhos e se movimentou dentro dela, indo mais fundo que podia, ao mesmo tempo
que a beijou profundamente, lhe arrancando gemidos.
Desceu devagar, quase saindo dela e entrou novamente, e fez isso uma e outra vez, tão lento que quase era uma tortura e enquanto isso a tocava com os dedos, torturando-a.
— Petrus... — ela implorou.
Seus movimentos aumentaram, abraçando-a, roçando seu corpo no dela o mais que podia, tomando-a, marcando-a. Ele a prendeu contra seu corpo, envolvendo-a totalmente, sentindo sua pele, percorrendo suas
curvas, como se desejasse marcar cada centímetro de sua carne. Ele deslizou sua mão até seu seio e deleitou-se em ver como era perfeito e maravilhoso tocá-lo. Em resposta, ela suspirou em meio a um gemido
de prazer, reagindo ao seu toque. Petrus somente a desejava mais quando ele via como ela despertava com suas carícias, como seu corpo reagia a ele, dizendo que ele era bem-vindo, apreciado e que ela desejava
que lhe amasse. Ela estava se abrindo para ele, como uma flor na manhã de primavera, e era exatamente isso que ele queria fazer: amá-la.
— Você gosta disso, não é, Sami?
— Sim, eu gosto.
Ele gemeu novamente entrando tão fundo, empurrando-a, que ela gritou e ficou na ponta dos pés, escorando-se com as mãos na parede e empinando o traseiro contra ele.
Bem, isso deveria fazê-la feliz. Era forte, mas não para machucá-la, ele nunca a machucaria.
Ele agarrou seus longos cabelos que já haviam se desprendido de seu penteado e enrolou na sua mão, dominando-a e puxando-a para ele que gemeu em seu ouvido, mordiscando e lambendo, investindo dentro dela,
forte e poderoso.
— Você é minha loba, Sami, minha loba.
Bem, ela ouvia e isso parecia cravar na sua mente como marretadas, como uma gravação a fogo, mas estava num planeta muito distante de prazer para conseguir negar ou o mandar parar de dizer aquilo.
Talvez porque sua loba estava saltando tão enlouquecida dentro dela, querendo ser reivindicada que ela tinha dificuldade de pensar.
A única coisa que saiu de sua boca foram gritos e gemidos e o nome dele em arfadas curtas e desesperadas.
Petrus deu o que ela queria, sexo quente.
Ele deslizou sua mão em seu sexo e massageou-o com movimentos circulares o que a fez entrar na borda de seu orgasmo, sua excitação estava escorrendo pelas pernas, encharcando-a. Incrível.
Petrus movia-se ritmicamente forte, segurando firme contra seu corpo e então, ofegante, disse em seu ouvido, o que a fez parar de respirar.
— Você gostaria disso, Sami? Gostaria que te tomasse toda, de todas as maneiras?
Ela gemeu.
— Responda, agápi mou.
— Sim...
Ele deslizou sua mão pelo seu quadril, a virou e debruçou-a sobre o braço do sofá, sobre as almofadas, se debruçou sobre ela e beijou sua nuca, seus ombros e recomeçou seus movimentos fortes.
Sami pensou que nunca na sua vida havia tido tal ato forte com nenhum homem, nem sabia que era possível sentir tal prazer, tão forte, tão intenso, mas ele a surpreendeu e deu mais.
Ele passou o dedo pela sua excitação, encharcando-o e levou-o até seu traseiro, ele mordeu levemente seu pescoço e sussurrou com aquela voz gutural que quase a fez ver estrelas:
— Gosta de ser tocada aqui? Vou tomá-la aqui um dia, será minha por inteiro, e nunca mais pensará em me deixar. Eu a tomarei e te morderei, reivindicando-a. Mas quero que saiba que até este dia não chegar
você já é minha, minha garota, minha loba, minha alma.
Ela quis responder, mas não conseguiu, pois no mesmo momento que entrou nela fundo, seu dedo fez o mesmo, arrancando um gemido misturado com um rosnado e ele saiu e entrou, uma e outra vez, e ela gritou
explodindo num orgasmo tão intenso que perdeu todos os seus pensamentos.
Petrus teve seu orgasmo jogando dentro dela sua semente, sua força vital, sua mente.
Bem, ambos conseguiram um sexo selvagem além da expectativa dos dois, fabuloso, e antes que tombasse no chão, Petrus tomou-a nos braços e caiu no sofá, segurando-a contra seu peito.
Algo tinha estalado no quarto. A luz dos abajures. A aura de magia estava solta, Petrus pôde ver, solta, malditamente à vontade querendo fazer sua magia de reivindicação, mas não aconteceu e passou a língua
das presas crescidas e doloridas. Mais uma sessão dessas e ele não conseguiria se segurar. Era como travar uma luta com um titã.
Os dois estavam lutando contra a reivindicação de companheiros de alma. O quanto isso era insano? Ou o quanto eles eram cabeças-duras?
Sami passou a língua em suas presas crescidas que também doíam como as dele. Ela sucumbiria e se perderia, quase podia ver seu destino.
Cada vez o sexo ficava mais intenso e a magia exigia mais e mais e estava difícil lutar contra.
Petrus suspirou e beijou docemente seus lábios e ela fez o mesmo. Vários beijos doces. Impedindo qualquer palavra.
Estavam cansados, exauridos, saciados de uma forma descomunal, sem nem conseguir balbuciar uma palavra, trocando leves carícias, estavam suados, esgotados, mas a sensação que havia no coração era temerosa.
Um sentimento tão forte que dava medo.
Dizer o quê depois disso? Que estavam ambos ferrados? Bem, os dois sabiam e não precisavam que nenhum deles dissesse.
Eles se abraçaram forte e ali ficaram, tombados e amortecidos, somente desejando que o mundo real não existisse e eles não precisassem sair dali e enfrentar suas vidas.
O outro dia foi o mais estranho possível. Nem Petrus nem Sami tocaram no assunto da noite anterior. A sensação é que haviam feito algo errado, por mais que tivessem realmente amado o ato, a sensação não
os abandonava.
Sami estava no banheiro terminando de se aprontar para irem à luta. Estava nervosa, ansiosa e não conseguia controlar os sentimentos que a assolavam.
Ela queria se arrepender na noite anterior, mas não conseguia. Queria se bater por ter sucumbido a ele, mas não se sentia arrependida.
— Calma, Sami, você vai conseguir, está quase acabando e você poderá ir embora. Está tudo bem. Você consegue — ela sussurrava uma e outra vez, tentando se convencer de suas palavras. — Siga o plano, somente
siga o plano.
Ela calou-se quando sentiu Petrus se aproximar e entrar no banheiro.
— Você está bem? — ele perguntou suavemente.
— Sim.
— Está aqui há tanto tempo que pensei que tinha ido pelo ralo.
Ela riu e o olhou fazendo beicinho.
— Mulheres demoram em se arrumar.
— Está linda.
— Obrigada.
— Está me evitando, eu te machuquei ontem à noite?
— Não.
— Foi um sexo incrível, um dos melhores de minha vida e da sua também.
— Certo — ela disse com um suspiro, revirando os olhos.
— Você não leva a sério o que eu digo, sempre acha que estou mentindo.
— Desculpe, Petrus, mas é que custa a crer em tudo que fala, porque fala tudo tão intensamente. E além de afirmar seus sentimentos fica dizendo sobre os meus.
— Vai negar que foi estupendo? Hã! Não minta.
— Sim, foi estupendo, não vou negar.
— Vai negar que gosta de mim?
— Gostar é relativo.
— Para você é relativo, porque você não conhece seus próprios sentimentos. Não conhece a si mesma.
— Lá vem de novo. Você não enxergaria a diferença entre gostar, estar apaixonado ou o que é amor, mesmo que este fosse esfregado na sua cara. Você é como todos os homens, só pensam em sexo.
— Você tem uma ideia muito deturpada de mim, e não sei de onde a tirou.
— De onde? Das suas cantadas baratas que parecem aquelas cantadas de pedreiro que ficam assobiando para toda mulher que passa na rua. Vulgar e brega.
— Minhas cantadas não são bregas e nem vulgares, são a verdade. Eu sei ler você, mas tem que descobrir o que sente, se somente gosta, se está apaixonado ou se ama. Então terá o que dizer para a fêmea.
Lobos não mentem, portanto todo tipo de elogio e proposta que fiz até hoje a você são verdadeiras.
Sami riu, incrédula, mas parou quando olhou seriamente para ele e viu que ele não estava rindo, estava falando sério.
— Espere aí, estamos realmente tendo esta conversa?
— Qual é o problema?
— Você é um homem. Homens não falam estas coisas.
Petrus somente ergueu uma sobrancelha.
— Não sabia que homens não podiam falar disso, do que sentem. Somos iguais a todo mundo, por que não poderíamos ter o mesmo direito de sentir e falar?
— Petrus, em que mundo você vive?
— No mundo dos lobos e uma parte do dos humanos, o mesmo que o seu.
— Não, meu bem, no meu mundo homens não discutem relação.
— Por isso seus casamentos não duram. Bem-vinda ao meu mundo, Sami. Quando tomar minha companheira ela viverá comigo por mais uns duzentos ou trezentos anos e eu farei de tudo por ela para que passemos
bem este tempo. Minha companheira fará o mesmo por mim. Porque falaremos e ela sentirá o mesmo que eu.
Santo céu misericordioso. Ele estava falando sério, realmente.
Ela odiava quando ele fazia estas coisas absurdas e a deixava sem chão. Pior, mexia com seus sentimentos e fraquezas.
— Bem se é tão falador, então me diga seus conceitos sobre os sentimentos entre um homem e uma mulher. Por favor, evite palavras chulas.
Ele girou os olhos e suspirou.
— Não me leva a sério, garanto que distorce minhas palavras porque você mesma não sabe distinguir um sentimento do outro.
— Oh que ofensa, é lógico que sei.
— Duvido.
— Não creio que precise explicar o que acontece entre um homem e uma mulher, não é um virgem e inexperiente que precise de lições.
— A única coisa que deve saber de mim, Sami, é que eu levo muito a sério as mulheres e gosto imensamente de desfrutar com elas momentos quentes e prazerosos, mas a partir do momento que eu assumir minha
companheira, não haverá mais elas.
— Oh! Será eternamente fiel?
— Sim. Lobos não traem suas companheiras, a não ser que seu caráter esteja deturpado. Lobos cuidam e amam suas companheiras e desfrutam de todos os momentos com elas. Mas a lenda de companheiras de alma
diz que companheiros são especiais, mais fortes.
— Mais fortes? Mais fortes do quê?
— Me dê os seus conceitos, Sami. Vamos, descreva-os para mim. Elucide minha falta de informação, por favor.
Ela suspirou.
— Não vou fazer isso, temos que ir.
— Temos tempo, fale.
Ela respirou exasperada e tentou se acalmar e pensar na resposta.
— Quando você gosta de alguém sente um frio na barriga quando vê a pessoa, mas mantém os pés no chão. Quer estar junto, tem vontade de conhecer a pessoa, seus desejos, seus gostos. Pode passar rápido também.
Se o sentimento persistir, então ele passou para as outras etapas.
— Jura? Existem etapas?
— Tecnicamente, sim.
— Quais são estas etapas? — disse segurando o riso.
— Estar apaixonado. Bem, aí a pessoa fica meio louca, perde a razão, não controla seus sentimentos. É como um fogo grande queimando violentamente. Não enxerga os defeitos da outra pessoa e age por impulso.
Seu sangue corre rápido nas veias, abrindo as portas para a luxúria.
— Apaixonar-se é ficar cego.
— Sim, mas isso é perigoso — ela disse num sussurro.
— Esta paixão pode chegar de forma estrondosa e te derrubar, mas ela pode acabar bem rápido também e, então, o relacionamento acaba. Se não acabar é porque entrou o amor — ele sussurrou deslizando um dedo
pela sua clavícula e seu pescoço, lentamente, sem tirar os olhos dos dela.
— Oh, sim — ela disse arranhando a garganta. — O lobo entende de amor?
— Tenho meus conceitos, qual o seu?
— Quando se ama não tem volta, mas o amor precisa ser cuidado, como uma planta que precisa de água. Você planeja um futuro com a outra pessoa e tem vontade de cuidar, zelar e proteger. Cria laços, quer
envelhecer ao lado da pessoa. Não pensa em abandoná-la ou em desistir quando as coisas estão ruins. Quer estar com ela nos momentos bons e nos ruins.
— Uma companheira de um lobo tem tudo isso, mas uma companheira de alma tem isso e mais. Tem a outra metade de nossa alma na mão. E ela tem o poder de machucar ou cuidar dela, mas um companheiro verdadeiro
não machuca. É o amor e laço que não morre, sobrevive à luta e permite uma felicidade completa. Livre.
— Petrus...
— Eu quero passar todas as etapas e creio que já passei algumas delas. Quero realmente que seja minha companheira de alma, aquela que fizeram para mim, só para mim.
Sami queria chorar como uma idiota. Sua garganta estava embargada, seu coração estava acelerado e seus olhos ardiam, e sabia que se piscasse as lágrimas que o inundavam cairiam e ele descobriria que era
uma fraca. Mas falando aquelas coisas era difícil manter seus muros erguidos, sua prudência.
O que inferno era este homem?
Ele se aproximou e ela tinha ido para trás, sem ao menos perceber e ele a encostou na pia, imprensando-a com seu corpo.
A maneira que deslizava o olhar languidamente pelo seu rosto com aqueles olhos quentes que pareciam mercúrio, fez com que sentisse seu corpo se contrair, a ponto de fazê-la soltar um leve gemido.
— Não sou sua companheira — ela sussurrou.
— Claro que não. Mas gosta de mim.
— Posso gostar um pouco.
— Pode estar apaixonada.
— Está sendo presunçoso.
— Posso provar.
Ela riu e ele a beijou. Poderia empurrá-lo, mas por Deus que queria beijá-lo de volta, e o fez, embrenhou os dedos em seus cabelos e o beijou com toda paixão. Porque sim, estava apaixonada por ele. Estava
completamente apaixonada e isso era amedrontador, isso se já não tivesse pulado para a outra etapa, mas sua mente confusa não queria admitir.
Petrus gemeu quando ela impulsionou seu corpo para ele, como se precisasse de seu contato, beijando com mordidas e lambidas, arrancando gemidos de prazer dele, então ofegante ela foi ao seu ouvido.
— Estamos atrasados — sussurrou e ele gemeu mais forte, trincou os dentes e a olhou.
Ela deu um sorriso malandro e sensual e lambeu sua boca lentamente. Provocando-o, se abaixou e saiu de seu agarre, passando por baixo de seus braços.
— Maldita mulher — sussurrou e soltou um rosnado.
Petrus não acreditava que ela tinha feito isso, estava provocando-o, maltratando-o. Ele sabia que ela nutria sentimentos fortes por ele, atração carnal, e mais um monte de coisas juntas.
Ele estava disposto a abrir seu coração, mas ela não.
Ela não o aceitava. E isso doía. Só precisava de tempo.
— Muitas vezes, você se depara com uma tempestade, ela vem uma vez mais forte que a outra, diferente para um do que outro, mas sempre vem, para todos.
Ela parou na porta do banheiro e o olhou aturdida.
— O quê?
— A nós cabe passar pela tempestade e sobreviver a ela. Você entrou na tempestade, Sami, mas ainda não saiu dela. Precisa sair. Você pode usar estas roupas de couro ou um vestido rodado, pode ser desbocada
ou o que quiser ser, mas não pode deixar seu coração ficar na tormenta. Não pode deixar que sua raiva te impeça de viver e ser feliz.
Ela estava engasgada, pois era bem assim que sentia, tinha entrado numa tormenta e não tinha saído.
— Você saiu da sua?
— De algumas, outras ainda me atormentam, mas há uma que somente você pode me tirar.
— Eu?
— Sim, e tenho certeza de que esta mesma tormenta atingiu você também.
Sim, tinha e reconhecer isso era difícil.
— Você acha que podemos sair desta tempestade? Parar as nuvens negras que pairam em nossas cabeças? Fazer parar a dor do peito?
— Acho que sim, juntos. Só então teremos a felicidade.
Sami suspirou, e ele entendeu que ela não sabia mais o conceito de felicidade e se encontraria tal coisa.
Ele foi até ela e tocou seu rosto.
— Saber que não está feliz, me deixa infeliz. Queria poder te fazer sorrir, rir e fazer seus olhos brilharem como o sol.
Ele delineou seus lábios com o polegar, olhando-os com intensidade e Sami engoliu em seco e estava difícil de respirar. Ela não conseguia fazer nada direito quando ele a tocava assim e piorou quando ele
se aproximou mais, envolveu sua cintura com o braço e a trouxe para seu corpo.
Sami quase gemeu, porque foi um movimento lânguido, envolvente e todo aquele tamanho se encaixando no seu corpo era quase demais para suportar. E ele a encaixou em um abraço tão perfeito.
— Talvez esteja certa, Sami, talvez não haja sentimentos entre nós, talvez somente desejo para uma boa noitada numa cama e na manhã seguinte tudo desapareça. Depois do que tivemos, se continuar pensando
assim... se quer somente uma foda quente, posso dar isso, posso dar uma que se lembrará para a eternidade.
— Acredito que essa noite quente como o próprio covil de Hades pode esperar, já que temos uma missão no momento — Harley disse entrando no quarto e espiando pelo banheiro.
Petrus suspirou de desgosto. Queria chutar a bunda de seu irmão. Sami também suspirou, mas de alívio, porque não conseguiria fugir dele daquele jeito e esta conversa...
Um minuto mais e teria tirado o resto das roupas e esquecido aquelas malditas lutas.
Para que estavam fazendo isso, afinal?
— Petrus, tem certeza de que quer ir lá sozinho? Devíamos pedir reforço — Harley disse preocupado.
Petrus estava calado e pensativo. Havia uma formiguinha atrás de sua orelha, pinicando que talvez aquela não fosse uma boa ideia.
— Por isso você vai estar de fora e terá apoio de Nathan cobrindo minhas costas. O plano é ir lá e ver a luta e ver o que estes bastardos estão fazendo. Não somos uma ameaça para eles.
— Por enquanto.
— Alô, alô, testando — Petrus falou para testar o mini-intercomunicador que estava na sua orelha, e que seu cabelo longo e solto encobria.
— Bem, diga alô ao novo produto de nosso site — Harley disse mexendo no computador.
— É bom.
— O rastreador estava dificultando a transmissão de áudio e então eu o removi. Você já tem um rastreador subcutâneo, não precisamos de outro. Este do ouvido é o primeiro que se perde.
— Vocês também o colocaram? Pensei que só os lobos da alcateia de Noah que o tinham feito — Nathan perguntou carregando mais uma arma.
— Sim, Noah providenciou dois para nós se assim o quiséssemos. Achei que seria uma boa. Agora se qualquer lobo de nossa turma for capturado ou se perder, temos como rastreá-lo — Petrus respondeu.
— Sábio.
— Pena que não tínhamos isso antes.
Harley suspirou e cruzou os braços.
— Bem, com o passar dos anos a tecnologia nos ajuda. Qual é o plano?
— O plano é não ter nenhum confronto até descobrirmos o que estes lobos estão realmente fazendo nestas lutas clandestinas e descobrir quem é o Lobo Negro.
— E então?
— Analisamos o terreno e os pegamos. Se não dermos conta sozinhos, chamaremos reforços. Não sou louco de enfrentar um bando de imbecis sozinho, irmão. Mas a única maneira de entrar é se infiltrar. Temos
que descobrir quem é o alfa e pôr em xeque a história de Sami.
— Acredita mesmo nela?
— Acredito.
— Ela ainda não nos confessou quem é o cara do telefone, isso não incomoda você?
— Ela irá contar no seu tempo, mas fiz uma promessa, Harley.
— E se ele for um deles?
— Harley, não acredito que este cara seja dos laboratórios.
— Esse cara é muito bom em me bloquear.
— Uma hora você vai encontrá-lo, assim como fez com Sami. Eu confio no seu talento, mas precisa se acalmar. Está exaltado nos últimos dias, Harley. Tranquilize sua mente para que eu possa pensar que está
comigo 100% enquanto meu traseiro estiver lá fora em risco.
— Sabe que pode confiar em mim. Sempre estarei cobrindo suas costas.
— Eu confio, irmão.
— Eu espero, Petrus, que ela não esteja te cegando.
— Não está. Sei muito bem como lidar com isso.
— Não acredito, mas ainda confio no seu bom discernimento. Muitas pessoas dependem de você.
Lembrar-se disso fez Petrus querer matar meio mundo.
— Já te decepcionei alguma vez?
Harley suspirou e trincou os dentes.
— Não. Mas ainda acho que ela te trará problemas.
— E eu lidarei com eles quando chegarem.
Petrus agarrou a nuca de Harley e o puxou, encostando sua testa na dele por um minuto.
— Tome cuidado, irmão.
— Você também.
Depois foi sair do quarto e segurou no ombro de Nathan.
— Obrigado por estar aqui para ajudar.
— Sem problema. Sempre estarei aqui para os lobos. Se precisarmos de reforços, chamarei meus homens.
— Só os que já sabem sobre nós.
— Exatamente. E podemos confiar neles.
Petrus sorriu e saiu do quarto de Harley, atravessou o seu e foi ao banheiro.
Petrus entrou no banheiro e parou atrás de Sami que estava ali, parada se olhando e passando batom vermelho.
— O banheiro parece ser sua parte favorita do hotel. Sami sumiu. Onde está, Sami? Banheiro.
Ela riu e lhe deu uma cotovelada e passou mais batom. Ele riu e a admirou pelo enorme espelho.
— Está linda. Tão elegante.
Ela vestia uma calça social preta e uma blusa de seda branca e um elegante jogo de colar, brincos, pulseira e anel, uma maquiagem bem feita e cabelos bem penteados, e uma bolsa e sapatos caros. Uma dama
rica.
— Você também está bonito.
Ele estava vestido todo de preto. Uma gravata e camisa de seda preta que fazia jogo com um terno bem cortado e caro. Um prendedor de gravata e abotoaduras de ouro.
— Está pronta?
— Estaria mais confortável se estivesse com minhas roupas, se precisarmos lutar, isso parece incômodo.
— Querida, temos que estar no mesmo nível que nos viram no cassino. Não podemos entrar lá de couro e armas em punho.
— Parece tedioso.
Ele sorriu e a virou para ele.
— Vamos seguir o plano, está bem?
Ela soltou a respiração e se acalmou.
— Ok, seguiremos o plano.
— Fique sempre ao meu lado, atenta a todos os lobos. Qualquer coisa suspeita me avise. Nada de perder a cabeça, devemos apenas observar, com calma e com segurança. Este foi o nosso trato para que fosse
comigo.
— Sim, comandante, às suas ordens — disse batendo continência e ele riu e lhe deu um suave beijo.
— Tranquila e alerta, e não se esqueça, não saia de perto de mim.
— Ok.
— Pronta?
— Pronta.
O pavilhão estava lotado de humanos e lobos. Era um antigo galpão de uma fábrica de produtos químicos.
Como diabos tinha isso tudo no deserto de Nevada, Petrus não sabia. Mas a visão de tantos humanos misturados com lobos foi aterrador. Este Lobo Negro era ousado e perigoso. Deveria tomar atitudes drásticas
contra ele.
E o pior era que os humanos que estavam frequentando a luta eram abastados, as mulheres ostentando muito luxo, muitas eram prostitutas de luxo, usavam joias caras, homens fumando seus charutos, com abotoaduras
de ouro e esbanjando dinheiro com apostas altas. Para se igualar com todos, Petrus também fez suas apostas.
— Harley, isso é um poço perigoso — Petrus falou sussurrando no intercomunicador.
— Estou vendo pelos carros de luxo. Como nenhuma autoridade vê isso? Esse Lobo Negro é mais perigoso do que pensamos.
Os anúncios e apresentações foram feitos e as lutas começaram e, então, Petrus teve realmente a visão do que se tratava. Lobos lutando com lobos, humanos com humanos.
Os humanos imbecis que estavam assistindo achavam que as garras e dentes eram de mentira e apostavam alto no espetáculo.
Sami tapou a boca e apertou o braço de Petrus ao ver um lobo matar o outro.
— Mas que merda! — Petrus rosnou.
— Petrus, eu estou com um mau pressentimento, saia daí — Harley disse.
— Sim, acho que já vi o bastante, não consigo localizar este tal Lobo Negro, ele deve estar aqui, camuflado. Queria dar uma olhada nele.
Petrus ia dizer algo e sair dali, mas então ele viu uma nova luta ser anunciada pelo locutor.
— Esta luta é espetacular. De um lado temos o Demolidor! O invencível.
O lobo abriu caminho entre todos, empurrando quem estava no seu caminho. Era enorme, com os cabelos pretos muito longos, meio ondulados e estavam parecendo molhados e era muito forte com muitas tatuagens
pelos seus braços e no direito estava todo coberto por elas, do punho até o ombro. Ele usava uma máscara pintada que cobria todo seu rosto.
— Merda! — Petrus rosnou.
— E para desafiá-lo. Temos o lutador John, o Selvagem — disse o locutor.
O homem entrou no ringue e Petrus parou de respirar quando viu que era um humano.
— Merda! Um lobo contra um humano! Você estava certa, Sami.
Então ele ouviu Sami arfar assustada.
— Oh não, não, John, não. Ele vai matá-lo! — ela disse assustada.
— O quê?
— Petrus faça alguma coisa, ele vai matá-lo!
Bem não teve tempo, pois a luta começou e todos os olhos estavam virados para o ringue e os gritos e ovações eram altas e quase deixavam Petrus surdo por causa de seu ouvido sensível.
Sami deu um passo à frente para ir ao ringue, mas Petrus a puxou contra seu corpo e disse ao seu ouvido:
— Fique quieta e não se exponha. Se fizer um escândalo aqui, agora, estamos mortos, entendeu, Sami?
— Mas...
— Quieta! Esse humano já está morto.
Petrus a segurou pela cintura firmemente para impedi-la. Ele quis ajudar o humano, mas olhando ao redor podia ver a quantidade de capangas prontos para rasgar uma garganta de quem ousasse fazer besteira.
John avançou contra o Demolidor com um golpe, o acertando no rosto e desviou de outro, acertando mais dois no estômago.
O Demolidor o agarrou pelo pescoço, bateu em sua cabeça, e o jogou contra as cordas. John quase caiu, mas se recuperou, e ele urrou, tomando força enquanto o Demolidor rosnava e mostrava suas presas.
John não demonstrou medo, pois pensava que eram dentes postiços, como haviam anunciado. John correu, deu um salto que alcançou seu pescoço com os tornozelos, girou, levando junto o lobo, que caiu com um
forte baque em um tombo espetacular.
John parecia estar na vantagem, mas quando levantou incitou a plateia e todos gritavam, batiam palmas e abanavam maços de dinheiro.
Petrus sabia que o lobo não estava colocando sua força, estava brincando com a presa. Mas havia algo errado, aquele lobo parecia tão familiar... Então o Demolidor levantou e diante dos olhos de todos,
as garras de suas mãos estavam longas.
— Oh merda... — Petrus resmungou e Sami gemeu assustada.
John pareceu assustado olhando suas mãos, e então a montanha de músculos avançou sobre ele. John tentou se defender, mas desta vez não foi possível. O Demolidor deu dois cruzados em sua barriga fazendo
longos talhos e o sangue começou a escorrer.
Sami gritou, mas Petrus tapou sua boca e com horror ela viu o Demolidor erguer John no alto de sua cabeça, deu um giro e o jogou no ar. John voou sobre o ringue e caiu longe, sobre um monte de tonéis.
Houve susto, ofegos e os lobos correram para onde o corpo caiu, eles o levaram para dentro das portas deixando um rastro de sangue.
O povo ovacionou como se tudo fosse uma grande brincadeira e estavam se divertindo e quem apostou no Demolidor estava vibrando pelo dinheiro. O Demolidor rosnou alto e forte e depois soltou um uivo, anunciando
sua vitória.
— Oh merda! Não é possível — Petrus rosnou novamente.
Sami gemeu e ele a girou nos braços fazendo-o olhar para ela. Ela estava realmente apavorada.
— Ele matou John, ele matou John.
— Você o conhecia?
— O conheci, na estrada... Eu... Era um amigo. Eu devia ter ligado e talvez o tivesse salvo...
— Shhh, controle-se, Sami, vamos sair daqui, agora, calmamente, e com cara de satisfeitos, ok? Não nos delete. Entendeu?
— Ok. Ok, eu estou calma.
— Harley, estamos de saída.
Petrus a puxou pelo braço e no meio dos gritos e ovações, ele foi a levando para a porta lateral para sair.
Então, um zunido alto em seu aparelho quase estourou seus tímpanos e ele rosnou pela dor e tirou o fone do ouvido. Quando passaram pela porta, havia um corredor e a porta atrás de fechou.
Petrus se virou e empurrou Sami atrás dele para protegê-la de uma ameaça, mas então um dardo acertou seu pescoço e um acertou em Sami. Petrus rosnou, tirando-o e cheirando.
— Harley! Merda!
Ele rosnou ferozmente alongando as presas e suas garras e Sami caiu desacordada aos seus pés. Ele a juntou do chão e cambaleando correu com ela, mas quando chegou à porta de saída para o exterior, seus
joelhos fraquejaram e ele caiu, tentou levantar, mas seu corpo parecia paralisado. Era como se seus músculos estivessem atrofiando, congelando.
— Harley!
O intercomunicador estava mudo.
Muito vagamente Petrus ouviu vozes distorcidas. Ele caiu no chão, segurando Sami sob seu corpo, para protegê-la, então mãos fortes o agarraram e o levantaram e com a visão turva, viu alguém juntar Sami
e afastá-la dele. Eles foram carregados para uma sala e então ele viu o rosto conhecido.
— Como vai, Petrus? É uma surpresa tê-lo no meu espetáculo e ainda mais com esta deliciosa loba. Que honra!
Petrus quis gritar, atacar, matar o bastardo, mas não conseguia se mover direito e havia três lobos o segurando ajoelhado. Um em cada braço e outro mantendo sua cabeça em direção a Joan.
— Joan... maldito — sussurrou com a língua enrolada.
— Não estava apreciando a luta? Estava indo embora tão cedo. Nem esperou a melhor parte.
— Matou... um... humano.
— Oh, humanos são tão estúpidos e sádicos. Eles não têm noção da realidade. Veja você, quantos vem à procura de uma diversão bizarra. São homens com a mente doentia e mulheres afogadas no sexo, drogas
e dinheiro. Ficam cheirando aquele pó branco o tempo todo e acham que são deuses. Somente dou a eles o que querem ver.
Petrus tentou olhar ao redor para ver Sami, mas não a via na sala.
— Onde... está... Sami?
— Oh, sua fêmea, linda, ela não é pura, é? Senti um cheiro de humana nela. Mas não se preocupe, ela está em boas mãos... Minhas mãos.
Petrus rosnou e tentou se desvencilhar, mas não conseguiu.
— Você quer ter sua preciosa de volta? Então tem que jogar.
— O que... quer?
— Deixe-me pensar em algo divertido.
Joan suspirou pensativo, tomou um gole de uísque, deu uma tragada no charuto e depois soltou a fumaça, brincando com ela.
— Se... você lutar com o Demolidor e ganhar, eu te devolvo sua Sami e deixo você ir. Se perder, ela será meu troféu e garanto que vamos nos divertir muito.
Petrus rosnou.
— Devo ver isso como um sim, Petrus? Bravo.
— Por... que fez isso? Está... louco?
Petrus olhou sua roupa. Usava um terno risca de giz, com uma camisa branca e um plastron como gravata, com um pino de ouro ornado com um rubi. Estava sentado em uma poltrona vitoriana e fumava um charuto
enquanto tinha um copo de uísque na outra mão. Tinha um ar imperial, louco, sádico. Um verdadeiro demônio capaz das piores atrocidades.
Um lobo com a mente doente era capaz dos mais horrendos abusos.
Petrus olhou para Joan com um ódio que nunca sentiu antes.
— Vamos, Petrus, não tenho o dia todo, nosso lutador está esperando.
— Ok, lutarei... e depois... matarei você, Joan.
— Quero ver isso, e você vai adorar lutar com meu lutador mais espetacular de todos.
— Vou espremer... seus miolos com minhas mãos pelo que fez ao meu povo... Noah devia ter matado você... naquela luta.
— Ah, Noah sempre foi um fraco, defendendo a todos, o lobo honrado que queria mostrar ao pai o quanto era valoroso. Patético. Sempre querendo o bem de todos, mostrar que era melhor que todo mundo.
— Eu vou lutar com você.
— Vamos fazer assim, se por um milagre você sobreviver ao Demolidor, nós dois lutaremos.
Petrus rosnou e tentou ir até ele, mas não conseguiu.
— Temos um trato. Vamos, rapazes, coloquem uma roupa mais adequada para a luta, seria um desperdício estragar esse lindo terno e estas abotoaduras e grampo de gravata em ouro ficaria lindo na minha roupa.
Petrus foi arrastado e rosnou enraivecido quando viu Joan ir até Sami que apareceu na porta, dopada pela droga do dardo, acorrentada e sendo segurada por dois lobos, seus lábios sangravam e sua blusa de
seda estava rasgada.
— Sami!
— Ela ficará ao meu lado, assistindo a bela luta, lembre-se de que a luta é até a morte. Quem sabe, então eu a devolva, inteira.
— Vamos lutar, agora, aqui? — perguntou um dos lobos.
— Não, o espetáculo aqui acabou, estamos voando — Joan disse.
Joan saiu, a levando, e Petrus tentou se soltar, mas levou um violento soco no rosto por um dos lobos e suas vistas escureceram.
Sami acordou e piscou, e ainda estava atordoada, mas não conseguia se mover, pois aquela droga a imobilizou. A sensação era horrível e ela tinha lutado em vão.
Ela percebeu que estava sendo segurada por dois lobos, um de cada lado. Ela tentou se soltar quando Joan veio e ergueu seu queixo, lhe dando um sorriso vitorioso.
— Não adianta tentar pular sobre mim, querida, esta droga é poderosa. Foi muito usada nos lobos quando estavam presos nos laboratórios. Ela imobiliza os músculos do corpo, mas o lobo, mantém seus sentidos,
a maioria do tempo, não é fabuloso? Quanto maior a dose, mais paralisado ele fica.
Ela rosnou para ele.
— Venha, criança, vamos. Temos um espetáculo a assistir.
— Onde... estamos? — disse com a voz arrastada.
— Bem, em outro galpão abandonado, nunca repito duas lutas no mesmo lugar.
Ela olhou atentamente para ele.
Com seus cabelos loiros, longos e soltos pelos ombros, Joan deu um sorriso no canto da boca e seu ar altivo cheio de loucura, chegou à frente de Sami e a pegou em seu queixo, jogando a fumaça de seu charuto
em seu rosto.
— Linda loba. Eu devo me apresentar formalmente. Sou Joan Mactuh. O Lobo Negro.
— Joan! Você... matou meu pai? Em Berlim — perguntou assustada e com os olhos arregalados.
— Seu pai? E quem seria seu pai?
— Dr. Godbert Sterlin.
— Oh! — Ele soltou uma gargalhada zombeteira.
— A moça é filha do traidor? Mas que coisa surpreendente! Moça, eu devo aplaudir você por ter me encontrado, muito inteligente. Sim, eu sei quem é seu pai, nos acompanhou até aqui. Uma companhia agradável,
às vezes. Um pouco resmungão com as lutas.
— O quê?
— Sim, ele era meu médico particular, nos divertimos muito, ele cuidava dos meus lobos lutadores, ele sempre se machucam nestas lutas.
— Mentiroso! Petrus disse que ele... morreu em Berlim quando tentaram fugir... e eu pensei que dois lobos eram os responsáveis. O Lobo e o Demolidor, que não eram os mesmos que... estavam mortos...
Ele soltou outra gargalhada.
— Não. Está equivocada, meu amor, eles não morreram, estão todos vivos, quer dizer, menos seu pai que conseguiu me irritar bastante.
— Não entendo o que diz... Do que está falando?
Joan a pegou pela nuca e a fez sentar bruscamente numa cadeira e a virou para que olhasse através de uma vidraça e dali podiam ver o ringue com vários lobos e humanos espalhados ao redor fazendo apostas
e gritando incentivos.
— Oh, Jesus... como consegue estas lutas?
— Não é fabuloso? Eu considero uma obra-prima muito rentável.
— Vai pagar por isso. Petrus... vai arrancar suas tripas.
— Sério? Gostaria de ver como ele poderia fazer isso, já que parece estar em desvantagem.
— O subestima.
— Duvido. Hora do espetáculo, hora de ver seu adorado Petrus morrer pelas mãos de seu amigo. Isso não é emocionante?
Sami arfou e, horrorizada, viu Petrus ser levado para o centro do ringue para enfrentar o Demolidor.
— Petrus é forte, mas não acredito que possa vencer seu amigo, que é muito forte e não o reconhece. Estas drogas realmente deturpam a mente e incitam a raiva do lobo, tornando os lobos mortais.
— Amigo?
— Sim, aquele no ringue com ele é... Julian.
— Julian... mas disseram que estava morto!
— Outro engano.
— Você não tem coração?
— Nenhum.
Sami olhou horrorizada a luta começar e Petrus saltar e agredir Julian no rosto e logo ele desviou de um golpe, e mais outro, mas foi atingido no estômago e voou através do ringue, batendo nas cordas e
caindo no chão.
— Não é divino ver um amigo matar o outro, sem saber?
— Oh meu Deus...
Nervoso, Harley observou os carros saírem e dois helicópteros levantaram voo e um ainda ficou parado.
Cada segundo que passava sua impaciência ia aumentando.
— Vamos, Petrus, fale comigo.
Seu celular tocou e ele atendeu rangendo os dentes.
— Harley falando! — disse bruscamente.
— Olá beta, sou Sloan Shonn, alfa da alcateia do Texas.
— Como vai, alfa? — disse amenizando sua raiva.
