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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O ASTRONAUTA SEM REGIME / Jô Soares
O ASTRONAUTA SEM REGIME / Jô Soares

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

O ASTRONAUTA SEM REGIME

 

José Eugênio Soares (Jô)

Jô Soares é todo cordura — e quem encontrar outra ressonân­cia na palavra é um grosso materialista. Carioca da gema, estu­dou na Suíça, no cantão de Vaud, de onde até hoje tira estranhos padres untuosos. Ao nascer num hospital da Gávea desconfiou lo­go que a vida era incurável. Donde seu ceticismo sem remédio. Pois, cercado do riso que o envolve, nem percebe a seriedade que provo­ca. Suas imitações são tão originais que tinha que acabar inimitá­vel. E sua deformação profissional chegou ao ponto em que, ás vezes, ao acabar o trabalho, leva meia hora até encontrar sua própria cara. E se alguns amigos vissem, como eu, as caricaturas que lhes faz, nenhum deles voltaria a falar comigo. Pudibundo em dias úteis, reserva sua lascívia para os dias santos. Mas dizem que, em certas tardes de abril, ele mergulha em chamas. Que é quando viola a correspondência alheia e lê, abobalhado. Pois ninguém jamais foi tão íntimo do âmago. Irmão do videoteipe, primo do tubo catódico (trabalha na tevê desde quando ainda se chamava vosvê), só faz televisão com controle remoto — do Oiapoque ao Chuí derrota os que, como eu, tratam a televisão com um "Nem te ligo".

Profissional perfeicionista, sua vontade de acertar é tão gran­de que só atira nos diretores de tevê com mira telescópica. Pintor de domingo, seus quadros são um dia de descanso. Acha que o pro­blema demográfico só estará resolvido se a população, além de não crescer em números, diminuísse de cintura. Sempre de bom humor, nem parece humorista. Adora motocicleta, sua forma pessoal de bicicleta. Lê muito, sobretudo o que ele mesmo escreve, sua forma pessoal de feedback. Conversador compulsivo, gasta com os ami­gos todos os restos da semana — pois não crê em poupança do tem­po que lhe sobra. Usa roupas fantásticas — só para compensar um mundo cinza. Exibicionista nato, um dia descobriu que, pondo bi­lheteria, era muito mais fácil. Fala diversas línguas; tem sotaque apenas em português claro. Não escolhe papéis — aceita seu script em papel fino, crepom ou schoeller, shammer. Eclético total, o que mais gosta é tudo. Só estará realizado no dia em que interpre­tar um personagem totalmente sem graça e o público não rir.

Certa ocasião em que trabalhamos juntos fez um regime tão sério, ficou tão inacreditavelmente magro que, ao vê-lo, todo mundo me dizia, com espanto: "Millôr, como você está gordo!" Pouco agres­sivo em seu humor, trabalha mais na linha do sardônico, cara que mora numa ilha de paz lá perto de Sicília. Está profundamente certo de que aos humoristas cabe melhorar o ser humano  — Deus fez apenas uma caricatura. Por isso sua frase predileta: "É no pepi­no que se torce o menino". Ama o agreste, torce pelo Fla x Flu, ri muito em certas noites de quarto minguante, uma vez, distraí­do, omitiu dezesseis dias e, as segundas-feiras, apenas se o entrevê, que digo?, se o entrevê, perdão, só em tevê. E tem razão quando diz que a televisão de 21 polegadas não dá toda a dimensão de seu talento: ainda espera atuar numa de 21 pés, em holografia. Tudo que é, ele deve a si mesmo, papagaio que nenhum banco desconta. Feminista exagerado, acha que as mulheres, hoje em dia, já estão com tudo, quer dizer, só falta um pedacinho. Pois é fruto de vosso ventre, embora se julgue ultrapassado e espere, na próxima gera­ção, vir em proveta. Voando entre Rio e São Paulo já gastou mui­tos medos: pois dizem que foi ele que colocou a pedra fundamental na Ponte Aérea. Crê no palhaço, e em Carlitos, um só seu filho, o qual padeceu sob o poder de Joseph McCarthy. Mas no refluxo das marés não acredita. Sua expressão facial está na cara. Sua ex­pressão corporal só se vê quando ele pára. E no dia em que morrer não deseja choro nem vela. Quer um enterro bem simples: apenas um caixão de pinho com oitocentos bispos vestidos de púrpura em volta, trezentas câmaras filmando e narração em dezessete línguas. Igualzinho ao do papa.

Millôr Fernandes

 

 

Visto o meu corpo de gordo

Visto o meu corpo de gordo como a armadura de um cavaleiro andante, mas trago a agilidade do trapézio no absurdo do meu salto.

Dias a fio desafio a física contrariando as leis da gravidade, já que a farta matéria que me cobre os ossos

deveria me dar o ritmo das pedras.

Mas meu gesto é fácil e meu passo é vôo.

Meu pulo é largo e espanta os tristes e todos aqueles que, de medo, guardaram meus saltos no bolso da rotina.

Meu corpo livre, volumoso e leve é como um traje espacial e saio pelo espaço.

Não tenho tubos me ligando ao módulo, mas já tive um cordão muito umbilical.

Eu sou o astronauta sem regime, o dom Quixote do carboidrato.

 

 

O glubador

Conto nonsenssíssimo

 

O coronel perguntou ao novo recruta:

—  O senhor faz o quê na vida civil?

—  Bom, coronel. Eu sempre fui glubador.

—  Glubador?

—  É. O senhor, como homem instruído, sabe naturalmen­te o que é um glubador.

—  Claro, claro! Glubador! — respondeu o coronel, que não era homem de se dar por achado. — E como glubador você na­turalmente faz. . .  faz. . .

—  Glubeiras, não é, coronel? Eu faço glubeiras.

—  Evidentemente! Glubeiras! Já fez alguma glubeira aqui pro meu quartel? — perguntou o coronel, disfarçando a sua ig­norância.

—  Como, se nunca me deram material para construir uma? — respondeu o soldado.

—  Mas isso é um absurdo! Então eu tenho um glubador no regimento e ele ainda não fez nenhuma glubeira? Eu lhe dou carta branca para fazer uma imediatamente. Na sua opinião, o material ideal para se fazer uma glubeira seria. . .  seria. . . ?

—  É lógico que o senhor sabe que uma boa glubeira se faz de alumínio. Fica meio caro mas o senhor tem uma glubeira pra toda vida.

—  O custo não importa! Eu quero que você comece a fa­zer uma glubeira de alumínio amanhã! — disse o diretor.

—  Pois não, coronel. De que tamanho? — perguntou o soldado.

—  Não sei. O especialista é você.

—  Bom, depende do gosto. Pra mim, uma glubeira profis­sional deve ter 5,30m de comprimento por 3,52m de largura e 15cm de espessura. Isso se o senhor quiser uma glubeira clás­sica — explicou o soldado.

—  É claro que eu quero uma glubeira clássica! Nada de modernismos! — falou o coronel muito senhor de si.

Uma semana depois, o soldado-glubador dava os últimos retoques na chapa de alumínio. Curioso, o coronel foi ver co­mo andava sua glubeira. Ao chegar, viu a chapa toda perfurada com orifícios que iam de 10 a 15cm. Quase enlouqueceu:

—  Quem foi que furou a minha glubeira?!!

—  Fui eu, é claro, coronel. Sem os respiros ela não funcio­na — afirmou o glubador.

—  Muito bem! Muito bem! Só estava vendo se o senhor co­nhece mesmo o seu serviço! — disfarçou o coronel. — E onde é que nós vamos usar essa maravilhosa glubeira?

—  Num lago ou num rio, é claro.

Assim transportaram a glubeira até a beira de um lago e lá ela foi lançada na água pelo glubador, afundando no lago a se­guir. O coronel ficou louco.

—  O que é isso?! Então eu gasto uma fortuna para fazer uma glubeira e você joga a minha glubeira na água! Louco!! Você vai preso!!

—  O coronel me desculpe, coronel, mas pelo visto parece que o senhor não sabe o que é uma glubeira — disse o soldado-glubador.

—  Não sei mesmo! Mas agora você vai me explicar! — de­sabafou o coronel. O glubador elucidou-o calmamente:

—  Pois então o senhor não viu que a glubeira funciona exa­tamente quando afunda? Só aí é que ela faz: GLUB... GLUB... GLUB... GLUB...

 

O dia do caçador

Uma fábula grotesca Allegro ma non troppo de nenhuma utilidade

 

Era um caçador respeitado por todos. Lá se iam vinte anos que caçava naquelas tórridas regiões africanas e era amado por todos os animais, graças à sua inépcia na utilização do fuzil e outras armas. Os nativos com justa razão deram-lhe a majesto­sa alcunha de "Katunga", que na língua deles quer dizer: "O Boçal". Evidentemente o caçador não conhecia o real significa­do do seu apelido indígena e dele muito se orgulhava.

Um dia bwana Katunga, também chamado de "Brahma" Katunga devido à predileção que tinha por cerveja importada (se a fábula se passasse aqui provavelmente beberia alguma marca dinamarquesa), estava caçando em terras onde o homem bran­co não tinha nunca posto o pé. Jipe, trem e caminhão, sim, mas o pé nunca. Depois de ficar atirando sobre várias caças sem con­seguir acertar nenhuma, o caçador já se preparava para voltar ao acampamento, quando ouviu um longo gemido. Devido à longa experiência adquirida depois de tantos anos na selva, identificou-o logo como o grito desesperado de um antílope pre­so numa armadilha. Como acontecera várias vezes antes, sua técnica em distinguir o som de cada animal da floresta não o decepcionou: ao aproximar-se do lugar de onde partira o guincho do antílope, viu que se tratava de um elefante. Sua técnica em distinguir ruídos era péssima. Katunga era capaz de confun­dir um rugido de leão com o trinar de um pintassilgo a dois metros de distância. Prova disso eram as inúmeras cicatrizes que ostentava pelo corpo todo. Chegando mais perto, Katunga ob­servou que o elefante tinha uma imensa cicatriz na orelha es­querda e que os gemidos eram provocados por uma imensa farpa enfiada na pata do paquiderme. Imediatamente seu instinto de caçador lhe disse que estava em perigo. Seu instinto de caçador estava errado. O elefante passou-lhe um olhar de súplica e duas lágrimas imensas correram pela sua tromba. Katunga podia ser Katunga mas tinha um bom coração. Pegando sua faca de caça­dor com delicadeza, extraiu a enorme farpa que afligia o paqui­derme. O animal deu um suspiro de alívio. Logo depois, o caçador pegou no seu estojo médico um band-aid para elefante, que sempre trazia para o caso de uma emergência como esta, e delicadamente envolveu a pata do bicho. Então deu-lhe um Alka-Seltzer de elefante, que tem mais ou menos o tamanho de um pneu de trator e foi lançado longe pelo efeito causado. Vol­tou a aproximar-se. Durante o período de convalescença foi in­cansável. Ficou ao lado dele até que a ferida sarasse por completo. Depois despediu-se com um aceno de mão, enquanto o elefante satisfeito e curado trotava de volta para a selva, gritando de alegria.

Anos depois, Katunga viu-se em maus lençóis. Em lençóis muito ruins mesmo. Aliás, em péssimos lençóis. Para falar a ver­dade não eram nem lençóis, eram trapos. O caçador estava com­pletamente atado em trapos que impediam seus movimentos. Tinha sido capturado por uma tribo selvagem que fazia sacrifí­cios humanos. Amarrado firmemente ao chão, aguardava o "ele­fante real" adorado pelos indígenas e que deveria chegar a qualquer momento. Conduzido pelo feiticeiro da tribo, o pa­quiderme viria para esmagar-lhe a cabeça com sua enorme pa­ta. Na hora da execução, o caçador viu o elefante aproximar-se com seu passo lento e pesado. Reconheceu-o imediatamente pela profunda cicatriz que tinha na orelha esquerda. Era o mesmo animal que ele um dia, muitos anos atrás, salvara na selva. O soberbo animal que ele tratara com tanta dedicação. No instan­te em que o bicho levantou a pata para matá-lo, o olhar dos dois se cruza. Houve um lampejo nos olhos do paquiderme. A legendária e fabulosa memória dos elefantes funcionara de novo: num segundo, o animal lembrara-se do seu benfeitor. Parou absolutamente estático com a pata no ar. O impossível acontecia. Katunga, o caçador, seria salvo, pois os selvagens supersticiosos não ousariam mais molestá-lo, pensando tratar-se de um sinal dos deuses. O elefante continuou imóvel, para espanto dos indígenas. Enquanto o caçador pensava na sua sorte, o bicho, com um rápido e agilíssimo movimento, abai­xou a imensa pata esmigalhando-lhe a cabeça. Fez este gesto

com extrema perfeição apesar de lembrar-se nitidamente do caçador.

MORAL: O elefante tem realmente uma memória prodi­giosa, mas é um bicho muito filho da puta.

 

Com tanto astronauta, é normal que a Lua um dia fique cheia.

 

A guerra

Devido ao grande interesse que a guerra vem suscitando atra­vés dos tempos, observamos que muita gente fala realmente da guerra sem saber exatamente da sua história. Para esclarecer aos interessados, fizemos um pequeno levantamento que passamos a transcrever para melhor elucidação do assunto. A guerra foi inventada pouco antes da Idade Média por um obscuro filósofo da península Ibérica, Giovanni Guerra, e passou imediatamen­te a se chamar guerra em sua homenagem. A primeira vez que Giovanni Guerra demonstrou sua invenção para o rei Luigi, o Louco — assim chamado exatamente por causa da sua mania de ser rei, apesar de ser mulher e mãe de cinco filhos —, várias pessoas morreram e o rei ficou furioso, ordenando que Giovanni levasse aquela invenção para fora das fronteiras do seu reino. Estava assim criada a primeira guerra entre dois reinos, já que o rei vizinho, Giacommo, o Louro, um moreno teimosíssimo, tomou aquilo como uma ofensa pessoal e revidou.

Evidentemente, o "pequeno jogo da guerra", como Giovan­ni o chamava, foi-se aperfeiçoando pelos anos afora, e seu in­ventor jamais supôs que se iria aos requintes bélicos dos botões. Em síntese, quando começou eram apenas estes os requisitos para uma boa guerra:

1. Um inimigo — Sem um inimigo, dificilmente se fará uma boa guerra. As pessoas vão acabar simpatizando entre si sem atacar ninguém. A não ser que se trate de uma guerra civil, em que as pessoas, sem a menor cerimônia, se matam na sua pró­pria língua.

2. Raiva — Com raiva a guerra é feita muito mais facilmen­te, já que quem ganha a guerra é quem liquida o maior número possível de inimigos. Um dos dois lados em guerra sempre ga­nha e outro sempre perde. É praticamente impossível empatar uma guerra.

3. Armas — Sem elas as guerras não passam de vulgares es­caramuças. De preferência, as partes interessadas na luta devem usar armas do mesmo porte. Ex.: canhão contra canhão, cani­vete contra canivete. Nunca usar canivete contra canhão, senão a guerra acaba logo.

4. Espiões — Perfeitos para aumentar o período de duração das guerras. Devem sempre fornecer informações de um inimi­go para o outro. Já que dificilmente estas informações serão cor­retas, os conflitos ficarão por isso mesmo mais conflitados.

5. Roupa — Ultimo e mais importante requisito de todos. Sem roupas, as pessoas teriam que guerrear nuas, o que seria imediatamente considerado imoral, ficando a guerra proibida.