— Bem. Fiquei curioso sobre seu telefonema e falei com meu beta. Realmente soubemos de lobos mercenários e de tal alfa montando alguns espetáculos bizarros. Felizmente, para ele, não passou pelo meu território,
pois aqui não permito este tipo de circo.
— O chamam de Lobo Negro.
— Sim, ouvi sobre algumas de suas lendárias aparições. Um excêntrico psicopata. Aconselho a ficar longe dele, se não quiser confusão.
— Acho que é tarde demais para este alerta.
— Nevada é terreno neutro, beta.
— Eu sei. Por acaso sabe outro nome deste tal Lobo Negro?
— Há uma referência a ele de Joan Mactuh. Um irlandês pelo sotaque. Pelo que meu beta me informou, um lobo banido da alcateia de Noah MacCarthy há uns quarenta anos.
Harley sentiu como se o mundo tivesse colapsado, suas vistas turvaram e ele apertou o celular tão forte que quase o quebrou.
— Obrigado, alfa. Ajudou muito.
Harley desligou o celular e suas presas saltaram e ele rosnou alto e forte, pois seu ódio tomou conta dele.
Ele colocou o auricular novamente no ouvido.
— Petrus. Merda! Saia daí, agora! — gritou.
Mas em resposta somente ouviu um rosnado e um arfar e depois outro e um crask.
— Petrus! — gritou.
Houve um zumbido alto que quase o ensurdeceu e depois nenhum som ou estática. Ele pegou o rádio e gritou.
— Merda! Nathan! Atire em tudo que se mover! — disse rosnando.
— Todos estão indo embora, mas ainda há humanos lá, Harley.
— Foda-se! Temos que tirar Petrus e Sami de lá, agora!
Harley meteu o pé no acelerador e a van desceu o desfiladeiro a toda velocidade, ele olhou para cima quando um rasante do helicóptero passou por ele.
— Merda, não seja o que estou pensando.
Ele chegou à frente do prédio e desceu correndo, entrou no prédio e podia ouvir os tiros do rifle de Nathan soar para todo lado e os lobos serem atingidos.
Harley estava enlouquecido de raiva e cruzou o salão correndo e alguns lobos rosnaram e vieram confrontá-lo. Ele estava movido pelo ódio e pela apreensão por Petrus, a força de seu lobo na forma intermediária
era descomunal. Um lobo se chocou contra ele, mas ele cravou suas garras em seu tórax, rosnou e deu um giro com o lobo e o fez voar longe, caindo sobre uma pilha de tonéis.
Rasgou a garganta de outro, e se atracou em uma luta com dois ao mesmo tempo, ele rasgou, mordeu e estraçalhou com os dois em questão de minutos.
— Petrus!
Mas ele não teve nenhuma resposta. Ele correu e chegou a outro pavilhão e avistou o ringue, estava difícil de farejar porque eram muitos cheiros diferentes e o cheiro de sangue era enorme. Um lobo enorme
desceu as escadarias e rosnando saltou sobre ele, mordendo seu braço, mas Harley cravou as garras em seu flanco e mordeu seu pescoço, quebrando-o com um solavanco.
Ele rosnou novamente chamando Petrus com o sangue espalhado por todo seu corpo. Entrou em outra sala e ali ele viu um humano morto e mais dois lobos. Pelos trajes eram lutadores. Ele arrombou uma porta
e entrou numa sala e sentiu o cheiro de Petrus e Sami.
Havia cheiro de sangue e algo mais e, então, ele viu no chão, um dardo de tranquilizantes. Ele cheirou o dardo e rosnou alto e forte, soltando toda sua raiva.
Ele reconheceu a droga, era a mesma usada nos laboratórios, um tranquilizante tão potente que derrubava um lobo em questão de segundos.
Eles haviam fugido naquele helicóptero que deu o rasante.
A verdade estava estampada na sua frente e o desespero bateu em seu coração. Era como se a porta do inferno tivesse sido aberta bem na sua frente.
Joan era o responsável pelas lutas, ele era o Lobo Negro e havia levado Petrus e Sami.
Harley procurou se havia mais lobos para extravasar sua raiva, mas o que havia era corpos para todo lado. Os que não foram embora estavam mortos.
— Merda!
Ele viu um que ainda se movia, agarrou-o pelo colarinho e o arrastou para fora e o soltou com um baque. Nathan apareceu com seu rifle e tinha outro pendurado no ombro, duas pistolas no cinturão e uma faca
na bainha em sua coxa.
Nathan olhava atentamente ao redor, vestido com uma calça cargo preta, uma camiseta preta e seu colete Kevlar.
— Não há mais ninguém, Nathan, mas acredito que possamos arrancar alguma coisa deste aqui.
Harley bateu com o pé revestido com sua pesada bota de motociclista contra o peito rasgado do lobo e ele gemeu e cuspiu sangue.
— Onde está Joan?
— Não sei quem é Joan — disse gemendo e arfando pela dor e falta de ar.
— Onde está o Lobo Negro?
— Ele foi embora, agora ninguém mais pega seu rastro — o lobo disse rindo cinicamente.
— Se não me contar, vou te matar.
— Ele levou sua garota — disse rindo. — Cara, ela está morta.
— Última chance. Onde. É. O. Seu. Esconderijo?
— Foda-se!
Harley rosnou, socou o peito do lobo, estraçalhando sua caixa torácica e arrancou seu coração e rosnou tão alto e furioso que ecoou pelo deserto.
Nathan já devia estar acostumado com a “delicadeza” dos lobos ao lidarem com seus inimigos e já tinha descoberto muito sobre eles e uma coisa era certa: eles não tinham paciência para interrogatórios.
Bem, ele não estava acostumado.
— Precisa do rastreador de Petrus? — Nathan disse.
— Sim e é hora de chamar os lobos.
Petrus franziu o cenho porque tinha a nítida impressão de que o lobo lutador tinha algo de familiar. Mas estava muito nervoso e concentrado em todo o campo geral e em Sami para controlar.
Eles já haviam trocado alguns socos, mas Petrus sabia que o adversário somente estava jogando com ele, como havia feito com os outros. A questão é que Petrus não estava a fim de brincar.
Ele limpou o sangue da boca, girou e saltou sobre ele, dando com o pé em seu rosto, o derrubando. Petrus se adiantou e antes que ele se levantasse, cravou suas garras em suas costelas e o lobo rosnou pela
dor e com outra patada, deu um soco de esquerda em seu rosto, o derrubando novamente.
Arfando, Petrus se levantou e saiu de seu alcance, então o brutamonte ficou sobre um joelho e o olhou lentamente e ele percebeu que sua máscara estava rasgada. O Demolidor retirou a máscara e Petrus arregalou
os olhos ao vislumbrar seu rosto e seus gelados olhos azuis-claros.
Petrus não conseguia respirar, nem pensar. Ele teve a sensação de que seus pulmões estavam queimando e seu coração ia explodir. Não tinha mais alternativa que brigar para defender sua vida.
Ele odiava a sensação que estava tomando conta dele, aquela sensação estranha de que estava prestes a olhar um destino cruel bem na sua frente. O sentido de lobo estava reverberando sob sua pele.
Seu sentido estava correto.
Não era um lobo qualquer que ele esperava, mas um conhecido, um amigo! O lobo tão selvagem e feroz que ele tinha admirado, que tinha bebido cerveja e caçado nos campos verdes e mágicos da Irlanda.
Aquilo somente poderia ser uma miragem. Ele ficou ali, estático e boquiaberto olhando para o homem de 1,98m de altura.
Apesar de sua dor no peito, que parecia estar mais forte do que a do seu corpo pelos ferimentos, Petrus tentou encontrar sua voz.
— Julian...
Julian, que não o reconhecia porque estava drogado, avançou sobre ele e Petrus não revidou, ele se esquivou.
— Julian, olhe para mim. Sou eu, Petrus!
Julian rosnou e avançou novamente batendo no rosto de Petrus jogando-o longe no ringue. Ele bateu nas cordas e caiu, gemendo pela dor.
— Julian, pare... por favor! Sou eu, Petrus!
Julian foi para cima dele novamente e Petrus pôde sentir o cheiro da droga, uma droga que era usada nos laboratórios, uma que nublava a mente e fazia o lobo perder a consciência das coisas e agir pela
raiva e instinto de matar.
Ele soube que a usaram em Kirian e isso lhe embrulhou o estômago. O lobo ficava fora de si, agressivo e não reconhecia seus amigos.
Petrus levou outro soco no rosto e Julian foi cravar suas garras, mas ele revidou e bateu em seu peito, jogando-o para longe dele. Depois levantou, cansado e ofegante, com sangue escorrendo pela boca.
— Não me faça matar você, amigo, por favor, acorde. Precisa se lembrar de mim, Julian!
Petrus bateu no rosto dele, tão forte, que pensou que tinha quebrado sua mandíbula.
Julian caiu fortemente no ringue, e tentou se levantar, piscou e espremeu os olhos e Petrus sentiu uma ponta de esperança, mas Julian rosnou, saltou e com o dorso da mão bateu em seu rosto, fazendo-o voar
novamente pelo ringue.
Petrus rosnou, saltou sobre ele, derrubando-o no chão, escarranchando em sua barriga e distribuiu socos cruzados sem dó nem piedade, uma e outra vez.
Muito atordoado, com o rosto sangrando em vários lugares, Julian sentiu sua cabeça girar, perdendo suas forças.
Petrus segurou sua cabeça, forçando-o a olhar para ele. Julian até tentou, mas via Petrus de forma rebuscada.
— Julian, acorde, pelo amor de Deus, onde está Logan? Precisamos encontrar Logan e sair daqui, ir pra casa. Vamos, Julian, precisamos ir para casa! Olhe para mim, sou Petrus, seu amigo, sou seu amigo!
Julian rosnou e agarrou-o numa chave de braço, forçou sua garganta para enforcá-lo e Petrus gemeu e foi ficando sem ar. Ele não queria machucar Julian, mas suas alternativas estavam acabando.
— Nuair a beidh muid seilg? Tionscadal Hercules, a ghlaonn tú dom tionscadal Earcail agus d'iarr mé tú sliabh. Le do thoil, Julian! — Petrus disse em irlandês, para tentar fazê-lo voltar a si, que significava:
“Quando nós iremos caçar, projeto de Hércules? Você me chamava de projeto de Hércules e eu te chamava de Montanha. Por favor, Julian!”.
Julian rosnou quando pareceu sentir uma dor na cabeça.
— Sou o Hércules, seu amigo de caçada. Íamos com Kirian caçar, Logan e Noah, lembre-se, por favor...
Julian apertou o pescoço de Petrus e ele perdeu a respiração, sufocando. Em seguida, ele piscou pelo sangue que caía em seus olhos e fixou o olhar em Petrus e eles ficaram assim por um segundo. Parecia
que suas palavras haviam o tocado de alguma maneira. Petrus viu quando sua pupila extremamente dilatada diminuiu.
Julian rosnou, agarrou Petrus, rolando-o e com um salto, girou, tombou no ringue sobre o amigo. Ele gemeu pela pancada e então, rosnou em sua cara, escancarando suas presas e segurando uma mão em seu pescoço.
Petrus viu estrelas e soube que Julian poderia quebrar seu pescoço; com um puxão, ele estaria morto. Ele havia parado de lutar, pois não queria ferir seu amigo, mas se ele não reagisse, seria forçado a
revidar e matar para sobreviver.
— Julian... Por favor...
Houve um silêncio, então Julian rosnou em sua face novamente e então houve mais um silêncio.
“Quando eu te soltar, você mata o lobo da direita e eu o da esquerda, corra para a escadaria que há no fim da sala, Joan deve estar ali”, sussurrou.
Petrus piscou, aturdido. Julian estava falando com ele mentalmente. Ele tinha acordado!
Petrus assentiu em silêncio.
“Mate todos os lobos que encontrar. Logan está preso em uma jaula no subsolo.”
Petrus assentiu novamente.
Julian rosnou, soltou Petrus e voou pelo ringue e com uma patada com as garras expostas, bateu no lobo, fazendo sua cabeça voar pela plateia que gritava incentivos para a violência e para o lutador vencer
para que as apostas fossem pagas.
E não é que os bastardos ricos eram sádicos? Gostavam de pagar para ver a morte. Pessoas bizarras que mereciam a dor e a vingança dos lobos, pois ao ver a cabeça de um deles rolar, houve gritos ofegos
e depois, ovação.
Mas os capangas de Joan perceberam o perigo e saltaram sobre o ringue e uma enorme luta começou, fazendo pedaços de lobos saltar para todo lado e o sangue jorrar.
Quando mais uma vez a cabeça de um deles voou sobre a plateia sobre uma mulher e ela gritou histérica, o povo, imbecil, percebeu o que estava acontecendo e os gritos mudaram. Tudo começou a sair do controle,
pois eles queriam fugir.
Petrus rosnou, zangado.
— Além de sádicos são covardes. Isso, fujam, miseráveis, mas matarei a todos!
Petrus saltou sobre um lobo que pulou no ringue, cravou as duas mãos no peito arrebentando sua caixa torácica, e então ele e Julian rosnaram e uivaram no ringue, anunciando que nada os seguraria.
Ele tinha que ir à procura de Joan e Sami, mas antes que saltasse para fora do ringue e enfrentasse uma orla de lobos furiosos que vinham na direção dele e Julian, ele ouviu um estrondo, como se fosse
um trovão e uma luz cintilante explodiu naquele salão, fazendo todos arfarem espantados.
Entre gritos de homens, mulheres e rosnados de lobos ele viu, com o coração cheio de esperança e alívio, uma tropa de lobos surgir no salão.
Ah esse era um dos motivos que ele amava as bruxas. Elas podiam fazer isso acontecer.
Petrus viu Harley, Noah, Erick, Kirian, Konan, Zian, Thorman, Liam, Nathan e Sasha e mais cinco lobos da alcateia de Noah, o que fez seu coração inflar. E ele soube que sempre poderia confiar neles, pois
vieram por ele. Harley deve ter pedido ajuda.
Mas o que também o espantou, foi ver lobos vestidos com roupas antigas de couro e, liderando-os, estava o rei Kayli, acompanhado de seu beta Aaron e o homem-águia, Maddox.
Olhando aquilo, Julian estava petrificado. Não conseguia emitir reação. Talvez as drogas ainda estivessem afetando seu cérebro, pensou consigo mesmo.
As pessoas e lobos que estavam correndo para aquela direção, fizeram uma freada brusca e voltaram assustados.
— Alfa, mataremos os humanos também? — Sasha perguntou.
— Mate tudo o que respira, Sasha. Se estes humanos, bastardos, gostam de pagar para ver a morte, daremos a própria morte para que se deleitem.
— Onde Joan encontra estes sádicos, pelo amor de Deus?! — Erick perguntou.
— Boa pergunta. Sem testemunhas, não deixem nada respirando.
— As mulheres também?
— Isso não são mulheres, são víboras.
Noah estava furioso e rosnou alto, se transformando na forma intermediária e logo todos os seguiram, dando seu grito de guerra. O som era tão aterrador que o chão e as paredes chegaram a tremer.
E a partir dai, não tiveram mais tempo para um bate-papo.
Enquanto Sasha empunhando uma metralhadora FN Herstam M-249 e Nathan uma MK 46 Mod descarregavam tiros para todo lado, derrubando tudo que se movia, Maddox abriu suas impressionantes asas brancas, voou
e agarrou um dos lobos que saltou para o ringue lutar com Petrus e com duas rodopiadas pelo ar, jogou-o pela vidraça que ficava no alto do pavilhão que deveria ter uns dez metros de altura, depois pegou
um humano que corria para fugir e o jogou longe, batendo contra uma parede até ficar fincado em ganchos de metal, morto.
Uma enorme luta foi travada e ninguém seria poupado. Aqueles monstros conheceriam a ira dos lobos.
Mas quando eles chegaram até o meio do gigantesco pavilhão, onde ficava o ringue, ficaram embasbacados. Lutando ao lado de Petrus, estava Julian que em sua magnífica altura e músculos retalhava tudo à
sua frente.
Noah ficou atordoado ao ver Julian, e Kirian estava mais em choque ainda.
— Julian?
Ouvindo seu nome, ele rasgou a garganta do lobo na sua frente e se virou, olhando atordoado para seus amigos.
Se a confusão estava formada naquele momento, tudo pareceu parar porque eles não ouviram nada. O choque foi muito grande.
Porque finalmente os deuses tinham ouvido suas preces e seu alfa e seus amigos tinham vindo em seu socorro.
Eles se aproximaram e deram um abraço forte, com rosnados emocionados.
— Não acredito que está vivo. Todos viram vocês serem mortos. Onde está Logan?
Crack!
Noah quebrou um pescoço de um lobo que saltou sobre ele.
— Logan está preso. Subterrâneo, ele está no subterrâneo, mas...
Noah viu a confusão em sua mente e franziu o cenho.
Julian rosnou e desviou de um golpe de outro lobo e o jogou longe que caiu sobre um humano, fazendo-os cair pelas escadarias.
— Ele está drogado, Noah — Petrus disse, ofegando e com as mãos cheias de sangue e salpicos em todo seu corpo. — O efeito está passando, mas ainda está confuso, quase que me mata, o bastardo. Acho que
deve ter quebrado algumas costelas — Petrus disse, gemendo.
Julian rosnou e seu enorme cabelo negro caiu sobre seu rosto.
— Eu não queria...
— Está tudo bem, amigo, eu entendo. Todos nós sabemos como esta droga funciona.
Kirian se aproximou espantado, rosnou furioso e mostrando suas presas. Ele conhecia aquela merda, tinham usado nele, deixando-o fora de si, por muitas vezes. Kirian ficou parado olhando para Julian, que
o olhava sério.
— Kirian...
Kirian rosnou e foi até ele, o abraçando forte, com o coração pulsando e a garganta embargada.
— Depois faremos as comemorações, agora temos uma missão. Matar lobos bastardos.
Noah rosnou e não tiveram mais tempo. Lobos de todos os lados saltaram sobre eles e entre rosnados e fúria eram estraçalhados.
Thorman e Zian fecharam uma porta lateral que levava ao exterior e Nathan descarregou sua arma, matando os humanos que corriam para tentar sair.
— Tomem bala. Bastardos, pervertidos e sádicos.
Kayli agarrou a cabeça de um lobo somente com uma mão e com a outra socou seu peito, perfurando-o, e como se não pesasse nada, jogou o lobo para longe, e ele continuou como uma máquina de triturar, arrancando
membros, dilacerando tudo que aparecia na sua frente.
A força daquele lobo era incomparável e ele sabia dar um bom significado para a frase “sem misericórdia”.
Petrus ouviu um grito e girou a cabeça rapidamente, com o coração saltando no peito. Em uma das portas, Joan estava com Sami que tentava se desvencilhar dele, mas eles sumiram pela porta. Rosnou novamente
colocando para fora toda sua raiva.
Ele não esperou para ver mais da briga ou travar a sua ali, a dele estava focada na liberdade de sua companheira e ele correu para ela com Harley e seus amigos atrás.
E no caminho eram interrompidos pelo ataque de lobos, pois os vermes pipocavam de todos os lados, fazendo-o ficar mais irritado e ansioso para salvar Sami.
Como Joan liderava uma alcateia de lobos perversos daquela magnitude era um mistério, mas seria erradicado neste dia.
Rosnando furioso, Petrus arrancou a cabeça de um lobo, dilacerou a garganta de outro e seguiram pelas enormes portas que Joan tinha saído com Sami. Olhando ao redor do prédio, não viu nada, eles não estavam
em lugar nenhum.
Todos os lobos de Noah saíram correndo para fora e então viram o helicóptero dar um rasante sobre eles.
— Merda! — Petrus gritou. — Deve ser Joan.
— Maddox pode ir até o helicóptero? — Noah gritou.
Uma rajada de balas de metralhadoras saiu do helicóptero e os fez correr e saltar para todo lado para desviar, o que deu tempo ao aparelho de se afastar mais.
— Posso segui-los.
— Do que adiantaria? Sozinho não pode impedi-lo e não terá como nos avisar onde está.
— Harley, o rastreador. Você o tem? Sami ainda tem o chip subcutâneo, podemos localizá-la.
Harley se aproximou e desengatou o pequeno aparelho de seu cinto e foi ao lado de Petrus que o pegou, atordoado.
— O que há de errado com ele?
— Eu o usei para rastrear vocês até aqui, acredito que na luta um dos baques possa tê-lo danificado.
— Merda e agora como vamos seguir Sami? — disse apavorado.
— Pode consertar? — Noah perguntou.
— Posso, mas pode demorar — Harley respondeu observando o aparelho.
— Sami não tem tempo, Joan pode matá-la. Preciso chegar até ela agora!
Thorman veio correndo até eles e estava com o nariz sangrando.
— Julian, onde é a entrada do subsolo? Não encontramos, tem certeza de que Logan está no subsolo?
Julian piscou, atordoado.
— Deveria ter, não me lembro de onde é a entrada. Não consigo lembrar.
— Julian. Para onde Joan está indo?
— Eu... não sei!
— É a droga, ainda está o deixando atordoado.
— Precisa se lembrar, pode ser que Logan não esteja aqui e sim para onde Joan está levando Sami.
Eles olharam para os gritos e rosnados que ainda ecoavam dentro do pavilhão.
— Vou atrás dele, depois darei um jeito — Maddox disse libertando suas asas novamente que ele tinha as feito sumir.
— Talvez eu possa ajudar. — Veio a doce voz de uma mulher pairando no ar como uma doce melodia.
— Kira? — Erick perguntou e ficou boquiaberto ao ver Kira aparecer perto deles.
Julian, que ainda não conhecia a pequena bruxa de Erick, deu um passo atrás, atordoado vendo a loirinha doce e linda que surgiu do nada. Muito pequena perto dos gigantes, mas que não demonstrava nenhum
temor.
— Santo Deus, Kira, o que faz aqui? — Erick perguntou indo até ela.
— Estava com a rainha, observando as imagens. Julian está drogado e não consegue se lembrar. Podem ir atrás do tal rastreador de Harley, mas usando a magia de bruxa posso ler sua mente e tornar isso mais
rápido.
— Bruxa? — Julian perguntou aturdido.
Ela, ao lado de Erick, que estava protetor e cuidando de todos os movimentos de Julian, se aproximou dele.
— Julian, esta é minha companheira, Kira.
— Ora essa. Uma bruxa? Você se acasalou com uma bruxa?
— Sim, eu me acasalei e ela é nossa amiga, está do nosso lado, lembre-se disso. Toque-a e morre.
— Olá, Julian, é um prazer conhecê-lo. Posso tocá-lo? Prometo que não vou te machucar, somente quero ler sua mente para encontrar Sami e Joan e talvez seu irmão Logan — Kira disse docemente.
Ela exalava carinho, doçura e era tão meiga que Julian ficou desconcertado. Nunca tinha conhecido uma bruxa, mas aquela pequena figura, linda, não era nada de como ele imaginava uma bruxa.
— Bruxas não são monstros deformados, Julian — Noah disse e riu do jeito dele. — Sim, ela mudou nossos conceitos e pensamentos sobre as bruxas. — Pode confiar nela, nós confiamos.
— E... Eles... quem são? — disse apontando para Kayli e os outros guerreiros impressionantes e, então, seus olhos pararam em Maddox.
— Este é nosso rei, e ele é um shifter de águia, mas deixaremos as apresentações de lado, estamos sem tempo agora, prometo atualizá-lo depois.
Erick riu e olhou novamente para a cara de espanto de Julian. Aturdido, ele olhou para Noah e assentiu.
— Faça isso, Julian, agora — Noah disse e ele olhou para Petrus que estava ansioso e nervoso.
Bem, esta era uma ordem e ele tinha que obedecer ao seu alfa, então, suprimiu seu espanto.
Aquilo era novo para ele, mas abaixou a cabeça quando ela ergueu as pequenas mãos e ficou esperando para ele se submeter a ela.
Ora que isso seria um milagre.
Julian estava desconfiado, mas por Logan ele faria qualquer sacrifício, então se abaixou e permitiu que ela o tocasse.
Ele gemeu quando ela colocou as mãos em suas têmporas. Ele só não soube se era pela energia que vinha de suas mãos ou da delicadeza que ela o tocou. Ele não conhecia mais a delicadeza e o toque de uma
mulher.
Ela fechou os olhos e respirou fundo e um silêncio se fez entre eles, esperando para ver o que acontecia.
Então, Kira o soltou e se afastou um pouco e olhou para eles.
— Há uma casa, numa montanha, após o deserto. Logan está ali e Joan está levando Sami. Se seguirmos por ali, a encontrarão.
— Ora essa...
— Não posso levá-los, não consigo com tantas pessoas. Somente Vanora pode fazê-lo — Kira disse.
— Eu irei! — Petrus disse indo à frente.
— Há muitos lobos lá, não estará seguro sozinho — ela disse.
Kayli rosnou e uivou. Todos olharam para ele e então viram o restante de seus lobos saírem, correndo do pavilhão, incluindo Sasha e Nathan.
— O que estão fazendo?
Sasha olhou para Julian e sorriu, mostrando suas presas.
— Hora dos fogos de artifício — Sasha disse zombeteiro.
— Merda! — Petrus gritou e eles todos correram, se afastando do prédio.
Sasha apertou o botão de um controle que estava na sua mão e o imenso pavilhão começou a explodir. Uma explosão, depois outra e seguida de outra as chamas enormes tomaram conta do lugar.
— Uau!
— Sem testemunhas, sem pistas.
Por alguns minutos, eles observaram o fogo e as explosões.
— Devo ir e pegar a pequena Safira para que Vanora os leve.
Kira desapareceu na frente deles, arrancando um ofego de Julian.
— Quem é Safira e Vanora?
— Vanora é minha mãe e Safira é meu bebê — Erick disse orgulhoso.
— Mas que merda, se acasalou mesmo com uma bruxa, Erick?
— Sim.
— Sua mãe? Pensei que sua mãe estivesse morta.
— Sua cabeça pode dar algumas voltas quando se inteirar do tudo que aconteceu conosco neste tempo, Julian. Aliás, aquele ali é meu pai.
Engasgado, ele rosnou ainda mais confuso.
— Como que sobreviveram àqueles tiros? — Ronan perguntou.
— Eu e Julian ficamos muito mal, mas eles nos trataram e não sei que acordo Joan fez com aqueles malditos, acredito que ele os enganou também. Fomos levados e temos ficado prisioneiros de Joan desde então,
lutando como palhaços em um circo para ele ganhar dinheiro. Não conseguimos fugir porque nunca estamos juntos por muito tempo, eu e Logan. Joan sempre mantinha um em cativeiro enquanto o outro lutava,
se tentássemos fugir ou algo, o outro seria morto.
— Que inferno! — Erick rosnou.
— Vamos logo. Quero espremer a cabeça de Joan entre minhas mãos. Aquele maldito! — Petrus disse.
— A honra de acabar com Joan é minha. É minha a vingança para tomar — Noah disse e todos concordaram, acenando e rosnando.
O alfa vingaria a todos.
E tudo ficou branco como uma intensa luz os cegando, e houve um “trovão” entre eles.
Num segundo estavam ali, no deserto, no outro, estavam em um enorme gramado falso plantado, em frente a uma mansão em uma espécie de Canyon. Não podiam ver claramente daquele lado, mas a casa estava quase
embutida na imensa rocha e era sustentada por enormes pilares.
Podiam ver o helicóptero que Joan fugiu pousado no heliporto sobre o telhado.
Julian rosnou pelo embrulho em seu estômago pela súbita viagem, mas não teve tempo de reclamar ou a perder, eles invadiram o território de Joan e novamente lobos vindos de todos os lados saltaram sobre
eles.
Petrus avançou o quanto podia para poder entrar na mansão e salvar Sami. Ele correu e saltou, se jogando contra as enormes portas de carvalho, arrebentando-as.
Petrus caiu no hall e olhou ao redor, rosnou com toda raiva que o afligia queimando em suas veias.
Mais lobos entraram atrás dele e vários capangas de Joan saíram pelos corredores. Petrus revidou os ataques, interceptando um lobo no ar, e caindo rolando com ele pelo piso de mármore, cravando suas garras
em seu pescoço.
Livrando-se do corpo, ele andou a passos largos, agrediu mais um lobo com um cruzado de direita, e outro, puxou-o, cravando seus dentes afiados em seu pescoço.
Atrás dele, somente podia ouvir os rosnados, uivos engasgados e o cheiro de sangue se alastrar. Ele tinha certeza de que daquela casa não sairia um lobo vivo, pelo menos de seus inimigos.
Quando o helicóptero pousou no teto da mansão, Joan saiu dele, arrastando uma Sami drogada, e com as mãos acorrentadas, com pesados grilhões e correntes. Em sua garganta havia uma coleira que emitia choques
elétricos.
Ela estava tão atordoada que seu estômago estava embrulhado e pensava que vomitaria.
— Aquele bastardo do Petrus conseguiu me irritar — ele disse furioso.
— Que bom... Estou orgulhosa dele — ela sussurrou, tonta.
— Oh, mesmo drogada sua boca suja ainda trabalha, fêmea. Talvez merecesse uma lição.
— Nada que venha de você me agrada.
Eles desceram uma escada e mais outra e muitas vezes ele a tinha que erguer por não conseguir sustentar suas pernas.
— Vocês tinham que aparecer para estragar meus negócios? Sabe quanto de dinheiro perdi esta noite? Sabe o prejuízo que me deram?
— Merece ter... sua garganta rasgada.
Um lobo abriu uma porta metálica e Joan arrastou Sami para dentro e a levou para outro lado da parede, era um subsolo grotesco e ela arfou assustada quando viu uma jaula e piscou aturdida, tentando focar
seus olhos no lobo que havia ali.
Ele estava drogado, preso com muitas correntes no pescoço, pernas e braços e era muito alto e forte. Ela não pôde ver seu rosto, pois ele estava debruçado sobre si mesmo e seu longo cabelo escuro e ondulado
o cobria.
— Oh, meu Deus!
— Deixe-me apresentar, este é meu outro lutador, um dos mais ferozes, infelizmente sempre tenho que fazê-lo lutar intercalando com o Demolidor, porque senão eles nunca me obedecem.
— Eles lutam obrigados?
Joan segurou fortemente seu queixo e a fez olhá-lo.
— Este será seu companheiro de cela, querida, e saiba que esta coleira que tem no pescoço pode te matar. Tente tirá-la e receberá uma descarga elétrica que fritará seus miolos.
— Maldito, vou matar você.
— Já ouvi tanto isso. Nem tem ideia, mas estas palavras soam como cânticos aos meus ouvidos.
Ela rosnou e tentou golpeá-lo e ele a segurou com força.
— Sabe, você é muito bonita, talvez tenha uma boa serventia para mim. Que tal ser minha escrava sexual?
— Nem morta, arrancarei suas partes e o farei comer.
— Ui, adoro lobas brabinhas, são mais divertidas para domar. Vou te dar um presente, loba recém-transformada, filha de Sterlin.
Ele a arrastou para outra sala, abrindo e fechando outra porta e um cheiro de queimado atingiu o nariz de Sami.
Ela gemeu quando seu estômago embrulhou novamente e Joan a jogou no chão. Ela caiu de joelhos e piscou diversas vezes para olhar o que havia dentro da jaula à sua frente.
— Bem, acho que você gostaria de rever seu pai. Ele está meio chamuscado, mas o bronzeado lhe cai bem.
Sami olhou para o corpo do humano ali, haviam tacado fogo nele e não parecia há muito tempo, e algumas partes ainda saía uma fumaça e ela arregalou os olhos ao ver uns óculos caídos no chão, igual ao que
seu pai usava.
Aquele era seu pai. Carbonizado.
— Não... Não... — ela dizia desesperada.
— Sim, assim como os lobos, eu tirei seu pai dos laboratórios, precisava de um médico para remendar os lobos por causa dos ringues, e ele quis fugir, o tolo, e eu lhe fiz um churrasco, com ele mesmo. Eis
seu querido papai, Dr. Godbert Sterlin. Não era ele que estava procurando?
Sami sufocou, olhou o corpo e seu coração arrebentou e ela gritou, gritou agarrada às grades da cela.
Seus olhos cintilaram e ela arreganhou as presas, rosnou furiosamente e saltou sobre Joan, ela não conseguiu arranhar seu rosto, pois ele foi mais rápido e saltou para trás, se livrando de suas garras.
E quando ela saltou novamente sobre ele, gritando de raiva, ele acionou sua coleira e ela sofreu uma descarga elétrica que a fez dar um solavanco no ar e tombar no chão.
Ela gemeu e se contorceu pela dor, tremendo com a intensa corrente elétrica que a afligia, então parou e ficou meio desacordada, vagando entre a inconsciência.
Joan bufou desdenhoso.
— Por que estes lobos teimam em me agredir? Não sabem entender as frases: “Não tente fugir? Não tente nada? Obedeça ao seu verdadeiro alfa? Lobos são tão burros”.
Ele fez sinal e dois lobos que eram seus capangas levantaram-na, a arrastaram e a jogaram dentro da cela, junto com o outro lobo desconhecido, que estava acorrentado na parede.
— Depois darei um bom trato em você e te ensinarei a ser cordata, como uma escrava deve ser. Mas antes tenho que acabar com aqueles malditos bastardos que acabaram com meu negócio.
Eles saíram trancando as portas de ferro e ela gemeu, no chão, virando-se.
Com a dor atravessando seu corpo, ela sentou e tentou ir até a porta da jaula e abri-la, o que era impossível, pois se sentia fraca e trêmula.
Ela olhou ao redor e pôde sentir o desespero que os lobos tinham sofrido ao serem presos em jaulas. Seu coração se compadeceu de forma absurda por eles.
Sami não sabia o que fazer e ficou ali, atordoada, dolorida, agarrada às grades. Tinha que pensar numa maneira de fugir. Precisava encontrar Petrus. Como ele estaria? Estaria ferido? Teria morrido ou matado
o seu amigo sem saber? Aquilo despedaçaria seu coração.
Ela sentiu mais pânico, vontade de chorar e raiva, tudo misturado.
Então ela se virou assustada quando ouviu um rosnado e olhou para o corpo do lobo que tinha visto antes, acorrentado à parede.
Ela arfou horrorizada, haviam a colocado junto de outro lobo.
Cautelosamente, ela foi até ele.
— Calma, não vou te machucar. Eu me chamo Sami, como se chama? — ela sussurrou.
O lobo somente rosnou e ela não podia ver seu rosto, pois estava coberto por seus cabelos longos e desgrenhados. Havia sangue em seu corpo, ainda mais em seus pulsos, sabendo que seria por tentar fugir.
Um tanto apreensiva, ela tirou o cabelo de seu rosto e arregalou os olhos quando dois incríveis olhos azuis olharam para ela. Ele rosnou novamente, mas tinha uma mordaça feita de couro e metal na sua boca,
impedindo-o de falar.
— Oh, meu Deus! Você é... Logan... Irmão de Julian que todos pensavam que estava morto.
Ele então rosnou novamente, puxando as correntes.
Noah não parou de correr com Petrus e subiram algumas escadas, pois o barulho que vinha do telhado indicava que o helicóptero estava levantando voo novamente. Quem abriu caminho para eles foi Julian que
parecia uma avalanche derrubando tudo pela frente.
Julian se jogou contra duas portas de metal que levavam ao piso superior e o estrondo foi tão forte que parecia a explosão de uma granada e, além dos trincos, o próprio batente da porta foi arrancado.
Um crédito para Julian.
Petrus correu ao lado de Noah e se jogou no esqui de pouso do helicóptero que estava levantando voo e o aparelho balançou. Ele rosnou, segurando com toda sua força, impulsionando-o para baixo. Noah agarrou
o esqui e com toda a sua força o fez bater no chão.
O aparelho balançou com o baque e Noah arrancou a porta, fazendo-a voar longe, agarrou Joan que pilotava o helicóptero e o jogou para fora, fazendo-o rolar pelo heliporto de concreto que ficava sobre o
telhado.
O aparelho ficou desgovernado sem piloto e as pás das hélices não pararam de rodar, o que se tornou um perigo iminente. Petrus procurou dentro, mas Sami não estava ali.
Julian e Petrus tentaram segurar o aparelho que rodopiou, quase os derrubando.
Petrus pensou em saltar dentro e desligar, mas o aparelho foi mais rápido, deu uma guinada e bateu na lateral da casa, arrancando um pedaço do concreto com as hélices, e Julian foi jogado para a beirada
ficando pendurado. Petrus rosnou e com toda força gritou e girou o helicóptero, e Julian pôde subir de volta, então, para se livrar do problema, eles o empurraram.
— Merda, empurre! — Petrus gritou.
Julian e Petrus empurraram o aparelho de cima do telhado e ele caiu, rolando penhasco abaixo e explodindo.
— Que desperdício — Petrus rosnou ofegante.
— Necessário, quase fomos decapitados por esta porcaria.
— Sami não estava com ele — disse nervoso.
— Quer dizer que está dentro da casa ou morta.
Petrus rosnou e num pulo estava em pé.
Ambos olharam para trás, em posição para lutar mais ainda e, então, viram Noah e Joan se encarando, em posição de luta, pelo sangue que escorria da boca de Joan, podiam ver que Noah já tinha colocado as
mãos nele.
Se alguém atravessasse entre os dois, com certeza poderia morrer eletrocutado, porque o olhar de ódio que emanava dos dois era algo que Petrus nunca tinha visto.
— Nunca achei que fosse covarde, Noah. Vamos lutar assim? Três contra um? — Joan perguntou zombeteiro.
— Covarde é você, por todas as maldades que fez. Como pôde condenar seu povo desta maneira sórdida e cruel, entregando-nos aos humanos? Tem ideia do que todos sofreram? Seu demente!
— O mundo pode ser cruel, às vezes, pensei que duzentos anos de vida podiam ter lhe ensinado isso.
— A única coisa que me ensinou é a maneira mais dolorosa que vou matar você.
— Pode tentar, mas vou te matar desta vez e tomarei sua alcateia como minha, serei seu alfa e ensinarei bons modos a eles.
Noah saltou sobre Joan, o agarrou e com um giro no ar tombou com ele no concreto que chegou a rachar.
Petrus queria entrar naquela briga, assim como Julian, mas um grito de mulher chamou sua atenção: Sami.
Ele titubeou por não saber quem ajudava. Mas Noah era um alfa e aquilo ali era algo que ia além das vontades de Petrus. Noah tinha o direito de travar esta luta para vingar sua alcateia e ele? Apesar de
também querer sua vingança com Joan, tinha que achar sua Sami.
— Não pense em mim, Petrus, eu tomarei conta de Joan, vá atrás da fêmea — Noah disse, entendendo o amigo.
Petrus não perdeu mais tempo, correu para encontrar Sami e Julian foi atrás de seu irmão Logan. Havia muitas vidas para serem salvas ainda.
Em sua forma intermediária, Petrus correu pelos corredores, farejando, tentando sentir Sami, seu cheiro estava naquela casa, além de sua essência, também podia sentir o cheiro de sua raiva, de seu medo.
Ele queria matar Joan somente por infligir isso nela, por tocá-la.
Petrus desceu várias escadas e parou rosnando para três lobos que impediam seu caminho. Três era um número considerável, mas Sami estava atrás daquelas portas e poderia vir dez que ele mataria.
Ele não perdeu tempo, saltou obre eles. Ele mordia, dava socos, rasgava seus membros, assim como eles infligiam ferimentos nele, mas sentir sua carne rasgar e a dor lhe atravessar o corpo não o impediu.
Petrus matou um lobo, depois outro, e o terceiro até tentou fugir, mas ele saltou mais de dois metros de distância e jogou-se sobre ele e com as presas, rasgou sua garganta e destroncou seu pescoço.
Ele estava cansado, ferido, mas continuou seguindo em direção a Sami.
Ele arrombou as portas, fazendo-as voar longe e o que viu fez seu coração gelar.
Sami estava ali, lutando contra quatro lobos.
Estava ferida, assustada, mas lutava bravamente, como nunca imaginou que ela faria. O que ele havia visto no beco não era tão bom comparado ao que ela lutava agora.
Ele podia ouvir outra briga e rosnados fortes que vinham mais distante e ele nem teve chance de reconhecer o lobo que lutava, pois voltou sua atenção para ela.
Com seus fabulosos golpes de artes marciais, associada à suas garras e força de loba, estava fazendo um belo estrago nos machos, mas se proteger deles estava maltratando sua carne.
Sami se virou e o que viu era ainda mais aterrador do que jamais tinha visto. O homem estava na forma intermediária, era um deles. Aterrador como o inferno, seus cabelos mesclados eram longos até quase
a cintura e estavam desgrenhados e seus olhos eram um azul e o outro branco, suas presas eram enormes e suas unhas eram realmente grandes e afiadas, ele devia medir uns dois metros ou mais e era muito
musculoso.
Ela ficou paralisada e com os olhos arregalados olhando para ele, que rosnou em um bufo zombador.
Bem, aquele lobo a destroçaria.
Petrus rosnou tão alto que reverberou pelo local, chamando a atenção para ele, com a intenção de que eles deixassem Sami.
Sami arregalou os olhos quando viu Petrus e ofegou emocionada, ele tinha vindo por ela.
Ao correr para socorrê-la, foi atingido por outro lobo e jogado longe antes de chegar nela.
Ela gritou e girou num golpe que atingiu o pescoço de um dos lobos e quebrou seu pescoço, então ela tentou se afastar daquele gigante assustador. Ela gritou pela patada que levou dele com as garras e Petrus
pôde ver sua barriga ser cortadas por elas.
— Uma cadelinha. Que grande banquete para mim — ele disse com a voz grossa e animalesca que fez Sami soltar um leve gemido. Estava morta.
Ela cambaleou e saltou para longe dele, e nem teve tempo de contemplar o filme de sua vida que começou a passar na sua frente, pois a besta rosnou e saltou para pegá-la.
Sami gritou e saltou alto, encolheu as pernas e saltou sobre ele, caiu no chão e ele se voltou rápido, dando uma patada que a atingiu e a jogou através da sala. Sami bateu contra a parede e caiu no chão.
Muito atordoada e sentindo uma imensa dor, ela levantou rápido, enquanto ele vinha atrás dela novamente e mergulhou pelo chão, passando por baixo de suas pernas e com suas garras atingiu-o na coxa, causando
quatro longos talhos em cada perna.
Ele rosnou e titubeou, quase caindo, girou e saltou sobre ela novamente, mas quando estava no ar em seu salto, Sami convulsionou e gritou pela dor e caiu. Alguém ativou sua coleira de choques. Petrus rosnou,
pois reconheceu a coleira, o que só aumentou sua raiva, pois isso a deixou totalmente indefesa em frente ao lobo que a atacava.
Petrus saltou através da sala, golpeando o lobo com seu corpo, com um rosnado ensurdecedor, antes que ele atingisse Sami e os dois caíram no chão, se embolando em uma briga entre socos, rosnados e mordidas.
Sami tentou sentar no chão. Com os olhos arregalados e gemendo pela dor em seu corpo, ela olhou para a cena, aterrorizada.
Ela levantou, mancando pela dor na perna e na barriga, e se afastou no canto da parede.
E então mais um lobo apareceu na porta e era enorme.
Petrus agrediu, rosnou e mordeu o mais que pôde, afastando os lobos de Sami, que levou outra patada e caiu no chão, ofegante. Mesmo machucada, ela levantou e atacou o outro lobo, rosnando e agredindo com
raiva. Com suas garras, ela cravou em seu coração e o puxou, e o lobo caiu morto.
Isso somente inflou mais a raiva de Petrus que atacou com rapidez e logo mais três lobos estavam mortos aos seus pés.
Petrus rosnou, olhou ao redor, e pensou que também cairia, pois suas pernas quase não o sustentavam mais e quando outro lobo entrou na sala, ele olhou estarrecido e com os olhos arregalados a aparição
de Logan, que arrastava correntes arrebentadas, ainda com os largos grilhões nos pulsos.
Logan rosnou e com um giro fez com que a corrente presa aos seus pulsos, enrolasse no pescoço do lobo e com um forte puxão, destroncou seu pescoço, jogando-o longe.
Ele se virou, bufou e olhou para Petrus.
— Logan... — Petrus sussurrou estupefato.
— Onde está Julian? — disse com a voz grotesca em sua forma Dhálea e Petrus pôde ver que tinha o talho no pescoço e sua voz estava distorcida.
— Na entrada.
Logan olhou para Sami, caída no chão e ferida.
— Vá... estou bem — ela sussurrou, o olhando.
— Cuide dela, ela me salvou — ele disse. — Este é o aparelho da coleira, destrua-o e poderá tirá-la sem que se fira.
Petrus olhou estupefato para Sami, um tanto assustada com a visão que teve ainda e se transformou em humano. Foi até ela e olhou assustado para seus machucados, o sangue em sua barriga, os ferimentos graves
em suas mãos. Assim como ela, ele tremia e respirava com dificuldade.
Ele rosnou fortemente, esmagou o controle e pegou sua coleira com as duas mãos e com outro rosnado a arrebentou, jogando-a longe. Ele ficou furioso vendo seu pescoço queimado, pois soube que aquela maldita
coleira tinha sido acionada e a ferido.
— Sami! Sami, você está bem?
— Bem... Não... Acho que sim — disse tonta, lutando contra a inconsciência.
— Você salvou Logan.
— Sim. Ele era uma vítima também, não? E juntos arrombamos... a cela.
— Tudo bem, não fale, querida, vou tirá-la daqui.
— Petrus... Meu pai... está morto ali, eu vi — disse sem segurar seu choro.
— Oh, merda, eu sinto muito, Sami.
— Não... consigo respirar.
Ignorando a dor excruciante de seus próprios ferimentos, ele a pegou no colo, quando Harley apareceu na porta, também todo ensanguentado e ofegante.
— Estão bem?
— Preciso tirá-la daqui, Harley.
— Venha, me siga.
Petrus não discutiu, tomou-a nos braços e apenas seguiu o irmão que abria caminho para eles e de vez em quando parava para enfrentar um lobo que era rapidamente dilacerado e jogado a um canto.
Quando chegaram a uma das salas a cena era brutal, havia lobos mortos para todos os lados. Era uma carnificina, mas não viu nenhum de seus amigos tombado.
Joan poderia ter lobos em quantidade, mas seus amigos eram lobos de valor, de força, sabiam lutar e estavam motivados pela vingança.
Petrus saiu da casa e se afastou, olhou ao redor e não viu perigo ali fora.
Ele colocou Sami no chão e tentou olhar suas feridas.
— Calma, Sami, tudo vai ficar bem. Respire devagar.
— Eu estou bem, foi só... São só alguns arranhões.
— Claro que é, querida, só um arranhão, você foi muito valente.
Ela não respondeu e ofegou quando ele abriu sua blusa. Bem, ela tinha bons talhos ali.
Erick veio correndo e parou perto deles.
— Tire-a daqui, Petrus.
— Vou levá-la ao hotel.
— Onde estão os carros dos imbecis? Nós viemos com a magia de Vanora — Harley disse.
— Kira! Pode levar Petrus e Sami para a ilha? — Erick perguntou para o ar.
— O que é isso, um telefone sem fio? — Petrus disse brincando e Erick riu.
— Vantagem de ter uma bruxa como companheira, não acha?
— Num minuto. — A voz de Kira soou pelo ar.
— Preciso ajudar — Petrus disse olhando para a casa.
Era difícil dar as costas para uma briga, lobos tinham um senso muito rigoroso sobre grupos e não eram de abandonar o seu grupo numa luta.
A consciência de Petrus pesou apesar de seu coração comandar toda sua gana protetora para sua companheira.
— A única coisa que vai ajudar agora, Petrus é cuidar dos ferimentos dela. O resto nós cuidamos.
Petrus não teve tempo de argumentar, pois sentiu seu corpo formigar e a próxima coisa que ele viu foi a sala da clínica, na Ilha dos Lobos.
— Uau! Isso foi aterrorizante... — Sami disse ofegante.
— Magia, meu bem, incrível, não é?
Petrus deitou Sami em uma maca e alisou seu cabelo.
Logo Jessy, Virna e Ester estavam sobre ela.
— E os outros? Joan... — Sami perguntou para Ester, respirando com dificuldade.
— Não se preocupe. Noah vai cuidar dele, o que quero saber agora é de você — Ester disse.
— Estou bem, isso vai curar... não vai?
— Sim, vai. Só precisa de alguns pontos e eu vou cuidar disso, ok? — Virna disse colocando as luvas cirúrgicas.
— Petrus, ele está ferido...
— Fique tranquila, eu vou cuidar dele para você, eu prometo. Agora respire.
Ester colocou uma máscara de oxigênio nela e suas vistas escureceram, haviam lhe aplicado uma injeção.
Ester foi para a antessala e olhou para Petrus que, mancando, andava de um lado a outro.
— Petrus, venha para a outra sala, vou ver seus ferimentos. Há mais feridos?
— Acredito que em breve estarão aqui e eu tenho alguns cortes, mas não necessitam de pontos.
— Veremos. Noah está bem?
— Acredite, ele estará bem assim que matar um lobo. Logo voltará pra você.
Ele sorriu quando ouviu seu suspiro exasperado. Ele sabia que ela devia estar nervosa por seu companheiro.
— Bem, cuidarei deles quando chegarem, mas agora vamos cuidar de você.
— Sami...
— Ela está bem, Virna vai cuidar dela, estaremos bem aqui ao lado e estará com ela novamente em um minuto. Sua companheira está em boas mãos. Sabe, você pode parar de rosnar, retrair suas garras e seus
dentes afiados agora, Petrus. Eu não vou machucar você.
Ele a olhou aturdido, e somente aí percebeu que estava em sua forma intermediária e rosnando.
Os lobos estavam no pátio da frente da casa de Joan quando não tinham mais lobos para abater e Noah saiu e todos ficaram o olhando com expectativa. Ele estava ferido, mas podiam ver a satisfação em seu
olhar. Ele olhou para aquela turma de guerreiros que estavam calados, machucados e ofegantes.
— Alguém ferido gravemente?
— Dois de meus guerreiros estão gravemente feridos, acredito que precisem de alguns pontos para auxiliar a cura.
— Ester, Virna e Jessy estão aguardando e prontas para receber os feridos, cuidarão disso.
— Um dos lobos está morto — Konan disse ao olhar o lobo caído no chão, ensanguentado.
Kayli suspirou.
— Ele será honrado como um guerreiro merece.
Liam saiu da casa e ele tinha sangue dos pés à cabeça e era até difícil de dizer que seu cabelo era branco, pois estava vermelho escuro, ele tinha arrastado o último lobo para dentro da casa e voltava,
ofegante.
— E Joan? — Liam perguntou.
— Não se preocupe, sua carcaça terá o devido tratamento. Nós temos a vingança de nosso povo em nossa mão. Joan é um lobo morto e toda sua maldita alcateia! — Noah disse.
Todos urraram e uivaram em júbilo pela notícia.
Logo Sasha saiu e vinha carregando Nathan, escorado, sua perna estava machucada, além do braço. Ele soltou os dois rifles que tinha em seu ombro e deitou Nathan no chão, que gemeu pela dor.
— Oh, merda, você está bem? — Erick perguntou.
— Bem, acredito que meu braço esteja com algum problema, está num ângulo meio estranho — Nathan disse, gemendo.
— Foi arriscado se meter nesta briga sendo humano. Podia ter morrido.
— Bem, sim, podia ter morrido hoje de manhã quando tomei café e aquela geleia tinha um caroço de cereja. Podemos morrer a qualquer momento. É para isso que lutamos, se tiver que morrer, que seja por uma
boa causa.
Sasha suspirou.
— Ele está querendo te impressionar, Noah, quer ser lobo, está com inveja de mim.
— Não tenho inveja de você.
— Sasha virou lobo porque é companheiro de Jessy, Nathan. Sabe que não transformamos humanos em lobo.
— Podia me apresentar uma loba companheira?
Vários lobos riram dele.
— Ora, companheiras não são assim sem voz, elas escolhem você. — Harley rosnou e Noah olhou para ele. — Salvo exceções.
Noah então olhou para Julian e Logan que estavam parados, os olhando.
Noah foi até eles e todos o acompanharam.
— Meu coração está em festa hoje por tê-los de volta. Todos pensavam que estavam mortos.
— Era como estávamos, alfa.
Noah suspirou e deu um forte abraço em Julian e depois em Logan, que estava muito ferido.
— Vamos para casa, minha companheira e Virna cuidarão de seus ferimentos e poderão ter um novo lar.
— Vamos para a Irlanda? — Julian perguntou esperançoso.
— Não, irmão, a Irlanda acabou para nós. Temos um novo lar e acredito que gostarão.
— Tem... uma companheira? — Logan perguntou aturdido e Noah assentiu e lamentou o tom de sua voz, ele estava ferido no pescoço e isso quase o impedia de falar. Noah podia sentir o cheiro das drogas e como
suas mentes e corpos estavam debilitados.
— Sim, há muito que saber sobre nossa nova vida. Mas primeiro serão cuidados e comerão e lhes darei uma casa para viver. Então depois podemos lhes contar tudo.
— O que vai fazer com esta imensidão de corpos de lobos? — Erick perguntou.
Noah suspirou.
— Transformaremos esta casa num cemitério.
— Colocamos os explosivos. Acho que quer a honra, alfa — Sasha disse e deu a Noah o detonador que continha um botão vermelho.
— Os humanos investigarão a explosão, provavelmente em busca da causa. Não podem encontrar nenhum corpo de lobo.
— Não se preocupe, com a quantidade de explosivos, não sobrará nada para ser investigado.
— Posso tentar descobrir mais sobre Joan e seu dinheiro aqui — Harley disse mostrando um laptop que havia pegado na casa.
— Bom, talvez consiga suas contas e como vendeu nossas casas.
— Sim, alfa, fique tranquilo, e eles não descobrirão lobos ali e nada que os ligue a nós.
— Então sumiremos do mapa.
— Como diz o famoso ditado: O que acontece em Vegas fica em Vegas.
Noah rosnou em apreciação e mesmo com o corpo ferido, estava em pé, firme, como um verdadeiro alfa.
— Agradeça a Petrus pela honra que me deu, Harley.
Ele assentiu.
— Sim, Petrus queria matar Joan pelo que fez.
— Assim como você, Julian.
— Entendemos a hierarquia, alfa, e Petrus foi muito honrado permitindo sua luta de vingança.
— Petrus é um bom alfa — Noah disse.
— Pena que está encrencado — Erick lamentou.
— Ele se safará, e nós sempre estaremos ali por ele.
Bem, todos pararam as conversas e Noah apertou o botão do detonador e as explosões sucessivas começaram, a mansão flamejou num fogo incessante e intenso. Os pilares presos na montanha, que a mantinham,
racharam e no fim todos assistiram tudo se transformar em cinzas, caindo penhasco abaixo.
Noah uivou alto e forte, anunciando sua vitória e sua vingança e todos os lobos o seguiram.
— Onde estamos? — Sami sussurrou.
Gentilmente, Petrus a deitou na cama e ajeitou os travesseiros.
— Estamos na casa que era minha e de Harley na ilha de Noah. A trouxe para liberar espaço na clinica. Os lobos chegaram para que fossem tratados e Ester disse que eu poderia te trazer, ficaria confortável
aqui.
— Ok...
— Não se preocupe, logo estará boa.
— Estou com tanto sono...
— São os sedativos, você deve dormir novamente, agápi mou.
Petrus suspirou e beijou sua bochecha e esfregou um dos curativos que Ester tinha feito nele. Ele estava todo “fatiado” e com curativos por todos os lados e o esparadrapo na pele o irritava, sem contar
a dor em suas costelas.
Mas ele permitiu que Ester o remendasse, pois discordar dela era um desrespeito e um crime, porque ela o olhava com aquela agulha na mão tão preocupada que ele não conseguia contradizê-la para não deixá-la
que o costurasse.
Se havia uma loba que ele respeitava era Ester. Ele tinha participado de sua trajetória e a admirava.
Ele tinha invejado Noah, na verdade...
— Vai dormir, Sami, assim se cura mais rápido, querida.
— Eu devia ir para casa...
— Onde é sua casa, exatamente?
— Não sei... Não sei mais, preciso de uma.
— Podemos providenciar uma. Posso arrumar para você.
A minha casa...
Ela estremeceu e ele suspirou, esfregando seu nariz que o irritava. Ele acariciou sua bochecha docemente e eles ficaram se olhando.
Sua essência de loba dançava pelo quarto como um afrodisíaco. Era uma tortura para ele, a pele estava eriçando e Petrus sabia que a essência dos lobos estava aflorando e somente ficaria pior se não se
aliviassem.
Ele devia deixá-la quieta até que adormecesse, mas quem disse que ele conseguia se afastar dela? Ter um pouco de juízo?
Ele suspirou e suas ideias brilhantes e depravadas fervilhavam na mente.
Ele retirou a calça de agasalho que alguém havia lhe trazido emprestada, pegou o tubo de óleo para a pele e subiu na cama.
— Vire-se, deite-se de bruços que vou massagear suas costas, assim relaxa e dorme mais tranquila. Eu te ajudo.
— Por que estou me sentindo assim? Meu corpo lateja, partes formigam e sinto muito calor por dentro.
— É o frenesi, querida.
— Oh, o que é isso?
— Adrenalina alta, ele estimula suas libidos. Os lobos têm isso após uma batalha. Os companheiros se jogam numa cama e faz muito sexo até se saciar.
Ela riu e suspirou.
— Vocês são muito depravados.
— Não, querida, somos apreciadores do prazer, é diferente. Não vemos nada de ruim ou feio no sexo. Se os dois estão de acordo, tudo pode ser bonito e deve ser bom para os dois.
— Oh, é o que está pedindo?
— Não, querida, bem que gostaria de me saciar em seu corpo que adoro, mas se o fizermos os pontos de sua barriga vão abrir e sentirá dor, então, não podemos fazê-lo.
— Vai passar?
— Sim, logo passará. Está muito dolorida ainda?
— Um pouco, todos os meus músculos doem, mas acho que já senti isso antes, mas não tão forte.
— Sei, também o tenho sentido há tempos, minha querida, mas já farei melhorar. Uma coisa que me dá prazer é dar prazer. Um lobo aprecia o toque, o gosto, o cheiro e o som. Toda esta mescla é excitante,
como uma pequena chama que cresce até incendiar e queimar como o inferno.
Ela suspirou quando ele distribuiu vários beijos em sua pele quente.
— O desejo é mais prazeroso de saborear quando há a paixão no que fazemos. Senão é o prazer cru, puro e simples.
— Por que se importaria?
— Oh, eu me importo porque é você que eu quero tocar, que eu desejo neste fogo, Sami. Dar prazer a você me dá um prazer que é novo, delicioso, intenso, que me arrebata e que pretendo sentir pelo resto
de minha vida.
— Sim, com você é tão diferente, tão forte e... esse seu pensamento me agrada.
— Agrado? Isso me alegra.
— Posso te reivindicar para meu massagista mais vezes.
— Pode fazê-lo quando quiser.
Ela gemeu pela dor ao se virar com a ajuda dele e ele beijou suas costas nuas, puxou o lençol para baixo e se ajoelhou, escarranchando em suas coxas.
Com um toque suave, admirando suas costas nuas ele suavemente a acariciou, sentindo sua pele. Isso arrancou um suspiro dela e o fez sorrir.
Petrus lentamente respirou fundo, segurando sua própria tortura, e despejou o óleo em suas costas. Ela gemeu quando ele deslizou as duas mãos na extensão de suas costas de maneira forte, deliciosa e fazendo
sua mente voar.
Céu bendito, aquilo era uma coisa deliciosa, mas uma tortura. Se ela já estava excitada, agora mesmo é que quase entrou em combustão.
Ele sabia e estava fazendo de propósito e o melhor de tudo? Ele sabia exatamente como fazer.
— Não sei se é seguro você fazer isso.
— Acho bem seguro — ele sussurrou e suas mãos banhadas no óleo deslizaram pela sua cintura e ela gemeu novamente. — Eu posso ser bondoso, carinhoso e lento e também posso ser, selvagem e intenso. O que,
no seu caso, sei que necessita do segundo. O que prefere, Sami?
— Você me confunde, uma hora fala de luxúria e outra de amor, não sei distinguir quando fala a verdade ou somente quer me dar uma cantada para me convencer a ir para a cama com você.
Ele riu, debruçou-se sobre ela e beijou sua mandíbula.
— Querida, estou aqui na cama com você.
Ela riu.
— Sim e isso que está fazendo é muito bom.
— Meu prazer.
Ele deslizou lentamente novamente pela curva de sua coluna e ela se contorceu e suas mãos subiram até seus ombros. Ele suspirou quando olhou as manchas roxas em todo seu corpo e para as suas mãos enfaixadas
com gases, repousadas sobre os travesseiros.
— Como estão suas mãos?
— Queimam como fogo. Aliás, não há uma parte de meu corpo que não doa. Acho que deveria tomar mais analgésicos.
— O remédio que Virna te deu para dormir também fará com que a dor passe logo, já deve fazer efeito. Como as machucou assim?
Ela suspirou.
— Joan me jogou na cela com Logan. Ele estava preso em correntes e eu as arrebentei para soltá-lo e juntos conseguimos entortar as barras da jaula para sairmos. Não foi fácil, mas consegui.
— Bom trabalho em equipe. Estou orgulhoso de você.
— Alguns dias atrás queria matar aquele lobo e hoje eu salvei sua vida.
— Isso me alegra, agápi mou. Você viu a verdade.
— Era como vocês ficavam? Como ele?
— Sim.
— Sinto muito.
— Eu também.
— E meu pai...
Ele deitou sobre ela novamente e cochichou em seu ouvido.
— Shhh, eu sinto muito por ele, mas não pense nisso agora, meu amor, não pense, aquiete sua mente e esqueça tudo que viu hoje. Apenas relaxe e durma para se curar.
Ela respirou fundo e empurrou as lembranças longe assim como as suas lágrimas. A dor em sua alma e coração palpitava, quente e dolorosa, mas já tinha vivido tanto com estas sensações que tinha aprendido
a empurrá-las longe.
Aquela dor de ver aquele corpo carbonizado não ia sumir nunca de seu coração.
Petrus a deixou chorar até ela parar. Queria respeitar sua dor.
— Vou fazer você esquecer, Sami. Está bom?
— Não me torture, Petrus. Como você é mau. Se não podemos fazer sexo então seria mais fácil se ficasse um pouquinho longe.
Ele riu.
— Não estou torturando, vou fazer você se sentir bem. Posso?
— Sim. Não sei o que é, mas sim.
Ele beijava seu pescoço e sua nuca enquanto deslizou sua mão escorregadia de óleo por baixo de sua barriga e alcançou seus seios. Ele tocou-os, fazendo-a arfar e gemer e ele subiu até seu pescoço e depois
desceu, tomando o outro seio e desceu até sua barriga, nos limites de seus curativos.
Ele subiu e Sami gemeu alto e se contorceu na cama, quando ele tomou entre os dedos seu mamilo e apertou o suficiente para causar uma descarga elétrica pelo seu corpo.
— Petrus...
— Calma, agápi mou, com cuidado, pois não podemos te machucar. Só me deixe tocá-la.
Ela gritou quando seus dedos tocaram seu sexo. Parecia que estava mil vezes mais sensível.
Seu corpo estava quente, quase desesperado, assim como o dele. O desejo era tanto que doía, a mente estava perdida num mar de prazer. Aqueles movimentos lânguidos, testando ao último o poder do toque,
da excitação era quase insano, mas era perfeito.
Petrus gemeu ao se esfregar em suas costas, sentindo seu membro dolorido e implorando para ser aliviado.
— Está ferida para fazermos sexo, o que eu apreciaria muito porque meu corpo também está quente e com frenesi, minha linda... mas vou te dar isso, assim pode relaxar e dormir.
Ele gemeu com sua própria sensação do frenesi atravessando seu corpo, como uma descarga elétrica e gemeu de novo quando seus dedos entraram nela, pois Sami estava queimando por dentro.
O cheiro doce do óleo, sua pele sedosa e escorregadia em seu peito era quase demais para ele suportar. Era uma tentação quase impossível de resistir.
— Isso é maravilhoso, sentir você assim é tão perfeito que poderia ficar aqui te tocando até que os dias não fossem mais dias — ele sussurrou e outras palavras em grego que ela não entendeu, mas a deixavam
tão alucinada como a sensação de tomar algum alucinógeno.
Ela não conseguiu dizer nada porque precisava respirar. Ele tocou seu clitóris e entrou nela novamente e fez isso uma e outra vez.
— Venha pra mim...
Sami explodiu em um clímax. E ela queria se debater, mas o corpo dele, forte a cobrindo, não permitiu, lhe restou gemer e gritar.
Tão rápido como nunca, ele fez com que perdesse totalmente a sua sanidade.
Ela gemeu e se contorceu, apertando seus dedos, agarrando-o como louca.
— Petrus!
— Shhh, está tudo bem, agápi mou.
Sami parecia estar levitando, seus olhos estavam pesados e cintilando, seu corpo estava exaurido, sua mente atordoada.
Petrus beijou sua bochecha docemente.
— Durma agora, querida, durma e se cure, pois quando acordar temos assuntos a tratar — sussurrou e ela adormeceu.
Petrus suspirou e saiu de cima dela, gemendo por sua própria excitação, pelas sensações de seu corpo e a dor aterradora nas costelas quebradas.
Ele a cobriu com o lençol e foi para o banheiro cuidar de si mesmo, precisava se aliviar, senão ficaria louco. O frenesi era algo de deixar qualquer um insano.
Era madrugada e Petrus estava na banheira de hidromassagem que ficava na varanda lateral da sua casa na Ilha dos Lobos, anexada ao banheiro.
Era grande o suficiente para parecer uma piscina e as enormes janelas de vidro podiam ser abertas para ficar ao ar livre e se misturar com a paisagem verde da ilha e a bela visão do mar. O teto também
era de vidro e podia-se contemplar o céu estrelado.
Um luxo da casa que ele tinha adorado, pois lobos adoravam banheiras. A casa não era grande, pois embaixo havia uma sala e a cozinha e o lavabo; em cima dois quartos, um que era dele e o outro de Harley,
e a suíte conjugada com a tal banheira.
Sentia saudades de morar ali.
Ele tinha ido para a banheira porque estava tentando acalmar seu frenesi e afogar seus pensamentos, porque precisava tomar uma decisão e rápido, mas tudo estava tão embaralhado na sua cabeça que estava
difícil.
No dia seguinte ele deveria ir para casa, teria que seguir sua vida porque a corda estava tão apertada no seu pescoço que já estava meio enforcado.
Pietra esperava por ele em Creta e assim o resto de sua vida estaria traçado e ele teria que deixar Sami para trás.
Tinham que viver separados. Como poderia fazer isso?
Ele tinha certeza de que ela era sua companheira de alma, seu coração sabia e ele estava sentindo como se o mundo tivesse rachado e junto, seu coração.
Olhando para o céu estrelado, ele fechou os olhos para ver se achava a resposta dentro da sua própria cabeça, uma racional que não envolvesse o coração.
Nunca pensou que se apaixonar seria tão doloroso. Mas não era apenas uma paixão, era amor. Daqueles profundos que tinha enraizado, tomado forma e tomado sua alma.
Ele ficou assim por longo tempo, tanto que tinha perdido a noção do tempo, até que sentiu o cheiro dela embriagando os seus sentidos. Ele abriu os olhos e a viu na porta da suíte.
Sami vislumbrou Petrus.
Ela não podia negar que o achava o homem-lobo mais lindo que já tinha conhecido, não que os demais lobos não fossem porque, sinceramente, eram um banquete para os olhos, mas ele... Poderia ficar olhando
para ele durante sua vida toda.
O pensamento dela de ficar no quarto e longe dele não duraram nem um minuto depois de acordar, pois havia algo a puxando para ele, algo que ela não podia controlar.
Algo que vibrava dentro dela mais forte que nunca.
A banheira por si só já era exótica, agora com um homem deslumbrante como ele dentro, com aqueles músculos definidos e fortes, seu cabelo molhado caindo pelos ombros e aqueles olhos brancos diferentes
que a fascinavam, era para lá de exótico.
Era a visão de um sonho que ninguém gostaria de acordar.
Ele estava escorado ali, nu, com a água o cobrindo até o peito. Ao seu lado, na bancada, havia uma garrafa de vinho branco e uma taça com o líquido pela metade.
Os dois ficaram se olhando, com um olhar tão intenso, um sobre o outro, que poderia jurar que havia uma corrente elétrica entre eles. A respiração dos dois mudou e o corpo reagiu.
A atração era palpável e inevitável, mais forte que nunca.
— Devia estar descansando — ele disse com a voz rouca.
— Já descansei o suficiente — ela respondeu dando de ombro de forma que parecia despretensiosa.
— Como se sente?
— Bem. Bela banheira.
— Agradável.
— Já disse que acho isso muito chamativo, mas não vou negar que os luxos que proporciona são tentadores — ela disse com um sorriso.
— O melhor para você — ele respondeu.
— Estamos a sós aqui?
— Sim.
— Já que não me convidou para usufruir da banheira que mais parece uma piscina exótica, pensei em me convidar — ela disse dengosa.
Miséria.
Ele queria ser um rapaz decente e correto. Queria, mas com ela daquele jeito, como podia?
Mas quem disse que juízo e companheiros de alma na mesma frase existiam? Não. Tudo sempre acabava em sexo e tudo mais, acompanhado de uma boa confusão.
O que deveria ter feito?
Ter ido embora e a deixado ali para que se curasse e depois seguido sua vida. Mas não, a besta quadrada ficou na casa, com um frenesi o deixando louco, regalias atrativas e convites sensuais.
Onde, inferno, estava com a cabeça? Aquilo não acabaria bem.
E sua derrocada começava bem agora, porque já não tinha mais fios para se prender e se ponderar com ela e depois de toda aquela adrenalina nas lutas, seu corpo todo formigava, excitado como o inferno.
Seu sangue fervia nas veias como lava. Seu membro estava implorando para tomar sua fêmea.
Ela esteve dormindo por duas noites e ele tinha sofrido como um condenado e aquele castigo parecia não ir embora. O maldito frenesi o assolava para pôr ele à bancarrota de uma vez.
Ele pensou em dizer não para seu convite descarado, dizer vai embora, saia daqui, atravesse o mar para outro continente, mas saiu outra coisa de sua boca.
— Venha até mim, Sami.
Ele quase gemeu com suas próprias palavras. Petrus não conseguia respirar enquanto ela andava até a borda, lentamente, como uma fêmea espreitando uma presa.
Ela estava usando um penhoar de seda negra longo até o quadril, que ele não tinha ideia de onde tinha saído, mostrando suas belas pernas e estava descalça. Talvez estivesse nas coisas que Ester havia trazido
para ela. Seu cabelo estava solto e caía pelo lado esquerdo do peito e ia até a cintura.
Linda, tão deslumbrante e sexy que Petrus gemeu e soltou um rosnado preso na garganta.
Esta era sua loba, ela era a sua fêmea e ele era louco por ela.
Como negar isso?
E vê-la vindo por ele, daquela maneira sensual, se insinuando, provocando-o era tudo que tinha pedido na vida.
Ele queria agradecer aos deuses de todo o panteão, mas estava muito hipnotizado para sequer lembrar-se de fazer isso de forma correta, então somente se concentrou nela, para não perder nenhum movimento,
nenhum suspiro.
Sua excitação ia matá-lo antes que ela o tocasse e, o pior de tudo, ela estava excitada também. Seu cheiro chegou até ele como uma marretada em seu cérebro, o deixando tonto e fazendo seu membro ficar
tão duro que doía.
Sami parou na borda da banheira e, como se estivesse medindo seus movimentos, soltou a cinta do robe e o abriu lentamente. Petrus trincou os dentes vendo sua nudez e como ela fez com que o penhoar deslizasse
pelos seus ombros e caísse abandonado em seus pés. Ela era perfeita, feita para ele.
Ele estava com os dois braços esticados para trás, escorado na borda da banheira e a apertou com tanta força que se não fosse de mármore teria quebrado, mas continuou onde estava, já demente pela luxúria.
— Venha aqui, agápi mou — ele disse com a voz grave.
Ela desceu a pequena escada e lentamente entrou na água. Sem tirar os olhos dos dele, ela deslizou e pairou em sua frente. Ele a abraçou e ela envolveu seu pescoço com os braços, roçando seus seios em
seu peito.
Aquele encontro foi elétrico, um abraço perfeito.
— Estou atrapalhando alguma coisa? — ela perguntou.
— Não, somente vim me refrescar, estava muito quente lá dentro.
Ela tocou seu peito e sua pele estava quente, muito quente.
Os dois ficaram se olhando por um momento grande demais, como se não soubessem o que dizer. Por um momento, Sami não sabia se devia fazer mais isso, mas, enfim, já tinha ido até ali.
Estar assim nos braços dele parecia tão certo, tão perfeito.
Ela acariciou seu rosto e olhou seus ferimentos.
— Ainda está ferido.
— Logo passará.
Ela o abraçou forte, Petrus fechou os olhos e suspirou abraçando-a de volta.
— Tudo aquilo foi assustador.
— Sinto muito.
— O que importa é que sobrevivemos. E descobrimos toda a verdade.
Ele suspirou e acariciou suas costas.
— Tirou os curativos.
— Os cortes estão curados, somente ficou o maior, que ainda precisa de mais tempo.
— Deveria se afastar um pouco, Sami. Não me responsabilizo por minhas ações se continuar a se insinuar assim para mim.
Ela deu um sorriso malicioso.
— Pensei que era o que sempre desejou, que eu o desejasse.
— Merda, Sami, isso foi o que sempre quis, realmente me parece muito difícil parar de querer tocar você, é como se minhas mãos precisassem tocá-la, como se o desejo de estar dentro de você nunca acabasse,
mas não sei se nós deveríamos continuar com isso.
Não deveria, realmente porque estava tentando ser racional.
— Não entendo, agora que estamos nos entendendo quer parar? Podemos dar uma oportunidade para sermos amigos.
— Amigos?
— Talvez mais que amigos... na verdade, gosto muito de tocar você também.
Sami o beijou nos lábios, em seu queixo, no pescoço, e depois mais alguns beijos em seu peito. Petrus virou a cabeça para trás e gemeu, porque nem um Titã o seguraria se ele perdesse o controle.
Como conseguiria deixá-la ir? Como? Seu coração estava doendo, porque tinha que fazer o que não queria, abrir mão dela.
Ele rosnou alto quando ela mordeu seu peito e ele a olhou com a respiração difícil e ela deu outro daqueles sorrisos que o deixavam doido.
— Vai dividir este vinho comigo?
Vinho? Que vinho?
Ele se lembrou de que estava bebendo vinho e sorriu pela sua própria tolice, pegou a taça e colocou em seus lábios e ela bebeu a bebida gelada. Ele queria beber uma cerveja, mas o vinho branco era a única
bebida gelada na geladeira e isso deveria servir para deixá-lo tonto.
A noite estava estrelada e o clima estava quente, as pequenas luzes vindas dos holofotes do pequeno jardim do terraço iluminavam sutilmente a banheira deixando um clima romântico e surreal.
Ela somente tinha tomado dois goles do vinho, mas estava tão tonta como se tivesse bebido a garrafa inteira.
Era a sensação mais estranha que sentiu na vida, o sexo com ele sempre tinha sido intenso, mais do que o normal, mas, desta vez, estava literalmente flutuando, tomada de uma sensação suprema, desconhecida
e inebriante, isso sem nem ter tido sexo ainda.
Algo estava errado ali, diferente, mas era tão mágico que era impossível fugir.
— Só te darei uma chance de sair desta banheira, Sami.
Ela o olhou descaradamente e passou a língua pelos lábios, falando de forma sensual e arrastada.
— Por que eu faria isso?
— Sami...
— Eu quero você, agora... Necessito, pois meu corpo está quente, precisando de você. Eu preciso de você, Petrus.