Por este pequeno apanhado sentimos imediatamente a ge­nialidade do inventor, homem sempre preocupado com seus se­melhantes, ou melhor, com a maneira de eliminá-los. Devido a seus esforços e ao sucesso que alcançou sua invenção, só resta pedir que concedam, a título póstumo, a Giovanni Guerra, o Prêmio Nobel da Paz.

 

Camargo e a voz

Conto nonsenssíssimo

 

Era um dia como qualquer outro. Camargo acordou, pu­lou da cama, tomou seu banho, vestiu-se e foi até a cozinha pre­parar seu café. Enquanto fazia sua primeira refeição lendo o jornal como todas as manhãs, ouviu a voz pela primeira vez. Era uma voz nítida e profunda:

—  Camargo! É hoje, Camargo!

Camargo levantou os olhos do jornal e olhou em volta pa­ra ver quem falava. Com espanto verificou que não havia mais ninguém junto dele. A voz repetiu:

—  Escuta, Camargo! Quem te fala é a voz da Fortuna! Le­vanta e vem comigo!

Apesar de nervoso, Camargo obedeceu. Vestiu o paletó e saiu em direção à porta. Tremia de emoção.

—  Camargo! Vamos até uma loja de bilhetes de loteria! Es­cuta a voz da Fortuna, Camargo!

Camargo não cabia em si de excitação. Quase corria. Dois quarteirões adiante avistou a loja. Quando ia entrando a voz falou:

—  Não, Camargo! A loja não é essa! Continua correndo, Camargo! Escuta a voz da Fortuna!

Camargo seguiu, correndo, quase sem fôlego, cada vez mais nervoso. Três ruas mais longe, outra loja. Camargo, na corri­da, passa sem ver. A voz avisa:

—  Pára, Camargo! É aqui! Entra, pede as três séries daque­le bilhete que está na vitrine. O número 45736. Vai Camargo!

—  Mas pra comprar o bilhete inteiro eu vou ficar sem um tostão até o fim do mês!

—  Não seja ridículo, Camargo! É a voz da Fortuna quem te fala!

Camargo juntou tudo o que tinha no bolso e comprou o 45736.

—  Agora vai pra casa, Camargo, e espera o resultado hoje a tarde. Você não deve falar com ninguém antes do resultado! Quem te fala é a voz da Fortuna!

—  Mas se eu não for trabalhar vou perder o emprego! — disse Camargo.

—  Não seja imbecil, Camargo! É a voz. da Fortuna! Vai, se­gue teu destino!

Camargo, febril, voltou para casa. Ligou o rádio e ficou à espera do resultado, mal se contendo de alegria. Finalmente che­gou a hora. Pausadamente o locutor anunciou o primeiro prê­mio: "09218".

Antes de desmaiar horrorizado, Camargo ainda ouviu a voz da Fortuna dizendo desolada:

—  Porra, Camargo, perdemos. . .

 

Perdeu a memória e não conseguia se lembrar onde.

 

No mundo moderno é realmente difícil viver sem levar em conta a fascinante ciência das estatísticas. Cada vez mais estuda-se a fundo esta extraordinária possibilidade e ficamos mais fascinados ainda quando descobrimos por exemplo que

As estatísticas provam que:

Morreram mais pessoas na Primeira Guerra Mundial do que ontem.

Toda gasolina consumida entre os anos de 1953 e 1958 era combustível.

Se todos os japoneses se colocassem simetricamente, um atrás do outro, com um intervalo de sessenta centímetros entre ca­da um, formariam uma fila indiana.

Daqui a dois dias, em todo o planeta, terão se passado mais 48 horas.

Chove muito mais num só período de chuvas do que em no­ve períodos de seca.

Se toda a produção de arame farpado do mundo nos últimos cinco anos fosse juntada num único bloco, não se teria onde guardar.

Cem por cento dos homens solteiros de 25 anos de idade nun­ca foram casados.

De cada 237 automóveis que passam por um cruzamento, to­dos andam.

Para cada cachorro-quente vendido a mais existe uma salsi­cha a menos.

Uma pesquisa feita entre os fumantes mostrou que antes do advento do filtro os cigarros podiam ser acesos dos dois lados.

 

Se aquele pintor tivesse vivido mais dez anos, teria gozado a fama da sua posteridade.

 

É fato conhecido que geralmente todo brasileiro é um médico em potencial.

Para cada doença, há cinco vizinhos com cinco tratamentos diferentes, todos eles melhores do que o que o clínico re­ceitou.

Para evitar que essa curiosa mania chegue a prejudicar alguém, criamos esta modesta coluna para informar ao leigo coisas que ele precisa fazer o possível para não aprender, a fim de não piorar o estado do paciente.

O que você não deve saber de medicina

Nunca aprenda a aplicar injeção na veia — Não apren­dendo, você não corre o risco de confundir tratamento endovenoso com venenoso, liquidando seu amigo na primeira aplicação.

Não conheça remédios cuja bula passe de cinco centíme­tros — Dificilmente você conseguirá, com toda a honestidade, entender mais de cinco centímetros de bula. A partir dos cin­co, você começa a confundir antibiótico com biotônico. Nesse instante o amigo doente começa a correr risco de vida. No en­tanto é provável que um ser humano resista a qualquer remé­dio que não necessite de mais de cinco centímetros para explicar-se.

Se alguém desmaiar por perto, cale a boca — É o modo mais eficaz de evitar um palpite que pode fazer com que alguém, saindo à procura de "amônia", volte com um remédio contra "insônia". Isto só faria com que o desmaiado dormisse mais ainda.

Não queira entender de pressão — Ninguém é pneu de automóvel, cuja calibragem pode ser feita com facilidade. Se uma pessoa lhe disser que tem uma pressão de 5 por 9, resista à ten­tação de dizer que é ótima mas que podia ser melhor. Talvez o remédio sensacional que o seu primo lhe trouxe da Europa seja para baixar a pressão e que a pessoa necessite exatamente do contrário.

Sobre fraturas, nada — Esta é provavelmente a mais tenta­dora e arriscada parte da medicina que você não deve saber. Pou­ca gente resiste a dar um palpite sobre uma entorse ou fratura ou fissura ou ruptura. Geralmente, dizem que a fratura foi só uma torcida e insistem em fazer uma fricção. Ora, nada dói tanto quanto uma massagem num pé quebrado.

 

Horóscopo

Não perca o novo zodíaco. Agora você sabe com certeza que seu signo não mente. Por este método moderno, todos os outros horóscopos ficam supe­rados.

Hospital

As pessoas nascidas em hospitais são geralmente muito sa­dias, não tendo predisposição para doenças. Gostam de médi­cos e dão ótimos farmacêuticos. Cor favorável: branco-"azulejo".

Leito

Aqueles que nascem em leito são muito preguiçosos. Não gostam de andar e passam a maior parte do dia dormindo. A maioria gosta de ler na cama. Cor favorável: preto-" azeviche".

Ônibus

Todos os que nascem em ônibus são muito agitados. Detes­tam aglomerações e desenvolvem facilmente uma tendência pa­ra a claustrofobia. São quase sempre fortes e sacudidos. Cor favorável: vermelho-"semáforo".

Avião

Os que nascem em avião andam sempre com muita pressa. Às vezes são aéreos e adoram andar com os cintos apertados. Nunca dão asas à imaginação. Cor favorável: azul-"céu".

Trem

Os desse grupo se dividem em duas categorias: os elétricos e os calorentos. Os elétricos sao facilmente chocáveis enquanto os calorentos não suportam banho turco. Cor favorável: cinza-"fuligem".

Navio

Todos os que nascem em navio gostam de dançar. São ágeis no bote e só andam a todo o vapor. Cor favorável: verde-"oceano".

Táxi

Os nascidos em táxi pensam muito em dinheiro. Colecio­nam relógios e são muito sociáveis, dando corda para todo mun­do. Detestam sair em dias de chuva. Cor favorável: cobre-''gorjeta".

Casa

Muita gente nasce em casa. São os mais sossegados. Dificil­mente saem e preferem receber visitas. Dão grandes decorado­res e muitas vezes vivem um quarto a mais do que os outros. Cor favorável: brique-"lareira".

Elevador

Talvez os mais difíceis são os deste signo. Sua vida tem al­tos e baixos. Temperamentais, enguiçam com quase todo mun­do. Não fumam e dificilmente saem com mais de cinco pessoas ao mesmo tempo. Cor favorável: verde-"sobe".

Campo

Quem nasce em campo precisa se tratar. Tais pessoas, apesar de férteis, são inconstantes. Num dia, secas, e no outro, cheias de calor. Quando querem, são terrivelmente frias. Cor favorá­vel: marrom-''arado".

Banheira

Os que nascem em banheira levam vida perigosa desde a mais tenra infância. Quando escapam, são muito limpas, mas se dão para beber vivem na água. Cor favorável: gelo-"sabonete".

Cadeia

As pessoas nascidas em cadeia prendem-se facilmente a qual­quer compromisso. Têm horários regulares e não gostam da vi­da ao ar livre. Quando dedicam-se ao judô conhecem logo todas as chaves. Cor favorável: amarelo-"sol quadrado".

 

As melhores coisas da vida não custam nada. Você só paga as embalagens.

 

A história de Joana e Quincas

Amores anônimos

 

Esta é a história de Joana, uma das mais desconhecidas lavadeiras na cidade. Ficou detestada por todas as suas freguesas, graças às nódoas que conseguia colocar nos mais limpos vestidos.

Um dia, quando Joana ia, como de costume, lavar sua rou­pa na praia, o que causava rasgos incríveis nos tecidos, já que água salgada não é para isso, encontrou Quincas, um não me­nos ignaro jardineiro. Quincas, com o ancinho na mão, farto de jardinagem, preparava-se para abandonar a floricultura e com seus parcos recursos comprar aquela praia deserta e lá ficar des­cansando. Quando viu Joana, porém, apaixonou-se.

Joana, mulher de grande expediente, tirou aquela idéia ma­luca da cabeça de Quincas e disse que, se ele continuasse a jardinar com seu ancinho e ela lavando roupa, os dois poderiam casar-se. O jardineiro convenceu-se e fez ele mesmo o buquê e o véu de grinaldas para sua amada.

Casaram-se e foram viver anonimamente em Brás de Pina, onde tiveram catorze filhos, todos jardineiros e lavadeiras. Só muitos anos mais tarde é que Quincas soube que a gleba de ter­ra que pretendia comprar à beira da praia era, na realidade, a futura Avenida Atlântica, em Copacabana. Durante anos ainda tentou refazer o negócio, mas o preço mudara.

 

Pequenos poemas alfandegários: (sem nada a declarar)

I

Está fazendo economia, o bichinho da goiaba. Já mudou-se no outro dia pra uma jabuticaba.

II

A mais perfeita maneira para ser sofisticado: o carrinho de ir à feira deverá ser importado.

III

Se um dia os agiotas negociassem piadas, os juros das anedotas seriam as gargalhadas.

IV

Olhou um "Van Gogh" belo e disse virando o rosto: "Que seria do amarelo, se não existisse o mau gosto?"

V

Todo dia, todo mês, como esforço de uma vida, o halterofilista fez um corpo sob medida.

VI

Flor carnívora e charmosa morde um dedo de repente Arranca e manda pra rosa dizendo: "Fale com gente".

 

Continho de terror

Era profundo como um poço, mas vazio.

O homem com orelhas de abano se aproximou do menino que voltava do colégio trazendo pela mão um macaquinho ves­tido de marinheiro:

—  Você não devia sair de casa com esse macaquinho. Está fazendo muito frio e é um bichinho muito frágil.

—  Todo dia eu levo ele pro colégio e nunca aconteceu na­da — disse o menino.

Meia hora depois que o menino chegou no seu apartamen­to o macaquinho começou a dar mostras de tristeza. Não quis comer. Uma semana depois lá se foi o macaquinho.

A senhora gorda correu para atravessar a rua sem olhar pa­ra o lado da contramão. Deu um esbarrão num homem parado na esquina, derrubando o embrulho de compras que acabara de fazer.

—  Desculpe. . .  — disse ela notando que o homem tinha umas orelhas de abano engraçadíssimas.

—  De nada. A senhora não deve atravessar sem olhar nas duas direções. É perigoso.

—  Mas essa rua é de mão única. Eu olhei na direção dos carros — explicou a gorda senhora enquanto o homem de ore­lhas de abano lhe ajudava a apanhar os embrulhos. — Depois, há quinze anos que eu atravesso aqui e nunca aconteceu nada.

—  Eu sei, mas pode vir um louco na contramão — respon­deu o homem enquanto se afastava, suas orelhas balançando ao vento da tarde.

A senhora gorda foi atropelada na próxima esquina. Por um carro que vinha justamente na contramão.

Os dois caixeiros-viajantes avançaram um pouco mais na fila de embarque, protegendo-se da chuva.

—  Eu pensei que você não tinha conseguido lugar — falou o primeiro.

—  E não tinha mesmo. Cheguei em cima da hora e já esta­va tudo lotado.

—  Então como é que você está embarcando?

—  Por acaso. Tem um cara, um desses apavorados, que re­solveu desistir da viagem e me vendeu a passagem dele. Disse que com o temporal, um ônibus velho como esse podia despen­car numa curva — contou o segundo, rindo do absurdo.

—  Puxa, que sorte! Quem foi o sujeito? — perguntou o amigo.

—  Aquele ali que está indo embora. Aquele de orelhas de abano.

 

Se alguém o chamar de cachorro, não ligue. Ladre.

 

Uma história idiota e cruel ou

O pior dos contos de Natal

(no estilo imbecil dos poemas débeis)

 

Não há pedidos mais extravagantes que aqueles feitos perto do Natal. Crianças mandam cartas vacilantes sempre com algum desejo original. O mais estranho de que se tem memória é o de um pretinho, menino de cor: tinha seis anos, é o que diz a história, sempre vividos com beleza e amor. Seu nome era João. Pois bem: um dia, o singular petiz senta-se a um banco e escre­ve o seu pedido com alegria: "Papai Noel, eu quero ficar bran­co". Ao ler a carta o pai desesperado não sabe o que dizer, grita de vez: "Ah, meigo infante pardo tanto amado! Como fazer pra trocar-te a tez?" A noite chega enfim, tão aguardada, e João con­tente, num rompante raro, vai cedo para a cama preparada com a certeza de acordar bem claro. Seu pai então não sabe o que fazer. Procura febrilmente, pensa em vão: "Como vou tal pro­blema resolver!" E de repente surge a solução. Percorre a casa em louco desatino, pega os espelhos todos com carinho e esconde-os longe para que o menino não veja ao despertar que ainda é pretinho. Eis que amanhece, é hora de acordar. Vivaz e lépido o gentil fedelho quer ver seu rosto, mal pode esperar! Pula da cama em busca de um espelho. Vasculha toda a casa procurando, um pensamento o assalta: "Que estranho! Por mais que eu busque, não estou achando nenhum espelho de qualquer tamanho". Lembra-se aí que a panificação, a padaria em frente onde ele mora, tem um espelho imenso no portão, e corre para a loja sem demora. Mas, ao cruzar a rua em disparada, não vê, coitado, um caminhão que vinha fazer a entrega, logo na alvo­rada, de um carregamento de farinha. As rodas passam sobre o corpo esguio e um dos sacos que era transportado se rompe e lança como um grande rio toda a farinha sobre o atropelado.