Ele não sabia que havia sinos dentro de sua cabeça, mas foi o que ele ouviu. Sinos divinos, um som que ele queria tanto ouvir.
Petrus chutou tudo, rosnou e a puxou para ele, prendendo seus dedos nos cabelos de sua nuca, beijando-a como nunca, um beijo carregado de luxúria e paixão desenfreada, desejo de tomá-la de uma vez, aceitando
seu doce e tentador desafio.
Beijaram-se por um tempo interminável, degustando os sabores, sentindo as sensações que a mudança dos movimentos do beijo causava no resto do corpo e era maravilhoso, nunca beijar foi tão bom.
Ele a beijou até quase deixá-la inconsciente. Ele beijou seu pescoço, seu colo e seus seios, arrancando um gemido desesperado dela que o enlaçou com as pernas pela cintura.
Enquanto ele a excitava com a boca, mordendo, e levando-a à loucura com sua língua, encontrou seu sexo com os dedos, ela arfou e se contorceu em seus braços quando a penetrou, e ele gemeu por sentir como
estava quente, na verdade fervendo e estava escorregadia, pronta e implorando que a tomasse.
— Sami, vai me enlouquecer.
— E já enlouqueceu a mim.
Ele rosnou e tomou sua boca em outro beijo, sua língua dançando com a dela e ele a girou e a encostou na borda e a penetrou, porque ambos estavam excitados até a lua e não havia mais tempo para delongas,
pois derreteriam.
Ele se acomodou todo dentro dela, preenchendo-a como nunca, e aquilo quase os queimou vivos e ambos gemeram e arfaram pelo prazer imenso, somente por isso. Seus olhares se encontraram, atordoados, com
a respiração entrecortada. Sami piscou e seus olhos estavam cintilando.
Petrus estava perdido em seu corpo.
— Oh, por favor — ela implorou e fechou os olhos. — Isso é demais.
— Olhe para mim, Sami — Petrus comandou.
Assim que ele reivindicou a atenção dela, ela obedeceu. A sensação dominava e ela o abraçava avidamente enquanto ele iniciou seus movimentos dentro dela.
— Petrus... — ela sussurrou assustada, mas perdida de desejo.
— Tenho você...
Ele se moveu dentro dela com golpes lentos e lânguidos, sentindo as sensações, entrava e saía dela de forma tortuosa enquanto seu corpo se movia todo sobre ela e então aumentou seu ritmo, mais forte, excitante,
profundo, que a fazia querer gritar a cada vez.
Petrus era forte e intenso, selvagem e isso era uma coisa que ela jamais esqueceria. Era como o ferro quente a marcando. Era algo diferente de tudo, pois a maneira que ele se movia era como se todo seu
corpo tomasse seu ser, deixando nenhum espaço para mais nada, tomando de maneira total, tomando de uma maneira que não conseguiria se conter ou negar, porque o prazer que sentia era enorme.
Sami teve sua mente e sua alma se perdendo na dele e ela adorava isso, sim, ela queria isso para sempre.
Hoje, amanhã e todos os dias de sua vida.
Ele a pegou pela cintura e a trouxe mais para o seu colo quando ele sentou nas escadas, penetrando-a, escarranchada em seu quadril, e assim ela dominou seus movimentos enquanto se beijavam.
— Isso é tão bom... Estar com você é tão bom — ele gemeu entredentes, sussurrando as palavras que se perdiam nos arfados, nos gemidos.
Petrus rosnou e suas presas cresceram quando viu as dela crescer.
— Sami, segure sua loba, tem que fazer sua magia recuar.
— O quê?
— Está soltando sua magia de loba, faça recuar.
— Nem sei como faz isso. Sempre me diz e não sei como faz.
Ele sorriu e amou seu jeito, como ela estava entregue a ele, totalmente perdida e rendida. Ele podia sentir a satisfação de sua alma, de seu lobo, ao estar desta maneira com ela.
Ela cavalgou sobre ele, maravilhosa e poderosa, selvagem, tomando tudo dele que podia, sentindo-o todo dentro dela, então, girou o rosto, sem nenhum aviso, e cravou os dentes em seu ombro e Petrus gritou
pela dor e sem conseguir se controlar, teve sua liberação dentro dela, tão forte que sua mente foi junto e o pouco juízo que tinha também. Era demais para ele aguentar. Seu rosnado deve ter sido ouvido
por toda ilha, porque a sensação que ele teve era de que foi muito alto.
A loba de Sami reivindicou seu companheiro.
Sami soltou sua magia toda, que o envolveu quando alcançou seu próprio prazer. Ela gritou, mas ficou abafado em sua boca e se aferrou a ele cravando mais os dentes e o lobo alfa dentro dele fez sua parte.
Seus olhos cintilavam como a prata líquida, o fogo interior trazendo sensações inacreditáveis. O instinto do lobo somente queria reclamar sua fêmea e, Petrus, por mais forte que fosse, foi dominado por
ele.
Ele a mordeu também e soltou sua magia instintivamente, seu lobo reclamou sua fêmea, e foi mais forte que seu juízo, mais forte que qualquer pensamento lógico.
As mentes dos dois se perderam e uma aura colorida dançava ao redor deles, unindo-os, enlaçando suas almas, lançando-os na magia dos deuses, do universo.
Estavam reivindicando seus companheiros simultaneamente, a genuína reivindicação dos companheiros lobos.
Ela não entendeu e mal ouviu, mas pensou que Petrus estivesse falando em sua língua, porque estava sussurrando e ela não entendeu nada, na verdade ele estava selando seu ritual de acasalamento em algum
momento naquela loucura toda.
Petrus e Sami ofegaram tentando tomar ar, suas presas retraíram e os olhos voltaram ao normal. Petrus estava com as pernas bambas e não conseguiria sair daquela banheira.
Sami tombou com a testa em seu ombro e assim os dois ficaram por longos minutos.
Perdidos e esquecidos do mundo real, completamente extenuados e abandonados, um nos braços do outro, flutuando suavemente em ondas de languidez, sem se dar conta das consequências daquilo tudo, somente
tentando que seus corpos voltassem ao normal, o que estava bastante difícil.
Indescritível, nada poderia se comparar àquilo.
Somente existiam eles dois, ali, acariciando um ao outro, entregues ao amor, à paixão desenfreada.
Petrus esticou o braço e pegou a taça e bebeu um enorme gole, estava com a garganta seca e assim ela fez o mesmo, terminando com o líquido, devolvendo a taça à bancada.
Ele suspirou a abraçando e acariciando suas costas, seu cabelo que estava esparramado para todo lado.
— O que houve entre nós? — ela perguntou sussurrando, com o rosto embrenhado em seu pescoço, ainda presa nele, escarranchada em seu quadril, abraçando-o com as pernas.
— Magia, nossa magia se misturou.
— É realmente mágico.
— É o que deve ser entre nós dois agora.
— Às vezes, você fala coisas que não entendo.
— Tem muito que aprender sobre os lobos, querida.
— Eu sei.
— Somos companheiros de alma, Sami, não há como negar ou fugir. Nosso destino é ficarmos juntos.
Ela suspirou e o olhou.
— Soa tão verdadeiro quando você fala estas coisas.
— Porque estou sendo. Sempre fui.
— Mesmo quando me dava aquelas cantadas baratas?
Ele riu e beijou seus lábios.
— Mesmo assim.
— Oh! Eu feri seu ombro!
— Tudo bem, eu fiz o mesmo com o seu.
Ela olhou para seu ombro e olhou-o aturdida.
— Estava tudo tão poderoso que eu não senti nada, depois tudo ficou meio embaralhado, sensações tão intensas e diferentes. Desculpe.
— Ei, não precisa se desculpar, é normal, lobos mordem e amanhã as marcas já terão desaparecido. Eu sou seu agora, e você é minha e tudo ficará bem.
— Claro.
Ele riu e beijou seus lábios, mas então suspirou e depositou doces beijos em sua mandíbula.
— Companheiros devem estar juntos para sempre. Nunca, em minha vida, tive tanto prazer de tocar alguém, nunca senti tanto desejo por alguém como sinto por você. Viveria e morreria nos seus braços sem hesitar,
minha loba — ele disse roucamente.
Oh, ela podia morrer agora derretida como uma manteiga.
— Também nunca senti algo como isso. O que é agápi mou? Prometeu me dizer.
Ele a fitou por alguns segundos, ponderando se dizia ou não, mas já estava perdido mesmo, que diferença faria?
— Significa: meu amor, em grego.
Ela prendeu a respiração e quase sufocou. Meu amor, ele a tinha chamado de meu amor todo este tempo?
Ele a amava. Agora ela desmoronaria de uma vez. Oh, ele estava a deixando sem saída.
— Amo você, Sami, mais que tudo nesta vida.
— Isso é tão intenso, Petrus — sussurrou atordoada.
— Somos intensos. Porque somos parte um do outro, fomos criados para sermos um do outro. Eu faria qualquer coisa por você. Somos um do outro agora. As mordidas são a nossa união, de lobos. Você é meu amor,
o que vai durar a vida toda.
Ele disse isso olhando diretamente em seus olhos, tão confiante, tão sincero.
Ela não tinha acreditado no todo, porque aquilo foi tão intenso que duvidou que pudesse ser verdade. Na verdade, ela ficou um tanto aturdida com as suas palavras e não entendeu exatamente o que significavam
na parte da união.
Mas seu coração tinha saltado no peito de forma absurda e as mesmas palavras tinham rolado direto de seu coração, como uma avalanche, e parado na ponta de sua língua. Por um momento quase disse de volta.
Mas não deu o braço a torcer, mas a vontade de chorar era imensa.
Ele esperou, ela soube, ele esperou que ela correspondesse o mesmo a ele e, então, viu a tristeza em seu olhar e quase não conseguia respirar.
— Eu... Isso é complicado.
— Podemos fazer funcionar, não é complicado se estivermos juntos, eu darei um jeito, tudo vai ficar bem. Só... precisa confiar em mim, amanhã conversaremos, eu tenho algumas coisas a dizer. Coisas importantes.
Ele a abraçou e ela o abraçou de volta e suspirou.
— Promete que ficaremos bem?
— Sim, eu prometo.
— Você vai manter suas promessas?
— Eu vou.
— Isso é uma promessa? — disse sorrindo e ele sorriu.
— Prometo manter minhas promessas.
Ela o beijou e suspirou.
— Então eu vou confiar em você.
— Eu nunca faria nada para ferir ou magoar você.
— Isso é outra promessa?
— Sim, é — disse rindo.
Ela assentiu e sentiu a garganta embargar.
— Eu gostaria de confessar algo.
— Diga, minha linda.
— Eu... realmente senti sua falta, Petrus. Todos os dias. Até nos dias que eu senti muita raiva, que eu jurava que mataria todos os lobos, eu ainda senti saudades.
Ela acariciou seu rosto tão docemente que ele a olhou emocionado, ela não havia dito que o amava, como ele tinha aberto seu coração, escancarado para ela, expondo suas fraquezas, mas ela admitir que gostava
dele, que sentia sua falta, era um grande passo. Um imenso.
Ele sabia que talvez ela sentisse muito mais que isso, mas que não estava preparada para dizê-lo. Sami tinha muitos ressentimentos e medos em seu coração e ele entendia isso agora.
Ela não tinha sido convidada, tinha sido jogada brutalmente no seu mundo e isso a deixou amarga.
Mas agora algo havia mudado entre eles, ela o olhava de uma forma que nunca o tinha olhado antes e ele viu nos olhos dela uma aceitação nova.
Ele podia ver a intensidade, um carinho e admiração, talvez até o amor cravado nos seus olhos, marejados com lágrimas que ela estava segurando, porque não queria deixar cair sua carapaça protetora.
Ele estava bem com isso, por agora.
Devia falar o que tinham que enfrentar, mas ele não queria encarar aquela parte do problema, não queria que ela se zangasse, se irritasse ou sofresse, somente queria tê-la ali, em seus braços, daquela
maneira deliciosa, naquele momento de paz entre os dois e nada mais importava na vida.
Então, ele seguiu pelo caminho mais fácil, chutou os problemas para o dia seguinte e a beijou com sofreguidão.
Ele a tomou nos braços e voltaram para o quarto, se secaram e ele a deitou na cama, quase adormecida e Petrus se deixou cair a seu lado, porque também estava esgotado, precisava de uma boa noite de sono.
No dia seguinte começariam uma nova etapa de suas vidas e enfrentariam a verdade que precisavam enfrentar.
Petrus suspirou e beijou seus lábios e sua testa e a puxou para seus braços e sussurrou.
— Boa noite, agápi mou.
— Boa noite, meu amor — ela sussurrou já perdida em seu sono.
Petrus a olhou espantado e não conseguia acreditar no que estava vivendo.
Que os deuses o ajudassem.
Ele a beijou docemente e logo os dois dormiram profundamente.
muito vagamente que Petrus conseguia se lembrar de como e por que ele recebeu um soco bem no meio cara, vindo de Harley, que bufava como um touro raivoso.
— Você a mordeu! Você a acasalou, a reivindicou como sua companheira! Perdeu o juízo, Petrus? — Harley gritou.
— Sim, eu fiz, não queria, mas foi mais forte do que eu!
— Porra, homem, o que vai fazer agora, como vai explicar a Pietra o que fez?
— Eu vou me entender com ela depois.
— Você não está pensando direito, está pensando somente na sua Sami e os outros que se danem!
— Não estou fazendo isso, sabe muito bem que me importo com todos e somente... — Ele suspirou cansado. — Inferno, eu estou tentando fazer a coisa certa!
— A coisa certa é voltar para Creta e se acasalar com Pietra! Ela é que deve ser sua companheira!
— Deixe que eu cuide disso.
— Não, isso me diz respeito.
— Não diz, Harley, sobre minha companheira só diz respeito a mim.
— O caralho! Diz respeito a mim! — Harley rosnou.
— Fique longe, Harley, estou avisando.
— Vai fazer o quê? Bater-me, rasgar minha garganta? Pois você está fodendo com tudo por causa dessa humana que não sabe nem como é sua loba. Está ferrando a vida de Pietra, sua prometida, enquanto coloca
em risco a nossa alcateia, que já está desfalcada, e de nossa mãe!
Petrus rosnou e bateu com as duas mãos no peito de Harley, o jogando longe, e ele voou pela sala e tombou contra a parede.
Harley rosnou e saltou sobre Petrus e os dois começaram uma briga, trocando rosnados e socos, com seus olhos cintilando e com as presas alongadas.
Harley bateu no rosto de Petrus com um soco de direita, Petrus girou com o baque, mas revidou e bateu com a lateral de seu punho cerrado contra o rosto do irmão e ele foi jogado longe, caindo de costas.
Petrus saltou sobre ele, acavalando sobre suas pernas e rosnou sobre o rosto de Harley.
— Qual é o seu fodido problema, Harley?!
— Não pode fazer isso com Pietra, ela não merece! Tomou-a em sua cama, e agora a quer substituir por Sami, que não merece você!
Oh, então Petrus estacou. Estreitou os olhos para Harley.
— Por que se ofende tanto com Pietra? É filha de um bastardo que lidaremos quando voltarmos.
— Não tem o direito de partir seu coração, ela confiou em você!
— Está apaixonado por ela!
— Não! O quê? Saia de cima de mim, seu idiota!
Petrus saiu de cima de Harley e sentou no chão, limpando o sangue da boca e passando as mãos nos cabelos desalinhados e suspirou. Harley gemeu pela dor e sentou. Os dois ficaram mudos por alguns minutos,
remoendo toda aquela bagunça.
— Como um lobo pode ter duas companheiras ao mesmo tempo? Tem que sair disso.
— Irmão, se eu soubesse como sair desta merda, acha que eu estaria aqui fazendo mais merda?
— Droga, Petrus!
— Sua merda não é diferente da minha já que está apaixonado por minha companheira!
— Não estou apaixonado por ela.
— Não minta! Está se derretendo ao redor dela desde que ela chegou a Creta, ficou a protegendo de meus insultos e estava irritado e deprimido depois que ela esteve em meu quarto!
— Olha, gosto dela, não vou negar, é uma loba preciosa, a melhor que conheci, quem seria tão estúpido de abrir mão dela, de não a querer como companheira a ponto de reivindicar outra, uma que nem quer
ser loba e não nos entende.
Petrus rosnou zangado e foi rebater, mas estacou com o cheiro que sentiu e um frio afligiu seu estômago.
Petrus e Harley se viraram e olharam para a porta e ali estava Sami, os olhando com os olhos arregalados.
— Merda... — Petrus sussurrou.
Harley suspirou e passou a mão pelos cabelos.
— O que ele quis dizer com o fato de que você já tem uma companheira? Você... Você tem uma noiva? Uma esposa?
— Bem, eu posso explicar isso.
— Acho bom. Quem é Pietra? Pensei que era alguém de Harley.
Harley fez uma careta, gemeu e levantou.
— Oh, não fui somente eu que percebi — Petrus disse olhando para Harley.
— Oh, não joguem seus problemas em cima de mim.
— Mas isso envolve você também, já que está apaixonado por Pietra!
— Não estou apaixonado por ela, somente estou a protegendo, coisa que você deveria fazer.
— Então não se meta nisso.
— Calem a boca! — Sami gritou e os dois pararam de discutir e olharam para ela. — Quem é Pietra?
— É minha prometida.
— Uma noiva? — ela perguntou espantada e com os olhos arregalados, seu coração apertou tanto no peito que sua dor podia ser sentida no ar e Petrus gemeu.
— Nós lobos não temos noiva... Temos uma prometida.
— Oh que inferno é isso?
— Vou deixá-los para que se entendam. Boa briga, irmão.
Petrus rosnou.
— Não acabamos nossa conversa.
— Isso não me parecia uma conversa — Sami disse.
Harley limpou os lábios sujos de sangue.
— Estávamos conversando, acredite, se quiséssemos nos matar, alguém não teria uma cabeça.
Sami bufou irritada.
— Bem, nossa conversa ficará para depois, tenho coisas importantes a fazer, coisas que deveria pensar também, Petrus.
— Obrigado, irmão, você é o melhor beta por sempre me lembrar de minhas obrigações.
— Não que as ouvisse. Estou indo para Creta que é onde você deveria estar.
Petrus rosnou.
— Saia daqui antes que eu quebre seus dentes.
Harley saiu irritado e Petrus levantou e tirou sua camiseta rasgada, jogando-a no chão, irritado.
— Então é isso? Tem uma noiva e está prestes a se casar?
— Sim. Não é uma noiva como os humanos têm, mas para simplificar é isso.
— Simplificar?
— Pietra é um casamento arranjado. Foi acertado por alfas e isso é um acordo inquebrável, a não ser que seja amigável. Ou haja um problema grave que o anule.
— Você não fez?
— Não, eu não consegui desfazer, porque o patrimônio de minha família está em jogo e muitos lobos dependem de mim agora, já que sou o alfa. Então não posso abrir não de minha posição e jogar a minha ilha
nas mãos de um italiano carcamano.
— E quando se casaria?
— Já deveria ter me casado, mas com esta confusão toda eu adiei, mas eles estão me esperando em Creta para realizar a cerimônia... Em breve.
Ela estava muito chocada para conseguir responder de imediato.
— Por que não me contou antes?
— Não sabia como contar.
— O lobo tagarela, sempre com uma explicação na ponta da língua, agora não tem uma, porque não há uma explicação. Petrus, você traiu-me desta maneira descarada!
— Não traí, Sami, somente não sabia como contar, porra!
— Poderia começar com: “Olá, Sami, podemos transar à vontade já que estou aqui e minha noiva não sabe de nada e então você vai à merda e eu vou voltar para casa para me casar”. Ah, e para constar esta
mordida e todo aquele blá-blá-blá de que sou sua vida e me reivindicou como sua companheira de alma era uma piadinha, para descontrair, para enganar a humana idiota que não conhece as leis dos lobos.
— Sami, não foi assim que aconteceu.
— Estou com tanta raiva que podia quebrar sua cara.
— Caramba, mulher, eu ia contar.
— Quando? Todo este tempo que estivemos juntos ocultou isso de mim. Era isso sobre os telefonemas escondidos, pois era com ela que falava ao telefone, os cochichos com Harley e agora esta briga e então
foi que descobri a verdade, por acaso.
— Estava dando tempo para resolver as coisas, estava tudo meio complicado por lá.
— Complicado? — perguntou incrédula. — Eu sei que estava complicado, mas teve tempo para me contar!
— Por que as mulheres têm que complicar as coisas?
Sami bufou.
— Sim, podemos complicar, porque gostamos das coisas às claras, estúpido, pois não mediu esforços para me conquistar, para me levar para a sua cama e trair sua noiva, não mediu esforços para ocultar de
mim com seus cochichos com Harley. Mesmo que estivesse complicado tinha que contar, já que ficou me martirizando sobre lealdade e confiança. Como pode pedir algo, se não dá?
— Ia contar.
— Quando estivesse no altar?
— É uma história muito complicada, mas precisa acreditar em mim, eu não escolhi isso, Sami. Eu estou sendo obrigado.
— Ninguém é obrigado a se casar hoje em dia, e não aguento ouvir estas merdas de desculpas. Todos vocês homens fazem isso, dão desculpas esfarrapadas. Magoam as pessoas sem nem pensar nas consequências.
— Eu confessei meus sentimentos por você.
— Mas não confessou que era noivo de outra! Prestes a se casar!
— Se não me casar minha alcateia será tomada pelos italianos, mas você é minha companheira.
Sami gemeu e apertou os punhos sobre os olhos.
— Ah senhor! Eu não sou sua companheira, pois você já tem uma! Não sou sua companheira! — gritou.
Petrus suspirou exasperado e depois rosnou alto e forte.
— Sabe, Sami, eu errei, eu sei, assumo isso e peço desculpas. Mas o problema maior aqui não é esse. Eu... Eu amo você desta maneira errada, que me fez passar anos amando uma mulher que não consegue amar
a si mesma. O que passou foi difícil, sim eu entendo, mas você nunca poderia ser minha loba, porque como um alfa, eu tenho que ter uma loba ao meu lado, uma que tenha orgulho de ser o que é, porque somente
assim terá o respeito de meu povo. Eu poderia aceitar você, mas minha alcateia não o faria.
— Acha que não sou digna de ser uma alfa? — perguntou ofendida.
— Uma alfa deve amar sua loba. Está aproveitando este meu deslize como desculpa. Eu realmente queria que lutasse por mim.
— Petrus... Eu só preciso de mais tempo.
— Não temos tempo.
— Então não sei o que fazer, merda!
Ele suspirou e esfregou os olhos.
— Por tudo que já vivi nesta vida, sendo quem eu sou, Sami, uma das coisas que mais prezo é isto.
Petrus bateu no peito e ela o olhou, aturdida.
— “Freedom”. Liberdade, este é o meu lema. Ser livre é a maior dádiva que temos na vida, e o que mais aprecio. Eu odeio estar preso. Todos sempre tentaram me ver preso: meu pai, minha obrigação como alfa,
a vida por me obrigar a me ocultar, aqueles malditos cientistas que me jogaram numa jaula, aquele maldito carcamano que me prendeu numa armadilha. Eu lamento por todos eles. Só não lamento por você que
prendeu meu coração e minha alma e eu fiquei encurralado sem conseguir me soltar. Mas eu não odiei isso, eu amei cada segundo porque eu queria estar preso no seu coração. E eu nunca desisti de nada que
eu realmente quisesse nesta longa vida que eu tenho, mas agora eu estou desistindo. Eu estou desistindo de você, porque eu não quero alguém que não luta por mim, que ainda não quer ser livre.
— Petrus...
— Não, Sami. Não mais. Eu gostaria de poder te dar mais tempo para que estivesse pronta para mim. Eu estou cansado de lutar sozinho e companheiros não são assim, eles lutam juntos e você nunca lutou por
mim. Eu preciso de alguém que lute por mim, para que eu também possa ter meu porto seguro. Isso... — disse mostrando os dois. — Acabou. Adeus.
Petrus virou as costas e saiu.
Ela ficou ali, com a raiva ainda latejando no seu coração. Sim, ele estava certo, ela não conseguia se aceitar. Queria socar sua cara por sempre deixá-la louca, por ter mentido.
Ela vivia naquela eterna batalha na sua mente, o tempo todo brigando, alimentando uma raiva que parecia fogo flamejante e que atiçava as brasas o tempo todo, colocando mais um pau de lenha para não a deixar
apagar.
Ela trincou os dentes e sentou no sofá, aturdida com tantas coisas passando pela sua cabeça. Porque ele tinha razão, se odiava e tinha alimentado uma enorme raiva dos lobos e então ver seu pai carbonizado,
saber da mentira de Petrus depois da noite que tiveram, de todas as palavras ditas, só piorava sua mente atormentada. Mas a verdade era uma só.
Como podia ser sua alfa, se não aceitava os lobos? Mas era difícil aceitar se ela tinha convivido somente com o lado ruim dos lobos. Ela se lembrou de seu pai e seu coração doeu. Nunca conseguiria tirar
da cabeça a imagem dele naquela cela, carbonizado.
Odiar doía, maltratava. Seria mais fácil ser feliz. O problema é que ela não sabia ser feliz. Tinha vivido na escuridão por tanto tempo que não sabia o que fazer com a luz.
Mas tinha conhecido momentos de alegria, tinha conhecido o toque dele de forma intensa e pura, algo verdadeiro e a intensidade de Petrus a assustava.
Sami soltou um suspiro desesperado.
Ela começou a repetir isso mil vezes na sua cabeça. Que não era nada, que não precisava se importar, sofrer por aquela besteira.
Fora apenas sexo, ela tentou se convencer. E, mais uma vez, seu corpo e sua mente não acreditaram nas palavras.
A boca repetia uma e outra vez, mas seu coração e sua mente não aceitavam.
Lobos eram intensos, Petrus era intenso. Era o fogo que queimava sua pele. Ele era o sangue quente correndo nas veias. Petrus era vida. A vida pulsando. Ele a fazia viver e sem ele o que seria?
Seria este punhado de raiva e ressentimento que tinha se transformado. Ela tinha baixado os muros para ele e a dor daquela traição estava doendo, era como um corte que atravessava o peito e sangrava.
Ela respirou fundo e ficou ali, sentada no sofá tentando respirar e se acalmar.
Os minutos e as horas foram passando, e ela continuava ali como uma estátua, estática, e pensou que fazendo isso se abrandaria e retomaria sua vida nas mãos novamente.
Mas uma dor aguda afligiu seu coração. Ela esfregou o peito como se tivesse algo torcendo seu coração e sentiu vontade de chorar e gemeu, abraçando a si mesma.
Quanto mais o tique-taque do relógio parecia martelar na sua cabeça, perante o silêncio da casa, e quanto mais Petrus se afastava dela para voltar para a sua vida, mais infeliz ela parecia.
Era como se o sopro de vida que a mantinha de pé estivesse se esvaindo de uma vez.
As forças que ela buscava não vinham, porque tinham ido embora com ele.
Uma lágrima escorreu pela sua bochecha e um soluço ecoou pela sala de estar. Sami piscou rapidamente com o som e então, percebeu que o soluço era dela. Estava chorando, porque seu coração sangrava e sua
alma estava murchando.
“Você é a vida que corre nas minhas veias, minha Sami. É a vida que entra nos meus pulmões. Minha companheira de alma que encontrei. A parte de minha alma que os deuses fizeram pra mim. Só precisa se entregar.
Venha pra mim, de coração aberto, e eu a amarei mais do que a lua ama a noite.”
Ela se lembrou. Ele tinha sussurrado isso enquanto ela adormecia em seus braços.
Sami gemeu e levantou, foi até a suíte e entrou debaixo do chuveiro, sem mesmo tirar suas roupas.
Ali ela chorou e deixou que as lágrimas caíssem, misturando com a água, queria ver se aquela água lavava a sua alma.
Queria que esfriasse sua cabeça, acalmasse a tormenta de sua mente, a dor de seu coração.
Queria ser ela mesma, mas percebeu uma coisa. Ela foi ela mesma quando foi atrás dele na banheira, porque estava com sua vida e seus desejos em suas mãos. Ela tinha sentido o prazer completamente pela
primeira vez, tão forte, que ressoava vibrante.
Ela teve Petrus inteiro para ela, e soube disso. Que ele estava dando sua vida para ela.
Ele a tinha reivindicado como dele e estava lutando para ficar com ela.
As mentiras e ocultar que ele tinha outra mulher tinham sido uma punhalada forte em seu coração.
Mas se o deixasse de uma vez, ele voltaria para sua vida e... ficaria com esta tal loba.
Uma loba de verdade, uma de sangue puro, que talvez tivesse orgulho de ser loba. Diferente dela.
Sami saiu do chuveiro depois de um tempo incontável ali. Enrolou-se na toalha e colocou outra nos cabelos e quando se olhou no espelho seus olhos estavam cintilando.
Ela ficou se olhando no espelho para ver como seus olhos eram assombrosos e incríveis. Um verde pálido e parecia que um foco de luz cintilava por trás deles e os iluminava.
Pela primeira vez, Sami estava reparando atentamente em seus olhos. Como eram mágicos e como era possível que tivessem ficado assim.
A magia circulava nas suas veias, sob sua pele, como uma bomba prestes a explodir.
Ela odiava aquilo, mas Petrus amava.
Petrus tinha orgulho de ser um lobo. Ela não.
Podia amar? Por ele?
Ela tirou a toalha dos cabelos e eles caíram sobre seus ombros e ela olhou para as mechas naturais multicoloridas, marcas de sua loba.
Todos pensavam que era tintura, mas eram naturais e era... lindo.
Petrus tinha tocado seus cabelos, suas mechas com tanto carinho, e seus olhos tinham brilhado e ele tinha sorrido.
Sami fechou os olhos e pôde sentir o toque dele nos seus cabelos. Pôde sentir que ele realmente admirava-a com aquele sorriso lindo e safado que mantinha no canto da boca. Mais malandro ainda quando mascava
um chiclete de maneira tão despreocupada.
Ela amava aquele sorriso safado no canto de sua boca.
Amava seu rosto e seus olhos. Os olhos brancos que deveriam ser assustadores e horríveis, mas não eram, eram incríveis e queimavam como fogo quando a olhava porque Petrus a olhava com admiração e fome.
Como ninguém nunca a olhou antes e nunca a olharia, porque... Petrus era único.
Sua mente gritou esta frase tão forte que pareceu que seus ouvidos zumbiram.
Sami ouviu uma batida na porta e foi atender. Ela piscou atordoada vendo Liam com seu cabelo branco e longo e seus olhos brancos e toda aquela altura. Ele era assustador e ao mesmo tempo lindo. Um verdadeiro
choque na mente de qualquer um.
Se não soubesse que era um ser mítico, sairia gritando, mas ele era adorável com aquele sorriso simpático, segurando uma bandeja com comida. Como podia ser isso? Então ela olhou para a ruiva baixinha que
sorria para ela. Lembrou-se de tê-la visto na Alemanha, mas ela era humana e agora...
— Olá, viemos trazer sua refeição e eu vim examinar você, Petrus disse que acordou antes da hora e que talvez não estivesse curada completamente. Sou Virna e sou a médica que cuidou de você quando chegou.
— Sim, a dor nas costelas ainda incomoda. Obrigada por ter me remendado, lembro vagamente de tê-la visto.
— Sim, estava meio dopada pela anestesia que Jessy lhe deu.
— Eu estou bem, não se preocupe.
— Deveria voltar a dormir, para que se cure, movimentos bruscos podem deixá-la com dor intensa, infelizmente costelas são difíceis de tratar.
— Uma noite de sono e estarei inteira. Sou médica também e qualquer coisa me tratarei ou pedirei ajuda.
— Sim, Ester disse que diria isso. Não é, Liam?
— Sim, ela disse.
— Mas pode me deixar examiná-la e trocar seu curativo, porque prometi a Petrus.
— Petrus?
— Sim, ele pediu que cuidássemos de você antes de ir embora.
Sami engoliu em seco com a menção de Petrus e quis recusar, mas não fez porque não queria ofender a moça tão gentil e saber que ele se preocupava com ela tocou seu coração.
Então entraram na sala e ela deixou Virna fazer tudo que precisava. Depois da sessão hospital, Virna fechou sua maleta e sorriu lindamente.
— Bem, aí tem um telefone, o da clínica é 02 e pode nos chamar a qualquer hora. Amanhã deveria ir à clínica para que tiremos um raio X, para ver como está.
— Ok, obrigada.
— Ah, tirando suas dúvidas, pelo jeito que me olha: eu era humana, mas agora sou uma loba. Liam é meu companheiro.
— Oh...
— Todas as companheiras humanas tiveram suas dificuldades de se adaptar, Sami. Mas estamos com nossos companheiros agora e felizes. Deixar sua vida para trás, às vezes, não é fácil, mas ficar olhando para
trás vai te impedir de ver o quanto é maravilhoso viver esta magia e estar com seu amor verdadeiro. Acredite, eu sei, e não me arrependo de ter escolhido ficar com meu companheiro.
Sami olhou bem para Virna e para Liam e suspirou.
— Obrigada pela gentileza e suas palavras.
— Boa noite.
— Boa noite.
Eles foram embora e Sami ficou ali na porta, aturdida, mas olhou eles se afastarem, viu como Liam era gentil e protetor, como a pegou no colo e a colocou dentro do jipe e acariciou sua bochecha antes de
seguir.
Sami suspirou e foi para a cozinha e olhou para a bandeja de comida que haviam trazido e pegou um pedaço de carne e comeu, mas estava tão infeliz que não tinha fome em absoluto, então somente tomou o suco
de laranja, pois estava sedenta e que ajudou a engolir mais uma leva de comprimidos.
Tão desanimada e murcha como um saco vazio, foi para o quarto e deitou na cama, se encolheu ali e ficou com sua mente perturbada. Gemeu pela dor que assolava suas costelas quebradas, que ainda não estavam
curadas.
Precisava se centrar e pensar claramente e ver o rumo que sua vida levaria agora. Mas primeiro, ela tinha que ter uma vida.
Sami acordou assustada quando ouviu uma batida forte na porta da sala.
Ela piscou algumas vezes para se focar na realidade, pois sua cabeça estava rodando.
Com um pouco de dificuldade, levantou e olhou para a janela e o sol estava alto. O dia parecia quente e os raios brilhantes do sol iluminavam o quarto através da porta da sacada e da enorme janela de vidro.
A casa não ficava na praia, mas do alto podia ver o mar.
Ela queria ficar na janela e ver a magia da ilha, mas outra batida na porta a fez mudar o rumo e ir para a sala.
— Já vou!
Ester bateu na porta outra vez e já estava quase desistindo quando finalmente uma Sami despenteada, de roupão e com dificuldade de abrir os olhos abriu a porta.
— Olá, vejo que acordei você. Eu trouxe algumas roupas do estilo que Petrus disse que usava e uma bota de salto. Achei isso sexy.
— Sim, obrigada, bem, bom dia — Sami disse sonolenta e atordoada pelas roupas que Petrus pediu, as roupas de couro.
— Deveria ser boa tarde.
— Hã?
— São duas horas da tarde.
— Oh, nossa, dormi muito.
— Devia estar cansada, é muito bom dormir, pois energiza o corpo. Os lobos necessitam do sono para se curar e repor suas energias. Foi bom você ter apagado, não? Fiquei sabendo que o efeito tinha passado
rápido e não se curou por completo.
— Sim, bem, não me lembro de ter dormido tantas horas seguidas desde... — ela parou pensativa.
— Desde que se tornou loba?
— Bem... Acho que sim.
Ester entrou na casa, sentou no sofá e cruzou as pernas. Sami estranhou sua maneira folgada e como a olhava com um sorriso estranho no rosto. Essa mulher pensava que era quem?
— A alfa — Ester disse.
— O quê? — Sami perguntou sem entender.
— Você se perguntou quem eu achava que era e eu respondo. Eu sou a alfa e a cupido mor da ilha já que Erick passou a missão para mim — disse zombeteira e Sami franziu o cenho.
— Como sabe o que pensei?
— Pela sua cara — disse rindo. — Como se sente?
— Estou bem, as costelas já não doem.
— Gostaria de ser uma alfa como eu?
— Não sei.
— Ser companheira de Petrus acarreta nesta responsabilidade, sua companheira será uma alfa e precisa agir como tal e, acima de tudo, ter o respeito da alcateia toda. Precisa ser uma mulher decidida, forte
e deve amá-lo a ponto de enfrentar tudo e todos quando precisar. Precisa ter o comprometimento de cuidar dos outros lobos, ajudá-los quando necessitam ou quando são muito turrões para deixar que os ajudem.
— Céus...
— Sami, ainda há tempo para consertar as coisas. Eu sei que está tudo sendo difícil para você e, acredite, sou solidária. Mas como alfa, devo alertá-la. E além de alfa, eu estou fazendo isso simplesmente
porque gosto de você, sempre gostei e quero te ajudar.
Sami fez uma carranca agora e cruzou os braços.
Ester sorriu, porque isso era impressionante, sempre o mesmo gesto que todo mundo fazia quando queria se proteger, cruzar os braços no peito. Por outro lado, também representava que queria mandar a ideia
que era forte e inatingível para a pessoa intrusa de sua privacidade.
Noah fazia isso quando queria fazer alguém desembuchar informações, ele ficava intimidante, pois parecia muito mais forte naquela posição, junto ao olhar penetrante que lançava.
Até um mudo falaria o que ele queria saber.
— Sabe, Sami, eu me sinto VIP e poderosa e posso fazer um destes lobos fortes e poderosos pararem de rosnar com apenas um olhar. Mas, o que mais gosto é de ser companheira de Noah. E, às vezes, mesmo querendo
chutar seu traseiro, eu derrubaria todos os pilares da Grécia e até lutaria com um exército para ficar ao lado dele e cuidar de todos os lobos que habitam esta ilha, porque eu aceitei minha loba e aceitei
ser alfa. Faço qualquer coisa para sempre vê-los sorrindo.
— Está falando sério?
— Nunca menti para você e já te ajudei antes, recorda?