Agora João já é quase moribundo, mas mesmo assim levanta a cabecinha e lança ao espelho em frente um olhar profundo, já turvo pela morte que se avizinha. A farinha mudara-lhe o semblante: e, ao ver seu rosto branco qual papel, só exclama num sussurro agonizante: "Muito obrigado, meu Papai Noel!"

 

Você sabia que. . .

"Se tivessem juntado todos os charutos que Churchill fu­mou durante toda a sua vida numa caixa fechada à chave, ele não teria conseguido fumar nenhum.

O tempo que levaria para percorrer a distância que existe entre a Terra e Saturno é exatamente o dobro se contarmos com a volta.

As estatísticas provam que durante uma partida de futebol a bola é tocada todas as vezes que um dos jogadores consegue atingi-la.

Daqui a três bilhões de anos, todas as pessoas que habita­rem o planeta Terra estarão vivas.

Napoleão perdeu a batalha de Waterloo exclusivamente por­que a luta foi vencida pelos seus adversários. Alguns historia­dores afirmam que se tal fato não tivesse acontecido é bem provável que o resultado do combate fosse outro.

Somados todos os pneus que já foram utilizados no mundo chegaríamos a um total de cinco pneus por vez em cada auto­móvel, contando-se com o estepe.

O monte Everest, considerado o mais alto pico da Terra, é também o mais próximo de todos os montes que o cercam.

Se formássemos uma longa esteira com todos os envelopes produzidos anualmente, teríamos um imenso tapete de papel.

A velocidade máxima atingida até hoje pelo homem sobre a água é pelo menos maior do que a atingida cinco anos atrás.

O rei Luís XIV da França reinou durante todo o período em que esteve no trono. Apesar das controvérsias, consta que sua época foi situada entre os reinos de Luís X e Luís XV.

 

Tão distraído que contratou um detetive particular para sa­ber por onde andava.

 

Balada do hipocondríaco saudosista

Onde é que foram todas as doenças

Contagiosas, vírus soberanos

Que agora até parecem mais ser crenças

 

Bem esquecidas através dos anos.

É a verdade clara e persistente:

Hoje ninguém mais fica doente

Como então se ficava antigamente.

 

Por onde anda o tifo abrasador,

A tão violenta inflamação pneumônica,

A malária com todo o seu tremor

E a esquecidíssima peste bubônica.

Ficaram isoladas friamente:

Hoje, já ninguém mais fica doente

Como então se ficava antigamente.

 

Onde está agora a triste diphtéria

Causando o croup como inflamação,

Que molestava mais sendo bactéria

Do que o Krupp com K, sendo canhão.

Para não ver, só sendo inconsciente:

Hoje, já ninguém mais fica doente

Como então se ficava antigamente.

 

Adeus à choléra, à febre amarela,

O escorbuto também foi curado.

Só resta mesmo a pobre bagatela

De se pegar um simples resfriado.

Outrora, tinha charme um paciente:

Hoje, já ninguém mais fica doente

Como então se ficava antigamente.

 

O cemitério de elefantes é um lugar tão difícil de encontrar como um lugar onde se reúnem todos os motoristas de praça quando chove.

 

Que tempo?

Conto nonsenssíssimo

 

O professor de física olhou para seus alunos com aquele olhar típico de quem sabe do que está falando. Era um olhar que todos os rapazes da classe temiam e conheciam bem. Parecia o mesmo que os cowboys dão nos filmes de cinema antes de sacar seus revólveres. Podia-se ouvir uma mosca voando, mas todas as moscas estavam pousadas. O professor perguntou:

—  Muito bem. Asdrúbal, me responda: quanto tempo leva um litro de água para se evaporar se for aquecido por uma cha­ma de quinhentos graus centígrados? — Asdrúbal mexeu-se in­quieto na cadeira. Estava nervoso porque não sabia a resposta e também não se chamava Asdrúbal e sim Afonso. Mesmo as­sim arriscou:

—  Cinco minutos?

—  Não. Vai ganhar um zero que é para você aprender! Vo­cê Afonso, quanto tempo? — Afonso, que era na realidade As­drubal, também não sabia. Levou zero que era pra aprender. Assim continuou a sabatina de quinta-feira com o professor fa­zendo a terrível pergunta e os alunos tentando desesperadamente acertar: — Alfredo, quanto tempo?

—  Dois minutos e meio. . .   quem sabe até três. . . ?

—  Não. Zero que é pra você aprender!

—  Osvaldo, quanto tempo?

—  Um minuto?

—  Não! Macedo, quanto tempo?

—  Dois dias se não chover.

—  Não. Pereira! Quanto tempo?

—  Tô pouco ligando.

—  O quê?!

—  Tô pouco ligando.

Silêncio redobrado na classe. Como se fosse possível redo­brar um silêncio já completo. O professor aproximou-se lenta­mente de Pereira:

—  Quer dizer que o senhor está pouco ligando?

—  Tô. A água não é minha e não sou eu que paga a conta do gás. Por mim pode levar um ano.

—  Vai levar três zeros que é pra você aprender!! — vocife­rou o professor, que se era excelente em física era péssimo em matemática. Depois, enlouquecido de raiva, dirigiu sua apoca­líptica pergunta a toda a classe:

—  Alguém aqui sabe quanto tempo leva um litro de água para se evaporar se for aquecido por uma chama de quinhentos graus centígrados?!

_ ?

_ ?

_ ?

—  Muito bem!! Então ninguém sabe! Zero pra todos vocês que é pra vocês aprenderem!!! Agora abram seus cadernos e ano­tem a resposta certa!

Todos obedeceram humilhados e empunharam suas cane­tas para anotar a valiosa informação que sairia da boca daquele sábio. O professor respirou fundo e anunciou a resposta do problema:

—  Um litro de água, se for aquecido por uma chama de qui­nhentos graus, leva, para se evaporar, exatamente o tempo que for necessário!

 

Pode-se usar um transatlântico no Pacífico?

 

O teste do vinho

Teste

 

Cada vez torna-se mais difícil a boa bebida e a boa comida. A fim de melhor orientar quem resolve sair para um bom jan­tar e não quer correr o risco de errar, oferecemos hoje a opi­nião de um especialista que experimentará o seu conhecimento.

Quando fui convidado para apresentar pela primeira vez por escrito, aqui nesta página, o meu dificílimo "teste do vinho", a princípio recusei. Depois me explicaram que era pago e eu imediatamente aceitei.

Antes de mais nada é preciso que o leitor compreenda que o vinho se divide em duas categorias distintas:

1a. O BOM VINHO.

2a. O MAU VINHO.

Muitas vezes o bom vinho pode se transformar em mau vi­nho, mas raramente o inverso é verdadeiro.

 

Quatro antigas maneiras de se reconhecer um vinho:

 

a) Pelo gosto — O mais difícil e o mais certo. Pode-se tro­car uma garrafa mas nunca um paladar.

b) Pelo dia seguinte — Método também certo, porém mui­to demorado.

c) Pela azia — Geralmente quando se reconhece já é tarde demais.

d) Pelos olhos — Quando o bebedor lacrimeja ao primeiro gole, não é vinho, é vinagre.

 

Sensibilidade auditiva ou visual

A maneira infalível: pelo nome.

 

É evidente que se o provador não tiver experiência prévia, deve providenciar para que os rótulos não estejam trocados. Pas­semos agora ao TESTE propriamente dito, para ver se o leitor interessado tem sensibilidade auditiva ou visual para a identifi­cação do bom vinho.

 

Destes cinco nomes da lista qual o vinho ruim?

 

1)  ROMANÉ CONTI ......................................       de BOURGOGNE.

2)  CHATEAU PETRUS .................................     de BORDEAUX.

3)  CHATEAU D'YQUEN ...............................      BLANC.

4)  MAUBERGER NEIWEIR AUSLESE........    BLANC.

5)  GRACIOZINHO DA CASA ......................       de PIRITUBA.

 

 

(Texto invertido, ao pé da página):

Respostas: Se você girou lentamente a resposta, o vinho ruim é, sem dúvida, GRACIOZINHO DA CADA —  DE PIRITUBA, tanto que ainda não foi nem fabricado, pois ninguém teve tamanha audácia. Se, no entanto, na pressa de saber, você virou a página bruscamente, estragou todos os outros também. Um bom vinho nunca se agita e você desperdiçou quatro garrafas dos melhores vinhos do mundo.

 

Pequeno dicionário dos esportes

 

ALPINISMO: Brincar de bondinho do Pão de Açúcar sem bondinho.

BEISEBOL: Esporte onde muitos americanos são yankees e muitos brasileiros são japoneses.

BASQUETE: Cinco homens à procura de um cesto.

BOXE: Onde fica provado que dar é melhor do que receber.

CAÇA: Só deve ser praticada no dia do caçador.

CORRIDA DE CAVALO: Esporte onde os cavalos ganham e os burros perdem.

ESQUI: Utiliza-se neve, dois bastões, dois pedaços de madei­ra, uma boa colina e algumas fraturas.

FUTEBOL: Jogo composto de 22 jogadores, dois técnicos, uma bola, um campo, dois bandeirinhas, um árbitro e duas torcidas, que geralmente não simpatizam com a progenitora do árbitro.

PESCA: Um homem de um lado e um peixe do outro. Ge­ralmente os peixes têm o dom de crescer seis ou sete vezes de tamanho, do momento em que são pescados até a hora em que são descritos aos amigos.

REMO: Esporte em que o seu braço é a gasolina do barco.

TIRO AO ALVO: Forma dificílima de dedetização. Com uma bala, você tem que acertar na mosca.

XADREZ: O jogo predileto dos banqueiros. Sem o cheque não há o mate.

 

Só escrevia para seu pai em estilo telegráfico: S.O.S. S.O.S. S.O.S.

 

A raposa e as uvas

Uma contrafábula

 

Passava certo dia uma raposa perto de uma videira. Apesar de normalmente nunca se alimentar de uvas, pois se trata de um animal carnívoro e não vegetariano, sua atenção foi chama­da pela beleza dos cachos que reluziam ao sol. Fenômeno estra­nhíssimo, uma vez que, geralmente, toda fruta cultivada é revestida por uma fina camada protetora de inseticida e difi­cilmente pode refletir a luz solar com tal intensidade. Sendo curiosa e matreira, como toda raposa matreira e curiosa, aproximou-se para melhor observar a videira. Os cachos esta­vam colocados muito acima de sua cabeça, e o animal (sem in­sulto) não teve oportunidade de prová-los, mas, sendo grande conhecedor de frutas, bastou-lhe um olhar para perceber que as uvas não estavam maduras.

— Estão verdes — disse a raposa, deixando estupefatos dois coelhos que estavam ali perto e que nunca tinham visto uma raposa falar. Seu comentário foi ainda mais espantoso, uma vez que as uvas não eram do tipo moscatel e sim pequenininhas e pretas, podendo facilmente ser confundidas, à primeira vista, com jabuticabas. Note-se por este pequeno detalhe o profundo conhecimento que a raposa tinha de uvas, ao afirmar com con­vicção que apesar de pretas, elas eram verdes. Dito isto, afastou-se daquele local.

Horas depois, passa em frente à mesma videira outra Canis vulpes (nome mais sofisticado do mesmo bicho), mais alta do que a primeira. Sua cabeça alcança os cachos e ela os devora avi­damente.

No dia seguinte ao frutífero festim, o pobre bicho acorda

com lancinantes dores estomacais. Seu veterinário, chamado ime­diatamente, diagnostica uma intoxicação provocada por farta ingestão de uvas verdes.

MORAL: Nem todas as raposas são despeitadas.

 

Especializou-se em generalidades.

 

Está certo. Ser mãe é padecer num paraíso.

Mas e ser pai? Hoje em dia, o que é ser pai?

Ser pai

Ser pai é sustentar filhos e filhas, pagar colégio, roupa e condução, tratar também da mãe das maravilhas, ter paciência e ter compreensão.

E conservar o riso com que brilhas se um dos meninos pega o teu fuscão, ataca de piloto das mil milhas e estoura o carro numa contramão.

E não pensar em noites de vigílias. Se é freqüentada a boate onde eles vão por meninos maus de boas famílias e boas meninas, mas "família" não.

E enfim sentir a vida começar de novo neles como num resumo do que fizeste antes de casar.

Ou então se acaso tomam outro rumo, é ter em casa um hippie e te acusar de PAI DE SOCIEDADE DE CONSUMO.

 

Daqui a muitos anos, quando a conquista do espaço for coisa de rotina e qualquer homem ou mulher puder embar­car numa espaçonave em direção a outros planetas e mesmo outros sistemas solares, quando a primeira viagem à Lua for lembrada apenas vagamente nos cadernos escolares, talvez surja um novo livro surpreendendo o mundo:

"Eram os astronautas deuses?"

Tudo leva a crer, segundo estudos feitos nos primórdios, na muito primitiva época da conquista da Lua, que esta foi feita por indivíduos chamados de astronautas. Por estranho que pa­reça, estes viajantes eram considerados como verdadeiros deu­ses. Buscas e escavações feitas agora, no século XXX, provam sem sombra de dúvidas que o homem daqueles tempos, quase pré-históricos do século XX, tratava o astronauta — nome que era dado ao piloto comum de espaçonave — como uma espécie de deus. Eis o que revelou a nossa pesquisa, baseada em docu­mentos e fotos da época:

1)  Os chamados astronautas usavam uma roupa especial, cheia de oxigênio, feita certamente para que eles tivessem o pri­vilégio de não respirar o ar poluído da Lua.

2) Cada um deles trabalhava no máximo uma vez por ano e recebia oferendas altíssimas em dinheiro (algo de muito valor que existia na época), depositado todos os meses em um local de sacrifícios chamado "conta bancária".

3) Toda vez que voltavam de uma viagem eram contempla­dos e isolados por seus inferiores durante quarenta dias, sem que ninguém pudesse colocar-lhes a mão em cima nesse período.

4) Depois eram ovacionados em desfiles, em carros abertos, onde iam em pé, recebendo uma chuva de papel picado. (De onde surgia tanta quantidade de papel, não se sabe hoje ao cer­to, mas parece que provinha de um livro fartamente distribuí­do na época, chamado Lista telefônica.)

5) Finalmente, milhões de pessoas contribuíam para que os astronautas fizessem suas viagens (naquela época, custaram muito mais do que as famosas pirâmides do Egito). Mesmo as­sim, eles largavam sempre suas cápsulas voadoras no mar, mos­trando desta forma total desprezo pelos bens materiais.

 

Tão insignificante que seu nome era Pssiu.

 

A história do macarrão

Cultura culinária

 

O macarrão foi trazido da China por Marco Polo, famoso viajante italiano, assim chamado por sua mania de marcar os pólos cada vez que passava por eles em suas constantes andan­ças através do mundo. Alguns historiadores insistem em dizer que o seu nome, Polo, deve-se a sua origem polonesa por parte de avós, mas a verdade é que quando Marco Polo nasceu, a Po­lônia ainda não tinha sido inventada.

Ao chegar à China, Marco Polo observou uma estranha planta de forma longilínea, que crescia perto das famosas mura­lhas. Estando com fome e sendo exímio cozinheiro, o viajante arrancou alguns pés do que os chineses já chamavam de ma-ca-lon e tratou de prepará-los.

O resultado foi surpreendente. Marco Polo tinha feito a primei­ra macarronada da história. Os chineses ficaram espantadíssimos, pois até então só utilizavam o macarrão para a fabricação da pólvora.