Sami suspirou, isso não podia negar.
— Sim.
— Então, fale-me. Você decidiu deixar Petrus e o mandou embora e agora está aqui infeliz desse jeito. Sua decisão a deixou desconfortável?
— Não. Sim... Porque eu briguei com ele, mas então ele não me quis mais. — Ela suspirou exasperada, erguendo os braços e sentando no sofá ao lado de Ester, com toda a exaustão caindo sobre ela. — Por que,
apesar de estar correta e zangada e no meu direito de brigar por ter mentido pra mim, me sinto tão infeliz?
— Porque estava aberta para ele.
— Evitei tanto, mas... acreditei nele e mentiu.
— Então quando soube da verdade se sentiu traída.
— Isso me deixou louca e tão furiosa.
— Petrus deve ter tido suas razões para não ter contado antes.
— Ele devia ter sido sincero.
— Querida, os lobos são mais sinceros e diretos que um raio, eles soltam tudo em cima de você e te derrubam como uma avalanche. Petrus foi assim com você desde que a conheceu na Alemanha, mas em alguns
momentos eles podem errar e não saber como falar as coisas. Acredite, eu sei.
— Petrus me ocultou que tinha uma noiva. Isso é grave.
— Ah, sim, Pietra. Bem, ele está sendo forçado a se casar. Talvez fosse contar, mas não sabia como, pois tinha medo de perder você quando confirmou que era sua companheira.
— Esta história é verdade?
— Sim, é verdade.
— Em pleno século XXI?
— Lobos...
Ela suspirou.
— Me reivindicou como sua companheira, e ele tinha que se casar com outra?!
— Bem, isso foi um erro, mas se ele te reivindicou foi porque ele te necessita e te ama. Agora, meu bem, se ele desistiu de brigar e se foi, é porque ele tinha um pouco de orgulho ainda. Eles podem rosnar
o quanto quiser, mas fariam qualquer coisa por suas companheiras. Petrus faria qualquer coisa por você. Se você for lá atrás dele, ele fará tudo para estar com você.
— Sério?
— Seríssimo. Noah é oito e oitenta, às vezes me irrita por seu comportamento machista, parecendo aqueles ogros das cavernas, mas logo em seguida me bajula tanto como se fosse um daqueles servos de antigamente
que te abanam com aqueles leques de plumas. Faz de tudo para me fazer feliz, me ver confortável. É atordoante, mas delicioso. Os outros fazem o mesmo com suas companheiras, acredite, eu vi. Tem que aprender
a lidar com eles.
Sami quase riu das comparações de Ester. Ela gostava da alfa. Suspirou novamente tentando se focar.
— Ele me prometeu tantas coisas — disse triste.
— Se te prometeu o céu estrelado e a lua é porque realmente queria te dar isso e se não tivessem brigado, então estaria tendo isso agora.
— Foi um cafajeste.
— Homens geralmente são, deve ser um gene. Como eles são meio humanos, devem ter o gene também.
Sami a olhou com a sobrancelha erguida, tentando não rir.
— Certo. — Ester riu e depois ficou séria olhando para Sami. — Preste bem atenção. Uma coisa que sei é que companheiros são fiéis e isso foi assim entre vocês porque Petrus tinha uma prometida, mas não
se casou com ela ainda. Então, tecnicamente não estava a traindo. Prometidas não são noivas como os humanos, entende? Fato que pode mudar daqui a pouco. Petrus não soube lidar com a situação, concordo,
mas você, convenhamos, também não soube, porque sempre fugiu dele como o diabo da cruz. Certo?
— Bem... Certo. Assumo minha culpa.
— Ok, mas isso é normal, porque pessoas normais têm dificuldade de entender os sentimentos, tem medo, comete erros. Todo mundo passa por isso, a questão é como faz para resolver o problema e se redimir
dos erros. Deixa ir ou conserta. Por Petrus nunca haveria uma Pietra entre vocês. Ela foi imposta a ele e quanto a você? Ele a quer. Pode perdoá-lo?
— Não sei se eu e Petrus poderíamos encontrar o equilíbrio. Somos tão... intensos, como dois gladiadores.
— Não vai saber se não tentar. E... isso pode deixar as coisas quentes, não? — ela disse maliciosa e Sami deu um sorriso sem jeito. — Mesmo naquela bagunça que viveram nos Estados Unidos não tiveram momentos
de paz? Onde pensou que ali era onde realmente pertencia? Nos braços dele?
— Sim, tivemos.
Ester assentiu e observou Sami por um momento.
— Querida, o seu problema é que ainda não aceitou a si mesma, não aceita ser uma loba. Como pode aceitar outra pessoa na sua vida, ainda mais um lobo? Se você puder viver sem Petrus, então é livre para
viver aqui. Esta casa está vazia e pode ser cedida a você, mas se descobrir que necessita dele, então corra e tome seu homem, seu lobo, antes que outra o faça, porque depois que ele se acasalar com Pietra,
eu duvido que o tenha de volta. Duvido que Petrus abra mão de sua responsabilidade outra vez, ele fez isso quando reivindicou você, sabendo tudo que estava em jogo. Ele estava arriscando seu pescoço, porque
isso tudo pode acabar numa guerra entre alcateias. Tenho certeza de que em algum momento de sua briga, ele disse isso.
Ela assentiu e gemeu, sentindo uma fisgada no peito.
— Oh, o que é isso? — disse gemendo.
— Petrus está cortando seu laço de companheiro.
— Como? Como está fazendo isso?
— É a magia dos lobos. Eu sinto muito.
E agora isso, ele estava cortando os laços com ela... Para sempre... Mas ele era dela.
— Ele terá uma esposa, não uma companheira de alma, pois esta é você, Sami.
Sami a olhou novamente.
— Está zangada? Dê-lhe um castigo, brigue, lhe dê umas patadas, se imponha, morda sua bunda, mas tome-o. Você o ama? Então o perdoe e vá lá e impeça o casamento, porque depois disso Petrus estará perdido
para sempre e você não poderá culpar ninguém, a não ser a si mesma por ter deixado.
— Mas... E sobre esta guerra de alcateias? E sua ilha que perderia?
— Bem, compraremos uma enorme briga, mas nós estaremos lá por ele, porque é isso que nossa alcateia faz, está unida e luta uns pelos outros. Petrus faz parte de nossa alcateia, lutou por nós e agora nós
lutaremos por ele. Lutaremos por você também se estiver do nosso lado.
Sami estava muito atordoada. A cada coisa que Ester dizia seu coração descarrilava no peito, doendo tanto, que parecia que explodiria.
— Petrus a ama?
— Ele disse isso.
— Lobos são intensos até os fios de cabelos, não tem medo das palavras como os machos humanos estúpidos têm. Eles sentem, eles falam. Eles querem, eles lutam para ter. Então, se ele disse que te ama é
porque a ama. Verdadeiramente. Sei que é difícil de acreditar, porque nossa experiência com os humanos nos faz duvidar. Acredito que tenha conhecido um bando de homens imbecís, como eu fiz. Acredite, passei
pelo mesmo quando Noah disse que me amava.
— Está falando sério?
— Querida, estou aqui falando tudo que precisa ouvir porque é verdade. Você acha que eu perderia meu tempo, no qual posso estar curtindo meu lobo de dois metros de altura, sarado e delicioso, para estar
aqui mentindo para você? O que eu ganharia com isso?
— Bem, olhando assim, parece certo.
Ester sorriu e levantou do sofá.
— Bem, Sami, é o que você tem para o menu. A escolha é sua. Pode lutar por seu companheiro ou deixá-lo para outra loba. Pietra é uma loba linda e maravilhosa, vai cuidar bem dele. Mas ainda acho que este
é seu posto. Eu te apoiarei na sua escolha e se escolher morar aqui conosco, será bem-vinda. — Ester foi sair da casa e parou na porta e se virou. — Sami?
Ainda atordoada, Sami olhou para ela. Ester fez seus olhos cintilarem e soltou suas presas e Sami ofegou.
— Eu amo ser loba e viver com eles. Antes de aceitar Petrus, deve aceitar a si mesma. O amor que encontrará ao lado de seu companheiro de alma é indescritível e seu coração estará tão cheio de alegria
e amor que fará de tudo para não perder isso.
— Obrigada.
— Bem, às cinco horas é a cerimônia de Petrus, nós iremos.
— O quê? — perguntou atordoada.
— Sim, querida, seu tempo está esgotando. Petrus se casa esta tarde em Creta. Nós estamos indo, pois somos convidados. Se quiser uma carona...
Então Ester se transformou em loba e Sami ofegou de susto, mas antes que pudesse reagir pelo medo, ficou chocada com a beleza de loba que ela era. Magnífica, com os olhos azuis muito claros, o pelo mesclado,
grande, imponente, uma alfa. Linda.
Ester uivou um uivo longo e cadenciado levantando a cabeça ao céu e logo ao longe, Sami ouviu outro uivo, forte, que ecoou pelo ar como um chamado poderoso.
Um arrepio cruzou a espinha de Sami, ela soube de quem era. Era de Noah, respondendo a Ester, chamando-a.
Eles estavam se comunicando. Incrível. Ela sabia que cada lobo tinha seu uivo único e era tão lindo.
Sami olhou e jurou que podia ver a loba sorrindo e o brilho feliz em seu olhar, olhando-a, passando uma mensagem. Ester pegou seu vestido caído no chão com a boca e o colocou sobre o sofá, saiu correndo
da casa, indo ao encontro de seu lobo.
Sami espiou na janela e ao longe viu Ester correr e se encontrar com outro lobo enorme que a esperava, que deveria ser Noah. Quando se encontraram, os dois rodaram e brincaram um com o outro, fazendo carinho
em suas caras, esfregando suas bochechas, lambendo e acariciando, contentes por estarem juntos, então ambos correram para o bosque.
Pela misericórdia, aquilo aqueceu seu coração de uma forma tão absurda que ela ficou ali, estática, por alguns minutos, nem entendeu por que isso a atingiu tanto, mas sentiu vontade de chorar pela beleza
do que acabava de ver e nitidamente sentiu inveja.
Desejava aquilo também. Desejava ter o que Ester enchia a boca para descrever. Sem medo, sem pudor, sem nenhuma ressalva. Livre e feliz.
Ela era uma loba, mas nunca tinha se transformado em loba. Foram anos de pura tortura. Nunca tinha aceitado toda esta merda. Nunca quis nada disso.
Tinha aceitado sua forma Dhálea aterrorizante porque a usou como arma para se defender e alcançar seus objetivos e isso lembrava-a da besta que vivia dentro dela, que ela insistia em dizer que era horrível.
Mas o lobo, a beleza de ser uma shifter, de viver a natureza selvagem e natural do lobo, ela não conhecia, ou melhor, não queria conhecer...
Sua vida tinha a levado até ali. Numa encruzilhada que poderia definir o resto de sua vida e, desta vez, a escolha estava em suas mãos. Duas lágrimas escorreram pelo seu rosto e não conseguia interromper
o choro que aflorou impiedoso, como se seu coração tivesse transbordado.
Ela estava zangada com Petrus, com todo mundo, consigo mesma, mas a verdade era que ela amava Petrus desesperadamente e saber que estava com outra a estava deixando louca. Era tão forte que parecia que
seu interior estava estilhaçando.
Ela foi para o quarto, até a frente do espelho grande que havia preso na parede e se olhou, observando atentamente seu cabelo, seus olhos. Era uma loba.
Estava se sentindo miserável e infeliz. Mas podia ser feliz... Só precisava ser... ela.
Ela respirou profundamente.
— Eu sou uma loba — sussurrou e deu um passo mais próximo do espelho. — Eu sou uma loba. Eu sou uma loba. Eu posso fazer isso e está tudo bem. Eu sou uma loba...
Ela fechou os olhos e respirou fundo e então a mágica aconteceu e ela sentiu o súbito formigamento no corpo e quando abriu os olhos para se olhar no espelho, se viu como loba.
Sami ofegou e deu uns passos atrás, assustada com sua própria imagem e cambaleou, caindo de bunda. Ela levantou tentando se firmar nas suas patas.
Ela era marrom com fios caramelo, mesclada de vários tons, pérola, uns mais dourados e a pelagem do seu peito e sua cabeça eram mais claras, quase brancas, e seus olhos estavam verdes muito claros.
Estupefata e encantada com sua imagem se aproximou do espelho, tomando sentido sobre sua loba e era magnífico, porque tinha total sentido e razão, se sentia poderosa e forte. Era como se uma forte energia
a rodeasse.
“Eu sou uma loba e eu amo um lobo”, sussurrou e uma lembrança veio à sua mente. Um dos momentos lindos que tinha passado com Petrus, no cassino, outro no quarto do hotel, na banheira.
A tormenta em seu interior retumbou, sua loba estava atiçada, ela podia sentir.
“Eu amo Petrus.”
A loba, agora, se olhando no espelho chorou.
Ela chorou porque agora estava vendo a si mesma.
A Sami sem a casca. A Sami que nunca tinha lutado pelo homem que amava, porque sempre tinha sido uma covarde e seu medo e raiva sempre tinha vindo em primeiro lugar.
Amava Petrus como jamais amaria outro e sim, seria infeliz, muito infeliz sem ele.
Sua loba estava desesperada e, num rompante, saiu correndo da casa e correu para o bosque, como uma louca; correu sentindo o vento, o cheiro forte da mata, o chão sob suas patas, correu chegando a uma
praia e o cheiro do mar a embriagou. Ela correu de um lado a outro e parou, arfando, respirando com dificuldade.
Seu corpo vibrava de uma forma aterradora e ela sentiu novamente aquela pontada no coração, tão forte dessa vez que a fez gritar.
Num piscar de olhos ela se transformou em humana e agora estava nua, caída na areia, com o rosto banhado em lágrimas e com o coração despedaçado.
Ela se encolheu no chão e chorou, gritou. Gritou diversas vezes, o mais alto que pôde.
Jogou tudo para fora. Tudo que ela odiava, tudo o que a deixava mal, todo seu sofrimento e seus ódios.
Ela se ajoelhou e respirou fundo, várias vezes, tentando se acalmar. Fechou os olhos e se entregou.
Então, após um minuto em que pareceu que o mundo inteiro se calou, uma onda diferente a atingiu.
Sentiu uma leveza, uma tranquilidade.
Era como se, pela primeira vez, desde que foi transformada em loba, o universo, a magia, estivesse falando com ela, envolvendo-a, acariciando-a, beijando-a, suave como uma brisa, como o toque de um amante.
Sua loba estava livre e isso era quase demais para suportar, então seu coração e sua mente estavam mais claros do que nunca.
Era uma loba e viu como a sua magia era linda e não tinha nada de horroroso naquilo. Estava se sentindo viva.
Ela piscou atordoada e olhou o céu, com seu azul intenso, com a magia do sol a aquecendo. Aquecendo seu coração.
Ela pôde ouvir sussurros suaves em seu ouvido, em sua mente.
A magia estava dando boas-vindas.
Sua loba estava dando boas-vindas e com isso trazia sua força.
— Eu sou uma loba. Eu amo Petrus. E ele é meu! Petrus é meu companheiro e de mais ninguém.
Ela, então, tomou sua decisão. Lutaria por ele.
Sami levantou, saiu correndo e voltou para a casa, tomou um banho rápido, pois estava toda suja, foi até a bolsa que Ester tinha trazido que continha suas roupas, se vestiu rapidamente e saiu correndo
da casa. Correu o mais depressa que pode pela ilha.
Quando chegou à marina saltou e correu pelo deck, parou, enquanto recuperava o ar, na frente da lancha que estava atracada ali.
Liam, Virna e Thorman estavam preparando-se para embarcar e estavam bem-vestidos. Liam usava uma calça social bege e uma camisa branca. Thorman vestia uma calça preta e uma camisa azul e usavam sapatos
muito finos. Virna vestia um vestido de alças verde-esmeralda, simples, mas muito elegante.
— Oh-oh, olá, o que houve? Vai conosco? — Liam perguntou.
— Eu preciso ir à Creta — Sami respondeu ofegante.
— Que coincidência, estamos indo para lá — Liam disse zombeteiro.
— Ester, Ester já foi? — Sami perguntou.
— Sim, os alfas já foram de helicóptero.
— Por favor, eu preciso ir, eu...
— Precisa impedir um casamento? — Virna perguntou com um sorriso e Sami piscou aturdida.
Porra. Era exatamente o que estava indo fazer. Interromper um casamento. Que encrenca se meteria agora?
Foda-se!
— Sim.
Liam sorriu lindamente e Thorman riu.
— Ui! Isso vai ser divertido.
Thorman então deu um rosnado cauteloso.
— Isso soa como uma briga? — ele perguntou.
— Talvez. Mas há brigas que valem a pena — Liam disse. — Vamos, entre no barco, estamos de partida.
— Era isso que a alfa se referia de que deveríamos esperar até o último minuto para irmos? — Thorman perguntou confuso.
Virna bufou e riu.
— Ah, conhecendo Ester como conheço, sim, isso foi coisa dela. Vamos rápido, entre, precisamos raptar um noivo. Olha, tenho aqui na minha bolsinha, maquiagem, vamos te arrumar um pouco, colocar um pouco
de cor na sua cara pálida, já que vai demorar um pouco para chegarmos e já estamos atrasados. Você tem um plano? — Virna perguntou.
— Plano? Não realmente — Sami respondeu.
Liam ajudou Sami a entrar na enorme lancha e logo eles estavam em alto-mar.
Sami estava avessa ao que eles falavam durante o trajeto, ou a maquiagem que Virna passava no seu rosto, somente conseguia ouvir seu coração bater no peito que parecia mais alto que o ronco da lancha e
aquela maldita distância parecia infinita.
Tinha que dar tempo, tinha que chegar lá e impedir o casamento, acasalamento ou o inferno que fosse.
Como diabos as coisas tinham terminado daquele jeito? E tinham realmente terminado.
Ele tinha negado Sami e terminado com as coisas de uma vez e teve a esperança de que ela o impedisse de ir embora, mas ela não o fez. Sua jogada tinha dado errado. E ele a tinha perdido de vez.
Petrus viu sua nova realidade entrar pela porta. Oh, a merda nunca acabava.
Pietra andou calmamente e parou na sua frente. Ele a olhou com cuidado e ela estava tão linda, mas seus olhos estavam tão tristes. Apagados. Ela franziu o nariz e o esfregou.
— Desculpe, o perfume está forte. Acho que exagerei — Petrus sussurrou.
— Um pouco, meu nariz é sensível, é só.
Ele abriu a boca e fechou duas vezes.
— A menos que esteja querendo esconder algo — ela disse cautelosamente.
— O quê?
Ela virou a cabeça um pouco para o lado e ficou olhando para ele.
— O que aconteceu? O senhor voltou tão triste, vejo nos seus olhos.
— Nada.
Ela deu um passo e se aproximou e ele deu um passo atrás, arregalando os olhos.
— Está usando o perfume forte para esconder seu cheiro.
— Pietra, deixe isso quieto.
— Você cheira a fêmea — disse espantada.
Os dois ficaram se olhando espantados.
— Acabou. Não há com o que se preocupar, eu voltei e vou cumprir com o acordo.
Ela não conseguia respirar.
— Havia outra fêmea? Uma... companheira?
— Havia.
Bem, por que infernos ele estava contando a verdade? Ele não sabia. Ele mesmo quis socar sua própria cara, mas já tinha saído e agora era tarde.
Pietra ficou olhando para ele, horrorizada.
— Foi para vê-la que esteve longe todos estes dias? Estava com sua fêmea.
— Se isso é um ataque de ciúmes, eu peço que pare por aí.
— Você se acasalou com outra loba e voltou aqui para se unir a mim?
Petrus respirou, cansado, e foi até a janela.
— Não há com o que se preocupar. Nosso acasalamento foi um erro, um calor do momento e acabou. Então depois que oficializarmos nossa união eu lhe prometerei fidelidade, Pietra, não a trairei ou colocarei
outra mulher na minha cama. Serei leal a minha companheira.
Essa ultima frase saiu rasgando sua garganta e sua voz tornou-se embargada e ele teve que respirar para não chorar porque a tristeza que sentia no peito era demais para segurar.
Ela estava estupefata e foi até sua frente novamente e o olhou.
— Você a ama.
— Vai passar.
— Eu sinto muito.
— Vamos resolver tudo, mas saiba que não quero magoar você, é uma loba de valor.
— Não é você que está me magoando, Petrus.
Ele, então, olhou atentamente para ela e também viu ali nos seus olhos tanta tristeza e compreensão. Ela também não queria aquilo, mas tinha aceitado por submissão.
Docemente, ele acariciou sua bochecha.
— Vá, eu já vou.
Ela assentiu e saiu. Petrus quis que um buraco se abrisse para se jogar dentro.
Pietra saiu do quarto e quase se chocou com Harley, que a olhou aturdido.
— Pietra, está tudo bem?
Ela olhou para ele tão espantada e seus olhos se fixaram e o mundo deu uma parada trágica.
Ela fez algo inesperado, o abraçou. Tão forte, que Harley gemeu, não pela força, mas por ser um abraço dela. Ele não sabia o que fazer, somente a abraçou de volta e seu coração virou do avesso quando ouviu
um soluço.
— O que houve? Você está bem?
— Nada, somente queria um abraço de um amigo — Harley gemeu. — Vocês são tão bons e eu...
— Pietra, o que há?
— Como posso me unir a um lobo acasalado?
— Merda...
— Desculpe... — Ela se afastou e secou as lágrimas e sorriu forçosamente. — Estou sendo inconveniente.
— Não está, as coisas somente estão confusas, mas vai melhorar.
Ele quase vomitou as palavras porque sabia que não ia e não queria aquela coisa toda também.
— Obrigada por ser um bom amigo, Harley.
Ele segurou seu rosto entre as mãos.
— Estarei sempre aqui por ti.
Ela acariciou seu rosto e se afastou. Ele não tirou os olhos dela até que ela sumiu no corredor e então olhou para o teto e contou até dez.
Harley entrou no quarto e parou ao lado de Petrus, que não se moveu e nem olhou para ele. Harley o olhou e sentiu seu coração se partir quando sentiu uma vibração vir de Petrus, era como uma onda de energia,
uma ruim.
— Petrus, o que está fazendo?
— Estou cortando meus laços.
— O quê?
— Meus laços de companheiro com Sami, estou cortando — sussurrou.
Harley viu uma lágrima solitária rolar pelo rosto dele e Petrus a secou rapidamente para tentar disfarçar e seu irmão ficou horrorizado.
— Eu... Irmão, eu sinto muito.
— Está tudo bem.
— Não está! Porque eu não devia ter feito o que fiz, brigar com você e deixar Sami saber daquela maneira. Fui um imbecil e prejudiquei mais você. Eu não queria, só... estava... com raiva.
— Estava com ciúmes.
Harley suspirou.
— Nunca magoaria você, sempre quis te ajudar, eu sinto muito que perdi a cabeça.
— Agora não adianta mais lamentar, está feito. Não era para ser. Talvez isso tudo tenha sido um erro.
— Ainda podemos consertar essa merda toda, arrumaremos um jeito. Se perdermos a ilha, tudo bem, podemos viver bem sem a ilha, podemos nos mudar para outro lugar. Voltaremos para a ilha de Noah. Nós ganhamos
bem com nossas empresas, que Enrico fique com tudo o que era de nosso pai, eu não me importo, mamãe também não vai se importar. Não precisa se acasalar com Pietra.
— Está feito, e é tarde demais para recuar. Enrico não está aqui para brincadeira, ele trouxe um exército e vai nos matar a todos se voltarmos atrás agora, não é questão de dinheiro, Harley. Eu não posso
permitir isso.
— Não quis dizer aquilo de Sami, ela gosta de você, eu sei disso, ela tem seus problemas e eu acabei sendo intransigente. Eu sei que exagerei.
— Eu sei que ela gosta, Harley, mas somente gostar não é suficiente. Ela não veio por mim. Não lutou por mim.
Harley o abraçou, deixando-o chorar, suspirou e sofreu por ele. E sofreu por si mesmo. Pois não era somente Petrus que estava perdendo sua companheira.
Mas isso ninguém sabia, somente ele.
Todos estavam reunidos no grande salão de festas da mansão. De um lado estavam os membros da alcateia de Enrico e do outro os membros da alcateia de Petrus e de Noah.
Pietra estava linda vestindo um vestido justo de seda branca até os pés. Ele era simples, mas muito elegante e mostrava seu corpo bem torneado. Usava um brinco e colar de diamantes que ela mesma havia
criado, lindo e delicado. Seu lindo cabelo louro com mechas mais escuras estava cuidadosamente preso num penteado truncado e era adornado com diversos e pequenos prendedores do mesmo material de suas joias.
Petrus não encarou ninguém, pois se o fizesse descobririam sua alma e agora que estava ali, tomou a mão de Pietra e tentou acalmar sua mente, mas além de sua tristeza, havia raiva, uma raiva crua.
Ele estava vestido com um terno bege e uma camisa branca e tinha dispensado a gravata, pois odiava e seu cabelo estava com gel penteado para trás. Ele havia cortado um pedaço e agora estava no pescoço.
Ele colocou a mão no bolso e revirou entre os dedos o anel de alfa que fazia jogo com o seu, o anel que daria para Pietra. Mas que não devia pertencer a ela...
Ele respirou fundo, empinou seu nariz, altivo e forte e tomou sua atitude de alfa. Ele iria parar de se lamentar e faria o que era correto. Sem mais lamúrias.
Eles pararam de mãos dadas na frente do lobo que dirigiria a cerimônia e que sorriu para eles.
Houve uma comoção na sala ao lado, barulho de algo quebrando e rosnados. Então as duas portas brancas do salão abriram num estrondo, batendo na parede e desconjuntando nos trincos.
Vários lobos ficaram de prontidão para atacar. Mas ela apareceu na porta e todo mundo congelou.
Petrus parou de respirar, suas pernas ficaram bambas e a figura dela tomou a atenção de todos.
— Petrus!
— Sami?!
— Você não pode se casar, se acasalar ou seja lá o que está fazendo.
Ele piscou aturdido e ficou olhando para ela.
Houve uma comoção e todos estavam falando ao mesmo tempo, até que Petrus se irritou e gritou furioso:
— Calem-se!
Todos pararam e olharam de um a outro.
— Por que não posso?
Ela estava nervosa e não sabia exatamente o que dizer, mas não deixou que ninguém notasse seu desespero interior, ela empinou seu nariz arrebitado e sua aura só demonstrava poder, força feminina e uma
loba capaz de chutar uns traseiros.
— Bem, eu sei que esse acordo envolve seu patrimônio e dinheiro, esta ilha e quem você é. É um alfa e tem suas responsabilidades, mas não pode se casar com ela porque você me mordeu e eu te mordi, então
isso faz com que agora eu seja a sua companheira, sua alfa, e eu vim reinvidicar meu lugar e meu lobo.
Houve alguns rosnados pelo salão, mas Petrus não deu atenção porque não conseguiu tirar os olhos dela.
Ela estava ainda mais tentadora do que ele se lembrava. Parecia diferente de alguma forma também. Então, ele observou a calça de couro, sua blusa de mangas longas e muito justa, moldando seus seios, sua
cintura fina e sua bota de salto muito alto e fino.
Mas sua aparência não era o que importava, o que importava era o olhar forte e cheio de expectativa e esperança. Uma exigência por ser ouvida e ao mesmo tempo uma ameaça.
Céus, deveria mandar tirá-la dali e seguir sua vida sem mais confusões, pois ouvi-la o levaria ao inferno novamente.
Petrus suspirou, decidindo que poderia ficar ali a noite toda, apenas admirando-a, mas as coisas não podiam ser tão simples.
Petrus cruzou os braços no peito e todo mundo esperou para ver o que aconteceria.
— Você renunciou a mim, disse que eu não era seu companheiro. Não acredito que em todos estes dois mil anos que os lobos existem isso tenha acontecido, mas você fez esta peripécia, o que quebrou nossos
laços.
Ela gemeu.
— Foram somente palavras, porque estava zangada com você por causa desse casamento com outra loba, podem ser redimidas e quem estava quebrando nossos laços foi você. Eu não posso quebrar algo que nem sabia
que existia.
Petrus quase riu.
— Nosso mundo é regido por magia e palavras são concretizadas no universo. Suas palavras tem o poder de unir e quebrar laços, Sami. Tem que aprender.
Ela respirou exasperada.
— Ok! Eu já entendi que tenho que aprender sobre seu mundo, agora meu mundo. Eu juro que vou aprender, mas, por favor, me escute.
Petrus suspirou.
— Fale.
— O que significa isso? — Enrico rosnou furioso.
Petrus olhou para o pai de Pietra e rosnou para ele.
— Cale-se e deixe-a falar.
Houve mais rosnados e protestos, mas Sami respirou fundo e tomou coragem. Santo Deus, aqueles lobos pareciam zangados e poderiam atacá-la? Se já tinha chegado até ali, então devia ir até o fim.
— Petrus, eu sei que sempre fui intransigente, raivosa, briguenta e nunca aceitei tudo isso, porque nunca quis ser loba, fui forçada, e isso me deixou louca. E quando soube que os lobos tinham matado meu
pai, eu fiquei com mais raiva ainda, mas...
— Sempre me repeliu.
— Não, quer dizer, repeli antes, mas é que me... assustou conhecer sobre os lobos e estava zangada. Agora, nós começamos a nos entender e... tivemos sexo e você me mordeu, e te mordi, mas então descobri
sua mentira e fiquei novamente zangada. Eu sei que muitas coisas estão em jogo para você, mas me senti traída quando descobri a verdade. Fiquei com raiva porque não me contou antes.
— Eu ia contar, Sami, estava tentando resolver as coisas, mas você nunca me deu realmente uma chance.
— Desculpe, Petrus, é que você é um petulante e isso sempre me deixou tão zangada, sempre tão lindo, cheio de seu amor-próprio, achando que era irresistível e que eu deveria cair aos seus pés... Mas, na
verdade, o que me deixava com raiva é que eu caí aos seus pés.
— Como? — ele perguntou aturdido.
— Desde o começo, eu sempre achei você o homem mais lindo que já vi, quando ficava atrás de mim, me cantando com a desculpa de que era para me proteger, eu... ficava zangada porque se ficasse muito perto
eu ia querer que me tocasse. Eu quis fugir porque não queria aceitar que estava me apaixonando por você, porque não ia resistir. E agora, depois de tudo que vivemos em Las Vegas, novamente não resisti.
— Estava apaixonada por mim?
— Sim, e ficava com ciúmes de todo aquele papo de lobo gostosão, que faria todas as mulheres do mundo cair aos seus pés. Eu era muito insegura e tonta. Achava que brincava comigo, mas eu já o amava quando
fui embora. E sofri, sofri todo este tempo.
— Sami...
— Olhe, não me interessa se isso é um negócio e vale dinheiro, eu consigo o dinheiro para comprar sua ilha de volta se for o caso, mas você não pode se casar com ela e me deixar, porque você é meu, meu
homem, meu lobo, meu e de mais ninguém! Você é meu companheiro de alma... E se eu tiver que brigar com cada lobo desta sala para reivindicar meu lobo, eu o farei.
Petrus estava atordoado agora e com a garganta sufocada. Seus ouvidos começaram a zumbir.
— Você nem queria ser loba, precisa aceitar — ele sussurrou.
— Eu aceito, eu aceito ser loba, ser sua companheira e sua alfa. Eu estou apta para isso e vou demonstrar a você e qualquer lobo que duvide. Agora preciso lhe perguntar uma coisa. Ainda me ama? Você me
disse estas palavras.
Sami engoliu em seco, o coração aos pulos.
— Minhas palavras sempre foram verdadeiras — Petrus murmurou. — Quando as dizia, você recuava.
— Não queria ouvir, sim, eu sei. Mas não mais. Eu jamais deixei de amá-lo, nunca. Eu amo você, de todo meu coração.
Houve vários ofegos e rosnados e Petrus piscou atordoado.
— Precisa mais do que isso, Sami...
— Eu me transformei. Eu serei uma loba, por você, por mim, farei de tudo para ser uma boa alfa para você e a alcateia. Por favor, acredite, estar aqui para pedir que não se case com outra é bem doloroso
para o meu orgulho, mas estou fazendo para dizer que eu amo você, Petrus. Eu sou sua companheira de alma, e você disse que uma companheira teria que vir livremente. Bem, eu vim porque o amo. Amo sua capacidade
de rir e... brilhar. Porque você é este ser iluminado, tão cheio de paixão, de vida pulsando, de amor, que me deixou tão apavorada porque não conseguia acreditar que algo de tal magnitude fosse real. Mas
se lobos existem, assim como toda esta magia, então este elo de companheiros também existe e eu sinto e o quero. Eu amo sua luz, este homem maravilhoso que é, amo você como lobo. Amo tudo sobre você, até
seu jeito irritante e boca suja. Amo até suas cantadas baratas.
Ela foi até ele, com passos firmes, ignorando todos ao redor, e com o olhar fixo no dele o beijou.
Petrus sentiu como se um bofetão o tivesse atingido na cara e com um soco no estômago, tudo de uma vez. Demorou a processar isso no seu cérebro, porque a sensação que aquilo causou foi chocante.
Era como se sua alma estivesse se expandindo. Ela realmente tinha dito tudo aquilo e o reinvidicado diante de todos e o beijado e o efeito era aquele: choque, prazer, dor e alegria, na verdade um desespero.
Ah, sim, seu lobo estava saltando ensandecido dentro dele.
Bem, sem falar a comoção que houve na sala toda, porque ele não conseguiu assimilar nenhuma palavra além de um som distorcido.
Pietra, que era a que deveria estar mais irritada, brava ou interromper aquela cena melosa com seu quase companheiro, estava paralisada também, porque as palavras de Sami esfaqueavam seu coração de forma
absurda e faziam com que ela quisesse fugir dali.
Porque ela já sabia, quando conversou com Petrus, que aquela união estava fadada ao fracasso, ao sofrimento, mas agora ela queria chorar e sair correndo.
Porque Pietra não tinha nenhuma vontade de pegar aquela loba e desafiá-la como deveria fazer, jogá-la dali, ou pedir que a tirassem. Ela sabia que Petrus amava aquela mulher e que eles eram companheiros
de alma. E a sua, que já estava amarrada em meio a uma imensa névoa, agora se perdeu de uma vez.
Ela não conseguia respirar, porque estava se sentindo totalmente perdida.
Petrus e Sami se soltaram e olharam ao redor somente para ver o choque de todos.
Ele olhou para Pietra e ela fez um sinal que sim para ele. Ela estava dando sua bênção aos dois e isso foi outro choque a todos, a Petrus e até a Sami.
— Vocês se pertencem. São companheiros e devem ficar juntos — Pietra sussurrou para ele.
Pietra se virou e deu alguns passos à frente, pois a sua intenção era sair daquela sala, porque se não respirasse um ar fresco ia desmaiar, já podia sentir seus pulmões e sua garganta queimarem pela dificuldade
de respirar.
Então ela ouviu a voz estrondosa e quase se chocou contra o peito de seu pai, que a olhou carrancudo e raivoso, impedindo sua passagem.
— Onde pensa que vai, estúpida? — ele perguntou zangado.
— Preciso respirar.
Enrico rosnou alto e forte e então Petrus agarrou Sami, que arfou pelo baque, e somente aí todos perceberam o que estava acontecendo. Enrico havia dado a ordem para um de seus lobos matar Sami.
Mesmo muito atordoado, Petrus pegou a ordem e recebeu o golpe no lugar.
As garras do lobo atingiram as costas de Petrus, mas o ferimento somente não foi grande, porque Harley saltou sobre o lobo e os dois rolaram pelo chão e antes que ele se recuperasse e atacasse Harley,
este arrancou sua traqueia com suas garras.
Os lobos de Enrico entraram na sua forma Dhálea rosnando e se posicionaram para atacar.
Os lobos da ilha de Petrus fizeram o mesmo, montando uma barreira para defender seu alfa.
Noah tomou a frente e rosnou mostrando os dentes e as garras e Erick, Kirian e os demais lobos fizeram o mesmo.
Ester, que estava ao lado de Noah, com Lucian no colo, prendeu a respiração pelo susto quando Liam a levantou do chão e saltou com ela e o bebê em seus braços e os levou para a porta da sala, assim como
Sasha fez com Jessy e Lili e Erick com Kira e Safira, seguindo as ordens de Noah.
Tudo foi tão rápido que Ester nem viu a ordem que Noah havia dado para que Liam a protegesse e ao seu filho.
Na verdade, ele somente havia gritado “Liam” e ele sabia o que deveria fazer.
Petrus arrancou seu blazer rasgado, colocou Sami atrás dele e rosnou ferozmente para a alcateia italiana.
— Enrico, recue, pois esta briga não vai acontecer, mas eu te juro que minha vontade de te matar por atentar contra minha companheira está por um fio — Petrus rosnou.
— Petrus, este circo comovente acabou, ou você tira esta sua prostituta daqui e prossegue com o enlace com minha filha como combinamos ou eu destruo você e seus lobos, como ratos.
— Nós podemos entrar em outro acordo. Sami é minha companheira de alma e eu não posso seguir adiante com a união com Pietra. Companheiros não podem ser separados.
— Você tem um compromisso comigo! — gritou. — Eu dei minha filha para o alfa de Alamus!
— Podemos renegociar nossa divida com você. Veja... Eu não quero uma guerra, vamos nos acalmar e conversar.
— Sem acasalamento, não tem conversa. Você é um fraco que não consegue manter sua palavra. É um alfa fraco!
— Eu vou arrancar sua cabeça, velho bastardo.
Petrus rosnou.
— Pai... Por favor... Pare com isso. Eu não quero me acasalar com ele! — Pietra falou.
Enrico estava furioso e esbofeteou Pietra tão forte, que ela voou pela sala e caiu no chão.
Houve um ofego geral, pois ninguém esperava tal coisa.
Harley rosnou e saltou entre ela e seu pai, antes que ele avançasse e a puxasse do chão.
— Toque nela de novo e eu mesmo arranco sua cabeça! — Harley disse com raiva.