Como prova de gratidão, o imperador Kublay khan deixou que Marco Polo levasse algumas sementes de macarrão com ele de volta para a Itália. Chegando a Roma, Marco Polo tratou de cultivá-las, enriquecendo com as maiores plantações de macarrão daquela cida­de. Aproveitando seus dotes de agricultor, Marco Polo começou a fazer experiências e enxertos com a semente de macarrão e conse­guiu assim uma série de variações da planta: espaguete, talharim, etc.

Marco Polo morreu aos 95 anos de idade, logo após sua pri­meira bem-sucedida colheita de lasanha. Tamanha foi a reper­cussão do seu sucesso que todas as transações comerciais bem realizadas passaram a ser chamadas de Negócio da China.

 

Se um cão bater à tua porta, não abras. Não é um cão, que cão não bate.

 

Mais um índio em Wounded Knee: Tonto e Zorro em atrito

Do nosso correspondente: — A situação em Wounded Knee parece agravar-se com a chegada do famoso índio Tonto, antes considerado por seus irmãos de sangue como "vendido ao do­mínio do homem branco". Ao que parece, Tonto teve um de­sentendimento com Zorro a respeito do cavalo do herói, Silver, quando descobriu que o animal ganhava mais do que ele. Ouvi­do em primeira mão pela nossa reportagem, Zorro declarou:

Zorro — Não devo satisfações a ninguém de quanto pago a Tonto, ou ao meu cavalo. É difícil como nunca trabalhar ho­je em dia nas histórias em quadrinhos e nas edições a cores. Sil­ver usa muito mais tinta e ocupa mais espaço. Logo, nada mais justo que ele receba também mais por sua atuação. Quanto a melhorar o salário de Tonto, infelizmente é impossível. Não é fácil equilibrar um orçamento quando só se atira com balas de prata.

O não menos conhecido índio Tonto também teve sua pa­lavra a dizer:

Tonto — Em primeiro lugar devo dizer que meus motivos nesta separação não têm nada a ver com problemas de ordem financeira. Não sou um mercenário e pouco me importa que um reles cavalo ganhe mais do que eu. A verdadeira razão para o meu ato é que finalmente tomei consciência que sou e serei sempre um índio. Além do mais faço parte dos sioux-oglala. Não tenho queixas do Zorro, apesar de achar que um homem com quem se trabalhou tantos anos, e que nunca tenha se dignado a tirar a máscara na nossa frente não merece confiança. Reto­mo o meu nome original de guerreiro: Relâmpago Doente. Ton­to é invenção dos brancos. Um índio Tonto é um indiota.

 

CHEGADA INESPERADA DE TONTO CAUSA IMENSA PREOCU­PAÇÃO EM WOUNDED KNEE.

 

Do nosso correspondente: Os índios de Wounded Knee não sabem o que fazer com seu mais recente aliado, o índio Tonto, que sempre foi objeto de desprezo por parte de toda a nação Sioux. Fica o dilema: receber Tonto de volta e passar por cima de todos os anos em que ele passou com Zorro, inclusive perse­guindo índios, ou expulsá-lo da região como indesejável, o que poderia trazer a antipatia de todos os fãs do renomado nativo?

 

Todos os tesouros da Terra não valem nada quando não são nossos.

 

Estaria você à beira do esgotamento nervoso sem o saber?

Cuidado!

Está provado que o nervosismo é um dos maiores perigos

da vida moderna.

Logo, se você é moderno, faça já o seu

Teste de nervos

Ao ouvir um disco do Waldick Soriano quinze vezes se­guidas

1.  (     ) Você escuta mais uma vez.

2.  (     ) Você desmaia.

3.  (     ) Você sorri.

 

Ao querer subir com pressa para o 25? andar de um prédio você verifica que o elevador acaba de começar sua lenta subida para o alto

1.  (     ) Você vai pela escada.

2.  (     ) Você dá um murro na campainha.

3.  (     ) Você sorri.

Ao ficar sem gasolina no meio da rua à meia-noite e longe de um posto

1.  (     ) Você vai assobiando buscar gasolina no posto que fica a uns três quilômetros.

2.  (     ) Você chuta o carro.

3.  (     ) Você sorri.

 

Ao chegar na bilheteria do teatro sábado à noite e verificar que não tem mais ingresso

1.  (     ) Você compra para o dia seguinte.

2.  (     ) Você diz que é desorganização.

3.  (     ) Você sorri.

 

Ao comprar uma TV em cores e percebendo que ela não pega nenhuma

1.  (     ) Você espera 28 dias até que a equipe de manutenção venha.

2.  (     ) Você destrata a sua mulher, que teve a idéia de comprar.

3.  (     ) Você sorri.

 

 

Resposta ao teste

Se você teve paciência para responder às perguntas imbecis deste teste, já é um bom sinal.

Se você, além disso, respondeu (1) a todas as perguntas, na­da neste mundo fará com que você tenha um esgotamento nervoso.

Se você respondeu (2) a todas as perguntas deste teste, você está a um passo do esgotamento nervoso. Só que um passo à frente.

Se você respondeu (3) a todas as perguntas, há muito que seu cérebro não resiste à faina do cotidiano e você já está em estado catatônico, sem saber.

 

Da difícil arte de redigir um telegrama

Uma coisa é incontestável: a linguagem telegráfica só sur­giu depois do telegrama. Nunca ninguém escreveu uma carta assim: "Viagem boa. Nós bem. Tempo maravilha. Beijos fula­no". O "Beijosfulano" numa palavra só é um expediente para economizar no telegrama. Não. Quando as pessoas só escreviam cartas e não havia crise de papel, o negócio era escrever laudas e laudas. Quanto mais páginas tinha uma carta, mais bonita era. Inventaram até o P.S., que é uma maneira de se escrever uma carta depois da carta.

Depois veio Morse, com seus traços e pontos, e todo mun­do teve que se virar para escrever mais coisas em menos pala­vras. Fica aqui uma pergunta: o que será que Morse inventou primeiro? O telégrafo ou o código Morse? Das duas uma; ou ele inventou a telegrafia e depois quebrou a cabeça até achar um alfabeto que se prestasse para sinalizar palavras ou então criou um dia o código, assim de brincadeira, e depois ficou pen­sando: "Como é que eu posso transformar isto aqui num troço útil?" E aí bolou o telégrafo.

Seja como for, com ele surgiu o estilo telegráfico, muito usa­do hoje em dia não só nos telegramas mas também nos recados e até nos lembretes que às vezes nós deixamos para nós mes­mos: "Dar banho no cachorro", "passar banco pegar dinhei­ro", "cancelar dentista", etc.

Os telegramas devem ser curtos, não só por causa do preço mas também para poupar o telegrafista que fica o dia inteiro sentado, batendo monotonamente numa única tecla. Um tele­grafista é como um pianista que só tocasse o samba de uma no­ta só a noite inteira. Além disso, o telegrama tem seus próprios códigos dentro do código Morse. Por exemplo: ponto é escrito ponto mesmo, por extenso, porque se o telegrafista em vez de escrever ponto, sinalizar apenas um ponto, estará escrevendo a letra "E". Viram como é simples? Quanto à vírgula, nem se fala. Ninguém manda vírgula por telegrama.

Resumindo: o estilo telegráfico deve ser sucinto, claro, rápido e preciso, qualquer que seja o motivo pelo qual o te­legrama é mandado. Há uma história famosa a respeito de uns parentes que tinham que comunicar por telegrama, a uma senhora que estava viajando, o falecimento de uma irmã. Reu­niram-se em volta de uma mesa e toca a escrever. Primeiro foi o primo quem redigiu a nota. Depois de alguns minutos mos­trou o resultado do seu trabalho: INTERROMPA VIAGEM E VOL­TE CORRENDO. TUA IRMÃ MORREU. Todos leram, e um dos tios fez o seguinte comentário:

—  Eu acho que não está bom. Afinal de contas, vocês sa­bem que ela é cardíaca, está viajando e um telegrama assim po­de ser um choque. — Todos concordaram, inclusive um outro primo afastado que era meio sovina e achou o telegrama muito longo.

—  Depois, com o preço que se paga por palavra, isso não é mais um telegrama, é um "telegrana".

Ninguém riu do infame trocadilho, mesmo porque velório não é lugar para gargalhadas. Foi a vez do cunhado tentar redi­gir uma forma mais amena, que não assustasse a senhora em passeio. Sentou-se e escreveu: INTERROMPA VIAGEM E VOLTE CORRENDO. TUA IRMÃ PASSANDO MUITO MAL. Novamente o telegrama não foi aprovado. Um irmão psicólogo observou:

—  Não sejamos infantis. Se ela está viajando pela Europa e recebe esta notícia, não vai acreditar na história de "passando muito mal". Sobretudo com "volte correndo" no meio.

—  Também concordo — falou o primo afastado, sempre pensando no custo. Então o genro aproximou-se.

—  Acho que tenho a forma ideal. Pegou o bloco e rabiscou rapidamente: INTERROMPA VIAGEM E VOLTE DEVAGAR. TUA IR­MÃ PASSANDO MAIS OU MENOS. Todos examinaram atentamente o telegrama. A filha reclamou:

—  Vocês acham que mamãe é boba? Se a gente escrever que a titia está passando mais ou menos e que ela pode voltar deva­gar, ela já vai adivinhar que todas estas precauções são pelo fato de ela ser cardíaca e que na realidade a irmã dela morreu!

—  Concordo plenamente — disse o facultativo da família, que era também sobrinho da senhora em questão. Resolveu, como médico, escrever o telegrama. PACIENTE FORA DE PERIGO. VOLTE ASSIM QUE PUDER. PACIENTE TUA IRMÃ.

De todas as fórmulas até então apresentadas, esta foi a que causou mais revolta.

—  Que troço imbecil! — gritou o netinho, que passava pe­la sala no momento em que a mensagem era lida. Puseram o menino para fora da sala, mas no íntimo a família concordava com ele.

—  Não, isso não. Se a gente mandar dizer que ela está fora de perigo, para que vamos pedir que ela interrompa a viagem? — argumentou o tio.

—  Também acho — responderam todos num coro de apro­vação. O filho mais velho resolveu tentar. Pensou bem, ponde­rou, sentou-se, molhou a ponta do lápis na língua e caprichou: SE POSSÍVEL VOLTE. TUA IRMÃ SAUDOSA PASSANDO QUASE MAL. POR FAVOR ACREDITE. CUIDADO CORAÇÃO. VENHA LOGO. SAU­DADES SURPRESA.

—  Realmente, esse bate todos os recordes! — disse uma no­ra professora. — Em primeiro lugar, não é "se possível", ela tem que voltar mesmo. Em segundo lugar, "saudosa" tem du­plo sentido. Em terceiro lugar, ninguém passa "quase mal". Ou passa mal ou bem. "Quase mal" e "quase bem" é a mesma coi­sa. "Por favor, acredite", é um insulto à família toda. Ninguém aqui é mentiroso. Depois, "cuidado coração" não fica claro. Co­mo telegrama não tem vírgula, ela pode pensar que a gente está dizendo "cuidado, coração", já que a palavra coração também é usada como uma forma carinhosa de chamar os outros. Por exemplo: "oi, coração, tudo bem?" E finalmente a palavra "sur­presa" no telegrama chega a ser um requinte de crueldade. Qual é a surpresa que ela pode esperar?

—  Ela pode pensar que a titia está esperando neném — fa­lou um sobrinho.

—  Aos noventa anos de idade?

Abandonaram a idéia rapidamente. Seguiu-se um longo pe­ríodo de silêncio em que a família andava de lá para cá, pensan­do numa solução. Pela primeira vez estavam se dando conta de que não era tão fácil assim mandar um telegrama. Serviu-se o costumeiro cafezinho, enquanto cada qual do seu lado procura­va uma maneira de escrever para a senhora em viagem sem que isso tivesse conseqüências desastrosas. De repente o irmão psi­cólogo explodiu num grito heurekiano de descoberta:

—  Achei!!

Escreveu febrilmente no papel. O telegrama passou de mão em mão e foi finalmente aprovado por todo mundo. Seu texto dizia:

SIGA VIAGEM DIVIRTA-SE. TUA IRMÃ ESTÁ ÓTIMA.

 

O enterro do mau-caráter foi muito concorrido. Todos que­riam saber se ele tinha morrido mesmo.

 

Dietomania

Segundo a definição do dicionário, a gordura é uma subs­tância animal untuosa e de pouca consistência, que se derrete facilmente. Bem se vê que o ilustre Sr. Cândido de Figueiredo, autor do dito dicionário, nunca teve problemas de obesidade, já que uma das coisas mais difíceis de se derreter é exatamente a gordura.

O mais impressionante é o interesse que hoje em dia todo mundo tem em perder peso. Posso falar tranqüilamente no as­sunto porque, no frigir dos ovos, já cheguei a perder mais de oitenta quilos. Depois engordei uns quilinhos para ficar viçoso e fofo, mas mesmo assim tenho agora praticamente a metade do peso que tinha há alguns anos atrás. Por isso é que muita gente vem sempre me falar de dietas e de maneiras para se ema­grecer. O que mais chama a minha atenção é que não é apenas o gordo que quer emagrecer. Hoje em dia até o magro quer per­der uns quilos. No caso das mulheres então, é uma loucura. Che­guei a ver perfeitas manequins querendo saber como fazer para ficar mais magras. Ninguém está satisfeito com o que pesa, e os regimes deixaram de ser um privilégio dos gordos. Ao con­trário, existem muito mais pessoas magras fazendo regime do que gordas. Virou moda. A dietomania tomou conta do mun­do. Cada um tem sempre um sistema que é o infalível para ema­grecer. Vejam algumas das dietas que existem por aí:

 

1) O jejum — O interessado se interna numa clínica qual­quer especializada e passa vários dias sem comer. Alimenta-se exclusivamente de líquidos: um suco de manhã, outro no al-

moço e outro no jantar. Nesse tipo de dieta sente-se fome. Muita fome. Tem outro inconveniente: não pode ser feita a longo prazo ou a pessoa morre.

 

2) A galinha e o ovo — A pessoa que fizer esta dieta só po­de comer uma galinha e dois ovos por dia. Meia galinha e um ovo no almoço, meia galinha e outro ovo no jantar. Esta dieta poderia também ser chamada de ALIMENTAÇÃO DO ETERNO RETORNO, uma vez que o ovo sai da galinha e vice-versa.

 

3)  O regime das maçãs — Ótimo para quem gosta de ma­çãs. Nesta modalidade, o sujeito pode comer quantas maçãs qui­ser, ou puder, durante o dia. Vinte, trinta, quarenta, não importa quantas. A primeira vista, para quem gosta de fruta, a dieta pa­rece um sonho. Puro golpe psicológico: dificilmente alguém con­segue comer mais de seis maçãs por dia, por mais que varie na apresentação: assada, morna, ao ponto, verde, madura, gelada, congelada.

 

4) Oito bananas por dia durante uma semana — Tem certas dietas que são dose pra leão. Essa é dose pra macaco. Só tem realmente uma vantagem. A pessoa come durante uma semana, mas fica com gosto e cheiro de banana durante vários meses.

 

5) Grelhados e alface — A mais monótona das dietas. A pes­soa emagrece, não tanto pelo que come, mas pelo que deixa de comer. Depois de três dias na base do grelhado sem gordura e da folha de alface com sal e limão, o sujeito não consegue mais ver esse tipo de comida na frente e acaba não comendo nada.