— Minha filha vai se acasalar com o alfa de Alamus, ou terão uma guerra.
— Eu me caso com ela! — Harley disse furioso.
Todos olharam com os olhos arregalados para ele, inclusive Pietra, que levantou do chão com ajuda de sua mãe, e estava limpando o sangue da boca.
O velho soltou uma gargalhada incrédula, o que deixou Petrus e Harley mais zangados do que já estavam.
— Você é um beta, eu dei minha filha a um alfa. Minha filha nunca se casará com um beta.
— Se este é o caso, eu nomearei Nico Papolus como alfa da Ilha de Alamus — Petrus disse.
Pronto! Se todos já não estivessem muito atordoados, esta declaração causou um ofego geral e Harley olhou para Petrus como se ele tivesse duas cabeças.
Pietra olhou para Petrus com os olhos arregalados e depois olhou para Harley.
Enrico arfou e rosnou.
— Não pode nomear seu beta um alfa. Um alfa somente pode ser substituído se estiver morto ou debilitado.
— Bem, esta é minha alcateia e eu faço as regras. Eu abdico do meu posto de alfa — Petrus disse.
— Petrus! — Sami arfou e exclamou assustada.
Agora ela estava vendo as consequências de seu ato desesperado e isto a estava apavorando. O que tinha feito?
Petrus olhou para ela e o inacreditável é que foi com um olhar sereno.
— Está tudo bem, Sami. Não posso permitir que minha alcateia sofra, mas você é a minha companheira. Porém, se para ficar com você eu tenho que abrir mão de ser alfa, eu farei.
— Não importa o que seja, o que aconteça, eu lutarei por você, Petrus — Sami sussurrou no ouvido de Petrus. — E se tivermos que lutar com eles eu o farei, ao seu lado.
Ele parou de respirar, porque seu coração e sua alma entraram em um nível de força que ele desconhecia.
— Não! Não são assim que as coisas funcionam, quer deixar de ser alfa? Então, Harley tem que desafiar você — Enrico disse.
— Não! — Pietra gritou exasperada.
Petrus olhou para Enrico com os olhos arregalados. O inferno sempre podia voltar para rondar, pois o mundo girou 360 graus e ele caiu na mesma armadilha outra vez.
Tinha enfrentado seu pai e o matado para salvar as alcateias e tudo tinha sido uma bagunça e ele tinha sofrido por isso. Agora de novo caía na fatídica merda de lutar com quem amava. Mas lutar com Harley?
Não poderia fazer isso. Teria que perder para poupar a vida dele, mas então de que adiantaria se estaria morto?
Se matasse Harley, seu coração não sobreviveria com tal dor e continuaria com a obrigação de casar com Pietra.
Como sairia desta merda agora? Sua mente congelou e ele ficou ali, paralisado, sem saber o que fazer.
Sua teoria de que as coisas sempre podiam piorar estava correta. No fundo do poço sempre poderia existir um alçapão para levá-lo mais fundo.
A solução menos dolorosa, pelo menos a que pouparia a todos da morte era casar com Pietra e mandar Sami embora. Seu coração morreria, mas aqueles que ele amava sobreviveriam.
Era o preço que tinha que pagar para o bem de todos.
Ele engoliu em seco e olhou para Sami e os olhos dela se encheram de lágrimas. Ela entendeu tudo, como se tivesse lido todos os seus pensamentos e Petrus sentiu sua garganta embargar e seus olhos marejarem.
Ele trincou os dentes para não chorar na frente de seu povo e toda a merda de ser alfa e o diabo a quatro, mas seu coração estava sendo arrancado neste momento.
Novamente.
Ele a segurou pela nuca, beijou seus lábios e depois sua testa e eles se olharam.
— Acho que não temos uma saída, não é? — ela sussurrou e duas lágrimas escorreram.
— Acho que não, agápi mou.
— Você é o melhor lobo de todos, agápi mou — ela sussurrou. — O único capaz de me fazer amar os lobos.
Ao dizer isso, o coração de Petrus foi arrancado do peito. Tudo que ele tinha esperado chegou e estava indo embora. Ouvi-la chamá-lo de agápi mou, foi quase demais para ele suportar.
A única coisa que ele se perguntou é: Como que se podia viver sem coração?
— Muito bem. Acho que voltaremos ao plano inicial — ele disse tristemente.
Ele olhou para os olhos apagados de Sami, e seu coração deu uma cambalhota no peito e ele olhou para Harley, que fechou ainda mais a fisionomia. Sua raiva estava reverberando sob sua pele e seu lobo queria
sangue. Então Petrus olhou para Enrico com ódio e sussurrou:
— Ou não...
Petrus deixou lentamente suas garras crescerem e suas presas foram aumentando. Estava farto daquela merda toda.
Somente tinha duas opções: casar ou morrer, mas seu espírito e seu lobo não podiam mais ser derrubados daquela maneira, aprisionados numa chantagem. Ele era livre. Precisava ser livre, senão estaria morto
de qualquer maneira, pois ter a alma esmagada era o mesmo que morrer.
E se fosse para morrer, então que fosse, mas ele levaria aquele carcamano bastardo junto.
— Espere! — Sami gritou e todos a olharam. — Vamos fazer um novo acordo.
— Você não tem voz aqui, fêmea — Scopelli disse, raivoso.
— Sou a companheira dele, quer você e seus brutamontes gostem ou não e, já que estamos aqui resolvendo assuntos de lobos, eu ofereço um novo trato.
— Que trato?
— Eu desafio Pietra, sua prometida, numa luta até a morte; se eu ganhar, vocês vão embora e nos deixam em paz. O patrimônio de Petrus fica com ele e todos os seus negócios estão desfeitos. Se ela ganhar,
Petrus se acasala com ela e tudo continua como no seu plano original.
— Sami, o que está fazendo? — Petrus perguntou, espantado.
Houve todo tipo de ofegos, sussurros, protestos e rosnados, que até seus ouvidos doeram.
— Você disse que eu não o merecia, que não podia ser alfa, porque eu não era completamente uma loba, bem, estou sendo agora. Vou lutar por você e somente estarei fora da jogada quando parar de respirar.
Não posso abrir mão do meu companheiro sem lutar.
Petrus estava tão chocado que não conseguiu responder, ele olhou para Pietra, que a olhava séria.
Espantosamente, Pietra demostrava uma calma nova, queria sumir, pois não queria nada daquilo, não desejava matar a companheira de Petrus e sabia que sua vida com ele estaria fadada ao fracasso se matasse
Sami. Ele nunca a perdoaria e nunca chegaria a amá-la.
Mas sua honra estava em jogo e no meio de toda aquela bagunça, já não sabia o que fazer. Não queria se acasalar com Petrus, mas ainda tinha um pouco de orgulho.
Pietra olhou para o seu pai, que a olhou como se quisesse soltar todos os cães do inferno. Ele estreitou os olhos, avermelhados pela ira, e ela soube o que deveria fazer. Deveria lutar, porque sair como
desejava, sem lutar, desonraria sua alcateia inteira.
Ela suspirou, empinou seu nariz e olhou para Sami.
— Desafio aceito. Lutaremos até a morte, quem vencer será a alfa.
Petrus viu seu mundo girar e sabia que impedir aquilo seria outra calamidade. Como alfa, não poderia se intrometer, pois desonraria sua companheira.
Às vezes, as leis dos lobos eram uma merda.
Não deu tempo de mais nenhuma palavra ser dita ou algum outro movimento ser feito, porque Sami rosnou, com os olhos cintilando, suas garras alongadas, as presas à mostra e saltou sobre Pietra.
Pietra se transformou na sua forma intermediária e interceptou o golpe de Sami, girou-a no ar e as duas, agarradas uma na outra, tombaram no chão, com tanta força que o piso de mármore trincou.
Houve um ofego geral, porque todo mundo estava em choque e não esperavam uma luta de fêmeas, ou que elas se atacassem com tanta violência.
Então, os mais sedentos de sangue rosnaram alto e tudo virou um tumulto. Porque o que aconteceu, foi uma torcida, gritos de incentivos e rosnados de prazer.
Ester arfou, agarrando-se em seu bebê e indo ao lado de Noah, olhando a briga e rosnou de espanto.
— Noah, podemos fazer alguma coisa para parar isso?
— Não podemos impedir, minha loba — Noah disse, a olhando com o olhar quente. — O mesmo aconteceu com você e Shay, recorda?
— Oh, recordo, mas não foi muito bonito no fim.
— Não, e infelizmente teremos uma bela fêmea sendo morta por causa daquele carcamano dos infernos.
Ester arregalou os olhos e olhou para a briga novamente. Noah rosnou e a abraçou, trazendo-a para a proteção de seus braços.
— E nenhuma delas realmente deseja esta briga, não é?
— Não — Noah rosnou, contendo sua raiva.
Pietra deu um soco em Sami, ela voou pelo salão e bateu contra a parede, que rachou e ela caiu no chão.
Pietra se endireitou em toda sua altura e tirou uma mecha de seu cabelo que havia caído do penteado. Com os lábios sangrando, olhou a si mesma. Seu vestido estava rasgado da bainha até o alto de sua virilha,
mostrando sua perna bem torneada e ela suspirou, tirou os sapatos de salto e olhou para Sami.
— Olhe este pecado, meu vestido de Dolce Gabbana arruinado.
Sami levantou, limpando o sangue da boca e deu um sorriso zombeteiro.
— Desculpe pelo vestido, era lindo, deve ter custado caro.
— Custou.
— Se meu companheiro não estivesse aqui, diria que o tirasse, mas sabe como é... ainda não lido bem com este negócio de lobos nus, que não ligam pela nudez, essas coisas... A minha, ele gostava bastante.
Pietra sorriu, rosnou e saltou no ar. Sami fez o mesmo, elas se chocaram no ar, rodaram e bateram no chão novamente, Sami rosnou, mordeu e arranhou, assim como Pietra, e elas travaram uma dura luta no
chão.
Então elas levantaram e Sami desatou uma série de golpes de luta, socos no rosto, no estômago, chutes, e Pietra foi defendendo, cada um deles e inflingindo os seus, o que só inflou ainda mais os gritos
da plateia. A maldita luta parecia um ringue e as duas eram perfeitas lutando. Sami estava deixando todos admirados, pois ela lutava ferozmente.
Petrus olhava tudo atentamente, com Harley ao seu lado, e nenhum deles respirava normalmente, mantendo seus olhos arregalados, sem querer perder nenhum movimento.
Pietra derrubou Sami e bateu a cabeça dela contra o piso e rosnou em seu rosto.
Sami gritou, em meio a um rosnado, se desvencilhou de seu agarre, ergueu as pernas e as cruzou no pescoço de Pietra, prendeu os tornozelos cruzados para que não se soltasse e este estrangulamento desestabilizou
Pietra, fazendo-a sufocar e Sami girou, jogando Pietra em uma volta rápida no ar e ela bateu contra o chão, fazendo um estrondo que não sabiam se o barulho era de suas costelas quebrando, ou o piso.
Mas, para a euforia dos lobos, que ainda gritaram e rosnavam em expectativa, as duas se levantaram, ambas com ferimentos pelo corpo e arfando, com dificuldade de respirar.
— Você é uma boa loba, Pietra, não quero matá-la. Está aqui contra sua vontade, tanto quanto ele. Petrus disse isso e ele é meu companheiro — Sami disse para Pietra, gemendo pela dor no corpo.
— Eu também não quero matá-la, Sami. Você é a verdadeira companheira dele, mas não tenho escolha!
Houve uma comoção no salão, arfados e sussurros, mas Petrus não prestou atenção e viu suas vistas ficarem turvas. Iria acabar com aquela confusão de uma vez por todas, não permitiria que sua companheira
morresse, e nem Pietra, que não merecia tal fardo. E o resto que se danasse. Ele não ligava mais para regras e leis, pois não se perdoaria se uma delas morresse.
Petrus arreganhou os dentes, seus olhos cintilaram e ele rosnou alto, tão forte, que o chão tremeu e os vidros das janelas quase quebraram.
Todos pararam e olharam abismados para ele, que estava muito zangado e sua figura parecia grotesca. E os olhou, enquanto eles podiam ver a ira crua através de seus olhos brilhantes como mercúrio, e souberam
que aquele lobo havia sido empurrado até o seu limite e agora queria sangue.
Sami e Pietra olharam aturdidas para ele, sem saber o que fazer.
Mas antes que ele pudesse dizer ou fazer algo mais, houve um estouro de luz, como um imenso flash que cintilou no meio do salão, com um barulho alto como um trovão que retumbou e todos ofegaram, se afastando.
O rei Kayli, sua rainha Vanora e seu séquito de lobos, ricamente vestidos para uma cerimônia, surgiram no meio da sala, bem no meio do espaço que existia entre as três alcateias que se enfrentavam.
Petrus abraçou Sami, puxando-a para trás e todos ficaram embasbacados. Os únicos a não se espantar tanto foram a alcateia de Noah, mas para os demais foi um susto e tanto e não entendiam o que estavam
vendo.
O rei parecia um personagem saído de um filme. Vestia uma calça marrom colada ao corpo, botas até o joelho, uma túnica azul-marinho com uma gola adornada de ricos brocados até o pescoço com uma corrente
sobre o peito cravejada de pedras preciosas, com um enorme pingente de ouro com um rubi no centro e um manto comprido até os joelhos que caíam em suas costas. Seus cabelos longos estavam soltos e usava
uma coroa de ouro cravejada de pedras preciosas na cabeça.
Seu irmão Aaron estava com uma roupa parecida, com um decote em V com brocado e bordado com fios de ouro, mas sem a capa, a corrente e coroa e todos os outros também estavam bem-vestidos.
Bem, se eles queriam ter sua entrada triunfal e impressionar, conseguiram seu intento, porque por um longo minuto podia-se ouvir até uma agulha cair no chão, até o vento que soprava lá fora parecia ter
parado.
— Ora, minha adorada, eu tenho a impressão de que desta vez chegamos bem a tempo — o rei disse olhando ao redor e para Vanora.
— Sim, a tempo de ver esta lastimável cena e impedir que estas duas, boas e adoráveis lobas, se matassem por causa desses lobos estúpidos. Esses não são bons modos de tratar duas ladies — a rainha disse
calmamente.
— Majestade — Petrus disse, fazendo uma reverência respeitosa assim como todos da alcateia de Noah. Muito atordoada com a visão, Sami fez o mesmo, apenas porque parecia ser o certo a fazer.
Enrico estava praticamente de boca aberta e Kayli, com sua imponência toda, deu uma olhada para ele tão intimidadora que o velho se sentiu perplexo e deu um passo atrás.
— Eu poderia me zangar por sua impertinência, lobo.
— Oh, o senhor é o dito rei...
— Pai... — Marcello sussurrou em advertência para seu pai.
Marcello fez a reverência respeitosamente e Enrico ficou revoltado e queria rosnar.
Quem aquele lobo pensava que era para chegar e fazerem todos se ajoelharem para ele?
— Eu sou seu rei, Kayli Nordur, filho de Kundan. Eu sou o primeiro lobo criado! — Kayli disse com a voz tão imponente que retumbou pela sala. — Sim, eu leio seus pensamentos ofensivos e já aviso, tome
cuidado com o que pensa e o que faz.
Mesmo sendo forte e imponente, Enrico jamais seria páreo para Kayli, o poder que ele emanava era surpreendente.
— O senhor pode ler meus pensamentos?
— Sim, sou muito mais poderoso que vocês lobos.
— Ora...
— Você, lobo impertinente, tem me irritado por deveras!
— Senhor...
— Eu sou seu rei, seu alfa, acima de qualquer um e eu exijo respeito e ser tratado como tal! O fato de estar ausente por tanto tempo, deixando-os livres para que façam suas próprias leis e se governem
não quer dizer que não estou acima de todos vocês e muito menos minha senhora, sua rainha. Curve-se para sua rainha e seu rei, se não quiserem suas cabeças espetadas numa estaca.
Todos se curvaram e Enrico trincou os dentes e com muito custo fez a reverência.
— Não sei se é conhecimento de Vossa Alteza, mas por muitos séculos as bruxas têm sido nossas inimigas.
— Sim, eu sei e entendo, mas isso acabou. Você foi criado graças a minha companheira. Deve sua vida a ela, estúpido, já deu para entender?
Enrico Scopelli piscou aturdido e olhou para Vanora e depois para ele novamente.
— Sim, Alteza.
— Ótimo, lembre-se desta frase, grave-a na sua mente: Desrespeite a minha senhora com palavras, gestos ou sequer um pensamento e não viverá uma hora mais, fui claro?
— Sim, Alteza.
— Ótimo, porque deve obediência a mim.
Kayli se virou e olhou para Petrus, que não sabia o que fazer e somente olhava atentamente, a postos para qualquer coisa que viesse. Sami os olhava com os olhos arregalados. Petrus havia falado deles,
mas vê-los era outra magnitude.
— Obrigado pelo convite de sua cerimônia de acasalamento, alfa Petrus.
Petrus franziu o cenho, pois ele não os convidou. Ah, claro, Pietra tinha. Ele olhou para ela, que ficou ruborizada e ao mesmo tempo ele se irritou porque seu lado esquerdo estava arroxeando e seu lábio
estava cortado pela brutal bofetada que levou de seu pai e pelos golpes de Sami. Seu vestido estava arruinado, sujo de sangue pelos cortes em várias partes do corpo e seu penteado estava desmontado.
Queria arrancar as tripas daquele velho por colocar essas fêmeas em perigo.
— Fico extremamente feliz que tenha aceitado nosso convite, Majestade. É uma honra tê-lo em minha humilde casa.
— Adoramos sua ilha, é magnífica. Adoro este clima, este mar, sua arquitetura. Tantas coisas lindas para ver — Vanora disse gentilmente para ele com um sorriso. — E também adoramos casamentos e, além de
tudo, pensamos que este aqui em especial deve ser atentado para algumas coisas importantes.
— Acho que estávamos em algum impasse, Majestade — Petrus disse.
— Sim, estou inteirado e ouvi as últimas coisas que foram faladas aqui — Kayli disse.
— Acredito que não haverá muitos caminhos a serem seguidos.
— Sim, pela situação que se colocaram sei bem onde isso tudo levou. O que discordo plenamente.
— Como? — Petrus indagou, confuso.
— É simples. Este acordo entre as duas alcateias está desfeito — o rei Kayli disse. — Incluindo este desafio.
Houve um ofego geral.
— O acordo não pode ser desfeito, nem por ele e nem por ninguém — Enrico disse.
— Oh, eu posso, e o farei.
— Alteza...
— Cale-se! Antes que você me irrite mais e eu acabe com a sua vida miserável agora mesmo! — Kayli rosnou forte e seus olhos cintilaram e suas presas apareceram.
Scopelli ficou assustado e deu um passo atrás, assim como todos os italianos.
— Suas tramoias, conchavos e trapaças encerram-se aqui e agora e eu, como seu rei, não dou permissão para que este acasalamento ocorra e você vai devolver sua ilha, suas ações de suas empresas e tudo que
roubou, senão eu afundarei sua alcateia tão fundo nos confins dos infernos, que não sobrará nada. Entendeu-me?
Enrico Scopelli olhou para o rei de olhos arregalados.
— Roubou? — Petrus perguntou espantado.
— Oh sim, os contratos pareciam ser muito legítimos, não pareciam? Erick os analisou atentamente e não viu nada de errado, tudo foi feito para que não pudesse ser contestado, em troca de manipular a alcateia
e seu pai para que entrasse nas armadilhas e engodos, inclusive incitando seu pai a começar uma guerra com a alcateia de Noah.
— Isso não é verdade! — Enrico gritou.
— Oh, sim, é. Eu vivo em um mundo paralelo ao seu, e eu possuo um mundo de magia muito mais forte do que vocês sequer podem imaginar e se há uma coisa que minha doce e adorável companheira, e sua rainha,
pode fazer, é invocar a imagem do tempo.
— Não entendo, Majestade — Petrus disse confuso.
— Erick nos contou o que estava acontecendo com você, depois que estivemos no torneio e Kayli ofereceu seu apadrinhamento para você por ter ajudado a salvar nosso filho. Em troca, ele pediu que alguns
de nossos lobos pudessem viver aqui em Alamus como um novo lar, se inteirar do mundo moderno e talvez conseguirem suas companheiras para ter uma família — Vanora disse.
— Sim, me disse isso...
— Ficamos estupefatos com os acontecimentos que o rodearam e Vanora, usando sua magia e sua doce sensibilidade, sabia que havia algo errado. Então fomos investigar de uma maneira que pudéssemos saber se
todos estes contratos e negociatas foram feitos de forma legítima — o rei complementou.
— Senhor, com todo respeito, mas isso são negócios, feito às claras, tudo dentro da lei humana. Eu e Papolus, pai de Petrus, tínhamos acordos — Enrico disse.
— Sim, tinham acordos.
Vanora sussurrou uma palavra em celta, moveu a mão, uma fumaça se formou e uma imagem apareceu no ar.
Todos exclamaram e ficaram atentos para saber o que aconteceria. E quem ainda não tinha conhecimento sobre os poderes da rainha, ficaram ainda mais espantados, até receosos e com medo. Afinal, eles eram
contra existência de bruxas.
— Você e seu filho Lucas tentaram me manipular com estes negócios obscuros, tentou me roubar, mas, que ironia, quem vai inverter o jogo sou eu. As ações, o controle da empresa na Itália e sua ilha virão
para a minha mão. Seu primogênito irá acasalar com minha filha Pietra e então terá a ilha como dote. Caso contrário, eu matarei você, sua companheira, seus filhos e ficarei com tudo. Agora assine os papéis
e te darei a chance de viver e darei o subsídio para suas loucuras, invadindo aquela ilha e matando essa tal bruxa maldita.
O velho Papolus ficou zangado e levantou da cadeira, mas outro lobo colocou uma arma em sua cabeça.
— Você não tem escolha — disse Scopelli. — Você não pode manipular um Scopelli, sem conhecer as consequências.
Lucas tentou reagir, mas um lobo enorme bateu em seu rosto, agarrou seus cabelos e pôs uma faca em sua garganta.
— Se não aceitar e me causar problemas, este imbecil do seu filho será o primeiro a perder a cabeça.
A imagem sumiu e todos estavam estupefatos, quase sem entender nada e Petrus olhava tudo boquiaberto.
— Chantageou meu pai? — Petrus disse assombrado.
— Esta imagem é mentira!
— Não, sua palavra é que é mentirosa — o rei rosnou.
— Acho melhor falar a verdade, senão será pior — Vanora disse tranquilamente.
O velho pensou em negar, mas aquilo parecia um beco sem saída, todos estavam acreditando na bruxa.
— Ele tentou me enganar, me roubar, só devolvi o que ele fez. E o pai de Petrus queria destruir a ilha de Noah e matar a bruxa, eu aceitei em troca de alguns acertos de contas.
— Mas não entendo... Por que tanta negociata sem sentido? Com ameaças, trapaças e colocando a vida de inocentes em perigo? Sua própria filha?! — Petrus perguntou confuso.
— Eu fiz as opções e ele aceitou.
— Você coagiu e ameaçou. Ele aceitou, mas o velho Papolus estava um tanto demente e aceitava qualquer coisa que diziam a ele ultimamente — Harley disse, raivoso.
— Se aproveitou de sua demência... — Petrus rosnou.
— É tudo legal.
— Não, não é. E eu, como seu rei, decreto que todas estas negociatas são fraudulentas e cabíveis de anulação, principalmente que uma das partes envolvidas é inocente. Nosso caro Petrus não deseja pagar
pelos erros de seu pai e seu irmão. E como os dois estão mortos... — o rei disse.
— Ele deve arcar com as responsabilidades! É herdeiro.
— E eu digo que não.
— Majestade, não pode fazer isso. Isso me daria um prejuízo sem precedentes! Não tem o direito de se meter em meus negócios! — o velho disse zangado.
Kayli rosnou e deu um passo à frente, deu um soco em seu peito que o jogou longe, fazendo-o atravessar a sala e bater contra uma mesa que partiu ao meio, derrubando tudo que havia em cima e todos ficaram
assustados.
Os homens de Enrico quiseram avançar sobre o rei, mas Marcello ergueu a mão, impedindo-os.
Um lobo, mais afobado, avançou para agredir Kayli, mas Aaron arrancou sua cabeça, tão rápido, que quase ninguém viu o movimento. O que fez todos recuarem, quando a cabeça rolou em seus pés.
— Se não sabe como lidar com um rei, vai aprender. Ou acatam sua sentença de boa vontade ou morrerão todos aqui. É meu último aviso. Tentar se aproveitar de uma alcateia debilitada de machos para lutar
pode ser considerado um delito muito grave.
Erick deu uns passos à frente e ficou ao lado de seu pai.
— Mas, na verdade, eles não estão sozinhos porque possuem amigos que lutarão por eles e os defenderão, hoje e sempre. A propósito, pai, obrigado por ter vindo — Erick disse.
— Tudo por ti, filho.
Kayli olhou para seu filho e depois para os lobos italianos com um meio sorriso nos lábios, mostrando suas presas afiadas e com um olhar assassino.
Era uma mensagem clara que o estúpido que tentasse prejudicar seu filho teria problemas sérios.
Todos os séquitos do rei, com Erick ao seu lado, e os lobos de Noah, se aproximaram em posição de luta e deixaram suas presas e garras à mostra e se armaram para uma briga.
Os lobos italianos ficaram apreensivos, olhando uns aos outros. Eles eram grandes, fortes e valentes, mas não eram páreo para aqueles lobos milenares, nem em tamanho, nem em força.
Por um minuto não houve mais nenhum movimento e Enrico, que foi levantado por seus homens, olhou com desprezo para Vanora, que o olhava com um sorriso satisfeito.
Uma coisa que nenhum dos lobos podia fazer, além dos lobos milenares, da primeira linhagem, era ler a mente de qualquer lobo ou humano quando eles quisessem.
Lendo seus pensamentos e palavras chulas que estavam em sua mente, a rainha Vanora sorriu, andou lentamente até Enrico, de uma forma tão majestosa e graciosa, que quase deixava a todos hipnotizados com
seus incríveis olhos azuis translúcidos, seu longo e belo cabelo preto, com mechas largas de loiro, adornado aleatoriamente de ricas e pequenas joias que reluziam somente abrilhantando sua luz própria.
Sua roupa fluída e longa arrastava pelo chão, com uma leveza lúdica. Um colar rodeava o pescoço até o colo com intrincados desenhos em fios finos de ouro, cravejados de pedras preciosas. Sua coroa, ao
mesmo tempo em que demonstrava que era uma rainha, era mística, sensual e poderosa.
Ela era de uma beleza ímpar, de fazer qualquer homem ofegar.
Enrico a olhou estupefato, com sentimentos conflitantes, não sabia se tinha raiva, medo ou admiração pela mulher.
— Lamento que uma de minhas criações neste mundo tenha adquirido este ódio por mim ou minha casta. Realmente foram tempos difíceis que vivemos. Mas uma bruxa não tem mais motivos para ferir um lobo ou
um lobo ferir uma bruxa. Podemos interagir e viver juntos, sem problemas. Gostamos de aprender sobre o mundo moderno assim como contar nossas histórias antigas para o nosso povo.
Enrico abriu a boca para falar e fechou, mas abriu novamente.
— Nossa rixa com bruxas vem de muito tempo, senhora.
— Não precisa explicar a revolta contra bruxas a mim ou a Kayli. Ninguém mais do que nós sabemos muito bem como as coisas aconteceram. Mas não há mais motivos para isso. Oferecemos uma trégua, Enrico Scopelli.
A nossa presença pode causar muitos efeitos e consequências. Mas estamos aqui dispostos a ajudar as alcateias e não causar discórdia. Mas... cabe a vocês decidirem qual delas escolher.
Vanora sorriu e tocou o queixo de Enrico com sua mão ornada com uma complexa pulseira, parecida com as que ela sempre usava. Um bracelete ao redor do pulso, preso a um círculo sobre o dorso por pequenas
e delicadas correntes e que prendiam em cinco anéis iguais em cada dedo, como se fossem ramificações entrelaçadas de ouro; e na ponta de cada dedo, como se fosse suas unhas, havia uma ponteira que acabava
em uma ponta afiada. Linda e aterrorizante ao mesmo tempo.
Ela deslizou a ponta em sua mandíbula e sorriu novamente, se aproximou e sussurrou em seu ouvido, mas todos ouviram devido aos seus ouvidos aguçados.
— Aquele que levantar a mão contra Kira, meu filho ou minha neta novamente terá uma morte lenta e dolorosa, sem misericórdia desta vez. Acredito que você não seria um destes lobos estúpidos, não é?
Enrico piscou e não disse uma palavra. Ela se virou, olhou bem para Marcello, que estava ao seu lado que estava na mesma situação, mudo e boquiaberto, e depois voltou para o lado do rei.
— Sei o que está pensando, alfa Enrico Scopelli, acha que sua tropa de lobos que estão no mar pode atacar a ilha quando virarmos as costas aceitando sua palavra que sairá em paz. Acha que a alcateia de
Petrus ainda estaria em desvantagem, mas pense novamente e olhe para a praia — Kayli disse calmamente.
Enrico, os lobos e inclusive Petrus olharam pela janela e todos ofegaram.
— Alfa Petrus, estes são meus guerreiros, lobos de Kimera, que neste momento em diante são seus e viverão na ilha para honrá-lo e protegê-lo, como eu havia prometido.
Petrus ficou boquiaberto, nem sabia dizer quantos lobos havia na praia, mas eram muitos e fortes, e eles estavam vestidos com aquelas roupas antigas e cada um deles segurava uma espada e alguns machados
com bonitos desenhos celtas e alguns com as forjas e desenhos vikings. Parecia uma imagem de filme. Era impressionante.
Agora, os lobos italianos estavam realmente assustados e impressionados, assim como todos os outros.
— E esta é uma ajuda para que possa arrumar seus lares e sua manutenção e o que mais precisar.
Vanora fez um movimento simples com a mão e um baú enorme com moedas de ouro e joias apareceu no canto da sala, fazendo todos ofegarem. Erick quase riu, pois já tinha passado por este susto antes, quando
recebeu um presente similar, na verdade para Safira. Seus pais eram meio estranhos com presentes.
— Obrigado, Majestade, eu fico lisonjeado e aqui eles terão um bom lar, me empenharei nisso — Petrus disse sem saber mais o que dizer.
Depois de um silêncio constrangedor, Marcello tomou a frente, como um líder deveria fazer, já que seu pai estava ferido e as coisas estavam fugindo do controle.
— Majestade, sou Marcello, primogênito de Enrico Scopelli e não tinha conhecimento de tais coisas.
— Oh, não tinha mesmo? — Petrus disse rosnando, incrédulo. — Sabe, já que a rainha se dispôs a usar sua magia para que possamos ver a verdade, posso pedir que veja até onde vai sua participação nisso.
— Não há necessidade disso, acataremos a sentença de nosso rei e iremos em paz. Petrus, os contratos serão desfeitos e Pietra retornará conosco para casa. A não ser que deseje desposá-la.
— Você estava aqui e sabe de tudo, eu nunca desejei desposá-la. Sami é minha companheira de alma. É com ela que desejo ficar.
Vanora viu a maneira que Marcello olhou para Sami e Petrus, como se quisesse ver se aquilo era verdade, estava um tanto descrente.
— Um companheiro de alma é mais do que uma lenda, é algo sagrado, um presente verdadeiro designado pelos deuses, seus elos não podem ser quebrados. O amor é verdadeiro e toma conta de seu coração de maneira
irrevogável — Vanora disse os olhando com um doce sorriso, fazendo Petrus suspirar por suas tolices de cortar seus laços e abraçou Sami mais forte, que suspirou em seu peito.
Sim, ela sabia agora. Verdadeiramente havia decifrado e entendido o sentimento que havia tomado conta dela, desde o primeiro minuto que havia colocado os olhos em Petrus.
— Creio que continuará como alfa? — o rei perguntou.
— Sim, ele será o alfa, já que não o desafiei — Harley disse. — Muitas atitudes foram tomadas e palavras foram ditas, que devem ser esquecidas.
Petrus assentiu e Kayli também, que olhou seriamente para Marcello.
— Eu ordeno que todos os laços entre estas duas alcateias sejam cortados a partir de hoje. Se algum lobo de sua alcateia colocar os pés nesta ilha novamente ou fizer qualquer coisa para prejudicá-los estarão
condenados à morte. Esta é minha palavra final — o rei disse.
Marcello assentiu, nervoso, e deu a ordem para que todos saíssem. Enrico rosnou indignado, querendo ainda discutir a decisão, mas seu rosnado foi cortado por um soco que o derrubou no chão. Petrus estava
sobre ele, rosnando em sua face.
— Eu devia matar você, carcamano dos infernos!
Sua ira foi aplacada quando uma mão suave tocou seu ombro e um rosto abatido tomou sua visão.
— Não, Petrus, por favor, nós partiremos e sua alcateia será deixada em paz — Pietra sussurrou.
Ele suspirou, a olhou e se compadeceu dela.
— Pietra é o único motivo pelo qual sairá vivo daqui. Se eu colocar meus olhos em você novamente, o farei comer suas vísceras. — Petrus levantou e a olhou. Ele sabia que ela era inocente, que havia sido
jogada no meio daquela bagunça. Seus olhos possuíam a genuína verdade, que ele podia ler. E ele lamentou por ela.
— Eu sinto muito.
— Eu também, mas você será feliz com sua companheira e isso me alegra.
Todos os lobos saíram da sala e levaram Enrico e Marcello pegou Pietra pelo braço e foi sair.
— Pietra! — Harley chamou e ela parou e com um olhar triste e desolado, que ninguém entendeu exatamente por qual dos motivos, já que eram muitos, ela olhou para Harley.
— Sim?
— Por favor, sei que foi um dia atribulado e deve estar desolada, mas reconsidere meu pedido.
Havia algo que ela não estava dizendo. Talvez ser rejeitada daquela forma pública tivesse a atingido mais do que pensavam. Uma loba podia ser submissa ao seu pai, mas tinha orgulho para se sentir humilhada
como foi neste dia.
Harley queria abraçá-la, confortá-la, cuidar de suas feridas. Ela estava engasgada e partiu seu coração ao vê-la tão triste.
— Eu sinto muito por tudo. Nossas alcateias não podem conviver — ela sussurrou. — Você merece uma loba melhor do que eu.
— Está certa disso, pequena? Lutou bravamente, e não há desonra sobre sua alma, poderei conceder exceções para você — o rei disse.
— Sim, Majestade. Obrigada — ela sussurrou.
Então ela foi embora assim, sem mais uma palavra, e Harley ficou ali, olhando para a porta, desolado.
Petrus ficou olhando espantado para Harley e tomou consciência de muitas coisas. Harley não estava sendo volúvel ou estava agindo por uma paixonite ou desejo puro e carnal tolo pela cunhada, tinha sentimentos
verdadeiros por Pietra e isso era uma merda.
Talvez uma maior que pensava.
— Harley? — Petrus chamou e ele se virou. — Você está bem?
“Não!”, sua mente gritava e seu lobo saltava querendo ir atrás dela.
Não estava, mas ele suspirou de forma brusca e bateu as mãos e sorriu, como se nada tivesse acontecido.
— Estou bem — respondeu. — Finalmente nos livramos destes italianos bastardos.
Petrus piscou aturdido. Ora essa, o que Harley estava fazendo?
— Que pena, eu estava louco para arrancar umas cabeças italianas — Konan rosnou.
— Eu também, amigo, eu também — disse Liam, abraçando Virna.
— Bem, então já que isso se resolveu, podemos beber umas cervejas geladas? Acredito que com nosso novo exército de lobos precisaremos de mais cerveja e mais carne — Harley disse.
— Por que penso que eu perdi alguma coisa sobre Harley? — Ester disse tonta, olhando para todos, agarrada ao pequeno Lucian em seus braços.
— Eles cumprirão isso? — Kira perguntou com Safira nos braços.
— Não se preocupe, minha cara, amanhã eu mesmo cancelarei todos estes contratos e tudo volta ao normal — Erick disse sorrindo, abraçando Kira que veio para perto dele.
— Uau, eu devo dizer, eu simplesmente amo suas chegadas triunfais e bombásticas, Majestade — Ester disse entusiasmada olhando para os reis e Vanora riu com gosto batendo as palmas delicadamente.
— Oh e eu também adoro — Vanora respondeu, rindo.
Kayli soltou uma gargalhada e no fim todos acabaram rindo.
— Acredito que isso ainda não acabou, eles aceitaram fácil demais.
— Meu caro, ele estava enganando-os. Sua artimanha foi desmascarada. Podia tê-lo matado por isso, mas o prejuízo e ofensa é seu castigo. O que não é pouco para um alfa.
— Entendo, Majestade, e concordo. Nada me daria mais prazer do que arrancar a cabeça deste velho maldito, mas com isso muitos poderiam se machucar e eu sou de paz, fico contente que eles aceitaram pacificamente
sua sentença e evitaram a guerra.
— Muito bem, filho, é assim que um líder deve pensar, não podemos pensar somente em nossas vontades, mas no bem de toda uma alcateia. Se bem que, neste caso, seríamos os vencedores.
— Obrigado, Majestade, serei eternamente grato — Petrus disse fazendo uma reverência com a mão no coração.
— Então quer dizer que está livre? Quer dizer que podemos ficar juntos sem que perca a ilha? — Sami perguntou.
Petrus olhou para ela, sério, e de repente um lindo sorriso surgiu em seu rosto, iluminando-o.
— Eu penso que sim, companheira.
Ele a abraçou e rindo a rodou, fazendo-a rir e todos que estavam um tanto atordoados ainda gritaram e riram, vibrando pelo desfecho inusitado.
— Eu sempre quis ter uma lua de mel na Grécia — Sami disse rindo e Petrus riu e a beijou.
— Terá tudo que sonhou! Acho que devo ter umas palavrinhas com minha companheira em particular, peço que me deem um minuto.