 

É interessante ver adeptos desta ou daquela dieta conver­sando, cada um querendo convencer o outro de que a sua é que é a melhor. O fato verdadeiro, porém, é que só existe uma coi­sa que realmente engorda: COMIDA.

 

Uma coisa é preciso que se diga em favor dos gordos: eles são muito mais facilmente identificáveis. Com todo mundo fa­zendo tanta dieta, vai haver uma padronização de corpos. Já o gordo, é reconhecido de longe.

Eu me lembro de um episódio acontecido comigo em Ge­nebra, na Suíça, no ano de 1968. Na época eu pesava 160 qui­los. Comprei um relógio numa loja e para não pagar as taxas, já que eu ia viajar, ficaram de me entregar a compra no aero­porto, pouco antes de eu embarcar. Como eu não sabia ainda o dia e a hora, fiquei de telefonar na véspera, dando o horário. O funcionário da relojoaria disse que EVIDENTEMENTE não te­ria problema em me achar no aeroporto para entregar o em­brulho. Era fácil me identificar.

Três dias se passaram e finalmente chegou a hora de avisar ao homem da loja que no dia seguinte eu embarcaria para o Bra­sil. Telefonei procurando por ele:

—  Eu queria falar com M. Frossard.

—  Monsieur Frossard não está. Quem deseja falar?

—  Aqui fala M. Soares. Eu comprei um relógio aí há uns três dias e M. Frossard ficou de me entregar no aeroporto, por causa das taxas. Eu embarco amanhã às 5 horas da tar­de.

—  Ah, pois não, M. Soares. Meu nome é Delormes. Eu não estava aqui quando o senhor fez a sua compra mas M. Frossard me avisou que o senhor ia telefonar. Sou eu quem vai lhe levar o relógio. Como eu não o conheço, me diga, como é que eu faço para identificá-lo no aeroporto?

O óbvio seria dizer para ele que entregasse o embrulho pa­ra a pessoa mais gorda que encontrasse no balcão da companhia aérea, mas não sei por quê, um certo pudor me fez dizer com discrição:

—  É fácil, M. Delormes. Eu vou estar vestido com uma calça cinza clara, gravata listrada vermelha e prateada, camisa branca e blazer preto. Além disso, uma revista Paris-Match embaixo do braço.

—  Ótimo! Para que o senhor também me reconheça logo, eu vou lhe fazer uma descrição minha. Estarei de terno mar­rom listrado, camisa marrom em tom mais claro, gravata verde-escura e sapatos de camurça marrom-escuro. Ah! na mão direi­ta levarei um embrulho de papel dourado que é o seu relógio. Até amanhã às 5, M. Soares. — Desliguei o telefone e fui tratar de fazer as malas sem pensar mais no assunto.

Na tarde seguinte, às cinco para as cinco, eu estava encosta­do no balcão da companhia de aviação esperando o tal do M. Delormes e o meu relógio. Eu vestia exatamente a roupa que descrevera pelo telefone e trazia a revista embaixo do braço. Às cinco horas em ponto, olhei para a porta do aeroporto e vi M. Delormes chegando, vestido como ele dissera e com o embru­lho na mão. Assim que nos olhamos não pudemos deixar de sorrir um para o outro, pensando que realmente havia uma ma­neira bem mais simples de identificar entre nós, se não tivésse­mos sido tão discretos: eu, por causa dos meus cento e sessenta quilos e ele, porque não tinha a orelha esquerda.

 

"Vá ver se estou na esquina", disse o mágico. Foram, e ele estava.

 

Fábula da cidade grande

Fábula

O lobo e o cordeiro

 

Um pequeno cordeiro bem desavisado bebia água numa bi­ca, calmo e relaxado.

Um lobo aparecendo, não se sabe donde, já que numa cida­de lobo não se esconde, a fim de devorar o cordeirinho amável, foi logo dizendo num tom desagradável:

—  Porco, você está pondo a boca na torneira e isso para mim é uma tremenda sujeira. Depois eu estou a fim de beber desta água. Falo isso no duro, sem raiva e sem mágoa. — Foi a vez de o cordeiro acanhado dizer:

—  Seu lobo, eu não estou pondo a boca pra beber e mesmo que assim fosse, como o senhor pensa, informo que não tenho nenhuma doença.

—  Pode ser — disse o lobo. — Mas ontem no morro, teu pai disse que eu era um lobo cachorro.

—  O senhor se enganou — disse o outro assustado. — O meu pai faleceu já no ano passado.

—  Então foi tua mãe — disse o lobo gritando, e o cordeiro falou quase desculpando:

—  Eu garanto. Mamãe? E impossível, coitada. Teve enfar­te e morreu quando foi tosquiada. — Respondeu o tal lobo sem titubear:

—  Bom, não interessa! Só sei que vou te jantar!

Pegou o cordeirinho nervoso e aflito, preparou pro jantar e comeu ele frito.

MORAL: Mesmo nas mais agitadas megalópoles, onde às vezes falta água, o lobo come o cordeirinho.

 

O livro tinha princípio, meio e fim. Mas não nesta ordem.

 

Fábula

Não pensem vocês que as fábulas de La Fontaine são apenas de La Fontaine!

O corvo tchecoslovaco e a raposa tchecoslovaca

Parece que na Tchecoslováquia um famoso intelectual anô­nimo resolveu adaptar para o tchecoslovaco a famosa fábula O corvo e a raposa. Dizem que ficou mais ou menos assim:

(Qualquer semelhança com animais não-tchecoslovacos é mera coincidência ou torpe propaganda imperialista!)

Corvo tchecoslovaco estava em árvore linda tchecoslovaca,

Com queijo tchecoslovaco no bico tchecoslovaco.

De repente, chega raposa tchecoslovaca e diz:

"Bom dia, camarada corvo tchecoslovaco; como você é

bonito!

Se você cantar lindas czardas, você é maravilhoso!"

Corvo tchecoslovaco, muito mais inteligente que corvo

Capitalista francês, põe queijo tchecoslovaco

Embaixo de asa tchecoslovaca e canta.

Então raposa tchecoslovaca diz: "Bravo! bravo! agora mexe

asa!"

Corvo tchecoslovaco põe de novo queijo tchecoslovaco

No bico tchecoslovaco e mexe asa.

Então, raposa tchecoslovaca diz: "Bravo! bravo! escuta,

Camarada corvo tchecoslovaco, sem querer mudar de

assunto,

Você sabia que sua mulher está dando para o ministro de

Relações Exteriores da URSS?"

Corvo tchecoslovaco abre boca de espanto, queijo cai,

Raposa tchecoslovaca come.

 

MORAL: Mesmo que sua mulher dê para o ministro de Rela­ções Exteriores da URSS, mantenha a boca fechada!

 

A coincidência é uma coisa tão incrível que nunca pode ser mera.

 

O noticiário impossível que o árbitro de futebol sonhou

Sua Excelência apitou com perfeição

Considerada impecável a atuação do árbitro durante o últi­mo Fla-Flu, sendo inclusive o mediador aplaudido unanimemen­te pelas duas torcidas na ocasião em que marcou o oitavo pênalti contra o Flamengo. A expulsão dos três atletas do Fluminense foi acolhida com uma chuva de rosas por parte dos tricolores.

 

Anulou com razão

Assim que o árbitro apitou anulando o gol que daria o cam­peonato ao Ceará, o centroavante autor do tento aproximou-se de Sua Senhoria e, ajoelhando-se com respeito, beijou-lhe a mão, enquanto dizia: "Talvez eu não estivesse impedido, mas tenho confiança no seu golpe de vista. Obrigado por ter me corrigi­do". Depois do jogo, a diretoria do clube que perdeu ofereceu um jantar regado a champanha, gesto que o simpático referee considerou esportivo.

 

Nenhuma culpa cabe ao juiz

Toda a crônica esportiva, bem como o público em geral, ficou de acordo quanto à maestria e imparcialidade do árbitro no último jogo de domingo, quando foram expulsos nada me­nos do que seis jogadores do Vasco, permitindo a vitória do Ola­ria, pela contagem de 5 a 0. Perdoável seu gesto confirmando quatro dos tentos aparentemente feitos em posição ilegal, já que Sua Senhoria estava de costas no momento dos lances.

 

Apito de ouro

Este foi o carinhoso apelido dado ao mediador da contenda Botafogo e Madureira, por ter permitido que o jogo transcor­resse sem nenhum aborrecimento para ele. Um espectador mal-educado, que teve a audácia de criticar um ligeiro deslize de Sua Senhoria, quando este prolongou distraidamente o jogo por mais vinte e três minutos, foi convidado a se retirar do estádio. Encontra-se nesse momento no Hospital das Clínicas Gerais, já que relutou um pouco em aceitar o convite.

 

Surpresa faz o árbitro chorar

As lágrimas rolaram pela face do árbitro quando ele foi sur­preendido pelo carinho que toda a torcida demonstrou depois do prélio entre Vasco e Flamengo, que terminou empatado gra­ças às suas sábias decisões e alijando inclusive os dois times do certame. Todos sem exceção, jogadores, diretores técnicos e tor­cidas, pediram que Sua Senhoria fizesse a volta olímpica, en­quanto cantavam em coro o Parabéns para você, numa singela homenagem ao Dia das Mães.

 

Tinha uma memória fotográfica. Só se lembrava de fotografias.

 

Teatro do absurdíssimo

 

Cenário: Mesa de restaurante.

Cena: Dois amigos sentados, doutor Doctor e senhor Monsieur. Ao fundo, gerente e garçom. Doutor Doctor — Garçom, a conta!

Garçom — (Aproximando-se.) Mas doutor! O senhor já pagou a conta.

Doutor Doctor — Não discuta. O freguês tem sempre a razão! Traga a conta que eu quero pagar. (Garçom afasta-se.)

Doutor Doctor — (Ao seu amigo, senhor Monsieur.) Esses gar­çons andam terríveis! (Garçom volta novamente com a conta.) Garçom — Aqui está, doutor.

Doutor Doctor — (Pagando.) Toma. Pode guardar o troco. Senhor Monsieur — Vamos embora.

Doutor Doctor — Vamos sim. Antes deixa só eu pagar a conta. (Chama.) Garçom!!

Garçom — (Aproximando-se.) Pois não, doutor. Doutor Doctor — A conta, por favor. Garçom — Mas doutor! O senhor já pagou duas vezes! Doutor Doctor — Você quer discutir comigo, é?! Seu malcriado! Traga logo a conta que eu quero pagar! Garçom — (Assustado.) Trago sim, doutor. Doutor Doctor — Eu não estou dizendo? Esse serviço anda péssimo.

(Garçom volta com a conta novamente.) Garçom — (Meio com medo.) Está aqui.

Doutor Doctor — (Pagando mais uma vez.) E não se esqueça de guardar o troco.

(Garçom vai se afastando, quando doutor Doctor chama-o de novo.)

Doutor Doctor — Ah, garçom. E não se esqueça de trazer a conta. Garçom — Por favor, doutor! O senhor já pagou mais de três vezes!!

Doutor Doctor — (Levanta-se e vai saindo furioso.) É um absur­do ter que discutir com este garçom! Nunca mais eu ponho os pés neste restaurante!!! (Sai.) Garçom — Mas eu não entendo. . .  (Confuso.) (Aproxima-se o gerente e pergunta.) Gerente — Afinal de contas, o que foi que houve? Senhor Monsieur — (Que continuou sentado.) Nada, não. É uma mania que o meu amigo tem de ficar pagando a conta. Toda vez que eu saio pra almoçar com ele é a mesma coisa. Quer pa­gar sempre. Mas agora pra mim chega. Hoje quem paga sou eu. Garçom, a conta!

 

Se mais depressa se pega um mentiroso do que um coxo, muito mais depressa ainda se pega um mentiroso coxo.

 

Notícias

 

O lado bom

O lado mau

Cientistas descobrem que existe vida em Marte.

Economistas afirmam que a vida lá é muito mais cara.

Nutricionistas declaram que a pesca pode alimentar com fartura noventa por cento da população terrestre.

As estatísticas provam que noventa por cento da huma­nidade têm horror a peixe.

Encontrada a maneira defini­tiva de acabar com o conges­tionamento do trânsito.

Fica terminantemente proi­bido o uso do automóvel.

Descoberta a ligação entre o homem e o macaco.

O   macaco   descende   do homem.

O Brasil já ganhou fácil a Co­pa do Mundo.

Em 1958, 1962 e 1970.

No final do filme, os espec­tadores aplaudiram de pé.

Todos os dois.

A renda per capita quadrupli­cou em três meses.

Constatou-se uma acentuada diminuição de capitais.

Beethoven foi executado com admirável maestria.

Depois do espetáculo, vários conhecedores   foram   recla­mar o corpo.

Inventaram a gasolina sin­tética.

É feita a base de petróleo.

Todas as nações decidem for­çar o desarmamento atô­mico.

Mesmo que para isso seja ne­cessária uma guerra nuclear.

 

O presente de Natal

Acho que esta talvez seja a melhor época do ano para falar do presente de Natal. Este é um tipo de presente que pode ser dado em qualquer época do ano mas que combina muito mais com o mês de dezembro, mais propriamente no dia de Natal. O mais importante no presente de Natal é comprá-lo. Depois, encontrar uma pessoa a quem dar o presente assim adquirido. Outro método que surte grande efeito é oferecer aos seus ami­gos este ano o que você ganhou no ano passado. Cuidado para não confundir e devolver o mesmo que a pessoa lhe deu. Para isso, convém etiquetar cada presente assim que é recebido. Os presentes que se recebe no Natal e os presentes que se espera receber no Natal nem sempre são os mesmos. Aqui vão duas listas paralelas.

Presentes que as pessoas esperam ganhar no Natal

1  — Um Mercedes, último tipo.

2 — Um solitário de lapidação retangular com 28 quilates.

3  — Uma casa de praia em Angra ou Guarujá.

4  — Um relógio Piaget-ouro.

5  — Uma passagem de primeira classe para a Europa, ida e volta, com estadia paga.

6 — Um cartão premiado da Loteria Esportiva como único vencedor.

7  — Um iate, modesto, de cabina, para 36 pessoas.

8  — Um apartamento de cobertura. De preferência, mobiliado.

9  — Um jatinho particular.

10  — Todos os nove presentes anteriores juntos.

 

Presentes que geralmente as pessoas ganham no Natal

 

1 — Uma gravata (pode ser aproveitada como enfeite de pa­rede, já que hoje em dia se usa tão pouco).

2  — Um prendedor de gravata.

3  — Um alfinete de colarinho para gravata.

4  — Duas gravatas.

5  — Um sabonete novinho.

6  — Uma saboneteira para sabonete novinho.

7  — Dois sabonetes novinhos.

8  — Um lenço de pescoço.

9 — Um chaveiro que, por coincidência, tem gravado o no­me da firma da pessoa que lhe deu o chaveiro.

10 — Uma flâmula do seu clube (não do clube de quem ga­nha o presente e sim de quem dá).

 

Não pense o leitor que é fácil decidir-se pela escolha de um presente de Natal. Alguns pontos são fundamentais para uma boa compra.

 

O que você precisa ter para comprar um presente de Natal

 

1  — Bom gosto.

2  — Mau gosto.

3 —  Paciência.

4 — Tempo.

5 — Dinheiro (na ausência deste último item, esqueça os quatro primeiros).

 

Pronto. Agora você já sabe praticamente tudo a respeito do presente de Natal. No entanto, caso você não possa utilizar es­te método, há um mais simples: abrace e beije os de sua família, os seus amigos, os seus colegas, com carinho e ternura, dizendo simplesmente: "Feliz Natal". Dificilmente se encontrará fór­mula mais bonita. Por falar nisso, um Natal muito feliz e cheio de alegria para vocês também.

 

Aprenda a andar de metrô

Muita gente anda preocupada em saber como vai andar de metrô. Hoje, o metrô para nós já é uma realidade e não apenas um trem subterrâneo onde assassinos de aluguel em filmes de mistério empurram velhinhas assustadas. O metrô, também co­nhecido como Bonde-tatu, vai facilitar a locomoção e o trânsi­to das pessoas, especialmente por baixo da terra. Por cima, a coisa vai continuar igual, o que nos faz perguntar por que é que então não se constrói um metrô em cima da terra onde o pro­blema do tráfego é muito maior.

Enfim, não estamos aqui para divagar sobre a colocação ideal do metrô. O melhor é passar aos conselhos e sugestões para pes­soas que ainda não provaram a maravilha do trem underground.

Nunca pegue o metrô andando. Se durante anos você se acostu­mou a pular para o bonde ainda em movimento, descondicione-se imediatamente desse hábito. O máximo que vai conseguir é se esborrachar contra a porta fechada.

Desista de andar no estribo. Por vários motivos. Em primeiro lugar, não é elegante. Em segundo lugar, os túneis são estreitos demais e finalmente, em terceiro lugar, metrô não tem estribo.

Cuidado para saltar na estação certa. Caso você se atrapalhe, o melhor é subir novamente para a luz do dia. Não tente trocar de carro sem consultar o itinerário ou perguntar a alguém mais experiente. Conta-se que no famoso Tube de Londres existem pessoas perdidas desde 1948 por pura teimosia.

Não entre em qualquer buraco no meio da rua. Lembre-se que nem todas as aberturas encontradas no passeio levam ao metrô. Algumas levam ao esgoto, outras levam a túneis abandonados, outras ainda a instalações elétricas e também há algumas que não levam a nada. São simples buracos esquecidos no meio da rua. Se você por acaso entrar num desses, pode ficar ali durante anos sem que ninguém perceba.

Não converse com o motorista. Por uma razão muito simples: metrô não tem motorista e sim condutor. Quanto a conversar com o condutor, depende dele.

Cuidado com as portas. Como já se pôde observar neste mara­vilhoso dicionário visual de cultura que é o cinema, as portas do metrô fecham rapidamente e abrem com a mesma velocida­de. Por isso mesmo, não vacile: entre ou saia. Não se instale também perto delas pois você corre o risco de ser descarregado pelos outros em todas as estações.

Leve sempre o seu sanduíche. Muito útil no caso raríssimo, quase impossível, de falta de energia. Passadas algumas horas você po­de vir a sentir fome, principalmente se está viajando em dire­ção a sua casa para jantar. Parece que este problema será no entanto totalmente suprimido com o advento do metrô a pilha.

No começo, ande sempre ao lado de alguém que já andou. Não é por nada, mas é muito tranqüilizador saber que se você não conseguir acertar o caminho, seu amigo o conduzirá facilmen­te ao ponto de chegada. Caso isso aconteça e o seu amigo con­fesse que nunca andou de metrô coisa nenhuma e só falou que sim para impressionar, use a palavra-código que o tirará ime­diatamente de apuros: Socorro!!!!!

Como viram, não há nenhum mistério para uma tranqüila e rápida viagem subterrânea. Depois dos dois primeiros meses você conseguirá inclusive ler descontraído os novos anúncios que provavelmente serão colocados nas paredes: "Veja, ilustre passageiro, o belo tipo faceiro. . . "

 

Não corra nunca o perigo de ficar sem o principal laticínio:

Aprenda a fazer leite em casa

 

O consumidor pode perfeitamente evitar o aborrecimento de ficar sem leite para beber, ou ter que beber o leite de um tipo que não lhe agrada. Para isso, são necessários alguns ingre­dientes que podem ser facilmente conseguidos nas boas casas do ramo.

 

1. Uma vaca

 

Este pacífico animal (não confundir com o touro Miúra, pa­recido, porém menos pacífico) é quase que indispensável na ob­tenção do leite, a não ser que o indivíduo tenha preferência por leite de cabra. Não aconselhamos leite de cabra. A quantidade conseguida é muito menor, já que a cabra é um recipiente mui­to menor do que uma vaca. Além disso a vaca tem melhor cará­ter. Pode inclusive ser chamada de vaca, sem se aborrecer.

Conseguindo uma vaca, você pode conseguir não apenas os tipos convencionais de leite, A, B, ou C. Basta batizá-la, por exemplo, de Zulina, para conseguir um leite tipo Z.

 

2. Um banquinho

 

Sem dúvida, a posição mais confortável de tirar leite de uma vaca é sentado num banquinho. A inventiva moderna já nos possibilita a compra de um banquinho de piano, muito mais prático. O banquinho de piano é regulável e se ajusta perfeitamente a altura da sua vaca. Alguns principiantes podem pensar que o banquinho é encomendado para que a vaca sente-se nele. Não perca tempo. Sendo um animal praticamente irracional ela nunca apreciará esse tipo de delicadeza.

 

3. Um balde

 

Sem um bom balde o consumidor vai logo perceber que é difícil recolher leite sem grande desperdício. Mesmo morando sozinho e utilizando pouca quantidade nao é muito prático o uso de um copo ou de uma xícara de chá.

 

Resumindo:

 

Se a pessoa for organizada, pode servir-se para esta opera­ção de vários baldes. Desta forma, sempre restará uma certa quantidade de leite mesmo depois que toda a família tenha to­mado café com, bebido puro e feito pudim de. Basta então ir vendendo a sobra pelo preço vigente, para que em pouco tem­po o consumidor tenha recuperado o capital empatado nos bal­des, no banquinho e na vaca. Daí por diante é só ir adquirindo mais baldes, mais banquinhos e mais vacas. Em pouco tempo o indivíduo terá industrializado o que antes era apenas uma ne­cessidade familiar. Depois da compra da segunda vaca, convém mudar-se para um apartamento maior.

 

Sua beleza falava por si. Só que ninguém escutava.

 

Você é charmoso?

Teste

 

Respondendo honestamente ao nosso pequeno teste, você pode finalmente descobrir se é realmente um sujeito de charme ou não. Basta assinalar uma pequena marca no quadradinho 1, 2 ou 3, antes das perguntas, e depois contar os pontos.

A resposta vem logo abaixo, de cabeça pra cima mesmo, numa inovação totalmente avançada em matéria de resposta de teste. Veja logo se você é charmoso, respondendo ao:

 

Quando você anda na rua:

 

1  (     ) As mulheres ficam olhando, fascinadas, para você.

2  (     ) As mulheres nem olham.

3  (     ) Você olha para as mulheres.

 

Quando você pega um táxi:

 

1  (     ) O motorista sorri.

2  (     ) O motorista grunhe.

3  (     ) O motorista salta.

 

Quando você vai a um restaurante:

 

1  (     ) O maitre, abismado, diz que nunca viu ninguém pedir tão bem.

2  (     ) O maitre diz que já vai.

3  (     ) O maitre lhe informa que é proibido entrar ali para pe­dir esmola.

 

Quando você leva a namorada ao cinema:

 

1  (     ) Ela segura sua mão e beija você carinhosamente.

2  (     ) Ela pede para você comprar bala.

3  (     ) Ela vê o filme.

 

Quando você chega ao trabalho:

 

1  (     ) Todos sorriem dizendo: "Finalmente ele chegou!" "Que

saudades desde ontem!"

2  (     ) Alguns dizem: "Oi".

3  (     ) Todos vomitam.

 

Resposta:

 

Se você marcou 3 em todas as perguntas, você não só tem charme, como também é detestável.

Se você marcou 2 em todas as perguntas, você tem charme, mas as pessoas não notam.

Se você marcou 1 em todas as perguntas, você tem realmente muito charme, mas é uma pena que seja tão mentiroso.

 

Era tão velho que conseguiu chegar à posteridade ainda com vida.

 

História Geral

Departamento de desinformações

 

Pré-história

 

As grandes épocas da humanidade são: a idade da pedra, a idade do bronze e a idade da aposentadoria.

Existiam a pedra talhada, a pedra desnatada e a pedra pas­teurizada.

Os habitantes da pré-história eram chamados de poliglotas e moravam em tabernas.

Os homens das tabernas eram descendentes de seus pais.

 

O antigo Egito

 

Os reis do antigo Egito eram chamados Fanfarrões. O mais conhecido deles chamava-se Nilo.

Os egípcios se alimentavam exclusivamente de hieróglifos. As esposas dos Fanfarrões eram chamadas de múmias. As pirâ­mides eram assim chamadas porque tinham forma piramidal. Era dentro delas que os egípcios guardavam seus faróis.

 

A velha Grécia

 

Ulisses, que era um tremendo cara-de-pau, conseguiu entrar em Tróia fantasiado de cavalo de madeira.

As duas mulheres mais famosas da Grécia foram Esparta e Atenas. Costumavam brigar muito, tanto que são representa­das sem braços.

O grego Leônidas, sempre com dor de garganta, foi o pri­meiro homem a extrair as Termópilas.

Como Hércules ganhava pouco, fazia doze trabalhos ao mes­mo tempo.

 

O império romano

 

Antes de mais nada, Rômulo e Remo afundaram Roma.

A sociedade romana se dividia em patrícios, que eram do mesmo lugar, os plebeus, que habitavam a Plebéia, e os escra­vos, que tinham o direito de calar a boca.

Roma foi invadida por Canibal, um guerreiro cartilaginoso.

 

A Idade Média

 

Na Idade Média, surgiu a mistura do café com leite.

A maior invenção da Idade Média foram as palavras cruza­das, que só eram jogadas por cavalheiros de antes.

Através das palavras cruzadas, os cavalheiros de antes ten­taram conquistar Matusalém.

 

Para o octogenário, um dia já é calendário.

 

Da arte de falar bem sem dizer nada

 

Quando fui convidado para homenagear com um discurso neste digníssimo banquete o meu prezado amigo cujo nome ago­ra me falha a memória, achei imediatamente, depois de pensar muito, que eu era sem dúvida a pessoa indicada, a não ser natu­ralmente que outro orador fosse escolhido. Desde criança, foi o homenageado um dos mais categorizados elementos, tendo muito mais talento e inteligência do que todos os que eram me­nos dotados do que ele. Neto de seus avós, o homenageado é também filho de seus pais, pertencendo desde cedo à sua famí­lia. Veio ao mundo na sua cidade natal, exatamente no dia do seu aniversário. Em menino, era membro ativo da infância, ten­do passado para a adolescência na puberdade. Depois disso, fi­cou adulto e, num rasgo cronológico, atingiu a maioridade aos 21 anos.

Homem de várias habilidades, é perito naquilo que de me­lhor faz. Sua memória é tão fantástica que ele se lembra nitida­mente de tudo aquilo que não esqueceu.

É uma pessoa de temperamento suave, a não ser quando se exalta, e só se cansa em momentos de exaustão. Domina com perfeição todas as línguas que fala sem dificuldade e quando con­versa usa sempre a palavra, deixando apenas para redigir tudo aquilo que escreve. Conhece todas as partes do mundo a não ser os lugares onde nunca esteve. Além disso, quando labuta, trabalha.

Finalmente, devo revelar que no ano passado, neste mesmo dia, este meu caríssimo amigo era dois anos mais moço do que será no ano que vem. Não quero ser profeta mas guardem bem as minhas palavras de hoje a uma década, o homenageado verá que dez anos ter-se-ão passado. Obrigado.

 

Era tão indeciso que conseguia chegar às oito em ponto mais ou menos.

 

Há algumas semanas lançamos uma idéia extraordinária, apresentando várias possibilidades de novas atividades. A re­percussão foi extraordinária. Recebemos tantas cartas de in­dignação que resolvemos apresentar mais algumas outras.

Sugestões para novas profissões

 

Pintor de rodapé

 

Excelente para pessoa de baixa estatura. Um bom pintor de rodapé deve medir mais ou menos quarenta centímetros pa­ra não ter que se abaixar muito ao fazer seu importante servi­ço. Se tiver uma longa barba, o trabalho será facilitado, pois bastará mergulhá-la na tinta e ir andando em volta dos quartos e salas, passando com ela rente ao chão para que seu trabalho seja logo terminado.

 

Colador de envelopes

 

Requer simplesmente paciência e a capacidade de ficar bas­tante tempo com a boca aberta. Basta ficar sentado ao lado de quem estiver fechando envelopes com a língua estirada.

 

Piloto de provas de luva de boxe

 

Talvez a mais ingrata de todas. Nenhuma qualidade espe­cial é requerida a não ser uma certa rapidez ao levantar e facili­dade para acordar. Um bom piloto de provas de luva de boxe prova luvas de qualquer tipo de lutador, de peso-pluma a peso-pesado. Evidente que os honorários serão estipulados dependen­do da categoria do boxeador.

 

Leão-de-chácara de berçário

 

Geralmente, o leão-de-chácara de boate deve ter um físico super desenvolvido, o que limita a profissão. No entanto, se lan­çarmos a necessidade de um protetor de creche que não deixe os bebês lutarem entre si, qualquer indivíduo com mais de um metro e quarenta e conhecimentos rudimentares de caratê po­de se candidatar ao emprego. A pessoa interessada deverá fazer um pequeno curso de especialização em chupetas e mamadeiras.

 

Provador de cadeira de dentista

 

Requer apenas um pouco de coragem e maus dentes. Mui­tas vezes, uma cadeira nova de dentista leva tempo a ser aper­feiçoada por falta de voluntários. Às vezes, um parafuso que escorregue, ou uma mola adicional que não funcione, faz com que o piloto de provas tenha sua boca atingida pelo cotovelo do técnico. Daí, o pedido de maus dentes não ser totalmente necessário. Se estes forem bons, com uma semana de treino não serão mais.

 

Isca de jacaré

 

Nenhuma habilidade especial requisitada, a não ser nadar rápido. O emprego consiste em sair correndo dentro d'água na frente do jacaré e persuadi-lo a ir atrás do indivíduo até terra seca, onde os caçadores atacam o jacaré com mais facilidade.

Uma boa "isca" não deve nunca se preocupar quanto ao estilo de natação e sim com a velocidade. Só não deve nadar "cachorrinho" porque não é permitido pegar jacaré com cão de caça.

 

Ser ou não ser o quê, Hamlet?

 

Profecia: "Muito bem", disse o professor de aritmética con­templando a sala de aula cheia de meninos de dez anos. "Vou escrever um problema fácil no quadro-negro". Disse e es­creveu:

Problema

 

Um menino tem coelhos e galinhas no quintal. Contando, ele acha 18 cabeças e 58 patas. Quantos coelhos e quantas gali­nhas existem no quintal?

—  Alguém sabe a resposta?

—  Eu — veio a vozinha do garoto no fundo da classe.

—  Então responda.

— O menino levantou-se, aproximou-se do quadro-negro e enquanto falava, escreveu:

Vamos imaginar um tipo de animal com seis patas e duas cabeças. O coelhomaisgalinha. Existem no quintal:

56 patas (dividido por) 6 patas = 9 coelhosmaisgalinhas e quebrados.

9 x 2 = 18 cabeças.

Sobram então:

18 - 18 = 0 cabeças no quintal.

Mas: 9 x 6 = 54.