— Claro, mas podemos dar mais que um minuto, já que pretende fazer mais do que conversar — Konan disse zombeteiro e todos riram.
— Se precisa só de um minuto deve ser um garanhão ao invés de lobo.
— Calem a boca e sirvam as bebidas e meu rei, por favor, me desculpe, mas eu preciso fazer isso.
— Pode ir, filho, e não se preocupe conosco, estaremos muito bem aqui.
Petrus olhou para Sami e ela estava com as bochechas vermelhas de vergonha.
E ele não ligava, pegou-a pela mão e a puxou, saindo da sala, mas sua saída foi mais barulhenta do que imaginou, porque todos urraram, rosnaram, bateram palmas e uivaram.
— Bastardos, parece uma maldita oferenda medieval — Petrus rosnou e Sami riu, envergonhada.
Sami e Petrus entraram no quarto dele. Ele trancou a porta e então a olhou, sério.
— Está ferida, devíamos cuidar desses ferimentos.
— Estou bem.
Ela gemeu, limpando o sangue de um de seus rasgos no braço e pela dor no rosto.
Petrus foi ao banheiro e pegou uma toalha molhada e gentilmente limpou seu rosto e seus machucados.
— Eu não queria me vincular a ela e sinto muito não ter contado antes, Sami. Realmente não sabia lidar com a situação e pode parecer que fiz de propósito para te trair, mas não foi.
— Ok, eu entendo agora como aconteceu. Aquelas pessoas ali não eram de brincadeira e como sempre me diz, eu tenho que aprender como seu mundo funciona.
— Isso é bom e fico feliz que tenha vindo por mim e tenha me reivindicado assim, publicamente. Meu coração voltou à vida.
Ela suspirou emocionada olhando para ele.
— O meu também, ele sempre foi seu, mas não sabia naquela época e estava apavorada e com raiva e com todos vocês em cima de mim, me interrogando, ameaçando arrancar minha cabeça e com o meu pai desaparecido...
— Posso entender isso, Sami.
Ela suspirou e acariciou seu rosto docemente.
— Meus sentimentos estão fortes agora. Eu não via a sua magia, Petrus, não via a beleza dos lobos, eu não via vida naquilo, ou pelo menos me esforçava para não ver. Não via beleza no que sou agora. Eu
pensava que todos os lobos não eram de confiança. Eu só via uma parte da verdade.
— E agora vê?
— Você me mostrou e foi incrível quando me transformei em loba, eu nem consigo te descrever a sensação, mas foi libertador e doloroso. Foi como se todos esses anos eu estivesse presa dentro de uma jaula
e então a porta se abriu e eu voei livre no céu. Perdoe-me e me dê uma chance de ser sua companheira. Você disse que eu não servia para ser alfa, mas eu posso aprender.
— Esqueça o que eu disse. Não é verdade.
Ele ficou ali desmontado, emocionado e com a garganta embargada olhando para ela e sabia que estava dizendo a verdade.
Ele segurou seu rosto entre as mãos.
— Estava cortando nossos laços de companheiros.
— Eu sei, eu senti e não pode cortar, pois com magia ou sem magia eu não vou deixar de amar você, com loba ou sem eu sou sua. Se me aceitar, então me tome de novo e refaremos nossos votos e talvez consigamos
encontrar aquela paz que tanto desejamos.
— Eu não queria perdê-la, mas não podia obrigá-la a ficar comigo, pois você não estava preparada para me aceitar, mesmo que em seu coração já me amasse. Tive que te deixar ir para que pudesse voltar para
mim, inteira.
— Eu tive medo que não me aceitasse mais.
Ele encostou sua testa na dela e suspirou com os olhos fechados e ela fez o mesmo.
— Amo você, Sami, de todo meu coração.
— Eu também amo você, Petrus.
Ele se afastou e olhou sério para ela e então lentamente, ele deu um sorrisinho torto, com os olhos brilhando com sua costumeira zombaria.
— Que bom, porque pensei que não viria me salvar — ele disse.
— O quê?
— De me casar, estava perdendo minhas esperanças. Pensei que ia me deixar casar com outra ao invés de atravessar o mar e vir com uma espada brilhante me salvar.
— Isso foi um plano?
— Mais ou menos.
— Seu... Seu...
Ela deu vários tapas em seus braços e ele soltou uma gargalhada e depois ela começou a rir e os dois se abraçaram.
— Você não tem jeito, Jesus!
Eles se beijaram longamente, com os olhos banhados nas lágrimas, fazendo uma jura silenciosa. Esperançosa.
Quando se soltaram estavam ofegantes, emocionados.
— Obrigado por ter me salvado — ele sussurrou.
— Não conseguiria te deixar ir. Mas tecnicamente foi o rei que te salvou.
— Não, você fez isso quando disse que eu era seu companheiro na frente de todos e estava pronta para lutar por mim. Neste momento, salvou meu coração e, para mim, era tudo o que mais importava.
Ela arfou e seu mundo deu outra volta completa.
— Oh, Petrus!
Ele a beijou e a olhou nos olhos.
— Meu Deus, se nós sobrevivemos a tudo isso então, minha loba, merecemos essa paz.
— Sim.
— Você me mostraria sua loba?
Ela arfou e olhou para ele e engoliu em seco, depois riu sem jeito, tentando controlar suas emoções.
— Ok. Eu farei. Cuidará de mim?
— Sempre, até que o mundo não seja mais mundo.
— Ok... — Ela riu nervosa.
— Só fique tranquila, respire e se concentre; basta pensar na sua loba e ordenar que esteja na sua forma.
Ela espantou o medo e fechou os olhos, respirou fundo e... Petrus arfou, riu e olhou encantado para a loba na sua frente. Ele se ajoelhou e ela se aproximou um tanto desajeitada sobre suas patas e ele
ouviu que ela estava arfando de nervoso e cheia de euforia, ria.
Ele afundou os dedos em seu pescoço, sentindo sua pelagem entre os dedos e a trouxe para ele, abraçando-a, sentindo a maciez, a calidez, a sensação maravilhosa de tocá-la.
Era um prazer que emanava do fundo de seu coração. O momento de sentir sua loba em seus braços.
— Sami, Sami, olhe para você, como é linda! Minha loba...
Petrus fechou os olhos para sentir o prazer inenarrável que aquilo proporcionava, seu coração retumbava tão forte no peito que doía.
— Ah!
Ele ouviu seu grito na sua cabeça, ela estava gritando e rindo, nervosa, também emocionada com o momento.
Ele riu e beijou várias vezes sua cara e ela se esfregou nele como podia.
— Sami, olhe para mim.
A loba o olhou.
— Pode falar comigo mentalmente.
“Pode me ouvir?”
— Sim, agápi mou, eu posso te ouvir perfeitamente.
“Oh, Petrus, isso é... muito louco.”
— Eu sei, é uma experiência nova para você, vai se acostumar e com o tempo será tão natural como respirar. Mas está se sentindo bem?
“Sim! Sinto-me bem, tanta energia rodando dentro de mim, estou eufórica, mas... feliz.”
Sami riu com gosto.
— Sabe o que pensei?
“O quê?”
— Que você não conhece meu lobo. Quando me transformei em Vegas, você não me viu como lobo, somente depois que voltei como humano.
“Oh, não!”
Petrus se transformou em lobo e ele tinha o pelo claro com pelos mais escuros sobre as orelhas, a cauda, as costas e as patas e seus incríveis olhos brancos eram ainda mais incríveis na sua forma de lobo.
Sami ficou aturdida olhando para ele, e por um minuto os dois lobos ficaram estáticos se olhando. Então Petrus se aproximou lentamente e fez o carinho de lobo em sua bochecha e por um momento os dois estavam
extasiados e desfrutaram daquele minuto de adoração mútua.
Petrus riu, extasiado e, então, os dois começaram a brincar, rindo, saltitando, lambendo e dando mordidas, rosnando.
“Oh, é tão bonito!”
“Acha?”
“Sim!”
Os dois riram e continuaram com suas manifestações de carinho, saltitando e correndo pelo quarto, um atrás do outro.
Foi um momento mágico entre os dois que arrebatou seus corações de uma maneira irrevogável.
Petrus se transformou em sua forma humana e a trouxe para ele, abraçando-a, sentindo a maciez de seu pelo.
— Volte para mim, companheira.
Ela se transformou e caiu nua no chão na sua frente e olhou para ele com os olhos arregalados e, Petrus, com o susto, ficou olhando para ela, sem ação, então gargalhou e ambos riram como dois tolos.
Ele rosnou e a tomou nos braços, fazendo-a escarranchar em suas coxas, pois ele estava sentado em seus calcanhares e deram gargalhadas nervosas e carregadas de uma alegria que era até então desconhecida
dos dois.
Eles se abraçaram e se olharam nos olhos, agitados, além do infinito, com uma felicidade invadindo o peito, pois estavam rindo, livres, como não haviam feito antes, não com tanta intimidade e liberdade,
sem os jogos que sempre estavam jogando, ou as farsas e desconfianças, o medo.
Estavam desfrutando de uma liberdade nova. Deliciosa.
— Viu? Muito fácil — ele disse.
— Fascinante. Apavorante. Ai meu Deus!
— Você é linda!
Ele disse isso com tanto prazer e intensidade que Sami quase chorou, pois ela via e ouvia Petrus de outra forma. Ela tinha empurrado sua barreira longe, e isso deixou seu coração mais aberto para ele.
Ela podia sentir sua emoção e seu amor de uma maneira pura e verdadeira, e não duvidava nem por um segundo.
— Você foi a única pessoa que conseguiu me fazer voltar à vida, respirar. Mostrou-me que o amor existe e havia alguma chance para mim.
— Conheceremos a felicidade juntos, Sami. E eu quase tinha perdido as esperanças que ela era para mim.
Ela riu, chorou e o beijou.
— Nunca mais minta pra mim — ela sussurrou.
— Nunca e seremos fiéis e sinceros um com o outro.
— Sim.
— Sem segredos.
Ela assentiu e o beijou.
— Faça amor comigo, me tome como sua de novo e dessa vez não cometeremos mais estupidezes — ela disse emocionada. — Porque eu preciso de você.
Aquelas palavras sussurradas de maneira tão sensual, naturais e verdadeiras foram o suficiente para disparar seu coração, fazer seu sangue ferver, superaquecer sua pele com um delicioso arrepio, como uma
onda elétrica o percorrendo de cima a baixo. A maneira que ela o olhou foi diferente de antes.
Ele já a tinha visto olhá-lo com desejo e cobiça, mas agora? Era uma adoração misturada, uma necessidade, um desejo que sabia que estava lá no fundo e ela estava deixando sair.
Petrus se sentiu desejado, amado, necessitado como nunca antes. E quase chorou de emoção, porque ele soube que naquele momento Sami era sua e que nunca mais recuaria ou o negaria.
— E eu preciso de você.
Ele rosnou e a beijou, longamente, desfrutando do sabor de seus lábios, do toque de sua língua, e abraçando-a, levantou do chão e foi até a cama, caindo sobre ela sem deixar de beijá-la, entre ofegos,
gemidos e rosnados.
Não houve muito tempo para preliminares porque suas adrenalinas estavam no cume e ambos estavam excitados e desesperados.
Ele rosnou quando a tocou intimamente, enquanto sugava seus seios com vontade e devoção, entrando nela com os dedos, acariciando e a excitando com o polegar com uma maestria que era caótica.
— Quente... Eu estava desesperado pensando que nunca mais tocaria você.
— Eu não suportaria.
— Agora, nada, nem ninguém vai nos separar, nem nós mesmos. Porque estamos entrando de cabeça nisso, juntos. Sem enganos desta vez.
— Sim, sem nenhuma barreira mais.
Ela riu e o puxou para beijá-lo.
E se perderam ali entre carícias, toques, juras e sussurros, até que ela gritou quando ele girou seus dedos dentro dela e mordeu seu peito, jogando-a no êxtase.
Ele era bom nisso e ela tinha a sensação que sua vida sexual com Petrus seria excitante para o resto da vida, porque ele sabia fazer coisas com seu corpo que ela nem imaginava. Ela teria gosto em descobrir
todas suas artimanhas.
Ele aproveitou sua descarga descontrolada e entrou nela e rosnou pela sensação quente que poderia queimá-lo.
Eles encontraram seu ritmo juntos e rolaram pela cama, movendo-se de todo jeito, perdidos completamente naquela luxúria, amor, entrega, até que ele a virou de bruços na cama e, ao tempo que se impulsionava
dentro dela, uma e outra vez, mordeu seu ombro, fazendo-a gritar e arfar. Ele embrenhou os dedos nos cabelos de sua nuca para segurá-la e Sami viu estrelas brilhantes diante de seus olhos.
Sua magia liberou no quarto e rodopiou envolvendo os dois como um enorme abraço.
O sangue dela atingiu sua boca, e causou um choque em seu sistema, era como o gosto de vinho encorpado e promessa de uma vida nova, que tomava sua boca e o dominou por inteiro.
Ele passou a mão pelo seu corpo, encontrando a curva da cintura e a segurou com firmeza, encaixando-se nela profundamente, zonzo e totalmente focado nela como um animal selvagem domando sua presa. Mas
ele queria dar tudo a ela.
Ele soltou de seu ombro, a girou em seus braços e Sami arfou, abraçando-o e ele a olhou com um sorriso nos lábios, pois suas presas estavam crescidas, seus olhos cintilavam selvagens e quentes.
— Morda-me e me faça seu de uma vez, agora sabendo o que está fazendo, com toda certeza do seu coração, me tome como seu, Sami. Refaça nossos laços.
Então, ele estava dentro dela novamente e ela mordeu seu ombro.
Petrus rosnou alto, se sentiu pleno, inteiro novamente, cheio de amor, de vida e a vontade que tinha era de chorar e rir ao mesmo tempo. Ela soltou de seu ombro e se abraçaram forte, beijando-se, unindo-se
naquele vínculo, naquela promessa de vida nova.
— Minha! — ele rosnou dando a última investida e teve sua liberação dentro dela marcando-a profundamente, dando a ela sua semente, sua essência. — Minha loba, aqui é onde pertenço, e prometo te honrar,
hoje e sempre — sussurrou em devaneio.
— Sim, e você é meu lobo... e eu vou te amar para sempre. Eu te aceito e te reivindico como meu companheiro, meu amor e minha vida.
Então, cansados, exauridos e saciados, unidos mais do que nunca, ficaram ali, tão enroscados quanto podiam, com suas essências misturadas, com o suor banhando-os e a magia dos lobos envolvendo-os, trocando
suaves carícias.
Eles já conheciam a sensação das mordidas, mas dessa vez foi mais forte que antes. Porque havia uma entrega completa entre eles e seus lobos. Finalmente eles estavam totalmente alinhados. Sem enganos e
ressalvas desta vez.
— Espere aqui um minuto — ele disse beijando seus lábios.
Ele levantou e ela pôde ouvir água caindo e antes de protestar ele voltou à cama e a puxou para ele novamente.
— O que vai fazer?
— Vamos tomar um banho de banheira e vamos nos vestir e descer.
— Oh, as pessoas estão lá embaixo.
— Sim, e devemos nos apresentar a eles, devidamente.
— Por quê?
— Somos os alfas, querida, não podemos deixar nossos convidados lá embaixo.
— Eles são grandinhos e espero que haja alguém que possa servir as bebidas a eles.
Petrus riu e beijou sua testa.
— Há empregados e tenho certeza de que minha mãe está lá embaixo cuidando disso.
Ela o olhou, aturdida.
— Sua mãe?
— Eu tenho uma mãe.
Ela sorriu lindamente.
— Você se dá bem com ela?
— Sim, e você vai gostar dela, assim como ela vai gostar de você.
— Fico feliz que ainda tenha sua mãe.
— Eu também.
— Nossos encontros são sempre tão traumáticos.
Ele riu com vontade.
— Bem, sim, é o que parece.
— Nunca tivemos um encontro de verdade.
— Mas tivemos todas as partes esquisitas. Talvez devêssemos ter um encontro de verdade. — Eles riram. — Vamos providenciar isso.
— A moda antiga?
— Sim, a moda antiga.
— Soa bem para mim. Aliás, você é bem antigo.
Ele soltou outra gargalhada e a beijou.
— Só um pouquinho.
Ele levantou, a pegou no colo e a levou para a banheira e ela olhou espantada para o luxuoso banheiro de mármore branco e a banheira de hidromassagem que poderia caber umas dez pessoas. Ele entrou e afundaram-na
água e ela sorriu, abraçando-o.
— Tem certeza de que devemos descer?
— Sim. Mas talvez possamos tomar uma segunda rodada disso que estávamos fazendo. Sexo com você é incrível.
— Acha mesmo? Nem senti que estava excitado novamente.
— Jura? E eu nem senti seu cheiro de fome por mim.
Ela riu e o beijou e eles fizeram amor novamente na banheira.
Depois eles se vestiram e voltaram para o imenso salão e quando entraram, de mãos dadas, a conversa entusiasmada cessou e todos olharam para eles.
Ela ficou ruborizada, porque eles estavam cheirando descaradamente e pôde ver sorrisos e olhares um tanto maliciosos, estavam sentindo o cheiro do vínculo deles, que era bem forte agora. Era um cheiro
característico e particular que os companheiros acasalados assumiam, com a ajuda da sua magia.
Ela suspirou e tentou afastar a vergonha. Lobos eram descarados.
Ela olhou para o lado e viu Ester a olhando, sorrindo, e piscou o olho para ela e Sami sorriu e agradeceu. E seu coração se encheu de ansiedade quando olhou para o bebê em seu colo, tão lindo, tão cheio
de alegria e vida. Então ela vislumbrou ter seu bebê com Petrus, imaginou um bebê lindo e loirinho e não conseguiu olhar para Petrus sem sorrir, era quase automático, porque não conseguia parar de sorrir
como uma tola.
Ele a olhou e respirou fundo, mas retribuiu o imenso sorriso que ela lhe dava, compartilhando a emoção.
Ele estava um tanto atordoado porque seu peito arfava, seu corpo todo vibrava e ele precisava fazer isso, apresentá-la, falar alto e em bom som e cravar a sua história naquelas velhas e frias paredes para
que todos soubessem que ela era dele.
Vagamente, no fundo de seu cérebro um tanto avariado por todas as emoções do dia, ainda se sentia surpreso de que as histórias que ouvira, e que assumira ser ficção, aqueles contos de machos se vinculando
à sua loba de forma tão intensa, eram de fato, total e absolutamente verdade.
As companheiras de alma existiam e mesmo duvidando, ele tinha desejado e ela tinha vindo para ele. Ele havia visto o rosto dela por apenas alguns momentos, e tinha se perdido e se encontrado ao mesmo tempo.
Tinha se apaixonado por Sami assim que a viu.
Ela tinha ido e o deixado, tinham sofrido e encontrado muitas barreiras, chegando até o limite da agonia, mas a lenda dizia que eles eram feitos para estarem juntos, então, um dia estariam.
O dia deles chegou e agora seria para sempre.
— Amigos... Eu estou profundamente honrado e sem palavras para agradecer o que fizeram por mim hoje. Noah, se sempre nutri um profundo respeito por você nesta minha vida e jurei lealdade, e estar ao seu
lado como amigo, assim como Erick e a todos vocês, rapazes, foi porque aqui... — Ele bateu com o punho no coração. — Eu sabia que era um elo verdadeiro e que sempre haveria lealdade e uma amizade forte.
Obrigado.
— A honra é minha, Petrus, e digo o mesmo por você — Noah respondeu.
Todos os lobos grunhiram, assentindo em aceitação.
— Meu rei, o que o senhor e sua rainha fizeram por mim e por nossa alcateia hoje foi imensurável. Terá minha lealdade para sempre.
— Fico feliz de ouvir isso, filho, e estou contente que tenhamos solucionado um problema. Espero que meus homens sejam felizes aqui e que, de agora em diante, seja um lar completo e seguro para todos.
— Será.
Petrus seguiu para o terraço e todos o seguiram e, dali, os lobos na praia também os podiam ver e prestaram atenção neles.
— Povo de Alamus, eu prometo ser um alfa justo, prover todos vocês e fazer para a nossa alcateia um lar próspero, de paz e alegria. E esta ilha será um bom lar para os lobos que vieram de Kimera. Será
um novo tempo de descoberta para todos, mas o faremos bem.
Todos gritaram, urraram, aceitando suas palavras e se calaram quando ele ergueu a mão pedindo silêncio e sorrindo satisfeito.
— Eu agora quero apresentar formalmente minha companheira e minha alfa. Samantha Sterlin. Sami, como ela gosta de ser chamada.
Ele se virou para ela, que, emocionada, presenciou ele colocar um anel no seu dedo.
— Este é o anel de alfa, o anel que a consagra. Eu, Petrus Papolus, alfa de Alamus, a consagro como minha companheira e alfa desta alcateia.
Ela arfou e olhou emocionada para ele, que sorriu e a beijou nos lábios.
— Se alguém nesta alcateia tiver algo contra mim ou contra minha companheira, fale agora. Serão livres para partir em paz.
Ninguém se manifestou e ele olhou para sua mãe, que sorriu emocionada. Com um sorriso ela assentiu, dando sua bênção.
Eles se viraram para os lobos e Harley uivou e se ajoelhou com o joelho direito e o punho direito sobre o coração e com a cabeça baixa. Honrando-a, aceitando-a e jurando lealdade a ela e Petrus.
E assim todos os lobos de Alamus fizeram o mesmo, dando sua lealdade e aceitando-os.
Noah uivou e um por um dos lobos o fizeram e tudo se tornou uma grande sinfonia de uivos e depois rosnaram batendo palmas e rindo e Petrus riu, feliz como nunca, e a abraçou.
Sami se sentiu em outro mundo e o que sentia em seu coração não podia explicar, e a única coisa que ela conseguia fazer era sorrir e amar aquele lobo mais e mais a cada minuto.
Era como se um mar de sentimentos novos e livres estivessem se abrindo dentro de seu peito, tomando espaço, se alastrando e tomando conta de sua vida.
Ela estava finalmente aceitando sua nova vida, quem ela era e onde ela pertencia e ela olhou para Petrus com os olhos marejados e a única coisa que conseguiu dizer quase num sussurro engasgado foi.
— Obrigada.
Os dois se abraçaram forte e olharam todos aqueles lobos uivando, batendo palmas e contentes por eles.
Sami nunca imaginou tal coisa na sua vida e ela olhou para Petrus e nunca imaginou que ela o teria, e o medo e ódio se foi completamente dando lugar a uma nova vida.
Uma vida em Alamus com seu companheiro de alma.
E o mundo podia ser perfeito.
Algumas semanas depois...
Sami entrou na sala de estar da casa de Petrus abraçada a uma grossa pasta de documentos e Harley trazia uma pesada maleta. Ela parou na frente dele que estava acompanhado de Noah e Erick.
Logo ao passar pela porta, Harley a fechou, deixando-os isolados do resto da casa.
Petrus olhou para a cara dele e franziu o cenho, pois ele tinha uma expressão estranha, não sabia se era espanto, entusiasmo ou susto.
— Tudo bem, Harley? O que houve?
— Acho melhor sua companheira explicar.
Petrus a olhou e ergueu uma sobrancelha.
— Voltei inteira como prometi — ela disse com um sorriso.
Um tanto nervoso, Petrus foi até ela e a beijou.
— Me pergunto se nossa vida será sempre assim, deixando meus cabelos brancos.
Ela riu e acariciou seu rosto.
— Vai ter que me aturar, porque prometeu isso, agápi mou.
Ele sorriu, porque amava quando ela o chamava de meu amor em grego. Era um carinho direto em seu coração e que aquecia toda sua alma.
Um carinho de sua companheira que ele mal acreditava ainda que era sua, finalmente.
— Prometi e é minha honra — disse com o coração arrebatado. — Bem, eu chamei Noah e Erick como pediu e fiz tudo o mais, a deixei ir para a Alemanha, somente com Harley, para resolver um assunto sobre os
laboratórios e eu confiei em você nesta maluquice toda, então, estamos aqui ansiosos para saber o que trouxe para nós.
— Eu prometi a você que eu seria sua por inteiro e que assumiria minha posição de alfa e... que finalmente eu me assumi como uma loba. Sei que tenho ainda muito que aprender, mas... eu não tenho mais medo
e acho que isso é incrível, porque algo dentro de mim mudou. Eu sinto muito não ter confiado em você antes, pois poderia ter evitado muito sofrimento para todos, mas era o caminho que eu tinha que percorrer.
— Sami, nós sabemos que foi muito traumático para você, que passou por muitas coisas e agora está tudo bem, querida.
— Cada humana que passa por transformação tem seu tempo para se adaptar. Sua transformação foi forçada pelo inimigo, havia um ressentimento já formado contra os lobos e isso causou tudo isso, mas estou
contente que esteja vendo as coisas bem agora, Sami. Será bem-vinda entre nós — Noah disse.
— Obrigada, Noah. Eu agradeço sua ajuda e por ter emprestado o helicóptero para esta missão. Konan já foi para a sua ilha, levando o aparelho.
— Nós temos algo para falar com você, Sami — disse Petrus sentando na poltrona. — Mas como este foi um pedido seu, para nos revelar algo importante, vamos fazer as coisas por partes. Estamos aqui para
ver o que quer nos mostrar, depois veremos o restante. Tome seu tempo.
Ela suspirou e foi até o bar que havia no canto da sala e serviu uma dose de uísque e bebeu um grande gole, respirou fundo e os olhou.
— Nesta pasta, há os estudos de meu pai e nesta maleta há muitos frascos e todo tipo de materiais usados nos laboratórios que envolvem os lobos e que meu pai guardou no cofre. Ele guardou secretamente
sem que os demais do laboratório soubessem. Eu os tirei de onde ele escondeu e os guardei em uma caixa num banco. São os estudos que ele fazia nos laboratórios. Há fotos dos lobos, fórmulas, enfim... coisas
de cientista.
— Mas que merda! — Erick rosnou.
— Meu pai ficou muito tempo envolvido nos laboratórios, mas por anos não teve nenhum conhecimento de que os materiais que recebia para seus estudos vinham de shifters de lobo. Ele sabia que era uma mutação,
pensou que era DNA modificado, criado pelo homem, uma junção de homem e animal. Ele diz aí sobre isso. Seu foco era estudar a cura de doenças e uma em específico. Esclerose Lateral Amiotrófica.
— Que diabos é isso? — Noah perguntou confuso.
— É uma rara doença motora degenerativa que paralisa os músculos do corpo sem, no entanto, atingir as funções cerebrais, sendo uma doença que ainda não possui cura.
— Assustador. Soubemos que fomos presos para estudo de como nos curávamos e de como somos imunes à maioria das doenças dos humanos e também como podemos nos manter vivos por tantos anos — Petrus disse.
— Longevidade é um bom motivo para ambição — Noah disse.
— Sim, estes eram os motivos pelos quais vocês estavam sendo estudados e testados.
— Torturados, seria a palavra certa — Harley rosnou.
— Eu sei, Harley, e eu sinto muito.
— Continue, Sami — Petrus disse ansioso.
— Bem. Essa doença faz com que a pessoa vá perdendo o movimento dos seus braços e pernas, assim como do resto da musculatura voluntária, incluindo a força para manter a cabeça erguida, de modo que sua
mobilidade é praticamente nula, consegue falar apenas com a ajuda de um sintetizador de voz. Seu cérebro não é atingido, suas funções cerebrais continuam intactas e seus pensamentos continuam claros.
— Oh isso é horrível.
— Para saberem como a pessoa fica no avanço da doença, não sei se conheceram pela tevê ou revistas, o físico famoso Stephen Hawking.
— Hum, sim, eu sei quem é — disse Petrus e Erick rosnou confirmando.
— Bem, conseguiram algum avanço com isso?
— Sim. Meu pai conseguiu avanços significativos. Com seus estudos e testes ele conseguiu, usando elementos do seu sangue... parar, de certa forma, a doença.
— O quê?
— Houve testes em humanos e houve realmente uma melhora nos seus movimentos e a doença não avançou. Aos poucos estava regenerando.
— Quer dizer que estavam testando isso em humanos?
— Sim.
Noah rosnou e Sami esfregou a testa, estava cansada.
— Eu pensei muito e decisões muito importantes foram tomadas. Quando Ester me disse, Noah, que você a trouxe de volta à vida quando foi atacada por um lobo, eu... eu fiquei imaginando o frenesi das mentes
destes cientistas ao descobrir estas coisas, estes avanços na cura de doenças.
— À nossa custa! Uma coisa não pode justificar a outra, meu povo não pode ser morto para curar humanos! — Noah disse zangado.
— Eu sei, Noah. Eu entendo e, acredite, eu concordo com isso. O que aconteceu nos laboratórios ultrapassou a pesquisa, ultrapassou o que deveria ser estudo. Aquelas torturas e mortes eram tão cruéis e
desnecessárias e estupros... — Ela suspirou exasperada.
— Uma crueldade sem precedentes.
— Sim. Parece que a ideia original ficou corrompida e a maldade que acredito ser enraizada na alma humana aflorou e pôde permitir que tantas maldades fossem cometidas. Nada justifica aquelas brutalidades.
A ciência não é isso.
— Sabemos como muitas coisas funcionam na ciência, doutora. As pesquisas de drogas e testes sempre foram feitos em animais e depois em humanos para testarem sua evolução. Cobaias. Os humanos sempre usaram
cobaias para seus experimentos e usam até hoje. Animais são sacrificados todos os dias em experiências.
— Sim, eu sei.
— Bem. Sobre os laboratórios, o que mais tem a nos dizer?
— O principal disso que quero revelar a vocês é o início de tudo.
— Início de tudo?
Ela respirou fundo e engoliu em seco.
— Eu sei quem é o cabeça de tudo isso.
Bem. A sensação que Noah, Erick e Petrus tiveram foi: o mundo parou de girar, o vento parou de soprar e nem conseguiam sequer respirar.
— O quê?
— Eu conheço o homem que comandou as experiências, o mandante da criação dos laboratórios e a captura de sua alcateia.
— Quem é o maldito? — Noah rosnou.
— Seu nome é... Hermann Sames Sterlin. Ele é... meu tio.
Noah levantou da poltrona num salto e Erick rosnou e houve mais um punhado de rosnados e falas confusas de lobos discutindo.
Foi um pandemônio na sala. Sami fez careta e ficou ali os observando agirem como lobos enraivecidos e Petrus entrou na frente dela para protegê-la.
Eles não estavam inteiramente saltando sobre ela, mas com uma enxurrada de perguntas que mal conseguiu entender tudo o que diziam, porque falavam algumas partes em inglês e outras em irlandês e, apesar
de seu inglês ser fluente, Sami ficou um tanto perdida.
Então eles começaram a discutir entre eles e algo com ela, mas como sua cabeça ainda estava no pescoço, então não deveria ser tão contra ela assim.
Eles pareciam não parar, então aquilo começou a doer em seus ouvidos.
— Calem-se! — ela gritou.
Eles pararam, bufando e olharam para ela.
— Se querem que continue contando, sentem-se!
— Sami...
— Sente-se, Petrus! Deixe-me terminar, pelo amor de Deus! Prometeu que me ouviria.
— Estou ouvindo, porra, mas temos que ir atrás dele agora que temos um nome.
— Porra, Sami, seu tio? — Erick disse espantado.
— Olha, se acalmem, ok? Se não sentarem não contarei mais coisa nenhuma!
Entre rosnados, arfadas e olhos cintilando de raiva, eles sentaram e Sami, um tanto amedrontada, respirou fundo.
Deus santo, ela pensou que seria feita em fatias. Se não morresse hoje, não morreria mais.
Também o que esperava?
Ela tomou mais dois longos goles do uísque e respirou novamente, tomando coragem.
— Posso continuar?
— Continue! — Petrus rosnou.
— Meu tio é um homem muito rico, iniciou tudo isso quando se uniu aos lobos. Esse tal Joan ofereceu a ele os lobos em troca de uma verdadeira fortuna. Como se conheceram eu não sei, mas meu tio era famoso
e sua história de que estava empenhado na pesquisa na cura desta doença saiu nos jornais na época, talvez aí Joan tenha lido algo a respeito e fez sua jogada.
— Maldito e miserável.
— Meu tio contratou meu pai para as pesquisas e aplicar o tratamento, mas ele ficava mais nos testes com... o humano porque ele confiava no meu pai para cuidar dele.
— Por isso usou o nome falso para entrar nos laboratórios?
— Sim, se o fizesse com meu próprio nome, meu tio poderia me descobrir. Eu tinha pouco tempo para me arriscar.
Petrus franziu o cenho.
— Espere. “O” humano? Como assim, Sami?
— Tudo isso começou para tentar curar um humano, um humano específico, que é portador desta doença. Por isso meu pai seguiu, mesmo quando as coisas pareciam obscuras, sabendo que algo estava errado. Ele
confiou no meu tio de que era correto e ele queria salvar esta pessoa em especial.
— Quem?
— Alexander.
Petrus levantou novamente da poltrona, espantado, e rosnou.
— Você está dizendo que este Alexander, o qual esteve falando, é este humano cobaia doente e que este inferno todo que passamos foi por causa dele? E você falava com ele, Sami?
— Sim, eu falava com ele, mas, acredite, ele não sabia de nada disso, ele não sabia dos lobos, dos experimentos, ele somente estava lá sendo testado e esperançoso que se curasse, acreditando que sua família
de cientistas gênios o salvaria de uma vida degenerativa, que ele teria uma chance de ter uma vida, um futuro. Ele descobriu tudo nos últimos anos.
— Como seu pai?
— Meu pai contou a ele quando descobriu.
— Então?
— Quando soube de tudo, que meu pai havia sumido e da existência dos lobos, Alexander... fugiu.
— Fugiu?
— Somente eu sabia onde ele estava.
— Por que você?
— Porque Alexander é meu primo. Ele é filho de Hermann Sterlin.
Houve outra comoção. E então ela tomou mais um gole de uísque. Acabaria ficando bêbada até aquilo tudo acabar. Bem, melhor bêbada do que morta.
— Posso continuar sem que me matem?
— Porra!
— Petrus, você é meu companheiro, estou te contando porque confio em você que não irá quebrar sua palavra e que Alexander seria protegido por você.
— Sami...
— Você jurou para mim e eu confio nisso.
Ele ergueu as mãos para o céu e suspirou exasperado.
— Ok, porra, eu prometi, se ele não tem culpa disso, como diz...
— Quer dizer que ele era uma cobaia como nós? É isso? — Erick perguntou.
— E que quando descobriu a verdade fugiu e é contra as experiências? — Noah perguntou.
— Sim, ele é uma cobaia como vocês e, sim, ele ficou horrorizado e fugiu.
— Por que acredita nele? Na busca de querer se curar pode ter concordado com isso.
— Não o fez.
— Por que confia tanto neste Alexander? Mesmo sendo seu primo pode ter mentido como seu tio fez.
Petrus estava roxo de ciúmes agora, este Alexander parecia tão importante para ela que o deixava quase cego.
Ele sabia que primos podiam ter um relacionamento.
Sami olhou para Harley, que estava mudo, quieto e imóvel sentado no sofá. Ele não havia dito uma palavra, dado um rosnado, nada, absolutamente nada, porque soube de toda a verdade quando foi com Sami no
esconderijo para apanhar Alexander.
Ele estava dando a Sami a oportunidade de falar tudo. Ela quis mostrar a Harley que era digna de seu irmão, já que ele nunca confiou nela, então havia pedido sua ajuda para fazer aquilo e trazer Alexander.
Bem, aquilo o tinha impressionado.
— Harley, você pode abrir a porta, por favor? — Sami pediu.
— Sinto cheiro de humano — Noah disse, nervoso.
— Ele está aqui? Trouxe o humano para a nossa ilha? Perdeu o juízo? — Petrus disse.
— Sim, se acalmem, por favor.
— Harley! Como fez algo assim?
— Calma, já entenderão tudo — ele disse calmamente.
Harley levantou e foi até a porta e todos boquiabertos e aturdidos ficaram esperando para ver o que aconteceria. Harley abriu as duas enormes portas da sala.
— Pode entrar, está tudo bem — ele disse.
E então, alguém entrou, e novamente aquele silêncio absurdo e a sensação de um enorme vácuo se instalaram quando todos olhavam boquiabertos o rapaz na cadeira de rodas.
— Petrus, Noah e Erick, este é Alexander Sterlin, meu primo. Era a ele que queriam curar. Foi por causa dele que seu pai os prendeu e queria descobrir como funcionavam.
Petrus deu um passo à frente, mas Noah e Erick continuavam paralisados olhando para o rapaz loiro de olhos azuis e muito bonito, que não deveria ter mais do que dezoito anos.
— Uau! A visão de vários juntos é assustadora... Desculpe, estou um pouco nervoso... Eu... ouvi muito falar de você, Petrus, espero que eu possa dizer que é um prazer conhecê-lo. E também possa me desculpar
pelo que houve com vocês.
Petrus literalmente estava com a boca aberta e com os olhos arregalados. Olhou para Noah e Erick, que estavam do mesmo jeito, então olhou para Harley, que deu um suspiro.
— Pode acreditar? Este pirralho deu um baile em mim nos computadores.
— Ele é muito inteligente, como eu disse, sua doença não atingiu seu cérebro. E com os experimentos feitos, ele recobrou boa parte de suas funções motoras.
Alexander sorriu sem jeito e levantou as duas mãos, mexendo os dedos e mexeu o pescoço.
— Também abandonei o sintetizador de voz. Isso é muito mais do que conseguia fazer há muitos anos. Às vezes minha voz falha ou demoro a falar uma palavra, mas é um milagre poder fazê-lo.
— Seu pai descobriu sua doença quando ele somente tinha quatro anos de idade, por causa de uma pneumonia. Foi uma cobaia nos experimentos com os lobos desde os seis, quando as experiências começaram. Então,
como podem ver, ele não sabia de nada.
— Eu lamento profundamente o que fizeram a vocês.
— Onde está seu pai?
— Eu não sei, eu fugi e agora não sei seu paradeiro, parei de saber onde estava, pois estava muito focado em Sami, tentando ajudá-la na sua aventura de vingança. E meu pai está escondido, com medo de ser
morto e na verdade... eu não quero saber onde ele está.