0 que quer dizer que os 9 coelhosmaisgalinhas usam 54 pa­tas. Sobram por isso: 56 - 54 = 2 patas no quintal. Depois de achar isso, já se pode esquecer os quebrados.

Vamos agora imaginar um outro tipo de animal que é o coe­lho de quem se retira uma galinha. Se a gente retira uma gali­nha de um coelho, o tipo de animal que fica, e que a gente passa a chamar de coelhosemgalinha, tem:

1  cabeça - 1 cabeça = 0 cabeças. 4 patas - 2 patas = 2 patas.

As duas patas que ficam no quintal são então deste tipo de animal, o coelhosemgalinha.

9 coelhosmaisgalinhas + 1 coelhosemgalinha.

Aí a gente tira os coelhos das galinhas e as galinhas dos coe­lhos para conseguir:

9 coelhos + 9 galinhas + 1 coelho - 1 galinha.

9 coelhos + 1 coelho = 10 coelhos.

9 galinhas - 1 galinha = 8 galinhas.

Logo, existem 10 coelhos e 8 galinhas no quintal.

—  Muito bem, menino. Pode voltar para o seu lugar — dis­se o professor, perplexo, enquanto pensava:

—  Alguma coisa me diz que esse Einstein vai longe. . .

 

De cada cinco meninos que nascem, um é chinês. A não ser na China, onde os cinco são chineses.

 

Já que o negócio é seguir a moda e que as entrevistas cur­tas e jornalísticas, com esquemas dinâmicos, são a última pa­lavra, não podíamos deixar de abrir uma pequena seção, para saber o que é que os grandes vultos da história pensam da vida. Começamos por dois senhores que tiveram uma vida muito agitada e que nos concederam cinco minutos para esta.

Mini-entrevistas

 

Napoleão

 

Auto-retrato: Napoleão Bonaparte.

Atividade profissional: conquistador.

Atividades outras: escritor e conhaque.

O que gosta mesmo de fazer: quando não sou conhaque, andar de cavalo

branco.

Motivação primeira: eu.

Qualidades paradoxais: chegar tão alto sendo tão baixo. Pontos

vulneráveis: o inverno.

Ódios inconfessos: ter esquecido uma das luvas na campanha da Rússia e

ser obrigado a ficar o tempo todo com a mão enfia­da dentro do casaco.

Distração: escalar pirâmides. Superstição invencível: Waterloo.

Medos absurdos: que Cambrone ainda diga alguma bobagem aos ingleses.

Orgulho secreto: ser da Córsega e morar em Paris. O grande momento: o

de pentear a pastinha para a frente. A frustração: ter deixado tantos loucos

com a mania de ser eu. Três coisas agradáveis: Josefina, Josefina, Josefina.

 

Júlio César

 

Auto-retrato: Júlio César.

Atividade profissional: imperador.

O que gosta mesmo de fazer: história.

Motivação primeira: Roma.

Qualidades paradoxais: usar uma coroa de louros e ser moreno.

Pontos vulneráveis: a careca.

Ódios inconfessos: não darem a César o que é de César.

Distração: escrever de vez em quando.

Superstição invencível: os idos de março.

Medos absurdos: morrer apunhalado.

Orgulho secreto: meu filho, Brutus.

O grande momento: a coroação.

A frustração: não ter conhecido Cleópatra vinte anos mais moço.

Três coisas agradáveis: vir, ver e vencer.

 

Tem uma coisa que não se compra com o dinheiro: pobreza.

 

Pequeno dicionário imbecil

 

A

 

Antibióticos — Guerreiros nômades que se levantaram contra os bios, antigos habitantes da Biologia.

Auto-escola — Colégio onde as pessoas têm que aprender tudo sozinhas.

 

B

 

Baixo-relevo — Pessoas de destaque nascidas nos Países Baixos.

Barulho — Alucinação do ouvido. Também ruídos que se es­cutam num

 bar.

 

C

 

Calendário — Recipiente famoso onde os antigos guardavam a cal.

Canícula — Pequena cadela que habita a zona tórrida.

Circunflexo — Flecha em forma de círculo usada pelos saltim­bancos.

 

D

 

Decalcomania — Hábito compulsivo de marcar com os dedos todos os

objetos.

Discriminar — Inocentar alguém de um crime.

 

E

 

Elefantíase — Neurose muito comum nos elefantes. Escadaria — (Do

latim: ex, o que já foi e caddria, cadeira.) Mó­vel de sentar que não serve

mais. Espírito — (Presença de) — Aparição de um.

 

F

 

Falsidade— Mentira a respeito da data do nascimento.

Fantasma— (Do etrusco fan e ashma) Indivíduo que adora a asma.

Fundamental— Arte de mergulhar até o fundo de um rio ou mar, através da força da mente.

 

G

 

Gravidade— (Lei da) Projeto legal do direito romano usado na Idade Média e que proibia as pessoas de voar.

 

H

 

Hipopótamo — (Do grego Hipo, pequeno e póthamos, pote). Vaso

pequeno.

Hormônio — Secreção glandular igual às outras.

 

I

 

Incidente— Parte incisiva da arcada dentária.

 

J

 

Jovial— (Referente a Jó) Pessoa que encontra alegria na pa­ciência.

 

L

 

Lacrimogênio — Pessoa de elevado Q.I. ou de grande inteli­gência que tem o hábito de chorar constantemente.

Lentilhas — Pequenas lentes de contato.

Lição — Aumentativo de liça, torneio medieval. Como hoje se diz "Puxa, que jogão", antigamente dizia-se "Puxa! que lição!"

Logaritmo — Antiga marcação musical usada pelos romanos para identificar um tipo de dança, o "Loga". Daí Loga ritmo.

Luzíadas — Pequenas partículas de luz que se perdem no cosmos.

 

M

 

Matusalém — Província espanhola que fica depois da cidade de Matus.

Maquete— Corruptela de má enquete. Uma enquete malfeita.

Matrícula — Antigo arcabuz que possuía três culatras.

Monomania— Hábito de colecionar macacos.

Menoscabar— Ato de diminuir o cabo de um objeto.

Mesada— Atitude violenta de atirar uma mesa sobre alguém ou alguma coisa.

Metropolitano— Napolitano que só anda de metrô.

 

N

 

Nababesco— Babador grande usado pelos imperadores da Ba­bilônia.

Nadador — Pessoa que não gosta de fazer nada. Indolente.

Nativo — Tipo de leite que produz muita nata.

Naturalidade — Maneira natural que as pessoas usam para apa­rentar a idade que têm.

 

O

 

Obus— Pequeno ônibus muito rápido.

Organograma — Antiga medida de peso que os italianos usa­vam para pesar os órgãos das catedrais.

Objeção — Ato de impedir alguém de tomar uma injeção.

Ocasião — Antiga escola secreta de marginais que ensinava as pessoas a roubar. "A Ocasião faz o ladrão".

Oceania— Hábito que algumas pessoas têm de tomar banho de mar.

Oleoduto— O mesmo que loção para bronzear.

Onça — Mamífero felino que antigamente era utilizado como medida de peso.

 

P

 

Paciente— Nome dado aos antigos escavadores que procura­vam civilizações perdidas, devido a sua grande habilidade no uso da pá.

Parênteses — Pessoas da mesma família que têm por hábito guar­dar seus segredos: "Que fique tudo entre parênteses".

Pelicano — Nome dado aos fabricantes de luvas de pelica.

Perímetro — Aparelho usado para medir as longas caminhadas a pé.

 

Q

 

Quarentena— Senhora de meia-idade. Estar de quarentena: ato de namorar uma pessoa de meia-idade.

Quebrador— Espécie de cobrador que arrebenta tudo quando não recebe o que lhe é devido.

 

R

 

Radioatividade— Associação que reúne todos os técnicos que se especializam no conserto de aparelhos transmissores de ra­diodifusão.

Ratoeira — O mesmo que sujeira. Fazer uma ratoeira com alguém.

Remador— Nota musical produzida por alguns instrumentos antigos e que fica situada entre o remenor e o remaior. (Pronuncia-se ré menor, ré mador e ré maior.)

 

S

 

Sala— (Do latim sala, salaé). Antiga medida usada pelos roma­nos.

"Aquela casa tem quatro salas".

Sola— Temido chefe bárbaro huno, irmão de Átila. Tinha o hábi­to de  invadir violentamente as fortalezas inimigas. "Entrar de So­la", isto é:  entrar em algum lugar violentamente, à maneira de Sola.

Sub-repticiamente — Habilidade de caminhar sem fazer ruído por baixo  de répteis. Chegar sub-repticiamente.

 

T

 

Tempo— O mesmo que dinheiro. Tempo é dinheiro.

Trinado — Império governado por três soberanos. Depois da morte de  Júlio César, Marco Antônio, Brutus e Cassius forma­ram um trinado.

 

U

 

Ultrajado— Indivíduo que se veste sempre com o traje que es­tá na última moda.

Ultravioleta— Flor da família das violetas, muito mais roxa do que as  outras.

Usufruto— Frutas meio passadas vendidas no final da feira.

Utilidade — Idade ideal das pessoas. Ex.: Aquele homem é de grande  utilidade.

 

V

 

Vaivém — O mesmo que vem e vai, só que ao contrário. Vendaval —

Venda grande. O mesmo que supermercado. Via Látea — Caminho usado  pelas vacas quando vão dar leite.

 

X

 

Xadrez— Jogo que algumas pessoas usam como roupa. Ex.: Ele só se  veste de xadrez.

Xilofone— Telefone antigo que causou espanto quando apre­sentado pela  primeira vez na Espanha: Xi! lo fone!!

 

Z

 

Zebra — Bicho muito encontrado na África e nos volantes de loteria  esportiva.

Ziguezaguear — Ato de driblar um zagueiro.

Zoológico — Lugar onde alguns animais vivem e que foi planificado com  muito bom senso.

 

Jô-Jornal

 

E se os heróis dos desenhos animados fossem gente tal­vez um dia a gente lesse esta manchete:

 

"Hollywood de luto: morreu o pato Donald".

 


(Do nosso correspondente em Los Angeles) — Faleceu es­ta madrugada em sua residên­cia em Beverly Hills o conhecido ator de cinema pa­to Donald, cercando-se de la­ranjas e entrando no forno aceso do fogão de sua casa. A notícia foi anunciada impiedosamente esta manhã com o se­guinte título:

MAIS   UM   PATO   À   CALI­FÓRNIA.

(Hollywood, 3) - Do­nald, um dos patos mais famo­sos do cinema, pertencia ao clã de Mickey Mouse, que anda desaparecido no momento pa­ra não ter que responder a um inquérito sobre suas ligações com a Máfia sob o nome de Mickey Rato. Donald deixa três sobrinhos inconsoláveis.

(Hollywood, 3) - O famosíssimo ator Pateta e o ca­valo Horácio fizeram questão de procurar nossa reportagem para dizer que a culpa da imen­sa depressão que levou o pato Donald ao terrível gesto cabe à Walt Disney Productions, que há muito tempo vem fa­zendo mais filmes com gente do que com bichos.

(Hollywood, 4) — Repre­sentantes da Walt Disney Pro­ductions esclarecem à nossa reportagem que as afirmações de Pateta e Horácio não têm sentido. Provaram que Pluto continua trabalhando regular­mente e que não é culpa deles que hoje em dia haja mais pa­péis de cachorro do que de patos.


 

“Grande multidão comparece ao enterro do pato"

 


(Beverly Hills, 5) — Personalidades famosas do mundo do cinema fizeram questão de comparecer ao enterro do pa­to Donald. Marlon Brando, que não conseguia refrear sua emoção, declarou: "Agora que morreu, posso revelar: imitei seu sotaque em O poderoso chefão".


 

“Repercussão no mundo das artes plásticas"

 


(Do nosso correspondente da França) — O renomado pintor Salvador Dali recusou-se a receber pessoalmente um repórter da redação que desejava colher sua opinião sobre a morte do pato Donald. Dis­se apenas a seguinte frase pelo telefone, antes de desligar: "Era um pato acadêmico".


 

“Do mundo inteiro"

 


(Paris, 6) — O famoso ator-autor-diretor Orson Wel-les foi visto chorando na ma­drugada de hoje, no último andar da Torre Eiffel, enquan­to abanava um enorme len­ço branco na direção dos Es­tados Unidos e falava entre soluços: "Good bye, myfriend Donald, and my name is Orson Welles".

(LAUSANNE, 6) - Char­les Champlin, o polularíssimo Carlitos, foi visto sentado à beira do lago Leman esta ma­nhã. Enquanto fazia círculos melancolicamente dentro d'água com uma varinha, dizia baixinho: "Só falta eu, para que a nossa era fique definiti­vamente encerrada".


 

“E atenção, urgente!”

 


(Hollywood, 8) — Depois de muita expectativa, a Walt Disney Productions confirma que está à procura de um ator para estrelar sua próxima produção: The Donald duck story, ou seja: A história do pato Do­nald. O filme deve ser rodado imediatamente após a contra­tação do novo pato.


 

"Notícias que não abalaram o mundo

 


Zermatt (Suíça): Todos os ha­bitantes desta pequena locali­dade dos Alpes, onde se pratica esqui e alpinismo, se mostram absolutamente indiferentes aos aumentos do preço da gasoli­na. Diga-se de passagem que não existe um só automóvel naquela cidade. Rio de Janeiro: O último mo­torista a precipitar-se com um ônibus dentro de um canal, de­clarou que não andava a mais de quarenta quilômetros por hora. Esta informação refere-se provavelmente à velocidade do veículo depois de já estar dentro da água. China: Especialistas afirmam que nas últimas pesquisas demográficas efetuadas naquele país, ficaram de fora 3 400 mi­lhões de pessoas que não cou­beram no recenseamento. África do Sul: O famoso cirur­gião Dr. Barnard desmente que esteja programando um novo transplante, desta vez utilizan­do três corações. Desmente também que esteja sofrendo de um complexo de rejeição. Hollywood: Cada vez mais de­moradas as comemorações em que astros famosos colocam suas mãos ou pés no cimento fresco em frente ao Chinese Theatre. Um desses festejos levou tanto tempo que o cimento secou e o homenageado teve que ser tira­do dali com uma britadeira.


 

Descoberta velhinha de 480 anos"

 


(BH — 8) Talvez seja finalmen­te esta a pessoa mais velha do mundo: Dona Nhá Nhá Meirinha completa este ano 480 primaveras. Cientistas do mun­do inteiro vieram estudar o ca­so e todos se mostraram surpresos   com   a   idade   da anciã. Testes de laboratório comprovaram realmente a ida­de de dona Nhá Nhá, e o fa­moso cientista americano Frederick F. Frederick decla­rou: "É realmente espantoso. Pena que ela esteja morta".


 

Noticiário sem nenhuma importância"

 


LIESCHTENSTEIN: O fa­moso professor Helmut Brin-gerzoff conseguiu provar ontem, nesta capital, que o im­perador romano Júlio César não morreu absolutamente apunhalado. Morreu, isto sim, de susto quando viu as facas. Sicília: O carpinteiro Luigi Gino, de Calenemari, ateou fogo às ves­tes e nada sofreu. Diga-se de pas­sagem que no momento em que o fato ocorreu ele estava sem roupa e suas vestes no armário. HOLLYWOOD: Desmente-se categoricamente que o lutador de boxe Muhammad Ali (também-conhecido como C. Clay) tenha sido indicado na semana passa­da ara o título de "Mãe do ano".

LONDRES: Foi realizada ho­je com grande sucesso uma operação cirúrgica no jardim zoológico na cidade. Os médi­cos conseguiram fazer com ab­soluta perfeição um transplan­te de olhos numa cobra. O mais incrível é que a cobra não era cega, era surda. BRANDISLÁVIA: Acabam de descobrir, em escavações ao nor­te desta desconhecida cidade, an­tigos violinos brandislavos, que estranhamente têm o formado de um jacaré. Devido a isso, já foram constatados vários casos de concertos musicais em que os solos eram executados em cro­codilos e de pescadores devora­dos por violinos.


 

"Não faltará água este ano"

 


(Rio, 5) O departamento oceanográfico de oceanografia tranqüiliza a população com a mais surpreendente afirmação: não faltará água este ano. Os ba­nhistas podem ficar sossegados que o mar não apresenta nenhum sintoma de escassez. O es­tranho fenômeno acalmou os as­síduos freqüentadores das praias, que ainda trazem na lembrança o trágico e misterioso desapare­cimento do mar do Saara desde tempos imemoriáveis.


 

"Continua o enigma em torno do assaltante da joalheria"

 


(Rio, 2) Ainda não se sabe ao certo quem foi o autor do roubo da joalheria Joalheria. Surge agora uma testemunha ocular que viu tudo. A testemu­nha, no entanto, parece vaga, já que tudo aconteceu rapidamen­te. Já se sabe ao certo, porém, que o ladrão era um elefante, que, saindo de dentro do seu car­ro, quebrou a vitrina e aspirou todas as jóias com a tromba. A testemunha só não conseguiu identificar o assaltante pelos ar­quivos, porque o elefante tinha uma meia enfiada no rosto.


 

Descoberta tribo de índios desconhecidos: os krin-krateu-krokantes"

 


(Amazonas, 3) Foi encontrada mais uma tribo nova durante a abertura da estrada que liga Manaus à Transamazônica.

Trata-se dos krin-krateu-krokantes, incríveis índios-anões com um metro e oiten­ta de altura. Os silvícolas foram considerados os índios-anões mais altos do mundo Os sertanistas que fizeram a descoberta ficaram tão nervo­sos que tiveram que ser pacifi­cados pelos índios.


 

Cultura também é cultura

Erudição

 

Está ficando cada vez mais fácil para qualquer um se ins­truir sobre qualquer matéria. Basta passar por uma banca de jor­nal para ver uma porção de revistas e coleções que explicam de modo claro e acessível como foi que Freud inventou a psicanáli­se, por que é que Napoleão perdeu a guerra, se Newton teve que comer muitas maçãs antes de descobrir a Lei da Gravidade, quan­tos banhos Arquimedes tomou para gritar Heurekay de que ma­neira Van Gogh escorava o chapéu na cabeça depois de ter cortado a orelha, se Mozart era afinado, tudo sobre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial e até alguns prognósticos a respei­to da Terceira com pitadas de suspense: haverá ou não?! quan­do!?, etc. Abro aqui um parêntese para dizer que não chamar a Segunda Guerra Mundial de Ultima é de um pessimismo brutal.

Todas essas informações são muito bem apresentadas, de for­ma digerida, para facilitar a compreensão de tantos dados histó­ricos e biográficos, o que permite ao leitor faminto de erudição tomar rapidamente conhecimento de obras e autores que duran­te muito tempo só eram encontrados nas livrarias.

Agora, a verdade é que uma pessoa muito ávida, lendo vá­rias coleções ao mesmo tempo, pode fazer uma certa confusão de memória. Por exemplo, pode achar que Mozart cortou a ore­lha depois que se apaixonou por Heureka, filha de Freud, que por sua vez era casada com Newton, como ficou comprovado pela lei da gravidez. Pode também pensar que Hitler perdeu a guerra para Napoleão por causa de um inverno que estava tão frio que nem mesmo Arquimedes conseguia tomar banho. Mesmo assim, o referido cidadão terá acumulado em pouco tempo um invejável grau de cultura que deixará seus amigos do bairro de boca aberta.

Só estou contando isso porque tive a oportunidade de assis­tir a uma cena de duelo erudito entre dois motoristas: um de ônibus e um de táxi, depois que largaram o serviço, num bote­quim da cidade. Entrei para comprar um maço de cigarros, mas parei e fiquei ouvindo atentamente quando vi que um deles, o de táxi, virava o copo de cerveja e afirmava sem nenhuma dúvida:

—  Não adianta teimar, Barrica. Bom, bom mesmo, era o Be-tôvim. Na música ninguém encosta nele.

No botequim reinou um silêncio de morte. Estava lançado o desafio. Enquanto o motorista de táxi limpava da boca o bigo­de branco deixado pela espuma do chope, o de ônibus apoiou no balcão seu abdome que justificava plenamente o apelido de Barrica. Bebeu também uma cerveja. Em volta, todos esperavam. De repente ele virou-se e disse:

—  Baiano, eu não to desfazendo do Betôvim. O Betôvim até que era bom. . . tem seu valor. . . botava a letra dele lá. . . Agora: O Betôvim não cantava e o Carlos Gardel escrevia e cantava.

Ninguém tinha coragem de entrar na discussão. A maioria das pessoas presentes concordava com o Barrica mas não queria enfrentar a sabedoria do Baiano. Ninguém contestava também a validez da discussão onde estavam em jogo as qualidades dos dois grandes músicos. O que ficou patente naquele instante é que, apesar da cultura do Baiano, o Barrica tinha marcado um ponto: Beethoven realmente não cantava. Pelo menos em públi­co, e Carlos Gardel era um excelente cantor, além de composi­tor. Por mais parcial que se fosse, era preciso admitir a versatilidade do rei do tango. Os dois contendores olharam para o dono do botequim que escutava atentamente enquanto limpa­va um copo com um pano sujo:

—  Por enquanto está empate — disse ele, e eu fiquei saben­do que o dono do botequim funcionava como árbitro daquela contenda músico-cultural.

—  Como empate? Eu to te falando que o homem não can­tava! — falou o Barrica. Pela sala correu um murmúrio de apro­vação, logo interrompido pelo dono do botequim:

—  Eu sei. Tô levando em conta. Mas acontece que o tal de Betôvim é muito mais velho que o Gardel. E preciso respeitar a idade do homem.

—  Por isso não, que o meu avô tá com 93 anos e é mais afinado do que muito garoto que anda por aí — respondeu o Barrica, meio irritado com aquela proteção.

—  Pra mim tá empate e não se discute. Agora, se vocês qui­serem é só arranjar outro juiz. Pra mim é até melhor que eu fecho logo essa porcaria e vou pra casa que já tá ficando tarde — disse o dono do botequim.

Uma onda de protestos se elevou de todos os cantos do bar em apoio ao botequineiro. Não tanto porque prezassem o seu julgamento e sim por medo da sua ameaça de fechar o estabele­cimento. Foi então que o Baiano apresentou um argumento que deixou todo mundo pasmo de espanto:

—  Tá certo. Não cantava. O Betôvim não cantava. Eu sei disso. — PAUSA DE SUSPENSE: Mas em compensação era surdo. Tá bom? SURDO!

A notícia repercutiu como uma bomba no botequim. Vá­rios freqüentadores aturdidos deixaram suas tulipas de chope cair no chão.

—  Então ganhou! Não tem nem discussão. Ganhou o Be­tôvim fácil! — decidiu o dono do boteco.

Todos os ouvintes concordaram, acenando a cabeça, enquan­to um murmúrio de respeito corria de boca em boca: Surdo! Surdo! O homem era demais! Onde é que já se viu um músico surdo!

Barrica ainda tentou impugnar:

—  Surdo? Não é chute não? O homem era surdo mesmo?

—  Era. E de nascença! — exagerou o Baiano vitorioso, li­quidando com a quinta cerveja: Betôvim era surdo-músico de nascença!

Barrica, o amante do tango, arrastou-se humilhado até a porta do boteco enquanto todos o seguiam com um olhar de despre­zo. Antes de sair virou-se e num rasgo de paixão gritou para quem quisesse ouvir:

—  Tá, tá! Mas uma coisa ninguém pode negar! Carlos Gar­del não morreu! Ele continua vivo nos nossos corações!

Depois voltou-se e foi tragado pela noite, onde os gatos são pardos, e muito mais pardo ainda era o sofrimento do Barrica que lá se ia resmungando:

—  Não tem jeito mesmo, instrução é instrução. . .

 

Depois do caso Watergate, ficou claro que os Estados Unidos são realmente um tipo de sociedade em que tudo se sabe.

 

Guerra nuclear

Teste

Depois de Monopólio, Guerra, Opinião, etc., surge um novo jogo para adultos. Procure adquiri-lo em qualquer casa de brin­quedos e reúna seus amigos para começar a jogar.

Trata-se de um jogo interessantíssimo, muito difícil de co­meçar, mas realmente facílimo de terminar.

Guerra Nuclear pode ser jogado entre duas ou mais pessoas, sendo que quanto mais jogadores, melhor o jogo. O ideal é que Guerra Nuclear nunca seja jogado de parceria, para que no fi­nal sobre apenas um ganhador. Vamos, agora, aos pontos e sua contagem.

 

TOTAL QUE O VENCEDOR DEVE COMPLETAR: 100 PONTOS

 

Elementos usados no jogo                                   Valor dos pontos por unidade

1º        Bomba nuclear caseira                                        2  pontos

2º        Roupa anti-radioativa                                            3  pontos

3º        Abrigo nuclear individual                                       4  pontos

4º        Torpedo atômico                                                    5  pontos

5º        Míssil teleguiado                                                    6  pontos

6º        Super-bombardeiro                                                7  pontos

7º        Foguete intercontinental                                       8  pontos

8º        Bomba atômica                                                      9  pontos

9º        Foguete antimíssil                                                  10 pontos

10º      Abrigo nuclear coletivo                                         11  pontos

11º      Superbomba de hidrogênio                                  12  pontos

 

Para iniciar o jogo, distribui-se dez elementos da tabela aci­ma para cada jogador, juntamente com um mapa do país sortea­do para os componentes. Se forem dois participantes, serão utilizados dois mapas. Cinco, cinco mapas, e assim por diante. Pequenos cogumelos de madeira serão usados para marcar o lu­gar das explosões.

Depois que todos estiverem em seus lugares, o jogador que tiver tirado o mapa menor começa a primeira rodada. Pega dois dados e atira-os sobre a mesa.

 

Os dados estão lançados

Feito isso, o jogador consulta sua tabela para ver quantos pontos conseguiu. Se tirou dois seis (doze pontos), pode começar imediatamente a usar uma super-bomba. É importante decidir-se qual o país que se quer destruir primeiro. Não adianta ficar jogando uma bombinha aqui, um foguete ali e depois correr pa­ra o abrigo. Não. O bom jogador deve, primeiro, escolher um país e depois bombardeá-lo sistematicamente.

 

As permutas

São totalmente válidas e permitidas. Um jogador que tenha esgotado grande parte do seu material ofensivo pode trocar al­guns abrigos por foguetes, bombas, etc. Naturalmente isto só ocorre se nesta altura do jogo ainda existir alguém com elemen­tos para permutar.

 

As regras

(Cinco regras básicas para que tudo corra bem.)

1 - Só se joga uma vez em cada rodada.

2 - Depois de disparado o lance, não se pode voltar atrás.

3 - Cada jogador eliminado não pode participar do jogo do outro.

4 - É proibido imitar ruídos de explosões nucleares com a bo­ca,

assustando os outros.

5 - O jogo só termina quando sobrar apenas um jogador, se sobrar.

 

O prêmio

O vencedor receberá como troféu uma réplica em miniatu­ra da estátua O pensador, de Rodin, num pequeno alerta simbó­lico para que, completamente sozinho, ele pense no que acabou de fazer.

 

A grande vantagem do duelo é que ele não existe mais.

 

Coisas incríveis acontecem no mundo, hoje e sempre:

Acredite se puder. . .

 

• Em 1921, o cientista sueco Zilben Zalben inventou um avião a motor que não precisava de gasolina. Hoje, 53 anos de­pois, o aparelho ainda não conseguiu decolar.

 

• Brandislau da Brandislávia: Reuniu seu pequeno exército de 234 homens, em 1345, e marchou contra as tropas reunidas do império austro-húngaro. Usando de extrema habilidade e ra­ro gênio estratégico, Brandislau atraiu seus inimigos para um cam­po aberto ao lado do seu pequeno país e começou a batalha. Por incrível que pareça, sua tropa foi inteiramente dizimada.

 

• O escocês Wilm McDelall conseguiu beber três garrafas de uísque sem ficar embriagado. Levou vinte anos para bebê-las.

 

• Mais de quarenta pessoas viram um dinossauro vestindo roupas de astronauta, planan­do sobre um objeto voador não-identificado. As ditas pessoas se encontravam no pátio do Hospício Municipal de Breslow, na Transilvânia.

 

• Em 1765 o famoso Príncipe Bordislaw, da Pomarínia do Sul, enfrentou sozinho as forças reunidas da Inglaterra, França, Itália, Grécia e Bélgica. Por mais absurdo que pareça, Bordislaw perdeu a batalha.

 

• Um estudioso birmanês, Swami Bawigda, criou um sistema de acupuntura feito com espadas de dois metros com uma lâmina de seis polegadas. Até hoje nenhum de seus pacientes escapou ao tratamento.

 

• O primeiro transplante bem-sucedido a ser feito no mun­do foi efetuado pelo italiano Finnimo Garrino, que com imen­so sucesso transplantou uma roseira do jardim de seu vizinho para o quintal de sua própria casa. Não houve rejeição a não ser por parte do próprio vizinho, que deixou de cumprimentá-lo.

 

• Em 1950 o pintor Frinó Batista pulou do vigésimo andar de um edifício no centro da cidade. Bateu num toldo que estava aberto no décimo sétimo, depois aliviou sua queda num mastro que estava colocado no décimo quinto, e seguiu furando catorze toldos, que foram aparando seu tombo até o chão, onde caiu, por coincidência, numa poltrona que estava sendo limpa, abso­lutamente sem um arranhão e completamente morto.

 

• Frederick Fields, inglês de Sussex, na Inglaterra, encon­trou um coelho de duas cabeças na sua propriedade. O mais es­pantoso é que o bicho come duas vezes mais cenoura do que o coelho comum e na metade do tempo.

]

• Quando o nadador inglês Galsworth Molbrogh disse que iria atravessar o canal da Mancha, nadando por baixo d'água, todos disseram que ele estava louco. Todos tinham razão. Hoje Galsworth encontra-se internado no Rochester Institute.

 

• Gustavo Gustaff, alemão de Munique, bateu um curioso recorde. Conseguiu assistir a 3 000 filmes. Gustaff aposentou-se na semana passada de seu emprego como lanterninha de cine­ma. Declarou que de agora em diante só irá ao teatro.

 

• Uma árvore frutífera que dá frutos em forma de maçã foi descoberta no jardim de Joan Belleny, no Kansas. Peritos que examinaram o fenômeno garantem que se trata de uma macieira.

 

• O nadador belga Jean des Cuites fez em 1912 a estranha promessa de atravessar o oceano Atlântico a nado. Em 1952, qua­renta anos depois, Jean ainda não tinha cumprido a sua promessa.

 

Eu acho o papel Yes muito positivo.

 

                                                                                            Jô Soares

 

                      

O melhor da literatura para todos os gostos e idades