— Você abandonou seu pai, depois de tudo que fez para te curar?
— Eu fiz, porque por mais que sua intenção fosse boa, e quisesse me curar, eu entendo que tudo isso foi errado, eu senti muito remorso sabendo das mortes, de tudo. Não pude continuar. Que prazer poderia
ter na minha vida sabendo que pessoas... lobos morriam por minha causa? E quando Sami me contou que era uma loba, então acabamos nos unindo mais e cuidando um do outro, nos escondendo. Pois se meu pai
a descobrisse, talvez também a prendesse. Eu quero me curar, mas não à custa de vidas inocentes.
— Alexander é inocente e se está aqui agora é porque queria se desculpar e confia na minha palavra de que não o matariam. E... bem eu tenho estudado as anotações de meu pai e aplicado o tratamento em Alexander.
Meu pai tinha várias ampolas de solução que aplicava nele. E tenho tentado continuar, mas muitas coisas na sua pesquisa estavam somente na sua cabeça e ele não revelou tudo. É uma pesquisa complexa. Bem,
agora eu e Alexander estamos sozinhos, temos que cuidar um do outro.
— Ora, mas que merda!
Sami foi até Petrus e acariciou seu rosto.
— Entende tudo, Petrus?
Ele piscou aturdido e suspirou.
— Agora entendo. Agora entendo você. E não está mais sozinha, Sami, tem a mim.
Ela assentiu emocionada.
— Sinto muito que não tenha contado antes, era tudo uma grande bagunça para mim. Era muita coisa em jogo e eu não sabia em quem confiar.
Noah fez uma careta e rosnou coçando sua barba. Era quase um tique que ele tinha quando ficava nervoso.
— Acho que minha mente está turva — Noah resmungou.
— Bem, eu já disse tudo que sei.
— Eu posso contar minha versão agora. Não que eu saiba muito mais do que Sami já disse. Eu também descobri através do meu tio, e não faz muito tempo. Eu me mantive afastado de meu pai desde então. Eu não
sei muito bem o que vai acontecer, mas eu espero poder ficar aqui com Sami, pois ela é a única família que eu tenho agora. Meu pai não é uma pessoa má, acho que ele se deixou levar pelo desespero. Afinal,
nenhum pai quer perder seu filho.
— O fim não justifica os meios. Ele é um homem morto para os lobos.
— Eu sei — disse tristemente. — Por isso me afastei. Ele não pararia. Meu pai sempre pensou que quem tem dinheiro tem tudo. Mas seu dinheiro não podia curar seu filho moribundo. Então ele se agarrou no
que pôde. Mas eu não posso concordar com isso.
— Posso lhe admirar por isso — Petrus disse.
— Teve muita coragem de vir até nós.
— Sami no começo pensava que todos vocês eram maus. Teve seus conceitos mudados.
Todos olharam para ela, que suspirou.
— Sim, eu mudei meus conceitos. Petrus me mostrou o outro lado dos lobos.
— Bem, eu estou aqui e aceito ser punido se assim o desejarem. Mas eu darei a única coisa de meu pai, que é seu nome. A partir disso, não acredito que possa entregar meu pai à morte. Mesmo sabendo de todo
mal que causou a vocês, não posso entregá-lo. Mesmo se soubesse de seu paradeiro, o que não sei, não diria.
Sami olhou apreensiva para Noah, que a olhou seriamente e rangeu os dentes.
— Posso entender isso. Mas vou achar seu pai.
Havia mais o restante da frase que Noah omitiu e Sami soube que iria matá-lo. Alexander também sabia, pois não era tolo, mas então aquilo não estava mais ao seu alcance.
— Eu acho que todos nós devemos esfriar a cabeça, dar um tempo e pensar sobre isso — Harley disse.
— Eu gostaria de conversar mais com ele — Erick disse e Noah rosnou nervoso e concordou.
— Podem ficar aqui. Venha, Sami, vamos dar um espaço.
Ela olhou apreensiva para Alexander e para Noah e Erick.
Noah rosnou.
— Não vou arrancar a cabeça dele — Noah disse.
Sami ainda não se moveu.
— Vamos, Sami, deixe-os conversar a sós. Pode confiar em Noah. Ele não vai machucar Alexander.
Sami olhou para Alexander.
— Pode ir, Sami, fique tranquila, está tudo bem, eu estarei bem.
O celular de Noah tocou e ele atendeu.
— Sim, Ester... Oh, acordou? Ele está falando? Bem, logo estarei voltando para casa, temos um acontecimento aqui. Sim, um grande. Mande os rapazes vigiá-lo. Ok, amor, em breve estou indo. Beijos.
Noah desligou, olhou para Petrus e os outros, que o olhavam inquisitivos.
— Ele acordou, vamos adiar nossa conversa sobre o outro assunto para amanhã ou outro dia.
— Ok — Petrus respondeu.
— Uau, que timing perfeito — Erick disse espantado.
— O que eu perdi? — Sami questionou confusa.
— Nada, Sami, tudo ao seu tempo, venha.
Ela suspirou e beijou a bochecha de Alexander e deixou que Petrus a levasse para fora. Ela foi um tanto amortecida e se escorou na mureta do terraço, porque suas pernas estavam bambas, e olhou para Petrus.
Eles ficaram mudos por alguns minutos somente se olhando. Um olhar intenso e significativo.
— Confesso que estou sem palavras — ele sussurrou.
— Foi uma experiência um tanto desgastante e... intensa.
— Você foi corajosa e esta foi uma prova de lealdade muito grande, Sami.
— Só quero proteger Alexander e provar para você que estou aqui por inteiro, de verdade.
— Eu entendo isso agora e estou orgulhoso de você.
Ele suspirou e a abraçou e Sami se aferrou a ele com toda força e parecia que um mundo inteiro tinha saído de cima dela.
— Alexander parece não se importar que seu pai será morto.
— Oh ele se importa e, acredite, pode não estar demonstrando sua dor agora, porque está muito impressionado de conhecer vocês, mas ele já soltou sua dor e não foi fácil nem para ele e nem para mim.
— Ele pode ficar e será poupado, mas ele será vigiado, sabe disso, não sabe, Sami?
— Sei e compreendo, mas ele não vai te trair, Petrus, nunca. E ele não tem nenhum rastreador, Harley verificou.
— Vou confiar nisso. Porque se fizer algo, morrerá como seu pai.
— Eu sei.
— Mas eu confio em você, afinal depois de tudo que passamos acredito que nunca mais haverá segredos entre nós.
— Juro que não. Estou falando toda a verdade e meus sentimentos são sinceros. Quero ser feliz, chega desta vida cheia de enganos e mentiras.
— Estou aqui para prover suas necessidades, agápi mou. Minha missão é fazê-la feliz. Espero que possa ver isso agora.
Uma lágrima perdida escorreu pelo rosto dela.
— Eu vejo, Petrus e agradeço e também quero te fazer feliz e... Olha isso, você está me deixando como uma manteiga derretida.
Ele riu e a abraçou, e ela riu em seu peito, abraçando-o de volta e aquele abraço nunca pareceu mais perfeito, encaixado, moldado, cheio de amor e acalento tanto que Sami suspirou em deleite.
Como era bom ter aquele abraço. Abraço que nunca, sob nenhuma hipótese, abriria mão em sua vida.
— Quero saber se está feliz aqui na ilha, Sami, sei que está se adaptando, mas quero que me conte tudo, ok?
— Estou feliz, realmente. Ninguém me afogou no mar e me envenenou, nenhum lobo rosna para mim e são simpáticos quando vou conversar. Acho que gostam de mim.
Ele sorriu lindamente.
— Como não iriam gostar de você? Você tem um bom coração, Sami, é linda, inteligente e doce, e seu jeito durona também agrada, pois mostra sua força de loba. Não que precisasse ser uma loba para ser forte.
Ela riu.
— Eu amo muito você, Petrus.
— Eu também amo você, agápi mou, meu amor, minha vida.
Ela chorou e o abraçou novamente.
Era o seu desenrolar da história. Era a aliança que faltava entre eles dois, as arestas foram aparadas.
Eles estavam finalmente sendo livres e inteiramente sinceros um com o outro, compartilhando a confiança, um início de relacionamento verdadeiro. Sem segredos e mentiras entre eles. Não havia mais nenhum
jogo a ser jogado.
Ela se afastou e o olhou enquanto ele sorriu emocionado e secou suas lágrimas.
Ele a beijou com todo o amor de seu coração e ela retribuiu lentamente com o coração arrebatado de amor.
— E bem... Esse parece ser um grande dia cheio de emoções, eu tinha planejado algo para hoje, mas não vai acontecer — ele sussurrou.
— Por quê?
— É que, se nossos nervos aguentarem e espero que não mate você do coração, eu tenho algo para lhe contar, mas vai ter que esperar até amanhã porque o que eu quero fazer agora, Sami, é te levar para a
minha cama e te amar como um louco.
— Jura? Posso perder a sanidade por isso.
— Existe maneira melhor de perder a sanidade?
Ela riu e outra lágrima escorreu.
— Não, posso morrer nos seus braços que vou morrer feliz, porque estou feliz com você. Feliz como nunca e não quero perder isso jamais e depois de hoje estou me sentindo tão leve, tão livre.
— Bom, pois eu também estou.
Ele rosnou, a pegou no colo e com passos largos correu e saltou para a varanda do andar de cima onde ficava seu quarto e, ela, rindo e gritando, se agarrou em seu pescoço.
Ele entrou pela porta da varanda e com mais um salto tombou com ela na sua cama.
Rindo e respirando descompassadamente se olharam, com emoção transbordando pelos olhos, com o coração batendo tão forte que chegava a doer e com mil promessas e fantasias de um futuro belo pela frente.
Ele a beijou enquanto um tirava a roupa do outro, sem se importar se estavam sendo rasgadas, se botões voavam pelo quarto.
— Deveríamos fazer isso? Com seus convidados lá embaixo... e Alexander?
— Esqueça-se deles, minha querida, Harley vai tomar conta deles, e Alexander estará bem, prometo. Agora pense em mim, só em mim.
E, ali, enlouquecidos de paixão, fizeram amor. Porque era isso que existia entre eles.
Um amor que se fortalecia dia a dia, um amor que os enredava da maneira que tinha que ser, o amor de companheiros de alma que não permitia que sucumbisse, aquele que dava força para lutar e superar os
problemas, que unia de forma irrevogável um lobo com sua loba como os deuses haviam proclamado.
Ao despertar, Sami sentiu a atração que o corpo de Petrus exercia sobre o seu. Sempre saudosa de suas carícias. E durante um momento, ela experimentou a nostalgia pela maneira em que se amaram na noite
anterior. Nunca teria suficiente dele.
Ela suspirou e sorriu quando sentiu Petrus se mover na cama e se aconchegar em suas costas. Seu corpo quente, sua pele deliciosa, seu cheiro inebriante, forte e másculo.
Sentia-se protegida e sua mente calma quando ele a abraçava daquela maneira.
Negou-se a olhar para ele, porque se o fizesse, já não responderia por seus atos e o desejaria beijá-lo e possuí-lo.
Sami sempre esteve temerosa de suas próprias reações com aquele lobo que tinha tomado sua vida de forma tão intensa e que ela lutara tanto para fugir. Era como ter medo do fogo, mas agora? Não havia mais
nenhuma dúvida de que seu lugar era ao lado dele e assim deveria permanecer, porque ali era seu lugar, e era feliz.
E ela amava se queimar com ele, por ele.
Ele suspirou em seu pescoço e deslizou a mão pelo seu ventre.
O céu existia e se chamava Ilha de Alamus, e o deus que a amava, a enlouquecia e a fez descobrir a verdadeira felicidade se chamava Petrus.
E ali, naquela posição, sem nem abrir os olhos, ela se lembrou das palavras de Ester e tudo fez sentido.
Ela agora lutaria por ele, lutaria até com uma Górgona e um Kraken por ele, porque jamais, nunca em sua vida, agora longa, se permitiria perder isso. A felicidade e o amor de Petrus eram tudo para ela.
Seu lobo.
— Está fingindo que está dormindo? — ele sussurrou em seu ouvido.
Ela riu.
— Por que cometeria tal desatino?
— Houve um tempo que faria.
— No tempo que era uma tola, não mais.
Ele a acariciou com seus dedos, excitando-a, enquanto beijava e sussurrava palavras em grego em seu ouvido e naquela mesma posição ele deslizou para dentro dela e tiveram sua maratona de sexo matinal,
como todas as manhãs, porque aquele dois lobos eram insaciáveis.
Depois de saciados, ela se virou em seus braços e Petrus a beijou carinhosamente. Ele a cobriu com seu corpo, arrancando um suspiro dela.
Ele afastou o suficiente para olhar em seus olhos, com um sorriso no rosto.
— Podemos ficar na cama mais um pouquinho? — ela sussurrou.
— Eu ficaria com você aqui durante todo o dia somente a amando, mas, infelizmente, meu amor, isso não será possível, já que estamos quase atrasados para o nosso compromisso.
— Que compromisso? Não me recordo de ter marcado nada. Você me avisou algo e eu esqueci? Algum problema com as lobas? Elas resolveram não me aceitar como sua alfa? É o carcamano? Ele resolveu atacar a
ilha?
Petrus riu com tantas perguntas descabidas e a olhou com tanto carinho que seus olhos brilharam.
— Não, agápi mou, ninguém a rejeitou e não há um problema, na verdade é uma coisa que tenho certeza de que vai te agradar, na verdade duas.
— O que fiz para ganhar duas surpresas de uma vez?
— Está me fazendo feliz, então se puder te dar o mundo, eu te darei.
Ela sorriu e acariciou seu rosto. Petrus havia raspado a barba e seu rosto estava lindo e macio, mostrando o queixo quadrado, reforçando sua masculinidade, sua beleza.
Ela gostava dele de um jeito ou de outro, com barba ou sem, o amava sem nenhuma barreira, nenhum empecilho a até amava as tolices que a irritavam sempre.
Petrus beijou seus lábios, rosnou e num salto que a atordoou, ele levantou da cama com ela nos braços e no outro instante estavam no banheiro, e ele abriu as torneiras da banheira, após colocá-la no chão.
Era o ritual de suas manhãs.
— Um banho, uma roupa e então vamos ao nosso dejejum.
— Ok — disse rindo. — Tem certeza de que não pode me contar já?
— Não.
— É o tal segredo?
— Sim.
— Está protelando há dois dias para me contar este segredo, Petrus.
— Verdade, mas hoje isso acaba, mas eu acho que temos um tempinho para alguns beijos.
Depois do banho, ela abriu seu guarda-roupa e olhou as roupas ali, suas roupas negras de couro, transparentes e que tinham servido para sua nova personalidade. Mas então algo aconteceu dentro dela.
Admirava a si mesma por ter se tornado forte, mas não era as roupas que a faziam assim e sim seu espírito, seu caráter, sua mente e seu coração.
Estava na Grécia, por Deus, e o sol estava quente e ela estava se sentindo leve como uma pluma. E olhando para Petrus que estava pegando as roupas do seu lado do guarda-roupa ela sorriu. Então, fechou
aquela porta e abriu outra que tinha outro tipo de roupa, vestidos e roupas leves e confortáveis.
Após se vestirem, ela o admirou, ele vestia uma calça caqui social e uma camisa branca com os três botões da gola abertos no peito.
Ele penteou os cabelos para trás e estava perfumado e lindo. Ela sorriu o olhando e estava embevecida em saber que aquele homem-lobo era somente dela.
Ele se aproximou e a admirou, usando um vestido salmão. Ela pôde ver a surpresa e a admiração em seu olhar.
— Está linda.
— Tem certeza? Este vestido de linho está lindo, mas sinto que poderia colocar minhas roupas de couro e acrescentar um chicote.
Ele riu e a beijou.
— Acho que a ocasião pede esse vestido de linho, o qual a deixou divina, minha loba. É livre para se vestir como se sentir melhor.
— Estou me sentindo bem.
— Quando quiser usar suas roupas de motoqueira gótica, eu pegarei a Harley Davidson e passearemos por Atenas ou Creta, ok?
— Ok. Aceito o convite, adoro você pilotando aquela moto selvagem.
— Hum, bem podemos agendar isso, e também a parte do chicote.
Ela riu e o beijou.
— Bem, agora vamos.
— Vamos aonde?
— Espere e verá.
Ela deixou que ele a conduzisse sem nenhuma pergunta e com a curiosidade acirrada lhe atormentando foram para o terraço que ficava na lateral da casa e muitos lobos estavam ali reunidos.
Ela estranhou que todos estavam ali e muitas mesas tinham sido colocadas para o desjejum. Nunca os lobos de sua ilha tomavam café com eles.
— Petrus, o que é isso?
Todos vieram cumprimentá-la, a mãe de Petrus, Harley e alguns casais, e ela estava ficando apreensiva. E, espantada, ela viu Alexander, que estava na cadeira de rodas e se aproximou. Ele parecia muito
contente.
— Bom dia, prima.
— Você está bem?
— Eu estou bem.
Ela o beijou na bochecha e depois olhou ao redor e para Petrus.
— É uma recepção, meu amor, e eu não estou entendendo — ela sussurrou para Petrus.
— Bem, é uma recepção, nosso dejejum festivo.
— Dejejum festivo? É algum ritual de Creta?
— Não, é único e especial para você. Era um dejejum, mas como estamos um pouco atrasados, está quase um almoço.
Ela riu encabulada quando sua mãe riu.
Petrus se ajoelhou sobre o joelho esquerdo e abriu uma caixinha preta que continha um solitário com um enorme diamante e ela ficou ali, paralisada.
— Samantha, você aceita se casar comigo?
Sami parou de respirar.
— Casar? Com você? Mas pensei que já estava casada, quer dizer, como os lobos.
Ele riu lindamente.
— Bem, acredito que seja comigo, pois somente há eu aqui de joelhos pedindo sua mão e sim já estamos casados da maneira dos lobos, mas no dia de nossa cerimônia eu não lhe dei um anel como os humanos usam
para demonstrar sua união e também não lhe pedi devidamente como eu gostaria de ter feito para uma cerimônia humana. Então vamos fazer tudo de novo. Vamos refazer as etapas, como segue os rituais humanos.
Quero que se sinta feliz e segura.
Atordoada, ela riu de sua tolice e ele sorria tão lindamente que ela sentiu que não conseguiria segurar as lágrimas. Todo mundo havia sumido para ela, somente havia ele ali a pedindo em casamento e seu
coração estava batendo tão forte que seu peito doía.
— Pensei que tivesse dito que os lobos na maioria não casam com padre e estas coisas.
— Não na maioria, mas eu estou fazendo isso por você. Você é minha loba e sei que isso te deixaria feliz, porque era humana.
Ela riu.
— Aceito!
Ele riu e levantou e, tirando o anel da caixinha, colocou no seu dedo e, em seguida, a abraçou, beijou e a rodou, rindo. Eles se olharam, emocionados.
— Amo você, Petrus.
— E eu amo você, agápi mou.
— Você também é meu agápi mou.
— Vou te ensinar grego.
— Ok, eu aceito o desafio.
Ele a beijou uma, duas vezes, e todos bateram palmas e ela olhou ao redor, encabulada.
— Os barcos estão atracando, senhor — disse um lobo e Petrus assentiu.
— Que barcos? — ela perguntou sem entender.
— Logo verá.
Um helicóptero sobrevoou a casa, muito baixo e com o ruído forte. Ela olhou espantada e o aparelho desceu no heliporto que ficava no teto da mansão. Não demorou muito para ela ver um grupo descer as escadas
que iam até o terraço onde estavam.
Noah, Ester com Lucian, Erick, Kira com Safira no colo, e Julian vinham seguindo em sua direção como uma muralha, um ao lado do outro. Ela achou aquilo estranho e se aferrou no braço de Petrus. Os homens
estavam sérios e as mulheres emitiam um sorriso modesto. Estranho.
— Amor, o que está havendo? — Sami perguntou.
— Nada de mais, querida, não fique nervosa.
Eles pararam um pouco distante deles.
— Sejam bem-vindos, Noah — Petrus disse com um sorriso.
— É sempre uma honra estar aqui, Petrus. Como nosso combinado nós viemos trazer a pessoa que tanto agradaria sua noiva. Aliás, parabéns pelo noivado, eu vejo que já fez o pedido, já que ela usa o anel,
como mandam os rituais humanos.
— Sim. E lhe agradeço imensamente.
Noah olhou para Sami que o olhava seriamente e sorriu.
— Há uma pessoa que eu quero que reencontre, meu amor — Petrus disse.
— Quem?
— Bem, no dia em que estávamos nos Estados Unidos e você pensou que seu pai estava carbonizado naquela cela... Seu pai não foi encontrado na cela, bem, ele foi salvo.
— Ele o quê?
— Não era dele o corpo que Joan te mostrou na cela. Era de outro humano, possivelmente outro médico ou lutador, mas não era seu pai.
— Como sabem disso? — ela arfou nervosa e espantada.
Julian olhou seriamente para ela, que engoliu em seco porque ele era intimidante, além de extremamente lindo.
— Seu pai estava preso em outro lugar. Noah falou de seu pai pra mim. Joan tinha tirado ele dali e estava numa casa no Colorado. Havia sido deixado lá para morrer depois que ele tinha afrontado Joan e
tentado nos libertar, novamente. Joan o prendeu num antigo galpão onde havia tido uma luta e o deixou lá para morrer, depois seguiu para Las Vegas. Quando minha mente se livrou das drogas consegui lembrar
e com o notebook de Joan, Harley rastreou o lugar e encontrou o local. Fomos até lá e o encontramos ainda com vida.
Sami começou a arfar mais forte e sua mente estava trabalhando muito rápido.
— Meu pai está vivo? Onde ele está?
— Se não tivesse contado toda sua história para Noah e eu tivesse confirmado, seu pai estaria morto — Julian disse.
Noah rosnou.
— Julian salvou seu pai e nos contou que ele não era conivente com os laboratórios e fez de tudo para salvar sua vida e, inclusive, tentou fazer um resgate que não foi bem-sucedido, com os outros lobos
em Berlim. Os únicos que conseguiram sair do laboratório foi Julian e Logan porque Joan forjou suas mortes.
— Por que Joan faria isso?
— Na sua mente doentia, ele queria efetuar estas lutas e pensou em utilizá-los. Eles são bons lutadores. Eles se curaram dos ferimentos à bala e foram levados embora por Joan e todos pensaram que estavam
mortos, como ele havia prometido. Eles teriam conseguido fugir se Joan e Galen não tivessem interferido. Depois acabaram presos novamente por Joan e levados aos Estados Unidos. Seu pai esteve com eles
esse tempo todo, como prisioneiro.
— Ele é inocente, como disse?
— Inocente inteiramente eu não digo, porque teve que ser conivente com muita coisa, mas ele agiu como o pai de Ester fez. No início ele não trabalhava diretamente conosco, então não sabia que tipo de atrocidades
acontecia ali. Quando soube, tentou sair e nos libertar, mas as coisas não podiam ser feitas rapidamente e ele não obteve êxito nas suas tentativas — Noah esclareceu. — Tudo como você descreveu para nós.
— Com todos os fatos esclarecidos, e após longos interrogatórios, nós o inocentamos — Erick disse. — Nós demos a opção de ele ir ou ficar conosco.
— Ele quis ficar.
— Ficar? — ela repetiu um tanto tonta.
— Com você — Petrus disse.
Sami estava com os olhos arregalados e tentando prestar atenção em tudo que eles diziam e, atordoada, abaixou os olhos para as pernas daquelas pessoas gigantes e franziu os olhos quando percebeu algo se
mover atrás deles.
Noah e Julian abriram espaço e um senhor, um tanto debilitado e magro, sustentado por uma bengala, estava atrás deles. Era baixo e praticamente sumia atrás daquela montanha de músculos de dois metros de
altura.
Seus cabelos estavam brancos e longos, com uns óculos caindo sobre o nariz, e Sami teve dificuldade de reconhecer seu pai. Tinha envelhecido muito e parecia fraco, diferente do homem robusto que sempre
foi.
Ela estava sufocada, aturdida e ficou ali, estática, olhando para ele, como se estivesse com medo de piscar e ele sumisse.
— Achei que nós deveríamos lhe devolver o seu pai — Petrus disse.
Sami respirou fundo, tentando encontrar sua voz.
— Oi, filha — disse o senhor.
— Pai!
Ela correu e o abraçou, beijou e deixou os soluços livres, e ele fez o mesmo, emocionado.
— Oh meu Deus! Eu não consigo acreditar. É mesmo o senhor.
Chorando, os dois se olharam e se tocavam no rosto, no corpo, para ter certeza de que era de verdade.
— Me contaram que é uma loba agora.
— Sim.
— Incrível, nunca imaginei que fosse possível. Nunca ninguém revelou tal feito.
— Há tantas coisas para falar.
— Teremos todo tempo do mundo, minha querida.
— Está ferido, se sente bem?
— Estou bem. A alfa Ester e a outra loba Virna cuidaram de mim. Estou melhorando.
— Oh, meu Deus, eu não consigo acreditar! Olhe, pai, venha...
Ela o trouxe pela mão.
— Pai, este é Petrus, meu companheiro. Petrus, este é meu pai, Godbert Sterlin.
Petrus o olhou sério e então estendeu a mão para ele.
— É um prazer, senhor. Acho que agora podemos ter uma apresentação devida.
O homem o observou, olhando para cima, pensativo; e depois assentiu, olhando para Sami e depois para Petrus.
— Sim, é um prazer conhecê-lo, Petrus.
Eles apertaram as mãos e ela riu tão emocionada que não conseguia acreditar e abraçou seu pai novamente e depois abraçou Petrus.
— Obrigada, Petrus.
Ela fungou pelo choro e beijou seus lábios. A maneira com que Sami olhou para Petrus significava muito para ele. Ela o olhava além de emocionada, estava agradecida, comovida com os gestos dele e de seus
amigos.
Ela estava conhecendo ele e seus lobos e aprendendo a afastar toda aquela visão distorcida que tinha deles. Isso era maravilhoso.
Mas o melhor é que ela estava de coração aberto e ele pôde ver o amor estampado em seus olhos.
Ele finalmente tinha a sua companheira inteira para ele.
— Seu pai foi inocentado e é livre — Petrus disse e ela olhou emocionada para ele.
— No dia que trouxe Alexander, esse era o telefonema que recebeu? — ela perguntou a Noah.
— Sim. Ele acordou depois de um forte tratamento que Virna deu a ele, que o fez reagir.
Ela estava espantada. Eles haviam dado um julgamento a ele, a chance de se defender e provar sua inocência e sabia muito bem que Noah não teria o perdoado somente para alegrar a companheira de um lobo.
Se não fosse verdade o que ele deve ter alegado, ele estaria morto agora. O que na verdade estava no seu direito.
— Alexander!
— Tio!
Ela olhou, emocionada, seu pai ir até Alexander, escorando-se na sua bengala e o abraçar. Foi um momento tocante para ela.
— Seu pai pode ficar morando aqui conosco, Sami — Petrus disse.
Ela olhou espantada para ele.
— Ele pode?
— Eu disse que faria qualquer coisa para te fazer feliz e essa é a maior prova que posso te dar. Essa é uma exceção entre os lobos, Sami. Ter um humano entre nós.
— Então são duas exceções.
— Sim, são duas. É um voto de confiança imenso, que se for um erro pode nos destruir, sabe disso, não sabe?
— Eu sei, mas eles nunca me trairiam.
— Se te trair, eu mesmo os matarei.
— Eu sei e se isso acontecer, eu não impedirei.
— Porque agora sabe como nosso mundo funciona.
— Sim, Petrus, eu sei.
Ele acariciou sua bochecha e a olhou.
— Eu amo você.
Ela o abraçou fortemente.
— Obrigada, Petrus, e eu amo você também.
Aquele abraço foi forte e significava muito e tudo entre eles. Ela foi até seu pai e o abraçou novamente. Ele, então, olhou atentamente para ela e mexeu no seu cabelo.
— Está feliz, filha?
— Sim, pai, eu estou feliz com meu companheiro e como sou agora, uma loba. Demorei a me adaptar e aceitar tudo, mas agora estou bem.
— Então estou feliz também. Depois precisa me contar tudo e me mostrar isso. — Ela olhou seus pulsos com ataduras e suspirou preocupada. — Não se preocupe, logo estarão melhores, foram as correntes. Vamos
deixar isso para trás agora.
Sami assentiu e suspirou. Logo olhou e sorriu um tanto encabulada para Samira, a mãe de Petrus, que até então estava calada, somente observando. A bela senhora se aproximou e a olhou atentamente.
Sami ficou nervosa, mas sorriu amavelmente.
— Hoje é um grande dia, fico contente que tenha recuperado seu pai. Petrus me contou sua tortuosa trajetória.
— Senhora, eu queria lhe agradecer pela maneira gentil que vem me tratando.
— No começo tive minhas dúvidas sobre você ser companheira de meu filho. Um alfa tomar uma companheira transformada, com sentimentos conflitantes como os seus, era um perigo para nossa alcateia. Meu falecido
companheiro jamais a teria aceitado.
Sami a olhou, aturdida.
— Senhora...
— Mas ele não está aqui e temos nossas novas regras a seguir. Petrus está feliz, como eu nunca o tinha visto e a nossa ilha está em paz. Começaremos uma nova época em Alamus. Uma jovem moderna e feliz.
Que os deuses nos abençoem a todos e a vocês dois para que tenham uma união feliz.
— Tenho me esforçado para fazer tudo certo, para aprender.
— Eu sei, tenho visto isso. Pode relaxar, pois todos nós estamos com o coração aberto para você. Tem sido boa para a nossa alcateia, as lobas gostam de você.
— Obrigada.
Sami abraçou a senhora, que devolveu o abraço. Petrus olhou sua mãe e beijou sua bochecha.
— Obrigado por tudo, mãe.
— Tudo por você, filho. Sejam felizes e cuidem um do outro, com respeito, lealdade e muito amor.
— Seremos, e eu serei um bom alfa.
— Então, somente posso lhes dar minha bênção.
Petrus riu e beijou Sami e, em seguida, suspirou aliviado.
Ter a bênção dela era importante para Petrus e a alcateia. Samira seria sempre uma alfa e a matriarca da alcateia, até sua morte, mas Sami é quem lideraria ao lado de Petrus. Os lobos a respeitavam e a
ouviam e ela tinha intercedido entre os lobos que ficaram receosos em aceitar Petrus e Sami.
Era uma nova era para todos e ela sabia que teriam paz e dignidade com eles no poder. Medo ou repressão tinham ficado para trás.
— Bem, então temos que comemorar. Acho que nossos convidados gostariam de uma cerveja gelada — Petrus disse.
Sami riu e secou as lágrimas.
— Cerveja gelada? Mas ainda estamos no café da manhã.
— Ahhh, nós já tomamos nosso café muito cedo, então já podemos comemorar com um brinde a caráter — Erick disse. — Um lobo nunca rejeita uma cerveja gelada e uma comemoração.
— Afinal estamos livres. Deus, ainda nem acredito que estou livre — Julian resmungou.
Noah riu, bateu no ombro de Julian e soltou um uivo que foi seguido por todos, o que causou uma grande balbúrdia de lobos.
Espantada, Sami viu uma movimentação tão rápida que estava difícil de acompanhar e logo haviam copos cheios e brindes sendo feitos.
— Oh, há mais lobos chegando? — Sami disse espantada.
— Sim, eu chamei a todos — disse Harley se aproximando deles. — Um presente meu para vocês. Eu realmente desejo o melhor para vocês, que sejam muito felizes.
— Sim. Afinal temos nossos amigos de volta, você tem uma noiva, que tem seu pai de volta, muitos machos valorosos para proteger sua ilha e muita cerveja. O que poderia ser melhor que isso? — Erick disse
rindo.
— E agora poderá planejar uma festa de casamento, se assim o desejar — Petrus disse.
— Sério? — ela perguntou espantada.
— Sério. Não é isso que as noivas humanas fazem? Compram vestidos brancos e todas aquelas coisas?
Ela riu e o beijou várias vezes.
— Não preciso de uma grande cerimônia, tudo o que desejo já está aqui e estou completamente feliz.
— Oh, mas um velho pai sempre quer levar sua filha ao altar, mesmo com este negócio de lobos.
Sami riu, emocionada, e olhou para Petrus, que sorria lindamente.
— Sim, pai, podemos fazer isso.
Aos poucos, os lobos da ilha de Noah foram chegando e foram cumprimentar Petrus e Sami.
— Estas ilhas são um paraíso, gosto daqui — Julian disse, sorrindo.
— Logan ainda anda muito calado.
— Ele vai melhorar — Julian disse dando uma olhada para seu irmão que conversava com seus pais no canto da varanda e logo se afastou. Mal trocava meia dúzia de palavras, apesar de reconhecer a todos.
— Tenho certeza disso, amigo — Noah disse.
— Fico muito feliz que estejam livres. O tempo ajuda e ele vai se curar — Petrus disse.
— Devemos isso a você e sua companheira — Julian disse emocionado.
— Sim, se não fosse ela não os teríamos encontrado, Julian.
— Foi uma sorte não termos nos matado uns aos outros, mas, enfim, acho que tivemos uma nova chance. E tivemos sorte de que o efeito da droga passou — Julian rosnou zangado. — Não me perdoaria se tivesse
te matado.
— Bem, quem disse que me mataria? Eu teria te vencido fácil.
Julian rosnou e depois riu.
— Podemos lutar novamente e ver isso, filhote de Zeus.
Petrus riu com gosto.
— Marcado, Montanha, ou devo chamá-lo de O Demolidor?
— Demolidor nunca mais.
— Está certo. Uma nova vida começa agora.
— E participará de nosso próximo torneio — Noah disse.
Por um lado, Julian rosnou feliz, mas lamentando que tinha perdido tantos anos de sua vida, envolto em tanto sofrimento.
— E Joan? Ele está morto? — Sami perguntou.
— Sim, ele é um lobo morto — Noah respondeu seriamente e com a voz grave que quase a assustou, mas então ele abriu um enorme sorriso. — Então vamos comemorar! — Noah gritou, soltou um uivo e todos riram,
indo pegar suas cervejas geladas.
Petrus riu animado quando Dada se aproximou e olhou admirado para seus cabelos que antes eram inteiramente brancos com fios cinza, agora continham mechas marrons intercaladas, e ela ostentava lindos olhos
verde-claros. Sorridente, a senhora chegou trazendo uma travessa na mão.
— Dada! O que fizeram com você? — Petrus perguntou espantado.
— Oh, viu o que me fizeram? Eu sou uma de vocês agora, me sinto tão forte e viva como uma garotinha. Kirian rosnou para mim hoje de manhã e disse que minha língua estava mais solta, veja isso.
Ele riu e a abraçou.
— Trouxe isso para você e sua companheira. Lembro-me muito bem que era louco pelos meus cupcakes de chocolate.
— Muita gentileza sua se lembrar disso. Sami, precisa provar isso, é dos deuses. Lembra-se de Dada?
— Sim, eu me lembro. Como vai, senhora?
— Oh, eu vou bem, menina. Olhe para você, veja como está feliz, radiante como o sol — Dada disse segurando seu rosto por um minuto.
— Estou feliz, Dada. Obrigada.
— Melhor que aquela carinha triste de quando esteve na mansão da outra vez, eu me lembro. E este aí ficava correndo atrás de você como um gatinho atrás do pires de leite.
Os dois riram.
— Bem, não poderei negar isso — Petrus disse.
— Sim, não pode, porque agora sou uma loba, mas sou uma velha ainda e tem que me respeitar, mesmo você sendo um alfa. Tive dúvidas que se incomodasse de eu vir, mas a alfa Ester disse que você nunca faria
isso.
— Óbvio que não, jamais esquecerei o que fez por nós, na Alemanha. Já se transformou em loba?
— Oh, não! — ela soltou uma gargalhada alta. — Eu estou tentando me acostumar com todas estas sensações primeiro, depois tomarei coragem, a alfa vai me ajudar. Olha isso. Eu uma loba. Se o doutor Herbert
pudesse me ver agora... — Riu novamente. — A alfa disse que espera que todas as minhas doenças estejam curadas, menos minha caduquice. Ela ainda me quer caduca, veja isso.
Todos riram dela e Sami a adorou, na verdade, mais do que antes quando tinha cuidado dela e dito palavras doces para confortá-la, pois estava aflita. E um dia tinha espantado Petrus de perto dela com a
colher de pau.
Petrus riu com gosto, beijou Sami nos lábios e se misturou na bagunça, o que deixou Sami conhecendo outro grau de felicidade.
Então, as portas laterais da casa foram abertas, revelando longas mesas de madeira maciça, uma enorme churrasqueira e muitos freezers para gelar as bebidas.
Várias lobas e lobos chegaram animados trazendo travessas de carnes para serem assadas e as bebidas foram sendo abertas e servidas, todos conversavam entre si, e os vinham cumprimentar, lhes desejando
felicidade.
E os lobos novos na ilha estavam se reunindo para a comemoração e usavam roupas apropriadas para a ilha e modernas. Aquilo era um grande feito.
Ela viu passar pelo meio deles um bebê correndo, ainda um tanto desajeitado, se equilibrando, rindo e soltando gritos com uma pequena lobinha atrás dele que fazia de conta que ia mordê-lo e rosnava: Lucian
e Lili.
E de olho neles estava Jessy, linda ao lado de seu companheiro Sasha, ostentando uma barriga de grávida.
Todos eles eram fantásticos, e ela podia vê-los agora, sem o véu do ódio e ressentimento. Ela via a maravilha que eram os lobos, como eles amavam a vida e eram bons uns com os outros, se cuidavam e se
protegiam.
Talvez houvesse alguns lobos ruins por aí, mas agora ela fazia parte dos bons e aquelas duas alcateias estavam mostrando a ela como era uma amizade verdadeira, como era divino ser loba e ser amada por Petrus.
E seu mundo estava perfeito.
Janice Ghisleri
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